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wwwneadunamabr Universidade da Amazônia Tarde de Olavo Bilac NEAD NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Av Alcindo Cacela 287 Umarizal CEP 66060902 Belém Pará Fones 91 2103196 2103181 wwwneadunamabr Email uvbunamabr 1 wwwneadunamabr Tarde de Olavo Bilac À memória de José do Patrocínio meu amigo é dedicado este livro 8 outubro 1918 O B La nostra vita è siccome uno arco montando e volgendo Avemo dunque che Ia gioventute nel quarantacinquesimo anno se compie e siccome Iadolescenza è in venticinque anni che procede montando alia gioventute cosí il discendere cioè la senettute è altrettanto tempo che succede alla gioventute e cosí si termina Ia senettute nel settantesimo anno Dové da sapere che la nostra buona e diritta natura ragionevolmente procede in noi siccome vedemo procedere la natura delle piante in quelle e però altri costumi e altri portamenti sono ragionevoli ad una età più che ad altre nelli quali Ianima nobilitata ordinariamente procede per una semplice via usando li suoi atti nelli loro tempi e etadi siccome alultimo suo frutto sono ordinari DANTE Il Convito trat quarto cap XXIV Hino á Tarde Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas Alva natal da luz primavera do dia Não te amo nem a ti canícula bravia Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas Amote hora hesitante em que se preludia O adágio vesperal tumba que te recamas De luto e de esplendor de crepes e auriflamas Moribunda que ris sobre a própria agonia Amote ó tarde triste ó tarde augusta que entre Os primeiros clarões das estrelas no ventre Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada Trazes a palpitar como um fruto do outono A noite alma nutriz da volúpia e do sono Perpetuação da vida e iniciação do nada Ciclo Manhã Sangue em delírio verde gomo Promessa ardente berço e liminar 2 wwwneadunamabr A árvore pulsa no primeiro assomo Da vida inchando a seiva ao sol Sonhar Dia A flor o noivado e o beijo como Em perfumes um tálamo e um altar A arvore abrese em riso espera o pomo E canta à voz dos pássaros Amar Tarde Messe e esplendor glória e tributo A árvore maternal levanta o fruto A hóstia da idéia em perfeição Pensar Noite Oh saudade A dolorosa rama Da árvore aflita pelo chão derrama As folhas como lágrimas Lembrar Pátria Pátria latejo em ti no teu lenho por onde Circulo e sou perfume e sombra e sol e orvalho E em seiva ao teu clamor a minha voz responde E subo do teu cerne ao céu de galho em galho Dos teus liquens dos teus cipós da tua fronde Do ninho que gorjeia em teu doce agasalho Do fruto a amadurar que em teu seio se esconde De ti rebento em luz e em cânticos me espalho Vivo choro em teu pranto e em teus dias felizes No alto como uma flor em ti pompeio e exulto E eu morto sendo tu cheia de cicatrizes Tu golpeada e insultada eu tremerei sepulto E os meus ossos no chão como as tuas raízes Se estorcerão de dor sofrendo o golpe e o insulto Língua Portuguesa Ultima flor do Lácio inculta e bela És a um tempo esplendor e sepultura Ouro nativo que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela Amote assim desconhecida e obscura Tuba de alto clangor lira singela Que tens o trom e o silvo da procela E o arrolo da saudade e da ternura Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo Amote ó rude e doloroso idioma 3 wwwneadunamabr Em que da voz materna ouvi meu filho E em que Camões chorou no exílio amargo O gênio sem ventura e o amor sem brilho Música Brasileira Tens às vezes o fogo soberano Do amor encerras na cadência acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feitiço do pecado humano Mas sobre essa volúpia erra a tristeza Dos desertos das matas e do oceano Bárbara poracé banzo africano E soluços de trova portuguesa És samba e jongo xiba e fado cujos Acordes são desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgias e paixões consistes Lasciva dor beijo de três saudades Flor amorosa de três raças tristes Anchieta Cavaleiro da mística aventura Herói cristão nas provações atrozes Sonhas casando a tua voz às vozes Dos ventos e dos rios na espessura Entrando as brenhas teu amor procura Os índios ora filhos ora algozes Aves pela inocência e onças ferozes Pela bruteza na floresta escura Semeador de esperanças e quimeras Bandeirante de entradas mais suaves Nos espinhos a carne dilaceras E porque as almas e os sertões desbraves Cantas Orfeu humanizando as feras São Francisco de Assis pregando às aves Caos No fundo do meu ser ouço e suspeito Um pélago em suspiros e rajadas Milhões de vivas almas sepultadas Cidades submergidas no meu peito 4 wwwneadunamabr Às vezes um torpor de águas paradas Mas de repente um temporal desfeito Festa agonia júbilo despeito Clamor de sinos retintim de espadas Procissões e motins glórias e luto Choro e hosana Ferver de sangue novo Fermentação de um mundo agreste e bruto E há na esperança de que me comovo E na grita de dúvidas que escuto A incerteza e a alvorada do meu povo Diziam que Diziam que entre as nações sobreditas moravam algumas monstruosas Uma é de anãos de estatura tão pequena que parecem afronta dos homens chamados Goiasis Outra é de casta de gente que nasce com os pés ás avessas de maneira que quem houver de seguir seu caminho há de andar ao revés do que vão mostrando as pisadas chamamse Matuius Outra é de homens gigantes de dezesseis palmos de alto adornados de pedaços de ouro por beiços e narizes e aos quais todos os outros pagam respeito têm por nome Curinqueás Finalmente que há outra nação de mulheres também monstruosas no modo do viver são as que hoje chamamos Amazonas e de que tomou o nome o rio porque são guerreiras que vivem por si só sem comércio de homens vivem entre grandes montanhas são mulheres de valor conhecido Padre Simão de Vasconcelos Crônica da Companhia de Jesus no Estado do Brasil 1663 Liv I cap 31 I Os Monstros Não me perdi numa ilusão Perdime Na existência entre os homens E encontreios Vivos bem vivos Estes monstros feios Cujo peso afrontoso a terra oprime Mas há monstros no bem como no crime Outros houve que em hinos e gorjeios Talvez viveram e morreram cheios De extrema formosura e ardor sublime Ah no dia da cólera tremenda Os monstros bons agora fugitivos Desta míngua de fé que nos infama Ressurgirão no epílogo da lenda Os mortos voltarão varrendo os vivos E os maus se afogarão na própria lama 5 wwwneadunamabr II Os Goiasis Ainda viveis espíritos obscenos Como nos dias do Brasil inculto Na inteligência anãos como no vulto Como no corpo no moral pequenos Espremeis a impotência do ódio estulto Em pérfidos esguichos de venenos Tendes baixeza em tudo nem ao menos Força na inveja e elevação no insulto Répteis humanos no coleio dobre De rastos babujais templos e lares Contra os bons contra os fortes de alma nobre Línguas e dentes dardejais nos ares Mas só podeis ferir na raiva pobre Em vez dos corações os calcanhares III Os Matuius De pés virados marcha avessa e rude Dedos atrás calcâneos para a frente Ainda viveis mentores sem virtude Que a verdade escondeis à vossa gente Sabeis e errais propositadamente Traidores nas lições e na atitude Aos corações o vosso exemplo mente Como no solo o vosso rasto ilude Pobre quem calca o vosso piso errado Em vez da liberdade encontra um muro Pedindo a salvação cai num pecado E acha em lugar da glória o lodo impuro Para seguirvos vai para o passado Por imitarvos foge do futuro IV Os Curinqueãs Ainda viveis Conheçovos felizes Morubixabas de ambições astutas Que em desgraçadas e mesquinhas lutas Desgovernais misérrimos países 6 wwwneadunamabr Já tendes paços em lugar de grutas Mas apesar do tempo e dos vernizes Se os não trazeis por beiços e narizes Os botoques guardais nas almas brutas Pobres de idéias ávidos de foros Rudes pastores de servil rebanho Espirrais arrogância pelos poros Sois sempre os mesmos Curinqueãs de antanho Vastos e estéreis ocos e sonoros Unicamente grandes no tamanho V As Amazonas Nem sempre durareis eras sombrias De miséria moral A aurora esperas Ó Pátria e ela virá com outras eras Outro sol outra crença em outros dias Davi renascerá contra Golias Alcides contra os pântanos e as feras Os corações serão como crateras E hão de em lavas mudarse as cinzas frias As nobres ambições força e bondade Justiça e paz virão sobre estas zonas Da confusa fusão da ardente escória E na sua divina majestade Virgens reviverão as Amazonas Na cavalgada esplêndida da glória O Vale Sou como um vale numa tarde fria Quando as almas dos sinos de uma em uma No soluçoso adeus da avemaria Expiram longamente pela bruma É pobre a minha messe É névoa e espuma Toda a glória e o trabalho em que eu ardia Mas a resignação doura e perfuma A tristeza do termo do meu dia Adormecendo no meu sonho incerto Tenho a ilusão do prêmio que ambiciono Cai o céu sobre mim em pirilampos E num recolhimento a Deus oferto 7 wwwneadunamabr O cansado labor e o inquieto sono Das minhas povoações e dos meus campos A Montanha Calma entre os ventos em lufadas cheias De um vago sussurrar de ladainha Sacerdotisa em prece o vulto alteias Do vale quando a noite se avizinha Rezas sobre os desertos e as areias Sobre as florestas e a amplidão marinha E ajoelhadas rodeiamte as aldeias Mudas servas aos pés de uma rainha Ardes num holocausto de ternura E abres piedosa a solidão bravia Para as águias e as nuvens a acolhêlas E invades como um sonho a imensa altura Ultima a receber o adeus do dia Primeira a ter a bênção das estrelas Os Rios Magoados ao crepúsculo dormente Ora em rebojos galopantes ora Em desmaios de pena e de demora Rios chorais amarguradamente Desejais regressar Mas leito em fora Correis E misturais pela corrente Um desejo e uma angústia entre a nascente De onde vindes e a foz que vos devora Sofreis da pressa e a um tempo da lembrança Pois no vosso clamor que a sombra invade No vosso pranto que no mar se lança Rios tristes agitase a ansiedade De todos os que vivem de esperança De todos os que morrem de saudade As Estrelas Desenrolase a sombra no regaço Da morna tarde no esmaiado anil Dorme no ofego do calor febril A natureza mole de cansaço 8 wwwneadunamabr Vagarosas estrelas passo a passo O aprisco desertando às mil e às mil Vindes do ignoto seio do redil Num compacto rebanho e encheis o espaço E enquanto lentas sobre a paz terrena Vos tresmalhais tremulamente a flux Uma divina música serena Desce rolando pela vossa luz Cuidase ouvir ovelhas de ouro a avena Do invisível pastor que vos conduz As Nuvens Nuvem que me consolas e contristas Tenho o teu gênio e o teu labor ingrato Essas arquiteturas imprevistas São como as construções em que me mato Nunca vemos misérrimos artistas A vitória deste ímpeto insensato A um sopro benfazejo que conquistas A um hálito cruel que desbarato Nuvens de terra e céu brincos do vento Vaisenos breve a essência no ar varrida Irmã que importa ao menos num momento No fastígio falaz da nossa lida Tu nas miragens e eu no pensamento Somos a força e a afirmação da Vida As Árvores Na celagem vermelha que se banha Da rutilante imolação do dia As árvores ao longe na montanha Retorcemse espectrais à ventania Árvores negras que visão estranha Vos aterra Que horror vos arrepia Que pesadelo os troncos vos assanha Descabelando a vossa rumaria Tendes alma também Amais o seio Da terra mas sonhais como sonhamos Bracejais como nós no mesmo anseio Infelizes no píncaro do monte 9 wwwneadunamabr Ah Não ter asas estendeis os ramos À esperança e ao mistério do horizonte As Ondas Entre as trêmulas mornas ardentias A noite no altomar anima as ondas Sobem das fundas úmidas Golcondas Pérolas vivas as nereidas frias Entrelaçamse correm fugidias Voltam cruzandose e em lascivas rondas Vestem as formas alvas e redondas De algas roxas e glaucas pedrarias Coxas de vago ônix ventres polidos De alabastro quadris de argêntea espuma Seios de dúbia opala ardem na treva E bocas verdes cheias de gemidos Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma Soluçam beijos vãos que o vento leva Crepúsculo na Mata Na tarde tropical arfa e pesa a atmosfera A vida na floresta abafada e sonora Úmida exalação de aromas evapora E no sangue na seiva e no húmus acelera Tudo entre sombras o ar e o chão a fauna e a flora A erva e o pássaro a pedra e o tronco os ninhos e a hera A água e o réptil a folha e o inseto a flor e a fera Tudo vozeia e estala em estos de pletora O amor apresta o gozo e o sacrifício na ara Guinchos berros zinir silvar ululos de ira Ruflos chilros frufrus balidos de ternura Súbito a excitação declina a febre pára E misteriosamente em gemido que expira Um surdo beijo morno alquebra a mata escura Sonata ao Crepúsculo Trompas do sol borés do mar tubas da mata Esfalfaivos rugindo e emudecei Apenas Agora trilem no ar como em cristal e prata Rústicos tamborins e pastoris avenas 10 wwwneadunamabr Trescala o campo e incensa o ocaso numa oblata Surgem da Idade de Ouro em paisagens serenas Os deuses Eros sonha e acordando à sonata Bailam rindo as subtis alípedes Camenas Depois na sombra à voz das cornamusas graves Termina a pastoral num lento epitalâmio Calase o vento Expira a surdina das aves E a terra noiva a ansiar no desejo que a enleva Cora e desmaia ao seio aconchegando o flâmeo Entre o pudor da tarde e a tentação da treva O Crepúsculo da Beleza Vêse no espelho e vê pela janela A dolorosa angústia vespertina Pálido morre o sol Mas ai termina Outra tarde mais triste dentro dela Outra queda mais funda lhe revela O aço feroz e o horror de outra ruína Roubalhe a idade pérfida e assassina Mais do que a vida o orgulho de ser bela Fios de prata Rugas O desgosto Enchea de sombras como a sufocála Numa noite que aí vem E no seu rosto Uma lágrima trêmula resvala Trêmula a cintilar como ao sol posto Uma primeira estrela em céu de opala O Crepúsculo dos Deuses Fulge em nuvens no poente o Olimpo O céu delira Os deuses rugem Entre incêndios de ouro e gemas Há torrentes de sangue hecatombes supremas Heróis rojando ao chão troféus ardendo em pira Ilíadas bulcões de gládios e díademas Ossa e Pélio tombando e Zeus em raios de ira E Acrópoles em fogo e Homero erguendo a lira Em reverberações de batalhas e poemas Mas o vento embocando as bramidoras trompas Clangora Rolam no ar de roldão num tumulto Os numes e os titãs varridos à rajada E ódio furor tropel fastígio glória pompas 11 wwwneadunamabr Chamas o Olimpo tudo esbatese sepulto Em cinza em crepe em fumo em sonho em noite em nada Microcosmo Pensando e amando em turbilhões fecundos És tudo oceanos rios e florestas Vidas brotando em solidões funestas Primaveras de invernos moribundos A Terra e terras de ouro em céus profundos Cheias de raças e cidades estas Em luto aquelas em raiar de festas Outras almas vibrando em outros mundos E outras formas de línguas e de povos E as nebulosas gêneses imensas Fervendo em sementeiras de astros novos E todo o cosmos em perpétuas flamas Homem és o universo porque pensas E pequenino e fraco és Deus porque amas Dualismo Não és bom nem és mau és triste e humano Vives ansiando em maldições e preces Corno se a arder no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano Pobre no bem como no mal padeces E rolando num vórtice vesano Oscilas entre a crença e o desengano Entre esperanças e desinteresses Capaz de horrores e de ações sublimes Não ficas das virtudes satisfeito Nem te arrependes infeliz dos crimes E no perpétuo ideal que te devora Residem juntamente no teu peito Um demônio que ruge e um deus que chora Defesa Cada alma é um mundo à parte em cada peito Nem se conhecem no auge do transporte Os jungidos do vínculo mais forte Almas e corpos num casal perfeito Dormindo no calor do mesmo leito 12 wwwneadunamabr Votando os corações à mesma sorte Consigo levam à velhice e à morte Um recato de orgulho e de respeito Ficam por toda a vida as duas vidas Na mais profunda comunhão estranhas No mais completo amor desconhecidas E os dois seres sentindose tão perto Até num beijo são duas montanhas Separadas por léguas de deserto A um Triste Outras almas talvez já foram tuas Viveste em outros mundos De maneira Que em misteriosas dúvidas flutuas Vida de vidas múltiplas herdeira Servo da gleba escravo das charruas Foste ou soldado errante na sangueira Ou mendigo de rojo pelas ruas Ou mártir na tortura e na fogueira Por isso arquejas num pavor sem nome Num luto sem razão velhos gemidos Angústias ancestrais de sede e fome Dores grandevas seculares prantos Desesperos talvez de heróis vencidos Humilhações de vítimas e santos Pesadelo Às vezes uma vida abominanda Vives no sono em que a hórrida matula Dos íncubos e súcubos te manda O eco do inferno que referve e ulula Um mundo torpe nos teus sonhos anda O ódio a perversidade a inveja a gula Espíritos da terra sarabanda Das grosseiras paixões que a treva açula Assim à noite no ínvio da floresta No mistério das sombras entre os pios Dos noitibós o candomblé se apresta Batuques de capetas rodopios De curupiras e sacis em festa 13 wwwneadunamabr Em sinistros risinhos e assobios A Iara Vive dentro de mim como num rio Uma linda mulher esquiva e rara Num borbulhar de argênteos flocos lara De cabeleira de ouro e corpo frio Entre as ninféias a namoro e espio E ela do espelho móbil da onda clara Com os verdes olhos úmidos me encara E ofereceme o seio alvo e macio Precipitome no ímpeto de esposo Na desesperação da glória suma Para a estreitar louco de orgulho e gozo Mas nos meus braços a ilusão se esfuma E a mãedágua exalando um ai piedoso Desfazse em mortas pérolas de espuma Ressurreição Como às vezes piedoso o sol se inclina Sobre um pântano e acendeo e da água ascosa No atro fundo ergue Alhambras de ouro e rosa Catedrais e Krêmlins de prata fina Também da alta região que nos domina Tu pairas sobre mim sombra piedosa Sinto em mim como numa nebulosa Mundos novos ardendo em luz divina São torres vivas cúpulas fulgentes Zimbórios igneos toda a arquitetura Dos sonhos que a ambição do Ideal encerra Subindo em largos surtos em torrentes Galgando o céu para brilhar na altura E desfazerse em versos sobre a terra Benedicite Bendito o que na terra o fogo fez e o tecto E o que uniu a charrua ao boi paciente e amigo E o que encontrou a enxada e o que do chão abjeto Fez aos beijos do sol o ouro brotar do trigo E o que o ferro forjou e o piedoso arquiteto 14 wwwneadunamabr Que ideou depois do berço e do lar o jazigo E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto E0 que deu uma esmola ao primeiro mendigo E o que soltou ao mar a quilha e ao vento o pano E o que inventou o canto e o que criou a lira E o que domou o raio e o que alçou o aeroplano Mas bendito entre os mais o que no dó profundo Descobriu a Esperança a divina mentira Dando ao homem o dom de suportar o mundo Sperate Creperi Não sei Duvido e espero Na ansiedade Vago entre vagas sombras Se não rezo Sonho e invejo dos crentes a humildade E o orgulho dos filósofos desprezo Como um Jó miserável da verdade E de receios farto como um Creso Adormeço a tristeza que me invade E engano o coração cansado e leso Talvez haja na morte o eterno olvido Talvez seja ilusão na vida tudo Ou geme um deus em cada ser ferido Não afirmo não nego É vão o estudo Quero clamar de horror porque duvido Mas porque espero espero e fico mudo Respostas na Sombra Sofro Vejo envasado em desespero e lama Todo o antigo fulgor que tive na alma boa Abandoname a glória a ambição me atraiçoa Que fazer para ser como os felizes Ama Amei Mas tive a cruz os cravos a coroa De espinhos e o desdém que humilha e o dó que infama Calcinoume a irrisão na destruidora chama Padeço Que fazer para ser bom Perdoa Perdoei Mas outra vez sobre o perdão e a prece Tive o opróbrio e outra vez sobre a piedade a injúria Desvairo Que fazer para o consolo Esquece Mas lembro Em sangue e fel o coração me escorre 15 wwwneadunamabr Ranjo os dentes remordo os punhos rujo em fúria Odeio Que fazer para a vingança Morre TRILOGIA I Prometeu Filhas verdes do mar e ó nuvens num incenso Beijaime e bendizei o meu sangue e o meu pranto Quando sucumbo e sou vencido exulto e venço A minha queda é glória e o meu rugido é canto Sob os grilhões espero escravizado penso E morto viverei Domando a carne e o espanto Invadindo de estrela a estrela o Olimpo imenso Roubeilhe na escalada o fogo sacrossanto Forjando o ferro arando o chão prendendo o raio Dei aos homens o ideal que anima e o pão que nutre Debalde o ódio e o castigo e as garras me consomem Quando sofro maior mais alto quando caio Sou entre a terra e o céu entre o Cáucaso e o abutre Sobre o martírio o orgulho e sobre os deuses Homem II Hércules Que vale o orgulho A dor é como a vida eterna Mas a força defende e a compaixão redime Sou na humana floresta a planta heróica e terna Contra a violência um roble e pura a prece um vime Por onde reviveu silvando a hidra de Lema Fuzilou no meu braço a cólera sublime Os monstros persegui de caverna em caverna Sufoquei de antro em antro a peste a infâmia e o crime E ó Homem liberteite E enfim depondo a clava Inerme semideus sonhei doce fiandeiro De roca e fuso aos pés de Onfália num arrulho Alma livre no assomo e na piedade escrava Sou raio e beijo ardor e alívio águia e cordeiro A força que liberta e o amor que vence o orgulho III Jesus 16 wwwneadunamabr Mas sempre sofrerás neste vale medonho Que importa Redentor e mártir voluntário Para a tua miséria um reino imaginário Invento glória e paz num futuro risonho Para te consolar no opróbrio do Calvário Hóstia e vítima a carne o sangue e a alma deponho Nasce da minha morte a vida do teu sonho E todo o choro humano embebe o meu sudário Só liberta a renúncia Ó triste a sombra imensa Dos braços desta cruz espalha sobre o mundo A utopia celeste orvalho ao teu suplício Sou a misericórdia ilusória da crença Sobre a força a fraqueza e sobre o amor fecundo A piedade sem glória e o inútil sacrifício Dante no Paraíso Enfim transpondo o Inferno e o Purgatório Dante Chegara à extrema luz pela mão de Beatriz Triste no sumo bem triste no excelso instante O poeta compreendera o mal de ser feliz Saudoso ao ígneo horror do báratro distante Ao vórtice tartáreo o olhar volvendo quis Regressar à geena onde a turba ululante Nos torvelins raivando arde na chama ultriz E fatigouo a paz do esplendor soberano Dos réprobos lembrando a irrevogável sorte A estância abominou do perpétuo prazer Porque no coração cheio de amor humano Sentiu que toda a Vida até depois da morte Só tem uma razão e um gozo só sofrer Beethoven Surdo Surdo na universal indiferença um dia Beethoven levantando um desvairado apelo Sentiu a terra e o mar num mudo pesadelo E o seu mundo interior cantava e restrugia Torvo o gesto perdido o olhar hirto o cabelo Viu sobre a orquestração que no seu crânio havia Os astros em torpor na imensidade fria O ar e os ventos sem voz a natureza em gelo 17 wwwneadunamabr Era o nada a eversão do caos no cataclismo A síncope do som no páramo profundo O Silêncio a algidez o vácuo o horror no abismo E Beethoven no seu supremo desconforto Velho e podre caiu como um deus moribundo Lançando a maldição sobre o universo morto Milton Cego Desvendavase ao cego o mistério As idades Sem princípio de sol a sol de terra a terra A eterna combustão que maravilha e aterra Geradora de bens e de ferocidades Cordilheiras de espanto e esplendor serra a serra De infinito a infinito asas em tempestades Tronos Dominações Virtudes Potestades Luz contra luz furor de chama e glória em guerra E os rebeldes rodando em rugidoras vagas E o Éden e a tentação e entre o opróbrio e a alegria O amor florindo ao pé da amaldiçoada porta E o Homem em susto o céu em ira o inferno em pragas E imperturbável Deus na sua glória Ardia O poema universal numa retina morta Miguel Ângelo Velho Vieramlhe o amor e a poesia no declínio da vida Na mocidade foi de costumes austeros Aos cinqüenta e um anos conheceu Vittoria Colonna escreveu para ela canções sonetos madrigais exaltação do cérebro temperada de misticismo ela admirou o mas não o amou Quando Víttoria morreu Buonarrotti beijou a mão do cadáver não ousando beijarlhe a fronte M MONNIER La Renaíssance E pensava Perder a chama peregrina Que extrai da pedra um Deus do barro imundo um Santo E este punho que alçou a cúpula divina De São Pedro e amassou Moisés de luz e espanto E esta alma que arquiteta os mundos na oficina O Dia força e graça e a Noite sombra e encanto E o Juízo Final da Capela Sixtina 18 wwwneadunamabr E Judit flor de sangue e Pietà flor de pranto Tudo tinta pincel escopro camartelo Ouro fama poder glória gênio virtude Por um milagre só no amor que me abandona Morrer e renascer ardente moço belo E como o meu Davi clarão de juventude Aparecer sorrindo a Vittoria Colonna No Tronco de Goa Camões sofre na infâmia da clausura Pária sem honra náufrago sem nome E rala na saudade que o consome O pobre peito contra a pedra dura O seu gênio ilumina a abjeta lura Mas a vida das carnes se lhe some Míngua de pão e outra mais negra fome Indigência de beijos e ventura Do próprio fel dos íntimos venenos Faz a glória da pátria e a luz da raça E chora na ignomínia Mas ao menos Possui na mesquinhez da terra crassa E na vergonha de homens tão pequenos O orgulho de ser grande na desgraça EDIPO I A Pítia Repetiume Apolo o vaticínio que eu seria o assassino de meu pai e rei e marido de minha mãe sem a conhecer e tronco de uma prole infame SÓFOCLES Édipo Rei Em Delfos Com pavor de pé no ádito escuro Édipo escuta O deus rugindo de ira e ameaça Pela boca da Pítia em êxtase devassa O tempo e o arcano véu destrama do futuro Rolarás do fastígio à ignomínia e à desgraça Rompendo de um mistério o impenetrável muro Num sólio ensangüentado e num tálamo impuro Gerarás parricida a mais odiosa raça É a Esfinge a glória o reino o assassínio de Laio E o amor sinistro Assim troveja a voz de Apolo E enche o sacrário O céu carregase de bruma 19 wwwneadunamabr Fuzila estruge o chão reboa no antro o raio E enquanto Édipo tomba inânime no solo Sobre a trípode a Pítia em baba ulula e escuma II A Esfinge Bemvindo sejas à cidade de Cadmo nosso libertador e nosso rei que com a tua penetração de espírito e o auxílio divino levantaste o tributo de sangue que pagávamos à cruel Esfinge SÓFOCES Édipo Rei Perto de Tebas junto a um monte sobre o Ismeno Águia e mulher serpente e abutre deusa e harpia Tapando a estrada à espera aterrava e sorria O monstro sedutor horrível e sereno Devorote ou decifra Era fascínio o aceno A voz morna e sensual tinha afeto e ironia Graça e repulsa e a luz dos olhos escorria Fluido filtro estilando um pérfido veneno Mas Édipo desvenda o enigma Ruge em fúria O Grifo e escarva o chão bate contra o rochedo Rola em vascas em sangue ardente a areia tinge E fita o campeador no uivar da extrema injúria E o Herói recua vendo entre esperança e medo Rancor e compaixão no verde olhar da Esfinge III Jocasta Trevas espessas eterna horrível noite sou dilacerado pelo espinho da dor e pela memória dos meus crimes SÓFOCLES Édipo Rei Édipo vê cumprirse o oráculo funesto Tebas entregue em luto à peste que a devasta E sobre o trono em sânie e o leito desonesto Morta infâmia da terra e asco de céu Jocasta Louco vociferando erguendo a grita e o gesto Contra os deuses mordendo a poeira em que se arrasta O mísero medindo o parricídio e o incesto Quer da vista apagar a lembrança nefasta Os dois olhos às mãos das órbitas arranca Em sangue borbotando em lágrimas fervendo 20 wwwneadunamabr Para o pavor matar na esmagada retina Mas cego embora vê Jocasta hedionda branca Enforcada a oscilar como um pêndulo horrendo Compassando fatal a maldição divina IV Antígona Disseme também o oráculo que morrerei aqui quando tremer a terra quando o trovão rolar quando o espaço brilhar SÓFOCLES Édipo em Colona A terra treme Rola o trovão Brilha o espaço Chega Édipo a Colona em andrajos imundo Sombra ansiosa a fugir do próprio horror profundo Ruína humana a cair de miséria e cansaço Mas quando o ancião vacila órfão da luz do mundo Antígona lhe estende o coração e o braço E filha e irmã recolhe ao maternal regaço O rei sem trono o pai sem honra moribundo É o ninho a terra treme amparando o carvalho A flor sustendo o tronco Édipo o espaço brilha Sorri como um combusto areal bebendo o orvalho É o fim rola o trovão da miseranda sorte O cego vê fitando o céu do olhar da filha Na cegueira o esplendor e a redenção na morte Madalena Maria Madalena Maria de Tiago e Salomé compraram aromas para irem embalsamar a Jesus Mas olhando viram revolvida a pedra E Jesus tendo ressurgido apareceu primeiramente a Maria Madalena S MARCOS cap XVI Quedaram frio o sangue as mulheres chorosas Sem cor sem voz de espanto e medo E de repente Caíramlhes das mãos as ânforas piedosas De bálsamo odoroso e de óleo recendente Enfeitiçouse o chão de um perfume dormente E o arredor trescalou de essências capitosas Como se a terra toda abrisse o seio e o ambiente 21 wwwneadunamabr Se enchesse de jasmins de nardos e de rosas E Madalena muda ao pé da sepultura Tonta da exalação dos cheiros em delírio Viu que uma forma no ar divinamente bela Vivo eflúvio vapor fragrante alva figura Aroma corporal pairava Como um lírio Num sorriso Jesus fulgia diante dela Cleópatra Cleopatra diffidava Fu persuasa che il vincitore la destinava al trionfo Ottaviano corse in gran fretta a salvare la sua preda la trovó sul letto adorna della sua piú bella veste di regina addormentata per sempre G FERRERO Grandezza e decadenza di Roma Não que importava a queda e o epílogo do drama O trono o cetro o povo o exército o tesouro As províncias a glória e as naus no sorvedouro De Actium e Alexandria entregue ao saque e à chama Não que importava o horror da entrada em Roma a fama De Otávio e o seu triunfo entre a púrpura e o louro E a plebe em grita e o céu cheio das águias de ouro E o Egito e o seu império e os seus troféus na lama Não Que importava o amor perdido Que importava O naufrágio do orgulho a vergonha a tortura Do ódio do vencedor ou da piedade alheia Mas entrar desgrenhada envelhecida escrava Rota sem o arraiar da sua formosura Sol sem fulgor Matoua o medo de ser feia A Velhice de Aspásia Velha Aspásia como um clarão na Academia E na ágora surgia e ofuscava as mais belas E sob as cãs e sob as roupagens singelas Aureolada do amor de Péricles sorria Do Helesponto do Egeu do Jônio em romaria Vinham vêla e admirála efebos e donzelas E eles Que sol nos teus cabelos brancos E elas 22 wwwneadunamabr Brilha mais do que a aurora o final do teu dia Ela e a Acrópole frente a frente alvas serenas Unidas no esplendor gêmeas na majestade Eram a forma e a idéia iluminando Atenas Aspásia deusa clara e simples na moldura Do céu nume feliz perfumava a cidade Era uma religião a sua formosura A Rainha de Sabá O rei Salomão deu à rainha de Sabá o que ela lhe desejou e lhe pediu afora os presentes que ele mesmo lhe deu com liberalidade real A rainha voltou e se foi para o seu reino com os seus servos REIS L III cap X 13 Que mais queres Sião e entre os bosques sombrios O meu colar de cem cidades deslumbrantes O Líbano pompeando em paços em mirantes Em cedros em pavões em corças em bugios O povo de Israel em tribos formigantes Do Eufrates ao mar Morto e o Egito Os meus navios As esquadras de Hirão coalhando o oceano e os rios Atestadas de prata e dentes de elefantes O meu leito ainda olente e morno do teu sono O cetro O gineceu e a guarda e as mil mulheres Como escravas rojando aos teus pés O meu trono Os vasos do holocausto O templo de ouro e jade A ara em sangue e fulgor ante Jeová Que queres O teu último beijo o deserto e a saudade A Morte de Orfeu Em vão as bacantes da Trácia procuram consolálo Mas Orfeu fiel ao amor de Eurídice encarcerada no Averno repeliu o amor de todas as outras mulheres E estas despeitadas esquartejaramno Houve gemidos no Ebro e no arvoredo Horror nas feras pranto no rochedo E fugiras as Mênadas de medo Espantadas da própria maldição Luz da Grécia pontífice de Apolo Orfeu despedaçada a lira ao colo 23 wwwneadunamabr A carne rota ensangüentando o solo Tombou E abriuse em músicas o chão A boca ansiosa em nome disse um grito Rolando em beijos pelo nome dito Eurídice e expirou Assim Orfeu No último canto no supremo brado Pelo ódio das mulheres trucidado Chorando o amor de uma mulher morreu Gioconda Deute o grande Leonardo ao sorriso a ironia Insídia e eterno ardil na luminosa teia Tal a Belerofonte a Quimera sorria E a Esfinge de Gizé sorri na adusta areia A cilada do amor o embuste da utopia O desejo que abrasa e a esperança que enleia Chispam na tua boca impenetrável fria Seduzes através dos séculos sereia Esse leve clarão no teu lábio indeciso É a dobrez ancestral a malícia primeva Da Ísis da pecadora altriz do Paraíso Porque para extrair as gerações da treva A serpe e a Adão e a Deus com o teu mesmo sorriso Sorria astuta e forte a mãe das raças Eva Natal No ermo agreste da noite e do presepe um hino De esperança pressaga enchia o céu com o vento As árvores Serás o sol e o orvalho E o armento Terás a glória E o luar Vencerás o destino E o pão Darás o pão da terra e o pão divino E a água Trarás alívio ao mártir e ao sedento E a palha Dobrarás a cerviz do opulento E o tecto Elevarás do opróbrio o pequenino E os reis Rei no teu reino entrarás entre palmas E os pastores Pastor chamarás os eleitos E a estrela Brilharás como Deus sobre as almas Muda e humilde porém Maria como escrava Tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos Sendo pobre temia e sendo mãe chorava Aos Meus Amigos de São Paulo 24 wwwneadunamabr Se amo padeço e sonho a recompensa É a melhor que me dais neste agasalho Desta ternura sobre mim suspensa Desce todo o valor do quanto valho Não tenho aroma que vos não pertença Vêm de vós a doçura e o bem que espalho Valemos todos pela nossa crença Na comunhão do amor e do trabalho Operário modesto abelha pobre De vós e para vós o mel fabrico E abençôo a colmeia que nos cobre Só do labor geral me glorifico Por ser da minha terra é que sou nobre Por ser da minha gente é que sou rico A um Poeta Longe do estéril turbilhão da rua Beneditino escreve No aconchego Do claustro na paciência e no sossego Trabalha e teima e lima e sofre e sua Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço e a trama viva se construa De tal modo que a imagem fique nua Rica mas sóbria como um templo grego Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre E natural o efeito agrade Sem lembrar os andaimes do edifício Porque a Beleza gêmea da Verdade Arte pura inimiga do artifício E a força e a graça na simplicidade Vila Rica O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre Sangram em laivos de ouro as minas que ambição Na torturada entranha abriu da terra nobre E cada cicatriz brilha como um brasão O ângelus plange ao longe em doloroso dobre O último ouro do sol morre na cerração E austero amortalhando a urbe gloriosa e pobre O crepúsculo cai como uma extremaunção Agora para além do cerro o céu parece Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu A neblina roçando o chão cicia em prece 25 wwwneadunamabr Como uma procissão espectral que se move Dobra o sino Soluça um verso de Dirceu Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove New York Resplandeces e ris ardes e tumultuas Na escalada do céu galgando em fúria o espaço Sobem do teu tear de praças e de ruas Atlas de ferro Anteus de pedra e Brontes de aço Gloriosa Prometeu revive em teu regaço Delira no teu gênio enche as artérias tuas E comburete a entranha arfante de cansaço Na incessante criação de assombros em que estuas Mas com as tuas Babéis debalde o céu recortas E pesas sobre o mar quando o teu vulto assoma Como a recordação da Tebas de cem portas Faltate o Tempo o vago o religioso aroma Que se respira no ar de Lutécia e de Roma Sempre moço perfume ancião de idades mortas Último Carnaval Íncola de Suburra ou de Sibarís Nasceste em saturnal viveste estulto Na folia das feiras no tumulto Dos caravançarás e dos bazares Morreste em plena orgia entre os esgares Dos arlequins no delirante culto E a saudade terás depois sepulto Herói folião dos carnavais hílares Talvez quem sabe a cova que te esconda Uma noite entre fogosfátuos se abra Como uma boca escancarada em risos E saltarás pinchando numa ronda De espectros aos tantãs dança macabra De esqueletos e lêmures aos guizos FogoFátuo Cabelos brancos Daime enfim a calma A esta tortura de homem e de artista Desdém pelo que encerra a minha palma E ambição pelo mais que não exista Esta febre que o espírito me encalma E logo me enregela esta conquista De idéias ao nascer morrendo na alma De mundos ao raiar murchando à vista Esta melancolia sem remédio 26 wwwneadunamabr Saudade sem razão louca esperança Ardendo em choros e findando em tédio Esta ansiedade absurda esta corrida Para fugir o que o meu sonho alcança Para querer o que não há na vida Inocência Como em vez de uma paz desiludida Posso eu ter nesta idade esta confiança Que me leva a correr a toda brida Na pista de uma sombra de esperança Esta velhice ingênua me intimida Tanto ardor tanta fé que me não cansa E em mais de meio século de vida Tanta credulidade de criança Rio inocente ao sol como uma rosa Ainda arquiteto mundos sobre a areia Anoiteço em miragem luminosa E ainda imagino a minha taça cheia E emborcoa Oh Vida e queroa e achoa formosa Como se não soubesse quanto é feia Remorso Às vezes uma dor me desespera Nestas ânsias e dúvidas em que ando Cismo e padeço neste outono quando Calculo o que perdi na primavera Versos e amores sufoquei calando Sem os gozar numa explosão sincera Ah mais cem vidas com que ardor quisera Mais viver mais penar e amar cantando Sinto o que esperdicei na juventude Choro neste começo de velhice Mártir da hipocrisia ou da virtude Os beijos que não tive por tolice Por timidez o que sofrer não pude E por pudor os versos que não disse Milagre Depois de tantos anos frente a frente Um encontro O fantasma do meu sonho E de cabelos brancos mudamente Quedamos frios num olhar tristonho Velhos Mas quando ansioso de repente Nas suas mãos as minhas palmas ponho Ressurge a nossa primavera ardente 27 wwwneadunamabr Na terra em bênçãos sob um sol risonho Felizes num prestígio estremecemos Deliramos na luz que nos invade Dos redivivos êxtases supremos E fulgimos volvendo à mocidade Aureolados dos beijos que tivemos No divino milagre da saudade A Cilada O perfume o silêncio a sombra Os ninhos Emudecem E temos sonhadores A humildade das ervas nos caminhos E uma inocência de anjos entre as flores Mas há na tarde morna ignotos vinhos Secretos filtros pérfidos vapores Amavios feitiços e carinhos Moles quebrados e perturbadores E de repente o incêndio dos sentidos As mãos frias tateando na ansiedade As bocas que se buscam num queixume E o corpo o sangue o espírito perdidos E a febre e os beijos e a cumplicidade Da sombra do silêncio do perfume Perfeição Nunca entrarei jamais o teu recinto Na sedução e no fulgor que exalas Ficas vedada num radiante cinto De riquezas de gozos e de galas Amote cobiçandote E faminto Adivinho o esplendor das tuas salas E todo o aroma dos teus parques sinto E ouço a música e o sonho em que te embalas Eternamente ao meu olhar pompeias E olhote em vão maravilhosa e bela Adarvada de altíssimas ameias E à noite à luz dos astros a horas mortas Rondote e arquejo e choro ó cidadela Como um bárbaro uivando às tuas portas Messídoro Por que chorar Exulta satisfeita És quando a mocidade te abandona Mais que bela mulher mulher perfeita Do completo fulgor senhora e dona As derradeiras messes aproveita E goza A antevelhice é uma Pomona 28 wwwneadunamabr Que se esmerando na final colheita Dos frutos áureos a paixão sazona Ama e frui o delírio a febre o ciúme E todo o amor E morre como um dia Em fogo como um dia que resume Toda a vida em anseios em poesia Em glória em luz em música em perfume Em beijos numa esplêndida agonia Samaritana Numa volta de estrada em sede insana Vite Ao lado a frescura da cisterna E tinhas a expressão piedosa e terna Como na Bíblia da Samaritana Desteme de beber Mas quanto engana Às vezes a piedade e a esmola inferna Desteme de beber da fonte eterna De onde a torrente dos remorsos mana Com a água que me deste que contraste De ti para a mulher de Samaria A boca e o coração me envenenaste Maior do que o da sede este tormento Esta ânsia singular esta agonia Que é de saudade e de arrependimento Um Beijo Foste o beijo melhor da minha vida Ou talvez o pior Glória e tormento Contigo à luz subi do firmamento Contigo fui pela infernal descida Morreste e o meu desejo não te olvida Queimasme o sangue enchesme o pensamento E do teu gosto amargo me alimento E rolote na boca malferida Beijo extremo meu prêmio e meu castigo Batismo e extremaunção naquele instante Por que feliz eu não morri contigo Sintote o ardor e o crepitar te escuto Beijo divino e anseio delirante Na perpétua saudade de um minuto Criação Há no amor um momento de grandeza Que é de inconsciência e de êxtase bendito Os dois corpos são toda a Natureza As duas almas são todo o Infinito É um mistério de força e de surpresa 29 wwwneadunamabr Estala o coração da terra aflito Rasgase em luz fecunda a esfera acesa E de todos os astros rompe um grito Deus transmite o seu hálito aos amantes Cada beijo é a sanção dos Sete Dias E a Gênese fulgura em cada abraço Porque entre as duas bocas soluçantes Rola todo o Universo em harmonias E em glorificações enchendo o espaço Maternidade O Senhor disse à mulher Por que fizeste isto Eu multiplicarei os teus trabalhos Gen cap III Ventre mártir a rútila visita Do amor fecundo te arrancou do sono E irradias lampejas como um trono De animado marfim que à luz palpita Ergueste em esto de orgulhoso entono Ferete enfim a maldição bendita Tens o viço da Terra quando a agita Rico de orvalhos e de sóis o outono Augusto em gozo eterno o teu suplício Feliz a tua dor propiciatória Rasgate altar do torturante auspício E abrase em flores tua alvura ebórea Ensangüentada pelo sacrifício Para a maternidade e para a glória Os Amores da Aranha Com o veludo do ventre a palpitar hirsuto E os oito olhos de brasa ardendo em febre estranha Vedea chega ao portal do intrincado reduto E na glória nupcial do sol se aquece e banha Moscas podeis revoar sem medo à sua sanha Mole e tonta de amor pendente o palpo astuto E recolhido o anzol da mandíbula a aranha Ansiosa espera e atrai o amante de um minuto E eilo corre eilo acode à festa e à morte Um hino Curto e louco um momento abala e inflama o fausto Do aranhol de ouro e seda E o aguilhão assassino Da esposa satisfeita abate o noivo exausto Que cai sentindo a um tempo invejável destino A tortura do espasmo e o gozo do holocausto 30 wwwneadunamabr Os Amores da Abelha Quando em prônubo anseio a abelha as asas solta E escala o espaço ardendo êxul do corcho céreo Louca se precipita a sussurrante escolta Dos noivos zonzos voando ao nupcial mistério Em breve sucumbindo o enxame arqueja e volta Mas o mais forte um só senhor do excelso império Segue a esquiva e em zunzum zeloso de revolta Entoa o epitalâmio e o cântico funéreo Tocaa fecundaa e vence e morre na vitória A esposa livre ao sol no alto do firmamento Palra e rainha e mie zumbe de orgulho e glória E rodopiando inerte o suicida sublime Entre as bênçãos da luz e os hosanas do vento Rola mártir feliz do delicioso crime Semper Impendent Se amas se da velhice entras a porta escura Maldize o teu amor que é um triste adeus à vida Porque no teu amor de velho se mistura Ao enlevo de um noivo a angústia de um suicida Louco vês entreabrirse a cova na doçura Do aconchego nupcial que ao gozo te convida E na incerteza atroz da carícia futura Cada afago te dói como uma despedida Sofres um estertor em cada abraço um grito Em cada beijo em cada anseio uma saudade É um rolar um ferver num inferno infinito No desesperador prazer do teu transporte Sentes a crispação da treva que te invade O doloroso amargo antesabor da morte O Oitavo Pecado Vivendo para a morte alegre da tristeza Temendo o fogo eterno e a danação sulfúrea Gelaste no cilício em ascética fúria A alma ridente o sangue em esto a carne acesa Foste mártir e herói da própria natureza Intacto de ambição de desejo ou de injúria Para ganhar o céu venceste a ira a luxúria A gula a inveja o orgulho a preguiça e a avareza Mas não amaste E além do Inferno um outro existe Onde é mais alto o choro e o horror dos renegados Ali penando tu que o amor nunca sentiste Pagarás sem amor os dias dissipados Esqueceste o pecado oitavo e era o mais triste Mortal entre os mortais de todos os pecados 31 wwwneadunamabr Salutaris Porta Para conter aquela imensa chama Os nossos corações eram pequenos Tivemos medo da paixão E ao menos Não vimos tanto céu mudado em lama O velário correuse antes do drama E não houve perfídias nem venenos Entre os nossos espíritos serenos Que a saudade do prólogo embalsama Bendigamos o amor que foi tão curto O sonho vago que expirou tão cedo Sossobrado no porto antes do surto Feliz o idílio que não teve história Salvandonos do tédio o nosso medo Foi uma porta de ouro para a glória Assombração Conheço um coração tapera escura Casa assombrada onde andam penitentes Sombras e ecos de amor e em que perdura A saudade presença dos ausentes Evadidos da paz da sepultura Num tatalar de tíbias e de dentes Revivem os fantasmas da ternura Arrastando sudários e correntes Rangem os gonzos no bater das portas E os corredores enchemse de prantos Um mundo de avejões do chão se eleva Ressuscitado pelas horas mortas Frios abraços gemem pelos cantos Beijos defuntos fogem pela treva Palmeira Imperial Mostras na glória um coração mesquinho Numa beleza esplêndida que aterra Passas desencadeando um ar de guerra Sem deixar um perfume no caminho Como a palmeira não susténs um ninho Não és filha mas hóspeda da Terra Subjugando a planície na alta serra Cruel às aves seca de carinho Ha no deslumbramento do teu porte Tédio orgulho desdém talvez saudade De outra vida ambição talvez da morte Como a palmeira tens a majestade E dela tens a desgraçada sorte 32 wwwneadunamabr A avareza da sombra e da piedade Diamante Negro Vite uma vez e estremeci de medo Havia susto no ar quando passavas Vida morta enterrada num segredo Letárgico vulcão de ignotas lavas Ias como quem vai para um degredo De invisíveis grilhões as mãos escravas A marcha dúbia o olhar turvado e quedo No roxo abismo das olheiras cavas Aonde ias aonde vais Foge o teu vulto Mas fica o assombro do teu passo errante E fica o sopro desse inferno oculto O horrível fogo que contigo levas Incompreendido mal negro diamante Sol sinistro e abafado ardendo em trevas Palavras As palavras do amor expiram como os versos Com que adoço a amargura e embalo o pensamento Vagos clarões vapor de perfumes dispersos Vidas que não têm vida existências que invento Esplendor cedo morto ânsia breve universos De pó que um sopro espalha ao torvelim do vento Raios de sol no oceano entre as águas imersos As palavras da fé vivem num só momento Mas as palavras más as do ódio e do despeito O não que desengana o nunca que alucina E as do aleive em baldões e as da mofa em risadas Abrasamnos o ouvido e entramnos pelo peito Ficam no coração numa inércia assassina Imóveis e imortais como pedras geladas Marcha Fúnebre Thamuz Thamuz panmegas tethneke Como se ouviu no Epiro outrora o extremo grito Pã morreu na amplidão reboe o meu lamento Torpe a ambição perdido o amor inane o alento Nestas baixas paixões de um século maldito Rolem trenos no oceano e elegias no vento Concentraivos na dor do funerário rito O asas e ilusões num miserere aflito E ó flores num responso e ó sonhos num memento Bocas bradando ao céu de minuto em minuto Olhos velando a terra em sudários de pranto Corações num rufar de tambores em luto 33 wwwneadunamabr Guaiai carpi gemei e ecoai de porto a porto De mar a mar de mundo a mundo a queixa e o espanto O grande Pá morreu de novo O Ideal é morto O Tear A fieira zumbe o piso estala chia O liço range o estambre na cadeia A máquina dos Tempos dia a dia Na música monótona vozeia Sem pressa sem pesar sem alegria Sem alma o Tecelão que cabeceia Carda retorce estira asseda fia Doba e entrelaça na infindável teia Treva e luz ódio e amor beijo e queixume Consolação e raiva gelo e chama Combinamse e consomemse no urdume Sem princípio e sem fim eternamente Passa e repassa a aborrecida trama Nas mãos do Tecelão indiferente O Cometa Um cometa passava Em luz na penedia Na erva no inseto em tudo uma alma rebrilhava Entregavase ao sol a terra como escrava Ferviam sangue e seiva E o cometa fugia Assolavam a terra o terremoto a lava A água o ciclone a guerra a fome a epidemia Mas renascia o amor o orgulho revivia Passavam religiões E o cometa passava E fugia riçando a ígnea cauda flava Fenecia uma raça a solidão bravia Povoavase outra vez E o cometa voltava Escoavase o tropel das eras dia a dia E tudo desde a pedra ao homem proclamava A sua eternidade E o cometa sorria Diálogo O mancebo perfeito e o velho humilde e rude Viramse E disse ao velho o mancebo perfeito Glória a mim sorvo o céu num hausto do meu peito E o velho Engana o céu Tudo na terra ilude Rebentam roseirais do chão em que me deito A alma da noite embala a minha senectude Quando acordo há um clarão de graça e de saúde Pudesse ser perpétua a calma do meu leito Quero vibrar agir vencer a Natureza Viver a Vida A Vida é um capricho do vento 34 wwwneadunamabr Vivo e posso O poder é uma ilusão da sorte Herói e deus serei a beleza A beleza É a paz Serei a força A força é o esquecimento Serei a perfeição A perfeição é a morte Avatara Numa vida anterior fui um cheik macilento E pobre Eu galopava o albornoz solto ao vento Na soalheira candente e herói de vida obscura Possuía tudo o espaço um cavalo e a bravura Entre o deserto hostil e o ingrato firmamento Sem abrigo sem paz no coração violento Eu namorava em minha altiva desventura As areias na terra e as estrelas na altura Às vezes triste e só cheio do meu desgosto Eu castigava a mão contra o meu próprio rosto E contra a minha sombra erguia a lança em riste Mas o simum do orgulho enfunava o meu peito E eu galopava livre e voava satisfeito Da força de ser só da glória de ser triste Abstração Há no espaço milhões de estrelas carinhosas Ao alcance do teu olhar Mas conjeturas Aquelas que não vês ígneas e ignotas rosas Viçando na mais longe altura das alturas Há na terra milhões de mulheres formosas Ao alcance do teu desejo Mas procuras As que não vivem sonho e afeto que não gozas Nem gozarás visões passadas ou futuras Assim numa abstração de números e imagens Vives Olhas com tédio o planeta ermo e triste E achas deserta e escura a abóbada celeste E morrerás sozinho entre duas miragens As estrelas sem nome a luz que nunca viste E as mulheres sem corpo o amor que não tiveste Cantilena Quando as estrelas surgem na tarde surge a esperança Toda alma triste no seu desgosto sonha um Messias Quem sabe o acaso na sorte esquiva traz a mudança E enche de mundos as existências que eram vazias Quando as estrelas brilham mais vivas brilha a esperança Os olhos fulgem loucas ensaiam as asas frias Tantos amores há pela terra que a mão alcança E há tantos astros com outras vidas para outros dias 35 wwwneadunamabr Mas de asas fracas baixando os olhos o sonho cansa No céu e na alma cerramse as brumas gelam as luzes Quando as estrelas tremem de frio treme a esperança Tempo o delírio da mocidade não reproduzes Dorme o passado quantas saudades e quantas cruzes Quando as estrelas morrem na aurora morre a esperança Sonho Ter nascido homem outro em outros dias Não hoje nesta agitação sem glória Em traficâncias e mesquinharias Numa apagada vida merencória Ter nascido numa era de utopias Nos áureos ciclos épicos da História Ardendo em generosas fantasias Em rajadas de amor e de vitória Campeão e trovador da Idade Média Herói no galanteio e na cruzada Viver entre um idílio e uma tragédia E morrer em sorrisos e lampejos Por um gesto um olhar um sonho um nada Traspassado de golpes e de beijos Ruth Pede pouco Mais tem do que um monarca O pobre tendo o pouco que pedia E é rico achando ao terminar do dia Paz no espírito e pão no fundo da arca Triste ó alma a ambição que o mundo abarca Perde tudo quem quer a demasia Poupa o riso e o prazer porque a alegria Tanto é mais doce quanto mais é parca Feliz modesto coração te dizes Quando vais como Ruth em muda prece Empós dos segadores mais felizes Feliz é o simples que feliz procura Uma espiga apanhar da alheia messe Um resto miserável da ventura Abisag Cedes a um velho inválido e insensato Mais insensato do que tu sorrindo A graça e o viço do teu corpo lindo A tua formosura e o teu recato Em breve louca o teu delírio findo 36 wwwneadunamabr Compreenderás o horror deste contrato Ter dado aroma a quem não tem olfato Pedir amparo ao que já está caindo Ele um dia amargando a sua glória Chorando o seu império e o teu degredo O teu remorso e o seu pavor covarde Morrerá de vergonha na vitória Triste ilusão que te acordou tão cedo Fortuna triste que o escolheu tão tarde Estuário Viverei Nos meus dias descontentes Não sofro só por mim Sofro a sangrar Todo o infinito universal pesar A tristeza das cousas e dos entes Alheios prantos em cachões ardentes Vêm ao meu coração e ao meu olhar Tal num estuário imenso acolhe o mar Todas as águas vivas das vertentes Morre o infeliz que unicamente encerra A própria dor estrangulada em si Mas vive a Vida que em meus versos erra Vive o consolo que deixei aqui Vive a piedade que espalhei na terra Assim não morrerei porque sofri Consolação Penso às vezes nos sonhos nos amores Que inflamei A distância pelo espaço Penso nas ilusões do meu regaço Levadas pelo vento a alheias dores Penso na multidão dos sofredores Que uma bênção tiveram do meu braço Talvez algum repouso ao seu cansaço Talvez ao seu deserto algumas flores Penso nas amizades sem raízes Nos afetos anônimos dispersos Que tenho sob os céus de outros países Penso neste milagre dos meus versos Um pouco de modéstia aos mais felizes Um pouco de bondade aos mais perversos Penetralia Falei tanto de amor de galanteio Vaidade e brinco passatempo e graça 37 wwwneadunamabr Ou desejo fugaz que brilha e passa No relâmpago breve com que veio O verdadeiro amor honra ou desgraça Gozo ou suplício no íntimo fecheio Nunca o entreguei ao publico recreio Nunca o expus indiscreto ao sol da praça Não proclamei os nomes que baixinho Rezava E ainda hoje tímido mergulho Em funda sombra o meu melhor carinho Quando amo amo e deliro sem barulho E quando sofro calome e definho Na ventura infeliz do meu orgulho Prece Durma de tuas mãos nas palmas sacrossantas O meu remorso Velho e pobre como Jó Perdendote a melhor de tantas posses tantas Malsinado de Deus perdi Tu foste a só Ao céu por teu perdão a minha alma que encantas Suba como por uma escada de Jacó Perdite E eras a graça alta entre as altas santas A sombra a força o aroma a luz Tu foste a só Tu foste a só Não valho a poeira que levantas Quando passas Não valho a esmola do teu dó Mas deixame chorar beijando as tuas plantas Mas deixame clamar humilhado no pó Tu que em misericórdia as Madonas suplantas Acolhe a contrição do mau Tu foste a só Oração a Cibele Deitado sobre a terra em cruz levanto o rosto Ao céu e às tuas mãos ferozes e esmoleres Matame Abençoarei teu coração composto Ó mãe dos corações de todas as mulheres Tu que me dás amor e dor gosto e desgosto Glória e vergonha tu que me afagas e feres Aniquilame E doura e embala o meu sol posto Fonte berço mistério Ísis Pandora Ceres Que eu morra assim feliz tudo de ti querendo Mal e bem desespero e ideal veneno e pomo Pecados e perdões beijos puros e impuros E os astros sobre mim caiam de ti chovendo Como os teus crimes como as tuas bênçãos como A doçura e o travor de teus cachos maduros Eutanásia Antes que o meu espírito no espaço 38 wwwneadunamabr Fuja em suspiro etéreo e vago fumo Em versos e esperanças me consumo E espalho sonhos pelo bem que faço Até no instante em que seguir o rumo Para o sono final do teu regaço Ó terra sorverei no extremo passo Da vida em febre o capitoso sumo Seja a minha agonia uma centelha De glória E a morte no meu grande dia Pairando sobre mim como uma abelha Sugue o meu grito de última alegria O meu beijo supremo flor vermelha Embalsamando a minha boca fria Introibo Sinto às vezes à noite o invisível cortejo De outras vidas num caos de clarões e gemidos Vago tropel voejar confuso hálito e beijo De cousas sem figura e seres escondidos Miserável percebo em tortura e desejo Um perfume um sabor um tacto incompreendidos E vozes que não ouço e cores que não vejo Um mundo superior aos meus cinco sentidos Ardo aspiro por ver por saber longe acima Fora de mim além da dúvida e do espanto E na sideração que um dia me redima Liberto flutuarei feliz no seio etéreo E ó Morte rolarei no teu piedoso manto Para o deslumbramento augusto do mistério Vulnerant Omnes Ultima Necat Rio perpétuo e surdo as serras esboroas Serras e almas ó Tempo e em mudas cataratas As tuas horas vão mordendo aluindo à toa Todas ferem passando e a derradeira mata Mas a vida é um favor De crepe ou de ouro e prata Da injúria ou do perdão do opróbrio ou da coroa Todas as horas para o martírio são gratas Todas para a esperança e para a fé são boas Primeira que em meu ninho os primeiros arrulhos Me deste e a minha Mãe deste um grito e um orgulho Bendita E todas vós benditas na ânsia triste Ou no clamor triunfal que todas me feristes E bendita que sobre a minha cova aberta Pairas última ó tu que matas e libertas 39 wwwneadunamabr 40 Frutidoro Fruto depois de ser semente humilde e flor Na alta árvore nutriz da Vida amadureço Gozei sofri vivi Tenho no mesmo apreço O que o gozo me deu e o que me deu a dor Venha o inverno depois do outono benfeitor Feliz porque nasci feliz porque envelheço Hei de ter no meu fim a glória do começo Não me verão chorar no dia em que me for Não me amedrontas Morte o teu apelo escuto Conto sem mágoa os sóis que me acercam de ti E sem tremer à porta ouço o teu passo astuto Levame Após a luta o sono me sorri Cairei beijando o galho em que fui flor e fruto Bendizendo a sazão em que amadureci Os Sinos Plangei sinos A terra ao nosso amor não basta Cansados de ânsias vis e de ambições ferozes Ardemos numa louca aspiração mais casta Para trasmigrações para metempsicoses Cantai sinos Daqui por onde o horror se arrasta Campas de rebeliões bronzes de apoteoses Badalai bimbalhai tocai à esfera vasta Levai os nossos ais rolando em vossas vozes Em repiques de febre em dobres a finados Em rebates de angústia ó carrilhões dos cimos Tangei Torres da fé vibrai os nossos brados Dizei sinos da terra em clamores supremos Toda a nossa tortura aos astros de onde vimos Toda a nossa esperança aos astros aonde iremos Sinfonia Meu coração na incerta adolescência outrora Delirava e sorria aos raios matutinos Num prelúdio incolor como o alegro da aurora Em sistros e clarins em pífanos e sinos Meu coração depois pela estrada sonora Colhia a cada passo os amores e os hinos E ia de beijo a beijo em lasciva demora Num voluptuoso adágio em harpas e violinos Hoje meu coração num scherzo de ânsias arde Em flautas e oboés na inquietação da tarde E entre esperanças foge e entre saudades erra E heróico estalará num final nos clamores Dos arcos dos metais das cordas dos tambores Para glorificar tudo que amou na terra Fim ANÁLISE DOS POEMAS LÍNGUA PORTUGUESA O poema Língua portuguesa escrito por Olavo Bilac traz em sua composição versos sobre a própria língua portuguesa e sua história trazendo à tona o surgimento a partir do Latim Ao passo em que é suave e bruta a língua portuguesa assume usos e propósitos distintos tendo que atravessar o oceano atlântico para poder chegar ao nosso querido Brasil O escrito relembra que o idioma em apreço é análogo ao que ouvia soar da boca de sua genitora e também aquele utilizado por Camões em suas famigeradas obras e em seus momentos de angústias e sofrimento AS NUVENS As nuvens em consonância com Olavo Bilac são espetáculos no céu que estão em constante mudança propiciando belas paisagens aos nossos olhos Em seu poema o autor descreve as nuvens como a materialização da natureza Ele relaciona a sua transformação e movimento à inconstância da vida e da mente humana O poeta justifica que a imprevisibilidade das nuvens pode ser uma metáfora para as alterações constantes da vida Dessa forma ele enfatiza a importância de apreciar a beleza do momento pois tudo muda sem aviso prévio AS ÁRVORES O soneto As árvores de Olavo Bilac descreve um dia de ventania no crepúsculo os galhos se mexendo lembrariam pessoas querendo se libertar de uma prisão sair do chão Neste poema há uma contradição latente uma árvore querer voar seria similar ao que ocorre às vezes com o ser humano Deste modo ele vive preso à terra almejando ter asas Homens e árvores não voam por isso sofrem querendo mais aventura e liberdade MICROCOSMOS O soneto em apreço escrito por Olavo Bilac descreve a magnitude da natureza e a sua relação com o ser humano O poema inicia retratando a exiguidade do nosso planeta em relação ao universo Porém ao passo em que descreve a pequenez do nosso planeta traça um contraponto ao mostrar como nele há uma imensidão de vida e beleza O poeta também destaca a complexidade que há nas coisas aparentemente simples como um grão de areia ou um raio de sol e como elas são importantes e fazem parte de um todo Bilac também aborda a relação do ser humano com a natureza enfatizando a importância de cuidar e preservar o meio ambiente DUALISMO O Soneto Dualismo de Olavo Bilac em sua primeira estrofe apresenta uma dualidade na visão do ser humano que é composto de uma parte material e de uma parte espiritual corpo e alma respectivamente O poeta enfatiza a superioridade da alma que é imortal e desperta o grande desejo do homem por sua busca e compreensão Posteriormente na segunda estrofe o poeta destaca a aflição que o homem enfrenta ao buscar o conhecimento da alma haja vista que é um caminho repleto de percalços Todavia o objetivo final de reconhecer a existência da alma é o que o mantém motivado em sua jornada Na terceira estrofe a dualidade é novamente destacada desta vez sob a perspectiva de um dilema entre a razão e o amor O protagonista ao mesmo tempo é atraído pela paixão do amor e pela ânsia de obter conhecimento racional A sua luta para escolher um caminho reflete a dualidade existente na natureza humana O soneto traz consigo uma reflexão sobre como as dualidades existem no ser humano e de que maneira elas o afetam nas busca da compreensão de si mesmo VILA RICA O poema Vila Rica de Olavo Bilac é uma homenagem à Cidade de Ouro Preto antiga capital de Minas Geras e também um relevante centro histórico e cultural do Brasil Bilac salienta a rica arquitetura as minas de ouro que proporcionaram uma grande rentabilidade à região e a relevância da cidade na história do país O poema é uma ode à beleza e à história de Vila Rica e um convite aos brasileiros para se orgulharem de sua rica herança cultural ORAÇÃO A CIBELE No poema em apreço o poeta solicita à deusa da fertilidade e natureza Cibele que concedalhe a paz e a felicidade O poema repleto de simbolismo descreve a força da natureza e em todos os seres vivos Bilac apresentase como um devoto de Cibele que almeja somente a sua benção O poeta conclui o seu poema com uma solicitação para que a deusa guie e ilumine os seus passos OS SINOS O poemas Os sinos de Olavo Bilac é uma reflexão sobre a importância do badalar dos sinos na igreja e em nossas vidas Bilac exalta a beleza e o simbolismo dos toques de sino que marcam as horas anunciam celebrações religiosas e eventos importantes Bilac ao ouvir o ressoar dos sinos percebe a grandeza e a importância da vida humana e as relações entre as pessoas e as divindades Ele também descreve a melodia dos sinos como um mix de tristeza saudade e esperança PÁTRIA O poema Pátria escrito por Olavo Bilac traz consigo um sentimento ufanista isto é um orgulho demasiado de sua pátria colocando o Brasil como uma terra esplêndida e desprendida de comparações O intuito do poema em apreço é instigar e ensinar aos outros o amor pelo seu país A UM POETA Esse é sem dúvidas um dos mais famosos poemas composto por Olavo Bilac Em A um poeta o escritor transmite a sua concepção acerca do ofício da escrita Bilac apresenta o trabalho da criação de poemas como um trabalho árduo e sofrido Entretanto ele também explicita que esse esforço não deve de forma alguma ficar claro no resultado final ele acredita que a obra terminada deve parecer fruto de um processo natural e harmonioso REFERÊNCIAS Poemas de Olavo Bilac disponível em olavobilacpoemas Pátria Olavo Bilac demonumentafauuspbrpátria TARDE OLAVO BILAC

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wwwneadunamabr Universidade da Amazônia Tarde de Olavo Bilac NEAD NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Av Alcindo Cacela 287 Umarizal CEP 66060902 Belém Pará Fones 91 2103196 2103181 wwwneadunamabr Email uvbunamabr 1 wwwneadunamabr Tarde de Olavo Bilac À memória de José do Patrocínio meu amigo é dedicado este livro 8 outubro 1918 O B La nostra vita è siccome uno arco montando e volgendo Avemo dunque che Ia gioventute nel quarantacinquesimo anno se compie e siccome Iadolescenza è in venticinque anni che procede montando alia gioventute cosí il discendere cioè la senettute è altrettanto tempo che succede alla gioventute e cosí si termina Ia senettute nel settantesimo anno Dové da sapere che la nostra buona e diritta natura ragionevolmente procede in noi siccome vedemo procedere la natura delle piante in quelle e però altri costumi e altri portamenti sono ragionevoli ad una età più che ad altre nelli quali Ianima nobilitata ordinariamente procede per una semplice via usando li suoi atti nelli loro tempi e etadi siccome alultimo suo frutto sono ordinari DANTE Il Convito trat quarto cap XXIV Hino á Tarde Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas Alva natal da luz primavera do dia Não te amo nem a ti canícula bravia Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas Amote hora hesitante em que se preludia O adágio vesperal tumba que te recamas De luto e de esplendor de crepes e auriflamas Moribunda que ris sobre a própria agonia Amote ó tarde triste ó tarde augusta que entre Os primeiros clarões das estrelas no ventre Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada Trazes a palpitar como um fruto do outono A noite alma nutriz da volúpia e do sono Perpetuação da vida e iniciação do nada Ciclo Manhã Sangue em delírio verde gomo Promessa ardente berço e liminar 2 wwwneadunamabr A árvore pulsa no primeiro assomo Da vida inchando a seiva ao sol Sonhar Dia A flor o noivado e o beijo como Em perfumes um tálamo e um altar A arvore abrese em riso espera o pomo E canta à voz dos pássaros Amar Tarde Messe e esplendor glória e tributo A árvore maternal levanta o fruto A hóstia da idéia em perfeição Pensar Noite Oh saudade A dolorosa rama Da árvore aflita pelo chão derrama As folhas como lágrimas Lembrar Pátria Pátria latejo em ti no teu lenho por onde Circulo e sou perfume e sombra e sol e orvalho E em seiva ao teu clamor a minha voz responde E subo do teu cerne ao céu de galho em galho Dos teus liquens dos teus cipós da tua fronde Do ninho que gorjeia em teu doce agasalho Do fruto a amadurar que em teu seio se esconde De ti rebento em luz e em cânticos me espalho Vivo choro em teu pranto e em teus dias felizes No alto como uma flor em ti pompeio e exulto E eu morto sendo tu cheia de cicatrizes Tu golpeada e insultada eu tremerei sepulto E os meus ossos no chão como as tuas raízes Se estorcerão de dor sofrendo o golpe e o insulto Língua Portuguesa Ultima flor do Lácio inculta e bela És a um tempo esplendor e sepultura Ouro nativo que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela Amote assim desconhecida e obscura Tuba de alto clangor lira singela Que tens o trom e o silvo da procela E o arrolo da saudade e da ternura Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo Amote ó rude e doloroso idioma 3 wwwneadunamabr Em que da voz materna ouvi meu filho E em que Camões chorou no exílio amargo O gênio sem ventura e o amor sem brilho Música Brasileira Tens às vezes o fogo soberano Do amor encerras na cadência acesa Em requebros e encantos de impureza Todo o feitiço do pecado humano Mas sobre essa volúpia erra a tristeza Dos desertos das matas e do oceano Bárbara poracé banzo africano E soluços de trova portuguesa És samba e jongo xiba e fado cujos Acordes são desejos e orfandades De selvagens cativos e marujos E em nostalgias e paixões consistes Lasciva dor beijo de três saudades Flor amorosa de três raças tristes Anchieta Cavaleiro da mística aventura Herói cristão nas provações atrozes Sonhas casando a tua voz às vozes Dos ventos e dos rios na espessura Entrando as brenhas teu amor procura Os índios ora filhos ora algozes Aves pela inocência e onças ferozes Pela bruteza na floresta escura Semeador de esperanças e quimeras Bandeirante de entradas mais suaves Nos espinhos a carne dilaceras E porque as almas e os sertões desbraves Cantas Orfeu humanizando as feras São Francisco de Assis pregando às aves Caos No fundo do meu ser ouço e suspeito Um pélago em suspiros e rajadas Milhões de vivas almas sepultadas Cidades submergidas no meu peito 4 wwwneadunamabr Às vezes um torpor de águas paradas Mas de repente um temporal desfeito Festa agonia júbilo despeito Clamor de sinos retintim de espadas Procissões e motins glórias e luto Choro e hosana Ferver de sangue novo Fermentação de um mundo agreste e bruto E há na esperança de que me comovo E na grita de dúvidas que escuto A incerteza e a alvorada do meu povo Diziam que Diziam que entre as nações sobreditas moravam algumas monstruosas Uma é de anãos de estatura tão pequena que parecem afronta dos homens chamados Goiasis Outra é de casta de gente que nasce com os pés ás avessas de maneira que quem houver de seguir seu caminho há de andar ao revés do que vão mostrando as pisadas chamamse Matuius Outra é de homens gigantes de dezesseis palmos de alto adornados de pedaços de ouro por beiços e narizes e aos quais todos os outros pagam respeito têm por nome Curinqueás Finalmente que há outra nação de mulheres também monstruosas no modo do viver são as que hoje chamamos Amazonas e de que tomou o nome o rio porque são guerreiras que vivem por si só sem comércio de homens vivem entre grandes montanhas são mulheres de valor conhecido Padre Simão de Vasconcelos Crônica da Companhia de Jesus no Estado do Brasil 1663 Liv I cap 31 I Os Monstros Não me perdi numa ilusão Perdime Na existência entre os homens E encontreios Vivos bem vivos Estes monstros feios Cujo peso afrontoso a terra oprime Mas há monstros no bem como no crime Outros houve que em hinos e gorjeios Talvez viveram e morreram cheios De extrema formosura e ardor sublime Ah no dia da cólera tremenda Os monstros bons agora fugitivos Desta míngua de fé que nos infama Ressurgirão no epílogo da lenda Os mortos voltarão varrendo os vivos E os maus se afogarão na própria lama 5 wwwneadunamabr II Os Goiasis Ainda viveis espíritos obscenos Como nos dias do Brasil inculto Na inteligência anãos como no vulto Como no corpo no moral pequenos Espremeis a impotência do ódio estulto Em pérfidos esguichos de venenos Tendes baixeza em tudo nem ao menos Força na inveja e elevação no insulto Répteis humanos no coleio dobre De rastos babujais templos e lares Contra os bons contra os fortes de alma nobre Línguas e dentes dardejais nos ares Mas só podeis ferir na raiva pobre Em vez dos corações os calcanhares III Os Matuius De pés virados marcha avessa e rude Dedos atrás calcâneos para a frente Ainda viveis mentores sem virtude Que a verdade escondeis à vossa gente Sabeis e errais propositadamente Traidores nas lições e na atitude Aos corações o vosso exemplo mente Como no solo o vosso rasto ilude Pobre quem calca o vosso piso errado Em vez da liberdade encontra um muro Pedindo a salvação cai num pecado E acha em lugar da glória o lodo impuro Para seguirvos vai para o passado Por imitarvos foge do futuro IV Os Curinqueãs Ainda viveis Conheçovos felizes Morubixabas de ambições astutas Que em desgraçadas e mesquinhas lutas Desgovernais misérrimos países 6 wwwneadunamabr Já tendes paços em lugar de grutas Mas apesar do tempo e dos vernizes Se os não trazeis por beiços e narizes Os botoques guardais nas almas brutas Pobres de idéias ávidos de foros Rudes pastores de servil rebanho Espirrais arrogância pelos poros Sois sempre os mesmos Curinqueãs de antanho Vastos e estéreis ocos e sonoros Unicamente grandes no tamanho V As Amazonas Nem sempre durareis eras sombrias De miséria moral A aurora esperas Ó Pátria e ela virá com outras eras Outro sol outra crença em outros dias Davi renascerá contra Golias Alcides contra os pântanos e as feras Os corações serão como crateras E hão de em lavas mudarse as cinzas frias As nobres ambições força e bondade Justiça e paz virão sobre estas zonas Da confusa fusão da ardente escória E na sua divina majestade Virgens reviverão as Amazonas Na cavalgada esplêndida da glória O Vale Sou como um vale numa tarde fria Quando as almas dos sinos de uma em uma No soluçoso adeus da avemaria Expiram longamente pela bruma É pobre a minha messe É névoa e espuma Toda a glória e o trabalho em que eu ardia Mas a resignação doura e perfuma A tristeza do termo do meu dia Adormecendo no meu sonho incerto Tenho a ilusão do prêmio que ambiciono Cai o céu sobre mim em pirilampos E num recolhimento a Deus oferto 7 wwwneadunamabr O cansado labor e o inquieto sono Das minhas povoações e dos meus campos A Montanha Calma entre os ventos em lufadas cheias De um vago sussurrar de ladainha Sacerdotisa em prece o vulto alteias Do vale quando a noite se avizinha Rezas sobre os desertos e as areias Sobre as florestas e a amplidão marinha E ajoelhadas rodeiamte as aldeias Mudas servas aos pés de uma rainha Ardes num holocausto de ternura E abres piedosa a solidão bravia Para as águias e as nuvens a acolhêlas E invades como um sonho a imensa altura Ultima a receber o adeus do dia Primeira a ter a bênção das estrelas Os Rios Magoados ao crepúsculo dormente Ora em rebojos galopantes ora Em desmaios de pena e de demora Rios chorais amarguradamente Desejais regressar Mas leito em fora Correis E misturais pela corrente Um desejo e uma angústia entre a nascente De onde vindes e a foz que vos devora Sofreis da pressa e a um tempo da lembrança Pois no vosso clamor que a sombra invade No vosso pranto que no mar se lança Rios tristes agitase a ansiedade De todos os que vivem de esperança De todos os que morrem de saudade As Estrelas Desenrolase a sombra no regaço Da morna tarde no esmaiado anil Dorme no ofego do calor febril A natureza mole de cansaço 8 wwwneadunamabr Vagarosas estrelas passo a passo O aprisco desertando às mil e às mil Vindes do ignoto seio do redil Num compacto rebanho e encheis o espaço E enquanto lentas sobre a paz terrena Vos tresmalhais tremulamente a flux Uma divina música serena Desce rolando pela vossa luz Cuidase ouvir ovelhas de ouro a avena Do invisível pastor que vos conduz As Nuvens Nuvem que me consolas e contristas Tenho o teu gênio e o teu labor ingrato Essas arquiteturas imprevistas São como as construções em que me mato Nunca vemos misérrimos artistas A vitória deste ímpeto insensato A um sopro benfazejo que conquistas A um hálito cruel que desbarato Nuvens de terra e céu brincos do vento Vaisenos breve a essência no ar varrida Irmã que importa ao menos num momento No fastígio falaz da nossa lida Tu nas miragens e eu no pensamento Somos a força e a afirmação da Vida As Árvores Na celagem vermelha que se banha Da rutilante imolação do dia As árvores ao longe na montanha Retorcemse espectrais à ventania Árvores negras que visão estranha Vos aterra Que horror vos arrepia Que pesadelo os troncos vos assanha Descabelando a vossa rumaria Tendes alma também Amais o seio Da terra mas sonhais como sonhamos Bracejais como nós no mesmo anseio Infelizes no píncaro do monte 9 wwwneadunamabr Ah Não ter asas estendeis os ramos À esperança e ao mistério do horizonte As Ondas Entre as trêmulas mornas ardentias A noite no altomar anima as ondas Sobem das fundas úmidas Golcondas Pérolas vivas as nereidas frias Entrelaçamse correm fugidias Voltam cruzandose e em lascivas rondas Vestem as formas alvas e redondas De algas roxas e glaucas pedrarias Coxas de vago ônix ventres polidos De alabastro quadris de argêntea espuma Seios de dúbia opala ardem na treva E bocas verdes cheias de gemidos Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma Soluçam beijos vãos que o vento leva Crepúsculo na Mata Na tarde tropical arfa e pesa a atmosfera A vida na floresta abafada e sonora Úmida exalação de aromas evapora E no sangue na seiva e no húmus acelera Tudo entre sombras o ar e o chão a fauna e a flora A erva e o pássaro a pedra e o tronco os ninhos e a hera A água e o réptil a folha e o inseto a flor e a fera Tudo vozeia e estala em estos de pletora O amor apresta o gozo e o sacrifício na ara Guinchos berros zinir silvar ululos de ira Ruflos chilros frufrus balidos de ternura Súbito a excitação declina a febre pára E misteriosamente em gemido que expira Um surdo beijo morno alquebra a mata escura Sonata ao Crepúsculo Trompas do sol borés do mar tubas da mata Esfalfaivos rugindo e emudecei Apenas Agora trilem no ar como em cristal e prata Rústicos tamborins e pastoris avenas 10 wwwneadunamabr Trescala o campo e incensa o ocaso numa oblata Surgem da Idade de Ouro em paisagens serenas Os deuses Eros sonha e acordando à sonata Bailam rindo as subtis alípedes Camenas Depois na sombra à voz das cornamusas graves Termina a pastoral num lento epitalâmio Calase o vento Expira a surdina das aves E a terra noiva a ansiar no desejo que a enleva Cora e desmaia ao seio aconchegando o flâmeo Entre o pudor da tarde e a tentação da treva O Crepúsculo da Beleza Vêse no espelho e vê pela janela A dolorosa angústia vespertina Pálido morre o sol Mas ai termina Outra tarde mais triste dentro dela Outra queda mais funda lhe revela O aço feroz e o horror de outra ruína Roubalhe a idade pérfida e assassina Mais do que a vida o orgulho de ser bela Fios de prata Rugas O desgosto Enchea de sombras como a sufocála Numa noite que aí vem E no seu rosto Uma lágrima trêmula resvala Trêmula a cintilar como ao sol posto Uma primeira estrela em céu de opala O Crepúsculo dos Deuses Fulge em nuvens no poente o Olimpo O céu delira Os deuses rugem Entre incêndios de ouro e gemas Há torrentes de sangue hecatombes supremas Heróis rojando ao chão troféus ardendo em pira Ilíadas bulcões de gládios e díademas Ossa e Pélio tombando e Zeus em raios de ira E Acrópoles em fogo e Homero erguendo a lira Em reverberações de batalhas e poemas Mas o vento embocando as bramidoras trompas Clangora Rolam no ar de roldão num tumulto Os numes e os titãs varridos à rajada E ódio furor tropel fastígio glória pompas 11 wwwneadunamabr Chamas o Olimpo tudo esbatese sepulto Em cinza em crepe em fumo em sonho em noite em nada Microcosmo Pensando e amando em turbilhões fecundos És tudo oceanos rios e florestas Vidas brotando em solidões funestas Primaveras de invernos moribundos A Terra e terras de ouro em céus profundos Cheias de raças e cidades estas Em luto aquelas em raiar de festas Outras almas vibrando em outros mundos E outras formas de línguas e de povos E as nebulosas gêneses imensas Fervendo em sementeiras de astros novos E todo o cosmos em perpétuas flamas Homem és o universo porque pensas E pequenino e fraco és Deus porque amas Dualismo Não és bom nem és mau és triste e humano Vives ansiando em maldições e preces Corno se a arder no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano Pobre no bem como no mal padeces E rolando num vórtice vesano Oscilas entre a crença e o desengano Entre esperanças e desinteresses Capaz de horrores e de ações sublimes Não ficas das virtudes satisfeito Nem te arrependes infeliz dos crimes E no perpétuo ideal que te devora Residem juntamente no teu peito Um demônio que ruge e um deus que chora Defesa Cada alma é um mundo à parte em cada peito Nem se conhecem no auge do transporte Os jungidos do vínculo mais forte Almas e corpos num casal perfeito Dormindo no calor do mesmo leito 12 wwwneadunamabr Votando os corações à mesma sorte Consigo levam à velhice e à morte Um recato de orgulho e de respeito Ficam por toda a vida as duas vidas Na mais profunda comunhão estranhas No mais completo amor desconhecidas E os dois seres sentindose tão perto Até num beijo são duas montanhas Separadas por léguas de deserto A um Triste Outras almas talvez já foram tuas Viveste em outros mundos De maneira Que em misteriosas dúvidas flutuas Vida de vidas múltiplas herdeira Servo da gleba escravo das charruas Foste ou soldado errante na sangueira Ou mendigo de rojo pelas ruas Ou mártir na tortura e na fogueira Por isso arquejas num pavor sem nome Num luto sem razão velhos gemidos Angústias ancestrais de sede e fome Dores grandevas seculares prantos Desesperos talvez de heróis vencidos Humilhações de vítimas e santos Pesadelo Às vezes uma vida abominanda Vives no sono em que a hórrida matula Dos íncubos e súcubos te manda O eco do inferno que referve e ulula Um mundo torpe nos teus sonhos anda O ódio a perversidade a inveja a gula Espíritos da terra sarabanda Das grosseiras paixões que a treva açula Assim à noite no ínvio da floresta No mistério das sombras entre os pios Dos noitibós o candomblé se apresta Batuques de capetas rodopios De curupiras e sacis em festa 13 wwwneadunamabr Em sinistros risinhos e assobios A Iara Vive dentro de mim como num rio Uma linda mulher esquiva e rara Num borbulhar de argênteos flocos lara De cabeleira de ouro e corpo frio Entre as ninféias a namoro e espio E ela do espelho móbil da onda clara Com os verdes olhos úmidos me encara E ofereceme o seio alvo e macio Precipitome no ímpeto de esposo Na desesperação da glória suma Para a estreitar louco de orgulho e gozo Mas nos meus braços a ilusão se esfuma E a mãedágua exalando um ai piedoso Desfazse em mortas pérolas de espuma Ressurreição Como às vezes piedoso o sol se inclina Sobre um pântano e acendeo e da água ascosa No atro fundo ergue Alhambras de ouro e rosa Catedrais e Krêmlins de prata fina Também da alta região que nos domina Tu pairas sobre mim sombra piedosa Sinto em mim como numa nebulosa Mundos novos ardendo em luz divina São torres vivas cúpulas fulgentes Zimbórios igneos toda a arquitetura Dos sonhos que a ambição do Ideal encerra Subindo em largos surtos em torrentes Galgando o céu para brilhar na altura E desfazerse em versos sobre a terra Benedicite Bendito o que na terra o fogo fez e o tecto E o que uniu a charrua ao boi paciente e amigo E o que encontrou a enxada e o que do chão abjeto Fez aos beijos do sol o ouro brotar do trigo E o que o ferro forjou e o piedoso arquiteto 14 wwwneadunamabr Que ideou depois do berço e do lar o jazigo E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto E0 que deu uma esmola ao primeiro mendigo E o que soltou ao mar a quilha e ao vento o pano E o que inventou o canto e o que criou a lira E o que domou o raio e o que alçou o aeroplano Mas bendito entre os mais o que no dó profundo Descobriu a Esperança a divina mentira Dando ao homem o dom de suportar o mundo Sperate Creperi Não sei Duvido e espero Na ansiedade Vago entre vagas sombras Se não rezo Sonho e invejo dos crentes a humildade E o orgulho dos filósofos desprezo Como um Jó miserável da verdade E de receios farto como um Creso Adormeço a tristeza que me invade E engano o coração cansado e leso Talvez haja na morte o eterno olvido Talvez seja ilusão na vida tudo Ou geme um deus em cada ser ferido Não afirmo não nego É vão o estudo Quero clamar de horror porque duvido Mas porque espero espero e fico mudo Respostas na Sombra Sofro Vejo envasado em desespero e lama Todo o antigo fulgor que tive na alma boa Abandoname a glória a ambição me atraiçoa Que fazer para ser como os felizes Ama Amei Mas tive a cruz os cravos a coroa De espinhos e o desdém que humilha e o dó que infama Calcinoume a irrisão na destruidora chama Padeço Que fazer para ser bom Perdoa Perdoei Mas outra vez sobre o perdão e a prece Tive o opróbrio e outra vez sobre a piedade a injúria Desvairo Que fazer para o consolo Esquece Mas lembro Em sangue e fel o coração me escorre 15 wwwneadunamabr Ranjo os dentes remordo os punhos rujo em fúria Odeio Que fazer para a vingança Morre TRILOGIA I Prometeu Filhas verdes do mar e ó nuvens num incenso Beijaime e bendizei o meu sangue e o meu pranto Quando sucumbo e sou vencido exulto e venço A minha queda é glória e o meu rugido é canto Sob os grilhões espero escravizado penso E morto viverei Domando a carne e o espanto Invadindo de estrela a estrela o Olimpo imenso Roubeilhe na escalada o fogo sacrossanto Forjando o ferro arando o chão prendendo o raio Dei aos homens o ideal que anima e o pão que nutre Debalde o ódio e o castigo e as garras me consomem Quando sofro maior mais alto quando caio Sou entre a terra e o céu entre o Cáucaso e o abutre Sobre o martírio o orgulho e sobre os deuses Homem II Hércules Que vale o orgulho A dor é como a vida eterna Mas a força defende e a compaixão redime Sou na humana floresta a planta heróica e terna Contra a violência um roble e pura a prece um vime Por onde reviveu silvando a hidra de Lema Fuzilou no meu braço a cólera sublime Os monstros persegui de caverna em caverna Sufoquei de antro em antro a peste a infâmia e o crime E ó Homem liberteite E enfim depondo a clava Inerme semideus sonhei doce fiandeiro De roca e fuso aos pés de Onfália num arrulho Alma livre no assomo e na piedade escrava Sou raio e beijo ardor e alívio águia e cordeiro A força que liberta e o amor que vence o orgulho III Jesus 16 wwwneadunamabr Mas sempre sofrerás neste vale medonho Que importa Redentor e mártir voluntário Para a tua miséria um reino imaginário Invento glória e paz num futuro risonho Para te consolar no opróbrio do Calvário Hóstia e vítima a carne o sangue e a alma deponho Nasce da minha morte a vida do teu sonho E todo o choro humano embebe o meu sudário Só liberta a renúncia Ó triste a sombra imensa Dos braços desta cruz espalha sobre o mundo A utopia celeste orvalho ao teu suplício Sou a misericórdia ilusória da crença Sobre a força a fraqueza e sobre o amor fecundo A piedade sem glória e o inútil sacrifício Dante no Paraíso Enfim transpondo o Inferno e o Purgatório Dante Chegara à extrema luz pela mão de Beatriz Triste no sumo bem triste no excelso instante O poeta compreendera o mal de ser feliz Saudoso ao ígneo horror do báratro distante Ao vórtice tartáreo o olhar volvendo quis Regressar à geena onde a turba ululante Nos torvelins raivando arde na chama ultriz E fatigouo a paz do esplendor soberano Dos réprobos lembrando a irrevogável sorte A estância abominou do perpétuo prazer Porque no coração cheio de amor humano Sentiu que toda a Vida até depois da morte Só tem uma razão e um gozo só sofrer Beethoven Surdo Surdo na universal indiferença um dia Beethoven levantando um desvairado apelo Sentiu a terra e o mar num mudo pesadelo E o seu mundo interior cantava e restrugia Torvo o gesto perdido o olhar hirto o cabelo Viu sobre a orquestração que no seu crânio havia Os astros em torpor na imensidade fria O ar e os ventos sem voz a natureza em gelo 17 wwwneadunamabr Era o nada a eversão do caos no cataclismo A síncope do som no páramo profundo O Silêncio a algidez o vácuo o horror no abismo E Beethoven no seu supremo desconforto Velho e podre caiu como um deus moribundo Lançando a maldição sobre o universo morto Milton Cego Desvendavase ao cego o mistério As idades Sem princípio de sol a sol de terra a terra A eterna combustão que maravilha e aterra Geradora de bens e de ferocidades Cordilheiras de espanto e esplendor serra a serra De infinito a infinito asas em tempestades Tronos Dominações Virtudes Potestades Luz contra luz furor de chama e glória em guerra E os rebeldes rodando em rugidoras vagas E o Éden e a tentação e entre o opróbrio e a alegria O amor florindo ao pé da amaldiçoada porta E o Homem em susto o céu em ira o inferno em pragas E imperturbável Deus na sua glória Ardia O poema universal numa retina morta Miguel Ângelo Velho Vieramlhe o amor e a poesia no declínio da vida Na mocidade foi de costumes austeros Aos cinqüenta e um anos conheceu Vittoria Colonna escreveu para ela canções sonetos madrigais exaltação do cérebro temperada de misticismo ela admirou o mas não o amou Quando Víttoria morreu Buonarrotti beijou a mão do cadáver não ousando beijarlhe a fronte M MONNIER La Renaíssance E pensava Perder a chama peregrina Que extrai da pedra um Deus do barro imundo um Santo E este punho que alçou a cúpula divina De São Pedro e amassou Moisés de luz e espanto E esta alma que arquiteta os mundos na oficina O Dia força e graça e a Noite sombra e encanto E o Juízo Final da Capela Sixtina 18 wwwneadunamabr E Judit flor de sangue e Pietà flor de pranto Tudo tinta pincel escopro camartelo Ouro fama poder glória gênio virtude Por um milagre só no amor que me abandona Morrer e renascer ardente moço belo E como o meu Davi clarão de juventude Aparecer sorrindo a Vittoria Colonna No Tronco de Goa Camões sofre na infâmia da clausura Pária sem honra náufrago sem nome E rala na saudade que o consome O pobre peito contra a pedra dura O seu gênio ilumina a abjeta lura Mas a vida das carnes se lhe some Míngua de pão e outra mais negra fome Indigência de beijos e ventura Do próprio fel dos íntimos venenos Faz a glória da pátria e a luz da raça E chora na ignomínia Mas ao menos Possui na mesquinhez da terra crassa E na vergonha de homens tão pequenos O orgulho de ser grande na desgraça EDIPO I A Pítia Repetiume Apolo o vaticínio que eu seria o assassino de meu pai e rei e marido de minha mãe sem a conhecer e tronco de uma prole infame SÓFOCLES Édipo Rei Em Delfos Com pavor de pé no ádito escuro Édipo escuta O deus rugindo de ira e ameaça Pela boca da Pítia em êxtase devassa O tempo e o arcano véu destrama do futuro Rolarás do fastígio à ignomínia e à desgraça Rompendo de um mistério o impenetrável muro Num sólio ensangüentado e num tálamo impuro Gerarás parricida a mais odiosa raça É a Esfinge a glória o reino o assassínio de Laio E o amor sinistro Assim troveja a voz de Apolo E enche o sacrário O céu carregase de bruma 19 wwwneadunamabr Fuzila estruge o chão reboa no antro o raio E enquanto Édipo tomba inânime no solo Sobre a trípode a Pítia em baba ulula e escuma II A Esfinge Bemvindo sejas à cidade de Cadmo nosso libertador e nosso rei que com a tua penetração de espírito e o auxílio divino levantaste o tributo de sangue que pagávamos à cruel Esfinge SÓFOCES Édipo Rei Perto de Tebas junto a um monte sobre o Ismeno Águia e mulher serpente e abutre deusa e harpia Tapando a estrada à espera aterrava e sorria O monstro sedutor horrível e sereno Devorote ou decifra Era fascínio o aceno A voz morna e sensual tinha afeto e ironia Graça e repulsa e a luz dos olhos escorria Fluido filtro estilando um pérfido veneno Mas Édipo desvenda o enigma Ruge em fúria O Grifo e escarva o chão bate contra o rochedo Rola em vascas em sangue ardente a areia tinge E fita o campeador no uivar da extrema injúria E o Herói recua vendo entre esperança e medo Rancor e compaixão no verde olhar da Esfinge III Jocasta Trevas espessas eterna horrível noite sou dilacerado pelo espinho da dor e pela memória dos meus crimes SÓFOCLES Édipo Rei Édipo vê cumprirse o oráculo funesto Tebas entregue em luto à peste que a devasta E sobre o trono em sânie e o leito desonesto Morta infâmia da terra e asco de céu Jocasta Louco vociferando erguendo a grita e o gesto Contra os deuses mordendo a poeira em que se arrasta O mísero medindo o parricídio e o incesto Quer da vista apagar a lembrança nefasta Os dois olhos às mãos das órbitas arranca Em sangue borbotando em lágrimas fervendo 20 wwwneadunamabr Para o pavor matar na esmagada retina Mas cego embora vê Jocasta hedionda branca Enforcada a oscilar como um pêndulo horrendo Compassando fatal a maldição divina IV Antígona Disseme também o oráculo que morrerei aqui quando tremer a terra quando o trovão rolar quando o espaço brilhar SÓFOCLES Édipo em Colona A terra treme Rola o trovão Brilha o espaço Chega Édipo a Colona em andrajos imundo Sombra ansiosa a fugir do próprio horror profundo Ruína humana a cair de miséria e cansaço Mas quando o ancião vacila órfão da luz do mundo Antígona lhe estende o coração e o braço E filha e irmã recolhe ao maternal regaço O rei sem trono o pai sem honra moribundo É o ninho a terra treme amparando o carvalho A flor sustendo o tronco Édipo o espaço brilha Sorri como um combusto areal bebendo o orvalho É o fim rola o trovão da miseranda sorte O cego vê fitando o céu do olhar da filha Na cegueira o esplendor e a redenção na morte Madalena Maria Madalena Maria de Tiago e Salomé compraram aromas para irem embalsamar a Jesus Mas olhando viram revolvida a pedra E Jesus tendo ressurgido apareceu primeiramente a Maria Madalena S MARCOS cap XVI Quedaram frio o sangue as mulheres chorosas Sem cor sem voz de espanto e medo E de repente Caíramlhes das mãos as ânforas piedosas De bálsamo odoroso e de óleo recendente Enfeitiçouse o chão de um perfume dormente E o arredor trescalou de essências capitosas Como se a terra toda abrisse o seio e o ambiente 21 wwwneadunamabr Se enchesse de jasmins de nardos e de rosas E Madalena muda ao pé da sepultura Tonta da exalação dos cheiros em delírio Viu que uma forma no ar divinamente bela Vivo eflúvio vapor fragrante alva figura Aroma corporal pairava Como um lírio Num sorriso Jesus fulgia diante dela Cleópatra Cleopatra diffidava Fu persuasa che il vincitore la destinava al trionfo Ottaviano corse in gran fretta a salvare la sua preda la trovó sul letto adorna della sua piú bella veste di regina addormentata per sempre G FERRERO Grandezza e decadenza di Roma Não que importava a queda e o epílogo do drama O trono o cetro o povo o exército o tesouro As províncias a glória e as naus no sorvedouro De Actium e Alexandria entregue ao saque e à chama Não que importava o horror da entrada em Roma a fama De Otávio e o seu triunfo entre a púrpura e o louro E a plebe em grita e o céu cheio das águias de ouro E o Egito e o seu império e os seus troféus na lama Não Que importava o amor perdido Que importava O naufrágio do orgulho a vergonha a tortura Do ódio do vencedor ou da piedade alheia Mas entrar desgrenhada envelhecida escrava Rota sem o arraiar da sua formosura Sol sem fulgor Matoua o medo de ser feia A Velhice de Aspásia Velha Aspásia como um clarão na Academia E na ágora surgia e ofuscava as mais belas E sob as cãs e sob as roupagens singelas Aureolada do amor de Péricles sorria Do Helesponto do Egeu do Jônio em romaria Vinham vêla e admirála efebos e donzelas E eles Que sol nos teus cabelos brancos E elas 22 wwwneadunamabr Brilha mais do que a aurora o final do teu dia Ela e a Acrópole frente a frente alvas serenas Unidas no esplendor gêmeas na majestade Eram a forma e a idéia iluminando Atenas Aspásia deusa clara e simples na moldura Do céu nume feliz perfumava a cidade Era uma religião a sua formosura A Rainha de Sabá O rei Salomão deu à rainha de Sabá o que ela lhe desejou e lhe pediu afora os presentes que ele mesmo lhe deu com liberalidade real A rainha voltou e se foi para o seu reino com os seus servos REIS L III cap X 13 Que mais queres Sião e entre os bosques sombrios O meu colar de cem cidades deslumbrantes O Líbano pompeando em paços em mirantes Em cedros em pavões em corças em bugios O povo de Israel em tribos formigantes Do Eufrates ao mar Morto e o Egito Os meus navios As esquadras de Hirão coalhando o oceano e os rios Atestadas de prata e dentes de elefantes O meu leito ainda olente e morno do teu sono O cetro O gineceu e a guarda e as mil mulheres Como escravas rojando aos teus pés O meu trono Os vasos do holocausto O templo de ouro e jade A ara em sangue e fulgor ante Jeová Que queres O teu último beijo o deserto e a saudade A Morte de Orfeu Em vão as bacantes da Trácia procuram consolálo Mas Orfeu fiel ao amor de Eurídice encarcerada no Averno repeliu o amor de todas as outras mulheres E estas despeitadas esquartejaramno Houve gemidos no Ebro e no arvoredo Horror nas feras pranto no rochedo E fugiras as Mênadas de medo Espantadas da própria maldição Luz da Grécia pontífice de Apolo Orfeu despedaçada a lira ao colo 23 wwwneadunamabr A carne rota ensangüentando o solo Tombou E abriuse em músicas o chão A boca ansiosa em nome disse um grito Rolando em beijos pelo nome dito Eurídice e expirou Assim Orfeu No último canto no supremo brado Pelo ódio das mulheres trucidado Chorando o amor de uma mulher morreu Gioconda Deute o grande Leonardo ao sorriso a ironia Insídia e eterno ardil na luminosa teia Tal a Belerofonte a Quimera sorria E a Esfinge de Gizé sorri na adusta areia A cilada do amor o embuste da utopia O desejo que abrasa e a esperança que enleia Chispam na tua boca impenetrável fria Seduzes através dos séculos sereia Esse leve clarão no teu lábio indeciso É a dobrez ancestral a malícia primeva Da Ísis da pecadora altriz do Paraíso Porque para extrair as gerações da treva A serpe e a Adão e a Deus com o teu mesmo sorriso Sorria astuta e forte a mãe das raças Eva Natal No ermo agreste da noite e do presepe um hino De esperança pressaga enchia o céu com o vento As árvores Serás o sol e o orvalho E o armento Terás a glória E o luar Vencerás o destino E o pão Darás o pão da terra e o pão divino E a água Trarás alívio ao mártir e ao sedento E a palha Dobrarás a cerviz do opulento E o tecto Elevarás do opróbrio o pequenino E os reis Rei no teu reino entrarás entre palmas E os pastores Pastor chamarás os eleitos E a estrela Brilharás como Deus sobre as almas Muda e humilde porém Maria como escrava Tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos Sendo pobre temia e sendo mãe chorava Aos Meus Amigos de São Paulo 24 wwwneadunamabr Se amo padeço e sonho a recompensa É a melhor que me dais neste agasalho Desta ternura sobre mim suspensa Desce todo o valor do quanto valho Não tenho aroma que vos não pertença Vêm de vós a doçura e o bem que espalho Valemos todos pela nossa crença Na comunhão do amor e do trabalho Operário modesto abelha pobre De vós e para vós o mel fabrico E abençôo a colmeia que nos cobre Só do labor geral me glorifico Por ser da minha terra é que sou nobre Por ser da minha gente é que sou rico A um Poeta Longe do estéril turbilhão da rua Beneditino escreve No aconchego Do claustro na paciência e no sossego Trabalha e teima e lima e sofre e sua Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço e a trama viva se construa De tal modo que a imagem fique nua Rica mas sóbria como um templo grego Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre E natural o efeito agrade Sem lembrar os andaimes do edifício Porque a Beleza gêmea da Verdade Arte pura inimiga do artifício E a força e a graça na simplicidade Vila Rica O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre Sangram em laivos de ouro as minas que ambição Na torturada entranha abriu da terra nobre E cada cicatriz brilha como um brasão O ângelus plange ao longe em doloroso dobre O último ouro do sol morre na cerração E austero amortalhando a urbe gloriosa e pobre O crepúsculo cai como uma extremaunção Agora para além do cerro o céu parece Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu A neblina roçando o chão cicia em prece 25 wwwneadunamabr Como uma procissão espectral que se move Dobra o sino Soluça um verso de Dirceu Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove New York Resplandeces e ris ardes e tumultuas Na escalada do céu galgando em fúria o espaço Sobem do teu tear de praças e de ruas Atlas de ferro Anteus de pedra e Brontes de aço Gloriosa Prometeu revive em teu regaço Delira no teu gênio enche as artérias tuas E comburete a entranha arfante de cansaço Na incessante criação de assombros em que estuas Mas com as tuas Babéis debalde o céu recortas E pesas sobre o mar quando o teu vulto assoma Como a recordação da Tebas de cem portas Faltate o Tempo o vago o religioso aroma Que se respira no ar de Lutécia e de Roma Sempre moço perfume ancião de idades mortas Último Carnaval Íncola de Suburra ou de Sibarís Nasceste em saturnal viveste estulto Na folia das feiras no tumulto Dos caravançarás e dos bazares Morreste em plena orgia entre os esgares Dos arlequins no delirante culto E a saudade terás depois sepulto Herói folião dos carnavais hílares Talvez quem sabe a cova que te esconda Uma noite entre fogosfátuos se abra Como uma boca escancarada em risos E saltarás pinchando numa ronda De espectros aos tantãs dança macabra De esqueletos e lêmures aos guizos FogoFátuo Cabelos brancos Daime enfim a calma A esta tortura de homem e de artista Desdém pelo que encerra a minha palma E ambição pelo mais que não exista Esta febre que o espírito me encalma E logo me enregela esta conquista De idéias ao nascer morrendo na alma De mundos ao raiar murchando à vista Esta melancolia sem remédio 26 wwwneadunamabr Saudade sem razão louca esperança Ardendo em choros e findando em tédio Esta ansiedade absurda esta corrida Para fugir o que o meu sonho alcança Para querer o que não há na vida Inocência Como em vez de uma paz desiludida Posso eu ter nesta idade esta confiança Que me leva a correr a toda brida Na pista de uma sombra de esperança Esta velhice ingênua me intimida Tanto ardor tanta fé que me não cansa E em mais de meio século de vida Tanta credulidade de criança Rio inocente ao sol como uma rosa Ainda arquiteto mundos sobre a areia Anoiteço em miragem luminosa E ainda imagino a minha taça cheia E emborcoa Oh Vida e queroa e achoa formosa Como se não soubesse quanto é feia Remorso Às vezes uma dor me desespera Nestas ânsias e dúvidas em que ando Cismo e padeço neste outono quando Calculo o que perdi na primavera Versos e amores sufoquei calando Sem os gozar numa explosão sincera Ah mais cem vidas com que ardor quisera Mais viver mais penar e amar cantando Sinto o que esperdicei na juventude Choro neste começo de velhice Mártir da hipocrisia ou da virtude Os beijos que não tive por tolice Por timidez o que sofrer não pude E por pudor os versos que não disse Milagre Depois de tantos anos frente a frente Um encontro O fantasma do meu sonho E de cabelos brancos mudamente Quedamos frios num olhar tristonho Velhos Mas quando ansioso de repente Nas suas mãos as minhas palmas ponho Ressurge a nossa primavera ardente 27 wwwneadunamabr Na terra em bênçãos sob um sol risonho Felizes num prestígio estremecemos Deliramos na luz que nos invade Dos redivivos êxtases supremos E fulgimos volvendo à mocidade Aureolados dos beijos que tivemos No divino milagre da saudade A Cilada O perfume o silêncio a sombra Os ninhos Emudecem E temos sonhadores A humildade das ervas nos caminhos E uma inocência de anjos entre as flores Mas há na tarde morna ignotos vinhos Secretos filtros pérfidos vapores Amavios feitiços e carinhos Moles quebrados e perturbadores E de repente o incêndio dos sentidos As mãos frias tateando na ansiedade As bocas que se buscam num queixume E o corpo o sangue o espírito perdidos E a febre e os beijos e a cumplicidade Da sombra do silêncio do perfume Perfeição Nunca entrarei jamais o teu recinto Na sedução e no fulgor que exalas Ficas vedada num radiante cinto De riquezas de gozos e de galas Amote cobiçandote E faminto Adivinho o esplendor das tuas salas E todo o aroma dos teus parques sinto E ouço a música e o sonho em que te embalas Eternamente ao meu olhar pompeias E olhote em vão maravilhosa e bela Adarvada de altíssimas ameias E à noite à luz dos astros a horas mortas Rondote e arquejo e choro ó cidadela Como um bárbaro uivando às tuas portas Messídoro Por que chorar Exulta satisfeita És quando a mocidade te abandona Mais que bela mulher mulher perfeita Do completo fulgor senhora e dona As derradeiras messes aproveita E goza A antevelhice é uma Pomona 28 wwwneadunamabr Que se esmerando na final colheita Dos frutos áureos a paixão sazona Ama e frui o delírio a febre o ciúme E todo o amor E morre como um dia Em fogo como um dia que resume Toda a vida em anseios em poesia Em glória em luz em música em perfume Em beijos numa esplêndida agonia Samaritana Numa volta de estrada em sede insana Vite Ao lado a frescura da cisterna E tinhas a expressão piedosa e terna Como na Bíblia da Samaritana Desteme de beber Mas quanto engana Às vezes a piedade e a esmola inferna Desteme de beber da fonte eterna De onde a torrente dos remorsos mana Com a água que me deste que contraste De ti para a mulher de Samaria A boca e o coração me envenenaste Maior do que o da sede este tormento Esta ânsia singular esta agonia Que é de saudade e de arrependimento Um Beijo Foste o beijo melhor da minha vida Ou talvez o pior Glória e tormento Contigo à luz subi do firmamento Contigo fui pela infernal descida Morreste e o meu desejo não te olvida Queimasme o sangue enchesme o pensamento E do teu gosto amargo me alimento E rolote na boca malferida Beijo extremo meu prêmio e meu castigo Batismo e extremaunção naquele instante Por que feliz eu não morri contigo Sintote o ardor e o crepitar te escuto Beijo divino e anseio delirante Na perpétua saudade de um minuto Criação Há no amor um momento de grandeza Que é de inconsciência e de êxtase bendito Os dois corpos são toda a Natureza As duas almas são todo o Infinito É um mistério de força e de surpresa 29 wwwneadunamabr Estala o coração da terra aflito Rasgase em luz fecunda a esfera acesa E de todos os astros rompe um grito Deus transmite o seu hálito aos amantes Cada beijo é a sanção dos Sete Dias E a Gênese fulgura em cada abraço Porque entre as duas bocas soluçantes Rola todo o Universo em harmonias E em glorificações enchendo o espaço Maternidade O Senhor disse à mulher Por que fizeste isto Eu multiplicarei os teus trabalhos Gen cap III Ventre mártir a rútila visita Do amor fecundo te arrancou do sono E irradias lampejas como um trono De animado marfim que à luz palpita Ergueste em esto de orgulhoso entono Ferete enfim a maldição bendita Tens o viço da Terra quando a agita Rico de orvalhos e de sóis o outono Augusto em gozo eterno o teu suplício Feliz a tua dor propiciatória Rasgate altar do torturante auspício E abrase em flores tua alvura ebórea Ensangüentada pelo sacrifício Para a maternidade e para a glória Os Amores da Aranha Com o veludo do ventre a palpitar hirsuto E os oito olhos de brasa ardendo em febre estranha Vedea chega ao portal do intrincado reduto E na glória nupcial do sol se aquece e banha Moscas podeis revoar sem medo à sua sanha Mole e tonta de amor pendente o palpo astuto E recolhido o anzol da mandíbula a aranha Ansiosa espera e atrai o amante de um minuto E eilo corre eilo acode à festa e à morte Um hino Curto e louco um momento abala e inflama o fausto Do aranhol de ouro e seda E o aguilhão assassino Da esposa satisfeita abate o noivo exausto Que cai sentindo a um tempo invejável destino A tortura do espasmo e o gozo do holocausto 30 wwwneadunamabr Os Amores da Abelha Quando em prônubo anseio a abelha as asas solta E escala o espaço ardendo êxul do corcho céreo Louca se precipita a sussurrante escolta Dos noivos zonzos voando ao nupcial mistério Em breve sucumbindo o enxame arqueja e volta Mas o mais forte um só senhor do excelso império Segue a esquiva e em zunzum zeloso de revolta Entoa o epitalâmio e o cântico funéreo Tocaa fecundaa e vence e morre na vitória A esposa livre ao sol no alto do firmamento Palra e rainha e mie zumbe de orgulho e glória E rodopiando inerte o suicida sublime Entre as bênçãos da luz e os hosanas do vento Rola mártir feliz do delicioso crime Semper Impendent Se amas se da velhice entras a porta escura Maldize o teu amor que é um triste adeus à vida Porque no teu amor de velho se mistura Ao enlevo de um noivo a angústia de um suicida Louco vês entreabrirse a cova na doçura Do aconchego nupcial que ao gozo te convida E na incerteza atroz da carícia futura Cada afago te dói como uma despedida Sofres um estertor em cada abraço um grito Em cada beijo em cada anseio uma saudade É um rolar um ferver num inferno infinito No desesperador prazer do teu transporte Sentes a crispação da treva que te invade O doloroso amargo antesabor da morte O Oitavo Pecado Vivendo para a morte alegre da tristeza Temendo o fogo eterno e a danação sulfúrea Gelaste no cilício em ascética fúria A alma ridente o sangue em esto a carne acesa Foste mártir e herói da própria natureza Intacto de ambição de desejo ou de injúria Para ganhar o céu venceste a ira a luxúria A gula a inveja o orgulho a preguiça e a avareza Mas não amaste E além do Inferno um outro existe Onde é mais alto o choro e o horror dos renegados Ali penando tu que o amor nunca sentiste Pagarás sem amor os dias dissipados Esqueceste o pecado oitavo e era o mais triste Mortal entre os mortais de todos os pecados 31 wwwneadunamabr Salutaris Porta Para conter aquela imensa chama Os nossos corações eram pequenos Tivemos medo da paixão E ao menos Não vimos tanto céu mudado em lama O velário correuse antes do drama E não houve perfídias nem venenos Entre os nossos espíritos serenos Que a saudade do prólogo embalsama Bendigamos o amor que foi tão curto O sonho vago que expirou tão cedo Sossobrado no porto antes do surto Feliz o idílio que não teve história Salvandonos do tédio o nosso medo Foi uma porta de ouro para a glória Assombração Conheço um coração tapera escura Casa assombrada onde andam penitentes Sombras e ecos de amor e em que perdura A saudade presença dos ausentes Evadidos da paz da sepultura Num tatalar de tíbias e de dentes Revivem os fantasmas da ternura Arrastando sudários e correntes Rangem os gonzos no bater das portas E os corredores enchemse de prantos Um mundo de avejões do chão se eleva Ressuscitado pelas horas mortas Frios abraços gemem pelos cantos Beijos defuntos fogem pela treva Palmeira Imperial Mostras na glória um coração mesquinho Numa beleza esplêndida que aterra Passas desencadeando um ar de guerra Sem deixar um perfume no caminho Como a palmeira não susténs um ninho Não és filha mas hóspeda da Terra Subjugando a planície na alta serra Cruel às aves seca de carinho Ha no deslumbramento do teu porte Tédio orgulho desdém talvez saudade De outra vida ambição talvez da morte Como a palmeira tens a majestade E dela tens a desgraçada sorte 32 wwwneadunamabr A avareza da sombra e da piedade Diamante Negro Vite uma vez e estremeci de medo Havia susto no ar quando passavas Vida morta enterrada num segredo Letárgico vulcão de ignotas lavas Ias como quem vai para um degredo De invisíveis grilhões as mãos escravas A marcha dúbia o olhar turvado e quedo No roxo abismo das olheiras cavas Aonde ias aonde vais Foge o teu vulto Mas fica o assombro do teu passo errante E fica o sopro desse inferno oculto O horrível fogo que contigo levas Incompreendido mal negro diamante Sol sinistro e abafado ardendo em trevas Palavras As palavras do amor expiram como os versos Com que adoço a amargura e embalo o pensamento Vagos clarões vapor de perfumes dispersos Vidas que não têm vida existências que invento Esplendor cedo morto ânsia breve universos De pó que um sopro espalha ao torvelim do vento Raios de sol no oceano entre as águas imersos As palavras da fé vivem num só momento Mas as palavras más as do ódio e do despeito O não que desengana o nunca que alucina E as do aleive em baldões e as da mofa em risadas Abrasamnos o ouvido e entramnos pelo peito Ficam no coração numa inércia assassina Imóveis e imortais como pedras geladas Marcha Fúnebre Thamuz Thamuz panmegas tethneke Como se ouviu no Epiro outrora o extremo grito Pã morreu na amplidão reboe o meu lamento Torpe a ambição perdido o amor inane o alento Nestas baixas paixões de um século maldito Rolem trenos no oceano e elegias no vento Concentraivos na dor do funerário rito O asas e ilusões num miserere aflito E ó flores num responso e ó sonhos num memento Bocas bradando ao céu de minuto em minuto Olhos velando a terra em sudários de pranto Corações num rufar de tambores em luto 33 wwwneadunamabr Guaiai carpi gemei e ecoai de porto a porto De mar a mar de mundo a mundo a queixa e o espanto O grande Pá morreu de novo O Ideal é morto O Tear A fieira zumbe o piso estala chia O liço range o estambre na cadeia A máquina dos Tempos dia a dia Na música monótona vozeia Sem pressa sem pesar sem alegria Sem alma o Tecelão que cabeceia Carda retorce estira asseda fia Doba e entrelaça na infindável teia Treva e luz ódio e amor beijo e queixume Consolação e raiva gelo e chama Combinamse e consomemse no urdume Sem princípio e sem fim eternamente Passa e repassa a aborrecida trama Nas mãos do Tecelão indiferente O Cometa Um cometa passava Em luz na penedia Na erva no inseto em tudo uma alma rebrilhava Entregavase ao sol a terra como escrava Ferviam sangue e seiva E o cometa fugia Assolavam a terra o terremoto a lava A água o ciclone a guerra a fome a epidemia Mas renascia o amor o orgulho revivia Passavam religiões E o cometa passava E fugia riçando a ígnea cauda flava Fenecia uma raça a solidão bravia Povoavase outra vez E o cometa voltava Escoavase o tropel das eras dia a dia E tudo desde a pedra ao homem proclamava A sua eternidade E o cometa sorria Diálogo O mancebo perfeito e o velho humilde e rude Viramse E disse ao velho o mancebo perfeito Glória a mim sorvo o céu num hausto do meu peito E o velho Engana o céu Tudo na terra ilude Rebentam roseirais do chão em que me deito A alma da noite embala a minha senectude Quando acordo há um clarão de graça e de saúde Pudesse ser perpétua a calma do meu leito Quero vibrar agir vencer a Natureza Viver a Vida A Vida é um capricho do vento 34 wwwneadunamabr Vivo e posso O poder é uma ilusão da sorte Herói e deus serei a beleza A beleza É a paz Serei a força A força é o esquecimento Serei a perfeição A perfeição é a morte Avatara Numa vida anterior fui um cheik macilento E pobre Eu galopava o albornoz solto ao vento Na soalheira candente e herói de vida obscura Possuía tudo o espaço um cavalo e a bravura Entre o deserto hostil e o ingrato firmamento Sem abrigo sem paz no coração violento Eu namorava em minha altiva desventura As areias na terra e as estrelas na altura Às vezes triste e só cheio do meu desgosto Eu castigava a mão contra o meu próprio rosto E contra a minha sombra erguia a lança em riste Mas o simum do orgulho enfunava o meu peito E eu galopava livre e voava satisfeito Da força de ser só da glória de ser triste Abstração Há no espaço milhões de estrelas carinhosas Ao alcance do teu olhar Mas conjeturas Aquelas que não vês ígneas e ignotas rosas Viçando na mais longe altura das alturas Há na terra milhões de mulheres formosas Ao alcance do teu desejo Mas procuras As que não vivem sonho e afeto que não gozas Nem gozarás visões passadas ou futuras Assim numa abstração de números e imagens Vives Olhas com tédio o planeta ermo e triste E achas deserta e escura a abóbada celeste E morrerás sozinho entre duas miragens As estrelas sem nome a luz que nunca viste E as mulheres sem corpo o amor que não tiveste Cantilena Quando as estrelas surgem na tarde surge a esperança Toda alma triste no seu desgosto sonha um Messias Quem sabe o acaso na sorte esquiva traz a mudança E enche de mundos as existências que eram vazias Quando as estrelas brilham mais vivas brilha a esperança Os olhos fulgem loucas ensaiam as asas frias Tantos amores há pela terra que a mão alcança E há tantos astros com outras vidas para outros dias 35 wwwneadunamabr Mas de asas fracas baixando os olhos o sonho cansa No céu e na alma cerramse as brumas gelam as luzes Quando as estrelas tremem de frio treme a esperança Tempo o delírio da mocidade não reproduzes Dorme o passado quantas saudades e quantas cruzes Quando as estrelas morrem na aurora morre a esperança Sonho Ter nascido homem outro em outros dias Não hoje nesta agitação sem glória Em traficâncias e mesquinharias Numa apagada vida merencória Ter nascido numa era de utopias Nos áureos ciclos épicos da História Ardendo em generosas fantasias Em rajadas de amor e de vitória Campeão e trovador da Idade Média Herói no galanteio e na cruzada Viver entre um idílio e uma tragédia E morrer em sorrisos e lampejos Por um gesto um olhar um sonho um nada Traspassado de golpes e de beijos Ruth Pede pouco Mais tem do que um monarca O pobre tendo o pouco que pedia E é rico achando ao terminar do dia Paz no espírito e pão no fundo da arca Triste ó alma a ambição que o mundo abarca Perde tudo quem quer a demasia Poupa o riso e o prazer porque a alegria Tanto é mais doce quanto mais é parca Feliz modesto coração te dizes Quando vais como Ruth em muda prece Empós dos segadores mais felizes Feliz é o simples que feliz procura Uma espiga apanhar da alheia messe Um resto miserável da ventura Abisag Cedes a um velho inválido e insensato Mais insensato do que tu sorrindo A graça e o viço do teu corpo lindo A tua formosura e o teu recato Em breve louca o teu delírio findo 36 wwwneadunamabr Compreenderás o horror deste contrato Ter dado aroma a quem não tem olfato Pedir amparo ao que já está caindo Ele um dia amargando a sua glória Chorando o seu império e o teu degredo O teu remorso e o seu pavor covarde Morrerá de vergonha na vitória Triste ilusão que te acordou tão cedo Fortuna triste que o escolheu tão tarde Estuário Viverei Nos meus dias descontentes Não sofro só por mim Sofro a sangrar Todo o infinito universal pesar A tristeza das cousas e dos entes Alheios prantos em cachões ardentes Vêm ao meu coração e ao meu olhar Tal num estuário imenso acolhe o mar Todas as águas vivas das vertentes Morre o infeliz que unicamente encerra A própria dor estrangulada em si Mas vive a Vida que em meus versos erra Vive o consolo que deixei aqui Vive a piedade que espalhei na terra Assim não morrerei porque sofri Consolação Penso às vezes nos sonhos nos amores Que inflamei A distância pelo espaço Penso nas ilusões do meu regaço Levadas pelo vento a alheias dores Penso na multidão dos sofredores Que uma bênção tiveram do meu braço Talvez algum repouso ao seu cansaço Talvez ao seu deserto algumas flores Penso nas amizades sem raízes Nos afetos anônimos dispersos Que tenho sob os céus de outros países Penso neste milagre dos meus versos Um pouco de modéstia aos mais felizes Um pouco de bondade aos mais perversos Penetralia Falei tanto de amor de galanteio Vaidade e brinco passatempo e graça 37 wwwneadunamabr Ou desejo fugaz que brilha e passa No relâmpago breve com que veio O verdadeiro amor honra ou desgraça Gozo ou suplício no íntimo fecheio Nunca o entreguei ao publico recreio Nunca o expus indiscreto ao sol da praça Não proclamei os nomes que baixinho Rezava E ainda hoje tímido mergulho Em funda sombra o meu melhor carinho Quando amo amo e deliro sem barulho E quando sofro calome e definho Na ventura infeliz do meu orgulho Prece Durma de tuas mãos nas palmas sacrossantas O meu remorso Velho e pobre como Jó Perdendote a melhor de tantas posses tantas Malsinado de Deus perdi Tu foste a só Ao céu por teu perdão a minha alma que encantas Suba como por uma escada de Jacó Perdite E eras a graça alta entre as altas santas A sombra a força o aroma a luz Tu foste a só Tu foste a só Não valho a poeira que levantas Quando passas Não valho a esmola do teu dó Mas deixame chorar beijando as tuas plantas Mas deixame clamar humilhado no pó Tu que em misericórdia as Madonas suplantas Acolhe a contrição do mau Tu foste a só Oração a Cibele Deitado sobre a terra em cruz levanto o rosto Ao céu e às tuas mãos ferozes e esmoleres Matame Abençoarei teu coração composto Ó mãe dos corações de todas as mulheres Tu que me dás amor e dor gosto e desgosto Glória e vergonha tu que me afagas e feres Aniquilame E doura e embala o meu sol posto Fonte berço mistério Ísis Pandora Ceres Que eu morra assim feliz tudo de ti querendo Mal e bem desespero e ideal veneno e pomo Pecados e perdões beijos puros e impuros E os astros sobre mim caiam de ti chovendo Como os teus crimes como as tuas bênçãos como A doçura e o travor de teus cachos maduros Eutanásia Antes que o meu espírito no espaço 38 wwwneadunamabr Fuja em suspiro etéreo e vago fumo Em versos e esperanças me consumo E espalho sonhos pelo bem que faço Até no instante em que seguir o rumo Para o sono final do teu regaço Ó terra sorverei no extremo passo Da vida em febre o capitoso sumo Seja a minha agonia uma centelha De glória E a morte no meu grande dia Pairando sobre mim como uma abelha Sugue o meu grito de última alegria O meu beijo supremo flor vermelha Embalsamando a minha boca fria Introibo Sinto às vezes à noite o invisível cortejo De outras vidas num caos de clarões e gemidos Vago tropel voejar confuso hálito e beijo De cousas sem figura e seres escondidos Miserável percebo em tortura e desejo Um perfume um sabor um tacto incompreendidos E vozes que não ouço e cores que não vejo Um mundo superior aos meus cinco sentidos Ardo aspiro por ver por saber longe acima Fora de mim além da dúvida e do espanto E na sideração que um dia me redima Liberto flutuarei feliz no seio etéreo E ó Morte rolarei no teu piedoso manto Para o deslumbramento augusto do mistério Vulnerant Omnes Ultima Necat Rio perpétuo e surdo as serras esboroas Serras e almas ó Tempo e em mudas cataratas As tuas horas vão mordendo aluindo à toa Todas ferem passando e a derradeira mata Mas a vida é um favor De crepe ou de ouro e prata Da injúria ou do perdão do opróbrio ou da coroa Todas as horas para o martírio são gratas Todas para a esperança e para a fé são boas Primeira que em meu ninho os primeiros arrulhos Me deste e a minha Mãe deste um grito e um orgulho Bendita E todas vós benditas na ânsia triste Ou no clamor triunfal que todas me feristes E bendita que sobre a minha cova aberta Pairas última ó tu que matas e libertas 39 wwwneadunamabr 40 Frutidoro Fruto depois de ser semente humilde e flor Na alta árvore nutriz da Vida amadureço Gozei sofri vivi Tenho no mesmo apreço O que o gozo me deu e o que me deu a dor Venha o inverno depois do outono benfeitor Feliz porque nasci feliz porque envelheço Hei de ter no meu fim a glória do começo Não me verão chorar no dia em que me for Não me amedrontas Morte o teu apelo escuto Conto sem mágoa os sóis que me acercam de ti E sem tremer à porta ouço o teu passo astuto Levame Após a luta o sono me sorri Cairei beijando o galho em que fui flor e fruto Bendizendo a sazão em que amadureci Os Sinos Plangei sinos A terra ao nosso amor não basta Cansados de ânsias vis e de ambições ferozes Ardemos numa louca aspiração mais casta Para trasmigrações para metempsicoses Cantai sinos Daqui por onde o horror se arrasta Campas de rebeliões bronzes de apoteoses Badalai bimbalhai tocai à esfera vasta Levai os nossos ais rolando em vossas vozes Em repiques de febre em dobres a finados Em rebates de angústia ó carrilhões dos cimos Tangei Torres da fé vibrai os nossos brados Dizei sinos da terra em clamores supremos Toda a nossa tortura aos astros de onde vimos Toda a nossa esperança aos astros aonde iremos Sinfonia Meu coração na incerta adolescência outrora Delirava e sorria aos raios matutinos Num prelúdio incolor como o alegro da aurora Em sistros e clarins em pífanos e sinos Meu coração depois pela estrada sonora Colhia a cada passo os amores e os hinos E ia de beijo a beijo em lasciva demora Num voluptuoso adágio em harpas e violinos Hoje meu coração num scherzo de ânsias arde Em flautas e oboés na inquietação da tarde E entre esperanças foge e entre saudades erra E heróico estalará num final nos clamores Dos arcos dos metais das cordas dos tambores Para glorificar tudo que amou na terra Fim ANÁLISE DOS POEMAS LÍNGUA PORTUGUESA O poema Língua portuguesa escrito por Olavo Bilac traz em sua composição versos sobre a própria língua portuguesa e sua história trazendo à tona o surgimento a partir do Latim Ao passo em que é suave e bruta a língua portuguesa assume usos e propósitos distintos tendo que atravessar o oceano atlântico para poder chegar ao nosso querido Brasil O escrito relembra que o idioma em apreço é análogo ao que ouvia soar da boca de sua genitora e também aquele utilizado por Camões em suas famigeradas obras e em seus momentos de angústias e sofrimento AS NUVENS As nuvens em consonância com Olavo Bilac são espetáculos no céu que estão em constante mudança propiciando belas paisagens aos nossos olhos Em seu poema o autor descreve as nuvens como a materialização da natureza Ele relaciona a sua transformação e movimento à inconstância da vida e da mente humana O poeta justifica que a imprevisibilidade das nuvens pode ser uma metáfora para as alterações constantes da vida Dessa forma ele enfatiza a importância de apreciar a beleza do momento pois tudo muda sem aviso prévio AS ÁRVORES O soneto As árvores de Olavo Bilac descreve um dia de ventania no crepúsculo os galhos se mexendo lembrariam pessoas querendo se libertar de uma prisão sair do chão Neste poema há uma contradição latente uma árvore querer voar seria similar ao que ocorre às vezes com o ser humano Deste modo ele vive preso à terra almejando ter asas Homens e árvores não voam por isso sofrem querendo mais aventura e liberdade MICROCOSMOS O soneto em apreço escrito por Olavo Bilac descreve a magnitude da natureza e a sua relação com o ser humano O poema inicia retratando a exiguidade do nosso planeta em relação ao universo Porém ao passo em que descreve a pequenez do nosso planeta traça um contraponto ao mostrar como nele há uma imensidão de vida e beleza O poeta também destaca a complexidade que há nas coisas aparentemente simples como um grão de areia ou um raio de sol e como elas são importantes e fazem parte de um todo Bilac também aborda a relação do ser humano com a natureza enfatizando a importância de cuidar e preservar o meio ambiente DUALISMO O Soneto Dualismo de Olavo Bilac em sua primeira estrofe apresenta uma dualidade na visão do ser humano que é composto de uma parte material e de uma parte espiritual corpo e alma respectivamente O poeta enfatiza a superioridade da alma que é imortal e desperta o grande desejo do homem por sua busca e compreensão Posteriormente na segunda estrofe o poeta destaca a aflição que o homem enfrenta ao buscar o conhecimento da alma haja vista que é um caminho repleto de percalços Todavia o objetivo final de reconhecer a existência da alma é o que o mantém motivado em sua jornada Na terceira estrofe a dualidade é novamente destacada desta vez sob a perspectiva de um dilema entre a razão e o amor O protagonista ao mesmo tempo é atraído pela paixão do amor e pela ânsia de obter conhecimento racional A sua luta para escolher um caminho reflete a dualidade existente na natureza humana O soneto traz consigo uma reflexão sobre como as dualidades existem no ser humano e de que maneira elas o afetam nas busca da compreensão de si mesmo VILA RICA O poema Vila Rica de Olavo Bilac é uma homenagem à Cidade de Ouro Preto antiga capital de Minas Geras e também um relevante centro histórico e cultural do Brasil Bilac salienta a rica arquitetura as minas de ouro que proporcionaram uma grande rentabilidade à região e a relevância da cidade na história do país O poema é uma ode à beleza e à história de Vila Rica e um convite aos brasileiros para se orgulharem de sua rica herança cultural ORAÇÃO A CIBELE No poema em apreço o poeta solicita à deusa da fertilidade e natureza Cibele que concedalhe a paz e a felicidade O poema repleto de simbolismo descreve a força da natureza e em todos os seres vivos Bilac apresentase como um devoto de Cibele que almeja somente a sua benção O poeta conclui o seu poema com uma solicitação para que a deusa guie e ilumine os seus passos OS SINOS O poemas Os sinos de Olavo Bilac é uma reflexão sobre a importância do badalar dos sinos na igreja e em nossas vidas Bilac exalta a beleza e o simbolismo dos toques de sino que marcam as horas anunciam celebrações religiosas e eventos importantes Bilac ao ouvir o ressoar dos sinos percebe a grandeza e a importância da vida humana e as relações entre as pessoas e as divindades Ele também descreve a melodia dos sinos como um mix de tristeza saudade e esperança PÁTRIA O poema Pátria escrito por Olavo Bilac traz consigo um sentimento ufanista isto é um orgulho demasiado de sua pátria colocando o Brasil como uma terra esplêndida e desprendida de comparações O intuito do poema em apreço é instigar e ensinar aos outros o amor pelo seu país A UM POETA Esse é sem dúvidas um dos mais famosos poemas composto por Olavo Bilac Em A um poeta o escritor transmite a sua concepção acerca do ofício da escrita Bilac apresenta o trabalho da criação de poemas como um trabalho árduo e sofrido Entretanto ele também explicita que esse esforço não deve de forma alguma ficar claro no resultado final ele acredita que a obra terminada deve parecer fruto de um processo natural e harmonioso REFERÊNCIAS Poemas de Olavo Bilac disponível em olavobilacpoemas Pátria Olavo Bilac demonumentafauuspbrpátria TARDE OLAVO BILAC

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