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ARISTÓTELES FÍSICA I-II LUCAS ANGIONI Prefácio, introdução, tradução e comentários N. Cham. 185 A717f Autor: Aristóteles Título: Física I-II / 437934 Ac. 190361 Ex.3 UFPA BC EDITORA UNICAMP Este volume apresenta a tradução dos livros I e II da Física de Aris-tóteles, seguida de comentários ao texto. Nos comentários, os argumen-tos propostos por Aristóteles são exami-nados de modo detalhado, com aten-ção a problemas filosóficos e filológicos. Procura-se reconstituir de modo consis-tente a rede de conceitos presente na ar-gumentação de Aristóteles, bem como discutir as principais dificuldades envol-vidas na interpretação do texto, com re-missão ao status quaestionis na literatura especializada. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Reitor FERNANDO FERREIRA COSTA Coordenador Geral da Universidade EDGAR SALVADORI DE DECCA EDITORA UNICAMP Conselho Editorial Presidente: PAULA FRANCHETTI ALCIR PECORA – ARLEY RAMOS MORENO JOSÉ A.R. GONTIJO – JOSÉ ROBERTO ZAN MARCELO KNOBEL – MARCO ANTONIO ZAGO SEDI HIRANO – YARO BURIA JUNIOR UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ BIBLIOTECA CENTRAL Aristóteles FÍSICA I E II Prefácio, introdução, tradução e comentários Lucas Angioni EDITORA UNICAMP FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELO SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP DIRETORIA DE TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO Aristóteles. Física I-II / Aristóteles ; prefácio, tradução, introdução e comentários: Lucas Angioni. - Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009. 1. Física. 2. Ciência. 3. Natureza. 4. Hilemorfismo. 5. Teleologia. 6. Necessidade (Filosofia). 7. Ação. I. Angioni, Lucas. II. Título. CDD 530 500 113.2 185 113 123 125 112 ISBN 978-85-268-0815-1 Índices para catálogo sistemático: 1. Física 530 2. Ciência 500 3. Natureza 113.2 4. Hilemorfismo 185 5. Teleologia 113 6. Necessidade (Filosofia) 123 7. Ação 112 Copyright © by Lucas Angioni Copyright © 2009 by Editora da Unicamp 1ª reimpressão, 2010 Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistema eletrônico, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer sem autorização prévia do editor. Editora da Unicamp Rua Caio Graco Prado, s/n – Campus Unicamp CEP 13083-859 – Campinas – SP – Brasil Tel./Fax: (19) 3521-7178/7782 www.editora.unicamp.br – vendas@editora.unicamp.br UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ BIBLIOTECA CENTRAL 437934 SUMÁRIO PREFÁCIO ................................................ 7 INTRODUÇÃO ....................................... 11 FÍSICA DE ARISTÓTELES LIVRO I ............................................... 23 LIVRO II .............................................. 43 COMENTÁRIOS LIVRO I ................................................ 65 LIVRO II ............................................. 195 BIBLIOGRAFIA .................................. 407 PREFÁCIO A TRADUÇÃO DOS LIVROS I E II DA Física de Aristóteles, apresentada neste volume, teve como etapas preliminares as versões experimentais publicadas no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, respectivamente, em 1999 (coleção Textos Didáticos, nº 34) e em 2002 (coleção Clássicos da Filosofia: Cadernos de Tradução, nº 1). Digo que tais versões foram "experimentais" justamente porque, concebidas para circular estritamente no ambiente acadêmico, tinham por objetivo fornecer um material minimamente viável para os cursos de graduação sobre Aristóteles e "colher críticas, sugestões e comentários" que permitissem "aprimoramentos em uma eventual edição futura". Pois bem: as críticas e sugestões foram feitas, sobretudo em seminários específicos, e houve tempo suficiente para que eu pudesse assimilá-las de modo consistente e ponderado. A presente edição é justamente aquela "edição futura" prevista em 1999, quando me aventurei temerariamente a expor os resultados parciais de uma pesquisa em andamento. Acredito que a presente tradução, respaldada pela recepção crítica de leitores atentos e generosos, faz opções mais ponderadas que as versões anteriores — se são as opções corretas ou não, ou se são realmente as preferíveis, cabe ao leitor decidir. No entanto, em relação às anteriores, esta versão apresenta menos idiossincrasias — como a insistência em vocabulário inadequado, ou a ingênua tentativa de "espelhar" na língua portuguesa a estrutura do grego clássico. Busquei encontrar em português um fraseado que — por seu ritmo, por seu vocabulário — fosse capaz de reproduzir, de maneira eficaz, a tonalidade da argumentação aristotélica. Esta última (como já foi dito várias vezes) não procede more geometrico. Ela não assume desde o início os princípios mais primitivos; não deduz as consequências de modo perfeitamente progressivo; FÍSICA I E II nem sequer explicita todas as premissas necessárias para determinada conclusão; por vezes, nem sequer enuncia explicitamente a conclusão a que se teria chegado, mas apenas se reporta a ela de maneira sugestiva e indireta. Isso quer dizer que a argumentação de Aristóteles — analisada segundo os parâmetros de sua própria silogística, exposta nos Analíticos — é tal que inverte a ordem entre premissas e consequências; subentende premissas que, de tão óbvias (aos olhos de Aristóteles), não careceriam de explicitação; apenas sugere conclusões, sem enunciá-las formalmente; deixa apenas sugeridas as pretensões em favor das quais se seguem argumentos etc. Assim, o texto de Aristóteles é tal que o leitor, muitas vezes, deve esforçar-se por descobrir a premissa implícita que Aristóteles, por alguma razão, não se deu ao trabalho de enunciar formalmente; descobrir a conclusão a que Aristóteles julga ter efetivamente chegado (mesmo que não a enuncie formalmente); descobrir até mesmo a pretensão em favor da qual Aristóteles quer argumentar. Esse andamento da argumentação aristotélica, no entanto, é muito bem pautado por recursos peculiares à língua grega. O uso de certas partículas enfatiza de modo muito preciso a função da frase no argumento. Modos verbais como o irrealis e o optativo permitem exprimir, de maneira sucinta, relações bem complexas, que, em grego, envolvem mais de um condicionai. "Tempos" verbais como o presente e o futuro do indicativo possuem usos bem específicos e precisos, sobretudo na formulação de relações de condição e consequência. A plasticidade na composição das orações, enfim, confere tal vivacidade ao texto, que permite que a posição das palavras exprima de modo sugestivo vários tipos de relações (adversativas, enfáticas etc.). Esses problemas devem ser diagnosticados e enfrentados de maneira precisa pelo tradutor, antes de qualquer questão de método e doutrina. Não enunciar em primeiro lugar os princípios mais primitivos, inverter a ordem natural entre premissas e conclusões, omitir premissas, deixar implícitas mediações importantes da argumentação, apenas sugerir conclusões, em vez de alardeá-las solenemente etc., todos esses expedientes do texto aristotélico não são defeitos metodológicos do sistema, tampouco incompetência expositiva da parte de Aristóteles, muito menos escolha autoral de um escritor visando à posteridade e/ou a um público universal abstrato. Esses fatos são condicionados pelo estatuto dos escritos aristotélicos: anotações de aula (ou coisa parecida), usadas “internamente” com um público restrito de ouvintes já familiarizados com as pesquisas e doutrinas de Aristóteles. Já houve tempo em que esses fatos foram tidos como sinais de obscuridade. Esta última quase sempre foi concebida como defeito. Em outra PREFÁCIO direção, a dificuldade em atinar com as conclusões a que Aristóteles quer chegar (e mesmo com as pretensões em favor das quais ele quer argumentar) já foi tida como sinal de que sua doutrina seria deliberadamente “aberta”, meramente sugestiva, “inacabada” etc. Essa orientação interpretativa, por mais que tenha sido responsável por superar um escolasticismo inadequado, corre o risco de gerar uma acomodação no leitor do texto original: se o argumento aristotélico fosse intrinsecamente incompleto, meramente “sugestivo”, “alusivo”, sem pretensões e sem conclusões, por que motivo o leitor se esforçaria em exaurir no texto original todas as suas possibilidades expressivas? Se, através de uma primeira impressão geral, colhida numa leitura rápida, o texto se apresenta inacabado, é cômodo tentar atribuir um significado filosófico ao inacabamento. No entanto, uma vez observadas todas as peculiaridades da língua grega, boa parte dessa sedutora aparência de inacabamento desvanece. Compreendidos os modos verbais, as partículas, a nervura subjacente ao texto, podemos descobrir argumentos precisos e acabados — quero dizer: “acabados”, do ponto de vista da silogística aristotélica, isto é, argumentos logicamente válidos. Foi neste sentido que me ative desde a primeira versão desta tradução: mergulhar no texto original a fim de sentir as articulações vivas e desmascarar sua teia argumentativa. Procurei afastar-me das armadilhas de uma tradução pretensamente “fiel e literal”, que se recusasse a trocar as atraentes aparências de neutralidade pelo comprometimento com uma reconstituição argumentativa satisfatória. Os comentários, por sua vez, foram elaborados segundo parâmetros já consagrados neste “gênero de literatura”. Neles, na introdução de cada capítulo, fizemos um breve resumo do andamento argumentativo do texto, destacando suas principais inflexões. A este breve resumo, sucedem os comentários “tópicos”, os quais procuram desentranhar a estrutura argumentativa do texto aristotélico em seus mínimos detalhes. Tendo em vista a dificuldade de cada passagem particular, os comentários valem-se de diversos recursos: elucidações etimológicas; remissões a outras obras de Aristóteles, indispensáveis ou ao menos relevantes para a compreensão da passagem comentada; remissão à literatura secundária e ao status quaestionis, incluindo a discussão de interpretações alternativas; elucidações filológicas sobre dificuldades no estabelecimento do texto grego; e, sobretudo, análise pormenorizada dos argumentos, com recurso à formalização silogística. Visto que os comentários se propõem a analisar o texto de Aristóteles em pormenor, e visto que eles se iniciam com um resumo geral do conteúdo e da trajetória da argumentação em cada respectivo capítulo, julguei oportuno propor uma Introdução breve e sumária. Suponho que a leitura do caput dos comentários dos 18 capítulos que constituem os livros I e II dará ao leitor uma boa noção sobre o conjunto do texto. O texto grego selecionado para tradução tomou por base as edições de Bekker e Ross (ver bibliografia) e difere de ambas em várias passagens. Minhas opções de leitura estão devidamente notificadas e justificadas nos próprios comentários. O leitor encontrará na bibliografia a lista das traduções que consultei para comparar resultados e conferir alternativas de interpretação, de terminologia e de estilo. Não discuti com pormenor a interpretação dos comentadores gregos, por julgar (para desespero de alguns colegas) que, salvo algumas exceções, a elucidação dos argumentos dos livros I e II da Física pode ser feita sem tal discussão. Creio que os comentadores devem ser lidos como autores originais e interessantes, mas não vi razão suficiente para estender discussões eruditas sobre a interpretação que propõem para os argumentos da Física. A pesquisa que resultou no presente volume (tradução e comentários) foi respaldada por uma Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq, durante o período de agosto de 2001 a julho de 2003, e esteve ligada aos seminários de pesquisa do Projeto Temático Pesquisa “Ética e Metafísica em Aristóteles” (2002-2005). Agradeço o apoio de ambas as agências de fomento. Agradeço à Fapesp também pela concessão de auxílio a esta publicação. Devo agradecer também a alguns leitores cuja tenacidade crítica me auxiliou a aprimorar tanto a tradução como os comentários: Roberto Bolzani Filho, Marco Zingano, Alberto Alonso Muñoz, Luiz Henrique Lopes dos Santos, Marcos Gleizer, Luis Márcio Nogueira Fontes, Fátima Évora, Arlene Reis e Cristiano Rezende.