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Lingua Portuguesa e Gramatica Historica 7 UNIDADE 04 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Créditos Institucionais Presidente do Conselho de Administração: Janguiê Diniz Diretor-presidente: Jânio Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria Executiva de Serviços Corporativos: Jôaldo Diniz Diretoria de Ensino a Distância: Enzo Moreira © 2019 by Telesapiens Todos os direitos reservados SUMÁRIO Identificando as características e a importância da leitura no ensino de Língua Portuguesa 10 Os diferentes tipos de leitura 10 Textos orais 11 Textos escritos 12 O papel da leitura na escola 18 Conhecendo os aspectos envolvidos nas atividades de produção textual 20 A produção de textos na escola 21 Compreendendo as diferenças entre as variações linguísticas na fala e na escrita: a linguagem coloquial e a norma padrão da Língua Portuguesa 23 As variedades linguísticas na língua portuguesa 24 O ensino de língua portuguesa e a norma padrão 27 Reconhecendo as características dos neologismos e da gramática normativa da Língua Portuguesa 29 O surgimento de neologismos 29 Os tipos de neologismos 30 Neologismos criados a partir da internet 33 8 Língua Portuguesa e Gramática Histórica INTRODUÇÃO As transformações sofridas na estrutura lexical da língua portuguesa foram resultado de uma série de fatores, alguns deles já estudados ao longo desta disciplina. A partir de agora, veremos qual a importância da leitura e da produção textual para o ensino de Língua Portuguesa. Para nos aprofundarmos mais sobre o estudo da gramática e da história da nossa língua, é fundamental compreendermos suas variedades, por isso conheceremos as diferenças entre a linguagem coloquial e a norma padrão da língua portuguesa. Por fim, buscaremos entender como muitas das expressões que utilizamos na atualidade foram criadas, devido à necessidade de denominarmos situações novas do nosso cotidiano, novos conceitos, novos objetos, entre outros casos, o que conhecemos por neologismos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Bons estudos! 9 Língua Portuguesa e Gramática Histórica OBJETIVOS Olá! Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 4 - Língua Portuguesa e Gramática Histórica, e o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1 Identificar as características e a importância da leitura no ensino de Língua Portuguesa; 2 Conhecer os aspectos envolvidos nas atividades de produção textual; 3 Compreender as diferenças entre as variações linguísticas na fala e na escrita: a linguagem coloquial e a norma padrão da Língua Portuguesa; 4 Reconhecer as características dos neologismos e da gramática normativa da Língua Portuguesa. Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! 10 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Identificando as características e a importância da leitura no ensino de Língua Portuguesa O ensino de Língua Portuguesa é baseado em competências que possibilitem a compreensão e consequentemente, a resolução de problemas cotidianos por meio da linguagem. Uma dessas competências é o ensino da língua por meio da leitura, cujos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997) defendem que deve acontecer além da simples decodificação de letras e por isso, deve funcionar como uma ferramenta importante na formação de cidadãos, capazes de se tornarem sujeitos críticos e ativos na sociedade da qual fizeram parte. Neste tópico de estudos, nosso foco estará em conhecermos os diferentes tipos de leitura, isto é, verificando as características dos textos orais e escritos. Após esse momento, refletiremos como ocorre e ensino da prática de leitura nas aulas de língua portuguesa das escolas brasileiras. Os diferentes tipos de leitura Sabe-se que a leitura não é considerada como um exercício fácil de ser realizado pela maioria dos brasileiros. Muitas outras atividades são consideradas mais acessíveis, como por exemplo: assistir à televisão, praticar esportes, cozinhar, entre outras. REFLITA Você já parou para pensar em suas práticas individuais enquanto leitor? Reflita se você tem um bom relacionamento com a Língua Portuguesa, especialmente no que se refere à leitura. Você costuma praticá-la fora do ambiente de ensino? Qual foi o último livro que você leu especialmente como forma de lazer? Reflita a respeito! Língua Portuguesa e Gramática Histórica 11 No entanto, a leitura, embora seja praticada a partir de textos escritos, pode ser desenvolvida em diferentes situações, como por exemplo, a partir da oralidade, a forma mais utilizada na comunicação entre as pessoas, cujas características, veremos agora. Textos orais O trabalho com textos orais na escola deve partir, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997), de situações que demonstrem que os grupos sociais fazem uso da linguagem de diferentes formas. Além disso, as atividades devem preparar os alunos a perceberem a importância da fala adequada ao contexto de comunicação. Mas, segundo o linguista Marcuschi (2013), a escola percebe a fala inversa à sua usabilidade, pois ela é um espaço em que predomina, sobretudo, o ensino da língua escrita. Embora, por muitos anos, esta realidade tenha feito parte da maioria das instituições de ensino do Brasil, somente a partir dos anos de 1990, a oralidade passou a ser objeto de ensino nas aulas de língua portuguesa e começou a aparecer como conteúdo dos livros didáticos. Diante dessa perspectiva, percebe-se a necessidade de trabalhar com gêneros orais em sala de aula, proporcionando que os alunos percebam a riqueza do uso efetivo da língua, isto é, de maneira que eles se tornem capazes, ao longo dos anos, de utilizá-la de forma adequada além do contexto escolar. A partir dessas práticas, a linguagem ensinada na escola poderá se aproximar, cada vez mais, das formas utilizadas no dia a dia pelos falantes da língua portuguesa. 12 Língua Portuguesa e Gramática Histórica IMPORTANTE Embora estejam relacionados, os gêneros textuais e os tipos textuais são conceitos diferentes. Os gêneros textuais são considerados aspectos discursivos e enunciativos que privilegiam as funcionalidades da língua, tais como: cartas, notícias, receitas, entrevistas, biografias, contos e muitos outros. Já os tipos textuais abrangem, entre outras, as categorias: narração, argumentação, descrição, injunção, descrição etc. Sendo assim, um mesmo tipo pode abarcar inúmeros gêneros de texto. Textos escritos Do mesmo modo que a leitura pode ocorrer através da forma oral, a leitura de textos escritos também é uma competência desenvolvida ao longo do ensino de língua portuguesa. Antes de verificamos como ocorrem as aulas de produção textual no ambiente escolar, verificaremos as características de leitura a partir de textos escritos. Para Bunzen (2012, p. 158-159), [...] as práticas de leitura e produção de textos em gêneros diversos que fazem parte do cotidiano dos alunos nos diversos espaços de socialização (famílias, igrejas, grupos de amigos, movimentos juvenis, associações comunitárias, trabalho etc) podem ser legitimadas na escola (e não excluídas). Compreender as funcionalidades dos diferentes gêneros textuais é uma forma bastante eficaz no ensino da língua. Para isso, se faz necessário que cada indivíduo possa conhecer além do maior número de gêneros textuais, entender as suas condições de uso, principalmente no que diz respeito à atuação dos textos dentro dos contextos sociais. 13 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Quadro 1: Diferenças entre tipos e gêneros textuais | Tipos textuais – Função social ou propósito comunicativo | Gêneros textuais – Alguns exemplos | |------------------------------------------------------------|-------------------------------------------------------------------| | Narração | Piada, novela, romance, crônica, conto, lenda, etc. | | Argumentação | Carta do leitor, artigo de opinião, editorial, etc. | | Injunção | Receita de bolo, bula de remédio, manual de instruções, etc. | | Informação | Notícia, reportagem, verbete de dicionário, etc. | | Descrição | Biografia e autobiografia, diário, cardápio, anúncio de classificado, etc. | | Exposição | Entrevista de emprego, palestra, conferência | Fonte: Elaborado pela autora, 2019 Além dos gêneros textuais convencionais, ou seja, aqueles mais utilizados em nosso dia a dia, com a presença da internet no cotidiano dos falantes da língua portuguesa, muitos gêneros textuais foram criados para serem usados neste contexto. No entanto, cabe ressaltar que os gêneros textuais não podem ser considerados como algo estanque, uma vez que constantemente podem ser criadas novas estruturas textuais, de acordo com as necessidades de comunicação. Vejamos, entre outros, alguns exemplos de gêneros textuais criados com o avanço da tecnologia nas sociedades, que não necessariamente se realizam por meio da linguagem escrita. 14 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Marcushi (2005) descreve as características desses gêneros da seguinte forma: E-mail (mensagens eletrônicas): Surgiu em meados dos anos 70, nos computadores do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (ARPANET). “O correio eletrônico ou emissão eletrônica de mensagens é uma forma de comunicação escrita normalmente assíncrona de remessa de mensagens entre usuários de computador”. (MARCUSCHI, 2005, p. 39). Tal gênero é bastante semelhante ao gênero textual carta, pois possui características em comum, como endereço de remetente, data e local, endereço do receptor, possibilidade de cópias, além da linguagem, a qual pode ser comparada a utilizada em bilhetes, pois em muitos casos, trata-se de uma linguagem não monitorada. Como características específicas, os e-mails possibilitam o uso de emoticons (ícones para sentimentos e emoções), utilizados em situações mais informais, além do uso de letras minúsculas e maiúsculas, em que, muitas vezes, ao optar pelo uso das maiúsculas em sua totalidade na escrita, transmite ao receptor uma sensação de que o locutor está gritando ou xingando, por isso, deve ser evitada; Os chats: Surgiram na Finlândia, em 1988, conhecidas como conversas multiparticipativas, permitem aos usuários escolher as salas de acordo com a faixa etária, por cidades ou região, por temas, para encontros, entre outros interesses. Como característica específica, ao ingressar em uma sala de bate-papo, o usuário deve escolher um apelido, que geralmente não é o seu nome verdadeiro. Semelhante às conversações em grupos abertos, “A linguagem dos bate-papos é de fato bastante livre [...], portanto, não obedecendo a linguagem formal”. (MARCUSCHI, 2005, p. 45); Chat reservado: Este gênero possui as mesmas características do gênero acima mencionado, porém neste caso, os indivíduos interagem em particular. Para Marcushi (2005, p. 49): “[...] esse gênero tem uma proximidade com a conversa face a face muito maior que o anterior e não apresenta tanto tumulto comunicativo [...]”; 15 Língua Portuguesa e Gramática Histórica O Bate-Papo ICQ (agendado): Surgiu em agosto de 1996, em Israel, e obteve sucesso devido à disponibilidade em várias línguas. “Umas das características diferenciais do ICQ é, portanto, o fato de os participantes se conhecerem e poderem entrar com seus nomes ou com apelidos. Não há possibilidade de alguém contatar uma pessoa sem conhecê-la ou sem sua permissão”. (MARCUSCHI, 2005, p. 49-50). Posteriormente, esse gênero foi comparado ao Microsoft Service Network (MSN), ambos oferecendo aos usuários a possibilidade de envio de documentos e arquivos; Os chats em salas privadas: Esse gênero não traz características diferentes das mencionadas nos últimos dois itens, porém caracteriza-se por possibilitar que dois participantes agendem uma conversa e possam dialogar com mais calma; Entrevista com convidado: Semelhante às salas de bate-papo, com a particularidade de apenas um entrevistador poder responder às perguntas dos participantes do chat. “Há formatos bem variados para a realização desse gênero, mas em essência ele é uma entrevista em que qualquer um pode fazer sua pergunta na sala. Uma espécie de entrevista coletiva feita em salas de chat especiais”. (MARCUSCHI, 2005, p. 52); E-mails educacionais (Aulas virtuais por e-mails): “Este gênero é bastante estudado na área educacional no contexto que se convencionou chamar de Educação a Distância (EaD)”. (MARCUSCHI, 2005, p. 52). Tal gênero caracteriza-se por basear-se através da comunicação assíncrona, fazendo com que o aluno assuma uma postura autônoma, pois o papel maciço do professor desaparece. Também se caracteriza por proporcionar ao aluno a flexibilidade de tempo e espaço. Assim, Marcushi (2005, p. 53) finaliza a caracterização do e-mail educacional afirmando que a hipertextualidade e todas as suas consequências em termos de autoria e construção textual estão envolvidas na construção desse gênero de aula em ambientes virtuais; 16 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Aulas chat (O chat educacional): O que difere esse gênero das demais salas de bate-papo é a intenção com os quais serão usados, pois nesse formato, os participantes não adotam apelidos ao ingressarem no chat. Caracteriza-se como um gênero bastante comum no âmbito educacional a distância, o qual ocorre de maneira síncrona. O professor não assume mais o papel central do processo de ensino-aprendizagem, o que proporciona a interação e a construção social do conhecimento, através de práticas colaborativas. Em geral, delimita-se o número de participantes e o tempo em que ocorrerão as sessões, de maneira a facilitar os encontros. Videoconferência interativa: “Trata-se de um gênero que se aproxima dos bate-papos com convidados, mas têm tempo fixo e tempo claro de realização com parceiros definidos”. (MARCUSCHI, 2005, p. 58) afirma que esse gênero está se popularizando e ressalta que a escrita é usada em menor intensidade, disponibilizando o uso da imagem para a comunicação; Listas de discussão: Têm como característica a comunicação assíncrona e são bastante praticadas em comunidades acadêmicas. As listas são formadas por áreas de interesse, as quais constituem comunidades virtuais. Há ainda um moderador ou webmaster, responsável por direcionar as mensagens e fazer a triagem delas antes da discussão; Endereço eletrônico: Trata-se dos identificadores pessoais dos indivíduos para todo o tipo de participação na comunicação eletrônica. Em relação aos e-mails, ao ser comparado com o gênero carta, esse poderia ser definido como o seu endereço. Um mesmo indivíduo pode possuir diversos endereços eletrônicos, os quais não aparecem em salas de bate- papo, por exemplo. Diferentemente do endereço de uma carta convencional, o endereço eletrônico não permite espaços na sua escrita, ou qualquer mudança de letra, pois impediria o seu envio; Língua Portuguesa e Gramática Histórica 17 Os blogs (Weblogs): Comparado à homepages, as quais não são consideradas como gêneros textuais, os blogs têm uma história própria, porém possuem uma estrutura bastante variada. Utilizados em grande escala no meio virtual, esse gênero surgiu em 1997 e de acordo com Jorn Barger (apud MARCUSCHI, 2005, p. 60) foi cunhado '[...] para descrever sites pessoais que fossem atualizados frequentemente e contivessem comentários e links'. Os blogs funcionam, portanto, como um diário pessoal, com anotações diárias, acessíveis a qualquer usuário da rede. Quando construídos para relatos pessoais, os blogs possuem uma linguagem mais informal, em geral, têm estrutura leve, textos breves, descritivos e opinativos e permitem aos leitores a abertura para comentários, pois são interativos e participativos. Outra dificuldade enfrentada pelos falantes da língua portuguesa se refere à compreensão e interpretação textual dos textos escritos. Muitas tarefas disponibilizadas ao longo dos anos escolares dos brasileiros não sustentam o desenvolvimento dessas competências, pois não ultrapassam além da simples decodificação das palavras. Neste sentido, o processo de leitura e compreensão dos textos não pode ser realizado de maneira isolada do conhecimento de mundo dos leitores. É preciso estimular que eles estejam atentos aos assuntos que os cercam, aos fatos cotidianos, sobretudo, sobre as suas práticas sociais. REFLITA Quando a prática social é adotada como ponto de partida do trabalho escolar, é possível desenvolver competências básicas para que o aluno se torne produtor do seu próprio conhecimento. Assim, ele levará para a sala de aula as experiências da sua própria vida, e as conciliará com conhecimentos reais de uso da língua. 18 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Portanto, os professores de Língua Portuguesa cada vez mais se preocupam em trazer para a sala de aula temas de leitura que façam sentido à vida do aluno. Consequentemente de maneira positiva, eles estarão gradativamente preparados para as atividades de produção textual, assunto que trataremos a seguir. O papel da leitura na escola As práticas de leitura e escrita são atividades dialógicas. Através da leitura ocorre o enriquecimento da memória, bem como uma possibilidade de conhecimento de vários assuntos até então desconhecidos, por isso, ler e escrever são atividades que se complementam. Sendo assim, as tarefas escolares, sobretudo, deveriam proporcionar atividades que abrangem a linguagem em todas as esferas que cercam os falantes de uma língua, tanto dentro quanto fora do espaço escolar. Dentre os papéis da escola está a democratização do acesso e a ampliação do convívio com múltiplas situações e intenções de leitura. Por essas razões, caberia aos professores de Língua Portuguesa pensar em atividades responsivas, que visassem além da memorização de conceitos gramaticais isolados, tendo como ponto de partida tarefas que se preocupassem em considerar as necessidades dos alunos. Mas até o momento, a realidade brasileira não apresenta as condições ideais para a formação de leitores competentes. Muitos documentos utilizados como referência para o ensino da leitura nas escolas brasileiras sugerem que este trabalho deveria partir das práticas sociais dos alunos, no entanto, a veracidade dos fatos demonstra que o nosso país não é considerado um país leitor ou ainda, que apresenta cidadãos que não gostam de ler. Um fator bastante recorrente, a qual reforça a recorrência dessa situação é o fato de que, na maioria das vezes, as atividades voltadas à leitura e/ou à escrita são realizadas como instrumentos meramente avaliativos. Assim, é de suma importância que 19 Língua Portuguesa e Gramática Histórica a escola brasileira proporcione aos seus alunos espaços que permitam a aquisição de capacidades, como por exemplo, saber interpretar textos de diversas manifestações de linguagem. Bunzen e Mendonça (2012, p. 39) afirmam que 'Ler é dialogar com a consciência do autor, com enunciados e vozes, não decifrando, mas produzindo sentidos com os conhecimentos que tem dos outros textos'. Cada indivíduo constrói a sua maneira de ler e a partir desse exercício, muitas possibilidades de aprendizado em relação às regras da língua portuguesa passarão a ser desenvolvidos. Ao entrar em contato com diferentes textos, as competências de investigação dos estudantes são instigadas, passando então a refletirem sobre os diferentes usos da língua, analisando suas formas de uso. Dessa forma, elas contribuirão ativamente na formação de leitores, capazes de compreender o que estão lendo e consequentemente, para produzirem textos claros e coesos de acordo com as suas finalidades. 20 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Conhecendo os aspectos envolvidos nas atividades de produção textual O ato de escrever deve ser encarado como uma atividade prática, com propósito definido e deve ter um leitor específico, a qual deverá ser destinada a cumprir uma determinada finalidade. Por isso, a função da escrita no processo de ensino-aprendizagem está principalmente no ato da comunicação, preservação da memória e de registros, o exercício da documentação oficial e o desenvolvimento da autoconsciência (Burke e Porter, 1993). Neste sentido, afirmam os PCNs (1997) que um escritor competente é aquele que se torna capaz de elaborar textos coerentes, coesos e eficazes. EXPLICANDO DIFERENTE Coesão textual é a conexão e harmonia entre os elementos de um texto, que ocorre através do uso de conectivos, tais como: preposições, conjunções, advérbios e locuções adverbiais. Já a coerência textual é responsável por estabelecer o entendimento das ideias de um texto Conforme estudamos ao longo dessa disciplina, a escrita por um longo tempo foi considerada como a correspondência da fala. Desde a Antiguidade, já se registrava a oralidade por meio da escrita de textos e como sabemos, assim como toda a estrutura da língua portuguesa, a escrita também passou por inúmeras transformações. As expressões trazidas com o advento da internet fizeram com que novas formas de comunicação fossem criadas. Além disso, muitas expressões de uma linguagem conhecida popularmente como “internetês” já fazem parte do vocabulário 21 dos falantes da língua portuguesa há algumas décadas. Este assunto que será ampliado no item que abordará os diferentes tipos de neologismo. A produção de textos na escola Atualmente, existe um considerável processo de atualização no que diz respeito às práticas de ensino-aprendizagem e de avaliação no que se refere à produção textual na escola. Segundo Passarelli (2012, p. 46) “A produção de textos na escola é uma atividade realizada como exercício para desenvolver a capacidade textual do sujeito. Por se tratar de um trabalho de reflexão individual e/ou coletiva que de pende de uma série de habilidades [...].” Dessa forma, um dos papéis das instituições escolares é propor situações interlocutivas para que o estudante desenvolva capacidades para produzir seus próprios textos. Por isso, torna-se essencial que o professor incorpore temas atuais às atividades de escrita, assim como assuntos pertencentes ao cotidiano do aluno, conforme já verificamos quando abordamos as práticas de leitura na escola nesta unidade letiva. Ao trabalhar com a ideia de gêneros e não apenas com tipos textuais, o professor favorece o ensino de leitura e produção de textos, tanto orais quanto escritos. Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) contribuíram muito para que esse trabalho fosse se ampliando ao longo dos anos em todo o cenário escolar brasileiro. Cabe ressaltarmos que é inevitável que a leitura auxilie a escrita. Ela atua, portanto, como um elemento característico da produção textual, pois fornece matéria-prima para a escrita, bem como contribui para a constituição os modelos de escrita (Passarelli, 2012). 22 Língua Portuguesa e Gramática Histórica No entanto, conforme afirmam os PCNs (1997, p. 40): A relação que se estabelece entre leitura e escrita, entre o papel de leitor e de escritor, no entanto, não é mecânica: alguém que lê muito não é, automaticamente, alguém que escreve bem. Pode-se dizer que existe uma grande possibilidade de que assim seja. É nesse contexto — considerando que o ensino deve ter como meta formar leitores que sejam também capazes de produzir textos coerentes, coesos, adequados e ortograficamente escritos — que a relação entre essas duas atividades deve ser compreendida. Mas quando se pensa nos motivos pelos quais os alunos não gostam das atividades de produção textual, atribui-se essa ideia à falta de não ter sobre o que escrever, bem como a falta de preparo sobre como escrever. IMPORTANTE Embora os alunos recebam modelos prontos para desenvolverem suas produções escritas na escola, eles criam em seus próprios modelos, a partir das suas percepções, assim personalizando seus textos. Por isso, há de se considerar que a escrita não pode ser vista como um ato de reprodução, mas de criação. Por essas razões, o sucesso das produções textuais na escola não está apenas na utilização de normas prontas e técnicas de redação. Além disso, todo o critério que envolve a correção dos textos é baseado nas regras da gramática normativa, que é a forma de ensino da língua portuguesa, mas que em muitos momentos, está tão distante da vida real do aluno. Sendo assim, a partir de agora, será importante verificarmos as diferenças entre as diversas variedades linguísticas do português. Compreendendo as diferenças entre as variações linguísticas na fala e na escrita: a linguagem coloquial e a norma padrão da Língua Portuguesa Dominar uma língua possibilita aos indivíduos o poder de fazer parte de uma sociedade de maneira ativa, a fim de se comunicar, se informar, defender seus direitos e seu ponto de vista, frente às inúmeras situações de comunicação que nos deparamos diariamente. O ensino da fala não é uma competência privilegiada no ensino de língua portuguesa das escolas. Quando se tentou ensiná-la, foi de maneira inadequada, tentando consertar o “erro” por parte do estudante, reforçou-se ainda mais o preconceito com os indivíduos que falavam diferente à variedade linguística prestigiada. (PCNs, 1997) REFLITA Você já parou para pensar se existe uma forma certa de falar? Por que aprendemos na escola determinadas regras e conceitos, se no dia a dia, fazemos uso da palavra de maneira diferenciada? Por isso, agora veremos a diferença entre a linguagem coloquial, presente nas diversas variedades da nossa língua e por fim, compreenderemos o que compreende a norma padrão da língua portuguesa. Língua Portuguesa e Gramática Histórica As variedades linguísticas na língua portuguesa É dever da educação proporcionar estratégias de combate às diferenças, cujo respeito seja contemplado nesses espaços. No que se refere ao ensino da Língua Portuguesa, a escola deve agir de maneira a se livrar dos paradigmas de falar certo ou errado, pois haverá sempre o seguinte questionamento: O falar correto deveria ser embasado no modo correto de escrever? Para tanto, caberá ao professor considerar o contexto da comunicação. Ele será o responsável por balizar o falar e como fazê-lo, para quem fazê-lo. Assim, não nos restringiremos a um modelo educacional que visa apenas o ato de corrigir, mas capaz de demonstrar a adequação das circunstâncias de comunicação. Seguindo o que dispõem os PCNs (1997), em suma, a utilização eficaz da linguagem ocorre quando falar bem é adequado e produzir o efeito pretendido. Ao longo dos anos, o estudante deverá desenvolver capacidades que o possibilitem o conhecimento de diferentes manifestações culturais. Com isso, espera-se que ele seja capaz de se posicionar, compreender, aplicar e transformar cada uma delas de acordo com a necessidade de utilizá-las. Dessa maneira, ao entrar em contato com a gama de diversidade de uma sala de aula, será possível torná-la em um espaço multicultural, como tantos outros que a vida cotidiana nos oportuniza. O que caberá à escola ensinar no âmbito da oralidade é demonstrar que os grupos sociais fazem diferentes usos da linguagem, como por exemplo, preparar o aluno a perceber a importância da fala adequada ao contexto, principalmente em situações formais, que ocorrerão ao longo da sua vida, tais como uma entrevista de emprego, seminários, debates, entre outras. Até a chegada dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação pouco se discutia sobre as concepções de ensino Língua Portuguesa e Gramática Histórica de língua nas escolas brasileiras, no que tange à diversidade linguística que abrange todo o território brasileiro. É inevitável que o ensino de Língua Portuguesa seja realizado a partir da gramática normativa. Todavia, o preconceito proveniente da diversidade linguística deve ser combatido na escola. Nesse sentido, cabe ressaltarmos que são inúmeras as causas do preconceito linguístico, pois são diversas as variações, sejam sociais, regionais, profissionais, de gênero, entre outros fatores. Figura 1: Os diferentes tipos de variações linguísticas Variações linguísticas Fonte: Elaborado pela autora, 2019 Há de se considerar que para qualquer brasileiro se torna um grande esforço escrever de acordo com a norma padrão, uma vez que na oralidade utiliza-se a linguagem coloquial. Geralmente é do professor de língua materna o papel de identificar e corrigir as incoerências dos processos fonológicos dos alunos e por isso, considera-se a tarefa como árdua e de difícil execução. 26 Língua Portuguesa e Gramática Histórica EXPLICANDO DIFERENTE Quando se tem o entendimento de que as produções textuais não devem ter como objetivo principal o ensino das regras gramaticais da gramática normativa, isso resultará em um processo de ressignificação do ensino da escrita, cujos alunos se tornam sujeitos agentes do seu meio social. Por essa razão, há alguns anos o termo “redação” vem sendo substituído por “produção textual (ou de textos)”, pois a prática da escrita de textos é algo que deve ocorrer de maneira processual (Passarelli, 2012). Assim, o aluno precisa ser estimulado e incentivado a escrever com a sua própria identidade. O professor, todavia, deverá perceber as limitações do estudante e do ambiente ao qual ele pertence ao conduzir atividades de escrita. Toda aprendizagem ocorre quando acontece uma mudança de postura e de comportamento. Isso ocorre porque, muitas vezes, são os professores escolhem textos de acordo com seus conhecimentos e suas preferências. Ao aluno não é permitido discutir ou fazer escolhas do gênero, nem do tipo de texto a ser lido. Ainda que os textos clássicos, por exemplo, tenham valor no ensino, é inegável que os professores também necessitam trabalhar com leituras pertencentes ao cotidiano do aluno. Por essas razões, entende-se que a sala de aula deve ser considerada um espaço de construção, cuja interação entre as partes, professores e alunos é fundamental na descoberta das necessidades reais dos estudantes, sejam elas na formação de leitores competentes, no uso da linguagem adequada ao contexto de comunicação, mas principalmente na valorização dos alunos como sujeitos sociais. 27 Língua Portuguesa e Gramática Histórica O ensino de língua portuguesa e a norma padrão Conforme verificamos, a língua portuguesa apresenta diferentes variedades. No entanto, o ensino da língua nas escolas brasileiras segue as regras do que chamamos de norma padrão. O objetivo principal de se optar por este conjunto de regras está na intenção de seguir um modelo, cujas escolas de todo o Brasil possam seguir uniformemente. A partir do uso da norma padrão, busca-se eliminar e/ou diminuir o maior número de desvios encontrados na comunicação dos falantes da língua portuguesa. No entanto, ainda se questiona muito a adequação da norma padrão do português no ensino brasileiro, uma vez que ela é para muitos, considerada uma forma de prestígio, cuja maior parte da população brasileira não faz uso. O conjunto de regras pertencentes à norma padrão da língua portuguesa ainda se restringe às classes sociais mais elevadas ou às pessoas com maior nível de escolaridade. Por essas razões, mesmo sendo a língua portuguesa a língua materna dos brasileiros, muitas pessoas ainda desconsideram a importância de aprendê-la ou não demonstram interesse ou vontade de dominá-la. DEFINIÇÃO Entende-se por norma padrão a norma gramatical, baseada na gramática tradicional e normativa da língua portuguesa. De acordo com Bagno (1999, p. 9) “A língua é um enorme iceberg flutuando no mar do tempo, e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível dele, a chamada norma culta”. Por isso, mesmo que se ensine a escrever 28 Língua Portuguesa e Gramática Histórica de acordo com as regras da ortografia oficial, não é eficaz fazer isso tentando criar uma língua “artificial”, discriminando e considerando as demais pronúncias como algo “errado” (Bagno, 1999). Nosso país apresenta um vasto território multicultural, por isso não existe nenhum tipo de variedade, seja ela regional, social, temporal ou situacional considerada mais certa ou mais errada. Assim, conforme afirma o linguista Marcos Bagno (1999), a sociedade brasileira necessita democratizar o saber linguístico, dando voz, principalmente àqueles que se calam porque acreditam não saber a sua própria língua materna. Enquanto isso, a norma padrão se faz necessária para aproximar, cada vez mais as diferentes formas de uso da língua. Mas no fim das contas, o principal objetivo da comunicação é se comunicar. Língua Portuguesa e Gramática Histórica 29 Reconhecendo as características dos neologismos e da gramática normativa da Língua Portuguesa Conforme estudamos ao longo dessa disciplina, as línguas sofrem mudanças com o passar dos tempos. Muitos fatores colaboram para que ocorressem transformações no vocabulário dos falantes da língua portuguesa. A língua portuguesa, desde a sua origem do latim, vem sofrendo modificações ao longo do tempo. Retomando o panorama histórico da nossa língua temos: o histórico de Roma; a origem latina do português; a expansão da língua portuguesa pelo mundo; a transição do português arcaico para o contemporâneo; e a chegada e a fixação do português no Brasil. Depois de se tornar a nossa língua materna, o português continua a sofrer inúmeras mudanças, causadas pelos empréstimos das línguas indígenas e africanas, a chegada de imigrantes, entre outras. Neste último tópico de estudos, veremos que novas palavras são criadas devido às necessidades de comunicação e expressão dos indivíduos, que passam a utilizar novos conceitos, novos vocábulos, chamados de neologismos. O surgimento de neologismos Para iniciarmos a compreensão sobre o surgimento de neologismos, devemos pensar no que se trata o léxico de uma língua. Podemos pensar que este, por sua vez, consiste em um conjunto de itens disponíveis aos seus falantes, a fim de atenderem às suas necessidades de comunicação. Por isso, estudar o léxico compreende em trabalhar com palavras. A neologia lexical de uma língua, portanto, se trata de um processo de criação lexical. Assim, chamamos de neologismos o resultado do processo de neologia (ALVES, 2004). As criações causadas por este processo podem, com o passar do tempo, fazer Língua Portuguesa e Gramática Histórica 30 parte do sistema linguístico de determinada língua. Entretanto, isso só se torna possível quando ocorre consenso por parte dos seus falantes. Os neologismos são criados a partir do contato das pessoas com diferentes áreas de conhecimento, como por exemplo, a política, a ciência e atualmente, com o acelerado crescimento da tecnologia. Os tipos de neologismos Como mencionamos, na atualidade, muitos neologismos advêm dos constantes e acelerados avanços da tecnologia, mas a criação dessas novas expressões pode acontecer por diversos fatores. Dentre eles, estão a importação ou os empréstimos de outras línguas ou ainda por meio dos processos de formação de palavras. Cabe ressaltarmos que, embora muitas expressões utilizadas pelos falantes de língua portuguesa tenham sido herdadas de outras línguas, não devemos confundir os conceitos de estrangeirismos e neologismos. Enquanto o neologismo compreende na criação de uma palavra nova, o estrangeirismo se trata da inclusão de uma palavra estrangeira ao vocabulário da língua portuguesa. Neste sentido, o inglês é o mais comum. Vejamos suas diferenças: NEOLOGISMO: Compreende as expressões criadas e/ou adaptadas para a nossa língua, por meio do processo linguístico. ESTRANGEIRISMO: Caracteriza-se pela inclusão de uma palavra ou expressão de outras línguas ao vocabulário da língua portuguesa. A palavra buquê é uma adaptação da palavra em francês “bouquet”, logo a consideramos como um caso de estrangeirismos. Mas muitas outras palavras se encaixam nesta definição: e-mail; marketing, shopping, etc. Língua Portuguesa e Gramática Histórica 31 Geralmente, percebemos as transformações das línguas mais rapidamente na fala que na escrita. Portanto, os neologismos podem ser formados a partir da própria língua ou de palavras estrangeiras. E assim como ocorre com várias palavras, os neologismos passam a deixar de ser considerados como tal, pois são incorporados ao léxico da língua. Como estudamos, as palavras podem ser criadas por distintos processos, vamos recordar? Derivação: a partir de outra palavra. EXEMPLO: mega investimento; Composição: quando se cria uma nova palavra a partir de duas ou mais. EXEMPLO: axé music. Agora, vejamos as diferenças entre os tipos de neologismo: Quadro 2 – Neologismos: Conceito e exemplos | TIPO DE NEOLOGISMO | CONCEITO | EXEMPLOS | |--------------------|-------------------------------------------------|---------------------------------------------------------------------------------| | SEMÂNTICO | Palavra que já existe no léxico | A professora ficou uma arara porque entramos atrasados na aula. (ficou brava) | | | e adquire um novo significado | Meu vizinho fez um gato na rede elétrica. (ligação elétrica irregular) | | LEXICAL | Designa a criação de uma nova palavra | “Vou deletar você da minha vida”. (apagar/esquecer) | | | | O chefe pediu para escanear os documentos da reunião. (digitalizar/fazer cópias) | 32 Língua Portuguesa e Gramática Histórica SINTÁTICO Construção sintática que adquire um significado específico Joana deu a volta por cima e venceu as drogas. (superou) Lucas me deu o bolo e não compareceu ao encontro. (enganou) Fonte: Elaborado pela autora, 2019 Os neologismos podem ser percebidos por meio de diferentes gêneros textuais, entre eles, os textos literários, cujos escritores criam expressões para dar significados a palavras já existentes. Vejamos um exemplo no texto de Manuel Bandeira: Neologismo Beijo pouco, falo menos ainda. Mas invento palavras que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana. inventei, por exemplo, o verbo teadorar. Intransitivo Teadoro, Teodora. Disponível em: https://bit.ly/2TXWJug Além desse exemplo, podemos verificar a ocorrência de neologismos em diversos textos, dentre eles: Músicas; Anúncios publicitários; Textos científicos. 33 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Neologismos criados a partir da internet Os dias atuais são considerados como um período em que as pessoas mais se comunicam por meio da linguagem verbal, seja através da leitura ou da escrita. Com a popularização do computador e a chegada da internet, as pessoas passaram a ocupar espaços que até então não conheciam e consequentemente, a interagirem com o maior número de pessoas. Nos espaços digitais é muito comum observarmos, além dos neologismos, recursos não verbais, como emojis e gifs, por exemplo. Além disso, por meio da linguagem verbal os sinais de pontuação e alguns símbolos são empregados como forma de expressar algumas emoções: Quadro 3 - Alguns exemplos de emoticons Emoticon textual Significado Resultado =) - :] - :) felicidade, sorriso alegre = ( - :-/ tristeza =D - :D sorriso 8) óculos ou óculos escuros ;) piscadela :* beijo :x boca fechada (segredo ou insatisfeito) Fonte: Elaborado pela autora, 2019 34 Língua Portuguesa e Gramática Histórica De maneira coloquial, a linguagem criada para ser utilizada nos contextos digitais é chamada de “internetês”, cujo próprio nome é considerado como um neologismo. Como característica dessa linguagem, observamos a abreviação nas palavras, de maneira que se transformaram em expressões com poucas letras, algumas apresentando apenas duas. Este tipo de linguagem é observado de maneira mais comum no público jovem e/ou adolescente, pois apresentam os chamados “nativos digitais” ou ainda são mais frequentes nas redes sociais. EXPLICANDO DIFERENTE Os nativos digitais se apresentam como uma geração que possui habilidades tecnológicas intrínsecas, cujas gerações “Y”, de pessoas nascidas entre as décadas de 1980 e 1990 e a geração “Z”, de pessoas nascidas no fim da década de 1990 até 2010 fazem parte. Figura 2: Ranking das redes sociais no Brasil As redes sociais no Brasil pinterest 47° tumblr 40° instagram 22° linkedin 14° twitter 12° facebook 4° 1° Google.com.br 3° Google.com 5° UOL Fonte: Alexa, 2015 Língua Portuguesa e Gramática Histórica 35 No entanto, cabe ressaltar que em muitos momentos, dada a facilidade em se utilizar das linguagens utilizadas nos contextos digitais, muitos brasileiros acabam se esquecendo de fazer uso das regras da norma padrão. Observa-se esta realidade em contextos educacionais, por exemplo, pois muitas pessoas já se acostumaram a utilizar tanto o internetês em seu dia a dia, que se confundem, pensando que não é necessário considerar os contextos de comunicação. Vamos agora verificar a presença de neologismos incorporados na língua portuguesa, os quais foram herdados do mundo digital? Confira algumas das expressões da internet que já chegaram aos dicionários: 1. Avatar: Foto de pessoa ou animal que representa o usuário na tela do computador em chats ou games online. (Longman Dictionary of Contemporary English) 2. Baixar: Receber um arquivo através da rede mundial de computadores. (Aurélio) 3. Blogue: Página pessoa ou coletiva, atualizada periodicamente, em que os usuários podem trocar experiências, comentários, etc, geralmente relacionado a uma determinada área de interesse. (Houaiss) 4. Bug: Defeito, falha ou erro na lógica ou no código de um programa que provoca seu mau funcionamento. (Houaiss) 5. Deletar: Apagar, cancelar, suprimir (texto, arquivo, documento) / apagar da memória; esquecer. (Michaelis) 6. Emoticon: Uma imagem feita de símbolos, como gráficos de pontuação, usada em mensagens de texto, e-mails etc., para expressar uma emoção em particular. (Cambridge Dictionary) 7. Emoji: Uma pequena imagem ou ícone usado para expressar uma ideia ou emoção na comunicação eletrônica. (Oxford Dictionary) Língua Portuguesa e Gramática Histórica 36 8. Trolling: Zoar, irritar, chatear alguém por meio de uma zoação intensa que busca perturbar ou enfurecer a pessoa que dela é alvo. (Dicio – Dicionário Online de Português) 9. Poser: Alguém que finge ter uma qualidade ou posição social que, na verdade, não possui, normalmente para ser notado ou admirado. 10. Meme: Uma imagem, vídeo, pedaço de texto etc., normalmente humorístico, que é copiado e se espalha rapidamente pelos usuários da internet, frequentemente com pequenas variações. (Oxford Dictionary) 11. Lacrar: Arrasar; sair-se bem; ser bem-sucedido emalgo; obter sucesso. (Dicio – Dicionário Online de Português) 12. Selfie: Fotografia que uma pessoa tira de si mesma, geralmente com um celular, e publica nas redes sociais. (Michaelis) 13. Tuitar ou Twittar: Comunicar-se por meio do Twitter. (Aurélio, com a grafia 'tuitar'; e Michaelis, com a grafia 'twittar'.). 14. Viral: Conteúdo espalhado rápido e amplamente ou popularizado pelas pessoas por meio da comunicação eletrônica. (Merriam-Webster) 15. Nude: Foto de uma pessoa despida, sem roupa. (Dicio – Dicionário Online de Português) Como estudamos, a língua brasileira é uma língua viva e mesmo que tenha passado por diversas mediações ao longo da sua existência, continuará a se modificar de acordo com as exigências de comunicação dos seus falantes. Além disso, a tecnologia cresce de maneira acelerada e isso fará com que novos gêneros textuais sejam criados, além de muitas outras palavras, aumentando a quantidade de neologismos, que certamente, um dia, farão parte do vocabulário oficial da língua portuguesa. Língua Portuguesa e Gramática Histórica 37 SAIBA MAIS Conforme já abordamos ao longo deste estudo, a internet colaborou para que muitas expressões passassem a ser utilizadas no dia a dia dos falantes da língua portuguesa. Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “Internetês: neologismos gírios nas redes sociais”, de autoria de Flavio Biasutti Valadares e Mateus Rodrigues de Moura. Disponível em: https://bit.ly/2HoC31R. Boa leitura! 38 Língua Portuguesa e Gramática Histórica REFERÊNCIAS ALEXA. Disponível em: <http://www.alexa.com>. Acesso em: 16 ago.2019. ALVES, Ieda Maria. Neologismo: criação lexical. 2 ed. 3 reimpressão. São Paulo: Ática, 2004. Série Princípios. BAGNO, M. (1999) De . Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola. Brasil, Secretaria de Educação Fundamental (1997). Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa/ Brasília: Secretaria de Educação Fundamental. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf. Acesso em: 10 abr. 2019. BUNZEN, Clecio. Da era da composição à era dos gêneros: o ensino de produção de texto no ensino médio. In: BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia (Org.). Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola, 2012. BURKE, Peter; PORTER, Roy (Orgs.). Linguagem, indivíduo e sociedade. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p. 13-67. Língua Portuguesa e Gramática Histórica 30 MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Org.). Gêneros textuais & ensino. São Paulo: Parábola, 2013. PASSARELLI, L.G. Ensino e correção na produção de textos escolares. São Paulo: Cortez, 2012.
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Lingua Portuguesa e Gramatica Historica 7 UNIDADE 04 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Créditos Institucionais Presidente do Conselho de Administração: Janguiê Diniz Diretor-presidente: Jânio Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria Executiva de Serviços Corporativos: Jôaldo Diniz Diretoria de Ensino a Distância: Enzo Moreira © 2019 by Telesapiens Todos os direitos reservados SUMÁRIO Identificando as características e a importância da leitura no ensino de Língua Portuguesa 10 Os diferentes tipos de leitura 10 Textos orais 11 Textos escritos 12 O papel da leitura na escola 18 Conhecendo os aspectos envolvidos nas atividades de produção textual 20 A produção de textos na escola 21 Compreendendo as diferenças entre as variações linguísticas na fala e na escrita: a linguagem coloquial e a norma padrão da Língua Portuguesa 23 As variedades linguísticas na língua portuguesa 24 O ensino de língua portuguesa e a norma padrão 27 Reconhecendo as características dos neologismos e da gramática normativa da Língua Portuguesa 29 O surgimento de neologismos 29 Os tipos de neologismos 30 Neologismos criados a partir da internet 33 8 Língua Portuguesa e Gramática Histórica INTRODUÇÃO As transformações sofridas na estrutura lexical da língua portuguesa foram resultado de uma série de fatores, alguns deles já estudados ao longo desta disciplina. A partir de agora, veremos qual a importância da leitura e da produção textual para o ensino de Língua Portuguesa. Para nos aprofundarmos mais sobre o estudo da gramática e da história da nossa língua, é fundamental compreendermos suas variedades, por isso conheceremos as diferenças entre a linguagem coloquial e a norma padrão da língua portuguesa. Por fim, buscaremos entender como muitas das expressões que utilizamos na atualidade foram criadas, devido à necessidade de denominarmos situações novas do nosso cotidiano, novos conceitos, novos objetos, entre outros casos, o que conhecemos por neologismos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Bons estudos! 9 Língua Portuguesa e Gramática Histórica OBJETIVOS Olá! Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 4 - Língua Portuguesa e Gramática Histórica, e o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1 Identificar as características e a importância da leitura no ensino de Língua Portuguesa; 2 Conhecer os aspectos envolvidos nas atividades de produção textual; 3 Compreender as diferenças entre as variações linguísticas na fala e na escrita: a linguagem coloquial e a norma padrão da Língua Portuguesa; 4 Reconhecer as características dos neologismos e da gramática normativa da Língua Portuguesa. Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! 10 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Identificando as características e a importância da leitura no ensino de Língua Portuguesa O ensino de Língua Portuguesa é baseado em competências que possibilitem a compreensão e consequentemente, a resolução de problemas cotidianos por meio da linguagem. Uma dessas competências é o ensino da língua por meio da leitura, cujos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997) defendem que deve acontecer além da simples decodificação de letras e por isso, deve funcionar como uma ferramenta importante na formação de cidadãos, capazes de se tornarem sujeitos críticos e ativos na sociedade da qual fizeram parte. Neste tópico de estudos, nosso foco estará em conhecermos os diferentes tipos de leitura, isto é, verificando as características dos textos orais e escritos. Após esse momento, refletiremos como ocorre e ensino da prática de leitura nas aulas de língua portuguesa das escolas brasileiras. Os diferentes tipos de leitura Sabe-se que a leitura não é considerada como um exercício fácil de ser realizado pela maioria dos brasileiros. Muitas outras atividades são consideradas mais acessíveis, como por exemplo: assistir à televisão, praticar esportes, cozinhar, entre outras. REFLITA Você já parou para pensar em suas práticas individuais enquanto leitor? Reflita se você tem um bom relacionamento com a Língua Portuguesa, especialmente no que se refere à leitura. Você costuma praticá-la fora do ambiente de ensino? Qual foi o último livro que você leu especialmente como forma de lazer? Reflita a respeito! Língua Portuguesa e Gramática Histórica 11 No entanto, a leitura, embora seja praticada a partir de textos escritos, pode ser desenvolvida em diferentes situações, como por exemplo, a partir da oralidade, a forma mais utilizada na comunicação entre as pessoas, cujas características, veremos agora. Textos orais O trabalho com textos orais na escola deve partir, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997), de situações que demonstrem que os grupos sociais fazem uso da linguagem de diferentes formas. Além disso, as atividades devem preparar os alunos a perceberem a importância da fala adequada ao contexto de comunicação. Mas, segundo o linguista Marcuschi (2013), a escola percebe a fala inversa à sua usabilidade, pois ela é um espaço em que predomina, sobretudo, o ensino da língua escrita. Embora, por muitos anos, esta realidade tenha feito parte da maioria das instituições de ensino do Brasil, somente a partir dos anos de 1990, a oralidade passou a ser objeto de ensino nas aulas de língua portuguesa e começou a aparecer como conteúdo dos livros didáticos. Diante dessa perspectiva, percebe-se a necessidade de trabalhar com gêneros orais em sala de aula, proporcionando que os alunos percebam a riqueza do uso efetivo da língua, isto é, de maneira que eles se tornem capazes, ao longo dos anos, de utilizá-la de forma adequada além do contexto escolar. A partir dessas práticas, a linguagem ensinada na escola poderá se aproximar, cada vez mais, das formas utilizadas no dia a dia pelos falantes da língua portuguesa. 12 Língua Portuguesa e Gramática Histórica IMPORTANTE Embora estejam relacionados, os gêneros textuais e os tipos textuais são conceitos diferentes. Os gêneros textuais são considerados aspectos discursivos e enunciativos que privilegiam as funcionalidades da língua, tais como: cartas, notícias, receitas, entrevistas, biografias, contos e muitos outros. Já os tipos textuais abrangem, entre outras, as categorias: narração, argumentação, descrição, injunção, descrição etc. Sendo assim, um mesmo tipo pode abarcar inúmeros gêneros de texto. Textos escritos Do mesmo modo que a leitura pode ocorrer através da forma oral, a leitura de textos escritos também é uma competência desenvolvida ao longo do ensino de língua portuguesa. Antes de verificamos como ocorrem as aulas de produção textual no ambiente escolar, verificaremos as características de leitura a partir de textos escritos. Para Bunzen (2012, p. 158-159), [...] as práticas de leitura e produção de textos em gêneros diversos que fazem parte do cotidiano dos alunos nos diversos espaços de socialização (famílias, igrejas, grupos de amigos, movimentos juvenis, associações comunitárias, trabalho etc) podem ser legitimadas na escola (e não excluídas). Compreender as funcionalidades dos diferentes gêneros textuais é uma forma bastante eficaz no ensino da língua. Para isso, se faz necessário que cada indivíduo possa conhecer além do maior número de gêneros textuais, entender as suas condições de uso, principalmente no que diz respeito à atuação dos textos dentro dos contextos sociais. 13 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Quadro 1: Diferenças entre tipos e gêneros textuais | Tipos textuais – Função social ou propósito comunicativo | Gêneros textuais – Alguns exemplos | |------------------------------------------------------------|-------------------------------------------------------------------| | Narração | Piada, novela, romance, crônica, conto, lenda, etc. | | Argumentação | Carta do leitor, artigo de opinião, editorial, etc. | | Injunção | Receita de bolo, bula de remédio, manual de instruções, etc. | | Informação | Notícia, reportagem, verbete de dicionário, etc. | | Descrição | Biografia e autobiografia, diário, cardápio, anúncio de classificado, etc. | | Exposição | Entrevista de emprego, palestra, conferência | Fonte: Elaborado pela autora, 2019 Além dos gêneros textuais convencionais, ou seja, aqueles mais utilizados em nosso dia a dia, com a presença da internet no cotidiano dos falantes da língua portuguesa, muitos gêneros textuais foram criados para serem usados neste contexto. No entanto, cabe ressaltar que os gêneros textuais não podem ser considerados como algo estanque, uma vez que constantemente podem ser criadas novas estruturas textuais, de acordo com as necessidades de comunicação. Vejamos, entre outros, alguns exemplos de gêneros textuais criados com o avanço da tecnologia nas sociedades, que não necessariamente se realizam por meio da linguagem escrita. 14 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Marcushi (2005) descreve as características desses gêneros da seguinte forma: E-mail (mensagens eletrônicas): Surgiu em meados dos anos 70, nos computadores do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (ARPANET). “O correio eletrônico ou emissão eletrônica de mensagens é uma forma de comunicação escrita normalmente assíncrona de remessa de mensagens entre usuários de computador”. (MARCUSCHI, 2005, p. 39). Tal gênero é bastante semelhante ao gênero textual carta, pois possui características em comum, como endereço de remetente, data e local, endereço do receptor, possibilidade de cópias, além da linguagem, a qual pode ser comparada a utilizada em bilhetes, pois em muitos casos, trata-se de uma linguagem não monitorada. Como características específicas, os e-mails possibilitam o uso de emoticons (ícones para sentimentos e emoções), utilizados em situações mais informais, além do uso de letras minúsculas e maiúsculas, em que, muitas vezes, ao optar pelo uso das maiúsculas em sua totalidade na escrita, transmite ao receptor uma sensação de que o locutor está gritando ou xingando, por isso, deve ser evitada; Os chats: Surgiram na Finlândia, em 1988, conhecidas como conversas multiparticipativas, permitem aos usuários escolher as salas de acordo com a faixa etária, por cidades ou região, por temas, para encontros, entre outros interesses. Como característica específica, ao ingressar em uma sala de bate-papo, o usuário deve escolher um apelido, que geralmente não é o seu nome verdadeiro. Semelhante às conversações em grupos abertos, “A linguagem dos bate-papos é de fato bastante livre [...], portanto, não obedecendo a linguagem formal”. (MARCUSCHI, 2005, p. 45); Chat reservado: Este gênero possui as mesmas características do gênero acima mencionado, porém neste caso, os indivíduos interagem em particular. Para Marcushi (2005, p. 49): “[...] esse gênero tem uma proximidade com a conversa face a face muito maior que o anterior e não apresenta tanto tumulto comunicativo [...]”; 15 Língua Portuguesa e Gramática Histórica O Bate-Papo ICQ (agendado): Surgiu em agosto de 1996, em Israel, e obteve sucesso devido à disponibilidade em várias línguas. “Umas das características diferenciais do ICQ é, portanto, o fato de os participantes se conhecerem e poderem entrar com seus nomes ou com apelidos. Não há possibilidade de alguém contatar uma pessoa sem conhecê-la ou sem sua permissão”. (MARCUSCHI, 2005, p. 49-50). Posteriormente, esse gênero foi comparado ao Microsoft Service Network (MSN), ambos oferecendo aos usuários a possibilidade de envio de documentos e arquivos; Os chats em salas privadas: Esse gênero não traz características diferentes das mencionadas nos últimos dois itens, porém caracteriza-se por possibilitar que dois participantes agendem uma conversa e possam dialogar com mais calma; Entrevista com convidado: Semelhante às salas de bate-papo, com a particularidade de apenas um entrevistador poder responder às perguntas dos participantes do chat. “Há formatos bem variados para a realização desse gênero, mas em essência ele é uma entrevista em que qualquer um pode fazer sua pergunta na sala. Uma espécie de entrevista coletiva feita em salas de chat especiais”. (MARCUSCHI, 2005, p. 52); E-mails educacionais (Aulas virtuais por e-mails): “Este gênero é bastante estudado na área educacional no contexto que se convencionou chamar de Educação a Distância (EaD)”. (MARCUSCHI, 2005, p. 52). Tal gênero caracteriza-se por basear-se através da comunicação assíncrona, fazendo com que o aluno assuma uma postura autônoma, pois o papel maciço do professor desaparece. Também se caracteriza por proporcionar ao aluno a flexibilidade de tempo e espaço. Assim, Marcushi (2005, p. 53) finaliza a caracterização do e-mail educacional afirmando que a hipertextualidade e todas as suas consequências em termos de autoria e construção textual estão envolvidas na construção desse gênero de aula em ambientes virtuais; 16 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Aulas chat (O chat educacional): O que difere esse gênero das demais salas de bate-papo é a intenção com os quais serão usados, pois nesse formato, os participantes não adotam apelidos ao ingressarem no chat. Caracteriza-se como um gênero bastante comum no âmbito educacional a distância, o qual ocorre de maneira síncrona. O professor não assume mais o papel central do processo de ensino-aprendizagem, o que proporciona a interação e a construção social do conhecimento, através de práticas colaborativas. Em geral, delimita-se o número de participantes e o tempo em que ocorrerão as sessões, de maneira a facilitar os encontros. Videoconferência interativa: “Trata-se de um gênero que se aproxima dos bate-papos com convidados, mas têm tempo fixo e tempo claro de realização com parceiros definidos”. (MARCUSCHI, 2005, p. 58) afirma que esse gênero está se popularizando e ressalta que a escrita é usada em menor intensidade, disponibilizando o uso da imagem para a comunicação; Listas de discussão: Têm como característica a comunicação assíncrona e são bastante praticadas em comunidades acadêmicas. As listas são formadas por áreas de interesse, as quais constituem comunidades virtuais. Há ainda um moderador ou webmaster, responsável por direcionar as mensagens e fazer a triagem delas antes da discussão; Endereço eletrônico: Trata-se dos identificadores pessoais dos indivíduos para todo o tipo de participação na comunicação eletrônica. Em relação aos e-mails, ao ser comparado com o gênero carta, esse poderia ser definido como o seu endereço. Um mesmo indivíduo pode possuir diversos endereços eletrônicos, os quais não aparecem em salas de bate- papo, por exemplo. Diferentemente do endereço de uma carta convencional, o endereço eletrônico não permite espaços na sua escrita, ou qualquer mudança de letra, pois impediria o seu envio; Língua Portuguesa e Gramática Histórica 17 Os blogs (Weblogs): Comparado à homepages, as quais não são consideradas como gêneros textuais, os blogs têm uma história própria, porém possuem uma estrutura bastante variada. Utilizados em grande escala no meio virtual, esse gênero surgiu em 1997 e de acordo com Jorn Barger (apud MARCUSCHI, 2005, p. 60) foi cunhado '[...] para descrever sites pessoais que fossem atualizados frequentemente e contivessem comentários e links'. Os blogs funcionam, portanto, como um diário pessoal, com anotações diárias, acessíveis a qualquer usuário da rede. Quando construídos para relatos pessoais, os blogs possuem uma linguagem mais informal, em geral, têm estrutura leve, textos breves, descritivos e opinativos e permitem aos leitores a abertura para comentários, pois são interativos e participativos. Outra dificuldade enfrentada pelos falantes da língua portuguesa se refere à compreensão e interpretação textual dos textos escritos. Muitas tarefas disponibilizadas ao longo dos anos escolares dos brasileiros não sustentam o desenvolvimento dessas competências, pois não ultrapassam além da simples decodificação das palavras. Neste sentido, o processo de leitura e compreensão dos textos não pode ser realizado de maneira isolada do conhecimento de mundo dos leitores. É preciso estimular que eles estejam atentos aos assuntos que os cercam, aos fatos cotidianos, sobretudo, sobre as suas práticas sociais. REFLITA Quando a prática social é adotada como ponto de partida do trabalho escolar, é possível desenvolver competências básicas para que o aluno se torne produtor do seu próprio conhecimento. Assim, ele levará para a sala de aula as experiências da sua própria vida, e as conciliará com conhecimentos reais de uso da língua. 18 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Portanto, os professores de Língua Portuguesa cada vez mais se preocupam em trazer para a sala de aula temas de leitura que façam sentido à vida do aluno. Consequentemente de maneira positiva, eles estarão gradativamente preparados para as atividades de produção textual, assunto que trataremos a seguir. O papel da leitura na escola As práticas de leitura e escrita são atividades dialógicas. Através da leitura ocorre o enriquecimento da memória, bem como uma possibilidade de conhecimento de vários assuntos até então desconhecidos, por isso, ler e escrever são atividades que se complementam. Sendo assim, as tarefas escolares, sobretudo, deveriam proporcionar atividades que abrangem a linguagem em todas as esferas que cercam os falantes de uma língua, tanto dentro quanto fora do espaço escolar. Dentre os papéis da escola está a democratização do acesso e a ampliação do convívio com múltiplas situações e intenções de leitura. Por essas razões, caberia aos professores de Língua Portuguesa pensar em atividades responsivas, que visassem além da memorização de conceitos gramaticais isolados, tendo como ponto de partida tarefas que se preocupassem em considerar as necessidades dos alunos. Mas até o momento, a realidade brasileira não apresenta as condições ideais para a formação de leitores competentes. Muitos documentos utilizados como referência para o ensino da leitura nas escolas brasileiras sugerem que este trabalho deveria partir das práticas sociais dos alunos, no entanto, a veracidade dos fatos demonstra que o nosso país não é considerado um país leitor ou ainda, que apresenta cidadãos que não gostam de ler. Um fator bastante recorrente, a qual reforça a recorrência dessa situação é o fato de que, na maioria das vezes, as atividades voltadas à leitura e/ou à escrita são realizadas como instrumentos meramente avaliativos. Assim, é de suma importância que 19 Língua Portuguesa e Gramática Histórica a escola brasileira proporcione aos seus alunos espaços que permitam a aquisição de capacidades, como por exemplo, saber interpretar textos de diversas manifestações de linguagem. Bunzen e Mendonça (2012, p. 39) afirmam que 'Ler é dialogar com a consciência do autor, com enunciados e vozes, não decifrando, mas produzindo sentidos com os conhecimentos que tem dos outros textos'. Cada indivíduo constrói a sua maneira de ler e a partir desse exercício, muitas possibilidades de aprendizado em relação às regras da língua portuguesa passarão a ser desenvolvidos. Ao entrar em contato com diferentes textos, as competências de investigação dos estudantes são instigadas, passando então a refletirem sobre os diferentes usos da língua, analisando suas formas de uso. Dessa forma, elas contribuirão ativamente na formação de leitores, capazes de compreender o que estão lendo e consequentemente, para produzirem textos claros e coesos de acordo com as suas finalidades. 20 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Conhecendo os aspectos envolvidos nas atividades de produção textual O ato de escrever deve ser encarado como uma atividade prática, com propósito definido e deve ter um leitor específico, a qual deverá ser destinada a cumprir uma determinada finalidade. Por isso, a função da escrita no processo de ensino-aprendizagem está principalmente no ato da comunicação, preservação da memória e de registros, o exercício da documentação oficial e o desenvolvimento da autoconsciência (Burke e Porter, 1993). Neste sentido, afirmam os PCNs (1997) que um escritor competente é aquele que se torna capaz de elaborar textos coerentes, coesos e eficazes. EXPLICANDO DIFERENTE Coesão textual é a conexão e harmonia entre os elementos de um texto, que ocorre através do uso de conectivos, tais como: preposições, conjunções, advérbios e locuções adverbiais. Já a coerência textual é responsável por estabelecer o entendimento das ideias de um texto Conforme estudamos ao longo dessa disciplina, a escrita por um longo tempo foi considerada como a correspondência da fala. Desde a Antiguidade, já se registrava a oralidade por meio da escrita de textos e como sabemos, assim como toda a estrutura da língua portuguesa, a escrita também passou por inúmeras transformações. As expressões trazidas com o advento da internet fizeram com que novas formas de comunicação fossem criadas. Além disso, muitas expressões de uma linguagem conhecida popularmente como “internetês” já fazem parte do vocabulário 21 dos falantes da língua portuguesa há algumas décadas. Este assunto que será ampliado no item que abordará os diferentes tipos de neologismo. A produção de textos na escola Atualmente, existe um considerável processo de atualização no que diz respeito às práticas de ensino-aprendizagem e de avaliação no que se refere à produção textual na escola. Segundo Passarelli (2012, p. 46) “A produção de textos na escola é uma atividade realizada como exercício para desenvolver a capacidade textual do sujeito. Por se tratar de um trabalho de reflexão individual e/ou coletiva que de pende de uma série de habilidades [...].” Dessa forma, um dos papéis das instituições escolares é propor situações interlocutivas para que o estudante desenvolva capacidades para produzir seus próprios textos. Por isso, torna-se essencial que o professor incorpore temas atuais às atividades de escrita, assim como assuntos pertencentes ao cotidiano do aluno, conforme já verificamos quando abordamos as práticas de leitura na escola nesta unidade letiva. Ao trabalhar com a ideia de gêneros e não apenas com tipos textuais, o professor favorece o ensino de leitura e produção de textos, tanto orais quanto escritos. Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) contribuíram muito para que esse trabalho fosse se ampliando ao longo dos anos em todo o cenário escolar brasileiro. Cabe ressaltarmos que é inevitável que a leitura auxilie a escrita. Ela atua, portanto, como um elemento característico da produção textual, pois fornece matéria-prima para a escrita, bem como contribui para a constituição os modelos de escrita (Passarelli, 2012). 22 Língua Portuguesa e Gramática Histórica No entanto, conforme afirmam os PCNs (1997, p. 40): A relação que se estabelece entre leitura e escrita, entre o papel de leitor e de escritor, no entanto, não é mecânica: alguém que lê muito não é, automaticamente, alguém que escreve bem. Pode-se dizer que existe uma grande possibilidade de que assim seja. É nesse contexto — considerando que o ensino deve ter como meta formar leitores que sejam também capazes de produzir textos coerentes, coesos, adequados e ortograficamente escritos — que a relação entre essas duas atividades deve ser compreendida. Mas quando se pensa nos motivos pelos quais os alunos não gostam das atividades de produção textual, atribui-se essa ideia à falta de não ter sobre o que escrever, bem como a falta de preparo sobre como escrever. IMPORTANTE Embora os alunos recebam modelos prontos para desenvolverem suas produções escritas na escola, eles criam em seus próprios modelos, a partir das suas percepções, assim personalizando seus textos. Por isso, há de se considerar que a escrita não pode ser vista como um ato de reprodução, mas de criação. Por essas razões, o sucesso das produções textuais na escola não está apenas na utilização de normas prontas e técnicas de redação. Além disso, todo o critério que envolve a correção dos textos é baseado nas regras da gramática normativa, que é a forma de ensino da língua portuguesa, mas que em muitos momentos, está tão distante da vida real do aluno. Sendo assim, a partir de agora, será importante verificarmos as diferenças entre as diversas variedades linguísticas do português. Compreendendo as diferenças entre as variações linguísticas na fala e na escrita: a linguagem coloquial e a norma padrão da Língua Portuguesa Dominar uma língua possibilita aos indivíduos o poder de fazer parte de uma sociedade de maneira ativa, a fim de se comunicar, se informar, defender seus direitos e seu ponto de vista, frente às inúmeras situações de comunicação que nos deparamos diariamente. O ensino da fala não é uma competência privilegiada no ensino de língua portuguesa das escolas. Quando se tentou ensiná-la, foi de maneira inadequada, tentando consertar o “erro” por parte do estudante, reforçou-se ainda mais o preconceito com os indivíduos que falavam diferente à variedade linguística prestigiada. (PCNs, 1997) REFLITA Você já parou para pensar se existe uma forma certa de falar? Por que aprendemos na escola determinadas regras e conceitos, se no dia a dia, fazemos uso da palavra de maneira diferenciada? Por isso, agora veremos a diferença entre a linguagem coloquial, presente nas diversas variedades da nossa língua e por fim, compreenderemos o que compreende a norma padrão da língua portuguesa. Língua Portuguesa e Gramática Histórica As variedades linguísticas na língua portuguesa É dever da educação proporcionar estratégias de combate às diferenças, cujo respeito seja contemplado nesses espaços. No que se refere ao ensino da Língua Portuguesa, a escola deve agir de maneira a se livrar dos paradigmas de falar certo ou errado, pois haverá sempre o seguinte questionamento: O falar correto deveria ser embasado no modo correto de escrever? Para tanto, caberá ao professor considerar o contexto da comunicação. Ele será o responsável por balizar o falar e como fazê-lo, para quem fazê-lo. Assim, não nos restringiremos a um modelo educacional que visa apenas o ato de corrigir, mas capaz de demonstrar a adequação das circunstâncias de comunicação. Seguindo o que dispõem os PCNs (1997), em suma, a utilização eficaz da linguagem ocorre quando falar bem é adequado e produzir o efeito pretendido. Ao longo dos anos, o estudante deverá desenvolver capacidades que o possibilitem o conhecimento de diferentes manifestações culturais. Com isso, espera-se que ele seja capaz de se posicionar, compreender, aplicar e transformar cada uma delas de acordo com a necessidade de utilizá-las. Dessa maneira, ao entrar em contato com a gama de diversidade de uma sala de aula, será possível torná-la em um espaço multicultural, como tantos outros que a vida cotidiana nos oportuniza. O que caberá à escola ensinar no âmbito da oralidade é demonstrar que os grupos sociais fazem diferentes usos da linguagem, como por exemplo, preparar o aluno a perceber a importância da fala adequada ao contexto, principalmente em situações formais, que ocorrerão ao longo da sua vida, tais como uma entrevista de emprego, seminários, debates, entre outras. Até a chegada dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação pouco se discutia sobre as concepções de ensino Língua Portuguesa e Gramática Histórica de língua nas escolas brasileiras, no que tange à diversidade linguística que abrange todo o território brasileiro. É inevitável que o ensino de Língua Portuguesa seja realizado a partir da gramática normativa. Todavia, o preconceito proveniente da diversidade linguística deve ser combatido na escola. Nesse sentido, cabe ressaltarmos que são inúmeras as causas do preconceito linguístico, pois são diversas as variações, sejam sociais, regionais, profissionais, de gênero, entre outros fatores. Figura 1: Os diferentes tipos de variações linguísticas Variações linguísticas Fonte: Elaborado pela autora, 2019 Há de se considerar que para qualquer brasileiro se torna um grande esforço escrever de acordo com a norma padrão, uma vez que na oralidade utiliza-se a linguagem coloquial. Geralmente é do professor de língua materna o papel de identificar e corrigir as incoerências dos processos fonológicos dos alunos e por isso, considera-se a tarefa como árdua e de difícil execução. 26 Língua Portuguesa e Gramática Histórica EXPLICANDO DIFERENTE Quando se tem o entendimento de que as produções textuais não devem ter como objetivo principal o ensino das regras gramaticais da gramática normativa, isso resultará em um processo de ressignificação do ensino da escrita, cujos alunos se tornam sujeitos agentes do seu meio social. Por essa razão, há alguns anos o termo “redação” vem sendo substituído por “produção textual (ou de textos)”, pois a prática da escrita de textos é algo que deve ocorrer de maneira processual (Passarelli, 2012). Assim, o aluno precisa ser estimulado e incentivado a escrever com a sua própria identidade. O professor, todavia, deverá perceber as limitações do estudante e do ambiente ao qual ele pertence ao conduzir atividades de escrita. Toda aprendizagem ocorre quando acontece uma mudança de postura e de comportamento. Isso ocorre porque, muitas vezes, são os professores escolhem textos de acordo com seus conhecimentos e suas preferências. Ao aluno não é permitido discutir ou fazer escolhas do gênero, nem do tipo de texto a ser lido. Ainda que os textos clássicos, por exemplo, tenham valor no ensino, é inegável que os professores também necessitam trabalhar com leituras pertencentes ao cotidiano do aluno. Por essas razões, entende-se que a sala de aula deve ser considerada um espaço de construção, cuja interação entre as partes, professores e alunos é fundamental na descoberta das necessidades reais dos estudantes, sejam elas na formação de leitores competentes, no uso da linguagem adequada ao contexto de comunicação, mas principalmente na valorização dos alunos como sujeitos sociais. 27 Língua Portuguesa e Gramática Histórica O ensino de língua portuguesa e a norma padrão Conforme verificamos, a língua portuguesa apresenta diferentes variedades. No entanto, o ensino da língua nas escolas brasileiras segue as regras do que chamamos de norma padrão. O objetivo principal de se optar por este conjunto de regras está na intenção de seguir um modelo, cujas escolas de todo o Brasil possam seguir uniformemente. A partir do uso da norma padrão, busca-se eliminar e/ou diminuir o maior número de desvios encontrados na comunicação dos falantes da língua portuguesa. No entanto, ainda se questiona muito a adequação da norma padrão do português no ensino brasileiro, uma vez que ela é para muitos, considerada uma forma de prestígio, cuja maior parte da população brasileira não faz uso. O conjunto de regras pertencentes à norma padrão da língua portuguesa ainda se restringe às classes sociais mais elevadas ou às pessoas com maior nível de escolaridade. Por essas razões, mesmo sendo a língua portuguesa a língua materna dos brasileiros, muitas pessoas ainda desconsideram a importância de aprendê-la ou não demonstram interesse ou vontade de dominá-la. DEFINIÇÃO Entende-se por norma padrão a norma gramatical, baseada na gramática tradicional e normativa da língua portuguesa. De acordo com Bagno (1999, p. 9) “A língua é um enorme iceberg flutuando no mar do tempo, e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível dele, a chamada norma culta”. Por isso, mesmo que se ensine a escrever 28 Língua Portuguesa e Gramática Histórica de acordo com as regras da ortografia oficial, não é eficaz fazer isso tentando criar uma língua “artificial”, discriminando e considerando as demais pronúncias como algo “errado” (Bagno, 1999). Nosso país apresenta um vasto território multicultural, por isso não existe nenhum tipo de variedade, seja ela regional, social, temporal ou situacional considerada mais certa ou mais errada. Assim, conforme afirma o linguista Marcos Bagno (1999), a sociedade brasileira necessita democratizar o saber linguístico, dando voz, principalmente àqueles que se calam porque acreditam não saber a sua própria língua materna. Enquanto isso, a norma padrão se faz necessária para aproximar, cada vez mais as diferentes formas de uso da língua. Mas no fim das contas, o principal objetivo da comunicação é se comunicar. Língua Portuguesa e Gramática Histórica 29 Reconhecendo as características dos neologismos e da gramática normativa da Língua Portuguesa Conforme estudamos ao longo dessa disciplina, as línguas sofrem mudanças com o passar dos tempos. Muitos fatores colaboram para que ocorressem transformações no vocabulário dos falantes da língua portuguesa. A língua portuguesa, desde a sua origem do latim, vem sofrendo modificações ao longo do tempo. Retomando o panorama histórico da nossa língua temos: o histórico de Roma; a origem latina do português; a expansão da língua portuguesa pelo mundo; a transição do português arcaico para o contemporâneo; e a chegada e a fixação do português no Brasil. Depois de se tornar a nossa língua materna, o português continua a sofrer inúmeras mudanças, causadas pelos empréstimos das línguas indígenas e africanas, a chegada de imigrantes, entre outras. Neste último tópico de estudos, veremos que novas palavras são criadas devido às necessidades de comunicação e expressão dos indivíduos, que passam a utilizar novos conceitos, novos vocábulos, chamados de neologismos. O surgimento de neologismos Para iniciarmos a compreensão sobre o surgimento de neologismos, devemos pensar no que se trata o léxico de uma língua. Podemos pensar que este, por sua vez, consiste em um conjunto de itens disponíveis aos seus falantes, a fim de atenderem às suas necessidades de comunicação. Por isso, estudar o léxico compreende em trabalhar com palavras. A neologia lexical de uma língua, portanto, se trata de um processo de criação lexical. Assim, chamamos de neologismos o resultado do processo de neologia (ALVES, 2004). As criações causadas por este processo podem, com o passar do tempo, fazer Língua Portuguesa e Gramática Histórica 30 parte do sistema linguístico de determinada língua. Entretanto, isso só se torna possível quando ocorre consenso por parte dos seus falantes. Os neologismos são criados a partir do contato das pessoas com diferentes áreas de conhecimento, como por exemplo, a política, a ciência e atualmente, com o acelerado crescimento da tecnologia. Os tipos de neologismos Como mencionamos, na atualidade, muitos neologismos advêm dos constantes e acelerados avanços da tecnologia, mas a criação dessas novas expressões pode acontecer por diversos fatores. Dentre eles, estão a importação ou os empréstimos de outras línguas ou ainda por meio dos processos de formação de palavras. Cabe ressaltarmos que, embora muitas expressões utilizadas pelos falantes de língua portuguesa tenham sido herdadas de outras línguas, não devemos confundir os conceitos de estrangeirismos e neologismos. Enquanto o neologismo compreende na criação de uma palavra nova, o estrangeirismo se trata da inclusão de uma palavra estrangeira ao vocabulário da língua portuguesa. Neste sentido, o inglês é o mais comum. Vejamos suas diferenças: NEOLOGISMO: Compreende as expressões criadas e/ou adaptadas para a nossa língua, por meio do processo linguístico. ESTRANGEIRISMO: Caracteriza-se pela inclusão de uma palavra ou expressão de outras línguas ao vocabulário da língua portuguesa. A palavra buquê é uma adaptação da palavra em francês “bouquet”, logo a consideramos como um caso de estrangeirismos. Mas muitas outras palavras se encaixam nesta definição: e-mail; marketing, shopping, etc. Língua Portuguesa e Gramática Histórica 31 Geralmente, percebemos as transformações das línguas mais rapidamente na fala que na escrita. Portanto, os neologismos podem ser formados a partir da própria língua ou de palavras estrangeiras. E assim como ocorre com várias palavras, os neologismos passam a deixar de ser considerados como tal, pois são incorporados ao léxico da língua. Como estudamos, as palavras podem ser criadas por distintos processos, vamos recordar? Derivação: a partir de outra palavra. EXEMPLO: mega investimento; Composição: quando se cria uma nova palavra a partir de duas ou mais. EXEMPLO: axé music. Agora, vejamos as diferenças entre os tipos de neologismo: Quadro 2 – Neologismos: Conceito e exemplos | TIPO DE NEOLOGISMO | CONCEITO | EXEMPLOS | |--------------------|-------------------------------------------------|---------------------------------------------------------------------------------| | SEMÂNTICO | Palavra que já existe no léxico | A professora ficou uma arara porque entramos atrasados na aula. (ficou brava) | | | e adquire um novo significado | Meu vizinho fez um gato na rede elétrica. (ligação elétrica irregular) | | LEXICAL | Designa a criação de uma nova palavra | “Vou deletar você da minha vida”. (apagar/esquecer) | | | | O chefe pediu para escanear os documentos da reunião. (digitalizar/fazer cópias) | 32 Língua Portuguesa e Gramática Histórica SINTÁTICO Construção sintática que adquire um significado específico Joana deu a volta por cima e venceu as drogas. (superou) Lucas me deu o bolo e não compareceu ao encontro. (enganou) Fonte: Elaborado pela autora, 2019 Os neologismos podem ser percebidos por meio de diferentes gêneros textuais, entre eles, os textos literários, cujos escritores criam expressões para dar significados a palavras já existentes. Vejamos um exemplo no texto de Manuel Bandeira: Neologismo Beijo pouco, falo menos ainda. Mas invento palavras que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana. inventei, por exemplo, o verbo teadorar. Intransitivo Teadoro, Teodora. Disponível em: https://bit.ly/2TXWJug Além desse exemplo, podemos verificar a ocorrência de neologismos em diversos textos, dentre eles: Músicas; Anúncios publicitários; Textos científicos. 33 Língua Portuguesa e Gramática Histórica Neologismos criados a partir da internet Os dias atuais são considerados como um período em que as pessoas mais se comunicam por meio da linguagem verbal, seja através da leitura ou da escrita. Com a popularização do computador e a chegada da internet, as pessoas passaram a ocupar espaços que até então não conheciam e consequentemente, a interagirem com o maior número de pessoas. Nos espaços digitais é muito comum observarmos, além dos neologismos, recursos não verbais, como emojis e gifs, por exemplo. Além disso, por meio da linguagem verbal os sinais de pontuação e alguns símbolos são empregados como forma de expressar algumas emoções: Quadro 3 - Alguns exemplos de emoticons Emoticon textual Significado Resultado =) - :] - :) felicidade, sorriso alegre = ( - :-/ tristeza =D - :D sorriso 8) óculos ou óculos escuros ;) piscadela :* beijo :x boca fechada (segredo ou insatisfeito) Fonte: Elaborado pela autora, 2019 34 Língua Portuguesa e Gramática Histórica De maneira coloquial, a linguagem criada para ser utilizada nos contextos digitais é chamada de “internetês”, cujo próprio nome é considerado como um neologismo. Como característica dessa linguagem, observamos a abreviação nas palavras, de maneira que se transformaram em expressões com poucas letras, algumas apresentando apenas duas. Este tipo de linguagem é observado de maneira mais comum no público jovem e/ou adolescente, pois apresentam os chamados “nativos digitais” ou ainda são mais frequentes nas redes sociais. EXPLICANDO DIFERENTE Os nativos digitais se apresentam como uma geração que possui habilidades tecnológicas intrínsecas, cujas gerações “Y”, de pessoas nascidas entre as décadas de 1980 e 1990 e a geração “Z”, de pessoas nascidas no fim da década de 1990 até 2010 fazem parte. Figura 2: Ranking das redes sociais no Brasil As redes sociais no Brasil pinterest 47° tumblr 40° instagram 22° linkedin 14° twitter 12° facebook 4° 1° Google.com.br 3° Google.com 5° UOL Fonte: Alexa, 2015 Língua Portuguesa e Gramática Histórica 35 No entanto, cabe ressaltar que em muitos momentos, dada a facilidade em se utilizar das linguagens utilizadas nos contextos digitais, muitos brasileiros acabam se esquecendo de fazer uso das regras da norma padrão. Observa-se esta realidade em contextos educacionais, por exemplo, pois muitas pessoas já se acostumaram a utilizar tanto o internetês em seu dia a dia, que se confundem, pensando que não é necessário considerar os contextos de comunicação. Vamos agora verificar a presença de neologismos incorporados na língua portuguesa, os quais foram herdados do mundo digital? Confira algumas das expressões da internet que já chegaram aos dicionários: 1. Avatar: Foto de pessoa ou animal que representa o usuário na tela do computador em chats ou games online. (Longman Dictionary of Contemporary English) 2. Baixar: Receber um arquivo através da rede mundial de computadores. (Aurélio) 3. Blogue: Página pessoa ou coletiva, atualizada periodicamente, em que os usuários podem trocar experiências, comentários, etc, geralmente relacionado a uma determinada área de interesse. (Houaiss) 4. Bug: Defeito, falha ou erro na lógica ou no código de um programa que provoca seu mau funcionamento. (Houaiss) 5. Deletar: Apagar, cancelar, suprimir (texto, arquivo, documento) / apagar da memória; esquecer. (Michaelis) 6. Emoticon: Uma imagem feita de símbolos, como gráficos de pontuação, usada em mensagens de texto, e-mails etc., para expressar uma emoção em particular. (Cambridge Dictionary) 7. Emoji: Uma pequena imagem ou ícone usado para expressar uma ideia ou emoção na comunicação eletrônica. (Oxford Dictionary) Língua Portuguesa e Gramática Histórica 36 8. Trolling: Zoar, irritar, chatear alguém por meio de uma zoação intensa que busca perturbar ou enfurecer a pessoa que dela é alvo. (Dicio – Dicionário Online de Português) 9. Poser: Alguém que finge ter uma qualidade ou posição social que, na verdade, não possui, normalmente para ser notado ou admirado. 10. Meme: Uma imagem, vídeo, pedaço de texto etc., normalmente humorístico, que é copiado e se espalha rapidamente pelos usuários da internet, frequentemente com pequenas variações. (Oxford Dictionary) 11. Lacrar: Arrasar; sair-se bem; ser bem-sucedido emalgo; obter sucesso. (Dicio – Dicionário Online de Português) 12. Selfie: Fotografia que uma pessoa tira de si mesma, geralmente com um celular, e publica nas redes sociais. (Michaelis) 13. Tuitar ou Twittar: Comunicar-se por meio do Twitter. (Aurélio, com a grafia 'tuitar'; e Michaelis, com a grafia 'twittar'.). 14. Viral: Conteúdo espalhado rápido e amplamente ou popularizado pelas pessoas por meio da comunicação eletrônica. (Merriam-Webster) 15. Nude: Foto de uma pessoa despida, sem roupa. (Dicio – Dicionário Online de Português) Como estudamos, a língua brasileira é uma língua viva e mesmo que tenha passado por diversas mediações ao longo da sua existência, continuará a se modificar de acordo com as exigências de comunicação dos seus falantes. Além disso, a tecnologia cresce de maneira acelerada e isso fará com que novos gêneros textuais sejam criados, além de muitas outras palavras, aumentando a quantidade de neologismos, que certamente, um dia, farão parte do vocabulário oficial da língua portuguesa. Língua Portuguesa e Gramática Histórica 37 SAIBA MAIS Conforme já abordamos ao longo deste estudo, a internet colaborou para que muitas expressões passassem a ser utilizadas no dia a dia dos falantes da língua portuguesa. Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “Internetês: neologismos gírios nas redes sociais”, de autoria de Flavio Biasutti Valadares e Mateus Rodrigues de Moura. Disponível em: https://bit.ly/2HoC31R. Boa leitura! 38 Língua Portuguesa e Gramática Histórica REFERÊNCIAS ALEXA. Disponível em: <http://www.alexa.com>. Acesso em: 16 ago.2019. ALVES, Ieda Maria. Neologismo: criação lexical. 2 ed. 3 reimpressão. São Paulo: Ática, 2004. Série Princípios. BAGNO, M. (1999) De . Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola. Brasil, Secretaria de Educação Fundamental (1997). Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa/ Brasília: Secretaria de Educação Fundamental. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf. Acesso em: 10 abr. 2019. BUNZEN, Clecio. Da era da composição à era dos gêneros: o ensino de produção de texto no ensino médio. In: BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia (Org.). Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola, 2012. BURKE, Peter; PORTER, Roy (Orgs.). Linguagem, indivíduo e sociedade. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p. 13-67. Língua Portuguesa e Gramática Histórica 30 MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Org.). Gêneros textuais & ensino. São Paulo: Parábola, 2013. PASSARELLI, L.G. Ensino e correção na produção de textos escolares. São Paulo: Cortez, 2012.