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Ética e Hábito Conceito de hábito na teoria moral Aristotélica in : AMARAL, Deiwson et al. A função do conceito de hábito na teoria moral aristotélica. 2019. Disponível no link: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/201422 acesso em 11/03/2021. Na Ética Nicomaqueia , Aristóteles fundamenta sua teoria moral no agir contínuo: ações isoladas não determinam o caráter de uma pessoa, porém seus hábitos, sim. O agente só é considerado virtuoso se age reiteradamente segundo virtude e, desta forma, possui tal hábito. Ao formular sua teoria moral, o filósofo grego aponta para uma finalidade humana, a eudaimonia . Sendo assim, o homem tem um caminho a trilhar, este percurso é de seu próprio interesse como indivíduo e precisa estar em equilíbrio com a comunidade política, a finalidade humana não pode ser prejudicial à vida em comunidade porque a natureza humana é fundamentalmente política. As crianças se deparam com um mundo cheio de valores, heranças comportamentais, costumes e muitas outras atitudes que influenciam o engendramento de seus hábitos e sua educação. O homem, por ser um animal político, depende do convívio com outros seres humanos para aperfeiçoar e atualizar suas capacidades cuja perfeição os permite viver uma vida feliz. As ações revelam a disposição de caráter dos agentes morais, porque suas ações indicam os valores e a qualidade de seu pensamento prático. Seu caráter determina seus valores básicos, e seu intelecto prático determina como levá-los a efeito. O filósofo em questão, afirma que ter um bom discurso ou entendimento sobre certos valores, não implica agir em concordância com eles. Aristóteles afirma que as virtudes são adquiridas pelo exercício “Adquirimo-las pelo exercício, como também sucede com as artes. Com efeito, as coisas que temos de aprender antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo 9 (EN, II, 1, 1103a30 ) ” . É necessário o acompanhamento da prática para que se efetue o ser 1 virtuoso. É na constância de suas atitudes que os homens determinam suas disposições de caráter: “Por exemplo, os homens tornam-se arquitetos construindo e tocadores de lira tangendo este instrumento. Da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a temperança, a bravura, e etc (EN, II, 1, 1103a30)”. O significado do conceito de hábito está vinculado à repetição de ações de mesmo tipo ou qualidade. Os hábitos funcionam como uma habilidade humana, através dos quais as pessoas podem desenvolver suas disposições de carácter. Desta forma, o carácter dos homens é uma consequência de suas ações, e não de sua natureza. Aristóteles afirma que “ Não é, pois, por natureza, nem contrariando a natureza que as virtudes se geram em nós. Diga-se, antes, que somos adaptados por natureza a recebê-las e nos tornamos perfeito pelo hábito. ” (EN, II, 1, 1103a25). Os indivíduos tornam o seu caráter da mesma qualidade dos atos que fazem repetidamente, é nas ações que os homens se mostram virtuosos ou não. Partindo deste princípio, Aristóteles elimina o conceito de virtudes morais naturais ou inatas do homem, afirmando que, por natureza, possuímos apenas capacidades, sendo assim, a disposição de carácter é formada pelos hábitos do agente moral. Aristóteles afirma que: Pelos atos que praticamos em nossas relações com os homens nos tornamos justos ou injustos; pelo que fazemos em presença do perigo e pelo hábito do medo ou da ousadia, nos tornamos valentes ou covardes. O mesmo se pode dizer dos apetites e da emoção da ira: uns se tornam temperantes e calmos, outros intemperantes e irascíveis, portando-se de um modo ou de outro em igualdade de circunstâncias. (EN, II, 1, 1103b10-20) Indivíduos maduros com uma certa experiência, por exemplo, possuem mais sabedoria do que os jovens. Porque já fazem esse exercício há muito tempo. É por meio do exercício que o indivíduo obtém sua virtude moral. Portanto, o bem agir é alcançado através do hábito. Em outras palavras, o agente moral deve treinar sua capacidade de agir bem. Como ele faz isso? A resposta é agindo. A função dos hábitos no processo de educação do agente moral ainda imaturo, onde fazer é mais importante do que propriamente saber ou entender, é justamente fixar boas atitudes, acostumar o agente moral a agir bem. Busca-se, com vistas no futuro, a apropriação do agir bem e, posteriormente, a capacidade de discernir os valores no calor da vida, onde os indivíduos se deparam com situações que exigem os mesmos valores com atitudes diferentes. Os hábitos têm a função de iniciar o agente moral no caminho da excelência deliberativa. Como foi afirmado antes, os homens não possuem valores por natureza, tampouco os possuem somente pela teoria. É no exercício que os homens obtêm seus valores, o agir bem é a porta de entrada da boa educação moral. Como afirma Burnyeat (2010, p.160 ) : Em ética, o modo apropriado para ao menos alguns pontos de partida é a habituação. A tese é que primeiro aprendemos (passamos a ver) o que é nobre e justo não por experiência de uma série de instâncias ou indução a partir destas, nem por intuição (intelectual ou perceptiva), mas aprendendo a fazer coisas nobres e justas, habituando-nos a uma conduta nobre e justa. Enfim, Aristóteles afirma que os homens possuem capacidades, uma delas é a de se habituar. Ter bons hábitos é essencial para que o agente moral possua uma deliberação excelente, onde suas escolhas estão alinhadas com seus valores morais. Pois, é no agir 11 virtuoso que se começa a ser propriamente virtuoso. Este termo, hábito, representa muito bem toda sua teoria moral, que é baseada no exercício e na manutenção constante da vida. A vida, para o filósofo, é um todo e, independentemente da sua finalidade particular de cada indivíduo, é um agir contínuo