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UM MITO SACRIFICIAL O INDIANISMO DE ALENCAR É próprio da imaginação histórica edificar mitos que muitas vezes ajudam a compreender antes o tempo que os forjou do que o universo remoto para o qual foram inventados Acreditando nessa proposta arriscome a revisitar um lugar comum dos comparatistas literários que afinam o indianismo brasileiro pelo diapasão europeu da romantização das origens nacionais Lá figuras e cenas medievais cá o mundo indígena leitual que surpreenderam os descobridores Cá é lá uma operação de retorno um esforço para bem cumprir o voto micheletiano de ressuscitar o passado aoivo confesso da historiografia romântica Até que ponto esse realismo se sustent A aproximação de ambas as visões do passado mantémse válida na esfera ampla da história das mentalidades Houve de fato uma corrente de saudossismo de filiação ancien régime tardia mas nem por isso menos intensa que cruzou as letras europeias na fase pós e antirevolucionária As obras de Chateaubriand de Xavier de Maistre e de Sr Walter Scott ilustram os momentos de vigor em matéria de imaginação e estilo O guarani parte IV cap X A conversão acompanhada de mudança de nome ocorre igualmente com o índio Poti de Iracema batizado como Antônio Felipe Camarão o futuro herói da resistência aos holandeses E Arnaldo o sósia rústico de Peri de O sertanejo é agradecido com o sobrenome do capitãomor durante este diálogo edificante E para si Arnaldo que deseja insisti Campelo Que o sr CapitãoMor me deixe beijar sua mão bastame isso Tu és um homem e hoje em diante quero que te chames Antônio Louredo Campelo O sertanejo parte II cap XXI O senhor colonial que nos três episódios outorga pelo ato da renomeação nova identidade religiosa ao índio e ao sertanejo Quanto aos amoretes que são verdadeiros inimigos do conquistador O guarani aparecem marcados pelos epítetos de bárbaros horrendos sagrados demoníacos duros severos de vingança ferozes diabólicos Iracema no belo poema em prosa que traz o seu nome apassionase por Martim Soares Moreno o colonizador do Ceará por amor de querer romper com a sua nação tagarela depois do viô da jurema Nas histórias de Peri e de Iracema a entrega do índio ao branco é incondicional fazse do amor uma entrega que implica sacrifício e abandono transcende o seu horizonte factual e o recorte preciso da situação evocada O mito como poesia arcaica é conhecimento de primeiro grau pefconceitual e no mesmo tempo é forma expressiva do desejo que quer antes de refletir Há um aspecto de pensamento conservador mito indianista e a metáfora romântica na rede narrativa de O guarani Ao tentar desfazêlo o leitor crítico deve tomar o cuidado de não emaranhar a análise dos valores do autor tarefa que compete à história das ideologias com o julgamento dos seus tentáculos literários mais criativos O mito é uma instância mediadora uma cabeça bifronte Na face do que para a História o mito reflete contradições reais mas de modo a convertêlas e a resolvêlas em figuras que perfazem em si a coincidência opositora Assim o mito alencarino reúne sob a imagem comum do herói o colonizador dito como generoso feudalista e o colonizado visto ao mesmo tempo como sidiço fiel e bom selvagem Na outra face que contempla a invenção traz o mito signos produzidos conforme uma semântica analógica sendo um processo figural uma expressão romântica uma imagem poética Na medida em que alcança essa qualidade propriamente estética o mito resiste a integrarse sem mais nesta ou naquela ideologia A casa de Dom António de Mariz Do cenário da ópera Il Guarani de Carlos Gomes apresentada no Teatro Alla Scala de Milão em 1870 Aposento de Ceci Do cenário da ópera Il Guarani Figurino de Ceci Figurino de Peri Nos Primeiros cantos do maranhense lateja a consciência do destino atroz que aguardava os tribos tupis quando o pé em marcha a conquista européia O conflito das civilizações é trabalhado pelo poeta na sua dimensão de tragédia Poemas fortes como O canto do piaga e Depratação são agonias do massacre que dizimaria o selvagem mel decressem os brancos de suas caravelas Pelo seu tom entre espantado e solene lembram esses cantos os presságios que os vates astecas anunciaram ao seu povo alguns anos antes da invasão espanhola São vozes de gente prestes a sucumbir a ferro e fogo e o mundo pelo qual sobreviveria a matança era tão incompreensível para as vítimas que suas palavras misteriosas de visão e alguém poderiam dizêlo Como é de todo improvidente que se tenha dado qualquer interação entre os então ignorados manuscritos em náhuate e os poemas americanos do nosso grande romântico só nos resta considerar o vasto campo de afinidades de tema e de imaginário que a colocação das passagens revela a primeira leitura O jovem Gonçalves Dias ainda estava próximo no tempo e no espaço do nativismo exaltado latinoamericano Tal vez a familiaridade com suas províncias do Norte aos anos da Independência explicava a violenta e aterrada que rodeia aqueles versos de primeira moça Assim a casa era um verdadeiro solar de fidalgo português menos as ameias e a barbárie as quais haviam sido substituídas por essa muralha de rochedos inóspitos que ofereciam uma defesa natural e uma resistência inexpugnável entre os troncos desses árvored uma alta cerca de espinheiros tornava aquilo pequeno vale impenetrável O predicado não se esgota em formação dos tipos Não sendo inerte a sua ação vai operando ao longo da história é difícil contar as vezes em que do primeiro ao último capítulo a audácia e o devotamento de Peri salvam os Mariz de morte certa e azote Seguindono pelo ritmo do comprometimento dos atos heroicos de Antônio e dom Álvaro de Sá que do primeiro tido recebido todos os princípios daquela antiga lealdade cavaleiresca do século XVI os quais o velho fidalgo conservou como o melhor legado de seus avós As páginas finais descrevem a fuga de Cecília e Peri pela floresta e pelo rio Cancelamse aqui os limites históricos desfazemse os contornos da vida em sociedade a narrativa voltase para as fontes arcaicas do romance histórico a lenda O homem e a natureza e entre ambos a natureza mais humana a humanidade mais natural a mulher
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