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TT00236 O velho da horta Gil Vicente Texto pertencente ao acervo de peças teatrais da biblioteca da Universidade Federal de Uberlândia UFU digitalizado para fins de preservação por meio do projeto Biblioteca Digital de Peças Teatrais BDteatro Este projeto é financiado pela FAPEMIG Convênio EDT187002 e pela UFU Para a montagem cênica é necessário a autorização dos autores através da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais SBAT Figuras hum Velho huma moça hum Parvo criado do velho Mulher do velho Branca Gil uma Mocinha um Alcaide Beleguins A seguinte farsa he o seu argumento que hum homem honrado e muito rico já velho tinha hua horta e andando hua manhã por ella espairecendo sendo o seu hortelão fóra veio hua moça de muito bom parecer buscar hortaliça e o velho em tanta maneira se enamorou della que per via de hua alcoviteira gastou toda a sua fazenda A alcoviteira foi açoutada e a moça casou honradamente Foi representada ao mui sereníssimo rei Dom Manuel o primeiro desse nome Era do Senhor 1512 O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 2 ATO ÚNICO Entra o velho pela horta rezando VELHO Pater noster criador Qui es in coelis poderoso Santificetur Senhor nomen tuum vencedor nos ceos e terra piedoso Adveniat a tua graça regnum tuum sem mais guerra voluntas tua se faça sicut in coelo et in terra Panem nostrum que comemos cotidianum teu he escusálo não podêmos Tu da nobis hodie Dimitte nobis Senhor Debita nossos errores sicut et nos por teu amor dimittimus qualquer error aos nosso devedores Et ne nos Deos te pedimos inducas per nenhum modo in tentationem cahimos porque fracos nos sentimos formados de triste lodo Sed libera nossa fraqueza nos a malo nesta vida Amen por tua grandeza e nos livre tua alteza da tristeza sem medida Entra a MOÇA na horta e diz o VELHO Senhora benzavos Deos MOÇA Deos vos mantenha senhor VELHO Onde se criou tal flor Eu diria que nos ceos MOÇA Mas no chão VELHO Pois damas se acharão que não são vosso sapato MOÇA Ai Como isso é tão vão e como as lisonjas são de barato VELHO Que buscais vós cá donzella senhora meu coração MOÇA Vinha ao vosso hortelão por cheiros para a panella VELHO E a isso vinde vós meu paraiso Minha senhora e não a al MOÇA Vistes vós Segundo isso nenhum velho não tem siso natural VELHO Ó meus olhinhos garridos minha rosa meu arminho MOÇA Onde he vosso ratinho Não tem os cheiros colhidos VELHO Tão depressa vinde vós minha condensa meu amor meu coração MOÇA Jesu Jesu Que cousa he essa E que prática tão avessa da razão VELHO Fallae fallae doutra maneira Mandaeme dar a hortaliça Gran fogo damor matiça ó minha alma verdadeira MOÇA E essa tosse Amores de sôbreposse serão os da vossa idade o tempo vos tirou a posse VELHO Mais amo que se moço fosse com a metade MOÇA E qual será a desastrada que atende vosso amor VELHO Ó minhalma e minha dor quem vos tivesse furtada MOÇA Que prazer Quem vos isso ouvir dizer cuidará que estais vós vivo ou que sois pera viver VELHO Vivo não no quero ser mas cativo MOÇA Vossa alma não he lembrada que vos despede esta vida VELHO Vós sois minha despedida minha morte ante cipada Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 3 MOÇA Que galante Que rosa Que diamante Que preciosa perla fina VELHO Ó fortuna triunfante Quem meteo hum velho amante com menina O maior risco da vida e mais perigoso he amar que morrer é acabar e amor não tem sahida e pois penado ainda que amado vive qualquer amador que fará o desamado e sendo desesperado de favor MOÇA Ora dálhe lá favores Velhice como te enganas VELHO Essas palavras ufanas acendem mais os amores MOÇA Bô home estais às escuras Não vos vêdes como estais VELHO Vós me cegais com tristuras mas vejo as desaventuras que me dais MOÇA Não vêdes que sois ja morto e andais contra a natura VELHO Ó flor da mor formosura Quem vos trouxe a este meu horto Ai de mim Porque assi como vos vi cegou minha alma e a vida e está tão fóra de si quem partindo vós daqui he partida MOÇA Ja perto sois de morrer Donde nace esta sandice que quanto mais na velhice amais os velhos viver E mais querida quando estais mais de partida é a vida que leixais VELHO Tanto sois mais homicida que quando amo mais a vida ma tirais Porque a minhhora dagora vai vinte annos dos passados pois os moços namorados a mocidade os escora Mas um velho em idade de conselho de menina namorado Ó minhalma e meu espelho MOÇA Ó miolo de coelho mal assado VELHO Quanto for mais avisado quem damor vive penando terá menos siso amando porque he mais ntmorado Em conclusão que amor não quer razão nem contracto nem cautela nem preito nem condição mas penar de coração sem querella MOÇA Hulos esses namorados Desinçada he a terra livre delles namorados de cruzados isso si VELHO Senhora eisme eu aqui que não sei senão amar Ó meu rosto dalfeni Qu em forte ponto vos vi neste pomar MOÇA Que velho tão sem sossêgo VELHO Que garridice me viste MOÇA Mas dizei que me sentiste remelado necio cego VELHO Mas de todo por mui namorado modo me tendes minha senhora já cego de todo em todo MOÇA Bem está quando tal lodo se namora VELHO Quanto mais estais avessa mais certo vos quero bem MOÇA O vosso hortelão não vem Querome ir que estou com pressa VELHO Ó fermosa Toda a minha horta he vossa MOÇA Não quero tanta franqueza VELHO Não per me serdes piedosa porque quanto mais graciosa soes crueza Cortae tudo sem partido senhora se sois servida Seja a horta destruída pois seu dono he destruído MOÇA Mana minha achastes vós a daninha porque não posso esperar Colherei algua O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 4 cousinha somente per ir asinha e não tardar VELHO Colhei rosa dessas rosas minhas flores colhei flores Quisera que esses amores forão perlas preciosas e de rubis o caminho per onde is e a horta douro tal com lavores mui sutis puisque Dous fazervos quis angelical Ditoso he o jardim que está em vosso poder podeis senhora fazer delle o que fazeis de mim MOÇA Que folgura Que pomar e que verdura Que fonte tão esmerada VELHO Nágua olhae vossa figura vereis minha sepultura ser chegada Canta a MOÇA Cual es la niña que coge las flores sino tiene amores Cogia la niña la rosa florida El hortelanico prendas le pedia sino tienes amores Assi cantando colheo a MOÇA da horta o que vinha buscar e acabado diz Eis aqui o que colhi vêde o que vos hei de dar VELHO Que mhaveis vós de pagar pois que me levais a mi Ó coitado Que amor me tem entregado e em vosso poder me fino porque sem de vós tratado como pássaro em mão dado dhum menino MOÇA Senhor com vossa mercê VELHO Por eu não ficar sem a vossa queria de vós hua rosa MOÇA Hua rosa Pera que VELHO Porque são colhidas de vossa mão deixarmheis algua vida não isenta de paixão mas será consolação na partida MOÇA Isso é por me deter Ora tomai e acabar Tomou o VELHO a mão Jesu E quereis brincar Que galante e que prazer VELHO Já me leixais Lembrevos que me lembreis e que não fico comigo Ó marteiros infernais Não sei por que me matais nem o que digo Vem um PARVO criado do VELHO e diz Dono dizia minha dona que fazeis vós cá té à noute VELHO Vaite dahi não taçoute Ó Dou o decho a chaçona sem saber PARVO Diz que fosseis vós comer e que não moreis aqui VELHO Não quero comer nem beber PARVO Pois que haveis ca de fazer VELHO Vaite dhi PARVO Dono veio lá meu tio estava minha dona então ella foiselhe o lume pela panella senão acertálo acario VELHO Ó Senhora Como sei que estais agora sem saber minha saudade Ó Senhora matadora meu coração vos adora de vontade Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 5 PARVO Raivou tanto rosnear ó pesar ora da vida Está a panella cozida minha dona quer jantar nam quereis VELHO Não hei de comer que me pês nem quero comer bocado PARVO E se vós dono morreis Então depois não fallareis senão finado Então na terra nego jazer então finar dono estendido VELHO Ó quem não fôra nacido ou acabasse de viver PARVO Assi pardeos Então tanta pulga em vós tanta bichoca nos olhos ali cos finado sós e comervoshão a vós os piolhos Comervishão as cigarras e os sapos morrerá morrerá VELHO Deos me faz já mercê de me soltar as amarras Vae saltando aqui te fico esperando traze a viola e veremos PARVO Ah Corpo de São Fernando Estão os outros jantando e cantaremos VELHO Quem fosse do teu teor per não se sentir tanta praga de fogo que não se apaga nem abranda tanta dor Hei de morrer PARVO Minha dona quer comer Vinde eramé dona que brada Olhae eu fui lhe dizer dessa rosa e do tanger e está raivada VELHO Vai tu filho Joanne e dize que logo vou que não ha tempo que castou PARVO Ireis vós pera o Sanhoanne Pelo ceo sagrado que meu dono está danado Vio elle o demo no ramo Se elle fosse namorado logo eu vou buscar outramo Vem a MULHER do VELHO e diz Hui Amara do meu fado Fernandeanes que he isto VELHO Ó pesar do Antichristo cos velha destemprada Vistes ora MULHER Estadama onde mora Hui Amara dos meus dias Vinde jantar em ma ora por que vos metteses agora em musiquias VELHO Pelo corpo de San Roque Comendo ó demo a gulosa MULHER Quem vos pos hi essa rosa Má forca que vos enforque VELHO Não curar fareis bem de vos tornar porque estou mui mal sentido não querei de me fallar que não se pode escusar ser perdido MULHER Agora coas hervas novas vos tornastes vós granhão VELHO Não sei que he nem que não que hei de vir a fazer trovas MULHER Que peçonha Havei ma ora vergonha a cabo de sessenta annos que sondes vós carantonha VELHO Amores de quem me sonha tantos danos MULHER Já vós estais em idade de mudardes os costumes VELHO Pois que me pedis ciumes eu volos farei de verdade MULHER Olhae a peça VELHO Nunca o demo em al mempeça senão morrer de ntmorado MULHER Quer já cair da trepeça e tem rosa na cabeça e imbicado VELHO Leixarme ser namorado porque o sou muito em extremo O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 6 MULHER Mas que vos tome inda o demo se vos já não tem tomado VELHO Dona torta acertar por esta porta Velha malaventurada Sair ma ora da horta MULHER Hui amara aqui sou morta ou espancada VELHO Estas velhas são pecados Sancta Maria val com a praga Quanto as homem mais afaga tanto são mais endiabradas Canta Volvido nos han volvido volvido nos han por uma vecina mala meu amor tolheulhe a fala volvido nos han Entra Branca Gil ALCOVITEIRA e diz Mantenha Deos vossa Mercê VELHO bofé vós venhais embora Ah Sancta Maria Senhora Como logo Deos provê BRANCA Si aosadas Eu venho por mesturadas e muito depressa ainda VELHO Mesturadas mesandadas que as fara bem guisadas vossa vinda Ocaso he Sôbre meus dias em tempo contra a razão veio amor sôbre tenção e fez de mi outro Mancias tão penado que de muito namorado creio que me culpareis porque tomei tal cuidado e do velho destampado zombareis BRANCA Mas antes senhor agora na velhice anda o amor o de idade damador de ventura namora e na côrte nenhum mancebo de sorte não ama como sohia Tudo vai em zombaria Nunca morrem desta morte nenhum dia E folgo ora de ver vossa mercê namorado que o homem bem criado até à morte o ha de ser por direito Não per modo contrafeito mas firme sem ir atraz que a todo homem perfeito mandou Deos no seu preceito amarás VELHO Isso he o demo que eu brado Branca Gil e não me val que eu não daria hum real per homem desntmorado Porém amiga se nesta minha fadiga vós não sois medianeira não sei que maneira siga nem que faça nem que diga nem que queira BRANCA Ando agora tão ditosa louvores a Virgem Maria que acabo mais do que queria pela minha vida e vossa Dantemão faço hua esconjuração e hum dente de negra morta ante que entre pela porta que exhorta qualquer duro coração VELHO Dizedeme quem he ella BRANCA Vive junto coa Sé Já já já bem sei quem he He bonita como estrella hua rosinha dabril hua frescura de Maio tão manhosa tão sutil VELHO Acudime Branca Gil que desmaio Esmorece o VELHO e a ALCOVITEIRA começa a ladainha seguinte Ó precioso Santo Arelhano martyrr bemaventurado Tu que foste marteirado neste mundo cento e hum anno Ó São Garcia Moniz tu que hoje em dia Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 7 Fazes milagres dobrados dálhe esforço e alegria Pois que es da companhia dos penados Ó Apóstolo San João Fogaça tu que sabes a verdade pola tua piedade que tanto mal não se faça Ó Senhor Tristão da Cunha confessor Ó Martyr Simão de Sousa pelo vosso santo amor Livrai o velho pecador de tal cousa Ó Santo Martim Afonso de Melo tão namorado Dá remédio a este coitado e eu te direi hum responso com devoção Eu prometo hua oração todo dia em quatro meses Por que lhe deis força meu senhor San Dom João de Meneses Ó martyr Santo Amador Gonçalo da Silva vós que sois o hum só dos sós porfioso em amador apressurado chamae o martirizado Dom Jorge dEça a conselho Dous casados nhum cuidado socorrei a este coitado deste velho Arcanjo São Comendador Mor dAvis mui inflamado Que antes que fosseis nado fostes santo no amor E não fique o precioso Dom Anrique outro Mor de Santiago Socorreilhe muito a pique antes que demo repuque com tam pago Glorioso São Dom Martinho apóstolo e Evangelista tomae este feito à revista Porque leva mao caminho e daelhe espírito Ó Santo Barão dAlvito Serafim do Eeos Cupido consolae o velho afllito Porque inda que contrito vai perdido Todos sanctos marteirados socorrei ao marteirado que morre de ntmorado Pois morreis de nmorados Para o livrar as virgens quero chamar Que lhe queiram socorrer ajudar e consolar Que está ja para acabar de morrer Ó Sancta Dona Maria Anriques tão preciosa Queiraislhe ser piedosa por vossa sancta alegria E vossa vista que todo o mundo conquista Esforce seu coração porque à sua dor resista Por vossa graça e bem quista condição Ó Sancta Dona Joana de Mendonça tão fermosa Preciosa e mui lustrosa mui querida e mui oufana Daelhe vida com outra sancta escolhida que tenho em voluntas mea O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 8 Seja de vós socorrida como de Deos foi ouvida A Cananea Ó Sancta Dona Joana Manuel pois que podeis e sabeis e mereceis ser angelica e humana socorrê E vós senhora por mercê ó Sancta Dona Maria de Calataúd por que vossa perfeição lhe dê alegria Sancta Dona Catarina de Figueiró a Real por vossa graça especial que os mais altos inclina e ajudará Sancta Dona Beatriz de Sá Daelhe senhora confôrto porque está seu corpo já quasi morto Sancta Dona Beatriz da Silva que sois aquella mais estrella que donzella como todo o mundo diz e vós sentida Sancta Dona Margarida de Sousa lhe socorrê se lhe puderdes dar vida porque está ja de partida sem porque Sancta Dona Violante de Lima de grande estima Mui subida muito acima de estimar nenhum galante peçovos eu e a Dona Isabel de Abreu que hajais delle piedade co siso que Deos vos deu que não moura de sandeu em tal idade Ó Sancta Dona Maria dAtaíde fresca rosa nacida em hora ditosa quando Júpiter se ria e se ajudar Sancta Dona Ana sem par dEça bem aventurada podeilo resuscitar que sua vida vejo estar desesperada Sanctas virgens conservadas em mui sancto e limpo estado socorrei ao ntmorado que vos vejais ntmoradas VELHO Óh Coitado Ai triste desatinado ainda torno a viver Cuidei que já era livrado BRANCA Quesforço de namorado e que prazer Havede ma ora aquella VELHO Que remédio me dais vós BRANCA Vivereis prazendo a Deos e casarvoshei com ella VELHO He vento isso BRANCA Assi seja o paraiso que não he ora tanto extremo Não curedes vós de riso que se faz tão improviso como o demo e também doutra maneira se meu quiser trabalhar VELHO Idelhe logo rogovolo fallar e fazei com que me queira que pereço e dizeilhe que lhe peço se lembre que tal fiquei estimado em pouco preço e se tanto mal mereço não no sei E se tenho esta vontade que não se deve enojar mas antes muito folgar matar od de qualquer idade E se reclama que sendo tão linda dama por ser velho maborrece dizeilhe que mal desama porque minhalma que a ama não envelhece BRANCA Sus Nome de Jesu Christo Olhaeme pela cestinha Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 9 VELHO Tornae logo mui asinha que eu pagarei bem isto Vaise a ALCOVITEIRA e fica o VELHO tangendo e cantando a cantiga seguinte Pues tengo razón señora Razón es que me laa oiga Vem a ALCOVITEIRA e diz o VELHO Venhais em boa hora amiga BRANCA Jella fica de bom geito mas pera isto andar direito he razão que volo diga eu já senhor meu não posso vencer hua moça tal sem gastardes bem do vosso VELHO Eu lhe peigarei em grosso BRANCA Mi está o feito nosso e não em al Percase toda a fazenda por salvardes vossa vida VELHO Seja ella disso servida quescusada he mais contenda BRANCA Deos vos ajude e vos dê mais saude que assim o aveis de fazer que viola nem alaude nem quantos amores pude não quer ver Remoçoumellla hum brial de seda e uns toucados VELHO Eis aqui trinta cruzados Que lhe façam mui real Enquanto a ALCOVITEIRA vai VELHO torna a prosseguir o seu cantar e tanger e acabado torna ela e diz Está tão saudosa de vós que se perde a coitadinha ha mister hua vasquinha e tres onças de retroz VELHO Tomae BRANCA A benção de vosso pae Bô ntmorado he o tal pois gastais descansae nmorados de ai ai não são papa nem são sal Hui Tal fôra se me fôra Sabeis vós que mesquecia Hua adela me vendia hum firmal dhua senhora Chum rubi pera o collo de marfi lavrado de mil lavores por cem cruzados VELHO Eilos hi BRANCA Isto ma ora isto si são amores Vaise o VELHO torna a prosseguir a sua música e acabada torna a ALCOVITEIRA e diz Dei ma ora hua topada Trago as sapatas rompidas destas vindas destas idas e enfim não ganho nada VELHO Eis aqui dez cruzados para ti BRANCA Começo com boa estrea Vem um ALCAIDE com quatro BELEGUINS e diz Dona levantaevos dhi BRANCA Que quereis vós assi ALCAIDE À ceia VELHO Senhores homens de bem escutem vossas senhorias ALCAIDE Deixai essas cortesias O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 10 BRANCA Não hei medo de ninguém vistes ora ALCAIDE Levantaevos dhi senhora daí ao demo esse rezar Quem vos dez tão rezadora BRANCA Deixarmora na má hora aqui acabar ALCAIDE Vinde da parte dElRei BRANCA Muita vida seja a sua Não me leveis pola rua leixaeme vós queu mirei BELEGUINS Sus Andar BRANCA Onde me quereis levar Ou quem me manda prender Nunca havedes dacabar de me prender e soltar Não há poder ALCAIDE Nada se póde hi al fazer BRANCA Está ja a carocha aviada Três vezes fui ja açoutada e enfim hei de viver Levamna presa e fica o VELHO dizendo Ó Forte hora Ah Sancta Maria Senhora Já não posso livrar bem Cada passo se empeora Oh Triste quem se namora de ninguem Vem hua MOCINHA à horta e diz Vêdes aqui o dinheiro mandame ca minha tia que assi como noutro dia lhe mandeis a couve e o cheiro Está pasmado VELHO Mas estou desatinado MOCINHA Estais doente ou que haveis VELHO Ai Não sei Desconsolado que naci desventurado MOCINHA Não choreis Mais mal fadada vai aquela VELHO Quem MOCINHA Branca Gil VELHO Como MOCINHA Com centaçoutes no lombo hua carocha por capela E Ter mão leva tão bom coração como se fosse em folia Ó que grandes que lhos dão VELHO E o triste do pregão porque dizia MOÇA Por mui grande alcoviteira e para sempre degredada vai tão desavergonhada como ia a feiticeira E quando estava hua moça que casava na rua para ir casar e a coitada que chegava a folia começava de cantar hua moça tão fermosa que vivia alli à Sé VELHO Ó coitado A minha he MOCINHA Agora ma ora he vossa Vossa he a treva Mas ella o noivo leva vai tão leda tão contente huns cabelos como Eva Ousadas que não se lhe atreva toda a gente O noivo moço tão polido não tirava os olhos della e ella delle ó que estrela He elle hum par bem scolhido Ó roubado da vaidade enganado da vida e da fazenda Ó velho siso enleado Quem te meteo desastrado em tal contenda Se os jovens amores os mais tem fins desastrados que farão as cans lançadas no conto dos amadores Que sentias triste velho em fim dos dias Se a ti mesmo contempláras soubéras que não sabias e viras como não vías e acertáras Queromir buscar a morte pois que tanto mal busquei Quatro filhas que criei eu as pus em Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 11 pobre sorte Vou morrer Ellas hão de padecer porque não lhes deixo nada da quantia riqueza e haver fui sem razão dispender mal gastada O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 12 Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 13
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isso é tão vão e como as lisonjas são de barato VELHO Que buscais vós cá donzella senhora meu coração MOÇA Vinha ao vosso hortelão por cheiros para a panella VELHO E a isso vinde vós meu paraiso Minha senhora e não a al MOÇA Vistes vós Segundo isso nenhum velho não tem siso natural VELHO Ó meus olhinhos garridos minha rosa meu arminho MOÇA Onde he vosso ratinho Não tem os cheiros colhidos VELHO Tão depressa vinde vós minha condensa meu amor meu coração MOÇA Jesu Jesu Que cousa he essa E que prática tão avessa da razão VELHO Fallae fallae doutra maneira Mandaeme dar a hortaliça Gran fogo damor matiça ó minha alma verdadeira MOÇA E essa tosse Amores de sôbreposse serão os da vossa idade o tempo vos tirou a posse VELHO Mais amo que se moço fosse com a metade MOÇA E qual será a desastrada que atende vosso amor VELHO Ó minhalma e minha dor quem vos tivesse furtada MOÇA Que prazer Quem vos isso ouvir dizer cuidará que estais vós vivo ou que sois pera viver VELHO Vivo não no quero ser mas 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Donde nace esta sandice que quanto mais na velhice amais os velhos viver E mais querida quando estais mais de partida é a vida que leixais VELHO Tanto sois mais homicida que quando amo mais a vida ma tirais Porque a minhhora dagora vai vinte annos dos passados pois os moços namorados a mocidade os escora Mas um velho em idade de conselho de menina namorado Ó minhalma e meu espelho MOÇA Ó miolo de coelho mal assado VELHO Quanto for mais avisado quem damor vive penando terá menos siso amando porque he mais ntmorado Em conclusão que amor não quer razão nem contracto nem cautela nem preito nem condição mas penar de coração sem querella MOÇA Hulos esses namorados Desinçada he a terra livre delles namorados de cruzados isso si VELHO Senhora eisme eu aqui que não sei senão amar Ó meu rosto dalfeni Qu em forte ponto vos vi neste pomar MOÇA Que velho tão sem sossêgo VELHO Que garridice me viste MOÇA Mas dizei que me sentiste remelado necio cego VELHO Mas de todo por mui namorado modo me tendes minha senhora já cego de todo em todo MOÇA Bem está quando tal lodo se namora VELHO Quanto mais estais avessa mais certo vos quero bem MOÇA O vosso hortelão não vem Querome ir que estou com pressa VELHO Ó fermosa Toda a minha horta he vossa MOÇA Não quero tanta franqueza VELHO Não per me serdes piedosa porque quanto mais graciosa soes crueza Cortae tudo sem partido senhora se sois servida Seja a horta destruída pois seu dono he destruído MOÇA Mana minha achastes vós a daninha porque não posso esperar Colherei algua O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 4 cousinha somente per ir asinha e não tardar VELHO Colhei rosa dessas rosas minhas flores colhei flores Quisera que esses amores forão perlas preciosas e de rubis o caminho per onde is e a horta douro tal com lavores mui sutis puisque Dous fazervos quis angelical Ditoso he o jardim que está em vosso poder podeis senhora fazer delle o que fazeis de mim MOÇA Que folgura Que pomar e que verdura Que fonte tão esmerada VELHO Nágua olhae vossa figura vereis minha sepultura ser chegada Canta a MOÇA Cual es la niña que coge las flores sino tiene amores Cogia la niña la rosa florida El hortelanico prendas le pedia sino tienes amores Assi cantando colheo a MOÇA da horta o que vinha buscar e acabado diz Eis aqui o que colhi vêde o que vos hei de dar VELHO Que mhaveis vós de pagar pois que me levais a mi Ó coitado Que amor me tem entregado e em vosso poder me fino porque sem de vós tratado como pássaro em mão dado dhum menino MOÇA Senhor com vossa mercê VELHO Por eu não ficar sem a vossa queria de vós hua rosa MOÇA Hua rosa Pera que VELHO Porque são colhidas de vossa mão deixarmheis algua vida não isenta de paixão mas será consolação na partida MOÇA Isso é por me deter Ora tomai e acabar Tomou o VELHO a mão Jesu E quereis brincar Que galante e que prazer VELHO Já me leixais Lembrevos que me lembreis e que não fico comigo Ó marteiros infernais Não sei por que me matais nem o que digo Vem um PARVO criado do VELHO e diz Dono dizia minha dona que fazeis vós cá té à noute VELHO Vaite dahi não taçoute Ó Dou o decho a chaçona sem saber PARVO Diz que fosseis vós comer e que não moreis aqui VELHO Não quero comer nem beber PARVO Pois que haveis ca de fazer VELHO Vaite dhi PARVO Dono veio lá meu tio estava minha dona então ella foiselhe o lume pela panella senão acertálo acario VELHO Ó Senhora Como sei que estais agora sem saber minha saudade Ó Senhora matadora meu coração vos adora de vontade Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 5 PARVO Raivou tanto rosnear ó pesar ora da vida Está a panella cozida minha dona quer jantar nam quereis VELHO Não hei de comer que me pês nem quero comer bocado PARVO E se vós dono morreis Então depois não fallareis senão finado Então na terra nego jazer então finar dono estendido VELHO Ó quem não fôra nacido ou acabasse de viver PARVO Assi pardeos Então tanta pulga em vós tanta bichoca nos olhos ali cos finado sós e comervoshão a vós os piolhos Comervishão as cigarras e os sapos morrerá morrerá VELHO Deos me faz já mercê de me soltar as amarras Vae saltando aqui te fico esperando traze a viola e veremos PARVO Ah Corpo de São Fernando Estão os outros jantando e cantaremos VELHO Quem fosse do teu teor per não se sentir tanta praga de fogo que não se apaga nem abranda tanta dor Hei de morrer PARVO Minha dona quer comer Vinde eramé dona que brada Olhae eu fui lhe dizer dessa rosa e do tanger e está raivada VELHO Vai tu filho Joanne e dize que logo vou que não ha tempo que castou PARVO Ireis vós pera o Sanhoanne Pelo ceo sagrado que meu dono está danado Vio elle o demo no ramo Se elle fosse namorado logo eu vou buscar outramo Vem a MULHER do VELHO e diz Hui Amara do meu fado Fernandeanes que he isto VELHO Ó pesar do Antichristo cos velha destemprada Vistes ora MULHER Estadama onde mora Hui Amara dos meus dias Vinde jantar em ma ora por que vos metteses agora em musiquias VELHO Pelo corpo de San Roque Comendo ó demo a gulosa MULHER Quem vos pos hi essa rosa Má forca que vos enforque VELHO Não curar fareis bem de vos tornar porque estou mui mal sentido não querei de me fallar que não se pode escusar ser perdido MULHER Agora coas hervas novas vos tornastes vós granhão VELHO Não sei que he nem que não que hei de vir a fazer trovas MULHER Que peçonha Havei ma ora vergonha a cabo de sessenta annos que sondes vós carantonha VELHO Amores de quem me sonha tantos danos MULHER Já vós estais em idade de mudardes os costumes VELHO Pois que me pedis ciumes eu volos farei de verdade MULHER Olhae a peça VELHO Nunca o demo em al mempeça senão morrer de ntmorado MULHER Quer já cair da trepeça e tem rosa na cabeça e imbicado VELHO Leixarme ser namorado porque o sou muito em extremo O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 6 MULHER Mas que vos tome inda o demo se vos já não tem tomado VELHO Dona torta acertar por esta porta Velha malaventurada Sair ma ora da horta MULHER Hui amara aqui sou morta ou espancada VELHO Estas velhas são pecados Sancta Maria val com a praga Quanto as homem mais afaga tanto são mais endiabradas Canta Volvido nos han volvido volvido nos han por uma vecina mala meu amor tolheulhe a fala volvido nos han Entra Branca Gil ALCOVITEIRA e diz Mantenha Deos vossa Mercê VELHO bofé vós venhais embora Ah Sancta Maria Senhora Como logo Deos provê BRANCA Si aosadas Eu venho por mesturadas e muito depressa ainda VELHO Mesturadas mesandadas que as fara bem guisadas vossa vinda Ocaso he Sôbre meus dias em tempo contra a razão veio amor sôbre tenção e fez de mi outro Mancias tão penado que de muito namorado creio que me culpareis porque tomei tal cuidado e do velho destampado zombareis BRANCA Mas antes senhor agora na velhice anda o amor o de idade damador de ventura namora e na côrte nenhum mancebo de sorte não ama como sohia Tudo vai em zombaria Nunca morrem desta morte nenhum dia E folgo ora de ver vossa mercê namorado que o homem bem criado até à morte o ha de ser por direito Não per modo contrafeito mas firme sem ir atraz que a todo homem perfeito mandou Deos no seu preceito amarás VELHO Isso he o demo que eu brado Branca Gil e não me val que eu não daria hum real per homem desntmorado Porém amiga se nesta minha fadiga vós não sois medianeira não sei que maneira siga nem que faça nem que diga nem que queira BRANCA Ando agora tão ditosa louvores a Virgem Maria que acabo mais do que queria pela minha vida e vossa Dantemão faço hua esconjuração e hum dente de negra morta ante que entre pela porta que exhorta qualquer duro coração VELHO Dizedeme quem he ella BRANCA Vive junto coa Sé Já já já bem sei quem he He bonita como estrella hua rosinha dabril hua frescura de Maio tão manhosa tão sutil VELHO Acudime Branca Gil que desmaio Esmorece o VELHO e a ALCOVITEIRA começa a ladainha seguinte Ó precioso Santo Arelhano martyrr bemaventurado Tu que foste marteirado neste mundo cento e hum anno Ó São Garcia Moniz tu que hoje em dia Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 7 Fazes milagres dobrados dálhe esforço e alegria Pois que es da companhia dos penados Ó Apóstolo San João Fogaça tu que sabes a verdade pola tua piedade que tanto mal não se faça Ó Senhor Tristão da Cunha confessor Ó Martyr Simão de Sousa pelo vosso santo amor Livrai o velho pecador de tal cousa Ó Santo Martim Afonso de Melo tão namorado Dá remédio a este coitado e eu te direi hum responso com devoção Eu prometo hua oração todo dia em quatro meses Por que lhe deis força meu senhor San Dom João de Meneses Ó martyr Santo Amador Gonçalo da Silva vós que sois o hum só dos sós porfioso em amador apressurado chamae o martirizado Dom Jorge dEça a conselho Dous casados nhum cuidado socorrei a este coitado deste velho Arcanjo São Comendador Mor dAvis mui inflamado Que antes que fosseis nado fostes santo no amor E não fique o precioso Dom Anrique outro Mor de Santiago Socorreilhe muito a pique antes que demo repuque com tam pago Glorioso São Dom Martinho apóstolo e Evangelista tomae este feito à revista Porque leva mao caminho e daelhe espírito Ó Santo Barão dAlvito Serafim do Eeos Cupido consolae o velho afllito Porque inda que contrito vai perdido Todos sanctos marteirados socorrei ao marteirado que morre de ntmorado Pois morreis de nmorados Para o livrar as virgens quero chamar Que lhe queiram socorrer ajudar e consolar Que está ja para acabar de morrer Ó Sancta Dona Maria Anriques tão preciosa Queiraislhe ser piedosa por vossa sancta alegria E vossa vista que todo o mundo conquista Esforce seu coração porque à sua dor resista Por vossa graça e bem quista condição Ó Sancta Dona Joana de Mendonça tão fermosa Preciosa e mui lustrosa mui querida e mui oufana Daelhe vida com outra sancta escolhida que tenho em voluntas mea O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 8 Seja de vós socorrida como de Deos foi ouvida A Cananea Ó Sancta Dona Joana Manuel pois que podeis e sabeis e mereceis ser angelica e humana socorrê E vós senhora por mercê ó Sancta Dona Maria de Calataúd por que vossa perfeição lhe dê alegria Sancta Dona Catarina de Figueiró a Real por vossa graça especial que os mais altos inclina e ajudará Sancta Dona Beatriz de Sá Daelhe senhora confôrto porque está seu corpo já quasi morto Sancta Dona Beatriz da Silva que sois aquella mais estrella que donzella como todo o mundo diz e vós sentida Sancta Dona Margarida de Sousa lhe socorrê se lhe puderdes dar vida porque está ja de partida sem porque Sancta Dona Violante de Lima de grande estima Mui subida muito acima de estimar nenhum galante peçovos eu e a Dona Isabel de Abreu que hajais delle piedade co siso que Deos vos deu que não moura de sandeu em tal idade Ó Sancta Dona Maria dAtaíde fresca rosa nacida em hora ditosa quando Júpiter se ria e se ajudar Sancta Dona Ana sem par dEça bem aventurada podeilo resuscitar que sua vida vejo estar desesperada Sanctas virgens conservadas em mui sancto e limpo estado socorrei ao ntmorado que vos vejais ntmoradas VELHO Óh Coitado Ai triste desatinado ainda torno a viver Cuidei que já era livrado BRANCA Quesforço de namorado e que prazer Havede ma ora aquella VELHO Que remédio me dais vós BRANCA Vivereis prazendo a Deos e casarvoshei com ella VELHO He vento isso BRANCA Assi seja o paraiso que não he ora tanto extremo Não curedes vós de riso que se faz tão improviso como o demo e também doutra maneira se meu quiser trabalhar VELHO Idelhe logo rogovolo fallar e fazei com que me queira que pereço e dizeilhe que lhe peço se lembre que tal fiquei estimado em pouco preço e se tanto mal mereço não no sei E se tenho esta vontade que não se deve enojar mas antes muito folgar matar od de qualquer idade E se reclama que sendo tão linda dama por ser velho maborrece dizeilhe que mal desama porque minhalma que a ama não envelhece BRANCA Sus Nome de Jesu Christo Olhaeme pela cestinha Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 9 VELHO Tornae logo mui asinha que eu pagarei bem isto Vaise a ALCOVITEIRA e fica o VELHO tangendo e cantando a cantiga seguinte Pues tengo razón señora Razón es que me laa oiga Vem a ALCOVITEIRA e diz o VELHO Venhais em boa hora amiga BRANCA Jella fica de bom geito mas pera isto andar direito he razão que volo diga eu já senhor meu não posso vencer hua moça tal sem gastardes bem do vosso VELHO Eu lhe peigarei em grosso BRANCA Mi está o feito nosso e não em al Percase toda a fazenda por salvardes vossa vida VELHO Seja ella disso servida quescusada he mais contenda BRANCA Deos vos ajude e vos dê mais saude que assim o aveis de fazer que viola nem alaude nem quantos amores pude não quer ver Remoçoumellla hum brial de seda e uns toucados VELHO Eis aqui trinta cruzados Que lhe façam mui real Enquanto a ALCOVITEIRA vai VELHO torna a prosseguir o seu cantar e tanger e acabado torna ela e diz Está tão saudosa de vós que se perde a coitadinha ha mister hua vasquinha e tres onças de retroz VELHO Tomae BRANCA A benção de vosso pae Bô ntmorado he o tal pois gastais descansae nmorados de ai ai não são papa nem são sal Hui Tal fôra se me fôra Sabeis vós que mesquecia Hua adela me vendia hum firmal dhua senhora Chum rubi pera o collo de marfi lavrado de mil lavores por cem cruzados VELHO Eilos hi BRANCA Isto ma ora isto si são amores Vaise o VELHO torna a prosseguir a sua música e acabada torna a ALCOVITEIRA e diz Dei ma ora hua topada Trago as sapatas rompidas destas vindas destas idas e enfim não ganho nada VELHO Eis aqui dez cruzados para ti BRANCA Começo com boa estrea Vem um ALCAIDE com quatro BELEGUINS e diz Dona levantaevos dhi BRANCA Que quereis vós assi ALCAIDE À ceia VELHO Senhores homens de bem escutem vossas senhorias ALCAIDE Deixai essas cortesias O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 10 BRANCA Não hei medo de ninguém vistes ora ALCAIDE Levantaevos dhi senhora daí ao demo esse rezar Quem vos dez tão rezadora BRANCA Deixarmora na má hora aqui acabar ALCAIDE Vinde da parte dElRei BRANCA Muita vida seja a sua Não me leveis pola rua leixaeme vós queu mirei BELEGUINS Sus Andar BRANCA Onde me quereis levar Ou quem me manda prender Nunca havedes dacabar de me prender e soltar Não há poder ALCAIDE Nada se póde hi al fazer BRANCA Está ja a carocha aviada Três vezes fui ja açoutada e enfim hei de viver Levamna presa e fica o VELHO dizendo Ó Forte hora Ah Sancta Maria Senhora Já não posso livrar bem Cada passo se empeora Oh Triste quem se namora de ninguem Vem hua MOCINHA à horta e diz Vêdes aqui o dinheiro mandame ca minha tia que assi como noutro dia lhe mandeis a couve e o cheiro Está pasmado VELHO Mas estou desatinado MOCINHA Estais doente ou que haveis VELHO Ai Não sei Desconsolado que naci desventurado MOCINHA Não choreis Mais mal fadada vai aquela VELHO Quem MOCINHA Branca Gil VELHO Como MOCINHA Com centaçoutes no lombo hua carocha por capela E Ter mão leva tão bom coração como se fosse em folia Ó que grandes que lhos dão VELHO E o triste do pregão porque dizia MOÇA Por mui grande alcoviteira e para sempre degredada vai tão desavergonhada como ia a feiticeira E quando estava hua moça que casava na rua para ir casar e a coitada que chegava a folia começava de cantar hua moça tão fermosa que vivia alli à Sé VELHO Ó coitado A minha he MOCINHA Agora ma ora he vossa Vossa he a treva Mas ella o noivo leva vai tão leda tão contente huns cabelos como Eva Ousadas que não se lhe atreva toda a gente O noivo moço tão polido não tirava os olhos della e ella delle ó que estrela He elle hum par bem scolhido Ó roubado da vaidade enganado da vida e da fazenda Ó velho siso enleado Quem te meteo desastrado em tal contenda Se os jovens amores os mais tem fins desastrados que farão as cans lançadas no conto dos amadores Que sentias triste velho em fim dos dias Se a ti mesmo contempláras soubéras que não sabias e viras como não vías e acertáras Queromir buscar a morte pois que tanto mal busquei Quatro filhas que criei eu as pus em Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 11 pobre sorte Vou morrer Ellas hão de padecer porque não lhes deixo nada da quantia riqueza e haver fui sem razão dispender mal gastada O velho da horta Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 12 Gil Vicente Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU 13