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DJAMILA RIBEIRO COMPANHIA DAS LETRAS PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA DJAMILA RIBEIRO PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA COMPANHIA DAS LETRAS Capa Folha de rosto Sumário Introdução Informese sobre o racismo Enxergue a negritude Reconheça os privilégios da branquitude Perceba o racismo internalizado em você Apoie políticas educacionais afirmativas Transforme seu ambiente de trabalho Leia autores negros Questione a cultura que você consome Conheça seus desejos e afetos Combata a violência racial Sejamos todos antirracistas Referências bibliográficas Sobre a autora Sobre os autores negros citados Créditos QUANDO CRIANÇA fui ensinada que a população negra havia sido escrava e ponto como se não tivesse existido uma vida anterior nas regiões de onde essas pessoas foram tiradas à força Disseramme que a população negra era passiva e que aceitou a escravidão sem resistência Também me contaram que a princesa Isabel havia sido sua grande redentora No entanto essa era a história contada do ponto de vista dos vencedores como diz Walter Benjamin O que não me contaram é que o Quilombo dos Palmares na serra da Barriga em Alagoas perdurou por mais de um século e que se organizaram vários levantes como forma de resistência à escravidão como a Revolta dos Malês e a Revolta da Chibata Com o tempo compreendi que a população negra havia sido escravizada e não era escravapalavra que denota que essa seria uma condição natural ocultando que esse grupo foi colocado ali pela ação de outrem Se para mim que sou filha de um militante negro e que sempre debati essas questões em casa perceber essas nuances é algo complexo e dinâmico para quem refletiu pouco ou nada sobre esse tema pode ser ainda mais desafiador O processo envolve uma revisão crítica profunda de nossa percepção de si e do mundo Implica perceber que mesmo quem busca ativamente a consciência racial já compactuou com violências contra grupos oprimidos O primeiro ponto a entender é que falar sobre racismo no Brasil é sobretudo fazer um debate estrutural É fundamental trazer a perspectiva histórica e começar pela relação entre escravidão e racismo mapeando suas consequências Devese pensar como esse sistema vem beneficiando economicamente por toda a história a população branca ao passo que a negra tratada como mercadoria não teve acesso a direitos básicos e à distribuição de riquezas É importante lembrar que apesar de a Constituição do Império de 1824 determinar que a educação era um direito de todos os cidadãos a escola estava vetada para pessoas negras escravizadas A cidadania se estendia a portugueses e aos nascidos em solo brasileiro inclusive a negros libertos Mas esses direitos estavam condicionados a posses e rendimentos justamente para dificultar aos libertos o acesso à educação Havia também a Lei de Terras de 1850 ano em que o tráfico negreiro passou a ser proibido no Brasil embora a escravidão tenha persistido até 1888 Essa lei extinguia a apropriação de terras com base na ocupação e dava ao Estado o direito de distribuílas somente mediante a compra Dessa maneira exescravizados tinham enormes restrições pois só quem dispunha de grandes quantias poderia se tornar proprietário A lei transformou a terra em mercadoria ao mesmo tempo que facilitou o acesso a antigos latifundiários embora imigrantes europeus tenham recebido concessões como a criação de colônias Quando estudamos a história do Brasil vemos como esses e outros dispositivos legais estabelecidos durante e após a escravidão contribuem para a manutenção da mentalidade casagrande e senzala no país em que nas senzalas e nos quartos de empregada a cor foi e é negra A psicanalista Neusa Santos autora de Tornarse negro de 1983 um dos primeiros trabalhos sobre a questão racial na psicologia afirma que a sociedade escravista ao transformar o africano em escravo definiu o negro como raça demarcou o seu lugar a maneira de tratar e ser tratado os padrões de interação com o branco e instituiu o paralelismo entre cor negra e posição social inferior1 No Brasil há a ideia de que a escravidão aqui foi mais branda do que em outros lugares o que nos impede de entender como o sistema escravocrata ainda impacta a forma como a sociedade se organiza É necessário reconhecer as violências ocorridas durante o período escravista Historiadores como Lilia Schwarcz Flávio Gomes João José Reis e Nizan Pereira Almeida já comprovaram que essa ideia não passa de um mito São inúmeros os fatos históricos que a desmentem Basta lembrar por exemplo que a expectativa de vida dos homens escravizados no campo era 25 anos bem abaixo da média dos Estados Unidos para o mesmo grupo 35 anos2 Movimentos de pessoas negras há anos debatem o racismo como estrutura fundamental das relações sociais criando desigualdades e abismos O racismo é portanto um sistema de opressão que nega direitos e não um simples ato da vontade de um indivíduo Reconhecer o caráter estrutural do racismo pode ser paralisante Afinal como enfrentar um monstro tão grande No entanto não devemos nos intimidar A prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas Como diz Silvio Almeida em seu livro Racismo estrutural Consciente de que o racismo é parte da estrutura social e por isso não necessita de intenção para se manifestar por mais que calarse diante do racismo não faça do indivíduo moral eou juridicamente culpado ou responsável certamente o silêncio o torna ética e politicamente responsável pela manutenção do racismo A mudança da sociedade não se faz apenas com denúncias ou com o repúdio moral do racismo depende antes de tudo da tomada de posturas e da adoção de práticas antirracistas3 Portanto nunca entre numa discussão sobre racismo dizendo mas eu não sou racista O que está em questão não é um posicionamento moral individual mas um problema estrutural A questão é o que você está fazendo ativamente para combater o racismo Mesmo que uma pessoa pudesse se afirmar como não racista o que é difícil ou mesmo impossível já que se trata de uma estrutura social enraizada isso não seria suficiente a inação contribui para perpetuar a opressão É preciso ressaltar que mulheres e homens negros não são as únicas vítimas de opressão estrutural muitos outros grupos sociais oprimidos compartilham experiências de discriminação em alguma medida comparáveis Este livro foca em estratégias para combater o racismo contra pessoas negras mas espero que se possível ele possa contribuir também para o combate a outras formas de opressão4 O objetivo deste pequeno manual é apresentar alguns caminhos de reflexão recuperando contribuições importantes de diversos autores e autoras sobre o tema para quem quiser aprofundar sua percepção de discriminações estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação de nossa sociedade Afinal o antirracismo é uma luta de todas e todos O SISTEMA RACISTA está em constante processo de atualização e portanto devese entender seu funcionamento Segundo Kabengele Munanga importante pensador negro e professor na Universidade de São Paulo sem dúvida todos os racismos são abomináveis e cada um faz as suas vítimas do seu modo O brasileiro não é o pior nem o melhor mas ele tem as suas peculiaridades entre as quais o silêncio o não dito que confunde todos os brasileiros e brasileiras vítimas e não vítimas do racismo 5 Dessa forma como explica Munanga para entender o racismo no Brasil é preciso diferenciálo de outras experiências conhecidas como o regime nazista o apartheid sulafricano ou a situação da população negra nos Estados Unidos na primeira metade do século XX nas quais o racismo era explícito e institucionalizado por leis e práticas oficiais É verdade que o Brasil é diferente mas nada é mais equivocado do que concluir que por isso não somos um país racista É preciso identificar os mitos que fundam as peculiaridades do sistema de opressão operado aqui e certamente o da democracia racial é o mais conhecido e nocivo deles Concebido e propagado por sociólogos pertencentes à elite econômica na metade do século XX esse mito afirma que no Brasil houve a transcendência dos conflitos raciais pela harmonia entre negros e brancos traduzida na miscigenação e na ausência de leis segregadoras O livro Casagrande senzala de Gilberto Freyre tornouse um clássico mundial com a exportação dessa tese A relevância da obra está em romper com uma tradição que legitimava o racismo científico teorias biologizantes formuladas no século XIX que preconizavam uma suposta inferioridade natural do negro como forma de justificar a escravidão nas Américas tal como apresentado nas obras de Nina Rodrigues por exemplo Mas é preciso ler Freyre criticamente indo na contramão daqueles que estimulados pela naturalização da miscigenação forçada durante o período colonial perpetuam o mito da democracia racial Essa visão paralisa a prática antirracista pois romantiza as violências sofridas pela população negra ao escamotear a hierarquia racial com uma falsa ideia de harmonia Na obra Brancos e negros em São Paulo Roger Bastide e Florestan Fernandes apontaram Nós brasileiros dizianos um branco temos o preconceito de não ter preconceito E esse simples fato basta para mostrar a que ponto está arraigado no nosso meio social Muitas respostas negativas explicamse por esse preconceito de ausência de preconceito por essa fidelidade do Brasil ao seu ideal de democracia racial6 Como diz Munanga ecoa dentro de muitos brasileiros uma voz muito forte que grita Não somos racistas Racistas são os outros Eu considero essa voz uma inércia causada pelo mito da democracia racial Um bom exemplo dessa atitude está numa pesquisa do Datafolha realizada em 1995 que mostrou que 89 dos brasileiros admitiam existir preconceito de cor no Brasil mas 90 se identificavam como não racistas Na época a pesquisa foi considerada a maior sobre o tema entrevistando 5081 pessoas maiores de dezesseis anos em 121 cidades de todas as unidades da federação Devemos aprender com a história do feminismo negro que nos ensina a importância de nomear as opressões já que não podemos combater o que não tem nome Dessa forma reconhecer o racismo é a melhor forma de combatê lo Não tenha medo das palavras branco negro racismo racista Dizer que determinada atitude foi racista é apenas uma forma de caracterizála e definir seu sentido e suas implicações A palavra não pode ser um tabu pois o racismo está em nós e nas pessoas que amamos mais grave é não reconhecer e não combater a opressão Chegamos assim à seguinte pergunta o que de fato cada um de nós tem feito e pode fazer pela luta antirracista O autoquestionamento fazer perguntas entender seu lugar e duvidar do que parece natural é a primeira medida para evitar reproduzir esse tipo de violência que privilegia uns e oprime outros Simone de Beauvoir em referência a Stendhal autor que segundo a filósofa atribuía humanidade às suas personagens femininas dizia que um homem que enxergasse a mulher como sujeito e tivesse uma relação de alteridade para com ela poderia ser considerado feminista Esse mesmo raciocínio pode ser usado para pensar o antirracismo com a ressalva de que sobre a mulher negra incide a opressão de classe de gênero e de raça tornando o processo ainda mais complexo DESDE CEDO pessoas negras são levadas a refletir sobre sua condição racial O início da vida escolar foi para mim o divisor de águas por volta dos seis anos entendi que ser negra era um problema para a sociedade Até então no convívio familiar com meus pais e irmãos eu não era questionada dessa forma me sentia amada e não via nenhum problema comigo tudo era normal Neguinha do cabelo duro neguinha feia foram alguns dos xingamentos que comecei a escutar Ser a diferente o que quer dizer não branca passou a ser apontado como um defeito Comecei a ter questões de autoestima fiquei mais introspectiva e cabisbaixa Fui forçada a entender o que era racismo e a querer me adaptar para passar despercebida Como diz a pesquisadora Joice Berth Não me descobri negra fui acusada de sêla O mundo apresentado na escola era o dos brancos no qual as culturas europeias eram vistas como superiores o ideal a ser seguido Eu reparava que minhas colegas brancas não precisavam pensar o lugar social da branquitude pois eram vistas como normais a errada era eu Crianças negras não podem ignorar as violências cotidianas enquanto as brancas ao enxergarem o mundo a partir de seus lugares sociais que é um lugar de privilégio acabam acreditando que esse é o único mundo possível Essa divisão social existe há séculos e é exatamente a falta de reflexão sobre o tema que constitui uma das bases para a perpetuação do sistema de discriminação racial Por ser naturalizado esse tipo de violência se torna comum Ainda que uma pessoa branca tenha atributos morais positivos por exemplo que seja gentil com pessoas negras ela não só se beneficia da estrutura racista como muitas vezes mesmo sem perceber compactua com a violência racial Como muitas pessoas negras que circulam em espaços de poder já fui confundida com copeira faxineira ou no caso de hotéis de luxo prostituta Obviamente não estou questionando a dignidade dessas profissões mas o porquê de pessoas negras se verem reduzidas a determinados estereótipos em vez de serem reconhecidas como seres humanos em toda a sua complexidade e com suas contradições Meu irmão mais velho tocou trompete por muitos anos fazendo inclusive parte da Sinfônica de Cubatão na Baixada Santista Toda vez que dizia ser músico perguntavam se ele tocava pandeiro ou outro instrumento relacionado ao samba Não teria problema se ele tocasse a questão é pensar que homens negros só podem ocupar esse lugar Simone de Beauvoir afirmava que não há crime maior do que destituir um ser humano de sua própria humanidade reduzindoo à condição de objeto Dessa mesma premissa deriva o imperativo de não tratar pessoas negras com condescendência Lembro que uma vez quando trabalhava como secretária numa empresa do porto de Santos e fiz algo bastante corriqueiro respondi a um email Fiquei surpresa ao ver a reação de alguns colegas que me aplaudiram por eu ter escrito bem um texto Eu havia cursado três anos de jornalismo já tinha publicado artigos em revistas e jornais portanto um email não era motivo para aplausos Quando eu cursava filosofia um colega se mostrou muito surpreso por eu ter tirado uma nota maior que a dele num trabalho e sugeriu que era porque o professor gostava de mim Outro colega insinuou que me daria a parte mais fácil de um trabalho para me ajudar Experiências desse tipo me fizeram compreender que elogios podem significar condescendência Não é realista esperar que um grupo racial domine toda a produção do saber e seja a única referência estética Por causa disso a população negra criou estratégias ao longo de sua história para superar essa marginalização O conhecido movimento Panteras Negras do qual a ativista e filósofa Angela Davis fez parte além de lutar contra a segregação racial nos Estados Unidos e pela emancipação do povo negro tinha também em suas bases a valorização da estética negra Kathleen Cleaver uma das lideranças do movimento aponta para a importância de que pessoas negras quebrem com a visão de que somente pessoas brancas são bonitas valorizando o cabelo natural e as características típicas do povo negro e criando para ele uma nova consciência No campo das artes temos experiências notáveis realizadas pela população negra no Brasil mas infelizmente ainda pouco conhecidas O Teatro Experimental do Negro TEN criado por Abdias do Nascimento em 1944 buscou valorizar a cultura afro brasileira por meio da educação e da arte formulando uma estética própria para além da reprodução da experiência de outros países e visando ao protagonismo do povo negro Assim tinha como bandeira priorizar a valorização da personalidade e cultura específicas ao negro como caminho de combate ao racismo7 De lá saíram nomes como o da atriz Ruth de Souza que nos deixou aos 98 anos em julho de 2019 Há outros bons exemplos de iniciativas que ampliam a visibilidade negra nas artes A série Cadernos Negros criada em 1978 foi responsável por publicar contos e poemas de escritores e escritoras negros tornandose um marco para a produção literária negra Muitos dos primeiros textos de Conceição Evaristo foram publicados lá por exemplo O projeto Amazônia Negra da fotógrafa Marcela Bonfim busca reconhecer e valorizar as culturas negras em Rondônia Bonfim sintetiza a importância de iniciativas desse tipo A maioria dos negros brasileiros precisa aprender a ser negro no percurso de suas vidas Projetos assim contribuem para esse aprendizado É importante ter em mente que para pensar soluções para uma realidade devemos tirála da invisibilidade Portanto frases como eu não vejo cor não ajudam O problema não é a cor mas seu uso como justificativa para segregar e oprimir Vejam cores somos diversos e não há nada de errado nisso se vivemos relações raciais é preciso falar sobre negritude e também sobre branquitude QUANDO PUBLIQUEI O que é lugar de fala muitos me perguntaram se pessoas brancas também podem se engajar na luta antirracista Como explico naquele livro todo mundo tem lugar de fala pois todos falamos a partir de um lugar social Portanto é muito importante discutir a branquitude Pessoas brancas não costumam pensar sobre o que significa pertencer a esse grupo pois o debate racial é sempre focado na negritude A ausência ou a baixa incidência de pessoas negras em espaços de poder não costuma causar incômodo ou surpresa em pessoas brancas Para desnaturalizar isso todos devem questionar a ausência de pessoas negras em posições de gerência autores negros em antologias pensadores negros na bibliografia de cursos universitários protagonistas negros no audiovisual E para além disso é preciso pensar em ações que mudem essa realidade Se a população negra é a maioria no país quase 56 o que torna o Brasil a maior nação negra fora da África a ausência de pessoas negras em espaços de poder deveria ser algo chocante Portanto uma pessoa branca deve pensar seu lugar de modo que entenda os privilégios que acompanham a sua cor Isso é importante para que privilégios não sejam naturalizados ou considerados apenas esforço próprio É Perceberse é algo transformador É o que permite situar nossos privilégios e nossas responsabilidades diante de injustiças contra grupos sociais vulneráveis Pessoas brancas por exemplo devem questionar por que em um restaurante muitas vezes as únicas pessoas negras presentes estão servindo mesas ou se já foram consideradas suspeitas pela polícia por causa de sua cor Tratase de refutar a ideia de um sujeito universal a branquitude também é um traço identitário porém marcado por privilégios construídos a partir da opressão de outros grupos Devemos lembrar que este não é um debate individual mas estrutural a posição social do privilégio vem marcada pela violência mesmo que determinado sujeito não seja deliberadamente violento Os homens brancos são maioria nos espaços de poder Esse não é um lugar natural foi construído a partir de processos de escravização Alguém pode perguntar Mas e no caso de homens brancos pobres ou homossexuais que não necessariamente possuem todos os privilégios sociais de homens brancos heterossexuais ricos De fato é sempre importante levar em consideração outras intersecções Porém o debate aqui é sobre uma estrutura de poder que confere privilégio racial a determinado grupo criando mecanismos que perpetuam desigualdades Nesse sentido mulheres brancas são discriminadas por serem mulheres mas privilegiadas estruturalmente por serem brancas O mesmo ocorre com homens brancos homossexuais que são discriminados pela orientação sexual mas racialmente falando fazem parte do grupo hegemônico Isso de forma alguma exclui as opressões que sofrem mas o localizam socialmente no lugar da branquitude O conceito de lugar de fala discute justamente o locus social isto é de que ponto as pessoas partem para pensar e existir no mundo de acordo com as suas experiências em comum É isso que permite avaliar quanto determinado grupo dependendo de seu lugar na sociedade sofre com obstáculos ou é autorizado e favorecido Dessa forma ter consciência da prevalência branca nos espaços de poder permite que as pessoas se responsabilizem e tomem atitudes para combater e transformar o perverso sistema racial que estrutura a sociedade brasileira O racismo é uma problemática branca provoca Grada Kilomba Até serem homogeneizados pelo processo colonial os povos negros existiam como etnias culturas e idiomas diversos isso até serem tratados como o negro Tal categoria foi criada em um processo de discriminação que visava ao tratamento de seres humanos como mercadoria Portanto o racismo foi inventado pela branquitude que como criadora deve se responsabilizar por ele Para além de se entender como privilegiado o branco deve ter atitudes antirracistas Não se trata de se sentir culpado por ser branco a questão é se responsabilizar Diferente da culpa que leva à inércia a responsabilidade leva à ação Dessa forma se o primeiro passo é desnaturalizar o olhar condicionado pelo racismo o segundo é criar espaços sobretudo em lugares que pessoas negras não costumam acessar COMO VIMOS a maioria das pessoas admite haver racismo no Brasil mas quase ninguém se assume como racista Pelo contrário o primeiro impulso de muita gente é recusar enfaticamente a hipótese de ter um comportamento racista Claro que não afinal tenho amigos negros Como eu seria racista se empreguei uma pessoa negra Racista eu que nunca xinguei uma pessoa negra A partir do momento em que se compreende o racismo como um sistema que estrutura a sociedade essas respostas se mostram vazias É impossível não ser racista tendo sido criado numa sociedade racista É algo que está em nós e contra o que devemos lutar sempre É claro que há quem seja abertamente racista e manifeste sua hostilidade contra grupos sociais vulneráveis das mais diferentes formas Mas é preciso notar que o racismo é algo tão presente em nossa sociedade que muitas vezes passa despercebido Um exemplo é a ausência de pessoas negras numa produção cinematográficaaí também está o racismo Ou então quando ao escutar uma piada racista as pessoas riem ou silenciam em vez de repreender quem a fez o silêncio é cúmplice da violência Muitas vezes pessoas brancas não pensam sobre o que é o racismo vivem suas vidas sem que sua cor as faça refletir sobre essa condição Por isso o combate ao racismo é um processo longo e doloroso Como diz a pensadora feminista negra Audre Lorde é necessário matar o opressor que há em nós e isso não é feito apenas se dizendo antirracista é preciso fazer cobranças Amelinha Teles memorável feminista brasileira em seu livro Breve história do feminismo no Brasil afirma que ser feminista é assumir uma postura incômoda Eu diria que ser antirracista também É estar sempre atento às nossas próprias atitudes e disposto a enxergar privilégios Isso significa muitas vezes ser tachado de o chato aquele que não vira o disco Significa entender que a linguagem também é carregada de valores sociais e que por isso é preciso utilizála de maneira crítica deixando de lado expressões racistas como ela é negra mas é bonita que coloca uma preposição adversativa ao elogiar uma pessoa negra como se um adjetivo positivo fosse o contrário de ser negra usar o negão para se referir a homens negros não se usa o brancão para falar de homens brancos ou elogiar alguém dizendo negro de alma branca sem perceber que a frase coloca ser branco como sinônimo de característica positiva É preciso pesquisar ler o que foi produzido sobre o tema por pessoas negras e é bastante coisa No caso de quem tem acesso a bibliotecas e universidades a responsabilidade é redobrada e não deve ser delegada Eu brinco que muitas vezes pessoas brancas nos colocam no lugar de Wikipreta como se nós precisássemos ensinar e dar todas as respostas sobre a questão do racismo no Brasil Essa responsabilidade é também das pessoas brancas e deve ser contínua Conversar em casa com a família e com os filhos e não só manter uma imagem pública com destaque para as redes sociais também é fundamental Algumas atitudes simples podem ajudar as novas gerações como apresentar para as crianças livros com personagens negros que fogem de estereótipos ou garantir que a escola dos seus filhos aplique a Lei n 106392003 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para incluir a obrigatoriedade do ensino da história africana e afrobrasileira Um ensino que valoriza as várias existências e que referencie positivamente a população negra é benéfico para toda a sociedade pois conhecer histórias africanas promove outra construção da subjetividade de pessoas negras além de romper com a visão hierarquizada que pessoas brancas têm da cultura negra saindo do solipsismo branco isto é deixar de apenas ver humanidade entre seus iguais Mais ainda são ações que diminuem as desigualdades Não podemos nos satisfazer com pouco Apesar de termos avançado nas últimas décadas não podemos achar que foi o suficiente Não basta ter um ou dois negros na empresa na TV no museu no ministério na bibliografia do curso Se disserem que ser antirracista é ser o chato tudo bem Precisamos continuar lutando POR CAUSA DO RACISMO ESTRUTURAL a população negra tem menos condições de acesso a uma educação de qualidade Geralmente quem passa em vestibulares concorridos para os principais cursos nas melhores universidades públicas são pessoas que estudaram em escolas particulares de elite falam outros idiomas e fizeram intercâmbio E é justamente o racismo estrutural que facilita o acesso desse grupo Esse debate não é sobre capacidade mas sobre oportunidades e essa é a distinção que os defensores da meritocracia parecem não fazer Um garoto que precisa vender pastel para ajudar na renda da família e outro que passa as tarde em aulas de idiomas e de natação não partem do mesmo ponto Não são muitos os que podem se dar o luxo de cursar uma graduação sem trabalhar ou ganhando apenas uma bolsa de estagiário Eu mesma entrei na Universidade Federal de São Paulo cujo campus de ciências humanas foi criado em 2007 graças a políticas públicas aos 27 anos e com uma filha pequena tendo que fazer malabarismos para conseguir estudar Embora as desigualdades nas oportunidades para negros e brancos ainda sejam enormes políticas públicas mostraram que têm potencial transformador na área O caso das cotas raciais é notável Na época em que o debate sobre ações afirmativas estava acalorado um dos principais argumentos contrários à implementação de cotas raciais nas universidades era as pessoas negras vão roubar a minha vaga Por trás dessa frase está o fato de que pessoas brancas por causa de seu privilégio histórico viam as vagas em universidades públicas como suas por direito A primeira universidade a adotar as cotas raciais no vestibular foi a Universidade do Estado do Rio de Janeiro Uerj em 2003 seguida pela Universidade de Brasília UnB em 2004 As novas políticas públicas universitárias transformaram o perfil dos alunos ingressantes ao contrário do que muita gente afirmava quando essas políticas começaram a ser implementadas o desempenho positivo de alunos cotistas trouxe grandes avanços para o saber do país Pesquisas sobre os resultados dessas políticas logo começaram a surgir como a do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ipea em 2008 na qual se demonstrou que os alunos cotistas de quatro universidades federais tinham desempenho similar ou superior ao dos alunos não cotistas e a da ProcuradoriaGeral do Estado do Rio de Janeiro realizada em parceria com universidades estaduais a qual constatou que no período entre 2003 e 2016 a evasão universitária entre cotistas 26 foi menor se comparada com a de não cotistas 37 além de apontar desempenho similar entre ambos Sobre outras políticas de acesso à educação destacase o estudo de Jacques Wainer professor do Instituto da Computação da Universidade Estadual de Campinas Unicamp e Tatiana Melguizo professora associada da Universidade do Sul da Califórnia que com base na análise dos resultados de mais de 1 milhão de alunos que realizaram o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes Enade entre 2012 e 2014 apontou que não havia diferença entre as notas de beneficiários do programa Prouni e as de outros estudantes Diferente da política de cotas o Prouni é um convênio realizado entre universidades privadas e o governo federal que permite às universidades abaterem impostos ao oferecer bolsas integrais ou de 50 para alunos e alunas do programa seja por raça ou por renda desde que mantenham um desempenho exemplar Muitas vezes casos de pessoas negras que enfrentam grandes dificuldades para obter um diploma ou passar em um concurso público são romantizados Entretanto ainda que seja bastante admirável que pessoas consigam superar grandes obstáculos naturalizar essas violências e usálas como exemplos que justifiquem estruturas desiguais é não só cruel como também uma inversão de valores Não deveria ser normal que para conquistar um diploma uma pessoa precise caminhar quinze quilômetros para chegar à escola estude com material didático achado no lixo ou que tenha que abrir mão de almoçar para pagar um transporte A cultura do mérito aliada a uma política que desvaloriza a educação pública é capaz de produzir catástrofes Hoje em vez de combater a violência estrutural na academia a orientação de muitos chefes do Executivo brasileiro é uniformizar as desigualdades cortando políticas públicas universitárias como bolsas de estudo e cotas raciais e sociais Informese sobre as políticas públicas de combate à desigualdade racial e pela promoção da diversidade Apoie e prestigie institutos de pesquisa e de desenvolvimento de políticas Apoie candidatos que defendem políticas públicas efetivas e transformadoras A lei de cotas para universidades federais promulgada em 2012 representou uma grande vitória Uma pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior Andifes com base em dados de 2018 mostrou que nessas instituições a maioria dos estudantes é negra 512 647 cursaram o ensino médio em escolas públicas e 702 vêm de famílias com renda mensal per capita de até um salário mínimo e meio Infelizmente o mercado de trabalho ainda não reflete essa mudança HISTORICAMENTE A BRANQUITUDE desenvolveu métodos de manutenção do que seria politicamente correto em relação à pauta racial e à reserva de espaço para o negro único o que é certamente uma de suas estratégias mais clássicas Argumentase da seguinte forma Veja só não somos racistas temos o Fulano que é negro trabalhando em tal departamento e inclusive ele adora trabalhar aqui não é mesmo Fulano E o Fulano talvez para manter seu emprego talvez por que aprendeu a reproduzir o discurso da empresa concorda No entanto pessoas negras não são todas iguais e Fulano por melhor que seja não pode representar todos os negros Dessa forma é preciso romper com a estratégia do negro único não basta ter uma pessoa negra para considerar que determinado espaço de poder foi dedetizado contra o racismo A herança escravista faz com que o mundo do trabalho seja particularmente racista o que também o torna um dos espaços em que a luta antirracista pode ser mais transformadora A primeira etapa para isso é sempre questionar o status quo essa é a melhor maneira de não reproduzir as variadas formas de racismo nos ambientes de trabalho Se você tem ou trabalha numa empresa algumas questões que você deve colocar são Qual a proporção de pessoas negras e brancas em sua empresa E como fica essa proporção no caso dos cargos mais altos Como a questão racial é tratada durante a contratação de pessoal Ou ela simplesmente não é tratada porque esse processo deve ser daltônico Há na sua empresa algum comitê de diversidade ou um projeto para melhorar esses números Há espaço para um humor hostil a grupos vulneráveis Perguntas desse tipo podem servir de guia para uma reavaliação do racismo nos ambientes de trabalho Como diz a pesquisadora Joice Berth a questão para além de representatividade é de proporcionalidade Para começar pensemos nos processos de contratação Se uma empresa está focada em quem cursou universidades de elite ou tem inglês fluente isso pode significar que apenas pessoas privilegiadas poderão enviar seus currículos pois sabemos que no Brasil estudar outro idioma ou fazer um intercâmbio não é acessível para todo mundo Somente uma parcela privilegiada da sociedade tem acesso a isso Além do mais o pacto narcísico da branquitude expressão desenvolvida por Cida Bento em sua tese de doutorado usada para definir como pessoas brancas anuem entre si para a manutenção de privilégios colabora com a exclusão de outros grupos nas indicações de trabalho Uma pesquisa do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades Ceert organização indispensável para a luta antirracista criada por Cida Bento em 1990 em parceria com a Aliança Jurídica pela Equidade Racial apontou que pessoas negras não somam 1 entre advogados e sócios de escritórios de advocacia Entre estagiários não chega a 10 O estudo de 2019 ouviu 3624 pessoas em nove das maiores bancas de São Paulo e demonstra como os números refletem a necessidade de discutir desigualdades oportunidades e diversidade no mercado de trabalho Se quisermos pensar essa questão pelo viés econômico vale lembrar que uma equipe diversificada aumenta seu potencial produtivo segundo estudiosos do tema como Reinaldo Bulgarelli um ambiente diverso estimula a criatividade A baixa presença de pessoas negras no ambiente de trabalho ou mesmo distantes de cargos de gerência pode deixar o espaço altamente suscetível a violências racistas Em um caso recente por exemplo a filial brasileira de uma empresa norteamericana de software promoveu um baile à fantasia como celebração de final de ano oferecendo uma premiação para a melhor fantasia no valor de 3 mil reais Um funcionário certo de que seria engraçado optou pela representação racista de um homem negro sexualizado com um órgão genital grande uma imagem que circulava na época entre grupos de WhatsApp A foto de sua fantasia que ficou em quarto lugar no concurso chegou à sede norteamericana que demitiu o empregado O gerente da área em que ele trabalhava disse que a demissão havia sido exagerada o que o fez ser demitido também Então o presidente da filial brasileira defendeu os dois dizendo se tratar de uma grande brincadeira Resultado também foi demitido O que é notável nesse episódio é como o caso foi conduzido e a grande repercussão mas a agressão propriamente dita é infelizmente apenas uma variante das muitas formas de violência a que pessoas negras são expostas ainda hoje nos ambientes de trabalho A experiência internacional é rica em exemplos que podem servir de inspiração Na Noruega todas as empresas nacionais destinam 40 dos assentos em conselhos de administração para mulheres A proposta veio de um parlamentar do Partido Conservador com o argumento Se a gente não pensasse em políticas de reparação e equidade só contrataria os homens com os quais a gente joga golfe no domingo De fato se só convivemos com pessoas de um determinado grupo ou classe social acreditamos que só aquelas pessoas possuem capacidade para determinados cargos relegando outros grupos a lugares predeterminados como se não fossem sujeitos capazes O que esse político norueguês coloca é a importância de questionarem desigualdades Devemos nos perguntar quantos talentos o Brasil perde todos os dias por causa do racismo A situação é ainda mais grave para mulheres negras que são muitas vezes destinadas ao subemprego quantas físicas biólogas juízas sociólogas etc estamos perdendo Políticas que obrigam as empresas a pensar e criar ações antirracistas poderiam reverter esse quadro No Brasil a Lei de Cotas para o Serviço Público Federal visa diminuir desigualdades Declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal em 2017 ficou estipulado que a desequiparação promovida pela política de ação afirmativa em questão está em consonância com o princípio da isonomia Ela se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira e garantir a igualdade material entre os cidadãos por meio da distribuição mais equitativa de bens sociais e da promoção do reconhecimento da população afrodescendente8 O racismo assume diversas dimensões num ambiente de trabalho o que demanda análise constante das práticas corporativas Por causa disso diversas empresas têm buscado consultorias especializadas para rever sua política de diversidade preocupadas em se atualizar em relação aos novos marcos civilizatórios Isso é resultado do trabalho de organizações negras como o Ceert que lutam há décadas para introduzirem essas questões urgentes no mercado de trabalho Há dezenas de consultorias de diversidade atuando nas várias regiões do Brasil Procure conhecer mais sobre elas informese sobre o trabalho do Ceert introduza o tema na empresa em que trabalha assim você contribui com um ambiente mais diverso democrático e produtivo MESMO VENCENDO todos os obstáculos que acompanham a pele não branca e ingressando na pós graduação o estudante encontrará outro desafio o epistemicídio isto é o apagamento sistemático de produções e saberes produzidos por grupos oprimidos A renomada feminista negra Sueli Carneiro traduziu epistemicídio conceito originalmente proposto pelo sociólogo português Boaventura Sousa Santos em sua tese de doutorado da seguinte forma Aliase nesse processo de banimento social a exclusão das oportunidades educacionais o principal ativo para a mobilidade social no país Nessa dinâmica o aparelho educacional tem se constituído de forma quase absoluta para os racialmente inferiorizados como fonte de múltiplos processos de aniquilamento da capacidade cognitiva e da confiança intelectual É fenômeno que ocorre pelo rebaixamento da autoestima que o racismo e a discriminação provocam no cotidiano escolar pela negação aos negros da condição de sujeitos de conhecimento por meio da desvalorização negação ou ocultamento das contribuições do continente africano e da diáspora africana ao patrimônio cultural da humanidade pela imposição do embranquecimento cultural e pela produção do fracasso e evasão escolar A esse processo denominamos epistemicídio 9 Os sinais de apagamento da produção negra são evidentes É raro que as bibliografias dos cursos indiquem mulheres ou pessoas negras mais raro ainda é que indiquem a produção de mulheres negras cuja presença no debate universitário e intelectual é extremamente apagada Durante os quatro anos de minha graduação em filosofia não me sugeriram a leitura de nenhuma autora branca que dirá negra A gravidade disso está exemplificada por Abdias do Nascimento em O genocídio do negro brasileiro no qual afirma que genocídio é toda forma de aniquilação de um povo seja moral cultural ou epistemológica Por nossa posição no arranjo geopolítico global a produção de intelectuais negras brasileiras tende a ser muito menos difundida do que a de países como os Estados Unidos causando atraso em debates que poderiam estar muito mais avançados Um belo exemplo de feminista negra brasileira é Lélia Gonzalez atuante nas décadas de 1970 e 1980 e professora do curso de sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro que encantou plateias com o poder transformador de suas palavras As propostas de Lélia para pensar a amefricanidade propondo um feminismo afrolatinoamericano se perpetuam até hoje ao se propor uma luta transnacional O apagamento da produção e dos saberes negros e anticoloniais contribui significativamente para a pobreza do debate público seja na academia na mídia ou em palanques políticos Se somos a maioria da população nossas elaborações devem ser lidas debatidas e citadas A importância de estudar autores negros não se baseia numa visão essencialista ou seja na crença de que devem ser lidos apenas por serem negros A questão é que é irrealista que numa sociedade como a nossa de maioria negra somente um grupo domine a formulação do saber É possível acreditar que pessoas negras não elaborem o É mundo É sobre isso que a escritora Chimamanda Ngozi Adichie alerta ao falar do perigo da história única O privilégio social resulta no privilégio epistêmico que deve ser confrontado para que a história não seja contada apenas pelo ponto de vista do poder É danoso que numa sociedade as pessoas não conheçam a história dos povos que a construíram Para escrever este pequeno manual me inspirei em textos e livros de diversos autores e intelectuais negros que cito com reverênciaas obras mencionadas estão nas referências bibliográficas ao final deste livro Leia Abdias do Nascimento Adilson Moreira Alessandra Devulsky Angela Davis Audre Lorde bell hooks Carla Akotirene Chimamanda Ngozi Adichie Cida Bento Conceição Evaristo Elisa Lucinda Grada Kilomba Joel Zito Araújo Joice Berth Juliana Borges Kabengele Munanga Lélia Gonzalez Letícia Carolina Pereira do Nascimento Luciana Boiteux Michelle Alexander Neusa Santos Sousa Rodney William Eugênio Silvio Almeida Sueli Carneiro Há tantos outros Clóvis Moura Fernanda Felisberto Nilma Lino Gomes impossível citar todos E muitos mais que não conheço ainda As construções sobre raça se dão de forma singular e complexa nas diferentes regiões do país Por isso precisamos conhecer a produção de mulheres negras de fora das grandes metrópoles como Nilma Bentes Zélia Amador e Marcela Bonfim e ampliar as nossas visões de mundo Procure conhecer o trabalho realizado por núcleos de estudos afrobrasileiros em universidades valorize editoras que publicam produções intelectuais negras e apoie iniciativas que têm como objetivo a visibilidade de pensamentos decoloniais Precisamos ir além do que já conhecemos TODA VEZ QUE VOU dar uma palestra pode ser sobre racismo diversidade ou o pensamento de Simone de Beauvoir alguém me pergunta sobre apropriação cultural mais precisamente sobre o uso de turbantes por pessoas não negras Alguns anos atrás houve uma polêmica nas redes sociais em que uma moça branca afirmava que um grupo de mulheres negras teria arrancado o turbante dela à força Há quem não acredite que a situação tenha se dado assim porém como a história viralizou nas redes sociais é comum que as pessoas tenham dúvidas sobre esse tema Em primeiro lugar é importante dizer que o debate sobre apropriação cultural não deve ser reduzido a poder ou não usar turbante A discussão pertinente é aquela que denuncia o quanto culturas negras e indígenas foram expropriadas e apropriadas historicamente Nos processos de colonização a visão de cultura do colonizador foi imposta enquanto bens culturais eram saqueados Um exemplo disso são as coleções dos principais museus da Europa onde hoje se encontram objetos de diferentes países africanos asiáticos e americanos peças que com certeza devem significar muito para essas culturas A questão crucial desse debate é que o interesse pela cultura de certos povos não caminha lado a lado com o desejo de restituir a humanidade de grupos oprimidos Assim muitas pessoas que consomem cultura negra não se preocupam com as mazelas que a população negra vive no país Ou ainda não se importam com o embranquecimento dessas culturas Como bem explica o antropólogo Rodney William apropriação cultural não diz respeito ao que pode ou não ser usado Não é sobre branco não poder usar turbante cantar samba ou jogar capoeira A questão da apropriação cultural é sobre uma estrutura de poder Há um poder instituído na sociedade desde a colonização que delega aos dominantes o direito de definir quem é inferior nessa estrutura e como se pode dispor de suas produções culturais e até de seus corpos10 Outro ponto importante é perceber em que medida um elemento cultural foi esvaziado de sentido Portanto é fundamental debater o papel do capitalismo na perpetuação do racismo Por exemplo uma marca de luxo pode fazer uma coleção de moda inspirada em elementos da cultura negra porém só contratar modelos brancas para o desfile essas peças chegam ao consumidor já destituídas de sentido O debate dessa forma precisa ser estrutural não individual É importante que se tenha uma preocupação real em não desrespeitar os símbolos de outras culturas Para isso devese nutrir empatia pelos diversos grupos existentes na sociedade um processo intelectual que é construído ao longo do tempo e exige comprometimento quando eu conheço uma cultura eu a respeito Então é essencial estudar escutar e se informar O debate sobre racismo se mostra urgente quando falamos de mídia e de acesso a recursos para produções audiovisuais No documentário A negação do Brasil o diretor Joel Zito Araújo analisa a influência das telenovelas no imaginário coletivo nacional enquanto faz uma denúncia contra o racismo televisivo e o papel estereotipado destinado a atores negros e atrizes negras Remontando ao exemplo de black face isto é quando personagens negros são representados por atores brancos com o rosto pintado ocorrido na novela A A cabana do Pai Tomás de 1969 na qual o ator Sérgio Cardoso se pintou de preto para interpretar o papel do protagonista o escravizado Tomás o cineasta apresenta um panorama do racismo na teledramaturgia brasileira Na novela A escrava Isaura por exemplo uma adaptação de Gilberto Braga do romance homônimo de Bernardo Guimarães 1875 apesar de no livro a personagemtítulo ser uma mulher negra a atriz que a interpretou foi Lucélia Santos uma mulher branca O diretor apresenta muitos casos de racismo e critica o lugar subalterno a que personagens negros são relegados para além da reivindicação justa por representatividade também se deve questionar o modo como estamos sendo retratados Muitas vezes atores negros são contratados para atuarem como bandido ou bêbado no caso dos homens ou como empregada doméstica ou a gostosa no caso das mulheres O professor de direito antidiscriminatório Adilson Moreira identificou os elementos do que ele chama de racismo recreativo um mecanismo que encobre a hostilidade racial por meio do humor No livro que escreveu sobre o tema Moreira nomeia alguns estereótipos Tião Macalé o feio Mussum o bêbado Vera Verão a bicha preta O primeiro exemplo Tião Macalé foi um personagem do conhecido programa humorístico Os Trapalhões interpretado pelo ator negro Augusto Temístocles da Silva Costa Macalé era retratado sem a maioria dos dentes pois a feiura do personagem seria responsável pelo efeito cômico segundo Moreira Mais recentemente Adelaide personagem do programa Zorra Total interpretado pelo ator Rodrigo SantAnna seguia o mesmo modelo cômico de Macalé O ator se caracterizava de mulher pintava a pele de preto e colocava uma prótese que dava a impressão de que Adelaide não possuía alguns dentes da frente Caracterizado como a negra pobre desdentada o bordão cômico da personagem era a cara da riqueza Já Mussum um dos personagens mais populares da TV nas décadas de 1980 e 1990 interpretado pelo ator Antônio Carlos Bernardes Gomes era o estereótipo do bêbado Um dos elementos cômicos do programa Os Trapalhões era direcionar piadas racistas ao personagem Segundo Moreira o efeito cômico de Mussum era um exemplo do tipo de humor que visa provar uma suposta superioridade do homem branco em relação ao homem negro uma vez que os personagens brancos eram representados de forma sóbria Por fim Vera Verão personagem interpretado pelo ator Jorge Luís Sousa Lima era o estereótipo do homossexual negro promíscuo que tentava seduzir homens de maneira direta porém sempre sendo rejeitado Já Sueli Carneiro ao escrever sobre Terra Nostra novela dos anos 19992000 de muito sucesso responde aos elogios de que a novela estaria contribuindo para a autoestima da comunidade italiana No artigo Terra Nostra só para os italianos Sueli relembra alguns dos diálogos Assistimos ao menino Tiziu reclamar de sua sorte ingrata com a seguinte frase Deus não quis me embranquecer Imagine o impacto dessas frases na autoestima da comunidade negra especialmente sobre as crianças negras Em outra passagem Sueli relembra O barão do café pondera com seu contratador sobre a impossibilidade de abrigar os italianos nas senzalas desertas pela abolição Diz ele São brancos Trazem no coração o espírito da liberdade Não vão aceitar essa história de senzala Então Sueli conclui Considerando que os personagens negros não têm relevância na trama a sua presença e a imagem negativa que veiculam prestamse unicamente a ratificar a suposta superioridade do branco11 As frases destacadas por Sueli Carneiro refletem a história da população negra no Brasil que após séculos de escravização viram imigrantes europeus receberem incentivos do Estado brasileiro inclusive com terras enquanto a negritude formalmente liberta pela Lei Áurea era deixada à margem Os incentivos para imigrantes fizeram parte de uma política oficial de branqueamento da população do país com base na crença do racismo biológico de que negros representariam o atraso Essa perspectiva marcou a história brasileira valorizando culturas europeias em detrimento da cultura negra segregando a população negra de diversas formas inclusive por leis e pela esterilização forçada de mulheres negras prática que o Estado brasileiro manteve até um passado recente como comprovado pela CPI da Esterilização de 1992 proposta pela deputada federal Benedita da Silva e resultado da pressão feita por feministas negras nos anos 1980 Esses são alguns exemplos de estereótipos que confinam atores negros e atrizes negras resultando em poucas opções de personagens que não sejam marcados por essas violências simbólicas Enquanto atores brancos e atrizes brancas recebem amplas oportunidades de representação na indústria audiovisual negros e negras ainda lutam para que suas atuações não firam a humanidade de pessoas negras Do mesmo modo ainda são poucos os cineastas roteiristas e produtores negros as opções ficam limitadas como resultado do racismo estrutural Nas redações de jornais não é diferente Segundo o Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa Gemaa núcleo de pesquisas sediado na Uerj nem 10 dos colunistas dos grandes jornais são negros No meu caso quando comecei a escrever na CartaCapital comentando filmes livros ou textos de outras pessoas mais de uma vez alguém ligou furioso na redação dizendo que eu não havia entendido o que quiseram dizer Eu achava curioso pois era como se a crítica de uma pessoa negra ao trabalho de uma pessoa branca rompesse com o pacto narcísico O racismo conhece o potencial transformador da potente voz de grupos historicamente silenciados Quando assistir a um filme ou a uma novela procure refletir sobre a presença ou a ausência de atores e atrizes negros Quantas pessoas negras estão atuando Que personagens interpretam O mesmo vale para qualquer produto cultural quando for a uma exposição de arte a uma festa literária a um debate sobre poesia quando ler um livro ou folhear uma revista E para você que pode contratar profissionais da cultura ou investir em projetos culturais reflita quem você escolhe para a equipe e quais temas estão sendo tratados Você está fazendo o que pode para contribuir para a luta antirracista AS MULHERES NEGRAS são ultrassexualizadas desde o período colonial No imaginário coletivo brasileiro propagase a imagem de que são lascivas fáceis e naturalmente sensuais Essa ideia serve inclusive para justificar abusos mulheres negras são as maiores vítimas de violência sexual no país Obviamente a questão não é sobre a sensualidade de determinada mulher mas sim sobre necessidade de enquadrar mulheres negras nesse estereótipo É importante refutar a visão colonial que via os corpos negros como violáveis Respeito muito o importante trabalho de passistas de escola de samba por exemplo que lutam para perpetuar o verdadeiro legado do samba O nu só deveria ser problematizado quando utilizado dentro da lógica colonial Quando Gilberto Freyre em Casagrande senzala faz afirmações como O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhômoço12 ele contribui para a fetichização As mulheres negras escravizadas eram tratadas como mercadoria propriedade portanto não tinham escolha Nesse contexto não há como negar que elas eram estupradas pelos senhores de engenho Ao afirmar que nós carregamos a marca Luiza Bairros exemplifica bem a ultrassexualização dos corpos negros femininos que faz com que a imagem das mulheres negras seja vista sob o prisma da exotização Luiza denunciou de forma obstinada a violência mascarada pelo mito da democracia racial Ou pior que mascarada a marca em vez de ser problematizada é vista como um elogio da beleza negra Essa sexualização retira a humanidade das mulheres pois deixamos de ser vistas com toda a complexidade do ser humano Somos muitas vezes importunadas tocadas invadidas sem a nossa permissão Muitas vezes temos nossos nomes ignorados sendo chamadas de nega São atitudes que parecem inofensivas mas que para mulheres negras são recorrentes e violentas O racismo somado ao machismo já me fez passar por situações absurdas Enquanto eu cursava filosofia um colega metido a engraçado perguntou Por que você uma negra bonita está queimando seus neurônios estudando filosofia Outro me questionou por que eu não arrumava um gringo rico pra casar Na cabeça deles por eu ser uma negra bonita meu lugar não era na universidade A poeta e escritora Elisa Lucinda tem uma frase forte mas muito pertinente Deixar de ser racista não é comer uma mulata A autora chama atenção para o fato de que se relacionar com uma pessoa negra não significa ter uma consciência antirracista Primeiro porque é necessário entender como essa relação se dá Se ela segue signos racistas como a ideia de que mulheres negras são quentes e naturalmente sensuais ou ainda se a pessoa só procura pessoas negras para relações casuais e não para um compromisso duradouro a relação é pautada pelo racismo Recentemente o tema da solidão da mulher negra se tornou objeto de pesquisas acadêmicas Em sua dissertação de mestrado posteriormente publicada em livro com o título Virou regra Claudete Alves discute como o racismo é um fenômeno que abarca a dimensão afetiva e sexual da mulher negra que fica à margem das escolhas afetivas de homens brancos e negros Ana Cláudia Lemos Pacheco aborda o mesmo assunto em sua tese de doutorado Branca para casar mulata para f negra para trabalhar Escolhas afetivas e significados de solidão entre mulheres negras em Salvador Numa sociedade racista machista e heteronormativa as mulheres negras ficaram relegadas ao papel de servir seja na cozinha seja na cama Dados do Censo 2010 mostram que as mulheres negras são as que menos se casam e entre as com mais de cinquenta anos elas são maioria na categoria celibato definitivo ou seja que nunca viveram com um cônjuge13 Obviamente não pretendo sugerir com quem as pessoas devem se relacionar A questão é revelar os processos históricos que fazem com que as mulheres negras sobretudo as retintas sejam sistematicamente preteridas como se não fossem dignas de serem amadas É preciso questionar padrões estéticos que desumanizam as mulheres negras Em seu ensaio Vivendo de amor bell hooks ressalta a importância do amor na vida das mulheres negras sobretudo o amorpróprio Quando nos amamos sabemos que é preciso ir além da sobrevivência ela afirma Esse é um entendimento fundamental para que mulheres negras possam perceber que merecem amor em suas vidas Em outra esfera há a relação de afeto por conveniência que ocorre por exemplo com a trabalhadora doméstica Apesar do avanço da legislação nos anos 2000 muitas vezes essa profissional não tem seus direitos assegurados nem condições dignas de trabalho já que segundo seus patrões ela é quase da família É mais fácil amar pessoas negras quando elas estão no seu devido lugar Minha mãe foi empregada doméstica por alguns anos antes de conhecer meu pai Quando anunciou que se casaria e que a partir daquele momento não trabalharia mais sua antiga patroa tentou fazêla desistir do relacionamento inclusive inventando histórias sobre o futuro marido Portanto minha mãe só podia ser amada enquanto permanecesse no lugar que julgavam ser o dela Em relacionamentos interraciais muitas vezes as pessoas de fora dizem esperar que o filho do casal carregue traços mais parecidos com o genitor de pele branca No entanto atribuir uma qualidade negativa ao fenótipo negro falando coisas como cabelo ruim diz muito sobre os padrões de beleza racistas impostos em nossa sociedade Como a norma é branca tudo que difere é visto como o que não é bom Dessa forma é fundamental que pessoas brancas compreendam os mecanismos pelos quais o racismo opera pois podem reproduzilos acreditando estarem imunes por terem um marido uma esposa ou um filho negros Estar atento ao que a pessoa negra da família relata é um passo importante Falase muito em empatia em colocarse no lugar do outro mas empatia é uma construção intelectual ética e política Ao amar alguém de um grupo minorizado devese entender a condição do outro para que se possa de fato assumir ações para o combate de opressões das quais a pessoa amada é vítima É uma postura ética questionar as próprias ações em vez de utilizar a pessoa amada como escudo A escuta portanto é fundamental ENTRE 2007 E 2018 553 mil pessoas foram assassinadas no Brasil O total de mortos é maior do que o da Síria país que enfrenta há sete anos uma guerra civil e que segundo estimativa da Organização das Nações Unidas ONU contabiliza 500 mil mortos Portanto não surpreende que o tema da segurança pública tenha ganhado tanta importância nas últimas eleições Mas é preciso lembrar que a vítima preferencial tem pele negra O Atlas da Violência de 2018 realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que a população negra está mais exposta à violência no Brasil Os negros representam 558 da população brasileira e são 715 das pessoas assassinadas Entre 2006 e 2016 a taxa de homicídios de indivíduos não negros brancos amarelos e indígenas diminuiu 68 enquanto no mesmo período a taxa de homicídios da população negra aumentou 231 Segundo dados da Anistia Internacional a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil o que evidencia que está em curso o genocídio da população negra sobretudo jovens Infelizmente o assunto só ganha destaque no debate público quando um caso muito violento chega aos noticiários como o brutal assassinato de Evaldo dos Santos por agentes do Exército no Rio de Janeiro No dia 7 de abril de 2019 o carro em que Evaldo e sua família estavam foi alvejado por militares Inicialmente divulgouse que foram disparados 83 tiros mas o total chegou a 25714 Na época muitas pessoas se manifestaram diante desse absurdo O que muitas dessas pessoas talvez ignorem é que esse não foi um caso isolado ele integra uma política de segurança pública voltada para a repressão e o extermínio de pessoas negras sobretudo homens Na maior parte das vezes o Judiciário é uma extensão da viatura policial não se exige uma investigação detalhada nem se admite o contraditório para quem é acusado pela seletividade do sistema No entanto mesmo com tantos casos comprovados de abuso policial que resultam em prisões descuidadas e injustas a naturalização dessa violência levou o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a ter como súmula isto é uma decisão que de tantas vezes proferida se torna um entendimento cristalizado admitir como elemento suficiente para a condenação apenas a palavra dos policiais que efetuaram a prisão A conhecida súmula 80 reflete um entendimento comum a todos os tribunais do país Segundo um estudo da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas Senad do Ministério da Justiça entre março de 2016 e janeiro de 2018 os policiais foram as únicas testemunhas em 7114 dos processos envolvendo tráfico Não se trata aqui de dizer que nenhum policial é digno de crédito porém um julgamento não pode se pautar única e exclusivamente pela palavra de quem prendeu pois se corre o risco de tornar o policial juiz e carrasco do caso Historicamente o sistema penal foi utilizado para promover um controle social marginalizando grupos considerados indesejados por quem podia definir o que é crime e quem é o criminoso No Brasil foram várias as legislações que visavam criminalizar a população negra como a Lei de Vadiagem de 1941 que perseguia quem estivesse na rua sem uma ocupação clara justamente numa época de alta taxa de desemprego entre homens negros Hoje a chamada guerra às drogas serve como pretexto para uma guerra contra a população negra O tema se tornou ainda mais urgente após a Lei n 11343 de 2006 que estabeleceu uma diferenciação subjetiva entre traficante e usuário O que teoricamente parecia ser um avanço na verdade contribuiu para a explosão da população carcerária isso porque quem define quem é traficante e quem é usuário é o juiz o que é feito muitas vezes com base na discriminação racial Em 2015 um homem negro teve sua condenação a quatro anos e onze meses de prisão pelo tráfico de 002 grama de maconha mantida pelo Superior Tribunal de Justiça Ele já havia sido julgado por um juiz de primeira instância e pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais O exemplo é ilustrativo da produção em massa de uma população carcerária condenada por quantidades muito pequenas de substâncias ilícitas estão presos na verdade por sua cor O critério subjetivo acentua a já profunda discriminação racial Para comparação não há violência policial em ambientes ricos como festas universitárias mesmo sabendose do uso de drogas nesses lugares como ocorre nas periferias Há portanto um contexto de criminalização da pobreza Sabemos que hoje dois em cada três presos no Brasil são negros Sabemos também que o tráfico lidera as tipificações para o encarceramento 26 dos homens estão presos por tráfico chegando a 62 no caso das mulheres Também vale destacar que em quinze anos a prisão de mulheres aumentou 5674 Segundo o relatório MulhereSemPrisão Enfrentando a invisibilidade das mulheres submetidas à justiça criminal desenvolvido pelo Instituto Terra Trabalho e Cidadania ITTC 68 das encarceradas são negras a maioria é mãe não possui antecedentes criminais e tem dificuldade de acesso a empregos formais Como afirma Carla Akotirene em sua dissertação de mestrado Ó pa í prezada Racismo e sexismo institucionais tomando bonde no Conjunto Penal Feminino de Salvador a prisão precisa ser analisada na contemporaneidade sobre alicerces interseccionais de raça classe e gênero Akotirene identifica na perspectiva das mulheres um aspecto de sexismo e racismo institucionais em concordância com a inclinação observada da polícia em ser arbitrária com o segmento negro sem o menor constrangimento de punir os comportamentos das mulheres de camadas sociais estigmatizados como sendo de caráter perigoso inadequado e passível de punição15 Ainda segundo o relatório MulhereSemPrisão o Poder Judiciário brasileiro prende essas mulheres sem oferecer medidas alternativas A feminista e militante antiproibicionista e antipunitivista Juliana Borges tomando como base o trabalho da pesquisadora e advogada Luciana Boiteux denuncia violações de direitos humanos contra essas mulheres No caso das mulheres é muito comum o relato de buscas e apreensões invasões sem mandado de busca em seus domicílios tortura e humilhação para obter informações que sequer elas têm conhecimento relatos de prisão pela proximidade com algum familiar envolvido com o tráfico prisões quando transportando pequenas quantidades sendo que muitas são intimidadas a fazer isso A imensa maioria dessas mulheres é ré primária ou seja jamais teve passagem pelos registros policiais16 Como diz a advogada estadunidense Michelle Alexander A confusão da negritude com o crime não ocorreu naturalmente Ela foi construída pelas elites políticas e midiáticas como parte de um amplo projeto conhecido como Guerra às Drogas Essa confusão serviu para fornecer uma porta de saída legítima para a expressão do ressentimento e do animus antinegros uma válvula de escape conveniente agora que as formas explícitas de preconceito racial estão estritamente condenadas Na era da neutralidade racial já não é permitido odiar negros mas podemos odiar criminosos Na verdade nós somos encorajados a fazer isso 17 Há vários textos para se aprofundar no debate sobre segurança pública política de drogas e antipunitivismo O tema é complexo porém é essencial para entender a realidade do país especialmente quando temos elementos que indicam que está ocorrendo um genocídio da população negra Numa sociedade violenta como a nossa é natural sentirmos medo Em especial dessa violência generalizada que o próprio Estado promovee por isso devemos denunciar a violência policial Porém é muito triste constatar que por outro lado o Brasil é o país onde mais morrem policiais A maioria deles vem da classe trabalhadora muitas vezes dos mesmos lugares onde jovens negros estão sendo assassinados Se a polícia é o braço armado do Estado opressor é também um dos lados que cai com essa guerra Como já afirmou a socióloga Denise Ferreira da Silva o assassinato dos jovens negros deveria criar uma crise ética na sociedade brasileira18 No entanto não há revolta com tanto sangue derramado enquanto há enorme comoção na mídia quando a violência tira a vida de uma pessoa branca Devemos nos perguntar por que não se dá o mesmo valor a essas vidas Nos Estados Unidos após a absolvição do policial George Zimmerman que matou a tiros o adolescente negro Trayvon Martin surgiu o importante movimento Black Lives Matter Vidas negras importam Em 2014 o grupo ficou conhecido nacionalmente depois das manifestações contra os assassinatos dos jovens Michael Brown em Ferguson e Eric Garner em Nova York Desde então o movimento vem fazendo um trabalho de denúncia da violência policial questionando políticos e incitando o debate público No Brasil existem vários movimentos e organizações engajadas em questionar o modelo punitivista e em combater abusos por parte do Estado como a Iniciativa Negra a Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio o projeto Movimentos o Instituto de Defesa do Direito de Defesa IDDD o Fórum Brasileiro de Segurança Pública entre outros Há várias maneiras de apoiar o trabalho dessas pessoas quer seja financeiramente divulgando as iniciativas ou comparecendo a eventos e manifestações PERCEBERSE CRITICAMENTE implica uma série de desafios para quem passa a vida sem questionar o sistema de opressão racial A capacidade desse sistema de passar despercebido mesmo estando em todos os lugares é intrínseca a ele Acordar para os privilégios que certos grupos sociais têm e praticar pequenos exercícios de percepção pode transformar situações de violência que antes do processo de conscientização não seriam questionadas Este pequeno manual serve assim como um guia para adentrar debates complexos e com desdobramentos diversos Esta leitura pretende refletir na tomada de atitudes antirracistas sobretudo para quem busca uma postura ética em sua existência Claro que há diferentes modos de percepção dos temas aqui tratados Assim como ocorre com o movimento feminista o movimento negro não é homogêneo e tem profundas discordâncias internas portanto este manual está longe de querer esgotar qualquer assunto Pessoas brancas devem se responsabilizar criticamente pelo sistema de opressão que as privilegia historicamente produzindo desigualdades e pessoas negras podem se conscientizar dos processos históricos para não os reproduzir Este livro é uma pequena contribuição para estimular o autoconhecimento e a construção de práticas antirracistas ADICHIE Chimamanda Ngozi O perigo de uma história única São Paulo Companhia das Letras 2019 ALEXANDER Michelle A nova segregação Racismo e encarceramento em massa São Paulo Boitempo 2018 ALMEIDA Nizan Pereira A construção da invisibilidade e da exclusão da população negra nas práticas e políticas educacionais no Brasil Tese de doutorado em educação Curitiba Universidade Federal do Paraná 2014 ALMEIDA Silvio Racismo estrutural São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais ALVES Claudete Virou regra São Paulo Scortecci 2011 ANDIFES e FONAPRACE V Pesquisa do perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação 2019 Acesso em 23 ago 2019 BASTIDE Roger FERNANDES Florestan Brancos e negros em São Paulo 2 ed São Paulo Companhia Editora Nacional 1959 BEAUVOIR Simone de O segundo sexo Rio de Janeiro Nova Fronteira 2009 BENJAMIN Walter Teses sobre o conceito de história In Obras escolhidas Trad de Sergio Paulo Rouanet São Paulo Brasiliense 1996 v 1 Magia e técnica arte e política pp 22232 BENTO Maria Aparecida da Silva Pactos narcísicos no racismo Branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público Tese de doutorado em psicologia Universidade de São Paulo 2002 BERTH Joice O que é empoderamento São Paulo Pólen 2018 Coleção Feminismos Plurais BORGES Juliana Encarceramento em massa São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais BULGARELLI Reinaldo Diversos somos todos Valorização promoção e gestão da diversidade nas organizações São Paulo Editora de Cultura 2008 CARNEIRO Sueli A construção do outro como nãoser como fundamento do ser Tese de doutorado em educação Universidade de São Paulo 2005 Escritos de uma vida Belo Horizonte Letramento 2018 CEERT Negros representam menos de 1 do corpo jurídico de grandes escritórios 21 mar 2019 Acesso em 23 ago 2019 COLLINS Patricia Hill Pensamento feminista negro São Paulo Boitempo 2019 DAVIS Angela Mulheres raça e classe São Paulo Boitempo 2016 DEFENSORIA Pública do Estado do Rio de Janeiro Relatório final pesquisa sobre as sentenças judiciais por tráfico de drogas na cidade e região metropolitana do Rio de Janeiro Acesso em 19 set 2019 FREYRE Gilberto Casagrande senzala São Paulo Global 2003 GONZALEZ Lélia Racismo e sexismo na cultura brasileira In KEMPER Anna Katrin Coord Psicanálise e política Rio de Janeiro Clínica Social de Psicanálise 1981 pp 15580 A categoria políticocultural de amefricanidade Tempo Brasileiro Rio de Janeiro n 923 pp 6982 1988 HOOKS bell Vivendo de amor In WERNECK Jurema MENDONÇA Maisa WHITE Evelyn C Orgs O livro da saúde das mulheres negras Nossos passos vêm de longe Rio de Janeiro Pallas Criola 2000 pp 18493 INSTITUTO Terra Trabalho e Cidadania MulhereSemPrisão Enfrentando a invisibilidade das mulheres submetidas à justiça criminal 2019 Acesso em 23 ago 2019 IPEA Fórum Brasileiro de Segurança Pública Atlas da violência 2016 Brasília Ipea FBSP 2016 Acesso em 23 ago 2019 Atlas da violência 2018 Brasília Ipea FBSP 2018 Acesso em 23 ago 2019 KATHLEEN Cleaver on Natural African Hair 9 maio 2011 Acesso em 23 ago 2019 KILOMBA Grada Memórias da plantação Episódios de racismo cotidiano Rio de Janeiro Cobogó 2019 KLEIN Herbert S Novas interpretações do tráfico de escravos do Atlântico Revista de História n 120 janjul 1989 KOPENAWA Davi ALBERT Bruce A queda do céu Palavras de um xamã yanomami São Paulo Companhia das Letras 2015 KRENAK Ailton Ideias para adiar o fim do mundo São Paulo Companhia das Letras 2019 LUCINDA Elisa 50 poemas escolhidos pelo autor Rio de Janeiro Galo Branco 2004 MILENA Lilian Kabengele Munanga o antropólogo que desmistificou a democracia racial no Brasil Carta Maior 15 maio 2019 Acesso em 23 ago 2019 MOREIRA Adilson Racismo recreativo São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais MOURA Clóvis Sociologia do negro brasileiro São Paulo Ática 1988 MUNANGA Kabengele Negritude Usos e sentidos Belo Horizonte Autêntica 2015 MUNANGA Kabengele Origens africanas do Brasil contemporâneo Histórias línguas culturas e civilizações São Paulo Global 2009 MUNDURUKU Daniel O banquete dos deuses Conversa sobre a origem e a cultura brasileira São Paulo Global 2015 NASCIMENTO Abdias Teatro Experimental do Negro Trajetória e reflexões Estudos Avançados São Paulo v 18 n 50 pp 20924 2004 O genocídio do negro brasileiro Processo de um racismo mascarado São Paulo Perspectiva 2016 PACHECO Ana Cláudia Lemos Branca para casar mulata para f negra para trabalhar escolhas afetivas e significados de solidão entre mulheres negras em Salvador Bahia Tese de doutorado em ciências sociais PROCURADORIA Geral do Estado do Rio de Janeiro Relatório final sobre a efetividade da Lei de Cotas nas universidades estaduais 2017 Acesso em 2 set 2019 RIBEIRO Djamila O que é lugar de fala São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais SANTOS Carla Adriana da Silva Carla Akotirene Ó pa í prezada Racismo e sexismo institucionais tomando bonde no Conjunto Penal Feminino de Salvador Dissertação de mestrado em estudos interdisciplinares sobre mulheres gênero e feminismo Universidade Federal da Bahia 2014 SCHWARCZ Lilia Moritz Sobre o autoritarismo brasileiro São Paulo Companhia das Letras 2019 SILVA Denise Ferreira da Ninguém direito racialidade e violência Meritum v 9 n 1 p 67117 janjun 2014 SOUZA Neusa Santos Tornarse negro ou As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social Rio de Janeiro Graal 1983 SUPREMO Tribunal Federal Ação Declaratória de Constitucionalidade 41 Acesso em 19 set 2019 TELES Maria Amélia de Almeida Breve história do feminismo no Brasil São Paulo Brasiliense 1993 VIEIRA Isabela Pesquisa mostra que raça é fator predominante na escolha de parceiros conjugais EBC 17 out 2012 Acesso em 18 set 2019 WAINER Jacques MELGUIZO Tatiana Políticas de inclusão no ensino superior Avaliação do desempenho dos alunos baseado no Enade de 2012 a 2014 Educação e Pesquisa São Paulo v 44 e162807 2017 WILLIAM Rodney Apropriação cultural São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais DJAMILA RIBEIRO nasceu em Santos em 1980 É mestre em filosofia política pela Unifesp colunista do jornal Folha de S Paulo e foi secretáriaadjunta de Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo Coordena a coleção Feminismos Plurais da editora Pólen e é autora de O que é lugar de fala 2017 e Quem tem medo do feminismo negro Companhia das Letras 2018 Seus livros também foram publicados na França e atualmente são preparadas edições em espanhol e em italiano Atua no grupo Promotoras Legais Populares PLPs que forma lideranças femininas em periferias do estado de São Paulo e participa da formação de juízas e juízes visando mudar o olhar judicial sobre a população negra Em 2018 integrou a lista das cem pessoas negras mais influentes do mundo com menos de quarenta anos Mipad na sigla em inglês distinção apoiada pela ONU Em 2019 recebeu do governo francês o título de personalidade do amanhã e ganhou o prêmio holandês Prince Claus por suas ações em defesa dos direitos humanos e da justiça social Como conferencista convidada já esteve em cidades como Madri Paris Barcelona Berlim Frankfurt Weimar Londres Edimburgo Nova York Berkeley Duke Cidade do Cabo Acra além de dezenas de cidades por todo o Brasil ABDIAS DO NASCIMENTO 19142011 foi ator diretor dramaturgo ativista e professor universitário Criador do Teatro Experimental do Negro em 1948 foi um dos pioneiros na luta pela valorização da cultura afro brasileira Preso durante o Estado Novo foi obrigado a exilarse durante a ditadura militar ADILSON MOREIRA é professor e pesquisador doutor em direito constitucional pela Universidade Harvard e pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG É especialista em direito antidiscriminatório Colunista de CartaCapital escreveu Racismo recreativo para a coleção Feminismos Plurais entre outros livros ALESSANDRA DEVULSKY é advogada professora e pesquisadora Tem doutorado em direito econômico pela USP e especialização em direito ambiental Atualmente é professora na Universidade do Quebec no Canadá e diretora jurídica do Instituto Luiz Gama Publicou Edelman Althusserianismo direito e política ANA CLÁUDIA LEMOS PACHECO é socióloga professora e pesquisadora Doutora em ciências sociais é professora da Universidade do Estado da Bahia Uneb Seus principais temas de pesquisa incluem gênero raça e lideranças femininas com ênfase nos bairros populares de Salvador Publicou Mulher negra afetividade e solidão e organizou Gênero trans e multidisciplinar com Alfrancio Ferreira Dias ANGELA DAVIS norteamericana é filósofa professora conferencista e ativista Um dos ícones da luta antirracista e feminista nos Estados Unidos integrou o Partido Comunista e os Panteras Negras Foi presa nos anos 1970 por sua militância política É autora de Mulheres cultura e política entre outros ensaios AUDRE LORDE 193492 norteamericana foi escritora professora e ativista conhecida por sua produção com temática feminista e antirracista Além de poemas e narrativas escreveu livros de ensaios como Sister Outsider e Uses of the Erotic nos quais reflete sobre política feminismo racismo e erotismo BELL HOOKS norteamerciana é professora escritora e ativista Seus livros artigos e conferências abordam as relações de classe gênero e raça na sociedade pósmoderna Publicou mais de trinta livros dos quais os mais influentes são Teaching to Transgress e Teaching Community em que propõe uma pedagogia antissexista e libertária CARLA AKOTIRENE é formada em serviço social pela Universidade Católica de Salvador mestra e doutoranda em estudos sobre mulheres gênero e feminismo pela UFBA É assistente social na Secretaria de Saúde da capital baiana Publicou O que é interseccionalidade da Coleção Feminismos Plurais CHIMAMANDA ADICHIE nigeriana é escritora ensaísta ativista e conferencista Sua obra foi traduzida para mais de trinta línguas É autora de Sejamos todos feministas e Meio sol amarelo entre outros Recebeu diversos prêmios entre eles o Orange Prize e o National Book Critics Circle Award CIDA BENTO é psicóloga pesquisadora e ativista com doutorado pela Universidade de São Paulo USP Fundadora e coordenadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades Ceert em 2015 foi eleita pela revista The Economist uma das cinquenta profissionais mais influentes do mundo no campo da diversidade CLAUDETE ALVES é pedagoga professora escritora e ativista Mestre em ciências sociais pela PUCSP é autora de Virou regra e Negro O Brasil nos deve milhões Foi vereadora de São Paulo por dois mandatos pelo Partido dos Trabalhadores É autora da lei n 137072003 que instituiu o feriado do Dia da Consciência Negra na cidade CLÓVIS MOURA 19252003 foi jornalista sociólogo escritor e pioneiro do ativismo negro Filiado ao Partido Comunista Brasileiro PCB integrou o Movimento Negro Unificado MNU e a União de Negros Pela Igualdade Unegro Escreveu entre outros Dialética radical do Brasil Negro e Dicionário da escravidão negra no Brasil CONCEIÇÃO EVARISTO é escritora professora e ativista Doutora em letras pela Universidade Federal Fluminense UFF estreou na literatura publicando contos na coleção Cadernos Negros Escreveu os romances Ponciá Vicêncio traduzido em inglês e francês e Becos da memória além de poemas e narrativas curtas DENISE FERREIRA DA SILVA é socióloga professora e artista com doutorado pela Universidade de Pittsburgh Lecionou nas Universidades de Londres e San Diego e atualmente é diretora do Social Justice Institute da Universidade da Colúmbia Britânica no Canadá Seus principais temas de pesquisa são raça nação globalização negros Brasil e cultura Participou das bienais de arte de São Paulo e Liverpool ELISA LUCINDA é poeta jornalista atriz e cantora Tem mais de dez livros publicados incluindo poemas contos ensaios e crítica Entre seus títulos mais conhecidos estão Eu te amo e suas estreias e A poesia do encontro com Rubem Alves Atuou em várias novelas filmes e peças de teatro FERNANDA FELISBERTO é doutora em literatura comparada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro Uerj e professora de letras na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ Como pesquisadora atua em cultura afrodescendente literatura africana e gênero Autora de vários artigos e capítulos sobre esses temas organizou a coletânea Terras de palavras Contos afro brasileiros GRADA KILOMBA portuguesa é psicóloga escritora e artista Doutora pela Universidade Livre de Berlim já realizou exposições em vários países Suas obras tematizam gênero racismo e póscolonialismo Entre seus livros mais conhecidos estão Plantation Memories e Who Can Speak Decolonizing Knowledge JOEL ZITO ARAÚJO é diretor roteirista pesquisador e escritor Doutor em comunicação pela USP já realizou seis filmes com ênfase na temática negra Seu drama Filhas do vento foi estrelado por Ruth de Sousa Meu amigo Fela documentário sobre o músico nigeriano Fela Kuti é seu trabalho mais recente JOICE BERTH é arquiteta e urbanista pesquisadora e ativista Seu trabalho aborda o direito à cidade no contexto das questões de raça e gênero Militante feminista publicou O que é empoderamento na coleção Feminismos Plurais Foi colunista do site Justificando e atualmente escreve para a revista CartaCapital JULIANA BORGES é bacharel em letras pesquisadora em antropologia e ativista Foi secretária adjunta de políticas para as mulheres e assessora especial da prefeitura de São Paulo na gestão de Fernando Haddad Escreveu O que é encarceramento em massa para a coleção Feminismos Plurais KABENGELE MUNANGA brasileirocongolês é antropólogo professor e pesquisador Tem doutorado pela USP onde lecionou Dirigiu o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP Atualmente é professor visitante da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UFRB Seus livros mais recentes são O negro no Brasil de hoje com Nilma Lino Gomes e Origens africanas do Brasil contemporâneo LÉLIA GONZALEZ 193594 foi escritora ativista e pesquisadora Doutora em antropologia lecionou na PUCRJ e em outras instituições Participou da fundação do Movimento Negro Unificado MNU do Coletivo de Mulheres Negras NZinga e do Olodum É autora de Lugar de negro entre outros trabalhos sobre gênero política e raça LETÍCIA CAROLINA PEREIRA DO NASCIMENTO é pedagoga e mestre em educação Foi a primeira mulher trans a ingressar no quadro docente da Universidade Federal do Piauí UFPI Atualmente cursa o doutorado em educação e leciona no curso de pedagogia do campus da UFPI em Floriano LUCIANA BOITEUX é advogada professora pesquisadora e ativista Tem doutorado em direito penal pela USP com tese sobre o proibicionismo das drogas e o sistema penal brasileiro É professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ Filiada ao PSOL foi candidata a vice prefeita do Rio de Janeiro na chapa de Marcelo Freixo LUIZA BAIRROS 19532016 foi administradora professora ativista e ministrachefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial entre 2011 e 2014 Doutora em sociologia pela Universidade de Michigan começou sua militância no Movimento Negro Unificado MNU Trabalhou em programas de combate ao racismo da ONU MARCELA BONFIM é economista fotógrafa e ativista Radicada em Rondônia seu trabalho visual investiga a negritude no contexto amazônico com foco em povos quilombolas e afroindígenas Sua exposição ReConhecendo a Amazônia Negra foi apresentada em São Paulo São Luís Fortaleza Porto Velho e Rio Branco MICHELLE ALEXANDER norteamericana é escritora advogada pesquisadora e professora Com passagens pelas universidades da Califórnia Ohio e Stanford e pela Fundação Ford é especialista em direitos civis colunista do New York Times e autora de A nova segregação bestseller sobre o racismo do encarceramento em massa nos Estados Unidos NEUSA SANTOS SOUSA 19482008 foi psiquiatra psicanalista e escritora Escreveu Tornarse negro ensaio de referência sobre os aspectos sociológicos e psicanalíticos da negritude no Brasil Entre outros trabalhos também publicou A psicose Um estudo lacaniano e O objeto da angústia com Maria Silvia G F Hanna NILMA BENTES é engenheira agrônoma escritora e ativista Foi uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará Cedenpa e da Rede Fulanas Negras da Amazônia Brasileira Atualmente integra a coordenação da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras AMNB NILMA LINO GOMES é pedagoga professora pesquisadora e escritora Doutora em antropologia foi a primeira reitora negra de uma universidade federal brasileira a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira Unilab Foi secretária e ministra das Mulheres da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos no governo Dilma Rousseff É autora de entre outros livros Sem perder a raiz e Betina PATRICIA HILL COLLINS norteamericana é socióloga professora pesquisadora e escritora Doutora pela Universidade Brandeis é professora da Universidade de Maryland Foi a primeira negra a presidir a Associação Americana de Sociologia Entre seus trabalhos sobre raça gênero e classe social destacamse Pensamento feminista negro e Black Sexual Politics African Americans Gender and the New Racism RODNEY WILLIAM EUGÊNIO é antropólogo pesquisador e escritor especializado em relações raciais e religiões de matriz africana É mestre em gerontologia e doutorando em ciências sociais pela PUCSP Publicou A bênção aos mais velhos Poder e senioridade nos terreiros de candomblé e Palavras de axé Fé esperança e coragem SILVIO ALMEIDA é advogado professor pesquisador e ativista Doutor em direito pela USP leciona na Universidade Mackenzie e na Fundação Getulio Vargas FGV É presidente do Instituto Luiz Gama Publicou entre outros títulos Sartre Direito e política e Racismo estrutural coleção Feminismos Plurais SUELI CARNEIRO é filósofa pedagoga professora escritora e ativista É doutora em filosofia pela USP e fundadora do Geledés Instituto da Mulher Negra Publicou Racismo sexismo e desigualdade no Brasil e Mulher negra Política governamental e a mulher com Thereza Santos e Albertina Costa ZÉLIA AMADOR é professora pesquisadora e ativista além de atriz e diretora de teatro Tem doutorado em ciências sociais pela Universidade Federal do Pará UFPA onde é professora de história da arte Coordena o Grupo de Estudos AfroAmazônico da universidade da qual foi vicereitora É uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará Cedenpa Copyright 2019 by Djamila Ribeiro Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 que entrou em vigor no Brasil em 2009 Capa Alceu Chiesorin Nunes Preparação Julia Passos Revisão Renata Lopes Del Nero e Adriana Moreira Pedro ISBN 9788554515997 EDITORA SCHWARCZ SA Rua Bandeira Paulista 702 cj 32 04532002São PauloSP Telefone 11 37073500 wwwcompanhiadasletrascombr wwwblogdacompanhiacombr facebookcomcompanhiadasletras instagramcomcompanhiadasletras twittercomcialetras Neusa Santos Souza Tornarse negro ou As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social Rio de Janeiro Graal 1983 p 19 Herbert S Klein Novas interpretações do tráfico de escravos do Atlântico Revista de História n 120 p 18 janjul 1989 Silvio Almeida Racismo estrutural São Paulo Pólen 2019 p 52 Sobre a questão dos povos indígenas sugiro as obras de Daniel Munduruku Ailton Krenak e Davi Kopenawa entre outros Lilian Milena Kabengele Munanga o antropólogo que desmistificou a democracia racial no Brasil Carta Maior 15 maio 2019 Acesso em 23 ago 2019 Roger Bastide Florestan Fernandes Brancos e negros em São Paulo 2 ed São Paulo Companhia Editora Nacional 1959 p 164 Abdias do Nascimento Teatro Experimental do Negro Trajetória e reflexões Estudos Avançados São Paulo v 18 n 50 2004 p 218 Supremo Tribunal Federal Ação Declaratória de Constitucionalidade 41 Acesso em 19 set 2019 Sueli Carneiro A construção do outro como nãoser como fundamento do ser Tese de doutorado em educação Universidade de São Paulo 2005 Rodney William Apropriação cultural São Paulo Pólen 2019 p 109 Coleção Feminismos Plurais Sueli Carneiro Escritos de uma vida Belo Horizonte Letramento 2018 p 104 Gilberto Freire Casagrande senzala São Paulo Global 2003 p 456 Isabela Vieira Pesquisa mostra que raça é fator predominante na escolha de parceiros conjugais EBC 17 out 2012 Acesso em 18 set 2019 Lucas França Laudo aponta 257 disparos em ação do Exército que matou 2 no RJ R7 10 maio 2019 Acesso em 25 set 2019 Carla Adriana da Silva Santos Carla Akotirene Ó pa í prezada Racismo e sexismo institucionais tomando bonde no Conjunto Penal Feminino de Salvador Dissertação de mestrado em estudos interdisciplinares sobre mulheres gênero e feminismo Universidade Federal da Bahia 2014 p 51 Juliana Borges Encarceramento em massa São Paulo Pólen 2019 p 108 Michelle Alexander A nova segregação Racismo e encarceramento em massa São Paulo Boitempo 2018 pp 2812 Denise Ferreira da Silva Ninguém direito racialidade e violência Meritum v 9 n 1 p 67117 janjun 2014
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DJAMILA RIBEIRO COMPANHIA DAS LETRAS PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA DJAMILA RIBEIRO PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA COMPANHIA DAS LETRAS Capa Folha de rosto Sumário Introdução Informese sobre o racismo Enxergue a negritude Reconheça os privilégios da branquitude Perceba o racismo internalizado em você Apoie políticas educacionais afirmativas Transforme seu ambiente de trabalho Leia autores negros Questione a cultura que você consome Conheça seus desejos e afetos Combata a violência racial Sejamos todos antirracistas Referências bibliográficas Sobre a autora Sobre os autores negros citados Créditos QUANDO CRIANÇA fui ensinada que a população negra havia sido escrava e ponto como se não tivesse existido uma vida anterior nas regiões de onde essas pessoas foram tiradas à força Disseramme que a população negra era passiva e que aceitou a escravidão sem resistência Também me contaram que a princesa Isabel havia sido sua grande redentora No entanto essa era a história contada do ponto de vista dos vencedores como diz Walter Benjamin O que não me contaram é que o Quilombo dos Palmares na serra da Barriga em Alagoas perdurou por mais de um século e que se organizaram vários levantes como forma de resistência à escravidão como a Revolta dos Malês e a Revolta da Chibata Com o tempo compreendi que a população negra havia sido escravizada e não era escravapalavra que denota que essa seria uma condição natural ocultando que esse grupo foi colocado ali pela ação de outrem Se para mim que sou filha de um militante negro e que sempre debati essas questões em casa perceber essas nuances é algo complexo e dinâmico para quem refletiu pouco ou nada sobre esse tema pode ser ainda mais desafiador O processo envolve uma revisão crítica profunda de nossa percepção de si e do mundo Implica perceber que mesmo quem busca ativamente a consciência racial já compactuou com violências contra grupos oprimidos O primeiro ponto a entender é que falar sobre racismo no Brasil é sobretudo fazer um debate estrutural É fundamental trazer a perspectiva histórica e começar pela relação entre escravidão e racismo mapeando suas consequências Devese pensar como esse sistema vem beneficiando economicamente por toda a história a população branca ao passo que a negra tratada como mercadoria não teve acesso a direitos básicos e à distribuição de riquezas É importante lembrar que apesar de a Constituição do Império de 1824 determinar que a educação era um direito de todos os cidadãos a escola estava vetada para pessoas negras escravizadas A cidadania se estendia a portugueses e aos nascidos em solo brasileiro inclusive a negros libertos Mas esses direitos estavam condicionados a posses e rendimentos justamente para dificultar aos libertos o acesso à educação Havia também a Lei de Terras de 1850 ano em que o tráfico negreiro passou a ser proibido no Brasil embora a escravidão tenha persistido até 1888 Essa lei extinguia a apropriação de terras com base na ocupação e dava ao Estado o direito de distribuílas somente mediante a compra Dessa maneira exescravizados tinham enormes restrições pois só quem dispunha de grandes quantias poderia se tornar proprietário A lei transformou a terra em mercadoria ao mesmo tempo que facilitou o acesso a antigos latifundiários embora imigrantes europeus tenham recebido concessões como a criação de colônias Quando estudamos a história do Brasil vemos como esses e outros dispositivos legais estabelecidos durante e após a escravidão contribuem para a manutenção da mentalidade casagrande e senzala no país em que nas senzalas e nos quartos de empregada a cor foi e é negra A psicanalista Neusa Santos autora de Tornarse negro de 1983 um dos primeiros trabalhos sobre a questão racial na psicologia afirma que a sociedade escravista ao transformar o africano em escravo definiu o negro como raça demarcou o seu lugar a maneira de tratar e ser tratado os padrões de interação com o branco e instituiu o paralelismo entre cor negra e posição social inferior1 No Brasil há a ideia de que a escravidão aqui foi mais branda do que em outros lugares o que nos impede de entender como o sistema escravocrata ainda impacta a forma como a sociedade se organiza É necessário reconhecer as violências ocorridas durante o período escravista Historiadores como Lilia Schwarcz Flávio Gomes João José Reis e Nizan Pereira Almeida já comprovaram que essa ideia não passa de um mito São inúmeros os fatos históricos que a desmentem Basta lembrar por exemplo que a expectativa de vida dos homens escravizados no campo era 25 anos bem abaixo da média dos Estados Unidos para o mesmo grupo 35 anos2 Movimentos de pessoas negras há anos debatem o racismo como estrutura fundamental das relações sociais criando desigualdades e abismos O racismo é portanto um sistema de opressão que nega direitos e não um simples ato da vontade de um indivíduo Reconhecer o caráter estrutural do racismo pode ser paralisante Afinal como enfrentar um monstro tão grande No entanto não devemos nos intimidar A prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas Como diz Silvio Almeida em seu livro Racismo estrutural Consciente de que o racismo é parte da estrutura social e por isso não necessita de intenção para se manifestar por mais que calarse diante do racismo não faça do indivíduo moral eou juridicamente culpado ou responsável certamente o silêncio o torna ética e politicamente responsável pela manutenção do racismo A mudança da sociedade não se faz apenas com denúncias ou com o repúdio moral do racismo depende antes de tudo da tomada de posturas e da adoção de práticas antirracistas3 Portanto nunca entre numa discussão sobre racismo dizendo mas eu não sou racista O que está em questão não é um posicionamento moral individual mas um problema estrutural A questão é o que você está fazendo ativamente para combater o racismo Mesmo que uma pessoa pudesse se afirmar como não racista o que é difícil ou mesmo impossível já que se trata de uma estrutura social enraizada isso não seria suficiente a inação contribui para perpetuar a opressão É preciso ressaltar que mulheres e homens negros não são as únicas vítimas de opressão estrutural muitos outros grupos sociais oprimidos compartilham experiências de discriminação em alguma medida comparáveis Este livro foca em estratégias para combater o racismo contra pessoas negras mas espero que se possível ele possa contribuir também para o combate a outras formas de opressão4 O objetivo deste pequeno manual é apresentar alguns caminhos de reflexão recuperando contribuições importantes de diversos autores e autoras sobre o tema para quem quiser aprofundar sua percepção de discriminações estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação de nossa sociedade Afinal o antirracismo é uma luta de todas e todos O SISTEMA RACISTA está em constante processo de atualização e portanto devese entender seu funcionamento Segundo Kabengele Munanga importante pensador negro e professor na Universidade de São Paulo sem dúvida todos os racismos são abomináveis e cada um faz as suas vítimas do seu modo O brasileiro não é o pior nem o melhor mas ele tem as suas peculiaridades entre as quais o silêncio o não dito que confunde todos os brasileiros e brasileiras vítimas e não vítimas do racismo 5 Dessa forma como explica Munanga para entender o racismo no Brasil é preciso diferenciálo de outras experiências conhecidas como o regime nazista o apartheid sulafricano ou a situação da população negra nos Estados Unidos na primeira metade do século XX nas quais o racismo era explícito e institucionalizado por leis e práticas oficiais É verdade que o Brasil é diferente mas nada é mais equivocado do que concluir que por isso não somos um país racista É preciso identificar os mitos que fundam as peculiaridades do sistema de opressão operado aqui e certamente o da democracia racial é o mais conhecido e nocivo deles Concebido e propagado por sociólogos pertencentes à elite econômica na metade do século XX esse mito afirma que no Brasil houve a transcendência dos conflitos raciais pela harmonia entre negros e brancos traduzida na miscigenação e na ausência de leis segregadoras O livro Casagrande senzala de Gilberto Freyre tornouse um clássico mundial com a exportação dessa tese A relevância da obra está em romper com uma tradição que legitimava o racismo científico teorias biologizantes formuladas no século XIX que preconizavam uma suposta inferioridade natural do negro como forma de justificar a escravidão nas Américas tal como apresentado nas obras de Nina Rodrigues por exemplo Mas é preciso ler Freyre criticamente indo na contramão daqueles que estimulados pela naturalização da miscigenação forçada durante o período colonial perpetuam o mito da democracia racial Essa visão paralisa a prática antirracista pois romantiza as violências sofridas pela população negra ao escamotear a hierarquia racial com uma falsa ideia de harmonia Na obra Brancos e negros em São Paulo Roger Bastide e Florestan Fernandes apontaram Nós brasileiros dizianos um branco temos o preconceito de não ter preconceito E esse simples fato basta para mostrar a que ponto está arraigado no nosso meio social Muitas respostas negativas explicamse por esse preconceito de ausência de preconceito por essa fidelidade do Brasil ao seu ideal de democracia racial6 Como diz Munanga ecoa dentro de muitos brasileiros uma voz muito forte que grita Não somos racistas Racistas são os outros Eu considero essa voz uma inércia causada pelo mito da democracia racial Um bom exemplo dessa atitude está numa pesquisa do Datafolha realizada em 1995 que mostrou que 89 dos brasileiros admitiam existir preconceito de cor no Brasil mas 90 se identificavam como não racistas Na época a pesquisa foi considerada a maior sobre o tema entrevistando 5081 pessoas maiores de dezesseis anos em 121 cidades de todas as unidades da federação Devemos aprender com a história do feminismo negro que nos ensina a importância de nomear as opressões já que não podemos combater o que não tem nome Dessa forma reconhecer o racismo é a melhor forma de combatê lo Não tenha medo das palavras branco negro racismo racista Dizer que determinada atitude foi racista é apenas uma forma de caracterizála e definir seu sentido e suas implicações A palavra não pode ser um tabu pois o racismo está em nós e nas pessoas que amamos mais grave é não reconhecer e não combater a opressão Chegamos assim à seguinte pergunta o que de fato cada um de nós tem feito e pode fazer pela luta antirracista O autoquestionamento fazer perguntas entender seu lugar e duvidar do que parece natural é a primeira medida para evitar reproduzir esse tipo de violência que privilegia uns e oprime outros Simone de Beauvoir em referência a Stendhal autor que segundo a filósofa atribuía humanidade às suas personagens femininas dizia que um homem que enxergasse a mulher como sujeito e tivesse uma relação de alteridade para com ela poderia ser considerado feminista Esse mesmo raciocínio pode ser usado para pensar o antirracismo com a ressalva de que sobre a mulher negra incide a opressão de classe de gênero e de raça tornando o processo ainda mais complexo DESDE CEDO pessoas negras são levadas a refletir sobre sua condição racial O início da vida escolar foi para mim o divisor de águas por volta dos seis anos entendi que ser negra era um problema para a sociedade Até então no convívio familiar com meus pais e irmãos eu não era questionada dessa forma me sentia amada e não via nenhum problema comigo tudo era normal Neguinha do cabelo duro neguinha feia foram alguns dos xingamentos que comecei a escutar Ser a diferente o que quer dizer não branca passou a ser apontado como um defeito Comecei a ter questões de autoestima fiquei mais introspectiva e cabisbaixa Fui forçada a entender o que era racismo e a querer me adaptar para passar despercebida Como diz a pesquisadora Joice Berth Não me descobri negra fui acusada de sêla O mundo apresentado na escola era o dos brancos no qual as culturas europeias eram vistas como superiores o ideal a ser seguido Eu reparava que minhas colegas brancas não precisavam pensar o lugar social da branquitude pois eram vistas como normais a errada era eu Crianças negras não podem ignorar as violências cotidianas enquanto as brancas ao enxergarem o mundo a partir de seus lugares sociais que é um lugar de privilégio acabam acreditando que esse é o único mundo possível Essa divisão social existe há séculos e é exatamente a falta de reflexão sobre o tema que constitui uma das bases para a perpetuação do sistema de discriminação racial Por ser naturalizado esse tipo de violência se torna comum Ainda que uma pessoa branca tenha atributos morais positivos por exemplo que seja gentil com pessoas negras ela não só se beneficia da estrutura racista como muitas vezes mesmo sem perceber compactua com a violência racial Como muitas pessoas negras que circulam em espaços de poder já fui confundida com copeira faxineira ou no caso de hotéis de luxo prostituta Obviamente não estou questionando a dignidade dessas profissões mas o porquê de pessoas negras se verem reduzidas a determinados estereótipos em vez de serem reconhecidas como seres humanos em toda a sua complexidade e com suas contradições Meu irmão mais velho tocou trompete por muitos anos fazendo inclusive parte da Sinfônica de Cubatão na Baixada Santista Toda vez que dizia ser músico perguntavam se ele tocava pandeiro ou outro instrumento relacionado ao samba Não teria problema se ele tocasse a questão é pensar que homens negros só podem ocupar esse lugar Simone de Beauvoir afirmava que não há crime maior do que destituir um ser humano de sua própria humanidade reduzindoo à condição de objeto Dessa mesma premissa deriva o imperativo de não tratar pessoas negras com condescendência Lembro que uma vez quando trabalhava como secretária numa empresa do porto de Santos e fiz algo bastante corriqueiro respondi a um email Fiquei surpresa ao ver a reação de alguns colegas que me aplaudiram por eu ter escrito bem um texto Eu havia cursado três anos de jornalismo já tinha publicado artigos em revistas e jornais portanto um email não era motivo para aplausos Quando eu cursava filosofia um colega se mostrou muito surpreso por eu ter tirado uma nota maior que a dele num trabalho e sugeriu que era porque o professor gostava de mim Outro colega insinuou que me daria a parte mais fácil de um trabalho para me ajudar Experiências desse tipo me fizeram compreender que elogios podem significar condescendência Não é realista esperar que um grupo racial domine toda a produção do saber e seja a única referência estética Por causa disso a população negra criou estratégias ao longo de sua história para superar essa marginalização O conhecido movimento Panteras Negras do qual a ativista e filósofa Angela Davis fez parte além de lutar contra a segregação racial nos Estados Unidos e pela emancipação do povo negro tinha também em suas bases a valorização da estética negra Kathleen Cleaver uma das lideranças do movimento aponta para a importância de que pessoas negras quebrem com a visão de que somente pessoas brancas são bonitas valorizando o cabelo natural e as características típicas do povo negro e criando para ele uma nova consciência No campo das artes temos experiências notáveis realizadas pela população negra no Brasil mas infelizmente ainda pouco conhecidas O Teatro Experimental do Negro TEN criado por Abdias do Nascimento em 1944 buscou valorizar a cultura afro brasileira por meio da educação e da arte formulando uma estética própria para além da reprodução da experiência de outros países e visando ao protagonismo do povo negro Assim tinha como bandeira priorizar a valorização da personalidade e cultura específicas ao negro como caminho de combate ao racismo7 De lá saíram nomes como o da atriz Ruth de Souza que nos deixou aos 98 anos em julho de 2019 Há outros bons exemplos de iniciativas que ampliam a visibilidade negra nas artes A série Cadernos Negros criada em 1978 foi responsável por publicar contos e poemas de escritores e escritoras negros tornandose um marco para a produção literária negra Muitos dos primeiros textos de Conceição Evaristo foram publicados lá por exemplo O projeto Amazônia Negra da fotógrafa Marcela Bonfim busca reconhecer e valorizar as culturas negras em Rondônia Bonfim sintetiza a importância de iniciativas desse tipo A maioria dos negros brasileiros precisa aprender a ser negro no percurso de suas vidas Projetos assim contribuem para esse aprendizado É importante ter em mente que para pensar soluções para uma realidade devemos tirála da invisibilidade Portanto frases como eu não vejo cor não ajudam O problema não é a cor mas seu uso como justificativa para segregar e oprimir Vejam cores somos diversos e não há nada de errado nisso se vivemos relações raciais é preciso falar sobre negritude e também sobre branquitude QUANDO PUBLIQUEI O que é lugar de fala muitos me perguntaram se pessoas brancas também podem se engajar na luta antirracista Como explico naquele livro todo mundo tem lugar de fala pois todos falamos a partir de um lugar social Portanto é muito importante discutir a branquitude Pessoas brancas não costumam pensar sobre o que significa pertencer a esse grupo pois o debate racial é sempre focado na negritude A ausência ou a baixa incidência de pessoas negras em espaços de poder não costuma causar incômodo ou surpresa em pessoas brancas Para desnaturalizar isso todos devem questionar a ausência de pessoas negras em posições de gerência autores negros em antologias pensadores negros na bibliografia de cursos universitários protagonistas negros no audiovisual E para além disso é preciso pensar em ações que mudem essa realidade Se a população negra é a maioria no país quase 56 o que torna o Brasil a maior nação negra fora da África a ausência de pessoas negras em espaços de poder deveria ser algo chocante Portanto uma pessoa branca deve pensar seu lugar de modo que entenda os privilégios que acompanham a sua cor Isso é importante para que privilégios não sejam naturalizados ou considerados apenas esforço próprio É Perceberse é algo transformador É o que permite situar nossos privilégios e nossas responsabilidades diante de injustiças contra grupos sociais vulneráveis Pessoas brancas por exemplo devem questionar por que em um restaurante muitas vezes as únicas pessoas negras presentes estão servindo mesas ou se já foram consideradas suspeitas pela polícia por causa de sua cor Tratase de refutar a ideia de um sujeito universal a branquitude também é um traço identitário porém marcado por privilégios construídos a partir da opressão de outros grupos Devemos lembrar que este não é um debate individual mas estrutural a posição social do privilégio vem marcada pela violência mesmo que determinado sujeito não seja deliberadamente violento Os homens brancos são maioria nos espaços de poder Esse não é um lugar natural foi construído a partir de processos de escravização Alguém pode perguntar Mas e no caso de homens brancos pobres ou homossexuais que não necessariamente possuem todos os privilégios sociais de homens brancos heterossexuais ricos De fato é sempre importante levar em consideração outras intersecções Porém o debate aqui é sobre uma estrutura de poder que confere privilégio racial a determinado grupo criando mecanismos que perpetuam desigualdades Nesse sentido mulheres brancas são discriminadas por serem mulheres mas privilegiadas estruturalmente por serem brancas O mesmo ocorre com homens brancos homossexuais que são discriminados pela orientação sexual mas racialmente falando fazem parte do grupo hegemônico Isso de forma alguma exclui as opressões que sofrem mas o localizam socialmente no lugar da branquitude O conceito de lugar de fala discute justamente o locus social isto é de que ponto as pessoas partem para pensar e existir no mundo de acordo com as suas experiências em comum É isso que permite avaliar quanto determinado grupo dependendo de seu lugar na sociedade sofre com obstáculos ou é autorizado e favorecido Dessa forma ter consciência da prevalência branca nos espaços de poder permite que as pessoas se responsabilizem e tomem atitudes para combater e transformar o perverso sistema racial que estrutura a sociedade brasileira O racismo é uma problemática branca provoca Grada Kilomba Até serem homogeneizados pelo processo colonial os povos negros existiam como etnias culturas e idiomas diversos isso até serem tratados como o negro Tal categoria foi criada em um processo de discriminação que visava ao tratamento de seres humanos como mercadoria Portanto o racismo foi inventado pela branquitude que como criadora deve se responsabilizar por ele Para além de se entender como privilegiado o branco deve ter atitudes antirracistas Não se trata de se sentir culpado por ser branco a questão é se responsabilizar Diferente da culpa que leva à inércia a responsabilidade leva à ação Dessa forma se o primeiro passo é desnaturalizar o olhar condicionado pelo racismo o segundo é criar espaços sobretudo em lugares que pessoas negras não costumam acessar COMO VIMOS a maioria das pessoas admite haver racismo no Brasil mas quase ninguém se assume como racista Pelo contrário o primeiro impulso de muita gente é recusar enfaticamente a hipótese de ter um comportamento racista Claro que não afinal tenho amigos negros Como eu seria racista se empreguei uma pessoa negra Racista eu que nunca xinguei uma pessoa negra A partir do momento em que se compreende o racismo como um sistema que estrutura a sociedade essas respostas se mostram vazias É impossível não ser racista tendo sido criado numa sociedade racista É algo que está em nós e contra o que devemos lutar sempre É claro que há quem seja abertamente racista e manifeste sua hostilidade contra grupos sociais vulneráveis das mais diferentes formas Mas é preciso notar que o racismo é algo tão presente em nossa sociedade que muitas vezes passa despercebido Um exemplo é a ausência de pessoas negras numa produção cinematográficaaí também está o racismo Ou então quando ao escutar uma piada racista as pessoas riem ou silenciam em vez de repreender quem a fez o silêncio é cúmplice da violência Muitas vezes pessoas brancas não pensam sobre o que é o racismo vivem suas vidas sem que sua cor as faça refletir sobre essa condição Por isso o combate ao racismo é um processo longo e doloroso Como diz a pensadora feminista negra Audre Lorde é necessário matar o opressor que há em nós e isso não é feito apenas se dizendo antirracista é preciso fazer cobranças Amelinha Teles memorável feminista brasileira em seu livro Breve história do feminismo no Brasil afirma que ser feminista é assumir uma postura incômoda Eu diria que ser antirracista também É estar sempre atento às nossas próprias atitudes e disposto a enxergar privilégios Isso significa muitas vezes ser tachado de o chato aquele que não vira o disco Significa entender que a linguagem também é carregada de valores sociais e que por isso é preciso utilizála de maneira crítica deixando de lado expressões racistas como ela é negra mas é bonita que coloca uma preposição adversativa ao elogiar uma pessoa negra como se um adjetivo positivo fosse o contrário de ser negra usar o negão para se referir a homens negros não se usa o brancão para falar de homens brancos ou elogiar alguém dizendo negro de alma branca sem perceber que a frase coloca ser branco como sinônimo de característica positiva É preciso pesquisar ler o que foi produzido sobre o tema por pessoas negras e é bastante coisa No caso de quem tem acesso a bibliotecas e universidades a responsabilidade é redobrada e não deve ser delegada Eu brinco que muitas vezes pessoas brancas nos colocam no lugar de Wikipreta como se nós precisássemos ensinar e dar todas as respostas sobre a questão do racismo no Brasil Essa responsabilidade é também das pessoas brancas e deve ser contínua Conversar em casa com a família e com os filhos e não só manter uma imagem pública com destaque para as redes sociais também é fundamental Algumas atitudes simples podem ajudar as novas gerações como apresentar para as crianças livros com personagens negros que fogem de estereótipos ou garantir que a escola dos seus filhos aplique a Lei n 106392003 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para incluir a obrigatoriedade do ensino da história africana e afrobrasileira Um ensino que valoriza as várias existências e que referencie positivamente a população negra é benéfico para toda a sociedade pois conhecer histórias africanas promove outra construção da subjetividade de pessoas negras além de romper com a visão hierarquizada que pessoas brancas têm da cultura negra saindo do solipsismo branco isto é deixar de apenas ver humanidade entre seus iguais Mais ainda são ações que diminuem as desigualdades Não podemos nos satisfazer com pouco Apesar de termos avançado nas últimas décadas não podemos achar que foi o suficiente Não basta ter um ou dois negros na empresa na TV no museu no ministério na bibliografia do curso Se disserem que ser antirracista é ser o chato tudo bem Precisamos continuar lutando POR CAUSA DO RACISMO ESTRUTURAL a população negra tem menos condições de acesso a uma educação de qualidade Geralmente quem passa em vestibulares concorridos para os principais cursos nas melhores universidades públicas são pessoas que estudaram em escolas particulares de elite falam outros idiomas e fizeram intercâmbio E é justamente o racismo estrutural que facilita o acesso desse grupo Esse debate não é sobre capacidade mas sobre oportunidades e essa é a distinção que os defensores da meritocracia parecem não fazer Um garoto que precisa vender pastel para ajudar na renda da família e outro que passa as tarde em aulas de idiomas e de natação não partem do mesmo ponto Não são muitos os que podem se dar o luxo de cursar uma graduação sem trabalhar ou ganhando apenas uma bolsa de estagiário Eu mesma entrei na Universidade Federal de São Paulo cujo campus de ciências humanas foi criado em 2007 graças a políticas públicas aos 27 anos e com uma filha pequena tendo que fazer malabarismos para conseguir estudar Embora as desigualdades nas oportunidades para negros e brancos ainda sejam enormes políticas públicas mostraram que têm potencial transformador na área O caso das cotas raciais é notável Na época em que o debate sobre ações afirmativas estava acalorado um dos principais argumentos contrários à implementação de cotas raciais nas universidades era as pessoas negras vão roubar a minha vaga Por trás dessa frase está o fato de que pessoas brancas por causa de seu privilégio histórico viam as vagas em universidades públicas como suas por direito A primeira universidade a adotar as cotas raciais no vestibular foi a Universidade do Estado do Rio de Janeiro Uerj em 2003 seguida pela Universidade de Brasília UnB em 2004 As novas políticas públicas universitárias transformaram o perfil dos alunos ingressantes ao contrário do que muita gente afirmava quando essas políticas começaram a ser implementadas o desempenho positivo de alunos cotistas trouxe grandes avanços para o saber do país Pesquisas sobre os resultados dessas políticas logo começaram a surgir como a do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ipea em 2008 na qual se demonstrou que os alunos cotistas de quatro universidades federais tinham desempenho similar ou superior ao dos alunos não cotistas e a da ProcuradoriaGeral do Estado do Rio de Janeiro realizada em parceria com universidades estaduais a qual constatou que no período entre 2003 e 2016 a evasão universitária entre cotistas 26 foi menor se comparada com a de não cotistas 37 além de apontar desempenho similar entre ambos Sobre outras políticas de acesso à educação destacase o estudo de Jacques Wainer professor do Instituto da Computação da Universidade Estadual de Campinas Unicamp e Tatiana Melguizo professora associada da Universidade do Sul da Califórnia que com base na análise dos resultados de mais de 1 milhão de alunos que realizaram o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes Enade entre 2012 e 2014 apontou que não havia diferença entre as notas de beneficiários do programa Prouni e as de outros estudantes Diferente da política de cotas o Prouni é um convênio realizado entre universidades privadas e o governo federal que permite às universidades abaterem impostos ao oferecer bolsas integrais ou de 50 para alunos e alunas do programa seja por raça ou por renda desde que mantenham um desempenho exemplar Muitas vezes casos de pessoas negras que enfrentam grandes dificuldades para obter um diploma ou passar em um concurso público são romantizados Entretanto ainda que seja bastante admirável que pessoas consigam superar grandes obstáculos naturalizar essas violências e usálas como exemplos que justifiquem estruturas desiguais é não só cruel como também uma inversão de valores Não deveria ser normal que para conquistar um diploma uma pessoa precise caminhar quinze quilômetros para chegar à escola estude com material didático achado no lixo ou que tenha que abrir mão de almoçar para pagar um transporte A cultura do mérito aliada a uma política que desvaloriza a educação pública é capaz de produzir catástrofes Hoje em vez de combater a violência estrutural na academia a orientação de muitos chefes do Executivo brasileiro é uniformizar as desigualdades cortando políticas públicas universitárias como bolsas de estudo e cotas raciais e sociais Informese sobre as políticas públicas de combate à desigualdade racial e pela promoção da diversidade Apoie e prestigie institutos de pesquisa e de desenvolvimento de políticas Apoie candidatos que defendem políticas públicas efetivas e transformadoras A lei de cotas para universidades federais promulgada em 2012 representou uma grande vitória Uma pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior Andifes com base em dados de 2018 mostrou que nessas instituições a maioria dos estudantes é negra 512 647 cursaram o ensino médio em escolas públicas e 702 vêm de famílias com renda mensal per capita de até um salário mínimo e meio Infelizmente o mercado de trabalho ainda não reflete essa mudança HISTORICAMENTE A BRANQUITUDE desenvolveu métodos de manutenção do que seria politicamente correto em relação à pauta racial e à reserva de espaço para o negro único o que é certamente uma de suas estratégias mais clássicas Argumentase da seguinte forma Veja só não somos racistas temos o Fulano que é negro trabalhando em tal departamento e inclusive ele adora trabalhar aqui não é mesmo Fulano E o Fulano talvez para manter seu emprego talvez por que aprendeu a reproduzir o discurso da empresa concorda No entanto pessoas negras não são todas iguais e Fulano por melhor que seja não pode representar todos os negros Dessa forma é preciso romper com a estratégia do negro único não basta ter uma pessoa negra para considerar que determinado espaço de poder foi dedetizado contra o racismo A herança escravista faz com que o mundo do trabalho seja particularmente racista o que também o torna um dos espaços em que a luta antirracista pode ser mais transformadora A primeira etapa para isso é sempre questionar o status quo essa é a melhor maneira de não reproduzir as variadas formas de racismo nos ambientes de trabalho Se você tem ou trabalha numa empresa algumas questões que você deve colocar são Qual a proporção de pessoas negras e brancas em sua empresa E como fica essa proporção no caso dos cargos mais altos Como a questão racial é tratada durante a contratação de pessoal Ou ela simplesmente não é tratada porque esse processo deve ser daltônico Há na sua empresa algum comitê de diversidade ou um projeto para melhorar esses números Há espaço para um humor hostil a grupos vulneráveis Perguntas desse tipo podem servir de guia para uma reavaliação do racismo nos ambientes de trabalho Como diz a pesquisadora Joice Berth a questão para além de representatividade é de proporcionalidade Para começar pensemos nos processos de contratação Se uma empresa está focada em quem cursou universidades de elite ou tem inglês fluente isso pode significar que apenas pessoas privilegiadas poderão enviar seus currículos pois sabemos que no Brasil estudar outro idioma ou fazer um intercâmbio não é acessível para todo mundo Somente uma parcela privilegiada da sociedade tem acesso a isso Além do mais o pacto narcísico da branquitude expressão desenvolvida por Cida Bento em sua tese de doutorado usada para definir como pessoas brancas anuem entre si para a manutenção de privilégios colabora com a exclusão de outros grupos nas indicações de trabalho Uma pesquisa do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades Ceert organização indispensável para a luta antirracista criada por Cida Bento em 1990 em parceria com a Aliança Jurídica pela Equidade Racial apontou que pessoas negras não somam 1 entre advogados e sócios de escritórios de advocacia Entre estagiários não chega a 10 O estudo de 2019 ouviu 3624 pessoas em nove das maiores bancas de São Paulo e demonstra como os números refletem a necessidade de discutir desigualdades oportunidades e diversidade no mercado de trabalho Se quisermos pensar essa questão pelo viés econômico vale lembrar que uma equipe diversificada aumenta seu potencial produtivo segundo estudiosos do tema como Reinaldo Bulgarelli um ambiente diverso estimula a criatividade A baixa presença de pessoas negras no ambiente de trabalho ou mesmo distantes de cargos de gerência pode deixar o espaço altamente suscetível a violências racistas Em um caso recente por exemplo a filial brasileira de uma empresa norteamericana de software promoveu um baile à fantasia como celebração de final de ano oferecendo uma premiação para a melhor fantasia no valor de 3 mil reais Um funcionário certo de que seria engraçado optou pela representação racista de um homem negro sexualizado com um órgão genital grande uma imagem que circulava na época entre grupos de WhatsApp A foto de sua fantasia que ficou em quarto lugar no concurso chegou à sede norteamericana que demitiu o empregado O gerente da área em que ele trabalhava disse que a demissão havia sido exagerada o que o fez ser demitido também Então o presidente da filial brasileira defendeu os dois dizendo se tratar de uma grande brincadeira Resultado também foi demitido O que é notável nesse episódio é como o caso foi conduzido e a grande repercussão mas a agressão propriamente dita é infelizmente apenas uma variante das muitas formas de violência a que pessoas negras são expostas ainda hoje nos ambientes de trabalho A experiência internacional é rica em exemplos que podem servir de inspiração Na Noruega todas as empresas nacionais destinam 40 dos assentos em conselhos de administração para mulheres A proposta veio de um parlamentar do Partido Conservador com o argumento Se a gente não pensasse em políticas de reparação e equidade só contrataria os homens com os quais a gente joga golfe no domingo De fato se só convivemos com pessoas de um determinado grupo ou classe social acreditamos que só aquelas pessoas possuem capacidade para determinados cargos relegando outros grupos a lugares predeterminados como se não fossem sujeitos capazes O que esse político norueguês coloca é a importância de questionarem desigualdades Devemos nos perguntar quantos talentos o Brasil perde todos os dias por causa do racismo A situação é ainda mais grave para mulheres negras que são muitas vezes destinadas ao subemprego quantas físicas biólogas juízas sociólogas etc estamos perdendo Políticas que obrigam as empresas a pensar e criar ações antirracistas poderiam reverter esse quadro No Brasil a Lei de Cotas para o Serviço Público Federal visa diminuir desigualdades Declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal em 2017 ficou estipulado que a desequiparação promovida pela política de ação afirmativa em questão está em consonância com o princípio da isonomia Ela se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira e garantir a igualdade material entre os cidadãos por meio da distribuição mais equitativa de bens sociais e da promoção do reconhecimento da população afrodescendente8 O racismo assume diversas dimensões num ambiente de trabalho o que demanda análise constante das práticas corporativas Por causa disso diversas empresas têm buscado consultorias especializadas para rever sua política de diversidade preocupadas em se atualizar em relação aos novos marcos civilizatórios Isso é resultado do trabalho de organizações negras como o Ceert que lutam há décadas para introduzirem essas questões urgentes no mercado de trabalho Há dezenas de consultorias de diversidade atuando nas várias regiões do Brasil Procure conhecer mais sobre elas informese sobre o trabalho do Ceert introduza o tema na empresa em que trabalha assim você contribui com um ambiente mais diverso democrático e produtivo MESMO VENCENDO todos os obstáculos que acompanham a pele não branca e ingressando na pós graduação o estudante encontrará outro desafio o epistemicídio isto é o apagamento sistemático de produções e saberes produzidos por grupos oprimidos A renomada feminista negra Sueli Carneiro traduziu epistemicídio conceito originalmente proposto pelo sociólogo português Boaventura Sousa Santos em sua tese de doutorado da seguinte forma Aliase nesse processo de banimento social a exclusão das oportunidades educacionais o principal ativo para a mobilidade social no país Nessa dinâmica o aparelho educacional tem se constituído de forma quase absoluta para os racialmente inferiorizados como fonte de múltiplos processos de aniquilamento da capacidade cognitiva e da confiança intelectual É fenômeno que ocorre pelo rebaixamento da autoestima que o racismo e a discriminação provocam no cotidiano escolar pela negação aos negros da condição de sujeitos de conhecimento por meio da desvalorização negação ou ocultamento das contribuições do continente africano e da diáspora africana ao patrimônio cultural da humanidade pela imposição do embranquecimento cultural e pela produção do fracasso e evasão escolar A esse processo denominamos epistemicídio 9 Os sinais de apagamento da produção negra são evidentes É raro que as bibliografias dos cursos indiquem mulheres ou pessoas negras mais raro ainda é que indiquem a produção de mulheres negras cuja presença no debate universitário e intelectual é extremamente apagada Durante os quatro anos de minha graduação em filosofia não me sugeriram a leitura de nenhuma autora branca que dirá negra A gravidade disso está exemplificada por Abdias do Nascimento em O genocídio do negro brasileiro no qual afirma que genocídio é toda forma de aniquilação de um povo seja moral cultural ou epistemológica Por nossa posição no arranjo geopolítico global a produção de intelectuais negras brasileiras tende a ser muito menos difundida do que a de países como os Estados Unidos causando atraso em debates que poderiam estar muito mais avançados Um belo exemplo de feminista negra brasileira é Lélia Gonzalez atuante nas décadas de 1970 e 1980 e professora do curso de sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro que encantou plateias com o poder transformador de suas palavras As propostas de Lélia para pensar a amefricanidade propondo um feminismo afrolatinoamericano se perpetuam até hoje ao se propor uma luta transnacional O apagamento da produção e dos saberes negros e anticoloniais contribui significativamente para a pobreza do debate público seja na academia na mídia ou em palanques políticos Se somos a maioria da população nossas elaborações devem ser lidas debatidas e citadas A importância de estudar autores negros não se baseia numa visão essencialista ou seja na crença de que devem ser lidos apenas por serem negros A questão é que é irrealista que numa sociedade como a nossa de maioria negra somente um grupo domine a formulação do saber É possível acreditar que pessoas negras não elaborem o É mundo É sobre isso que a escritora Chimamanda Ngozi Adichie alerta ao falar do perigo da história única O privilégio social resulta no privilégio epistêmico que deve ser confrontado para que a história não seja contada apenas pelo ponto de vista do poder É danoso que numa sociedade as pessoas não conheçam a história dos povos que a construíram Para escrever este pequeno manual me inspirei em textos e livros de diversos autores e intelectuais negros que cito com reverênciaas obras mencionadas estão nas referências bibliográficas ao final deste livro Leia Abdias do Nascimento Adilson Moreira Alessandra Devulsky Angela Davis Audre Lorde bell hooks Carla Akotirene Chimamanda Ngozi Adichie Cida Bento Conceição Evaristo Elisa Lucinda Grada Kilomba Joel Zito Araújo Joice Berth Juliana Borges Kabengele Munanga Lélia Gonzalez Letícia Carolina Pereira do Nascimento Luciana Boiteux Michelle Alexander Neusa Santos Sousa Rodney William Eugênio Silvio Almeida Sueli Carneiro Há tantos outros Clóvis Moura Fernanda Felisberto Nilma Lino Gomes impossível citar todos E muitos mais que não conheço ainda As construções sobre raça se dão de forma singular e complexa nas diferentes regiões do país Por isso precisamos conhecer a produção de mulheres negras de fora das grandes metrópoles como Nilma Bentes Zélia Amador e Marcela Bonfim e ampliar as nossas visões de mundo Procure conhecer o trabalho realizado por núcleos de estudos afrobrasileiros em universidades valorize editoras que publicam produções intelectuais negras e apoie iniciativas que têm como objetivo a visibilidade de pensamentos decoloniais Precisamos ir além do que já conhecemos TODA VEZ QUE VOU dar uma palestra pode ser sobre racismo diversidade ou o pensamento de Simone de Beauvoir alguém me pergunta sobre apropriação cultural mais precisamente sobre o uso de turbantes por pessoas não negras Alguns anos atrás houve uma polêmica nas redes sociais em que uma moça branca afirmava que um grupo de mulheres negras teria arrancado o turbante dela à força Há quem não acredite que a situação tenha se dado assim porém como a história viralizou nas redes sociais é comum que as pessoas tenham dúvidas sobre esse tema Em primeiro lugar é importante dizer que o debate sobre apropriação cultural não deve ser reduzido a poder ou não usar turbante A discussão pertinente é aquela que denuncia o quanto culturas negras e indígenas foram expropriadas e apropriadas historicamente Nos processos de colonização a visão de cultura do colonizador foi imposta enquanto bens culturais eram saqueados Um exemplo disso são as coleções dos principais museus da Europa onde hoje se encontram objetos de diferentes países africanos asiáticos e americanos peças que com certeza devem significar muito para essas culturas A questão crucial desse debate é que o interesse pela cultura de certos povos não caminha lado a lado com o desejo de restituir a humanidade de grupos oprimidos Assim muitas pessoas que consomem cultura negra não se preocupam com as mazelas que a população negra vive no país Ou ainda não se importam com o embranquecimento dessas culturas Como bem explica o antropólogo Rodney William apropriação cultural não diz respeito ao que pode ou não ser usado Não é sobre branco não poder usar turbante cantar samba ou jogar capoeira A questão da apropriação cultural é sobre uma estrutura de poder Há um poder instituído na sociedade desde a colonização que delega aos dominantes o direito de definir quem é inferior nessa estrutura e como se pode dispor de suas produções culturais e até de seus corpos10 Outro ponto importante é perceber em que medida um elemento cultural foi esvaziado de sentido Portanto é fundamental debater o papel do capitalismo na perpetuação do racismo Por exemplo uma marca de luxo pode fazer uma coleção de moda inspirada em elementos da cultura negra porém só contratar modelos brancas para o desfile essas peças chegam ao consumidor já destituídas de sentido O debate dessa forma precisa ser estrutural não individual É importante que se tenha uma preocupação real em não desrespeitar os símbolos de outras culturas Para isso devese nutrir empatia pelos diversos grupos existentes na sociedade um processo intelectual que é construído ao longo do tempo e exige comprometimento quando eu conheço uma cultura eu a respeito Então é essencial estudar escutar e se informar O debate sobre racismo se mostra urgente quando falamos de mídia e de acesso a recursos para produções audiovisuais No documentário A negação do Brasil o diretor Joel Zito Araújo analisa a influência das telenovelas no imaginário coletivo nacional enquanto faz uma denúncia contra o racismo televisivo e o papel estereotipado destinado a atores negros e atrizes negras Remontando ao exemplo de black face isto é quando personagens negros são representados por atores brancos com o rosto pintado ocorrido na novela A A cabana do Pai Tomás de 1969 na qual o ator Sérgio Cardoso se pintou de preto para interpretar o papel do protagonista o escravizado Tomás o cineasta apresenta um panorama do racismo na teledramaturgia brasileira Na novela A escrava Isaura por exemplo uma adaptação de Gilberto Braga do romance homônimo de Bernardo Guimarães 1875 apesar de no livro a personagemtítulo ser uma mulher negra a atriz que a interpretou foi Lucélia Santos uma mulher branca O diretor apresenta muitos casos de racismo e critica o lugar subalterno a que personagens negros são relegados para além da reivindicação justa por representatividade também se deve questionar o modo como estamos sendo retratados Muitas vezes atores negros são contratados para atuarem como bandido ou bêbado no caso dos homens ou como empregada doméstica ou a gostosa no caso das mulheres O professor de direito antidiscriminatório Adilson Moreira identificou os elementos do que ele chama de racismo recreativo um mecanismo que encobre a hostilidade racial por meio do humor No livro que escreveu sobre o tema Moreira nomeia alguns estereótipos Tião Macalé o feio Mussum o bêbado Vera Verão a bicha preta O primeiro exemplo Tião Macalé foi um personagem do conhecido programa humorístico Os Trapalhões interpretado pelo ator negro Augusto Temístocles da Silva Costa Macalé era retratado sem a maioria dos dentes pois a feiura do personagem seria responsável pelo efeito cômico segundo Moreira Mais recentemente Adelaide personagem do programa Zorra Total interpretado pelo ator Rodrigo SantAnna seguia o mesmo modelo cômico de Macalé O ator se caracterizava de mulher pintava a pele de preto e colocava uma prótese que dava a impressão de que Adelaide não possuía alguns dentes da frente Caracterizado como a negra pobre desdentada o bordão cômico da personagem era a cara da riqueza Já Mussum um dos personagens mais populares da TV nas décadas de 1980 e 1990 interpretado pelo ator Antônio Carlos Bernardes Gomes era o estereótipo do bêbado Um dos elementos cômicos do programa Os Trapalhões era direcionar piadas racistas ao personagem Segundo Moreira o efeito cômico de Mussum era um exemplo do tipo de humor que visa provar uma suposta superioridade do homem branco em relação ao homem negro uma vez que os personagens brancos eram representados de forma sóbria Por fim Vera Verão personagem interpretado pelo ator Jorge Luís Sousa Lima era o estereótipo do homossexual negro promíscuo que tentava seduzir homens de maneira direta porém sempre sendo rejeitado Já Sueli Carneiro ao escrever sobre Terra Nostra novela dos anos 19992000 de muito sucesso responde aos elogios de que a novela estaria contribuindo para a autoestima da comunidade italiana No artigo Terra Nostra só para os italianos Sueli relembra alguns dos diálogos Assistimos ao menino Tiziu reclamar de sua sorte ingrata com a seguinte frase Deus não quis me embranquecer Imagine o impacto dessas frases na autoestima da comunidade negra especialmente sobre as crianças negras Em outra passagem Sueli relembra O barão do café pondera com seu contratador sobre a impossibilidade de abrigar os italianos nas senzalas desertas pela abolição Diz ele São brancos Trazem no coração o espírito da liberdade Não vão aceitar essa história de senzala Então Sueli conclui Considerando que os personagens negros não têm relevância na trama a sua presença e a imagem negativa que veiculam prestamse unicamente a ratificar a suposta superioridade do branco11 As frases destacadas por Sueli Carneiro refletem a história da população negra no Brasil que após séculos de escravização viram imigrantes europeus receberem incentivos do Estado brasileiro inclusive com terras enquanto a negritude formalmente liberta pela Lei Áurea era deixada à margem Os incentivos para imigrantes fizeram parte de uma política oficial de branqueamento da população do país com base na crença do racismo biológico de que negros representariam o atraso Essa perspectiva marcou a história brasileira valorizando culturas europeias em detrimento da cultura negra segregando a população negra de diversas formas inclusive por leis e pela esterilização forçada de mulheres negras prática que o Estado brasileiro manteve até um passado recente como comprovado pela CPI da Esterilização de 1992 proposta pela deputada federal Benedita da Silva e resultado da pressão feita por feministas negras nos anos 1980 Esses são alguns exemplos de estereótipos que confinam atores negros e atrizes negras resultando em poucas opções de personagens que não sejam marcados por essas violências simbólicas Enquanto atores brancos e atrizes brancas recebem amplas oportunidades de representação na indústria audiovisual negros e negras ainda lutam para que suas atuações não firam a humanidade de pessoas negras Do mesmo modo ainda são poucos os cineastas roteiristas e produtores negros as opções ficam limitadas como resultado do racismo estrutural Nas redações de jornais não é diferente Segundo o Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa Gemaa núcleo de pesquisas sediado na Uerj nem 10 dos colunistas dos grandes jornais são negros No meu caso quando comecei a escrever na CartaCapital comentando filmes livros ou textos de outras pessoas mais de uma vez alguém ligou furioso na redação dizendo que eu não havia entendido o que quiseram dizer Eu achava curioso pois era como se a crítica de uma pessoa negra ao trabalho de uma pessoa branca rompesse com o pacto narcísico O racismo conhece o potencial transformador da potente voz de grupos historicamente silenciados Quando assistir a um filme ou a uma novela procure refletir sobre a presença ou a ausência de atores e atrizes negros Quantas pessoas negras estão atuando Que personagens interpretam O mesmo vale para qualquer produto cultural quando for a uma exposição de arte a uma festa literária a um debate sobre poesia quando ler um livro ou folhear uma revista E para você que pode contratar profissionais da cultura ou investir em projetos culturais reflita quem você escolhe para a equipe e quais temas estão sendo tratados Você está fazendo o que pode para contribuir para a luta antirracista AS MULHERES NEGRAS são ultrassexualizadas desde o período colonial No imaginário coletivo brasileiro propagase a imagem de que são lascivas fáceis e naturalmente sensuais Essa ideia serve inclusive para justificar abusos mulheres negras são as maiores vítimas de violência sexual no país Obviamente a questão não é sobre a sensualidade de determinada mulher mas sim sobre necessidade de enquadrar mulheres negras nesse estereótipo É importante refutar a visão colonial que via os corpos negros como violáveis Respeito muito o importante trabalho de passistas de escola de samba por exemplo que lutam para perpetuar o verdadeiro legado do samba O nu só deveria ser problematizado quando utilizado dentro da lógica colonial Quando Gilberto Freyre em Casagrande senzala faz afirmações como O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhômoço12 ele contribui para a fetichização As mulheres negras escravizadas eram tratadas como mercadoria propriedade portanto não tinham escolha Nesse contexto não há como negar que elas eram estupradas pelos senhores de engenho Ao afirmar que nós carregamos a marca Luiza Bairros exemplifica bem a ultrassexualização dos corpos negros femininos que faz com que a imagem das mulheres negras seja vista sob o prisma da exotização Luiza denunciou de forma obstinada a violência mascarada pelo mito da democracia racial Ou pior que mascarada a marca em vez de ser problematizada é vista como um elogio da beleza negra Essa sexualização retira a humanidade das mulheres pois deixamos de ser vistas com toda a complexidade do ser humano Somos muitas vezes importunadas tocadas invadidas sem a nossa permissão Muitas vezes temos nossos nomes ignorados sendo chamadas de nega São atitudes que parecem inofensivas mas que para mulheres negras são recorrentes e violentas O racismo somado ao machismo já me fez passar por situações absurdas Enquanto eu cursava filosofia um colega metido a engraçado perguntou Por que você uma negra bonita está queimando seus neurônios estudando filosofia Outro me questionou por que eu não arrumava um gringo rico pra casar Na cabeça deles por eu ser uma negra bonita meu lugar não era na universidade A poeta e escritora Elisa Lucinda tem uma frase forte mas muito pertinente Deixar de ser racista não é comer uma mulata A autora chama atenção para o fato de que se relacionar com uma pessoa negra não significa ter uma consciência antirracista Primeiro porque é necessário entender como essa relação se dá Se ela segue signos racistas como a ideia de que mulheres negras são quentes e naturalmente sensuais ou ainda se a pessoa só procura pessoas negras para relações casuais e não para um compromisso duradouro a relação é pautada pelo racismo Recentemente o tema da solidão da mulher negra se tornou objeto de pesquisas acadêmicas Em sua dissertação de mestrado posteriormente publicada em livro com o título Virou regra Claudete Alves discute como o racismo é um fenômeno que abarca a dimensão afetiva e sexual da mulher negra que fica à margem das escolhas afetivas de homens brancos e negros Ana Cláudia Lemos Pacheco aborda o mesmo assunto em sua tese de doutorado Branca para casar mulata para f negra para trabalhar Escolhas afetivas e significados de solidão entre mulheres negras em Salvador Numa sociedade racista machista e heteronormativa as mulheres negras ficaram relegadas ao papel de servir seja na cozinha seja na cama Dados do Censo 2010 mostram que as mulheres negras são as que menos se casam e entre as com mais de cinquenta anos elas são maioria na categoria celibato definitivo ou seja que nunca viveram com um cônjuge13 Obviamente não pretendo sugerir com quem as pessoas devem se relacionar A questão é revelar os processos históricos que fazem com que as mulheres negras sobretudo as retintas sejam sistematicamente preteridas como se não fossem dignas de serem amadas É preciso questionar padrões estéticos que desumanizam as mulheres negras Em seu ensaio Vivendo de amor bell hooks ressalta a importância do amor na vida das mulheres negras sobretudo o amorpróprio Quando nos amamos sabemos que é preciso ir além da sobrevivência ela afirma Esse é um entendimento fundamental para que mulheres negras possam perceber que merecem amor em suas vidas Em outra esfera há a relação de afeto por conveniência que ocorre por exemplo com a trabalhadora doméstica Apesar do avanço da legislação nos anos 2000 muitas vezes essa profissional não tem seus direitos assegurados nem condições dignas de trabalho já que segundo seus patrões ela é quase da família É mais fácil amar pessoas negras quando elas estão no seu devido lugar Minha mãe foi empregada doméstica por alguns anos antes de conhecer meu pai Quando anunciou que se casaria e que a partir daquele momento não trabalharia mais sua antiga patroa tentou fazêla desistir do relacionamento inclusive inventando histórias sobre o futuro marido Portanto minha mãe só podia ser amada enquanto permanecesse no lugar que julgavam ser o dela Em relacionamentos interraciais muitas vezes as pessoas de fora dizem esperar que o filho do casal carregue traços mais parecidos com o genitor de pele branca No entanto atribuir uma qualidade negativa ao fenótipo negro falando coisas como cabelo ruim diz muito sobre os padrões de beleza racistas impostos em nossa sociedade Como a norma é branca tudo que difere é visto como o que não é bom Dessa forma é fundamental que pessoas brancas compreendam os mecanismos pelos quais o racismo opera pois podem reproduzilos acreditando estarem imunes por terem um marido uma esposa ou um filho negros Estar atento ao que a pessoa negra da família relata é um passo importante Falase muito em empatia em colocarse no lugar do outro mas empatia é uma construção intelectual ética e política Ao amar alguém de um grupo minorizado devese entender a condição do outro para que se possa de fato assumir ações para o combate de opressões das quais a pessoa amada é vítima É uma postura ética questionar as próprias ações em vez de utilizar a pessoa amada como escudo A escuta portanto é fundamental ENTRE 2007 E 2018 553 mil pessoas foram assassinadas no Brasil O total de mortos é maior do que o da Síria país que enfrenta há sete anos uma guerra civil e que segundo estimativa da Organização das Nações Unidas ONU contabiliza 500 mil mortos Portanto não surpreende que o tema da segurança pública tenha ganhado tanta importância nas últimas eleições Mas é preciso lembrar que a vítima preferencial tem pele negra O Atlas da Violência de 2018 realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que a população negra está mais exposta à violência no Brasil Os negros representam 558 da população brasileira e são 715 das pessoas assassinadas Entre 2006 e 2016 a taxa de homicídios de indivíduos não negros brancos amarelos e indígenas diminuiu 68 enquanto no mesmo período a taxa de homicídios da população negra aumentou 231 Segundo dados da Anistia Internacional a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil o que evidencia que está em curso o genocídio da população negra sobretudo jovens Infelizmente o assunto só ganha destaque no debate público quando um caso muito violento chega aos noticiários como o brutal assassinato de Evaldo dos Santos por agentes do Exército no Rio de Janeiro No dia 7 de abril de 2019 o carro em que Evaldo e sua família estavam foi alvejado por militares Inicialmente divulgouse que foram disparados 83 tiros mas o total chegou a 25714 Na época muitas pessoas se manifestaram diante desse absurdo O que muitas dessas pessoas talvez ignorem é que esse não foi um caso isolado ele integra uma política de segurança pública voltada para a repressão e o extermínio de pessoas negras sobretudo homens Na maior parte das vezes o Judiciário é uma extensão da viatura policial não se exige uma investigação detalhada nem se admite o contraditório para quem é acusado pela seletividade do sistema No entanto mesmo com tantos casos comprovados de abuso policial que resultam em prisões descuidadas e injustas a naturalização dessa violência levou o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a ter como súmula isto é uma decisão que de tantas vezes proferida se torna um entendimento cristalizado admitir como elemento suficiente para a condenação apenas a palavra dos policiais que efetuaram a prisão A conhecida súmula 80 reflete um entendimento comum a todos os tribunais do país Segundo um estudo da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas Senad do Ministério da Justiça entre março de 2016 e janeiro de 2018 os policiais foram as únicas testemunhas em 7114 dos processos envolvendo tráfico Não se trata aqui de dizer que nenhum policial é digno de crédito porém um julgamento não pode se pautar única e exclusivamente pela palavra de quem prendeu pois se corre o risco de tornar o policial juiz e carrasco do caso Historicamente o sistema penal foi utilizado para promover um controle social marginalizando grupos considerados indesejados por quem podia definir o que é crime e quem é o criminoso No Brasil foram várias as legislações que visavam criminalizar a população negra como a Lei de Vadiagem de 1941 que perseguia quem estivesse na rua sem uma ocupação clara justamente numa época de alta taxa de desemprego entre homens negros Hoje a chamada guerra às drogas serve como pretexto para uma guerra contra a população negra O tema se tornou ainda mais urgente após a Lei n 11343 de 2006 que estabeleceu uma diferenciação subjetiva entre traficante e usuário O que teoricamente parecia ser um avanço na verdade contribuiu para a explosão da população carcerária isso porque quem define quem é traficante e quem é usuário é o juiz o que é feito muitas vezes com base na discriminação racial Em 2015 um homem negro teve sua condenação a quatro anos e onze meses de prisão pelo tráfico de 002 grama de maconha mantida pelo Superior Tribunal de Justiça Ele já havia sido julgado por um juiz de primeira instância e pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais O exemplo é ilustrativo da produção em massa de uma população carcerária condenada por quantidades muito pequenas de substâncias ilícitas estão presos na verdade por sua cor O critério subjetivo acentua a já profunda discriminação racial Para comparação não há violência policial em ambientes ricos como festas universitárias mesmo sabendose do uso de drogas nesses lugares como ocorre nas periferias Há portanto um contexto de criminalização da pobreza Sabemos que hoje dois em cada três presos no Brasil são negros Sabemos também que o tráfico lidera as tipificações para o encarceramento 26 dos homens estão presos por tráfico chegando a 62 no caso das mulheres Também vale destacar que em quinze anos a prisão de mulheres aumentou 5674 Segundo o relatório MulhereSemPrisão Enfrentando a invisibilidade das mulheres submetidas à justiça criminal desenvolvido pelo Instituto Terra Trabalho e Cidadania ITTC 68 das encarceradas são negras a maioria é mãe não possui antecedentes criminais e tem dificuldade de acesso a empregos formais Como afirma Carla Akotirene em sua dissertação de mestrado Ó pa í prezada Racismo e sexismo institucionais tomando bonde no Conjunto Penal Feminino de Salvador a prisão precisa ser analisada na contemporaneidade sobre alicerces interseccionais de raça classe e gênero Akotirene identifica na perspectiva das mulheres um aspecto de sexismo e racismo institucionais em concordância com a inclinação observada da polícia em ser arbitrária com o segmento negro sem o menor constrangimento de punir os comportamentos das mulheres de camadas sociais estigmatizados como sendo de caráter perigoso inadequado e passível de punição15 Ainda segundo o relatório MulhereSemPrisão o Poder Judiciário brasileiro prende essas mulheres sem oferecer medidas alternativas A feminista e militante antiproibicionista e antipunitivista Juliana Borges tomando como base o trabalho da pesquisadora e advogada Luciana Boiteux denuncia violações de direitos humanos contra essas mulheres No caso das mulheres é muito comum o relato de buscas e apreensões invasões sem mandado de busca em seus domicílios tortura e humilhação para obter informações que sequer elas têm conhecimento relatos de prisão pela proximidade com algum familiar envolvido com o tráfico prisões quando transportando pequenas quantidades sendo que muitas são intimidadas a fazer isso A imensa maioria dessas mulheres é ré primária ou seja jamais teve passagem pelos registros policiais16 Como diz a advogada estadunidense Michelle Alexander A confusão da negritude com o crime não ocorreu naturalmente Ela foi construída pelas elites políticas e midiáticas como parte de um amplo projeto conhecido como Guerra às Drogas Essa confusão serviu para fornecer uma porta de saída legítima para a expressão do ressentimento e do animus antinegros uma válvula de escape conveniente agora que as formas explícitas de preconceito racial estão estritamente condenadas Na era da neutralidade racial já não é permitido odiar negros mas podemos odiar criminosos Na verdade nós somos encorajados a fazer isso 17 Há vários textos para se aprofundar no debate sobre segurança pública política de drogas e antipunitivismo O tema é complexo porém é essencial para entender a realidade do país especialmente quando temos elementos que indicam que está ocorrendo um genocídio da população negra Numa sociedade violenta como a nossa é natural sentirmos medo Em especial dessa violência generalizada que o próprio Estado promovee por isso devemos denunciar a violência policial Porém é muito triste constatar que por outro lado o Brasil é o país onde mais morrem policiais A maioria deles vem da classe trabalhadora muitas vezes dos mesmos lugares onde jovens negros estão sendo assassinados Se a polícia é o braço armado do Estado opressor é também um dos lados que cai com essa guerra Como já afirmou a socióloga Denise Ferreira da Silva o assassinato dos jovens negros deveria criar uma crise ética na sociedade brasileira18 No entanto não há revolta com tanto sangue derramado enquanto há enorme comoção na mídia quando a violência tira a vida de uma pessoa branca Devemos nos perguntar por que não se dá o mesmo valor a essas vidas Nos Estados Unidos após a absolvição do policial George Zimmerman que matou a tiros o adolescente negro Trayvon Martin surgiu o importante movimento Black Lives Matter Vidas negras importam Em 2014 o grupo ficou conhecido nacionalmente depois das manifestações contra os assassinatos dos jovens Michael Brown em Ferguson e Eric Garner em Nova York Desde então o movimento vem fazendo um trabalho de denúncia da violência policial questionando políticos e incitando o debate público No Brasil existem vários movimentos e organizações engajadas em questionar o modelo punitivista e em combater abusos por parte do Estado como a Iniciativa Negra a Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio o projeto Movimentos o Instituto de Defesa do Direito de Defesa IDDD o Fórum Brasileiro de Segurança Pública entre outros Há várias maneiras de apoiar o trabalho dessas pessoas quer seja financeiramente divulgando as iniciativas ou comparecendo a eventos e manifestações PERCEBERSE CRITICAMENTE implica uma série de desafios para quem passa a vida sem questionar o sistema de opressão racial A capacidade desse sistema de passar despercebido mesmo estando em todos os lugares é intrínseca a ele Acordar para os privilégios que certos grupos sociais têm e praticar pequenos exercícios de percepção pode transformar situações de violência que antes do processo de conscientização não seriam questionadas Este pequeno manual serve assim como um guia para adentrar debates complexos e com desdobramentos diversos Esta leitura pretende refletir na tomada de atitudes antirracistas sobretudo para quem busca uma postura ética em sua existência Claro que há diferentes modos de percepção dos temas aqui tratados Assim como ocorre com o movimento feminista o movimento negro não é homogêneo e tem profundas discordâncias internas portanto este manual está longe de querer esgotar qualquer assunto Pessoas brancas devem se responsabilizar criticamente pelo sistema de opressão que as privilegia historicamente produzindo desigualdades e pessoas negras podem se conscientizar dos processos históricos para não os reproduzir Este livro é uma pequena contribuição para estimular o autoconhecimento e a construção de práticas antirracistas ADICHIE Chimamanda Ngozi O perigo de uma história única São Paulo Companhia das Letras 2019 ALEXANDER Michelle A nova segregação Racismo e encarceramento em massa São Paulo Boitempo 2018 ALMEIDA Nizan Pereira A construção da invisibilidade e da exclusão da população negra nas práticas e políticas educacionais no Brasil Tese de doutorado em educação Curitiba Universidade Federal do Paraná 2014 ALMEIDA Silvio Racismo estrutural São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais ALVES Claudete Virou regra São Paulo Scortecci 2011 ANDIFES e FONAPRACE V Pesquisa do perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação 2019 Acesso em 23 ago 2019 BASTIDE Roger FERNANDES Florestan Brancos e negros em São Paulo 2 ed São Paulo Companhia Editora Nacional 1959 BEAUVOIR Simone de O segundo sexo Rio de Janeiro Nova Fronteira 2009 BENJAMIN Walter Teses sobre o conceito de história In Obras escolhidas Trad de Sergio Paulo Rouanet São Paulo Brasiliense 1996 v 1 Magia e técnica arte e política pp 22232 BENTO Maria Aparecida da Silva Pactos narcísicos no racismo Branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público Tese de doutorado em psicologia Universidade de São Paulo 2002 BERTH Joice O que é empoderamento São Paulo Pólen 2018 Coleção Feminismos Plurais BORGES Juliana Encarceramento em massa São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais BULGARELLI Reinaldo Diversos somos todos Valorização promoção e gestão da diversidade nas organizações São Paulo Editora de Cultura 2008 CARNEIRO Sueli A construção do outro como nãoser como fundamento do ser Tese de doutorado em educação Universidade de São Paulo 2005 Escritos de uma vida Belo Horizonte Letramento 2018 CEERT Negros representam menos de 1 do corpo jurídico de grandes escritórios 21 mar 2019 Acesso em 23 ago 2019 COLLINS Patricia Hill Pensamento feminista negro São Paulo Boitempo 2019 DAVIS Angela Mulheres raça e classe São Paulo Boitempo 2016 DEFENSORIA Pública do Estado do Rio de Janeiro Relatório final pesquisa sobre as sentenças judiciais por tráfico de drogas na cidade e região metropolitana do Rio de Janeiro Acesso em 19 set 2019 FREYRE Gilberto Casagrande senzala São Paulo Global 2003 GONZALEZ Lélia Racismo e sexismo na cultura brasileira In KEMPER Anna Katrin Coord Psicanálise e política Rio de Janeiro Clínica Social de Psicanálise 1981 pp 15580 A categoria políticocultural de amefricanidade Tempo Brasileiro Rio de Janeiro n 923 pp 6982 1988 HOOKS bell Vivendo de amor In WERNECK Jurema MENDONÇA Maisa WHITE Evelyn C Orgs O livro da saúde das mulheres negras Nossos passos vêm de longe Rio de Janeiro Pallas Criola 2000 pp 18493 INSTITUTO Terra Trabalho e Cidadania MulhereSemPrisão Enfrentando a invisibilidade das mulheres submetidas à justiça criminal 2019 Acesso em 23 ago 2019 IPEA Fórum Brasileiro de Segurança Pública Atlas da violência 2016 Brasília Ipea FBSP 2016 Acesso em 23 ago 2019 Atlas da violência 2018 Brasília Ipea FBSP 2018 Acesso em 23 ago 2019 KATHLEEN Cleaver on Natural African Hair 9 maio 2011 Acesso em 23 ago 2019 KILOMBA Grada Memórias da plantação Episódios de racismo cotidiano Rio de Janeiro Cobogó 2019 KLEIN Herbert S Novas interpretações do tráfico de escravos do Atlântico Revista de História n 120 janjul 1989 KOPENAWA Davi ALBERT Bruce A queda do céu Palavras de um xamã yanomami São Paulo Companhia das Letras 2015 KRENAK Ailton Ideias para adiar o fim do mundo São Paulo Companhia das Letras 2019 LUCINDA Elisa 50 poemas escolhidos pelo autor Rio de Janeiro Galo Branco 2004 MILENA Lilian Kabengele Munanga o antropólogo que desmistificou a democracia racial no Brasil Carta Maior 15 maio 2019 Acesso em 23 ago 2019 MOREIRA Adilson Racismo recreativo São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais MOURA Clóvis Sociologia do negro brasileiro São Paulo Ática 1988 MUNANGA Kabengele Negritude Usos e sentidos Belo Horizonte Autêntica 2015 MUNANGA Kabengele Origens africanas do Brasil contemporâneo Histórias línguas culturas e civilizações São Paulo Global 2009 MUNDURUKU Daniel O banquete dos deuses Conversa sobre a origem e a cultura brasileira São Paulo Global 2015 NASCIMENTO Abdias Teatro Experimental do Negro Trajetória e reflexões Estudos Avançados São Paulo v 18 n 50 pp 20924 2004 O genocídio do negro brasileiro Processo de um racismo mascarado São Paulo Perspectiva 2016 PACHECO Ana Cláudia Lemos Branca para casar mulata para f negra para trabalhar escolhas afetivas e significados de solidão entre mulheres negras em Salvador Bahia Tese de doutorado em ciências sociais PROCURADORIA Geral do Estado do Rio de Janeiro Relatório final sobre a efetividade da Lei de Cotas nas universidades estaduais 2017 Acesso em 2 set 2019 RIBEIRO Djamila O que é lugar de fala São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais SANTOS Carla Adriana da Silva Carla Akotirene Ó pa í prezada Racismo e sexismo institucionais tomando bonde no Conjunto Penal Feminino de Salvador Dissertação de mestrado em estudos interdisciplinares sobre mulheres gênero e feminismo Universidade Federal da Bahia 2014 SCHWARCZ Lilia Moritz Sobre o autoritarismo brasileiro São Paulo Companhia das Letras 2019 SILVA Denise Ferreira da Ninguém direito racialidade e violência Meritum v 9 n 1 p 67117 janjun 2014 SOUZA Neusa Santos Tornarse negro ou As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social Rio de Janeiro Graal 1983 SUPREMO Tribunal Federal Ação Declaratória de Constitucionalidade 41 Acesso em 19 set 2019 TELES Maria Amélia de Almeida Breve história do feminismo no Brasil São Paulo Brasiliense 1993 VIEIRA Isabela Pesquisa mostra que raça é fator predominante na escolha de parceiros conjugais EBC 17 out 2012 Acesso em 18 set 2019 WAINER Jacques MELGUIZO Tatiana Políticas de inclusão no ensino superior Avaliação do desempenho dos alunos baseado no Enade de 2012 a 2014 Educação e Pesquisa São Paulo v 44 e162807 2017 WILLIAM Rodney Apropriação cultural São Paulo Pólen 2019 Coleção Feminismos Plurais DJAMILA RIBEIRO nasceu em Santos em 1980 É mestre em filosofia política pela Unifesp colunista do jornal Folha de S Paulo e foi secretáriaadjunta de Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo Coordena a coleção Feminismos Plurais da editora Pólen e é autora de O que é lugar de fala 2017 e Quem tem medo do feminismo negro Companhia das Letras 2018 Seus livros também foram publicados na França e atualmente são preparadas edições em espanhol e em italiano Atua no grupo Promotoras Legais Populares PLPs que forma lideranças femininas em periferias do estado de São Paulo e participa da formação de juízas e juízes visando mudar o olhar judicial sobre a população negra Em 2018 integrou a lista das cem pessoas negras mais influentes do mundo com menos de quarenta anos Mipad na sigla em inglês distinção apoiada pela ONU Em 2019 recebeu do governo francês o título de personalidade do amanhã e ganhou o prêmio holandês Prince Claus por suas ações em defesa dos direitos humanos e da justiça social Como conferencista convidada já esteve em cidades como Madri Paris Barcelona Berlim Frankfurt Weimar Londres Edimburgo Nova York Berkeley Duke Cidade do Cabo Acra além de dezenas de cidades por todo o Brasil ABDIAS DO NASCIMENTO 19142011 foi ator diretor dramaturgo ativista e professor universitário Criador do Teatro Experimental do Negro em 1948 foi um dos pioneiros na luta pela valorização da cultura afro brasileira Preso durante o Estado Novo foi obrigado a exilarse durante a ditadura militar ADILSON MOREIRA é professor e pesquisador doutor em direito constitucional pela Universidade Harvard e pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG É especialista em direito antidiscriminatório Colunista de CartaCapital escreveu Racismo recreativo para a coleção Feminismos Plurais entre outros livros ALESSANDRA DEVULSKY é advogada professora e pesquisadora Tem doutorado em direito econômico pela USP e especialização em direito ambiental Atualmente é professora na Universidade do Quebec no Canadá e diretora jurídica do Instituto Luiz Gama Publicou Edelman Althusserianismo direito e política ANA CLÁUDIA LEMOS PACHECO é socióloga professora e pesquisadora Doutora em ciências sociais é professora da Universidade do Estado da Bahia Uneb Seus principais temas de pesquisa incluem gênero raça e lideranças femininas com ênfase nos bairros populares de Salvador Publicou Mulher negra afetividade e solidão e organizou Gênero trans e multidisciplinar com Alfrancio Ferreira Dias ANGELA DAVIS norteamericana é filósofa professora conferencista e ativista Um dos ícones da luta antirracista e feminista nos Estados Unidos integrou o Partido Comunista e os Panteras Negras Foi presa nos anos 1970 por sua militância política É autora de Mulheres cultura e política entre outros ensaios AUDRE LORDE 193492 norteamericana foi escritora professora e ativista conhecida por sua produção com temática feminista e antirracista Além de poemas e narrativas escreveu livros de ensaios como Sister Outsider e Uses of the Erotic nos quais reflete sobre política feminismo racismo e erotismo BELL HOOKS norteamerciana é professora escritora e ativista Seus livros artigos e conferências abordam as relações de classe gênero e raça na sociedade pósmoderna Publicou mais de trinta livros dos quais os mais influentes são Teaching to Transgress e Teaching Community em que propõe uma pedagogia antissexista e libertária CARLA AKOTIRENE é formada em serviço social pela Universidade Católica de Salvador mestra e doutoranda em estudos sobre mulheres gênero e feminismo pela UFBA É assistente social na Secretaria de Saúde da capital baiana Publicou O que é interseccionalidade da Coleção Feminismos Plurais CHIMAMANDA ADICHIE nigeriana é escritora ensaísta ativista e conferencista Sua obra foi traduzida para mais de trinta línguas É autora de Sejamos todos feministas e Meio sol amarelo entre outros Recebeu diversos prêmios entre eles o Orange Prize e o National Book Critics Circle Award CIDA BENTO é psicóloga pesquisadora e ativista com doutorado pela Universidade de São Paulo USP Fundadora e coordenadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades Ceert em 2015 foi eleita pela revista The Economist uma das cinquenta profissionais mais influentes do mundo no campo da diversidade CLAUDETE ALVES é pedagoga professora escritora e ativista Mestre em ciências sociais pela PUCSP é autora de Virou regra e Negro O Brasil nos deve milhões Foi vereadora de São Paulo por dois mandatos pelo Partido dos Trabalhadores É autora da lei n 137072003 que instituiu o feriado do Dia da Consciência Negra na cidade CLÓVIS MOURA 19252003 foi jornalista sociólogo escritor e pioneiro do ativismo negro Filiado ao Partido Comunista Brasileiro PCB integrou o Movimento Negro Unificado MNU e a União de Negros Pela Igualdade Unegro Escreveu entre outros Dialética radical do Brasil Negro e Dicionário da escravidão negra no Brasil CONCEIÇÃO EVARISTO é escritora professora e ativista Doutora em letras pela Universidade Federal Fluminense UFF estreou na literatura publicando contos na coleção Cadernos Negros Escreveu os romances Ponciá Vicêncio traduzido em inglês e francês e Becos da memória além de poemas e narrativas curtas DENISE FERREIRA DA SILVA é socióloga professora e artista com doutorado pela Universidade de Pittsburgh Lecionou nas Universidades de Londres e San Diego e atualmente é diretora do Social Justice Institute da Universidade da Colúmbia Britânica no Canadá Seus principais temas de pesquisa são raça nação globalização negros Brasil e cultura Participou das bienais de arte de São Paulo e Liverpool ELISA LUCINDA é poeta jornalista atriz e cantora Tem mais de dez livros publicados incluindo poemas contos ensaios e crítica Entre seus títulos mais conhecidos estão Eu te amo e suas estreias e A poesia do encontro com Rubem Alves Atuou em várias novelas filmes e peças de teatro FERNANDA FELISBERTO é doutora em literatura comparada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro Uerj e professora de letras na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ Como pesquisadora atua em cultura afrodescendente literatura africana e gênero Autora de vários artigos e capítulos sobre esses temas organizou a coletânea Terras de palavras Contos afro brasileiros GRADA KILOMBA portuguesa é psicóloga escritora e artista Doutora pela Universidade Livre de Berlim já realizou exposições em vários países Suas obras tematizam gênero racismo e póscolonialismo Entre seus livros mais conhecidos estão Plantation Memories e Who Can Speak Decolonizing Knowledge JOEL ZITO ARAÚJO é diretor roteirista pesquisador e escritor Doutor em comunicação pela USP já realizou seis filmes com ênfase na temática negra Seu drama Filhas do vento foi estrelado por Ruth de Sousa Meu amigo Fela documentário sobre o músico nigeriano Fela Kuti é seu trabalho mais recente JOICE BERTH é arquiteta e urbanista pesquisadora e ativista Seu trabalho aborda o direito à cidade no contexto das questões de raça e gênero Militante feminista publicou O que é empoderamento na coleção Feminismos Plurais Foi colunista do site Justificando e atualmente escreve para a revista CartaCapital JULIANA BORGES é bacharel em letras pesquisadora em antropologia e ativista Foi secretária adjunta de políticas para as mulheres e assessora especial da prefeitura de São Paulo na gestão de Fernando Haddad Escreveu O que é encarceramento em massa para a coleção Feminismos Plurais KABENGELE MUNANGA brasileirocongolês é antropólogo professor e pesquisador Tem doutorado pela USP onde lecionou Dirigiu o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP Atualmente é professor visitante da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UFRB Seus livros mais recentes são O negro no Brasil de hoje com Nilma Lino Gomes e Origens africanas do Brasil contemporâneo LÉLIA GONZALEZ 193594 foi escritora ativista e pesquisadora Doutora em antropologia lecionou na PUCRJ e em outras instituições Participou da fundação do Movimento Negro Unificado MNU do Coletivo de Mulheres Negras NZinga e do Olodum É autora de Lugar de negro entre outros trabalhos sobre gênero política e raça LETÍCIA CAROLINA PEREIRA DO NASCIMENTO é pedagoga e mestre em educação Foi a primeira mulher trans a ingressar no quadro docente da Universidade Federal do Piauí UFPI Atualmente cursa o doutorado em educação e leciona no curso de pedagogia do campus da UFPI em Floriano LUCIANA BOITEUX é advogada professora pesquisadora e ativista Tem doutorado em direito penal pela USP com tese sobre o proibicionismo das drogas e o sistema penal brasileiro É professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ Filiada ao PSOL foi candidata a vice prefeita do Rio de Janeiro na chapa de Marcelo Freixo LUIZA BAIRROS 19532016 foi administradora professora ativista e ministrachefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial entre 2011 e 2014 Doutora em sociologia pela Universidade de Michigan começou sua militância no Movimento Negro Unificado MNU Trabalhou em programas de combate ao racismo da ONU MARCELA BONFIM é economista fotógrafa e ativista Radicada em Rondônia seu trabalho visual investiga a negritude no contexto amazônico com foco em povos quilombolas e afroindígenas Sua exposição ReConhecendo a Amazônia Negra foi apresentada em São Paulo São Luís Fortaleza Porto Velho e Rio Branco MICHELLE ALEXANDER norteamericana é escritora advogada pesquisadora e professora Com passagens pelas universidades da Califórnia Ohio e Stanford e pela Fundação Ford é especialista em direitos civis colunista do New York Times e autora de A nova segregação bestseller sobre o racismo do encarceramento em massa nos Estados Unidos NEUSA SANTOS SOUSA 19482008 foi psiquiatra psicanalista e escritora Escreveu Tornarse negro ensaio de referência sobre os aspectos sociológicos e psicanalíticos da negritude no Brasil Entre outros trabalhos também publicou A psicose Um estudo lacaniano e O objeto da angústia com Maria Silvia G F Hanna NILMA BENTES é engenheira agrônoma escritora e ativista Foi uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará Cedenpa e da Rede Fulanas Negras da Amazônia Brasileira Atualmente integra a coordenação da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras AMNB NILMA LINO GOMES é pedagoga professora pesquisadora e escritora Doutora em antropologia foi a primeira reitora negra de uma universidade federal brasileira a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira Unilab Foi secretária e ministra das Mulheres da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos no governo Dilma Rousseff É autora de entre outros livros Sem perder a raiz e Betina PATRICIA HILL COLLINS norteamericana é socióloga professora pesquisadora e escritora Doutora pela Universidade Brandeis é professora da Universidade de Maryland Foi a primeira negra a presidir a Associação Americana de Sociologia Entre seus trabalhos sobre raça gênero e classe social destacamse Pensamento feminista negro e Black Sexual Politics African Americans Gender and the New Racism RODNEY WILLIAM EUGÊNIO é antropólogo pesquisador e escritor especializado em relações raciais e religiões de matriz africana É mestre em gerontologia e doutorando em ciências sociais pela PUCSP Publicou A bênção aos mais velhos Poder e senioridade nos terreiros de candomblé e Palavras de axé Fé esperança e coragem SILVIO ALMEIDA é advogado professor pesquisador e ativista Doutor em direito pela USP leciona na Universidade Mackenzie e na Fundação Getulio Vargas FGV É presidente do Instituto Luiz Gama Publicou entre outros títulos Sartre Direito e política e Racismo estrutural coleção Feminismos Plurais SUELI CARNEIRO é filósofa pedagoga professora escritora e ativista É doutora em filosofia pela USP e fundadora do Geledés Instituto da Mulher Negra Publicou Racismo sexismo e desigualdade no Brasil e Mulher negra Política governamental e a mulher com Thereza Santos e Albertina Costa ZÉLIA AMADOR é professora pesquisadora e ativista além de atriz e diretora de teatro Tem doutorado em ciências sociais pela Universidade Federal do Pará UFPA onde é professora de história da arte Coordena o Grupo de Estudos AfroAmazônico da universidade da qual foi vicereitora É uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará Cedenpa Copyright 2019 by Djamila Ribeiro Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 que entrou em vigor no Brasil em 2009 Capa Alceu Chiesorin Nunes Preparação Julia Passos Revisão Renata Lopes Del Nero e Adriana Moreira Pedro ISBN 9788554515997 EDITORA SCHWARCZ SA Rua Bandeira Paulista 702 cj 32 04532002São PauloSP Telefone 11 37073500 wwwcompanhiadasletrascombr wwwblogdacompanhiacombr facebookcomcompanhiadasletras instagramcomcompanhiadasletras twittercomcialetras Neusa Santos Souza Tornarse negro ou As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social Rio de Janeiro Graal 1983 p 19 Herbert S Klein Novas interpretações do tráfico de escravos do Atlântico Revista de História n 120 p 18 janjul 1989 Silvio Almeida Racismo estrutural São Paulo Pólen 2019 p 52 Sobre a questão dos povos indígenas sugiro as obras de Daniel Munduruku Ailton Krenak e Davi Kopenawa entre outros Lilian Milena Kabengele Munanga o antropólogo que desmistificou a democracia racial no Brasil Carta Maior 15 maio 2019 Acesso em 23 ago 2019 Roger Bastide Florestan Fernandes Brancos e negros em São Paulo 2 ed São Paulo Companhia Editora Nacional 1959 p 164 Abdias do Nascimento Teatro Experimental do Negro Trajetória e reflexões Estudos Avançados São Paulo v 18 n 50 2004 p 218 Supremo Tribunal Federal Ação Declaratória de Constitucionalidade 41 Acesso em 19 set 2019 Sueli Carneiro A construção do outro como nãoser como fundamento do ser Tese de doutorado em educação Universidade de São Paulo 2005 Rodney William Apropriação cultural São Paulo Pólen 2019 p 109 Coleção Feminismos Plurais Sueli Carneiro Escritos de uma vida Belo Horizonte Letramento 2018 p 104 Gilberto Freire Casagrande senzala São Paulo Global 2003 p 456 Isabela Vieira Pesquisa mostra que raça é fator predominante na escolha de parceiros conjugais EBC 17 out 2012 Acesso em 18 set 2019 Lucas França Laudo aponta 257 disparos em ação do Exército que matou 2 no RJ R7 10 maio 2019 Acesso em 25 set 2019 Carla Adriana da Silva Santos Carla Akotirene Ó pa í prezada Racismo e sexismo institucionais tomando bonde no Conjunto Penal Feminino de Salvador Dissertação de mestrado em estudos interdisciplinares sobre mulheres gênero e feminismo Universidade Federal da Bahia 2014 p 51 Juliana Borges Encarceramento em massa São Paulo Pólen 2019 p 108 Michelle Alexander A nova segregação Racismo e encarceramento em massa São Paulo Boitempo 2018 pp 2812 Denise Ferreira da Silva Ninguém direito racialidade e violência Meritum v 9 n 1 p 67117 janjun 2014