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Filosofia

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Suma Teológica Santo Tomás de Aquino Tomás de Aquino foi antes de tudo um professor Entre os muitos tratados filosóficos e teológicos que escreveu todos marcadamente escolares sobressai a Suma Teológica Tratase de uma síntese dirigida àqueles que iniciavam o estudo do saber teológico Sua intenção era ajudálos a caminhar com ordem e clareza pelos conceitos fundamentais sem se desviar para temas secundários ou controversos Aquino reúne na SUMA a filosofia a teologia e a mística isto é o saber humano a tradição cristã a ética pessoal e social a contemplação e união com Deus tendo sempre como objetivo maior de se alcançar a realização plena do ser humano e da sociedade O Que é a Suma Teológica Suma Teológica é o título da obra básica de São Tomás de Aquino frade teólogo e santo da Igreja Católica um corpo de doutrina que se constitui numa das bases da dogmática do catolicismo e considerada uma das principais obras filosóficas da escolástica Foi escrita entre os anos de 1265 a 1273 Nesta obra Aquino trata da natureza de Deus das questões morais e da natureza de Jesus A obra aqui está completa na tradução clássica de Alexandre Correia Está dividida em Prima Pars Pars Prima Secundae Secunda Secundae Tertia Pars e Suplementos Toda a obra foi compilada do Site Permanência com excessão da Questão 94 com seus Artigos na Pars Prima Secundae que foi tirada do site Filosofia Alguns artigos estavam faltando no site por isso foi necessário fazer a tradução dos mesmos a partir do texto em inglês disponível no site New Advent e também no texto espanhol Na Prima Pars os artigos com a minha tradução são parcialmente o Artigo 3 da Questão 96 e a Questão 100 completa Peço desculpas pelos eventuais erros de tradução porque não sou tradutor profissional e também por eventuais erros na compilação dos artigos Qualquer erro que acharem sugestões ou correções podem me enviar por email Boa leitura a todos e que Deus nos abençoe Disponibilizado em Tratado sobre o homem Questão 75 Da alma em si mesma Depois da consideração da criatura espiritual e corpórea é mister considerar o homem composto da substância espiritual e corpórea E primeiro a natureza do homem mesmo segundo a sua produção Ora considerar a natureza do homem quanto à alma pertence ao teólogo não porém quanto ao corpo senão para tratar da relação que tem este com aquela Por onde a primeira consideração versará sobre a alma E como segundo Dionísio três coisas se encontram nas substâncias espirituais a saber a essência a virtude e a operação consideraremos primeiro as coisas pertencentes à essência da alma segundo as pertencentes à virtude ou às potências dela terceiro as pertencentes à sua operação Sobre o primeiro ponto ocorre dupla consideração a primeira é a da alma mesmo em si a segunda é a da sua união como o corpo Sobre a primeira destas duas considerações sete artigos se discutem Art 1 Se a alma é corpo III Cont Gent cap LXV II De Anima lectI O primeiro discutese assim Parece que a alma é corpo 1 Pois a alma é o motor do corpo Ora não há motor não movido Primeiro porque parece só pode mover aquilo que é movido pois ninguém dá a outrem o que não tem assim o que não é quente não aquece Segundo porque o que se move sem ser movido causaria o movimento sempiterno sempre atualmente do mesmo modo como o prova Filósofo ora tal não se vê no movimento do animal proveniente da alma Logo esta é um motor movido Mas como todo motor movido é corpo a alma logo também o é 2 Demais Todo conhecimento se realiza por alguma semelhança Ora nenhuma semelhança pode haver entre um corpo e um ser incorpóreo se pois a alma não fosse corpo não poderia conhecer as coisas corpóreas 3 Demais É preciso haver algum contato do motor com o movido Ora o contato só há entre corpos Logo como a alma move o corpo resulta que não é corpo Mas em contrário diz Agostinho que a alma é dita simples por comparação com o corpo porque não se difunde pela massa no espaço local SOLUÇÃO Para discutir a natureza da alma é necessário pressupôla como o primeiro princípio da vida dos seres vivos assim dizemos que os seres animados são vivos e as coisas inanimadas carecem de vida Ora esta se manifesta maximamente pela dupla operação do conhecimento e do movimento cujo princípio os antigos filósofos não podendo transcender a imaginação consideravam como corpo pois diziam só os corpos são coisas e o que não é corpo nada é E então consideravam a alma como um certo corpo Ora embora se possa mostrar de múltiplos modos a falsidade dessa opinião empreguemos só um argumento com o qual mais comum e certamente se patenteará que a alma não é corpo Assim é manifesto a alma não é um princípio qualquer da operação vital pois se o fosse então os olhos princípio da visão seriam a alma o mesmo devendo dizerse dos outros instrumentos desta Mas chamamos alma ao princípio primeiro da vida Pois embora algum corpo possa ser um certo princípio da vida como o coração o é no animal contudo não pode ser o princípio primeiro da vida de qualquer corpo Ora é manifesto ser princípio da vida ou vivente não cabe ao corpo como tal do contrário todo corpo seria vivo ou princípio da vida Logo só cabe a um certo corpo como tal ser vivo ou ainda princípio da vida Ora o que torna esse corpo atualmente tal é algum princípio chamado o seu ato Por onde a alma princípio primeiro da vida não é corpo mas o ato dele assim como o calor princípio da calefação não é corpo mas um ato do corpo DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO Sendo tudo o que se move movido por outro e como não se pode continuar assim até o infinito necessário é dizerse que nem todo motor é movido Pois ser movido sendo o passar da potência para o ato o motor dá o que tem ao móvel atualizandoo Mas como o demonstra o Filósofo há um certo motor absolutamente imóvel não movido nem por si nem por acidente e tal motor pode mover o movido sempre uniformemente Há porém outro motor movido não por si mas por acidente e que por isso não move o movido sempre uniformemente e tal motor é a alma E há ainda outro motor não movido por si e que é o corpo E como os antigos filósofos da natureza pensavam que só o corpo existe ensinavam que todo motor é movido e que a alma movida por si é também corpo RESPOSTA À SEGUNDA Não é necessário que a semelhança da causa conhecida esteja atualmente em a natureza do conhecente mas se há algo que conhece primeiro em potência e depois em ato não é necessário que a semelhança do conhecido seja atual senão apenas potencial em a natureza do conhecente assim a cor está na pupila não atual mas só potencialmente Por onde não é necessário que em a natureza da alma haja a semelhança atual das coisas corpóreas mas sim que ela seja potencial em relação a tais semelhanças Como porém os antigos filósofos da natureza não sabiam distinguir entre o ato e a potência diziam que a alma é corpo para poder conhecer todos os corpos e que é composta dos princípios de todos os corpos RESPOSTA À TERCEIRA Há um duplo contacto o da quantidade e o da virtude Pelo primeiro o corpo só pode ser tocado pelo corpo pelo segundo pode ser facada por um ser incorpóreo que o mova Art 2 Se a alma humana é algo de subsistente De Potq 3 a 9 11 De SpiritCreat a 2 Qu De Anima a1 14 III De Anima lect VII O segundo discutese assim Parece que a alma humana não é algo de subsistente 1 Pois o que é subsistente é um determinado ser Ora a alma não é um determinado ser mas um composto de corpo e alma Logo não é ela algo de subsistente 2 Demais Tudo o que é subsistente pode ser considerado capaz de operação Ora a alma não é assim considerada pois segundo o Filósofo dizer que a alma sente ou intelige é o mesmo que dizer alguém que ela tece ou edifica Logo a alma não é algo de subsistente 3 Demais Se a alma fosse algo de subsistente alguma operação dela haveria independente do corpo Mas nenhuma das suas operações é assim nem ainda o inteligir porque não é possível inteligir sem fantasma e os fantasmas não existem sem o corpo Logo a alma humana não é algo de subsistente Mas em contrário diz Agostinho Quem vê a natureza da mente que é substância mas não corpórea vê que os que opinam ser ela corpórea erram por lhe adjungirem as fantasias dos corpos sem as quais não podem conceber nenhuma natureza Logo a natureza da alma humana não só é incorpórea mas também é substância isto é algo de subsistente SOLUÇÃO Necessário é admitirse que o princípio da operação intelectual a que chamamos alma do homem é um certo princípio incorpóreo e subsistente Pois é manifesto pela inteligência o homem pode conhecer a natureza de todos os corpos Ora o que pode conhecer certas causas necessariamente não deve ter nada delas na sua natureza porque a causa que a esta fosse naturalmente inerente impedirlheia o conhecimento das outras Assim vemos que a língua do doente afetada de humor colérico e amargo nada pode sentir de doce mas tudo lhe parece amargo Se pois o princípio intelectual tivesse em si a natureza de algum corpo não poderia conhecer todos os corpos porque cada corpo tem a sua natureza determinada Logo é impossível que o princípio intelectual seja corpo E semelhantemente também é impossível que intelija por meio de órgão corpóreo porque também a natureza determinada desse órgão corpóreo impediria o conhecimento de todos os corpos Assim se uma determinada cor estivesse não só na pupila mas ainda num vaso de vidro o líquido contido neste seria dessa mesma cor Por onde o princípio intelectual chamado alma ou intelecto tem a sua operação própria não comum com o corpo Ora só pode operar por si o que por si subsiste pois operar só é próprio do ser atual Por isso uma causa opera dó mesmo modo pelo qual existe e assim não dizemos que o calor aquece mas que é cálido Logo concluise que a alma humana chamada intelecto ou mente é algo de incorpóreo e subsistente DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO Um determinado ser pode compreenderse de duplo modo significando qualquer subsistente ou um subsistente completo em a natureza de alguma espécie O primeiro modo exclui a inerência acidental e a da forma material O segundo exclui também a imperfeição da parte Assim podese dizer que a mão é um determinado ser no primeiro sentido não porém no segundo E portanto sendo a alma humana parte da espécie humana pode chamarse um determinado ser segundo o primeiro modo como algo de quase subsistente mas não conforme o segundo que é o em que se chama algo de determinado o composto de alma e corpo RESPOSTA À SEGUNDA Aristóteles usa dessas palavras não para exprimirem opinião própria mas a dos que diziam que inteligir é ser movido como é claro pelo que afirma antes Ou deve dizerse que o agir por si convém ao que existe por si Ora o existir por si podese atribuir a alguma causa que não seja inerente como acidente ou como forma material mesmo se for parte Mas dizse que é propriamente subsistente por si o que nem é inerente desse predito modo nem é parte e segundo este modo de dizer o olho ou a mão não se pode considerar subsistente por si e por conseqüência nem como operando por si Por onde também as operações das partes se atribuem ao todo por meio delas assim dizemos que o homem vê com os olhos e apalpa com as mãos diferentemente de quando dizemos que o cálido aquece pelo calor pois propriamente falando o calor de nenhum modo aquece Logo podese dizer que a alma intelige como o olho vê mas é mais próprio dizerse que o homem intelige por meio da alma RESPOSTA À TERCEIRA O corpo é necessário para a ação do intelecto não como o órgão pelo qual tal ação se exerce mas em razão do objeto pois os fantasmas estão para o intelecto como a cor para o sentido Assim que o precisar do corpo não impede seja o intelecto subsistente do contrário o animal não seria algo de subsistente por precisar dos sensíveis exteriores para sentir Art 3 Se as almas dos brutos são subsistentes II Cont Gent cap LXXXII O terceiro discutese assim Parece que as almas dos brutos são subsistentes 1 O homem tem o mesmo gênero que os outros animais Ora a alma humana é algo de subsistente como já se demonstrou a 2 Logo também as dos outros animais 2 Demais O sensitivo está para os sensíveis como o intelectivo para os inteligíveis Ora o intelecto intelige sem o corpo os inteligíveis Logo também do mesmo modo o sentido apreende os sensíveis Ora as almas dos brutos são sensitivas Logo são subsistentes pela mesma razão por que o é a alma intelectiva do homem 3 Demais A alma dos brutos movelhes o corpo Ora este não move mas é movido Logo aquela tem alguma operação independente do corpo Mas em contrário foi dito Cremos que só o homem tem alma substantiva e não são substantivas as almas dos animais SOLUÇÃO Os antigos filósofos não faziam nenhuma distinção entre o sentido e o intelecto e atribuíam ambos a um princípio corpóreo como já se disse a 1 Porém Platão distinguia entre o intelecto e o sentido atribuindo ambos a um princípio incorpóreo e dizendo que como o inteligir também o sentir convém à alma em si mesma E daí resultava que também as almas dos brutos são subsistentes Mas Aristóteles estabeleceu que só o inteligir entre as operações da alma se exerce sem órgão corpóreo Porém o sentir bem como as operações resultantes das operações da alma sensitiva manifestamente se realizam com alguma imutação do corpo assim na visão imutase a pupila pela contemplação da cor o mesmo se dando com as outras operações semelhantes Por onde é manifesto que a alma sensitiva não tem por si mesma nenhuma operação própria mas toda operação da alma sensitiva pertence ao conjunto Donde resulta que as almas dos brutos não operando por si mesmas não são subsistentes pois cada ser tem de maneira semelhante o ser e a operação DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO O homem tendo o mesmo gênero que os outros animais deles difere pela espécie Ora a diferença específica depende da diferença formal Nem é necessário que toda diferença formal importe na diversidade genérica RESPOSTA À SEGUNDA O sensitivo de certo modo está para os sensíveis como o intelectivo para os inteligíveis a saber enquanto ambos são potenciais em relação aos seus objetos Mas de certo modo comportamse dissemelhantemente pois o sensitivo sofre a ação do sensível com imutação do corpo e por isso a excelência dos sensíveis corrompe o sentido Ao passo que isso não se dá com o intelecto pois este inteligindo os máximos inteligíveis mais facilmente poderá inteligir os menores E se no inteligir o corpo se fatiga isso o é só por acidente porque o intelecto precisa da operação das forças sensitivas pelas quais lhe são preparados os fantasmas RESPOSTA À TERCEIRA A força motiva é dupla Uma a apetitiva que governa o movimento e a operação dessa na alma sensitiva não se realiza sem o corpo assim a ira a alegria e outras paixões semelhantes supõem certa imutação do coração A outra força motiva é a que resulta do movimento pela qual os membros tornamse capazes de obedecer ao apetite e o ato dessa força não é mover mas ser movido Por onde se evidencia que mover não é ato da alma sensitiva que se realize sem o corpo Art 4 Se a alma é o homem III Sent dist V q 3 a 2 dist XXII q 1 a 1 II Cont Gent cap LVII Opusc XVI De Unit Intell De Ent Et Ess cap IIVII Metaphys lect IX O quarto discutese assim Parece que a alma é o homem1 Pois diz a Escritura 2 Cor 4 16 Essa é a razão porque não desfalecemos mas ainda que se destrua em nós o homem exterior todavia o interior se vai renovando de dia em dia Ora o que no homem é interior é a alma Logo a alma é o homem interior 2 Demais A alma humana é uma determinada substância mas não é a substância universal Logo é particular e portanto hipóstas e ou pessoa e não outra senão humana Logo a alma é o homem pois a pessoa humana é o homem Mas em contrário Agostinho elogia Varrão dizendo que o homem não é só alma nem só corpo mas simultaneamente alma e corpo SOLUÇÃO Que a alma seja o homem podese entender de dois modos De um modo que o homem é a alma mas não este determinado homem composto de alma e corpo como Sócrates E digo assim porque certos ensinaram que só a forma pertence à natureza da espécie sendo a matéria parte do indivíduo e não da espécie O que certamente não pode ser verdadeiro Pois à natureza da espécie pertence aquilo que significa a definição Ora a definição nas coisas naturais não significa só a forma mas a forma e a matéria Por onde a matéria é parte da espécie nas sobreditas coisas não por certo a matéria signada que é o princípio de individuação mas a matéria comum Assim pois como da natureza de um determinado homem é que seja composto de tal alma e tais carnes e tais ossos assim da natureza do homem é que o seja da alma e das carnes e dos ossos pois é necessário que a substância da espécie tenha tudo o que comumente pertence à substância de todos os indivíduos contidos na espécie Porém de outro modo podese entender no sentido em que uma determinada alma seja um determinado homem E isso se poderia sustentar se se estabelecesse que a operação da alma sensitiva fosse só dela sem o corpo porque as operações atribuídas ao homem conviriam só à alma Ora cada coisa produzindo as suas operações próprias o homem é o que opera as suas Pois já se demonstrou a 3 que sentir não é operação só da alma Sendo portanto o sentir uma certa operação do homem embora não própria é manifesto que este não é só a alma mas algo composto de alma e corpo Platão porém ensinando que o sentir é próprio da alma podia ensinar que o homem é uma alma que usa de um corpo DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO Segundo o Filósofo um ser é principalmente aquilo que nele é o principal assim o que faz o chefe de uma cidade se considera como feito pela cidade E desse modo às vezes se chama homem ao que neste é o principal umas vezes à parte intelectiva segundo a verdade das coisas chamada o homem interior outras vezes porém à parte sensitiva com o corpo segundo a opinião de alguns que só se detêm nas coisas sensíveis e este se chama o homem exterior RESPOSTA À SEGUNDA Nem toda substância particular é hipóstase ou pessoa mas a que tem a natureza completa da espécie Por onde a mão ou o pé não se pode chamar hipóstase ou pessoa e semelhantemente nem a alma que é parte da espécie humana Art 5 Se a alma é composta de matéria e forma I Sent dist VIII q 5 a 2 II dist XVII q 1 a 2 II Cont Gent cap L Quodl III q VIII IX q 4 a 1 De Spirit Creat a 1 a 9 ad Qu De Anima a 6 Opusc XV De Angelis cap VII O quinto discutese assim Parece que a alma é composta de matéria e forma 1 Pois a potência se divide por oposição com o ato Ora todos os seres em ato quaisquer que sejam participam do primeiro ato que é Deus por cuja participação todos são bons entes e viventes como é claro pela doutrina de Dionísio Logo quaisquer seres em potência participam da primeira potência Ora esta é a matéria prima Como pois a alma humana é de certo modo potencial o que se evidência por ser o homem às vezes inteligente em potência resulta que ela participa da matéria prima tendo a esta como parte sua 2 Demais Onde quer que se encontrem as propriedades da matéria aí se encontra a matéria Ora na alma se encontram tais propriedades a saber o ser sujeito e o transmutarse pois é sujeito da ciência e da virtude e mudase da ignorância para a ciência ou do vicio para a virtude Logo na alma há matéria 3 Demais O que não tem matéria não tem a causa do seu ser como diz Aristóteles Ora a alma sendo criada por Deus tem essa causa Logo tem matéria 4 Demais O que não tem matéria mas só forma é ato puro e infinito Ora tal só Deus o é Logo a alma tem matéria Mas em contrário Agostinho prova que a alma não é feita de matéria corpórea nem espiritual SOLUÇÃO A alma não tem matéria o que se pode duplamente provar Primeiro pela natureza da alma em comum que a torna forma de certo corpo Ora ou a alma é em si forma total ou parcial Se total é impossível tenha como parte a matéria considerada esta última como ser somente potencial pois a forma como tal sendo ato o que é puramente potencial não pode ser parte dês te pois a potência repugna ao ato dividida como é por oposição a ele Se parcial essa parte a consideraremos como alma e a matéria de que é o ato primário como o primeiro animado Segundo especialmente pela natureza da alma humana enquanto intelectiva Pois é manifesto tudo o que é recebido por outro ser o é ao modo desse ser recipiente Assim o que é conhecido o é do modo pelo qual a sua forma está no conhecente Ora a alma intelectiva conhece as coisas em a natureza absoluta delas p ex uma pedra enquanto absolutamente pedra Por onde a forma da pedra na sua razão formal própria está absolutamente na alma intelectiva Logo esta é forma absoluta e não algo composto de matéria e forma pois se o fosse as formas das coisas ela as receberia como individuais e assim não conheceria senão o singular como se dá com as potências sensitivas que recebem as formas das coisas num órgão corpóreo pois a matéria é o princípio da individuação das formas Resulta portanto que a alma intelectiva e toda substância intelectual conhecedora das formas absolutamente carece da composição de forma e matéria DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO O ato primeiro é o princípio universal de todos os atos pois é o infinito que virtualmente em si compreende todas as coisas como diz Dionísio Por isso é participado por elas não como parte mas pela difusão da processão de si mesmo Porém a potência como receptiva do ato deve se proporcionar a este Ora os atos recebidos procedentes do primeiro ato infinito e sendo determinadas participações dele são diversos Por onde não pode haver uma potência única receptiva de todos os atos como há um ato único que influi em todos os atos participados do contrário a potência receptiva se adequaria à potência ativa do ato primeiro Há porém outra potência receptiva na alma intelectiva diferente daquela da matéria prima como se vê pela diversidade das coisas recebidas pois ao passo que a matéria prima recebe as formas individuais o intelecto recebe as absolutas E portanto tal potência existente na alma intelectiva mostra que a alma não é composta de matéria e forma RESPOSTA À SEGUNDA Ser sujeito e transmutarse convêm à matéria como potencial Se portanto uma é a potência do intelecto e outra a da matéria prima também haverá noções diversas da sujeição e da transmutação Assim o intelecto é sujeito da ciência e transmutase da ignorância para a ciência enquanto é potencial em relação às espécies inteligíveis RESPOSTA À TERCEIRA A forma é para a matéria a causa do existir e do agir por onde o agente como redutor da matéria ao ato da forma transmutandoa élhe a causa da existência Se porém há alguma forma subsistente esta não existe por nenhum princípio formal nem tem causa que a transmute da potência para o ato Por isso depois das palavras anteriores o Filósofo conclui que os seres compostos de matéria e forma não têm outra causa a não ser a que os move da potência para o ato todos os seres porém que não têm matéria e são seres absolutamente são a sua mesma qüididade RESPOSTA À QUARTA Todo participado se compara com o participador como ato deste Ora necessário é que qualquer forma criada que se suponha por si subsistente participe do ser pois a própria vida ou qualquer causa de semelhante participa do ser em si como diz Dionísio Ora o ser participado sendo limitado pela capacidade do participante seguese que só Deus que é o seu próprio ser é ato puro e infinito Nas substâncias intelectuais porém há composição de ato e de potência não de matéria e forma mas de forma e do ser participado E por isso alguns as consideram compostas da causa do ser e do ser pois o ser em si mesmo é a causa de qualquer outro ser existir Art 6 Se a alma humana é corruptível II Sent disto XIX a 1 IV dist q 1 a 1 II Cont Gent capLXXIX sqq Quodl X q 3 a 2 Qu De Anima a 14 Compend Theol cap LXXXIV O sexto discutese assim Parece que a alma humana é corruptível 1 Pois seres que têm princípio e processão semelhantes também têm fim semelhante Ora o princípio da geração dos homens é semelhante ao da dos asnos pois ambos foram feitos da terra e também é semelhante em ambos a processão da vida pois como diz a Escritura Ecle 3 19 todos respiram da mesma sorte e o homem não tem nada de mais do que o bruto Logo como no mesmo passo da Escritura se conclui por issouma é a morte dos homens e dos brutos e de uns e outros é igual à condição Mas a alma dos brutos é corruptível Logo também o é a alma humana 2 Demais Tudo o que provém do nada é redutível ao nada porque o fim deve corresponder ao princípio Mas como diz a Escritura Sb 2 2 do nada somos nascidos o que é verdade não só do corpo mas também da alma Logo como ainda no mesmo passo se conclui depois desta vida seremos como se nunca tivéramos sido mesmo em relação à alma 3 Demais Não há ser que não tenha a sua operação própria Ora a operação própria da alma inteligir por meio do fantasma não vai sem o corpo Pois a alma não intelige nada sem fantasma e este não existe sem o corpo como diz Aristóteles Logo a alma não pode subsistir uma vez destruído o corpo Mas em contrário diz Dionísio que as almas humanas têm da bondade divina o serem intelectuais e o terem a vida substancial inconsumível SOLUÇÃO É necessário admitirse que a alma humana a que chamamos princípio intelectivo é incorruptível Pois um ser pode se corromper de duplo modo por si ou por acidente Ora é impossível um ser subsistente ser gerado ou corrompido por acidente i é porque nele houve alguma parte gerada ou corrupta Pois a todo ente lhe convém o ser gerado ou corrompido do mesmo modo pelo qual lhe convém o ser que pela geração se adquire e pela corrupção se perde Por onde o que tiver o ser por si só por si pode gerarse ou corromperse Os seres porém não subsistentes como os acidentes e as formas materiais dizemse feitos e corruptos pela geração e corrupção dos compostos Ora já se demonstrou antes a 3 que as almas dos brutos não são por si subsistentes senão só a alma humana Por isso aquelas se corrompem uma vez corruptos os seus corpos porém esta só por si poderia corromperse Ora isto é absolutamente impossível não só a esta mas a qualquer ser subsistente que seja só forma Pois é manifesto o que convém em si a um ser é inseparável deste Ora o ser em si convém à forma que é um ato Por onde a matéria adquire o ser atual na medida em que adquire a forma e corrompese na medida em que lhe sucede separarse dela Ao passo que sendo impossível à forma separarse de si mesma impossível é também que a forma subsistente perca o ser Dado porém que a alma seja composta de matéria e forma como certos dizem ainda assim é necessário admitila como incorruptÍvel Pois só se encontra corrupção onde se encontra a contrariedade porque as gerações e as corrupções são passagens de uns para outros contrários Por isso os corpos celestes sem matéria sujeita à contrariedade são incorruptíveis Ora na alma intelectiva nenhuma contrariedade pode haver Pois ela é receptiva ao modo do seu ser e as coisas por ela recebidas o são sem contrariedade pois que as noções dos contrários não são contrárias no intelecto mas há uma só ciência dos contrários Logo é impossível que a alma intelectiva seja corruptível Também se pode tirar uma prova desta doutrina do fato de cada ente desejar ser naturalmente ao seu modo Ora o desejo nos seres que conhecem seguese ao conhecimento E ao passo que o sentido não conhece o ser senão num determinado lugar e tempo o intelecto o apreende absolutamente e referente a qualquer tempo Por isso todo ser que tem intelecto deseja existir sempre Ora o desejo natural não pode ser vão Logo toda substância intelectual é incorruptível DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO Salomão aplica essa razão à pessoa dos insipientes como se exprime noutra parte E quanto a dizerse que o homem e os outros animais têm o princípio da geração semelhante isso é verdade quanto ao corpo pois todos os animais foram feitos da terra semelhantemente Não porém quanto à alma pois ao passo que a dos brutos é produzida por uma virtude corpórea a alma humana o é por Deus E para o exprimir a Escritura Gn 1 diz dos outros animais Produza a terra animais viventes Mas do homem inspirou no seu rosto um assopro de vida Por onde conclui Salomão Ecl 12 7 E o pó se torne na sua terra de onde era e o espírito volte para Deus que o deu Do mesmo modo a processão da vida é semelhante quanto ao corpo e a isso se referem os passos Ecl 3 19 Todos respiram da mesma sortee Sb 2 2 a respiração nos nossos narizes é um fumo Mas não é semelhante a essa a processão da alma pois o homem intelige e os brutos não Por isso é falso o dito O homem não tem nada de mais do que o bruto Por onde semelhante é a morte quanto ao corpo mas não quanto à alma RESPOSTA À SEGUNDA Assim como se diz que um ser pode ser criado não pela potência passiva mas só pela potência ativa do Criador que do nada pode produzir uma coisa assim também dizer que um ser é redutível ao nada não importa na criatura a potência para o não ser mas sim a potência do Criador não influindo o ser Ora chamase corruptível ao ente em que existe a potência para o não ser RESPOSTA À TERCEIRA Inteligir por meio do fantasma é propriamente operação da alma enquanto unida ao corpo Separada deste porém terá outro modo de inteligir semelhante ao das outras substâncias separadas como a seguir melhor se verá q 89 a 1 Art 7 Se a alma e o anjo são da mesma espécie II Sent dist III q 1 a 6 II Cont Gent cap XCIV Qu De Anima a 7 O sétimo discutese assim Parece que a alma e o anjo são da mesma espécie 1 Pois cada ser é ordenado ao próprio fim pela natureza da sua espécie que lhe dá a inclinação para o fim Ora idênticos são os fins da alma e do anjo a saber a felicidade eterna Logo ambos são da mesma espécie 2 Demais A diferença específica última é a mais nobre porque realiza plenamente a noção da espécie Ora nada há de mais nobre no anjo e na alma do que o ser intelectual Logo eles convêm na última diferença específica sendo assim da mesma espécie 3 Demais A alma só difere do anjo por estar unida ao corpo Ora este sendo estranho à essência da alma não é da mesma espécie que ela Logo a alma e o anjo são da mesma espécie Mas em contrário Seres diferentes por operações naturais diversas diferem pela espécie Ora a alma e o anjo têm operações naturais diversas pois como diz Dionísio os espíritos angélicos tem conceitos intelectuais simples e bons e não congregam elementos divisíveis para chegar à união com Deus e depois diz ao contrário da alma Logo a alma e o anjo não são da mesma espécie SOLUÇÃO Orígenes ensinou que todas as almas humanas e os anjos são da mesma espécie E isto porque ensinava que a diversidade de graus existentes em tais substâncias é acidental como proveniente do livre arbítrio segundo já se disse antes q 47 a 2 Ora tal não pode ser Porque nas substâncias incorpóreas não pode haver diversidade numérica sem diversidade específica e sem desigualdade natural Pois não sendo compostas de matéria e forma mas sendo formas subsistentes é claro que necessário será haver entre elas diversidade específica Porque não se pode compreender exista alguma forma separada que não seja única da sua espécie assim como se existisse a brancura separada essa não poderia ser senão uma única pois uma brancura não difere de outra senão porque é tal ou tal Ora a diversidade específica sempre vai com a diversidade natural concomitante assim nas espécies de cores uma cor é mais perfeita que outra e semelhantemente em outras espécies E isto porque as diferenças que dividem o gênero são contrárias Ora os contrários entre si se comportam como o perfeito com o imperfeito porque o princípio da contrariedade é a privação e o hábito como diz Aristóteles Também o mesmo se seguiria se tais substâncias fossem compostas de matéria e forma Se pois a matéria de uma se distingue da de outra necessário é que ou a forma seja o princípio da distinção da matéria de modo que as matérias sejam diversas pela tendência para formas diversas donde também resultaria a diversidade específica e a desigualdade natural ou que a matéria seja o princípio da distinção das formas Nem se pode dizer que esta matéria seja diferente daquela senão quanto à divisão quantitativa que não tem lugar nas substâncias incorpórea como o anjo e a alma Por onde não é possível sejam ambos da mesma espécie Como é porém que há muitas almas da mesma espécie a seguir se demonstrará q 76 a 2 ad 1 DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO Essa doutrina é procedente quanto ao fim próximo e natural Ora a beatitude eterna é o fim último e sobrenatural RESPOSTA À SEGUNDA A diferença específica última é a mais nobre enquanto determinada em máximo grau ao modo pelo qual o ato é mais nobre que a potência Ora desse modo o intelectual não é nobilíssimo por ser indeterminado e comum a muitos graus de intelectualidade como o sensível a muitos graus quanto ao ser sensível Por onde assim como nem todos os sensíveis são da mesma espécie assim nem todos os intelectuais RESPOSTA À TERCEIRA O corpo não é da essência da alma mas é da essência desta que seja capaz de união com o corpo Por onde nem propriamente a alma pertence a uma espécie mas sim o composto E o fato mesmo de a alma precisar de certo modo do corpo para a sua operação mostra que ela tem um grau de intelectualidade inferior ao do anjo que não está unido a um corpo