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Isagoge de Porfírio o fenício¹ discípulo de Plotino de Licópolis Já que é necessário Crisaórios² saber o que seja o gênero a diferença a espécie o próprio e o acidente tanto para o aprendizado das categorias de Aristóteles³ quanto para a elaboração das definições e como o exame desses temas é muito útil no tocante às divisões e demonstrações tentarei de forma breve e à guisa de introdução expor o que a esse respeito foi dito pelos antigo e assim compor para ti um resumo desse legado evitando porém investigações mais profundas e tratando das mais simples na medida do razoável Por ora não tratarei no que tange a gêneros e espécies se de fato subsistem ou se não passam de meros conceitos se constituem substância corpórea ou incorpórea se subsistem separadamente ou não dos objetos sensíveis Esse é um tema da mais alta profundidade e que exige um exame mais alongado⁴ Aquilo que de mais razoável conceberam os antigos sobretudo os peripatéticos a respeito deste e dos temas elencados acima eis o que agora tentarei demonstrarte 1 Do gênero Tanto o gênero quanto a espécie parecem possuir diversas acepções Com efeito denominase gênero o grupo de indivíduos que possuem certa relação com um terceiro ou entre si Dizse que os Heráclidas são um gênero nessa acepção de vínculo comum oriundo de um só indivíduo ou seja de Héracles bem como de coletivo de indivíduos que partilham o parentesco que daquele se origina denominandose o gênero a partir da divisão que o distingue dos demais gêneros De maneira diversa denominase também gênero a origem individual conforme o nascimento seja a partir do genitor seja a partir do lugar em que se nasceu Assim dizse que Orestes deriva sua origem de Tântalo⁵ e Hilo⁶ de Héracles e também que Píndaro⁷ é tebano de origem e Platão⁸ ateniense pois a pátria tal como o pai é a origem do nascimento A acepção mais comum parece ser a seguinte são chamados Heráclidas os que derivam sua origem de Héracles e Cecrópidas os de Cérops bem como os aparentados destes De início denominouse gênero a origem do indivíduo segundo o nascimento e só depois o conjunto dos indivíduos que partilham uma mesma origem como por exemplo de Héracles conjunto este que definimos e distinguimos dos demais ao denominálo os Heráclidas Definese gênero também em outra acepção como aquilo a que a espécie está subordinada definição provavelmente fundada na semelhança com as demais acepções pois o gênero é uma espécie de princípio que compreende e do qual se origina tudo quanto lhe esteja subordinado ⁵ Orestes e Tântalo são figuras da mitologia grega Tântalo é patriarca da linhagem que resulta em Orestes ⁶ Outras duas personagens da mitologia grega Hilo é filho de Héracles ⁷ Um dos maiores poetas líricos da Grécia Antiga e nascido na cidade de Tebas ⁸ Um dos maiores filósofos da Antiguidade discípulo de Sócrates e professor de Aristóteles PORFÍRIO 13 O termo gênero portanto admite três acepções e a terceira é aquela da qual trataram os filósofos⁹ os quais definindo o mostraram ser o gênero aquilo que se predica em caráter essencial de uma multiplicidade de seres de espécies distintas como por exemplo animal Alguns predicados predicamse de um único ser a exemplo dos indivíduos tais como Sócrates ou este indivíduo aqui ou esta coisa particular Outros predicados predicamse de muitos como os gêneros as espécies as diferenças os próprios e os acidentes comuns não porém os acidentes próprios a determinado indivíduo Gênero é por exemplo animal e espécie homem Racional é um exemplo de diferença é capaz de rir um exemplo de próprio Já branco preto sentado são exemplos de acidentes ⁹ Porfírio distingue primeiro as várias acepções da palavra gênero para depois expor a sua acepção propriamente filosófica O mesmo método será seguido em alguns dos próximos capítulos PORFÍRIO 17 O gênero difere dos predicados que se predicam de um só pelo fato de predicarse de muitos e difere dos que se predicam de muitos ou seja da espécie pelo fato de que a espécie embora se predique de muitos não se predica de seres que diferem segundo a espécie mas apenas de seres que diferem segundo o número Assim homem por ser espécie predicase de Sócrates e Platão os quais não diferem em espécie mas apenas em número ao passo que animal por ser gênero predicase de homem boi e cavalo os quais diferem entre si segundo a espécie não apenas segundo o número O próprio por sua vez difere do gênero pelo fato de predicarse de uma só espécie aquela da qual é próprio O próprio também se predica dos indivíduos pertencentes à espécie Assim capaz de rir predicase tanto da espécie homem quanto dos homens particulares Já o gênero não se predica de uma espécie apenas mas de muitas e variadas espécies O gênero distinguese da diferença e do acidente comum pelo fato de que estes embora se prediquem tanto de uma multiplicidade de seres quanto de seres distintos segundo a espécie nada dizem sobre o que tais seres são Se perguntássemos de que tratam a diferença e o acidente comum diríamos que tratam antes do como é do que daquilo que é pois se perguntamos como é o homem dizemos que é racional e se perguntamos como é o corvo dizemos que é negro Racional é diferença ao passo que negro é acidente Porém se nos perguntarem o que é o homem diremos que é um animal pois animal é o gênero de homem10 Assim o fato de predicarse de muitos distingue o gênero dos predicados que se predicam de um só ou seja dos seres individuais E o predicarse de seres de espécies distintas distingue o gênero tanto da espécie quanto do próprio Já o fato de o gênero tratar do que as coisas são distingueo da diferença e do acidente comum os quais não predicam os seres essencialmente naquilo que eles são mas no como são ou no como estão A descrição que fizemos da noção de gênero em nada excede nem deixa a desejar 10 Ou seja se nos perguntam o que é algo e respondemos que é branco ou está sentado a resposta não é apropriada porque quem pergunta não quer saber como a coisa é ou está mas o que é No entanto se respondemos com o gênero a que a coisa pertence é uma planta é um animal isso já diz algo sobre o que a coisa é ainda que incompletamente PORFÍRIO 21 2 Da espécie Espécie designa por um lado a aparência de determinada coisa como na frase uma aparência espciosa Denominase espécie também aquilo que se subordina a determinado gênero acepção segundo a qual costumamos dizer que homem é espécie de animal já que animal é gênero e branco uma espécie de cor e triângulo uma espécie de forma geométrica E já que mencionamos a espécie ao definirmos o gênero como aquilo que se predica de uma multiplicidade de seres de espécies distintas sendo a espécie por sua vez aquilo que se subordina a determinado gênero cabe pontuar que sendo um gênero o gênero de algo e a espécie espécie de algo é necessário que a definição de gênero mencione a espécie e viceversa A espécie portanto definese também assim espécie é aquilo que se subordinada ao gênero e cuja essência o gênero designa Ou ainda espécie é o que se predica essencialmente de uma multiplicidade de seres que se distinguem entre si segundo o número Mas essa última definição se aplica apenas à espécie sumamente específica aquela que é somente espécie ao passo que as outras definições também se aplicam às demais espécies as quais também são gênero Eis um modo de tornar claro o que foi dito anteriormente Existem predicados maximamente genéricos e predicados maximamente específicos e há ainda predicados intermediários entre esses dois Um predicado maximamente genérico é aquele além do qual não há nenhum gênero superior Já um predicado maximamente específico é aquele após o qual não há nenhuma espécie subordinada E há ainda entre um e outro predicados intermediários os quais são tanto gênero quanto espécie tomados porém com relação a termos diferentes PORFÍRIO 23 Tomemos para tornar claro a seguinte série de predicados A substância é ela própria um gênero abaixo do qual está o corpo e abaixo do corpo o corpo animado abaixo do qual está o animal e abaixo do animal o animal racional abaixo do qual está a espécie homem à qual estão subordinados Sócrates Platão e os homens particulares A substância é o mais genérico desses predicados sendo exclusivamente gênero ao passo que corpo é tanto espécie de substância quanto gênero de corpo animado11 Já corpo animado é tanto espécie de corpo quando gênero de animal o qual por sua vez é tanto espécie de corpo animado quanto gênero de animal racional E animal racional por seu turno é tanto espécie de animal quanto gênero de homem ao passo que homem que é espécie de animal racional já não é gênero dos homens particulares mas apenas espécie Todo termo que antecede imediatamente os indivíduos é exclusivamente espécie e não gênero Assim portanto tal como a substância situada no topo e sem gênero que a anteceda é o gênero supremo também homem por ser espécie após a qual já não há espécie nem coisa alguma que se possa dividir em espécies mas apenas indivíduos pois Sócrates Platão e este objeto branco aqui são indivíduos é exclusivamente espécie a espécie última ou como dissemos a espécie sumamente específica 11 Ou seja em certo sentido algo pode ser simultaneamente gênero e espécie É o caso dos gêneros subalternos que em um sentido relativo são gênero dos seus inferiores e espécie dos seus superiores Em um sentido absoluto porém reservase o nome de espécie apenas para a espécie última PORFÍRIO 25 Já os termos intermediários são espécies dos termos que os antecedem e gêneros dos termos que os sucedem de forma que as relações que estabelecem são duas uma primeira com os termos superiores dos quais são espécies e uma segunda com os termos inferiores dos quais são gêneros Os termos extremos possuem um só tipo de relação o gênero sumamente genérico que é o gênero supremo relacionase apenas com os termos subordinados não havendo termos superiores com quais se relacionar por ser ele o gênero supremo e o primeiro princípio ou como dissemos por ser aquilo acima do qual não há gênero superior Também a espécie sumamente específica possui uma única relação aquela que estabelece com os termos superiores dos quais é espécie não possuindo outro tipo de relação com respeito aos termos subordinados pois também dizse que é espécie dos indivíduos embora denominese espécie neste caso em razão de abarcar os indivíduos ao passo que é dita espécie dos termos superiores por estar neles contida PORFÍRIO 27 Definese o gênero supremo portanto do seguinte modo aquilo que sendo gênero não é espécie Ou ainda o gênero acima do qual não há gênero superior Já a espécie sumamente específica é aquela que sendo espécie não é gênero Ou a espécie que não se divide em subespécies Ou ainda aquilo que se predica da essência de uma multiplicidade de seres numericamente distintos Os intermediários entre os dois extremos denominamse gêneros e espécies subordinados sendo cada um deles gênero e espécie relativamente porém a termos distintos Os termos superiores à espécie sumamente específica e inferiores ao gênero supremo denominamse tanto gêneros quanto espécies ou ainda gêneros subordinados tal como quando se diz que Agamênon é filho de Atreu que é filho Pelops que é filho de Tântalo que por fim é filho de Zeus As genealogias retrocedem no mais das vezes a uma origem única Tal não ocorre porém no caso dos gêneros e das espécies pois como diz Aristóteles o ser não é um gênero comum a todas as coisas tampouco derivam todas as coisas de um gênero único e supremo Digase porém tal como é dito nas Categorias que os primeiros dez gêneros são como dez princípios primeiros E embora possamos dizer desses dez gêneros que todos eles são não o dizemos de modo unívoco segundo uma acepção única mas de modo equívoco De fato se o ser fosse um gênero único e comum a todas as coisas diriamos de tudo quanto existe que existe num mesmo sentido Mas já que existem dez gêneros primeiros é apenas nominalmente que partilham o ser não segundo a noção subjacente ao nome São dez portanto os gêneros supremos ao passo que as espécies sumamente específicas são muitas mas não infinitas Já os indivíduos que são posteriores às espécies sumamente específicas são em número infinito Por isso é que Platão recomendava que partindo dos gêneros supremos descêssemos até as espécies sumamente específicas recorrendo às diferenças específicas para distinguir as espécies intermediárias negligenciando porém a infindade dos indivíduos sobre os quais não há ciência possível PORFÍRIO 29 Definese o gênero supremo portanto do seguinte modo aquilo que sendo gênero não é espécie Ou ainda o gênero acima do qual não há gênero superior Já a espécie sumamente específica é aquela que sendo espécie não é gênero Ou a espécie que não se divide em subespécies Ou ainda aquilo que se predica da essência de uma multiplicidade de seres numericamente distintos Os intermediários entre os dois extremos denominamse gêneros e espécies subordinados sendo cada um deles gênero e espécie relativamente porém a termos distintos Os termos superiores à espécie sumamente específica e inferiores ao gênero supremo denominamse tanto gêneros quanto espécies ou ainda gêneros subordinados tal como quando se diz que Agamênon é filho de Atreu que é filho Pelops que é filho de Tântalo que por fim é filho de Zeus As genealogias retrocedem no mais das vezes a uma origem única Tal não ocorre porém no caso dos gêneros e das espécies pois como diz Aristóteles o ser não é um gênero comum a todas as coisas tampouco derivam todas as coisas de um gênero único e supremo Digase porém tal como é dito nas Categorias que os primeiros dez gêneros são como dez princípios primeiros E embora possamos dizer desses dez gêneros que todos eles são não o dizemos de modo unívoco segundo uma acepção única mas de modo equivoco De fato se o ser fosse um gênero único e comum a todas as coisas diríamos de tudo quanto existe que existe num mesmo sentido Mas já que existem dez gêneros primeiros é apenas nominalmente que partilham o ser não segundo a noção subjacente ao nome São dez portanto os gêneros supremos ao passo que as espécies sumamente específicas são muitas mas não infinitas Já os indivíduos que são posteriores às espécies sumamente específicas são em número infinito Por isso é que Platão recomendava que partindo dos gêneros supremos descêssemos até as espécies sumamente específicas recorrendo às diferenças específicas para distinguir as espécies intermediárias negligenciando porém a infinidade dos indivíduos sobre os quais não há ciência possível PORFÍRIO 29 Ao descermos na direção da espécie sumamente específica é forçoso que dividamos a unidade em multiplicidades Já ao ascendermos na direção do gênero supremo reduzimos a multiplicidade à unidade pois a espécie e sobretudo o gênero congrega uma multiplicidade de seres sob uma natureza única ao passo que os seres particulares e individuais operam o oposto sempre dispersam a unidade na multiplicidade Assim por sua participação na espécie os muitos homens são um só homem e em razão dos homens particulares aquele homem único e comum se faz muitos pois o particular é sempre divisivo enquanto o comum aglutina e unifica Uma vez definidos o gênero e a espécie e sendo o gênero um só enquanto as espécies são muitas pois o gênero subdividese sempre em muitas espécies decorrese que o gênero sempre se predica da espécie e que todos os termos superiores se predicam dos inferiores ao passo que a espécie não se predica do gênero imediatamente superior nem dos gêneros superiores a este pois gênero e espécie não são termos que se predicam reciprocamente já que um termo ou predicase de outro de mesma hierarquia como capaz de relinchar predicase de cavalo ou de termos PORFÍRIO 31 inferiores como animal predicase de homem jamais de um termo superior Ninguém jamais diria que animal é homem no mesmo sentido em que se diz que o homem é um animal O gênero a que uma espécie se subordina será predicado de tudo quanto a espécie seja predicada e o mesmo vale para os gêneros a que esse gênero esteja sucessivamente subordinado chegando até o gênero supremo Se é verdade que Sócrates é homem e que o homem é um animal e que animal é uma substância então é também verdade que Sócrates é um animal e uma substância Portanto dado que os termos superiores se predicam sempre dos termos inferiores a espécie será predicada do indivíduo e o gênero tanto da espécie quanto do indivíduo Já o gênero supremo predicase do gênero ou gêneros caso haja vários gêneros intermediários subordinados bem como da espécie e do indivíduo O gênero supremo predicase de todos os gêneros subordinados bem como das espécies e dos indivíduos O gênero que abarca a espécie sumamente específica predicase desta e dos indivíduos Já a espécie sumamente específica predicase de todos os indivíduos e estes apenas dos seres particulares São exemplos de indivíduo Sócrates um objeto branco qualquer este filho de Sofronisco que se aproxima se é que Sofronisco teve um único filho chamado Sócrates Tais coisas denominamse indivíduos porque são constituídas de particularidades que não se poderiam repetir em outro indivíduo As particularidades de Sócrates já não seriam as mesmas se reunidas em outro indivíduo Já as particularidades do homem falo da espécie homem podem ser as mesmas na maior da parte dos homens ou ainda e com mais razão em todos os homens particulares na medida em que são homens O indivíduo portanto está contido na espécie e a espécie no gênero pois o gênero é um todo e o indivíduo uma parte A espécie é simultaneamente todo e parte parte de um outro e um todo em outros e não de outro pois o todo está nas partes Enfim eis o que tinha a dizer acerca do gênero e da espécie do gênero supremo e da espécie sumamente PORFÍRIO 33 específica bem como dos gêneros que também são espécies dos indivíduos e das várias acepções de gênero e espécie 3 Da diferença Tratem os da diferença em sua acepção comum própria e maximamente própria Na acepção comum dizse que algo difere quando discrepa seja de si mesmo ou de outro em razão de alguma diferença Sócrates difere de Platão por ser outro mas difere de si em ser ora criança ora adulto e ora agir ora pausar a atividade bem como nas mudanças todas de estado Em sentido próprio dizse que algo difere quando quer que difira de outro em razão de um acidente inseparável São exemplos de acidentes inseparáveis a cor dos olhos o nariz aquilino uma cicatriz resultante de um ferimento Em sentido maximamente próprio dizse que algo difere quando quer que difira de outro em razão de uma diferença específica tal como o homem difere do cavalo em razão da diferença específica chamada racionalidade Via de regra toda diferença modifica seu objeto as diferenças comum e própria o modificam ao passo que a diferença maximamente específica o transforma em outro razão por que esta é denominada diferença específica enquanto aquelas denominamse somente diferenças A diferença racional quando acrescida ao gênero animal produz uma espécie distinta Já o moverse apenas altera o estar em repouso Consequentemente uma produz outro objeto enquanto a outra apenas altera o objeto ANIMAL RACIONAL IRRACIONAL ANIMAL PARADO CORRENDO As diferenças específicas possibilitam tanto a subdivisão do gênero em espécies quanto as definições que se constroem a partir do gênero e de suas diferenças As diferenças que apenas alteram o objeto produzem somente variações e mudanças de estado PORFÍRIO 47 É preciso dizer para retomar o inicio deste tópico que as diferenças são algumas separáveis e outras inseparáveis Moverse estar parado ter saúde estar doente e tudo quanto se assemelhe a isso é uma diferença separável Já ter nariz aquilino ou achatado ser racional ou irracional são diferenças inseparáveis Das diferenças inseparáveis algumas ocorrem por si mesmas enquanto outras ocorrem acidentalmente São diferenças essenciais do homem ser racional mortal e capaz de conhecer Já ter nariz aquilino ou achatado é acidente As diferenças essenciais estão incluídas na definição do objeto e fazem dele algo totalmente distinto ao passo que as diferenças acidentais não estão contidas na definição do objeto e apenas o alteram sem transformálo em outro As diferenças essenciais não admitem variações para mais ou para menos12 Já as diferenças acidentais ainda que inseparáveis do objeto podem ser mais ou menos intensas O gênero não se predica em diferentes graus ora mais ora menos daquilo que é gênero Tampouco as diferenças segundo as quais o gênero se subdivide são elas de fato que complementam a definição do objeto e um objeto que é um só e o mesmo não pode ser mais nem menos do que aquilo que é Já o ter nariz aquilino13 achatado ou possuir determinada cor admite variações para mais ou para menos Considerando que as diferenças são de três tipos e que dessas algumas são separáveis e outras inseparáveis e que dentre as inseparáveis por sua vez algumas são essenciais e outras acidentais temse que as diferenças acidentais são umas aquelas segundo as quais dividimos os gêneros em espécies e outras as dife 12 Segundo esta exposição o homem não pode ser mais ou menos mortal ou ele é mortal ou não é Da mesma forma não pode ser mais ou menos racional Quando falamos este homem é mais racional que aquele queremos dizer que ele é mais inteligente prudente tem mais calma etc atributos que muitas vezes pressupõem a racionalidade em sentido absoluto 13 Podese ter o nariz mais achatado ou mais aquilino ou seja pode haver gradação nas diferenças acidentais renças que constituem cada uma das espécies assim divididas Se tomarmos por exemplo a lista completa dos acidentes essenciais de animal ser animado e sensível racional e irracional mortal e imortal temos que animado e sensível são diferenças constitutivas do que é ser um animal pois animal é um ser animado e capaz de percepção sensível Já racional irracional mortal e imortal são diferenças divisivas pois é segundo essas diferenças que subdividimos o gênero animal em espécies diversas Porém as diferenças que relativamente ao gênero são divisivas tornamse complementares e constitutivas no tocante às espécies Com efeito o gênero animal subdividese segundo a racionalidade ou irracionalidade e ainda segundo a mortalidade ou imortalidade Racionalidade e mortalidade são as diferenças constitutivas de homem racionalidade e imortalidade de Deus e irracionalidade e mortalidade as de animal irracional Assim também a substância suprema se subdivide em animada e inanimada sensível e não sensível e quando a ela acrescentamse as diferenças animado e sensível temse o animal e quando acrescentamse animado e insensível temse o vegetal E uma vez que as mesmas diferenças são ora divisivas ora constitutivas são todas igualmente denominadas diferenças específicas São essas as diferenças de que mais fazemos uso na subdivisão dos gêneros e na construção das definições e não as diferenças acidentais inseparáveis e menos ainda as separáveis Há ainda quem defina as diferenças do seguinte modo diferença é aquilo em que a espécie excede o gênero Assim o homem além de animal é também mortal e racional pois o gênero animal não é uma coisa nem outra pois se o fosse como poderiam as espécies possuir diferenças específicas Tampouco possui o gênero todos os opostos caso em que num mesmo ser coexistiriam propriedades opostas mas como se diz o gênero possui em potência todas as diferenças que lhe estejam subordinadas não possuindo porém nenhuma em ato E assim nada deriva do nada nem os opostos coexistem num mesmo ser Definese a diferença também assim diferença é que o se predica como qualidade de uma multiplicidade de seres distintos segundo a espécie De fato quando dizemos que o homem é mortal e racional estamos falando de qualidades suas não daquilo que ele é Se nos perguntasem o que é o homem seria adequado dizer que é um animal E se nos indagarmos que tipo de animal responderemos adequadamente que é racional e mortal De fato as coisas se constituem de matéria e forma ou de elementos análogos a matéria e forma e tal como a estátua possui o bronze como matéria e a figura como forma também a espécie homem tem no gênero um análogo da matéria e na diferença um análogo da forma E o homem é esse conjunto animal racional e mortal tal qual é também um conjunto a estátua Descrevemse tais diferenças também do seguinte modo diferença é o que por natureza distingue as espécies subordinadas a um mesmo gênero Assim racional e irracional diferenciam homem e cavalo espécies subordinadas a um mesmo gênero animal Há quem defina também assim diferença é aquilo mediante o qual uma coisa difere de outra Assim homem e cavalo não diferem segundo o gênero pois tanto nós quanto os animais irracionais somos mortais mas o racional uma vez acrescido distinguenos deles Igualmente racionais somos tanto nós quanto os deuses mas o mortal uma vez acrescido distinguenos deles Indo mais fundo dizse que a diferença é não o que quer que diferencie as espécies subordinadas a um mesmo gênero mas algo que contribui para que a coisa seja aquilo que é e o que constitui parte daquilo que a coisa é A capacidade natural para navegar não é uma diferença do homem ainda que seja própria do homem Poderíamos dizer que alguns animais são naturalmente aptos a navegar ao passo que outros não o são distinguindo assim entre uns e outros Contudo o ser apto a navegar não integra PORFÍRIO 43 14 O exemplo aqui dado é de potencialidades próprias da espécie ainda que não seja de modo algum necessário exercer aquela potencialidade para ser daquela espécie Um exemplo básico é a leitura aquela potencialidade para ser daquela espécie se humano é próprio do homem ler mas ninguém não deixa de ser homem por não saber ler 5 Do acidente Acidente é aquilo cuja presença ou ausência não destrói o sujeito Dividese em dois tipos o acidente separável e o acidente inseparável Estar dormindo é um accidente separável já o ser negro é para o corvo e para o etíope um acidente inseparável embora seja possível conceber tanto um corvo branco quanto um etíope que mudasse de cor sem que isso deixasse de existir 16 Definese também assim accidente é aquilo que relativamente a um mesmo sujeito pode ou não existir ou aquilo que não sendo gênero diferença espécie nem próprio subsiste sempre em um sujeito Definidos os termos que me propus definir ou seja o gênero a espécie a diferença o próprio e o accidente resta tratar das características comuns e das sejam próprias a cada um deles 16 Um accidente portanto não pode ser nada que seja necessário para aquele objeto ser aquele objeto PORFIRIO 47 A contribuição dos Universais para a epistemologia A Querela dos Universais constitui um dos problemas centrais da filosofia medieval e continua a ter implicações relevantes para a epistemologia contemporânea A discussão gira em torno da existência dos universais ou seja da possibilidade de conceitos gerais como justiça humanidade ou bondade existirem de modo independente dos indivíduos particulares A pergunta fundamental é tais universais existem de fato ou são apenas criações mentais ou nomes atribuídos arbitrariamente A resposta a essa questão define em grande medida como se compreende o conhecimento se ele é uma representação fiel de realidades universais ou apenas uma construção intelectual Entre as principais posições da Querela encontrase o realismo moderado defendido por autores como Tomás de Aquino e mais recentemente analisado por Contarato 2022 Nessa concepção os universais existem enquanto abstrações reais derivadas da experiência sensível mas não como substâncias separadas Ou seja eles não existem por si mesmos como pensava Platão mas também não são meras palavras como propõe o nominalismo Segundo Contarato 2022 p 58 os universais são reais enquanto aspectos inteligíveis comuns aos entes individuais captados pela razão a partir da experiência sensível Outra abordagem importante é o conceitualismo notoriamente representado por Pedro Abelardo que defende que os universais existem apenas como conceitos na mente humana sem existência objetiva no mundo exterior De acordo com essa perspectiva os universais são construções mentais úteis para o raciocínio e a linguagem mas não possuem realidade ontológica independente ROSA 2018 Assim o conhecimento geral não reflete realidades universais externas mas organiza experiências individuais em categorias mentais para facilitar a compreensão O nominalismo especialmente difundido por Guilherme de Ockham radicaliza essa visão ao sustentar que os universais não passam de nomes Não há qualquer realidade fora do indivíduo particular os termos gerais são convenções linguísticas que agrupam entes semelhantes sem corresponder a nenhuma realidade objetiva SILVA 2020 Dessa forma justiça ou coragem são apenas palavras utilizadas para facilitar a comunicação sem que exista uma essência comum entre os entes designados Para Ockham como destaca Silva 2020 p 212 o universal é apenas um termo uma designação útil mas sem qualquer substrato real Essas diferentes perspectivas produzem implicações significativas para a epistemologia No caso do realismo moderado é possível sustentar que o conhecimento científico e filosófico generaliza propriedades reais que são abstraídas da experiência Já para o conceitualismo e o nominalismo o conhecimento não ultrapassa o domínio da mente ou da linguagem tornandose uma forma de organização subjetiva da realidade sem garantia de representar verdades objetivas Em outras palavras a natureza do conhecimento depende da ontologia que se adota em relação aos universais A compreensão epistemológica da querela mostrase especialmente relevante na medida em que ela fundamenta a validade dos enunciados universais Se assumirmos uma posição realista moderada podemos sustentar que as leis científicas por exemplo descrevem padrões reais observados no mundo Caso contrário se adotarmos uma postura nominalista essas leis passam a ser vistas apenas como construções pragmáticas úteis mas arbitrárias Contarato 2022 p 66 resume essa tensão ao afirmar que sem uma base ontológica real para os universais toda tentativa de universalização do conhecimento permanece fragilizada Para além das implicações teóricas a Querela dos Universais também provoca reflexões sobre o modo como se interpreta o mundo cotidiano O reconhecimento de propriedades comuns como generosidade ou lealdade em diferentes pessoas depende da crença na existência de universais A maneira como se conceitua e julga ações morais comportamentos sociais ou categorias jurídicas está profundamente ligada ao estatuto dos universais Nesse sentido a epistemologia não é apenas uma abstração filosófica mas exerce impacto direto na prática cultural e na organização da vida social A minha própria compreensão dos predicáveis gênero espécie diferença propriedade e acidente e dos predicamentos substância quantidade qualidade relação etc como formulados por Aristóteles foi profundamente influenciada por esse debate Ao distinguir por exemplo o essencial do acidental posso aprimorar meu raciocínio identificar melhor as causas dos fenômenos e tomar decisões mais consistentes tanto no campo acadêmico quanto pessoal Tais categorias ajudamme a organizar o pensamento a comunicar ideias com clareza e a desenvolver argumentos mais precisos Portanto o debate em torno dos universais não se resume a uma discussão histórica mas se mantém atual e relevante A maneira como se entende a natureza dos conceitos gerais afeta diretamente as bases da ciência da linguagem da ética e da política Compreender as posições do realismo moderado do conceitualismo e do nominalismo permite não apenas enriquecer a formação intelectual mas também aprimorar a análise crítica e a autonomia reflexiva A epistemologia nesse contexto tornase uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e de engajamento consciente com o mundo Avanços realizados até o momento na Querela dos Universais Ao longo da história da filosofia a Querela dos Universais passou por significativas transformações conceituais que impactaram profundamente o desenvolvimento da epistemologia ocidental Os primeiros marcos desse debate se encontram em Platão e Aristóteles Platão concebeu os universais como ideias eternas e perfeitas existentes em um mundo inteligível separado do mundo sensível Essa concepção inaugura o realismo exagerado em que os universais possuem existência independente e anterior aos objetos particulares Aristóteles por sua vez diverge dessa perspectiva ao defender que os universais existem imanentemente nas coisas como estruturas comuns que a mente humana pode apreender por abstração REZENDE 2019 A patrística cristã particularmente com Boécio promoveu a recepção e adaptação das ideias aristotélicas Para ele os universais são formas inteligíveis que a mente humana extrai da experiência sensível Embora não subsistam como realidades separadas possuem função cognitiva e lógica essencial para o conhecimento Essa postura contribuiu para consolidar uma ponte entre o pensamento clássico e a teologia cristã oferecendo uma leitura compatível com a ideia de uma criação divina racional e inteligível VILANOVA 2017 No período escolástico Pedro Abelardo apresentou uma síntese inovadora que ficou conhecida como conceitualismo Nessa visão os universais não existem extramentalmente mas possuem realidade no intelecto humano como signos mentais Eles não são meras palavras vazias mas também não possuem substância própria no mundo físico Abelardo buscou uma alternativa entre o realismo platônico e o nominalismo nascente destacando que os universais têm papel fundamental no raciocínio e na comunicação embora não tenham existência objetiva fora da mente ROSA 2018 Tomás de Aquino influenciado por Aristóteles elaborou uma teoria que equilibra metafísica e epistemologia Para ele os universais existem de três formas in re nas coisas ante rem em Deus como arquétipos e post rem no intelecto humano Assim a mente humana apreende os universais a partir da experiência concreta mas sua origem última remonta à criação divina Essa teoria sustenta uma concepção realista moderada em que o conhecimento é possível porque há uma correspondência entre as estruturas do intelecto e as essências das coisas AQUINO 2000 Com Guilherme de Ockham surge uma ruptura decisiva com o pensamento anterior Defensor do nominalismo Ockham nega qualquer realidade aos universais fora da linguagem Para ele são apenas termos gerais utilizados para designar múltiplas coisas semelhantes O universal é uma convenção linguística e não uma entidade real Como afirma Silva 2020 p 212 o universal é apenas um termo uma designação útil mas sem qualquer substrato real Essa posição reduziu o escopo da metafísica e influenciou profundamente o surgimento da filosofia moderna ao privilegiar a experiência individual e a economia conceitual No século XX a Querela dos Universais foi reconfigurada sob novas bases especialmente no campo da filosofia analítica Willard Van Orman Quine por exemplo abordou os universais a partir da ontologia dos objetos abstratos e da linguagem da ciência Em sua crítica ao empirismo lógico Quine reconhece que o discurso científico se compromete com a existência de entidades abstratas como classes e propriedades o que reacende o debate sobre os universais em um novo nível de análise QUINE 1975 John Searle por sua vez trouxe à tona a importância da linguagem e da intencionalidade na constituição do conhecimento Para ele os universais não devem ser compreendidos como entidades ontológicas autônomas mas como produtos da capacidade representacional humana A linguagem natural estrutura a forma como organizamos o mundo o que significa que o debate sobre os universais está inevitavelmente ligado à forma como nomeamos e categorizamos as experiências SEARLE 1997 Outro avanço importante na contemporaneidade é a proposta do filósofo David Armstrong defensor do chamado realismo científico Armstrong argumenta que os universais realmente existem mas apenas na medida em que são identificáveis pelas ciências naturais Ele propõe o conceito de universais esparsos ou seja apenas os universais necessários para a explicação científica têm existência ontológica Essa proposta representa uma tentativa de reconciliação entre realismo e empirismo ARMSTRONG 1989 Em síntese os avanços na Querela dos Universais evidenciam uma trajetória que vai da metafísica clássica à análise lógica e linguística contemporânea A discussão ultrapassou o campo da teologia e da ontologia medieval ganhando novos contornos na epistemologia moderna e na filosofia da linguagem Como observam Ikeda e Zenni 2020 o debate ao ser retomado em contextos distintos mantém sua relevância como eixo estruturante das teorias do conhecimento do direito e da linguagem reforçando seu valor histórico e filosófico Como a compreensão dos predicáveis e predicamentos pode influenciar minha vida A compreensão dos predicáveis e predicamentos conceitos fundamentais da lógica e da metafísica aristotélica pode exercer uma profunda influência não apenas no desenvolvimento do raciocínio teórico mas também na maneira como interpretamos a realidade cotidiana e tomamos decisões práticas Os predicáveis conforme definidos por Aristóteles e sistematizados por Porfírio em sua Isagoge são cinco modos distintos de se dizer algo sobre um sujeito gênero espécie diferença específica propriedade e acidente Eles não são categorias do ser mas formas de classificação conceitual que permitem relacionar um conceito com outro segundo suas semelhanças ou diferenças ARISTÓTELES 2009 Já os predicamentos também chamados de categorias aristotélicas são dez classes fundamentais pelas quais o ser pode ser dito substância quantidade qualidade relação lugar tempo posição estado ação e paixão Diferentemente dos predicáveis os predicamentos possuem caráter ontológico referemse a modos de existência ou aspectos do ser Compreender a distinção entre predicáveis e predicamentos é essencial para qualquer análise crítica pois oferece um instrumental lógico e filosófico que sustenta o discurso racional a organização do pensamento e o juízo ético e prático VILANOVA 2017 Na vida cotidiana a assimilação desses conceitos permite maior clareza conceitual Distinguir por exemplo entre o que é essencial como a espécie ou o gênero e o que é acidental como uma propriedade ou um acidente em uma determinada situação contribui para compreender melhor os fenômenos evitando generalizações indevidas e análises superficiais Em contextos profissionais como ao lidar com conflitos interpessoais essa distinção é valiosa reconhecer que um comportamento agressivo pode ser um acidente isto é uma característica não essencial de alguém impede julgamentos apressados e favorece intervenções mais justas e eficazes REZENDE 2019 Outro impacto prático da compreensão dos predicáveis e predicamentos se dá na comunicação Ao empregar corretamente conceitos como gênero e espécie evitase ambiguidade no discurso e tornase possível argumentar com mais precisão Por exemplo ao discutir políticas públicas saber que animal é gênero e ser humano é espécie permite construir argumentos que envolvem ética e direito com maior coerência lógica A linguagem ganha poder explicativo e a capacidade de gerar consenso se fortalece sobretudo em contextos de debate e deliberação coletiva ARISTÓTELES 2009 No campo do raciocínio lógico esses conceitos são indispensáveis Ao elaborar argumentos identificar corretamente os predicáveis envolvidos em cada proposição possibilita evitar falácias e inconsistências Por exemplo confundir propriedade com diferença específica pode comprometer uma inferência válida Saber que racionalidade é uma diferença que distingue humanos de outros animais enquanto capacidade de fala é uma propriedade que pode ou não se manifestar permite elaborar análises filosóficas jurídicas e científicas com maior rigor argumentativo SILVA 2020 Além disso os predicamentos ajudam na construção de uma visão crítica da realidade Compreender por exemplo que as relações sociais se enquadram na categoria de relação e não de substância impede absolutizações equivocadas de vínculos transitórios Do mesmo modo perceber que tempo e lugar são condições acidentais e não essenciais do ser ajuda a relativizar julgamentos baseados em circunstâncias momentâneas Essa perspectiva possibilita desenvolver maior empatia e compreensão diante da diversidade de experiências humanas VILANOVA 2017 No exercício ético o domínio desses conceitos favorece a prudência e o equilíbrio Decisões importantes como contratar um profissional dar um feedback ou lidar com um problema familiar ganham em consistência quando o sujeito é capaz de separar o que pertence à essência daquilo que é contingente Essa distinção como observa Aristóteles 2009 é fundamental para o desenvolvimento da phronesis ou sabedoria prática que se manifesta na capacidade de deliberar bem sobre o que é bom para a vida humana No ambiente acadêmico a compreensão dos predicáveis e predicamentos contribui para o desenvolvimento das habilidades cognitivas superiores como a análise a síntese e a avaliação Disciplinas como lógica ética direito pedagogia medicina ou engenharia podem se beneficiar do uso consciente dessas categorias uma vez que lidam constantemente com classificações juízos e definições A formação crítica de estudantes e profissionais depende em grande medida da sua familiaridade com estruturas conceituais precisas e coerentes REZENDE 2019 Por fim posso afirmar que pessoalmente a compreensão dos predicáveis e predicamentos me ajuda a organizar melhor meus pensamentos a argumentar com mais clareza e a tomar decisões mais conscientes Em momentos de conflito ou dúvida pensar segundo essas categorias filosóficas auxilia a distinguir aspectos essenciais dos acidentais a formular julgamentos mais justos e a comunicarme de forma mais precisa Portanto longe de serem noções abstratas ou meramente teóricas os predicáveis e predicamentos de Aristóteles tornamse para mim ferramentas práticas de aprimoramento pessoal intelectual e social Referências ARISTÓTELES Categorias Trad Edson Bini São Paulo Loyola 2009 CASTRO NETO José Carlos Camillo Universais existem Uma análise a partir da Teoria da Percepção de Searle Intuitio PUCRS 2020 CONTARATO Thiago Sebastião Reis A querela dos universais e o realismo moderado In Filosofia os desafios do pensar v 2 2022 p 5269 IKEDA Walter Lucas ZENNI Alessandro S V Querela dos universais direito e personalidade Revista Quaestio Iuris v 12 n 4 p 189216 2020 REZENDE Marcus Sacrini Ayres de Filosofia antiga dos présocráticos a Aristóteles 2 ed São Paulo Paulus 2019 SILVA André Luiz da Ockham e o nominalismo o problema dos universais na lógica medieval Revista de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora Juiz de Fora v 13 n 2 p 205220 2020 VILANOVA Pedro Paulo Introdução à filosofia medieval 3 ed São Paulo Loyola 2017

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Isagoge de Porfírio o fenício¹ discípulo de Plotino de Licópolis Já que é necessário Crisaórios² saber o que seja o gênero a diferença a espécie o próprio e o acidente tanto para o aprendizado das categorias de Aristóteles³ quanto para a elaboração das definições e como o exame desses temas é muito útil no tocante às divisões e demonstrações tentarei de forma breve e à guisa de introdução expor o que a esse respeito foi dito pelos antigo e assim compor para ti um resumo desse legado evitando porém investigações mais profundas e tratando das mais simples na medida do razoável Por ora não tratarei no que tange a gêneros e espécies se de fato subsistem ou se não passam de meros conceitos se constituem substância corpórea ou incorpórea se subsistem separadamente ou não dos objetos sensíveis Esse é um tema da mais alta profundidade e que exige um exame mais alongado⁴ Aquilo que de mais razoável conceberam os antigos sobretudo os peripatéticos a respeito deste e dos temas elencados acima eis o que agora tentarei demonstrarte 1 Do gênero Tanto o gênero quanto a espécie parecem possuir diversas acepções Com efeito denominase gênero o grupo de indivíduos que possuem certa relação com um terceiro ou entre si Dizse que os Heráclidas são um gênero nessa acepção de vínculo comum oriundo de um só indivíduo ou seja de Héracles bem como de coletivo de indivíduos que partilham o parentesco que daquele se origina denominandose o gênero a partir da divisão que o distingue dos demais gêneros De maneira diversa denominase também gênero a origem individual conforme o nascimento seja a partir do genitor seja a partir do lugar em que se nasceu Assim dizse que Orestes deriva sua origem de Tântalo⁵ e Hilo⁶ de Héracles e também que Píndaro⁷ é tebano de origem e Platão⁸ ateniense pois a pátria tal como o pai é a origem do nascimento A acepção mais comum parece ser a seguinte são chamados Heráclidas os que derivam sua origem de Héracles e Cecrópidas os de Cérops bem como os aparentados destes De início denominouse gênero a origem do indivíduo segundo o nascimento e só depois o conjunto dos indivíduos que partilham uma mesma origem como por exemplo de Héracles conjunto este que definimos e distinguimos dos demais ao denominálo os Heráclidas Definese gênero também em outra acepção como aquilo a que a espécie está subordinada definição provavelmente fundada na semelhança com as demais acepções pois o gênero é uma espécie de princípio que compreende e do qual se origina tudo quanto lhe esteja subordinado ⁵ Orestes e Tântalo são figuras da mitologia grega Tântalo é patriarca da linhagem que resulta em Orestes ⁶ Outras duas personagens da mitologia grega Hilo é filho de Héracles ⁷ Um dos maiores poetas líricos da Grécia Antiga e nascido na cidade de Tebas ⁸ Um dos maiores filósofos da Antiguidade discípulo de Sócrates e professor de Aristóteles PORFÍRIO 13 O termo gênero portanto admite três acepções e a terceira é aquela da qual trataram os filósofos⁹ os quais definindo o mostraram ser o gênero aquilo que se predica em caráter essencial de uma multiplicidade de seres de espécies distintas como por exemplo animal Alguns predicados predicamse de um único ser a exemplo dos indivíduos tais como Sócrates ou este indivíduo aqui ou esta coisa particular Outros predicados predicamse de muitos como os gêneros as espécies as diferenças os próprios e os acidentes comuns não porém os acidentes próprios a determinado indivíduo Gênero é por exemplo animal e espécie homem Racional é um exemplo de diferença é capaz de rir um exemplo de próprio Já branco preto sentado são exemplos de acidentes ⁹ Porfírio distingue primeiro as várias acepções da palavra gênero para depois expor a sua acepção propriamente filosófica O mesmo método será seguido em alguns dos próximos capítulos PORFÍRIO 17 O gênero difere dos predicados que se predicam de um só pelo fato de predicarse de muitos e difere dos que se predicam de muitos ou seja da espécie pelo fato de que a espécie embora se predique de muitos não se predica de seres que diferem segundo a espécie mas apenas de seres que diferem segundo o número Assim homem por ser espécie predicase de Sócrates e Platão os quais não diferem em espécie mas apenas em número ao passo que animal por ser gênero predicase de homem boi e cavalo os quais diferem entre si segundo a espécie não apenas segundo o número O próprio por sua vez difere do gênero pelo fato de predicarse de uma só espécie aquela da qual é próprio O próprio também se predica dos indivíduos pertencentes à espécie Assim capaz de rir predicase tanto da espécie homem quanto dos homens particulares Já o gênero não se predica de uma espécie apenas mas de muitas e variadas espécies O gênero distinguese da diferença e do acidente comum pelo fato de que estes embora se prediquem tanto de uma multiplicidade de seres quanto de seres distintos segundo a espécie nada dizem sobre o que tais seres são Se perguntássemos de que tratam a diferença e o acidente comum diríamos que tratam antes do como é do que daquilo que é pois se perguntamos como é o homem dizemos que é racional e se perguntamos como é o corvo dizemos que é negro Racional é diferença ao passo que negro é acidente Porém se nos perguntarem o que é o homem diremos que é um animal pois animal é o gênero de homem10 Assim o fato de predicarse de muitos distingue o gênero dos predicados que se predicam de um só ou seja dos seres individuais E o predicarse de seres de espécies distintas distingue o gênero tanto da espécie quanto do próprio Já o fato de o gênero tratar do que as coisas são distingueo da diferença e do acidente comum os quais não predicam os seres essencialmente naquilo que eles são mas no como são ou no como estão A descrição que fizemos da noção de gênero em nada excede nem deixa a desejar 10 Ou seja se nos perguntam o que é algo e respondemos que é branco ou está sentado a resposta não é apropriada porque quem pergunta não quer saber como a coisa é ou está mas o que é No entanto se respondemos com o gênero a que a coisa pertence é uma planta é um animal isso já diz algo sobre o que a coisa é ainda que incompletamente PORFÍRIO 21 2 Da espécie Espécie designa por um lado a aparência de determinada coisa como na frase uma aparência espciosa Denominase espécie também aquilo que se subordina a determinado gênero acepção segundo a qual costumamos dizer que homem é espécie de animal já que animal é gênero e branco uma espécie de cor e triângulo uma espécie de forma geométrica E já que mencionamos a espécie ao definirmos o gênero como aquilo que se predica de uma multiplicidade de seres de espécies distintas sendo a espécie por sua vez aquilo que se subordina a determinado gênero cabe pontuar que sendo um gênero o gênero de algo e a espécie espécie de algo é necessário que a definição de gênero mencione a espécie e viceversa A espécie portanto definese também assim espécie é aquilo que se subordinada ao gênero e cuja essência o gênero designa Ou ainda espécie é o que se predica essencialmente de uma multiplicidade de seres que se distinguem entre si segundo o número Mas essa última definição se aplica apenas à espécie sumamente específica aquela que é somente espécie ao passo que as outras definições também se aplicam às demais espécies as quais também são gênero Eis um modo de tornar claro o que foi dito anteriormente Existem predicados maximamente genéricos e predicados maximamente específicos e há ainda predicados intermediários entre esses dois Um predicado maximamente genérico é aquele além do qual não há nenhum gênero superior Já um predicado maximamente específico é aquele após o qual não há nenhuma espécie subordinada E há ainda entre um e outro predicados intermediários os quais são tanto gênero quanto espécie tomados porém com relação a termos diferentes PORFÍRIO 23 Tomemos para tornar claro a seguinte série de predicados A substância é ela própria um gênero abaixo do qual está o corpo e abaixo do corpo o corpo animado abaixo do qual está o animal e abaixo do animal o animal racional abaixo do qual está a espécie homem à qual estão subordinados Sócrates Platão e os homens particulares A substância é o mais genérico desses predicados sendo exclusivamente gênero ao passo que corpo é tanto espécie de substância quanto gênero de corpo animado11 Já corpo animado é tanto espécie de corpo quando gênero de animal o qual por sua vez é tanto espécie de corpo animado quanto gênero de animal racional E animal racional por seu turno é tanto espécie de animal quanto gênero de homem ao passo que homem que é espécie de animal racional já não é gênero dos homens particulares mas apenas espécie Todo termo que antecede imediatamente os indivíduos é exclusivamente espécie e não gênero Assim portanto tal como a substância situada no topo e sem gênero que a anteceda é o gênero supremo também homem por ser espécie após a qual já não há espécie nem coisa alguma que se possa dividir em espécies mas apenas indivíduos pois Sócrates Platão e este objeto branco aqui são indivíduos é exclusivamente espécie a espécie última ou como dissemos a espécie sumamente específica 11 Ou seja em certo sentido algo pode ser simultaneamente gênero e espécie É o caso dos gêneros subalternos que em um sentido relativo são gênero dos seus inferiores e espécie dos seus superiores Em um sentido absoluto porém reservase o nome de espécie apenas para a espécie última PORFÍRIO 25 Já os termos intermediários são espécies dos termos que os antecedem e gêneros dos termos que os sucedem de forma que as relações que estabelecem são duas uma primeira com os termos superiores dos quais são espécies e uma segunda com os termos inferiores dos quais são gêneros Os termos extremos possuem um só tipo de relação o gênero sumamente genérico que é o gênero supremo relacionase apenas com os termos subordinados não havendo termos superiores com quais se relacionar por ser ele o gênero supremo e o primeiro princípio ou como dissemos por ser aquilo acima do qual não há gênero superior Também a espécie sumamente específica possui uma única relação aquela que estabelece com os termos superiores dos quais é espécie não possuindo outro tipo de relação com respeito aos termos subordinados pois também dizse que é espécie dos indivíduos embora denominese espécie neste caso em razão de abarcar os indivíduos ao passo que é dita espécie dos termos superiores por estar neles contida PORFÍRIO 27 Definese o gênero supremo portanto do seguinte modo aquilo que sendo gênero não é espécie Ou ainda o gênero acima do qual não há gênero superior Já a espécie sumamente específica é aquela que sendo espécie não é gênero Ou a espécie que não se divide em subespécies Ou ainda aquilo que se predica da essência de uma multiplicidade de seres numericamente distintos Os intermediários entre os dois extremos denominamse gêneros e espécies subordinados sendo cada um deles gênero e espécie relativamente porém a termos distintos Os termos superiores à espécie sumamente específica e inferiores ao gênero supremo denominamse tanto gêneros quanto espécies ou ainda gêneros subordinados tal como quando se diz que Agamênon é filho de Atreu que é filho Pelops que é filho de Tântalo que por fim é filho de Zeus As genealogias retrocedem no mais das vezes a uma origem única Tal não ocorre porém no caso dos gêneros e das espécies pois como diz Aristóteles o ser não é um gênero comum a todas as coisas tampouco derivam todas as coisas de um gênero único e supremo Digase porém tal como é dito nas Categorias que os primeiros dez gêneros são como dez princípios primeiros E embora possamos dizer desses dez gêneros que todos eles são não o dizemos de modo unívoco segundo uma acepção única mas de modo equívoco De fato se o ser fosse um gênero único e comum a todas as coisas diriamos de tudo quanto existe que existe num mesmo sentido Mas já que existem dez gêneros primeiros é apenas nominalmente que partilham o ser não segundo a noção subjacente ao nome São dez portanto os gêneros supremos ao passo que as espécies sumamente específicas são muitas mas não infinitas Já os indivíduos que são posteriores às espécies sumamente específicas são em número infinito Por isso é que Platão recomendava que partindo dos gêneros supremos descêssemos até as espécies sumamente específicas recorrendo às diferenças específicas para distinguir as espécies intermediárias negligenciando porém a infindade dos indivíduos sobre os quais não há ciência possível PORFÍRIO 29 Definese o gênero supremo portanto do seguinte modo aquilo que sendo gênero não é espécie Ou ainda o gênero acima do qual não há gênero superior Já a espécie sumamente específica é aquela que sendo espécie não é gênero Ou a espécie que não se divide em subespécies Ou ainda aquilo que se predica da essência de uma multiplicidade de seres numericamente distintos Os intermediários entre os dois extremos denominamse gêneros e espécies subordinados sendo cada um deles gênero e espécie relativamente porém a termos distintos Os termos superiores à espécie sumamente específica e inferiores ao gênero supremo denominamse tanto gêneros quanto espécies ou ainda gêneros subordinados tal como quando se diz que Agamênon é filho de Atreu que é filho Pelops que é filho de Tântalo que por fim é filho de Zeus As genealogias retrocedem no mais das vezes a uma origem única Tal não ocorre porém no caso dos gêneros e das espécies pois como diz Aristóteles o ser não é um gênero comum a todas as coisas tampouco derivam todas as coisas de um gênero único e supremo Digase porém tal como é dito nas Categorias que os primeiros dez gêneros são como dez princípios primeiros E embora possamos dizer desses dez gêneros que todos eles são não o dizemos de modo unívoco segundo uma acepção única mas de modo equivoco De fato se o ser fosse um gênero único e comum a todas as coisas diríamos de tudo quanto existe que existe num mesmo sentido Mas já que existem dez gêneros primeiros é apenas nominalmente que partilham o ser não segundo a noção subjacente ao nome São dez portanto os gêneros supremos ao passo que as espécies sumamente específicas são muitas mas não infinitas Já os indivíduos que são posteriores às espécies sumamente específicas são em número infinito Por isso é que Platão recomendava que partindo dos gêneros supremos descêssemos até as espécies sumamente específicas recorrendo às diferenças específicas para distinguir as espécies intermediárias negligenciando porém a infinidade dos indivíduos sobre os quais não há ciência possível PORFÍRIO 29 Ao descermos na direção da espécie sumamente específica é forçoso que dividamos a unidade em multiplicidades Já ao ascendermos na direção do gênero supremo reduzimos a multiplicidade à unidade pois a espécie e sobretudo o gênero congrega uma multiplicidade de seres sob uma natureza única ao passo que os seres particulares e individuais operam o oposto sempre dispersam a unidade na multiplicidade Assim por sua participação na espécie os muitos homens são um só homem e em razão dos homens particulares aquele homem único e comum se faz muitos pois o particular é sempre divisivo enquanto o comum aglutina e unifica Uma vez definidos o gênero e a espécie e sendo o gênero um só enquanto as espécies são muitas pois o gênero subdividese sempre em muitas espécies decorrese que o gênero sempre se predica da espécie e que todos os termos superiores se predicam dos inferiores ao passo que a espécie não se predica do gênero imediatamente superior nem dos gêneros superiores a este pois gênero e espécie não são termos que se predicam reciprocamente já que um termo ou predicase de outro de mesma hierarquia como capaz de relinchar predicase de cavalo ou de termos PORFÍRIO 31 inferiores como animal predicase de homem jamais de um termo superior Ninguém jamais diria que animal é homem no mesmo sentido em que se diz que o homem é um animal O gênero a que uma espécie se subordina será predicado de tudo quanto a espécie seja predicada e o mesmo vale para os gêneros a que esse gênero esteja sucessivamente subordinado chegando até o gênero supremo Se é verdade que Sócrates é homem e que o homem é um animal e que animal é uma substância então é também verdade que Sócrates é um animal e uma substância Portanto dado que os termos superiores se predicam sempre dos termos inferiores a espécie será predicada do indivíduo e o gênero tanto da espécie quanto do indivíduo Já o gênero supremo predicase do gênero ou gêneros caso haja vários gêneros intermediários subordinados bem como da espécie e do indivíduo O gênero supremo predicase de todos os gêneros subordinados bem como das espécies e dos indivíduos O gênero que abarca a espécie sumamente específica predicase desta e dos indivíduos Já a espécie sumamente específica predicase de todos os indivíduos e estes apenas dos seres particulares São exemplos de indivíduo Sócrates um objeto branco qualquer este filho de Sofronisco que se aproxima se é que Sofronisco teve um único filho chamado Sócrates Tais coisas denominamse indivíduos porque são constituídas de particularidades que não se poderiam repetir em outro indivíduo As particularidades de Sócrates já não seriam as mesmas se reunidas em outro indivíduo Já as particularidades do homem falo da espécie homem podem ser as mesmas na maior da parte dos homens ou ainda e com mais razão em todos os homens particulares na medida em que são homens O indivíduo portanto está contido na espécie e a espécie no gênero pois o gênero é um todo e o indivíduo uma parte A espécie é simultaneamente todo e parte parte de um outro e um todo em outros e não de outro pois o todo está nas partes Enfim eis o que tinha a dizer acerca do gênero e da espécie do gênero supremo e da espécie sumamente PORFÍRIO 33 específica bem como dos gêneros que também são espécies dos indivíduos e das várias acepções de gênero e espécie 3 Da diferença Tratem os da diferença em sua acepção comum própria e maximamente própria Na acepção comum dizse que algo difere quando discrepa seja de si mesmo ou de outro em razão de alguma diferença Sócrates difere de Platão por ser outro mas difere de si em ser ora criança ora adulto e ora agir ora pausar a atividade bem como nas mudanças todas de estado Em sentido próprio dizse que algo difere quando quer que difira de outro em razão de um acidente inseparável São exemplos de acidentes inseparáveis a cor dos olhos o nariz aquilino uma cicatriz resultante de um ferimento Em sentido maximamente próprio dizse que algo difere quando quer que difira de outro em razão de uma diferença específica tal como o homem difere do cavalo em razão da diferença específica chamada racionalidade Via de regra toda diferença modifica seu objeto as diferenças comum e própria o modificam ao passo que a diferença maximamente específica o transforma em outro razão por que esta é denominada diferença específica enquanto aquelas denominamse somente diferenças A diferença racional quando acrescida ao gênero animal produz uma espécie distinta Já o moverse apenas altera o estar em repouso Consequentemente uma produz outro objeto enquanto a outra apenas altera o objeto ANIMAL RACIONAL IRRACIONAL ANIMAL PARADO CORRENDO As diferenças específicas possibilitam tanto a subdivisão do gênero em espécies quanto as definições que se constroem a partir do gênero e de suas diferenças As diferenças que apenas alteram o objeto produzem somente variações e mudanças de estado PORFÍRIO 47 É preciso dizer para retomar o inicio deste tópico que as diferenças são algumas separáveis e outras inseparáveis Moverse estar parado ter saúde estar doente e tudo quanto se assemelhe a isso é uma diferença separável Já ter nariz aquilino ou achatado ser racional ou irracional são diferenças inseparáveis Das diferenças inseparáveis algumas ocorrem por si mesmas enquanto outras ocorrem acidentalmente São diferenças essenciais do homem ser racional mortal e capaz de conhecer Já ter nariz aquilino ou achatado é acidente As diferenças essenciais estão incluídas na definição do objeto e fazem dele algo totalmente distinto ao passo que as diferenças acidentais não estão contidas na definição do objeto e apenas o alteram sem transformálo em outro As diferenças essenciais não admitem variações para mais ou para menos12 Já as diferenças acidentais ainda que inseparáveis do objeto podem ser mais ou menos intensas O gênero não se predica em diferentes graus ora mais ora menos daquilo que é gênero Tampouco as diferenças segundo as quais o gênero se subdivide são elas de fato que complementam a definição do objeto e um objeto que é um só e o mesmo não pode ser mais nem menos do que aquilo que é Já o ter nariz aquilino13 achatado ou possuir determinada cor admite variações para mais ou para menos Considerando que as diferenças são de três tipos e que dessas algumas são separáveis e outras inseparáveis e que dentre as inseparáveis por sua vez algumas são essenciais e outras acidentais temse que as diferenças acidentais são umas aquelas segundo as quais dividimos os gêneros em espécies e outras as dife 12 Segundo esta exposição o homem não pode ser mais ou menos mortal ou ele é mortal ou não é Da mesma forma não pode ser mais ou menos racional Quando falamos este homem é mais racional que aquele queremos dizer que ele é mais inteligente prudente tem mais calma etc atributos que muitas vezes pressupõem a racionalidade em sentido absoluto 13 Podese ter o nariz mais achatado ou mais aquilino ou seja pode haver gradação nas diferenças acidentais renças que constituem cada uma das espécies assim divididas Se tomarmos por exemplo a lista completa dos acidentes essenciais de animal ser animado e sensível racional e irracional mortal e imortal temos que animado e sensível são diferenças constitutivas do que é ser um animal pois animal é um ser animado e capaz de percepção sensível Já racional irracional mortal e imortal são diferenças divisivas pois é segundo essas diferenças que subdividimos o gênero animal em espécies diversas Porém as diferenças que relativamente ao gênero são divisivas tornamse complementares e constitutivas no tocante às espécies Com efeito o gênero animal subdividese segundo a racionalidade ou irracionalidade e ainda segundo a mortalidade ou imortalidade Racionalidade e mortalidade são as diferenças constitutivas de homem racionalidade e imortalidade de Deus e irracionalidade e mortalidade as de animal irracional Assim também a substância suprema se subdivide em animada e inanimada sensível e não sensível e quando a ela acrescentamse as diferenças animado e sensível temse o animal e quando acrescentamse animado e insensível temse o vegetal E uma vez que as mesmas diferenças são ora divisivas ora constitutivas são todas igualmente denominadas diferenças específicas São essas as diferenças de que mais fazemos uso na subdivisão dos gêneros e na construção das definições e não as diferenças acidentais inseparáveis e menos ainda as separáveis Há ainda quem defina as diferenças do seguinte modo diferença é aquilo em que a espécie excede o gênero Assim o homem além de animal é também mortal e racional pois o gênero animal não é uma coisa nem outra pois se o fosse como poderiam as espécies possuir diferenças específicas Tampouco possui o gênero todos os opostos caso em que num mesmo ser coexistiriam propriedades opostas mas como se diz o gênero possui em potência todas as diferenças que lhe estejam subordinadas não possuindo porém nenhuma em ato E assim nada deriva do nada nem os opostos coexistem num mesmo ser Definese a diferença também assim diferença é que o se predica como qualidade de uma multiplicidade de seres distintos segundo a espécie De fato quando dizemos que o homem é mortal e racional estamos falando de qualidades suas não daquilo que ele é Se nos perguntasem o que é o homem seria adequado dizer que é um animal E se nos indagarmos que tipo de animal responderemos adequadamente que é racional e mortal De fato as coisas se constituem de matéria e forma ou de elementos análogos a matéria e forma e tal como a estátua possui o bronze como matéria e a figura como forma também a espécie homem tem no gênero um análogo da matéria e na diferença um análogo da forma E o homem é esse conjunto animal racional e mortal tal qual é também um conjunto a estátua Descrevemse tais diferenças também do seguinte modo diferença é o que por natureza distingue as espécies subordinadas a um mesmo gênero Assim racional e irracional diferenciam homem e cavalo espécies subordinadas a um mesmo gênero animal Há quem defina também assim diferença é aquilo mediante o qual uma coisa difere de outra Assim homem e cavalo não diferem segundo o gênero pois tanto nós quanto os animais irracionais somos mortais mas o racional uma vez acrescido distinguenos deles Igualmente racionais somos tanto nós quanto os deuses mas o mortal uma vez acrescido distinguenos deles Indo mais fundo dizse que a diferença é não o que quer que diferencie as espécies subordinadas a um mesmo gênero mas algo que contribui para que a coisa seja aquilo que é e o que constitui parte daquilo que a coisa é A capacidade natural para navegar não é uma diferença do homem ainda que seja própria do homem Poderíamos dizer que alguns animais são naturalmente aptos a navegar ao passo que outros não o são distinguindo assim entre uns e outros Contudo o ser apto a navegar não integra PORFÍRIO 43 14 O exemplo aqui dado é de potencialidades próprias da espécie ainda que não seja de modo algum necessário exercer aquela potencialidade para ser daquela espécie Um exemplo básico é a leitura aquela potencialidade para ser daquela espécie se humano é próprio do homem ler mas ninguém não deixa de ser homem por não saber ler 5 Do acidente Acidente é aquilo cuja presença ou ausência não destrói o sujeito Dividese em dois tipos o acidente separável e o acidente inseparável Estar dormindo é um accidente separável já o ser negro é para o corvo e para o etíope um acidente inseparável embora seja possível conceber tanto um corvo branco quanto um etíope que mudasse de cor sem que isso deixasse de existir 16 Definese também assim accidente é aquilo que relativamente a um mesmo sujeito pode ou não existir ou aquilo que não sendo gênero diferença espécie nem próprio subsiste sempre em um sujeito Definidos os termos que me propus definir ou seja o gênero a espécie a diferença o próprio e o accidente resta tratar das características comuns e das sejam próprias a cada um deles 16 Um accidente portanto não pode ser nada que seja necessário para aquele objeto ser aquele objeto PORFIRIO 47 A contribuição dos Universais para a epistemologia A Querela dos Universais constitui um dos problemas centrais da filosofia medieval e continua a ter implicações relevantes para a epistemologia contemporânea A discussão gira em torno da existência dos universais ou seja da possibilidade de conceitos gerais como justiça humanidade ou bondade existirem de modo independente dos indivíduos particulares A pergunta fundamental é tais universais existem de fato ou são apenas criações mentais ou nomes atribuídos arbitrariamente A resposta a essa questão define em grande medida como se compreende o conhecimento se ele é uma representação fiel de realidades universais ou apenas uma construção intelectual Entre as principais posições da Querela encontrase o realismo moderado defendido por autores como Tomás de Aquino e mais recentemente analisado por Contarato 2022 Nessa concepção os universais existem enquanto abstrações reais derivadas da experiência sensível mas não como substâncias separadas Ou seja eles não existem por si mesmos como pensava Platão mas também não são meras palavras como propõe o nominalismo Segundo Contarato 2022 p 58 os universais são reais enquanto aspectos inteligíveis comuns aos entes individuais captados pela razão a partir da experiência sensível Outra abordagem importante é o conceitualismo notoriamente representado por Pedro Abelardo que defende que os universais existem apenas como conceitos na mente humana sem existência objetiva no mundo exterior De acordo com essa perspectiva os universais são construções mentais úteis para o raciocínio e a linguagem mas não possuem realidade ontológica independente ROSA 2018 Assim o conhecimento geral não reflete realidades universais externas mas organiza experiências individuais em categorias mentais para facilitar a compreensão O nominalismo especialmente difundido por Guilherme de Ockham radicaliza essa visão ao sustentar que os universais não passam de nomes Não há qualquer realidade fora do indivíduo particular os termos gerais são convenções linguísticas que agrupam entes semelhantes sem corresponder a nenhuma realidade objetiva SILVA 2020 Dessa forma justiça ou coragem são apenas palavras utilizadas para facilitar a comunicação sem que exista uma essência comum entre os entes designados Para Ockham como destaca Silva 2020 p 212 o universal é apenas um termo uma designação útil mas sem qualquer substrato real Essas diferentes perspectivas produzem implicações significativas para a epistemologia No caso do realismo moderado é possível sustentar que o conhecimento científico e filosófico generaliza propriedades reais que são abstraídas da experiência Já para o conceitualismo e o nominalismo o conhecimento não ultrapassa o domínio da mente ou da linguagem tornandose uma forma de organização subjetiva da realidade sem garantia de representar verdades objetivas Em outras palavras a natureza do conhecimento depende da ontologia que se adota em relação aos universais A compreensão epistemológica da querela mostrase especialmente relevante na medida em que ela fundamenta a validade dos enunciados universais Se assumirmos uma posição realista moderada podemos sustentar que as leis científicas por exemplo descrevem padrões reais observados no mundo Caso contrário se adotarmos uma postura nominalista essas leis passam a ser vistas apenas como construções pragmáticas úteis mas arbitrárias Contarato 2022 p 66 resume essa tensão ao afirmar que sem uma base ontológica real para os universais toda tentativa de universalização do conhecimento permanece fragilizada Para além das implicações teóricas a Querela dos Universais também provoca reflexões sobre o modo como se interpreta o mundo cotidiano O reconhecimento de propriedades comuns como generosidade ou lealdade em diferentes pessoas depende da crença na existência de universais A maneira como se conceitua e julga ações morais comportamentos sociais ou categorias jurídicas está profundamente ligada ao estatuto dos universais Nesse sentido a epistemologia não é apenas uma abstração filosófica mas exerce impacto direto na prática cultural e na organização da vida social A minha própria compreensão dos predicáveis gênero espécie diferença propriedade e acidente e dos predicamentos substância quantidade qualidade relação etc como formulados por Aristóteles foi profundamente influenciada por esse debate Ao distinguir por exemplo o essencial do acidental posso aprimorar meu raciocínio identificar melhor as causas dos fenômenos e tomar decisões mais consistentes tanto no campo acadêmico quanto pessoal Tais categorias ajudamme a organizar o pensamento a comunicar ideias com clareza e a desenvolver argumentos mais precisos Portanto o debate em torno dos universais não se resume a uma discussão histórica mas se mantém atual e relevante A maneira como se entende a natureza dos conceitos gerais afeta diretamente as bases da ciência da linguagem da ética e da política Compreender as posições do realismo moderado do conceitualismo e do nominalismo permite não apenas enriquecer a formação intelectual mas também aprimorar a análise crítica e a autonomia reflexiva A epistemologia nesse contexto tornase uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e de engajamento consciente com o mundo Avanços realizados até o momento na Querela dos Universais Ao longo da história da filosofia a Querela dos Universais passou por significativas transformações conceituais que impactaram profundamente o desenvolvimento da epistemologia ocidental Os primeiros marcos desse debate se encontram em Platão e Aristóteles Platão concebeu os universais como ideias eternas e perfeitas existentes em um mundo inteligível separado do mundo sensível Essa concepção inaugura o realismo exagerado em que os universais possuem existência independente e anterior aos objetos particulares Aristóteles por sua vez diverge dessa perspectiva ao defender que os universais existem imanentemente nas coisas como estruturas comuns que a mente humana pode apreender por abstração REZENDE 2019 A patrística cristã particularmente com Boécio promoveu a recepção e adaptação das ideias aristotélicas Para ele os universais são formas inteligíveis que a mente humana extrai da experiência sensível Embora não subsistam como realidades separadas possuem função cognitiva e lógica essencial para o conhecimento Essa postura contribuiu para consolidar uma ponte entre o pensamento clássico e a teologia cristã oferecendo uma leitura compatível com a ideia de uma criação divina racional e inteligível VILANOVA 2017 No período escolástico Pedro Abelardo apresentou uma síntese inovadora que ficou conhecida como conceitualismo Nessa visão os universais não existem extramentalmente mas possuem realidade no intelecto humano como signos mentais Eles não são meras palavras vazias mas também não possuem substância própria no mundo físico Abelardo buscou uma alternativa entre o realismo platônico e o nominalismo nascente destacando que os universais têm papel fundamental no raciocínio e na comunicação embora não tenham existência objetiva fora da mente ROSA 2018 Tomás de Aquino influenciado por Aristóteles elaborou uma teoria que equilibra metafísica e epistemologia Para ele os universais existem de três formas in re nas coisas ante rem em Deus como arquétipos e post rem no intelecto humano Assim a mente humana apreende os universais a partir da experiência concreta mas sua origem última remonta à criação divina Essa teoria sustenta uma concepção realista moderada em que o conhecimento é possível porque há uma correspondência entre as estruturas do intelecto e as essências das coisas AQUINO 2000 Com Guilherme de Ockham surge uma ruptura decisiva com o pensamento anterior Defensor do nominalismo Ockham nega qualquer realidade aos universais fora da linguagem Para ele são apenas termos gerais utilizados para designar múltiplas coisas semelhantes O universal é uma convenção linguística e não uma entidade real Como afirma Silva 2020 p 212 o universal é apenas um termo uma designação útil mas sem qualquer substrato real Essa posição reduziu o escopo da metafísica e influenciou profundamente o surgimento da filosofia moderna ao privilegiar a experiência individual e a economia conceitual No século XX a Querela dos Universais foi reconfigurada sob novas bases especialmente no campo da filosofia analítica Willard Van Orman Quine por exemplo abordou os universais a partir da ontologia dos objetos abstratos e da linguagem da ciência Em sua crítica ao empirismo lógico Quine reconhece que o discurso científico se compromete com a existência de entidades abstratas como classes e propriedades o que reacende o debate sobre os universais em um novo nível de análise QUINE 1975 John Searle por sua vez trouxe à tona a importância da linguagem e da intencionalidade na constituição do conhecimento Para ele os universais não devem ser compreendidos como entidades ontológicas autônomas mas como produtos da capacidade representacional humana A linguagem natural estrutura a forma como organizamos o mundo o que significa que o debate sobre os universais está inevitavelmente ligado à forma como nomeamos e categorizamos as experiências SEARLE 1997 Outro avanço importante na contemporaneidade é a proposta do filósofo David Armstrong defensor do chamado realismo científico Armstrong argumenta que os universais realmente existem mas apenas na medida em que são identificáveis pelas ciências naturais Ele propõe o conceito de universais esparsos ou seja apenas os universais necessários para a explicação científica têm existência ontológica Essa proposta representa uma tentativa de reconciliação entre realismo e empirismo ARMSTRONG 1989 Em síntese os avanços na Querela dos Universais evidenciam uma trajetória que vai da metafísica clássica à análise lógica e linguística contemporânea A discussão ultrapassou o campo da teologia e da ontologia medieval ganhando novos contornos na epistemologia moderna e na filosofia da linguagem Como observam Ikeda e Zenni 2020 o debate ao ser retomado em contextos distintos mantém sua relevância como eixo estruturante das teorias do conhecimento do direito e da linguagem reforçando seu valor histórico e filosófico Como a compreensão dos predicáveis e predicamentos pode influenciar minha vida A compreensão dos predicáveis e predicamentos conceitos fundamentais da lógica e da metafísica aristotélica pode exercer uma profunda influência não apenas no desenvolvimento do raciocínio teórico mas também na maneira como interpretamos a realidade cotidiana e tomamos decisões práticas Os predicáveis conforme definidos por Aristóteles e sistematizados por Porfírio em sua Isagoge são cinco modos distintos de se dizer algo sobre um sujeito gênero espécie diferença específica propriedade e acidente Eles não são categorias do ser mas formas de classificação conceitual que permitem relacionar um conceito com outro segundo suas semelhanças ou diferenças ARISTÓTELES 2009 Já os predicamentos também chamados de categorias aristotélicas são dez classes fundamentais pelas quais o ser pode ser dito substância quantidade qualidade relação lugar tempo posição estado ação e paixão Diferentemente dos predicáveis os predicamentos possuem caráter ontológico referemse a modos de existência ou aspectos do ser Compreender a distinção entre predicáveis e predicamentos é essencial para qualquer análise crítica pois oferece um instrumental lógico e filosófico que sustenta o discurso racional a organização do pensamento e o juízo ético e prático VILANOVA 2017 Na vida cotidiana a assimilação desses conceitos permite maior clareza conceitual Distinguir por exemplo entre o que é essencial como a espécie ou o gênero e o que é acidental como uma propriedade ou um acidente em uma determinada situação contribui para compreender melhor os fenômenos evitando generalizações indevidas e análises superficiais Em contextos profissionais como ao lidar com conflitos interpessoais essa distinção é valiosa reconhecer que um comportamento agressivo pode ser um acidente isto é uma característica não essencial de alguém impede julgamentos apressados e favorece intervenções mais justas e eficazes REZENDE 2019 Outro impacto prático da compreensão dos predicáveis e predicamentos se dá na comunicação Ao empregar corretamente conceitos como gênero e espécie evitase ambiguidade no discurso e tornase possível argumentar com mais precisão Por exemplo ao discutir políticas públicas saber que animal é gênero e ser humano é espécie permite construir argumentos que envolvem ética e direito com maior coerência lógica A linguagem ganha poder explicativo e a capacidade de gerar consenso se fortalece sobretudo em contextos de debate e deliberação coletiva ARISTÓTELES 2009 No campo do raciocínio lógico esses conceitos são indispensáveis Ao elaborar argumentos identificar corretamente os predicáveis envolvidos em cada proposição possibilita evitar falácias e inconsistências Por exemplo confundir propriedade com diferença específica pode comprometer uma inferência válida Saber que racionalidade é uma diferença que distingue humanos de outros animais enquanto capacidade de fala é uma propriedade que pode ou não se manifestar permite elaborar análises filosóficas jurídicas e científicas com maior rigor argumentativo SILVA 2020 Além disso os predicamentos ajudam na construção de uma visão crítica da realidade Compreender por exemplo que as relações sociais se enquadram na categoria de relação e não de substância impede absolutizações equivocadas de vínculos transitórios Do mesmo modo perceber que tempo e lugar são condições acidentais e não essenciais do ser ajuda a relativizar julgamentos baseados em circunstâncias momentâneas Essa perspectiva possibilita desenvolver maior empatia e compreensão diante da diversidade de experiências humanas VILANOVA 2017 No exercício ético o domínio desses conceitos favorece a prudência e o equilíbrio Decisões importantes como contratar um profissional dar um feedback ou lidar com um problema familiar ganham em consistência quando o sujeito é capaz de separar o que pertence à essência daquilo que é contingente Essa distinção como observa Aristóteles 2009 é fundamental para o desenvolvimento da phronesis ou sabedoria prática que se manifesta na capacidade de deliberar bem sobre o que é bom para a vida humana No ambiente acadêmico a compreensão dos predicáveis e predicamentos contribui para o desenvolvimento das habilidades cognitivas superiores como a análise a síntese e a avaliação Disciplinas como lógica ética direito pedagogia medicina ou engenharia podem se beneficiar do uso consciente dessas categorias uma vez que lidam constantemente com classificações juízos e definições A formação crítica de estudantes e profissionais depende em grande medida da sua familiaridade com estruturas conceituais precisas e coerentes REZENDE 2019 Por fim posso afirmar que pessoalmente a compreensão dos predicáveis e predicamentos me ajuda a organizar melhor meus pensamentos a argumentar com mais clareza e a tomar decisões mais conscientes Em momentos de conflito ou dúvida pensar segundo essas categorias filosóficas auxilia a distinguir aspectos essenciais dos acidentais a formular julgamentos mais justos e a comunicarme de forma mais precisa Portanto longe de serem noções abstratas ou meramente teóricas os predicáveis e predicamentos de Aristóteles tornamse para mim ferramentas práticas de aprimoramento pessoal intelectual e social Referências ARISTÓTELES Categorias Trad Edson Bini São Paulo Loyola 2009 CASTRO NETO José Carlos Camillo Universais existem Uma análise a partir da Teoria da Percepção de Searle Intuitio PUCRS 2020 CONTARATO Thiago Sebastião Reis A querela dos universais e o realismo moderado In Filosofia os desafios do pensar v 2 2022 p 5269 IKEDA Walter Lucas ZENNI Alessandro S V Querela dos universais direito e personalidade Revista Quaestio Iuris v 12 n 4 p 189216 2020 REZENDE Marcus Sacrini Ayres de Filosofia antiga dos présocráticos a Aristóteles 2 ed São Paulo Paulus 2019 SILVA André Luiz da Ockham e o nominalismo o problema dos universais na lógica medieval Revista de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora Juiz de Fora v 13 n 2 p 205220 2020 VILANOVA Pedro Paulo Introdução à filosofia medieval 3 ed São Paulo Loyola 2017

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