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1 A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E O CONTEXTO LATINOAMERICANO Luiz Ernesto Guimarães Ciências Sociais UEL Fabio Lanza Orientador vieram fazer nossas flores murchar para que somente a sua flor vivesse1 INTRODUÇÃO A Teologia da Libertação é resultado do processo histórico político social e econômico que aconteceram especialmente na América Latina vinculado de certa forma a alguns pensadores e religiosos principalmente dentro da Igreja Católica que puderam contribuir para a elaboração de uma nova teologia que tivesse uma maior contextualização com o continente latinoamericano A teologia tradicional importada dos moldes europeus já não respondia e nem explicava a realidade em que as massas populares viviam Na metade do século XX quando a Teologia da Libertação começou a ser formulada era preciso uma nova elaboração teológica em que a classe dominante dos diversos países latinoamericanos não ocupasse o papel principal em contraponto com a classe pobre e trabalhadora que por sinal representava a maioria da população na América Latina desde a sua constituição como região colonizada principalmente por espanhóis e portugueses católicos Para Francisco Catão a teologia da libertação é resposta à problemática pastoral da Igreja especialmente colocada no contexto latinoamericano em que a luta pela libertação constitui uma exigência fundamental do Evangelho e uma antecipação do Reino de Deus CATÃO 1986 p63 Existem pelo menos dois fundamentos bíblicos em que a Teologia da Libertação está pautada o primeiro se baseia no livro de Êxodo que no original significa saída onde é relatado o sofrimento do povo de Deus no Egito mediante um sistema escravocrata Depois de mais de quatrocentos anos eles conseguiram a libertação por meio da liderança religiosa de Moisés O segundo fundamento está na própria vida de Cristo cuja tarefa foi libertar o ser humano do seu estado de sofrimento introduzindo já o reino de Deus aqui na terra CATÃO 1986 Para os componentes do clero religiososas e outras lideranças católicas que se preocupavam com a atuação social da Igreja num continente marcado pela pobreza 1 Frase escrita por um maia na época da conquista BOFF 1992 p9 2 resultado da exploração colonial compreendiam que a libertação humana deveria ser plena e integral A salvação de Deus não é um simples estado dalma nem muito menos uma salvação após a morte mas uma libertação histórica a ser desfrutada aqui e agora pela pessoa e pela sociedade Idem p 67 1 BREVE HISTÓRIA DO CRISTIANISMO E DA POLÍTICA NA AMÉRICA LATINA Para compreender o que estava ocorrendo na América Latina nos anos 60 do século XX é preciso retornar um pouco na história para que possa haver um maior entendimento e facilitar a compreensão e os motivos que fizeram com que a Teologia da Libertação surgisse Para isso será utilizada a formulação de três períodos que Sílvio di Santanna2 cita em seu livro Santo dos nossos dias que foram elaboradas por Pablo Richard 1 A Cristandade colonial latinoamericana 1492 1808 2 A nova Cristandade latinoamericana 1808 1960 3 Crise da nova Cristandade latinoamericana 1960 1978 SANTANNA 2004 p24 Neste primeiro período Cristandade colonial a Igreja Católica era uma forte aliada de Portugal e Espanha durante a colonização Ela podia entrar em áreas em que o Estado não conseguia Como os moldes da colonização possuía um cunho mercantilista a Igreja na América Latina serviu aos interesses monárquicos para propiciar e legitimar a exploração No entanto SantAnna afirma que a Igreja não era uma força monolítica e absolutamente submissa às Coroas portuguesa ou espanhola Dentro de seu trabalho os missionários iam além de suas atribuições oficiais e não raro tomavam o partido dos povos oprimidos pelo sistema colonial Idem p26 Ratificando essa análise no final desse primeiro período no século XVIII é possível tomar o embate entre a Coroa Portuguesa e a Cia de Jesus que colaborou na expulsão dos jesuítas do continente que em última análise serviu para barrar ações autônomas de correntes da Igreja que colocavam em questão o modelo de Cristandade em que o Estado a Igreja e setores dominantes da sociedade defendiam os mesmos interesses no sistema de exploração colonial SANTANNA 2004 p26 2 Sílvio de Santanna é mestre em Ciências da Religião pela PUCSP 3 No segundo período a nova Cristandade 1808 1960 França e Inglaterra disputavam ferrenhamente o mercado mundial Com as guerras napoleônicas e a invasão da Península Ibérica por Napoleão houve a fragilização das duas monarquias católicas acelerando assim o processo de independência por parte das colônias ibéricas estimuladas pela Inglaterra que assumiu um poder econômico hegemônico no mercado mundial As colônias na América Latina começaram a conquistar a sua independência e sem adotar outras alternativas ficaram atreladas ao poderio inglês A luta pela independência colocou em cheque a cristandade colonial Embora a Igreja apoiasse oficialmente os colonizadores não deixou de ter líderes que apoiassem as guerras de independência ou os movimentos emancipacionistas A partir de 1870 surge o período dos Estados liberaisoligárquicos na América Latina no Brasil ocorreu a partir de 1889 com a proclamação da república sob o viés militarpositivista O subdesenvolvimento se tornou uma marca econômica visto que havia uma grande exportação de matéria prima e também uma grande importação de produtos industrializados Nesse processo perpetuouse uma maior concentração de riquezas a um pequeno grupo à custa da grande maioria pobre Mas é neste período em que movimentos religiosos e sociais tomaram uma maior dimensão no contexto nacional como foi o caso de Canudos no interior da Bahia com a liderança religiosa de Antônio Conselheiro na última década do século XIX Idem p 27 Já entre os anos de 1930 a 1960 houve o surgimento de movimentos populistas nacionalistas e desenvolvimentistas Idem p29 A queda da bolsa de Nova York em 1929 contribuiu para o início dessa nova fase Intensificouse o processo de industrialização na América Latina e o êxodo rural como ocorreu na Europa A Igreja assume o projeto nacionalista e desenvolvimentista como possibilidade histórica de romper por um lado com o projeto tradicional das oligarquias submissas ao imperialismo econômico e por outro lado para barrar os anseios sociais de se construir na América Latina uma alternativa com características tipicamente socialista SANTANNA 2004 p 29 No terceiro período crise da nova Cristandade 1960 1978 como agravamento da situação política brasileira pós golpe de 1964 aconteceu a ruptura da antiga aliança da hierarquia da Igreja com as classes dominantes controladoras do Estado Essa aliança que garantia para ambas a hegemonia sobre a sociedade civil foi rompida porque a ideologia de segurança nacional assumida pelos Estados latinoamericanos tornou se decisivamente antisocial e inconciliável com a doutrina social da Igreja 4 Sob o estado autoritário amplos setores da Igreja fizeram na prática uma aliança estratégica com os movimentos de libertação social que surgiram em toda América Latina tornando o discurso dos setores conservadores da Igreja que apostavam na manutenção do modelo da Nova Cristandade ineficaz perante a opinião pública Surge como alternativa histórica à Nova Cristandade uma Igreja da resistência SANTANNA 2004 p31 Um exemplo neste momento no contexto do Brasil é o caso da Ação Popular AP que nasceu em 1962 formada por cristãos ligados à Ação Católica em particular à JUC Juventude Universitária Católica BRASIL 1989 p100 Este grupo era composto por cristãos progressitas que perderam o apoio da CNBB por possuírem uma ideologia revolucionária CAVALCANTI 1988 p 177 Eles lutavam por uma sociedade mais justa com uma forte crítica ao capitalismo e também aos países socialistas3 Seu peso maior estava na área estudantil onde a organização controlou as sucessivas diretorias da União Nacional dos Estudantes UNE preocupandose também em penetrar nos meios operários e rurais o que consegue principalmente no Nordeste através dos Movimento de Educação de Base MEB vinculado à CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil BRASIL 1989 p 100 Com o golpe militar de 1964 a AP foi perseguida e por conseguinte ela perdeu a sua força No entanto ela se reorganizou novamente mesmo que lentamente apoiada sempre no meio universitário Desde o início a AP teve uma linha marxista mas foi entre 1965 e 1967 que adotaram oficialmente esta perspectiva teórica Alguns membros tentaram fazer com que houvesse um equilíbrio entre a sua fé cristã e a prática a que este movimento estava tomando marxismo de forma que não houvesse perda para nenhuma das partes Isto no entanto não foi possível Pelo contrário a Ação Popular acabou identificandose com Mao TseTung e a Revolução Cultural Chinesa embora nunca tivesse atuado como tal Entre 1972 e 1973 a AP foi incorporada ao PC do B restando uma parte do grupo que rejeitou fundir com tal partido e que passou a se intitular APSocialista Sem levar em consideração uma série de conflitos internos a AP chegou a atuar em 13 unidades da Federação envolvendo a própria Igreja Católica por este movimento ter raízes cristãs BRASIL 1989 3 No ano de 1963 um ano depois de seu surgimento em seu documento base a AP declarou que seu objetivo estava na luta por uma sociedade mais justa sem tomar uma posição política oficial Condenou tanto o capitalismo quanto o socialismo ficando apenas no campo da religião Porém na prática este movimento teve uma forte inclinação para a teoria marxista BRASIL 1989 pp100 101 5 As transformações social político e econômica que o Brasil e também toda a América Latina enfrentaram especialmente na segunda metade do século XX juntamente com as reivindicações populares lutando por direitos e justiça às classes menos favorecidas fizeram com que a Igreja Católica passasse por profundas mudanças internas Embora essas transformações não tenham ocorrido de forma homogênea dentro da Igreja foi o suficiente para que uma parte significante dela pudesse deixar de lado parte da sua postura conservadora e passasse a desempenhar um papel fundamental ao lado dos oprimidos da América Latina 2 AJUSTES CULTURAIS Segundo Francisco Catão a América Latina nunca foi evangelizada foi conquistada para o catolicismo CATÃO 1986 p44 Esta conquista misturada com o autoritarismo fez com que os latinoamericanos fossem pressionados a aceitar a nova religião importada da Europa sem uma prévia contextualização social política e econômica ao longo da colonização Mesmo depois do rompimento em termos oficiais entre Igreja e Estado na América Latina por conta dos processos de independência e a adoção de sistemas laicos legislação educação justiça política etc no final do século XIX a Igreja Católica continuou a receber ajuda de fora principalmente da Europa Juntamente com esta ajuda que a Igreja latinoamericana recebeu veio também seus santos suas devoções suas festas sua literatura enfim seu modo de conceber a vida cristã em continuidade com suas respectivas tradições Idem p51 Catão também menciona que a maneira com que a Igreja chegou na América Latina se deu por meio de uma importação maciça dos mais diversos modelos culturais católicos num esforço enorme para impor de cima para baixo e de fora para dentro a religião católica Idem p51 A Igreja Católica na América Latina era formal segundo Catão 1986 a Igreja era formal em seu dogma moral e organização 1986 p53 Junto com a Igreja havia uma forte noção de poder cujo centro era o Vaticano na figura do papa isto fazia com que a Igreja tivesse a autoridade para espalhar o seu reino por toda a terra Em todo lugar onde a Igreja chegava era requerido apenas uma coisa submissão total ao pontífice que se configurava na própria Igreja No ano de 1955 aconteceu a Primeira Conferência Geral do Episcopado Latino Americano na cidade do Rio de Janeiro Neste ano já havia a constatação de que a Igreja Católica estava estagnada na América Latina não se tratava do número de fiéis que a 6 Igreja possuía mas principalmente da sua atuação na região mais católica do mundo a América Latina Apesar desse levantamento não houve mudanças significativas a não ser a criação da Comissão para a América Latina que ficava sediada em Roma e era responsável pelos problemas da Igreja Católica na América Latina Esta comissão realizou quatro sessões cuja simples enumeração dos temas já caracteriza perfeitamente a linha em que trabalhava provisão de pessoal para a Igreja nos países da América Latina planificação e coordenação da ajuda econômica para a Igreja da América Latina formação e assistência ao pessoal apostólico destinado à América Latina e assistência aos sacerdotes latinoamericanos que estudam no exterior Não precisa dizer mais nada A tendência era organizar a Igreja como uma poderosa multinacional Pobre teologia que inspirava tal prática A obra de colonização custava a reconhecer seu falimento Sessenta anos depois de sua libertação a Igreja ainda não tinha sido capaz de resolver nem mesmo seu problema de pessoal de vocações Que comunidade é esta incapaz de se reproduzir que vive de enxerto Incapaz de se sustentar que precisa ser subvencionadas pelas Igrejas mais ricas Alguma coisa estava errada CATÃO 1986 pp 54 55 A partir daí houve uma mudança radical na liderança da Igreja Basta analisar a Segunda Conferência realizada desta feita na cidade de Medellín na Colômbia no ano de 1968 Nesta conferência ao contrário da realizada no Rio de Janeiro os bispos não mais se preocuparam com os recursos vindos de fora Desde então a atenção passou a ser dada aos pobres e oprimidos da malfadada colonização Surgiu um comprometimento que criou na teologia uma práxis que se tornasse libertadora enfocando na condição de sujeitos no processo histórico dentro e fora do ambiente religioso a grande massa da população latinoamericana maltratada e desprezada até pela própria Igreja Leonardo Boff ao olhar para esta nova teologia disse que não se trata de outra fé mas da fé dos apóstolos e da Igreja articulada com as angústias e as esperanças de libertação dos oprimidos BOFF 1986 p 65 Dessa maneira a Segunda Conferência em Medellín estabelece com vigor que os cristãos precisam se empenhar na luta contra as estruturas injustas da sociedade latinoamericana e que este empenho é fundamental e básico para toda ação pastoral Em antítese à Primeira Conferência de 1955 a Segunda Conferência de 1968 orientou a ação da Igreja a partir da promoção humana e da libertação colocando em cheio a questão do sentido teológico desta ação questão para a qual a teologia da libertação propõe uma resposta CATÃO 1986 p 57 7 Em 1979 esse processo de constituição da Teologia da Libertação continua com os avanços de mais uma Conferência do Episcopado latinoamericano realizada em Puebla no México Em Puebla a Igreja encarregada de anunciar o Evangelho colabora mediante uma radical conversão à justiça e ao amor na transformação das estruturas injustas da sociedade Idem p 58 Um dos motivos que fez com que as conferências de Medellín 1968 e Puebla 1979 tomassem um rumo oposto ao da Primeira Conferência no Rio de Janeiro 1955 foi sem dúvida o Concílio do Vaticano II 1962 1965 Este concílio esteve focalizado especialmente na Igreja e dentre vários pontos foi enfatizado que a Igreja tem o dever de imitar a pobreza de Cristo de dar testemunho da pobreza de Cristo sendo também ela pobre Há por outro lado um dever da Igreja para com os pobres Ela recebeu a missão de anunciar lhes a BoaNova e a incumbência de levarlhes socorro a Igreja deve ir até os pobres para assemelharse a Cristo que se apresentou ao mundo como o Messias dos pobres DUPONT 1965 p423 Ao contextualizar a Igreja ao povo latinoamericano houve mudanças profundas na práxis cristã Neste contexto ocorreu a constituição a partir de 1965 das Comunidades Eclesiais de Base CEBs mas foi somente a partir de 1970 que elas tomaram uma maior impulsão Organizadas nacionalmente aos milhares as CEBs procuram justificar teologicamente a sua existência na doutrina do Povo de Deus conforme entendida pelo Concílio Vaticano II Funcionando paralelamente às paróquias com direção e atividade próprias elas não possuem no entanto nem status jurídico canônico nem vínculo formal com a instituição eclesiástica Essa igreja do povo ou igrejas dos pobres em contraste com a igreja tradicional tem funcionado como instrumento de mobilização e organização popular ao nível local e de lugar de encontro para a reflexão em torno dos problemas comunitários Ali em geral esses problemas se constituíam em ponto de partida para a leitura do Evangelho em típico exercício da Teologia da Libertação CAVALCANTI 1988 pp 197 198 Para Leonardo Boff as CEBs assimilaram uma postura no contexto cultural latinoamericano e assim se fez um novo modo de ser Igreja Para ele o trabalho comunitário e a profunda comunhão são características fundamentais que estão ligadas às CEBs BOFF 1992 8 3 GUSTAVO GUTIÉRREZ E LEONARDO BOFF SISTEMATIZAÇÃO DO INÍCIO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO Gustavo Gutiérrez4 e Leonardo Boff5 são uns dos principais expoentes da Teologia da Libertação Cada um ao seu modo engajouse na luta pelas massas pobres que não tinham voz e vez na América Latina Ambos utilizaram da teologia como um meio em que se pudesse fazer uma análise crítica da sociedade latinoamericana e assim reestruturar a Igreja Católica a partir de uma práxis afirmativa de que o reino de Deus já estava se fazendo valer na América Latina especialmente entre os oprimidos Tanto Gutiérrez quanto Boff disseram que para não reproduzir simplesmente uma teologia utilizada dentro de uma Igreja heterogeneizante é preciso tomar a atitude de ouvir o outro E para ouvir o outro no caso o latinoamericano Gutiérrez afirma que é imprescindível sair do pequeno mundo em que se está Sair do gueto é um aspecto da atitude de abertura para o mundo De modo mais positivo tal abertura pressupõe compartilhar sem restrições a visão que o homem latinoamericano tem de sua própria situação contribuir com competência para a sua elaboração e aprofundamento e comprometer se sem ambigüidades na ação que dela deriva A realidade latinoamericana começa a aparecer em toda a sua crueza Não se trata unicamente nem primordialmente de um baixo índice cultural de uma atividade econômica restrita de uma ordem legal deficiente de limites ou carências de instituições políticas Tratase isto sim de um estado de coisas que não leva em conta as mais elementares exigências da dignidade do homem sua própria subsistência biológica e seus direitos primordiais como ser livre e responsável A miséria a injustiça a situação de alienação e a exploração do homem pelo homem que se vive na América Latina configuram uma situação que a conferência episcopal de Medellín não vacila em qualificar e acusar de violência institucionalizada GUTIÉRREZ 1981 pp4445 Leonardo Boff também compartilha do mesmo pensamento de Gustavo Gutiérrez ao dizer que devemos assumir a perspectiva das vítimas em primeiro lugar por uma questão de justiça Os ameríndios e afroamericanos nunca puderam ser ouvidos A cultura européia bem como as Igrejas 4 Sacerdote domiciniano e é doutor em Teologia Nasceu em Lima Peru no ano de 1928 5 Doutor em Teologia e Filosofia Nasceu em Santa Catarina em dezembro de 1938 Ingressou na ordem dos franciscanos em 1959 vindo a renunciar em 1992 após forte pressão do Vaticano na época do Pontificado de João Paulo II e da gestão de Joseph Ratzinger atual Papa Bento XVI a frente da Congregação para a Doutrina da Fé antigo Tribunal da Santa Inquisição 9 missionárias andaram por um caminho de mão única durante cinco séculos Agora é hora e a vez de ouvir o reverso da conquista Dar a vez ao discurso dos que viviam neste continente já há séculos e que estavam na praia espreitando os seres estranhos das caravelas Em segundo lugar porque se trata de uma questão ética A chegada dos europeus significou violência O desenvolvimento autônomo das culturas aqui presentes foi interrompido abruptamente De autônomas passaram a dependentes e subjugadas BOFF 1992 p 59 O nosso lugar deve ser ao lado dos pobres e marginalizados diz o teólogo catarinense Idem p60 Para ele é nesta posição que estaremos onde Deus está Por detrás da Teologia da Libertação existe a opção profética e solidária com a vida a causa e as lutas destes milhões de humilhados e ofendidos em vista da superação desta iniqüidade históricosocial BOFF 1986 pp13 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS A necessidade por libertação está presente em qualquer ser humano em qualquer parte da terra Mas é sobretudo nos países pobres que a necessidade de libertação aparece ainda mais premente É bem provável que seja esse um dos motivos que fizeram com que a Teologia da Libertação se formasse e ganhasse força na América Latina Dentre tantas teologias surgidas ultimamente no seio da Igreja a Teologia da Libertação foi a que mais obteve destaque ao se tratar dos problemas sociais Mesmo assim existem aqueles que são contrários à Teologia da Libertação e tecem fortes críticas à ela Talvez sejam esses os que nunca se colocaram ao lado do oprimido nem deram ouvidos ao seu clamor Aos teólogos da libertação cabe enfim o mérito de terem redespertado não só os leigos e os padres mas também os bispos da América Latina aos deveres sociais e políticos de sua vocação e de seu ministério Fora do plano especulativo os teólogos da libertação devem ser admirados pela coragem com que denunciaram tantos abusos de poder a injustiça a violência a tortura a opressão e tudo o que degrada e deforma o homem É sobre este terreno da defesa dos direitos fundamentais da humanidade que se mede a autenticidade e a consistência da fé cristã pois sem obras uma fé está morta MONDIN 1980 p159 Erguendo a voz e defendendo o injustiçado esta foi a maneira com que os teólogos da libertação e pensadores dos mais diversos segmentos da sociedade e da Igreja encontraram para reformular a teologia latinoamericana que trabalhava em favor dos interesses europeus É provável que novas formulações teológicas surjam no futuro algumas com mais outras com menos acertos Mas até o momento a Teologia da 10 Libertação tem sido a resposta mais prática da Igreja cristã ao olhar para a maioria desprezada da América Latina na sua necessidade social político e econômica imediata Bibliografia BOFF Leonardo América Latina da conquista à nova evangelização 3 ed São Paulo Ática 1992 BOFF Leonardo BOFF Clodovis Como fazer teologia da libertação 2 ed Petrópolis Vozes 1986 BRASIL NUNCA MAIS 22ª ed Petrópolis Vozes 1989 CATÃO Francisco O que é teologia da libertação São Paulo Nova Cultural Brasiliense 1986 CAVALCANTI Robinson Cristianismo e política 2 ed Niterói Vinde 1988 DUPONT Jacques A Igreja e a pobreza In BARAÚNA Guilherme org A igreja do Vaticano II Petrópolis Vozes 1965 GUTIÉRREZ Gustavo A força histórica dos pobres Petrópolis Vozes 1981 MONDIN Battista Os teólogos da libertação São Paulo Edições Paulinas 1980 SANTANNA Sílvio di Santo dos nossos dias um testemunho libertador São Paulo Líber edições 2004
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1 A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E O CONTEXTO LATINOAMERICANO Luiz Ernesto Guimarães Ciências Sociais UEL Fabio Lanza Orientador vieram fazer nossas flores murchar para que somente a sua flor vivesse1 INTRODUÇÃO A Teologia da Libertação é resultado do processo histórico político social e econômico que aconteceram especialmente na América Latina vinculado de certa forma a alguns pensadores e religiosos principalmente dentro da Igreja Católica que puderam contribuir para a elaboração de uma nova teologia que tivesse uma maior contextualização com o continente latinoamericano A teologia tradicional importada dos moldes europeus já não respondia e nem explicava a realidade em que as massas populares viviam Na metade do século XX quando a Teologia da Libertação começou a ser formulada era preciso uma nova elaboração teológica em que a classe dominante dos diversos países latinoamericanos não ocupasse o papel principal em contraponto com a classe pobre e trabalhadora que por sinal representava a 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lideranças católicas que se preocupavam com a atuação social da Igreja num continente marcado pela pobreza 1 Frase escrita por um maia na época da conquista BOFF 1992 p9 2 resultado da exploração colonial compreendiam que a libertação humana deveria ser plena e integral A salvação de Deus não é um simples estado dalma nem muito menos uma salvação após a morte mas uma libertação histórica a ser desfrutada aqui e agora pela pessoa e pela sociedade Idem p 67 1 BREVE HISTÓRIA DO CRISTIANISMO E DA POLÍTICA NA AMÉRICA LATINA Para compreender o que estava ocorrendo na América Latina nos anos 60 do século XX é preciso retornar um pouco na história para que possa haver um maior entendimento e facilitar a compreensão e os motivos que fizeram com que a Teologia da Libertação surgisse Para isso será utilizada a formulação de três períodos que Sílvio di Santanna2 cita em seu livro Santo dos nossos dias que foram elaboradas por Pablo Richard 1 A Cristandade colonial latinoamericana 1492 1808 2 A nova Cristandade latinoamericana 1808 1960 3 Crise da nova Cristandade latinoamericana 1960 1978 SANTANNA 2004 p24 Neste primeiro período Cristandade colonial a Igreja Católica era uma forte aliada de Portugal e Espanha durante a colonização Ela podia entrar em áreas em que o Estado não conseguia Como os moldes da colonização possuía um cunho mercantilista a Igreja na América Latina serviu aos interesses monárquicos para propiciar e legitimar a exploração No entanto SantAnna afirma que a Igreja não era uma força monolítica e absolutamente submissa às Coroas portuguesa ou espanhola Dentro de seu trabalho os missionários iam além de suas atribuições oficiais e não raro tomavam o partido dos povos oprimidos pelo sistema colonial Idem p26 Ratificando essa análise no final desse primeiro período no século XVIII é possível tomar o embate entre a Coroa Portuguesa e a Cia de Jesus que colaborou na expulsão dos jesuítas do continente que em última análise serviu para barrar ações autônomas de correntes da Igreja que colocavam em questão o modelo de Cristandade em que o Estado a Igreja e setores dominantes da sociedade defendiam os mesmos interesses no sistema de exploração colonial SANTANNA 2004 p26 2 Sílvio de Santanna é mestre em Ciências da Religião pela PUCSP 3 No segundo período a nova Cristandade 1808 1960 França e Inglaterra disputavam ferrenhamente o mercado mundial Com as guerras napoleônicas e a invasão da Península Ibérica por Napoleão houve a fragilização das duas monarquias católicas acelerando assim o processo de independência por parte das colônias ibéricas estimuladas pela Inglaterra que assumiu um poder econômico hegemônico no mercado mundial As colônias na América Latina começaram a conquistar a sua independência e sem adotar outras alternativas ficaram atreladas ao poderio inglês A luta pela independência colocou em cheque a cristandade colonial Embora a Igreja apoiasse oficialmente os colonizadores não deixou de ter líderes que apoiassem as guerras de independência ou os movimentos emancipacionistas A partir de 1870 surge o período dos Estados liberaisoligárquicos na América Latina no Brasil ocorreu a partir de 1889 com a proclamação da república sob o viés militarpositivista O subdesenvolvimento se tornou uma marca econômica visto que havia uma grande exportação de matéria prima e também uma grande importação de produtos industrializados Nesse processo perpetuouse uma maior concentração de riquezas a um pequeno grupo à custa da grande maioria pobre Mas é neste período em que movimentos religiosos e sociais tomaram uma maior dimensão no contexto nacional como foi o caso de Canudos no interior da Bahia com a liderança religiosa de Antônio Conselheiro na última década do século XIX Idem p 27 Já entre os anos de 1930 a 1960 houve o surgimento de movimentos populistas nacionalistas e desenvolvimentistas Idem p29 A queda da bolsa de Nova York em 1929 contribuiu para o início dessa nova fase Intensificouse o processo de industrialização na América Latina e o êxodo rural como ocorreu na Europa A Igreja assume o projeto nacionalista e desenvolvimentista como possibilidade histórica de romper por um lado com o projeto tradicional das oligarquias submissas ao imperialismo econômico e por outro lado para barrar os anseios sociais de se construir na América Latina uma alternativa com características tipicamente socialista SANTANNA 2004 p 29 No terceiro período crise da nova Cristandade 1960 1978 como agravamento da situação política brasileira pós golpe de 1964 aconteceu a ruptura da antiga aliança da hierarquia da Igreja com as classes dominantes controladoras do Estado Essa aliança que garantia para ambas a hegemonia sobre a sociedade civil foi rompida porque a ideologia de segurança nacional assumida pelos Estados latinoamericanos tornou se decisivamente antisocial e inconciliável com a doutrina social da Igreja 4 Sob o estado autoritário amplos setores da Igreja fizeram na prática uma aliança estratégica com os movimentos de libertação social que surgiram em toda América Latina tornando o discurso dos setores conservadores da Igreja que apostavam na manutenção do modelo da Nova Cristandade ineficaz perante a opinião pública Surge como alternativa histórica à Nova Cristandade uma Igreja da resistência SANTANNA 2004 p31 Um exemplo neste momento no contexto do Brasil é o caso da Ação Popular AP que nasceu em 1962 formada por cristãos ligados à Ação Católica em particular à JUC Juventude Universitária Católica BRASIL 1989 p100 Este grupo era composto por cristãos progressitas que perderam o apoio da CNBB por possuírem uma ideologia revolucionária CAVALCANTI 1988 p 177 Eles lutavam por uma sociedade mais justa com uma forte crítica ao capitalismo e também aos países socialistas3 Seu peso maior estava na área estudantil onde a organização controlou as sucessivas diretorias da União Nacional dos Estudantes UNE preocupandose também em penetrar nos meios operários e rurais o que consegue principalmente no Nordeste através dos Movimento de Educação de Base MEB vinculado à CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil BRASIL 1989 p 100 Com o golpe militar de 1964 a AP foi perseguida e por conseguinte ela perdeu a sua força No entanto ela se reorganizou novamente mesmo que lentamente apoiada sempre no meio universitário Desde o início a AP teve uma linha marxista mas foi entre 1965 e 1967 que adotaram oficialmente esta perspectiva teórica Alguns membros tentaram fazer com que houvesse um equilíbrio entre a sua fé cristã e a prática a que este movimento estava tomando marxismo de forma que não houvesse perda para nenhuma das partes Isto no entanto não foi possível Pelo contrário a Ação Popular acabou identificandose com Mao TseTung e a Revolução Cultural Chinesa embora nunca tivesse atuado como tal Entre 1972 e 1973 a AP foi incorporada ao PC do B restando uma parte do grupo que rejeitou fundir com tal partido e que passou a se intitular APSocialista Sem levar em consideração uma série de conflitos internos a AP chegou a atuar em 13 unidades da Federação envolvendo a própria Igreja Católica por este movimento ter raízes cristãs BRASIL 1989 3 No ano de 1963 um ano depois de seu surgimento em seu documento base a AP declarou que seu objetivo estava na luta por uma sociedade mais justa sem tomar uma posição política oficial Condenou tanto o capitalismo quanto o socialismo ficando apenas no campo da religião Porém na prática este movimento teve uma forte inclinação para a teoria marxista BRASIL 1989 pp100 101 5 As transformações social político e econômica que o Brasil e também toda a América Latina enfrentaram especialmente na segunda metade do século XX juntamente com as reivindicações populares lutando por direitos e justiça às classes menos favorecidas fizeram com que a Igreja Católica passasse por profundas mudanças internas Embora essas transformações não tenham ocorrido de forma homogênea dentro da Igreja foi o suficiente para que uma parte significante dela pudesse deixar de lado parte da sua postura conservadora e passasse a desempenhar um papel fundamental ao lado dos oprimidos da América Latina 2 AJUSTES CULTURAIS Segundo Francisco Catão a América Latina nunca foi evangelizada foi conquistada para o catolicismo CATÃO 1986 p44 Esta conquista misturada com o autoritarismo fez com que os latinoamericanos fossem pressionados a aceitar a nova religião importada da Europa sem uma prévia contextualização social política e econômica ao longo da colonização Mesmo depois do rompimento em termos oficiais entre Igreja e Estado na América Latina por conta dos processos de independência e a adoção de sistemas laicos legislação educação justiça política etc no final do século XIX a Igreja Católica continuou a receber ajuda de fora principalmente da Europa Juntamente com esta ajuda que a Igreja latinoamericana recebeu veio também seus santos suas devoções suas festas sua literatura enfim seu modo de conceber a vida cristã em continuidade com suas respectivas tradições Idem p51 Catão também menciona que a maneira com que a Igreja chegou na América Latina se deu por meio de uma importação maciça dos mais diversos modelos culturais católicos num esforço enorme para impor de cima para baixo e de fora para dentro a religião católica Idem p51 A Igreja Católica na América Latina era formal segundo Catão 1986 a Igreja era formal em seu dogma moral e organização 1986 p53 Junto com a Igreja havia uma forte noção de poder cujo centro era o Vaticano na figura do papa isto fazia com que a Igreja tivesse a autoridade para espalhar o seu reino por toda a terra Em todo lugar onde a Igreja chegava era requerido apenas uma coisa submissão total ao pontífice que se configurava na própria Igreja No ano de 1955 aconteceu a Primeira Conferência Geral do Episcopado Latino Americano na cidade do Rio de Janeiro Neste ano já havia a constatação de que a Igreja Católica estava estagnada na América Latina não se tratava do número de fiéis que a 6 Igreja possuía mas principalmente da sua atuação na região mais católica do mundo a América Latina Apesar desse levantamento não houve mudanças significativas a não ser a criação da Comissão para a América Latina que ficava sediada em Roma e era responsável pelos problemas da Igreja Católica na América Latina Esta comissão realizou quatro sessões cuja simples enumeração dos temas já caracteriza perfeitamente a linha em que trabalhava provisão de pessoal para a Igreja nos países da América Latina planificação e coordenação da ajuda econômica para a Igreja da América Latina formação e assistência ao pessoal apostólico destinado à América Latina e assistência aos sacerdotes latinoamericanos que estudam no exterior Não precisa dizer mais nada A tendência era organizar a Igreja como uma poderosa multinacional Pobre teologia que inspirava tal prática A obra de colonização custava a reconhecer seu falimento Sessenta anos depois de sua libertação a Igreja ainda não tinha sido capaz de resolver nem mesmo seu problema de pessoal de vocações Que comunidade é esta incapaz de se reproduzir que vive de enxerto Incapaz de se sustentar que precisa ser subvencionadas pelas Igrejas mais ricas Alguma coisa estava errada CATÃO 1986 pp 54 55 A partir daí houve uma mudança radical na liderança da Igreja Basta analisar a Segunda Conferência realizada desta feita na cidade de Medellín na Colômbia no ano de 1968 Nesta conferência ao contrário da realizada no Rio de Janeiro os bispos não mais se preocuparam com os recursos vindos de fora Desde então a atenção passou a ser dada aos pobres e oprimidos da malfadada colonização Surgiu um comprometimento que criou na teologia uma práxis que se tornasse libertadora enfocando na condição de sujeitos no processo histórico dentro e fora do ambiente religioso a grande massa da população latinoamericana maltratada e desprezada até pela própria Igreja Leonardo Boff ao olhar para esta nova teologia disse que não se trata de outra fé mas da fé dos apóstolos e da Igreja articulada com as angústias e as esperanças de libertação dos oprimidos BOFF 1986 p 65 Dessa maneira a Segunda Conferência em Medellín estabelece com vigor que os cristãos precisam se empenhar na luta contra as estruturas injustas da sociedade latinoamericana e que este empenho é fundamental e básico para toda ação pastoral Em antítese à Primeira Conferência de 1955 a Segunda Conferência de 1968 orientou a ação da Igreja a partir da promoção humana e da libertação colocando em cheio a questão do sentido teológico desta ação questão para a qual a teologia da libertação propõe uma resposta CATÃO 1986 p 57 7 Em 1979 esse processo de constituição da Teologia da Libertação continua com os avanços de mais uma Conferência do Episcopado latinoamericano realizada em Puebla no México Em Puebla a Igreja encarregada de anunciar o Evangelho colabora mediante uma radical conversão à justiça e ao amor na transformação das estruturas injustas da sociedade Idem p 58 Um dos motivos que fez com que as conferências de Medellín 1968 e Puebla 1979 tomassem um rumo oposto ao da Primeira Conferência no Rio de Janeiro 1955 foi sem dúvida o Concílio do Vaticano II 1962 1965 Este concílio esteve focalizado especialmente na Igreja e dentre vários pontos foi enfatizado que a Igreja tem o dever de imitar a pobreza de Cristo de dar testemunho da pobreza de Cristo sendo também ela pobre Há por outro lado um dever da Igreja para com os pobres Ela recebeu a missão de anunciar lhes a BoaNova e a incumbência de levarlhes socorro a Igreja deve ir até os pobres para assemelharse a Cristo que se apresentou ao mundo como o Messias dos pobres DUPONT 1965 p423 Ao contextualizar a Igreja ao povo latinoamericano houve mudanças profundas na práxis cristã Neste contexto ocorreu a constituição a partir de 1965 das Comunidades Eclesiais de Base CEBs mas foi somente a partir de 1970 que elas tomaram uma maior impulsão Organizadas nacionalmente aos milhares as CEBs procuram justificar teologicamente a sua existência na doutrina do Povo de Deus conforme entendida pelo Concílio Vaticano II Funcionando paralelamente às paróquias com direção e atividade próprias elas não possuem no entanto nem status jurídico canônico nem vínculo formal com a instituição eclesiástica Essa igreja do povo ou igrejas dos pobres em contraste com a igreja tradicional tem funcionado como instrumento de mobilização e organização popular ao nível local e de lugar de encontro para a reflexão em torno dos problemas comunitários Ali em geral esses problemas se constituíam em ponto de partida para a leitura do Evangelho em típico exercício da Teologia da Libertação CAVALCANTI 1988 pp 197 198 Para Leonardo Boff as CEBs assimilaram uma postura no contexto cultural latinoamericano e assim se fez um novo modo de ser Igreja Para ele o trabalho comunitário e a profunda comunhão são características fundamentais que estão ligadas às CEBs BOFF 1992 8 3 GUSTAVO GUTIÉRREZ E LEONARDO BOFF SISTEMATIZAÇÃO DO INÍCIO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO Gustavo Gutiérrez4 e Leonardo Boff5 são uns dos principais expoentes da Teologia da Libertação Cada um ao seu modo engajouse na luta pelas massas pobres que não tinham voz e vez na América Latina Ambos utilizaram da teologia como um meio em que se pudesse fazer uma análise crítica da sociedade latinoamericana e assim reestruturar a Igreja Católica a partir de uma práxis afirmativa de que o reino de Deus já estava se fazendo valer na América Latina especialmente entre os oprimidos Tanto Gutiérrez quanto Boff disseram que para não reproduzir simplesmente uma teologia utilizada dentro de uma Igreja heterogeneizante é preciso tomar a atitude de ouvir o outro E para ouvir o outro no caso o latinoamericano Gutiérrez afirma que é imprescindível sair do pequeno mundo em que se está Sair do gueto é um aspecto da atitude de abertura para o mundo De modo mais positivo tal abertura pressupõe compartilhar sem restrições a visão que o homem latinoamericano tem de sua própria situação contribuir com competência para a sua elaboração e aprofundamento e comprometer se sem ambigüidades na ação que dela deriva A realidade latinoamericana começa a aparecer em toda a sua crueza Não se trata unicamente nem primordialmente de um baixo índice cultural de uma atividade econômica restrita de uma ordem legal deficiente de limites ou carências de instituições políticas Tratase isto sim de um estado de coisas que não leva em conta as mais elementares exigências da dignidade do homem sua própria subsistência biológica e seus direitos primordiais como ser livre e responsável A miséria a injustiça a situação de alienação e a exploração do homem pelo homem que se vive na América Latina configuram uma situação que a conferência episcopal de Medellín não vacila em qualificar e acusar de violência institucionalizada GUTIÉRREZ 1981 pp4445 Leonardo Boff também compartilha do mesmo pensamento de Gustavo Gutiérrez ao dizer que devemos assumir a perspectiva das vítimas em primeiro lugar por uma questão de justiça Os ameríndios e afroamericanos nunca puderam ser ouvidos A cultura européia bem como as Igrejas 4 Sacerdote domiciniano e é doutor em Teologia Nasceu em Lima Peru no ano de 1928 5 Doutor em Teologia e Filosofia Nasceu em Santa Catarina em dezembro de 1938 Ingressou na ordem dos franciscanos em 1959 vindo a renunciar em 1992 após forte pressão do Vaticano na época do Pontificado de João Paulo II e da gestão de Joseph Ratzinger atual Papa Bento XVI a frente da Congregação para a Doutrina da Fé antigo Tribunal da Santa Inquisição 9 missionárias andaram por um caminho de mão única durante cinco séculos Agora é hora e a vez de ouvir o reverso da conquista Dar a vez ao discurso dos que viviam neste continente já há séculos e que estavam na praia espreitando os seres estranhos das caravelas Em segundo lugar porque se trata de uma questão ética A chegada dos europeus significou violência O desenvolvimento autônomo das culturas aqui presentes foi interrompido abruptamente De autônomas passaram a dependentes e subjugadas BOFF 1992 p 59 O nosso lugar deve ser ao lado dos pobres e marginalizados diz o teólogo catarinense Idem p60 Para ele é nesta posição que estaremos onde Deus está Por detrás da Teologia da Libertação existe a opção profética e solidária com a vida a causa e as lutas destes milhões de humilhados e ofendidos em vista da superação desta iniqüidade históricosocial BOFF 1986 pp13 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS A necessidade por libertação está presente em qualquer ser humano em qualquer parte da terra Mas é sobretudo nos países pobres que a necessidade de libertação aparece ainda mais premente É bem provável que seja esse um dos motivos que fizeram com que a Teologia da Libertação se formasse e ganhasse força na América Latina Dentre tantas teologias surgidas ultimamente no seio da Igreja a Teologia da Libertação foi a que mais obteve destaque ao se tratar dos problemas sociais Mesmo assim existem aqueles que são contrários à Teologia da Libertação e tecem fortes críticas à ela Talvez sejam esses os que nunca se colocaram ao lado do oprimido nem deram ouvidos ao seu clamor Aos teólogos da libertação cabe enfim o mérito de terem redespertado não só os leigos e os padres mas também os bispos da América Latina aos deveres sociais e políticos de sua vocação e de seu ministério Fora do plano especulativo os teólogos da libertação devem ser admirados pela coragem com que denunciaram tantos abusos de poder a injustiça a violência a tortura a opressão e tudo o que degrada e deforma o homem É sobre este terreno da defesa dos direitos fundamentais da humanidade que se mede a autenticidade e a consistência da fé cristã pois sem obras uma fé está morta MONDIN 1980 p159 Erguendo a voz e defendendo o injustiçado esta foi a maneira com que os teólogos da libertação e pensadores dos mais diversos segmentos da sociedade e da Igreja encontraram para reformular a teologia latinoamericana que trabalhava em favor dos interesses europeus É provável que novas formulações teológicas surjam no futuro algumas com mais outras com menos acertos Mas até o momento a Teologia da 10 Libertação tem sido a resposta mais prática da Igreja cristã ao olhar para a maioria desprezada da América Latina na sua necessidade social político e econômica imediata Bibliografia BOFF Leonardo América Latina da conquista à nova evangelização 3 ed São Paulo Ática 1992 BOFF Leonardo BOFF Clodovis Como fazer teologia da libertação 2 ed Petrópolis Vozes 1986 BRASIL NUNCA MAIS 22ª ed Petrópolis Vozes 1989 CATÃO Francisco O que é teologia da libertação São Paulo Nova Cultural Brasiliense 1986 CAVALCANTI Robinson Cristianismo e política 2 ed Niterói Vinde 1988 DUPONT Jacques A Igreja e a pobreza In BARAÚNA Guilherme org A igreja do Vaticano II Petrópolis Vozes 1965 GUTIÉRREZ Gustavo A força histórica dos pobres Petrópolis Vozes 1981 MONDIN Battista Os teólogos da libertação São Paulo Edições Paulinas 1980 SANTANNA Sílvio di Santo dos nossos dias um testemunho libertador São Paulo Líber edições 2004