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Direito ·
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ARTIGO Concepções de adultos surdos sobre a surdez Relato de Pesquisa CONCEPÇÕES DE SURDEZ A VISÃO DO SURDO QUE SE COMUNICA EM LÍNGUA DE SINAIS1 Mara Aparecida de Castilho LOPES2 Lúcia Pereira LEITE3 RESUMO na atualidade diversas concepções sobre surdez estão presentes na sociedade Tais concepções em geral caracterizamse pela disputa teórica entre possibilidades comunicativas oral ou gestual fundamentadas na importância da apropriação de um código linguístico para o desenvolvimento da linguagem constitutiva da subjetividade do ser humano Nesse direcionamento este estudo objetivou identificar as concepções dos próprios sujeitos surdos a respeito de sua condição Para coletar os dados da pesquisa utilizouse um roteiro de entrevista semiestruturado que foi aplicado a dez participantes surdos adultos e usuários da Língua Brasileira de Sinais Libras As entrevistas foram filmadas transcritas e submetidas à análise de conteúdo Os resultados indicam que as concepções de surdez dos surdos constituem uma visão multifacetada sobre essa condição influenciada pelas relações sociais estabelecidas ao longo de suas trajetórias de vida Percebeuse também que o aprendizado da Libras possibilitou aos surdos a própria autoafirmação enquanto ser diferente com necessidades distintas PALAVRASCHAVE Educação Especial Interação social Surdez Linguagem 1 INTRODUÇÃO Discussões referentes à concepção de surdez estão presentes na sociedade há muitos anos caracterizadas pela disputa teórica sobre possibilidades comunicativas e sucedidas por modos específicos de se perceber a surdez Na atualidade numa sociedade em constante processo de mudança a convicção que permanece diante de todos os embates teóricos é que todos os modelos são passíveis de contestação na medida em que podem ser cotejados com a percepção dos sujeitos diretamente envolvidos com o fenômeno estudado Retomando brevemente o papel das diferentes modalidades linguísticas diante das variadas concepções de surdez observase sumariamente a existência de duas conjunturas a defesa do ensino da língua oral enquanto um meio necessário para a reinserção social dos então considerados deficientes e a língua de sinais enquanto representação de um grupo social minoritário não mais constituído por sujeitos deficientes mas diferentes SKLIAR 2005 Em decorrência desses dois posicionamentos que ao longo dos anos têmse constituído como antagônicos e mutuamente excludentes percebeuse uma relação entre concepção de surdez e comunicação Após um longo período de disputas teóricas que perduram até os dias atuais é constante a provocação de algumas reflexões tais como a surdez é uma deficiência ou uma diferença BUENO 1998 SÁ 2002 a língua de sinais constitui o surdo enquanto sujeito DIZEU CAPORALLI 2005 ou é a apropriação de uma língua oral ou gestual que garante a constituição da subjetividade SANTANA BERGAMO 2007 há apenas duas formas distintas para se compreender a condição de surdez ROCHA 2009 Frente a tantos questionamentos é importante considerar que embora o aspecto linguístico seja fundamental para a compreensão do desenvolvimento do homem enquanto ser social VIGOTSKI 1999 para além das especificidades relacionadas à utilização de uma ou outra língua é necessário primeiramente garantir que o surdo 1 O estudo aqui apresentado é parte da dissertação de mestrado da primeira autora sob orientação da segunda e contou com apoio financeiro da Fapesp 2 Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Universidade Estadual Paulista Unesp campus de Bauru maracastlohotmailcom 3 Doutora em Educação Docente do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem Universidade Estadual Paulista Unesp campus de Bauru lucialeitefcunespbr tenha condições de se apropriar de uma língua Por essa razão ao considerar que nem sempre as crianças surdas conseguem tornarse bem sucedidas na aprendizagem da língua oral a língua de sinais deveria portanto ser oferecida como primeira língua à criança surda buscandose evitar o atraso no desenvolvimento da linguagem LACERDA 2007 Entretanto sendo essa uma língua ainda pouco conhecida pela sociedade as possibilidades interativas dos surdos continuam bastante restritas Tal aspecto é agravado pelo fato de que a maioria dos surdos tem pais ouvintes SÁ 20002 que pouco ou nada conhecem a respeito da língua de sinais De um modo geral a sociedade ainda tem poucas informações a respeito dessa língua provocando o surgimento de muitos mitos QUADROS KARNOPP 2004 Ao contrário do que muitas pessoas acreditam as línguas de sinais não são universais como também não são as línguas oraisauditivas As línguas de sinais igualmente sofrem modificações de um país para outro e mesmo dentro de um único país de uma região para a outra No entanto independentemente da localidade as línguas de sinais são plenas de todos os aspectos linguísticos sendo caracterizadas pelo seu aspecto visogestual no qual alguns elementos são de grande importância o contato visual a delimitação do espaço no qual os sinais serão efetuados de modo a serem executados de forma compreensível pelo interlocutor as condições de iluminação do local onde se pretende efetuar a comunicação o posicionamento de ambos interlocutores para favorecer a compreensão de todos os sinais executados por ambas as partes e o valor das expressões faciais durante a comunicação que podem transmitir aspectos importantes como intensidade ironia desprezo entre outros Por essa razão através da língua de sinais é possível transmitir todo tipo de conteúdo concreto ou abstrato nos mais variados gêneros discursivos BRITO 1995 FERNANDES 2003 QUADROS KARNOPP 2004 GESSER 2009 À luz de tais aspectos principalmente os linguísticos que caracterizam os surdos enquanto um grupo social diferenciado pressupõese que a forma como a surdez é percebida pela sociedade ouvinte diferese do modo como uma pessoa surda analisa a sua própria condição No entanto esse fato parece ser pouco estudado nas pesquisas acadêmicas que em geral dedicamse ao estudo de concepções de surdez de pessoas ouvintes Na análise de produções científicas relacionadas ao tema da surdez foram encontrados estudos que se dedicaram à investigação da concepção de surdez em familiares de crianças surdas os quais concluíram que essa concepção muitas vezes está relacionada à modalidade linguística utilizada pela criança SILVA PEREIRA ZANOLLI 2007 BITTENCOURT MONTAGNOLI 2007 Porém ainda que a concepção de pais e familiares possa de alguma forma influenciar o modo como a própria criança surda perceberá sua condição de surdez ao longo de sua vida diversos outros fatores poderão modificar essa visão como por exemplo o sentimento de identificação entre os surdos que utilizam a mesma língua e compartilham histórias de vida semelhantes permeadas pelas dificuldades de integração social Ao analisar o que descreve Perlin 2005 a respeito da identidade surda podese inferir que esse aspecto está fortemente presente nos movimentos surdos na consciência de ser diferente e necessitar de recursos visuais para estabelecer a comunicação A autora ressalta alguns casos específicos em que as identidades surdas se manifestam de formas diferentes os surdos filhos de pais surdos os surdos que nasceram ouvintes e se tornaram surdos os surdos filhos de pais ouvintes que depois entram em contato com a comunidade surda e com a língua de sinais os surdos que se percebem como deficientes e nunca chegam a se organizar em comunidades Destarte a identidade surda pode ser compreendida como um aspecto que se expressa de variadas formas Ante aos fatores mencionados é importante examinar a surdez à luz daqueles que se encontram nessa condição Nessa perspectiva o estudo aqui descrito objetivou identificar as concepções de surdez apresentadas por sujeitos surdos adultos que se comunicam em língua de sinais analisando de modo particular os conceitos que o surdo tem de si mesmo enquanto usuário dessa língua 2 MÉTODO Os participantes foram dez adultos surdos sendo cinco homens e cinco mulheres com idades variando entre 23 e 57 anos moradores de um município do oeste paulista Tipos e graus de surdez não foram considerados uma vez que todos os participantes se comunicavam pela Língua de Sinais Brasileira Libras A coleta dos dados foi realizada em uma sala do Centro de Psicologia Aplicada CPA unidade auxiliar da Universidade em que o estudo foi desenvolvido e o instrumento de coleta utilizado foi um roteiro de entrevista semiestruturado composto de nove questões abertas abrangendo as seguintes áreas temáticas concepção de surdez natureza da defi ciência aprendizagem da Libras formas de comunicação utilizadas interação social com ouvintes e surdos As entrevistas foram realizadas mediante consentimento prévio dos participantes firmado no termo de consentimento livre e esclarecido TCLE e após a aprovação da realização da pesquisa pelo Comitê de Ética da Universidade parecer n 610460109 Ressaltase que o roteiro foi aplicado em Libras pela própria pesquisadora fluente nessa língua sendo que cada entrevista foi agendada individualmente com cada participante Todas as entrevistas foram posteriormente assistidas e transcritas em Libras de acordo com os critérios para transcrição utilizados por Quadros e Karnopp 2004 Após esse procedimento as transcrições dos relatos foram submetidas à análise de conteúdo definida por Bardin 2009 A autora sinaliza que a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise de comunicações à luz de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens Tais procedimentos visam obter indicadores quantitativos ou não que permitam a inferência de conhecimentos concernentes às mensagens que neste caso foram produzidas por meio das perguntas realizadas durante as entrevistas Há técnicas de análise de conteúdo diversas Dentre elas a análise de conteúdo categorial técnica mais conhecida e que foi a empregada nesta pesquisa Constituise de um procedimento de análise transversal que recorta das entrevistas temáticas distintas formando uma grelha de categorias extraídas do conjunto do discurso Optouse por organizar as respostas a partir das questões do roteiro de entrevista que posteriormente foram reorganizadas de modo a agrupar nas categorias relatos que apresentassem semelhanças em seu conteúdo Desse modo chegouse a três eixos principais que procuraram desvelar as concepções dos participantes sobre surdez relacionamento social e comunicação Na tentativa de assegurar a fidedignidade da transcrição solicitouse a colaboração de dois juízes um surdo fluente em Libras e um ouvinte tradutorintérprete de Libras O juiz surdo recebeu a filmagem da coleta realizada com um dos participantes para que a transcrevesse em Libras de acordo com os critérios de Quadros e Karnopp 2004 A transcrição realizada pelo juiz surdo foi enviada para o segundo juiz ouvinte e conhecedor da Libras juntamente com a transcrição realizada pela pesquisadora referente à coleta do mesmo participante Esse juiz recebeu a orientação de analisar as duas transcrições verificando a concordância entre as intenções verbais expressas em cada frase em cada uma das transcrições Esse procedimento indicou um índice de 89 de concordância entre as duas transcrições sendo então consideradas pertinentes as transcrições realizadas 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Como relatado anteriormente a análise dos relatos coletados durante a entrevista foi realizada pela categorização das falas dos participantes que foram dispostas em três grandes eixos 1 Concepções sobre surdez percepções e sentimentos 2 Surdez e relacionamentos sociais identificação grupal e interações sociais 3 Surdez e comunicação O quadro a seguir apresenta a organização das falas dos participantes por eixo de análise e categorias de respostas Quadro 1 Eixos de categorias organizadas a partir das falas dos participantes Eixos Categorias de respostas apresentadas Eixo 1 concepções de surdez percepções e sentimentos Percepções Igualdade Desvantagem Sentimentos Tristezapiedadedesprezo Felicidade Eixo 2 surdez e relacionamentos sociais Identificação com pares igualmente surdos Interações sociais com surdos e ouvintes Eixo 3 surdez e comunicação Leitura labial Escrita 31 EIXO 1 CONCEPÇÕES DE SURDEZ PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS O Eixo 1 abrange as falas em que os participantes descreveram o que pensam sobre a surdez à luz de suas experiências de vida narrando também os sentimentos envolvidos e as diversas percepções que possuem da surdez e de si mesmos Tendo o ouvinte como referencial as percepções sobre a surdez dividiramse em igualdade ou desvantagem Os sentimentos também apareceram de duas maneiras de forma negativa relacionados à tristeza piedade ou desprezo ou de forma positiva relacionados à felicidade ou sensação de igualdade Dos dez participantes entrevistados seis descreveram a surdez a partir de uma condição de desvantagem perante o ouvinte Essa percepção esteve fundada na comunicação ou na sua ausência salientando algumas situações específicas tais como a dificuldade de escolarização do surdo ou ainda a dificuldade em compreender informações transmitidas em ambiente de trabalho que em geral são transmitidas apenas pela modalidade oral A fala de uma participante Sílvia4 exemplifica tal situação É difícil estudar para o ouvinte é fácil mas para o a surdo a é difícil Em situação oposta quatro participantes situaram a surdez em uma posição de igualdade ao ouvinte descrevendo a surdez como uma condição normal fundamentados em aspectos que consideram positivos como o suporte do grupo social formado pelos surdos a comunidade surda Fábio Deus ajuda todos ouvintes normal Também há muitos outros surdos normal é bom existe união amizade conversas normais entre surdos e ouvintes em Libras é normal somos iguais surdos e ouvintes são iguais Com relação aos sentimentos relacionados à surdez as falas dos participantes se apresentaram de duas formas uma que indicava como o participante se sentia à luz da sua condição e como percebia a visão do ouvinte com relação aos surdos em 4 Nomes fictícios geral Nessas falas puderam ser identificadas duas subcategorias uma compreendendo as respostas que envolviam sentimentos relacionados à tristeza piedade ou desprezo e outra compreendendo sentimentos de alegriafelicidade Nas duas subcategorias observouse novamente o sentimento de igualdade ou diferença em relação ao ouvinte Nesse contexto observouse que os sentimentos de tristeza piedade ou desprezo foram recorrentes nas falas dos participantes Alexandre Eu sou triste eu queria queria ouvir Deus sabe o quanto Thomas Ser surdo é difícil eu não tenho amigos fico sozinho as pessoas não conhecem a surdez Ao falar das relações estabelecidas em seu local de trabalho Luana expõe uma situação que lhe causa muito aborrecimento o isolamento resultante da barreira comunicativa entre ela e seus colegas Luana Lá é difícil eu sempre digo que gostaria que fossem mais surdos para lá aí eu ficaria feliz poderia conversar com alguém em Libras seria melhor com os ouvintes não há comunicação é ruim me faltam amigos eu preciso de amigos Ao expressar o desejo de que outros surdos fossem contratados é visível que suas intenções estão voltadas à questão da comunicação que não ocorre com os atuais colegas ouvintes Ressaltase então que a identificação entre os surdos pode ser entendida como elemento de grande importância para a compreensão das relações sociais estabelecidas dentro da comunidade surda cabendo questionar se a forma como essas relações intergrupo ocorrem poderia ser modificada se a sociedade predominantemente ouvinte tivesse maior interesse no aprendizado e no uso da Libras A resposta a esse questionamento parece ser afirmativa ao observar o posicionamento de Luana sobre sua relação com os antigos colegas de escola ouvintes e o de Roberto em relação ao modo como sente que os ouvintes o percebem enquanto surdo Luana Antes eu estudava com uma turma que já estava acostumada com a Libras pois crescemos juntos eles estavam acostumados conheciam a Libras era normal Roberto As pessoas me olham pessoas que eu não conheço me olham não gostam de mim me ofendem O modo como um sujeito percebe o outro pode influenciar o modo como ele percebe a si mesmo HINDE 1997 Nessa compreensão a percepção do desprezo de algumas pessoas ouvintes pode influenciar a concepção do surdo sobre sua própria condição fazendo com que ele se considere inferior Dessa forma a língua de sinais enquanto elemento característico dessa condição pode ser desvalorizada até mesmo pelo sujeito surdo que a utiliza aspecto que parece estar refletido na fala do participante Mário ao descrever o que os ouvintes pensam sobre os surdos em sua opinião Mário Não gostam se o surdo souber falar oralmente gostam mais ou menos eu falo um pouco Muitos dos surdos que utilizam a língua de sinais na fase adulta já passaram pela reabilitação oral em algum momento de sua trajetória recorrendo à língua de sinais como alternativa de comunicação diante da impossibilidade de desenvolvimento da oralidade A língua de sinais pode ser então percebida pelo surdo como uma língua inferior à língua oral e pode nessa condição ser percebida negativamente como um aspecto discriminativo da pessoa surda que não conseguiu desenvolver a oralidade Isso parece ser considerado pelo participante Mário que percebe a valorização da comunicação oral além de responsabilizar o próprio surdo pelo fracasso da comunicação com o ouvinte justificando seu desprezo pelo surdo Além do desprezo alguns participantes também descreveram sentimentos relacionados à piedade dos ouvintes perante os surdos conforme se observa na fala de Júlia Júlia Você é surda Coitada Na escola como me ensinariam Era difícil eu não entendia eu fi cava triste parecia triste escrevia quieta uma colega via e dizia Coitada é surda você quer que eu te ensine eu dizia Quero ela me ensinava e aí eu aprendia Os sentimentos de piedade apontados em geral relacionaramse a situações de âmbito escolar que ainda constituem uma situação de grande desvantagem para o aluno surdo visto que apenas recentemente o sistema escolar começou a considerar a necessidade de profissionais da Libras nesse ambiente e a possibilidade da inserção do intérprete no espaço escolar BRASIL 2005 No entanto a situação do surdo continua bastante prejudicada pela baixa demanda de intérpretes de Libras e professores com conhecimento operacional nessa língua além do escasso domínio da língua de sinais por parte dos alunos ouvintes fatos que prejudicam o acesso do aluno surdo aos conteúdos acadêmicos e as suas possibilidades de interação social nesse meio e consequentemente de seu desenvolvimento 32 EIXO 2 SURDEZ E RELACIONAMENTOS SOCIAIS O Eixo 2 abrange as falas que envolvem uma concepção interacionista sobre a surdez OLIVEIRA 2004 Nesse Eixo foram compreendidas duas categorias de resposta percepção da surdez a partir da identificação com pares igualmente surdos e percepção da surdez no contexto das interações sociais estabelecidas com surdos e com ouvintes A percepção dos participantes sobre os relacionamentos sociais foi analisada a partir de dois conjuntos das falas as que indicassem relações sociais estabelecidas somente com outros surdos e as que mencionassem relações sociais com segmentos não específicos com surdos e com ouvintes Considerouse como relação circunstâncias descritas pelos participantes que envolvessem algum tipo de interação intermitente entre duas pessoas durante determinado período HINDE 1976 1997 compreendendo que tais aspectos são influenciados pelo contexto cultural em que se inserem os sujeitos em questão A identificação entre os surdos é um aspecto bastante recorrente nos estudos teóricos da área da surdez nos quais surge frequentemente associada à língua de sinais No entanto conforme apontou Perlin 2005 a identidade surda se manifesta de formas variadas assim como a língua oral e pode constituir a identidade do surdo pois o que garante a construção de sua subjetividade é a apropriação de uma língua e não sua natureza oral ou gestual SANTANA BERGAMO 2005 Igualmente um surdo que faz uso concomitante da língua oral e de sinais poderia ser um membro atuante da comunidade surda o que reforça a ideia de que a identificação entre os surdos está além do aspecto linguístico Porém considerando a convivência simultânea com as duas comunidades surda e ouvinte a língua de sinais é um elemento de grande influência na identificação do sujeito com o grupo surdo Luana Se eu estiver passeando junto com minha mãe minha família as pessoas me olham eu sinto vergonha Sozinha eu sinto vergonha é verdade minha mãe não entende é diferente difícil Quando falo em Libras as pessoas me olham riem Com o grupo surdo combina quando os surdos estão em grupo conversando em Libras as pessoas também olham entende Mas é diferente eu sinto A participante Luana também descreve o grupo de amigos surdos como um apoio pois estando com seus pares linguísticos não sente vergonha em se comunicar em Libras ao contrário de quando está sozinha com sua família ouvinte Marchesi 1995 afirma que a possibilidade de realizar atividades com o grupo de pessoas que compartilham os mesmos problemas é um fator determinante para uma avaliação positiva das possibilidades de relacionamento social Esse ponto de vista também parece se confirmar na fala do participante Thomas o qual demonstra uma visão de surdez a partir de sua representatividade enquanto grupo minoritário que de alguma forma esteja ameaçado o que justificaria sua preocupação com a união desse grupo Thomas Se eu não conheço o surdo digo Muito prazer o convido é necessário eu penso se o surdo mora longe por exemplo mesmo que eu não o conheça é importante manter a união somos da mesma carne é importante nós surdos somos como irmãos da mesma carne Precisamos estar juntos unidos sermos amigos Ao referirse aos surdos como irmãos da mesma carne é possível perceber nessa fala a manifestação de um discurso veiculado por alguns grupos e movimentos surdos consolidado por muitas pesquisas acadêmicas que defende a ideia de que os surdos apresentam algum tipo de uniformidade coletiva decorrente de seus maiores atributos próprios a saber a identidade e a cultura surdas GESSER 2009 Diante de tais termos ignorase a cultura do grupo social dentro do qual os surdos estão inseridos partilhada por todos os membros do grupo que ali vivem surdos ou ouvintes para defender a existência de uma cultura própria do surdo Nesse aspecto cabe aqui apresentar concordância com o que afirma Gesser 2009 ao argumentar que ao termo cultura é aqui empregado num sentido distintivo que sugere a necessidade de visibilidade de um grupo social que clama por reconhecimento e valorização Da mesma forma ressaltase o conceito de que os surdos representam um grupo homogeneamente constituído dentro do qual as outras identidades como gênero etnia ou nacionalidade parecem ser anuladas diante da identidade surda SANTANA BERGAMO 2005 No entanto isso nem sempre ocorre conforme se observou na fala de outro participante Mário Ao ser questionado sobre suas preferências de relacionamentos ele afirma que não gosta de interagir com os surdos Mário Com surdos não Com os surdos eu parei eu gosto de educação sempre com bagunça é difícil com os que falam os ouvintes eu vou passear junto sempre eu sou velho tenho 57 anos não tenho mais 19 Considerando que Mário era o único participante com idade discrepante dos demais cuja média excetuando esse participante era de 25 anos sua fala sugere a ausência de identificação com um grupo específico de surdos mais jovens Ou seja a identificação por faixa etária nesse caso pareceu sobressairse à identificação pela surdez Falas que descrevem situações de interação com outros surdos apareceram com grande frequência sendo que todas elas estavam relacionadas a situações de lazer em especial com amigos ou familiares surdos conforme se percebe no relato de Roberto Quando meu irmão chama algum amigo ouvinte nós vamos separados eu sempre vou com os surdos vamos ao cinema passear eu gosto de ir ao cinema é divertido Apenas dois participantes descreveram também interações estabelecidas com pessoas ouvintes que pode ser retratada no relato Thomas É importante estar em grupo ir à casa de amigos passear juntos em Libras ou pela leitura labial eu posso rir conversar é igual com o ouvinte a amizade é igual eu não posso me afastar dos ouvintes porque são amigos não é igual é diferente são coisas separadas A diferença mencionada por Thomas durante seu relato parece estar relacionada a elementos particulares que o aproximam do grupo constituído pela comunidade surda que nesse caso se expressa pela língua de sinais e pela própria condição de surdez Porém o fato de também poder se comunicar através da leitura orofacial lhe permite desenvolver relacionamentos também com pessoas ouvintes 33 EIXO 3 SURDEZ E COMUNICAÇÃO O Eixo 3 abrange os relatos que descrevem a surdez em sua relação com a forma de comunicação utilizada pela pessoa surda ou seja estaria relacionada a uma concepção psicossocial da surdez OLIVEIRA 2004 na qual o aspecto linguístico surgiu como o fator mais representativo Frente às informações relativas à idade em que os participantes tiveram acesso a Libras observouse que mesmo aqueles que tinham outros surdos na família tiveram contato tardio com essa língua Porém chegando à fase adulta todos os surdos pesquisados neste estudo tinham considerável fluência na Libras destacandose aqui a importância dos contatos intragrupo estabelecidos no contexto da comunidade surda para o desenvolvimento linguístico de seus membros Como aponta Perlin 2005 p 63 o adulto surdo nos encontros com outros surdos ou melhor nos movimentos surdos é levado a agir intensamente e em contato com outros surdos ele vai construir sua identidade fortemente centrada no ser surdo a identidade política surda Outrossim as interações entre os surdos em tais ambientes é de extrema necessidade uma vez que dentro do núcleo familiar os processos interativos são dificultados conforme se observa no relato do participante Fábio que possui irmãos surdos Com os meus irmãos a comunicação em Libras é boa Meu pai não entende nem minha mãe ouvinte todos os familiares ouvintes não entendem a Libras Nesse aspecto evidenciase uma realidade presente no cotidiano de muitos surdos que se comunicam em língua de sinais as dificuldades comunicativas que se iniciam já no ambiente familiar posteriormente se estendem ao resto da sociedade ouvinte Entretanto também é preciso considerar aquelas situações em que a família da criança surda não conhece a Libras que somente é apresentada aos familiares como última alternativa para se comunicar com o filho surdo resultando na desvalorização dessa língua ou no sentimento de fracasso em desenvolver a comunicação oral Porém esperase que essa concepção familiar possa ser modificada com o passar do tempo na medida em que a criança surda vai crescendo e se desenvolvendo com o uso de uma língua que lhe permitiu seu desenvolvimento constituindo sua própria subjetividade No entanto mesmo um surdo que utiliza a língua oral poderia se interessar pela Libras visto que os critérios de participação nas comunidades surdas são de natureza social e não decorrente somente de aspectos biológicos GÓES 1999 O participante Thomas sinalizou isso quando afirmou realizar leitura orofacial com pessoas ouvintes mas na interação com os surdos valoriza a Libras como língua oficial Thomas Com a família eu tento falar porque eles não entendem Libras Mas também com os amigos surdos eu sempre uso a Libras cerra os lábios como quem está evitando falar sempre Libras Além disso durante a entrevista com a pesquisadora ouvinte ainda que todo o procedimento tenha sido mediado pela Libras Thomas sempre procurava se comunicar oralmente com concomitância dos sinais da Libras misturando as estruturas gramaticais das duas línguas Contudo esse fato não parecia ser ignorado por ele pois quando afirma que utiliza a Libras com os amigos surdos esse participante procurava cerrar os lábios demonstrando que na comunicação com outros surdos não há necessidade de comunicação oral por nenhum dos interlocutores Por esse aspecto compreendeuse a existência de uma concepção de que entre os surdos a comunicação ocorre de maneira mais livre como se as interações com os ouvintes sempre estivessem carregadas de expectativas de que o surdo fale oralmente ou de constante preocupação em se fazer entender pelo ouvinte que em geral não domina Libras Ainda outros aspectos também foram mencionados pelos participantes para auxiliar na comunicação como a importância do intérprete de Libras para a melhoria das interações entre o surdo e a sociedade ouvinte fato relatado por Luana ao apontar suas dificuldades no ambiente de trabalho durante situações de reunião Luana Há uma lei sobre o intérprete de Libras é necessário Nas cidades ao redor tem mas aqui falta É difícil paciência Eu leio as projeções mas tenho preguiça em Libras é melhor Quando eu leio não entendo bem as palavras em Português é difícil Eu fico quieta é difícil Quando tem algum teste é difícil Nas reuniões quando vão mostrar o que não pode fazer eu leio Marin e Góes 2006 reforçam a questão das barreiras linguísticas entre surdos e ouvintes em local de trabalho ressaltando que nas instituições onde há funcionários surdos as explicações e as regras anunciadas pela chefia são transmitidas em geral unicamente pela modalidade oral Entendese que a discussão sobre a presença do intérprete nesses ambientes consiste em uma necessidade urgente principalmente em função das dificuldades de integração que os surdos sofrem devido à falta de comunicação com os colegas tanto em situações de trabalho quanto nas situações em ambiente escolar impossibilitandoos assim de participar ativamente de várias instâncias sociais que qualificam o sujeito A valorização da língua oral pelos surdos somente se deu em situações nas quais o interlocutor é ouvinte fato apontado por quatro entre os dez participantes Thomas Com a família só uso a leitura labial porque eles não entendem Libras A comunicação oral é importante para estudar entende é necessário fazer a terapia fonoaudiológica entende para estudar entender sempre eu também uso o AASI porque quero ouvir Além disso a língua escrita também foi apontada pelos participantes como um recurso comunicativo na impossibilidade do interlocutor compreender a língua de sinais fato relatado por seis participantes como esse exemplo Alexandre Eu escrevo e mostro pouco eu não entendo tudo não só um pouco Ainda que no presente estudo não se pretenda tratar sobre as possibilidades de aquisição da língua escrita por sujeitos surdos ressaltase aqui pela análise das falas dos participantes parece ser difícil tal aquisição Entretanto a compreensão da escrita também foi apontada como uma tentativa de remediar um problema maior as difi culdades de interação com as pessoas ouvintes que pouco utilizam a língua de sinais 4 CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos com o estudo aqui apresentado evidenciase o fato de que as diferentes visões sobre a condição de surdez estão muito além das discussões dualistas sobre formas de comunicação oral e gestual que podem ser observadas nos mais diversos ambientes sociais inclusive que permeiam a produção científica De imediato a complexidade que caracteriza as várias concepções de surdez presentes na sociedade se traduz na quebra de uma visão dualista para transformarse aqui em multifacetada superando as argumentações teóricas que partem em defesa de um modelo a ser seguido Neste texto os participantes descreveram a surdez a partir da própria trajetória de vida na qual a comunicação perpassa todas as formas de reabilitação A língua preferencial foi a Libras porém alguns relatam utilizar rudimentarmente outras formas de comunicação em função da necessidade comunicativa em especial com os ouvintes Este estudo acredita que a própria participação dos surdos na pesquisa acadêmica surge como um diferencial considerando que são os principais interessados com relação ao que se discute na temática da surdez assim como também devem ser beneficiados com os resultados de qualquer produção científica realizada sobre a temática Com isso traduzse a necessidade que tais pesquisas ampliem a sua divulgação a comunidade surda Na realidade analisada observouse que o aprendizado da Libras possibilitou aos surdos a própria autoafirmação enquanto ser diferente com necessidades distintas que devem ser respeitadas e exigidas visto que estão garantidas pelas normativas legais Por outro lado identificouse também a necessidade de que a língua de sinais seja mais valorizada inclusive nos ambientes familiares nos quais os surdos estão inseridos Sem desconsiderar a complexidade da Libras e o esforço necessário para o seu aprendizado fato semelhante com o aprendizado de qualquer outra língua caberia também refletir sobre a importância de minimizar as distâncias comunicativas entre pessoas de um mesmo núcleo familiar para possibilitar o estabelecimento do vínculo e viabilizar formas de desenvolvimento humano Por fim caberia a toda a sociedade refletir sobre os procedimentos necessários para viabilizar a inclusão do surdo Muito se avançou quando se reconhece a Libras como língua oficial brasileira BRASIL 2002 prevista nas normativas legais Entretanto a sua oferta e disseminação ainda estão longe de ocuparem as instâncias sociais de saúde trabalho de lazer entre outras se restringindo em grande parte a poucos estabelecimentos educacionais ou a locais específicos que atendam a essa demanda populacional como clínicas ou instituições de reabilitação por exemplo O fomentar de pesquisas na área e a ações que viabilizem que prescrições legais possam ser realmente efetivadas como no caso disponibilidade de intérprete ensino da Libras nas escolas entre outras certamente promoverão oportunidades de que sujeitos surdos possam participar mais ativamente da sociedade REFERÊNCIAS BARDIN L Análise de conteúdo Lisboa Edições 70 2009 BITTENCOURT Z L C MONTAGNOLI A P Representações sociais da surdez Medicina Ribeirão Preto v2 n40 p243249 2007 BRASIL Decreto n 5626 de 22 de dezembro de 2005 Regulamenta a Lei n 10436 de 24 de abril de 2002 Dispõe sobre Língua Brasileira de Sinais Libras e o art 18 da Lei n 10098 de 19 de dezembro de 2000 Diário Oficialda República Federativa do Brasil Brasília DF Lei n 10436 de 24 de abril de 2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras e dá outras providências Diário Oficial da República Federativa do Brasil Brasília DF BRITO L F Por uma gramática da língua de sinais Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1995 BUENO J G S Surdez linguagem e cultura Cad Cedes Campinas v19 n46 p7 15 1998 DIZEU L C T B CAPORALLI S A A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito Educ Soc Campinas v 26 n 91 p 583597 2005 FERNANDES E Linguagem e surdez Porto Alegre Artmed 2003 GESSER A Libras que língua é essa crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda São Paulo Parábola Editorial 2009 GÓES MCR Linguagem surdez e educação 2 ed Campinas Autores Associados 1999 HINDE R A Relationships a dialectical perspective London Psychology Press 1997 Towards understanding relationships dynamic stability In BATESON P P G HINDE R A Growing points in ethology London Cambridge University Press 1976 p451 480 LACERDA C B F O que dizemsentem alunos participantes de uma experiência de inclusão escolar com aluno surdo Rev Bras Ed Esp Marília v13 n2 p257280 2007 MARCHESI A Comunicação linguagem e pensamento das crianças surdas In COLL C PALACIOS J MARCHESI A Org Desenvolvimento psicológico e educação necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar Porto Alegre Artes Médicas 1995 v3 p198 214 MARIN C R GÓES M C R A experiência de pessoas surdas em esferas de atividade do cotidiano Cad Cedes Campinas v26 n69 p231249 2006 OLIVEIRA A A S O conceito de deficiência em discussão representações sociais de professores especializados Rev Bras Ed Esp Marília v10 n1 p 5974 2004 PERLIN G T Identidades surdas In SKLIAR C Org A surdez um olhar sobre as diferenças 3 ed Porto Alegre Editora Mediação 2005 p5174 QUADROS R M KARNOPP L B Língua de Sinais Brasileira estudos linguísticos Porto Alegre Artmed 2004 ROCHA S M Antíteses díades dicotomias no jogo entre memória e apagamento presentes nas narrativas da história da educação de surdos um olhar para o Instituto Nacional de Educação de Surdos 18561961 2009 160f Tese Doutorado em Educação Pontifícia Universidade Católica Rio de Janeiro 2009 SÁ N R L Cultura poder e educação de surdos Manaus Editora da Universidade Federal do Amazonas 2002 SANTANA A P BERGAMO A Cultura e identidade surdas encruzilhada de lutas sociais e teóricas Educ Soc Campinas v26 n91 p565582 2005 SILVA A B P PEREIRA M C C ZANOLLI M L Mães ouvintes com filhos surdos concepção de surdez e escolha da modalidade de linguagem Psicologia Teoria e Pesquisa Brasília v 23 n3 p279286 2007 SKLIAR C Os estudos surdos em educação problematizando a normalidade In Org A surdez um olhar sobre as diferenças 3 ed Porto Alegre Editora Mediação 2005 p732 VIGOTSKI L S Formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1999 Rev Bras Ed Esp Marília v17 n2 p305320 MaiAgo 2011 LOPES M A C LEITE L P Adotando como referência o Surdo portanto a pessoa que adota como modelo linguístico e cultural a Língua de Sinais e consequentemente a experiência visual que embasam os diversos tipos de identidades surdas propostas por Perlin 2004 p62 elas Libras 14 são identidade política surda identidades surdas híbridas identidades surdas de transição identidade surda incompleta e identidades surdas flutuantes Atente para estes conceitos que serão explorados na aula Identidade surda política identidade que tem como principal marca a participação nos movimentos surdos sendo mais presente aos que estão inseridos na comunidade surda e portanto têm o compromisso de divulgar a cultura surda defender e lutar pelas necessidades do povo surdo Identidades surdas híbridas pessoas que nasceram ouvintes e que em consequência de acidente traumatismo ou doença perdem a audição Dependendo do ciclo de vida em que ocorre em geral mantém a fluência na língua oral auditiva do país e passam a sinalizar também como forma de comunicação Identidades surdas de transição marca o momento de transição do surdo entre uma identidade ouvinte para uma identidade surda Tratase do surdo que viveu em ambientes sem contato com a cultura surda Esta transição é comum em surdos que nascem em famílias ouvintes e que não conhecem a cultura surda Identidades surdas de flutuantes pessoas que não estabeleceram contato precoce devido ao meio em que nasceram e foram incluídos no mundo ouvinte como ouvinte portanto desenvolveram a visão preconceituosa da surdez e se comunicam por meio da língua oral auditiva do seu país Pergunta Número 1 Identifique e comente as identidades surdas tipos de pessoas surdas tipos estes que foram supracitados na página anterior dos personagens centrais do filme Hamil The Hammer Hamil The Hammer O lutador Biográfico Pergunta Número 2 Analisar as mensagensconceitos defendidos ao longo do filme com base no artigo Concepções de surdez a visão do surdo que se comunica em língua de sinais artigo este colocado em anexo Essa pergunta número 2 deve ser respondida em 20 linhas no mínimo com alinhamento justificado Times New Roman tamanho 12 Questão 1 O filme Hamill The Wrestler é baseado na história real de Matt Hamill um lutador surdo que se tornou um colegiado nacional e campeão paraolímpico Como personagem central do filme Matt Hamill representa a identidade surda do atleta Além disso outros personagens surdos aparecem no filme cada um representando uma identidade surda diferente Seu avô representante da identidade cultural surda valorizava a língua de sinais como língua natural e parte importante da cultura surda Kristi Representa identidades surdas bilíngues usando língua de sinais e inglês escrito para se comunicar e interagir com as comunidades surdas e ouvintes Jay Representa falantes surdos concentrase na fala e na leitura labial geralmente rejeita a linguagem de sinais Treinador Cantrell Representa o modelo médico de surdez que vê a surdez como uma deficiência que precisa ser corrigida ou curada Esses personagens ilustram a diversidade de identidades surdas existentes e as diferentes maneiras pelas quais as pessoas surdas se identificam e se relacionam com suas comunidades Este filme demonstra a importância da inclusão e aceitação da diversidade para os surdos Questão 2 O artigo enfatiza que a surdez é uma condição cultural e linguística não apenas uma deficiência auditiva Isso significa que os surdos têm uma identidade cultural própria baseada na língua de sinais e nas comunidades visuais Essa perspectiva se reflete em vários aspectos do filme Por exemplo o filme mostra que a língua de sinais é o principal meio de comunicação usado pela comunidade surda Matt Hamill cresceu usando a linguagem de sinais que vemos ao longo do filme como base para sua comunicação e integração na sociedade Além disso o filme destaca a importância da interpretação da língua de sinais em eventos públicos como forma de garantir a acessibilidade e a inclusão dos surdos Outro aspecto importante do filme é a questão da identidade surda O filme mostra como Matt Hamill se orgulha de sua surdez e como isso se torna parte de sua identidade O artigo enfatiza que os surdos possuem uma cultura e uma identidade próprias a partir da vivência compartilhada da língua de sinais e da surdez Essa perspectiva se reflete no filme que mostra como a comunidade surda é unida e apoiada e como os surdos se veem como parte da comunidade cultural e visual
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ARTIGO Concepções de adultos surdos sobre a surdez Relato de Pesquisa CONCEPÇÕES DE SURDEZ A VISÃO DO SURDO QUE SE COMUNICA EM LÍNGUA DE SINAIS1 Mara Aparecida de Castilho LOPES2 Lúcia Pereira LEITE3 RESUMO na atualidade diversas concepções sobre surdez estão presentes na sociedade Tais concepções em geral caracterizamse pela disputa teórica entre possibilidades comunicativas oral ou gestual fundamentadas na importância da apropriação de um código linguístico para o desenvolvimento da linguagem constitutiva da subjetividade do ser humano Nesse direcionamento este estudo objetivou identificar as concepções dos próprios sujeitos surdos a respeito de sua condição Para coletar os dados da pesquisa utilizouse um roteiro de entrevista semiestruturado que foi aplicado a dez participantes surdos adultos e usuários da Língua Brasileira de Sinais Libras As entrevistas foram filmadas transcritas e submetidas à análise de conteúdo Os resultados indicam que as concepções de surdez dos surdos constituem uma visão multifacetada sobre essa condição influenciada pelas relações sociais estabelecidas ao longo de suas trajetórias de vida Percebeuse também que o aprendizado da Libras possibilitou aos surdos a própria autoafirmação enquanto ser diferente com necessidades distintas PALAVRASCHAVE Educação Especial Interação social Surdez Linguagem 1 INTRODUÇÃO Discussões referentes à concepção de surdez estão presentes na sociedade há muitos anos caracterizadas pela disputa teórica sobre possibilidades comunicativas e sucedidas por modos específicos de se perceber a surdez Na atualidade numa sociedade em constante processo de mudança a convicção que permanece diante de todos os embates teóricos é que todos os modelos são passíveis de contestação na medida em que podem ser cotejados com a percepção dos sujeitos diretamente envolvidos com o fenômeno estudado Retomando brevemente o papel das diferentes modalidades linguísticas diante das variadas concepções de surdez observase sumariamente a existência de duas conjunturas a defesa do ensino da língua oral enquanto um meio necessário para a reinserção social dos então considerados deficientes e a língua de sinais enquanto representação de um grupo social minoritário não mais constituído por sujeitos deficientes mas diferentes SKLIAR 2005 Em decorrência desses dois posicionamentos que ao longo dos anos têmse constituído como antagônicos e mutuamente excludentes percebeuse uma relação entre concepção de surdez e comunicação Após um longo período de disputas teóricas que perduram até os dias atuais é constante a provocação de algumas reflexões tais como a surdez é uma deficiência ou uma diferença BUENO 1998 SÁ 2002 a língua de sinais constitui o surdo enquanto sujeito DIZEU CAPORALLI 2005 ou é a apropriação de uma língua oral ou gestual que garante a constituição da subjetividade SANTANA BERGAMO 2007 há apenas duas formas distintas para se compreender a condição de surdez ROCHA 2009 Frente a tantos questionamentos é importante considerar que embora o aspecto linguístico seja fundamental para a compreensão do desenvolvimento do homem enquanto ser social VIGOTSKI 1999 para além das especificidades relacionadas à utilização de uma ou outra língua é necessário primeiramente garantir que o surdo 1 O estudo aqui apresentado é parte da dissertação de mestrado da primeira autora sob orientação da segunda e contou com apoio financeiro da Fapesp 2 Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Universidade Estadual Paulista Unesp campus de Bauru maracastlohotmailcom 3 Doutora em Educação Docente do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem Universidade Estadual Paulista Unesp campus de Bauru lucialeitefcunespbr tenha condições de se apropriar de uma língua Por essa razão ao considerar que nem sempre as crianças surdas conseguem tornarse bem sucedidas na aprendizagem da língua oral a língua de sinais deveria portanto ser oferecida como primeira língua à criança surda buscandose evitar o atraso no desenvolvimento da linguagem LACERDA 2007 Entretanto sendo essa uma língua ainda pouco conhecida pela sociedade as possibilidades interativas dos surdos continuam bastante restritas Tal aspecto é agravado pelo fato de que a maioria dos surdos tem pais ouvintes SÁ 20002 que pouco ou nada conhecem a respeito da língua de sinais De um modo geral a sociedade ainda tem poucas informações a respeito dessa língua provocando o surgimento de muitos mitos QUADROS KARNOPP 2004 Ao contrário do que muitas pessoas acreditam as línguas de sinais não são universais como também não são as línguas oraisauditivas As línguas de sinais igualmente sofrem modificações de um país para outro e mesmo dentro de um único país de uma região para a outra No entanto independentemente da localidade as línguas de sinais são plenas de todos os aspectos linguísticos sendo caracterizadas pelo seu aspecto visogestual no qual alguns elementos são de grande importância o contato visual a delimitação do espaço no qual os sinais serão efetuados de modo a serem executados de forma compreensível pelo interlocutor as condições de iluminação do local onde se pretende efetuar a comunicação o posicionamento de ambos interlocutores para favorecer a compreensão de todos os sinais executados por ambas as partes e o valor das expressões faciais durante a comunicação que podem transmitir aspectos importantes como intensidade ironia desprezo entre outros Por essa razão através da língua de sinais é possível transmitir todo tipo de conteúdo concreto ou abstrato nos mais variados gêneros discursivos BRITO 1995 FERNANDES 2003 QUADROS KARNOPP 2004 GESSER 2009 À luz de tais aspectos principalmente os linguísticos que caracterizam os surdos enquanto um grupo social diferenciado pressupõese que a forma como a surdez é percebida pela sociedade ouvinte diferese do modo como uma pessoa surda analisa a sua própria condição No entanto esse fato parece ser pouco estudado nas pesquisas acadêmicas que em geral dedicamse ao estudo de concepções de surdez de pessoas ouvintes Na análise de produções científicas relacionadas ao tema da surdez foram encontrados estudos que se dedicaram à investigação da concepção de surdez em familiares de crianças surdas os quais concluíram que essa concepção muitas vezes está relacionada à modalidade linguística utilizada pela criança SILVA PEREIRA ZANOLLI 2007 BITTENCOURT MONTAGNOLI 2007 Porém ainda que a concepção de pais e familiares possa de alguma forma influenciar o modo como a própria criança surda perceberá sua condição de surdez ao longo de sua vida diversos outros fatores poderão modificar essa visão como por exemplo o sentimento de identificação entre os surdos que utilizam a mesma língua e compartilham histórias de vida semelhantes permeadas pelas dificuldades de integração social Ao analisar o que descreve Perlin 2005 a respeito da identidade surda podese inferir que esse aspecto está fortemente presente nos movimentos surdos na consciência de ser diferente e necessitar de recursos visuais para estabelecer a comunicação A autora ressalta alguns casos específicos em que as identidades surdas se manifestam de formas diferentes os surdos filhos de pais surdos os surdos que nasceram ouvintes e se tornaram surdos os surdos filhos de pais ouvintes que depois entram em contato com a comunidade surda e com a língua de sinais os surdos que se percebem como deficientes e nunca chegam a se organizar em comunidades Destarte a identidade surda pode ser compreendida como um aspecto que se expressa de variadas formas Ante aos fatores mencionados é importante examinar a surdez à luz daqueles que se encontram nessa condição Nessa perspectiva o estudo aqui descrito objetivou identificar as concepções de surdez apresentadas por sujeitos surdos adultos que se comunicam em língua de sinais analisando de modo particular os conceitos que o surdo tem de si mesmo enquanto usuário dessa língua 2 MÉTODO Os participantes foram dez adultos surdos sendo cinco homens e cinco mulheres com idades variando entre 23 e 57 anos moradores de um município do oeste paulista Tipos e graus de surdez não foram considerados uma vez que todos os participantes se comunicavam pela Língua de Sinais Brasileira Libras A coleta dos dados foi realizada em uma sala do Centro de Psicologia Aplicada CPA unidade auxiliar da Universidade em que o estudo foi desenvolvido e o instrumento de coleta utilizado foi um roteiro de entrevista semiestruturado composto de nove questões abertas abrangendo as seguintes áreas temáticas concepção de surdez natureza da defi ciência aprendizagem da Libras formas de comunicação utilizadas interação social com ouvintes e surdos As entrevistas foram realizadas mediante consentimento prévio dos participantes firmado no termo de consentimento livre e esclarecido TCLE e após a aprovação da realização da pesquisa pelo Comitê de Ética da Universidade parecer n 610460109 Ressaltase que o roteiro foi aplicado em Libras pela própria pesquisadora fluente nessa língua sendo que cada entrevista foi agendada individualmente com cada participante Todas as entrevistas foram posteriormente assistidas e transcritas em Libras de acordo com os critérios para transcrição utilizados por Quadros e Karnopp 2004 Após esse procedimento as transcrições dos relatos foram submetidas à análise de conteúdo definida por Bardin 2009 A autora sinaliza que a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise de comunicações à luz de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens Tais procedimentos visam obter indicadores quantitativos ou não que permitam a inferência de conhecimentos concernentes às mensagens que neste caso foram produzidas por meio das perguntas realizadas durante as entrevistas Há técnicas de análise de conteúdo diversas Dentre elas a análise de conteúdo categorial técnica mais conhecida e que foi a empregada nesta pesquisa Constituise de um procedimento de análise transversal que recorta das entrevistas temáticas distintas formando uma grelha de categorias extraídas do conjunto do discurso Optouse por organizar as respostas a partir das questões do roteiro de entrevista que posteriormente foram reorganizadas de modo a agrupar nas categorias relatos que apresentassem semelhanças em seu conteúdo Desse modo chegouse a três eixos principais que procuraram desvelar as concepções dos participantes sobre surdez relacionamento social e comunicação Na tentativa de assegurar a fidedignidade da transcrição solicitouse a colaboração de dois juízes um surdo fluente em Libras e um ouvinte tradutorintérprete de Libras O juiz surdo recebeu a filmagem da coleta realizada com um dos participantes para que a transcrevesse em Libras de acordo com os critérios de Quadros e Karnopp 2004 A transcrição realizada pelo juiz surdo foi enviada para o segundo juiz ouvinte e conhecedor da Libras juntamente com a transcrição realizada pela pesquisadora referente à coleta do mesmo participante Esse juiz recebeu a orientação de analisar as duas transcrições verificando a concordância entre as intenções verbais expressas em cada frase em cada uma das transcrições Esse procedimento indicou um índice de 89 de concordância entre as duas transcrições sendo então consideradas pertinentes as transcrições realizadas 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Como relatado anteriormente a análise dos relatos coletados durante a entrevista foi realizada pela categorização das falas dos participantes que foram dispostas em três grandes eixos 1 Concepções sobre surdez percepções e sentimentos 2 Surdez e relacionamentos sociais identificação grupal e interações sociais 3 Surdez e comunicação O quadro a seguir apresenta a organização das falas dos participantes por eixo de análise e categorias de respostas Quadro 1 Eixos de categorias organizadas a partir das falas dos participantes Eixos Categorias de respostas apresentadas Eixo 1 concepções de surdez percepções e sentimentos Percepções Igualdade Desvantagem Sentimentos Tristezapiedadedesprezo Felicidade Eixo 2 surdez e relacionamentos sociais Identificação com pares igualmente surdos Interações sociais com surdos e ouvintes Eixo 3 surdez e comunicação Leitura labial Escrita 31 EIXO 1 CONCEPÇÕES DE SURDEZ PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS O Eixo 1 abrange as falas em que os participantes descreveram o que pensam sobre a surdez à luz de suas experiências de vida narrando também os sentimentos envolvidos e as diversas percepções que possuem da surdez e de si mesmos Tendo o ouvinte como referencial as percepções sobre a surdez dividiramse em igualdade ou desvantagem Os sentimentos também apareceram de duas maneiras de forma negativa relacionados à tristeza piedade ou desprezo ou de forma positiva relacionados à felicidade ou sensação de igualdade Dos dez participantes entrevistados seis descreveram a surdez a partir de uma condição de desvantagem perante o ouvinte Essa percepção esteve fundada na comunicação ou na sua ausência salientando algumas situações específicas tais como a dificuldade de escolarização do surdo ou ainda a dificuldade em compreender informações transmitidas em ambiente de trabalho que em geral são transmitidas apenas pela modalidade oral A fala de uma participante Sílvia4 exemplifica tal situação É difícil estudar para o ouvinte é fácil mas para o a surdo a é difícil Em situação oposta quatro participantes situaram a surdez em uma posição de igualdade ao ouvinte descrevendo a surdez como uma condição normal fundamentados em aspectos que consideram positivos como o suporte do grupo social formado pelos surdos a comunidade surda Fábio Deus ajuda todos ouvintes normal Também há muitos outros surdos normal é bom existe união amizade conversas normais entre surdos e ouvintes em Libras é normal somos iguais surdos e ouvintes são iguais Com relação aos sentimentos relacionados à surdez as falas dos participantes se apresentaram de duas formas uma que indicava como o participante se sentia à luz da sua condição e como percebia a visão do ouvinte com relação aos surdos em 4 Nomes fictícios geral Nessas falas puderam ser identificadas duas subcategorias uma compreendendo as respostas que envolviam sentimentos relacionados à tristeza piedade ou desprezo e outra compreendendo sentimentos de alegriafelicidade Nas duas subcategorias observouse novamente o sentimento de igualdade ou diferença em relação ao ouvinte Nesse contexto observouse que os sentimentos de tristeza piedade ou desprezo foram recorrentes nas falas dos participantes Alexandre Eu sou triste eu queria queria ouvir Deus sabe o quanto Thomas Ser surdo é difícil eu não tenho amigos fico sozinho as pessoas não conhecem a surdez Ao falar das relações estabelecidas em seu local de trabalho Luana expõe uma situação que lhe causa muito aborrecimento o isolamento resultante da barreira comunicativa entre ela e seus colegas Luana Lá é difícil eu sempre digo que gostaria que fossem mais surdos para lá aí eu ficaria feliz poderia conversar com alguém em Libras seria melhor com os ouvintes não há comunicação é ruim me faltam amigos eu preciso de amigos Ao expressar o desejo de que outros surdos fossem contratados é visível que suas intenções estão voltadas à questão da comunicação que não ocorre com os atuais colegas ouvintes Ressaltase então que a identificação entre os surdos pode ser entendida como elemento de grande importância para a compreensão das relações sociais estabelecidas dentro da comunidade surda cabendo questionar se a forma como essas relações intergrupo ocorrem poderia ser modificada se a sociedade predominantemente ouvinte tivesse maior interesse no aprendizado e no uso da Libras A resposta a esse questionamento parece ser afirmativa ao observar o posicionamento de Luana sobre sua relação com os antigos colegas de escola ouvintes e o de Roberto em relação ao modo como sente que os ouvintes o percebem enquanto surdo Luana Antes eu estudava com uma turma que já estava acostumada com a Libras pois crescemos juntos eles estavam acostumados conheciam a Libras era normal Roberto As pessoas me olham pessoas que eu não conheço me olham não gostam de mim me ofendem O modo como um sujeito percebe o outro pode influenciar o modo como ele percebe a si mesmo HINDE 1997 Nessa compreensão a percepção do desprezo de algumas pessoas ouvintes pode influenciar a concepção do surdo sobre sua própria condição fazendo com que ele se considere inferior Dessa forma a língua de sinais enquanto elemento característico dessa condição pode ser desvalorizada até mesmo pelo sujeito surdo que a utiliza aspecto que parece estar refletido na fala do participante Mário ao descrever o que os ouvintes pensam sobre os surdos em sua opinião Mário Não gostam se o surdo souber falar oralmente gostam mais ou menos eu falo um pouco Muitos dos surdos que utilizam a língua de sinais na fase adulta já passaram pela reabilitação oral em algum momento de sua trajetória recorrendo à língua de sinais como alternativa de comunicação diante da impossibilidade de desenvolvimento da oralidade A língua de sinais pode ser então percebida pelo surdo como uma língua inferior à língua oral e pode nessa condição ser percebida negativamente como um aspecto discriminativo da pessoa surda que não conseguiu desenvolver a oralidade Isso parece ser considerado pelo participante Mário que percebe a valorização da comunicação oral além de responsabilizar o próprio surdo pelo fracasso da comunicação com o ouvinte justificando seu desprezo pelo surdo Além do desprezo alguns participantes também descreveram sentimentos relacionados à piedade dos ouvintes perante os surdos conforme se observa na fala de Júlia Júlia Você é surda Coitada Na escola como me ensinariam Era difícil eu não entendia eu fi cava triste parecia triste escrevia quieta uma colega via e dizia Coitada é surda você quer que eu te ensine eu dizia Quero ela me ensinava e aí eu aprendia Os sentimentos de piedade apontados em geral relacionaramse a situações de âmbito escolar que ainda constituem uma situação de grande desvantagem para o aluno surdo visto que apenas recentemente o sistema escolar começou a considerar a necessidade de profissionais da Libras nesse ambiente e a possibilidade da inserção do intérprete no espaço escolar BRASIL 2005 No entanto a situação do surdo continua bastante prejudicada pela baixa demanda de intérpretes de Libras e professores com conhecimento operacional nessa língua além do escasso domínio da língua de sinais por parte dos alunos ouvintes fatos que prejudicam o acesso do aluno surdo aos conteúdos acadêmicos e as suas possibilidades de interação social nesse meio e consequentemente de seu desenvolvimento 32 EIXO 2 SURDEZ E RELACIONAMENTOS SOCIAIS O Eixo 2 abrange as falas que envolvem uma concepção interacionista sobre a surdez OLIVEIRA 2004 Nesse Eixo foram compreendidas duas categorias de resposta percepção da surdez a partir da identificação com pares igualmente surdos e percepção da surdez no contexto das interações sociais estabelecidas com surdos e com ouvintes A percepção dos participantes sobre os relacionamentos sociais foi analisada a partir de dois conjuntos das falas as que indicassem relações sociais estabelecidas somente com outros surdos e as que mencionassem relações sociais com segmentos não específicos com surdos e com ouvintes Considerouse como relação circunstâncias descritas pelos participantes que envolvessem algum tipo de interação intermitente entre duas pessoas durante determinado período HINDE 1976 1997 compreendendo que tais aspectos são influenciados pelo contexto cultural em que se inserem os sujeitos em questão A identificação entre os surdos é um aspecto bastante recorrente nos estudos teóricos da área da surdez nos quais surge frequentemente associada à língua de sinais No entanto conforme apontou Perlin 2005 a identidade surda se manifesta de formas variadas assim como a língua oral e pode constituir a identidade do surdo pois o que garante a construção de sua subjetividade é a apropriação de uma língua e não sua natureza oral ou gestual SANTANA BERGAMO 2005 Igualmente um surdo que faz uso concomitante da língua oral e de sinais poderia ser um membro atuante da comunidade surda o que reforça a ideia de que a identificação entre os surdos está além do aspecto linguístico Porém considerando a convivência simultânea com as duas comunidades surda e ouvinte a língua de sinais é um elemento de grande influência na identificação do sujeito com o grupo surdo Luana Se eu estiver passeando junto com minha mãe minha família as pessoas me olham eu sinto vergonha Sozinha eu sinto vergonha é verdade minha mãe não entende é diferente difícil Quando falo em Libras as pessoas me olham riem Com o grupo surdo combina quando os surdos estão em grupo conversando em Libras as pessoas também olham entende Mas é diferente eu sinto A participante Luana também descreve o grupo de amigos surdos como um apoio pois estando com seus pares linguísticos não sente vergonha em se comunicar em Libras ao contrário de quando está sozinha com sua família ouvinte Marchesi 1995 afirma que a possibilidade de realizar atividades com o grupo de pessoas que compartilham os mesmos problemas é um fator determinante para uma avaliação positiva das possibilidades de relacionamento social Esse ponto de vista também parece se confirmar na fala do participante Thomas o qual demonstra uma visão de surdez a partir de sua representatividade enquanto grupo minoritário que de alguma forma esteja ameaçado o que justificaria sua preocupação com a união desse grupo Thomas Se eu não conheço o surdo digo Muito prazer o convido é necessário eu penso se o surdo mora longe por exemplo mesmo que eu não o conheça é importante manter a união somos da mesma carne é importante nós surdos somos como irmãos da mesma carne Precisamos estar juntos unidos sermos amigos Ao referirse aos surdos como irmãos da mesma carne é possível perceber nessa fala a manifestação de um discurso veiculado por alguns grupos e movimentos surdos consolidado por muitas pesquisas acadêmicas que defende a ideia de que os surdos apresentam algum tipo de uniformidade coletiva decorrente de seus maiores atributos próprios a saber a identidade e a cultura surdas GESSER 2009 Diante de tais termos ignorase a cultura do grupo social dentro do qual os surdos estão inseridos partilhada por todos os membros do grupo que ali vivem surdos ou ouvintes para defender a existência de uma cultura própria do surdo Nesse aspecto cabe aqui apresentar concordância com o que afirma Gesser 2009 ao argumentar que ao termo cultura é aqui empregado num sentido distintivo que sugere a necessidade de visibilidade de um grupo social que clama por reconhecimento e valorização Da mesma forma ressaltase o conceito de que os surdos representam um grupo homogeneamente constituído dentro do qual as outras identidades como gênero etnia ou nacionalidade parecem ser anuladas diante da identidade surda SANTANA BERGAMO 2005 No entanto isso nem sempre ocorre conforme se observou na fala de outro participante Mário Ao ser questionado sobre suas preferências de relacionamentos ele afirma que não gosta de interagir com os surdos Mário Com surdos não Com os surdos eu parei eu gosto de educação sempre com bagunça é difícil com os que falam os ouvintes eu vou passear junto sempre eu sou velho tenho 57 anos não tenho mais 19 Considerando que Mário era o único participante com idade discrepante dos demais cuja média excetuando esse participante era de 25 anos sua fala sugere a ausência de identificação com um grupo específico de surdos mais jovens Ou seja a identificação por faixa etária nesse caso pareceu sobressairse à identificação pela surdez Falas que descrevem situações de interação com outros surdos apareceram com grande frequência sendo que todas elas estavam relacionadas a situações de lazer em especial com amigos ou familiares surdos conforme se percebe no relato de Roberto Quando meu irmão chama algum amigo ouvinte nós vamos separados eu sempre vou com os surdos vamos ao cinema passear eu gosto de ir ao cinema é divertido Apenas dois participantes descreveram também interações estabelecidas com pessoas ouvintes que pode ser retratada no relato Thomas É importante estar em grupo ir à casa de amigos passear juntos em Libras ou pela leitura labial eu posso rir conversar é igual com o ouvinte a amizade é igual eu não posso me afastar dos ouvintes porque são amigos não é igual é diferente são coisas separadas A diferença mencionada por Thomas durante seu relato parece estar relacionada a elementos particulares que o aproximam do grupo constituído pela comunidade surda que nesse caso se expressa pela língua de sinais e pela própria condição de surdez Porém o fato de também poder se comunicar através da leitura orofacial lhe permite desenvolver relacionamentos também com pessoas ouvintes 33 EIXO 3 SURDEZ E COMUNICAÇÃO O Eixo 3 abrange os relatos que descrevem a surdez em sua relação com a forma de comunicação utilizada pela pessoa surda ou seja estaria relacionada a uma concepção psicossocial da surdez OLIVEIRA 2004 na qual o aspecto linguístico surgiu como o fator mais representativo Frente às informações relativas à idade em que os participantes tiveram acesso a Libras observouse que mesmo aqueles que tinham outros surdos na família tiveram contato tardio com essa língua Porém chegando à fase adulta todos os surdos pesquisados neste estudo tinham considerável fluência na Libras destacandose aqui a importância dos contatos intragrupo estabelecidos no contexto da comunidade surda para o desenvolvimento linguístico de seus membros Como aponta Perlin 2005 p 63 o adulto surdo nos encontros com outros surdos ou melhor nos movimentos surdos é levado a agir intensamente e em contato com outros surdos ele vai construir sua identidade fortemente centrada no ser surdo a identidade política surda Outrossim as interações entre os surdos em tais ambientes é de extrema necessidade uma vez que dentro do núcleo familiar os processos interativos são dificultados conforme se observa no relato do participante Fábio que possui irmãos surdos Com os meus irmãos a comunicação em Libras é boa Meu pai não entende nem minha mãe ouvinte todos os familiares ouvintes não entendem a Libras Nesse aspecto evidenciase uma realidade presente no cotidiano de muitos surdos que se comunicam em língua de sinais as dificuldades comunicativas que se iniciam já no ambiente familiar posteriormente se estendem ao resto da sociedade ouvinte Entretanto também é preciso considerar aquelas situações em que a família da criança surda não conhece a Libras que somente é apresentada aos familiares como última alternativa para se comunicar com o filho surdo resultando na desvalorização dessa língua ou no sentimento de fracasso em desenvolver a comunicação oral Porém esperase que essa concepção familiar possa ser modificada com o passar do tempo na medida em que a criança surda vai crescendo e se desenvolvendo com o uso de uma língua que lhe permitiu seu desenvolvimento constituindo sua própria subjetividade No entanto mesmo um surdo que utiliza a língua oral poderia se interessar pela Libras visto que os critérios de participação nas comunidades surdas são de natureza social e não decorrente somente de aspectos biológicos GÓES 1999 O participante Thomas sinalizou isso quando afirmou realizar leitura orofacial com pessoas ouvintes mas na interação com os surdos valoriza a Libras como língua oficial Thomas Com a família eu tento falar porque eles não entendem Libras Mas também com os amigos surdos eu sempre uso a Libras cerra os lábios como quem está evitando falar sempre Libras Além disso durante a entrevista com a pesquisadora ouvinte ainda que todo o procedimento tenha sido mediado pela Libras Thomas sempre procurava se comunicar oralmente com concomitância dos sinais da Libras misturando as estruturas gramaticais das duas línguas Contudo esse fato não parecia ser ignorado por ele pois quando afirma que utiliza a Libras com os amigos surdos esse participante procurava cerrar os lábios demonstrando que na comunicação com outros surdos não há necessidade de comunicação oral por nenhum dos interlocutores Por esse aspecto compreendeuse a existência de uma concepção de que entre os surdos a comunicação ocorre de maneira mais livre como se as interações com os ouvintes sempre estivessem carregadas de expectativas de que o surdo fale oralmente ou de constante preocupação em se fazer entender pelo ouvinte que em geral não domina Libras Ainda outros aspectos também foram mencionados pelos participantes para auxiliar na comunicação como a importância do intérprete de Libras para a melhoria das interações entre o surdo e a sociedade ouvinte fato relatado por Luana ao apontar suas dificuldades no ambiente de trabalho durante situações de reunião Luana Há uma lei sobre o intérprete de Libras é necessário Nas cidades ao redor tem mas aqui falta É difícil paciência Eu leio as projeções mas tenho preguiça em Libras é melhor Quando eu leio não entendo bem as palavras em Português é difícil Eu fico quieta é difícil Quando tem algum teste é difícil Nas reuniões quando vão mostrar o que não pode fazer eu leio Marin e Góes 2006 reforçam a questão das barreiras linguísticas entre surdos e ouvintes em local de trabalho ressaltando que nas instituições onde há funcionários surdos as explicações e as regras anunciadas pela chefia são transmitidas em geral unicamente pela modalidade oral Entendese que a discussão sobre a presença do intérprete nesses ambientes consiste em uma necessidade urgente principalmente em função das dificuldades de integração que os surdos sofrem devido à falta de comunicação com os colegas tanto em situações de trabalho quanto nas situações em ambiente escolar impossibilitandoos assim de participar ativamente de várias instâncias sociais que qualificam o sujeito A valorização da língua oral pelos surdos somente se deu em situações nas quais o interlocutor é ouvinte fato apontado por quatro entre os dez participantes Thomas Com a família só uso a leitura labial porque eles não entendem Libras A comunicação oral é importante para estudar entende é necessário fazer a terapia fonoaudiológica entende para estudar entender sempre eu também uso o AASI porque quero ouvir Além disso a língua escrita também foi apontada pelos participantes como um recurso comunicativo na impossibilidade do interlocutor compreender a língua de sinais fato relatado por seis participantes como esse exemplo Alexandre Eu escrevo e mostro pouco eu não entendo tudo não só um pouco Ainda que no presente estudo não se pretenda tratar sobre as possibilidades de aquisição da língua escrita por sujeitos surdos ressaltase aqui pela análise das falas dos participantes parece ser difícil tal aquisição Entretanto a compreensão da escrita também foi apontada como uma tentativa de remediar um problema maior as difi culdades de interação com as pessoas ouvintes que pouco utilizam a língua de sinais 4 CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos com o estudo aqui apresentado evidenciase o fato de que as diferentes visões sobre a condição de surdez estão muito além das discussões dualistas sobre formas de comunicação oral e gestual que podem ser observadas nos mais diversos ambientes sociais inclusive que permeiam a produção científica De imediato a complexidade que caracteriza as várias concepções de surdez presentes na sociedade se traduz na quebra de uma visão dualista para transformarse aqui em multifacetada superando as argumentações teóricas que partem em defesa de um modelo a ser seguido Neste texto os participantes descreveram a surdez a partir da própria trajetória de vida na qual a comunicação perpassa todas as formas de reabilitação A língua preferencial foi a Libras porém alguns relatam utilizar rudimentarmente outras formas de comunicação em função da necessidade comunicativa em especial com os ouvintes Este estudo acredita que a própria participação dos surdos na pesquisa acadêmica surge como um diferencial considerando que são os principais interessados com relação ao que se discute na temática da surdez assim como também devem ser beneficiados com os resultados de qualquer produção científica realizada sobre a temática Com isso traduzse a necessidade que tais pesquisas ampliem a sua divulgação a comunidade surda Na realidade analisada observouse que o aprendizado da Libras possibilitou aos surdos a própria autoafirmação enquanto ser diferente com necessidades distintas que devem ser respeitadas e exigidas visto que estão garantidas pelas normativas legais Por outro lado identificouse também a necessidade de que a língua de sinais seja mais valorizada inclusive nos ambientes familiares nos quais os surdos estão inseridos Sem desconsiderar a complexidade da Libras e o esforço necessário para o seu aprendizado fato semelhante com o aprendizado de qualquer outra língua caberia também refletir sobre a importância de minimizar as distâncias comunicativas entre pessoas de um mesmo núcleo familiar para possibilitar o estabelecimento do vínculo e viabilizar formas de desenvolvimento humano Por fim caberia a toda a sociedade refletir sobre os procedimentos necessários para viabilizar a inclusão do surdo Muito se avançou quando se reconhece a Libras como língua oficial brasileira BRASIL 2002 prevista nas normativas legais Entretanto a sua oferta e disseminação ainda estão longe de ocuparem as instâncias sociais de saúde trabalho de lazer entre outras se restringindo em grande parte a poucos estabelecimentos educacionais ou a locais específicos que atendam a essa demanda populacional como clínicas ou instituições de reabilitação por exemplo O fomentar de pesquisas na área e a ações que viabilizem que prescrições legais possam ser realmente efetivadas como no caso disponibilidade de intérprete ensino da Libras nas escolas entre outras certamente promoverão oportunidades de que sujeitos surdos possam participar mais ativamente da sociedade REFERÊNCIAS BARDIN L Análise de conteúdo Lisboa Edições 70 2009 BITTENCOURT Z L C MONTAGNOLI A P Representações sociais da surdez Medicina Ribeirão Preto v2 n40 p243249 2007 BRASIL Decreto n 5626 de 22 de dezembro de 2005 Regulamenta a Lei n 10436 de 24 de abril de 2002 Dispõe sobre Língua Brasileira de Sinais Libras e o art 18 da Lei n 10098 de 19 de dezembro de 2000 Diário Oficialda República Federativa do Brasil Brasília DF Lei n 10436 de 24 de abril de 2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras e dá outras providências Diário Oficial da República Federativa do Brasil Brasília DF BRITO L F Por uma gramática da língua de sinais Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1995 BUENO J G S Surdez linguagem e cultura Cad Cedes Campinas v19 n46 p7 15 1998 DIZEU L C T B CAPORALLI S A A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito Educ Soc Campinas v 26 n 91 p 583597 2005 FERNANDES E Linguagem e surdez Porto Alegre Artmed 2003 GESSER A Libras que língua é essa crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda São Paulo Parábola Editorial 2009 GÓES MCR Linguagem surdez e educação 2 ed Campinas Autores Associados 1999 HINDE R A Relationships a dialectical perspective London Psychology Press 1997 Towards understanding relationships dynamic stability In BATESON P P G HINDE R A Growing points in ethology London Cambridge University Press 1976 p451 480 LACERDA C B F O que dizemsentem alunos participantes de uma experiência de inclusão escolar com aluno surdo Rev Bras Ed Esp Marília v13 n2 p257280 2007 MARCHESI A Comunicação linguagem e pensamento das crianças surdas In COLL C PALACIOS J MARCHESI A Org Desenvolvimento psicológico e educação necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar Porto Alegre Artes Médicas 1995 v3 p198 214 MARIN C R GÓES M C R A experiência de pessoas surdas em esferas de atividade do cotidiano Cad Cedes Campinas v26 n69 p231249 2006 OLIVEIRA A A S O conceito de deficiência em discussão representações sociais de professores especializados Rev Bras Ed Esp Marília v10 n1 p 5974 2004 PERLIN G T Identidades surdas In SKLIAR C Org A surdez um olhar sobre as diferenças 3 ed Porto Alegre Editora Mediação 2005 p5174 QUADROS R M KARNOPP L B Língua de Sinais Brasileira estudos linguísticos Porto Alegre Artmed 2004 ROCHA S M Antíteses díades dicotomias no jogo entre memória e apagamento presentes nas narrativas da história da educação de surdos um olhar para o Instituto Nacional de Educação de Surdos 18561961 2009 160f Tese Doutorado em Educação Pontifícia Universidade Católica Rio de Janeiro 2009 SÁ N R L Cultura poder e educação de surdos Manaus Editora da Universidade Federal do Amazonas 2002 SANTANA A P BERGAMO A Cultura e identidade surdas encruzilhada de lutas sociais e teóricas Educ Soc Campinas v26 n91 p565582 2005 SILVA A B P PEREIRA M C C ZANOLLI M L Mães ouvintes com filhos surdos concepção de surdez e escolha da modalidade de linguagem Psicologia Teoria e Pesquisa Brasília v 23 n3 p279286 2007 SKLIAR C Os estudos surdos em educação problematizando a normalidade In Org A surdez um olhar sobre as diferenças 3 ed Porto Alegre Editora Mediação 2005 p732 VIGOTSKI L S Formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1999 Rev Bras Ed Esp Marília v17 n2 p305320 MaiAgo 2011 LOPES M A C LEITE L P Adotando como referência o Surdo portanto a pessoa que adota como modelo linguístico e cultural a Língua de Sinais e consequentemente a experiência visual que embasam os diversos tipos de identidades surdas propostas por Perlin 2004 p62 elas Libras 14 são identidade política surda identidades surdas híbridas identidades surdas de transição identidade surda incompleta e identidades surdas flutuantes Atente para estes conceitos que serão explorados na aula Identidade surda política identidade que tem como principal marca a participação nos movimentos surdos sendo mais presente aos que estão inseridos na comunidade surda e portanto têm o compromisso de divulgar a cultura surda defender e lutar pelas necessidades do povo surdo Identidades surdas híbridas pessoas que nasceram ouvintes e que em consequência de acidente traumatismo ou doença perdem a audição Dependendo do ciclo de vida em que ocorre em geral mantém a fluência na língua oral auditiva do país e passam a sinalizar também como forma de comunicação Identidades surdas de transição marca o momento de transição do surdo entre uma identidade ouvinte para uma identidade surda Tratase do surdo que viveu em ambientes sem contato com a cultura surda Esta transição é comum em surdos que nascem em famílias ouvintes e que não conhecem a cultura surda Identidades surdas de flutuantes pessoas que não estabeleceram contato precoce devido ao meio em que nasceram e foram incluídos no mundo ouvinte como ouvinte portanto desenvolveram a visão preconceituosa da surdez e se comunicam por meio da língua oral auditiva do seu país Pergunta Número 1 Identifique e comente as identidades surdas tipos de pessoas surdas tipos estes que foram supracitados na página anterior dos personagens centrais do filme Hamil The Hammer Hamil The Hammer O lutador Biográfico Pergunta Número 2 Analisar as mensagensconceitos defendidos ao longo do filme com base no artigo Concepções de surdez a visão do surdo que se comunica em língua de sinais artigo este colocado em anexo Essa pergunta número 2 deve ser respondida em 20 linhas no mínimo com alinhamento justificado Times New Roman tamanho 12 Questão 1 O filme Hamill The Wrestler é baseado na história real de Matt Hamill um lutador surdo que se tornou um colegiado nacional e campeão paraolímpico Como personagem central do filme Matt Hamill representa a identidade surda do atleta Além disso outros personagens surdos aparecem no filme cada um representando uma identidade surda diferente Seu avô representante da identidade cultural surda valorizava a língua de sinais como língua natural e parte importante da cultura surda Kristi Representa identidades surdas bilíngues usando língua de sinais e inglês escrito para se comunicar e interagir com as comunidades surdas e ouvintes Jay Representa falantes surdos concentrase na fala e na leitura labial geralmente rejeita a linguagem de sinais Treinador Cantrell Representa o modelo médico de surdez que vê a surdez como uma deficiência que precisa ser corrigida ou curada Esses personagens ilustram a diversidade de identidades surdas existentes e as diferentes maneiras pelas quais as pessoas surdas se identificam e se relacionam com suas comunidades Este filme demonstra a importância da inclusão e aceitação da diversidade para os surdos Questão 2 O artigo enfatiza que a surdez é uma condição cultural e linguística não apenas uma deficiência auditiva Isso significa que os surdos têm uma identidade cultural própria baseada na língua de sinais e nas comunidades visuais Essa perspectiva se reflete em vários aspectos do filme Por exemplo o filme mostra que a língua de sinais é o principal meio de comunicação usado pela comunidade surda Matt Hamill cresceu usando a linguagem de sinais que vemos ao longo do filme como base para sua comunicação e integração na sociedade Além disso o filme destaca a importância da interpretação da língua de sinais em eventos públicos como forma de garantir a acessibilidade e a inclusão dos surdos Outro aspecto importante do filme é a questão da identidade surda O filme mostra como Matt Hamill se orgulha de sua surdez e como isso se torna parte de sua identidade O artigo enfatiza que os surdos possuem uma cultura e uma identidade próprias a partir da vivência compartilhada da língua de sinais e da surdez Essa perspectiva se reflete no filme que mostra como a comunidade surda é unida e apoiada e como os surdos se veem como parte da comunidade cultural e visual