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Filosofia
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Marx Karl Engels Friedrich - Lutas de Classes na Alemanha boitempo
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CINISMO E FALÊNCIA DA CRÍTICA\nVladimir Safatle\nColeção Estado de Sitio\nBoitempo Editorial\n978-85-7559-118-5\n9788575591185 Copyright desta edição © Boitempo Editorial, 2008\nCoordenadora editorial\nIvana Jinkings\nEditores\nAna Paula Castellani\nJoão Alexandre Peschanski\nAssistência editorial\nMarizana Tavares\nGuilherme Kroll\nPropriedade de nota\nMariana Echalar\nRedação\nVivian Miwa Masushita\nCapa e editoria eletrônica\nSilvana de Barros Pansaldo\nProdução\nMarcel Iha\nCIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.\nS1346\nSafatle, Vladimir\nCINISMO E FALÊNCIA DA CRÍTICA / Vladimir Safatle. - São Paulo : Boitempo, 2008.\n216 p. (Estado de Sitio)\nInclui bibliografia\nISBN 978-85-7559-118-5\n1. Ideologia. 2. Capitalismo. I. Título. II. Série.\n08-1905. CDD: 140 \n08-1905. CDD: 140 \n\nTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada ou reproduzida sem autorização da editora.\n1ª edição: agosto de 2008\n\nBOITEMPO EDITORIAL\nJinkings Editores Associados Ltda.\nRua Euclides de Andrade, 27 Perdizes\n05030-030 São Paulo SP\nTel./fax: (11) 3875-7250 / 3872-6869\neditor@boitempopeditorial.com.br\nwww.boitempopeditorial.com.br SUMÁRIO\nIntrodução .................................... 11\nI\nDialética, ironia, cinismo ............ 37\nWas ist Zynismus? ......................... 67\nSobre um risco que não reconcila .... 91\nII\nPor uma crítica da economia libidinal .. 113\nSexo, simulacro e políticas da paródia .. 147\nO egoísmo da forma crítica como valor estético 179\nConclusão .................................. 201\nBibliografia .................................. 207\nSobre este livro ............................ 213 Quando a claridade diz: eu sou a escuridão, disse a verdade.\nQuando a escuridão diz: eu sou a claridade, não mente.\nHeiner Müller\n\nA BENTO PRADO JÚNIOR,\nque me deu muito mais que um começo Há várias pessoas a quem me sinto no dever de expressar gratidão por partilhar comigo opiniões e análises importantes para a realização deste livro. Em primeiro lugar, a Paulo Eduardo Arantes, que aceitou publicar este volume em sua coleção, assim como acompanhou com comentários sempre relevantes seu processo de feitura. A verdadeira influência é algo que se impõe silenciosamente e só se revela a posteriori. Ao ver o livro pronto, percebi o quanto devia a Paulo Arantes.\n\nAgradecimentos devem ser expressos aos meus alunos da Universidade de São Paulo e do College International de Philosophie, que seguiram cursos nos quais pude desenvolver partes desta pesquisa. Devem ser citados os membros do Cenedi, que tiveram a generosidade de discutir comigo dois capítulos, os membros do Latsefi/USP, com os quais desenvolvi pesquisas importantes para a elaboração deste livro, assim como os amigos Bruno Haas, Pierre Magne, Filipe Marti, Barbara Fornells, Jean-Paul Olive, Antonia Soulez, Monique David-Ménard, Alenka Zupanic, Cristina Alvarez, Jorge de Almeida, Ruy Fausto, Maria Rita Kehl, José Leon Crochik, Christian Dunker, Scarlett Marton, Islede Fontenelle, Philippe Van Haute e Douglas Barros. Todos eles colaboraram, cada um à sua maneira, para o encaminhamento de certas questões. Da mesma forma, o CAEPM, instituição que subvenicionou uma pesquisa sobre modificações na retórica de consumo aproveitada neste livro, deve ser aqui lembrado. Por fim, dedico este trabalho a Sandra, minha mulher, e a Valentina, que um dia talvez leia este livro e compreenda por que, como ela mesmo diz, seu pai é tão pouco. O ESGOTAMENTO DA FORMA CRÍTICA COMO VALOR ESTÉTICO\nNada é fornecido por esse método, mas muito é tirado.\nArnold Schoenberg, Style and idea\nO carteiro nunca assobiou Schoenberg.\nSteve Reich, Writings about music\n\nInsensatos os que lamentam o declínio da crítica. Pois sua hora há muitotempo já passou. Crítica é uma questão de correto distanciamento. Ela está em casa em um mundo em que perspectivas e prospectos vêm ao caso e ainda é possível adotar um ponto de vista. As coisas neste meio tempo caíram de maneira demasiado abrasante no corpo da sociedade humana.\n\nPodemos partir dessa frase de Walter Benjamin a fim de tentar dar conta de certos processos hegemônicos em marcha na constituição da forma estética atualmente. Eles dizem respeito àquilo que críticos de artes visuais, como Hal Foster, chamam de \"esgotamento da forma crítica como valor estético\". Esgotamento que estaria exposto de maneira mais clara nas transformações da relação crítica entre arte e domínios hiperficializados da cultura (publicidade, moda, música tonal, quadrinhos, pornografia etc.) em relações de \"simplicidade desafiadora\", como diria o simulado Ashley Bickerton. Relações nas quais a crítica como \"distância correta\" a respeito da fascinação fetichista parece entrar definitivamente em colapso em prol da elevação da mera repetição de conteúdos hiperficializados à esquerda geral da produção artística. Tal colapso tem como resultado maior o advento de certa estética da razão crítica. Nesse sentido, vale a pena retornarmos à análise do esquema hegemônico de determinação da forma crítica que foi uma das marcas. maiores do modernismo, a fim de melhor avaliarmos as causas de seus impasses, assim como a natureza das figuras que lhe sucederam.\n\nForma crítica e desvelamento dos mecanismos estruturais de produção\n\nConhecemos, por exemplo, um dos impulsos hegemônicos de crítica à aparência estética no modernismo. Ele está sintetizado em uma noção de crítica como dispositivo de distanciamento em relação a conteúdos miméticos. Pois se trata de definir a obra de arte moderna como aquela capaz de se estruturar através da estratégia da distância que devemos tomar em relação às organizações, aos processos, às representações e aos valores que aparecem de maneira naturalizada na realidade social. Dessa forma, ela deve impor a autonomia de seus processos construtivos, negando com isso qualquer semelhança fundamental com organizações funcionais vistas como naturais no interior de realidades sociais historicamente determinadas. A crítica é amiga da distância, por outro lado, essa negação da afinidade mimética é figura da crítica por insistir que os modos de organização funcional naturalizados são locais em que a ideologia se afirma em toda a sua violência – isso se compreendermos a ideologia fundamentalmente enquanto reificação de modos de disposição dos entes. Trata-se, assim, de pensar a racionalidade estética como setor privilegiado da crítica social da ideologia.\n\nEsse tema clássico é o que levou, por exemplo, Clement Greenberg a compreender o impulso crítico da obra de arte moderna a partir da abstração da pura forma que se afirma contra tendências figurativas. Sabemos, por exemplo, que animava afirmações como: \"O fato é que, até agora, o modernismo na arte, se não na literatura, se sustentou ou fracassou por seu 'formalismo'\". Por trás dessa noção de \"formalismo\" estava a crença de que a arte deve saber afirmar o primado da autonomia de seus processos construtivos a despeito de toda e qualquer afinidade mimética que a realidade social oferece como aparência. Tal afirmação do primado da autonomia da forma poderia ganhar a figura de obras capazes de tematizar seus próprios modos de produção, seus próprios processos construtivos. Lembremo-nos novamente de Greenberg, quando este afirma:\n\nO não-figurativo ou o \"abstrato\", se deve ter validade estética, não pode ser arbitrário e acidental, mas deve derivar da obediência a alguma junção ou princípio de valor. Essa junção, uma vez que ela enuncia ao mundo da experiência comum, extrovertida, só pode ser encontrada nos próprios processos ou disciplinas pelos quais a arte e a literatura já haviam imitado a natureza. Esses meios tornam-se, eles próprios, o tema da arte e da literatura.\n\nDessa maneira, a forma crítica deveria ser forma que expõe, em uma \"distância correta\", seus próprios processos construtivos, forma que a traz em si e não se nega da naturalidade de sua aparência como sua talidade funcional. Esta ideia é central: as obras que a forma crítica seriam capazes de organizar-se a partir de protocolos de desvelamento de seu processo de produção. As obras que se organizam a partir desse impulso crítico têm, como dizia Hegel, os instintos fora do corpo.\n\nNotemos, no entanto, que a racionalidade dessa noção de forma depende de um conceito de crítica como passagem da aparência para a essência, como movimento de desvelamento. Trata-se de expor, através de uma passagem para a essência, os modos de produção que determinam a configuração da aparência. Na verdade, tudo funciona como se a estrutura da forma crítica seguisse os moldes clássicos de uma certa crítica marxiista e de um arqueologia psicanalítica do sentido latente.\n\nSabemos que um dos processos fundamentais presentes no fetichismo da mercadoria diz respeito à impossibilidade do sujeito de apender a estrutura social de determinação do valor dos objetos em virtude de um regime de fascinação pela \"objetividade fantasímatica\" que aparece – fascinação vinculada à natureza de realização de significações socialmente determinadas. Uma certa crítica. do fetichismo se organizaria a partir da através da temática da alienação da consciência no domínio da falsa objetividade da aparência e das relações reificadas. Alienação que indicaria a incapacidade de compreensão da totalidade das relações estruturalmente determinantes do sentido.\n\nVimos no segundo capítulo como a tomada de consciência resultante do trabalho da crítica pressuporia a possibilidade, mesmo que utópica, de processos de interpretação capazes de instaurar um regime de relações não reificadas que garantam a transparência da totalidade dos mecanismos de produção do sentido. O que vale para a crítica social vale também para a arte. Pois, da mesma maneira, haveria uma totalidade de relações que poderia, de direito, se revelar em sua estrutura através das obras de arte. As obras aparecerem como locus de manifestação de uma verdade que é clarificação progressiva do material em razão da possibilidade de posição integral de processos construtivos. Processos muitas vezes recalcados, marcados pelo véu do esquecimento, mas que poderiam vir à luz através de mecanismos de interpretação e rememoração inscritos no projeto da própria obra. Lembremos ainda que o impulso em marcar-se em exposição do que é ob-sceno, do que estaria por baixo da cena enquanto arcaico ou informe. Por mais que isso possa parecer estranho, os programas de retorno ao arcaico e de desenvolvimento estrutural mostram-se unificados em certas estratégias comuns de crítica.\n\nMichael Fried é um caso exemplar de como tal regime de reflexão sobre a forma estética pode funcionar. Para ele, o valor estético na modernidade é fundamentalmente vinculado à possibilidade da obra de servir de palcos para a posição do processo de clarificação progressiva dos mecanismos de produção do sentido. Lembremos, por exemplo, do sentido de sua afirmação de que \"o teatro é a negação da arte\". O teatro aqui não é o teatro brechtiano, que transforma a cena em locus de manifestação de operações de distanciamento capazes de desvendar os modos de produção da aparência. Teatro é, para Fried, o nome de uma imagem com a literalidade que impede o sujeito de transcender a coisidade (objecthood) em direção a uma Outras formas, na qual os processos construtivos poderiam ser revelados. Daí Fried poder afirmar que O esgotamento da forma critica como valor estético • 183\n\npintura modernista chegou a perceber como imperativa a suspensão de sua própria coisidade7.\n\nRacionalização serial\n\nNão deixa de ser sintomático encontrar, na música, o espaço orig- nário para o desenvolvimento das potencialidades dessa forma crítica hegemônica no modernismo. Colocação menos insuspeita por vir de um critico das artes visuais, no caso, o próprio Clement Greenberg:\n\nEm razão de sua natureza \"absoluta\", da distância que a separa da imitação, de sua absorção quase completa na própria qualidade física de seu meio, bem como em razão de seus recursos de sugestão, a música passou a substituir a poesia como arte-modelo [...]. Nortean- do-se, quer conscientemente, quer inconscientemente, por uma noção de pureza derivada do exemplo da música, as artes de vanguarda nos últimos cinquenta anos alcançaram uma pureza e uma delimita- ção que são cores das atividades de seus exemplos anteriores na história da cultura.\n\nA afirmação não poderia ser mais clara: a música teria imposto, às outras artes, uma noção de modernidade e de racionalização do material vinculada à autonomização da forma e de suas expectativas construtivas. Autonomia que teria se afirmado contra qualquer afinidade mimé- tica com processos e elementos extramusicais.\n\nO que Greenberg tem em mente é um longo e heterodoxo movi- mento de construção da racionalidade da forma musical, movimento fundamental para a definição das expectativas críticas da forma musical, a partir principalmente de Arnold Schoenberg, e que herda motivos próprios ao debate em torno da \"música absoluta\" no romantismo ale- mão.
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Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada ou reproduzida sem autorização da editora.\n1ª edição: agosto de 2008\n\nBOITEMPO EDITORIAL\nJinkings Editores Associados Ltda.\nRua Euclides de Andrade, 27 Perdizes\n05030-030 São Paulo SP\nTel./fax: (11) 3875-7250 / 3872-6869\neditor@boitempopeditorial.com.br\nwww.boitempopeditorial.com.br SUMÁRIO\nIntrodução .................................... 11\nI\nDialética, ironia, cinismo ............ 37\nWas ist Zynismus? ......................... 67\nSobre um risco que não reconcila .... 91\nII\nPor uma crítica da economia libidinal .. 113\nSexo, simulacro e políticas da paródia .. 147\nO egoísmo da forma crítica como valor estético 179\nConclusão .................................. 201\nBibliografia .................................. 207\nSobre este livro ............................ 213 Quando a claridade diz: eu sou a escuridão, disse a verdade.\nQuando a escuridão diz: eu sou a claridade, não mente.\nHeiner Müller\n\nA BENTO PRADO JÚNIOR,\nque me deu muito mais que um começo Há várias pessoas a quem me sinto no dever de expressar gratidão por partilhar comigo opiniões e análises importantes para a realização deste livro. 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Nesse sentido, vale a pena retornarmos à análise do esquema hegemônico de determinação da forma crítica que foi uma das marcas. maiores do modernismo, a fim de melhor avaliarmos as causas de seus impasses, assim como a natureza das figuras que lhe sucederam.\n\nForma crítica e desvelamento dos mecanismos estruturais de produção\n\nConhecemos, por exemplo, um dos impulsos hegemônicos de crítica à aparência estética no modernismo. Ele está sintetizado em uma noção de crítica como dispositivo de distanciamento em relação a conteúdos miméticos. Pois se trata de definir a obra de arte moderna como aquela capaz de se estruturar através da estratégia da distância que devemos tomar em relação às organizações, aos processos, às representações e aos valores que aparecem de maneira naturalizada na realidade social. 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Lembremos ainda que o impulso em marcar-se em exposição do que é ob-sceno, do que estaria por baixo da cena enquanto arcaico ou informe. Por mais que isso possa parecer estranho, os programas de retorno ao arcaico e de desenvolvimento estrutural mostram-se unificados em certas estratégias comuns de crítica.\n\nMichael Fried é um caso exemplar de como tal regime de reflexão sobre a forma estética pode funcionar. Para ele, o valor estético na modernidade é fundamentalmente vinculado à possibilidade da obra de servir de palcos para a posição do processo de clarificação progressiva dos mecanismos de produção do sentido. Lembremos, por exemplo, do sentido de sua afirmação de que \"o teatro é a negação da arte\". O teatro aqui não é o teatro brechtiano, que transforma a cena em locus de manifestação de operações de distanciamento capazes de desvendar os modos de produção da aparência. 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Nortean- do-se, quer conscientemente, quer inconscientemente, por uma noção de pureza derivada do exemplo da música, as artes de vanguarda nos últimos cinquenta anos alcançaram uma pureza e uma delimita- ção que são cores das atividades de seus exemplos anteriores na história da cultura.\n\nA afirmação não poderia ser mais clara: a música teria imposto, às outras artes, uma noção de modernidade e de racionalização do material vinculada à autonomização da forma e de suas expectativas construtivas. Autonomia que teria se afirmado contra qualquer afinidade mimé- tica com processos e elementos extramusicais.\n\nO que Greenberg tem em mente é um longo e heterodoxo movi- mento de construção da racionalidade da forma musical, movimento fundamental para a definição das expectativas críticas da forma musical, a partir principalmente de Arnold Schoenberg, e que herda motivos próprios ao debate em torno da \"música absoluta\" no romantismo ale- mão.