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Economia ·
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EVOLUÇÃO RECENTE DO MERCADO INTERNACIONAL DE PETRÓLEO UM CASO CLÁSSICO DA INSTABILIDADE DOS OLIGOPÓLIOS Luis Eduardo Duque Dutra1 RESUMO Após a abrupta queda no preço internacional do petróleo a partir de 2014 havia a expectativa de reversão da trajetória de expansão da produção Contudo esta continuou a se expandir mesmo no contexto de crise o que evidencia o distanciamento desse mercado do modelo ideal de livre concorrência A especificidade do mercado de petróleo deriva não apenas de sua grande concentração e do padrão oligopolista de competição mas também dos efeitos causados por rupturas tecnológicas e pela entrada de novos atores Esses fatores cooperam para produzir equilíbrios cada vez mais instáveis no mercado de petróleo no curto prazo com consequências importantes para as estratégias dos países que dependem desse recurso para promover seu desenvolvimento como é o caso do Brasil Palavraschave recursos naturais oligopólios jogos não cooperativos ABSTRACT After the abrupt drop in the international oil price from 2014 there was the expectation of a reversal of the production expansion trajectory However this continued to expand even in the context of crisis showing how this market departs from the ideal model of free competition The specificity of the oil market derives not only from its high concentration and oligopolistic pattern of competition but also from the effects caused by technological disruptions and the entry of new players These factors cooperate to produce increasingly unstable equilibria in the oil market in the short term with important consequences for the strategies of countries that rely on this resource to promote development as is the case in Brazil Keywords natural resources oligopoly noncooperative games JEL P48 C72 D43 1 INTRODUÇÃO O colapso do preço do petróleo completou dois anos no último trimestre de 2016 Atualmente o preço de cerca de US 50 por barril é inferior à metade daquele que vigorou imediatamente depois da crise financeira de 2008 e 2009 À queda tão acentuada seguemse a retração da oferta e o aumento da procura de forma que mais cedo ou mais tarde o mercado encontre seu equilíbrio Não foi o que aconteceu a produção de óleo bruto cresceu 4 e o consumo não cresceu nem 1 nos últimos dois anos A conclusão é imediata não se trata de um mercado livre além disso o comportamento revela a característica dos oligopólios sua instabilidade Incapaz de fixar um acordo sobre o preço o capital é em última instância o culpado pela persistência dos desequilíbrios Dutra 2015 1 Doutor em ciências econômicas pela Universidade de Paris e mestre em planejamento energético pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de PósGraduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade federal do Rio de Janeiro COPPE UFRJ Assessor Especial da Diretoria da Agência Nacional do Petróleo ANP 20122017 Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 6 O presente artigo se divide em quatro seções incluindo esta introdução A segunda seção discute a intuição teórica por trás da instabilidade no equilíbrio de mercados oligopolizados A terceira seção apresenta a trajetória recente do mercado internacional de petróleo e o desafio imposto pela estagnação da demanda num contexto de entrada de novos produtores e tecnologias disruptivas A quarta seção conclui o trabalho apontando possíveis consequências para produtores e consumidores desse mercado no futuro próximo 2 EQUILÍBRIO E INSTABILIDADE EM ESTRUTURAS OLIGOPOLIZADAS DE MERCADO A partir do dogma de que a competição baixa o preço a ciência econômica distingue três estruturas de mercado e com isso compreende como os preços são fixados em cada uma delas Os modelos são razoavelmente simples Os mercados se diferenciam pelo número de produtores muitos na concorrência perfeita alguns no oligopólio e um só no monopólio A plena competição ao baixar o preço beneficia o comprador e limita o lucro do vendedor ao mínimo necessário à sua reprodução Em outro extremo quando ela não existe e só um produtor atua a oferta será reduzida o preço subirá e assim ele se apropriará de lucros extraordinários Tirole 1988 Nas duas estruturas anteriores o comportamento é previsível A dificuldade repousa no oligopólio principalmente quando concentrado e não supervisionado por uma autoridade reguladora Alguns poucos atores os maiores entre eles são capazes de fixar um preço elevado para a mercadoria caso consigam um acordo sobre a produção conjunta Contudo quanto mais diferentes eles são mais difícil é sustentar o compromisso Fudenberg e Tirole 1989 Tirole 1988 É o que acontece no petróleo em que a produção se localiza em poucos países com custos distintos e os cartéis são recorrentes Pior nos oligopólios a instabilidade chega sem aviso prévio e se consuma em curto espaço de tempo Em outubro de 2014 o barril de óleo do tipo WTI2 era vendido por US 80 abaixo dos quase US 100 do mês anterior Pouco depois entre dezembro daquele ano e janeiro de 2015 seu valor já estava abaixo de US 50 No ano seguinte em janeiro de 2016 o barril chegou a ser cotado a menos de US 30 O colapso portanto começou no último trimestre de 2014 e passados quase dois anos em setembro de 2016 o preço do barril ainda inferior a US 50 é metade do que aquele que vigorava AIE 2016 E tende a permanecer neste patamar para os próximos anos se nenhum acordo for restabelecido entre os principais produtores 3 EVOLUÇÃO RECENTE DO MERCADO INTERNACIONAL DE PETRÓLEO Em qualquer mercado sem aumento na procura só a diminuição da oferta pode recuperar o preço e o acirramento da competição só agrava a reprodução do capital O comportamento dos principais atores ilustra a dificuldade de se reestabelecerem a ordem e o lucro extraordinário que o preço alto assegurava A comparação entre a média diária da produção de óleo cru e de condensados de 2014 2 WTI West Texas Intermediate corresponde ao preço de referência do barril de petróleo negociado nos Estados Unidos em contraposição ao Brent que é o padrão negociado na Bolsa de Londres batizado deste modo porque era em grande parte extraído de um único campo de petróleo e gás da Shell situado no Mar do Norte denominado Brent embora hoje sirva de referência a todo o petróleo proveniente dessa região Para uma leitura mais aprofundada sobre as características desses dois preços referenciais do mercado mundial de petróleo e seu diferencial no tempo ver Miller Chevalier e Leavens 2010 e Ederington et al 2011 Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 7 o último ano da fase de alta e a mesma ao final do 3º trimestre de 2016 revela primeiro a estratégia de cada um deles e em seguida a completa falta de coordenação entre eles tabela 1 TABELA 1 Produção média de óleo cru e condensados em 2014 e em setembro de 2016 Em milhões de barris por dia País 2014 3º trim 2016 Arábia Saudita 95 106 Irã 28 37 Iraque 33 45 Venezuela 25 21 Nigéria 19 14 OPEP1 375 406 CEI2 139 142 Canadá 43 43 Noruega 19 19 Estados Unidos 12 122 Brasil 23 27 México 28 24 China 42 39 Total 937 972 Fonte Agência Internacional de Energia AIE 2016 Notas 1 Opep Organização dos Países Exportadores de Petróleo grupo que inclui Argélia Angola Equador Irã Iraque Kuwait Líbia Nigéria Catar Arábia Saudita Emirados Árabes Unidos e Venezuela A Indonésia retirouse do bloco em 2009 2 CEI Comunidade de Estados Independentes grupo de países da extinta União Soviética URSS formado por Armênia Azerbaijão Bielorrússia Cazaquistão Quirguistão Moldávia Rússia Tajiquistão Turcomenistão Ucrânia e Uzbequistão Desde 2005 o Turcomenistão não mais figura como membro permanente do bloco mas apenas associado As maiores adições ocorreram no Iraque 12 milhão barris por dia na Arábia Saudita 11 milhão bpd e no Irã 900 mil bpd Justamente os produtores de menor custo e entre eles encontrase quem fixa o preço no final do dia a Arábia Saudita Os três adicionaram 32 milhões bpd à produção mundial e mais que compensaram as quedas em dois membros importantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo Opep a Nigéria menos 500 mil bpd e a Venezuela menos 400 mil bpd De fato Iraque Arábia Saudita e Irã responderam por todo o incremento da produção do cartel sendo que os demais membros se encarregaram de substituir a produção venezuelana e nigeriana em queda AIE 2016 No Golfo Pérsico e na Península Árabe é evidente que os detentores das melhores jazidas ampliaram suas vendas por estarem mais preocupados com a receita do que com o preço O mesmo ocorreu com a Rússia e os países da Comunidade de Estados Independentes Cei bloco que sucedeu a antiga União Soviética URSS que dispõem de longa tradição e concorrem com a Arábia Saudita em volume de produção Mais de 300 mil bpd foram adicionados por eles nos últimos dois anos sem demonstrar nenhuma inquietação com a sobreoferta atual Juntos os países da Opep e da CEI acrescentaram quase 35 milhões de bpd a um mercado praticamente estagnado tabela 1 A procura aumentou menos que 1 milhão de bpd no mesmo período Neste sentido sem um pacto entre ambos não há como estabelecer um preço de equilíbrio no mercado internacional do petróleo Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 8 31 O lado da oferta um ajuste vagaroso e incerto O que deteriora a situação é que no interior e nas fronteiras do sistema de produção petrolífero o ajuste se faz lentamente Em muitos países não participantes da Opep a extração de óleo e condensados não aumentou nem diminuiu Detentores de campos relativamente caros a Noruega e o Canadá estão neste caso Nos últimos dois anos a produção se manteve em torno de 19 milhão bpd e 43 milhões bpd respectivamente A atividade participa da formação da renda nacional e continua prioritária embora ambos se posicionem entre os mais ricos do globo e a maldição da abundância do petróleo não seja uma ameaça A diversidade de interesses fora da Opep e da exURSS fica patente quando se consideram novos atores como o Brasil Mergulhado numa crise doméstica sem precedentes e a despeito do preço do petróleo em queda a extração aumentou em 400 mil bpd nos últimos dois anos exclusivamente no présal Desta forma tal fato representa a inércia do grande capital principalmente na fronteira mais promissora neste início do século XXI Tendo em vista os aspectos supracitados se não foi nos países anteriores onde poderia ter ocorrido o ajuste dos produtores Entre os mais relevantes a redução foi expressiva em apenas dois países México e China menos 400 mil bpd e menos 300 mil bpd respectivamente Há dois anos o primeiro abriu o mercado para atrair investimentos e reverter a queda acelerada da produção em campos tradicionais contudo isso leva tempo Se a China por um lado produz o dobro que o México por outro é a maior importadora mundial além de apresentar um oportunismo comercial inigualável Claramente preferiu comprar no exterior a produzir domesticamente um óleo mais custoso e de menor qualidade Os Estados Unidos são um caso à parte Entre os três maiores países produtores do mundo e maior consumidor foi palco da revolução trazida pelo não convencional A US 50 por barril a atividade está no limite da viabilidade em novas áreas e em retração naquelas já desenvolvidas No entanto nem a rápida deterioração do preço conseguiu paralisála Comparada à média de 2014 a extração de petróleo e condensados estadunidenses foi 200 mil bpd superior em setembro de 2016 Um êxito notável dentro da atual conjuntura Aqueles que responderam pelo aumento nos últimos quinze anos não reagiram de imediato À margem os produtores de maior custo resistem ao fechamento e procuram sobreviver a qualquer preço é da natureza da competição mesmo que seja imperfeita e por vezes predatória De fato o ajuste veio com atraso e é insuficiente Em 2015 nos Estados Unidos a média de 13 milhões de bpd extraídos foi 1 milhão maior que em 2014 outro feito histórico Em setembro passado frente ao pico houve uma queda de 800 mil bpd A diminuição ocorreu nos últimos doze meses e pelo que foi visto até aqui está longe de influenciar os preços no mercado internacional Diante do incremento nos países da Opep e da exURSS da participação de novos atores como o Brasil e o Cazaquistão e da resistência dos produtores com maior custo em deixarem a atividade a capacidade ociosa só pode ser revertida por um aumento sustentado e imediato da demanda A queda em 50 do preço foi rápida e substancial mas e isso é novo não provocou qualquer alteração da demanda Portanto esse é um claro sinal da mudança de condições de produção e das vendas no século XXI que o oligopólio terá dificuldade em apreender Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 9 32 O lado da demanda pico e estagnação Depois de mais de um século e meio de crescimento a procura pode estar próxima de seu máximo Somados condensados e óleo cru cerca de 97 milhões de bpd são processados nas refinarias espalhadas pelos quatro cantos do mundo atualmente Talvez exista espaço para acrescentar 10 milhões de bpd à capacidade de tratamento ou ainda o dobro disso mas isso somente no decorrer da próxima década em razão da presente sobreoferta No refino não será a quantidade mas a qualidade do combustível o atributo na competição do século XXI A revolução da mobilidade associada à eletrônica moderna os ganhos de eficiência dos motores e processos e a substituição das fontes de energia fóssil respondem por uma transformação estrutural em seu início Apesar de apontála não cabe aqui tratar a fundo tal questão Destarte basta constatar a falta de apetite do consumidor A despeito do preço ter caído pela metade a procura aumentou em menos de 1 mais exatamente 08 É o que se verifica quando se compara o consumo mundial médio diário nos terceiros trimestres de 2015 e 2016 tabela 2 Neste diapasão transcorreu um ano depois do início da queda e o segundo ano do novo patamar tempo suficiente para repassar os benefícios ao comprador final Nem a baixa de preço nem o tempo contudo parecem capazes de reverter a quase estagnação global ou mesmo reativar a procura por derivados Além disso a política energética de redução das emissões e diversificação em nada contribui para uma melhoria das perspectivas TABELA 2 Demanda média por petróleo no terceiro trimestre de 2015 e no terceiro trimestre de 2016 Em milhões de barris por dia Continente 3º tri 2015 3º tri 2016 América do Norte 25 248 Total OCDE1 469 467 China 115 116 ExURSS 51 53 África 4 41 Ásia excluindo China 123 129 Total 96 968 Fonte AIE 2016 Nota 1 OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico grupo de países composto por Áustria Bélgica Dinamarca França Grécia Islândia Irlanda Itália Luxemburgo Noruega Países Baixos Portugal Reino Unido Suécia Suíça Turquia Alemanha Espanha Canadá Estados Unidos Japão Finlândia Austrália Nova Zelândia México República Checa Hungria Polônia Coreia do Sul Eslováquia Chile Eslovênia Israel e Estônia No centro da economia mundial o petróleo já alcançou seu pico O menor consumo recentemente observado nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE não deixa margem à dúvida em relação à profundidade das mudanças que se anunciam Menos 200 mil bpd deixaram de ser consumidos entre os terceiros trimestres de 2015 e de 2016 segundo o Oil Market Report publicado pela Agência Internacional de Energia AIE Nem o fraco desempenho europeu japonês e coreano dá conta de tamanha redução nem o repasse apenas parcial do menor preço do petróleo ao consumidor de derivados explica um comportamento assim Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 10 Mais surpreendente é constatar que o consumo norteamericano Canadá Estados Unidos e México não se comportou de forma diferente A escala e a diversidade dos dois primeiros se combinam e fazem deles os mercados mais concorrenciais do mundo com os menores preços entre os membros da OCDE e onde os repasses são rapidamente transmitidos Portanto avaliando tal contexto nada disso foi suficiente para incrementar o consumo tendo registrado queda na procura entre os terceiros trimestres de 2015 e 2016 menos 200 mil bpd tabela 2 A inaptidão da procura só não é maior naqueles países de industrialização tardia Mas mesmo nesses o crescimento é vegetativo Na China o consumo cresceu apenas em 100 mil bpd nos últimos doze meses Nos países que formavam a URSS o consumo aumentou em 200 mil bpd Até na África pouca industrializada e o mais pobre entre os continentes habitados o baixo preço não surtiu efeito nas vendas O consumo africano cresceu módicos 100 mil bpd Em toda a Ásia excluída a China a procura por óleo e condensados aumentou em 600 mil bpd entre os terceiros trimestres de 2015 e 2016 O consumo saltou de 123 milhões bpd para 129 milhões bpd um aumento maior que os anteriores mas mesmo assim absolutamente desproporcional à queda do preço do barril AIE 2016 Tudo isso somado a demanda mundial cresceu pouco de 96 milhões de bpd para 968 milhões de bpd Assim nos últimos doze meses o acréscimo foi de 800 mil bpd o que não representa 1 de incremento relativo Além disso esse incremento ficou quase todo concentrado em mercados distantes do oceano Atlântico do outro lado do mundo Portanto esse pífio desempenho salienta não somente um deslocamento geográfico mas também a natureza do colapso de preço e o desafio da oferta em se ajustar à nova realidade 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Avaliando a conjuntura como um todo o comportamento dos protagonistas se enquadra no dilema do prisioneiro clássico da teoria dos jogos A traição ou delação compensa é sempre tentadora enquanto a manutenção do compromisso depende de todos não admitindo qualquer defecção Passados dois anos nada indica uma queda da produção mundial ou qualquer reversão da situação Diante de uma procura anêmica tudo tende a ficar como está e o preço bem longe dos US 100 ainda por algum tempo No entanto a despeito do poder dos maiores produtores também no oligopólio a regra básica dos mercados funciona o preço resulta da interação entre vendedores e compradores E neste ponto o padrão de comportamento do consumidor parece mudar e assim adequarse mais rapidamente ao século XXI que os próprios produtores As famílias estão endividadas ameaçadas de perder o emprego ou já desempregadas As pessoas podem estar incomodadas com o custo de se manter um automóvel e com os engarrafamentos diários que enfrentam Muitas decidiram morar perto do trabalho ou usam a bicicleta nos deslocamentos urbanos O consumidor mais jovem não tem o automóvel como ícone enquanto a bicicleta e os patins ocupam as ciclovias das metrópoles Assim é muito provável que as economias obtidas com os menores preços da gasolina e do óleo diesel tiveram uso melhor e certamente menos intensivo em energia do que a compra de mais combustível Não faltam desafios aos poderosos do petróleo e o equilíbrio do oligopólio ainda está muito distante No curto prazo em razão da morosa conjuntura econômica mundial não se espera a recuperação da procura No médio prazo a sobrecapacidade atual persistirá enquanto os produtores marginais sobreviverem No longo prazo a transformação da riqueza envolve uma nova relação de Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 11 preço que não parece beneficiar as fontes energéticas fósseis Além da possível volatilidade enquanto um acordo não for fixado a competição se sobreporá Portanto se a competição abaixa o preço como dizem os economistas há três séculos e se o coletor de impostos não for ganancioso quem se beneficiará será o consumidor Melhor para todos REFERÊNCIAS AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA AIE Oil Market Report Paris out 2016 Disponível em httpswwwieaorgoilmarketreportomrpublic Acesso em 23 nov 2016 DUTRA L E D A queda de preço do petróleo em 2014 e a crise estrutural do capitalismo Princípios São Paulo v 134 p 27 2015 EDERINGTON L H et al Factors influencing oil prices a survey of the current state of knowledge in the context of the 200708 oil price volatility US Energy Information Administration Working Paper Series Washington DC 30 ago 2011 FUDENBERG D TIROLE J Noncooperative game theory for industrial organization an introduction and overview Handbook of Industrial Organization v 1 cap 5 p 259327 1989 MILLER K D CHEVALIER M T LEAVENS J The role of WTI as a crude oil benchmark Purvin Gertz CME Group jan 2010 Disponível em httpwwwbaueruheduspirrong PurvinGertzWTIBenchmarkStudypdf TIROLE J The Theory of Industrial Organization Cambridge The MIT Press p 479 1988 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ARRIGHI G A ilusão do desenvolvimento Petrópolis Ed Vozes 1998 CHEVALIER JM Léconomie industrielle en question Economie Contemporaine Series Paris Calmann Lévy p 268 1977
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EVOLUÇÃO RECENTE DO MERCADO INTERNACIONAL DE PETRÓLEO UM CASO CLÁSSICO DA INSTABILIDADE DOS OLIGOPÓLIOS Luis Eduardo Duque Dutra1 RESUMO Após a abrupta queda no preço internacional do petróleo a partir de 2014 havia a expectativa de reversão da trajetória de expansão da produção Contudo esta continuou a se expandir mesmo no contexto de crise o que evidencia o distanciamento desse mercado do modelo ideal de livre concorrência A especificidade do mercado de petróleo deriva não apenas de sua grande concentração e do padrão oligopolista de competição mas também dos efeitos causados por rupturas tecnológicas e pela entrada de novos atores Esses fatores cooperam para produzir equilíbrios cada vez mais instáveis no mercado de petróleo no curto prazo com consequências importantes para as estratégias dos países que dependem desse recurso para promover seu desenvolvimento como é o caso do Brasil Palavraschave recursos naturais oligopólios jogos não cooperativos ABSTRACT After the abrupt drop in the international oil price from 2014 there was the expectation of a reversal of the production expansion trajectory However this continued to expand even in the context of crisis showing how this market departs from the ideal model of free competition The specificity of the oil market derives not only from its high concentration and oligopolistic pattern of competition but also from the effects caused by technological disruptions and the entry of new players These factors cooperate to produce increasingly unstable equilibria in the oil market in the short term with important consequences for the strategies of countries that rely on this resource to promote development as is the case in Brazil Keywords natural resources oligopoly noncooperative games JEL P48 C72 D43 1 INTRODUÇÃO O colapso do preço do petróleo completou dois anos no último trimestre de 2016 Atualmente o preço de cerca de US 50 por barril é inferior à metade daquele que vigorou imediatamente depois da crise financeira de 2008 e 2009 À queda tão acentuada seguemse a retração da oferta e o aumento da procura de forma que mais cedo ou mais tarde o mercado encontre seu equilíbrio Não foi o que aconteceu a produção de óleo bruto cresceu 4 e o consumo não cresceu nem 1 nos últimos dois anos A conclusão é imediata não se trata de um mercado livre além disso o comportamento revela a característica dos oligopólios sua instabilidade Incapaz de fixar um acordo sobre o preço o capital é em última instância o culpado pela persistência dos desequilíbrios Dutra 2015 1 Doutor em ciências econômicas pela Universidade de Paris e mestre em planejamento energético pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de PósGraduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade federal do Rio de Janeiro COPPE UFRJ Assessor Especial da Diretoria da Agência Nacional do Petróleo ANP 20122017 Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 6 O presente artigo se divide em quatro seções incluindo esta introdução A segunda seção discute a intuição teórica por trás da instabilidade no equilíbrio de mercados oligopolizados A terceira seção apresenta a trajetória recente do mercado internacional de petróleo e o desafio imposto pela estagnação da demanda num contexto de entrada de novos produtores e tecnologias disruptivas A quarta seção conclui o trabalho apontando possíveis consequências para produtores e consumidores desse mercado no futuro próximo 2 EQUILÍBRIO E INSTABILIDADE EM ESTRUTURAS OLIGOPOLIZADAS DE MERCADO A partir do dogma de que a competição baixa o preço a ciência econômica distingue três estruturas de mercado e com isso compreende como os preços são fixados em cada uma delas Os modelos são razoavelmente simples Os mercados se diferenciam pelo número de produtores muitos na concorrência perfeita alguns no oligopólio e um só no monopólio A plena competição ao baixar o preço beneficia o comprador e limita o lucro do vendedor ao mínimo necessário à sua reprodução Em outro extremo quando ela não existe e só um produtor atua a oferta será reduzida o preço subirá e assim ele se apropriará de lucros extraordinários Tirole 1988 Nas duas estruturas anteriores o comportamento é previsível A dificuldade repousa no oligopólio principalmente quando concentrado e não supervisionado por uma autoridade reguladora Alguns poucos atores os maiores entre eles são capazes de fixar um preço elevado para a mercadoria caso consigam um acordo sobre a produção conjunta Contudo quanto mais diferentes eles são mais difícil é sustentar o compromisso Fudenberg e Tirole 1989 Tirole 1988 É o que acontece no petróleo em que a produção se localiza em poucos países com custos distintos e os cartéis são recorrentes Pior nos oligopólios a instabilidade chega sem aviso prévio e se consuma em curto espaço de tempo Em outubro de 2014 o barril de óleo do tipo WTI2 era vendido por US 80 abaixo dos quase US 100 do mês anterior Pouco depois entre dezembro daquele ano e janeiro de 2015 seu valor já estava abaixo de US 50 No ano seguinte em janeiro de 2016 o barril chegou a ser cotado a menos de US 30 O colapso portanto começou no último trimestre de 2014 e passados quase dois anos em setembro de 2016 o preço do barril ainda inferior a US 50 é metade do que aquele que vigorava AIE 2016 E tende a permanecer neste patamar para os próximos anos se nenhum acordo for restabelecido entre os principais produtores 3 EVOLUÇÃO RECENTE DO MERCADO INTERNACIONAL DE PETRÓLEO Em qualquer mercado sem aumento na procura só a diminuição da oferta pode recuperar o preço e o acirramento da competição só agrava a reprodução do capital O comportamento dos principais atores ilustra a dificuldade de se reestabelecerem a ordem e o lucro extraordinário que o preço alto assegurava A comparação entre a média diária da produção de óleo cru e de condensados de 2014 2 WTI West Texas Intermediate corresponde ao preço de referência do barril de petróleo negociado nos Estados Unidos em contraposição ao Brent que é o padrão negociado na Bolsa de Londres batizado deste modo porque era em grande parte extraído de um único campo de petróleo e gás da Shell situado no Mar do Norte denominado Brent embora hoje sirva de referência a todo o petróleo proveniente dessa região Para uma leitura mais aprofundada sobre as características desses dois preços referenciais do mercado mundial de petróleo e seu diferencial no tempo ver Miller Chevalier e Leavens 2010 e Ederington et al 2011 Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 7 o último ano da fase de alta e a mesma ao final do 3º trimestre de 2016 revela primeiro a estratégia de cada um deles e em seguida a completa falta de coordenação entre eles tabela 1 TABELA 1 Produção média de óleo cru e condensados em 2014 e em setembro de 2016 Em milhões de barris por dia País 2014 3º trim 2016 Arábia Saudita 95 106 Irã 28 37 Iraque 33 45 Venezuela 25 21 Nigéria 19 14 OPEP1 375 406 CEI2 139 142 Canadá 43 43 Noruega 19 19 Estados Unidos 12 122 Brasil 23 27 México 28 24 China 42 39 Total 937 972 Fonte Agência Internacional de Energia AIE 2016 Notas 1 Opep Organização dos Países Exportadores de Petróleo grupo que inclui Argélia Angola Equador Irã Iraque Kuwait Líbia Nigéria Catar Arábia Saudita Emirados Árabes Unidos e Venezuela A Indonésia retirouse do bloco em 2009 2 CEI Comunidade de Estados Independentes grupo de países da extinta União Soviética URSS formado por Armênia Azerbaijão Bielorrússia Cazaquistão Quirguistão Moldávia Rússia Tajiquistão Turcomenistão Ucrânia e Uzbequistão Desde 2005 o Turcomenistão não mais figura como membro permanente do bloco mas apenas associado As maiores adições ocorreram no Iraque 12 milhão barris por dia na Arábia Saudita 11 milhão bpd e no Irã 900 mil bpd Justamente os produtores de menor custo e entre eles encontrase quem fixa o preço no final do dia a Arábia Saudita Os três adicionaram 32 milhões bpd à produção mundial e mais que compensaram as quedas em dois membros importantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo Opep a Nigéria menos 500 mil bpd e a Venezuela menos 400 mil bpd De fato Iraque Arábia Saudita e Irã responderam por todo o incremento da produção do cartel sendo que os demais membros se encarregaram de substituir a produção venezuelana e nigeriana em queda AIE 2016 No Golfo Pérsico e na Península Árabe é evidente que os detentores das melhores jazidas ampliaram suas vendas por estarem mais preocupados com a receita do que com o preço O mesmo ocorreu com a Rússia e os países da Comunidade de Estados Independentes Cei bloco que sucedeu a antiga União Soviética URSS que dispõem de longa tradição e concorrem com a Arábia Saudita em volume de produção Mais de 300 mil bpd foram adicionados por eles nos últimos dois anos sem demonstrar nenhuma inquietação com a sobreoferta atual Juntos os países da Opep e da CEI acrescentaram quase 35 milhões de bpd a um mercado praticamente estagnado tabela 1 A procura aumentou menos que 1 milhão de bpd no mesmo período Neste sentido sem um pacto entre ambos não há como estabelecer um preço de equilíbrio no mercado internacional do petróleo Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 8 31 O lado da oferta um ajuste vagaroso e incerto O que deteriora a situação é que no interior e nas fronteiras do sistema de produção petrolífero o ajuste se faz lentamente Em muitos países não participantes da Opep a extração de óleo e condensados não aumentou nem diminuiu Detentores de campos relativamente caros a Noruega e o Canadá estão neste caso Nos últimos dois anos a produção se manteve em torno de 19 milhão bpd e 43 milhões bpd respectivamente A atividade participa da formação da renda nacional e continua prioritária embora ambos se posicionem entre os mais ricos do globo e a maldição da abundância do petróleo não seja uma ameaça A diversidade de interesses fora da Opep e da exURSS fica patente quando se consideram novos atores como o Brasil Mergulhado numa crise doméstica sem precedentes e a despeito do preço do petróleo em queda a extração aumentou em 400 mil bpd nos últimos dois anos exclusivamente no présal Desta forma tal fato representa a inércia do grande capital principalmente na fronteira mais promissora neste início do século XXI Tendo em vista os aspectos supracitados se não foi nos países anteriores onde poderia ter ocorrido o ajuste dos produtores Entre os mais relevantes a redução foi expressiva em apenas dois países México e China menos 400 mil bpd e menos 300 mil bpd respectivamente Há dois anos o primeiro abriu o mercado para atrair investimentos e reverter a queda acelerada da produção em campos tradicionais contudo isso leva tempo Se a China por um lado produz o dobro que o México por outro é a maior importadora mundial além de apresentar um oportunismo comercial inigualável Claramente preferiu comprar no exterior a produzir domesticamente um óleo mais custoso e de menor qualidade Os Estados Unidos são um caso à parte Entre os três maiores países produtores do mundo e maior consumidor foi palco da revolução trazida pelo não convencional A US 50 por barril a atividade está no limite da viabilidade em novas áreas e em retração naquelas já desenvolvidas No entanto nem a rápida deterioração do preço conseguiu paralisála Comparada à média de 2014 a extração de petróleo e condensados estadunidenses foi 200 mil bpd superior em setembro de 2016 Um êxito notável dentro da atual conjuntura Aqueles que responderam pelo aumento nos últimos quinze anos não reagiram de imediato À margem os produtores de maior custo resistem ao fechamento e procuram sobreviver a qualquer preço é da natureza da competição mesmo que seja imperfeita e por vezes predatória De fato o ajuste veio com atraso e é insuficiente Em 2015 nos Estados Unidos a média de 13 milhões de bpd extraídos foi 1 milhão maior que em 2014 outro feito histórico Em setembro passado frente ao pico houve uma queda de 800 mil bpd A diminuição ocorreu nos últimos doze meses e pelo que foi visto até aqui está longe de influenciar os preços no mercado internacional Diante do incremento nos países da Opep e da exURSS da participação de novos atores como o Brasil e o Cazaquistão e da resistência dos produtores com maior custo em deixarem a atividade a capacidade ociosa só pode ser revertida por um aumento sustentado e imediato da demanda A queda em 50 do preço foi rápida e substancial mas e isso é novo não provocou qualquer alteração da demanda Portanto esse é um claro sinal da mudança de condições de produção e das vendas no século XXI que o oligopólio terá dificuldade em apreender Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 9 32 O lado da demanda pico e estagnação Depois de mais de um século e meio de crescimento a procura pode estar próxima de seu máximo Somados condensados e óleo cru cerca de 97 milhões de bpd são processados nas refinarias espalhadas pelos quatro cantos do mundo atualmente Talvez exista espaço para acrescentar 10 milhões de bpd à capacidade de tratamento ou ainda o dobro disso mas isso somente no decorrer da próxima década em razão da presente sobreoferta No refino não será a quantidade mas a qualidade do combustível o atributo na competição do século XXI A revolução da mobilidade associada à eletrônica moderna os ganhos de eficiência dos motores e processos e a substituição das fontes de energia fóssil respondem por uma transformação estrutural em seu início Apesar de apontála não cabe aqui tratar a fundo tal questão Destarte basta constatar a falta de apetite do consumidor A despeito do preço ter caído pela metade a procura aumentou em menos de 1 mais exatamente 08 É o que se verifica quando se compara o consumo mundial médio diário nos terceiros trimestres de 2015 e 2016 tabela 2 Neste diapasão transcorreu um ano depois do início da queda e o segundo ano do novo patamar tempo suficiente para repassar os benefícios ao comprador final Nem a baixa de preço nem o tempo contudo parecem capazes de reverter a quase estagnação global ou mesmo reativar a procura por derivados Além disso a política energética de redução das emissões e diversificação em nada contribui para uma melhoria das perspectivas TABELA 2 Demanda média por petróleo no terceiro trimestre de 2015 e no terceiro trimestre de 2016 Em milhões de barris por dia Continente 3º tri 2015 3º tri 2016 América do Norte 25 248 Total OCDE1 469 467 China 115 116 ExURSS 51 53 África 4 41 Ásia excluindo China 123 129 Total 96 968 Fonte AIE 2016 Nota 1 OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico grupo de países composto por Áustria Bélgica Dinamarca França Grécia Islândia Irlanda Itália Luxemburgo Noruega Países Baixos Portugal Reino Unido Suécia Suíça Turquia Alemanha Espanha Canadá Estados Unidos Japão Finlândia Austrália Nova Zelândia México República Checa Hungria Polônia Coreia do Sul Eslováquia Chile Eslovênia Israel e Estônia No centro da economia mundial o petróleo já alcançou seu pico O menor consumo recentemente observado nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE não deixa margem à dúvida em relação à profundidade das mudanças que se anunciam Menos 200 mil bpd deixaram de ser consumidos entre os terceiros trimestres de 2015 e de 2016 segundo o Oil Market Report publicado pela Agência Internacional de Energia AIE Nem o fraco desempenho europeu japonês e coreano dá conta de tamanha redução nem o repasse apenas parcial do menor preço do petróleo ao consumidor de derivados explica um comportamento assim Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 10 Mais surpreendente é constatar que o consumo norteamericano Canadá Estados Unidos e México não se comportou de forma diferente A escala e a diversidade dos dois primeiros se combinam e fazem deles os mercados mais concorrenciais do mundo com os menores preços entre os membros da OCDE e onde os repasses são rapidamente transmitidos Portanto avaliando tal contexto nada disso foi suficiente para incrementar o consumo tendo registrado queda na procura entre os terceiros trimestres de 2015 e 2016 menos 200 mil bpd tabela 2 A inaptidão da procura só não é maior naqueles países de industrialização tardia Mas mesmo nesses o crescimento é vegetativo Na China o consumo cresceu apenas em 100 mil bpd nos últimos doze meses Nos países que formavam a URSS o consumo aumentou em 200 mil bpd Até na África pouca industrializada e o mais pobre entre os continentes habitados o baixo preço não surtiu efeito nas vendas O consumo africano cresceu módicos 100 mil bpd Em toda a Ásia excluída a China a procura por óleo e condensados aumentou em 600 mil bpd entre os terceiros trimestres de 2015 e 2016 O consumo saltou de 123 milhões bpd para 129 milhões bpd um aumento maior que os anteriores mas mesmo assim absolutamente desproporcional à queda do preço do barril AIE 2016 Tudo isso somado a demanda mundial cresceu pouco de 96 milhões de bpd para 968 milhões de bpd Assim nos últimos doze meses o acréscimo foi de 800 mil bpd o que não representa 1 de incremento relativo Além disso esse incremento ficou quase todo concentrado em mercados distantes do oceano Atlântico do outro lado do mundo Portanto esse pífio desempenho salienta não somente um deslocamento geográfico mas também a natureza do colapso de preço e o desafio da oferta em se ajustar à nova realidade 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Avaliando a conjuntura como um todo o comportamento dos protagonistas se enquadra no dilema do prisioneiro clássico da teoria dos jogos A traição ou delação compensa é sempre tentadora enquanto a manutenção do compromisso depende de todos não admitindo qualquer defecção Passados dois anos nada indica uma queda da produção mundial ou qualquer reversão da situação Diante de uma procura anêmica tudo tende a ficar como está e o preço bem longe dos US 100 ainda por algum tempo No entanto a despeito do poder dos maiores produtores também no oligopólio a regra básica dos mercados funciona o preço resulta da interação entre vendedores e compradores E neste ponto o padrão de comportamento do consumidor parece mudar e assim adequarse mais rapidamente ao século XXI que os próprios produtores As famílias estão endividadas ameaçadas de perder o emprego ou já desempregadas As pessoas podem estar incomodadas com o custo de se manter um automóvel e com os engarrafamentos diários que enfrentam Muitas decidiram morar perto do trabalho ou usam a bicicleta nos deslocamentos urbanos O consumidor mais jovem não tem o automóvel como ícone enquanto a bicicleta e os patins ocupam as ciclovias das metrópoles Assim é muito provável que as economias obtidas com os menores preços da gasolina e do óleo diesel tiveram uso melhor e certamente menos intensivo em energia do que a compra de mais combustível Não faltam desafios aos poderosos do petróleo e o equilíbrio do oligopólio ainda está muito distante No curto prazo em razão da morosa conjuntura econômica mundial não se espera a recuperação da procura No médio prazo a sobrecapacidade atual persistirá enquanto os produtores marginais sobreviverem No longo prazo a transformação da riqueza envolve uma nova relação de Boletim de Economia e Política Internacional BEPI n 23 MaioAgo 2017 Evolução Recente do Mercado Internacional de Petróleo um caso clássico da instabilidade dos oligopólios 11 preço que não parece beneficiar as fontes energéticas fósseis Além da possível volatilidade enquanto um acordo não for fixado a competição se sobreporá Portanto se a competição abaixa o preço como dizem os economistas há três séculos e se o coletor de impostos não for ganancioso quem se beneficiará será o consumidor Melhor para todos REFERÊNCIAS AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA AIE Oil Market Report Paris out 2016 Disponível em httpswwwieaorgoilmarketreportomrpublic Acesso em 23 nov 2016 DUTRA L E D A queda de preço do petróleo em 2014 e a crise estrutural do capitalismo Princípios São Paulo v 134 p 27 2015 EDERINGTON L H et al Factors influencing oil prices a survey of the current state of knowledge in the context of the 200708 oil price volatility US Energy Information Administration Working Paper Series Washington DC 30 ago 2011 FUDENBERG D TIROLE J Noncooperative game theory for industrial organization an introduction and overview Handbook of Industrial Organization v 1 cap 5 p 259327 1989 MILLER K D CHEVALIER M T LEAVENS J The role of WTI as a crude oil benchmark Purvin Gertz CME Group jan 2010 Disponível em httpwwwbaueruheduspirrong PurvinGertzWTIBenchmarkStudypdf TIROLE J The Theory of Industrial Organization Cambridge The MIT Press p 479 1988 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ARRIGHI G A ilusão do desenvolvimento Petrópolis Ed Vozes 1998 CHEVALIER JM Léconomie industrielle en question Economie Contemporaine Series Paris Calmann Lévy p 268 1977