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LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES editorafamartfamartedubr TUTORIA ONLINE Segunda a Sexta de 0930 às 1730 Acesse a aba Tutoria EaD em seu portal do aluno SUMÁRIO 1 A ÉPOCA 4 2 PERÍODO DE TRANSIÇÃO NO BRASIL 6 3 POESIA CONTEMPORÂNEA 7 31 Características gerais 8 4 PROSA CONTEMPORÂNEA 11 41 Contexto histórico 12 42 Manifestações artísticas 13 5 POESIA 15 51 Concretismo 15 52 Poesia Práxis 16 53 A poética da resistência A poesia social 17 54 Tropicalismo 18 55 A Poesia Marginal 18 56 Outras Tendências 19 6 PROSA 20 7 O ROMANCE 21 71 Romance regionalista 21 72 Romance Intimista 21 73 Romance urbano social 21 74 Romance político 22 75 Romance Memorialista e ou autobiográfico 23 76 Romances experimentais e metalinguísticos 23 8 O CONTO E A CRÔNICA 24 81 Contos 24 82 Crônica 24 9 PÓSMODERNO 25 91 O pósmodernismo no Brasil 26 92 Algumas abordagens do pósmodernismo 34 93 Engajamento e criticidade a grande desilusão do sujeito descentralizado 35 10 FRAGMENTAÇÃO A ARTE IMITA A VIDA 38 11 HUMOR E A IRONIA UMA ESTREITA RELAÇÃO ENTRE O RISO E A DOR 40 12 O HUMOR COMO MOVIMENTO CONTEMPORÂNEO 42 13 POR QUE ENSINAR LITERATURA CONTEMPORÂNEA NA ESCOLA 48 ENCERRAMENTO 53 REFERÊNCIAS 54 4 1 A ÉPOCA A partir de l945 os povos tiveram uma nova visão do mundo Foi um período de reorganização depois de uma enorme guerra que envolveu quase todos os países Os mapas do globo foram alterados os prejuízos foram enormes de modo que necessitavam de um novo começo Esta guerra abriu os olhos de muita gente que passou da fase de importação de produtos para a industrialização do próprio país como é o caso do Brasil O avanço das comunicações foi grande rádio televisão cinema correio jornal revista livro etc Foram aperfeiçoados os processos de impressão Houve grandes progressos no comércio e na indústria na medicina e nas ciências em geral Começa a era do automobilismo das conquistas espaciais o mundo tornouse pequeno Também foi uma época de muita angústia muito sofrimento muito sangue jorrou pela terra Um período de muitas guerras desde a mais simples a mais sofisticada nuclear Apareceram conflitos armados entre vários países do mundo EUA e URSS se envolvem na corrida armamentista Mortes e terror por toda parte A mentalidade do povo já não era mais a mesma Apareceram várias seitas correntes filosóficas grupos de idealistas etc A literatura também mudou Já que tudo favorecia nada melhor que ser uma literatura visual ligada à pintura escultura arquitetura Foi o que aconteceu Estas mudanças ocorreram principalmente na poesia mas a prosa e o teatro também embarcaram Tais mudanças se passaram em vários países nos Estados Unidos na Inglaterra em Portugal na França e no Brasil As artes começam a influenciar muito a literatura artes plásticas arquitetura música cinema etc Alguns poetas aproveitaram todo este visual e começaram a escrever ou compor seus trabalhos seguindo tudo aquilo que viam ou observavam Assim apareceram os precursores Sartre Situation II Quiestce que la Littérature Ezra Pound New DirectionCantos Fernando Pessoa Ode Marítima Poesias Inéditas Rilke Sonetos Orfeu Elegias de Quino Valéry la Jeune Parque Le Cinetiere Marin Kafka O processo Metamorfose Colônia Penal Eliot The waste Land Four Quartets e mais Cummings Mallarmé 5 James Joyce Lecante de Lisle Lançaram as bases de uma nova literatura 6 2 PERÍODO DE TRANSIÇÃO NO BRASIL Após 1945 no Brasil a transformação foi enorme Essa mudança aconteceu em todos os setores da vida Os conflitos sucederamse suicídio de Vargas renúncia de Jânio revolução de 1964 governos militares alarmante inflação crise do petróleo queda do cruzeiro enorme dívida externa problemas gerados pelo AI5 Lei de segurança nacional greves etc mas não foram só problemas Imensos bens apareceram fundação da nova capital Brasília abertura de novas estradas criação e expansão industrial principalmente automobilística criação de faculdades multiplicação de bancos editoras jornais e livros O progresso foi visto em todos os recantos A pintura arquitetura e a música deram grande ajuda à literatura Passaram a andar de braços dados 7 3 POESIA CONTEMPORÂNEA Aos poucos novos valores vão surgindo na poesia Além de aproveitarem a inspiração nas coisas atuais os autores querem provar que também aproveitaram a lição dos antigos o primitivo Alguns dizem que a poesia atual é a volta ao primitivismo ao homem que desenhava caracteres nas paredes das cavernas Por volta de 1950 alguns autores se reuniram em São Paulo para debater sobre a nova fase literária Este grupo era formado por Augusto de Campos Haroldo de Campos e Décio Pignatari Eles lançam a poesia concreta A eles se juntam mais tarde Geir Campos Cassiano Ricardo Edgard Braga José Lino Grunewald Mário da Silva Brito Pedro Xisto e Ronaldo Azeredo Inúmeros autores participam do movimento Lançaram a revista Noigandres e Invenção Também já percebíamos uma inovação no mesmo sentido em Oswald de Andrade João Cabral de Melo Neto Carlos Drummond de Andrade Manoel Bandeira e Ronald de Carvalho Também encontramos vestígios da nova fase em Souzândrade que escreveu sempre fora do seu tempo Ele escreveu Harpas Selvagens em 1893 já com as características da poesia de hoje Em 1967 o poemaprocesso que muito se aproxima da escultura e da pintura surgiu Aproveitase o espaço visual o poema desdobrado em séries de diferentes versões gráficas poemas desmontáveis poesia para ser vista sem utilização de palavras Este tipo de poema foi criado por Wladimir Dias Pino Em 1962 Mário Chamie cria o movimento Práxis no Brasil Surge o Poema Práxis Segundo o autor É o que organiza e monta esteticamente uma realidade situada segundo três condições de ação a Ato de compor b A área do levantamento da composição c O ato de consumir Atualmente na poesia refletem os conflitos da sociedade É um grande desabafo de um povo oprimido pobre angustiado sofrido Os temas também 8 estão voltados para o lado erótico sensual e sexual 31 Características gerais São muitas as características da poesia atual Elas variam do Concretismo ao PoemaProcesso e PoemaPráxis mas há uma semelhança entre ambas a Reformulação da arte pela arte objeto artesanal forma disciplinada b Valorização do ritmo e da forma c Temática humana universal valorização do homem universal d Ausência de sinais de pontuação e Valorização do espaço em branco f Estrutura ide gramática apelo à comunicação nãoverbal g Aproveitamento da linguagem de propaganda de recortes de jornais revistas etc h Valorização da pintura escultura música e decoração i Mensagem geometrizada j Leitura pluridimensional leitura não discursiva k Valorização da palavra em si contra o verso como unidade rítmica l A reformulação do poema que não deverá ser outra coisa senão poema m Aproveitamento do tape do cinema da fotografia imagens Entre os principais poetas e obras temos 1 João Cabral de Melo Neto Recife 19202000 Passa quase toda a infância em sua terra natal Muda para o Rio Vai para o exterior pois é diplomata Viaja para vários países representando o Brasil O autor retrata em sua obra o problema humano Seu trabalho é obraprima porém sozinho no seu estilo Não participa de grupos poéticos Obras Pedra do sono O engenheiro O cão sem plumas O rio Duas águas Morte e vida Severina Quarema Museu de tudo Poesias completas Educação pela pedra e outros 2 Décio Pignatari Jundiaí 1927 Formado em Direito Encontrase com 9 os irmãos Campos e passa a frequentar a casa deles Trocam ideias sobre música cinema artes plásticas e poesia moderna Fundam a revista Invenção e Noigandres Lançam juntos o Concretismo Obras Noigandres l23 e 4 participação Poesia pois é poesia Contra comunicação Semiótico e literatura Comunicação Poética Informação linguagem comunicação Semiótica da arte e da Arquitetura 3 Haroldo de Campos SPaulo 19292003 Formado em Direito Publica seus primeiros trabalhos no clube da poesia Rompe com o clube e participa do lançamento do poemaconcreto Colabora na revista Invenção e Noigandres Obras Xadrez de estrelas Signância quase céu Dante 6 contos do Paraíso tradução A arte no horizonte do provável ensaio Morfologia do Macunaíma Operação do texto Metalinguagem Ideograma Ruptura dos gêneros na literatura Latino Americana Deus e o diabo no Fausto de Goethe 4 Augusto de Campos Saulo 1931 Irmão de Haroldo Colabora com o irmão Publica seus trabalhos nas mesmas revistas Obras Caixa Preta Poemóbile Revisão de Kilkeney tradução Verso reverso contra verso tradução John Donne O dom e a danação tradução 20 poemas E E Cummings tradução Balanço da Bossa e outras bossas Poesia antipoesia antropofagia Teoria da poesia concreta Parceria com H Campos e Décio 5 Wladimir dias Pino Rio 1927 Viveu quase sempre em Cuiabá Diagramador paisagista e programador visual Colaborou com o visual de alguns carnavais de rua em Cuiabá Colaborou com os indicadores visuais com a reunião da SBPC na UFMT Funcionário da UFMT onde publicou algumas de suas obras Atualmente residindo no Rio de Janeiro Seus trabalhos são vertidos para diversas línguas Colaborou com a criação do Concretismo e criou o Poema Processo Obras Os corcundas A máquina ou a coisa em si A ave Poema espacional Sólida Numéricos Processo linguagem e comunicação Participação 6 Outros José Lino Grunewald A ideia do cinema Pedro Xisto Haikais 10 Concretos Edgard Braga Extralunário Ronaldo Azeredo Participação em Noigandres José Paulo Paes Joaquim Mario Chamie Lavra Lavra Revista Práxis Millor Fernandes Tempo e Contratmpo Ferreira Gullar Um pouco acima do chão Domingos Carvalho da Silva Rosa Extinta Bueno da Riveira Mundo Submerso Péricles Eugênio da Silva Sol sem tempo 11 4 PROSA CONTEMPORÂNEA O Regionalismo continua Os temas variam Também permanece o romance psicológico porém com uma sondagem do interior mais profunda Permanência da prosa urbana Aparece o realismo fantástico linguagem simbólica A intenção do autor está por trás do que ele diz Uso de metáforas e outras figuras O homem é o tema central o elemento angustiado São muitos os escritores desta fase 1 Guimarães Rosa Cordisburgo MG 1908 Rio 1967 Formado em Medicina foi diplomata em vários países Morreu três dias depois do ingresso na ABL Sua obra é originalíssima Usa um linguajar difícil cria novas palavras Sua obra não foi bem estudada ainda É um dos grandes valores da literatura brasileira atual Obras Sagarana Corpo de Baile Manuelzão e Miguillim no Urubuquaquá Noite do sertão Grande sertão Veredas Primeiras estórias Tutaméia Terceiras estórias Estas estórias 2 Clarice Lispector Ucrânia URSS 1926 Rio 1977 veio com 2 anos para o Brasil Estudou Direito Acompanha o marido diplomata para vários países Escreveu muito Obras Perto do coração selvagem A cidade sitiada A maçã no escuroA paixão segundo GH Água viva Alguns contos Um sopro de vidae outros 3 Adonias Filho Itajuípe Ba 1915 1990 outro renovador na literatura Brasileira É um verdadeiro criador de contexto novo É também crítico Obras Memórias de Lázaro Os servos da morte Corpo vivo O forte Léguas de promissão 4 Outros autores Mário Palmério Vila dos confins Chapadão do Bugre 5 DaltonTrevisan Novela nada exemplar Cemitério de elefantes José Cândido de Carvalho Olha para o céu Frederico O coronel e o Lobisomem José Mauro de Vasconcelos Meu pé de Laranja Lima Barro Blanco Bernardo Elis Veranico de Janeiro Paulo Dantas Purgatório Herberto Sales Cascalho Samuel Rawet Contos do Imigrante AutranDourado Ópera aos mortos José Condé Caminhos 12 na sombra Rubem Fonseca Os prisioneiros Lygia Fagundes Telles Ciranda de Pedra Fernando Sabino O encontro marcado Moacyr Scliar Deuses de Raquel e outros É a continuação do teatro moderno Mostra a decadência dos valores patriarcais a favela os problemas humanos Cai muito para o lado erótico e sexual Autores Ariano Suassuna Auto da compadecida A pena e a lei O santo e a porca Gianfrancesco Guarnieri Gimba Eles não usam Black tie A semente O filho do cão Botequim Oduvaldo Viana Filho Corpo a corpo Chapelinha Futebol Clube A longa noite de cristal Plínio Marcos Dois perdidos numa noite suja Jorge de Andrade Vereda da Salvação As confrarias A moratória O telescópio Pedreira das almas Augusto Boal Roda viva Revolução na América do sul Arena Conta Zumbi Chico Buarque de Holanda Calabar Gota Dágua Ópera do Malandro Dias Gomes Sucupira Ameaa ou deixea O pagador de promessas A invasão A revolução dos bichos Vinicius de Moraes Orfeu da conceição e outros 41 Contexto histórico Nas últimas décadas a cultura brasileira vivenciou um período de acentuado desenvolvimento tecnológico e industrial Entretanto neste mesmo período ocorreram diversas crises no campo político e social Os anos 60 época do governo democrático populista de JK foram repletos de uma verdadeira euforia política e econômica com amplos reflexos culturais Bossa Nova Cinema Novo teatro de Arena as Vanguardas e a Televisão A crise desencadeada pela renúncia do presidente Jânio Quadros e o golpe militar que derrubou João Goulart colocaram fim nessa euforia estabelecendo um clima de censura e medo no país promulgação do AI5 fechamento do Congresso jornais censurados revistas filmes músicas perseguição e exílio de intelectuais artistas e políticos A cultura precisou usar disfarces ou recuar 13 A conquista do tricampeonato mundial de futebol em 1970 foi capitalizada pelo regime militar e uma onda de nacionalismo ufanista espalhou se por todo o país alienando as mentes e adormecendo a consciência da maioria da população por um bom período de tempo Brasil ameo ou deixeo A cultura marginalizou se Em 1979 um dos primeiros atos do presidente Figueiredo foi sancionar a lei da anistia permitindo a volta dos exilados Esse ato presidencial fez o otimismo e esperança renascerem naqueles que discordavam da política praticada pelos militares daquele período Na década de 80 iniciase uma mobilização popular pela volta das eleições diretas que só veio a concretizarse em 89 com a posse de Fernando Collor de Mello cassado em 1991 Em 1995 tivemos a eleição e posse do presidente Fernando Henrique Cardoso 42 Manifestações artísticas As manifestações literárias desse período desenvolvemse a partir de duas linhas mestras De um lado a permanência de alguns autores já consagrados como João Cabral e Carlos Drummond de Andrade acompanhada do surgimento de novos artistas como Lygia F Telles e Dalton Trevisan ligados às linhas tradicionais da literatura brasileira regionalismo intimismo urbanismo introspecção psicológica De outro lado a ruptura com valores tradicionais que se dispersam através de propostas alternativas ou experimentais buscando novos caminhos ou exprimindo de maneiras pouco convencionais as tensões de um país sufocado pelas forças da repressão Nessa vertente nascem o concretismo a poesia Práxis os romances e contos fantásticos alegóricos O professor Domício Proença Filho cit in Faraco e Moura Língua e Literatura vol 3 Ed Ática defende a ideia de que nas três últimas décadas a cultura brasileira tem vivido sob o signo da multiplicidade seja na área política social ou artística Para ele a cultura pósmoderna apresenta as seguintes 14 características Eliminação entre fronteiras entre a arte erudita e a popular Presença marcante da intertextualidade diálogo com obras já existentes e presumivelmente conhecidas Mistura de estilos ecletismo que contenta gostos diversificados Preocupação com o presente sem projeção ou perspectivas para o futuro Na dramaturgia especificamente surgiu um espectador mais ativo que passou a fazer parte de uma interação entre atores e plateia Música e cinema sofrendo concorrência e pressão por parte da moda imposta pelos países mais desenvolvidos A rapidez de sucessão dos modismos tendo por objetivo o consumo desenfreado O lucro passou a reinar na sociedade brasileira Tratandose especificamente da Literatura o Professor Proença aponta as seguintes características dessa arte neste período Ludismo na criação da obra desembocando frequentemente na paródia ou pastiche Ex as sucessivas imitações do famoso poema de Gonçalves Dias Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá Intertextualidade característica da qual os textos de Drummond como A um bruxo com amor retomando M de Assis Todo Mundo e Ninguém retomando o auto da Lusitânia de Gil Vicente são belos exemplos Fragmentação textual associação de fragmentos de textos colocados em sequência sem qualquer relacionamento explícito entre a significação de ambos como em uma montagem cinematográfica 15 5 POESIA Nesta há duas constantes a Uma reflexão cada vez mais acurada e crítica sobre a realidade e a busca de novas formas de expressão mantêm nomes consagrados como João Cabral Mário Quintana Drummond no painel da literatura b Afirmação de grupos que usavam técnicas inovadoras como sonoridade das palavras recursos gráficos aproveitamento visual da página em branco recortes montagens e colagens As principais vanguardas poéticas prendemse aos grupos Concretismo Poema Processo Poesia Social Tropicalismo Poesia Social Poesia Marginal 51 Concretismo O concretismo foi idealizado e realizado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e por Décio Pignatari Em 1952 esse movimento começou a ser divulgado através da revista Noigrandesantídoto contra o tédio em linguagem provençal mas seu lançamento oficial aconteceu em 1956 com a Exposição Nacional da Arte Concreta em São Paulo Suas propostas aparecem no Plano Piloto da Poesia Concreta assinado por seus inventores Poesia concreta produto de uma evolução crítica de formas dando por encerrado o ciclo histórico do verso unidade rítmicoformal a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural espaço qualificado estrutura espaço temporal em vez de desenvolvimento meramente temporísticolinear daí a importância da ideia do ideograma desde 16 o seu sentido geral de sintaxe espacial ou visual até o seu sentido específico fenollosapound de método de compor baseado na justa posição direta analógica não lógico discursiva de elementos Poesia concreta uma responsabilidade integral perante a linguagem realismo total contra uma poesia de expressão subjetiva e hedonística Criar problemas exatos e resolvêlos em termos de linguagem sensível uma arte geral da palavra O poemaproduto objeto útil Vários poemas desse período não apresentam versos jogam com a forma e o fundo aproveitando o espaço gráfico em sua totalidade brincam com o significado e o significante do signo linguístico rejeitam a ideia de lirismo e tratam de forma inusitada o tema O poema é como um quadro sem ligações com o universo subjetivo Esse objeto concreto é passível de manipulação e permite múltiplas leituras de cima para baixo da direita para a esquerda em diagonal etc Como podese perceber retomam procedimentos que remontam às vanguardas do início do século tais como Cubismo e Futurismo Seus recursos são os mais variados experiências sonoras aliterações paronomásias caracteres tipográficos variados formas e tamanhos diagramação criação de neologismos O poeta é um artesão da civilização urbana sintonizado com o seu tempo 52 Poesia Práxis Em 1962 Mário Chamie lidera em grupo dissidente contra o radicalismo dos mais concretos e instaura a poesiapráxis Em sua obra Lavralavra faz uma espécie de manifesto as palavras não são corpos inertes imobilizados a partir de quem as profere e as usa As palavras são corpos vivos Não vítimas passivas do contexto O autor práxis não escreve sobre temas ele parte de áreas seja uma fato externo ou emoção procurando conhecer todos os significados e contradições possíveis e atuantes dessas áreas através de elementos sensíveis que conferem a elas realidade e existência A poesiapráxis preocupouse com a palavra energia que gera outras 17 palavras uma valorização do ato de compor É o que se vê no poema Agiotagem de Mário Chamie Agiotagem um dois três o juro o prazo o pôr o cento o mês o ágio porcentagio dez cem mil o lucro o dízimo o ágio a moral a monta em péssimo empréstimo Muito nada tudo a quebra a sobra a monta o pé o cento a quota haja nota agiota Fragmento do Poema LAVRADOR Mário Chamie LAVRA Onde tendes pá pé e o pó sermão da cria tal terreiro DOR Onde tenho a pó o pé e a pá quinhão da via tal meu meio de plantar sem água e sombra LAVRA Onde está o pó tendes câimbra Poemacódigo ou semiótico e Poema Processo Em 1964 Décio Pignatari e Luiz Ângelo Pinto lançaram a ideia do poema código ou semiótico predominantemente visual incorporando outras linguagens jornal propaganda montando um texto à maneira dadaísta Outra variante do Concretismo foi uma radicalização ainda maior o poema processo criação de Wladimir Dias Pino e Alvares de Sá utilizando sobretudo signos visuais e dispensando o uso da palavra 53 A poética da resistência A poesia social Seu principal mentor é o maranhense Ferreira Gullar que em 1964 rompe com a poesia concreta e retoma o verso discursivo e temas de interesse social guerra fria corrida atômica neocapitalismo terceiro mundismo 18 buscando maior comunicação com o leitor e servir como testemunha de uma época Após o golpe militar e a AI5 empreende uma verdadeira poesia de resistência ao lado de outros escritores artistas e compositores JJ Veiga Thiago de Mello Affonso Romano de SantAna Antônio Callado Gianfrancesco Guarnieri Chico Buarque Oduvaldo Viana Filho 54 Tropicalismo O movimento musical popular chamado Tropicalismo originouse ainda na década de 60 nos festivais de M P B realizados pela TV Record que projetaram no cenário nacional os jovens Caetano Veloso Gilberto Gil o grupo Os Mutantes e outros Com humor irreverência atitudes rebeldes e anarquistas os tropicalistas procuravam combater o nacionalismo ingênuo que dominava o cenário brasileiro retomando o ideário e as propostas do Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade Dessa forma propunham a devoração e de deglutição de todo e qualquer tipo de cultura desde as guitarras elétricas dos Beatles até a Bossa Nova de João Gilberto e o nordestinismo de Luiz Gonzaga Características dos textos ironia e paródia humor e fragmentação da realidade enunciação de flashes cinematográficos aparentemente desconexos ruptura com os padrões tradicionais da linguagem pontuação sintaxe etc Suas influências foram fundamentais na música mas repercutiram também na literatura e no teatro Com o AI5 seus representantes foram perseguidos e exilados A partir daí a linguagem artística ou se cala ou se metaforiza ou apela para meios não convencionais de divulgação 55 A Poesia Marginal Segundo a professora Samira Youssef Campedelli M Literatura História e Texto 3 Saraiva a poesia desenvolvida sob a mira da polícia e da política nos anos 70 foi uma manifestação de denúncia e de protesto uma explosão de literatura geradora de poemas espontâneos malacabados irônicos coloquiais 19 que falam do mundo imediato do próprio poeta zombam da cultura escarnecem a própria literatura A profusão de grupos e movimentos poéticos jogando para o ar padrões estéticos estabelecidos mostra um poeta cujo perfil pode ser mais ou menos assim delineado ele é jovem seu campo é a banalidade cotidiana aparentemente não tem nem grandes paixões nem grandes imagens faz questão de ser marginal Experimentalismo moralidade ideologia e irreverência são algumas de suas características A divulgação dessa obra foge do circuito tradicional são textos fechados em muros jornais revistas e folhetos mimeografados ou impressos em gráficas de fundo de quintal e vendidas em mesas de restaurantes portas de cinemas teatros e centros culturais happenings e shows musicais até uma chuva de poesia foi realizada no centro de São Paulo da cobertura do edifício Itália em 1980 Ainda de acordo com a Professora Samira opuscit p354 Recuperam se alguns laços com a produção do primeiro Modernismo 1922 poemas minuto poemaspiada experimentaramse técnicas como a colagem e a desmontagem dadaístas praticaramse formas consagradas como os sonetos ou o haicai tudo foi possível dentro do território livre da poesia marginal como bem atestam os poemas de Paulo Leminsky à moda grafite com sabor de haicai 56 Outras Tendências Alguns poetas não se filiam a nenhuma dessas tendências ou constituindo obra pessoal ou seguindo novos caminhos ainda muito novos e incertos para serem catalogados ou retomando a linha criativa de poetas já consagrados como Drummond Murilo Mendes e João Cabral São eles Adélia Prado Manuel de Barros José Paulo Paes e Cora Coralina entre outros 20 6 PROSA Assim como na Poesia na Prosa o período pósmoderno caracterizase por uma pluralidade de tendências e estilos A partir dos anos 70 vãose quebrando limites entre os gêneros literários romance e conto conto e crônica crônica e notícia desdobramse e acabam incorporando técnicas e linguagens antes fora de seus domínios Dessa forma aparecem romances com ares de reportagens contos parecidos com poemas em prosa ou com crônicas autobiografias com lances romanescos narrativos que adquirem contornos de cena teatral textos que se constroem por justaposição de cenas reflexões documentos 21 7 O ROMANCE O romance ora segue as linhas tradicionais aprofundandose e enriquecendoas com novos temas ora inova criando novas nuances de prosa Há diversos tipos de romance 71 Romance regionalista Seguindo um caminho tradicional iniciado desde o Romantismo uma safra de bons escritores continua a retratar o homem no ambiente das zonas rurais com seus problemas geográficos e sociais Ex Mário Palmério Vila dos Confins Chapadão do Bugre José Cândido de Carvalho O Coronel e o Lobisomem Bernardo Élis O tronco Herberto Sales Além dos Maribus Antônio Callado Quarup entre outros 72 Romance Intimista Na mesma linha de sondagem interior de indagação dos problemas humanos iniciada por Clarice Lispector vários autores exploram o interior de personagens angustiadas desnudando seus traumas problemas psicológicos religiosos morais e metafísicos Ex Lygia Fagundes Telles Ciranda de Pedra As Meninas Autran Dourado Ópera dos Mortos O Risco no Bordado Osman Lins O Fiel e a Pedra Lya Luft Reunião de Família Aníbal Machado João Ternura Fernando Sabino O Encontro Marcado Josué Montello Os degraus do Paraíso Chico Buarque Estorvo entre outros 73 Romance urbano social Documenta os grandes centros urbanos com seus problemas específicos a burguesia e o proletariado em constante luta pela ascensão social luta de classes violência urbana solidão angústia e marginalização Ex José Condé Um Ramo para Luísa Carlos Heitor Cony O ventre Antônio Olavo Pereira 22 Marcoré Marcos Rey Luís Vilela Ricardo Ramos Dalton Trevisan e Rubem Fonseca 74 Romance político A censura calou durante um tempo as vozes dos meios de comunicação de massa fazendo com que o romance passasse a suprir essa lacuna registrando o diaadia da história fazendo surgir novas modalidades de prosa a paródia histórica Ex Márcio de Sousa Galvez o Imperador do Acre Ariano Suassuna A Pedra do Reino João Ubaldo Ribeiro Sargento Getúlio b o romance reportagem com emprego de linguagem jornalística e enredos com relatos de torturas como veículo de denúncia e protesto contra a opressão Ex Ignácio de Loyola Brandão Zero não Verás País Nenhum Antônio Callado Quarup Reflexos do baile Roberto Drummond Sangue de CocaCola e Rubem Fonseca O Caso Morel c o romance policial com aspectos urbanos e políticos aparece na ficção de Marcelo Rubens Paiva Bala na Agulha e de Rubem Fonseca Este último considerado o melhor nesse gênero escreveu A Grande Arte Bufo SpallanzaniVastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos dentre outros d o romance histórico que consegue fundir narrativa policial fatos políticos e abordagem histórica tem grandes representantes como a obra agosto de Rubem Fonseca que retrata os acontecimentos políticos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio e Boca do Inferno de Ana Miranda que retrata a Bahia do século XVII e os envolvimentos políticos e amorosos de Gregório de Matos Fernando Morais seguindo esta linha escreve Olga a história da esposa de Luís Carlos Prestes entregue aos alemães nazistas pelo governo de Getúlio No Realismo Fantástico e no Surrealismo alguns escritores constroem metáforas que representam a situação do Brasil utilizando situações absurdas e 23 assustadoras Ex Murilo Rubião é o pioneiro O Pirotécnico Zacarias O Ex Mágico J J Veiga Sombras de Reis Barbudos A Hora dos Ruminantes Moacir Scliar A Balada do Falso Messias Carnaval dos Animais Érico Veríssimo Incidente em Antares 75 Romance Memorialista e ou autobiográfico Essa tendência surge na ficção brasileira na década de 80 misturando autobiografia relatos de viagens memoriais e reflexões de intelectuais que viveram no exílio ou foram testemunhas das atrocidades cometidas pelo regime militar Ex Pedro Nava Baú de Ossos Érico Veríssimo Solo de Clarineta I e II Fernado Gabeira O que é isso Companheiro E O Crepúsculo do Macho Marcelo Rubens Paiva Feliz Ano Velho 76 Romances experimentais e metalinguísticos Desenvolvem novas técnicas de narrativa e trabalho linguístico que apresentam estrutura fragmentária Ex Osman Lins Avalovara Ignácio de Loyola Brandão Zero Ivan Ângelo A Festa Antônio Callado Reflexos do Baile 24 8 O CONTO E A CRÔNICA A partir dos anos 70 houve uma verdadeira explosão editorial do conto e da crônica por serem narrativas curtas condensadas e atenderem à necessidade de rapidez do mundo moderno Novas dimensões foram introduzidas no conto tradicional subversão da sequência narrativa interiorizarão do relato colagem de flashes e imagens fusão entre poesia e prosa evocação de estados emocionais A crônica texto ligeiro de interpretação imediata com flagrantes do cotidiano também passou a agradar o leitor tornandose popular Autores que se destacam nesses dois gêneros 81 Contos Lygia F Telles Osmar Lins Murilo Rubião Autran Dourado Homero Homem Moacyr Scliar Oto Lara Resende Dalton Trevisan J J Veiga Nélida Pinon Rubem Fonseca João Antônio Domingos Pelegrim JrRicardo Ramos Marina Colasanti Luís Vilela Marcelo Rubens Paiva Ivan Ângelo e Hilda Hilst 82 Crônica Rubem BragaVinícius de Moraes Paulo Mendes Campos Raquel de Queiroz Carlos Drummond de Andrade Fernando Sabino Álvaro Moreira Sérgio Porto Stanislau Ponte Preta Lourenço Diaféria Luís Fernando Veríssimo e João Ubaldo Ribeiro 25 9 PÓSMODERNO A virada do século XX para o século XXI é marcada pelo montante de mudanças ocorridas e pela velocidade das descobertas Nunca se descobriu tanto em tão pouco tempo Podemos dizer que nesse período houve mais inovações nos mais diversos setores do que em todos os séculos anteriores juntos construindo assim uma nova realidade nas diversas civilizações ocidentais Os avanços tecnológicos juntamente com o desenvolvimento da imprensa e da comunicação cada vez mais rápida e ágil deram ao homem do início do século XXI um novo perfil A globalização aproximou nações enquanto os grupos se reuniram em pequenos setores para lutar por seus direitos A política até então a grande dominadora do mundo rendeuse também às regras ditadas pela economia A aceleração das inovações tecnológicas se dá agora numa escala multiplicativa uma autêntica reação em cadeia de modo que em intervalos de tempo o conjunto do aparato tecnológico vigente passa por saltos qualitativos em que a ampliação a condensação e a miniaturização de seus potenciais reconfiguram completamente o universo de possibilidades e expectativas tornandose cada vez mais imprevisível irresistível e incompreensível Sevcenko 2004 16 Com o grande avanço tecnológico e comunicativo a população do novo século está diante de novas buscas de novos anseios de uma nova realidade Surgem a sociedade de consumo e a sociedade globalizada Isso tudo graças aos meios de comunicação que possibilitam a aproximação de nações extremamente distantes mas que podem também isolar pessoas muito próximas em suas aldeias comunicativas Os hábitos foram mudando os recursos se transformando e se multiplicando tudo em prol da comodidade dos indivíduos que em sua maioria têm de trabalhar mais que antes para comprar mais que antes e se sentir inserido nessa sociedade que lhe é apresentada Dessa forma ele tem também menos tempo para as ações menores fazer compras ter um momento de lazer com a família conversar com os amigos pagar contas etc E para isso também a tecnologia e a comunicação 26 estão aí prontas para adequálo ao novo modo de vida Já se fazem compras inclusive as básicas de mercado e se pagam quase todas as contas sem sair de casa o lazer também é oferecido em casa e sem necessariamente a presença de todos os membros da família e amigos são construídos através de bate papos virtuais Diante dessa nova perspectiva de vida algumas normas e códigos de moral reguladores do comportamento social ganham novos contornos e em meio a esse contexto emerge um fenômeno intitulado Pósmodernismo e que abrange as diversas áreas da sociedade arte ciência tecnologia política filosofia e cultura Em linhas gerais as mudanças que convergiram para o surgimento dessa nova tendência destacaramse a partir de meados dos anos 50 com a arquitetura e a computação infiltramse no meio intelectual nos anos 60 apresentam um crescimento na filosofia nos anos 70 e alastramse nos anos 80 abrangendo os campos da moda do cinema da música entre outros 91 O pósmodernismo no Brasil Há grandes controvérsias a respeito da empregabilidade do termo pós modernismo em países que estejam dissociados do grande eixo que engloba os países do primeiro mundo Alguns estudiosos negam a existência ou a 27 adequação do conceito nos países subdesenvolvidos chamados de terceiro mundo Para a escritora canadense Linda Hutcheon o movimento não pode ser aceito como um fenômeno cultural internacional pois é basicamente europeu e norte e sul americano Hutcheon 1995 20 Fredric Jameson é mais radical ainda quando diz que o pósmodernismo é essencialmente norteamericano Jameson 1994 136 Outros teóricos porém principalmente os que se localizam nesses ditos países subdesenvolvidos reagem contrariamente a essas ideias Um deles é Aijaz Ahmad que num texto dirigido exclusivamente a Jameson postula a possibilidade de uma literatura em países do terceiro mundo que não se restringe a propósitos alegorizantes e que essa possibilidade não é aceita por Jameson devido a um etnocentrismo que o impede de ver os avanços significativos em tais países bem como estudar suas produções artísticas No que se refere às relações entre o pósmoderno e a América Latina dois estudiosos se destacam Nestor GarciaCanclini e Irlemar Chiampi O primeiro referese à hibridização cultural existente nesse continente como algo essencial no pósmodernismo No plano do desenvolvimento GarciaCanclini observa a heterogeneidade latinoamericana quanto aos estágios próprios de cada país Hoje concebemos a América Latina como uma articulação mais complexa de tradições e modernidades diversas desiguais um continente heterogêneo formado por países onde em cada um coexistem múltiplas lógicas de desenvolvimento Para repensar esta heterogeneidade é útil a reflexão antievolucionista do pós modernismo mais radical que qualquer outra anterior GarciaCanclini 1997 28 Podemos perceber assim que Canclini relaciona o pósmoderno com a multiplicidade cultural e de estágios de desenvolvimento da América Latina Essa mistura própria desse continente segundo Canclini é algo que está altamente ligado à proposta pósmoderna Irlemar Chiampi usando o bolero e o romance do pósboom hispanoamericano como exemplos também destaca a aproximação do erudito e do popular feita através da cultura de massa como aspecto fundamental no 28 pós modernismo da produção da América Latina Para a autora essa aproximação pode ser caracterizada por duas modalidades A primeira delas seria o deslocamento do material exclusivo da cultura popularmassiva para inserilo no código culto da enunciação narrativa Aqui Chiampi discute como os elementos ditos como espúrios alienantes adulterados são reutilizados em outros contextos de forma que possam adquirir novas funções dentro da narrativa em um processo de incorporação chamada por ela de repragmatização A segunda forma é o deslocamento do código culto da literatura para um contexto mais melodramático da narrativa Esse segundo processo visa aproveitar diversos resíduos da tradição literária para transcodificála na narrativa mediante a despragmatização do seu efeito estético alto Chiampi 1996 81 Acontece então uma inversão da apropriação dos materiais residuais da cultura popularmassiva Para Chiampi não há pois motivos para querer preservar a diferença entre erudito e popular sua identidade e legitimidade ficam comprometidas pelo contágio Chiampi 1996 83 não podendo mais nenhum dos dois voltarem ao seu estágio original sem estarem afetados contaminados um pelo outro Essa contaminação existente na América Latina é para a autora indício de uma nova tendência no caso o pósmodernismo O lixo cultural cuja presença a cultura hegemônica foi tolerando na época moderna desde que se mantivesse em territórios bem definidos onde o contágio não ameaçasse a pureza das expressões culturais genuínas e nobres as do Folclore e da Arte o popular e o erudito parece experimentar dias de glória que transcendem sua condição de resíduo Reciclado por narradores pertencentes ao cânone literário seu reaproveitamento e funcionalização em obras prestigiadas lhe outorga um novo status dentro da cultura pósmoderna na América Latina Chiampi 1996 76 No Brasil o termo pósmodernismo foi empregado pela primeira vez em 1946 por Alceu Amoroso Lima já dentro de uma realidade especificamente brasileira Falase em aspectos específicos porque o Brasil e aqui poderíamos incluir também os outros países da América Latina possui uma realidade 29 histórico cultural diferente dos países europeus e norteamericanos convergindo assim para alguns aspectos singulares também na arte Uma questão bastante relevante é de ordem política já que os países do então chamado terceiros mundos não se encontram no mesmo estágio de modernização que os do primeiro mundo Dessa forma não há como pensar o pós moderno como homogêneo haja vista que vivemos em sociedades heterogêneas quanto aos estágios de modernização Poderíamos pensar então não em um pós modernismo mas em pósmodernismos ou seja como temos sociedades heterogêneas o conceito também se mostra heterogêneo adaptado a cada realidade onde está inserido Seria então incoerente estender determinados conceitos que são de uma amplitude maior a diferentes países sem observar as diferenças sociais políticas e culturais que compõem os diferentes países Em se tratando da América Latina seria prudente observar o processo de modernização ocorrido nas últimas décadas e então teríamos como ponto de referência que esse processo apresenta uma feição peculiar característica de uma economia dependente e de uma realidade social fortemente matizada e diferenciada e as manifestações estéticas aqui surgidas estão em constante diálogo com tais aspectos Coutinho 1995 428 É válido porém que se insiram as manifestações artísticas produzidas na América Latina dentro do contexto pósmoderno desde que essas peculiaridades sejam respeitadas Assim a partir das décadas de 50 e 60 o Brasil assistia ao surgimento de vanguardas e posicionamentos assumidos que foram mudando o contexto literário em nosso país Na poesia encontramos o movimento da poesia concreta 1956 o Neoconcretismo 1959 a Literatura praxis 1962 o movimento do Poemaprocesso 1967 Em 1968 emerge o Tropicalismo que representa uma tomada de posição de alguns artistas renovadores na área de diversas atividades teatro cinema artes plásticas e música popular Esse momento foi crucial para o desenvolvimento da arte como tal já que toda a produção carregouse de uma implicação ideológica que se expressava na censura que representava o tipo de orientação que o Estado pretendia conferir à cultura e acabou funcionando como uma espécie de emblema da 30 época por meio do qual seria possível interpretar toda a produção cultural como se interpreta um código cifrado acessível apenas aos iniciados Pellegrini 1995 73 O Estado através da censura agiu de forma a constranger a criação artística num primeiro momento e depois quando percebe que está perdendo terreno diante do povo da classe média e do empresariado passa a investir num incentivo à cultura criando uma Política Nacional de Cultura em 1975 Assim a cultura nacional passa a fazer parte de um sistema empresarial que a coloca nos moldes da profissionalização e da conquista do mercado Aqueles que não estavam de acordo com essa política não recebiam incentivo dela então agiam de forma paralela e marginal com recursos próprios Entre eles podemos citar a poesia marginal e os grupos experimentais de teatro e cinema A partir dos anos 80 essa relação entre o Estado e a produção cultural se solidifica com uma significativa ampliação do espaço para a produção Espaço este dimensionado pelos parâmetros da indústria cultural sendo que o fator decisivo dessa nova dimensão fora a simbiose operada entre a mídia e o mercado Dessa forma o limite entre cultura e mercadoria desaparece difundindose uma estética internacionalpopular fundada na proliferação das imagens via televisão a do espetáculo Pellegrini 1995 75 Por outro lado esvaiuse também o caráter rebelde dos anos 60 e 70 a poesia marginal ampliou seus leitores através de uma grande editora a Brasiliense profissionalizouse e incorporouse no meio do mercado de bens culturais Os grupos experimentais por sua vez desapareceram ou aderiram aos grupos profissionais selecionados pela televisão Observamos contudo que mesmo em meio a esse fenômeno chamado mercado de bens culturais ou ainda indústria cultural nossa literatura vem trazendo grandes inovações em suas produções nessas últimas décadas A poesia contemporânea traz por um lado manifestações que vêm para consolidar o discurso modernista e por outro apresenta novos matizes e novas contribuições para uma nova tendência Na prosa temos um grande número de escritores que enriqueceu e continua enriquecendo a cultura brasileira 31 Alguns seguem desenvolvendo a linha do texto espelho ou do texto de denúncia social na continuidade da tradição realistanaturalista acrescida de um ou outro aspecto diferenciador outros continuam o percurso da introspecção psicológica e outros mais se preocupam basicamente com a linguagem em si mesma Proença Filho 2002 387 Além do romance a emergência do conto é um fato bastante relevante dentro da literatura brasileira contemporânea O conto passa a ser um gênero de destaque na atualidade trazendo muitas propostas de recursos renovadores As temáticas do conto são variadíssimas e vão desde a caracterização de problemas individuais até os espaços do imaginário aberto passando por espaços relevantes da realidade social brasileira Proença Filho 2002 388 Em se tratando especificamente do conto contemporâneo notase que este acompanha as mudanças da era moderna capitalista O homem com seus limites e apreensões em sua luta diária perante a sociedade esmagadora e até suas pequenas vitórias cotidianas é o retrato do final do século XX e início do século XXI E é a esse retrato que se refere o conto atual Não há mais uma preocupação como tinha o humanismo liberal com grandes feitos e soluções Hoje o conto está centralizado nos pequenos ou grandes problemas individuais que nem sempre têm soluções como são também na realidade Para tanto o conto se utiliza de todos os artifícios da modernidade Assim como imagens televisivas dos meios de comunicação o conto vai traçando o retrato da sociedade contemporânea Luiz Carlos Simon 1999 comenta essas peculiaridades da ficção pósmoderna e diz que o conto possui três aspectos básicos fragmentação velocidade e intensidade O primeiro se refere a frases desconexas falta de linearidade e superposição de ideias sempre escolhidas pelo contista a fim de gerar um efeito jamais conseguido se baseado na integridade e na sequência Segundo o autor essa escolha pelo fragmento é igualmente um reflexo da sociedade atual em que a fragmentação o caco é visível e fortemente presente As referências ao efêmero e ao frágil às vozes e aos momentos alimentam a afinidade entre o conto e a fragmentação Agora além da intencionalidade do recorte e da natureza lírica emanada da fixação em um 32 momento podese começar a confirmação de que o caráter fragmentário transcende a estrutura do conto e caracteriza também o mundo aí representado igualmente fragmentado Simon 1999 Percebese então que numa sociedade baseada no recorte individual nos problemas de ordem particular e fragmentária a ficção não poderia deixar de ser semelhante A preferência por tais temas é explícita no conto contemporâneo o sujeito aqui enfocado não é mais do centro como observa Linda Hutcheon e sim o das margens seja de ordem sexual étnica econômica ou social Encontrar por exemplo um protagonista num conto sem nem sequer um nome que não consegue ultrapassar seus obstáculos ou resolver seus problemas é muito comum nos contos com que o leitor se depara atualmente A coletividade foi substituída pelas pequenas preocupações individuais Esse personagem anônimo dentro da ficção contemporânea também foi observado por Fredric Jameson 1994 como marca presente e muito representativa Dessa forma o autor dá preferência a personagens carentes de identificação apresentando muitas vezes histórias de seres a maioria sem nome ou qualquer outro traço que o individualize que representam tipos genéricos modelos de ação e comportamento em vez de personalidades cuja intimidade e psicologia são vasculhadas pelo escritor O segundo aspecto atribuído ao conto contemporâneo é a velocidade Este que já fora observado por Tchekov com uma supressão de detalhes e por Poe no que se refere à duração do tempo de leitura e sua relação com a unidade do efeito Hoje porém a velocidade é muito mais marcante na vida cotidiana pois o homem contemporâneo dispõe de pouco tempo para estar informado se entreter ou manter se em contato com a arte Em se tratando do conto é possível perceber que este segue essa tendência atualizando o conceito de velocidade As obras são cada vez mais sintéticas e objetivas com uma linguagem mais voltada para o leitor moderno Ítalo Calvino 1990 trata sobre esse assunto em seu livro Seis propostas para o próximo milênio apontando a rapidez como uma delas Para ele a velocidade não tem valor em si pois o tempo narrativo pode ser também retardador ou cíclico ou imóvel Em todo caso o conto opera sobre a duração 33 é um sortilégio que age sobre o passar do tempo contraindoo ou dilatandoo Calvino 1990 O que o autor ressalta é que a negligência quanto aos detalhes inúteis prende muito mais a atenção do leitor ao conto A intensidade é a terceira característica atribuída ao conto contemporâneo Novamente concebida hoje de forma diferente do que fora anteriormente O conceito não corresponde mais à ideia de um aprofundamento crítico e reflexivo Simon 1999 mas está ligado ao que Linda Hutcheon 1995 chama de retórica negativizada ou seja descontinuidade desmembramento deslocamento descentralização indeterminação e antitotalização Esses termos sempre antecedidos por prefixos de negação são usados pela ficção contemporânea para negar o compromisso ou ainda incorporar aquilo que pretende contestar Hutcheon 1995 Um gênero muito próximo do conto exclusivamente brasileiro e que ganha uma vitalidade literária muito grande nas últimas três décadas é a crônica com autores que trabalham incessantemente a fim de assegurarlhe a permanência apesar de sua efemeridade Diferentemente de outros gêneros a crônica não vai em busca do grandioso e do sublime o que ela faz é pegar o miúdo e assim mostrar o que nele há de grandioso singular ou inesperado Ela também não é um gênero feito para durar como os outros uma vez que é filha do jornal e da era da máquina onde tudo acaba tão depressa Candido 1992 Assim ela ensina a cada um a conviver com as palavras de forma íntima e pessoal transformando a literatura em algo que se relaciona com a vida de cada um já que faz com que a palavra não se dissolva tão rapidamente ao contrário permaneça um pouco mais mesmo que seja por um curto espaço de tempo em nossas mentes ganhando relevo entre os nossos pensamentos permitindo que o leitor a sinta na força dos seus valores próprios Assim como o conto a crônica também economiza nas palavras abdica do tom rebuscado da linguagem prefere a simplicidade e a naturalidade e busca da mesma forma uma aproximação com a oralidade Seu traço particular é a aproximação de fatos exclusivos do diaadia como se fosse uma conversa fiada com o leitor O que se observa porém é que esse ar despreocupado de coisa 34 sem muita importância permite à crônica aprofundarse no significado dos atos e sentimentos do homem Candido 1992 e servirse como crítica social De uma maneira leve e bemhumorada a crônica se permite ser um veículo privilegiado para mostrar de modo persuasivo muita coisa que divertindo atrai inspira e faz amadurecer a nossa visão das coisas Candido 1992 Os dois gêneros o conto e a crônica são muito representativos na literatura contemporânea por sua brevidade e leveza por sua simplicidade e sutileza de sensibilidade com o fato que vai narrar Ambos conto e crônica estimulam o leitor a uma nova procura já que seu conteúdo é tão atraente e singular apesar de tratar muitas vezes de tramas tão comuns à vida diária desse mesmo leitor Esse que em muitos momentos recorre à arte para entender sua vida e as agruras que a envolvem que muitas vezes prefere rir dos seus problemas a se desesperar com eles se aproxima da narrativa breve simples e reflexiva para dar talvez um sentido a sua vida que nem sempre é leve e nem sempre é passível de ser entendida Em suma a literatura brasileira tem vivido nas últimas décadas sob o signo da multiplicidade seja no campo político social ou artístico No que se refere ao espaço artístico a contemporaneidade presencia fortes mudanças que envolvem atitudes variadas e multifacetadas procedimentos de vanguarda posicionamentos divergentes e aproximação das culturas erudita e popular Em todas essas mudanças o que é certo é que há sem dúvida traços da pós modernidade Justificase então falarmos em Pósmodernismo na literatura e na cultura brasileira 92 Algumas abordagens do pósmodernismo O pósmodernismo é um fenômeno cultural estético político e filosófico que abrange vários aspectos diferenciadores para que possa ser chamado de movimento O presente estudo pretende abordar alguns deles selecionandoos de forma a reunir elementos que possibilitem uma pesquisa acerca das vertentes sociais e estéticas desse movimento Dessa forma pretendese apresentar algumas abordagens referentes à produção pósmoderna privilegiando alguns 35 aspectos que possam trazer uma relevante contribuição para o trabalho aqui apresentado 93 Engajamento e criticidade a grande desilusão do sujeito descentralizado Um dos grandes questionamentos abordados pelo pósmoderno é a totalização a verdade absoluta a crença indissolúvel nas grandes autoridades sociais Esses conceitos totalitários foram herdados do que comumente se chama de humanismo liberal O poder centralizado do homem ocidental branco heterossexual de classe média cai em decorrência da ascensão das margens É o que Linda Hutcheon denomina descentralização do sujeito para caracterizar esse movimento de mudança de sentido cultural o centro cede lugar às margens e a homogeneidade às diferenças A partir de uma perspectiva descentralizada se existe um mundo então existem todos os mundos possíveis a pluralidade histórica substitui a essência atemporal eterna Hutcheon 1995 85 Essa descentralização descrita por Hutcheon se estabelece em vários âmbitos distintos dentro e fora da ficção O universal e totalizante cedem lugar ao local e ao particular Nas produções artísticas por exemplo vemos uma emergência de autores dos países ditos do Terceiro Mundo América Latina e África principalmente A literatura desses países já é analisada de forma particular com certo enfoque em suas inovações e vanguardas O centro artístico Europa e América do Norte divide espaço com as produções dos países em desenvolvimento Dentro da ficção os temas assim como os personagens são notadamente das margens representados pelos vários pequenos grupos que as compõem os negros as mulheres os homossexuais os índios os miseráveis etc O múltiplo o heterogêneo o diferente essa é a retórica pluralizante do pós modernismo Hutcheon 1995 95 e esse discurso vai se disseminar por todas as manifestações que se denominam pósmodernas A ideia do pósmodernismo em focalizar as margens não quer dizer mudar 36 as posições trazer a margem para o centro A intenção é questionar essa disposição internoexterno centromargens e despertar uma consciência tanto estética quanto política existente nessas relações Linda Hutcheon completa dizendo que as contradições formais e temáticas da arte pósmoderna atuam exatamente nesse sentido de chamar a atenção tanto para o que está sendo contestado como para o que se oferece como resposta a isso e fazêlo de uma maneira autoconsciente que admite seu próprio caráter provisório Hutcheon 1995 31 Para a autora canadense o lema do pósmodernismo deve ser Vivam as margens Trazer como ponto central da arte pósmoderna o sujeito anônimo acarreta ao próprio fenômeno um outro aspecto muito constante nas produções se o sujeito é descentralizado o tema que envolve esse sujeito não pode ser de centro ele deve convir com seu representante Dessa forma temos nas produções pósmodernas uma tendência que abarca as questões próprias dos grupos das margens suas mazelas suas aspirações e tudo que os envolve Fredric Jameson se refere a esse sujeito como um representante de seu grupo como um anônimo capaz de representar milhões de outros anônimos numa multiplicação de identidades O pósmoderno toma uma posição de desconstrução diante das totalidades tradicionais e apresenta em seu lugar o homem comum e seus problemas individuais Diante disso temos uma nova perspectiva crítica diante da realidade se os problemas são individualizados as soluções se elas existem são apresentadas da mesma forma O sujeito pósmoderno já não acredita em grandes feitos grandes revoluções em busca do bem comum No aqui e agora cada um deve resolver seus problemas a seu modo sem esperar que ninguém o faça a não ser ele próprio Podemos dizer então que o indivíduo pósmoderno perdeu as ilusões que seus antepassados cultivavam quanto à obtenção de respostas conclusivas sobre o sentido do universo e da vida entrevistas no sonho de unidade e poder representados primordialmente na figura de Deus ou outro referente de autoridade história natureza conhecimento Konzen 2000 É importante ressaltar que o pósmodernismo questiona os sistemas 37 centralizados totalizantes hierarquizados e fechados mas não os destrói Na verdade ele não aponta grandes soluções apresenta o problema para que haja uma reflexão sobre e não para apontar uma outra alternativa Isso porque dentro da ótica pósmoderna não existe uma ordem única possível uma única verdade objetiva há ordens e verdades múltiplas heterogêneas e provisórias e essas são criadas por todos os indivíduos descentralizados dentro da história Essa é a verdade pósmoderna tudo é limitado temporário e provisório nada é eterno e completo O impulso pósmoderno não é buscar nenhuma visão total Ele se limita a questionar Caso encontre uma verdade dessas visões ele questiona a maneira como na verdade a fabricou Hutcheon 1995 Linda Hutcheon diz ainda que o pósmodernismo não está em acordo nem com a ordem nem com a desordem ele questiona ambas cada uma em seus aspectos falhos 38 10 FRAGMENTAÇÃO A ARTE IMITA A VIDA A vida do homem contemporâneo está cada vez mais envolvida com um ritmo frenético uma descontinuidade de tempo e espaço uma necessidade cada vez maior de trabalhar mais para viver melhor e um desejo de viver melhor para poder trabalhar menos Tudo se resume a pequenas partes separadas de um quebra cabeça que parece não se juntar nunca de forma a apresentar a vida que é ou deveria ser algo contínuo e ininterrupto em algo completamente fragmentado e separado pelos dias vividos e pelos ambientes e situações encontrados Isso pode ser observado na área profissional em que há uma segmentação através das especializações nos programas televisivos cada vez menores ou sequencializados em pequenos capítulos nos serviços prestados com um telefone ou um atendente para cada departamento Muitas vezes o indivíduo tem de estar em vários lugares num único dia receber milhares de informações de uma só vez resolver muitas situações sem ter tempo de analisá las adequadamente Tudo porque não há tempo na nossa sociedade capitalista em que o mais importante é conseguir ganhar mais dinheiro no menor espaço de tempo possível Esse aparente caos cotidiano está presente em todas as classes sociais e em praticamente todos os pontos geográficos do nosso planeta Estamos na era pósmoderna passando por uma cultura pósmoderna E nessa cultura pós moderna diz Douglas Kellner o sujeito se desintegrou num fluxo de euforia intensa fragmentada e desconexa e que o eu pósmoderno descentrado já não sente ansiedade e já não possui a profundidade a substancialidade e a coerência que eram os ideais e às vezes a realização do eu moderno Kellner 2001 Tais sujeitos segundo alguns teóricos se desestabilizaram e se tornaram massas criando um mundo desconexo fragmentado e descontínuo Essa fragmentação é refletida na arte pósmoderna São inúmeros os exemplos de textos descontínuos esculturas e pinturas fragmentadas poemas que parecem não ter início nem fim A vida em fragmentos é inspiração para a 39 arte pós moderna Essa descontinuidade é feita pela hibridização de gêneros pela mistura de texto literário com não literário pela ruptura inesperada da obra pela mistura de materiais e recursos Tudo isso é feito de maneira consciente pelo artista num intuito de apresentar o homem contemporâneo como ele é em seu cotidiano fragmentado e desconexo Em consonância com esta cultura fragmentada um gênero vem demonstrando bastante importância na contemporaneidade o conto Dessa forma fazse necessário analisar o conto nesse entrelaçamento com a cultura pósmoderna pelo veio da fragmentação Sendo o conto como diz Alfredo Bosi o gênero da literatura contemporânea é quase natural que traga consigo aspectos imanentes dessa cultura Dessa forma podemos notar uma aproximação muito grande desta forma ficcional com os aspectos culturais da sociedade em que ele é inserido Num momento em que o caco reflete os vários discursos e as várias realidades o conto através de sua supressão de tempo e espaço caminha lado a lado ou melhor vai ao encontro de seu público para tentar satisfazer seus desejos enquanto leitores Assim o fragmento tornase necessário também na literatura para que ela alcance seu objetivo primeiro ser lida A brevidade do conto tem esse poder já que o leitor não precisa disponibilizar de muito tempo para a leitura Tempo aliás que ele não tem O fragmento dessa forma não é algo gratuito haveria também uma intencionalidade no processo de recorte com fins específicos moldado de modo a gerar resultados que não seriam atingidos com uma exposição mais baseada na sequência ou na integralidade Simon 1999 Podemos dizer portanto que não estamos desamparados nem estamos sós Há um meio de vermos nossa sociedade refletida na arte de uma forma mais direta e profunda A fragmentação diária é compreendida e harmonizada através da ficção que também abre mão da continuidade e da perenidade para ser um pequeno fragmento descentralizado descontínuo um caco 40 11 HUMOR E A IRONIA UMA ESTREITA RELAÇÃO ENTRE O RISO E A DOR Um dos aspectos apresentados pelo pósmodernismo é o fato de não apresentar soluções para os problemas que apresenta Como não consegue resolver os problemas que aponta o pósmodernismo ri deles Ri num sentido de denúncia e renúncia para combater ou apenas para não chorar das tragédias que o indivíduo enfrenta Como afirma Sandra Fontoura uma das características marcantes no pósmodernismo é um teor irônico ou até cômico para não dizer que tem um toque de loucura uma vez que não apresenta soluções ou alternativas apenas aceita passivamente o que o moderno não conseguiu resolver e ri da tragédia cotidiana Fontoura 1996 33 Sendo assim o recurso mais utilizado pelo humor contemporâneo é a ironia Isso porque segundo Georges Minois a ironia está próxima da consciência do nada Minois 2003 Ela está muito perto da tristeza porque celebra a derrota da razão Podemos dizer portanto que a ironia é pessimista porque trabalha com contradições que do ponto de vista da razão são absurdas e irremediáveis Para o historiador o uso da ironia no humor torna este superficial sem grandes engajamentos Isso porque o ironista sempre pisa em falso porque nunca adere completamente ao presente Ele toca de leve os problemas jamais se engaja a fundo não corre o risco de desencanto pois nunca toma como seu valor nenhum Minois 2003 Uma forma bastante frequente e por que não dizer eficaz de se estabelecer o humor irônico no pósmodernismo é a paródia e esta por sua vez chega com um tom de crítica ao passado e também ao presente através do referencial histórico do qual se apropria Apesar de que o próprio Modernismo tenha se utilizado amplamente do recurso parodístico podemos perceber nessa nova vertente uma significativa mudança No Modernismo os objetos da paródia eram textos consagrados de uma literatura que eles pretendiam contestar Agora temos uma paródia que revisita textos modernos a fim de desconstruílos e desmistificálos É o caso por exemplo da obra consagrada de Franz Kafka A Metamorfose que já foi parodiada por vários escritores contemporâneos como o conto O despertar de Gregório Barata de Sérgio Santanna em 41 histórias em quadrinhos e até através de uma música que versa sobre uma barata encontrada numa cozinha e traz um trocadilho com o nome do próprio autor sim vem Kafka cá ficar comigo Linda Hutcheon diz que a predominância da paródia se dá pelo fato de que a voz mais forte vem das margens assinalando uma posição paradoxal tanto de dentro como de fora Essa oposição traz a paródia como a forma intertextual que constitui paradoxalmente uma transgressão autorizada pois sua irônica diferença se estabelece no próprio âmago da semelhança Hutcheon 1995 Utilizandose da paródia o pósmodernismo pode realizar seu propósito dentro da arte incorporar aquilo que pretende contestar Hutcheon 1995 ou seja se colocar dentro de um contexto que ele quer subverter A ironia usada na contemporaneidade tem também um tom de moralidade fazendo com que os atos ditos imorais saiam de seus esconderijos e se tornem públicos O riso causado pela ironia é sempre calculado intelectualizado refletido Sem dúvida nenhuma é esse o recurso que se generalizou no campo do humor E este vem para destruir fronteiras o superior tem seu valor absoluto colocado em dúvida através da ironia Esse processo se dá em todos os setores da sociedade religião Estado razão economias A ironia tem o poder de tornar tudo relativo nada mais é absoluto 42 12 O HUMOR COMO MOVIMENTO CONTEMPORÂNEO Trazendo o humor e a irreverência como herança do Modernismo as várias manifestações artísticas contemporâneas usam e abusam desses recursos em suas obras Ao contrário esse fenômeno não se restringe apenas a uma ou outra arte ou em uma ou outra obra o humor está impregnado em quase tudo e tudo é passível de se transformar em objeto do riso Atentemonos para os diversos programas televisivos Boa parte deles se dedica ao humor A praça é nossa SBT Casseta e Planeta GLOBO A escolinha do professor Raimundo GLOBO Os normais GLOBO Sai de baixo GLOBO A grande família GLOBO Pânico REDE TV entre outros Observemos as piadas as crônicas e os quadrinhos inseridos em jornais e revistas muitos filmes no cinema ou na televisão alguns programas de rádio a tempestade de charges que surgiram em quase todos os meios de comunicação a Internet que está carregada de páginas dedicadas somente ao humor Notamos nesse contexto uma tendência muito forte a satirizar tudo e todos Não há o que escape das garras da comicidade nem os seres supremos de antes desde acontecimentos banais do cotidiano até grandes tragédias como guerras desastres atentados terroristas É só o momento de passar a comoção do acontecido que já aparecem as piadas as charges uma tirada sobre o assunto Então o que era trágico passa a ser cômico Esse fenômeno já foi descrito por Bergson quando afirma que o riso depende da indiferença do espectador Afirma ainda que numa sociedade de puras inteligências provavelmente não mais se choraria mas ainda se risse Bergson 2001 já que o riso se liga à inteligência pura É a inquietação do saber e a falta de comoção que gera o riso Podemos perceber na sociedade contemporânea esses dois aspectos nunca se descobriu tanto e nunca se importou tão pouco com o próximo A correria diária e a luta com uma concorrência acirrada por um lugar ao sol levam o homem a se isolar em seu micromundo deixando a coletividade macromundo e seus problemas seus dissabores ou suas alegrias para segundo plano Além disso há no nosso tempo uma genérica descrença em uma solução grandiosa para as diversas 43 agruras que invadem a sociedade A dúvida é o mal da contemporaneidade Duvidase do caráter de uns do amor de outros Duvidase dos políticos da igreja dos pais dos filhos do professor e do aluno Para Slavutzky apud Kupermann 2003 a contemporaneidade seria caracterizada pelo espectro da derrota do sujeito em lugar das paixões a calmaria em lugar do desejo a ausência do desejo em lugar do sujeito o nada e em lugar da história o fim da história Diante de todos esses conflitos que se cercam do homem moderno resta lhe rir de tudo e de todos e mais fazer também os outros rirem Como se a ordem fosse Já que não podemos vencêlos rimos deles A procura pela comicidade em suas várias manifestações aumenta a cada dia talvez como uma forma de defesa como já se referiu Freud no que se refere a não ter soluções para os diversos problemas Rir para não chorar Do mesmo modo também afirma Gilles Lipovetsky em A era do vazio 1989 que vivemos em uma sociedade humorística em que há um desenvolvimento generalizado do código e do estilo humorístico Esse fenômeno é claramente percebido em campos bastante heterogêneos na publicidade nos slogans de manifestações políticas na moda na arte nos meios de comunicação de massa e sobretudo nas relações interpessoais o clima de irreverência e espontaneidade passa a ter um valor privilegiado como se nada devesse ser levado a sério Para Georges Minois esse fenômeno se dá porque o homem moderno está diante de uma nova obsessão fazer a festa Tudo é motivo para se dar uma festa aniversário acontecimentos culturais artísticos ou esportivos festas sem motivo O riso que bem entendido deve acompanhar todas essas festas tornouse o antiestresse infalível Minois 2003 Essa obsessão festiva devese ao fato de que a sociedade atual não consegue resolver os problemas que estão a sua frente Então procura algo que a faça esquecer deles Mas essa festa não é como as da Antiguidade Clássica com o intuito de restabelecer a ordem social a festa da atualidade é perpétua existencial ontológica Minois 2003 Na sociedade moderna o que seria um fenômeno excepcional a festa tornase um modo de existência permanente uma maneira de ser Uma questão apontada por Minois em relação a estas festas permanentes 44 é a contradição no que se refere a sua credibilidade Para que essas festas tenham sucesso é necessário que haja unanimidade e isso seria dizer que ela é obrigatória Daniel Kupermann em Ousar rir 2003 diz que à medida que uma fase de depressão de um mau humor crônico assola a sociedade contemporânea acompanhada por decepções nos diversos campos possíveis ao longo de sua história e sem uma aparente esperança também diante do futuro é bastante natural que se tenha tantas manifestações humorísticas Tratase agora de evitar qualquer litígio em nome do bemestar definido por uma cultura na qual a adaptação e o sucesso pessoal são os alvos almejados Assim o humor passa a dominar as várias instâncias da sociedade com a mesma tônica ausência de conflitos impossibilidade de revolta descrença é o humor descontraído que se apresenta quando ninguém acredita na importância das coisas Ele se apresenta de acordo com as ideias de Kupermann 2003 como um humor acrítico e gratuito humor de massa próprio da sociedade hedonista na qual é o instrumento privilegiado para a promoção de uma proximidade cordial e de uma atmosfera de comunhão liberta de tensões O humor pósmoderno é assim uma espécie de lubrificante social Ainda segundo o psicanalista essa descontração generalizada remetese e é proporcional à falência de projetos comuns e ao desinteresse das possibilidades de transformação social Kupermann 2003 ou seja ele é a prova da descrença pós moderna perante as mudanças coletivas Nesse sentido diz ele o humor contemporâneo é acima de tudo cínico pois reflete alguém que ri de si mesmo e de suas próprias desgraças é um riso amarelo constrangido É o humor da descontração e do cinismo desencantado em que vigora a desvitalização e a banalização esterilizante Por isso o homem pós moderno tem dificuldades em rebentar de riso em sair de si em sentirse entusiasmado perante aos acontecimentos O humor de massa seria assim a pálida atualização da risada entusiasmante que da Antiguidade ao Renascimento acompanhou festividades populares e na qual o Romantismo buscou inspiração para a libertação do espírito Kupermann 2003 O historiador francês Georges Minois comunga em certos aspectos das 45 mesmas ideias de Kupermann quando se trata do humor contemporâneo Minois diz que o homem moderno encontra no riso uma válvula de escape para zombar de seus males que foram muitos no século XX guerras crises econômicas genocídios fome miséria terrorismos desemprego bombas atômicas degradação do meio ambiente etc Desse modo como não há como escapar ou mesmo justificar tais agruras é melhor rir de um riso nervoso incontrolável talvez Essa doce droga permitiu à humanidade sobreviver a suas vergonhas Minois 2003 A sociedade de final do século XX e início do século XXI tornouse então uma sociedade humorística que por não encontrar mais soluções para os problemas ri deles O riso é algo obrigatório nesse meio Não há espaço para os não ridentes seja onde for manter o cômico é inevitável Esse riso porém não é de alegria A obrigatoriedade do riso retiralhe o tom espontâneo e lhe impõe uma carga negativa O mundo deve rir para camuflar a perda de sentido Ele não sabe para onde caminha mas vai rindo Ri para agarrarse a alguma continência Minois 2003 Assim rir de uma situação dá ao homem a impressão de têla dominado Com essa mistura de dor e riso a sociedade contemporânea cria uma espécie de fraternidade humorística cujo principal objetivo é tornar os sofrimentos mais suportáveis Segundo Minois são as desgraças do século que estimulam o desenvolvimento do humor como um antídoto ou um anticorpo diante das agressões da doença Minois 2003 Aqui o humor ganha uma dimensão coletiva que parte da reflexão do problema através do humor e caminha para o ato solidário É um humor sociológico que requer a participação ativa do ouvinte sua cumplicidade Ele gera uma simpatia vinda da solidariedade diante das desgraças e dificuldades do grupo social profissional humano O riso nascido desse humor não é explosivo nem incontrolável É um riso econômico que propicia um alívio intelectual triste e pode ser traduzido como um simples sorriso fraternal que funciona como uma arma protetora contra a angústia Sob uma outra perspectiva Luiz Carlos Travaglia 1990 aponta o humor contemporâneo como crítico e engajado usado como uma espécie 46 de arma de denúncia de instrumento de manutenção do equilíbrio social e psicológico uma forma de revelar e de flagrar outras possibilidades de visão do mundo e das realidades naturais ou culturais que nos cercam e assim de desmontar falsos equilíbrios Segundo o linguista partindo do ponto de vista social e político o humor desempenha um papel fundamental na sociedade no que concerne ao ataque à censura ao que é préestabelecido ao controle social e ao estabelecimento de outras possibilidades nesses mesmos âmbitos Com o intuito de desafiar a autoridade do discurso oficial através de críticas e de denúncias depreciativas o humor torna possível o que pela via do sério seria considerado crime e desacato Mesmo o humor veiculado pelos meios de comunicação de massa não é visto por Travaglia como alienado e pálido como afirma Kupermann Ele é ao contrário uma forma criativa uma arma um meio utilizado em todas as sociedades para descobrir através da análise crítica do homem e da vida e revelar verdades escondidas e falsificadas permitindo uma visão especial da vida uma nova visão do mundo pela transposição de conceitos uma ampliação dos contatos com nossas realidades O mesmo autor ainda coloca o humor como responsável por ser o senso das proporções e da verdade escondida e por revelar a alegria da descoberta de forma não convencional sinuosa intuitiva gerando um compromisso entre humor e riso e entre esses e a sociedade Travaglia 1990 Em meio a essa divergência de ideias a respeito do humor contemporâneo restanos refletir a respeito do conceito de engajamento e de crítica social utilizada pelo movimento Pósmoderno e em que temática o humor dos nossos dias estaria inserido sem no entanto enquadrálo em sistemas e características preestabelecidos Crítico ou não o humor está presente nos diversos gêneros e formas de lazer cinema teatro televisão etc e nesse contexto a literatura também dá sua contribuição são diversos os autores que incluem em suas obras uma pequena parcela de comicidade ou ainda trabalham exclusivamente com ela Um 47 gênero estreitamente relacionado com o aspecto cômico e que também surgiu com maior ênfase na contemporaneidade é a crônica Vários são os cronistas e quase sem exceção todos usam o humor para se referirem ao aspecto social que objetivam Temos vários nomes como Rubem Braga Sergio Porto Stanislaw Ponte Preta Luiz Fernando Veríssimo que também utiliza o humor em seus contos Moacyr Scliar entre outros Em vários gêneros literários percebemos também algumas passagens ou até obras completas dedicadas ao humorismo Contistas como Rubem Fonseca que se caracteriza pelo apelo à violência nua e crua recorre à ironia como recurso cômico romancistas como Ignácio de Loyola Brandão usam o humor para fazer suas críticas ao sistema social e político vigente poetas como José Paulo Paes também buscam no humor uma forma de expressar seus pensamentos enfim são muitos os autores que através do recurso humorístico procuram permear suas obras com originalidade e criatividade convergindo para um movimento que faz do humor uma de suas características básicas Rir é um verbo que mudou seu sentido com o passar dos tempos Antes ria se com os deuses para se aproximar deles Riase em festas periódicas em que se procurava estabelecer uma ordem social entre as pessoas Hoje a festa é algo não mais esporádica ou periódica é uma constante já que se brinca com tudo e com todos num constante processo de vulgarização do sério de desmistificação do onipotente de relativização do absoluto Hoje rir não se relaciona apenas ao movimento que se realiza com os músculos do rosto diante de uma situação engraçada Hoje rir está intimamente ligado ao movimento dos músculos do rosto diante de uma situação sem solução ou sem grandes perspectivas O riso contemporâneo é de certa forma um riso triste que não libera nenhuma substância que denota a alegria do ridente É o riso amargo e irônico de um povo que já não tem motivos para rir mas continua rindo para ter motivos para continuar vivendo 48 13 POR QUE ENSINAR LITERATURA CONTEMPORÂNEA NA ESCOLA Neste item discutiremos a necessidade de um ensino de literatura contemporânea brasileira na escola especificamente no ensino médio Vale ressaltar a escassez de trabalhos que tendem a refletir sobre tais questões Em relação ao ensino de literatura encontramos algumas reflexões Entretanto no tocante ao ensino de literatura contemporânea não nos deparamos ainda com estudos voltados para essas questões Quanto ao ensino de literatura no ensaio Consideração intempestiva sobre o ensino da literatura Leyla PerroneMoisés fala de uma crise no ensino de literatura Tal crise na visão da ensaísta decorre de um colapso na literatura A arte literária a partir do fim do século XIX concorreu para um procedimento estético autoglorificador e suicida isto é a arte passa a questionar as bases nas quais ela se firma na sociedade A literatura passa a voltarse contra os valores da sociedade na qual ela é constituída PerroneMoisés 2000 p 346 afirma que O ensino como instituição tem por objetivo manter os fundamentos da sociedade e não os questionar de maneira profunda Assim sendo o ensino de uma literatura que punha em xeque seus próprios fundamentos como prática social e indiretamente as práticas sociais em seu conjunto começou a apresentarse como problemático As produções das vanguardas do início do século por seu aspecto demolidor e anárquico agravaram o divórcio entre a prática da literatura e seu ensino Se a literatura de vanguarda não cabia bem aos interesses escolares o ensino de literatura ainda assim não deixou de ser realizado PerroneMoisés vai dizer ainda que a literatura calcada nos modelos neoclássicos era a literatura ensinada nas escolas Esqueciamse da literatura produzida naquele momento pois as obras da atualidade chamado pela autora de literatura da alta modernidade propunham uma transformação dos modelos vigentes Outro ponto interessante destacar do ensaio já referido é a desvalorização da literatura na segunda metade do século XX Ela dirá que Os gestos revolucionários das vanguardas já haviam sido assimilados e neutralizados pela sociedade o novo tornouse repetitivo PERRONE 49 MOISÉS 2000 p 347 Nesse interim o avanço das tecnologias de comunicação e informação promoveu mudanças significativas no gosto do público O próprio ensino passa a desprestigiar os textos literários para valorizar os textos da indústria cultural Diante desse quadro outra questão que nos cerca é se o ensino de literatura contemporânea atende aos interesses da escola Zilberman 1988 faz uma análise dessa relação da leitura por extensão da literatura e a escola A leitura tornase um objeto de valor social cultural econômico e político no século 18 Essa valorização parte da propagação cultural através da leitura e da escrita a partir do desenvolvimento da imprensa As formas de divulgação cultural antes da imprensa eram formas essencialmente orais É a chegada da imprensa que possibilita a expansão de acesso do saber idem ibidem p 12 Zilberman 1988 p 13 fala de uma leituromania ou seja a possibilidade de divulgação da escrita por meio dos mecanismos de reprodução impressa a qual gerou uma popularização da leitura a ponto de surgir uma literatura pragmática e objetiva aquela que se destinasse às obras úteis de caráter informativo ou evangélico que conduzissem à meditação ou à aprendizagem impedindo o escapismo e a fantasia para controlar de certa forma os riscos da leitura apontados pelos pedagogos da época É neste ponto que a autora traz uma questão muito importante para o presente trabalho A leitura passa a constituir um elemento essencial na concepção do pensamento iluminista como instrumento de libertação por parte da classe burguesa contra a aristocracia dominante Surge uma maneira contraditória de enxergar a relação entre leitura e a escola ela passa a ser elemento de emancipação e ao mesmo tempo de utilitarismo Para libertar os burgueses da opressão da aristocracia ela é libertária mas é utilitarista no sentido de manter a classe operária sob o jugo da classe burguesa porque se sabe do poder da leitura e do acesso ao saber como instrumentos de transformação social Assim Zilberman coloca o problema de uma escola como um aparelho capaz de manter a ordem preestabelecida que utilize a leitura para esse fim Mas não deixa de considerar a escola como um espaço de transformação social Tudo isso depende da política educacional em foco 50 Nesse sentido mantemos ainda a questão se o ensino de literatura contemporânea interessa a escola Se pensarmos na escola voltada para manter os ideários de uma classe dominante a literatura contemporânea ou de qualquer outra época não interessa ao ensino Neste mesmo ensaio Zilberman discute a importância da escola na formação do leitor de literatura Colocando a leitura como uma relação entre os indivíduos e o mundo a qual se estabelece por meio da linguagem a estudiosa enfatiza a leitura da literatura como um processo não mecânico mas essencialmente ativo Os indivíduos buscam sempre compreender o mundo caótico e sem ordenação construindo para isso uma leitura do mundo a fim de impor uma organização sob essa realidade multifacetada A leitura surge nesse sentido como um meio de compreensão e sistematização do caos da realidade Ela é intermediadora entre o real e os indivíduos usando para isso a linguagem Para nossas reflexões é crucial trazer a ideia de Zilberman do texto literário como uma mimetização do real que não simplifica o contato dos sujeitos com o mundo dos objetos mas que enriquece essa experiência Nesse sentido ela afirma que Em virtude disto se o ato de ler se configura como uma relação privilegiada com o real já que engloba tanto um convívio com a linguagem como o exercício hermenêutico de interpretação dos significados ocultos que o texto enigmático suscita a obra de ficção avulta como o modelo por excelência de leitura Pois sendo uma imagem simbólica do mundo que se deseja conhecer ela nunca se dá de maneira completa e fechada Pelo contrário sua estrutura marcada pelos vazios e pelo inacabamento das situações e figuras propostas reclama a intervenção de um leitor o qual preenche estas lacunas dando vida ao mundo formulado pelo escritor ZILBERMAN 1988 p 19 É essa proposta de leitura que a escola deve promover Possibilitar um contato com a leitura que não reprima a imaginação e a fantasia e ao mesmo tempo desenvolva o espírito crítico pois impõe ao aluno a necessidade de participação de ser ativo nesse processo de construção de sentidos Essa perspectiva sob a leitura literária também perpassa pelo olhar de quem não tem a literatura como objeto primordial do seu estudo É o caso do linguista João Wanderley Geraldi 2010 que através de duas produções 51 textuais escolares mostra que um aluno das séries iniciais demonstra mais originalidade na escrita do que um aluno do último ano do ensino médio Questionando sobre o que acontece no processo escolar que torna autores do início da escolarização repetidores de leituras mal digeridas no final da escolarização Geraldi aponta que a necessidade de criar na escola a proximidade com o mundo do cotidiano levou a uma diversidade de gêneros textuais a serem trabalhados na escola deixando o texto literário cada vez mais esquecido O linguista defenderá a presença dos textos literários na sala de aula afirmando que uma questão que poderia ser posta diz respeito ao convívio com o gênero literário como caminho necessário a ser percorrido se se pretende desenvolver capacidade de expressão mesmo quando o autor é chamadoconvocado a produzir um texto argumentativo op cit p 66 Dentre os textos literários a poesia foi o gênero que mais perdeu espaço na sala de aula Não apenas Geraldi como também Pinheiro 2007 apontam essa marginalização da poesia no ensino E ambos defendem o trabalho com o texto poético na escola Geraldi reforça a importância da leitura do texto poético na sala de aula como forma de desenvolver a originalidade dos alunos Pinheiro defende a leitura de poesia como forma de descobrir prazer na comunicação de alguma nova experiência ou uma nova compreensão do familiar ou a experimentação de algo que experimentamos e para o que não temos palavras ELIOT apud PINHEIRO 2007 p 22 Diante disso podemos assomar que a literatura contemporânea potencializa a riqueza do contato do leitor com o real apontado por Zilberman 1988 Se a visão do momento presente é obscura a literatura que busca mimetizar esse presente obscurece muito mais essa relação com o mundo como vimos em Agambem 2009 Assim o leitor diante da literatura contemporânea tem um desafio muito maior uma necessidade de participação muito mais ativa do que para a leitura de qualquer outro texto Além disso se a poesia é fundamental para auxiliar os discentes na construção de um discurso original autoral a poesia contemporânea eleva essa possibilidade a um nível muito mais alto A própria diversidade dessa poesia já apontada pelo estudo de Andrade 2010 atesta a riqueza dessa produção 52 poética atual aberta a diversas formas de sistematização E muito mais o alto grau de hermetismo só reforça a ideia do texto literário como enigma para o sujeito que o invoca o leitor ZILBERMAN 1988 p 18 53 ENCERRAMENTO Parabéns por ter concluído os estudos desta matéria da sua especialização A Editora Famart e seus parceiros a conteudistas prepararam esta apostila baseandose em temas e discussões relativas à esta disciplina Reunimos conteúdos de autores e pesquisadores que são referência na temática apresentada concebendo um compilado desta abordagem de forma didática visando melhor aproveitamento no seu processo de conhecimento e aprendizagem Na presente apostila foram utilizados materiais que estão devidamente referenciados ao final em conjunto com as demais referências de todas as citações viabilizando desta forma a identificação e eventual consulta às fontes Busque materiais auxiliares de estudo para que possam agregar ainda mais no seu conhecimento Dúvidas elogios questionamentos ou orientações quanto ao conteúdo estudado disponibilizamos para esta finalidade a opção de abertura de requerimento através de sua área de estudo Nossos tutores estarão disponíveis para te atender 54 REFERÊNCIAS BERGSON Henri O riso ensaio sobre a significação da comicidade São Paulo Martins Fontes 2001 CALVINO Italo Seis propostas para o próximo milênio São Paulo Companhia das Letras 1990 CANDIDO Antonio et al org A crônica o gênero sua fixação e suas transformações no Brasil Campinas SP Editora da UNICAMP Rio de Janeiro Fundação Casa de Rui Barbosa 1992 CHIAMPI Irlemar O romance latinoamericano do pósboom se apropria dos gêneros da cultura de massas In Revista Brasileira de Literatura Comparada v3 nº 3 1996 p 7585 COUTINHO Eduardo F O pósmodernismo e a ficção latinoamericana contemporânea riscos e limites In Anais do III Congresso ABRALIC Limites São Paulo EDUSP Niterói ABRALIC 1995 p 423428 FONTOURA Sandra R H da Ironias da cultura pósmoderna In Revista Signo Santa Cruz do Sul UNISC v21 n31 p3337 set1996 GARCIACANCLINI Nestor Culturas híbridas estratégias para entrar e sair da modernidade São Paulo Edusp 1997 HUTCHEON Linda Poética do Pósmodernismo Rio de Janeiro Imago 1995 JAMESON Fredric Espaço e imagem teorias do pósmoderno e outros ensaios Rio de Janeiro Ed UFRJ 1994 KELLNER Douglas A cultura da mídia Bauru SP EDUSC 2001 KONZEN Paulo Cezar Crônica e crítica comicidade e contestação em Luis Fernando Veríssimo Dissertação de Mestrado Universidade Estadual de Londrina Londrina 000 KUPERMANN Daniel Ousar rir humor criação e psicanálise Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2003 LIPOVETSKY Gilles A era do vazio Lisboa Antropos 1989 MINOIS Georges História do riso e do escárnio São Paulo Editora UNESP 2003 55 PELLEGRINI Tânia Aspectos da produção cultural brasileira contemporânea In Revista Crítica Marxista V1 nº 2 São Paulo Brasiliense 1995 p 6991 PROENÇA FILHO Domício Estilos de época na literatura através de textos comentados 15edSão Paulo Ática 2002 SEVCENKO Nicolau A corrida para o século XXI no loop da montanha russa São Paulo Companhia das Letras 2004 SIMON Luiz C S Além do visível contos brasileiros e imagens na era do pósmoderno Rio de Janeiro UFRJ 1999 Tese de Doutorado em Literatura Comparada TRAVAGLIA Luiz Carlos Uma introdução ao estudo do humor pela linguística In DELTA v6 nº 1 1990 p 5582 AGAMBEM Giorgio O que é o contemporâneo e outros ensaios Chapecó SC Argos 2009 ANDRADE Fábio A transparência impossível hermetismo e poesia brasileira Recife Bagaço 2010 GERALDI João Wanderley Sobre os objetos de ensino em língua materna In A aula como acontecimento São Carlos SP Pedro e João Editores 2010 PERRONEMOISÉS Leyla Consideração intempestiva sobre o ensino de literatura In Inútil poesia São Paulo Companhia das Letras 2000 PINHEIRO Hélder Poesia na sala de aula 3ed Campina Grande PB Bagagem 2007 SCHOLLHAMMER Karl Erik Ficção brasileira contemporânea 2ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2011 ZILBERMAN Regina A leitura na escola In Leitura em crise na escola as alternativas do professor ZILBERMAN Regina Org 9ed Porto Alegre Mercado Aberto 1988