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ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 1 SAÚDE E BEMESTAR DAS CRIANÇAS UMA META PARA EDUCADORES INFANTIS EM PARCERIA COM FAMILIARES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE Damaris Gomes Maranhão1 damaranhaouolcombr Este texto propõe aos professores de Educação Infantil e profissionais de saúde uma reflexão sobre o direito de todas as crianças à saúde e ao bemestar e sobre o modo como podemos organizar as atividades educativas e os cuidados adequados a elas possibilitandolhes acesso a esse direito no contexto das creches e préescolas de todo o país O reconhecimento de que as instituições educacionais devem preocuparse com a saúde e o bemestar das crianças é expresso em vários documentos que publicados no país os quais norteiam as políticas públicas de educação saúde e justiça social bem como na literatura especializada no tema Contudo o entendimento amplo do que significa essa dimensão e sobretudo a organização as atitudes e os procedimentos necessários para sua efetivação com a participação da criança ainda são controversos A importância de considerarmos a promoção da saúde e do bemestar das crianças como uma responsabilidade das instituições educativas em parceria com familiares e serviços de saúde começa pela aceitação do fato de que é impossível cuidar e educar crianças sem influenciarmos as práticas sociais relativas à manutenção e recuperação da saúde e do bemestar dos envolvidos no processo ou sem sermos influenciados por elas Mas para que essa influência seja promotora do crescimento e desenvolvimento saudáveis em cada contexto sociocultural é preciso que os professores e gestores da Educação Infantil reflitam criticamente sobre as informações relativas ao processo saúde doença das crianças brasileiras das diversas e às vezes controversas mensagens indiretas e diretas que recebem via revistas jornais e outros meios de informação Dessa forma estarão conscientes de que as escolhas individuais e coletivas ao planejarem organizarem e operarem a rotina cotidiana relativa às atitudes e aos procedimentos dos cuidados às brincadeiras e atividades educativas stricto sensus podem influenciar as práticas culturais de cuidado infantil da saúde individual e coletiva das crianças e da comunidade emque estão inseridas Esse pressuposto tem como base a concepção de que o segmento saúdedoença é dinâmico e determinado socialmente pelos modos de vida dentro e fora da instituição educativa e em parte por nossa responsabilidade como cidadãos e profissionais 1 Enfermeira e Professora Titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Santo Amaro Unisa e do Curso de Pós Graduação em Educação Infantil do Instituto Superior de Educação Vera Cruz ISEVEC Enfermeira Doutora em Ciências da Saúde pela Unifesp ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 2 O segundo aspecto que justifica a importância da dimensão do trabalho dos professores nesse âmbito é o fato de que as crianças que convivem no espaço de uma creche ou préescola e interagem com os colegas e profissionais da unidade continuam interagindo diariamente com seus familiares nas comunidades onde residem e com as quais se relacionam Isso implica reconhecer que todos os aspectos dessa diversidade de relações devem ser considerados incluindose as práticas sociais e as políticas públicas voltadas à prevenção e ao controle dos problemas de saúde prevalentes na comunidade As instituições de Educação Infantil que possibilitam às crianças interagir e ter acesso a aprendizagens significativas e cuidados profissionais de boa qualidade criam condições inegáveis de promoção do desenvolvimento integral e promovem relações sociais saudáveis Por outro lado a convivência de bebês e crianças pequenas em ambiente coletivo associada às vezes ao desmame precoce pode aumentar o risco de que eles adquiram infecções respiratórias gastrointestinais e outras doenças prevalentes em menores de cinco anos o que requer cuidados e medidas de controle específicas Assim é preciso que os profissionais da educação reconheçam seu papel na promoção da saúde da criança e que os profissionais de saúde ultrapassem o discurso sobre a creche como ambiente de risco e a reconheçam como rede de apoio efetiva para a infância brasileira Ao conceber o processo saúdedoença como um estado dinâmico e determinado socialmente não se justifica o discurso de que na creche e na préescola sejam atendidas apenas crianças saudáveis pois o limite entre saúde e doença é tênue e relativo sobretudo em uma fase da vida de maior vulnerabilidade biológica Isso não significa entretanto que as crianças que manifestem eventualmente doenças agudas ou crônicas em crise não necessitem às vezes serem temporariamente afastadas da unidade educacional até que se recuperem e possam voltar a conviver em espaço coletivo Para isso é preciso definir e descrever critérios e formar professores para identificar situações e seguir recomendações técnicas para inclusão e exclusão temporária daquelas crianças que apresentem alterações no estado de saúde evitando o afastamento desnecessário ou prolongado que nega o direito de todas as crianças à Educação Infantil Os professores precisam de preparo e apoio institucional para eventualmente cuidar de crianças e educálas quando elas se encontram em tratamento ambulatorial para recuperação ou controle de doenças agudas ou crônicas mas em condições clínicas de usufruir das atividades desenvolvidas na creche e préescola Essa necessidade conhecida e vivenciada todos os dias pelos professores de Educação Infantil das diversas regiões do país requer que os gestores planejem organizem e deem continuidade à formação de sua equipe valendose de parcerias com os profissionais do serviço de ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 3 saúde local Essas parcerias estão previstas nas políticas públicas de educação e de saúde entre outras na Agenda de Compromissos com a Saúde Integral da Criança publicada pelo Ministério da Saúde em 2004 Nessa agenda as ações de promoção ao crescimento e desenvolvimento saudável das crianças constituem o eixo central de todas as demais ações de saúde Para sua operacionalização entre outras atividades destacamse ações intersetoriais e interdiciplinares que evitem a fragmentação de políticas públicas que têm como finalidade o desenvolvimento humano integral O terceiro aspecto a considerar é que a saúde é um estado de bemestar físico e mental que tentamos explicar utilizando termos separados em decorrência da dificuldade histórica de ultrapassar os limites do pensamento linear Com base na teoria cartesiana tendemos a separar emoção e razão biologia e cultura corpo e mente saúde e educação A complexidade do ser humano considerado um ser híbrido naturezacultura requer cuidados que vão além da provisão de nutrição e espaços seguros Ao longo dos tempos os seres humanos organizaramse em torno dos cuidados básicos com a vida como alimentação e abrigo mas a continuidade da espécie dependia também de sua interação social dos rituais e das regras sociais que permeavam esses cuidados básicos e que constituem a cultura A dimensão do cuidado no seu caráter ético é assim orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da proteção integral da criança O cuidado compreendido na sua dimensão necessariamente humana de lidar com questões de intimidade e afetividade é característica não apenas da Educação Infantil mas de todos os níveis de ensino Na Educação Infantil todavia a especificidade da criança bem pequena que necessita do professor até adquirir autonomia para cuidar de si expõe de forma mais evidente a relação indissociável do educar e cuidar nesse contexto Parecer CNECEB nº 2009 que aponta as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil Cuidar e educar ou educar e cuidar As crianças que frequentam creches vivenciam a socialização primária concomitantemente com a secundária ou seja o que antes era de responsabilidade exclusiva das famílias agora é compartilhado e é parte significativa de suas funções A crescente inserção da mulher no mundo do trabalho formal associada à urbanização e aos novos arranjos familiares requer que os professores ampliem suas competências para cuidareducar nos diversos ciclos de ensino e em situações cotidianas O cuidar e educar da primeira infância começa pela criação de um ambiente facilitador aqui entendido como um espaço e as relações nele estabelecidas da constituição saudável da pessoa Os bebês humanos nascem com a sensibilidade de ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 4 olhar reconhecer e reagir às expressões faciais gestuais e vocais daqueles que cuidam deles Caso não encontrem reciprocidade eles se fecham ao contato o que significa um risco para o desenvolvimento saudável A relação dialógica entre a pessoa que cuida e a criança estabelece vínculos como o apego e o sentido de pertencimento a um lugar social fundamentais para o desenvolvimento da identidade que compõe uma fase denominada socialização primária As crianças que frequentam instituições de Educação Infantil desde bebês vivenciam esse processo tanto no âmbito da família seja qual for sua conformação e dinâmica quanto na relação com os professores Embora sejam processos concomitantes toda criança por mais nova que seja ao começar a frequentar a creche traz consigo uma préhistória nome sobrenome classe social ocupação e escolaridade dos pais composição e dinâmica familiar valores e crenças histórico de saúde da família que associada às vivências em relação à gestação ao nascimento aos primeiros cuidados a tornam um ser único com desejos necessidades ritmos habilidades e potenciais de desenvolvimento peculiares Cada família tem vivências conhecimentos crenças e valores que se expressam nos jeitos de cuidar e educar que vão sendo percebidos e assimilados pelas crianças constituindo um repertório utilizado por elas para lidar com outras situações de cuidado em outros espaços sociais Quando as atitudes e os procedimentos de cuidado realizados pelas famílias e professores são muito diferentes podem surgir conflitos que precisam ser explicitados e negociados para que as crianças se sintam seguras e capazes de lidar simultaneamente com os ambientes da instituição de Educação Infantil e de sua casa Muitos professores podem confirmar como exemplo da prática vivenciada em creches públicas e privadas que algumas crianças têm dificuldade para aceitar a solicitação do professor para retirar o calçado e participar de brincadeiras com água ou na areia porque suas mães recomendam que não fiquem descalças para não se resfriarem ou que não brinquem com areia porque o médico disse que isso poderia causar doenças Outras famílias orientam suas crianças a não darem descarga no vaso sanitário todas as vezes que fazem xixi para economizar água em suas casas o que gera conflito com as orientações recebidas nas unidades educacionais Nessas situações os professores precisam ouvir as crianças e as famílias procurando compreender a lógica que orienta suas preocupações recomendações e práticas de cuidados para que possam negociar com elas e adequar suas orientações às dinâmicas e diretrizes curriculares no contexto educacional A forma como o professor identifica a necessidade de troca de fralda ou de uso do sanitário por uma criança de seu grupo e como cuida dela contribui para que ela aprenda aos poucos a identificar e nomear as próprias sensações corporais possibilita que ela ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 5 construa a representação mental de seu corpo que aprenda rituais e regras sociais para a convivência coletiva como a que determina que eliminemos cocô e xixi em um lugar determinado longe daquele em que nos alimentamos ou brincamos e um pouco mais tarde que as meninas usem sanitários diferentes de meninos As sensações corporais são uma importante linguagem que comunica que precisamos parar a atividade do momento para recuperar o bemestar para ir ao sanitário tomar água comer ou descansar Com a mediação do adulto as crianças aprendem a identificar e nomear essas sensações e também os procedimentos que devem realizar para recuperar o bemestar físico e mental Pautadas na organização da rotina da creche as crianças aprendem que o dia tem um ritmo marcado pelas variações de temperatura e claridade próprios do amanhecer entardecer anoitecer mas também pelos rituais de chegada e partida do domicílio e da creche de início e término das brincadeiras ou trabalhos das refeições e momentos de relaxamento e descanso alternados com rituais de cuidados com o próprio corpo lavar as mãos antes das refeições sentarse para comer alimentarse de boca fechada para não engasgar limpar os dentes após as refeições retirar o sapato para dormir brincar ao sol ou à sombra As crianças aprendem a cuidar de si ao serem cuidadas O crescimento físico e a maturação neurológica associados às interações e às oportunidades oferecidas pelo ambiente possibilitam o desenvolvimento de habilidades que permitem que o bebê adquira autonomia para mudar de postura e locomoverse A presença do adulto atento proporciona segurança suficiente para que a criança explore espaços previamente organizados com desafios gradativos como pisos firmes confortáveis e seguros para deitar e aprender a virarse rastejar sentar com apoio das mãos e depois com a ajuda dos músculos fortalecidos pelos movimentos associados à maturação neurológica engatinhar embora a forma de fazêlo possa ser diferente Os ambientes para essas crianças precisam ser amplos com mobiliários e objetos seguros e à altura delas para que possam se apoiar levantar andar subir descer virar parar e recomeçar A organização flexível do ambiente possibilitará que mais tarde possam dançar jogar bola pedalar construir torres ou fazer garatujas no papel fixado no piso ou à parede Durante os cuidados aprendem outros movimentos como retirar e vestir roupas usar a mão ou talheres para comer escovar os dentes pentear os cabelos limpar determinadas regiões do corpo assoar o nariz e jogar o papel no lixo Os professores podem observar como os bebês e as crianças ao enfrentarem um novo desafio olham para eles como se perguntassem posso subir Será que consigo Você está aí para me ajudar se eu necessitar Se estão atentos durante o banho e a troca podem também observar como os bebês colaboram para a retirada da fralda suja e ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 6 na colocação de outra fralda limpa levantando a perna ou o bumbum rolando o corpo Assim as crianças aprendem a cuidar de si desenvolvem habilidades Com a ajuda do professor elas são desafiadas e ao mesmo tempo protegidas por ele adquirem independência aprendem a respeitar os próprios limites os limites dos outros e do espaço em que se encontram Após vivenciar e observar o adulto cuidando dela e de outras crianças e tornarem se mais independentes as crianças começam a imitáloe a criar novas formas de agir e realizar procedimentos As meninas cozinham cuidam de bonecas oferecem a elas papinha mamadeira às vezes o peito2 como a mãe fazia ou faz com elas próprias Trocam fraldas banham acalantam colocam no berço para dormir ajustam a voz de modo semelhante ao que os adultos fazem ao conversar com os bebês manhês3 dividem as tarefas Uma menininha de 3 anos durante um jogo simbólico pega o triciclo começa a pedalar e despedese das colegas dizendo agora eu vou trabalhar vocês cuidam das crianças depois eu volto imitando sua mãe que compartilha o cuidado dela com os professores Outro exemplo retirado de uma cena gravada em vídeo e que pode ser observada durante as refeições nas creches e préescolas referese a uma atitude entre as crianças a de oferecer alimentos à boca dos amigos pegando os alimentos do próprio prato e utilizando a mesma colher ou garfo Ela imitaria o cuidado do adulto Ou estaria realizando com o outro um desejo de ser cuidada Quando esta ação ocorre entre os bebês podese interpretála como um jogo de alternância expressão cunhada por Henry Wallon médico e pedagogo francês uma brincadeira que a criança realiza ao longo do processo de construção de sua identidade Entre crianças maiores poderá entretanto ter outro significado o de compreender os papéis sociais de imitar a professora ou a mãe que em outras ocasiões as alimentaram dandolhes comida na boca Em dois vídeos realizados em creches brasileiras e italianas observase no momento da refeição a cena descrita no parágrafo anterior o que revela ser um evento frequente em creches de diferentes contextos Entretanto a diferença está na percepção e reação dos professores se estão atentos a esses momentos e os valorizam como momentos de cuidado como ambiente educativo 2 Os profissionais de saúde que visam à promoção do aleitamento materno por meio de resgate dessa prática cultural sugerem que os fabricantes de brinquedos criem modelos que estimulem o aleitamento materno e eliminem as mamadeiras e chupetas da mesma forma como estão fabricando bonecas com aparência e vestimentas de várias etnias Entretanto observase que mesmo com bonecas que usam mamadeira as crianças que são aleitadas brincam de oferecer o peito como disse uma menininha de 2 anos para sua boneca levantando a própria camiseta quer mamar 3 Pesquisas evidenciam que os adultos das mais variadas culturas utilizam uma forma melodiosa de falar com os bebês prolongando as vogais que tornam a voz mais lenta e sonora pelo aumento da frequência que a faz mais aguda e com glissandos que caracterizam uma melodia LAZNIK e OLIVEIRA 2010 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 7 Em uma cena a professora percebe que um menininho de cerca de 2 anos tenta oferecer comida de sua própria colher à boca do colega de mesa O colega recusa o alimento o que começa a configurar um conflito entre ambos A professora atenta coloca uma boneca próxima a eles vestindo nela o babadouro sem que ela sugira algo explicitamente a criança que tentava alimentar o colega passa a alimentar a boneca e o possível conflito transformase em um jogo simbólico entre as duas crianças e a boneca Encerrada a refeição a professora limpa a boca da boneca com o babadouro e ajuda as crianças a saírem da mesa em direção ao sanitário para escovarem os dentes No outro vídeo a professora interpreta a atitude da criança de forma diferente e age repreendendo a criança que dá alimento à boca do colega com sua própria colher preocupada talvez com as regras sociais ou com a possibilidade de transmissão de doenças Mas sem compreender por que as crianças agem daquela forma a professora não é bemsucedida na sua intervenção e isso apenas a desgasta Em uma terceira cena gravada também em vídeo durante uma refeição de comemoração do dia das crianças em uma creche periférica de uma cidade grande duas crianças conversam sobre a função daquele pedaço de papel branco dobrado cuidadosamente ao lado de seu prato objeto a que elas raramente têm acesso naquela creche Uma delas diz é para limpar a boca a outra parece meio incrédula diante da afirmação do amigo não sabe bem como usálo amassao e joga ao chão Essas cenas poderiam servir de reflexão sobre como aprendemos as regras sociais por exemplo aquelas que permeiam as refeições e que dizem respeito aos rituais culturais à educação das crianças e aos cuidados com a saúde As formas de nos alimentarmos são variadas e ricas de possibilidades para refletirmos sobre o cuidado a educação e a saúde das crianças Os momentos de troca de fraldas do banho da escolha do que vestir da atenção aos riscos de adoecimento mais fácil nessa faixa etária são momentos em que a criança apropriase por meio de experiências corporais das formas como a cultura organiza essas atividades que imprimem modos de ser A definição e o aperfeiçoamento dos modos como a instituição organiza essas atividades também são partes integrantes de sua proposta curricular e devem ser realizadas sem fragmentar ações que são indissociáveis Ao conceber o caráter indissociável do cuidado e da educação fica claro que a responsabilidade de todas as ações junto às crianças é do professor Parecer CNECEB nº 2009 que define Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Infantil Diretrizes para um professor de Educação Infantil promotor da saúde Com base no conceito de Escola Promotora da Saúde da Organização Mundial da Saúde e considerando a faixa etária atendida em creches e préescolas é preciso refletir ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 8 sobre os indicadores que contribuem para o crescimento e desenvolvimento saudáveis nesses espaços e que ao mesmo tempo constituem modelos para as crianças aprenderem e incorporarem estilos e modos de vida saudáveis Para isso é necessário que o professor apoiado pelo gestor e pelo coordenador de sua unidade educacional 1 Compartilhe os cuidados com as famílias ouça suas demandas registre as recomendações relativas à saúde da criança que requeira observação ou cuidados especiais durante o período em que está sob seus cuidados 2 Interaja com as crianças atento às suas expressões corporais no processo de cuidado identifiqueas e atenda às necessidades delas de conforto bemestar e proteção de acordo com as potencialidades do desenvolvimento infantil e o contexto de cada grupo sem tolher a participação das crianças nas brincadeiras e em outras situações de aprendizagem 3 Auxilie e ensine as crianças a cuidarem de si e organize ambientes adequados ao processo de desenvolvimento das crianças de forma que a autonomia seja construída sem risco à integridade física e psíquica 4 Acompanhe e registre o processo de desenvolvimento infantil e reflita com a coordenadora e com os profissionais de saúde do serviço local sobre as crianças que apresentem alguma dificuldade de aprendizagem ou de interação com os demais adultos procurando meios de ajudálas em suas necessidades específicas 5 Alimente os bebês atendendo às suas necessidades nutricionais afetivas e de aprendizagens de novos paladares e consistências com base nas recomendações para o processo de desmame e nas normas de higiene para ambientes coletivos 6 Acolha as mães dos lactentes e ofereça condições para que elas conciliem aleitamento e trabalho e sigam regras de higiene para ambientes coletivos 7 Organize as refeições em ambiente higiênico seguro confortável belo e que possibilite autonomia socialização e boa nutrição a todos os grupos etários 8 Ajude as crianças que recusam alimentos ou que apresentem dificuldades para se alimentar sozinhas 9 Disponibilize água potável e utensílios limpos individualizados para que as crianças possam beber água quando desejarem e incentiveas a fazêlo durante todo o dia 10 Organize a rotina contemplando o banho de sol até às 10 horas e após às 15 horas a considerar o clima de cada região sobretudo dos bebês que dependem dos adultos para transportálos para o solário estando atento ao acesso das crianças e à oferta de água para hidratação e à proteção contra a exposição solar excessiva 11 Esteja atento ao conforto da criança ensinandoa a adequar o vestuário e os calçados às brincadeiras atividades e clima 12 Mantenha as salas ventiladas e alterne atividades em espaos internos e externos evitando confinamento 13 Esteja atento as recomendacoes sanitarias e legais relativas ao espacgo versus numero de crianga 14 Troque as fraldas dos bebés e ensine as criangas a usarem 0 vaso sanitario e a fazerem a higiene pessoal com atitudes acolhedoras com respeito as peculiaridades do processo de aprendizagem e desenvolvimento de cada crianga empregando precaugoes padronizadas para evitar transmissao de doengas e acidentes 15 Registre e ofereca a medicacao oral e tépica prescrita pelo médico ou os cuidados especiais orientados por profissionais de saude e que nao podem ser interrompidos durante o periodo em que a crianga permanece na instituigao educativa 16 Observe identifique informe e procure ajuda nas situagdes em que reconhega que a crianga apresenta alteragado no comportamento ou no estado de satide febre traumas dor diarreia cansaco ao respirar manchas na pele malestar alteragoes no crescimento e desenvolvimento ou suspeitas de maustratos de acordo com as diretrizes da instituigao 17 Informe ao gestor para que ele notifique a Unidade Basica de Saude de acordo com a legislagao especifica a suspeita de crianas ou profissionais da unidade educacional com doengas transmissiveis o aumento do numero de criangas com problemas de saude ou suspeitas de maustratos 18 Certifiquese da seguranca e higiene de brinquedos esteiras almofadas lencois trocadores banheiras objetos e materiais de uso pessoal e coletivo segundo as normas sanitarias especificas para creches e préescolas 19 Assegure que as areas interna e externa estejam organizadas e seguras para as criangas de todos os grupos de modo a evitar acidentes e disseminagao de doengas e ensine o cuidado com o ambiente O que o professor precisa saber para cuidar e educar as criangas O cuidado cotidiano das criangas permeado pelas agdes pedagdgicas é uma pratica profissional do professor de Educagao Infantil e requer que ele se aproprie de conhecimentos e desenvolva competéncias com base nas ciéncias bioldgicas e humanas para que ele possa de forma aut6noma ou em parceria com outros profissionais planejar e organizar o ambiente para os diferentes cuidados e aprendizagens nas diversas faixas etarias e em contexto coletivo e educacional acolher observar e interagir com familiares bebés e criangcas menores de 5 anos compreender e empregar a linguagem do cuidado formas de comunicagao durante o cuidado corporal individual e coletivo ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 9 i Belo Horizonte novembro de 2010 empregar procedimentos e atitudes seguras e adequadas ao contexto educacional e coletivo de acordo com as normas sanitarias especificas para o contexto da creche e da préescola registrar o processo de cuidado e desenvolvimento das criangas para acompanhar avaliar informar e planejar cuidados e atividades identificar as necessidades das criangas e do grupo de criangas avaliar decidir e agir informar obter e transmitir informacées compartilhar e negociar valores crengas e conhecimentos sobre as diferentes praticas de cuidados infantis com os familiares e outros profissionais e lidar com os desafios e avancgos dos processos de integrar cuidados com as atividades educativas no contexto de Educagao Infantil vy Planejar e organizar o ambiente Atender as necessidades de bebés e criancas de até 5 anos no contexto de educacao coletiva implica planejar organizar e manter um ambiente desafiador para as aprendizagens e simultaneamente acolhedor e seguro Isso significa que cada espaco mobiliario brinquedo material procedimentos e atividades realizadas pelos adultos com e para as criancas precisam ser pensados no que se refere ao risco e beneficio que oferecem ao processo de ensino crescimento e desenvolvimento integral saude e bem estar da crianga y Acolher observar e interagir Estar atento observar cada crianca na dinamica da convivéncia coletiva durante os cuidados e brincadeiras possibilita identificar suas caracteristicas e necessidades peculiares manifestas por meio de diversas linguagens mimicas gestuais orais e outras formas de expressao empregadas por elas conforme suas habilidades de comunicagao em cada idade Durante os cuidados e as brincadeiras 6 fundamental observar como a criancga participa desses momentos e como ela pode ir gradativamente tornandose auténoma compreendendo seus retrocessos sobretudo quando associados a manifestagdes de tristeza cansaco e alteragdes no estado de satide Cabe ao professor observar e identificar sinais na pele nos movimentos na temperatura corporal na frequéncia ou no tipo de respiragao nas fezes e na urina no comportamento e nas reagdes emocionais durante as brincadeiras refeigdes interagoes ou sono que possam significar alteragd6es em seu estado de saude e desenvolvimento de acordo com o conhecimento prévio que tem sobre aquela crianga ou com o com informagées da familia i ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 10 Belo Horizonte novembro de 2010 E preciso ainda que o professor esteja atento 4 comunicacdo das intencdes da crianga expressas na organizacao espacial na prépria mimica facial nos gestos e no tom de voz que emprega A atengao o interesse enfim a atitude de cuidado do educador ou a alienacgao a negligéncia e o descuido podem ser percebidos pelos bebés e pelas criangas pequenas por meio do olhar dos gestos da postura corporal do tom de voz das palavras empregadas do ritmo e da sequéncia das agdes e dos procedimentos realizados pelo professor e da forma como ele organiza o ambiente que constitui o que se denomina linguagem do cuidado As criangas sentemse cuidadas ou seja acolhidas amparadas reconhecidas em suas inquietagdes necessidades e desejos pela forma como os professores organizam o ambiente e interagem com elas durante todos os momentos em que realizam cuidados elementares mas essenciais ao conforto a protegao a nutrigao ao crescimento e ao desenvolvimento integral e saudavel das criangas vy Empregar procedimentos seguros e adequados ao contexto educacional coletivo Ao executar os procedimentos de remogao da fralda contendo coc6 ou xixi e limpar com delicadeza todas as dobras da pele do bebé removendo os residuos que possam causar lesoes assaduras ou dermatite de fralda em ambiente seguro e confortavel por meio de gestos firmes e toque suave acompanhados por um olhar e vocalizagao que Ihe comunicam a importancia e o respeito que os cuidados com o préprio corpo requerem o professor ajuda a crianca a construir uma autoimagem de sua identidade como pessoa singular mas integrada em uma cultura Ao empregar procedimentos adequados ao processo de desenvolvimento e estado de saude de cada crianga no contexto coletivo como higiene das maos e da superficie do trocador manipulagao segura da fralda suja cuidados com a pele da crianga o professor evita acidentes e doengas assim como afastamentos frequentes das criangas do espaco educativo Evita também que as doengas prevalentes na comunidade disseminem se nas diversas regides daquela localidade pois na creche e na préescola congregamse familias que residem e convivem em varias comunidades vy Registrar o processo de cuidado e desenvolvimento para acompanhar avaliar informar e planejar E importante registar tanto os avancos e as dificuldades que ocorrem no processo de cuidado e desenvolvimento quanto as manifestagdes corporais e emocionais dos bebés e criangas que comunicam malestar psicofisico choro continuo ou intenso irritabilidade alteragdes da temperatura corporal na consisténcia das fezes ou em outras i ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 11 Belo Horizonte novembro de 2010 eliminagdes mudanga de comportamento como parar de brincar e movimentarse manterse em siléncio apatico recusar o alimento Esses registros ajudam a avaliar os cuidados individuais em contexto coletivo e o processo de desenvolvimento infantil possibilitando tanto a comunicagao com os familiares e profissionais de saude quanto o planejamento de atividades brincadeiras e cuidados especificos vy Ildentificar as necessidades das criangas e do grupo de criangas avaliar decidir e agir O professor pode observar e decidir se uma crianga que estava brincando no grupo e de repente manifesta um malestar ou uma mudanga de comportamento tem condig6es de continuar na atividade coletiva ou se ela precisa de um cuidado especifico Sua decisao vai depender dos conhecimentos que adquiriu sobre o significado de alguns comportamentos e sinais conforme as orientagdes dos profissionais de saude com os quais a unidade educacional mantém parceria Como os professores nao sao profissionais de saude 6 preciso que o gestor articule a parceria com o gestor da Unidade Basica de Saude da area de abrangéncia da creche ou da préescola para promover acdes de formagao continuada da equipe da unidade educativa que incluam a elaboragao de orientagdes escritas protocolos Esses protocolos evitam que o professor se apavore diante de um acidente ou de uma manifestagao de malestar da crianga ou ao contrario que ele por desconhecimento deixe de reconhecer uma situagao mais grave e coloque em risco a seguranga da criana e a propria seguranga por exemplo a informagao de uma mae de que seu filho que esteve presente na creche no dia anterior e a noite tenha sido internado com uma doenga infectocontagiosa Essas situagdes frequentes em creches e préescolas requerem protocolos e cursos de formagao para os professores para que eles construam competéncias para avaliar decidir e agir preservando a seguranga tanto deles quanto das outras criancas e familiares assim como para acolher a mae e confortala Informar obter e transmitir informagoes Informar as familias sobre o estado de satide das criangas e cuidados diarios que requeiram continuidade em casa ou informar o gestor de que uma crianga caiu e bateu a cabeca na mesa sao tarefas que o professor realiza todos os dias O inverso também 4 Sugerese que cada creche e préescola ou um grupo delas em determinada regio tenha um supervisor de satide que seja responsavel técnico pela elaboragdo de recomendacées que orientem a ado dos professores nas situagdes de adoecimento acidentes e precaucées padronizadas para evitar disseminac4o de doengas no coletivo bem como um enfermeiro que participe da formaciio dos professores no que se refere aos procedimentos de troca de fralda banho limpeza e desinfeccao de superficies controle da oferta de medicaciio e de imunizacao E importante que esses profissionais possam contribuir na formagdo continuada dos professores e na elaboracao de planos de cuidados com as criancas que necessitem de atencdo diferenciada i ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 12 Belo Horizonte novembro de 2010 precisa ser pensado que informag6es é importante coletar diariamente com os familiares sobre as criancas que precisam tomar medicamentos em determinado horario Ou quais sao as criangas que estavam com febre no dia anterior Quais sao os bebés que estao comegando a substituir a mamada das 11 horas por papa salgada vy Compartilhar e negociar valores crengas e conhecimentos sobre desenvolvimento e cuidados infantis Todos os professores de creche e préescola sabem que as informagées sobre as criangas sao fundamentais e requerem um sistema organizado de registro e delimitagao de responsabilidade além de competéncias para ler anotagcdes maternas na agenda ou recomendagoées médicas epara decidir 0 que precisam comunicar a outros profissionais evitando erros de negligéncia imprudéncia e impericia Como toda atividade humana as praticas de cuidados das criangcas tém como base conhecimentos crencas valores habilidades construidas e socializadas nas relagdes intergeracionais e em outros grupos sociais permeados por orientagdes e informagées veiculadas por profissionais de satide instituigGes educacionais e midia As atitudes e os procedimentos de cuidados com as criangas podem diferir entre os diferentes grupos sociais e culturas dependendo das concepgoes que cada grupo social tem sobre crianga educagao e sobre a dinamica satdedoenca Mas o cuidado como pratica profissional fundamentase nas ciéncias exatas bioldgicas e humanas e constituise de atitudes e procedimentos pautados em conhecimentos atualizados sobre o processo de crescimento e desenvolvimento humano e sobre cuidados com a saude infantil A saude e o bemestar das criangas dependem da articulagao dos cuidados realizados no domicilio com aqueles realizados no contexto da creche e préescola e isso implica um exercicio diario de comunicagao entre familiares e professores e eventualmente com outros profissionais que ajudam a cuidar daquela crianga médicos enfermeiros psicdlogos fisioterapeutas fonoaudidlogos terapeutas ocupacionais psicopedagogos e outros A atitude de compartilhar cuidados infantis uma oportunidade para a construgao conjunta de conhecimentos com base na reflexao sobre as praticas e situagdes de cuidar e educar vivenciadas ou preconizadas pela articulagao do senso comum com a ciéncia Isso significa conhecer confrontar e negociar praticas crengas costumes conhecimentos sobre o que cada grupo profissional familiar ou pessoa da comunidade considera que faz bem ou mal a satide e ao desenvolvimento infantil A observagao atenta do professor permite que ele acompanhe o desenvolvimento infantil e reflita com os pais tanto sobre as potencialidades dos seus filhos quanto sobre possiveis diferengas ou dificuldades que demandem cuidados especiais ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 13 i Belo Horizonte novembro de 2010 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 14 Parcerias para um desenvolvimento infantil saudável José foi matriculado na creche aos 4 anos de idade Nos primeiros dias a auxiliar de enfermagem observou que ele era trazido por sua mãe em um carrinho de bebê embora ele apresentasse habilidades motoras compatíveis com sua idade A professora percebeu que ele não conseguia se concentrar nas atividades vagando pela creche preferia ficar na sala com os bebês evitava o olhar direto dos adultos e o contato com outras crianças não falava balbuciando sílabas desconexas só aceitava alimentos brancos e gostava de montar quebracabeças O acolhimento de José e a aceitação de seu jeito próprio de ser o vínculo estabelecido com a mãe e o apoio da escola de enfermagem da universidade local possibilitaram a elaboração de um plano de cuidados e atividades compartilhado com a família que fosse compatível com as potencialidades de desenvolvimento dessa criança Posteriormente os pais aceitaram o encaminhamento a um serviço especializado Gradativamente José começou a aceitar arroz feijão algumas frutas a aceitar o contato com outras crianças e a falar algumas palavras Hoje José frequenta a Escola Municipal de Educação Infantil e continua seu atendimento em um Centro de Referência em Saúde Mental para crianças e adolescentes mantido por uma universidade federal Sua família reconhece que a matrícula na creche possibilitou uma nova fase no processo de cuidado e desenvolvimento de seu filho Neste caso ficou evidente que a parceria entre as instituições responsáveis pelo ensino extensão e pesquisa universidades privada e pública os serviços de saúde e instituições educacionais podem constituir uma rede de apoio aos professores famílias e comunidades em prol do crescimento e desenvolvimento infantil RUSSO e MARANHÃO 2010 Desafios e avanços contemporâneos na integração do cuidar e educar A tentativa de integrar a ação de cuidar à de educar é uma tarefa difícil sobretudo quando a sociedade contemporânea desvaloriza os atos de cuidados corporais e no caso das crianças usuárias de creches e préescolas restringeos às técnicas de oferta de alimentos e a ações de higiene que ao serem executados em ambiente coletivo podem ocorrer de forma mecânica inconsciente do significado desses atos para a criança e para quem cuida dela Comunicar por meio da escrita a complexidade da integração corpomente razão emoção biologiacultura requer a busca de termos que expressem a identidade e a integração de cada dimensão Ao tentar escrever sobre a integração corpo e mente pode se tentar empregar o termo psicofísico ou psicossoma que entretanto não são suficientes para definir em palavras a complexidade do seu significado por exemplo ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 15 explicar como o bebê constrói conhecimentos sobre seus limites corporais em relação ao ambiente por meio do toque do olhar da voz de quem cuida e comunicase com ele Com base na concepção de que as atitudes e os procedimentos de cuidados corporais propiciam experiências ricas ao bebê e à criança que possibilitam a ela aprender sobre si mesma sobre o outro sobre o meio físico social e cultural onde vive percebese que não há razão para apressar os momentos em que se necessita trocar fraldas ou oferecer alimentos com a justificativa de que atrasam as ações educativas como se a relação estabelecida no processo de cuidar também não fosse uma ação educativa Ao mesmo tempo se não aprofundarmos a reflexão poderemos concluir que os bebês e as crianças pequenas apenas precisam ter suas necessidades corporais atendidas permeadas de interações singulares amiúdes e afetivas descartandose as preocupações com planejamento didáticas específicas e outros fazeres próprios das atividades dos professores que partem das diretrizes curriculares estabelecidas para a área e definem atitudes procedimentos conteúdos e formas de ensinálos às crianças O ambiente de cuidado da mãe suficientemente boa expressão cunhada por Donald Winnicott para explicar que é no processo de identificação materna em relação ao filho que se constroem as formas de cuidar de cada criança independentemente dos conhecimentos técnicos não se aplicam integralmente aos professores A relação estabelecida na creche é profissional embora também permeada por afetividade A pessoa responsável pelo cuidado diário da criança precisa de ferramentas para identificar e atender necessidades específicas ou seja conhecimento suficiente sobre o desenvolvimento humano sobre a articulação das práticas culturais com procedimentos adequados para ambientes coletivos sobre os aspectos legais e éticos do processo de cuidar em ambiente educativo Lembrando o título de um determinado artigo para cuidar é preciso razão e sensibilidade habilidades construídas socialmente Outro desafio é o equilíbrio entre cuidado individualizado considerando a dinâmica do tempo e do espaço no coletivo e sua articulação com as brincadeiras e atividades diversificadas que têm objetivos educativos específicos Este desafio é diário e superado pela constante observação avaliação e planejamento ajustandose os ritmos e reorganizandose os ambientes É preciso lembrar que os cuidados com a alimentação o conforto a proteção quando organizados e operacionalizados no contexto de diversos países culturas e grupos sociais podem diferenciarse na forma como permitem a participação da criança ou o acesso dela aos objetos alimentos ambientes resultando em práticas diversas que influem na forma como ela desenvolve habilidades e constrói conhecimentos e como se mantém mais ou menos dependente dos adultos ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 16 Para algumas famílias oferecer alimento na boca para crianças que já têm capacidade para se alimentar sozinhas pode significar uma demonstração de afetopara outras isso sugere um prolongamento da dependência um atraso no processo de desenvolvimento Em publicação da Associação Nacional de Creches Americanas os autores apontam para as diferenças culturais entre norteamericanos e japoneses no que se refere aos valores no processo de cuidar e educar as crianças conforme cada cultura Para os primeiros a individualidade e a independência são fundamentais já os segundos valorizam a tradição e a interdependência familiar o que repercute nas formas de cuidar das crianças Assim cantigas histórias movimentos gestos palavras utensílios vestuários e mobiliários que são utilizados no processo de cuidar bem como o reconhecimento das habilidades das crianças para que gradativamente aprendam a cuidar de si mesmas e de seus pares constituem o currículo da Educação Infantil Reconhecer a condição do ser humano como híbrido naturezacultura significa que necessitamos integrar olhares conhecimentos práticas o que requer negociar conflitos ponderar riscos e benefícios de cada cuidado de cada ação ponderar em cada idade e contexto sociocultural o que propicia uma melhor qualidade de vida bemestar e desenvolvimento humano integral Compartilhar cuidados com as famílias implica acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento infantil ministrar observar e registrar a evolução de um resfriado a aceitação dos alimentos complementares por um lactente que inicia o desmame ou está em processo de adaptação na creche ministrar medicamentos orais ou aplicar pomadas e cremes para tratamentos que a criança necessite identificar sinais de malestar ou traumas manifestos pelas crianças quando sob seus cuidados acalmandoas e providenciando os primeiros cuidados até que sejam encaminhadas ao serviço de saúde prestar os primeiros cuidados diante de uma emergência ensinar os cuidados com o corpo para propiciar conforto segurança e bemestar Para isso o professor precisa contar com o apoio dos gestores e coordenadores que se responsabilizem pelas parcerias com os serviços de saúde locais e programas de formação continuada o que envolve as Secretarias de Saúde e Educação Cabe aos gestores viabilizar a cada creche e préescola o suporte técnico de um enfermeiro e quando necessário de outros profissionais de saúde para compartilhar a formação e supervisão dos professores ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 17 Dez questões para refletir sobre a prática do professor de Educação Infantil 1 Você e colegas organizam e realizam a troca de fralda ou a higiene após o uso do sanitário de modo a possibilitar que criança participe desse cuidado com seu corpo com respeito a sua intimidade e ao mesmo tempo protejaa dos riscos físicos biológicos e químicos potencialmente presentes nesse ato realizado em contexto coletivo 2 Você e seus colegas compartilham com os familiares o processo de retirada de fraldas ou o início de oferta de alimentação complementar considerando os conhecimentos científicos necessários à integridade física e mental das crianças mas sem desvalorizar as práticas culturais das famílias 3 Você e colegas organizam o acesso das crianças aos recipientes para beber água potável considerando as aprendizagens delas fora do âmbito da escola algumas famílias deixam um copo no filtro onde todos se servem algumas comunidades consomem líquidos como chimarrão em um mesmo recipiente e ao mesmo tempo ensinam as práticas de higiene necessárias em ambiente coletivo 4 Como você e seus colegas aproveitam e valorizam os momentos de cuidados individualizados para uma interação com cada criança em particular sem desconsiderar as necessidades das outras crianças do grupo 5 Como você e seus colegas acompanham avaliam e adaptam as atitudes e os procedimentos de cuidados em cada grupo de crianças para atingir o objetivo de promoção do crescimento e desenvolvimento infantil integral e saudável 6 Como a instituição em que você trabalha compatibiliza as necessidades ergonômicas dos professores e ao mesmo tempo torna acessível às crianças as maçanetas janelas bancadas para serviremse de alimentos cadeiras e mesas 7 Como você e seus colegas promovem o aleitamento materno como uma prática cultural e biológica de crescimento que mantém a saúde e propicia o desenvolvimento integral para bebês que permanecem em período integral na creche 8 Como você e seus colegas participam das ações de acompanhamento do desenvolvimento das crianças 9 Como você e a equipe da creche e da préescola conciliam as políticas públicas previstas na agenda de compromissos com a saúde integral da criança e as diretrizes curriculares de Educação Infantil 10 Como você e seus colegas decidem o que fazer diante de um acidente ou alteração do estado de saúde de uma criança no período em que ela está no ambiente da creche ou préescola ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 18 Referências BRASIL Ministério da Saúde Unesco OECD Educação e cuidado na primeira infância grandes desafios Brasília 2002 BRASIL Ministério da Saúde Guia alimentar para crianças menores de 2 anos Dez passos da alimentação saudável para crianças brasileiras menores de dois anos Organização PanAmericana de Saúde Brasília 2002p 8791 BRASIL Ministério da Saúde Agenda de compromissos para a saúde integral da criança e redução da mortalidade infantil Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Brasília 2004 BRASIL Ministério da Saúde IECFIOCRUZ Promoção da saúde Declaração de Alma Ata Carta de Ottawa Declaração de Adelaide Declaração de Sundsvall Declaração de Santafé de Bogotá Declaração de Jacarta Rede de Megapaíses Declaração do México Brasília 2001 BRASIL Ministério da Saúde AIDPI Manual para vigilância do desenvolvimento infantil no contexto da AIDPI Organização PanAmericana de Saúde 2003 BRASIL Ministério da Saúde Promoção da saúde 1998 Secretaria de Políticas de Saúde Disponível em httpwwwsaudegovbrsps Acesso em 20 jul 2006 BERLINGUER G A promoção da saúde Questões de Vida Ética Ciência Saúde Salvador São Paulo Londrina APCEHUCITECCEBES 1993 FALK J Educar os três primeiros anos a experiência de Lóczy 1 ed Araraquara Junqueira e Marin 2004 LAZNIK M C OLIVEIRA E P Em busca da melodia In PINTO G C Doenças do Cérebro autismo Mente e cérebro São Paulo Duetto 2010 MARANHÃO D G Reflexões sobre a participação do enfermeiro na creche Acta Paul Enf 1999 122 p 3546 MARANHÃO D G O cuidado como elo entre a saúde e educação Cadernos de Pesquisa 2000 111 p 115133 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 19 MARANHÃO D G O processo saúde doença na perspectiva dos educadores infantis Cad Saúde Pública 2000 164 p 11431148 MARANHÃO D G VICO E S R Higiene e precauções padrões em creche e préescola contribuindo para um ambiente saudável In SANTOS L E S Creche e préescola uma abordagem de saúde Porto Alegre Artes Médicas 2004 p 131148 MARANHÃO D G Promoção a saúde em contexto de educação infantil In Educação em São Paulo contexto e protagonistas Anais do IV Congresso Municipal de Educação 17 a 18 de novembro de 2005 São Paulo MARANHÃO D G SARTI C A Cuidado compartilhado negociações entre famílias e profissionais em uma creche Interface comunicação saúde educação 2007 11 22 p 257270 MARANHÃO D G SARTI C Creche e família uma parceria necessária Cadernos de Pesquisa 2008 38 133 p 171194 MARANHÃO D G MACHADO J K CHECCINATTO D Cuidar e educar bebês desafios da mesma competência In ATEM L M Cuidados no inicio da instituição pesquisa clinica e metapsicologia São Paulo Casa do Psicólogo 2008 MARANHÃO D G et al Que choro é esse Revista Avisa lá 2007 p 410 MARANHÃO D G ORTIZ C As crianças adoram já os adultos Revista Avisa lá 2006 MARANHÃO D G Água com moderação é questão de educação Revista Avisa lá 2004 MARANHÃO D G Quero passear Revista Avisa lá 2001 MARANHÃO D G O binômio cuidar e educar das crianças na instituição de educação infantil In DAVID C M GUIMARÃES J G M Pedagogia cidadã cadernos de formação Educação Infantil 2 ed São Paulo UNESP 2006 OJEDA E N S Desenvolvimento integral da criança In OMSOPAS Ações de saúde maternoinfantil a nível local Brasília 1999 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 20 RUSSO G MARANHÃO D G Percepções de mães e educadores sobre o desenvolvimento de crianças usuária de creche Monografia de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem São Paulo UNISA 2010 SANTOS S E L Creche e Préescola uma abordagem de saúde Artes Médicas São Paulo 2004 SARTI C A MARANHÃO D G A creche é o pai instituição pública ou projeção de uma família idealizada In MULLER F Org Infância em perspectiva politicas pesquisas e instituições São Paulo Cortez 2010 p 223239 SILVEIRA G T PEREIRA I M T B Escolas promotoras da saúde ou escolas promotoras de aprendizagemeducação In LEFEVRE F LEFEVRE A M C Promoção da saúde a negação da negação Rio de Janeiro Vieira e Lent 2004 STORK H L O MOTA G Os bebês falam Como vocês os compreende Uma comparação intercultural In BUSNEL M C A linguagem dos bebês São Paulo Escuta 1997 UNICEF Situação da infância brasileira UNICEF Brasil Brasília 2001 VICO E S LAURENTI R Mortalidade de crianças usuárias de creches no município de São Paulo Rev Saúde Publica 2004 381 p 3844 WALLON H O papel do outro na consciência do eu In WEREBE M J G NADEL BRULFERT J São Paulo Ática 1986 WERNER J Saúde Educação desenvolvimento e aprendizagem do aluno Rio de Janeiro Grypus 2005 WINNICOTT D W Natureza humana Rio de Janeiro Imago 1990 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 21 Agradecimentos Agradeço a leitura e as contribuições dos professores Dra Zilma de Moraes Ramos de Oliveira Dra Marineide de Oliveira Gomes Dr Jairo Werner e Doutoranda Juliana Davini ao Grupo de Estudo em Puericultura da Unifesp a todos os alunos que refletiram comigo sobre o cuidado infantil assim como às crianças aos familiares e educadores que me instigaram a assumir a responsabilidade de escrevêlo Agradeço também as críticas e sugestões de todos os educadores que participaram das reflexões quando da apresentação deste texto promovida pelo Ministério da Educação em Belém do Pará e Teresina e nos eventos realizados na cidade de São Paulo bem como aos que escreveram durante a Consulta Pública contribuindo com o aprimoramento do texto e o debate sobre esta dimensão da Educação Infantil Novembro2010
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ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 1 SAÚDE E BEMESTAR DAS CRIANÇAS UMA META PARA EDUCADORES INFANTIS EM PARCERIA COM FAMILIARES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE Damaris Gomes Maranhão1 damaranhaouolcombr Este texto propõe aos professores de Educação Infantil e profissionais de saúde uma reflexão sobre o direito de todas as crianças à saúde e ao bemestar e sobre o modo como podemos organizar as atividades educativas e os cuidados adequados a elas possibilitandolhes acesso a esse direito no contexto das creches e préescolas de todo o país O reconhecimento de que as instituições educacionais devem preocuparse com a saúde e o bemestar das crianças é expresso em vários documentos que publicados no país os quais norteiam as políticas públicas de educação saúde e justiça social bem como na literatura especializada no tema Contudo o entendimento amplo do que significa essa dimensão e sobretudo a organização as atitudes e os procedimentos necessários para sua efetivação com a participação da criança ainda são controversos A importância de considerarmos a promoção da saúde e do bemestar das crianças como uma responsabilidade das instituições educativas em parceria com familiares e serviços de saúde começa pela aceitação do fato de que é impossível cuidar e educar crianças sem influenciarmos as práticas sociais relativas à manutenção e recuperação da saúde e do bemestar dos envolvidos no processo ou sem sermos influenciados por elas Mas para que essa influência seja promotora do crescimento e desenvolvimento saudáveis em cada contexto sociocultural é preciso que os professores e gestores da Educação Infantil reflitam criticamente sobre as informações relativas ao processo saúde doença das crianças brasileiras das diversas e às vezes controversas mensagens indiretas e diretas que recebem via revistas jornais e outros meios de informação Dessa forma estarão conscientes de que as escolhas individuais e coletivas ao planejarem organizarem e operarem a rotina cotidiana relativa às atitudes e aos procedimentos dos cuidados às brincadeiras e atividades educativas stricto sensus podem influenciar as práticas culturais de cuidado infantil da saúde individual e coletiva das crianças e da comunidade emque estão inseridas Esse pressuposto tem como base a concepção de que o segmento saúdedoença é dinâmico e determinado socialmente pelos modos de vida dentro e fora da instituição educativa e em parte por nossa responsabilidade como cidadãos e profissionais 1 Enfermeira e Professora Titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Santo Amaro Unisa e do Curso de Pós Graduação em Educação Infantil do Instituto Superior de Educação Vera Cruz ISEVEC Enfermeira Doutora em Ciências da Saúde pela Unifesp ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 2 O segundo aspecto que justifica a importância da dimensão do trabalho dos professores nesse âmbito é o fato de que as crianças que convivem no espaço de uma creche ou préescola e interagem com os colegas e profissionais da unidade continuam interagindo diariamente com seus familiares nas comunidades onde residem e com as quais se relacionam Isso implica reconhecer que todos os aspectos dessa diversidade de relações devem ser considerados incluindose as práticas sociais e as políticas públicas voltadas à prevenção e ao controle dos problemas de saúde prevalentes na comunidade As instituições de Educação Infantil que possibilitam às crianças interagir e ter acesso a aprendizagens significativas e cuidados profissionais de boa qualidade criam condições inegáveis de promoção do desenvolvimento integral e promovem relações sociais saudáveis Por outro lado a convivência de bebês e crianças pequenas em ambiente coletivo associada às vezes ao desmame precoce pode aumentar o risco de que eles adquiram infecções respiratórias gastrointestinais e outras doenças prevalentes em menores de cinco anos o que requer cuidados e medidas de controle específicas Assim é preciso que os profissionais da educação reconheçam seu papel na promoção da saúde da criança e que os profissionais de saúde ultrapassem o discurso sobre a creche como ambiente de risco e a reconheçam como rede de apoio efetiva para a infância brasileira Ao conceber o processo saúdedoença como um estado dinâmico e determinado socialmente não se justifica o discurso de que na creche e na préescola sejam atendidas apenas crianças saudáveis pois o limite entre saúde e doença é tênue e relativo sobretudo em uma fase da vida de maior vulnerabilidade biológica Isso não significa entretanto que as crianças que manifestem eventualmente doenças agudas ou crônicas em crise não necessitem às vezes serem temporariamente afastadas da unidade educacional até que se recuperem e possam voltar a conviver em espaço coletivo Para isso é preciso definir e descrever critérios e formar professores para identificar situações e seguir recomendações técnicas para inclusão e exclusão temporária daquelas crianças que apresentem alterações no estado de saúde evitando o afastamento desnecessário ou prolongado que nega o direito de todas as crianças à Educação Infantil Os professores precisam de preparo e apoio institucional para eventualmente cuidar de crianças e educálas quando elas se encontram em tratamento ambulatorial para recuperação ou controle de doenças agudas ou crônicas mas em condições clínicas de usufruir das atividades desenvolvidas na creche e préescola Essa necessidade conhecida e vivenciada todos os dias pelos professores de Educação Infantil das diversas regiões do país requer que os gestores planejem organizem e deem continuidade à formação de sua equipe valendose de parcerias com os profissionais do serviço de ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 3 saúde local Essas parcerias estão previstas nas políticas públicas de educação e de saúde entre outras na Agenda de Compromissos com a Saúde Integral da Criança publicada pelo Ministério da Saúde em 2004 Nessa agenda as ações de promoção ao crescimento e desenvolvimento saudável das crianças constituem o eixo central de todas as demais ações de saúde Para sua operacionalização entre outras atividades destacamse ações intersetoriais e interdiciplinares que evitem a fragmentação de políticas públicas que têm como finalidade o desenvolvimento humano integral O terceiro aspecto a considerar é que a saúde é um estado de bemestar físico e mental que tentamos explicar utilizando termos separados em decorrência da dificuldade histórica de ultrapassar os limites do pensamento linear Com base na teoria cartesiana tendemos a separar emoção e razão biologia e cultura corpo e mente saúde e educação A complexidade do ser humano considerado um ser híbrido naturezacultura requer cuidados que vão além da provisão de nutrição e espaços seguros Ao longo dos tempos os seres humanos organizaramse em torno dos cuidados básicos com a vida como alimentação e abrigo mas a continuidade da espécie dependia também de sua interação social dos rituais e das regras sociais que permeavam esses cuidados básicos e que constituem a cultura A dimensão do cuidado no seu caráter ético é assim orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da proteção integral da criança O cuidado compreendido na sua dimensão necessariamente humana de lidar com questões de intimidade e afetividade é característica não apenas da Educação Infantil mas de todos os níveis de ensino Na Educação Infantil todavia a especificidade da criança bem pequena que necessita do professor até adquirir autonomia para cuidar de si expõe de forma mais evidente a relação indissociável do educar e cuidar nesse contexto Parecer CNECEB nº 2009 que aponta as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil Cuidar e educar ou educar e cuidar As crianças que frequentam creches vivenciam a socialização primária concomitantemente com a secundária ou seja o que antes era de responsabilidade exclusiva das famílias agora é compartilhado e é parte significativa de suas funções A crescente inserção da mulher no mundo do trabalho formal associada à urbanização e aos novos arranjos familiares requer que os professores ampliem suas competências para cuidareducar nos diversos ciclos de ensino e em situações cotidianas O cuidar e educar da primeira infância começa pela criação de um ambiente facilitador aqui entendido como um espaço e as relações nele estabelecidas da constituição saudável da pessoa Os bebês humanos nascem com a sensibilidade de ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 4 olhar reconhecer e reagir às expressões faciais gestuais e vocais daqueles que cuidam deles Caso não encontrem reciprocidade eles se fecham ao contato o que significa um risco para o desenvolvimento saudável A relação dialógica entre a pessoa que cuida e a criança estabelece vínculos como o apego e o sentido de pertencimento a um lugar social fundamentais para o desenvolvimento da identidade que compõe uma fase denominada socialização primária As crianças que frequentam instituições de Educação Infantil desde bebês vivenciam esse processo tanto no âmbito da família seja qual for sua conformação e dinâmica quanto na relação com os professores Embora sejam processos concomitantes toda criança por mais nova que seja ao começar a frequentar a creche traz consigo uma préhistória nome sobrenome classe social ocupação e escolaridade dos pais composição e dinâmica familiar valores e crenças histórico de saúde da família que associada às vivências em relação à gestação ao nascimento aos primeiros cuidados a tornam um ser único com desejos necessidades ritmos habilidades e potenciais de desenvolvimento peculiares Cada família tem vivências conhecimentos crenças e valores que se expressam nos jeitos de cuidar e educar que vão sendo percebidos e assimilados pelas crianças constituindo um repertório utilizado por elas para lidar com outras situações de cuidado em outros espaços sociais Quando as atitudes e os procedimentos de cuidado realizados pelas famílias e professores são muito diferentes podem surgir conflitos que precisam ser explicitados e negociados para que as crianças se sintam seguras e capazes de lidar simultaneamente com os ambientes da instituição de Educação Infantil e de sua casa Muitos professores podem confirmar como exemplo da prática vivenciada em creches públicas e privadas que algumas crianças têm dificuldade para aceitar a solicitação do professor para retirar o calçado e participar de brincadeiras com água ou na areia porque suas mães recomendam que não fiquem descalças para não se resfriarem ou que não brinquem com areia porque o médico disse que isso poderia causar doenças Outras famílias orientam suas crianças a não darem descarga no vaso sanitário todas as vezes que fazem xixi para economizar água em suas casas o que gera conflito com as orientações recebidas nas unidades educacionais Nessas situações os professores precisam ouvir as crianças e as famílias procurando compreender a lógica que orienta suas preocupações recomendações e práticas de cuidados para que possam negociar com elas e adequar suas orientações às dinâmicas e diretrizes curriculares no contexto educacional A forma como o professor identifica a necessidade de troca de fralda ou de uso do sanitário por uma criança de seu grupo e como cuida dela contribui para que ela aprenda aos poucos a identificar e nomear as próprias sensações corporais possibilita que ela ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 5 construa a representação mental de seu corpo que aprenda rituais e regras sociais para a convivência coletiva como a que determina que eliminemos cocô e xixi em um lugar determinado longe daquele em que nos alimentamos ou brincamos e um pouco mais tarde que as meninas usem sanitários diferentes de meninos As sensações corporais são uma importante linguagem que comunica que precisamos parar a atividade do momento para recuperar o bemestar para ir ao sanitário tomar água comer ou descansar Com a mediação do adulto as crianças aprendem a identificar e nomear essas sensações e também os procedimentos que devem realizar para recuperar o bemestar físico e mental Pautadas na organização da rotina da creche as crianças aprendem que o dia tem um ritmo marcado pelas variações de temperatura e claridade próprios do amanhecer entardecer anoitecer mas também pelos rituais de chegada e partida do domicílio e da creche de início e término das brincadeiras ou trabalhos das refeições e momentos de relaxamento e descanso alternados com rituais de cuidados com o próprio corpo lavar as mãos antes das refeições sentarse para comer alimentarse de boca fechada para não engasgar limpar os dentes após as refeições retirar o sapato para dormir brincar ao sol ou à sombra As crianças aprendem a cuidar de si ao serem cuidadas O crescimento físico e a maturação neurológica associados às interações e às oportunidades oferecidas pelo ambiente possibilitam o desenvolvimento de habilidades que permitem que o bebê adquira autonomia para mudar de postura e locomoverse A presença do adulto atento proporciona segurança suficiente para que a criança explore espaços previamente organizados com desafios gradativos como pisos firmes confortáveis e seguros para deitar e aprender a virarse rastejar sentar com apoio das mãos e depois com a ajuda dos músculos fortalecidos pelos movimentos associados à maturação neurológica engatinhar embora a forma de fazêlo possa ser diferente Os ambientes para essas crianças precisam ser amplos com mobiliários e objetos seguros e à altura delas para que possam se apoiar levantar andar subir descer virar parar e recomeçar A organização flexível do ambiente possibilitará que mais tarde possam dançar jogar bola pedalar construir torres ou fazer garatujas no papel fixado no piso ou à parede Durante os cuidados aprendem outros movimentos como retirar e vestir roupas usar a mão ou talheres para comer escovar os dentes pentear os cabelos limpar determinadas regiões do corpo assoar o nariz e jogar o papel no lixo Os professores podem observar como os bebês e as crianças ao enfrentarem um novo desafio olham para eles como se perguntassem posso subir Será que consigo Você está aí para me ajudar se eu necessitar Se estão atentos durante o banho e a troca podem também observar como os bebês colaboram para a retirada da fralda suja e ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 6 na colocação de outra fralda limpa levantando a perna ou o bumbum rolando o corpo Assim as crianças aprendem a cuidar de si desenvolvem habilidades Com a ajuda do professor elas são desafiadas e ao mesmo tempo protegidas por ele adquirem independência aprendem a respeitar os próprios limites os limites dos outros e do espaço em que se encontram Após vivenciar e observar o adulto cuidando dela e de outras crianças e tornarem se mais independentes as crianças começam a imitáloe a criar novas formas de agir e realizar procedimentos As meninas cozinham cuidam de bonecas oferecem a elas papinha mamadeira às vezes o peito2 como a mãe fazia ou faz com elas próprias Trocam fraldas banham acalantam colocam no berço para dormir ajustam a voz de modo semelhante ao que os adultos fazem ao conversar com os bebês manhês3 dividem as tarefas Uma menininha de 3 anos durante um jogo simbólico pega o triciclo começa a pedalar e despedese das colegas dizendo agora eu vou trabalhar vocês cuidam das crianças depois eu volto imitando sua mãe que compartilha o cuidado dela com os professores Outro exemplo retirado de uma cena gravada em vídeo e que pode ser observada durante as refeições nas creches e préescolas referese a uma atitude entre as crianças a de oferecer alimentos à boca dos amigos pegando os alimentos do próprio prato e utilizando a mesma colher ou garfo Ela imitaria o cuidado do adulto Ou estaria realizando com o outro um desejo de ser cuidada Quando esta ação ocorre entre os bebês podese interpretála como um jogo de alternância expressão cunhada por Henry Wallon médico e pedagogo francês uma brincadeira que a criança realiza ao longo do processo de construção de sua identidade Entre crianças maiores poderá entretanto ter outro significado o de compreender os papéis sociais de imitar a professora ou a mãe que em outras ocasiões as alimentaram dandolhes comida na boca Em dois vídeos realizados em creches brasileiras e italianas observase no momento da refeição a cena descrita no parágrafo anterior o que revela ser um evento frequente em creches de diferentes contextos Entretanto a diferença está na percepção e reação dos professores se estão atentos a esses momentos e os valorizam como momentos de cuidado como ambiente educativo 2 Os profissionais de saúde que visam à promoção do aleitamento materno por meio de resgate dessa prática cultural sugerem que os fabricantes de brinquedos criem modelos que estimulem o aleitamento materno e eliminem as mamadeiras e chupetas da mesma forma como estão fabricando bonecas com aparência e vestimentas de várias etnias Entretanto observase que mesmo com bonecas que usam mamadeira as crianças que são aleitadas brincam de oferecer o peito como disse uma menininha de 2 anos para sua boneca levantando a própria camiseta quer mamar 3 Pesquisas evidenciam que os adultos das mais variadas culturas utilizam uma forma melodiosa de falar com os bebês prolongando as vogais que tornam a voz mais lenta e sonora pelo aumento da frequência que a faz mais aguda e com glissandos que caracterizam uma melodia LAZNIK e OLIVEIRA 2010 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 7 Em uma cena a professora percebe que um menininho de cerca de 2 anos tenta oferecer comida de sua própria colher à boca do colega de mesa O colega recusa o alimento o que começa a configurar um conflito entre ambos A professora atenta coloca uma boneca próxima a eles vestindo nela o babadouro sem que ela sugira algo explicitamente a criança que tentava alimentar o colega passa a alimentar a boneca e o possível conflito transformase em um jogo simbólico entre as duas crianças e a boneca Encerrada a refeição a professora limpa a boca da boneca com o babadouro e ajuda as crianças a saírem da mesa em direção ao sanitário para escovarem os dentes No outro vídeo a professora interpreta a atitude da criança de forma diferente e age repreendendo a criança que dá alimento à boca do colega com sua própria colher preocupada talvez com as regras sociais ou com a possibilidade de transmissão de doenças Mas sem compreender por que as crianças agem daquela forma a professora não é bemsucedida na sua intervenção e isso apenas a desgasta Em uma terceira cena gravada também em vídeo durante uma refeição de comemoração do dia das crianças em uma creche periférica de uma cidade grande duas crianças conversam sobre a função daquele pedaço de papel branco dobrado cuidadosamente ao lado de seu prato objeto a que elas raramente têm acesso naquela creche Uma delas diz é para limpar a boca a outra parece meio incrédula diante da afirmação do amigo não sabe bem como usálo amassao e joga ao chão Essas cenas poderiam servir de reflexão sobre como aprendemos as regras sociais por exemplo aquelas que permeiam as refeições e que dizem respeito aos rituais culturais à educação das crianças e aos cuidados com a saúde As formas de nos alimentarmos são variadas e ricas de possibilidades para refletirmos sobre o cuidado a educação e a saúde das crianças Os momentos de troca de fraldas do banho da escolha do que vestir da atenção aos riscos de adoecimento mais fácil nessa faixa etária são momentos em que a criança apropriase por meio de experiências corporais das formas como a cultura organiza essas atividades que imprimem modos de ser A definição e o aperfeiçoamento dos modos como a instituição organiza essas atividades também são partes integrantes de sua proposta curricular e devem ser realizadas sem fragmentar ações que são indissociáveis Ao conceber o caráter indissociável do cuidado e da educação fica claro que a responsabilidade de todas as ações junto às crianças é do professor Parecer CNECEB nº 2009 que define Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Infantil Diretrizes para um professor de Educação Infantil promotor da saúde Com base no conceito de Escola Promotora da Saúde da Organização Mundial da Saúde e considerando a faixa etária atendida em creches e préescolas é preciso refletir ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 8 sobre os indicadores que contribuem para o crescimento e desenvolvimento saudáveis nesses espaços e que ao mesmo tempo constituem modelos para as crianças aprenderem e incorporarem estilos e modos de vida saudáveis Para isso é necessário que o professor apoiado pelo gestor e pelo coordenador de sua unidade educacional 1 Compartilhe os cuidados com as famílias ouça suas demandas registre as recomendações relativas à saúde da criança que requeira observação ou cuidados especiais durante o período em que está sob seus cuidados 2 Interaja com as crianças atento às suas expressões corporais no processo de cuidado identifiqueas e atenda às necessidades delas de conforto bemestar e proteção de acordo com as potencialidades do desenvolvimento infantil e o contexto de cada grupo sem tolher a participação das crianças nas brincadeiras e em outras situações de aprendizagem 3 Auxilie e ensine as crianças a cuidarem de si e organize ambientes adequados ao processo de desenvolvimento das crianças de forma que a autonomia seja construída sem risco à integridade física e psíquica 4 Acompanhe e registre o processo de desenvolvimento infantil e reflita com a coordenadora e com os profissionais de saúde do serviço local sobre as crianças que apresentem alguma dificuldade de aprendizagem ou de interação com os demais adultos procurando meios de ajudálas em suas necessidades específicas 5 Alimente os bebês atendendo às suas necessidades nutricionais afetivas e de aprendizagens de novos paladares e consistências com base nas recomendações para o processo de desmame e nas normas de higiene para ambientes coletivos 6 Acolha as mães dos lactentes e ofereça condições para que elas conciliem aleitamento e trabalho e sigam regras de higiene para ambientes coletivos 7 Organize as refeições em ambiente higiênico seguro confortável belo e que possibilite autonomia socialização e boa nutrição a todos os grupos etários 8 Ajude as crianças que recusam alimentos ou que apresentem dificuldades para se alimentar sozinhas 9 Disponibilize água potável e utensílios limpos individualizados para que as crianças possam beber água quando desejarem e incentiveas a fazêlo durante todo o dia 10 Organize a rotina contemplando o banho de sol até às 10 horas e após às 15 horas a considerar o clima de cada região sobretudo dos bebês que dependem dos adultos para transportálos para o solário estando atento ao acesso das crianças e à oferta de água para hidratação e à proteção contra a exposição solar excessiva 11 Esteja atento ao conforto da criança ensinandoa a adequar o vestuário e os calçados às brincadeiras atividades e clima 12 Mantenha as salas ventiladas e alterne atividades em espaos internos e externos evitando confinamento 13 Esteja atento as recomendacoes sanitarias e legais relativas ao espacgo versus numero de crianga 14 Troque as fraldas dos bebés e ensine as criangas a usarem 0 vaso sanitario e a fazerem a higiene pessoal com atitudes acolhedoras com respeito as peculiaridades do processo de aprendizagem e desenvolvimento de cada crianga empregando precaugoes padronizadas para evitar transmissao de doengas e acidentes 15 Registre e ofereca a medicacao oral e tépica prescrita pelo médico ou os cuidados especiais orientados por profissionais de saude e que nao podem ser interrompidos durante o periodo em que a crianga permanece na instituigao educativa 16 Observe identifique informe e procure ajuda nas situagdes em que reconhega que a crianga apresenta alteragado no comportamento ou no estado de satide febre traumas dor diarreia cansaco ao respirar manchas na pele malestar alteragoes no crescimento e desenvolvimento ou suspeitas de maustratos de acordo com as diretrizes da instituigao 17 Informe ao gestor para que ele notifique a Unidade Basica de Saude de acordo com a legislagao especifica a suspeita de crianas ou profissionais da unidade educacional com doengas transmissiveis o aumento do numero de criangas com problemas de saude ou suspeitas de maustratos 18 Certifiquese da seguranca e higiene de brinquedos esteiras almofadas lencois trocadores banheiras objetos e materiais de uso pessoal e coletivo segundo as normas sanitarias especificas para creches e préescolas 19 Assegure que as areas interna e externa estejam organizadas e seguras para as criangas de todos os grupos de modo a evitar acidentes e disseminagao de doengas e ensine o cuidado com o ambiente O que o professor precisa saber para cuidar e educar as criangas O cuidado cotidiano das criangas permeado pelas agdes pedagdgicas é uma pratica profissional do professor de Educagao Infantil e requer que ele se aproprie de conhecimentos e desenvolva competéncias com base nas ciéncias bioldgicas e humanas para que ele possa de forma aut6noma ou em parceria com outros profissionais planejar e organizar o ambiente para os diferentes cuidados e aprendizagens nas diversas faixas etarias e em contexto coletivo e educacional acolher observar e interagir com familiares bebés e criangcas menores de 5 anos compreender e empregar a linguagem do cuidado formas de comunicagao durante o cuidado corporal individual e coletivo ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 9 i Belo Horizonte novembro de 2010 empregar procedimentos e atitudes seguras e adequadas ao contexto educacional e coletivo de acordo com as normas sanitarias especificas para o contexto da creche e da préescola registrar o processo de cuidado e desenvolvimento das criangas para acompanhar avaliar informar e planejar cuidados e atividades identificar as necessidades das criangas e do grupo de criangas avaliar decidir e agir informar obter e transmitir informacées compartilhar e negociar valores crengas e conhecimentos sobre as diferentes praticas de cuidados infantis com os familiares e outros profissionais e lidar com os desafios e avancgos dos processos de integrar cuidados com as atividades educativas no contexto de Educagao Infantil vy Planejar e organizar o ambiente Atender as necessidades de bebés e criancas de até 5 anos no contexto de educacao coletiva implica planejar organizar e manter um ambiente desafiador para as aprendizagens e simultaneamente acolhedor e seguro Isso significa que cada espaco mobiliario brinquedo material procedimentos e atividades realizadas pelos adultos com e para as criancas precisam ser pensados no que se refere ao risco e beneficio que oferecem ao processo de ensino crescimento e desenvolvimento integral saude e bem estar da crianga y Acolher observar e interagir Estar atento observar cada crianca na dinamica da convivéncia coletiva durante os cuidados e brincadeiras possibilita identificar suas caracteristicas e necessidades peculiares manifestas por meio de diversas linguagens mimicas gestuais orais e outras formas de expressao empregadas por elas conforme suas habilidades de comunicagao em cada idade Durante os cuidados e as brincadeiras 6 fundamental observar como a criancga participa desses momentos e como ela pode ir gradativamente tornandose auténoma compreendendo seus retrocessos sobretudo quando associados a manifestagdes de tristeza cansaco e alteragdes no estado de satide Cabe ao professor observar e identificar sinais na pele nos movimentos na temperatura corporal na frequéncia ou no tipo de respiragao nas fezes e na urina no comportamento e nas reagdes emocionais durante as brincadeiras refeigdes interagoes ou sono que possam significar alteragd6es em seu estado de saude e desenvolvimento de acordo com o conhecimento prévio que tem sobre aquela crianga ou com o com informagées da familia i ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 10 Belo Horizonte novembro de 2010 E preciso ainda que o professor esteja atento 4 comunicacdo das intencdes da crianga expressas na organizacao espacial na prépria mimica facial nos gestos e no tom de voz que emprega A atengao o interesse enfim a atitude de cuidado do educador ou a alienacgao a negligéncia e o descuido podem ser percebidos pelos bebés e pelas criangas pequenas por meio do olhar dos gestos da postura corporal do tom de voz das palavras empregadas do ritmo e da sequéncia das agdes e dos procedimentos realizados pelo professor e da forma como ele organiza o ambiente que constitui o que se denomina linguagem do cuidado As criangas sentemse cuidadas ou seja acolhidas amparadas reconhecidas em suas inquietagdes necessidades e desejos pela forma como os professores organizam o ambiente e interagem com elas durante todos os momentos em que realizam cuidados elementares mas essenciais ao conforto a protegao a nutrigao ao crescimento e ao desenvolvimento integral e saudavel das criangas vy Empregar procedimentos seguros e adequados ao contexto educacional coletivo Ao executar os procedimentos de remogao da fralda contendo coc6 ou xixi e limpar com delicadeza todas as dobras da pele do bebé removendo os residuos que possam causar lesoes assaduras ou dermatite de fralda em ambiente seguro e confortavel por meio de gestos firmes e toque suave acompanhados por um olhar e vocalizagao que Ihe comunicam a importancia e o respeito que os cuidados com o préprio corpo requerem o professor ajuda a crianca a construir uma autoimagem de sua identidade como pessoa singular mas integrada em uma cultura Ao empregar procedimentos adequados ao processo de desenvolvimento e estado de saude de cada crianga no contexto coletivo como higiene das maos e da superficie do trocador manipulagao segura da fralda suja cuidados com a pele da crianga o professor evita acidentes e doengas assim como afastamentos frequentes das criangas do espaco educativo Evita também que as doengas prevalentes na comunidade disseminem se nas diversas regides daquela localidade pois na creche e na préescola congregamse familias que residem e convivem em varias comunidades vy Registrar o processo de cuidado e desenvolvimento para acompanhar avaliar informar e planejar E importante registar tanto os avancos e as dificuldades que ocorrem no processo de cuidado e desenvolvimento quanto as manifestagdes corporais e emocionais dos bebés e criangas que comunicam malestar psicofisico choro continuo ou intenso irritabilidade alteragdes da temperatura corporal na consisténcia das fezes ou em outras i ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 11 Belo Horizonte novembro de 2010 eliminagdes mudanga de comportamento como parar de brincar e movimentarse manterse em siléncio apatico recusar o alimento Esses registros ajudam a avaliar os cuidados individuais em contexto coletivo e o processo de desenvolvimento infantil possibilitando tanto a comunicagao com os familiares e profissionais de saude quanto o planejamento de atividades brincadeiras e cuidados especificos vy Ildentificar as necessidades das criangas e do grupo de criangas avaliar decidir e agir O professor pode observar e decidir se uma crianga que estava brincando no grupo e de repente manifesta um malestar ou uma mudanga de comportamento tem condig6es de continuar na atividade coletiva ou se ela precisa de um cuidado especifico Sua decisao vai depender dos conhecimentos que adquiriu sobre o significado de alguns comportamentos e sinais conforme as orientagdes dos profissionais de saude com os quais a unidade educacional mantém parceria Como os professores nao sao profissionais de saude 6 preciso que o gestor articule a parceria com o gestor da Unidade Basica de Saude da area de abrangéncia da creche ou da préescola para promover acdes de formagao continuada da equipe da unidade educativa que incluam a elaboragao de orientagdes escritas protocolos Esses protocolos evitam que o professor se apavore diante de um acidente ou de uma manifestagao de malestar da crianga ou ao contrario que ele por desconhecimento deixe de reconhecer uma situagao mais grave e coloque em risco a seguranga da criana e a propria seguranga por exemplo a informagao de uma mae de que seu filho que esteve presente na creche no dia anterior e a noite tenha sido internado com uma doenga infectocontagiosa Essas situagdes frequentes em creches e préescolas requerem protocolos e cursos de formagao para os professores para que eles construam competéncias para avaliar decidir e agir preservando a seguranga tanto deles quanto das outras criancas e familiares assim como para acolher a mae e confortala Informar obter e transmitir informagoes Informar as familias sobre o estado de satide das criangas e cuidados diarios que requeiram continuidade em casa ou informar o gestor de que uma crianga caiu e bateu a cabeca na mesa sao tarefas que o professor realiza todos os dias O inverso também 4 Sugerese que cada creche e préescola ou um grupo delas em determinada regio tenha um supervisor de satide que seja responsavel técnico pela elaboragdo de recomendacées que orientem a ado dos professores nas situagdes de adoecimento acidentes e precaucées padronizadas para evitar disseminac4o de doengas no coletivo bem como um enfermeiro que participe da formaciio dos professores no que se refere aos procedimentos de troca de fralda banho limpeza e desinfeccao de superficies controle da oferta de medicaciio e de imunizacao E importante que esses profissionais possam contribuir na formagdo continuada dos professores e na elaboracao de planos de cuidados com as criancas que necessitem de atencdo diferenciada i ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 12 Belo Horizonte novembro de 2010 precisa ser pensado que informag6es é importante coletar diariamente com os familiares sobre as criancas que precisam tomar medicamentos em determinado horario Ou quais sao as criangas que estavam com febre no dia anterior Quais sao os bebés que estao comegando a substituir a mamada das 11 horas por papa salgada vy Compartilhar e negociar valores crengas e conhecimentos sobre desenvolvimento e cuidados infantis Todos os professores de creche e préescola sabem que as informagées sobre as criangas sao fundamentais e requerem um sistema organizado de registro e delimitagao de responsabilidade além de competéncias para ler anotagcdes maternas na agenda ou recomendagoées médicas epara decidir 0 que precisam comunicar a outros profissionais evitando erros de negligéncia imprudéncia e impericia Como toda atividade humana as praticas de cuidados das criangcas tém como base conhecimentos crencas valores habilidades construidas e socializadas nas relagdes intergeracionais e em outros grupos sociais permeados por orientagdes e informagées veiculadas por profissionais de satide instituigGes educacionais e midia As atitudes e os procedimentos de cuidados com as criangas podem diferir entre os diferentes grupos sociais e culturas dependendo das concepgoes que cada grupo social tem sobre crianga educagao e sobre a dinamica satdedoenca Mas o cuidado como pratica profissional fundamentase nas ciéncias exatas bioldgicas e humanas e constituise de atitudes e procedimentos pautados em conhecimentos atualizados sobre o processo de crescimento e desenvolvimento humano e sobre cuidados com a saude infantil A saude e o bemestar das criangas dependem da articulagao dos cuidados realizados no domicilio com aqueles realizados no contexto da creche e préescola e isso implica um exercicio diario de comunicagao entre familiares e professores e eventualmente com outros profissionais que ajudam a cuidar daquela crianga médicos enfermeiros psicdlogos fisioterapeutas fonoaudidlogos terapeutas ocupacionais psicopedagogos e outros A atitude de compartilhar cuidados infantis uma oportunidade para a construgao conjunta de conhecimentos com base na reflexao sobre as praticas e situagdes de cuidar e educar vivenciadas ou preconizadas pela articulagao do senso comum com a ciéncia Isso significa conhecer confrontar e negociar praticas crengas costumes conhecimentos sobre o que cada grupo profissional familiar ou pessoa da comunidade considera que faz bem ou mal a satide e ao desenvolvimento infantil A observagao atenta do professor permite que ele acompanhe o desenvolvimento infantil e reflita com os pais tanto sobre as potencialidades dos seus filhos quanto sobre possiveis diferengas ou dificuldades que demandem cuidados especiais ANAIS DO SEMINARIO NACIONAL CURRICULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais 13 i Belo Horizonte novembro de 2010 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 14 Parcerias para um desenvolvimento infantil saudável José foi matriculado na creche aos 4 anos de idade Nos primeiros dias a auxiliar de enfermagem observou que ele era trazido por sua mãe em um carrinho de bebê embora ele apresentasse habilidades motoras compatíveis com sua idade A professora percebeu que ele não conseguia se concentrar nas atividades vagando pela creche preferia ficar na sala com os bebês evitava o olhar direto dos adultos e o contato com outras crianças não falava balbuciando sílabas desconexas só aceitava alimentos brancos e gostava de montar quebracabeças O acolhimento de José e a aceitação de seu jeito próprio de ser o vínculo estabelecido com a mãe e o apoio da escola de enfermagem da universidade local possibilitaram a elaboração de um plano de cuidados e atividades compartilhado com a família que fosse compatível com as potencialidades de desenvolvimento dessa criança Posteriormente os pais aceitaram o encaminhamento a um serviço especializado Gradativamente José começou a aceitar arroz feijão algumas frutas a aceitar o contato com outras crianças e a falar algumas palavras Hoje José frequenta a Escola Municipal de Educação Infantil e continua seu atendimento em um Centro de Referência em Saúde Mental para crianças e adolescentes mantido por uma universidade federal Sua família reconhece que a matrícula na creche possibilitou uma nova fase no processo de cuidado e desenvolvimento de seu filho Neste caso ficou evidente que a parceria entre as instituições responsáveis pelo ensino extensão e pesquisa universidades privada e pública os serviços de saúde e instituições educacionais podem constituir uma rede de apoio aos professores famílias e comunidades em prol do crescimento e desenvolvimento infantil RUSSO e MARANHÃO 2010 Desafios e avanços contemporâneos na integração do cuidar e educar A tentativa de integrar a ação de cuidar à de educar é uma tarefa difícil sobretudo quando a sociedade contemporânea desvaloriza os atos de cuidados corporais e no caso das crianças usuárias de creches e préescolas restringeos às técnicas de oferta de alimentos e a ações de higiene que ao serem executados em ambiente coletivo podem ocorrer de forma mecânica inconsciente do significado desses atos para a criança e para quem cuida dela Comunicar por meio da escrita a complexidade da integração corpomente razão emoção biologiacultura requer a busca de termos que expressem a identidade e a integração de cada dimensão Ao tentar escrever sobre a integração corpo e mente pode se tentar empregar o termo psicofísico ou psicossoma que entretanto não são suficientes para definir em palavras a complexidade do seu significado por exemplo ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 15 explicar como o bebê constrói conhecimentos sobre seus limites corporais em relação ao ambiente por meio do toque do olhar da voz de quem cuida e comunicase com ele Com base na concepção de que as atitudes e os procedimentos de cuidados corporais propiciam experiências ricas ao bebê e à criança que possibilitam a ela aprender sobre si mesma sobre o outro sobre o meio físico social e cultural onde vive percebese que não há razão para apressar os momentos em que se necessita trocar fraldas ou oferecer alimentos com a justificativa de que atrasam as ações educativas como se a relação estabelecida no processo de cuidar também não fosse uma ação educativa Ao mesmo tempo se não aprofundarmos a reflexão poderemos concluir que os bebês e as crianças pequenas apenas precisam ter suas necessidades corporais atendidas permeadas de interações singulares amiúdes e afetivas descartandose as preocupações com planejamento didáticas específicas e outros fazeres próprios das atividades dos professores que partem das diretrizes curriculares estabelecidas para a área e definem atitudes procedimentos conteúdos e formas de ensinálos às crianças O ambiente de cuidado da mãe suficientemente boa expressão cunhada por Donald Winnicott para explicar que é no processo de identificação materna em relação ao filho que se constroem as formas de cuidar de cada criança independentemente dos conhecimentos técnicos não se aplicam integralmente aos professores A relação estabelecida na creche é profissional embora também permeada por afetividade A pessoa responsável pelo cuidado diário da criança precisa de ferramentas para identificar e atender necessidades específicas ou seja conhecimento suficiente sobre o desenvolvimento humano sobre a articulação das práticas culturais com procedimentos adequados para ambientes coletivos sobre os aspectos legais e éticos do processo de cuidar em ambiente educativo Lembrando o título de um determinado artigo para cuidar é preciso razão e sensibilidade habilidades construídas socialmente Outro desafio é o equilíbrio entre cuidado individualizado considerando a dinâmica do tempo e do espaço no coletivo e sua articulação com as brincadeiras e atividades diversificadas que têm objetivos educativos específicos Este desafio é diário e superado pela constante observação avaliação e planejamento ajustandose os ritmos e reorganizandose os ambientes É preciso lembrar que os cuidados com a alimentação o conforto a proteção quando organizados e operacionalizados no contexto de diversos países culturas e grupos sociais podem diferenciarse na forma como permitem a participação da criança ou o acesso dela aos objetos alimentos ambientes resultando em práticas diversas que influem na forma como ela desenvolve habilidades e constrói conhecimentos e como se mantém mais ou menos dependente dos adultos ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 16 Para algumas famílias oferecer alimento na boca para crianças que já têm capacidade para se alimentar sozinhas pode significar uma demonstração de afetopara outras isso sugere um prolongamento da dependência um atraso no processo de desenvolvimento Em publicação da Associação Nacional de Creches Americanas os autores apontam para as diferenças culturais entre norteamericanos e japoneses no que se refere aos valores no processo de cuidar e educar as crianças conforme cada cultura Para os primeiros a individualidade e a independência são fundamentais já os segundos valorizam a tradição e a interdependência familiar o que repercute nas formas de cuidar das crianças Assim cantigas histórias movimentos gestos palavras utensílios vestuários e mobiliários que são utilizados no processo de cuidar bem como o reconhecimento das habilidades das crianças para que gradativamente aprendam a cuidar de si mesmas e de seus pares constituem o currículo da Educação Infantil Reconhecer a condição do ser humano como híbrido naturezacultura significa que necessitamos integrar olhares conhecimentos práticas o que requer negociar conflitos ponderar riscos e benefícios de cada cuidado de cada ação ponderar em cada idade e contexto sociocultural o que propicia uma melhor qualidade de vida bemestar e desenvolvimento humano integral Compartilhar cuidados com as famílias implica acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento infantil ministrar observar e registrar a evolução de um resfriado a aceitação dos alimentos complementares por um lactente que inicia o desmame ou está em processo de adaptação na creche ministrar medicamentos orais ou aplicar pomadas e cremes para tratamentos que a criança necessite identificar sinais de malestar ou traumas manifestos pelas crianças quando sob seus cuidados acalmandoas e providenciando os primeiros cuidados até que sejam encaminhadas ao serviço de saúde prestar os primeiros cuidados diante de uma emergência ensinar os cuidados com o corpo para propiciar conforto segurança e bemestar Para isso o professor precisa contar com o apoio dos gestores e coordenadores que se responsabilizem pelas parcerias com os serviços de saúde locais e programas de formação continuada o que envolve as Secretarias de Saúde e Educação Cabe aos gestores viabilizar a cada creche e préescola o suporte técnico de um enfermeiro e quando necessário de outros profissionais de saúde para compartilhar a formação e supervisão dos professores ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 17 Dez questões para refletir sobre a prática do professor de Educação Infantil 1 Você e colegas organizam e realizam a troca de fralda ou a higiene após o uso do sanitário de modo a possibilitar que criança participe desse cuidado com seu corpo com respeito a sua intimidade e ao mesmo tempo protejaa dos riscos físicos biológicos e químicos potencialmente presentes nesse ato realizado em contexto coletivo 2 Você e seus colegas compartilham com os familiares o processo de retirada de fraldas ou o início de oferta de alimentação complementar considerando os conhecimentos científicos necessários à integridade física e mental das crianças mas sem desvalorizar as práticas culturais das famílias 3 Você e colegas organizam o acesso das crianças aos recipientes para beber água potável considerando as aprendizagens delas fora do âmbito da escola algumas famílias deixam um copo no filtro onde todos se servem algumas comunidades consomem líquidos como chimarrão em um mesmo recipiente e ao mesmo tempo ensinam as práticas de higiene necessárias em ambiente coletivo 4 Como você e seus colegas aproveitam e valorizam os momentos de cuidados individualizados para uma interação com cada criança em particular sem desconsiderar as necessidades das outras crianças do grupo 5 Como você e seus colegas acompanham avaliam e adaptam as atitudes e os procedimentos de cuidados em cada grupo de crianças para atingir o objetivo de promoção do crescimento e desenvolvimento infantil integral e saudável 6 Como a instituição em que você trabalha compatibiliza as necessidades ergonômicas dos professores e ao mesmo tempo torna acessível às crianças as maçanetas janelas bancadas para serviremse de alimentos cadeiras e mesas 7 Como você e seus colegas promovem o aleitamento materno como uma prática cultural e biológica de crescimento que mantém a saúde e propicia o desenvolvimento integral para bebês que permanecem em período integral na creche 8 Como você e seus colegas participam das ações de acompanhamento do desenvolvimento das crianças 9 Como você e a equipe da creche e da préescola conciliam as políticas públicas previstas na agenda de compromissos com a saúde integral da criança e as diretrizes curriculares de Educação Infantil 10 Como você e seus colegas decidem o que fazer diante de um acidente ou alteração do estado de saúde de uma criança no período em que ela está no ambiente da creche ou préescola ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 18 Referências BRASIL Ministério da Saúde Unesco OECD Educação e cuidado na primeira infância grandes desafios Brasília 2002 BRASIL Ministério da Saúde Guia alimentar para crianças menores de 2 anos Dez passos da alimentação saudável para crianças brasileiras menores de dois anos Organização PanAmericana de Saúde Brasília 2002p 8791 BRASIL Ministério da Saúde Agenda de compromissos para a saúde integral da criança e redução da mortalidade infantil Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Brasília 2004 BRASIL Ministério da Saúde IECFIOCRUZ Promoção da saúde Declaração de Alma Ata Carta de Ottawa Declaração de Adelaide Declaração de Sundsvall Declaração de Santafé de Bogotá Declaração de Jacarta Rede de Megapaíses Declaração do México Brasília 2001 BRASIL Ministério da Saúde AIDPI Manual para vigilância do desenvolvimento infantil no contexto da AIDPI Organização PanAmericana de Saúde 2003 BRASIL Ministério da Saúde Promoção da saúde 1998 Secretaria de Políticas de Saúde Disponível em httpwwwsaudegovbrsps Acesso em 20 jul 2006 BERLINGUER G A promoção da saúde Questões de Vida Ética Ciência Saúde Salvador São Paulo Londrina APCEHUCITECCEBES 1993 FALK J Educar os três primeiros anos a experiência de Lóczy 1 ed Araraquara Junqueira e Marin 2004 LAZNIK M C OLIVEIRA E P Em busca da melodia In PINTO G C Doenças do Cérebro autismo Mente e cérebro São Paulo Duetto 2010 MARANHÃO D G Reflexões sobre a participação do enfermeiro na creche Acta Paul Enf 1999 122 p 3546 MARANHÃO D G O cuidado como elo entre a saúde e educação Cadernos de Pesquisa 2000 111 p 115133 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 19 MARANHÃO D G O processo saúde doença na perspectiva dos educadores infantis Cad Saúde Pública 2000 164 p 11431148 MARANHÃO D G VICO E S R Higiene e precauções padrões em creche e préescola contribuindo para um ambiente saudável In SANTOS L E S Creche e préescola uma abordagem de saúde Porto Alegre Artes Médicas 2004 p 131148 MARANHÃO D G Promoção a saúde em contexto de educação infantil In Educação em São Paulo contexto e protagonistas Anais do IV Congresso Municipal de Educação 17 a 18 de novembro de 2005 São Paulo MARANHÃO D G SARTI C A Cuidado compartilhado negociações entre famílias e profissionais em uma creche Interface comunicação saúde educação 2007 11 22 p 257270 MARANHÃO D G SARTI C Creche e família uma parceria necessária Cadernos de Pesquisa 2008 38 133 p 171194 MARANHÃO D G MACHADO J K CHECCINATTO D Cuidar e educar bebês desafios da mesma competência In ATEM L M Cuidados no inicio da instituição pesquisa clinica e metapsicologia São Paulo Casa do Psicólogo 2008 MARANHÃO D G et al Que choro é esse Revista Avisa lá 2007 p 410 MARANHÃO D G ORTIZ C As crianças adoram já os adultos Revista Avisa lá 2006 MARANHÃO D G Água com moderação é questão de educação Revista Avisa lá 2004 MARANHÃO D G Quero passear Revista Avisa lá 2001 MARANHÃO D G O binômio cuidar e educar das crianças na instituição de educação infantil In DAVID C M GUIMARÃES J G M Pedagogia cidadã cadernos de formação Educação Infantil 2 ed São Paulo UNESP 2006 OJEDA E N S Desenvolvimento integral da criança In OMSOPAS Ações de saúde maternoinfantil a nível local Brasília 1999 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 20 RUSSO G MARANHÃO D G Percepções de mães e educadores sobre o desenvolvimento de crianças usuária de creche Monografia de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem São Paulo UNISA 2010 SANTOS S E L Creche e Préescola uma abordagem de saúde Artes Médicas São Paulo 2004 SARTI C A MARANHÃO D G A creche é o pai instituição pública ou projeção de uma família idealizada In MULLER F Org Infância em perspectiva politicas pesquisas e instituições São Paulo Cortez 2010 p 223239 SILVEIRA G T PEREIRA I M T B Escolas promotoras da saúde ou escolas promotoras de aprendizagemeducação In LEFEVRE F LEFEVRE A M C Promoção da saúde a negação da negação Rio de Janeiro Vieira e Lent 2004 STORK H L O MOTA G Os bebês falam Como vocês os compreende Uma comparação intercultural In BUSNEL M C A linguagem dos bebês São Paulo Escuta 1997 UNICEF Situação da infância brasileira UNICEF Brasil Brasília 2001 VICO E S LAURENTI R Mortalidade de crianças usuárias de creches no município de São Paulo Rev Saúde Publica 2004 381 p 3844 WALLON H O papel do outro na consciência do eu In WEREBE M J G NADEL BRULFERT J São Paulo Ática 1986 WERNER J Saúde Educação desenvolvimento e aprendizagem do aluno Rio de Janeiro Grypus 2005 WINNICOTT D W Natureza humana Rio de Janeiro Imago 1990 ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais Belo Horizonte novembro de 2010 21 Agradecimentos Agradeço a leitura e as contribuições dos professores Dra Zilma de Moraes Ramos de Oliveira Dra Marineide de Oliveira Gomes Dr Jairo Werner e Doutoranda Juliana Davini ao Grupo de Estudo em Puericultura da Unifesp a todos os alunos que refletiram comigo sobre o cuidado infantil assim como às crianças aos familiares e educadores que me instigaram a assumir a responsabilidade de escrevêlo Agradeço também as críticas e sugestões de todos os educadores que participaram das reflexões quando da apresentação deste texto promovida pelo Ministério da Educação em Belém do Pará e Teresina e nos eventos realizados na cidade de São Paulo bem como aos que escreveram durante a Consulta Pública contribuindo com o aprimoramento do texto e o debate sobre esta dimensão da Educação Infantil Novembro2010