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Psicologia ·

Psicanálise

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O psicanalista Hélio Pellegrino 19241988 Artigo escrito por Hélio Pellegrino no suplemento Folhetim da Folha de SPaulo do dia 11 de setembro de 1983 e que prossegue atual Vou falar sobre o Édipo de um ponto de vista psicanalítico Sobre Édipo personagem de Sófocles e sobre Édipo herói de uma velha lenda tebana na qual se apoiou Sófocles para escrever sua obra De um ponto de vista psicanalítico há logo um curiosíssimo problema Édipo personagem herói legendário dentro de uma ética estritamente freudiana não sucumbiu ao seu complexo de Édipo Ele foi vítima e achouse tragicamente preso de vicissitudes préedipicas Não nos esqueçamos dos dois marcos fundamentais da vida de Édipo Tebas e Corinto Édipo conseguiu sair de Corinto conseguiu desligarse dos pais que o haviam criado e amado e que portanto o haviam preparado para a aventura da liberdade No entanto ficou atado aos pais de Tebas que o haviam votado a morte E foi com relação a eles que se consumou a tragédia Recapitulemos a história de Édipo filho de Laio e Jocasta Antes de seu nascimento Laio ouviu do oráculo a predição de que teria um filho que o mataria e se casaria com a mãe Ao nascer Édipo não recebeu dos pais nenhum nome o inominado portanto e foi condenado à morte por Laio e Jocasta A mãe o entregou a um pastor para que o matasse O pastor levou o recém nascido ao monte Citerão e apiedandose dele ao invés de matálo furoulhe os pés e o atou com uma corda a uma arvore Fica aqui simbolicamente prefigurada uma das vertentes capitais do destino de Édipo A árvore é um clássico símbolo materno Édipo por um lado jamais conseguiu desamarrarse da mãe Ele ficou atado a ela agarrado à mãe como um náufrago se agarra à sua tábua de salvação O desamor da mãe ao recém nascido corresponde ao naufrago deste Sobrevivese Embora a odiando por um lado jamais se arrancará da mãe que o rejeitou Prosseguindo a história um pastor de Corinto de passagem pelo bosque viu o pequeno Édipo dependurado a arvore e o resgatou cortando a corda que o amarrava Esse pastor desempenhou em termos psicanalíticos a função maiêutica do pai Ele cortou o cordão umbilical que o ligava a árvoremãe O pai ajuda de maneira decisiva a partejar a subjetividade do filho permitindolhe desfusionarse diferenciarse da mãe 1 Em Corinto Édipo oidenpous o que tem os pés inchados foi acolhido por Mérope e Políbio que não tinham filhos e foi criado como filho legítimo ignorando a verdade sobre sua origem Já adulto ouviu num banquete de um conviva bêbado a notícia de que não era filho legitimo de Mérope e Políbio Profundamente torturado consultou o oráculo e ouviu dele a predição terrível seria assassino do pai casarseia com a mãe e geraria uma prole nefanda Inventando o próprio caminho Para fugir ao destino Édipo abandonou Corinto Ele conseguiu fazêlo já que não estava atado aos pais que respeitaram e amaram O amor é condição necessária e suficiente da liberdade Em viagem na tentativa de ser o inventor de seus próprios caminhos Édipo numa encruzilhada tem violenta altercação com um velho acompanhado de escolta Enfrentao e mata o ancião e alguns do seu grupo sem saber que consumara o parricídio Seguindo estrada nas proximidades de Tebas tem notícias de que a Esfinge desafiava com enigmas os que por ela passassem devorando os que não o decifravam Édipo aceita o desafio enfrenta a esfinge e decifra o enigma que lhe havia sido proposto Qual é o animal que pela manhã anda com quatro pés ao meio dia com dois e à tarde com três pés É o homem respondeu Édipo que na infância gatinha na idade adulta anda erguido e na velhice se apóia num bastão A Esfinge roída de despeito precipitouse despedaçada no abismo Édipo por têla destruído recebeu como prêmio a mão de Jocasta viúva de Laio e passou a reinar sobre Tebas É curioso notar que Édipo recebeu Jocasta como troféu sem sequer conhecêla Com isso fica caracterizado o vínculo arcaico que o liga a mãe anterior a uma verdadeira escolha de objeto A destruição da Esfinge por sua vez corresponde à derrota da imago da mãe má rejeitadora devoradora e filicida Temos aí uma cisão da figura materna de Jocasta portanto e a derrotada imago da mãe aterradora e perseguidora Foi graças a esse mecanismo de defesa que Édipo conseguiu casarse com Jocasta depois de ter matado Laio 2 No casamento foram gerados quatro filhos Eteócles Polinice Ismênia e a doce Antígona Édipo reinou sobre Tebas até que começou a ser pressionado pelos flagelos Em virtude do assassinato de Laio foi ordenada uma rigorosa apuração As investigações se fizeram e ao fim delas Édipo foi descoberto como parricida e incestuoso Jocasta também devorada de culpa enforcouse reproduzindo a figura da pequena criança votada à morte e dependurada numa corda Vejamos agora a concepção freudiana do complexo de Édipo Diz Freud entre os 3 e os 5 anos a criança chega à organização fálica ou genital infantil de sua libido No menino vamos falar do Édipo masculino em sua forma direta a excitação sexual se organiza predominantemente em torno do pênis Este órgão recebe por isso uma extraordinária valorização narcísica Nessa etapa fálica de sua evolução libidinal o menino deseja sexualmente a mãe a partir de uma posição genital infantil e odeia o pai rival que lhe impede a satisfação de sua paixão incestuosa O menino quer possuir a mãe sexualmente e quer matar o pai Ele luta contra a interdição do incesto que o separa da mãe Quer matar o pai seja como rival seja como representante da Lei da Cultura O Édipo representa a derradeira etapa de um progressivo e doloroso processo de separação corte do cordão umbilical desmame e por fim proibição do incesto ao nível da genitalidade infantil O Édipo obriga o ser humano a superar a infância isto é sua dependência da mãe e o desejo que sente por ela Nessa medida corresponde a um segundo nascimento uma segunda expulsão do paraíso De que maneira o menino transcende segundo Freud o seu complexo de Édipo Ele o transcende inicialmente pelo medo que passa a ter da castração E aqui se articula com o complexo de Édipo o complexo de castração de importância central no pensamento psicanalítico O menino descobre na época do seu Édipo isto é na fase fálica a diferença anatômica dos sexos Ele verifica aterrorizado que a menina não tem pênis e que a mãe também não possui Ele passa a ter medo de que o mesmo lhe possa acontecer como castigo imposto pelo pai em virtude de seus impulsos incestuosos e parricidas A fantasia de castração corresponde também um dos fantasmas originários 3 aos quais Freud atribui dimensão filogenética arquetípica O menino como vimos valoriza extraordinariamente o seu pênis e atribui altíssimo significado narcísico O medo à perda do pênis filogeneticamente condicionado obrigao a um recuo O menino acaba na hipótese mais favorável por abrir mão do seu projeto incestuoso Ele internaliza a proibição do incesto e se identifica com os valores paternos Dessa forma cumpre uma etapa fundamental que o prepara no sentido de se tornar sócio da sociedade humana Aqui se levanta o problema crucial da relação do ser humano com a lei É claro que nos referimos à Lei primordial que marca a passagem o salto da natureza para a cultura O modelo contudo tem validade geral e pode ser aplicado aos vários níveis institucionais em que transcorre a aventura humana Não há duvida de que a Lei para ser respeitada precisa ser temida Nesse sentido para a resolução do Édipo é necessário o temor à castração segundo a concepção freudiana Uma lei que não seja temida que não tenha potência de interdição e de punição é uma lei fajuta impotente No entanto o temor à lei sendo necessário é absolutamente insuficiente para fundar a relação do ser humano com a lei Uma lei que se imponha apenas pelo temor é uma lei perversa espúria lei do cão Só o amor e a liberdade subordinando e transfigurando o temor permitem uma verdadeira positiva e produtiva relação com a lei A autêntica aceitação de interdito do incesto de modo a tornálo nódulo crucial capaz de estruturar uma identificação posterior com os ideais da cultura só é possível na medida em que a criança seja amada e respeitada como pessoa na sua peculiaridade pelo pai e antes dele pela mãe É o amor materno que funda a personalidade para que a criança vença a angústia de separação tornandose um ser outro em respeito à mãe O amor da mãe já modelado pela cultura prepara o advento do terceiro do pai cuja entrada em cena por meio da estrutura triádica ajuda a criança a construir sua própria liberdade e autonomia Há um momento no Édipo em que a criança tem que assumir sua condição de terceiro termo excluído Ela tem que aceitarse excluída da relação de amor dos pais O menino no Édipo tem barrado o seu acesso sexual a mãe Esta perda no entanto que representa o fechamento de uma porta deve abrir no futuro inúmeras outras portas O Édipo proíbe o incesto sem dúvida mas permite todas as outras escolhas que não sejam 4 incestuosas A Lei existe não para humilhar e degradar o desejo mas para estruturálo integrandoo no circuito do intercâmbio cultural A estrutura edípica representa a gramática elementar do desejo a partir de suas regras vai ser possível a articulação do discurso desejante Assim como na língua as construções lógicosintáticas são a condição da invenção dos discursos assim também o Édipo deve representar a construção essencial que vai permitir ao desejo desferir o seu vôo O Édipo é a Lei do desejo A Lei do desejo pode e deve corresponder um desejo da Lei A Lei existe sob a égide de Eros Ela é portanto um produto erótico está na base do processo civilizatório desde sua origem na raiz do esforço individual e coletivo no sentido da hominização e da humanização do ser humano Existe uma plena possibilidade de se desejar a Lei e o terceiro termo paterno a metáfora paterna que o representa A propósito relatolhes o primeiro sonho de um paciente muito expressivo O sonhante está fechado numa cabine de navio em naufrágio A água sobe ele vai afogarse Olha para cima e percebe uma vigia de vidro por onde poderia sair se conseguisse rompêla Desesperado lança mão de uma longa barra de ferro que está a um canto da cabina e com ela quebra a vigia O sonho é belíssimo A barra de ferro representa o falo paterno e a força do Pai de cuja ajuda o sonhante necessita para escapar ao mortífero desejo de retorno ao útero materno ou ao engolfante e todo poderoso desejo da mãe Esse significante paterno resgatado durante o processo analítico veio a constituir o eixo do esforço do paciente na construção de si próprio enquanto sujeito Vejamos agora o que diz a antropologia psicanalítica na interpretação que faz do processo civilizatório Para Freud este processo implica necessariamente uma renúncia pulsional tanto erótica quanto agressiva Civilizar é portanto e por um lado reprimir ou suprimir Tal conceito fica expresso com clareza no livro O Malestar da Civilização Na obra é possível compreender a presença em cada ser humano de certo e inevitável rancor contra a cultura 5 Entretanto a intensidade e a violência da repressão ou da supressão irão depender não apenas das necessidades intrínsecas ao próprio processo civilizatório mas da intensidade da luta de classes que nele se desenvolve Freud não foi bastante lúcido nesse sentido Ao analisar a sociedade capitalista que tomou como modelo não se deu conta de que nela a intensidade da repressão existe não apenas em função das exigências do processo civilizatório mas da injustiça social que é preciso garantir e manter pela força Na sociedade capitalista existe inevitavelmente aquilo que Marcuse denunciou como sobrerepressão em virtude da exploração do homem pelo homem Onde há injustiça e luta de classes há sobrerepressão Temos nessa medida o direito de supor que numa sociedade sem classes dispensada da violência repressiva necessária à manutenção da injustiça restará a exigência de uma mínima renúncia pulsional para que o tecido social se estruture e articule Mas voltemos ao Édipo pedra angular segundo Freud da estrutura intrapsíquica e do processo civilizatório A criança na vicissitude edípica tem que renunciar às suas pulsões incestuosas e parricidas Tem que renunciar portanto à onipotência do seu desejo e ao princípio do prazer adequandose ao princípio de realidade Tal renúncia se faz em nome do temor subordinado ao amor A solução do complexo de Édipo implica um pacto uma aliança com o pai e com a função paterna Ora num pacto sob a égide da concórdia ganham os dois lados no Édipo com o acordo ganha a sociedade representada pelo pai e pela família e tem que ganhar também a criança O pacto edipiano implica mão dupla um toma lá dá cá A criança perde mas ganha Em troca da renúncia que lhe é exigida tem o direito de receber nome filiação lugar na estrutura de parentesco acesso à ordem do simbólico além de tudo o mais que lhe permita desenvolverse e sobreviver vivendo A criança tem que receber do Édipo as ferramentas essenciais que lhe permitam construirse como sujeito humano Com isto ela ama e respeita o pacto que fez e nesta medida fica preparada para identificarse com os ideais e valores da cultura à qual pertence 6 A Lei da cultura e o pacto social O pacto com a Lei da Cultura ou Lei do pai é a tarefa primordial da criança na primeira etapa do seu desenvolvimento psicossexual Transposto o Édipo e suas vicissitudes cheias de som e fúria a criança entra no período de latência e nele inicia o processo de aquisição de uma competência pela qual no futuro e por meio do trabalho irá contribuir para a construção e a transformação da vida social A Lei da cultura representa por assim dizer o batismo do ser humano a marca da passagem que o faz ingressar como postulante ou neófito no círculo de intercâmbio social O Édipo e a linguagem que são estruturalmente articulados representam os grandes veículos de socialização da criança Na idade adulta ao pacto com a Lei da Cultura centrado em torno da renúncia e aos impulsos sexuais acrescentase um pacto social estruturado em torno da questão do trabalho O trabalho é o elemento mediador fundamental por cujo intermédio como adultos nos inserimos no circuito e intercâmbio social e nos tornamos de fato e de direitosócios plenos da sociedade humana O pacto social sucede e se articula com o pacto sexual Ele confirma e amplia a aliança com a Lei primordial Ele está para a Lei assim como a crisma está para o batismo na religião cristã No pacto social por meio do trabalho pedese ao ser humano que confirme a sua renúncia pulsional primígena através da aceitação do princípio de realidade Trabalhar é inserirse no tecido social por mediação de uma práxis aceitando a ordem simbólica que o constitui Trabalhar é disciplinarse é abrir mão da onipotência e da arrogância primitivas é poder assumir os valores da cultura com a qual pelo trabalho nos articulamos organicamente O pacto com a Lei do pai prepara e torna possível o pacto social Este exige renúncias e uma função simbolizadora que só serão viáveis na medida em que uma interdição originária a proibição do incesto lhes prepara o aposento Se a Lei da Cultura é um pacto e portanto implica deveres e direitos tendo mão dupla toma lá da cá sem o que o pacto fica invalidado em sua estrutura também o pacto social implica direitos e deveres e tem necessariamente mão dupla sem o que não conseguirá sustentarse O pacto primordial prepara e torna possível um segundo pacto em torno da questão do trabalho O primeiro pacto garante e sustenta o segundo mas este por retroação confirma ou infirma o primeiro O pai é o representante da 7 sociedade junto à criança A má integração da Lei da Cultura por conflitos familiares não resolvidos pode gerar conduta antisocial Uma patologia social pode também ameaçar ou mesmo quebrar o pacto com a Lei do Pai Assim como a aceitação da Lei da Cultura tem que abrir para a criança a possibilidade de ganhos fundamentais assim também o pacto social não pode deixar de criar para o trabalhador direitos inalienáveis Ofereço à sociedade minha competência e minha renúncia ao princípio do prazer sob forma do meu trabalho Esta oferta me foi exigida pela própria sociedade para que eu fosse aceito como sócio dela Em nome do exercício do meu trabalho tenho o direito sagrado de receber o mínimo indispensável à preservação de minha integridade física e psíquica A dolorosa e laboriosa aquisição da competência enquanto trabalhador é a parte que me cabe no pacto com a sociedade O retorno o dá cá resposta ao toma lá compete à sociedade Se o pacto social tem mão única se os direitos do trabalho são desrespeitados e aviltados ele pode romperse implicando gravíssimas consequências A sociedade só pode ser preservada e respeitada pelo trabalhador na medida em que o respeite e o preserve Se o trabalhador for desprezado e agredido pela sociedade tenderá a desprezá la e agredila até atingir um ponto de ruptura Na melhor das hipóteses essa ruptura poderá levar o trabalhador a tornarse um revolucionário Ele rompe com a sociedade não para atacála cegamente mas para transformála revolucionariamente por meio da ação de massas Em tal caso a ruptura com o pacto social não chega a provocar a ruptura com a Lei da Cultura ou Lei do Pai Apesar da injustiça social ou melhor por causa dela o revolucionário se apóia nas melhores e mais altas tradições e virtudes libertárias do seu povo Nessa medida mantémse fiel ao seu Ideal de Eu e preserva com isto a aliança com o Pai simbólico Tal hipótese é a melhor das hipóteses Examinemos a pior delas com freqüência a mais frequente O pacto com a sociedade como ficou visto é preparado e caucionado pelo pacto primordial A renúncia edípica prefigura e torna possível a renúncia posterior exigida pelo trabalho Se o pacto social é iníquo e avilta o trabalho ele vai aviltar e tornar iníqua a renúncia pulsional por ele próprio exigida O amor ao trabalho só é possível na medida em que os direitos do trabalhador sejam minimamente respeitados Se isto não ocorre há uma ruptura do pacto social O trabalho tornase sem sentido aviltante e humilhante tanto quanto o sacrifício e a renúncia que em seu nome 8 me disponho a fazer Rompo aí com a sociedade e esta ruptura terá inevitavelmente profundas repercussões intrapsiquicas que irão sacudir sob a forma de um abalo sísmico os fundamentos do pacto primordial com o Pai simbólico e com a Lei da Cultura A ruptura com o pacto social em virtude de sociopatia grave como é o caso brasileiro pode implicar a ruptura ao nível do inconsciente com o pacto edípico Não nos esqueçamos que o pai é o primeiro e fundamental representante junto à criança da Lei da Cultura Se ocorre por retroação tal ruptura fica destruído no mundo interno o significante paterno o NomedoPai e em consequência o lugar da Lei Tal desastre psíquico vai implicar o rompimento da barreira que impedia em nome da Lei a emergência dos impulsos delinquenciais préedípicos predatórios parricidas homicidas e incestuosos Assistimos a uma verdadeira volta do recalcado Tudo aquilo que ficou reprimido ou suprimido em nome do pacto com o pai vem à tona sob forma de conduta delinquente e antisocial É essa a chave psicanalítica para compreensão do surto crescente de violência e delinquência que dilacera o tecido social brasileiro nas grandes cidades Existe em nosso País uma guerra civil crônica sob a forma de assaltos roubos assassinatos estupros e outras gentilezas do gênero Esta guerra foi declarada e é mantida pelo capitalismo selvagem brasileiro pela cupidez e brutal egoísmo das classes dominantes nacionais e multinacionais que o sustentaram e expandiram as custas da miséria do povo A favor do grande capital Em verdade o golpe militar de 1964 uma contrarevolução preventiva controlada pelos interesses norteamericanos foi desfechado primordialmente contra a classe trabalhadora que constituía maioria da população brasileira O golpe de 1964 se fez contra o trabalho a favor do grande capital nacional e multinacional Os militares em nome da Doutrina de Segurança Nacional fizeram contra o povo uma opção imperialista Esta opção implantou em nosso País um modelo econômico de capitalismo selvagem excludente e concentrador de riqueza que arrastou à miséria e ao desespero a imensa maioria do povo O trabalho em nossa pátria é degradado e aviltado Chegase 9 agora ao luxo extremo e sinistro da recessão e do desemprego comandado da Doutrina de Segurança Nacional pelo Conselho de Segurança Nacional Voltamos às origens Os migrantes os pausdearara os bóiasfrias os 40 milhões de brasileiros reduzidos à pobreza absoluta esses não têm nada absolutamente nada que os leve a respeitar e prezar a sociedade brasileira Eles são cuspidos e enxovalhados enquanto seres humanos e força de trabalho Ao mesmo tempo espocam os escândalos impunes Riocentro Proconsult Baumgarten Capemi Delfin O pobre absoluto não tem por que manter o pacto social com uma sociedade que o reduz à condição de detrito ao mesmo tempo em que nos seus estratos dirigentes se entrega à corrupção e ao deboche impune Ele tem toda razão de odiar e repelir essa sociedade Ao romper com o pacto social na medida em que não tenha uma alternativa políticotransformadora e libertadora rompe ao mesmo tempo e por retroação com a Lei da Cultura Comete no mundo inconsciente parricídio puro e simples e tendo destruído as barreiras antepostas os seus impulsos primitivos entregase a eles e parte para a delinquência roubo homicídio estupro sequestro e tudo o mais O surto de delinquência que no momento cresce nas grandes cidades de maneira assustadora é uma resposta perversa à delinquência mais do que perversa porque institucionalizada do capitalismo selvagem brasileiro A criminalidade do povo pobre é pelo menos uma resposta desesperada e se faz fora da lei contra a lei Pior que ela é a delinquência institucionalizada dos ricos dos banqueiros dos que lucram 500 por cento ao ano dos que se locupletam com a especulação desenfreada dos que entregam a soberania nacional à voracidade predadora da finança internacional É mais honrado e menos perverso ser delinquente fora da lei do que sêlo em nome da lei acobertado e protegido por ela o acanalhamento da lei a corrosão dos ideais que justificam a vida o aviltamento do trabalho humano A delinquência das massas não é obviamente resposta adequada para a delinquência do capitalismo selvagem brasileiro O que é preciso é que as massas se politizem e se organizem pois só elas serão capazes de transformar radicalmente a sociedade brasileira de modo a por um fim ao FMI ao autoritarismo militar e a outras manifestações que perturbem a marcha do povo no sentido da liberdade da igualdade e da fraternidade 10 Sociopatia e delinquência são faces de uma só moeda A ruptura com o pacto social precipita com grave frequência a ruptura com a Lei da Cultura É preciso mudar o modelo econômico e social brasileiro por uma questão de higiene mental moral e política Por uma questão de vergonha 11 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PSICOLOGIA PSICANÁLISE PROFESSORXXXX RESENHA CRÍTICA PACTO EDÍPICO E PACTO SOCIAL DA GRAMÁTICA DO DESEJO À SEM VERGONHICE BRASÍLICA Carla xxxx xx xxxxx PELLEGRINO Hélio Pacto edípico e pacto social Da gramática do desejo à sem vergonhice brasílica Folha de S Paulo 1983 Disponível em httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp7128787modresourcecontent2Pellegrino20 20Pacto20edC383pico20e20pacto20socialpdf O texto Pacto Edípico e Pacto Social de Hélio Pellegrino é uma obra seminal que oferece uma análise profunda e abrangente sobre o mito de Édipo explorando suas implicações psicanalíticas antropológicas e sociais Pellegrino vai além da visão tradicional do complexo de Édipo como uma fase do desenvolvimento infantil ampliando seu significado para compreender sua relevância na estruturação das relações sociais e culturais O autor faz uma análise abrangente sobre o mito de Édipo amalgamando elementos psicanalíticos antropológicos e sociais O autor amplia o conceito do complexo de Édipo para além do indivíduo demonstrando sua relevância na compreensão das estruturas sociais e culturais Ele reinterpreta o complexo não apenas como uma fase de desenvolvimento mas como um fenômeno cultural que influencia as relações sociais e a organização da sociedade Pellegrino explora a dualidade entre o Édipo heroico e o complexo de Édipo freudiano enfatizando o papel do amor na liberdade e na superação do complexo além de discutir a relação entre a castração e a renúncia pulsional Argumenta que o pacto edípico é fundamental para a formação do pacto social estabelecendo as bases para a moralidade a lei e a ordem na comunidade sendo que os tabus e proibições originados no complexo são transpostos para o tecido social regulando comportamentos e relações interpessoais Ao longo do texto Pellegrino argumenta que o complexo de Édipo não se limita à esfera individual mas exerce uma influência significativa na organização da sociedade e na formação das normas culturais Ele destaca a importância do amor na superação do complexo de Édipo ressaltando que a renúncia pulsional não é apenas uma exigência social mas também um processo de crescimento pessoal e integração social Uma das contribuições mais importantes do texto é a discussão sobre a relação entre o Édipo heroico e o complexo de Édipo freudiano Pellegrino explora como o mito de Édipo em suas diferentes versões e interpretações reflete as complexidades das relações familiares e sociais bem como os conflitos inerentes ao desenvolvimento humano Pellegrino aborda a relação entre a castração simbólica e a renúncia pulsional argumentando que o pacto edípico é fundamental para a formação do pacto social Ele sugere que as proibições e tabus originados no complexo de Édipo são transpostos para o tecido social regulando comportamentos e relações interpessoais e estabelecendo as bases para a moralidade a lei e a ordem em uma comunidade É importante reconhecer que o texto apresenta algumas limitações Por exemplo ele tende a simplificar a relação entre a resolução do Édipo e a conformidade com as normas sociais sem considerar adequadamente as questões de poder desigualdade social e marginalização que permeiam a sociedade Uma análise mais crítica poderia explorar mais profundamente as dinâmicas de classe e a luta de classes como elementos fundamentais na formação da personalidade e na estruturação da sociedade Além disso seria interessante examinar como o contexto cultural histórico e político influencia o processo de resolução do Édipo e a formação da identidade individual e coletiva UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PSICOLOGIA PSICANÁLISE PROFESSORXXXX RESENHA CRÍTICA PACTO EDÍPICO E PACTO SOCIAL DA GRAMÁTICA DO DESEJO À SEM VERGONHICE BRASÍLICA Carla xxxx xx xxxxx PELLEGRINO Hélio Pacto edípico e pacto social Da gramática do desejo à sem vergonhice brasílica Folha de S Paulo 1983 Disponível em httpsedisciplinasuspbrpluginfilephp7128787modresourcecontent2Pellegrino20 20Pacto20edC383pico20e20pacto20socialpdf O texto Pacto Edípico e Pacto Social de Hélio Pellegrino é uma obra seminal que oferece uma análise profunda e abrangente sobre o mito de Édipo explorando suas implicações psicanalíticas antropológicas e sociais Pellegrino vai além da visão tradicional do complexo de Édipo como uma fase do desenvolvimento infantil ampliando seu significado para compreender sua relevância na estruturação das relações sociais e culturais O autor faz uma análise abrangente sobre o mito de Édipo amalgamando elementos psicanalíticos antropológicos e sociais O autor amplia o conceito do complexo de Édipo para além do indivíduo demonstrando sua relevância na compreensão das estruturas sociais e culturais Ele reinterpreta o complexo não apenas como uma fase de desenvolvimento mas como um fenômeno cultural que influencia as relações sociais e a organização da sociedade Pellegrino explora a dualidade entre o Édipo heroico e o complexo de Édipo freudiano enfatizando o papel do amor na liberdade e na superação do complexo além de discutir a relação entre a castração e a renúncia pulsional Argumenta que o pacto edípico é fundamental para a formação do pacto social estabelecendo as bases para a moralidade a lei e a ordem na comunidade sendo que os tabus e proibições originados no complexo são transpostos para o tecido social regulando comportamentos e relações interpessoais Ao longo do texto Pellegrino argumenta que o complexo de Édipo não se limita à esfera individual mas exerce uma influência significativa na organização da sociedade e na formação das normas culturais Ele destaca a importância do amor na superação do complexo de Édipo ressaltando que a renúncia pulsional não é apenas uma exigência social mas também um processo de crescimento pessoal e integração social Uma das contribuições mais importantes do texto é a discussão sobre a relação entre o Édipo heroico e o complexo de Édipo freudiano Pellegrino explora como o mito de Édipo em suas diferentes versões e interpretações reflete as complexidades das relações familiares e sociais bem como os conflitos inerentes ao desenvolvimento humano Pellegrino aborda a relação entre a castração simbólica e a renúncia pulsional argumentando que o pacto edípico é fundamental para a formação do pacto social Ele sugere que as proibições e tabus originados no complexo de Édipo são transpostos para o tecido social regulando comportamentos e relações interpessoais e estabelecendo as bases para a moralidade a lei e a ordem em uma comunidade É importante reconhecer que o texto apresenta algumas limitações Por exemplo ele tende a simplificar a relação entre a resolução do Édipo e a conformidade com as normas sociais sem considerar adequadamente as questões de poder desigualdade social e marginalização que permeiam a sociedade Uma análise mais crítica poderia explorar mais profundamente as dinâmicas de classe e a luta de classes como elementos fundamentais na formação da personalidade e na estruturação da sociedade Além disso seria interessante examinar como o contexto cultural histórico e político influencia o processo de resolução do Édipo e a formação da identidade individual e coletiva