·
Psicologia ·
Antropologia
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora
Recomendado para você
23
Trama Terapêutica um Estudo sobre a re constituição da Identidade de Usuários de Drogas
Antropologia
UNIVERSO
7
Homem Cultura e Sociedade - R1 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
6
Homem Cultura e Sociedade - V1 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
7
Homem Cultura e Sociedade - V2 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
6
Homem Cultura e Sociedade - T2 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
6
Homem Cultura e Sociedade - Vs - Universo
Antropologia
UNIVERSO
6
Homem Cultura e Sociedade - T1 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
10
Scan Natureza e Tarefas da Antropologia At 1 Scaneado
Antropologia
UNISAL
16
Maluf Sônia W Corpo e Corporalidade nas Culturas Contemporâneas - Abordagens Antropológicas Dossiê Corpo e História
Antropologia
UFRGS
16
Maluf Sônia W Corpo e Corporalidade nas Culturas Contemporâneas - Abordagens Antropológicas Dossiê Corpo e História
Antropologia
UFRGS
Texto de pré-visualização
UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA\nDIREÇÃO ACADÊMICA CAMPUS NITERÓI\nGESTÃO DOS CURSOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E PSICOLOGIA\nDISCIPLINA: ANTROPOLOGIA CULTURAL - TURMA: N1\nProfª. MARIA JOSÉ SOARES -\nUNIDADE 2: ANTROPOLOGIA CULTURAL: CONCEITOS, MÉTODOS, TEORIAS E ESCOLAS\nObjetivos da Unidade:\n- Conhecer o contexto histórico que possibilitou a legitimação da Antropologia enquanto campo de conhecimento.\n- Identificar as formas de sistematização do conhecimento antropológico através de esquemas conceituais explicativos.\n- Problematizar os conceitos de história, evolução e progresso na abordagem da diversidade cultural.\n- Compreender o conceito de etnocentrismo e os problemas colocados através de sua prática no estudo da dinâmica cultural.\nTópicos da Unidade:\n2.1- O Campo Antropológico e a Dinâmica Cultural.\n2.2- A Escola Evolucionista do Século XIX: Contexto Histórico de Formação.\n2.3- O Evolucionismo Social e a abordagem da diversidade cultural: História, Evolução e Progresso.\n2.4- As críticas antropológicas ao Evolucionismo Social\n2.6- O Etnocentrismo e os problemas colocados através da sua prática.\nDA MATTA, Roberto. Antropologia e História. In: Relativizando, Rio de Janeiro, Ed. Rocco, 1987, p.86-101.\nLARAIA, Roque. O Desenvolvimento do Conceito de Cultura. In: Cultura: Um conceito antropológico, Rio de Janeiro, 1982, p.30-60.\nROCHA, Everardo. O que é Etnocentrismo. Ed. Brasiliense, 2ª ed. 1985.p.\nTHOMAZ, Omar Ribeiro. A Antropologia e o Mundo Contemporâneo: Cultura e Diversidade. In:\nSILVA, Aracy Lopes da e GRUPIONI, Louis Donisete (orgs) A Temática Indígena na escola, Brasília, MEC/MARI/UNESCO, 1985, p.425-441.\nIdeias Centrais:\n2.1- O Campo Antropológico e a Dinâmica Cultural.\nComo vimos na unidade anterior, o avanço do Ocidente em direção aos outros povos do mundo contribuiu para o acirramento do 'contato com a diferença' trazendo consequências profundas para a compreensão da dinâmica cultural no cenário contemporâneo. Neste sentido, não nos parece demais relembrar que por um lado, a percepção da variabilidade cultural já havia se firmado como um dado incontestável na história da humanidade; por outro lado, na passagem do século XIX para o século XX esta constatação não só se potencializou como um dado que inevitablemente tematiza que cada vez mais ganha força difundir pelo todo campo intelectual moderno.\n\nÉ no bojo deste movimento que a Antropologia se legitima como um campo de saber que se forjou como um subproduto do processo de expansão colonial europeu e que será, por consequência, profundamente marcada pelo espectro de sua influência tanto no que diz respeito à delimitação dos seus postulados básicos, como também, no que tangue aos primeiros escopos de atividade do mero saber.\n sistematização conceitual dos esquemas interpretativos que adotarão para explicar a diferença cultural.\nAs marcas desta influência podem ser claramente atestadas quando buscamos identificar no projeto. Partindo do postulado básico da unidade biológica da espécie humana, este projeto ganha visibilidade através da consolidação do advínco a respeito do expansionismo colonial europeu e do consequente esforço de ver a espécie humana como que se apresentava pelas mais diversas partes do mundo habitantes do planeta.\nEm decorrência deste processo resultaram duas questões correlatas que constituirão\n-campo de conhecimento. A primeira delas refere-se à constatação de que sua formação como campo de\n-A primeira das duas questões é a relação intermediária entre a segunda estrutura do continente humano e a expansão colonial europeu através do contato com as ditas sociedades 'exóticas' - indígenas, africanas, americanas, asiáticas - e constitui-se formas humanas de organizar a realidade e de conceber o mundo à vista de povos originários.\n\nEm segundo lugar, correlativamente, este mesmo processo desencadeou um movimento de auto-reflexão a respeito do propriamente dito, a saber, do lugar da identidade e superioridade do Ocidente em relação aos povos da diversidade, e a transformação destes povos em consumidores efetivos dos novos mercados capitalistas em crescimento, o que implicava de algum modo, na incorporação de valores, crenças e atitudes então dominantes na cultura ocidental.\nDesta forma, a preocupação com a problemática da cultura surge marcada por uma necessidade histórica imposta pela expansão colonial, ao mesmo tempo em um, e progressivamente sustentada pelas novas demandas políticas e econômicas advindas do crescimento cada vez mais acelerado das sociedades ocidentais industrializadas. Alia-se a este cenário a crença na unidade biológica da espécie humana então legitimada pela teoria darwinista oriunda da Biologia e amplamente divulgada com a publicação de 1859, do livro 'A Origem das Espécies'.\n De um lado, como uma indagação que se insere na história das relações internacionais de poder encabeçada pela sociedade europeia, e, de outro lado; como uma preocupação que se inscreve na história da produção científica do século XIX, em associação com as áreas de conhecimento ligadas ao âmbito das chamadas Ciências Naturais, e, mais especificamente, a Biologia.\nPara que possamos compreender o diálogo estabelecido entre estas perspectivas, é necessário que recapitulemos o fato de que o século XIX marca do ponto de vista histórico, um momento em que se intensificou o poderio das nações europeias em relação aos demais povos do mundo incorporados à sua esfera de influência e dominação.\nDiante da expansão, especialmente dos novos mercados internacionais, as nações europeias se veem compelidas a ter que deslocar o foco de seu olhar em uma outra direção. Da atitude inicial marcada pelo estranhamento e perplexidade emerge uma necessidade objetiva e urgente em relação à uniformidade dos chamados povos 'exóticos' que possibilitasse não apenas a inclusão, mas fundamentalmente, a transformação destes povos em consumidores efetivos dos novos mercados capitalistas em crescimento, o que implicava de algum modo, na incorporação de valores, crenças e atitudes então dominantes na cultura ocidental.\nDesta vinculação deriva o esforço de se estabelecer do ponto de vista intelectual uma analogia entre o mundo natural e o mundo social, entre o mundo da natureza e o mundo da cultura. Neste sentido, advoga-se uma posição que considera a Humanidade como uma espécie animal que se originou de outras formas de vida num processo de permanência que levou ao estado de complexidade. Como claramente nos coloca Tylor:\n'O mundo como um todo está francamente preparado para aceitar o estudo geral da vida humana como um ramo da ciência natural (...). A história da humanidade é parte e parcela da história da natureza, nossos pensamentos, desejos e ações estão de acordo com leis equivalentes àquelas que governam os ventos e as ondas, a combinação dos ácidos e das bases e o crescimento das plantas e animais.' (Tylor, 1871:2).\nPartindo, portanto, da crença em uma suposta igualdade da natureza humana atestada pelo monogenismo da espécie, a cultura passa a ser considerada como um fenômeno natural passível de um estudo objetivo e que possui causas e regularidades uniformes. Assim, do mesmo modo que acontece com o estudo dos demais fenômenos da natureza, a análise objetiva da cultura possibilitará a formulação de leis gerais capazes de explicar o seu processo de desenvolvimento e evolução. Novamente aqui, Tylor é claro e preciso em suas colocações:\n\"Por um lado, a uniformidade que tão largamente permeia entre as civilizações poder ser atribuída, em grande parte, a uma uniformidade do aqui de causas uniformes, enquanto, por outro lado, seus vários graus podem ser considerados como estágios de desenvolvimento ou evolução.' (Idem, ibidem, p.1).\nCumpre destacar que, neste período seminal de formação da Antropologia como campo de saber, a possibilidade de se desenvolver um estudo neutro e objetivo das formas culturais à semelhança do que ocorre na análise dos fenômenos naturais é assegurada pela distância geográfica que separa a sociedade de próprio antropólogo daquelas que constituem seu campo de observação. Trata-se de sociedades autocontraditórias, que tiveram pouco contato com outros sociais, que apresentam um baixo grau de desenvolvimento tecnológico e que são marcadas pela menor divisão e especialização do trabalho e das funções sociais quando comparadas com a sociedade ocidental. Além de todas estas características, são sociedades que estão situadas em um espaço geográfico distante daquele em que vive o próprio antropólogo.\n\nDesta forma, o afastamento entre sujeito e objeto necessário ao alcance da objetividade e de neutralidade tal como exigido pelo modelo de ciência vigente à época - as Ciências Naturais - garantido ao antropólogo por intermédio desta distância geográfica que supostamente lhe asseguraria condições para a observação e análise semelhantes aquelas que predominam em uma situação do estudo realizado dentro de um laboratório. Assim, da mesma forma que o biólogo pode observar externamente os fenômenos naturais e elaborar as leis gerais que regem o seu funcionamento, o antropólogo poderia observar as formas culturais e as pluralidades encontrativas, formular uma explicação geral para as suas variações.\n\nÉ no veio deste conjunto de falas que o Evolucionismo Social buscará formalizar um modelo explicativo para o problema da diversidade cultural tomando como base de sua fundamentação teórica quatro ideias ou postulados básicos.\n\n2.3 - O Evolucionismo Social e a Abordagem da Diversidade Cultural: História, Evolução e Progresso\n\nNa tentativa de elaborar um modelo explicativo para a diferença, os teóricos evolucionistas - na linhagem, James Frazer e Edward Tyler, o dos Estados Unidos, Lewis Morgan - apoiam-se, primeiramente, na ideia básica de que a humanidade, assim como, as demais espécies vistas como um estrutura forma de evolução permanente e contínua.\n\nNesta ideia básica, fortemente influenciada pelas teorias evolucionistas do campo da Biologia - a saber, a selecção natural - os evolucionistas vão, assim, considerar que a variabilidade cultural se ordena a partir de uma perspectiva analítica que hierarquiza e classifica a diferença. Ou seja, a humanidade é única enquanto espécie viva, e enorme diversidade cultural encontrada nas formas uma diferença de graus ou estágios evolutivos.\n\nDe um estágio inicial no qual pode se diferenciar dos demais seres vivos, a humanidade passaria por etapas sucessivas de evolução que a conduziria a um mesmo destino, a uma mesma caminho. Legitimam-se assim, a crença postulada por Tylor quanto à existência de uma \"unidade psíquica da humanidade\" que explicaria o fato de que todos os grupos humanos nascem com o mesmo potencial e capacidade para se desenvolverem. Entretanto, alguns grupos avançaram mais neste processo alcançando um maior grau de evolução e complexidade, ao passo que outros, não apresentaram o mesmo ritmo e permaneceram, portanto, no fluxo deste processo, em um estágio mais atrasado e rudimentar.\n\nEsta hierarquização da diferença se expressa no pensamento evolucionista através de um terceiro postulado que preconiza a construção de uma escala evolutiva na qual todas as sociedades humanas sejam elas existentes ou mesmo extintas, são enquadradas e classificadas conforme os diferentes estágios a que se concentram quando comparadas com a sociedade ocidental. Situada em um eixo temporal esta escala pressupõe a existência de uma linha evolutiva ascendente a se percorrer por todas as sociedades humanas em direção a um único fim, qual seja, atingir o mesmo grau de progresso e evolução alcançado pelas sociedades europeias.\n\nNesta escala, a explicação da variabilidade cultural encontra-se de acordo com o que propõe Lewis Morgan, circunstra-se em torno de uma tipologia básica constituída por três estágios \"evolutivos\" - selvageria, bárbaro e civilização - a serem percorriodos inevitavelmente por todas as sociedades humanas. A partir destes diferentes estágios as sociedades humanas eram hierarquizadas tendo como parâmetro a cultura europeia então classificada no estágio de civilização e todas as demais categorias inferiores em um único e mesmo processo já percorrido pela primeira. Assim, todos os povos, os grupos humanos diferentes da sociedade europeia - indígenas, africanos, asiáticos - ocupariam as etapas anteriormente de mesmo processo de evolução sendo, portanto, classificações como representantes dos estágios de selvageria e bárbaro a serem ultrapassados em nome da civilização e do progresso. (Ênfase na Diacronia)\n\nDentro deste modelo analítico, define-se a um só tempo duas questões fundamentais para os evolucionistas. Por um lado, confirma-se a supremacia da sociedade ocidental face aos demais povos do mundo já que a acaba a função básica de conduzi-los rumo ao progresso e evolução. É importante que você observe que a ideia de civilização perde assim, o significado de processo e passa a constituir-se em contrapartida, um estado a ser alcançado por todas as sociedades humanas sob tutela e a raça da cultura europeia, o que em contraste, justifica o papel homem branco face aos demais povos do mundo. Dados historigraficoss revelam uma escravização negra, a pacificação e categoriação indígena dentre outros, nos mostraram riqueza de detalhes essa subjugação de uma cultura na norma de uma outra linha do superiór.\n\nNovamente aqui, a ideia de uma humanidade única levará os evolucionistas à afirmação de que as instituições e os costumes humanos têm uma origem comum e que permite compará-los entre si. Na visão destes teóricos a comparação pode ser realizada na medida em que, a despeito da enorme diversidade de formas culturais encontradas, alguns costumes poderão \"sobreviver\" a passagem do tempo, o que possibilitará reconhecer no presente, vestígios do passado.\n\nO entendimento da dinâmica cultural no presente implicava assim, necessariamente, em uma espécie de visita ao passado da própria sociedade ocidental, fonte primeira de toda a variação. Assim, as nações europeias e também, a sociedade norte-americana do século XIX, eram consideradas como contemporâneas dos grupos indígenas e os aborígenes australianos, classificados no estágio de selvageria, ao passo que as tribos africanas estariam, por exemplo, no estágio de barbarie.\n\nCom isto, a ideia de progresso ganha força e associada à noção de tempo torna-se uma questão primordial para a explicação da diferença já que é em sua direção e sentido que a história da humanidade se desenvolve. Desta forma, os evolucionistas tomando a sociedade ocidental como foco da comparação, buscarão identificar no desenvolvimento dos diferentes povos e grupos humanos, traços culturais que \"sobreviveram\" no tempo e que fossem capazes de demonstrar a ligação entre o passado e o presente em um mesmo e único processo evolutivo.\n\nNeste esforço comparativo, a definição de cultura estabelecida por Tylor é novamente reforçada e corroborada. Vejamos então de que modo esta situação pode se configurar, resgatando mais uma vez, as próprias palavras do autor:\n\n\"Cultura ou civilização tomam em seu amplo sentido etnográfico este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, hábitos, costumes ou quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade\" (Tylor,1871:1).\n\nSe observamos atentamente esta definição é possível detectar na mesma, dois aspectos fundamentais para a compreensão do pensamento evolucionista no qual não tangem a comparação das instituições e costumes humanos. Em primeiro lugar, a noção de cultura como um \"todo complexo\" sugere a percepção de que a mesma tal qual uma colcha de retalhos reúne uma série de itens isolados, unitários e identificáveis que juntos lhe conferem um sentido de unidade e homogeneidade. Em segundo lugar, e correlativamente, esta suposta espécie de lei única principal geral que evolvem as condições humanas independentemente do tempo no espaço consolidaram.\n\nNesta lógica de raciocínio, os grupos humanos parecem ter sido confrontados ao longo de seus estudos em diferentes sociedades e história, com os mesmos tipos de dilemas e problemas para os quais forneceram um conjunto de soluções comuns. Identificando um mesmo número de traços culturais entre os povos - como \"religião\", \"propriedade\", \"relações de parentesco\", \"governo\", \"método de subsistência\", entre outros - os evolucionistas aplicam a questão da mudança como um decorente de atribuição a um \"espírito científico\" que possibilitou o desenvolvimento das invenções e descobertas. Para Lewis e Morgan, por exemplo, a \"acumulação\" de critérios porque distingue as mudanças culturais e as demais culturas diferentes estágios evolutivos dos sociedades humanas rumo ao progresso e a civilização.\n\nComo consideram que o desenvolvimento do \"espírito científico\" esteve presente do fim de sociedade ocidental, os evolucionistas dispensam o contato direto com os demais povos - então intitulados como \"primitivos\", \"selvagens\", \"bárbaros\" - e baseiam seus estudos comparativos nos relatos de viagem dos cristãos coloniais a partir dos quais estabelecem conjecturas e deduções que possam explicar a diversidade cultural tomando sempre como modelo a sua própria sociedade.\n\nA adoção deste tipo de procedimento fez com que os teóricos evolucionistas fossem considerados pela literatura especializada, como \"antropólogos de gabinete\" já que eles não se deslocavam em seus ambientes de trabalho para as áreas e/ou lugares onde viviam os povos e os grupos humanos a que pretendiam estudar. A compreensão do \"outro\" se processava a distância e tentávamos entender, por exemplo, o comportamento de uma criança que desconhecemos. Sem levar em conta suas particularidades, apoiamo-nos exclusivamente no fato de que, por também já termos sido criança um dia, estaríamos aptos a deduzir suas razões, entender suas motivações e explicar suas atitudes.\n\nÉ importante que você observe que subjacente a esta postura transparece como já mencionamos anteriormente, a ideia da cultura como um fenômeno natural que possui causas e regularidades uniformes. Ou seja, sendo a espécie humana única em termos da sua constituição biológica, a análise das formas culturais nisto implicava em uma relação direta entre o pesquisador e o grupo estudado. Para os evolucionistas, fontes e relatos de segunda mão eram o suficiente para fornecer a base de dados necessária ao desenvolvimento de suas análises e para a sua própria sociedade.\n\nAssim, o \"salvagem\" podia ser conhecido à distância, pois afinal, representava apenas, a variação de uma mesma espécie viva que em função de uma diferença de momentos históricos específicos se encontrava em uma etapa anterior de um único processo evolutivo. Em outras palavras, era possível ao europeu estudar comparativamente a diversidade de costumes e simultaneamente, compreender o \"salvagem\" mesmo sem conhecê-lo diretamente, posto que ele \"salvagem\" ilustravam um estágio inferior do processo evolutivo, já ultrapassado pelo europeu e considerado como a encarnação máxima do progresso e representante por excelência das pelos diversos sociedades humanas assim, universalizada à luz da cultura europeia e reificada a uma visão de totalidades históricos específicos. A cultura, neste perspectiva, passa a ser cumulativo que vem do passado e se inscreve contemporaneamente no presente, o que explicaria como no fluxo da evolução ao que causa e gera o outro subsequente.\n\nA história onde o tempo passa a construir o medidor, o motor básico que impulsiona as definidas como totalizado, pois, pressupõe uma história com \"H\" maiúsculo e que remete, portanto, para a \"História da Humanidade\". Uma história que pode ser contada a partir do ensinamento que sociedades humanas em um eixo situado no seu tempo livre, capaz de explicar suas origens, causas e consequências, seu processo de desenvolvimento, e ainda uma equação capaz de explicar e sintetizar a diferença.\n\nEm suma, trata-se de uma história que enquadra todas as sociedades humanas em um eixo temporal e evolutivo unilinear a ser percorrido inevitavelmente por todas elas em direção a um mesmo caminho. Este caminho impõe igualmente para todas as sociedades humanas um único mesmo desafio, qual seja, ultrapassar os estágios de primitivismo definidos pelas etapas de civilização, do progresso e do desenvolvimento.\n\nIMPORTANTE\n\nEste escalonamento da história das sociedades humanas em um eixo temporal unilinear que conduzirá, todas elas invariavelmente, a um fim determinado é também denominado em Antropologia como Concepção Teleológica da História. Teleológica: palavra de origem latina \"telos\" que significa fim.\n\nNo conjunto, estas diversas perspectivas - da cultura como um fenômeno global e da história como uma totalidade contínua - impediu que os teóricos evolucionistas desenvolvessem uma visão teórica que pudesse contemplar o reconhecimento pleno da diferença. Ou seja, a pressuposição de que a humanidade estaria fadada a um processo evolutivo unilinear liderado pela cultura europeia obscureceu a possibilidade dos mesmos enfraquecerem as particularidades e especificidades das culturas situadas fora das esferas de influência da civilização ocidental.\n\nÉ preciso observar, no entanto, que esta afirmação não significa desqualificar em termos absolutos os esforços teóricos dispensados pelos evolucionistas. Pelo contrário, é inegável o mérito do empreendimento analítico construído por estes estudiosos, no sentido de enfrentar o problema da diferença cultural e, com isto, abrir o caminho a novas possibilidades para se pensar o conceito de homem e suas relações com o mundo social.\n\nNeste sentido, há que se reconhecer, por exemplo, que a vinculação do pensamento evolucionista com as teorias originadas da Biologia, de fato, contribuiu para retirar o homem de uma contrapartida, em uma ordem natural que o percebe como resultante de suas próprias experiências. Uma visão que o considerava como uma espécie viva que se desenvolve no plano fisiológico do seu próprio organismo.\n\nCabe ressaltar, entretanto, que se por um lado, este pensamento evolucionista atesta a existência da uma natureza humana que é diversa em suas manifestações culturais concretas, por outro lado; os postulados básicos utilizados para legitimar biológica que unifica a humanidade como um todo. Ou seja, embora reconheçam que os povos e grupos humanos são diferentes, entendem que sendo todos parte de uma única e mesma base.\n\nAtravés de um dito movimento, atesta-se primeiramente a diversidade das formas acaba por homogenizar a diferença posto que reduzida a menos históricos específicos. Nesta lógica, todos os povos e grupos humanos \"estranhos\" a cultura europeia são vistos como iguais; historicamente em um estágio \"primitivo\" e \"atrasado\" devendo ser conduzidos ao progresso e a evolução. Uma vez que pacificados e \"civilizados\" pela mão do europeu recomponha novamente a origem.\n\nEm outras palavras, ao associar as sociedades em um viés evolucionista, os evolucionistas acabaram por sonegar a diferença, na medida em que, não levam em conta que os povos e grupos humanos possam ter vivenciadas experiências diversas e a partir delas terem feito escolhas e opções também diferenciadas no que diz respeito aos modos de conceber o mundo e organizar a realidade e o vida social.\n\nEsta limitação analítica do pensamento evolucionista será alvo de uma série de críticas que puderam se legitimar ao longo do século XX conducindo a Antropologia a um novo movimento teórico cujos postulados conceituais irão mostrar uma nova possibilidade para se repensar a problemática da diversidade cultural. No próximo tópico desta nossa sequência unida de estudos, abordaremos o conteúdo analítico destas críticas buscando mapear os desdobramentos daí decorrentes para a compreensão da dinâmica cultural. 2.4 - As críticas antropológicas ao Evolucionismo Social\nA Escola Cultural Americana (Difusionismo) e o Particularismo Histórico\n\nAs primeiras críticas dirigidas ao modelo analítico proposto pelos teóricos evolucionistas na explicação do problema da variabilidade cultural derivam dos trabalhos desenvolvidos pelo antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942). A participação em uma expedição geográfica a Baffin Land, realizada em 1883-1884, permitiu a Boas desenvolver uma intensa investigação sobre várias áreas do conhecimento - tais como a Linguística, a Geografia, o Folclore, a Organização Social, dentre outras - que o levou a radicar posteriormente nos Estados Unidos, influenciando toda uma nova geração de antropólogos. A partir então, a inovação e a fecundidade de suas ideias fizeram com que seu nome se associasse diretamente à chamada Escola Cultural Americana ou Escola Difusionista.\n\nO cerne das críticas dirigidas aos postulados evolucionistas encontra-se estruturado em um artigo publicado por este antropólogo em 1896, sob o título \"As Limitações do Método Comparativo em Antropologia\". Neste trabalho, Boas investe contra as chamadas \"especulações de gabinete\" desenvolvidas pelos evolucionistas com base nos relatos de viagem fornecidos pelos cronistas coloniais e redefine o papel da Antropologia enquanto campo de saber. Nessa redefinição, Boas atribui a Antropologia o compromisso com a realização de duas tarefas básicas e correlatas.\n\nEm primeiro lugar, preocupado com a importância de se reconhecer e caracterizar intensamente diversos das culturas humanas, Boas adota uma posição na qual caberia a Antropologia a realização de estudos que viabilizassem a reconstrução da história dos diferentes povos ou regiões do mundo de forma particularizada. Cumprida esta exigência, a Antropologia deveria em segundo lugar, realizar a análise comparativa da vida social destes diferentes novos, cujos desenvolvimento segue as mesmas leis e princípios gerais.\n\nPara que esta dupla tarefa pudesse se realizar em sua plenitude, Boas argumenta ainda que a Antropologia deveria verificar inicialmente se a possibilidade efetiva de ser comprovada a própria viabilidade da análise comparativa. Ou seja, contra as \"conjecturas e as especulações de gabinete\" dos evolucionistas, a Antropologia deveria buscar responder a uma pergunta primeira que pode ser sintetizada da seguinte forma: que dados são utilizados na análise comparativa como efetivamente serem comprovados?\n\nVisando responder a esta pergunta básica, Boas desenvolve uma proposta analítica que modificará substancialmente as noções de cultura e história tal como concebidas pelas disciplinas. Esta modificação acarretará o desenvolvimento a Antropologia inaugurando um novo movimento intelectual no seio desta disciplina e renova suas bases conceituais e ilustra a vanguarda analítica dos trabalhos desenvolvidos por Boas no estudo da diversidade cultural.\n\nO ponto de partida dado por Boas para o desencadeamento deste movimento agora se fundamentalmente na rejeição ao modo pelo qual os evolucionistas concebiam e ordenavam o problema da variabilidade cultural. Negando a perspectiva que hierarquizava todas as sociedades humanas em um eixo evolutivo unilinear, Boas propõe em contrapartida, uma visão particularista histórica em função de postular como o princípio do particularismo histórico em respeito ao modo pelo qual as culturas humanas puderam historicamente se difundir e se desenvolver. Para Boas, ao longo do processo histórico, cada povo, cada grupo ou sociedade humana responde de forma diferenciada a particular assim como problemas e aos dilemas que foram compiladas a enfrentar ao trilharem o seu próprio caminho.\n\nNeste ponto, diferentemente dos teóricos evolucionistas que apoiando-se no pressuposto da igualdade biológica da espécie humana deixavam transparecer em seu modelo analítico a crença de que a mente humana pudesse reagir de modo equivalente quando exposta a condições ambientais e materiais similares, o que explicaria a ênfase nas semelhanças culturais, a proposta elaborada por Boas sinaliza para uma outra direção. Nela, a ênfase incide sobre a pluralidade das culturas humanas, o que leva Boas a ressaltar processos de mudança, difusão, troca e empréstimo cultural como aspectos capazes de interferir e influenciar o desenvolvimento de cada formação cultural específica. Dentro destes parâmetros, as culturas são constituídas de acordo com o que propõe Boas, por traços ou um complexo de traços resultantes de condições ambientais, fatores psicológicos, linguísticos e conexões históricas que levaram a assumir formas extremamente diferenciadas e particulares. Em outras palavras, considerados como fenômenos plurais e diversificados de processos históricos particulares, as culturas humanas por Boas estão inseridas em um fluxo permanente de interação que os coloca em relação. Elas são resultantes das relações que estabeleceram entre si e de modo pelo qual puderam responder se relacionar com um gama de fatores - condições ambientais e psicológicas - que contribuíram para que no curso do desenvolvimento histórico adquirissem formas e traços culturais particulares e únicos.\n\nÉ importante que vocês observe que estas considerações deveriam conduzir a conceitos distintas a respeito do desenvolvimento das culturas humanas que conduziram a mundos diferentes e se comparar as relações que entre elas se estabelecerem no esforço de compreender a problematicidade da diferença.\n\nMotivado por este esforço, o centro da abordagem elaborada por Boas, ancor-se na consideração de que o uso do método comparativo em Antropologia deveria contemplar não a decoreção de instituições e costumes isolados e sim, a comparação dos resultados obtidos em inúmeros fatores que sibi onera com estudos históricos a respeito das culturas simples e dos particulares ao seguirem seu próprio caminho.\n\nAssim, ao reter a postura evolutiva na explicação da variabilidade cultural, a metodologia de Boas busca defender não apenas, uma explicação para a gama da diversidade dos traços culturais, como também, uma interpretação plausível sobre o modo pelo qual estas extremamente diferente e plural. Em outras palavras, alguns evolucionistas tinham seus primeiros teóricos e vulnerabilidades as potencialidades e a riqueza do método também vão no trabalho antropológico.\n\nDesta forma, eu substituí-o ao uso do método comparativo em que sua explicação por seus contextos originais para compará-los em seguida, com uma outra formação cultural sem sua solitude, tal como faziam os evolucionistas, Boas lança os primeiros germes, as primeiras sementes do que posteriormente irá se consolidar o que se denomina em Antropologia como uma comparação contextualizada. Ou seja, em uma comparação que busca entender como as relações existentes entre as instituições e os costumes adotados pelos diferentes povos ou grupos humanos ganham forma e sentido levando em conta as dinâmicas próprias, de diferentes fatores - ambientais, linguísticos e psicológicos - sobre eles incidem e os envolvem quando inseridos no contexto específico de cada formação cultural particular.\n\nA partir desta proposta analítica, Boas dá início a um processo que permitirá a superação do caráter etnocêntrico que marca o pensamento evolucionista a favor da adoção de uma prática relativizadora. Ao defender a ideia de que as culturas humanas são diversas e plurais e que devem ser entendidas a partir de seus próprios contextos das consequências se impõe de imediato para o estudo e a abordagem do problema da diversidade cultural.\n\nA primeira delas refere-se ao fato de que reconhecimento da pluralidade das culturas humanas por ser para a universalidade da perspectiva europeia marcada por uma postura fortemente etnocêntrica posto que então, era considerada como o espelho, o modelo através do qual a diferença cultural encontrada nas mais diversas sociedades humanas era como era compreendida. Em segundo lugar e correlativamente, desejava também, a articulação que unificava tempo e história. Ou seja, não se trata mais de privilegiar a adoção de uma concepção universal.
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora
Recomendado para você
23
Trama Terapêutica um Estudo sobre a re constituição da Identidade de Usuários de Drogas
Antropologia
UNIVERSO
7
Homem Cultura e Sociedade - R1 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
6
Homem Cultura e Sociedade - V1 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
7
Homem Cultura e Sociedade - V2 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
6
Homem Cultura e Sociedade - T2 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
6
Homem Cultura e Sociedade - Vs - Universo
Antropologia
UNIVERSO
6
Homem Cultura e Sociedade - T1 - Universo
Antropologia
UNIVERSO
10
Scan Natureza e Tarefas da Antropologia At 1 Scaneado
Antropologia
UNISAL
16
Maluf Sônia W Corpo e Corporalidade nas Culturas Contemporâneas - Abordagens Antropológicas Dossiê Corpo e História
Antropologia
UFRGS
16
Maluf Sônia W Corpo e Corporalidade nas Culturas Contemporâneas - Abordagens Antropológicas Dossiê Corpo e História
Antropologia
UFRGS
Texto de pré-visualização
UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA\nDIREÇÃO ACADÊMICA CAMPUS NITERÓI\nGESTÃO DOS CURSOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E PSICOLOGIA\nDISCIPLINA: ANTROPOLOGIA CULTURAL - TURMA: N1\nProfª. MARIA JOSÉ SOARES -\nUNIDADE 2: ANTROPOLOGIA CULTURAL: CONCEITOS, MÉTODOS, TEORIAS E ESCOLAS\nObjetivos da Unidade:\n- Conhecer o contexto histórico que possibilitou a legitimação da Antropologia enquanto campo de conhecimento.\n- Identificar as formas de sistematização do conhecimento antropológico através de esquemas conceituais explicativos.\n- Problematizar os conceitos de história, evolução e progresso na abordagem da diversidade cultural.\n- Compreender o conceito de etnocentrismo e os problemas colocados através de sua prática no estudo da dinâmica cultural.\nTópicos da Unidade:\n2.1- O Campo Antropológico e a Dinâmica Cultural.\n2.2- A Escola Evolucionista do Século XIX: Contexto Histórico de Formação.\n2.3- O Evolucionismo Social e a abordagem da diversidade cultural: História, Evolução e Progresso.\n2.4- As críticas antropológicas ao Evolucionismo Social\n2.6- O Etnocentrismo e os problemas colocados através da sua prática.\nDA MATTA, Roberto. Antropologia e História. In: Relativizando, Rio de Janeiro, Ed. Rocco, 1987, p.86-101.\nLARAIA, Roque. O Desenvolvimento do Conceito de Cultura. In: Cultura: Um conceito antropológico, Rio de Janeiro, 1982, p.30-60.\nROCHA, Everardo. O que é Etnocentrismo. Ed. Brasiliense, 2ª ed. 1985.p.\nTHOMAZ, Omar Ribeiro. A Antropologia e o Mundo Contemporâneo: Cultura e Diversidade. In:\nSILVA, Aracy Lopes da e GRUPIONI, Louis Donisete (orgs) A Temática Indígena na escola, Brasília, MEC/MARI/UNESCO, 1985, p.425-441.\nIdeias Centrais:\n2.1- O Campo Antropológico e a Dinâmica Cultural.\nComo vimos na unidade anterior, o avanço do Ocidente em direção aos outros povos do mundo contribuiu para o acirramento do 'contato com a diferença' trazendo consequências profundas para a compreensão da dinâmica cultural no cenário contemporâneo. Neste sentido, não nos parece demais relembrar que por um lado, a percepção da variabilidade cultural já havia se firmado como um dado incontestável na história da humanidade; por outro lado, na passagem do século XIX para o século XX esta constatação não só se potencializou como um dado que inevitablemente tematiza que cada vez mais ganha força difundir pelo todo campo intelectual moderno.\n\nÉ no bojo deste movimento que a Antropologia se legitima como um campo de saber que se forjou como um subproduto do processo de expansão colonial europeu e que será, por consequência, profundamente marcada pelo espectro de sua influência tanto no que diz respeito à delimitação dos seus postulados básicos, como também, no que tangue aos primeiros escopos de atividade do mero saber.\n sistematização conceitual dos esquemas interpretativos que adotarão para explicar a diferença cultural.\nAs marcas desta influência podem ser claramente atestadas quando buscamos identificar no projeto. Partindo do postulado básico da unidade biológica da espécie humana, este projeto ganha visibilidade através da consolidação do advínco a respeito do expansionismo colonial europeu e do consequente esforço de ver a espécie humana como que se apresentava pelas mais diversas partes do mundo habitantes do planeta.\nEm decorrência deste processo resultaram duas questões correlatas que constituirão\n-campo de conhecimento. A primeira delas refere-se à constatação de que sua formação como campo de\n-A primeira das duas questões é a relação intermediária entre a segunda estrutura do continente humano e a expansão colonial europeu através do contato com as ditas sociedades 'exóticas' - indígenas, africanas, americanas, asiáticas - e constitui-se formas humanas de organizar a realidade e de conceber o mundo à vista de povos originários.\n\nEm segundo lugar, correlativamente, este mesmo processo desencadeou um movimento de auto-reflexão a respeito do propriamente dito, a saber, do lugar da identidade e superioridade do Ocidente em relação aos povos da diversidade, e a transformação destes povos em consumidores efetivos dos novos mercados capitalistas em crescimento, o que implicava de algum modo, na incorporação de valores, crenças e atitudes então dominantes na cultura ocidental.\nDesta forma, a preocupação com a problemática da cultura surge marcada por uma necessidade histórica imposta pela expansão colonial, ao mesmo tempo em um, e progressivamente sustentada pelas novas demandas políticas e econômicas advindas do crescimento cada vez mais acelerado das sociedades ocidentais industrializadas. Alia-se a este cenário a crença na unidade biológica da espécie humana então legitimada pela teoria darwinista oriunda da Biologia e amplamente divulgada com a publicação de 1859, do livro 'A Origem das Espécies'.\n De um lado, como uma indagação que se insere na história das relações internacionais de poder encabeçada pela sociedade europeia, e, de outro lado; como uma preocupação que se inscreve na história da produção científica do século XIX, em associação com as áreas de conhecimento ligadas ao âmbito das chamadas Ciências Naturais, e, mais especificamente, a Biologia.\nPara que possamos compreender o diálogo estabelecido entre estas perspectivas, é necessário que recapitulemos o fato de que o século XIX marca do ponto de vista histórico, um momento em que se intensificou o poderio das nações europeias em relação aos demais povos do mundo incorporados à sua esfera de influência e dominação.\nDiante da expansão, especialmente dos novos mercados internacionais, as nações europeias se veem compelidas a ter que deslocar o foco de seu olhar em uma outra direção. Da atitude inicial marcada pelo estranhamento e perplexidade emerge uma necessidade objetiva e urgente em relação à uniformidade dos chamados povos 'exóticos' que possibilitasse não apenas a inclusão, mas fundamentalmente, a transformação destes povos em consumidores efetivos dos novos mercados capitalistas em crescimento, o que implicava de algum modo, na incorporação de valores, crenças e atitudes então dominantes na cultura ocidental.\nDesta vinculação deriva o esforço de se estabelecer do ponto de vista intelectual uma analogia entre o mundo natural e o mundo social, entre o mundo da natureza e o mundo da cultura. Neste sentido, advoga-se uma posição que considera a Humanidade como uma espécie animal que se originou de outras formas de vida num processo de permanência que levou ao estado de complexidade. Como claramente nos coloca Tylor:\n'O mundo como um todo está francamente preparado para aceitar o estudo geral da vida humana como um ramo da ciência natural (...). A história da humanidade é parte e parcela da história da natureza, nossos pensamentos, desejos e ações estão de acordo com leis equivalentes àquelas que governam os ventos e as ondas, a combinação dos ácidos e das bases e o crescimento das plantas e animais.' (Tylor, 1871:2).\nPartindo, portanto, da crença em uma suposta igualdade da natureza humana atestada pelo monogenismo da espécie, a cultura passa a ser considerada como um fenômeno natural passível de um estudo objetivo e que possui causas e regularidades uniformes. Assim, do mesmo modo que acontece com o estudo dos demais fenômenos da natureza, a análise objetiva da cultura possibilitará a formulação de leis gerais capazes de explicar o seu processo de desenvolvimento e evolução. Novamente aqui, Tylor é claro e preciso em suas colocações:\n\"Por um lado, a uniformidade que tão largamente permeia entre as civilizações poder ser atribuída, em grande parte, a uma uniformidade do aqui de causas uniformes, enquanto, por outro lado, seus vários graus podem ser considerados como estágios de desenvolvimento ou evolução.' (Idem, ibidem, p.1).\nCumpre destacar que, neste período seminal de formação da Antropologia como campo de saber, a possibilidade de se desenvolver um estudo neutro e objetivo das formas culturais à semelhança do que ocorre na análise dos fenômenos naturais é assegurada pela distância geográfica que separa a sociedade de próprio antropólogo daquelas que constituem seu campo de observação. Trata-se de sociedades autocontraditórias, que tiveram pouco contato com outros sociais, que apresentam um baixo grau de desenvolvimento tecnológico e que são marcadas pela menor divisão e especialização do trabalho e das funções sociais quando comparadas com a sociedade ocidental. Além de todas estas características, são sociedades que estão situadas em um espaço geográfico distante daquele em que vive o próprio antropólogo.\n\nDesta forma, o afastamento entre sujeito e objeto necessário ao alcance da objetividade e de neutralidade tal como exigido pelo modelo de ciência vigente à época - as Ciências Naturais - garantido ao antropólogo por intermédio desta distância geográfica que supostamente lhe asseguraria condições para a observação e análise semelhantes aquelas que predominam em uma situação do estudo realizado dentro de um laboratório. Assim, da mesma forma que o biólogo pode observar externamente os fenômenos naturais e elaborar as leis gerais que regem o seu funcionamento, o antropólogo poderia observar as formas culturais e as pluralidades encontrativas, formular uma explicação geral para as suas variações.\n\nÉ no veio deste conjunto de falas que o Evolucionismo Social buscará formalizar um modelo explicativo para o problema da diversidade cultural tomando como base de sua fundamentação teórica quatro ideias ou postulados básicos.\n\n2.3 - O Evolucionismo Social e a Abordagem da Diversidade Cultural: História, Evolução e Progresso\n\nNa tentativa de elaborar um modelo explicativo para a diferença, os teóricos evolucionistas - na linhagem, James Frazer e Edward Tyler, o dos Estados Unidos, Lewis Morgan - apoiam-se, primeiramente, na ideia básica de que a humanidade, assim como, as demais espécies vistas como um estrutura forma de evolução permanente e contínua.\n\nNesta ideia básica, fortemente influenciada pelas teorias evolucionistas do campo da Biologia - a saber, a selecção natural - os evolucionistas vão, assim, considerar que a variabilidade cultural se ordena a partir de uma perspectiva analítica que hierarquiza e classifica a diferença. Ou seja, a humanidade é única enquanto espécie viva, e enorme diversidade cultural encontrada nas formas uma diferença de graus ou estágios evolutivos.\n\nDe um estágio inicial no qual pode se diferenciar dos demais seres vivos, a humanidade passaria por etapas sucessivas de evolução que a conduziria a um mesmo destino, a uma mesma caminho. Legitimam-se assim, a crença postulada por Tylor quanto à existência de uma \"unidade psíquica da humanidade\" que explicaria o fato de que todos os grupos humanos nascem com o mesmo potencial e capacidade para se desenvolverem. Entretanto, alguns grupos avançaram mais neste processo alcançando um maior grau de evolução e complexidade, ao passo que outros, não apresentaram o mesmo ritmo e permaneceram, portanto, no fluxo deste processo, em um estágio mais atrasado e rudimentar.\n\nEsta hierarquização da diferença se expressa no pensamento evolucionista através de um terceiro postulado que preconiza a construção de uma escala evolutiva na qual todas as sociedades humanas sejam elas existentes ou mesmo extintas, são enquadradas e classificadas conforme os diferentes estágios a que se concentram quando comparadas com a sociedade ocidental. Situada em um eixo temporal esta escala pressupõe a existência de uma linha evolutiva ascendente a se percorrer por todas as sociedades humanas em direção a um único fim, qual seja, atingir o mesmo grau de progresso e evolução alcançado pelas sociedades europeias.\n\nNesta escala, a explicação da variabilidade cultural encontra-se de acordo com o que propõe Lewis Morgan, circunstra-se em torno de uma tipologia básica constituída por três estágios \"evolutivos\" - selvageria, bárbaro e civilização - a serem percorriodos inevitavelmente por todas as sociedades humanas. A partir destes diferentes estágios as sociedades humanas eram hierarquizadas tendo como parâmetro a cultura europeia então classificada no estágio de civilização e todas as demais categorias inferiores em um único e mesmo processo já percorrido pela primeira. Assim, todos os povos, os grupos humanos diferentes da sociedade europeia - indígenas, africanos, asiáticos - ocupariam as etapas anteriormente de mesmo processo de evolução sendo, portanto, classificações como representantes dos estágios de selvageria e bárbaro a serem ultrapassados em nome da civilização e do progresso. (Ênfase na Diacronia)\n\nDentro deste modelo analítico, define-se a um só tempo duas questões fundamentais para os evolucionistas. Por um lado, confirma-se a supremacia da sociedade ocidental face aos demais povos do mundo já que a acaba a função básica de conduzi-los rumo ao progresso e evolução. É importante que você observe que a ideia de civilização perde assim, o significado de processo e passa a constituir-se em contrapartida, um estado a ser alcançado por todas as sociedades humanas sob tutela e a raça da cultura europeia, o que em contraste, justifica o papel homem branco face aos demais povos do mundo. Dados historigraficoss revelam uma escravização negra, a pacificação e categoriação indígena dentre outros, nos mostraram riqueza de detalhes essa subjugação de uma cultura na norma de uma outra linha do superiór.\n\nNovamente aqui, a ideia de uma humanidade única levará os evolucionistas à afirmação de que as instituições e os costumes humanos têm uma origem comum e que permite compará-los entre si. Na visão destes teóricos a comparação pode ser realizada na medida em que, a despeito da enorme diversidade de formas culturais encontradas, alguns costumes poderão \"sobreviver\" a passagem do tempo, o que possibilitará reconhecer no presente, vestígios do passado.\n\nO entendimento da dinâmica cultural no presente implicava assim, necessariamente, em uma espécie de visita ao passado da própria sociedade ocidental, fonte primeira de toda a variação. Assim, as nações europeias e também, a sociedade norte-americana do século XIX, eram consideradas como contemporâneas dos grupos indígenas e os aborígenes australianos, classificados no estágio de selvageria, ao passo que as tribos africanas estariam, por exemplo, no estágio de barbarie.\n\nCom isto, a ideia de progresso ganha força e associada à noção de tempo torna-se uma questão primordial para a explicação da diferença já que é em sua direção e sentido que a história da humanidade se desenvolve. Desta forma, os evolucionistas tomando a sociedade ocidental como foco da comparação, buscarão identificar no desenvolvimento dos diferentes povos e grupos humanos, traços culturais que \"sobreviveram\" no tempo e que fossem capazes de demonstrar a ligação entre o passado e o presente em um mesmo e único processo evolutivo.\n\nNeste esforço comparativo, a definição de cultura estabelecida por Tylor é novamente reforçada e corroborada. Vejamos então de que modo esta situação pode se configurar, resgatando mais uma vez, as próprias palavras do autor:\n\n\"Cultura ou civilização tomam em seu amplo sentido etnográfico este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, hábitos, costumes ou quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade\" (Tylor,1871:1).\n\nSe observamos atentamente esta definição é possível detectar na mesma, dois aspectos fundamentais para a compreensão do pensamento evolucionista no qual não tangem a comparação das instituições e costumes humanos. Em primeiro lugar, a noção de cultura como um \"todo complexo\" sugere a percepção de que a mesma tal qual uma colcha de retalhos reúne uma série de itens isolados, unitários e identificáveis que juntos lhe conferem um sentido de unidade e homogeneidade. Em segundo lugar, e correlativamente, esta suposta espécie de lei única principal geral que evolvem as condições humanas independentemente do tempo no espaço consolidaram.\n\nNesta lógica de raciocínio, os grupos humanos parecem ter sido confrontados ao longo de seus estudos em diferentes sociedades e história, com os mesmos tipos de dilemas e problemas para os quais forneceram um conjunto de soluções comuns. Identificando um mesmo número de traços culturais entre os povos - como \"religião\", \"propriedade\", \"relações de parentesco\", \"governo\", \"método de subsistência\", entre outros - os evolucionistas aplicam a questão da mudança como um decorente de atribuição a um \"espírito científico\" que possibilitou o desenvolvimento das invenções e descobertas. Para Lewis e Morgan, por exemplo, a \"acumulação\" de critérios porque distingue as mudanças culturais e as demais culturas diferentes estágios evolutivos dos sociedades humanas rumo ao progresso e a civilização.\n\nComo consideram que o desenvolvimento do \"espírito científico\" esteve presente do fim de sociedade ocidental, os evolucionistas dispensam o contato direto com os demais povos - então intitulados como \"primitivos\", \"selvagens\", \"bárbaros\" - e baseiam seus estudos comparativos nos relatos de viagem dos cristãos coloniais a partir dos quais estabelecem conjecturas e deduções que possam explicar a diversidade cultural tomando sempre como modelo a sua própria sociedade.\n\nA adoção deste tipo de procedimento fez com que os teóricos evolucionistas fossem considerados pela literatura especializada, como \"antropólogos de gabinete\" já que eles não se deslocavam em seus ambientes de trabalho para as áreas e/ou lugares onde viviam os povos e os grupos humanos a que pretendiam estudar. A compreensão do \"outro\" se processava a distância e tentávamos entender, por exemplo, o comportamento de uma criança que desconhecemos. Sem levar em conta suas particularidades, apoiamo-nos exclusivamente no fato de que, por também já termos sido criança um dia, estaríamos aptos a deduzir suas razões, entender suas motivações e explicar suas atitudes.\n\nÉ importante que você observe que subjacente a esta postura transparece como já mencionamos anteriormente, a ideia da cultura como um fenômeno natural que possui causas e regularidades uniformes. Ou seja, sendo a espécie humana única em termos da sua constituição biológica, a análise das formas culturais nisto implicava em uma relação direta entre o pesquisador e o grupo estudado. Para os evolucionistas, fontes e relatos de segunda mão eram o suficiente para fornecer a base de dados necessária ao desenvolvimento de suas análises e para a sua própria sociedade.\n\nAssim, o \"salvagem\" podia ser conhecido à distância, pois afinal, representava apenas, a variação de uma mesma espécie viva que em função de uma diferença de momentos históricos específicos se encontrava em uma etapa anterior de um único processo evolutivo. Em outras palavras, era possível ao europeu estudar comparativamente a diversidade de costumes e simultaneamente, compreender o \"salvagem\" mesmo sem conhecê-lo diretamente, posto que ele \"salvagem\" ilustravam um estágio inferior do processo evolutivo, já ultrapassado pelo europeu e considerado como a encarnação máxima do progresso e representante por excelência das pelos diversos sociedades humanas assim, universalizada à luz da cultura europeia e reificada a uma visão de totalidades históricos específicos. A cultura, neste perspectiva, passa a ser cumulativo que vem do passado e se inscreve contemporaneamente no presente, o que explicaria como no fluxo da evolução ao que causa e gera o outro subsequente.\n\nA história onde o tempo passa a construir o medidor, o motor básico que impulsiona as definidas como totalizado, pois, pressupõe uma história com \"H\" maiúsculo e que remete, portanto, para a \"História da Humanidade\". Uma história que pode ser contada a partir do ensinamento que sociedades humanas em um eixo situado no seu tempo livre, capaz de explicar suas origens, causas e consequências, seu processo de desenvolvimento, e ainda uma equação capaz de explicar e sintetizar a diferença.\n\nEm suma, trata-se de uma história que enquadra todas as sociedades humanas em um eixo temporal e evolutivo unilinear a ser percorrido inevitavelmente por todas elas em direção a um mesmo caminho. Este caminho impõe igualmente para todas as sociedades humanas um único mesmo desafio, qual seja, ultrapassar os estágios de primitivismo definidos pelas etapas de civilização, do progresso e do desenvolvimento.\n\nIMPORTANTE\n\nEste escalonamento da história das sociedades humanas em um eixo temporal unilinear que conduzirá, todas elas invariavelmente, a um fim determinado é também denominado em Antropologia como Concepção Teleológica da História. Teleológica: palavra de origem latina \"telos\" que significa fim.\n\nNo conjunto, estas diversas perspectivas - da cultura como um fenômeno global e da história como uma totalidade contínua - impediu que os teóricos evolucionistas desenvolvessem uma visão teórica que pudesse contemplar o reconhecimento pleno da diferença. Ou seja, a pressuposição de que a humanidade estaria fadada a um processo evolutivo unilinear liderado pela cultura europeia obscureceu a possibilidade dos mesmos enfraquecerem as particularidades e especificidades das culturas situadas fora das esferas de influência da civilização ocidental.\n\nÉ preciso observar, no entanto, que esta afirmação não significa desqualificar em termos absolutos os esforços teóricos dispensados pelos evolucionistas. Pelo contrário, é inegável o mérito do empreendimento analítico construído por estes estudiosos, no sentido de enfrentar o problema da diferença cultural e, com isto, abrir o caminho a novas possibilidades para se pensar o conceito de homem e suas relações com o mundo social.\n\nNeste sentido, há que se reconhecer, por exemplo, que a vinculação do pensamento evolucionista com as teorias originadas da Biologia, de fato, contribuiu para retirar o homem de uma contrapartida, em uma ordem natural que o percebe como resultante de suas próprias experiências. Uma visão que o considerava como uma espécie viva que se desenvolve no plano fisiológico do seu próprio organismo.\n\nCabe ressaltar, entretanto, que se por um lado, este pensamento evolucionista atesta a existência da uma natureza humana que é diversa em suas manifestações culturais concretas, por outro lado; os postulados básicos utilizados para legitimar biológica que unifica a humanidade como um todo. Ou seja, embora reconheçam que os povos e grupos humanos são diferentes, entendem que sendo todos parte de uma única e mesma base.\n\nAtravés de um dito movimento, atesta-se primeiramente a diversidade das formas acaba por homogenizar a diferença posto que reduzida a menos históricos específicos. Nesta lógica, todos os povos e grupos humanos \"estranhos\" a cultura europeia são vistos como iguais; historicamente em um estágio \"primitivo\" e \"atrasado\" devendo ser conduzidos ao progresso e a evolução. Uma vez que pacificados e \"civilizados\" pela mão do europeu recomponha novamente a origem.\n\nEm outras palavras, ao associar as sociedades em um viés evolucionista, os evolucionistas acabaram por sonegar a diferença, na medida em que, não levam em conta que os povos e grupos humanos possam ter vivenciadas experiências diversas e a partir delas terem feito escolhas e opções também diferenciadas no que diz respeito aos modos de conceber o mundo e organizar a realidade e o vida social.\n\nEsta limitação analítica do pensamento evolucionista será alvo de uma série de críticas que puderam se legitimar ao longo do século XX conducindo a Antropologia a um novo movimento teórico cujos postulados conceituais irão mostrar uma nova possibilidade para se repensar a problemática da diversidade cultural. No próximo tópico desta nossa sequência unida de estudos, abordaremos o conteúdo analítico destas críticas buscando mapear os desdobramentos daí decorrentes para a compreensão da dinâmica cultural. 2.4 - As críticas antropológicas ao Evolucionismo Social\nA Escola Cultural Americana (Difusionismo) e o Particularismo Histórico\n\nAs primeiras críticas dirigidas ao modelo analítico proposto pelos teóricos evolucionistas na explicação do problema da variabilidade cultural derivam dos trabalhos desenvolvidos pelo antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942). A participação em uma expedição geográfica a Baffin Land, realizada em 1883-1884, permitiu a Boas desenvolver uma intensa investigação sobre várias áreas do conhecimento - tais como a Linguística, a Geografia, o Folclore, a Organização Social, dentre outras - que o levou a radicar posteriormente nos Estados Unidos, influenciando toda uma nova geração de antropólogos. A partir então, a inovação e a fecundidade de suas ideias fizeram com que seu nome se associasse diretamente à chamada Escola Cultural Americana ou Escola Difusionista.\n\nO cerne das críticas dirigidas aos postulados evolucionistas encontra-se estruturado em um artigo publicado por este antropólogo em 1896, sob o título \"As Limitações do Método Comparativo em Antropologia\". Neste trabalho, Boas investe contra as chamadas \"especulações de gabinete\" desenvolvidas pelos evolucionistas com base nos relatos de viagem fornecidos pelos cronistas coloniais e redefine o papel da Antropologia enquanto campo de saber. Nessa redefinição, Boas atribui a Antropologia o compromisso com a realização de duas tarefas básicas e correlatas.\n\nEm primeiro lugar, preocupado com a importância de se reconhecer e caracterizar intensamente diversos das culturas humanas, Boas adota uma posição na qual caberia a Antropologia a realização de estudos que viabilizassem a reconstrução da história dos diferentes povos ou regiões do mundo de forma particularizada. Cumprida esta exigência, a Antropologia deveria em segundo lugar, realizar a análise comparativa da vida social destes diferentes novos, cujos desenvolvimento segue as mesmas leis e princípios gerais.\n\nPara que esta dupla tarefa pudesse se realizar em sua plenitude, Boas argumenta ainda que a Antropologia deveria verificar inicialmente se a possibilidade efetiva de ser comprovada a própria viabilidade da análise comparativa. Ou seja, contra as \"conjecturas e as especulações de gabinete\" dos evolucionistas, a Antropologia deveria buscar responder a uma pergunta primeira que pode ser sintetizada da seguinte forma: que dados são utilizados na análise comparativa como efetivamente serem comprovados?\n\nVisando responder a esta pergunta básica, Boas desenvolve uma proposta analítica que modificará substancialmente as noções de cultura e história tal como concebidas pelas disciplinas. Esta modificação acarretará o desenvolvimento a Antropologia inaugurando um novo movimento intelectual no seio desta disciplina e renova suas bases conceituais e ilustra a vanguarda analítica dos trabalhos desenvolvidos por Boas no estudo da diversidade cultural.\n\nO ponto de partida dado por Boas para o desencadeamento deste movimento agora se fundamentalmente na rejeição ao modo pelo qual os evolucionistas concebiam e ordenavam o problema da variabilidade cultural. Negando a perspectiva que hierarquizava todas as sociedades humanas em um eixo evolutivo unilinear, Boas propõe em contrapartida, uma visão particularista histórica em função de postular como o princípio do particularismo histórico em respeito ao modo pelo qual as culturas humanas puderam historicamente se difundir e se desenvolver. Para Boas, ao longo do processo histórico, cada povo, cada grupo ou sociedade humana responde de forma diferenciada a particular assim como problemas e aos dilemas que foram compiladas a enfrentar ao trilharem o seu próprio caminho.\n\nNeste ponto, diferentemente dos teóricos evolucionistas que apoiando-se no pressuposto da igualdade biológica da espécie humana deixavam transparecer em seu modelo analítico a crença de que a mente humana pudesse reagir de modo equivalente quando exposta a condições ambientais e materiais similares, o que explicaria a ênfase nas semelhanças culturais, a proposta elaborada por Boas sinaliza para uma outra direção. Nela, a ênfase incide sobre a pluralidade das culturas humanas, o que leva Boas a ressaltar processos de mudança, difusão, troca e empréstimo cultural como aspectos capazes de interferir e influenciar o desenvolvimento de cada formação cultural específica. Dentro destes parâmetros, as culturas são constituídas de acordo com o que propõe Boas, por traços ou um complexo de traços resultantes de condições ambientais, fatores psicológicos, linguísticos e conexões históricas que levaram a assumir formas extremamente diferenciadas e particulares. Em outras palavras, considerados como fenômenos plurais e diversificados de processos históricos particulares, as culturas humanas por Boas estão inseridas em um fluxo permanente de interação que os coloca em relação. Elas são resultantes das relações que estabeleceram entre si e de modo pelo qual puderam responder se relacionar com um gama de fatores - condições ambientais e psicológicas - que contribuíram para que no curso do desenvolvimento histórico adquirissem formas e traços culturais particulares e únicos.\n\nÉ importante que vocês observe que estas considerações deveriam conduzir a conceitos distintas a respeito do desenvolvimento das culturas humanas que conduziram a mundos diferentes e se comparar as relações que entre elas se estabelecerem no esforço de compreender a problematicidade da diferença.\n\nMotivado por este esforço, o centro da abordagem elaborada por Boas, ancor-se na consideração de que o uso do método comparativo em Antropologia deveria contemplar não a decoreção de instituições e costumes isolados e sim, a comparação dos resultados obtidos em inúmeros fatores que sibi onera com estudos históricos a respeito das culturas simples e dos particulares ao seguirem seu próprio caminho.\n\nAssim, ao reter a postura evolutiva na explicação da variabilidade cultural, a metodologia de Boas busca defender não apenas, uma explicação para a gama da diversidade dos traços culturais, como também, uma interpretação plausível sobre o modo pelo qual estas extremamente diferente e plural. Em outras palavras, alguns evolucionistas tinham seus primeiros teóricos e vulnerabilidades as potencialidades e a riqueza do método também vão no trabalho antropológico.\n\nDesta forma, eu substituí-o ao uso do método comparativo em que sua explicação por seus contextos originais para compará-los em seguida, com uma outra formação cultural sem sua solitude, tal como faziam os evolucionistas, Boas lança os primeiros germes, as primeiras sementes do que posteriormente irá se consolidar o que se denomina em Antropologia como uma comparação contextualizada. Ou seja, em uma comparação que busca entender como as relações existentes entre as instituições e os costumes adotados pelos diferentes povos ou grupos humanos ganham forma e sentido levando em conta as dinâmicas próprias, de diferentes fatores - ambientais, linguísticos e psicológicos - sobre eles incidem e os envolvem quando inseridos no contexto específico de cada formação cultural particular.\n\nA partir desta proposta analítica, Boas dá início a um processo que permitirá a superação do caráter etnocêntrico que marca o pensamento evolucionista a favor da adoção de uma prática relativizadora. Ao defender a ideia de que as culturas humanas são diversas e plurais e que devem ser entendidas a partir de seus próprios contextos das consequências se impõe de imediato para o estudo e a abordagem do problema da diversidade cultural.\n\nA primeira delas refere-se ao fato de que reconhecimento da pluralidade das culturas humanas por ser para a universalidade da perspectiva europeia marcada por uma postura fortemente etnocêntrica posto que então, era considerada como o espelho, o modelo através do qual a diferença cultural encontrada nas mais diversas sociedades humanas era como era compreendida. Em segundo lugar e correlativamente, desejava também, a articulação que unificava tempo e história. Ou seja, não se trata mais de privilegiar a adoção de uma concepção universal.