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Gestão Financeira ·

Administração Financeira

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FINANÇAS E CONTABILIDADE EMPRESARIAL Márcia Maria da Graça Costa 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE EMPRESARIAL 3 2 ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBILFINANCEIRAS 24 3 A MATEMÁTICA DAS FINANÇAS 47 4 GESTÃO DE FLUXO DE CAIXA 67 5 DECISÕES DE INVESTIMENTOS E ORÇAMENTO DE CAPITAL 88 6 GOVERNANÇA CORPORATIVA 108 3 1 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE EMPRESARIAL Apresentação Ao começar este bloco acreditamos que uma pergunta importante precisa ser respondida Por que é preciso estudar contabilidade Talvez seja a pergunta na qual você deve estar pensando uma vez que escolheu um curso com foco em Marketing Logística ou Recursos Humanos por exemplo A resposta é simples porque o gestor de qualquer área de uma empresa precisa gerenciar seus gastos identificar de onde vem o dinheiro que garante os recursos necessários às atividades quais os resultados que estão sendo obtidos com os esforços da equipe e acima de tudo compreender o impacto de sua área no resultado global da empresa Seja um gestor da equipe de vendas um gerente de RH um coordenador do sistema de entregas dentre outras funções todos precisam compreender como as diversas atividades de uma empresa são consolidadas em números relatórios e demonstrações que consolidam os resultados econômicofinanceiros da organização É por isso que neste bloco nosso objetivo é que você seja capaz de reconhecer a importância da Contabilidade Empresarial para a gestão das empresas distinguindo e analisando as informações dos principais tipos de demonstrações contábeis 11 Funções da contabilidade Uma definição de contabilidade que traz sentido ao que argumentamos na Introdução é trazida por Griffin 2012 p 4 que se refere à contabilidade como arte de gravar classificar e resumir transações de negócio e interpretar resultados Ainda que seja considerada uma arte é necessário compreender que a sua prática acontece em um corpo de conhecimentos incluindo princípios e conceitos que foram evoluindo e sendo testados ao longo do tempo para atender à necessidade de informações de diversos usuários 4 De maneira geral quando o assunto é Contabilidade Empresarial o primeiro pensamento está relacionado aos documentos que uma empresa precisa elaborar e apresentar ao governo especialmente para o pagamento de diversos tipos de tributos impostos taxas contribuições etc Essa é uma de suas funções porém nesta disciplina nosso foco será dado à contabilidade como principal instrumento para a tomada de decisão dos gestores e administradores Sob tal enfoque Iudícibus e Marion 2022 complementam a definição informando que a contabilidade coleta registra classifica e sintetiza todos os fatos econômicos ocorridos passado transformando as operações em dados monetários dinheiro para transformálos em informações Essas operações são então consolidadas em relatórios financeiros as demonstrações contábeis que possibilitam a mensuração do Patrimônio e do resultado obtido por uma organização em determinado período Ao mesmo tempo em que se pode definir a contabilidade como uma arte ela também é uma ciência e os seus princípios podem ser aplicados aos negócios das mais diversas áreas Essa padronização de conceitos e princípios permite que as informações de ganhos financeiros prejuízos e grau de endividamento por exemplo sejam facilmente lidas e interpretadas por todos os interessados A compreensão desse tipo de resultados lucros prejuízos endividamento etc é fundamental para garantir uma boa gestão da empresa No ambiente de concorrência acirrada muitas empresas não têm sobrevivido e seus gestores atribuem o fechamento das portas à elevada carga tributária aos encargos sociais da folha de pagamento aos juros altos à recessão econômica etc Esses fatores certamente contribuem para debilitar uma empresa especialmente micro e pequenos negócios No entanto o que diferencia essas empresas que encerraram atividades das outras que sobrevivem nesse mesmo cenário Iudícibus e Marion 2022 destacam que as análises comparativas entre as empresas demonstram que o problema principal é a baixa qualidade da gestão com decisões tomadas sem dados confiáveis A combinação entre a falta de planejamento e controle do fluxo de caixa a ausência de processos e controles das atividades e de seus gastos 5 resultam em má administração financeira Além disso muitas empresas utilizam a contabilidade apenas para registrar informações destinadas a atender exigências fiscais governo e tributos sem se preocupar com o registro de informações úteis e que podem orientar os gestores na tomada de decisão Considerando que o ambiente contemporâneo de negócios exige eficiência na aplicação de recursos escassos e que as dificuldades econômicas são cíclicas por exemplo dificuldades para acesso à capital financeiro com custo mais baixo baixa demanda decorrente de economia pouco aquecida etc apenas a experiência de um gestor ou empresário não é uma base consistente para manter uma empresa aberta e crescendo É fundamental um mapeamento completo de informações para nortear as decisões E essas informações estão contidas nos relatórios elaborados pela contabilidade Ou seja não se pode tomar decisões sobre produção marketing pessoas investimentos financiamentos custos etc sem a consistência das informações contábeis coletadas registradas e analisadas com precisão Padoveze 2016 Bonho Silva Alves 2021 Os autores destacam que os usuários das informações contábeis podem ser internos ou externos Dentre os usuários internos estão diretores gerentes administradores gestores nos diversos níveis que utilizam informações e relatórios para tomar decisões importantes São mencionados como exemplo o gestor de marketing que precisa de informações sobre um produto se o preço gera resultados positivos ou negativos para decidir se mantém a produção ou não Ou ainda uma empresa com lojas em cidades diversas que utiliza as informações para analisar e comparar o desempenho entre elas Pode ser mencionado ainda um gestor de operações e logística e usa informações contábeis para avaliar os impactos de fornecedores e transportadores nos resultados da empresa Quanto aos usuários externos são aqueles que avaliam a empresa para tomar decisões sobre relacionamentos e investimentos Por exemplo os acionistas avaliam o retorno do seu investimento no capital da empresa os fornecedores consideram a situação financeira da empresa antes de fechar algum contrato para fornecer mercadorias ou matériasprimas os bancos analisam a capacidade de pagamento para conceder 6 empréstimos e financiamentos e até mesmo clientes que podem tomar decisão de comprar de uma empresa ou outra com base na sua situação econômicofinanceira 12 Regimes contábeis As operações realizadas pela contabilidade consideram dois tipos de regime Competência e Caixa Vamos ver como eles funcionam Regime de competência É um princípio fundamental da contabilidade nesse regime as Receitas e Despesas devem ser registradas no momento da ocorrência também chamado de Fato Gerador O que isso quer dizer Significa que todas as receitas e as despesas devem ser contabilizadas pela data em que ocorreram Vamos melhorar mais um pouco essa explicação Receitas São valores decorrentes de uma venda de mercadorias produtos ou prestação de serviços Também podem estar vinculadas aos juros recebidos de vendas pagas em atraso rendimentos de aplicação ou recebimento de aluguéis O valor da receita está descrito na nota fiscal de venda do produto ou de prestação do serviço Quando dizemos que as receitas devem ser registradas pela data de ocorrência significa que não importa se a empresa recebeu essas receitas efetivamente Por exemplo uma empresa que vendeu mercadorias no valor de R 1000000 para pagamento em 3 parcelas irá registrar essa operação no dia da venda com o valor total de R 1000000 Mesmo que o recebimento efetivo entrada de dinheiro em caixa aconteça apenas no período de 3 meses Despesas São os valores vinculados aos bens e serviços adquiridos que podem estar relacionados de maneira direta ou indireta com as receitas Ou seja as despesas representam os gastos que a empresa precisou realizar para produzir receitas Por exemplo as despesas com a comissão dos vendedores estão relacionadas a uma receita decorrente da venda de bens ou serviços Da mesma forma que as receitas as despesas também são registradas no momento da sua ocorrência mesmo que a empresa ainda não tenha pagado Em outras palavras mesmo que nenhum dinheiro tenha saído do caixa da empresa Por exemplo a venda de mercadorias mencionadas em Receitas no valor de R 1000000 gerou comissão de 10 ou R 100000 Esse valor será contabilizado no momento da venda mesmo que a comissão seja paga posteriormente junto com a folha de pagamento da empresa 7 Custos Há uma diferença no conceito de competência em relação aos Custos que também são gastos necessários para gerar receitas mas ocorrem em momentos diferentes daquele em que a venda é concretizada Vamos a exemplos para ficar mais claro o conceito de Custo Imagine uma fábrica de biscoitos para vender os pacotes de biscoitos ela precisa comprar os ingredientes colocar no estoque usar aos poucos na linha de fabricação até que os biscoitos sejam finalizados embalados e vendidos Todo o gasto que a empresa tem nesse processo não é classificado como Custo porque os ingredientes estarão em estoque ou em produção Nesse caso pelo regime de competência apenas quando o biscoito for vendido o valor gasto com os ingredientes será considerado como Custo Um outro exemplo é um supermercado Ao comprar as mercadorias que serão vendidas não haverá registro como Custo porque as mercadorias estarão no estoque Apenas quando a mercadoria é vendida pelo regime de competência ela será considerada um Custo Regime de caixa Aqui acontece o contrário do Regime de Competência ou seja Receitas e Despesas são registradas quando acontece uma entrada ou saída de caixa Significa que o Regime de Caixa considera efetivamente as movimentações de dinheiro seja o recebimento das vendas ou o pagamento das despesas Nesse caso a contabilidade registra as operações independentemente do Fato Gerador ou data de ocorrência Para compreender melhor as diferenças entre os regimes vamos utilizar um exemplo adaptado de Ribeiro 2013 Nele em uma empresa no Ano 2 ocorreram as operações a seguir 1 Pagamento de Despesas de Salários e Encargos referentes a dezembro do Ano 1 R 200000 2 Pagamentos efetuados durante o Ano 2 referentes a Salários e Encargos de janeiro a novembro do Ano 2 R 3000000 3 Salários e Encargos de dezembro do Ano 2 que serão pagos em janeiro do Ano 3 R 500000 4 Recebimento em janeiro do Ano 2 de Aluguéis de dezembro do Ano 1 R 50000 5 Recebimento durante o Ano 2 de Aluguéis correspondentes aos meses de janeiro a novembro do Ano 2 R 550000 6 Aluguel de dezembro do Ano 2 que será recebido em janeiro do Ano 3 R 50000 8 7 Pagamentos efetuados durante o Ano 2 referentes a impostos e contribuições correspondentes aos meses de janeiro a novembro do Ano 2 R 1200000 8 Impostos e contribuições referentes a dezembro do Ano 2 que serão recolhidos em janeiro do Ano 3 R 190000 9 Serviços prestados durante o Ano 2 recebidos à vista R 5400000 10 Serviços prestados em dezembro do Ano 2 a prazo para recebimento no Ano 3 R 1500000 Com base nessas operações vamos apurar o resultado da empresa nos dois regimes Tabela 11 Resultado pelo Regime de Competência Regime de Competência Despesas Receitas 2 Salários e encargos R 3000000 5 Receita de Aluguel R 550000 3 Salários e encargos R 500000 6 Receita de Aluguel R 50000 7 Impostos e Contribuições R 1200000 9 Receita de serviços R 5400000 8 Impostos e Contribuições R 190000 10 Receita de serviços R 1500000 Total R 4890000 Total R 7500000 Resultado R 2610000 Fonte elaborada pela autora com base em Ribeiro 2013 Observando a Tabela 11 você pode perceber que as operações 1 e 4 não são consideradas no registro das operações pois são decorrentes de fatos geradores ocorridos no ano 1 No entanto as operações 3 6 8 e 10 cujo pagamento ou recebimento ocorrerão apenas no ano 3 são registradas no ano 2 pois esse é o ano de ocorrência Tabela 12 Resultado pelo Regime de Caixa Regime de Caixa Despesas Receitas 1 Salários e encargos R 200000 4 Receita de Aluguel R 50000 2 Salários e encargos R 3000000 5 Receita de Aluguel R 550000 7 Impostos e Contribuições R 1200000 9 Receita de serviços R 5400000 Total R 4400000 Total R 6000000 Resultado R 1600000 Fonte elaborada pela autora com base em Ribeiro 2013 9 Na Tabela 12 percebese que foram registradas todas as operações que representam entradas ou saídas de caixa independentemente de quando ocorreram Por isso as operações 1 e 4 constam do resultado mesmo com a ocorrência tendo sido no ano 1 Por outro lado as operações 3 6 e 10 não são consideradas pois o pagamento ou recebimento ocorrerão apenas no ano 3 O resultado apurado no Regime de Competência é chamado de resultado contábil ou econômico enquanto aquele obtido pelo Regime de Competência é financeiro Na prática diária das empresas a tomada de decisão tem sido enfatizada pelo resultado financeiro ou seja na avaliação da capacidade de a empresa gerar dinheiro em caixa Essa é considerada a principal fonte de recursos para manter a continuidade das operações arcando com suas dívidas aumentando o capital de sócios e investidores e criando condições para se sustentar Iudícibus Marion 2022 Agora vamos conhecer um pouco as principais demonstrações contábilfinanceiras 13 Balanço patrimonial O Balanço Patrimonial é uma demonstração elaborada como uma fotografia que reflete a posição financeira e patrimonial de uma empresa em determinado momento Ele pode ser elaborado com periodicidade mensal trimestral semestral ou anual Tem o objetivo de sintetizar o patrimônio da empresa que é representado pelas riquezas que resume de forma organizada o seu patrimônio em outras palavras os bens direitos e obrigações Os principais elementos que compõem o Balanço Patrimonial são Ativo Passivo e Patrimônio Líquido Ribeiro 2013 Padoveze 2016 Eles estão situados graficamente em duas partes como mostra a Figura 11 Balanço Patrimonial ATIVO PASSIVO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Fonte Autora 2023 Figura 11 Gráfico básico do Balanço Patrimonial Que tal conhecer um pouco mais esses elementos Vamos aproveitar o gráfico da Figura 11 10 Quadro 11 Elementos do Balanço Patrimonial Balanço Patrimonial Ativo É composto por todos os recursos da empresa que podem ser avaliados e convertidos em dinheiro São bens e direitos que podem trazer benefícios presentes e futuros Os bens podem ser divididos em Tangíveis são aqueles que podem ser tocados tais como imóveis máquinas e equipamentos Quando os bens podem ser transportados como computadores e veículos são chamados de bens móveis Quando são fixados ao solo são chamados de bens imóveis como terrenos e edifícios Intangíveis porque não possuem características físicas Por exemplo softwares marcas ponto comercial Os direitos podem ser bens que estão em posse de terceiros Por exemplo as duplicatas ou contas a receber representam valores em dinheiro que a empresa tem o direito de receber Significa que a empresa vendeu seus produtos a prazo e os clientes deverão pagar no futuro Também são direitos os aluguéis que a empresa irá receber os adiamentos feitos a seus empregados o dinheiro aplicado em instituições financeiras etc Passivo Apresenta todas as obrigações ou dívidas da empresa com terceiros Por exemplo as compras a prazo de matériaprima ou de mercadorias são registradas como Fornecedores Os financiamentos e empréstimos obtidos em instituições financeiras também são obrigações De maneira geral as obrigações são registradas no passivo registradas com a expressão a pagar por exemplo impostos a pagar contas a pagar salários a pagar O Passivo também é chamado de Passivo Exigível porque no momento em que a dívida vencer será exigida a sua liquidação ou seja o seu pagamento Patrimônio líquido Apresenta os recursos que os proprietários aplicaram na empresa com a denominação de Capital O Patrimônio Líquido não cresce apenas com novos investimentos dos proprietários mas também o retorno resultante do capital aplicado Este retorno é chamado Lucro e representa a remuneração do capital investido pelos proprietários Uma parte do lucro costuma ser distribuída aos donos do capital por meio de dividendos e a outra parte é reinvestida na empresa como Lucros acumulados Fonte elaborado pela autora com base em Ribeiro 2013 e Griffin 2012 Todos os itens do balanço patrimonial são organizados de acordo com o nível de liquidez ou seja de acordo com a velocidade em que os bens direitos obrigações e dívidas são realizados O critério básico para o agrupamento dos itens do balanço é o 11 período de 12 meses Assim temos a primeira divisão em Circulante e Não Circulante o que determina os Grupos de Contas Com base nos autores Ribeiro 2013 e Griffin 2012 vamos detalhar um pouco mais esses grupos A Ativo circulante neste grupo de contas são alocados os itens que já representam recursos monetários ou que serão transformados em dinheiro em até 12 meses ou que serão consumidos pela organização no andamento normal do negócio dentro do seu ciclo operacional1 Inclui dinheiro e outros ativos monetários como contas a receber estoque aplicações financeiras despesas pagas antecipadamente e outros ativos que podem ser facilmente convertidos em dinheiro O caixa é sempre listado primeiro pois é o ativo mais líquido de todos B Ativo não circulante são incluídos os ativos que serão convertidos em dinheiro mais lentamente em prazo superior a 12 meses Eles são classificados nas seguintes categorias Realizável em longo prazo os itens que compõem este subgrupo são ativos de menor grau de liquidez que levam mais tempo para serem recebidos ou seja em período superior a um ano ou de acordo com o ciclo operacional da atividade predominante Por exemplo vendas com prazo mais longo para pagamento Investimentos aqui estão as contas que representam as aplicações de recursos em bens tangíveis e em bens intangíveis não usados nas atividades da empresa Por exemplo quando uma empresa que fabrica parafusos compra ações de outras empresas obras de arte terrenos para futura expansão ou prédio para aluguel não há melhorias no volume de vendas ou de produção pois a compra não afeta o negócio de parafusos 1 O ciclo operacional de uma organização é o período de tempo em que uma empresa adquire o estoque de materiais vende os produtos à vista ou no crédito e recebe o dinheiro das vendas Griffin 2012 p 37 12 Imobilizado são incluídos os ativos tangíveis utilizados na operação da empresa Costumam ser utilizados por vários anos porque têm vida útil longa São itens que dificilmente serão transformados em dinheiro porque normalmente não são vendidos Por exemplo terrenos e prédios utilizados pela empresa máquinas equipamentos móveis etc O valor desses ativos é reduzido durante a sua vida útil por meio da depreciação Intangível inclui itens intangíveis tais como patentes e marcas O seu valor também é reduzido ao longo do tempo por meio da amortização C Passivo circulante registra as obrigações a Curto Prazo que deverão ser liquidadas em até 12 meses ou conforme o ciclo operacional da empresa É aqui que são demonstradas as dívidas com terceiros tais como Fornecedores de mercadorias ou matériasprimas Impostos a recolher empréstimos bancários pagamentos dos empregados e encargos sociais D Passivo não circulante também é chamado de Exigível em Longo Prazo porque registra as obrigações que a empresa deve pagar em período superior a 12 meses Por exemplo financiamentos com instituições financeiras E Patrimônio líquido sob a perspectiva da liquidez como o Patrimônio Líquido considera o capital investido pelos proprietários tem características de longo prazo Afinal os proprietários não esperam retirar ou receber o capital em curto prazo Ele é composto por Capital Social Reservas de Capital Ajustes de Avaliação Patrimonial Reservas de Lucros Ações em Tesouraria e Prejuízos Acumulados O Quadro 12 apresenta um exemplo de Balanço Patrimonial simplificado 13 Quadro 12 Exemplo de balanço patrimonial Fonte Autora 2023 Perceba que o Quadro 12 mostra valores iguais para o Ativo e o Passivo E isso sempre deve acontecer porque o balanço deve expressar a Equação Patrimonial Básica ATIVO PASSIVO PATRIMÔNIO LÍQUIDO É dessa equação que surgiu o nome Balanço porque traz a ideia de uma balança de dois pratos que sempre deve estar em equilíbrio 14 Demonstração de resultados DRE A Demonstração de Resultado do Exercício DRE é o segundo relatório mais importante gerado a partir das informações contábeis Enquanto o Balanço Patrimonial permite acompanhar e analisar as alterações no patrimônio da empresa a DRE tem por objetivo demonstrar de maneira detalhada o resultado econômico obtido por ela Na elaboração da DRE todos os valores das contas que afetam o resultado são consolidados para o exercício ao qual ela se refere Isso acontece porque como a DRE segue o Regime de Competência as receitas e despesas de um exercício não podem ser acumuladas para o exercício seguinte De modo geral as contas que afetam o resultado são as receitas as deduções de receitas os custos as despesas os impostos e as participações sobre o lucro Iudícibus Marion 2022 Ribeiro 2013 Dessa forma a Demonstração do Resultado do Exercício DRE sintetiza todas as movimentações das receitas e despesas da empresa em um determinado período Assim como o Balanço Patrimonial a DRE é uma fotografia que mostra o resultado obtido com ATIVO PASSIVO Caixa disponibilidades 200 Fornecedores 500 Clientes dulicatas a receber 300 Salários a pagar 200 Estoques 500 Empréstimos 200 Ativo Circulante 1000 Impostos a recolher 300 Passivo Circulante 1200 Realizável em longo prazo 200 Financiamentos 1000 Investimentos 600 Passivo não Circulante 1000 Imobilizado 900 Capital Social 700 Intangível 400 Reservas de capital 200 Ativo não Circulante 2100 Patrimônio Liquido 900 ATIVO TOTAL 3100 PASSIVO TOTAL 3100 BALANÇO PATRIMONIAL EMPRESA X LTDA 14 os esforços e recursos aplicados na empresa Sua estrutura é vertical e dedutiva tem início com as Receitas das quais vão sendo deduzidos os custos e despesas até que se obtenha o resultado final lucro ou prejuízo O que significa uma estrutura vertical e dedutiva Observe a Figura 12 e irá compreender esses conceitos Fonte Iudícibus Marion 2022 p 73 Figura 12 Demonstração vertical e dedutiva Como a construção da DRE é feita com base no Regime de Competência o lucro ou prejuízo apurado é um resultado contábil econômico Isso significa que o fato de uma empresa apresentar lucro em determinado período não determina que ela possua dinheiro em caixa A DRE é considerada uma das principais demonstrações contábeis para análise de resultados e tomada de decisão dos gestores Como seu objetivo central é a consolidação das informações de um determinado período ela proporciona uma visão abrangente em relação ao desenvolvimento da empresa Também é possível comparar as informações de períodos diferentes o que permite analisar como a empresa vem se desenvolvendo quais são os custos e despesas mais relevantes como tem se comportado a receita de vendas e outras análises que permitem compreender quais são os elementos que auxiliam ou prejudicam o atingimento dos objetivos e resultados pretendidos Por isso ela é fundamental como suporte ao planejamento estratégico de longo prazo de uma empresa contribuindo para a definição do caminho a ser seguido Iudícibus Marion 2022 15 Para conhecer melhor a DRE vamos utilizar a sua própria estrutura descrevendo cada um de seus elementos com base nos autores Ribeiro 2013 Padoveze 2016 Iudícibus e Marion 2022 Confira tudo isso no Quadro 13 Quadro 13 Estrutura básica e descrição da demonstração de resultados do exercício Elementos Descrição Receita bruta Valor nominal total das vendas de bens ou dos serviços prestados pela empresa Normalmente é o valor integral da Nota Fiscal ou Fatura Deduções Descontos concedidos a clientes Devoluções de mercadorias pelo cancelamento de vendas Impostos sobre vendas que normalmente incluem ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços comércio IPI Imposto sobre Produtos Industrializados indústria ISS Imposto sobre Serviços prestadores de serviços Receita Líquida Receita bruta deduções Custos do período CPV Custo dos Produtos Vendidos gastos com a fabricação de produtos matériaprima mão de obra aluguel da fábrica energia elétrica etc CMV Custo das Mercadorias Vendidas compra de mercadorias para revenda CSP Custo dos Serviços Prestados gastos com mão de obra e despesas necessárias para prestação dos serviços Lucro Bruto Receita Líquida Custos do período Despesas operacionais Gastos para a venda de produtos eou serviços e a administração da empresa associados à manutenção da atividade operacional Estão separadas em Despesas com Vendas promoção distribuição e venda de produtos Despesas Gerais e Administrativas estrutura de gestão da empresa Outras Receitas e Despesas Operacionais Lucro antes dos juros e dos tributos LAJIR Lucro Bruto Despesas operacionais Resultado financeiro Resultado Financeiro Receitas Financeiras rendimentos de aplicações Despesas Financeiras juros decorrentes de empréstimos e financiamentos Lucro Antes dos Tributos LAJIR ou Resultado Financeiro Provisão para o imposto de renda e contribuição social Tributos que incidem sobre os lucros IRPJ Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido Lucro Líquido LAIR tributos sobre os lucros Fonte elaborado pela autora com base em Iudícibus Marion 2022 Griffin 2012 Padoveze 2016 16 Cabe destacar que em empresas maiores especialmente as Sociedades Anônimas SA cujo capital é composto por ações a DRE apresenta mais alguns elementos após a linha do Lucro Líquido Participações e contribuições Nesse elemento são registradas as participações nos lucros de empregadores e administradores e as contribuições para Fundos de Previdência dos empregados dentre outros Lucro por Ação LPA Para obter o LPA basta dividir o Lucro Líquido com dedução de participações e contribuições pelo número de ações em que está dividido o capital da empresa O Quadro 14 apresenta um exemplo de Demonstração de Resultados do Exercício simplificado Quadro 14 Exemplo de demonstração de resultados do exercício Fonte Autora 2023 Receita Bruta 500000 Cancelamentos 12500 ICMS 18 90000 Deduções 102500 Receita Líquida 397500 Custo das Mercadorias Vendidas CMV 139125 Lucro Bruto 258375 Despesas com vendas 75000 Despesas administrativas 50000 Despesas Operacionais 125000 Lucro antes dos juros e dos tributos LAJIR 133375 Receitas Financeiras 40000 Despesas Financeira 100000 Resultado Financeiro 60000 Lucro Antes dos Tributos 73375 Tributos sobre lucros 34 24948 Lucro Líquido 48428 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS EMPRESA X LTDA 17 Supondo que a empresa é uma SA e que seu capital é composto por 10000 ações o Lucro por Ação seria LPA Lucro Líquido 48428 484 Nº de ações 10000 15 Demonstração dos fluxos de caixa DFC A Demonstração dos Fluxos de Caixa DFC é o relatório desenvolvido pela contabilidade com o objetivo de demonstrar as transações que causaram modificações no Caixa da empresa Portanto você já deve ter concluído que sua elaboração é feita pelo Regime de Caixa de maneira diferente do Balanço Patrimonial e DRE elaborados por competência A DFC e a DRE portanto se tornam instrumentos complementares na análise e tomada de decisão dos gestores Enquanto a DRE permite compreender o potencial de a empresa gerar lucros com suas operações resultado econômico a DFC evidencia a capacidade de geração de caixa resultado financeiro Sempre é bom lembrar que um lucro elevado não significa necessariamente que a empresa tem dinheiro em caixa para arcar com suas obrigações Os fluxos de caixa considerados para a DFC consideram as movimentações ocorridas em todas as contas que integram as disponibilidades da empresa constantes em seu Balanço Patrimonial Dependendo da forma como um balanço é elaborado pode haver algumas nomenclaturas diferentes para significar o mesmo conceito recursos disponíveis em dinheiro e equivalente a dinheiro Por exemplo uma empresa pode ter dinheiro em Caixa depositado em bancos Bancos conta Movimento e em aplicações com vencimento em até 90 dias Equivalentes de Caixa Padoveze 2016 Iudícibus Marion 2022 Os autores argumentam que ao analisar uma DFC deve ser possível compreender facilmente todas as movimentações de recursos financeiros que resultaram no saldo de caixa da empresa em um período específico Essas movimentações incluem 18 demonstração da origem dos recursos de onde veio o dinheiro que entrou no caixa e também o seu destino onde foram aplicados os recursos que saíram do caixa Para Griffin 2012 a Demonstração dos Fluxos de Caixa tem dois propósitos fundamentais o primeiro é trazer informações sobre os recebimentos e pagamentos de uma empresa e o segundo é proporcionar uma compreensão das atividades operacionais de financiamento e de investimento da empresa Por isso a DFC é desdobrada em três tipos de fluxo de caixa Fluxo de caixa de atividades operacionais Fluxo de caixa de atividades de investimento Fluxo de caixa de atividades de financiamentos Observe uma síntese dessa divisão na Figura 13 Fonte elaborada pela autora com base em Griffin 2012 Figura 13 Fluxos de caixa da DFC Fluxo de caixa de atividades operacionais É decorrente de operações que ocorrem em função da atividade principal da empresa São exemplos dessas operações as receitas recebidas das vendas realizadas o recebimento de duplicatas pelas vendas a prazo o pagamento de fornecedores pagamento de despesas de funcionamento da empresa aluguel energia elétrica salários juros etc Fluxo de caixa de atividades de investimento Representa as entradas e saídas de caixa decorrentes da compra ou venda de itens do Ativo Não Circulante sendo mais comum aqueles incluídos no 19 Imobilizado São exemplos dessas operações a compra de máquinas e equipamentos para aumentar ou melhorar a operação a venda de bens antigos e obsoletos geralmente substituídos por novos dentre outros Fluxo de caixa de atividades de financiamento É elaborado com base em operações que envolvem a captação de recursos financeiros que podem ser obtidos com os proprietários capital próprio ou com terceiros por exemplo empréstimos obtidos em bancos representando entradas de caixa Os pagamentos das parcelas de empréstimos e financiamentos bem como os dividendos pagos aos acionistas são exemplos de saídas de caixa Métodos para elaboração da demonstração dos fluxos de caixa DFC A elaboração da DFC parte do saldo de caixa inicial no período apresenta o saldo de caixa das operações de cada categoria atividades operacionais de investimento e de financiamento e o correspondente aumento ou redução do caixa que resulta no saldo final de caixa Ela pode ser elaborada conforme dois métodos direto e indireto Os dois métodos apresentam o mesmo resultado mas são utilizados procedimentos diferentes para chegar ao fluxo de caixa Assaf Neto Lima 2019 Método Direto Demonstra todos os pagamentos e recebimentos que efetivamente resultaram na variação do fluxo de caixa Dessa forma as entradas e as saídas do Caixa são evidenciadas começando com as Receitas de Vendas por seus valores efetivamente recebidos Depois são considerados todos os pagamentos e recebimentos derivados das operações ocorridas no período Método Indireto Parte do lucro líquido do exercício para se conciliar com o caixa gerado pelas operações São realizados ajustes para demonstrar as operações que tiveram impactos no Lucro mas não afetaram o caixa Por exemplo as despesas não desembolsáveis portanto que 20 não afetam o Caixa tais como depreciação amortização Também considera as variações de contas do Ativo e Passivo Circulantes com exceção de Caixa e equivalentes Essa variação é apurada com o cálculo do Capital Circulante Líquido CCL utilizando o Balanço Patrimonial de dois exercícios CCL ano 1 Ativo Circulante Passivo Circulante Variação CCL CCL ano 1 CCL ano 2 CCL ano 2 Ativo Circulante Passivo Circulante A Figura 14 apresenta a estrutura para elaboração da DFC nos dois métodos Fonte Assaf Neto Lima 2019 p 214 Figura 14 Métodos para elaboração da Demonstração dos Fluxos de Caixa DFC Com base na estrutura apresentada por Assaf Neto e Lima 2019 vamos ver um exemplo de ambos os métodos Para isso consideraremos uma empresa que apresentou saldo inicial de Caixa disponibilidades no valor de R 550000 e saldo final de R 1925000 Quais operações foram responsáveis por essa variação do caixa Observe as DFCs elaboradas pelos dois métodos nos quadros 15 e 16 21 Quadro 15 Demonstração de fluxos de caixa Método Direto Fonte Autora 2023 Quadro 16 Demonstração de fluxos de caixa Método Indireto Fonte Autora 2023 Como foi comentado na apresentação dos métodos o resultado é o mesmo a diferença é a forma como as informações são organizadas para consolidar os fluxos de caixa das categorias e o fluxo final 1 Recebimento de clientes 12000 Pagamento de contas 850 Pagamento de despesas operacionais 500 Pagamento de Impostos 150 Disponibilidades líquidas geradas pelas atividades operacionais 10500 2 Empréstimos e financiamentos 2500 Aumento de capital 10000 Despesas financeiras 150 Pagamento de dividendos 500 Disponibilidades líquidas geradas pelas atividades de financiamento 11850 3 Aquisição de imobilizado 8000 Venda de imobilizado 250 Outros investimentos 350 Disponibilidades líquidas geradas pelas atividades de investimento 8600 A Disponibilidades no início do período 5500 B Disponibilidades no final do período 1 2 3 13750 AB RESULTADO FINAL DO CAIXA 19250 ATIVIDADES OPERACIONAIS ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO ATIVIDADES DE INVESTIMENTO 1 Lucro Líquido do exercício 6500 Depreciação 1200 Variações no circulante capital de giro 2800 Disponibilidades líquidas geradas pelas atividades operacionais 10500 2 Empréstimos e financiamentos 2500 Aumento de capital 10000 Despesas financeiras 150 Pagamento de dividendos 500 Disponibilidades líquidas geradas pelas atividades de financiamento 11850 3 Aquisição de imobilizado 8000 Venda de imobilizado 250 Outros investimentos 350 Disponibilidades líquidas geradas pelas atividades de investimento 8600 A Disponibilidades no início do período 5500 B Disponibilidades no final do período 1 2 3 13750 AB RESULTADO FINAL DO CAIXA 19250 ATIVIDADES DE INVESTIMENTO ATIVIDADES OPERACIONAIS ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO 22 Conclusão Começamos este bloco refletindo e discutindo as funções da contabilidade a partir da indagação dos motivos pelos quais se deve estudar Contabilidade Empresarial Os diversos autores apresentados permitem sintetizar que a contabilidade é uma arte e ao mesmo tempo uma ciência Por meio da coleta registro consolidação e análise das informações contábeis é possível que as informações de ganhos financeiros prejuízos e grau de endividamento por exemplo sejam facilmente lidas e interpretadas por todos os interessados Considerando o ambiente contemporâneo de negócios que exige eficiência na aplicação de recursos escassos e as dificuldades econômicas existentes é fundamental um mapeamento completo de informações para nortear as decisões E essas informações estão contidas nos relatórios elaborados pela contabilidade Avançando em nossos estudos vimos que a contabilidade registra as operações com base em dois regimes Competência e Caixa No Regime de Competência as operações são registradas no momento da ocorrência também chamado de Fato Gerador Significa que todas as receitas e as despesas devem ser contabilizadas pela data em que ocorreram mesmo que não tenham sido recebidas ou pagas Já no Regime de Caixa o registro acontece apenas quando há entrada ou saída efetiva de recursos do caixa da empresa Depois aprendemos sobre as principais demonstrações contábilfinanceiras que consolidam informações contábeis com formatos e objetivos diferentes Começando pelo Balanço Patrimonial estudamos que ele tem o objetivo de mostrar a situação patrimonial de uma empresa em determinado momento Ele é composto por Ativo Passivo e Patrimônio Líquido Conforme a equação patrimonial os valores totais do ativo e do passivo patrimônio líquido devem ser iguais Isso acontece porque o termo balanço é decorrente da ideia de uma balança com dois pratos que devem estar em equilíbrio 23 A Demonstração de Resultados do Exercício DRE sintetiza todas as movimentações das receitas e despesas da empresa em um determinado período Ela tem uma estrutura vertical e dedutiva começando com as Receitas depois deduzindo despesas e custos para obter o resultado que pode ser lucro ou prejuízo Por utilizar o Regime de Competência a DRE apura um resultado contábil ou econômico Finalizamos com a Demonstração de Fluxos de Caixa que é elaborada com base no Regime de Caixa ou seja evidencia entradas e saídas efetivas de caixa Por isso ela mostra o resultado financeiro Podendo ser elaborada pelos métodos direto ou indireto ela permite identificar o potencial de geração de caixa de uma empresa REFERÊNCIAS ASSAF NETO A LIMA F G Curso de administração financeira 4 ed São Paulo Atlas 2019 BONHO F T SILVA F M da ALVES A Contabilidade básica Porto Alegre Sagah 2021 GRIFFIN M P Contabilidade e finanças Tradução de Giovanna Matte e Giuliana Castorino São Paulo Saraiva 2012 IUDÍCIBUS S de MARION J C Curso de contabilidade para não contadores para estudantes e profissionais de administração economia direito engenharia e demais áreas de conhecimento 9 ed Barueri SP Atlas 2022 PADOVEZE C L Contabilidade Geral Curitiba Intersaberes 2016 RIBEIRO O M Contabilidade básica fácil 29 ed São Paulo Saraiva 2013 24 2 ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBILFINANCEIRAS Apresentação No primeiro bloco da disciplina procuramos responder ao questionamento sobre os motivos de ser necessário estudar Contabilidade Empresarial Apresentamos o papel e a relevância das informações contábeis e também os principais relatórios que consolidam essas informações Balanço Patrimonial Demonstração de Resultado do Exercício e Demonstração dos Fluxos de Caixa Agora você já sabe porque as informações contábeis são importantes para a tomada de decisão e também onde encontrar essas informações consolidadas e disponíveis para utilização com foco na gestão de resultados Então vamos avançar mais um pouco apresentando as principais técnicas utilizadas para análise das demonstrações contábilfinanceiras e como interpretar os resultados obtidos com a aplicação dessas técnicas Dessa forma com base nas demonstrações financeiras de uma empresa você poderá formular um parecer acerca da situação econômicofinanceira desta utilizando os indicadores de análise das suas demonstrações 21 Objetivos e cuidados da análise As demonstrações financeiras vistas de maneira isolada não apresentam potencial relevante para identificar os pontos positivos e as oportunidades de melhoria nas operações e na gestão das empresas Além disso nem todas as pessoas possuem o mesmo nível de conhecimento e experiência acerca das informações que constam dessas demonstrações Por isso é necessário que sejam utilizadas técnicas apropriadas destinadas a extrair das informações contábeis os subsídios necessários à análise de resultados Martins Miranda 2020 A utilização das informações contábeis para tomada de decisão acompanha um processo como você confere na Figura 21 25 Fonte Autora 2023 Figura 21 Processo de utilização das informações contábeis Você perceberá que as técnicas propostas são simples mas eficientes pois o objetivo é proporcionar recursos que auxiliem a tomar decisões com base em análises racionais Com elas você poderá desenvolver senso crítico para compreender e interpretar as informações financeiras conquistando maior confiança para lidar com as demonstrações contábilfinanceiras de uma empresa A literatura sobre contabilidade com foco em gestão financeira apresenta diversas técnicas e métodos para se analisar os dados das demonstrações contábeis Vamos enfatizar o aprendizado em dois tipos de técnica de análise Análises Horizontal e Vertical e Análise de Quocientes As Análises Horizontal e Vertical proporcionam visões diferentes dos resultados da empresa enquanto a horizontal evidencia a evolução dos itens ao longo do tempo a vertical demonstra a participação de cada item na composição dos resultados Quanto aos Quocientes eles são índices extraídos das demonstrações financeiras por meio de confrontos entre contas ou grupos de contas Explicando um pouco mais a técnica Quociente é o resultado de uma divisão aritmética 4 é o quociente da divisão simples assim Contas nomes dos lançamentos nas demonstrações Balanço Patrimonial Clientes Estoques Imobilizado Fornecedores etc Demonstração de Resultados Receita Bruta Lucro Bruto etc Grupos de contas agrupamento de diversas contas Balanço Patrimonial Ativo Circulante Passivo Circulante etc Demonstração de Resultados Despesas Operacionais Resultado Financeiro etc 12 3 4 26 Há diversos tipos de Índices que podem ser obtidos por meio de quocientes conforme o interesse de quem realiza a análise das demonstrações Enfatizaremos os mais importantes e mais utilizados em virtude de proporcionar uma visão abrangente da empresa e diversas possibilidades de análises São eles Índices de liquidez Índices de Estrutura de capital e endividamento e Índices de rentabilidade Interpretação dos índices Antes de começarmos a explorar os cálculos e análises obtidas com esses índices é importante falarmos sobre a interpretação desses índices pois quando realizada de forma adequada ela proporciona maior compreensão da situação econômica e financeira e também acerca do desempenho da empresa Apenas calcular os índices portanto não é suficiente É fundamental interpretar os resultados para entender cada aspecto que está sendo analisado com os índices Com base na ajuda dos autores Bazzi 2016 e também Martins e Miranda 2020 as várias maneiras de interpretar os índices estão a seguir Interpretação isolada É uma primeira forma de interpretação ou seja interpretar um índice por si só Não é uma maneira que produza resultados analíticos pois cada índice obtido precisa ser avaliado em um contexto mais amplo como as próximas formas de interpretação Comparação histórica Também chamada de interpretação evolutiva compara um índice no momento atual com aqueles obtidos pela empresa em anos anteriores É uma comparação útil para avaliar as mudanças observadas no índice ao longo do tempo e também para identificar tendências futuras Grupos de índice É a interpretação feita relacionando índices de um mesmo grupo ou de grupos diferentes Por exemplo analisar um índice de liquidez junto com os demais do mesmo grupo ou com de outros grupos Nesse contexto interpretar um índice de liquidez junto com um de rentabilidade ou atividade pode proporcionar melhor compreensão do seu comportamento e da situação que ele aponta Comparação com outras empresas Por este método os índices de uma empresa são comparados com índices de outras empresas pertencentes ao mesmo setor Essas comparações entre empresas são eficientes para determinar a posição competitiva de uma empresa Há diversas publicações especializadas que trazem informações de diversas empresas e setores tais como a revista Exame Maiores Melhores ou a Valor 1000 do Jornal Valor Econômico 27 Limitações da análise Como todo instrumento de análise as técnicas baseadas em informações contábeis também apresentam limitações Martins e Miranda 2020 p 1 destacam que a Contabilidade é um Modelo que procura representar o que vem ocorrendo com a empresa mas modelo por definição é uma aproximação simplificação da realidade nunca a própria realidade Sempre estará mostrando algo de maneira mais simplificada do que de fato é Por esse motivo ao utilizar a análise das demonstrações contábeis é preciso ter em mente que elas são parte da verdade sobre a situação econômico financeira de uma empresa Como representações que buscam retratar a realidade são sempre limitadas Para praticar as análises das próximas seções iremos utilizar as demonstrações de uma empresa fictícia adaptado de Martins e Miranda 2020 conforme quadros 21 e 22 Quadro 21 Balanço Patrimonial empresa fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 ITEMPERÍODO 1 2 3 ITEMPERÍODO 1 2 3 ATIVO PASSIVO Obrigações sociais e trabalhistas 178 195 217 Caixa e equivalentes de caixa 399 570 718 Fornecedores 269 320 372 Aplicações financeiras 860 898 1286 Contas a pagar 128 227 157 Contas a receber 1445 1603 1624 Empréstimos 451 518 776 Estoques 692 544 713 Passivo Circulante 1026 1260 1522 Ativo Circulante 3396 3615 4341 Financiamentos 1349 945 853 Realizável a longo prazo 187 210 226 Passivo não circulante 1349 945 853 Investimentos 156 118 106 Imobilizado 918 831 860 Capital 1740 1884 1943 Intangível 517 552 524 Reservas de capital 271 250 251 Ativo não Circulante 1778 1711 1716 Reservas de lucros 788 987 1488 Patrimônio Líquido 2799 3121 3682 TOTAIS 5174 5326 6057 TOTAIS 5174 5326 6057 BALANÇO PATRIMONIAL 28 Quadro 22 Demonstração de Resultado do Exercício empresa fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 22 Análises horizontal e vertical A análise das demonstrações contábeis se dá principalmente pela comparação de valores entre contas ou de grupos de contas em determinado exercício ou de exercícios diferentes Por meio delas é possível avaliar cada uma das contas ou grupo de contas das demonstrações contábeis de maneira rápida e simples comparando as contas entre si e sua evolução em diferentes períodos Iudícibus Marion 2022 Ribeiro 2014 Análise Horizontal AH É uma análise temporal que permite identificar a evolução das contas individuais e também dos grupos de contas por meio de númerosíndices Inicialmente é necessário estabelecer uma database normalmente a demonstração mais antiga que terá o valor índice 100 Como ela revela a evolução dos itens das demonstrações financeiras ao longo dos anos possibilita o acompanhamento do desempenho ressaltando as tendências verificadas em cada uma delas crescimento ou queda Martins Miranda 2022 Iudícibus Marion 2022 Cálculo dos númerosíndice Valor da conta no Ano Desejado Valor da conta no Ano Base AH X 100 29 O ano mais antigo é igual a 100 e sobre ele são calculados os demais A parcela superior a 100 representa o percentual de aumento na conta Quando for menor que 100 houve redução Vamos a um exemplo uma empresa apresenta os valores a seguir no seu Balanço Patrimonial Informações do Balanço Cálculos da Análise Horizontal Conta Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 2 350000 400000 X 100 875 Estoques 400000 350000 485000 Ano 3 485000 400000 X 100 1213 No nosso exemplo houve queda de 125 no Ano 2 100 875 e aumento de 213 no Ano 3 Aplicando esse cálculo às demonstrações da Empresa Fictícia começaremos com o Balanço Patrimonial O resultado você pode verificar na Tabela 21 Tabela 21 Análise Horizontal do Balanço Patrimonial Empresa Fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 Diversas conclusões podem ser extraídas dos númerosíndices obtidos Vamos a algumas delas Ativo total e grupos de contas Essa comparação permite concluir que a empresa tem reduzido os investimentos em ativos com menor liquidez privilegiando os bens e direitos de curto prazo Em outras palavras os recursos estão sendo direcionados para as operações diárias da empresa Item Ano 2 Ano 3 AT 29 171 AC 64 278 ANC 38 35 30 Ativo circulante A comparação entre as variações do Ativo Circulante e de suas contas confirmam a conclusão anterior No Ano 2 as contas mais líquidas tiveram aumento enquanto os estoques tiveram queda O mesmo se repete no Ano 3 mesmo com o crescimento dos estoques ele foi bem inferior ao das demais contas Destaque para Caixa e equivalentes com o aumento mais significativo nos dois anos analisados Ativo não circulante As contas de Investimentos e Imobilizado acompanharam a evolução do Ativo não Circulante registrando queda nos 2 anos Destaque para a redução dos investimentos muito superior à queda do ANC total O aumento do RLP não foi suficiente para compensar a queda das demais contas Passivo total e grupos de contas O aumento do Passivo Circulante combinado à redução do Não Circulante mostra uma tendência de maior risco financeiro pois a empresa parece estar substituindo dívidas de longo por curto prazo O ponto positivo é o aumento do capital próprio nos dois períodos que pode compensar a dependência da empresa para capitais de terceiros de curto prazo Passivo circulante Não há regularidade na evolução das contas pois apesar de todas apresentarem aumento nos dois anos o nível de variação foi diferente Por exemplo no ano 2 a variação mais relevante foi Contas a Pagar 773 enquanto no Ano 3 os Empréstimos cresceram 721 Requer análise mais detalhada com as demais técnicas 31 Passivo não circulante Como esse grupo apresenta apenas a conta Financiamentos toda variação está concentrada nela Comparando a queda desses recursos de longo prazo com a redução do Imobilizado normalmente financiado por esse tipo de recursos há certa coerência entre os resultados Patrimônio líquido Fica evidente a participação dos Lucros obtidos pela empresa nos aumentos do Capital Especialmente no ano 3 cujo aumento foi superior a 80 Vamos fazer também a Análise Horizontal da Demonstração de Resultados do Exercício Tabela 22 Tabela 22 Análise Horizontal da DRE Empresa Fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 Nos dois períodos o crescimento do Lucro Líquido 478 e 85 foi inferior ao das Receitas 683 e 955 Por isso a análise procura identificar quais foram as contas que aumentaram mais que a receita portanto contribuíram para que os lucros não acompanhassem a evolução das vendas Na Empresa Fictícia as Despesas Operacionais mais que dobraram 1095 e 1759 no período O CMV também aumentou mais que as receitas sendo 741 no ano 1 e quase dobrou no ano 2 985 Do ponto de vista da gestão de resultados essas contas precisam ser analisadas de maneira detalhada para identificar quais ações corretivas precisam ser implementadas ITEMPERÍODO Ano 1 AH Ano 2 AH Ano 3 AH Receita líquida 3092 100 5202 1683 6044 1955 Custo das mercadorias vendidas 1846 100 3214 1741 3664 1985 Lucro Bruto 1246 100 1988 1596 2380 1910 Despesas operacionais 497 100 1041 2095 1371 2759 Lucro antes dos juros e tributos 749 100 947 1265 1009 1347 Resultado financeiro 325 100 330 1015 220 677 Lucro antes dos tributos 424 100 617 1456 789 1861 Provisão de tributos 17 100 16 941 36 2118 Lucro Líquido 407 100 601 1478 753 1850 DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADO DO EXERCÍCIO 32 Análise Vertical AV Enquanto a Análise Horizontal evidencia a variação entre dois ou mais anos a Vertical é realizada para cada ano individualmente Por meio dela são extraídos os índices que revelam o percentual de participação de cada conta ou grupo de contas no total ou subtotal que é utilizado como base Martins Miranda 2022 Iudícibus Marion 2022 Cálculo dos índices Por exemplo uma empresa avalia a participação das contas de seu Ativo Circulante conforme informações de seu Balanço Patrimonial A partir dos resultados da Análise Vertical a empresa identificou que mais de 80 do seu Ativo Circulante é composto por Contas a Receber e Estoques sendo esses últimos responsáveis por metade do AC Vamos verificar como ficou a Análise Vertical para a Empresa Fictícia começando com o Ativo conforme Tabela 23 Tabela 23 Análise Vertical do ATIVO Empresa Fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 ITEMPERÍODO Ano 1 AV Ano 2 AH Ano 3 AH ATIVO Caixa e equivalentes de caixa 399 77 570 107 718 119 Aplicações financeiras 860 166 898 169 1286 212 Contas a receber 1445 279 1603 301 1624 268 Estoques 692 134 544 102 713 118 Ativo Circulante 3396 656 3615 679 4341 717 Realizável a longo prazo 187 36 210 39 226 37 Investimentos 156 30 118 22 106 18 Imobilizado 918 177 831 156 860 142 Intangível 517 100 552 104 524 87 Ativo não Circulante 1778 344 1711 321 1716 283 TOTAIS 5174 100 5326 1000 6057 1000 BALANÇO PATRIMONIAL 33 A Análise Vertical do Ativo ratifica as conclusões feitas na AH pois a participação do Ativo Circulante no Ativo Total aumentou ao longo do período Passou de 656 no ano 1 para 717 no Ano 3 revelando maiores investimentos em ativos mais líquidos O item que tem maior participação no Ativo Total são as Contas a Receber representando 279 no ano 1 301 no ano 2 e 268 no ano 3 Nos anos 1 e 2 Aplicações Financeiras e Imobilizado tinham participação bem próxima na formação do Ativo Total entre 16 e 17 No entanto no ano 3 as aplicações tiveram aumento de participação atingindo 212 enquanto o Imobilizado caiu para 142 Tabela 24 Análise Vertical do PASSIVO Empresa Fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 A Análise Vertical revela a preferência da empresa pela utilização de capital próprio pois o Patrimônio Líquido representa mais da metade do capital utilizado pela empresa Além disso a participação do PL como fonte de recursos aumentou passando de 541 no ano 1 para 608 no ano 3 A participação do Capital se manteve relativamente estável enquanto as Reservas de Lucros aumentaram de 152 no ano 1 para 246 no ano 3 Quanto ao capital de terceiros aqui também a AV ratifica a AH pois a participação das obrigações de curto prazo PC aumentou de 198 no ano 1 para 251 no ano 3 No mesmo período as dívidas de longo prazo caíram de 261 para 141 Reforçase a tendência de substituição de dívidas de longo prazo pelas de curto prazo Destacase o aumento de participação dos empréstimos que passou de 87 no ano 1 para 128 no ano 3 34 Tabela 25 Análise Vertical da DRE Empresa Fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 A Análise Vertical é especialmente importante para a DRE pois auxilia na identificação dos custos e despesas que mais consumiram as receitas Na empresa em análise ainda que o Lucro Líquido tenha aumentado em números absolutos fato evidenciado na AH sua participação em relação à Receita Líquida caiu no período avaliado Isso quer dizer que uma parcela menor das receitas está retornando na forma de lucros Ainda que essa oscilação seja pequena é preciso identificar as fontes causadoras O CMV teve sua participação relativamente estável em torno de 60 Enquanto as despesas financeiras caíram de 105 no ano 1 para 36 no ano 3 As Despesas Operacionais aumentaram sua participação no consumo de receitas em todo o período passando de 161 no ano 1 para 227 no ano 3 23 Análise de liquidez A palavra liquidez é utilizada para verificar a velocidade com a qual um ativo da empresa pode ser transformado em dinheiro Nesse sentido os índices de liquidez apresentam a situação financeira de uma empresa em relação aos compromissos financeiros assumidos por isso evidenciam a sua capacidade de arcar com as dívidas assumidas Iudícibus Marion 2022 Ribeiro 2014 Os índices do grupo Análise de Liquidez são obtidos com a comparação dos ativos e passivos da empresa presentes em seu Balanço Patrimonial Por meio da comparação de contas do Circulante e Não Circulante é possível observar a capacidade de pagamento de curto e longo prazos ITEMPERÍODO Ano 1 AV Ano 2 AV Ano 3 AV Receita líquida 3092 100 5202 100 6044 100 Custo das mercadorias vendidas 1846 597 3214 618 3664 606 Lucro Bruto 1246 403 1988 382 2380 394 Despesas operacionais 497 161 1041 200 1371 227 Lucro antes dos juros e tributos 749 242 947 182 1009 167 Resultado financeiro 325 105 330 63 220 36 Lucro antes dos tributos 424 137 617 119 789 131 Provisão de tributos 17 05 16 03 36 06 Lucro Líquido 407 132 601 116 753 125 DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADO DO EXERCÍCIO 35 Liquidez Geral LG Esse índice serve para detectar a saúde financeira de longo prazo da empresa Por meio dele é possível identificar o valor disponível de ativos de curto e longo prazos para sustentar as obrigações também de curto e longo prazos Em outras palavras quantos R reais estão alocados nos ativos para cada R 100 de obrigação constante no passivo Iudícibus Marion 2022 Ribeiro 2014 Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto maior melhor Liquidez Corrente LC É um índice que revela a capacidade financeira de uma empresa cumprir os seus compromissos de curto prazo Ele mostra quanto a empresa tem de Ativo Circulante para cada R 100 de Passivo Circulante É considerado o indicador que mais bem expressa o grau de liquidez da empresa por isso também é chamado de medida de solvência Ribeiro 2014 Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto maior melhor A interpretação desse índice permite verificar a existência ou não do Capital Circulante Líquido CCL que é calculado com a seguinte fórmula CCL Ativo Circulante Passivo Circulante Assim quando o índice for maior que 1 um indica que há folga financeira de curto prazo que corresponde ao Capital Circulante Líquido Essa folga financeira permite que a empresa realize suas transações como aquisição de estoques ou aplicações financeiras sem prejudicar a sua liquidez 36 Liquidez Seca LS É o índice que demonstra a capacidade financeira líquida da empresa para cumprir as obrigações de curto prazo Ou seja mostra que a empresa tem de Ativo Circulante de forma mais líquida cada R 100 de obrigações do Passivo Circulante Ribeiro 2014 Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto maior melhor A exclusão dos estoques permite verificar a capacidade de pagamento em curto prazo considerando apenas os ativos com maior velocidade para transformação em dinheiro Especialmente em empresas industriais os estoques demoram mais tempo para se converterem em ativos líquidos pois as matériasprimas precisam ser convertidas em produtos que depois serão vendidos Por isso é um dos indicadores mais utilizados por instituições financeiras para conceder crédito à empresa Liquidez Imediata LI Mostra quanto a empresa tem de dinheiro em Caixa ou equivalentes de caixa para arcar com as obrigações de curto prazo Assim evidencia quanto em dinheiro a empresa possui para cada R 100 de dívidas constantes no Passivo Circulante Permite identificar se existe necessidade de a empresa recorrer a algum tipo de operação financeira para pagar as obrigações de curto prazo Ribeiro 2014 Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto maior melhor Para Martins e Miranda 2022 as empresas geralmente mantêm poucos recursos alocados em caixa ou equivalentes pois eles ficam sujeitos aos efeitos da inflação Dessa forma o índice de liquidez imediata quase sempre é baixo Os cálculos dos índices de liquidez para nossa empresa fictícia você confere no Quadro 23 Ativo circulante Estoques Passivo circulante Liquidez Seca LS Disponibilidades Passivo circulante Liquidez Imediata LI 37 Quadro 23 Índices de Liquidez empresa fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 Como podemos analisar esses índices Vamos a alguns comentários sobre cada um deles Liquidez Geral a empresa tem boa capacidade para arcar com todas as dívidas e ainda sobram R 051 no ano 1 R 073 no ano 2 e R 092 no ano 3 para realização de outros investimentos o que revela boa capacidade de pagamento Vale destacar a análise de tendência positiva pois o índice apresentou aumento ao longo do período avaliado Liquidez Corrente para arcar com obrigações de curto prazo a empresa mostra excelente liquidez Com índice maior que 1 um há uma folga financeira considerável Capital Circulante Líquido CCL pois a empresa tem R 300 ou quase isso de ativos para cada R 100 de obrigações No entanto o índice está em queda no período em análise o que deve ser acompanhado com cuidado Liquidez Seca percebese que a empresa apresenta baixa dependência dos estoques para arcar com as obrigações de curto prazo Em todos os períodos há mais de R 200 em ativos líquidos para cada R 100 de obrigações Porém assim como a liquidez corrente o índice apresenta queda e deve também ser acompanhado pelos gestores Liquidez Imediata o índice vem aumentando ao longo dos três períodos analisados Dessa forma a análise do índice revela que a empresa vem fortalecendo sua capacidade de liquidar dívidas de curtíssimo prazo Índice 3583 3825 4567 2375 2205 2375 3396 3615 4341 1026 1260 1522 2704 3071 3628 1026 1260 1522 399 570 718 1026 1260 1522 Liquidez Imediata Período 1 Período 2 Período 3 Liquidez Geral Liquidez Corrente Liquidez Seca 039 045 047 264 244 238 331 287 285 151 173 192 38 24 Análise de endividamento Os índices utilizados para análise de endividamento também são chamados de Índices de Estrutura de Capital uma vez que procuram identificar o nível de endividamento da empresa com base na forma como ela capta seus recursos Capital Próprio ou Capital de Terceiros Assim eles ajudam a estabelecer relações entre as fontes de financiamento próprio e de terceiros demonstrando a dependência da empresa em relação aos recursos de terceiros Bazzi 2016 Ribeiro 2014 Os índices do grupo Análise de Endividamento são obtidos com a comparação dos ativos e passivos da empresa presentes em seu Balanço Patrimonial Endividamento Geral EG Esse indicador também é chamado de Participação de Capital de Terceiros pois ele revela a proporção existente entre Capitais de Terceiros e Capitais Próprios ou seja quanto a empresa utiliza de Capitais de Terceiros para cada R 100 de Capital Próprio De maneira geral é possível afirmar que quanto menor for a Participação de Capitais de Terceiros na empresa menor será seu grau de endividamento e maior será sua liberdade financeira para tomar decisões Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto menor melhor Ribeiro 2014 alerta que quando o grau de endividamento for elevado a empresa poderá encontrar dificuldades para obter de recursos financeiros no mercado porque serão poucas as garantias disponíveis para oferecer em troca de recursos sejam eles destinados à expansão do negócio ou mesmo a cobrir compromissos imediatos ou inesperados Composição do endividamento CE Tem por objetivo mostrar a proporção das dívidas da empresa que vencem em curto prazo comparandoas com as de longo prazo Transformando em valores o índice Capitais de Terceiros Patrimônio Líquido Endividamento 39 revela quanto a empresa terá que pagar em curto prazo para cada R 100 de dívida total Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto menor melhor Na interpretação desse índice não existem regras fixas pois Martins e Miranda 2020 argumentam que cada empresa procura uma estrutura combinação de capitais que otimize seus resultados No entanto empresas com grande proporção de dívidas de curto prazo podem ser obrigadas a tomar decisões desfavoráveis quando surpreendidas por uma crise para arcar com suas obrigações Por exemplo queima de estoques a preços baixos grandes descontos para recebimento de clientes etc Por isso uma empresa com menor nível de endividamento no curto prazo frequentemente oferece menor risco Imobilização do Patrimônio Líquido IPL O índice apresenta a parcela do capital próprio que está investida em ativos de baixa liquidez tais como os Ativos Imobilizados Investimentos ou Ativos Intangíveis Em outras palavras ele evidencia a parcela do Patrimônio Líquido que foi utilizada para financiar a compra de ativos fixos Ou ainda quanto a empresa imobilizou em ativos fixos para cada R 100 de seu Patrimônio Líquido Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto menor melhor A lógica que conduz a análise desse índice está no fato de que quanto mais recursos próprios a empresa investir em ativos de baixa liquidez imobilizado investimentos e intangíveis menos recursos sobrarão para investir em Ativos Circulantes Por esse motivo todas as aplicações de curto prazo que são necessárias para o dia a dia da empresa terão que ser financiadas com recursos de terceiros O ideal é que a empresa financie o Ativo Circulante com recursos próprios para diminuir a dependência de terceiros e consequentemente o risco Martins Miranda 2020 40 Imobilização dos Recursos Não Correntes IRnC Os Recursos não Correntes são todos os recursos de longo prazo da empresa representados pela soma do Patrimônio Líquido e o Ativo não Circulante O índice revela quanto a empresa investiu em ativos de menor liquidez imobilizado investimentos e intangível para cada R 100 desses recursos Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto menor melhor Andrich 2014 argumenta que como os itens que compõem os grupos de Investimentos Imobilizado e Intangível possuem vida útil bastante superior aos demais ativos não há problema em financiar esses ativos com recursos de terceiros O cuidado deve ser para que o financiamento seja feito com recursos de longo prazo Passivo não Circulante É preciso atenção quando o índice for superior a 10 porque isso significa que uma parte dos ativos fixos está sendo financiada por recursos de curto prazo Passivo Circulante Esse é um sinal de desequilíbrio financeiro Veja os cálculos desses indicadores para a empresa fictícia no Quadro 24 a seguir Quadro 24 Índices de endividamento ou estrutura de capital empresa fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 Índice 2375 2205 2375 2799 3121 3682 1026 1260 1522 2375 2205 2375 1591 1501 1490 2799 3121 3682 1591 1501 1490 4148 4066 4535 033 Imobilização RnC 038 037 064 Imobilização PL 057 048 040 Composição do endividamento 043 057 Período 1 Período 2 Período 3 Endividamento Geral 085 071 065 41 Vamos comentar um pouco os índices extraídos para a empresa fictícia Endividamento geral no período 1 o endividamento foi equivalente a 85 do Patrimônio Líquido PL com evolução em queda até atingir 65 do PL no período 3 Percebese que a empresa está atuando para reduzir o endividamento substituindo capital de terceiros por capital próprio Composição do endividamento este índice tem trajetória diferente pois a empresa inicia com 43 das suas dívidas vencendo em curto prazo com o índice aumentando no período analisado até atingir 62 das dívidas Notase uma tendência de substituição de obrigações de longo prazo para curto prazo o que é preocupante Reduz a flexibilidade das decisões da empresa pois terá menos tempo para gerar recursos com suas operações e arcar com as dívidas Imobilização do Patrimônio Líquido o índice mostra que no início do período analisado a empresa havia imobilizado 57 do Patrimônio Líquido reduzindo esse nível até chegar ao período 3 com 40 Demonstra esforço da empresa para liberar capital próprio para investir em Ativos Circulantes reduzindo sua dependência do capital de terceiros para o dia a dia Imobilização dos Recursos Não Correntes da mesma forma que a imobilização do PL o nível de imobilização de recursos não correntes foi reduzido ao longo do tempo De 38 no período 1 para 33 no período 3 Mostra equilíbrio financeiro na utilização de recursos para financiar ativos com menor liquidez 25 Análise de rentabilidade Neste grupo de índices o foco está em medir a capacidade econômica da empresa mais especificamente o nível de seu desempenho para obter resultados econômicos com base no capital investido Nesse contexto o objetivo é mensurar a taxa de lucro obtida com o capital próprio bem como com os investimentos em ativos que foram feitos com o capital para gerar receitas Neste grupo também são utilizadas as informações do Balanço Patrimonial e a da Demonstração de Resultado do Exercício para extrair os índices Martins Miranda 2020 Giro do Ativo GA É um índice que compara as vendas realizadas com os investimentos realizados nos ativos Quanto mais a empresa conseguir girar o seu ativo melhores serão os resultados Ele expressa quanto a empresa vendeu para cada R 100 investido 42 Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto maior melhor O volume ideal de vendas de cada empresa varia de acordo com seu ramo de atividade pois os gastos necessários para as atividades da empresa variam conforme o ramo de negócio De qualquer forma ele deve ser suficiente para cobrir os gastos e gerar uma boa margem de lucro É esperado que o índice seja maior que 1 um pois indica que o volume de vendas superou o valor investido na empresa Margem Líquida ML É um índice que pode assumir outros nomes tais como Índice de Lucratividade pois ele demonstra a margem de lucratividade obtida pela empresa em relação ao seu faturamento O indicador revela quanto a empresa obteve de lucro para cada R 10000 de vendas Ribeiro 2014 Martins Miranda 2020 Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto maior melhor É um indicador importante porque uma empresa pode aumentar suas vendas e não conseguir transformar esse aumento em lucro Dessa forma ao analisar o indicador conforme as vendas aumentam a empresa pode analisar se o esforço e os gastos gerados para ampliar as receitas estão sendo recompensados com o aumento de lucros Retorno do Investimento ROI Também é um indicador que recebe outros nomes o mais comum é Rentabilidade do Ativo No entanto a nomenclatura retorno sobre o investimento revela melhor a sua natureza O motivo é simples pois os Ativos da empresa foram financiados com os recursos próprios e de terceiros que estão no Passivo do balanço ou seja os capitais foram investidos nos ativos Ele revela quanto a empresa gerou de lucros para cada R 10000 investidos em ativos Lucro Líquido Receita Líquida X 100 Margem Líquida 43 Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto maior melhor Na prática é um dos indicadores mais utilizados na prática porque a empresa precisa de investimentos em instalações ferramentas máquinas estoques etc para exercer suas atividades Então verificar se os investimentos estão proporcionando os resultados esperados é muito importante Retorno do Patrimônio Líquido RPL Aqui também temos diferenças de nomenclatura mas é importante destacar que é bastante mencionado por sua sigla em inglês ROE Return On Equity que significa Retorno sobre o Capital Investido pelos Proprietários ou seja o Patrimônio Líquido Por isso fique atento para não confundir ROI com I de Investimento com ROE com E em referência ao capital dos proprietários O indicador revela quanto a empresa gerou de lucro para cada R 10000 investido pelos sócios proprietários ou acionistas Martins Miranda 2020 Iudícibus Marion 2022 Fórmula para cálculo Interpretação básica Quanto maior melhor Por evidenciar o retorno sobre o Patrimônio Líquido esse indicador revela a capacidade de a empresa remunerar o capital que foi investido pelos sócios Afinal se não fosse o capital trazido pelos sócios a empresa não existiria Assim é preciso remunerar bem aquelas que criaram e investiram na empresa Chegou o momento de apresentarmos os índices da empresa fictícia Vamos a eles 44 Quadro 25 Índices de rentabilidade empresa fictícia Fonte Autora com base em Martins e Miranda 2020 O que pode ser comentado sobre esses índices Vamos ver Giro do Ativo o índice revela que a empresa no início do período avaliado conseguiu gerar R 060 de receitas para cada R 100 de ativos Ao longo do período houve melhora representativa alcançando R 100 Significa que ela já consegue um volume de vendas igual ao valor investido em seus ativos Margem Líquida índice que apresenta relativa estabilidade ao longo do período com variação de aproximadamente R 100 na relação entre lucros e receitas Significa que o aumento das vendas tem sido acompanhado de um nível oscilante de lucros caindo de R 1316 para R 1156 e aumentando ligeiramente para R 1246 Retorno do Investimento índice com trajetória de melhoria pois a empresa passou de R 787 de lucros para cada R 10000 de investimento em ativos no período 1 para R 1246 no período 3 Uma trajetória que evidencia que os ativos têm sido utilizados com sucesso para gerar lucros Retorno do Patrimônio Líquido o índice apresenta aumento expressivo entre os períodos 1 e 2 pois houve aumento de R 473 para cada R 10000 investidos pelos sócios Percebese estabilidade no período 3 com aumento de pouco mais de R 100 Essa evolução indica que houve melhora na capacidade de a empresa remunerar o capital que foi investido pelos sócios Conclusão Neste bloco vimos que a utilização das demonstrações financeiras para tomada de decisão requer o uso de técnicas que permitem extrair índices para análise da situação econômicofinanceira de uma empresa Além de calcular esses índices é necessário interpretálos utilizando as técnicas de comparação histórica grupos de índices e a comparação com outras empresas Também vimos que esse tipo de análise tem suas Índice 3092 5202 6044 5174 5326 6057 407 601 753 3092 5202 6044 407 601 753 5174 5326 6057 407 601 753 2799 3121 3682 060 098 100 X 100 2045 1927 Período 3 012 X 100 1246 012 X 100 1243 020 019 X 100 1156 Retorno do Investimento 008 X 100 787 011 X 100 1129 Período 2 Margem Líquida 013 X 100 1316 012 X 100 Período 1 Retorno do Patrimônio Líquido 015 X 100 1454 Giro do Ativo 45 limitações tendo em vista que a Contabilidade é um modelo que simplifica a situação da empresa Começamos com as Análises Horizontal e Vertical destinadas a extrair índices que indicam relações entre os dados das demonstrações Enquanto a Análise Horizontal se preocupa com a evolução dos itens ao longo de determinado período de tempo identificando aumentos reduções e tendências futuras a Análise Vertical se destina a verificar a participação de contas e grupos de contas em totais e subtotais das demonstrações Prosseguimos com os indicadores para Análise de Liquidez que apresentam a situação financeira de uma empresa em relação aos compromissos financeiros assumidos por isso evidenciam a sua capacidade de arcar com as dívidas assumidas Estudamos a Liquidez Geral Corrente Seca e Imediata Passamos à Análise de Endividamento destinada a identificar o nível de endividamento da empresa com base na forma como ela capta seus recursos Capital Próprio ou Capital de Terceiros Nesse grupo estudamos Endividamento Geral Composição do Endividamento Imobilização do Patrimônio Líquido e Imobilização dos Recursos Não Correntes Chegamos ao final com a Análise de Rentabilidade que auxilia a mensurar a capacidade econômica da empresa mais especificamente o nível de seu desempenho para obter resultados econômicos com base no capital investido Nesse grupo os índices estudados foram Giro do Ativo Margem Líquida Retorno do Investimento e Retorno do Patrimônio Líquido REFERÊNCIAS ANDRICH E G et al Finanças corporativas análise de demonstrativos contábeis e de investimentos Curitiba InterSaberes 2014 BAZZI S org Análise das demonstrações contábeis São Paulo Pearson Education do Brasil 2016 46 IUDÍCIBUS S de MARION J C Curso de contabilidade para não contadores para estudantes e profissionais de administração economia direito engenharia e demais áreas de conhecimento 9 ed Barueri SP Atlas 2022 MARTINS E MIRANDA G J DINIZ J A Análise didática das demonstrações contábeis 3 ed São Paulo Atlas 2020 RIBEIRO O M Estrutura e análise de balanços fácil 11 ed São Paulo Saraiva 2014 47 3 A MATEMÁTICA DAS FINANÇAS Apresentação No nosso dia a dia lidamos com dinheiro para atender diversas de nossas necessidades Além disso o dinheiro também é uma necessidade para que possamos atingir muitos de nossos objetivos tais como comprar a casa própria fazer uma viagem de férias estudar um outro idioma etc Do ponto de vista da gestão organizacional o dinheiro é a base para a própria existência de uma empresa sem capital uma empresa sequer pode existir e para a continuidade de suas operações Na nossa vida pessoal questões como comprar à vista a prazo ou com desconto quanto poupar para conseguir um certo volume de dinheiro qual opção de financiamento é mais adequada são algumas das perguntas que fazemos para usar nosso dinheiro da melhor forma possível E nas empresas Essas indagações são também muito importantes Um gestor de marketing e vendas precisa por exemplo analisar se é melhor vender à vista com desconto ou em parcelas e qual número de parcelas é mais adequado Na área de recursos humanos também há decisões que envolvem dinheiro tais como quanto é possível pagar de comissão aos vendedores sem comprometer as finanças da empresa E essas decisões se repetem em todas as áreas compras transportes armazenamento etc Para ajudar na tomada de decisões como os exemplos mencionados da melhor forma possível este bloco traz o conteúdo necessário para que você possa distinguir o valor do dinheiro em diferentes horizontes temporais e sistemas de capitalização aplicando os princípios e operações de Matemática Financeira 48 Dessa forma este bloco apresenta as relações entre dinheiro e tempo além de explorar os conceitos de diagramas de fluxos de caixa juros e taxas avançando nas operações de juros simples e compostos e também as de descontos 31 Terminologia e convenções Para começarmos a desvendar o universo da Matemática Financeira é importante conhecermos os termos mais utilizados terminologia bem como os acordos ou padrões que são aceitos nesses estudos convenções A partir dos autores Bruni 2019 Hoji 2016 e Assaf Neto 2023 vamos abordar essa terminologia e suas convenções Diagrama de Fluxo de Caixa É a forma mais utilizada para sintetizar os diversos elementos envolvidos em uma transação financeira bem como para expressar as relações entre dinheiro e tempo Ele mostra as movimentações do dinheiro recursos monetários que acontecem em momentos diferentes ao longo do tempo revelando as entradas e saídas Veja um exemplo desse diagrama na Figura 31 a seguir Fonte Hoji 2016 p 14 Figura 31 Diagrama de Fluxo de Caixa 49 A Figura 31 revela dois conceitos importantes que revelam as principais convenções em Matemática Financeira a escala de tempo e as movimentações de capital Por se tratar de convenções universalmente aceitas um diagrama de fluxo de caixa elaborado em qualquer idioma terá essa representação e significado Escala de tempo é o horizonte financeiro da operação registrado na linha horizontal O ponto zero indica o momento inicial da operação e os demais pontos mostram os períodos de tempo datas que podem ser expressos em dias meses trimestres semestres anos etc Movimentações de capital as setas direcionadas para cima da linha do tempo mostram as entradas ou recebimentos de dinheiro enquanto as setas apontadas para baixo da linha revelam as saídas ou aplicações de dinheiro A compreensão da movimentação do dinheiro no tempo por meio dos diagramas de fluxo de caixa é de fundamental importância na análise de qualquer operação financeira Assim antes de realizar qualquer cálculo é importante desenhar a movimentação da operação Terminologia Com base no diagrama na Figura 31 vamos explorar os seus componentes apresentando os principais termos utilizados e suas representações nos cálculos realizados Confira uma síntese desses termos no Quadro 31 Quadro 31 Terminologia em Matemática Financeira Termo Representação Descrição Capital C Corresponde ao recurso financeiro que o seu proprietário cede temporariamente ao tomador Por isso é uma saída de caixa Pode ser um empréstimo concedido pelo banco ou uma aplicação feita por um investidor Também pode ser chamado de principal capital inicial e valor atual Na Figura 31 o Capital tem o valor de R 10000 Valor Presente VP ou PV Juro J É o preço pago pelo uso de um capital por certo período de tempo representa o valor da remuneração de um investimento ou o valor pago pelo empréstimo de um capital 50 O valor do juro é calculado a partir da taxa de juro definida para cada operação para o investidor o juro representa a Remuneração do Capital Aplicado para o tomador de recursos o juro é o Custo do Empréstimo Na Figura 31 o valor de juro é de R 1500 Taxa de juro i A taxa de juro é o coeficiente que determina o valor do juro isto é a remuneração do capital utilizado durante certo período de tempo É representada pela letra i porque utiliza sua expressão em inglês interest Ela se refere sempre a uma unidade de tempo mês semestre ano etc e pode ser representada de duas maneiras Taxa percentual percentual que se aplica ao capital para calcular o valor do juro Taxa unitária para elaborar cálculos manuais as taxas expressas em forma percentual devem ser divididas por 100 transformando as em forma unitária ou decimal Na Figura 31 a taxa de juro é de 15 correspondendo à taxa do período todo da operação financeira Montante M Representa a soma do capital inicial mais os juros capitalizados durante o período Também pode ser chamado de valor acumulado Na Figura 31 o montante é de R 11500 Valor Futuro VF ou FV Período de tempo É o período de tempo a que se refere a taxa de juros Pode ser mensal anual trimestral etc Por isso a taxa de juros sempre deve apresentar o período de tempo após o símbolo de Na Figura 31 o período da taxa de juros é anual 15 ao ano Número de capitalização n Corresponde à duração em dias semanas meses anos etc da operação financeira É expresso em unidades do período a que a taxa se refere Por exemplo se a taxa estiver apresentada em a m por cento ao mês o tempo ou o número de períodos de capitalização devem ser apresentados em número de meses 51 Quando taxa e número de período apresentarem unidades diferentes por convenção não se deve alterar a taxa de juros O tempo ou o número de períodos devem ser alterados e ajustados Na Figura 31 o período de capitalização da operação financeira é quadrimestral pois existem três capitalizações no período de um ano Prazo da operação financeira Espaço de tempo em que o capital ficou ou ficará em poder do tomador rendendo juro Na Figura 31 esse prazo é de 1 ano Fonte elaborado pela autora com base em Bruni 2019 Hoji 2016 e Assaf Neto 2023 Para finalizar esta seção Hoji 2016 apresenta mais duas características e condições que devem ser observadas em uma operação financeira Forma de pagamento de juros determina como os juros são pagos e a sua periodicidade Os juros podem ser pagos mensalmente trimestralmente anualmente etc Forma de resgate ou amortização pode ser de uma única vez ao final do prazo da operação ou em parcelas intermediárias Quando o tomador devolve o capital em parcelas ocorre a amortização do empréstimo e quando não existir mais saldo a amortizar a operação financeira terá sido totalmente liquidada 32 O valor do dinheiro no tempo Para compreender o conceito de valor do dinheiro no tempo vamos começar com uma pergunta simples Você aceitaria aplicar R 100000 hoje e receber o mesmo valor daqui a um ano Com certeza você responderia que não Mas por que você daria essa resposta De maneira intuitiva todo mundo sabe que R 100000 daqui a um ano deve valer mais do que R 100000 de hoje Esse é o conceito de valor do dinheiro no tempo As variáveis presentes no conceito de valor do dinheiro no tempo estão descritas na terminologia que estudamos na seção anterior além do capital está envolvido o juro 52 que depende da taxa e do número de capitalização Dessa forma um valor em dinheiro cresce ao longo do tempo em função do acréscimo de juros Hoji 2016 utiliza uma ilustração para exemplificar esse efeito no qual o capital seria uma caixa Observe na Figura 32 como essa caixa evolui ao longo do tempo Fonte Hoji 2016 p 18 Figura 32 Ilustração do conceito de valor do dinheiro no tempo Observando a Figura 32 perceba que HOJE o capital equivale a uma caixa pequena Porém no FUTURO essa caixa é colocada dentro de uma caixa maior chamada montante Repare que uma parte do espaço da caixa maior montante será preenchida pela caixa menor capital A diferença parte vazia da caixa maior será preenchida com o juro A caixa maior chamada montante é a soma da caixa menor e juro Ao utilizar o conceito de valor do dinheiro no tempo chegamos ao conceito da movimentação de recursos no tempo que tem relação direta com as decisões tomadas no ambiente empresarial Nesse ambiente as operações financeiras consideram as variáveis dinheiro e tempo sendo o dinheiro o denominador comum das análises e decisões tomadas em gestão financeira Por isso Bruni 2019 afirma todos os aspectos relacionados à decisão são convertidos e apresentados sob a forma de dinheiro Por exemplo quando uma empresa avalia a construção de uma nova fábrica todos os aspectos relativos a essa decisão devem ser apresentados sob a forma de dinheiro Dentre elas 53 As obras a serem feitas As máquinas e os equipamentos a serem comprados Os novos estoques de matériasprimas e os produtos acabados O treinamento dos novos funcionários Todos os benefícios e gastos decorrentes do investimento As receitas e os gastos incrementais Os lucros e os fluxos de caixa Bruni 2019 complementa informando que para haver sentido na análise da movimentação desses recursos é preciso considerar a variável tempo Quando uma empresa decide investir em uma nova fábrica espera desembolsar dinheiro no tempo presente com o objetivo de ganhar ou receber muito mais dinheiro no tempo futuro Sob tal enfoque o retorno de uma operação ou a evolução do dinheiro no tempo representa a verdadeira mercadoria transacionada em finanças Quando se faz um investimento uma taxa de retorno é comprada Por outro lado quando se contrata um financiamento uma taxa de retorno é vendida o financiado assume o compromisso de devolver o dinheiro ao financiador acrescido de uma rentabilidade ou retorno Operacionalmente taxas de juros de retorno ou rentabilidades são analisadas no contexto da Matemática Financeira Bruni 2019 p 4 grifos nossos A partir desses dois conceitos você já deve ter percebido que a Matemática Financeira é extremamente útil na análise de diversas operações financeiras de investimentos e financiamentos e em diversos outros ambientes econômicos que demandam comparações do dinheiro em um período de tempo Logo todas as análises feitas na Matemática Financeira empregam como matériaprima informações representadas sob a forma da evolução do dinheiro no tempo Bruni 2019 Assaf Neto 2023 Por tudo que estudamos até aqui chegamos ao conceito de Capitalizar que significa acumular juro como capital ou converter alguma coisa em capital Essa capitalização representa o processo de evolução do capital por meio do acréscimo de juros Os dois 54 principais regimes de capitalização são capitalização simples e capitalização composta Vamos saber mais sobre esses dois regimes de capitalização 33 Capitalização simples No regime de capitalização simples o crescimento do valor futuro montante é linear ao longo do tempo Isto ocorre porque os juros por período são sempre os mesmos Em outras palavras os juros somente incidem sobre o capital inicial da operação aplicação ou empréstimo mesmo que sejam capitalizados mais de uma vez Assim não são aplicados juros sobre o saldo dos juros acumulados Para compreender a forma de cálculo de juros vamos utilizar um exemplo um capital de R 100000 foi aplicado à taxa de juro de 2 ao mês pelo prazo de 3 meses Acompanhe o cálculo da evolução do capital até a obtenção do montante na Figura 33 Fonte Hoji 2016 p 21 Figura 33 Exemplo de cálculo com capitalização simples Acompanhando os cálculos ao longo do período da operação você pode verificar que o valor do juro em cada período de capitalização mês será sempre de R 2000 e totalizará R 6000 em três meses A taxa de juros de 2 am é aplicada apenas sobre o capital de R 100000 não incidindo sobre os juros obtidos a cada capitalização mensal Cálculos utilizando Capitalização Simples Para os cálculos do regime de capitalização simples há algumas fórmulas que permitem obter o valor dos juros o montante o capital taxa de juros e o período de capitalização Vamos ver quais são essas fórmulas e como são utilizadas 55 Cálculos baseados no juros Valor dos juros é calculado a partir da seguinte expressão J C i n J valor dos juros expresso em unidades monetárias C capital I taxa de juros expressa em sua forma unitária n prazo Utilizando o mesmo exemplo da Figura 33 um capital de R 100000 foi aplicado à taxa de juro de 2 ao mês pelo prazo de 3 meses Qual o valor do juro obtido com a aplicação C R 100000 i 2 100 002 n 3 J 100000 x 002 x 3 J 2000 x 3 J 6000 Capital é calculado a partir da seguinte expressão Continuando com o exemplo uma aplicação rendeu R 6000 de juros em um período de 3 meses com taxa de juros de 2 am Qual o valor do capital aplicado J R 6000 i 2 100 002 n 3 C 6000 002 x 3 C 6000 006 C R 100000 Taxa de juros é calculada a partir da seguinte expressão Com dados do exemplo o capital de R 100000 rendeu R 6000 de juros em um período de 3 meses Qual a taxa de juros dessa aplicação J R 6000 C R 100000 n 3 i 6000 1000 x 3 i 6000 3000 i 002 x 100 2 Período de capitalização é calculado a partir da seguinte expressão J i x n C J C x n i J C x i n 56 Com o mesmo exemplo o capital de R 100000 rendeu R 6000 de juros com taxa de juros de 2 am Qual o período de capitalização J R 6000 C R 100000 i 2 100 002 n 6000 1000 x 002 n 6000 2000 n 3 Cálculos baseados no montante Valor do Montante é calculado a partir da seguinte expressão M C 1 i n M montante obtido com a capitalização C capital I taxa de juros expressa em sua forma unitária n prazo Utilizando informações do exemplo um capital de R 100000 foi aplicado à taxa de juro de 2 ao mês pelo prazo de 3 meses Qual o montante obtido com a aplicação C R 100000 i 2 100 002 n 3 M 1000 x 1 002 x 3 M 1000 x 106 M 106000 Capital é calculado a partir da seguinte expressão Continuando com o exemplo uma aplicação resultou em um montante de R 106000 em um período de 3 meses com taxa de juros de 2 am Qual o valor do capital aplicado M R 106000 i 2 100 002 n 3 C 106000 1 002 x 3 C 106000 106 C R 100000 As demais variações a partir do Montante destinadas a calcular a Taxa de Juros ou o Período de Capitalização são facilmente calculadas com base nas fórmulas baseadas nos Juros Isso acontece porque sempre serão fornecidas 3 informações para obtenção da quarta M 1 i x n C 57 Taxa de juros são conhecidos o Montante o Capital e o Prazo Período de capitalização são conhecidos o Montante o Capital e a Taxa de Juros Como Montante Capital Juros Juros Montante Capital Obtendo o valor dos juros basta utilizar a fórmula para taxa de juros e período de capitalização Taxa de Juros Juros 1060 1000 60 Capital 1000 Prazo 3 meses Período de capitalização Juros 1060 1000 60 Capital 1000 Taxa de juros 2 ou 002 Taxas equivalentes a juros simples Duas taxas são equivalentes quando aplicadas a um mesmo capital e pelo mesmo intervalo de tempo produzem o mesmo juro No regime de juros simples taxas proporcionais nominais ou lineares e taxas equivalentes são consideradas a mesma coisa sendo indiferente a classificação de duas taxas de juros como proporcionais ou equivalentes O Quadro 32 mostra as opções mais comuns de taxas equivalentes de juros simples Assaf Neto 2023 Quadro 32 Taxas equivalentes de juros simples De Para Proporção De Para Proporção anual semestral anual 2 Mensal Diária mensal 30 trimestral anual 3 Semestral Mensal semestral 6 quadrimestral anual 4 Trimestral semestral 3 mensal anual 12 Quadrimestral semestral 15 Fonte Autora 2023 Para você compreender melhor vejamos um exemplo adaptado de Hoji 2016 uma taxa mensal de 45 é equivalente à taxa diária de 015 Para 20 dias essa taxa é de 3 0045 30 20 003 3 Aplicando essa equivalência temos um capital de R 1000000 com taxa de juro de 45 am renderia juros de R 45000 em 1 mês J C x n i J C x i n 58 Para obter o valor dos juros de 20 dias basta dividir os juros mensais por 30 e multiplicar por 20 R 450 30 x 20 R 300 Portanto o mesmo que aplicar a taxa de 3 ao capital de R 1000000 R 300 34 Capitalização composta No regime de capitalização composto os juros formados em cada período são somados ao capital formando o montante capital mais juros do período Este montante se torna o capital do próximo período que passará a render juros no período seguinte formando um novo montante constituído do capital inicial dos juros acumulados e dos juros sobre os juros formados em períodos anteriores e assim por diante ASSAF NETO 2023 HOJI 2016 Vamos ver como fica a situação do exemplo utilizado na Figura 33 com a aplicação de capitalização composta A Figura 34 mostra o mesmo capital de R 100000 aplicado por 3 meses com taxa de juros de 2 am Fonte Hoji 2016 p 45 Figura 34 Exemplo de cálculo com capitalização composta Com a utilização da capitalização composta os juros de cada período foram incorporados ao montante para cálculo dos juros do período seguinte considerando a taxa de 2 am O juro do primeiro mês J1 foi calculado sobre o capital inicial C que acrescido do juro de R 2000 formou o montante de R 102000 M1 59 O M1 gerou juro de R 2040 formando o montante 2 M2 O M2 no valor de R 104040 gerou juro de R 2081 formando o montante 3 M3 de R 106121 Fórmulas e cálculos Montante ou Valor Futuro ou Exemplo uma empresa solicitou empréstimo de R 1000000 ao banco com taxa de juros de 12 ao mês O pagamento será feito após 3 meses Qual o valor que a empresa deverá pagar C R 1000000 i 12 100 012 n 3 M 10000 x 1 0123 M 10000 x 1404928 M R 1404928 Usando HP 12C 10000 CHS PV 3 n 12 i FV R 1404928 Capital ou Valor Presente ou Exemplo um investidor resgatou suas aplicações no valor de R 1404928 após o período de 3 meses taxa de juros de 12 ao mês Qual o valor do capital aplicado M R 1404928 i 12 100 012 n 3 M 1404928 1 0123 M 1404928 1404928 M R 1000000 Usando HP 12C 1404928 CHS FV 3 n 12 i PV R 1000000 Taxa de juros ou Exemplo uma empresa solicitou empréstimo de R 1000000 ao banco Após 3 meses pagou R 1404928 Qual foi a taxa de juros da operação Mn C x 1 in 60 M R 1404928 C R 1000000 n 3 i 1404928 0333333 1 i 112 1 i 012 12 am Usando HP 12C 1000000 CHS PV 1404928 FV 3 n i 12 O cálculo do Período de Capitalização com utilização de juros compostos é muito complexo para se realizar com fórmula pois exige a utilização de logaritmo natural Por esse motivo vamos apresentar o cálculo do exemplo apenas com utilização da HP 12c Usando HP 12C 1000000 CHS PV 1404928 FV 1 1 n 3 35 Descontos Os Descontos são operações comuns no mercado financeiro Elas podem funcionar de duas maneiras antecipação do recebimento de valores do futuro tais como duplicatas e notas promissórias Nesse caso a empresa precisa de recursos financeiros e procura o banco para solicitar um empréstimo utilizando esses títulos como garantia ou em uma operação para liquidar uma dívida antes de seu vencimento Hoji 2016 explica que tanto no caso de antecipar o recebimento de um título ou quitar uma dívida antes do vencimento é necessário considerar o conceito de valor do dinheiro no tempo Afinal estamos falando de uma operação que envolve valores de hoje para um vencimento que ocorreria no futuro Por isso a expressão desconto que significa descontar a diferença entre o valor futuro e o valor presente Dessa forma nas operações de desconto temos dois valores a considerar Valor nominal valor do título para pagamento ou recebimento no futuro Portanto representa o próprio montante da operação 61 Valor descontado valor atual presente do título na data do desconto é determinado pela diferença entre o valor nominal e o desconto aplicado pela antecipação As operações de desconto podem ser realizadas tanto sob o regime de juros simples normalmente em operações de curto prazo ou no de juros compostos quando a operação é de longo prazo Nos dois regimes são identificados dois tipos de desconto desconto por dentro ou racional e desconto por fora ou bancário ou comercial Em ambos os tipos será utilizada uma taxa de desconto d para calcular o desconto D sobre o valor nominal VN que dele será deduzido para apurar o valor atual VA Assaf Neto 2023 Hoji 2016 Vamos agora com base em Assaf Neto 2023 e Hoji 2016 explorar as operações de descontos 351 Descontos com juros simples Desconto comercial simples É o desconto que utiliza como base de desconto o valor nominal valor futuro para calcular o valor líquido valor atual ou valor presente por meio de juros simples É conhecido também como desconto por fora por ser calculado sobre o valor futuro Ele é calculado em função da taxa de desconto simples e número de períodos Valor do Desconto Comercial Exemplo uma empresa descontou um título com valor de R 100000 com vencimento daqui 1 mês O banco utiliza taxa de 6 am nesse tipo de operação Qual o valor do desconto na operação VN R 100000 d 6 100 006 n 1 Dc 1000 x 006 x 1 Dc R 6000 Valor descontado atual 62 Com o cálculo do desconto já realizado basta deduzir esse valor do Valor Nominal para obter o Valor Atual VAc 1000 6000 R 94000 Também é possível calcular diretamente o Valor Atual sem obter previamente o valor do desconto VN R 100000 d 6 100 006 n 1 VAc 1000 x 1 006 x 1 VAc 1000 x 094 Dc R 94000 Em muitos casos as operações de desconto não são realizadas com prazo igual ao da taxa de juros No exemplo que utilizamos o banco utiliza uma taxa de 60 am mas suponha que o título vence em 45 dias Nesse caso é preciso ajustar o período na fórmula VAc 1000 x 1 006 4530 VAc 1000 x 1 009 VAc 1000 091 R 91000 Desconto racional simples É conhecido também como desconto por dentro pois o desconto é calculado sobre o valor atual valor presente e não é muito comum no mercado financeiro brasileiro O valor atual racional VAR é calculado com a seguinte equação Se a operação do nosso exemplo utilizasse o Desconto Racional o cálculo seria da seguinte forma VN R 100000 d 6 100 006 n 1 VAr 1000 1 006 x 1 VAr 1000 106 VAr R 94340 VAc VN x 1 d x n VN 1 d x n VAr 63 Desconto bancário simples O desconto bancário simples é uma variação do desconto comercial simples pois utiliza a mesma fórmula No entanto acrescenta uma taxa de despesas administrativas h que é calculada também sobre o valor nominal O valor atual bancário VAb é calculado com a seguinte equação Vamos supor que a operação do nosso exemplo fosse realizada em um banco que cobra uma taxa de 15 nas transações de desconto Como ficaria o valor atual que o cliente receberia ao descontar o título VN R 100000 d 6 100 006 n 1 h 15 100 0015 VAb 1000 x 1 006 x 1 0015 VAb 1000 x 1 0075 VAb 1000 x 0925 VAb R 92500 352 Descontos com juros compostos Desconto comercial composto O desconto comercial composto também é chamado de desconto por fora pois é aplicado sobre o valor nominal do título valor futuro na data do vencimento Como o valor nominal é a base para obter o desconto comercial com a taxa de desconto utilizada pelo banco e o prazo de antecipação podemos calcular o valor atual com a fórmula a seguir Hoji 2016 Assaf Neto 2023 VA valor atual ou valor descontado VN valor nominal ou valor futuro d taxa de desconto n período de antecipação Que tal utilizar o mesmo exemplo das operações de descontos simples para conferir os resultados Exemplo uma empresa descontou 3 meses antes do vencimento uma duplicata com valor nominal de R 1000000 Foi utilizado o desconto comercial composto e a taxa de VA VN x 1 dn 64 desconto utilizada pelo banco é de 10 aa Qual o valor recebido pela empresa na operação VN R 1000000 d 10 100 010 n 3 VA 1000000 x 1 0103 VA 1000000 x 0729 VA R 729000 Valor do Desconto D VN VA D 10000 7290 R 271000 A operação inversa também pode ser realizada ou seja a partir do valor atual calcular o valor nominal do título Cálculo do Valor Nominal Valor Futuro Desconto Comercial Composto Exemplo uma empresa recebeu R 729000 em uma operação de desconto comercial composto realizada 3 meses antes do vencimento com uma taxa de 10 aa Qual era o valor nominal do título descontado VN R 729000 VN R 729000 VN R 1000000 1 010 3 0729 Desconto racional composto O desconto racional composto também é chamado de desconto por dentro pois é aplicado sobre o valor atual do título valor presente Podemos calcular o valor atual de um título descontado nessa modalidade com a fórmula a seguir Hoji 2016 Assaf Neto 2023 Que tal utilizar o mesmo exemplo das operações de descontos simples para conferir os resultados Exemplo considere que a operação do exemplo anterior foi realizada com base em desconto racional composto Qual seria o valor recebido pela empresa na operação VN R 1000000 VA R 1000000 Valor do Desconto D VN VA 1 010 3 65 d 10 100 010 n 3 VA R 1000000 D 10000 751315 R 248685 1331 VA R R 751315 Aqui também é possível realizar a operação inversa calculando o valor nominal com base no valor atual do título descontado Cálculo do Valor Nominal Valor Futuro Desconto Racional Composto Exemplo ao realizar operação de desconto racional composto uma empresa recebeu R 751315 A operação foi realizada 3 meses antes do vencimento do título e a taxa cobrada pelo banco foi de 10 aa Qual era o valor nominal do título descontado VN 7 51315 x 1 0103 VN 7 51315 x 1331 VN R 1000000 Conclusão Neste bloco procuramos desvendar os fundamentos e operações básicos de Matemática Financeira visando proporcionar a você uma maior compreensão da dinâmica do valor do dinheiro ao longo do tempo No início o objetivo foi apresentar a terminologia e as convenções que normalmente são utilizadas nos mais diversos tipos de operações financeiras Dessa forma você pôde conhecer um pouco melhor a linguagem das finanças Para consolidar o conceito do valor do dinheiro no tempo e os seus reflexos no conceito da movimentação de recursos utilizamos figuras e metáforas A ideia foi mostrar que são conceitos de fácil compreensão e que podem auxiliar a entender os impactos das variáveis tempo e dinheiro nos resultados das empresas Depois passamos para as formas mais comuns de aplicação dos juros em operações do mercado financeiro Mostramos que as operações no regime de capitalização simples consideram a aplicação dos juros apenas sobre o capital inicial Por isso o valor final obtido nessas operações tem comportamento linear ao longo do tempo Fizemos diversos tipos de cálculos utilizando fórmulas e exemplos 66 No regime de capitalização composta os juros incidem sobre o capital inicial e depois sobre o valor do capital acrescido dos juros É o chamado sistema de juros sobre juros Por isso o valor final dessas operações cresce de maneira exponencial Aqui também utilizamos fórmulas e exemplos de cálculos Finalizamos o bloco com as operações de desconto que são muito comuns no ambiente empresarial Vimos que os descontos podem ser realizados no regime de capitalização simples ou composto Em cada regime o desconto pode ser comercial por fora ou racional por dentro Sempre com muitos exemplos e cálculos para você acompanhar a aplicação das fórmulas apresentadas REFERÊNCIAS ASSAF NETO A Matemática financeira edição universitária 2 ed Barueri SP Atlas 2023 BARROSO D F KISTEMANN JR M A Uma proposta de curso de serviço para a disciplina Matemática Financeira Educ Matem Pesq São Paulo v 15 n 2 2013 p 465485 Disponível em httpsrevistaspucspbrindexphpemparticleview13194 Acesso em 11 jul 2023 BRUNI A L Introdução à matemática financeira São Paulo Atlas 2019 HOJI M Matemática financeira didática objetiva e prática São Paulo Atlas 2016 67 4 GESTÃO DE FLUXO DE CAIXA O fluxo de caixa é a ferramenta de gestão financeira utilizada para projetar períodos futuros das entradas e saídas financeiras da empresa permitindo verificar o saldo do caixa ao longo do período projetado É por meio da gestão desse fluxo que o gestor identifica se o saldo ficará negativo e desenvolve ações para correção Por outro lado se a projeção indica saldo positivo é possível planejar aplicações de curto prazo que rentabilizam o dinheiro da empresa De maneira geral ele consiste em uma representação gráfica planilha e cronológica de entradas ingressos e saídas desembolsos dos recursos monetários permitindo que as empresas executem suas programações financeiras e operacionais projetadas para certo período de tempo Assim sendo o fluxo de caixa é considerado um instrumento fundamental para planejar controlar e analisar o fluxo de receitas e despesas contribuindo para identificar o impacto das diversas atividades realizadas nos resultados financeiros Neste bloco o objetivo é fornecer subsídios para que você possa desenvolver relatórios para gestão de fluxo de caixa recomendando ações para melhoria dos resultados 41 Objetivos e relevância do fluxo de caixa Gerar caixa é algo essencial para uma organização desde o seu estágio inicial e durante todo o seu desenvolvimento É por isso que as decisões empresariais procuram evidenciar a geração de caixa seja para análise de um projeto isolado seja para operações de maior porte Os Fluxos de Caixa representam os recursos que transitam entram e saem pelo caixa em determinado intervalo de tempo Neles são consideradas apenas as transações que refletem sobre o caixa Por exemplo a depreciação despesa dedutível para cálculo do resultado do exercício não exige qualquer desembolso financeiro Em outras palavras não tem reflexo sobre o caixa 68 Quando uma empresa opera com um Fluxo de Caixa projetado para determinado período de tempo são estabelecidos os parâmetros de desempenho para a empresa como um todo Por exemplo ao projetar o fluxo de caixa a parcela de vendas que deve ser feita à vista é uma meta que irá afetar a liquidez da empresa essa meta será cobrada da área comercial qual o valor a ser pago pelas compras em determinado período se tornará responsabilidade da área de suprimentos O mesmo ocorre com as outras áreas da empresa Por isso valorizar o fluxo de caixa como instrumento gerencial da empresa como um todo significa dizer que a disseminação do conceito deve ser iniciada de cima para baixo dentro da empresa FREZATTI 2022 Nessa perspectiva são muitos os objetivos do fluxo de caixa porém o principal é a visão integrada de todas as atividades que geram entradas e saídas de caixa proporcionando um panorama das disponibilidades e do grau de liquidez da empresa SILVA 2023 Silva 2023 relaciona os diversos objetivos intermediários do fluxo de caixa que resulta no objetivo principal descrito até aqui Observe esta lista no Quadro 41 Quadro 41 Objetivos intermediários do Fluxo de Caixa Planejar as necessidades de captação de recursos de maneira a preservar a liquidez Pagar as obrigações dentro do vencimento Aplicar de forma eficaz os recursos disponíveis sem comprometer contudo a liquidez Planejar e controlar os recursos financeiros utilizando o análise e controle das atividades de planejamento de vendas e despesas o análise das necessidades de capital de giro o prazos médios de contas a receber a pagar estoques etc Verificar as fontes de crédito onerosas de maneira a minimizar o custo do seu uso Visar ao equilíbrio financeiro dos fluxos de entrada e saída de recursos Coordenar os recursos a serem usados pelas atividades da empresa em termos de investimentos Determinar o exato nível desejado de caixa considerando o volume de negócios projetado Proporcionar melhor integração entre as diversas áreas da empresa e com a área financeira Fonte elaborado pela autora com base em Silva 2023 p 58 Em complemento Frezatti 2022 destaca o papel do Fluxo de Caixa como instrumento gerencial que permite apoiar o processo decisório da organização de maneira que ela esteja orientada para os resultados pretendidos Nesse contexto atribuir ao fluxo de 69 caixa a função de instrumento gerencial não significa que a empresa não precisará da contabilidade e dos relatórios gerenciais elaborados por ela Tratase de considerar que o fluxo de caixa também deve ser incluído como instrumento que proporciona subsídios importantes para o processo de tomada de decisões O fluxo de caixa tem relação estreita com a gestão do Capital de Giro da empresa ou seja do capital que a empresa utiliza para exercer suas atividades por exemplo o dinheiro utilizado para pagar aluguel comprar de matériaprima e outras despesas necessárias para o funcionamento da empresa NASCIMENTO 2014 Na Figura 41 você observa o ciclo de conversão das atividades em caixa ou seja o giro de recursos proporcionado pelas atividades da empresa Fonte Nascimento 2014 p 4 Figura 41 Ciclo de conversão de caixa Todo esse ciclo conforme Nascimento 2014 acontece entre comprar as mercadorias dos fornecedores para pagamento à vista ou a prazo estocar essas mercadorias e produzir novas peças quando for indústria vender os produtos para os clientes receber as receitas à vista ou a prazo pagar os fornecedores e começar tudo novamente Esse é o Ciclo de Capital de Giro de uma empresa Assim o capital de giro representa todo o dinheiro necessário para realizar o pagamento de tudo o que for necessário para a empresa se manter em funcionamento enquanto aguarda o recebimento das receitas decorrentes das vendas realizadas É por isso que 70 quando uma empresa não consegue pagar os seus compromissos no prazo ela é chamada de descapitalizada 42 Capital de Giro e Ciclo de Caixa O capital de giro é dividido em dois grupos que refletem de maneiras diferentes nas operações da empresa capital de giro operacional e capital de giro financeiro ambos compostos por contas do Ativo e do Passivo do Balanço Patrimonial O capital de giro operacional contém os recursos necessários para o desenvolvimento do negócio No Ativo as principais contas são o próprio caixa contas a receber estoques nos vários estágios No Passivo as contas mais frequentes são fornecedores salários impostos e outros credores Os elementos que compõem o capital de giro financeiro são as aplicações de natureza financeira Ativo e os empréstimos de curto prazo Passivo De acordo com Frezatti 2022 essas contas que constituem o capital de giro só existem por causa dos intervalos entre as operações e os recursos são aplicados durante esse período Esses intervalos podem ser mais bem compreendidos expandindo a figura do ciclo de conversão de caixa conforme Figura 42 Fonte Frezatti 2022 p 25 Figura 42 A dinâmica do capital de giro A Figura 42 mostra que a dinâmica tem início quando um recurso entra na empresa comprada de um fornecedor A empresa passa a ter um recurso em estoque de matéria 71 prima e assume uma obrigação com o fornecedor A matériaprima fica estocada até ser solicitada pela produção agregando outros gastos por exemplo a mão de obra No final da fabricação o recurso é estocado como produto acabado aguardando ser vendido e faturado para um cliente Quanto mais tempo o produto ficar no estoque mais tempo irá demorar para gerar receitas piorando o fluxo de caixa da empresa Após a venda o cliente pode pagar em prazo maior ou menor conforme a política de crédito gerando ingresso do recurso no caixa Em algum momento desse processo a empresa pode precisar solicitar empréstimo ao banco para cumprir com suas obrigações FREZATTI 2022 Na gestão do capital de giro destinada a impactar o caixa de maneira favorável quanto menor for o prazo para os ativos se tornarem caixa melhor será o resultado Por outro lado diante de prazos maiores para quitação dos passivos menor será o impacto no caixa e melhor o resultado Logo o ciclo de caixa é importante para compreensão do capital de giro da organização pois envolve em quanto tempo o caixa é reposto a partir das saídas Quanto maior o período maior o risco financeiro da organização e o contrário é verdadeiro Ciclo Operacional e Ciclo de Caixa O ciclo operacional compreende todo o período que se inicia com a compra de matéria prima até o recebimento de vendas ele engloba o ciclo de pagamento o ciclo de estocagem e o ciclo de recebimento Já o ciclo de caixa ou financeiro revela o tempo entre o pagamento aos fornecedores e o recebimento das vendas O ciclo de caixa permite estabelecer o giro de caixa da empresa ou seja a rotação com base em certo período de tempo Como ele representa o período de tempo entre o pagamento dos fornecedores e o recebimento das vendas durante esse período os recursos da empresa estão aplicados no capital de giro SILVA 2023 MEGLIORINI 2018 Esses ciclos podem ser observados na Figura 43 72 Fonte Silva 2023 p 50 Figura 43 Ciclo Operacional e Ciclo de Caixa Os Ciclos Operacional e de Caixa de uma empresa podem ser calculados a partir de informações do Balanço Patrimonial e da Demonstração de Resultados São utilizados os prazos médios de estoques recebimento e pagamento a fornecedores Como expressam tempo são índices que apresentam o resultado em dias Nesse grupo os índices são extraídos com base em informações do Balanço Patrimonial e da Demonstração de Resultado do Exercício IUDÍCIBUS MARION 2022 BAZZI 2016 Prazo Médio de Estoques PME Tratase de um índice muito utilizado para mensurar o tempo médio em que os estoques foram renovados em função das vendas realizadas O tempo apresentado pelo índice indica quantos dias os produtos ou mercadorias permaneceram no estoque após a compra antes de serem vendidos Fórmula para cálculo Prazo Médio de Recebimento PMR O índice revela quantos dias em média a empresa deverá esperar para receber o valor das vendas realizadas a prazo É um índice que auxilia na análise da qualidade da política de crédito da empresa 73 Fórmula para cálculo Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores PMPF É um índice que complementa os anteriores pois demonstra o tempo médio gasto pela empresa para pagar os seus fornecedores A análise do índice está relacionada à comparação entre os prazos de recebimento e de pagamento Porque se uma empresa paga mais rápido do que recebe de seus clientes irá necessitar mais capital de giro adicional para sustentar suas vendas criandose um círculo vicioso difícil de romper e muita dependência de capital de terceiros Fórmula para cálculo Utilizando os prazos médios são obtidos os Ciclos Operacional e de Caixa da seguinte maneira Ciclo operacional CO PME PMR Ciclo de Caixa CC CO PMPF A partir do Ciclo de Caixa é possível obter o Giro de Caixa ou seja o número de vezes que o caixa da empresa se renova durante o ano Giro de Caixa 360 CC Vamos aos cálculos O Quadro 42 traz informações das demonstrações contábeis da Empresa Fictícia 74 Quadro 42 Demonstrações Contábeis Empresa Fictícia Fonte elaborado pela autora com base em Martins e Miranda 2020 Com base nas demonstrações vamos conferir os prazos médios da Empresa Fictícia no Quadro 43 Quadro 43 Prazos Médios Empresa Fictícia Fonte elaborado pela autora com base em Martins e Miranda 2020 Com os prazos médios calculados consolidamos os ciclos operacional e de caixa e o giro de caixa Índice 618 629 3214 3664 1524 1614 6503 7555 295 346 2596 3036 X 360 7688 X 360 4084 011 X 360 4103 360 8437 021 6922 360 Período 2 Período 3 017 X 360 6175 X X Prazo Médio Pag Fornecedores 011 Prazo Médio Recebimento 023 Prazo Médio Estoques 019 75 Quadro 44 Ciclos Operacional e de Caixa Empresa Fictícia Fonte elaborado pela autora com base em Martins e Miranda 2020 Perceba no Quadro 43 que os prazos médios de estoques e de recebimento foram reduzidos enquanto o prazo médio de pagamento se manteve estável Por consequência os ciclos operacionais e de caixa apresentaram redução de 15 dias com ligeiro aumento no giro de caixa Podemos concluir então que quanto menor for o ciclo financeiro maior será o giro de caixa E é muito importante que o giro seja elevado porque dessa forma a empresa reduz sua necessidade de capital de giro contribuindo para melhoria do seu fluxo de caixa 43 Gestão do capital de giro e o fluxo de caixa Os efeitos dos Ciclos Operacional e Financeiro no fluxo de caixa da empresa demonstram que os resultados do caixa são dependentes de uma gestão eficiente dos elementos que integram a dinâmica do Capital de Giro Figura 42 Sob esse enfoque Nascimento 2014 destaca que é fundamental adotar políticas adequadas para o capital de giro destinadas a dar subsídios aos gestores para a tomada de decisões relativas aos ativos e passivos circulantes Via de regra essas políticas incluem a gestão das disponibilidades e de estoques a política de crédito o financiamento de estoques e de vendas e a captação de recursos financeiros de curto prazo Com a ajuda dos autores Ching Marques e Prado 2010 e também de Nascimento 2014 confira algumas orientações sobre essas políticas Gestão das disponibilidades As disponibilidades incluem valores em caixa banco e as aplicações financeiras de curto prazo A empresa deve manter recursos nesse tipo de ativo porém é preciso encontrar Ciclos Período 2 Período 3 Variação CICLO OPERACIONAL CO 154 139 15 CICLO DE CAIXA CC 113 98 15 GIRO DE CAIXA 32 37 05 76 equilíbrio entre valores em caixa e aplicações financeiras É um fator importante porque valores em caixa representam custos para os proprietários da empresa mas oferecem garantia para o pagamento das obrigações Gestão de estoques Os estoques matériasprimas produtos em elaboração e produtos acabados são elementos do ativo cujo volume costuma variar de acordo com o nível de produção e vendas entretanto o aumento dos estoques ocorre antes de as vendas serem realizadas Dessa forma é necessário que os estoques sejam dimensionados com o maior alinhamento possível em relação às vendas para evitar custos desnecessários estoque acima do ideal ou a perda de vendas por falta de estoque Gestão do Contas a Receber É um elemento associado diretamente à política de crédito da empresa Por um lado a concessão de crédito é um fator importante para realização das vendas e geração das receitas de outro lado vendas a crédito adiam a entrada de recursos no caixa enquanto as saídas se mantêm constantes Quando estudamos os ciclos operacional e financeiro vimos que o período entre o pagamento das compras e o recebimento das vendas têm impacto relevante no fluxo de caixa pois a empresa precisa manter capital de giro para cumprir as suas obrigações até receber as vendas Logo é fundamental estruturar uma política de crédito e cobrança consistente que alinhe as necessidades de manter a competitividade da empresa mas preservando sua liquidez e os resultados financeiros necessários Financiamento de estoques e das vendas Está relacionado à maneira como serão obtidos os recursos presentes nos estoques isto é na maneira como a empresa fará o pagamento aos fornecedores de matériaprima mercadorias materiais de suprimento serviços de terceiros etc Dois aspectos são relevantes para análise e definição das políticas forma e prazo de pagamento Quanto à forma significa decidir em quais situações pagar à vista proporciona resultados eficientes considerando a obtenção de descontos ou pagar a prazo Nessa última forma 77 de pagamento a negociação de prazos que proporcionem equilíbrio na entrada e saída da recursos do caixa é fator crítico de sucesso para o equilíbrio financeiro de curto prazo Empréstimos bancários Retornando aos ciclos operacional e financeiro quando a empresa não dispõe de recursos para arcar com as obrigações enquanto espera para receber as receitas de vendas pode ser necessário recorrer a empréstimos bancários Contudo a natureza de curto prazo desses empréstimos torna seus custos mais elevados Então antes de utilizar linhas de crédito oferecidas no mercado financeiro é preciso analisar e comparar as opções disponíveis quanto aos prazos taxas de juros e garantias exigidas O comportamento dessas variáveis e seu impacto no fluxo de caixa pode ser mais bem compreendido com um exemplo obtido em Nascimento 2014 Vamos supor que uma loja tem uma despesa fixa de R 1000000 que é paga ao final de cada mês As vendas são recebidas em 30 dias e os fornecedores são pagos também em 30 dias O preço praticado é obtido com aplicação de 100 sobre o custo das mercadorias Com essas definições vamos às operações da empresa no período de 3 meses Operações Mês 1 Mês 2 Mês 3 Compra de mercadorias 5000000 5000000 2000000 Vendas 5000000 6000000 6000000 Custo das mercadorias vendidas 2500000 3000000 3000000 Vejamos como essas operações mensais podem ser consolidadas no fluxo de caixa conforme Tabela 41 78 Tabela 41 Fluxo de Caixa da loja situação atual Fonte elaborada pela autora com base em Nascimento 2014 Da forma como os elementos do capital de giro foram administrados as operações levaram a empresa a realizar empréstimos Com isso foram acrescidos os custos com o banco com taxa de juros de 10 am A empresa ainda assumiu uma obrigação no mês 3 que ficou pendente para pagamento no mês 4 Tudo isso enquanto o estoque mantinha recursos parados Veja na Tabela 42 a movimentação dos recursos em estoques Tabela 42 Movimentação de estoque Fonte elaborado pela autora com base em Nascimento 2014 Para melhorar o resultado do caixa a gestão dos estoques poderia ser mais eficiente equilibrando as compras e as vendas e evitando recursos parados em estoques Nesse caso compraria R 2500000 R 3000000 e R 3000000 em cada um dos três meses Observe na Tabela 43 os reflexos no caixa da empresa Operações 1º mês 2º mês 3º mês Saldo inicial de caixa 500000 Recebimento de vendas 5000000 6000000 Pagamento de mercadorias 5000000 5000000 Pagamento de despesas 1000000 1000000 1000000 Sobrafalta de caixa 500000 1000000 Empréstimo captação 500000 1550000 1705000 Empréstimo pagamento 550000 1705000 Saldo final de caixa 79 Tabela 43 Fluxo de Caixa da loja ajuste de estoques Fonte elaborada pela autora com base em Nascimento 2014 Veja que apesar da necessidade de tomar empréstimo no primeiro mês nos demais meses o caixa se equilibra e a empresa consegue arcar com as obrigações somente com o recebimento de suas receitas Outra forma de equilibrar o caixa com a gestão dos elementos do capital de giro seria negociar um prazo maior com os fornecedores de mercadoria Suponha que a empresa consiga pagar em 60 dias Como ficaria o fluxo de caixa Confira na Tabela 44 Tabela 44 Fluxo de Caixa da loja ajuste de fornecedores Fonte elaborada pela autora com base em Nascimento 2014 Essa alteração também teria impactos positivos no fluxo de caixa reduzindo a dependência da empresa do capital obtido em bancos e seus consequentes custos Como os exemplos demonstram a gestão dos elementos do capital de giro reflete diretamente na gestão do fluxo de caixa e ambas são fundamentais para manter a saúde financeira da empresa É por esse motivo que o gestor financeiro deve reduzir ao Operações 1º mês 2º mês 3º mês Saldo inicial de caixa 500000 950000 Recebimento de vendas 5000000 6000000 Pagamento de mercadorias 2500000 3000000 Pagamento de despesas 1000000 1000000 1000000 Sobrafalta de caixa 500000 1500000 2950000 Empréstimo captação 500000 Empréstimo pagamento 550000 Saldo final de caixa 950000 2950000 Operações 1º mês 2º mês 3º mês Saldo inicial de caixa 500000 3450000 Recebimento de vendas 5000000 6000000 Pagamento de mercadorias 5000000 Pagamento de despesas 1000000 1000000 1000000 Sobrafalta de caixa 500000 4000000 3450000 Empréstimo captação 500000 Empréstimo pagamento 550000 Saldo final de caixa 3450000 3450000 80 máximo o capital de giro necessário às operações Para isso o planejamento deve perseguir o rápido giro dos estoques otimizar o recebimento das vendas e postergar ao máximo o pagamento dos fornecedores 44 Caixa mínimo operacional A ações destinadas à gestão do capital de giro como vimos enfatizam um maior giro do caixa possível para dessa forma reduzir os riscos de esse capital ficar comprometido com ativos de baixa liquidez tais como os estoques por exemplo Assim a empresa precisa observar a manutenção regular de um nível mínimo de caixa chamado de Caixa Mínimo Operacional SILVA 2023 ASSAF NETO LIMA 2019 O objetivo de se manter um saldo mínimo de caixa é permitir que a empresa possa pagar os compromissos programados em seus vencimentos e também garantir uma margem de segurança para pagamentos imprevistos não programados ou continuar operando se as receitas não entrarem no caixa como foi programado O Caixa Mínimo Operacional como destacam Assaf Neto e Lima 2019 também é necessário para financiar a falta de sincronização entre as entradas e saídas de recurso decorrentes das diferenças de prazos entre as operações que integram o ciclo operacional e o financeiro Afinal mesmo que a gestão dos elementos do capital de giro seja realizada de maneira eficiente a falta de sincronia entre entradas e saídas de caixa continuarão a existir pela própria dinâmica do capital de giro Entretanto determinar o volume mais adequado de recursos monetários mantidos em caixa ou seja em sua forma mais líquida dinheiro em espécie e aplicações financeiras de liquidez imediata é uma tarefa complexa Ao avaliar o saldo de caixa necessário em função do ciclo de operações da empresa no qual entradas e saídas não ocorrem ao mesmo tempo é possível utilizar os valores históricos realizados ao longo do tempo Por exemplo uma determinada empresa pode manter em caixa o equivalente a 10 dez dias dos seus pagamentos fixos mensais considerando esse valor o mais adequado Esse valor médio representa o maior 81 resultado líquido medido pela diferença entre as entradas e saídas operacionais de caixa comumente verificadas em cada mês SILVA 2023 ASSAF NETO LIMA 2019 Vale ressaltar que essa forma de estimar o saldo mínimo de caixa apesar de ter sido baseada na própria experiência da empresa é uma estimativa subjetiva Ela não considera a margem de segurança necessária para arcar com despesas imprevistas e extraordinárias nos negócios As movimentações de entradas e saídas decorrentes de decisões de investimento em ativos de maior permanência aqueles registrados no Ativo Não Circulante captação de recursos de longo prazo registradas no Passivo Não Circulante e outras que não fazem parte do dia a dia da empresa não costumam ser regulares Por essa razão o saldo do caixa não recebe influências constantes como aquelas que integram os ciclos operacional e financeiro caixa não sendo consideradas para efeito de estimar o Caixa Mínimo Operacional ASSAF NETO LIMA 2019 Há diversas técnicas para apurar o saldo mínimo operacional de caixa mas o modelo de cálculo mais adotado pelas empresas é realizado a partir do Ciclo Financeiro que determina o Giro de Caixa O cálculo é feito da seguinte maneira Caixa Mínimo Operacional Desembolso total de caixa esperado no período Giro de Caixa no período Por exemplo se uma empresa prevê desembolsos anuais no valor de R 360000000 e o seu Giro de Caixa no mesmo período for de quatro vezes a necessidade mínima de caixa será Caixa Mínimo Operacional R 360000000 R 90000000 4 Logo se a empresa mantiver um saldo mínimo de R 90000000 em seu caixa no período definido para cálculo do valor do desembolso total há condições financeiras suficientes para a empresa saldar todos os seus gastos operacionais projetados 82 Vamos calcular um exemplo completo adaptado de Assaf Neto e Lima 2019 desde a mensuração dos Ciclos Operacional e Financeiro até a estimativa do Caixa Mínimo Operacional Exemplo uma empresa tem desembolsos anuais de R 540000000 Se a empresa conseguir girar seus estoques 8 vezes no ano e as suas duplicatas a receber em 6 vezes no ano com prazo médio de pagamento de fornecedores de 40 dias qual seria o seu Caixa Mínimo Operacional a Primeiro precisamos calcular os Ciclos Operacional e de Caixa Financeiro Prazo Médio de Estocagem PME 3608 60 dias Cálculo dos ciclos Prazo Médio de Cobrança PMC 360 dias6 60 dias CO 45 60 105 dias Prazo Médio Pagamento de Fornecedores PMPF 40 dias CC 105 40 65 dias b Com o Ciclo de Caixa Calculado vamos calcular o Giro de Caixa GC 360 65 554 c Agora vamos ao Caixa Mínimo Operacional CMO R 540000000 554 R 975 mil Assaf Neto e Lima 2019 alertam que esse modelo embora muito utilizado requer alguns ajustes para incluir a incerteza decorrente da falta de sincronia das entradas e saídas Os ajustes seriam Realizar a estimativa em horizonte de tempo mais curto Assim é possível avaliar periodicamente os resultados obtidos com a estimativa e ajustar conforme a situação exigir Se a operação da empresa apresenta nível acentuado de sazonalidade é preciso calcular o giro de caixa e o saldo de caixa mínimo para cada intervalo de operação Dessa forma a dispersão existente em função do fluxo sazonal de recursos é diluída ao longo do tempo 83 45 Orçamento de caixa A estimativa do Caixa Mínimo Operacional como foi observado na seção anterior é um processo bastante dinâmico envolvendo os vários fluxos financeiros de entradas e saídas Por isso esse processo tem maiores chances de sucesso quando elaborado no contexto do Orçamento de Caixa Tratase do instrumento de planejamento de caixa da empresa destinado a subsidiar um controle mais eficiente de seus saldos necessários viabilizando o acompanhamento mais apurado do nível mínimo de caixa necessário para a implementação das atividades da empresa ASSAF NETO LIMA 2019 Também chamado de Fluxo de Caixa Projetado esse orçamento permite uma atuação proativa na administração dos recursos da empresa uma vez que converte o planejamento das diversas atividades empresariais em entradas e saídas de caixa Dessa forma os resultados planejados se tornam metas a serem atingidas pelas diversas áreas e departamentos comprometendo toda a empresa na responsabilidade de se atingir os objetivos pretendidos FREZATTI 2022 A técnica do orçamento de caixa permite que se obtenha maior eficiência no controle de seu saldo pois divide um período de planejamento maior em intervalos de tempo menores por exemplo planejamento anual em bases mensais Dessa forma ele permite acompanhar o nível de caixa da empresa e efetuar os ajustes necessários tão logo sejam identificados os eventuais desvios entre os valores previstos orçados e os valores reais Assaf Neto e Lima 2019 alertam que quanto maior a incerteza de uma empresa em relação a seus fluxos financeiros e ao comportamento da economia é aconselhável trabalhar com divisões menores de tempo por exemplo quinzenal ou semanal Considerado um importante instrumento também para o controle da liquidez da empresa a elaboração do orçamento projeção de caixa deve permitir que a empresa possa se antecipar a eventuais necessidades futuras de recursos Como um dos principais objetivos do orçamento de caixa é estimar para um período futuro se a empresa é capaz de gerar recursos financeiros suficientes para suprir suas necessidades de caixa no período considerado as projeções de caixa permitem definir quanto de 84 recursos deve ser captado quando serão captados e qual a melhor destinação para os excedentes de caixa Assim poderá programar antecipadamente de que forma esses recursos serão captados no mercado financeiro negociando previamente custos e prazos de pagamento Além disso poderá programar a aplicação dos excedentes de caixa que vierem a ser projetados ASSAF NETO LIMA 2019 SILVA 2023 Nesse contexto o Orçamento de Caixa permite ao gestor determinar o momento ideal para retiradas sem comprometer as finanças da empresa além de possibilitar a maximização do lucro com utilização adequada do caixa mediante pagamento de contas com desconto e aquisição de produtos à vista SILVA 2023 Um modelo geral de elaboração da projeção das necessidades de caixa é sugerido por Assaf Neto e Lima 2019 como mostra a Figura 44 Fonte Assaf Neto Lima 2019 p 682 Figura 44 Modelo para elaboração do Orçamento de Caixa Para praticar a elaboração de um Orçamento de Caixa vamos utilizar um exemplo adaptado de Assaf Neto e Lima 2019 uma empresa levantou informações em seu planejamento para elaboração de seu orçamento de caixa referente ao 1º semestre de um determinado ano Saldo de caixa existente no início do semestre R 1800 Vendas previstas R 17000 Esperase que 60 desses valores sejam recebidos no semestre permanecendo os 40 restantes no realizável para a liquidação no segundo semestre do ano As compras de estoque previstas para o período atingirão R 6000 e serão totalmente pagas no período de planejamento 85 O total das despesas operacionais desembolsáveis atingirá R 3000 no semestre Ao final de maio a empresa deverá pagar R 3000 a título de despesas financeiras No início de março está previsto um aumento de capital mediante subscrição e integralização de novas ações no valor de R 1000 No período início de abril a empresa espera receber R 800 provenientes do realizável a curto prazo No Quadro 45 você confere o Orçamento de Caixa consolidado para as informações do exemplo Quadro 45 Orçamento de caixa para o semestre Fonte elaborado pela autora com base em Assaf Neto e Lima 2019 O fluxo de caixa projetado mostra que a empresa deverá manter em valores nominais o mesmo nível de caixa do período anterior R 180000 Caso esse seja o saldo de caixa mínimo estabelecido pela empresa não há previsão de problema de liquidez já que esse valor corresponderia ao Caixa Mínimo Operacional Dessa forma é suficiente para administrar as incertezas associadas aos fluxos de caixa financeiro além da falta de sincronia normalmente existente entre pagamentos e recebimentos Descrição dos fluxos 1º sem A Saldo inicial de caixa 1800 B Entradas previstas de caixa Recebimento de vendas 10200 Aumento de capital por integralização 1000 Recebimento de realizável a curto prazo 800 C Total das entradas mais o saldo inicial A B 13800 D Saídas previstas de caixa Compras de estoques 6000 Pagamento de despesas operacionais 3000 Pagamento de despesas financeiras 3000 E Total das saídas 12000 F Saldo líquido de caixa C E 1800 86 Conclusão Este bloco foi dedicado aos estudos sobre a Gestão do Fluxo de Caixa atividade importante para manutenção da liquidez e solvência da empresa Por esse motivo começamos buscando entender os objetivos e a relevância do fluxo de caixa descobrimos que o Fluxo de Caixa Projetado é como um instrumento gerencial que permite apoiar o processo decisório da organização de maneira que ela esteja orientada para os resultados pretendidos O fluxo de caixa tem relação estreita com a gestão do Capital de Giro da empresa ou seja do capital que a empresa utiliza para exercer suas atividades por exemplo o dinheiro utilizado para pagar aluguel comprar matériaprima e outras despesas necessárias para o seu funcionamento Como as operações incluídas na dinâmica do Capital de Giro apresentam intervalos de tempo a empresa aplica recursos durante esse período Essa dinâmica é mais bem compreendida com base no Ciclo Operacional que compreende todo o período que se inicia com a compra de matériaprima até o recebimento de vendas Ele engloba o ciclo de pagamento o ciclo de estocagem e o ciclo de recebimento Já o ciclo de caixa ou financeiro revela o tempo entre o pagamento aos fornecedores e o recebimento das vendas Por isso os ciclos são calculados com base nos prazos médios de estocagem de recebimento e de pagamento Para garantir os menores ciclos possíveis e o maior giro de caixa é fundamental adotar políticas adequadas para o capital de giro destinadas a dar subsídios aos gestores para a tomada de decisões relativas aos ativos e passivos circulantes Via de regra essas políticas incluem a gestão das disponibilidades e de estoques a política de crédito o financiamento de estoques e de vendas e a captação de recursos financeiros de curto prazo Estudamos ainda que para permitir que a empresa possa pagar os compromissos programados em seus vencimentos e também garantir uma margem de segurança para 87 pagamentos imprevistos não programados ou continuar operando se as receitas não entrarem no caixa como foi programado é preciso estimar o Caixa Mínimo Operacional Finalizamos com o Orçamento de Caixa também chamado de Fluxo de Caixa Projetado que viabiliza uma atuação proativa na administração dos recursos da empresa uma vez que converte o planejamento das diversas atividades empresariais em entradas e saídas de caixa Dessa forma os resultados planejados se tornam metas a serem atingidas pelas diversas áreas e departamentos comprometendo toda a empresa na responsabilidade de se atingir os objetivos pretendidos Referências ASSAF NETO A LIMA F G Curso de administração financeira 4 ed São Paulo Atlas 2019 CHING H Y MARQUES F PRADO L Contabilidade e finanças para não especialistas 3 ed São Paulo Pearson Prentice Hall 2010 FREZATTI F Gestão do fluxo de caixa perspectivas estratégica e tática 2 ed São Paulo Atlas 2022 IUDÍCIBUS S de MARION J C Curso de contabilidade para não contadores para estudantes e profissionais de administração economia direito engenharia e demais áreas de conhecimento 9 ed Barueri SP Atlas 2022 MEGLIORINI E Administração financeira 2 ed São Paulo Pearson 2018 NASCIMENTO A Gestão do capital de giro São Paulo Pearson Education do Brasil 2014 SILVA E C da Como administrar o fluxo de caixa das empresas guia de sobrevivência empresarial 11 ed Barueri Atlas 2023 88 5 DECISÕES DE INVESTIMENTOS E ORÇAMENTO DE CAPITAL As decisões de investimentos são aquelas nas quais o gestor financeiro precisa avaliar quais são as melhores opções para aplicação dos recursos obtidos pela empresa sejam eles próprios ou de terceiros Essas decisões estão situadas em curto e longo prazos abrangendo as atividades e processos operacionais da empresa e também os investimentos no seu crescimento e desenvolvimento Ao projetar a visão de futuro da empresa as decisões de longo prazo implicam a escolha de projetos cuja relação entre risco e retorno seja mais atrativa Em ambas as situações o que orienta a tomada de decisão é o objetivo central das finanças corporativas isto é o de maximizar a riqueza da empresa e de seus proprietários Este bloco trata dessas decisões apresentando os principais motivos que levam à necessidade de investimentos de longo prazo determinando a utilização de técnicas de orçamento de capital Para que esses investimentos sejam realizados é necessário que a empresa obtenha recursos por isso veremos os principais fatores relacionados aos capitais próprio e de terceiros Considerando o objetivo de maximizar o valor da empresa este bloco irá apresentar as principais técnicas utilizadas na análise de projetos de investimentos Neste bloco o objetivo é que você possa avaliar projetos de investimentos a partir da relação risco retorno e custo de capital aplicando os métodos de análise de investimentos 51 Orçamento de capital O orçamento de capital diz respeito às decisões de investimentos de longo prazo que são fundamentais para garantir o desenvolvimento da empresa e a obtenção ou manutenção de vantagem competitiva Esses investimentos podem ser direcionados à aquisição de equipamentos expansão da planta de produção desenvolvimento de novos produtos dentre outros Dessa forma Orçamento de Capital é o processo pelo qual a empresa avalia e seleciona projetos de investimento 89 O que esses investimentos têm em comum é o valor elevado e o retorno em longo prazo variáveis que mostram que o risco é maior quando tratamos de projetos de orçamento de capital Para obter os recursos que serão investidos as empresas podem recorrer a empréstimos e financiamentos de longo prazo emissão de debêntures e de novas ações ou aos lucros obtidos com as operações da empresa Assim o custo do capital empregado em cada investimento leva em consideração o risco financeiro e econômico que está envolvido na incerteza de cada projeto e das formas de financiamento utilizadas MEGLIORINI VALLIM 2018 Para analisar os investimentos de capital a empresa elabora projetos contendo informações de cada um deles e utiliza técnicas de orçamento de capital para analisar decidir sobre sua viabilidade e escolher aqueles que serão implementados Fatores como o alto custo do capital a escassez de recursos no seu sentido mais amplo e a busca pela rentabilidade e geração de riqueza são preponderantes para que os investimentos realizados sejam previamente analisados e mensurados exaustivamente prevenindo fracassos perda financeira e patrimonial tanto dos projetos quanto dos investidores SELEME 2012 A análise econômica rígida e criteriosa de um projeto de investimento é base para sua realização prevenindo decisões inadequadas e que levam ao fracasso Pontos como custo do capital custos operacionais preços rentabilidade margens oportunidades volumes operados taxas de risco taxas de atratividade são alguns itens indispensáveis a uma boa avaliação que visa diminuir as incertezas e a maximizar a criação de valor para investidores sociedade e para a perpetuação do projeto realizado MEGLIORINI VALLIM 2018 Origem dos investimentos de capital São diversos os motivos pelos quais uma empresa precisa investir capital em projetos que trarão retorno em longo prazo Confira os principais no Quadro 51 a seguir 90 Quadro 51 Principais motivos para investimentos de capital Motivo Descrição Expansão O motivo mais comum para o investimento de capital é a expansão do nível das operações normalmente por meio da aquisição de ativos imobilizados Muitas vezes uma empresa em crescimento precisa adquirir novos ativos imobilizados de forma rápida como ocorre na compra de terrenos e instalações Substituição ou reforma À medida que uma empresa sofre desaceleração do crescimento e amadurece a maioria dos investimentos de capital terá por objetivo substituir ou renovar ativos obsoletos ou desgastados A renovação pode envolver reconstrução reforma ou adaptação de um ativo imobilizado existente Sempre que uma máquina exige reparos de grande valor o desembolso decorrente deve ser comparado com aquele necessário para substituíla e com os benefícios esperados Outros Alguns investimentos de capital não resultam em aquisição ou transformação de ativos imobilizados tangíveis Em vez disso envolvem investimentos de recursos de longo prazo em troca da expectativa de retorno futuro Esses investimentos incluem desembolsos com campanhas publicitárias pesquisa e desenvolvimento consultoria empresarial e desenvolvimento de novos produtos Fonte elaborado pela autora com base em Gitman 2010 Tipos de projetos de investimento De acordo com Gitman 2010 os projetos podem ser independentes ou mutuamente excludentes Projetos independentes são aqueles que não estão relacionados entre si seus fluxos de caixa são independentes Por isso a aceitação de um projeto não exclui os demais Projetos mutuamente excludentes são projetos com o mesmo objetivo logo competem uns com os outros A aceitação de um descarta todos os demais com objetivos semelhantes Por exemplo quando uma empresa pretende expandir a capacidade produtiva ela pode a expandir a fábrica b adquirir outra empresa ou c terceirizar parte da produção Qualquer que seja a alternativa selecionada as demais serão descartadas Fluxos de caixa de projetos de investimento A avaliação dos investimentos de capital requer a projeção dos fluxos de caixa relevantes compostos por saída de caixa incremental corresponde ao valor do investimento e as entradas de caixa projetadas com a implantação do projeto Esses 91 fluxos de caixa são incrementais porque representam apenas as entradas e saídas decorrentes do investimento de capital De maneira geral qualquer projeto de investimento inclui três elementos básicos a um investimento inicial b as entradas de caixa operacionais e c o fluxo de caixa terminal Esse último elemento pode não estar presente em todos os tipos de projetos Observe um exemplo na Figura 51 Fonte Gitman 2010 p 331 Figura 51 Componentes do fluxo de caixa No fluxo de caixa da Figura 51 temos a linha do tempo de um projeto de investimento Investimento inicial é o valor de 50000 representado pela saída de caixa seta para baixo no momento zero Entradas de caixa operacionais são aquelas que resultarão da implantação do projeto ao longo da sua vida útil de 10 anos Elas aumentam gradativamente passando de 400000 no primeiro ano para 1000000 no último ano Fluxo de caixa terminal corresponde ao valor de 25000 e não inclui a entrada de caixa operacional do ano 10 92 Entradas de caixa operacionais As entradas de caixa representam os valores que poderão ser utilizados pela empresa após excluir das receitas os custos e as despesas operacionais Dessa forma são chamadas de Fluxos de Caixa Livres FCL Para o fluxo de caixa livre de um projeto é preciso elaborar as projeções das receitas custos e despesas Conforme Assaf Neto e Lima 2023 os fluxos de caixa para as decisões de investimentos são apurados em valores líquidos do Imposto de Renda Para compreender melhor o cálculo dos Fluxos de Caixa Livres vamos utilizar um exemplo Exemplo para elaborar as projeções dos fluxos de caixa livres decorrentes de um projeto de investimento uma empresa estimou os valores conforme Tabela 51 Tabela 51 Projeção de resultados de um investimento Fonte elaborado pela autora com base em Assaf Neto e Lima 2023 Para a análise do investimento descrito no exemplo é preciso calcular os valores incrementais ou seja as diferenças dos valores apurados antes e após o investimento Também é preciso considerar a alíquota de 34 de impostos sobre os lucros Com esses cálculos os Fluxos de Caixa Livres FCL do projeto de investimento podem ser observados na Tabela 52 Lucro Operacional antes do IR Imposto de Renda Lucro Operacional Líquido do IR Depreciação Fluxo de Caixa Operacional Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Receita operacional 150000 195000 270000 225000 240000 255000 Custos e despesas operacionais 60000 75000 97500 90000 90000 97500 Depreciação 15000 18000 18000 22500 22500 27000 Lucro Operacional 75000 102000 154500 112500 127500 130500 Componentes ANTES do projeto de investimento Resultados ESPERADOS com o projeto de investimento 93 Tabela 52 Fluxos de caixa livres do projeto de investimento Fonte elaborado pela autora com base em Assaf Neto e Lima 2023 Observe que a depreciação é excluída do Lucro Operacional que serve de base ao desconto do imposto de renda Como é uma despesa não desembolsável ou seja não é uma saída de caixa seu valor deve ser acrescido ao saldo para obtenção dos Fluxos de Caixa Livres do projeto Eles são a base para a análise de viabilidade do projeto utilizando as técnicas que estudaremos mais à frente 52 Estrutura e custo de capital Estrutura de Capital é a denominação utilizada para definir a combinação de recursos de longo prazo utilizada pelas empresas para financiar suas operações cujas fontes podem ser Capital de Terceiros ou Capital Próprio Relembrando a estrutura do Balanço Patrimonial que estudamos no Bloco 1 esses capitais estão expressos nas contas do Passivo Não Circulante e no Patrimônio Líquido como você pode conferir na Figura 52 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Receita operacional 45000 120000 75000 90000 105000 Custos e despesas operacionais 15000 37500 30000 30000 37500 Depreciação 3000 3000 7500 7500 12000 Lucro Operacional 27000 79500 37500 52500 55500 Imposto de Renda 34 9180 27030 12750 17850 18870 Lucro operacional líquido 17820 52470 24750 34650 36630 Depreciação 3000 3000 7500 7500 12000 Fluxos de caixa livres FCL 20820 55470 32250 42150 48630 Componentes Resulados operacionais incrementais 94 Fonte Megliorini Vallim 2018 p 34 Figura 52 Estrutura de capital Cada uma dessas fontes de recursos possui custos próprios pois os fornecedores desses recursos credores ou acionistas exigirão uma remuneração pelos capitais investidos Por isso uma estrutura de capital eficiente é aquela que tem os menores custos possíveis Ao reduzir o seu custo de capital a empresa consegue maior rentabilidade em suas operações e também maior retorno em seus projetos de investimento MEGLIORINI VALLIM 2018 Os autores destacam que esse custo de capital é fundamental na análise e tomada de decisão quanto aos projetos de investimentos pois só faz sentido aprovar um novo investimento se ele oferecer retorno superior ao custo do capital Por esse motivo o custo de capital é considerado uma taxa mínima de retorno que os projetos de investimentos devem proporcionar Custo do Capital de Terceiros É o custo decorrente da captação de recursos por meio de empréstimos e financiamentos realizado com instituições financeiras e também por debêntures emitidas e negociadas no mercado de capitais Sobre o valor obtido com esses mecanismos há incidência de juros que devem ser pagos periodicamente As taxas de juros nesse caso estão associadas ao risco de inadimplência da empresa pois as 95 instituições financeiras estabelecem taxas alinhadas ao risco Além disso o valor principal dessas operações deve ser pago pela empresa Um ponto importante dessas fontes de capital é o fato de os juros serem considerados Despesas Financeiras Relembrando a Demonstração de Resultados do Exercício DRE que estudamos no Bloco 1 essas despesas reduzem o valor do lucro que é utilizado como base para o cálculo do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica IRPJ e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL Por esse motivo autores como Gitman 2010 e Seleme 2012 destacam que o custo do capital de terceiros apresenta o chamado Benefício Fiscal Assim sobre a taxa de juros dos capitais obtidos deve ser deduzida a alíquota de tributação da empresa Vamos ver como isso funciona utilizando o seguinte exemplo adaptado de Megliorini e Vallim 2018 a empresa X tem uma estrutura de capital que inclui R 200 mil em empréstimos com juros anuais de 20 A empresa Y é financiada apenas por capital próprio As duas empresas apresentaram lucro operacional de R 500 mil e são tributadas com alíquota de 40 Os resultados das duas empresas estão na Figura 53 Fonte Megliorini Vallim 2018 p 36 Figura 53 Demonstração de resultados das empresas X e Y Observe que na empresa X as despesas financeiras com os juros do empréstimo R 4000000 20 de R 20000000 reduziram o lucro antes dos impostos e proporcionaram uma economia de R 1600000 nos impostos Dessa forma as despesas financeiras líquidas foram de R 2400000 96 Com base nesse exemplo podemos calcular a taxa de juros efetiva do empréstimo realizado pela empresa X Despesas financeiras líquidas despesas financeiras x 1 alíquota de IR e CSLL A partir desse valor podemos calcular a taxa de juros efetiva Ke do empréstimo da seguinte maneira 40000 x 1 04 40000 x 06 24000 Ke 20 x 1 040 20 x 060 12 aa Perceba que a alíquota total da tributação IR CSLL reduz o custo do capital de terceiros Por isso sempre que for preciso utilizar o custo do capital de terceiros na análise de viabilidade de projetos de investimentos deve ser utilizada a fórmula a seguir para calcular a taxa efetiva desse capital Taxa efetiva do capital de terceiros Ke K x 1 alíquota de IR e CSLL Onde Ke taxa efetiva do capital de terceiros K taxa de juros da operação Custo do Capital Próprio O capital próprio representado pelo Patrimônio Líquido expressa as obrigações da empresa com os sócios proprietários e acionistas De maneira diferente do capital de terceiros cuja obtenção está atrelada a um contrato que estabelece as condições como prazo de pagamento e taxas de juros o capital próprio não requer essas condições No entanto isso não significa que se trata de um capital sem custo pois todos os recursos utilizados em projeto de investimento poderiam ser utilizados de outra maneira pelos proprietários da empresa Inclusive eles poderiam realizar a retirada dos lucros em vez de investilo na expansão ou modernização da empresa por exemplo De acordo com Gitman 2010 o Modelo de formação de preços de ativos chamado de Modelo CAPM pela sigla em inglês é um dos mais utilizados para mensuração do custo do capital próprio Ele é composto por três elementos como mostra a fórmula a seguir 97 Onde Ri taxa de retorno rentabilidade esperada do ativo Rf retorno de um ativo livre de risco ß coeficiente que mede a sensibilidade entre o ativo e o mercado Rm retorno da carteira de mercado Para compreender melhor o Modelo CAPM vamos utilizar o seguinte exemplo uma empresa está analisando um projeto de investimento que utilizará apenas capital próprio O gestor financeiro decidiu utilizar o CAPM para mensurar o custo do capital do projeto As informações obtidas para o cálculo são Taxa de juros livre de riscos de 65 retorno esperado do mercado de 135 e coeficiente Beta de 095 Pelos dados do exemplo β 095 RF 65 RM 135 Cálculo do CAPM Rj RF β x RM RF Rj 65 095 x 135 65 65 095 x 7 65 665 Rj 132 Com base no custo do capital próprio apurado pelo modelo CAPM o projeto de investimento tem uma taxa mínima de atratividade de 132 ou seja o retorno do projeto deverá ser superior a essa taxa para ser considerado viável Custo médio ponderado de capital CMPC Na maior parte dos projetos de investimentos os recursos são obtidos com diversas fontes de capital cujos custos são diferentes entre si Além disso cada fonte pode contribuir com parcelas de valor diferente para compor o valor total necessário Por esse motivo para analisar se o retorno do projeto é superior ao custo do capital empregado é preciso calcular o Custo Médio Ponderado dessas diversas fontes SELEME 2012 A equação básica para obter o CPMC é 98 CMPC W1 x K1 W2 x K2 W3 x K3 Wn x Kn Onde W1 Proporção do tipo de capital 1 W2 Proporção do tipo de capital 2 W3 Proporção do tipo de capital 3 K1 Custo do capital 1 K2 Custo do capital 2 K3 Custo do capital 3 Notas 1 As expressões Wn e Kn demonstram que a equação pode conter quantas forem as fontes de capital e respectivos custos 2 A soma das proporções de cada capital deve resultar em 100 pois representa o capital total investido no projeto É claro que um exemplo vai ajudar a entender como esse cálculo é feito Vamos a ele Para um projeto de substituição de máquinas em sua fábrica uma empresa necessita de R 80000000 As fontes de recursos são Financiamento bancário R 25000000 custo de 11 aa Crédito do BNDES R 35000000 custo de 950 e Capital próprio R 20000000 custo de 12 Os lucros da empresa são tributados em 34 IR e CSLL A primeira etapa é calcular o custo efetivo dos capitais de terceiros como mostra o Quadro 52 Quadro 52 Custo efetivo dos capitais de terceiros Fonte a Autora 2023 A aplicação da equação para obtenção do CMPC pode ser mais bem visualizada conforme Tabela 53 Ke 11 x 1 034 Ke 11 x 066 73 Ke 95 x 1 034 Ke 95 x 066 63 Financiamento BNDES Ke K x 1 alíquota de IR e CSLL 99 Tabela 53 Custo médio ponderado de capital CPMC do projeto Fonte a Autora 2023 Observando a Tabela 53 você pode perceber que o CMPC considera tanto a proporção de cada capital no total de recursos do projeto como os respectivos custos Por esse motivo para as informações do exemplo o projeto somente será considerado viável se o seu retorno for superior a 81 aa 53 Período de payback O período de payback é um dos métodos mais simples para análise de projetos Ele consiste na determinação do tempo necessário para que o investimento inicial seja recuperado considerando as entradas de caixa proporcionadas pelo projeto Por isso ele é considerado um método que transforma dinheiro em tempo Há três modalidades desse método Payback Efetivo Payback Médio e Payback Descontado ASSAF NETO LIMA 2023 Vamos utilizar um exemplo de projeto de investimento para apresentar as três modalidades Veja o fluxo de caixa do projeto no Quadro 53 Quadro 53 Fluxo de caixa de um projeto Fonte a Autora 2023 Fontes R Proporção A Custo B A X B Financiamento bancário 25000000 31 730 23 Crédito do BNDES 35000000 44 630 28 Capital próprio 20000000 25 12 30 Total 80000000 100 CMPC 81 Investimento Ano 0 15000 R Ano 1 7000 R Ano 2 7500 R Ano 3 8000 R Ano 4 8500 R Fluxos de Caxa Livres FCL FLUXO DE CAIXA 100 Vamos começar com o Payback Efetivo o mais simples de se calcular e também de fácil compreensão Basta deduzir os fluxos de caixa livres do investimento inicial até que todo investimento seja absorvido No nosso exemplo o resultado pode ser observado no Quadro 54 Quadro 54 Payback efetivo do projeto Fonte a Autora 2023 Observe que os FCLs dos anos 1 e 2 são totalmente absorvidos mas ainda restam R 500 de investimento Como o FCL do ano 3 é maior que o saldo restante é preciso obter a parcela desse ano que será utilizada Basta dividir o valor do investimento pelo saldo 8000 500 16 Dessa forma o período de Payback do projeto é de 216 anos Payback Médio Para calcular o tempo de retorno médio do projeto é utilizada a relação entre o valor do investimento e o valor médio dos fluxos esperados de caixa Valor médio dos fluxos de caixa Payback Médio Payback Descontado É uma modalidade de payback que incorpora o conceito do valor do dinheiro no tempo que já estudamos no Bloco 3 Os fluxos de caixa são trazidos a valor presente considerando uma taxa mínima de atratividade definida pela empresa Saldo Investimento Ano 0 R 15000 15000 R Ano 1 R 7000 8000 R Ano 2 R 7500 500 R Ano 3 R 8000 7500 R Ano 4 8500 R FLUXO DE CAIXA Fluxos de Caxa Livres FCL 7000 7500 8000 8500 4 R 7750 15000 R 7750 R 194 anos 101 No projeto que estamos analisando considere que a taxa mínima de atratividade é de 20 ao ano O cálculo dos fluxos de caixa a valor presente nós já estudamos no Bloco 3 Cálculo do Valor Presente dos FCL Ano 1 7000 5833 1 0201 Ano 2 7800 5208 1 0202 Ano 3 8000 4630 1 0203 Ano 4 8500 4099 1 0204 Payback Descontado PB 29 anos 39594630 0855 Como você pode perceber o cálculo do Payback Descontado considera a mesma lógica do PB Efetivo apenas utilizando o valor dos FCL a valor presente Critério de Decisão Para aceitar ou rejeitar um projeto com base no Período de Payback é preciso comparar com o padrãolimite estabelecido pela empresa No exemplo calculado se o período definido pela empresa for 3 anos o projeto pode ser aceito Assaf Neto e Lima 2023 destacam que o período de payback é uma medida auxiliar de análise nas decisões financeiras de longo prazo Ele deve ser utilizado juntamente com outros métodos mais sofisticados para compor um quadro de decisão mais consistente 54 Valor presente líquido VPL O Valor Presente Líquido VPL de um projeto de investimento é obtido pela diferença entre o valor presente dos fluxos de caixa líquidos FCL projetados para cada período do período de duração do projeto e o valor presente do investimento que será realizado Dessa forma o VPL oferece retorno do investimento e também remunera o custo do capital Saldo Investimento Ano 0 R 15000 15000 R Ano 1 R 5833 9167 R Ano 2 R 5208 3959 R Ano 3 R 4630 671 R Ano 4 4099 R FLUXO DE CAIXA Fluxos de Caxa Descontados 102 Para calcular o valor presente dos FCL é utilizada uma taxa mínima de atratividade que na maior parte das vezes corresponde ao custo do capital do projeto ASSAF NETO LIMA 2023 GITMAN 2010 Os critérios de decisão baseados no VPL são VPL 0 Projeto cria valor econômico Aumenta a riqueza dos acionistas VPL 0 Projeto não cria valor econômico Remunera somente o custo de oportunidade Não altera a riqueza dos acionistas VPL 0 Projeto destrói valor econômico Reduz a riqueza dos acionistas O cálculo do VPL pode ser feito de duas maneiras utilização de uma equação ou com calculadora financeira HP12C Equação do VPL Onde VPL valor presente líquido II investimento inicial do projeto FC fluxo de caixa em cada ano do projeto K taxa mínima de atratividade Para demonstrar o cálculo das duas formas vamos utilizar um exemplo com dois projetos excludentes cujo custo de capital é de 18 aa Cálculo do VPL com equação Projeto A 150000 6500000 7200000 8200000 9000000 1 0181 1 0182 1 0183 1 0184 Investimento Ano 0 R 15000000 Investimento Ano 0 25000000 R Ano 1 6500000 R Ano 1 9500000 R Ano 2 7200000 R Ano 2 10000000 R Ano 3 8200000 R Ano 3 12000000 R Ano 4 9000000 R Ano 4 18000000 R Projeto B Fluxos de Caxa Livres FCL Projeto A Fluxos de Caxa Livres FCL 103 Projeto A 150000 5508475 5170928 4990773 4642100 5312276 Projeto B 250000 9500000 10000000 12000000 18000000 1 0181 1 0182 1 0183 1 0184 Projeto B 250000 8050847 7181844 7303570 9284200 6820462 Cálculo do VPL utilizando a HP12C Você pode baixar aplicativos para celular que executam as funções da HP12C Ao utilizar a tecla azul g são acessadas as funções em azul abaixo de cada tecla Veja exemplos na figura A tecla amarela f acessa as funções em amarelo acima das teclas Cálculo do VPL dos projetos do nosso exemplo com HP12C 150000 CHS g CF0 6500000 g CFj 7200000 g CFj 8200000 g CFj 9000000 g CFj 18 i f NPV Resultado Projeto A 5312276 250000 CHS g CF0 9500000 g CFj 10000000 g CFj 12000000 g CFj 18000000 g CFj 18 i f NPV Resultado 6820462 Projeto B 104 Pelos resultados apurados o Projeto B oferece um Valor Presente Líquido maior para uma mesma taxa mínima de atratividade Dessa forma esse é o projeto que gera maior valor econômico e maior riqueza aos acionistas 55 Taxa Interna de Retorno TIR A Taxa Interna de Retorno representa a taxa de desconto que iguala as entradas com as saídas previstas de caixa Para avaliação de propostas de investimento o cálculo da TIR requer as mesmas informações utilizadas para o cálculo do VPL o valor do investimento inicial e os fluxos de caixa livres FCL gerados pela decisão de investimento A TIR consiste basicamente na taxa de desconto que faz o VPL de um investimento ser igual a 0 zero já que o valor presente das entradas é igualado ao do investimento inicial É a taxa de retorno anual que a empresa obterá se investir no projeto e receber as entradas de caixa É o método mais utilizado para análise de investimentos de capital embora seja mais difícil de calcular por meio de fórmula No entanto com o uso intensivo de calculadoras financeiras e de softwares de cálculo como o Excel seu uso está amplamente difundido MEGLIORINI VALLIM 2018 SELEME 2012 A recomendação de um projeto de investimento com base na Taxa Interna de Retorno considera que o retorno calculado pela TIR deve ser superior ao custo de capital ou Taxa Mínima de Atratividade TMA Projetos de investimento nessa situação geram valor econômico para a empresa Quando o projeto apresentar TIR inferior à TMA ele deve ser rejeitado Em resumo os critérios de aceitação baseados na TIR são TIR taxa mínima de atratividade o investimento é economicamente atraente devendo ser aceito TIR taxa mínima de atratividade o investimento destrói valor devendo ser rejeitado Retomando o exemplo dos Projetos A e B utilizados para análise do VPL vamos calcular a Taxa Interna de Retorno utilizando a calculadora HP12C uma vez que o cálculo com 105 equações é complexo e exige operações de tentativa e erro até que o resultado seja obtido Veja que o resultado dos projetos com o método da Taxa Interna de Retorno TIR é diferente do VPL O Projeto A apresenta maior TIR que o Projeto B e ambas são superiores ao custo de capital de 18 aa Como decidir quando VPL e TIR resultam em indicações diferentes quanto ao projeto com maior retorno O projeto B é o que apresenta maior geração de caixa mesmo resultando em menor TIR que o Projeto A é o que gera maior riqueza para os acionistas com maior VPL Para Assaf Neto e Lima 2023 o método do VPL é o único método de avaliação de investimentos consistente com o objetivo de maximização da riqueza dos acionistas Diante de decisões conflitantes sempre deve ser selecionada a alternativa que gera maior riqueza medida pelo VPL e não de maior taxa de retorno TIR Conclusão Neste bloco estudamos sobre as decisões de investimentos e orçamento de capital Começamos tratando do Orçamento do Capital como o processo pelo qual a empresa avalia e seleciona projetos de investimento Para analisar os investimentos de capital a empresa elabora projetos contendo informações de cada um deles e utiliza técnicas de 150000 CHS g CF0 6500000 g CFj 7200000 g CFj 8200000 g CFj 9000000 g CFj f IRR Resultado 3420 Projeto A 250000 CHS g CF0 9500000 g CFj 10000000 g CFj 12000000 g CFj 18000000 g CFj f IRR Resultado 3000 Projeto B 106 orçamento de capital para analisar decidir sobre sua viabilidade e escolher aqueles que serão implementados Dentre os motivos que levam uma empresa a realizar investimentos de capital estudamos aqueles destinados à expansão substituição ou reforma e outros como desenvolvimento de produtos e de campanhas publicitárias Quanto aos tipos os projetos podem ser independentes ou mutuamente excludentes Para qualquer tipo é preciso elaborar projeções dos fluxos de caixa operacionais incrementais para obter os fluxos de caixa livres do projeto Como os projetos exigem aplicação de recursos que envolvem custos de capital estudamos a estrutura de capital que é a composição entre capital próprio e de terceiros utilizados pela empresa O custo do capital de terceiros oferece benefício fiscal porque os juros são incluídos na DRE como despesa financeira O custo do capital próprio é obtido com o cálculo do CAPM Da combinação desses capitais temos o Custo Médio Ponderado de Capital Nos métodos mais utilizados para análise e decisão acerca dos projetos de investimentos abordamos o Período de Payback que mostra o tempo necessário para recuperação do investimento Ele pode ser PB efetivo PB médio ou PB descontado Avançamos com o Valor Presente Líquido VPL representado pela diferença entre o valor presente dos fluxos de caixa livres e o investimento inicial Dessa forma ele demonstra se o projeto oferece retorno para o investimento bem como remunera o custo do capital Finalizamos com a Taxa Interna de Retorno TIR que representa a taxa de desconto que iguala as entradas com as saídas previstas de caixa Quando houver resultados conflitantes na decisão sobre a aceitação e escolha de projetos o VPL deve ser o critério de escolha pois é a alternativa que gera maior riqueza medida pelo VPL e não de maior taxa de retorno TIR 107 Referências ASSAF NETO A LIMA F G Curso de administração financeira 4 ed São Paulo Atlas 2023 GITMAN L J Princípios de administração financeira Tradução de Allan Vidigal Hastings 12 ed São Paulo Pearson Prentice Hall 2010 MEGLIORINI E VALLIM M A Administração financeira 2 ed São Paulo Pearson Education do Brasil 2018 SELEME L D B Finanças sem complicação Curitiba InterSaberes 2012 108 6 GOVERNANÇA CORPORATIVA Nos blocos anteriores nos debruçamos sobre conceitos definições técnicas e métodos que enfatizam a gestão financeira das empresas com vistas à sua sobrevivência e crescimento bem como à maximização da riqueza lucro de seus proprietários No entanto já há muito tempo a questão do crescimento econômico e financeiro tem sido discutida em um âmbito mais abrangente que envolve ética integridade responsabilidade social dentre outros temas Nesse contexto garantir resultados econômicofinanceiros na gestão das empresas se tornou apenas uma parte da equação de sobrevivência empresarial No mundo todo questões relacionadas às práticas de gestão ilícitas e à corrupção se tornaram centrais nas discussões sobre o modelo de desenvolvimento econômico das organizações No Brasil em especial a Operação Lava Jato e a Lei Anticorrupção trouxeram para as principais manchetes os bastidores de grandes e conhecidas empresas causando mudanças de mentalidade em uma sociedade acostumada com o famoso jeitinho brasileiro Nessa perspectiva quer seja por uma questão de valores quer seja por necessidade de sobrevivência em um mundo cada vez mais preocupado com ética e integridade a temática da Governança Corporativa ganhou destaque Assim este bloco tem por objetivo apresentar conceitos e reflexões que permitam reconhecer o papel e a relevância da atitude ética na gestão organizacional identificando as contribuições da Governança Corporativa no cenário empresarial 61 Histórico e evolução A história da Governança Corporativa de acordo com Neves 2021 é sustentada por quatro marcos principais o ativismo pioneiro de Robert Monks Fundo Lens o Relatório Cadbury os princípios da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE e a Lei SarbanesOxley Oliveira 2015 demonstra a relação entre esses marcos na Figura 61 109 Fonte Oliveira 2015 p 13 Figura 61 Origens da Governança Corporativa Esses marcos que detalharemos mais à frente têm em comum o objetivo de superar o conflito de agência O que seria esse conflito Vamos explicar Ao longo do tempo o crescimento das organizações e a segmentação de seu capital em ações comercializadas em Bolsa de Valores obrigou seus fundadores proprietários e acionistas a contratar executivos para administrar as operações da empresa Nessa perspectiva o processo de delegação de autoridade e atribuições gera dois tipos de personagens que assumem diferentes papéis nas relações contratuais o principal que pode ser o fundador da empresa ou o conjunto de acionistas é o proprietário da empresa que delega a sua gestão a um grupo de executivos de outro lado temos o agente contratado para administrar a empresa BITTENCOURT 2020 Na situação descrita o proprietário acionista delega a um agente especializado executivo o poder de decisão sobre sua propriedade Entretanto nem sempre os interesses do gestor agente estão alinhados com os do proprietário principal o que gera um conflito entre o agente e o principal o Conflito de Agência Agora que você já sabe o que é o Conflito de Agência vamos explicar os marcos que originaram a Governança Corporativa 110 Ativismo de Robert Monks e o Fundo Lens Robert Monks foi o líder de um grupo de investidores que tomou a iniciativa de superar os abusos que vinham sendo cometidos por gestores executivos em relação aos direitos dos acionistas proprietários das companhias O objetivo foi destacar a necessidade de mais transparência nas informações produzidas e fornecidas pelos administradores aos acionistas Para atingir esse objetivo em 1992 Monks criou o fundo de investimento LENS com um novo modelo de gestão destinado a proporcionar resultados melhores e maior valor para as empresas NEVES 2021 OLIVEIRA 2015 O modelo de gestão adotado para o fundo de investimento LENS tomava por base cinco princípios básicos a atuação e o monitoramento eficazes pelos acionistas adicionam melhores resultados e valor para as empresas as empresas éticas e com valores de atuação bem consolidados e disseminados têm forte sustentação para suas possíveis recuperações a ética tem ligação direta com os resultados das empresas as empresas modernas são complexas e dinâmicas e procuram gerar riquezas para seus proprietários e para a comunidade onde atuam e o direito e a vontade de realizar investimentos são a base de sustentação do desenvolvimento das empresas e da liberdade empresarial OLIVEIRA 2015 p 13 Com esses princípios Monks contribuiu para a construção de conceitos importantes da Governança Corporativa tais como a participação dos acionistas no monitoramento e análise nos resultados da empresa o compromisso com a ética e a articulação entre a geração de riquezas não apenas para a empresa e seus proprietários mas também para a comunidade onde atuam Relatório Cadbury Em maio de 1991 o Conselho Financeiro da Bolsa de Valores de Londres e o Instituto de Contadores Certificados seguindo orientação do Banco de Londres criou o Comitê Cadbury para investigar as causas do colapso financeiro de duas empresas o Grupo Coloroll e o consórcio Polly Peck O fato gerou desconfiança dos investidores em relação 111 à honestidade e responsabilidades das empresas listadas na Bolsa de Valores pois as demonstrações publicadas pelas empresas não demonstravam a possibilidade de problemas financeiros pelo contrário destacam a saúde financeira delas NEVES 2021 O relatório do Comitê publicado em 1992 consolidava uma revisão dos aspectos de Governança Corporativa relacionada às práticas contábeis e à elaboração de apresentações das demonstrações financeiras A essência da primeira versão do relatório abordava a adequação dos contratos e a clareza das informações divulgadas fundamentando dois princípios fundamentais da governança prestação responsável de contas e transparência NEVES 2021 BITTENCOURT 2020 Silva 2016 destaca que o foco do relatório nos aspectos financeiros da governança corporativa abordou questões essenciais na relação entre executivos agentes e acionistas principais tais como as responsabilidades dos conselheiros e dos executivos principais a análise do desempenho e informações para acionistas a frequência e a clareza na prestação de contas a composição de Comitês de Auditoria interação entre acionistas conselhos auditores e executivos e a definição de um Código de Melhores Práticas Por esse motivo o relatório se tornou um marco inicial de um movimento de governança corporativa na Inglaterra e também um símbolo dos códigos de boas práticas de governança Além disso desencadeou um processo de valorização da governança que resultou na disseminação de boas práticas em todo o mundo Princípios da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE Por volta de 1998 membros do conselho de administração da OCDE juntamente com os governos de vários países e entidades privadas solicitaram a criação de normas e orientações para gestão das empresas No ano seguinte um acordo estabeleceu os princípios para boa governança corporativa que deveriam ser seguidos por países membros e parceiros da OCDE Esses princípios se tornaram a base para sistemas financeiros mais sólidos 112 Em 2004 as orientações foram revisadas com a participação de organismos internacionais de regulação do sistema financeiro internacional consolidando os cinco princípios mostrados no Quadro 61 Quadro 61 Princípios da OCDE para Governança Corporativa 1 Não existe modelo único de Governança Corporativa mas existem elementos comuns que sustentam as melhores práticas 2 Todos os acionistas independentemente de serem majoritários ou minoritários nacionais ou estrangeiros devem ter tratamento equalitário e equitativo da empresa sendo seus direitos protegidos pela Governança Corporativa 3 Devem existir transparência e veracidade nas informações disponibilizadas em geral consolidando inclusive maior interesse pela empresa pois as melhores práticas de Governança Corporativa aumentam e consolidam a maior competitividade dessas empresas 4 Todos os fatos relevantes devem ser prontamente divulgados aos públicos interessados 5 As responsabilidades e a forma de atuação do Conselho de Administração devem estar muito bem definidas entendidas operacionalizadas e avaliadas sendo os governos responsáveis pela regulamentação de seus princípios respeitando a relação custobenefício Fonte elaborado pela autora com base em Oliveira 2015 p 1415 O documento consolida temas centrais da Governança Corporativa tais como os direitos dos acionistas e o exercício desses direitos o tratamento justo e igualitário as partes interessadas na organização stakeholders a transparência e a divulgação das informações e as responsabilidades dos administradores da empresa Lei SarbanesOxley O último marco importante foi a publicação em 2022 elaborada pelos senadores norte americanos Paul Sarbanes e Michael Oxley em decorrência dos escândalos envolvendo grandes corporações como Enron e Arthur Andersen que apresentaram demonstrações contábeis manipuladas Foram criadas informações falsas quanto ao desempenho de algumas companhias e as empresas de auditoria participaram da fraude atestando a veracidade das demonstrações financeiras divulgadas A Lei SarbanesOxley conhecida também por Sabox ou SOX nasceu então como uma maneira de resgatar a confiança da comunidade de investidores afetada pela sequência de fraudes bilionárias para manter a liquidez e a atratividade dos sistemas financeiro e 113 empresarial do país Ela se aplica a empresas norteamericanas e também a estrangeiras que negociem ações nos Estados Unidos Os seus 11 capítulos incluem temas como controle segurança e transparência na condução dos negócios com o objetivo de restabelecer a confiança de quem investe no mercado de ações BITTENCOURT 2020 NEVES 2021 As bases da lei como informa Oliveira 2015 são os quatro princípios da Governança Corporativa que foram sendo aprimorados por estudos ao longo do tempo conformidade legal e ética Governança Corporativa não representa um assunto de boas intenções a adequada administração e prestação responsável de contas o que inclui a completa indicação dos responsáveis transparência e veracidade das informações fornecidas aos diversos públicos interessados senso de propósito e de justiça nas decisões adotadas pela empresa Sob a ótica desses princípios a Lei SarbanesOxley sintetiza primordialmente dois aspectos i o rigor da atuação da auditoria e da fiscalização dos atos das empresas e a punição severa dos atos fraudulentos praticados pelos administradores das empresas A partir desses marcos a evolução da Governança Corporativa caminhou para a criação de um conjunto eficiente de mecanismos tanto de incentivos quanto de monitoramento destinados a garantir que a atuação dos executivos esteja sempre alinhada com o interesse dos acionistas Em outras palavras atuando sobre o Conflito de Agência Desse modo a boa governança corporativa proporciona aos proprietários acionistas ou cotistas a gestão estratégica de sua empresa e a monitoração da direção executiva SILVA 2016 62 Governança Corporativa no Brasil No Brasil o processo de adoção de boas práticas de Governança Corporativa foi impulsionado pela combinação dos processos de globalização privatização e desregulamentação econômica que geraram um ambiente de negócios mais 114 competitivo As grandes empresas com controle e gestão familiar concentrando grande parte do capital deram lugar a empresas com maior dispersão do capital acionário acionistas minoritários passivos foram substituídos por investidores institucionais ativos e os conselhos de administração figurativos foram substituídos por conselheiros profissionais e independentes OLIVEIRA 2015 SILVA 2016 As privatizações trouxeram as primeiras experiências de controle compartilhado das organizações no Brasil com a formalização de acordo de acionistas assim os investidores integrantes do grupo que controla o capital passaram a dividir o comando da empresa estabelecendo as regras em contratos Além disso investidores institucionais que possuem grande volume de ações tais como seguradoras fundos de pensão e fundos de investimentos dentre outros passaram a atuar de maneira mais ativa participando das assembleias gerais e exercendo o direito de voto e fiscalizando a gestão de maneira mais próxima SILVA 2016 Ao mesmo tempo em que essas modificações ocorreriam a entrada de investidores estrangeiros na Bolsa de Valores reforçou a obrigatoriedade de as empresas se ajustarem às exigências e aos padrões internacionais Logo a adoção de boas práticas de governança corporativa se tornou prioridade especialmente pela pressão dos investidores Vamos conhecer alguns dos principais marcos da Governança Corporativa aqui no Brasil Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa IBGC No cenário descrito em 1995 aconteceu a criação do Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração IBCA que passou a se chamar Instituto Brasileiro de Governança Corporativa IBGC em 1999 O objetivo do instituto é auxiliar no processo de adoção de práticas transparentes responsáveis e igualitárias na gestão das organizações No mesmo ano foi lançado o primeiro Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa IBGC nd O código trouxe inicialmente informações sobre o Conselho de Administração e a conduta esperada desse conselho O código evoluiu com versões posteriores 115 detalhando e aprofundando os quatro princípios básicos da boa governança Em 2015 foi publicada a 5ª edição do código IBGC Em 2023 há previsão de lançamento da 6ª edição do Código atualizado para manter a sua condição de um instrumento de consulta e referência para organizações de diferentes portes setores naturezas jurídicas e níveis de maturidade visando contemplar todas as transformações da sociedade IBGC nd O IBGC nd em seu site informa que o código é a principal referência sobre governança corporativa no Brasil complementando que ele foi construído de maneira coletiva por profissionais e especialistas Destinado a contribuir para a evolução da temática da governança nas empresas e demais organizações que atuam no Brasil o código apresenta recomendações das melhores práticas de governança Em linhas gerais o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC aborda e orienta sobre os temas propriedade Conselho de Administração administração diretoria auditoria independente Conselho Fiscal conduta ético profissional e conflito de interesses Comissão de Valores Mobiliários do Brasil A comissão lançou em 2002 sua cartilha Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa um documento com ênfase nos administradores conselheiros acionistas controladores e minoritários e auditores independentes O objetivo da cartilha foi orientar sobre os temas que afetam os relacionamentos entre as partes interessadas da empresa SILVA 2016 A mesma comissão em 2010 passou a exigir que as companhias elaborassem as suas demonstrações contábeis de acordo com os Princípios Contábeis Internacionais Com essa mudança o mercado foi orientado no sentido de estabelecer boas práticas de governança corporativa buscando inserir o Brasil no cenário internacional de boas práticas o que contribui para tornar o mercado de capitais brasileiro mais atraente para investimentos globais GIACOMELLI et al 2017 116 Bolsa de Valores A antiga Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo trouxe outra contribuição para incentivar a adoção de boas práticas de governança por empresas brasileiras Em 2001 foram criados três segmentos especiais de listagem além do mercado tradicional existente São três segmentos diferenciados em relação à governança Nível 1 Nível 2 e Novo Mercado De acordo com a B3 nova denominação da bolsa de valores brasileira os segmentos foram criados para atender diferentes perfis de empresas As regras de cada nível superam as obrigações das empresas estabelecidas na Lei das Sociedades por Ações e as empresas escolhem o nível ao qual desejam aderir As regras de adesão aos segmentos atraem os investidores pois asseguram direitos aos acionistas além de regularem a divulgação aos participantes dos mercados Apesar desse arcabouço de desenvolvimento da Governança Corporativa no ambiente empresarial brasileiro o esforço para adoção de padrões internacionais e a fiscalização de órgãos reguladores muitos acontecimentos afetaram a reputação de grandes empresas brasileiras causando prejuízos aos acionistas e aos investidores Casos como Petrobras Construtora Odebrecht Braskem e outras levam ao questionamento da eficácia da governança e também o quanto é possível o seu cumprimento Também traz dúvidas quanto à fiscalização das regras estabelecidas Mesmo com esses acontecimentos o mercado brasileiro avançou em relação à Governança Corporativa Os próprios eventos que colocaram em destaque as empresas mencionadas mostram que é possível identificar as falhas ocorridas e desenvolver novas soluções 63 Estrutura de Governança Corporativa Para adoção de boas práticas de Governança Corporativa é preciso definir uma estrutura da qual participam os principais agentes O IBGC 2015 apresenta uma estrutura proposta para o sistema dentro do seu contexto conforme a Figura 62 117 Vale destacar que se trata de um modelo básico cuja adaptação é feita conforme o tipo de empresa desde que os principais agentes e suas atribuições sejam preservados Os diferentes órgãos que compõem o sistema podem ser organizados em três categorias deliberativos executivos e controladores Fonte IBGC 2015 p 19 Figura 62 Contexto e estrutura do sistema de governança corporativa Com auxílio de Giacomelli et al 2017 e do IBGC 2015 confira uma breve descrição das responsabilidades e atribuições dos principais órgãos dessa estrutura A Órgãos deliberativos Assembleia geral de acionistas É a autoridade máxima de uma sociedade de ações por isso considerada a instância deliberativa superior Detém os poderes para decidir sobre todos os aspectos relativos ao objetivo da companhia portanto é a assembleia geral que definirá as diretrizes que servirão de base para o trabalho da governança Dentre os poderes da assembleia podem ser destacados reformar o estatuto social contratar ou demitir os administradores auditores ou fiscais da organização cobrar e 118 deliberar sobre as demonstrações financeiras apresentadas pelos administradores autorizar a emissão de debêntures realizar alterações na estrutura societária tais como fusões aquisições emissão de novas ações dissolução e liquidação da empresa bem como autorizar falência para pedidos de concordata Conselho de administração É o órgão colegiado encarregado do processo de decisão da companhia em relação ao seu direcionamento estratégico cujos membros são eleitos pelos sócios Tem papel fundamental na preservação dos princípios valores objeto social e do sistema de governança da organização Além de decidir os rumos estratégicos do negócio o conselho de administração é responsável por monitorar a diretoria atuando como elo entre ela e os sócios Dentre as principais atribuições do conselho podemos listar eleger e destituir os diretores da companhia definir as atribuições da direção fiscalizar a gestão dos diretores convocar a assembleia geral analisar o relatório de administração e as contas da diretoria emitir parecer sobre atos ou contratos dentre outras B Órgãos executivos Diretoria É o órgão responsável pela gestão da organização executando a estratégia e as diretrizes aprovadas pelo conselho de administração administrando os ativos e conduzindo seus negócios Ela elabora e implementa os processos operacionais e financeiros incluindo gestão de risco e comunicação com o mercado e demais partes interessadas A diretoria deve garantir a conformidade da organização em relação à legislação e regulamentação bem como às demais políticas internas a que está submetida Nas empresas que possuem subsidiárias a diretoria deve trabalhar com as outras empresas do grupo para que estejam operando em conformidade 119 C Órgãos controladores Conselho fiscal Esse órgão que integra sistema de governança na organização brasileira conforme o estatuto pode ser permanente ou não Ele constitui um mecanismo para fiscalizar os administradores de maneira independente reportando os resultados aos sócios É instituído na assembleia de acionistas com o objetivo de preservar o valor da organização Dentre outras atribuições do Conselho Fiscal estão fiscalizar os atos dos administradores e verificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários emitir parecer sobre as propostas da administração que serão submetidas à assembleia geral emitir parecer sobre o relatório anual de administração denunciar aos órgãos de administração e à assembleia geral os erros as fraudes e os crimes descobertos sugerindo ações corretivas convocar assembleias gerais com o objetivo de fiscalização e controle Comitê de auditoria É responsável por assessorar o conselho de administração no controle da qualidade de demonstrações financeiras e controles internos com objetivo de garantir a confiabilidade e integridade das informações e proteger a organização e todas as partes interessadas Sua formação total ou a maior parte deve ser constituída por conselheiros independentes e coordenado por um conselheiro independente Para evitar conflitos de interesse não deve incluir conselheiros internos ou executivos em sua composição Auditoria independente O auditor independente deve emitir parecer sobre as demonstrações financeiras preparadas pela administração analisando as disposições aplicáveis e verificando se elas representam efetivamente a posição patrimonial e financeira da organização 120 É com o apoio da auditoria independente que o conselho de administração e a diretoria se responsabilizam por garantir a integridade das demonstrações financeiras e sua adequação às práticas contábeis vigentes 64 Pilares da Governança Corporativa Para que você possa compreender como os pilares atuam na construção de um sistema de Governança Corporativa GC vamos à sua definição Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas monitoradas e incentivadas envolvendo os relacionamentos entre sócios conselho de administração diretoria órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas IBGC 2015 p 20 Dessa definição podemos concluir que Governança Corporativa representa a forma como as empresas são administradas Por isso o IBGC 2015 destaca que as boas práticas sugeridas em seu manual transformam os princípios básicos em orientações objetivas e concretas destinadas a proporcionar alinhamento entre os interesses das partes interessadas Assim adoção de um sistema de GC tem a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização sua longevidade e o bem comum IBGC 2015 p 20 Os princípios ou pilares de sustentação de um sistema de Governança Corporativa são quatro transparência equidade prestação de contas e responsabilidade corporativa São concepções gerais destinadas a orientar as ações e os mecanismos de governança em diferentes estruturas de organização micro e pequenas empresas empresas familiares e de capital aberto empresas públicas e privadas órgãos públicos etc GIACOMELLI et al 2017 SILVA 2016 A Figura 62 mostra como a atuação integrada dos pilares sustenta um sistema eficiente de governança 121 Fonte Giacomelli et al 2017 p 227 Figura 62 Pilares da Governança Corporativa Vamos conhecer um pouco mais esses pilares para que você possa compreender como eles atuam em conjunto na elaboração de um sistema de governança corporativa Transparência Silva 2016 destaca que esse pilar significa mais do que a obrigação de informar pois a administração deve cultivar o desejo de informar Além disso a comunicação não deve se restringir às informações exigidas por disposições de leis ou regulamento ou aquelas acerca do desempenho econômicofinanceiro mas também contemplar outros fatores como os intangíveis que norteiam a ação empresarial e criam valor Em complemento Giacomelli et al 2017 informa que a transparência está relacionada com a comunicação de informações completas e relevantes para o contexto em que a empresa se insere para todas as partes interessadas Logo não comunicar apenas aos acionistas mas incluir colaboradores clientes fornecedores ou credores Um exemplo uma empresa prepara um comunicado divulgando a aquisição de outra empresa Nesse comunicado ela deve informar não apenas a ocorrência do evento em si precisa ir além e informar como a aquisição se alinha ao planejamento estratégico e às ações que visam à preservação e à otimização do valor da organização Nessa situação a transparência demonstra que os atos de gestão estão alinhados aos desejos e expectativas dos acionistas isto é revela o desejo genuíno da empresa em informar tudo o que for relevante para as partes interessadas GIACOMELLI et al 2017 122 Equidade Esse pilar representa o senso de justiça tratamento justo e igualitário de todos os grupos minoritários sejam os acionistas sejam as demais partes interessadas stakeholders Esse tratamento deve levar em consideração seus direitos deveres necessidades interesses e expectativas não sendo aceitas atitudes ou políticas discriminatórias Para que isso aconteça é fundamental que haja um alinhamento de interesses entre acionistas controladores minoritários e administradores SILVA 2016 GIACOMELLI et al 2017 Nos Estados Unidos existe recomendação para que os acionistas votem ao menos a cada três anos o plano de remuneração dos executivos Além disso as empresas devem divulgar se a opinião dos acionistas está sendo levada em consideração e como isso está sendo feito No Brasil uma instrução da Comissão de Valores Mobiliários CVM define que as companhias de capital aberto são obrigadas a divulgar a remuneração e benefícios adicionais de executivos e conselheiros A diferença dessas práticas é que os acionistas no Brasil têm o direito de vetar o plano apresentado enquanto nos EUA isso não acontece Prestação de contas com responsabilidade Esse pilar estabelece que os agentes da governança devem prestar contas de sua atuação a quem os elegeu de forma clara concisa compreensível e tempestiva no momento exato Também devem assumir de forma integral as consequências de suas omissões além de agir de maneira adequada em relação à responsabilidade de seu cargo ou ocupação no contexto da organização SILVA 2016 Dentre as recomendações da CVM sobre a governança corporativa estão algumas exigências e orientações para aumentar a prestação de contas da empresa discussão e análise da administração divulgando relatório junto com as demonstrações trimestrais com discussão e análise dos fatores que influenciaram preponderantemente o resultado fatores de risco etc composição e funcionamento do conselho fiscal acesso a informações informações contábeis GIACOMELLI et al 2017 123 Em 2017 a CVM divulgou a instrução com novas exigências de informações referentes à prestação contas Por essa instrução as empresas devem informar seu programa de integridade políticas e regimentos internos avaliação de administradores e metodologia de remuneração Responsabilidade corporativa É um pilar que inclui as dimensões social e ambiental na gestão de operações e dos negócios O crescimento da consciência da sustentabilidade em toda a sociedade aliada ao avanço da regulação e da fiscalização das atividades empresariais torna fator crítico de sucesso a incorporação dessas dimensões no sistema de Governança Corporativa Do ponto de vista social a forma como as empresas são administradas deve gerar riquezas e oportunidades de emprego além de qualificação e diversidade dos colaboradores contribuindo para melhorar a qualidade de vida da comunidade onde estão inseridas Em sua função ambiental a gestão deve se preocupar com o impacto de suas atividades no meio ambiente tanto em relação aos insumos obtidos como nos resíduos gerados pela produção SILVA 2016 Mesmo que os sistemas de governança variem conforme o tipo de organização o objetivo central é que esses pilares proporcionem os alicerces para que as boas práticas atinjam os resultados esperados maximizar o valor econômico de longo prazo e preservar a organização 65 Os 8 Ps da Governança Corporativa As diversas dimensões que estão associadas à Governança Corporativa como um sistema que orienta a forma como as empresas são administradas apresentam conceitos que podem ser sintetizados nos chamados 8 Ps São eles Propriedade Princípios Propósitos Papéis Poder Práticas Pessoas e Perpetuidade A Figura 63 apresenta uma síntese conceitual com os 8 Ps da Governança Corporativa 124 Fonte elaborada pela autora com base em Rosseti 2022 p 144 Figura 63 Os 8 Ps da Governança Corporativa Vamos detalhar esses conceitos com a ajuda de Rosseti 2022 Propriedade É o conceito que fundamenta a própria origem da Governança Corporativa GC pois foi em decorrência da pulverização da propriedade decorrente do aumento das sociedades anônimas de capital aberto que o Conflito de Agência se consolidou como tema relevante na gestão das organizações Nessa situação a razão fundamental da governança é a remoção de conflitos e de custos de agência envolvendo gestores e acionistas Outras estruturas tais como as sociedades anônimas de capital fechado onde o número de acionistas é geralmente pequeno outras razões justificam a adoção de boas práticas de governança Maior transparência dos atos dos sócios que exercem a gestão ou a entrega da gestão a executivos não proprietários são alguns deles Em outros tipos de organização tais como empresas estatais ou empresas familiares as questões decorrentes da estrutura de propriedade são fundamentalmente diferentes daí resultando conjuntos próprios de motivos para as práticas da boa governança 125 Princípios Os princípios ou pilares universais da governança são princípios éticos que devem estar presentes no estabelecimento dos propósitos na maneira como se dá o exercício do poder no desenho e na operação dos processos e nas práticas do dia a dia das organizações É aceitável que haja diferenças de cultura entre as organizações e também na estrutura de legislação e regulação dos países mas os princípios éticos que sustentam a governança não são negociáveis Por isso os quatro valores clássicos da governança sintetizam e traduzem o que se espera da gestão das companhias Eles devem estar presentes no Códigos de Ética e Conduta formalizados e praticados no dia a dia das empresas Propósitos Os propósitos estabelecidos para a organização incluem a definição de sua Missão propósito orientador e Visão propósito empresarial São esses propósitos que viabilizam o alinhamento da administração e dão suporte a uma estratégia bem fundamentada para os negócios e a gestão Em linhas gerais o propósito central de uma empresa é a maximização do retorno dos investimentos feitos por seus proprietários sócios acionistas No entanto esse objetivo deve ser harmonizado com as demandas das outras partes interessadas Nesse contexto administrar estrategicamente os interesses das diversas partes implica a adoção de posturas baseadas em um tripé que equilibra os elementos econômico financeiros sociais e ambientais Papéis Os agentes centrais do processo de governança são proprietários conselheiros e gestores que possuem papéis diferentes no interior das empresas independentemente do tipo de propriedade De maneira sintética os papéis desses agentes são Proprietários devem participar de Assembleias Gerais ou Conselhos de Sócios para definição da estrutura de poder da companhia e também eleger os 126 administradores que integram o conselho de administração Participam de reformas dos estatutos alterações na estrutura acionária analisam a prestação de contas Conselheiros devem proteger e valorizar o patrimônio da companhia maximizar o retorno do investimento definir diretrizes estratégicas selecionar acompanhar e avaliar os gestores Gestores exercem a gestão executiva da organização orientados pelas diretrizes estabelecidas pelo conselho de administração Deve haver clareza na separação desses papéis tornando inadequado o acúmulo de funções na alta administração Poder A estrutura de poder é o que define as formas como são realizadas as negociações e os relacionamentos no ambiente da organização Uma estrutura claramente definida elimina ou reduz substancialmente as lutas pelo poder que trazem consequências destrutivas aos resultados e essa é uma tarefa que deve ser executada pelos proprietários A estrutura de poder legitimamente definida pelos proprietários é que leva à maior clareza na separação de funções e de responsabilidades dos conselhos corporativos e da direção executiva O exercício do poder constituído dessa maneira permite que as decisões com alto impacto na organização sejam compartilhadas dentre elas o planejamento da sucessão nos órgãos da administração Práticas Para colocar a governança corporativa em prática é preciso iniciar com a constituição dos conselhos de administração da direção executiva e dos sistemas de autoria que são os órgãos centrais de governança Com a estrutura pronta o próximo passo é definir como se dará a relação funcional entre os componentes para garantir a elaboração do planejamento estratégico sua implantação e acompanhamento 127 De forma simultânea são implantados os sistemas de gerenciamento de riscos destinados a controlar os riscos internos e externos evitando que eles afetem os resultados da organização Pessoas As pessoas representam o elementochave dos sistemas de governança uma vez que são as relações interpessoais baseadas nas regras do sistema de governança que promovem a prática de seus princípios e valores Para obter esse resultado é fundamental a adoção de gestão estratégica em recursos humanos o que inclui critérios claros para seleção e contratação definição de papéis responsabilidades e níveis de autoridade e sistema de remuneração bem construído e com regras claras de premiação e promoção além de pesquisa de clima organizacional para monitorar o nível de satisfação das pessoas Perpetuidade O objetivo central das organizações é se manter vivas e atuantes com aumento de sua participação e relevância no setor do qual fazem parte À medida que o sistema de governança corporativa amadurece e se consolida cada vez mais ele contribui para formulação de estratégias consistentes gestão eficiente dos riscos criação de valor para os proprietários e alinhamento dos interesses das demais partes interessadas Logo se tornam mais visíveis os resultados de permanência saudável da empresa nas cadeias de negócio das quais fazem parte Conclusão Neste último bloco refletimos sobre o contexto no qual as organizações precisam ser administradas para que proporcionem riqueza aos seus proprietários mas também atendam aos interesses de outras partes que integram o negócio Por isso estudamos a história e a evolução da Governança Corporativa GC identificando os principais marcos que construíram o sistema que hoje é adotado por milhares de empresas ao redor do mundo 128 Dentre os principais marcos estão o fundo de investimentos LENS cujo fundador Robert Monks construiu um modelo de gestão cujos princípios auxiliam a construir os conceitos da GC Na Inglaterra o esforço conjunto de diversos órgãos resultou no Relatório Cadbury que desencadeou um processo de valorização da governança que resultou na disseminação de boas práticas em todo o mundo Os princípios da OCDE consolidam temas centrais da Governança Corporativa tais como os direitos dos acionistas e o exercício desses direitos o tratamento justo e igualitário as partes interessadas na organização stakeholders a transparência e a divulgação das informações e as responsabilidades dos administradores da empresa Vimos que a Lei SarbanesOxley foi uma demanda dos investidores do mercado financeiro norte americano cujos interesses foram afetados pela sequência de fraudes bilionárias para manter a liquidez e a atratividade dos sistemas financeiro e empresarial do país Ao estudar a evolução da GC no Brasil descobrimos que os movimentos de privatização combinados à globalização dos mercados financeiros resultou na obrigatoriedade de um modelo de gestão mais alinhado com os padrões de integridade internacionais Contribuições do IBGC com seu código de boas práticas da CVM com instruções para as empresas de capital aberto e os segmentos diferenciados da Bolsa de Valores foram importantes para estimular as organizações a adotarem boas práticas de governança Continuamos com uma visão ampla do sistema e estrutura de GC observando o esquema com as relações entre os agentes participantes e depois uma descrição dos principais órgãos divididos em deliberativos executivos e controladores Destacamse a Assembleia dos Acionistas o Conselho de Administração a Diretoria das empresas e o papel fundamental dos órgãos controladores representados pelo Conselho Fiscal Comitê de Auditoria e Auditoria independente Passamos aos pilares da GC que são os princípios importantes e que sustentam uma estrutura de GC A Transparência significa mais do que a obrigação de informar pois a administração deve cultivar o desejo de informar O pilar da Equidade representa o senso de justiça tratamento justo e igualitário de todos os grupos minoritários sejam os acionistas sejam as demais partes interessadas stakeholders Na Prestação de 129 Contas o foco são os agentes da governança que devem prestar contas de sua atuação a quem os elegeu de forma clara concisa compreensível e tempestiva assumindo a responsabilidade pelos seus atos A Responsabilidade Corporativa finaliza os pilares incluindo as dimensões social e ambiental ao lado da socioeconômica Por meio desse tripé a empresa busca o equilíbrio entre os interesses dos acionistas e as demandas das demais partes interessadas Chegamos ao fim com os 8 Ps da GC cujos conceitos estão presentes na construção de um sistema de GC representando as diversas dimensões que o integram São eles Propriedade Princípios Propósitos Papéis Poder Práticas Pessoas e Perpetuidade Referências B3 BRASIL BOLSA BALCÃO Segmentos de listagem Publicação não datada Disponível em httpswwwb3combrptbrprodutoseservicossolucoespara emissoressegmentosdelistagemsobresegmentosdelistagem Acesso em 15 jul 2023 BITTENCOURT C M A Governança corporativa e compliance planejamento e gestão estratégica Curitiba Contentus 2020 GIACOMELLI G et al Governança corporativa Porto Alegre SAGAH 2017 IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa Governança Corporativa Publicação não datada Disponível em httpswwwibgcorgbrconhecimentogovernancacorporativa Acesso em 15 jul 2023 IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa Código das melhores práticas de governança corporativa 5 ed São Paulo IBGC 2015 Disponível em httpsconhecimentoibgcorgbrPaginasPublicacaoaspxPubId21138 Acesso em 14 jul 2023 NEVES E C Fundamentos de governança corporativa riscos direito e compliance Curitiba InterSaberes 2021 OLIVEIRA D de P R de Governança corporativa na prática integrando acionistas conselho de administração e diretoria executiva na geração de resultados 3 ed São Paulo Atlas 2015 ROSSETI J P Governança corporativa fundamentos desenvolvimento e tendências 7 ed São Paulo Atlas 2022 130 SILVA E C da Governança corporativa nas empresas guia prático de orientação para acionistas investidores conselheiros de administração e fiscal auditores executivos gestores analistas de mercado e pesquisadores 4 ed São Paulo Atlas 2016