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Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira Unilab Instituto de Linguagens e Literaturas ILL Curso de LetrasLíngua Portuguesa Disciplina História da Língua Portuguesa Prof Juliana Geórgia Gonçalves de Araújo Aluna Renata Pereira Vidal ENTREVISTAS Entrevistada I Celeste de Souza Montenegro 14 anos oitavo ano do Ensino Fundamental Colégio Imaculada Conceição 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela Acredito que tenha sido me apresentado de uma forma em que eu não tenha me adentrado muito no assunto porém compreendo a riqueza dela por conta de suas origens e de como ela tem sido repassada de geração em geração Pedi para que a entrevistada explorasse mais a resposta centrandose no trecho de sua fala por conta de suas origens A entrevistada complementou da seguinte forma é uma língua vinda dos portugueses europeus e ela foi querendo ou não foi mudada por conta da forma de falar dos moradores que já viviam aqui Que não falam da mesma forma que foi ensinada para elas da mesma forma que os portugueses falam 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 Acho importantíssimo pois no ambiente escolar aprendemos com base nos livros pensando na vida profissional e nos trabalhos que possamos ter no futuro porém as vivências e conhecimentos fora da escola nos ensinam a viver em sociedade a conviver com outras pessoas então possui uma grande importância não só na vida profissional mas principalmente no convívio com outras pessoas com culturas e conhecimentos diferentes 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Acredito que possuo um bom conhecimento sobre esse assunto pois na minha visão a cultura brasileira é uma mistura de várias culturas possui parte da cultura africana que veio dos africanos que foram trazidos como escravos para o Brasil cultura essa que traz músicas comidas típicas daquela região religiões etc Possui parte da cultura indígena que é uma herança deixada pelos índios que viviam aqui antes da chegada do europeus cultura que deixa alguns hábitos e que interferiu no sotaque E na forma de falar das pessoas atualmente Acredito que essas culturas sempre são abordadas no meu dia a dia tanto na alimentação pois muitos dos alimentos que consumo são heranças desses povos como na minha forma de falar pois o sotaque que utilizamos possui uma grande interferência na língua que os indígenas falavam e na forma com que eles falavam 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP Por língua culta eu entendo que ela é mais usada em ambientes formais como no trabalho ou em alguns ambientes da escola por ser uma variedade mas de acordo com as regras gramaticais e língua popular é a forma com que falamos no nosso dia a dia com amigos e familiares é uma variedade em que normalmente não nos preocupamos tanto em seguir as regras gramaticais Considero essas duas variedades muito importantes pois a língua culta é algo muito necessário no ambiente de trabalho e no ambiente Escolar e a língua popular por ser algo que utilizamos no nosso dia a dia acaba se tornando algo que todos independente do nível de estudo possam compreender É importante abordar as duas variações porque uma ajudará o aluno na sua fase adulta em que ele passará a frequentar ambientes mais formais e a outra está presente na rotina desse aluno durante toda a sua vida Entrevistada II Maria Ravena Vidal Rodrigues de Assis 15 anos nono ano do Ensino Fundamental Colégio Imaculada Conceição 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela A Língua Portuguesa ela foi apresentada para mim como uma espécie de herança de Portugal quando a gente foi colonizado por Portugal e essa foi a maneira que eu entendi que foi passada para a gente Ela foi apresentada como algo levemente negativo no sentido de que a gente pegou essa meio que essa ideia de ah é uma língua dos nossos colonizadores então não foi apresentada de uma maneira muito positiva mas mesmo sem a minha compreensão com ela muito positiva foi apresentada de forma muito complexa Desde muito pequena as professoras dizem que a língua portuguesa que não se assustasse porque realmente é uma língua muito complexa mas que dava para enfim aprender e tudo e a minha compreensão dela é desse jeito Eu acho ela uma língua complexa não acho de uma maneira tão negativa quando é apresentada Eu acho que a língua ela representa muito um povo então a nossa língua para mim ela é muito bonita representa muitas coisas da nossa cultura então eu não vejo ela de uma maneira muito negativa porém ela foi apresentada para mim com essa ideia de que os portugueses vieram aqui e isso era uma herança de toda a nossa colonização e tudo 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 Eu acho importante porque a gente aprende Existem diferentes maneiras de aprender uma mesma coisa porque meio que até mesmo diretamente a gente pode transmitir um pouco da nossa percepção da nossa interpretação quando a gente vai transmitir algum conhecimento Então se a gente aprende algo de maneira diferente a gente também aprende um mesmo assunto com visões diferentes e com maneiras diferentes da gente aprender então se eu pego por exemplo eu vou aprender sei lá português eu aprendo fora da escola eu aprendo na rua eu aprendo com minha família cada jeito que eu aprendo vai ser uma maneira diferente de eu absorver uma visão diferente e cada vez mais conhecimento E eu posso aprender de um jeito melhor fora da escola e eu posso aprender de um jeito melhor que não seja indo pra escola é perfeitamente normal Então é importante a gente ter essas diferentes visões essas diferentes maneiras de absorver o conhecimento porque a gente vai ter até mesmo diferentes maneiras de se expressar de entender e um mesmo ponto de uma mesma história deixa eu pensar aqui Isso também traz um ponto de vista de tentar não é refutar mas tentar trazer um novo ponto de vista de uma história É muito comum que quando o aluno aprenda a história não só da língua portuguesa mas de qualquer história fora da escola ele consiga trazer um novo ponto dentro de sala de aula e se ele levar um outro ponto em sala de aula as pessoas vão ter mais conhecimento e isso é interessante porque nem todos os alunos têm a oportunidade de por exemplo aprender em outros lugares aprende em outros locais mas não tanto como um outro Eu por exemplo não vou aprender eu posso não aprender a história da cultura da língua portuguesa com um descendente de indígena Eu não aprendo mas uma colega minha pode aprender ela pode trazer esse conhecimento para a sala de aula Entendeu Então peças diferentes vêm dessas diferentes culturas e a gente pode aprender a viver com o diferente a aprender com o que não é convencional e desmistificar um pouco a história e saber se o que a gente tá aprendendo é realmente certo realmente errado e misturar um pouco dessas interpretações dessas vivências porque quanto maior a diversidade nas coisas melhor pra mim enfim é isso 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Eu definiria o meu conhecimento como muito raso Eu tenho pouquíssimo conhecimento dessas culturas e eu acho que isso é um pouco também pela minha própria ignorância e também um pouco porque a escola ela aborda mas na minha opinião ela aborda o assunto de maneira muito rasa é sempre uma citação no final do livro ou é sempre Quando a gente vai fazer uma prova nunca é bem explorado a parte dos indígenas é sempre são questões um pouco mais voltadas para outros assuntos e não nessa questão do cultural dos indígenas Eu creio que o meu conhecimento é extremamente raso porque a gente não aprofunda e a maneira com que as línguas foram apresentadas foram sempre em citações de ah tais indígenas tinham tal tal língua mas também raramente aprofundada raramente desenvolvida pelos professores Um livro até já fez uma crítica sobre isso eu lembro de uma pergunta que falou assim nossa por que que você acha os livros de história eles falam pouquíssimo as línguas e tudo Então há um pouquíssimo aprofundamento nessa questão mesmo que eu já tenha visto ser citada Eu já vi ser citada mas não bem aprofundada e enfim bem desenvolvida tanto pelo livro quanto pelos próprios professores e enfim quanto pelo próprio diálogo em sala de aula ou o professor tentar estimular esse senso crítico na gente Eu também ouvi muito pouco durante a minha vida Peço para ela expor mais sobre o conhecimento das línguas Se a cultura foi pouca a língua foi menos ainda a língua realmente foi só citação Eu realmente não tive nenhum contato com a língua de eu saber como se fala um oi na língua Eu não sei como é o contar da língua não sei como é a pronúncia ou até mesmo formar a escrita porque o máximo que aconteceu nos livros foram citações muito breves muito específicas do livro e que não eram aprofundadas na prova porque não era um assunto realmente amplo eram realmente pequenas citações no meio do livro no meio do caminho Como eu disse se a cultura era pouco falada a língua era menos ainda A gente não aprofundou nem o básico realmente nem o básico mesmo A gente não tem nem um conhecimento sobre a língua não sabe se ela teve alguma influência na nossa língua atual não sabe se a gente ainda tem algum resquício ou alguma coisa que nos remeta a essas línguas africanas e indígenas Não houve nenhuma tentativa de diálogo nenhuma tentativa de conhecimento de aprender essa língua e saber como ela é A gente sabe de onde ela veio mas a gente não sabe lidar com ela A gente sabe um pouco do nosso passado mas não aprofundou o nosso passado e não sabe lidar com o nosso passado e não sabe como ele afeta hoje em dia Só a parte dos colonizadores só a parte de que veio dos portugueses e tudo A gente não sabe interligar o nosso passado com o nosso futuro quer dizer com nosso futuro não com o nosso presente e consequentemente não sabendo também lidar com nosso futuro 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP Eu entendo por língua culta uma norma uma espécie de norma formal da língua portuguesa que seria o português entre aspas não o mais correto mas o mais dentro das regras da língua portuguesa do que seria o formal o mais correto para se falar em uma redação em alguma coisa do tipo e a língua popular eu entendo como algo É uma variação da língua um pouco mais fora das regras um pouco mais informal que tem termos que não são tão utilizados na norma culta que tem termos que não são talvez cem por cento corretos mas são utilizados ali no dia a dia e a gente consegue se comunicar no dia a dia São termos que não são cem por cento corretos na gramática mas eles são entendíveis Então a gente consegue se comunicar e consegue entender que é o principal objetivo da língua É uma linguagem que faz sentido e não é cem por cento padronizada corretinha direitinha mas ela tem o seu valor Enfim ela é muito utilizada porque é mais fácil da gente se comunicar para a gente se entender É mais ou menos uma língua que foi se adaptando com o popular foi se adaptando com a maneira que a gente fala É realmente a maneira que a gente fala É a língua do papel transformada para fala e é a maneira real que a gente se comunica Sobre as outras perguntas É importante pra gente respeitar essa língua a gente entender a importância dela a importância de não precisar ficar cem por cento focado nas regras cem por cento e entender que a maneira com que a gente fala também é importante e o importante real é se comunicar Enfim dar esse valor a essa língua e também eu acho que a língua popular eu também considero que sejam gírias de outras regiões Então seria uma maneira da gente respeitar essas questões diferentes e eu acho importante a gente abordar essas aulas de português porque isso vai trazer consciência pros alunos de tanto diferenciar uma e outra e saber respeitar tanto uma quanto outra A saber respeitar quando alguém está usando linguagem popular e também não julgar aqueles que tão utilizando essa linguagem que é uma linguagem normal então não precisa de tanto repúdio mas também quando for necessário quando se tiver essa obrigatoriedade de saber utilizar a língua culta a língua mais formal enfim entender um pouco das duas e aprender a utilizar as duas claro que normalmente a pessoa utiliza a linguagem popular como a mais querida e sempre vão querer utilizar mais ela mas também aprender um pouco da linguagem culta porque isso é necessário para determinadas situações específicas da escola determinadas situações específicas de uma redação determinadas situações específicas de formalidade que a gente vai ter que enfrentar ao longo da nossa vida Então é interessante a gente ter um pouco desse mundo das duas e aprender um pouco das duas respeitando sempre a individualidade de cada estilo Entrevistada III Ana Clarisse Moura Gaudino 14 anos nono ano do Ensino Fundamental Escola Municipal de Tempo Integral Professora Antonieta Cals 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela Bem o que eu aprendi assim da língua portuguesa é que teve bastante influência dos portugueses né e se eu não me engano teve influência do latim também É isso que eu sei que eu me lembre Tento explorar mais a pergunta Algo que caracterizaria bastante a língua portuguesa seria além das gírias eu acho a forma de falar em si 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 Bem é essas experiencias fora da escola servem bastante para o socialismo né também bastante para o aprendizado dependendo do que seja Tento explorar mais a pergunta mas a entrevistada estava com dificuldade de responder e não conseguiu desenvolver mais as respostas 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Sobre saber assim mais da história é mais na escola mas também já vi bastante na televisão abordando sobre a história deles a cultura e tal Refaço a pergunta novamente Eu acho que contam bastante até sobre as histórias deles é eu que não sou muito bem em história no caso Tento explorar mais alguns aspectos da própria resposta da entrevistada na expectativa de que ele consiga recuperar algo dessas histórias que segundo a opinião dela são bastante contadas mas a entrevistada não consegue desenvolver 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP Bem eu acho bastante importante abordar as duas por causa que tipo assim tanto a norma culta A norma culta é diferente da popular porque naturalmente quando a gente vai aprender outras línguas a gente meio que aprende a culta certo Mas às vezes o pessoal fala realmente a popular Refaço a pergunta novamente mas de outra maneira peço que a entrevistada faça algumas associações entre cada uma dessas normas e determinadas situações e tento explorar mais da entrevistada sobre quais seriam as características da norma culta e da norma popular Eu acho que a norma culta seria mais a forma meio que gramaticalmente certa falada assim Sobre a norma popular É uma fala mais informal mais puxada em gírias Sobre a razão para abordálas A norma popular seria mais para socializar já a norma culta seria mais para fazer é para a questão da escrita coisas assim Entrevistado IV Vilemar Teixeira Neto 19 anos segunda série do Ensino Médio Colégio Santo Tomás de Aquino 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela No começo a língua me foi apresentada como algo muito fluido tipo ela pode ir mudando conforme o tempo e conforme as regiões Por exemplo a língua pode ir mudando assim como foi antigamente há centos A língua pode ir se moldando e passou já por vários povos Assim como foi antigamente o português de Portugal né Hoje em dia não se fala mais Pergunto em que sentido ele diz que Hoje em dia não se fala mais e o entrevistado esclarece que é uma língua diferente do que foi trazido antigamente Tento explorar mais da resposta do entrevistado sobre qual história da língua portuguesa lhe foi contada Eu não sei dar uma resposta muito bem para isso mas o que foi me apresentado sobre a história foi que tipo a língua ela não teve a língua de Portugal quando veio para cá não foi exatamente concreta tipo os povos foi mudando entendeu Quando os portugueses ensinaram aos índios a nossa língua a língua deles meio que foi mudando e se adaptando para os índios 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 O que eu aprendi fora da escola Eu posso fazer uma pergunta é meio que no tema porque eu realmente não sei Quando em algum texto no português por exemplo Eu estava lavando a louça e um prato caiu esse e é um e sem acento não é Ou seja você fala i Eu aprendi por um certo tempo que o e era na verdade meio que para dentro era ê e não i e eu sempre achei que o e era o certo de se falar entendeu porque eu aprendi isso fora da escola minha mãe nunca me ensinou esse tipo de coisa então o que eu aprendia era mais escutando o povo falando o povo falava meio errado e eu escutava e achava que era o certo Retorno à pergunta Na minha visão os aprendizados podem servir para a pessoa se encaixar melhor ou entre aspas falar melhor porque geralmente nas escolas o que mais atrapalha é a comunicação Por mais que você estude português às vezes na fala ou até mesmo na interação fica bem difícil você chegar para uma determinada pessoa e tipo ter uma comunicação então eu acho que quando você aprende a ter uma comunicação fora da escola é bem importante 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Muita cultura da África veio para a gente como a umbanda e acho que até a capoeira né Realmente meu conhecimento é bem reduzido mas eu tenho noção de que em muitos lugares da África eu acho que é da África tem povos que falam português tem povos que falam português e até muito bem E muito disso foi porque nós fomos levados para lá certo E eles vieram para cá e eu acho que ele tiveram como voltar e principalmente voltaram com a nossa língua aprendida Então eu acho que eles podem ter repassado ou algo do tipo Eu realmente não sei muito dessa cultura Tento explorar mais a pergunta e alguns aspectos da resposta do entrevistado Bom sobre a umbanda e a capoeira foi na aula de história que eu aprendi e sobre as nossas línguas a nossa língua estarem na África foi na rua na verdade 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP Quando se diz norma culta quer dizer o jeito certo de se falar português não Dou um tempo para que o entrevistado pense e tente definir norma culta o entrevistado parecia estar em dúvida Definiria como o jeito certo da escrita do português Sobre forma popular O jeito de se falar Refaço a pergunta novamente mas de outra maneira peço que a entrevistada faça algumas associações entre cada uma dessas normas e determinadas situações e tento explorar mais do entrevistado sobre quais seriam as características da norma culta e da norma popular Eu acho que a popular é mais usada na fala e na escrita em rede social e a norma culta é mais em prova ou algo mais entre aspas diplomático Eu acho importante a norma popular para realmente o meio da comunicação e como a pessoa pode entre aspas meio que se introduzir em um certo de grupo saber o fonema das pessoas como as pessoas falam e a variedade de palavras que essas pessoas falam mesmo para a pessoa se introduzir e se encaixar em determinado grupo Sobre a norma culta Eu acho que é importante logicamente para a pessoa se mostrar que consegue escrever um texto entre aspas um texto bonito né Para a pessoa ter um vocabulário realmente bom na escrita saber o que está estudando e tal Só isso Entrevistada V Ana Clara Martins Silva 15 anos nono ano do Ensino Fundamental Colégio Imaculada Conceição 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela Quando eu penso em história eu penso tipo na história saber a matéria em história o que é apresentado em toda a história as datas quem fez e tal aí eu tô meio tá tudo embaralhado aqui Acalmo a informante e explico que não há esse propósito de que o entrevistado forneça datas e detalhes Tá é que para mim a língua portuguesa foi apresentada na escola mesmo tipo no ABC a história realmente a história no caso eu acho que nunca me foi apresentada a história da língua como foi criada tipo como foi feita nunca me foi apresentada Refaço a pergunta novamente mas de outra maneira quando os portugueses vieram para o Brasil tipo descobriram né o Brasil tipo vieram aqui e colonizaram eles e trouxeram a língua deles para o Brasil e foi fixada como se fosse a língua principal 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 Então as experiências e vivencias em si por si só sendo escolar ou não sendo familiar etc faz a pessoa ser quem ela é uma pessoa pode tipo querendo ou não você querendo ou não tipo se você bebe se você fuma se você faz qualquer coisa é o seu corpo querendo avançar querendo melhorar você sempre tá tentando melhorar quando você experiencia coisas fora da escola porque coisas da escola é algo diário então você geralmente pode ou não experienciar coisas diferentes por exemplo uma coisa muito forte do lado de fora da escola é a dependência de uma pessoa que tá crescendo da fase da criança para a fase adulta tipo começa a andar sozinha até em casa fazer as compras para os pais começa a ter aquela independência sabe principalmente isso no caso que é uma coisa que eu tô experienciando agora e também pelo fato realmente de você conhecer mais pessoas é isso você vai crescendo então você querendo ou não você vai crescendo de alguma maneira seja ela ruim ou boa essa é a função de estudar o que não tá na escola estudar aprender e ter o conhecimento experiencias porque você pode também tipo sair com os amigos ter experiencias novas diversão viagens e você vai conectando tudo você vai guardando tudo aquilo ali tudo é experiência tipo coisas ruins tipo por exemplo você vai você faz uma coisa por exemplo uma criança ela foi pegar em uma panela que tava quente aí ela se queima né Aí ela pensa assim hum isso dói Ela chora porque é uma criança então ela vai lembrar e não vai mais fazer isso certo E é uma boa experiencia para você poder não fazer aquilo de novo Tento explorar mais a pergunta e alguns aspectos da resposta da entrevistada Tipo o seu corpo é uma coisa de instinto você querendo ou não ele sempre busca fazer alguma coisa é isso você tá tentando explorar coisa diferentes vai tentar olhar para os lados fazer um monte de coisa você vai tá tentando melhorar explorar coisas sempre 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Começando já falando aqui que eu não tenho realmente um conhecimento sabe dessa cultura dessas culturas né no caso mas o que eu sei geralmente é o que basicamente a maioria das pessoas sabe que essas pessoas principalmente pessoas retintas né pessoas afrodescendentes tanto indígenas sabe que tem realmente uma pele mais escura ou coisa assim que tem uma cultura diferente jeito de falar diferente são muito oprimidas são muito muito afastadas sabe tipo são muito é porque tem o negócio do racismo né também é porque é uma raça no caso tipo tanto os indígenas quanto os afrodescendentes e tal eles são por serem pessoas diferentes eles são muito afastados é disso basicamente que todo mundo sabe Todo mundo tipo vê notícia de jornal diariamente muitas pessoas pretas indígenas pessoas de etnias diferentes morrendo entendeu esse e o conhecimento geral que geralmente passa todo dia no jornal basicamente e sobre a cultura deles eu não saberia dizer muito porque eu ainda não li muitos livros dessa área sabe então eu não saberia realmente dizer só que do que eu sei deixa eu ver eu acho que eu não sei quase nada basicamente sério eu realmente não tenho o conhecimento Por exemplo os indígenas eles são pessoas que no Brasil pelo menos eles eram pessoas que não eram que não tinham direito de trabalhar sabe Tipo eles não poderiam trabalhar ou que suas terras suas terras seriam tomadas ou alguma coisa assim A entrevista relata também alguns episódios de racismo que ela presenciou ao longo de sua vida 1935 min interessante discutir que as primeiras associações que a entrevistada faz quando pergunto sobre cultura indígena e africana etc não aspectos da cultura em si mas situações de violência para com esses povos 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância das variedades cultas e populares e por que abordálas nas aulas de LP Sobre a norma culta no caso eu acho que também seria bastante importante ser tratada mas tipo eu acho mas não é tanto quanto a norma popular entendeu Por exemplo a norma culta ela fala sobre uma linguagem mais formal né e tal Então eu não estou estudando exatamente isso sabe Só que a minha professora deu uns passos sobre esse aspecto Por exemplo deixa eu ver Uma vez teve um tribunal tipo na aula de redação teve um tribunal que tinha um juiz o réu tinha advogados advogados de defesa e daí ela começou a explicar só que infelizmente em alguns dias dessas aulas eu faltei e não fui atrás Então realmente Só que sobre a norma culta eu acho que é algo que é bem importante sobre a língua no caso ser uma língua mais formal você realmente falar com todas as palavras que você acha risos Eu não sei o que é que eu tô tentando dar eu só tô tipo tentando falar Refaço a pergunta novamente mas de outra maneira peço que a entrevistada faça algumas associações entre cada uma dessas normas e determinadas situações e tento explorar mais do entrevistado sobre quais seriam as características da norma culta e da norma popular A norma culta tipo para mim ela é como se fosse é uma coisa mais de formalidade Tá relacionada à profissionalismo sabe Por exemplo um médico ele vai falar daquele jeito né Daquele jeito formal que os profissionais falam Então tipo psicólogos Geralmente tipo gente que é mais que tem a necessidade de falar de um jeito mais formal tipo jornalista médicos juiz até por exemplo Então é algo que tá realmente ligado para mim Sobre a norma popular A norma popular eu diria que seria tipo uma não seria tipo um jeito formal de falar mas tipo como se fosse uma voz de minoria sabe Ou alguma coisa assim Para mim tá ligado desse jeito porque é como se fosse uma norma popular que por exemplo uma opinião popular sabe Não seria exatamente da minoria mas das pessoas que geralmente como é que eu digo isso Pessoas que são a maioria só que elas crescem de uma minoria daí a voz dela vai crescendo Eu não sei como explicar isso risos A norma popular geralmente para mim a palavra popular que está na minha cabeça é algo que tipo uma opinião popular por exemplo ANÁLISE E DISCUSSÃO A pergunta um Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela tem como propósito capturar que história foi contada e como o entrevistado entende a história da Língua Portuguesa a partir do que lhe foi ensinado na escola e de suas vivências e experiências ao longo de sua vida Para embasar a discussão lanço mão das reflexões de Adichie 2019 Fuly 2022 e Veronelli e Daith 2021 que abordam o perigo da história única e as noções de colonialidade e decolonialidade A partir da análise das entrevistas pudemos observar que a abordagem colonial prepondera uma vez que o ponto de partida selecionado pelos entrevistados ao falarem da história da Língua Portuguesa é o de uma língua vinda dos portugueses europeus herança de toda nossa colonização língua que teve bastante influência dos portugueses influência do latim Língua de Portugal trazida pelos colonizadores fixada como se fosse a língua principal usando as palavras dos entrevistados Esse ponto de partida isto é essa história que foi contada não nos surpreende pelo contrário é algo que está dentro da expectativa quando fazemos uma pergunta dessa natureza em razão de ter sido criada e ao longo de séculos difundida uma história única Para Adichie 2019 p 12 uma história única se cria da seguinte maneira mostre um povo como uma coisa uma coisa só sem parar e é isso que esse povo se torna Parafraseando para o contexto da nossa pergunta apresente a história da Língua Portuguesa como uma só uma única história contea várias e várias vezes e ela será a história definitiva O perigo de uma história única com base em Adiche 2019 p 12 está no fato de ela não existir senão ligada às estruturas de poder Assim como as histórias são contadas quem as conta quando são contadas e quantas são contadas depende muito de poder Segundo a autora supracitada o poder consiste na habilidade de não apenas contar a história do outro mas de tornála a história definitiva Para que comecemos a entender o perigo da história única as distorções que a caracterizam e a importância de desmistificála segue uma primeira lição para refletir comece a história com as flechas dos indígenas americanos e não com a chegada dos britânicos e a história será completamente diferente ADICHE 2019 p 12 A partir da consciência de possibilidades outras de se contar a história de um povo ou de uma língua ou melhor da consciência de várias histórias e pontos de partida fica claro que a história única é limitadora distorcida e controladora sendo definida de acordo com os interesses de quem as conta Seu grande problema e perigo são a criação de estereótipos os quais embora possam não ser mentira são incompletos e fundamentalmente o roubo da dignidade dos indivíduos conforme salienta Adiche 2019 Com base em Fuly 2022 o perigo de uma única história reside no fato de retratar como se forma o nosso conhecimento como ele é formatado e quais são as narrativas que atravessam nosso subconsciente que nos fazem construir nossa imagem de cada povo É um desejo com base no desejo do outro um outro que nos seduz e nos convence de que não há alternativa fora daquilo que nos foi apresentado O uso do verbo seduzir aqui não é à toa considerando que se construiu ao longo de séculos um fetichismo em torno da cultura do europeu a qual segundo Oliveira e Candau 2010 apud FULY 2022 é responsável por estimular uma forte aspiração à cultura colonialista por parte dos povos inferiorizados É importante refletirmos sobre a perversidade da história única Ela é perversa no sentido de protagonizar um único tipo de sujeito o europeu e com isso inviabilizar e subalternizar os povos não europeus os quais muitas vezes em consequência da imposição do imaginário do outro nega desconhece ou até esquece os próprios processos históricos sociais e culturais1 No contexto linguístico essa negação pode ser ilustrada com o exemplo do negro antilhano que encontra na língua francesa uma porta de acesso e meio de pertença ao mundo dos brancos FANON 2008 visto que no pensamento do povo colonizado existe a ideia de que quanto mais assimilar os valores culturais da metrópole mais o colonizado escapará da sua selva Quanto mais ele rejeitar sua negridão seu mato mais branco será FANON 2008 p 34 Entendemos que essa atitude do negro das Antilhas é seguramente consequência da propagação de uma história única em que temos a figura do colonizador como heróis aqueles que salvaram povos oprimidos e subhumanos apagando a própria história desses povos repletos de cultura que lutaram bravamente por justiça equidade e contribuição social mas que passaram a ser vistos pelo mundo como causadores de desordem pública vândalos subalternos e incapazes de serem inseridos 1 A reflexão dessa parte do parágrafo foi feita com base na minha compreensão das palavras de Fuly 2022 p 4243 em sociedade FULY 2022 p4445 Fuly 2022 chama a atenção para o fato de que somente a compreensão da história única não é suficiente para construir um espaço justo e de equidade Para a autora é necessário também enfrentar os efeitos colaterais do perigo que consiste a história única que está vinculada ao racismo e ao preconceito de modo intrínseco Assim sendo no contexto da abordagem da história da Língua Portuguesa o enfrentamento da história única pode começar com uma prática pedagógica que seja questionadora atenta à necessidade de que educadores e educandos se posicionem de maneira crítica em suas vivencias educacionais e que superem as posturas ingênuas que nos foram impostas ao longo de nossa formação humana por um sistema colonizador e uma educação estática e monorracional uma prática docente que leve em consideração espistemes e saberes múltiplos nas abordagens educativas com base em Freire 1996 apud FULY 2022 p45 e 47 uma educação capaz de superar o falso aprender e o falso ensinar de maneira crítica e questionadora FULY 2022 p 48e que caminhe em sentido totalmente oposto a uma educação bancária FREIRE 2005 Rejeitar a história única e mirar as outras histórias deve ser tarefa de todos sobretudo dos que estão na posição de educadores pois todas elas importam e da mesma forma que foram usadas para denegrir e rebaixar muitos povos elas podem funcionar como instrumento de humanização elas podem despedaçar a dignidade de um povo mas também podem reparar essa dignidade despedaçada ADICHE 2019 p16 A partir dessas reflexões e das repostas dos entrevistados devemos enquanto professores de língua portuguesa ressignificar e reconstruir a abordagem da história abrindo para as possibilidades contando outras histórias e permitindo que o aluno contribua com suas vivências e suas histórias selecionando outros pontos de partida centrandonos na pluralidade que caracteriza os processos históricos interno e externo da Língua Portuguesa uma pluralidade até hoje e em diversos espaços silenciada e negada em consequência de um processo que Veronelli e Daith 2021 denominam colonialidade da linguagem2 Essa abordagem pluriversalizante3 da história da Língua Portuguesa aqui reiterada tem como alicerce o pensamento decolonial 2 Parte do processo de desumanização dos povos colonizados que tem em sua gênese o imaginário de que os colonizados são nãohumanos ou menos que humanos sem capacidade expressiva e linguística com base em Veronelli e Daith 2021 3 Inspiração em Fuly 2022 que usa o termo pluriversalidade Baseandonos em Veronelli e Daith 2021 a decolonialidade4 não tem como propósito negar o que a colonialidade construiu isto é as contribuições para a história da humanidade trazidas pela modernidade eurocêntrica mas abrir espaço para as epistemes e vivências provenientes de uma multiplicidade de subjetividades que foram e são ignoradas e subalternizadas pela colonialidade É um projeto de recuperação de dignidades e da humanidade daqueles sujeitos que foram excluídos dos processos de produção de conhecimentos e que tiveram suas histórias e suas culturas anuladas Devemos frisar que a opção decolonial não tem como premissa ser alternativa única no confronto do sistema colonial ou seja não é uma oposição total pois entende que não há um denominador ou um vencedor mas diversas trajetórias que coexistem e sempre coexistiram e coexistirão como esclarece Fuly 2022 Daí sua natureza dialógica e seu foco no plural e na valorização da diversidade cultural e epistêmica As respostas dos entrevistados embora sugerem que a história da Língua Portuguesa foi apresentada de modo colonial animamnos no sentido de que alguns estudantes entrevistados parecem ter uma consciência muito clara de existência dessa pluralidade consciência apenas de que ela existe Vejamos língua mudada por conta da forma de falar dos moradores que já viviam aqui a língua ela representa muito um povo então a nossa língua para mim ela é muito bonita representa muitas coisas da nossa cultura que povo é esse que cultura é essa representada por nossa língua a língua de Portugal quando veio para cá não foi exatamente concreta tipo os povos foi mudando entendeu Quando os portugueses ensinaram aos índios a nossa língua a língua deles meio que foi mudando e se adaptando para os índios no entanto predomina um desconhecimento acerca dos processos históricos constitutivos da Língua Portuguesa isto é quais os povos envolvidos de que modo esses processos ocorreram por que sucederam da maneira desumana que sucederam e quais foram as consequências que perduram até os dias de hoje A pergunta dois Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 visa refletir sobre como o aluno entende as educações que emergem de diversos outros ambientes e relações Ao analisar as repostas dos entrevistados evidenciamos a consciência da importância dessas educações e a 4 Ou o que ele chama giro deconolonial valorização delas por parte de alguns estudantes o que é muito louvável conforme explicaremos adiante Todavia gostaríamos antes de destacar alguns trechos das respostas por meio dos quais verificamos a compreensão que alguns entrevistados têm da relevância dos saberes advindos de diversos outros espaços A entrevistada I por exemplo menciona a importância desses conhecimentos para a convivência com o outro culturas e conhecimentos diferentes A entrevistada II ressalta as visões diferentes que se formam em decorrência das vivências fora da escola por exemplo eu vou aprender sei lá português eu aprendo fora da escola eu aprendo na rua eu aprendo com minha família cada jeito que eu aprendo vai ser uma maneira diferente de eu absorver uma visão diferente e cada vez mais conhecimento a importância dessa diversidade de visões Isso também traz um ponto de vista de tentar não é refutar mas tentar trazer um novo ponto de vista de uma história e a relevância de levar para a escola as experiências e conhecimentos que os alunos têm porque podem desmistificar a história e nos ajudar a conviver com o diferente eu posso não aprender a história da cultura da língua portuguesa com um descendente de indígena mas uma colega minha pode aprender ela pode trazer esse conhecimento para a sala de aula e a gente pode aprender a viver com o diferente a aprender com o que não é convencional e desmistificar um pouco a história e saber se o que a gente tá aprendendo é realmente certo realmente errado A entrevistada III pontua a sua utilidade para a socialização5 O entrevistado IV menciona sua função para a comunicaçãointeração e para que o indivíduo se encaixe melhor Por fim a entrevistada V destaca a importância desses saberes e experiências para o avanço e a melhora do indivíduo como lições de vida e também para a exploração de coisas Acerca da relevância dessas educações Fuly 2022 baseandose em Rufino 2019 considera que a validação dessas diversas formas de educação praticadas em diferentes espaços fora da escola são ações de fresta na educação colonial no processo de construção de uma educação decolonial Essas frestas propiciam uma operação a partir da pluralidade das possibilidades outras cujo objetivo não é a posição absoluta ao conhecimento ocidental mas o diálogo a emergência de processos educativos comprometidos com a diversidade do conhecimento RUFINO 2019 p 80 apud FULY 2022 p 51 5 A entrevistada usa o termo socialismo mas entendemos que a sua intenção era fazer referência à interação social Temos que ter o entendimento de que o processo educativo não consiste de um mero adestramento de pessoas Quando educamos ensinamos o aluno a pensar a aprender a pensar e a estar atento às práticas que desumanizam indivíduos e povos Daí a importância de valorizar as experiências e vivências que se dão em diversos ambientes pois a educação emerge de todos os lugares Nesse sentido a educação deve ser pensada a partir da incorporação aos conteúdos do currículo formal de todo e qualquer conhecimento e questionamento que os alunos possam trazer de fora para dentro dos espaços escolares6 Conforme saliente Fuly 2022 essa atitude é uma maneira de lutar conta o silenciamento e a tentativa de depreciação dos saberes de muitos povos Trazendo a discussão proposta para o contexto de nossa entrevista é possível verificar em três repostas a consciência da potencialidade desses saberes e vivências visto que os estudantes demonstram ter clareza de seu valor para a sociedade sobretudo no que se refere à convivência com o diferente No entanto cabe a nós educadores reforçar o papel dessas educações e o seu estatuto igualmente importante quando comparadas à educação formal para que possamos contribuir com o projeto decolonial propiciando uma educação crítica e que liberta A pergunta três Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afroameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas foi realizada com o propósito de obter um retrato acerca dos conhecimentos dos estudantes sobre as culturas que compõem a identidade brasileira A partir desse retrato visamos discutir o silenciamento desses povos em um sistema colonial alimentado e sustentado até os dias de hoje desde a invasão do território brasileiro Para embasar as reflexões lançamos mão das discussões propostas por Mariani 2008 Castro 2011 Nascimento 2019 e Luciano 2022 As respostas do entrevistados não nos surpreendem quando revelam o quão pouco os estudantes sabem sobre as culturas ameríndias afroameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira Com exceção da entrevistada I que se mostra bastante consciente da presença dessas culturas em nossa identidade e acredita que elas são tratadas no seu cotidiano os outros estudantes transpareceram não conhecelas muito bem Respostas como Eu tenho pouquíssimo conhecimento dessas culturas escola 6 Parágrafo construído com base nas palavras de Fuly 2022 p 48 ela aborda mas na minha opinião ela aborda o assunto de maneira muito rasa A gente não tem nem um conhecimento sobre a língua não sabe se ela teve alguma influência na nossa língua atual não sabe se a gente ainda tem algum resquício ou alguma coisa que nos remeta a essas línguas africanas e indígenas A gente sabe de onde ela a língua portuguesa veio mas a gente não sabe lidar com ela Realmente meu conhecimento é bem reduzido mas eu tenho noção de que em muitos lugares da África destaco aqui a referência à África de forma generalizada como um único bloco eu acho que é da África tem povos que falam português tem povos que falam português e até muito bem Começando já falando aqui que eu não tenho realmente um conhecimento sabe dessa cultura dessas culturas né no caso mas o que eu sei geralmente é o que basicamente a maioria das pessoas sabe que essas pessoas principalmente pessoas retintas né pessoas afrodescendentes tanto indígenas são muito oprimidas são muito muito afastadas sabe tipo são muito é porque tem o negócio do racismo né também e sobre a cultura deles eu acho que eu não sei quase nada basicamente sério eu realmente não tenho o conhecimento evidenciam essa realidade É esperado que os alunos de fato desconheçam considerandose o abafamento na História do Português Brasileiro das vozes dos quatro milhões de negro africanos trazidos como escravos para o Brasil no decorrer de mais de três séculos e da desconsideração da participação dessas populações na configuração do português brasileiro que se faz sentir em toda a língua seu léxico sua semântica sua prosódia sua sintaxe dando ao português do brasil um caráter particular conforme salienta Castro 2011 Quanto aos povos ameríndios cabe destacar que segundo Luciano 2022 em 1500 existiam pelo menos 5 milhões de habitantes e cerca de 1400 línguas originárias na região que hoje constitui o território brasileiro enquanto hoje7 há cerca de 1000000 de indígenas de 305 povos e 275 línguas habitando em 13 do nosso território Esse cenário aqui esboçado pode ser explicado no que a nós compete8 por meio do que Nascimento 2019 chama de epistemicídio e linguicídio Nascimento 2019 baseandose em Sueli Carneiro 2011 descreve o epistemicídio como o extermínio dos saberes do outro a partir da definição do que é 7 O autor situa o ano de 2020 8 Detemonos somente na parte relativa ao extermínio dos saberes e das línguas retirando da discussão outras questões mais profundas como o genocídio desses povos para não prolongar as reflexões e ir direto aos pontos da pergunta três conhecimento valido e não válido é o formato pelo qual a colonialidade sequestra subtrai tudo o que puder se apropriar e apaga os saberes e práticas dos povos originarios e tradicionais os negros e indígenas no nosso caso NASCIMENTO 2019 p 19 impondo sabres e linguagens eurocêntricos Para ilustrar o autor cita o reconhecimento da validade e legitimidade dos artefatos das ciências da saúde e a invalidação do conhecimento tradicional das populações afrobrasileiras Outra consideração que o autor faz acerca da morte do pensamento do outro epistemicídio diz respeito ao apagamento da possibilidade de compreender ouvir e difundir os saberes tradicionais Acerca disso assinalo as reflexões de Luciano 2022 sobre a importância das línguas indígenas para a conexão com o mundo ancestral Segundo o autor um povo indígena sem a sua língua tem comprometido seu relacionamento com a natureza e com o cosmo pois são as línguas que propiciam esse elo e a comunicação entre os mundos existentes A partir disso depreendemos que o apagamento de uma língua tradicional e não só dela mas de ideias práticas valores etc impossibilita a compreensão e a transmissão dos saberes e das práticas de uma cultura Para concluir as reflexões de nascimento 2019 gostaríamos de mencionar que o epistemicídio acaba conferindo à colonialidade um status de ponto zero sendo esta sempre o ponto de partida Conforme saliente o autor p 21229 o colonizador ao ser o ponto zero impõe ao colonizado formas de organização que ele concede a partir de si como ponto zero Isso nos permite enxergar bem a natureza desumana do epistemicidio Quanto ao linguicídio Nascimento 2019 banseandose em RAJAGOPALAN 2010 estabelece uma relação com a noção anteriormente discutida já que é um epistemicídio que ocorre por meio da a linguagem o que pudemos ilustrar com os dados apresentados por Castro 2011 e Luciano 2022 Seguindo o mesmo raciocínio de Nascimento 2019 a ideologia do déficit apontada em Mariani 2008 esclarece também o porquê dessas culturas e línguas terem sido colocadas nessa condição de silenciamento e apagamento A partir da leitura desse texto percebemos mais claramente que os processos de colonização linguística que se observam nas sociedades brasileira e africanas foram bastante cruéis ao negar completamente as línguas étnicas associandoas a algo a ser dizimado seja por suas 9 Baseandose em Santiago CastroGomez 2007 características e por seu status não gramatizado seja pela associação a um povo considerado não civilizado pelos colonizadores À vista de tudo que expusemos devemos como educadores apresentar a língua e sua história centrandonos no seu caráter plural e rejeitando toda abordagem que promova uma visão homogênea Essa postura reclamada é crucial pois quando negamos uma língua não negamos somente um código compartilhado mas um conjunto de memórias ancestralidades e identidades de um povo Conforme discute Mariani 2008 o efeito homogeneizador que se constrói em virtude da imposição de uma língua apaga a heterogeneidade linguística e cultural e fortalece o poderio e a potência da nação colonizadora que mesmo com os processos de independência ainda parece perdurar nas nações que foram colonizadas ou seja essa ideologia se mantém mesmo nos dias de hoje Podemos citar como exemplo a insistência na promoção unitária e homogênea que se faz da Língua Portuguesa ignorandose a diversidade linguística que caracteriza o português As palavras de Mariani 2008 p 8081 nos respaldam A luta pela hegemonia da Língua Portuguesa permanece mesmo após as independências Portugal promove um discurso pró unidade lingüística com suas excolônias discurso esse marcado pelo termo lusofonia e por atividades acadêmicas pedagógicas e políticas que procuram sustentar uma idéia de unidade na diversidade Reforçamos assim a necessidade de pensar a própria língua portuguesa no contexto das heterogeneidades sóciohistóricas culturais e linguísticas uma língua que é em realidade um complexo de línguas portuguesas cada qual carregada da história da cultura e de traços das línguas dos povos originários A pergunta quatro O que você entende por língua culta e língua popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP intenciona capturar a compreensão que os entrevistados têm acerca da língua culta e da língua popular de modo a verificar que concepções permeiam o imaginário do estudante no que diz respeito à realidade sociolinguística brasileira se noções como superioridade e erro se realinham a essas variedades As discussões aqui propostas se baseiam em Faraco 2015 e em Nascimento 2019 Na análise das respostas dos entrevistados pudemos verificar que os estudantes de um modo geral têm um bom entendimento sobre as normas culta e popular e percebem com clareza a importância de cada uma delas Contudo alguns aspectos das repostas acionaram um alerta para associações que ainda persistem ao definirse norma popular e norma culta Em três das cinco entrevistas verificamos um realinhamento entre as noções de certobonito e errado às normas culta e popular respectivamente como demonstram os fragmentos É uma linguagem que faz sentido e não é cem por cento padronizada corretinha direitinha mas ela tem o seu valor Eu acho que a norma culta seria mais a forma meio que gramaticalmente certa falada assim Quando se diz norma culta quer dizer o jeito certo de se falar português não Eu acho que é importante logicamente para a pessoa se mostrar que consegue escrever um texto entre aspas um texto bonito né o entrevistado está falando da norma culta Temos que admitir que havia uma expectativa de que essas associações ocorressem pois nada mais são do que reflexos do processo de constituição da sociedade e realidade sociolinguística brasileiras Faraco 2015 menciona uma pesada divisão entre em um lado o português culto associado às variedades típicas urbanas e aos mais bem posicionados na escala econômica com acesso à educação básica e aos bens da cultura letrada e em outro as variedades que constituem o português popular ligadas às zonas rurais aos posicionados mais a baixo da pirâmide socioeconômica e aos com acesso restrito à educação básica e aos bens da cultura letrada De acordo com o autor a sociedade brasileira se formou como uma sociedade radicalmente dividida economicamente e por conseguinte cultural e linguisticamente processo intimamente ligado às práticas colonialistas Equiparandose à linha de pensamento de Faraco 2015 Nascimento 2019 estabelece uma relação entre a linguagem popular e o racismo linguístico O autor explica que a maioria dos brasileiros ditos pelo autor como pessoas negras 54 dos brasileiros são negros está condicionada às formas de educação linguística das mais precárias daí o ataque consistente e permanente aos seus falares Sua afirmação é sustentada por uma série de dados como o fato de i o analfabetismo entre os negros ser duas vezes maior quando comparado ao dos brancos ii a porcentagem maior ser de jovens brancos a partir de 15 anos no ensino médio e iii o aumento da taxa de homicídios de indivíduos negros Nesse sentido é importante que nós futuros professores de língua portuguesa busquemos descontruir não só a divisão rigorosa entre essas duas normas mas as rotulações e associações equivocadas que são feitas Seguindo o raciocínio de Faraco 2015 uma boa estratégia para este fim é uma abordagem que tenha como ponto de partida a norma o popular promovendo reflexões profundas sobre as variedades populares e como ponto de chegada a norma culta REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADICHIE Chimamanda Ngozi O perigo de uma história única Companhia das Letras 2019 CASTRO Yeda Pessoa de Marcas de africania no português brasileiro Africaniascom v 1 p 17 2011 FANON Frantz Pele negra máscaras brancas R Silveira Trad Salvador BA EDUFBATrabalho original publicado em 1952 2008 FARACO Carlos Alberto Norma culta brasileira construção e ensino In Pedagogia da variação linguística língua diversidade e ensino São Paulo Parábola p 1930 2015 FULY Tatiana Que História Você quer Contar Caminhos para uma Educação Decolonial Curitiba Appris Editora 2022 LUCIANO Gersem José dos Santos Saberes indígenas e resistência linguística In MATOS Doris Cristina Vicente da Silva DE SOUSA Cristiane Maria Campelo Lopes Landulfo org Suleando conceitos e linguagens decolonialidades e epistemologias outras Campinas SP Pontes Editores 2022 MARIANI Bethania Da colonização lingüística portuguesa à economia neoliberal nações plurilíngües Gragoatá v 13 n 24 2008 NASCIMENTO Gabriel Racismo linguístico os subterrâneos da linguagem e do racismo Belo Horizonte Editora Letramento 2020 VERONELLI Gabriela Alejandra DAITCH Silvana Leticia Sobre a colonialidade da linguagem Revista X v 16 n 1 p 80100 2021 ANEXO I PRINTS DA ENTREVISTA QUE FOI RESPONDIDA POR ESCRITO
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Texto de pré-visualização
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira Unilab Instituto de Linguagens e Literaturas ILL Curso de LetrasLíngua Portuguesa Disciplina História da Língua Portuguesa Prof Juliana Geórgia Gonçalves de Araújo Aluna Renata Pereira Vidal ENTREVISTAS Entrevistada I Celeste de Souza Montenegro 14 anos oitavo ano do Ensino Fundamental Colégio Imaculada Conceição 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela Acredito que tenha sido me apresentado de uma forma em que eu não tenha me adentrado muito no assunto porém compreendo a riqueza dela por conta de suas origens e de como ela tem sido repassada de geração em geração Pedi para que a entrevistada explorasse mais a resposta centrandose no trecho de sua fala por conta de suas origens A entrevistada complementou da seguinte forma é uma língua vinda dos portugueses europeus e ela foi querendo ou não foi mudada por conta da forma de falar dos moradores que já viviam aqui Que não falam da mesma forma que foi ensinada para elas da mesma forma que os portugueses falam 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 Acho importantíssimo pois no ambiente escolar aprendemos com base nos livros pensando na vida profissional e nos trabalhos que possamos ter no futuro porém as vivências e conhecimentos fora da escola nos ensinam a viver em sociedade a conviver com outras pessoas então possui uma grande importância não só na vida profissional mas principalmente no convívio com outras pessoas com culturas e conhecimentos diferentes 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Acredito que possuo um bom conhecimento sobre esse assunto pois na minha visão a cultura brasileira é uma mistura de várias culturas possui parte da cultura africana que veio dos africanos que foram trazidos como escravos para o Brasil cultura essa que traz músicas comidas típicas daquela região religiões etc Possui parte da cultura indígena que é uma herança deixada pelos índios que viviam aqui antes da chegada do europeus cultura que deixa alguns hábitos e que interferiu no sotaque E na forma de falar das pessoas atualmente Acredito que essas culturas sempre são abordadas no meu dia a dia tanto na alimentação pois muitos dos alimentos que consumo são heranças desses povos como na minha forma de falar pois o sotaque que utilizamos possui uma grande interferência na língua que os indígenas falavam e na forma com que eles falavam 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP Por língua culta eu entendo que ela é mais usada em ambientes formais como no trabalho ou em alguns ambientes da escola por ser uma variedade mas de acordo com as regras gramaticais e língua popular é a forma com que falamos no nosso dia a dia com amigos e familiares é uma variedade em que normalmente não nos preocupamos tanto em seguir as regras gramaticais Considero essas duas variedades muito importantes pois a língua culta é algo muito necessário no ambiente de trabalho e no ambiente Escolar e a língua popular por ser algo que utilizamos no nosso dia a dia acaba se tornando algo que todos independente do nível de estudo possam compreender É importante abordar as duas variações porque uma ajudará o aluno na sua fase adulta em que ele passará a frequentar ambientes mais formais e a outra está presente na rotina desse aluno durante toda a sua vida Entrevistada II Maria Ravena Vidal Rodrigues de Assis 15 anos nono ano do Ensino Fundamental Colégio Imaculada Conceição 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela A Língua Portuguesa ela foi apresentada para mim como uma espécie de herança de Portugal quando a gente foi colonizado por Portugal e essa foi a maneira que eu entendi que foi passada para a gente Ela foi apresentada como algo levemente negativo no sentido de que a gente pegou essa meio que essa ideia de ah é uma língua dos nossos colonizadores então não foi apresentada de uma maneira muito positiva mas mesmo sem a minha compreensão com ela muito positiva foi apresentada de forma muito complexa Desde muito pequena as professoras dizem que a língua portuguesa que não se assustasse porque realmente é uma língua muito complexa mas que dava para enfim aprender e tudo e a minha compreensão dela é desse jeito Eu acho ela uma língua complexa não acho de uma maneira tão negativa quando é apresentada Eu acho que a língua ela representa muito um povo então a nossa língua para mim ela é muito bonita representa muitas coisas da nossa cultura então eu não vejo ela de uma maneira muito negativa porém ela foi apresentada para mim com essa ideia de que os portugueses vieram aqui e isso era uma herança de toda a nossa colonização e tudo 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 Eu acho importante porque a gente aprende Existem diferentes maneiras de aprender uma mesma coisa porque meio que até mesmo diretamente a gente pode transmitir um pouco da nossa percepção da nossa interpretação quando a gente vai transmitir algum conhecimento Então se a gente aprende algo de maneira diferente a gente também aprende um mesmo assunto com visões diferentes e com maneiras diferentes da gente aprender então se eu pego por exemplo eu vou aprender sei lá português eu aprendo fora da escola eu aprendo na rua eu aprendo com minha família cada jeito que eu aprendo vai ser uma maneira diferente de eu absorver uma visão diferente e cada vez mais conhecimento E eu posso aprender de um jeito melhor fora da escola e eu posso aprender de um jeito melhor que não seja indo pra escola é perfeitamente normal Então é importante a gente ter essas diferentes visões essas diferentes maneiras de absorver o conhecimento porque a gente vai ter até mesmo diferentes maneiras de se expressar de entender e um mesmo ponto de uma mesma história deixa eu pensar aqui Isso também traz um ponto de vista de tentar não é refutar mas tentar trazer um novo ponto de vista de uma história É muito comum que quando o aluno aprenda a história não só da língua portuguesa mas de qualquer história fora da escola ele consiga trazer um novo ponto dentro de sala de aula e se ele levar um outro ponto em sala de aula as pessoas vão ter mais conhecimento e isso é interessante porque nem todos os alunos têm a oportunidade de por exemplo aprender em outros lugares aprende em outros locais mas não tanto como um outro Eu por exemplo não vou aprender eu posso não aprender a história da cultura da língua portuguesa com um descendente de indígena Eu não aprendo mas uma colega minha pode aprender ela pode trazer esse conhecimento para a sala de aula Entendeu Então peças diferentes vêm dessas diferentes culturas e a gente pode aprender a viver com o diferente a aprender com o que não é convencional e desmistificar um pouco a história e saber se o que a gente tá aprendendo é realmente certo realmente errado e misturar um pouco dessas interpretações dessas vivências porque quanto maior a diversidade nas coisas melhor pra mim enfim é isso 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Eu definiria o meu conhecimento como muito raso Eu tenho pouquíssimo conhecimento dessas culturas e eu acho que isso é um pouco também pela minha própria ignorância e também um pouco porque a escola ela aborda mas na minha opinião ela aborda o assunto de maneira muito rasa é sempre uma citação no final do livro ou é sempre Quando a gente vai fazer uma prova nunca é bem explorado a parte dos indígenas é sempre são questões um pouco mais voltadas para outros assuntos e não nessa questão do cultural dos indígenas Eu creio que o meu conhecimento é extremamente raso porque a gente não aprofunda e a maneira com que as línguas foram apresentadas foram sempre em citações de ah tais indígenas tinham tal tal língua mas também raramente aprofundada raramente desenvolvida pelos professores Um livro até já fez uma crítica sobre isso eu lembro de uma pergunta que falou assim nossa por que que você acha os livros de história eles falam pouquíssimo as línguas e tudo Então há um pouquíssimo aprofundamento nessa questão mesmo que eu já tenha visto ser citada Eu já vi ser citada mas não bem aprofundada e enfim bem desenvolvida tanto pelo livro quanto pelos próprios professores e enfim quanto pelo próprio diálogo em sala de aula ou o professor tentar estimular esse senso crítico na gente Eu também ouvi muito pouco durante a minha vida Peço para ela expor mais sobre o conhecimento das línguas Se a cultura foi pouca a língua foi menos ainda a língua realmente foi só citação Eu realmente não tive nenhum contato com a língua de eu saber como se fala um oi na língua Eu não sei como é o contar da língua não sei como é a pronúncia ou até mesmo formar a escrita porque o máximo que aconteceu nos livros foram citações muito breves muito específicas do livro e que não eram aprofundadas na prova porque não era um assunto realmente amplo eram realmente pequenas citações no meio do livro no meio do caminho Como eu disse se a cultura era pouco falada a língua era menos ainda A gente não aprofundou nem o básico realmente nem o básico mesmo A gente não tem nem um conhecimento sobre a língua não sabe se ela teve alguma influência na nossa língua atual não sabe se a gente ainda tem algum resquício ou alguma coisa que nos remeta a essas línguas africanas e indígenas Não houve nenhuma tentativa de diálogo nenhuma tentativa de conhecimento de aprender essa língua e saber como ela é A gente sabe de onde ela veio mas a gente não sabe lidar com ela A gente sabe um pouco do nosso passado mas não aprofundou o nosso passado e não sabe lidar com o nosso passado e não sabe como ele afeta hoje em dia Só a parte dos colonizadores só a parte de que veio dos portugueses e tudo A gente não sabe interligar o nosso passado com o nosso futuro quer dizer com nosso futuro não com o nosso presente e consequentemente não sabendo também lidar com nosso futuro 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP Eu entendo por língua culta uma norma uma espécie de norma formal da língua portuguesa que seria o português entre aspas não o mais correto mas o mais dentro das regras da língua portuguesa do que seria o formal o mais correto para se falar em uma redação em alguma coisa do tipo e a língua popular eu entendo como algo É uma variação da língua um pouco mais fora das regras um pouco mais informal que tem termos que não são tão utilizados na norma culta que tem termos que não são talvez cem por cento corretos mas são utilizados ali no dia a dia e a gente consegue se comunicar no dia a dia São termos que não são cem por cento corretos na gramática mas eles são entendíveis Então a gente consegue se comunicar e consegue entender que é o principal objetivo da língua É uma linguagem que faz sentido e não é cem por cento padronizada corretinha direitinha mas ela tem o seu valor Enfim ela é muito utilizada porque é mais fácil da gente se comunicar para a gente se entender É mais ou menos uma língua que foi se adaptando com o popular foi se adaptando com a maneira que a gente fala É realmente a maneira que a gente fala É a língua do papel transformada para fala e é a maneira real que a gente se comunica Sobre as outras perguntas É importante pra gente respeitar essa língua a gente entender a importância dela a importância de não precisar ficar cem por cento focado nas regras cem por cento e entender que a maneira com que a gente fala também é importante e o importante real é se comunicar Enfim dar esse valor a essa língua e também eu acho que a língua popular eu também considero que sejam gírias de outras regiões Então seria uma maneira da gente respeitar essas questões diferentes e eu acho importante a gente abordar essas aulas de português porque isso vai trazer consciência pros alunos de tanto diferenciar uma e outra e saber respeitar tanto uma quanto outra A saber respeitar quando alguém está usando linguagem popular e também não julgar aqueles que tão utilizando essa linguagem que é uma linguagem normal então não precisa de tanto repúdio mas também quando for necessário quando se tiver essa obrigatoriedade de saber utilizar a língua culta a língua mais formal enfim entender um pouco das duas e aprender a utilizar as duas claro que normalmente a pessoa utiliza a linguagem popular como a mais querida e sempre vão querer utilizar mais ela mas também aprender um pouco da linguagem culta porque isso é necessário para determinadas situações específicas da escola determinadas situações específicas de uma redação determinadas situações específicas de formalidade que a gente vai ter que enfrentar ao longo da nossa vida Então é interessante a gente ter um pouco desse mundo das duas e aprender um pouco das duas respeitando sempre a individualidade de cada estilo Entrevistada III Ana Clarisse Moura Gaudino 14 anos nono ano do Ensino Fundamental Escola Municipal de Tempo Integral Professora Antonieta Cals 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela Bem o que eu aprendi assim da língua portuguesa é que teve bastante influência dos portugueses né e se eu não me engano teve influência do latim também É isso que eu sei que eu me lembre Tento explorar mais a pergunta Algo que caracterizaria bastante a língua portuguesa seria além das gírias eu acho a forma de falar em si 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 Bem é essas experiencias fora da escola servem bastante para o socialismo né também bastante para o aprendizado dependendo do que seja Tento explorar mais a pergunta mas a entrevistada estava com dificuldade de responder e não conseguiu desenvolver mais as respostas 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Sobre saber assim mais da história é mais na escola mas também já vi bastante na televisão abordando sobre a história deles a cultura e tal Refaço a pergunta novamente Eu acho que contam bastante até sobre as histórias deles é eu que não sou muito bem em história no caso Tento explorar mais alguns aspectos da própria resposta da entrevistada na expectativa de que ele consiga recuperar algo dessas histórias que segundo a opinião dela são bastante contadas mas a entrevistada não consegue desenvolver 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP Bem eu acho bastante importante abordar as duas por causa que tipo assim tanto a norma culta A norma culta é diferente da popular porque naturalmente quando a gente vai aprender outras línguas a gente meio que aprende a culta certo Mas às vezes o pessoal fala realmente a popular Refaço a pergunta novamente mas de outra maneira peço que a entrevistada faça algumas associações entre cada uma dessas normas e determinadas situações e tento explorar mais da entrevistada sobre quais seriam as características da norma culta e da norma popular Eu acho que a norma culta seria mais a forma meio que gramaticalmente certa falada assim Sobre a norma popular É uma fala mais informal mais puxada em gírias Sobre a razão para abordálas A norma popular seria mais para socializar já a norma culta seria mais para fazer é para a questão da escrita coisas assim Entrevistado IV Vilemar Teixeira Neto 19 anos segunda série do Ensino Médio Colégio Santo Tomás de Aquino 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela No começo a língua me foi apresentada como algo muito fluido tipo ela pode ir mudando conforme o tempo e conforme as regiões Por exemplo a língua pode ir mudando assim como foi antigamente há centos A língua pode ir se moldando e passou já por vários povos Assim como foi antigamente o português de Portugal né Hoje em dia não se fala mais Pergunto em que sentido ele diz que Hoje em dia não se fala mais e o entrevistado esclarece que é uma língua diferente do que foi trazido antigamente Tento explorar mais da resposta do entrevistado sobre qual história da língua portuguesa lhe foi contada Eu não sei dar uma resposta muito bem para isso mas o que foi me apresentado sobre a história foi que tipo a língua ela não teve a língua de Portugal quando veio para cá não foi exatamente concreta tipo os povos foi mudando entendeu Quando os portugueses ensinaram aos índios a nossa língua a língua deles meio que foi mudando e se adaptando para os índios 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 O que eu aprendi fora da escola Eu posso fazer uma pergunta é meio que no tema porque eu realmente não sei Quando em algum texto no português por exemplo Eu estava lavando a louça e um prato caiu esse e é um e sem acento não é Ou seja você fala i Eu aprendi por um certo tempo que o e era na verdade meio que para dentro era ê e não i e eu sempre achei que o e era o certo de se falar entendeu porque eu aprendi isso fora da escola minha mãe nunca me ensinou esse tipo de coisa então o que eu aprendia era mais escutando o povo falando o povo falava meio errado e eu escutava e achava que era o certo Retorno à pergunta Na minha visão os aprendizados podem servir para a pessoa se encaixar melhor ou entre aspas falar melhor porque geralmente nas escolas o que mais atrapalha é a comunicação Por mais que você estude português às vezes na fala ou até mesmo na interação fica bem difícil você chegar para uma determinada pessoa e tipo ter uma comunicação então eu acho que quando você aprende a ter uma comunicação fora da escola é bem importante 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Muita cultura da África veio para a gente como a umbanda e acho que até a capoeira né Realmente meu conhecimento é bem reduzido mas eu tenho noção de que em muitos lugares da África eu acho que é da África tem povos que falam português tem povos que falam português e até muito bem E muito disso foi porque nós fomos levados para lá certo E eles vieram para cá e eu acho que ele tiveram como voltar e principalmente voltaram com a nossa língua aprendida Então eu acho que eles podem ter repassado ou algo do tipo Eu realmente não sei muito dessa cultura Tento explorar mais a pergunta e alguns aspectos da resposta do entrevistado Bom sobre a umbanda e a capoeira foi na aula de história que eu aprendi e sobre as nossas línguas a nossa língua estarem na África foi na rua na verdade 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP Quando se diz norma culta quer dizer o jeito certo de se falar português não Dou um tempo para que o entrevistado pense e tente definir norma culta o entrevistado parecia estar em dúvida Definiria como o jeito certo da escrita do português Sobre forma popular O jeito de se falar Refaço a pergunta novamente mas de outra maneira peço que a entrevistada faça algumas associações entre cada uma dessas normas e determinadas situações e tento explorar mais do entrevistado sobre quais seriam as características da norma culta e da norma popular Eu acho que a popular é mais usada na fala e na escrita em rede social e a norma culta é mais em prova ou algo mais entre aspas diplomático Eu acho importante a norma popular para realmente o meio da comunicação e como a pessoa pode entre aspas meio que se introduzir em um certo de grupo saber o fonema das pessoas como as pessoas falam e a variedade de palavras que essas pessoas falam mesmo para a pessoa se introduzir e se encaixar em determinado grupo Sobre a norma culta Eu acho que é importante logicamente para a pessoa se mostrar que consegue escrever um texto entre aspas um texto bonito né Para a pessoa ter um vocabulário realmente bom na escrita saber o que está estudando e tal Só isso Entrevistada V Ana Clara Martins Silva 15 anos nono ano do Ensino Fundamental Colégio Imaculada Conceição 1 Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela Quando eu penso em história eu penso tipo na história saber a matéria em história o que é apresentado em toda a história as datas quem fez e tal aí eu tô meio tá tudo embaralhado aqui Acalmo a informante e explico que não há esse propósito de que o entrevistado forneça datas e detalhes Tá é que para mim a língua portuguesa foi apresentada na escola mesmo tipo no ABC a história realmente a história no caso eu acho que nunca me foi apresentada a história da língua como foi criada tipo como foi feita nunca me foi apresentada Refaço a pergunta novamente mas de outra maneira quando os portugueses vieram para o Brasil tipo descobriram né o Brasil tipo vieram aqui e colonizaram eles e trouxeram a língua deles para o Brasil e foi fixada como se fosse a língua principal 2 Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 Então as experiências e vivencias em si por si só sendo escolar ou não sendo familiar etc faz a pessoa ser quem ela é uma pessoa pode tipo querendo ou não você querendo ou não tipo se você bebe se você fuma se você faz qualquer coisa é o seu corpo querendo avançar querendo melhorar você sempre tá tentando melhorar quando você experiencia coisas fora da escola porque coisas da escola é algo diário então você geralmente pode ou não experienciar coisas diferentes por exemplo uma coisa muito forte do lado de fora da escola é a dependência de uma pessoa que tá crescendo da fase da criança para a fase adulta tipo começa a andar sozinha até em casa fazer as compras para os pais começa a ter aquela independência sabe principalmente isso no caso que é uma coisa que eu tô experienciando agora e também pelo fato realmente de você conhecer mais pessoas é isso você vai crescendo então você querendo ou não você vai crescendo de alguma maneira seja ela ruim ou boa essa é a função de estudar o que não tá na escola estudar aprender e ter o conhecimento experiencias porque você pode também tipo sair com os amigos ter experiencias novas diversão viagens e você vai conectando tudo você vai guardando tudo aquilo ali tudo é experiência tipo coisas ruins tipo por exemplo você vai você faz uma coisa por exemplo uma criança ela foi pegar em uma panela que tava quente aí ela se queima né Aí ela pensa assim hum isso dói Ela chora porque é uma criança então ela vai lembrar e não vai mais fazer isso certo E é uma boa experiencia para você poder não fazer aquilo de novo Tento explorar mais a pergunta e alguns aspectos da resposta da entrevistada Tipo o seu corpo é uma coisa de instinto você querendo ou não ele sempre busca fazer alguma coisa é isso você tá tentando explorar coisa diferentes vai tentar olhar para os lados fazer um monte de coisa você vai tá tentando melhorar explorar coisas sempre 3 Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afro ameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas Começando já falando aqui que eu não tenho realmente um conhecimento sabe dessa cultura dessas culturas né no caso mas o que eu sei geralmente é o que basicamente a maioria das pessoas sabe que essas pessoas principalmente pessoas retintas né pessoas afrodescendentes tanto indígenas sabe que tem realmente uma pele mais escura ou coisa assim que tem uma cultura diferente jeito de falar diferente são muito oprimidas são muito muito afastadas sabe tipo são muito é porque tem o negócio do racismo né também é porque é uma raça no caso tipo tanto os indígenas quanto os afrodescendentes e tal eles são por serem pessoas diferentes eles são muito afastados é disso basicamente que todo mundo sabe Todo mundo tipo vê notícia de jornal diariamente muitas pessoas pretas indígenas pessoas de etnias diferentes morrendo entendeu esse e o conhecimento geral que geralmente passa todo dia no jornal basicamente e sobre a cultura deles eu não saberia dizer muito porque eu ainda não li muitos livros dessa área sabe então eu não saberia realmente dizer só que do que eu sei deixa eu ver eu acho que eu não sei quase nada basicamente sério eu realmente não tenho o conhecimento Por exemplo os indígenas eles são pessoas que no Brasil pelo menos eles eram pessoas que não eram que não tinham direito de trabalhar sabe Tipo eles não poderiam trabalhar ou que suas terras suas terras seriam tomadas ou alguma coisa assim A entrevista relata também alguns episódios de racismo que ela presenciou ao longo de sua vida 1935 min interessante discutir que as primeiras associações que a entrevistada faz quando pergunto sobre cultura indígena e africana etc não aspectos da cultura em si mas situações de violência para com esses povos 4 O que você entende por norma culta e norma popular Qual a importância das variedades cultas e populares e por que abordálas nas aulas de LP Sobre a norma culta no caso eu acho que também seria bastante importante ser tratada mas tipo eu acho mas não é tanto quanto a norma popular entendeu Por exemplo a norma culta ela fala sobre uma linguagem mais formal né e tal Então eu não estou estudando exatamente isso sabe Só que a minha professora deu uns passos sobre esse aspecto Por exemplo deixa eu ver Uma vez teve um tribunal tipo na aula de redação teve um tribunal que tinha um juiz o réu tinha advogados advogados de defesa e daí ela começou a explicar só que infelizmente em alguns dias dessas aulas eu faltei e não fui atrás Então realmente Só que sobre a norma culta eu acho que é algo que é bem importante sobre a língua no caso ser uma língua mais formal você realmente falar com todas as palavras que você acha risos Eu não sei o que é que eu tô tentando dar eu só tô tipo tentando falar Refaço a pergunta novamente mas de outra maneira peço que a entrevistada faça algumas associações entre cada uma dessas normas e determinadas situações e tento explorar mais do entrevistado sobre quais seriam as características da norma culta e da norma popular A norma culta tipo para mim ela é como se fosse é uma coisa mais de formalidade Tá relacionada à profissionalismo sabe Por exemplo um médico ele vai falar daquele jeito né Daquele jeito formal que os profissionais falam Então tipo psicólogos Geralmente tipo gente que é mais que tem a necessidade de falar de um jeito mais formal tipo jornalista médicos juiz até por exemplo Então é algo que tá realmente ligado para mim Sobre a norma popular A norma popular eu diria que seria tipo uma não seria tipo um jeito formal de falar mas tipo como se fosse uma voz de minoria sabe Ou alguma coisa assim Para mim tá ligado desse jeito porque é como se fosse uma norma popular que por exemplo uma opinião popular sabe Não seria exatamente da minoria mas das pessoas que geralmente como é que eu digo isso Pessoas que são a maioria só que elas crescem de uma minoria daí a voz dela vai crescendo Eu não sei como explicar isso risos A norma popular geralmente para mim a palavra popular que está na minha cabeça é algo que tipo uma opinião popular por exemplo ANÁLISE E DISCUSSÃO A pergunta um Como a história da Língua Portuguesa lhe foi apresentada e qual a sua compreensão acerca dela tem como propósito capturar que história foi contada e como o entrevistado entende a história da Língua Portuguesa a partir do que lhe foi ensinado na escola e de suas vivências e experiências ao longo de sua vida Para embasar a discussão lanço mão das reflexões de Adichie 2019 Fuly 2022 e Veronelli e Daith 2021 que abordam o perigo da história única e as noções de colonialidade e decolonialidade A partir da análise das entrevistas pudemos observar que a abordagem colonial prepondera uma vez que o ponto de partida selecionado pelos entrevistados ao falarem da história da Língua Portuguesa é o de uma língua vinda dos portugueses europeus herança de toda nossa colonização língua que teve bastante influência dos portugueses influência do latim Língua de Portugal trazida pelos colonizadores fixada como se fosse a língua principal usando as palavras dos entrevistados Esse ponto de partida isto é essa história que foi contada não nos surpreende pelo contrário é algo que está dentro da expectativa quando fazemos uma pergunta dessa natureza em razão de ter sido criada e ao longo de séculos difundida uma história única Para Adichie 2019 p 12 uma história única se cria da seguinte maneira mostre um povo como uma coisa uma coisa só sem parar e é isso que esse povo se torna Parafraseando para o contexto da nossa pergunta apresente a história da Língua Portuguesa como uma só uma única história contea várias e várias vezes e ela será a história definitiva O perigo de uma história única com base em Adiche 2019 p 12 está no fato de ela não existir senão ligada às estruturas de poder Assim como as histórias são contadas quem as conta quando são contadas e quantas são contadas depende muito de poder Segundo a autora supracitada o poder consiste na habilidade de não apenas contar a história do outro mas de tornála a história definitiva Para que comecemos a entender o perigo da história única as distorções que a caracterizam e a importância de desmistificála segue uma primeira lição para refletir comece a história com as flechas dos indígenas americanos e não com a chegada dos britânicos e a história será completamente diferente ADICHE 2019 p 12 A partir da consciência de possibilidades outras de se contar a história de um povo ou de uma língua ou melhor da consciência de várias histórias e pontos de partida fica claro que a história única é limitadora distorcida e controladora sendo definida de acordo com os interesses de quem as conta Seu grande problema e perigo são a criação de estereótipos os quais embora possam não ser mentira são incompletos e fundamentalmente o roubo da dignidade dos indivíduos conforme salienta Adiche 2019 Com base em Fuly 2022 o perigo de uma única história reside no fato de retratar como se forma o nosso conhecimento como ele é formatado e quais são as narrativas que atravessam nosso subconsciente que nos fazem construir nossa imagem de cada povo É um desejo com base no desejo do outro um outro que nos seduz e nos convence de que não há alternativa fora daquilo que nos foi apresentado O uso do verbo seduzir aqui não é à toa considerando que se construiu ao longo de séculos um fetichismo em torno da cultura do europeu a qual segundo Oliveira e Candau 2010 apud FULY 2022 é responsável por estimular uma forte aspiração à cultura colonialista por parte dos povos inferiorizados É importante refletirmos sobre a perversidade da história única Ela é perversa no sentido de protagonizar um único tipo de sujeito o europeu e com isso inviabilizar e subalternizar os povos não europeus os quais muitas vezes em consequência da imposição do imaginário do outro nega desconhece ou até esquece os próprios processos históricos sociais e culturais1 No contexto linguístico essa negação pode ser ilustrada com o exemplo do negro antilhano que encontra na língua francesa uma porta de acesso e meio de pertença ao mundo dos brancos FANON 2008 visto que no pensamento do povo colonizado existe a ideia de que quanto mais assimilar os valores culturais da metrópole mais o colonizado escapará da sua selva Quanto mais ele rejeitar sua negridão seu mato mais branco será FANON 2008 p 34 Entendemos que essa atitude do negro das Antilhas é seguramente consequência da propagação de uma história única em que temos a figura do colonizador como heróis aqueles que salvaram povos oprimidos e subhumanos apagando a própria história desses povos repletos de cultura que lutaram bravamente por justiça equidade e contribuição social mas que passaram a ser vistos pelo mundo como causadores de desordem pública vândalos subalternos e incapazes de serem inseridos 1 A reflexão dessa parte do parágrafo foi feita com base na minha compreensão das palavras de Fuly 2022 p 4243 em sociedade FULY 2022 p4445 Fuly 2022 chama a atenção para o fato de que somente a compreensão da história única não é suficiente para construir um espaço justo e de equidade Para a autora é necessário também enfrentar os efeitos colaterais do perigo que consiste a história única que está vinculada ao racismo e ao preconceito de modo intrínseco Assim sendo no contexto da abordagem da história da Língua Portuguesa o enfrentamento da história única pode começar com uma prática pedagógica que seja questionadora atenta à necessidade de que educadores e educandos se posicionem de maneira crítica em suas vivencias educacionais e que superem as posturas ingênuas que nos foram impostas ao longo de nossa formação humana por um sistema colonizador e uma educação estática e monorracional uma prática docente que leve em consideração espistemes e saberes múltiplos nas abordagens educativas com base em Freire 1996 apud FULY 2022 p45 e 47 uma educação capaz de superar o falso aprender e o falso ensinar de maneira crítica e questionadora FULY 2022 p 48e que caminhe em sentido totalmente oposto a uma educação bancária FREIRE 2005 Rejeitar a história única e mirar as outras histórias deve ser tarefa de todos sobretudo dos que estão na posição de educadores pois todas elas importam e da mesma forma que foram usadas para denegrir e rebaixar muitos povos elas podem funcionar como instrumento de humanização elas podem despedaçar a dignidade de um povo mas também podem reparar essa dignidade despedaçada ADICHE 2019 p16 A partir dessas reflexões e das repostas dos entrevistados devemos enquanto professores de língua portuguesa ressignificar e reconstruir a abordagem da história abrindo para as possibilidades contando outras histórias e permitindo que o aluno contribua com suas vivências e suas histórias selecionando outros pontos de partida centrandonos na pluralidade que caracteriza os processos históricos interno e externo da Língua Portuguesa uma pluralidade até hoje e em diversos espaços silenciada e negada em consequência de um processo que Veronelli e Daith 2021 denominam colonialidade da linguagem2 Essa abordagem pluriversalizante3 da história da Língua Portuguesa aqui reiterada tem como alicerce o pensamento decolonial 2 Parte do processo de desumanização dos povos colonizados que tem em sua gênese o imaginário de que os colonizados são nãohumanos ou menos que humanos sem capacidade expressiva e linguística com base em Veronelli e Daith 2021 3 Inspiração em Fuly 2022 que usa o termo pluriversalidade Baseandonos em Veronelli e Daith 2021 a decolonialidade4 não tem como propósito negar o que a colonialidade construiu isto é as contribuições para a história da humanidade trazidas pela modernidade eurocêntrica mas abrir espaço para as epistemes e vivências provenientes de uma multiplicidade de subjetividades que foram e são ignoradas e subalternizadas pela colonialidade É um projeto de recuperação de dignidades e da humanidade daqueles sujeitos que foram excluídos dos processos de produção de conhecimentos e que tiveram suas histórias e suas culturas anuladas Devemos frisar que a opção decolonial não tem como premissa ser alternativa única no confronto do sistema colonial ou seja não é uma oposição total pois entende que não há um denominador ou um vencedor mas diversas trajetórias que coexistem e sempre coexistiram e coexistirão como esclarece Fuly 2022 Daí sua natureza dialógica e seu foco no plural e na valorização da diversidade cultural e epistêmica As respostas dos entrevistados embora sugerem que a história da Língua Portuguesa foi apresentada de modo colonial animamnos no sentido de que alguns estudantes entrevistados parecem ter uma consciência muito clara de existência dessa pluralidade consciência apenas de que ela existe Vejamos língua mudada por conta da forma de falar dos moradores que já viviam aqui a língua ela representa muito um povo então a nossa língua para mim ela é muito bonita representa muitas coisas da nossa cultura que povo é esse que cultura é essa representada por nossa língua a língua de Portugal quando veio para cá não foi exatamente concreta tipo os povos foi mudando entendeu Quando os portugueses ensinaram aos índios a nossa língua a língua deles meio que foi mudando e se adaptando para os índios no entanto predomina um desconhecimento acerca dos processos históricos constitutivos da Língua Portuguesa isto é quais os povos envolvidos de que modo esses processos ocorreram por que sucederam da maneira desumana que sucederam e quais foram as consequências que perduram até os dias de hoje A pergunta dois Qual a importância das experiencias vivencias e conhecimentos que caracterizam os diferentes espaços de interação social fora dos muros da escola isto é educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares FULY 2022 p 50 visa refletir sobre como o aluno entende as educações que emergem de diversos outros ambientes e relações Ao analisar as repostas dos entrevistados evidenciamos a consciência da importância dessas educações e a 4 Ou o que ele chama giro deconolonial valorização delas por parte de alguns estudantes o que é muito louvável conforme explicaremos adiante Todavia gostaríamos antes de destacar alguns trechos das respostas por meio dos quais verificamos a compreensão que alguns entrevistados têm da relevância dos saberes advindos de diversos outros espaços A entrevistada I por exemplo menciona a importância desses conhecimentos para a convivência com o outro culturas e conhecimentos diferentes A entrevistada II ressalta as visões diferentes que se formam em decorrência das vivências fora da escola por exemplo eu vou aprender sei lá português eu aprendo fora da escola eu aprendo na rua eu aprendo com minha família cada jeito que eu aprendo vai ser uma maneira diferente de eu absorver uma visão diferente e cada vez mais conhecimento a importância dessa diversidade de visões Isso também traz um ponto de vista de tentar não é refutar mas tentar trazer um novo ponto de vista de uma história e a relevância de levar para a escola as experiências e conhecimentos que os alunos têm porque podem desmistificar a história e nos ajudar a conviver com o diferente eu posso não aprender a história da cultura da língua portuguesa com um descendente de indígena mas uma colega minha pode aprender ela pode trazer esse conhecimento para a sala de aula e a gente pode aprender a viver com o diferente a aprender com o que não é convencional e desmistificar um pouco a história e saber se o que a gente tá aprendendo é realmente certo realmente errado A entrevistada III pontua a sua utilidade para a socialização5 O entrevistado IV menciona sua função para a comunicaçãointeração e para que o indivíduo se encaixe melhor Por fim a entrevistada V destaca a importância desses saberes e experiências para o avanço e a melhora do indivíduo como lições de vida e também para a exploração de coisas Acerca da relevância dessas educações Fuly 2022 baseandose em Rufino 2019 considera que a validação dessas diversas formas de educação praticadas em diferentes espaços fora da escola são ações de fresta na educação colonial no processo de construção de uma educação decolonial Essas frestas propiciam uma operação a partir da pluralidade das possibilidades outras cujo objetivo não é a posição absoluta ao conhecimento ocidental mas o diálogo a emergência de processos educativos comprometidos com a diversidade do conhecimento RUFINO 2019 p 80 apud FULY 2022 p 51 5 A entrevistada usa o termo socialismo mas entendemos que a sua intenção era fazer referência à interação social Temos que ter o entendimento de que o processo educativo não consiste de um mero adestramento de pessoas Quando educamos ensinamos o aluno a pensar a aprender a pensar e a estar atento às práticas que desumanizam indivíduos e povos Daí a importância de valorizar as experiências e vivências que se dão em diversos ambientes pois a educação emerge de todos os lugares Nesse sentido a educação deve ser pensada a partir da incorporação aos conteúdos do currículo formal de todo e qualquer conhecimento e questionamento que os alunos possam trazer de fora para dentro dos espaços escolares6 Conforme saliente Fuly 2022 essa atitude é uma maneira de lutar conta o silenciamento e a tentativa de depreciação dos saberes de muitos povos Trazendo a discussão proposta para o contexto de nossa entrevista é possível verificar em três repostas a consciência da potencialidade desses saberes e vivências visto que os estudantes demonstram ter clareza de seu valor para a sociedade sobretudo no que se refere à convivência com o diferente No entanto cabe a nós educadores reforçar o papel dessas educações e o seu estatuto igualmente importante quando comparadas à educação formal para que possamos contribuir com o projeto decolonial propiciando uma educação crítica e que liberta A pergunta três Como você definiria seu conhecimento acerca das culturas ameríndias afroameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira cultural e linguística e em que situações e em que espaços em suas experiências diárias ao longo de sua vida a cultura e a língua desses povos foram abordadas foi realizada com o propósito de obter um retrato acerca dos conhecimentos dos estudantes sobre as culturas que compõem a identidade brasileira A partir desse retrato visamos discutir o silenciamento desses povos em um sistema colonial alimentado e sustentado até os dias de hoje desde a invasão do território brasileiro Para embasar as reflexões lançamos mão das discussões propostas por Mariani 2008 Castro 2011 Nascimento 2019 e Luciano 2022 As respostas do entrevistados não nos surpreendem quando revelam o quão pouco os estudantes sabem sobre as culturas ameríndias afroameríndias e africanas que configuram a diversidade brasileira Com exceção da entrevistada I que se mostra bastante consciente da presença dessas culturas em nossa identidade e acredita que elas são tratadas no seu cotidiano os outros estudantes transpareceram não conhecelas muito bem Respostas como Eu tenho pouquíssimo conhecimento dessas culturas escola 6 Parágrafo construído com base nas palavras de Fuly 2022 p 48 ela aborda mas na minha opinião ela aborda o assunto de maneira muito rasa A gente não tem nem um conhecimento sobre a língua não sabe se ela teve alguma influência na nossa língua atual não sabe se a gente ainda tem algum resquício ou alguma coisa que nos remeta a essas línguas africanas e indígenas A gente sabe de onde ela a língua portuguesa veio mas a gente não sabe lidar com ela Realmente meu conhecimento é bem reduzido mas eu tenho noção de que em muitos lugares da África destaco aqui a referência à África de forma generalizada como um único bloco eu acho que é da África tem povos que falam português tem povos que falam português e até muito bem Começando já falando aqui que eu não tenho realmente um conhecimento sabe dessa cultura dessas culturas né no caso mas o que eu sei geralmente é o que basicamente a maioria das pessoas sabe que essas pessoas principalmente pessoas retintas né pessoas afrodescendentes tanto indígenas são muito oprimidas são muito muito afastadas sabe tipo são muito é porque tem o negócio do racismo né também e sobre a cultura deles eu acho que eu não sei quase nada basicamente sério eu realmente não tenho o conhecimento evidenciam essa realidade É esperado que os alunos de fato desconheçam considerandose o abafamento na História do Português Brasileiro das vozes dos quatro milhões de negro africanos trazidos como escravos para o Brasil no decorrer de mais de três séculos e da desconsideração da participação dessas populações na configuração do português brasileiro que se faz sentir em toda a língua seu léxico sua semântica sua prosódia sua sintaxe dando ao português do brasil um caráter particular conforme salienta Castro 2011 Quanto aos povos ameríndios cabe destacar que segundo Luciano 2022 em 1500 existiam pelo menos 5 milhões de habitantes e cerca de 1400 línguas originárias na região que hoje constitui o território brasileiro enquanto hoje7 há cerca de 1000000 de indígenas de 305 povos e 275 línguas habitando em 13 do nosso território Esse cenário aqui esboçado pode ser explicado no que a nós compete8 por meio do que Nascimento 2019 chama de epistemicídio e linguicídio Nascimento 2019 baseandose em Sueli Carneiro 2011 descreve o epistemicídio como o extermínio dos saberes do outro a partir da definição do que é 7 O autor situa o ano de 2020 8 Detemonos somente na parte relativa ao extermínio dos saberes e das línguas retirando da discussão outras questões mais profundas como o genocídio desses povos para não prolongar as reflexões e ir direto aos pontos da pergunta três conhecimento valido e não válido é o formato pelo qual a colonialidade sequestra subtrai tudo o que puder se apropriar e apaga os saberes e práticas dos povos originarios e tradicionais os negros e indígenas no nosso caso NASCIMENTO 2019 p 19 impondo sabres e linguagens eurocêntricos Para ilustrar o autor cita o reconhecimento da validade e legitimidade dos artefatos das ciências da saúde e a invalidação do conhecimento tradicional das populações afrobrasileiras Outra consideração que o autor faz acerca da morte do pensamento do outro epistemicídio diz respeito ao apagamento da possibilidade de compreender ouvir e difundir os saberes tradicionais Acerca disso assinalo as reflexões de Luciano 2022 sobre a importância das línguas indígenas para a conexão com o mundo ancestral Segundo o autor um povo indígena sem a sua língua tem comprometido seu relacionamento com a natureza e com o cosmo pois são as línguas que propiciam esse elo e a comunicação entre os mundos existentes A partir disso depreendemos que o apagamento de uma língua tradicional e não só dela mas de ideias práticas valores etc impossibilita a compreensão e a transmissão dos saberes e das práticas de uma cultura Para concluir as reflexões de nascimento 2019 gostaríamos de mencionar que o epistemicídio acaba conferindo à colonialidade um status de ponto zero sendo esta sempre o ponto de partida Conforme saliente o autor p 21229 o colonizador ao ser o ponto zero impõe ao colonizado formas de organização que ele concede a partir de si como ponto zero Isso nos permite enxergar bem a natureza desumana do epistemicidio Quanto ao linguicídio Nascimento 2019 banseandose em RAJAGOPALAN 2010 estabelece uma relação com a noção anteriormente discutida já que é um epistemicídio que ocorre por meio da a linguagem o que pudemos ilustrar com os dados apresentados por Castro 2011 e Luciano 2022 Seguindo o mesmo raciocínio de Nascimento 2019 a ideologia do déficit apontada em Mariani 2008 esclarece também o porquê dessas culturas e línguas terem sido colocadas nessa condição de silenciamento e apagamento A partir da leitura desse texto percebemos mais claramente que os processos de colonização linguística que se observam nas sociedades brasileira e africanas foram bastante cruéis ao negar completamente as línguas étnicas associandoas a algo a ser dizimado seja por suas 9 Baseandose em Santiago CastroGomez 2007 características e por seu status não gramatizado seja pela associação a um povo considerado não civilizado pelos colonizadores À vista de tudo que expusemos devemos como educadores apresentar a língua e sua história centrandonos no seu caráter plural e rejeitando toda abordagem que promova uma visão homogênea Essa postura reclamada é crucial pois quando negamos uma língua não negamos somente um código compartilhado mas um conjunto de memórias ancestralidades e identidades de um povo Conforme discute Mariani 2008 o efeito homogeneizador que se constrói em virtude da imposição de uma língua apaga a heterogeneidade linguística e cultural e fortalece o poderio e a potência da nação colonizadora que mesmo com os processos de independência ainda parece perdurar nas nações que foram colonizadas ou seja essa ideologia se mantém mesmo nos dias de hoje Podemos citar como exemplo a insistência na promoção unitária e homogênea que se faz da Língua Portuguesa ignorandose a diversidade linguística que caracteriza o português As palavras de Mariani 2008 p 8081 nos respaldam A luta pela hegemonia da Língua Portuguesa permanece mesmo após as independências Portugal promove um discurso pró unidade lingüística com suas excolônias discurso esse marcado pelo termo lusofonia e por atividades acadêmicas pedagógicas e políticas que procuram sustentar uma idéia de unidade na diversidade Reforçamos assim a necessidade de pensar a própria língua portuguesa no contexto das heterogeneidades sóciohistóricas culturais e linguísticas uma língua que é em realidade um complexo de línguas portuguesas cada qual carregada da história da cultura e de traços das línguas dos povos originários A pergunta quatro O que você entende por língua culta e língua popular Qual a importância de cada uma dessas variedades e por que abordálas nas aulas de LP intenciona capturar a compreensão que os entrevistados têm acerca da língua culta e da língua popular de modo a verificar que concepções permeiam o imaginário do estudante no que diz respeito à realidade sociolinguística brasileira se noções como superioridade e erro se realinham a essas variedades As discussões aqui propostas se baseiam em Faraco 2015 e em Nascimento 2019 Na análise das respostas dos entrevistados pudemos verificar que os estudantes de um modo geral têm um bom entendimento sobre as normas culta e popular e percebem com clareza a importância de cada uma delas Contudo alguns aspectos das repostas acionaram um alerta para associações que ainda persistem ao definirse norma popular e norma culta Em três das cinco entrevistas verificamos um realinhamento entre as noções de certobonito e errado às normas culta e popular respectivamente como demonstram os fragmentos É uma linguagem que faz sentido e não é cem por cento padronizada corretinha direitinha mas ela tem o seu valor Eu acho que a norma culta seria mais a forma meio que gramaticalmente certa falada assim Quando se diz norma culta quer dizer o jeito certo de se falar português não Eu acho que é importante logicamente para a pessoa se mostrar que consegue escrever um texto entre aspas um texto bonito né o entrevistado está falando da norma culta Temos que admitir que havia uma expectativa de que essas associações ocorressem pois nada mais são do que reflexos do processo de constituição da sociedade e realidade sociolinguística brasileiras Faraco 2015 menciona uma pesada divisão entre em um lado o português culto associado às variedades típicas urbanas e aos mais bem posicionados na escala econômica com acesso à educação básica e aos bens da cultura letrada e em outro as variedades que constituem o português popular ligadas às zonas rurais aos posicionados mais a baixo da pirâmide socioeconômica e aos com acesso restrito à educação básica e aos bens da cultura letrada De acordo com o autor a sociedade brasileira se formou como uma sociedade radicalmente dividida economicamente e por conseguinte cultural e linguisticamente processo intimamente ligado às práticas colonialistas Equiparandose à linha de pensamento de Faraco 2015 Nascimento 2019 estabelece uma relação entre a linguagem popular e o racismo linguístico O autor explica que a maioria dos brasileiros ditos pelo autor como pessoas negras 54 dos brasileiros são negros está condicionada às formas de educação linguística das mais precárias daí o ataque consistente e permanente aos seus falares Sua afirmação é sustentada por uma série de dados como o fato de i o analfabetismo entre os negros ser duas vezes maior quando comparado ao dos brancos ii a porcentagem maior ser de jovens brancos a partir de 15 anos no ensino médio e iii o aumento da taxa de homicídios de indivíduos negros Nesse sentido é importante que nós futuros professores de língua portuguesa busquemos descontruir não só a divisão rigorosa entre essas duas normas mas as rotulações e associações equivocadas que são feitas Seguindo o raciocínio de Faraco 2015 uma boa estratégia para este fim é uma abordagem que tenha como ponto de partida a norma o popular promovendo reflexões profundas sobre as variedades populares e como ponto de chegada a norma culta REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADICHIE Chimamanda Ngozi O perigo de uma história única Companhia das Letras 2019 CASTRO Yeda Pessoa de Marcas de africania no português brasileiro Africaniascom v 1 p 17 2011 FANON Frantz Pele negra máscaras brancas R Silveira Trad Salvador BA EDUFBATrabalho original publicado em 1952 2008 FARACO Carlos Alberto Norma culta brasileira construção e ensino In Pedagogia da variação linguística língua diversidade e ensino São Paulo Parábola p 1930 2015 FULY Tatiana Que História Você quer Contar Caminhos para uma Educação Decolonial Curitiba Appris Editora 2022 LUCIANO Gersem José dos Santos Saberes indígenas e resistência linguística In MATOS Doris Cristina Vicente da Silva DE SOUSA Cristiane Maria Campelo Lopes Landulfo org Suleando conceitos e linguagens decolonialidades e epistemologias outras Campinas SP Pontes Editores 2022 MARIANI Bethania Da colonização lingüística portuguesa à economia neoliberal nações plurilíngües Gragoatá v 13 n 24 2008 NASCIMENTO Gabriel Racismo linguístico os subterrâneos da linguagem e do racismo Belo Horizonte Editora Letramento 2020 VERONELLI Gabriela Alejandra DAITCH Silvana Leticia Sobre a colonialidade da linguagem Revista X v 16 n 1 p 80100 2021 ANEXO I PRINTS DA ENTREVISTA QUE FOI RESPONDIDA POR ESCRITO