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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA MG DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E FILOSOFIA FUNDAMENTOS DE SOCIOLOGIA POLÍTICA FILOSOFIA DA TECNOLOGIA Apostila KARL MARX ELABORAÇÃO Samuel França Alves e Deivisson Oliveira Silva REVISÃO Equipe de Sociologia DCSF CefetMG Karl Marx Trier 5 de maio 1818 Londres 14 de março de 1883 foi um filósofo jornalista e ativista político de origem alemã Nascido na província do Reno na antiga Prússia inicialmente ingressou no curso de Direito mas optou por se transferir para a área de filosofia sendo influenciado pelas ideias de Hegel Concluiu seu doutorado em 1841 e cerca de dois anos depois aderiu à teoria política socialista e rompeu com a filosofia hegeliana Dedicouse a partir daí a estudar profundamente o sistema econômico capitalista afim de descobrir suas leis internas e vislumbrar meios de sua superação A partir de 1849 viveu em Londres como exilado político mantendose com dificuldades e dedicandose prioritariamente aos estudos que abarcaram temas muito além da filosofia e economia passando pela história sociologia matemática e ciências naturais Sua obra mais importante O Capital 1867 continua sendo ainda hoje um paradigma importante para a compreensão da sociedade capitalista É considerado ao lado de Durkheim e Weber um dos três pilares da sociologia O PENSAMENTO DE KARL MARX Um dos intelectuais da história da humanidade que mais profundamente se dedicou a compreender e explicar o conjunto de problemas das sociedades capitalistas foi Karl Marx 1818 1883 Esta apostila irá expor um conjunto de análises e elaborações teóricas formuladas por Marx que nos ajudarão a pensar questões das mais diversas naturezas contribuindo para uma reflexão propriamente sociológica sobre os problemas sociais Ou seja nos ajudarão conforme aprendemos com Bauman May 2010 a compreendêlos segundo quatro princípios 1 tendo base em métodos de análise que produzam afirmações verificáveis 2 que busque entender os fenômenos sob vários pontos de vista fugindo da perspectiva de nosso próprio mundo de vida 3 que aponte os vários agentes sociais envolvidos e o papel que cada um deles desempenha nas redes de interdependência social e 4 que fuja de qualquer forma de dogmatismo estimulando o pensamento crítico 1 A concepção marxista do homem Para adentrarmos no pensamento de Marx é importante termos em mente uma advertência Em geral para o público inclusive para o público que supõe ser marxista o marxismo é apenas uma crítica da sociedade capitalista e um programa de luta pelo socialismo Contudo na realidade estas são apenas partes do marxismo e partes subordinadas à concepção marxista do homem que é a essência e o ponto de partida do marxismo lógica e cronologicamente Por isso para responder à pergunta feita acima o que é o marxismo tem de se começar imprescindivelmente pela parte essencial e menos conhecida mais oculta poderia ser dito do marxismo que é a concepção marxista do homem Peña 2015 p 19 Segundo Marx todas as filosofias anteriores à sua tinham uma concepção idealista do homem Isso significa que todos os filósofos anteriores a Marx explicavam o que é o ser humano a partir de suas capacidades intelectuais e principalmente daquelas mais desenvolvidas O homem é comumente definido como ser racional e as várias formas como a inteligência humana se manifesta matemática ciências técnica arte filosofia etc são tratadas como as verdadeiras características do homem Em contrapartida outras atividades humanas recebem menos importância como por exemplo o trabalho manual as diversas formas de obtenção dos meios indispensáveis à vida etc Uma segunda característica dessas concepções idealistas é a tentativa de descobrir uma essência humana universal que existiria independente do tempo e da cultura onde vive esse homem Um exemplo muito conhecido desse tipo de visão idealista é o chamado liberalismo que propõe que o homem é um ser essencialmente egoísta que tende naturalmente a competir com outros homens e que é dotado de certos direitos naturais como a liberdade e a propriedade privada Uma última característica importante dessas visões idealistas é que de acordo com Marx as relações e instituições sociais mais complexas são vistas como se existissem antes das relações e instituições mais simples e mais grave erro ainda como se aquelas primeiras determinassem sempre a forma de organização dessas relações mais simples Por exemplo os filósofos contratualistas Hobbes Locke e outros defendiam a ideia de que a sociedade era organizada de acordo com o Estado como se primeiro os homens tivessem criado o Estado a partir de um contrato e depois de acordo com os termos desse contrato as diversas relações e instituições sociais como polícia tribunais escola família etc fossem surgindo 11 Materialismo versus Idealismo Ao fundamentar o seu próprio pensamento Marx se contrapôs a essa visão idealista formulando uma concepção materialista que se distingue de todas as filosofias materialistas anteriores por ter como base uma visão materialista da história devemos começar por constatar o primeiro pressuposto de toda a existência humana e também portanto de toda a história a saber o pressuposto de que os homens têm de estar em condições de viver para poder fazer história Mas para viver precisa se antes de tudo de comida bebida moradia vestimenta e algumas coisas mais O primeiro ato histórico é pois a produção dos meios para a satisfação dessas necessidades a produção da própria vida material e este é sem dúvida um ato histórico uma condição fundamental de toda a história que ainda hoje assim como há milênios tem de ser cumprida diariamente a cada hora simplesmente para manter os homens vivos Marx A ideologia alemã 2007 p 3233 Se quisermos chegar a uma concepção correta do ser humano a primeira coisa a ser compreendida é portanto como o homem produz a sua própria vida Com base no conhecimento histórico que temos a nosso dispor Marx irá apontar duas características existentes desde que o homem é homem em primeiro lugar o homem é um ser que vive em coletividade e nesta coletividade diferentes indivíduos desempenham diferentes atividades que contribuem cada qual a seu modo para a vida de todos Ou seja o homem é um ser social Em segundo lugar o homem sempre teve a capacidade de criar os mais diversos tipos de objetos com o objetivo inicial de facilitar a produção de seus meios de vida objetos diferentes de tudo que existe na natureza E a atividade pela qual o homem cria coisas a partir de objetivos prédefinidos é genericamente falando o trabalho A produção da vida tanto da própria no trabalho quanto da alheia na procriação aparece desde já como uma relação dupla de um lado como relação natural de outro como relação social social no sentido de que por ela se entende a cooperação de vários indivíduos sejam quais forem as condições o modo e a finalidade Seguese daí que um determinado modo de produção ou uma determinada fase industrial estão sempre ligados a um determinado modo de cooperação ou a uma determinada fase social Marx A ideologia alemã 2007 p 34 Com base nesses pressupostos que afirma Marx não são pressupostos arbitrários nem ideias preconcebidas mas sim premissas reais constatações empíricas Marx desenvolve uma profunda crítica do idealismo especialmente do liberalismo Para ele é um absurdo fazer a propriedade privada aparecer como um direito natural do homem pelo simples fato de que ela nem sempre existiu Da mesma maneira o liberalismo por ser uma filosofia nascida em pleno desenvolvimento do capitalismo transpõe características comuns aos homens das sociedades capitalistas para uma ideia metafísica de essência humana ou natureza humana ou ainda nas palavras daqueles filósofos do homem em estado de natureza Por isso dizem esses teóricos o homem é essencialmente egoísta Mas para Marx o egoísmo é simplesmente um modo de comportamento comum nessa sociedade capitalista que educa desde a infância a todos a agirem de tal maneira Mas essa como qualquer outra característica subjetiva não pode ser dita parte da essência do homem Primeiro porque basta um indivíduo não se comportar dessa maneira para jogar por água abaixo essa teoria E segundo porque mesmo se todos os indivíduos em uma dada sociedade apresentarem certa propensão isso deve ser entendido em função da educação que todos recebem e reproduzem e não como uma essência da qual ninguém é capaz de escapar Da mesma maneira o Estado é uma instituição social que apareceu na história humana somente a partir de um dado momento E então se existiram antes sociedades sem Estado é um absurdo idealista acreditar que é o Estado que dá origem à sociedade ou que é a forma de organização do Estado que cria as instituições mais simples Pelo contrário são as relações decorrentes dos fundamentos da vida humana em sociedade quais sejam as relações materiais de produção dos meios de vida que criam um determinado tipo de Estado assim como as instituições intermediárias A estrutura social e o Estado provêm constantemente do processo de vida de indivíduos determinados mas desses indivíduos não como podem aparecer na imaginação própria ou alheia mas sim tal como realmente são quer dizer tal como atuam como produzem materialmente e portanto tal como desenvolvem suas atividades sob determinados limites pressupostos e condições materiais independentes de seu arbítrio Marx A ideologia alemã 2007 p 93 Em outras palavras é a forma como os seres humanos realmente existentes se organizam para produzir a sua vida material que dá origem às relações sociais mais complexas que vão se desenvolvendo umas sobre as outras até chegar às formas que adquirem uma aparência de autonomia como é o caso do Estado Marx ataca mais duramente ainda o idealismo quando afirma que até mesmo as produções culturais mais sofisticadas como a moral a religião ou a própria filosofia dependem em última instância dessas relações materiais fundamentais O mesmo vale para a produção espiritual tal como ela se apresenta na linguagem da política das leis da moral da religião da metafísica etc de um povo Os homens são os produtores de suas representações de suas ideias e assim por diante mas os homens reais ativos tal como são condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que a ele corresponde até chegar às suas formações mais desenvolvidas A moral a religião a metafísica e qualquer outra ideologia bem como as formas de consciência a elas correspondentes são privadas aqui da aparência de autonomia que até então possuíam Não têm história nem desenvolvimento mas os homens ao desenvolverem sua produção e seu intercâmbio materiais transformam também com esta sua realidade seu pensar e os produtos de seu pensar Não é a consciência que determina a vida mas a vida que determina a consciência Marx A ideologia alemã 2007 p 934 grifo nosso A concepção apresentada nessa passagem é inteiramente inédita na história do pensamento Antes de Marx os estudos sobre os produtos culturais da humanidade arte ciência e filosofia principalmente eram feitos atentandose apenas a eles próprios obras de arte descobertas científicas ou escritos filosóficos Como se a arte de um determinado período histórico fosse absolutamente independente dos problemas materiais concretos que aquela sociedade enfrentava ou como se as ideias de um filósofo surgissem em sua mente sem nenhuma influência de sua vida cotidiana ou da sociedade na qual se encontrava O que Marx propôs foi inovador as ideias não surgem espontaneamente na mente dos homens mas são respostas elaboradas tendo por base os dilemas reais da vida A produção espiritual do homem tem uma ligação profunda com a sociedade de seu tempo histórico e qualquer intelectual estará sempre pensando sob a influência da sociedade Portanto o pensamento humano tem como base as relações materiais pelas quais os homens produzem seus meios de vida ver Chasin 2009 na produção social da própria existência os homens entram em relações determinadas necessárias independentes de sua vontade essas relações de produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais A totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social política e intelectual Não é a consciência dos homens que determina o seu ser ao contrário é o seu ser social que determina sua consciência Marx Contribuição à crítica da economia política 2008 p 47 12 A produção da vida humana pelo trabalho Seguindo esse ponto de vista o fundamento de toda a sociedade é o seu modo de produção material isto é a forma como os homens se organizam para produzir seus meios de vida desde os mais básicos alimentação moradia vestuário até os mais complexos comunicação social transporte estocagem comércio etc E como vimos acima a atividade humana que permite a ele produzir seus meios de vida de uma forma diferente daquela que ele encontra pronta na natureza é o trabalho Portanto se quisermos compreender os problemas de uma sociedade precisamos em primeiro lugar compreender o trabalho O primeiro passo é compreender o trabalho em seus traços mais gerais comuns a qualquer forma de sociedade Em seguida poderemos passar a entender a forma específica pela qual uma determinada sociedade organiza o trabalho de todos os seus membros No que tange a compreensão mais geral do que é o trabalho diz Marx O trabalho é antes de tudo um processo entre o homem e a natureza processo este em que o homem por sua própria ação medeia regula e controla seu metabolismo com a natureza Ele se confronta com a matéria natural como com uma potência natural A fim de se apropriar da matéria natural de uma forma útil para sua própria vida ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporeidade seus braços e pernas cabeça e mãos Agindo sobre a natureza externa e modificandoa por meio desse movimento ele modifica ao mesmo tempo sua própria natureza Ele desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas forças a seu próprio domínio Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz respeito unicamente ao homem Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão e uma abelha envergonha muitos arquitetos com a estrutura de sua colmeia Porém o que desde o início distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua mente antes de construíla com a cera No final do processo de trabalho chegase a um resultado que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo portanto um resultado que já existia idealmente Isso não significa que ele se limite a uma alteração da forma do elemento natural ele realiza neste último ao mesmo tempo seu objetivo que ele sabe que determina como lei o tipo e o modo de sua atividade e ao qual ele tem de subordinar sua vontade E essa subordinação não é um ato isolado Além do esforço dos órgãos que trabalham a atividade laboral exige a vontade orientada a um fim que se manifesta como atenção do trabalhador durante a realização de sua tarefa Marx O Capital 2013 p 3267 Analisando a passagem acima podemos identificar quais são as características fundamentais da atividade de trabalho de acordo com Marx 1 O trabalho é uma atividade tipicamente humana não observada em nenhuma outra espécie da natureza Isso porque mesmo animais que realizam atividades extremamente complexas conforme os exemplos dados acima só realizam aquela atividade em virtude de uma determinação natural Já o homem concebe primeiro em pensamento o que irá fazer e o faz por escolha Por isso dizemos que o trabalho é uma atividade teleológica ou seja é uma atividade que visa alcançar um fim télos que foi escolhido pelo ser humano cf Lukács 2012 2 Para ser bem sucedido o trabalhador precisa subordinar sua vontade ao fim escolhido pois precisará desempenhar a atividade da forma apropriada a se alcançar o resultado desejado e não ao seu belprazer 3 No trabalho as potências naturais do objeto isto é aquilo que ele pode vir a ser de acordo com sua natureza são confrontadas pelas forças do trabalhador físicas técnicas e intelectuais dando origem a algo que não existia antes na natureza 4 A modificação da natureza pelo homem através do trabalho modifica ao mesmo tempo o próprio homem Isso porque os novos objetos criados modificam a vida humana e o processo de trabalho permite um aprimoramento contínuo das capacidades humanas ampliando ao longo da história o nível de controle do homem sobre a natureza Além dessas características fundamentais inerentes a qualquer processo de trabalho existem ainda características históricas determinadas pelo nível de desenvolvimento das forças produtivas humanas O conceito de força produtiva é central na teoria de Marx É muito importante não confundir as forças produtivas com as tecnologias que o homem tem a seu dispor A tecnologia é apenas uma parte das chamadas forças produtivas sem dúvida muito importante mas não a mais importante de todas A primeira e mais importante força produtiva é o próprio homem isto é suas capacidades para o trabalho que não são as mesmas ao longo da história Uma capacidade humana de trabalho pode tanto se desenvolver como se perder com o desaparecimento de uma dada sociedade1 O conhecimento também é uma força produtiva independente do seu nível de complexidade Em seguida temos a técnica íntima aliada da tecnologia e que consiste basicamente no nível de domínio do homem sobre suas forças corporais e intelectuais que se manifestam entre outras coisas nas capacidades do homem operar determinados objetos tecnológicos2 Além dessas e da própria tecnologia temos ainda o nível de cooperação entre os homens no âmbito da divisão do trabalho quanto mais intensa for a cooperação humana no trabalho maior será sua capacidade de produção de riquezas 13 Ideologia Além da produção material dos meios de vida outro aspecto decisivo para a vida humana é a cultura3 Na crítica de Marx ao idealismo vimos que ele considera absurdo pensar que os diversos produtos culturais sejam independentes da vida material concreta Mas isso não significa de nenhuma maneira que Marx seja determinista ou seja ele não considera que as relações econômicas determinem o pensamento das pessoas de maneira unilateral Para Marx existe uma correspondência entre os diversos produtos culturais as leis a arte a ciência a cultura popular a religião etc e as relações de produção material Mas é claro que ambas as esferas interferem uma na outra Uma boa maneira de compreender essa questão é pensando em como acontecem as transformações sociais históricas Sobre tal tema ele diz Quando se consideram tais transformações convém distinguir sempre a transformação material das condições econômicas de produção que podem ser verificadas fielmente com ajuda das ciências físicas e naturais e as formas jurídicas políticas religiosas artísticas ou filosóficas em resumo as formas ideológicas sob as quais os homens adquirem consciência desse conflito e o levam até o fim Do mesmo modo que não se 1 Como exemplo disso podemos mencionar os feitos da civilização egípcia Embora existam muitas hipóteses sobre como foram construídas as grandes pirâmides efetivamente nós não sabemos hoje como aquela civilização conseguiu erguer tais grandiosos monumentos 2 Por exemplo um computador é um dado objeto Mas se for operado por um especialista em computação poderá fazer muito mais do que quando é operado por indivíduos com baixo domínio sobre as tecnologias da informação 3 A cultura é um fenômeno extremamente complexo que recebeu diferentes conceituações para tentar explicálo Entenderemos cultura aqui como sendo um amplo e complexo leque de comportamentos humanos que contrastam com a natureza ou o que seria um comportamento natural incluindo o conhecimento as crenças a arte a moral a lei os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade É importante ter em mente que não existe uma cultura mas sim culturas na medida em que a cultura está extremamente ligada à construção de uma identidade própria por parte de diferentes grupos sociais julga o indivíduo pela ideia que de si mesmo faz tampouco se pode julgar uma tal época de transformações pela consciência que ela tem de si mesma É preciso ao contrário explicar essa consciência pelas contradições da vida material pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção Marx Contribuição à crítica da economia política 2008 p 48 Estamos aqui diante do conceito de ideologia As ideologias para Marx são as diversas formas de consciência que atuam nos conflitos sociais humanos O que define um dado pensamento como ideológico é que ele leva o indivíduo a se posicionar e atuar de determinada maneira perante os conflitos de sua época Isso significa que as diferentes ideologias têm uma profunda ligação com os diferentes interesses postos nos conflitos sociais isto é com os interesses das diferentes classes sociais As ideologias têm um papel ativo especialmente no conflito político mas elas não podem criar por si mesmas um processo de transformação social Isso seria cair de novo numa forma de idealismo Ao contrário são justamente as ideologias que se inspiram nos conflitos concretos nas contradições da vida para defenderem determinadas ideias Frequentemente uma determinada ideologia produz uma representação unilateral da sociedade como forma de defender determinado interesse de classe Essas formas de pensar a sociedade de acordo com um ponto de vista pode produzir também uma representação invertida da realidade isto é pensar os fenômenos secundários como se fossem determinantes e viceversa 2 A produção da vida humana no capitalismo Agora sim tendo em vista esse conjunto de conceitos podemos analisar uma determinada formação social Essa análise deverá ter como ponto de partida a forma como os homens nessa sociedade se organizam para produzir seus meios de vida A sociedade que Marx se dedicou profundamente a compreender foi justamente aquela de seu tempo a sociedade capitalista Em outras palavras para compreender o ser humano da sociedade capitalista precisamos entender em primeiro lugar como a atividade primordial do ser humano o trabalho se dá nessa forma de sociedade 21 A formamercadoria Considerando tudo o que já foi dito até aqui o primeiro elemento a ser pensado para que possamos compreender o ser humano em seu tempo histórico é como ele obtém os seus meios de vida Ora como nós obtemos nos dias de hoje aquelas coisas indispensáveis comida roupas moradia etc para a reprodução de nossas vidas A resposta para essa questão é relativamente simples comprando Mas nem sempre foi assim Em sociedades antigas o comércio era um elemento ocasional esporádico do processo de obtenção dos meios de vida E ainda hoje em comunidades tradicionais ainda não inteiramente absorvidas pelo sistema capitalista as pessoas plantam caçam e pescam a totalidade ou quase isso de seus alimentos tecem suas próprias roupas constroem suas casas e assim por diante Estamos aqui diante da primeira e mais evidente característica do modo de produção capitalista O sistema capitalista está organizado para produzir mercadorias E o que isso significa Significa que os objetos que nós iremos consumir foram produzidos desde o início com o objetivo de serem vendidos Quem produz mercadorias produz visando o comércio e não o consumo próprio Imaginem que em sua casa haja um vaso de planta com uma erva usada na culinária como tempero por exemplo o orégano Ao usálo no preparo de um prato a diferença entre o orégano que você colhe em seu jardim e aquele que você compra em um pacote no supermercado é que este último é uma mercadoria foi produzido para ser vendido 22 A propriedade privada A segunda questão que precisamos levar em consideração é que o sucesso de um sistema de produção de mercadorias depende inevitavelmente de duas coisas em primeiro lugar das pessoas precisarem das mercadorias e em segundo lugar terem algum dinheiro para comprálas Essa primeira condição de nós precisarmos comprar mercadorias para viver só pode ser atendida quando as pessoas não conseguem obter diretamente seus meios de vida ou seja quando a esmagadora maioria das pessoas não possui nenhum meio de produção4 E isso acontece no capitalismo porque os meios de produção todos pertencem a algumas poucas pessoas Ou seja o capitalismo é uma sociedade baseada na propriedade privada dos meios de produção 4 Meio de produção é aquilo que permite aos homens obterem algum meio de vida Por exemplo a terra que precisa ser fértil para obter alimentos pelo plantio o gado as ferramentas e o maquinário da indústria um imóvel que possa ser usado para fins comerciais etc No capitalismo em particular o próprio dinheiro se tornou um indispensável meio de produção pois uma quantidade inicial dele é necessária para iniciar a fabricação de qualquer coisa Mas o fato de uma pessoa não ter um pedaço de terra para plantar nem ter as ferramentas necessárias para produzir roupas ou não ter um imóvel próprio onde possa abrir uma loja para vender determinadas coisas nada disso significa que essa pessoa não saiba fazer essas coisas Por outro lado o simples fato de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos ser proprietário de grandes porções de terra ou de um galpão cheio de máquinas de costurar ou de uma grande loja não implica que esse proprietário seja capaz de produzir tudo o que esses seus meios de produção permitem no mais das vezes é simplesmente impossível o proprietário produzir por si próprio Essa situação deu origem à relação econômica primordial da sociedade capitalista que é o trabalho assalariado Pessoas que sabem desempenhar determinadas atividades produtivas mas não possuem os meios para fazêlo se tornam trabalhadores enquanto que os proprietários dos meios de produção se tornam capitalistas Para que haja então a produção das mercadorias os capitalistas compram a força de trabalho dos trabalhadores isto é pagam a eles uma determinada quantidade de dinheiro em troca de um determinado tempo de trabalho No final do processo de trabalho as mercadorias produzidas não pertencem aos trabalhadores mas sim aos capitalistas que irão vendê las visando obter lucro Essa situação dá origem a duas classes sociais a burguesia os capitalistas e o proletariado os trabalhadores Aquela segunda condição das pessoas terem algum dinheiro para comprar mercadorias necessária para o sucesso do sistema capitalista é resolvida dessa maneira por meio do trabalho assalariado Marx estudou o processo de expansão do capitalismo por todo o planeta e percebeu então que essa expansão dependia acima de tudo de fazer com que a maior parte das pessoas não tivesse acesso a nenhuma propriedade de modo que sua única alternativa de sobrevivência fosse vender sua força de trabalho em troca de um salário Assim como na Inglaterra havia acontecido o chamado cercamento dos campos que tomou as terras dos camponeses e expulsou eles para as cidades em todos os países onde aconteceu uma transformação capitalista houve ao mesmo tempo algum processo que fez com que as pessoas que antes produziam para consumo próprio fossem reduzidas a simples força de trabalho desprovidas de qualquer propriedade Esse processo de expropriação é o motor inicial da expansão do capitalismo pelo globo 23 A divisão hierárquica do trabalho Até aqui nós conhecemos duas primeiras características da sociedade capitalista 1 tratase de uma sociedade onde tudo que é necessário para a vida humana é produzido sob a forma de mercadorias e 2 que os meios de produção são propriedade privada de algumas pessoas enquanto todas as outras detêm apenas sua própria força de trabalho situação essa que divide essa sociedade em duas classes fundamentais que se relacionam economicamente por meio do trabalho assalariado O nosso objetivo aqui é entender como se dá o trabalho na sociedade capitalista Sabemos então pelas características acima que o trabalho envolve a relação de assalariamento e que o produto do trabalho adquire a forma de mercadorias Resta observarmos se o processo de trabalho mesmo possui alguma característica específica no capitalismo que o diferencie das sociedades precedentes Vimos que para Marx o homem sempre viveu em sociedade entendendo por sociedade a simples existência de uma cooperação entre os indivíduos que os mantêm ligados uns aos outros Essa cooperação é usualmente chamada de divisão do trabalho Historicamente a primeira forma de divisão social do trabalho foi a divisão sexual em virtude de determinadas características fisiológicas em grande medida pautadas pelos imperativos da reprodução as mulheres engravidavam com frequência na vida adulta e ainda tinham que amamentar os bebês homens e mulheres desempenhavam diferentes atividades laborais que em conjunto contribuíam para a vida de todos Ao longo da história a divisão social do trabalho foi se tornando cada vez mais complexa Com o tempo foram se consolidando determinados ofícios que também ganhavam em complexidade de modo que exigiam uma especialização cada vez maior Mas uma mudança em particular pôde ser observada no processo de surgimento do capitalismo a transformação do artesanato em manufatura No artesanato o artesão é dono das ferramentas necessárias para a execução de seu ofício e ainda conhece todas as etapas do processo de produção Um sapateiro por exemplo desenha o modelo de sapato prepara o couro corta os moldes costura etc Nas sociedades précapitalistas onde o comércio já existia em grande escala os próprios artesãos vendiam seus produtos As pessoas muitas vezes conheciam então quem fazia os objetos que elas consumiam Nessas comunidades a existência do comércio não suprime a relação mais direta entre produtores e consumidores A manufatura surge com a introdução da divisão hierárquica do trabalho no processo produtivo visando principalmente o aumento da produção Um conjunto de trabalhadores passam a trabalhar juntos e cada um desempenha repetidamente apenas uma das etapas de produção Desse modo a produção final acaba sendo maior do que seria se cada um deles tivesse feito todo o produto do começo ao fim5 Mas a divisão hierárquica do trabalho embora aumente a produtividade tem implicações negativas especialmente para o trabalhador A primeira delas é que o trabalhador deixa de dominar todo o processo de trabalho se especializando em repetir o dia todo apenas um pedaço deste Essa situação tende a tornar a jornada de trabalho mais cansativa e enfadonha e o trabalho deixa então de ser uma atividade de interesse do homem para se tornar uma atividade mecânica repetitiva e exaustiva A segunda característica é que o resultado do processo de trabalho passa a ser um objeto que o próprio trabalhador não pode reconhecer como fruto de sua própria atividade A mercadoria é um objeto estranho ao trabalhador tanto porque ele é incapaz de produzila sozinho pois já não conhece todas as etapas da produção quanto porque esse objeto fruto de seu trabalho já não pertence mais a ele e sim a seu patrão A terceira consequência da divisão hierárquica do trabalho é que o trabalhador deixa de se identificar com aquilo que ele faz Seu trabalho se torna apenas a atividade que ele desempenha em troca de dinheiro E como ele só faz uma pequena parte do processo é relativamente fácil inclusive migrar de um trabalho para outro por qualquer motivo que seja Um indivíduo que era carpinteiro pode se estiver desempregado por exemplo virar motorista de uber hoje e daqui alguns meses conseguir um trabalho como auxiliar de pedreiro Nas sociedades tradicionais a atividade de trabalho que um indivíduo desempenha está intimamente ligada a sua própria identidade ao lugar que ele ocupa na comunidade No capitalismo o trabalho se torna algo indiferente importando mais quanto dinheiro o indivíduo ganha 5 As manufaturas surgiram nas chamadas corporações de ofício no final da idade média e se desenvolveram largamente no período do chamado renascimento e do mercantilismo Com o tempo os trabalhadores das corporações não eram mais donos das ferramentas que utilizavam e a transição desse modelo para a propriedade privada se deu de maneira relativamente rápida A indústria capitalista surgiu então mais tarde com a introdução das máquinas nas linhas de produção manufatureiras Por fim temos ainda como consequência dessa forma hierárquica de organização do trabalho o agravamento extremo da oposição entre trabalho manual e trabalho intelectual As tarefas manuais do trabalho são padronizadas e passam a ser aprendidas e executadas por pessoas que não participam do momentos intelectuais do trabalho isto é não participam das tarefas de investigação planejamento etc E ainda as tarefas manuais são tidas como menos importantes que as chamadas tarefas intelectuais o que se materializa numa valorização salarial também diferenciada entre ambas Para Marx o trabalho enquanto uma atividade autenticamente humana passa pela união indissociável desses dois momentos o momento de elaboração intelectual de planejamento etc e o momento de execução As sociedades précapitalistas já haviam desenvolvido algumas formas de separação entre esses dois momentos mas não na forma nem na extensão que o capitalismo inaugurou No nosso mundo contemporâneo essa oposição está bastante consolidada Os indivíduos que têm acesso aos meios e ao conhecimento necessários para desempenharem as atividades intelectualmente mais complexas ocupam cargos hierarquicamente superiores na divisão do trabalho Por outro lado aquelas camadas da sociedade com difícil acesso à educação de qualidade acabam relegadas às funções manuais As primeiras recebem remunerações salariais mais elevadas facilitando assim o acesso de seus filhos aos mesmos meios de formação que tiveram de modo que essa estrutura da divisão do trabalho coloca os novos membros da sociedade em condições extremamente desiguais em termos de perspectivas de vida 24 Alienação e Estranhamento A combinação dos três fatores mencionados no item 2 desta apostila a produção voltada para a troca a propriedade privada e a divisão hierárquica do trabalho dá origem a uma condição humana decisiva para a compreensão da sociedade capitalista que Marx explica por meio das categorias de alienação e estranhamento que são conceitos centrais de seu pensamento Vejamos o que o próprio Marx diz a respeito O trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz quanto mais sua produção aumenta em poder e extensão O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens O objeto que o trabalho produz o seu produto se lhe defronta ao trabalhador como um ser estranho como um poder independente do produtor O produto do trabalho é o trabalho que se fixou num objeto fezse coisa é a objetivação do trabalho A objetivação do trabalho aparece como perda do objeto e servidão do trabalhador ao objeto Na determinação de que o trabalhador se relaciona com o produto de seu trabalho como um objeto estranho estão todas essas consequências quanto mais o trabalhador se desgasta trabalhando tanto mais poderoso se torna o mundo objetivo alheio que ele cria diante de si tanto mais pobre se torna ele mesmo seu mundo interior e tanto menos o trabalhador pertence a si próprio Segundo esse duplo sentido o trabalhador se torna portanto um servo de seu objeto O auge desta servidão é que somente como trabalhador ele pode se manter como sujeito físico e apenas como sujeito físico ele é trabalhador O estranhamento do trabalhador em seu objeto se expressa em que quanto mais o trabalhador produz menos tem para consumir que quanto mais valores cria mais sem valor e indigno ele se torna quanto mais bem formado o seu produto tanto mais deformado ele fica Mas o estranhamento não se mostra somente no resultado mas também e principalmente no ato da produção dentro da própria atividade produtiva Como poderia o trabalhador defrontarse alheio ao produto de sua atividade se no ato mesmo da produção ele já não se estranhasse a si mesmo Em que consiste então a alienação do trabalho Primeiro que o trabalho é externo ao trabalhador isto é não pertence ao seu ser que ele não se afirma portanto em seu trabalho mas negase nele que não se sente bem mas infeliz que não desenvolve nenhuma energia física e espiritual livre mas mortifica sua physis e arruína o seu espírito O trabalhador só se sente por conseguinte e em primeiro lugar junto a si fora do trabalho e fora de si no trabalho Está em casa quando não trabalha e quando trabalha não está em casa O seu trabalho não é portanto voluntário mas forçado trabalho obrigatório O trabalho não é por isso a satisfação de uma carência mas somente um meio para satisfazer necessidades Marx Manuscritos econômicofilosóficos 2004 p 8083 As passagens acima nos mostram como esse tema era importante para Marx e o quanto ele trata dessas questões com vivacidade e preocupação Os conceitos de alienação e estranhamento se combinam diretamente à concepção marxista do homem como um ser histórico para darem origem a uma visão sobre o ser humano na sociedade capitalista Se o homem é um ser que não possui uma essência prévia determinista se ao contrário o homem se faz a si mesmo através da história a partir das condições prévias que lhe estão dadas e se por fim essa autoconstrução do mundo humano pelos homens tem como fundamento o trabalho então o fato de que na sociedade capitalista o trabalho é alienado e estranhado é determinante para compreender o homem contemporâneo A alienação do trabalho significa que o trabalho deixou de ser uma atividade com a qual o homem se identifica e por meio da qual o homem obtém diretamente aquilo que precisa para viver para se tornar uma atividade exterior cansativa desinteressante e mecânica Por causa da alienação o trabalho deixa de ser a atividade que distancia o homem dos animais para se tornar uma atividade que animaliza o homem isto é uma atividade onde o homem é tratado como coisa mercadoria obrigado a desempenhar funções repetitivas que exigem o mínimo ou nenhuma criatividade e que são embrutecedoras E ainda a alienação significa também que os produtos do trabalho não pertencem mais ao trabalhador São alienadas dele por meio das relações de propriedade implicadas na produção Já o estranhamento aparece primeiramente na relação do trabalhador com o resultado de sua atividade a mercadoria Esse objeto aparece como algo estranho ao trabalhador Mas esse estranhamento na relação com o produto tem por base um estranhamento no próprio trabalho Como só faz uma parte do processo de produção o processo como um todo é estranho ao trabalhador desconhecido 3 A mediação da vida humana pela troca e suas consequências 31 Trabalho e Valor Sendo coerente com sua crítica ao idealismo Marx considera que o estudo de qualquer objeto não pode nunca partir de conceitos ou juízos prévios Ao contrário é preciso partir da matéria mesma a forma como o objeto se manifesta percorrer suas determinações para encontrar seus fundamentos Por isso em O Capital o seu ponto de partida é a análise da mercadoria Afinal a riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma enorme coleção de mercadorias Marx O Capital 2013 p 157 A análise da mercadoria revela em primeiro lugar que ela tem uma dupla natureza Por um lado para ser uma mercadoria qualquer objeto deve ser dotado da capacidade de saciar alguma necessidade humana Não importa aqui se essa necessidade é uma necessidade fisiológica elementar como a alimentação ou se é uma necessidade criada socialmente como a comunicação a distância Isso significa que qualquer mercadoria é um objeto útil ou seja possui um valor de uso Por outro lado como já vimos acima ser uma mercadoria implica que o objeto foi produzido com a finalidade de ser vendido trocado Isso implica que ele aparece como portador de um preço ou seja possui um valor de troca Essa é então a natureza dupla da mercadoria ela é ao mesmo tempo portadora de um valor de uso e de um valor de troca Nesse ponto cabe então perguntar qual é o fundamento de cada uma dessas propriedades da mercadoria Ora o valor de uso de uma mercadoria deriva diretamente de suas propriedades objetivas tanto daquelas dadas naturalmente na matéria da qual a mercadoria é constituída o potencial nutritivo da quantidade de carboidratos em um pedaço de pão quanto daquelas criadas pelo ser humano a capacidade de um jogo de xadrez envolver dois jogadores em uma competição que mescla noções de matemática e estratégia Mas e o valor de troca Ao responder essa questão Marx foi extremamente irônico com aqueles economistas que achavam que o valor de troca pudesse ser uma propriedade natural das coisas Afinal até hoje nenhum químico descobriu o valor de troca na pérola ou no diamante Marx O Capital 2013 p 218 Se nenhum objeto é dotado de um valor de troca em virtude de suas propriedades físicas significa que o fundamento do valor de troca se encontra em algum tipo de relação social O primeiro passo para responder essa questão então é entender a natureza do dinheiro Marx analisa as várias formas lógicas possíveis da troca desde a troca direta entre duas mercadorias x canetas se trocam por y folhas de papel passando pelas trocas em que uma determinada mercadoria passa a ter a função exclusiva de meio de troca x quilos de ouro se trocam por y unidades de tijolos A conclusão lógica inevitável dessa análise é a descoberta de que o dinheiro é também uma mercadoria como outra qualquer que surgiu para facilitar as trocas quando elas se tornaram muito frequentes nas sociedades e que o valor de uso do dinheiro é exatamente este ser um facilitador das trocas Se até o dinheiro é uma mercadoria toda e qualquer troca envolve uma quantidade x de uma mercadoria A sendo trocada por uma quantidade y de uma mercadoria B Neste ponto Marx afirma que para haver um sistema de trocas consolidado mundialmente é preciso que exista alguma coisa nessa quantidade x de A que seja idêntica à quantidade y de B Será mesmo que existe esse elemento comum Ora nós já sabemos que toda mercadoria é um objeto que foi produzido pelo homem produção que se dá através do trabalho E exatamente aqui reside a resposta a nossa questão a única coisa em comum que existe em toda mercadoria é que para ser produzida foi necessário o gasto de uma determinada quantidade de tempo de trabalho do ser humano A conclusão a qual Marx chegou é que o valor de troca o preço de uma mercadoria é apenas a forma de aparência de algo que está por trás das trocas O sistema de trocas parece ser uma grande relação entre coisas Uma quantidade de dinheiro compra uma quantidade de mercadorias Uma mercadoria é mais cara que outra Mas tudo isso é apenas a aparência superficial do sistema de trocas Por trás do preço reside uma relação humana que Marx chama de valortrabalho ou simplesmente de valor O valor de uma mercadoria é uma medida do tempo de trabalho necessário para produzila Esse valor enquanto medida do trabalho é a essência ou substância do valor de troca Ao fazer essa constatação Marx descobre o fundamento sobre o qual reside a natureza dupla da mercadoria No capitalismo o próprio trabalho tem uma natureza ambígua ou dúplice que dá aos objetos que cria também uma dupla natureza Por um lado o trabalho é uma atividade concreta Cada tipo de trabalho é inteiramente diferente de outro E cada tipo de trabalho cria um objeto diferente que tem também uma utilidade diferente Ou seja em sua natureza de trabalho concreto o trabalho cria o valor de uso das mercadorias Mas no capitalismo como vimos o trabalho é universalmente comprado por uma determinada quantidade de dinheiro Quando o capitalista compra o trabalho ele compra um determinado tempo de trabalho do trabalhador Nessa relação econômica existe uma abstração das formas concretas de trabalho Ou seja o trabalho quando se torna trabalho assalariado adquire uma natureza abstrata que é medida pela sua duração E como vimos é o tempo de trabalho gasto na produção de uma mercadoria que cria o seu valor que depois se converte em valor de troca Dito de outra forma o trabalho em sua natureza de trabalho abstrato cria o valor de troca das mercadorias 32 O caráter fetichista da mercadoria Vimos então que na sociedade capitalista o sistema de trocas que antes era esporádico foi universalizado Desse modo praticamente todos os objetos dos quais necessitamos todos o valores de uso nos são acessíveis por intermédio do dinheiro Os membros da sociedade todos ou quase todos trabalham e como resultado da soma dos trabalhos temos uma dada produção total de riquezas Quanto cada um poderá consumir isto é a participação de cada indivíduo na distribuição da riqueza produzida socialmente é determinado pelo quantum de dinheiro que ele possui que quase sempre corresponde ao quantum de dinheiro que ele recebeu em troca do seu trabalho Vimos também que em virtude da forma de organização do trabalho no capitalismo os trabalhadores encontramse numa relação de alienação em relação à própria atividade laboral E ainda quando se deparam com os produtos do trabalho próprio ou alheio têm uma relação de estranhamento frente a eles Uma das consequências mais marcantes dessa relação de estranhamento do consumidor com a mercadoria aparece já de cara no momento da troca Isto é no momento em que um indivíduo qualquer decide trocar uma quantidade do seu dinheiro por uma dada mercadoria de acordo com o preço desta uma estranha relação se coloca nós somos levado a acreditar que o preço é uma propriedade do objeto Tudo se passa como se o preço fosse algo naturalmente intrínseco àquela mercadoria O mesmo se dá quando comparamos os preços seja de diferentes marcas do mesmo tipo de mercadoria seja comparando os preços de diferentes mercadorias Somo levados a acreditar que a mercadoria mais cara é melhor que a outra Mas a análise anterior nos prova que isso não é verdade O preço de uma mercadoria é a forma de aparência da quantidade de tempo de trabalho que outras pessoas despenderam para que ela fosse produzida pessoas estas tão reais e cheias de desejos quanto nós O preço de uma mercadoria não é portanto uma propriedade da coisa Ao contrário é uma propriedade humana posta na coisa O mesmo vale para o valor de uso da mercadoria Nós somos levados a acreditar por exemplo que um computador possui a capacidade de navegar na internet Isso é completamente falso Tanto a própria internet quanto a capacidade de navegar na rede são capacidades humanas fruto de décadas de pesquisas e trabalho de um sem número de pessoas Não é o computador que navega na internet somos nós seres humanos E ao usar o computador nós estamos indiretamente nos relacionando com o trabalho de todas as pessoas que de diferentes formas contribuíram para que o computador chegasse até nós e nos permitisse fazer tudo aquilo que ele permite O objeto é um portador das capacidades humanas Sem o ser humano a coisa não é nada Por tudo isso quando uma determinada mercadoria tem a propriedade de satisfazer uma certa necessidade do ser humano nós por estarmos condicionados pelas relações de alienação e estranhamento não reconhecemos essa propriedade dos objetos como uma propriedade humana Essa estranha capacidade das mercadorias aparecerem para nós como coisas dotadas de poderes extraordinários Marx chamou de fetichismo O caráter misterioso da formamercadoria consiste portanto simplesmente no fato de que ela reflete aos homens os caracteres sociais de seu próprio trabalho como caracteres objetivos dos próprios produtos do trabalho como propriedades sociais que são naturais a essas coisas e por isso reflete também a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social entre os objetos existente à margem dos produtores Já a formamercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho em que ela se representa não tem ao contrário absolutamente nada a ver com sua natureza física e com as relações materiais que dela resultam É apenas uma relação social determinada entre os próprios homens que aqui assume para eles a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas Esse caráter fetichista do mundo das mercadorias surge como a análise anterior já mostrou do caráter social peculiar do trabalho que produz mercadorias Os objetos de uso só se tornam mercadorias porque são produtos de trabalhos privados realizados independentemente uns dos outros O conjunto desses trabalhos privados constitui o trabalho social total Como os produtores só travam contato social mediante a troca de seus produtos do trabalho os caracteres especificamente sociais de seus trabalhos privados aparecem apenas no âmbito dessa troca Ou dito de outro modo os trabalhos privados só atuam efetivamente como elos do trabalho social total por meio das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e por meio destes também entre os produtores A estes últimos as relações sociais entre seus trabalhos privados aparecem como aquilo que elas são isto é não como relações diretamente sociais entre pessoas em seus próprios trabalhos mas como relações reificadas entre pessoas e relações sociais entre coisas Marx O Capital 2013 p 206207 Ou seja a reificação ou coisificação das relações humanas não é um simples fenômeno de consciência Não se trata de uma simples ilusão ou uma percepção equivocada por parte das pessoas O capitalismo efetivamente promove a coisificação das relações ao fazer das mercadorias o intermediário concreto das relações entre as pessoas 4 Exploração e Emancipação 41 As contradições da sociedade capitalista Ao analisar a forma como a sociedade capitalista organiza as relações de trabalho Marx constata um amplo conjunto de características contraditórias A primeira contradição dada no modo de produção capitalista reside como vimos no fato de que os indivíduos diretamente envolvidos no processo de produção não são proprietários dos objetos que resultam de seu trabalho Isso porque a relação econômica fundamental da sociedade capitalista é o trabalho assalariado Nessa relação indivíduos que não são proprietários de meios que possam lhes prover o próprio sustento vendem sua força de trabalho em troca de dinheiro Mas o resultado do seu trabalho pertence àqueles que são proprietários dos meios de produção e que compraram o trabalho do trabalhador Dessa contradição fundamental seguemse outras de igual modo empiricamente constatadas A sociedade capitalista é na história da humanidade a que propiciou a produção de riquezas materiais em mais alta escala Mas é também ao mesmo tempo a que destituiu de toda riqueza a maior proporção de seus membros Em outras palavras na mesma medida em que produz riquezas o capitalismo produz também miséria O modo capitalista de produção põe em conjunto para trabalhar um contingente enorme de indivíduos conectados no mesmo processo produtivo Além disso como todos precisamos comprar tudo o que necessitamos para viver estamos indiretamente por intermédio do dinheiro conectados a um conjunto enorme de sistemas produtivos Mas no final de cada processo de produção toda a riqueza produzida pertence apenas ao capitalista dono dos meios de produção Isso significa que a produção dos meios vida humana no capitalismo é a mais coletiva que já existiu ao passo que a apropriação desses mesmos meios de vida é a mais privada possível A nossa vida nunca esteve antes tão distante das determinações da natureza ou seja praticamente tudo o que consumimos é criação humana ou depende da intervenção do homem para chegar até nós E no entanto nunca foi tão difícil identificar o homem real por trás dessas criações de modo que os objetos parecem coisas autônomas com capacidades próprias Ou seja ao mesmo tempo em que o capitalismo humaniza o mundo ele o coisifica 42 A exploração do trabalho capital e produção de maisvalia O fundamento da crítica de Marx à sociedade capitalista está como visto acima relacionado à ideia de alienação que tem relação direta com as categorias de estranhamento fetichismo e reificação Mas a crítica ao capitalismo passa também por outro ponto crucial a exploração do trabalho De maneira superficial o capital é entendido como uma determinada quantidade de dinheiro que o seu possuidor investe na produção de alguma mercadoria para obter como retorno o lucro O capital é então utilizado para adquirir máquinas matériasprimas e tudo o que mais seja necessário para dar início à produção incluindo também é claro os salários dos trabalhadores Ao final do processo de trabalho temos de maneira simplificada uma quantidade de mercadorias cuja soma de seus preços esperase que seja maior do que a quantidade de capital gasto para viabilizar a produção Essa situação Marx descreveu com o conceito de reprodução ampliada de capital ou simplesmente valorização do capital Como isso acontece Existe um discurso formulado especialmente pelo pensamento liberal que analisa esse processo como sendo absolutamente legítimo Segundo a narrativa liberal todo o risco envolvido na produção é assumido exclusivamente pelo capitalista Se tudo der errado ele vai sozinho perder o seu capital Além disso o trabalho assalariado é descrito como uma relação jurídica justa um contrato Afinal o trabalhador aceitou trabalhar o tempo determinado no contrato em troca do salário estabelecido Se a empresa der prejuízo esse será todo do capitalista Então nada mais justo que ele ficar também com todo o lucro quando esse for o caso Mas lembremos de tudo o que foi dito acima Em primeiro lugar o trabalho do trabalhador foi convertido em uma mercadoria como outra qualquer O salário é o preço da mercadoria trabalho Qual é mesmo o fundamento do preço de qualquer mercadoria Ora vimos ser o tempo de trabalho necessário para produzir tal mercadoria Para a mercadoria trabalho ser produzida é preciso que hajam trabalhadores que eles estejam alimentados e descansados e que possuam também uma família de modo que possam ter filhos que irão no futuro se tornar também trabalhadores O tempo de trabalho necessário para que a mercadoria trabalho seja produzida é então determinado pela soma do tempo de trabalho gasto para produzir as mercadorias que o trabalhador e sua família precisam consumir para que existam trabalhadores Isso significa que o salário não é apenas uma relação jurídica é uma relação econômica O salário é uma medida do valor do trabalho Façamos agora um exercício de matemática Uma vez que os trabalhadores venderam sua força de trabalho para o capitalista e se engajam na produção eles dão início à produção das mercadorias Da mesma forma cada uma das mercadorias produzidas será portadora de um valor medido pelo tempo de trabalho necessário para sua fabricação Esse valor é dado pela soma de tudo que está envolvido na produção Somando a produção total de uma fábrica e em seguida subtraindose os custos fixos e os iniciais matériaprima energia manutenção das máquinas etc teremos então uma medida da quantidade de valor que os trabalhadores agregaram ao produto final O valor que o trabalho agrega ou acrescenta a uma mercadoria é o quantum desse trabalho que foi gasto nela Pois bem se nós tomarmos então a soma dos valores que o trabalho de cada trabalhador agregou às mercadorias ali produzidas teremos então como resultado a soma dos valores que o trabalho de cada trabalhador produziu A grande descoberta de Marx foi então a de que numa jornada de trabalho cada trabalhador acrescenta às mercadorias uma quantidade de valor superior ao valor da sua força de trabalho O lucro do capitalista é apenas a forma de aparência de uma outra relação mais profunda que Marx chamou então de mais valia A maisvalia é exatamente essa diferença a mais de valor que o trabalhador coloca com seu trabalho nas mercadorias que produz A valorização do capital tem por base então a apropriação privada da maisvalia A mais valia é fruto do esforço do trabalhador mas é inteiramente apropriada pelo capitalista Em outras palavras a valorização do capital tem por fundamento a exploração da força de trabalho dos trabalhadores 43 A emancipação humana ou emancipação do trabalho A importância da teoria da maisvalia para o pensamento marxista conduziu muitos de seus adeptos a um certo equívoco de considerarem que a crítica ao capitalismo estrava limitada à crítica à exploração do trabalho Como a exploração acontece em virtude da apropriação privada da riqueza ou seja como consequência da propriedade privada dos meios de produção este passou a ser o ponto central do ataque de muitos marxistas à sociedade capitalista No século XX a humanidade experimentou pelos quatro cantos do globo experiências políticas que se denominaram de socialistas e que afirmavam ser a aplicação prática das teorias de Marx Será mesmo Será que é possível fazer uma crítica consistente do pensamento de Marx a partir da crítica do que aconteceu em países como a URSS China Cuba etc O chamado sistema socialista do século XX repousou basicamente sobre três medidas estatização da propriedade o Estado passou a controlar os meios de produção planificação da economia a oferta era planejada pelo Estado de acordo com uma análise antecipada da demanda e o monopólio estatal do comércio exterior somente o Estado podia importar ou exportar produtos de modo a impedir interferências externas na economia Embora tenha sido consideravelmente bem sucedido em modernizar países que antes eram apenas agrários e também tenham produzido um sistema de distribuição de riquezas bem menos desigual que o verificado na maioria dos países capitalistas do ponto de vista econômico nenhuma medida foi tomada para acabar com a divisão hierárquica do trabalho ou pelo menos atenuar os efeitos E como vimos o problema humano decisivo produzido pelo capitalismo a alienação tem como fundamento essa forma de organização do trabalho Em uma sociedade em que o trabalho segue organizado de maneira hierarquizada não causa espanto que o poder tenha sido exercido de maneira tão burocratizada Os indivíduos que ocupavam os cargos de direção do Estado passaram a gozar de privilégios os mais variados e extrapolaram sistematicamente suas atribuições no exercício do poder O extremo a que essa situação chegou foi a perseguição política daqueles que discordavam de quaisquer medidas chegando a haver efetivamente a condenação a morte de milhões de opositores É importante pontuar contudo que o chamado autoritarismo não foi uma exclusividade dos países socialistas mas sim um elemento comum do jogo político mundial em quase todo o século XX Nos Estados Unidos por exemplo a liberdade de organização partidária foi suprimida com alegações não muito distintas das usadas na União Soviética opositores foram presos ou exilados etc Os países centrais do bloco capitalista apoiaram política e militarmente regimes de exceção por todo o planeta e fomentaram guerras que igualmente levaram a morte milhões de pessoas O mais importante então a pontuar aqui é que identificar o pensamento de Marx com as experiências ditas socialistas do século XX é um erro grosseiro que só é cometido por aqueles que na verdade desconhecem profundamente as ideias desse pensador Para compreendermos o que Marx defendia como o ideal comunista precisamos ter em mente uma ideia de desalienação do homem que passa necessariamente por construir uma relação com o trabalho na qual todo o trabalhador possa encontrar a realização de suas capacidades e não o puro esgotamento de suas energias Nas palavras de Marx quando tiver sido eliminada a subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do trabalho e com ela a oposição entre trabalho intelectual e manual quando o trabalho tiver deixado de ser mero meio de vida e tiver se tornado a primeira necessidade vital quando juntamente com o desenvolvimento multifacetado dos indivíduos suas forças produtivas também tiverem crescido e todas as fontes da riqueza coletiva jorrarem em abundância apenas então o estreito horizonte jurídico burguês poderá ser plenamente superado e a sociedade poderá escrever em sua bandeira De cada um segundo suas capacidades a cada um segundo suas necessidades Marx Crítica ao programa de Gotha 2012 p 33 Por isso o projeto de emancipação defendido por Marx passa centralmente pela emancipação do trabalho livrar o trabalho de sua forma alienada para que então os seres humanos possam se relacionar uns com os outros como produtores livres associados onde cada um contribui para a vida coletiva de acordo com suas capacidades e recebe na distribuição das riquezas aquilo de que necessita Referências bibliográficas CHASIN J Marx estatuto ontológico e resolução metodológica São Paulo Boitempo 2009 LUKÁCS G Para uma ontologia do ser social Vol 1 Trad C N Coutinho M Duayer e N Schineider São Paulo Boitempo 2012 MARX K ENGELS F A ideologia alemã Trad Rubens Enderle et ali São Paulo Boitempo 2007 MARX K O Capital Trad Rubens Enderle São Paulo Boitempo 2013 MARX K Contribuição à crítica da economia política Trad Florestan Fernandes São Paulo Expressão popular 2008 MARX K Manuscritos econômicofilosóficos Trad Jesus Ranieri São Paulo Boitempo 2004 MARX K Crítica ao programa de Gotha Trad Rubens Enderle São Paulo Boitempo 2012 PEÑA Milcíades O que é o marxismo Notas de iniciação marxista Trad Paula MaffeiSão Paulo Sundermann 2015

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA MG DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E FILOSOFIA FUNDAMENTOS DE SOCIOLOGIA POLÍTICA FILOSOFIA DA TECNOLOGIA Apostila KARL MARX ELABORAÇÃO Samuel França Alves e Deivisson Oliveira Silva REVISÃO Equipe de Sociologia DCSF CefetMG Karl Marx Trier 5 de maio 1818 Londres 14 de março de 1883 foi um filósofo jornalista e ativista político de origem alemã Nascido na província do Reno na antiga Prússia inicialmente ingressou no curso de Direito mas optou por se transferir para a área de filosofia sendo influenciado pelas ideias de Hegel Concluiu seu doutorado em 1841 e cerca de dois anos depois aderiu à teoria política socialista e rompeu com a filosofia hegeliana Dedicouse a partir daí a estudar profundamente o sistema econômico capitalista afim de descobrir suas leis internas e vislumbrar meios de sua superação A partir de 1849 viveu em Londres como exilado político mantendose com dificuldades e dedicandose prioritariamente aos estudos que abarcaram temas muito além da filosofia e economia passando pela história sociologia matemática e ciências naturais Sua obra mais importante O Capital 1867 continua sendo ainda hoje um paradigma importante para a compreensão da sociedade capitalista É considerado ao lado de Durkheim e Weber um dos três pilares da sociologia O PENSAMENTO DE KARL MARX Um dos intelectuais da história da humanidade que mais profundamente se dedicou a compreender e explicar o conjunto de problemas das sociedades capitalistas foi Karl Marx 1818 1883 Esta apostila irá expor um conjunto de análises e elaborações teóricas formuladas por Marx que nos ajudarão a pensar questões das mais diversas naturezas contribuindo para uma reflexão propriamente sociológica sobre os problemas sociais Ou seja nos ajudarão conforme aprendemos com Bauman May 2010 a compreendêlos segundo quatro princípios 1 tendo base em métodos de análise que produzam afirmações verificáveis 2 que busque entender os fenômenos sob vários pontos de vista fugindo da perspectiva de nosso próprio mundo de vida 3 que aponte os vários agentes sociais envolvidos e o papel que cada um deles desempenha nas redes de interdependência social e 4 que fuja de qualquer forma de dogmatismo estimulando o pensamento crítico 1 A concepção marxista do homem Para adentrarmos no pensamento de Marx é importante termos em mente uma advertência Em geral para o público inclusive para o público que supõe ser marxista o marxismo é apenas uma crítica da sociedade capitalista e um programa de luta pelo socialismo Contudo na realidade estas são apenas partes do marxismo e partes subordinadas à concepção marxista do homem que é a essência e o ponto de partida do marxismo lógica e cronologicamente Por isso para responder à pergunta feita acima o que é o marxismo tem de se começar imprescindivelmente pela parte essencial e menos conhecida mais oculta poderia ser dito do marxismo que é a concepção marxista do homem Peña 2015 p 19 Segundo Marx todas as filosofias anteriores à sua tinham uma concepção idealista do homem Isso significa que todos os filósofos anteriores a Marx explicavam o que é o ser humano a partir de suas capacidades intelectuais e principalmente daquelas mais desenvolvidas O homem é comumente definido como ser racional e as várias formas como a inteligência humana se manifesta matemática ciências técnica arte filosofia etc são tratadas como as verdadeiras características do homem Em contrapartida outras atividades humanas recebem menos importância como por exemplo o trabalho manual as diversas formas de obtenção dos meios indispensáveis à vida etc Uma segunda característica dessas concepções idealistas é a tentativa de descobrir uma essência humana universal que existiria independente do tempo e da cultura onde vive esse homem Um exemplo muito conhecido desse tipo de visão idealista é o chamado liberalismo que propõe que o homem é um ser essencialmente egoísta que tende naturalmente a competir com outros homens e que é dotado de certos direitos naturais como a liberdade e a propriedade privada Uma última característica importante dessas visões idealistas é que de acordo com Marx as relações e instituições sociais mais complexas são vistas como se existissem antes das relações e instituições mais simples e mais grave erro ainda como se aquelas primeiras determinassem sempre a forma de organização dessas relações mais simples Por exemplo os filósofos contratualistas Hobbes Locke e outros defendiam a ideia de que a sociedade era organizada de acordo com o Estado como se primeiro os homens tivessem criado o Estado a partir de um contrato e depois de acordo com os termos desse contrato as diversas relações e instituições sociais como polícia tribunais escola família etc fossem surgindo 11 Materialismo versus Idealismo Ao fundamentar o seu próprio pensamento Marx se contrapôs a essa visão idealista formulando uma concepção materialista que se distingue de todas as filosofias materialistas anteriores por ter como base uma visão materialista da história devemos começar por constatar o primeiro pressuposto de toda a existência humana e também portanto de toda a história a saber o pressuposto de que os homens têm de estar em condições de viver para poder fazer história Mas para viver precisa se antes de tudo de comida bebida moradia vestimenta e algumas coisas mais O primeiro ato histórico é pois a produção dos meios para a satisfação dessas necessidades a produção da própria vida material e este é sem dúvida um ato histórico uma condição fundamental de toda a história que ainda hoje assim como há milênios tem de ser cumprida diariamente a cada hora simplesmente para manter os homens vivos Marx A ideologia alemã 2007 p 3233 Se quisermos chegar a uma concepção correta do ser humano a primeira coisa a ser compreendida é portanto como o homem produz a sua própria vida Com base no conhecimento histórico que temos a nosso dispor Marx irá apontar duas características existentes desde que o homem é homem em primeiro lugar o homem é um ser que vive em coletividade e nesta coletividade diferentes indivíduos desempenham diferentes atividades que contribuem cada qual a seu modo para a vida de todos Ou seja o homem é um ser social Em segundo lugar o homem sempre teve a capacidade de criar os mais diversos tipos de objetos com o objetivo inicial de facilitar a produção de seus meios de vida objetos diferentes de tudo que existe na natureza E a atividade pela qual o homem cria coisas a partir de objetivos prédefinidos é genericamente falando o trabalho A produção da vida tanto da própria no trabalho quanto da alheia na procriação aparece desde já como uma relação dupla de um lado como relação natural de outro como relação social social no sentido de que por ela se entende a cooperação de vários indivíduos sejam quais forem as condições o modo e a finalidade Seguese daí que um determinado modo de produção ou uma determinada fase industrial estão sempre ligados a um determinado modo de cooperação ou a uma determinada fase social Marx A ideologia alemã 2007 p 34 Com base nesses pressupostos que afirma Marx não são pressupostos arbitrários nem ideias preconcebidas mas sim premissas reais constatações empíricas Marx desenvolve uma profunda crítica do idealismo especialmente do liberalismo Para ele é um absurdo fazer a propriedade privada aparecer como um direito natural do homem pelo simples fato de que ela nem sempre existiu Da mesma maneira o liberalismo por ser uma filosofia nascida em pleno desenvolvimento do capitalismo transpõe características comuns aos homens das sociedades capitalistas para uma ideia metafísica de essência humana ou natureza humana ou ainda nas palavras daqueles filósofos do homem em estado de natureza Por isso dizem esses teóricos o homem é essencialmente egoísta Mas para Marx o egoísmo é simplesmente um modo de comportamento comum nessa sociedade capitalista que educa desde a infância a todos a agirem de tal maneira Mas essa como qualquer outra característica subjetiva não pode ser dita parte da essência do homem Primeiro porque basta um indivíduo não se comportar dessa maneira para jogar por água abaixo essa teoria E segundo porque mesmo se todos os indivíduos em uma dada sociedade apresentarem certa propensão isso deve ser entendido em função da educação que todos recebem e reproduzem e não como uma essência da qual ninguém é capaz de escapar Da mesma maneira o Estado é uma instituição social que apareceu na história humana somente a partir de um dado momento E então se existiram antes sociedades sem Estado é um absurdo idealista acreditar que é o Estado que dá origem à sociedade ou que é a forma de organização do Estado que cria as instituições mais simples Pelo contrário são as relações decorrentes dos fundamentos da vida humana em sociedade quais sejam as relações materiais de produção dos meios de vida que criam um determinado tipo de Estado assim como as instituições intermediárias A estrutura social e o Estado provêm constantemente do processo de vida de indivíduos determinados mas desses indivíduos não como podem aparecer na imaginação própria ou alheia mas sim tal como realmente são quer dizer tal como atuam como produzem materialmente e portanto tal como desenvolvem suas atividades sob determinados limites pressupostos e condições materiais independentes de seu arbítrio Marx A ideologia alemã 2007 p 93 Em outras palavras é a forma como os seres humanos realmente existentes se organizam para produzir a sua vida material que dá origem às relações sociais mais complexas que vão se desenvolvendo umas sobre as outras até chegar às formas que adquirem uma aparência de autonomia como é o caso do Estado Marx ataca mais duramente ainda o idealismo quando afirma que até mesmo as produções culturais mais sofisticadas como a moral a religião ou a própria filosofia dependem em última instância dessas relações materiais fundamentais O mesmo vale para a produção espiritual tal como ela se apresenta na linguagem da política das leis da moral da religião da metafísica etc de um povo Os homens são os produtores de suas representações de suas ideias e assim por diante mas os homens reais ativos tal como são condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que a ele corresponde até chegar às suas formações mais desenvolvidas A moral a religião a metafísica e qualquer outra ideologia bem como as formas de consciência a elas correspondentes são privadas aqui da aparência de autonomia que até então possuíam Não têm história nem desenvolvimento mas os homens ao desenvolverem sua produção e seu intercâmbio materiais transformam também com esta sua realidade seu pensar e os produtos de seu pensar Não é a consciência que determina a vida mas a vida que determina a consciência Marx A ideologia alemã 2007 p 934 grifo nosso A concepção apresentada nessa passagem é inteiramente inédita na história do pensamento Antes de Marx os estudos sobre os produtos culturais da humanidade arte ciência e filosofia principalmente eram feitos atentandose apenas a eles próprios obras de arte descobertas científicas ou escritos filosóficos Como se a arte de um determinado período histórico fosse absolutamente independente dos problemas materiais concretos que aquela sociedade enfrentava ou como se as ideias de um filósofo surgissem em sua mente sem nenhuma influência de sua vida cotidiana ou da sociedade na qual se encontrava O que Marx propôs foi inovador as ideias não surgem espontaneamente na mente dos homens mas são respostas elaboradas tendo por base os dilemas reais da vida A produção espiritual do homem tem uma ligação profunda com a sociedade de seu tempo histórico e qualquer intelectual estará sempre pensando sob a influência da sociedade Portanto o pensamento humano tem como base as relações materiais pelas quais os homens produzem seus meios de vida ver Chasin 2009 na produção social da própria existência os homens entram em relações determinadas necessárias independentes de sua vontade essas relações de produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais A totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social política e intelectual Não é a consciência dos homens que determina o seu ser ao contrário é o seu ser social que determina sua consciência Marx Contribuição à crítica da economia política 2008 p 47 12 A produção da vida humana pelo trabalho Seguindo esse ponto de vista o fundamento de toda a sociedade é o seu modo de produção material isto é a forma como os homens se organizam para produzir seus meios de vida desde os mais básicos alimentação moradia vestuário até os mais complexos comunicação social transporte estocagem comércio etc E como vimos acima a atividade humana que permite a ele produzir seus meios de vida de uma forma diferente daquela que ele encontra pronta na natureza é o trabalho Portanto se quisermos compreender os problemas de uma sociedade precisamos em primeiro lugar compreender o trabalho O primeiro passo é compreender o trabalho em seus traços mais gerais comuns a qualquer forma de sociedade Em seguida poderemos passar a entender a forma específica pela qual uma determinada sociedade organiza o trabalho de todos os seus membros No que tange a compreensão mais geral do que é o trabalho diz Marx O trabalho é antes de tudo um processo entre o homem e a natureza processo este em que o homem por sua própria ação medeia regula e controla seu metabolismo com a natureza Ele se confronta com a matéria natural como com uma potência natural A fim de se apropriar da matéria natural de uma forma útil para sua própria vida ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporeidade seus braços e pernas cabeça e mãos Agindo sobre a natureza externa e modificandoa por meio desse movimento ele modifica ao mesmo tempo sua própria natureza Ele desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas forças a seu próprio domínio Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz respeito unicamente ao homem Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão e uma abelha envergonha muitos arquitetos com a estrutura de sua colmeia Porém o que desde o início distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua mente antes de construíla com a cera No final do processo de trabalho chegase a um resultado que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo portanto um resultado que já existia idealmente Isso não significa que ele se limite a uma alteração da forma do elemento natural ele realiza neste último ao mesmo tempo seu objetivo que ele sabe que determina como lei o tipo e o modo de sua atividade e ao qual ele tem de subordinar sua vontade E essa subordinação não é um ato isolado Além do esforço dos órgãos que trabalham a atividade laboral exige a vontade orientada a um fim que se manifesta como atenção do trabalhador durante a realização de sua tarefa Marx O Capital 2013 p 3267 Analisando a passagem acima podemos identificar quais são as características fundamentais da atividade de trabalho de acordo com Marx 1 O trabalho é uma atividade tipicamente humana não observada em nenhuma outra espécie da natureza Isso porque mesmo animais que realizam atividades extremamente complexas conforme os exemplos dados acima só realizam aquela atividade em virtude de uma determinação natural Já o homem concebe primeiro em pensamento o que irá fazer e o faz por escolha Por isso dizemos que o trabalho é uma atividade teleológica ou seja é uma atividade que visa alcançar um fim télos que foi escolhido pelo ser humano cf Lukács 2012 2 Para ser bem sucedido o trabalhador precisa subordinar sua vontade ao fim escolhido pois precisará desempenhar a atividade da forma apropriada a se alcançar o resultado desejado e não ao seu belprazer 3 No trabalho as potências naturais do objeto isto é aquilo que ele pode vir a ser de acordo com sua natureza são confrontadas pelas forças do trabalhador físicas técnicas e intelectuais dando origem a algo que não existia antes na natureza 4 A modificação da natureza pelo homem através do trabalho modifica ao mesmo tempo o próprio homem Isso porque os novos objetos criados modificam a vida humana e o processo de trabalho permite um aprimoramento contínuo das capacidades humanas ampliando ao longo da história o nível de controle do homem sobre a natureza Além dessas características fundamentais inerentes a qualquer processo de trabalho existem ainda características históricas determinadas pelo nível de desenvolvimento das forças produtivas humanas O conceito de força produtiva é central na teoria de Marx É muito importante não confundir as forças produtivas com as tecnologias que o homem tem a seu dispor A tecnologia é apenas uma parte das chamadas forças produtivas sem dúvida muito importante mas não a mais importante de todas A primeira e mais importante força produtiva é o próprio homem isto é suas capacidades para o trabalho que não são as mesmas ao longo da história Uma capacidade humana de trabalho pode tanto se desenvolver como se perder com o desaparecimento de uma dada sociedade1 O conhecimento também é uma força produtiva independente do seu nível de complexidade Em seguida temos a técnica íntima aliada da tecnologia e que consiste basicamente no nível de domínio do homem sobre suas forças corporais e intelectuais que se manifestam entre outras coisas nas capacidades do homem operar determinados objetos tecnológicos2 Além dessas e da própria tecnologia temos ainda o nível de cooperação entre os homens no âmbito da divisão do trabalho quanto mais intensa for a cooperação humana no trabalho maior será sua capacidade de produção de riquezas 13 Ideologia Além da produção material dos meios de vida outro aspecto decisivo para a vida humana é a cultura3 Na crítica de Marx ao idealismo vimos que ele considera absurdo pensar que os diversos produtos culturais sejam independentes da vida material concreta Mas isso não significa de nenhuma maneira que Marx seja determinista ou seja ele não considera que as relações econômicas determinem o pensamento das pessoas de maneira unilateral Para Marx existe uma correspondência entre os diversos produtos culturais as leis a arte a ciência a cultura popular a religião etc e as relações de produção material Mas é claro que ambas as esferas interferem uma na outra Uma boa maneira de compreender essa questão é pensando em como acontecem as transformações sociais históricas Sobre tal tema ele diz Quando se consideram tais transformações convém distinguir sempre a transformação material das condições econômicas de produção que podem ser verificadas fielmente com ajuda das ciências físicas e naturais e as formas jurídicas políticas religiosas artísticas ou filosóficas em resumo as formas ideológicas sob as quais os homens adquirem consciência desse conflito e o levam até o fim Do mesmo modo que não se 1 Como exemplo disso podemos mencionar os feitos da civilização egípcia Embora existam muitas hipóteses sobre como foram construídas as grandes pirâmides efetivamente nós não sabemos hoje como aquela civilização conseguiu erguer tais grandiosos monumentos 2 Por exemplo um computador é um dado objeto Mas se for operado por um especialista em computação poderá fazer muito mais do que quando é operado por indivíduos com baixo domínio sobre as tecnologias da informação 3 A cultura é um fenômeno extremamente complexo que recebeu diferentes conceituações para tentar explicálo Entenderemos cultura aqui como sendo um amplo e complexo leque de comportamentos humanos que contrastam com a natureza ou o que seria um comportamento natural incluindo o conhecimento as crenças a arte a moral a lei os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade É importante ter em mente que não existe uma cultura mas sim culturas na medida em que a cultura está extremamente ligada à construção de uma identidade própria por parte de diferentes grupos sociais julga o indivíduo pela ideia que de si mesmo faz tampouco se pode julgar uma tal época de transformações pela consciência que ela tem de si mesma É preciso ao contrário explicar essa consciência pelas contradições da vida material pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção Marx Contribuição à crítica da economia política 2008 p 48 Estamos aqui diante do conceito de ideologia As ideologias para Marx são as diversas formas de consciência que atuam nos conflitos sociais humanos O que define um dado pensamento como ideológico é que ele leva o indivíduo a se posicionar e atuar de determinada maneira perante os conflitos de sua época Isso significa que as diferentes ideologias têm uma profunda ligação com os diferentes interesses postos nos conflitos sociais isto é com os interesses das diferentes classes sociais As ideologias têm um papel ativo especialmente no conflito político mas elas não podem criar por si mesmas um processo de transformação social Isso seria cair de novo numa forma de idealismo Ao contrário são justamente as ideologias que se inspiram nos conflitos concretos nas contradições da vida para defenderem determinadas ideias Frequentemente uma determinada ideologia produz uma representação unilateral da sociedade como forma de defender determinado interesse de classe Essas formas de pensar a sociedade de acordo com um ponto de vista pode produzir também uma representação invertida da realidade isto é pensar os fenômenos secundários como se fossem determinantes e viceversa 2 A produção da vida humana no capitalismo Agora sim tendo em vista esse conjunto de conceitos podemos analisar uma determinada formação social Essa análise deverá ter como ponto de partida a forma como os homens nessa sociedade se organizam para produzir seus meios de vida A sociedade que Marx se dedicou profundamente a compreender foi justamente aquela de seu tempo a sociedade capitalista Em outras palavras para compreender o ser humano da sociedade capitalista precisamos entender em primeiro lugar como a atividade primordial do ser humano o trabalho se dá nessa forma de sociedade 21 A formamercadoria Considerando tudo o que já foi dito até aqui o primeiro elemento a ser pensado para que possamos compreender o ser humano em seu tempo histórico é como ele obtém os seus meios de vida Ora como nós obtemos nos dias de hoje aquelas coisas indispensáveis comida roupas moradia etc para a reprodução de nossas vidas A resposta para essa questão é relativamente simples comprando Mas nem sempre foi assim Em sociedades antigas o comércio era um elemento ocasional esporádico do processo de obtenção dos meios de vida E ainda hoje em comunidades tradicionais ainda não inteiramente absorvidas pelo sistema capitalista as pessoas plantam caçam e pescam a totalidade ou quase isso de seus alimentos tecem suas próprias roupas constroem suas casas e assim por diante Estamos aqui diante da primeira e mais evidente característica do modo de produção capitalista O sistema capitalista está organizado para produzir mercadorias E o que isso significa Significa que os objetos que nós iremos consumir foram produzidos desde o início com o objetivo de serem vendidos Quem produz mercadorias produz visando o comércio e não o consumo próprio Imaginem que em sua casa haja um vaso de planta com uma erva usada na culinária como tempero por exemplo o orégano Ao usálo no preparo de um prato a diferença entre o orégano que você colhe em seu jardim e aquele que você compra em um pacote no supermercado é que este último é uma mercadoria foi produzido para ser vendido 22 A propriedade privada A segunda questão que precisamos levar em consideração é que o sucesso de um sistema de produção de mercadorias depende inevitavelmente de duas coisas em primeiro lugar das pessoas precisarem das mercadorias e em segundo lugar terem algum dinheiro para comprálas Essa primeira condição de nós precisarmos comprar mercadorias para viver só pode ser atendida quando as pessoas não conseguem obter diretamente seus meios de vida ou seja quando a esmagadora maioria das pessoas não possui nenhum meio de produção4 E isso acontece no capitalismo porque os meios de produção todos pertencem a algumas poucas pessoas Ou seja o capitalismo é uma sociedade baseada na propriedade privada dos meios de produção 4 Meio de produção é aquilo que permite aos homens obterem algum meio de vida Por exemplo a terra que precisa ser fértil para obter alimentos pelo plantio o gado as ferramentas e o maquinário da indústria um imóvel que possa ser usado para fins comerciais etc No capitalismo em particular o próprio dinheiro se tornou um indispensável meio de produção pois uma quantidade inicial dele é necessária para iniciar a fabricação de qualquer coisa Mas o fato de uma pessoa não ter um pedaço de terra para plantar nem ter as ferramentas necessárias para produzir roupas ou não ter um imóvel próprio onde possa abrir uma loja para vender determinadas coisas nada disso significa que essa pessoa não saiba fazer essas coisas Por outro lado o simples fato de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos ser proprietário de grandes porções de terra ou de um galpão cheio de máquinas de costurar ou de uma grande loja não implica que esse proprietário seja capaz de produzir tudo o que esses seus meios de produção permitem no mais das vezes é simplesmente impossível o proprietário produzir por si próprio Essa situação deu origem à relação econômica primordial da sociedade capitalista que é o trabalho assalariado Pessoas que sabem desempenhar determinadas atividades produtivas mas não possuem os meios para fazêlo se tornam trabalhadores enquanto que os proprietários dos meios de produção se tornam capitalistas Para que haja então a produção das mercadorias os capitalistas compram a força de trabalho dos trabalhadores isto é pagam a eles uma determinada quantidade de dinheiro em troca de um determinado tempo de trabalho No final do processo de trabalho as mercadorias produzidas não pertencem aos trabalhadores mas sim aos capitalistas que irão vendê las visando obter lucro Essa situação dá origem a duas classes sociais a burguesia os capitalistas e o proletariado os trabalhadores Aquela segunda condição das pessoas terem algum dinheiro para comprar mercadorias necessária para o sucesso do sistema capitalista é resolvida dessa maneira por meio do trabalho assalariado Marx estudou o processo de expansão do capitalismo por todo o planeta e percebeu então que essa expansão dependia acima de tudo de fazer com que a maior parte das pessoas não tivesse acesso a nenhuma propriedade de modo que sua única alternativa de sobrevivência fosse vender sua força de trabalho em troca de um salário Assim como na Inglaterra havia acontecido o chamado cercamento dos campos que tomou as terras dos camponeses e expulsou eles para as cidades em todos os países onde aconteceu uma transformação capitalista houve ao mesmo tempo algum processo que fez com que as pessoas que antes produziam para consumo próprio fossem reduzidas a simples força de trabalho desprovidas de qualquer propriedade Esse processo de expropriação é o motor inicial da expansão do capitalismo pelo globo 23 A divisão hierárquica do trabalho Até aqui nós conhecemos duas primeiras características da sociedade capitalista 1 tratase de uma sociedade onde tudo que é necessário para a vida humana é produzido sob a forma de mercadorias e 2 que os meios de produção são propriedade privada de algumas pessoas enquanto todas as outras detêm apenas sua própria força de trabalho situação essa que divide essa sociedade em duas classes fundamentais que se relacionam economicamente por meio do trabalho assalariado O nosso objetivo aqui é entender como se dá o trabalho na sociedade capitalista Sabemos então pelas características acima que o trabalho envolve a relação de assalariamento e que o produto do trabalho adquire a forma de mercadorias Resta observarmos se o processo de trabalho mesmo possui alguma característica específica no capitalismo que o diferencie das sociedades precedentes Vimos que para Marx o homem sempre viveu em sociedade entendendo por sociedade a simples existência de uma cooperação entre os indivíduos que os mantêm ligados uns aos outros Essa cooperação é usualmente chamada de divisão do trabalho Historicamente a primeira forma de divisão social do trabalho foi a divisão sexual em virtude de determinadas características fisiológicas em grande medida pautadas pelos imperativos da reprodução as mulheres engravidavam com frequência na vida adulta e ainda tinham que amamentar os bebês homens e mulheres desempenhavam diferentes atividades laborais que em conjunto contribuíam para a vida de todos Ao longo da história a divisão social do trabalho foi se tornando cada vez mais complexa Com o tempo foram se consolidando determinados ofícios que também ganhavam em complexidade de modo que exigiam uma especialização cada vez maior Mas uma mudança em particular pôde ser observada no processo de surgimento do capitalismo a transformação do artesanato em manufatura No artesanato o artesão é dono das ferramentas necessárias para a execução de seu ofício e ainda conhece todas as etapas do processo de produção Um sapateiro por exemplo desenha o modelo de sapato prepara o couro corta os moldes costura etc Nas sociedades précapitalistas onde o comércio já existia em grande escala os próprios artesãos vendiam seus produtos As pessoas muitas vezes conheciam então quem fazia os objetos que elas consumiam Nessas comunidades a existência do comércio não suprime a relação mais direta entre produtores e consumidores A manufatura surge com a introdução da divisão hierárquica do trabalho no processo produtivo visando principalmente o aumento da produção Um conjunto de trabalhadores passam a trabalhar juntos e cada um desempenha repetidamente apenas uma das etapas de produção Desse modo a produção final acaba sendo maior do que seria se cada um deles tivesse feito todo o produto do começo ao fim5 Mas a divisão hierárquica do trabalho embora aumente a produtividade tem implicações negativas especialmente para o trabalhador A primeira delas é que o trabalhador deixa de dominar todo o processo de trabalho se especializando em repetir o dia todo apenas um pedaço deste Essa situação tende a tornar a jornada de trabalho mais cansativa e enfadonha e o trabalho deixa então de ser uma atividade de interesse do homem para se tornar uma atividade mecânica repetitiva e exaustiva A segunda característica é que o resultado do processo de trabalho passa a ser um objeto que o próprio trabalhador não pode reconhecer como fruto de sua própria atividade A mercadoria é um objeto estranho ao trabalhador tanto porque ele é incapaz de produzila sozinho pois já não conhece todas as etapas da produção quanto porque esse objeto fruto de seu trabalho já não pertence mais a ele e sim a seu patrão A terceira consequência da divisão hierárquica do trabalho é que o trabalhador deixa de se identificar com aquilo que ele faz Seu trabalho se torna apenas a atividade que ele desempenha em troca de dinheiro E como ele só faz uma pequena parte do processo é relativamente fácil inclusive migrar de um trabalho para outro por qualquer motivo que seja Um indivíduo que era carpinteiro pode se estiver desempregado por exemplo virar motorista de uber hoje e daqui alguns meses conseguir um trabalho como auxiliar de pedreiro Nas sociedades tradicionais a atividade de trabalho que um indivíduo desempenha está intimamente ligada a sua própria identidade ao lugar que ele ocupa na comunidade No capitalismo o trabalho se torna algo indiferente importando mais quanto dinheiro o indivíduo ganha 5 As manufaturas surgiram nas chamadas corporações de ofício no final da idade média e se desenvolveram largamente no período do chamado renascimento e do mercantilismo Com o tempo os trabalhadores das corporações não eram mais donos das ferramentas que utilizavam e a transição desse modelo para a propriedade privada se deu de maneira relativamente rápida A indústria capitalista surgiu então mais tarde com a introdução das máquinas nas linhas de produção manufatureiras Por fim temos ainda como consequência dessa forma hierárquica de organização do trabalho o agravamento extremo da oposição entre trabalho manual e trabalho intelectual As tarefas manuais do trabalho são padronizadas e passam a ser aprendidas e executadas por pessoas que não participam do momentos intelectuais do trabalho isto é não participam das tarefas de investigação planejamento etc E ainda as tarefas manuais são tidas como menos importantes que as chamadas tarefas intelectuais o que se materializa numa valorização salarial também diferenciada entre ambas Para Marx o trabalho enquanto uma atividade autenticamente humana passa pela união indissociável desses dois momentos o momento de elaboração intelectual de planejamento etc e o momento de execução As sociedades précapitalistas já haviam desenvolvido algumas formas de separação entre esses dois momentos mas não na forma nem na extensão que o capitalismo inaugurou No nosso mundo contemporâneo essa oposição está bastante consolidada Os indivíduos que têm acesso aos meios e ao conhecimento necessários para desempenharem as atividades intelectualmente mais complexas ocupam cargos hierarquicamente superiores na divisão do trabalho Por outro lado aquelas camadas da sociedade com difícil acesso à educação de qualidade acabam relegadas às funções manuais As primeiras recebem remunerações salariais mais elevadas facilitando assim o acesso de seus filhos aos mesmos meios de formação que tiveram de modo que essa estrutura da divisão do trabalho coloca os novos membros da sociedade em condições extremamente desiguais em termos de perspectivas de vida 24 Alienação e Estranhamento A combinação dos três fatores mencionados no item 2 desta apostila a produção voltada para a troca a propriedade privada e a divisão hierárquica do trabalho dá origem a uma condição humana decisiva para a compreensão da sociedade capitalista que Marx explica por meio das categorias de alienação e estranhamento que são conceitos centrais de seu pensamento Vejamos o que o próprio Marx diz a respeito O trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz quanto mais sua produção aumenta em poder e extensão O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens O objeto que o trabalho produz o seu produto se lhe defronta ao trabalhador como um ser estranho como um poder independente do produtor O produto do trabalho é o trabalho que se fixou num objeto fezse coisa é a objetivação do trabalho A objetivação do trabalho aparece como perda do objeto e servidão do trabalhador ao objeto Na determinação de que o trabalhador se relaciona com o produto de seu trabalho como um objeto estranho estão todas essas consequências quanto mais o trabalhador se desgasta trabalhando tanto mais poderoso se torna o mundo objetivo alheio que ele cria diante de si tanto mais pobre se torna ele mesmo seu mundo interior e tanto menos o trabalhador pertence a si próprio Segundo esse duplo sentido o trabalhador se torna portanto um servo de seu objeto O auge desta servidão é que somente como trabalhador ele pode se manter como sujeito físico e apenas como sujeito físico ele é trabalhador O estranhamento do trabalhador em seu objeto se expressa em que quanto mais o trabalhador produz menos tem para consumir que quanto mais valores cria mais sem valor e indigno ele se torna quanto mais bem formado o seu produto tanto mais deformado ele fica Mas o estranhamento não se mostra somente no resultado mas também e principalmente no ato da produção dentro da própria atividade produtiva Como poderia o trabalhador defrontarse alheio ao produto de sua atividade se no ato mesmo da produção ele já não se estranhasse a si mesmo Em que consiste então a alienação do trabalho Primeiro que o trabalho é externo ao trabalhador isto é não pertence ao seu ser que ele não se afirma portanto em seu trabalho mas negase nele que não se sente bem mas infeliz que não desenvolve nenhuma energia física e espiritual livre mas mortifica sua physis e arruína o seu espírito O trabalhador só se sente por conseguinte e em primeiro lugar junto a si fora do trabalho e fora de si no trabalho Está em casa quando não trabalha e quando trabalha não está em casa O seu trabalho não é portanto voluntário mas forçado trabalho obrigatório O trabalho não é por isso a satisfação de uma carência mas somente um meio para satisfazer necessidades Marx Manuscritos econômicofilosóficos 2004 p 8083 As passagens acima nos mostram como esse tema era importante para Marx e o quanto ele trata dessas questões com vivacidade e preocupação Os conceitos de alienação e estranhamento se combinam diretamente à concepção marxista do homem como um ser histórico para darem origem a uma visão sobre o ser humano na sociedade capitalista Se o homem é um ser que não possui uma essência prévia determinista se ao contrário o homem se faz a si mesmo através da história a partir das condições prévias que lhe estão dadas e se por fim essa autoconstrução do mundo humano pelos homens tem como fundamento o trabalho então o fato de que na sociedade capitalista o trabalho é alienado e estranhado é determinante para compreender o homem contemporâneo A alienação do trabalho significa que o trabalho deixou de ser uma atividade com a qual o homem se identifica e por meio da qual o homem obtém diretamente aquilo que precisa para viver para se tornar uma atividade exterior cansativa desinteressante e mecânica Por causa da alienação o trabalho deixa de ser a atividade que distancia o homem dos animais para se tornar uma atividade que animaliza o homem isto é uma atividade onde o homem é tratado como coisa mercadoria obrigado a desempenhar funções repetitivas que exigem o mínimo ou nenhuma criatividade e que são embrutecedoras E ainda a alienação significa também que os produtos do trabalho não pertencem mais ao trabalhador São alienadas dele por meio das relações de propriedade implicadas na produção Já o estranhamento aparece primeiramente na relação do trabalhador com o resultado de sua atividade a mercadoria Esse objeto aparece como algo estranho ao trabalhador Mas esse estranhamento na relação com o produto tem por base um estranhamento no próprio trabalho Como só faz uma parte do processo de produção o processo como um todo é estranho ao trabalhador desconhecido 3 A mediação da vida humana pela troca e suas consequências 31 Trabalho e Valor Sendo coerente com sua crítica ao idealismo Marx considera que o estudo de qualquer objeto não pode nunca partir de conceitos ou juízos prévios Ao contrário é preciso partir da matéria mesma a forma como o objeto se manifesta percorrer suas determinações para encontrar seus fundamentos Por isso em O Capital o seu ponto de partida é a análise da mercadoria Afinal a riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma enorme coleção de mercadorias Marx O Capital 2013 p 157 A análise da mercadoria revela em primeiro lugar que ela tem uma dupla natureza Por um lado para ser uma mercadoria qualquer objeto deve ser dotado da capacidade de saciar alguma necessidade humana Não importa aqui se essa necessidade é uma necessidade fisiológica elementar como a alimentação ou se é uma necessidade criada socialmente como a comunicação a distância Isso significa que qualquer mercadoria é um objeto útil ou seja possui um valor de uso Por outro lado como já vimos acima ser uma mercadoria implica que o objeto foi produzido com a finalidade de ser vendido trocado Isso implica que ele aparece como portador de um preço ou seja possui um valor de troca Essa é então a natureza dupla da mercadoria ela é ao mesmo tempo portadora de um valor de uso e de um valor de troca Nesse ponto cabe então perguntar qual é o fundamento de cada uma dessas propriedades da mercadoria Ora o valor de uso de uma mercadoria deriva diretamente de suas propriedades objetivas tanto daquelas dadas naturalmente na matéria da qual a mercadoria é constituída o potencial nutritivo da quantidade de carboidratos em um pedaço de pão quanto daquelas criadas pelo ser humano a capacidade de um jogo de xadrez envolver dois jogadores em uma competição que mescla noções de matemática e estratégia Mas e o valor de troca Ao responder essa questão Marx foi extremamente irônico com aqueles economistas que achavam que o valor de troca pudesse ser uma propriedade natural das coisas Afinal até hoje nenhum químico descobriu o valor de troca na pérola ou no diamante Marx O Capital 2013 p 218 Se nenhum objeto é dotado de um valor de troca em virtude de suas propriedades físicas significa que o fundamento do valor de troca se encontra em algum tipo de relação social O primeiro passo para responder essa questão então é entender a natureza do dinheiro Marx analisa as várias formas lógicas possíveis da troca desde a troca direta entre duas mercadorias x canetas se trocam por y folhas de papel passando pelas trocas em que uma determinada mercadoria passa a ter a função exclusiva de meio de troca x quilos de ouro se trocam por y unidades de tijolos A conclusão lógica inevitável dessa análise é a descoberta de que o dinheiro é também uma mercadoria como outra qualquer que surgiu para facilitar as trocas quando elas se tornaram muito frequentes nas sociedades e que o valor de uso do dinheiro é exatamente este ser um facilitador das trocas Se até o dinheiro é uma mercadoria toda e qualquer troca envolve uma quantidade x de uma mercadoria A sendo trocada por uma quantidade y de uma mercadoria B Neste ponto Marx afirma que para haver um sistema de trocas consolidado mundialmente é preciso que exista alguma coisa nessa quantidade x de A que seja idêntica à quantidade y de B Será mesmo que existe esse elemento comum Ora nós já sabemos que toda mercadoria é um objeto que foi produzido pelo homem produção que se dá através do trabalho E exatamente aqui reside a resposta a nossa questão a única coisa em comum que existe em toda mercadoria é que para ser produzida foi necessário o gasto de uma determinada quantidade de tempo de trabalho do ser humano A conclusão a qual Marx chegou é que o valor de troca o preço de uma mercadoria é apenas a forma de aparência de algo que está por trás das trocas O sistema de trocas parece ser uma grande relação entre coisas Uma quantidade de dinheiro compra uma quantidade de mercadorias Uma mercadoria é mais cara que outra Mas tudo isso é apenas a aparência superficial do sistema de trocas Por trás do preço reside uma relação humana que Marx chama de valortrabalho ou simplesmente de valor O valor de uma mercadoria é uma medida do tempo de trabalho necessário para produzila Esse valor enquanto medida do trabalho é a essência ou substância do valor de troca Ao fazer essa constatação Marx descobre o fundamento sobre o qual reside a natureza dupla da mercadoria No capitalismo o próprio trabalho tem uma natureza ambígua ou dúplice que dá aos objetos que cria também uma dupla natureza Por um lado o trabalho é uma atividade concreta Cada tipo de trabalho é inteiramente diferente de outro E cada tipo de trabalho cria um objeto diferente que tem também uma utilidade diferente Ou seja em sua natureza de trabalho concreto o trabalho cria o valor de uso das mercadorias Mas no capitalismo como vimos o trabalho é universalmente comprado por uma determinada quantidade de dinheiro Quando o capitalista compra o trabalho ele compra um determinado tempo de trabalho do trabalhador Nessa relação econômica existe uma abstração das formas concretas de trabalho Ou seja o trabalho quando se torna trabalho assalariado adquire uma natureza abstrata que é medida pela sua duração E como vimos é o tempo de trabalho gasto na produção de uma mercadoria que cria o seu valor que depois se converte em valor de troca Dito de outra forma o trabalho em sua natureza de trabalho abstrato cria o valor de troca das mercadorias 32 O caráter fetichista da mercadoria Vimos então que na sociedade capitalista o sistema de trocas que antes era esporádico foi universalizado Desse modo praticamente todos os objetos dos quais necessitamos todos o valores de uso nos são acessíveis por intermédio do dinheiro Os membros da sociedade todos ou quase todos trabalham e como resultado da soma dos trabalhos temos uma dada produção total de riquezas Quanto cada um poderá consumir isto é a participação de cada indivíduo na distribuição da riqueza produzida socialmente é determinado pelo quantum de dinheiro que ele possui que quase sempre corresponde ao quantum de dinheiro que ele recebeu em troca do seu trabalho Vimos também que em virtude da forma de organização do trabalho no capitalismo os trabalhadores encontramse numa relação de alienação em relação à própria atividade laboral E ainda quando se deparam com os produtos do trabalho próprio ou alheio têm uma relação de estranhamento frente a eles Uma das consequências mais marcantes dessa relação de estranhamento do consumidor com a mercadoria aparece já de cara no momento da troca Isto é no momento em que um indivíduo qualquer decide trocar uma quantidade do seu dinheiro por uma dada mercadoria de acordo com o preço desta uma estranha relação se coloca nós somos levado a acreditar que o preço é uma propriedade do objeto Tudo se passa como se o preço fosse algo naturalmente intrínseco àquela mercadoria O mesmo se dá quando comparamos os preços seja de diferentes marcas do mesmo tipo de mercadoria seja comparando os preços de diferentes mercadorias Somo levados a acreditar que a mercadoria mais cara é melhor que a outra Mas a análise anterior nos prova que isso não é verdade O preço de uma mercadoria é a forma de aparência da quantidade de tempo de trabalho que outras pessoas despenderam para que ela fosse produzida pessoas estas tão reais e cheias de desejos quanto nós O preço de uma mercadoria não é portanto uma propriedade da coisa Ao contrário é uma propriedade humana posta na coisa O mesmo vale para o valor de uso da mercadoria Nós somos levados a acreditar por exemplo que um computador possui a capacidade de navegar na internet Isso é completamente falso Tanto a própria internet quanto a capacidade de navegar na rede são capacidades humanas fruto de décadas de pesquisas e trabalho de um sem número de pessoas Não é o computador que navega na internet somos nós seres humanos E ao usar o computador nós estamos indiretamente nos relacionando com o trabalho de todas as pessoas que de diferentes formas contribuíram para que o computador chegasse até nós e nos permitisse fazer tudo aquilo que ele permite O objeto é um portador das capacidades humanas Sem o ser humano a coisa não é nada Por tudo isso quando uma determinada mercadoria tem a propriedade de satisfazer uma certa necessidade do ser humano nós por estarmos condicionados pelas relações de alienação e estranhamento não reconhecemos essa propriedade dos objetos como uma propriedade humana Essa estranha capacidade das mercadorias aparecerem para nós como coisas dotadas de poderes extraordinários Marx chamou de fetichismo O caráter misterioso da formamercadoria consiste portanto simplesmente no fato de que ela reflete aos homens os caracteres sociais de seu próprio trabalho como caracteres objetivos dos próprios produtos do trabalho como propriedades sociais que são naturais a essas coisas e por isso reflete também a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social entre os objetos existente à margem dos produtores Já a formamercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho em que ela se representa não tem ao contrário absolutamente nada a ver com sua natureza física e com as relações materiais que dela resultam É apenas uma relação social determinada entre os próprios homens que aqui assume para eles a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas Esse caráter fetichista do mundo das mercadorias surge como a análise anterior já mostrou do caráter social peculiar do trabalho que produz mercadorias Os objetos de uso só se tornam mercadorias porque são produtos de trabalhos privados realizados independentemente uns dos outros O conjunto desses trabalhos privados constitui o trabalho social total Como os produtores só travam contato social mediante a troca de seus produtos do trabalho os caracteres especificamente sociais de seus trabalhos privados aparecem apenas no âmbito dessa troca Ou dito de outro modo os trabalhos privados só atuam efetivamente como elos do trabalho social total por meio das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e por meio destes também entre os produtores A estes últimos as relações sociais entre seus trabalhos privados aparecem como aquilo que elas são isto é não como relações diretamente sociais entre pessoas em seus próprios trabalhos mas como relações reificadas entre pessoas e relações sociais entre coisas Marx O Capital 2013 p 206207 Ou seja a reificação ou coisificação das relações humanas não é um simples fenômeno de consciência Não se trata de uma simples ilusão ou uma percepção equivocada por parte das pessoas O capitalismo efetivamente promove a coisificação das relações ao fazer das mercadorias o intermediário concreto das relações entre as pessoas 4 Exploração e Emancipação 41 As contradições da sociedade capitalista Ao analisar a forma como a sociedade capitalista organiza as relações de trabalho Marx constata um amplo conjunto de características contraditórias A primeira contradição dada no modo de produção capitalista reside como vimos no fato de que os indivíduos diretamente envolvidos no processo de produção não são proprietários dos objetos que resultam de seu trabalho Isso porque a relação econômica fundamental da sociedade capitalista é o trabalho assalariado Nessa relação indivíduos que não são proprietários de meios que possam lhes prover o próprio sustento vendem sua força de trabalho em troca de dinheiro Mas o resultado do seu trabalho pertence àqueles que são proprietários dos meios de produção e que compraram o trabalho do trabalhador Dessa contradição fundamental seguemse outras de igual modo empiricamente constatadas A sociedade capitalista é na história da humanidade a que propiciou a produção de riquezas materiais em mais alta escala Mas é também ao mesmo tempo a que destituiu de toda riqueza a maior proporção de seus membros Em outras palavras na mesma medida em que produz riquezas o capitalismo produz também miséria O modo capitalista de produção põe em conjunto para trabalhar um contingente enorme de indivíduos conectados no mesmo processo produtivo Além disso como todos precisamos comprar tudo o que necessitamos para viver estamos indiretamente por intermédio do dinheiro conectados a um conjunto enorme de sistemas produtivos Mas no final de cada processo de produção toda a riqueza produzida pertence apenas ao capitalista dono dos meios de produção Isso significa que a produção dos meios vida humana no capitalismo é a mais coletiva que já existiu ao passo que a apropriação desses mesmos meios de vida é a mais privada possível A nossa vida nunca esteve antes tão distante das determinações da natureza ou seja praticamente tudo o que consumimos é criação humana ou depende da intervenção do homem para chegar até nós E no entanto nunca foi tão difícil identificar o homem real por trás dessas criações de modo que os objetos parecem coisas autônomas com capacidades próprias Ou seja ao mesmo tempo em que o capitalismo humaniza o mundo ele o coisifica 42 A exploração do trabalho capital e produção de maisvalia O fundamento da crítica de Marx à sociedade capitalista está como visto acima relacionado à ideia de alienação que tem relação direta com as categorias de estranhamento fetichismo e reificação Mas a crítica ao capitalismo passa também por outro ponto crucial a exploração do trabalho De maneira superficial o capital é entendido como uma determinada quantidade de dinheiro que o seu possuidor investe na produção de alguma mercadoria para obter como retorno o lucro O capital é então utilizado para adquirir máquinas matériasprimas e tudo o que mais seja necessário para dar início à produção incluindo também é claro os salários dos trabalhadores Ao final do processo de trabalho temos de maneira simplificada uma quantidade de mercadorias cuja soma de seus preços esperase que seja maior do que a quantidade de capital gasto para viabilizar a produção Essa situação Marx descreveu com o conceito de reprodução ampliada de capital ou simplesmente valorização do capital Como isso acontece Existe um discurso formulado especialmente pelo pensamento liberal que analisa esse processo como sendo absolutamente legítimo Segundo a narrativa liberal todo o risco envolvido na produção é assumido exclusivamente pelo capitalista Se tudo der errado ele vai sozinho perder o seu capital Além disso o trabalho assalariado é descrito como uma relação jurídica justa um contrato Afinal o trabalhador aceitou trabalhar o tempo determinado no contrato em troca do salário estabelecido Se a empresa der prejuízo esse será todo do capitalista Então nada mais justo que ele ficar também com todo o lucro quando esse for o caso Mas lembremos de tudo o que foi dito acima Em primeiro lugar o trabalho do trabalhador foi convertido em uma mercadoria como outra qualquer O salário é o preço da mercadoria trabalho Qual é mesmo o fundamento do preço de qualquer mercadoria Ora vimos ser o tempo de trabalho necessário para produzir tal mercadoria Para a mercadoria trabalho ser produzida é preciso que hajam trabalhadores que eles estejam alimentados e descansados e que possuam também uma família de modo que possam ter filhos que irão no futuro se tornar também trabalhadores O tempo de trabalho necessário para que a mercadoria trabalho seja produzida é então determinado pela soma do tempo de trabalho gasto para produzir as mercadorias que o trabalhador e sua família precisam consumir para que existam trabalhadores Isso significa que o salário não é apenas uma relação jurídica é uma relação econômica O salário é uma medida do valor do trabalho Façamos agora um exercício de matemática Uma vez que os trabalhadores venderam sua força de trabalho para o capitalista e se engajam na produção eles dão início à produção das mercadorias Da mesma forma cada uma das mercadorias produzidas será portadora de um valor medido pelo tempo de trabalho necessário para sua fabricação Esse valor é dado pela soma de tudo que está envolvido na produção Somando a produção total de uma fábrica e em seguida subtraindose os custos fixos e os iniciais matériaprima energia manutenção das máquinas etc teremos então uma medida da quantidade de valor que os trabalhadores agregaram ao produto final O valor que o trabalho agrega ou acrescenta a uma mercadoria é o quantum desse trabalho que foi gasto nela Pois bem se nós tomarmos então a soma dos valores que o trabalho de cada trabalhador agregou às mercadorias ali produzidas teremos então como resultado a soma dos valores que o trabalho de cada trabalhador produziu A grande descoberta de Marx foi então a de que numa jornada de trabalho cada trabalhador acrescenta às mercadorias uma quantidade de valor superior ao valor da sua força de trabalho O lucro do capitalista é apenas a forma de aparência de uma outra relação mais profunda que Marx chamou então de mais valia A maisvalia é exatamente essa diferença a mais de valor que o trabalhador coloca com seu trabalho nas mercadorias que produz A valorização do capital tem por base então a apropriação privada da maisvalia A mais valia é fruto do esforço do trabalhador mas é inteiramente apropriada pelo capitalista Em outras palavras a valorização do capital tem por fundamento a exploração da força de trabalho dos trabalhadores 43 A emancipação humana ou emancipação do trabalho A importância da teoria da maisvalia para o pensamento marxista conduziu muitos de seus adeptos a um certo equívoco de considerarem que a crítica ao capitalismo estrava limitada à crítica à exploração do trabalho Como a exploração acontece em virtude da apropriação privada da riqueza ou seja como consequência da propriedade privada dos meios de produção este passou a ser o ponto central do ataque de muitos marxistas à sociedade capitalista No século XX a humanidade experimentou pelos quatro cantos do globo experiências políticas que se denominaram de socialistas e que afirmavam ser a aplicação prática das teorias de Marx Será mesmo Será que é possível fazer uma crítica consistente do pensamento de Marx a partir da crítica do que aconteceu em países como a URSS China Cuba etc O chamado sistema socialista do século XX repousou basicamente sobre três medidas estatização da propriedade o Estado passou a controlar os meios de produção planificação da economia a oferta era planejada pelo Estado de acordo com uma análise antecipada da demanda e o monopólio estatal do comércio exterior somente o Estado podia importar ou exportar produtos de modo a impedir interferências externas na economia Embora tenha sido consideravelmente bem sucedido em modernizar países que antes eram apenas agrários e também tenham produzido um sistema de distribuição de riquezas bem menos desigual que o verificado na maioria dos países capitalistas do ponto de vista econômico nenhuma medida foi tomada para acabar com a divisão hierárquica do trabalho ou pelo menos atenuar os efeitos E como vimos o problema humano decisivo produzido pelo capitalismo a alienação tem como fundamento essa forma de organização do trabalho Em uma sociedade em que o trabalho segue organizado de maneira hierarquizada não causa espanto que o poder tenha sido exercido de maneira tão burocratizada Os indivíduos que ocupavam os cargos de direção do Estado passaram a gozar de privilégios os mais variados e extrapolaram sistematicamente suas atribuições no exercício do poder O extremo a que essa situação chegou foi a perseguição política daqueles que discordavam de quaisquer medidas chegando a haver efetivamente a condenação a morte de milhões de opositores É importante pontuar contudo que o chamado autoritarismo não foi uma exclusividade dos países socialistas mas sim um elemento comum do jogo político mundial em quase todo o século XX Nos Estados Unidos por exemplo a liberdade de organização partidária foi suprimida com alegações não muito distintas das usadas na União Soviética opositores foram presos ou exilados etc Os países centrais do bloco capitalista apoiaram política e militarmente regimes de exceção por todo o planeta e fomentaram guerras que igualmente levaram a morte milhões de pessoas O mais importante então a pontuar aqui é que identificar o pensamento de Marx com as experiências ditas socialistas do século XX é um erro grosseiro que só é cometido por aqueles que na verdade desconhecem profundamente as ideias desse pensador Para compreendermos o que Marx defendia como o ideal comunista precisamos ter em mente uma ideia de desalienação do homem que passa necessariamente por construir uma relação com o trabalho na qual todo o trabalhador possa encontrar a realização de suas capacidades e não o puro esgotamento de suas energias Nas palavras de Marx quando tiver sido eliminada a subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do trabalho e com ela a oposição entre trabalho intelectual e manual quando o trabalho tiver deixado de ser mero meio de vida e tiver se tornado a primeira necessidade vital quando juntamente com o desenvolvimento multifacetado dos indivíduos suas forças produtivas também tiverem crescido e todas as fontes da riqueza coletiva jorrarem em abundância apenas então o estreito horizonte jurídico burguês poderá ser plenamente superado e a sociedade poderá escrever em sua bandeira De cada um segundo suas capacidades a cada um segundo suas necessidades Marx Crítica ao programa de Gotha 2012 p 33 Por isso o projeto de emancipação defendido por Marx passa centralmente pela emancipação do trabalho livrar o trabalho de sua forma alienada para que então os seres humanos possam se relacionar uns com os outros como produtores livres associados onde cada um contribui para a vida coletiva de acordo com suas capacidades e recebe na distribuição das riquezas aquilo de que necessita Referências bibliográficas CHASIN J Marx estatuto ontológico e resolução metodológica São Paulo Boitempo 2009 LUKÁCS G Para uma ontologia do ser social Vol 1 Trad C N Coutinho M Duayer e N Schineider São Paulo Boitempo 2012 MARX K ENGELS F A ideologia alemã Trad Rubens Enderle et ali São Paulo Boitempo 2007 MARX K O Capital Trad Rubens Enderle São Paulo Boitempo 2013 MARX K Contribuição à crítica da economia política Trad Florestan Fernandes São Paulo Expressão popular 2008 MARX K Manuscritos econômicofilosóficos Trad Jesus Ranieri São Paulo Boitempo 2004 MARX K Crítica ao programa de Gotha Trad Rubens Enderle São Paulo Boitempo 2012 PEÑA Milcíades O que é o marxismo Notas de iniciação marxista Trad Paula MaffeiSão Paulo Sundermann 2015

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