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Tecnologias do sexo Dizer que o sexo é tecnologico pode parecer contraditorio inclusive insustentavel Uma definiçao de sexo que ignore a oposiçao que tradicionalmente se faz entre tecnologia e natureza nao correria o risco de parecer incoerente A alta tecnologia se apresenta sempre camo nova numa melhora perpétua mais rapida sempre sujeita à mudança e surge portante camo o proprio motor da historia e do tempo 0 sistema sexogênero ao contrario mesmo quando seu carater historico nao natural e construido tenha sida pasto amplamente em evidência durante os anos oitenta e no venta continua sendo descrito camo uma estnitura estavel resistente à mudança e às transformaçôes Par issa o sexo pode aparecer camo o Ultimo resquicio da natureza depois das tecnologias terem cumprido seu trabalho de construçao do corpo 0 termo tecnologia cuja origem remete à techné oficio e arte de fabricar opondose a physis natureza coloca em funcionamento uma série de oposiçôes binanas natural articial orgaomaquina primitivomaderno nas quais o instrumenta joga um papel de mediaçao entre os termos da oposiçao Tanta as narrativas positivistas do desenvolvi mento tecnologico nas quais o homem é representado camo 147 a razao soberana que dama domestica e domina a natureza bruta camo as narrativas apocalipticas ou antitecnol6gicas par exemple as profecias de Paul Virilio que situado no proprio limiar do horizonte negative vela pela insegurança do territ6rio contabilizando os acidentes da maquina que vomita uma racionalidade letal destruindo e devorando a natureza compartilham um mesmo pressuposto metafisico a oposiçào entre o corpo vivo limite ou ordem primeira camo natureza e a maquina inanimada libertadora ou perversa camo tecnologia Donna Haraway mostrou o quanta a definiçao de hu manidade no discurso antropol6gico e colonial depende da noçao de tecnologia o humanohuman se define antes de mais nada camo um animal que utiliza instru mentos par oposiçao aas primatas e às mulheres 1 A noçao de tecnologia camo totalidade dos instrumentas que os homens fabricam e empregam para realizar coisas serve de apoio às noçôes aparentemente intocaveis de natureza humana e diferença sexual A tecnologia é também o critéria do colonizador para determinar o grau de cultura de racionalidade ede progressa alcançado pelas pavas Nas narrativas colonialistas dominantes as mulheres e os indigenas que nao têm acesso ou carecem de tecnologia sao descritos camo se fizessem parte da natureza e se transformam par essa razao nos recursos que o homem branco deve dominar e explorar Anoçao de tecnologia é entao uma categoriachave ao redor da qual se estruturam as espécies humananào huma na o gênera masculin0jfeminino a raça brancanegra e 1 Donna Haraway Primate VISions Gender Race and Nature Nova York Routledge 1998 p 9 e ss 148 a cultura avançadaprimitiva Em sua anâlise critica dos discursos da primatologia Donna Haraway mostrmi coma a antropologia colonial do século XIX e inicio do século XX definiu os corpos masculines e feminines apoiandose na oposiçao tecnologianatureza instrumentasexe 0 corpo masculine é definido mediante a relaçao que estabelece corn a tecnologia o instrumenta o prolonga e inclusive o substitui Uma vez que a antropologia tradicional nao consi dera as técnicas de gestaçào e educaçào desenvolvidas pelas mulheres africanas camo tecnologias propriamente ditas2 o corpo feminine é considerado camo alheio a qualquerforma de sofisticaçào instrumental e vai se definir apenas camo sexo 0 discurso antropol6gico diz Haraway construiu o corpo feminine nào tanta em relaçao ao corpo humano masculine mas mais par oposiçào ao do primata fêmea caracterizandoo par sua falta de ciclos de cio camo um corpo sexual em tempo integral Uma definiçao que se arti culara nào em funçào da aquisiçao de instrumentas co mo é o casa do homem e sim mais em funçào da regularidade da atividade sexual e da gestaçao Para a antropologia classica que Haraway condena diferentemente do primata fêmea o corpo feminine é aquele que sempre esta disponivel para o heterosexo um corpo feito à medida dos imperatives da procriaçao doméstica Tecnologia e sexo sao categorias estratégicas no discurso antropol6gico europeu e colonialista N ele a masculinidade foi descrita em funçao de sua relaçao corn os dispositivos tenol6gicos enquanto a feminilidade foi definida em funçao de sua disponibilidade sexual Mas a reproduçao sexual 2 A esse respeito ver o interessante estudo de Jan Zimmerman The Technological Woman Interfadngwith Tomorrow Nova York Praeger 1983 149 aparentemente confmada à natureza e ao corpo das mulhe res esta contaminada desde o começo pelas tecnologias culturais tais camo as praticas especificas da sexualidade os regimes de contracepÇao e de aborto os tratamentos médicos e religiosos do parto etc Lyotard mostrou que embora no discurso cientifico e antropologico a natureza e a tecnologia sejam categorias que se op6em ambas na realidade estao intimamente ligadas à procriaçao natural Existe uma cumplicidade entre as noç6es de tecnologia e de sexualidade que a antropologia tenta esconder mas que paira inclusive par trâs da etimologia gre ga do termo techné As teorias aristotélicas da procriaçao humana falam do esperma camo um liquida que contém homens in nuee homUncu los que devem ser depositados no ventre passivo da mulher Essa teoria que nao foi refutada até a descoberta dos ovârios no século XVII entendia a procriaçao camo uma tecnologia agricola dos corpos na qual os homens sao os técnicos e as mulheres campos naturais de cultiva Camo insistiu Lyotard a expressao techné forma abstrata do verbo tikto que significa engendrar gerar remete ao mesmo tempo em grego a formas de produçao artificial e de geraçao natural A palavra grega para designar os geradores nao é outra que teknotes e para designar o germe teknon3 Camo exemplo paradigmatico de contradiçao cultural a tecnologiarecorre simultaneainente à produçao artificial onde techné poiesis e à reprodçao sexual ou natural onde techné geraçao A critica feminista foi a primeira que apontou e analisou esse vinculo entre tecnologia e reproduçao sexual No inicio dos anos setenta o feminismo tentou escrever a historia 3 JeanFraçois Lyotard Can thought go on without a Body in The Inhuman Stan ford Stanford University Press 1991 p 52 150 politica da reapropriaçao tecnologica do corpo das mulheres A força corn a qual o discurso feminista designou ci corpo feminino camo produto da historia politica e nao simples mente da historia natural deve ser proclamada camo o inicio de uma das maiores rupturas epistemologicas do século XX No entanto para numerosas feministas a tecnologia rerriete a um conjunto de técnicas nao somente aas instrumentas e às maquillas camo também aas procedimentos e às regras que presidem seus usas dos testes genéticos à pilula pas sando pela epidural que objetivam controlam e dominam o corpo das mulheres Até Donna Haraway as anâlises fe mi nistas da tecnologia coma as de Barbara Ehremeich Gena Corea Adrienne Rich Mary Daly Linda Gordon Evelyn Fox Keller etc reduziram as tecnologias do sexo a certo nlimero de tecnologias reprodutivas A dificuldade corn uma trajetoria feminista desse tipo é que se cai na armadilha da essencializaçao da categoria da mulher a qual geralmente vai de encontro corn a identificaçao do corpo feminino e de sua sexualidade corn a funçao reprodutiva e que geralmente destaca os perigos dominaçao exploraçao alienaçao que as tecnologias representam para o corpo da mulher Esse tipo de feminismo deixou escapar as duas melhores ocasi6es para uma possivel critica das tecnologias da sexualidade A pri meira ao se dedicar na anâlise da diferença feminina passou par cima do carater construido do corpo e da identidade de gênera masculines A segunda ao demonizar toda forma de tecnologia camo dispositivo a serviço da dominaçao patriarcal esse feminismo foi inca paz de imaginar as tecnologias camo possiveis lugares de resistência à dominaçao 0 feminismo que rejeita a tecnologia camo forma sofisticada da dominaçao masculina sobre o corpo das mulheres termina par assimilar qualquer forma de tecnologia ao patriarcado 151 Essa analise traz de volta e perpetua as oposiç6es binanas naturezacultura femininomasculino repraduçaopradu çao assim camo a concepçao das tecnologias camo algo que nao passa de modos de controle do corpo das mu1heres e da reproduçao Para essas previs6es apocalipticas a meta Ultima da tecnocracia masculina nao seria somente se aprapriar do poder de pracriaçao do ventre das mu1heres mais do que issa seria substituir as mu1heres biologicas boas naturais inocentes par mu1heres maquinas graças às futuras bio tecnologias de replicaçao camo a clonagem ou a fabricaçao de literas artificiais4 Em outra versao distopica hightech a de Andrea Dworlcin as mulheres acabariam par habitar um bordel repradutivo onde seriam reduzidas ao estado de maquinas biologicas e sexuais a serviço dos homens A maioria dessas cri ti cas feministas exige uma revoluçao antitecnologica na qual os corpos das mu1heres se liberariam do poder coercitivo e repressivo dos machos e das tecnologias modemas para se fundir corn a natureza De fato a critica feminista da década de setenta e oitentadesemboca em uma dupla renaturalizaçao Par um lado corn a reduçao e a demonizaçao das tec nologias do sexo o corpo das mu1heres se apresenta camo puramente natural e o poder dominador dos homens trans formado em técnicas de controle e de possessao é exercido sobre o que seria a capacidade mais essencial das mu1heres a repraduçao Esta é descrita camo uma capacidade natural do corpo feminino a matéria erna sobre a qual vaise desdobrar o poder tecnologico Nesse discurso a mu1her é a natureza e o homem é a tecnologia 4 Gena Corea The Mother Machine Reproductive Technologies from Artifitial Inse mination to Artifitial Wombs Nova York Harper and Row 1985 152 Por outra lado corn a desnaturalizaçao feminista do gêne ra iniciada par Simone de Beauvoir a mulher se transforma no praduto da construçao social da diferença sexual Esse feminismo fracassa ao nao empreender as analises descons trutivistas do homem e da masculinidade enquanto gênera construido par sua vez também tecnologica e socialmente Se o slogan de Beauvoir nao se nasce mulher presidiu a evoluçao do feminismo no século XX até a guinada pos feminista dos noventa ninguém se aventurara corn sua declinaçao masculina nao se nasce homem A velha cançao da psicanalise lacaniana dos anos setenta e oitenta na qual diferentes vozes do proprio Lacan a Kristeva ceticamente se perguntavam existe a mu1her nao conheceu seu cor relata existe o homem até o aparecimento recente dos estudos poshumanos Da mesma maneira a declaraçao de guerra lançada par Wittig nos anos oitenta as lésbicas nao sao mu1heres teve que esperar mais de vin te anos para ser acompanhada par sua consequência mais obvia os gays nao sao homens Enquanto o feminismo essencialista se retraiu em po siç6es conservadoras sobre a maternidade a repraduçao e o respeito da diferença feminina o chamado feminismo construtivista par sua vez apesar de ser intelectualmente muito mais agil graças à articulaçao das diferenças em tor no da noçao de gênera também caiu em uma armadilha Primeiro ao insistir no fato de que a feminilidade seria o resultado artificial de toda uma série de procedimentos tec nologicos de construçao a masculinidade que naG precisaria se submeter a seu proprio po der tecnologico aparece agora camo paradoxalmente natural A Unica natureza que perma nece seria assim a masculinidade enquanto a feminilidade estaria submetida a um incessante processo de construçao 153 1 e moclificaçao 0 fato de que a moda ou a cirurgia estética tenham tido o corpo feminino camo objeto prioritano du rante os dois Ultimos séculos parece confirmar essa tese 0 prablema dessa abordagem é que ela considera a tecnologia camo aquilo que modifica uma natureza dada ao invés de pensar a tecnologia camo a praduçao mesma dessa natureza Talvez o maior esforço das tecnologias do gênera nao tenha sida a transformaçao das mulheres e sim a fixaçao orgânica de certas diferenças Chamei esse pracesso de fixaçao de praduçao prastética do gênera Segundo ao acentuar o carater construido do gênera en quanta variavel hist6ricocultural o feminismo construtivista terminaria par reessencializar o corpo e o sexo concebidos camo o lugar em que a variaçao cultural se choca corn um limite natural intransponivel A força da noçao foucaultiana de tecnologia reside em escapar à compreensao redutora da técnica camo um con junto de objetos instrumentas maquinas ou outras artefatos assim camo em escapar à reduçao da tecnologia do sexo às tecnologias implicadas no controle da repraduçao sexual Para Foucault uma técnica é um dispositivo complexa de poder e de saber que integra os instrumentas e os textos os discursos e os regimes do corpo as leis e as regras para a maximizaçao da vida osprazeres do corpo e a regulaçao dos enunciados de verdade É nesse momento no final dos anos seterita que FoucaUlt volta obsessivamente à ideia de técnica Canguilhem em demasia oufistfucking em demasia nas backrooms de Sao Francisco Aquestao continua aberta e sera o objeto de uma pesquisa contrassexual ulterior Em toda casa sabemos que em um seminano de 1982 Foucault afirma que Meu objetivo ha mais de vin te e cinco anos tem sida o de esboçar uma historia das diferentes maneiras em que na nossa cultura os homens elaboram um saber sobre si mesmos econornia biologia psiquia tria medicina e crirninologia 0 ponta principal nao consiste em aceitar esse saber camo um valor dada e sim em analisar essas supostas ciências camo jogbs de verdade ligados às técnicas especificas que os homens utilizam para entender a si pr6prioss 0 fil6sofo prossegue citando quatro grandes grupos de técni cas técnicas de praduçao de transformaçao e de manipulaçao dos objetos técnicas de sistemas de signas técnicas de poder e técnicas de si Essa noçao de técnica lhe permitira desfazer as aporias que os modelas de poder que circulavam nas décadas de se tenta e sessenta prapunham em primeiro lugar a aporia do modela juridico e liberal Segundo este o sujeito é soberano par natureza e sua soberania deveria ser reconhecida eva lidada pela lei Nesse modela o poder se centraliza e emana de instituiç6es positivas tais camo o Estado ou o sistema juridico Foucault abandona a noçao de sujeito autônomo e soberano que possuicede o poder para prapor uma con cepçao do sujeito local situado praduto de uma relaçao de poder especifica Ao mesmo tempo Foucault vai se desfer do esquema marxista de dominaçaorevoluçao que postula que o poder emana das estruturas econômicas uma perspectiva na qual o poder é sempre dialético e op6e os grupos antagônicos burguêspraletano na interpretaçao classica homens o patrïarcado mulheres na versao feminista do marxismo 5 Michel Foucault Les Techniques de soi in Dits et écrits toma 4 Paris Gallimard Ao definir a técnica camo um sistema de poder produtivo Foucault rejeitara os modelas de po der coercitivos e repres sivos par exemplo a hip6tese repressiva da psicanaIise de acordo cam os quais o po der é exercido camo uma proibiçao unida a sançôes sociais psicol6gicas ou fisicas Para Foucault a técnica é uma espécie de rnicropoder artificial e produtivo que nao opera de cima para baixo mas que circula em cada nivel da sociedade do nivel abstrato dq Estado ao da corporalidade Par essa razao o sexo e a sexualidade nao sao os efeitos das proibiçôes repressivas que obstaculizariam o pleno desenvolvimento de nossos desejos mais intimas e sim oresultado deum conjunto de tecnologias produtivas e nao simplesmente repressivas A forma mais patente de controle da sexualidade nao é logo a proibiçao de deterrninadas praticas mas a produçao de diferentes desejos e prazeres que parecem derivar de predisposiçôes naturais homemmulher heterossexualjhomossexual etc e que serao finalmente reificadas e objetivadas camo identidades sexuais As técnicas disciplinadoras da sexualidade nao sao um meèanismo repressivo e sim estruturas reprodutoras assim camo técnicas de desejo ede saber que geram as di ferentes posiçôes de sujeito çle saberprazer Pr6teses de gênera Tenda percorrido a noçao de tecnologia do sexo cujo alcan ce aumenta significativamente a contrassexualidade evita o falso debate entre essencialismo e construtivismo As categorias de homem e demulher nao sao naturais sao ideais normativos culturalmente construidos sujeitos àmudançano tempo e nas culturas dizemnos os construtivistas Quanta aas essencialistas estes encan tram refUgia em nossos dias tl 156 em alguns modelas extraidos do kitsch psicanalitico o no medopai ou a ordem simb6lica e em modelas biol6gïcos para os quais a diferença de sexo e de gênera depende de estruturas fisicas e psiquicas de invariaveis que perduram para além das diferenças culturais e hist6ricas Agora acontece que a distinçao sexo gênera rem ete ca da vez mais de forma hom6loga à distinçao entre essencialismo e construtivismo central na teoria feminista gay e lésbica contemporânea Tuda ocorre coma se o sexo e a diferença sexual par exemplo em relaçao às funçôes biol6gicas da reproduçao pudessem ser mais bem compreendidas em um âmbito essencialista enquanto o gênera construçao social da diferença sexual em diferentes contextos hist6ricos e culturais ganharia se fosse apreendido cam a ajuda de modelas construtivistas Nao obstante a posiçao essencia lista e a posiçao construtivista têm um mesmo fundamento metafisico Os dois modelas dependem de um pressuposto maderno a crença segundo a qual o corpo resguarda um grau zero ou uma verdade Ultima uma matéria biol6gica a c6digo genético os 6rgaos sexuais as funçôes reprodutivas dada Essa crença se encontra inclusive nas posiçôes cons trutivistas mais radicais Compreender o sexo e o gênera camo tecnologias permite remover a falsa contradiçao entre essencialismo e construtivis mo Nao é possivel isolar os corpos camo materiais passivos ou resistentes das forças sociais de construçao da diferença sexual Se prestarmos atençao às praticas contemporâneas da tecnociência veremos que seu trabalho ignora as diferenças entre o orgânico e o mecânico intervindo diretamente sobre a modificaçao e a fixaçao de determinadas estruturas do ser vivo Foucault no Ultimo periodo de sua vida chamou de biopolitica exatamente essa nova fase das sociedades 157 contemporâneas na qual o objetivo é a produçao e o controle da propria vida A nova biotecnologia esta ancorada trabalha simultaneamente sobre os corpos e sobre as estruturas sociais que controlam e regularrÎ a variabilidade cultural6 De fato é impossivel estabelecer onde terminam os corpos naturais e onde começam as tecnologias artificiais os ciberimplantes os hormônios os transplantes de orgaos a gestao do sistema imunologico humano no HN a web etc sao apenas alguns exemples entre outras Se eu dei esse rapide panorama pela debate essencialis moconstrutivismo é para lembrar que essas duas posiçôes dependem de uma ideia cartesiana do corpe comum na qual a consciência é pensada co mo imaterial e a matéria co mo pu ramente mecânica7 Mas deum ponta de vista contrassexual o que me interessa é precisamente essa relaçao promiscua entre a tecnologia e os corpos Tratase entao de estudar de que modes especificos a tecnologia incorpora ou dito de outra forma se faz corpe Nao posso desenvolver aqui uma historia completa da produçao tecnologica da carne portantà farei dois cortes verticais dessa historia que irao nos permitir situar o problema Para issa voltarei às duas grandes metaforas tecnologicas da incorporaçao do século XX o robô e o ciborgue a partir das quais poderiamos pensar o sexo enquanto tecnologia 6 Tal hibridaçao estâ clara nos discursos médicos sobre o cancer a Aids etc Ver Donna Haraway Simians Ciborgues and Women The Reinvention of Nature Nova York Routledge 1991 0 oitavo caphulo desse livra estâ disponivel em português em Antropologia do dborgue Trad bras de Tomaz Tadeu Belo Horizonte Autên tica Editera 2009 pp 33118 7 Sobre a desmaterializaçao da consciência na metafisica ocidental ver JeanLuc Nancy Corpus Paris Métailié 2000 158 A ideia de robô foi desenvolvida pela primeira vez pela escritortcheco Karel Capelcporvolta de 19200 robô desig nava entao qualquer ti po de mecanisme automatico ca paz de realizar uma operaçao que demandasse uma escolha ele mentar A ambiçao de Ca pele era criar um ti po de operano artificial que pudesse substituir a força de trabalho humana em antigo eslavônico rabota significa trabalho forçado nas linhas de montagem A vocaçao da robotica é a de conceber um autômato uma maquina de aspecta humano capaz de se mover e de agir Mas o robô é também na lingua coloquial um homem reduzido ao estado de autômato Corn o robô o corpo esta paradoxal mente preso entre o orgao e a maquina À primeira vista nao obstante o orgânico e o mecânico parecem pertencer a registras apostas 0 orgânico remeteria à natureza aas seres vivas enquanto o mecânico dependeria dos instrumentas e dos aparelhos artificiais No entanto os dois termes nem sempre estiveram sepa rados 0 terme orgao provém do grego ergon que designa o instrumenta ou a peça que unida a outras peças é necessana para realizar algum processo regulado Conforme Aristoteles toda arte techné necessita de seus proprios instrumentas organon Esta acepçao é além disso a dos titulos dos tra tados de logica aristotélica nos quais figura o termo Organon tem portanto o sentido de serum método de representaçao um instrumenta de saber um conjunto de normas e de regras racionais graças às quais podemos compreender a realidade Um organon tal corna o compreendiaArist6teles é algo que hoje poderiamos denominar uma tecnologia textual de co dificàçaodecodificaçao 0 organon é também um aparelho ou um dispositivo que facilita uma atividade particular da mesma maneira que o martela prolonga a mao ou o telescopio 159 1 r aproxima o olho de um ponta distante no espaça Camo se nao fosse o membro vivo mas a pr6tese uma noçao contem porânea sobre o surgirnnto da filosofia maderna mas que aparece em toma de 1553 para se referir tanta ao suplemento de uma palavra camo um prefixa quanta à reconstruçao de um corpo graças a um membro artificial que se escondia desde sem pre par tras da noçao de organon 0 modela do robô catalisa as contradiçôes e os paradoxos da metafisica maderna naturezacultura divinojhumano humanoanimal almacorpo machofêmea Ele esta subme tido à lei da performatividade par6dica e mimética definida camo um processo de repetiçao regulado A pr6pria ideia de robô extrai sua força da maquina camo metafora explicativa da organizaçao e do funcionamento do corpo vivo Mas essa metafora do corpomaquina tem um duplo sentido 0 homem maquina de La Mettrie as sim co mo o animalmaquina de Descartes descansam sobre a ideia de que o corpo biol6gico e suas atividades padern ser reduzidas a utn sistema complexa de interaçôes mecânicas e eletromagnéticas Quando Albertus Magnus descreve seus autômatos e suas maquinas servas ele espera criar um modela de mecanismo artificial que viria um dia substituir o ator humano Se o século XVIII havia pensado o corpo human camo uma maquina o século XIX e o XX acabarao sonhando cam maquinas que se comportam camo seres humanos A invençao da maquina a vapor em 1765 e o taylorismo que a seguiu traduziramse par uma apreensao dos corpos camo instrumentas de trabalho a serviço da maquina A industrializaçao do trabalho no transcurso do século XIX inverteu os termos da metafora mecânica a maquiila se transforma em sujeito e em organismo Os operanos passam a ser simples 6rgaos conscientes que se ajustam aas 6rgaos 160 inconscientes do mecanismo8 0 trabalho seria o resultado dessa ligaçao de membros naturais e mecânicos 0 robô é entao o lugarde uma transferência de via dupla entre o corpo humano e a maquina algumas vezes o corpo utiliza o instrumenta co mo uma parte de sua estrutura orgâ nica isto é a pr6tese outras vezes a maquina integra o corpo camo uma peça de seu mecanismo Da imagem do homem maquina do século XVIII em que o corpo masculino era pensado camo uma totalidade mecânica passase no século XIX à imagem ameaçadora de uma maquina viva camo em Metr6polis de Fritz Lang que sera representada como uma mulher ou camo um monstro A mulher o monstro e a maquina que desejam a consciência antecipam o ciborgue Enquanto issa durante o século XX a masculinidade se tamara progressivamente prostética Mary Louise Roberts9 e Roxanne Panchasi0 estudaram a reconstruçao da mas culinidade especificamente no casa da readaptaçao dos soldados mutilados no periodo do entreguerras Essa reabi litaçao do corpo masculino se inspira no modela mecânico do robô segundo o qual o corpo masculino reconstruido considerado camo força de trabalho deveria se reintegrar na cadeia de produçao industrial Jules Amar diretor do Laborat6rio de pr6teses militares e de trabalho profissional durante os anos vinte desenhara uma série de pr6teses de braço e de pema cujo objetivo pela primeira vez nao sera exatamente estético mas o de reparar o corpo invalida para 8 ChristophAsendorf Batteries ofLife On the History ofThings and their Perception in Modemity Berkeley Califomia University Press 1993 pp 4243 9 Mary Louise Roberts Civilization without Sexes Reconstructing Gender in Postwar France chicago University of chicago Press 1994 p 27 10 Roxanne Panchasi Reconstructions Prosthetics and the Relabilitation of the Male Body in the World Warin France in Differences AJournai ofFeminist Cultural Studies n 7 ana 3 Indiana Indiana University Press 1995 pp 109140 161 que se transformasse em uma das engrenagens essenciais da maquina industrial posteriar à guerra da mesma forma que foi uma engrenagem essencial da maquina de guerra Em sua obra de 1916 La Prothèse et le travail des mutilés A pr6tese e o trabalho dos mutilados Jules Amar propôe explicar e curar o chamade fenômeno de Weir Mitchell quando se per cebe sensaçôes num membro perdido o que MerleauPonty chamara mais tarde de o membro fantasma reconstruindo o corpo camo uma totalidade trabalhadora corn a ajuda de pr6teses mecânicas Os operanos e os soldados prostéticos de Jules Amar mas tram que a masculinidade é tecnologicamente construida Se a reconstruçao do corpo masculine invalida era efetuada corn a ajuda de uma pr6tese mecânica é porque o corpo masculine do operano ja havia sida pensado sob a metafora do rob ô No âmbito da gestao tayloriana e racional do trabalho seja na industria em tempos de paz seja nas industrias de destruiçao em massa da guerra o corpo masculine ja constituia em si a pr6tese orgânica a serviço deum mecanisme mais amplo Era concebido camo um aparelho que podia ser artificialmente reconstruido cm a ajuda de memlros prostéticos braços trabalhadares ou pemas pedaladoras par meio das quais o trabalhador podia se IrtcorJorar à maquina industrial Tal reconstruçao tecnol6gica eraJeita em funçao das categorias de gênera e de sexo É primeiro aas homens e nao às mulheres a quem a reconstruçao prostética imediatamente ap6s a Pri meira Guerra Mundial concerne Curiosamente Jules Amar nunca contemplara os 6rgaos sexuais camo 6rgaos que padern ser tecnologicamente substituidos A reabilitaçao prostética sera reservada aas 6rgaos do trabalho industrial o pêrris clara nao podia ser considerado enqùanto tal Para Amar um amputado ou um incapacitado era alguém que havia 162 sofrido a mutilaçao de um 6rgao destinado ao movimento e nao devia ser confundido corn um impotente alguém incapaz deum restabelecimento funcional pasto que havia perdido par completa a capacidade de levar adiante o trabalho de reproduçao sexual Essa definiçao de impotência sugere suficientemente que os 6rgaos sexuais masculines se situavam à margem da re produçao prostética Conseguiase fabricar dedos mecânicos muito bem articulados para manipular pregos finos ou inclusive para tocar violine mas nao se propunha nenhuma pr6tese funcional para as mutilaçôes sexuais De fato as tecnologias prostéticas que prometiam a reconstruçao do corpo mas cu lino ameaçavam a posiçao natural de poder do homem na familia na industria ena naçao Seo corpo masculine 6rgaos sexuais incluidos pudesse ser prosteticamente cbnstruido também poderia pois ser desconstruido deslocado e par que nao substituido A incorporaçao alucinat6ria da pr6tese aponta um me mento sintomatico na passagem do modela do robô para o modela do cibargue 0 interessante do ponta de vista contras sexual é esse desejo do instrumenta de se tomar consciente de incorporar a mem6ria do corpo de sentir e de agir par si mesmo A pr6tese dotada de sensibilidade fantasmatica rompe corn o modela mecânico de acordo corn o qual ela deveria ser um simples instrumenta que substitui um membro ausente Tomase possivel estabilizar a pr6tese definila camo ou mecânica ou argânica co mo ou corpo ou maquina A pr6tese pertence par um tempo ao corpo vivo mas resiste a uma incor poraçao definitiva É separavel desenganchavel descartavel substituivel Mesmo quando é ligada ao corpo incorporada e aparentemente dotada de consciência a qualquer memento pode voltar à ordem do objeto 163 r 0 estatuto borderline da pr6tese expressa a impossibili dade de traçar limites nitidos entre o natural e o artificial entre o corpo e a maquina A pr6tese mostra que a relaçâo corpomaquina nâo poêle ser compreendida simplesmente camo um agrupamento de partes an6dinas e articuladas conjuntamente que cumprem um trabalho especifico No que concerne à modificaçâo das atividades vivas do corpo orgânico a pr6tese ultrapassa a ordem mecânica A pr6tese alucinat6ria ja é um ciborgue Camo Marshall McLuhan havia previsto em Os meios de comunicaçêio coma extensoes do homemn as tecnologias do século XX irâo se caracterizar par agir camo suplementos prostéticos de uma funçâo natural A pr6tese pensada camo uma substituiçâo artificial em casa de mutilaçâo uma copia mecânica deum 6rgâo vivo transformou a estrutura da sen sibilidade humana em algo que o nova século batizou corn o nome de p6shumano Afinal a pr6tese nâo substitui sa mente um 6rgâo ausente é também a modificaçâo e o desen volvimento deum 6rgâo vivo corn a ajuda deum suplemento tecnol6gico Camo pr6tese do ouvido o telefone permite a dois interlocutores distantes estabelecer comunicaçâo A televisâo é uma pr6tese do lho e do ouvido que permite a um nfunero indefinido dé espectadores compartilharem uma experiência ao mesmo tempo comunitana e desencamada 0 cinema poderia ser pensado retroativamente camo uma pr6tese do sonho As novas cibertecnologias sugerem o de senvolvimento de formas de sensibilidade virtual e hibrida do tata e da visâo coma o tato virtual graças a ciberluvas A arquitetura os autom6veis e outras meios de transporte sâo n Marshall McLuhan Os meios de comunicaçoo camo extensôes do homem Trad bras de Décio Pignatari Sao Paulo Cultrix 1996 e 164 também pr6teses complexas corn as quais outras pr6tesesda sensibilidade corn seus sistemas e redes de comunicaçâo do telefone ao computador padern ser conectadas Nessa l6gica de conexâo crescente o corpo parece se fundir corn seus 6rgâos prostéticos dando lugar a um nova nivel de organizaçâo e gerando uma continuidade individual trans pessoa orgânicainorgânica Essa maneira de compreender a construçâo prostética do natural é o que Georges Teyssot chamou de uma teoria generalizada das incapacidades12 A pr6tese destinada num primeiro momento a remediar nossas incapacidades fisicas termina por criar comportamentos complexas de dependência corn sistemas de comunicaçâo ao ponta de nos sentirmos incapazes se nâo estivermos conectados a eles A maquina de escrever par exemplo foi inventada a principio para as pessoas cegas de maneira que tivessem acesso a uma escritura mecânica depois ela se generalizou camo uma pr6tese de escritura que modificou radicalmente a maneira de nos comunicarmos A incapacidade dos nâo videntes é tâo estrutural na concepçâo da maquina de escrever camo pr6tese que uma ficçâo de cegueira nâo olhar o teclado se tomou necessana para qualquer um que aprende a es crever co mo se fosse precisa passar pela experiência da incapacidade para aceder corn a pr6tese a um nova nivel de complexidade Em outras palavras cada 6rgâo tecnol6gico reinventa uma nova condiçâo natural na qual todos n6s somas incapazes Melhor ainda cada nova tecnologia recria nossa natureza camo incapaz corn relaçâo a uma nova atividade que par sua vez necessita ser tecnologicamente suprida As novas 12 Georges Teyssot Body Building in Lotus n 94 Veneza Editoriale Lotus setem bro de 1997 p 12le ss 165 r tecnologias de repraduçao in vitro e talvez em breve fora do litera par exemplo foram desenvolvidas para compensar uma deficiência da suposta repraduçao heterasexual normal Imediatamente essas técnologias geram toda um conjunto de modos de repraduçao sem relaçôes heterossexuais que poderia se tornar acessivel a todos e que é capaz de transformar as formas de incorporaçao disso que continuamos chaman do de na falta de um termo melhor homens e mulheres 0 que estou sugerindo aqui é que o sexo e o gênera deveriam ser considerados camo formas de incorporaçao prastética que se fazem passar par naturais mas que em que pese sua resistência anatômiçopolitica estao sujeitos a pracessos de transformaçao e de mudança constantes Levemos ao extrema as contradiçôes da incorporaçao prastética e encontraremos o ciborgue 0 manifesta cibor gue de Donna Haraway 1985 marca uma feliz virada no feminismo ou mais exatamente inicia uma guinada p6s feminista ao passar da demonizaçao da tecnologia para seu investimento politico Essa guinada do feminismo antitecno l6gico ao p6sfeminismo coïncide corn a passagem do rabô ao ciborgue ou o que é a mesma coisa corn a passagem do capitalismo industrial ao capitalismo em sua fase global financeira comunicativëi biàtecnol6gica e digital De algum modo Norbert Wiener em sua definiçao da cibernética havia estabelecido as condiçôes desse nova capitalisme A ciência de Wiener se constituiria pela conjunto de teorias relativas às comunicaçôes e à regulaçao entre o ser vivo e a maquina13 Entretanto o que se modificou foi o contexto no qual se fabricam os 6rgaos bem coma os materiais uti lizados em sua fabricaçao Enquanto o cenârio de criaçao 13 Norbert Wiener The Human Use ofHumanBeings Nova YorkAvon1954 166 do mbô foi a fabrica e suas cadeias tayloristas o ciborgue sera criado em um laborat6rio biotecnol6gico 0 prlineiro ciborgue p6smoderno foi concebido depois da Segunda Guerra Mundial par engenheiros geneticistas que implan taram conexôes cibernéticas em um animal vivo saturando artificialmente seu sistema de informaçao corn circuitos elé tricos hormônios fluidos quimicos e biol6gicos 0 ciborgue nao é um sistema matematico e mecânico fechado mas um sistema aberto biol6gico e comunicante 0 ciborgue nao é um computador e sim um ser vivo conectado a redes visuais e hipertextuais que passam pela computador de tal maneira que o corpo conectado se transforma na pr6tese pensante do sistema de redes A lei do ciborgue nao é a da repetiçao mimética e sim a da repraduçao deum mâximo de comunicaçao horizontal no sentido informatico do termo 0 ciborgue é texto maquina corpo e metâfora ele toda teorizado e integrado na pratica camo comunicaçao14 Eis alguns exemplos de tecnologia ciborgue biossocial que deveriam ser objeto de um estudo contrassexual o dildo que gaza as pessoas que vivem corn Aids os hormônios as pessoas transgêneras as drogas o sexo virtual o corpo transexual A questao nao reside em escolher entre os rabôs e os ci bargues Ja somas ciborgues que incorporam pr6teses ciber néticas e rab6ticas Nao ha volta As tecnologias mecânicas e cibernéticas nao sao instrumentas neutros surgidos em um paraiso cientifico que poderiam em um segundo momento ser aplicados cam fins politicos mais ou menas saudaveis Tuda desde os sistemas hightech de comunicaçao pela internet às 14 Donna Haraway Simians Ciborgues and Women The Reinvention of Nature op cit p 212 167 técnicas gastronômicas passando par uma técnica lawtech camo par exemplo a do transar é desde o principio um sis tema politico que vêm asegurar a reproduçao de estruturas socioeconômicas precisas Donna Haraway insiste que as tecnologias nao sao intrinsecamente limpas ou sujas AB bio e cibertecnologias contemporâneas sao ao mesmo tempo o resultado das estruturas de poder e os possiveis bolsôes de resistência a esse mesmo poder de uma forma ou de outra um espaça de reinvençao da natureza Se os discursos das ciêilcias naturais e das ciências hu manas continuam carregados de ret6ricas dualistas carte sianas de corpoespirito naturezatecnologia enquanto os sistemas biol6gicos e de comunicaçao provaram funcionar corn l6gicas que escapam a tal metafisica da matéria é par que esses binarismos reforçam a estigmatizaçao politica de deteiminados grupos as mulheres os nao brancos as queers os incapacitados os doentes e permitem que eles sejam sis tematicamente impedidos de acessar as tecnologias textuais discursivas corporais etc que os produzem e os objetivam Afinal o movimento mais sofisticado da tecnologia consiste em se apresentar exatamente comonatureza 168

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Tecnologias do sexo Dizer que o sexo é tecnologico pode parecer contraditorio inclusive insustentavel Uma definiçao de sexo que ignore a oposiçao que tradicionalmente se faz entre tecnologia e natureza nao correria o risco de parecer incoerente A alta tecnologia se apresenta sempre camo nova numa melhora perpétua mais rapida sempre sujeita à mudança e surge portante camo o proprio motor da historia e do tempo 0 sistema sexogênero ao contrario mesmo quando seu carater historico nao natural e construido tenha sida pasto amplamente em evidência durante os anos oitenta e no venta continua sendo descrito camo uma estnitura estavel resistente à mudança e às transformaçôes Par issa o sexo pode aparecer camo o Ultimo resquicio da natureza depois das tecnologias terem cumprido seu trabalho de construçao do corpo 0 termo tecnologia cuja origem remete à techné oficio e arte de fabricar opondose a physis natureza coloca em funcionamento uma série de oposiçôes binanas natural articial orgaomaquina primitivomaderno nas quais o instrumenta joga um papel de mediaçao entre os termos da oposiçao Tanta as narrativas positivistas do desenvolvi mento tecnologico nas quais o homem é representado camo 147 a razao soberana que dama domestica e domina a natureza bruta camo as narrativas apocalipticas ou antitecnol6gicas par exemple as profecias de Paul Virilio que situado no proprio limiar do horizonte negative vela pela insegurança do territ6rio contabilizando os acidentes da maquina que vomita uma racionalidade letal destruindo e devorando a natureza compartilham um mesmo pressuposto metafisico a oposiçào entre o corpo vivo limite ou ordem primeira camo natureza e a maquina inanimada libertadora ou perversa camo tecnologia Donna Haraway mostrou o quanta a definiçao de hu manidade no discurso antropol6gico e colonial depende da noçao de tecnologia o humanohuman se define antes de mais nada camo um animal que utiliza instru mentos par oposiçao aas primatas e às mulheres 1 A noçao de tecnologia camo totalidade dos instrumentas que os homens fabricam e empregam para realizar coisas serve de apoio às noçôes aparentemente intocaveis de natureza humana e diferença sexual A tecnologia é também o critéria do colonizador para determinar o grau de cultura de racionalidade ede progressa alcançado pelas pavas Nas narrativas colonialistas dominantes as mulheres e os indigenas que nao têm acesso ou carecem de tecnologia sao descritos camo se fizessem parte da natureza e se transformam par essa razao nos recursos que o homem branco deve dominar e explorar Anoçao de tecnologia é entao uma categoriachave ao redor da qual se estruturam as espécies humananào huma na o gênera masculin0jfeminino a raça brancanegra e 1 Donna Haraway Primate VISions Gender Race and Nature Nova York Routledge 1998 p 9 e ss 148 a cultura avançadaprimitiva Em sua anâlise critica dos discursos da primatologia Donna Haraway mostrmi coma a antropologia colonial do século XIX e inicio do século XX definiu os corpos masculines e feminines apoiandose na oposiçao tecnologianatureza instrumentasexe 0 corpo masculine é definido mediante a relaçao que estabelece corn a tecnologia o instrumenta o prolonga e inclusive o substitui Uma vez que a antropologia tradicional nao consi dera as técnicas de gestaçào e educaçào desenvolvidas pelas mulheres africanas camo tecnologias propriamente ditas2 o corpo feminine é considerado camo alheio a qualquerforma de sofisticaçào instrumental e vai se definir apenas camo sexo 0 discurso antropol6gico diz Haraway construiu o corpo feminine nào tanta em relaçao ao corpo humano masculine mas mais par oposiçào ao do primata fêmea caracterizandoo par sua falta de ciclos de cio camo um corpo sexual em tempo integral Uma definiçao que se arti culara nào em funçào da aquisiçao de instrumentas co mo é o casa do homem e sim mais em funçào da regularidade da atividade sexual e da gestaçao Para a antropologia classica que Haraway condena diferentemente do primata fêmea o corpo feminine é aquele que sempre esta disponivel para o heterosexo um corpo feito à medida dos imperatives da procriaçao doméstica Tecnologia e sexo sao categorias estratégicas no discurso antropol6gico europeu e colonialista N ele a masculinidade foi descrita em funçao de sua relaçao corn os dispositivos tenol6gicos enquanto a feminilidade foi definida em funçao de sua disponibilidade sexual Mas a reproduçao sexual 2 A esse respeito ver o interessante estudo de Jan Zimmerman The Technological Woman Interfadngwith Tomorrow Nova York Praeger 1983 149 aparentemente confmada à natureza e ao corpo das mulhe res esta contaminada desde o começo pelas tecnologias culturais tais camo as praticas especificas da sexualidade os regimes de contracepÇao e de aborto os tratamentos médicos e religiosos do parto etc Lyotard mostrou que embora no discurso cientifico e antropologico a natureza e a tecnologia sejam categorias que se op6em ambas na realidade estao intimamente ligadas à procriaçao natural Existe uma cumplicidade entre as noç6es de tecnologia e de sexualidade que a antropologia tenta esconder mas que paira inclusive par trâs da etimologia gre ga do termo techné As teorias aristotélicas da procriaçao humana falam do esperma camo um liquida que contém homens in nuee homUncu los que devem ser depositados no ventre passivo da mulher Essa teoria que nao foi refutada até a descoberta dos ovârios no século XVII entendia a procriaçao camo uma tecnologia agricola dos corpos na qual os homens sao os técnicos e as mulheres campos naturais de cultiva Camo insistiu Lyotard a expressao techné forma abstrata do verbo tikto que significa engendrar gerar remete ao mesmo tempo em grego a formas de produçao artificial e de geraçao natural A palavra grega para designar os geradores nao é outra que teknotes e para designar o germe teknon3 Camo exemplo paradigmatico de contradiçao cultural a tecnologiarecorre simultaneainente à produçao artificial onde techné poiesis e à reprodçao sexual ou natural onde techné geraçao A critica feminista foi a primeira que apontou e analisou esse vinculo entre tecnologia e reproduçao sexual No inicio dos anos setenta o feminismo tentou escrever a historia 3 JeanFraçois Lyotard Can thought go on without a Body in The Inhuman Stan ford Stanford University Press 1991 p 52 150 politica da reapropriaçao tecnologica do corpo das mulheres A força corn a qual o discurso feminista designou ci corpo feminino camo produto da historia politica e nao simples mente da historia natural deve ser proclamada camo o inicio de uma das maiores rupturas epistemologicas do século XX No entanto para numerosas feministas a tecnologia rerriete a um conjunto de técnicas nao somente aas instrumentas e às maquillas camo também aas procedimentos e às regras que presidem seus usas dos testes genéticos à pilula pas sando pela epidural que objetivam controlam e dominam o corpo das mulheres Até Donna Haraway as anâlises fe mi nistas da tecnologia coma as de Barbara Ehremeich Gena Corea Adrienne Rich Mary Daly Linda Gordon Evelyn Fox Keller etc reduziram as tecnologias do sexo a certo nlimero de tecnologias reprodutivas A dificuldade corn uma trajetoria feminista desse tipo é que se cai na armadilha da essencializaçao da categoria da mulher a qual geralmente vai de encontro corn a identificaçao do corpo feminino e de sua sexualidade corn a funçao reprodutiva e que geralmente destaca os perigos dominaçao exploraçao alienaçao que as tecnologias representam para o corpo da mulher Esse tipo de feminismo deixou escapar as duas melhores ocasi6es para uma possivel critica das tecnologias da sexualidade A pri meira ao se dedicar na anâlise da diferença feminina passou par cima do carater construido do corpo e da identidade de gênera masculines A segunda ao demonizar toda forma de tecnologia camo dispositivo a serviço da dominaçao patriarcal esse feminismo foi inca paz de imaginar as tecnologias camo possiveis lugares de resistência à dominaçao 0 feminismo que rejeita a tecnologia camo forma sofisticada da dominaçao masculina sobre o corpo das mulheres termina par assimilar qualquer forma de tecnologia ao patriarcado 151 Essa analise traz de volta e perpetua as oposiç6es binanas naturezacultura femininomasculino repraduçaopradu çao assim camo a concepçao das tecnologias camo algo que nao passa de modos de controle do corpo das mu1heres e da reproduçao Para essas previs6es apocalipticas a meta Ultima da tecnocracia masculina nao seria somente se aprapriar do poder de pracriaçao do ventre das mu1heres mais do que issa seria substituir as mu1heres biologicas boas naturais inocentes par mu1heres maquinas graças às futuras bio tecnologias de replicaçao camo a clonagem ou a fabricaçao de literas artificiais4 Em outra versao distopica hightech a de Andrea Dworlcin as mulheres acabariam par habitar um bordel repradutivo onde seriam reduzidas ao estado de maquinas biologicas e sexuais a serviço dos homens A maioria dessas cri ti cas feministas exige uma revoluçao antitecnologica na qual os corpos das mu1heres se liberariam do poder coercitivo e repressivo dos machos e das tecnologias modemas para se fundir corn a natureza De fato a critica feminista da década de setenta e oitentadesemboca em uma dupla renaturalizaçao Par um lado corn a reduçao e a demonizaçao das tec nologias do sexo o corpo das mu1heres se apresenta camo puramente natural e o poder dominador dos homens trans formado em técnicas de controle e de possessao é exercido sobre o que seria a capacidade mais essencial das mu1heres a repraduçao Esta é descrita camo uma capacidade natural do corpo feminino a matéria erna sobre a qual vaise desdobrar o poder tecnologico Nesse discurso a mu1her é a natureza e o homem é a tecnologia 4 Gena Corea The Mother Machine Reproductive Technologies from Artifitial Inse mination to Artifitial Wombs Nova York Harper and Row 1985 152 Por outra lado corn a desnaturalizaçao feminista do gêne ra iniciada par Simone de Beauvoir a mulher se transforma no praduto da construçao social da diferença sexual Esse feminismo fracassa ao nao empreender as analises descons trutivistas do homem e da masculinidade enquanto gênera construido par sua vez também tecnologica e socialmente Se o slogan de Beauvoir nao se nasce mulher presidiu a evoluçao do feminismo no século XX até a guinada pos feminista dos noventa ninguém se aventurara corn sua declinaçao masculina nao se nasce homem A velha cançao da psicanalise lacaniana dos anos setenta e oitenta na qual diferentes vozes do proprio Lacan a Kristeva ceticamente se perguntavam existe a mu1her nao conheceu seu cor relata existe o homem até o aparecimento recente dos estudos poshumanos Da mesma maneira a declaraçao de guerra lançada par Wittig nos anos oitenta as lésbicas nao sao mu1heres teve que esperar mais de vin te anos para ser acompanhada par sua consequência mais obvia os gays nao sao homens Enquanto o feminismo essencialista se retraiu em po siç6es conservadoras sobre a maternidade a repraduçao e o respeito da diferença feminina o chamado feminismo construtivista par sua vez apesar de ser intelectualmente muito mais agil graças à articulaçao das diferenças em tor no da noçao de gênera também caiu em uma armadilha Primeiro ao insistir no fato de que a feminilidade seria o resultado artificial de toda uma série de procedimentos tec nologicos de construçao a masculinidade que naG precisaria se submeter a seu proprio po der tecnologico aparece agora camo paradoxalmente natural A Unica natureza que perma nece seria assim a masculinidade enquanto a feminilidade estaria submetida a um incessante processo de construçao 153 1 e moclificaçao 0 fato de que a moda ou a cirurgia estética tenham tido o corpo feminino camo objeto prioritano du rante os dois Ultimos séculos parece confirmar essa tese 0 prablema dessa abordagem é que ela considera a tecnologia camo aquilo que modifica uma natureza dada ao invés de pensar a tecnologia camo a praduçao mesma dessa natureza Talvez o maior esforço das tecnologias do gênera nao tenha sida a transformaçao das mulheres e sim a fixaçao orgânica de certas diferenças Chamei esse pracesso de fixaçao de praduçao prastética do gênera Segundo ao acentuar o carater construido do gênera en quanta variavel hist6ricocultural o feminismo construtivista terminaria par reessencializar o corpo e o sexo concebidos camo o lugar em que a variaçao cultural se choca corn um limite natural intransponivel A força da noçao foucaultiana de tecnologia reside em escapar à compreensao redutora da técnica camo um con junto de objetos instrumentas maquinas ou outras artefatos assim camo em escapar à reduçao da tecnologia do sexo às tecnologias implicadas no controle da repraduçao sexual Para Foucault uma técnica é um dispositivo complexa de poder e de saber que integra os instrumentas e os textos os discursos e os regimes do corpo as leis e as regras para a maximizaçao da vida osprazeres do corpo e a regulaçao dos enunciados de verdade É nesse momento no final dos anos seterita que FoucaUlt volta obsessivamente à ideia de técnica Canguilhem em demasia oufistfucking em demasia nas backrooms de Sao Francisco Aquestao continua aberta e sera o objeto de uma pesquisa contrassexual ulterior Em toda casa sabemos que em um seminano de 1982 Foucault afirma que Meu objetivo ha mais de vin te e cinco anos tem sida o de esboçar uma historia das diferentes maneiras em que na nossa cultura os homens elaboram um saber sobre si mesmos econornia biologia psiquia tria medicina e crirninologia 0 ponta principal nao consiste em aceitar esse saber camo um valor dada e sim em analisar essas supostas ciências camo jogbs de verdade ligados às técnicas especificas que os homens utilizam para entender a si pr6prioss 0 fil6sofo prossegue citando quatro grandes grupos de técni cas técnicas de praduçao de transformaçao e de manipulaçao dos objetos técnicas de sistemas de signas técnicas de poder e técnicas de si Essa noçao de técnica lhe permitira desfazer as aporias que os modelas de poder que circulavam nas décadas de se tenta e sessenta prapunham em primeiro lugar a aporia do modela juridico e liberal Segundo este o sujeito é soberano par natureza e sua soberania deveria ser reconhecida eva lidada pela lei Nesse modela o poder se centraliza e emana de instituiç6es positivas tais camo o Estado ou o sistema juridico Foucault abandona a noçao de sujeito autônomo e soberano que possuicede o poder para prapor uma con cepçao do sujeito local situado praduto de uma relaçao de poder especifica Ao mesmo tempo Foucault vai se desfer do esquema marxista de dominaçaorevoluçao que postula que o poder emana das estruturas econômicas uma perspectiva na qual o poder é sempre dialético e op6e os grupos antagônicos burguêspraletano na interpretaçao classica homens o patrïarcado mulheres na versao feminista do marxismo 5 Michel Foucault Les Techniques de soi in Dits et écrits toma 4 Paris Gallimard Ao definir a técnica camo um sistema de poder produtivo Foucault rejeitara os modelas de po der coercitivos e repres sivos par exemplo a hip6tese repressiva da psicanaIise de acordo cam os quais o po der é exercido camo uma proibiçao unida a sançôes sociais psicol6gicas ou fisicas Para Foucault a técnica é uma espécie de rnicropoder artificial e produtivo que nao opera de cima para baixo mas que circula em cada nivel da sociedade do nivel abstrato dq Estado ao da corporalidade Par essa razao o sexo e a sexualidade nao sao os efeitos das proibiçôes repressivas que obstaculizariam o pleno desenvolvimento de nossos desejos mais intimas e sim oresultado deum conjunto de tecnologias produtivas e nao simplesmente repressivas A forma mais patente de controle da sexualidade nao é logo a proibiçao de deterrninadas praticas mas a produçao de diferentes desejos e prazeres que parecem derivar de predisposiçôes naturais homemmulher heterossexualjhomossexual etc e que serao finalmente reificadas e objetivadas camo identidades sexuais As técnicas disciplinadoras da sexualidade nao sao um meèanismo repressivo e sim estruturas reprodutoras assim camo técnicas de desejo ede saber que geram as di ferentes posiçôes de sujeito çle saberprazer Pr6teses de gênera Tenda percorrido a noçao de tecnologia do sexo cujo alcan ce aumenta significativamente a contrassexualidade evita o falso debate entre essencialismo e construtivismo As categorias de homem e demulher nao sao naturais sao ideais normativos culturalmente construidos sujeitos àmudançano tempo e nas culturas dizemnos os construtivistas Quanta aas essencialistas estes encan tram refUgia em nossos dias tl 156 em alguns modelas extraidos do kitsch psicanalitico o no medopai ou a ordem simb6lica e em modelas biol6gïcos para os quais a diferença de sexo e de gênera depende de estruturas fisicas e psiquicas de invariaveis que perduram para além das diferenças culturais e hist6ricas Agora acontece que a distinçao sexo gênera rem ete ca da vez mais de forma hom6loga à distinçao entre essencialismo e construtivismo central na teoria feminista gay e lésbica contemporânea Tuda ocorre coma se o sexo e a diferença sexual par exemplo em relaçao às funçôes biol6gicas da reproduçao pudessem ser mais bem compreendidas em um âmbito essencialista enquanto o gênera construçao social da diferença sexual em diferentes contextos hist6ricos e culturais ganharia se fosse apreendido cam a ajuda de modelas construtivistas Nao obstante a posiçao essencia lista e a posiçao construtivista têm um mesmo fundamento metafisico Os dois modelas dependem de um pressuposto maderno a crença segundo a qual o corpo resguarda um grau zero ou uma verdade Ultima uma matéria biol6gica a c6digo genético os 6rgaos sexuais as funçôes reprodutivas dada Essa crença se encontra inclusive nas posiçôes cons trutivistas mais radicais Compreender o sexo e o gênera camo tecnologias permite remover a falsa contradiçao entre essencialismo e construtivis mo Nao é possivel isolar os corpos camo materiais passivos ou resistentes das forças sociais de construçao da diferença sexual Se prestarmos atençao às praticas contemporâneas da tecnociência veremos que seu trabalho ignora as diferenças entre o orgânico e o mecânico intervindo diretamente sobre a modificaçao e a fixaçao de determinadas estruturas do ser vivo Foucault no Ultimo periodo de sua vida chamou de biopolitica exatamente essa nova fase das sociedades 157 contemporâneas na qual o objetivo é a produçao e o controle da propria vida A nova biotecnologia esta ancorada trabalha simultaneamente sobre os corpos e sobre as estruturas sociais que controlam e regularrÎ a variabilidade cultural6 De fato é impossivel estabelecer onde terminam os corpos naturais e onde começam as tecnologias artificiais os ciberimplantes os hormônios os transplantes de orgaos a gestao do sistema imunologico humano no HN a web etc sao apenas alguns exemples entre outras Se eu dei esse rapide panorama pela debate essencialis moconstrutivismo é para lembrar que essas duas posiçôes dependem de uma ideia cartesiana do corpe comum na qual a consciência é pensada co mo imaterial e a matéria co mo pu ramente mecânica7 Mas deum ponta de vista contrassexual o que me interessa é precisamente essa relaçao promiscua entre a tecnologia e os corpos Tratase entao de estudar de que modes especificos a tecnologia incorpora ou dito de outra forma se faz corpe Nao posso desenvolver aqui uma historia completa da produçao tecnologica da carne portantà farei dois cortes verticais dessa historia que irao nos permitir situar o problema Para issa voltarei às duas grandes metaforas tecnologicas da incorporaçao do século XX o robô e o ciborgue a partir das quais poderiamos pensar o sexo enquanto tecnologia 6 Tal hibridaçao estâ clara nos discursos médicos sobre o cancer a Aids etc Ver Donna Haraway Simians Ciborgues and Women The Reinvention of Nature Nova York Routledge 1991 0 oitavo caphulo desse livra estâ disponivel em português em Antropologia do dborgue Trad bras de Tomaz Tadeu Belo Horizonte Autên tica Editera 2009 pp 33118 7 Sobre a desmaterializaçao da consciência na metafisica ocidental ver JeanLuc Nancy Corpus Paris Métailié 2000 158 A ideia de robô foi desenvolvida pela primeira vez pela escritortcheco Karel Capelcporvolta de 19200 robô desig nava entao qualquer ti po de mecanisme automatico ca paz de realizar uma operaçao que demandasse uma escolha ele mentar A ambiçao de Ca pele era criar um ti po de operano artificial que pudesse substituir a força de trabalho humana em antigo eslavônico rabota significa trabalho forçado nas linhas de montagem A vocaçao da robotica é a de conceber um autômato uma maquina de aspecta humano capaz de se mover e de agir Mas o robô é também na lingua coloquial um homem reduzido ao estado de autômato Corn o robô o corpo esta paradoxal mente preso entre o orgao e a maquina À primeira vista nao obstante o orgânico e o mecânico parecem pertencer a registras apostas 0 orgânico remeteria à natureza aas seres vivas enquanto o mecânico dependeria dos instrumentas e dos aparelhos artificiais No entanto os dois termes nem sempre estiveram sepa rados 0 terme orgao provém do grego ergon que designa o instrumenta ou a peça que unida a outras peças é necessana para realizar algum processo regulado Conforme Aristoteles toda arte techné necessita de seus proprios instrumentas organon Esta acepçao é além disso a dos titulos dos tra tados de logica aristotélica nos quais figura o termo Organon tem portanto o sentido de serum método de representaçao um instrumenta de saber um conjunto de normas e de regras racionais graças às quais podemos compreender a realidade Um organon tal corna o compreendiaArist6teles é algo que hoje poderiamos denominar uma tecnologia textual de co dificàçaodecodificaçao 0 organon é também um aparelho ou um dispositivo que facilita uma atividade particular da mesma maneira que o martela prolonga a mao ou o telescopio 159 1 r aproxima o olho de um ponta distante no espaça Camo se nao fosse o membro vivo mas a pr6tese uma noçao contem porânea sobre o surgirnnto da filosofia maderna mas que aparece em toma de 1553 para se referir tanta ao suplemento de uma palavra camo um prefixa quanta à reconstruçao de um corpo graças a um membro artificial que se escondia desde sem pre par tras da noçao de organon 0 modela do robô catalisa as contradiçôes e os paradoxos da metafisica maderna naturezacultura divinojhumano humanoanimal almacorpo machofêmea Ele esta subme tido à lei da performatividade par6dica e mimética definida camo um processo de repetiçao regulado A pr6pria ideia de robô extrai sua força da maquina camo metafora explicativa da organizaçao e do funcionamento do corpo vivo Mas essa metafora do corpomaquina tem um duplo sentido 0 homem maquina de La Mettrie as sim co mo o animalmaquina de Descartes descansam sobre a ideia de que o corpo biol6gico e suas atividades padern ser reduzidas a utn sistema complexa de interaçôes mecânicas e eletromagnéticas Quando Albertus Magnus descreve seus autômatos e suas maquinas servas ele espera criar um modela de mecanismo artificial que viria um dia substituir o ator humano Se o século XVIII havia pensado o corpo human camo uma maquina o século XIX e o XX acabarao sonhando cam maquinas que se comportam camo seres humanos A invençao da maquina a vapor em 1765 e o taylorismo que a seguiu traduziramse par uma apreensao dos corpos camo instrumentas de trabalho a serviço da maquina A industrializaçao do trabalho no transcurso do século XIX inverteu os termos da metafora mecânica a maquiila se transforma em sujeito e em organismo Os operanos passam a ser simples 6rgaos conscientes que se ajustam aas 6rgaos 160 inconscientes do mecanismo8 0 trabalho seria o resultado dessa ligaçao de membros naturais e mecânicos 0 robô é entao o lugarde uma transferência de via dupla entre o corpo humano e a maquina algumas vezes o corpo utiliza o instrumenta co mo uma parte de sua estrutura orgâ nica isto é a pr6tese outras vezes a maquina integra o corpo camo uma peça de seu mecanismo Da imagem do homem maquina do século XVIII em que o corpo masculino era pensado camo uma totalidade mecânica passase no século XIX à imagem ameaçadora de uma maquina viva camo em Metr6polis de Fritz Lang que sera representada como uma mulher ou camo um monstro A mulher o monstro e a maquina que desejam a consciência antecipam o ciborgue Enquanto issa durante o século XX a masculinidade se tamara progressivamente prostética Mary Louise Roberts9 e Roxanne Panchasi0 estudaram a reconstruçao da mas culinidade especificamente no casa da readaptaçao dos soldados mutilados no periodo do entreguerras Essa reabi litaçao do corpo masculino se inspira no modela mecânico do robô segundo o qual o corpo masculino reconstruido considerado camo força de trabalho deveria se reintegrar na cadeia de produçao industrial Jules Amar diretor do Laborat6rio de pr6teses militares e de trabalho profissional durante os anos vinte desenhara uma série de pr6teses de braço e de pema cujo objetivo pela primeira vez nao sera exatamente estético mas o de reparar o corpo invalida para 8 ChristophAsendorf Batteries ofLife On the History ofThings and their Perception in Modemity Berkeley Califomia University Press 1993 pp 4243 9 Mary Louise Roberts Civilization without Sexes Reconstructing Gender in Postwar France chicago University of chicago Press 1994 p 27 10 Roxanne Panchasi Reconstructions Prosthetics and the Relabilitation of the Male Body in the World Warin France in Differences AJournai ofFeminist Cultural Studies n 7 ana 3 Indiana Indiana University Press 1995 pp 109140 161 que se transformasse em uma das engrenagens essenciais da maquina industrial posteriar à guerra da mesma forma que foi uma engrenagem essencial da maquina de guerra Em sua obra de 1916 La Prothèse et le travail des mutilés A pr6tese e o trabalho dos mutilados Jules Amar propôe explicar e curar o chamade fenômeno de Weir Mitchell quando se per cebe sensaçôes num membro perdido o que MerleauPonty chamara mais tarde de o membro fantasma reconstruindo o corpo camo uma totalidade trabalhadora corn a ajuda de pr6teses mecânicas Os operanos e os soldados prostéticos de Jules Amar mas tram que a masculinidade é tecnologicamente construida Se a reconstruçao do corpo masculine invalida era efetuada corn a ajuda de uma pr6tese mecânica é porque o corpo masculine do operano ja havia sida pensado sob a metafora do rob ô No âmbito da gestao tayloriana e racional do trabalho seja na industria em tempos de paz seja nas industrias de destruiçao em massa da guerra o corpo masculine ja constituia em si a pr6tese orgânica a serviço deum mecanisme mais amplo Era concebido camo um aparelho que podia ser artificialmente reconstruido cm a ajuda de memlros prostéticos braços trabalhadares ou pemas pedaladoras par meio das quais o trabalhador podia se IrtcorJorar à maquina industrial Tal reconstruçao tecnol6gica eraJeita em funçao das categorias de gênera e de sexo É primeiro aas homens e nao às mulheres a quem a reconstruçao prostética imediatamente ap6s a Pri meira Guerra Mundial concerne Curiosamente Jules Amar nunca contemplara os 6rgaos sexuais camo 6rgaos que padern ser tecnologicamente substituidos A reabilitaçao prostética sera reservada aas 6rgaos do trabalho industrial o pêrris clara nao podia ser considerado enqùanto tal Para Amar um amputado ou um incapacitado era alguém que havia 162 sofrido a mutilaçao de um 6rgao destinado ao movimento e nao devia ser confundido corn um impotente alguém incapaz deum restabelecimento funcional pasto que havia perdido par completa a capacidade de levar adiante o trabalho de reproduçao sexual Essa definiçao de impotência sugere suficientemente que os 6rgaos sexuais masculines se situavam à margem da re produçao prostética Conseguiase fabricar dedos mecânicos muito bem articulados para manipular pregos finos ou inclusive para tocar violine mas nao se propunha nenhuma pr6tese funcional para as mutilaçôes sexuais De fato as tecnologias prostéticas que prometiam a reconstruçao do corpo mas cu lino ameaçavam a posiçao natural de poder do homem na familia na industria ena naçao Seo corpo masculine 6rgaos sexuais incluidos pudesse ser prosteticamente cbnstruido também poderia pois ser desconstruido deslocado e par que nao substituido A incorporaçao alucinat6ria da pr6tese aponta um me mento sintomatico na passagem do modela do robô para o modela do cibargue 0 interessante do ponta de vista contras sexual é esse desejo do instrumenta de se tomar consciente de incorporar a mem6ria do corpo de sentir e de agir par si mesmo A pr6tese dotada de sensibilidade fantasmatica rompe corn o modela mecânico de acordo corn o qual ela deveria ser um simples instrumenta que substitui um membro ausente Tomase possivel estabilizar a pr6tese definila camo ou mecânica ou argânica co mo ou corpo ou maquina A pr6tese pertence par um tempo ao corpo vivo mas resiste a uma incor poraçao definitiva É separavel desenganchavel descartavel substituivel Mesmo quando é ligada ao corpo incorporada e aparentemente dotada de consciência a qualquer memento pode voltar à ordem do objeto 163 r 0 estatuto borderline da pr6tese expressa a impossibili dade de traçar limites nitidos entre o natural e o artificial entre o corpo e a maquina A pr6tese mostra que a relaçâo corpomaquina nâo poêle ser compreendida simplesmente camo um agrupamento de partes an6dinas e articuladas conjuntamente que cumprem um trabalho especifico No que concerne à modificaçâo das atividades vivas do corpo orgânico a pr6tese ultrapassa a ordem mecânica A pr6tese alucinat6ria ja é um ciborgue Camo Marshall McLuhan havia previsto em Os meios de comunicaçêio coma extensoes do homemn as tecnologias do século XX irâo se caracterizar par agir camo suplementos prostéticos de uma funçâo natural A pr6tese pensada camo uma substituiçâo artificial em casa de mutilaçâo uma copia mecânica deum 6rgâo vivo transformou a estrutura da sen sibilidade humana em algo que o nova século batizou corn o nome de p6shumano Afinal a pr6tese nâo substitui sa mente um 6rgâo ausente é também a modificaçâo e o desen volvimento deum 6rgâo vivo corn a ajuda deum suplemento tecnol6gico Camo pr6tese do ouvido o telefone permite a dois interlocutores distantes estabelecer comunicaçâo A televisâo é uma pr6tese do lho e do ouvido que permite a um nfunero indefinido dé espectadores compartilharem uma experiência ao mesmo tempo comunitana e desencamada 0 cinema poderia ser pensado retroativamente camo uma pr6tese do sonho As novas cibertecnologias sugerem o de senvolvimento de formas de sensibilidade virtual e hibrida do tata e da visâo coma o tato virtual graças a ciberluvas A arquitetura os autom6veis e outras meios de transporte sâo n Marshall McLuhan Os meios de comunicaçoo camo extensôes do homem Trad bras de Décio Pignatari Sao Paulo Cultrix 1996 e 164 também pr6teses complexas corn as quais outras pr6tesesda sensibilidade corn seus sistemas e redes de comunicaçâo do telefone ao computador padern ser conectadas Nessa l6gica de conexâo crescente o corpo parece se fundir corn seus 6rgâos prostéticos dando lugar a um nova nivel de organizaçâo e gerando uma continuidade individual trans pessoa orgânicainorgânica Essa maneira de compreender a construçâo prostética do natural é o que Georges Teyssot chamou de uma teoria generalizada das incapacidades12 A pr6tese destinada num primeiro momento a remediar nossas incapacidades fisicas termina por criar comportamentos complexas de dependência corn sistemas de comunicaçâo ao ponta de nos sentirmos incapazes se nâo estivermos conectados a eles A maquina de escrever par exemplo foi inventada a principio para as pessoas cegas de maneira que tivessem acesso a uma escritura mecânica depois ela se generalizou camo uma pr6tese de escritura que modificou radicalmente a maneira de nos comunicarmos A incapacidade dos nâo videntes é tâo estrutural na concepçâo da maquina de escrever camo pr6tese que uma ficçâo de cegueira nâo olhar o teclado se tomou necessana para qualquer um que aprende a es crever co mo se fosse precisa passar pela experiência da incapacidade para aceder corn a pr6tese a um nova nivel de complexidade Em outras palavras cada 6rgâo tecnol6gico reinventa uma nova condiçâo natural na qual todos n6s somas incapazes Melhor ainda cada nova tecnologia recria nossa natureza camo incapaz corn relaçâo a uma nova atividade que par sua vez necessita ser tecnologicamente suprida As novas 12 Georges Teyssot Body Building in Lotus n 94 Veneza Editoriale Lotus setem bro de 1997 p 12le ss 165 r tecnologias de repraduçao in vitro e talvez em breve fora do litera par exemplo foram desenvolvidas para compensar uma deficiência da suposta repraduçao heterasexual normal Imediatamente essas técnologias geram toda um conjunto de modos de repraduçao sem relaçôes heterossexuais que poderia se tornar acessivel a todos e que é capaz de transformar as formas de incorporaçao disso que continuamos chaman do de na falta de um termo melhor homens e mulheres 0 que estou sugerindo aqui é que o sexo e o gênera deveriam ser considerados camo formas de incorporaçao prastética que se fazem passar par naturais mas que em que pese sua resistência anatômiçopolitica estao sujeitos a pracessos de transformaçao e de mudança constantes Levemos ao extrema as contradiçôes da incorporaçao prastética e encontraremos o ciborgue 0 manifesta cibor gue de Donna Haraway 1985 marca uma feliz virada no feminismo ou mais exatamente inicia uma guinada p6s feminista ao passar da demonizaçao da tecnologia para seu investimento politico Essa guinada do feminismo antitecno l6gico ao p6sfeminismo coïncide corn a passagem do rabô ao ciborgue ou o que é a mesma coisa corn a passagem do capitalismo industrial ao capitalismo em sua fase global financeira comunicativëi biàtecnol6gica e digital De algum modo Norbert Wiener em sua definiçao da cibernética havia estabelecido as condiçôes desse nova capitalisme A ciência de Wiener se constituiria pela conjunto de teorias relativas às comunicaçôes e à regulaçao entre o ser vivo e a maquina13 Entretanto o que se modificou foi o contexto no qual se fabricam os 6rgaos bem coma os materiais uti lizados em sua fabricaçao Enquanto o cenârio de criaçao 13 Norbert Wiener The Human Use ofHumanBeings Nova YorkAvon1954 166 do mbô foi a fabrica e suas cadeias tayloristas o ciborgue sera criado em um laborat6rio biotecnol6gico 0 prlineiro ciborgue p6smoderno foi concebido depois da Segunda Guerra Mundial par engenheiros geneticistas que implan taram conexôes cibernéticas em um animal vivo saturando artificialmente seu sistema de informaçao corn circuitos elé tricos hormônios fluidos quimicos e biol6gicos 0 ciborgue nao é um sistema matematico e mecânico fechado mas um sistema aberto biol6gico e comunicante 0 ciborgue nao é um computador e sim um ser vivo conectado a redes visuais e hipertextuais que passam pela computador de tal maneira que o corpo conectado se transforma na pr6tese pensante do sistema de redes A lei do ciborgue nao é a da repetiçao mimética e sim a da repraduçao deum mâximo de comunicaçao horizontal no sentido informatico do termo 0 ciborgue é texto maquina corpo e metâfora ele toda teorizado e integrado na pratica camo comunicaçao14 Eis alguns exemplos de tecnologia ciborgue biossocial que deveriam ser objeto de um estudo contrassexual o dildo que gaza as pessoas que vivem corn Aids os hormônios as pessoas transgêneras as drogas o sexo virtual o corpo transexual A questao nao reside em escolher entre os rabôs e os ci bargues Ja somas ciborgues que incorporam pr6teses ciber néticas e rab6ticas Nao ha volta As tecnologias mecânicas e cibernéticas nao sao instrumentas neutros surgidos em um paraiso cientifico que poderiam em um segundo momento ser aplicados cam fins politicos mais ou menas saudaveis Tuda desde os sistemas hightech de comunicaçao pela internet às 14 Donna Haraway Simians Ciborgues and Women The Reinvention of Nature op cit p 212 167 técnicas gastronômicas passando par uma técnica lawtech camo par exemplo a do transar é desde o principio um sis tema politico que vêm asegurar a reproduçao de estruturas socioeconômicas precisas Donna Haraway insiste que as tecnologias nao sao intrinsecamente limpas ou sujas AB bio e cibertecnologias contemporâneas sao ao mesmo tempo o resultado das estruturas de poder e os possiveis bolsôes de resistência a esse mesmo poder de uma forma ou de outra um espaça de reinvençao da natureza Se os discursos das ciêilcias naturais e das ciências hu manas continuam carregados de ret6ricas dualistas carte sianas de corpoespirito naturezatecnologia enquanto os sistemas biol6gicos e de comunicaçao provaram funcionar corn l6gicas que escapam a tal metafisica da matéria é par que esses binarismos reforçam a estigmatizaçao politica de deteiminados grupos as mulheres os nao brancos as queers os incapacitados os doentes e permitem que eles sejam sis tematicamente impedidos de acessar as tecnologias textuais discursivas corporais etc que os produzem e os objetivam Afinal o movimento mais sofisticado da tecnologia consiste em se apresentar exatamente comonatureza 168

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