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Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana1 Fátima Caropreso Doutoranda no PPG em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos Email fatimacaropresouolcombr Resumo A partir da constatação de que os sintomas neuróticos são determinados por representações inconscientes Freud concluiu que apenas uma parte da atividade psíquica é acessível à consciên cia e que portanto a identidade estabelecida na psicologia e na filosofia entre o psíquico e o consciente e conseqüentemente en tre a consciência e o campo da representação precisava ser repen sada O objetivo deste artigo é discutir algumas das concepções formuladas por Freud no período de 1891 a 1895 dando atenção especial aos textos La afasia 1891 e Projeto de uma psicologia 1895 que lhe permitiram dissociar o conceito de representa ção do conceito de consciência e incorporar a noção de repre sentação inconsciente em sua teoria afastandose assim das con cepções psicológicas tradicionais Palavraschave psicanálise Freud metapsicologia representa ção inconsciente Abstract From the observation of the fact that neurotic symptoms are brought about by unconscious representations Freud concludes 1 Este artigo está relacionado à dissertação de mestrado Representação e consciência na obra inicial de Freud desenvolvida junto ao Programa de PósGraduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos com o apoio da Fapesp à qual desejo agradecer Agradeço também ao meu orientador de mestrado Prof Dr Richard Theisen Simanke pelos comentários e correções deste texto 3 3 0 3 3 0 3 3 0 3 3 0 3 3 0 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 that only a part of psychic activity is accessible to consciousness so that the equivalence between the psychic and the conscious established both in psychology and philosophy should be reviewed and in the same way the equivalence established between consciousness and the field of representation The aim of this paper is to discuss some of the concepts proposed by Freud between 1891 and 1895 that allowed him to separate the concepts of representation and consciousness and to incorporate the notion of unconscious representation in his theory distancing himself in this way from traditional psychological conceptions Keywords psychoanalysis Freud metapsychology representation unconsciousness No momento em que os fenômenos neuróticos sugeriram a Freud a existência de representações inconscientes determinantes dos sintomas ele ainda não dispunha de uma teoria psicológica a partir da qual fosse possível considerar a possibilidade de um psiquismo inconsciente Com o psíquico sendo identificado ao consciente a idéia de uma representação inconsciente não poderia passar de uma contradição em termos Freud então é levado a formular uma teoria na qual a consciência não mais abarcasse a totalidade do psiquismo afastandose das teorias psicológicas tradicionais O objetivo deste artigo é circunscrever os passos iniciais de Freud rumo à formulação do conceito de representação inconsciente e o modo como a partir daí a idéia de um inconsciente psíquico ganha sen tido em sua teoria2 2 Ainda que significativa para a compreensão do surgimento do conceito de inconsciente em Freud não estou considerando a discussão estabelecida em Freud entre as diferenças da escola francesa de psiquiatria e a escola alemãaustríaca restringindo me à análise das propostas feitas por Freud nos textos La afasia e Projeto 3 3 1 3 3 1 3 3 1 3 3 1 3 3 1 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 O conceito de representação em La afasia Em La afasia Freud faz uma revisão das principais hipóteses vigentes sobre os distúrbios afásicos e a partir da recusa dos fundamentos subjacentes a tais hipóteses ele propõe uma concepção alternativa sobre o funcionamento normal e a patologia da linguagem apoiandose princi palmente em algumas hipóteses do neurologista Hughlings Jackson A crítica de Freud dirigese basicamente à teoria de Wernicke e à de Lichtheim sobre as afasias e à teoria sobre o funcionamento do sistema nervoso de Meynert que fundamentava as duas anteriores Uma vez que as teorias criticadas apoiavamse em uma concepção específica de representa ção a recusa por parte de Freud de algumas das teses dessa teoria acaba por implicar a reformulação do conceito de representação As hipóteses neurológi cas propostas por Freud em substituição às de Meynert Wernicke e Lichtheim vão resultar assim em uma concepção consideravelmente distinta de repre sentação No entanto nessa monografia a restrição do psíquico ao conscien te ainda é mantida por Freud Para Meynert o córtex seria constituído por duas áreas funcio nalmente distintas uma área motora que estaria localizada na região frontal e que conteria imagens de movimento e uma área sensorial que estaria localizada na região temporal e que conteria imagens sensoriais Essas duas regiões se conectariam entre si por meio de fibras associativas e estariam conectadas à periferia do sistema nervoso por meio de fibras projetivas Os estímulos que alcançassem a periferia do sistema nervoso seriam sem sofrer nenhuma alteração ao longo desse percurso projetados no córtex onde provocariam alterações morfológicas nas células as quais se converteriam então nos correlatos fisiológicos das representações sim ples As representações complexas resultariam da associação mecânica dessas representações simples Cada uma das impressões sensoriais estaria ar mazenada em uma célula singular de um dos centros corticais e sua constituição se daria a partir de um processo de ocupação de células desocupadas Freud recusa a idéia de projeção ponto por ponto dos 3 3 2 3 3 2 3 3 2 3 3 2 3 3 2 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 estímulos externos no córtex defendida por Meynert e recusa também a idéia de que haveria centros corticais cujas células armazenariam as diver sas impressões sensoriais Contra a primeira dessas hipóteses Freud argumenta que de acordo com uma constatação de Henle o número de fibras que liga a periferia do sistema nervoso à medula é maior que o número de fibras que liga esta última ao córtex portanto de acordo com as características anatômicas desse sistema apenas entre a periferia e a medula seria possí vel ocorrer uma projeção ponto por ponto dos estímulos Devido à redu ção do número de fibras na passagem pela medula uma unidade sensorial que alcançasse o córtex deveria corresponder a várias das unidades senso riais que alcançassem a periferia Além disso argumenta ele nos núcleos de matéria cinzenta pelos quais passam as fibras que conduzem a infor mação aferente da medula ao córtex várias fibras provenientes de dife rentes regiões do sistema nervoso se encontram e a cada fibra aferente correspondem várias fibras eferentes em um mesmo núcleo Dessa forma não é possível que a informação que emerge do núcleo seja exatamente igual à que nele ingressa Freud então sustenta que a informação senso rial é reorganizada em cada passagem da fibra aferente por um núcleo de acordo com princípios funcionais do sistema nervoso e que por isso a excitação que chega ao córtex possui uma relação indireta com a que parte da periferia os feixes de fibras que chegam ao córtex depois de haver pas sado por outras massas cinzentas mantêm alguma relação com a periferia do corpo porém já não refletem uma imagem topografi camente exata dela Contêm a periferia do corpo da mesma manei ra que para tomar um exemplo do tema que nos interessa aqui um poema contém o alfabeto isto é em uma disposição comple tamente diferente que está a serviço de outros propósitos com múltiplas associações dos elementos individuais nas quais alguns podem estar representados várias vezes e outros estar totalmente ausentes Freud 1891 p 68 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Como dissemos Freud recusa também a hipótese da existência de centros corticais cujas células armazenariam os engramas os quais con sistiriam nos correlatos das representações simples Ele argumenta que essa hipótese baseiase na idéia de que os fenômenos psíquicos e os fisioló gicos possuem as mesma características ou seja na hipótese de que a um simples psíquico uma representação simples corresponderia um sim ples neurológico um engrama contido em uma célula Freud nega a legitimidade dessa correspondência e sustenta que é preciso estabele cer as características desses fenômenos independentemente Ele pro põe então que o correlato fisiológico de uma representação seja sem pre um processo Qual é o correlato da idéia simples que emerge ou volta a emergir Obviamente nada estático mas algo que tem o caráter de um processo Este processo não é incompatível com a localização Co meça em um ponto específico do córtex e a partir daí se difunde por todo o córtex e ao longo de certas vias Quando este fato ocor re deixa atrás de si uma modificação com a possibilidade de uma recordação na parte do córtex afetada Ibid p 71 Portanto em vez de ser o correlato de um engrama a represen tação simples seria o correlato de um processo Só com a ocorrência de um processo associativo surgiria uma representação Disso seguese que não é possível diferenciar os correlatos fisiológicos da representação e os da asso ciação como fazia Meynert ou seja não é possível diferenciar no córtex entre áreas de armazenamento de impressões e áreas de associação Assim além da excitação sensorial ser reorganizada ao longo da sua condução da medula ao córtex neste último ela daria origem a um processo associativo sendo assim mais uma vez reorganizada o qual consistiria no correlato fisiológico das representações Dessa forma a representação seria o correlato psíquico de um processo associativo cortical que consistiria no último estágio da série de reorganizações sucessivas do material perceptivo Desse modo as representações seriam construções mentais pois o sistema nervo 3 3 4 3 3 4 3 3 4 3 3 4 3 3 4 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 so rearranjaria as informações provenientes do mundo externo e não cópias dos estímulos que alcançassem a periferia do sistema nervoso Este último não seria então mero receptor das informações sensoriais como conside rava Meynert mas teria um papel ativo na constituição dos correlatos das representações Em La afasia Freud sustenta que os eventos psíquicos são concomitantes dependentes dos eventos nervosos idéia esta que ele em presta do neurologista Hughlings Jackson De acordo com a doutrina da concomitância de Jackson os estados mentais ou conscientes e os estados nervosos ocorreriam paralelamente mas não haveria interferência de um sobre o outro Para cada estado mental haveria um estado nervoso correlativo Citando um exemplo dado por Jackson 1884 p 72 em uma percepção visual há um circuito físico da periferia sensorial para os centros superiores e destes retornando à periferia muscular A imagem visual que é um estado puramente mental surge durante as e não das atividades dos dois elos superiores dessa corrente puramente física A na tureza dessa relação contudo não chega a ser definida Essa posição de Jackson confere autonomia ao seu objeto de es tudo os processos neurais e lhe permite se distanciar da confusão entre o que é físico e o que é psíquico que ele considerava presente na maior parte das teorias neurológicas Freud reconhece a problematicidade dessa confusão e a necessidade de dissociar esses dois domínios e diante disso adota a concepção de Jackson segundo a qual esses dois processos embo ra concomitantes não interferem um sobre o outro Forrester 1983 p 41 comenta que um dos primeiros ataques aos diagram makers3 veio de uma união de argumentos psicológicos e filosóficos no trabalho de Jackson Este estava interessado em romper com a flutuação entre termos psicológicos e fisiológicos que afetava as teorias sobre as afasias assim como a neurolo 3 Esse termo foi usado por Henry Head 1926 para se referir aos neurologistas que procuravam explicar os distúrbios afásicos e o funcionamento da linguagem a partir de diagramas como Wernicke Lichtheim e outros 3 3 5 3 3 5 3 3 5 3 3 5 3 3 5 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 gia em geral De acordo com Forrester a doutrina da concomitância um argumento firme para a separação estrita entre os processos psíquicos e os físicos protegeu a neurologia contra um psicologismo rasteiro Assim como Jackson Freud mantém no texto de 1891 a restri ção do psíquico ao consciente As representações seriam os correlatos psí quicos de um processo cortical associativo o qual deixaria atrás de si mo dificações que possibilitariam a sua rememoração Mas só quando o mes mo processo voltasse a ocorrer a representação emergiria novamente Na ausência do processo a representação deixaria de existir enquanto tal embora continuasse existindo como possibilidade Ao falar sobre os pro cessos associativos correlativos às representações Freud afirma É muito duvidoso que esse fenômeno fisiológico a modificação deixada por um processo cortical esteja de algum modo associado a algo psíquico Nossa consciência não contém nada que possa jus tificar do ponto de vista psicológico o termo imagem latente de recordação No entanto cada vez que o mesmo processo cortical volta a ser suscitado o fenômeno psíquico anterior emerge nova mente como recordação Freud 1891 p71 Portanto nesse texto o psíquico é identificado à consciência e só é possível falar de inconsciente para designar uma ausência de consciên cia que implicaria também a ausência de fenômenos psíquicos Então de acordo com as hipóteses aqui apresentadas a expressão representação inconsciente seria contraditória se tomada com todo rigor pois a representa ção estaria inteiramente incluída no domínio dos processos conscientes Que desenvolvimentos teóricos então vão permitir a Freud fa lar de representação inconscientes ou seja vão permitir que se dissocie representação de consciência Nos textos sobre as neuroses publicados no período entre a publicação da monografia sobre as afasias e a redação do Projeto de uma psicologia o termo subconsciente assim como in consciente é empregado em algumas ocasiões para explicar o mecanis mo psíquico das neuroses mas Freud não chega a atribuir uma natureza 3 3 6 3 3 6 3 3 6 3 3 6 3 3 6 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 psíquica às representações e associações inconscientes de que fala o que ao que parece dáse somente no Projeto de uma psicologia Antes de passar mos ao comentário deste último texto vejamos como Freud emprega esses termos em alguns de seus textos que precedem a redação do Projeto 2 O conceito de representação nos textos freudianos do período de 1891 a 1895 No texto de 1893 Algumas considerações com vistas a um es tudo comparativo entre as paralisias motoras orgânicas e histéricas em bora Freud mantenha a idéia de que os processos psíquicos sejam parale los aos neurológicos ele não mais identifica tão claramente o psíquico ao consciente pois introduz a idéia de processos psíquicos subconscientes4 para explicar as paralisias histéricas Nesse texto Freud sustenta que as características distintivas das paralisias histéricas com relação às orgâni cas se devem ao fato de que enquanto estas últimas são determinadas pela anatomia do sistema nervoso isto é pela extensão e localização de uma lesão orgânica as primeiras são totalmente independentes dos fato res anatômicos pois não decorrem de lesões orgânicas mas de lesões pura mente funcionais isto é da alteração de propriedades funcionais do siste ma nervoso independentes de danos materiais e portanto independentes da estrutura desse sistema Do lado psíquico essa alteração funcional se ria acompanhada pela exclusão de uma representação das associações cons cientes o que leva Freud a dizer que a paralisia histérica resulta da lesão de uma representação5 Uma representação lesada não seria uma repre sentação destruída ou cujo substrato material estivesse destruído mas sim 4 Laplanche e Pontalis comentam que nesse período em que foi publicado o artigo sobre as paralisias histéricas não parece haver diferença no uso freudiano entre subconsciente e o que estava prestes a destacarse sob o nome de inconsciente 1998 p 494 5 Nesse texto que foi escrito em francês Freud usa o termo conception para traduzir ao que tudo indica o termo alemão Vorstellung 3 3 7 3 3 7 3 3 7 3 3 7 3 3 7 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 uma representação cujo vínculo com o restante do psiquismo tivesse sido rompido tornandoa por isso inacessível à consciência Ele afirma que nas paralisias histéricas a representação do órgão ou função paralisada está inacessível às associações conscientes pois todo o seu afeto está en volvido em uma associação subconsciente exclusiva com uma recorda ção traumática O termo subconsciente aparece uma vez como substanti vo A impossibilidade de eliminação é notória quando a impressão per manece no subconsciente Freud 1893 p209 Além disso aparece várias vezes como adjetivo a concepção de braço existe no substrato material porém não é acessível para as associações e impulsos conscientes porque toda a sua afinidade associativa por assim dizer está saturada em uma associação subconsciente com a recordação do acontecimento do trauma produtor dessa paralisia Freud 1891 p 209 De acordo com a teoria de La afasia o termo subconsciente seria sinônimo de ausência de processos psíquicos e portanto represen tação subconsciente seria sinônimo de ausência de representação Então nesse texto de 1893 ou Freud apóia suas hipóteses em uma concepção sobre os processos psíquicos diferente da do texto sobre as afasias em uma concepção em que o psíquico não seja mais identificado ao consciente ou quando ele fala de representações subconscientes referese a representa ções inexistentes Nesse último caso as expressões em que aparece o termo subconsciente seriam no máximo expressões figuradas Uma vez que Freud não esclarece em que sentido o termo sub consciente está sendo usado permanece aí a questão de em quais con cepções metapsicológicas ele fundamenta suas hipóteses sobre o mecanis mo psíquico que origina uma paralisia histérica Não fica claro se Freud continua identificando o psíquico ao consciente e então subconsciente significaria ausência de processos psíquicos de modo que a associação subconsciente seria um processo físico sem concomitante psíquico ou se ele considera que o psíquico não se limita ao consciente Se ele considera 3 3 8 3 3 8 3 3 8 3 3 8 3 3 8 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 que os processos psíquicos são em parte conscientes e em parte subcons cientes então suas expressões não são metafóricas mas referemse a algo de real Em suma permanece aberta a questão de se há ou não um sub consciente psíquico para Freud nesse momento No texto de 1894 As neuropsicoses de defesa Freud enuncia a questão mencionada acima sobre a possibilidade de ocorrerem processos psíquicos na ausência da consciência mas não chega a tomar uma posi ção definitiva Nesse trabalho ele formula uma hipótese sobre o mecanis mo psíquico das psiconeuroses histeria de defesa fobias obsessões e psi coses alucinatórias de acordo com a qual a gênese dessas afecções re pousaria em um esforço do eu para defenderse de uma representação in tolerável Essa defesa consistiria na retirada do afeto atrelado à represen tação traumática fazendo com que essa representação ficasse isolada den tro da consciência e constituísse assim o núcleo de um grupo psíquico secundário Freud porém não usa o termo subconsciente nem incons ciente nesse texto A representação patogênica segundo ele estaria ex cluída dos processos associativos mas permaneceria dentro da consciên cia A representação agora debilitada fica segregada de toda a associação na consciência ibid p 53 Ele afirma que o divórcio entre a repre sentação e o seu afeto ocorre sem consciência mas hesita em aceitar que esses processos que ocorrem na ausência de consciência sejam psíquicos O divórcio entre a representação sexual e seu afeto e o enlace deste último com outra representação adequada porém não inconciliá vel eis aí processos que acontecem sem consciência que somente é possível supor e nenhuma análise clínicopatológica é capaz de demonstrar Talvez seria mais correto dizer estes de modo algum são processos de natureza psíquica mas processos físicos cuja con seqüência se figura como se real e efetivamente tivesse acontecido o expresso mediante o circunlóquio divórcio entre a representa ção e seu afeto e enlace falso deste último Ibid p 54 3 3 9 3 3 9 3 3 9 3 3 9 3 3 9 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Ao que parece nesse texto sobre as neuropsicoses de defesa Freud tende a identificar os processos que se dão na ausência de consciência a processos físicos mantendo assim o psíquico restrito ao consciente mas não chega a afirmar cabalmente essa identidade Nos Estudos sobre a histeria 1895 tanto Freud como Breuer remetem os sintomas histéricos a representações inconscientes embora te nham opiniões distintas sobre o mecanismo psíquico da histeria Segundo Breuer a cisão da atividade psíquica poderia ocorrer em dois casos quan do ela se constituísse durante um estado psíquico anormal um estado hipnóide ou quando ela fosse alvo de uma defesa voluntária por parte do eu Apenas esta última hipótese proposta já em As neuropsicoses de defesa é aceita cabalmente por Freud nesse texto Embora na Comuni cação Preliminar Freud compartilhe com Breuer a hipótese da histeria hipnóide no capítulo sobre a psicoterapia da histeria o qual foi escrito dois anos mais tarde ele afirma que todo caso de histeria hipnóide pode ser remetido em última instância a uma defesa por parte do eu Ele pro põe que toda histeria apresente em sua gênese a separação entre uma representação intolerável e seu afeto isto é um esforço defensivo do qual resulta a divisão psíquica característica da histeria Apesar de ambos os autores usarem o termo inconsciente em diversas ocasiões aparentemente nenhum deles possui ainda uma concepção clara sobre a natureza dos processos inconscientes revelados pelas observações clínicas Para Breuer haveria dois tipos de representações inconscientes aquelas que fazem parte da atividade psíquica normal e aquelas cuja exis tência é patológica Segundo ele no funcionamento psíquico normal as representações cuja intensidade supera um certo limiar seriam conscientes e as que permanecessem abaixo desse limiar seriam inconscientes Mas estas últimas seriam suscetíveis de consciência ou seja elas se tornariam conscientes se sua intensidade aumentasse As representações inconscien tes determinantes da histeria ao contrário seriam insuscetíveis de cons ciência isto é mesmo possuindo uma intensidade elevada elas perma 3 4 0 3 4 0 3 4 0 3 4 0 3 4 0 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 neceriam inconscientes Portanto o campo da atividade psíquica representacional nesse caso seria maior que o campo da consciência po tencial O campo da atividade psíquica representacional não coincide pois neles com o da consciência potencial este é mais limitado que aquele A atividade psíquica representacional se decompõe em cons ciente e inconsciente e as representações em suscetíveis e insuscetíveis de consciência Não podemos então falar de uma cisão da consciência mas sim de uma cisão da psique Freud e Breuer 1895 p 235 Mas apesar de falar que parte da atividade psíquica repre sentacional é insuscetível de consciência em outra passagem Breuer nega a possibilidade de haver processos inconscientes de natureza psíquica É certo que representação provém da terminologia do pensar consciente e por isso representação inconsciente forma uma expressão contraditória Mas o processo físico que está na base da representação é o mesmo em seu conteúdo e em sua forma se bem que não quantitativamente quer a representação passe o limiar da consciência ou permaneça abaixo deste Bastaria construir uma frase como substrato da representação para evitar a contradição e es capar àquela reprovação Ibid p233 Parece haver uma contradição nos argumentos de Breuer pois ele afirma que a representação inconsciente consiste num processo pura mente físico e logo em seguida afirma que a atividade psíquica representacional não se limita à atividade consciente Na maior parte do texto ele parece aceitar a existência de um psíquico inconsciente mas na afirmação acima ele expressamente recusa tal possibilidade Freud em seu capítulo sobre a psicoterapia da histeria mantém a hipótese sobre o mecanismo psíquico dessa neurose que havia sido pro posta em As neuropsicoses de defesa e a estende aos dois outros tipos de 3 4 1 3 4 1 3 4 1 3 4 1 3 4 1 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 histeria hipnóide e de retenção O material patógeno determinante da histeria segundo ele seria constituído por um núcleo que conteria as re presentações traumáticas e por um amplo material mnêmico constituído por representações que por se associarem às traumáticas se teriam torna do também patógenas Essas representações possuiriam um triplo ordenamento elas estariam organizadas no sentido do núcleo à periferia de forma linear cronológica de forma concêntrica em torno do núcleo seguindo linhas de resistência decrescente e de forma irregular seguindo nexos causais Na análise as representações seriam evocadas à medida que a resistência fosse sendo superada na ordem contrária à da sua cons tituição isto é das periféricas as quais coincidiriam parcialmente com o eu às nucleares que esclareceriam o significado do sintoma Haveria portanto uma seqüência ininterrupta entre as representações originárias da histeria e os sintomas isto é entre as representações inconscientes e as conscientes Freud distingue dois tipos de representações patógenas que permaneceriam inacessíveis à consciência do paciente até emergirem na terapia as que são rememoradas ou seja as que o sujeito reconhece como tendo sido de fato experienciadas e as que não são rememoradas Estas últimas embora sejam aceitas pelo paciente devido a sua necessi dade lógica e ao afeto que acompanha o seu surgimento e provoca o alívio do sintoma não são reconhecidas como tendo sido um dia vivenciadas com a ajuda deste procedimento a pressão sobre a fronte que ora mostra desde o ponto em que cessaram as reconduções do enfermo na vigília o caminho posterior ora chama a atenção so bre nexos que caíram no esquecimento depois convoca e ordena recordações que desde muitos anos atrás estavam subtraídas à asso ciação apesar do que ainda se pode discernilas como recordações e como operação suprema da reprodução faz aflorar pensamentos que o enfermo nunca quer reconhecer como seus que ele não recorda embora admita que o contexto os exige imprescindivelmente e nesse transcurso se convence de que essas representações e não outras pro duzem o fechamento da análise e o cessar dos sintomas Ibid p 279 3 4 2 3 4 2 3 4 2 3 4 2 3 4 2 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Freud atribui então a incapacidade de rememoração de tais representações ao fato de elas consistirem em pensamentos inconscientes Ainda quando tudo já passou quando o enfermo dominado pela compulsão lógica e convencido pelo efeito curativo que acompa nha justamente o afloramento desta representação quando o enfer mo digo aceita ele mesmo que teve que ter pensado isto ou aqui lo costuma acrescentar Porém não posso recordar que o tenha pensado Em tal caso é fácil entenderse com ele eram pensamentos inconscientes Agora bem como esse estado de coisas foi registrado em suas intuições psicológicas Há que se passar por alto esse discernimento recusado do enfermo que não possui motivo algum posto que o trabalho já acabou Devese supor que se trata real mente de pensamentos nunca produzidos e para os quais havia uma mera possibilidade de existência de modo que a terapia consisti ria então na consumação de um ato psíquico interceptado É evi dentemente impossível enunciar algo sobre isto ou seja sobre o estado do material patógeno antes da análise até que se tenha esclarecido a fundo suas visões psicológicas básicas antes de tudo sobre a essência da consciência Ibid p 305 Uma vez que Freud afirma que essas representações não são rememoradas porque consistem em pensamentos inconscientes é necessá rio reconhecer que esses dois tipos de representações patógenas evocadas na terapia não são inconscientes no mesmo sentido Freud admite que não possui uma explicação para essa diferenciação Em nenhum dos textos comentados ele explicita a noção de representação inconsciente admitida como necessária para se esclarecer o mecanismo psíquico das neuroses embora em A psicoterapia da histeria apresente uma inclinação a con ceber os processos inconscientes como processos puramente físicos Apa rentemente Freud não possuía ainda nesse período uma concepção defi nida sobre esse ponto mas fica claro que a identidade entre o psíquico e o consciente afirmada no texto sobre as afasias já está sendo questionada Essa questão ao que parece fica melhor definida no Projeto de uma psicologia 3 4 3 3 4 3 3 4 3 3 4 3 3 4 3 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 onde Freud formula uma teoria em que a consciência é concebida como algo que se acrescenta a apenas uma parte das nossas representações re cusando assim a identidade total entre o psíquico e o consciente A refle xão sobre a consciência apontada por Freud como necessária nos Estudos sobre a histeria parece mesmo ter sido um dos motivos que o levaram a redigir o Projeto de uma psicologia Passemos pois a esse último texto A expansão do conceito de psíquico inconsciente no Projeto de uma psicologia No Projeto de uma psicologia redigido em 1895 mas publicado postumamente em 1950 Freud tenta explicar os processos psíquicos nor mais e os patológicos a partir das noções de neurônio e de quantidade Ele desenvolve a idéia de um aparelho neuronial onde ocorreriam tais processos cujo funcionamento e cuja estrutura seriam determinados pelo princípio de inércia isto é por uma tendência a descarregar toda a quantidade que incide sobre o aparelho O aparelho neuronial descreve processos que ocorreriam no sistema nervoso e que poderiam ser relaciona dos a regiões anatômicas do cérebro Tratase portanto como apontou Monzani 1989 p 118 de um modelo teóricoabstrato do funciona mento do cérebro Os neurônios seriam as unidades materiais que comporiam o aparelho neuronial Este seria constituído por três sistemas de neurônios o sistema de percepção f cuja função seria receber as quantidades de ori gem externa o sistema de memória y onde se constituiriam as representa ções e o sistema w que seria responsável pela produção de qualidades sensoriais ou seja pela consciência As diferenças entre esses sistemas não se deveriam à natureza dos neurônios que os integrariam pois todos por hipótese seriam estruturalmente idênticos mas ao modo distinto de ação da quantidade em cada um deles Entre os neurônios haveria barreiras de contato que ofereceriam uma certa resistência à passagem da quanti dade de um neurônio para outro Quando a quantidade superasse a resis 3 4 4 3 4 4 3 4 4 3 4 4 3 4 4 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 tência das barreiras de contato a resistência a ela seria diminuída ou seja ela seria facilitada e então numa próxima ocupação da mesma barrei ra a resistência encontrada seria menor As barreiras de contato não teriam nenhuma função no sistema f pois a intensidade das quantidades com que esse sistema lidaria seria superior à capacidade de resistência de tais barreiras e portanto essas não ofereceriam nenhuma resistência à passa gem da excitação Já em y que receberia quantidade via f as ocupa ções seriam menos intensas devido ao fato de que a estrutura ramificada de f faria com que a corrente excitatória se distribuísse pelos diversos ca minhos ocupando assim y em vários pontos Dessa forma ao invés de ser ocupado muito intensamente em um ponto o sistema y seria ocupado menos intensamente em vários pontos A quantidade que alcançasse y possuiria intensidade inferior à da resistência das barreiras de contato des se sistema por isso para conseguir passagem uma mesma barreira teria que ser ocupada a partir de mais de um neurônio simultaneamente o que faria com que se constituíssem aí caminhos diferenciados que possibilita riam a memória ou seja que possibilitariam a repetição de um mesmo processo no aparelho Uma vez estabelecidas as facilitações diferenciadas em y quando os mesmos neurônios fossem ocupados novamente a corren te excitatória percorreria o caminho anteriormente estabelecido fazendo com que a representação antes constituída voltasse a emergir A memória resultaria assim da constituição de facilitações diferenciadas em y Esse sistema é dividido em y do manto que estaria em contato com f e portanto receberia quantidade exógena e y do núcleo que estaria em contato com o interior do organismo e receberia quantidade endógena O terceiro sistema que integraria o aparelho neuronial o sistema w consisti ria na base material da consciência Freud tenta estabelecer as condições quantitativas que estariam relacionadas à produção de qualidades senso riais mas acaba reconhecendo que não é possível no momento chegar a uma hipótese satisfatória sobre isso No entanto ele sugere que a produ ção de qualidades sensoriais estaria de algum modo relacionada às pro priedades temporais da quantidade isto é ao período e que a consciên 3 4 5 3 4 5 3 4 5 3 4 5 3 4 5 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 cia de uma representação dependeria da recepção em y de signos de qua lidade que seriam fornecidos por w no caso de ocupações provenientes de f e de inervações motoras Além disso para que uma representação fosse percebida seria preciso além do surgimento de signos de qualidade que eles fossem ocupados também a partir de y Assim apenas uma pe quena parte das representações que se constituíssem se tornariam cons cientes Mas afinal como a relação entre o psíquico e a consciência é pensada no Projeto de uma psicologia O aparelho neuronial como comentamos anteriormente des creve processos que ocorrem no sistema nervoso e que podem ser relacio nados de forma geral a regiões anatômicas do cérebro Freud tenta apoiar a hipótese da diferenciação entre o sistema y e o sistema f também em dados anatômicos embora a definição desses sistemas se dê em termos de fatores funcionais Ele argumenta que é possível correlacionar o sistema f à substância cinzenta da medula espinhal e o sistema y à substância cin zenta do cérebro De fato conhecemos a partir da anatomia um sistema de neurônios a substância cinzenta da medula espinhal o único em conexão com o mundo externo e um superposto a substância cinzenta do cérebro que não tem relações periféricas diretas mas é responsá vel pelo desenvolvimento do sistema nervoso e das funções psíqui cas O cérebro primário não se ajusta mal a nossa caracterização do sistema y se nos é lícito supor que o cérebro tenha vias diretas independentes de f para o interior do corpo Freud 1950 p17 O fato de Freud tentar estabelecer uma correspondência anatômica para o aparelho neuronial indica que este pretende ser uma descrição de uma parte dos processos que ocorrem no sistema nervoso e que sendo assim os processos psíquicos que não envolvem a consciência são identificados aos processos neurológicos A independência dos proces sos que ocorrem em y ou seja da memória em relação à consciência é claramente afirmada 3 4 6 3 4 6 3 4 6 3 4 6 3 4 6 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Temos tratado os processos psíquicos como algo que poderia pres cindir deste conhecimento fornecido pela consciência que existe independente de uma tal consciência Se não nos deixarmos desconcertar por tal fato seguese desse pressuposto que a cons ciência não proporciona nem conhecimento completo nem seguro dos processos neuroniais cabe considerálos em primeiro lugar e em toda a extensão como inconscientes e cabe inferilos como as outras coisas naturais Ibid p 22 Os processos psíquicos inconscientes deveriam ser abordados de uma perspectiva científiconaturalista pois possuiriam a mesma natureza dos demais objetos das disciplinas científicas isto é consistiriam em pro cessos físicos envolvendo neurônios e quantidades E os fenômenos conscien tes Qual seria a sua relação com o restante do psíquico A consciência seria o lado subjetivo de uma parte dos processos nervosos que constituiriam o psíquico inconsciente Ao comentar a relação da sua teoria da consciên cia com as demais Freud afirma Segundo uma teoria mecanicista avançada a consciência é só um aditivo aos processos fisiológicopsíquicos cuja supressão não alte raria em nada o curso psíquico De acordo com outra doutrina a consciência é o lado subjetivo de toda ocorrência psíquica portan to inseparável do processo fisiológico anímico Entre ambas situa se a teoria aqui desenvolvida Consciência é aqui o lado subjetivo de uma parte dos processos físicos no sistema nervoso isto é dos processos w Ibid p 25 O paralelismo que no texto sobre as afasias definia a relação entre o neurológico e o psíquico passa a definir a relação entre o psíquico inconsciente e o consciente Freud estende a noção de psíquico com rela ção ao texto sobre as afasias atribuindo uma natureza psicológica aos processos neurológicos que antes eram concebidos como concomitantes aos fenômenos psíquicos Esses concomitantes seriam no Projeto de uma psicologia os próprios processos psíquicos inconscientes e os fenômenos 3 4 7 3 4 7 3 4 7 3 4 7 3 4 7 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 conscientes seriam correlatos a uma parte desses processos As caracterís ticas atribuídas aos processos neurológicos em 1891 são agora atribuídas aos processos y o que lá era considerado como o correlato da representa ção é agora pensado como consistindo na própria representação enquan to processo psíquico inconsciente O conceito de representação é com isso desvinculado do de consciência e a expressão representação inconsciente perde tendo em vista a teoria freudiana a significação enigmática ou contraditória que poderia possuir Além de incorporar a noção de representação inconsciente em sua teoria no Projeto de uma psicologia as características do processo que constituiria a representação também são especificadas com as noções de neurônio quantidade barreira de contato e facilitação A representação con sistiria num grupo de neurônios cujas barreiras de contato estariam facilita das entre si ocupados por quantidade Na ausência da ocupação as facilita ções permaneceriam possibilitando que o mesmo processo voltasse a ocorrer ou seja que a mesma representação emergisse novamente Esse processo seria totalmente independente da consciência e assim a inconsciência passa a ser concebida como o estado originário e predominante das representações Conclusão A reformulação da teoria sobre a neurologia e a psicologia da linguagem empreendida por Freud na monografia La afasia acaba por levar à formulação de um conceito de representação que se distancia em alguns aspectos do que estava subentendido nas teorias criticadas No entanto a identificação entre o psíquico e a consciência e portanto entre representação e consciência é ainda mantida nesse texto Freud sustenta aí que os processos psíquicos são concomitantes dependentes de certos pro cessos nervosos e recusa claramente a existência de um psíquico inconsci ente Portanto de acordo com o que ele propõe em 1891 se entendida literalmente a expressão representação inconsciente não passaria de uma contradição nos termos 3 4 8 3 4 8 3 4 8 3 4 8 3 4 8 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 As observações clínicas das diversas psicopatologias no entanto colocaram em questão essa identificação do psíquico ao consciente Nos textos sobre as neuroses imediatamente posteriores à monografia anterior mente comentada Freud afirma que há representações inconscientes en volvidas na gênese das neuroses mas ele não chega a esclarecer em que consistiriam tais representações Nos Estudos sobre a histeria ele deixa claro que não tem uma hipótese definida sobre a natureza dessas represen tações inconscientes e aponta para a necessidade de uma reflexão sobre a consciência para esclarecêla Essa reflexão ao que parece é um dos de senvolvimentos esboçados no Projeto de uma psicologia Nesse trabalho Freud recusa a identificação entre o psíquico e o consciente e abre espaço em sua teoria para a noção de um psiquismo inconsciente Ele propõe que os fenômenos conscientes sejam paralelos a uma parte dos processos nervo sos aqueles que constituiriam o psíquico inconsciente e conseqüentemente que toda representação consiste num processo cortical totalmente inde pendente da consciência Essa última passa a ser concebida então como algo posterior e restrito em relação à atividade representacional Portanto atribuindo uma natureza psicológica àqueles processos corticais que no texto sobre as afasias eram considerados concomitantes aos fenômenos psíquicos e deslocando o paralelismo que antes definia a relação entre os processos nervosos e os psíquicos para a relação entre os processos psíqui cos inconscientes e os conscientes Freud pôde incorporar a noção de um psíquico inconsciente em sua teoria Além disso no Projeto de uma psicolo gia as características dos processos associativos que constituiriam as re presentações são especificadas assim como os mecanismos que governam a atividade representacional É possível a partir desses textos iniciais portanto apreender as singularidades do conceito freudiano de representação e apreender o modo como Freud desvincula os conceitos de consciência e de representação abrindo caminho para a formulação do conceito de um inconsciente psí quico e representacional peçachave em todos os desenvolvimentos poste riores da teoria psicanalítica 3 4 9 3 4 9 3 4 9 3 4 9 3 4 9 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Referências Amacher Peter 1965 Freuds neurological education and its influence on psychoanalitic theory in Psychological issues New York International University Press vol 14 n 4 Eggert Gertrude 1977 Wernickes Works on Aphasia The Hague Mouton Forrester John 1983 A linguagem e as origens da Psicanálise Rio de Janeiro Imago Freud Sigmund 1891 La Afasia R Alcade Trad Buenos Aires Ediciones Nueva Visión 1973 1893 Alguns consideraciones com miras a un estudio comparativo de las parálisis motrices orgánicas e histéricas in Sigmund Freud Obras Completas J L Etcheverry Trad Buenos Aires Amorrortu Editores vol 1 pp 191210 1998 1894 Las neuropsicosis de defensa in Sigmund Freud Obras Com pletas J L Etcheverry Trad Buenos Aires Amorrortu Editores vol 3 pp 4168 1998 1950 Projeto de uma psicologia O F Gabbi Jr Trad Rio de Janei ro Imago 1995 Freud Sigmund e Breuer J 1895 Estudios sobre la histeria in Sigmund Freud Obras completas J L Etcheverry Trad Buenos Aires Amorrortu Editores vol 2 1998 Head Henry 1926 Aphasia and kindred disorders of speech Cambridge Cambridge at the University Press vol1 Jackson John Hughlings 187880 On affections of speech from disease of the brain in Select Writings of John Hughlings Jackson James Taylor org New York Basic Books pp 171183 1958 1884 Evolution and dissolution of the nervous system in Select Writings of John Hughlings Jackson James Taylor org New York Basic Books pp 45118 1958 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 3 5 0 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Laplanche Jean e Pontalis JeanBertrand 1998 Vocabulário de Psicanálise São Paulo Martins Fontes Monzani Luiz R 1989 O movimento de um pensamento Campinas Editora da Unicamp Recebido em 25 de setembro de 2002 Aprovado em 8 de maio de 2003
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Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana1 Fátima Caropreso Doutoranda no PPG em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos Email fatimacaropresouolcombr Resumo A partir da constatação de que os sintomas neuróticos são determinados por representações inconscientes Freud concluiu que apenas uma parte da atividade psíquica é acessível à consciên cia e que portanto a identidade estabelecida na psicologia e na filosofia entre o psíquico e o consciente e conseqüentemente en tre a consciência e o campo da representação precisava ser repen sada O objetivo deste artigo é discutir algumas das concepções formuladas por Freud no período de 1891 a 1895 dando atenção especial aos textos La afasia 1891 e Projeto de uma psicologia 1895 que lhe permitiram dissociar o conceito de representa ção do conceito de consciência e incorporar a noção de repre sentação inconsciente em sua teoria afastandose assim das con cepções psicológicas tradicionais Palavraschave psicanálise Freud metapsicologia representa ção inconsciente Abstract From the observation of the fact that neurotic symptoms are brought about by unconscious representations Freud concludes 1 Este artigo está relacionado à dissertação de mestrado Representação e consciência na obra inicial de Freud desenvolvida junto ao Programa de PósGraduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos com o apoio da Fapesp à qual desejo agradecer Agradeço também ao meu orientador de mestrado Prof Dr Richard Theisen Simanke pelos comentários e correções deste texto 3 3 0 3 3 0 3 3 0 3 3 0 3 3 0 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 that only a part of psychic activity is accessible to consciousness so that the equivalence between the psychic and the conscious established both in psychology and philosophy should be reviewed and in the same way the equivalence established between consciousness and the field of representation The aim of this paper is to discuss some of the concepts proposed by Freud between 1891 and 1895 that allowed him to separate the concepts of representation and consciousness and to incorporate the notion of unconscious representation in his theory distancing himself in this way from traditional psychological conceptions Keywords psychoanalysis Freud metapsychology representation unconsciousness No momento em que os fenômenos neuróticos sugeriram a Freud a existência de representações inconscientes determinantes dos sintomas ele ainda não dispunha de uma teoria psicológica a partir da qual fosse possível considerar a possibilidade de um psiquismo inconsciente Com o psíquico sendo identificado ao consciente a idéia de uma representação inconsciente não poderia passar de uma contradição em termos Freud então é levado a formular uma teoria na qual a consciência não mais abarcasse a totalidade do psiquismo afastandose das teorias psicológicas tradicionais O objetivo deste artigo é circunscrever os passos iniciais de Freud rumo à formulação do conceito de representação inconsciente e o modo como a partir daí a idéia de um inconsciente psíquico ganha sen tido em sua teoria2 2 Ainda que significativa para a compreensão do surgimento do conceito de inconsciente em Freud não estou considerando a discussão estabelecida em Freud entre as diferenças da escola francesa de psiquiatria e a escola alemãaustríaca restringindo me à análise das propostas feitas por Freud nos textos La afasia e Projeto 3 3 1 3 3 1 3 3 1 3 3 1 3 3 1 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 O conceito de representação em La afasia Em La afasia Freud faz uma revisão das principais hipóteses vigentes sobre os distúrbios afásicos e a partir da recusa dos fundamentos subjacentes a tais hipóteses ele propõe uma concepção alternativa sobre o funcionamento normal e a patologia da linguagem apoiandose princi palmente em algumas hipóteses do neurologista Hughlings Jackson A crítica de Freud dirigese basicamente à teoria de Wernicke e à de Lichtheim sobre as afasias e à teoria sobre o funcionamento do sistema nervoso de Meynert que fundamentava as duas anteriores Uma vez que as teorias criticadas apoiavamse em uma concepção específica de representa ção a recusa por parte de Freud de algumas das teses dessa teoria acaba por implicar a reformulação do conceito de representação As hipóteses neurológi cas propostas por Freud em substituição às de Meynert Wernicke e Lichtheim vão resultar assim em uma concepção consideravelmente distinta de repre sentação No entanto nessa monografia a restrição do psíquico ao conscien te ainda é mantida por Freud Para Meynert o córtex seria constituído por duas áreas funcio nalmente distintas uma área motora que estaria localizada na região frontal e que conteria imagens de movimento e uma área sensorial que estaria localizada na região temporal e que conteria imagens sensoriais Essas duas regiões se conectariam entre si por meio de fibras associativas e estariam conectadas à periferia do sistema nervoso por meio de fibras projetivas Os estímulos que alcançassem a periferia do sistema nervoso seriam sem sofrer nenhuma alteração ao longo desse percurso projetados no córtex onde provocariam alterações morfológicas nas células as quais se converteriam então nos correlatos fisiológicos das representações sim ples As representações complexas resultariam da associação mecânica dessas representações simples Cada uma das impressões sensoriais estaria ar mazenada em uma célula singular de um dos centros corticais e sua constituição se daria a partir de um processo de ocupação de células desocupadas Freud recusa a idéia de projeção ponto por ponto dos 3 3 2 3 3 2 3 3 2 3 3 2 3 3 2 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 estímulos externos no córtex defendida por Meynert e recusa também a idéia de que haveria centros corticais cujas células armazenariam as diver sas impressões sensoriais Contra a primeira dessas hipóteses Freud argumenta que de acordo com uma constatação de Henle o número de fibras que liga a periferia do sistema nervoso à medula é maior que o número de fibras que liga esta última ao córtex portanto de acordo com as características anatômicas desse sistema apenas entre a periferia e a medula seria possí vel ocorrer uma projeção ponto por ponto dos estímulos Devido à redu ção do número de fibras na passagem pela medula uma unidade sensorial que alcançasse o córtex deveria corresponder a várias das unidades senso riais que alcançassem a periferia Além disso argumenta ele nos núcleos de matéria cinzenta pelos quais passam as fibras que conduzem a infor mação aferente da medula ao córtex várias fibras provenientes de dife rentes regiões do sistema nervoso se encontram e a cada fibra aferente correspondem várias fibras eferentes em um mesmo núcleo Dessa forma não é possível que a informação que emerge do núcleo seja exatamente igual à que nele ingressa Freud então sustenta que a informação senso rial é reorganizada em cada passagem da fibra aferente por um núcleo de acordo com princípios funcionais do sistema nervoso e que por isso a excitação que chega ao córtex possui uma relação indireta com a que parte da periferia os feixes de fibras que chegam ao córtex depois de haver pas sado por outras massas cinzentas mantêm alguma relação com a periferia do corpo porém já não refletem uma imagem topografi camente exata dela Contêm a periferia do corpo da mesma manei ra que para tomar um exemplo do tema que nos interessa aqui um poema contém o alfabeto isto é em uma disposição comple tamente diferente que está a serviço de outros propósitos com múltiplas associações dos elementos individuais nas quais alguns podem estar representados várias vezes e outros estar totalmente ausentes Freud 1891 p 68 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Como dissemos Freud recusa também a hipótese da existência de centros corticais cujas células armazenariam os engramas os quais con sistiriam nos correlatos das representações simples Ele argumenta que essa hipótese baseiase na idéia de que os fenômenos psíquicos e os fisioló gicos possuem as mesma características ou seja na hipótese de que a um simples psíquico uma representação simples corresponderia um sim ples neurológico um engrama contido em uma célula Freud nega a legitimidade dessa correspondência e sustenta que é preciso estabele cer as características desses fenômenos independentemente Ele pro põe então que o correlato fisiológico de uma representação seja sem pre um processo Qual é o correlato da idéia simples que emerge ou volta a emergir Obviamente nada estático mas algo que tem o caráter de um processo Este processo não é incompatível com a localização Co meça em um ponto específico do córtex e a partir daí se difunde por todo o córtex e ao longo de certas vias Quando este fato ocor re deixa atrás de si uma modificação com a possibilidade de uma recordação na parte do córtex afetada Ibid p 71 Portanto em vez de ser o correlato de um engrama a represen tação simples seria o correlato de um processo Só com a ocorrência de um processo associativo surgiria uma representação Disso seguese que não é possível diferenciar os correlatos fisiológicos da representação e os da asso ciação como fazia Meynert ou seja não é possível diferenciar no córtex entre áreas de armazenamento de impressões e áreas de associação Assim além da excitação sensorial ser reorganizada ao longo da sua condução da medula ao córtex neste último ela daria origem a um processo associativo sendo assim mais uma vez reorganizada o qual consistiria no correlato fisiológico das representações Dessa forma a representação seria o correlato psíquico de um processo associativo cortical que consistiria no último estágio da série de reorganizações sucessivas do material perceptivo Desse modo as representações seriam construções mentais pois o sistema nervo 3 3 4 3 3 4 3 3 4 3 3 4 3 3 4 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 so rearranjaria as informações provenientes do mundo externo e não cópias dos estímulos que alcançassem a periferia do sistema nervoso Este último não seria então mero receptor das informações sensoriais como conside rava Meynert mas teria um papel ativo na constituição dos correlatos das representações Em La afasia Freud sustenta que os eventos psíquicos são concomitantes dependentes dos eventos nervosos idéia esta que ele em presta do neurologista Hughlings Jackson De acordo com a doutrina da concomitância de Jackson os estados mentais ou conscientes e os estados nervosos ocorreriam paralelamente mas não haveria interferência de um sobre o outro Para cada estado mental haveria um estado nervoso correlativo Citando um exemplo dado por Jackson 1884 p 72 em uma percepção visual há um circuito físico da periferia sensorial para os centros superiores e destes retornando à periferia muscular A imagem visual que é um estado puramente mental surge durante as e não das atividades dos dois elos superiores dessa corrente puramente física A na tureza dessa relação contudo não chega a ser definida Essa posição de Jackson confere autonomia ao seu objeto de es tudo os processos neurais e lhe permite se distanciar da confusão entre o que é físico e o que é psíquico que ele considerava presente na maior parte das teorias neurológicas Freud reconhece a problematicidade dessa confusão e a necessidade de dissociar esses dois domínios e diante disso adota a concepção de Jackson segundo a qual esses dois processos embo ra concomitantes não interferem um sobre o outro Forrester 1983 p 41 comenta que um dos primeiros ataques aos diagram makers3 veio de uma união de argumentos psicológicos e filosóficos no trabalho de Jackson Este estava interessado em romper com a flutuação entre termos psicológicos e fisiológicos que afetava as teorias sobre as afasias assim como a neurolo 3 Esse termo foi usado por Henry Head 1926 para se referir aos neurologistas que procuravam explicar os distúrbios afásicos e o funcionamento da linguagem a partir de diagramas como Wernicke Lichtheim e outros 3 3 5 3 3 5 3 3 5 3 3 5 3 3 5 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 gia em geral De acordo com Forrester a doutrina da concomitância um argumento firme para a separação estrita entre os processos psíquicos e os físicos protegeu a neurologia contra um psicologismo rasteiro Assim como Jackson Freud mantém no texto de 1891 a restri ção do psíquico ao consciente As representações seriam os correlatos psí quicos de um processo cortical associativo o qual deixaria atrás de si mo dificações que possibilitariam a sua rememoração Mas só quando o mes mo processo voltasse a ocorrer a representação emergiria novamente Na ausência do processo a representação deixaria de existir enquanto tal embora continuasse existindo como possibilidade Ao falar sobre os pro cessos associativos correlativos às representações Freud afirma É muito duvidoso que esse fenômeno fisiológico a modificação deixada por um processo cortical esteja de algum modo associado a algo psíquico Nossa consciência não contém nada que possa jus tificar do ponto de vista psicológico o termo imagem latente de recordação No entanto cada vez que o mesmo processo cortical volta a ser suscitado o fenômeno psíquico anterior emerge nova mente como recordação Freud 1891 p71 Portanto nesse texto o psíquico é identificado à consciência e só é possível falar de inconsciente para designar uma ausência de consciên cia que implicaria também a ausência de fenômenos psíquicos Então de acordo com as hipóteses aqui apresentadas a expressão representação inconsciente seria contraditória se tomada com todo rigor pois a representa ção estaria inteiramente incluída no domínio dos processos conscientes Que desenvolvimentos teóricos então vão permitir a Freud fa lar de representação inconscientes ou seja vão permitir que se dissocie representação de consciência Nos textos sobre as neuroses publicados no período entre a publicação da monografia sobre as afasias e a redação do Projeto de uma psicologia o termo subconsciente assim como in consciente é empregado em algumas ocasiões para explicar o mecanis mo psíquico das neuroses mas Freud não chega a atribuir uma natureza 3 3 6 3 3 6 3 3 6 3 3 6 3 3 6 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 psíquica às representações e associações inconscientes de que fala o que ao que parece dáse somente no Projeto de uma psicologia Antes de passar mos ao comentário deste último texto vejamos como Freud emprega esses termos em alguns de seus textos que precedem a redação do Projeto 2 O conceito de representação nos textos freudianos do período de 1891 a 1895 No texto de 1893 Algumas considerações com vistas a um es tudo comparativo entre as paralisias motoras orgânicas e histéricas em bora Freud mantenha a idéia de que os processos psíquicos sejam parale los aos neurológicos ele não mais identifica tão claramente o psíquico ao consciente pois introduz a idéia de processos psíquicos subconscientes4 para explicar as paralisias histéricas Nesse texto Freud sustenta que as características distintivas das paralisias histéricas com relação às orgâni cas se devem ao fato de que enquanto estas últimas são determinadas pela anatomia do sistema nervoso isto é pela extensão e localização de uma lesão orgânica as primeiras são totalmente independentes dos fato res anatômicos pois não decorrem de lesões orgânicas mas de lesões pura mente funcionais isto é da alteração de propriedades funcionais do siste ma nervoso independentes de danos materiais e portanto independentes da estrutura desse sistema Do lado psíquico essa alteração funcional se ria acompanhada pela exclusão de uma representação das associações cons cientes o que leva Freud a dizer que a paralisia histérica resulta da lesão de uma representação5 Uma representação lesada não seria uma repre sentação destruída ou cujo substrato material estivesse destruído mas sim 4 Laplanche e Pontalis comentam que nesse período em que foi publicado o artigo sobre as paralisias histéricas não parece haver diferença no uso freudiano entre subconsciente e o que estava prestes a destacarse sob o nome de inconsciente 1998 p 494 5 Nesse texto que foi escrito em francês Freud usa o termo conception para traduzir ao que tudo indica o termo alemão Vorstellung 3 3 7 3 3 7 3 3 7 3 3 7 3 3 7 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 uma representação cujo vínculo com o restante do psiquismo tivesse sido rompido tornandoa por isso inacessível à consciência Ele afirma que nas paralisias histéricas a representação do órgão ou função paralisada está inacessível às associações conscientes pois todo o seu afeto está en volvido em uma associação subconsciente exclusiva com uma recorda ção traumática O termo subconsciente aparece uma vez como substanti vo A impossibilidade de eliminação é notória quando a impressão per manece no subconsciente Freud 1893 p209 Além disso aparece várias vezes como adjetivo a concepção de braço existe no substrato material porém não é acessível para as associações e impulsos conscientes porque toda a sua afinidade associativa por assim dizer está saturada em uma associação subconsciente com a recordação do acontecimento do trauma produtor dessa paralisia Freud 1891 p 209 De acordo com a teoria de La afasia o termo subconsciente seria sinônimo de ausência de processos psíquicos e portanto represen tação subconsciente seria sinônimo de ausência de representação Então nesse texto de 1893 ou Freud apóia suas hipóteses em uma concepção sobre os processos psíquicos diferente da do texto sobre as afasias em uma concepção em que o psíquico não seja mais identificado ao consciente ou quando ele fala de representações subconscientes referese a representa ções inexistentes Nesse último caso as expressões em que aparece o termo subconsciente seriam no máximo expressões figuradas Uma vez que Freud não esclarece em que sentido o termo sub consciente está sendo usado permanece aí a questão de em quais con cepções metapsicológicas ele fundamenta suas hipóteses sobre o mecanis mo psíquico que origina uma paralisia histérica Não fica claro se Freud continua identificando o psíquico ao consciente e então subconsciente significaria ausência de processos psíquicos de modo que a associação subconsciente seria um processo físico sem concomitante psíquico ou se ele considera que o psíquico não se limita ao consciente Se ele considera 3 3 8 3 3 8 3 3 8 3 3 8 3 3 8 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 que os processos psíquicos são em parte conscientes e em parte subcons cientes então suas expressões não são metafóricas mas referemse a algo de real Em suma permanece aberta a questão de se há ou não um sub consciente psíquico para Freud nesse momento No texto de 1894 As neuropsicoses de defesa Freud enuncia a questão mencionada acima sobre a possibilidade de ocorrerem processos psíquicos na ausência da consciência mas não chega a tomar uma posi ção definitiva Nesse trabalho ele formula uma hipótese sobre o mecanis mo psíquico das psiconeuroses histeria de defesa fobias obsessões e psi coses alucinatórias de acordo com a qual a gênese dessas afecções re pousaria em um esforço do eu para defenderse de uma representação in tolerável Essa defesa consistiria na retirada do afeto atrelado à represen tação traumática fazendo com que essa representação ficasse isolada den tro da consciência e constituísse assim o núcleo de um grupo psíquico secundário Freud porém não usa o termo subconsciente nem incons ciente nesse texto A representação patogênica segundo ele estaria ex cluída dos processos associativos mas permaneceria dentro da consciên cia A representação agora debilitada fica segregada de toda a associação na consciência ibid p 53 Ele afirma que o divórcio entre a repre sentação e o seu afeto ocorre sem consciência mas hesita em aceitar que esses processos que ocorrem na ausência de consciência sejam psíquicos O divórcio entre a representação sexual e seu afeto e o enlace deste último com outra representação adequada porém não inconciliá vel eis aí processos que acontecem sem consciência que somente é possível supor e nenhuma análise clínicopatológica é capaz de demonstrar Talvez seria mais correto dizer estes de modo algum são processos de natureza psíquica mas processos físicos cuja con seqüência se figura como se real e efetivamente tivesse acontecido o expresso mediante o circunlóquio divórcio entre a representa ção e seu afeto e enlace falso deste último Ibid p 54 3 3 9 3 3 9 3 3 9 3 3 9 3 3 9 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Ao que parece nesse texto sobre as neuropsicoses de defesa Freud tende a identificar os processos que se dão na ausência de consciência a processos físicos mantendo assim o psíquico restrito ao consciente mas não chega a afirmar cabalmente essa identidade Nos Estudos sobre a histeria 1895 tanto Freud como Breuer remetem os sintomas histéricos a representações inconscientes embora te nham opiniões distintas sobre o mecanismo psíquico da histeria Segundo Breuer a cisão da atividade psíquica poderia ocorrer em dois casos quan do ela se constituísse durante um estado psíquico anormal um estado hipnóide ou quando ela fosse alvo de uma defesa voluntária por parte do eu Apenas esta última hipótese proposta já em As neuropsicoses de defesa é aceita cabalmente por Freud nesse texto Embora na Comuni cação Preliminar Freud compartilhe com Breuer a hipótese da histeria hipnóide no capítulo sobre a psicoterapia da histeria o qual foi escrito dois anos mais tarde ele afirma que todo caso de histeria hipnóide pode ser remetido em última instância a uma defesa por parte do eu Ele pro põe que toda histeria apresente em sua gênese a separação entre uma representação intolerável e seu afeto isto é um esforço defensivo do qual resulta a divisão psíquica característica da histeria Apesar de ambos os autores usarem o termo inconsciente em diversas ocasiões aparentemente nenhum deles possui ainda uma concepção clara sobre a natureza dos processos inconscientes revelados pelas observações clínicas Para Breuer haveria dois tipos de representações inconscientes aquelas que fazem parte da atividade psíquica normal e aquelas cuja exis tência é patológica Segundo ele no funcionamento psíquico normal as representações cuja intensidade supera um certo limiar seriam conscientes e as que permanecessem abaixo desse limiar seriam inconscientes Mas estas últimas seriam suscetíveis de consciência ou seja elas se tornariam conscientes se sua intensidade aumentasse As representações inconscien tes determinantes da histeria ao contrário seriam insuscetíveis de cons ciência isto é mesmo possuindo uma intensidade elevada elas perma 3 4 0 3 4 0 3 4 0 3 4 0 3 4 0 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 neceriam inconscientes Portanto o campo da atividade psíquica representacional nesse caso seria maior que o campo da consciência po tencial O campo da atividade psíquica representacional não coincide pois neles com o da consciência potencial este é mais limitado que aquele A atividade psíquica representacional se decompõe em cons ciente e inconsciente e as representações em suscetíveis e insuscetíveis de consciência Não podemos então falar de uma cisão da consciência mas sim de uma cisão da psique Freud e Breuer 1895 p 235 Mas apesar de falar que parte da atividade psíquica repre sentacional é insuscetível de consciência em outra passagem Breuer nega a possibilidade de haver processos inconscientes de natureza psíquica É certo que representação provém da terminologia do pensar consciente e por isso representação inconsciente forma uma expressão contraditória Mas o processo físico que está na base da representação é o mesmo em seu conteúdo e em sua forma se bem que não quantitativamente quer a representação passe o limiar da consciência ou permaneça abaixo deste Bastaria construir uma frase como substrato da representação para evitar a contradição e es capar àquela reprovação Ibid p233 Parece haver uma contradição nos argumentos de Breuer pois ele afirma que a representação inconsciente consiste num processo pura mente físico e logo em seguida afirma que a atividade psíquica representacional não se limita à atividade consciente Na maior parte do texto ele parece aceitar a existência de um psíquico inconsciente mas na afirmação acima ele expressamente recusa tal possibilidade Freud em seu capítulo sobre a psicoterapia da histeria mantém a hipótese sobre o mecanismo psíquico dessa neurose que havia sido pro posta em As neuropsicoses de defesa e a estende aos dois outros tipos de 3 4 1 3 4 1 3 4 1 3 4 1 3 4 1 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 histeria hipnóide e de retenção O material patógeno determinante da histeria segundo ele seria constituído por um núcleo que conteria as re presentações traumáticas e por um amplo material mnêmico constituído por representações que por se associarem às traumáticas se teriam torna do também patógenas Essas representações possuiriam um triplo ordenamento elas estariam organizadas no sentido do núcleo à periferia de forma linear cronológica de forma concêntrica em torno do núcleo seguindo linhas de resistência decrescente e de forma irregular seguindo nexos causais Na análise as representações seriam evocadas à medida que a resistência fosse sendo superada na ordem contrária à da sua cons tituição isto é das periféricas as quais coincidiriam parcialmente com o eu às nucleares que esclareceriam o significado do sintoma Haveria portanto uma seqüência ininterrupta entre as representações originárias da histeria e os sintomas isto é entre as representações inconscientes e as conscientes Freud distingue dois tipos de representações patógenas que permaneceriam inacessíveis à consciência do paciente até emergirem na terapia as que são rememoradas ou seja as que o sujeito reconhece como tendo sido de fato experienciadas e as que não são rememoradas Estas últimas embora sejam aceitas pelo paciente devido a sua necessi dade lógica e ao afeto que acompanha o seu surgimento e provoca o alívio do sintoma não são reconhecidas como tendo sido um dia vivenciadas com a ajuda deste procedimento a pressão sobre a fronte que ora mostra desde o ponto em que cessaram as reconduções do enfermo na vigília o caminho posterior ora chama a atenção so bre nexos que caíram no esquecimento depois convoca e ordena recordações que desde muitos anos atrás estavam subtraídas à asso ciação apesar do que ainda se pode discernilas como recordações e como operação suprema da reprodução faz aflorar pensamentos que o enfermo nunca quer reconhecer como seus que ele não recorda embora admita que o contexto os exige imprescindivelmente e nesse transcurso se convence de que essas representações e não outras pro duzem o fechamento da análise e o cessar dos sintomas Ibid p 279 3 4 2 3 4 2 3 4 2 3 4 2 3 4 2 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Freud atribui então a incapacidade de rememoração de tais representações ao fato de elas consistirem em pensamentos inconscientes Ainda quando tudo já passou quando o enfermo dominado pela compulsão lógica e convencido pelo efeito curativo que acompa nha justamente o afloramento desta representação quando o enfer mo digo aceita ele mesmo que teve que ter pensado isto ou aqui lo costuma acrescentar Porém não posso recordar que o tenha pensado Em tal caso é fácil entenderse com ele eram pensamentos inconscientes Agora bem como esse estado de coisas foi registrado em suas intuições psicológicas Há que se passar por alto esse discernimento recusado do enfermo que não possui motivo algum posto que o trabalho já acabou Devese supor que se trata real mente de pensamentos nunca produzidos e para os quais havia uma mera possibilidade de existência de modo que a terapia consisti ria então na consumação de um ato psíquico interceptado É evi dentemente impossível enunciar algo sobre isto ou seja sobre o estado do material patógeno antes da análise até que se tenha esclarecido a fundo suas visões psicológicas básicas antes de tudo sobre a essência da consciência Ibid p 305 Uma vez que Freud afirma que essas representações não são rememoradas porque consistem em pensamentos inconscientes é necessá rio reconhecer que esses dois tipos de representações patógenas evocadas na terapia não são inconscientes no mesmo sentido Freud admite que não possui uma explicação para essa diferenciação Em nenhum dos textos comentados ele explicita a noção de representação inconsciente admitida como necessária para se esclarecer o mecanismo psíquico das neuroses embora em A psicoterapia da histeria apresente uma inclinação a con ceber os processos inconscientes como processos puramente físicos Apa rentemente Freud não possuía ainda nesse período uma concepção defi nida sobre esse ponto mas fica claro que a identidade entre o psíquico e o consciente afirmada no texto sobre as afasias já está sendo questionada Essa questão ao que parece fica melhor definida no Projeto de uma psicologia 3 4 3 3 4 3 3 4 3 3 4 3 3 4 3 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 onde Freud formula uma teoria em que a consciência é concebida como algo que se acrescenta a apenas uma parte das nossas representações re cusando assim a identidade total entre o psíquico e o consciente A refle xão sobre a consciência apontada por Freud como necessária nos Estudos sobre a histeria parece mesmo ter sido um dos motivos que o levaram a redigir o Projeto de uma psicologia Passemos pois a esse último texto A expansão do conceito de psíquico inconsciente no Projeto de uma psicologia No Projeto de uma psicologia redigido em 1895 mas publicado postumamente em 1950 Freud tenta explicar os processos psíquicos nor mais e os patológicos a partir das noções de neurônio e de quantidade Ele desenvolve a idéia de um aparelho neuronial onde ocorreriam tais processos cujo funcionamento e cuja estrutura seriam determinados pelo princípio de inércia isto é por uma tendência a descarregar toda a quantidade que incide sobre o aparelho O aparelho neuronial descreve processos que ocorreriam no sistema nervoso e que poderiam ser relaciona dos a regiões anatômicas do cérebro Tratase portanto como apontou Monzani 1989 p 118 de um modelo teóricoabstrato do funciona mento do cérebro Os neurônios seriam as unidades materiais que comporiam o aparelho neuronial Este seria constituído por três sistemas de neurônios o sistema de percepção f cuja função seria receber as quantidades de ori gem externa o sistema de memória y onde se constituiriam as representa ções e o sistema w que seria responsável pela produção de qualidades sensoriais ou seja pela consciência As diferenças entre esses sistemas não se deveriam à natureza dos neurônios que os integrariam pois todos por hipótese seriam estruturalmente idênticos mas ao modo distinto de ação da quantidade em cada um deles Entre os neurônios haveria barreiras de contato que ofereceriam uma certa resistência à passagem da quanti dade de um neurônio para outro Quando a quantidade superasse a resis 3 4 4 3 4 4 3 4 4 3 4 4 3 4 4 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 tência das barreiras de contato a resistência a ela seria diminuída ou seja ela seria facilitada e então numa próxima ocupação da mesma barrei ra a resistência encontrada seria menor As barreiras de contato não teriam nenhuma função no sistema f pois a intensidade das quantidades com que esse sistema lidaria seria superior à capacidade de resistência de tais barreiras e portanto essas não ofereceriam nenhuma resistência à passa gem da excitação Já em y que receberia quantidade via f as ocupa ções seriam menos intensas devido ao fato de que a estrutura ramificada de f faria com que a corrente excitatória se distribuísse pelos diversos ca minhos ocupando assim y em vários pontos Dessa forma ao invés de ser ocupado muito intensamente em um ponto o sistema y seria ocupado menos intensamente em vários pontos A quantidade que alcançasse y possuiria intensidade inferior à da resistência das barreiras de contato des se sistema por isso para conseguir passagem uma mesma barreira teria que ser ocupada a partir de mais de um neurônio simultaneamente o que faria com que se constituíssem aí caminhos diferenciados que possibilita riam a memória ou seja que possibilitariam a repetição de um mesmo processo no aparelho Uma vez estabelecidas as facilitações diferenciadas em y quando os mesmos neurônios fossem ocupados novamente a corren te excitatória percorreria o caminho anteriormente estabelecido fazendo com que a representação antes constituída voltasse a emergir A memória resultaria assim da constituição de facilitações diferenciadas em y Esse sistema é dividido em y do manto que estaria em contato com f e portanto receberia quantidade exógena e y do núcleo que estaria em contato com o interior do organismo e receberia quantidade endógena O terceiro sistema que integraria o aparelho neuronial o sistema w consisti ria na base material da consciência Freud tenta estabelecer as condições quantitativas que estariam relacionadas à produção de qualidades senso riais mas acaba reconhecendo que não é possível no momento chegar a uma hipótese satisfatória sobre isso No entanto ele sugere que a produ ção de qualidades sensoriais estaria de algum modo relacionada às pro priedades temporais da quantidade isto é ao período e que a consciên 3 4 5 3 4 5 3 4 5 3 4 5 3 4 5 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 cia de uma representação dependeria da recepção em y de signos de qua lidade que seriam fornecidos por w no caso de ocupações provenientes de f e de inervações motoras Além disso para que uma representação fosse percebida seria preciso além do surgimento de signos de qualidade que eles fossem ocupados também a partir de y Assim apenas uma pe quena parte das representações que se constituíssem se tornariam cons cientes Mas afinal como a relação entre o psíquico e a consciência é pensada no Projeto de uma psicologia O aparelho neuronial como comentamos anteriormente des creve processos que ocorrem no sistema nervoso e que podem ser relacio nados de forma geral a regiões anatômicas do cérebro Freud tenta apoiar a hipótese da diferenciação entre o sistema y e o sistema f também em dados anatômicos embora a definição desses sistemas se dê em termos de fatores funcionais Ele argumenta que é possível correlacionar o sistema f à substância cinzenta da medula espinhal e o sistema y à substância cin zenta do cérebro De fato conhecemos a partir da anatomia um sistema de neurônios a substância cinzenta da medula espinhal o único em conexão com o mundo externo e um superposto a substância cinzenta do cérebro que não tem relações periféricas diretas mas é responsá vel pelo desenvolvimento do sistema nervoso e das funções psíqui cas O cérebro primário não se ajusta mal a nossa caracterização do sistema y se nos é lícito supor que o cérebro tenha vias diretas independentes de f para o interior do corpo Freud 1950 p17 O fato de Freud tentar estabelecer uma correspondência anatômica para o aparelho neuronial indica que este pretende ser uma descrição de uma parte dos processos que ocorrem no sistema nervoso e que sendo assim os processos psíquicos que não envolvem a consciência são identificados aos processos neurológicos A independência dos proces sos que ocorrem em y ou seja da memória em relação à consciência é claramente afirmada 3 4 6 3 4 6 3 4 6 3 4 6 3 4 6 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Temos tratado os processos psíquicos como algo que poderia pres cindir deste conhecimento fornecido pela consciência que existe independente de uma tal consciência Se não nos deixarmos desconcertar por tal fato seguese desse pressuposto que a cons ciência não proporciona nem conhecimento completo nem seguro dos processos neuroniais cabe considerálos em primeiro lugar e em toda a extensão como inconscientes e cabe inferilos como as outras coisas naturais Ibid p 22 Os processos psíquicos inconscientes deveriam ser abordados de uma perspectiva científiconaturalista pois possuiriam a mesma natureza dos demais objetos das disciplinas científicas isto é consistiriam em pro cessos físicos envolvendo neurônios e quantidades E os fenômenos conscien tes Qual seria a sua relação com o restante do psíquico A consciência seria o lado subjetivo de uma parte dos processos nervosos que constituiriam o psíquico inconsciente Ao comentar a relação da sua teoria da consciên cia com as demais Freud afirma Segundo uma teoria mecanicista avançada a consciência é só um aditivo aos processos fisiológicopsíquicos cuja supressão não alte raria em nada o curso psíquico De acordo com outra doutrina a consciência é o lado subjetivo de toda ocorrência psíquica portan to inseparável do processo fisiológico anímico Entre ambas situa se a teoria aqui desenvolvida Consciência é aqui o lado subjetivo de uma parte dos processos físicos no sistema nervoso isto é dos processos w Ibid p 25 O paralelismo que no texto sobre as afasias definia a relação entre o neurológico e o psíquico passa a definir a relação entre o psíquico inconsciente e o consciente Freud estende a noção de psíquico com rela ção ao texto sobre as afasias atribuindo uma natureza psicológica aos processos neurológicos que antes eram concebidos como concomitantes aos fenômenos psíquicos Esses concomitantes seriam no Projeto de uma psicologia os próprios processos psíquicos inconscientes e os fenômenos 3 4 7 3 4 7 3 4 7 3 4 7 3 4 7 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 conscientes seriam correlatos a uma parte desses processos As caracterís ticas atribuídas aos processos neurológicos em 1891 são agora atribuídas aos processos y o que lá era considerado como o correlato da representa ção é agora pensado como consistindo na própria representação enquan to processo psíquico inconsciente O conceito de representação é com isso desvinculado do de consciência e a expressão representação inconsciente perde tendo em vista a teoria freudiana a significação enigmática ou contraditória que poderia possuir Além de incorporar a noção de representação inconsciente em sua teoria no Projeto de uma psicologia as características do processo que constituiria a representação também são especificadas com as noções de neurônio quantidade barreira de contato e facilitação A representação con sistiria num grupo de neurônios cujas barreiras de contato estariam facilita das entre si ocupados por quantidade Na ausência da ocupação as facilita ções permaneceriam possibilitando que o mesmo processo voltasse a ocorrer ou seja que a mesma representação emergisse novamente Esse processo seria totalmente independente da consciência e assim a inconsciência passa a ser concebida como o estado originário e predominante das representações Conclusão A reformulação da teoria sobre a neurologia e a psicologia da linguagem empreendida por Freud na monografia La afasia acaba por levar à formulação de um conceito de representação que se distancia em alguns aspectos do que estava subentendido nas teorias criticadas No entanto a identificação entre o psíquico e a consciência e portanto entre representação e consciência é ainda mantida nesse texto Freud sustenta aí que os processos psíquicos são concomitantes dependentes de certos pro cessos nervosos e recusa claramente a existência de um psíquico inconsci ente Portanto de acordo com o que ele propõe em 1891 se entendida literalmente a expressão representação inconsciente não passaria de uma contradição nos termos 3 4 8 3 4 8 3 4 8 3 4 8 3 4 8 Fátima Caropreso Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 As observações clínicas das diversas psicopatologias no entanto colocaram em questão essa identificação do psíquico ao consciente Nos textos sobre as neuroses imediatamente posteriores à monografia anterior mente comentada Freud afirma que há representações inconscientes en volvidas na gênese das neuroses mas ele não chega a esclarecer em que consistiriam tais representações Nos Estudos sobre a histeria ele deixa claro que não tem uma hipótese definida sobre a natureza dessas represen tações inconscientes e aponta para a necessidade de uma reflexão sobre a consciência para esclarecêla Essa reflexão ao que parece é um dos de senvolvimentos esboçados no Projeto de uma psicologia Nesse trabalho Freud recusa a identificação entre o psíquico e o consciente e abre espaço em sua teoria para a noção de um psiquismo inconsciente Ele propõe que os fenômenos conscientes sejam paralelos a uma parte dos processos nervo sos aqueles que constituiriam o psíquico inconsciente e conseqüentemente que toda representação consiste num processo cortical totalmente inde pendente da consciência Essa última passa a ser concebida então como algo posterior e restrito em relação à atividade representacional Portanto atribuindo uma natureza psicológica àqueles processos corticais que no texto sobre as afasias eram considerados concomitantes aos fenômenos psíquicos e deslocando o paralelismo que antes definia a relação entre os processos nervosos e os psíquicos para a relação entre os processos psíqui cos inconscientes e os conscientes Freud pôde incorporar a noção de um psíquico inconsciente em sua teoria Além disso no Projeto de uma psicolo gia as características dos processos associativos que constituiriam as re presentações são especificadas assim como os mecanismos que governam a atividade representacional É possível a partir desses textos iniciais portanto apreender as singularidades do conceito freudiano de representação e apreender o modo como Freud desvincula os conceitos de consciência e de representação abrindo caminho para a formulação do conceito de um inconsciente psí quico e representacional peçachave em todos os desenvolvimentos poste riores da teoria psicanalítica 3 4 9 3 4 9 3 4 9 3 4 9 3 4 9 As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana Natureza Humana 52 329350 juldez 2003 Referências Amacher Peter 1965 Freuds neurological education and its influence on psychoanalitic theory in Psychological issues New York International University Press vol 14 n 4 Eggert Gertrude 1977 Wernickes Works on Aphasia The Hague Mouton Forrester John 1983 A linguagem e as origens da Psicanálise Rio de Janeiro Imago Freud Sigmund 1891 La Afasia R Alcade Trad Buenos Aires Ediciones Nueva Visión 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