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CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 704 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 reSUMo A despeito de dados bastante sólidos as contribuições da Análise do Comportamento ao planejamento de condições de ensino têm sido subutilizadas Este artigo objetiva compartilhar algumas dessas contribuições com o campo da educação Com base em trabalhos acerca das aplicações da Análise do Comportamento para a educação ofereceremos algumas orientações sobre aspectos relevantes envolvidos nos processos de ensinoaprendizagem aos quais os professores devem estar atentos Dividimos as contribuições em três categorias contribuições da filosofia behaviorista radical descrição e aplicação de princípios do comportamento ao contexto educacional algumas propostas sistematizadas de ensino de base comportamental Novos estudos poderiam aprofundar a descrição das contribuições comportamentais à educação e destacar essas contribuições por áreas anÁlise do CoMPorTaMenTo ProCesso de ensino aPrendiZageM PsiCologia da eduCação CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO MARCELO HENRIQUE OLIVEIRA HENKLAIN JOÃO DOS SANTOS CARMO outroS tEmaS Agradecemos às professoras Aline Reali e Olívia Kato pelas críticas e sugestões feitas Marcelo Henrique Oliveira Henklain é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo Fapesp mediante concessão de bolsa de mestrado e esta pesquisa foi realizada durante a vigência de bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Capes João dos Santos Carmo é apoiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia MCT no âmbito do Edital n 152008 com auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq e da Fapesp CP 149indb 704 01112013 152725 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 705 CONTRIBUCIONES DEL ANÁLISIS DE LA CONDUCTA A LA EDUCACIÓN UNA INVITACIÓN AL DIÁLOGO reSUMen A pesar de datos bastante sólidos las contribuciones del Análisis de la Conducta a la planificación de condiciones de enseñanza han sido subutilizadas El presente artículo tiene el propósito de compartir algunas de esas contribuciones al campo de la educación En base a trabajos acerca de las aplicaciones del Análisis de la Conducta para la educación ofreceremos algunas orientaciones sobre aspectos relevantes involucrados en los procesos de enseñanzaaprendizaje a los que los docentes siempre deben estar atentos Dividimos las contribuciones en tres categorías aportes de la filosofía behaviorista radical descripción y aplicación de principios del comportamiento al contexto educacional algunas propuestas sistematizadas de enseñanza de base conductivista Nuevos estudios podrían profundizar la descripción de las contribuciones comportamentales a la educación y destacarlas por áreas anÁlisis de la ConduCTa ProCeso de enseÑanZa Y aPrendiZaje PsiCologÍa de la eduCaCión CONTRIBUTIONS OF BEHAVIOR ANALYSIS TO EDUCATION AN INVITATION FOR DIALOGUE abSTraCT Despite solid evidence the contributions of Behavioral Analysis for planning of teaching conditions have been underutilized This article aims to share some of these contributions to the field of education Based on work concerning the applications of Behavioral Analysis to education the article offers some guidance on relevant aspects that teachers should be aware of in teachinglearning processes The contributions are separated into three categories radical behaviorist contributions description and application of behavioral principles to the educational context systematized teaching proposals with a behavioral basis New studies could deepen the behavioral contributions to education and highlight them by areas behaVior analYsis learning and TeaChing ProCesses eduCaTional PsYChologY CP 149indb 705 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 706 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 p odeMos CaraCTeriZar a PsiCologia como uma das ciências da educação PLAISANCE VERGNAUD 2003 Essa ciência é marcada pela diversidade de abordagens teóricometodológicas FIGUEIREDO 1991 sendo impor tante o psicólogo destacar qual ponto de vista utilizou para analisar fe nômenos e processos psicológicos ou propor intervenções Adotaremos neste artigo o ponto de vista da Análise do Comportamento Consideramos que essa abordagem tem contribuições importan tes para oferecer aos educadores Contudo a insistência em classificar a abordagem comportamental à educação como tecnicista e redutora do homem a despeito de diversos trabalhos que demonstraram o contrá rio CARMO BAPTISTA 2003 CARRARA 2005 LUNA 2000 TEIXEIRA 2006 TODOROV MOREIRA 2008 RODRIGUES 2011 SKINNER 1969 1972 1968 1991 1989 cria barreiras a um diálogo proveitoso e ao de senvolvimento e implementação de propostas viáveis que podem cola borar com os diferentes esforços empreendidos para ajudar a educação brasileira a melhorar Enquanto o trabalho de muitos profissionais é por vezes veta do ou diminuído em função de divergências entre abordagens teórico metodológicas notase que sem a atenção e orientação necessárias os pro fessores persistem com dúvidas sobre as melhores práticas de ensino e po dem acabar empregando metodologias ineficazes SKINNER 1972 1968 Essas dúvidas dos professores sinalizam uma importante de manda social a necessidade de identificação de práticas de ensino que ajudem os alunos a aprender Do ponto de vista da psicologia comporta mental segundo Skinner 1972 1968 para que seja possível contribuir CP 149indb 706 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 707 com as práticas de ensino fazse necessário estudar o comportamento humano por meio de uma análise experimental para que sejam iden tificados princípios do comportamento que permitam a proposição e aplicação de práticas de ensino eficientes e eficazes Neste artigo não buscamos dar respostas definitivas sabemos da complexidade envolvida na resolução dos problemas educacionais A despeito da opção teórica que adotamos reconhecemos que nossas respostas não são as únicas possibilidades de abordar essas questões Existe uma rica e importante diversidade de perspectivas teóricas com fundamentação científica e boa disposição ao diálogo devendo portan to participar do debate Educadores e cientistas com diferentes formas de pensar têm realizado em suas universidades e escolas trabalho árduo no sentido de pensar e propor reformas para a educação porque estão todos motivados a produzir mudanças socialmente significativas Pretendemos compartilhar algumas contribuições da Análise do Comportamento com o campo da educação Enfatizamos que um diálo go proveitoso pode ser estabelecido entre diferentes perspectivas teóri cas que atuam nesse campo e a Análise do Comportamento CARMO BAPTISTA 2003 Para alcançar os objetivos apresentados ofereceremos um breve resumo dos princípios teóricometodológicos da Análise do Comportamento seguido por uma descrição de algumas contribuições comportamentais à educação Pretendemos com este texto sinalizar as pectos fundamentais dos processos de ensino e aprendizagem segundo a Análise do Comportamento Se o professor for sensível a esses aspec tos provavelmente terá melhores chances de criar condições facilita doras da aprendizagem de seus alunos Evidentemente temos clareza de que um bom desempenho docente em sala de aula está atrelado a outros fatores relevantes que fogem à proposta do artigo porém os apontamentos aqui apresentados podem contribuir sobremaneira com a prática docente Ressaltamos que este artigo deve ser lido não como uma crítica ao trabalho dos professores mas como uma contribuição que busca si nalizar o que esses podem fazer ou a que aspectos do comportamento dos seus alunos devem estar atentos para produzir aprendizagem de forma eficiente e gratificante Evitaremos ao máximo o uso de termos técnicos Referências com maiores aprofundamentos nos temas discuti dos serão fornecidas ao longo do texto a anÁlise do CoMPorTaMenTo Análise do Comportamento é uma abordagem em psicologia produto do intercruzamento do Behaviorismo Radical1 pressupostos teóricos filosóficos e históricos da Análise Experimental do Comportamento 1 O termo radical significa raiz ou aquilo que é básico e essencial Ao qualificar a expressão behaviorismo esse termo traz o significado de que o comportamento é o objeto de estudo por excelência do psicólogo comportamental Significa também que todos os fenômenos e processos psicológicos são interpretados como comportamentos CP 149indb 707 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 708 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 método de investigação científica do comportamento dados empíri cos e da Análise Aplicada do Comportamento criação e administração de recursos de intervenção social TOURINHO 1999 Essa abordagem estuda o comportamento entendido como re lação entre classes de estímulos público e privado histórico e imedia to social e não social e classes de respostas de um organismo biolo gicamente constituído ambas definidas por suas funções CARVALHO NETO ALVES BAPTISTA 2007 O comportamento é um processo muda ao longo do tempo Comportamentos apresentados em diferentes mo mentos podem ser similares em termos de forma e função Contudo não são iguais O termo classe enfatiza justamente essa característica do comportamento O que pode ser dito é que uma variedade de estímulos uma classe possui determinada função em relação a um conjunto de respostas outra classe O termo resposta é utilizado para destacar um dos componentes da relação comportamental diz respeito a uma de terminada ação do organismo num determinado momento Portanto é menos abrangente que o termo comportamento Os analistas do comportamento estudam basicamente dois tipos de relações comportamentais respondentes e operantes Embora o estu do do comportamento respondente seja importante em muitos aspectos teóricos e práticos existe uma ênfase no estudo dos operantes por sua relação direta com grande parte dos comportamentos complexos que exibimos cotidianamente O comportamento operante pode ser expli cado funcionalmente e estudado em termos de eventos antecedentes respostas do indivíduo e eventos consequentes TODOROV 2007 Uma relação reflexa por seu turno é estudada em termos de eventos antece dentes e respostas eliciadas por esses eventos antecedentes Em poucas palavras os analistas estudam relações organismoambiente denomina das comportamento O comportamento é entendido como evento natural e multide terminado em três níveis de variação e seleção a filogenético b on togenético e c cultural Desse ponto de vista o comportamento não é tomado como produto de um agente iniciador eou de uma mente não física SKINNER 1998 1953 1999 1974 Os analistas do comportamento identificaram diversas regulari dades no comportamento A descrição dessas regularidades deu origem a um conjunto de princípios básicos de aprendizagem bastante útil no estudo e compreensão dos comportamentos humanos Um desses prin cípios descreve que a consequência produzida por uma resposta pode ter basicamente dois efeitos sobre essa resposta a fortalecimento ou b enfraquecimento O efeito de fortalecimento implica que uma dada resposta tem a sua probabilidade futura de ocorrência aumentada Já o efeito de enfraquecimento implica que a resposta terá menor probabili dade de ocorrer novamente no futuro As consequências que fortalecem CP 149indb 708 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 709 uma resposta são chamadas de reforçadoras Aquelas que a enfraque cem podem ser denominadas de punitivas No que diz respeito à produção de conhecimento novo notase o emprego frequente em Análise do Comportamento de pesquisas ex perimentais ou quase experimentais com sujeitos humanos e não hu manos e geralmente o uso da taxa e da frequência de respostas como medidas dos efeitos da manipulação de variáveis independentes que podem ser eventos antecedentes ou consequentes A descrição das re lações organismoambiente constitui o objetivo fundamental da análise comportamental possibilitando a compreensão de por que fazemos o que fazemos nas circunstâncias em que o fazemos Segundo Skinner 1998 1953 a Análise do Comportamento tem o papel de gerar conhecimento que nos capacite a lidar com o com portamento seja ele de humanos ou não humanos de modo mais efi ciente No jargão técnico dos analistas do comportamento isso pode ser descrito como o compromisso da ciência comportamental com a previsão e o controle do comportamento Falar em previsão e controle do comportamento parece ser algo que coloca em risco ou nega a liber dade e criatividade humana e sugere que o homem é uma máquina que o comportamento humano é simples e não complexo linear e não mutável Pensar assim é um equívoco Ao contrário do que se acredita previsão e controle podem gerar liberdade Quando se diz que é possí vel prever um comportamento não significa propriamente dizer qual será o futuro da pessoa mas da probabilidade de se produzir um tipo de interação Quanto mais soubermos quais e como as variáveis afetam nosso comportamento maior será a nossa liberdade de mudar nossos caminhos e alterar o nosso futuro SKINNER 1998 1953 1999 1974 Ao se analisar a história da Psicologia notase que a Análise do Comportamento foi inovadora em termos de sua proposta naturalista contextualista e pragmática de estudo do comportamento e de sua defi nição de psicologia como ciência do comportamento A abordagem ino vou também ao propor o modelo de seleção do comportamento pelas consequências no emprego dos delineamentos experimentais de sujei to único e foi uma das responsáveis por denunciar a frequente ocorrên cia de explicações tautológicas em psicologia LUNA 2000 ConTribuições da anÁlise do CoMPorTaMenTo Para a eduCação Skinner 1969 1972 1968 destaca que a Análise do Comportamento produz conhecimento sólido acerca do comportamento huma no o que possibilita sua aplicação ao contexto educacional Saville Lambert e Robertson 2011 relatam que ao longo das últimas décadas CP 149indb 709 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 710 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 pesquisadores comportamentais têm desenvolvido e testado diversos métodos de ensino Todos eles estão ligados à psicologia operante inau gurada por B F Skinner Embora esses métodos demonstrem ser mais efetivos2 que os tradicionais SKINNER 1991 1989 KELLER 1972 1968 TEIXEIRA 2006 SAVILLE LAMBERT ROBERTSON 2011 não se tem notícia de seu emprego em larga escala no ensino regular Os apontamentos a seguir objetivam dar subsídios à compreen são dos princípios e das contribuições da Análise do Comportamento à educação Esses princípios podem fundamentar a identificação de práti cas de ensino que aumentem as chances do aluno aprender Podemos identificar diversas contribuições e aplicações da Análise do Comportamento à educação que estão descritas em diver sos textos Skinner 1998 1953 1969 1972 1968 1999 1974 1991 1989 Bijou 2006 1970 Keller 1972 1968 Neri 1980 Matos 1993 Hübner 1987 Luna 2000 Zanotto 2000 Nico 2001 Kubo e Botomé 2001 Pereira Marinotti e Luna 2004 Teixeira 2006 Zanotto Moroz e Gioia 2008 e Saville Lambert e Robertson 2011 Com base nesses autores ofereceremos algumas orientações fundamentadas na Análise do Comportamento e na filosofia Behaviorista Radical Entendemos que existam pelo menos três categorias de contribuições da Análise do Comportamento para a Educação 1 a primeira categoria diz respeito às contribuições da filosofia Behaviorista Radical 2 a segunda à for ma com que a Análise do Comportamento interpreta certos problemas educacionais ou responde a questões como qual o papel do professor e a descrição e aplicação de princípios do comportamento ao contex to educacional 3 a terceira está diretamente relacionada a algumas propostas sistematizadas de ensino de base comportamental que neste texto serão apenas descritas brevemente Essas contribuições serão apresentadas sob a forma de breves apontamentos ou orientações ao trabalho do professor Três ressalvas são essenciais a a simplicidade do que será descrito é apenas aparente b não basta conhecer o que será discutido é preciso agir em conformidade com essas indicações e principalmente avaliar criticamente seus resul tados sobre o aprendizado dos alunos e c as contribuições que serão citadas estão interligadas de modo que as divisões que realizamos servem apenas para enfatizar a importância de cada elemento dessa rede ConTribuições do behaViorisMo radiCal Concepção de homem De acordo Skinner 1998 1953 e 1999 1974 Micheletto e Sério 1993 Sério 2001 1997 e Carrara 2005 o Behaviorismo Radical propõe uma concepção de homem que se contrapõe a posições filosó ficas amplamente aceitas pela cultura ocidental O behaviorista radical 2 Por efetividade pretendemos dizer que esses métodos garantem que mais alunos aprendam em menor tempo e com menos dificuldade CP 149indb 710 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 711 defende que a o homem não existe por si mesmo uma vez que faz parte do mundo e sua existência está intrinsecamente relacionada ao mundo social e físico que o cerca b não é a causa ou origem de seu pró prio comportamento tendo em vista que seu comportamento não ocor re no vazio e é gerado por condições externas concretas c não é livre no sentido de que o mundo exerce diferentes formas de controle sobre seu agir no mundo e não no sentido de que não possa fazer escolhas ou tomar decisões d não é de natureza diferente dos demais fenômenos existentes no mundo e por isso seu comportamento pode ser explicado cientificamente e não contém em si duas naturezas uma corpórea e uma mental O Behaviorismo Radical portanto não defende uma vi são dualista de homem mentecorpo e sim uma visão monista uma vez que aquilo que em nossa cultura ocidental é chamado de mente referese a aspectos de seu comportamento pensamento cognição etc que compartilham a mesma natureza física e portanto não são separa dos do corpo O Behaviorismo Radical adota os seguintes pressupostos a o comportamento humano está submetido a leis universais mas cada pes soa é singular na exata medida em que possui uma dotação genética específica e uma história idiossincrática de aprendizagem no contexto de uma determinada cultura b o comportamento humano pode ser conhecido e explicado não se trata de um fenômeno espontâneo ou desordenado c o comportamento humano é uma relação ele constrói o mundo à sua volta e nesse processo também está se construindo pois as consequências mudanças produzidas no mundo de seu comporta mento o alteram como um todo Dessa perspectiva nem o homem nem o mundo são absolutos mas são interdependentes no que diz respeito a como se modificam ao longo do tempo A cada nova relação teremos portanto um homem e um mundo diferentes Assim o homem é visto como sujeito ativo e não como receptáculo que sofre passivamente as influências do ambiente Papel da educação O valor ético por excelência é a sobrevivência do grupo isto é da cultura associada à produção de liberdade dignidade e qualidade de vida para todos os seus integrantes Uma forma de garantir isso está numa educação cujo papel primordial é o de estabelecer nos membros da cultura comportamentos que serão vantajosos no futuro tanto para ele membro como para o seu grupo Decorre portanto que a esco la tem o papel fundamental de ensinar comportamentos significativos para os alunos e para o seu grupo Em resumo o objetivo último da educação é o desenvolvimento de comportamentos que serão vantajosos no futuro Isso envolve en sinar comportamentos como autocontrole resolução de problemas e CP 149indb 711 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 712 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 tomada de decisão os quais devem dar chances ao indivíduo de contri buir com a sobrevivência de sua cultura explicação do comportamento e análise das dificuldades de aprender Explicações do comportamento que apelem para construtos hi potéticos eou metáforas e que não avancem na identificação das variá veis das quais o comportamento é função podem encobrir as reais causas do fracasso de um aluno e de seu professor Portanto devemos tomar cuidado ao colocar no aluno a causa de seu fracasso A rigor dizer que o aluno não está motivado significa apenas dar uma falsa explicação A motivação não é intrínseca ao aluno depende de variáveis ambientais como o tipo da tarefa que o professor requisita as consequências que o aluno produz com a realização da tarefa a clareza da tarefa ou das instruções para a sua realização etc Uma decorrência dessa forma de explicar o comportamento en volve o fato de que conhecer o aluno nas suas facilidades e dificuldades de aprendizagem exige a análise de seus comportamentos ao longo de uma história de aprendizagem em termos das condições sob as quais a pessoa se comporta e as consequências que produz De nada adianta analisar o desempenho médio dos alunos em sala de aula Cada aluno deve ser avaliado individualmente e o planejamento de ensino deve ser tanto quanto possível flexível para atender às necessidades individuais ConTribuições das inTerPreTações e aPliCações da anÁlise do CoMPorTaMenTo Caracterização da função do professor e do aluno e definição dos termos ensinar e aprender Um dos papéis cruciais do professor envolve criar condições que facilitem e garantam aprendizagem A sua função primordial é en sinar Ensinar é um processo comportamental complexo Isso significa que o verbo ensinar não se refere a um único comportamento como é o caso de verbos como sentar levantar empurrar etc Ao contrário ensinar é um termo amplo que designa uma categoria de comporta mentos que caracterizam o que um professor faz sob determinadas circunstâncias e os efeitos que produz O aspecto mais crítico no pro cesso comportamental chamado ensinar e que o caracteriza é o efeito do que o professor faz Esse efeito deve ser a aprendizagem do aluno Em resumo ensinar definese por obter aprendizagem do aluno e não pela intenção ou objetivo do professor ou por uma descrição do que ele faz em salade aula ensinar é o nome da relação entre o que um professor faz e a aprendizagem de um aluno KUBO BOTOMÉ 2001 p 5 CP 149indb 712 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 713 Aprender referese ao que acontece com o aluno em decorrência da ação do professor de ensinar A mudança de comportamento do alu no alteração de suas relações com o meio é o que fundamentalmente evidencia aprendizagem Aprendizagem diz respeito à aquisição ou o processo pelo qual se adquire certo comportamento tratase de uma mudança relativamente permanente naquilo que a pessoa é capaz de fazer ou como é capaz de fazer CATANIA 1999 Assim quando o aluno enfrenta uma situaçãoproblema que não é capaz de resolver e o pro cedimento de ensino do professor faz com que ele passe a ser capaz de solucionála isso é o que evidencia a ocorrência de aprendizagem Se o aluno persiste não conseguindo solucionar um problema é porque o en sino não ocorreu já que ensinar envolve a ação do professor e a apren dizagem do aluno Dessa definição deduzse que ensinar e aprender são dois processos interdependentes Dessa perspectiva o aluno não é passivo É esperado que ele se disponha a realizar as atividades propostas pelo professor e que ao es tabelecer contato com materiais e procedimentos de ensino se com porte em relação a eles São as mudanças ou não no comportamento do aluno em relação aos procedimentos de ensino que deverão indicar ao professor se seus métodos estão sendo efetivos ou não Se o aluno recusarse a participar do processo de ensino ficará muito difícil para o professor conseguir manejar esta situação em sala de aula exceto se o problema estiver exclusivamente na relação professoraluno ou no uso de algum tipo de material Nas demais situações a colaboração dos pais coordenadores pedagógicos e do psicólogo escolar será essencial para levar o aluno a participar das aulas de modo que o professor possa a partir disso começar seu trabalho Uma decorrência lógica do que foi exposto é que o professor deve ter noção clara do que pretende ensinar Sem isso não há como verificar se houve aprendizagem e portanto não há como dizer que algo foi ensinado definição dos objetivos de ensino e planejamento de condições favorecedoras do ensino Ensinar exige planejamento e tomada de decisões O primeiro passo é identificar e descrever com clareza e precisão o que será ensi nado Em termos comportamentais significa especificar os comporta mentos que o aluno deve ser capaz de apresentar ao final do ensino e os critérios que serão utilizados para atestar que o aluno de fato aprendeu Para falar sobre esses objetivos um conceito que pode ser empregado é o de comportamentoobjetivo KUBO BOTOMÉ 2001 Esse conceito indica que o ensino deve ser planejado com base na definição de com portamentos que constituirão os objetivos a serem alcançados por meio do ensino Com base nesta definição é que conteúdos específicos o que CP 149indb 713 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 714 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 será ensinado e recursos por que meios será realizado o ensino pode rão ser identificados Fundamentado nesta decisão inicial é possível identificar quais os comportamentos básicos ou prérequisitos para o alcance do com portamento final que se pretende ensinar Essa análise dará origem à delimitação de diversos comportamentos mais básicos que deverão ser ordenados numa sequência do mais simples ao mais complexo Esse ca minhar indica que o processo de ensino pode ser mais efetivo se ocorrer de forma gradual A hierarquia de ensino é importante para garantir a adesão do aluno ao longo do processo de ensinoaprendizagem porque comportamentos mais simples são mais fáceis de aprender e inclusive podem até já fazer parte do repertório do aluno Começar ensinando algo muito difícil pode ser um grave equívoco pois em lugar de desafiar o aluno e motiválo fará com que evite a disciplina De posse dessas definições o próximo passo é conhecer o máximo possível sobre o aluno a qual seu repertório acadêmico e de interação social ou seja o que ele já sabe fazer sobretudo em relação ao que se pretende ensinar b do que ele gosta e que pode ser usado como refor çador c qual o contexto social em que está inserido e quais as situações problema que se espera que consiga resolver etc Adicionalmente não basta conhecer o aluno no início do período letivo É preciso registrar e monitorar seu desenvolvimento ao longo de todo o processo de ensino Todas essas informações ajudarão no planejamento do material de en sino e das contingências de reforçamento É importante notar que na perspectiva comportamental o trabalho do professor é focado e direcio nado pelas necessidades do aluno e não pelas necessidades médias da maioria dos alunos de uma determinada faixa etária Em resumo de acordo com Hübner 1987 e Luna 2000 é pre ciso conhecer de forma clara a quem deve ser ensinado b o que deve ser ensinado c com que finalidade isso deve ser ensinado d quanto deve ser ensinado qual o nível de competência que se espera que o es tudante possua e e como deve ser ensinado Com os objetivos estabelecidos e o ensino organizado de forma gradual do simples ao complexo bem como de posse de dados sobre o repertório do aluno e sobre o que possui valor reforçador e aversivo para ele é possível planejar como os materiais de ensino devem ser construí dos e quais atividades podem ser utilizadas em sala de aula ou seja é possível planejar as contingências de reforço Em relação aos materiais e situações de ensino o professor deve selecionar condições antecedentes em relação às quais ele possa estar seguro de que o aluno está agindo adequadamente na atividade pro posta Situações demasiado complexas podem fazer com que ele preste atenção em detalhes irrelevantes ou fique confuso CP 149indb 714 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 715 Planejamento das contingências de reforço e cuidados necessários com a escolha do reforçador Ao planejar suas aulas e durante sua realização o professor deve criar muitas situações para que os alunos possam participar A partici pação é essencial para que o professor tenha feedback imediato sobre o que quanto e como seus alunos estão aprendendo Além disso é uma oportunidade de reforçar os comportamentos esperados isto é que se aproximam dos objetivos traçados A importância reside no fato de que nessa condição descrita o professor pode reforçar imediatamente o comportamento após sua apresentação A proximidade temporal entre uma resposta e a consequência que ela produz é crucial para o estabe lecimento mais rápido e fidedigno de uma relação comportamental o que significa aprendizado mais eficaz eficiente e gratificante Uma aula exclusivamente expositiva e que não dá oportunidades de participação clara e consistente do aluno inviabiliza o reforçamento dos comporta mentos que demonstram concretamente seu aprendizado Reforçar é essencial mas o professor precisa tomar cuidado com o tipo de reforço que utiliza e com os comportamentos que são reforçados No processo de ensino o reforço deve ser condicionado à apresentação pelo aluno de comportamentos que se aproximem dos comportamentosobjetivo estabelecidos pelo professor ou que efetivamente sejam demonstrações desses comportamentosobjetivo Podemos dizer então que o professor precisa ter critérios claros de re forçamento de modo a fortalecer apenas demonstrações reais de evo lução eou de aprendizado O critério é claro quando conhecemos os resultados que o aluno deve alcançar numa determinada circunstância No que diz respeito ao tipo de reforçador é necessário ressaltar que re forço não é só nota prêmio ou estrelinha colada no caderno Essas são consequências artificiaisarbitrárias pois são extrínsecas à situação de aprendizagem Podem ser utilizadas no início da aprendizagem mas não devem ser empregadas de tal forma que o aluno só estude para obter prêmios ou evitar reprovação Portanto ao definir os reforça dores é importante cuidar para não empregar apenas ou por longos períodos reforçadores artificiais É preciso desenvolver procedimento de ensino para realizar a transferência do controle do comportamento por reforçadores artificiais para reforçadores naturais Em algum mo mento é essencial que o aluno se torne sensível a reforçadores natu rais da situação de aprendizagem tais como indicações de progresso na sua capacidade de resolver problemas matemáticos ou entender o que está escrito num texto confirmação de acerto aprovação social entre outros A questão central do planejamento de contingências de reforço não reside somente na quantidade mas na utilização efetiva e consciente porque planejada pelo professor dos reforçadores que estão disponíveis no contexto de uma sala de aula CP 149indb 715 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 716 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 É essencial que o professor planeje situações para exigir respos tas de observação e de imitação por parte do seu aluno As respostas de observação fornecem parâmetros ao professor de que o aluno está com a atenção voltada para aquilo que ele pretende ensinar Planejamento das situações de avaliação e os cuidados necessários com erros e outros tipos de estimulação potencialmente aversiva No que concerne a avaliações e erros é especialmente impor tante que o professor esteja atento por dois motivos o erro indica ao professor que o seu procedimento de ensino não está sendo efetivo e que algo em seu planejamento de ensino precisa ser revisto desde os procedimentos de ensino às formas de avaliação da aprendizagem do aluno Essa condição é bastante séria pois como lembram Kubo e Botomé 2001 caso o professor não ensine o aluno provavelmente demorará muito tempo e terá um custo muito alto até descobrir qual o comportamento correto em relação por exemplo a uma situação problema em matemática Se o custo for muito alto e o valor do aprender muito baixo é quase certo que o aluno desistirá Concomitantemente o erro deve servir de alerta ao professor pois quando acontece em grande quantidade pode desmotivar o aluno afastandoo dos estudos A rigor errar tem caráter aversivo e portanto isso pode diminuir a probabilida de de que o aluno continue apresentando os comportamentos que estão sendo consistentemente punidos Para além da análise dos erros cometidos em situações de ensino aprendizagem Skinner 1972 1968 realiza uma reflexão muito lúcida sobre o uso do controle aversivo em sala de aula Ele relata que antiga mente os professores conseguiam a atenção e o respeito de seus alunos por meio de castigos corporais e sistemas rígidos de ensino que privi legiavam a memorização de informações sem considerar a relevância desses conhecimentos para a vida do aluno e para a sua cultura Para Skinner 1972 1968 embora circunstancialmente essas práticas produzissem alunos obedientes o que era satisfatório apenas para os professores a médio e longo prazo era visível que elas também geravam pessoas ansiosas que não toleravam a escola e os professores e que haviam aprendido muito pouco dos conteúdos trabalhados em sala de aula Dessa forma a brutalidade da punição corporal e a grosseria levou naturalmente à reforma das escolas SKINNER 1972 1968 p 92 Contudo as reformas significaram pouco mais do que mudar para medidas não corporais de punição p 92 O autor fornece uma lista de situações aversivas que foram mantidas no ambiente escolar objetivando disciplinar e ensinar Alguns exemplos a ridicularização as críticas os sarcasmos as perdas de privilégios o ostracismo entre outros Com efeito tais práticas apenas favoreceram o desenvolvimento de alunos que estudam apenas para não sofrer castigos e de especialistas CP 149indb 716 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 717 em escapar das aulas por meio de atrasos falta de atenção e má vonta de Essas questões devem ser consideradas com especial atenção pelos professores Basicamente segundo Luna 2000 é preciso considerar quatro argumentos contra o uso da punição a pode ter efeito apenas tempo rário de modo que o comportamento punido voltará a ocorrer quando a estimulação aversiva terminar b pode produzir efeitos colaterais in desejados como esquiva e fuga das situações de ensino e inclusive da escola como também pode gerar respostas emocionais algumas delas componentes da ansiedade c a punição não tem papel instrutivo pois punir indica o que está errado mas não o que é o certo d a punição geralmente beneficia mais o agente punidor do que a pessoa punida se o comportamento do aluno está sendo aversivo para o professor puni lo pode reforçar o comportamento do professor de brigar tirar ponto passar tarefas extras etc ConTribuições eM TerMos de ProPosTas sisTeMaTiZadas de ensino FundaMenTadas na anÁlise do CoMPorTaMenTo As primeiras propostas comportamentais voltadas ao ensino sur giram nos anos 1950 a partir do trabalho de Skinner 1953 que discutiu o uso de princípios comportamentais na sala de aula Inicialmente esse autor identificou uma série de problemas na educação norteamericana de seu tempo Esses problemas são também frequentes no Brasil Dois exemplos são a professores raramente utilizam reforço positivo em sala de aula ou utilizamno de forma não planejada eou não consisten te o reforço vem atrasado ou é incerto b não há ênfase na modela gem de respostas de modo que os comportamentosobjetivo demoram a ocorrer Em resposta à sua avaliação sobre os problemas educacionais diversos métodos de ensino foram concebidos Exemplos historicamen te importantes foram publicados em Lindsley 1992 precision teaching ensino preciso Skinner 1972 1968 ensino programado Keller 1972 1968 sistema personalizado de instrução PSI Engelmann e Carnine 1982 direct instruction instrução direta Saville Lambert e Robertson 2011 interteaching interinstrução A despeito de suas diferenças todas essas propostas têm em co mum a o emprego de reforço positivo para produzir os comportamen tos esperados em substituição ao uso de controle aversivo b focalizam no domínio completo do material pelos estudantes como critérios para avançar para o próximo módulo ou unidade de ensino c o desempe nho do aluno é avaliado frequentemente e d a apresentação do mate rial vai do simples para o complexo Becker e Engelmann 1978 apresentam com detalhes um con junto de princípios para orientar o trabalho de planejar selecionar e sequenciar tarefas para instrução básica O objetivo do formato de CP 149indb 717 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 718 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 programas instrucionais proposto por esses autores é ensinar habilidades que possam ocorrer em muitas situações apropriadas e não apenas na quelas explicitamente utilizadas no processo de instrução Basicamente este é um dos objetivos centrais da educação isto é que os comporta mentos aprendidos nos contextos de sala de aula e nas tarefas propostas possam se generalizar para contextos fora da sala de aula e para outras tarefas Portanto o que se espera é ensinar casos gerais conjuntos de situações com propriedades comuns entre si e dessemelhantes em re lação a outros conjuntos diante das quais certos tipos de responder são apropriados eou conjuntos de respostas com funções comuns ou seja que podem igualmente produzir certos tipos de consequência Outro exemplo é o trabalho de Keller 1972 1968 no desenvol vimento do seu PSI que tem como principais características 1 Conteúdo da disciplina ou do curso organizado em pequenas partes cada uma delas constituindo unidades de ensino 2 Requisito de perfeição em cada unidade para que o aluno possa pros seguir ou seja o aluno só poderá avançar quando demonstrar domí nio completo da unidade precedente 3 Unidades mais avançadas englobam o que foi ensinado em unidades anteriores 4 Uso de diversas avaliações ao longo da disciplina que servem para certificar que o aluno dominou uma unidade e para informar ao pro fessor e sua equipe se a programação de ensino em vigor está sendo eficaz 5 Ritmo individualizado permitindo ao aluno prosseguir com veloci dade adequada à sua habilidade e à sua disponibilidade de tempo 6 Feedback imediato em relação à produção do aluno e às suas avaliaçõestestes 7 Uso de palestras e demonstrações como veículo de motivação ao invés de fonte primordial de informação 8 Ênfase dada à palavra escrita nas comunicações entre professores e alunos 9 Uso de monitores permitindo repetição de testes avaliação imedia ta tutela inevitável e acentuada ênfase no aspecto social do proces so educacional Todos esses métodos têm o potencial de superar propostas tradi cionais de ensino justamente por sua ênfase em aspectos cruciais do ensi no Infelizmente esses métodos não foram incorporados e são pouco em pregados em escolas cursos de graduação e programas de pósgraduação De acordo com Saville Lambert e Robertson 2011 isso acontece por diversas razões como resistência a mudanças sobretudo porque as pro postas educacionais comportamentais consomem mais tempo e esforço CP 149indb 718 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 719 do professor que geralmente está sobrecarregado com diversas cobran ças e desafios É possível também que os docentes se sintam ameaçados de perder o controle do que deverá ser ensinado pois nas propostas comportamentais é enfatizado que o desempenho do aluno constitui informação crítica sobre a efetividade do planejamento de ensino ela borado pelo professor Além disso ainda é comum que exista incompre ensão ou preconceito em relação aos princípios comportamentais ou à filosofia em que estão fundamentados Os autores propõem o interteaching como uma forma de ensino que por sua flexibilidade e facilidade de implementação tornaria mais simples o processo de mudança de práticas tradicionais de ensino para a proposta comportamental O interteaching tenta manter aspectoschave das propostas educacionais comportamentais a uso do controle posi tivo no lugar do aversivo b conteúdo vai do simples ao complexo c foco no domínio completo do material pelos estudantes e d avaliação frequente do desempenho do aluno Para superar as resistências já in dicadas propõem a estudo de cada tópico antes da aula com ajuda de um guia de atividades b realização de conferências de esclarecimento pelo professor ao início de cada aula com 30 minutos de duração c discussão dos guias de atividades em duplas com supervisão do profes sor d testes pelo menos cinco vezes por semestre Por ser um método novo mais pesquisas são necessárias para atestar sua eficiência e mais tempo para que se possa julgar se será capaz de conquistar o interesse dos professores Considerações Finais O objetivo deste artigo foi compartilhar algumas contribuições da Análise do Comportamento ao campo educacional com uma audiência de não analistas do comportamento O diálogo entre diferentes pers pectivas teóricometodológicas é especialmente interessante quando estamos diante de grandes desafios como é o caso dos problemas edu cacionais brasileiros Foi discutido que qualquer planejamento de ensino poderá se beneficiar se seguir as seguintes orientações 1 definição objetiva e cla ra dos comportamentos que devem ser apresentados pelos alunos ao longo e ao final do ensino 2 avaliação do repertório comportamental do aluno relacionado ao comportamento a ser ensinado 3 arranjo se quencial dos materiais e definição dos critérios para reforçamento de uma resposta e quais reforçadores serão utilizados 4 definição das consequências para os erros do aluno e do que fazer quando o aluno comete muitos erros 5 definição de quais serão as formas de avaliar se o aluno já dominou determinado conteúdo isto é que ele já apresenta certo tipo de comportamento 6 manejo das contingências de reforço CP 149indb 719 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 720 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 para fortalecer aproximações sucessivas do comportamentoobjetivo e para construir reforçadores condicionados intrínsecos à tarefa e 8 ma nutenção de registros das respostas do aluno como base para modifica ção dos materiais e procedimentos de ensino Além dessas contribuições a forma de fazer ciência da Análise do Comportamento traz inovações fundamentais aos campos da psico logia e da educação ao adotar uma atitude de não aceitar construtos hipotéticos como agentes iniciadores do comportamento Isso gera uma busca cuidadosa e fundamental pelas variáveis ambientais que deter minam o comportamento Isso ajuda a elaborar procedimentos precisos para o ensino KUBO BOTOMÉ 2001 Segundo Skinner 1969 quando os objetivos são especificados apropriadamente o professor sabe o que deve fazer e mais tarde reconhecerá facilmente se de fato fez o que deveria e se produziu os resultados esperados Em termos de uma discussão mais ampla sobre os objetivos da Educação e políticas educacionais acreditamos também na viabilida de das contribuições comportamentais Skinner 1972 1968 defendia a necessidade de interação entre a pesquisa científica e as escolas de formação de professores uma vez que o comportamento humano é complexo demais para ser deixado à experiência casual ou mesmo or ganizada no ambiente restrito da sala de aula Os professores precisam de auxílio p 91 A educação para Skinner 1969 tem o objetivo fundamental de transmissão de cultura isto é ensinar aos novos membros o saber his toricamente produzido pelas gerações anteriores A Educação também é essencial ao bem estar do indivíduo e da cultura porque é preciso en sinar aos alunos comportamentos que serão vantajosos para eles e para os outros em algum momento no futuro SKINNER 1981 1953 Essa visão privilegia valores como a solidariedade em vez do individualismo Skinner deixa claro que não basta olhar para o ambiente ime diato mas é preciso considerar sobretudo o futuro Este é um grande desafio se considerarmos que o ambiente muda constantemente Como ensinar um comportamento que será vantajoso para a pessoa e para os outros numa condição futura que desconhecemos Como ensinar a agir na ausência da orientação do professor Para Nico 2001 Skinner responde a esta pergunta sugerindo que os alunos aprendam na escola um repertório especial por meio do qual os próprios alunos podem chegar à emissão das respostas certas sob novas contingências e sem o auxílio dos membros da agência edu cacional p 63 Este repertório especial referese aos comportamentos de autocontrole tomada de decisão e solução de problemas SKINNER 1998 1953 1972 1968 Autores como Skinner sinalizam a importância de revisão das práticas de ensino vigentes e concomitantemente tornam evidente o CP 149indb 720 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 721 papel central da educação para as culturas humanas Verificase nessas teses o início de uma delimitação do que deve ser ensinado sob quais condições ou de que forma e com uma definição de qualidade de ensi no que significa implementar práticas de ensino que de fato produzam a aprendizagem dos comportamentosobjetivo O debate educacional nesses moldes tornase claro e compreensível para todos os interessa dos A clareza favorece a crítica e o entendimento dos processos que permitiram a produção de falhas e de acertos A clareza é condição importante numa discussão sobre Educação Por fim ressaltamos que a preocupação com a captação e aplicação de recursos públicos tanto para oferecer melhores salários aos professores como para construir novas escolas e elaborar material didático é fun damental para a melhora da educação Discussões sobre políticas educa cionais e sobre a filosofia educacional a ser adotada são igualmente rele vantes Mas não podemos por reconhecer a importância desses fatores negligenciar o método de ensino Skinner 1972 1968 discute que contratar mais e melhores pro fessores garantir acesso à escola formar melhores estudantes criar es colas mais modernas multiplicar as formas de contato professoraluno por meio de recursos audiovisuais e planejar novos currículos são deci sões que podem ser tomadas sem que se analisem os métodos de ensino subjacentes às relações professoraluno em sala de aula Esquecemos portanto de perguntar como estes melhores professores devem ensi nar a estes melhores alunos nestas melhores escolas p 89 Precisamos pesquisar mais sobre aprendizagem e desenvolver melhores procedimentos de ensino e com isso ter melhores condições para orientar os professores Ainda que conquistemos melhores condi ções de trabalho para o professor e melhores escolas ainda precisare mos nos preocupar com as práticas de ensino SKINNER 1972 1968 Novos estudos podem destacar as contribuições da Análise do Comportamento por áreas da Educação Por exemplo contribuições à educação matemática Além disso é importante desenvolver pesquisas que comparem métodos e destaquem os aspectos cruciais para o sucesso ou insucesso de uma proposta de ensino Incentivamos também estudos que aprofundem a descrição das contribuições comportamentais à edu cação apresentando por exemplo diferentes técnicas de ensino e os resultados obtidos com diferentes populações reFerênCIaS BECKER Wesley C ENGELMANN Siegfried Systems for basic instruction theory and application In CATANIA A Charles BRIGHAM Thomas A Org Handbook of applied behavior analysis New York Irvington 1978 p 325377 BIJOU Sidney O que a psicologia tem a oferecer à educação agora Revista Brasileira de Análise do Comportamento v 2 n 2 p 287296 2006 1970 CP 149indb 721 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 722 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 CARMO João S BAPTISTA Marcelo Q G Comunicação dos conhecimentos produzidos em análise do comportamento uma competência a ser aprendida Estudos de Psicologia Natal v 8 n 3 p 499503 2003 CARRARA Kester Behaviorismo radical crítica e metacrítica 2 ed São Paulo Editora Unesp 2005 CARVALHO NETO Marcus B ALVES Ana C P BAPTISTA Marcelo Q G A consciência como um suposto antídoto para a violência Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva São Paulo v 9 n 1 p 2744 2007 CATANIA A Charles Aprendizagem comportamento linguagem e cognição Tradução de Deisy de Souza et al Porto Alegre Artes Médicas Sul 1999 ENGELMANN Siegfried CARNINE Douglas Theory of instruction principles and applications New York McGrawHill 1982 FIGUEIREDO Luis C M Matrizes do pensamento psicológico Petrópolis Vozes 1991 p 1125 HÜBNER Maria Martha Costa Analisando a relação professoraluno do planejamento à sala de aula São Paulo CLRBalieiros 1987 33 p KELLER Fred S Adeus mestre Ciência e Cultura Campinas v 24 n 3 p 207217 1972 1968 KUBO Olga BOTOMÉ Silvio P Ensinoaprendizagem uma interação entre dois processos comportamentais Interação Curitiba n 5 p 123132 2001 LINDSLEY Ogden R Why arent effective teaching tools widely adopted Journal of Applied Behavior Analysis v 25 n 1 p 2126 1992 LUNA Sérgio V Contribuições de Skinner para a educação In PLACCO Vera M N de S Org Psicologia educação revendo contribuições São Paulo Educ 2000 p 145179 MATOS Maria Amélia Análise de contingências no aprender e no ensinar In ALENCAR Eunice S Org Novas contribuições da psicologia aos processos de ensino e aprendizagem São Paulo Cortez 1993 p 141165 MICHELETTO Nilza SÉRIO Teresa M de A P Homem objeto ou sujeito para Skinner Temas em Psicologia v 2 p 1122 1993 NERI Anita L O modelo comportamental aplicado ao ensino In PENTEADO Wilma M A Org Psicologia e ensino São Paulo Papelivros 1980 p 118133 NICO Yara C O que é autocontrole tomada de decisão e solução de problemas na perspectiva de B F Skinner In GUILHARDI Hélio J MADI Maria B B P QUEIROZ Patrícia P SCOZ Maria C Org Sobre comportamento e cognição expondo a variabilidade Santo André Esetec 2001 p 6270 PEREIRA Maria E M MARINOTTI Miriam LUNA Sérgio V O compromisso do professor com a aprendizagem do aluno contribuições da análise do comportamento In HÜBNER Maria Martha Costa MARINOTTI Miriam Org Análise do comportamento para a educação contribuições recentes Santo André Esetec 2004 p 1132 PLAISANCE Éric VERGNAUD Gérard As ciências da educação Tradução de Nadyr S Penteado e Odila A Queiroz São Paulo Loyola 2003 146 p RODRIGUES Maria E Mitos e discordâncias Santo André Esetec 2011 274 p SAVILLE Bryan K LAMBERT Tonya ROBERTSON Stephen Interteaching bringing behavioral education into de 21st century The Psychological Record n 61 p 153166 2011 SÉRIO Teresa M de A P A concepção de homem e a busca de autoconhecimento onde está o problema In BANACO Roberto A Org Sobre comportamento e cognição aspectos teóricos metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista Santo André Esetec 2001 1997 p 4255 SKINNER Burrhus Frederic Contingencies of reinforcement a theoretical analysis New York AppletonCenturyCrofts 1969 Tecnologia do ensino Tradução de Rodolpho Azzi São Paulo Herder Edusp 1972 1968 CP 149indb 722 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 723 A escola do futuro In Questões recentes na análise comportamental Tradução de Anita Liberalesso Neri Campinas Papirus 1991 1989 p 117131 Ciência e comportamento humano 10 ed Tradução de J C Todorov e Rodolpho Azzi São Paulo Martins Fontes 1998 1953 Sobre o behaviorismo 11 ed Tradução de M da P Villalobos São Paulo Cultrix 1999 1974 TEIXEIRA Adélia M S Algumas considerações In Análise de contingências em programação de ensino infantil liberdade e efetividade na educação Santo André Esetec 2006 p 183231 TODOROV João C MOREIRA Márcio B Psicologia comportamento processos e interações Psicologia Reflexão e Crítica Porto Alegre v 22 n 3 p 404412 2008 A psicologia como o estudo de interações Psicologia Teoria e Pesquisa Brasília v 23 p 5761 2007 Edição especial TOURINHO Emmanuel Z Estudos conceituais na análise do comportamento Temas em Psicologia da SBP São Paulo v 7 n 3 p 213222 1999 ZANOTTO Maria de L B Formação de professores a contribuição da análise do comportamento São Paulo Educ 2000 183p ZANOTTO Maria de L B MOROZ Melania GIOIA Paula S Behaviorismo radical e educação 2008 Disponível em httpwwwredepsicombrportalmodulessmartsectionitem phpitemid1257 Acesso em 10 nov 2011 MARCELO HENRIQUE OLIVEIRA HENKLAIN Mestrado em Psicologia na Universidade Federal de São Carlos UFSCar SP marcelohenklainhotmailcom JOÃO DOS SANTOS CARMO Professor do Departamento de Psicologia e Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento Cognição e Ensino INCTECCE da Universidade Federal de São Carlos UFSCar Instituto de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento Cognição e Ensino carmojsgmailcom recebido em NOVEMBRO 2012 aprovado para publicação em MAIO 2013 CP 149indb 723 01112013 152726
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CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 704 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 reSUMo A despeito de dados bastante sólidos as contribuições da Análise do Comportamento ao planejamento de condições de ensino têm sido subutilizadas Este artigo objetiva compartilhar algumas dessas contribuições com o campo da educação Com base em trabalhos acerca das aplicações da Análise do Comportamento para a educação ofereceremos algumas orientações sobre aspectos relevantes envolvidos nos processos de ensinoaprendizagem aos quais os professores devem estar atentos Dividimos as contribuições em três categorias contribuições da filosofia behaviorista radical descrição e aplicação de princípios do comportamento ao contexto educacional algumas propostas sistematizadas de ensino de base comportamental Novos estudos poderiam aprofundar a descrição das contribuições comportamentais à educação e destacar essas contribuições por áreas anÁlise do CoMPorTaMenTo ProCesso de ensino aPrendiZageM PsiCologia da eduCação CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO MARCELO HENRIQUE OLIVEIRA HENKLAIN JOÃO DOS SANTOS CARMO outroS tEmaS Agradecemos às professoras Aline Reali e Olívia Kato pelas críticas e sugestões feitas Marcelo Henrique Oliveira Henklain é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo Fapesp mediante concessão de bolsa de mestrado e esta pesquisa foi realizada durante a vigência de bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Capes João dos Santos Carmo é apoiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia MCT no âmbito do Edital n 152008 com auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq e da Fapesp CP 149indb 704 01112013 152725 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 705 CONTRIBUCIONES DEL ANÁLISIS DE LA CONDUCTA A LA EDUCACIÓN UNA INVITACIÓN AL DIÁLOGO reSUMen A pesar de datos bastante sólidos las contribuciones del Análisis de la Conducta a la planificación de condiciones de enseñanza han sido subutilizadas El presente artículo tiene el propósito de compartir algunas de esas contribuciones al campo de la educación En base a trabajos acerca de las aplicaciones del Análisis de la Conducta para la educación ofreceremos algunas orientaciones sobre aspectos relevantes involucrados en los procesos de enseñanzaaprendizaje a los que los docentes siempre deben estar atentos Dividimos las contribuciones en tres categorías aportes de la filosofía behaviorista radical descripción y aplicación de principios del comportamiento al contexto educacional algunas propuestas sistematizadas de enseñanza de base conductivista Nuevos estudios podrían profundizar la descripción de las contribuciones comportamentales a la educación y destacarlas por áreas anÁlisis de la ConduCTa ProCeso de enseÑanZa Y aPrendiZaje PsiCologÍa de la eduCaCión CONTRIBUTIONS OF BEHAVIOR ANALYSIS TO EDUCATION AN INVITATION FOR DIALOGUE abSTraCT Despite solid evidence the contributions of Behavioral Analysis for planning of teaching conditions have been underutilized This article aims to share some of these contributions to the field of education Based on work concerning the applications of Behavioral Analysis to education the article offers some guidance on relevant aspects that teachers should be aware of in teachinglearning processes The contributions are separated into three categories radical behaviorist contributions description and application of behavioral principles to the educational context systematized teaching proposals with a behavioral basis New studies could deepen the behavioral contributions to education and highlight them by areas behaVior analYsis learning and TeaChing ProCesses eduCaTional PsYChologY CP 149indb 705 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 706 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 p odeMos CaraCTeriZar a PsiCologia como uma das ciências da educação PLAISANCE VERGNAUD 2003 Essa ciência é marcada pela diversidade de abordagens teóricometodológicas FIGUEIREDO 1991 sendo impor tante o psicólogo destacar qual ponto de vista utilizou para analisar fe nômenos e processos psicológicos ou propor intervenções Adotaremos neste artigo o ponto de vista da Análise do Comportamento Consideramos que essa abordagem tem contribuições importan tes para oferecer aos educadores Contudo a insistência em classificar a abordagem comportamental à educação como tecnicista e redutora do homem a despeito de diversos trabalhos que demonstraram o contrá rio CARMO BAPTISTA 2003 CARRARA 2005 LUNA 2000 TEIXEIRA 2006 TODOROV MOREIRA 2008 RODRIGUES 2011 SKINNER 1969 1972 1968 1991 1989 cria barreiras a um diálogo proveitoso e ao de senvolvimento e implementação de propostas viáveis que podem cola borar com os diferentes esforços empreendidos para ajudar a educação brasileira a melhorar Enquanto o trabalho de muitos profissionais é por vezes veta do ou diminuído em função de divergências entre abordagens teórico metodológicas notase que sem a atenção e orientação necessárias os pro fessores persistem com dúvidas sobre as melhores práticas de ensino e po dem acabar empregando metodologias ineficazes SKINNER 1972 1968 Essas dúvidas dos professores sinalizam uma importante de manda social a necessidade de identificação de práticas de ensino que ajudem os alunos a aprender Do ponto de vista da psicologia comporta mental segundo Skinner 1972 1968 para que seja possível contribuir CP 149indb 706 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 707 com as práticas de ensino fazse necessário estudar o comportamento humano por meio de uma análise experimental para que sejam iden tificados princípios do comportamento que permitam a proposição e aplicação de práticas de ensino eficientes e eficazes Neste artigo não buscamos dar respostas definitivas sabemos da complexidade envolvida na resolução dos problemas educacionais A despeito da opção teórica que adotamos reconhecemos que nossas respostas não são as únicas possibilidades de abordar essas questões Existe uma rica e importante diversidade de perspectivas teóricas com fundamentação científica e boa disposição ao diálogo devendo portan to participar do debate Educadores e cientistas com diferentes formas de pensar têm realizado em suas universidades e escolas trabalho árduo no sentido de pensar e propor reformas para a educação porque estão todos motivados a produzir mudanças socialmente significativas Pretendemos compartilhar algumas contribuições da Análise do Comportamento com o campo da educação Enfatizamos que um diálo go proveitoso pode ser estabelecido entre diferentes perspectivas teóri cas que atuam nesse campo e a Análise do Comportamento CARMO BAPTISTA 2003 Para alcançar os objetivos apresentados ofereceremos um breve resumo dos princípios teóricometodológicos da Análise do Comportamento seguido por uma descrição de algumas contribuições comportamentais à educação Pretendemos com este texto sinalizar as pectos fundamentais dos processos de ensino e aprendizagem segundo a Análise do Comportamento Se o professor for sensível a esses aspec tos provavelmente terá melhores chances de criar condições facilita doras da aprendizagem de seus alunos Evidentemente temos clareza de que um bom desempenho docente em sala de aula está atrelado a outros fatores relevantes que fogem à proposta do artigo porém os apontamentos aqui apresentados podem contribuir sobremaneira com a prática docente Ressaltamos que este artigo deve ser lido não como uma crítica ao trabalho dos professores mas como uma contribuição que busca si nalizar o que esses podem fazer ou a que aspectos do comportamento dos seus alunos devem estar atentos para produzir aprendizagem de forma eficiente e gratificante Evitaremos ao máximo o uso de termos técnicos Referências com maiores aprofundamentos nos temas discuti dos serão fornecidas ao longo do texto a anÁlise do CoMPorTaMenTo Análise do Comportamento é uma abordagem em psicologia produto do intercruzamento do Behaviorismo Radical1 pressupostos teóricos filosóficos e históricos da Análise Experimental do Comportamento 1 O termo radical significa raiz ou aquilo que é básico e essencial Ao qualificar a expressão behaviorismo esse termo traz o significado de que o comportamento é o objeto de estudo por excelência do psicólogo comportamental Significa também que todos os fenômenos e processos psicológicos são interpretados como comportamentos CP 149indb 707 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 708 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 método de investigação científica do comportamento dados empíri cos e da Análise Aplicada do Comportamento criação e administração de recursos de intervenção social TOURINHO 1999 Essa abordagem estuda o comportamento entendido como re lação entre classes de estímulos público e privado histórico e imedia to social e não social e classes de respostas de um organismo biolo gicamente constituído ambas definidas por suas funções CARVALHO NETO ALVES BAPTISTA 2007 O comportamento é um processo muda ao longo do tempo Comportamentos apresentados em diferentes mo mentos podem ser similares em termos de forma e função Contudo não são iguais O termo classe enfatiza justamente essa característica do comportamento O que pode ser dito é que uma variedade de estímulos uma classe possui determinada função em relação a um conjunto de respostas outra classe O termo resposta é utilizado para destacar um dos componentes da relação comportamental diz respeito a uma de terminada ação do organismo num determinado momento Portanto é menos abrangente que o termo comportamento Os analistas do comportamento estudam basicamente dois tipos de relações comportamentais respondentes e operantes Embora o estu do do comportamento respondente seja importante em muitos aspectos teóricos e práticos existe uma ênfase no estudo dos operantes por sua relação direta com grande parte dos comportamentos complexos que exibimos cotidianamente O comportamento operante pode ser expli cado funcionalmente e estudado em termos de eventos antecedentes respostas do indivíduo e eventos consequentes TODOROV 2007 Uma relação reflexa por seu turno é estudada em termos de eventos antece dentes e respostas eliciadas por esses eventos antecedentes Em poucas palavras os analistas estudam relações organismoambiente denomina das comportamento O comportamento é entendido como evento natural e multide terminado em três níveis de variação e seleção a filogenético b on togenético e c cultural Desse ponto de vista o comportamento não é tomado como produto de um agente iniciador eou de uma mente não física SKINNER 1998 1953 1999 1974 Os analistas do comportamento identificaram diversas regulari dades no comportamento A descrição dessas regularidades deu origem a um conjunto de princípios básicos de aprendizagem bastante útil no estudo e compreensão dos comportamentos humanos Um desses prin cípios descreve que a consequência produzida por uma resposta pode ter basicamente dois efeitos sobre essa resposta a fortalecimento ou b enfraquecimento O efeito de fortalecimento implica que uma dada resposta tem a sua probabilidade futura de ocorrência aumentada Já o efeito de enfraquecimento implica que a resposta terá menor probabili dade de ocorrer novamente no futuro As consequências que fortalecem CP 149indb 708 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 709 uma resposta são chamadas de reforçadoras Aquelas que a enfraque cem podem ser denominadas de punitivas No que diz respeito à produção de conhecimento novo notase o emprego frequente em Análise do Comportamento de pesquisas ex perimentais ou quase experimentais com sujeitos humanos e não hu manos e geralmente o uso da taxa e da frequência de respostas como medidas dos efeitos da manipulação de variáveis independentes que podem ser eventos antecedentes ou consequentes A descrição das re lações organismoambiente constitui o objetivo fundamental da análise comportamental possibilitando a compreensão de por que fazemos o que fazemos nas circunstâncias em que o fazemos Segundo Skinner 1998 1953 a Análise do Comportamento tem o papel de gerar conhecimento que nos capacite a lidar com o com portamento seja ele de humanos ou não humanos de modo mais efi ciente No jargão técnico dos analistas do comportamento isso pode ser descrito como o compromisso da ciência comportamental com a previsão e o controle do comportamento Falar em previsão e controle do comportamento parece ser algo que coloca em risco ou nega a liber dade e criatividade humana e sugere que o homem é uma máquina que o comportamento humano é simples e não complexo linear e não mutável Pensar assim é um equívoco Ao contrário do que se acredita previsão e controle podem gerar liberdade Quando se diz que é possí vel prever um comportamento não significa propriamente dizer qual será o futuro da pessoa mas da probabilidade de se produzir um tipo de interação Quanto mais soubermos quais e como as variáveis afetam nosso comportamento maior será a nossa liberdade de mudar nossos caminhos e alterar o nosso futuro SKINNER 1998 1953 1999 1974 Ao se analisar a história da Psicologia notase que a Análise do Comportamento foi inovadora em termos de sua proposta naturalista contextualista e pragmática de estudo do comportamento e de sua defi nição de psicologia como ciência do comportamento A abordagem ino vou também ao propor o modelo de seleção do comportamento pelas consequências no emprego dos delineamentos experimentais de sujei to único e foi uma das responsáveis por denunciar a frequente ocorrên cia de explicações tautológicas em psicologia LUNA 2000 ConTribuições da anÁlise do CoMPorTaMenTo Para a eduCação Skinner 1969 1972 1968 destaca que a Análise do Comportamento produz conhecimento sólido acerca do comportamento huma no o que possibilita sua aplicação ao contexto educacional Saville Lambert e Robertson 2011 relatam que ao longo das últimas décadas CP 149indb 709 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 710 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 pesquisadores comportamentais têm desenvolvido e testado diversos métodos de ensino Todos eles estão ligados à psicologia operante inau gurada por B F Skinner Embora esses métodos demonstrem ser mais efetivos2 que os tradicionais SKINNER 1991 1989 KELLER 1972 1968 TEIXEIRA 2006 SAVILLE LAMBERT ROBERTSON 2011 não se tem notícia de seu emprego em larga escala no ensino regular Os apontamentos a seguir objetivam dar subsídios à compreen são dos princípios e das contribuições da Análise do Comportamento à educação Esses princípios podem fundamentar a identificação de práti cas de ensino que aumentem as chances do aluno aprender Podemos identificar diversas contribuições e aplicações da Análise do Comportamento à educação que estão descritas em diver sos textos Skinner 1998 1953 1969 1972 1968 1999 1974 1991 1989 Bijou 2006 1970 Keller 1972 1968 Neri 1980 Matos 1993 Hübner 1987 Luna 2000 Zanotto 2000 Nico 2001 Kubo e Botomé 2001 Pereira Marinotti e Luna 2004 Teixeira 2006 Zanotto Moroz e Gioia 2008 e Saville Lambert e Robertson 2011 Com base nesses autores ofereceremos algumas orientações fundamentadas na Análise do Comportamento e na filosofia Behaviorista Radical Entendemos que existam pelo menos três categorias de contribuições da Análise do Comportamento para a Educação 1 a primeira categoria diz respeito às contribuições da filosofia Behaviorista Radical 2 a segunda à for ma com que a Análise do Comportamento interpreta certos problemas educacionais ou responde a questões como qual o papel do professor e a descrição e aplicação de princípios do comportamento ao contex to educacional 3 a terceira está diretamente relacionada a algumas propostas sistematizadas de ensino de base comportamental que neste texto serão apenas descritas brevemente Essas contribuições serão apresentadas sob a forma de breves apontamentos ou orientações ao trabalho do professor Três ressalvas são essenciais a a simplicidade do que será descrito é apenas aparente b não basta conhecer o que será discutido é preciso agir em conformidade com essas indicações e principalmente avaliar criticamente seus resul tados sobre o aprendizado dos alunos e c as contribuições que serão citadas estão interligadas de modo que as divisões que realizamos servem apenas para enfatizar a importância de cada elemento dessa rede ConTribuições do behaViorisMo radiCal Concepção de homem De acordo Skinner 1998 1953 e 1999 1974 Micheletto e Sério 1993 Sério 2001 1997 e Carrara 2005 o Behaviorismo Radical propõe uma concepção de homem que se contrapõe a posições filosó ficas amplamente aceitas pela cultura ocidental O behaviorista radical 2 Por efetividade pretendemos dizer que esses métodos garantem que mais alunos aprendam em menor tempo e com menos dificuldade CP 149indb 710 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 711 defende que a o homem não existe por si mesmo uma vez que faz parte do mundo e sua existência está intrinsecamente relacionada ao mundo social e físico que o cerca b não é a causa ou origem de seu pró prio comportamento tendo em vista que seu comportamento não ocor re no vazio e é gerado por condições externas concretas c não é livre no sentido de que o mundo exerce diferentes formas de controle sobre seu agir no mundo e não no sentido de que não possa fazer escolhas ou tomar decisões d não é de natureza diferente dos demais fenômenos existentes no mundo e por isso seu comportamento pode ser explicado cientificamente e não contém em si duas naturezas uma corpórea e uma mental O Behaviorismo Radical portanto não defende uma vi são dualista de homem mentecorpo e sim uma visão monista uma vez que aquilo que em nossa cultura ocidental é chamado de mente referese a aspectos de seu comportamento pensamento cognição etc que compartilham a mesma natureza física e portanto não são separa dos do corpo O Behaviorismo Radical adota os seguintes pressupostos a o comportamento humano está submetido a leis universais mas cada pes soa é singular na exata medida em que possui uma dotação genética específica e uma história idiossincrática de aprendizagem no contexto de uma determinada cultura b o comportamento humano pode ser conhecido e explicado não se trata de um fenômeno espontâneo ou desordenado c o comportamento humano é uma relação ele constrói o mundo à sua volta e nesse processo também está se construindo pois as consequências mudanças produzidas no mundo de seu comporta mento o alteram como um todo Dessa perspectiva nem o homem nem o mundo são absolutos mas são interdependentes no que diz respeito a como se modificam ao longo do tempo A cada nova relação teremos portanto um homem e um mundo diferentes Assim o homem é visto como sujeito ativo e não como receptáculo que sofre passivamente as influências do ambiente Papel da educação O valor ético por excelência é a sobrevivência do grupo isto é da cultura associada à produção de liberdade dignidade e qualidade de vida para todos os seus integrantes Uma forma de garantir isso está numa educação cujo papel primordial é o de estabelecer nos membros da cultura comportamentos que serão vantajosos no futuro tanto para ele membro como para o seu grupo Decorre portanto que a esco la tem o papel fundamental de ensinar comportamentos significativos para os alunos e para o seu grupo Em resumo o objetivo último da educação é o desenvolvimento de comportamentos que serão vantajosos no futuro Isso envolve en sinar comportamentos como autocontrole resolução de problemas e CP 149indb 711 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 712 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 tomada de decisão os quais devem dar chances ao indivíduo de contri buir com a sobrevivência de sua cultura explicação do comportamento e análise das dificuldades de aprender Explicações do comportamento que apelem para construtos hi potéticos eou metáforas e que não avancem na identificação das variá veis das quais o comportamento é função podem encobrir as reais causas do fracasso de um aluno e de seu professor Portanto devemos tomar cuidado ao colocar no aluno a causa de seu fracasso A rigor dizer que o aluno não está motivado significa apenas dar uma falsa explicação A motivação não é intrínseca ao aluno depende de variáveis ambientais como o tipo da tarefa que o professor requisita as consequências que o aluno produz com a realização da tarefa a clareza da tarefa ou das instruções para a sua realização etc Uma decorrência dessa forma de explicar o comportamento en volve o fato de que conhecer o aluno nas suas facilidades e dificuldades de aprendizagem exige a análise de seus comportamentos ao longo de uma história de aprendizagem em termos das condições sob as quais a pessoa se comporta e as consequências que produz De nada adianta analisar o desempenho médio dos alunos em sala de aula Cada aluno deve ser avaliado individualmente e o planejamento de ensino deve ser tanto quanto possível flexível para atender às necessidades individuais ConTribuições das inTerPreTações e aPliCações da anÁlise do CoMPorTaMenTo Caracterização da função do professor e do aluno e definição dos termos ensinar e aprender Um dos papéis cruciais do professor envolve criar condições que facilitem e garantam aprendizagem A sua função primordial é en sinar Ensinar é um processo comportamental complexo Isso significa que o verbo ensinar não se refere a um único comportamento como é o caso de verbos como sentar levantar empurrar etc Ao contrário ensinar é um termo amplo que designa uma categoria de comporta mentos que caracterizam o que um professor faz sob determinadas circunstâncias e os efeitos que produz O aspecto mais crítico no pro cesso comportamental chamado ensinar e que o caracteriza é o efeito do que o professor faz Esse efeito deve ser a aprendizagem do aluno Em resumo ensinar definese por obter aprendizagem do aluno e não pela intenção ou objetivo do professor ou por uma descrição do que ele faz em salade aula ensinar é o nome da relação entre o que um professor faz e a aprendizagem de um aluno KUBO BOTOMÉ 2001 p 5 CP 149indb 712 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 713 Aprender referese ao que acontece com o aluno em decorrência da ação do professor de ensinar A mudança de comportamento do alu no alteração de suas relações com o meio é o que fundamentalmente evidencia aprendizagem Aprendizagem diz respeito à aquisição ou o processo pelo qual se adquire certo comportamento tratase de uma mudança relativamente permanente naquilo que a pessoa é capaz de fazer ou como é capaz de fazer CATANIA 1999 Assim quando o aluno enfrenta uma situaçãoproblema que não é capaz de resolver e o pro cedimento de ensino do professor faz com que ele passe a ser capaz de solucionála isso é o que evidencia a ocorrência de aprendizagem Se o aluno persiste não conseguindo solucionar um problema é porque o en sino não ocorreu já que ensinar envolve a ação do professor e a apren dizagem do aluno Dessa definição deduzse que ensinar e aprender são dois processos interdependentes Dessa perspectiva o aluno não é passivo É esperado que ele se disponha a realizar as atividades propostas pelo professor e que ao es tabelecer contato com materiais e procedimentos de ensino se com porte em relação a eles São as mudanças ou não no comportamento do aluno em relação aos procedimentos de ensino que deverão indicar ao professor se seus métodos estão sendo efetivos ou não Se o aluno recusarse a participar do processo de ensino ficará muito difícil para o professor conseguir manejar esta situação em sala de aula exceto se o problema estiver exclusivamente na relação professoraluno ou no uso de algum tipo de material Nas demais situações a colaboração dos pais coordenadores pedagógicos e do psicólogo escolar será essencial para levar o aluno a participar das aulas de modo que o professor possa a partir disso começar seu trabalho Uma decorrência lógica do que foi exposto é que o professor deve ter noção clara do que pretende ensinar Sem isso não há como verificar se houve aprendizagem e portanto não há como dizer que algo foi ensinado definição dos objetivos de ensino e planejamento de condições favorecedoras do ensino Ensinar exige planejamento e tomada de decisões O primeiro passo é identificar e descrever com clareza e precisão o que será ensi nado Em termos comportamentais significa especificar os comporta mentos que o aluno deve ser capaz de apresentar ao final do ensino e os critérios que serão utilizados para atestar que o aluno de fato aprendeu Para falar sobre esses objetivos um conceito que pode ser empregado é o de comportamentoobjetivo KUBO BOTOMÉ 2001 Esse conceito indica que o ensino deve ser planejado com base na definição de com portamentos que constituirão os objetivos a serem alcançados por meio do ensino Com base nesta definição é que conteúdos específicos o que CP 149indb 713 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 714 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 será ensinado e recursos por que meios será realizado o ensino pode rão ser identificados Fundamentado nesta decisão inicial é possível identificar quais os comportamentos básicos ou prérequisitos para o alcance do com portamento final que se pretende ensinar Essa análise dará origem à delimitação de diversos comportamentos mais básicos que deverão ser ordenados numa sequência do mais simples ao mais complexo Esse ca minhar indica que o processo de ensino pode ser mais efetivo se ocorrer de forma gradual A hierarquia de ensino é importante para garantir a adesão do aluno ao longo do processo de ensinoaprendizagem porque comportamentos mais simples são mais fáceis de aprender e inclusive podem até já fazer parte do repertório do aluno Começar ensinando algo muito difícil pode ser um grave equívoco pois em lugar de desafiar o aluno e motiválo fará com que evite a disciplina De posse dessas definições o próximo passo é conhecer o máximo possível sobre o aluno a qual seu repertório acadêmico e de interação social ou seja o que ele já sabe fazer sobretudo em relação ao que se pretende ensinar b do que ele gosta e que pode ser usado como refor çador c qual o contexto social em que está inserido e quais as situações problema que se espera que consiga resolver etc Adicionalmente não basta conhecer o aluno no início do período letivo É preciso registrar e monitorar seu desenvolvimento ao longo de todo o processo de ensino Todas essas informações ajudarão no planejamento do material de en sino e das contingências de reforçamento É importante notar que na perspectiva comportamental o trabalho do professor é focado e direcio nado pelas necessidades do aluno e não pelas necessidades médias da maioria dos alunos de uma determinada faixa etária Em resumo de acordo com Hübner 1987 e Luna 2000 é pre ciso conhecer de forma clara a quem deve ser ensinado b o que deve ser ensinado c com que finalidade isso deve ser ensinado d quanto deve ser ensinado qual o nível de competência que se espera que o es tudante possua e e como deve ser ensinado Com os objetivos estabelecidos e o ensino organizado de forma gradual do simples ao complexo bem como de posse de dados sobre o repertório do aluno e sobre o que possui valor reforçador e aversivo para ele é possível planejar como os materiais de ensino devem ser construí dos e quais atividades podem ser utilizadas em sala de aula ou seja é possível planejar as contingências de reforço Em relação aos materiais e situações de ensino o professor deve selecionar condições antecedentes em relação às quais ele possa estar seguro de que o aluno está agindo adequadamente na atividade pro posta Situações demasiado complexas podem fazer com que ele preste atenção em detalhes irrelevantes ou fique confuso CP 149indb 714 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 715 Planejamento das contingências de reforço e cuidados necessários com a escolha do reforçador Ao planejar suas aulas e durante sua realização o professor deve criar muitas situações para que os alunos possam participar A partici pação é essencial para que o professor tenha feedback imediato sobre o que quanto e como seus alunos estão aprendendo Além disso é uma oportunidade de reforçar os comportamentos esperados isto é que se aproximam dos objetivos traçados A importância reside no fato de que nessa condição descrita o professor pode reforçar imediatamente o comportamento após sua apresentação A proximidade temporal entre uma resposta e a consequência que ela produz é crucial para o estabe lecimento mais rápido e fidedigno de uma relação comportamental o que significa aprendizado mais eficaz eficiente e gratificante Uma aula exclusivamente expositiva e que não dá oportunidades de participação clara e consistente do aluno inviabiliza o reforçamento dos comporta mentos que demonstram concretamente seu aprendizado Reforçar é essencial mas o professor precisa tomar cuidado com o tipo de reforço que utiliza e com os comportamentos que são reforçados No processo de ensino o reforço deve ser condicionado à apresentação pelo aluno de comportamentos que se aproximem dos comportamentosobjetivo estabelecidos pelo professor ou que efetivamente sejam demonstrações desses comportamentosobjetivo Podemos dizer então que o professor precisa ter critérios claros de re forçamento de modo a fortalecer apenas demonstrações reais de evo lução eou de aprendizado O critério é claro quando conhecemos os resultados que o aluno deve alcançar numa determinada circunstância No que diz respeito ao tipo de reforçador é necessário ressaltar que re forço não é só nota prêmio ou estrelinha colada no caderno Essas são consequências artificiaisarbitrárias pois são extrínsecas à situação de aprendizagem Podem ser utilizadas no início da aprendizagem mas não devem ser empregadas de tal forma que o aluno só estude para obter prêmios ou evitar reprovação Portanto ao definir os reforça dores é importante cuidar para não empregar apenas ou por longos períodos reforçadores artificiais É preciso desenvolver procedimento de ensino para realizar a transferência do controle do comportamento por reforçadores artificiais para reforçadores naturais Em algum mo mento é essencial que o aluno se torne sensível a reforçadores natu rais da situação de aprendizagem tais como indicações de progresso na sua capacidade de resolver problemas matemáticos ou entender o que está escrito num texto confirmação de acerto aprovação social entre outros A questão central do planejamento de contingências de reforço não reside somente na quantidade mas na utilização efetiva e consciente porque planejada pelo professor dos reforçadores que estão disponíveis no contexto de uma sala de aula CP 149indb 715 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 716 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 É essencial que o professor planeje situações para exigir respos tas de observação e de imitação por parte do seu aluno As respostas de observação fornecem parâmetros ao professor de que o aluno está com a atenção voltada para aquilo que ele pretende ensinar Planejamento das situações de avaliação e os cuidados necessários com erros e outros tipos de estimulação potencialmente aversiva No que concerne a avaliações e erros é especialmente impor tante que o professor esteja atento por dois motivos o erro indica ao professor que o seu procedimento de ensino não está sendo efetivo e que algo em seu planejamento de ensino precisa ser revisto desde os procedimentos de ensino às formas de avaliação da aprendizagem do aluno Essa condição é bastante séria pois como lembram Kubo e Botomé 2001 caso o professor não ensine o aluno provavelmente demorará muito tempo e terá um custo muito alto até descobrir qual o comportamento correto em relação por exemplo a uma situação problema em matemática Se o custo for muito alto e o valor do aprender muito baixo é quase certo que o aluno desistirá Concomitantemente o erro deve servir de alerta ao professor pois quando acontece em grande quantidade pode desmotivar o aluno afastandoo dos estudos A rigor errar tem caráter aversivo e portanto isso pode diminuir a probabilida de de que o aluno continue apresentando os comportamentos que estão sendo consistentemente punidos Para além da análise dos erros cometidos em situações de ensino aprendizagem Skinner 1972 1968 realiza uma reflexão muito lúcida sobre o uso do controle aversivo em sala de aula Ele relata que antiga mente os professores conseguiam a atenção e o respeito de seus alunos por meio de castigos corporais e sistemas rígidos de ensino que privi legiavam a memorização de informações sem considerar a relevância desses conhecimentos para a vida do aluno e para a sua cultura Para Skinner 1972 1968 embora circunstancialmente essas práticas produzissem alunos obedientes o que era satisfatório apenas para os professores a médio e longo prazo era visível que elas também geravam pessoas ansiosas que não toleravam a escola e os professores e que haviam aprendido muito pouco dos conteúdos trabalhados em sala de aula Dessa forma a brutalidade da punição corporal e a grosseria levou naturalmente à reforma das escolas SKINNER 1972 1968 p 92 Contudo as reformas significaram pouco mais do que mudar para medidas não corporais de punição p 92 O autor fornece uma lista de situações aversivas que foram mantidas no ambiente escolar objetivando disciplinar e ensinar Alguns exemplos a ridicularização as críticas os sarcasmos as perdas de privilégios o ostracismo entre outros Com efeito tais práticas apenas favoreceram o desenvolvimento de alunos que estudam apenas para não sofrer castigos e de especialistas CP 149indb 716 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 717 em escapar das aulas por meio de atrasos falta de atenção e má vonta de Essas questões devem ser consideradas com especial atenção pelos professores Basicamente segundo Luna 2000 é preciso considerar quatro argumentos contra o uso da punição a pode ter efeito apenas tempo rário de modo que o comportamento punido voltará a ocorrer quando a estimulação aversiva terminar b pode produzir efeitos colaterais in desejados como esquiva e fuga das situações de ensino e inclusive da escola como também pode gerar respostas emocionais algumas delas componentes da ansiedade c a punição não tem papel instrutivo pois punir indica o que está errado mas não o que é o certo d a punição geralmente beneficia mais o agente punidor do que a pessoa punida se o comportamento do aluno está sendo aversivo para o professor puni lo pode reforçar o comportamento do professor de brigar tirar ponto passar tarefas extras etc ConTribuições eM TerMos de ProPosTas sisTeMaTiZadas de ensino FundaMenTadas na anÁlise do CoMPorTaMenTo As primeiras propostas comportamentais voltadas ao ensino sur giram nos anos 1950 a partir do trabalho de Skinner 1953 que discutiu o uso de princípios comportamentais na sala de aula Inicialmente esse autor identificou uma série de problemas na educação norteamericana de seu tempo Esses problemas são também frequentes no Brasil Dois exemplos são a professores raramente utilizam reforço positivo em sala de aula ou utilizamno de forma não planejada eou não consisten te o reforço vem atrasado ou é incerto b não há ênfase na modela gem de respostas de modo que os comportamentosobjetivo demoram a ocorrer Em resposta à sua avaliação sobre os problemas educacionais diversos métodos de ensino foram concebidos Exemplos historicamen te importantes foram publicados em Lindsley 1992 precision teaching ensino preciso Skinner 1972 1968 ensino programado Keller 1972 1968 sistema personalizado de instrução PSI Engelmann e Carnine 1982 direct instruction instrução direta Saville Lambert e Robertson 2011 interteaching interinstrução A despeito de suas diferenças todas essas propostas têm em co mum a o emprego de reforço positivo para produzir os comportamen tos esperados em substituição ao uso de controle aversivo b focalizam no domínio completo do material pelos estudantes como critérios para avançar para o próximo módulo ou unidade de ensino c o desempe nho do aluno é avaliado frequentemente e d a apresentação do mate rial vai do simples para o complexo Becker e Engelmann 1978 apresentam com detalhes um con junto de princípios para orientar o trabalho de planejar selecionar e sequenciar tarefas para instrução básica O objetivo do formato de CP 149indb 717 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 718 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 programas instrucionais proposto por esses autores é ensinar habilidades que possam ocorrer em muitas situações apropriadas e não apenas na quelas explicitamente utilizadas no processo de instrução Basicamente este é um dos objetivos centrais da educação isto é que os comporta mentos aprendidos nos contextos de sala de aula e nas tarefas propostas possam se generalizar para contextos fora da sala de aula e para outras tarefas Portanto o que se espera é ensinar casos gerais conjuntos de situações com propriedades comuns entre si e dessemelhantes em re lação a outros conjuntos diante das quais certos tipos de responder são apropriados eou conjuntos de respostas com funções comuns ou seja que podem igualmente produzir certos tipos de consequência Outro exemplo é o trabalho de Keller 1972 1968 no desenvol vimento do seu PSI que tem como principais características 1 Conteúdo da disciplina ou do curso organizado em pequenas partes cada uma delas constituindo unidades de ensino 2 Requisito de perfeição em cada unidade para que o aluno possa pros seguir ou seja o aluno só poderá avançar quando demonstrar domí nio completo da unidade precedente 3 Unidades mais avançadas englobam o que foi ensinado em unidades anteriores 4 Uso de diversas avaliações ao longo da disciplina que servem para certificar que o aluno dominou uma unidade e para informar ao pro fessor e sua equipe se a programação de ensino em vigor está sendo eficaz 5 Ritmo individualizado permitindo ao aluno prosseguir com veloci dade adequada à sua habilidade e à sua disponibilidade de tempo 6 Feedback imediato em relação à produção do aluno e às suas avaliaçõestestes 7 Uso de palestras e demonstrações como veículo de motivação ao invés de fonte primordial de informação 8 Ênfase dada à palavra escrita nas comunicações entre professores e alunos 9 Uso de monitores permitindo repetição de testes avaliação imedia ta tutela inevitável e acentuada ênfase no aspecto social do proces so educacional Todos esses métodos têm o potencial de superar propostas tradi cionais de ensino justamente por sua ênfase em aspectos cruciais do ensi no Infelizmente esses métodos não foram incorporados e são pouco em pregados em escolas cursos de graduação e programas de pósgraduação De acordo com Saville Lambert e Robertson 2011 isso acontece por diversas razões como resistência a mudanças sobretudo porque as pro postas educacionais comportamentais consomem mais tempo e esforço CP 149indb 718 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 719 do professor que geralmente está sobrecarregado com diversas cobran ças e desafios É possível também que os docentes se sintam ameaçados de perder o controle do que deverá ser ensinado pois nas propostas comportamentais é enfatizado que o desempenho do aluno constitui informação crítica sobre a efetividade do planejamento de ensino ela borado pelo professor Além disso ainda é comum que exista incompre ensão ou preconceito em relação aos princípios comportamentais ou à filosofia em que estão fundamentados Os autores propõem o interteaching como uma forma de ensino que por sua flexibilidade e facilidade de implementação tornaria mais simples o processo de mudança de práticas tradicionais de ensino para a proposta comportamental O interteaching tenta manter aspectoschave das propostas educacionais comportamentais a uso do controle posi tivo no lugar do aversivo b conteúdo vai do simples ao complexo c foco no domínio completo do material pelos estudantes e d avaliação frequente do desempenho do aluno Para superar as resistências já in dicadas propõem a estudo de cada tópico antes da aula com ajuda de um guia de atividades b realização de conferências de esclarecimento pelo professor ao início de cada aula com 30 minutos de duração c discussão dos guias de atividades em duplas com supervisão do profes sor d testes pelo menos cinco vezes por semestre Por ser um método novo mais pesquisas são necessárias para atestar sua eficiência e mais tempo para que se possa julgar se será capaz de conquistar o interesse dos professores Considerações Finais O objetivo deste artigo foi compartilhar algumas contribuições da Análise do Comportamento ao campo educacional com uma audiência de não analistas do comportamento O diálogo entre diferentes pers pectivas teóricometodológicas é especialmente interessante quando estamos diante de grandes desafios como é o caso dos problemas edu cacionais brasileiros Foi discutido que qualquer planejamento de ensino poderá se beneficiar se seguir as seguintes orientações 1 definição objetiva e cla ra dos comportamentos que devem ser apresentados pelos alunos ao longo e ao final do ensino 2 avaliação do repertório comportamental do aluno relacionado ao comportamento a ser ensinado 3 arranjo se quencial dos materiais e definição dos critérios para reforçamento de uma resposta e quais reforçadores serão utilizados 4 definição das consequências para os erros do aluno e do que fazer quando o aluno comete muitos erros 5 definição de quais serão as formas de avaliar se o aluno já dominou determinado conteúdo isto é que ele já apresenta certo tipo de comportamento 6 manejo das contingências de reforço CP 149indb 719 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 720 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 para fortalecer aproximações sucessivas do comportamentoobjetivo e para construir reforçadores condicionados intrínsecos à tarefa e 8 ma nutenção de registros das respostas do aluno como base para modifica ção dos materiais e procedimentos de ensino Além dessas contribuições a forma de fazer ciência da Análise do Comportamento traz inovações fundamentais aos campos da psico logia e da educação ao adotar uma atitude de não aceitar construtos hipotéticos como agentes iniciadores do comportamento Isso gera uma busca cuidadosa e fundamental pelas variáveis ambientais que deter minam o comportamento Isso ajuda a elaborar procedimentos precisos para o ensino KUBO BOTOMÉ 2001 Segundo Skinner 1969 quando os objetivos são especificados apropriadamente o professor sabe o que deve fazer e mais tarde reconhecerá facilmente se de fato fez o que deveria e se produziu os resultados esperados Em termos de uma discussão mais ampla sobre os objetivos da Educação e políticas educacionais acreditamos também na viabilida de das contribuições comportamentais Skinner 1972 1968 defendia a necessidade de interação entre a pesquisa científica e as escolas de formação de professores uma vez que o comportamento humano é complexo demais para ser deixado à experiência casual ou mesmo or ganizada no ambiente restrito da sala de aula Os professores precisam de auxílio p 91 A educação para Skinner 1969 tem o objetivo fundamental de transmissão de cultura isto é ensinar aos novos membros o saber his toricamente produzido pelas gerações anteriores A Educação também é essencial ao bem estar do indivíduo e da cultura porque é preciso en sinar aos alunos comportamentos que serão vantajosos para eles e para os outros em algum momento no futuro SKINNER 1981 1953 Essa visão privilegia valores como a solidariedade em vez do individualismo Skinner deixa claro que não basta olhar para o ambiente ime diato mas é preciso considerar sobretudo o futuro Este é um grande desafio se considerarmos que o ambiente muda constantemente Como ensinar um comportamento que será vantajoso para a pessoa e para os outros numa condição futura que desconhecemos Como ensinar a agir na ausência da orientação do professor Para Nico 2001 Skinner responde a esta pergunta sugerindo que os alunos aprendam na escola um repertório especial por meio do qual os próprios alunos podem chegar à emissão das respostas certas sob novas contingências e sem o auxílio dos membros da agência edu cacional p 63 Este repertório especial referese aos comportamentos de autocontrole tomada de decisão e solução de problemas SKINNER 1998 1953 1972 1968 Autores como Skinner sinalizam a importância de revisão das práticas de ensino vigentes e concomitantemente tornam evidente o CP 149indb 720 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 721 papel central da educação para as culturas humanas Verificase nessas teses o início de uma delimitação do que deve ser ensinado sob quais condições ou de que forma e com uma definição de qualidade de ensi no que significa implementar práticas de ensino que de fato produzam a aprendizagem dos comportamentosobjetivo O debate educacional nesses moldes tornase claro e compreensível para todos os interessa dos A clareza favorece a crítica e o entendimento dos processos que permitiram a produção de falhas e de acertos A clareza é condição importante numa discussão sobre Educação Por fim ressaltamos que a preocupação com a captação e aplicação de recursos públicos tanto para oferecer melhores salários aos professores como para construir novas escolas e elaborar material didático é fun damental para a melhora da educação Discussões sobre políticas educa cionais e sobre a filosofia educacional a ser adotada são igualmente rele vantes Mas não podemos por reconhecer a importância desses fatores negligenciar o método de ensino Skinner 1972 1968 discute que contratar mais e melhores pro fessores garantir acesso à escola formar melhores estudantes criar es colas mais modernas multiplicar as formas de contato professoraluno por meio de recursos audiovisuais e planejar novos currículos são deci sões que podem ser tomadas sem que se analisem os métodos de ensino subjacentes às relações professoraluno em sala de aula Esquecemos portanto de perguntar como estes melhores professores devem ensi nar a estes melhores alunos nestas melhores escolas p 89 Precisamos pesquisar mais sobre aprendizagem e desenvolver melhores procedimentos de ensino e com isso ter melhores condições para orientar os professores Ainda que conquistemos melhores condi ções de trabalho para o professor e melhores escolas ainda precisare mos nos preocupar com as práticas de ensino SKINNER 1972 1968 Novos estudos podem destacar as contribuições da Análise do Comportamento por áreas da Educação Por exemplo contribuições à educação matemática Além disso é importante desenvolver pesquisas que comparem métodos e destaquem os aspectos cruciais para o sucesso ou insucesso de uma proposta de ensino Incentivamos também estudos que aprofundem a descrição das contribuições comportamentais à edu cação apresentando por exemplo diferentes técnicas de ensino e os resultados obtidos com diferentes populações reFerênCIaS BECKER Wesley C ENGELMANN Siegfried Systems for basic instruction theory and application In CATANIA A Charles BRIGHAM Thomas A Org Handbook of applied behavior analysis New York Irvington 1978 p 325377 BIJOU Sidney O que a psicologia tem a oferecer à educação agora Revista Brasileira de Análise do Comportamento v 2 n 2 p 287296 2006 1970 CP 149indb 721 01112013 152726 CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO À EDUCAÇÃO UM CONVITE AO DIÁLOGO 722 CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 CARMO João S BAPTISTA Marcelo Q G Comunicação dos conhecimentos produzidos em análise do comportamento uma competência a ser aprendida Estudos de Psicologia Natal v 8 n 3 p 499503 2003 CARRARA Kester Behaviorismo radical crítica e metacrítica 2 ed São Paulo Editora Unesp 2005 CARVALHO NETO Marcus B ALVES Ana C P BAPTISTA Marcelo Q G A consciência como um suposto antídoto para a violência Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva São Paulo v 9 n 1 p 2744 2007 CATANIA A Charles Aprendizagem comportamento linguagem e cognição Tradução de Deisy de Souza et al Porto Alegre Artes Médicas Sul 1999 ENGELMANN Siegfried CARNINE Douglas Theory of instruction principles and applications New York McGrawHill 1982 FIGUEIREDO Luis C M Matrizes do pensamento psicológico Petrópolis Vozes 1991 p 1125 HÜBNER Maria Martha Costa Analisando a relação professoraluno do planejamento à sala de aula São Paulo CLRBalieiros 1987 33 p KELLER Fred S Adeus mestre Ciência e Cultura Campinas v 24 n 3 p 207217 1972 1968 KUBO Olga BOTOMÉ Silvio P Ensinoaprendizagem uma interação entre dois processos comportamentais Interação Curitiba n 5 p 123132 2001 LINDSLEY Ogden R Why arent effective teaching tools widely adopted Journal of Applied Behavior Analysis v 25 n 1 p 2126 1992 LUNA Sérgio V Contribuições de Skinner para a educação In PLACCO Vera M N de S Org Psicologia educação revendo contribuições São Paulo Educ 2000 p 145179 MATOS Maria Amélia Análise de contingências no aprender e no ensinar In ALENCAR Eunice S Org Novas contribuições da psicologia aos processos de ensino e aprendizagem São Paulo Cortez 1993 p 141165 MICHELETTO Nilza SÉRIO Teresa M de A P Homem objeto ou sujeito para Skinner Temas em Psicologia v 2 p 1122 1993 NERI Anita L O modelo comportamental aplicado ao ensino In PENTEADO Wilma M A Org Psicologia e ensino São Paulo Papelivros 1980 p 118133 NICO Yara C O que é autocontrole tomada de decisão e solução de problemas na perspectiva de B F Skinner In GUILHARDI Hélio J MADI Maria B B P QUEIROZ Patrícia P SCOZ Maria C Org Sobre comportamento e cognição expondo a variabilidade Santo André Esetec 2001 p 6270 PEREIRA Maria E M MARINOTTI Miriam LUNA Sérgio V O compromisso do professor com a aprendizagem do aluno contribuições da análise do comportamento In HÜBNER Maria Martha Costa MARINOTTI Miriam Org Análise do comportamento para a educação contribuições recentes Santo André Esetec 2004 p 1132 PLAISANCE Éric VERGNAUD Gérard As ciências da educação Tradução de Nadyr S Penteado e Odila A Queiroz São Paulo Loyola 2003 146 p RODRIGUES Maria E Mitos e discordâncias Santo André Esetec 2011 274 p SAVILLE Bryan K LAMBERT Tonya ROBERTSON Stephen Interteaching bringing behavioral education into de 21st century The Psychological Record n 61 p 153166 2011 SÉRIO Teresa M de A P A concepção de homem e a busca de autoconhecimento onde está o problema In BANACO Roberto A Org Sobre comportamento e cognição aspectos teóricos metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista Santo André Esetec 2001 1997 p 4255 SKINNER Burrhus Frederic Contingencies of reinforcement a theoretical analysis New York AppletonCenturyCrofts 1969 Tecnologia do ensino Tradução de Rodolpho Azzi São Paulo Herder Edusp 1972 1968 CP 149indb 722 01112013 152726 Marcelo Henrique Oliveira Henklain e João dos Santos Carmo CADERNOS DE PESQUISA v43 n149 p704723 maioago 2013 723 A escola do futuro In Questões recentes na análise comportamental Tradução de Anita Liberalesso Neri Campinas Papirus 1991 1989 p 117131 Ciência e comportamento humano 10 ed Tradução de J C Todorov e Rodolpho Azzi São Paulo Martins Fontes 1998 1953 Sobre o behaviorismo 11 ed Tradução de M da P Villalobos São Paulo Cultrix 1999 1974 TEIXEIRA Adélia M S Algumas considerações In Análise de contingências em programação de ensino infantil liberdade e efetividade na educação Santo André Esetec 2006 p 183231 TODOROV João C MOREIRA Márcio B Psicologia comportamento processos e interações Psicologia Reflexão e Crítica Porto Alegre v 22 n 3 p 404412 2008 A psicologia como o estudo de interações Psicologia Teoria e Pesquisa Brasília v 23 p 5761 2007 Edição especial TOURINHO Emmanuel Z Estudos conceituais na análise do comportamento Temas em Psicologia da SBP São Paulo v 7 n 3 p 213222 1999 ZANOTTO Maria de L B Formação de professores a contribuição da análise do comportamento São Paulo Educ 2000 183p ZANOTTO Maria de L B MOROZ Melania GIOIA Paula S Behaviorismo radical e educação 2008 Disponível em httpwwwredepsicombrportalmodulessmartsectionitem phpitemid1257 Acesso em 10 nov 2011 MARCELO HENRIQUE OLIVEIRA HENKLAIN Mestrado em Psicologia na Universidade Federal de São Carlos UFSCar SP marcelohenklainhotmailcom JOÃO DOS SANTOS CARMO Professor do Departamento de Psicologia e Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento Cognição e Ensino INCTECCE da Universidade Federal de São Carlos UFSCar Instituto de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento Cognição e Ensino carmojsgmailcom recebido em NOVEMBRO 2012 aprovado para publicação em MAIO 2013 CP 149indb 723 01112013 152726