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Psicologia Institucional
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A Construção do Conhecimento Segundo Jean Piaget Sônia Maria dos Santos Garcia A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SEGUNDO JEAN PIAGET Sonia Maria dos Santos Garcia Resumo Este artigo tratará de analisar a teoria de PIAGET explicando aspectos relevantes de sua epistemologia genética para a educação demonstrando aos educadores um aluno capaz de construir e reconstruir seu próprio conhecimento Descobrindo e explicando que conhecimento significa organizar estruturar e explicar a partir do experimentado do vivido Abstract This paper aims to analyse Piagets theory explaining notable aspects of his genetic epistemology in the education showing educators that a student is able to construct and reconstruct his own knowledge His main objective was to solve the knowledge issue asking many questions such as how is it possible to achieve knowledge What kind of knowledge Finding out and explaining that knowledge means organising structuring and explaining through lived experiences Será feita aqui uma análise da teoria de PIAGET explicitando aspectos relevantes de sua epistemologia genética para a Educação Esses aspectos que têm servido de referencial básico para vários pesquisadores como FERREIRO1988 KAMII1992 BECKER1983 RANGEL1992 e outros mostram aos educadores um aluno capaz de construir e reconstruir seu próprio conhecimento JEAN PIAGET biólogo suíço iniciou suas pesquisas ainda bem jovem e interessou se pelo estudo do conhecimento Como pesquisador viu na psicologia uma ciência que lhe possibilitou a realização de experimentos sobre o funcionamento da mente sendo capaz de agregar a filosofia e a biologia dando à filosofia um caráter científico já que Piaget considerava o procedimento metodológico da filosofia bastante especulativo e a biologia por sua vez não lhe possibilitava fazer experimentações nesta área específica O objetivo primordial de PIAGET era o de responder a duas perguntas básicas sobre o conhecimento como é possível alcançar o conhecimento conhecimento de quê Com base em suas pesquisas descobre e explica que conhecimento significa organizar estruturar e explicar a partir do experimentado do vivido E a resposta para a segunda pergunta de PIAGET é conhecimento do mundo em que vivemos do meio que nos circunda Nas epistemologias clássicas conhecidas racionalismo e empirismo existe um postulado comum sobre a relação entre sujeito e objeto do conhecimento ora dando ênfase ao objeto ora ao sujeito PIAGET critica esse postulado acrescentando que o conhecimento não se origina nem dos objetos nem no sujeito mas da interação entre os dois Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da UFU Ensino em Revista 611728 jul97jun98 17 A Construção do Conhecimento Segundo Jean Piaget Sônia Maria dos Santos Garcia Sendo assim o objeto do conhecimento para PIAGET é o meio abrangendo seus aspectos físicos e culturais Com os resultados de suas pesquisas PIAGET descobriu que a lógica não é inata e que se desenvolve gradualmente discordando assim da concepção apriorista que delega o conhecimento ao amadurecimento em etapas organizadas e predeterminadas Foi contra a concepção empirista que postula uma crença no conhecimento como resultado da percepção do indivíduo como uma cópia do meio e também discordou das teorias psicológicas associacionistas e comportamentalistas que mecanizam a experiência do sujeito Essas discordâncias se devem ao fato de que para PIAGET O conhecimento resultaria de interações que se produzem a meio caminho entre os dois sujeito e objeto dependendo portanto dos dois ao mesmo tempo mas em decorrência de uma indiferenciação completa e não de intercâmbio entre formas distintas De outro lado e por conseguinte se não há no início nem sujeito no sentido epistemológico do termo nem objetos concebidos como tais nem sobretudo instrumentos invariantes de troca o problema inicial do conhecimento será pois o de elaborar tais mediadores PIAGET 19836 A noção de construção resulta pois desse afastamento do empirismo e do apriorismo Para PIAGET o conhecimento não é uma cópia do meio e sempre existirá uma interação entre o objeto do conhecimento e o sujeito epistêmico Para PIAGET o sujeito epistêmico é o sujeito do conhecimento Ao estudar o desenvolvimento do conhecimento na criança PIAGET observa que a inteligência se constrói através da estruturação dos esquemas mentais que lhe permitem adaptarse ao mundo Um esquema pode ser utilizado em várias situações e de modos diferentes PIAGET chama esquema de ação aquilo que numa ação é transponível generalizável ou diferencial de uma situação para a seguintePIAGET 198311 A teoria de PIAGET é entendida como uma teoria científica que explica os processos de aquisição dos conhecimentos e está baseada na interação do sujeito com o objeto de conhecimento A teoria psicogenética visa descobrir como se organiza o conhecimento humano ao longo do desenvolvimento cognitivo A fim de compreender o que até aqui foi dito seria necessário explicitar alguns aspectos importantes da teoria de PIAGET Segundo KESSELRING os conceitos de estrutura equilíbrio e autoregulação são os principais conceitos da obra de PIAGET 1 Os Conceitos de Estrutura Equilíbrio e AutoRegulação KESSELRING afirma que O conceito de estrutura vinculase intimamente ao de equilíbrio o equilíbrio cognitivo se distingue do biológico pela capacidade de identificar antecipadamente possíveis perturbações e de prevenilas através de medidas adequadas autoregulação19938586 As estruturas cognitivas são condições básicas de todo conhecimento Elas não são impostas pelo meio por sensações ou percepções nem são inatas mas construídas pela ação As estruturas não estão préformadas dentro do sujeito mas constroemse à medida das necessidades e das situaçõesPIAGET 1978387 Ensino em ReVista 6 11728 jul97jun98 18 A Construção do Conhecimento Segundo Jean Piaget Sônia Maria dos Santos Garcia Desde bem pequenina a criança através da ação vai construindo gradativamente suas estruturas cognitivas que se manifestam nos estágios de seu desenvolvimento cognitivo Existem quatro fatores gerais que determinam a construção das estruturas específicas do ato de conhecer 1 a maturação orgânica do sujeito consiste na capacidade do sujeito em abrir novas possibilidades para o aparecimento de certas condutas condição necessária mas não suficiente uma vez que o conhecimento se constrói através da interação 2 a experiência adquirida no exercício da ação sobre o objeto que PIAGET distingue sob as formas de experiência física e lógicomatemática 21 a experiência física é aquela que permite através da abstração simples ou empírica retirar informações dos próprios objetos descobrindo qualidades que lhes são próprias por exemplo a forma o peso o tamanho a espessura a cor se é plástico madeira borracha papel ou vidro etc 22 a experiência lógicomatemática ocorre através da abstração reflexiva porque consiste em relações mentais criadas pelo próprio sujeito Ex as crianças criam relações simples entre dois ou mais objetos coordenandoos entre objetos da mesma cor e de cores diferentes Tornamse capazes de deduzir mais tarde que num conjunto de bolas verdes e vermelhas a quantidade de bolas é maior que a quantidade de bolas vermelhas Os dois tipos de experiência são adquiridos no momento da interação e não ocorrem numa ordem temporal específica como por exemplo primeiro a experiência física e depois a experiência lógicomatemática Para que uma criança consiga abstrair as propriedades físicas de um objeto ela precisa inserilas num sistema lógicomatemático estabelecendo relações entre vários objetos solidificando e ampliando cada vez mais o seu nível de desenvolvimento Desta forma a experiência é para PIAGET condição essencial para o desenvolvimento da inteligência mas não suficiente pois o desenvolvimento pressupõe uma atividade estruturante do sujeito 3 a influência do meio social externo necessário mas também insuficiente para a construção das estruturas cognitivas as trocas sociais a linguagem e o jogo de regras enriquecem as estruturas mas não explicam a complexidade da construção do conhecimento já que este não pode ser ensinado por transmissão ao sujeito Ao contrário para compreender esse conhecimento o sujeito possui esquemas que lhe permitem assimilar e interpretar o mundo evidenciando assim a existência de um mecanismo construtor interno 4 a equilibração das estruturas cognitivas é o mecanismo interno de passagem progressiva de um patamar de equilíbrio a outro cada vez mais estável A concepção piagetiana da gênese e do desenvolvimento do conhecimento é contrária às do empirismo e do apriorismo não só porque estes reduzem o conceito de experiência aos limites da percepção e de fatores inatos mas também por ignorarem a função da atividade construtiva do sujeito mediante uma progressiva equilibração Do ponto de vista psicogenético a equilibração é o motor da construção do desenvolvimento cognitivo Ensino em Revista 6 11728 jul97jun98 19 O equilíbrio de uma estrutura não é total será sempre relativo à construção de outra estrutura mais ampla que se orienta para um equilíbrio melhor O processo de equilibração consiste geralmente em melhorar o estado inicial das estruturas cognitivas Temos nas palavras de CASTRO a noção de equilíbrio O processo de equilibração não consiste numa simples volta ao ponto de partida mas conduz em geral a um estado melhor que o inicial O mecanismo autoregulador é construtivo traz progressos e engendra novidades Essa orientação para melhoria a construção de novidades caracteriza uma equilibração majoranteCASTRO 198322 A equilibração majorante decorre do processo de equilíbrios sucessivas que se diferencia das mais simples e incompletas extraída do funcionamento próprio dessas regulações Ela se organiza fazendo com que a estrutura cognitiva se enriqueça e progrida O enriquecimento mais significativo é a construção gradual das negações de diferentes tipos parciais totais mais ou menos interiorizadas porque sua aquisição confundese com a construção também gradual das operações reversíveis E a autoregulação é a capacidade que o organismo tem de preservar um sistema de equilíbrio seja em caso de perturbação ou de sua melhoria Vida é em essência autoregulaçãoPIAGET apud KESSELRING 197327 Ao estudar o desenvolvimento cognitivo infantil PIAGET descobriu que esse desenvolvimento é caracterizado por construções e reconstruções adquirindo assim um caráter seqüencial e integrativo Seqüencial porque podese distinguir nos vários momentos evolutivos certas características específicas que se manifestam tanto nos arranjos espontaneamente feitos pelas crianças com objetos diversos como nas justificativ fornecem SEBER 198915 O caráter integrativo significa que às construções de um estágio anterior são integradas às construções do estágio seguinte como conteúdos necessários a novas formas de conhecimento Com esse caráter de graduação sucessiva e integrada o desenvolvimento infantil ocorre em quatro estágios 2 Os Estágios do Desenvolvimento Infantil O sensóriomotor que vai do nascimento até aproximadamente dois anos Etapa que precede a linguagem A criança neste estágio constrói e coordena esquemas de assimilação tendo como referência suas percepções e movimentos Este estágio caracterizase pela construção de esquemas de ação que possibilitam à criança assimilar objetos e pessoas Caracterizase por uma inteligência prática que coordena no plano da ação os esquemas que a criança utiliza O préoperatório etapa que se inicia com a linguagem e avança até por volta de sete anos esta fase caracterizase pela plena manifestação da função simbólica e pelo aparecimento intuitivo das operações A criança pode representar substituir objetos ou acontecimentos age como se fosse por simulação Por lhe faltarem recursos cognitivos para sair do seu ponto de vista e operar diferenciando e integrando os estados e as transformações das coisas falase do caráter egocêntrico desse estágio Operatório concreto período entre 7 a 12 anos denominado de etapas das operações concretas Este estágio é caracterizado pelo início das operações lógicas que são marcadas pelo pensamento reversível ou seja a criança neste estágio é capaz de admitir a possibilidade de se efetuar a operação contrária Para PIAGET neste estágio os estados estão submetidos às transformações reversíveis Operações proporcionais ou formais que acontece a partir dos 12 anos Neste estágio o pensamento lógico alcança um nível maior de equilibração constituindo uma lógica proposicional o que foi considerado por PIAGET o auge do desenvolvimento cognitivo Para PIAGET cada estágio de desenvolvimento é marcado pela construção de estruturas cognitivas próprias mas integradas às estruturas construídas no estágio anterior ampliando os patamares que se complementam através de equilíbrio Sendo assim de um patamar de equilíbrio a outro de estágio a estágio o sujeito modifica e amplia suas estruturas para ajustálas às necessidades dos objetos que assimila Cada estágio constituise então numa forma momentânea de equilíbrio que pelo processo de equilibração prepara as construções posteriores em direção a um equilíbrio cada vez mais estável Portanto cada estágio é definido por características próprias na medida em que a criança constrói determinadas estruturas cognitivas Por exemplo no operatório concreto consolidamse as noções de classificação seriação e conservação que no período anterior eram intuitivas Os estágios vãose diferenciando dos anteriores de forma que a criança passa a dispor de novos esquemas diferentes mais flexíveis e móveis Dispondo de esquemas de ação que são flexíveis e capazes de transformação o sujeito constrói o conhecimento do mundo real imprimindo significado a tudo que o cerca Essa construção somente é possível graças ao equilíbrio entre os mecanismos de assimilação e acomodação 3 As Noções de Assimilação Acomodação e Adaptação Na teoria psicogenética de PIAGET as noções de assimilação e acomodação constituem aspectos essenciais Assimilação é a incorporação do objeto de conhecimento ou de parte dele à estrutura cognitiva do sujeito e acomodação é a modificação que a estrutura sofre devido à incorporação de elementos novos a ela ou seja é a transformação que os esquemas de assimilação precisam realizar para que a estrutura cognitiva se ajuste ao objeto A assimilação e a acomodação são portanto os dois pólos de uma interação que se desenvolve entre o organismo sujeito e o meio objeto a qual constitui a condição indispensável de todo funcionamento biológico e intelectual e essa interação supõe desde o início um equilíbrio entre as duas tendências dos pólos opostos Piaget 1979328 É através desses dois mecanismos que o sujeito constrói o conhecimento Entendido dessa forma o conhecimento é uma aquisição do sujeito que assimila as informações com as quais se defronta a partir de sua interação com o real sendo necessário interpretálas ele o faz com base nas estruturas que já possui Tudo o que o sujeito construir futuramente será determinado pela assimilação Assimilar será sempre assimilar através de esquemas e sendo assim é impossível determinar o que surge primeiro se a assimilação ou o esquema já que um depende do outro para seu funcionamento Para PIAGET a acomodação diferencia os esquemas de ação visando por um lado adaptálos melhor à diversidade e por outro colaborar na criação de novos esquemas Se a assimilação é a incorporação de elementos do meio à estrutura a acomodação é a modificação dessa estrutura em função das modificações do meioDOLLE 198750 Podese afirmar que a adaptação é um estado de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação Sendo assim não existe assimilação sem acomodação uma não acontece sem a outra E a organização referese ao aspecto interno das relações que ligam entre si os elementos já adaptados O desenvolvimento cognitivo é um processo de equilibração Para PIAGET as estruturas cognitivas das crianças mudam através da adaptação a situações novas que enfrentam no seu cotidiano Nas suas palavras inteligência é adaptação e sua função é estruturar o universo da mesma forma como o organismo estrutura o meio ambiente PIAGET 198311 Desde o início de suas reflexões teóricas PIAGET afirmava que o ato de conhecer provém da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento por exemplo os objetos físicos o sistema de numeração e todas as relações que o definem Por sua vez o sujeito conhece os objetos porque os insere numa estrutura mental que possui no momento da interação Essas estruturas como já foi dito vão sendo construídas pela interação ou seja na simultaneidade da ação da criança sobre o mundo e a ação do mundo sobre a criança Todo esse processo de construção das estruturas cognitivas vem acompanhado por dois mecanismos solidários a abstração e a generalização Abstrair numa primeira acepção pode ser entendido por algo como isolar uma qualidade perceptível de um objeto ou isolar um aspecto dentro de um contexto Quando se abstrai o verde de uma folha por exemplo retémse o seu verde individual O conceito de verde só é possível porque se pode isolar e generalizar os dois mecanismos que compõem os passos da abstração PIAGET distingue ainda a abstração empírica em que as informações são obtidas da experiência física como bater puxar empilhar o que permite extrair informações das características dos objetos e das ações a abstração reflexiva ou refletidora fase em que a criança descobre a possibilidade de estabelecer relações de correspondência de ordem de comparação e por último a abstração refletida que ocorre quando a abstração reflexiva tornase consciente A criança passa a refletir sobre suas ações A generalização é o mecanismo de passagem da ação à representação isto é o processo de construção e reconstrução O processo de construção do conhecimento se dá individualmente no sentido psicológico e neurólogico sendo que o social realizase ao nível das trocas simbólicas e o elo de ligação é realizado pela ação da criança Sem esse processo as estruturas não se constituem e as crianças não compreendem o que lhes é ensinado O nome deste processo de construção do conhecimento é abstração empírica e sobretudo reflexiva A criança por volta dos 78 anos passa a admitir um princípio de identidade de nível operatório o que a torna capaz de classificar seriar colocar em correspondência objetos Tratase no entanto de ações sobre os objetos e não de operações sobre enunciados verbais É o inicio das operações concretas mas já organizadas em estruturas reversíveis com leis de totalidade 4 As Operações Concretas e o Início do Pensamento Lógico É através da conquista dessa estrutura reversível que a criança compreende as possibilidades de fazer e refazer uma mesma ação Chamaremos reversibilidade a capacidade de executar a mesma ação nos dois sentidos de percurso mas tendo a consciência de que se trata da mesma ação PIAGET 195740 Reversibilidade é a capacidade de considerar simultaneamente uma ação e sua inversa ou sua equivalente ou uma ação realizada e uma não realizada virtual ou apenas possível Por isso PIAGET afirma que no estágio operatório concreto os estados são submetidos às transformações reversíveis A reversibilidade se apresenta no período das operações concretas sob duas formasUma que podemos chamar de inversão ou negação que aparece na lógica das classes a aritmética etc a outra que podíamos chamar de reciprocidade que aparece nas operações de relação PIAGET 1983241 A reversibilidade uma vez adquirida possibilita à criança encontrar a objetividade necessária para abordar os fenômenos considerandoos sob diferentes pontos de vista Essa objetividade enfim permite a ela operar e atingir a realidade ao tomar consciência de suas ações sobre os objetos As crianças que freqüentam as séries iniciais do ensino fundamental estão na faixa etária correspondente ao período de 07 a 11 anos o que corresponderia segundo PIAGET ao estágio operatório concreto A passagem do nível préoperatório ao operatório pode ser vista como uma transição do fazer ao compreender nesta transição o fazer não desaparece mas é reconstruído ao nível da representação estruturado pela capacidade operatória ou seja ao nível da compreensão mas o fazer a ação é a condição necessária da compreensão BECKER 1983113 Há no pensamento operatório concreto se comparado ao préoperatório uma direção do desenvolvimento no sentido do real ao virtual Assim classificar os objetos significa construir de tal forma novos objetos que possam ser ligados aos objetos já classificados e assim sucessivamente novas inclusões se tornam possíveis Desde bem pequena a criança estabelece relações entre os objetos quando os compara os agrupa ou os ordena por suas semelhanças ou diferenças sem ainda realizar estas ações de forma lógica e conscientemente Inicialmente essas relações são de natureza sensóriomotora e apoiamse em percepções e manipulações em função da capacidade perceptiva tátil que a criança possui As relações vão sendo enriquecidas pela representação mental que ela consegue fazer dos objetos mesmo na sua ausência dos acontecimentos do passado libertando aos poucos seu pensamento do caráter prático e imediato da fase anterior As estruturas cognitivas deste período necessitam ainda dos objetos reais passíveis de serem manipulados e Não repousam sobre enunciados de proposições verbais mas sobre os objetos que elas se limitam a classificar seriar colocar em correspondência etc Em outras palavras a operação nascente ainda está ligada à ação sobre os objetos e à manipulação efetiva ou simplesmente mentaliza PIAGET 1989114 A construção das operações concretas marca o início do pensamento lógico que é regulado pela reversibilidade que dá mais mobilidade ao pensamento e lhe permite uma descentração progressiva mais rápida Esta etapa é caracterizada por uma série de estruturas cognitivas em vias de acabamento que PIAGET denominou de agrupamento As relações lógicas constituídas no período concreto engendram no pensamento da criança as estruturas de CONSERVAÇÃO CLASSIFICAÇÃO e SERIAÇÃO OPERATÓRIAS 5 A noção de conservação Para PIAGET e INHELDER 1975 o desenvolvimento da noção de conservação que se refere às quantidades contínuas líquido e massa e descontínuas contáveis como unidades intensivas ou discretas se inicia a partir de um nível de não conservação A criança só atinge a estrutura de conservação operatória quando seu julgamento tornase independente da percepção como por exemplo quando as quantidades passam a ser compreendidas como permanentes embora mude a forma Esta estrutura estará constituída quando a criança construir a noção de invariantes como quantidade substância peso volume etc e seu pensamento alcançar a reversibilidade Os argumentos empregados pela criança para justificar as conservações são 1 identidade é a mesma massa ou só fizeram encompridála não se tirou nem se acrescentou nada 2 reversibilidade simples podese deixála como antesetc 3 compensação é mais comprida a salchicha comparada com a bolinha inicial ma é mais finaetc PIAGET INHELDER 197527 Esses argumentos são solidários apesar de sua complexidade aparentemente crescente A identidade geralmente vem acompanhada de reversibilidade e de compensação Isso significa que a criança só poderá afirmar que o alongamento de uma bolinha de massa de modelar por exemplo é a mesma massa identidade dandose conta de que pode fazêla retornar ao estado inicial podese deixála como antes reversibillidade e por último se tiver consciência de que a quantidade de massa é a mesma nas duas situações é mais comprida mas é mais fina compensação A criança não constrói a noção dt quantidades mediante simples comparaçã visual entre dois objetos físicos Chegase à noção através da representação da seqüência das diferentes situações de transformação Na medida em que constrói a representação compara comprimento com espessura Para KESSELRING enquanto o esquema de permanência dos objetos se vincula a uma atividade representativa simples de primeira ordem o esquema de conservação das quantidades tem como pressusposto a capacidade de representação de segunda ordem 1993154 Quando uma criança não consegue demonstrar que possui a noção de conservação é porque lhe falta construir as estruturas de conjunto o que só é possível através das operações reversíveis A noção de conservação é construída de forma integrada com as outras noções 6 A noção de classificação uma classe qualquer caracterizase sempre por 1 sua compreensão que reúne os caracteres comuns que se aplicam aos indivíduos que a compõem 2 sua extensão que concerne ao conjunto dos indivíduos aos quais se aplicam as qualidades dos caracteres comuns DOLLE 1987136 Classes são conjuntos de objetos ou acontecimentos que se reúnem por suas características comuns As características comuns definem as classes a que pertencem os objetos e esses por sua vez podem ser classificados de diferentes maneiras conforme a dimensão que se privilegia no momento Entretanto nenhum objeto pode pertencer simultaneamente a duas classes na mesma dimensão As estruturas cognitivas de classe se organizam em agrupamentos que são Operação Idêntica Operação Inversa e Operação Associativa A estrutura operatória baseada na reversibilidade assinala a conquista da operação de inclusão e a criança pode compreender que os critérios que unem os objetos numa classe maior não se perdem quando esta é dissociada em subclasses mas se sobrepõem O equivalente acontece na operação inversa quando duas subclasses são incluídas numa classe maior Ao utilizar os métodos descendente e ascendente de maneira equilibrada como um único sistema de operações direta e inversa a criança pode ainda usar dois ou mais critérios ao mesmo tempo para proceder a classificações multiplicativas construindo paulatinamente seus quadros de duas ou três entradas PIAGET e INHELDER 1983 descrevem uma evolução na constituição desta noção Num primeiro momento aparecem as coleções figurais em que a criança não se preocupa inicialmente com os critérios de semelhança ou diferença dos objetos entre si Sua preocupação está nos objetos e na sua forma Já no segundo momento aparece o nível das coleções não figurais que consiste na formação de grupos de objetos reunidos por quaisquer semelhanças A estrutura operatória de classe só estará construída quando a criança conseguir fazer inclusões hierárquicas A inclusão de classes está ligada à compreensão de todos e alguns enquanto quantidades puras e relativas sendo complementares Com a conquista da reversibilidade a criança passa a compreender que os critérios que unem os objetos numa mesma classe maior não se perdem quando esta é distribuída em subclasses mas se sobrepõem 7 A noção de seriação operatória Este tema fez parte das investigações de PIAGET e INHELDER1975 e PIAGET e SZEMINSKA1981 Segundo essas pesquisas num primeiro momento a criança não produz a configuração desejada Ela justapõe pares ou trios separaos em grandes e pequenos pesados e leves não sendo ainda capaz de acrescentar novos elementos aos já seriados Num segundo nível de estruturação a criança chega à ordenação correta por tentativas Não consegue ainda intercalar elementos em uma série já constituída Somente num terceiro momento é que a criança consegue êxito Este método descrito por PIAGET INHELDER e SZEMINSKA consiste em escolher o maior objeto em seguida o maior entre os que restam e assim sucessivamente DOLLE 1987147 A criança resolve problemas de transitividade sendo capaz de colocar novos elementos em uma série já constituída Na seriação os objetos são agrupados de acordo com suas diferenças ordenadas Seriar objetos é ordenálos de acordo com algum critério seja sua cor medida qualidade Para PIAGET o mais importante não está no resultado das ações das crianças e sim na maneira como realizam estas ações As crianças já terão construído a estrutura de seriação quando conseguirem utilizar este método que é sistemático em que procuram distinguir o maior elemento entre os demais a fim de construir uma ordem serial Podese afirmar que A inteligência operatória concreta consiste pois em classificar seriar enumerar objetos e suas propriedades no contexto de uma relação do sujeito ao objeto concreto direto e sem a possibilidade de raciocinar sobre simples hipóteses DOLLE 1987116 Para entender o construtivismo de PIAGET é necessário conceber a criança como um sujeito ativo que assimila objetos contextualizados O que a criança constrói já foi construído por outros sujeitos daí a idéia de reconstrução tão discutida por pesquisadores e estudiosos da educação O construtivismo Piagetiano supõe por parte do professor conhecer bem o objeto do conhecimento que será estudado por ele e pelas crianças supõe também conhecer o sujeito a criança que i rá construir esse conhecimento A intervenção adequada pode fazer com que a criança supere suas dificuldades O professor nesta visão tornase suporte das interações individuais ou coletivas que por sua vez é coordenada por um processo de constantes equilibrações O grande desafio deste final de século seria o de criar oportunidades significativas para que os professores de maneira geral pudessem construir seu conhecimento em situação semelhante à da criança compreendendo a concepção epistemológica que embasa o contrutivismo piagetiano REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECKER Fernando Da ação a operação o caminho da aprendizagem em Jean Piaget e Paulo Freire São Paulo Pontífica Universidade Católica de São Paulo 1981 Tese de Doutorado A epistemologia do professor o cotidiano da escola Petrópolis Vozes 1993 BRINGUIER Jean C Conversando com Jean Piaget Rio de Janeiro DIFEL 1978 CASTRO AD Piaget e a PréEscola São Paulo Pioneira 1983 DOLLE Jean M Para compreender Jean Piaget uma iniciação à Psicologia Genética piagetiana Rio de Janeiro Guanabara KOOGAN 1987 FERREIRO Emília Alternativas a la 1a compreension del analfabetismo em la region IN INEP ANAIS Alternativas de Alfabetização para a América Latina e o Caribe Brasília 1987 p 2942 1988 KAMII Constance JOSEPH L Aritmética novas perspectivas implicações da teoria de Jean Piaget Campinas Papirus 1992 KESSELRING T Jean Piaget Tradução de Antônio Estevão A e Fernando Becker Rio de Janeiro Vozes 1993 LEITE Luci B org Piaget e a Escola de Genebra São Paulo Cortez 1987 Considerações sobre as perspectivas construtivista e interacionista em Psicologia o papel do professor Alfabetização passado presente e futuro Série Idéias São Paulo FDE N19 p575 1993 PIAGET Jean Introduction a la Epistémologie Genétique La pensée Mathematique 2 ed Paris Presses Univesitaires de France 1973 A linguagem e o pensamento da criança 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1975 A equilibração das estruturas cognitivas problema central do desenvolvimento Rio de Janeiro Zahar 1976 Psicologia e a Pedagogia Tradução de Dirceu A Lindoso Rio de Janeiro Forense 1976 O nascimento da inteligência na criança 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1978 A construção do real na criança 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1979 Para onde vai a educação 7 ed Rio de Janeiro José Olímpio 1980 A gênese das estruturas lógicas elementares 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1983 A Epistemologia Genética São Paulo Abril Cultural 1983 Problemas da Psicologia Genética São Paulo Abril Cultural Os Pensadores 1983 Seis estudos de Psicologia 16 ed Rio de Janeiro Forense 1989 J INHELDER Barbel As operações intelectuais e seu desenvolvimento IN PIAGET J FARISSE P Tratado de Psicologia Experimental V7 Rio de Janeiro Forense 1969 GRECO Pierre 1959 Aprendizagem e conhecimento Rio de Janeiro Freitas Bastos 1974 INHELDER B O Desenvolvimento das quantidades físicas na criança 2 ed Rio de Janeiro Zahar1975 APOSTEL L MANDELBROTB Logique et equilibre Paris PUF 1975 SZEMINSKA A A A gênese do número na criança 2 ed Rio de Janeiro Zahar 1981 INHELDER B A Psicologia da criança 12 ed Rio de Janeiro Bertrand 1983 Matemática e construção do conhecimento na escola infantil Educação e realidade Porto Alegre V19 N1 JanJun 1994 SEBER MG Construção da inteligência pela criança São Paulo Scipione 1989 etalii Abstração reflexionante relações lógicoaritméticas e ordem das relações espaciais Tradução Fernando Becker Petronilha Beatriz GSilva Porto Alegre Artes Médicas 1995 RANGEL Ana CS Educação matemática e a construção do número pela criança Uma experiência em diferentes contextos Econômicos Porto Alegre Artes Médicas 1992
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A Construção do Conhecimento Segundo Jean Piaget Sônia Maria dos Santos Garcia A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SEGUNDO JEAN PIAGET Sonia Maria dos Santos Garcia Resumo Este artigo tratará de analisar a teoria de PIAGET explicando aspectos relevantes de sua epistemologia genética para a educação demonstrando aos educadores um aluno capaz de construir e reconstruir seu próprio conhecimento Descobrindo e explicando que conhecimento significa organizar estruturar e explicar a partir do experimentado do vivido Abstract This paper aims to analyse Piagets theory explaining notable aspects of his genetic epistemology in the education showing educators that a student is able to construct and reconstruct his own knowledge His main objective was to solve the knowledge issue asking many questions such as how is it possible to achieve knowledge What kind of knowledge Finding out and explaining that knowledge means organising structuring and explaining through lived experiences Será feita aqui uma análise da teoria de PIAGET explicitando aspectos relevantes de sua epistemologia genética para a Educação Esses aspectos que têm servido de referencial básico para vários pesquisadores como FERREIRO1988 KAMII1992 BECKER1983 RANGEL1992 e outros mostram aos educadores um aluno capaz de construir e reconstruir seu próprio conhecimento JEAN PIAGET biólogo suíço iniciou suas pesquisas ainda bem jovem e interessou se pelo estudo do conhecimento Como pesquisador viu na psicologia uma ciência que lhe possibilitou a realização de experimentos sobre o funcionamento da mente sendo capaz de agregar a filosofia e a biologia dando à filosofia um caráter científico já que Piaget considerava o procedimento metodológico da filosofia bastante especulativo e a biologia por sua vez não lhe possibilitava fazer experimentações nesta área específica O objetivo primordial de PIAGET era o de responder a duas perguntas básicas sobre o conhecimento como é possível alcançar o conhecimento conhecimento de quê Com base em suas pesquisas descobre e explica que conhecimento significa organizar estruturar e explicar a partir do experimentado do vivido E a resposta para a segunda pergunta de PIAGET é conhecimento do mundo em que vivemos do meio que nos circunda Nas epistemologias clássicas conhecidas racionalismo e empirismo existe um postulado comum sobre a relação entre sujeito e objeto do conhecimento ora dando ênfase ao objeto ora ao sujeito PIAGET critica esse postulado acrescentando que o conhecimento não se origina nem dos objetos nem no sujeito mas da interação entre os dois Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da UFU Ensino em Revista 611728 jul97jun98 17 A Construção do Conhecimento Segundo Jean Piaget Sônia Maria dos Santos Garcia Sendo assim o objeto do conhecimento para PIAGET é o meio abrangendo seus aspectos físicos e culturais Com os resultados de suas pesquisas PIAGET descobriu que a lógica não é inata e que se desenvolve gradualmente discordando assim da concepção apriorista que delega o conhecimento ao amadurecimento em etapas organizadas e predeterminadas Foi contra a concepção empirista que postula uma crença no conhecimento como resultado da percepção do indivíduo como uma cópia do meio e também discordou das teorias psicológicas associacionistas e comportamentalistas que mecanizam a experiência do sujeito Essas discordâncias se devem ao fato de que para PIAGET O conhecimento resultaria de interações que se produzem a meio caminho entre os dois sujeito e objeto dependendo portanto dos dois ao mesmo tempo mas em decorrência de uma indiferenciação completa e não de intercâmbio entre formas distintas De outro lado e por conseguinte se não há no início nem sujeito no sentido epistemológico do termo nem objetos concebidos como tais nem sobretudo instrumentos invariantes de troca o problema inicial do conhecimento será pois o de elaborar tais mediadores PIAGET 19836 A noção de construção resulta pois desse afastamento do empirismo e do apriorismo Para PIAGET o conhecimento não é uma cópia do meio e sempre existirá uma interação entre o objeto do conhecimento e o sujeito epistêmico Para PIAGET o sujeito epistêmico é o sujeito do conhecimento Ao estudar o desenvolvimento do conhecimento na criança PIAGET observa que a inteligência se constrói através da estruturação dos esquemas mentais que lhe permitem adaptarse ao mundo Um esquema pode ser utilizado em várias situações e de modos diferentes PIAGET chama esquema de ação aquilo que numa ação é transponível generalizável ou diferencial de uma situação para a seguintePIAGET 198311 A teoria de PIAGET é entendida como uma teoria científica que explica os processos de aquisição dos conhecimentos e está baseada na interação do sujeito com o objeto de conhecimento A teoria psicogenética visa descobrir como se organiza o conhecimento humano ao longo do desenvolvimento cognitivo A fim de compreender o que até aqui foi dito seria necessário explicitar alguns aspectos importantes da teoria de PIAGET Segundo KESSELRING os conceitos de estrutura equilíbrio e autoregulação são os principais conceitos da obra de PIAGET 1 Os Conceitos de Estrutura Equilíbrio e AutoRegulação KESSELRING afirma que O conceito de estrutura vinculase intimamente ao de equilíbrio o equilíbrio cognitivo se distingue do biológico pela capacidade de identificar antecipadamente possíveis perturbações e de prevenilas através de medidas adequadas autoregulação19938586 As estruturas cognitivas são condições básicas de todo conhecimento Elas não são impostas pelo meio por sensações ou percepções nem são inatas mas construídas pela ação As estruturas não estão préformadas dentro do sujeito mas constroemse à medida das necessidades e das situaçõesPIAGET 1978387 Ensino em ReVista 6 11728 jul97jun98 18 A Construção do Conhecimento Segundo Jean Piaget Sônia Maria dos Santos Garcia Desde bem pequenina a criança através da ação vai construindo gradativamente suas estruturas cognitivas que se manifestam nos estágios de seu desenvolvimento cognitivo Existem quatro fatores gerais que determinam a construção das estruturas específicas do ato de conhecer 1 a maturação orgânica do sujeito consiste na capacidade do sujeito em abrir novas possibilidades para o aparecimento de certas condutas condição necessária mas não suficiente uma vez que o conhecimento se constrói através da interação 2 a experiência adquirida no exercício da ação sobre o objeto que PIAGET distingue sob as formas de experiência física e lógicomatemática 21 a experiência física é aquela que permite através da abstração simples ou empírica retirar informações dos próprios objetos descobrindo qualidades que lhes são próprias por exemplo a forma o peso o tamanho a espessura a cor se é plástico madeira borracha papel ou vidro etc 22 a experiência lógicomatemática ocorre através da abstração reflexiva porque consiste em relações mentais criadas pelo próprio sujeito Ex as crianças criam relações simples entre dois ou mais objetos coordenandoos entre objetos da mesma cor e de cores diferentes Tornamse capazes de deduzir mais tarde que num conjunto de bolas verdes e vermelhas a quantidade de bolas é maior que a quantidade de bolas vermelhas Os dois tipos de experiência são adquiridos no momento da interação e não ocorrem numa ordem temporal específica como por exemplo primeiro a experiência física e depois a experiência lógicomatemática Para que uma criança consiga abstrair as propriedades físicas de um objeto ela precisa inserilas num sistema lógicomatemático estabelecendo relações entre vários objetos solidificando e ampliando cada vez mais o seu nível de desenvolvimento Desta forma a experiência é para PIAGET condição essencial para o desenvolvimento da inteligência mas não suficiente pois o desenvolvimento pressupõe uma atividade estruturante do sujeito 3 a influência do meio social externo necessário mas também insuficiente para a construção das estruturas cognitivas as trocas sociais a linguagem e o jogo de regras enriquecem as estruturas mas não explicam a complexidade da construção do conhecimento já que este não pode ser ensinado por transmissão ao sujeito Ao contrário para compreender esse conhecimento o sujeito possui esquemas que lhe permitem assimilar e interpretar o mundo evidenciando assim a existência de um mecanismo construtor interno 4 a equilibração das estruturas cognitivas é o mecanismo interno de passagem progressiva de um patamar de equilíbrio a outro cada vez mais estável A concepção piagetiana da gênese e do desenvolvimento do conhecimento é contrária às do empirismo e do apriorismo não só porque estes reduzem o conceito de experiência aos limites da percepção e de fatores inatos mas também por ignorarem a função da atividade construtiva do sujeito mediante uma progressiva equilibração Do ponto de vista psicogenético a equilibração é o motor da construção do desenvolvimento cognitivo Ensino em Revista 6 11728 jul97jun98 19 O equilíbrio de uma estrutura não é total será sempre relativo à construção de outra estrutura mais ampla que se orienta para um equilíbrio melhor O processo de equilibração consiste geralmente em melhorar o estado inicial das estruturas cognitivas Temos nas palavras de CASTRO a noção de equilíbrio O processo de equilibração não consiste numa simples volta ao ponto de partida mas conduz em geral a um estado melhor que o inicial O mecanismo autoregulador é construtivo traz progressos e engendra novidades Essa orientação para melhoria a construção de novidades caracteriza uma equilibração majoranteCASTRO 198322 A equilibração majorante decorre do processo de equilíbrios sucessivas que se diferencia das mais simples e incompletas extraída do funcionamento próprio dessas regulações Ela se organiza fazendo com que a estrutura cognitiva se enriqueça e progrida O enriquecimento mais significativo é a construção gradual das negações de diferentes tipos parciais totais mais ou menos interiorizadas porque sua aquisição confundese com a construção também gradual das operações reversíveis E a autoregulação é a capacidade que o organismo tem de preservar um sistema de equilíbrio seja em caso de perturbação ou de sua melhoria Vida é em essência autoregulaçãoPIAGET apud KESSELRING 197327 Ao estudar o desenvolvimento cognitivo infantil PIAGET descobriu que esse desenvolvimento é caracterizado por construções e reconstruções adquirindo assim um caráter seqüencial e integrativo Seqüencial porque podese distinguir nos vários momentos evolutivos certas características específicas que se manifestam tanto nos arranjos espontaneamente feitos pelas crianças com objetos diversos como nas justificativ fornecem SEBER 198915 O caráter integrativo significa que às construções de um estágio anterior são integradas às construções do estágio seguinte como conteúdos necessários a novas formas de conhecimento Com esse caráter de graduação sucessiva e integrada o desenvolvimento infantil ocorre em quatro estágios 2 Os Estágios do Desenvolvimento Infantil O sensóriomotor que vai do nascimento até aproximadamente dois anos Etapa que precede a linguagem A criança neste estágio constrói e coordena esquemas de assimilação tendo como referência suas percepções e movimentos Este estágio caracterizase pela construção de esquemas de ação que possibilitam à criança assimilar objetos e pessoas Caracterizase por uma inteligência prática que coordena no plano da ação os esquemas que a criança utiliza O préoperatório etapa que se inicia com a linguagem e avança até por volta de sete anos esta fase caracterizase pela plena manifestação da função simbólica e pelo aparecimento intuitivo das operações A criança pode representar substituir objetos ou acontecimentos age como se fosse por simulação Por lhe faltarem recursos cognitivos para sair do seu ponto de vista e operar diferenciando e integrando os estados e as transformações das coisas falase do caráter egocêntrico desse estágio Operatório concreto período entre 7 a 12 anos denominado de etapas das operações concretas Este estágio é caracterizado pelo início das operações lógicas que são marcadas pelo pensamento reversível ou seja a criança neste estágio é capaz de admitir a possibilidade de se efetuar a operação contrária Para PIAGET neste estágio os estados estão submetidos às transformações reversíveis Operações proporcionais ou formais que acontece a partir dos 12 anos Neste estágio o pensamento lógico alcança um nível maior de equilibração constituindo uma lógica proposicional o que foi considerado por PIAGET o auge do desenvolvimento cognitivo Para PIAGET cada estágio de desenvolvimento é marcado pela construção de estruturas cognitivas próprias mas integradas às estruturas construídas no estágio anterior ampliando os patamares que se complementam através de equilíbrio Sendo assim de um patamar de equilíbrio a outro de estágio a estágio o sujeito modifica e amplia suas estruturas para ajustálas às necessidades dos objetos que assimila Cada estágio constituise então numa forma momentânea de equilíbrio que pelo processo de equilibração prepara as construções posteriores em direção a um equilíbrio cada vez mais estável Portanto cada estágio é definido por características próprias na medida em que a criança constrói determinadas estruturas cognitivas Por exemplo no operatório concreto consolidamse as noções de classificação seriação e conservação que no período anterior eram intuitivas Os estágios vãose diferenciando dos anteriores de forma que a criança passa a dispor de novos esquemas diferentes mais flexíveis e móveis Dispondo de esquemas de ação que são flexíveis e capazes de transformação o sujeito constrói o conhecimento do mundo real imprimindo significado a tudo que o cerca Essa construção somente é possível graças ao equilíbrio entre os mecanismos de assimilação e acomodação 3 As Noções de Assimilação Acomodação e Adaptação Na teoria psicogenética de PIAGET as noções de assimilação e acomodação constituem aspectos essenciais Assimilação é a incorporação do objeto de conhecimento ou de parte dele à estrutura cognitiva do sujeito e acomodação é a modificação que a estrutura sofre devido à incorporação de elementos novos a ela ou seja é a transformação que os esquemas de assimilação precisam realizar para que a estrutura cognitiva se ajuste ao objeto A assimilação e a acomodação são portanto os dois pólos de uma interação que se desenvolve entre o organismo sujeito e o meio objeto a qual constitui a condição indispensável de todo funcionamento biológico e intelectual e essa interação supõe desde o início um equilíbrio entre as duas tendências dos pólos opostos Piaget 1979328 É através desses dois mecanismos que o sujeito constrói o conhecimento Entendido dessa forma o conhecimento é uma aquisição do sujeito que assimila as informações com as quais se defronta a partir de sua interação com o real sendo necessário interpretálas ele o faz com base nas estruturas que já possui Tudo o que o sujeito construir futuramente será determinado pela assimilação Assimilar será sempre assimilar através de esquemas e sendo assim é impossível determinar o que surge primeiro se a assimilação ou o esquema já que um depende do outro para seu funcionamento Para PIAGET a acomodação diferencia os esquemas de ação visando por um lado adaptálos melhor à diversidade e por outro colaborar na criação de novos esquemas Se a assimilação é a incorporação de elementos do meio à estrutura a acomodação é a modificação dessa estrutura em função das modificações do meioDOLLE 198750 Podese afirmar que a adaptação é um estado de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação Sendo assim não existe assimilação sem acomodação uma não acontece sem a outra E a organização referese ao aspecto interno das relações que ligam entre si os elementos já adaptados O desenvolvimento cognitivo é um processo de equilibração Para PIAGET as estruturas cognitivas das crianças mudam através da adaptação a situações novas que enfrentam no seu cotidiano Nas suas palavras inteligência é adaptação e sua função é estruturar o universo da mesma forma como o organismo estrutura o meio ambiente PIAGET 198311 Desde o início de suas reflexões teóricas PIAGET afirmava que o ato de conhecer provém da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento por exemplo os objetos físicos o sistema de numeração e todas as relações que o definem Por sua vez o sujeito conhece os objetos porque os insere numa estrutura mental que possui no momento da interação Essas estruturas como já foi dito vão sendo construídas pela interação ou seja na simultaneidade da ação da criança sobre o mundo e a ação do mundo sobre a criança Todo esse processo de construção das estruturas cognitivas vem acompanhado por dois mecanismos solidários a abstração e a generalização Abstrair numa primeira acepção pode ser entendido por algo como isolar uma qualidade perceptível de um objeto ou isolar um aspecto dentro de um contexto Quando se abstrai o verde de uma folha por exemplo retémse o seu verde individual O conceito de verde só é possível porque se pode isolar e generalizar os dois mecanismos que compõem os passos da abstração PIAGET distingue ainda a abstração empírica em que as informações são obtidas da experiência física como bater puxar empilhar o que permite extrair informações das características dos objetos e das ações a abstração reflexiva ou refletidora fase em que a criança descobre a possibilidade de estabelecer relações de correspondência de ordem de comparação e por último a abstração refletida que ocorre quando a abstração reflexiva tornase consciente A criança passa a refletir sobre suas ações A generalização é o mecanismo de passagem da ação à representação isto é o processo de construção e reconstrução O processo de construção do conhecimento se dá individualmente no sentido psicológico e neurólogico sendo que o social realizase ao nível das trocas simbólicas e o elo de ligação é realizado pela ação da criança Sem esse processo as estruturas não se constituem e as crianças não compreendem o que lhes é ensinado O nome deste processo de construção do conhecimento é abstração empírica e sobretudo reflexiva A criança por volta dos 78 anos passa a admitir um princípio de identidade de nível operatório o que a torna capaz de classificar seriar colocar em correspondência objetos Tratase no entanto de ações sobre os objetos e não de operações sobre enunciados verbais É o inicio das operações concretas mas já organizadas em estruturas reversíveis com leis de totalidade 4 As Operações Concretas e o Início do Pensamento Lógico É através da conquista dessa estrutura reversível que a criança compreende as possibilidades de fazer e refazer uma mesma ação Chamaremos reversibilidade a capacidade de executar a mesma ação nos dois sentidos de percurso mas tendo a consciência de que se trata da mesma ação PIAGET 195740 Reversibilidade é a capacidade de considerar simultaneamente uma ação e sua inversa ou sua equivalente ou uma ação realizada e uma não realizada virtual ou apenas possível Por isso PIAGET afirma que no estágio operatório concreto os estados são submetidos às transformações reversíveis A reversibilidade se apresenta no período das operações concretas sob duas formasUma que podemos chamar de inversão ou negação que aparece na lógica das classes a aritmética etc a outra que podíamos chamar de reciprocidade que aparece nas operações de relação PIAGET 1983241 A reversibilidade uma vez adquirida possibilita à criança encontrar a objetividade necessária para abordar os fenômenos considerandoos sob diferentes pontos de vista Essa objetividade enfim permite a ela operar e atingir a realidade ao tomar consciência de suas ações sobre os objetos As crianças que freqüentam as séries iniciais do ensino fundamental estão na faixa etária correspondente ao período de 07 a 11 anos o que corresponderia segundo PIAGET ao estágio operatório concreto A passagem do nível préoperatório ao operatório pode ser vista como uma transição do fazer ao compreender nesta transição o fazer não desaparece mas é reconstruído ao nível da representação estruturado pela capacidade operatória ou seja ao nível da compreensão mas o fazer a ação é a condição necessária da compreensão BECKER 1983113 Há no pensamento operatório concreto se comparado ao préoperatório uma direção do desenvolvimento no sentido do real ao virtual Assim classificar os objetos significa construir de tal forma novos objetos que possam ser ligados aos objetos já classificados e assim sucessivamente novas inclusões se tornam possíveis Desde bem pequena a criança estabelece relações entre os objetos quando os compara os agrupa ou os ordena por suas semelhanças ou diferenças sem ainda realizar estas ações de forma lógica e conscientemente Inicialmente essas relações são de natureza sensóriomotora e apoiamse em percepções e manipulações em função da capacidade perceptiva tátil que a criança possui As relações vão sendo enriquecidas pela representação mental que ela consegue fazer dos objetos mesmo na sua ausência dos acontecimentos do passado libertando aos poucos seu pensamento do caráter prático e imediato da fase anterior As estruturas cognitivas deste período necessitam ainda dos objetos reais passíveis de serem manipulados e Não repousam sobre enunciados de proposições verbais mas sobre os objetos que elas se limitam a classificar seriar colocar em correspondência etc Em outras palavras a operação nascente ainda está ligada à ação sobre os objetos e à manipulação efetiva ou simplesmente mentaliza PIAGET 1989114 A construção das operações concretas marca o início do pensamento lógico que é regulado pela reversibilidade que dá mais mobilidade ao pensamento e lhe permite uma descentração progressiva mais rápida Esta etapa é caracterizada por uma série de estruturas cognitivas em vias de acabamento que PIAGET denominou de agrupamento As relações lógicas constituídas no período concreto engendram no pensamento da criança as estruturas de CONSERVAÇÃO CLASSIFICAÇÃO e SERIAÇÃO OPERATÓRIAS 5 A noção de conservação Para PIAGET e INHELDER 1975 o desenvolvimento da noção de conservação que se refere às quantidades contínuas líquido e massa e descontínuas contáveis como unidades intensivas ou discretas se inicia a partir de um nível de não conservação A criança só atinge a estrutura de conservação operatória quando seu julgamento tornase independente da percepção como por exemplo quando as quantidades passam a ser compreendidas como permanentes embora mude a forma Esta estrutura estará constituída quando a criança construir a noção de invariantes como quantidade substância peso volume etc e seu pensamento alcançar a reversibilidade Os argumentos empregados pela criança para justificar as conservações são 1 identidade é a mesma massa ou só fizeram encompridála não se tirou nem se acrescentou nada 2 reversibilidade simples podese deixála como antesetc 3 compensação é mais comprida a salchicha comparada com a bolinha inicial ma é mais finaetc PIAGET INHELDER 197527 Esses argumentos são solidários apesar de sua complexidade aparentemente crescente A identidade geralmente vem acompanhada de reversibilidade e de compensação Isso significa que a criança só poderá afirmar que o alongamento de uma bolinha de massa de modelar por exemplo é a mesma massa identidade dandose conta de que pode fazêla retornar ao estado inicial podese deixála como antes reversibillidade e por último se tiver consciência de que a quantidade de massa é a mesma nas duas situações é mais comprida mas é mais fina compensação A criança não constrói a noção dt quantidades mediante simples comparaçã visual entre dois objetos físicos Chegase à noção através da representação da seqüência das diferentes situações de transformação Na medida em que constrói a representação compara comprimento com espessura Para KESSELRING enquanto o esquema de permanência dos objetos se vincula a uma atividade representativa simples de primeira ordem o esquema de conservação das quantidades tem como pressusposto a capacidade de representação de segunda ordem 1993154 Quando uma criança não consegue demonstrar que possui a noção de conservação é porque lhe falta construir as estruturas de conjunto o que só é possível através das operações reversíveis A noção de conservação é construída de forma integrada com as outras noções 6 A noção de classificação uma classe qualquer caracterizase sempre por 1 sua compreensão que reúne os caracteres comuns que se aplicam aos indivíduos que a compõem 2 sua extensão que concerne ao conjunto dos indivíduos aos quais se aplicam as qualidades dos caracteres comuns DOLLE 1987136 Classes são conjuntos de objetos ou acontecimentos que se reúnem por suas características comuns As características comuns definem as classes a que pertencem os objetos e esses por sua vez podem ser classificados de diferentes maneiras conforme a dimensão que se privilegia no momento Entretanto nenhum objeto pode pertencer simultaneamente a duas classes na mesma dimensão As estruturas cognitivas de classe se organizam em agrupamentos que são Operação Idêntica Operação Inversa e Operação Associativa A estrutura operatória baseada na reversibilidade assinala a conquista da operação de inclusão e a criança pode compreender que os critérios que unem os objetos numa classe maior não se perdem quando esta é dissociada em subclasses mas se sobrepõem O equivalente acontece na operação inversa quando duas subclasses são incluídas numa classe maior Ao utilizar os métodos descendente e ascendente de maneira equilibrada como um único sistema de operações direta e inversa a criança pode ainda usar dois ou mais critérios ao mesmo tempo para proceder a classificações multiplicativas construindo paulatinamente seus quadros de duas ou três entradas PIAGET e INHELDER 1983 descrevem uma evolução na constituição desta noção Num primeiro momento aparecem as coleções figurais em que a criança não se preocupa inicialmente com os critérios de semelhança ou diferença dos objetos entre si Sua preocupação está nos objetos e na sua forma Já no segundo momento aparece o nível das coleções não figurais que consiste na formação de grupos de objetos reunidos por quaisquer semelhanças A estrutura operatória de classe só estará construída quando a criança conseguir fazer inclusões hierárquicas A inclusão de classes está ligada à compreensão de todos e alguns enquanto quantidades puras e relativas sendo complementares Com a conquista da reversibilidade a criança passa a compreender que os critérios que unem os objetos numa mesma classe maior não se perdem quando esta é distribuída em subclasses mas se sobrepõem 7 A noção de seriação operatória Este tema fez parte das investigações de PIAGET e INHELDER1975 e PIAGET e SZEMINSKA1981 Segundo essas pesquisas num primeiro momento a criança não produz a configuração desejada Ela justapõe pares ou trios separaos em grandes e pequenos pesados e leves não sendo ainda capaz de acrescentar novos elementos aos já seriados Num segundo nível de estruturação a criança chega à ordenação correta por tentativas Não consegue ainda intercalar elementos em uma série já constituída Somente num terceiro momento é que a criança consegue êxito Este método descrito por PIAGET INHELDER e SZEMINSKA consiste em escolher o maior objeto em seguida o maior entre os que restam e assim sucessivamente DOLLE 1987147 A criança resolve problemas de transitividade sendo capaz de colocar novos elementos em uma série já constituída Na seriação os objetos são agrupados de acordo com suas diferenças ordenadas Seriar objetos é ordenálos de acordo com algum critério seja sua cor medida qualidade Para PIAGET o mais importante não está no resultado das ações das crianças e sim na maneira como realizam estas ações As crianças já terão construído a estrutura de seriação quando conseguirem utilizar este método que é sistemático em que procuram distinguir o maior elemento entre os demais a fim de construir uma ordem serial Podese afirmar que A inteligência operatória concreta consiste pois em classificar seriar enumerar objetos e suas propriedades no contexto de uma relação do sujeito ao objeto concreto direto e sem a possibilidade de raciocinar sobre simples hipóteses DOLLE 1987116 Para entender o construtivismo de PIAGET é necessário conceber a criança como um sujeito ativo que assimila objetos contextualizados O que a criança constrói já foi construído por outros sujeitos daí a idéia de reconstrução tão discutida por pesquisadores e estudiosos da educação O construtivismo Piagetiano supõe por parte do professor conhecer bem o objeto do conhecimento que será estudado por ele e pelas crianças supõe também conhecer o sujeito a criança que i rá construir esse conhecimento A intervenção adequada pode fazer com que a criança supere suas dificuldades O professor nesta visão tornase suporte das interações individuais ou coletivas que por sua vez é coordenada por um processo de constantes equilibrações O grande desafio deste final de século seria o de criar oportunidades significativas para que os professores de maneira geral pudessem construir seu conhecimento em situação semelhante à da criança compreendendo a concepção epistemológica que embasa o contrutivismo piagetiano REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECKER Fernando Da ação a operação o caminho da aprendizagem em Jean Piaget e Paulo Freire São Paulo Pontífica Universidade Católica de São Paulo 1981 Tese de Doutorado A epistemologia do professor o cotidiano da escola Petrópolis Vozes 1993 BRINGUIER Jean C Conversando com Jean Piaget Rio de Janeiro DIFEL 1978 CASTRO AD Piaget e a PréEscola São Paulo Pioneira 1983 DOLLE Jean M Para compreender Jean Piaget uma iniciação à Psicologia Genética piagetiana Rio de Janeiro Guanabara KOOGAN 1987 FERREIRO Emília Alternativas a la 1a compreension del analfabetismo em la region IN INEP ANAIS Alternativas de Alfabetização para a América 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