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Cursos Gerais ·

Psicologia Institucional

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PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Chace Crawford 2018 ALEX DA SILVA SOUSA DANIELE RABELO BATISTA CASTRO REBECCA HOLANDA ARRAIS ORGANIZADORES PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Psicologia Hospitalar Debates Contemporâneos 2018 Copyright by Alex da Silva Sousa Daniele Rabelo Batista Castro e Rebecca Holanda Arrais Organizadores Impresso no Brasil Printed In Brazil Todos os Direitos Reservados Revisão de Texto e Normalização Bibliográfica Shirlei Marly Alves Programação Visual Diagramação e Capa Valdianio Araujo Macedo Catalogação na Fonte Psicologia Hospitalar debates contemporâneos organização de Alex da Silva Sousa Daniele Rabelo Batista Castro e Rebecca Holanda Arrais Piauí FAM 2018 178 p Isbn 9788594427045 1 Psicologia hospitalar 2 Atuação do psicólogo em Instituições hospitalares 3 Aspectos atuais em psicologia hospitalar I SOUSA Alex da Silva II CASTRO Daniele Rabelo Batista III ARRAIS Rebecca Holanda V Título CDD 150287 5 ORGANIZADORES Alex da Silva Sousa Graduado em Psicologia pela Faculdade de Tecnologia Intensiva Especialista em Residência Integrada em Saúde com ênfase em Cancerologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará ESPCE e Instituto do Câncer do Ceará ICC Especialista em Trabalho Multiprofi ssional e Saúde pela Faculdade do Meio Norte Aluno do Programa de PósGraduação em Psicologia da Universidade Federal do Maranhão UFMA linha de pesquisa avaliação e clí nica psicológica Desenvolve pesquisas com as temáticas da psi cologia da saúde psicologia hospitalar intervenções analítico comportamentais em contextos de saúde com doenças crônicas notadamente o câncer Professor em em cursos de graduação em Psicologia e de especialização nas áreas de psicologia da saúde e hospitalar análise do comportamento psicologia organizacional e do trabalho e metodologia do trabalho científi co Email alexpsico2009hotmailcom Daniele Rabelo Batista Castro Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará UFC Pósgraduanda em Cuidados Paliativos Psicóloga espe cialista em Cancerologia na modalidade Residência ESPCE e ICC Ministrante dos cursos de Introdução à Psicooncologia e de Introdução aos Cuidados Paliativos em CuritibaPR Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar Ex periência em psicologia hospitalar psicooncologia luto cuida dos paliativos e trabalho em equipe multiprofi ssional Email danielerabelohotmailcom 6 Rebecca Holanda Arrais Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo USP Psicóloga UFC com residência em Cancerologia ESP CE e ICC e especialista em Psicologia em Saúde CRPSP Co laboradora do Centro Humanístico de Recuperação em Oncolo gia e Saúde CHRONOS laboratório de psicooncologia vincu lado ao Departamento de Psicologia Clínica da USP Desenvolve trabalhos e estudos nas áreas de Psicologia e Saúde Pública es pecialmente nos seguintes campos psicologia analítica psicolo gia da saúde psicologia hospitalar tanatologia e cancerologia Psicóloga Clínica Email rebeccaarraisgmailcom 7 SOBRE OS AUTORES Ana Beatriz Correia Mendes Psicóloga graduada pela Universidade de Fortaleza UNIFOR Especialista em Residência Integrada em Saúde com ênfase em Neonatologia Hospital Geral Dr César Cals de Olivei ra HGCC e ESPCE e especialista em Psicologia em Saúde CRP Preceptora de estágios do Centro Universitário Estácio do Ceará Psicóloga clínica Anali Póvoas Orico Vilaça Psicóloga mestre em Psicologia Clínica USP terapeuta cog nitivocomportamental CETCC especialista em Psicologia Hospitalar pelo Conselho Regional de Psicologia CRP e em Psicologia Aplicada à Saúde pela Universidade Católica de Bra sília UCB Colaboradora do CHRONOS laboratório de psico oncologia vinculado ao Departamento de Psicologia Clínica da USP Membro da Diretoria Nacional da Sociedade Brasileira de Psicooncologia Bruna Fabrícia Barboza Leitão Psicóloga graduada pela UFC Mestre em Saúde Pública pela UFC Especialista em Cancerologia na modalidade Residência Multiprofi ssional pelo Hospital Erasto Gaertner Preceptora de estágios em Psicologia da Saúde pelo Centro Universitário Está cio do Ceará 8 Camilla Maria Santos Pinho Psicóloga Especialista em Psicologia Hospitalar CRPSP e aprimoramento em Psicologia Hospitalar em Cardiologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP HCF MUSP Tem experiência na área de Saúde Coletiva com ênfase em Psicologia Clínica e Hospitalar e na área organizacional em Recursos Humanos Atua como psicóloga clínica e é colaborado ra do CHRONOS laboratório de psicooncologia vinculado ao Departamento de Psicologia Clínica da USP Denis Barros de Carvalho Graduado em Psicologia mestre em Psicologia e doutor em Psi cologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Nor te UFRN Professor associado vinculado ao Departamento de Fundamentos da Educação ao mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento ao mestrado em Psicologia e ao mestrado pro fi ssional em Gestão Pública da Universidade Federal do Piauí UFPI Seus temas de pesquisa são educação ambiental formal e nãoformal aspectos comportamentais do uso sustentável da água da energia e da gestão de resíduos sólidos gestão ambiental universitária e sustentabilidade psicologia urbana e sustentabili dade interface ciência religião e sustentabilidade Elisa Maria Parahyba Campos Rodrigues Psicóloga mestre e doutora em Psicologia Clínica é professora do Instituto de Psicologia da USP livredocente em Psicoonco logia USP Especialista em Psicodrama Sociedade de Psico drama de São Paulo e em Psicologia Hospitalar CRP Criadora e coordenadora do CHRONOS laboratório de psicooncologia vinculado ao Departamento de Psicologia Clínica da USP Isabel Regiane Cardoso do Nascimento Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Católico de Quixadá Especialista em Saúde Mental pela Faculdade Stella Maris Especialista em Gestão em Saúde pela Universidade Es 9 tadual do Ceará UECE e em Cancerologia na modalidade de Residência Integrada em Saúde ESPCE e ICC Atualmente cursa o Mestrado Profi ssional em Gestão em Saúde do Progra ma de PósGraduação em Saúde Coletiva da UECE Trabalha como psicóloga do Serviço de Cuidados Paliativos Pediátricos do Hospital Infantil Albert Sabin e como psicóloga hospitalar no Instituto do Câncer do Ceará Preceptora de campo no Núcleo da Residência Multiprofi ssional em Saúde nas ênfases Cancerolo gia e Pediatria Jéssica Ravena Brandão de Castro Graduada em Psicologia pela UNIFOR Experiência na área de Pediatria e cuidados paliativos oncológicos pediátricos no Hos pital Infantil Albert Sabin FortalezaCE Juliana Burlamaqui Carvalho Psicóloga Mestre em Psicologia pela UNIFOR Trabalha como psicóloga hospitalar no Hospital Universitário da UFPI sendo preceptora de estágio da Residência Multiprofi ssional em Alta Complexidade Tem experiência na área da Psicologia Clínica e Hospitalar na sua interlocução com a Psicanálise Psicologia e Saúde Atuou no estado do Ceará como psicóloga do Instituto do Câncer do Ceará no Hospital Geral de Fortaleza na Escola Cearense de Oncologia e na ESPCE Laís de Meneses Carvalho Arilo Mestre em Saúde da Mulher pela UFPI Graduação em Psicolo gia pela Universidade Santo Agostinho Especialista em Gestalt terapia com ênfase em psicoterapia pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento Profi ssional do Piauí CFAPI Atuou como psicóloga no Centro de Referência Especializado em Assistência Social Prefeitura Municipal de Teresina Atuou como psicóloga hospitalar na Associação Piauiense de Combate ao Câncer Hos pital São Marcos Atualmente exerce o cargo de psicóloga hospita lar no Hospital Universitário da UFPI Preceptora da Residência 10 Multiprofi ssional em Saúde alta complexidade UFPI Tutora do curso de especialização em Saúde e Comunidade UFPI Psi cóloga clínica abordagem humanista Luciana Araújo Gurgel Formada em Psicologia pela UFC Pósgraduada em PsicoOn cologia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Faculdade Estácio do Ceará Tem curso de aprimoramento em Psicologia Hospita lar pelo Hospital Universitário Walter Cantídio UFC Psicóloga clínica gestaltterapeuta Experiência em Psicologia Hospitalar Psicooncologia infantil e adulto Cuidados paliativos terminali dade e luto Saúde mental e transtornos psiquiátricos Maria Juliana Vieira Lima Graduada em Psicologia pela UFC Mestre em Psicologia pela UFC Especialista em Pediatria pelo programa de Residência In tegrada em Saúde da ESPCE em parceria com o Hospital In fantil Albert Sabin Especialista em Psicologia da Saúde CRP Atua como psicóloga hospitalar e psicóloga clínica Professora do curso de Psicologia do Centro Universitário Maurício de Nas sau Uninassau Tem experiência na área de pesquisa e atuação em Psicologia Hospitalar Psicologia da Saúde Ética e Psicologia com foco nos seguintes temas terminalidade cuidados paliati vos infância e adolescência gestaltterapia Mércia Aparecida Pereira de Andrade Scarton Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista UNESP Mestre em Psicologia Clínica pela USP Colaboradora do CHRONOS laboratório de psicooncologia vinculado ao De partamento de Psicologia Clínica da USP Patrick Vieira Ronick Especialista em Psicologia Hospitalar pelo Instituto do Cora ção InCor HCFMUSP e Psicologia Clínica pelo Instituto Sedes 11 Sapientiae Colaborador do CHRONOS laboratório de psico oncologia vinculado ao Departamento de Psicologia Clínica da USP Mestrando no Programa de PósGraduação em Psicologia Clínica da USP Rafael Bruno Silva Torres Psicólogo graduado pela UNIFOR Mestre em Saúde Pública pela UFC Especialista em Cancerologia na modalidade Residência Integrada em Saúde ESPCE e ICC Especialista em Psicologia em Saúde CRP Idealizador da ESCUTHA Psicologia e Saúde em Discussão e responsável por cursos e formações na área Tatiana Bukstein Vainboim Psicóloga psicooncologista pela Sociedade Brasileira de Psico Oncologia Mestre em Neurologia pela Faculdade de Medicina da USP e especialista em Psicologia Hospitalar pelo Programa de Aprimoramento em Hospital Geral do HCFMUSP Presidente da Sociedade Brasileira de PsicoOncologia e expresidente da Estadual São Paulo da Sociedade Brasileira de PsicoOncologia 20152018 Tatiana Cristina Vidotti Psicanalista Colaboradora do CHRONOS laboratório de psico oncologia vinculado ao Departamento de Psicologia Clínica da USP Mestranda no Programa de PósGraduação em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP Tem Aprimoramento em Psicologia Hospitalar em Instituição Pediátrica pelo HCF MUSP Atuou como psicóloga do Serviço de Psiquiatria e Psico logia do Instituto da Criança do HCFMUSP Vanilla Oliveira Alencar Graduada em Psicologia pela UNIFOR Realiza curso de forma ção em Abordagem Centrada na Pessoa Experiência na área de Pediatria e cuidados paliativos pediátricos no Hospital Infantil Albert Sabin FortalezaCE Maison 13 APRESENTAÇÃO Este livro que apresentamos em formato de coletânea de textos se insere em um processo mais amplo de discussões a res peito das possíveis interlocuções entre a Psicologia e a instituição hospitalar A ideia de construção desta obra originouse de nossa percepção de que o trabalho do psicólogo nessa instituição cons titui um processo dinâmico caracterizado por múltiplos desafi os que implicam na refl exão constante a respeito das possibilidades e limitações de sua atuação Ao compartilhar nossos conhecimentos nas páginas que se guem queremos também contribuir para consolidar e fortalecer essa área de atuação do psicólogo alcançando estudantes que se encontram em processo formativo ou profi ssionais que buscam ampliar seu repertório Por isso esperamos que as considerações presentes nos capítulos possam suscitar nos leitores a adoção de uma postura analítica e crítica sobre alguns aspectos teóricos e práticos do trabalho do psicólogo em hospitais inquietandoos para que não cessem o percurso investigativo de leitura e aprimo ramento que a área demanda daqueles que objetivam conhecêla Dessa forma o principal objetivo deste livro é construir com os leitores a compreensão de que o psicólogo hospitalar deve orientar seu trabalho a partir de referenciais teóricos éticos e me todológicos que dialoguem com as especifi cidades da instituição hospitalar e sobretudo com as necessidades dos sujeitos que se encontram nesse espaço Para alcançar esse objetivo privilegia mos abordar temas que embora sejam de inegável relevância nes sa área têm sido pouco problematizados em outras publicações Na construção do livro moveunos não a ideia de apresentar um manual ou propor um panorama geral da área mas a consi deração das lacunas observadas ao longo de nossa própria forma 14 ção e atuação Nessa perspectiva salientamos um dos principais diferenciais deste livro a ousadia de discutir processos e outros aspectos bastante atuais e inovadores do fazer do psicólogo hos pitalar os quais ainda se colocam como desafi adores mesmo que nem todos sejam de origem recente Enquanto autores do livro assumimos com ele uma postura que é também provocativa na medida em que as temáticas abordadas representam um convi te ao engajamento contínuo na realização de outras pesquisas e obras que ampliem e desenvolvam constantemente novas possi bilidades de pensar a psicologia em hospitais Outro aspecto que buscamos garantir tanto nos temas abor dados como na composição do grupo de autores foi a pluralidade de perspectivas Para tal contamos com a participação de profi s sionais e de pesquisadores familiarizados com distintas realida des geográfi cas de nosso país representantes de grupos atuantes nas regiões Nordeste Sudeste e Sul com atuação acadêmica em instituições de ensino superior e experiência prática em insti tuições de saúde Assim os autores dos capítulos deste livro são pesquisadores vinculados aos seguintes centros de assistência formação e investigação Centro Universitário Estácio Hospital Infantil Albert Sabin Hospital Universitário da Universidade Fe deral do Piauí Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Instituto do Câncer do Ceará Instituto de Oncologia do Paraná Univer sidade Estadual do Ceará Universidade Federal do Ceará Uni versidade Federal do Maranhão Universidade Federal do Piauí e Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Quanto à estrutura o livro foi organizado em quatro uni dades A Unidade I intitulada Abordagens Psicológicas no Hos pital Geral apresenta trabalhos que atualizam a discussão sobre as possibilidades e limitações da utilização no ambiente hospita lar de algumas abordagens psicológicas que historicamente tem seu uso consolidado no consultório O primeiro capítulo dessa unidade Interlocuções entre a Psicologia Hospitalar e Análise do Comportamento possibilidades e limitações trata do pro 15 fi ssional de psicologia inserido no ambiente hospitalar a partir da perspectiva analíticocomportamental O psicólogo observa o repertório comportamental do paciente e baseado em análi ses funcionais das situações pode intervir de forma a facilitar o desenvolvimento de comportamentos que poderão auxiliar no enfrentamento da vivência de hospitalização Esse capítulo apre senta algumas conclusões alcançadas pelo autor com a fi nalização de sua dissertação de mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão com auxílio de bolsa de mestrado conce dida pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científi co e Tecnológico do Maranhão FAPEMA No segundo capítulo A invasão da subjetividade o lugar das abordagens psicodinâmicas no contexto hospitalar é abordado o debate sobre a Psicanálise e a Psicologia Analítica no contexto da instituição hospitalar com ênfase na importância de o profi ssional conhecer seus fundamentos para bem desenvolver o trabalho junto à equipe de saúde e ao paciente somático individualizando o atendi mento pois cada um se relaciona de forma diferente com o adoeci mento O capítulo foi desenvolvido a partir de trabalhos de mestrado e de conclusão de residência respectivamente na Universidade de São Paulo na Escola de Saúde Pública do Ceará e no Hospital Geral Dr César Cals com bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES e do Programa Nacional de Bol sas para Residências Multiprofi ssionais em Saúde Já o terceiro capítulo Considerações teóricas Psicologia Hospitalar e Gestaltterapia aborda a Psicologia Hospitalar e sua interface com a gestaltterapia expondo as bases fi losófi cas dessa abordagem os principais conceitos e sua relação com o trabalho do gestaltterapeuta dentro do hospital Além disso trata das defi nições de saúde e doença no âmbito da gestaltterapia e do modo como o profi ssional psicólogo pode assistir o sujeito fazendo com que ele desenvolva movimentos saudáveis na situação de adoeci mento Para a elaboração do capítulo uma das autoras baseouse em seu trabalho de conclusão da Especialização em Psicooncolo gia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais 16 A Unidade II Considerações teóricas reúne trabalhos que abordam diferentes aspectos que tangenciam o fazer do psicólo go no hospital O primeiro capítulo dessa unidade Repen sar a Psicologia no contexto hospitalar brasileiro a partir de uma Psicologia Crítica da Saúde uma análise dos estudos publicados na segunda década do século XXI traz uma análise de arti gos recentes a partir de 2010 sobre a Psicologia Hospitalar no contexto nacional Os estudos analisados atenderam a critérios relativos a tempo abordagem teórica ou empírica e abrangência nacional Os autores sustentam que se mostra necessária uma historiografi a crítica da área além de maior aproximação das bases fi losófi cas da Medicina o que possibilitaria uma interação mais madura entre os psicólogos e as especialidades médicas no contexto hospitalar Os autores estão vinculados ao Programa de Residência Multiprofi ssional em Saúde da UFPI área Psicologia Já o segundo capítulo Bioética e Psicologia Hospitalar discussões que apontam para a alteridade trata da ética do cui dado em uma temática mais ampla que supera as discussões limi tadas a normas e leis as quais são abordadas mais rotineiramente em muitos trabalhos A autora amplia a discussão convidando o leitor a pensar o tópico imprescindível da alteridade do outro como soberano a partir do pensamento fi losófi co de Emmanuel Lévinas O capítulo é um recorte da dissertação de mestrado da autora realizado no Departamento de Psicologia da Universida de Federal do Ceará com fomento da CAPES No terceiro capítulo da segunda unidade Quem não quer ser um iron man refl exões sobre o uso de tecnologias em saúde e os efeitos na subjetividade se discute a evolução das tecnolo gias em saúde e o impacto dos dispositivos tecnológicos na subje tividade dos pacientes que deles dependem para viver bem como nas pessoas ao redor Assim a partir da apresentação de um caso clínico explanase sobre como o psicólogo hospitalar pode atuar diante dessa problemática O texto tem relação com as disserta ções de mestrado dos autores sendo que um contou com apoio fi nanceiro da CAPES 17 Na Unidade III Formação e gestão privilegiouse apre sentar trabalhos que abordam os aspectos da formação de re cursos humanos especializados para atuação em hospitais bem como que contribuem para a compreensão de práticas de gestão de serviços de psicologia hospitalar Assim o primeiro capítulo dessa unidade Indicadores e gestão da qualidade em Psicolo gia Hospitalar aborda a questão dos indicadores em saúde es pecifi camente no contexto da Psicologia Hospitalar explicando como sua utilização pode ajudar a defi nir parâmetros para a ava liação e a gestão nesse âmbito A partir disso as autoras apontam para a necessidade do diálogo institucional entre a área da quali dade e o setor de psicologia de modo que esse serviço possa se aperfeiçoar no ambiente hospitalar O capítulo está relacionado à pesquisa realizada pela autora em seu trabalho de conclusão da Residência Integrada em Saúde RISESPCE e também à pesqui sa em andamento no projeto de dissertação do Mestrado Profi s sional de Gestão em Saúde MEPGES do Programa de Pós Gra duação em Saúde Coletiva PPSAC da Universidade Estadual do Ceará UECE No segundo capítulo Psicologia e residências em saúde um diálogo possível propõese uma análise das residências em saúde e a inserção do profi ssional psicólogo nesses programas destacandose como essa modalidade de pósgraduação auxilia o psicólogo a aprimorar diversas habilidades indispensáveis para a adequada formação em função das demandas específi cas do setor saúde e sobretudo da instituição hospitalar Como exemplo temse a necessidade constante de interação com profi ssionais de outras áreas de formação o que propicia desenvolver habilida des no próprio trabalho em equipe na Residência O capítulo é oriundo das dissertações de mestrado dos autores pelo Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Ceará Uma das autoras estava vinculada ao Laboratório de Avaliação e Pesquisa Qualitativa em Saúde LAPQS da UFC O outro autor esteve vinculado ao Essência Laboratório de pes quisa em ensino e gestão do conhecimento da educação e do 18 trabalho em Saúde recebendo bolsa de mestrado da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científi co e Tecnológico FUNCAP Por fi m a Unidade IV Intervenções Psicológicas no Hos pital Geral é composta por trabalhos que apresentam e discu tem algumas estratégias de intervenção do psicólogo O pri meiro capítulo dessa unidade Intervenções psicoeducativas contribuições para pacientes e familiares no hospital aborda a utilização de intervenções psicoeducativas no hospital trazendo um modelo de programa psicoeducativo individual voltado para familiares de pacientes portadores de tumores cerebrais Relata se a experiência e os resultados psicológicos positivos advindos dessa abordagem pois os cuidadores se sentiram acolhidos tira ram dúvidas e encontraram novas formas de se comunicar com seus entes queridos O trabalho relacionado ao mestrado da au tora foi realizado no ambulatório de tumores cerebrais do Depar tamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com bolsa da CAPES Já o segundo capítulo Técnicas de relaxamento e visua lização na prática da psicologia hospitalar apresenta algumas técnicas complementares e não farmacológicas acentuadamente as técnicas de relaxamento e visualização apontando seus bene fícios e sua inserção na área da Psicologia da Saúde Ressaltase sua efi ciência quando as técnicas são aliadas a outros tipos de tratamentos médicos e farmacológicos propiciando um melhor enfrentamento da situação e melhorando a qualidade de vida do paciente O texto teve origem no grupo de pesquisa CHRONOS Centro Humanístico de Recuperação em Oncologia e Saúde vinculado ao programa de pósgraduação em Psicologia da USP do qual as autoras fazem parte Todos os autores implicados na construção desta obra ao abordarem aspectos teóricos metodológicos históricos e for mativos bastante distintos se alinham ao apontar a importância estratégica que o serviço de psicologia assume nos hospitais principalmente na perspectiva do resgate da dignidade da ma 19 nutenção do bemestar e da saúde mental de pacientes e fami liares enfrentando processos de adoecimento e hospitalização Alinhamse também por acreditarem que a pesquisa e a produção científi ca são por excelência algumas das principais estratégias a serem adotadas pela categoria dos psicólogos como via para garantir o fortalecimento da profi ssão e neste caso específi co a superação de algumas difi culdades de trabalho ainda enfrentadas pelo psicólogo hospitalar A pluralidade dos perfi s dos pesquisadores que compõem esta obra fazendo referência as suas especialidades de atuação as suas fi liações epistemológicas aos temas de pesquisa a que se dedicam e também a sua localização geográfi ca em virtude das instituições de pesquisa e assistência às quais se vinculam garan te a este livro uma abordagem bastante diversifi cada e contempo rânea da psicologia no cenário hospitalar sem jamais prescindir da sustentação teórica em profundidade que o tema demanda Em face disso desejamos que esta somese a outras obras já existen tes colocandose como uma referência na defesa constante mas também crítica e consciente do lugar que a Psicologia se propõe na cena hospitalar Os organizadores Cousins 21 PREFÁCIO Maria Lívia Tourinho Moretto Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo A presença do psicólogo na linha de frente de trabalhos in terdisciplinares nas instituições hospitalares indica não apenas a infl uência do pensamento psicológico na formação de profi ssio nais no campo da saúde mas amplia sobremaneira as possibili dades de abordagem do malestar no referido campo Ao contrário do que ocorre com a grande parte dos demais profi ssionais da saúde no caso do psicólogo hospitalar a experi ência acumulada consolidada nos exige o movimento repetitivo de busca e conferência constantes das referências éticas e teóricas que fundamentam nossa prática e frente à singularidade de cada situação reiniciamos o debate a respeito de nossa posição clínica e institucional e redefi nimos o que são em cada situação obstá culos limites e alcances Uma vez inserido na instituição de saúde é dele também do psicólogo a responsabilidade de arcar com as consequências de sua inserção e de manejar a transferência de saber a ele ende reçada A esta altura os desafi os passam a ser mais difíceis e seu trabalho não fi ca sem efeitos O livro que o leitor tem em mãos traduz o compromisso de seus organizadores com relação à sistematização e à refl exão so bre os modos de enfrentamento de tais desafi os Ele é o resultado do extenso e profundo trabalho clínico e de pesquisa realizado por seus colaboradores ao longo de seus percursos profi ssionais A partir da vasta experiência clínica dos autores este traba lho tem a ambição bem sucedida de apresentar ao leitor articula 22 ções teóricoclínicas que transmitem a importância a amplitude e a complexidade de cada um dos problemas estudados ao mes mo tempo que enfatiza a instituição hospitalar como um local privilegiado para o exercício da clínica e para o estabelecimento de dispositivos clínicos de atenção acolhimento e atendimento Estão em pauta questões relevantes sobre as quais os autores se propõem a fazer refl exões críticas propondo aos leitores um tom predominantemente investigativo distanciandose de qual quer proposta de reprodução automatizada de fazeres e saberes apontando inclusive para o risco dos manuais e protocolos para a formação de profi ssionais na área O fi o condutor é a pluralidade de abordagens teóricas que numa visão de conjunto aparece de modo interessante todos os trabalhos apresentados se caracterizam pela apresentação de uma referência teórica e ética como eixo norteador e consideram com o rigor necessário as especifi cidades da instituição hospitalar e a singularidade das demandas que aos psicólogos são endereçadas Neste sentido vale ressaltar que os trabalhos favorecem sistema ticamente a rica articulação da clínica com a teoria Ainda na esteira da pluralidade os organizadores do livro se ocuparam com sucesso de trazer a contribuição de profi ssionais de diferentes regiões brasileiras visando certamente a ampliação de possibilidades de interlocução de suas pesquisas em âmbito nacional Não resta dúvida que se faz necessário esse debate am plo e articulado entre a formação em psicologia discussão sobre diretrizes curriculares a atuação do psicólogo e o compromisso social da profi ssão porque sem esse debate não teremos clareza a respeito das competências do psicólogo brasileiro para identifi car e para responder adequadamente às demandas da população de seu país e aos problemas concretos que lhe são apresentados Atentos à importância do investimento em formação bá sica e ampliada do psicólogo para a atuação na área da saúde é certo que a escrita de cada capítulo funcionou para cada um de seus autores como uma rica oportunidade de sistematização e de elaboração de seus percursos profi ssionais até o momento 23 Eles escreveram cuidadosamente sobre aquilo que gostariam de ter lido Esperase que o livro seja uma excelente oportunidade de abertura de diálogos profícuos entre autores interessantes e leito res interessados Boa leitura Maria Lívia Tourinho Moretto é psicanalista e professora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo 奥溪谷 景区导览图 SUMÁRIO UNIDADE I ABORDAGENS PSICOLÓGICAS NO HOSPITAL GERAL 11 Interlocuções Entre a Psicologia Hospitalar e Análise do Comportamento Possibilidades e Limitações 29 12 A Invasão da Subjetividade o Lugar das Abordagens Psi codinâmicas no Contexto Hospitalar 47 13 Considerações Teóricas Psicologia Hospitalar e Gestalt Terapia 63 UNIDADE II CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS 21 RePensar a Psicologia no Contexto Hospitalar Brasileiro a Partir de uma Psicologia Crítica da Saúde uma Análi se dos Estudos Publicados na Segunda Década do Século XXI 77 22 Bioética e Psicologia Hospitalar Discussões que Apontam para a Alteridade 89 23 Quem não quer ser um Iron Man Refl exões Sobre o Uso de Tecnologias em Saúde e os Efeitos na Subjetividade 105 UNIDADE III FORMAÇÃO E GESTÃO 31 Indicadores e Gestão da Qualidade em Psicologia Hospi talar 121 32 Psicologia e Residências em Saúde um Diálogo Possível 135 UNIDADE IV INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS NO HOSPITAL GERAL 41 Intervenções Psicoeducativas Contribuições para Pacien tes e Familiares no Hospital 153 42 Técnicas de Relaxamento e Visualização na Prática da Psi cologia Hospitalar 165 UNIDADE I ABORDAGENS PSICOLÓGICAS NO HOSPITAL GERAL 大熊猫 29 11 INTERLOCUÇÕES ENTRE A PSICOLOGIA HOSPI TALAR E A ANÁLISE DO COMPORTAMENTO POSSIBI LIDADES E LIMITAÇÕES Alex da Silva Sousa Introdução Atualmente umas das áreas de atuação do psicólogo que apresenta um crescimento paulatino é a Psicologia da Saúde com ênfase na atuação em instituições hospitalares O grande número de alunos interessados na realização de estágios nesse campo e na participação em congressos bem como o aumento expressivo de publicações que tomam como objeto de estudo as nuances da psi cologia hospitalar evidenciam o quanto essa área vem se desen volvendo e ganhando notoriedade Acrescentase a esse cenário também o aumento expressivo em nível nacional dos programas de residência multiprofi ssionais com ênfase em especialidade hospitalares que ofertam vagas para psicólogos recémformados A psicologia hospitalar em uma concepção mais tradicio nal é defi nida como o campo de compreensão e de intervenção relativas aos aspectos emocionais envolvidos na vivência do ado ecimento e do tratamento de uma doença tais como os sentimen tos os desejos as falasos pensamentos as fantasias as lembran ças as crenças os sonhos os confl itos bem como o estilo de viver e de morrer de cada sujeito SIMONETTI 2004 Já na perspec tiva de Camon 2010 o principal objetivo da psicologia inserida no hospital é intervir para minimizar o sofrimento e os impactos emocionais derivados do processo de hospitalização Segundo esse autor na instituição hospitalar o psicólogo deverá também 30 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS realizar intervenções estratégicas com vistas a promover a huma nização pois o profi ssional dispõe de um instrumental técnico que o habilita a analisar e a intervir nas relações interpessoais pre sentes nesse ambiente Para fundamentar sua atuação no hospital o psicólogo deve ancorarse nas abordagens teóricoclínicas que de acordo com Lazzaretti 2007 devem ser o behaviorismo a gestalt a neuropsicologia a psicanálise o psicodrama a psicolo gia analítica e a terapia sistêmica Frente a esta realidade o objetivo deste trabalho é discutir as possibilidades de intervenção do analista do comportamento nas demandas existentes no contexto hospitalar apresentando algu mas contingências específi cas desse ambiente as quais o profi s sional deverá necessariamente considerar em seu trabalho Quanto ao objetivo tratase de um trabalho descritivo para cuja coleta de dados empregouse a pesquisa bibliográfi ca com abordagem qualitativa Esperase assim aprofundar conheci mentos que contribuam para a sistematização da prática do ana lista do comportamento na instituição hospitalar com vistas ao aprimoramento deste trabalho Breves apontamentos sobre os fundamentos da análise do comportamento De acordo com Skinner 2006 o behaviorismo não é pro priamente a ciência do comportamento humano mas a fi losofi a dessa ciência Abordando questões acerca da viabilidade dos métodos e das possibilidades de existência de tal ciência Skin ner 1904 1990 é identifi cado como o principal autor do beha viorismo radical sendo responsável por o modifi car qualitativa mente humanizando tanto a área da análise do comportamento quanto a própria psicologia a partir do que propôs com o seu behaviorismo radical Alguns dos aspectos mais importantes da fi losofi a behaviorista radical segundo Baum 2006 são a vi são determinista sobre o comportamento a crítica ao mentalismo antimentalista a aceitação de eventos naturais públicos ou pri 31 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS vados a rejeição aos eventos fi ctícios e a utilização do modelo de causalidade de seleção pelas consequências De acordo com o determinismo probabilístico o comporta mento de um organismo não ocorre ao acaso podendo ser orde nado explicado e por consequência controlado e previsto desde que se disponha das informações referentes a sua história Nessa perspectiva determinista atribuise tanto ao ambiente quanto à hereditariedade a explicação do comportamento dos organismos todavia não se trata de um determinismo absoluto mas proba bilístico pois de acordo com Carrara 2004 o comportamento caracterizase como um objeto de estudo complexo envolvendo relações funcionais afetadas por uma pluralidade de variáveis Tornase portanto pouco possível especifi car a causalidade exa ta para um comportamento assim como determinar de forma absoluta o que o mantém A fi losofi a behaviorista não admite explicações mentalis tas ou seja que recorram a constructos como mente ou variá veis intervenientes para compreender o comportamento de um sujeito em decorrência de tais constructos não serem eventos naturais isto é não são localizáveis no tempo e no espaço portanto não é possível investigálos cientifi camente Em con trapartida os eventos públicos e privados são eventos naturais na medida em que podem ser atribuídos a organismos vivos e integrais e por isso constituemse como objetos de estudo da análise do comportamento BAUM 2006 Dessa forma ape nas os eventos mentais e fi ctícios são problemáticos e desne cessários para a análise do comportamento por não fazerem parte da natureza Ressaltase que nessa perspectiva a mente e os eventos privados representados pelos pensamentos e os sen timentos em sua diversidade são compreendidos como even tos distintos Estes representam eventos naturais e privados já aquela por ser culturalmente construída e ter sua existência apenas inferida representa um evento fi ctício e não natural não podendo localizála no tempo e no espaço tampouco atribuir sua ocorrência a um organismo 32 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS O modelo de causalidade da análise do comportamen to é a seleção por consequências o qual conforme Skinner 19811984 tem a fi nalidade de explicar a origem e a manuten ção de comportamentos de um indivíduo ao longo da vida como também as mudanças nas práticas culturais mais amplas Esse modelo garante ainda a inscrição da análise do comportamento em uma base selecionista que de acordo com Skinner 1981 não se limita apenas a explicar os comportamentos mas prin cipalmente propiciar a compreensão de um tipo de relação entre eventos dependentes e independentes Para Borges e Casas 2012 com o modelo de seleção pe las consequências os eventos que são típicos dos seres vivos o comportamento por exemplo só podem ser explicados em de corrência de serem multicausados históricos e interrelaciona dos portanto nessa perspectiva identifi car as causas signifi ca resgatar a construção histórica do comportamento e das mudan ças de probabilidade de ocorrência desse fenômeno no futuro A estratégiatécnica utilizada por analistas do comportamento para conhecer como ocorre a seleção por consequência na história de vida de um sujeito é a uma análise funcional A análise funcional consiste na identifi cação de relações de dependência entre as respostas emitidas por um sujeito no contexto em que ocorrem com as condições antecedentes e os efeitos que geram no ambiente que são os eventos consequentes Nessa análise devem ser incluídas ainda as operações motiva doras atuantes LEONARDI BORGES CASAS 2012 Com o estabelecimento do modelo de seleção pelas consequências a análise funcional passa a associarse a uma perspectiva selecio nista e não mais mecanicista ou determinista de causalidade Por isso a análise funcional não se orienta primariamente para explicar qual o agente causador do comportamento mas princi palmente para conhecer a múltipla e complexa rede de determi nações fi logenética ontogenética e cultural dos comportamentos de um sujeito NENO 2003 A base da análise funcional do comportamento está portan 33 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS to em buscar conhecer as relações de dependência entre o com portamento e o ambiente O entendimento básico nessa pers pectiva é de que um sujeito em determinados contextos emite comportamentos em maior ou menor frequência por terem sido selecionado pelo ambiente a partir das consequências que pro duziram Assim todo comportamento presente no repertório de um sujeito mesmo o mais estranho bizarro ou associado com prejuízos ou sofrimento assume uma função a partir de uma his tória de vida específi ca e individual A análise funcional do com portamento colocase então como a estratégia que possibilitará conhecer qual a função desses comportamentos As possibilidades e limitações de trabalho do analista do com portamento com pacientes hospitalizados Sucintamente a atuação do analista do comportamento visa identifi car a função de comportamentos em contextos específi cos considerando o histórico de reforçamento e punições existentes na vida de um indivíduo bem como o processo de ontogenia que defi niu o repertório comportamental operante de que ele dispõe para interagir com o ambiente Em função disso ao atuar fora do consultório em instituições como o hospital é necessário que o analista do comportamento se aproprie das especifi cidades do ambiente pois sem a consideração das contingências particula ridades da instituição hospitalar a atuação do profi ssional tornar seá descontextualizada e consequentemente inadequada Por isso sustentase que o trabalho do analista do comporta mento inserido no hospital não poderá ocorrer como uma mera ampliação das técnicas e da forma de atuação que são típicas do consultório psicológico por se tratar de ambientes diferentes com demandas necessidades e características também distintas Sobre isso AngeramiCamon 2014 explica que os aspectos tem po e espaço diferenciam signifi cativamente os dois ambientes sendo que no trabalho hospitalar o psicólogo não tem controle sobre esses elementos como ocorre no consultório No hospital 34 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS os atendimentos podem ocorrer em diversos espaços tais como enfermaria ambulatório corredor etc podendo ainda ter dura ção variada além de estarem sujeitos a interrupções acarretadas por visitas dores ou incômodos do paciente ou pela realização de algum procedimento por outro membro da equipe Acrescentese a isso a necessidade de o analista do com portamento no ambiente hospitalar além de conhecer sua abor dagem teórica compreender aspectos ligados a saúde coletiva trabalho em equipes multiinter e transdisciplinares promoção prevenção e recuperação de saúde organização e funcionamento do SUS comunicação de más notícias atendimentos a pessoas vivenciando luto ou crise modalidades de atendimento breves e focais dentre outros Dessa forma o diálogo interdisciplinar en tre a análise do comportamento e os outros saberes que compõem a cena hospitalar colocase como indispensável para que o psicó logo comportamental possa atuar adequadamente nesse espaço Na instituição hospitalar o psicólogo comportamental deve rá avaliar e intervir na forma como o sujeito responde à intera ção com este ambiente sendo importante que em sua avaliação identifi que as respostas emitidas pelo paciente no contexto da hospitalização e de que maneira a interação com esse ambiente e as variáveis particulares ali existentes modifi cam e afetam o comportamento do paciente As pessoas respondem de formas individuais e específi cas a situação de adoecimento e hospitalização entretanto algumas respostas públicas e privadas costumam ser frequentes como o medo a culpa a angústia a ansiedade o choro o isolamento social a recusa em reconhecer a seriedade da doença as respos tas depressivas e em alguns casos respostas classifi cadas como psicopatológicas Sendo assim a premissa básica do analista do comportamento será focarse no responder único histórico pro cessual e individual de cada um de seus pacientes que vivenciam o tratamento e a hospitalização Straub 2014 orienta que ao se trabalhar com demandas do campo da saúde se proceda com a identifi cação dos comporta 35 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS mentos de saúde e de doença Ampliando essa proposição para o hospital os comportamentos de saúde são justamente aquela classe de respostas que têm a função de ajudar o sujeito a viven ciar o adoecimento e a hospitalização favorecendo a realização do tratamento e a recuperação Como exemplos de tais respos tas podem ser citados os seguintes relacionamento de confi ança com a equipe aderência ao tratamento e à medicação assiduida de às consultas confi ança e esperança Por outro lado nos com portamentos de doença está a classe de respostas que difi cultam ou mesmo impedem a permanência do paciente no tratamento retardando o restabelecimento da saúde como por exemplo res postas de tristeza ansiedade medo desconfi ança dirigida à equi pe desânimo desesperança agressividade e outras A forma como cada paciente irá se comportar durante o processo de adoecimento e hospitalização dependerá do seu re pertório comportamental individual modelado ao longo de sua história de vida Nesse sentido é importante que o analista do comportamento avalie esse repertório de maneira mais ampla de forma a identifi car que respostas os pacientes dispõem para lidar com situações de estresse de perdas e de limitações É im portante verifi car principalmente se há respostas já aprendidas relacionadas a contextos de hospitalização medicação adoeci mentos autocuidado pois a existência prévia dessas respostas pode tornar o processo atual de adoecimento e a permanência no hospital menos impactantes para o sujeito De forma contrária quanto menor a frequência dessa classe de respostas no repertó rio do paciente mais difícil tenderá a ser o processo de hospita lização acarretando mais sofrimento e difi culdades emocionais para ele Em uma avaliação analíticocomportamental do paciente hospitalizado independentemente do seu diagnóstico ou prog nóstico nos primeiros atendimentos é importante que o analista do comportamento identifi que as respostas que estão sendo mais frequentemente emitidas durante a hospitalização identifi cando se estas respostas estão na classe dos comportamentos de saúde 36 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS ou de doença Proceder com esta avaliação mais ampla das res postas do paciente possibilitará identifcar que repertório ele já possui que o possibilite interagir com as demandas impostas pela hospitalização e o tratamento como exemplifi cado no pa rágrafo anterior Esta avaliação ampla do repertório de respostas do paciente possibilitará também ao analista do comportamento identifi car os impactos da hospitalização verifi cando o aumento ou a diminui ção na frequência de emissão de respostas ao comparálas a suas frequências em outros ambientes fora do hospital ou no período anterior ao adoecimento Essas informações são indispensáveis à realização de uma análise funcional bem como ao estabeleci mento mais claro de um plano de trabalho para o paciente con tendo intervenções e objetivos a serem alcançados Com base nesta avaliação inicial uma possibilidade de in tervenção do analista do comportamento consiste em priorizar atender àqueles pacientes que apresentem repertório comporta mental escasso de respostas que lhes possibilitem formas de en frentar o tratamento pois é muito provável que esses pacientes tenham mais intercorrências emocionais por estarem mais sus cetíveis ao sofrimento e aos impactos do adoecimento e da hos pitalização O psicólogo deverá também buscar diminuir a frequ ência das respostas que difi cultam ou impedem a hospitalização modelando paralelamente uma classe de respostas facilitadoras do tratamento e do restabelecimento da saúde Pelo exposto defendese que o analista do comportamento deverá realizar prioritariamente a análise funcional dos compor tamentos problemáticos de seus pacientes no hospital para com preender quais contingências existentes na hospitalização podem relacionarse com as condições de saúde O profi ssional deverá identifi car as classes de estímulos antecedentes a classe de res postas e a classe de estímulos consequentes Assim a realização da análise funciona no hospital se coloca como uma estratégia de diagnóstico clínico e de compreensão do responder do paciente em sua experiência de hospitalização 37 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Segundo Farias 2010 o behaviorismo radical compreen de o comportarse situado em contextos específi cos por isso é impossível desconsiderar o contexto no qual o comportamento ocorre pois se assim ocorrer tornase inviável conhecer sua função Sob a perspectiva contextualista adotada pela análise do comportamento Carrara 2004 inclui a existência de operações de privação saciação instruções bem como as dimensões físi cas sociais e biológicas das condições antecedentes na interação organismoambiente que constituem elementos do contexto que interferem na ocorrência de respostas específi cas Em decorrência disto é importante que o psicólogo consi dere o aspecto contextual ao realizar análises funcionais de pa cientes hospitalizados levando em conta a existência de aspectos muito próprios do ambiente hospitalar que podem servir como ocasião aumentando ou diminuindo a frequência de emissão de algumas classes de respostas A exemplo temse a presença ausência de um membro da equipe de um familiar ou acompa nhante a estadia em um determinado setor como a UTI ou o centro cirúrgico o momento da alta ou o resultado de um exame regras culturalmente estabelecidas entre os pacientes a respeito da gravidade de doenças procedimentos médicos profi ssionais da equipe prognósticos de doenças efi cácia ou efeitos colaterais de tratamentos entre outros Naturalmente a grande maioria das pessoas não apresenta um repertório de respostas que lhes possibilite enfrentar uma vi vência de adoecimento e hospitalização principalmente em se tratando de doenças crônicas que demandam longos períodos de tratamento os quais incluem muitos procedimentos invasivos Sobretudo porque para permanecer em tratamento o paciente é exposto a diversas contingências inerentes à hospitalização tais como a dor física a exposição e manipulação do corpo de forma objetal o afastamento da família a interrupção de atividades la borais e sociais a lida com a incerteza o contato com a morte a mutilação e a consciência da fragilidade da condição humana Tais contingências podem assumir função aversiva ou mesmo 38 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS punitiva para o comportamento de tratarse e manterse hospita lizado Dessa forma a curto prazo permanecer no hospital reali zando um tratamento provavelmente exporá o paciente a todas essas contingências aversivas De acordo com Catania 1999 com exceção do reforço po sitivo as outras relações de contingência reforço negativo pu nição positiva e negativa são agrupadas como controle aversivo do comportamento O controle aversivo com exceção do reforço negativo além de diminuir a frequência da emissão da resposta punida acarreta também outros efeitos colaterais tais como res postas de fuga e a esquiva que têm a função de retardar o contato com a punição ou cessála caso já esteja ocorrendo Para Moreira e Medeiros 2007 o controle aversivo do comportamento pro duz outros efeitos nocivos como a eliciação de respostas emocio nais desagradáveis tremores choro taquicardia supressão de outros comportamentos além dos que foram punidos e o pró prio contracontrole Corroborando essa perspectiva o experimento do desam paro aprendido tem sido utilizado pela análise do comportamen to como um modelo experimental para a depressão Esse modelo propõe que ao ser exposto intensamente a contingências aver sivas para as quais independentemente de como se comporte o sujeito não consegue interrompêlas caracterizando a incon trolabilidade comportamental associada a uma redução drásti ca dos reforçadores existentes a pessoa passa a apresentar uma expressiva redução da responsividade ao ambiente bem como difi culdade de aprendizagem de novas respostas SELIGMAN MAIER 1967 Essas respostas emitidas por um organismo em desamparo aprendido parecem ser similares à forma como uma pessoa diagnosticada como depressiva também responde por isso esse modelo experimental tem sido usado para compreender a depressão Realizando uma leitura do ambiente hospitalar à luz desses conceitos percebese que a situação de hospitalização e trata mento para uma doença crônica expõe o paciente a contingên 39 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS cias equivalentes ao que ocorre no desamparo aprendido uma vez que para manterse hospitalizado e tratando uma doença provavelmente ocorrerá a perda de grandes reforçadores planos projetos de vida trabalho família renda fi nanceira autonomia etc somada à frequente exposição a contingências aversivas das quais difi cilmente o paciente poderá se esquivar uma vez que são muito próprias de um tratamento médico dor medo incertezas isolamento mutilações etc Por isso inferese que a hospitalização é um evento que pode modifi car e perturbar gra vemente o responder dos pacientes visto que a curto prazo ele será exposto a muitas contingências punitivas Por outro lado é provável que apenas a médio ou a longo prazo de acordo com a gravidade do diagnóstico e do prognóstico o paciente seja expos to a contingências reforçadoras tais como o alívio dos sintomas e da dor o restabelecimento da saúde e a própria cura A partir do exposto é possível compreender a partir da perspectiva analíticocomportamental por qual razão vivenciar o adoecimento e a hospitalização são eventos de vida excruciantes acarretando sofrimento e uma intensa desorganização emocional para o paciente Corroborando essa perspectiva os estudos de Ferreira et al 2015 e Gaspar 2011 evidenciam que pacientes hospitalizados apresentam muitos sintomas depressivos princi palmente no início do tratamento podendo estenderse por todo o período de hospitalização sendo que as mulheres hospitaliza das frequentemente apresentam mais sintomas depressivos que os homens Já para Chiu 2000 a associação entre o tratamento de um doença crônica como câncer e a ocorrência de quadros depressivos e outros transtornos de humor é muito frequente e pode ocasionar nos pacientes uma pior evolução clínica e má qualidade de vida O controle aversivo do comportamento existente em um processo de hospitalização pode acarretar ainda outras pertur bações nos comportamentos do paciente hospitalizado Como já mencionado as respostas de fuga e esquiva são efeitos colaterais característicos de contingências aversivas isso porque o sujeito 40 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS punido tentará de alguma forma encerrar a punição ou quan do possível evitar que ela ocorra Tanto a fuga quanto a esquiva representam alternativas de resposta que o sujeito poderá emitir para protegerse da exposição às contingências punitivas Possivelmente seja por essa razão que alguns pacientes hos pitalizados emitem respostas como tentar fugir do hospital aban donar o tratamento hostilizar a equipe de assistência desconfi ar do médico e da equipe de enfermagem ou isolarse socialmente No caso de crianças internadas as respostas podem ser chorar cuspir e agredir violentamente a equipe quando necessita realizar algum procedimento Todas essas respostas comuns em um hos pital podem representar respostas de fuga e esquiva cuja função é proteger o sujeito e retardar ou evitar seu contato com as contin gências aversivas que para ele se tornaram insuportáveis Esse quadro mostrase muito relevante quando se considera que a forma como a assistência é organizada nos hospitais prioriza a instituição e os processos assistenciais técnicos e burocráticos prestados e não necessariamente o cuidado com as necessidades pessoais do paciente ou mesmo com o seu bem estar emocional pois os horários e procedimentos são muito rígidos garantindo a realização precisa da rotina hospitalar sendo que na maioria das vezes essa organização desconsidera as necessidades emocionais dos pacientes o que torna muito provável a ocorrência de respos tas de fuga e esquiva Como a esquiva tem a função de proteger o sujeito contra contingências ameaçadoras caso estas não possam ser previa mente removidas o comportamento de esquiva deverá ter alta probabilidade de ocorrência sendo mantido por uma contingên cia de reforço negativo Ou seja se durante o tratamento e a hos pitalização não forem desenvolvidas estratégias para auxiliar o paciente a lidar com o sofrimento e as difi culdades inerentes es perase que a emissão de respostas de fuga e esquiva sejam altas e frequentes Devido tais respostas constituírem comportamentos de doença interferem na realização do tratamento prejudicando o restabelecimento da saúde 41 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS De acordo com Sidman 2009 a esquiva pode assumir for mas bizarras pois muitos padrões estranhos de comportamento podem surgir da necessidade de o sujeito se protegerse contra a ansiedade que o controle aversivo provoca Na perspectiva desse autor a conduta bizarra e neurótica pode ter grande associação com o controle aversivo do comportamento nos casos em que o sujeito passa a se comportar de forma extremada para esquivarse da punição Um desses casos é a resposta de regressão enquanto mecanismo de defesa a qual ocorre quando um adulto passa a emitir respostas características de uma criança ou uma criança passa a emitir respostas ainda mais infantilizadas em relação a sua idade cronológica É recorrente que pacientes hospitalizados passem a depen der sobremaneira de seus acompanhantes desejando receber co mida na boca comunicandose de forma chorosa demandando muito afeto e atenção apresentando respostas de medo e ansie dade quando seus acompanhantes se ausentam da enfermaria ou demoram a chegar na troca de turno com outros acompanhantes etc Tais comportamentos podem representar respostas extrema das e neuróticas de regressão como forma de o paciente esquivar se o quanto possível de entrar em contato com as contingências aversivas do tratamento e garantir o suporte emocional da família e da equipe assistencial Frente a esses processos outras possibilidades de atuação do analista do comportamento consistem em articulado com toda a equipe multiprofi ssional proporcionar quando possível esquivas saudáveis para o paciente de forma a evitar que se torne funcional a emissão de respostas neuróticas que acarretem em sofrimento reduzindo a exposição do paciente às contingências aversivas sem comprometer a realização do tratamento O analista do comportamento deverá também garantir uma audiência não punitiva acolhedora respeitosa e humanizada na qual o paciente hospitalizado possa falar livremente de suas vivências com a doença com o ambiente hospitalar ou sobre o que desejar verbalizar Explorar esses temas possibilitará que o 42 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS paciente sustentando pelo analista compreenda de forma aces sível as suas limitações percebendo como sua história de vida relacionase com as difi culdades que enfrenta na hospitalização e como as variáveis ambientais antecedentes e consequentes fun cionalmente se associam com o sofrimento emocional que viven cia em decorrência do tratamento Considerações fi nais Alguns dos resultados obtidos com esta pesquisa foram a necessidade de diálogo entre a análise do comportamento e ou tros saberes que compõem o campo da saúde a importância da realização da análise funcional contextualizada com as demandas e as variáveis do hospital a adoção da perspectiva contextualista e selecionista bem como a identifi cação de alguns contextos e contingências que podem ser frequentes no ambiente hospitalar Sobre as possibilidades de intervenção do analista do com portamento observouse que podem ser empregadas algumas estratégias importantes como a modelagem de respostas de en frentamento e a redução da frequência de respostas contrárias assim como o acolhimento e o estabelecimento da vinculação terapêutica com a fi nalidade de construir com o paciente uma compreensão das variáveis que funcionalmente relacionamse com as difi culdades da hospitalização A articulação teórica proposta neste estudo evidencia que o analista do comportamento pode contribuir consideravelmente para a compreensão de como pacientes hospitalizados se compor tam e para o manejo desses comportamentos durante o processo de hospitalização Em última análise isso possibilita que a assistência psicológica a tais pacientes seja realizada de forma mais consisten te facilitando a emergência de comportamentos de enfrentamento o que contribui para a recuperação da saúde assim como para a redução do sofrimento emocional que experimentam Considerase portanto que os objetivos deste estudo foram alcançados porém algumas lacunas teóricas permanecem abertas 43 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS pois se reconhece que na interação entre o paciente e o ambiente hospitalar ocorrem inúmeras outros processos comportamentais que não puderam ser abordados devido às limitações no deline amento deste trabalho consequentemente diversas possibilidades de intervenção também não puderam ser apresentadas Somase a isso que o hospital possui variadas unidades especializadas no atendimento a patologias públicos e tipos de tratamentos as quais provavelmente apresentam suas contingências específi cas deman dando investigações voltadas a essas particularidades Por fi m concluise que este trabalho conseguiu apresentar discussões gerais e introdutórias sobre o fazer do analista do com portamento no hospital geral reiterandose a necessidade de que pesquisas sobre essa temática sejam ampliadas de forma a melhor consolidar e sistematizar nesse espaço a atuação desse profi ssional Referências ANGERAMICAMON V A Psicologia da saúde um novo signifi cado para a prática clínica 2 ed São Paulo Cengage Le arning 2014 BAUM WM Compreender o Behaviorismo comportamento cultura e evolução 2 ed Porto Alegre Artmed 2006 CAMON VAA Psicologia hospitalar teoria e prática 2 ed São Paulo Cengage Learning 2010 CARRARA K Causalidade relações funcionais e contextualis mo algumas indagações a partir do behaviorismo radical Inte rações v 17 n 6 p 2954 2004 CATANIA AC Aprendizagem comportamento linguagem e cognição 4 ed Porto Alegre Artmed 1999 CHIU E Demência depressão e qualidade de vida In FOR LENZA OV CARAMELLI P Neuropsiquiatria geriátrica São Paulo Atheneu 2000 Pág 3943 44 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS DAL BO MJ SILVA GS MACHADO DFGP SILVA RM Prevalência de sintomas depressivos em pacientes internados em enfermarias de clínica médica de um hospital geral no sul de San ta Catarina Rev Bras Clin Med São Paulo v 9 n 4 p 2648 julago2011 FARIAS A K C R Análise comportamental clínica aspectos teóricos e estudos de caso Porto Alegre Artmed 2010 FERREIRA VMP SILVA LN FURUYA RK SCHMID A ROSSI LA DANTAS RAS Autocuidado senso de coerência e depressão em pacientes hospitalizados por insufi ciência cardía ca descompensada Rev Esc Enferm v 49 n 3 p 38894 2015 GASPAR KC Depressão em pacientes internados em hospital geral evolução aos seis meses após alta hospitalar Dissertação de Mestrado em Psicologia Universidade Estadual de Campinas Campinas 2011 LAZARETTI CT Manual de Psicologia Hospitalar Curitiba Unifi cado 2007 LEONARDI JL BORGES NB CASAS FA Avaliação fun cional como ferramenta norteadora da prática clínica In BOR GES NB CASSAS FA Clínica analítico comportamental aspectos teóricos e práticos Porto Alegre Artmed 2012 Pág 105 109 MOREIRA MB MEDEIROS CA Princípios básicos de aná lise do comportamento Porto Alegre Artmed 2007 NENO S Análise Funcional Defi nição e Aplicação na Terapia Analítico Comportamental Revista Brasileira de Terapia Com portamental e Cognitiva v 5 n 2 p151165 2003 SELIGMAN M E P MAIER S F Failure to escape traumatic shock Journal of Experimental Psychology n74 p19 1967 SIMONETTI A Manual de psicologia hospitalar o mapa da 45 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS doença São Paulo Casa do Psicólogo 2004 SKINNER BF Sobre o Behaviorismo 10 ed São Paulo Cul trix 2006 SKINNER BF Selection by consequences Science v 213 n 4507 p 50104 1981 SKINNER BF Some consequences of selection The Behavio ral and Brain Science n 7 p50210 STRAUB RO Psicologia da Saúde uma abordagem biopsi cossocial Porto Alegre Artmed 2014 奥溪谷 景区导览图 47 12 A INVASÃO DA SUBJETIVIDADE O LUGAR DAS ABORDAGENS PSICODINÂMICAS NO CONTEXTO HOSPITALAR Ana Beatriz Correia Mendes Rebecca Holanda Arrais O presente capítulo constituise como trabalho teórico e visa contribuir para um debate sobre o lugar das abordagens psi codinâmicas no contexto hospitalar De modo mais específi co são enfocados os trabalhos dos psicólogos que adotam a Psicaná lise ou Psicologia Analítica como perspectiva Segundo Moretto 2001 o tema da inserção continua sur gindo no espaço da supervisão ainda que a entrada do psicólogo no hospital tenha começado há mais de seis décadas Esclarece se então que A entrada de um psicanalista numa Instituição de Saúde não corresponde necessariamente à sua inserção assim como o lugar do psicanalista numa equipe de saúde não corres ponde a uma vaga disponível no quadro funcional de uma instituição É um lugar que precisa ser construído de modo a que ele o psicanalista possa operar Chamemos de in serção o processo de construção deste lugar MORETTO PRISZKULNIK 2014 p 289 A diferenciação entre entrada e inserção proposta pelas au toras contribui para a compreensão dos desafi os encontrados não apenas por psicanalistas mas também por aqueles que tendo a di nâmica psíquica do sujeito como base de sua atuação constatam que o fato de terem sido solicitados a ingressar em determinado serviço não lhes garante as condições para que possam nele operar Outro ponto levantado por Moretto 2001 é a noção de que a Medicina se fundamenta metodologicamente na exclusão 48 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS da subjetividade para melhor alcançar seu objetivo de cura O profi ssional psi é chamado assim justamente para dar con ta daquilo que foi deixado de fora do saber biomédico entre tanto ao se deparar com a subjetividade antes excluída a equipe não reconhecerá necessariamente a importância de considerála sendo possível que as solicitações dirigidas ao psicólogo tenham por base uma tentativa de reafi rmação dessa exclusão O reco nhecimento da demanda que lhe é dirigida e a forma como a ela responde marcarão a possibilidade ou não de inserção do pro fi ssional psi que não depende unicamente da postura com que a equipe o recebe mas principalmente da relação estabelecida entre ambos MORETTO PRISZKULNIK 2014 Aspectos desse processo de entrada e inserção podem ser comuns a diversas abordagens porém a construção de uma práti ca precisa conectarse à teoria que a fundamenta e nesse sentido às suas especifi cidades Somos assim convocados a pensar ca minhos a partir da Psicanálise e da Psicologia Analítica aliando pesquisa e prática profi ssional para a inserção no hospital do psicólogo que trabalha com essas abordagens A outra cena no hospital Aliás o psicanalista sabe melhor do que ninguém que a questão aí é ouvir a que parte desse discurso é confi ado o termo signifi cativo e é justamente assim que ele opera no melhor dos casos tomando o relato de uma história coti diana por um apólogo que a bom entendedor dirige suas meiaspalavras uma longa prosopopeia por uma interjeição direta ou ao contrário um simples lapso por uma decla ração muito complexa ou até o suspiro de um silêncio por todo o desenvolvimento lírico que vem suprir LACAN 19531998 p253 É no Hospital de Salpêtrière que Freud concede atenção ao discurso das histéricas excluído pela Medicina reconhecendo 49 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS um além do adoecimento neurológico Assim alicerça a criação da Psicanálise Sugerese que também aí é possível residir a gêne se de uma prática da psicanálise no hospital geral Com o avanço da técnica psicanalítica e o desenvolvimento de conceitos fun damentais para a psicanálise Freud também atribui importância ao divã No social e nas equipes de saúde a primeira questão que surge quando se aborda uma escuta psicanalítica dentro de uma instituição hospitalar é a emblemática representatividade do divã Inicialmente acreditase que a possibilidade do trabalho em psi canálise esgotase diante desse elemento Oportunamente afi rmase que a psicanálise se coloca em presença de um sujeito que fala que deseja tear com as suas pa lavras uma história única sobre o seu adoecimento e as práticas hospitalares suas rotinas condutas e normas rígidas por vezes silenciam o sujeito que padece de um adoecimento orgânico as sim nesse espaço a exclusão do sujeito é vista a olhos nus Tal exclusão é representada por uma não escuta relativa à marca sin gular do sujeito acometido por uma patologia identifi cado com o número de um leito ou de uma enfermaria Partindose de uma prática de escuta realizada nas maternida des é possível perceber que as mulheres são chamadas pelos mem bros da equipe de saúde pela ordem do discurso social como mãe zinhas sendo assim apagadas em sua posição de mulher e sujeito que se encontra na iminência de tornarse mãe ou não Nessas situa ções surge uma questão quando a mulher põese a interrogar acerca da função materna em construção para si e para o outro o bebê A criação da psicanálise por Freud e a leitura realizada por Lacan permitem a reinvenção cotidiana desse lugar na prática hospitalar tendo em vista o caso a caso e a surpresa presente nessa dinâmica A atenção e a postura frente às demandas apre sentadas solicitam um manejo da transferência entre os presentes na equipe de saúde os pacientes e os familiares realizandose uma aposta em um trabalho e no inconsciente Nas instituições hospitalares o psicanalista busca um não apagamento dos sujeitos proporcionando a expansão dos ca 50 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS minhos trilhados até ali parte em defesa de um posicionamento subjetivo frente às demandas contidas nos protocolos de saúde Por meio da psicanálise apresentase outra cena para o contexto hospitalar a cena inconsciente Atribuise status ao chiste ao ato falho ao esquecimento ao simbólico à fala do paciente ao lugar de escuta e ao sofrimento É esse sofrimento psíquico encontrado nas situações de adoecimento que circunscreve uma prática psi canalítica no hospital Esse conjunto de experiências não caracterizam sintomas psicológicos por si Eles também não se enquadram semio logicamente apenas como formas específi cas de angústia ou de inibição Por outro lado encontramos uma palavra que parece descrever e em todas as nuances a experiência de uma hospitalização sofrimento DUNKER 2016 p65 Conforme apontado pelo autor há inseguranças produ zidas pelo processo de internação tempo em que o sujeito perde as referências e certezas sobre o seu próprio corpo Manejos téc nicos dores e consequências do uso de medicamentos irrompem nas vidas ali presentes A respeito da subjetividade realizase uma analogia com a propagação da luz nos ambientes A luz sofrendo alterações a depender do meio em que se encontra está ali porém em inten sidade diferente Tal fato se aplicaria à subjetividade visto que não há uma dicotomia entre o que seria mente e corpo psíquico e somático mas sim a incidência da subjetividade em tudo o que corresponde ao sujeito não sendo possível uma completa des consideração desses aspectos no processo de adoecimento SI MONETTI 2015 p135 Compartilhando o mesmo espaço ciência médica e psicaná lise suscitam muitas hipóteses e indagações uma vez que como destaca Lacan 19542009 p33 a análise como ciência é sempre uma ciência do particular A objetividade necessária ao discurso médico descreve doenças e jamais os que estão em uma condição de doentes Nesse âmbito o psicanalista posicionase 51 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS convidando o sujeito a falar incitando uma versão para além do corpo biológico Ao mesmo tempo há um corpo de palavras a serem ditas cabendo ao psicanalista em meio ao ato à química à tecnologia e ao real aquilo que não é alcançado pela palavra trazer para essa cena hospitalar aquilo que o constitui humano a palavra ou seja dar voz ao sujeito Quer se pretenda agente de cura de formação ou de sondagem a psicanálise dispõe de apenas um meio a fala do paciente LACAN 19531998 p248 Lacan 19662001 é categórico quando marca um lugar ex traterritorial da psicanálise frente à medicina A psicanálise não deverá instaurarse nesse contexto somente quando a medicina não categoriza um sintoma ou algum acontecimento dos ditos pacientes destacase como uma questão emocional atribuída ao processo de adoecimento Um saber não se sobrepõe ao outro tampouco se complementam pois a verdade dita sobre o adoeci mento pelo sujeito em linhas gerais não compactua com a verda de médica já formulada sobre a doença A construção da história singular do adoecimento é desvelada na narração dos encontros e desencontros da vida assim em seu ofício o que o psicanalista visa não é da ordem de uma adaptação mas que cada um possa encontrar uma solução particular diante do so frimento do confl ito das situações geradoras de angústia Chamado para resolver um impasse o que ele pode é ofere cer não uma resolução predeterminada mas uma que passe pela palavra possibilitando que algo do sujeito possa advir CARVALHO COUTO 2011 p117 Sobre a prática de uma psicanálise Freud 1919 p187 as sinala que somente com as experiências obtidas no percurso de uma análise é que se pode conduzir uma escuta uma vez que consiga supervisão e orientação de psicanalistas Para a escuta e a transmissão de uma psicanálise dentro de uma institui ção hospitalar haverá uma implicação do analista em seu ofício sendo possível apenas em meio ao estudo da teoria supervisão e 52 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS a própria análise Somente com a presença dessa tríade é que uma psicanálise se faz possível no âmbito hospitalar Para uma pessoa se colocar na posição de analista ela preci sa se despojar de seus preconceitos de seus sentimentos e de suas preferências pessoais e é nesse sentido que não dá para se pensar em conforto quando se tem de fazer isso e mais ainda fazer isso para escutar o drama humano MORETTO 2001 p110 A análise pessoal do psicanalista é um dispositivo primor dial para ele se sustentar em um lócus repleto de subjetividades que apresenta distintos estilos de articulação com o adoecimento e propicia encontros com os sujeitos pelejantes por vida Apenas no enfrentamento do próprio divã de um trabalho em intensão é que o psicanalista poderá reinventar o lugar de escuta propician do a circulação da palavra e dos discursos ali presentes A transmissão do sujeito do inconsciente dentro do ambien te hospitalar principalmente no que condiz ao contexto da saúde pública ocorre nos corredores nos encontros falantes entre os membros da equipe de saúde onde é possível articular e conside rar o sujeito que padece de algo ou mesmo interrogarse o que há de singular ali o que há de próprio daquele sujeito naquela doença Os estilos de funcionamento dos sujeitos por mais que dentro das mesmas categorias nosológicas são distintos e sus tentar a diferença também é ofício do psicanalista A psicanálise no entanto terá que se ater com a construção diária de uma práxis voltada às nuances do contexto hospitalar como o encontro com o real do corpo a fi nitude a decadência de corpos ditos e tomados como úteis o atendimentos à beira dos leitos onde os pacientes se encontram despidos de suas roupas de sua singularidade Nesse ambiente tanto o trabalho de escu ta quanto a fala do paciente estão passíveis de uma interrupção abrupta A própria dinâmica hospitalar propicia cortes na fala dos sujeitos com a presença do real quando por exemplo um paciente do leito ao lado enfarta ou é submetido a procedimentos invasivos 53 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS no momento da escuta interrompendose o escutar O tempo é de outra ordem e por vezes a lógica que emerge é a do corpo O fazer do psicanalista no contexto de urgência em que o sujeito se encontra no hospital assinala a sustentação da diferença possibilitando que os sujeitos desvelem as suas doenças de manei ra singular e se posicionem diante delas sem tornálas um obstá culo de vida O psicanalista não deverá recuar frente aos sujeitos adoecidos às famílias presentes e claro à medicina Se lhe chega uma demanda de fala ela necessita ser escutada pois há sujeito aí inclusive esse convite ratifi ca a presença do inconsciente Postura clínica em Psicologia Analítica e saber biomédico Provavelmente a medicina geral também sabe que não exis tem apenas doenças mas pessoas doentes Mas a psicote rapia sobretudo sabe ou pelo menos deveria sabêlo há muito tempo que seu objeto não é a fi cção da neurose mas a integridade perturbada de uma pessoa humana JUNG 2011b p 104 No que se refere ao desenvolvimento da Psicologia Analítica e a sua chegada no hospital é signifi cativo notar que essa aborda gem teve início a partir da experiência profi ssional de Jung em um hospital psiquiátrico EVANS 1992 Também Nise da Silveira uma das responsáveis por sua divulgação no Brasil trabalhou em hospital mental VASCONCELLOS GIGLIO 2007 Evidencia se dessa forma que apesar de ter se consolidado como voltada ao atendimento em consultório particular a Psicologia Analítica não se desenvolveu única ou primariamente em tal contexto e não tem aplicação a ele restrita Silva 2011 afi rma que a presença dessa abordagem na saú de hoje transcende o espaço da clínica em seu modelo tradicio nal ambulatorial O mesmo é válido para as publicações na área sendo possível encontrar produção ainda que incipiente sobre temas direta ou indiretamente ligados ao contexto hospitalar 54 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Na revisão apresentada em sua dissertação a autora afi rma que poucos foram os trabalhos que se aproximaram da temática do lugar do psicólogo no hospital A maioria aborda temas relacio nados à psicossomática do paciente ou instrumentos e técnicas para se trabalhar com este SILVA 2011 p 50 Complementar mente indica que outros autores escreveram acerca de patologias eou desestabilizações somáticas a partir da perspectiva da Psico logia Analítica utilizando conceitos dessa teoria sem contudo abordar a prática em contexto hospitalar A autora evidencia a necessidade de o psicólogo construir seu lugar junto à equipe de saúde a partir de uma postura segura e clara acerca de seu próprio trabalho Questiona ainda quais os objetivos desse trabalho considerando suas diferenças em rela ção ao que é desenvolvido em consultório ao mesmo tempo em que recorda que o lugar do psicólogo não está no hospital mas na psicologia enquanto ciência que responde a uma convocação própria SILVA 2011 p48 Alerta que acolher solicitações da equipe de maneira a suscitar refl exões sobre a própria respon sabilidade acerca daquilo que pede pode gerar frustrações mas abre espaço para a possibilidade de mudanças na postura dos profi ssionais Podese falar então da manutenção de uma postu ra clínica eticamente embasada e atenta à dinâmica psíquica em relação a todos os envolvidos pacientes profi ssionais e institui ção Não se trata de tornarse analista ou psicoterapeuta de seus colegas mas de partir da compreensão de que é imprescindível que se reconheça a realidade institucio nal e suas necessidades No entanto isso não implica res ponder às solicitações que lhe são encaminhadas tal como se apresentam A apropriação de seu lugar na equipe e na instituição depende em grande parte de sustentar seus objetivos e atitude adotados em seu trabalho SILVA 2011 p88 A inserção daquele que almeja trabalhar com Psicologia Analítica no hospital precisa então passar pela consideração 55 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS cuidadosa do que lhe é solicitado reconhecendo inclusive ele mentos implícitos a esse pedido e pela construção de respostas fundamentadas solidamente em sua clínica Cabe assim apro fundar a caracterização da clínica analítica e como ela se situa em relação ao campo biomédico Dois temas interrelacionados mostramse essenciais o respeito à individualidade e à subjetivi dade do paciente e a questão da padronização e estabelecimento dos objetivos do tratamento Ao traçar uma evolução histórica Jung 2011c indica que a psicoterapia em Psicologia Analítica surge a partir de um desen volvimento no qual se observa uma tendência à individualização do tratamento bem como à transferência do foco do direciona mento dado pelo terapeuta para o desenvolvimento construído por cada paciente De acordo com Jung 2011c p 35 toda psi coterapia moderna que pretende ser responsável do ponto de vis ta médico e respeitada por sua seriedade científi ca já não pode ser de massas mas depende do interesse amplo e sem reservas dispensado a cada paciente individualmente Jung insiste em uma individualização do tratamento que evite tentativas de infl uenciar o paciente pelos pressupostos do terapeuta e afi rma que a infl uência pessoal conselho ou orienta ção está para a psicoterapia como a atadura para a cirurgia isto é ainda que continue a participar no tratamento não se constitui como central ou sufi ciente Para ele O tratamento por suges tão hipnose etc não foi abandonado levianamente mas por que seus resultados eram deveras insatisfatórios JUNG 2011c p33 O respeito à individualidade do paciente colocase assim como dever ético e necessidade metodológica Nesse sentido o clínico deve evitar objetivos préestabele cidos bem como preconceitos teóricos acerca do que o paciente possa ou deva fazer JUNG 2011d No contexto hospitalar tal preceito pode ser ilustrado pela observação de que uma solicita ção para atendimento de paciente que não aceita o tratamento médico não resultaria automaticamente na oferta de atendimen to para fazêlo aceitar A adesão ao tratamento não seria pois 56 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS objetivo préestabelecido para o psicólogo ainda que o assunto pudesse ser trabalhado em atendimento O direcionamento da psicoterapia é dado pelo processo de individuação movimento em direção à realização da totalidade da personalidade a qual não está sob controle da consciência e obedece a uma psicodinâmica mais ampla JUNG 2011d Sobre isso Jung 2011a p 67 afi rma que os processos inconscien tes se acham numa relação compensatória em relação à consci ência se complementam mutuamente para formar uma tota lidade o simesmo o qual corresponde à totalidade da psique e a seu centro regulador Mantémse dessa forma um padrão de equilibração em que aquilo que é negado pela consciência ma nifestase a partir do inconsciente No hospital o adoecimento e tratamento se constituirão em elementos inicialmente estranhos ao eu do paciente e cuja integração pode propiciar desenvolvi mento da personalidade Os pontos tratados da individualização do tratamento e do não estabelecimento prévio de objetivos trazem consequên cias práticas que se diferenciam dos padrões do saber biomédico Tais diferenças são exploradas no texto Medicina e Psicoterapia JUNG 2011b a partir das distintas formas de tratar diagnósti co prognósticos e tratamento acerca dos quais é dito que O médico comum parte do pressuposto de que o exame do paciente deve levar dentro da medida do possível ao diagnóstico da sua doença e uma vez feito o diagnóstico à decisão quanto aos pontos essenciais do prognóstico e da terapia A psicoterapia constitui uma visível exceção a esta regra para ela o diagnóstico é extremamente irrelevante na medida em que exceto um nome mais ou menos adequado para o estado neurótico do paciente nada se ganha prin cipalmente no que diz respeito ao prognóstico e à terapia JUNG 2011b p101 Em contraposição Jung propõe um diagnóstico psicológico pautado não pelos sintomas apresentados no quadro clínico mas 57 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS elaborado como diagnóstico dos complexos presentes em cada caso sendo construído a partir da fala do paciente ao longo dos próprios atendimentos No trabalho com pacientes acometidos por doença somá tica tal consideração sobre o diagnóstico médico tem duplo as pecto Referese a diagnósticos presentes nos manuais de saúde mental de modo que ainda que se solicite acompanhamento para paciente ansioso ou depressivo não será essa categorização que guiará o atendimento A mesma relação ocorre com a doença somática Saber acerca do diagnóstico orgânico do paciente e de seu tratamento terá importância na compreensão de sua história e contexto atual mas tampouco será determinante da condução do trabalho do psicólogo Não se afi rma que tais informações não devam ser consideradas ou que o seu uso pelos demais profi ssio nais seja inadequado apenas que uma atuação baseada na Psico logia Analítica as terá como complementares já que o direcio nador do trabalho será a própria dinâmica psíquica do paciente cujo conhecimento será construído na escuta clínica Apresentouse assim um breve quadro daquilo que susten tará a postura clínica do psicólogo em Psicologia Analítica o que resulta na necessidade de que se assuma um compromisso ético pautado pelo respeito à individualidade do paciente na condução de um trabalho que se coloca como auxiliar da totalidade psíqui ca e do processo de individuação Alinhamonos à ideia de que só a partir de uma clareza dos próprios fundamentos tornase possível estabelecer diálogo efetivo com a equipe de saúde As diferenças surgem então não como empecilho ao trabalho con junto mas como justifi cativa da sua importância como fonte das colaborações que a Psicologia pode trazer para a assistência ao paciente somático Acerca disso Jung 2011b p 99 explica O psicoterapeuta tem o maior e mais particular interesse em não abrir mão do lugar que desde a origem ocupa dentro da medicina E isso porque por força da especifi cidade de sua experiência de um lado e da sua maneira de pensar 58 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS do outro ele se vê incumbido de defender certos interesses que não tem mais acolhida dentro da medicina de hoje ou melhor dizendo ainda não a tem Considerações fi nais Tomando por base a diferenciação entre inserção e simples entrada indicouse que a primeira pode ser alcançada por meio da construção de uma relação de diálogo baseada no conhecimen to do psicólogo acerca daquilo que o diferencia em sua prática e o fundamenta em suas ações Entretanto as solicitações dirigidas ao psicólogo não partirão necessariamente do reconhecimento dessa diferença e eventualmente estarão direcionadas para a re afi rmação da exclusão da subjetividade seja pela via da adequa ção do paciente ao funcionamento institucional seja pelo ideal de padronização do atendimento psicológico ofertado Mostrase necessário na continuidade do debate abordar entre outros as suntos a construção de respostas coerentes a solicitações que têm ganhado força no contexto contemporâneo dos movimentos de acreditação hospitalar e do incentivo a pesquisas e práticas que atendam aos padrões da saúde baseada em evidências Independentemente do lugar de escuta que o profi ssional se propõe o que se sobressai é desenvolver um trabalho de caráter único a cada paciente sobre a sua doença O saber psi frente ao saber médico é relevante para que as pessoas inseridas em uma situação de adoecimento alcancem aquilo que há de singular o que há da sua própria história ali de modo que possam implicar se nas queixas apresentadas Os modos de escuta psi convergem quando proporcionam ao sujeito um outro lugar onde são escutados naquilo que há de próprio e por vezes podem sair de uma postura passiva frente ao adoecimento para uma atividade um colocarse na cena hospi talar Ou a escuta poderá ratifi car um lugar de um choro e da dor que é a notícia de um diagnóstico difícil benefi ciando também 59 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS os familiares quando do óbito de um ente querido Por vezes no trabalho de escuta psi tratase de legitimar o choro e a tristeza inerente a uma situação de perda seja perda de saúde ou da con dição de vida anterior Não há uma programação para o adoecimento isto é ado ecer é sair dos trilhos é um desvio da curva do cotidiano é a ruptura do script que obstrui o roteiro da vida que vinha sendo delineada Desse modo a passagem por uma internação pode produzir novos estilos de vida sendo o sujeito marcado por essa estadia ou por repercussões que uma internação possa produzir O fazer psi pode por fi m desencadear um processo de po limorfi smo do adoecimento por mais que a classifi cação inter nacional de doenças CID o enquadre em um padrão tornando essa produção de um corpo diante da fala do sujeito multi poli pluri e repleta de signifi cações Não há um só signifi cado para o adoecimento Não se trata de uma causa e efeito no adoecimento Figueiredo 2009 p 143 considerando a metapsicologia do cuidado assinala a importância de os sujeitos em situação de adoecimento serem tratados de modo integral sugerindo como uma das metas do cuidado o favorecimento da implicação e res ponsabilidade em sua medicina Proporcionase assim uma lei tura para além das práticas psis com uma instância de cuidado articulada aos outros fazeres que tornem as práticas de cuidado menos protocolares mecanizadas e estereotipadas e mais singu larizadas e subjetivadas Isso poderia surgir como uma consequ ência da propagação de um viés também subjetivamente orien tado nas outras práticas talvez um possível efeito da inserção de um trabalho de escuta Os sujeitos saem de suas cenas diárias deixam seus traba lhos suas rotinas para lidar com o que há de inesperado no ado ecimento e nos resultados que possam advir Considerar o ine ditismo do adoecimento e do que emerge das rotinas e práticas hospitalares incita a possibilidade da reinvenção da inserção do fazer psi cotidianamente 60 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Referências CARVALHO S B de COUTO L F A presença do psicanalista no hospital geral sua escuta e suas intervenções In BATISTA G MOURA M D de CARVALHO S B de Orgs Psicaná lise e hospital a responsabilidade da Psicanálise diante da ciên cia médica Rio de Janeiro Wak Editora 2011 v 5 p 111128 DUNKER C I L Para introduzir o conceito de sofrimento psí quico em psicanálise In KAMERS Michele MARCON Helo ísa Helena MORETTO Maria Lívia Tourinho Orgs Desafi os atuais das práticas em hospitais e nas instituições de saúde São Paulo Escuta 2016 p 6688 EVANS R L Entrevistas com Jung e as reações de Ernest Jones Rio de Janeiro Eldorado Tijuca 1992 FIGUEIREDO L C As diversas faces do cuidar novos ensaios de psicanálise contemporânea São Paulo Escuta 2009 FREUD S Sobre o ensino da psicanálise nas universidades 1919 1918 In Uma Neurose Infantil e outros traba lhos 1917 1918 Trad James Strachey Rio de Janeiro Imago 1996 p 185189 Edição Standard Brasileira das Obras Psicoló gicas Completas de Sigmund Freud vol XVII JUNG C G Eu e o inconsciente Petrópolis Vozes 2011a Medicina e Psicoterapia In A prática da Psicote rapia 13 ed Petrópolis Vozes 2011b p99108 O que é Psicoterapia In A Prática da Psicotera pia Petrópolis Vozes 2011c p3239 Os objetivos da psicoterapia In A Prática da Psicoterapia Petrópolis Vozes 2011d p4865 LACAN J Função e campo da fala e da linguagem Traduzido por V Ribeiro In LACAN Jacques Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar 1998 p 238324 61 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS O lugar da psicanálise na medicina Opção lacaniana 32 Texto de 1966 Publicado inicialmente em Cabiers du Collège de Médicine vol 12 1966 e mais tarde em Blocnotes de la psychanalyse nº 7 Georg Genebra 1987 Traduzido por Marcus André Vieira 2001 O seminário livro 1 os escritos técnicos de Freud 19531954 Rio de Janeiro Jorge Zahar 2009 MORETTO M L T O que pode um analista no hospital São Paulo Casa do Psicólogo 2001 MORETTO M L T PRISZKULNIK L Sobre a inserção e o lugar do psicanalista na equipe de saúde Tempo psicanalíti co v46 n 2 p 28798 2014 SILVA S C Cuidando de ser psicólogo no hospital uma carto grafi a de experiências sobre a construção de um lugar contadas sob inspiração da psicologia analítica de C G Jung 2011 193 f Dissertação Mestrado em Psicologia Clínica Instituto de Psi cologia Universidade de São Paulo São Paulo 2011 VASCONCELLOS E A GIGLIO J S Introdução da arte na psicoterapia enfoque clínico e hospitalar Estudos de psicologia Campinas v 24 n 3 p 37583 set 2007 CHIPPER CHAT ENGLISH AN INTRODUCTION TO CONVERSATIONAL ENGLISH 63 13 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS PSICOLOGIA HOSPITALAR E GESTALTTERAPIA Daniele Rabelo Batista Castro Luciana Araújo Gurgel Introdução A Psicologia Hospitalar é o conjunto de contribuições cien tífi cas educativas e profi ssionais que as diferentes disciplinas psi cológicas fornecem para dar melhor assistência aos pacientes do no hospital O psicólogo hospitalar reúne conhecimentos e técni cas para aplicálos de maneira coordenada e sistemática visan do à melhora da assistência integral do paciente hospitalizado portanto seu trabalho é especializado em restabelecer o estado de saúde do doente ou ao menos controlar os sintomas que pre judicam seu bemestar Dentro do contexto da saúde e hospitalar é possível a atu ação do psicólogo de várias formas e através do suporte de di versas abordagens psicológicas A Gestaltterapia GT é uma dessas abordagens possíveis apresentando a Psicologia da Ges talt a Teoria de Campo de Kurt Lewin e a Teoria Organísmica de Kurt Goldstein como teorias basais para seu funcionamento e entendimento HOLANDA 1998 Em relação a fundamentos fi losófi cos temos principalmente a Fenomenologia e o Existen cialismo embasando a construção da abordagem HOLANDA 1998 Fritz Perls é considerado o fundador e disseminador da abordagem gestáltica O objetivo deste capítulo é apresentar considerações teóri cas acerca da Gestaltterapia e seu diálogo com a Psicologia Hos pitalar explicando o que é saúde e doença para a abordagem e como o gestaltterapeuta pode e deve intervir no contexto hos 64 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS pitalar para promover a saúde junto ao paciente família equipe e instituição saúde esta entendida no âmbito da Gestaltterapia num sentido mais amplo e complexo o qual será comentado nos tópicos adiante Saúde e doença em GT Em Gestaltterapia saúde e doença não são conceitos opos tos mas processos contínuos e dinâmicos De acordo com Fuku mitsu Cavalcante e Borges 2009 um processo saudável tem re lação com uma forma fl uida de se colocar no mundo implicando a capacidade do sujeito de manter contato com seu contexto e poder efetuar escolhas espontâneas e trocas com seu ambiente de forma mais satisfatória atendendo assim suas necessidades em todos os níveis ESTEVÃO SILVEIRA 2014 Galli 2009 apresenta a saúde conforme a visão de Perls segundo a qual seria a capacidade de emergir do apoio e regula ção para um autoapoio e autorregulação sendo o equilíbrio seu elemento fundamental Uma das premissas básicas da Gestaltte rapia é a busca por essa homeostase capacidade inerente a todo organismo Sobre o adoecimento Holanda 1998 diz que o adoecer acontece quando se tem uma desarmonia nas relações seja com o mundo seja com o próprio sujeito quando essas relações estão limitadas O não saudável é a impossibilidade de atualizar a ma neira de satisfazer as necessidades é a cristalização a estagnação em um determinado momento FUKUMITSU CAVALCAN TE BORGES 2009 p 179 A doença vem mostrar que há uma desarmonia da consciência uma perda de equilíbrio que pode se manifestar no corpo ou na mente como um sintoma GALLI 2009 Os sintomas e o adoecimento podem ser encarados assim como formas de buscar o saudável A doença quebra a continuidade de atividades cotidianas acarretando preocupações medos ansiedade e culpas Esse es tado faz com que a atenção pensamentos e emoções fi quem vol 65 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS tados para a corporeidade assim a fi gura do sujeito será o seu estado corporal Isso gera um momento favorável para entrar em contato consigo mesmo com nosso corpo nosso íntimo e nossas vivências ESTEVÃO SILVEIRA 2014 Psicólogo da GT no hospital e seu papel A Psicologia Hospitalar tem como objetivo principal mini mizar o sofrimento provocado pela hospitalização o que exigi rá do profi ssional de Psicologia bom conhecimento de todas as condições de vida que são agravadas por essa situação KUS TER 2010 Essa especialidade deve ter como foco a promoção da saúde reforçando o modelo biopsicossocial e desenvolvendo um trabalho interdisciplinar que busque a integração real entre as áreas CHIATTONE 2000 Para que auxilie as pessoas nessa situação de crise o psicólogo deve conhecer diversas caracterís ticas do paciente da família da doença e do tratamento entre outros aspectos envolvidos A Gestaltterapia segundo Estevão e Silveira 2014 afi nase com essas duas perspectivas pois busca compreender o ser holisticamente em sua totalidade novo para digma da saúde o modelo biopsicossocial além de valorizar a construção do entendimento complexo sobre os fenômenos hu manos utilizandose de diferentes saberes A doença segundo Valle 2010 aponta uma situação de crise que acontece quando a pessoa tem que enfrentar uma situa ção nova e transformadora a qual pode ser de perda ou aquisição SIMON 1989 apud VALLE 2010 Desse modo o psicólogo hospitalar deve atuar com o objetivo de minimizar a angústia e a ansiedade do paciente possibilitando que expresse seus senti mentos auxiliandoo para que compreenda a situação vivencia da e favorecendo um clima de confi ança entre paciente e equipe de saúde de modo que o hospitalizado verbalize as suas fanta sias relativas aos procedimentos O uso da abordagem gestáltica auxilia não só na redução de sintomas e resolução de proble mas mas um trabalho mais profundo de ressignifi cação sendo 66 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS compatível com a proposta da psicologia hospitalar CAMPOS DALTRO 2015 p 63 No ambiente hospitalar o paciente encontra um universo de ameaças e mudanças internas e externas como a ameaça à sua integridade corporal pelos procedimentos a que é submetido a exposição de sua intimidade a estranhos a convivência com um ambiente de doença dor e morte a separação de seus familia res de seus pertences e de seus hábitos enfi m a perda de seus referenciais conhecidos O paciente também sofre pela incerteza quanto à evolução da sua doença e suas possíveis consequências VOLPINI 2007 De acordo com Nigro 2004 essas mudanças desenca deiam inúmeros processos entre os quais a despersonalização é o mais importante Esse processo acontece em decorrência de o indivíduo ser levado à perda das referências que o defi nem aba lando assim seu sentimento de identidade Segundo Estevão e Silveira 2014 a despersonalização pode comprometer o reequilíbrio orgânico pois essa desquali fi cação existencial do sujeito enquanto pessoa não benefi cia o processo de melhora física e emocional O corpo doente é ex perienciado e vivido por uma pessoa que está adoecida Trata se do corpo que tem uma fundamental função na relação desse sujeito com o mundo com histórias e perspectivas FREITAS STROIEK BOTIN 2010 É nessa lacuna que o profi ssional psicólogo se faz presente trazendo à tona esse sujeito em sua condição humana e existencial ESTEVÃO SILVEIRA 2014 A ideia de autonomia e humanização trazida pela área da saúde e inserida no contexto hospitalar também dialoga com a Gestaltterapia na medida em que esta tem infl uências fi losófi cas do existencialismo que promove a possibilidade de liberdade responsabilidade do homem frente a sua existência acreditando no potencial criativo e transformador deste PINTO 2009 apud ESTEVÃO SILVEIRA 2014 Para a abordagem gestáltica a relação é primordial para existência do sujeito Só na relação o ser humano pode se cons 67 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS truir e construir o ambiente que o rodeia como explica Holanda 1998 p 41 a compreensão do ser humano na sua totalidade e inextricavelmente ligado à sua rede de relações é a essência da abordagem fenomenológica O psicólogo hospitalar poderá estar presente e incluirse na vida do paciente a fi m de restabelecer a autonomia e bemestar frente à sua nova condição No contexto da intervenção hospitalar o diálogo se constitui a partir da possibilidade da existência da relação mútua entre psicólogo e paciente FREITAS STROIEK BOTIN 2010 p 143 Holanda 1998 reafi rma esse aspecto com a ideia de diálo go autêntico O psicólogo hospitalar seria responsável por con fi rmar o Outro dentro da relação terapêutica que se estabelece através do diálogo Essa confi rmação relacionase com o acesso ao Outro em sua totalidade sem subdividilo ou separálo como o modelo biomédico faz Para o estabelecimento do diálogo são necessários dois ele mentos fundamentais a presença e a inclusão A primeira referese a revelarse de forma autêntica ao paciente é estar consciente de si para e na relação FREITAS STROIEK BOTIN 2010 p 144 É ajudar o paciente a perceberse dentro de novas possibilidades a partir do contexto vivenciado Assim o gestaltterapeuta favorece a autocompreensão do paciente abrindolhe novas possibilidades de experienciar a doença e a internação por exemplo ESTEVÃO SILVEIRA 2014 Já na inclusão de acordo com Freitas Stroiek e Botin 2010 temse uma busca por posicionarse na experiên cia do cliente sem julgála ou analisála O terapeuta empresta sua existência para permitir que o estranhamento do sentido do outro encontre espaço de expressão em outra existência Para Estevão e Silveira 2014 a abordagem gestáltica traz a ideia de intersubjetividade onde as subjetividades do doente e do terapeuta se encontrarão para permitir a expressão de sentimen tos preocupações e sensações do cliente relacionadas ao adoe cimento Assim o psicólogo tornase um catalisador que pode desencadear uma modifi cação de atitude uma ressignifi cação da doença e da situação vivida por parte do sujeito adoecido 68 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Nessa perspectiva a Psicoterapia Breve PB é uma aborda gem técnica das mais indicadas para o ambiente hospitalar sendo utilizada por profi ssionais de todas as abordagens em situações de emergência proporcionando ao indivíduo ajuda psicológica com um fi m específi co a intervenção em crise LAGE MONTEIRO 2007 O objetivo desse procedimento é portanto o retorno ou o estabelecimento de um nível de funcionamento anterior à crise a partir de um foco em questão A PB como diz o próprio nome é uma técnica que busca alcançar seus objetivos terapêuticos em prazos mais curtos que as abordagens tradicionais de modo a atender a pessoa no mais curto espaço de tempo possível visando restabelecer o equilíbrio homeostático através da resolução do confl ito situacional foco dos sintomas e da psicodinâmica Para isso utilizase da técnica ativa atenção seletiva interpretação seletiva e negligência sele tiva e da tríade atividade planejamento e foco LEMGRUBER 1984 apud LAGE MONTEIRO 2007 Segundo Holanda 2007 como já se destacou a tríade da PB é formada por atividade planejamento e foco 1 atividade atitude mais ativa e participativa por parte do terapeuta sendo um aspecto central na técnica 2 planejamento as estratégias de atuação defi nidas pelo terapeuta e também pelo paciente 3 foco é a área a ser trabalhada no processo terapêutico com base na avaliação e no planejamento prévios Assim a PB propõe um atendimento com foco no alívio dos sintomas e da ansiedade sendo indicada para situações de crise a fi m de promover a expansão e a integração das habilidades do paciente na solução dos seus problemas Ademais é uma moda lidade de terapia que trabalha com tempo restrito funcionando em poucas sessões Dessa maneira é a mais indicada para hos pitais sendo ideal para intervenção em crises por proporcionar um tratamento efetivo em tempo limitado De fato no hospital o paciente não necessita de divagações teóricas acerca de suas questões mas de intervenções psicoterápicas mais breves e preci sas Essa situação peculiar deve ser compreendida dentro de um 69 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS critério de estresse adaptação e resolução portanto a utilização da PB possibilita ao psicólogo uma ótima inserção no hospital adequandose às especifi cidades que o ambiente exige Também foram desenvolvidas metodologias de curta dura ção para a abordagem gestáltica a Gestaltterapia de curta du ração que vem preenchendo lacunas importantes e facilitando o trabalho do psicólogo no ambiente hospitalar Ribeiro 1999 apud CAMPOS DALTRO 2015 descreve a Gestaltterapia de curta duração como um processo no qual cliente e psicoterapeuta se envolvem em soluções imediatas de situações de qualquer ordem vividas pelo cliente como problemáticas utilizando todos os recursos disponíveis de tal modo que no mais curto espaço de tempo o cliente possa se sentir confortável para conduzir sozinho sua própria vida RIBEIRO 1999 apud CAMPOS DAL TRO 2015 p 63 Como demonstra Lemgruber 2000 essa abordagem foca liza um determinado ponto que não permite que o indivíduo de sempenhe suas funções existenciais Focase portanto no aqui eagora Na base fenomenológica da abordagem gestáltica temos o foco nas formas e percepções que surgem no aquieagora o que pode auxiliar o gestaltterapeuta com atendimentos mais pontuais bastante característicos do setting hospitalar ESTE VÃO SILVEIRA 2014 As diferenças entre Gestaltterapia de longa e de curta du ração tem a ver com algumas delimitações Esses limites são melhor expressos através de delimitações quanto à abrangência à estratégia à relação terapêutica e aos objetivos do processo tera pêutico PINTO 2006 p 152 O tempo existencial mais observado do que o tempo cro nológico é o tempo da vivência do cliente e do psicoterapeuta QUEIROZ 2006 Para Ribeiro 1999 essa psicoterapia é de limitada pela vontade necessidade e urgência do cliente em ser atendido em um curto espaço de tempo 70 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Pinto 2006 traz seis pontos importantes da psicoterapia fenomenológicoexistencial que permeiam o trabalho de cur ta duração O primeiro diz respeito a observar o sujeito em sua totalidade e integralidade sendo o foco um dos elementos mais importantes na psicoterapia de curta duração Na visão gestáltica a ideia é trabalhar esse ponto específi co de modo que a partir dele o todo seja reconfi gurado pela mudança de uma das partes Assim o indivíduo pode voltar a buscar ajustamentos criativos mais fl uidos e alcançar a homeostase de forma mais saudável Lembramos que esse processo de reconfi guração pode continuar acontecendo mesmo após a fi nalização do processo terapêutico pois essas mudanças podem continuar reverberando no cliente e na sua vida O segundo ponto trata do entendimento do ser humano como um ser de relação com ele mesmo com o outro com o mundo e com o ambiente que habita com liberdade e autonomia Assim a formação e manutenção da relação terapeutacliente uma aliança terapêutica será essencial para o trabalho de curta duração Dessa forma o acolhimento pode ser mais explícito e verbalizado nesse tipo de psicoterapia O terceiro ponto incide sobre a experiência consciente pois para esse tipo de psicoterapia é imprescindível a melhora da relação do ser consigo mesmo numa ampliação da awareness com a qual ele poderá compreenderse melhor e compreender seu mundo de maneira mais profunda relacionandose de forma mais autêntica e genuína O quarto ponto diz respeito à possibilidade de redefi nição do sentido da vida na qual o trabalho de curta duração pode aju dar desde que tenha objetivos claros e delimitados O quinto ponto referese à característica dialógica da psicote rapia gestáltica Na gestaltterapia de curta duração a atitude dia lógica não somente é possível como essencial para que o cliente se diferencie e se singularize construindo assim sua autonomia O sexto e último ponto traz os conceitos de saúde e doença na perspectiva gestáltica as quais são vistas como parte de um 71 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS processo sendo que no adoecimento pode haver aspectos sau dáveis e viceversa Na psicoterapia de curta duração se busca o que o sujeito traz de criativo e saudável não focando ou utilizan do o que não há como uma espécie de inimigo A ideia é que a pessoa entre em contato consigo mesma para desenvolver o que ainda precisa ser desenvolvido De acordo com Queiroz 2006 há três tipos de trabalho de curta duração focal breve e ação terapêutica na psicoterapia focal de curta duração o principal ponto é a delimitação de um foco de trabalho uma área particular que precisa receber aten ção A psicoterapia breve trata de uma questão temporal uma delimitação desse tempo devido a alguma condição como uma viagem ou um internamento o foco é defi nido levandose em consideração a queixa a psicodinâmica subjacente à mesma e o tempo disponível para o processo psicoterápico QUEIROZ 2006 p 161 Já a ação terapêutica se refere a poucos encontros ou intervalos longos entre as sessões É importante fechar o pro cesso a cada atendimento ampliandose um pouco mais a fron teira de contato do cliente a cada encontro QUEIROZ 2006 No ambiente hospitalar o psicólogo pode ajudar oferecen do espaço de suporte e apoio diante da hospitalização Com a Gestaltterapia promovese um exercício constante de escolha e responsabilidade do paciente com sua própria vida a partir do contato e da relação criada entre terapeuta e paciente o que re sulta em novos sentidos e signifi cados relativos ao sofrimento vivenciado pelo adoecimento eou hospitalização O gestaltterapeuta tem assim a importante função de através das intervenções realizadas na fronteira de contato auxi liar o indivíduo no processo de autorregulação em busca da inte gridade e criatividade diante da vida com a ampliação do espaço vital e da consciência sobre si mesmo Assim o gestaltterapeuta utilizase de sua experiência para potencializar o encontro en tre pacienteterapeuta doenteterapeuta sendo um importante agente de saúde dentro de um ambiente permeado por doenças ampliando as possibilidades de o sujeito criar movimentos sau 72 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS dáveis dentro desse espaço os quais podem ser levados para ou tras situações Referências BRITO M A Q de Desafi os de uma Proposta de Psicoterapia de Curta Duração na Abordagem Gestáltica Revista da Abordagem Gestáltica Phenomenological Studies Goiânia v 12 n 1 p 159 64 jun 2006 Disponível em wwwredalycorgserviceredalyc downloadPdf35773577355030166 Acesso em 21 abr 2018 CAMPOS A F DALTRO M A clínica ampliada no enfoque da Gestaltterapia Revista Psicologia Diversidade e Saúde v 4 n 1 p 5968 2015 CHIATTONE H B de C A signifi cação da psicologia no con texto hospitalar In ANGERAMICAMON V A Psicologia da saúde um novo signifi cado para a prática clínica São Paulo Pio neira 2000 p 73165 ESTEVÃO A L P SILVEIRA T de M da A GestaltTerapia no contexto hospitalar compreensão postura e possibilida des Revista IGT na Rede Rio de Janeiro v 11 n 21 p 28296 2014 Disponível em httpswwwigtpscbrojsviewarticle phpid502layouthtml Acesso em 17 abr 2018 FREITAS J de L STROIEK N N BOTIN D Gestaltterapia e o diálogo psicológico no hospital uma refl exão Rev abor dagem gestalt Goiânia v 16 n 2 p 1417 dez 2010 Dis ponível em httppepsicbvsaludorgscielophpscriptsci arttextpidS180968672010000200003lngptnrmiso Acesso em 08 abr 2018 FUKUMITSU K O CAVALCANTE F BORGES M O cuida do na saúde e na doença uma perspectiva gestáltica Estudos e Pesquisas em Psicologia Rio de Janeiro v 9 n 1 p 17484 2009 Disponível em httpwwwrevispsiuerjbrv9n1artigospdf v9n1a14pdf Acesso em 14 abr 2018 73 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS GALLI L M P Um olhar fenomenológico sobre a questão da saúde e da doença a cura do ponto de vista da Gestaltterapia Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 9 n 1 abr 2009 Dis ponível em httppepsicbvsaludorgscielophpscriptsci arttextpidS180842812009000100006lngptnrmiso Acesso em 14 abr 2018 HOLANDA A Saúde e doença em GestaltTerapia aspectos fi losófi cos Estud psicol Campinas v15 n 2 p 2944 1998 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsci arttextpidS0103166X1998000200002lngennrmiso Acesso em 08 abr 2018 KUSTER M de O Bioética e Psicologia Hospitalar 2010 Dis ponível em httpswwwwebartigoscomartigosbioeticae psicologiahospitalar35182 Acesso em 8 maio 2018 LAGE A M V MONTEIRO K C C Orgs Psicologia Hospi talar teoria e prática em hospital universitário Fortaleza Edições UFC 2007 LEMGRUBER V O futuro da integração desenvolvimentos em Psicoterapia Breve Porto Alegre Artes Médicas Sul 2000 PINTO Ê B A GestaltTerapia de Curta Duração Uma Psi coterapia FenomenológicoExistencial Revista da Abordagem Gestáltica Phenomenological Studies Goiânia v 12 n 1 p 151157 jun 2006 Disponível em httpwwwredalycorg html3577357735503015 Acesso em 10 abr 2018 SILVEIRA T M Da O gestalt terapeuta na instituição hospita lar Revista da Abordagem Gestáltica Phenomenological Studies Goiânia v 12 n 1 p 97105 jun 2006 Disponível em www redalycorgpdf3577357735503009pdf Acesso em 08 abr 2018 VALLE E R M do Org Psicooncologia pediátrica 2 ed São Paulo Casa do Psicólogo 2010 74 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS VOLPINI F O adolescente frente ao câncer hospitalização e pro cessos psicológicos 31 p Monografi a de especialização não pu blicada Programa de Especialização em Psicologia Hospitalar Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2007 UNIDADE II CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS Chipperchat LESSON by SMART NEW ENGLISH 15 conversational phrases 77 21 REPENSAR A PSICOLOGIA NO CONTEXTO HOS PITALAR BRASILEIRO A PARTIR DE UMA PSICOLOGIA CRÍTICA DA SAÚDE UMA ANÁLISE DOS ESTUDOS PUBLICADOS NA SEGUNDA DÉCADA DO SÉCULO XXI Denis Barros de Carvalho Juliana Burlamaqui Carvalho Laís de Meneses Carvalho Arilo Introdução Após aproximadamente quatro décadas de psicologia hos pitalar no Brasil a inserção da pesquisa neste campo ainda é um desafi o A construção de um modelo de atuação fundamentado na produção de um conhecimento localizado crítico e que sus tente uma prática orientada para a reconstituição da autonomia do sujeito no processo de cuidado no contexto hospitalar revela se uma tarefa inacabada a qual se defronta sempre com novas confi gurações da realidade Tal tarefa exige uma constante ava liação dos saberes e das práticas psi pois estas podem se mostrar inadequadas aos novos desafi os e demandas A Psicologia da Saúde no contexto hospitalar pode ser considerada uma área reconhecida pelo seu cenário de atuação bem delimitado pela constituição de uma demanda histori camente ampliada e por um campo epistemológico complexo de muitas interfaces Uma perspectiva surgida recentemente no Brasil a Psicologia da Saúde Crítica no Contexto Hospita lar foi apresentada de modo sistemático por Carvalho 2013 Uma Psicologia Crítica contudo somente pode ser construída se subsidiada por uma História Crítica da Psicologia Carvalho 78 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS et al 2011 elaboraram uma proposta de História Crítica da Saúde abordada neste estudo No que diz respeito aos elementos constituintes da Psicologia Crítica da Saúde é possível segundo Carvalho 2013 apontar os seguintes 1 crítica ao modelo biopsicossocial da Saúde O mode lo biopsicossocial de George Engel é constituído por postulados psicodinâmicos imprecisos e apresenta uma tendência compor tamentalista e objetivista Na verdade nem sequer pode ser con siderado um modelo pois apenas reconhece a existência de três níveis de composição sem problematizar como eles se relacionam CHAMBERLAIN 2000 STAM 2000 CROSSLEY 2001a CROS SLEY 2001b MARK 2002 SANTIAGODELFOSSE CHAM BERLAIN 2008 2 prática profi ssional refl exiva crítica de acordo com Yip 2006 há quatro tipos de refl exividade que envolvem os trabalhadores do campo da saúde técnica prática processual e crí tica Neste capítulo interessanos a refl exividade crítica que busca compreender as forças estruturais que distorcem ou constrangem a prática profi ssional 3 intervenção nas microestruturas de poder Prilleltensky e Prilleltensky 2003 ressaltam que a Psicologia da Saúde Crítica pode ser aplicada a contextos de microestruturas de poder mediante a advocacy que pode ser traduzida como a defesa promoção de direitos dos pacientes principalmente no que diz res peito à relação com a instituição hospitalar Os estudos brasileiros sobre a inserção da psicologia no con texto hospitalar publicados entre a década de 1980 e a primeira década do século XXI concentramse nas questões referentes à formação e à confi guração de modelos e estratégias de práticas psicológicas alguns de uma perspectiva crítica ANGERAMI CAMON1984 YAMAMOTO CUNHA 1998 YAMAMOTO TRINDADE OLIVEIRA 2002 CASTRO BORNHOLDT 2004 MARCON LUNA LISBOA 2004 SÁ et al 2005 TONETTO GOMES 2005 TONETTO GOMES 2007a 2007b1 Uma aná 1 Carvalho 2013 e Carvalho et al 2011 apresentam uma análise desses estudos 79 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS lise dos estudos realizados na segunda década deste século con tudo ainda não foi feita O propósito deste capítulo é justamente apresentar uma análise crítica dos artigos sobre a psicologia hos pitalar publicados no Brasil na segunda década do século XXI Procedimentos metodológicos A pesquisa foi realizada na rede BVSPsi utilizandose a palavrachave psicologia hospitalar o que levou à obtenção de 140 artigos todos do Scielo Os seguintes critérios de inclusão fo ram utilizados a artigos publicados a partir de 2010 b artigos teóricos sobre o contexto hospitalar como um todo ou c pesqui sa empírica de abrangência nacional sobre o contexto hospitalar como um todo Desse modo 4 artigos foram selecionados Resultados e Discussão O quadro 1 a seguir apresenta os principais dados dos ar tigos selecionados 80 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Quadro 1 Caracterização dos artigos selecionados Autores Referência Natureza do artigo Estudos críti cos do período década de 19802010 citados 1 Laila T Noleto Q Mosimann 2 Maria Ali ce Lustosa A psicologia hos pitalar e o hospital Revista da SBPH 141 pp 200231 2011 Teórico Nenhuma citação 1 José Carlos Santos Ribeiro 2 Maria Del Pilar Ogando Dacal A instituição hos pitalar e as práticas psicológicas no contexto da Saúde Pública Revista da SBPH 141 pp 200231 2012 Teórico 1Yamamoto e Cunha 1998 1Raquel Ayres de Almeida 2Lucia Emmanoel Novaes Mala gris Psicólogo da saúde no hospital geral um estudo sobre a atividade e a for mação do psicólogo hospitalar no Brasil Psicologia Ciência Profi ssão 353 pp754767 2015 Empírico 1 Yamamoto Trindade e Oli veira 2002 1 Adriano Valério dos Santos Aze vêdo 2 Maria Aparecida Crepaldi A Psicologia no hospital geral aspectos históri cos conceituais e práticos Estudos de Psicologia Cam pinas 334pp 5735852016 Teórico Nenhuma citação Fonte A pesquisa 81 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS A análise se estrutura a partir dos seguintes aspectos a his toriografi a da Psicologia b perspectiva da Psicologia da Saúde c relação com os estudos do século XX d dados empíricos e e questões a se repensar a Historiografi a da Psicologia Os quatro artigos desenvolvem uma análise historiográfi ca tradicional desconhecendose estudos mais críticos dessa abor dagem CARVALHO 2011 O artigo de Mosimann e Lustosa 2011 é o único a fazer uma refl exão historiográfi ca Na seção Um pouco da história Psicologia Moderna p 202204 as au toras fundamentadas no livro de Schultz e Schultz 2002 desen volvem uma análise da História da Psicologia Moderna Por se fundamentar numa abordagem historiográfi ca tradicional essa análise apresenta as seguintes limitações 1 ignora completa mente o processo de profi ssionalização da Psicologia que foi bem diferente nos diversos contextos em que se desenvolveu Danzi ger 1979 mostra que enquanto nos Estados Unidos a Psicologia se desenvolve a partir de uma ruptura com a Filosofi a na Alema nha essa ruptura não ocorreu desde o início tendo se efetivado somente após a ascensão do Nazismo GEUTER 1992 2 há uma desconexão entre a seção do artigo que trata do tema e as demais Em outras palavras a História da Psicologia tal como a entendem Mosimann e Lustosa 2011 em nada ajuda a entender a Psicologia no contexto hospitalar b Perspectiva da Psicologia da Saúde O artigo de Azevêdo e Crepaldi 2016 traz uma secção denominada Psicologia no Hospital geral aspectos conceituais e práticos p580582 na qual os autores explicitam sua com preensão de que a Psicologia Hospitalar é uma subárea da Psi cologia da Saúde sendo que em uma seção prévia p574575 endossam o objetivo da Psicologia da Saúde de Joseph Matarazzo 1980 desenvolver intervenções direcionadas para a promoção da saúde prevenção e tratamento de doenças buscando o diálo 82 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS go com os representantes governamentais para aprimorar as po líticas públicas AZEVÊDO CREPALDI 2016 p 575 O con ceito no entanto é mais complexo2 Para Matarazzo 1980 apud TEIXEIRA LEAL 1990 p 453 a Psicologia da Saúde se refere ao papel da Psicologia como Ciência e como profi ssão nos domí nios da Saúde e da Medicina Comportamentais O foco em trata mento e reabilitação da Medicina Comportamental diferente da perspectiva preventiva da Saúde Comportamental corresponde ao conceito de Psicologia Hospitalar Isso remete à relação entre a Psicologia e a Medicina e suas especialidades o que também foi abordado por Mosimann e Lustosa 2011 e será discutido no item e desta seção c relação com os estudos do século XX O quadro 1 mostra quantos estudos críticos do período 19802010 são citados pelos artigos analisados neste capítulo A pouquíssima presença desses estudos não ocorre por difi culdade de acesso a eles já que foram publicados em revistas prestigiadas na Psicologia tais como Psicologia Ciência e Profi ssão Psicologia USP e Psicologia Refl exão e Crítica todas disponíveis na inter net É possível especular portanto que há uma pouca valoriza ção dos estudos críticos sobre Psicologia Hospitalar nos artigos recentes da área d dados empíricos O artigo de Almeida e Malagris 2015 é o único dentre os artigos estudados que apresenta dados empíricos sobre a Psico logia Hospitalar resultantes da própria pesquisa As principais conclusões podem ser assim resumidas a maioria dos psicólogos que atuam no contexto hospitalar se encontra na região Sudeste utiliza a Psicanálise como referência fez cursos de pósgraduação na área de saúde e trabalha em hospitais públicos atuando mais 2 Para uma análise mais detalhada dessa questão ver Friedman e Ad ler 2007 e Ribeiro 2011 83 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS no setor de internação e no ambulatório Carvalho 2011 apon ta que os estudos produzidos no fi nal da primeira década deste século não abordavam a questão do referencial teórico utilizado no contexto hospitalar Os dados do artigo de Almeida e Mala gris atualizam essa questão e também recolocam a necessidade de se pensar a psicanálise no hospital MACHADO CHATER LAND 2013 e questões a se repensar Mosimann e Lustosa 2011 discutem a relação entre Medi cina e Psicologia sob o prisma da subjetividade ressaltando que a Psicologia faz da subjetividade o seu foco principal enquanto a Medicina tenta excluíla A realidade contudo é mais complexa Como demonstraram os teóricos críticos a Psicologia da Saúde Tradicional exclui a subjetividade trabalhando com pressupostos comportamentalistas e objetivistas CARVALHO 2013 A preo cupação com a subjetividade se deve à Psicanálise e não à Psico logia da Saúde Tradicional Outro aspecto a ser considerado é que a Psicologia Hospita lar precisar dialogar com os saberes em torno da Medicina Um deles é a fi losofi a Dois médicos fi lósofos ofereceram contribui ções importantes acerca dessa questão Alfred Tauber 2005 afi r ma que um dos principais problemas da Medicina contemporâ nea é o confl ito entre sua epistemologia científi ca e a sua fi losofi a moral Para superar esse confl ito ele propõe uma epistemologia moral que concebe o ato clínico como um fato ordenado pelos valores que a ele se vinculam Díaz Amado 2016 concebe uma fi losofi a da medicina crítica que deve considerar como certos elementos condicionam as práticas do sistema de saúde O autor seis desses elementos o capitalismo o liberalismo o pluralismo a juridicização da saúde a bioética e a tecnociência a qual por questões de espaço será a única analisada neste capítulo Ribeiro e Dacal 2012 afi rmam que o novo modelo de saú de surgido no fi nal do século XX pode ser caracterizado entre outros constituintes pela desospitalização e pela racionalização 84 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS dos serviços hospitalares fazendo com que o hospital passe a ter uma maior densidade tecnológica e uma ação mais restrita Al guns teóricos contudo afi rmam que essa densidade tecnológica ainda é defi citária pois é preciso incorporar tecnologias leves aos contextos de saúde MEHRY 2000 CAMPOS 2011 Tecnologia leve no contexto da saúde pode ser defi nida como a produção de relações entre profi ssionais de saúde e os usuários dos servi ços que singularizem o ato de atenção permitindo que o usuá rio se expresse como sujeito Ayres 2000 critica o uso do termo tecnologia leve e propõe a expressão sabedoria prática É em torno dessa sabedoria ou conhecimento prudente3 que os psicó logos podem dialogar com os médicos e outros profi ssionais do hospital sem se renderem ao objetivismo e ao imperativo técnico hegemônicos nesse contexto Considerações Finais Nesta segunda década do século XXI a produção de estudos abrangentes sobre o trabalho do psicólogo no contexto hospitalar brasileiro é incipiente e apresenta limitações teóricas considerá veis em função do pouco diálogo que desenvolveram com a Psi cologia da Saúde Crítica e com a História Crítica da Psicologia Estabelecer esse diálogo e incluir também a Filosofi a da Medicina Crítica no conjunto dos saberes utilizados para pensar o hospital tornouse um grande desafi o para os estudiosos do trabalho do psicólogo no contexto hospitalar 3 Sabedoria prática ou conhecimento prudente como prefere Sou sa Santos 2004 2008 traduz o termo grego Phronesis utilizado principalmente por Aristóteles Conhecimento prudente designa também um novo paradigma científi cosocial proposto por Sousa Santos 2008 85 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Referências ALMEIDA Rachel MALAGRIS Lúcia Psicólogo da saúde no hospital geral um estudo sobre a atividade e a formação do psi cólogo hospitalar no Brasil Psicologia Ciência Profi ssão v 35 n 3 p75467 2015 ANGERAMICAMON Valdemar Org Psicologia Hospita lar a atuação do psicólogo no contexto hospitalar São Paulo Traço 1984 AYRES José Cuidado tecnologia ou sabedoria prática Interfa ce v 4 n 6 p11720 2000 AZEVÊDO Adriano CREPALDI Maria A Psicologia no hos pital geral aspectos históricos conceituais e práticos Estudos de Psicologia Campinas v 33 n 4 p 57385 2016 CAMPOS Gastão A mediação entre conhecimento e práticas sociais a racionalidade da tecnologia leve da práxis e da arte Ciência Saúde Coletiva v 16 n 7 p 303340 2011 CARVALHO Denis et al Como se escreve no Brasil a História da Psicologia no Contexto Hospitalar Estudos e Pesquisas em Psicologia v 11 n 3 p 100526 2011 CARVALHO Denis Psicologia da Saúde Crítica no contexto hospitalar Psicologia Ciência Profi ssão v 33 n 2 p350 65 2013 CASTRO Elis BORNHOLDT Ellen Psicologia da saúde x Psicologia hospitalar defi nições e possibilidades de inserção profi ssional Psicologia Ciência Profi ssão v 24 n 3 p 48 57 2004 CHAMBERLAIN Kerry Methodolatry and qualitative health Journal of Health Psychology v 5 n 3 p 28596 2000 CROSSLEY Michele Do we need to rethink health psychology Psychology Health and Medicine v 6 n 3 p 24355 2001b 86 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS CROSSLEY Michele Rethinking psychological approaches to wards health promotion Psychology and Health v 16 n 2 p 16177 2001a DANZIGER Kurt The social origins of modern Psychology In BUSS Alan Org Psychology in Social Context New York Irvington 1979 p 2745 DÍAZAMADO Eduardo Filosofía de la medicina la necesidad de uma perspectiva crítica en Colombia Revista Latinoamerica na de Bioética v 17 n 1 p10223 2016 FRIEDMAN Howard ADLER Nancy The history and ba ckground of Health Psychology In FRIEDMAN Howars SILVER Roxane Orgs Foundations of Health Psychology Oxford Oxford University Press 2007 p 318 GEUTER Ulfried The professionalization of Psychology in Nazi Germany Cambridge Cambridge University Press 1992 MACHADO Maíla CHATELARD Daniela A psicanálise no hospital dos impasses às condições de possibilidades Ágora Estudos em Teoria Psicanalítica v 16 n 1 p 13550 2013 MARCON Claudete LUNA Ivana LISBOA Márcia O psicó logo nas instituições hospitalares características e desafi os Psi cologia Ciência Profi ssão v 24 n 1 p 2835 2004 MATARAZZO Joseph Behavioral health and behavioral medi cine Frontiers for a new health psychology American Psycholo gist v 35 n 9 p 80717 1980 MEHRY Emerson Um ensaio sobre o médico e suas valises tecnológicas contribuições para compreender as reestruturações produtivas do setor saúde Interface v 4 n 6 p 10916 2000 MOSIMANN Laila LUSTOSA Maria A psicologia hospitalar e o hospital Revista da SBPH v 14 n 1 p 20031 2011 87 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS PRILLELTENSKY Isaac PRILLELTENSKY Ora Towards a critical health psychology practice Journal of Health Psycho logy v 8 n 2 p 197210 2003 RIBEIRO José A Psicologia da Saúde In ALVES Railda Org Psicologia da Saúde teoria intervenção e pesquisa Cam pina Grande EDUEPB 2011 p 2364 RIBEIRO José DACAL Maria A instituição hospitalar e as práticas psicológicas no contexto da Saúde Pública Revista da SBPH v 14 n 1 p 20031 2012 SÁ Adriana LIMA Alexsandra SANTOS Iris CLEMENTE Lídio Psicólogo hospitalar da cidade de RecifePE formação e atuação Psicologia Ciência Profi ssão Brasília v 25 n 3 p 38497 2005 SANTIAGODELFOSSE Marie CHAMBERLAIN Kerry Évolution des idées en psychologie de la santé dans le monde anglosaxonDe la psychologie de la santé health psychology à la psychologie critique de la santé critical health psychology Psychologie française n 53 p 195210 2008 SCHULTZ Duane SCHULTZ Sydney História da Psicologia Moderna Tradução de A U Sobral e M S Gonçalves São Paulo Editora Cultrix 2002 SOUSA SANTOS Boaventura Org Conhecimento prudente para uma vida decente um discurso sobre as ciências revisita do São Paulo Cortez 2004 SOUSA SANTOS Boaventura Um discurso sobre as ciências São Paulo Cortez 2004 STAM Henderikus Theorizing health and illness Functiona lism subjectivity and refl exivity Journal of Health Psychology v 5 n 3 p 27383 2000 TAUBER Alfred Medicine and the call for A moral epistemology Perspective in Biology and Medicine v 48 n 1 p4253 2005 88 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS TEIXEIRA José LEAL Isabel Psicologia da saúde contexto e intervenção Análise Psicológica n 8 p 45358 1990 TONETTO Aline GOMES William Prática psicológica em hospitais demandas e intervenções Psico v 36 n 3 p 28391 2005 TONETTO Aline GOMES William A prática do psicólogo hospitalar em equipe multidisciplinar Estudos de Psicologia Campinas v 24 n 1 p 8998 2007a TONETTO Aline GOMES William Competências e habili dades necessárias à prática psicológica hospitalar Arquivos Bra sileiros de Psicologia v 59 n 1 p 3850 2007b YAMAMOTO Oswaldo CUNHA Isabel O psicólogo em hos pitais de Natal uma caracterização preliminar Psicologia Re fl exão e Crítica v 1 n 2 p 34562 1998 YAMAMOTO Oswaldo TRINDADE Luciana OLIVEIRA Isabel O psicólogo em hospitais no Rio Grande do Norte Psico logia USP v 13 n 1 p 21746 2002 YIP KamShing Refl ectivity in social work practice with clients with mentalhealth illness International Social Work v 49 n 2 p 24555 2006 89 22 BIOÉTICA E PSICOLOGIA HOSPITALAR DISCUS SÕES QUE APONTAM PARA A ALTERIDADE Maria Juliana Vieira Lima O hospital e os modelos de cuidado em saúde Segundo Foucault 1979 o hospital como espaço de tera pêutica só surge no fi nal do século XVIII e a concepção de que ele deve ser um local de cura aparece marcadamente apenas em 1780 Nos séculos anteriores os hospitais não eram espaços de cuidado e de cura sendo basicamente lugares para onde eram mandados os doentes pobres que estavam morrendo no intento de isolálos do convívio social e prestarlhes os últimos cuidados A responsabilidade por esses ambientes fi cava a cargo de institui ções religiosas que objetivavam a salvação espiritual do seu reba nho desse modo o hospital cumpria basicamente as funções de assistência social e de apoio espiritual Nas palavras de Foucault 1979 p101 O personagem ideal do hospital até o século XVIII não é o doente que é preciso curar mas o pobre que está morrendo E alguém que deve ser assistido material e espiritualmente alguém a quem se deve dar os últimos cuidados e o último sacramento Esta é a função essencial do hospital Diziase correntemente nesta época que o hospital era um morre douro um lugar onde morrer A prática da medicina ainda não compunha a instituição hospitalar pois não havia justifi cativas científi cas para ofi cializar a necessidade e importância de um médico nesse espaço A me dicina operava no momento das crises com a observação do do ente e dos sinais da doença para detectar quando apareceriam e 90 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS assim poder barrála Era pois uma medicina puramente indi vidualista que permaneceu independente do contexto hospitalar até meados do séc XVIII FOUCAULT 1979 Com a inserção e desenvolvimento do componente cien tífi co nos hospitais a medicina e a enfermagem passaram a se profi ssionalizar substituindo os religiosos e os curandeiros Des sa forma as práticas de saúde ganharam competência técnica e científi ca mas acabaram deixando de lado a dimensão humanitá ria do cuidado como afi rmam Ribeiro e Dacal 2012 p67 A partir de então outra ordem hierárquica foi estabelecida e a prática hospitalar tornouse vinculada prioritariamente ao saber da medicina Deste modo o hospital e a medicina passaram a se sobrepor de forma indissociável e atravessa ram os séculos garantindo o poder médico nos hospitais e consequentemente a supremacia do seu modelo de inter venção na assistência em saúde O saber biomédico a partir de então tornouse hegemônico nas práticas de saúde caracterizandose pela centralização nos aspectos puramente biológicos e biomecânicos da doença e do corpo bem como pela pouca ou nenhuma atenção ao sujeito e aos outros fatores que o constituem Assim o saber fi ca centrado no combate e controle das doenças desviandose do paciente e sua vida tornandose progressivamente padronizado num pro cesso de apagamento e desindividualização da ação biomédica em relação aos sujeitos reais TESER LUZ 2008 p 200 Para Moraes 2012 p16 é pela visão biomédica que con ceitos como higiene prevenção perspectiva médicosimbólica do limpo e do sujo do próprio e do nefasto do sadio e do doente são culturalmente condicionados Nessa seara o saber biomédico constitui a representação do corpo humano em sua verdade ofi cial obtendo o direito de operar e de construir saberes sobre ele O paciente dentro dessa lógica é despersonalizado visto de forma fragmentada pelas diversas especialidades médicas fi cando passivo diante do seu processo de saúdedoença por dois 91 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS fatores não exercício de sua autonomia e centralização na fi gura do médico como a única detentora de poder acerca do corpo hu mano e de suas afecções Nesse contexto a prática médica costu ma ser prescritiva e autoritária com predominância de uma visão restrita e curativa das doenças MORAES 2012 p18 exercen do desse modo poder sobre os corpos e a vida dos sujeitos po dendo prescrever maneiras corretas de ser e viver sendo o óbito considerado um desastre e um fracasso das práticas médicas No modelo de saúde centrado no hospital e nas práticas biomédicas priorizase o corpo biológico e a cura desse corpo a qualquer custo além de predominar a fragmentação da assis tência que não contribui para a integralidade do cuidado e não favorece o diálogo entre os profi ssionais De acordo com Ribeiro e Dacal 2012 após o ano de 1970 no entanto essas práticas co meçaram a ser postas em xeque devido ao alto custo do sistema mudanças epidemiológicas avanços científi cos e tecnológicos e a intensifi cação do movimento dos direitos humanos em defesa da garantia do acesso e universalização dos serviços de saúde Dáse então início ao processo de reinvenção desse mode lo de saúde inaugurandose a busca pela desospitalização e ra cionalização da demanda nos serviços hospitalares o incentivo à atenção básica na prevenção e promoção de saúde bem como a construção de sistemas de saúde integrados e organizados em rede de acordo com a complexidade tecnológica dos serviços Além disso a integralidade do cuidado e a humanização das prá ticas tornamse importantes tópicos de discussão e reformulação do fazer em saúde Ademais em 1978 na declaração de Alma Ata a Organização Mundial de Saúde modifi cou a conceituação de saúde e a defi niu como estado de completo bemestar físico mental e social e não mais como ausência de doença PAIM 2012 Surgiu então a proposta de um modelo biopsicossocial de cuidado em saúde que atuasse no processo saúdedoença com uma perspectiva mais ampla na qual os aspectos sociais políti cos econômicos culturais psicológicos e espirituais fossem tra zidos para o centro das discussões e das práticas de saúde 92 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS A tecnologia e os limites éticos do cuidado Poles e Bousso 2009 apontam que o desenvolvimento téc nicocientífi co inserido no cuidado em saúde diminuiu as taxas de mortalidade e elevou a expectativa de vida favorecendo a cura e a sobrevida de pacientes ditos irrecuperáveis como no caso dos pa cientes em estado vegetativo ou com doenças crônicas progressivas Os avanços das terapias de suporte têm possibilitado o manejo de várias falências orgânicas através da ventilação mecânica fi ltração renal drogas vasoativas nutrição pa renteral entre outros Além disso outras modalidades de tratamento têm se expandido como a cirurgia cardíaca a neurocirurgia e o transplante de órgãos Com isso há um aumento da expectativa de vida e consequente diminuição da mortalidade de pacientes que anteriormente eram consi derados irrecuperáveis POLES BOUSSO 2009 p137 As autoras alertam porém que esses avanços possibilitaram também o prolongamento do processo de morte à custa de muito sofrimento para o paciente a família e os profi ssionais de saúde e afi rmam que a lógica do imperativo tecnológico impede que consideremos o que é eticamente injustifi cável De acordo com Teixeira 2015 os avanços científi cos na área da saúde são de suma importância mas trazem por sua vez questões éticas que precisam ser refl etidas de modo crítico e humanitário Campos 2011 afi rma que no discurso da sociedade con temporânea a racionalidade tecnológica é predominante sendo o trabalho e as práticas humanas regulados pelo saber acumulado e consolidado como ciência fi cando reduzida ao máximo a auto nomia dos sujeitos Dentro dessa lógica a única relação cientí fi ca e portanto segura e útil entre saber e fazer seria a técnica CAMPOS 2011 p3034 a qual é supervalorizada e adotada como norma nas práticas de saúde Na execução de um trabalho eminentemente técnico o tra balhador distanciase do seu objeto de intervenção no caso dos profi ssionais da saúde esse objeto é o usuário e executa práti 93 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS cas repetitivas protocoladas sem refl exão crítica e muito menos com envolvimento afetivo O manual de cuidados paliativos da Academia Nacional de Cuidados Paliativos 2012 p411 destaca que o exercício da medicina aderiu muito bem a esse paradigma produzindo uma descontinuidade entre a arte de cuidar e o reconhecimento das enfermidades como processos mórbidos dependentes de agentes etiológicos específi cos e que se manifestariam atra vés de alterações anátomopatológicas bem determinadas O diálogo médico passa a ser feito com o corpo doente e não mais com o indivíduo aquele ser reconhecido como um ser biopsicossocial e espiritual Deste modo Campos 2011 aponta que os limites da racio nalidade tecnológica aparecem no contexto das práticas sociais pois envolvem interação pessoal e não podem estar baseadas em relações técnicas e distanciadas a utilização mecânica de tecno logias não se adéqua a esse tipo complexo de prática ou de traba lho CAMPOS 2011 p3036 É relevante portanto questionar o uso maciço da tecnologia nas práticas de saúde em detrimento da dimensão relacional entre os atores do processo e os excessos cometidos em nome da supremacia tecnológica que desconsi dera aspectos naturais da existência e trava uma verdadeira luta contra a morte em nome da cura e da efi cácia levando por vezes a se questionarem os limites éticos de tais práticas Nessa seara as discussões em bioética vêm de maneira geral ganhando destaque no campo da saúde e servido de guia para decisões delicadas que envolvem dilemas éticos De acordo com Zaher 2015 a bioética é um novo campo do saber que tem como função auxiliar na tomada de decisões quando a sociedade não sabe ao certo como se posicionar e possibilitar a abertura de discussões acerca de temas que têm diferentes pontos de vista e dão margem a diferentes formas de agir O termo bioética foi cunhado em 1927 pelo teólogo alemão Fritz Jahr ao defender o respeito a todos os seres vivos Van Rens 94 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS selaer Potter considerado o pai da bioética na década de 70 bus cou aliar o saber biológico bio com os valores humanos ética para refl etir acerca dos grandes problemas da humanidade inau gurando uma nova forma de pensar a respeito ZAHER 2015 Para Pessini 2013 p16 a bioética vai avançando globalmente geografi camente ampliando sua compreensão epistemológica bem como sua abrangência temática enfrentando os desafi os emergentes e sinalizando prioridades a seguir Com os avanços tecnológicos e a complexifi cação das re lações humanas e organização social as discussões da bioética passaram a compor as refl exões e decisões dos profi ssionais da saúde Para Zaher 2015 p07 quando se atende pacientes in dependente da profi ssão ou área os referenciais bioéticos são os norteadores dos valores humanos que devem ser lembrados ou colocados em prática no dia a dia Ainda a bioética confi gurase como um saber transdisciplinar pois necessita da refl exão pro blematização e interpretação com base em diversos saberes sobre determinado assunto TEIXEIRA 2015 A bioética se apoia em princípios básicos que inicialmente foram estabelecidos pela Comissão Nacional para a Proteção de Sujeitos Humanos na Pesquisa Biomédica e Comportamental em 1978 nos Estados Unidos da América Em 1979 no entanto por infl uência de Tom Beauchamp e James Childress passou a ser fundamentada nos princípios da benefi cência não malefi cên cia autonomia e justiça os quais se tornaram os principais refe renciais no campo da bioética FIGUEIREDO 2011 Conforme Poles e Bousso 2009 os princípios da benefi cên cia e da não malefi cência demarcam que as ações dos profi ssionais da saúde devem ter como objetivo o bem maior do paciente e a não a prática do mal São portanto princípios que se complemen tam devendo as decisões da equipe ser pensadas de acordo com o que fará bem ao paciente e que não lhe acarretará qualquer mal A partir desses princípios porém correse o risco de estabelecer re lações paternalistas de cuidado que minam a capacidade decisória dos usuários KOVÁSC 2012 WANSSA 2011 95 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS É fato que de modo geral na atuação em saúde ainda se efetivam práticas extremamente paternalistas as quais se relacio nam ao uso do poder e do saber das equipes para interferir nos processos decisórios indo de encontro ao princípio bioético da autonomia Devido a isso ressaltase a importância desse princí pio o qual tem obtido crescente reconhecimento e relevância nas práticas de saúde reconhecendose a capacidade das pessoas de decidirem a própria vida e portanto participarem do processo de tomada de decisão acerca do seu cuidado Para Silva 2010 existem quatro modelos de relação entre a equipe médica e o paciente sacerdotal engenheiro colegial e contratualista manifestandose em cada um deles níveis dife rentes de autonomia Na perspectiva sacerdotal o médico assu me a postura paternalista e toma as decisões pelo paciente cuja vontade não é levada em consideração No modelo engenheiro as decisões fi cam a cargo do paciente e o médico apenas presta as informações necessárias para embasálas isentandose da res ponsabilidade sobre as decisões tomadas Na proposta colegial por sua vez os acordos são realizados de forma igualitária sendo consideradas as questões do médico e do paciente porém ainda são mantidas atitudes protetoras da equipe para com os usuários Já na proposta contratualista o médico mantém sua autoridade com base no conhecimento técnico mas o paciente também par ticipa dos processos decisórios tendo em conta seus valores prin cípios e desejos SILVA 2010 Segundo o mesmo autor as práticas paternalistas na área da saúde ainda predominam sobremaneira e interferem nas questões que a priori compõem somente a esfera individual além de em nome da autoridade do profi ssional desconsiderarem ou desres peitaram as vontades e os interesses dos pacientes De acordo com o princípio bioético da autonomia porém o médico deve respei tar a vontade do paciente ou do seu representante assim como seus valores morais e crenças limitando assim a interferência de ou tras pessoas nas suas decisões OLIVEIRA 2011 p47 Esslinger 2004 p81 corrobora essa perspectiva esclarecendo que 96 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS respeitar a autonomia do paciente signifi ca reconhecer as necessidades e legitimar as decisões do paciente basea das em suas crenças valores planos de vida e planos sobre como deseja morrer ainda que tais decisões não sejam con sideradas adequadas por aqueles que o estão acompanhando equipe de saúde e família Para tanto as decisões devem ser tomadas com base no com partilhamento honesto de informações com linguagem acessível assegurando a compreensão e a livre adesão ao tratamento pro posto KOVÁSC 2012 WANSSA 2011 Por fi m há o princípio da justiça que se refere à ideia de igualdade e de garantia dos direitos dos usuários de forma justa No caso da saúde a igualdade implica ser dever do Estado tratar igualmente a todos os indivíduos na prestação de bens e serviços de saúde LEIVAS 2006 p13 Essa igualdade pode ser considerada de diversas formas mas as discussões a respeito ganham destaque haja vista que se considera garantir o direito conforme a necessida de de cada sujeito De acordo com Cobucci e Duarte 2013 p63 ações efetivas que propiciam acesso mais igualitário aos serviços de saúde são importantes para diminuir as diferenças existentes entre os grupos sociais e promover saúde de forma justa Para Silva et al 2014 é de extrema relevância que os pro fi ssionais da saúde conheçam os aspectos legais de cada profi ssão sobre o assunto atrelandoos aos princípios da bioética a fi m de que possam planejar e conduzir suas condutas a partir de crité rios bem defi nidos Destacase contudo que no campo da saúde não há um padrão ou código a ser seguido mas sim balizadores e orientações para a tomada de decisão ZAHER 2015 De acordo com Nora Zoboli e Vieira 2015 os princípios bioéticos diminuem a incerteza dos profi ssionais e possibilitam a corresponsabilização das equipes nos processos decisórios desde que sejam construídos através de compartilhamento diálogo e refl exões em conjunto Do mesmo modo Abreu 2014 ressalta que tratar os dilemas éticos nesses contextos à luz dos princípios 97 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS da bioética favorece a tomada de decisões e contribui para uma assistência adequada A ética da alteridade Riter Stumm e Kircher 2009 afi rmam que a perspectiva tecnicista do fazer em saúde em de vez de produzir cuidado minao haja vista que para que ele ocorra é necessária a emer gência de um verdadeiro encontro existencial entre os atores do processo A técnica e o procedimento desvinculados da atuação humanística imprimem um caráter secundário ao ato de cuidar tornandoo portanto dispensável Gonçalves 2013 assegura que os profi ssionais de saúde ao assumirem o compromissores ponsabilidade de cuidar de outrem precisam perceber o paciente como uma pessoa dotada de desejos vontades e identidade pró pria dignifi cando seu processo de saúdedoença Carvalho 2006 destaca que o sujeito atual inserido no tec nicismo e na lógica capitalista tem uma ética baseada no egoís mo na qual estar alheio ao outro é aceitável Dessa forma as prá ticas de cuidado dirigidas ao outro são aquelas que se pautam na hiperindividualidade no narcisismo e no hedonismo de modo a tornar legítimas as diferentes maneiras de negligência da dor e do sofrimento do outro O princípio norteador das relações com o outro na contemporaneidade é um olhar para si ou melhor um cuidar de si que só perpetua a atitude de afastamento do outro de indiferença para com o outro CARVALHO 2006 O cuidar exige de modo diverso do descrito acima uma postura diferenciada do profi ssional de saúde manifestada em atitudes de acolhimento e proteção visando à minimização do sofrimento e a uma melhor qualidade de vida do paciente e de sua família Para Freire 2003a a abertura ética no cuidado im plica pôr a perícia em xeque e o saberpoder em questão expon do um novo sentido para o humano Aqui é possível não se falar de técnica profi ssional ou de obediência cega às normas diretri zes protocolos e prerrogativas mas de ética de investimento no 98 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS outro de abertura ao outro e ao seu sofrimento responsabilizan dose pelo seu cuidado Nessa perspectiva é mister ressaltar a diferença entre moral e ética De acordo com Eco 2000 a dimensão ética é posta quan do o outro entra em cena ou seja na chegada daquele que não sou eu e é portanto diferente de mim Para o autor toda lei mo ral ou jurídica regula relações interpessoais ECO 2000 p83 A ética é portanto o reconhecimento desse outro e o respeito a suas necessidades e exigências A moral por sua vez confi gurase como um conjunto de normas e regras que julgam e normatizam o comportamento dos indivíduos sendo centrais na regulação do convívio social CARVALHO FREIRE BOSI 2009 À guisa de discussão apresentarseá como horizonte ético deste trabalho a perspectiva da alteridade radical em Emmanuel Lévinas fi lósofo francolituano que propõe a supremacia do Ou tro diante de mim defendendo uma ética que vai além de regras e condutas morais e que se volta ao Outro em sua supremacia Compreendese que as discussões éticas são polissêmicas e desta case que a eleição da perspectiva desse fi lósofo não se baseia em um princípio moralista ou dogmático de cristalização em uma única teoria mas na possibilidade de apresentação para os tra balhadores e pesquisadores em saúde de uma teoria que propõe uma ruptura com as práticas cotidianas de negligência e violência para com o outro Lévinas 1982 aponta a possibilidade de se fragilizar diante do outro e de se fazer responsável por ele trazendo a responsabili dade pelo Outro como algo que estrutura e funda a subjetividade humana tendo em vista que o Outro me intima a responsabilizar me por ele e não há como eu fugir dessa condição O impera tivo ético de Lévinas nos exige portanto a via dos sentidos da afetação e da sensibilidade onde se é afetado pela diferença pela alteridade pelo Outro CARVALHO 2006 sendo possí vel a partir de então escutar eticamente e ir além do tecnicismo tematização supremacia do saber e do poder engendrados tão fortemente nas práticas de saúde CARVALHO FREIRE BOSI 99 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS 2009 O que se propõe nessa perspectiva é uma abertura ética que implique uma nova atitude para com o usuário que busca ajuda e assumirse como um ator crítico no desenvolvimento e criação de práticas mais condizentes com o acolhimento e a pro dução do cuidado CARVALHO BOSI FREIRE 2008 p702 Em que consiste a ética levinasiana Diznos o próprio Lé vinas A ética comportamento em que outrem que lhe é estranho e indiferente que não pertence nem à ordem de seus interes ses nem àquela de suas afeições no entanto lhe diz respeito Sua alteridade lhe concerne Situado em uma relação éti ca o outro homem permanece outro Aqui é precisamente a estranheza do outro e se podemos dizer sua estrangeiri dade que o liga a você eticamente É uma banalidade mas é preciso espantarse com ela A ideia da transcendência tal vez se eleve aqui POIRIÉ 2007 p84 A ética em Lévinas diz respeito a uma responsabilidade absoluta e intransferível pelo Outro Os profi ssionais de saúde deparamse com muitos outros em sua prática cotidiana e na perspectiva levinasiana devem tudo a eles são responsáveis por eles e têm que lhes dar uma resposta eisme aqui não podendo se fazer surdo ao seu apelo LÉVINAS 1982 O cuidado quando assume essa perspectiva exige uma postura diferenciada do pro fi ssional de saúde com atitudes de amparo e proteção visando ao acolhimento do sofrimento e à melhor qualidade de vida do pa ciente e de sua família A partir de tal perspectiva ética é possível realizar outras formas de cuidado que ocupem um lugar diferente nas práticas de saúde hegemônicas constituídas ao longo da his tória direcionando para práticas de transformação Freire 2003b p14 aponta um possível lugar para os pro fi ssionais no cuidado em saúde tomandose o princípio ético como norteador É preciso dispor a escuta para esse outro de forma a poder res ponder a ele ao seu sofrimento nudez e miséria em Lévinas 100 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Essa resposta é responsabilidade responsabilidade pelo outro pelo seu sofrimento por sua angústia Oferecer um lugar para o outro lugar este que desde sempre já seria dele abrindo portas e janelas para sua visitação oferecendo o melhor cô modo e a melhor comida garantindolhe um espaço de habi tabilidade ou seja um ethos uma morada confi ada e serena onde ele possa renovarse para retomar suas dores no mundo Estarcomooutro se fazer presente ao seu lado sendo res ponsável por ele aberto a sua chegada ouvindoo e respeitandoo permitindo o exercício de sua autonomia tomando decisões em prol do sujeito sem violentálo e sem normatizálo considerando seu momento suas vontades e seus desejos singularizando o cui dado e principalmente afetandose com ele e estando aberto a sua diferença e soberania Tais condutas consideradas éticas são mui to mais atitudinais e comportamentais do que racionais e protoco lares ocorrendo quando os profi ssionais estão a serviço do outro Convocase a partir dessas discussões os profi ssionais de saúde ao cuidado pautado na ética e na responsabilidade esti mulandoos a dizer SIM Sim ao outro Acreditase que a relação com o outro que se dá pela via da vulnerabilidade exposição sen sibilidade e passividade mostranos possibilidades de caminhos no campo do cuidado que permitam ao eu deslocarse do seu lugar de soberania para dar lugar ao outro vislumbrandose des se modo horizontes de uma atuação que não seja indiferente ao sofrimento alheio que se responsabilize pelos processos dos su jeitos vulneráveis necessitados de cuidado e que tome providên cias para não deixar o outro só em seu sofrimento respondendo à sua dor Eisme aqui Referências ABREU CBB Questões éticas reconhecidas por profi ssionais de uma equipe de cuidados paliativos Tese Doutorado em Saúde Pública Faculdade de Saúde Pública Universidade de São Pau lo São Paulo 2014 101 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Ma nual de Cuidados Paliativos ANCP 2ed ANCP 2012 CAMPOS GWS A mediação entre conhecimento e práticas so ciais a racionalidade da tecnologia leve da práxis e da arte Ciên cia Saúde Coletiva Rio de Janeiro v 16 n 7 p 303340 2011 CARVALHO LB Prática do psicólogo em instituições públicas de saúde o cuidado para com outro 2006 Dissertação Mestra do em Psicologia Programa de Pósgraduação em Psicologia Universidade Federal do Ceará Fortaleza 2006 CARVALHO LB FREIRE JC BOSI MLM Alteridade radi cal implicações para o cuidado em saúde Physis Revista de Saúde Coletiva Rio de Janeiro v 19 n 3 p 84965 2009 COBUCCI RNO DUARTE LMCP Bioética assistência mé dica e justiça social Revista Bioética Brasília v 21 n 1 p 6266 2013 ECO U Quando o outro entra em cena nasce a ética In ECO U MARTINI C M Orgs Em que crêem os que não crêem Rio de Janeiro Record 2000 p7990 ESSLINGER I De quem é a vida afi nal São Paulo Casa do Psi cólogo 2004 FIGUEIREDO AM Bioética clínica e sua prática Revista Bioéti ca Brasília v 19 n 2 p 34358 2011 FOUCAULT M Microfísica do Poder Rio de Janeiro Edições Graal 1979 FREIRE JC Sofrer por outrem e não sofrer de si uma escuta do sofrimento psíquico por via da ética da alteridade radical In CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE FILOSOFIA PSI QUIATRIA E PSICOLOGIA ÉTICA LINGUAGEM E SOFRI MENTO 6 2003 Anais Brasília Positiva 2003 p 1930 102 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS FREIRE JC A psicologia a serviço do outro ética e cidadania na prática psicológica Psicologia Ciência Profi ssão Brasília v 23 n 4 p 125 2003b GONÇALVES JPR Cuidado original em saúde uma nova re lação do ser humano com a técnica a vida e a morte 2013 X f Tese Doutorado em Ciências Humanas Centro de Filosofi a e Ciências Humanas Universidade Federal de Santa Catarina San ta Catarina 2013 KÓVASC MJ Educação para a morte tema e refl exões São Pau lo Casa do Psicólogo 2012 LEIVAS PGC Princípios de direito e de justiça na distribuição de recursos escassos Revista Bioética Brasília v 14 n 1 p 0915 2006 LÉVINAS E Ética e infi nito Lisboa Edições 70 1982 MORAES G V de O Infl uência do saber biomédico na percepção da relação saúdedoençaincapacidade em idosos da comunidade 2012 X f Dissertação Mestrado em Ciências da Saúde Progra ma de PósGraduação em Ciências da Saúde Centro de Pesquisas René Rachou Belo Horizonte 2012 NORA CRR ZOBOLI ELCP VIEIRA MM Deliberação ética em saúde revisão integrativa da literatura Revista Bioética Brasília v 23 n 1 p 11423 2015 OLIVEIRA V S A obstinação terapêutica e a morte digna uma análise da autonomia da vontade do paciente pediátrico 2011 X f Monografi a Graduação em Direito Faculdade de Ciências Ju rídicas e Sociais Centro Universitário de Brasília Brasília 2011 PAIM J S A Reforma Sanitária e o CEBES Rio de Janeiro CE BES 2012 PESSINI L As origens da bioética do credo bioético de Potter ao imperativo bioético de Fritz Jahr Revista Bioética Brasília v 21 n 1 p 0919 2013 103 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS POIRIÉ F Emmanuel Lévinas ensaio e entrevistas Tradução de J Guinsburg Marcio Honório de Godoy e Th iago Blumenthal São Paulo Perspectiva 2007 POLES K BOUSSO RS Morrer com dignidade um desafi o atual In SANTOS FS INCONTRI D Orgs A arte de mor rer visões plurais São Paulo Editora Cemenius 2009 p 13744 RIBEIRO JCS DACAL MDPO A instituição hospitalar e as práticas psicológicas no contexto da Saúde Pública notas para refl exão Rev SBPH Belo Horizonte v 15 n 2 p 6465 2012 RITTER RS STUMM EMF KIRCHER RM Análise de Burnout em profi ssionais de uma unidade de emergência de um hospital geral Rev Eletr Enf Goiânia v 11 n 2 p 23648 2009 SILVA HB Benefi cência e paternalismo médico Rev Bras Saú de Matern Infant Recife v 10 supl 2 p 41925 2010 SILVA KCO NIETSCHE EA ILHA S LIMA MGR Doen te terminal a ética do cuidado no último processo da vida Revis ta de Enfermagem UFPE Recife v 8 n 1 p 225662 2014 TESSER CD LUZ MT Racionalidades médicas e integralida de Ciência Saúde Coletiva Rio de Janeiro v 13 n 1 p 195 206 2008 TEXEIRA AT Terminalidade da vida aspectos jurídicos In GIMENES AC BATISTA JS FUJITA JS ROCHA R Dile mas acerca da vida humana Interface entre a Bioética e o Biodi reito São Paulo Editora Atheneu 2015 p 18799 WANSSA MCD Autonomia versus benefi cência Revista Bioéti ca Brasília v 19 n 1 p 10517 2011 ZAHER VL Um passeio pela bioética In GIMENES AC et al Dilemas acerca da vida humana interface entre a bioética e o biodireito São Paulo Editora Atheneu 2015 p 318 Chipperchat LESSON by SMART NEW ENGLISH 20 conversational phrases 105 23 QUEM NÃO QUER SER UM IRON MAN REFLE XÕES SOBRE O USO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE E OS EFEITOS NA SUBJETIVIDADE Mércia Aparecida Pereira de Andrade Scarton Patrick Vieira Ronick Tatiana Cristina Vidotti Introdução O desenvolvimento da Medicina os avanços e novas possi bilidades de tratamento para as mais diferentes doenças sempre estiveram aliados ao desenvolvimento tecnológico Atualmente observamos um aumento na utilização de tec nologias e dispositivos como acessórios muitas vezes impres cindíveis ao tratamento de doenças tais como as máquinas de hemodiálise que substituem o funcionamento renal bombas de insulina usadas no tratamento de diabetes que pretendem uma aproximação do funcionamento do pâncreas corações e respira dores artifi ciais dentre outras Podemse também incluir nesse rol os avanços da engenharia genética e das tecnologias de repro dução assistida o desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas visando à maior precisão das intervenções como nas cirurgias robóticas entre muitos outros exemplos cada vez mais presentes nos hospitais e clínicas médicas Não há dúvidas quanto à im portância desses equipamento e técnicas para detectar e prevenir doenças produzir tratamentos mais acurados além de propiciar uma melhora na qualidade de vida e aumento da longevidade Questionase entretanto quais podem ser os efeitos subje tivos desses avanços Tal questão norteia este capítulo no qual se pretende discutir o trabalho do psicólogo hospitalar seus limites e possibilidades de atuação a partir de um retorno à história da Medicina e da entrada da psicologia no campo da saúde bem como da discussão de um caso clínico 106 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS A Medicina e os paradigmas de saúdedoença Em sua origem a Medicina Ocidental era uma ciência es sencialmente humanista Com essa frase Gallian 2000 inicia algumas refl exões acerca da evolução da ciência médica desde suas origens até os dias atuais Salienta o autor o caminho per corrido pela Medicina que nasceu como fi losofi a assim as ex plicações para as doenças deveriam ser buscadas em um contexto amplo que compreendia não apenas a enfermidade em si mas sobretudo o lado humano do homem GALLIAN 2000 p 1 A compreensão dos processos de saúde e doença passa por transformações signifi cativas ao longo da história da humanida de Barros 2002 explica que na Antiguidade dois paradigmas de compreensão coexistiam o primeiro dizia respeito à medicina mágicoreligiosa que entendia a doença como resultado de uma transgressão das leis divinas Assim o trabalho de cura fi cava a cargo de feiticeiros ou xamãs capazes de reestabelecer a ordem natural e a conexão com o divino O segundo paradigma aponta do pelo autor é a medicina empíricoracional associada a corren tes fi losófi cas como visto em Hipócrates considerado o pai da Medicina moderna segundo o qual a doença é entendida como um fenômeno natural e um desequilíbrio entre os elementos da natureza e os do corpo É importante notar que esse equilíbrio desequilíbrio está em relação com a história do doente suas re lações pessoais seu trabalho sua dieta e até mesmo seus sonhos A medicina hipocrática do auge da Grécia Clássica em 400 aC considerava pois cada caso único e singular Os sintomas mani festados pelos doentes isoladamente não diziam nada mas em conjunto caracterizavam sua enfermidade sendo que o papel do médico era ouvir tais sintomas associandoos ao que era apre sentado sobre a vida do doente BARROS 2002 VOLICH 2010 Tendo em vista que a base de sua ciência era a fi losofi a cabia ao médico nesse contexto compreender seu paciente em seus aspectos mais abrangentes englobando dados biológicos ambientais culturais sociológicos familiares psicológicos e es 107 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS pirituais GALLIAN 2000 Nesse ponto cabe a pergunta em que momento então deixou a Medicina de ocuparse com esses aspectos tornandose fundamentalmente uma ciência biológica e mecanicista A resposta a tal indagação fundamental para o trabalho aqui apresentado não é simples O decorrer do processo evolutivo da sociedade e da tecnologia a maneira de pensar o mundo e de compreender e fazer ciência também sofreram os impactos desse devir histórico da fi losofi a de Hipócrates ao modelo biomédico a humanidade presenciou os milagres da medicina por meio dos quais doenças até então incuráveis passaram a ser precisamente diagnosticadas e tratadas VELOSO 1996 O terceiro paradigma de compreensão citado por Barros 2002 parte das ideias de Paracelso no século XV dC para quem as doenças eram algo independente do sujeito devendo ser feitas intervenções com remédios ou tratamentos específi cos de origem química Marcon 2016 entende que tal paradigma ain da que nada simplista baseado em ideias da alquimia medicina popular astrologia e na visão cristã do mundo abre caminho para o surgimento de um pensar medicamentoso prático e me canicista um século depois decorrente de se entender a doença como uma entidade independente do sujeito Com o Renascimento entretanto ocorreram mudanças de ordem técnicocientífi cas notadamente contundentes a teoria heliocêntrica que derrubou o geocentrismo e a mecânica de Newton são exemplos dos impactos do desenvolvimento científi co desse período René Descartes a partir de seu intento de unir matemática e fi losofi a na construção do conhecimento contri buiu para parte do raciocínio que compõe o modelo biomédico BARROS 2002 Barros 2002 p 74 argumenta que o novo modelo expli cativo introduz a gradativa reorientação nos princípios e práti cas que irão conformar a nova medicina sendo mui ilustrativo o modelo mecânico que se erige como analogia para a compreen são do funcionamento do corpo o relógio e suas engrenagens 108 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Evidentemente a repartição do todo em partes contribuiu para o estudo detalhado de determinadas patologias a respeito das quais pouco era conhecido até então A ciência empírica foi paulatinamente sendo desenvolvida e aperfeiçoada e já em meados do século XIX métodos clínicos mais acurados tornavam possíveis diagnósticos mais exatos As técnicas cirúrgicas cada vez mais precisas graças dentre outras a utilização dos AAA assepsia anestesia e antibióticos trou xeram novas perspectivas para o campo de atuação dos cirur giõesbarbeiros do século XIX os quais atuavam sem qualquer formação específi ca e de forma ainda rudimentar em operações com resultados não raramente desastrosos VELOSO 1996 A descoberta da penicilina por sua vez propiciou uma efi cácia no controle de infecções em uma escala sem precedentes na história Destaquese que à medida que os campos da tecnologia física química e biologia se desenvolviam a importância dada ao método científi co foi também enveredando pela formação em Medicina GALLIAN 2000 Ainda nesse cenário entram em cena as indústrias farma cêuticas e o advento da concepção de acesso universal a saúde Como corolário nasce a Medicina moderna VELOSO 1996 porém como nem só de triunfos se desenvolve um novo paradig ma há que se falar a respeito das difi culdades que se impuseram com o estabelecimento e consolidação desse modelo biomédi co de compreender o homem e seu processo de adoecimento Uma das principais pode ser sintetizada pelas palavras de Barros 2002 p 73 agora o alvo do interesse médico passou da histó ria da doença para uma descrição clínica dos achados propiciados pela patologia Mencionando Benet 1987 o autor prossegue de uma abordagem biográfi ca para uma outra nosográfi ca Raposo e Arenosa 2009 levantam uma discussão éticofi losófi ca sobre essa questão destacando que as inovações podem incidir na maneira como são compreendidos os processos de saú de e doença e alterar os conceitos de corpo doença e medicina Além disso reafi rmam a hipótese de que os projetos tecnológicos 109 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS introduzem paradoxalmente ideias determinísticas que regulam fortemente as sociedades modernas o que é bem revelador do de sequilíbrio existente entre estes fenômenos e a refl exão teórica que sobre eles incide RAPOSO ARENOSA 2009 p2 O objetivo dos autores é propor uma refl exão sobre o fato de que a tecnologia em saúde passou de um fenômeno técnico exclusivo da ciência médica para um fenômeno social econômico político e simbóli co uma vez que seu impacto é variável de acordo com as fi nalida des os interesses e os acessos Em outras palavras há efeitos que precisam ser discutidos e analisados juntamente com os benefí cios trazidos para o campo da saúde Os autores também destacam o risco de uma abordagem reducionista sobre a vida humana base ada na fragmentação cada vez mais especializada do corpo O paradigma biopsicossocial e a psicologia na saúde Apontando novamente uma mudança de paradigma nas ci ências da saúde a World Health Organization WHO em 1978 na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saú de inclui novas perspectivas para a área ao propor que o con ceito de saúde seja mais amplo defi nindoa como um estado de completo bemestar físico mental e social e não apenas a ausên cia de afeções e enfermidades WHO 2018 A partir do movimento suscitado por essa Conferência emerge um novo modelo o biopsicossocial no qual o paciente é visto de uma forma mais abrangente não sendo reduzido a ape nas um organismo doente Aspectos de ordem psicológica tam bém passam a ser considerados sendo o enfermo compreendido num continuum mentecorpo CAMPOS 2010 Essa defi nição inclui o fator psicológico valorizando aspectos da subjetividade inseridos em uma compreensão biopsicossocial do indivíduo Sem dúvida a redefi nição do conceito de saúde contribui para a entrada dos psicólogos nas práticas de saúde principalmente nos hospitais gerais visto que o trabalho em hospitais psiquiátricos já era uma realidade na época 110 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS O ingresso de profi ssionais psicólogos nas equipes de saúde acarreta a defi nição de um novo campo profi ssional e uma nova especialidade a Psicologia da Saúde Salto 2007 explica que no Brasil a Psicologia Hospitalar surge como uma grande área den tro da Psicologia da Saúde pela iniciativa de profi ssionais e por demanda da população e das próprias instituições No período da entrada dos profi ssionais psicólogos brasilei ros nas instituições hospitalares em 1950 as políticas de saúde vigentes no Brasil eram centradas na instituição hospitalar sen do priorizadas via atenção secundária e terciária ações de maior complexidade as quais seguiam um modelo clínico e assisten cialista ou seja a prioridade era tratar doenças quando elas já existiam ou estavam agravadas O hospital então era o símbolo máximo do atendimento em saúde Por essa razão os primeiros estudos e trabalhos em psicologia no campo da saúde foram no meados como Psicologia Hospitalar e não Psicologia da Saúde CASTRO BORNHOLDT 2004 A objetividade almejada e necessária à Medicina produziu especialidades cada vez mais fragmentadas e contribuiu para sustentar a dicotomia entre mente e corpo dividindo o indiví duo entre orgânicoobjetivo e psíquicosubjetivo Nesse sentido pôdese observar uma tentativa de redução do doente e seu corpo a um organismo biológico passível de ser tratado cirurgicamen te ou quimicamente separado do sujeito adoecido pressuposto que por si só pode ser origem de muitas iatrogenias e sofrimento psíquico Dizse tentativa pois no diaadia do contexto hospi talar observase que a subjetividade se faz presente o que em geral culmina em encaminhamentos para os profi ssionais psicó logos da instituição Moretto 2001 propõe que a exclusão da subjetividade não se dá apenas na relação médicopaciente mas também se apre senta no médico Houve com todos os desdobramentos da Me dicina apresentados até aqui uma passagem da clínica da escuta em que se buscava compreender o adoecimento associado a ou tros aspectos da vida a partir da relação com o doente para a 111 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS clínica do olhar em que é preciso do médico um olhar objetivo livre das interpretações pessoais baseado em guidelines exames de imagem e orientações que defi nem condutas generalizadas para determinada doença Ao discutir a inserção dos profi ssionais psicólogos nas ins tituições de saúde Moretto e Priszkulnik 2014 destacam a im portância de localizar a relação que a equipe de saúde estabelece com a subjetividade uma vez que é a partir dessa relação que as demandas serão endereçadas ao psicólogo Segundo as autoras quando a equipe diante de uma difi culdade com um caso faz um encaminhamento ao psicólogo acaba por incluir a subjetividade mesmo não se ocupando dela na medida em que há um interes se em saber sobre outros aspectos do paciente Nessa situação instaurase a possibilidade de trabalhar tanto com as questões do paciente quanto com as difi culdades da equipe Por outro lado um encaminhamento ao psicólogo pode ser feito vazio desse in teresse de saber situação que acarreta a exclusão da subjetivida de e difi culdades na inserção do psicólogo na equipe Nas duas situações é importante que o psicólogo tenha clareza do lhe é demandado para orientar sua intervenção Além disso entendese que o principal objetivo da Psi cologia Hospitalar é oferecer uma escuta ao sujeito adoentado proporcionando um espaço para que ele ou sujeitos envolvidos como seus familiares fale sobre si sobre sua doença sua vida ou sua morte seus desejos temores fantasias enfi m tudo aquilo que lhe é mais subjetivo Alguns autores como Moretto 2001 e Simonetti 2011 propõem que a Psicologia Hospitalar trabalhe essencialmente com um resgate à subjetividade do paciente O tratamento que um psicólogo hospitalar oferece é assim muito diferente daquele oferecido pela Medicina pois não se fala em cura e não se tem um objetivo dado a priori De acordo com Simonetti 2011 p 19 a psicologia hospitalar se propõe a ajudar o paciente a fazer a travessia da experiência do adoecimento mas não diz onde vai dar essa travessia Tratase de um acompanhamento como um 112 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS ouvinte privilegiado nas palavras do autor Os objetivos da Me dicina e da Psicologia Hospitalar diferem muito nesse sentido uma não está no hospital em função da outra nem para melhorar ou ajudar o trabalho da outra A interlocução se dá na medida em que se entende que a objetividade exigida em um tratamen to médico coexiste com os efeitos subjetivos que a enfermidade pode produzir À medida que se desenvolvem a Psicologia Hospitalar e a Medicina passam a entrar em cena novas questões relacionadas à qualidade de vida Se por um lado avanços diversos proporcio naram que os pacientes ganhassem sobrevida por outro surgiu também a preocupação com a qualidade de vida dessa popula ção Se doenças antes incuráveis passam a ser tratáveis o paciente tende a viver mais e assim a qualidade de vida passa a ser consi derada fator precípuo de preocupação Ocorre que em alguns casos pelo fato de a enfermidade es tar sob controle o paciente recebe alta no entanto muitas vezes não há uma preocupação específi ca com os aspectos psicológicos que envolvem o doente e sua família Além disso nem sempre há um espaço nas instituições de saúde para que o paciente fale sobre suas angústias medos e perspectivas A situação tornase ainda mais delicada quando após a alta o paciente tem de passar a conviver com algum tipo de dispo sitivo tecnológico que passará a fazer parte de sua vida daí por diante como ocorre em casos de colostomias utilização de bom bas de insulina ou de aparelho cardioversor desfi brilador implan tável situação que será abordada no caso clínico apresentado e discutido neste capítulo Segundo Scarton 2017 embora o tratamento esteja fi na lizado e a doença sob controle quando há a necessidade de usar um dispositivo tecnológico junto a seu corpo como condição para se manter vivo permanece no sujeito uma ferida narcísica com a qual terá de conviver ao longo de sua vida Nas palavras da au tora não basta aumentar a sobrevida para além disso é preciso auxiliar o paciente na elaboração e aceitação das mudanças físicas 113 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS ocasionadas pelo uso do dispositivo tecnológico SCARTON 2017 p95 Caso clínico Iron Man A título de ilustração do tema tratado neste capítulo apre sentase o caso clínico4 de um paciente com implante de cardio versor desfi brilador implantável CDI Tratase de um aparelho eletrônico semelhante a um marcapasso cardíaco que fi ca im plantado cirurgicamente junto ao músculo cardíaco O dispositi vo tem a função de monitorar o ritmo cardíaco e emitir descargas elétricas quando do reconhecimento automático de alguma arrit mia ventricular com parada cardíaca ou morte súbita de modo que com o choque emitido pelo aparelho o coração retorna ao ritmo normal Sua implantação é feita por um procedimento ci rúrgico de médio porte com baixo risco necessitando de curta permanência no hospital MATOS 2007 O CDI é considerado um dos maiores avanços na área de cardiologia com inquestionáveis benefícios médicoclínicos para os pacientes cardiopatas com indicações para seu implante apre sentando altas taxas de redução na mortalidade Todavia existe uma preocupação quanto aos efeitos e desafi os de seu implante para os pacientes principalmente em função das consequências psicossociais Na ocasião do atendimento psicológico o paciente M ini cial de nome fi ctício tinha 37 anos trabalhava como adminis trador e dedicava grande parte de seu tempo a atividades de es portes principalmente o atletismo Foi atendido por psicólogo hospitalar em uma enfermaria de cardiologia devido à solicitação da equipe médica e do próprio paciente Sua queixa principal era 4 O caso clínico também é apresentado com maiores detalhes e dis cussão teórica em Ronick P V Campos E M P 2017 Pânico e desamparo em pacientes com cardioversor desfi brilador implantá vel Rev SBPH 201 99121 114 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS sentir muito medo depois do diagnóstico e adoecimento cardí aco já a equipe médica pediu uma avaliação psicológica devido ao quadro clínico de ansiedade taquicardia tremores e malestar generalizado não compatível com a doença do paciente M descobriu ter desenvolvido uma arritmia grave após ter des maiado algumas vezes durante seus intensos treinos de atletismo e com indicação médica foi realizado o implante de CDI Após esse procedimento M buscou outra forma de tratamento a ablação5 chegando ao hospital muito calado assustado o que foi estranhado pela sua família e namorada Ao ser informado do insucesso da abla ção M entrou em uma condição de profundo desespero sentindo se sem esperança em relação a sua vida e sua doença Ao longo dos atendimentos psicológicos M elaborou para si a seguinte dúvida é possível viver daqui em diante Relatou que nunca até aquele momento havia refl etido com propriedade sobre o implante do aparelho e que a simples ideia do choque o deixava apavorado assim como ter de abandonar suas atividades físicas de restringir sua vida Revoltavase assim por não poder participar de um Iron man6 para o qual havia se preparando há meses Em certo atendimento psicológico M contou sobre sua irmã cantora lírica com uma carreira em ascensão que fora diag nosticada com câncer de laringe tendo sua carreira interrompida no período do tratamento Apesar de entristecido a identifi cação com a irmã lhe trouxe novas possibilidades de elaborar a doença M começou a partir desse ponto a brincar com o assunto Eu não queria tanto ser um iron man Aqui ó apontando para o peito no local do implante do aparelho Utilizouse ainda de sua religiosidade espírita para buscar explicações próprias sobre o que ele chamou de maldição da sua família fazendo piadas sobre o assunto Precisamos cuidar bem do braço do meu irmão 5 Procedimento minimamente invasivo e de rápida recuperação para o tratamento defi nitivo de certas arritmias cardíacas 6 Homem de Ferro é o maior circuito e maratona anual de Triathlon da América Latina 115 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS violinista acho que vou ligar avisando ele disso Após esses aten dimentos M tomou a iniciativa de consultar sua médica Ok eu não posso mais ter a dedicação total que tinha aos esportes mas me ajude a procurar o meu limite O que eu posso fazer Com esse caso clínico podese perceber um movimento saudável em direção à construção simbólica e à elaboração psí quica vivida pelo paciente produtos do tratamento psicológico dividido nas seguintes etapas 1 Embotamento distanciamento afetivo e emocional poucas palavras sobre o sofrimento vivências de pâ nico descargas somáticas queixas de tensões e dores musculares enxaquecas inapetência e malestar gene ralizado vistos pela equipe médica como incongruentes com a situação clínica vivida 2 Aproximação do conteúdo confl ituoso queixas sobre o implante arrependimento revolta e raiva melhora dos sintomas orgânicos em contraparti da às vivências psíquicas e emocionais mais evi dentes ataques de raiva momentos de tristeza e desesperança 3 Identifi cação com a irmã elaboração no nível da fantasia a maldição familiar possibilidade de utilizar recursos de enfrentamento psíquicos humor e espiritualidade em um nível de maior complexidade representativa o paciente ainda se deparava com o conteúdo afl itivo e angustiavase mas organizouse mentalmente e não somatica mente como nos episódios de ansiedade ou pâni co vividos inicialmente A partir da apresentação do caso é possível constatar a im portância da escuta do psicólogo hospitalar para auxiliar o pa ciente na elaboração e construção de sentido para a nova con fi guração que nesse caso concreto foi introduzida na vida de 116 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS M Fica evidente no início do atendimento o confl ito entre a possibilidade de prolongamento da vida e os limites que a nova condição impôs ao seu diaadia A elaboração psíquica dando conta de que há um campo novo a ser descoberto sobre si so bre seu corpo e sobre seu processo saúdedoença aponta para a invenção singular diante daquilo que se tem como uma possível saída para os impasses que geram sofrimento Cabe ao psicólogo tendo o interesse pela subjetividade do paciente como orientador sustentar o lugar onde essa construção individual única possa ocorrer em meio a tantas objetividades e padronizações Referências BARROS J A C Pensando o processo de saúde doença a que responde o modelo biomédico Saúde e Sociedade v 11 n 1 p 6784 2002 CAMPOS E M P A Psicooncologia uma nova visão do cân cer uma trajetória 2010 155 f Tese Livre DocênciaInstituto de Psicologia Universidade de São Paulo São Paulo 2010 GALLIAN D A rehumanização da medicina Psiquiatria na Prática Médica São Paulo v 33 n 2 p 58 2000 Disponível em wwwunifespbrdpsiqpolbrppmespecial02ahtm Data do acesso 14042018 MARCON H H O sem lugar do sujeito nas práticas em saú de In KAMERS M MARCON H H MORETTO M L T Orgs Desafi os atuais das práticas em hospitais e nas institui ções de saúde São Paulo Escuta 2016 p 2545 MATOS AJ Análise da relação custoefetividade do tratamen to com DCI Desfi brilador Cardioversor Implantável 2007 199 f Tese Doutorado em Saúde Pública Faculdade de Saúde Pública Universidade de São Paulo São Paulo 2007 117 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS MORETTO M L T O que pode um analista no hospital São Paulo Casa do Psicólogo 2001 MORETTO M L T PRISZKULNIK L Sobre a inserção e o lugar do psicanalista na equipe de saúde Tempo Psicanalítico v 46 n 2 p 28798 2014 RAPOSO H AREOSA J As novas tecnologias médicas e a reconfi guração da saúde entre riscos e incertezas Comunica ção Oral In CONGRESSO LUSOAFROBRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS SOCIEDADES DESIGUAIS E PARA DIGMAS EM CONFRONTO 10 2009 Minho Anais Mi nho Universidade do Minho 2009 p 116 RONICK P V CAMPOS E M P Pânico e Desamparo em Pacientes com Cardioversor Desfi brilador Implantável Revista da SBPH Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar n 20 p 99121 2017 SCARTON M A P A Câncer colorretal e colostomia aspec tos psicodinâmicos envolvidos na vivência da sexualidade 2017 114 f Dissertação Mestrado Psicologia ClínicaInstituto de Psicologia Universidade de São Paulo São Paulo 2017 Dispo nível em httpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis4747133 tde02102017163731 Data do acesso 04042018 VELOSO B A Medicina PósModerna Medicina Interna v 3 n 4 p 25962 1996 WORLD HEALTH ORGANIZATION Constitution of WHO principles 2018 Disponível em httpwwwwhointaboutmis sionen Data do acesso 14042018 VOLICH R M Psicossomática de Hipócrates à Psicanálise São Paulo Casa do Psicólogo 2010 UNIDADE III FORMAÇÃO E GESTÃO 121 31 INDICADORES E GESTÃO DA QUALIDADE EM PSI COLOGIA HOSPITALAR Isabel Regiane Cardoso do Nascimento Jéssica Ravena Brandão de Castro Vanilla Oliveira Alencar Introdução Para driblar as adversidades e ofertar assistência efetiva os serviços de saúde têm preconizado a gestão da qualidade para balizar suas ações buscando atender à tendência do mercado com estratégias de gerenciamento capazes de elevar os níveis de assistência prestados com vistas a satisfazer às demandas de uma clientela cada vez mais exigente tanto no cenário nacional como nos países mais desenvolvidos COUTO PEDROSA 2014 Bittar 2004 defi ne qualidade como a propriedade atribu to ou condição capaz de distinguir programas serviços pessoas entre seus pares o que permite determinar a natureza e numa escala de valores avaliar e consequentemente aprovar aceitar ou recusar qualquer coisa Vale ressaltar que em comparação com outros setores produ tivos a exemplo das indústrias Couto e Pedrosa 2014 consideram que a esfera da saúde tem pouca tradição na adoção de sistemas de gestão da qualidade Assim sendo a apropriação e manutenção dos sistemas que garantam a qualidade da assistência prestada ainda são desafi os para os profi ssionais de saúde já que as práticas de saúde só se realizam por meio da ação humana responsável pela organização do trabalho BONATO 2011 p319 Carvalho et al 2004 reforçam que a priorização da qua lidade signifi ca que os envolvidos na gestão em saúde estão constantemente preocupados com as propriedades benefícios e 122 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS malefícios dos serviços prestados desenvolvendo atividades de aferição e aperfeiçoamento visando a uma maior satisfação dos que necessitam desses serviços Nesse sentido é de fundamental importância que os profi ssionais se apropriem de um conheci mento norteado pela linguagem da gestão da qualidade visto se tratar de uma necessidade crescente fazendo com que esses con ceitos se tornem cada vez mais frequentes no cotidiano do merca do da saúde como decisão estratégica para melhorar os serviços e garantir a sobrevivência das organizações pertencentes às esferas privada pública e benefi cente No contexto da saúde essa exigência é prevalente princi palmente no cenário hospitalar onde historicamente a cultura da gestão da qualidade foi um pouco mais disseminada e por clas sifi carse entre as instituições de maior complexidade no que diz respeito à concentração da densidade tecnológica com serviços cada vez mais especializados e investimento de recursos fi nancei ros em grande escala Podese afi rmar então que a assimilação das práticas ges tionárias no campo da saúde é uma realidade irrefutável atin gindo o cotidiano de todos os níveis de assistência e categorias profi ssionais inclusive o da Psicologia SILVEIRA 2010 Essa realidade que parecia tão distante da prática clínica tem se im posto aos psicólogos hospitalares no sentido da organização e gestão de suas práticas de trabalho Ressaltase no entanto que a prática tradicional da psico logia nas instituições hospitalares tem difi cultado uma adequada inserção desse profi ssional no contexto das atividades de gestão da qualidade em saúde tendo em vista a ampla resistência da categoria em aderir a rotinas protocolos registros entre outros SILVEIRA 2010 Desse modo compreendendo que a área da saúde principalmente o cenário hospitalar tem buscado aplicar metodologias de gestão da qualidade estabelecendo indicadores e metas que visem atingir a excelência do atendimento abordar as práticas psicológicas à luz do vértice da gestão da qualidade do serviço exige uma refl exão desafi adora 123 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Neste capítulo temse como principal objetivo debater com base em uma revisão integrativa da literatura a necessidade de se aproximar a psicologia hospitalar da gestão da qualidade dos ser viços refl etindo como se pode estruturar e organizar a rotina e os registros dos atendimentos psicológicos bem como construir indi cadores a partir da prática Nesse debate não se incluíram os refe renciais teóricoclínicos que orientam as práticas psicológicas em si Percurso metodológico Entendese a importância do respaldo teórico no incremento das discussões acerca da gestão de serviços de saúde e a importân cia do conhecimento sobre a temática específi ca a fi m de se iden tifi car o que já foi estabelecido teórica e legalmente bem como estabelecer conexões com o cotidiano das instituições de saúde Inicialmente fezse uma busca nas bases de dados eletrô nicos dos periódicos indexados na Biblioteca Virtual de Saúde BVS e na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações BDTD a partir dos seguintes descritores indicadores de serviço assis tência hospitalarpsicologia gestão da qualidade administração hospitalar A busca foi realizada em março de 2018 utilizandose como critérios de inclusão estudos produzidos nos últimos 15 anos que tratassem sobre a questão norteadora da sistematização das ferramentas de gestão da qualidade dos serviços multiprofi s sionais hospitalares e dos serviços de psicologia hospitalar Após a identifi cação realizouse a seleção dos estudos pri mários sendo encontradas escassas referências à temática de acordo com a questão norteadora e com os critérios de inclusão previamente defi nidos Todos os estudos identifi cados foram inicialmente avaliados por meio da análise dos títulos e resu mos Nos casos em que esses componentes não se mostraram sufi cientes para defi nir a seleção inicial procedeuse à leitura na íntegra da publicação Em suma foram encontrados apenas cinco artigos duas teses e uma dissertação sistematizados no quadro 1 a seguir 124 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Resultados Título Procedência Periódico Autores Ano Objetivos Principais resultados 1 Excelência do aten dimento em saúde a construção de indica dores assistenciais em psicologia hospitalar BVSALUD PEPSICO FERRARI Solimar et al 2013 Apresentar indicadores para quali dade dos serviços de assistência em Psicologia Hospitalar levando em consideração os pilares fundamentais da qualidade assistencial efi cácia efi ciência otimização aceitabilidade legitimidade e equidade Fórmulas que permitem a construção de indicadores assistenciais utilizando se uma composição entre a produção realizada e as horas trabalhadas pelo psicólogo 2 Utilização de indicadores de desempenho hospi talar como instrumento gerencial Biblioteca Di gital de Teses e Dissertações BDTD ROTTA Carmen Silvia Gabriel 2004 Descrever e analisar os indicadores de desempenho utilizados pelos hos pitais de Ribeirão Preto SP Brasil bem como analisar a opinião dos di rigentes desses hospitais em relação à utilização desses indicadores na ges tão desses hospitais A ausência de padrões para hospitais brasileiros bem como a ausência de in centivos dos órgãos fi nanciadores em relação ao desempenho baseado em in dicadores são considerados obstáculos para utilização de indicadores pelos ad ministradores hospitalares 3 Sistema informatizado para gerenciamento de indicadores da assistên cia de enfermagem do Hospital São Paulo BVSALUD SCIELORev Esc Enferm USP online 2011 vol45 n4 pp1013 1017 LABBADIA L L et al 2011 Descrever as etapas da construção do Sistema Informatizado de Indicado res da Assistência de Enfermagem do Hospital São Paulo Apresenta a relevância da informatiza ção como forma de gerenciar admi nistrar organizar classifi car monitorar e obter informações em tempo real assim tornando o acesso aos indicadores de enfermagem mais dinâmico e produtivo Um dos benefícios do SIIEHSP é arma zenar dados pertinentes aos processos assistenciais de enfermagem e disponi bilizálos para a avaliação dos resultados da assistência de enfermagem 125 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS 4 Implantação de fer ramenta de gestão de qualidade em hospital universitário BVSALUD SCIELORev Esc Enferm USP v44 n4 São Paulo PERTENCE PP MELLEIRO MM 2010 Compreender a percepção de uma equipe multidisciplinar de saúde na implantação de uma ferramenta de gestão de qualidade num hospital de ensino As autoras demonstram os resultados obtidos divididos em categorias e subca tegorias nas quais se destacam aspectos facilitadores relacionados à percepção da equipe acerca da implantação do progra ma o envolvimentos dos profi ssionais e a comunicação entre os diferentes servi ços da instituição Acreditase que a gestão da qualidade possa infl uenciar o modo de agir dos profi ssionais de saúde em busca da efi ciência e da efi cácia de seus processos de trabalho 5 Sistema de classifi cação de pacientes identifi ca ção do perfi l assisten cial dos pacientes das unidades de internação do HUUSP BVSALUD Rev Latino americana de Enfermagem FUGULIN F M T GAIDZINSKI R R KURCGANT P 2005 Identifi car o perfi l assistencial dos pacientes das unidades de internação do Hospital Universitário da USP como subsídio para alocação de re cursos humanos avaliação do quadro de pessoal de enfermagem e como fundamentação para os processos de tomada de decisão relacionados à organização e ao planejamento da assistência de enfermagem Permitiram avaliar a adequação do ins trumento de classifi cação de pacientes utilizado bem como forneceu informa ções acerca do perfi l assistencial dos pa cientes e da carga de trabalho existente em cada unidade de internação subsi diando assim as decisões gerenciais re ferentes à alocação de recursos humanos ao planejamento da assistência e à orga nização dos serviços frente à demanda da clientela assistida 6 Estudo do campo da psicologia hospitalar calcado nos fundamen tos de gestão estrutura processos e resultados Biblioteca Di gital de Teses e Dissertações BDTD SILVEIRA A M V 2010 Estudar a Psicologia Hospitalar nos moldes de gestão da qualidade pre conizados por Donabedian 2005 estrutura processos e resultados identifi cando pressupostos inerentes à construção de um espaço funcional e à delimitação deste campo Os resultados mostram a necessidade de consolidação da delimitação do campo da Psicologia Hospitalar do incremento de instrumentos normativos e de legisla ção como fatores de preservação das condições de trabalho e a importância de manter constante alerta e senso críti co quanto às práticas gestionárias 126 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS 7 Protocolo de avalia ção da intervenção do psicólogo hospitalar uma contribuição para a sistematização da prática do psicólogo em ambien tes médicos Biblioteca Di gital de Teses e Dissertações BDTD LEITE L G 2007 Investigar através do Protocolo de Avaliação da Intervenção do Psicó logo Hospitalar a adequação entre a demanda do paciente hospitalizado e a assistência psicológica prestada ao mesmo A utilização do Protocolo de Avaliação da Intervenção do Psicólogo Hospitalar pode auxiliar o psicólogo hospitalar em sua coleta de dados junto ao paciente uma vez que permite identifi car a con dição do paciente no que diz respeito aos fatores protetores característicos da resiliência e em consequência possi bilitar uma assistência psicológica mais adequada à demanda apresentada pelo mesmo O Protocolo de Avaliação da Interven ção do Psicólogo Hospitalar apresentado neste estudo possibilita uma importante contribuição para as discussões referen tes à necessidade de sistematização da prática do psicólogo em ambientes mé dicos 8 Sistematização da prática psicológica em ambien tes médicos BVSALUD Rev Brasileira de Terapia compor tamental e cognitiva GORAYEB R GUERRELHAS F 2003 Apresentar exemplos de sistematiza ções de interconsultas e de práticas psicológicas rotineiras do HCFMRP USP Os dados resultantes dessas intervenções clinicas sistematizadas favoreceram a interação do psicólogo com as equipes trouxeram benefícios ao atendimento dos pacientes e geraram conhecimentos que somam à produção cientifi ca na área de Psicologia Hospitalar Fonte A pesquisa 127 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Discussão A inserção da Psicologia no âmbito do hospital convocou os profi ssionais dessa categoria a repensarem a prática pautada na clínica tradicional já que não possuíam um modelo que os orientasse a responder às necessidades desse novo ambiente as sim o que se observava no ambiente hospitalar era a reprodução da atuação clínica nos consultórios De acordo com o estudo de Gorayeb e Guerrelhas 2003 ao adentrar o hospital a Psicologia se depara com o saber médico e dos outros profi ssionais da saúde com práticas que são fun damentadas em evidências científi cas e baseadas em pesquisas com métodos bem delineados Nesse contexto diante da neces sidade de se constituir uma nova práxis psicológica adequada às demandas do contexto hospitalar Gorayeb e Guerrelhas 2003 discorrem sobre a relevância de o fazer psicológico ser repensado não somente em moldes teóricos e fi losófi cos mas também no sentido de ser uma área da saúde capaz de contemplar o saber científi co empírico Isso signifi ca que a Psicologia enquanto ciên cia precisa utilizar os dados dos seus conhecimentos científi cos para aprimorar o planejamento das intervenções nos atendimen tos a serem realizados além de aperfeiçoar a qualidade do serviço ofertado aos pacientes A sistematização da prática profi ssional contribui para a re estruturação do fazer psicologia nos hospitais infl uenciando na qualidade dos serviços Pensar o conceito de qualidade no campo da saúde diz respeito ao estabelecimento de um elevado padrão de assistência ao qual os atores responsáveis pelas práticas de saú de devem estar intimamente vinculados com vistas a aprimorar constantemente seu trabalho cujo objetivo principal é o bem estar daqueles que dependem dos seus serviços PERTENCE MELLEIRO 2010 Discorrer a respeito de aspectos que envolvem gestão e ava liação da qualidade dos serviços prestados na área da saúde re quer uma breve explanação acerca de como esses processos ocor 128 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS rem Alves 2008 ao tratar do conceito de gestão da qualidade caracteriza tal procedimento como sendo a adoção de métodos e sistemas desenvolvidos internamente ou com base em referen ciais externos os quais são capazes de promover um padrão de excelência assistencial a partir da melhoria contínua da estrutura dos processos e consequentemente dos resultados O padrão referencial de um hospital é refl exo direto de sua administração isto é do modo como recursos físicos e profi ssio nais de modo geral são geridos pelos seus gestores As práticas de gerenciamento voltadas para a qualidade dos serviços no cam po da saúde referemse ao controle dos processos ou seja inicial mente o trabalho é planejado sendo posteriormente executado de acordo com esse planejamento em seguida verifi case o que foi realizado para então se agir a partir dos resultados apresenta dos ROTTA 2004 Avaliar a qualidade em saúde é realizar uma análise siste mática dos processos e resultados de um serviço verifi candose e comparandose um conjunto de padrões com o objetivo de apri moramento a assistência nos serviços de saúde Na avaliação da qualidade da assistência no campo da saú de os aspectos relevantes são pautados em três dimensões es trutura processo e resultados PERTENCE MELLEIRO 2010 SILVEIRA 2010 A estrutura avalia as características estáveis da instituição como os aspectos físicosfuncionais o gerenciamento de riscos registro no prontuário saúde ocupacional qualifi cação profi ssional organização administrativoorganizacional legisla ção e os recursos humanos materiais e fi nanceiros Já o proces so diz respeito a um conjunto de causas que interagem de forma contínua e sequencial constituindo um resultado sendo as prá ticas organizacionais e assistenciais sistematizadas e integradas com o fi m de observar o que é favorável para a implantação e implementação de rotinas de funcionamento de um serviço de psicologia hospitalar SILVEIRA 2010 p102 Por fi m na di mensão dos resultados se apontam os indicadores metas e me lhorias contínuas obtendose as características desejáveis dos 129 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS produtos ou serviços demonstradores dos efeitos da assistência na saúde assim nesse contexto a lógica dos sistemas de gestão de qualidade exige dos profi ssionais a evidência dos seus resul tados a partir da defi nição e monitoramento de indicadores de qualidade SILVEIRA 2010 pág102 Os indicadores são instrumentos que possibilitam defi nir parâmetros a serem utilizados para realizar comparações e agre gar juízo de valor frente ao encontrado e ao ideal estabelecido LABBADIA et al 2011 ou seja averiguar os resultados con siste em uma das principais atividades avaliativas a serem rea lizadas por permitir monitorar a qualidade a produtividade e a capacidade da efetivação dos serviços A Psicologia Hospitalar é desafi ada ao se deparar com as demandas dos processos de certifi cação ou acreditação sendo convocada a se repensar e se adequar à gestão da qualidade dos serviços prestados O profi ssional psicólogo se vê então diante da necessidade de responder às demandas institucionais relacio nadas à gestão da qualidade e à gestão dos próprios recursos a partir da utilização de metodologias muitas das quais desconhe cidas pois não fazem parte de qualquer formação prévia Nesse tipo de sistema de gestão utilizamse como instru mento de avaliação indicadores que correspondem a critérios quantitativos eou qualitativos necessários para se monitorar a qualidade a produtividade e a capacidade de determinado pro cesso ser realizado Dessa forma é praxe estabelecer uma meta para cada tipo de indicador já que esse dispositivo de medição está atrelado aos sistemas que se pretende transformar FERRA RI et al 2013 Diversos fatores como estruturação mínima adequada nú mero de psicólogos integrantes da equipe dimensionamento dos profi ssionais em cada setor defi nição de prioridades na assistên cia sistematização de rotinas para atenção aos pacientes e seus familiares priorização da demanda de atendimento psicológico ausência de reuniões periódicas uso de protocolos registros etc são desafi os postos ao gerenciamento das práticas do serviço de psicologia hospitalar que inquietam o cotidiano profi ssional 130 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Leite 2007 se refere à difi culdade experimentada pelo pro fi ssional psicólogo em discriminar qual paciente realmente ne cessita de algum tipo de intervenção uma vez que muitas vezes pacientes considerados mais preservados no que se refere ao nível de resiliência e ao índice de manifestações psíquicas e comporta mentais recebem mais cuidados por parte do psicólogo hospitalar Tratase ainda da necessidade de se defi nirem os parâme tros que priorizam determinadas clínicas ou unidades hospitala res de acordo com o número de psicólogos de um serviço como também o tempo exigido para determinadas atividades como o atendimento numa unidade de terapia intensiva ou de pediatria e ainda as rotinas de atuação e o monitoramento dos resultados da assistência atrelados ao planejamento O dimensionamento da equipe em Psicologia Hospitalar é um fator crítico que demanda muita pesquisa e desenvolvimento pois ainda não existem estudos que subsidiem as decisões nesse campo conforme afi rma Silveira 2010 p88 no campo da psicologia hospitalar não se possui ainda parâmetros efetivos para indicar cobertura adequada para unidades hospitalares de diferentes níveis de atenção complexidade Diante desses desafi os podese aprender muito com as pesquisas em Enfermagem compreendendo o percurso des ses profi ssionais nessa direção Fugulin Gaidzinsk e Kurcgant 2005 p 73 consideram que os métodos para dimensionar o pessoal em enfermagem devem incluir o estudo dos diferentes graus de complexidade assistencial que os pacientes apresentam dentro de uma mesma unidade de internação Nesse sentido se desenvolve o conceito do Sistema de Classifi cação de Pacien tes SCP a partir da criação de instrumentos voltados para a avaliação de necessidades dos pacientes no que se refere às in tervenções da enfermagem FUGULIN GAIDZINSK KURC GANT 2005 Esses instrumentos permitem o dimensionamen to de profi ssionais da enfermagem a partir da avaliação mais aproximada das reais demandas e necessidades do paciente em relação aos cuidados clínicos 131 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Na atual conjuntura dos serviços de Saúde Pública Ferrari et al 2013 reforçam a necessidade de se utilizarem recursos adequa dos em busca de produção produtividade e resolução priorizan dose a qualidade dos serviços de saúde que não mais corresponde a uma atitude isolada mas a um imperativo social Trabalhar com indicadores de qualidade no campo da Psicologia Hospitalar en tretanto nem sempre é uma tarefa fácil devido ao objeto de estu do da Psicologia que parte de uma matériaprima essencialmente subjetiva além da escassez de parâmetros a serem considerados nessa área Por não fazer parte da formação dos psicólogos a utili zação de ferramentas de gestão e sua implantação nos serviços de Psicologia Hospitalar tornamse desafi adoras uma vez que muitos profi ssionais não conhecem ou não se sentem habilitados a usar esse tipo de ferramentas difi cultando a implementação de tais re cursos para a gestão da qualidade do serviço Considerações fi nais As refl exões acerca do gerenciamento da qualidade da as sistência de um serviço de psicologia hospitalar apontam para a indefi nição de aspectos regulamentares do reconhecimento dos requisitos legais referentes ao psicólogo no âmbito hospitalar e da própria crítica à ausência de certos parâmetros nesse contexto necessitandose de mais pesquisas sobre a temática Entretanto mesmo sendo uma área de atuação historica mente qualitativa as refl exões a partir dos escassos estudos en contrados mostram que a prática profi ssional no âmbito da Psi cologia Hospitalar precisa e é capaz de estabelecer indicadores e metas a partir da inspiração de outras categorias profi ssionais adaptandoos para o contexto da práxis psicológica de modo a se tornar efetivo o gerenciamento do serviço nessa especialida de Para que tais indicadores sejam estabelecidos é fundamental realizar uma análise crítica do desempenho da Psicologia Hospi talar e da atuação profi ssional na referida instituição sendo que os próprios psicólogos podem avaliar o desempenho dos proces 132 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS sos realizados o que possibilitará revisão e mudanças no serviço prestado quando forem necessárias Referências ALVES DM Qualidade de atendimento em saúde Rio de Ja neiro 2008 BITTAR OJNV Cultura e Qualidade em hospitais In QUIN TO NETO A BITTAR OJNV Hospitais administração da qualidade e acreditação de organizações complexas Porto Ale gre Dacasa 2004 BONATO VL Gestão da qualidade em saúde melhorando a assistência ao cliente Mundo Saúde São Paulo v 35 n 3 p 31931 2011 CARVALHO CO M SARDENBER C MATOS ACC et al Qualidade em Saúde Conceitos Desafi os e Perspectivas J Bras Nefrol v XXVI n 4 dez 2004 COUTO RC PEDROSA TMG Hospital acreditação e ges tão em saúde 2 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2014 FERRARI S BENUTE GRG SANTOS NO et al Excelência do atendimento em saúde a construção de indicadores assisten ciais em psicologia hospitalar Psicologia Hospitalar v 11 n 2 p 6071 2013 FUGULIN Fernanda MT GAIDZINSKI Raquel R KURC GANT Paulina Sistema de classifi cação de pacientes identifi cação do perfi l assistencial dos pacientes das unidades de internação do HUUSP Revista LatinoAmericana de Enfermagem vol13 n1 Pág 7278 2005 GORAYEB R GUERRELHAS F Sistematização da prática psi 133 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS cológica em ambientes médicos Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva v V n 1 p 1119 2003 LABBADIA LL et al Sistema Informatizado para Gerencia mento de Indicadores da Assistência de Enfermagem do Hospital São Paulo Rev Esc Enfermagem USP v4 n4 2011 LEITE LG Protocolo de avaliação da intervenção do psicólo go hospitalar uma contribuição para a sistematização da prática do psicólogo em ambientes médicos Tese Doutorado em Psi cologia Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo 2007 PERTENCE PP MELLEIRO M M Implantação de ferramen ta de gestão de qualidade em Hospital Universitário Rev esc enferm USP online v 44 n 4 p102431 2010 ROTTA CSG A utilização de indicadores de desempenho hos pitalar como instrumento gerencial 2004 143 f Tese Doutora do em Administração Hospitalar Faculdade de Saúde Pública Universidade de São Paulo São Paulo 2004 SILVEIRA AMV Estudo do campo da psicologia hospitalar calcado nos fundamentos de gestão estrutura processos e resulta dos 2010 164 f Dissertação Mestrado em Psicologia Pontifí cia Universidade Católica de Minas Gerais Belo Horizonte 2010 Laser displacement and dimension micron system for round parts so l id cen Squarid outer profile Example of outer profile and outer dimension inspection 135 32 PSICOLOGIA E RESIDÊNCIAS EM SAÚDE UM DIÁ LOGO POSSÍVEL7 Bruna Fabrícia Barboza Leitão Rafael Bruno Silva Torres Introdução As Residências em Saúde sejam médicas RM ou em Área Profi ssional RAP nas modalidades Multiprofi ssional RMS Uniprofi ssional RUS ou Integradas RIS se confi guram atual mente como perspectivas de pósgraduação que vêm ganhando força na formação do profi ssional de saúde brasileiro em espe cial para o Sistema Único de Saúde SUS Desde 1988 a Constituição Federal Brasileira atribuiu ao SUS a competência de ordenar a formação dos profi ssionais da área BRASIL 1988 o que segundo Ceccim 2005 p 976 cum pre uma das mais nobres metas formuladas pela Saúde Coletiva no Brasil tornar a rede pública de saúde uma rede de ensino aprendizagem no exercício do trabalho Para tanto o Ministério da Saúde MS tem desenvolvido estratégias variadas e políticas voltadas para a adequação da formação e qualifi cação dos traba 7 Capítulo adaptado das dissertações Residências Integradas Multi profi ssionais e em Área Profi ssional em Saúde uma Revisão Integra tiva 2017 apresentada ao Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Ceará de autoria de Rafael Bru no Silva Torres sob orientação da Profa Dra Ivana Cristina de Ho landa Cunha Barreto e Residência Multiprofi ssional em Cancero logia Expressões da Integralidade do Cuidado 2018 apresentada ao Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Ceará de autoria de Bruna Fabrícia Barboza Leitão sob orientação da Profa Dra Maria Lúcia Magalhães Bosi 136 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS lhadores da área da saúde às reais necessidades da população e ao desenvolvimento do próprio SUS BRASIL 2009 A Educação Permanente em Saúde EPS constitui nessa perspectiva uma al ternativa viável à realização desses objetivos Por EPS entendese o conceito pedagógico para efetuar relações orgânicas entre ensi no ações e serviços e entre a docência e atenção à saúde BRA SIL 2007 Ao se discutir sobre possibilidades de EPS as Residências em Saúde mostramse como relevante processo formativo e um dos eixos de ação da Política Nacional de Educação Permanen te em Saúde PNEPS BRASIL 2004 por possibilitarem uma ampla intimidade entre formação gestão atenção e participação mediante intercessões promovidas pela educação na saúde Essa política constitui estratégia fundamental à transformação do tra balho de modo que venha a ser lugar de atuação crítica refl exiva propositiva compromissada e competente CECCIM 2005 A vigência dos programas de Residência em Saúde se con fi gura então como possibilitadora da busca pela integralidade em saúde Em termos constitucionais a integralidade desponta como um dos princípios do SUS e portanto segue sendo bastan te ilustrativa das bandeiras de luta e das pautas do movimento da Reforma Sanitária que antecedeu e culminou na promulgação da Constituição Federal de 1988 Assim frente a discussões que pau tavam a reorientação radical do sistema e das práticas de saúde chegouse ao entendimento de que a integralidade constitui um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos individuais e coletivos exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do SUS BRASIL 1988 Por Residências em Área Profi ssional da Saúde podem se compreender os programas em modalidade de ensino de pós graduação lato sensu destinados às profi ssões da saúde excetua da a médica sob a forma de curso de especialização caracterizado por ensino em serviço com carga horária de 60 horas semanais duração mínima de dois anos e em regime de dedicação exclusi va Podem incluir 15 profi ssões da saúde dentre elas a Psicolo 137 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS gia BRASIL 2012 2014 Para ser caracterizado como Residên cia Multiprofi ssional em Saúde o programa deve ser constituído por no mínimo três dessas profi ssões BRASIL 2012 Nas leis iniciais que regulamentaram tais modalidades de Residência em Saúde são utilizados os termos Residência Multi profi ssional para mais de três profi ssões de saúde e Área Profi s sional para uma profi ssão de saúde diferenciadas da já existente Residência Médica A partir de 2014 a Comissão Nacional de Re sidência Multiprofi ssional em Saúde CNRMS passou a se referir àquelas como Residência em Área Profi ssional da Saúde diferen ciando suas modalidades em Multiprofi ssional e Uniprofi ssio nal O termo Residência Integrada aparece como um modelo de se pensar e fazer as Residências que só é encontrado em alguns programas não havendo institucionalização ofi cial a respeito O aumento no número de RISRMSRAPRUS nos últimos anos leva a pensar sobre a importância que vêm tendo tais pro gramas de pósgraduação na formação do profi ssional de saúde no Brasil onde a cada ano são autorizados novos programas e bolsas E ao se pensar mais especifi camente na relação entre psi cologia e saúde podese questionar como a Psicologia participa das Residências em Saúde Este capítulo se propõe a apresentar uma refl exão teórica acerca de um possível diálogo entre esses dois campos Psicologia e Residências em Saúde Segundo Corrêa et al 2014 e Martins et al 2016 as RIS RMSRAPRUS são programas em crescimento no Brasil e es tão se consolidando devido ao seu formato de aprendizagem que agrega ensino e serviço formando profi ssionais qualifi cados com foco no trabalho interprofi ssional Esses programas devem refl etir a realidade social política e cultural fundamentados pe los princípios e diretrizes para o trabalho no SUS As RISRMS RAPRUS trabalham com a imersão no e pelo trabalho NAS CIMENTO OLIVEIRA 2010 tendo como missão formar pro 138 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS fi ssionais segundo as necessidades locais com habilidades especí fi cas conforme as defi ciências regionais CHEADE et al 2013 As RISRMSRAPRUS agregam diversos campos de saberes e têm por princípio o ensino a pesquisa e a intervenção envol vendo instituições públicas e privadas em todas as regiões do país SCHMALLER et al 2012 p348 Tais programas apresentam como principal desafi o a superação de limitações decorrentes da formação original dos profi ssionais contribuindo para uma atu ação contextualizada e comprometida com o SUS reconhecendo ainda que as diferentes categorias profi ssionais da saúde tendem a reproduzir uma visão fragmentada do fenômeno saúde As Resi dências em Saúde operam assim a partir de um novo paradigma promovendo uma visão sistêmica e uma ação baseada na colabora ção interprofi ssional VASCONCELOS et al 2015 Conforme Fiorano e Guarnieri 2015 e Bezerra et al 2016 os profi ssionais de saúde não têm sido formados com conheci mentos habilidades atitudes e valores sufi cientes para o adequa do desempenho no SUS visto que há uma crise na formação e no desenvolvimento dos recursos humanos Os programas de RIS RMSRAPRUS por sua vez apresentam uma perspectiva teórica e pedagógica convergente com os princípios e diretrizes do SUS promovendo exitosa aproximação entre o trabalho e a formação Isso pode possibilitar mudanças no modelo técnicoassistencial em razão do caráter interdisciplinar e da disponibilidade de espa ços estratégicos para as transformações nos cenários de formação e das práticas de saúde fortalecendo a relação ensinoserviço e contribuindo com práticas mais aproximadas das concepções de integralidade e de humanização da atenção Lobato Melchior e Baduy 2012 reforçam as RISRMS RAPRUS como dispositivos de mudanças de práticas e potencia lizadoras da formação de agentes micropolíticos na construção do SUS O cenário das Residências é de muitos dos coordenado res de programas das instituições dos preceptores dos tutores dos professores dos residentes e também de quem escreve e pes quisa sobre a temática DALLEGRAVE CECCIM 2016 Essas 139 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS modalidades de formação se confi guram então como práticas contrahegemônicas que permitem vivenciar novas tecnologias do cuidado buscando desassociálas das antigas práticas de saú de SALVADOR et al 2011 Nesse contexto Ribeiro e Dacal 2012 salientam que refl e tir acerca da formação em Psicologia da Saúde e mais especifi ca mente em Psicologia Hospitalar objetivo maior deste livro leva ao reconhecimento de que a consolidação desse campo de conhe cimento é historicamente recente e constróise em franca associa ção ao movimento da Reforma Sanitária brasileira As conquistas resultantes do movimento sanitarista dentre as quais se destaca a ofi cialização do SUS em 1988 repercutiram na reorientação das práticas de saúde para uma perspectiva mais ampla e coletiva de modo que o processo saúdedoença passou a ser abordado em sua real complexidade o que necessariamente abriu espaço para a inserção de outras profi ssões inclusive a Psicologia demarcando se a importância do trabalho interdisciplinar Observase nesse período uma ampliação considerável dos postos de trabalho para psicólogos no sistema público de saúde Todavia essa ampliação do mercado de trabalho não foi de vidamente acompanhada pelas necessárias mudanças nos mode los formativos tendo em vista que a maioria dos cursos de gradu ação em Psicologia tradicionalmente estão focados na formação de profi ssionais liberais para a atuação individual em consultório particular Desse modo o cenário proporcionado pelas transfor mações políticas no sistema de saúde favoreceu a inserção do psicólogo em campos de atuação absolutamente inovadores mas acabou por acolher profi ssionais ainda orientados pelos modelos hegemônicos já instituídos nos serviços e práticas de saúde A proposta das RISRMSRAPRUS auxilia então na for mação de profi ssionais de saúde mais abertos à prática colabo rativa e ao reconhecimento da interdependência entre as áreas Destacase então a importância de uma educação interprofi s sional já que a integralidade do cuidado é um dos princípios do SUS A implantação desse novo modelo pode até despertar re 140 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS ceios e inseguranças quanto ao seu manejo principalmente rela tivo ao rompimento com o paradigma do ensino tradicional por isso é fundamental que educação e o trabalho interprofi ssional sejam instituídos DIAS et al 2016 Na Psicologia o programa de Residência ajuda a construir fortalecer e potencializar a identidade do núcleo profi ssional construindo o setting e cultivando o cuidado no território do usuário além de proporcionar aprendizado acerca do trabalho em equipe do compartilhamento de responsabilidades da im portância de conhecer o contexto antes de planejar intervenções e também da necessidade de articulação intersetorial CEZAR RODRIGUES ARPINI 2015 MENDES et al 2011 LIMA SANTOS 2012 Morais Castro e Souza 2012 referem tam bém ao acompanhamento psicológico do paciente desde o início da internação hospitalar até a alta por meio tanto da busca ativa quanto da interconsulta e dos encaminhamentos posteriores A vivência hospitalar favorece a discussão sobre a neces sária articulação dos níveis de atenção à saúde em busca da in tegralidade da assistência O cotidiano do hospital também pro porciona aos residentes lidarem diariamente com situações que possibilitam o exercício de habilidades como fl exibilidade con fi ança paciência adaptação e reconhecimento de suas limitações profi ssionais LANDIM BATISTA SILVA 2010 Reis e Faro 2016 esclarecem que a inserção de psicólogos nessa modalidade formativa possibilita o desenvolvimento de aspectos relacionados tanto à dimensão do núcleo profi ssional naquilo que seria específi co da Psicologia como à dimensão do campo naquilo que se revela como eixo comum aos profi ssio nais componentes das equipes de saúde Meira e Silva 2011 ra tifi cam essa percepção ao afi rmarem que a Residência possibilita um agir refl exivo na realização de ações de núcleo e de campo ligadas especifi camente à Psicologia ou em caráter interdiscipli nar junto com os colegas residentes e com as equipes Na dimensão do núcleo profi ssional considerandose as es pecifi cidades do campo disciplinar da Psicologia estudos realiza 141 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS dos com psicólogos egressos de RMS demonstram que a intensa experiência prática em articulação direta e contínua com a teoria conferidas pelo desenho pedagógico da Residência possibilita o aperfeiçoamento da escuta psicológica qualifi cada e atenta às necessidades de saúde dos sujeitos e coletividades contribuindo em última análise com a ampliação do olhar da equipe sobre os usuários no sentido de compreendêlos em toda a sua comple xidade e não mais restritos a um diagnóstico ou tratamento Foi destacada assim a importância do serviço de escuta psicológica como um disparador dos processos coletivos e de inserção do saber e das práxis da Psicologia no trabalho em saúde Na perspectiva do campo destacase como contribuição para a formação do psicólogo toda a potencialidade inerente à opção pelo trabalho em equipe multiprofi ssional e interdiscipli nar tal como previsto nos projetos políticospedagógicos das RMS principalmente aquelas realizadas em instituições hospita lares REIS FARO 2016 Sabese que no contexto hospitalar a prática do trabalho em equipe não é uma proposta consensual e pacífi ca entre os profi ssionais em razão de que a cultura institucional hospitalar apesar das mudanças em curso ainda é pautada por uma lógica fragmentada de produção do cuidado que situa todas as demais categorias profi ssionais em um polo inferior frente à soberania biomédica Feuerwerker e Cecílio 2007 ao situarem a integra lidade como eixo articulador das práticas de saúde entendem que deve estar também presente nos hospitais no entanto os valores aclamados pela atenção integral tais como a concepção ampliada de saúde e a construção multiprofi ssional de projetos terapêuticos conduzidos por equipes são pouco acolhidos em um cenário demarcado por relações de poder e disputa entre as profi ssões As Residências em Saúde diante disso colocamse como contraponto ameaçador à hegemonia da ordem tradicional mente estabelecida Há que se considerar ainda que o mero agrupamento de pro fi ssionais de diferentes categorias em um mesmo espaço e tem 142 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS po não constitui garantia de um trabalho efetivamente integra do Nesse sentido as Residências em Saúde ao possibilitarem ao psicólogo a inserção permanente em equipe estimulandoo a interagir com outros saberes e fazeres fomenta a ampliação do olhar sobre o fenômeno saúde possibilitando também o en tendimento acerca das especifi cidades das outras profi ssões Pe duzzi 2007 reitera que os serviços e práticas de saúde geral mente conformam o exercício multiprofi ssional à subordinação e à hierarquização submetendo os profi ssionais nãomédicos à racionalidade biomédica predominante Frente a isso o trabalho em equipe constitui ferramenta necessária para a mudança das práticas tradicionais de saúde pautadas na lógica da fragmenta ção dos saberes nos atos profi ssionais isolados e centrados em uma dimensão exclusivamente técnica Assim considerase que para o alcance do que Peduzzi 2001 denominou equipe integração em oposição à equipe agrupamento não há necessidade de anulação das especifi cida des das categorias profi ssionais como temem as corporações Ao contrário devese fomentar a construção de um horizonte nor mativo comum a todos os trabalhadores da saúde pautado pela integralidade da atenção pela centralidade do cuidado em saúde e pela prioridade no atendimento das necessidades de saúde dos usuários e coletivos De acordo com a pesquisa de Torres Barreto e Carvalho 2015 de todas as aprendizagens referidas pelos residentes aquela que se sobressai como mais emergente é o aprendizado entre as profi ssões e o trabalho em equipe Segundo Luz et al 2016 as atividades no cenário das RISRMSRAPRUS pela característica intrínseca da interdisciplinaridade refl etem em as pectos de extrema relevância para a formação profi ssional con ferindo um caráter inovador às condutas assistenciais Considerase que as RISRMSRAPRUS contribuem para que profi ssionais com distintas formações e dispostos a transitar entre diferentes áreas articulem seus saberes específi cos na or ganização do trabalho possibilitando tanto compartilhar ações 143 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS como delegar atividades a outros profi ssionais da área da saúde nos moldes de uma prática colaborativa É a partir dessa forma ção que se espera que o psicólogo residente seja um profi ssional capaz de promover transformações e inovações nas práticas de saúde a fi m de consolidar esse sistema e proporcionar atenção e gestão qualifi cada e integral à sociedade SILVA et al 2016 A complexidade da atenção à saúde exige o engajamento do profi ssional a capacidade de escuta o compromisso ético e a visão integral do sujeito do cuidado Nas RISRMSRAPRUS o trabalho aparece articulado à vida exigindo superação de pre conceitos e mudanças de atitude SCHERER PIRES JEAN 2013 Nas Residências em Saúde confi rmase que a especializa ção em saúde exige domínio de aspectos de campo e núcleo que se interligam contínua e complexamente TORRES BARRETO CARVALHO 2015 Considerações fi nais A reorganização do modelo assistencial com base nos prin cípios do SUS ainda constitui um grande desafi o para os diversos atores sociais da Saúde Pública A formação em saúde ainda é um nó crítico das propostas que apostam na mudança do mode lo tecnoassistencial no Brasil Destacamse alguns entraves para o processo de ensinoaprendizagem nos contextos concretos do SUS falta de diálogo entre profi ssionais preceptores e tutores defi ciência na preparação para o trabalho coletivo inclusive para a produção de conhecimento e ainda a tendência de os profi ssio nais atuarem de forma isolada dissociada e fragmentada inde pendentes dos demais A Psicologia por sua vez na medida em que se comprometa com a formação de profi ssionais produtores de uma prática crítica e éticopolítica segue com o desafi o de transformar a instituição hospitalar em mais um cenário de resistência e subversão à racio nalidade biomédica vigente promovendo a defesa intransigente da vida a partir de construções mais solidárias e igualitárias 144 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Reafi rmarmos a necessidade de se compreenderem os pro cessos formativos em saúde como dispositivos que agreguem concomitantemente as dimensões técnica e política possibili tando ir além dos especialismos que aprisionam os profi ssio nais em territórios restritos de poder corporativo e que assim impedem o intercâmbio entre a diversidade de vozes presentes no campo da saúde condição considerada indispensável para a garantia da integralidade da atenção Pensar a formação em saú de nesses moldes implica em reconhecer nos profi ssionais a con dição de permanentes aprendizes entendendo que a formação e o exercício profi ssional não constituem etapas excludentes mas que coexistem e se retroalimentam a partir da problematização das experiências cotidianas com o incremento de práticas sociais criativas que escapem das reproduções protocoladas Por fi m avaliamos que as Residências em Saúde têm um potencial enorme de transformação dos trabalhadores da área dentre eles os psicólogos sendo que para tanto tais programas devem ser alvo de contínuas pesquisas e de investimentos dos mi nistérios da Saúde e da Educação em prol do contínuo aprimora mento dos recursos humanos para o SUS A longo prazo talvez Residências em Saúde podem vir a se tornar também o padrão ouro da formação de profi ssionais de saúde assim como já acon tece na Medicina Referências BEZERRA TCA et al Avaliação de programas de formação profi s sional em saúde construção e validação de indicadores Trab educ saúde Rio de Janeiro v 14 n 2 p 44572 ago 2016 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpidS1981 77462016000200445lngennrmiso Acesso em 23 jun 2017 BRASIL Constituição da República Federativa do Brasil Brasília DF Senado 1988 145 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Portaria nº 198 de 13 de fevereiro de 2004 Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sis tema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de traba lhadores para o setor e dá outras providências Brasília Ministério da Saúde 2004a Disponível em httpdtr2001saudegovbrsasPOR TARIASPort2004GMGM198htm Acesso em 20 ago 2014 Portaria Interministerial MSMEC nº 45 de 12 de janeiro de 2007 Dispõe sobre a Residência Multiprofi ssional em Saúde e a Residência em Área Profi ssional da Saúde e institui a Comissão Nacional de Residência Multiprofi ssional em Saúde Brasília Mi nistério da SaúdeMinistério da Educação 2007 Disponível em httpwwwcremesporgbrlibrarymoduloslegislacaoversao impressaophpid6694 Acesso em 22 ago 2014 Política Nacional de Educação Permanente em Saúde Bra sília Ministério da Saúde 2009 Disponível em httpwww saudeesgovbrdownloadPoliticaNacionalEducPermanente SaudeV9pdf Acesso em 20 ago 2014 Comissão Nacional de Residência Multiprofi ssional em Saúde Secretaria de Educação Superior Resolução nº 02 de 13 de abril de 2012 Dispõe sobre diretrizes gerais para os programas de Residência Multiprofi ssional e em Profi ssional de Saúde Dis ponível em httpportalmecgovbrindexphpoptioncom docmanviewdownloadalias15448resolcnrmsn213abril 2012Itemid30192 Acesso em 26 nov 2016 BRASIL Comissão Nacional de Residência Multiprofi ssional em Saúde Secretaria de Educação Superior Resolução nº 05 de 07 de novembro de 2014 Dispõe sobre a duração e a carga horária dos programas de Residência em Área Profi ssional da Saúde nas modalidades multiprofi ssional e uniprofi ssional e sobre a avalia ção e a frequência dos profi ssionais da saúde residentes Dispo nível em httpswwwlegiswebcombrlegislacaoid276672 Acesso em 26 nov 2016 146 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS CECCIM RB Educação permanente em saúde descentra lização e disseminação de capacidade pedagógica na saúde Ciênc saúde coletiva Rio de Janeiro v 10 n 4 p 21930 outdez 2005 Disponível em httpwwwscielobrscie lophppidS141381232005000400020scriptsciarttext Acesso em 22 ago 2014 CEZAR PK RODRIGUES PM ARPINI DMA Psicolo gia na Estratégia de Saúde da Família Vivências da Residência Multiprofi ssional Psicologia ciência e profi ssão v 35 n 1 p 21124 2015 Disponível em httpdxdoiorg1015901982 3703000012014 Acesso em 24 jun 2017 CHEADE MFM et al Residência multiprofi ssional em saúde a busca pela integralidade Cogitare Enferm v 18 n 3 p 5925 julset 2013 CORRÊA LQ et al A atuação da educação física nas residências multiprofi ssionais em saúde Rev Bras Promoç Saúde Fortaleza v 27 n 3 p 42833 julset 2014 DALLEGRAVE D CECCIM RB Expressões do processo de governamentalização nas Residências em Saúde Interface Botu catu v 20 n 57 p 37787 2016 DALLEGRAVE D KRUSE MHL No olho do furacão na ilha da fantasia a invenção da residência multiprofi ssional em saúde Interface Botucatu v 13 n 28 p 21326 janmar 2009 Dispo nível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextp idS141432832009000100018 Acesso em 18 ago 2014 DIAS IMAV et al A tutoria no processo de ensinoapren dizagem no contexto da formação interprofi ssional em saúde Saúde debate Rio de Janeiro v 40 n 111 p 25767 dez 2016 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsci arttextpidS010311042016000400257lngennrmiso Acesso em 23 jun 2017 147 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS FEUERWERKER LCM CECILIO LCO O hospital e a for mação em saúde desafi os atuais Ciência Saúde Coletiva v 12 n 4 p 96571 2007 FIORANO AMM GUARNIERI AP Residência multiprofi s sional em saúde tem valido a pena ABCS Health Sci v 40 n 3 p 36669 2015 Disponível em httpdxdoiorg107322 abcshsv40i3823 Acesso em 26 jun 2017 LANDIM SA BATISTA NA SILVA GTR Vivência clínica hospitalar signifi cados para enfermeiros residentes em Saúde da Família Rev Bras Enferm Brasília v 63 n 6 p 91320 nov dez 2010 LIMA M SANTOS L Formação de psicólogos em residência multiprofi ssional transdisciplinaridade núcleo profi ssional e saú de mental Psicologia ciência e profi ssão v 32 n 1 p 12641 2012 LOBATO CP MELCHIOR R BADUY RSA dimensão políti ca na formação dos profi ssionais de saúde Physis Rio de Janeiro v 22 n 4 p 127391 2012 LUZ AR et al Consulta compartilhada uma perspectiva da clí nica ampliada na visão da residência multiprofi ssional Rev Eletr Gestão Saúde v 7 n 1 p 27081 2016 MARTINS GDM et al Implementação de residência multipro fi ssional em saúde de uma universidade federal trajetória histó rica Rev Gaúcha Enferm Porto Alegre v 37 n 3 p 18 2016 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsci arttextpidS198314472016000300405lngennrmiso Acesso em 23 jun 2017 MEIRA MA SILVA MO Atuação da Psicologia na Estratégia Saúde da Família a experiência de um psicólogo em uma Resi dência Multiprofi ssional Rev Bras Cie Saúde v 15 n 3 p 369 76 2011 Disponível em httpperiodicosufpbbrojs2index phprbcs Acesso em 25 jun 2017 148 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS MENDES LC et al Relato de experiência do primeiro ano da residência multiprofi ssional hospitalar em saúde pela ótica da Psicologia Rev SBPH Rio de Janeiro v14 n 1 125141 jan jun 2011 MORAIS J L CASTRO E S A SOUZA A M A inserção do psicólogo na residência multiprofi ssional em saúde um re lato de experiência em oncologia Psic Rev Belo Horizonte v 18 n 3 p 389401 2012 Disponível em httpperiodicospu cminasbrindexphppsicologiaemrevistaarticleviewP1678 95632012v18n3p389 Acesso em 15 mar 2015 NASCIMENTO D DG OLIVEIRA MAC Competências profi ssionais e o processo de formação na residência multipro fi ssional em saúde da família Saúde Soc São Paulo v 19 n 4 p 81427 2010 Disponível em 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saúde da família e co munidade Rev Bras Cienc Saúde João Pessoa v 15 n 3 p 329 38 2011 Disponível em httpperiodicosufpbbrojsindex phprbcsarticleviewFile108346820 Acesso em 23 ago 2014 SCHERER MDA PIRES DEP JEAN R A construção da in terdisciplinaridade no trabalho da Equipe de Saúde da Família Ciência Saúde Coletiva v 18 n 11 p 320312 2013 SCHMALLER VPV et al Trabalho em saúde formação profi s sional e inserção do Serviço Social na residência multiprofi ssio nal em saúde da família Textos Contextos Porto Alegre v 11 n 2 p 34661 agodez 2012 SILVA CT et al Residência multiprofi ssional como espaço in tercessor para a educação permanente em saúde Texto Contexto Enferm v 25 n 1 p 0109 2016 Disponível em httpwww scielobrpdftcev25n101040707tce25012760014pdf Acesso em 24 jun 2017 VASCONCELOS MIO et al Avaliação de programas de resi dência multiprofi ssional em saúde da família por indicadores Trab Educ Saúde Rio de Janeiro v 13 n 2 p 5377 2015 Dis ponível em httpdxdoiorg10159019817746sip00080 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position inspection Please Contact us ADPS PRIVATE LIMITED 317 Phase IV Ind Area Chandigarh 160002 INDIA Tel 911722764251 2764253 Fax 91172 2760628 EMail adpsadpsindiacom Web Site wwwadpsindiacom 153 41 INTERVENÇÕES PSICOEDUCATIVAS CONTRIBUI ÇÕES PARA PACIENTES E FAMILIARES NO HOSPITAL Tatiana Bukstein Vainboim A Psicologia Hospitalar teve sua área reconhecida como uma especialidade quando o Conselho Federal de Psicologia CFP em 20 de dezembro de 2000 promulgou a Resolução n 014 re gularizando a concessão de título de especialistas Nos últimos anos vem crescendo e se ampliando a participação do psicólogo no hospital assim o presente capítulo ilustra algumas das possi bilidades dessa intervenção profi ssional em ambiente hospitalar Comunicação vem do latim communicare signifi cando ter algo em comum repartir compartilhar Posteriormente o ter mo incorporou o sentido de estar em contato ou relação com alguém Sendo assim a boa comunicação pressupõe ter algo em comum com alguém ou ter a predisposição ao compartilhamento do que possuímos OSORIO 2007 A comunicação é muito importante no cuidado em saúde visto que a informação sobre sua doença além se ser direito do pa ciente pode melhorar a adesão aos tratamentos Isso porque quan do a pessoa sabe ao que vai ser submetida pode colaborar mais além de cuidar de maneira preventiva das emoções perturbadoras que emergem quando enfrenta o desconhecido Receber também esclarecimentos sobre os efeitos colaterais dos tratamentos faz com que o paciente possa se preparar melhor para enfrentálos Nesse sentido as intervenções pedagógicas de acordo com Liberato e Carvalho 2008 são frequentemente necessárias e efi cientes Afonso 2006 orienta que as ações educativas em saúde 154 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS devem promover a refl exão e a apropriação de conhecimentos pela população ampliando sua compreensão da saúde e poten cializando sua busca por qualidade de vida Especifi camente a intervenção psicoeducativa segundo Yin e Oliveira 2004 atua em dois níveis i didático ao oferecer in formações e orientação em relação à doença sintomas sinais e tratamento e ii terapêutico ao proporcionar suporte para confl i tos pessoais eou interpessoais surgidos com a doença e melhorar o relacionamento entre pacientes e cuidadores Essas interven ções podem ser ocorrer individualmente ou em grupo Para Afonso 2006 os grupos psicoeducativos permitem que os participantes refl itam sobre uma determinada questão de saúde e sobre a própria experiência Nesse contexto a pesquisa ação emancipatória deve promover a consciência crítica dos participantes a partir da autorrefl exão bem como a participação em decisões relacionadas às transformações de suas vidas As práticas grupais são especialmente proveitosas pois facilitam a expressão de sentimentos e a troca de experiências relacionadas à doença e ao tratamento o que tende a diminuir o nível de ansiedade dos participantes e a potencializar a ocor rência de processos de mudança e enfrentamento HOLLAND HOLAHAN 2003 PINHEIRO et al 2008 SANTOS et al 2011 Nessa perspectiva os grupos terapêuticos constituem uma estratégia para o manejo das emoções dos pacientes facilitando a adesão ao tratamento O trabalho é caracterizado por um pro cesso educativo que tem como proposta o compartilhamento de dúvidas angústias e receios com troca de experiências O obje tivo é oferecer alternativas que auxiliem no enfrentamento e na superação das difi culdades com a adaptação do estilo de vida do paciente à sua nova condição de saúde MALDANER et al 2008 Nesse sentido o paciente passa a refl etir sobre sua proble mática o que o estimula a encontrar seus próprios recursos de enfrentamento devendo sentirse acolhido pois se trata de uma proposta que une apoio e aprendizagem isto é uma prática que tem caráter informativo refl exivo e de suporte emocional SIL 155 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS VEIRA RIBEIRO 2005 Os grupos terapêuticos apresentam assim grandes vantagens para o paciente com suporte social aprendizado sobre a doença convívio com outros pacientes tro ca de experiências propiciando a sensação de aproveitamento do período em tratamento REBELO 2007 ROSO 2012 O papel do terapeuta no grupo é facilitar a relação entre os membros de modo a criar um clima de confi ança e segurança Devese atentar para a linguagem utilizada as regras e barreiras dos participantes do grupo possibilitando também o acolhi mento e a integração de novos membros de modo a se ampliar a consciência do grupo REBELO 2007 O panorama atual revela uma multiplicidade de interven ções psicoterápicas em grupo nos mais variados contextos e evi dencia a crescente aceitação dessa prática entre os profi ssionais e os próprios pacientes sobretudo nas instituições GUANAES JAPUR 2001 Rebelo 2007 aponta que o trabalho em grupo oferece melhor custo benefício para os hospitais especialmente para o SUS tanto pelos resultados clínicos de grande melhora quanto pela rentabilidade dos recursos dispostos humanos fí sicos e fi nanceiros porém em algumas situações temse um complicador para executar as atividades em grupo que são as di fi culdades operacionais nos ambientes hospitalares BECHELLI SANTOS 2005 NAKAO 2013 Dependendo do ambulatório e da doença a ser tratada há difi culdades na logística e no compa recimento dos participantes ao local e data estipulados A autora implantou no ambulatório de tumores cerebrais da Divisão de Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo o serviço de psicologia com atendimentos para os pacientes e criou um programa psicoeducativo voltado para os familiares de modo que pudessem ter um espaço de acolhimento e escuta Tais ser viços buscam informar esclarecer orientar e melhorar a relação entre pacientefamiliar e equipe profi ssional VAINBOIM 2011 Uma vez que a família do paciente e os cuidadores familia res adoecem juntos a Organização Mundial da Saúde 1990 os 156 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS considera unidade de cuidados o que leva à inclusão dos fami liares no atendimento pois não são vistos somente como prove dores de cuidados mas como pacientes de segunda ordem A aju da psicológica às famílias é pois considerada essencial visto que são também sofredores os familiares os quais no seu despreparo frente à doença confusos ainda com a sobrecarga de suas novas funções experimentam medos e angústias A boa comunicação entre pacientes e familiares eou cuidadores é considerada por tanto de extrema importância para todos incluindose a equipe profi ssional Por esse motivo optouse por montar um programa psicoe ducativo para os cuidadores familiares porém considerando que os pacientes portadores de tumor cerebral maligno têm uma so brevida baixa com média de um ano pôdese perceber que seria inviável montar um grupo com os participantes Primero por que não teríamos tempo para esperar reunir familiares uma vez que os pacientes iam falecer em curto espaço de tempo segundo como o cuidador familiar vivencia elevada sobrecarga não havia como marcar um dia e horário específi cos para ele comparecer ao ambulatório pois muitas vezes não tinha com quem deixar o paciente Dessa forma com um atendimento individualizado ele marcaria o horário em que pudesse comparecer individualmente A autora criou então um programa psicoeducativo indivi dual para atender às necessidades desses cuidadores familiares Esse programa teve os seguintes objetivos prestar apoio emocional orientação e informação melhorar a relação entre os pacientes e seus cuidadores no enfrentamento da doença estimular um diálogo aberto em casa e melhorar a qualidade de vida de ambos Os cuidadores individualmente participaram de quatro sessões com 45 minutos de duração cada sendo esses encon 157 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS tros realizados uma vez ao mês no ambulatório até se comple tar o número de quatro encontros Os temas abordados foram os seguintes Primeira sessão explicação do programa e informações acerca da doença e seu impacto na vida do paciente e de seu cuidador familiar Segunda sessão cuidados em casa informações sobre o tratamento e efeitos secundários importância do papel dos familiares e da comunicação entre eles e melhoria da comunicação em casa e com outros profi s sionais da equipe de saúde Terceira sessão escuta e validação das emoções surgidas com o impacto da doença na qualidade de vida e estágios do processo de enfrentamento pelos quais pas sam os pacientes e os familiares após saber do diagnósti co e do prognóstico de acordo com KüblerRoss 1998 Quarta sessão discussão sobre o tema qualidade de vida possibilidades de autoajuda e fechamento com avaliação pelos participantes da ex periência no programa psicoeducativo No início de cada sessão foram explicados ao cuidador familiar os temas a serem abordados naquele encontro Houve 158 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS espaço também para esclarecer toda e qualquer dúvida sendo que quando a autora não sabia a resposta davaa na sessão seguinte após obter informações com os médicos Na eventualidade de morte do paciente foi facultado ao cuidador familiar permanecer no progra ma psicoeducativo e quando a opção foi permanecer o luto foi in troduzido entre os temas na primeira sessão à qual ele compareceu Para mensurar o impacto do programa de início foi apli cada uma entrevista psicológica semidirigida Fase I e o instru mento de avaliação de qualidade de vida WHOQOLbref tra duzido e validado para português pelo Grupo WHOQOL Brasil FLECK et al 2000 Após participarem das quatro sessões do programa psicoeducativo foi realizada a entrevista psicológica semidirigida Fase II sendo reaplicado o instrumento de ava liação de qualidade de vida WHOQOLbref a fi m de se compara rem os resultados após a intervenção A entrevista Fase II abor dou questões referentes às possíveis mudanças ocorridas na vida dos cuidadores após a intervenção psicológica difi culdades que tenham surgido e que permaneceram bem como abriuse espaço para pequenos relatos de experiência Como resultado notouse que o fato de a proposta do es tudo ter sido oferecer um espaço psicoeducativo e não somente psicoterapêutico teve um efeito benéfi co Isso porque muitas ve zes os familiares não faziam perguntas ao médico nem tiravam suas dúvidas pois por diversas vezes o paciente está junto no momento da consulta médica e tem medo da possível resposta então a família se abstém de indagar Com a participação no pro grama os familiares sentiramse acolhidos sabendo que a psi cóloga poderia ser um importante canal de comunicação Nesse sentido é importante que a família tenha dentro da equipe uma pessoa que seja referência e à qual poderá recorrer quando sentir necessidade sendo a mais indicada para isso a pessoa do psicólo go Cabe pois ao psicooncologista ser o mediador entre pacien te família e equipe de profi ssionais de saúde Essa experiência prática da autora corroborou o pensamen to de Liberato e Carvalho 2008 quanto aos métodos pedagógi 159 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS cos e psicoterapêuticos se aplicados de forma adequada contri buírem para a melhora da qualidade de vida de pacientes e seus familiares bem como da equipe de saúde No que diz respeito aos atendimentos direcionados aos fa miliares as análises feitas permitem dizer que o programa psico educativo se mostrou benéfi co ao orientar e informar além de minimizar o estresse desencadeado pela doença e permitir uma melhora no bemestar e na qualidade de vida do familiar o qual vivencia um sentimento de perda iminente desgaste físico e emo cional sendo que muitas vezes acaba por esquecer e ignorar seus próprios problemas e partilhar os mesmos medos e angústias que o ente querido Desse modo todos os familiares que participaram do programa psicoeducativo apresentaram uma melhora signi fi cativa na qualidade de vida em todos os domínios principal mente no psicológico O estudo da autora foi pioneiro com essa população visto que não se encontraram na literatura pesquisas com intervenções psicoeducativas junto a pacientes eou familia res de portadores de tumores cerebrais Encontrouse um estudo que relata a experiência de grupo psicoeducativo com cuidadores de pacientes com distrofi a muscu lar de Duchenne CERDEIRA VILLELA 2011 A proposta do grupo segundo as autoras baseouse na ideia de que um espaço de informação discussão de dúvidas e expressão de experiências poderia contribuir para a diminuição das ansiedades e difi culdades relacionadas aos cuidados do paciente criando novas alternativas para lidar com as demandas cotidianas Os resultados mostraram que o grupo psicoeducativo com essa população é viável e efetivo em um hospital A adesão à proposta dos grupos pelos cuidadores foi outra evidência de que eles necessitam e buscam um espaço em que sua voz seja ouvida e seu sofrimento acolhido O estudo de Santana et al 2010 avaliou o impacto psi cológico de um grupo educativo junto a 73 pacientes cardíacos indicados a cirurgia em um hospital universitário Os pacientes foram submetidos a sessão multidisciplinar com exposição dia logada sobre cardiopatias procedimento cirúrgico e sintomas 160 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS psicológicos Verifi couse que o grupo foi benéfi co para o ajusta mento psicossocial dos pacientes ao estressor pois eles se senti ram esperançosos após participarem da intervenção e avaliaram que a atividade foi muito importante para ajudar a enfrentar o procedimento cirúrgico Outro achado relevante foi um grupo psicoeducativo mul tifamiliar oferecido a pacientes adolescentes com transtornos ali mentares e a suas famílias no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo NICOLETTI et al 2008 Segundo os autores o grupo psicoeducativo multifamiliar é uma das modalidades de interven ção que tem por objetivos esclarecer orientar e informar sobre as características clínicas da doença bem como suas consequências físicas psicológicas e nutricionais com vistas a oferecer maiores subsídios às famílias no enfrentamento da doença possibilitar maior adesão ao tratamento e prevenir a recaída Como a etiologia dos transtornos alimentares é multifato rial fazse necessário que o tratamento envolva uma equipe mul tiprofi ssional composta por profi ssionais capacitados que podem utilizar técnicas terapêuticas variadas A família é parte essencial no tratamento uma vez que também sofre o impacto e o desgaste emocional e físico que o transtorno ocasiona no paciente Nessa iniciativa a equipe é formada por psiquiatras nutricionistas psi cólogos e endocrinologistas O grupo psicoeducativo multifami liar é coordenado pela terapeuta familiar da equipe e auxiliado por uma psicóloga Os encontros são mensais com uma hora e meia de duração sendo realizados de quatro a seis encontros nos quais são expostos os temas essenciais do tratamento A equipe médica é responsável por dois encontros a psicologia nutrição e terapia fa miliar realizam cada uma um encontro sendo o último encontro reservado para encerramento questionamentos e avaliações A dinâmica dos encontros ocorre da seguinte forma nos primeiros cinco minutos a terapeuta familiar apresenta o con vidado do dia e o tema a ser tratado O profi ssional convidado apresenta sua palestra em 40 minutos e em seguida durante 15 161 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS minutos as famílias fi cam à vontade para fazer perguntas especí fi cas sobre o tema abordado Como resultado a experiência com o grupo psicoeducativo multifamiliar apontou importantes bene fícios da inclusão da família no tratamento dos transtornos ali mentares sendo positiva tanto para esses familiares quanto para a própria equipe multidisciplinar Concluise que as intervenções psicoeducativas são benéfi cas podendo ser aplicadas nos hospitais em pacientes com diversos tipos de doenças e seus familiares individualmente ou em grupo Referências AFONSO MLM Anotações para uma discussão sobre a ética do trabalho com ofi cinas na área da saúde In Org Ofi cinas em dinâmica de grupo na área da saúde São Paulo Casa do Psicólogo 2006 p 37186 BECHELLI LPC SANTOS MA O paciente na psicoterapia de grupo Rev Latinoamericana de Enfermagem v 13 n 1 p 11825 2005 CERDEIRA ME VILLELA EMB Grupo psicoeducativo em sala de espera com cuidadores de pacientes com distrofi a muscular de Duchenne In JORNADA DE INICIAÇÃO CIEN TIFICA 7 2011 São Paulo Anais São Paulo Universidade Presbiteriana Mackenzie 2011 p118 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA Resolução n 0142000 de 20 de dezembro de 2000 Brasília 2000 FLECK MPA LOUZADA S XAVIER M CHACHAMO VICH E SANTOS L PINZON V Aplicação da versão em por tuguês do instrumento abreviado de avaliação de qualidade de vida WHOQOLbref Rev Saúde Pública n 34 p 17883 2000 GUANAES C JAPUR M Grupo de apoio com pacientes psiquiá tricos ambulatoriais em contexto institucional análise do manejo te rapêutico Psicologia Refl exão e Crítica v 14 n 1 p 1919 2001 162 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS HOLLAND KD HOLAHAN CK The relation of social sup port and coping to positive adaptation to breast cancer Psycholo gy and Health v 18 n 1 p 1529 2003 KÜBLERROSS E Sobre a morte e o morrer O que os doentes terminais têm a ensinar a médicos enfermeiras religiosos e aos seus próprios parentes 8 ed São Paulo Martins Fontes 1998 LIBERATO RP CARVALHO VA Psicoterapia In CARVA LHO VA FRANCO MHP KOVÁCS MJ LIBERATO R MACIEIRA RC VEIT MT GOMES MJB BARROS LH Orgs Temas em PsicoOncologia São Paulo Summus 2008 p 34150 MALDANER CR BEUTER M BRONDANI CM BUDO MLD PAULETTO MR Fatores que infl uenciam a adesão ao tratamento na doença crônica o doente em terapia hemodialítica Rev Gaúcha Enferm Porto Alegre v 4 n 29 p 64753 2008 NAKAO RT Variáveis sociodemográfi cas clínicas e psicoló gicas associadas à adesão à hemodiálise 2013 112f Disser tação Mestrado em Ciências Psicologia Universidade de São Paulo Ribeirão Preto 2013 NICOLETTI M GONZAGA AP MODESTO SEF CO BELO AW Grupo Psicoeducativo Multifamiliar no tratamento dos transtornos alimentares na adolescência Psicologia em Estu do v 15 n 1 p 217223 2010 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE Cancer Pain Relief Genebra 1990 OSÓRIO LC Grupoterapias abordagens atuais Porto Alegre Artmed Editora 2007 PINHEIRO CPO SILVA RM MAMEDE MV FERNAN DES AFC Participating in a support group experience lived by women with breast cancer Revista Latinoamericana de En fermagem v 16 n 4 p 7338 2008 163 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS REBELO H Psicoterapia na idade adulta avançada Análise Psi cológica v 25 n 4 p 54357 2007 ROSO CC O cuidado de si de pessoas com insufi ciência renal crônica em tratamento conservador 2012 119f Dissertação Mes trado em Enfermagem Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria 2012 SANTOS MA PRADO MAS PANOBIANCO MS AL MEIDA AM Grupo de apoio a mulheres mastectomizadas cui dando das dimensões subjetivas do adoecer Revista da SPAGESP v 12 n 2 p 2733 2011 SANTANA JJRA FERNANDES LFB ZANIN CR WAE TEMAN CM SOARES M Grupo educativo de cirurgia cardía ca em um hospital universitário impacto psicológico Estudos de Psicologia v 27 n 1 p 3139 2010 SILVEIRA LMC RIBEIRO VMB Grupo de adesão ao trata mento espaço de ensinagem para profi ssionais de saúde e pa cientes Interface Comunicação Saúde Educação v 9 n 16 p 91104 2005 VAINBOIM TB Qualidade de vida e intervenção psicoeducativa com cuidadores nãoprofi ssionais de pacientes portadores de glioblastoma multiforme 2011 133 f Dissertação Mestrado em NeurologiaFa culdade de Medicina Universidade de São Paulo 2011 YIN MLY OLIVEIRA MG Relato de uma experiência psi coeducacional com familiares de portadores de transtornos do humor Rev Bras Ter Comp Cogn n 6 p 13542 2004 165 42 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO E VISUALIZA ÇÃO NA PRÁTICA DA PSICOLOGIA HOSPITALAR Elisa Maria Parahyba Campos Rodrigues Anali Póvoas Orico Vilaça Camilla Maria Santos Pinho Introdução Em sua multiplicidade e pluralidade a Psicologia aden tra também o âmbito hospitalar e mais amplamente o campo da saúde A atuação do psicólogo hospitalar pautada no saber biopsicossocial vai na direção integradora e holística em saúde baseada nas concepções psicossomáticas e de não exclusão dos aspectos psicológicos ambientais familiares e institucionais que defi nem o processo de doença CHIATTONE 2002 p 98 Na busca de uma atuação com foco na promoção de saúde e não apenas na prática curativa do corpo ou do órgão doente os psi cólogos e profi ssionais de saúde têm investido no resgate das téc nicas complementares alternativas de cuidado destacandose as técnicas de relaxamento e visualização LUFIEGO 2017 As técnicas de relaxamento ganharam espaço nas práticas clínica e hospitalar a partir dos estudos de Schultz na Alemanha entre 1908 e 1912 com o método denominado treinamento au tógeno sendo reforçadas na década de 1930 com as pesquisas do médico fi siologista americano Jacobson as quais sinalizaram diversos benefícios do relaxamento progressivo muscular Essas duas técnicas de relaxamento que abriram caminho para inúme ras pesquisas no campo hospitalar são até hoje as mais usadas na prática da psicologia ao lado das meditações FIGUEIREDO GIGLIO BOTEGA 2006 166 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Já os relaxamentos com associação de visualizações com imagens mentais foram amplamente difundidos pelo Programa Simonton 1987 na prática com pacientes oncológicos Essa téc nica foi desenvolvida por Creighton a partir do programa em grupo multidisciplinar pioneiro organizado pelo casal Simonton A psicóloga e o médico oncologista colocaram em prática técni cas de relaxamento e visualização na complementação dos trata mentos médicos tradicionais de cuidado oncológico CAMPOS 2010 GIMENES CARVALHO CARVALHO 2002 As técnicas complementares reforçam a importância da re lação mentecorpo visto que as emoções têm papel fundamental no desenvolvimento de doenças e na manutenção e recuperação da saúde Simonton MatthewsSimonton e Creighton 1987 p16 apontam a importância do envolvimento do próprio pa ciente em seu processo de saúdedoença sendo pois incluído no processo e responsável por participar da recuperação de sua saúde e viver de forma compensadora e realizadora No âmbito da Psicologia da Saúde a área da Psiconeuroimu nologia com sua interface dos sistemas psíquicos neuroendócri nos e imunológico tem auxiliado no entendimento de como as emoções e estados mentais provocam alterações corporais e vem reafi rmando cada vez mais a importância das práticas de relaxa mento e visualização no processo de saúde e na busca pelo bem estar O uso de tais técnicas visa contribuir para o autoconheci mento propiciando ampliação da consciência o fortalecimento do sistema imunológico através da compreensão do processo in tegrado corpo e psiquismo assim como estimular o sistema imu nológico na recuperação da saúde MULLER et al 2009 Treinamento autógeno Johanes Schultz infl uenciado pelo método da ioga hindu desenvolveu uma técnica capaz de favorecer o relaxamento mus cular por meio da auto indução através de metáforas onde a pes soa associa partes do seu corpo a sensações de peso ou calor O 167 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS treino que tem como base a repetição e progressão dos exercí cios busca o gradual amortecimento do ciclo ansiedadetensão Inicialmente os exercícios são guiados por um terapeuta que fala em voz baixa ritmada e monótona objetivando induzir o pacien te a um estado semihipnótico de modo a alcançar um nível de diminuição da tensão obtendo como resultado tranquilidade e autocontrole FIGUEIREDO GIGLIO BOTEGA 2006 A proposta é que o treino seja realizado diariamente com a repetição dos exercícios duas vezes ao dia alcançando progres sivamente a realização de quatro exercícios O primeiro iniciase de forma guiada com solicitação de respiração profunda e calma fazendose aos poucos uso de metáforas como por exemplo imagine que seu braço direito está fi cando pesado cada vez mais pesado como se fosse chumbo O treino deve ser repetido seis vezes no braço direito e depois de um intervalo por mais seis vezes no braço esquerdo No próximo passo as mesmas orienta ções devem ser seguidas com a inclusão dos membros inferiores tanto a perna direita quanto a esquerda No exercício três o re laxamento deve ser expandido para o restante do corpo propi ciando um relaxamento cada vez mais profundo Após realizar as etapas 1 e 2 o indivíduo deve ser instruído a imaginar que seu corpo todo agora está fi cando pesado pesado como se fosse um chumbo sendo repetido em média seis vezes até que ele sinta a sensação de peso e o relaxamento desejado CÂMARA 2006 FIGUEIREDO GIGLIO BOTEGA 2006 No último e quarto exercício devese incluir a sensação de temperatura objetivan dose um relaxamento intenso a Imaginar que seu braço direito está fi cando pesado pesado e morno Podese aqui usar também analogias por exemplo que o braço está imerso em uma bacia com óleo ligeiramente aquecido Repetese a fórmula verbal por uma seis vezes e passase para o braço es querdo após breve intervalo de alguns segundos 168 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS b Usando a mesma fórmula verbal o paciente deve ima ginar que sua perna direita está pesada e morna Depois a mesma autosugestão à perna esquerda c Imagina agora que todo o corpo está fi cando pesado e morno como se estivesse imerso em uma banheira com água morna FIGUEIREDO GIGLIO BOTEGA 2006 p 491 Relaxamento progressivo muscular O relaxamento progressivo muscular foi desenvolvido por Jacobson em 1938 a partir de suas pesquisas sobre a relação entre as atividades mentais e o grau de tensão dos músculos Tratase de um exercício que envolve a prática e repetição da contração e des contração dos principais grupos musculares do corpo facilitando a distinção entre os músculos tensionados e relaxados de forma progressiva até que se consiga promover um relaxamento integral FIGUEIREDO GIGLIO BOTEGA 2006 Jacobson postulou que a aprendizagem do relaxamento mus cular região por região progressivamente pode colocar em repouso do ponto de vista mental territórios do cérebro cor respondentes às partes do corpo assim relaxadas Desse modo a pessoa consegue um relaxamento geral do corpo que por sua vez favorece um estado de tranquilidade mental e emo cional FIGUEIREDO GIGLIO BOTEGA 2006 p490 Segundo Kapczinski e Margis 2004 inicialmente no processo de tensão e relaxamento o paciente deve incluir um grande número de grupos musculares sucessivamente podendo ser mãos e antebraços braços partes superior e inferior da face pescoço peito ombros dorso abdome coxas pernas e pés Com a prática podese reduzir gradativamente para oito e depois quatro grupos musculares a fi m que se alcance o relaxamento desejado Buscase assim infl uenciar positivamente a diminuição da ansiedade sonolência lassidão pulsação bem como tornar 169 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS a respiração mais lenta e discreta e induzir a queda da pressão arterial favorecendo também um estado de tranquilidade mental FIGUEIREDO GIGLIO BOTEGA 2006 Técnica de visualização As técnicas de relaxamento podem ser associadas com visua lizações de imagens mentais para se alcançarem objetivos específi cos principalmente aumentar a consciência da pessoa no caso da prática hospitalar e da saúde mobilizar sua participação no proces so de recuperação da saúde MULLER et al 2009 SIMONTON MATTHEWSSIMONTON CREIGHTON 1987 O casal Carl e Stephanie Simonton desenvolveu um programa que usa técnicas de relaxamento e de visualização com objetivo de ajudar o pacien te com câncer a lidar com suas emoções identifi car suas necessi dades existenciais expressar seus sentimentos comunicarse e ter uma atitude ativa e participativa em relação à sua enfermidade GIMENES CARVALHO CARVALHO 2002 p 59 O chamado Método Simonton foi desenvolvido em 1969 no Cancer Counseling and Research Center em Dallas tendo a visualização como ponto central da abordagem SIMONTON MATTHEWSSIMONTON CREIGHTON 1987 O programa baseado na perspectiva de que crenças emoções estresse e estilo de vida são importantes fatores que infl uenciam tanto a saúde quanto a resposta à doença bem como o enfrentamento e res posta ao tratamento é ainda nos dias de hoje utilizado de forma complementar na atenção ao paciente com câncer TEIXEIRA PIRES 2010 SIMONTON CANCER CENTER sd O novo Programa Simonton intitulado Getting Well Again SCCs New Patient Program atualmente sob responsa bilidade do Simonton Cancer Center SCC é referência em treinamento de profi ssionais de saúde e também no desenvolvi mento do programa de assistência a pacientes com câncer e seus acompanhantes pessoas de apoio de sua preferência suport person Usando técnicas de visualização psicoeducação e psi 170 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS coterapia o programa tem o objetivo de propiciar ferramentas e técnicas para que o indivíduo Melhore sua saúde física e mental Gerencie os sintomas associados à dor e ao medo Seja mais efi ciente em sua co municação com seus entes queridos e sua equipe médica Desenvolva crenças mais saudáveis sobre o seu câncer seus tratamentos e seu futuro Crie um plano de saúde de 2 anos Resolva o sofrimento emocional Use o poder da mente e da imaginação para ajudar na sua cura Integre assuntos de vida e morte Use sua sabedoria interior para fortalecer sua espe rança e determinação Aborde questões espirituais Reduza o estresse SIMONTON CANCER CENTER sd No Programa Simonton a visualização é associada à técnica de relaxamento progressivo muscular de Jacobson que tem como objetivo levar o paciente a reduzir a tensão e a concentrarse nas imagens mentais As instruções tanto do relaxamento físico como da visualização devem ser guiadas por um profi ssional de saúde um amigo ou por meio de uma gravação Após o relaxamento o paciente é orientado em diferentes passos a mentalizar seu próprio corpo eliminando as células do câncer fortalecendo seu organismo bem como visualizando a efi cácia do tratamento ao destruir o câncer SIMONTON MATTHEWSSIMONTON CREIGHTON 1987 Destacamse algumas das orientações 10 Em seguida imagine o câncer seja em termos reais ou simbólicos Pense no câncer como composto de células fra cas e confusas Lembrese de que o nosso corpo destrói cé lulas cancerosas milhares de vezes durante a vida Enquan to imagina o câncer é necessário que se dê conta de que a sua recuperação exige que as defesas naturais do seu corpo voltem a um estado natural e saudável 11 Se você estiver seguindo um tratamento imagine o trata mento entrando no seu corpo de uma forma que você o com preenda Se estiver seguindo um tratamento por irradiação 171 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS imagineo como sendo um feixe de milhões de projéteis de energia atacando as células que se encontram no caminho 12 Imagine os seus glóbulos brancos entrando no local onde se encontra o câncer reconhecendo as células anor mais e destruindoas Há um imenso exército de glóbulos brancos São muito fortes e agressivos E também muito espertos Não existe dúvida eles vencerão a batalha 15 Imaginese bem livre de doenças cheio de energia SI MONTON MATTHEWSSIMONTON CREIGHTON 1987 p 127 Os autores pontuam que o relaxamento e a visualização são processos passíveis de aprendizagem tornandose com o passar do tempo mais fáceis de serem realizados Essas técnicas podem ser apropriadas objetivandose o restabelecimento de outras en fermidades bem como o controle da dor Com a prática intenta se que o paciente tenha motivação para recuperar sua saúde alcance autodescoberta e autocontrole mude de atitude forta lecendo sua vontade de viver vivencie menos estresse e tensão e ainda que promova mudanças signifi cativas em outras áreas da sua vida Importante frisar que as técnicas não objetivam ilu dir o paciente quanto a sua real situação de saúde mas tornálo capaz de visualizarse alcançando o resultado desejado evitan do concentrarse apenas no estado de adoecimento o processo de visualização não é um método de autoilusão é um método de direcionamento de si mesmo SIMONTON MATTHEWS SIMONTON CREIGHTON 1987 p 132 Exemplos na prática contemporânea brasileira Na literatura científi ca brasileira há evidências que relacio nam as técnicas de relaxamento utilizadas com pacientes hospi 172 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS talizados aos efeitos benéfi cos na qualidade de vida e no enfren tamento da doença tornando possível reduzir sintomas ansiosos melhorar a qualidade do sono diminuir a angústia relacionada à dor COSTA REIS 2014 baixar o nível de estresse NOVAIS et al 2016 e também exercitar habilidades adaptativas que contri buem para a adesão ao tratamento e para a autonomia uma vez que o próprio paciente aprende a técnica e pode repetila mesmo na ausência do profi ssional de saúde que o acompanhou até após a alta hospitalar AZEVÊDO SANTOS 2011 Azevêdo e Santos 2011 realizaram na Unidade de Trata mento de Queimados UTQ do Hospital de Urgências de Ser gipe HUSE intervenção psicológica durante o atendimento a uma criança queimada uma paciente de sete anos do sexo fe minino atendida no período de oito semanas durante a inter nação Nesse caso foi utilizado entre outras técnicas o treino de relaxamento autógeno Assim durante os atendimentos a crian ça foi orientada a tencionar e relaxar partes do corpo por meio da imaginação identifi cando onde havia dor e imaginando o local sem dor Foram apresentadas as seguintes instruções para a criança feche os olhos e preste atenção no ar que entra e sai do seu corpo imagine um balão no seu abdômen e quando você inspirar estará enchendoo ao expirar lentamente pense que você está apagando uma vela e sentindo o seu corpo relaxado A criança foi orientada a praticar a respiração dia fragmática principalmente nas situações que envolviam os procedimentos de rotina do setor tais como a realização de curativos na enfermaria hospitalar AZEVÊDO SANTOS 2011 p 333 Como benefícios da técnica de relaxamento foi possível ob servar que a prática contribuiu para o desenvolvimento de habi lidades adaptativas que favoreceram a aderência da paciente ao tratamento e meios de manejo da dor A técnica de relaxamento permitiu desenvolver na criança a capacidade de refl exão acerca 173 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS de reações corporais e a avaliação dos níveis da dor AZEVÊDO SANTOS 2011 Novais et al 2016 realizaram um ensaio clínico randomi zado com 40 pacientes acometidos por esclerose múltipla EM em seguimento no ambulatório de neurologia do Hospital Uni versitário Cassiano Antônio de Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo Tendo como pesquisadores profi ssionais da área de Enfermagem esse estudo utilizou a técnica de relaxamen to muscular progressivo aliado a técnicas de respiração além de controle de parâmetros clínicos de frequência respiratória cardí aca pressão arterial sistólica e diastólica no período de oito se manas A pesquisa objetivou avaliar os níveis de estresse fadiga qualidade do sono e depressão após o treino diário do relaxa mento previamente orientado aos pacientes A técnica mostrou se efi caz como um método ativo participativo dinâmico pro porcionando autonomia aos pacientes uma vez que se aplicou não apenas durante o atendimento ambulatorial no hospital mas também em seu domicílio NOVAIS et al 2016 O estresse pode comprometer a qualidade de vida de pacien tes com EM contribuindo para um pior curso clínico da do ença tornandose essencial avaliar o nível de estresse desses indivíduos e elaborar propostas de enfrentamento às situa ções estressoras utilizando tecnologias inovadoras como o relaxamento que poderá proporcionar melhor vivência do processo saúde doença NOVAIS et al 2016 p 7 Machado et al 2017 realizaram uma revisão sistemática de intervenções não farmacológicas para o sono em pacientes sub metidos a cirurgia cardíaca No estudo foram utilizados além da técnica de relaxamento muscular progressivo dispositivos para induzir o sono ou minimizar possíveis interrupções e também estratégias educacionais tais como orientação verbal e folheto ex plicativo Embora tenha sido evidenciada a necessidade de novos estudos sobre práticas não farmacológicas sobretudo no Brasil foi possível comprovar que a utilização da técnica de relaxamento 174 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS resultou na melhora signifi cativa da qualidade do sono nos pa cientes após cirurgia cardíaca além de benefícios como o alívio da ansiedade e da dor o que também infl uencia a qualidade do sono Foi possível ainda verifi car que a educação do paciente fa voreceu maior envolvimento e participação no tratamento Em um ensaio clínico não randomizado realizado com 113 participantes diagnosticados com câncer Lufi ego 2017 investi gou a relevância da intervenção da técnica de relaxamento com visualizações durante sessões de quimioterapia no controle das variáveis depressão ansiedade e estresse Os participantes foram divididos em Grupo Experimental GE e Grupo Controle GC Os participantes do GE foram submetidos a sessões de relaxa mento com imagem guiada nas quais por meio de uma gravação O paciente era levado a imaginarse visualizando os órgãos em que o câncer se encontrava bem como a imaginar o me dicamento da quimioterapia entrando em seu corpo e des truindo as células cancerosas e ao mesmo tempo devolvendo saúde e equilíbrio às células saudáveis restituindo o estado físico anterior ao câncer LUFIEGO 2017 p 30 Lufi ego 2017 observou que o grupo de pacientes com cân cer em tratamento quimioterápico que exercitou a técnica de relaxamento com imagem guiada apresentou melhora na média das três variáveis mensuradas Especifi camente quanto aos sin tomas depressivos no GE foi observada diminuição nos níveis graves moderado e leve enquanto no GC não houve alteração no nível grave sendo observado um discreto acréscimo da pontua ção no nível moderado Nos casos dos sintomas ansiosos ao fi nal da pesquisa o GE reduziu os escores nos níveis grave moderado e leve enquanto no GC o escore do nível moderado teve aumen to para os sintomas de ansiedade A variável estresse sofreu uma redução signifi cativa no GE sendo que no GC foi observado um aumento O estudo foi corroborado pela literatura na área segun do a qual a experiência com técnicas de relaxamento associadas à imagem guiada auxilia na redução de variáveis emocionais e possibilita ao paciente uma melhora na qualidade de vida 175 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS Conclusão A análise das pesquisas brevemente mencionadas neste ca pítulo bem como o estudo da teoria acerca das técnicas de relaxa mento e visualização indicam a importância e os impactos do en volvimento do paciente no seu próprio cuidado e tratamento Ao tempo que os tratamentos e as tecnologias médicas desenvolvem se as equipes com um olhar amplo e integrado têm resgatado formas simples e tradicionais buscando reinserilas na promoção da saúde global do indivíduo Por se tratar de técnicas de fácil aplicação de baixo custo e que podem ser reproduzidas em diferentes momentos na pre sença ou não do profi ssional de saúde o paciente pode continuar sozinho o seu próprio cuidado com consequências positivas na recuperação de sua saúde Com o treino de tais práticas é pos sível melhor adaptarse ao processo de internação às limitações impostas pelo adoecimento favorecendo assim o autoconheci mento e melhorias na qualidade de vida durante o período de internação e também após a alta hospitalar As práticas defi nidas como complementares ao tratamento médico farmacológico podem portanto trazer ganhos ao cuida do na atenção básica à saúde tanto pela redução de custos de in ternação quanto pelo incremento ao cuidado inclusive podendo ser oferecidas também aos profi ssionais de saúde que vivenciam diariamente situações limite estressantes como a vivência de per das e do luto Referências AZEVÊDO Adriano Valério dos Santos SANTOS Ana Flávia Trindade dos Intervenção psicológica no acompanhamento hospi talar de uma criança queimada Psicol cienc prof Brasília v 31 n 2 p 328339 2011 Disponível em httpwwwscielobrscielo phpscriptsciarttextpidS141498932011000200010lngen nrmisoAcesso em 09 abril de 2018 176 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS CÂMARA Fernando Portela Treinamento autógeno simplifi ca do um método de terapia integral Psychiatry on line Brasil v 11 n 7 2006 Disponível em httpwwwpolbrmedbrano06 artigo0706php Acesso em 18 abr 2018 CAMPOS Elisa Maria Parahyba A psicooncologia uma nova vi são do câncer uma trajetória 2010 155 f Tese Livredocência Departamento de Psicologia Clínica Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo 2010 CHIATTONE H B C A signifi cação da psicologia no contexto hospitalar In ANGERAMICAMON Valdemar Augusto Org Psicologia da Saúde um novo signifi cado para a prática clínica São Paulo Pioneira Th omson Learning 2002 p 73167 COSTA Aline Isabella Saraiva REIS Paula Elaine Diniz dos Técnicas complementares para controle de sintomas oncológicos Rev Dor São Paulo v 15 n 1 p 6164 mar 2014 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpidS1806 00132014000100061lngennrmiso Acesso em 11 de abril 2018 httpdxdoiorg1059351806001320140014 FIGUEIREDO José Henrique GIGLIO Joel Sales BOTEGA Neury José Tratamento psicológicos psicoterapia de apoio re laxamento meditação In BOTEGA Neury José Org Prática psiquiátrica no hospital geral interconsulta e emergência 2 ed Porto Alegre Artmed 2006 p 483496 GIMENES Maria Glória CARVALHO Maria Margarida M J CARVALHO Vicente Augusto Um pouco da história da Psicoon cologia no Brasil In ANGERAMICAMON Valdemar Augusto Org Psicologia da Saúde um novo signifi cado para a prática clí nica São Paulo Pioneira Th omson Learning 2002 p 4771 KAPCZINSKI Flávio MARGIS Regina Transtorno de ansiedade generalizada In KNAPP Paulo Terapia cognitivocomportamental na prática psiquiátrica Porto Alegre Artmed 2004 p 193208 177 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS LUFIEGO Claudia Adriana Facco Avaliação da efi cácia da técni ca de relaxamento com imagens guiadas em pacientes oncológicos submetidos a tratamento quimioterápico 2017 93f Tese Douto rado Programa de PósGraduação em Gerontologia Biomédi ca Instituto de Geriatria e Gerontologia Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 2017 MACHADO Fernanda de Souza et al Nonpharmacological in terventions to promote the sleep of patients aft er cardiac surgery a systematic review Rev LatinoAm Enfermagem Ribeirão Preto v 25 n 2926 p 48 2017 Disponível em httpwwwscielobrscie lophpscriptsciarttextpidS010411692017000100606lngen nrmiso Acesso em 11 abril de 2018 MULLER Marisa Campio CALVETTI Prisla Ucker REDIVO Luciana Balestrin GEYER Júlia Gaertner JARROS Rafaela Behs Técnicas de relaxamento e visualização na psicologia da saúde Revista de Psicologia da IMED v 1 n 1 p 2433 2009 Disponível em DOI httpsdoiorg101825621755027psi coimedv1n1p2433 Acesso em 08 abr 2018 NOVAIS Paolla Gabrielle Nascimento et al Efeito do relaxa mento muscular progressivo como intervenção de enfermagem no estresse de pessoas com esclerose múltipla Rev LatinoAm Enfermagem Ribeirão Preto v 24 e2789 2016 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpidS0104 11692016000100409lngennrmiso Acesso em 11 abr2018 SIMONTON O Carl MATTHEWSSIMONTON Stephanie CREIGHTON James L Com a vida de novo uma abordagem de autoajuda para pacientes com câncer Tradução de Heloisa de M A Costa 6 ed São Paulo SP Summus 1987 SIMONTON CANCER CENTER Getting Well Again SCCs new patient program Malibu sd Disponível em httpswwwsi montoncentercomcancerretreatshtml Acesso em 08 abr 2018 178 PSICOLOGIA HOSPITALAR DEBATES CONTEMPORÂNEOS TEIXEIRA Elizabeth Batista PIRES Eliana Ferrante Psicoon cologia proposta de trabalho de apoio psicossocial aos pacientes com câncer Revista Saúde UNG SER v 4 n 1 p4052 2010 Disponível em httprevistasungbrindexphpsaudearticle view265621 Acesso em 08 abr 2018