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FELIX GUATTARIjSUELY ROLNIK Micropolitica Cartografias do Desejo 4 Ediyao OZES Petr6polls 1996 JlIlI IIIIIIII1 A Regina Schnaiderman presença r as boas maneiras de let hoje e chegar a tratar urn livre como se escuta urn disco como se alha urn fHme au urn programa de televisao como se e tocado por uma todo tratamento do livro que exigisse urn respeito especial uma atenao de autra espede vern de uma outra era e condena definitivamenre 0 livre Nao ha nenhuma questao de difi culdade nem de compreensao as conceitos sao exatamente como sons cores au imagens sao intensidades que convern a voce au nao que passam au nao passam Pop fiIosofia Nao ha nada a compreender nada a inter pretar Gilles Deleuze in Dialogues Flammarion Paris 1977 p 10 J SUMARIO Apresentafiio 11 I Cultura urn conceito reacionario 15 II Subjetividade e Historia 25 1 Subjetividade X 25 2 Subjetividade sujeito individual ou social X agenciamentos cole tivos de enunciacao 30 3 de subjetividade e individualidade 31 4 Singularidade X individualidade 37 5 Subjetividade linha de montagem no capitalismo e no socialismo burocratico 39 6 Revolw6es moleculares 0 atrevimento de singularizar 45 7 Em busca de identidade 66 8 Identidade X singularidade 68 9 Identidade cultural uma cilada 69 10 Minorias os devires da sodedade 73 a dentidade X devir mulher homossexual negro 73 b FalofaO em lorna de experiencias minoritarias e suas tramas 89 Psiquiatria 89 A escola 98 c Minorias na midia a radio livre 103 d Minoria marginalidade autonomia altemativa 0 devir molecular 121 e Trama de minorias rizoma JJ 123 I III Politicas 127 1 Micropolitica molar molecular 127 a Luta de classes autonomia 139 b Estado autonomia 147 c Igrea autonomia 153 d Partido autonomia 156 e Centralismo democratico X espontaneismo anarquia um falso pro blema 176 2 Uma certa da Historia 178 3 Revolmao J85 i j 4 Capitalismo mundiaf integrado 187 8 Os nllogarantidos 187 b Essa crise que noo e s6 economica 190 IV Desejo e Historia 197 1 Psicanalise corporaiies de analistas 197 2 Psicanalise e reducionismo 202 3 0 Complexo de InfraEstrutura 212 a Deseo como caos 214 b Inraestrutura X superestrutura critica aideia de conlito 217 c Interpretaroo 0 analista e 0 pianista 222 4 A esquizoanaIise 232 a Individuaroo do deseo a alienaroo 232C b Deseo terreno da micropolitica 233 c Inconsciente maquinico desejo como prodUrtlO 239 d Casos de esquizoanfJlise da clinica ao movimento social 241 5 Para alom do Complexo de InfraEstrutura 265 a 0 inconsciente freudiano 265 b 0 inconsciente esquizoanalitico 268 v energia corpo sexo 0 mito da viagem de liberaao 274 VI Arnor territorios de desejo e unta nova suavidade 281 VII Conversa de aeroporto 291 VIII A viagem de Guattari ao Brasil segundo de mesmo 298 IX A viagem de Guattari segundo os brasileiros 305 Apendice notas descartaveis sobre alguns conceitos 317 das Fontes 324 Bibliografia de Felix Guattari 327 APRESENTACAO Este livro naD foi escrito apenas a quatrc maDS as de Guattari e as minhas Na verdade muitas maDS 0 escreverarn Tudo comea em 1982 com a ideia que tive de convidar Guattari para urn passeio pelo Brasil E que 0 pals naquela ocasHio estava aquecido pelo rebolio de uma campanha eleitoral para governadores deputados e vereadores A sociedade brasHeira vivia urn momento de inconteshivel re vitalizacao a consciencia social e politica e claro mas DaD apenas e1a revitalizavase 0 inconsciente e de diferentes rna neiras Tipo de situacao que faz pensar em Guattari A esse respeito disse Deleuze certa vez com relacao a si mesrna e a Guattari que ambos procuravam allados e que esses auados cram as inconscientes que pro testam Que misterioso protesto seria esse 0 do inconsciente que DaD tern aver em todo caso nao diretamente com 0 protestodas conSClen cias e de seus interesses ou com aquila que se expressa em como as de uma campanha eIeitoral Se situarmos 0 inconsciente na ma neira de se orientar e de se organizar no munde as cartografias que o desejo vai traando diferentes micropolfticas que correspondem a dife rentes modos de social desfazse 0 misterio motivos de sobra justificam tal protesto Nao e nada diHcil identifidlos todos vivemos quase que cotidianamente em crise crise da economia especialmente a do Entrevista de Deleuze e Guattari a C BackesClement em marw de 1972 pubJicada na revista LArc n 49 e inclulda na colctanea Capilalismo e Esqui1orenia Dossier Antidipo Assfrio Alvim Lisboa 1976 p 148 11 1 I desejo crise dos modos que vamos encontrando para nos ajeitat na vida mal conseguimos articular um certo jeito e eIe ja caduca Vivemos sempre em defasagem em a atualidade de nossas Somos futi mas dessa incessante desmontagem de territ6rios treinamos dia a dia nosso jogo de cintura para manter um minimo de equilibrio nisso tudo Ternos de set craques em materia de montagem de territorios montagem se possfvel tao veloz e eficiente quanta 0 ritmo com que 0 mercado desfaz e faz outras Enttetanto niio pode ser qualquer a natu reza de tais territorios vemonos solidtados 0 tempo todo e de tados os lados a investir a poderosa fabrica de subjetividade serializada pro dutora destes homens que somos reduzidos a de suporte de valor e isso ate e sobretudo quando ocupamos os lugares mais prestigiados na hierarquia dos valores Tudo leva a esse tipo de eco namia Muitas vezes naD ha Dutra salda E que quando na desmontagem perplexos e desparametrados nos fragilizamos a tendenda e adotar po meramente defensivas Por medo da na qual corremos a risco de ser confinados quando ousamos criar qualquer territ6rio lar isto e independente de subjetivas por medo de essa mar chegar a comprometer ate a propria possibilidade de sobrevi venda 0 que e plenamente possivel acabamos reivinclicando urn territ6rio no edifido das identidades reconheddas Tornamonos assim muitas vezes em dissonancia com nassa consciencia produtores de algumas da linha de montagem do desejo Mas tuda iSBa naD e assim tao simples as inconscientes as vezes e cada vez mais protestam So que a rigor nao poderfamos chamar issa de protesto MeIhorseria falarmas em au em inven desinvestemse as linhas de montagem investemse outras linhas au seja inventamse outros mundos A raiz desse sistema que tern por base a do desejo sofre um golpe a cada vez que isso acontece E quando isso acontece algo assim estaria acontecendo naquele momento no Brasil descobrimos em Guattari um aliado e da mellior qualidade Nao como representante de uma escola em cujo seio podedamos nos reasse gurar mas como trafiado de uma trajetoria de urn certo tipo que mobiliza intensidades de nossa propria trajetoria desconheddas talvez e que faz com que se em nos a vontade de afirmar na fala ou niio a singularidade de nossa Foi pensando nisso que convidei Guattari para nos visitar Organi ze uma movimentada agenda de alividades em cinco estados Programei uma serie de conferencias debates mesasredondas entrevistas etc que seriam gravadas para posteriormente em livro A escolha dos temas e lugares se fez em da possibilidade de encontro com os indivfduos e grupos que institucionalizados au nao constitufam na quele momento subjetividades dissidentes 0 leitor encontra 0 cronogtama dessa no final com 0 tItulo Referendas das fontes 12 r Imaginar onde e com quem foi 0 inicio da viagem 1nICIO que se passa entre Guattan e eu na verdade entre imimeras experiencias em cada urn de nos urn primeiro agenciamento que a partir de entao comeca a cruzar outras trajet6rias novos agenciamentos se pOem a funcionar Impossivel dizer quem e quem nisso tudo pais cada urn que se conectava a essa aventura imprimia a ela urn novo sentido E assim foi sendo a viagem Assim tambem foi se fazendo 0 livro A ideia inidal era que 0 livro fosse uma espede de diario de via gem 0 que seria fadlitado peIa de todas as falas Bastaria seIe cionar alguns textos nas setecentas paginas de retranscricao e Entretanto no contato com 0 material retranscrito outro projeto impondo a mim Sempre achei uma pena que urn certo aspecto de Guattari a meu ver dos mms interessantes nao aparecesse nos livros que ele escrevia sozinho ou com DeIeuze Esse aspecto e algo que ele pro prio define como a sentimento de vira e mexe estar pegando ondas portadoras fazendo surf na de toda espede de vetores de inte ljgancia coletiva Pensei entao que este livro poderia ser uma opor tunidade para mim das mais prazerosas de preservar vivo na escrita o Guattari apaixonado pelas aventuras individuais e coletivas 0 Guattari que me apaixona Uma espede de homenagem as encontros de trajetorias que foi a viagem os agenciamentos efemeros que tais enqmtros ciavam e 0 que eu quis tornar presente neste livra 0 qual par sua vez poderia funcionar como elemento na composiCao de autros agencia mentos Durante ires anos fiquei convivendo intimamente com as falas retrans critas As diferentes espedes de material se compunham e recompunham ao mesmo tempo que eram trabalhadas por outros materiais que iam se introduzindo correspondencia entre Guattari e eu textos dele textos meus etc Linhas foram surgindo puxei algumas deixei outras de lado uma cartografia Conectados a outras experiencias os elemen tos que a comp5em podem ou nao gerar outras tantas cartograHas Alias e 0 unico jeito de ler este livro compartilhando Senao e na certa a livro esta organixado por temas Cada tema e feito basicamente de tres tipos de componentes 0 primeiro e mais freqiiente sao aforismas o segundo de conversa de debate de discussao de entrevista de mesaredonda ou de cartas nossas terceiro conferencias e ensaios de Guattari textos de pessoas que durante a viagem foram ganhando as vexes de urn paragrafo e outras de ate algumas paginas textos meus de durante e de depois da viagem que foram entremeando 0 mao terial do livro fazendo liga construindo passagens etc estes quando nao ptecedidos de me nome sao ptecedidos e artematados peIo sinal 0 al de estarem assinalados pot urn tecuo da margem as textos fala In entrevista a Michel Bute1 para LAuJre Journal Paris n 6 126198 p 9 incorporada a P Guattari Let annlet dhiver Ed Bernard Barrault Paris 198 13 J t 1 I I I I Ij I I I dos na primeira pessoa sem assinatura tanto aforismos quanta con ferencias e ensaios sao em geraI a resultado de uma montagem elabo rei cada um deles misturando pedaos de falas de Guattari sobre um mesma tema gravados em dierentes ocasi6es Alguns desses textos em menor Dumero sao citac5es diretas de falas dele apenas traduzidas Mas na medida em que tradueao e conexao com outros universos posso dizer que todos esses textos sao montagens e por isso naD ha nenhuma indicacao que diferencie as citac6es das montagens propriamente ditas S6 nos textos de Guattari posteriores a viagem e que estao indicadas data e proveniencia Ja as falas de outras pessoas vern precedidas de seus res pectivos nomes e quando inseridas numa conversa ha tambem de data e lugar onde se deram Algumas dessas falas sao anonimas umas porque nao foi registrado 0 nome de quem as proferiu ou porque quem as proferiu assim quis outras porque foram criadas a partir de necessi dades que a propria construao do livro foi revelando De certo modo este livre e datado ele traz a marca dos agencia mentos que 0 geraram Primeiro 0 Brasil de 1982 Intensificaao da re macro e micropoHtica eleic6es proliferacao de grupos orga nizados de minorias uso do tetmo alternativa para designar praticas sociais dissidentes ecos dos anos 70 e coisas assim Consequentemente urn cetto tipo de cartogtafias dessas experiencias e seus confrontos constitui sua principal materia Depois os acontecimentos ocorridos durante os tres anos de sua elaboracao Na leitura ainda outras datas estatao marcando a passagem por outtas eventuais cattografias Mas algo percorre tudo isso e independentemente das datas tais cartografias tern em comum a busca de safdas na constituicao de outros territorios para alem dos territorios sem safda outtos espacos de vida e de afeto Sao elas todas obtas dos tais inconscientes que atrevidos protestam Os aliados deque falava Deleuze na entrevista que eitei Eis 0 que ele diz literalmente a respeito Dirigimonos aos inconscientes que protestam Procutamos aliados Precisamos de aIiados E temos a impressao de que esses aliados ja exis tern de que nao esperaram par nos de que ha muita gente que esta farta que pensa sente e trabalha em analogas nada a ver com moda mas com urn ar do tempo mais profundo no qual se fazem investiga c6es convetgentes em domfnios muito diversos Este livro quer ser uma dessas investigac6es Seu domfnio sao as estrategias da economia do desejo no campo social aquilo que Guattari batizou com 0 nome de micropolftica 0 livro como hi disse segue a movimento de algumas dessas cartografias as que foram surgindo dos encontros que vivemos durante a viagem Sao essas as maos que 0 escre veram Suely Rolnik Gp citada p 148 Foram feitas modificarOes na traduriio 14 I Cultura urn conceito reaciomirio o conceito de cultura 0 profundamenre reacionarIO uma maneira de separar atividades semi6ticas atividades de no mundo social e c6smico em esferas as quais os homens sao remetidos Tais atividades assim isoladas sao padronizadas instituidas potencial ou realmente e capi talizadas para 0 modo de dominante ou seja simplesmente cortadas de suas realidades politicas Toda a ohra de Proust gira em torno da idoia de que 0 impossive autonomizar esferas como a da musica das artes plastieas da literatura dos conjuntos arquitetonicos da vida microssocial nos sa16es A culrura enquanto esfera autonoma s6 existe a nive dos mercados de poder dos mercados economicos e naD a Divel da da e do consumo real o que caracteriza os modos de capitalsticos I 0 que e1es nao funcionam unicamente no registro dos valores de troca valores que sao 1 Guattari acrescenta 0 sufixo fstico a capitalista por lhe parecer necessaria criar urn termo que possa designar nao apenas as sociedarles qualificadas como capitalistas mas tambem setores do Terceiro Mundo ou do capitalisffio periferico assim como as economias ditas socialistas dos paises do leste que vivem Duma especie de dependencia e contradependencia do capitalismo Tais sociedades segundo Guattari em nada se diferenciariam do ponto de vista do modo de prodwio da subjetividade Bias funcionariam segundo uma mesma cartografia do desejo no campo social uma mesma economia libidinalrHtica O leitor reeooootrara essa tematica desenvolvida em diferentes diret6es ao longo do livro 15 I I da ordem do capital das semioticas monetarias ou dos modos de finan daroento Eles fundonam tambem attaves de um modo de controle da que eu de cultura de equivalencia au de siste mas de equivalenda na esfeta da cultura Desse ponto de vista 0 capital fundona de modo complementar a cultura enquanto conceito de equivalen da 0 capital ocupase da economica e a cultura da sub jetiva E quando falo em subjetiva nao e refiro apenas a pu bliddade para a e 0 consumo de bensja propria do lucro capitalista que nao se reduz ao campo da svalia economica ela esta tambem na tomada de poder da Cultura de massa e singularidade 2 o titulo que propus para este debate na Folha de sao Paulo foi Cultuta de massa e singularidade 0 titulo reiteradamente anundado foi Cultura de massa e individualidade e talvez esse nao seja um mero problema de Talvez seja dildl ouvir 0 tetmo singuloridade e nesse caso traduziIo por individualidade me parece colocar em jogo uma dimensao essencial da cultura de massa E exatamente este 0 tema que ell gostaria de abordar hoje a cultura de massa como elemento fundamental da de subetividade capitalistica Essa cultura de massa produz exatamente indivlduosj individuos normalizados artieulados uns aos outrcs segundo sistemas hierarquicos sistemas de valores sistemas de submissao nao sistemas de submissao visiveis e explicitos como na etologia animal au como nas sociedades arcaicas au precapitalistas mas sistemas de submissao muito roais dissi roulados E eu nem diria que esses sistemas sao interiorizados ou in ternalizados de acordo com a expressao que esteve muito em voga numa certa epoca e que implica uma ideia de subjetividade como algo a ser preenchido Ao contrario 0 que ha e simplesmentl uma de subje tividade Nao somente uma da subjetividade individuada subjetividade dos indivlduos mas uma de subjetividade social uma da subjetividade que se pode encontrar em todos os mveis da e do consumo E mais ainda uma da subjetividade inconsciente A meu ver essa grande fabrica essa grande maquina capita llstica produz inclusive aquilo que acontece conosco quando sonharoo quando devaneamos quando fantasiamos quando nos apaixonamos e assim por diante Em todo caso ela pretende garantir uma hegemouica em todos esses campos A essa maquina de de subjetividade eu oporia a ideia de que e possivel desenvolver modos de singulares aquilo que 2 Titulo de uma mesaredonda promovida pela FolhtJ de Sao Paulo em 3 de setembro de 1982 com a de F Guattari Laymert G dos Santos Jose Miguel Wisnik Modesto Carone e Arlindo Machado 0 texto que se segue e uma montagem de inclui a da fala de Guattari nesse evento alem de ideias esparsas pox ele colocadas em outras ocaSi6e9 no deconer de sua viagem ao Brasil As falas dos demais participantes da mesaredonda em questio bem como treehos do debate encontramse espalhados pelo Hvro 16 J pod ch d 1 d d enamos amar el processos e szngulariZilf7zo uma maneira e recusar todos esses modm de preestabelecidos todos esses modos de e de telecomando recusaIos para construir de certa forma modos de sensibilidade modos de com 0 outro modos de modos de criatividade que produzam uma sin gular Uma existencial que caincida com urn desejo com urn gosiO de viver com uma vontade de construir 0 mundo no qual nos en contramos com a instauracio de dispositivos para mudar as tipos de 50 ciedade as tipos de valores que nio sao as nossas Hi assim algumas palavrascilada como a palavra cultura que nos impedem de pensar a realidade dos processos em questao A palavra cultura teve varios sentidos no decorrer da Hist6ria seu senticlo roais antigo e 0 que aparece Da expressio cultivar 0 espirito Vou designaIa sentido A e culturavalor par corresponder a um jul gamento de valor qUe determina quem tem cultura e quem nao tem au se pertence a meios cultos au se pertence a meios incultos 0 segundo nueleo semantico agrupa outras reIativas cultura Vou de signaIo sentido B E a fculturaalma coletiva sinonimo de civilizatao Desta vez ja nao ha mais a par ter au nao tern todo mundo tem CiIltura Essa 0 uma cultura muiro democratica qualquer um pode reivin diear sua identidade cultural E uma especie de a priori da cultura falase em cuItura negra cultura underground cuItura tecnica etc E uma especie de alma um tanto vaga diflcil de captar e que se prestou no curso da Hist6ria a toda especie de ambigiiidade pais 0 uma dimensao semanticaque se encontra tanto no partido hitleriano com a de volk povo quanta em numerosos movimentos de que querem se reapropriar de sua cultura e de seu fundo cultural 0 terceiro n6deo semantico que designo C corresponde a cultura de massa e eu a chamaria de culturamercadoria Ai nao h8 julgamentoavaior nem territorios coletivos CIa eulttira mais Cll menDS secretos como nelS sentidos A e B A cultura sao todos as bens todos as equipameritos casas de cultura etc todas as pessoas especialistas que trabaIbam nesse tipo de equipamento todas as te6rieas e ideol6gieas relativas a esse funcionamento enfim tudo que contribui para a de objetos semi6tieos livros filme difundidosnum mercado determinado de monetaria au estatal Difundese cultura exatamente como Caea Cola cigarros de quem sabe 0 que quer carros ou qualquer coisa Retomemos as tres categorias Com a ascensio da burguesia a cultura valor parece ter vindo substituir outras nOt5es segregativas antigos sis temas de social da nobreza Ja nao se fala mais em pessoas de qualidade a que se considera 0 a qualidade da cultura resultante de determinado trabalbo E a isso que se refere par exemplo aquela f6rmula de Voltaire especie de palavra de ordem no final de Candide Cultivem seus jardins As elites burguesas extraem a legitimidade de seu poder do fato de terem feito certo tipo de trabalbo no campo do saber no 17 II campo das artes e assim por diante Tambem essa noao culturavalor tern diversas acep6es Podese tomaIa como uma categoria geral de valor cultural no campo das elites burguesas mas tambem se pode usaIa para designar diferentes lllveis culturais em sistemas setoriais de valor aquila que faz com que se fale por exemplo em cultura classica cultura den tifiea cultura artfstica E af passo a passo vaise chegando a definiao B a da cult alma que e uma noiio peseudocientffica daborada a partir do final do se10 XIX com 0 desenvolvimento da antropologia em particular da antropologia cultural No infdo a de alma coletiva e mnito proxima de uma nocao segregativa e ate racista grandes antrop61ogos como Bruhl e Taylor reificam essa noiio de cultura Falose por exemplo que as sociedades primitivas tern uma concepcao animista do mundo uma alma primitiva uma mentalidade primitiva que servirao para qualificar modos de subjetivaiio que na verdade siio perfeitamente heterogeneos E depois na evolucao das dencias antropo16gicas com 0 estruturalismo e 0 culturalismo houve uma tentativa de se livrar desses sistemas de etnocentricos A corrente culturalista e muito diverM sificada no que diz respeito a essa tentativa Alguns continuaram a ter uma visao etnocentrica Outros em como Kardiner Margareth Mead Ruth Benedict com no6es tais como personalidade de base personalidade cultural de base pattern cultural quiseram do etnocentrismo Mas no fundo podese dizer que se essa tentativa consistiu em sair do etnocentrismo renunciar a uma referenda geral em a cultura branca ocidental mascuIina etc eJl na verdade estabeleceu uma especie de policentdsmo cultural uma especie de multiplicaiio do etnocentrismo Essa culturaMalma no sentido B consiste em isolar 0 que chamarei de uma esfera da cultura 0 dominio do mito do culto da numeraiio etc a qual se oporao outros nfveis tidos como heterogeneos Par exem pIa 0 campo do politico 0 campo das estruturais de parentesco tudo aquilo que diz respeito a economia dos bens e dos prestigios etc E assim acabase desembacanda numa em que se separa aquila que eu chamaria de atividades de numa esfera que passa a ser designada como a da cultura E a cada alma coletiva os povos as etnias os grupos sociais sera atribufda uma cultura No entanta esses povos etnias e grupos sociais nao vivem essas atividades como uma esfera separada Da mesma maneira que 0 burgues fidalgo de Moliere descobre que ele faz prosa as sociedades primitivas descobrem que fazem cultura elas sao informadas par exemplo de que fazem musica atividades de eulto de mitologia etc E descobrem isso sobretudo no momento em que pessoas vern lhes tomar a para expoMla em museus au vendeMla no mercado de arte au para inserila nas teorias antra pol6gicas cientfficas em Mas elas nao fazem nem nem nem muska Todas essas dimensoes sao inteiramente articuladas 18 umas as outras num processo de expressao e tambem articuladas com sua maneira de produzir bens com sua maneira de produzir sociais Ou seja elas naa assumem absolutamente essas diferentes que sao as da antropologia A e identica no caso da de urn indivlduo que perdeu suas coordenadas no sistema psiquiatrico au no das antes de sua integraao ao sistema de escolarizaao EIas brincam articulam relac6es sociais sonham produzem e mais cedo au mais tarde vaa tet que aprender a categorizar essas dimens6es de semiotizacao no campo social normalizado Agora e hora de brinear agora e hora de produzir para a escola agora e hora de sonhar e assim por diante Ja acategoria culturamercadorio a terceiro nucleo de sentido se pretende muita mais objetiva cultura aqui naa e fazer teoria mas produzir e difundir mercadorias culturais em principia sem levar em con os sistemas de valor distinios do nlvel A coituravalor e sem se preocupar tampouco com aquila que eu chamaria de niveis territoriais I da coltura que sao da do nlvel B culturaalma Nao se de uma cultura a priori mas de uma cultura que se produz se reproduz A se modifica constantemente Assim sendo estabelecer uma especie de nomenclatura cientifica para tentar apreciar 0 que e em termos quan titativos essa de cultura Ha grades muito elaboradas penso naquelas que estao em curso na Unesco nas quais se pode cIassificar as nlveis culturais das cidades das categorias sociais e assim par diante em do indice do numero de livros produzidos do numero de filmes do numero de salas de uso cultural etc A minha ideia e que esses tres sentidos que apareceram sucessiva mente no curso da Hist6ria continuam a funcionar e ao mesmo tempo Ra uma complementaridade entre esses tres tipos de nucleos semanticos A dos melos de de massa a da subje tividade capitalfstica gera uma cultura com universal Esta e uma dimensao essendal na da coletiva de trabalho e na can daquilo que eu chama de coletiva de controle social Mas independentemente desses dois grandes objetivos ela estatotalmente dis posta a tolerar subjetivos que escapam relativamente a essa cultura geral Eo preciso para isso tolerar margens setores de cultura mi noritaria subjetividades em que possamos nos reconhecer nos recuperar entre nos numa aheia Ii do Capitalismo Mundial Integrado CMI Essa atitude entretanto nao e apenas de tolerancia Nas ultimas decadas essa capitalfstica se empenhou eIa propria em produzir suas margens e de algum modo equipou novos territorios subjetivos os indivfduos as famflias as grupos sociais as minorias etc Tudo isso parece ser muita bern calculado Poderseia dizer que neste momento Ministerios da Cultura estao a surgir por toda parte desen volvendo uma perspectiva modernista na qual se propoem a incrementar de maneira aparentemente democratica uma de cultura que Ihes permita estar nas sociedades industriais desenvolvidas E tambem encorajar 19 formas de cultura partieularizadas a fim de que as pessoas se sintam de algum modo numa especie de territ6rio e nao fiquem perdidas num mun do abstrato Na verdade nao e bem assim que as coisas acontecem Esse duplo modo de da subjetividade essa da de cultura segundo os mveis Bee nao renunciou absolutamente ao sistema de do nivel A Atras dessa falsa demneracia da cultura con tinuam a se instautar de modo completamente subjacente os mesmos siStemas de a partir de uma categoria geral da cultura Os Ministros da eultura e os especialistas dos equipamentos culturais nessa perspectiva modernista dedatam nao pretender qualificar socialmente os consumidores dos objetos culturais mas apenas difundir cultura num de terminado campo social que fundonaria segundo uma lei de liberdade de tracas No entanto 0 que se amite aqui e que 0 campo social que recehe a cultura nao e homogeneo A difusao do livro do disco etc nao tern absolutamente a mesma quando veiculada nos meios de elites sociais ou nos meios de comunicaao de massa a titulo de formacao au de cultural Trabalhos de soci610gos como Bourdieu mostram que ha grupos que ja possuem ate urn metabolismo de receptividade das culturais E 6bvio que uma crianca que nunea conviveu num ambiente de Ieitura de de conhecimento de de obras pIasticas etc nao tern o mesmo tipo de com a cultura que teve por exemplo alguem como JeanPaul Sartre que literalmente nasceu numa biblioteca Ainda assim se quer manter a aparencia de igualdade diante das cultu rais De fato conservamos 0 antigo sentido cia palavra cultura a cultura valor que se inscreve nas tradicoes aristocraticas de aImas bern nascidas de gente que sabe lidar com as palavras as atitudes e as etiquetas A cultura nao e apenas uma transmissao de informacao cultural uma missiio de sistemas de modelizacao mas e tambem uma maneira de as elites capitalisticas exporem 0 que eu chamaria de urn mercado gera de poder Nao apenas poder sobre os objetos culturais ou sobre as possibili dades de manipuIaIos e criar algo mas tambem poder de atribuir a si os objetos culturais como signo distintivo na social com os outros 0 sentido que uma banalidade pode tomar por exemplo no campo da literatura varia de acordo com 0 destinatario 0 fato de urn aluno ou urn professorzinho do interior dizer banalidades sobre Maupassant nao altera seu sistema de de valor no campo social Mas se Giscard dEs taing num dos grandes programas da televisao francesa falar de Maupassant ainda que uma banalidade 0 fato se constitui imediata mente em urn fndice nao de seu conhecimento real acerca do escritor mas de que ele pertence a urn campo de poder que e 0 da cultura Tomarei urn exemplo mais imediato situado naquiIo que estou con siderando como contexto brasiIeiro Constumase insinuar que 0 Lula e 20 L o PT sao pessoa e empreendimento muito simpaticos mas que vaa sem duvida se revelar completamente incapazes de gerir uma sociedade alta mente diferenciada como e a brasileira pois eles nao tern competenda naa tern nfveis de saber suficientes para tanto Recentemente estive oa Paloma e constatei que esse mesma tipo de e usado contra Walesa Dirigentes do Partido Comunista Polones empregam todos as meios possfveis para tentar desconsideraMlo Especialmente urn sujeitinho nojento que se chama Racowski e que declara a imprensa ocidental que simpatiza muitfssimo com esse personagem tao seduto tao charmoso mas considera que separaclo de seus conselheiros de seu entou rage habitual ele nao e nada e urn incapaz Na verclacle 0 que esta se colocanclo em jogo nao sao esses niveis de competencia mesma porque para de conversa e natoria 0 nivel de incompetencia e das elites no poder Alias nos agen ciamentos de poder capitaI1stico em geral sao sempre os mais estupidos que se encontram no alto da piramide Basta considerar os resultados a gestao da economia mundial hoje conduz centenas e milhares de pessoas a fome ao desespero a urn modo de vida inteiramente impossive apesar dos progressos tecnol6gicos e das capacidades produtivas extraordinarias que estao se desenvolvendo nas tecnol6gicas atuais Assim nao podemos aceitar que 0 que esteja sendo eetivamente vi sado ou tendo um certo impacto na opinHio seja a competencia Alem disso esse argumento promove uma certa encarnada do saber como se a inteligencia necessaria nesta de crise que estamos vivendo pudesse encarnar algum suposto talento ou saber transcendental Esse argumento simplesmente escamoteia 0 fato de que todos os procedimentos de saber de eficiencia semi6tica no mundo atual participam de agenciamen tos complexos que jamais sao da de urn unico especialista Sabese muito bern que qualquer sistema de gestao moderna dos grandes procesws e impIica a de diferentes niveis de compe tenda Ness sentido nao vejo em que 0 LuIa seria incapaz de fazer tal E quando eu falo do LuIa na verdade estou falando do PT de todas as democraticas de todas as correntes minoritarias que estao se agitando neste momento de campanha eleitoral no Brasil Entao nao da para entender por que essas diferentes potencialidades de competencia nao poderiam fazer 0 que as elites hoje no poder fazem igual ou melhor Acho que 0 pontochave dessa questao nao esta ai e sim na do Lula com a cultura como quantidade de Nao a cultura alma pois e 6bvio que nesse sentido ele tern a cultura de Sao Ber nardo ou a cultura operaria e nao vamos tirar isso dele mas sim com urn certo tipo de cultura capitalistica uma das engrenagens funda mentais do poder As pessoas do PT em particular 0 Lula nao participam de determinada qualidade da cultura dominante E muito mais uma ques tao de estilo e de etiqueta Poderseia dizer ate que e algo que funciona 21 num nIvel anterior ao termino de uma frase a configuracaa de urn dis cursa Tais pessoas oao fazem parte da cultura capitaHstica dominante A partir dal desenvolvese todo um vetor de pois essa con de cultura impregna todos as nfveis sociais e produtivos Dal tais pessoas niio poderem pretender uma legitimidade para gerir os processos capitalfstieos coisa que das proprias acabam tambem dizenclo a que da urn de estranhamento a ascensao polftica e social de pessoas como Lula e 0 fato de sentirmos muito bern que oao se trata apenas de urn fenomeno de ruptura em a gestao dos fluxos sociais e econ8micos Mas sim de colocar em protica um lipo de processo de diierente do 101 urn tererritorializaemIeQUenos por amO ago allca a de uma subjetividade que vai ser capaz de gerir a desen e ao temp gerir quenao yao confmar as dlferentes categorlas sexualS no esquadrinhamento dominante do Entao a questao que se coloca agora nao e mais quem produz cultura quais vao ser as reeipientes dessas produc6es culturais mas como ageneiar outros modos de plodmao semi6tica de maneira a bilitar a construcao de uma soeiedade que manterse de setni6fieaque permitam assegurauma divisiio soeiaJda sempor isso fechar os indivlduos em sistemas de Jressora ou cllteg9rizar em esferas da cultura A como esfera cultural antes de mais nda aos pintores as pessoas que tern currfculo de pintoras e as pessoas que difundem essa pintura no comercio au nos meios de comunicacao de massa Como fazer com que essas categorias ditas da cultura possam ser ao mesmo tempo altamente espeeializadas singularizadas como e 0 caso que acabei de meneionar da pintura sem que haja por isso uma especie de posse hegem8nica pelas elites capitalfsticas Como fazer com que a musica a danca a criacao tacias as formas de sensibilidade pertencam de pleno direito ao conjunto dos componentes soeiais Como prodamar um direito a singularidade no campo de todos esses nlveis de dita cultural sem que essa singularidade seja confinada num novo tipo de etnia modQs cepNclsiio cuhual nao torl1em articularse uns articularse ao conlUliio sodal ao dos ouiroslipos 0 que eu chamo maqulni casioda essa revolucao informatica telematica dos robos etc Como abrir e ate essas antigas c1lturais fechadas sobre sl mesmas Como produzir novos agenciamentos de ira5alheni poYumli seliSibllidade esteliea pela da vldaniitii plno maTs cotidiano e aD mesmo tempopelas sociais a nive aos grandes conjuntos economicos e sociais 22 J Para conduir eu ditia que os problemas da culrura devem neeessa riamente sair da entre as tres nucleos semanticos que evoquei anteriormente Quando as meios de comunicacao de massa au as Ministros da Cultura faJamde nos convencer de que niio estao trarando de problemas politicosiisoCIals Nstrffiiiftciilfurapatln cOnsliiiiOcrJoosecrIstrilJui urn minima vihil de alimentos em algumas sociedades Mas as agenciamentos de prodlcao semi6tiea em todos esses nfveis artfsticos as criac5es de toda especie implicam sempre vamente dimens6es micropolfticas e macropoliticas f w eu podetia falar dos efeitos dessa concePliio hoje na Franca com 0 governo Mitterrand para tentar descrever a maneira pela qual os socialistas estao girando em falso com essa categoria de cultura E is tentativa de de da cuI ta niio esta real mente conectada com processos de so etlva ao sin ulaf com as mi Donas 0 que az com que eIa seiiipre apesar das boas inte uma privilegiada entre 0 Estado e os diferentes sistemas de cultural Neste momento algumas pessoas na entre as quais me ineluo consideram muito importante inven tar um modo de cultural que quebre radicaImente os esquemas atuais de poder nesse campo esquemas de que disp5e 0 Estado atualmente atraves de seus equipamentos coletivos e de sua mfdia Como fazer para que a cultura saia dessas esferas fechadas sobre si mesmas Como organizar dispore financiar processos de cultural queCfeimontemjs 1JJliLJ1QCJlll1PO da cultlJra os de da cultura Nao existe a meu ver cultura popular e cultura erudita Ha uma cultura capitalistica que permeia todos os campos de expressao semi6tica E isso que tento dizer ao evocar os nucIeos semanticos do termo cultura Niio ha coisa mais horripilante do que fazer a apologia da cultura popular ou da cultura proletaria ou sabese Ia 0 que desta na tureza Ha processos de em praticas determinadas e ha procedimentos de de operados peIos diferentes sistemas capitalfsticos No fundo s6 ha uma cuItura a capitallstica E uma cultura sempre etnocentrica e intelectocentrica ou Iogocentrica pois separa os universos semi6ticos das subjetivas Ha muitas maneiras de a cultura ser etnocentrica e nao apenas na racista do tipo cultura mascuIina branca adulta etc Ela pode ser relativamente policentrica ou polietnocentrica e preservar a 23 de uma de culturavalor um padrao de tradutibilidade geral das semi6ticas inteiramente paralelo ao capital 2Aim como 0 capital e um modo de que permite ter um geral para as producoes econBmicas e sociais a cultura e 0 equivalente geral para as de poder As classes dominantes sem pre buscam essa dupla maisvalia a maisvalia econoi atraves do cli nbeiro e a maisvalia de poder atraves da eulturavalor Considero essas duas maisvalia econlmica e maisvalia do poder inteiramente complementares Elas constituem juntamente com uma terceira categoria de 0 poder sobre a energia a capa cidade de conversao das energias umas nas outras os pilares do CM 24 1 II Subjetividade e Hist6ria 1 Subjetividade X Ao de ideologia juiiO de subjetividade prefiro falar sempre em subjetivaiio em pro L o sujeito segundo toda uma da filosoHa e das clendas hu manas e alga que encontramos como urn etrela algo do dominio de uma suposta natureza humans Proponho ao contratio a icleia de urna subjetividade de natureza industrial maquinica ou seja essencialmente fabricada modelada recebida consumida As maquinas de da subjetividade variam Em sistemas tfa didonais por exemplo a subjetividade fabricada por maquinas mais territorializaclas na escala de urna etnia de uma profissional de urna casta Ja no sistema capitalistico a industrial e se da em escala internadonal Esquematicamente falando eu diria que assim como se fabrica leite em forma de leite condensado com todas as molulas que he sao acres centadas injetase nas roses nas como parte do prccesso de subjetiva Sao requeridos muitos pais maes Edipos e para recompor urna estrulUra de famnia restrita 25 Ha uma espeCle de reciclagem ou de formacao permanente para voltar a ser mulher ou mae para voltar a ser crianca ou melhor para passar a ser crianca pois os adultos e que sao infantis As criancas conseguem nao seIo por algum tempo enquanto nao sucumbem a essa prodwao de subjetividade Depois elas tambem se infantiHzam Todas essas quest6es da economia eoletiva do desejo deixam de recer utopicas a partir do momenta em que nao mais consideramos a pro ducao de subjetividade como sendo apenas urn caso de superestrutura dependente das estruturas pesadas de das sociais A partir do momenta em que eonsideramos a producao de subjetividade como send9 a materiaprima da evolucao das forcas produtivas em suas formas mais desenvolvidas as setores Ide ponta da industria Materiaprima do pro prio movimento que anima a crise mundial atual essa especie de vontade de potencia produtiva que revolueiona a propria producao atraves das revolw6es ciendficas biol6gieas atraves da incorporaCao massiva da teIe matiea da informatica da ciencia dos robos atraves do peso cada vez maior dos equipamentos coletivos e da midia Se as marxistas e progressistas de todo tipo nao compreenderam a questao da subjetividade porque se entupiram de dogmatismo te6rieo isso em compensacao nao aconteceu com as forcas sociais que adminisrram io capitaHsmo hoje Elas entenderam que a de subjetividade talvez seja mais importante do que qualquer outro tipo de producao mais cial ate do que 0 petr61eo e as energias No Japao por exemplo nao se tern petr6leo mas se tern e como uma producao de subjetivi dade E essa producao que permite a economia japonesa se afirmar no mercado mundial a ponto de receber a visita de centenas de patronais que pretendem japonizar as classes operarias de seus paises de origem Tais mutac6es da subjetividade nao funeionam apenas no registro das ideologias mas no proprio coracao dos indivfduos em sua maneira de perceber 0 mundo de se articular como tecido urbano com os processos maqufnicos do trabaTho com a ordem social suporte dessas produ tivas E se isso e verdade nao e ut6pieo considerar que uma revoluCao uma mudanca social a niveI macropoIftieo macrossociaI diz respeito tam bern a questao da da subjetividade 0 que devera ser levado em conta pelos movimentos de emancipacao Essas quest6es que pareciam ser marginais do dominio da psicologia da fiIosofia ou dos hospitais psiquiatricos com 0 nascimento de imensas minorias que juntas constituem a maioria da populacao do planeta tor namse questoes fundamentais Nao considero que haja uma teofia au uma cartografia geral da forma como saO setriiotizadas essas problematicas Esse ponto epara mim fundamental pois a te6rica e ideo 26 16gica e inseparavel das condic6es dessa praxis e alga qlie se busca noproprio movimento as recuos as reapreciac5es e as reorganizac6es das referencias que forem necessarias E a condicao a ffieu vet para que elementos de como Exu e Ogum elementos do candomble sejam levados em cOhsideracao no modo de cartografia de semiotizacao de apreensao das problematicas aqui no Brasil Tudo 0 que e produzido pela capitalistica tudo 0 que nos chega pela linguagem pela familia e pelos equipamentos que nos rodeiam naG e apenas uma questao de ideia DaD e apenas uma trans missao de significac5es POt meio de enunciados significantes Tampouco se reduz a modelos deidentidade ou a com polos maternos paternos de sistemas de conexao direta entre as grandes nas as grandes ffiaquinas de cantrale social e as instancias psiquicas que definem a maneira de perceber 0 mundoAs sociedades arcaicas que ainda nao incorporaram 0 processo capitalistico as crian cas ainda nao integradas ao sistema au as pessoas que estao nos hospitais psiquiatrieos e que nao conseguem au nao querem enttat no sistema de significacao dominante tern uma percepcao do muncio inteiramente di erente ga qos esquemas 0 que DaD quer dizer que a natureza de sua percepc1io dos valores e das relacoes sociais seja caotka Sao autros modos de representacao do mundo sem duvida mnita impor tantes para as pessoas que deIes se servem para poder viver mas nao 56 para elas sua importancia podera se estender a outros setores cla vida social numa sociedade de outro tipo Nao conrraponho as de economlca as de prodwao subjetiva A meu ver ao menos nos ramos mais modernos mais da industria desenvolvese na um tipo de traballio ao mesmo tempo material e Mas essa de competencia no dominio semi6tico depende de sua pelo campo social como um todo e evidente que para fabricar um opedrio especializado nao ha apenas a das escolas profissionais Ha tudo a que se passou antes na escola primaria na vida domestica enfim ha toda uma es pecie de aprendizado que consiste em ele se deslocar na cidade desde a infancia ver televisao enfim estar em todo urn ambiente maquinico 1 Na verdade a de um bem manufaturado nao se resrringe a uma esfera a esfera da fabrica A divisao social do traballio implica uma quantidade enorme de traballio assalariado fora da entidade produtiva nos equipamentos coIetivos por exemplo e de trabalho nao assaIariado sobretudo das mullieres Aquilo que chamei de de subjetividade do eMI nao consiste unicamente numa de poder para controlar 27 as soeiaise as de A produiio de subjetividade constitui materiaprima de todaequalquer produiio A de ideologia nao nos pfrmite compreender essa lite ralmente produtiva da subjetividadefA ideologia permanece na esfera da quando a do eMI nao apenas a da Jepresentaao mas a de urna modelizaaoque diz respeito aos comporta mentos a sensibilidadea a ihem6ria as reIaoes sociais as relaOes sexuais aos fantasmas etc A de subjetividade enconttase e com urn peso cada vez maior no seio daquilo que Marx cbama de infraestrutura produtiva Isso mUito facil de verificar Quando urn poteneia como os EVA quer im plantar suas possibilidades de expansao economica num pals do Terceiro Mundo ela antes de mais nada a trabalhar os processos de subje Sem umtrabaIho de das edas de consumo sem urn trabalho de todos os meios de economica comercisl industrial as realidades sociais locais DaD poderio ser controladas A problematica micropolltica nao sesitua no nlvel da mas no nlvel da de subjetividade Ela se refere aos modos de expressao que passam nao so pela linguagem mas por nlveis semioticos heterogeneos Entao nao se trata de elahorar uma de referente geral interestrutural uma estrutura geral de significantes do inconsciente a qual se reduziriam todos os nlveis estruturais espedficos Tratase sim de fazer exatamente a operaio inversa que apesar dos sis temas de equivaleneia e de tradutibilidade estruturais vai ineidir nos pontos de singularidade em processos de que sao as pro prias ralzes produtoras da subjetividade em sua pluralidade Todos os fenomenos importantes da atualidade envolvem dimens5es do desejo e da subjetividade Nao se consegue explicar 0 que esta acon tecendo no Ira ou na Pol6nia por exemplo se nao se entender que ponto esta havendo uma de subjetividade coletiva que com muita dificu1dade se expressa como recusa de urn certo tipo de ordem As F referencias universitarias e polfticas tradicionais 0 marxismo cIassico ou urn remendo nao dao conta desses problemas do desejo em escala coletiva Varios fenomenos religiosos que estao ocorrendo atualmente por exemplo aquilo que liga povo do Afeganistao em sua luta contra 0 28 i opressor sovietico ou 0 que esta acontecendo no Ira nao podem ser explicados unicamente em tetmos de ideologia A meu ver ifalase de cer tos processos da da coletiva que resul tado da somat6ria de subjetividades individuais mas sim do confronto com as maneiras com que hoje se fabrica a subjetividade em escala Aquilo que se convendonou chamar de trabalhador social nalistas psic61ogos de todo tipo sociais educadores anmado res gente que desenvolve qualquer tipo de trabalho peclag6gico ou cultural em comunidades de periferia em conjuntos habitadonais etc atua de alguma maneira na de subjetividade Mas rambem quem nao trabalha na sodal de subjetividade Nao vejo inconveniente nisso mesmo porque e inevitavel nesta altura dos acohtecimentos Nao penso ser posslve ou mesmo voltar para uma de subjetivi dade que constitulsse por exemplo em regulamentar a passagem de uma faixa etiria para outra atraves de sistemas de esses sao e ver dade sistemas de festa de maravilhosas mas sao tambem extremamente cmeis Embarcamos nesse processo de divisao sodal geral da de subjetividade e nao ha mais volta Mas por isso mesmo devemos inter pelar todos aqueles que ocupam uma positao de ensino nas sociais e psicol6gicas ou no campo de trabalho social todos aqueles enfim cuja profissao consiste em se interessar peo discurso do outro Eles se encontram numa encruziJhada politica e micropolitica fundamental Ou vao fazer 0 jogo dessa de modeos que nao nos permitem ctiar safdas para os processos de singularizatao au ao contrario vao estar tra balhando para 0 Uncionamento desses processos na medida de suas possi bilidades e dos agendamentos que consigam p6r para fundonar Isso quer dizer que nao hO objetividade dentifica alguma nesse campo nem uma suposta neutralidade na por exemplo analitica Na verdade essas teorias servem para justificar e legitimar a existen da dessas profiss5es espedalizadas desses equipamentos segregativos e portanto da pr6pria de alguns setores da As pessoas que nos sistemas terapeuticos au na universidade se consideram simples ou canais de transmissao de urn saber cientffico s6 por isso fizeram uma Seja qual fot sua inocencia ou boa vontade eas ocupam efetivamente uma de dos sistemas de rodu ao d e dominante E nao se trata de urn esuno e sua proHssao Na em 68 debatiase essa questao e tratavase sistematicamente os psi psic610gos psiqniatras psicanalistas e os trabalhadores sociais em geral de tiras Ora nao ha profissao alguma que seja essendalmente polidalesca a nao ser a propria profissao de polida e ate isso e discutlvel Do ponto 29 de vista micropolitico qualquer ptaxis pode ser ou niio policialesca ne nhum corpo cientlico nenhum COtpo de tecnologica garante uma justa A garantia de uma micropolitica processual aquela que constr6i novas modos de subjetividade que singulatiza naoseen contranesse tipo de ensino A garantia de uma micropolitica so pode e deve ser enconlrada a caQapasso partir dos agen ciamentos que a constituem oa de modos de referenda de modos de praxis que permita ao mesmo tempo elucidar urn campo e Jntervir efetivamente camptanto iltericr como em suas com 0 Para 0 profiliional do sociaL tudo depended de sua capacidade de se articular com os agonelmentos de que assumam sua responsabilidade no plano micropolitico Debate promovido por um diretorio do PT do Rio de Janeiro 11 de setembro de 1982 Mauricio Lissovsky Uma das grandes questoes atuais da pdtica po litica e a de como investir desejantemente II as processos de proclwao capitalista da subjetividade Tradicionalmente Iigavase essa questiio a de ideologia 0 projeto de Brecht por exemplo envolve uma crftica que parte de uma consciencia do poHticoator para atingir a conscienti das massas Mas se pretendemos subverter a subjetividade temos de agir criticamente e abandonar propost como as de Brecht Temos de abandonar a de ideologia e junto com ela a probleman2ahr consciencia Uma pdtica politica que persiga a subversiio da subjetividade de modo a permitir urn agenciamento de singularidades desejantes deve inves tir 0 proprio da subjetividade produzilldoum jogo que a revela ao inves de denunciala Isso quer dizeique ao inves de pre tendermos a Iiberdade indissoluvelmente Iigada a de temos de retomar 0 da farsa produzindo inventando subjetividades delirantes que num embate com a subjetividade capitalfstica a des moronar Qualquer ao nfvel macropolftico diz tambem respeito a de subjetividade 2 Subjetividade sujeito individual ou social X agenciamentos coletivos de Ao inves de suieito de sujeito ou das instancias psI quicas de Freud prefiro falar em agenciamenio coletivo de enunciafiio 30 c o agenciamento coletivo nao corresponde nem a uma entidade individuada nem a uma entidade social predeterminada A subjetividade e produzida por agenciamentos de enunclaao as pro cessos de subjetivacao de semiotizacao ou seja toda a prodwao de entido de eficiencia semi6tica nao sao centrados em ageptes indivi duais no funcionamento de instancias intrapsfquicas eg6icas mierosso dais nem em agentes grupais Esses processos sao duplamente descen trados Implicam 0 funcionamento de maquinas de expressao que podem ser tanto de natureza extrapessoal extraindividual sistemas maqufnicos econ6micos sociais tecnol6gicos ic6nicos ecolOgicos etol6gicos de mfdia enfim sistemas que nao sao mais imediatamente antropoI6gkos quanta de natureza infrahumana infrapsfquica infrapessoal sistemas de percep ao de sensibilidade de afeto de desejo de representaao de imagens de valor modos de memorizacao e de producao ideica sistemas de ini bicao e de automatismos sistemas corporais organicos biol6gicos fisio lagicos etc Toda a questao esta em elucidar como os agenciamentos de enuncia cao reais podem colocar em conexao essas diferentes instancias E claro que nao estou inventando nada essa posiCao pode ainda nao estar verdadei ramente teorizada mas com certeza esta plenamente em acao em todo o desenvolvimento da sociedade 3 de subjetividade e iudividualidade Seria conveniente dissociar radicalmente os conceitos de individuo e de subietividade Para mim os indivfduos sao 0 resultado de uma pro duao de massa a indivlduo e serializado registrado modelado Freud foi 0 primeiro a mostrar ate que ponto e precaria essa nocao da totalidade de urn ego A subjetividade nao e passive de totalizaao ou de centrali zaao no indivlduo Uma coisa e a individuaao do corpo Outra e a multiplicidade dos agenciamentos da subjetivaao a subjetividade e essen cialmente fabricada e modelada no registro do social Descartes quis colar a ideia de subjetividade consciente Ii ideia de indivlduo colar a consciencia subjetiva a existencia do individuo e estamos nos envenenando com essa equaao ao longo de toda a bistaria da filosofia moderna Nem por isso deixa de ser verdade que os processos de subjetivaao saO fundamen talmente descentrados em relaao Ii individuaao Daria para citar vados outros exemplos No modo de subjetivacao do sonho e facil constatar uma explosao da individuaao da subjetividade No ato de dirigir urn carro nao e a pessoa enquanto indivfdua enquanto totalidade egaica que esta dirigindo a individuaao desaparece no pro cesso de articulacao servomecanica 3 com 0 carro Quando a direcao fIui 3 Cf F Guattari Revoluriio Molecular Pulsafoes Politicas do Desejo org S Rolnik Brasiliense Sao Paulo 1981 N do T 1 p 208 31 e1a e praticamente automatica a do ego a consciencia do cogito cartesiano nae intervem E de repente h sinais que requisitam novamente J a da pessoa inteira e a caso de sinais de perigo E claro que sempre se reencontra a corpo do indivlduo nesses diferentes com ponentes de sempre se reencontra a nome proprio do indivl duo sempre ha a pretensao do ego de se afirmar numa continuidade e num poder Mas a da fala das imagens da sensibilidade a pro do desejo nao se cola absolutamente a essa do indi vlduo Essa e adjacente a uma multiplicidade de agenciamentos sociais a uma multiplicidade de processos de maqulnica a mu de universos de valor e de universos historicos Partanta fundar em outras bases urna micropoHtica de transformacao molecular passa par urn questionamento radical dessas de indivlduo como referente geral dos processos de Parece oportuno partir de uma ampla da subjetividade como a que estou propondo para em seguida considerar como casos particulates as modos de indivi da subjetividade momentos em que a subjetividade diz eu au supereu momentos em que a subjetividade se reconhece num carpa OU numa parte de urn carpa ou num sistema de pertinencia corporal cole tiva Mas al tambem estaremos diante de urn pluralismo de abordagens do ego e portanto a de indivlduo vai continuar a explodir I I III I I I I iji a lucro capitalista e fundamentalmente de poder subjetivo Isso nao implica uma visao idealisra da realidade social a subjetividade nao se situa no campo individual seu campo e 0 de todos as processos de social e material a que so poderia dizer usando a lingoagem da informatica e que evidentemente urn indivfduo sempre existe mas apenas enquanto terminal esse terminal individual se encontra na posifOO de consumidor de subielividade Ele consome sistemas de de sensibilidade etc sistemas que DaD tern nada a ver com categorias naturais universais Vou dar urn exemplo que pode parecer obvio as jovens que pas seiam pelas ruas equipados com urn walkman estabe1ecem com a Muska uma que nao e natural A industria altamente sofisticada ao pro duzir esse tipo de instrumento tanto como meio quanta como caDteudo de nao esta fabricando alga que simplesmente transmita i a Muska au organize sons naturais 0 que essa industria faz e literal mente inventar urn universo musical uma Dutra com as ohjetos rnusicais a musica que vern de dentro e DaD de urn ponto exterior Em outras palavras a que ela faz e inventar uma nova Outro exemplo e a das De fato elas percebem a mundo straves das personagens do territ6rio domestico no entanto iSBa e apenas em parte verdadeiro Seu tempo e passado principalmente diante da tele visiio absorvendo de imagem de palavras de Tais 32 i L criancas terao tada a sua subjetividade modelizada por esse tipo de aparelho Outro exemplo ainda sao as expenencias feitas por antropologos em sociedades ditas primitivas Eles apresentaram videos para algumas tribos e constataram que 0 video era olhado como urn ohjcto ate divertido mas como outro qualquer Essa rcacao nos mostra que 0 tipo de comportamento que consiste em ficar inteiramente focalizado no aparelho ouma re1acao de comunieacao direta 56 existe em nossa socieclacle E e1a que 0 produz Parta da ideia de uma I economia coletiva de agenciamentos coletivos subjetividade que em algumas circunstancias em alguns contextos so dais podem se individuar Para ilustrar isso tomemos a exemplo parti cular e 6bvio da linguagem Ferdinand de Saussure foi um dos primeiros linguistas que estabeleceu 0 carater fundamentalmente social da linguagem seu carater de fato social que se encarna em falas e agentes individuados E claro que naD sao dais individuos urn ernissor e urn receptor que inventam a linguagem no momenta em que estao falanda Existe a lin guagem como fato social e existe a individuo falante A mesma coisa tece com todos os fatos de subjetividade AHbjetividade esta em circu laao nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos ela e essencialmente soCial e assumida e vivida por indivfduos em suas existencias particulares P modo pelo qual os individuos vivem essa subjetividade oscila entre dois extremos uma re1aao de e opressao na qual 0 individuo se submete a suhjetividade tal como a recehe ou uma re1aao de expressao e de criaao na qual 0 individuo se reapropria dos componentes da suhje produzindo um processo que eu chamaria de singularizaao Se aceitamos essa hip6tese vemos que a circunscriao dos antagonismos sociais aos campos economicos e politicos a do alvo de luta a reapropriaao dos meios de produao au dos meios de expressao politica encontrase superada E precise adentrar 0 campo da economia suhje tive e nao mais restringirse ao economia politica t Em face desse sistema de mediaao intrfnseca dos processos de desejo pe1a Iinguagem penso ser necessario elahorar uma outra concepao do que seja efetivamente a produao de subjetividade a produao de enunciados em relaao a essa subjetividade Uma concepao que nao tenha nada a ver com postular instancias intrapsiquicas ou de individuaao como nas teorias do ego nem instancias de de semi6ticas iconicas como encontramos em todas as teorias relativas as funoes da imagern no psiquismo Um exemplo dessas ultimas e a teoria freudiana Freud quis construir uma economia social da subjetividade a partir dos sistemas de identificaao e de toda a problematica dos ideais do ego 33 I I i j Niia e verdade 0 que dizem os estruturalistas niia siia os fatas de linguagem nem os de que produzem a subjetividade Ela e manufaturada como 0 sao a energia a eletricidade au 0 aluminio Urn individua e 0 resultado de um metabolismo biol6gico do qual partieipam seu pai e sua mae Da para ver as aisas desse jeito mas na realidade a do individuo agora depende tambem da industria biol6gica e ate da engenharia genetica E e evidente que se essa industria nao tivesse se numa corrida permanente para responder as ondas de virus que atravessam regularmente 0 planeta a vida humana teria sido liquidada A expansiio do AIDS por exemplo leva a uma aa tesaura de imensa akanee a uma corrida permanente para encontrar a resposta No momenta atual 0 aperfeioamento e a produiio de respostas imunol6gicas fazem parte da criaiio da vida neste planeta Nao existe uma subjetividade do tipo recipiente em que se dam caisas essencialmente exteriores as quais seriam interiorizadas As tais caisas sao elementos que intervem na propria sintagmatica da subjetivacao inconsciente Sao exemplos de caisas desse tipo urn certo jeito de utilizar a linguagem de se articular aa modo de caletiva sobretudo da midia uma com 0 universo das tomadas eIetricas nas quais se pode ser eletrocutado uma com 0 universo de na cidade Todos esses siio elementos constitutivas da subje tividade 0 indivldua a meu ver esta na encruzilhada de multiplos companen tes de suhjetividade Entre esses componentes alguns sao inconscientes Outros sao mais do dominio do corpo territ6rio no qual nos sentimos bern Outras siia mais do dominio daquilo que os soci61ogas americanas chamam de grupes primarios 0 cIa bando a turma etc Outros ainda siio do dominio da de poder situamse em a lei a polieia etc Minha hip6tese e que existe tambem uma subjetividade ainda mais ampla e 0 que chama de subjetividade capitalistica Seria conveniente definir de outro modo a de subjetividade renunciando totalmente a ideia de que a sociedade os enomenos de ex pressao social sao a resultante de urn simples aglomerado de uma simples somat6ria de subjetividades individuais Penso ao contnlri9que e a subje tividade individual que resulta de um entrecruzamento de coletivas de varias especies nao s6 sociais mas economicas tecnol6gicas de midia etc 34 Debate promovido pelo Curso de Psicanalise do Instituto Sedes Sapien tiae 31 de agosto de 1982 Mario Fuks Pda que entendi voce coIoea que as as varia na metodologia de corresponderiam em Ultima instancia a gerais na da subjetividade Minha pergunta e exis titia uma articulacao wreta e no caso positivo em que grau entre as que vem ocorrendo na de subjetividade e as de modelos psicanaliticos que vem se produzindo ha quase um secolo de historia da Psicanalise Guattari Um fato subjetivo e sempre engendrado por um agenciamento de niveis semioticos heterogeneos 0 engendramento historico das modeli zac6es do inconsdente corresponde a urn fenomeno de imensa deriva dos modos de subjetiva Alguns modos de referencia subjetiva modos de de subjetividade foram Iiteralmente varridos do pla neta com a ascensiio dos sistemas capitalistas Podese dizer que ha um movimento geral de das referencias subjetivas Ate a Francesa e 0 Romantismo a subjetividade permaneceu ligada a modos de territorializados na familia ampla nos sistemas de corporacao de castas de segmentaridade social que nao tornavam a subjetividade operatoria a nivel especifico do individuo Com a emergencia de um novo tipo de coletiva de trabalbo com a de um novo tipo de da subjetividade colocou se a questiio de inventar novas coordenadas de da subjetividade Historiadores como Philippe Aries Donzelot e outros mostraram como se foi assistindo a urn confinamento da familia e a uma circunscricao da infanda Nos sistemas antedates as formac6es capitalistas a da subjetividade oa crianca naa era inteiramente centrada no funcionamento da familia conjugal Uma complexa econontia de nas faixas etarias de articulacao com 0 campo social circundante mantinha a lividade em de dependencia permanente As disparidades eram sempre de algum modo complementares Temos varios testemunhos lite drios desta complementaridade Um exemplo que me ocorre e 0 da rela entre Dom Quixote um senhor e Sancho seu criado Talvez este niio seja 0 melhor dos exemplos pois 0 que nos e dado conhecer da senhorlcriado atraves desta obra na verdade corresponde a urn de que esta ja estava vivendo na epoca A de responsabilidade individuada e uma tardia assim como as de erro e de culpabilidade inreriorizada Num certo mo mento se assistiu a urn confinamento generalizado das subjetividades a uma dos espalos sociais e a uma ruptura de todos os antigos modos de dependencia Com a Francesa niio so todos os indi viduos tornaramse de direito e nao de fato livres iguais e irmaos e alem disso perderam suas aderencias subjetivas aos sistemas de cHis 35 de gropos primarios mas tambem tiveram de prestar contas a leis trans cendentais leis da subjetividade capitaHstiea Nessas foi neces saria fundar em autras bases a sujeita e suas a do sujeito com 0 pensamento 0 cogito cartesiano a do sujeito com a lei moral 0 numen kantiano a do sujeiro com a natureza outra sentimento em a natureza e outra de natureza a com 0 oUlro a do outro como objeto E nessa de riva geral dos modos territorializados da subjetividade que se desenvol veram nao s6 teorias psico16gicas referentes as faculdades da alma coma tambem uma reescrita permanente dos procedimentos de no campo geral das sociais A do romance como urn todo pode ser remetida a essas diferentes tentativas de criatao de sistemas de referencia para os novas modos de da subjetividade E interessante notar como os siste mas de do romance estao sempre de certo modo relacionados aos sistemas de do psiquismo Freud sempre buscou suas referencias na mitologia antiga no ele as traduzia num certo tipe de romance familiar muiro mais pr6ximo da obra de urn Goethe por exemplo Contudo a meu ver e evidente que as maiores psicanalistas nao sao nem Freud nem Lacan nem Jung nem alguem desse genera mas gente como Proust Kafka au Lautreamont Eles conseguiram respeitar as subjetivas muito melhor do que os empreendimentos de mode lizacao pretensamente cientfficos Tambem os sistemas de presentes nas de or ganizacao das lutas sociais estao re1acionados aos sistemas de modelizacao do psiquismo Basta pensar nos tipos de subjetiva engendrados no movimento operatio atraves por exemplo da II Internacional do leninismo ou do maoismo Talvez se trate de algo muiro menos palpilante do que as express5es romanescas do sentimento mas que sem duvida alguma nos remete a urn modo de expressao que nao tern nada aver com aquele que se refere diretamente a da subjetividade burguesa Se considerarmos 0 que efetivamente se passa no campo da crlacao artfstica e cientffica jamais encontraremos sistemas de centralizacao ins tituic6es que controlem totalmente as processos criativos De algum modo as produc5es artfsticas e cientHieas procedem de agenciamentos de enun que as vezes atravessam nao s6 as instituicoes e as especialidades mas tambem paises e ate epocas Ha sempre uma especie de multicen tragem dos pontos de no campo da 1sso niio im pede que haja num momenta ou noutro urn indivfduo ctiador au uma escola mas sempre e retomado urn philum de e cruzado com outro philum S6 na dos generais e dos despotas da cultura e que existe a ideia de que se possa programar uma revolucao par exemplo cultural Por essencia a criafJo e sempre dissidente transindividual transcultural 36 4 Singularidade X individualidade Reuniao no Instituto Freudiano de Psicanalise Rio de Janeiro 10 de setembro de 1982 Pergunta coloca que todo processo de passa pela sin Quer dizer entao que toda mudanp e individual Guattari Nao nao e issa EstOll tentando dizer exatamente 0 contraria I a subetividade coletiva nao e resultante de uma somat6ria de subetivi dades individuais a processo de da subjetividade se faz emprestando associando aglomerando dimensoes de diferentes especies Pode acontecer de processos de portadores de vetores de desejo encontrarem processos de individuacao Nesse caso tratase sem pre de processos de social de e de entrada na lei dominante ereio que e dessa forma que fica mellior colocada a alternativa singularidadeindividualidade e nao numa absoluta que impliea 0 mito de urn retorno a singularidade pUta a uma puta con versao ao processo primario Ha urn permanente entrecruzamento no qual a questao se coloca concretamente como articular 0 processo de singula que se da ao nfvel fantasmatico do objeto do desejo au a qual quer outro Dive pragmatico com as processos de individuacao que nos pegam par todos os lados Mas que processos de sao esses Urn primeiro nivel de individuacaoJ 6bvioJ e 0 ato de sermos individuos bio16gicos J comprome tidos com processos de nutriao de sobrevivencia Vma questao que se coloca aqui por exemplo e a de como evitar que issa se converta numa paixao de morte numa problematica do tipo da que encontramos na rexia ou na melancalia Outro nfvel de e 0 da divisao sexual somos homens ou mulheres ou homossexuais em todo caso somos algo perfeitamente referenciavel Outro nfvel ainda e 0 da nas relaoes J a classe social que somas coagidos a assu mir Todos esses exemplos nos mostram que a pr6pria perspectiva da indi coteja diversos processos de e A questao que se coloca e saber como uma micropoHtica de singulares articulase com esses processos de Todo 0 desenvolvimento da filosofia desde Descartes e todo desenvolvimento da psicologia desde Taine Wundt etc tendem a querer relacionar a subjetividade a uma identidade individual considerando que os conjuntos familiares e sociais seriam como superestruturas em it subjetividade individuada A meu ver issa esta na base de todas as visoes redutorasJ no campo da enomenologia e da psicologia No entanto os comportamentosJ os en gajamentos nos sistemas de valor jamais dessa A que se estabelece entre 0 ego e a pessoa social e juridica faz com que se tenda sempre a responsabilizar as da subjetividade 37 A Ocorre af urn fen6meno de reificaiio social da subjetividde com todos as seus contraefeitos de repressao de culpabilizaao etclEJitamos total mente prisioneiros de uma especie de individuacao da subjetividaWNesse sentido pareceme que a questao nao e propriamente a de nos resgatarmos a nfvel de nossa individualidade pois podemos ficar girando em torno de nos mesmos como se estivessemos com uma terrlvel dor de dente sem poder desencadear processos de singularizaao a nive infrapessoal nem a nivel extrapessoal ja que para isso e necessaria se concetar com 0 exterior Quando fa10 em processo de de isso nao tern nada a ver com 0 indivfduo A meu ver nao existe unidade evidente da pessoa 0 indivfduo 0 ego OU poderfamos dizer a polftica do ego a politica da individuacao da subjetividade e correlativa de sis temas de identificafao que sao modeIizantes o Singularidade e individualidade segundo a imprensa A Folha de S Paulo convidou Guattari para uma mesaredonda pedindolhe que propusesse urn tema Ele sugeriu Cultura de massa e singularidade No entanto 0 dtulo anunciado foi Cultura de massa e individualidade 0 termo singularidade segundo disseram pa recia ao jornal demasiadamente sofisticado inacesslve1 a seu leitor exatamente a consumidor de eultura de massa Esse fato e no mmlmo uma coincidencia reve1adora sobretudo se o pensarmos nos termos das proprias ideias de Guattari Ele eoncebe a como produciio e considera que uma das principais caractedsticas dessa prodmao nas sociedades eapitaHsticas seria pre cisamente a tendencia a bloquear processos de singularizafao e ins taurar processos de as homens reduzidos a condicao de suporte de valor assistem atonitos ao desmanchamento de seus modos de vida Passam entao a se organizar segundo padr6es uni versais que os serializam e os individualizam Esvaziase 0 1 processual para nao dizer vital de suas existencias pouco a pouco e1es VaG se insensibilizando A experiencia deixa de funcionar como referenciapara a criacao de modos de organizacao do cotidiano inter rompemse os processos de singularizacaa 13 ortanto num so mo vi e nascem a e a izafiIo Tuda issa canstitui uma imensa fabrica de subjetividade que funciona como industria de base de nossas sociedades E exatamente nessa industria que a mldla tal como existe hoje em dia com sua cultura de massa teria urn papel de destaque 38 L Podemos agora voltar il Folha Ao substituir 0 termo singularidade por individualidade 0 jornal curiosamente encenou 0 pr6prio tema do debate cultura de massa e singularizacao DaD podem aparecer numa mesma frase elas sao na realidade incompatlveis A imprensa enquanto produtora de cultura de massaalimentase de f1uxos desilJllularidade para produ zir dia a dia individualidades serializadaiLPemocralicamente ela amassa I os processos de vida social em sua riqueza e diferencia 0 e com produz a cada fornada individuos iguais e processos empobrecid2t Mas nao fica s6 ai a coincidencia Completando sua miseenscene o jornal justificou a troca dos termos argumentando que a palavra singulariclacle seria uma sofisticacao inacesslvel a sen leitar De ato singularizar e luxo nos tempos que correm Ainda mais no mundo das paginas diarias fabricado por essa maquina cuja e exata mente inversa produzir individuos deslocaveis ao sabor do mercado e para iSBa precisanclo interceptar seu acesso aos processos de singu larizacao IS50 sim sem duvida adaptase perfeitamente aos tais tem pos que carrern 5 Subjetividade Iinha de montagem no capitalismo e no sociaIismo burocratico o CMI afirmase em modalidades que variam de acordo com 0 pais au com a camada social atraves de uma dupIa opressao Primeiro pela repressao direta no plano economico e social 0 controle da de bens e das reIac6es sociais atraves de meios de coercaomaterial terna e sugestao de conteudos de A segunda opressao de igual au maior intensidade que a conslste em 0 eMI na pr6pria de subjelividade uma imensa maquina produtiva de uma subjetividade industrializada e nivelada em escala mundial tornouse dado de base na da coletiva de trabalho e da de controle social coletivo As maquinas ganham uma importancia cada vez maior nos processos de As de inteligencia de controle e de social estao cada vez mais adjacentes aos processas maquinicos e atraves dessa de subjelividade capitalistica que as classes e castas que detem a poder nas sociedades industriais tendem a assegurar urn cantrole cada vez mais desp6tico sobre os sistemas de e de vida social 39 N A da subjetividade pela eMI e serializada normalizada em toroo de uma imagern de urn consenso subjetivo referido e sabrecadificada par uma lei transcendental Esse esquadrinhamenta da subjetividade e 0 que permite que ela se propague a nivel da e do consumo das sociais em todos os meios inteIectual agni rio fabril etc e em todos os pantos do planeta Imensas maquinas estatais controlam tudo desde seus pr6prios agen tes ate as pessoas que ganharn salario mfnimo au as pessoas perdidas no agreste nordestino par exemplo as individuas sao reduzidas a nada mais do que engrenagens concentradas sobre 0 valor de sellS atos valor que responde ao mercado capitalista e seus equivalentes gerais Sao especies de robBs solitarios e angustiados absorvendo cada vez mais as drogas que 0 poder lhes proporeiona faseinar cada vez mais pela E cada degrau de hes proporciona um certo tipo de moradia urn certo tipo de relal3o social e de prestfgio A tendencia atual e igualar tudo atraves de grandes categorias ficadoras e redutoras tais como 0 capital 0 trabalho urn cetto tipo de assalariamento a cultura a informalao etc que impedem que se de conta dos pracessas de Toda criatividade no campo social e tecnol6gico tende a ser esmagada todo microvetor de subjetivacao sin gular recuperado Uma deriva geral dos modos de subjetividade territo rializada acarre por tada parte milenares de um certa tipo de social e de vida cultural sao rapidamente varridas do planeta Todas as pretensas identidades culturais residuais sao contaminadas Todos as modos de valorizacao da existencia e da producao amea cados no desenvolvimento atual das soeiedades Ate os valores mais dicionais mais bern ancorados como 0 trabalho estao seodo mioados por dentro pelas revoluc5es industriais Se analisarmos com cuidado que se passa com as pessoas que inventam semi6ticas ricas e personalizadas como e a caso do candomble veremos que elas nao sao completamente meaveis e autonomas em relacao aos modelos dominantes E desde a infancia que se instaura a maquina de de subje tividade capitaHstica desde a entrada da no munda das Hnguas dominantes com todos os modelos tanto imaginarios quanta tecnicos nos quais ela deve se inserir A culpabiliZtlfao e uma funao da subetividade capitatistica A raiz das tecnologias capitaHsticas de consiste em prapar sempre uma imagem de referenda a partir da qual colocamse quest6es tais como 40 F quem e voce voce que Dusa ter uma oplmaoJ voce fala em nome de que 0 que voce vale oa escala de valores reconhecidos enquanto tais na socieclade a que corresponde sua fala que etiqueta poderia cIassificar voce E somas obrigados a assumir a singularidade de nossa propria posicao com 0 maximo de consistencia S6 que issa e mente impassive de fazermos sozinhos pais uma posicao implica sempre urn agenciamento coletivo No entanto a menor vacilacao diantc dessa exigencia de referencia acabase caindo nma especie de i buraeo que faz com que a genre comeee a se mdagar afmal das contas quem sou eu Sera que sou uma merda E como se nosso proprio direito de existencia desabasse E a1 se pensa que a melbar coisa que se tern a fazer e calar e interiorizar esses valores Mas quem e que diz isso Talvez nao seja neeessariamente 0 professor ou 0 mestre expHcito exterior mas sim alga de nos mesmos em nos mesmos e que nos mesmos reproduzi mos Instancias de superego e instancias de Eo finito importante a men ver nao eonfundir esses proeedimentos de produzidos sistematicamente por todos os sistemas de de da subjetividade com uma especie de mecanismo sadomasoquista que na freudiana seria de natureza intrapsiquica do tipo conflito ErosThanatos Em outras palavras lidar com essa problematica niio passa par uma psicanalise generalizada mas sim par procedimentos micropollticos pela instauraiio de dispositivos particulares que dissolvam esses elementos de culpabilizaiio dos valores capitallsticos A segregaiio Ii uma funiio da economia subetiva capitallstica dire tamente vinculada a culpabilizaiio Ambas pressup6em a de qualquer processo com quadros de referencia imaginarios a que propicia toda especie de E como se a ordem social para se manter tivesse que instaurar ainda que da maneira mais artificial possivel siste I mas de hierarquia ineonseiente sistemas de escalas de valor e fi de Tais sistemas daouma consisteneia subjetiva as elites ou as pretensas elites e abrem todo urn campo de socia onde as diferentes indivicluos e camadas que se Essa capitaHstica se insereve essenciafmente nao s6 os sis temas de valor de usa como Marx descreveu mas tambem contra todos os modos de do desejo todos os modos de das singularidades Outra funiio da economia subetiva capitallstica talvez a mais im U portante de todas Ii a da infantilizaiio Pensam por nos organizam por nos a e a vida social Alem disso consideram que tudo 0 que tern a ver com eoisas extraordinarias por exempla a fata de falar e viver a fata de ter que envelheeer de ter que morrer Daa cleve per turbar nossa harmonia no local de traballio enos postos de controle social 41 L que ocupamos a pe10 controle social que exercemos sobre n6s mesmos A par exemplo das mullieres dos loucos de certos setores sociais ou de qualquer compartamento dissidente cansiste em que tuda 0 que se az se pensa ou se possa vir a fazer ou pensar seja mediado pelo Estado Qualquer tipo de troca economica qualquer tipo de cultural au social tende alassarpela do RstdaEgsa dedependencia do Estado e urn dos elementos essenciais da subje tividade capitalistica Os equipamentos coletivos nao s6 os de sanitaria au de higie ne mental ambulat6rios centros de saude etc au as de vida cultural escolas universidades etc mas tambern a rnldia tendem a ganhar uma importancia desmedida Eles constituem a Estado em sua ampliada Operarios de uma maquina de da subjetividade capitaHstica esses equipamentos tern por integrar fatores humanos nos e extrahumanos colocando numa real instancias tao dife rentes quanto as que estao em jogo na economia libidinal as sistemicas familiares por exemplo e nas semi6ticas como as que sao pastas em funcionamento pela midia A ordem capitalistica e projetada na realidade do mundo e na reaIi dade pslquica Ela incide nos esquemas de conduta de de gestos de pensamento de sentido de sentimento de afeto etc Ela incide nas montagens da percepao da memorizacao eIa incide na modelizacao das instancias intrasubjetivas instancias que a psicanalise reifica nas cate gorias de Ego Superego Ideal do Ego enfim naquela parafernalia toda A ordem capitalistica produz as modos das humanas ate em suas representacoes inconscientes os modos como se trabalha como se e ensinado como se ama como se trepa como se fala etc Ela fabrica a reIacao com a producao com a natureza com os fatos com 0 movimento com 0 corpo com a alimentacao com 0 presente com 0 passado e com o futuro em suma ela fabrica a relacao do homem com 0 mundo e consigo mesmo Aceitamos tudo isso porque partimos do pressuposto de que esta e a ordem do mundo ordem que nao pode ser tocada sem que se comprometa a pr6pria ideia de vida social organizada 42 L A da de subjetividade pelo CMI esvaziou todo i 0 conhecimento da singularidade E uma subjetividade que nao conhece dimenspes essenciais cla existencia como a morte a dor a soIidao 0 si lendo a reIaao com 0 cosmos com 0 tempo Urn sentimento como a raiva e alga que surpreende que escanclaliza Da mesma forma uma incontrolavel como 0 cancer 10 algo que nos deixa perplexos o mesmo se da com a velhice Ela 10 tao inconcebivel que se fabrica uma cadeia de microgulags para velhos com 0 tioice intuito de isolalos E as pessoas aceitam esse isolamento E escandalosa essa entrega passiva dos velhos a urn destine que as canduz a essas especies de cam pos de clesespero quando nao em alguns casas a esses vercladeiros cam pos de exterminio em sua versao moderna Tudo 0 que 10 do dominio da ruptura da surpresa e da angustia mas tambem do desejo da vontade de amar e de criar deve se encaixar de algum jeito nos regisrros de referencias dominantes Ha sempre um arranjo que tenta preyer tude 0 que possa set da natureza de uma dissi dencia do pensamento e do desejo Ha uma tentativa de daquilo que eu chamo de processos de Tudo 0 que surpreende ainda que levemente deve ser classificavel em alguma zona de enquadra mento de referenciaao NaD somente os professores mas tambem os meios de comunicaao de massa os jornalistas em particular sao muito dotados para esse tipo de pratica Estou convencido de que se alguns extraterrestres desembarcassem amanha em Sao Paulo haveria experts jomalistas e especialistas de roda especie para explicar as pessoas que no fundo nao e uma coisa tao extraordinaria assim que jii se tinha pensado nisso que ate jii existia ha muito tempo uma comissao especializada no assunto e sobretudo que nao ha por que se afobar pois 0 poder esta ai para se ocupar disso A programaCao da infancia na Franca atraves da informatica conse gue caleular hoie qual sera para inteiras a taxa de delin qiiencia daqui a dez quinze vinte anos Entao 0 desvio antes de ser vivido em roda uma genetica 10 sobrecodificado por essa de de subjetividade Sendo assim 0 que resta as pessoas e apenas viver urn possive preestruturado no campo em que se encontram Por exemplo se voce 10 uma mulher de tal idade e de tal c1asse e preciso que voce se conforme a tais limites Se voce nao estiver dentro desses limites ou voce e delinqiiente au voce e louca A ordem capitallstica incide nos modos de temporalizarao Ela des tr6i antigos sistemas de vida ela imp6e um tempo de equivalencias a 43 pelo assalariamento atraves do qual ela valoriza as diferentes atividades de As que eotram nos circuitos comerciais as de ordem social ou as de alta sao tadas elas sobrecodificadas por um tempo geral de equivalencia Fenomenologieamente sabemos que esse tempo da equivalencia e algo que depende de uma determinada ordem social nao se bate 0 tempo se as mesmos ritmos segundo as mesrnos reroes 4 num agenciamento ooirieo num agenciamento melanc6lico au manlaca num agendamento de ou num agenciamento de social coletiva Sao de fato modos de especlfieos E todos esses sistemas de medida de equivalencia do tempo interiorizados nao sao apenas urn fato subje tivo mas tambem um dado de base da da coletiva de trabalho e da da coletiva de controle social Isso que oi dito sobre 0 modo de poderia tambem ser dito a respeito do modo de Hoje todas as re1a6es com 0 espallo com 0 tempo e com 0 cosmos tendem a set completamente mediadas pe10s pIa nos e dtmas impastos peIe sistema de enquadramento dos meios de trans porte pel do urbano do domestieo pela triade carrote1evisaoequipamento coletivo por exemploi o que faz a fora da subietividade capitalistica e que eta se produz tanto aD nivet dos opressores quanto dos oprimidos Nista ela se dis tingue dos sistemas de classes sociais au das antigas castas senhoriais e religiosas No Japao por exemplo onde a subjetividade tende a ser total mente serva do processo maqufnico existe urna paixao producao inclusive entre os trabalhadores mais explorados Estabelecese uma especie de de complementaridade e de dependencia entre as dierentes categonas sOClais 0 que acaba desmontando as aliancas de dasse as alian cas sociais Minha insistencia nessa ideia do modo de da subjetividade capitaHstica nao tern como objetivo descrever urn estado de fato em recao ao qual estarfamos caminhando inexorave1mente Se insisto nisso nao e porqu quero celebrar 0 aniversario do romance do Orwell 1984 mas porque considero que esse desenvolvimento da subjetividade capita 4 Do origidal ritournelle traduzido por ladainha em F Guattari Molecular Pulsa Politicas do Deseio org S Rolnik Brasiliense Siio Paulo 1981 A substituiliio aqui de ladainha por relrao se cleve sobretudo ao fato de que 0 segundo termo e a tradUl1io literal do frances ritournelle repetilao continua de uma formula qualquer e mais especificamente de uma formula vocal e instrumental no contexto de uma composilaO musical a principal motivo para nia optar por refrio na primeira era que esse termo e sin6nimo tambem de proverbio sentido que nio existe no frances ritournelle AUm disso em portugues a palavtll mais usualmente empregada para designar a regular de uma formula de qualquer especie sentido que Guattari dll ao termo ritournelle e Iadainha e nio refrio Qutro motivo ainda era que ladainha tern a vantagem de actescentar repetilio 0 atributo de faslidiosa Porem a escolha de ladainha pareceme agora um tanto inapropriada por ser usualmente empregada tambem no sentido de lamento sentido este derivado da original do termo que etimologicamente signifiea otlllio Dadas as vantagens e desvantagens de ambas as de preferi usar como criterio a literalidade fieando assim com 0 termo refrio 44 Hstica traz imensas possibilidades de desvio e de Isso desde que se que a Iuta naa mais se restringe ao plano da economia poHtica mas abrange tambem 0 da economia subjetiva Os arontamentos sociais naa sao mais apenas de orclem economica Eles se dao tambem entre as diferentes maneiras pelas quais os individuos e grupos entendem viver sua existencia o Muitos autores dedicamse a analise dos processos de caracterlsticos do capitalismo aquilo que Guatrari chama de produ de subjetividade capitaHstica assim como a analise das implica 6es politicas desses processos E de modo getal consideram tai5 processos como uma linha de montagem subjetiva disseminada por todo 0 corIo social e que veicula uma de especie diferente da que esta presente nas de e de No entanto 0 que me parece original no traballio que Deleuze e Guattari vern desenvolvendo e em primeiro lugar 0 reconhedtriento dessa como industria de base do sistema capitalista ou socialista burocratico em segundo lugar a sensibilidade aos pontos de ruptura desse compleoill111strial da pontos nos quais se esses autares muitos dos movil11entos sociais de tai5 pontos de ruptu ia como da maior importancia ja que atacania propria rajz do nessa temos que reco Mecer urn otimismo urn tanto raro para nao dizer inexistente nos dias de hoje o 6 moleculares 0 atrevimento de singularizar s A tentativa de controle social atraves da da subjetividade em escala planetaria se choca com fatores de resistencia consideraveis processos de diferencialaO permanente que eu chamaria de Cl revolwao mo lecular Mas 0 nome POllCO importa o que caracteriza os novos movimentos SOCIalS naD e somente uma resistencia contra esse processo geral de serializalaO da subjetividade mas tambem a tentativa de produzir modos de subjetividade originais e sin gulares processos de subjetiva 5 0 termo singularizatao e usado por Guattarl para designar os processos disrnptores no campo da produtao do desejo tratase dos movimentos de protesto do inconsciente contra a subjetividade capitaLlstica atraves da afirmat80 de outras maneiras de ser outras senslbilidades outra percetio etc Guattari chama a atent80 para a importancia poIftica de tais processos entre os quais se situarianl os movimentos SOcillis as minorias enfim os desvios de tooa espie Outros termos designam os mesmos processos autonomiZat80 minorizat80 revolutao molecular etc d cap II 10 d 45 Estamos transitando por temas relacionados à formação Uma reflexão necessária neste momento de conclusão de curso e de busca de caminhos futuros Assim a avaliação constará de um texto dissertativo com a seguinte questão COMO FOI PARA VOCÊ O PROCESSO DE FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA E QUAIS IMPASSES AINDA SÃO NECESSÁRIOS ENFRENTAR PARA UMA BUSCA PROFISSIONAL QUE ESTEJA COMPROMETIDA COM A SUA POSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO PESSOAL Para essa discussão estará disponível a bibliografia e vídeos disponibilizados Peço uma reflexão de ao menos duas páginas que TRANSITEM ENTRE A VIVÊNCIA DA FORMAÇÃO SEU MOMENTO HISTÓRICO DE VIDA E UM MUNDO ATUAL EM INTENSA TRANSFORMAÇÃO NO QUAL ESTAMOS Michel Foucault Introdução à vida nãofascista espaço michel foucault wwwfiloescounbbrfoucault 1 Introdução à vida nãofascista Michel Foucault Preface in Gilles Deleuze e Félix Guattari AntiOedipus Capitalism and Schizophrenia New York Viking Press 1977 pp XIXIV Traduzido por wanderson flor do nascimento Durante os anos 19451965 falo da Europa existia uma certa forma correta de pensar um certo estilo de discurso político uma certa ética do intelectual Era preciso ser unha e carne com Marx não deixar seus sonhos vagabundearem muito longe de Freud e tratar os sistemas de signos e significantes com o maior respeito Tais eram as três condições que tornavam aceitável essa singular ocupação que era a de escrever e de enunciar uma parte da verdade sobre si mesmo e sobre sua época Depois vieram cinco anos breves apaixonados cinco anos de júbilo e de enigma Às portas de nosso mundo o Vietnã o primeiro golpe em direção aos poderes constituídos Mas aqui no interior de nossos muros o que exatamente se passa Um amálgama de política revolucionária e antirepressiva Uma guerra levada por dois frontes a exploração social e a repressão psíquica Uma escalada da libido modulada pelo conflito de classes É possível De todo modo é por esta interpretação familiar e dualista que se pretendeu explicar os acontecimentos destes anos O sonho que entre a Primeira Guerra Mundial e o acontecimento do fascismo teve sob seus encantos as frações mais utopistas da Europa a Alemanha de Wilhem Reich e a França dos surrealistas retornou para abraçar a realidade mesma Marx e Freud esclarecidos pela mesma incandescência Mas é isso mesmo o que se passou Era uma retomada do projeto utópico dos anos trinta desta vez na escala da prática social Ou pelo contrário houve um movimento para lutas políticas que não se conformavam mais ao modelo prescrito pela tradição marxista Para uma experiência e uma tecnologia do desejo que não eram mais freudianas Brandiramse os velhos estandartes mas o combate se deslocou e ganhou novas zonas O AntiÉdipo mostra pra começar a extensão do terreno ocupado Porém ele faz muito mais Ele não se dissipa na difamação dos velhos ídolos mesmo se divertindo muito com Freud E sobretudo nos incita a ir mais longe Michel Foucault Introdução à vida nãofascista espaço michel foucault wwwfiloescounbbrfoucault 2 Seria um erro ler o AntiÉdipo como a nova referência teórica vocês sabem essa famosa teoria que se nos costuma anunciar essa que vai englobar tudo essa que é absolutamente totalizante e tranquilizadora essa nos afirmam que tanto precisamos nesta época de dispersão e de especialização onde a esperança desapareceu Não é preciso buscar uma filosofia nesta extraordinária profusão de novas noções e de conceitossurpresa O AntiÉdipo não é um Hegel pomposo Penso que a melhor maneira de ler o AntiÉdipo é abordálo como uma arte no sentido em que se fala de arte erótica por exemplo Apoiandose sobre noções aparentemente abstratas de multiplicidades de fluxo de dispositivos e de acoplamentos a análise da relação do desejo com a realidade e com a máquina capitalista contribui para responder a questões concretas Questões que surgem menos do porque das coisas do que de seu como Como introduzir o desejo no pensamento no discurso na ação Como o desejo pode e deve desdobrar suas forças na esfera do político e se intensificar no processo de reversão da ordem estabelecida Ars erotica ars theoretica ars politica Daí os três adversários aos quais o AntiÉdipo se encontra confrontado Três adversários que não têm a mesma força que representam graus diversos de ameaça e que o livro combate por meios diferentes 1 Os ascetas políticos os militantes sombrios os terroristas da teoria esses que gostariam de preservar a ordem pura da política e do discurso político Os burocratas da revolução e os funcionários da verdade 2 Os lastimáveis técnicos do desejo os psicanalistas e os semiólogos que registram cada signo e cada sintoma e que gostariam de reduzir a organização múltipla do desejo à lei binária da estrutura e da falta 3 Enfim o inimigo maior o adversário estratégico embora a oposição do Anti Édipo a seus outros inimigos constituam mais um engajamento político o fascismo E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas mas o fascismo que está em nós todos que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas o fascismo que nos faz amar o poder desejar esta coisa que nos domina e nos explora Eu diria que o AntiÉdipo que seus autores me perdoem é um livro de ética o primeiro livro de ética que se escreveu na França depois de muito tempo é talvez a razão Michel Foucault Introdução à vida nãofascista espaço michel foucault wwwfiloescounbbrfoucault 3 pela qual seu sucesso não é limitado a um leitorado lectorat particular ser antiÉdipo tornouse um estilo de vida um modo de pensar e de vida Como fazer para não se tornar fascista mesmo quando sobretudo quando se acredita ser um militante revolucionário Como liberar nosso discurso e nossos atos nossos corações e nossos prazeres do fascismo Como expulsar o fascismo que está incrustado em nosso comportamento Os moralistas cristãos buscavam os traços da carne que estariam alojados nas redobras da alma Deleuze e Guattari por sua parte espreitam os traços mais ínfimos do fascismo nos corpos Prestando uma modesta homenagem a São Francisco de Sales se poderia dizer que o AntiÉdipo é uma Introdução à vida não fascista1 Essa arte de viver contrária a todas as formas de fascismo que sejam elas já instaladas ou próximas de ser é acompanhada de um certo número de princípios essenciais que eu resumiria da seguinte maneira se eu devesse fazer desse grande livro um manual ou um guia da vida cotidiana Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante Faça crescer a ação o pensamento e os desejos por proliferação justaposição e disjunção mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal Liberese das velhas categorias do Negativo a lei o limite a castração a falta a lacuna que o pensamento ocidental por um longo tempo sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade Prefira o que é positivo e múltiplo a diferença à uniformidade o fluxo às unidades os agenciamentos móveis aos sistemas Considere que o que é produtivo não é sedentário mas nômade Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante mesmo que a coisa que se combata seja abominável É a ligação do desejo com a realidade e não sua fuga nas formas da representação que possui uma força revolucionária Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade nem a ação política para desacreditar um pensamento como se ele fosse apenas pura 1 Francisco de Sales Introduction à la vie devote 1064 Lyon Pierre Rigaud 1609 Michel Foucault Introdução à vida nãofascista espaço michel foucault wwwfiloescounbbrfoucault 4 especulação Utilize a prática política como um intensificador do pensamento e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política Não exija da ação política que ela restabeleça os direitos do indivíduo tal como a filosofia os definiu O indivíduo é o produto do poder O que é preciso é desindividualizar pela multiplicação o deslocamento e os diversos agenciamentos O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados mas um constante gerador de desindividualização Não caia de amores pelo poder Poderseia dizer que Deleuze e Guattari amam tão pouco o poder que eles buscaram neutralizar os efeitos de poder ligados a seu próprio discurso Por isso os jogos e as armadilhas que se encontram espalhados em todo o livro que fazem de sua tradução uma verdadeira façanha Mas não são as armadilhas familiares da retórica essas que buscam seduzir o leitor sem que ele esteja consciente da manipulação e que finda por assumir a causa dos autores contra sua vontade As armadilhas do AntiÉdipo são as do humor tanto os convites a se deixar expulsar a despedirse do texto batendo a porta O livro faz pensar que é apenas o humor e o jogo aí onde contudo alguma coisa de essencial se passa alguma coisa que é da maior seriedade a perseguição a todas as formas de fascismo desde aquelas colossais que nos rodeiam e nos esmagam até aquelas formas pequenas que fazem a amena tirania de nossas vidas cotidianas TEXTO DISSERTATIVO SOBRE FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA SEU NOME Concluir a graduação em Psicologia é sem dúvida um marco importante mas mais do que um ponto de chegada representa um processo de atravessamentos de desconstruções e reconstruções de encontros que reverberam muito além dos espaços formais de ensino O percurso formativo não se limitou à aquisição de conteúdos técnicos ou teóricos foi sobretudo um campo de experiências subjetivas de afetos de inquietações e por vezes de desalento diante da complexidade do sofrimento humano e das limitações institucionais do cuidado Falar sobre esse processo implica revisitar vivências reconhecer impasses e pensar em como seguir na construção de um projeto profissional que esteja comprometido não apenas com a prática clínica ou institucional mas com uma ética do cuidado da escuta e da transformação social Durante os anos de formação aprendi que a Psicologia não pode se restringir ao consultório nem tampouco à aplicação de técnicas Ela exige um posicionamento diante do mundo uma escuta sensível à historicidade das subjetividades uma abertura constante à singularidade de cada sujeito e um compromisso político com os contextos em que essas subjetividades emergem Nesse sentido o percurso acadêmico foi também um processo de subjetivação em que precisei confrontar minhas próprias crenças valores e afetos As leituras as discussões em sala os estágios e supervisões foram experiências que me atravessaram profundamente exigindo um movimento constante de autoimplicação Como afirma Suely Rolnik a clínica e aqui estendo para o campo da formação é um lugar de escuta das forças de vida um espaço em que se operam micropolíticas do desejo de invenção de novos modos de existência No entanto essa travessia não ocorreu em um vácuo A formação aconteceu em um contexto histórico específico marcado por instabilidades sociais políticas e subjetivas Vivenciei a pandemia da COVID19 em meio à graduação o que transformou não apenas as formas de ensinoaprendizagem mas também o modo como percebemos o sofrimento humano e os limites da atuação em saúde mental O isolamento o luto coletivo a insegurança econômica e o adoecimento psíquico em larga escala escancararam as fissuras de um modelo de sociedade baseado na produtividade na aceleração e na desresponsabilização coletiva A Psicologia diante disso precisou se reinventar fomos convocados a pensar formas remotas de cuidado estratégias de acolhimento em tempos de incerteza e sobretudo a repensar nosso papel social enquanto futuros profissionais Esse cenário por si só já constituiria um enorme desafio mas ele se soma a um processo mais amplo de transformação do mundo contemporâneo Vivemos tempos marcados pela hiperconectividade pelo esvaziamento dos vínculos comunitários pelo avanço do neoliberalismo nas relações sociais e pela precarização dos afetos Como nos alerta Michel Foucault em sua Introdução à vida nãofascista há uma urgência em resistir às formas sutis de poder que se infiltram nos modos de vida que colonizam o desejo e que instauram regimes de verdade que silenciam as multiplicidades do existir Nesse sentido a formação em Psicologia para além do seu conteúdo programático deveria ser também um exercício de resistência a esses fascismos cotidianos à patologização da diferença à normatização dos corpos à burocratização do cuidado Foi nesse entrecruzamento entre o mundo interno e externo que construí minha identidade em formação Um dos maiores aprendizados foi reconhecer que o sofrimento psíquico não pode ser compreendido isoladamente mas sempre articulado ao contexto histórico cultural social e político Os sintomas que escutamos nos consultórios ou nos serviços públicos são muitas vezes expressões de um malestar mais profundo de uma sociedade que insiste em excluir silenciar e controlar Como apontam Guattari e Rolnik em Micropolítica Cartografias do Desejo a clínica deve estar atenta às forças do desejo à produção de subjetividades e à possibilidade de criar novos modos de vida que escapem da lógica da repetição e do controle Essa perspectiva ampliada da clínica que inclui a dimensão política do cuidado foi uma das maiores contribuições da formação que vivenciei No entanto não posso ignorar os impasses que ainda se colocam no caminho O ingresso no mercado de trabalho é um deles A Psicologia enquanto profissão ainda enfrenta processos de desvalorização precarização e invisibilização sobretudo em contextos públicos e comunitários Muitas vezes os espaços de atuação são marcados por condições estruturais inadequadas falta de recursos ausência de supervisão e sobrecarga emocional Também há uma cobrança constante por produtividade eficiência e resultados mensuráveis que se choca diretamente com a ética do cuidado e da escuta prolongada Conciliar esses imperativos é sem dúvida um desafio cotidiano e uma fonte de angústia para quem deseja exercer uma prática comprometida com o sujeito e não com o capital No entanto é preciso construir ao longo do tempo uma confiança ética em si mesmo que permita sustentar a escuta mesmo diante da dúvida da incerteza do não saber A formação em Psicologia se bem conduzida ensina que não há respostas prontas mas que o encontro com o outro pode ser um espaço de construção mútua de sentidos de produção conjunta de caminhos Concluir o curso de Psicologia é portanto concluir apenas uma etapa O verdadeiro percurso ético e existencial começa agora com todas as suas dores e delícias A formação que tive me ofereceu as ferramentas iniciais mas sobretudo me ensinou a olhar para o mundo com mais cuidado com mais escuta com mais responsabilidade Em um tempo em que o sofrimento se intensifica e as formas de vida se tornam cada vez mais exauridas o compromisso de quem escolhe cuidar do outro é também o de cuidar de si e do mundo

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FELIX GUATTARIjSUELY ROLNIK Micropolitica Cartografias do Desejo 4 Ediyao OZES Petr6polls 1996 JlIlI IIIIIIII1 A Regina Schnaiderman presença r as boas maneiras de let hoje e chegar a tratar urn livre como se escuta urn disco como se alha urn fHme au urn programa de televisao como se e tocado por uma todo tratamento do livro que exigisse urn respeito especial uma atenao de autra espede vern de uma outra era e condena definitivamenre 0 livre Nao ha nenhuma questao de difi culdade nem de compreensao as conceitos sao exatamente como sons cores au imagens sao intensidades que convern a voce au nao que passam au nao passam Pop fiIosofia Nao ha nada a compreender nada a inter pretar Gilles Deleuze in Dialogues Flammarion Paris 1977 p 10 J SUMARIO Apresentafiio 11 I Cultura urn conceito reacionario 15 II Subjetividade e Historia 25 1 Subjetividade X 25 2 Subjetividade sujeito individual ou social X agenciamentos cole tivos de enunciacao 30 3 de subjetividade e individualidade 31 4 Singularidade X individualidade 37 5 Subjetividade linha de montagem no capitalismo e no socialismo burocratico 39 6 Revolw6es moleculares 0 atrevimento de singularizar 45 7 Em busca de identidade 66 8 Identidade X singularidade 68 9 Identidade cultural uma cilada 69 10 Minorias os devires da sodedade 73 a dentidade X devir mulher homossexual negro 73 b FalofaO em lorna de experiencias minoritarias e suas tramas 89 Psiquiatria 89 A escola 98 c Minorias na midia a radio livre 103 d Minoria marginalidade autonomia altemativa 0 devir molecular 121 e Trama de minorias rizoma JJ 123 I III Politicas 127 1 Micropolitica molar molecular 127 a Luta de classes autonomia 139 b Estado autonomia 147 c Igrea autonomia 153 d Partido autonomia 156 e Centralismo democratico X espontaneismo anarquia um falso pro blema 176 2 Uma certa da Historia 178 3 Revolmao J85 i j 4 Capitalismo mundiaf integrado 187 8 Os nllogarantidos 187 b Essa crise que noo e s6 economica 190 IV Desejo e Historia 197 1 Psicanalise corporaiies de analistas 197 2 Psicanalise e reducionismo 202 3 0 Complexo de InfraEstrutura 212 a Deseo como caos 214 b Inraestrutura X superestrutura critica aideia de conlito 217 c Interpretaroo 0 analista e 0 pianista 222 4 A esquizoanaIise 232 a Individuaroo do deseo a alienaroo 232C b Deseo terreno da micropolitica 233 c Inconsciente maquinico desejo como prodUrtlO 239 d Casos de esquizoanfJlise da clinica ao movimento social 241 5 Para alom do Complexo de InfraEstrutura 265 a 0 inconsciente freudiano 265 b 0 inconsciente esquizoanalitico 268 v energia corpo sexo 0 mito da viagem de liberaao 274 VI Arnor territorios de desejo e unta nova suavidade 281 VII Conversa de aeroporto 291 VIII A viagem de Guattari ao Brasil segundo de mesmo 298 IX A viagem de Guattari segundo os brasileiros 305 Apendice notas descartaveis sobre alguns conceitos 317 das Fontes 324 Bibliografia de Felix Guattari 327 APRESENTACAO Este livro naD foi escrito apenas a quatrc maDS as de Guattari e as minhas Na verdade muitas maDS 0 escreverarn Tudo comea em 1982 com a ideia que tive de convidar Guattari para urn passeio pelo Brasil E que 0 pals naquela ocasHio estava aquecido pelo rebolio de uma campanha eleitoral para governadores deputados e vereadores A sociedade brasHeira vivia urn momento de inconteshivel re vitalizacao a consciencia social e politica e claro mas DaD apenas e1a revitalizavase 0 inconsciente e de diferentes rna neiras Tipo de situacao que faz pensar em Guattari A esse respeito disse Deleuze certa vez com relacao a si mesrna e a Guattari que ambos procuravam allados e que esses auados cram as inconscientes que pro testam Que misterioso protesto seria esse 0 do inconsciente que DaD tern aver em todo caso nao diretamente com 0 protestodas conSClen cias e de seus interesses ou com aquila que se expressa em como as de uma campanha eIeitoral Se situarmos 0 inconsciente na ma neira de se orientar e de se organizar no munde as cartografias que o desejo vai traando diferentes micropolfticas que correspondem a dife rentes modos de social desfazse 0 misterio motivos de sobra justificam tal protesto Nao e nada diHcil identifidlos todos vivemos quase que cotidianamente em crise crise da economia especialmente a do Entrevista de Deleuze e Guattari a C BackesClement em marw de 1972 pubJicada na revista LArc n 49 e inclulda na colctanea Capilalismo e Esqui1orenia Dossier Antidipo Assfrio Alvim Lisboa 1976 p 148 11 1 I desejo crise dos modos que vamos encontrando para nos ajeitat na vida mal conseguimos articular um certo jeito e eIe ja caduca Vivemos sempre em defasagem em a atualidade de nossas Somos futi mas dessa incessante desmontagem de territ6rios treinamos dia a dia nosso jogo de cintura para manter um minimo de equilibrio nisso tudo Ternos de set craques em materia de montagem de territorios montagem se possfvel tao veloz e eficiente quanta 0 ritmo com que 0 mercado desfaz e faz outras Enttetanto niio pode ser qualquer a natu reza de tais territorios vemonos solidtados 0 tempo todo e de tados os lados a investir a poderosa fabrica de subjetividade serializada pro dutora destes homens que somos reduzidos a de suporte de valor e isso ate e sobretudo quando ocupamos os lugares mais prestigiados na hierarquia dos valores Tudo leva a esse tipo de eco namia Muitas vezes naD ha Dutra salda E que quando na desmontagem perplexos e desparametrados nos fragilizamos a tendenda e adotar po meramente defensivas Por medo da na qual corremos a risco de ser confinados quando ousamos criar qualquer territ6rio lar isto e independente de subjetivas por medo de essa mar chegar a comprometer ate a propria possibilidade de sobrevi venda 0 que e plenamente possivel acabamos reivinclicando urn territ6rio no edifido das identidades reconheddas Tornamonos assim muitas vezes em dissonancia com nassa consciencia produtores de algumas da linha de montagem do desejo Mas tuda iSBa naD e assim tao simples as inconscientes as vezes e cada vez mais protestam So que a rigor nao poderfamos chamar issa de protesto MeIhorseria falarmas em au em inven desinvestemse as linhas de montagem investemse outras linhas au seja inventamse outros mundos A raiz desse sistema que tern por base a do desejo sofre um golpe a cada vez que isso acontece E quando isso acontece algo assim estaria acontecendo naquele momento no Brasil descobrimos em Guattari um aliado e da mellior qualidade Nao como representante de uma escola em cujo seio podedamos nos reasse gurar mas como trafiado de uma trajetoria de urn certo tipo que mobiliza intensidades de nossa propria trajetoria desconheddas talvez e que faz com que se em nos a vontade de afirmar na fala ou niio a singularidade de nossa Foi pensando nisso que convidei Guattari para nos visitar Organi ze uma movimentada agenda de alividades em cinco estados Programei uma serie de conferencias debates mesasredondas entrevistas etc que seriam gravadas para posteriormente em livro A escolha dos temas e lugares se fez em da possibilidade de encontro com os indivfduos e grupos que institucionalizados au nao constitufam na quele momento subjetividades dissidentes 0 leitor encontra 0 cronogtama dessa no final com 0 tItulo Referendas das fontes 12 r Imaginar onde e com quem foi 0 inicio da viagem 1nICIO que se passa entre Guattan e eu na verdade entre imimeras experiencias em cada urn de nos urn primeiro agenciamento que a partir de entao comeca a cruzar outras trajet6rias novos agenciamentos se pOem a funcionar Impossivel dizer quem e quem nisso tudo pais cada urn que se conectava a essa aventura imprimia a ela urn novo sentido E assim foi sendo a viagem Assim tambem foi se fazendo 0 livro A ideia inidal era que 0 livro fosse uma espede de diario de via gem 0 que seria fadlitado peIa de todas as falas Bastaria seIe cionar alguns textos nas setecentas paginas de retranscricao e Entretanto no contato com 0 material retranscrito outro projeto impondo a mim Sempre achei uma pena que urn certo aspecto de Guattari a meu ver dos mms interessantes nao aparecesse nos livros que ele escrevia sozinho ou com DeIeuze Esse aspecto e algo que ele pro prio define como a sentimento de vira e mexe estar pegando ondas portadoras fazendo surf na de toda espede de vetores de inte ljgancia coletiva Pensei entao que este livro poderia ser uma opor tunidade para mim das mais prazerosas de preservar vivo na escrita o Guattari apaixonado pelas aventuras individuais e coletivas 0 Guattari que me apaixona Uma espede de homenagem as encontros de trajetorias que foi a viagem os agenciamentos efemeros que tais enqmtros ciavam e 0 que eu quis tornar presente neste livra 0 qual par sua vez poderia funcionar como elemento na composiCao de autros agencia mentos Durante ires anos fiquei convivendo intimamente com as falas retrans critas As diferentes espedes de material se compunham e recompunham ao mesmo tempo que eram trabalhadas por outros materiais que iam se introduzindo correspondencia entre Guattari e eu textos dele textos meus etc Linhas foram surgindo puxei algumas deixei outras de lado uma cartografia Conectados a outras experiencias os elemen tos que a comp5em podem ou nao gerar outras tantas cartograHas Alias e 0 unico jeito de ler este livro compartilhando Senao e na certa a livro esta organixado por temas Cada tema e feito basicamente de tres tipos de componentes 0 primeiro e mais freqiiente sao aforismas o segundo de conversa de debate de discussao de entrevista de mesaredonda ou de cartas nossas terceiro conferencias e ensaios de Guattari textos de pessoas que durante a viagem foram ganhando as vexes de urn paragrafo e outras de ate algumas paginas textos meus de durante e de depois da viagem que foram entremeando 0 mao terial do livro fazendo liga construindo passagens etc estes quando nao ptecedidos de me nome sao ptecedidos e artematados peIo sinal 0 al de estarem assinalados pot urn tecuo da margem as textos fala In entrevista a Michel Bute1 para LAuJre Journal Paris n 6 126198 p 9 incorporada a P Guattari Let annlet dhiver Ed Bernard Barrault Paris 198 13 J t 1 I I I I Ij I I I dos na primeira pessoa sem assinatura tanto aforismos quanta con ferencias e ensaios sao em geraI a resultado de uma montagem elabo rei cada um deles misturando pedaos de falas de Guattari sobre um mesma tema gravados em dierentes ocasi6es Alguns desses textos em menor Dumero sao citac5es diretas de falas dele apenas traduzidas Mas na medida em que tradueao e conexao com outros universos posso dizer que todos esses textos sao montagens e por isso naD ha nenhuma indicacao que diferencie as citac6es das montagens propriamente ditas S6 nos textos de Guattari posteriores a viagem e que estao indicadas data e proveniencia Ja as falas de outras pessoas vern precedidas de seus res pectivos nomes e quando inseridas numa conversa ha tambem de data e lugar onde se deram Algumas dessas falas sao anonimas umas porque nao foi registrado 0 nome de quem as proferiu ou porque quem as proferiu assim quis outras porque foram criadas a partir de necessi dades que a propria construao do livro foi revelando De certo modo este livre e datado ele traz a marca dos agencia mentos que 0 geraram Primeiro 0 Brasil de 1982 Intensificaao da re macro e micropoHtica eleic6es proliferacao de grupos orga nizados de minorias uso do tetmo alternativa para designar praticas sociais dissidentes ecos dos anos 70 e coisas assim Consequentemente urn cetto tipo de cartogtafias dessas experiencias e seus confrontos constitui sua principal materia Depois os acontecimentos ocorridos durante os tres anos de sua elaboracao Na leitura ainda outras datas estatao marcando a passagem por outtas eventuais cattografias Mas algo percorre tudo isso e independentemente das datas tais cartografias tern em comum a busca de safdas na constituicao de outros territorios para alem dos territorios sem safda outtos espacos de vida e de afeto Sao elas todas obtas dos tais inconscientes que atrevidos protestam Os aliados deque falava Deleuze na entrevista que eitei Eis 0 que ele diz literalmente a respeito Dirigimonos aos inconscientes que protestam Procutamos aliados Precisamos de aIiados E temos a impressao de que esses aliados ja exis tern de que nao esperaram par nos de que ha muita gente que esta farta que pensa sente e trabalha em analogas nada a ver com moda mas com urn ar do tempo mais profundo no qual se fazem investiga c6es convetgentes em domfnios muito diversos Este livro quer ser uma dessas investigac6es Seu domfnio sao as estrategias da economia do desejo no campo social aquilo que Guattari batizou com 0 nome de micropolftica 0 livro como hi disse segue a movimento de algumas dessas cartografias as que foram surgindo dos encontros que vivemos durante a viagem Sao essas as maos que 0 escre veram Suely Rolnik Gp citada p 148 Foram feitas modificarOes na traduriio 14 I Cultura urn conceito reaciomirio o conceito de cultura 0 profundamenre reacionarIO uma maneira de separar atividades semi6ticas atividades de no mundo social e c6smico em esferas as quais os homens sao remetidos Tais atividades assim isoladas sao padronizadas instituidas potencial ou realmente e capi talizadas para 0 modo de dominante ou seja simplesmente cortadas de suas realidades politicas Toda a ohra de Proust gira em torno da idoia de que 0 impossive autonomizar esferas como a da musica das artes plastieas da literatura dos conjuntos arquitetonicos da vida microssocial nos sa16es A culrura enquanto esfera autonoma s6 existe a nive dos mercados de poder dos mercados economicos e naD a Divel da da e do consumo real o que caracteriza os modos de capitalsticos I 0 que e1es nao funcionam unicamente no registro dos valores de troca valores que sao 1 Guattari acrescenta 0 sufixo fstico a capitalista por lhe parecer necessaria criar urn termo que possa designar nao apenas as sociedarles qualificadas como capitalistas mas tambem setores do Terceiro Mundo ou do capitalisffio periferico assim como as economias ditas socialistas dos paises do leste que vivem Duma especie de dependencia e contradependencia do capitalismo Tais sociedades segundo Guattari em nada se diferenciariam do ponto de vista do modo de prodwio da subjetividade Bias funcionariam segundo uma mesma cartografia do desejo no campo social uma mesma economia libidinalrHtica O leitor reeooootrara essa tematica desenvolvida em diferentes diret6es ao longo do livro 15 I I da ordem do capital das semioticas monetarias ou dos modos de finan daroento Eles fundonam tambem attaves de um modo de controle da que eu de cultura de equivalencia au de siste mas de equivalenda na esfeta da cultura Desse ponto de vista 0 capital fundona de modo complementar a cultura enquanto conceito de equivalen da 0 capital ocupase da economica e a cultura da sub jetiva E quando falo em subjetiva nao e refiro apenas a pu bliddade para a e 0 consumo de bensja propria do lucro capitalista que nao se reduz ao campo da svalia economica ela esta tambem na tomada de poder da Cultura de massa e singularidade 2 o titulo que propus para este debate na Folha de sao Paulo foi Cultuta de massa e singularidade 0 titulo reiteradamente anundado foi Cultura de massa e individualidade e talvez esse nao seja um mero problema de Talvez seja dildl ouvir 0 tetmo singuloridade e nesse caso traduziIo por individualidade me parece colocar em jogo uma dimensao essencial da cultura de massa E exatamente este 0 tema que ell gostaria de abordar hoje a cultura de massa como elemento fundamental da de subetividade capitalistica Essa cultura de massa produz exatamente indivlduosj individuos normalizados artieulados uns aos outrcs segundo sistemas hierarquicos sistemas de valores sistemas de submissao nao sistemas de submissao visiveis e explicitos como na etologia animal au como nas sociedades arcaicas au precapitalistas mas sistemas de submissao muito roais dissi roulados E eu nem diria que esses sistemas sao interiorizados ou in ternalizados de acordo com a expressao que esteve muito em voga numa certa epoca e que implica uma ideia de subjetividade como algo a ser preenchido Ao contrario 0 que ha e simplesmentl uma de subje tividade Nao somente uma da subjetividade individuada subjetividade dos indivlduos mas uma de subjetividade social uma da subjetividade que se pode encontrar em todos os mveis da e do consumo E mais ainda uma da subjetividade inconsciente A meu ver essa grande fabrica essa grande maquina capita llstica produz inclusive aquilo que acontece conosco quando sonharoo quando devaneamos quando fantasiamos quando nos apaixonamos e assim por diante Em todo caso ela pretende garantir uma hegemouica em todos esses campos A essa maquina de de subjetividade eu oporia a ideia de que e possivel desenvolver modos de singulares aquilo que 2 Titulo de uma mesaredonda promovida pela FolhtJ de Sao Paulo em 3 de setembro de 1982 com a de F Guattari Laymert G dos Santos Jose Miguel Wisnik Modesto Carone e Arlindo Machado 0 texto que se segue e uma montagem de inclui a da fala de Guattari nesse evento alem de ideias esparsas pox ele colocadas em outras ocaSi6e9 no deconer de sua viagem ao Brasil As falas dos demais participantes da mesaredonda em questio bem como treehos do debate encontramse espalhados pelo Hvro 16 J pod ch d 1 d d enamos amar el processos e szngulariZilf7zo uma maneira e recusar todos esses modm de preestabelecidos todos esses modos de e de telecomando recusaIos para construir de certa forma modos de sensibilidade modos de com 0 outro modos de modos de criatividade que produzam uma sin gular Uma existencial que caincida com urn desejo com urn gosiO de viver com uma vontade de construir 0 mundo no qual nos en contramos com a instauracio de dispositivos para mudar as tipos de 50 ciedade as tipos de valores que nio sao as nossas Hi assim algumas palavrascilada como a palavra cultura que nos impedem de pensar a realidade dos processos em questao A palavra cultura teve varios sentidos no decorrer da Hist6ria seu senticlo roais antigo e 0 que aparece Da expressio cultivar 0 espirito Vou designaIa sentido A e culturavalor par corresponder a um jul gamento de valor qUe determina quem tem cultura e quem nao tem au se pertence a meios cultos au se pertence a meios incultos 0 segundo nueleo semantico agrupa outras reIativas cultura Vou de signaIo sentido B E a fculturaalma coletiva sinonimo de civilizatao Desta vez ja nao ha mais a par ter au nao tern todo mundo tem CiIltura Essa 0 uma cultura muiro democratica qualquer um pode reivin diear sua identidade cultural E uma especie de a priori da cultura falase em cuItura negra cultura underground cuItura tecnica etc E uma especie de alma um tanto vaga diflcil de captar e que se prestou no curso da Hist6ria a toda especie de ambigiiidade pais 0 uma dimensao semanticaque se encontra tanto no partido hitleriano com a de volk povo quanta em numerosos movimentos de que querem se reapropriar de sua cultura e de seu fundo cultural 0 terceiro n6deo semantico que designo C corresponde a cultura de massa e eu a chamaria de culturamercadoria Ai nao h8 julgamentoavaior nem territorios coletivos CIa eulttira mais Cll menDS secretos como nelS sentidos A e B A cultura sao todos as bens todos as equipameritos casas de cultura etc todas as pessoas especialistas que trabaIbam nesse tipo de equipamento todas as te6rieas e ideol6gieas relativas a esse funcionamento enfim tudo que contribui para a de objetos semi6tieos livros filme difundidosnum mercado determinado de monetaria au estatal Difundese cultura exatamente como Caea Cola cigarros de quem sabe 0 que quer carros ou qualquer coisa Retomemos as tres categorias Com a ascensio da burguesia a cultura valor parece ter vindo substituir outras nOt5es segregativas antigos sis temas de social da nobreza Ja nao se fala mais em pessoas de qualidade a que se considera 0 a qualidade da cultura resultante de determinado trabalbo E a isso que se refere par exemplo aquela f6rmula de Voltaire especie de palavra de ordem no final de Candide Cultivem seus jardins As elites burguesas extraem a legitimidade de seu poder do fato de terem feito certo tipo de trabalbo no campo do saber no 17 II campo das artes e assim por diante Tambem essa noao culturavalor tern diversas acep6es Podese tomaIa como uma categoria geral de valor cultural no campo das elites burguesas mas tambem se pode usaIa para designar diferentes lllveis culturais em sistemas setoriais de valor aquila que faz com que se fale por exemplo em cultura classica cultura den tifiea cultura artfstica E af passo a passo vaise chegando a definiao B a da cult alma que e uma noiio peseudocientffica daborada a partir do final do se10 XIX com 0 desenvolvimento da antropologia em particular da antropologia cultural No infdo a de alma coletiva e mnito proxima de uma nocao segregativa e ate racista grandes antrop61ogos como Bruhl e Taylor reificam essa noiio de cultura Falose por exemplo que as sociedades primitivas tern uma concepcao animista do mundo uma alma primitiva uma mentalidade primitiva que servirao para qualificar modos de subjetivaiio que na verdade siio perfeitamente heterogeneos E depois na evolucao das dencias antropo16gicas com 0 estruturalismo e 0 culturalismo houve uma tentativa de se livrar desses sistemas de etnocentricos A corrente culturalista e muito diverM sificada no que diz respeito a essa tentativa Alguns continuaram a ter uma visao etnocentrica Outros em como Kardiner Margareth Mead Ruth Benedict com no6es tais como personalidade de base personalidade cultural de base pattern cultural quiseram do etnocentrismo Mas no fundo podese dizer que se essa tentativa consistiu em sair do etnocentrismo renunciar a uma referenda geral em a cultura branca ocidental mascuIina etc eJl na verdade estabeleceu uma especie de policentdsmo cultural uma especie de multiplicaiio do etnocentrismo Essa culturaMalma no sentido B consiste em isolar 0 que chamarei de uma esfera da cultura 0 dominio do mito do culto da numeraiio etc a qual se oporao outros nfveis tidos como heterogeneos Par exem pIa 0 campo do politico 0 campo das estruturais de parentesco tudo aquilo que diz respeito a economia dos bens e dos prestigios etc E assim acabase desembacanda numa em que se separa aquila que eu chamaria de atividades de numa esfera que passa a ser designada como a da cultura E a cada alma coletiva os povos as etnias os grupos sociais sera atribufda uma cultura No entanta esses povos etnias e grupos sociais nao vivem essas atividades como uma esfera separada Da mesma maneira que 0 burgues fidalgo de Moliere descobre que ele faz prosa as sociedades primitivas descobrem que fazem cultura elas sao informadas par exemplo de que fazem musica atividades de eulto de mitologia etc E descobrem isso sobretudo no momento em que pessoas vern lhes tomar a para expoMla em museus au vendeMla no mercado de arte au para inserila nas teorias antra pol6gicas cientfficas em Mas elas nao fazem nem nem nem muska Todas essas dimensoes sao inteiramente articuladas 18 umas as outras num processo de expressao e tambem articuladas com sua maneira de produzir bens com sua maneira de produzir sociais Ou seja elas naa assumem absolutamente essas diferentes que sao as da antropologia A e identica no caso da de urn indivlduo que perdeu suas coordenadas no sistema psiquiatrico au no das antes de sua integraao ao sistema de escolarizaao EIas brincam articulam relac6es sociais sonham produzem e mais cedo au mais tarde vaa tet que aprender a categorizar essas dimens6es de semiotizacao no campo social normalizado Agora e hora de brinear agora e hora de produzir para a escola agora e hora de sonhar e assim por diante Ja acategoria culturamercadorio a terceiro nucleo de sentido se pretende muita mais objetiva cultura aqui naa e fazer teoria mas produzir e difundir mercadorias culturais em principia sem levar em con os sistemas de valor distinios do nlvel A coituravalor e sem se preocupar tampouco com aquila que eu chamaria de niveis territoriais I da coltura que sao da do nlvel B culturaalma Nao se de uma cultura a priori mas de uma cultura que se produz se reproduz A se modifica constantemente Assim sendo estabelecer uma especie de nomenclatura cientifica para tentar apreciar 0 que e em termos quan titativos essa de cultura Ha grades muito elaboradas penso naquelas que estao em curso na Unesco nas quais se pode cIassificar as nlveis culturais das cidades das categorias sociais e assim par diante em do indice do numero de livros produzidos do numero de filmes do numero de salas de uso cultural etc A minha ideia e que esses tres sentidos que apareceram sucessiva mente no curso da Hist6ria continuam a funcionar e ao mesmo tempo Ra uma complementaridade entre esses tres tipos de nucleos semanticos A dos melos de de massa a da subje tividade capitalfstica gera uma cultura com universal Esta e uma dimensao essendal na da coletiva de trabalho e na can daquilo que eu chama de coletiva de controle social Mas independentemente desses dois grandes objetivos ela estatotalmente dis posta a tolerar subjetivos que escapam relativamente a essa cultura geral Eo preciso para isso tolerar margens setores de cultura mi noritaria subjetividades em que possamos nos reconhecer nos recuperar entre nos numa aheia Ii do Capitalismo Mundial Integrado CMI Essa atitude entretanto nao e apenas de tolerancia Nas ultimas decadas essa capitalfstica se empenhou eIa propria em produzir suas margens e de algum modo equipou novos territorios subjetivos os indivfduos as famflias as grupos sociais as minorias etc Tudo isso parece ser muita bern calculado Poderseia dizer que neste momento Ministerios da Cultura estao a surgir por toda parte desen volvendo uma perspectiva modernista na qual se propoem a incrementar de maneira aparentemente democratica uma de cultura que Ihes permita estar nas sociedades industriais desenvolvidas E tambem encorajar 19 formas de cultura partieularizadas a fim de que as pessoas se sintam de algum modo numa especie de territ6rio e nao fiquem perdidas num mun do abstrato Na verdade nao e bem assim que as coisas acontecem Esse duplo modo de da subjetividade essa da de cultura segundo os mveis Bee nao renunciou absolutamente ao sistema de do nivel A Atras dessa falsa demneracia da cultura con tinuam a se instautar de modo completamente subjacente os mesmos siStemas de a partir de uma categoria geral da cultura Os Ministros da eultura e os especialistas dos equipamentos culturais nessa perspectiva modernista dedatam nao pretender qualificar socialmente os consumidores dos objetos culturais mas apenas difundir cultura num de terminado campo social que fundonaria segundo uma lei de liberdade de tracas No entanto 0 que se amite aqui e que 0 campo social que recehe a cultura nao e homogeneo A difusao do livro do disco etc nao tern absolutamente a mesma quando veiculada nos meios de elites sociais ou nos meios de comunicaao de massa a titulo de formacao au de cultural Trabalhos de soci610gos como Bourdieu mostram que ha grupos que ja possuem ate urn metabolismo de receptividade das culturais E 6bvio que uma crianca que nunea conviveu num ambiente de Ieitura de de conhecimento de de obras pIasticas etc nao tern o mesmo tipo de com a cultura que teve por exemplo alguem como JeanPaul Sartre que literalmente nasceu numa biblioteca Ainda assim se quer manter a aparencia de igualdade diante das cultu rais De fato conservamos 0 antigo sentido cia palavra cultura a cultura valor que se inscreve nas tradicoes aristocraticas de aImas bern nascidas de gente que sabe lidar com as palavras as atitudes e as etiquetas A cultura nao e apenas uma transmissao de informacao cultural uma missiio de sistemas de modelizacao mas e tambem uma maneira de as elites capitalisticas exporem 0 que eu chamaria de urn mercado gera de poder Nao apenas poder sobre os objetos culturais ou sobre as possibili dades de manipuIaIos e criar algo mas tambem poder de atribuir a si os objetos culturais como signo distintivo na social com os outros 0 sentido que uma banalidade pode tomar por exemplo no campo da literatura varia de acordo com 0 destinatario 0 fato de urn aluno ou urn professorzinho do interior dizer banalidades sobre Maupassant nao altera seu sistema de de valor no campo social Mas se Giscard dEs taing num dos grandes programas da televisao francesa falar de Maupassant ainda que uma banalidade 0 fato se constitui imediata mente em urn fndice nao de seu conhecimento real acerca do escritor mas de que ele pertence a urn campo de poder que e 0 da cultura Tomarei urn exemplo mais imediato situado naquiIo que estou con siderando como contexto brasiIeiro Constumase insinuar que 0 Lula e 20 L o PT sao pessoa e empreendimento muito simpaticos mas que vaa sem duvida se revelar completamente incapazes de gerir uma sociedade alta mente diferenciada como e a brasileira pois eles nao tern competenda naa tern nfveis de saber suficientes para tanto Recentemente estive oa Paloma e constatei que esse mesma tipo de e usado contra Walesa Dirigentes do Partido Comunista Polones empregam todos as meios possfveis para tentar desconsideraMlo Especialmente urn sujeitinho nojento que se chama Racowski e que declara a imprensa ocidental que simpatiza muitfssimo com esse personagem tao seduto tao charmoso mas considera que separaclo de seus conselheiros de seu entou rage habitual ele nao e nada e urn incapaz Na verclacle 0 que esta se colocanclo em jogo nao sao esses niveis de competencia mesma porque para de conversa e natoria 0 nivel de incompetencia e das elites no poder Alias nos agen ciamentos de poder capitaI1stico em geral sao sempre os mais estupidos que se encontram no alto da piramide Basta considerar os resultados a gestao da economia mundial hoje conduz centenas e milhares de pessoas a fome ao desespero a urn modo de vida inteiramente impossive apesar dos progressos tecnol6gicos e das capacidades produtivas extraordinarias que estao se desenvolvendo nas tecnol6gicas atuais Assim nao podemos aceitar que 0 que esteja sendo eetivamente vi sado ou tendo um certo impacto na opinHio seja a competencia Alem disso esse argumento promove uma certa encarnada do saber como se a inteligencia necessaria nesta de crise que estamos vivendo pudesse encarnar algum suposto talento ou saber transcendental Esse argumento simplesmente escamoteia 0 fato de que todos os procedimentos de saber de eficiencia semi6tica no mundo atual participam de agenciamen tos complexos que jamais sao da de urn unico especialista Sabese muito bern que qualquer sistema de gestao moderna dos grandes procesws e impIica a de diferentes niveis de compe tenda Ness sentido nao vejo em que 0 LuIa seria incapaz de fazer tal E quando eu falo do LuIa na verdade estou falando do PT de todas as democraticas de todas as correntes minoritarias que estao se agitando neste momento de campanha eleitoral no Brasil Entao nao da para entender por que essas diferentes potencialidades de competencia nao poderiam fazer 0 que as elites hoje no poder fazem igual ou melhor Acho que 0 pontochave dessa questao nao esta ai e sim na do Lula com a cultura como quantidade de Nao a cultura alma pois e 6bvio que nesse sentido ele tern a cultura de Sao Ber nardo ou a cultura operaria e nao vamos tirar isso dele mas sim com urn certo tipo de cultura capitalistica uma das engrenagens funda mentais do poder As pessoas do PT em particular 0 Lula nao participam de determinada qualidade da cultura dominante E muito mais uma ques tao de estilo e de etiqueta Poderseia dizer ate que e algo que funciona 21 num nIvel anterior ao termino de uma frase a configuracaa de urn dis cursa Tais pessoas oao fazem parte da cultura capitaHstica dominante A partir dal desenvolvese todo um vetor de pois essa con de cultura impregna todos as nfveis sociais e produtivos Dal tais pessoas niio poderem pretender uma legitimidade para gerir os processos capitalfstieos coisa que das proprias acabam tambem dizenclo a que da urn de estranhamento a ascensao polftica e social de pessoas como Lula e 0 fato de sentirmos muito bern que oao se trata apenas de urn fenomeno de ruptura em a gestao dos fluxos sociais e econ8micos Mas sim de colocar em protica um lipo de processo de diierente do 101 urn tererritorializaemIeQUenos por amO ago allca a de uma subjetividade que vai ser capaz de gerir a desen e ao temp gerir quenao yao confmar as dlferentes categorlas sexualS no esquadrinhamento dominante do Entao a questao que se coloca agora nao e mais quem produz cultura quais vao ser as reeipientes dessas produc6es culturais mas como ageneiar outros modos de plodmao semi6tica de maneira a bilitar a construcao de uma soeiedade que manterse de setni6fieaque permitam assegurauma divisiio soeiaJda sempor isso fechar os indivlduos em sistemas de Jressora ou cllteg9rizar em esferas da cultura A como esfera cultural antes de mais nda aos pintores as pessoas que tern currfculo de pintoras e as pessoas que difundem essa pintura no comercio au nos meios de comunicacao de massa Como fazer com que essas categorias ditas da cultura possam ser ao mesmo tempo altamente espeeializadas singularizadas como e 0 caso que acabei de meneionar da pintura sem que haja por isso uma especie de posse hegem8nica pelas elites capitalfsticas Como fazer com que a musica a danca a criacao tacias as formas de sensibilidade pertencam de pleno direito ao conjunto dos componentes soeiais Como prodamar um direito a singularidade no campo de todos esses nlveis de dita cultural sem que essa singularidade seja confinada num novo tipo de etnia modQs cepNclsiio cuhual nao torl1em articularse uns articularse ao conlUliio sodal ao dos ouiroslipos 0 que eu chamo maqulni casioda essa revolucao informatica telematica dos robos etc Como abrir e ate essas antigas c1lturais fechadas sobre sl mesmas Como produzir novos agenciamentos de ira5alheni poYumli seliSibllidade esteliea pela da vldaniitii plno maTs cotidiano e aD mesmo tempopelas sociais a nive aos grandes conjuntos economicos e sociais 22 J Para conduir eu ditia que os problemas da culrura devem neeessa riamente sair da entre as tres nucleos semanticos que evoquei anteriormente Quando as meios de comunicacao de massa au as Ministros da Cultura faJamde nos convencer de que niio estao trarando de problemas politicosiisoCIals Nstrffiiiftciilfurapatln cOnsliiiiOcrJoosecrIstrilJui urn minima vihil de alimentos em algumas sociedades Mas as agenciamentos de prodlcao semi6tiea em todos esses nfveis artfsticos as criac5es de toda especie implicam sempre vamente dimens6es micropolfticas e macropoliticas f w eu podetia falar dos efeitos dessa concePliio hoje na Franca com 0 governo Mitterrand para tentar descrever a maneira pela qual os socialistas estao girando em falso com essa categoria de cultura E is tentativa de de da cuI ta niio esta real mente conectada com processos de so etlva ao sin ulaf com as mi Donas 0 que az com que eIa seiiipre apesar das boas inte uma privilegiada entre 0 Estado e os diferentes sistemas de cultural Neste momento algumas pessoas na entre as quais me ineluo consideram muito importante inven tar um modo de cultural que quebre radicaImente os esquemas atuais de poder nesse campo esquemas de que disp5e 0 Estado atualmente atraves de seus equipamentos coletivos e de sua mfdia Como fazer para que a cultura saia dessas esferas fechadas sobre si mesmas Como organizar dispore financiar processos de cultural queCfeimontemjs 1JJliLJ1QCJlll1PO da cultlJra os de da cultura Nao existe a meu ver cultura popular e cultura erudita Ha uma cultura capitalistica que permeia todos os campos de expressao semi6tica E isso que tento dizer ao evocar os nucIeos semanticos do termo cultura Niio ha coisa mais horripilante do que fazer a apologia da cultura popular ou da cultura proletaria ou sabese Ia 0 que desta na tureza Ha processos de em praticas determinadas e ha procedimentos de de operados peIos diferentes sistemas capitalfsticos No fundo s6 ha uma cuItura a capitallstica E uma cultura sempre etnocentrica e intelectocentrica ou Iogocentrica pois separa os universos semi6ticos das subjetivas Ha muitas maneiras de a cultura ser etnocentrica e nao apenas na racista do tipo cultura mascuIina branca adulta etc Ela pode ser relativamente policentrica ou polietnocentrica e preservar a 23 de uma de culturavalor um padrao de tradutibilidade geral das semi6ticas inteiramente paralelo ao capital 2Aim como 0 capital e um modo de que permite ter um geral para as producoes econBmicas e sociais a cultura e 0 equivalente geral para as de poder As classes dominantes sem pre buscam essa dupla maisvalia a maisvalia econoi atraves do cli nbeiro e a maisvalia de poder atraves da eulturavalor Considero essas duas maisvalia econlmica e maisvalia do poder inteiramente complementares Elas constituem juntamente com uma terceira categoria de 0 poder sobre a energia a capa cidade de conversao das energias umas nas outras os pilares do CM 24 1 II Subjetividade e Hist6ria 1 Subjetividade X Ao de ideologia juiiO de subjetividade prefiro falar sempre em subjetivaiio em pro L o sujeito segundo toda uma da filosoHa e das clendas hu manas e alga que encontramos como urn etrela algo do dominio de uma suposta natureza humans Proponho ao contratio a icleia de urna subjetividade de natureza industrial maquinica ou seja essencialmente fabricada modelada recebida consumida As maquinas de da subjetividade variam Em sistemas tfa didonais por exemplo a subjetividade fabricada por maquinas mais territorializaclas na escala de urna etnia de uma profissional de urna casta Ja no sistema capitalistico a industrial e se da em escala internadonal Esquematicamente falando eu diria que assim como se fabrica leite em forma de leite condensado com todas as molulas que he sao acres centadas injetase nas roses nas como parte do prccesso de subjetiva Sao requeridos muitos pais maes Edipos e para recompor urna estrulUra de famnia restrita 25 Ha uma espeCle de reciclagem ou de formacao permanente para voltar a ser mulher ou mae para voltar a ser crianca ou melhor para passar a ser crianca pois os adultos e que sao infantis As criancas conseguem nao seIo por algum tempo enquanto nao sucumbem a essa prodwao de subjetividade Depois elas tambem se infantiHzam Todas essas quest6es da economia eoletiva do desejo deixam de recer utopicas a partir do momenta em que nao mais consideramos a pro ducao de subjetividade como sendo apenas urn caso de superestrutura dependente das estruturas pesadas de das sociais A partir do momenta em que eonsideramos a producao de subjetividade como send9 a materiaprima da evolucao das forcas produtivas em suas formas mais desenvolvidas as setores Ide ponta da industria Materiaprima do pro prio movimento que anima a crise mundial atual essa especie de vontade de potencia produtiva que revolueiona a propria producao atraves das revolw6es ciendficas biol6gieas atraves da incorporaCao massiva da teIe matiea da informatica da ciencia dos robos atraves do peso cada vez maior dos equipamentos coletivos e da midia Se as marxistas e progressistas de todo tipo nao compreenderam a questao da subjetividade porque se entupiram de dogmatismo te6rieo isso em compensacao nao aconteceu com as forcas sociais que adminisrram io capitaHsmo hoje Elas entenderam que a de subjetividade talvez seja mais importante do que qualquer outro tipo de producao mais cial ate do que 0 petr61eo e as energias No Japao por exemplo nao se tern petr6leo mas se tern e como uma producao de subjetivi dade E essa producao que permite a economia japonesa se afirmar no mercado mundial a ponto de receber a visita de centenas de patronais que pretendem japonizar as classes operarias de seus paises de origem Tais mutac6es da subjetividade nao funeionam apenas no registro das ideologias mas no proprio coracao dos indivfduos em sua maneira de perceber 0 mundo de se articular como tecido urbano com os processos maqufnicos do trabaTho com a ordem social suporte dessas produ tivas E se isso e verdade nao e ut6pieo considerar que uma revoluCao uma mudanca social a niveI macropoIftieo macrossociaI diz respeito tam bern a questao da da subjetividade 0 que devera ser levado em conta pelos movimentos de emancipacao Essas quest6es que pareciam ser marginais do dominio da psicologia da fiIosofia ou dos hospitais psiquiatricos com 0 nascimento de imensas minorias que juntas constituem a maioria da populacao do planeta tor namse questoes fundamentais Nao considero que haja uma teofia au uma cartografia geral da forma como saO setriiotizadas essas problematicas Esse ponto epara mim fundamental pois a te6rica e ideo 26 16gica e inseparavel das condic6es dessa praxis e alga qlie se busca noproprio movimento as recuos as reapreciac5es e as reorganizac6es das referencias que forem necessarias E a condicao a ffieu vet para que elementos de como Exu e Ogum elementos do candomble sejam levados em cOhsideracao no modo de cartografia de semiotizacao de apreensao das problematicas aqui no Brasil Tudo 0 que e produzido pela capitalistica tudo 0 que nos chega pela linguagem pela familia e pelos equipamentos que nos rodeiam naG e apenas uma questao de ideia DaD e apenas uma trans missao de significac5es POt meio de enunciados significantes Tampouco se reduz a modelos deidentidade ou a com polos maternos paternos de sistemas de conexao direta entre as grandes nas as grandes ffiaquinas de cantrale social e as instancias psiquicas que definem a maneira de perceber 0 mundoAs sociedades arcaicas que ainda nao incorporaram 0 processo capitalistico as crian cas ainda nao integradas ao sistema au as pessoas que estao nos hospitais psiquiatrieos e que nao conseguem au nao querem enttat no sistema de significacao dominante tern uma percepcao do muncio inteiramente di erente ga qos esquemas 0 que DaD quer dizer que a natureza de sua percepc1io dos valores e das relacoes sociais seja caotka Sao autros modos de representacao do mundo sem duvida mnita impor tantes para as pessoas que deIes se servem para poder viver mas nao 56 para elas sua importancia podera se estender a outros setores cla vida social numa sociedade de outro tipo Nao conrraponho as de economlca as de prodwao subjetiva A meu ver ao menos nos ramos mais modernos mais da industria desenvolvese na um tipo de traballio ao mesmo tempo material e Mas essa de competencia no dominio semi6tico depende de sua pelo campo social como um todo e evidente que para fabricar um opedrio especializado nao ha apenas a das escolas profissionais Ha tudo a que se passou antes na escola primaria na vida domestica enfim ha toda uma es pecie de aprendizado que consiste em ele se deslocar na cidade desde a infancia ver televisao enfim estar em todo urn ambiente maquinico 1 Na verdade a de um bem manufaturado nao se resrringe a uma esfera a esfera da fabrica A divisao social do traballio implica uma quantidade enorme de traballio assalariado fora da entidade produtiva nos equipamentos coIetivos por exemplo e de trabalho nao assaIariado sobretudo das mullieres Aquilo que chamei de de subjetividade do eMI nao consiste unicamente numa de poder para controlar 27 as soeiaise as de A produiio de subjetividade constitui materiaprima de todaequalquer produiio A de ideologia nao nos pfrmite compreender essa lite ralmente produtiva da subjetividadefA ideologia permanece na esfera da quando a do eMI nao apenas a da Jepresentaao mas a de urna modelizaaoque diz respeito aos comporta mentos a sensibilidadea a ihem6ria as reIaoes sociais as relaOes sexuais aos fantasmas etc A de subjetividade enconttase e com urn peso cada vez maior no seio daquilo que Marx cbama de infraestrutura produtiva Isso mUito facil de verificar Quando urn poteneia como os EVA quer im plantar suas possibilidades de expansao economica num pals do Terceiro Mundo ela antes de mais nada a trabalhar os processos de subje Sem umtrabaIho de das edas de consumo sem urn trabalho de todos os meios de economica comercisl industrial as realidades sociais locais DaD poderio ser controladas A problematica micropolltica nao sesitua no nlvel da mas no nlvel da de subjetividade Ela se refere aos modos de expressao que passam nao so pela linguagem mas por nlveis semioticos heterogeneos Entao nao se trata de elahorar uma de referente geral interestrutural uma estrutura geral de significantes do inconsciente a qual se reduziriam todos os nlveis estruturais espedficos Tratase sim de fazer exatamente a operaio inversa que apesar dos sis temas de equivaleneia e de tradutibilidade estruturais vai ineidir nos pontos de singularidade em processos de que sao as pro prias ralzes produtoras da subjetividade em sua pluralidade Todos os fenomenos importantes da atualidade envolvem dimens5es do desejo e da subjetividade Nao se consegue explicar 0 que esta acon tecendo no Ira ou na Pol6nia por exemplo se nao se entender que ponto esta havendo uma de subjetividade coletiva que com muita dificu1dade se expressa como recusa de urn certo tipo de ordem As F referencias universitarias e polfticas tradicionais 0 marxismo cIassico ou urn remendo nao dao conta desses problemas do desejo em escala coletiva Varios fenomenos religiosos que estao ocorrendo atualmente por exemplo aquilo que liga povo do Afeganistao em sua luta contra 0 28 i opressor sovietico ou 0 que esta acontecendo no Ira nao podem ser explicados unicamente em tetmos de ideologia A meu ver ifalase de cer tos processos da da coletiva que resul tado da somat6ria de subjetividades individuais mas sim do confronto com as maneiras com que hoje se fabrica a subjetividade em escala Aquilo que se convendonou chamar de trabalhador social nalistas psic61ogos de todo tipo sociais educadores anmado res gente que desenvolve qualquer tipo de trabalho peclag6gico ou cultural em comunidades de periferia em conjuntos habitadonais etc atua de alguma maneira na de subjetividade Mas rambem quem nao trabalha na sodal de subjetividade Nao vejo inconveniente nisso mesmo porque e inevitavel nesta altura dos acohtecimentos Nao penso ser posslve ou mesmo voltar para uma de subjetivi dade que constitulsse por exemplo em regulamentar a passagem de uma faixa etiria para outra atraves de sistemas de esses sao e ver dade sistemas de festa de maravilhosas mas sao tambem extremamente cmeis Embarcamos nesse processo de divisao sodal geral da de subjetividade e nao ha mais volta Mas por isso mesmo devemos inter pelar todos aqueles que ocupam uma positao de ensino nas sociais e psicol6gicas ou no campo de trabalho social todos aqueles enfim cuja profissao consiste em se interessar peo discurso do outro Eles se encontram numa encruziJhada politica e micropolitica fundamental Ou vao fazer 0 jogo dessa de modeos que nao nos permitem ctiar safdas para os processos de singularizatao au ao contrario vao estar tra balhando para 0 Uncionamento desses processos na medida de suas possi bilidades e dos agendamentos que consigam p6r para fundonar Isso quer dizer que nao hO objetividade dentifica alguma nesse campo nem uma suposta neutralidade na por exemplo analitica Na verdade essas teorias servem para justificar e legitimar a existen da dessas profiss5es espedalizadas desses equipamentos segregativos e portanto da pr6pria de alguns setores da As pessoas que nos sistemas terapeuticos au na universidade se consideram simples ou canais de transmissao de urn saber cientffico s6 por isso fizeram uma Seja qual fot sua inocencia ou boa vontade eas ocupam efetivamente uma de dos sistemas de rodu ao d e dominante E nao se trata de urn esuno e sua proHssao Na em 68 debatiase essa questao e tratavase sistematicamente os psi psic610gos psiqniatras psicanalistas e os trabalhadores sociais em geral de tiras Ora nao ha profissao alguma que seja essendalmente polidalesca a nao ser a propria profissao de polida e ate isso e discutlvel Do ponto 29 de vista micropolitico qualquer ptaxis pode ser ou niio policialesca ne nhum corpo cientlico nenhum COtpo de tecnologica garante uma justa A garantia de uma micropolitica processual aquela que constr6i novas modos de subjetividade que singulatiza naoseen contranesse tipo de ensino A garantia de uma micropolitica so pode e deve ser enconlrada a caQapasso partir dos agen ciamentos que a constituem oa de modos de referenda de modos de praxis que permita ao mesmo tempo elucidar urn campo e Jntervir efetivamente camptanto iltericr como em suas com 0 Para 0 profiliional do sociaL tudo depended de sua capacidade de se articular com os agonelmentos de que assumam sua responsabilidade no plano micropolitico Debate promovido por um diretorio do PT do Rio de Janeiro 11 de setembro de 1982 Mauricio Lissovsky Uma das grandes questoes atuais da pdtica po litica e a de como investir desejantemente II as processos de proclwao capitalista da subjetividade Tradicionalmente Iigavase essa questiio a de ideologia 0 projeto de Brecht por exemplo envolve uma crftica que parte de uma consciencia do poHticoator para atingir a conscienti das massas Mas se pretendemos subverter a subjetividade temos de agir criticamente e abandonar propost como as de Brecht Temos de abandonar a de ideologia e junto com ela a probleman2ahr consciencia Uma pdtica politica que persiga a subversiio da subjetividade de modo a permitir urn agenciamento de singularidades desejantes deve inves tir 0 proprio da subjetividade produzilldoum jogo que a revela ao inves de denunciala Isso quer dizeique ao inves de pre tendermos a Iiberdade indissoluvelmente Iigada a de temos de retomar 0 da farsa produzindo inventando subjetividades delirantes que num embate com a subjetividade capitalfstica a des moronar Qualquer ao nfvel macropolftico diz tambem respeito a de subjetividade 2 Subjetividade sujeito individual ou social X agenciamentos coletivos de Ao inves de suieito de sujeito ou das instancias psI quicas de Freud prefiro falar em agenciamenio coletivo de enunciafiio 30 c o agenciamento coletivo nao corresponde nem a uma entidade individuada nem a uma entidade social predeterminada A subjetividade e produzida por agenciamentos de enunclaao as pro cessos de subjetivacao de semiotizacao ou seja toda a prodwao de entido de eficiencia semi6tica nao sao centrados em ageptes indivi duais no funcionamento de instancias intrapsfquicas eg6icas mierosso dais nem em agentes grupais Esses processos sao duplamente descen trados Implicam 0 funcionamento de maquinas de expressao que podem ser tanto de natureza extrapessoal extraindividual sistemas maqufnicos econ6micos sociais tecnol6gicos ic6nicos ecolOgicos etol6gicos de mfdia enfim sistemas que nao sao mais imediatamente antropoI6gkos quanta de natureza infrahumana infrapsfquica infrapessoal sistemas de percep ao de sensibilidade de afeto de desejo de representaao de imagens de valor modos de memorizacao e de producao ideica sistemas de ini bicao e de automatismos sistemas corporais organicos biol6gicos fisio lagicos etc Toda a questao esta em elucidar como os agenciamentos de enuncia cao reais podem colocar em conexao essas diferentes instancias E claro que nao estou inventando nada essa posiCao pode ainda nao estar verdadei ramente teorizada mas com certeza esta plenamente em acao em todo o desenvolvimento da sociedade 3 de subjetividade e iudividualidade Seria conveniente dissociar radicalmente os conceitos de individuo e de subietividade Para mim os indivfduos sao 0 resultado de uma pro duao de massa a indivlduo e serializado registrado modelado Freud foi 0 primeiro a mostrar ate que ponto e precaria essa nocao da totalidade de urn ego A subjetividade nao e passive de totalizaao ou de centrali zaao no indivlduo Uma coisa e a individuaao do corpo Outra e a multiplicidade dos agenciamentos da subjetivaao a subjetividade e essen cialmente fabricada e modelada no registro do social Descartes quis colar a ideia de subjetividade consciente Ii ideia de indivlduo colar a consciencia subjetiva a existencia do individuo e estamos nos envenenando com essa equaao ao longo de toda a bistaria da filosofia moderna Nem por isso deixa de ser verdade que os processos de subjetivaao saO fundamen talmente descentrados em relaao Ii individuaao Daria para citar vados outros exemplos No modo de subjetivacao do sonho e facil constatar uma explosao da individuaao da subjetividade No ato de dirigir urn carro nao e a pessoa enquanto indivfdua enquanto totalidade egaica que esta dirigindo a individuaao desaparece no pro cesso de articulacao servomecanica 3 com 0 carro Quando a direcao fIui 3 Cf F Guattari Revoluriio Molecular Pulsafoes Politicas do Desejo org S Rolnik Brasiliense Sao Paulo 1981 N do T 1 p 208 31 e1a e praticamente automatica a do ego a consciencia do cogito cartesiano nae intervem E de repente h sinais que requisitam novamente J a da pessoa inteira e a caso de sinais de perigo E claro que sempre se reencontra a corpo do indivlduo nesses diferentes com ponentes de sempre se reencontra a nome proprio do indivl duo sempre ha a pretensao do ego de se afirmar numa continuidade e num poder Mas a da fala das imagens da sensibilidade a pro do desejo nao se cola absolutamente a essa do indi vlduo Essa e adjacente a uma multiplicidade de agenciamentos sociais a uma multiplicidade de processos de maqulnica a mu de universos de valor e de universos historicos Partanta fundar em outras bases urna micropoHtica de transformacao molecular passa par urn questionamento radical dessas de indivlduo como referente geral dos processos de Parece oportuno partir de uma ampla da subjetividade como a que estou propondo para em seguida considerar como casos particulates as modos de indivi da subjetividade momentos em que a subjetividade diz eu au supereu momentos em que a subjetividade se reconhece num carpa OU numa parte de urn carpa ou num sistema de pertinencia corporal cole tiva Mas al tambem estaremos diante de urn pluralismo de abordagens do ego e portanto a de indivlduo vai continuar a explodir I I III I I I I iji a lucro capitalista e fundamentalmente de poder subjetivo Isso nao implica uma visao idealisra da realidade social a subjetividade nao se situa no campo individual seu campo e 0 de todos as processos de social e material a que so poderia dizer usando a lingoagem da informatica e que evidentemente urn indivfduo sempre existe mas apenas enquanto terminal esse terminal individual se encontra na posifOO de consumidor de subielividade Ele consome sistemas de de sensibilidade etc sistemas que DaD tern nada a ver com categorias naturais universais Vou dar urn exemplo que pode parecer obvio as jovens que pas seiam pelas ruas equipados com urn walkman estabe1ecem com a Muska uma que nao e natural A industria altamente sofisticada ao pro duzir esse tipo de instrumento tanto como meio quanta como caDteudo de nao esta fabricando alga que simplesmente transmita i a Muska au organize sons naturais 0 que essa industria faz e literal mente inventar urn universo musical uma Dutra com as ohjetos rnusicais a musica que vern de dentro e DaD de urn ponto exterior Em outras palavras a que ela faz e inventar uma nova Outro exemplo e a das De fato elas percebem a mundo straves das personagens do territ6rio domestico no entanto iSBa e apenas em parte verdadeiro Seu tempo e passado principalmente diante da tele visiio absorvendo de imagem de palavras de Tais 32 i L criancas terao tada a sua subjetividade modelizada por esse tipo de aparelho Outro exemplo ainda sao as expenencias feitas por antropologos em sociedades ditas primitivas Eles apresentaram videos para algumas tribos e constataram que 0 video era olhado como urn ohjcto ate divertido mas como outro qualquer Essa rcacao nos mostra que 0 tipo de comportamento que consiste em ficar inteiramente focalizado no aparelho ouma re1acao de comunieacao direta 56 existe em nossa socieclacle E e1a que 0 produz Parta da ideia de uma I economia coletiva de agenciamentos coletivos subjetividade que em algumas circunstancias em alguns contextos so dais podem se individuar Para ilustrar isso tomemos a exemplo parti cular e 6bvio da linguagem Ferdinand de Saussure foi um dos primeiros linguistas que estabeleceu 0 carater fundamentalmente social da linguagem seu carater de fato social que se encarna em falas e agentes individuados E claro que naD sao dais individuos urn ernissor e urn receptor que inventam a linguagem no momenta em que estao falanda Existe a lin guagem como fato social e existe a individuo falante A mesma coisa tece com todos os fatos de subjetividade AHbjetividade esta em circu laao nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos ela e essencialmente soCial e assumida e vivida por indivfduos em suas existencias particulares P modo pelo qual os individuos vivem essa subjetividade oscila entre dois extremos uma re1aao de e opressao na qual 0 individuo se submete a suhjetividade tal como a recehe ou uma re1aao de expressao e de criaao na qual 0 individuo se reapropria dos componentes da suhje produzindo um processo que eu chamaria de singularizaao Se aceitamos essa hip6tese vemos que a circunscriao dos antagonismos sociais aos campos economicos e politicos a do alvo de luta a reapropriaao dos meios de produao au dos meios de expressao politica encontrase superada E precise adentrar 0 campo da economia suhje tive e nao mais restringirse ao economia politica t Em face desse sistema de mediaao intrfnseca dos processos de desejo pe1a Iinguagem penso ser necessario elahorar uma outra concepao do que seja efetivamente a produao de subjetividade a produao de enunciados em relaao a essa subjetividade Uma concepao que nao tenha nada a ver com postular instancias intrapsiquicas ou de individuaao como nas teorias do ego nem instancias de de semi6ticas iconicas como encontramos em todas as teorias relativas as funoes da imagern no psiquismo Um exemplo dessas ultimas e a teoria freudiana Freud quis construir uma economia social da subjetividade a partir dos sistemas de identificaao e de toda a problematica dos ideais do ego 33 I I i j Niia e verdade 0 que dizem os estruturalistas niia siia os fatas de linguagem nem os de que produzem a subjetividade Ela e manufaturada como 0 sao a energia a eletricidade au 0 aluminio Urn individua e 0 resultado de um metabolismo biol6gico do qual partieipam seu pai e sua mae Da para ver as aisas desse jeito mas na realidade a do individuo agora depende tambem da industria biol6gica e ate da engenharia genetica E e evidente que se essa industria nao tivesse se numa corrida permanente para responder as ondas de virus que atravessam regularmente 0 planeta a vida humana teria sido liquidada A expansiio do AIDS por exemplo leva a uma aa tesaura de imensa akanee a uma corrida permanente para encontrar a resposta No momenta atual 0 aperfeioamento e a produiio de respostas imunol6gicas fazem parte da criaiio da vida neste planeta Nao existe uma subjetividade do tipo recipiente em que se dam caisas essencialmente exteriores as quais seriam interiorizadas As tais caisas sao elementos que intervem na propria sintagmatica da subjetivacao inconsciente Sao exemplos de caisas desse tipo urn certo jeito de utilizar a linguagem de se articular aa modo de caletiva sobretudo da midia uma com 0 universo das tomadas eIetricas nas quais se pode ser eletrocutado uma com 0 universo de na cidade Todos esses siio elementos constitutivas da subje tividade 0 indivldua a meu ver esta na encruzilhada de multiplos companen tes de suhjetividade Entre esses componentes alguns sao inconscientes Outros sao mais do dominio do corpo territ6rio no qual nos sentimos bern Outras siia mais do dominio daquilo que os soci61ogas americanas chamam de grupes primarios 0 cIa bando a turma etc Outros ainda siio do dominio da de poder situamse em a lei a polieia etc Minha hip6tese e que existe tambem uma subjetividade ainda mais ampla e 0 que chama de subjetividade capitalistica Seria conveniente definir de outro modo a de subjetividade renunciando totalmente a ideia de que a sociedade os enomenos de ex pressao social sao a resultante de urn simples aglomerado de uma simples somat6ria de subjetividades individuais Penso ao contnlri9que e a subje tividade individual que resulta de um entrecruzamento de coletivas de varias especies nao s6 sociais mas economicas tecnol6gicas de midia etc 34 Debate promovido pelo Curso de Psicanalise do Instituto Sedes Sapien tiae 31 de agosto de 1982 Mario Fuks Pda que entendi voce coIoea que as as varia na metodologia de corresponderiam em Ultima instancia a gerais na da subjetividade Minha pergunta e exis titia uma articulacao wreta e no caso positivo em que grau entre as que vem ocorrendo na de subjetividade e as de modelos psicanaliticos que vem se produzindo ha quase um secolo de historia da Psicanalise Guattari Um fato subjetivo e sempre engendrado por um agenciamento de niveis semioticos heterogeneos 0 engendramento historico das modeli zac6es do inconsdente corresponde a urn fenomeno de imensa deriva dos modos de subjetiva Alguns modos de referencia subjetiva modos de de subjetividade foram Iiteralmente varridos do pla neta com a ascensiio dos sistemas capitalistas Podese dizer que ha um movimento geral de das referencias subjetivas Ate a Francesa e 0 Romantismo a subjetividade permaneceu ligada a modos de territorializados na familia ampla nos sistemas de corporacao de castas de segmentaridade social que nao tornavam a subjetividade operatoria a nivel especifico do individuo Com a emergencia de um novo tipo de coletiva de trabalbo com a de um novo tipo de da subjetividade colocou se a questiio de inventar novas coordenadas de da subjetividade Historiadores como Philippe Aries Donzelot e outros mostraram como se foi assistindo a urn confinamento da familia e a uma circunscricao da infanda Nos sistemas antedates as formac6es capitalistas a da subjetividade oa crianca naa era inteiramente centrada no funcionamento da familia conjugal Uma complexa econontia de nas faixas etarias de articulacao com 0 campo social circundante mantinha a lividade em de dependencia permanente As disparidades eram sempre de algum modo complementares Temos varios testemunhos lite drios desta complementaridade Um exemplo que me ocorre e 0 da rela entre Dom Quixote um senhor e Sancho seu criado Talvez este niio seja 0 melhor dos exemplos pois 0 que nos e dado conhecer da senhorlcriado atraves desta obra na verdade corresponde a urn de que esta ja estava vivendo na epoca A de responsabilidade individuada e uma tardia assim como as de erro e de culpabilidade inreriorizada Num certo mo mento se assistiu a urn confinamento generalizado das subjetividades a uma dos espalos sociais e a uma ruptura de todos os antigos modos de dependencia Com a Francesa niio so todos os indi viduos tornaramse de direito e nao de fato livres iguais e irmaos e alem disso perderam suas aderencias subjetivas aos sistemas de cHis 35 de gropos primarios mas tambem tiveram de prestar contas a leis trans cendentais leis da subjetividade capitaHstiea Nessas foi neces saria fundar em autras bases a sujeita e suas a do sujeito com 0 pensamento 0 cogito cartesiano a do sujeito com a lei moral 0 numen kantiano a do sujeiro com a natureza outra sentimento em a natureza e outra de natureza a com 0 oUlro a do outro como objeto E nessa de riva geral dos modos territorializados da subjetividade que se desenvol veram nao s6 teorias psico16gicas referentes as faculdades da alma coma tambem uma reescrita permanente dos procedimentos de no campo geral das sociais A do romance como urn todo pode ser remetida a essas diferentes tentativas de criatao de sistemas de referencia para os novas modos de da subjetividade E interessante notar como os siste mas de do romance estao sempre de certo modo relacionados aos sistemas de do psiquismo Freud sempre buscou suas referencias na mitologia antiga no ele as traduzia num certo tipe de romance familiar muiro mais pr6ximo da obra de urn Goethe por exemplo Contudo a meu ver e evidente que as maiores psicanalistas nao sao nem Freud nem Lacan nem Jung nem alguem desse genera mas gente como Proust Kafka au Lautreamont Eles conseguiram respeitar as subjetivas muito melhor do que os empreendimentos de mode lizacao pretensamente cientfficos Tambem os sistemas de presentes nas de or ganizacao das lutas sociais estao re1acionados aos sistemas de modelizacao do psiquismo Basta pensar nos tipos de subjetiva engendrados no movimento operatio atraves por exemplo da II Internacional do leninismo ou do maoismo Talvez se trate de algo muiro menos palpilante do que as express5es romanescas do sentimento mas que sem duvida alguma nos remete a urn modo de expressao que nao tern nada aver com aquele que se refere diretamente a da subjetividade burguesa Se considerarmos 0 que efetivamente se passa no campo da crlacao artfstica e cientffica jamais encontraremos sistemas de centralizacao ins tituic6es que controlem totalmente as processos criativos De algum modo as produc5es artfsticas e cientHieas procedem de agenciamentos de enun que as vezes atravessam nao s6 as instituicoes e as especialidades mas tambem paises e ate epocas Ha sempre uma especie de multicen tragem dos pontos de no campo da 1sso niio im pede que haja num momenta ou noutro urn indivfduo ctiador au uma escola mas sempre e retomado urn philum de e cruzado com outro philum S6 na dos generais e dos despotas da cultura e que existe a ideia de que se possa programar uma revolucao par exemplo cultural Por essencia a criafJo e sempre dissidente transindividual transcultural 36 4 Singularidade X individualidade Reuniao no Instituto Freudiano de Psicanalise Rio de Janeiro 10 de setembro de 1982 Pergunta coloca que todo processo de passa pela sin Quer dizer entao que toda mudanp e individual Guattari Nao nao e issa EstOll tentando dizer exatamente 0 contraria I a subetividade coletiva nao e resultante de uma somat6ria de subetivi dades individuais a processo de da subjetividade se faz emprestando associando aglomerando dimensoes de diferentes especies Pode acontecer de processos de portadores de vetores de desejo encontrarem processos de individuacao Nesse caso tratase sem pre de processos de social de e de entrada na lei dominante ereio que e dessa forma que fica mellior colocada a alternativa singularidadeindividualidade e nao numa absoluta que impliea 0 mito de urn retorno a singularidade pUta a uma puta con versao ao processo primario Ha urn permanente entrecruzamento no qual a questao se coloca concretamente como articular 0 processo de singula que se da ao nfvel fantasmatico do objeto do desejo au a qual quer outro Dive pragmatico com as processos de individuacao que nos pegam par todos os lados Mas que processos de sao esses Urn primeiro nivel de individuacaoJ 6bvioJ e 0 ato de sermos individuos bio16gicos J comprome tidos com processos de nutriao de sobrevivencia Vma questao que se coloca aqui por exemplo e a de como evitar que issa se converta numa paixao de morte numa problematica do tipo da que encontramos na rexia ou na melancalia Outro nfvel de e 0 da divisao sexual somos homens ou mulheres ou homossexuais em todo caso somos algo perfeitamente referenciavel Outro nfvel ainda e 0 da nas relaoes J a classe social que somas coagidos a assu mir Todos esses exemplos nos mostram que a pr6pria perspectiva da indi coteja diversos processos de e A questao que se coloca e saber como uma micropoHtica de singulares articulase com esses processos de Todo 0 desenvolvimento da filosofia desde Descartes e todo desenvolvimento da psicologia desde Taine Wundt etc tendem a querer relacionar a subjetividade a uma identidade individual considerando que os conjuntos familiares e sociais seriam como superestruturas em it subjetividade individuada A meu ver issa esta na base de todas as visoes redutorasJ no campo da enomenologia e da psicologia No entanto os comportamentosJ os en gajamentos nos sistemas de valor jamais dessa A que se estabelece entre 0 ego e a pessoa social e juridica faz com que se tenda sempre a responsabilizar as da subjetividade 37 A Ocorre af urn fen6meno de reificaiio social da subjetividde com todos as seus contraefeitos de repressao de culpabilizaao etclEJitamos total mente prisioneiros de uma especie de individuacao da subjetividaWNesse sentido pareceme que a questao nao e propriamente a de nos resgatarmos a nfvel de nossa individualidade pois podemos ficar girando em torno de nos mesmos como se estivessemos com uma terrlvel dor de dente sem poder desencadear processos de singularizaao a nive infrapessoal nem a nivel extrapessoal ja que para isso e necessaria se concetar com 0 exterior Quando fa10 em processo de de isso nao tern nada a ver com 0 indivfduo A meu ver nao existe unidade evidente da pessoa 0 indivfduo 0 ego OU poderfamos dizer a polftica do ego a politica da individuacao da subjetividade e correlativa de sis temas de identificafao que sao modeIizantes o Singularidade e individualidade segundo a imprensa A Folha de S Paulo convidou Guattari para uma mesaredonda pedindolhe que propusesse urn tema Ele sugeriu Cultura de massa e singularidade No entanto 0 dtulo anunciado foi Cultura de massa e individualidade 0 termo singularidade segundo disseram pa recia ao jornal demasiadamente sofisticado inacesslve1 a seu leitor exatamente a consumidor de eultura de massa Esse fato e no mmlmo uma coincidencia reve1adora sobretudo se o pensarmos nos termos das proprias ideias de Guattari Ele eoncebe a como produciio e considera que uma das principais caractedsticas dessa prodmao nas sociedades eapitaHsticas seria pre cisamente a tendencia a bloquear processos de singularizafao e ins taurar processos de as homens reduzidos a condicao de suporte de valor assistem atonitos ao desmanchamento de seus modos de vida Passam entao a se organizar segundo padr6es uni versais que os serializam e os individualizam Esvaziase 0 1 processual para nao dizer vital de suas existencias pouco a pouco e1es VaG se insensibilizando A experiencia deixa de funcionar como referenciapara a criacao de modos de organizacao do cotidiano inter rompemse os processos de singularizacaa 13 ortanto num so mo vi e nascem a e a izafiIo Tuda issa canstitui uma imensa fabrica de subjetividade que funciona como industria de base de nossas sociedades E exatamente nessa industria que a mldla tal como existe hoje em dia com sua cultura de massa teria urn papel de destaque 38 L Podemos agora voltar il Folha Ao substituir 0 termo singularidade por individualidade 0 jornal curiosamente encenou 0 pr6prio tema do debate cultura de massa e singularizacao DaD podem aparecer numa mesma frase elas sao na realidade incompatlveis A imprensa enquanto produtora de cultura de massaalimentase de f1uxos desilJllularidade para produ zir dia a dia individualidades serializadaiLPemocralicamente ela amassa I os processos de vida social em sua riqueza e diferencia 0 e com produz a cada fornada individuos iguais e processos empobrecid2t Mas nao fica s6 ai a coincidencia Completando sua miseenscene o jornal justificou a troca dos termos argumentando que a palavra singulariclacle seria uma sofisticacao inacesslvel a sen leitar De ato singularizar e luxo nos tempos que correm Ainda mais no mundo das paginas diarias fabricado por essa maquina cuja e exata mente inversa produzir individuos deslocaveis ao sabor do mercado e para iSBa precisanclo interceptar seu acesso aos processos de singu larizacao IS50 sim sem duvida adaptase perfeitamente aos tais tem pos que carrern 5 Subjetividade Iinha de montagem no capitalismo e no sociaIismo burocratico o CMI afirmase em modalidades que variam de acordo com 0 pais au com a camada social atraves de uma dupIa opressao Primeiro pela repressao direta no plano economico e social 0 controle da de bens e das reIac6es sociais atraves de meios de coercaomaterial terna e sugestao de conteudos de A segunda opressao de igual au maior intensidade que a conslste em 0 eMI na pr6pria de subjelividade uma imensa maquina produtiva de uma subjetividade industrializada e nivelada em escala mundial tornouse dado de base na da coletiva de trabalho e da de controle social coletivo As maquinas ganham uma importancia cada vez maior nos processos de As de inteligencia de controle e de social estao cada vez mais adjacentes aos processas maquinicos e atraves dessa de subjelividade capitalistica que as classes e castas que detem a poder nas sociedades industriais tendem a assegurar urn cantrole cada vez mais desp6tico sobre os sistemas de e de vida social 39 N A da subjetividade pela eMI e serializada normalizada em toroo de uma imagern de urn consenso subjetivo referido e sabrecadificada par uma lei transcendental Esse esquadrinhamenta da subjetividade e 0 que permite que ela se propague a nivel da e do consumo das sociais em todos os meios inteIectual agni rio fabril etc e em todos os pantos do planeta Imensas maquinas estatais controlam tudo desde seus pr6prios agen tes ate as pessoas que ganharn salario mfnimo au as pessoas perdidas no agreste nordestino par exemplo as individuas sao reduzidas a nada mais do que engrenagens concentradas sobre 0 valor de sellS atos valor que responde ao mercado capitalista e seus equivalentes gerais Sao especies de robBs solitarios e angustiados absorvendo cada vez mais as drogas que 0 poder lhes proporeiona faseinar cada vez mais pela E cada degrau de hes proporciona um certo tipo de moradia urn certo tipo de relal3o social e de prestfgio A tendencia atual e igualar tudo atraves de grandes categorias ficadoras e redutoras tais como 0 capital 0 trabalho urn cetto tipo de assalariamento a cultura a informalao etc que impedem que se de conta dos pracessas de Toda criatividade no campo social e tecnol6gico tende a ser esmagada todo microvetor de subjetivacao sin gular recuperado Uma deriva geral dos modos de subjetividade territo rializada acarre por tada parte milenares de um certa tipo de social e de vida cultural sao rapidamente varridas do planeta Todas as pretensas identidades culturais residuais sao contaminadas Todos as modos de valorizacao da existencia e da producao amea cados no desenvolvimento atual das soeiedades Ate os valores mais dicionais mais bern ancorados como 0 trabalho estao seodo mioados por dentro pelas revoluc5es industriais Se analisarmos com cuidado que se passa com as pessoas que inventam semi6ticas ricas e personalizadas como e a caso do candomble veremos que elas nao sao completamente meaveis e autonomas em relacao aos modelos dominantes E desde a infancia que se instaura a maquina de de subje tividade capitaHstica desde a entrada da no munda das Hnguas dominantes com todos os modelos tanto imaginarios quanta tecnicos nos quais ela deve se inserir A culpabiliZtlfao e uma funao da subetividade capitatistica A raiz das tecnologias capitaHsticas de consiste em prapar sempre uma imagem de referenda a partir da qual colocamse quest6es tais como 40 F quem e voce voce que Dusa ter uma oplmaoJ voce fala em nome de que 0 que voce vale oa escala de valores reconhecidos enquanto tais na socieclade a que corresponde sua fala que etiqueta poderia cIassificar voce E somas obrigados a assumir a singularidade de nossa propria posicao com 0 maximo de consistencia S6 que issa e mente impassive de fazermos sozinhos pais uma posicao implica sempre urn agenciamento coletivo No entanto a menor vacilacao diantc dessa exigencia de referencia acabase caindo nma especie de i buraeo que faz com que a genre comeee a se mdagar afmal das contas quem sou eu Sera que sou uma merda E como se nosso proprio direito de existencia desabasse E a1 se pensa que a melbar coisa que se tern a fazer e calar e interiorizar esses valores Mas quem e que diz isso Talvez nao seja neeessariamente 0 professor ou 0 mestre expHcito exterior mas sim alga de nos mesmos em nos mesmos e que nos mesmos reproduzi mos Instancias de superego e instancias de Eo finito importante a men ver nao eonfundir esses proeedimentos de produzidos sistematicamente por todos os sistemas de de da subjetividade com uma especie de mecanismo sadomasoquista que na freudiana seria de natureza intrapsiquica do tipo conflito ErosThanatos Em outras palavras lidar com essa problematica niio passa par uma psicanalise generalizada mas sim par procedimentos micropollticos pela instauraiio de dispositivos particulares que dissolvam esses elementos de culpabilizaiio dos valores capitallsticos A segregaiio Ii uma funiio da economia subetiva capitallstica dire tamente vinculada a culpabilizaiio Ambas pressup6em a de qualquer processo com quadros de referencia imaginarios a que propicia toda especie de E como se a ordem social para se manter tivesse que instaurar ainda que da maneira mais artificial possivel siste I mas de hierarquia ineonseiente sistemas de escalas de valor e fi de Tais sistemas daouma consisteneia subjetiva as elites ou as pretensas elites e abrem todo urn campo de socia onde as diferentes indivicluos e camadas que se Essa capitaHstica se insereve essenciafmente nao s6 os sis temas de valor de usa como Marx descreveu mas tambem contra todos os modos de do desejo todos os modos de das singularidades Outra funiio da economia subetiva capitallstica talvez a mais im U portante de todas Ii a da infantilizaiio Pensam por nos organizam por nos a e a vida social Alem disso consideram que tudo 0 que tern a ver com eoisas extraordinarias por exempla a fata de falar e viver a fata de ter que envelheeer de ter que morrer Daa cleve per turbar nossa harmonia no local de traballio enos postos de controle social 41 L que ocupamos a pe10 controle social que exercemos sobre n6s mesmos A par exemplo das mullieres dos loucos de certos setores sociais ou de qualquer compartamento dissidente cansiste em que tuda 0 que se az se pensa ou se possa vir a fazer ou pensar seja mediado pelo Estado Qualquer tipo de troca economica qualquer tipo de cultural au social tende alassarpela do RstdaEgsa dedependencia do Estado e urn dos elementos essenciais da subje tividade capitalistica Os equipamentos coletivos nao s6 os de sanitaria au de higie ne mental ambulat6rios centros de saude etc au as de vida cultural escolas universidades etc mas tambern a rnldia tendem a ganhar uma importancia desmedida Eles constituem a Estado em sua ampliada Operarios de uma maquina de da subjetividade capitaHstica esses equipamentos tern por integrar fatores humanos nos e extrahumanos colocando numa real instancias tao dife rentes quanto as que estao em jogo na economia libidinal as sistemicas familiares por exemplo e nas semi6ticas como as que sao pastas em funcionamento pela midia A ordem capitalistica e projetada na realidade do mundo e na reaIi dade pslquica Ela incide nos esquemas de conduta de de gestos de pensamento de sentido de sentimento de afeto etc Ela incide nas montagens da percepao da memorizacao eIa incide na modelizacao das instancias intrasubjetivas instancias que a psicanalise reifica nas cate gorias de Ego Superego Ideal do Ego enfim naquela parafernalia toda A ordem capitalistica produz as modos das humanas ate em suas representacoes inconscientes os modos como se trabalha como se e ensinado como se ama como se trepa como se fala etc Ela fabrica a reIacao com a producao com a natureza com os fatos com 0 movimento com 0 corpo com a alimentacao com 0 presente com 0 passado e com o futuro em suma ela fabrica a relacao do homem com 0 mundo e consigo mesmo Aceitamos tudo isso porque partimos do pressuposto de que esta e a ordem do mundo ordem que nao pode ser tocada sem que se comprometa a pr6pria ideia de vida social organizada 42 L A da de subjetividade pelo CMI esvaziou todo i 0 conhecimento da singularidade E uma subjetividade que nao conhece dimenspes essenciais cla existencia como a morte a dor a soIidao 0 si lendo a reIaao com 0 cosmos com 0 tempo Urn sentimento como a raiva e alga que surpreende que escanclaliza Da mesma forma uma incontrolavel como 0 cancer 10 algo que nos deixa perplexos o mesmo se da com a velhice Ela 10 tao inconcebivel que se fabrica uma cadeia de microgulags para velhos com 0 tioice intuito de isolalos E as pessoas aceitam esse isolamento E escandalosa essa entrega passiva dos velhos a urn destine que as canduz a essas especies de cam pos de clesespero quando nao em alguns casas a esses vercladeiros cam pos de exterminio em sua versao moderna Tudo 0 que 10 do dominio da ruptura da surpresa e da angustia mas tambem do desejo da vontade de amar e de criar deve se encaixar de algum jeito nos regisrros de referencias dominantes Ha sempre um arranjo que tenta preyer tude 0 que possa set da natureza de uma dissi dencia do pensamento e do desejo Ha uma tentativa de daquilo que eu chamo de processos de Tudo 0 que surpreende ainda que levemente deve ser classificavel em alguma zona de enquadra mento de referenciaao NaD somente os professores mas tambem os meios de comunicaao de massa os jornalistas em particular sao muito dotados para esse tipo de pratica Estou convencido de que se alguns extraterrestres desembarcassem amanha em Sao Paulo haveria experts jomalistas e especialistas de roda especie para explicar as pessoas que no fundo nao e uma coisa tao extraordinaria assim que jii se tinha pensado nisso que ate jii existia ha muito tempo uma comissao especializada no assunto e sobretudo que nao ha por que se afobar pois 0 poder esta ai para se ocupar disso A programaCao da infancia na Franca atraves da informatica conse gue caleular hoie qual sera para inteiras a taxa de delin qiiencia daqui a dez quinze vinte anos Entao 0 desvio antes de ser vivido em roda uma genetica 10 sobrecodificado por essa de de subjetividade Sendo assim 0 que resta as pessoas e apenas viver urn possive preestruturado no campo em que se encontram Por exemplo se voce 10 uma mulher de tal idade e de tal c1asse e preciso que voce se conforme a tais limites Se voce nao estiver dentro desses limites ou voce e delinqiiente au voce e louca A ordem capitallstica incide nos modos de temporalizarao Ela des tr6i antigos sistemas de vida ela imp6e um tempo de equivalencias a 43 pelo assalariamento atraves do qual ela valoriza as diferentes atividades de As que eotram nos circuitos comerciais as de ordem social ou as de alta sao tadas elas sobrecodificadas por um tempo geral de equivalencia Fenomenologieamente sabemos que esse tempo da equivalencia e algo que depende de uma determinada ordem social nao se bate 0 tempo se as mesmos ritmos segundo as mesrnos reroes 4 num agenciamento ooirieo num agenciamento melanc6lico au manlaca num agendamento de ou num agenciamento de social coletiva Sao de fato modos de especlfieos E todos esses sistemas de medida de equivalencia do tempo interiorizados nao sao apenas urn fato subje tivo mas tambem um dado de base da da coletiva de trabalho e da da coletiva de controle social Isso que oi dito sobre 0 modo de poderia tambem ser dito a respeito do modo de Hoje todas as re1a6es com 0 espallo com 0 tempo e com 0 cosmos tendem a set completamente mediadas pe10s pIa nos e dtmas impastos peIe sistema de enquadramento dos meios de trans porte pel do urbano do domestieo pela triade carrote1evisaoequipamento coletivo por exemploi o que faz a fora da subietividade capitalistica e que eta se produz tanto aD nivet dos opressores quanto dos oprimidos Nista ela se dis tingue dos sistemas de classes sociais au das antigas castas senhoriais e religiosas No Japao por exemplo onde a subjetividade tende a ser total mente serva do processo maqufnico existe urna paixao producao inclusive entre os trabalhadores mais explorados Estabelecese uma especie de de complementaridade e de dependencia entre as dierentes categonas sOClais 0 que acaba desmontando as aliancas de dasse as alian cas sociais Minha insistencia nessa ideia do modo de da subjetividade capitaHstica nao tern como objetivo descrever urn estado de fato em recao ao qual estarfamos caminhando inexorave1mente Se insisto nisso nao e porqu quero celebrar 0 aniversario do romance do Orwell 1984 mas porque considero que esse desenvolvimento da subjetividade capita 4 Do origidal ritournelle traduzido por ladainha em F Guattari Molecular Pulsa Politicas do Deseio org S Rolnik Brasiliense Siio Paulo 1981 A substituiliio aqui de ladainha por relrao se cleve sobretudo ao fato de que 0 segundo termo e a tradUl1io literal do frances ritournelle repetilao continua de uma formula qualquer e mais especificamente de uma formula vocal e instrumental no contexto de uma composilaO musical a principal motivo para nia optar por refrio na primeira era que esse termo e sin6nimo tambem de proverbio sentido que nio existe no frances ritournelle AUm disso em portugues a palavtll mais usualmente empregada para designar a regular de uma formula de qualquer especie sentido que Guattari dll ao termo ritournelle e Iadainha e nio refrio Qutro motivo ainda era que ladainha tern a vantagem de actescentar repetilio 0 atributo de faslidiosa Porem a escolha de ladainha pareceme agora um tanto inapropriada por ser usualmente empregada tambem no sentido de lamento sentido este derivado da original do termo que etimologicamente signifiea otlllio Dadas as vantagens e desvantagens de ambas as de preferi usar como criterio a literalidade fieando assim com 0 termo refrio 44 Hstica traz imensas possibilidades de desvio e de Isso desde que se que a Iuta naa mais se restringe ao plano da economia poHtica mas abrange tambem 0 da economia subjetiva Os arontamentos sociais naa sao mais apenas de orclem economica Eles se dao tambem entre as diferentes maneiras pelas quais os individuos e grupos entendem viver sua existencia o Muitos autores dedicamse a analise dos processos de caracterlsticos do capitalismo aquilo que Guatrari chama de produ de subjetividade capitaHstica assim como a analise das implica 6es politicas desses processos E de modo getal consideram tai5 processos como uma linha de montagem subjetiva disseminada por todo 0 corIo social e que veicula uma de especie diferente da que esta presente nas de e de No entanto 0 que me parece original no traballio que Deleuze e Guattari vern desenvolvendo e em primeiro lugar 0 reconhedtriento dessa como industria de base do sistema capitalista ou socialista burocratico em segundo lugar a sensibilidade aos pontos de ruptura desse compleoill111strial da pontos nos quais se esses autares muitos dos movil11entos sociais de tai5 pontos de ruptu ia como da maior importancia ja que atacania propria rajz do nessa temos que reco Mecer urn otimismo urn tanto raro para nao dizer inexistente nos dias de hoje o 6 moleculares 0 atrevimento de singularizar s A tentativa de controle social atraves da da subjetividade em escala planetaria se choca com fatores de resistencia consideraveis processos de diferencialaO permanente que eu chamaria de Cl revolwao mo lecular Mas 0 nome POllCO importa o que caracteriza os novos movimentos SOCIalS naD e somente uma resistencia contra esse processo geral de serializalaO da subjetividade mas tambem a tentativa de produzir modos de subjetividade originais e sin gulares processos de subjetiva 5 0 termo singularizatao e usado por Guattarl para designar os processos disrnptores no campo da produtao do desejo tratase dos movimentos de protesto do inconsciente contra a subjetividade capitaLlstica atraves da afirmat80 de outras maneiras de ser outras senslbilidades outra percetio etc Guattari chama a atent80 para a importancia poIftica de tais processos entre os quais se situarianl os movimentos SOcillis as minorias enfim os desvios de tooa espie Outros termos designam os mesmos processos autonomiZat80 minorizat80 revolutao molecular etc d cap II 10 d 45 Estamos transitando por temas relacionados à formação Uma reflexão necessária neste momento de conclusão de curso e de busca de caminhos futuros Assim a avaliação constará de um texto dissertativo com a seguinte questão COMO FOI PARA VOCÊ O PROCESSO DE FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA E QUAIS IMPASSES AINDA SÃO NECESSÁRIOS ENFRENTAR PARA UMA BUSCA PROFISSIONAL QUE ESTEJA COMPROMETIDA COM A SUA POSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO PESSOAL Para essa discussão estará disponível a bibliografia e vídeos disponibilizados Peço uma reflexão de ao menos duas páginas que TRANSITEM ENTRE A VIVÊNCIA DA FORMAÇÃO SEU MOMENTO HISTÓRICO DE VIDA E UM MUNDO ATUAL EM INTENSA TRANSFORMAÇÃO NO QUAL ESTAMOS Michel Foucault Introdução à vida nãofascista espaço michel foucault wwwfiloescounbbrfoucault 1 Introdução à vida nãofascista Michel Foucault Preface in Gilles Deleuze e Félix Guattari AntiOedipus Capitalism and Schizophrenia New York Viking Press 1977 pp XIXIV Traduzido por wanderson flor do nascimento Durante os anos 19451965 falo da Europa existia uma certa forma correta de pensar um certo estilo de discurso político uma certa ética do intelectual Era preciso ser unha e carne com Marx não deixar seus sonhos vagabundearem muito longe de Freud e tratar os sistemas de signos e significantes com o maior respeito Tais eram as três condições que tornavam aceitável essa singular ocupação que era a de escrever e de enunciar uma parte da verdade sobre si mesmo e sobre sua época Depois vieram cinco anos breves apaixonados cinco anos de júbilo e de enigma Às portas de nosso mundo o Vietnã o primeiro golpe em direção aos poderes constituídos Mas aqui no interior de nossos muros o que exatamente se passa Um amálgama de política revolucionária e antirepressiva Uma guerra levada por dois frontes a exploração social e a repressão psíquica Uma escalada da libido modulada pelo conflito de classes É possível De todo modo é por esta interpretação familiar e dualista que se pretendeu explicar os acontecimentos destes anos O sonho que entre a Primeira Guerra Mundial e o acontecimento do fascismo teve sob seus encantos as frações mais utopistas da Europa a Alemanha de Wilhem Reich e a França dos surrealistas retornou para abraçar a realidade mesma Marx e Freud esclarecidos pela mesma incandescência Mas é isso mesmo o que se passou Era uma retomada do projeto utópico dos anos trinta desta vez na escala da prática social Ou pelo contrário houve um movimento para lutas políticas que não se conformavam mais ao modelo prescrito pela tradição marxista Para uma experiência e uma tecnologia do desejo que não eram mais freudianas Brandiramse os velhos estandartes mas o combate se deslocou e ganhou novas zonas O AntiÉdipo mostra pra começar a extensão do terreno ocupado Porém ele faz muito mais Ele não se dissipa na difamação dos velhos ídolos mesmo se divertindo muito com Freud E sobretudo nos incita a ir mais longe Michel Foucault Introdução à vida nãofascista espaço michel foucault wwwfiloescounbbrfoucault 2 Seria um erro ler o AntiÉdipo como a nova referência teórica vocês sabem essa famosa teoria que se nos costuma anunciar essa que vai englobar tudo essa que é absolutamente totalizante e tranquilizadora essa nos afirmam que tanto precisamos nesta época de dispersão e de especialização onde a esperança desapareceu Não é preciso buscar uma filosofia nesta extraordinária profusão de novas noções e de conceitossurpresa O AntiÉdipo não é um Hegel pomposo Penso que a melhor maneira de ler o AntiÉdipo é abordálo como uma arte no sentido em que se fala de arte erótica por exemplo Apoiandose sobre noções aparentemente abstratas de multiplicidades de fluxo de dispositivos e de acoplamentos a análise da relação do desejo com a realidade e com a máquina capitalista contribui para responder a questões concretas Questões que surgem menos do porque das coisas do que de seu como Como introduzir o desejo no pensamento no discurso na ação Como o desejo pode e deve desdobrar suas forças na esfera do político e se intensificar no processo de reversão da ordem estabelecida Ars erotica ars theoretica ars politica Daí os três adversários aos quais o AntiÉdipo se encontra confrontado Três adversários que não têm a mesma força que representam graus diversos de ameaça e que o livro combate por meios diferentes 1 Os ascetas políticos os militantes sombrios os terroristas da teoria esses que gostariam de preservar a ordem pura da política e do discurso político Os burocratas da revolução e os funcionários da verdade 2 Os lastimáveis técnicos do desejo os psicanalistas e os semiólogos que registram cada signo e cada sintoma e que gostariam de reduzir a organização múltipla do desejo à lei binária da estrutura e da falta 3 Enfim o inimigo maior o adversário estratégico embora a oposição do Anti Édipo a seus outros inimigos constituam mais um engajamento político o fascismo E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas mas o fascismo que está em nós todos que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas o fascismo que nos faz amar o poder desejar esta coisa que nos domina e nos explora Eu diria que o AntiÉdipo que seus autores me perdoem é um livro de ética o primeiro livro de ética que se escreveu na França depois de muito tempo é talvez a razão Michel Foucault Introdução à vida nãofascista espaço michel foucault wwwfiloescounbbrfoucault 3 pela qual seu sucesso não é limitado a um leitorado lectorat particular ser antiÉdipo tornouse um estilo de vida um modo de pensar e de vida Como fazer para não se tornar fascista mesmo quando sobretudo quando se acredita ser um militante revolucionário Como liberar nosso discurso e nossos atos nossos corações e nossos prazeres do fascismo Como expulsar o fascismo que está incrustado em nosso comportamento Os moralistas cristãos buscavam os traços da carne que estariam alojados nas redobras da alma Deleuze e Guattari por sua parte espreitam os traços mais ínfimos do fascismo nos corpos Prestando uma modesta homenagem a São Francisco de Sales se poderia dizer que o AntiÉdipo é uma Introdução à vida não fascista1 Essa arte de viver contrária a todas as formas de fascismo que sejam elas já instaladas ou próximas de ser é acompanhada de um certo número de princípios essenciais que eu resumiria da seguinte maneira se eu devesse fazer desse grande livro um manual ou um guia da vida cotidiana Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante Faça crescer a ação o pensamento e os desejos por proliferação justaposição e disjunção mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal Liberese das velhas categorias do Negativo a lei o limite a castração a falta a lacuna que o pensamento ocidental por um longo tempo sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade Prefira o que é positivo e múltiplo a diferença à uniformidade o fluxo às unidades os agenciamentos móveis aos sistemas Considere que o que é produtivo não é sedentário mas nômade Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante mesmo que a coisa que se combata seja abominável É a ligação do desejo com a realidade e não sua fuga nas formas da representação que possui uma força revolucionária Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade nem a ação política para desacreditar um pensamento como se ele fosse apenas pura 1 Francisco de Sales Introduction à la vie devote 1064 Lyon Pierre Rigaud 1609 Michel Foucault Introdução à vida nãofascista espaço michel foucault wwwfiloescounbbrfoucault 4 especulação Utilize a prática política como um intensificador do pensamento e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política Não exija da ação política que ela restabeleça os direitos do indivíduo tal como a filosofia os definiu O indivíduo é o produto do poder O que é preciso é desindividualizar pela multiplicação o deslocamento e os diversos agenciamentos O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados mas um constante gerador de desindividualização Não caia de amores pelo poder Poderseia dizer que Deleuze e Guattari amam tão pouco o poder que eles buscaram neutralizar os efeitos de poder ligados a seu próprio discurso Por isso os jogos e as armadilhas que se encontram espalhados em todo o livro que fazem de sua tradução uma verdadeira façanha Mas não são as armadilhas familiares da retórica essas que buscam seduzir o leitor sem que ele esteja consciente da manipulação e que finda por assumir a causa dos autores contra sua vontade As armadilhas do AntiÉdipo são as do humor tanto os convites a se deixar expulsar a despedirse do texto batendo a porta O livro faz pensar que é apenas o humor e o jogo aí onde contudo alguma coisa de essencial se passa alguma coisa que é da maior seriedade a perseguição a todas as formas de fascismo desde aquelas colossais que nos rodeiam e nos esmagam até aquelas formas pequenas que fazem a amena tirania de nossas vidas cotidianas TEXTO DISSERTATIVO SOBRE FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA SEU NOME Concluir a graduação em Psicologia é sem dúvida um marco importante mas mais do que um ponto de chegada representa um processo de atravessamentos de desconstruções e reconstruções de encontros que reverberam muito além dos espaços formais de ensino O percurso formativo não se limitou à aquisição de conteúdos técnicos ou teóricos foi sobretudo um campo de experiências subjetivas de afetos de inquietações e por vezes de desalento diante da complexidade do sofrimento humano e das limitações institucionais do cuidado Falar sobre esse processo implica revisitar vivências reconhecer impasses e pensar em como seguir na construção de um projeto profissional que esteja comprometido não apenas com a prática clínica ou institucional mas com uma ética do cuidado da escuta e da transformação social Durante os anos de formação aprendi que a Psicologia não pode se restringir ao consultório nem tampouco à aplicação de técnicas Ela exige um posicionamento diante do mundo uma escuta sensível à historicidade das subjetividades uma abertura constante à singularidade de cada sujeito e um compromisso político com os contextos em que essas subjetividades emergem Nesse sentido o percurso acadêmico foi também um processo de subjetivação em que precisei confrontar minhas próprias crenças valores e afetos As leituras as discussões em sala os estágios e supervisões foram experiências que me atravessaram profundamente exigindo um movimento constante de autoimplicação Como afirma Suely Rolnik a clínica e aqui estendo para o campo da formação é um lugar de escuta das forças de vida um espaço em que se operam micropolíticas do desejo de invenção de novos modos de existência No entanto essa travessia não ocorreu em um vácuo A formação aconteceu em um contexto histórico específico marcado por instabilidades sociais políticas e subjetivas Vivenciei a pandemia da COVID19 em meio à graduação o que transformou não apenas as formas de ensinoaprendizagem mas também o modo como percebemos o sofrimento humano e os limites da atuação em saúde mental O isolamento o luto coletivo a insegurança econômica e o adoecimento psíquico em larga escala escancararam as fissuras de um modelo de sociedade baseado na produtividade na aceleração e na desresponsabilização coletiva A Psicologia diante disso precisou se reinventar fomos convocados a pensar formas remotas de cuidado estratégias de acolhimento em tempos de incerteza e sobretudo a repensar nosso papel social enquanto futuros profissionais Esse cenário por si só já constituiria um enorme desafio mas ele se soma a um processo mais amplo de transformação do mundo contemporâneo Vivemos tempos marcados pela hiperconectividade pelo esvaziamento dos vínculos comunitários pelo avanço do neoliberalismo nas relações sociais e pela precarização dos afetos Como nos alerta Michel Foucault em sua Introdução à vida nãofascista há uma urgência em resistir às formas sutis de poder que se infiltram nos modos de vida que colonizam o desejo e que instauram regimes de verdade que silenciam as multiplicidades do existir Nesse sentido a formação em Psicologia para além do seu conteúdo programático deveria ser também um exercício de resistência a esses fascismos cotidianos à patologização da diferença à normatização dos corpos à burocratização do cuidado Foi nesse entrecruzamento entre o mundo interno e externo que construí minha identidade em formação Um dos maiores aprendizados foi reconhecer que o sofrimento psíquico não pode ser compreendido isoladamente mas sempre articulado ao contexto histórico cultural social e político Os sintomas que escutamos nos consultórios ou nos serviços públicos são muitas vezes expressões de um malestar mais profundo de uma sociedade que insiste em excluir silenciar e controlar Como apontam Guattari e Rolnik em Micropolítica Cartografias do Desejo a clínica deve estar atenta às forças do desejo à produção de subjetividades e à possibilidade de criar novos modos de vida que escapem da lógica da repetição e do controle Essa perspectiva ampliada da clínica que inclui a dimensão política do cuidado foi uma das maiores contribuições da formação que vivenciei No entanto não posso ignorar os impasses que ainda se colocam no caminho O ingresso no mercado de trabalho é um deles A Psicologia enquanto profissão ainda enfrenta processos de desvalorização precarização e invisibilização sobretudo em contextos públicos e comunitários Muitas vezes os espaços de atuação são marcados por condições estruturais inadequadas falta de recursos ausência de supervisão e sobrecarga emocional Também há uma cobrança constante por produtividade eficiência e resultados mensuráveis que se choca diretamente com a ética do cuidado e da escuta prolongada Conciliar esses imperativos é sem dúvida um desafio cotidiano e uma fonte de angústia para quem deseja exercer uma prática comprometida com o sujeito e não com o capital No entanto é preciso construir ao longo do tempo uma confiança ética em si mesmo que permita sustentar a escuta mesmo diante da dúvida da incerteza do não saber A formação em Psicologia se bem conduzida ensina que não há respostas prontas mas que o encontro com o outro pode ser um espaço de construção mútua de sentidos de produção conjunta de caminhos Concluir o curso de Psicologia é portanto concluir apenas uma etapa O verdadeiro percurso ético e existencial começa agora com todas as suas dores e delícias A formação que tive me ofereceu as ferramentas iniciais mas sobretudo me ensinou a olhar para o mundo com mais cuidado com mais escuta com mais responsabilidade Em um tempo em que o sofrimento se intensifica e as formas de vida se tornam cada vez mais exauridas o compromisso de quem escolhe cuidar do outro é também o de cuidar de si e do mundo

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