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Semiologia
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Entrevista Tânia A Moreira Domingues Maria Clara Cassuli Matheus Ana Cristina de Sá Rita Narriman Silva de Oliveira Boery Maria Júlia Paes da Silva 4 Chegou o momento entrevistar o paciente Será a entrevista um instrumento de investigação para co letar informações ou uma forma de estabelecer um relacio namento Afinal são dois estranhos frente a frente trocan do impressões comunicandose de alguma forma A ênfa se dada à entrevista realizada pelo enfermeiro tem como objetivo estabelecer contato ou seja desenvolver um rela cionamento caracterizado pela confiança mútua além de levantar dados importantes que irão nortear a assis tência Neste capítulo quando nos referirmos à entrevista descre vemos aquilo que chamamos de entrevista compreensiva Para nós enfermeiros é esse estilo de entrevista que propi cia a compreensão de como a pessoa é de como ela encara o processo saúdedoença quais são suas perspectivas em relação ao cuidado e como pode participar do plano de cui dados que será estabelecido pelo enfermeiro 78 Anamnese e Exame Físico A nosso ver se não conduzirmos a entrevista dessa forma ela será apenas uma simples coleta de dados que na verdade qualquer pessoa que tenha nas mãos um formulário de perguntas e respostas pode fazer O produto de uma entre vista feita dessa maneira dificilmente revelará como esse paciente é e qual sua percepção do que está vivenciando tampouco facilitará a execução do exame físico o estabelecimento de diagnósticos de enfermagem acurados o estabele cimento de resultados a serem alcançados o planejamento da assistência e sua implementação Assim a entrevista compreensiva é mais do que um diálogo organizado entre duas pessoas Exige certas habilidades do enfermeiro como saber ouvir e enten der saber explorar os dados que o pa ciente traz sem invadir seu espaço pes soal demonstrar interesse e conheci mento ser receptivo e estabelecer co municação com o paciente para que ele se sinta à vontade em responder às per guntas A comunicação é uma habilidade fundamental a ser adquirida que pos sibilitará um cuidar consciente verdadeiro e transformador Na enfermagem a entrevista aparece como um instrumento efetivo no desen volvimento da prática profissional cotidiana especialmente para a coleta de dados que em geral ocorre em uma fase inicial do contato entre paciente e enfermeiro Essa é a primeira e melhor oportunidade para o paciente dizer como percebe seu estado de saúde O enfermeiro sabe porém que em qualquer con tato com o pacientefamília como por exemplo realizando um curativo con versando com a família do paciente novos dados são obtidos e portanto mais conhecimento se adquire a respeito daquele indivíduo Além disso não podemos nos esquecer de que o exame físico poderá estabele cerse em um clima de confiança e de familiaridade se essa interação inicial for positiva A entrevista permite a leitura imediata das informações obtidas pela comunicação verbal e não verbal que ela seja individualizada ou em um grupo específico grupo focalizado Ademais ela possibilita esclarecimentos para am bas as partes à medida que se desenvolve favorecendo a validação daquilo que está sendo dito Mesmo que a entrevista faça parte do trabalho cotidiano do enfermeiro qual quer que seja a sua área de atuação assistência pesquisa ensino gerência entre outras tratase de um processo complexo que exige além de preparo téc nico e desenvolvimento de habilidades para realizála com a acurácia que requer disposição interna por parte do enfer meiro para querer compreender como é esse paciente É preciso ter em mente A entrevista compreensiva é mais do que um diálogo organi zado entre duas pessoas É preciso ter em mente que sem pre seremos principiantes quan do se trata de entrevistas 79 Entrevista que sempre seremos principiantes quando se trata de entrevistas Afinal as pes soas entrevistadas em nossa prática profissional assim como o ambiente em que isso acontece se modifica constantemente Esse fato gera ansiedade no pa ciente e no enfermeiro mas à medida que adquirimos consciência dessa inquie tação e ajudamos o paciente a identificála teremos mais condições de relaxar e promover um clima adequado para deixálo à vontade Aprenderemos neste capítulo quais as facilidades e as barreiras que interferem na comunicação assim como a lidar com os fatores internos e externos que en volvem o ato de entrevistar Do ponto de vista das dificuldades emocionais no ato de entrevistar alguém esbarramos em dois conceitos básicos defesas e va lores pessoais Quanto menos defensivos formos maior será a nossa comunicação efetiva com o paciente que por sua vez também deixará de lado suas defesas O enfermei ro precisa ter consciência de que não poderá impor seus valores ou seja não deverá julgar os atos e as informações fornecidas pelo paciente a partir de seus próprios valores Caso contrário este poderá sentirse ameaçado criando uma barreira que interromperá o clima favorável estabelecido anteriormente Se por exemplo o enfermeiro disser em um dado momento você não pode fazer isso estará utilizando seu sistema de valores para julgar e estará pratica mente dizendo ao cliente o que você diz pensa ou faz não está certo logo pare de dizer como você é pare de se comunicar Portanto é preciso aprender a ou vir antes de julgar ou negociar algo com o paciente O que ocorre é que criamos obstáculos para uma melhor comunica ção devido à nossa própria necessida de de avaliação afirmação ou negação No momento de uma entrevista preci samos separar o que é nosso e o que é do outro em termos de juízo de valores e defesas pois assim fica mais fácil aprender sobre a pessoa que está diante de nós Outro perigo no ato de entrevistar é o fato de às vezes o enfermeiro impor sua autoridade ao paciente erguendo assim um muro que impede a comunicação efetiva É como se disséssemos o enfermeiro sabe o que é melhor FIGURA 41 O paciente temendo ser atacado acaba procurando formas para defender seus valores Isso pode acarretar omissão de informações importantes Nesse caso prevalecerão dois grandes obstáculos à comunicação o uso da autoridade por parte do enfermeiro e o uso de armas por parte do paciente para combatêla Não significa porém que o enfermeiro deva perder sua autoridade O que está em pauta é como empregála prevalecendo um senso de igualdade respeito dignidade e importância entre dois seres humanos e não de igualdade de co nhecimento experiência ou habilidade profissional No momento de uma entrevista precisamos separar o que é nos so e o que é do outro 80 Anamnese e Exame Físico A grande sugestão é seja verdadeiro ou o paciente perderá a confiança que deposita em você Quando o enfermei ro é autêntico e verdadeiro o paciente descobre que pode expressar seu ver dadeiro eu e que será aceito sem pre conceitos ou julgamentos onipotentes FIGURA 42 FIGURA 42 Æ Enfermeira permitindo que o paciente se expresse Mais algumas sugestões Æ Æ Procure falar apenas o necessário para que possa ouvir mais atentamente o que o paciente tem a dizer evitando conclusões precipitadas que acabem abreviando o raciocínio do paciente Quando o enfermeiro é autênti co e verdadeiro o paciente des cobre que pode expressar seu verdadeiro eu e que será aceito sem preconceitos ou julgamen tos onipotentes FIGURA 41 Æ Enfermeira impondo sua autoridade ao paciente 81 Entrevista Æ Æ Evite interrompêlo durante suas colocações Infelizmente nossa necessidade de falar é maior do que nossa capacidade de ouvir Æ Æ Dê respostas claras e adequadas à compreensão e às perguntas do paciente Muitas vezes a preocupação do paciente consigo mesmo diante da situação de entrevista é o maior obstáculo à comunicação Portanto a partir da consciência de que somos passíveis de cometer erros de falharmos certamente erraremos menos Alcançaremos melhores resultados no ato de entrevistar alguém se nos apoiarmos não apenas na técnica mas tam bém em nossa sensibilidade no senso comum e na espontaneidade Por ex tensão escutaremos mais nos entenderemos nos faremos entender melhor e poderemos então denominar nossa entrevista de compreensiva Fases da entrevista Já compreendemos por que é importante considerar a entrevista como uma for ma de estabelecer um relacionamento Agora vamos traçar os objetivos espe cíficos de uma entrevista compreensiva para a coleta de dados de enfermagem e organizála didaticamente para que você compreenda como se desenvolve esse processo No QUADRO 41 são apresentados os objetivos da entrevista Procure identificá los à medida que for lendo e refletindo sobre os demais itens deste capítulo É um bom exercício para fixar tanto os objetivos desse tipo de entrevista como as estratégias para alcançálos Qualquer entrevista que tenha por objetivo coletar dados que subsidiem as ações de um profissional no nosso caso do enfermeiro deve ser encarada como um processo e como tal com posta por fases ou etapas interrelacio nadas Precisamos agora acrescentar outros aspectos à condução da entre vista Entender e realizar a entrevista dessa forma ajuda tanto o enfermeiro como o paciente a situaremse nesse contexto o que propicia um clima de en trosamento confiança e proximidade Assim a entrevista pode ser didaticamen te dividida em três fases introdução corpo e fechamento Lembrete Æ 9 Nosso comportamento influencia o paciente mais do que imaginamos Comportandonos abertamente o encorajamos a agir da mesma forma A entrevista pode ser didatica mente dividida em três fases introdução corpo e fechamento 82 Anamnese e Exame Físico Introdução à entrevista Na introdução o enfermeiro se apresenta caso não o tenha feito anteriormen te ao recepcionar o paciente Deve chamar o paciente pelo primeiro nome precedido de Senhora ou SeuDona e perguntar por qual nomesobrenome prefere ser chamado Recomendase evitar o uso de apelidos ou títulos como vozinhoa ou tioa que podem dar a falsa ideia de intimidade O enfermeiro precisa explicar que necessita entrevistálo colhendo informações a respeito de diversos assuntos os quais permitirão adequar a assistência de enfermagem a suas demandas Por exemplo Bom dia Sr Alberto Sou Adriana aluna do segundo ano do curso de enfermagem e preciso de algumas informa ções a seu respeito para que possamos cuidar do senhor da melhor forma Essa forma de contextualizar a entrevista ajuda o paciente a entender por que são fei tas tantas perguntas com que objetivos e como são importantes suas respostas motivandoo inclusive a se expressar Corpo da entrevista Depois desse primeiro momento o enfermeiro dá início à entrevista propria mente dita Como nossa intenção é começar a compreender o ser humano que está diante de nós a primeira pergunta a ser feita será Como oa senhora está Didaticamente estaremos começando a etapa que corresponde ao corpo da entrevista Nessa fase o paciente é encorajado e estimulado a expressar a percepção que possui de sua história de saúde contando detalhes a respeito do funcionamen to de seu corpo de queixas de sentimentos eou de sofrimentos que possa estar sentindo É nesse momento que normalmente se inclui a queixa principal do paciente De maneira gradativa o enfermeiro direciona a abordagem para QUADRO 41 Objetivos da entrevista de coleta de dados 1 Saber como o cliente está condições físicas e psíquicas 2 Situar como o cliente é suas características gerais e seus hábitos 3 Conhecer como o cliente percebe o processo saúdedoença crenças e valores 4 Identificar as demandas de cuidado percebidas pelo paciente e pelo enfermeiro 5 Identificar sinais e sintomas de alterações fisiológicas emocionais mentais espirituais e sociais 83 Entrevista outras áreas a fim de ter uma visão global do paciente faz perguntas relativas ao detalhamento do curso da doença atual à existência de doenças anteriores próprias e familiares bem como busca informações a respeito do uso de medi camentos e da existência de fatores de risco Ampliar ou não a quantidade e a qualidade dos dados referentes aos aspectos descritos anteriormente depende do estado físico e emocional do paciente as sim como dos conhecimentos do enfermeiro e de sua habilidade na condução do processo Ainda nessa fase o enfermeiro precisa obter informações sobre os diversos hábitos e costumes procurando compreender qual o padrão de satisfa ção das necessidades humanas básicas do paciente Descrevemos no QUADRO 42 o conteúdo geral da entrevista Nos capítulos posteriores serão abordadas as questões específicas a cada segmento corporal que estiver sendo discutido para que seja mais cômodo ao leitor desenvolver a habilidade de interpretar os dados da entrevista associandoos àqueles referen tes ao exame físico É importante lem brar que a entrevista o primeiro passo na coleta de dados de enfermagem deve refletir o modelo conceitual que orienta a assistência de enfermagem em cada serviço conforme discutido no Capítulo 1 Assim o corpo da entrevista deve contemplar os conceitos do mo delo estabelecido Para obter todos esses dados muitos enfermeiros sentem necessidade de ter em mãos um instrumento com os tópicos a serem questionados Utilizar um questionário impresso no momento da entrevista pode ser confortável para o profissional garantindo que nenhum aspecto a ser abordado seja esquecido Todavia isso também pode causar constrangimento ao paciente principalmen te se as anotações forem feitas na sua presença além de influenciar de forma negativa sua livre expressão Assim sugerimos que se for imprescindível fazer anotações enquanto a entrevista se desenvolve o enfermeiro peça licença ao paciente e justifique a sua necessidade Fechamento da entrevista Conforme a entrevista for progredindo e aproximandose do final encontramo nos na terceira e última etapa o fechamento Nessa fase o enfermeiro deve conscientizar o paciente de que a entrevista está terminando dandolhe a opor tunidade para que exponha algo que ainda não tenha sido abordado e que jul gue importante É importante lembrar que a entrevista o primeiro passo na coleta de dados de enfermagem deve refletir o modelo conceitu al que orienta a assistência de enfermagem em cada serviço 84 Anamnese e Exame Físico Dessa forma o enfermeiro pode dizer ao paciente Tenho apenas mais duas ou três questões enquanto isso o senhor também já pode ir pensando naquilo que gostaria de acrescentar ou conversar Assim o paciente pode se organizar mentalmente para o tempo que durará a interação ou pode decidir que assun tos julga importantes abordar no momento Depois disso é aconselhável fazer um breve resumo dos aspectos significativos dos dados colhidos para validar QUADRO 42 Conteúdo dos dados sobre doenças tratamentos hábitos e costumes a serem coletados e sua justificativa ASPECTO ABORDADO CONTEÚDO A SER COLETADO POR QUE COLETAR Motivo da procura do serviço eou queixa principal Expressão do paciente sobre o motivo que o levou a procurar assistência e descrição dos sinto mas que apresenta quando sur giram localização intensidade fatores que agravam e aliviam os sintomas Conhecer os aspectos principais do elemento causador do desequi líbrio das necessidades humanas eou dos padrões funcionais de saúde Presença de doenças e tratamentos anteriores alergias Descrição resumida de doenças crônicas motivo de hospitaliza ções eou cirurgias anteriores alergias a medicamentos ali mentos esparadrapo etc Conhecer o perfil de saúde possi bilitar a associação desse perfil ao estado atual do paciente prever complicações Antecedentes familiares Estado de saúde dos familiares diretos presença de diabete hipertensão arterial doenças cardíacas renais autoimunes tuberculose etc e causa da morte desses familiares se for o caso Conhecer a herança familiar de saúde e sua relação com o estado de saúde do paciente buscando os fatores de risco para tal Uso de medicamentos Relação dos medicamentos que tomou ou toma se prescritos por médico ou não e outras substâncias que ingere para alí vio de sintomas Ampliar os dados relativos ao seu estado de saúde e tratamento Existência de outros fatores de risco Relato de consumo de álcool fumo ou drogas quantidade frequência idade de início e se for o caso quando parou Auxiliar na associação do estado atual e do pregresso de saúde as sim como prever complicações Hábitos e costumes Relato das condições de mora dia hábitos de higiene alimen tação sono e repouso ativida des físicas atividade sexual la zerrecreação e eliminações Compreender como vive as possí veis repercussões de seus hábitos costumes no desenvolvimento restabelecimento da doença na hospitalização e no planejamento da assistência 85 Entrevista e assegurar tanto ao cliente quanto a si mesmo a compreensão e a clareza dos dados coletados Ainda nessa fase o enfermeiro precisa dar oportunidade ao paciente para que ele também seja o entrevistador dispondose a esclarecer suas dúvidas quanto ao tratamento e às rotinas do hospital além de começar a estabelecer metas conjuntas a respeito do planejamento da assistência de enfermagem É impor tante agradecer a colaboração e deixálo à vontade para complementar algum dado que achar importante caso lembre posteriormente Fatores que interferem na coleta de dados Entre os fatores que interferem na qualidade e na quantidade de dados sejam os coletados na entrevista ou no exame físico citamos as habilidades técnicas as interpessoais o conhecimento as crenças e os valores do enfermeiro bem como o referencial teóricofilosófico adotado A habilidade técnica diz respeito à qualidade da execução como por exemplo da inspeção da palpação da percussão da ausculta nos próximos capítulos serão apresentadas essas téc nicas e do conhecimento Em outras pa lavras referese à capacidade do enfer meiro de interpretar o dado coletado e desenvolver o raciocínio clínico que o impulsiona fazendo com que busque novos dados dependendo da resposta do paciente e da associação que é capaz de fazer entre os dados da entrevista e outras fontes de coleta exame físico prontuário parentes ou outros profissionais O conhecimento as crenças os valores e o referencial teóricofilosófico do enfer meiro também influenciam na qualidade e na quantidade de dados a serem co letados Assim sabemos que certas perguntas serão feitas ao paciente e que as suas respostas serão mais valorizadas conforme o conhecimento o sistema de crenças e os valores do enfermeiro No entanto é impossível para o enfermeiro absterse de seus valores crenças e do referencial que utiliza para coletar os da dos Precisamos sim ficar alertas para dar chance ao paciente de expressar as próprias crenças e valores pois é ele quem precisa ser compreendido A habilidade de relacionamento interpessoal comunicação verbal não verbal e ambiente interno também deve ser considerada como um fator importante a ser conhecido e desenvolvido tanto quanto as demais habilidades técnicas Ela é determinante para o sucesso não só da coleta de dados mas também para a implementação das outras fases da sistematização da assistência de enfer magem A habilidade técnica diz respeito à qualidade da execução como por exemplo da inspeção da palpação da percussão da aus culta e do conhecimento 86 Anamnese e Exame Físico Comunicação verbal Para o âmbito deste livro optamos por abordar alguns aspectos que dizem res peito à comunicação verbal enfocando a elaboração das perguntas e alguns recursos que podem facilitar a relação enfermeiropaciente e como consequên cia melhorar a quantidade e a qualida de dos dados coletados Quando estu damos profundamente o relaciona mento interpessoal e o processo de co municação podemos ampliar o conhe cimento e a utilização adequada de ou tros tipos de perguntas Basicamente as perguntas podem ser abertas fechadas ou complementares As perguntas abertas são aquelas que estimulam a descriçãorelato do paciente sobre determinado tema como por exemplo Faleme sobre como é o lugar onde você mora ou O que você faz quando sente dor As perguntas elabora das dessa forma propiciam ao paciente a oportunidade de expor sua percepção a respeito da situação de mostrar aquilo que realmente é significativo do seu ponto de vista e de fornecer informações amplas Além disso as perguntas abertas são menos assustadoras e constrangedoras ajudando a criar um clima amistoso e de descontração Isso beneficia a proximi dade enfermeiropaciente Entretanto como as respostas tendem a ser longas permitem que o paciente se desvie do foco de interesse do enfermeiro ou do tema abordado na pergunta Nesse momento é importante retomar cuidadosa mente o foco da pergunta cuidando para não ser uma atitude brusca ou negli gente com o que estiver sendo relatado Já as perguntas fechadas evitam as respostas longas permitindo ao enfermeiro enfocar certos aspectos da entrevista como por exemplo Na sua casa existe água encanada ou Você toma remédios quando sente dor As perguntas as sim elaboradas tendem porém a fazer com que o paciente limite a quantidade de informações e fique mais na defensiva Assim aconselhamos utilizar perguntas abertas no início da entrevista ou cada vez que mudar de tema ou quando pretender abordar aspectos mais íntimos e aqueles que dizem respeito às necessidades psicossociais As perguntas fecha das devem ser mobilizadas quando houver necessidade de trazer o paciente de volta ao contexto da entrevista de enfermagem e se forem necessários dados mais específicos sobre determinado tema As perguntas complementares são aquelas empregadas com o objetivo de es clarecer e aprofundar as informações a respeito de um dado como por exem plo quando o paciente diz Quando sinto dor vou dormir e o enfermeiro per Quando estudamos profun damente o relacionamento interpessoal e o processo de comunicação podemos ampliar o conhecimento e a utilização adequada de outros tipos de questões 87 Entrevista gunta O que acontece com sua dor quando você vai dormir Isso permite ao paciente explicar Não que eu vá dormir mas ficar deitado alivia minha dor Chamamos a atenção para a elaboração de perguntas que possam ser tenden ciosas eou tenham caráter de julgamento e por consequência bloqueiem a livre expressão do paciente dificultando a relação entre ele e o enfermeiro Por exemplo Na sua casa tem água encanada não tem ou Você não toma remé dios sem prescrição médica quando tem dor toma Da mesma forma utilizar o por quê pode causar esse tipo de sensação no paciente Por exemplo Por que você toma remédios sem prescrição médica Existem recursos para favorecer a expressão e estimular o paciente a dar mais informações os quais mostram que há interesse em que ele continue a se expor Assim o enfermeiro pode usar propositadamente as expressões Continue Sei Humhum assim como repetir o final da frase que o paciente proferiu Comunicação não verbal A entrevista como processo interativo envolve também a comunicação não verbal Procurar perceber o que a pes soa entrevistada realmente quer dizer com os artifícios que utiliza conscien tes ou inconscientes ajuda a conhecer e compreender melhor essa pessoa Os gestos a postura o tom de voz e a entonação das palavras o olhar a distância mantida entre as pessoas entre outros aspectos dizem muito mais do que ima ginamos a respeito do outro Você já pensou no quanto suas emoções estão ligadas a seu corpo Seu corpo reage conforme o que está se passando em sua mente Os pensamentos estão ligados às emoções e estas ao seu organismo É assim que você e seu paciente se expressam pelo corpo A postura o modo de andar de sentar de deitar enfim a linguagem física são sempre reflexo do que estamos pensando e sentindo Assim a comunicação não verbal envolve todas as manifestações do compor tamento que não são expressas por palavras Tal mensagem frequentemente é transmitida de forma mais eficiente e verdadeira do que as palavras A informação oferecida por essa via também é um recurso capaz de promover uma compreen são mais profunda das pessoas e por isso um contato mais íntimo entre elas É por meio da linguagem não verbal que muitas vezes percebemos se uma pessoa está com dor triste irritada preocupada ou ansiosa E isso pode ser ma nifestado por expressões faciais gestos ou movimentos do corpo Devemos es tar atentos a essas mensagens pois nem sempre têm o mesmo significado para diferentes pessoas e situações FIGURA 43 A entrevista como processo interativo envolve também a comunicação não verbal 88 Anamnese e Exame Físico Veja mais uma vez que o que decide se uma entrevista será ou não uma entrevista compreensiva é seu grau de interesse em conhecer o paciente e assim obter um maior número de observações significativas Quando falamos em linguagem não verbal estamos nos referindo a um tipo de comunicação que utilizamos o tempo todo Você já se observou e percebeu o quanto utiliza esse recurso para se expressar e fazerse entender Repare que isso acontece concomitantemen te ao entendimento da linguagem verbal para que a comunicação efetiva seja processada O que decide se uma entrevista será ou não uma entrevista compreensiva é seu grau de interesse em conhecer o paciente e assim obter um maior número de observações significativas No entanto como isso se dá de forma automática muitas vezes nem percebe mos com profundidade o quanto podemos explorar esse recurso e melhorar nossa comunicação Sem o auxílio da vocalização ou do sussurro cada corpo diz quem o que onde e como a pessoa é era e será Ao realizar uma entrevista é necessário observar ou seja olhar com atenção o ou tro para assim perceber a linguagem não verbal expressa Em determinados ca sos a compreensão da linguagem não verbal pode ser de extrema importância e até decisiva para que determinadas informações sobre o paciente sejam captadas Existe uma infinidade de expressões ou movimentos corporais que têm signi ficados Ele sempre está nos dizendo alguma coisa mesmo sem expressar uma palavra sequer Você se lembra daquele paciente que estava deitado no leito e repousando tranquilamente Recordese de como ele estava deitado seu corpo todo e a expressão em seu rosto mostravam exatamente o que ele estava viven ciando Expressava digamos certo bemestar naquele momento de sua recu peração Da mesma forma lembrese de como estava se expressando aquele outro contraído no leito contorcendose demonstrando desconforto físico dor É evidente que não estava tudo bem e certamente poderíamos tomar algu ma providência FIGURA 44 FIGURA 43 Æ Expressões faciais significando diferentes sentimentos 89 Entrevista Cabeça pendente ombros caídos e tórax afundado podem refletir sentimentos de fraqueza e derrota ao passo que cabeça ereta tronco reto e respiração ple na e natural podem indicar segurança e autoconfiança Na expressão facial o franzir das sobrancelhas pode mostrar discordância falta de compreensão dor ou raiva A falta de contato visual pode significar que a outra pessoa está triste envergonhada ou intimidada E ainda se diante de uma conversa alguém cru za os braços muda a posição do pé franze a testa muda o padrão respiratório mesmo que inconscientemente isso está relacionado ao que se passa no íntimo dessa pessoa a qual está manifestando um possível descontentamento ou até mesmo rejeição quanto ao que está sendo dito O toque como exemplo de um tipo de comunicação não verbal também pode influenciar significativamente o processo da entrevista O tocar ou a reação a ele pode comunicar atitudes sentimentos ou reações específicas Contudo em cer tos locais do nosso corpo somente permitimos o toque de pessoas que nos são mais íntimas Quantas vezes chegamos próximo ao paciente e tocamos em suas pernas Em outras situações tocamos suas mãos procurando transmitir cui dado preocupação e apoio Por isso nunca se esqueça de que o significado do toque depende da situação e das pessoas envolvidas pois alguns podem entender esse gesto como uma invasão Ambiente interno O ambiente interno tanto do enfermeiro como do paciente também interfere na qualidade e na quantidade dos dados coletados tanto na entrevista como Nunca se esqueça de que o sig nificado do toque depende da si tuação e das pessoas envolvidas pois alguns podem entender esse gesto como uma invasão FIGURA 44 Æ Expressão e movimentos corporais indicando sensação de bemestar e dor 90 Anamnese e Exame Físico no exame físico Um enfermeiro que esteja por exemplo ansioso apressado extremamente preocupado a ponto de alterar sua capacidade de concentração e dedicação correrá maior risco de ter percepções erradas a respeito do pacien te Nessa situação o enfermeiro está com sua capacidade sensorial afetada po dendo chegar a ponto de não distinguir por exemplo um dado de ausculta ou mesmo de interpretálo inadequadamente Além disso o paciente precisa estar disponível emocional e fisicamente para que a entrevista transcorra de maneira adequada proporcionando um momen to de interação e mútuo conhecimento Por isso aconselhamos que a entrevista não seja realizada enquanto o paciente estiver com dor em uma situação de urgência ou imediatamente após a internação sem ainda estar ambientado A fase de introdução da entrevista também pode ser utilizada para acalmar o ambiente interno de ambos e cabe ao enfermeiro proceder de modo a ajustar tanto o ambiente interno como o externo para que a percepção e o conheci mento possam ser fiéis ao que realmente são caso contrário haverá dificulda des para se conhecerem e interagirem Ambiente externo A entrevista na enfermagem coexiste com a observação e a documentação A observação é um processo básico na vida profissional do enfermeiro e no momento da entrevista constitui um método de inestimável ajuda na obtenção de dados fornecidos pela comuni cação não verbal como visto anteriormente A documentação é um recurso au xiliar da entrevista pois permite registrar complementar averiguar e explicar os dados obtidos possibilitando um maior enriquecimento desses dados que serão utilizados durante as outras etapas do processo de enfermagem Contudo além dos fatores inerentes ao paciente e ao profissionalestudante o que mais deve ser providenciado Quais os fatores que precisam ser averigua dos para que a entrevista transcorra satisfatoriamente Certamente outro fator que influencia o desenvolvimento da entrevista é o ambiente É fundamental ter um local que favoreça a privacidade que o mo mento requer Se não for possível um lo cal exclusivo crie meios para que você e o paciente sintamse isolados É importante assegurar que as informações soli citadas e fornecidas não serão compartilhadas por outras pessoas Reserve um A entrevista na enfermagem coexiste com a observação e a documentação É importante assegurar que as informações solicitadas e forne cidas não serão compartilhadas por outras pessoas 91 Entrevista tempo para a entrevista de maneira que não haja interrupções O paciente se sentirá mais valorizado e estimulado a falar percebendo que aquele tempo é dele que alguém pensou nele e se interessa em ouvilo Além disso é preciso concentração para conduzir a entrevista Para facilitar a comunicação dos participantes da entrevista outros fatores am bientais também precisam ser considerados ao se escolher o local para o seu desenvolvimento como recomenda Jarvis Æ Æ A temperatura do ambiente deve estar confortável nem muito fria nem muito quente oferecendo comodidade aos participantes Æ Æ A iluminação de preferência natural deve ser suficiente para permitir que o paciente e o enfermeiro observemse sem esforço Além disso acomode o paciente confortavelmente no leito ou em um assento e acomodese também à sua frente sem barreiras como mesa ou computador de forma que os olhos de ambos fiquem no mesmo nível Evite ficar de pé pois isso pode dar a impressão de hierarquia você é superior no processo de de sinteresse quanto ao que está sendo relatado ou de pressa sentimentos que devemos nos empenhar em evitar Barulho odores objetos e situações de distração como televisão jogos entrada e saída de pessoas devem ser evitados para que ambos aproveitem esse mo mento Agora depois de todas essas considerações sugerimos que você exercite a en trevista para ir ganhando habilidade em realizála Use e abuse de sua criativida de Você também vai precisar dela Boa entrevista Leituras recomendadas AlfaroLeFevre R Aplicação do processo de enfermagem uma ferramenta para o pensamento crítico 7 ed Porto Alegre Artmed 2010 Benjamin A A entrevista de ajuda 13 ed São Paulo Martins Fontes 2011 Chaves EC Domingues TAM A entrevista In Matheus MCC Fustinoni SM Pesquisa qualitativa em enfermagem São Paulo LMP 2006 p 99103 Craven RF Hirnle CJ Fundamentos de enfermagem saúde e função humanas 4 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2006 p 38990 Iyer PW Taptich BJ BernocchiLosey D Processo e diagnóstico em enfermagem Porto Alegre Artes Médicas 1993 Jarvis C Pocket companion for physical examination and health assessment 2nd ed Philadel phia Saunders 1996 92 Anamnese e Exame Físico Miranda CF Miranda ML Construindo uma relação de ajuda 2 ed Belo Horizonte Crescer 1986 Potter PA Perry AG Hall AM Stockert PA Fundamentos de enfermagem 8 ed Rio de Janeiro Elsevier 2013 Prochet TC Silva MJP Percepção do idoso dos comportamentos afetivos expressos pela equipe de enfermagem Esc Anna Nery 201115478490 Razera APR Braga EM A importância da comunicação durante o período de recuperação pós operatória Rev Esc Enferm USP 20114536327 Silva MJP Comunicação tem remédio a comunicação nas relações interpessoais na saúde 10 ed São Paulo Loyola 2014
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estabelecido pelo enfermeiro 78 Anamnese e Exame Físico A nosso ver se não conduzirmos a entrevista dessa forma ela será apenas uma simples coleta de dados que na verdade qualquer pessoa que tenha nas mãos um formulário de perguntas e respostas pode fazer O produto de uma entre vista feita dessa maneira dificilmente revelará como esse paciente é e qual sua percepção do que está vivenciando tampouco facilitará a execução do exame físico o estabelecimento de diagnósticos de enfermagem acurados o estabele cimento de resultados a serem alcançados o planejamento da assistência e sua implementação Assim a entrevista compreensiva é mais do que um diálogo organizado entre duas pessoas Exige certas habilidades do enfermeiro como saber ouvir e enten der saber explorar os dados que o pa ciente traz sem invadir seu espaço pes soal demonstrar interesse e conheci mento ser receptivo e estabelecer co municação com o paciente para que ele se sinta à vontade em responder às per guntas A comunicação é uma habilidade fundamental a ser adquirida que pos sibilitará um cuidar consciente verdadeiro e transformador Na enfermagem a entrevista aparece como um instrumento efetivo no desen volvimento da prática profissional cotidiana especialmente para a coleta de dados que em geral ocorre em uma fase inicial do contato entre paciente e enfermeiro Essa é a primeira e melhor oportunidade para o paciente dizer como percebe seu estado de saúde O enfermeiro sabe porém que em qualquer con tato com o pacientefamília como por exemplo realizando um curativo con versando com a família do paciente novos dados são obtidos e portanto mais conhecimento se adquire a respeito daquele indivíduo Além disso não podemos nos esquecer de que o exame físico poderá estabele cerse em um clima de confiança e de familiaridade se essa interação inicial for positiva A entrevista permite a leitura imediata das informações obtidas pela comunicação verbal e não verbal que ela seja individualizada ou em um grupo específico grupo focalizado Ademais ela possibilita esclarecimentos para am bas as partes à medida que se desenvolve favorecendo a validação daquilo que está sendo dito Mesmo que a entrevista faça parte do trabalho cotidiano do enfermeiro qual quer que seja a sua área de atuação assistência pesquisa ensino gerência entre outras tratase de um processo complexo que exige além de preparo téc nico e desenvolvimento de habilidades para realizála com a acurácia que requer disposição interna por parte do enfer meiro para querer compreender como é esse paciente É preciso ter em mente A entrevista compreensiva é mais do que um diálogo organi zado entre duas pessoas É preciso ter em mente que sem pre seremos principiantes quan do se trata de entrevistas 79 Entrevista que sempre seremos principiantes quando se trata de entrevistas Afinal as pes soas entrevistadas em nossa prática profissional assim como o ambiente em que isso acontece se modifica constantemente Esse fato gera ansiedade no pa ciente e no enfermeiro mas à medida que adquirimos consciência dessa inquie tação e ajudamos o paciente a identificála teremos mais condições de relaxar e promover um clima adequado para deixálo à vontade Aprenderemos neste capítulo quais as facilidades e as barreiras que interferem na comunicação assim como a lidar com os fatores internos e externos que en volvem o ato de entrevistar Do ponto de vista das dificuldades emocionais no ato de entrevistar alguém esbarramos em dois conceitos básicos defesas e va lores pessoais Quanto menos defensivos formos maior será a nossa comunicação efetiva com o paciente que por sua vez também deixará de lado suas defesas O enfermei ro precisa ter consciência de que não poderá impor seus valores ou seja não deverá julgar os atos e as informações fornecidas pelo paciente a partir de seus próprios valores Caso contrário este poderá sentirse ameaçado criando uma barreira que interromperá o clima favorável estabelecido anteriormente Se por exemplo o enfermeiro disser em um dado momento você não pode fazer isso estará utilizando seu sistema de valores para julgar e estará pratica mente dizendo ao cliente o que você diz pensa ou faz não está certo logo pare de dizer como você é pare de se comunicar Portanto é preciso aprender a ou vir antes de julgar ou negociar algo com o paciente O que ocorre é que criamos obstáculos para uma melhor comunica ção devido à nossa própria necessida de de avaliação afirmação ou negação No momento de uma entrevista preci samos separar o que é nosso e o que é do outro em termos de juízo de valores e defesas pois assim fica mais fácil aprender sobre a pessoa que está diante de nós Outro perigo no ato de entrevistar é o fato de às vezes o enfermeiro impor sua autoridade ao paciente erguendo assim um muro que impede a comunicação efetiva É como se disséssemos o enfermeiro sabe o que é melhor FIGURA 41 O paciente temendo ser atacado acaba procurando formas para defender seus valores Isso pode acarretar omissão de informações importantes Nesse caso prevalecerão dois grandes obstáculos à comunicação o uso da autoridade por parte do enfermeiro e o uso de armas por parte do paciente para combatêla Não significa porém que o enfermeiro deva perder sua autoridade O que está em pauta é como empregála prevalecendo um senso de igualdade respeito dignidade e importância entre dois seres humanos e não de igualdade de co nhecimento experiência ou habilidade profissional No momento de uma entrevista precisamos separar o que é nos so e o que é do outro 80 Anamnese e Exame Físico A grande sugestão é seja verdadeiro ou o paciente perderá a confiança que deposita em você Quando o enfermei ro é autêntico e verdadeiro o paciente descobre que pode expressar seu ver dadeiro eu e que será aceito sem pre conceitos ou julgamentos onipotentes FIGURA 42 FIGURA 42 Æ Enfermeira permitindo que o paciente se expresse Mais algumas sugestões Æ Æ Procure falar apenas o necessário para que possa ouvir mais atentamente o que o paciente tem a dizer evitando conclusões precipitadas que acabem abreviando o raciocínio do paciente Quando o enfermeiro é autênti co e verdadeiro o paciente des cobre que pode expressar seu verdadeiro eu e que será aceito sem preconceitos ou julgamen tos onipotentes FIGURA 41 Æ Enfermeira impondo sua autoridade ao paciente 81 Entrevista Æ Æ Evite interrompêlo durante suas colocações Infelizmente nossa necessidade de falar é maior do que nossa capacidade de ouvir Æ Æ Dê respostas claras e adequadas à compreensão e às perguntas do paciente Muitas vezes a preocupação do paciente consigo mesmo diante da situação de entrevista é o maior obstáculo à comunicação Portanto a partir da consciência de que somos passíveis de cometer erros de falharmos certamente erraremos menos Alcançaremos melhores resultados no ato de entrevistar alguém se nos apoiarmos não apenas na técnica mas tam bém em nossa sensibilidade no senso comum e na espontaneidade Por ex tensão escutaremos mais nos entenderemos nos faremos entender melhor e poderemos então denominar nossa entrevista de compreensiva Fases da entrevista Já compreendemos por que é importante considerar a entrevista como uma for ma de estabelecer um relacionamento Agora vamos traçar os objetivos espe cíficos de uma entrevista compreensiva para a coleta de dados de enfermagem e organizála didaticamente para que você compreenda como se desenvolve esse processo No QUADRO 41 são apresentados os objetivos da entrevista Procure identificá los à medida que for lendo e refletindo sobre os demais itens deste capítulo É um bom exercício para fixar tanto os objetivos desse tipo de entrevista como as estratégias para alcançálos Qualquer entrevista que tenha por objetivo coletar dados que subsidiem as ações de um profissional no nosso caso do enfermeiro deve ser encarada como um processo e como tal com posta por fases ou etapas interrelacio nadas Precisamos agora acrescentar outros aspectos à condução da entre vista Entender e realizar a entrevista dessa forma ajuda tanto o enfermeiro como o paciente a situaremse nesse contexto o que propicia um clima de en trosamento confiança e proximidade Assim a entrevista pode ser didaticamen te dividida em três fases introdução corpo e fechamento Lembrete Æ 9 Nosso comportamento influencia o paciente mais do que imaginamos Comportandonos abertamente o encorajamos a agir da mesma forma A entrevista pode ser didatica mente dividida em três fases introdução corpo e fechamento 82 Anamnese e Exame Físico Introdução à entrevista Na introdução o enfermeiro se apresenta caso não o tenha feito anteriormen te ao recepcionar o paciente Deve chamar o paciente pelo primeiro nome precedido de Senhora ou SeuDona e perguntar por qual nomesobrenome prefere ser chamado Recomendase evitar o uso de apelidos ou títulos como vozinhoa ou tioa que podem dar a falsa ideia de intimidade O enfermeiro precisa explicar que necessita entrevistálo colhendo informações a respeito de diversos assuntos os quais permitirão adequar a assistência de enfermagem a suas demandas Por exemplo Bom dia Sr Alberto Sou Adriana aluna do segundo ano do curso de enfermagem e preciso de algumas informa ções a seu respeito para que possamos cuidar do senhor da melhor forma Essa forma de contextualizar a entrevista ajuda o paciente a entender por que são fei tas tantas perguntas com que objetivos e como são importantes suas respostas motivandoo inclusive a se expressar Corpo da entrevista Depois desse primeiro momento o enfermeiro dá início à entrevista propria mente dita Como nossa intenção é começar a compreender o ser humano que está diante de nós a primeira pergunta a ser feita será Como oa senhora está Didaticamente estaremos começando a etapa que corresponde ao corpo da entrevista Nessa fase o paciente é encorajado e estimulado a expressar a percepção que possui de sua história de saúde contando detalhes a respeito do funcionamen to de seu corpo de queixas de sentimentos eou de sofrimentos que possa estar sentindo É nesse momento que normalmente se inclui a queixa principal do paciente De maneira gradativa o enfermeiro direciona a abordagem para QUADRO 41 Objetivos da entrevista de coleta de dados 1 Saber como o cliente está condições físicas e psíquicas 2 Situar como o cliente é suas características gerais e seus hábitos 3 Conhecer como o cliente percebe o processo saúdedoença crenças e valores 4 Identificar as demandas de cuidado percebidas pelo paciente e pelo enfermeiro 5 Identificar sinais e sintomas de alterações fisiológicas emocionais mentais espirituais e sociais 83 Entrevista outras áreas a fim de ter uma visão global do paciente faz perguntas relativas ao detalhamento do curso da doença atual à existência de doenças anteriores próprias e familiares bem como busca informações a respeito do uso de medi camentos e da existência de fatores de risco Ampliar ou não a quantidade e a qualidade dos dados referentes aos aspectos descritos anteriormente depende do estado físico e emocional do paciente as sim como dos conhecimentos do enfermeiro e de sua habilidade na condução do processo Ainda nessa fase o enfermeiro precisa obter informações sobre os diversos hábitos e costumes procurando compreender qual o padrão de satisfa ção das necessidades humanas básicas do paciente Descrevemos no QUADRO 42 o conteúdo geral da entrevista Nos capítulos posteriores serão abordadas as questões específicas a cada segmento corporal que estiver sendo discutido para que seja mais cômodo ao leitor desenvolver a habilidade de interpretar os dados da entrevista associandoos àqueles referen tes ao exame físico É importante lem brar que a entrevista o primeiro passo na coleta de dados de enfermagem deve refletir o modelo conceitual que orienta a assistência de enfermagem em cada serviço conforme discutido no Capítulo 1 Assim o corpo da entrevista deve contemplar os conceitos do mo delo estabelecido Para obter todos esses dados muitos enfermeiros sentem necessidade de ter em mãos um instrumento com os tópicos a serem questionados Utilizar um questionário impresso no momento da entrevista pode ser confortável para o profissional garantindo que nenhum aspecto a ser abordado seja esquecido Todavia isso também pode causar constrangimento ao paciente principalmen te se as anotações forem feitas na sua presença além de influenciar de forma negativa sua livre expressão Assim sugerimos que se for imprescindível fazer anotações enquanto a entrevista se desenvolve o enfermeiro peça licença ao paciente e justifique a sua necessidade Fechamento da entrevista Conforme a entrevista for progredindo e aproximandose do final encontramo nos na terceira e última etapa o fechamento Nessa fase o enfermeiro deve conscientizar o paciente de que a entrevista está terminando dandolhe a opor tunidade para que exponha algo que ainda não tenha sido abordado e que jul gue importante É importante lembrar que a entrevista o primeiro passo na coleta de dados de enfermagem deve refletir o modelo conceitu al que orienta a assistência de enfermagem em cada serviço 84 Anamnese e Exame Físico Dessa forma o enfermeiro pode dizer ao paciente Tenho apenas mais duas ou três questões enquanto isso o senhor também já pode ir pensando naquilo que gostaria de acrescentar ou conversar Assim o paciente pode se organizar mentalmente para o tempo que durará a interação ou pode decidir que assun tos julga importantes abordar no momento Depois disso é aconselhável fazer um breve resumo dos aspectos significativos dos dados colhidos para validar QUADRO 42 Conteúdo dos dados sobre doenças tratamentos hábitos e costumes a serem coletados e sua justificativa ASPECTO ABORDADO CONTEÚDO A SER COLETADO POR QUE COLETAR Motivo da procura do serviço eou queixa principal Expressão do paciente sobre o motivo que o levou a procurar assistência e descrição dos sinto mas que apresenta quando sur giram localização intensidade fatores que agravam e aliviam os sintomas Conhecer os aspectos principais do elemento causador do desequi líbrio das necessidades humanas eou dos padrões funcionais de saúde Presença de doenças e tratamentos anteriores alergias Descrição resumida de doenças crônicas motivo de hospitaliza ções eou cirurgias anteriores alergias a medicamentos ali mentos esparadrapo etc Conhecer o perfil de saúde possi bilitar a associação desse perfil ao estado atual do paciente prever complicações Antecedentes familiares Estado de saúde dos familiares diretos presença de diabete hipertensão arterial doenças cardíacas renais autoimunes tuberculose etc e causa da morte desses familiares se for o caso Conhecer a herança familiar de saúde e sua relação com o estado de saúde do paciente buscando os fatores de risco para tal Uso de medicamentos Relação dos medicamentos que tomou ou toma se prescritos por médico ou não e outras substâncias que ingere para alí vio de sintomas Ampliar os dados relativos ao seu estado de saúde e tratamento Existência de outros fatores de risco Relato de consumo de álcool fumo ou drogas quantidade frequência idade de início e se for o caso quando parou Auxiliar na associação do estado atual e do pregresso de saúde as sim como prever complicações Hábitos e costumes Relato das condições de mora dia hábitos de higiene alimen tação sono e repouso ativida des físicas atividade sexual la zerrecreação e eliminações Compreender como vive as possí veis repercussões de seus hábitos costumes no desenvolvimento restabelecimento da doença na hospitalização e no planejamento da assistência 85 Entrevista e assegurar tanto ao cliente quanto a si mesmo a compreensão e a clareza dos dados coletados Ainda nessa fase o enfermeiro precisa dar oportunidade ao paciente para que ele também seja o entrevistador dispondose a esclarecer suas dúvidas quanto ao tratamento e às rotinas do hospital além de começar a estabelecer metas conjuntas a respeito do planejamento da assistência de enfermagem É impor tante agradecer a colaboração e deixálo à vontade para complementar algum dado que achar importante caso lembre posteriormente Fatores que interferem na coleta de dados Entre os fatores que interferem na qualidade e na quantidade de dados sejam os coletados na entrevista ou no exame físico citamos as habilidades técnicas as interpessoais o conhecimento as crenças e os valores do enfermeiro bem como o referencial teóricofilosófico adotado A habilidade técnica diz respeito à qualidade da execução como por exemplo da inspeção da palpação da percussão da ausculta nos próximos capítulos serão apresentadas essas téc nicas e do conhecimento Em outras pa lavras referese à capacidade do enfer meiro de interpretar o dado coletado e desenvolver o raciocínio clínico que o impulsiona fazendo com que busque novos dados dependendo da resposta do paciente e da associação que é capaz de fazer entre os dados da entrevista e outras fontes de coleta exame físico prontuário parentes ou outros profissionais O conhecimento as crenças os valores e o referencial teóricofilosófico do enfer meiro também influenciam na qualidade e na quantidade de dados a serem co letados Assim sabemos que certas perguntas serão feitas ao paciente e que as suas respostas serão mais valorizadas conforme o conhecimento o sistema de crenças e os valores do enfermeiro No entanto é impossível para o enfermeiro absterse de seus valores crenças e do referencial que utiliza para coletar os da dos Precisamos sim ficar alertas para dar chance ao paciente de expressar as próprias crenças e valores pois é ele quem precisa ser compreendido A habilidade de relacionamento interpessoal comunicação verbal não verbal e ambiente interno também deve ser considerada como um fator importante a ser conhecido e desenvolvido tanto quanto as demais habilidades técnicas Ela é determinante para o sucesso não só da coleta de dados mas também para a implementação das outras fases da sistematização da assistência de enfer magem A habilidade técnica diz respeito à qualidade da execução como por exemplo da inspeção da palpação da percussão da aus culta e do conhecimento 86 Anamnese e Exame Físico Comunicação verbal Para o âmbito deste livro optamos por abordar alguns aspectos que dizem res peito à comunicação verbal enfocando a elaboração das perguntas e alguns recursos que podem facilitar a relação enfermeiropaciente e como consequên cia melhorar a quantidade e a qualida de dos dados coletados Quando estu damos profundamente o relaciona mento interpessoal e o processo de co municação podemos ampliar o conhe cimento e a utilização adequada de ou tros tipos de perguntas Basicamente as perguntas podem ser abertas fechadas ou complementares As perguntas abertas são aquelas que estimulam a descriçãorelato do paciente sobre determinado tema como por exemplo Faleme sobre como é o lugar onde você mora ou O que você faz quando sente dor As perguntas elabora das dessa forma propiciam ao paciente a oportunidade de expor sua percepção a respeito da situação de mostrar aquilo que realmente é significativo do seu ponto de vista e de fornecer informações amplas Além disso as perguntas abertas são menos assustadoras e constrangedoras ajudando a criar um clima amistoso e de descontração Isso beneficia a proximi dade enfermeiropaciente Entretanto como as respostas tendem a ser longas permitem que o paciente se desvie do foco de interesse do enfermeiro ou do tema abordado na pergunta Nesse momento é importante retomar cuidadosa mente o foco da pergunta cuidando para não ser uma atitude brusca ou negli gente com o que estiver sendo relatado Já as perguntas fechadas evitam as respostas longas permitindo ao enfermeiro enfocar certos aspectos da entrevista como por exemplo Na sua casa existe água encanada ou Você toma remédios quando sente dor As perguntas as sim elaboradas tendem porém a fazer com que o paciente limite a quantidade de informações e fique mais na defensiva Assim aconselhamos utilizar perguntas abertas no início da entrevista ou cada vez que mudar de tema ou quando pretender abordar aspectos mais íntimos e aqueles que dizem respeito às necessidades psicossociais As perguntas fecha das devem ser mobilizadas quando houver necessidade de trazer o paciente de volta ao contexto da entrevista de enfermagem e se forem necessários dados mais específicos sobre determinado tema As perguntas complementares são aquelas empregadas com o objetivo de es clarecer e aprofundar as informações a respeito de um dado como por exem plo quando o paciente diz Quando sinto dor vou dormir e o enfermeiro per Quando estudamos profun damente o relacionamento interpessoal e o processo de comunicação podemos ampliar o conhecimento e a utilização adequada de outros tipos de questões 87 Entrevista gunta O que acontece com sua dor quando você vai dormir Isso permite ao paciente explicar Não que eu vá dormir mas ficar deitado alivia minha dor Chamamos a atenção para a elaboração de perguntas que possam ser tenden ciosas eou tenham caráter de julgamento e por consequência bloqueiem a livre expressão do paciente dificultando a relação entre ele e o enfermeiro Por exemplo Na sua casa tem água encanada não tem ou Você não toma remé dios sem prescrição médica quando tem dor toma Da mesma forma utilizar o por quê pode causar esse tipo de sensação no paciente Por exemplo Por que você toma remédios sem prescrição médica Existem recursos para favorecer a expressão e estimular o paciente a dar mais informações os quais mostram que há interesse em que ele continue a se expor Assim o enfermeiro pode usar propositadamente as expressões Continue Sei Humhum assim como repetir o final da frase que o paciente proferiu Comunicação não verbal A entrevista como processo interativo envolve também a comunicação não verbal Procurar perceber o que a pes soa entrevistada realmente quer dizer com os artifícios que utiliza conscien tes ou inconscientes ajuda a conhecer e compreender melhor essa pessoa Os gestos a postura o tom de voz e a entonação das palavras o olhar a distância mantida entre as pessoas entre outros aspectos dizem muito mais do que ima ginamos a respeito do outro Você já pensou no quanto suas emoções estão ligadas a seu corpo Seu corpo reage conforme o que está se passando em sua mente Os pensamentos estão ligados às emoções e estas ao seu organismo É assim que você e seu paciente se expressam pelo corpo A postura o modo de andar de sentar de deitar enfim a linguagem física são sempre reflexo do que estamos pensando e sentindo Assim a comunicação não verbal envolve todas as manifestações do compor tamento que não são expressas por palavras Tal mensagem frequentemente é transmitida de forma mais eficiente e verdadeira do que as palavras A informação oferecida por essa via também é um recurso capaz de promover uma compreen são mais profunda das pessoas e por isso um contato mais íntimo entre elas É por meio da linguagem não verbal que muitas vezes percebemos se uma pessoa está com dor triste irritada preocupada ou ansiosa E isso pode ser ma nifestado por expressões faciais gestos ou movimentos do corpo Devemos es tar atentos a essas mensagens pois nem sempre têm o mesmo significado para diferentes pessoas e situações FIGURA 43 A entrevista como processo interativo envolve também a comunicação não verbal 88 Anamnese e Exame Físico Veja mais uma vez que o que decide se uma entrevista será ou não uma entrevista compreensiva é seu grau de interesse em conhecer o paciente e assim obter um maior número de observações significativas Quando falamos em linguagem não verbal estamos nos referindo a um tipo de comunicação que utilizamos o tempo todo Você já se observou e percebeu o quanto utiliza esse recurso para se expressar e fazerse entender Repare que isso acontece concomitantemen te ao entendimento da linguagem verbal para que a comunicação efetiva seja processada O que decide se uma entrevista será ou não uma entrevista compreensiva é seu grau de interesse em conhecer o paciente e assim obter um maior número de observações significativas No entanto como isso se dá de forma automática muitas vezes nem percebe mos com profundidade o quanto podemos explorar esse recurso e melhorar nossa comunicação Sem o auxílio da vocalização ou do sussurro cada corpo diz quem o que onde e como a pessoa é era e será Ao realizar uma entrevista é necessário observar ou seja olhar com atenção o ou tro para assim perceber a linguagem não verbal expressa Em determinados ca sos a compreensão da linguagem não verbal pode ser de extrema importância e até decisiva para que determinadas informações sobre o paciente sejam captadas Existe uma infinidade de expressões ou movimentos corporais que têm signi ficados Ele sempre está nos dizendo alguma coisa mesmo sem expressar uma palavra sequer Você se lembra daquele paciente que estava deitado no leito e repousando tranquilamente Recordese de como ele estava deitado seu corpo todo e a expressão em seu rosto mostravam exatamente o que ele estava viven ciando Expressava digamos certo bemestar naquele momento de sua recu peração Da mesma forma lembrese de como estava se expressando aquele outro contraído no leito contorcendose demonstrando desconforto físico dor É evidente que não estava tudo bem e certamente poderíamos tomar algu ma providência FIGURA 44 FIGURA 43 Æ Expressões faciais significando diferentes sentimentos 89 Entrevista Cabeça pendente ombros caídos e tórax afundado podem refletir sentimentos de fraqueza e derrota ao passo que cabeça ereta tronco reto e respiração ple na e natural podem indicar segurança e autoconfiança Na expressão facial o franzir das sobrancelhas pode mostrar discordância falta de compreensão dor ou raiva A falta de contato visual pode significar que a outra pessoa está triste envergonhada ou intimidada E ainda se diante de uma conversa alguém cru za os braços muda a posição do pé franze a testa muda o padrão respiratório mesmo que inconscientemente isso está relacionado ao que se passa no íntimo dessa pessoa a qual está manifestando um possível descontentamento ou até mesmo rejeição quanto ao que está sendo dito O toque como exemplo de um tipo de comunicação não verbal também pode influenciar significativamente o processo da entrevista O tocar ou a reação a ele pode comunicar atitudes sentimentos ou reações específicas Contudo em cer tos locais do nosso corpo somente permitimos o toque de pessoas que nos são mais íntimas Quantas vezes chegamos próximo ao paciente e tocamos em suas pernas Em outras situações tocamos suas mãos procurando transmitir cui dado preocupação e apoio Por isso nunca se esqueça de que o significado do toque depende da situação e das pessoas envolvidas pois alguns podem entender esse gesto como uma invasão Ambiente interno O ambiente interno tanto do enfermeiro como do paciente também interfere na qualidade e na quantidade dos dados coletados tanto na entrevista como Nunca se esqueça de que o sig nificado do toque depende da si tuação e das pessoas envolvidas pois alguns podem entender esse gesto como uma invasão FIGURA 44 Æ Expressão e movimentos corporais indicando sensação de bemestar e dor 90 Anamnese e Exame Físico no exame físico Um enfermeiro que esteja por exemplo ansioso apressado extremamente preocupado a ponto de alterar sua capacidade de concentração e dedicação correrá maior risco de ter percepções erradas a respeito do pacien te Nessa situação o enfermeiro está com sua capacidade sensorial afetada po dendo chegar a ponto de não distinguir por exemplo um dado de ausculta ou mesmo de interpretálo inadequadamente Além disso o paciente precisa estar disponível emocional e fisicamente para que a entrevista transcorra de maneira adequada proporcionando um momen to de interação e mútuo conhecimento Por isso aconselhamos que a entrevista não seja realizada enquanto o paciente estiver com dor em uma situação de urgência ou imediatamente após a internação sem ainda estar ambientado A fase de introdução da entrevista também pode ser utilizada para acalmar o ambiente interno de ambos e cabe ao enfermeiro proceder de modo a ajustar tanto o ambiente interno como o externo para que a percepção e o conheci mento possam ser fiéis ao que realmente são caso contrário haverá dificulda des para se conhecerem e interagirem Ambiente externo A entrevista na enfermagem coexiste com a observação e a documentação A observação é um processo básico na vida profissional do enfermeiro e no momento da entrevista constitui um método de inestimável ajuda na obtenção de dados fornecidos pela comuni cação não verbal como visto anteriormente A documentação é um recurso au xiliar da entrevista pois permite registrar complementar averiguar e explicar os dados obtidos possibilitando um maior enriquecimento desses dados que serão utilizados durante as outras etapas do processo de enfermagem Contudo além dos fatores inerentes ao paciente e ao profissionalestudante o que mais deve ser providenciado Quais os fatores que precisam ser averigua dos para que a entrevista transcorra satisfatoriamente Certamente outro fator que influencia o desenvolvimento da entrevista é o ambiente É fundamental ter um local que favoreça a privacidade que o mo mento requer Se não for possível um lo cal exclusivo crie meios para que você e o paciente sintamse isolados É importante assegurar que as informações soli citadas e fornecidas não serão compartilhadas por outras pessoas Reserve um A entrevista na enfermagem coexiste com a observação e a documentação É importante assegurar que as informações solicitadas e forne cidas não serão compartilhadas por outras pessoas 91 Entrevista tempo para a entrevista de maneira que não haja interrupções O paciente se sentirá mais valorizado e estimulado a falar percebendo que aquele tempo é dele que alguém pensou nele e se interessa em ouvilo Além disso é preciso concentração para conduzir a entrevista Para facilitar a comunicação dos participantes da entrevista outros fatores am bientais também precisam ser considerados ao se escolher o local para o seu desenvolvimento como recomenda Jarvis Æ Æ A temperatura do ambiente deve estar confortável nem muito fria nem muito quente oferecendo comodidade aos participantes Æ Æ A iluminação de preferência natural deve ser suficiente para permitir que o paciente e o enfermeiro observemse sem esforço Além disso acomode o paciente confortavelmente no leito ou em um assento e acomodese também à sua frente sem barreiras como mesa ou computador de forma que os olhos de ambos fiquem no mesmo nível Evite ficar de pé pois isso pode dar a impressão de hierarquia você é superior no processo de de sinteresse quanto ao que está sendo relatado ou de pressa sentimentos que devemos nos empenhar em evitar Barulho odores objetos e situações de distração como televisão jogos entrada e saída de pessoas devem ser evitados para que ambos aproveitem esse mo mento Agora depois de todas essas considerações sugerimos que você exercite a en trevista para ir ganhando habilidade em realizála Use e abuse de sua criativida de Você também vai precisar dela Boa entrevista Leituras recomendadas AlfaroLeFevre R Aplicação do processo de enfermagem uma ferramenta para o pensamento crítico 7 ed Porto Alegre Artmed 2010 Benjamin A A entrevista de ajuda 13 ed São Paulo Martins Fontes 2011 Chaves EC Domingues TAM A entrevista In Matheus MCC Fustinoni SM Pesquisa qualitativa em enfermagem São Paulo LMP 2006 p 99103 Craven RF Hirnle CJ Fundamentos de enfermagem saúde e função humanas 4 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2006 p 38990 Iyer PW Taptich BJ BernocchiLosey D Processo e diagnóstico em enfermagem Porto Alegre Artes Médicas 1993 Jarvis C Pocket companion for physical examination and health assessment 2nd ed Philadel phia Saunders 1996 92 Anamnese e Exame Físico Miranda CF Miranda ML Construindo uma relação de ajuda 2 ed Belo Horizonte Crescer 1986 Potter PA Perry AG Hall AM Stockert PA Fundamentos de enfermagem 8 ed Rio de Janeiro Elsevier 2013 Prochet TC Silva MJP Percepção do idoso dos comportamentos afetivos expressos pela equipe de enfermagem Esc Anna Nery 201115478490 Razera APR Braga EM A importância da comunicação durante o período de recuperação pós operatória Rev Esc Enferm USP 20114536327 Silva MJP Comunicação tem remédio a comunicação nas relações interpessoais na saúde 10 ed São Paulo Loyola 2014