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Ciências Biológicas ·

Parasitologia Humana

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Epidemiologia da Malária no Brasil e resultados parasitológicos de 2010 a 2019 Deocleciano Vespúcio Marques Júnior RESUMO No período de 2010 a 2019 foram registrados no Brasil 7136 casos de malária Na figura 1 observase que o maior número de casos no país foi registrado no ano de 2010 com 1261 casos Neste ano a mediana foi de 196 média aritmética 25220 desvio padrão de 17373 e coeficiente de variação de 6889 Notase que a partir de 2010 houve tendência de queda no número de casos registrados até 2017 com aumento em 2018 seguido de nova queda no ano de 2019 Notase ainda que o menor número de casos foi registrado em 2016 com 476 notificações mediana de 66 média aritmética de 9480 desvio padrão de 10170 e coeficiente de variação de 10728 Tratase de um estudo epidemiológico descritivo de série temporal realizado através de dados secundários dos Sistemas de Informações de Saúde do Sistema Único de Saúde Datasus TABNETDATASUS do qual extraiuse os dados sobre a malária no Brasil no período de 2010 a 2019 Foi realizado levantamento da epidemiologia da malária em nível nacional Os dados analisados foram obtidos através do número de casos confirmados notificados pelo SINAN Sistema Brasileiro de Informação para Doenças Notificáveis DATASUS no qual são excluídos os resultados negativos e nulos As variáveis em estudo foram casos confirmados notificados da doença faixa etária sexo raçacor escolaridade região de residência autóctone por município de residência e do 1sintoma e resultado parasitológico autoctones foi 42850 a média aritmética foi de 55010 o desvio padrão 20120 e coeficiente de variação de 3658 15 dos casos registrados no período foram autóctones com mediana de 8850 média aritmética de 11040 desvio padrão de 6372 e coeficiente de variação de 5771 Os casos indeterminados e em branco somaram 8 das notificações Para os casos indeterminados a mediana foi de 29 a média aritmética foi de 3360 o desvio padrão foi de 1852 e o coeficiente de variação foi de 5511 Já para os casos em branco a mediana foi de 950 a média aritmética foi de 1950 o desvio padrão foi de 2639 e o coeficiente de variação foi de 13532 para o período estudado Fonte Elaborado pelo autor com dados oriundos do Ministério da SaúdeSVS Sistema de Informação de Agravos de Notificação Sinan Net 2020 Em relação à raça a maior parte dos casos foi registrada na raça branca 3044 casos seguida da raça parda 2735 casos raça preta 617 casos indígena 79 casos e por fim a raça amarela 54 casos Ressalta se que para esta variável houve 607 casos ignoradosem branco Quanto ao sexo o mais acometido foi o masculino com 78 das notificações Relativo à idade houve predomínio de notificações na faixa etária de 20 a 39 anos em todas as regiões do Brasil totalizando 2458 casos seguida da faixa de 40 a 59 anos com 2458 casos Em todo o país o menor número de casos foi registrado na faixa etária de 80 anos ou mais totalizando 23 notificações no período estudado Figura 4 Fonte Elaborado pelo autor com dados oriundos do Ministério da SaúdeSVS Sistema de Informação de Agravos de Notificação Sinan Net 2020 Observando se a variável escolaridade observa se que a maior parte dos casos foi notificada em pessoas com ensino médio incompleto com 1062 casos seguida de educação superior completa com 993 casos e de 5ª a 8ª série incompleta do ensino fundamental com 681 casos Ademais a escolaridade com menor número de notificações foi de analfabeto com 70 registros Vale ressaltar que para esta variável houve 2198 casos ignorados ou em branco Por fim em relação ao resultado do parasitológico houve predomínio de infecção pelo Plasmodium vivax com 4736 casos Figura 5 Para esta categoria a mediana foi de 747 a média aritmética foi de 94720 59265 e o coeficiente de variação foi de 6257 A seguir foram registrados 1767 casos de contaminação por Plasmodium falciparum com mediana de 178 média aritmética de 35340 desvio padrão de 40080 e coeficiente de variação de 11341 Fonte Elaborado pelo autor com dados oriundos do Ministério da SaúdeSVS Sistema de Informação de Agravos de Notificação Sinan Net 202 A malária é uma doença infectoparasitária antiga e apesar disso ainda acomete milhares de indivíduos a nível mundial anualmente No início da década de 2000 ocorreram progressos nas estratégias de controle da malária globalmente isto se deu pelo advento de novas tecnologias e aumento do compromisso político e financeiro por parte de vários países empenhados no combate a esta doença Os investimentos internacionais com a malária aumentaram consideravelmente de cerca de US 15 bilhões no ano de 2000 para US 43 bilhões no ano de 2016 Também observado que os países com registro de malária endêmica que se situavam em 106 países foi reduzido para 86 países FEACHEM2019 No Brasil foram documentados 7136 casos de malária no período de 2010 a 2019 Sabese que a ocorrência de desmatamento e inúmeras mudanças na utilização do território se constituem como impactos ambientais antropogênicos significativos que possibilitaram um ressurgimento da malária nas últimas décadas MACDONALD MORDECAI2019 Sabese que durante todo o período estudado houve predomínio de casos não autóctones registrandose 77 das notificações e cerca de 15 dos casos registrados no período foram autóctones Em relação aos casos autóctones observandose os registros de transmissão zoonótica de malária em região de mata atlântica há possibilidade que casos autóctones tenham ocorrido a partir de macacos infectados por Plasmodium simium servindo assim de reservatório ao protozoário MADALENA2019 no entanto isto ainda não está bem estabelecido e exige ainda mais estudos A ocorrência da malária pelas regiões brasileiras observouse que a região sudeste concentrou o maior número de casos de malária registrados no período de 2010 há 2019 as regiões Nordeste e Sul apresentaram crescimento em 2018 e a região Norte apresentou menor número de casos no período estudado Como podese observar a distribuição da malária ocorre de forma diversa e alcança números expressivos no território brasileiro como um todo Portanto fazse necessário a suspeição de diagnóstico de malária não somente em indivíduos provenientes de áreas endêmicas de malária como viajantes provenientes de regiões como o continente africano e da bacia Amazônica Dessa forma o treinamento dos profissionais de saúde para a vigilância da malária poderia contribuir com a redução da morbidade e mortalidade da malária nacionalmente COSTA2010 No Brasil houve predomínio de notificações na faixa etária de 20 a 39 anos em todas as regiões Essa faixa etária possui maior acolhimento pelo desenvolvimento de atividades laborais que acarretam maior exposição pois apesar de serem regiões distintas em aspectos sociais e econômicos sabese que as atividades exercidas como serviços de agropecuária e garimpo apresentam maior vulnerabilidade ao vetor NEVES 2004 Em relação aos aspectos parasitológicos no território brasileiro houve predomínio de infecção pelo Plasmodium vivax com 4736 casos seguido por 1767 casos de contaminação por Plasmodium falciparum durante o período estudado Entretanto foram notificados 53 casos de malária por Plasmodium ovale Sabese que Plasmodium ovale causa a malária terciária foi documentado pela primeira vez em 1922 como uma das cinco espécies de Plasmodium que podem infectar humanos sendo responsável por 05 a 105 de todos os casos de malária e está geograficamente distribuído na África subsaariana Pacífico Ocidental Timor e Indonésia Há carência de estudos que tratem sobre malária ocasionada por Plasmodium ovale na população brasileira e a notificação desses 53 casos gera preocupação e necessita de maior investigação pois outrora o Plasmodium ovale não constituía o grupo de espécies causadoras de malária no Brasil KOTEPUÍ2020 Dentro os fatores determinantes para o advento da malária no Brasil destacamse a escassez de investimentos e de implementação de políticas públicas efetivas que atendam demandas higiênicas sanitárias e de educação em saúde Somamse a estes fatores externos como a destruição de áreas silvestres crescimento desordenado de áreas urbanas e alterações climáticas que propiciaram transformações em habitats e disseminação de vetores A migração o ecoturismo e os diversos meios de transporte promovem a proliferação de parasitas bem como de seus vetores BERENGUER2006 Diante disto embora tenhamos observado um período de expressiva redução de casos de malária de 2010 a 2017 o surgimento do pico em 2018 nos deixa em alerta embora o decréscimo em 2018 nos remeta à possível estabilização em sua redução Isto demonstra a possibilidade de redução drástica de número de casos desde que sejam implantadas políticas públicas robustas que garantam sua prevenção bem como o controle severo da malária em nosso país O maior número de casos no Sudeste embora em números absolutos nos alertam para a necessidade de extensão severa de medidas de controle para esta Região Já o menor número de casos em números absolutos na Região Norte demonstra que não podemos nos render apenas aos aspectos geográficos e sua associação à Região Amazônica mas indica que as políticas públicas devem estar voltadas para o Brasil como um todo tendo em vista o sucesso no declínio da doença considerandose ainda a existência de picos esporádicos e a comprovada possibilidade de sua prevenção A presença de infecções por P ovale cuja predominância é maior na África subsaariana Pacífico Ocidental Timor e Indonésia também nos remetem à necessidade de estudos direcionados sobre este tema específico e controle específico que restrinjam a proliferação desta forma de infecção em nosso país Da mesma forma as políticas de saúde precisam atentar para o aumento do número de casos nas Regiões Sudeste Nordeste e Sul visto que embora o número de casos no país esteja em decréscimo de 2010 a 2018 observouse aumento do número de casos nestas Regiões desde 2016 Controlar com rigidez o número de casos e instituir políticas de saúde que visem sua redução prevenção diagnóstico tratamento controle e possível erradicação traria grandes ganhos epidemiológicos ao nosso país e é algo a ser almejado visto que já observase grandes ganhos na redução do número de casos 1 BERENGUER Jaime Gállego Manual de Parasitologia morfologia e biologia dos parasitas do interesse sanitário In Manual de parasitologia morfologia e biologia dos parasitas do interesse sanitário 2006 p 602602 2 BEZERRA Juliana Maria Trindade et al Changes in malaria patterns in Brazil over 28 years 19902017 results from the Global Burden of Disease Study 2017 2020 3 COSTA Aniella de Pina et al Delayed diagnosis of malaria in a dengue endemic area in the Brazilian extraAmazon recent experience of a malaria surveillance unit in state of Rio de Janeiro Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical v 43 n 5 p 571574 2010 4 FEACHEM Richard GA et al Malaria eradication within a generation ambitious achievable and necessary The Lancet v 394 n 10203 p 10561112 2019 5 KOTEPUÍ Manas et al Severity and mortality of severe Plasmodium ovale infection A systematic review and metaanalysis PloS one v 15 n 6 p e0235014 2020 6 MACDONALD Andrew J MORDECAI Erin A Amazon deforestation drives malaria transmission and malaria burden reduces forest clearing Proceedings of the National Academy of Sciences v 116 n 44 p 2221222218 2019 7 MADALENA Mahaony Machado et al Malária em Santa Catarina uma análise dos casos notificados entre 2009 e 2018 2019 8 NEVES David Pereira Parasitologia Humana 11 ed São Paulo Atheneu 2004 Cap 17 143161 9 SOUSA Jonata Ribeiro et al Situação da malária na Região do Baixo Amazonas Estado do Pará Brasil de 2009 a 2013 um enfoque epidemiológico Revista PanAmazônica de Saúde v 6 n 4 p 99 2015 10 SOUZA Patricia Feitosa et al Spatial spread of malaria and economic frontier expansion in the Brazilian Amazon Plos one v 14 n 6 p e0217615 2019 11 WOLFAHRTCOUTO Bruna FILIZOLA Naziano DURIEUX Laurent Padrão sazonal dos casos de malária e a relação com a variabilidade hidrológica no Estado do Amazonas Brasil Revista Brasileira de Epidemiologia v 23 p e200018 2020