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São Paulo Quartafeira 01 de Dezembro de 1999 Envie esta notícia por email para assinantes do UOL ou da Folha enviar texto Texto Anterior Próximo Texto Índice MARCELO COELHO Marketing politicamente correto e Kant Faço desde julho um regime feroz Só grelhados e saladas Não acredito muito naquelas dietas que deixam o sujeito comer de tudo No fundo exigem mais disciplina do que a minha Pois se eu tiver acesso a meio bombom de cereja minha tendência será comer a caixa inteira Prefiro suprimir o bombom do meu horizonte Elejo em seu lugar um rabanete Posso garantir que com o tempo e com a fome que passo o rabanete acaba ótimo Restaurantes só os que têm bufê de saladas Fui sábado passado a um restaurante desses Devo dizer qual era ainda que pareça propaganda o Galetos rede especializada nisso aí mesmo A surpresa não veio no bufê mas na conta Calma Era uma boa surpresa O restaurante aderiu a um programa social Se o freguês concordar sua conta tem um acréscimo de R 2 destinados a uma ONG em prol do menor carente Por que não se damos ao manobrista uma quantia parecida e outro tanto à criança que nos aborda no sinal vermelho Iniciativas desse tipo estão proliferando muito em São Paulo Um shopping center o Eldorado resolveu atrair seus fregueses com uma promoção diferente no Natal Não mais aqueles concursos idiotas cujos cupons não me dou ao trabalho de preencher há dois ou três anos um shopping inventou de prêmio um avião um jatinho Agora o Eldorado anuncia o seguinte 1 do faturamento total 1 das vendas das lojas participantes e 2 dias da renda do estacionamento serão destinados a uma fundação que atende 11 mil crianças carentes Claro que é uma estratégia de marketing também Conheço marxistas que têm certa desconfiança diante do trabalho das ONGs Todo esse frêmito em torno do terceiro setor nada mais seria dizem do que sintoma do verdadeiro abandono da destruição do Estado sob o neoliberalismo Mais grave do que isso parece um pouco monstruosa a idéia de que até as ações sociais começam a ser regidas pela lógica da mercadoria As crianças carentes do Eldorado legitimam o consumismo mais atroz O estrategista de marketing calcula 1 do faturamento Ninharia Perto do lucro que teremos Seu riso triunfal ecoa sinistramente nos corredores do shopping de vidro e mármore Pode ser Observo também que mesmo com todas as ONGs do mundo a miséria brasileira continuará não penso apenas na miséria e na fome O desempregado não vai imediatamente mendigar nas ruas por exemplo E o desemprego é um problema que depende de ações de Estado não da caridade do consumidor Mesmo assim acho excelente que o marketing se torne social em vez de premiar um casal de empanturrados com uma semana de férias em Aruba Imagino um problema nessas iniciativas beneméritas mas é um problema apenas aparente Se determinado restaurante decide atrair fregueses graças a um diferencial politicamente correto podemos pensar que essa estratégia só dá certo se forem poucos os estabelecimentos a adotála Kant propunha um teste para se saber o que é moral ou não moral é aquilo que se todos fizerem o mesmo continua válido do ponto de vista lógico Dou um exemplo Você pede um dinheiro emprestado Não paga Isso é imoral dirá Kant e o seu credor porque se todos tomassem dinheiro emprestado e não pagassem a própria idéia de dar dinheiro emprestado seria abolida da convivência humana Ou seja aquilo que eu adoto como lei para mim mesmo vou dar um calote não pode ser generalizado porque se todo mundo desse calote não haveria quem emprestasse Aplico o teste à promoção do shopping Eldorado Se todos os shoppings adotassem a iniciativa certamente ela deixaria de valer como marketing Se todos os restaurantes acrescentassem R 2 na conta para as ONGs todos os restaurantes seriam iguais e o Galetos não seria capaz de despertar minha simpatia e meu consumo Mas se todos fizessem isso O que teríamos nada mais seria do que um velho conhecido o imposto O marketing deixaria de valer para transformarse em dever kantiano pague seus impostos Só que há uma diferença crucial Quem administra seu imposto não é mais o Estado mas um caos de ONGs Vantagens existem Se a Febem custa R 2000 por interno e uma instituição privada integra o garoto a R 700 não há estatismo que resista O neoliberalismo não é tão fácil de descartar quanto parece Basta dizer que o PT defende uma política social inspirada em Milton Friedman a bolsaescola o programa de renda mínima enquanto a direita como Joaquim Roriz no Distrito Federal compra o estatismo sob forma de apadrinhamento populista Em tempo o Sesc inaugurou nesta semana um programa para acabar com o desperdício em restaurantes Jogase fora 14 do PIB em alimentos aproveitáveis nas casas de pasto do país Podem alimentar muita gente Não eu que estou de regime nem você que deve estar precisando de um Texto Anterior Artes Cênicas Sem teto Filo caminha para todas a artes Próximo Texto Cinema Cacá Diegues prepara Deus É Brasileiro Índice Copyright Empresa Folha da Manhã SA Todos os 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