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Economia ·

Formação Econômica do Brasil

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HISTÓRIA DO BRASIL COLÔNIA Caroline Silveira Bauer Extrativismo agropecuária e o açúcar Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto você deve apresentar os seguintes aprendizados Identificar a estrutura econômica do Brasil colonial Caracterizar a economia extrativista colonial e seus produtos Definir os avanços da economia açucareira e agropecuária no Brasil colonial Introdução Desde o período colonial a economia agrária e extrativista brasileira foi bastante diversificada Essa diversificação deveuse às mudanças históricas nos interesses da metrópole em relação a sua colônia bem como às diferentes regiões da América portuguesa de acordo com suas condições climáticas e de vegetação Essa economia também apresentou dinâmicas específicas quando direcionada ao mercado interno ou externo Esses são alguns dos aspectos fundamentais para o estudo das práticas agrárias e extrativistas empregadas na colônia portuguesa na América Nesse capítulo você vai compreender a estrutura econômica da América portuguesa estudando as características do extrativismo as di ferenças existentes no extrativismo desenvolvido no litoral e nas florestas bem como seus principais produtos Por fim aprenderá as dinâmicas da produção do açúcar no Brasil como principal produto de exportação e suas relações com a pecuária 1 A economia da América portuguesa Podemos dividir a economia da América portuguesa em dois processos inter relacionados a economia voltada para o mercado externo e a economia voltada para o mercado interno Enquanto a primeira se relacionava com os interesses mercantis próprios da lógica colonial a segunda possuía um funcionamento autônomo vinculado ao consumo interno na colônia Em relação ao mercado externo podemos compreender a economia da América portuguesa a partir de sua inserção em uma economiamundo interpretação baseada nas ideias Immanuel Wallerstein VIERA 2010 Assim segundo Vieira 2010 documento online a produção e o consumo do açúcar integraram processos comerciais e produtivos que ocorriam no Brasil na Europa na África e na Ásia Nessa economia voltada para o mercado externo havia diferentes relações estabelecidas entre as possessões ultramarinas portuguesas configurando uma cadeia mercantil Vejamos nos tópicos a seguir como se organizava essa cadeia VIEIRA 2010 Entre a América portuguesa e a Europa estabeleciamse relações fortes e necessárias pois da metrópole provinha o impulso para o desenvol vimento da agricultura na colônia bem como as ferramentas tecidos e armas era na Europa que ocorria o refino do açúcar e era para lá que se destinava quase a totalidade da produção Entre a América portuguesa e a África estabeleciase uma relação de oferta e demanda de mãodeobra de africanos escravizados cujos números são imprecisos mas calculase que tenham sido quase 5 mi lhões Para a comercialização desses seres humanos era utilizada como moeda de troca a farinha de mandioca a cachaça e o fumo Entre a América portuguesa a África e a Ásia havia uma troca de pro dutos coloniais como o fumo por tecidos que também eram utilizados no escambo por escravizados Todo o açúcar da colônia excedente do consumo interno era exportado para a Europa seguindo os padrões de produção e comércio já praticados por Portugal em outras possessões ultramarinas Contudo não há como separar a prática econômica voltada para o mercado externo da destinada ao mercado interno Além da agricultura de subsistência possibilitar as práticas econômicas dos engenhos outros cultivos como o de mandioca e o de fumo além da própria produção da cachaça tornaramse moeda de troca para a comercialização de africanos escravizados trazidos para a América para trabalharem na produção de açúcar Ou seja historica mente a agricultura para exportação e para o consumo interno estiveram intimamente relacionadas de uma maneira complexa multidimensional e historicamente mutável SCHWARTZ 1998 p 66 Extrativismo agropecuária e o açúcar 2 2 O extrativismo A primeira atividade econômica desenvolvida após a chegada dos portugue ses na América foi o extrativismo Chamamos de extrativismo ou economia extrativa uma maneira de produzir bens na qual os recursos são retirados diretamente da sua área de ocorrência natural sendo a coleta de produtos vegetais a caça e a pesca os três exemplos clássicos de atividades extrativistas GOMES 2018 documento online Enquanto prática econômica as atividades extrativistas caracterizamse por três momentos no início observase crescimento da extração provocado pelo aumento de demanda isto provoca um segundo momento caracterizado pelo limite da capacidade de oferta devido aos estoques disponíveis e ao aumento de custos para exploração de áreas mais distantes Por último iniciase o declínio na produção devido ao esgotamento das áreas de extração não sendo possível atender à demanda de mercado o que influencia esforços para investimentos de capital e de tecnologia para domesticação e plantio dos produtos com significância econômica e demanda GOMES 2018 documento online De acordo com Homma 2008 há um limite para o crescimento de mercado da economia extrativa a oferta restrita à existência fixa de estoques naturais não consegue suprir a demanda Enquanto o mercado é reduzido e enquanto ainda há grandes estoques é possível atender nichos de mercado ou ganhar tempo até que surjam alternativas econômicas Na primeira fase da colonização do território americano luso a principal atividade extrativista foi a coleta de paubrasil que se localizava próximo ao litoral na zona da mata que era de fácil acesso para os navegantes e comerciantes portugueses Foi explorado do litoral do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro De acordo com Santos 2015 documento online em 1501 a expedição comandada por Duarte Coelho reconheceu a madeira preciosa e em função da grande procura por corantes naturais na Europa enviou uma carga com amostras a Portugal O nome paubrasil derivase provavelmente pela cor de brasas que produz Contudo ao longo da expansão territorial outros produtos foram inseridos nessa lógica econômica como as drogas do sertão a exploração de tartarugas e a extração de cacau As drogas do sertão segundo Ronaldo Vainfas 2000 p 191 eram os produtos nativos ou aclimatados do Amazonas Pará e Maranhão muito procurados na Europa como drogas medicinais temperos ou tinturaria 3 Extrativismo agropecuária e o açúcar O paubrasil passou a interessar os colonizadores portugueses porque de sua madeira era possível extrair um corante vermelho bastante apreciado no mercado europeu em que a indústria têxtil estava em pleno desenvolvi mento A extração do paubrasil foi transformada em monopólio da coroa e seu primeiro arrendatário foi Fernão de Loronha ou Fernando de Noronha conforme algumas grafias que pagaria taxas um quinto do lucro obtido à coroa e protegeria a costa ZEMELLA 1950 A extração do paubrasil e seu comércio foi disputada por Portugal com outros reinos Os franceses por exemplo traficaram a madeira até meados do século XVI muitas vezes estabelecendo alianças com os nativos Conforme Santos 2015 p 42 A política adotada por D João III tentou mediações diplomáticas e valeuse também da força A expedição capitaneada por Cristóvão Jacques foi enviada em 1526 com a missão de expulsar os corsários franceses e garantir o controle do litoral Contudo devido à continuidade de investidas francesas Martim Afonso de Sousa foi enviado em 1530 com a missão de combater corsários estrangeiros descobrir terras e talvez a mais importante delas fundar um núcleo de povoação portuguesa Quanto aos lucros obtidos pelo comércio do paubrasil Zemella assinala que não era assim tão tentador Ia decrescendo cada vez mais em virtude das guerras de corso das lutas com os franceses A exploração do paubrasil foi se convertendo numa empresa arriscada cujos lucros eram muito magros para compensar os riscos e perigos Os comerciantes se retraem O monopólio do paubrasil já não encontra arrendatários ZEMELLA 1950 p 486 Contudo até quase o final do século XIX o paubrasil estava presente na lista de produtos exportados pelo Brasil Logo após a descoberta do Brasil o extrativismo do paubrasil Caesalpinia echinata Lam de acordo com Homma 2008 p 22 foi o primeiro ciclo econômico pelo qual o país passou e que perdurou por mais de três séculos O início do esgotamento dessas reservas coincidiu com a descoberta da anilina em 1876 pelos químicos da Bayer na Alemanha Para a extração do paubrasil a mãodeobra utilizada foi a indígena e posteriormente a de africanos escravizados Os indígenas cortavam as árvores na mata e arrastavam os troncos até o litoral onde eram preparados para serem embarcados O pagamento por seu trabalho era feito por meio do escambo recebiam pelo corte e transporte canivetes facas miçangas tecidos e outras quinquilharias ZEMELLA 1950 Extrativismo agropecuária e o açúcar 4 Apesar de já interferirem na organização tradicional das populações indígenas esses contatos iniciais formaram relações que foram dentro dos limites bem aceitas devido ao interesse nos objetos de troca apesar de criarem certa dependência com relação aos fornecedores e hierarquia internas Por ser a atividade de corte de madeira vinculada aos homens favoreceu o escambo pois não alterava a organização sexual do trabalho e também o fato de não os colocarem de forma intensa e perene com as relações de mercado SAN TOS 2015 p 4041 O desenvolvimento dessa prática econômica possibilitou aos portugueses o conhecimento do litoral de suas possessões na América enquanto a con corrência com os franceses no extrativismo levou à construção de feitorias onde eram armazenadas as árvores e de fortes para proteger o litoral As principais feitorias foram construídas em Igaraçu Itamaracá Bahia Porto Seguro e Cabo Frio mas não foram suficientes para o povoamento nem a estruturação social ZEMELLA 1950 Lembrese que do paubrasil originou um dos nomes da colônia brasil de brasa da cor vermelha vinculado ao comércio e ao lucro o qual suplantou o nome oficial do território Santa Cruz 3 A agricultura e a pecuária na América portuguesa A produção agrícola foi a principal atividade econômica desenvolvida durante o período colonial convivendo com outros arranjos econômicos Fosse para o mercado externo ou para o mercado interno a produção de bens agrícolas representou um dos pilares do processo de colonização da América portu guesa Já a pecuária iniciada com a introdução do gado na América pelos portugueses visava a utilização dos animais como força para os engenhos e para o transporte de mercadorias bem como para alimentação Em relação à agricultura o principal produto cultivado no território português na América era a canadeaçúcar Para além da cana existiam outras culturas com bons rendimentos no mercado exportador e interno Eis algumas delas 5 Extrativismo agropecuária e o açúcar Tabaco cultivado no Maranhão no Pará em Pernambuco e principal mente no sul da Bahia Era um ramo menos prestigioso mas também menos caro o que possibilitava que pessoas com menos posses e afri canos escravizados em seu tempo livre se dedicassem ao seu cultivo PIASSINI 2013 Mandioca cultivada pelos indígenas foi adotada pelos portugueses tanto para a subsistência quanto para exportação na forma de farinha Era a base alimentar dos engenhos e em certo momento a administração colonial obrigou os senhores de engenho e lavradores de cana a cultivar mandioca a fim de abastecer a própria força de trabalho escravo o que não obteve muito sucesso em função da hostilidade dos senhores em relação ao cultivo de subsistência PIASSINI 2013 Outros produtos que configuravam a diversificação agrícola algodão cacau que fora explorado apenas de forma extrativista mas que pas sou a ser cultivado café introduzido na colônia no início do século XVIII contrabandeado da Guiana Francesa entre outros produtos FAUSTO 1995 Além desses produtos outros alimentos estavam presentes na colônia ainda que não disponíveis para todos os grupos sociais e regiões pomares recheados de abacates açaís ananases cajás ingás jacas e marmelos para não falar dos diversos tipos de bananas laranjas e das mangas espalhadas por todo o território Hortas repletas de cheiros e temperos como alho cebola cebolinha salsa coentro louro noz moscada As pimentas amarelas vermelhas verdes pimentacastanha pimentacumarim pimentamalagueta pimentafidalga Verduras e legumes como abóboras aspargos maxixes nabos palmitos pepinos quiabos além das raízes e tubérculos nativos como mandioca batata doce cará inhame e dos deliciosos mangaritos que alegravam os olhos dos viajantes e deixavam nos relatos uma sensação de água na boca SILVA 2013 p 279 Extrativismo agropecuária e o açúcar 6 A canadeaçúcar No território brasileiro o primeiro engenho de canadeaçúcar foi instalado em 1532 na capitania de São Vicente no extremosul da colônia No entanto a produção de açúcar foi maior nas capitanias da Bahia e de Pernambuco atingindo seu apogeu entre 1570 e 1650 Portugal já possuía experiência anterior do cultivo da cana nas ilhas do Atlântico e no Nordeste encontrou condições climáticas e de solo favoráveis ao cultivo FAUSTO 1995 Era um empreendimento dispendioso que exigia investimentos em equi pamentos e na compra de seres humanos escravizados Aqui o colono encontrou terra abundante e propícia como o massapé nordes tino imensas florestas que seriam devastadas para fazer lenha madeira para cabos de ferramentas para as prensas e os carros de boi que transportavam a cana da plantação à moenda Mas teve também de trazer ou importar va liosíssimos tachos de cobre caldeiras ferro para as ferramentas e moendas e até mãodeobra especializada os mestres artesãos do açúcar para movimentar seus engenhos No início as dificuldades eram enormes MOU RA 2013 p 136 Em poucos anos o açúcar se transformou no produto mais importante exportado pelo Brasil permitindo que a colonização se efetivasse Segundo Fausto 1995 p 77 seu cultivo passou a ser o núcleo da ativação socioeco nômica do Nordeste Assim se no século XV o açúcar ainda era visto como remédio ou condimento exótico livros de receitas do século XVI indi cam que estava ganhando lugar no consumo da aristocracia europeia Logo passaria de um produto de luxo para o que hoje chamaríamos de um bem de consumo de massa Mas não havia somente a produção de açúcar nos engenhos deles saíram os açúcares mascavos e semirrefinados em formas chamadas de pães de açúcar e as aguardentes de cana a nossa famosa cachaça MOURA 2013 p 134 Moura 2013 p 137 reforça a importância da cachaça como um produto colonial alambiques proliferaram ao longo dos séculos coloniais tanto nos gran des engenhos quanto nas sesmarias de colonos plantadores de cana Aqui na Colônia juntamente com as farinhas de mandioca e milho a cachaça passou a ter uso corrente na alimentação colonial e foi fundamental para abastecer a escravaria 7 Extrativismo agropecuária e o açúcar Além disso não se limitou ao consumo interno transformandose em moeda de troca para a compra e venda de africanos escravizados O açúcar foi responsável pela formação de uma sociedade agrária es tratificada e patriarcal MOURA 2013 A expressão dessa sociedade era visível nos engenhos unidades de produção completas que em geral também eram autossuficientes porque possuíam culturas de subsistência paralelas às grandes plantações de cana Um engenho era geralmente formado pela casa grande habitada pela família proprietária pela senzala local destinado aos escravizados além dos espaços de trabalho e poderiam ter capelas e escolas O chapéu e o chicote a rudeza e brutalidade dos senhores de engenho foram romantizadas durante séculos Entre a senzala e a casagrande ficara um hiato que só os estudos mais recentes vêm preenchendo e anexando à História com os devidos matizes sociais e econômicos a participação de homens livres escravos indígenas e africanos brancos e mestiços que com o suor de seu trabalho construíram a sociedade brasileira MOURA 2013 p 139 Os senhores de engenho Stuart B Schwartz em sua obra Segredos internos dá especial atenção aos senhores de engenho considerandoos enquanto classe Essa importância está segundo o autor no fato desses homens manteremse no ápice da hierarquia social projetando uma imagem de nobreza fortuna e poder SCHWARTZ 1998 p 224 Foi um grupo que se constituiu historicamente e apresentou diferentes características ao longo do tempo Schwartz 1998 descreve a classe dos senhores de engenho como um grupo que se formou historicamente e manifestou diversas características ao longo do tempo Seu surgimento quando da transição de atividades extrativas para a agricultura afirmou sua posição de prestígio decorrente da posse de terra A maioria desses senhores era de origem europeia em grande parte cristãos novos que adquiriram seus engenhos pela posse de bens por herança sorte ou casamento Seu status adquirido era relativo a aristocracia do Brasil Colônia formouse de grupos cujo status na sociedade portuguesa eram inferiores Porém em princípios do século XVII essa classe encontravase solidificada a ponto dos senhores reivindicarem para si o status de nobreza e o direito de exercer o poder localmente SCHWARTZ 1998 p 226 Como categoria manteve certa homogeneidade durante um longo período mas aos poucos foi agregando novos elementos constituindo uma elite diversa Sua constituição enquanto classe foi feita segundo a diferenciação do resto Extrativismo agropecuária e o açúcar 8 da população e o reconhecimento de uma semelhança entre seus iguais Para Schwartz 1998 p 231 a legitimação da posição de nobre implicava desvinculação de qualquer estigma de heterodoxia religiosa origens em ofícios mecânicos ou ligação com as raças infectas dos mouros judeus ou mulatos Assim conseguiam se isolar de qualquer estigma e assegurar sua posição de nobreza colonial Ainda segundo Schwartz 1998 p 234 os senhores de engenho compuseram inquestionavelmente o seguimento mais poderoso da sociedade baiana A insegurança decorrente dessa nobreza relativa já que não possuíam tal título frente à metrópole fazia com que esses homens recorressem a funções atos e modos de vida que legitimassem em relação ao resto da sociedade colonial sua posição social e seu status mediante seu modo de vista a relação entre a família e a propriedade e a difusão de ideais patriarcais sendo a família sinônimo de casa e linhagem como continuação de seu legado Extrativismo açucareiro Para se transformar em uma atividade lucrativa a cana deveria ser plantada em grandes extensões de terra o que resultou na formação de grandes propriedades chamadas latifúndios principalmente na região nordeste Nesse contexto os senho res de engenho confi guraramse como a classe dominante da economia açucareira Assim podemos afirmar que o cultivo da canadeaçúcar era realizado majoritariamente em latifúndios por meio da monocultura utilizandose predominantemente a mãodeobra escravizada voltada para o mercado ex terno O Brasil Colônia produzia o açúcar Portugal o transportava e o refino e o comércio eram realizados pelos Países Baixos Estimase que no final do século XVII houvesse 528 engenhos na colônia Os engenhos se espalharam pela Colônia desde o Nordeste do século XVI área de concentração original à capitania do Espírito Santo e à capitania real do Rio de Janeiro no século XVII atingindo o sul da capitania das Minas do século XVIII no presente a produção maior se concentra no estado de São Paulo MOURA 2013 p 134 Em relação à mãodeobra Moura 2013 p 135 nos chama a atenção para o destaque recebido pela escravidão africana nas produções historiográficas com menos ênfase para a escravidão indígena que também foi um elemento bastante importante no desenvolvimento da economia colonial 9 Extrativismo agropecuária e o açúcar Nesse processo a presença africana é muito mais conhecida e difundida do que a escravidão indígena Numerosas pesquisas e publicações sobre o assunto tratam da complexidade das formas de apresamento na África do tráfico atlântico de seus mercados no Brasil e de sua redistribuição para as áreas coloniais Mas ao longo do século XVI e início do XVII foi a escravaria dos negros da terra indígenas que sustentou a implementação e a expansão contínua dos engenhos e canaviais O processo de colonização produtiva iniciouse com a utilização da mãodeobra indígena As diversas formas de contato entre colonizadores e as diferentes culturas indígenas variaram das alianças às guerras de extermínio Concomitante a esse tipo de ação tínhamos também a guerra justa Eram as que se davam no dizer de teólo gos que justificavam a dominação colonial quando as populações indígenas resistiam ao poder colonizador ou à cultura cristã O cultivo da canadeaçúcar foi responsável pelo aumento na entrada de escravos africanos na colônia brasileira os quais foram direcionados ao trabalho nos canaviais mas também a outros postos de trabalho O tráfico negreiro constituiuse numa mercadoria altamente lucrativa dentro da lógica do mercantilismo já que Portugal tinha o monopólio de venda de escravos para a colônia O monopólio da coroa portuguesa sobre a produção de açúcar gerava lucros à coroa e aos senhores de engenho mas essa exclusividade de produção foi rompida quando os holandeses passaram a produzir açúcar em seus domínios ultramarinos nas Antilhas De acordo com Boris Fausto 1995 p 82 Na década de 1630 surgiu a concorrência Nas pequenas ilhas das Antilhas a Inglaterra a França e a Holanda iniciaram o plantio em grande escala provo cando uma série de efeitos negativos na economia açucareira do Nordeste A formação de preços fugiu ainda mais das mãos dos comerciantes portugueses e dos produtores coloniais no Brasil A produção antilhana também com base no trabalho de escravos gerou uma elevação do preço destes e incentivou a concorrência de holandeses ingleses e franceses no comércio negreiro da costa africana A pecuária De acordo com Fausto 1995 a criação de gado começou na América na proximidade dos engenhos porém com a necessidade de ampliação da área de cultivo de canadeaçúcar os criadores e seus rebanhos foram se deslocando para o interior Um relato de Gabriel Soares de Souza de 1587 afi rma que foi Extrativismo agropecuária e o açúcar 10 Ana Pimentel esposa de Martim Afonso de Souza donatário da capitania de São Vicente e Governador Geral de 1542 a 1545 quem importou os primeiros exemplares de bois Além disso esse animal foi introduzido no sul da colônia pelos jesuítas para servir de alimento Os franceses também trouxeram gado nas invasões ocorridas no nordeste DEL PRIORE 2010 Além da carne eram utilizados o couro e o sebo do animal assim como sua força de tração para o funcionamento dos engenhos Em 1701 a ad ministração portuguesa proibiu a criação em uma faixa de 80 quilômetros da costa para o interior FAUSTO 1995 p 84 o que transformou os pecuaristas em desbravadores do sertão como era chamado o território do interior e em povoadores alcançando os atuais territórios do Piauí Maranhão Paraíba Rio Grande do Norte e Ceará e dominando a região dos rios São Francisco Tocantins e Araguaia Mais do que o litoral foram essas regiões que se caracterizaram por imensos latifúndios onde o gato de espalhava a perder de vista No fim do século XVII existiram propriedades no sertão baiano maiores do que Portugal e um grande fazendeiro chegava a possuir mais de 1 milhão de hectares FAUSTO 1995 p 84 As fazendas de gado desenvolviam agricultura de subsistência e eram dominadas por famílias ligadas à elite dos senhores de engenho do litoral Por seu afastamento dos centros do governo real os fazendeiros de gado detinham um poder mais irrestrito do que os senhores de engenho PIASSINI 2013 documento online Na lida com o gado foi utilizada a mãodeobra indígena africana escravizada e de trabalhadores livres Antes da chegada dos portugueses à América os indígenas não costumavam criar animais para o abate utilizando somente a caça Pelo contato estabelecido com os europeus passaram a utilizar cães chamados de iaguásmimbabas onças de criação para a caça e como proteção As galinhas também foram introduzidas no cotidiano dos indígenas que passaram a comercializar ovos Os cavalos que também foram introduzidos pelos europeus logo se transformaram em instrumentos de guerra montados por algumas etnias indígenas Muitos cavalos se espalharam pela América com a destruição de Buenos Aires pelos indígenas em 1541 DEL PRIORE 2010 11 Extrativismo agropecuária e o açúcar Os relatos em relação à qualidade da carne no entanto desaprovavam o produto as péssimas condições de criação assim como as piores situações a que o gado era submetido nos longos trajetos percorridos contribuíam para que o consumidor final encontrasse uma carne fresca magra e dura já quase apo drecida Secar a carne ao ar e ao sol em finas mantas ação facilitada também pela falta de umidade natural do sertão fazia com que ela se prestasse mais ao consumo ou mesmo ao armazenamento A carneseca se firmava como um excelente alimento adaptado ao clima e à necessidade de mantimentos numa terra ainda precária em comércio e em excedente de produtos básicos SILVA 2013 p 282283 Contudo houve a criação de gado em outros espaços do território por tuguês na América Ao sul da colônia houve uma dispersão de rebanhos após a destruição de Buenos Aires por ataques indígenas em meados do século XVI ocasionando uma migração desses animais para os territórios que hoje compreendem os estados do sul do Brasil e Mato Grosso Esse gado selvagem juntamente com a migração interna na colônia de pecuaristas e tropeiros era utilizado para a produção de charque um tipo de carne salgada para sua melhor conservação que era utilizada como base da alimentação da população local sendo que sua distribuição chegava à região das minas de ouro no Sudeste do Brasil DEL PRIORE M Mil e uma utilidades Revista de História 2010 Disponível em https webarchiveorgweb20120308084037httpwwwrevistadehistoriacombrsecao capamileumautilidades Acesso em 25 mar 2020 FAUSTO B História do Brasil 3 ed São Paulo Edusp 1995 GOMES C V A Ciclos econômicos do extrativismo na Amazônia na visão dos viajantes naturalistas Bol Mus Para Emílio Goeldi Cienc Hum v 13 nº 1 p 129146 janabr 2018 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpidS1981 81222018000100129lngpttlngpt Acesso em 25 mar 2020 HOMMA A K O Extrativismo biodiversidade e pirataria na Amazônia Brasília Embrapa Informação Tecnológica 2008 Ebook Extrativismo agropecuária e o açúcar 12 MOURA A M da S Civilização de açúcar In FIGUEIREDO L org História do Brasil para ocupados Rio de Janeiro Casa da Palavra 2013 PIASSINI C E A economia do Brasil colonial na perspectiva de livros didáticos Revista LatinoAmericana de História v 2 nº 6 p 845862 2013 Disponível em httpprojeto unisinosbrrlaindexphprlaarticleview239192 Acesso em 25 mar 2020 SANTOS U F D dos Negociação e conflito na administração do Pau Brasil a capitania de Porto Seguro 1605 1650 2015 207 f Dissertação Mestrado em História Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Universidade Federal da Bahia 2017 Disponível em httpsrepositorioufbabrribitstreamri233311dissertac3a7c3a3o20Uia pdf Acesso em 25 mar 2020 SCHWARTZ S B Segredos Internos engenhos e escravos na sociedade colonial 1550 1835 São Paulo Companhia das Letras 1998 SILVA P P e Sabores da colônia In FIGUEIREDO L org História do Brasil para ocupados Rio de Janeiro Casa da Palavra 2013 VAINFAS R Dicionário do Brasil colonial 15001808 Rio de Janeiro Objetiva 2000 VIEIRA P A A inserção do Brasil nos quadros da economiamundo capitalista no perí odo 1550c 1800 uma tentativa de demonstração empírica através da cadeia mercantil do açúcar Economia e Sociedade v 19 nº 3 p 499527 dez 2010 Disponível em http wwwscielobrscielophpscriptsciarttextpidS010406182010000300004lngp ttlngpt Acesso em 25 mar 2020 ZEMELLA M P Os ciclos do paubrasil e do açúcar Revista de História v 1 n 4 p 485 494 1950 Leituras recomendadas ARRUDA J J de A Superlucros a prova empírica do exclusivo colonial Topoi v 15 nº 29 p 706718 juldez 2014 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsci arttextpidS2237101X2014000200706 Acesso em 25 mar 2020 FERLINI V Terra trabalho e poder o mundo dos engenhos no nordeste colonial Bauru Edusc 2003 p 287344 FRAGOSO J Modelos explicativos da chamada economia colonial e a ideia de Monar quia Pluricontinental notas de um ensaio História v 31 nº 2 p 106145 juldez 2012 Disponível em httpwwwscielobrpdfhisv31n207pdf Acesso em 25 mar 2020 FRAGOSO J FLORENTINO M O arcaísmo como projeto mercado atlântico sociedade agrária e elite mercantil em uma economia colonial tardia Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2001 MOUTINHO F F B Na trilha do boi ocupação do território brasileiro pela pecuária Rio de Janeiro Gramma 2019 13 Extrativismo agropecuária e o açúcar Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados e seu fun cionamento foi comprovado no momento da publicação do material No entanto a rede é extremamente dinâmica suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo Assim os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade precisão ou integralidade das informações referidas em tais links Extrativismo agropecuária e o açúcar 14