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Medicina Veterinária ·

Patologia Clínica Veterinária

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PIACENTI A M OCARINO N M SILVA A E et al Mesotelioma pleural com metástase renal em gato Arq Bras Med Vet Zootec v 56 p 762767 2004 RAUSCH W P KEENE B W Spontaneous resolution of an isolated ventricular septal defect in a dog J Am Vet Med Assoc v 223 p 219220 2003 RECH R R SCHILD A L DRIEMEIER D et al Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul epidemiologia sinais clínicos e patologia Pesq Vet Bras v 25 n 2 p 97105 2005 RODRÍGUEZ F FERNÁNDEZ A MARTÍN DE LAS MULAS J P et al African swine fever morphopathology of a viral haemorrhagic disease Vet Rec v 139 n 11 p 249254 1996 SALGUERO F J RUIZVILLAMOR E BAUTISTA M J SANCHEZCORDON P J CARRASCO L et al Changes in macrophages in spleen and lymph nodes during acute African swine fever expression of cytokines Vet Immunol Immunopathol v 90 p 1122 2002 SANDERSON S L Taurine and carnitine in canine cardiomyopathy Vet Clin North Am Small Anim Pract v 36 p 13251343 2006 SANTOS C E P PESCADOR C A UBIALI D G et al Intoxicação natural por Solanum glaucophyllum Solanaceae em búfalos no Pantanal Matogrossense Pesq Vet Bras v 31 p 10531058 2011 SCARRATT W K SPONENBERG D P WELKER F H et al Endocardialfibroelastosis and tricuspid valve insufficiency in a calf J Am Vet Med Assoc v 190 p 14351436 1987 SCHMIEDT C KELLUM H LEGENDRE A M et al Cardiovascular involvement in 8 dogs with Blastomyces dermatitidis infection J Vet Intern Med v 20 n 6 p 13514 2006 SHUBITZ L F MATZ M E NOON T H et al Constrictive pericarditis secondary to Coccidioides immitis infection in a dog J Am Vet Med Assoc v 218 n 4 p 537540 2001 SOUSA M G GERARDI D G ALVES R O et al Displasia da válvula tricúspide e anomalia de Ebstein em cães relato de caso Arq Bras Med Vet Zootec v 58 p 762767 2006 SPEER M Y GIACHELLI C M Regulation of cardiovascular calcification Cardiovasc Pathol v 13 p 6370 2004 STENNER V J MACKAY B KING T et al Protothecosis in 17 Australian dogs and a review of the canine literature Med Mycol v 45 n 3 p 249266 2007 TIDHOLM A HÄGGSTRÖM J BORGARELLI M et al Canine idiopathic dilated cardiomyopathy Part I Aetiology clinical characteristics epidemiology and pathology Vet J v 162 p 92107 2001 TIDHOLM A JÖNSSON L Histologic characterization of canine dilated cardiomyopathy Vet Pathol v 42 p 18 2005 TOKARNIA C H PEIXOTO P V DÖBEREINER J et al O surto de peste suína africana ocorrido em 1978 no município de Paracambi Rio de Janeiro Pesq Vet Bras v 24 n 4 p 223238 2004 UZAL F A PARAMIDANI M ASSIS R et al Outbreak of clostridial myocarditis in calves Vet Rec v 152 n 5 p 134136 2003 UZAL F A PUSHNER B TAHARA J M et al Gossypol toxicosis in a dog consequent to ingestion of cottonseed bedding J Vet Diagn Invest v 17 p 626629 2005 VAN VLEET J F AMSTUTZ H E WEIRICH W E et al Clinical clinicopathologic and pathologic alterations in acute monensintoxicosis in cattle Am J Vet Res v 44 p 21332144 1983 VAN VLEET J F FERRANS V J Myocardial diseases of animals Am J Pathol v 124 n 1 p 98178 1986 WASHIZU M TAKEMURA N MACHIDA N et al Hypertrophic cardiomyopathy in an aged dog J Vet Med Sci v 65 p 753756 2003 YAMASAKI E M BRITO M F MOTA R A et al Paratuberculose em ruminantes no Brasil Pesq Vet Bras v 33 p 127140 2013 Introdução As doenças do sistema digestório estão entre as mais comuns em medicina veterinária Citamse como exemplos as cólicas por impacção de cólon maior em equinos timpanismo e acidose láctica em bovinos torção de estômago em caninos e fecalomas em felinos Os animais jovens são frequentemente acometidos por problemas digestórios infecciosos como aqueles causados por vírus parvovirose canina gastrenterite transmissível em suínos bactérias colibacilose salmonelose e clostridioses em várias espécies domésticas e parasitas coccidioses e helmintoses em várias espécies domésticas O sistema digestório é composto de uma série de órgãos tubulares e glândulas associadas fígado e pâncreas abordados em capítulo específico que têm como função básica decompor o alimento ingerido em unidades menores que possam ser absorvidas e utilizadas para a manutenção do organismo Há um padrão estrutural geral para todos os órgãos tubulares do sistema digestório Existem quatro camadas sendo a primeira mais próxima ao lúmen a túnica mucosa epitélio lâmina própria e muscularis mucosae seguida pela túnica submucosa túnica muscular e túnica serosa ou adventícia Desde a junção mucocutânea da cavidade oral até a porção aglandular do estômago presente em algumas espécies animais o epitélio de revestimento da mucosa é estratificado pavimentoso Em algumas porções da mucosa do tubo digestório como gengiva periodontal superfície da língua palato duro bochechas e porção não glandular do estômago de ruminantes equinos e suínos o epitélio de revestimento é queratinizado Já o epitélio do estômago glandular e intestinos é simples prismático O trato digestório é dividido didaticamente em vias digestórias anteriores da cavidade bucal à porção final do esôfago e vias digestórias posteriores do estômago à ampola retal Cavidade oral Uma das barreiras da mucosa oral é o espesso revestimento epitelial estratificado pavimentoso que se mantém íntegro mesmo perante agressões como alimentos fibrosos ingeridos A saliva promove a lubrificação da superfície inicia o processo de digestão e contém imunoglobulina A IgA e agentes antimicrobianos como a lisozima que auxiliam no controle e equilíbrio da microbiota oral As tonsilas mencionadas a seguir e os nódulos linfoides isolados são estimulados continuamente por antígenos diversos e iniciam a resposta imune diante de agressões específicas A cavidade oral contém uma rica microbiota constituída por bactérias aeróbias e anaeróbias espiroquetas e algumas vezes fungos que varia dependendo da dieta do pH e dos anticorpos A presença dessa população de microrganismos em equilíbrio também tem papel importante na manutenção da integridade da mucosa evitando a supremacia e a superpopulação de bactérias potencialmente patogênicas Desse modo solução de continuidade da mucosa causada por lesões diretas imunossupressão e desequilíbrio da microbiota são as principais condições para o início de processos patológicos na cavidade oral principalmente inflamatórios Lesões sem signiጡጡcado clínico e alterações post mortem A desidratação de mucosas descobertas particularmente a ponta da língua a presença de conteúdo gástrico na cavidade oral decorrente de refluxo post mortem e as impressões dentárias principalmente na língua devido à rigidez cadavérica são os principais achados que não devem ser considerados relevantes na avaliação post mortem Outro achado comum principalmente no clima tropical brasileiro é a presença de larvas de moscas na cavidade oral decorrente da eclosão de postura ocorrida post mortem esse achado pode auxiliar na interpretação do local e do tempo decorrido após a morte Anomalias do desenvolvimento Alterações congênitas comuns ao trato respiratório e digestório a queilosquise ou lábio leporino e a palatosquise ou fenda palatina são frequentemente observadas em leitões e bezerros provenientes de rebanhos endogâmicos Nesse caso classificase a lesão como primária Por outro lado a lesão pode ser classificada como secundária quando é por exemplo induzida em leitões ou cordeiros pela ingestão de plantas tóxicas como Conium macularum e de sementes de Crotalaria retusa por matrizes suínas gestantes Além dessas plantas a Veratrum californicum também pode induzir a lesão em ovelhas gestantes Outro exemplo de palatosquise induzida secundária ocorre em filhotes de ninhada de gatas tratadas com griseofulvina durante a gestação Em cães também podem ser registrados casos esporádicos Figura 31 A queilosquise afeta o lábio superior e é decorrente da não fusão do processo maxilar e do processo nasal medial podendo ser uni ou bilateral Essa lesão pode ocorrer isoladamente ou em associação à palatosquise que tem comprimento variável e afeta o osso e a mucosa da linha média do palato duro É um defeito da fusão longitudinal das prateleiras palatinas laterais a partir dos processos maxilares formando uma abertura e comunicação entre as cavidades oral e nasal Como consequência essas anomalias podem levar à caquexia pela dificuldade de preensão mastigação ou deglutição do alimento Além disso animais com palatosquise podem aspirar conteúdo alimentar e desenvolver pneumonia aspirativa confirmada microscopicamente pela detecção de leite ou fibras vegetais associados a bactérias e células inflamatórias preenchendo o lúmen de alvéolos e vias respiratórias Figura 31 Palatosquise em cão Fenda sagital no palato duro Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP As malformações da maxila eou mandíbula são frequentemente causas desses problemas tendo geralmente origem hereditária O bragnatismo superior subdesenvolvimento de maxila e o bragnatismo inferior Figura 32 subdesenvolvimento da mandíbula são anomalias do desenvolvimento observadas com mais frequência em cães e suínos superior e em bovinos e equinos inferior O prognatismo crescimento acima do normal é sempre mandibular sendo a espécie ovina a mais acometida e deve ser diferenciado do bragnatismo superior A agnatia ausência de mandíbula é uma anomalia mais frequentemente observada em ovelhas e com frequência associada à microglossia ou aglossia subdesenvolvimento ou ausência de língua Alterações da cavidade e da mucosa bucal Pigmentações e alterações da cor Pigmentações e alterações da cor e da aparência da mucosa oral são frequentes nos animais domésticos e refletem alterações locais ou sistêmicas A pigmentação melânica melanose focal ou difusa é normal e comum em várias raças caninas e aumenta com a idade Figura 33 Essa alteração não causa transtorno algum para o funcionamento normal das estruturas da cavidade oral e é consequência do acúmulo de melanócitos nessa região Na icterícia a mucosa oral apresentase difusamente corada de amarelo sendo consequência de condições hemolíticas afecções hepáticas ou obstruções de vias biliares Já na cianose a mucosa adquire coloração vermelhoazulada escura e indica alterações relacionadas com o funcionamento cardíaco circulatório ou respiratório Nas anemias a mucosa está extremamente pálida Nesse caso é importante diferenciar da palidez cadavérica observada no exame post mortem Na metaemoglobinemia intoxicação por nitritos ou nitratos que oxidam o ferro não possibilitando o transporte de oxigênio pela hemoglobina as mucosas tornamse acastanhadas Figura 32 Bragnatismo inferior em cão Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 33 Melanose oral em cão Manchas negras na gengiva e nos lábios Alimento e corpos estranhos A presença de alimento na boca de um cadáver é sempre um achado significativo Sugere em muitos casos doenças que resultam em paralisia da deglutição e estado de semiconsciência É comum em cavalos com encefalite leucoencefalomalácia e encefalopatia hepática Nesses casos ocorre interferência direta com as fases involuntárias de deglutição coordenadas pelo sistema nervoso central SNC O alimento se apresenta mal mastigado bem diferente do alimento regurgitado após a morte Alterações neurológicas podem também causar transtornos em que o animal tornase furioso como na raiva e morde objetos causando lesões traumáticas na mucosa oral e em dentes Além da raiva outras encefalites também podem alterar o comportamento do animal fazendo com que ele morda objetos ou instalações causando igualmente lesões traumáticas na mucosa oral Figura 34 Ossos e outros corpos estranhos na faringe de bovinos sugerem alotriofagia por deficiência de fósforo Alimento mal triturado ou consumido com muita avidez como batatas e outros tubérculos ou mesmo grandes corpos estranhos ingeridos por brincadeira bolas de borracha podem ficar retidos na entrada da laringe e ocasionalmente provocar morte por asfixia Corpos estranhos pontiagudos como agulhas aparas de madeira ou fibras vegetais podem ser causas de traumatismo da mucosa predispondo a processos inflamatórios necróticos profundos ou granulomatosos Corpos estranhos lineares como fios e linhas de costura durante a deglutição podem se fixar na parte caudal da língua de cães e gatos comprimindo o freio e dando uma laçada ao redor da base da língua Devido à contínua tração pelo ato da deglutição ocorrem necrose e laceração do freio da língua Figura 35 Em raras situações quando esses corpos estranhos lineares são muito longos podem provocar obstruções intestinais efeito sanfona e necroses lineares nas porções mesentéricas da mucosa intestinal Alterações circulatórias Condições de insuficiência cardíaca congestiva são exemplos típicos de causas de congestão hiperemia passiva da mucosa oral que se apresenta com coloração vermelhoescura Congestão e aumento de volume edematoso da língua são lesões específicas da doença da língua azul em carneiros Congestão aguda e cianose caracterizada por mucosas de cor vermelhoazulada associadas a úlceras na mucosa labial superior e porção ventral da língua são comuns em cães com uremia Pequenas hemorragias são sinais de septicemia hemorragias mais extensas acompanham as inflamações locais os traumas e as diáteses hemorrágicas causadas por intoxicação aguda por samambaia Pteridium aquilinum envenenamento por dicumarina deficiência de vitamina K ou trombocitopenia por exemplo Petéquias na superfície ventral e no freio da língua de cavalos são muito sugestivas de anemia infecciosa equina Entretanto devese fazer diagnóstico diferencial para outras condições trombocitopênicas e as púrpuras A hiperemia ativa ocorre nas inflamações da cavidade oral estomatites e caracterizase por coloração vermelho vivo da área afetada Essa coloração pode desaparecer ou ser de difícil visualização após a morte Figura 34 Estomatite traumática em um cavalo com alterações neurológicas secundárias à encefalite A Comportamento anormal com compressão constante da mandíbula B Estomatite ulcerativa traumática Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Figura 35 Corpo estranho linear oral em cão Linha de costura enlaçada à base da língua e consequente ferida cortante do seu freio ventral Alterações in押amatórias Os processos inflamatórios da cavidade oral podem ser difusos estomatite ou localizados Os processos localizados são denominados segundo a região acometida por exemplo faringe faringite língua glossite gengiva gengivite tonsila tonsilite palato mole angina Nas estomatites superficiais as lesões se limitam ao epitélio de revestimento da mucosa Quando atingem o tecido conjuntivo da boca são designadas estomatites profundas e frequentemente são sequelas das superficiais Estomatites super㤰㐮ciais Os processos inflamatórios superficiais da mucosa oral podem ser iniciados por vários mecanismos Lesões diretas à mucosa oral provocadas por irritantes químicos compostos tóxicos queimaduras térmicas ou elétricas e traumas diretos por alimento muito fibroso ou corpos estranhos podem formar soluções de continuidade no epitélio de revestimento da mucosa e predispor à infecção bacteriana secundária Algumas doenças virais se manifestam com lesões vesiculares na cavidade oral as quais se rompem propiciando a contaminação bacteriana secundária À exceção desses casos a estomatite é reflexo do desequilíbrio da microbiota da cavidade oral Condições como doenças sistêmicas doenças autoimunes imunossupressão desequilíbrios nutricionais e hormonais alteração na quantidade na composição e no pH da saliva e antibioticoterapia prolongada podem alterar o equilíbrio da microbiota predispondo à supremacia e ao desenvolvimento de algumas espécies de bactérias potencialmente patogênicas advindo a inflamação Estomatite catarral A estomatite catarral é um tipo de estomatite superficial comum e inespecífica que cursa com doenças debilitantes Caracterizase por hiperemia da mucosa e edema principalmente das fauces posteriores acompanhados por discreta gengivite Além do edema o aumento de volume é agravado pela hiperplasia dos tecidos linfoides ali existentes palato tonsilas e mucosa faringiana A irritação ocasiona intensa formação e descamação epitelial Esse epitélio descamado associado ao excesso de muco produzido pelas glândulas palatinas e numerosas células inflamatórias e bactérias da cavidade oral acumulamse sobre a mucosa formando uma camada ou placa cinzaesbranquiçada ou castanhoacinzentada pegajosa e untuosa Em condições de baixa de resistência antibioticoterapia prolongada e alterações do ciclo do epitélio leveduras do gênero Candida podem desenvolverse nas camadas paraqueratóticas da mucosa provocando uma estomatite caracterizada por placas irregulares de material brancacento e pseudomembranoso Figura 36 A candidíase oral é um exemplo típico de estomatite catarral acometendo mais frequentemente potros leitões e cães jovens Estomatite vesicular Caracterizase pela formação de vesículas nas camadas superficiais do epitélio ou entre o epitélio e a lâmina própria É estomatite típica de algumas infecções virais como febre aftosa em bovinos suínos e ovinos diarreia viral bovina BVD bovine viral diarrhea em bovinos e suínos febre catarral maligna FCM em bovinos e ruminantes selvagens estomatite vesicular em bovinos suínos e equinos doença vesicular dos suínos em suínos exantema vesicular em suínos calicivirose felina e doenças autoimunes como pênfigo vulgar e penfigoide bolhoso As duas doenças autoimunes supracitadas podem ocorrer em cães gatos equinos e no ser humano Clinicamente são praticamente indistinguíveis caracterizandose por salivação excessiva halitose erosões e ulcerações principalmente nas junções mucocutâneas As lesões ulceradas estão presentes principalmente na superfície dorsal da língua e no palato duro Pequenas vesículas são observadas entre a membrana basal e o epitélio ou entre as camadas de queratinócitos do epitélio Acantólise perda das conexões intercelulares resultando em perda da coesão entre queratinócitos que ficam flutuando no líquido seroso das vesículas é característica microscópica importante do pênfigo vulgar Desse modo o pênfigo vulgar se caracteriza histologicamente pela acantólise intraepidérmica e imunologicamente pela presença de autoanticorpos antiglicocálix dos queratinócitos Já o penfigoide bolhoso caracterizase histologicamente por formação de vesículas subepidérmicas e imunologicamente pela presença de autoanticorpos contra antígenos da membrana basal cutânea e mucosa Imunofluorescência direta pode demonstrar a presença de autoanticorpos e proteínas do complemento em espaços intercelulares do epitélio pavimentoso escamoso bem como na membrana basal nas duas enfermidades respectivamente Figura 36 Tonsilite catarral em cão Intenso edema da prega tonsilar e pseudomembrana brancacenta recobrindo a superfície tonsilar em cão jovem acometido por cinomose As doenças virais mencionadas anteriormente serão descritas com mais detalhes ao final deste capítulo Brevemente as vesículas formadas durante a infecção viral de queratinócitos são acúmulos de líquido seroso dentro do epitélio ou entre este e a lâmina própria os quais se iniciam com uma degeneração hidrópica da célula epitelial edema intracelular Seguindose ao edema intracelular ocorrem ruptura parcial das paredes celulares e edema intercelular Os líquidos intra e intercelular se fundem e formam a vesícula duas ou mais vesículas adjacentes coalescem formando uma bolha forma visível macroscopicamente que tem um pequeno período de sobrevivência pois com o atrito da mastigação sofre ruptura dando origem a erosões Caso não haja complicações ocorre reparação completa da erosão Estomatites erosiva e ulcerativa São caracterizadas por perdas locais de epitélio São superficiais na erosiva e profundas na ulcerativa São discutidas em conjunto já que na maioria dos casos as úlceras são consequência de erosões As estomatites erosivas e ulcerativas geralmente são inespecíficas mas também estão associadas a uma série de importantes doenças e síndromes como febre aftosa bovinos suínos e ovinos BVD bovinos e suínos FCM bovinos e ruminantes selvagens estomatite vesicular bovinos suínos e equinos doença vesicular dos suínos exantema vesicular suínos calicivirose felina ectima contagioso ovino orf estomatite plasmocitária felina causa desconhecida úlcera eosinofílica em gatos causa desconhecida parte do complexo de granuloma eosinofílico felino granuloma linear dos cães em animais da raça Husky Siberiano rinotraqueíte viral dos felinos uremia principalmente em cães e gatos Figura 37 embora também ocorra em outras espécies Figura 38 estomatite e glossite ulcerativa dos suínos forma de apresentação da epidermite exsudativa dos suínos e doenças autoimunes como pênfigo vulgar e penfigoide bolhoso principalmente em pequenos animais O quadro urêmico prolongado em cães pode levar além da estomatite ulcerativa à necrose da ponta e das margens da língua Figura 39 havendo até mesmo possibilidade de fragmentação No limite entre a área em necrose e o tecido vivo geralmente se desenvolve uma linha de hiperemia Figura 37 Glossite ulcerativa urêmica em cão Lesão ulcerativa bilateral e simétrica na porção ventral rostral da língua de cão com insuficiência renal crônica bilateral Figura 38 Estomatite ulcerativa secundária à insuficiência renal crônica em equino Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 39 Necrose das bordas rostrolaterais da língua secundária à insuficiência renal crônica em cão Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP As erosões como dito anteriormente reparamse completamente As úlceras por serem mais profundas e atingirem a camada proliferativa do epitélio não se regeneram apenas cicatrizam Essa distinção é mais facilmente detectada à histologia do que à macroscopia Estomatites profundas As estomatites profundas são consequências da invasão do tecido conjuntivo da boca por microrganismos frequentemente constituintes da microbiota oral em consequência de lesão prévia do epitélio de revestimento da mucosa oral Dependendo do organismo invasor pode ser purulenta necrótica gangrenosa ou granulomatosa A estomatite purulenta ou celulite ocorre quando microrganismos piogênicos invadem pelas lesões da mucosa a submucosa e os músculos A inflamação pode ser difusa e desenvolverse em alguns casos em um fleimão facilitado pela lassidão do tecido conjuntivo submucoso e intermuscular Nesses casos língua bochechas lábios palato mole eou faringe aumentam muito de volume devido a edema e hiperemia difusos podendo até complicar o fluxo normal de ar para as vias respiratórias Depois de determinado tempo formamse abscessos que quando profundos deixam um trajeto fistuloso de difícil cura A estomatite necrótica principalmente em bezerros leitões e cordeiros aparece nas infecções por Fusobacterium necrophorum bactéria filamentosa Gramnegativa anaeróbia e outros anaeróbios produtores de toxinas que causam lesão tissular em áreas previamente lesionadas da mucosa oral Essas lesões são frequentemente induzidas em bezerros alimentados com volumoso de má qualidade grande quantidade de lignina que provoca lesões na mucosa oral Causas iatrogênicas provocadas pela utilização inadequada de guia de sonda ruminal em bovinos ou corte de dentes de leitões com instrumentos contaminados também são observadas com frequência As lesões geralmente se localizam nas bordas laterais da língua face interna das bochechas e gengivas As características básicas das lesões são ulceração necrose de coagulação e exsudação de fibrina Esse exsudato recobre a úlcera na forma de membrana acinzentada irregular friável de aspecto sujo e odor fétido placa diftérica ou fibrinonecrótica Curase com formação de cicatrizes Pode ocorrer extensão das úlceras para a laringe causando laringite necrótica ou mesmo aspiração de material necrótico contaminado e consequente pneumonia de aspiração A estomatite gangrenosa noma ou cancro oral é uma inflamação pseudomembranosa ou gangrenosa de evolução rápida provocada pela invasão do conjuntivo da submucosa por espiroquetas e fusiformes além de outros vários microrganismos da própria microbiota oral Os fatores predisponentes são pouco conhecidos mas acreditase que sejam traumatismos e debilidade da própria mucosa Essa enfermidade foi descrita no ser humano em macacos rhesus e cynomolgus cão gato leitões e cordeiros acometendo principalmente indivíduos imunossuprimidos As lesões são muito semelhantes às da necrobacilose oral estomatite necrótica mas são mais destrutivas e intensamente fétidas com frequência apresentam bolhas gasosas e podem perfurar as bochechas e induzir reabsorção óssea e morte Apresentase como uma extensa área necrótica formando uma massa de tonalidade cinzaesverdeada A estomatite granulomatosa pode ser causada pelo Mycobacterium bovis comprometendo principalmente bordas laterais dorso e papilas circunvaladas da língua É um processo raro e normalmente decorrente da ingestão de leite contaminado ou contato contínuo com material pulmonar expectorado nos casos de tuberculose pulmonar A actinobacilose muito frequente em bovinos é causada pelo Actinobacillus lignieresii uma bactéria Gramnegativa em forma de bacilo ovoide não esporulável da microbiota oral O patógeno induz lesão granulomatosa profunda principalmente na língua Quando introduzido na submucosa mediante lesões prévias dos tecidos superficiais esse microrganismo provoca formação de piogranulomas infiltrado de neutrófilos associados a macrófagos A actinobacilose é primariamente uma linfangite Os linfáticos da língua atingidos apresentamse espessos e com nódulos em todo o seu trajeto O processo expandese para os linfonodos regionais e para as camadas submucosa e muscular da língua Formamse várias áreas de tecido de granulação angiogênese e fibroplasia com microabscessos envoltos por tecido fibroso denso Nas formas crônicas da doença há destruição do tecido muscular da língua e substituição por tecido fibroso denso o que provoca aumento do volume e da consistência da língua língua de pau Essas alterações têm consequências graves para bovinos acometidos uma vez que se tornam difíceis a preensão e a mastigação de forragens funções nas quais a língua tem papel determinante Actinomicose é uma osteomielite rara que afeta a mandíbula de bovinos É causada pelo Actinomyces bovis bactéria filamentosa Grampositiva Sua morfologia semelhante à de fungos levou a essa nomenclatura Provoca aumento de volume da mandíbula Figura 310 dor e consequente inapetência A reação granulomatosa no osso provoca osteólise e cavitações na estrutura do osso lamelar Trajetos fistulosos podem ser vistos no osso Figura 311 no qual o exsudato é drenado causando possível comprometimento secundário de linfonodos regionais As doenças parasitárias da cavidade oral que merecem destaque são a triquinelose e a cisticercose ambas zoonoses A triquinelose é causada por larvas do nematoide Trichinella spiralis encistadas em músculos esqueléticos de seres humanos suínos ratos e camundongos A transmissão ocorre pela ingestão de carne contaminada com larvas encistadas que são liberadas no estômago desenvolvemse até vermes adultos nas glândulas do duodeno e depositam larvas nas vias linfáticas que chegam à circulação sanguínea sistêmica Algumas dessas larvas atingem a musculatura estriada esquelética principalmente músculos mastigatórios causando uma reação inflamatória eosinofílica A larva somente pode ser vista à microscopia Estudos de prevalência dessa enfermidade no Brasil têm demonstrado a negatividade do rebanho suíno nacional mesmo sendo a doença endêmica na Bolívia e na Argentina Figura 310 Actinomicose em bovino Aumento de volume unilateral mandibular ventral de consistência dura Figura 311 Actinomicose em bovino Ramo da mandíbula seccionado transversalmente exibe reação inflamatória supurativa multifocal principalmente junto à sua região ventral No polo oposto aparece um dente molar Taenia solium é um longo parasita cestódeo encontrado nas vias digestórias do ser humano em vários países do mundo incluindo o Brasil Segmentos gravídicos desse parasita são eliminados nas fezes e os suínos que tiverem acesso às fezes de humanos contaminados se infectam A oncocerca é eliminada no estômago penetra na parede intestinal e é carreada no sangue para vários locais como coração masseter língua e musculatura escapular A larva se torna cisticerco no músculo e incita uma reação do tecido conjuntivo que vem a encistar o parasita Pode ser observada reação inflamatória linfocítica e eosinofílica ao redor do cisto Macroscopicamente observamse pequenas vesículas bem delimitadas por tecido conjuntivo Figura 312 principalmente nos músculos citados anteriormente Avaliação rotineira desses músculos é feita ao abate para verificação de ausência de infestação Figura 312 Cisticercose em suíno Várias vesículas parasitárias milimétricas difusamente distribuídas no músculo orbicular da língua e no miocárdio Cortesia do Dr R Hilton Girão Nogueira Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Alterações neoplásicas e não neoplásicas Estudos demonstram que mais de 50 das neoplasias do sistema digestório estão localizadas na cavidade oral e na orofaringe Entre elas estão descritas a seguir hiperplasia gengival papilomatose oral carcinoma de células escamosas melanoma fibrossarcoma e plasmocitoma Neoplasias dentárias serão descritas mais adiante no tópico Dente e periodonto Hiperplasia gengival Hiperplasia gengival ocorre por crescimento excessivo do estroma da submucosa gengival por isso ela também é conhecida como hiperplasia fibrosa É mais comumente descrita em raças de cães braquicefálicas principalmente em cães Boxer acima de 5 anos de idade Macroscopicamente podese observar aumento difuso ou focal nodular da gengiva caracterizado por um tecido firme e esbranquiçado revestido por mucosa gengival que pode ou não estar ulcerada Na hiperplasia nodular há aumento de volume tecidual ao redor de um ou mais dentes podendo cobrir parcialmente a coroa destes A forma nodular se assemelha muito ao que clinicamente é chamado de épulis ver definição adiante um termo inespecífico usado para descrever aumento de volume da gengiva Microscopicamente o estroma proliferado é composto de tecido conjuntivo denso maduro e hipocelular Comumente há hiperplasia do epitélio gengival de revestimento com formações em ninhos ou projeções digitiformes para dentro do estroma proliferado Infiltração de plasmócitos e linfócitos pode estar presente no estroma logo abaixo do epitélio Em casos com ulceração da mucosa há infiltração de neutrófilos Papilomatose oral O papiloma ou papilomatose oral é uma neoplasia benigna transmissível originária das células da camada espinhosa induzida pela infecção causada por um papilomavírus O período de incubação geralmente é de 30 a 33 dias Massas tumorais persistem por um período que varia de 1 mês e meio a 3 meses quando normalmente ocorre remissão espontânea e desenvolvimento de imunidade Caracterizamse por crescimentos verrucosos elevações papilares lisas e solitárias no princípio passando a crescimentos múltiplos firmes brancoacinzentados e semelhantes à couveflor localizados principalmente nas junções mucocutâneas comissura labial As espécies mais comumente afetadas são os caninos Figura 313 e os bovinos Em cães é causado pelo papilomavírus oral canino e acomete principalmente animais jovens ou adultos em contato direto com indivíduos infectados Nos bovinos a causa é o papilomavírus bovino tipo 4 BPV4 Histologicamente observamse projeções papiliformes ou digitiformes finas e pedunculadas que crescem para a superfície da mucosa ou para a derme revestidas por epitélio espesso devido à proliferação das camadas espinhosa acantose granulosa hipergranulose e corneal hiperqueratose ortoqueratórica Degeneração hidrópica e raramente corpúsculos de inclusão basofílicos intranucleares podem ser observados em queratinócitos da camada espinhosa Queratinócitos das camadas mais superficiais do estrato espinhoso ou do estrato granuloso podem apresentar perda das pontes de adesão intercelulares individualização e citoplasma com halo claro ao redor do núcleo condensado ou de grânulos citoplasmáticos grandes Essas células são conhecidas como coilócitos Antígeno viral pode ser encontrado no núcleo dessas células por meio da técnica de imunohistoquímica Carcinoma de células escamosas O carcinoma de células escamosas ou carcinoma espinocelular é um tumor maligno de queratinócitos da camada espinhosa muito comum nos animais domésticos No gato é a neoplasia mais frequente da cavidade oral nos cães só é menos frequente que o melanoma e nos bovinos tem ocorrência elevada em determinadas regiões e está relacionado com o consumo de samambaia Pteridium aquilinum por longos períodos É um tumor extremamente invasivo destrutivo e de crescimento rápido Produz metástases nos linfonodos regionais e mais raramente em outros órgãos Atinge principalmente as tonsilas em cães a língua em gatos e bovinos a gengiva em cães e equinos e às vezes o palato duro em equinos Nos bovinos atinge principalmente a base da língua Quando se localiza nas porções caudais da cavidade oral pode interferir na deglutição Apresentase macroscopicamente como massa brancoacinzentada espraiada de superfície irregular e ulcerada Histologicamente são observados ninhos interligados de células epiteliais pleomórficas com pontes intercelulares desmossomos visíveis citoplasma amplo e núcleo volumoso com cromatina frouxa e nucléolos evidentes Em neoplasias bem diferenciadas são observadas pérolas córneas no interior desses ninhos de queratinócitos ao passo que em tumores anaplásicos quase não é observada queratinização Nesses casos o índice mitótico pode ser elevado Essa neoplasia é reconhecida por ter associada a ela abundante proliferação de tecido conjuntivo fibroso e por marcada inflamação Extensas áreas de necrose da neoplasia podem ser observadas em tumores de crescimento rápido O diagnóstico pode ser difícil em neoplasias pobremente diferenciadas nesses casos a técnica de imunohistoquímica com a utilização de marcadores para citoqueratinas é recomendada para o diagnóstico definitivo Algumas alterações prévias da mucosa oral como periodontite crônica em cães e cavalos são consideradas préneoplásicas Figura 313 Papilomatose oral em cão que apresenta nos lábios e na cavidade oral múltiplas lesões pedunculadas e acinzentadas que mostram superfície rugosa Cortesia do Dr R Hilton Girão Nogueira Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Melanoma O melanoma oral em contraste com os melanomas cutâneos que são geralmente benignos é sempre de alta malignidade e de prognóstico desfavorável É a neoplasia mais comum da cavidade oral do cão porém é rara nas outras espécies de animais domésticos Pode atingir a gengiva mucosa bucal lábios e palato Caracterizase por massas nodulares de superfície lisa podendo ser pigmentado melanótico ou não pigmentado amelanótico Seu crescimento é rápido o que faz com que áreas de necrose e ulceração sejam comuns À microscopia as células neoplásicas podem variar de redondas a fusiformes ou a poligonais com formação de pequenos ninhos Por esse motivo um melanoma pode ser confundido com neoplasias de células redondas fibrossarcoma ou carcinoma O índice mitótico é variável mas normalmente elevado A quantidade de melanina no citoplasma de células tumorais também é variável e depende do grau de diferenciação da neoplasia São observadas metástases frequentes nos linfonodos regionais e nos pulmões É difícil estabelecer diagnóstico definitivo em neoplasias pobremente diferenciadas especialmente no caso dos melanomas amelanóticos Desse modo devese lançar mão da imunohistoquímica com a utilização de marcadores como vimentina ou outros mais específicos para melanócitos como TRP tyrosinaserelated proteins 1 e 2 MelanA e antígeno melanocítico PNL2 Fibrossarcoma É a segunda neoplasia maligna mais frequente na cavidade oral de gatos e a terceira em cães Particularmente em cães cerca de um quarto dos casos de fibrossarcoma oral ocorre em animais com menos de 5 anos de idade e raças de grande porte são mais frequentemente acometidas Os fibrossarcomas orais são cerca de cinco vezes mais frequentes nessa espécie que os fibromas A gengiva é o local mais acometido Caracterizamse macroscopicamente como massas únicas e unilaterais firmes brancoacinzentadas a róseas de superfície lisa e sésseis pouco frequentemente ulceradas Histologicamente são observadas células fusiformes de pleomorfismo variável dependendo do grau de diferenciação da neoplasia separadas por pequena quantidade de colágeno e fibras reticulares Essas células fusiformes estão distribuídas em feixes dispostos em diferentes sentidos sendo visualizados longitudinalmente perpendicularmente ou obliquamente em um mesmo campo Tumores com elevado grau de malignidade apresentam numerosas figuras mitóticas intenso pleomorfismo e comportamento infiltrativo Infiltração e invasão óssea na maxila ou mandíbula são frequentemente observadas Metástase quando observada é localizada em linfonodos regionais e nos pulmões Fibrossarcomas devem ser diferenciados de outras neoplasias de células fusiformes especialmente do melanoma amelanótico A imunohistoquímica é muitas vezes necessária para essa diferenciação Esses tumores são positivos para vimentina porém negativos para os marcadores específicos para melanócitos assim como negativos para citoqueratinas Desse modo o fibrossarcoma deve ser diferenciado das neoplasias mais importantes da cavidade oral melanoma e carcinoma de células escamosas Plasmocitoma oral Plasmocitoma oral é uma neoplasia benigna que pode ser observada em qualquer localização da cavidade oral e é mais frequentemente descrita em cães entre 9 e 10 anos de idade Apresenta crescimento lento raramente invade tecidos adjacentes ou faz metástases Antigamente acreditavase que a incidência dessa neoplasia era baixa entretanto hoje se sabe que muitos plasmocitomas orais foram erroneamente diagnosticados como melanomas Macroscopicamente são caracterizados como massas lobuladas e avermelhadas localizadas principalmente nos lábios ou na gengiva mas também podem acometer a língua Microscopicamente são tumores bem delimitados compostos de população celular densa arranjada em ninhos ou lençóis sustentados por escasso estroma fibrovascular As células neoplásicas apresentam moderado citoplasma basofílico a anfofílico com núcleo redondo a ovalado Pleomorfismo é frequentemente observado com células bi ou multinucleadas Na técnica de imunohistoquímica esse tumor é reativo para anticorpos contra a cadeia pesada da classe IgG ou IgA mais frequentemente a primeira Dente e periodonto Constituintes O exame dos dentes nos animais domésticos é geralmente superficial exceto para estimar a idade entretanto as doenças dentárias são comuns e constituem fator limitante da produção e duração da longevidade Os três tecidos duros que formam o dente são a dentina o esmalte e o cemento que são variantes do tecido ósseo A dentina constitui a maior parte do dente e é secretada continuamente pelos odontoblastos Está sujeita a alterações metabólicas tóxicas e infecciosas tal como o osso É constituída de 65 de minerais e 35 de matéria orgânica O esmalte que recobre a coroa e a dentina é formado por 95 de minerais e 5 de matéria orgânica É duro denso brilhante permeável translúcido e branco É secretado pelos ameloblastos apenas nos dentes em desenvolvimento ou seja antes da erupção dentária Os ameloblastos durante sua vida ativa são extremamente sensíveis ao estresse metabólico e a fatores tóxicos e infecciosos Na fluorose e em algumas viroses como a cinomose e a BVD a lesão é suficientemente grave para provocar hipoplasia ou aplasia do esmalte O cemento que recobre a raiz e a porção inclusa da dentina é uma substância semelhante ao osso avascular e secretada pelos cementoblastos É constituído de 55 de minerais e 45 de matéria orgânica Como a dentina está em contínua renovação sofrendo permanente aposição e reabsorção O cemento constitui um dos elementos do periodonto estrutura de sustentação do dente no qual as fibras de Sharpey do osso alveolar se prendem Figura 314 Alterações do desenvolvimento do dente Anodontia ou ausência de dentes é hereditária em bezerros e associada a defeitos da pele Oligodontia menor número de dentes que o normal ocorre mais frequentemente em cães de raças braquicefálicas mas pode ser também observada em equinos e gatos Essa alteração tem de ser diferenciada da pseudooligodontia que é a falha na erupção do dente somente diagnosticada por radiografias Poliodontia número excessivo de dentes normalmente dentes incisivos também ocorre mais frequentemente em cães braquicefálicos Poliodontia heterotópica é a presença de dente ou dentes extras fora da arcada dentária O exemplo mais comum dessa alteração ocorre em equinos com a formação de dente ectópico que se desenvolve a partir do cisto braquiogênico encontrado na região parotídea nessa espécie animal Esses cistos se originam da falha de fusão da primeira fenda braquial e consequente deslocamento do germe dental embrionário desde o primeiro arco braquial em direção à orelha A retenção de dentes decíduos após a erupção da dentição permanente conhecida como pseudopoliodontia ocorre em equinos gatos e cães particularmente em raças miniaturas Figura 314 Desenho esquemático das estruturas anatômicas do dente e do periodonto Desgaste dentário A forma do dente adulto está associada à conformação e ao atrito do dente oposto bem como à natureza do alimento mastigado A intensidade de desgaste dentário depende do tipo de dente da espécie animal e da qualidade do alimento mastigado Havendo oclusão e uso normal dos dentes a porção extraalveolar não se altera Nos bovinos e equinos o uso normal dos molares leva ao desgaste e ao alisamento das superfícies oclusais O desgaste pode estar acelerado nas odontodistrofias nutricionais e metabólicas deficiência de vitamina A raquitismo osteomalacia osteodistrofia fibrosa generalizada e tóxicas fluorose Alterações dentárias com envolvimento bacteriano O esmalte é recoberto por uma película translúcida formada pela adsorção seletiva de constituintes da saliva essencial para a formação da placa dentária A placa dentária é uma massa dentária densa não calcificada firmemente aderida à superfície do dente e resistente à remoção pelo fluxo salivar Formase pela aderência de bactérias à película do esmalte e de outras bactérias às já aderidas As bactérias que se aderem são tipos específicos de microrganismos com capacidade de aderência e de resistência à remoção mecânica pela saliva São em geral Grampositivos Streptococcus spp Actinomyces spp e alguns sintetizam polímeros extracelulares que formam a matriz da placa e propiciam a aderência das bactérias umas às outras Outros utilizam polímeros produzidos pelo animal para se aderirem à película do esmalte Com o tempo a placa aumenta em massa e complexidade havendo aderência de microrganismos Gramnegativos às bactérias que iniciaram a placa A placa é metabolicamente ativa e utiliza carboidratos da dieta para produzir polímeros adesivos energia e mediadores da inflamação É considerada de importância etiológica na cárie e na doença periodontal A placa dentária mineralizada constitui o chamado cálculo ou tártaro dentário Figura 315 A mineralização é precipitada pela saliva de modo que os cálculos são mais frequentes próximo às aberturas dos ductos salivares e se localizam nas áreas de transição esmaltecemento colo dentário A placa e o cálculo diferenciamse da matéria alba mistura de proteínas salivares células epiteliais descamadas leucócitos desintegrados e bactérias que se aderem ao dente A matéria alba entretanto não é organizada e é facilmente removida Figura 315 Tártaro dentário em cão Placas amarronzadas firmemente aderidas nos dentes prémolares e molares Cortesia da Dra Roselene Ecco Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Cárie dentária é uma descalcificação destrutiva dos tecidos duros do dente acompanhada de degradação enzimática da matriz orgânica Existem dois tipos cárie de superfície lisa e cárie cavitária ou fendida A primeira desenvolvese logo abaixo dos pontos de contato entre dentes adjacentes ou em torno do colo dentário e requer a participação da placa dentária para se iniciar As cáries cavitárias ocorrem na superfície oclusal e não necessitam da placa para se instalarem A necrose infundibular do dente do equino é o melhor exemplo de cárie cavitária Ocorre frequentemente nos primeiros molares maxilares do equino principalmente em animais acima de 12 anos de idade No equino as invaginações da superfície oclusal dos dentes molares são normalmente preenchidas por cemento antes da erupção O processo se inicia na superfície e progride até a porção mais profunda Entretanto com frequência a erupção dentária ocorre antes que esse processo se complete induzindo necrose do tecido cementogênico determinando hipoplasia de cemento nessa região e formação de uma cavidade Esse preenchimento infundibular incompleto propicia o acúmulo de alimento e bactérias o qual pode progredir para um processo de formação da cárie A desmineralização nas cáries de superfície lisa é desencadeada pelo ácido láctico produzido pela placa que mantém o pH baixo na superfície do dente A progressão da cárie vai depender de vários fatores tais como o pH da saliva e a dureza e resistência do esmalte à descalcificação Nas odontodistrofias as cáries progridem rapidamente A lise da matriz orgânica ocorre mediante enzimas produzidas pelas bactérias da placa ou derivadas de leucócitos a placa é quimiotáxica para os leucócitos Nas áreas cariadas o esmalte perde o brilho tornandose opaco e manchado Quando a dentina é exposta a cárie tornase marrom ou preta As cáries das superfícies de oclusão ocorrem por alterações primárias do esmalte e da dentina hipoplasia hipomineralização e se desenvolvem pela ação de bactérias que se acumulam nas áreas iniciais de perda tecidual Com a progressão das cáries por expansão direta ou através dos túbulos dentinários bactérias podem atingir a polpa dentária resultando em processo inflamatório denominado pulpite Doença periodontal A doença periodontal é um processo crônico que afeta os elementos de sustentação do dente periodonto culminando com a perda dentária O periodonto estrutura anatômica e funcional responsável pela fixação e manutenção do dente na maxila e na mandíbula é formado por gengiva cemento ligamento periodontal e osso alveolar processo alveolar do osso maxilar ou do mandibular A doença periodontal é muito comum nos animais domésticos e no homem mas de etiologia e patogenia confusas e conflitantes principalmente quanto à sua gênese No entender da maioria dos autores o processo é desencadeado pela placa bacteriana em associação com uma gengivite a teoria mais aceita mas existem evidências de que a doença é uma manifestação da osteodistrofia fibrosa generalizada ou hiperparatireoidismo em que a reabsorção do osso alveolar além dos limites normais da renovação óssea é a causa primária Independentemente de uma ou outra teoria a reabsorção do osso alveolar é a lesão mais notável da qual resulta a maioria dos sinais clínicos da doença estabelecida aumento dos espaços interdentários retração gengival com exposição gradual de colo e raiz dentários alargamento do sulco gengival com impacção de alimento Figura 316 formação de bolsa periodontal aumento da motilidade e perda do dente Inicialmente a gengiva mostrase hiperêmica e edematosa e em fase mais avançada necrótica gengivite fibrinonecrótica Figura 316 Doença periodontal em bovino Alargamento do sulco gengival Cortesia da Dra Vera Alvarenga Nunes Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Odontodistroጡጡas As odontodistrofias afetam o desenvolvimento hipoplasia ou a mineralização hipomineralização dos tecidos mineralizados do dente e são consequências de uma interferência na amelogênese odontogênese ou cementogênese mineralização defectiva do esmalte da dentina ou do cemento respectivamente Como o cemento e a dentina são renovados continuamente mesmo após a erupção dentária ocorrem reações regenerativas deixando poucas marcas morfológicas Algumas alterações poderiam ser o retardo ou a prevenção da erupção dentária a má oclusão e o desgaste anormal do dente Alterações no esmalte se apresentam com depressões múltiplas enrugamento ou ausência total do esmalte hipoplasia de esmalte ou áreas opacas semelhantes a gesso intercaladas com esmalte aparentemente normal hipomineralização De modo geral as consequências das odontodistrofias são aumento da suscetibilidade às cáries anormalidade do desgaste dentário que normalmente está aumentado alterações na erupção dentária alterações na oclusão dentária e formação de cistos em componentes dentários No caso de odontodistrofia de causas tóxicas aqui somente será considerada a fluorose dentária pela sua importância como doença emergente no Brasil principalmente em bovinos Os riscos de fluorose dentária em bovinos no país têm aumentado pelo uso rotineiro e indiscriminado de fosfatos não elaborados fosfatos de rocha como fonte de fósforo suplementar Os fosfatos de rocha brasileiros apesar de na sua maioria conterem níveis baixos de flúor têm baixos níveis de fósforo e baixa biodisponibilidade Com isso a quantidade de rocha a ser fornecida para alcançar os níveis desejados de fósforo é grande aumentando os riscos de intoxicação O flúor apresenta efeito cumulativo e passagem transplacentária de modo que a fluorose intoxicação crônica só se manifesta após duas três ou mais gerações Tem grande tropismo pelos tecidos mineralizados do organismo nos quais se incorpora à molécula de hidroxiapatita por substituição de uma oxidrila É tóxico para as células ósseas e dentárias ativas e por sua ação sobre os ameloblastos e odontoblastos provoca hipoplasia do esmalte e da dentina respectivamente Macroscopicamente as alterações apresentamse como manchas focais vistas como áreas de opacidade do esmalte que progridem para manchas calcárias opacas amarelas marromescuras ou pretas e desgaste excessivo Figura 317 erosões e fissuras dos dentes As odontodistrofias de causas infecciosas são representadas pela infecção de filhotes de cães com o vírus da cinomose ou de bezerros com o vírus da BVD Esses vírus podem produzir lesões principalmente em ameloblastos células mais suscetíveis antes da erupção de dentes definitivos e consequentemente malformações no esmalte Nas odontodistrofias nutricionais deficiências de cálcio fósforo vitamina D cobre e vitamina C caso sejam crônicas podem provocar lesões dentárias principalmente em animais jovens Figura 317 Odontodistrofia por fluorose em bovino Dentes incisivos com conformação anormal e esmalte com manchas amarronzadas Cortesia da Dra Vera Alvarenga Nunes Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Representando as odontodistrofias metabólicas o hiperparatireoidismo primário neoplasia funcional de paratireoide ou secundário renal ou nutricional podem induzir reabsorção óssea bem como dentária As alterações dentárias formamse mais lentamente que as ósseas devido ao fato de o metabolismo destas últimas ser mais acelerado Mesmo assim lesões representadas por hipoplasia de esmalte hipomineralização da dentina e atraso na erupção dentária podem ser provocadas nos processos graves anteriormente listados Alterações neoplásicas e não neoplásicas do dente e do periodonto Tumores de origem odontogênica são raros em animais domésticos e de difícil diagnóstico Sua classificação se baseia na diferenciação celular exibida por essas neoplasias levandose em conta aspectos morfológicos tanto do componente epitelial como do mesenquimal envolvidos na odontogênese Há várias neoplasias de origem odontogênica descritas na literatura mas serão aqui abordadas apenas as mais importantes como a épulis fibromatosa com origem no ligamento periodontal e o ameloblastoma acantomatoso anteriormente conhecido como épulis acantomatoso Vale ressaltar que os termos epúlide e épulis têm sido evitados uma vez que há muita confusão na literatura Esses termos são muito usados clinicamente e referemse somente a aumento de volume neoplásico ou não neoplásico da gengiva Epúlide 㤰㐮bromatoso com origem no ligamento periodontal A epúlide ou épulis fibromatosa com origem no ligamento periodontal é um tumor benigno de cães e afeta principalmente animais acima de 3 anos de idade Macroscopicamente desenvolvese como massa firme ou dura róseoacinzentada nos espaços interdentários ou na superfície palatina da gengiva variam muito em tamanho e podem chegar a vários centímetros Envolve principalmente os primeiros dentes molares e os caninos Apresenta forma de cogumelo superfície lisa e consistência dura Microscopicamente a principal característica é a formação de tecido mesenquimal semelhante ao ligamento periodontal constituído por densa população de fibroblastos estrelados ou fusiformes em interface com denso colágeno fibrilar Há também vasos sanguíneos grandes distribuídos em meio ao estroma Matriz cartilaginosa ou matriz com características de osso cemento ou dentina podem estar presentes Epitélio odontogênico é uma característica secundária frequentemente observada Ameloblastoma acantomatoso Também conhecido como ameloblastoma periférico e adamantinoma e anteriormente denominado epúlide acantomatosa é outro tumor originado do epitélio odontogênico que ocorre somente em cães Clinicamente pode ser confundido com neoplasias mesenquimais benignas da gengiva mas normalmente tem um comportamento agressivo e infiltrativo com invasão de osso alveolar e perda do dente Macroscopicamente apresentase como massas exofílicas verrucosas Figura 318 e frequentemente é bilateral na arcada mandibular ou maxilar Microscopicamente há marcada formação excessiva tanto do epitélio odontogênico como do mesênquima odontogênico A principal característica dessa neoplasia é a proliferação do epitélio odontogênico em cordões largos que se anastomosam interconectam para dentro do estroma proliferado Na periferia desses cordões as células epiteliais estão dispostas em paliçadas e no centro apresentam aspecto acantocítico marcado ou seja com junções intercelulares desmossomos proeminentes A porção mesenquimal proliferada apresenta muitos fibroblastos estrelados em meio a um estroma colagenoso denso e vasos sanguíneos evidentes Como mencionado anteriormente é uma neoplasia invasiva com frequente destruição óssea mas nunca metastática Figura 318 Ameloblastoma acantomatoso em cão Massa neoplásica junto aos molares inferiores do lado direito Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Tonsilas As tonsilas são proeminências da fossa tonsilar no cão e no gato No suíno concentrase na porção caudal do palato mole e nos equinos está dispersa pela mucosa da faringe e da epiglote A tonsila é revestida por epitélio estratificado pavimentoso semelhante ao encontrado na cavidade oral que se projeta para o interior do órgão formando sacos cegos as criptas Abaixo do epitélio de revestimento estão os folículos linfoides ricos em linfócitos B As células epiteliais das tonsilas são capazes de fagocitar bactérias por exemplo e de auxiliar macrófagos a apresentarem antígenos a linfócitos B para produção de IgA As alterações morfológicas encontradas nas tonsilas são semelhantes àquelas descritas em outros tecidos linfoides Devido à sua localização no trato digestório sofre exposição e estimulação antigênica frequentes Várias bactérias são habitantes normais de suas criptas Assim sendo a tonsila pode servir como porta de entrada de uma série de microrganismos e local de persistência para muitos outros No caso dos suínos alguns animais são carreadores sãos de Erysipelothrix rhusiopathiae agente causador da erisipela Salmonella sp Streptococcus suis e Haemophilus parasuis Em algumas situações pode ocorrer a proliferação exacerbada de bactérias nas criptas tonsilares como no caso da Pasteurella multocida em suínos e carneiros causando tonsilites purulentas A tonsila também é local primário de multiplicação de alguns vírus como o herpesvírus da doença de Aujeszky pseudorraiva que causa tonsilite necrótica no suíno Lesões de necrobacilose citadas anteriormente podem se localizar nas tonsilas de suínos Vírus linfotrópicos como o da panleucopenia felina o parvovírus canino o da cinomose o da BVD o da doença vesicular do suíno o circovírus porcino tipo 2 o vírus da síndrome respiratória e reprodutiva suína e da peste suína clássica frequentemente utilizam as tonsilas como portas de entrada e persistência no organismo sendo elas desse modo o órgão de eleição na detecção desses agentes Glândulas salivares As alterações mais frequentes das glândulas salivares são funcionais e portanto sem lesões evidentes O aptialismo é a redução da produção de saliva É uma condição rara que acompanha a febre a desidratação causada pela acidose láctica em bovinos por exemplo e as sialoadenopatias obstrutivas Pode ocorrer como efeito da utilização de espasmolíticos O ptialismo resulta do excesso de produção de saliva É visto como o acúmulo anormal de saliva na cavidade bucal Ocorre em várias condições como na intoxicação por organofosforados na intoxicação por metais pesados como o chumbo nas encefalites e principalmente nas estomatites Ocorre também nas intoxicações por drogas p ex cloridrato de xilazina e substâncias parassimpaticomiméticas p ex alcaloides produzidos por fungos como Rhizoctonia legummincola que produz a eslaframina e é o agente causador da doença de mancha negra em legumes e feno Corpos estranhos que se fixam nos ductos excretores das glândulas salivares são comumente de origem vegetal Ocasionalmente alojamse nos ductos das glândulas salivares levando à inflamação sialoadenite redução do fluxo salivar devido a obstruções muitas vezes parciais e ao edema provocado pela inflamação dilatação da porção anterior à área obstruída e em casos graves hipotrofia glandular Cálculos salivares ou sialólitos formados pela deposição de minerais carbonato de cálcio em lâminas concêntricas em torno de um núcleo pequeno corpo estranho são frequentes em cavalos principalmente nos mais velhos Provocam as mesmas alterações que o corpo estranho anteriormente citado Com frequência o núcleo onde se depositam os minerais para formação do sialólito são partículas vegetais que penetraram o ducto excretor da glândula Dilatações ou ectasias devemse à estagnação do fluxo salivar e podem ser causadas por estenose congênita obstrução dos ductos por corpos estranhos sialólitos ou estreitamento do lúmen devido a inflamações Os ductos dilatados apresentamse como cordões flutuantes às vezes com divertículos ou distensões císticas Dáse o nome de rânula à distensão cística dos ductos das glândulas sublinguais Nesses casos o epitélio de revestimento dos ductos ainda se encontra preservado Cavidades císticas uni ou multiloculadas adjacentes aos ductos são chamadas de mucocele e presumivelmente são o resultado de ruptura dos ductos sendo geralmente de causa traumática O aspecto macroscópico do conteúdo dessas dilatações tem normalmente a coloração amarelada ou amarronzada e é bastante viscoso Figura 319 Nem sempre é possível realizar essa distinção entre rânula e mucocele macro ou microscopicamente O diagnóstico confirmatório de rânulamucocele pode ser facilmente alcançado pelo exame citopatológico de punção aspirativa por agulha fina Sialoadenites inflamação das glândulas salivares são raramente observadas em animais domésticos Ocorrem mais frequentemente por via ascendente ductos normalmente causadas por corpos estranhos ou sialólitos As vias hematogênica e direta traumatismo são outras possíveis portas de entrada Ocorrem como parte de doenças sistêmicas ou locais tais como raiva FCM cinomose e garrotilho São vistas também na deficiência de vitamina A e em condições semelhantes em que ocorre metaplasia escamosa do epitélio dos ductos levando à estase salivar e infecção secundária Figura 319 Mucocele em cão Dilatação sacular na porção ventral da mandíbula Detalhe conteúdo amarelado viscoso fluindo do interior da dilatação sacular Infartos de glândulas salivares têm sido incomumente descritos em cães e gatos e são de causas desconhecidas O interessante dessa lesão é que ela pode ser facilmente confundida com neoplasia tanto macro como microscopicamente Na macroscopia o infarto apresenta marcado aumento de volume e de consistência da glândula Histologicamente há necroses extensas envoltas por hemorragia e inflamação com áreas de proliferação regenerativa de ductos na histopatologia Esta última pode ser erroneamente interpretada como neoplasia Neoplasias das glândulas salivares tanto benignas como malignas são raramente descritas em animais domésticos com maior número de relatos em cães e gatos de idade mais avançada As glândulas parótida e mandibular parecem ser as mais acometidas Desenvolvem mais frequentemente tumores epiteliais de crescimento rápido e infiltrativo para tecidos adjacentes com metástases para linfonodos regionais e para os pulmões embora também haja relato de carcinossarcoma de glândula salivar no cão Esôfago O esôfago merece atenção especial durante o exame post mortem de animais que apresentaram taxa de crescimento inadequada caquexia ptialismo disfagia regurgitação pneumonia por aspiração ou timpanismo no caso de ruminantes Existem dois esfíncteres esofágicos o cranial e o caudal O cranial localizado na abertura cranial do esôfago junto à laringe e à faringe impede a aspiração e a entrada de ar no esôfago O caudal não é um esfíncter verdadeiro e sim uma válvula reforçada pelo anel gastresofágico tendo como principal função a prevenção de refluxo estomacal Sua função é controlada por estímulos mecânicos nervosos hormonais gastrina e químicos São três os tipos de ondas peristálticas responsáveis pela progressão do alimento no esôfago e manutenção do tônus da parede As ondas peristálticas primárias são contínuas rápidas desde a faringe até a cárdia e são reguladas por fibras colinérgicas dos nervos vago e pneumogástrico As ondas secundárias são resultantes da distensão ou deformação da parede e ativação de receptores mecânicos e plexos da parede E as ondas peristálticas terciárias ou segmentares são curtas débeis e espontâneas sendo estimuladas por plexos da parede esofágica Antes de iniciar a discussão sobre alterações de esôfago é interessante entender como se dá a progressão do alimento desde a cavidade oral até o estômago A deglutição ou ingestão do alimento pode ser dividida em três fases bucal faringiana e esofágica A fase bucal é voluntária e reflexa e a língua tem papel fundamental para a movimentação do bolo alimentar de um lado para outro da cavidade oral possibilitando a mastigação adequada e finalmente a propulsão do alimento para a porção caudal da cavidade oral Dessa maneira glossites estomatites alterações funcionais da língua actinobacilose ou alterações no nervo glossofaringiano ou hipoglosso podem causar falhas nessa primeira fase na deglutição e consequentemente ptialismo disfagia eou presença de alimento na boca do animal A fase faringiana é involuntária e rápida e resulta em apneia inibição do centro inspiratório pela deglutição ocorrem o fechamento da glote e a passagem do alimento para a porção cranial do esôfago Essa fase é executada pelos músculos palatofaringianos e laringianos e pelo peristaltismo da faringe Faringites tonsilites laringites neoplasias na faringe ou base da língua e encefalites podem provocar falhas dessa segunda fase da deglutição Acalasia falha de relaxamento ou incoordenação cricoesofágica é uma condição reconhecida em cães e caracterizada pela dificuldade de abertura do esfíncter esofágico cranial e pelo impedimento da fase faringiana da deglutição Na terceira fase da deglutição a fase esofágica o alimento é impulsionado em direção ao estômago por ondas peristálticas involuntárias Desse modo alterações mecânicas ou funcionais da parede esofágica podem produzir falha dessa fase da deglutição Disfagia é por definição uma falha da deglutição sendo causada por qualquer falha em uma das três fases bucal faringiana ou esofágica Lesões sem signiጡጡcado clínico e alterações post mortem Durante a fase agônica ou mesmo após a morte com a movimentação e manipulação da carcaça o conteúdo gástrico pode passar para o lúmen esofágico devido ao relaxamento do anel gastresofágico esfíncter caudal Em casos avançados de autólise ocorre maceração do epitélio esofágico que se solta em fitas Alterações do desenvolvimento Alterações congênitas do esôfago são extremamente raras em animais domésticos e quando presentes podem ser de difícil diferenciação de processos adquiridos Hipertrofia da musculatura lisa da porção caudal do esôfago mais frequentemente da camada circular é observada em equinos Frequentemente essa alteração está associada à hipertrofia muscular da parede do íleo mas são achados incidentais de necropsia sem consequência para a função normal do órgão O pregueamento segmentar transversal normal da mucosa caudal do esôfago de gatos não deve ser confundido com essa lesão A duplicação congênita do esôfago é uma condição que normalmente não causa sinais clínicos e pode resultar em pequena distensão de um dos órgãos que tenha fundo cego A pequena quantidade de alimento e secreções acumulada é normalmente drenada para o órgão duplo comunicante Aplasias segmentares são também raras e provocam alterações obstrutivas e megaesôfago comentados a seguir As fístulas esofagotraqueais são de difícil diferenciação entre processos congênitos e adquiridos e ocorrem especialmente junto à bifurcação da traqueia As imperfurações ou obliterações congênitas do segmento cervical são constituídas por um cordão compacto musculoconjuntivo sem lúmen Estenose obstrução e perfuração O engasgo a obstrução ou a impacção do esôfago ocorrem quando alimentos grandes ou inadequadamente mastigados e insalivados são retidos no seu lúmen Esse processo frequentemente está associado à ingestão de manga ou seu caroço beterraba batata sabugo maçã osso vértebras frutadelobo laranja coco da macaúba massas de grãos ou de alimentos fibrosos entre outros Os locais de obstrução geralmente são aqueles em que o esôfago apresenta desvios normais com o lúmen naturalmente mais estreito segmento sobre a laringe entrada da cavidade torácica base do coração e imediatamente antes do hiato esofágico As complicações das obstruções por obturação incluem necrose compressiva e ulceração da mucosa e às vezes perfuração Figura 320 e morte Outra consequência é a dilatação da porção onde há acúmulo de alimento caracterizando megaesôfago secundário Figura 321 Quando o corpo estranho é removido ou dissolvido a mucosa ulcerada cicatrizase o que pode desencadear um estreitamento do lúmen estenose Aliás estenose é outra causa de obstrução esofágica Pode ser congênita ou adquirida A estenose adquirida geralmente é consequência de reparações de esofagites neoplasias intraluminais e intramurais Figura 322 e compressões externas Figura 320 Esofagite ulcerativa em cão Úlcera linear com hemorragia na mucosa esofágica Figura 321 Megaesôfago ectasia esofágica em equino secundário à obstrução por ingestão de semente de manga Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Figura 322 Leiomiossarcoma intramural no esôfago de cão A Massas irregulares brancacentas e de consistência firme visualizadas na serosa do segmento caudal do esôfago B Nódulos irregulares proeminentes para o lúmen esofágico caudal e espessamento da parede na região da cárdia As compressões externas ocorrem por aumento de volume dos órgãos adjacentes ao esôfago Por exemplo aumento neoplásico ou inflamatório de linfonodos neoplasias do timo e da tireoide bócio tireoidites por anomalias vasculares comuns em cães como aorta destra arco aórtico direito persistência de ducto arterioso e do ligamento arterioso e artérias subclávias aberrantes e finalmente pelo encurtamento do tórax por hemivértebra condrodistrofia No local da estenose a mucosa pode estar ulcerada e sofrer perfurações Obstruções estenoses ou compressões externas completas provocam quadros de disfagia e em ruminantes também o timpanismo pela falha da eructação Caso a perfuração ocorra na porção cervical do esôfago desenvolvese celulite eou fleimão dos tecidos moles periesofágicos Na perfuração do segmento torácico do esôfago a principal consequência é a pleurite As perfurações do esôfago também ocorrem a partir de traumatismos da parede seja por objetos perfurantes arame agulhas ingeridos seja introduzidos pelo pescoço administração forçada de medicamentos com dosificador ou pistola ou passagem de sonda gástrica ou de endoscópio Megaesôfago O megaesôfago é mais comumente observado na espécie canina mas já foi descrito em felinos equinos e bovinos Caracterizase pela atonia flacidez e dilatação do lúmen esofágico devido a distúrbios no peristaltismo por disfunção motora segmentar ou difusa Com isso há dificuldades para que o bolo alimentar seja propulsionado para o estômago resultando em acúmulo de ingesta no lúmen esofágico propiciando esofagites regurgitação de alimento não digerido pneumonias aspirativas e perfuração esofágica Ocorre de forma idiopática ou como consequência de obstrução física parcial ou total estenose doenças inflamatórias da musculatura esofágica polimiosites e persistência do arco aórtico direito Normalmente atinge o segmento imediatamente cranial à porção obstruída ou estenótica Em quase todos os casos a dilatação apresentase cranialmente ao estômago exceto quando é causado pela persistência do arco aórtico direito pois nesse caso a dilatação ocorre cranialmente ao coração uma vez que o anel vascular que obstrui o esôfago está na altura do coração O megaesôfago é também o resultado da perda do tônus da musculatura esofágica No cão um tipo de megaesôfago congênito megaesôfago congênito idiopático é provavelmente o resultado de lesões funcionais nos neurônios motores superiores do centro da deglutição ou no ramo sensorial aferente do arco reflexo que controla o peristaltismo esofágico É frequente nas raças Dogue Alemão e Pastor Alemão acometendo animais jovens e provocando disfagia progressiva No início do processo o animal consegue deglutir apenas líquido depois nem isso Frequentemente esse evento coincide com o desmame Dilatação funcional por perda de tônus ocorre também na miastenia gravis doença autoimune associada a tumores tímicos que resultam na formação de anticorpos contra os receptores da acetilcolina nas junções neuromusculares na doença de Chagas no lúpus eritematoso sistêmico e no hipotireoidismo por denervação e atrofia muscular Animais com megaesôfago frequentemente apresentam sinais clínicos como caquexia desidratação rinite e pneumonia aspirativa Divertículo esofágico As dilatações parciais atingindo parte da circunferência do lúmen são chamadas divertículos São dilatações saculares da parede divertículo de tração ou hérnias da mucosa para dentro da muscular divertículo de impulso que se comunicam com o lúmen por aberturas de diâmetro variado normalmente em forma de gretas O divertículo de impulso mais comum é resultado da impacção de corpos estranhos no esôfago obstrução incompleta do lúmen que forçam a mucosa para dentro da camada muscular distendida ou rompida O divertículo de tração é consequência da organização de aderências fibrosas periesofágicas Nos divertículos há sempre acúmulo de alimento ou corpo estranho o que potencialmente pode provocar esofagite local ulceração e perfuração Esofagites As esofagites são quase sempre erosivas e ulcerativas Geralmente inespecíficas acompanham alterações inflamatórias da orofaringe e do rúmenretículo tal como nas infecções pelos vírus da BVD FCM peste bovina erosões lineares longitudinais estomatite papular rinotraqueíte infecciosa herpesvírus e calicivírus erosões arredondadas Podem ocorrer também pela ingestão de irritantes químicos cáusticos e alimentos muito quentes Os defeitos superficiais erosões reparamse completamente Por outro lado a cicatrização das úlceras pode provocar estreitamento do lúmen As esofagites por refluxo resultam da ação de ácido clorídrico pepsina sais biliares e possivelmente enzimas pancreáticas sobre a mucosa esofágica O dano sobre a mucosa é assinalado por áreas hiperêmicas erosões lineares e ulcerações às vezes recobertas por membrana fibrinonecrótica Figura 323 Esse processo atinge principalmente a porção caudal do esôfago mas pode estenderse até sua extremidade cranial As causas mais frequentes dessa alteração estão associadas à perda da integridade funcional do esfíncter esofágico devido ao aumento da pressão intraabdominal efeito de agentes préanestésicos e da anestesia geral A esofagite por refluxo ocorre ainda nos casos de vômitos crônicos nas anomalias do hiato esofágico e nas úlceras da porção esofágica do estômago equinos e suínos Esofagite por Candida albicans é comum em suínos como um problema secundário a doenças imunossupressoras peste suína clássica e circovirose suína ou intercorrentes com antibioticoterapia inanição e refluxo gástrico As manifestações são idênticas às da candidíase oral Alguns parasitas são causas de esofagite como larvas de Gasterophilus spp em equinos que provocam ulcerações focais insignificantes Larvas de Hypoderma lineatum em bovinos incitam hemorragias na submucosa e na serosa Em animais tratados com organofosforados os produtos das larvas mortas produzem inflamação aguda com hemorragia edema e necrose e consequente obstrução do lúmen timpanismo e mesmo perfurações Spirocerca lupi em cães provoca esofagites granulomatosas Os granulomas localizamse na submucosa e comunicamse com o lúmen esofágico por um pequeno orifício No centro dos granulomas há nematoides espirurídeos adultos em meio a material necrótico Figura 324 Neoplasias mesenquimais como osteossarcomas e fibrossarcomas podem se desenvolver nos locais onde os granulomas se formaram Figura 323 Esofagite de refluxo em cão Úlceras lineares recobertas de exsudato fibrinonecrótico na porção caudal do esôfago Alterações proliferativas Papilomas são observados com maior frequência em bovinos tendo forma semelhante aos descritos na cavidade oral Figura 325 Sua ocorrência está associada ao papilomavírus bovino tipo 4 BPV4 e sua distribuição pode ser focal ou difusa Quando difuso pode provocar hipertrofia muscular secundária pela dificuldade de deglutição do alimento e ruminação No Brasil relatos de carcinoma de células escamosas na faringe e no esôfago hematúria enzoótica e hemangioma de bexiga foram associados à ingestão crônica de samambaia Pteridium aquilinum Entretanto no vale de Nasampolai no Quênia foi relatada frequente associação entre papilomas e carcinomas de células escamosas no esôfago em ausência de consumo de samambaia Portanto as duas condições indutoras dessas transformações neoplásicas são a ingestão crônica de samambaia e a infecção pelo papilomavírus bovino podendo existir efeito sinérgico entre esses dois fatores Figura 324 Esofagite parasitária por Spirocerca lupi em cão A Nódulos de tamanhos variados na porção caudal do esôfago apresentando orifício com parasita espiralado vermelho B Detalhe dos parasitas Existe evidente associação entre lesões crônicas por Spirocerca lupi em cães e o desenvolvimento de osteossarcomas e fibrossarcomas esofágicos Figura 326 Entretanto o estímulo carcinogênico associado ao desenvolvimento desses tumores não é conhecido Osteopatia hipertrófica pulmonar é ocasionalmente encontrada em cães com sarcomas esofágicos associados a S lupi Figura 325 Papiloma esofágico em bovino Pequena placa brancacenta irregular com pequenas projeções na mucosa caudal do esôfago Figura 326 Aspecto microscópico de fibrossarcoma esofágico associado ao parasitismo por Spirocerca lupi em um cão Observamse proliferação fibroblástica e formação de tecido osteoide adquirindo aspecto de um osteossarcoma Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Préestômagos Apesar de os préestômagos serem de extrema importância para a fisiologia digestória dos animais poligástricos e ainda serem órgãos que frequentemente exibem alterações macro e microscópicas que auxiliam no diagnóstico de enfermidades nessas espécies o exame minucioso desses tecidos é comumente negligenciado durante a necropsia A avaliação macroscópica dos préestômagos especialmente do rúmen e retículo é de fundamental importância Nesse procedimento é essencial considerar os aspectos morfológicos da mucosa assim como a quantidade e qualidade do conteúdo ruminal A mucosa deve ser sempre inspecionada para observação de possíveis úlceras alterações circulatórias indicativas de inflamação bem como a maceração post mortem normal e esperada da mucosa ruminal e reticular Do mesmo modo as características do conteúdo ruminal por exemplo podem trazer informações do tipo e da quantidade de determinado alimento que foi ingerido excesso de grãos em animais com acidose láctica folhas ou sementes de plantas tóxicas corpos estranhos perfurantes etc O odor ruminal é típico Em situações de uremia crônica e intoxicações por ureia ou pesticidas organofosforados essa característica pode estar alterada Outras alterações estão descritas a seguir ilustrando mais detalhadamente a relevância dos préestômagos do ponto de vista anatomopatológico Alterações post mortem e distróጡጡcas da mucosa A mucosa dos préestômagos se desprende rapidamente após a morte Em torno de 30 a 40 min após a morte ocorre o desprendimento da mucosa ruminal ou seja desprendimento do epitélio estratificado pavimentoso ceratinizado de sua lâmina própria Tal condição é caracterizada pelo desprendimento de uma membrana de coloração escura que recobre o conteúdo do rúmen e que expõe a submucosa geralmente pálida ou ligeiramente avermelhada Esse é um evento normal e denominado maceração post mortem caso não ocorra é indicativo de alterações da mucosa ou do ambiente ruminal como alterações distróficas da mucosa rumenite aguda cicatrização da mucosa e distúrbios da fermentação microbiana As alterações distróficas da mucosa são variações morfológicas das papilas ruminais e dependem de uma série de fatores tais como tipo proporção e níveis de ácidos graxos voláteis no conteúdo ruminal pH e proporção e qualidade do alimento volumoso fibra Dietas com altas proporções de concentrado aumentam os níveis dos ácidos propiônico e butírico em detrimento do ácido acético e consequentemente provocam diminuição do pH ruminal mas não o suficiente para resultar em rumenite Dessa maneira ocorrem hiperqueratose e paraqueratose da mucosa Essas lesões reversíveis quando se ajusta a dieta cerca de 15 de fibra aparecem também na deficiência de vitamina A e na alimentação com rações peletizadas As papilas ruminais tendem a formar massas Figura 327 nódulos ou rosetas aspecto de pipoca ou torrão de terra intensamente coradas de preto A aderência de pelos ou de cotanilhos pelos vegetais entre as papilas pode originar inflamações focais e abscessos Figura 327 A e B Paraqueratose ruminal em bovino Mucosa espessada com placas de material brancacento que se desprendem com facilidade Cortesia da União Pioneira de Integração Social Brasília DF Timpanismo É a distensão dos préestômagos por acúmulo excessivo de gases devido à sua não eliminação decorrente de falha na eructação Em condições normais qualquer quantidade de gás produzida nos préestômagos é eliminada na eructação O processo da eructação nos ruminantes compreende cinco estádios ou fases Estádio de separação quando as bolhas gasosas formadas durante a fermentação ruminal normal atravessam a ingesta e se coalescem com o gás livre do saco dorsal Estádio de deslocamento em que por uma contração do rúmen o gás livre é deslocado para a frente e para baixo em direção à cárdia Estádio de transferência quando a cárdia se abre e o gás passa para o esôfago Estádio esofágico em que por uma contração retrógrada do esôfago o gás é empurrado para a faringe Estádio faringopulmonar no qual pela abertura do esfíncter nasofaringiano o gás passa aos pulmões onde parte é absorvida e parte é exalada na expiração O timpanismo é classificado em primário e secundário O timpanismo primário também chamado espumoso é essencialmente nutricional e resultante de falha no primeiro estádio da eructação Normalmente é agudo podendo entretanto ser crônico A falha no primeiro estádio é provocada pelo aumento da tensão superficial e estabilidade das bolhas gasosas que não se coalescem e ficam presas à ingesta na forma de espuma timpanismo espumoso Os agentes tensoativos ou são proteínas solúveis presentes nas plantas particularmente leguminosas ou são resultantes do aumento da viscosidade do líquido ruminal dietas ricas em concentrados e pobres em fibras principalmente se a granulação do concentrado for muito fina Entre as leguminosas destacamse a alfafa verde in natura feno ou farelo o trevodoce e o trevosubterrâneo O timpanismo por excesso de concentrado finamente moído não deve ser confundido com a acidose láctica discutida a seguir na qual o timpanismo é secundário por atonia ruminal O timpanismo secundário também chamado patológico e de gás livre é decorrente de alterações patológicas que afetam os outros estádios da eructação principalmente os estádios 2 3 e 4 Como o primeiro estádio não se altera o gás atravessa normalmente a ingesta o gás retido é o gás livre presente no saco dorsal timpanismo de gás livre O comprometimento patológico da eructação pode ser por atonia ruminal estádio 2 obstruções físicas e funcionais da cárdia estádio 3 como papilomas fibromas ou corpos estranhos e obstrução esofágica estádio 4 descritas anteriormente O comprometimento do estádio 5 como causa de timpanismo é improvável já que uma insuficiência pulmonar nesse nível seria fatal antes de interferir com a eructação A atonia ruminal e a consequente falha no estádio 2 da eructação podem ser causadas por lesão vagal induzida por pleurite necrótica reticulopericardite traumática ou leucose linfossarcoma Acidose láctica aderências do rúmen ao peritônio parietal secundárias à peritonite ou mesmo alimento muito fibroso podem impedir a movimentação normal do rúmen Uma das características do timpanismo secundário é a cronicidade e a recorrência embora possa ser agudo Independentemente do tipo de timpanismo a morte quando ocorre é por anoxia Com a dilatação dos préestômagos há aumento da pressão intraabdominal compressão sobre o diafragma inibição dos movimentos respiratórios e desvio de grande volume de sangue para fora das vísceras abdominais Ocorre também acentuado comprometimento da hemodinâmica das vísceras abdominais compressão da veia cava caudal e redirecionamento do fluxo sanguíneo para as áreas craniais do animal O animal acometido geralmente é encontrado morto com o abdome intensamente distendido e exsudação de sangue pelos orifícios naturais O sangue é escuro e pouco coagulado anoxia e são comuns hemorragias puntiformes no tecido subcutâneo do pescoço e do tórax na traqueia e nas serosas ação da anoxia sobre o endotélio vascular Há intensa congestão da porção cranial da cavidade torácica Figura 328 A edema e congestão pulmonares e isquemia por compressão do fígado que se encontra pálido Os membros pélvicos do animal apresentamse pálidos Figura 328 B No esôfago observamse intensa congestão de sua porção cranial e média segmento cervical do esôfago e palidez intensa de sua porção caudal segmento intratorácico que sofre compressão devido à dilatação dos préestômagos A essa delimitação evidente no esôfago dáse o nome de linha de timpanismo Figura 328 C O conteúdo ruminal é espumoso no timpanismo primário e tem três fases distintas sólida líquida com partículas em suspensão e gasosa no timpanismo secundário Hérnia inguinal ruptura de diafragma e prolapso de reto são frequentemente observados em animais que morrem com timpanismo mas essas alterações devem ser consideradas com cautela uma vez que podem ser achados post mortem Para definir entre ante e post mortem alterações circulatórias como congestão edema e hemorragia são verificadas apenas antes da morte do animal Corpos estranhos Os corpos estranhos localizados nos préestômagos compreendem aqueles formados nesses compartimentos a partir de pelos tricobezoares ou egagrópilos ou fibras vegetais fitobezoares e aqueles ingeridos Os primeiros são comuns em animais jovens particularmente naqueles cuja dieta é baixa em fibra ou deficiente em sódio e em animais com dermatoses pruriginosas Algumas vezes essas estruturas estão revestidas por minerais tornandose duras e de superfície lisa polida e brilhante Por serem lisas mesmo aquelas que não sofreram mineralização podem ser regurgitadas para o esôfago ou propelidas para o piloro e o intestino Nesses órgãos podem provocar obturação do lúmen obstrução esofágica ou intestinal e nisso reside sua única importância patológica Foi verificado aumento da frequência de fitobezoares em bovinos que ingeriram estilosantes Campo Grande Stylosanthes capitata e S macrocephala em quantidades excessivas Geralmente acontece em pastagens consorciadas nas quais o estilosante predomina em detrimento da gramínea devido ao manejo inapropriado Essa leguminosa apresenta fibras grosseiras que facilitam a formação dos bezoares No entanto a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa recomenda o uso de estilosantes sob condições apropriadas tendo em vista as vantagens da consorciação de leguminosas com gramíneas Dos corpos estranhos ingeridos encontrados nos préestômagos têm importância os pontiagudos e perfurantes pregos fios de arame grampos etc que geralmente ficam retidos no retículo possivelmente pela conformação anatômica de suas pregas em forma de colmeia e podem perfurálo As perfurações parciais que atingem somente as pregas da mucosa provocam um processo inflamatório local reticulite focal sem maiores consequências As perfurações totais que atingem toda a parede reticular provocam reticuloperitonite e conforme a direção tomada pelo objeto perfurante podem ter consequências graves Uma delas é a pericardite devido à proximidade do coração gerando o quadro de reticulopericardite traumática A B Figura 328 Lesões macroscópicas de timpanismo em um bovino A Intensa congestão e hemorragia da região cervical seta B Intensa palidez da porção caudal do tórax e da cavidade abdominal C Linha de demarcação de timpanismo no esôfago caudal seta com a porção cranial congesta e a caudal pálida A reticuloperitonite no início é focal e fibrinosa Com a organização do processo surgem aderências de extensão variada Figura 329 e o tecido de granulação formado tenta envolver o corpo estranho mas ao mesmo tempo molda um canal por onde o corpo estranho pode progredir Se houver a progressão instalase ao longo de seu trajeto um processo inflamatório purulento com formação de abscessos Dependendo da distância da progressão do tamanho do corpo estranho os pequenos podem sofrer dissolução e da direção tomada podem ser atingidos o diafragma e o pericárdio levando à pericardite traumática direção cranioventral Figura 329 Reticuloperitonite crônica em bovino A Pericárdio espessado áspero e de coloração alterada devido ao processo inflamatório crônico B Aderências entre pericárdio e diafragma mostrando trajeto fistuloso preenchido por exsudato purulento Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Quando a direção tomada é a ventral o resultado é a formação de abscessos subperitoneais e subcutâneos próximos ao processo xifoide Com o desvio para a lateral direita há envolvimento da parede do omaso e para a lateral esquerda do baço podendo resultar em esplenite supurada ou gangrenosa O fígado raramente sofre perfuração mas são comuns os abscessos metastáticos Outras consequências menos comuns são perfuração de artérias regionais morte súbita por hemorragia perfuração do miocárdio ou de artérias coronárias quando ocorre morte fulminante e perfuração da pleura e do pulmão podendo resultar em pleurite e pneumonia gangrenosas O comprometimento das goteiras entre retículo omaso e abomaso dá origem a aderências e atonia ruminal persistente esta denominada paralisia vagal Nesse caso o abomaso está distendido e impactado por ingesta desidratada e o rúmen está cheio de líquido sem odor ou sinais de fermentação e com ausência de maceração da mucosa Acidose láctica e rumenites Alterações inflamatórias do rúmen ou seja rumenites estão frequentemente associadas à acidose láctica ou acidose ruminal que ocorre como resultado da ingestão de quantidades excessivas de carboidratos altamente fermentáveis normalmente originários de grãos por isso a condição também é conhecida clinicamente pelos termos sobrecarga ou indigestão por grãos É comum em animais em engorda confinada em vacas leiteiras de elevada produção e menos frequentemente em pequenos ruminantes Na sua forma aguda provoca a morte e na crônica queda de produção Logo após a ingestão de quantidades elevadas de carboidratos o pH ruminal cai devido ao aumento de ácidos graxos dissociados Com isso há rápida proliferação de Streptococcus principalmente S bovis que produzem D e Lácido láctico reduzindo o pH para 5 a 45 Com isso há diminuição no número de Streptococcus mas há proliferação de lactobacilos que produzem ainda mais ácido láctico Nos casos agudos o pH ruminal atinge 4 a 45 Com a queda do pH ocorrem atonia ruminal resultando em timpanismo secundário e parada reflexa da salivação cessando o tamponamento do rúmen uma vez que a secreção salivar é rica em bicarbonato Com o aumento da concentração de H no rúmen devido à elevada concentração de ácidos orgânicos principalmente ácido láctico ocorrem aumento da pressão osmótica e a passagem de líquido do sangue e dos tecidos para o rúmen resultando em hemoconcentração e desidratação Essa é a fase crítica da doença pois com a redução do volume plasmático ocorrem anúria podendo resultar em uremia e colapso circulatório As alterações macroscópicas nesses casos são poucas e caracterizadas por hiperemia da mucosa ruminal conteúdo ruminal líquido e com pH igual ou menor que 5 Figura 330 Figura 330 Alterações macroscópicas da acidose láctica em bovino A Intensa dilatação ruminal com conteúdo líquido Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS B Acentuada hiperemia e erosões multifocais da mucosa ruminal Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Com o pH baixo há inibição e morte de quase toda a microbiota ruminal persistindo apenas microrganismos anaeróbios e fungos Caso o animal sobreviva à fase aguda caracterizada pela desidratação intensa desequilíbrio hídrico algumas sequelas se desenvolvem a médio e longo prazos Entre essas sequelas citamse necrose isquêmica do córtex renal de causa não compreendida a qual pode levar o animal à morte absorção de lactato de sódio no rúmen e no intestino a qual pelo equilíbrio de equações no sangue promove um aumento de ácido láctico e consequentemente acidose metabólica que por sua vez leva à redução da eficiência na hematose complicação da hematose e morte insuficiência circulatória periférica causada principalmente pela acidose metabólica e pela absorção intestinal da histamina produzida no rúmen as quais induzem aumento de permeabilidade capilar e laminite e alcalose metabólica devido à hiperventilação alcalose respiratória na tentativa de corrigir a acidose metabólica e morte Outras quatro importantes sequelas subagudas e crônicas que podem ocorrer em animais que sobrevivem a casos leves ou subclínicos de acidose láctica são as rumenites necrobacilar e mucormicótica os abscessos hepáticos e a polioencefalomalácia A rumenite necrobacilar é provocada pelo Fusobacterium necrophorum um dos microrganismos que sobrevivem ao pH baixo Esse patógeno invade as áreas necróticas da mucosa provocadas pelo ácido e incita a exsudação de fibrina agravando a necrose Caso o animal se recupere a úlcera cicatrizase e contraise formando uma figura semelhante a uma estrela A rumenite mucormicótica é mais grave e profunda que a necrobacilar sendo provocada por fungos dos gêneros Mucor Absidia Mortierella e Rhizopus que também sobrevivem à diminuição do pH ruminal Os fungos invadem os vasos a partir das lesões iniciais da acidose láctica provocando vasculite e tromboses Com isso ocorrem múltiplos infartos da parede acompanhados por inflamação fibrinohemorrágica que se estendem ao peritônio podendo resultar em peritonite fibrinohemorrágica A mucormicose ruminal é quase sempre fatal Os abscessos hepáticos secundários Figura 331 à acidose láctea ocorrem devido à perda da integridade da mucosa ruminal e reticular facilitando a invasão de bactérias ruminais para a circulação portohepática existente nos préestômagos e no fígado Menos frequentemente pode ocorrer a síndrome da veia cava caudal quando esses abscessos se formam logo abaixo da veia cava e se rompem para o lúmen desse vaso o que resulta em êmbolos sépticos que terminam por se alojarem nos pulmões causando infarto pulmonar e hemoptise acentuada Polioencefalomalácia é outra sequela da acidose decorrente da deficiência de tiamina A tiamina em ruminantes é totalmente produzida pela microbiota ruminal Desse modo em quadros de acidose láctica a concentração ruminal de tiamina é drasticamente reduzida por três mecanismos primeiro devido ao baixo pH há morte de microrganismos produtores de tiamina Segundo bactérias como o Streptococcus bovis que são grandes consumidores de tiamina proliferam em pH baixo Finalmente o meio ácido é favorável ao desenvolvimento de microrganismos produtores de tiaminase enzima que destrói a tiamina tais como Clostridium sporogenes e Bacillus thiaminollyticus Como a tiamina não é estocada advém a deficiência em decorrência do desequilíbrio da microbiota ruminal Além dessa situação a polioencefalomalácia pode ter outras causas e mecanismos que serão discutidos no Capítulo 8 Sistema Nervoso Figura 331 Múltiplos pequenos abscessos hepáticos em bovino decorrentes de rumenite necrobacilar As rumenites também acontecem por outras causas pode ocorrer em doenças virais da mucosa do trato digestório principalmente em bovinos doenças vesiculares já citadas nos tópicos sobre estomatites em bezerros aleitados em balde pode ocorrer discreta rumenite pois sem o reflexo para fechamento da goteira esofágica o reflexo é desencadeado pelo ato de sugar o leite alcança o rúmen onde sofre putrefação e provoca inflamação e consumo acidental de quantidade excessiva de ureia como suplemento de nitrogênio não proteico ou na forma de fertilizante leva à congestão ou necrose da parede cranioventral do rúmen devido à produção de amônia causando a rumenite química Alterações proliferativas Somente são importantes os papilomas e os linfossarcomas Os papilomas causados pela infecção com o papilomavírus bovino 4 BPV4 As características macro e microscópicas são idênticas às da cavidade oral e do esôfago Figura 332 podendo ser causa de obstrução da cárdia levando ao timpanismo secundário É especialmente importante para bovinos infectados que pastejam em áreas com samambaia Pteridium aquilinum pois se acredita que o BPV4 funcione como indutor e os compostos carcinogênicos da samambaia ptaquiloside sejam promotores para a formação de carcinomas de células escamosas do trato digestório anterior Os linfossarcomas particularmente nos casos de leucose enzoótica bovina são infrequentes nos préestômagos mas frequentemente descritos infiltrandose pela parede do abomaso formando grandes massas brancacentas friáveis Figura 333 Figura 332 Papiloma na mucosa ruminal de um bovino Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 333 Linfossarcoma em abomaso de bovino Massa neoplásica de coloração amarelada localizada na parede do abomaso Mucosa do abomaso hiperêmica Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Estômago e abomaso Lesões sem signiጡጡcado clínico e alterações post mortem A rigidez cadavérica da musculatura lisa do estômago vazio ou pouco cheio no cão pode provocar forte contração e retração da sua porção caudal levando à conformação de uma ampulheta estômago de ampulheta post mortem As pregas da mucosa apresentamse bem destacadas A embebição biliar ocorre basicamente de duas formas A bile flui do colédoco para o duodeno acumulandose próximo à papila duodenal Esse acúmulo faz com que a bile flua para o lúmen gástrico onde permanece durante bastante tempo com consequente impregnação da mucosa O local onde mais se nota essa embebição é a pars oesophagea em equinos e suínos A segunda forma pela qual ocorre embebição biliar é diretamente pelo contato da serosa gástrica com a serosa da vesícula biliar Após a morte do animal a parede da vesícula tornase permeável à bile extravasando quantidades suficientes para provocar a formação de uma mancha circular de coloração amarelada ou esverdeada na serosa do estômago A maceração post mortem ocasionada pela autodigestão da mucosa gástrica é inicialmente observada nas cristas das pregas que aparentam erosões ou ulcerações sob a forma de estriações Figura 334 Esse aspecto de desgarramento da mucosa tão evidente é frequentemente interpretado equivocadamente como intoxicação ou algum outro processo patológico Há que se acrescentar que por influência da hemoglobina proveniente do sangue extravasado que sofreu hemólise e do suco gástrico que altera a hemoglobina a mucosa adquire um aspecto acastanhado Tardiamente o processo de maceração se alastra por toda a mucosa expondo muito amplamente a submucosa Figura 334 Maceração post mortem da mucosa gástrica Estriações deprimidas localizadas nas criptas das pregas gástricas Constituição e função O estômago é dividido em três ou quatro porções dependendo da espécie animal A região esofágica pars oesophagea está presente e é bem desenvolvida em suínos e equinos Aparece como uma área lisa brancacenta ou amarelada pelo fato de ser recoberta por epitélio estratificado escamoso e não apresenta células mucosas Nos equinos corresponde a uma área muito extensa que abrange o terço cranial do estômago incluindo o saco cego Nos suínos constitui uma área retangular em torno da cárdia A região das glândulas cárdicas é também desenvolvida no suíno e no cavalo Apresenta coloração acinzentada e reveste o divertículo o fundo e a metade do corpo Em cães gatos e ruminantes restringese a uma estreita zona na cárdia e na abertura omasal As glândulas cárdicas são estruturas tubulares ramificadas revestidas quase exclusivamente de células mucosas com algumas células endócrinas intercaladas podendo haver nos suínos células parietais Abremse nas fossetas gástricas que são revestidas por epitélio colunar mucoso alto contínuo com o revestimento superficial As porções anteriores pars oesophagea e cárdica no suíno e no equino estão modificadas para possibilitar a fermentação bacteriana e a produção de ácidos graxos voláteis em pH relativamente alto acima de 5 tamponado por saliva e secreções das próprias glândulas cardíacas A região das glândulas fúndicas ou oxínticas é a responsável pela secreção de ácido Nos suínos e equinos é identificada como uma área vermelhoamarronzada ligeiramente pregueada sem pregas profundas Nos cães gatos e ruminantes as rugas ou pregas são proeminentes É revestida na superfície e nas fossetas por epitélio simples colunar alto mucoso As glândulas fúndicas têm várias classes de células assim distribuídas istmo compartimento proliferativo na superfície da mucosa colo que se estende desde o istmo até porções mais profundas das criptas que têm células mucosas com capacidade de mitose células parietais produtoras de ácido e células endócrinas ECL produtoras de histamina e serotonina EC produtoras de serotonina e peptídios D produtoras de somatostatina A D1 e X que não têm função esclarecida e base porção mais profunda das criptas que têm células principais produtoras de pepsinogênio A região das glândulas pilóricas é recoberta por epitélio colunar alto mucoso e tem superfície irregular inclusive no antro pilórico A região estendese cranialmente ao longo da curvatura menor As glândulas pilóricas são tubulares e formadas por células mucosas interpostas por células endócrinas G produtoras de gastrina e D produtoras de somatostatina e algumas células parietais Regulação da secreção gástrica As funções básicas da secreção gástrica são hidrólise das proteínas pela ação do ácido clorídrico e da pepsina início de emulsificação das gorduras devido aos movimentos peristálticos continuidade por algum tempo da ação da amilase salivar e ação da lipase lingual particularmente sobre a gordura do leite liberando ácidos graxos de cadeia curta que são absorvidos diretamente do estômago dos recémnascidos A secreção ácida é função das células parietais e sua regulação é feita por um mecanismo complexo e integrado envolvendo fatores neurócrinos endócrinos e parácrinos A secreção é estimulada pelos hormônios histamina acetilcolina e gastrina denominados secretagogos todos apresentando receptores específicos na membrana celular Os três estão sempre presentes e continuamente envolvidos com a secreção ácida basal Os efeitos da gastrina e da acetilcolina dependem da histamina sinergismo A histamina derivada dos mastócitos da lâmina própria e de células enteroendócrinas locais é um estimulante parácrino permissivo constante Essas moléculas de histamina se ligam a receptores H2 específicos na membrana celular das células parietais os quais desencadeiam um processo de sinalização intracelular pela ativação da adenociclase e aumento da formação de monofosfato cíclico de adenosina e consequentemente o início de eventos metabólicos que culminam com a secreção ácida A acetilcolina é um agonista neurócrino liberado próximo às células parietais pelos processos de neurônios pósganglionares parassimpáticos Sua liberação é fásica e aumenta com o estímulo vagal durante a fase de estimulação central da fase cefálica resposta de Pavlov com a distensão da parede via vagovagal e por reflexo intramural Seu efeito está ligado ao influxo de Ca Gastrina é liberada no sangue pelas células G do antro pilórico Sua liberação é estimulada por ação direta de cálcio aminoácidos e peptídios da ingesta pelo estímulo vagal na fase cefálica e pelo reflexo vagovagal fúndicopilórico associado ao reflexo local intramural resultante da distensão Além da estimulação da secreção de ácido clorídrico a gastrina também apresenta um efeito trófico induzindo hiperplasia de células parietais A secreção ácida é inibida pela concentração de ácido no antro pilórico e pela presença de ácido gordura e soluções hipermolares no duodeno É mediada por reflexo neural e mediadores químicos como secretina polipeptídios e outras enterogastronas Barreiras da mucosa gástrica As células mucosas juntamente com seu produto secretado ou seja o muco protegem a mucosa da difusão do ácido clorídrico e das enzimas proteolíticas O muco protege a mucosa da digestão enzimática proteólise enzimática pois apesar de permeável ao ácido não possibilita a difusão de grandes moléculas Além disso as glândulas mucosas cárdicas no suíno e pilóricas nas demais espécies secretam bicarbonato o que também é feito pelas células mucosas da superfície da região fúndica sendo possível a neutralização da ação destrutiva do ácido clorídrico A secreção de bicarbonato é estimulada pelas prostaglandinas E2 e F2 PGE2 e PGF2 Além dessas barreiras muco e bicarbonato o aumento do fluxo sanguíneo mediado pelas prostaglandinas PG inibe a secreção ácida estimulada pela histamina As PGI2 PGA e PGE promovem vasodilatação aumento do fluxo sanguíneo e inibição da secreção gástrica de ácido clorídrico Em resumo as barreiras da mucosa gástrica residem em secreção de muco barreira física secreção de bicarbonato barreira química e aumento do fluxo sanguíneo Respostas da mucosa gástrica à lesão As células parietais são as mais suscetíveis aos mais variados agentes lesivos do estômago enquanto as células mucosas são as principais responsáveis pela proteção da mucosa contra lesões Dessa maneira dependendo da agressão existe uma tendência para a hiperplasia de células mucosas e atrofia e redução de células parietais A reparação da mucosa superficial ocorre por proliferação das células do istmo em resposta a erosões agudas provocadas por agentes físicos e químicos A atrofia da massa de células parietais sem hiperplasia de células mucosas pode ocorrer nas doenças gastrintestinais em geral incluída a inapetência Já a atrofia da massa de células parietais com hiperplasia de células mucosas provoca acloridria por ausência do mecanismo trófico da gastrina e é uma resposta a nematoides intestinais e a síndromes que envolvem a perda de apetite Em agressões mais graves e persistentes ocorre metaplasia e hiperplasia de células mucosas Nesse caso as células parietais são substituídas por células mucosas em resposta a processos inflamatórios agudos ou crônicos eventos imunológicos e traumas crônicos por implantação de corpos estranhos que deixem a mucosa permeável a antígenos presentes no lúmen Esse processo também ocorre em casos de infecção por vírus da diarreia bovina e da rinotraqueíte e parasitoses por parasitos dos gêneros Ostertagia Trichostrongylus e Hyostrongylus Nessas lesões metaplásicas e hiperplásicas a mucosa mostrase espessa saliente bordas da úlcera nodular ostertagiose ou com superfície ondulada adquirindo aspecto cerebriforme ou seja lembrando os giros cerebrais lesão disseminada A superfície do estômago é pálida e brilhante sem que a profusa secreção de muco seja óbvia A hiperplasia ou a metaplasia de células mucosas apesar de desencadear maior proteção à mucosa pois elimina o perigo da corrosão ácida local e promove a transferência de lisozima e IgA ou seus análogos para o lúmen desencadeia acloridria O pH chega próximo da neutralidade o Na substitui o H no conteúdo gástrico e a secreção de bicarbonato está estimulada Essa condição propicia a colonização progressiva do estômago e do intestino superior por microrganismos oportunistas particularmente os fungos Estenose pilórica Estenose pilórica é uma alteração funcional de origem congênita ou adquirida comumente descrita no cão e raramente observada no gato e no equino A forma congênita é caracteriza clinicamente por retardo no esvaziamento gástrico vômitos recorrentes e crescimento retardado em animais recémdesmamados Em alguns cães pode ser observada hipertrofia da musculatura lisa da região pilórica Muito pouco se conhece sobre a etiopatogenia dessa lesão em animais domésticos Estenose pilórica adquirida ocorre por obstrução física e pode estar associada a corpos estranhos inflamação crônica fibrose ulceração gástrica e neoplasias Dilatação gástrica deslocamento e torção A dilatação gástrica pode ser primária ou secundária A dilatação primária é de origem nutricional e na maioria das vezes relacionada com a ingestão de alimentos facilmente fermentáveis Normalmente é aguda e nos suínos e equinos tem patogenia similar à da acidose láctica dos ruminantes Nessas duas espécies a porção anterior do estômago possibilita fermentação microbiana A dilatação gástrica secundária é causada por um impedimento físico ou funcional do esvaziamento do estômago e pode ser aguda ou crônica Ocorre nas obstruções físicas corpos estranhos neoplasias constrições etc Figura 335 e funcionais devido à estenose pilórica na atonia por distensão da parede do estômago aerofagia diminuição do trânsito causado por alimento grosseiro e pouco digerível na atonia nervosa paralisia vagal na obstrução do intestino delgado e ainda pode ser reflexa à distensão do cecocolo Figura 335 Corpo estranho aderido à mucosa gástrica de um cão Material plástico e metal de fechamento de embutido aderidos à mucosa pilórica associados a discreto espessamento da parede estomacal nessa região A primeira consequência da dilatação gástrica é a atonia devido à distensão mecânica da parede a qual agrava a dilatação e provoca deslocamento variável do órgão dentro da cavidade abdominal podendo culminar com torção ou vólvulo principalmente no cão Em outras espécies particularmente o cavalo a dilatação progride para a ruptura Mesmo não havendo essas consequências drásticas torção e ruptura a morte do animal ocorre rapidamente pelos distúrbios metabólicos desencadeados com a retenção das secreções no estômago pela dificuldade do retorno venoso na cavidade abdominal e pelas interferências na circulação sistêmica Os órgãos abdominais apresentam congestão passiva ou isquemia principalmente os mais próximos ao estômago dilatado devido à compressão mecânica Há também aumento da pressão intratorácica com atelectasia pulmonar e congestão passiva dos órgãos torácicos e dos tecidos cervicais e craniais Ocorre anoxia acentuada com todas as suas consequências inclusive sobre o endotélio vascular resultando em hemorragias puntiformes e edema Nos casos de dilatação primária com acidose láctica ocorre passagem concomitante de líquido do sangue e dos tecidos para o lúmen estomacal causando hemoconcentração anúria e desidratação Os equinos que sobrevivem algum tempo podem apresentar laminite em decorrência da falha circulatória periférica No cão a dilatação gástrica ocorre especialmente nas raças grandes e gigantes como Pastor Alemão Dogue Alemão Fila Brasileiro São Bernardo entre outras raças de grande porte Fatores predisponentes da dilatação gástrica incluem componentes que induzem a distensão como produção exacerbada de gás obstrução da cárdia levando a impedimento da eructação e obstrução do piloro devido a impedimento da passagem do conteúdo gástrico para o intestino delgado A causa da produção excessiva de gás no estômago de cães com dilatação gástrica não é bem entendida Existem muitas teorias De acordo com uma delas o CO2 é oriundo de processos fisiológicos da própria digestão Outras teorias seriam a aerofagia e a suposição de que esporos de Clostridium perfringes presentes no alimento poderiam esporular com concomitante produção de gás Rações comerciais com altos níveis de gordura na formulação aumentam os riscos de dilatação gástrica Torção do estômago ou vólvulo é uma alteração que ocorre quase exclusivamente nos cães e entre estes nas raças grandes e gigantes mas pode ser também observada em matrizes suínas durante o período de gestação em gaiolas individuais sob manejo de arraçoamento manual 1 vezdia A torção do estômago é invariavelmente uma consequência da dilatação Há muitas tentativas para explicar a etiopatogenia da torção gástrica Acreditase que episódios recorrentes de dilatação gástrica possam predispor à frouxidão ou laceração do ligamento gastrohepático no cão esse ligamento mantém mais ou menos fixa a região da cárdia Ainda dilatações recorrentes associadas a refeições volumosas em intervalos muito longos 1 vezdia por exemplo seguidas de exercício pósprandial que provocariam movimentos antiperistálticos violentos são tidas como prováveis causas da torção Predisposição genética também tem sido apontada como causa de torção gástrica Nesses casos o estômago gira ao redor do esôfago em sentido horário A curvatura maior movese ventrocaudalmente e então deslocase dorsalmente para a direita Isso força o piloro e o duodeno cranialmente para a direita em sentido horário em torno do esôfago fazendo com que fiquem à esquerda do plano médio comprimidos entre o estômago dilatado e o esôfago O baço que segue o deslocamento do ligamento gastresplênico fica na posição ventral direita entre o estômago o fígado e o diafragma Dobrase em forma de V e tornase extremamente aumentado e congesto podendo sofrer torção infarto e ruptura Figura 336 O esôfago fica completamente fechado nas torções de 270 a 360 Ocorre infarto venoso da parede gástrica que fica escura e edematosa havendo extravasamento de sangue para o lúmen A mucosa sofre necrose isquêmica e pode ocorrer ruptura ou perfuração do estômago A obstrução das veias associada à pressão exercida pelo estômago dilatado diminui o retorno venoso veias porta e cava caudal causando redução do enchimento cardíaco e choque circulatório Há ainda distúrbios do equilíbrio ácidobásico e hidreletrolítico liberação de fator depressor do miocárdio produzido pelo pâncreas isquêmico e necrose isquêmica do miocárdio A morte é inevitável se o animal não for atendido imediatamente Deslocamento do abomaso é um problema clínico comum em vacas leiteiras de alta produção particularmente no final da gestação ou logo após o parto Alguns animais apresentam problemas intercorrentes como acetonemia hipocalcemia metrite e retenção de placenta Os prérequisitos para o deslocamento parecem ser a atonia e o aumento da produção de gás Parece que o afluxo de grande quantidade de ácidos graxos voláteis do rúmen para o abomaso advindos de mais concentrados na dieta e a hipocalcemia são os desencadeantes da hipomotilidade Figura 336 Torção de estômago em cão Intensas dilatação e congestão gástricas com torção no sentido horário e tração e deslocamento do baço para a região ventrocaudal direita da cavidade abdominal O deslocamento pode ser esquerdo ou direito O esquerdo é menos grave e imperceptível à necropsia pois o manuseio do cadáver pode corrigilo Nessa apresentação o abomaso desliza pela parede abdominal indo alojarse na fossa paralombar esquerda por cima do rúmen Essa condição é raramente fatal Entretanto o deslocamento direito mais raro normalmente se complica com a torção do abomaso sobre sua curvatura menor com envolvimento do omaso levando o animal à morte em poucas horas Macroscopicamente o omaso e o abomaso encontramse torcidos no sentido antihorário sobre a curvatura menor de ambos normalmente em ângulo de 360 com o duodeno fazendo uma laçada que envolve os dois órgãos As serosas tanto do omaso quanto do abomaso estão intensamente congestas e edemaciadas Figura 337 Corpos estranhos e impacção Uma grande variedade de corpos estranhos pode ser encontrada no estômago de monogástricos e mais raramente no abomaso Muitos são acidentais e desencadeiam discreta gastrite aguda ou crônica e ocasionalmente ulceração Corpos estranhos endógenos formados por pelos ou vegetais tricobezoares e fitobezoares respectivamente podem ser encontrados em animais domésticos Principalmente os tricobezoares podem ser encontrados no estômago de gatos bezerros ou matrizes suínas nestas últimas podem alcançar grandes dimensões e tomar o formato do órgão Figura 337 Deslocamento de abomaso para o lado direito em bovino Abomaso deslocado para a porção lateral direita da cavidade abdominal Parede do abomaso mostrando áreas de congestão e hemorragias A impacção gástrica ocorre nos equinos e nos ruminantes e é provocada por conteúdo que se condensa como resultado de restrição hídrica alimentos muito fibrosos e grosseiros e grãos moídos finamente que empastam com facilidade particularmente no caso de trigo cevada arroz e milho ou decorrente de estenose pilórica física ou funcional esta última aparentemente é mais comum e em geral é resultante da indigestão vagal ou paralisia vagal que por sua vez pode ser decorrente de reticuloperitonite traumática e suas complicações lesões inflamatórias e neoplásicas do vago intratorácico e traumas cirúrgicos do vago e de aderências entre o omaso e o abomaso Bovinos com impacção por indigestão vagal apresentam intenso acúmulo de ingesta no abomaso e omaso com aspecto semelhante ao do conteúdo ruminal ou mais ressecado devido à intensa distensão do omaso e abomaso Particularmente o abomaso pode desenvolver divertículos de impulso em sua curvatura maior Figura 338 Distúrbios metabólicos graves são provocados pelo sequestro de cloretos no rúmen regurgitados do abomaso e pela hipopotassemia resultante da diminuição da ingestão de alimentos e continuidade da excreção renal Ruptura e perfuração A ruptura do estômago é quase sempre consequência da dilatação e ocorre como um esgarçamento 10 a 15 cm de comprimento da parede da curvatura maior na qual a parede é mais fina e menos resistente à distensão É mais comum nos equinos provavelmente pelo reduzido tamanho do estômago e pelo trânsito normalmente rápido do alimento fazendo com que a parede do órgão não suporte bem a distensão Figura 338 Impacção de abomaso por indigestão vagal em bovino Intensa dilatação de omaso e abomaso ainda na cavidade abdominal Com a ruptura há hemorragia Figura 339 e extravasamento do conteúdo estomacal para a cavidade abdominal provocando irritação peritoneal choque e morte Se a sobrevida do animal ultrapassar 6 h após a ruptura desenvolvese peritonite difusa As perfurações são menores que as rupturas e associadas a parasitismo úlceras pépticas e neoplasias Figuras 340 e 341 ocorrendo principalmente em cães na região pilórica Alterações circulatórias Hiperemia ativa da digestão é fisiológica e necessária à proteção da mucosa ver Barreiras da Mucosa Gástrica Contudo pode ocorrer hiperemia patológica difusa e acentuada devido à ingestão de agentes químicos como arsênio tálio ou ácido acetilsalicílico aspirina e focal nas irritações locais por corpos estranhos e lesões virais do abomaso A mucosa mostrase de coloração avermelhada vermelhobrilhante difusa ou focalmente podendo estar acompanhada de hemorragias puntiformes e erosões superficiais Figura 339 Ruptura e perfuração gástrica em equino Extensa ruptura da camada muscular da parede gástrica sobre a curvatura maior com hemorragia nas bordas e pequena perfuração na porção central Cortesia da Dra Roselene Ecco Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 340 Perfuração gástrica em equino Mucosa gástrica com úlcera perfurada com bordas hemorrágicas Cortesia da Dra Roselene Ecco Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 341 Perfuração gástrica em cão Parede estomacal com necrose que levou à perfuração setas atingindo estômago E e duodeno D Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Na congestão ou hiperemia passiva a mucosa apresenta coloração vermelhoescura a azulada Ocorre como manifestação da hipertensão porta p ex na cirrose hepática e do choque no cão Grave hiperemia com gastrorragia edema espessamento da mucosa ulcerações e às vezes calcificação ocorre na uremia dos cães insuficiência renal crônica resultando na lesão denominada gastropatia urêmica Figura 342 Tais lesões advêm de alterações vasculares graves lesão do endotélio necrose da túnica média e às vezes trombose associadas à hipercloridria devido à diminuição da degradação e excreção da gastrina e à calcificação distrófica decorrente de alterações do metabolismo do cálcio lesão das membranas celulares das células parietais com consequente passagem de bicarbonato por elas e deposição de minerais e metastática decorrente do desequilíbrio cálciofósforo induzido por rins insuficientes Figura 342 Gastropatia urêmica em cão Intensa congestão difusa da mucosa gástrica com áreas de calcificação brancacentas discretas no ápice de pregas Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Infarto venoso é uma lesão comum em suínos podendo ser também encontrado em ruminantes e cavalos Resulta de lesão endotelial e de trombose das vênulas por endotoxinas e outros produtos bacterianos ou tóxicos Ocorre na salmonelose e na colibacilose septicêmica em todas as espécies e nos suínos também nos casos de erisipela doença de Glässer causada pelo Haemophilus parasuis peste suína clássica e peste suína africana A mucosa fúndica fica vermelhobrilhante ou vermelhoescura recoberta por excesso de muco Às vezes pode estar também necrótica e macerada desprendendose Edema apresentase como espessamento da parede gástrica por depósito de material gelatinoso na submucosa Ocorre na hipoproteinemia Figura 343 na intoxicação por arsênio bovinos na doença do edema dos suínos Figura 344 na gastrite aguda e em todas as condições em que há infarto venoso nos suínos É mais facilmente demonstrável por incisões transversais na parede em particular na curvatura maior Hemorragias podem ser por diapedese hemorragias puntiformes ou sufusões Figura 345 ou por rexe hemorragias com extravasamento de sangue no caso para a cavidade gastrorragia dependendo do grau de comprometimento vascular Está presente nos processos irritativos e inflamatórios agudos em associação à congestão nos infartos venosos e nas obliterações vasculares como nos casos de torção gástrica Gastrorragia acentuada ocorre em consequência de úlceras gástricas Figura 343 Edema de parede gástrica em um cão jovem associado à anemia e diarreia Figura 344 Edema de parede gástrica em um suíno com doença do edema Corte transversal da parede gástrica demonstrando espessamento devido acúmulo de material gelatinoso na submucosa Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 345 Hemorragias petequiais e sufusões na mucosa gástrica de um cão com leptospirose Cortesia da Dra Roselene Ecco Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Alterações in押amatórias gastrite e abomasite Gastrite e abomasite são termos usados para definir a inflamação do estômago e a do abomaso respectivamente Gastrite é um termo mal empregado tanto do ponto de vista do clínico como do patologista uma vez que geralmente é utilizado no contexto de animais que apresentam quadro clínico de vômito ou para lesões macroscópicas da mucosa gástrica como erosão ulceração hemorragia ou necrose sem que necessariamente ela apresente inflamação microscopicamente Essas lesões são comumente resultantes de lesões químicas mecânicas ou isquêmicas Em cães e gatos a gastrite pode ser de origem mecânica pela ingestão de corpos estranhos ou pela formação de bola de pelo em gatos ou de origem química por utilização de drogas antiinflamatórias esteroidais e não esteroides ver item Úlcera gástrica Gastrite típica no que se refere à infiltração de células inflamatórias ocorre comumente em cães e gatos com alergia alimentar ou de maneira idiopática como na doença inflamatória idiopática do intestino em cães Gastrites em pequenos animais causadas por agentes infecciosos são menos comumente descritas em comparação àquelas de origem química mecânica ou idiopática Apesar de a Helicobacter pylori ser reconhecidamente importante como causa de gastrite e úlcera gástrica no ser humano e em primatas não humanos ainda não existe comprovação do papel de bactérias do gênero Helicobacter como agentes etiológicos de gastrite e de úlceras gástricas em animais domésticos A gastrite hipertrófica crônica hipertrofia difusa da mucosa gástrica similar à doença de Menetrier do ser humano só ocorre no cão A etiologia é desconhecida Os sinais clínicos são perda de peso vômito e diarreia Macroscopicamente há marcada hipertrofia da região fúndica com rugas mais largas e elevadas que assumem aspecto cerebriforme lembrando os giros cerebrais Microscopicamente há hiperplasia e hipertrofia da mucosa podendo haver diminuição ou ausência de células parietais dilatação cística das glândulas e infiltração de células mononucleares na lâmina própria A gastrite metaplásica crônica é frequente nos animais com parasitas gástricos principalmente na ostertagiose e na tricostrongilose dos ruminantes Acompanhase de acloridria diarreia e perda de proteína plasmática para o lúmen intestinal Uma consequência quase invariável da acloridria provocada por atrofia focal ou metaplasia mucosa das células parietais e por necrose ou ulcerações da mucosa é a gastrite micótica Provocada por fungos dos gêneros Rhizopus Absidia e Mucor esse processo tem patogenia semelhante à da rumenite micótica As hifas promovem trombose de arteríolas e vênulas sobrevindo o infarto hemorrágico da mucosa o qual se traduz por áreas de necrose 1 a 2 cm de diâmetro com periferia intensamente congesta ou hemorrágica e mucosa espessa vermelha ou pálida na área de necrose e recoberta por hemorragia Há edema acentuado e hemorragia da submucosa podendo a lesão aprofundarse até a serosa Outra gastrite micótica que ocorre em cães é causada por Histoplasma capsulatum Infecção por H capsulatum causa gastrite granulomatosa em cães em contato com fezes de aves e morcegos contaminadas com o fungo Além do estômago o pulmão é comumente afetado Abomasites por Clostridium spp são pouco conhecidas no Brasil entretanto abomasite necrohemorrágica por C septicum é bem caracterizada em ovinos jovens de países de clima frio Macroscopicamente o lúmen contém líquido sanguinolento a mucosa apresenta marcada congestão hemorragia e edema e pode haver fibrina recobrindo a serosa Microscopicamente há extensas áreas de hemorragia necrose e enfisema com edema e infiltrado neutrofílico delimitando áreas de necrose Gram histológico pode demonstrar bacilos Grampositivos intralesionais Abomasite por C perfringens tem sido descrita em bezerros no Oeste dos EUA Acreditase que o desenvolvimento dessa doença esteja relacionado com problemas de manejo em bezerros alimentados com mamadeiras ou baldes Nesses casos pode não haver a formação da goteira esofágica e o leite se acumula no rúmen o que propicia a proliferação do C perfringens com concomitante produção de uma exotoxina que chega ao abomaso causando lesão As alterações macro e microscópicas são semelhantes às causadas por C septicum em ovinos Adicionalmente pode haver ulcerações lineares ou circulares Várias doenças virais sistêmicas que causam lesões em outras regiões do trato digestório também podem causar abomasite Entre elas destacamse rinotraqueíte infecciosa dos bovinos IBR em bezerros a diarreia viral bovina BVD a FCM e a língua azul Muitas dessas doenças serão discutidas mais detalhadamente no final deste capítulo Úlceras gástricas As úlceras gástricas ocorrem por desequilíbrio entre os efeitos líticos do ácido clorídrico e da pepsina e a habilidade da mucosa de se manter íntegra A hipersecreção de ácido ou a falha na integridade da mucosa são consideradas fatores patogenéticos gerais É sugerido que as úlceras gastroduodenais combinadas envolvendo o duodeno e o piloro são reflexos da hipersecreção enquanto as úlceras do corpo seriam resultantes da diminuição da resistência da mucosa São fatores frequentemente relacionados com a hipersecreção gástrica Secreção basal anormalmente alta dada a expansão da massa de células parietais em resposta ao efeito trófico da gastrina Gastrinomas neoplasias do pâncreas secretoras de gastrina Aumento dos níveis de histamina associado a mastocitomas tumores cutâneos ou mastocitose infiltração de mastócitos na pele e nas vísceras Entre os fatores relacionados com a diminuição da resistência da mucosa citamse Agentes antiinflamatórios não esteroides ácido acetilsalicílico indometacina fenilbutazona etc que bloqueiam a ação das ciclooxigenases COX impedindo assim a síntese das prostaglandinas Entre estas últimas a prostaglandina E2 tem efeito protetor sobre a mucosa gástrica pois estimula a produção de bicarbonato aumenta a síntese de mucina e promove vasodilatação No caso do ácido acetilsalicílico por ser lipossolúvel lesiona também a membrana celular possibilitando a difusão do ácido clorídrico Refluxo duodenal que por conter substâncias lipossolúveis sais biliares alcoóis e lisolecitina lesiona a membrana lipoproteica da célula tornando a mucosa permeável ao ácido Glicocorticoides e estresse que apresentam uma ação combinada sobre a mucosa e a secreção ácida Os glicocorticoides promovem o decréscimo da renovação do epitélio e a diminuição da disponibilidade de ácido araquidônico para a síntese de prostaglandinas além de estimularem a produção de gastrina que por sua vez estimula a secreção ácida Redução do afluxo sanguíneo por isquemia da mucosa o que leva a menor secreção de bicarbonato favorecendo a difusão ácida além de lesionar as células superficiais As causas de isquemia não estão bem estabelecidas mas acreditase que seja o resultado da redução da concentração de prostaglandinas provocando hipotensão focal ou sistêmica Ulcerações recentes da mucosa gástrica agudas geralmente estão associadas à hemorragia Figura 346 enquanto as úlceras mais antigas crônicas têm sua base e suas bordas revestidas de tecido de granulação e sua superfície revestida por fina camada de tecido necrótico Há metaplasia mucosa e hiperplasia das glândulas ao redor da úlcera Figura 347 Com o tempo e em condições favoráveis os tecidos adjacentes projetamse sobre as bordas da úlcera e preenchem o defeito da mucosa A perfuração das úlceras gástricas e duodenais desencadeia grave hemorragia e extravasamento do conteúdo gastroduodenal para a cavidade abdominal Úlceras perfuradas principalmente as duodenais podem causar pancreatite ou quando a perfuração é pequena pode cicatrizar com formação de aderências uma vez que a irritação pelo suco gástrico leva à inflamação crônica da serosa Figura 346 Múltiplas úlceras associadas à hemorragia na mucosa gástrica da região pilórica em um cão Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 347 Hiperplasia e metaplasia de mucosa gástrica focal em cão As bordas da úlcera estão elevadas em processo de resolução de úlcera gástrica Em cães as úlceras gástricas estão frequentemente associadas às seguintes condições hipersecreção associada a mastocitomas cutâneos e mastocitoses síndrome de ZollingerEllison provocada por gastrinomas que são tumores das ilhotas do pâncreas que secretam gastrina insuficiência renal crônica bilateral e a não eliminação de gastrina na urina terapia com glicocorticoides ou com antiinflamatórios não esteroides traumas ou grandes cirurgias p ex traumas da medula espinal e neoplasias Em bovinos o estresse provoca erosões ou úlceras agudas que são um achado acidental A acidose láctica provoca ulcerações Figura 348 particularmente na região pilórica em razão da passagem do ácido láctico produzido no rúmen para o abomaso A estase abomasal e o linfossarcoma quando há infiltração da mucosa gástrica no linfossarcoma multicêntrico são também causas comuns de gastrites ulcerativas em bovinos Figura 349 Nos suínos em geral as úlceras estão restritas à pars oesophagea Figura 350 têm patogenia ligada a erosão e fissuras da mucosa hiperqueratótica e paraqueratótica lesões préulcerosas e ocorrem como consequências do excesso de cobre na dieta nas dietas ricas em amido e pobres em proteínas ou ricas em ácidos graxos poliinsaturados devido ao aumento dos requisitos de vitamina E e selênio e em rações muito finamente moídas Longos períodos de jejum também são tidos como fatores ulcerogênicos importantes Figura 348 Várias úlceras abomasais lineares em bovino que se recuperou de quadro clínico de acidose láctica Figura 349 Úlceras de abomaso de diferentes tamanhos em bovino com linfossarcoma Figura 350 Úlceras gástricas na pars oesophagea de suínos A Fase inicial da úlcera caracterizada por paraqueratose camada elevada e amarelada com fissuras B Úlcera gástrica ativa afetando toda a pars oesophagea com hiperplasia e metaplasia de mucosa gástrica nas bordas C Úlcera gástrica crônica com intensa fibrose no fundo da área ulcerada Assim como os suínos os equinos geralmente apresentam úlceras na pars oesophagea Figura 351 Eles têm a mesma patogenia que os suínos mas a etiologia é pouco conhecida O fato de o equino apresentar capacidade gástrica reduzida em relação ao tamanho corporal e consequentemente o comportamento de alimentarse por todo o dia pode estar associado à maior incidência dessa lesão em equinos estabulados e com alimentação oferecida poucas vezes ao dia Apesar de a Helicobacter pylori ser reconhecidamente importante na patogenia da úlcera gástrica ou péptica no ser humano o papel de bactérias do gênero Helicobacter como agentes etiológicos de gastrite e de úlceras gástricas em animais domésticos ainda não foi comprovado Alterações proliferativas Apesar de as neoplasias gástricas serem pouco frequentes os tumores que mais ocorrem no estômago são adenocarcinoma carcinoma de células escamosas leiomioma fibroma e linfossarcoma O adenocarcinoma já foi descrito em várias espécies animais mas é mais frequentemente observado no cão sendo a neoplasia gástrica mais comum nessa espécie animal Geralmente essa neoplasia se localiza na curvatura menor próximo ao antro pilórico e pode resultar em metástases para linfonodos regionais fígado e pulmões O adenocarcinoma gástrico tem comportamento bastante invasivo induzindo espessamento da parede do estômago e desenvolvimento de úlceras devido à irrigação dificultada em algumas regiões Figura 351 Pequenas áreas de erosão e ulceração na porção aglandular adjacente à porção glandular margo plicatus em um equino Cortesia da Dra Roselene Ecco Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Carcinoma de células escamosas é observado em equinos e suínos particularmente nos primeiros Deriva das células estratificadas da pars oesophagea Apresenta comportamento localmente invasivo mas pouco metastático Metástase por implantação no peritônio parietal é raramente relatada Esse tipo de neoplasia frequentemente provoca a formação de úlceras Figura 352 Figura 352 Carcinoma de células escamosas em equino A Massa de coloração ligeiramente rósea lisa e brilhante na superfície serosa da região cárdica do estômago B Vista da mesma massa na face mucosa do estômago em que se observa grande ulceração na porção aglandular e tecido neoplásico de superfície irregular e exsudato purulento no fundo da área ulcerada Cortesia da Dra Roselene Ecco Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Leiomiomas e fibromas podem formarse em qualquer porção do estômago mas são mais comumente observados na região cárdica ou pilórica em cães Apresentamse como aumento de volume nodular da parede mas por vezes são sésseis de consistência muito firme e ao corte têm coloração brancacenta Figura 353 Quando essas massas se localizam na região cárdica ou pilórica podem comprometer o fluxo normal da ingesta induzindo a estenoses e obstruções O linfossarcoma ocorre mais frequentemente em cães Figura 354 gatos e bovinos Figura 355 Nesta última espécie nos casos de leucose enzoótica bovina há extensa distribuição e infiltração de células neoplásicas principalmente na parede do abomaso consequentemente úlceras abomasais são frequentes nesses casos Macroscopicamente espessas massas tumorais são observadas na parede do órgão as quais apresentam coloração amarelada homogênea e consistência macia Figura 353 Leiomioma gástrico em cão seta Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 354 Linfossarcoma gástrico em cão Massa neoplásica nodular e proeminente na serosa da região pilórica seta Cortesia da Dra Roselene Ecco Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 355 Linfossarcoma na parede do abomaso de bovino À direita notamse dobras da mucosa bastante espessadas devido à infiltração de massa neoplásica À esquerda próximo da régua dobras de tamanho normal Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Intestinos Morfoጡጡsiologia No intestino delgado projeções da lâmina própria recobertas por epitélio simples prismático com células caliciformes e microvilosidades formam as vilosidades O número a forma e a altura dessas vilosidades variam dependendo da localização espécie animal idade microbiota intestinal e estado imunológico As criptas criptas de Lieberkuhn são estruturas semelhantes a glândulas revestidas por epitélio simples com forma variável conforme a espécie e o estado proliferativo Nas criptas reside o compartimento proliferativo progenitor do epitélio intestinal que produz células que se diferenciam e se movem para o topo e a superfície das vilosidades No compartimento proliferativo estão as célulastronco primordiais que dão origem a diferentes tipos de células Células oligomucosas são derivadas das célulastronco contêm grânulos mucosos e são intermediárias entre as células pouco diferenciadas e as células caliciformes nas quais se maturam As células caliciformes maduras estão presentes nas criptas e nas vilosidades com distribuição e frequência variáveis segundo a área intestinal e a espécie Essas células secretam mucossubstâncias neutras e ricas em ácido siálico cuja função é obscura provavelmente servem para insular englobar e imobilizar microrganismos uma vez que essas substâncias contêm lisozima e IgA Sua secreção é estimulada por vários agentes nocivos e eventos imunológicos do intestino Células de Paneth migram lentamente na base das criptas Essas células estão ausentes no cão felino e suíno são raras nos ruminantes e abundantes nos equinos Apresentam grânulos secretórios eosinofílicos que contêm inúmeros peptídios e proteínas antimicrobianas como lisozimas fosfolipase DNAse ribonuclease e alfadefensinas importantes para a resposta imune inata Células enteroendócrinas derivam das célulastronco e compreendem uma população heterogênea de cerca de 12 diferentes células endócrinas ou parácrinas secretoras de aminas ou peptídios enterocromafins argentafins e argirófilas Estão distribuídas entre outras células nas vilosidades e principalmente nas criptas Hormônios como secretina e colecistocinina bem como peptídios e aminas com implicações endócrinas e parácrinas pouco conhecidas são secretados por essas células Os enterócitos são responsáveis pela absorção de nutrientes eletrólitos e água São as células predominantes nas vilosidades e apresentam orla em escova microvilosidades em sua superfície apical a qual aumenta a superfície de absorção Embebidas no plasmalema dos microvilos estão inúmeras enzimas aminopeptidase e dissacaridases proteínas de ligação do cálcio da vitamina B12 e de outras vitaminas solúveis e proteínas de transporte intracelular acopladas com o transporte de íons sódio As células epiteliais das criptas além de progenitoras das células do ápice das vilosidades têm como função a secreção de água e eletrólitos Já os enterócitos das vilosidades têm como funções a secreção de enzimas digestivas dissacaridases e oligopeptidases que atuam na segunda fase da digestão fase epitelial e a absorção de nutrientes O epitélio é sustentado pela lâmina própria constituída por tecido conjuntivo fibroso frouxo com vasos sanguíneos músculo liso e células inflamatórias e imunorreativas Contornando as criptas e revestindo a lâmina basal das vilosidades existe uma bainha fibroblástica Distribuídos na lâmina própria das vilosidades e entre as criptas estão nódulos linfoides tecido linfoide associado à mucosa MALT mucosaassociated lymphoid tissue eosinófilos comuns em equinos e ruminantes sem conotação patológica e raros neutrófilos Os linfócitos intraepiteliais são frequentes entre as células epiteliais das vilosidades O suprimento vascular da mucosa originase das artérias submucosas que emitem arteríolas algumas das quais se ramificam em um plexo capilar em torno das criptas A maioria atravessa o centro das vilosidades e se ramifica próximo ao topo em um denso plexo Os capilares das vilosidades são fenestrados na face voltada para a membrana basal Uma ou mais vênulas drenam o sangue dos capilares nas vilosidades e entre as criptas e desembocam em grandes veias da submucosa as quais culminam nas veias mesentéricas e na circulação portal Nos suínos parece haver anastomoses entre os capilares das vilosidades e das criptas O vaso linfático central ou lacteal das vilosidades é suficientemente permeável a macromoléculas e quilomícrons e é a principal rota de transporte de lipídios das vilosidades Sugerese que a justaposição de arteríolas e vênulas nas vilosidades pode resultar em um sistema multiplicador contracorrente estabelecendo um aumento do gradiente de concentração de sódio e um decréscimo de oxigênio em direção ao topo das vilosidades Anastomoses entre os plexos capilares das criptas e vilosidades propiciam um mecanismo de desvio de eletrólitos e água absorvidos nas vilosidades para as vizinhanças das criptas onde ocorre a secreção O sistema nervoso entérico é constituído por dois grandes plexos submucoso e mioentérico os quais são responsáveis pela regulação de estímulos motores e sensoriais respectivamente Esse sistema é capaz de coordenar todo o funcionamento do trato gastrintestinal bem como regular os mecanismos secretórios e absortivos pela ativação do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático A liberação de norepinefrina aciona mecanismos próabsortivos pela ativação de receptores α2adrenérgicos nos enterócitos Por outro lado a acetilcolina e o peptídio intestinal vasoativo VIP vasoactive intestinal peptide são os principais neurotransmissores envolvidos na estimulação dos processos secretórios O sistema nervoso entérico pode ser ativado por agentes tóxicos estímulos endócrinos e mediadores inflamatórios resultando no aumento da secreção intestinal A estimulação local do sistema nervoso entérico ocorre por arco reflexo portanto nervos sensoriais via aferente transmitem impulsos aos interneurônios localizados nos plexo submucoso e mioentérico que por sua vez comunicamse com nervos motores via eferente promovendo a liberação de acetilcolina e VIP A anatomia e o tamanho do intestino grosso especificamente do ceco e do cólon variam com a espécie e dependem do grau de fermentação microbiana dos carboidratos nessa porção do intestino embora a produção de ácidos graxos voláteis a partir de carboidratos ocorra em todas as espécies No cavalo o intestino grosso é o principal local de produção de energia tendo também grande significado nos suínos e ruminantes Através da parede do cólon há um intenso movimento de eletrólitos e água No cavalo mais de um terço do volume de líquido extracelular está no intestino grosso A absorção diária de líquidos nesse órgão é igual ao volume extracelular A absorção de água e eletrólitos mecanismo de conservação de eletrólitos é a principal função do cólon nos cães e gatos e do cólon aboral nos herbívoros A mucosa do ceco e do cólon em todas as espécies domésticas é desprovida de vilosidades A superfície é revestida por epitélio simples de células absortivas que apresentam poucas microvilosidades interpostas por número variável de células caliciformes As criptas do cólon assemelhamse em arquitetura e população celular às do intestino delgado As célulastronco estão presentes na base das criptas glândulas e as pobremente diferenciadas ocupam cerca de dois terços da porção basal Essas células diferenciamse progressivamente até células absortivas Além dessas estão presentes as células oligomucosas derivadas das célulastronco células caliciformes bem diferenciadas e células enteroendócrinas cerca de 12 tipos A lâmina própria é reduzida entre as criptas e tem a mesma constituição que o intestino delgado Algumas células inflamatórias e imunorreativas estão presentes na mucosa superficial Inúmeros plasmócitos e linfócitos estão presentes nas porções profundas das criptas Com relação ao transporte de água e eletrólitos nos intestinos a mucosa do intestino delgado é altamente permeável ao movimento passivo de pequenos íons e água sendo desse modo porosa apesar da presença de junções oclusivas nas margens apicais dos enterócitos absortivos Epitélios desse tipo presentes também na vesícula biliar e em túbulos renais proximais são especializados na absorção de grandes volumes de sais e água em concentrações isotônicas e na separação de compartimentos de osmolaridade e composição iônica similares A porosidade do epitélio do intestino delgado possibilita que o conteúdo intestinal seja isomolar com o fluido intersticial Os poros no intestino delgado são paracelulares e atuam como espaços preenchidos por água A permeabilidade dos complexos juncionais é sensível às forças de Starling e influenciadas pelas pressões hidrostática e osmótica de modo que o fluido e o soluto são absorvidos ativamente A absorção de sódio ocorre por três mecanismos ativos transcelulares Os íons cloreto movemse independentemente em uma rota paracelular ou associados ao sódio por via transcelular A absorção de sódio depende de forças eletroquímicas originadas por bomba de sódio dependente de trifosfato de adenosina ATP adenosine triphosphate na membrana basolateral do enterócito O primeiro mecanismo é constituído pela absorção independente de sódio livre Na que penetra na célula a partir do lúmen por uma força eletrostática e de gradiente de concentração criado pela bomba de sódio que troca K por Na O segundo mecanismo se dá quando o sódio Na conjugado a solutos orgânicos aminoácidos e glicose movese para dentro da célula por um gradiente eletroquímico criado pela bomba de sódio Dessa maneira o Na é bombeado pela membrana basolateral e o soluto orgânico deixa a célula por difusão mediada por carreadores O terceiro mecanismo ocorre pela absorção de sódio e cloro juntos por um processo neutro e pela rota transcelular O Na movese na célula até a margem apical por gradiente criado pela bomba de sódio e ligase ao Cl carregandoo para dentro da célula O Cl passa passivamente para o interstício e o Na é bombeado para fora O outro mecanismo proposto para a absorção de Na e Cl é a troca por H e HCO3 que entram no lúmen A concentração de Na e Cl no espaço intercelular lateral causa a absorção de água por gradiente osmótico Como as membranas celulares e os complexos juncionais são altamente permeáveis à água o mecanismo é rápido pelas vias transcelulares e paracelulares alcançando os capilares subepiteliais ou lacteais em pouco tempo O cólon dos carnívoros o cólon espiral dos ruminantes e dos suínos e o cólon menor dos equinos são encarregados de reduzir o volume de perdas de água e eletrólitos nas fezes Esse processo é pouco conhecido O epitélio colônico é moderadamente restrito ao livre movimento de Na e Cl mas não para o K Dessa maneira é capaz de manter as diferenças osmóticas a composição iônica e o potencial elétrico entre o lúmen e a superfície tornandoo mais eficiente que o intestino delgado na absorção de alguns eletrólitos e água A absorção de ácidos graxos voláteis auxilia a absorção de água no cólon A concentração de K no conteúdo do cólon aumenta à medida que a do Na diminui o que pode ser devido a um processo secretório ativo ou a um fluxo paracelular criado por gradiente eletroquímico A secreção intestinal ocorre nas criptas e é regulada pelo monofosfato de adenosina cíclico cAMP cyclic adenosine monophosphate que por sua vez é regulado por hormônios particularmente a aldosterona A secreção é isotônica rica em eletrólitos alcalina e livre de exsudatos O cloreto de sódio secretado parece ter função de manutenção da fluidez do conteúdo intestinal Em condições normais há equilíbrio no fluxo de eletrólitos e água pela mucosa intestinal e a absorção que ocorre principalmente no ápice das vilosidades normalmente é maior do que o fluxo secretório Também no ápice das vilosidades ocorre a secreção de enzimas digestivas que quebram os nutrientes já particularizados depois da fase intraluminal da digestão Imunologia do trato gastrintestinal A imunologia do trato gastrintestinal é complexa e ainda pouco compreendida O trato gastrintestinal está continuamente exposto a antígenos alimentares toxinas ingeridas vírus bactérias e seus produtos e parasitas e suas excreções e secreções Apesar disso a barreira epitelial é constituída por uma única camada de células Desse modo não é surpreendente que o epitélio e células linfoides do sistema imunológico constituam um sistema complexo para tipificar bloquear neutralizar e eliminar antígenos O tecido linfoide do intestino localizado na mucosa e submucosa excede a população de células linfoides do baço fato que destaca a importância de se manter vigilância imunológica local eficaz visto que os intestinos são porta de entrada para as inúmeras substâncias e antígenos anteriormente enumerados patogênicos e não patogênicos Dessa maneira devese ter especial atenção para não interpretar como processo inflamatório a presença de células do sistema imunológico em cortes histológicos desses segmentos do trato gastrintestinal As células epiteliais dos neonatos são capazes de absorver e transportar macromoléculas do lúmen intestinal para a região basolateral da célula Em todas as espécies domésticas a transferência de imunoglobulinas do colostro fornece ao neonato imunidade humoral passiva no período neonatal A seletividade da transferência de macromoléculas varia com a espécie sendo menos específica nos neonatos de ruminantes suínos e equinos A permeabilidade do epitélio às macromoléculas é o resultado de pinocitose dependente de energia que ocorre no ápice da membrana celular e na base das microvilosidades A proteína colostral é transferida em vacúolos ligados à membrana do citoplasma para a membrana basolateral onde por exocitose é liberada pela via lacteal e pelos linfáticos para a circulação Esse transporte parece ser possível apenas enquanto perdura a imaturidade do enterócito ou seja de 24 a 48 h após o nascimento Embora com capacidade reduzida o epitélio intestinal em animais maduros pode continuar a transferir macromoléculas Para que a absorção dessas moléculas seja possível é necessário que escapem da hidrólise intraluminal e que a pinocitose exceda a velocidade de degradação lisossômica Provavelmente é por esse mecanismo que os antígenos encontram as células imunoativas da mucosa Além disso as macromoléculas entram na circulação porta sendo fagocitadas pelas células de Kupffer o que faz com que estas sejam uma segunda barreira de defesa contra macromoléculas absorvidas e principalmente na eliminação de endotoxinas do sangue portal Além da pinocitose dos enterócitos absortivos as células epiteliais M associadas às placas de Peyer e aos folículos linfoides MALT selecionam ativamente a matéria particulada e as macromoléculas presentes na superfície As células M parecem interpostas aos enterócitos na superfície da mucosa que recobre os agregados linfoides da mucosa e submucosa Essas células geralmente adotam a forma de um cálice invertido Um ou mais linfócitos e ocasionalmente macrófagos são vistos em íntimo contato com a membrana das células M em sua concavidade basal Macromoléculas e material particulado antígenos captados pelas células M são transmitidos aos linfócitos ou macrófagos intraepiteliais Subsequentemente essas células migram para o centro germinativo dos nódulos linfoides e promovem propagação da resposta imune contra aquele antígeno específico Neutrófilos transmigram o epitélio e têm função de fagocitose no lúmen intestinal Os agregados de folículos linfoides ou placas de Peyer bem como folículos linfoides solitários estão distribuídos na mucosa do intestino delgado em todas as espécies Na mucosa colônica encontramse apenas folículos solitários As placas de Peyer embora distribuídas ao longo do intestino delgado concentramse principalmente no íleo São visíveis macroscopicamente como estruturas alongadas ou ovais provocando espessamento da parede intestinal do lado oposto à inserção mesentérica Projetamse discretamente acima da mucosa ou apresentamse como depressões que não devem ser confundidas com úlceras principalmente no cão Nos neonatos dado o seu desenvolvimento ainda incipiente não são visíveis macroscopicamente Nos ovinos tendem à involução com o avançar da idade do animal Nas placas de Peyer os linfócitos B estão na área da submucosa os linfócitos T entre as bordas superiores dos folículos e recobrindo os folículos está uma população mista de T e B A IgA secretada no lúmen intestinal bloqueia a fixação de bactérias e vírus às células epiteliais neutraliza toxinas intraluminais e limita a absorção de antígenos alimentares ou produzidos por microrganismos reduzindo assim a probabilidade de hipersensibilidade ou de outras formas de resposta imune na lâmina própria A excreção de IgA complexada com o antígeno pela bile nas espécies em que isso ocorre pode ser um meio de depuração do antígeno absorvido no intestino Plasmócitos contendo IgG são relativamente raros na lâmina própria do intestino a não ser nos ruminantes Entretanto a IgG produzida localmente e aquela circulante assumem papel importante quando há aumento da permeabilidade vascular ou inflamação em virtude de sua habilidade em fixar o complemento facilitar a citotoxicidade mediada por células e dependente de anticorpos e opsonização Plasmócitos produtores de IgE estão presentes na lâmina própria e essa classe de imunoglobulinas tem participação na resposta imune a alguns parasitas intestinais Sua ação seria mediar a ação citotóxica dos eosinófilos e talvez dos mastócitos bem como mediar as reações mediadas pelas reaginas na mucosa A secreção de IgA no lúmen parece influenciar a atividade imune e a população microbiana associada à mucosa e limita o estabelecimento e o ingresso de microrganismos ou seus produtos na mucosa O colostro contendo anticorpos específicos tem efeito inibitório sobre os organismos entéricos contra os quais o anticorpo foi produzido Os eventos inflamatórios imunomediados no intestino grosso são menos entendidos e estudados do que os que ocorrem no intestino delgado Presumivelmente os princípios são os mesmos Os complexos linfoglandulares constituídos pelos agregados linfoides submucosos que penetram as glândulas e se estendem para a mucosa são encontrados no ceco e na porção oral do cólon do cão e junção cecoilíaca nos ruminantes O epitélio que recobre as glândulas está em íntimo contato com os linfócitos do MALT Os nódulos linfoides isolados na submucosa não penetrantes nas glândulas estão distribuídos pelo ceco e cólon de todas as espécies Os plasmócitos da lâmina própria são principalmente produtores de IgA e sua localização varia com a espécie No cão tendem a se concentrar na porção profunda da lâmina própria entre as glândulas Os linfócitos intraepiteliais também estão presentes no intestino grosso Microbiota intestinal A microbiota intestinal tem papel importante em vários processos fisiológicos Após o nascimento nenhuma porção do trato gastrintestinal é estéril As bactérias que habitam o estômago e o intestino são inúmeras e constituem um ecossistema de grande complexidade Geralmente a população bacteriana no estômago e intestino delgado superior dos carnívoros e ruminantes é limitada pelo meio ácido e pelo peristaltismo Os anaeróbios e anaeróbios facultativos como a Escherichia coli aumentam a partir do intestino delgado onde sua concentração é de aproximadamente 107 unidades formadoras de colônia UFC por grama de conteúdo intestinal até o cecocolo que contém de 1010 a 1011 UFC por grama de conteúdo São proeminentes na população bacteriana do cólon os coliformes os Lactobacillus e os anaeróbios estritos Bacterioides Fusobacterium Clostridium Eubacterium Bifidobacterium e Peptostreptococcus Nos suínos e cães encontramse também espiroquetas As bactérias anaeróbias sobrepassam as anaeróbias facultativas no intestino grosso A ecologia complexa da microbiota intestinal se contrapõe à sua considerável estabilidade que se rompida pode voltar ao seu estado original É relativamente resistente a microrganismos estranhos e esse é o principal fator de proteção contra o estabelecimento de bactérias patogênicas Isso fica bem demonstrado nos neonatos cuja microbiota ainda é pobre aumentandolhes a suscetibilidade às diarreias bacterianas o que também ocorre após alterações de manejo ou antibioticoterapia que desequilibram a microbiota intestinal A microbiota intestinal normal atua como barreira à colonização de patógenos mediante três mecanismos Produção de ácidos acético e butírico pelos anaeróbios e colicinas Nas condições de pH e anaerobiose do intestino grosso os ácidos graxos são altamente lesivos aos membros da família Enterobacteriaceae O grande número de lactobacilos no intestino dos animais alimentados com leite tem o mesmo tipo de ação Os anaeróbios facultativos são importantes para a manutenção do potencial de redução necessário aos anaeróbios estritos A competição pela energia e o efeito dos metabólitos de outros ácidos graxos de cadeia curta produzidos pela microbiota nativa atuam contra o estabelecimento de bactérias exógenas Os fatores do hospedeiro que influenciam a microbiota intestinal incluem composição da dieta peristaltismo livra o intestino delgado de grande número de suas bactérias lisozimas lactoferritina acidez gástrica e em bezerros lactantes o sistema lactoperoxidasetiocianetohidroperóxido Este último é um sistema de defesa do organismo contra bactérias que se forma pela oxidação do íon tiocianato pelo peróxido de hidrogênio em presença da glicoproteína lactoperoxidase Essas substâncias estão presentes em várias secreções como saliva e leite sendo mais eficientes contra bactérias Gramnegativas como Salmonella sp e Escherichia coli A microbiota entérica promove o desenvolvimento de uma população de células imunes e inflamatórias na lâmina própria por estimulação antigênica A cinética do epitélio também se acelera em resposta à microbiota Em animais livres de germes o compartimento proliferativo das criptas é menor e menos ativo e o trânsito celular é mais lento do que em animais estimulados antigenicamente Os efeitos da renovação alterada do epitélio intestinal e da atividade imune diminuída sobre a microbiota são pouco definidos e provavelmente menores do que aqueles provocados pelas bactérias do lúmen sobre o epitélio e a resposta imune Renovação epitelial na saúde e na doença A mucosa intestinal é revestida por um epitélio extremamente lábil e que apresenta um ciclo de renovação constante A duração do ciclo do epitélio é dependente da região intestinal sendo mais rápida nos segmentos anteriores Em condições normais a massa e a topografia da mucosa são mais ou menos estáveis sendo o resultado do equilíbrio dinâmico entre a migração das células das criptas ou glândulas para as vilosidades e a descamação epitelial na extremidade das vilosidades Esse equilíbrio é conhecido por mecanismo de feedback local mediado por calonas solúveis liberadas pelos enterócitos funcionais Nos animais jovens o intestino cresce pela geração de novas criptas e consequentemente de novas vilosidades À medida que o intestino chega ao seu tamanho maduro o número de vilosidades se estabiliza e aparentemente mantémse estável entretanto vários fatores alteram o tamanho do epitélio e a taxa de sua renovação modificando a microtopografia do intestino Entre esses fatores temse estimulação antigênica tipo e forma física do alimento microbiota jejum nutrientes ou substâncias digeridas no lúmen agentes hormonais e parácrinos gastrina enteroglucagon glicocorticoides e polipetídeos Atrofia das vilosidades é uma condição patológica comum e resulta em má absorção de nutrientes e muitas vezes em aumento da perda de proteínas plasmáticas pelo intestino Reconhecemse dois tipos morfológicos atrofia das vilosidades com criptas intactas ou hipertróficas e atrofia das vilosidades com dano às criptas no compartimento proliferativo Atrofia das vilosidades com criptas intactas é vista em uma série de circunstâncias e é desencadeada no início por aceleração da descamação epitelial Ocorre na isquemia transitória em doenças virais coronavírus e rotavírus que tem tropismo por enterócitos do ápice das vilosidades em infecção por alguns coccídios e por algumas bactérias enteroinvasivas e toxinas necrosantes Clostridium perfringens Atrofia das vilosidades com hipertrofia das criptas está associada a parasitismo coccidiose superficial crônica giardíase antígenos alimentares como proteína de soja inflamação crônica da lâmina própria como nos casos de paratuberculose ou histoplasmose enteropatia proliferativa suína enterite granulomatosa crônica idiopática ou enterite crônica Os indícios são de que essa resposta advém da exposição crônica do intestino a antígenos que incitam uma reação imune mediada por células A hipertrofia das criptas parece ocorrer antes da atrofia das vilosidades e parece ser independente de lesões prévias do compartimento funcional absortivo Sugerese o seguinte mecanismo para o desencadeamento desse processo inicialmente linfócitos estimulados liberariam linfocinas que teriam ação estimulatória sobre o compartimento proliferativo o que induziria a hiperplasia de criptas não acompanhada da diferenciação celular e a consequente atrofia de vilosidades Com isso ocorre má absorção de nutrientes e água maior secreção de água e eletrólitos pelos enterócitos não diferenciados e diarreia Atrofia das vilosidades com dano às criptas ou seja com dano ao compartimento proliferativo é uma resposta aos insultos que provocam necrose das células das criptas ou que impedem sua proliferação É típica das radiações ionizantes Por isso algumas lesões são denominadas radiomiméticas tais como as provocadas por químicos citotóxicos ciclofosfamida tóxicos inibidores da mitose vírus parvovírus BVD e peste bovina que tem tropismo por células intestinais das criptas que têm elevado índice mitótico e isquemia Ocorre má absorção diarreia hemorragia e invasão bacteriana da mucosa particularmente nos casos em que essa alteração está associada à imunodepressão No linfossarcoma alimentar a atrofia das vilosidades é um achado comum No intestino grosso o ciclo do epitélio é essencialmente o mesmo do intestino delgado embora as vilosidades não estejam presentes na superfície As células perdem a capacidade proliferativa já na parte superior da glândula onde se diferenciam em células caliciformes ou células absortivas colunares que migram para a superfície A descamação se dá entre 4 e 8 dias O jejum reduz o ciclo que é restaurado com a realimentação A distensão física e a presença de alimento volumoso parecem ter efeito trófico sobre o epitélio As alterações do ciclo advêm do aumento da taxa de renovação da hipertrofia do compartimento proliferativo e do dano ao compartimento proliferativo O aumento da taxa de renovação afeta tanto o epitélio superficial como o glandular Em casos graves há microerosão da superfície A hipertrofia do compartimento proliferativo causa alongamento e dilatação das glândulas e está associada a inflamações agudas crônicas ou crônicas ativas da lâmina própria É discutível se essa alteração é uma resposta a danos primários da superfície da mucosa ou à estimulação imunomediada primária do compartimento proliferativo Lesões consistentes com o aumento do ciclo do epitélio são vistas em disenteria suína colite espiroquetal enteropatia proliferativa suína tricuríase colite histiocitária ulcerativa do cão colite granulomatosa devido a vários agentes e colite idiopática canina Lesões do compartimento proliferativo das glândulas cecais e colônicas são provocadas pelos mesmos agentes que atuam no intestino delgado Além desses agentes já citados destacamse o coronavírus em bezerros e várias espécies de coccídeos de ruminantes os quais se desenvolvem nas células de revestimento das glândulas A evolução e as sequelas dos danos ao compartimento proliferativo são semelhantes àquelas do intestino delgado Lesões graves levam à perda das glândulas e erosão ou ulceração da mucosa às vezes com hemorragia Constrições e estenose podem advir nesses casos Fisiopatologia das doenças entéricas Os efeitos deletérios das doenças gastrintestinais são mediados por vários mecanismos que interagem entre si As consequências comuns são inabilidade para comer ou inapetência redução da taxa de crescimento perda de peso ou caquexia hipoproteinemia e anemia Além disso há desidratação e desequilíbrio ácidobásico interligados à redução do consumo de água à obstrução ao vômito e à diarreia Toxemia e alterações sistêmicas podem advir de toxinas parasitas bactérias ou vírus intestinais Importante também é a má absorção de nutrientes Má absorção ocorre comumente em animais com doenças gastrintestinais e leva à redução do crescimento emaciação e caquexia Concomitantemente pode haver perda intestinal de proteínas com efeitos idênticos A digestão e a assimilação dos nutrientes têm uma fase intraluminal mediada pelas secreções biliar e pancreática que contêm tripsinogênio lipase e amilase uma fase epitelial mediada pelos sistemas enzimáticos da superfície e do citoplasma dos enterócitos absortivos do ápice das vilosidades e uma fase absortiva que é a passagem dos nutrientes para as circulações linfática particularmente no caso dos quilomícrons e sanguínea A insuficiência pancreática exócrina independentemente de sua causa primária que pode incluir hipoplasia congênita ou fibrose pósnecrótica adquirida é a principal causa de má absorção intraluminal Raramente a insuficiência biliar provoca esse tipo de má absorção nos animais A fase epitelial pode estar comprometida na perda do epitélio funcional do intestino delgado como nos casos de ressecção intestinal ou atrofia das vilosidades e na deficiência congênita ou adquirida de enzimas digestivas Congestão de órgãos abdominais decorrente de cirrose hepática ou insuficiência congestiva ou obstruções linfáticas decorrentes de inflamação ou neoplasia podem comprometer a fase absortiva da digestão Na má absorção das gorduras a assimilação destas pode sofrer interferência nas três fases da digestão e absorção São causas de má absorção de gorduras Deficiência de lipase decorrente da atrofia ou fibrose pancreática e da não produção de colecistocina e pancreozimina pelo epitélio atrófico sendo estas essenciais à secreção pancreática Não formação e não emulsificação das micelas devido à colestase intrahepática obstrução biliar ou redução da absorção de sais biliares no íleo Não formação do quilomícron causada pela indiferenciação de enterócitos no intestino atrófico e consequentemente não reesterificação de ácidos graxos Não absorção do quilomícron causada por linfangiectasia enterite granulomatosa linfossarcoma que impedem da drenagem linfática As sequelas da má absorção de lipídios são esteatorreia caracterizada pelo excesso de gordura nas fezes deficiência de vitaminas lipossolúveis má absorção de cálcio magnésio e zinco por formação de sabões aumento de absorção de oxalatos e a diarreia originária do cólon A má absorção de polissacarídios pode ser provocada por deficiência de amilase pancreática em decorrência de atrofia oufibrose pancreática particularmente em cães com perda acentuada de função do pâncreas exócrino ou da pouca amilase pancreática em bezerros e ruminantes mais velhos que digerem mal o amido no intestino delgado e pela deficiência de oligossacaridases da mucosa provocada pela atrofia das vilosidades indiferenciação de enterócitos e diferenças espécieespecíficas ruminantes não têm sacarase e têm baixos níveis de maltase e dependentes da idade neonatos têm baixos níveis de maltase e a lactase declina com a idade Na deficiência de oligossacaridases há redução da digestão dos dissacarídios na membrana e sua posterior fermentação pela microbiota do cólon O efeito osmótico dos dissacarídios não absorvidos aumenta o acúmulo de líquido no lúmen do intestino delgado sobrevindo a diarreia A má absorção de carboidratos é um componente importante da diarreia neonatal por rotavírus ou coronavírus e em outras condições que levam à atrofia de vilosidades por exemplo na deficiência de cobre A deficiência congênita de enzimas não é descrita nos animais As causas de má absorção de proteínas são Decréscimo da protease pancreática decorrente de insuficiência pancreática exócrina Não absorção de peptídios e aminoácidos devido à atrofia de vilosidades e consequente redução da área de absorção ou de enterócitos indiferenciados Redução da enteroquinase causada pela atrofia das vilosidades A enteroquinase secretada por enterócitos diferenciados do ápice das vilosidades é necessária para a ativação do tripsinogênio pancreático em tripsina e a ativação de outras proteases pela tripsina A influência da má absorção de proteínas sobre o metabolismo energético e a atividade metabólica deve ser diferenciadados efeitos da perda de proteínas plasmáticas e de outras proteínas endógenas pelo intestino Má absorção de minerais e vitaminas é causada pela redução da superfície absortiva pela atrofia de vilosidades sendo esses casos devidos às causas já mencionadas Outra característica das doenças entéricas é a diarreia leia mais adiante que é caracterizada pelo excesso de água nas fezes em relação à matéria seca fecal Reflete em geral um aumento absoluto de perda fecal de água A perda de soluto e água leva à grave depleção de eletrólitos desequilíbrio ácidobásico desidratação e morte Grande volume de líquido derivado da ingesta e das secreções gástrica biliar pancreática e intestinal entra no intestino delgado Além disso há um movimento passivo de água para o intestino delgado superior a partir da circulação em resposta a efeitos osmóticos A absorção de moléculas osmoticamente ativas e eletrólitos pelos enterócitos drena a água do espaço intersticial para o lúmen A maior parte desse líquido é absorvida ainda no intestino delgado de modo que apenas uma pequena fração passa ao intestino grosso Pequenas alterações no movimento unidirecional de eletrólitos e de água causam grandes efeitos no equilíbrio hídrico do intestino O cólon por sua função fermentativa tem a responsabilidade final de conservar os eletrólitos e a água para a absorção minimizando as perdas fecais No entanto o cólon tem capacidade limitada para absorver eletrólitos e líquidos e se estes ultrapassam tal capacidade ocorre a diarreia Além da má absorção e da diarreia as alterações do metabolismo de proteínas e a anemia podem ser características importantes das doenças entéricas As alterações do metabolismo proteico provocam grandes perdas econômicas em virtude das reduções do ganho de peso do crescimento da lã e da produção de leite Quando graves levam à caquexia à hipoproteinemia e à morte O equilíbrio de nitrogênio pode ser afetado por redução da ingestão e decréscimo na digestão e assimilação e por aumento do catabolismo e das perdas de nitrogênio endógeno São causas da redução da ingestão inapetência baixa qualidade do alimento apreensão e mastigação dolorosas alterações dentárias disfagia crônica e vômitos recorrentes A inapetência ou mesmo a anorexia é um sinal comum de indigestão obstrução ou doença sistêmica Em ruminantes a inapetência é um componente importante das parasitoses gastrintestinais por Ostertagia sp Trichostrongylus sp ou Oesophagostomum sp Os mecanismos que levam à inapetência nessas parasitoses são desconhecidos mas os hormônios gastrina e colecistocinina estão aumentados A quantidade total de alimento e o tamanho das partículas do alimento influenciam a distensão do rúmenretículo e a taxa de passagem da digesta Alterações da motilidade gastrintestinal reduzem a ingestão bem como a absorção de aminoácidos A má absorção de peptídios e aminoácidos ocorre na atrofia das vilosidades mas a não ser que a lesão seja difusa a absorção líquida de nitrogênio não será afetada A perda de proteínas nas gastroenteropatias se dá por aumento do catabolismo e perda de nitrogênio endógeno pelo trato gastrintestinal O excesso de nitrogênio endógeno que entra no intestino é derivado do aumento da renovação epitelial e da efusão de proteínas plasmáticas para o lúmen Em condições de atrofia crônica de vilosidades particularmente nos casos de parasitismo por Trichostrongylus sp ou Strongyloides sp o efeito da aceleração da renovação epitelial e o excesso de secreção de mucoproteínas são importantes para a perda de nitrogênio endógeno Já na perda de proteína para o intestino efusão há alteração da permeabilidade da mucosa a grandes moléculas Esse processo pode ser desencadeado por nematoides sugadores de sangue como Haemonchus sp Ancylostoma sp ou Bunostomum sp hemorragias traumáticas nos locais de alimentação de alguns vermes como Oesophagostomum columbina Chabertia sp ou Strongylus sp erosões nos casos de infarto necrose grave das criptas e enterite fibrinohemorrágica aguda por vírus bactérias e coccídios e microerosões particularmente quando ocorre atrofia de vilosidades com elevada taxa de renovação epitelial Além disso quando a pressão hidrostática na lâmina própria aumenta insuficiência cardíaca congestiva inflamações agudas ou crônicas obstrução linfática e linfangiectasia há aumento da permeabilidade intercelular com perda de proteínas A perda de proteínas plasmáticas não é seletiva havendo perda de albumina imunoglobulinas fatores de coagulação e proteínas carreadoras como a transferrina a ceruloplasmina e a transcortina Nas enteropatias com perda de proteínas a renovação da albumina pode passar por três fases Na fase inicial o catabolismo fracionário aumenta com isso a quantidade absoluta de proteína perdida também aumenta O pool de albumina circulante se retrai e como há perda absoluta a taxa fracionária permanece a mesma Durante a segunda fase o pool de proteínas circulantes se estabiliza pela síntese compensatória de albumina no fígado Na terceira fase desenvolvese a hipoalbuminemia já que a perda intestinal se sobrepõe à síntese hepática A hipoalbuminemia está normalmente associada à hiperglobulinemia uma vez que a síntese compensatória de imunoglobulinas é intensa Mais tarde a perda das imunoglobulinas tornase maior do que a da albumina A progressão e as manifestações clínicas da perda entérica de proteínas dependem da taxa de perda e da velocidade do catabolismo fracionário Uma perda súbita e grave de proteínas plasmáticas pode provocar a morte antes que haja síntese compensatória Se o catabolismo fracionário for gradual e pequeno pode ocorrer compensação e o pool de albumina permanece dentro do normal ou ligeiramente abaixo dele caracterizando uma perda proteica subclínica A proteína perdida pelo estômago ou intestino delgado superior e aquela perdida pela esfoliação epitelial quando ocorre atrofia de vilosidades por aumento da renovação epitelial podem ser digeridas e absorvidas no intestino delgado Isso vai depender da proteólise por enzimas pancreáticas e do grau de digestão e assimilação compensatória da membrana Entretanto a eficiência da digestão proteica não é completa A proteína endógena e a não digerida passam ao intestino grosso são transformadas em amônia pelas bactérias do cólon e esta é absorvida não ocorrendo aumento do nitrogênio fecal A amônia absorvida é convertida no fígado em ureia Desse modo animais com perda proteica pelo estômago e intestino delgado tendem a ter altos níveis de ureia no sangue e na urina A síntese compensatória de albumina pelo fígado é um processo anabólico que utiliza preferencialmente os aminoácidos da dieta Se a ingestão de proteína for baixa inapetência se a dieta for qualitativamente pobre ou ainda se a perda for grande e súbita o animal apresenta um equilíbrio de nitrogênio negativo Ocorre então aumento do catabolismo de proteínas periféricas para manter o pool de aminoácidos necessários à síntese de proteínas plasmáticas e intestinais sendo preferencial a síntese destas proteínas Com isso a síntese de proteínas estruturais é reduzida levando à redução do crescimento à atrofia muscular e à osteoporose redução da síntese da matriz óssea Além disso a síntese compensatória de proteínas leva a um grande gasto de energia com depleção energética Assim em animais caquéticos e com hipoproteinemia devese suspeitar de perda proteica pelo intestino Cabe ressaltar que as duas principais rotas de perda de proteínas plasmáticas são os rins nas doenças glomerulares e o trato gastrintestinal Entretanto outras rotas podem estar presentes como alterações exsudativas da pele e hemorragias externas ou gastrintestinais A hipoalbuminemia por outro lado pode estar presente na insuficiência hepática Na deficiência de ingestão ingestão inadequada e inanição a queda de albumina sérica é pequena A hidratação inadequada de um animal com hipoalbuminemia provoca edema subcutâneo do mesentério e da submucosa do estômago e às vezes hidrotórax ou ascite Mecanismo das doenças bacterianas intestinais O desequilíbrio da microbiota ou a vantagem competitiva podem propiciar o estabelecimento de amostras patogênicas de bactérias ou então a proliferação de patógenos oportunistas da microbiota Uma microbiota anormal característica do cólon pode se desenvolver no intestino delgado Esse supercrescimento microbiano é visto nos casos de acloridria e de modificações físicas e fisiológicas relacionadas com a estase intestinal ou perda do fluxo peristáltico normal Também nos casos de desconjugação dos sais biliares e de má absorção de gorduras isso pode ocorrer levando à esteatorreia e a outras complicações que serão tratadas ao serem abordadas a má absorção e a diarreia A disponibilidade de quantidades anormais de substrato nutriente pode propiciar a proliferação de amostras toxigênicas de Clostridium perfringens As toxinas produzidas podem ter um efeito necrosante local que pode ocorrer em cordeiros leitões e bezerros e na síndrome hemorrágica intestinal dos cães e colite em cavalos ou efeitos sistêmicos Estes últimos exemplificam bem o princípio das doenças enterotoxêmicas No caso da E coli a toxina solúvel shigalike Stx2e liberada por cepas toxigênicas provoca a doença do edema dos suínos o que exemplifica um efeito sistêmico da toxina Outras amostras de E coli têm capacidade de se aderirem ao epitélio do intestino delgado possibilitando sua colonização Essas amostras produzem diarreia secretória pela ação local de toxinas que estimulam mecanismos celulares reguladores da secreção de eletrólitos e água Em contraste diversos sorotipos de Salmonella enterica são patogênicos para os animais domésticos e enteroinvasivos penetrando o epitélio em vários locais particularmente no epitélio associado aos folículos linfoides solitários ou agregados linfoides Essas bactérias enteroinvasivas provocam inflamação aguda e causam danos extensivos à mucosa tais como erosão e efusão de fluidos Já a Brachyspira hyodysenteriae disenteria suína a B pilosicoli colite espiroquetal e a Lawsonia intracellularis enteropatia proliferativa suína provocam proliferação epitelial e erosões superficiais A B hyodysenteriae não é invasiva mas tanto a B pilosicoli quanto a L intracellularis são encontradas no citoplasma de células caliciformes e enterócitos respectivamente A L intracellularis provoca lesões tanto no intestino delgado quanto no grosso enquanto ambas as espécies de Brachyspira induzem lesão somente no intestino grosso Tanto na disenteria suína quanto na enteropatia proliferativa suína pode ocorrer diarreia hemorrágica O principal mecanismo de diarreia nessas três enfermidades é a má absorção A invasão da mucosa por micobactérias como na paratuberculose infecção por Mycobacterium avium subsp paratuberculosis produz enterite granulomatosa linfangite e linfadenite associadas à atrofia das vilosidades e perda intestinal de proteína Outras bactérias Rhodococcus equi e Yersinia spp localizamse no tecido linfoide provocando ulcerações e linfadenite supurada ou caseosa Em alguns casos de bacteriemia e septicemia Histophilus somni e Pasteurella spp a mucosa entérica pode ser alvo de embolismo e ulceração Por outro lado o inverso pode ocorrer Em geral as bactérias originárias do intestino penetram os linfáticos ou a veia porta causando bacteriemia e septicemia É o caso de salmonelose e colibacilose septicêmicas Diarreia A diarreia originária do intestino delgado é classificada em secretória mal absortiva e efusiva embora esses mecanismos possam ocorrer em conjunto Na diarreia secretória a secreção excede a absorção Um exemplo típico dessa diarreia é a provocada por enterotoxinas bacterianas sendo a E coli a principal fonte dessas toxinas A enterotoxina lábil ao calor LT labile toxin da E coli age pela mediação do cAMP Esse cAMP estimulado pela toxina provoca a parada do transporte de NaCl pela membrana celular voltada para o lúmen e consequentemente a redução da absorção passiva de água Além disso o cAMP promove a secreção de cloreto e a liberação de água para o lúmen Por esses dois mecanismos aumento da secreção nas criptas e redução da absorção nas vilosidades há sobrecarga de soluto e água que passa do intestino delgado para o cólon advindo a diarreia As enterotoxinas estáveis ao calor STa stabile toxin a e STb stabile toxin b de E coli e a enterotoxina de Yersinia enterocolitica parecem estimular a secreção da mucosa mediada pelo monofosfato de guanosina cíclico cGMP cyclic guanosine monophosphate Diarreia mal absortiva é exemplificada pela retenção osmótica de água no lúmen pelo sulfato de magnésio usado como laxante Ocorre na atrofia das vilosidades de qualquer origem e é devida à retenção de eletrólitos nutrientes e água osmoticamente associada Se não ocorre absorção compensatória no terço final do intestino delgado o soluto e a água adicionais passam ao cólon sobrevindo a diarreia Na atrofia de vilosidades há provavelmente aumento também da secreção É possível que as células pouco diferenciadas que migram das criptas guardem ainda a capacidade secretória Insuficiências pancreáticas exócrinas e comprometimento da fase intraluminal da digestão também podem induzir esse tipo de diarreia A diarreia efusiva se dá por aumento da permeabilidade da mucosa Há aumento do movimento de líquidos do espaço intercelular lateral para o lúmen ou aumento da transudação do líquido tissular A chamada secreção por filtração é caracterizada pelo aumento do movimento do fluido na membrana epitelial pela rota paracelular a força para a secreção advém do aumento da pressão hidrostática transepitelial Esse mecanismo está presente na hipertensão porta na insuficiência cardíaca direita na hipoalbuminemia e na expansão do volume plasmático hiperhidratação A efusão ocorre também na obstrução linfática ou linfangiectasia e na inflamação da lâmina própria devido ao aumento da permeabilidade vascular O aumento da esfoliação do epitélio microerosões e necroses extensas da mucosa com exposição da lâmina própria favorecem a efusão de fluidos A diarreia originária do intestino grosso é o produto da redução da capacidade do cólon em absorver soluto e água que chegam do intestino delgado A diarreia colônica é caracterizada pela passagem frequente de pequenas quantidades de fezes fluidas A disfunção do cólon na gênese da diarreia é pouco estudada mas os mesmos mecanismos citados para o intestino delgado aumento da secreção má absorção e efusão também ocorrem isoladamente ou em conjunto Erosões e ulcerações reduzem a função do cólon por perda da superfície de absorção como ocorre na salmonelose na disenteria suína e na colite espiroquetal Na salmonelose a efusão de líquido também está presente Os ácidos biliares doença ileal com má absorção ileal por lesão crônica grave e os ácidos graxos esteatorreia provocam diarreia por mecanismos semelhantes Os ácidos biliares e os ácidos graxos de cadeia longa são hidroxilados pela ação bacteriana e alteram a permeabilidade da mucosa provocando discreta lesão do epitélio superficial Além disso ambos estimulam a secreção mediada pelo cAMP por aumentar a liberação de prostaglandinas Esse mecanismo é visto também em vários laxantes que contêm a forma hidroxilada do ácido ricinoleico como o óleo de rícino A redução da produção e consequentemente da absorção de ácidos graxos voláteis por alteração da microbiota do ceco e do cólon também provoca diarreia porque esta última é responsável por considerável absorção concomitante de água A sobrecarga osmótica do intestino grosso é resultante da passagem de grande volume de substrato fermentável do intestino delgado Ocorre pelo excesso de carboidratos na dieta ou por sua má absorção no intestino delgado A fermentação bacteriana dos carboidratos aumenta a produção de ácidos graxos voláteis Há redução do pH uma vez que a capacidade tamponante do carbonato é ultrapassada com alteração da microbiota e predominância de organismos produtores de ácido láctico Como o ácido láctico é absorvido mais lentamente a acidez provoca aumento da permeabilidade da mucosa devido ao aumento da pressão osmótica no lúmen e consequentemente diarreia Além desses mecanismos gerais da diarreia outros são aventados O aumento da motilidade intestinal não parece exercer papel primário na patogenia da diarreia Geralmente o intestino delgado de animais com diarreia é flácido e cheio de líquido indicando que não há hipermotilidade O aumento da atividade motora do cólon na diarreia é geralmente segmentar antiperistáltico e não relacionado com o aumento do trânsito intestinal A hipermotilidade se existir é secundária ao aumento de líquido Na hipomotilidade intestinal nas obstruções parciais do intestino delgado no íleo paralítico e nas radiações ocorre supercrescimento bacteriano que também é favorecido pela acloridria ou hipocloridria no cão O número de anaeróbios no lúmen chega próximo daquele do intestino grosso Ocorrem atrofia discreta ou moderada das vilosidades e desconjugação de ácidos biliares resultando em ácidos biliares livres alguns dos quais são hidroxilados o que provoca lesão do enterócito Além disso pela diminuição dos ácidos biliares conjugados há má absorção das gorduras que é exacerbada pelo dano tóxico aos enterócitos advindo a esteatorreia Os ácidos biliares hidroxilados e os ácidos graxos não absorvidos promovem secreção intestinal o que resulta em diarreia Anemia A cinética descrita para a albumina plasmática pode ser aplicada também à cinética do éritron quando ocorre hemorragia pelo trato gastrintestinal A perda sanguínea de qualquer origem inclusive a provocada por parasitas hematófagos causa anemia Há hiperplasia eritroide da medula óssea ou hematopoese extramedular compensatória No caso de hemorragia continuada a compensação pode não ocorrer Na perda sanguínea crônica há depleção dos estoques de ferro com consequente anemia hipocrômica microcítica Obstrução intestinal São distinguíveis patogenicamente dois tipos de obstrução intestinal a simples e a estrangulada Na obstrução simples há apenas impedimento do trânsito intestinal enquanto na estrangulada ocorre também impedimento circulatório com isquemia e infarto intestinal Obstrução simples da porção oral do intestino duodeno e jejuno é tipicamente aguda e quanto mais próxima ao estômago mais grave No sentido oral ao ponto da obstrução há acúmulo de líquido oriundo da ingesta e das secreções gástricas biliar pancreática e intrínseca do intestino Além do líquido acumulase gás liberado pela ação bacteriana ou pela fermentação do próprio conteúdo alimentar o que provoca distensão do intestino e consequente sequestro de água e eletrólitos no lúmen Nas espécies que vomitam há também estímulo ao vômito com rápida desidratação hipocloremia hipopotassemia e alcalose metabólica Todos esses fatores levam a um grave desequilíbrio hidreletrolítico e à morte Na obstrução simples da porção aboral do intestino íleo e intestino grosso pode haver distensão com desidratação mas o desequilíbrio hidreletrolítico é menos grave já que a absorção de líquido nas porções orais é possível Isso previne a distensão aguda do intestino Mesmo assim há distensão aumento da secreção intestinal e supercrescimento bacteriano do conteúdo intestinal estagnado Pode sobrevir uma acidose metabólica em consequência da desidratação e catabolismo de gorduras e proteína muscular em razão da parada do consumo e da assimilação de alimentos Assim a obstrução simples da porção aboral do intestino tem um curso crônico As obstruções incompletas ou de desenvolvimento lento podem levar à hipertrofia muscular compensatória do segmento anterior à obstrução ao progresso da lesão primária ou ao acúmulo de digesta sólida fazendo com que a obstrução se torne completa As obstruções do cólon causam acúmulo excessivo de conteúdo intestinal e intensa distensão abdominal Qualquer que seja o segmento afetado porções orais ou aborais a lesão macroscópica característica é a distensão no segmento com localização oral em relação ao ponto obstruído além disso há acúmulo de líquido e gás no lúmen A localização o grau e a duração da obstrução é que determinam o grau de distensão Com o aumento da distensão há interferência com o retorno venoso e a mucosa e submucosa tornamse congestas A desvitalização da parede intestinal distendida e a necrose da mucosa por compressão do conteúdo ou corpos estranhos no lúmen podem levar à gangrena perfuração e peritonite Os segmentos posteriores à obstrução estão normalmente colapsados e vazios Na obstrução intestinal estrangulada a consequência é a hipoxia que advém da obstrução das veias eferentes e das artérias aferentes ou da redução do fluxo pela baixa pressão sanguínea Ocorre perda da integridade da mucosa o que resulta em cessação da absorção de água e eletrólitos efusão de líquido e sangue para o lúmen proliferação de anaeróbios no lúmen com formação de gás e grande distensão Os anaeróbios particularmente Clostridium spp produzem toxinas que causam gangrena intestinal com possível ruptura Do lúmen ocorre absorção de endotoxinas ou moléculas semelhantes pela mucosa desvitalizada por meio do fluxo portal retorno linfático ou peritônio levando à toxemia As endotoxinas e assemelhadas deprimem a função cardiovascular levando à insuficiência circulatória A causa da morte também pode estar associada à peritonite séptica por ruptura intestinal pela invasão transmural de bactérias intestinais ou por perfuração da parede desvitalizada que é resultado tanto da hipoxia como dos efeitos necrosantes das toxinas produzidas por Clostridium spp A obstrução das veias eferentes é a principal causa de isquemia intestinal e independentemente do agente desencadeador leva ao infarto venoso O intestino e o mesentério tornamse intensamente edematosos congestos e hemorrágicos de modo que a parede intestinal fica espessa e de coloração vermelhoescura quase negra O lúmen está distendido por líquido sanguinolento e gás Como a lesão progride para gangrena a alça tornase negra e esverdeada e a causa inicial está facilmente evidenciada São três as causas básicas de obstrução intestinal obstruções mecânicas que provocam o fechamento do lúmen intestinal obstrução nervosa também conhecida como íleo paralítico e obstrução vascular causada por trombose ou embolismo e no caso de redução da perfusão Entre as obstruções mecânicas estão os processos de estreitamento congênito atresias e estenoses e adquirido inflamações traumatismo e neoplasias as obstruções por corpos estranhos exógenos ou endógenos fecalólitos ou enterólitos e parasitas e as obstruções por compressão externa por aumento de volume de estruturas adjacentes Todos esses exemplos são causadores de obstruções simples Algumas obstruções mecânicas provocadas por compressões externas como no caso de hérnias estranguladas torção ou vólvulo e intussuscepção desenvolvem obstruções estranguladas Quadro 31 A seguir serão discutidas cada uma das causas de obstrução intestinal Estreitamentos congênitos e adquiridos As atresias e estenoses intestinais são anomalias do desenvolvimento Na fase embrionária o intestino é constituído por células epiteliais endodérmicas circundadas por uma camada externa de tecido conjuntivo originário do ectoderma esplâncnico que as suporta Com o desenvolvimento fetal o intestino cresce e forma alças espiraladas que se deslocam para dentro do umbigo Nos estádios tardios de desenvolvimento fetal o intestino abandona o umbigo alojandose no abdome Durante a fase embrionária inicial provavelmente por impedimento circulatório de um segmento ocorrem as anomalias segmentares que podem ser estenose ou seja oclusão incompleta do lúmen e atresia a oclusão completa do lúmen As atresias podem ser membranosas formase uma membrana simples ou diafragma obstruindo o lúmen em cordão as extremidades cegas do intestino estão unidas por um cordão de tecido conjuntivo e de extremidade cega um segmento do intestino e seu mesentério estão ausentes formando duas extremidades cegas Podem ser causas de distocias pela distensão excessiva do abdome fetal A atresia do íleo é a anomalia mais comum do intestino delgado frequente em bezerros e rara em outras espécies A atresia do jejuno é uma condição hereditária de característica autossômica recessiva A atresia de cólon é comum em bezerros holandeses e potros podendo ser hereditária Já a atresia anal é o defeito congênito mais comum em todas as espécies mais frequente em bezerros e leitões Figura 356 sendo de natureza hereditária Consiste na não perfuração da membrana endodérmica que separa o intestino grosso do tecido ectodérmico do ânus Talvez a atresia anal seja mais comumente observada pelo fato de essa alteração ser facilmente diagnosticada clinicamente dispensando realização de necropsia Quadro 31 Causas de obstrução intestinal Obstrução mecânica fechamento do lúmen Estreitamentos Congênitos atresias e estenoses Adquiridos in amação traumatismo neoplasias Obstruções Corpos estranhos Fecalólitos ou enterólitos Parasitas Compressão externa Por aumento de volume de estruturas adjacentes Por hérnias Por torção ou vólvulo Por intussuscepção Obstrução nervosa Obstrução vascular Trombose embolismo Redução da perfusão Figura 356 Atresia anal em suíno Ausência de orifício anal Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Como exemplo de estenose congênita temse a agangliose do cólon que ocorre em potros brancos descendentes de pais com pelagem overo descrita em cavalos da raça Paint Horse Esse padrão é caracterizado por manchas brancas orientadas horizontalmente e que não ultrapassam a região dorsal entre a cernelha e a cauda Acreditase que haja relação entre esse padrão de pelagem com o surgimento da aglangliose colônica congênita por herança autossômica recessiva Os potros podem apresentar pelagem totalmente branca ou pequenas áreas pigmentadas no focinho abdome ou nos quartos traseiros Clinicamente os animais desenvolvem cólica e morrem em até 48 h após o nascimento Macroscopicamente podese observar estenose do cólon menor mas todo o cólon e reto podem estar estenosados Segmentos anteriores às áreas de estenose podem apresentarse distendidos por gás Microscopicamente os gânglios mioentéricos do íleo ceco e cólon estão ausentes Além disso melanócitos podem ser observados apenas naquelas áreas de pigmentação restrita da pele Essa associação entre ausência de plexos mioentéricos e ausência de melanócitos na pele pode ser explicada uma vez que ambos são derivados da crista neural de desenvolvimento embrionário Os estreitamentos adquiridos do intestino advêm de alterações murais tais como abscessos intramurais cicatrização de lesões ulcerativas Figura 357 ou de enterotomias e neoplasias primárias como pólipos colorretais tumores polipoides adenocarcinomas linfossarcomas e tumores carcinoides Figura 357 Estenose de ampola retal em suíno de 60 dias de idade Intensa dilatação da cavidade abdominal em animal magro Prolapso retal Prolapso retal ocorre com frequência em ruminantes principalmente ovinos e em suínos As causas ou fatores predisponentes incluem tenesmo disúria neuropatia tosse crônica diarreia predisposição genética e ingestão de plantas fitoestrogênicas ou de rações com milho contaminado com micotoxina zearalenona Além disso prolapso retal em ovinos pode ser uma sequela de caudectomia uma vez que quando a amputação da cauda se dá muito próximo ao sacro há comprometimento da inervação do esfíncter anal Logo após a ocorrência do prolapso a mucosa retal prolapsada tornase congesta podendo ocorrer hemorragia Figura 358 Dependendo da duração do processo podem ocorrer lesões isquêmicas eou traumáticas à mucosa retal Corpos estranhos As obstruções do lúmen podem ser provocadas por corpos estranhos de natureza diversa Pequenos corpos estranhos arredondados Figura 359 ou pontiagudos podem passar pelo intestino sem nenhuma consequência Alguns podem se manter no intestino sem produzir alteração até atuarem como núcleo para formação de enterólitos Corpos estranhos maiores pontiagudos ou não podem ter consequências imprevisíveis A areia pode ficar sedimentada no cólon de equinos que pastam em solos arenosos o que pode levar à colite crônica e obstrução processo que é denominado sablose Objetos que ficam impactados no lúmen podem provocar obstrução parcial ou total dependendo do tamanho além de provocar necrose por compressão sobre a mucosa e eventualmente até perfuração intestinal Corpos estranhos lineares como cordões e linhas fixamse frequentemente na base da língua ver Figura 35 e são tracionados em sentido aboral Principalmente no intestino delgado esses corpos estranhos lineares provocam um efeito sanfona Figura 360 A bem como erosões e ulcerações na face mesentérica da parede intestinal Figura 360 B devido ao atrito contínuo proporcionado pelo peristaltismo Peritonites sépticas são frequentemente observadas Figura 358 Prolapso retal em ovino Cortesia do Dr Custódio Antonio Carvalho Júnior Caxambu MG Figura 359 Obstrução intestinal simples anterior em cão Porção oral do duodeno com aumento de volume regular arredondado com intensa congestão da serosa Detalhe corpo estranho redondo e esverdeado no lúmen do duodeno Fecalólitos ou enterólitos concreção mineral são comuns no cólon de equinos e se constituem de concreções com lâminas concêntricas em torno de um núcleo formado por corpo estranho ou partícula alimentar Outras concreções de fibras fitobezoares e de pelos tricobezoares podem se alojar no intestino A impacção do cólon por fezes cães e gatos e por digesta cavalos é comum e leva à obstrução intestinal Parasitas Parasitas do grupo dos ascarídeos podem formar grandes bolos Figura 361 ou massas enoveladas no lúmen intestinal e causar obstrução em várias espécies animais Compressão externa O intestino pode sofrer fechamento do lúmen por compressão causada por aumento de volume em órgãos vizinhos como em casos de neoplasias pancreáticas aumento inflamatório ou neoplásico de linfonodos e necrose da gordura abdominal Aderências formadas nos casos de peritonites também podem provocar problema semelhante Hérnias são deslocamentos de vísceras principalmente intestinos dentro da própria cavidade abdominal hérnia interna ou para fora dela hérnia externa por um forame natural hérnias verdadeiras ou adquirido p ex eventrações e eviscerações As hérnias só são causas de obstrução intestinal quando há o encarceramento dos segmentos deslocados O encarceramento ocorre quando há dilatação das alças herniadas ou estreitamento do forame Figura 360 Corpo estranho linear no intestino delgado de um cão A Efeito sanfona ocasionando fixação cranial de corpo estranho linear B Úlceras lineares na face mesentérica causadas por corpo estranho linear Figura 361 Infestação intensa de Ascaridia galli no intestino delgado de uma galinha Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP As hérnias internas estão constituídas pelas alças intestinais deslocadas conteúdo herniário e pelo forame anel herniário pela qual as alças se insinuam As hérnias geralmente recebem sua denominação segundo o anel herniário Hérnia epiploica ou omental formase com o deslocamento de alças para a bolsa omental pelo forame de Winslow ou por rasgaduras do omento maior ou menor Na hérnia mesentérica as alças insinuamse por rasgaduras do mesentério Figura 362 Hérnia pélvica se dá pelo rompimento da prega peritoneal do ducto deferente que fixa o ducto à parede pélvica durante a castração criando um hiato pelo qual as alças se insinuam As hérnias externas são formadas pelos seguintes componentes alças intestinais ou outro conteúdo herniário como o corno uterino no caso de hérnias inguinais em cadelas as quais se deslocam por um forame natural ou adquirido nesse caso denominado anel herniário levando consigo o peritônio parietal que resulta em uma formação saculiforme chamada de saco herniário e estão recobertas por pele e outros tecidos moles envoltórios acessórios Como as hérnias internas são denominadas segundo o anel herniário Na hérnia ventral as alças intestinais se insinuam por soluções de continuidade da parede abdominal devido ao afastamento ou à ruptura de feixes musculares Essa insinuação de alças intestinais por ocorrer por meio de um forame adquirido não se enquadra na classificação de hérnia verdadeira sendo um exemplo típico de eventração Caso haja também solução de continuidade da pele e exposição das alças intestinais dáse o nome de evisceração Figura 363 Na hérnia umbilical o anel é constituído pelo forame umbilical persistente Figura 364 Hérnias inguinais se formam pela passagem de alças pelo forame inguinal que é aberto nos machos de todas as espécies e na cadela A hérnia escrotal é uma extensão da hérnia inguinal quando as alças intestinais alojamse na túnica vaginal Na hérnia femoral as alças se insinuam pelo triângulo femoral ao longo da artéria femoral Hérnia perineal ocorre por desvitalização e ruptura da fáscia perineal Cursa com hipertrofia prostática em cães o que provoca tenesmo e aumento da pressão sobre os músculos perineais Os procedimentos de redução dessa hérnia são normalmente acompanhados pela castração do macho o que induz redução do tamanho da próstata Essa alteração também se enquadra melhor na classificação de eventração mas o termo hérnia perineal já é consagrado pelo uso Finalmente as hérnias diafragmáticas podem ser defeitos congênitos ou adquiridos do diafragma Figura 365 que permitem o deslocamento de vísceras para um dos sacos pleurais e excepcionalmente para o saco pericárdio hérnia pericárdica Figura 366 Figura 362 Hérnia mesentérica em cão Intensa dilatação e congestão de alças intestinais Detalhe insinuação de segmento de intestino delgado por orifício no mesentério Cortesia da Dra Roselene Ecco Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 363 Evisceração de segmento de intestino delgado por orifício na porção torácica ventrolateral esquerda de um equino Figura 364 Hérnia umbilical em bezerro macho Cortesia do Dr José Wanderley Cattelan Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP A torção rotação ao redor do eixo maior das vísceras e o vólvulo torção do intestino sobre seu eixo maior são sempre causas de obstrução estrangulada A torção do eixo maior do mesentério é comum em suínos e ruminantes lactentes e rara em equinos cães e gatos Em todas as espécies provoca morte rápida No suíno é provocada por excesso de produção de gás a partir de substratos altamente fermentáveis no cólon Nessa espécie é uma causa comum de morte súbita esporádica ou de vários animais da mesma criação e pode ser confundida com a chamada síndrome da hemorragia intestinal Nos ruminantes é comum em animais lactentes ou aleitados artificialmente nos quais há formação de gás e hipermotilidade predispondo à torção O vólvulo ocorre em qualquer espécie Figura 367 mas é mais frequente nos equinos sendo causa comum de obstrução estrangulada O vólvulo em equinos ocorre com maior frequência no cólon maior esquerdo devido à maior mobilidade da estrutura Figura 365 Hérnia diafragmática em equino Insinuação de segmento de intestino delgado por orifício na porção dorsal esquerda do diafragma Notar a congestão dos segmentos adjacentes ao anel herniário seta Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Figura 366 Hérnia diafragmática em cão A Insinuação de estômago E na cavidade torácica comprimindo os pulmões P Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP B Insinuação de alças intestinais no saco pericárdico A intussuscepção é o invaginamento de um segmento do intestino dentro de outro segmento Figura 368 A causa é às vezes inaparente mas pode ocorrer como consequência de corpos estranhos lineares parasitismo intenso cirurgia intestinal prévia enterite e lesões intramurais abscessos tumores A extensão da intussuscepção é limitada pela tensão do mesentério 10 a 12 cm nos pequenos animais 20 a 30 cm nos grandes animais A compressão dos vasos mesentéricos provoca infarto venoso inflamação e aderência das serosas em contato A aderência torna a invaginação não redutível e ocorrem necrose e gangrena do segmento invaginado As invaginações agônicas ou post mortem diferem das verdadeiras invaginações pela ausência de alterações circulatórias e aderências Obstrução nervosa A obstrução nervosa é uma obstrução funcional e se enquadra melhor nas alterações macroscópicas observadas na obstrução simples entretanto sem que haja impedimento físico da progressão da ingesta O exemplo típico é o íleo paralítico também chamado de íleo adinâmico O íleo paralítico é consequência de irritações peritoneais como cirurgias abdominais com manuseio das vísceras e exposição demorada destas ao meio ambiente bem como nos casos de peritonite devido à irritação do peritônio por toxinas Essa alteração resulta de uma variedade de fatores e reflexos neurogênicos que interferem na inibição dos neurônios do plexo mioentérico As descargas tônicas contínuas desses neurônios inibem a contração da camada circular de músculo liso advindo a atonia e a obstrução simples Os intestinos ficam distendidos com uma mistura de gás e líquido e a parede é flácida A alteração pode envolver um segmento com exemplo com menos de 1 m de comprimento ou vários segmentos como nos casos de peritonite difusa No cavalo complicações comuns do íleo paralítico são a dilatação e a ruptura gástrica Figura 367 Vólvulo intestinal em cão Torção de segmento do intestino delgado sobre seu eixo com consequente congestão e gangrena da porção estrangulada Figura 368 Intussuscepção intestinal em bovino A Segmento de íleo e cólon proximal interiorizados no ceco B Ceco seccionado longitudinalmente demonstrando intensa congestão do segmento interiorizado Cortesia da União Pioneira de Integração Social Brasília DF Outro tipo de obstrução funcional é a que ocorre na grass sickness no Reino Unido e na Europa ocidental Tratase de uma enfermidade de equinos mal definida cujas lesões estão confinadas ao trato alimentar Há edema da parede esofágica com congestão linear e ulceração da mucosa o estômago se torna distendido por líquido amarronzado alcalino de consistência cremosa ou aquosa com material fibroso em suspensão e pode haver ruptura desse órgão O intestino delgado contém muito líquido e apresenta às vezes algumas hemorragias e edema da junção mesentérica O intestino grosso tem conteúdo impactado e seco e os aglomerados fecais do cólon são pequenos secos e recobertos por sangue A causa dessa alteração não é bem conhecida Têmse verificado alterações degenerativas nos gânglios autônomos e isolouse um fator neurotóxico do plasma de animais doentes que corresponde a uma proteína com peso molecular de 30000 dáltons ou mais A diferenciação entre esse processo e a impacção primária do cólon é difícil Obstrução vascular O tromboembolismo arterial é comum somente no cavalo estando associado a endoarterite da artéria mesentérica cranial provocada por larvas migrantes de Strongylus vulgaris Apesar de frequente a endoarterite raramente cursa com obstrução intestinal dada a facilidade do estabelecimento da circulação colateral Entretanto as lesões isquêmicas que podem atingir só a mucosa ou toda a parede intestinal Figura 369 podem levar à atonia e consequentemente à obstrução estrangulada As alterações restritas ao campo circulatório da artéria mesentérica cranial íleo ceco e cólon maior vão desde lesões ulcerativas ou fibrinonecróticas superficiais até grandes áreas desvitalizadas de cor escura flácidas e friáveis circundadas por área de congestão hemorragia e edema na parede O conteúdo intestinal é fétido e de aspecto sanguinolento devido à isquemia transmural Às vezes ocorre redução da perfusão devido ao menor fluxo sanguíneo na artéria afetada mas sem tromboembolismo resultando em episódios recorrentes de cólica Outras causas de tromboembolismo são a pasteurelose septicêmica em cordeiros e a bacteriemia por Histophilus somni em bovinos A redução da perfusão vascular também leva à atonia e à obstrução A isquemia resultante é de difícil diagnóstico Ocorre em circunstâncias como choque hemorrágico ou hipovolêmico coagulação intravascular disseminada fibrose hepática com hipertensão porta insuficiência cardíaca com choque hipotensivo e choque endotóxico A lesão isquêmica atinge apenas a mucosa mas pode predispor à perfuração do reto em cavalos e ao estreitamento do lúmen como ocorre no estreitamento retal em suínos associado à salmonelose Alterações in押amatórias As alterações inflamatórias do intestino são genericamente denominadas de enterite embora o termo seja empregado preferencialmente para designar a inflamação do intestino delgado As inflamações do ceco cólon e reto são especificamente chamadas de tiflite ou cecite colite e proctite respectivamente Nos casos de envolvimento segmentar do intestino delgado são usados os termos duodenite envolvimento do duodeno jejunite envolvimento do jejuno e ileíte envolvimento do íleo Nos processos inflamatórios difusos que envolvem também o estômago utilizase o termo gastrenterite Figura 369 Múltiplas áreas de infarto no cólon de um equino Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG A inflamação do intestino como a do estômago é uma alteração pouco definida podendo ser confundida com alterações puramente fisiológicas ou com a maceração post mortem da mucosa Como todo processo inflamatório as enterites podem ser agudas Figura 370 subagudas crônicas ou crônicoativas A inflamação pode estar limitada à mucosa quando as células inflamatórias estão restritas à lâmina própria ou ser transmural atingindo a submucosa a camada muscular a serosa e frequentemente os linfonodos regionais A classificação das enterites leva em consideração o infiltrado inflamatório e as características morfológicas Morfologicamente existem quatro tipos básicos catarral Figura 371 hemorrágica fibrinosa e necrótica ou diftérica A classificação morfológica é feita segundo a natureza da alteração predominante e a associação de duas ou mais alterações dá origem a outros tipos como fibrinohemorrágica Figura 372 fibrinonecrótica ou fibrinodiftérica Figura 373 etc Outros tipos são descritos sempre com base na alteração morfológica predominante erosiva erosões ulcerativa Figura 374 úlceras cística dilatação cística das glândulas das criptas e proliferativa proliferação de células epiteliais da mucosa Tipos adicionais aparecem quando se levam em consideração os achados histológicos e a natureza do infiltrado inflamatório eosinofílica linfoplasmocitária granulomatosa histiocitária etc Nos processos inflamatórios agudos há sempre atrofia das vilosidades seja por aumento da taxa de descamação ver atrofia das vilosidades com preservação das criptas ou por redução da proliferação ver atrofia das vilosidades com dano do compartimento proliferativo Nos dois casos o intestino está hipotônico dilatado e com paredes geralmente finas a não ser que haja grave edema na lâmina própria e na submucosa Há hiperemia ativa arterial tanto da serosa quanto da mucosa caracterizada por coloração vermelhobrilhante difusa ou distribuída em pontos ou ao longo das pregas da mucosa O conteúdo do lúmen é fluido com flocos amarelados ou brancacentos de muco e pequenas bolhas gasosas Figura 370 Colite aguda em um equino caracterizada por hiperemia intensa e difusa da mucosa com conteúdo intestinal líquido amarelado Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 371 Colite catarral em suíno Acúmulo de material catarral sobre a mucosa do segmento oral do cólon Animal com disenteria suína fase inicial Cortesia do Dr Ernane Fagundes do Nascimento Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 372 A Enterite fibrinohemorrágica em cão devido a infecção pelo parvovírus canino tipo 2 Exsudato fibrinoso aderido à mucosa intestinal Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG B Enterite hemorrágica em cão com parvovirose Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Figura 373 Enterite fibrinonecrótica em javali Exsudato fibrinoso e necrótico amarelado com formato tubular intestinal Animal com salmonelose Cortesia da União Pioneira de Integração Social Brasília DF Figura 374 Tiflite ulcerativa em potro Múltiplas úlceras de bordas amareladas distribuídas difusamente na mucosa cecal Infecção por Rhodococcus equi Quando a descamação epitelial é muito grande o conteúdo tornase viscoso e às vezes acinzentado O tecido linfoide pode estar evidenciado e as placas de Peyer se tornam visíveis pela serosa mostrando superfície finamente nodular e reticulada Essas características são próprias da enterite catarral aguda As mesmas características se acompanhadas de conteúdo sanguinolento no lúmen caracterizam a enterite hemorrágica Algumas vezes há exsudação de fibrina para o lúmen na forma de filamentos ou placas espessas amareladas ou formando cilindros e exsudação para a serosa tornandoa opaca e com aspecto vítreo Acompanham ainda hemorragias petequiais e pequenas erosões na mucosa caracterizando a enterite fibrinosa Em casos graves a mucosa sofre necrose de coagulação e as áreas necróticas e consequentemente ulceradas estão recobertas por membrana diftérica constituída por fibrina restos celulares e células inflamatórias Essa membrana fica levemente aderida à superfície ulcerada da mucosa caracterizando a enterite necrótica ou diftérica Enquanto nos cães com insuficiência renal crônica a principal manifestação gastrintestinal é a gastropatia urêmica ver Figura 342 em equinos o mais comum é a ocorrência de colite ulcerativa associada à uremia Figura 375 Colite ulcerativa também ocorre com frequência em cavalos que desenvolvem distensão acentuada do cólon resultando em úlceras lineares longitudinais Figura 376 Nos processos inflamatórios crônicos há também atrofia das vilosidades mas com hipertrofia das criptas ver atrofia de vilosidades com hipertrofia das criptas O intestino mantém seu tônus e apresenta parede espessa por espessamento da mucosa O conteúdo do lúmen é constituído por muco espesso aderido à superfície mucosa caracterizando a enterite catarral crônica Em cursos prolongados o conteúdo pode se tornar mais fino e cremoso caracterizando a enterite purulenta Figura 375 Colite ulcerativa em equino secundária à insuficiência renal crônica Mucosa difusamente hiperêmica com múltiplas erosões e ulcerações Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Figura 376 Mucosa do cólon de um equino difusamente hiperêmica com extensa úlcera longitudinal e linear secundária à distensão intestinal Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Alterações proliferativas Adenomas intestinais se localizam preferencialmente no reto de cães de meiaidade São geralmente nódulos sésseis ou pedunculados de cerca de poucos centímetros de diâmetro Tenesmo prolapso do pólipo sangramento retal após defecação e diarreia são os sinais clínicos mais frequentemente observados Histologicamente o padrão varia de tubular a papilar revestido por células epiteliais colunares ou cuboides pseudoestratificadas Adenocarcinomas de intestino são raros em animais domésticos Entretanto relatos da Nova Zelândia têm demonstrado maior frequência dessa neoplasia em ovinos idosos Aparentemente essa maior casuística está relacionada com a ingestão de forrageira potencialmente carcinogênica mas não foi realizada reprodução experimental da moléstia Ao contrário dos adenomas apesar de os adenocarcinomas se projetarem ligeiramente para o lúmen seu comportamento é infiltrativo na parede intestinal invadindo submucosa camada muscular e até a serosa Essa neoplasia incita reação fibrosa local e tem tendência de distribuição anelar o que frequentemente culmina em estenoses e obstruções parciais do lúmen Podem ser observados quatro padrões histológicos forma papilar com projeções digitiformes de estroma revestido por várias camadas de células epiteliais transformadas forma tubular com formação de túbulos ramificados adenocarcinoma mucinoso em que ocorre a formação e o acúmulo de grande quantidade de mucina o que leva à formação de cistos vistos macroscopicamente e forma em anel de sinete caracterizada pela presença de células isoladas com citoplasma repleto de secreção mucinosa e núcleo deslocado para a periferia o que dá o aspecto de anel de sinete Leiomiomas e leiomiossarcomas são neoplasias benignas e malignas de fibras musculares lisas respectivamente da camada muscular e mais raramente da muscularis mucosae O cão é a espécie mais frequentemente acometida Apresentamse macroscopicamente como massas circunscritas brancacentas e de consistência firme que no caso dos leiomiossarcomas têm tendência de infiltração profunda na parede e na serosa intestinais À semelhança dos adenocarcinomas provocam estenoses obstruções parciais ou completas e intussuscepções Histologicamente caracterizamse por feixes de fibras musculares lisas dispostas em diferentes sentidos O principal diferencial são os fibromas e fibrossarcomas Nos leiomiomas as células fusiformes são mais homogêneas com citoplasma eosinofílico abundante e índice mitótico baixo Já na forma maligna existem maior celularidade anisocariose múltiplos nucléolos núcleos bizarros e maior índice mitótico Linfossarcomas acometem particularmente o intestino delgado sendo o gato a espécie mais frequentemente afetada Cerca de 20 dos linfossarcomas em gatos têm apresentação intestinal São originados de células linfoides da parede intestinal Figura 377 podendo ter apresentação segmentar ou difusa Os linfossarcomas intestinais frequentemente causam estenoses e intussuscepção Metástases quando ocorrem afetam os linfonodos mesentéricos e o fígado Figura 377 A e B Linfossarcoma intestinal em cão Nódulos ulcerados e arredondados multifocais no duodeno Peritônio O peritônio é uma membrana serosa ampla que reveste todos os órgãos contidos na cavidade abdominal peritônio visceral e a face interna da parede da cavidade abdominal peritônio parietal A superfície peritoneal é revestida por uma camada simples de células mesoteliais sustentadas por uma membrana basal e por fibras colágenas e elásticas Tratase portanto de uma membrana fina resistente e elástica A cavidade peritoneal contém em condições normais pequena quantidade de líquido suficiente para evitar atrito entre os órgãos especialmente dos intestinos já que estes se movimentam O líquido peritoneal é isosmótico em relação ao plasma sanguíneo embora não contenha proteínas de alto peso molecular e portanto não coagule espontaneamente Cabe ressaltar que ocorre transporte ativo de fluidos em toda a superfície do peritônio tanto do parietal quanto do visceral Várias alterações importantes ocorrem na cavidade peritoneal embora na maioria dos casos tais alterações sejam secundárias a alterações primárias em órgãos abdominais É importante o reconhecimento de alterações post mortem que ocorrem no peritônio as quais devem ser diferenciadas de alterações ante mortem sendo as efusões e as alterações de coloração as mais frequentes Durante o processo autolítico que se segue à morte há tendência de acúmulo de líquido na cavidade peritoneal por transudação Esse líquido geralmente adquire coloração vermelhoescura devido à hemólise e consequente liberação de hemoglobina Em cadáveres com autólise moderada ou avançada líquido com esse aspecto pode também ser observado em outras cavidades serosas O líquido não coagula e deve ser diferenciado daqueles encontrados nos casos de hidroperitônio e de hemoperitônio ver a seguir Entre as alterações post mortem de coloração do peritônio são importantes Pseudomelanose que é a coloração esverdeada principalmente na serosa intestinal decorrente da formação de sulfametaemoglobina resultante da combinação de gás sulfídrico produzido por bactérias intestinais com hemoglobina liberada Essa alteração tende a se iniciar no ceco Embebição por hemoglobina que se traduz em uma coloração avermelhada ou rósea difusa em toda a superfície peritoneal geralmente está associada ao acúmulo de líquido peritoneal avermelhado conforme descrito anteriormente A embebição por hemoglobina é facilmente visível na superfície interna das artérias Embebição pela bile que afeta principalmente a parte do fígado e das vísceras com localização adjacente à vesícula biliar Entre as anomalias do desenvolvimento da cavidade peritoneal destacamse as hérnias congênitas detalhadas anteriormente ver Figuras 364 a 366 Uma alteração congênita pouco frequente mas marcante da cavidade peritoneal é a condição denominada schistosomus reflexus que consiste na ausência de fechamento ventral da cavidade abdominal resultando em evisceração congênita Entre as alterações degenerativas do peritônio destacase a necrose do tecido adiposo esteatonecrose da cavidade abdominal Macroscopicamente a esteatonecrose apresentase como áreas ou massas que podem ter padrão focal multifocal ou difuso na gordura peritoneal Essas massas são firmes e irregulares e contêm áreas de mineralização correspondentes a pontos esbranquiçados que variam de milímetros até poucos centímetros de diâmetro Ao corte a faca range como se estivesse cortando areia confirmando conteúdo mineral Pode haver gotículas de gordura livres boiando no líquido abdominal especialmente em casos de pancreatite em cães Microscopicamente observamse perda da arquitetura celular dos adipócitos com fragmentação da membrana plasmática acúmulo de grande quantidade de material acelular amorfo levemente eosinofílico misturado com gotículas não coradas de gordura quantidade variável de grânulos basofílicos mineralização e fibrina Podem também ser encontradas fendas de colesterol e infiltração de neutrófilos e de macrófagos contendo gotículas de gordura Em casos mais crônicos há ainda proliferação de tecido conjuntivo fibroso e em bovinos com necrose difusa da gordura reação granulomatosa com infiltração de inúmeros macrófagos epitelioides e células gigantes multinucleadas Necrose da gordura peritoneal pode ser observada em animais com pancreatite aguda cães em bovinos obesos principalmente vacas leiteiras possivelmente de origem dietética patogenia pouco compreendida e na doença da gordura amarela esteatite em animais alimentados com dietas ricas em lipídios poliinsaturados Entre as alterações da cavidade peritoneal destacase o acúmulo de conteúdo anormal que inclui excesso de líquido peritoneal denominado ascite ou hidroperitônio de sangue hemoperitônio de urina uroperitônio de gás pneumoperitônio e de conteúdo intestinal ou ingesta Ascite ou hidroperitônio se caracteriza pelo excesso de líquido peritoneal ou seja de um transudato Portanto ascite pode ser considerada como manifestação de edema na cavidade peritoneal O líquido ascítico típico é amarelado e transparente com baixo conteúdo proteico e celular e não coagula quando exposto ao ar Figura 378 As principais causas de ascite são comuns a outras manifestações de edema como a diminuição da pressão coloidosmótica do sangue devido à hipoproteinemia Essa condição ocorre principalmente nas hepatopatias que resultam em diminuição na concentração sérica de albumina e consequentemente predisposição a edema que muitas vezes manifestase como ascite Outra causa importante de ascite é o aumento de pressão hidrostática ou seja hipertensão na circulação portal Essa condição ocorre principalmente nos casos de hepatopatias crônicas associadas à fibrose que dificulta o fluxo sanguíneo pelo fígado levando à hipertensão na circulação portal e consequentemente ao extravasamento de fluido do compartimento intravascular para a cavidade peritoneal Finalmente outro mecanismo que pode resultar em ascite é o comprometimento da drenagem linfática da cavidade Essa condição ocorre principalmente em casos de neoplasia particularmente nos casos de carcinomatose neoplasia epitelial maligna disseminada pela cavidade peritoneal que pode resultar em obstrução linfática Figura 378 Ascite hidroperitônio em cão Hemoperitônio é caracterizado pelo acúmulo de sangue na cavidade peritoneal Geralmente o sangue se apresenta na forma de coágulos mas isso não é uma constante As causas mais comuns de hemoperitônio incluem ruptura traumática de fígado baço ou outro órgão parenquimatoso bem como hemangiossarcoma que ocorre com frequência no baço e pode causar hemorragias significativas levando ao hemoperitônio Cabe lembrar que hemorragias petequiais ou sufusões nas superfícies serosas dos órgãos abdominais não representam hemoperitônio e estão associadas a condições que resultam em diátese hemorrágica como nos casos de septicemia Uroperitônio ocorre devido à ruptura da bexiga e ao consequente extravasamento de urina para a cavidade abdominal Considerando que em condições normais a urina é estéril ou tem baixo conteúdo bacteriano o acúmulo de urina na cavidade peritoneal resulta em uma resposta inflamatória irritativa e não infecciosa denominada peritonite química Dependendo da ocorrência ou não de intervenção terapêutica e do tempo de sobrevida pode ocorrer uremia crônica pósrenal ver Capítulo 5 Peritonite química pode também ocorrer devido à injeção de soluções ou drogas por via intraperitoneal Pneumoperitônio na maioria dos casos ocorre como resultado de perfuração da parede abdominal ou perfurações do trato gastrintestinal ou do útero resultando em acúmulo de gás na cavidade abdominal O achado de ingesta na cavidade peritoneal é uma evidência de ruptura ou perfuração do trato gastrintestinal Devido à abundância de bactérias no conteúdo intestinal nesses casos ocorre um processo inflamatório agudo e séptico da cavidade peritoneal peritonite séptica Peritonite bacteriana também pode ser resultado de perfuração ou ruptura uterina e perfuração da parede da cavidade peritoneal Entretanto peritonite pode também ocorrer por inflamação transmural do intestino particularmente nos casos em que há necrose e gangrena da parede do intestino Nesses casos a infecção atinge a cavidade por extensão antes mesmo da ruptura do intestino Em equinos peritonite de origem bacteriana geralmente é difusa aguda fibrinosa e fatal Figura 379 Comparativamente bovinos têm maior capacidade de conter o processo infeccioso e inflamatório na cavidade peritoneal Como exemplo na reticuloperitonite traumática geralmente o processo inflamatório fica restrito ao local de perfuração do retículo não ocorrendo peritonite difusa Em suínos além das causas já mencionadas de peritonite o processo inflamatório do peritônio frequentemente está associado a serosites em outras cavidades corporais nos casos de infecção por Haemophilus parasuis Peritonite bacteriana é menos comum em cães em comparação a outras espécies ao passo que no gato a principal causa específica de peritonite é a infecção pelo coronavírus da peritonite infecciosa felina PIF que pode resultar em reação efusiva ou não efusiva Figura 380 e será discutida em detalhes a seguir Peritonite granulomatosa pode ocorrer nos casos de tuberculose generalizada ou miliar particularmente em bovinos Figura 379 Peritonite fibrinosa aguda e difusa em equino A cavidade peritoneal está repleta de exsudato fibrinoso com aderência fibrinosa entre as alças intestinais Figura 380 Gato com peritonite infecciosa felina Deposição de fibrina na superfície serosa da parede abdominal Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP Peritonites bacterianas agudas e difusas frequentemente resultam em septicemia e morte por choque séptico Nos casos em que o processo inflamatório fica localizado ou nos casos de peritonite difusa que não resultam em morte frequentemente ocorre a formação de aderências e em alguns casos ocorre a formação de abscessos Vários parasitas fazem migração pela cavidade peritoneal contudo a forma adulta ou larvária de alguns parasitas reside nela Nematódeos do gênero Setaria têm a cavidade peritoneal como seu habitat definitivo e são adaptados a várias espécies de hospedeiros ungulados sendo mais comuns em equinos e bovinos Esses parasitas geralmente não provocam alterações inflamatórias significativas na cavidade peritoneal exceto quando ocorre migração pelo canal inguinal para a cavidade vaginal podendo resultar em periorquite Outro parasita encontrado na cavidade abdominal de ruminantes é a fase larvária do cestódeo Taenia hydatigena previamente conhecido como Cysticercus tenuicollis Essas larvas formam estruturas císticas na cavidade abdominal Figuras 381 e 382 que praticamente não incitam resposta inflamatória Os hospedeiros definitivos de Taenia hydatigena incluem carnívoros domésticos e silvestres Os ruminantes se infectam ao pastejarem em áreas contaminadas com fezes de carnívoros portadores do parasita A principal neoplasia primária da cavidade peritoneal é o mesotelioma Mesoteliomas não são comuns mas ocorrem com maior frequência em bovinos e cães A neoplasia se dissemina por implantação em toda a cavidade abdominal Macroscopicamente a neoplasia se apresenta como múltiplos nódulos ou formações papiliformes distribuídos difusamente nas superfícies serosas e no peritônio parietal Mesoteliomas também ocorrem primariamente na cavidade pleural no saco pericárdico e na cavidade vaginal da bolsa escrotal Essa neoplasia pode ser congênita particularmente em bovinos Outro tipo de neoplasia comum na cavidade peritoneal é o lipoma estruturas nodulares com tendência a se tornar pedunculadas sólidas de consistência flácida e aspecto semelhante ao de tecido adiposo normal Esses tumores são benignos e carecem de importância clínica exceto nos casos em que causam alterações mecânicas podendo resultar em estrangulamento de alças intestinais Figura 381 Ovino Estrutura cística na superfície do fígado adjacente à vesícula biliar contendo larva de Taenia hydatigena Figura 382 Larva de Taenia hydatigena localizada em cisto intraperitoneal em ovino No detalhe o escólex Neoplasias secundárias ou metastáticas também podem se disseminar pelo peritônio sendo a mais comum a proliferação de carcinomas particularmente no momento caracterizando a condição conhecida como carcinomatose Carcinomas ovarianos têm grande propensão à disseminação por implantação na cavidade peritoneal Doenças especíጡጡcas Doenças virais do sistema digestório e do peritônio Febre aftosa A febre aftosa é uma doença aguda e altamente contagiosa causada por um vírus da família Picornaviridae gênero Aphtovirus Há sete sorotipos e mais de 70 subtipos todos causam doença clínica semelhante mas não ocorre proteção cruzada entre os sorotipos É considerada a enfermidade mais contagiosa do mundo com morbidade alta porém mortalidade e letalidade baixas Os poucos animais que morrem da doença espontânea são bovinos lactentes A febre aftosa afeta animais de cascos fendidos incluindo bovinos ovinos caprinos e suínos além de ruminantes selvagens como veados Os sinais clínicos mais proeminentes em bovinos são diminuição na ingestão de alimentos e água febre e claudicação com rápida perda de peso A maioria das lesões macroscópicas é observada clinicamente como vesículas íntegras ou mais frequentemente rompidas formando erosões ou úlceras na cavidade oral especialmente na língua Figura 383 focinho bandas coronarianas dos cascos tetas e prepúcio Essas lesões se reepitelizam em cerca de 7 dias Lesões em órgãos internos incluem vesículas erosões ou úlceras nos pilares do rúmen especialmente se a alimentação é fibrosa Ovinos e caprinos geralmente desenvolvem infecção subclínica Bovinos jovens morrem devido à infecção dos cardiomiócitos que resulta em miocardite linfocítica porque o vírus tem capacidade de infectar células musculares pouco diferenciadas Não afeta equinos e não é uma zoonose Infecção acidental com formação de uma pequena vesícula no local da inoculação pode ocorrer em pessoas que trabalham com vírus puro em laboratório Figura 383 Glossite ulcerativa em bovino Vesícula rota e ulceração na face dorsal da língua Infecção por vírus da febre aftosa Apesar de ser a primeira enfermidade a vírus descrita em animais muito ainda precisa ser estudado para melhor entender a patogenia da doença Isso se deve aos inúmeros sorotipos e subtipos do vírus que podem alterar os mecanismos de formação da doença além das rígidas restrições de biossegurança de modo que apenas poucos laboratórios no mundo podem conduzir experimentos com o vírus De modo geral o vírus da febre aftosa é transmitido por contato direto ou indireto com animais infectados e suas secreções Sabese que o vírus pode se disseminar em longas distâncias pelo ar migrando de um surto para uma área previamente livre da doença Além disso o ser humano pode contrair o vírus sem que haja infecção em uma área contaminada e carreálo nas vias respiratórias superiores para outra área não contaminada Fômites também são fontes de transmissão viral Acreditase que bovinos e ovinos sejam mais frequentemente infectados por via respiratória por aerossóis enquanto suínos são mais comumente infectados por via digestória a partir do consumo de alimento contaminado com o vírus ou por via cutânea a partir do contato de lesões de pele com animais infectados e suas secreções A maior parte do que se conhece hoje sobre a patogenia da febre aftosa foi obtida com base em estudos em bovinos uma vez que há escassos trabalhos em outras espécies Dessa maneira o que se segue tratase da doença nessa espécie A febre aftosa é classicamente dividida em préviremia viremia e pósviremia A fase préviremia ocorre após o contato do animal com o vírus com replicação viral em células epiteliais localizadas nos sítios primários de replicação como a nasofaringe 6 h após a inoculação e os septos alveolares dos pulmões 12 h após a inoculação Linfonodos regionais são negativos para detecção viral nessa fase da infecção e aparentemente não são importantes para a replicação inicial ou como porta de entrada para estabelecimento da viremia A fase de viremia se inicia após pico de replicação viral nos sítios primários de replicação e entre 1 e 2 dias antes de o animal apresentar febre ou outros sinais clínicos Nessa fase o vírus se dissemina para todo o corpo do animal e pode ser detectado em vários tecidos órgãos excreções e secreções Nesse momento a replicação viral é intensa em células do estrato espinhoso em tecidos compostos de epitélio pavimentoso estratificado resultando no surgimento das lesões características da febre aftosa descritas anteriormente Na fase pósviremia o vírus não pode mais ser detectado no sangue entretanto títulos elevados dele podem ser observados nos locais onde há formação das lesões Alguns animais podem se tornar portadores com infecção assintomática e persistência do vírus por períodos prolongados em determinados tecidos faringe e pulmões Os mecanismos desse tipo de infecção ainda não são bem compreendidos e também não se sabe o potencial de transmissão do vírus que esses animais apresentam Infecção assintomática talvez seja a principal preocupação dos países livres de febre aftosa ao estabelecer relações comerciais com países em áreas endêmicas ou livres de febre aftosa com vacinação uma vez que vacinação não previne infecção assintomática Ovinos e caprinos geralmente desenvolvem infecção subclínica e podem servir como transportadores do vírus entre rebanhos Por ser uma doença altamente contagiosa e debilitante traz sérios prejuízos diretos para a produção animal e indiretos pois interfere nas relações comerciais entre países importadores de produtos animais carne principalmente e exportadores No Brasil o último surto de febre aftosa ocorreu em 2006 atualmente a maior parte do território nacional é considerada livre da doença com vacinação sendo Santa Catarina o único estado livre sem vacinação Estomatite vesicular Estomatite vesicular EV é uma arbovirose doença viral transmitida por um artrópode causada pelo vírus da estomatite vesicular que pertence ao gênero Vesiculovirus da família Rhabdoviridae É uma doença aguda primariamente de equinos e suínos menos frequente em bovinos e rara em ovinos e caprinos As características clínicas macro e microscópicas da EV são idênticas àquelas observadas na febre aftosa como febre e formação de vesículas que se rompem facilmente formando erosões e úlceras em regiões anatômicas que apresentam tecido epitelial pavimentoso estratificado contendo camada espinhosa proeminente espessa como a cavidade oral especialmente porção dorsal da língua focinho suínos banda coronariana dos cascos vulva prepúcio e tetas vacas leiteiras Os animais infectados param de se alimentar e começam a salivar em decorrência das lesões doloridas que se formam na cavidade oral Claudicação ocorre devido às vesículas que se formam no espaço interdigital e na banda coronariana dos cascos Sequelas frequentemente observadas incluem laminite em equinos e mastite bacteriana em bovinos A EV não é uma doença fatal e se não ocorrer infecção secundária os sinais clínicos duram de sete a dez dias A doença ocorre geralmente em surtos predominantemente do meio para o final de épocas quentes e úmidas do ano coincidindo com o aumento da população de insetos Tratase de uma zoonose que causa doença semelhante à gripe e raramente formação de vesículas na cavidade oral e mãos em humanos A patogenia da doença ainda não é totalmente compreendida Sabese que a transmissão ocorre essencialmente por picada de insetos hematófagos infectados com o vírus especialmente pela moscadaareia Lutzomyia shannoni moscapreta da família Simuliidae e mosquitos do gênero Culicoides diretamente nas áreas onde as lesões se desenvolvem Essas espécies de insetos são vetores competentes uma vez que replicam o vírus no sistema digestório e o eliminam pela saliva quando se alimentam no hospedeiro É intrigante o fato de a EV não causar viremia de modo que insetos hematófagos possam se infectar e assim fechar o ciclo da doença Por esse motivo alguns trabalhos tentam solucionar essa equação demonstrando transmissão vertical transovariana do vírus na população de insetos hematófagos Outra forma demonstrada de manutenção do vírus é a transmissão horizontal entre insetos infectados e insetos não infectados se alimentando simultaneamente em um mesmo hospedeiro mamífero não infectado Outras formas menos comuns ocorrem por transmissão mecânica a partir de insetos não hematófagos que se alimentam de secreções em lesões de animais infectados vesículas ou úlceras e posteriormente transportam o vírus para áreas de solução de continuidade feridas em mucosas ou pele de outro hospedeiro não infectado Contato direto entre animal infectado e animal não infectado e fômites especialmente ordenhadeiras também são descritos Macroscopicamente as lesões surgem dependendo da virulência do vírus entre 48 e 72 h após a inoculação e inicialmente apresentamse como edema e hiperemia Após as 72 h vesículas raramente observadas pois se rompem facilmente erosões e ulcerações são aparentes Essas lesões podem se espalhar localmente mas em geral tendem a regredir depois de 96 h após a inoculação Microscopicamente as lesões se limitam à camada espinhosa da epiderme pois é nas células epiteliais dessa região onde ocorre a replicação viral Há degeneração balonosa hidrópica espongiose separação entre as células epiteliais e necrose celular individual Essas alterações podem ser vistas entre 12 e 24 h após a inoculação do vírus Entre 48 e 72 h a lesão se difunde perifericamente e começam a ser observadas células inflamatórias linfócitos e macrófagos predominantemente infiltrando a derme superficial e em menor intensidade transmigrando pela epiderme afetada Além de células epiteliais da camada espinhosa o vírus também se replica em células da linhagem histiocítica como macrófagos ou células dendríticas Essas células com vírus em replicação já foram demonstradas na derme superficial e em linfonodos regionais que drenavam áreas infectadas da pele A doença pode se espalhar rapidamente em forma de surtos e resultar em perdas econômicas importantes devido à alta morbidade que resulta em quarentena restrição no transporte de animais e diminuição na produção de leite e carne A presença de EV em uma região pode interferir no comércio internacional de animais e seus produtos EV está restrita às Américas onde ocorrem sorotipos específicos em determinadas regiões Outro aspecto importante da doença é o fato de a EV em bovinos e suínos ser clinicamente indistinguível da febre aftosa portanto todo caso de doença vesicular dever ser investigado em profundidade Uma característicachave para a diferenciação é se equinos são ou não afetados Equinos são altamente suscetíveis à EV e completamente resistentes ao vírus da febre aftosa Há evidências de circulação do vírus em todas as regiões do Brasil com surtos descritos da doença de forma endêmica nas regiões Nordeste e CentroOeste e de forma esporádica nas regiões Sul e Sudeste Ainda que a doença seja frequente no Brasil há escassos estudos experimentais que utilizam vírus oriundos de surtos nacionais para que sejam caracterizados os aspectos patogenéticos da EV no país Exantema vesicular suíno O exantema vesicular suíno é causado por um vírus do gênero Vesivirus família Caliciviridae Existem 13 sorotipos imunologicamente distintos com potencial virulência É uma doença aguda caracterizada clinicamente por febre e formações de vesículas no focinho mucosa oral língua e banda coronariana dos cascos portanto muito semelhante às outras doenças vesiculares de suínos como a febre aftosa estomatite vesicular e doença vesicular suína A doença pode ser transmitida por contato direto de animais sadios com animais infectados ou por fômites A maioria dos surtos foi associada à alimentação com carne suína crua O exantema vesicular foi descrito pela primeira vez no estado da Califórnia EUA por volta de 1930 e mais tarde em 1956 foi erradicado da espécie suína naquele país Em 1973 surtos de doença vesicular ocorreram em leõesmarinhos de vida livre na Califórnia próximo à ilha de São Miguel O vírus isolado de leõesmarinhos doentes então denominado San Miguel sea lion virus SMSV apresentou características muitos semelhantes às do calicivírus do exantema vesicular suíno VESV vesicular exanthema of swine virus Inoculações experimentais do SMSV em suínos resultaram apesar de mais brandos em sinais clínicos e anatomopatológicos idênticos aos observados na infecção causada pelo VESV Por essas razões e pelas próprias características do vírus há hipóteses de que o exantema vesicular suíno tenha se originado a partir da alimentação de suínos com peixes de água salgada contaminados com SMSV Não há relatos dessa doença no Brasil Doença vesicular suína A doença vesicular dos suínos é uma enfermidade altamente contagiosa e como o próprio nome sugere afeta suínos É causada por um vírus do gênero Enterovirus família Picornaviridae A transmissão se dá predominantemente por contato direto entre animais infectados e animais sadios Clinicamente é uma doença de pouca importância porém se assemelha muito do ponto de vista clínico e anatomopatológico a outras doenças vesiculares como a febre aftosa estomatite vesicular e exantema vesicular suíno Por esse motivo a presença dessa doença em determinadas regiões pode interferir nas relações comerciais internacionais de suínos e seus produtos e resultar em prejuízos econômicos importantes A doença já foi descrita na Europa e na Ásia Não há relatos dessa enfermidade no Brasil Peste bovina Doença aguda e altamente contagiosa de bovinos que afeta diversos órgãos principalmente o sistema digestório Tem significado histórico pois é a doença animal que mais causou miséria e fome em comparação com qualquer outra doença sendo responsável pela pobreza humana em vários locais do mundo Poderá ser a primeira doença animal a ser erradicada no mundo pois a Organização para a Agricultura e a Alimentação FAO Food and Agriculture Organization tem um programa para a erradicação da doença por meio da vacinação e da vigilância epidemiológica Os últimos casos de peste bovina foram observados no sul da Somália e no norte do Quênia O único relato da doença nas Américas ocorreu no Rio de Janeiro logo após a Primeira Guerra Mundial em animais importados da Europa Peste bovina é causada por um vírus da família Paramyxoviridae gênero Morbilivirus A transmissão só ocorre por contato direto entre animais e afeta bovinos de qualquer idade O vírus se replica inicialmente no tecido linfoide próximo à área de infecção p ex tonsilas e se dissemina para os linfonodos regionais onde ocorre alta replicação com subsequente viremia e aparecimento dos sinais clínicos O período de incubação é de aproximadamente 5 dias Os sinais clínicos consistem em depressão diarreia desidratação e morte Alguns animais apresentam conjuntivite e erosões e úlceras na cavidade oral especialmente no palato na faringe e na base da língua Pelo fato de ocorrer replicação viral nas células epiteliais e no tecido linfoide as lesões são mais acentuadas nos locais em que esses tecidos ocorrem de modo contíguo como a porção caudal da faringe e a região das placas de Peyer no intestino As lesões ulcerativas nas placas de Peyer são graves clinicamente observamse diarreia com sangue fibrina e formação de membranas diftéricas caracterizadas pela deposição de uma camada de fibrina sobre a superfície necrótica da mucosa A morte ocorre devido à desidratação acentuada decorrente da diarreia profusa Histologicamente observase necrose das células epiteliais e do tecido linfoide com formação de erosões e úlceras na porção caudal da faringe base da língua e intestino Inclusões eosinofílicas tanto intracitoplasmáticas como intranucleares característico dos paramixovírus são facilmente observadas nas células epiteliais com formação de células sinciciais Figura 384 devido à presença de uma proteína de fusão viral Células sinciciais são comumente observadas na cavidade oral e com menos frequência no intestino Há algumas cepas que provocam sinais clínicos mais leves nesses casos é possível que o animal sobreviva ao período de infecção intestinal aguda Se isso ocorrer o vírus ataca as células epiteliais do pulmão levando ao desenvolvimento de pneumonia A vacina para peste bovina é uma vacina viva modificada que protege o animal contra todas as cepas por pelo menos 11 anos Essa vacina está sendo usada no programa mundial de erradicação da doença Peste dos pequenos ruminantes Peste dos pequenos ruminantes PPR também mundialmente conhecida pela denominação em francês peste des petites ruminants é uma doença aguda ou subaguda que causa morbidade e mortalidade consideráveis em ovinos e caprinos em várias partes do mundo É endêmica em grande parte da África Subsaariana no Oriente Médio e no Sudeste Asiático É causada pelo vírus da peste dos pequenos ruminantes um Morbilivirus da família Paramyxoviridae que é intimamente relacionado com o vírus da peste bovina de fato há muitas similaridades entre essas duas doenças A infecção ocorre por aerossóis e contato direto O vírus penetra nas membranas mucosas e ocorre replicação nos linfonodos regionais com subsequente viremia O vírus atinge o epitélio de múltiplos órgãos provocando graves danos no trato digestório e respiratório respectivamente em ordem de intensidade Figura 384 Mucosa oral de bovino com peste bovina com erosão intenso infiltrado inflamatório e células sinciciais seta Cortesia do Dr Renato de Lima Santos Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG O vírus da PPR se replica nas células epiteliais e linfoides causando infecção citolítica em ambas Em órgãos em que há sobreposição desses dois tipos de células ocorre a formação de úlceras No sistema gastrintestinal as lesões consistem em erosões e úlceras vermelhas e acentuadas na cavidade oral especialmente na porção caudal da faringe e na base da língua onde se concentra a maior parte do tecido linfoide da cavidade oral nas placas de Peyer e em outros agregados linfoides do intestino Sinais clínicos incluem febre depressão e relutância para ingerir alimentos ou beber Diarreia é geralmente observada mas é menos exuberante que em animais infectados com peste bovina Caprinos parecem ser mais gravemente afetados que ovinos e animais mais jovens são mais suscetíveis à doença grave do que adultos Os animais que sobrevivem à infecção intestinal aguda podem desenvolver pneumonia broncointersticial O vírus chega ao pulmão por via hematogênica causando danos à região cranioventral ou em todo o pulmão Histologicamente a doença é facilmente reconhecível Na cavidade oral as células epiteliais das margens das erosões e úlceras geralmente apresentam inclusões eosinofílicas intracitoplasmáticas e intranucleares A formação de células sinciciais é frequentemente observada na cavidade oral No intestino as lesões são semelhantes às observadas em animais com peste bovina com necrose do epitélio das vilosidades e criptas e numerosos corpúsculos de inclusão eosinofílicos intracitoplasmáticos e intranucleares Nos animais que desenvolvem pneumonia as lesões são parecidas com as causadas por outro morbilivírus o da cinomose em cães As lesões são centradas na junção bronquíoloalvéolo com necrose e inflamação aguda geralmente grave Inclusões eosinofílicas intracitoplasmáticas e intranucleares são evidentes e em geral numerosas células sinciciais formadas pela fusão das células epiteliais infectadas são observadas Em áreas onde a doença é endêmica o controle é feito por meio da administração de vacina viva modificada que fornece imunidade excelente e de longa duração Diarreia viral bovina A diarreia viral bovina BVD bovine viral diarrhea é um complexo de doenças relacionadas com o vírus da diarreia viral bovina BVDV bovine viral diarrhea virus que afeta principalmente bovinos ocorrendo em todas as partes do mundo Há um amplo espectro de manifestações da doença e patogênese imunologicamente bastante complexas O agente etiológico é um vírus RNA que pertence ao gênero Pestivirus da família Flaviviridae BVD pode ser dividida em diferentes formas Há dois genótipos BVD tipo 1 e BVD tipo 2 com diferenciação baseada na sequência de genes Há variações na virulência dentro de ambos os genótipos Existem também dois biotipos não citopático NCP e citopático CP baseados na habilidade dos vírus de provocar vacuolização citoplasmática e morte das células em cultivo Citopatogenicidade in vitro nem sempre é relacionada com a virulência do vírus in vivo Ambos os BVDV tipos 1 e 2 contêm algumas cepas NCP e CP Doença pósnatal grave causada por BVDV ocorre em duas formas diferentes embora as síndromes clinicopatológicas sejam muito semelhantes Primeiramente há uma síndrome chamada doença das mucosas Um vírus fracamente patogênico ou não patogênico em geral não citopático quando infecta uma vaca com menos de 4 meses de gestação direcionase para o feto e infecta múltiplos tecidos A infecção nesse estágio da gestação pode resultar em tolerância imunológica e o bezerro nasce como animal persistentemente infectado PI normal em quase todos os aspectos Contudo se esse vírus NCP sofrer mutação para uma cepa CP ou se o bezerro for subsequentemente exposto a uma cepa CP homóloga ele não tem capacidade de responder imunologicamente porque criou tolerância aos agentes virais Nesse caso o vírus se replica extensivamente em vários tecidos incluindo o epitélio gastrintestinal provocando úlceras hemorrágicas As lesões mais graves são associadas às áreas linfoides e geralmente são cobertas por membranas diftéricas ou moldes de fibrina adjacentes Figura 385 Microscopicamente observase destruição das criptas epiteliais do intestino principalmente da porção caudal do intestino delgado Uma lesão bem característica é a depleção das placas de Peyer com subsequente herniação da cripta na área que era ocupada pela placa de Peyer Inflamação arteriolar com degeneração hialina e necrose fibrinoide é um achado frequentemente negligenciado mas observado no intestino e em outros órgãos Adicionalmente há infecção do epitélio respiratório o que predispõe à infecção bacteriana secundária Figura 385 Enterite necrótica sobre placas de Peyer em bovino com diarreia viral bovina Lesões de pele também ocorrem e os animais que sobrevivem podem apresentar descamação podendo ocorrer separação da junção cornocutânea no rodete coronário Animais com a doença das mucosas geralmente têm de 6 meses a 2 anos de idade Sob o ponto de vista epidemiológico essa forma ocorre em casos esporádicos dentro de um rebanho sem história recente de contágio A outra forma grave da BVD tem sido descrita apenas nos últimos 15 a 20 anos e é chamada de BVD aguda grave sendo causada por novos isolados circulantes de BVD tipo 2 Essa doença é mais contagiosa e não é relacionada com infecção persistente ou reinfecção É uma cepa muito virulenta que infecta animais sem contato prévio com o vírus e causa doença avassaladora O animal desenvolve resposta imune mas o vírus rapidamente a sobrepuja As lesões são muito semelhantes àquelas vistas em animais com a doença das mucosas Algumas diferenças notáveis incluem acentuada trombocitopenia em alguns casos Embora as lesões macro e microscópicas nessas duas formas de BVD doença das mucosas e BVD aguda acentuada sejam semelhantes a epidemiologia da doença aguda é bastante diferente da doença das mucosas Nessa síndrome vários animais podem ser afetados e não parece existir predisposição por idade como na doença das mucosas A disseminação pelo rebanho e a natureza extensa das lesões intestinais têm uma similaridade com os surtos de peste bovina que deve ser considerada o principal diagnóstico diferencial Outra síndrome associada à BVD inclui uma doença leve que ocorre em um rebanho como resultado de um vírus circulante fracamente virulento Essas cepas são em geral não citopáticas Esses são os mesmos vírus que podem infectar uma vaca gestante e resultar no nascimento de um bezerro persistentemente infectado Animais podem estar temporariamente febris e até 10 do rebanho pode apresentar diarreia leve ou descarga nasal a mortalidade é quase inexistente A última síndrome associada à infecção por BVDV é a dos efeitos reprodutivos ou teratogênicos do vírus Se a infecção de animais gestantes ocorre em períodos críticos do desenvolvimento ou seja durante os primeiros 4 meses de gestação perdas reprodutivas podem ocorrer como reabsorção natimortalidade mumificação ou o nascimento de um bezerro com malformações neurológicas principalmente hipoplasia cerebelar Febre catarral maligna Febre catarral maligna FCM é uma doença linfoproliferativa esporádica e de distribuição mundial que afeta bovinos e outros biungulados como suínos búfalos veados e bisões É causada por quatro vírus pertencentes ao gênero Rhadinovirus subfamília Gammaherpesvirinae Os dois primeiros e mais conhecidos são o herpesvírus ovino tipo 2 OvHV2 e o herpesvírus alcelaphine tipo 1 AIHV1 Os outros dois vírus são o herpesvírus caprino tipo 2 CpHV2 que tem cabras domésticas como reservatório e o herpesvírus do veado de cauda branca MCFVWTD com espécie reservatória desconhecida No Brasil o OvHV2 tem sido descrito como o agente etiológico da FCM A infecção causada por esses vírus é subclínica nas espécies reservatório como em ovinos infectados pelo OvHV2 e em gnus infectados pelo AIHV1 por exemplo A FCM é epidemiologicamente importante em regiões onde ocorrem sistemas de criação que favoreçam o contato direto entre as espécies suscetíveis principalmente bovinos e os reservatórios do vírus ovinos ou gnus No Brasil há um relato de infecção de equino com o herpesvírus tipo 2 associada a lesões semelhantes às descritas em casos de febre catarral maligna em bovinos A doença é caracterizada por afetar diversos tecidos uma vez que causa arterite linfocítica com subsequente necrose portanto os sinais clínicos podem variar de acordo com os órgãos mais severamente afetados No sistema digestório as lesões encontramse principalmente na cavidade oral como estomatite erosiva eou ulcerativa predominantemente na mucosa dos lábios e dos palatos duro e mole mas lesões semelhantes também podem estar presentes em outras regiões do trato digestório como língua esôfago préestômagos e abomaso Portanto do ponto de vista clínico e macroscópico entra na lista de diagnóstico diferencial de outras doenças que cursam com lesão ulcerativa do trato digestório como febre aftosa estomatite vesicular língua azul BVD peste bovina entre outras Microscopicamente há infiltração de linfócitos predominantemente linfócitos T CD8 ao redor e na parede de artérias de pequeno a médio calibre Na parede dos vasos afetados pode haver ainda necrose acúmulo de material fibrinoide e trombose Também pode ser observado padrão liquenoide de infiltração como acúmulo de grande quantidade de linfócitos formando infiltrado em banda ou faixa que obscura a camada basal do epitélio da mucosa Tecidos comumente afetados e que auxiliam no diagnóstico histopatológico são os rins e a rete mirable do sistema nervoso central pois são bem vascularizados e as lesões tendem a ser proeminentes A patogenia da FCM não é muito bem conhecida mas o que se conhece é que as infecções causadas pelos diferentes vírus têm demonstrado ser semelhantes dos pontos de vista clínico e anatomopatológico Os animais tendem a apresentar viremia durante todo o curso da doença e há marcada hiperplasia de linfócitos T CD8 Genoma viral tem sido demonstrado nessa população de linfócitos ao redor dos vasos afetados mas não se sabe exatamente o mecanismo da lesão vascular Estomatite papular bovina Estomatite papular bovina é uma doença zoonótica causada pelo vírus da estomatite papular bovina parapoxvírus bovino da família Poxviridae gênero Parapoxvirus Esse vírus apresenta semelhanças morfológicas e antigênicas com o vírus do ectima contagioso dos caprinos e ovinos ler a seguir A doença é de ocorrência mundial e no Brasil está amplamente distribuída inclusive com casos descritos em humanos ordenhadores de vacas leiteiras com lesões nas tetas O vírus da estomatite papular bovina causa uma infecção normalmente discreta com pouco significado clínico mas as lesões que se desenvolvem na cavidade oral precisam ser diferenciadas de outras estomatites virais A doença se manifesta mais comumente em animais jovens mas pode ocorrer em animais adultos imunocomprometidos como indivíduos infectados com o vírus da diarreia viral bovina ou que apresentem outra doença que debilite a resposta imune Macroscopicamente os animais infectados podem apresentar pápulas na mucosa oral gengivas palatos porções ventrais e laterais da língua e papilas bucais focinho porção rostral das narinas e menos frequentemente no esôfago nos préestômagos e nas tetas de vacas em lactação As lesões iniciais se apresentam como máculas eritematosas que variam de 02 a 2 cm de diâmetro que progridem rapidamente para pápulas com a porção central elevada Logo depois 1 ou 2 dias a porção central da pápula tornase cinza e depriminada erosão devido à necrose e circundada por um halo elevado hiperplasia As lesões tendem a desaparecer entre 4 e 6 dias Microscopicamente semelhantemente a outras infecções por vírus da família Poxviridae há uma mistura de lesão epitelial proliferativa e necrosante ocorrendo ao mesmo tempo ou seja observamse epitélio com marcada hiperplasia da camada espinhosa acantose degeneração balonosa e necrose nas áreas mais centrais de acantose As células degeneradas apresentam citoplasma amplo e vacuolizado com núcleo picnótico Essas mesmas células podem apresentar inclusões eosinofílicas intracitoplasmáticas que nem sempre estão presentes mas quando estão são mais frequentemente visualizadas nas zonas de transição entre as áreas de acantose e de epitélio intacto Nos centros necróticos podem ser encontrados neutrófilos eou outras células inflamatórias infiltrando a lâmina própria superficial e o epitélio necrosado Ectima contagioso O ectima contagioso é também conhecido como dermatite pustular contagiosa Orf é como a doença é designada em seres humanos portanto seu uso tem sido evitado em medicina veterinária É uma doença zoonótica causada pelo parapoxvírus ovino da família Poxviridae gênero Parapoxvirus O vírus infecta principalmente ovinos e caprinos jovens mas também tem sido descrito em camelos gazelas e outros pequenos ruminantes selvagens Animais adultos imunocomprometidos também podem desenvolver a doença Tem sido observado o acometimento de ovinos e caprinos por surtos de ectima contagioso em todas as regiões do Brasil Macroscopicamente o que caracteriza o ectima contagioso são lesões proliferativas crostosas e ulceradas na comissura dos lábios no focinho ou nas narinas Menos frequentemente podem ser encontradas nas mucosas orais gengiva palatos e língua Cordeiros infectados em fase de amamentação podem disseminar a lesão para as tetas e úbere da mãe Lesões no esôfago rúmen omaso pulmões e pele também são descritas Microscopicamente há hiperplasia da camada espinhosa da epiderme acantose com espessamento da camada córnea hiperqueratose ortoqueratótica e degeneração balonosa mais predominantemente observada nos acantócitos mais superficiais Áreas de necrose de acantócitos assim como pústulas intracorneais crostas serocelulares com bactérias e ulceração são frequentemente observadas Inclusões eosinofílicas intracitoplasmáticas nem sempre estão presentes mas quando estão podem ser mais facilmente encontradas nas regiões de transição entre as áreas de acantose e o epitélio intacto A transmissão como em outros poxvírus ocorre a partir de abrasões na pele em contato com fômites contaminados ou mecanicamente por artrópodes que estejam carreando o vírus Alimentos grosseiros fornecidos especialmente em épocas secas do ano favorecem a formação dessas abrasões cutâneas É uma doença de alta morbidade e baixa mortalidade Esta última ocorre quando há infecção bacteriana secundária Fusobacterium necrophorum ou Dermatophilus congolensis ou quando a lesão é grave ou dolorosa o suficiente para impedir que o animal se alimente A doença tende a desaparecer espontaneamente entre 2 e 4 semanas Entretanto o vírus pode permanecer no ambiente ou na lã por períodos prolongados anos Vaccínia A vaccínia é uma doença zoonótica infectocontagiosa causada pelo Vaccinia virus VACV pertencente ao gênero Orthpoxvirus e à família Poxviridae A doença tem sido descrita em várias regiões do Brasil acometendo seres humanos na sua maioria ordenhadores e bovinos Surtos ocasionais em equinos já foram relatados Além do Brasil apenas a Índia tem relatos de casos de infecções naturais por VACV em humanos e animais e na Argentina animais assintomáticos soropositivos já foram detectados A doença apresenta muitas semelhanças com a estomatite papular bovina e o ectima contagioso no que se refere à patogenia e achados microscópicos Macroscopicamente as lesões também são semelhantes às encontradas nas outras poxviroses mas a distribuição anatômica difere um pouco A vaccínia se apresenta mais frequentemente com lesões vesiculares ou ulcerativas cutâneas acometendo os tetos e com menor frequência o úbere de vacas em lactação além de lesões similares na mucosa oral lábios e focinho de bezerros que mamaram em vacas infectadas O período de incubação da doença é curto entre 2 e 5 dias e inicialmente observase eritema seguido de pápulas vesículas e lesões ulcerativas que podem persistir por até 1 semana As úlceras evoluem para lesões crostosas e geralmente 15 dias após infecção a maioria dos animais entra no estágio de cicatrização que pode demorar até 30 dias após o início dos sinais clínicos Os animais não apresentam febre e o aumento dos linfonodos mamários é frequentemente observado As vacas apresentam intensa queda na produção de leite e aumento de contagem de células somáticas com quadro de mamite clínica e subclínica No hemograma observamse neutrofilia e linfocitose que podem estar associadas à infecção viral e mastite Em um estudo em que vacas foram experimentalmente infectadas com VACV nos tetos previamente escarificados os animais desenvolveram lesões compatíveis com a vaccínia e o DNA viral foi detectado no sangue e nas fezes dos animais mesmo após a resolução das lesões A detecção do VACV ocorreu de maneira intermitente e prolongada nas fezes dos animais até o último dia de coleta 67o dia pósinfecção demonstrando que a infecção causada pelo VACV em bovinos é sistêmica e prolongada Em equinos surtos associados ao VACV já foram descritos em 2008 em Pelotas no Rio Grande do Sul e em 2011 na região da Zona da Mata em Minas Gerais não ocorreram casos de infecção de humanos em nenhum dos dois surtos No surto em Pelotas equinos de diversas idades e categorias desenvolveram lesões vesiculares e exantemáticas no focinho narinas lábios e tetos além da mucosa oral no caso de potros que mamaram em éguas com lesões nos tetos Já no surto de Minas Gerais as lesões exantemáticas concentravamse nos lábios e cavidade oral principalmente gengiva e palato Língua azul A língua azul LA é uma doença infecciosa não contagiosa causada pelo Bluentongue virus BTV pertencente ao gênero Orbivirus e à família Reoviridae Há 26 sorotipos diferentes de BTV descritos até o momento porém nem todos são patogênicos A LA é uma arbovirose transmitida por mosquitos do gênero Culicoides que são vetores biológicos uma vez que o vírus se replica em tecidos do mosquito A infecção pode ocorrer em ruminantes domésticos e silvestres incluindo ovinos caprinos bovinos bubalinos camelídeos cervídeos e outros herbívoros como os elefantes Entretanto a doença clínica ocorre com maior frequência em ovinos com uma prevalência maior em ovinos de determinadas raças de origem europeia e cervídeos Embora a infecção nos bovinos seja de grande importância epidemiológica ela é geralmente subclínica Nos EUA a doença já foi descrita no veado de cauda branca Odocoileus virginianus É bem provável que também ocorra em ruminantes selvagens no Brasil uma vez que soropositividade já foi relada nessas espécies no país Casos isolados de mortalidade foram descritos em cães vacinados com vacinas contaminadas com o BTV os quais apresentaram problemas cardíacos e respiratórios Posteriormente amostras virais isoladas da contaminação vacinal foram experimentalmente inoculadas em cadelas gestantes e não gestantes evidenciando aborto e edema pulmonar grave nas cadelas gestantes e nenhum sinal clínico nas cadelas não gestantes Em estudo sorológico realizado em cães domésticos do Marrocos anticorpos contra o BTV foram detectados sugerindo possibilidade de transmissão do vírus por Culicoides nessa espécie Em um zoológico da Bélgica felinos Lynx lynx apresentaram edema pulmonar grave e morte após se alimentarem da carne de ruminantes aparentemente contaminadas por BTV A importância epidemiológica desses achados ainda é desconhecida mas evidencia diferentes formas de transmissão do BTV e sugere o envolvimento de carnívoros domésticos e selvagens na epidemiologia da doença A distribuição geográfica da LA corresponde ao habitat do vetor nas áreas tropicais e subtropicais em todos os continentes onde está concentrado aproximadamente 707 do rebanho ovino mundial Essa área inclui as Américas África parte da Europa Ásia e Oriente Médio Muitos países localizados em áreas tropicais como a Ásia Caribe e América do Sul apresentam evidências sorológicas da presença do BTV em ovinos e outros ruminantes porém sem relatos da ocorrência de doença Há vários estudos sorológicos realizados em bovinos caprinos ovinos e bubalinos por meio da técnica de imunodifusão em gel de ágar IDGA em várias regiões do Brasil os quais indicaram que a infecção pelo BTV está amplamente distribuída em todas as regiões do Brasil Pelos dados sorológicos obtidos associados à falta de relatos clínicos acreditase que o BTV perpetuese de forma subclínica nos rebanhos brasileiros No Brasil os sorotipos 4 8 10 12 e 16 de BTV já foram identificados até o momento sendo que os sorotipos 4 8 10 e 16 foram identificados em bovinos assintomáticos Os sorotipos 4 e 12 foram identificados nos poucos relatos de casos da doença com manifestação clínica em ovinos e caprinos Surtos em Minas Gerais 2011 no Rio de Janeiro 2013 e no Rio Grande do Sul 2014 foram causados pelo BTV4 O sorotipo 12 foi identificado em dois surtos de LA no Paraná em 2001 e 2004 e dois surtos no Rio Grande do Sul em 2010 Após a inoculação cutânea pela picada de um mosquito ocorre replicação viral inicial no sítio da picada sobretudo nas células endoteliais e em células do sistema linforreticular A replicação primária é seguida por viremia associada principalmente aos eritrócitos Nos ovinos e caprinos a viremia dura em média 50 e 28 a 41 dias respectivamente Nos bovinos a viremia pode persistir por mais de 100 dias sendo esses animais considerados de grande importância epidemiológica por servirem como reservatórios do vírus por períodos prolongados Com a viremia ocorre a disseminação do vírus para linfonodos baço medula óssea e outros tecidos Nesses tecidos o vírus se replica nas células endoteliais do sistema microvascular resultando nas alterações patológicas características da doença Uma grande variedade de órgãos pode ser afetada incluindo pulmões baço coração rins e bexiga Os sinais clínicos e achados macroscópicos são mais consistentemente descritos em ovinos A doença pode variar desde inaparente até aguda e fulminante Febre e leucopenia são achados clínicos frequentes Nas fases iniciais da infecção 1 ou 2 dias após o aparecimento da febre os animais apresentam hiperemia da mucosa oral nasal e conjuntival com salivação excessiva e descarga nasal Edema de lábios face orelhas mandíbulas e da região cervical ao redor do ligamento nucal também podem ser observados no início da infecção Com a evolução da doença hiperemia passa a estar presente no focinho e na pele de quase todo o corpo assim como hemorragia nos lábios e bochechas A língua pode esporadicamente apresentar edema congestão e cianose sendo que este último achado deu origem à denominação língua azul Em fases mais avançadas da doença pode haver erosões e ulcerações nos palatos mole e duro gengiva mucosa bucal nas margens da língua no esôfago e nos pilares do rúmen Úlceras edema hiperemia e erosões ou ulcerações também podem ser observadas nas tetas e nas bandas coronarianas dos cascos Talvez por esse motivo os animais apresentem por vezes claudicação e dorso arqueado devido à dor nos cascos Outros achados macroscópicos incluem edema hiperemia e hemorragias no subcutâneo linfonodos pulmões e fáscias de diversos músculos especialmente abdominais e cervicais Efusões cavitárias pericardial pleural e peritoneal são frequentes A musculatura estriada esquelética assim como o músculo papilar do ventrículo esquerdo do coração podem ainda apresentar áreas pálidas estriadas necrose O achado considerado patognomônico da LA é hemorragia focal na base da artéria pulmonar Alguns sorotipos e amostras de BTV podem ultrapassar a placenta e causar efeitos teratogênicos especialmente no SNC como visto no surto de BTV8 em 20062008 na Europa As lesões no encéfalo podem variar de pequenos cistos cerebrais até grave hidranencefalia Animais que desenvolvem a doença crônica apresentam perda muscular acentuada o que explica os sinais clínicos de fraqueza prostração e torcicolo Nessa fase da doença pode haver perda de lã Microscopicamente em ovinos os pequenos vasos da pele ou os que estão ao redor das úlceras da cavidade oral tendem a apresentar lesões discretas e inconsistentes dificultando o diagnóstico da doença Na fase aguda da infecção alguns vasos podem apresentar hipertrofia endotelial edema e hemorragia perivascular Infiltração linfoplasmocitária é menos frequentemente observada circundando esses vasos Edema pulmonar mesmo sendo inespecífico é bastante característico na LA As lesões dos músculos cardíacos e esqueléticos são hemorragia e necrose aguda de miofibras Características de cronicidade também podem ser observadas como fibrose e infiltração mononuclear substituindo miofibras perdidas Não há inclusões virais e as alterações inflamatórias são mínimas ou ausentes Em um surto ocorrido no Rio Grande do Sul as principais alterações observadas foram no coração e na musculatura do esôfago com degeneração e necrose de miofibras inflamação mononuclear e pequenas áreas de mineralização As lesões podem ser complicadas por coagulação intravascular e trombose disseminada devido ao envolvimento do endotélio No surto ocorrido em 2013 no Rio de Janeiro ovelhas da raça Lacaune apresentaram apatia inapetência edema da face arqueamento de dorso e laminite Duas ovelhas no final da gestação tiveram morte rápida após apresentarem sintomatologia respiratória À necropsia foram observadas erosões na língua aumento de linfonodos submandibulares congestão e edema pulmonares e hemorragia na base da artéria pulmonar Microscopicamente foram observados edema pulmonar hemorragias multifocais no miocárdio e nos músculos papilares cardíacos vasculite e hemorragias multifocais intramurais na artéria pulmonar estomatite ulcerativa focal e discreta rumenite e reticulite não purulentas discretas nefrose e pododermatite ulcerativa purulenta A LA em outros ruminantes pode se manifestar de modo diferente quando comparada à doença em ovinos Efusões características em ovinos não estão presentes em bovinos entretanto esta última espécie frequentemente desenvolve marcado edema pulmonar Doença hemorrágica epizoótica dos cervídeos A doença hemorrágica epizoótica dos cervídeos EHD epizootic hemorrhagic disease é uma doença viral aguda frequentemente fatal que afeta principalmente os cervídeos A doença é caracterizada pela ocorrência de alterações hemorrágicas em vários órgãos e sistemas A doença é uma arbovirose causada pelo epizootic hemorrhagic disease virus EHDV também membro do gênero Orbivirus e da família Reoviridae como o BTV O EHDV é transmitido por mosquitos do gênero Culicoides vetor biológico e infecta ruminantes domésticos e silvestres Já foram identificados sete sorotipos desse vírus sorotipos 1 a 7 até o momento Cervídeos infectados podem permanecer virêmicos por até 2 meses atuando nesse período como reservatórios e fontes de infecção A infecção pelo EHDV está presente na África Ásia Austrália e em alguns países das Américas Na América do Norte a infecção é considerada juntamente com a língua azul a doença mais importante dos cervídeos Animais soropositivos para o vírus já foram identificados também na América do Sul No Brasil poucos estudos têm sido feitos em relação ao EHDV Já foram demonstradas evidências sorológicas da ocorrência do vírus em cervídeos de vida livre nos estados de São Paulo e Mato Grosso Em 2008 o EHDV foi identificado e isolado de dois cervídeos que morreram com sinais clínicos de febre hemorrágica em um zoológico no estado de Santa Catarina O vírus foi isolado sequenciado e identificado como EHDV sorotipo 2 O período de incubação da EHD é de 5 a 10 dias Nos cervídeos os sinais clínicos são semelhantes aos da BT podendo apresentar três formas clínicas da doença A doença hiperaguda é caracterizada por febre alta anorexia fraqueza aumento da frequência respiratória e edema acentuado na cabeça pescoço e língua Nessa forma da doença os animais geralmente morrem em 8 a 36 h e alguns são encontrados mortos sem a observação prévia de sinais clínicos Na forma aguda além dos sinais anteriormente citados observase extensiva hemorragia em vários tecidos incluindo a pele coração e trato gastrintestinal Geralmente observamse salivação excessiva e descarga nasal que pode ser sanguinolenta Erosões na língua gengiva palato rúmen e omaso também podem ser observadas As formas hiperaguda e aguda apresentam altas taxas de mortalidade Na forma crônica o animal fica doente por várias semanas mas se recupera gradualmente quando podem ser observados anéis nos cascos causados pela interrupção do seu crescimento Nessa forma da doença os animais podem também apresentar úlceras e erosões no rúmen Em ovinos geralmente não são observados sinais clínicos relevantes e a EHD é raramente observada nos bovinos Porém o sorotipo Ibaraki tem sido associado a surtos esporádicos de uma doença grave em bovinos no Japão Os achados macroscópicos e microscópicos da EHD são caracterizados por hemorragias que vão desde petéquias a equimoses e envolvem diferentes tecidos e órgãos sendo mais frequente o envolvimento do coração fígado baço rim pulmão e trato gastrintestinal Edema generalizado e aumento do fluido pericárdico são achados frequentes As alterações encontradas são consequências da degeneração das células endoteliais dos vasos sanguíneos e da interferência no processo de coagulação Rotavírus O rotavírus pertence à família Reoviridae gênero Rotavirus É espécieespecífico mas transmissão interespécies também pode ocorrer Os rotavírus infectam várias espécies mas são reconhecidamente importantes em animais de produção jovens É considerado como uma das principais causas de diarreia em bezerros rotavírus bovino e leitões rotavírus suíno Bezerros entre a segunda e terceira semana de idade e leitões lactentes ou recémdesmamados são os mais suscetíveis A infecção tende a ser subclínica em animais adultos Acreditase que essa maior suscetibilidade em animais jovens seja devida ao ciclo celular mais lento dos enterócitos no ápice das vilosidades em animais com até 1 mês de vida o qual contribui para que o vírus complete seu ciclo replicativo O rotavírus causa perdas econômicas mais expressivas em sistemas de criação intensivos A transmissão do rotavírus se dá pela via fecaloral Em contato com o trato digestório o vírus infecta enterócitos maduros presentes no ápice das vilosidades intestino delgado Os enterócitos infectados descamam para o lúmen intestinal deixando as vilosidades nuas as quais rapidamente são reepitelizadas por enterócitos imaturos Como o vírus tem tropismo para células maduras a infecção tende a ser autolimitante e a cessar nesse período Entretanto nessa fase o animal apresenta os sinais clínicos mais graves como diarreia desidratação e desequilíbrio eletrolítico o que se deve ao fato de os enterócitos imaturos não apresentarem ainda capacidade digestiva e absortiva Macro e microscopicamente as lesões são discretas e inespecíficas uma vez que são muito semelhantes a outras causas de diarreia em neonatos O intestino delgado pode apresentarse distendido por gás e conteúdo intestinal líquido Histologicamente os achados são semelhantes aos observados em infecções por coronavírus como achatamento e fusão de vilosidades As vilosidades podem apresentar áreas discretas de erosão ou estar revestidas por enterócitos cuboides ou colunares As criptas podem exibir células epiteliais proliferadas apresentando núcleo grande com cromatina frouxa e a lâmina própria variavelmente expandida por infiltração de linfócitos e macrófagos e menos numerosamente por neutrófilos Gastrenterite transmissível dos suínos A gastrenterite transmissível TGE é uma enfermidade entérica altamente contagiosa causada por um vírus RNA membro da família Coronaviridae grupo alphacoronavirus O vírus da TGE apresenta reação cruzada com o coronavírus respiratório suíno PCRV e o coronavírus felino tipo 1 agente etiológico da peritonite infecciosa felina A TGE é caracterizada por vômito e diarreia acentuada e desidratação e a mortalidade chega a 60 em leitões com menos de 2 semanas de idade faixa etária que é mais suscetível devido à renovação epitelial mais lenta o que determina maior perda de líquido e eletrólitos levando à rápida desidratação A entrada do vírus em granjas livres origina uma forma epizoótica que se espalha rapidamente entre os animais com morbidade elevada Porcas e animais mais velhos apresentam inapetência e algumas vezes diarreia e vômito Rebanhos com a forma endêmica da doença manifestam quadros graves de diarreia e mortalidade em leitões filhos de marrãs de reposição recentemente introduzidas na granja A sobrevivência do vírus no ambiente é maior nas épocas mais frias do ano É observada na grande maioria dos países de produção suína relevante mas é exótica no Brasil A manifestação da doença em rebanhos está relacionada com o status imunitário dos animais Macroscopicamente as alterações em animais com TGE são inespecíficas como desidratação estômago repleto de leite coagulado e intestinos com paredes delgadas repleto de gás e líquido espumoso e amarelado Microscopicamente as principais alterações observadas são a atrofia e a fusão de vilosidades já que o vírus infecta particularmente enterócitos da porção média e do ápice das vilosidades Em um primeiro momento a elevada taxa de esfoliação de enterócitos faz com que o ápice das vilosidades fique desnudo com exposição de lâmina própria que é rapidamente recoberta por um achatamento das células prismáticas das bordas da área erodida as quais se tornam pavimentosas Em lesões subagudas ocorrem fusão e extensa atrofia de vilosidades principalmente nas regiões do jejuno e do íleo O diagnóstico de TGE pode ser feito por imunomarcação em cortes histológicos de intestinos de leitões na fase aguda da doença Técnicas moleculares ou isolamento viral em fragmentos de tecidos frescos ou nas fezes também são métodos utilizados para a detecção do vírus Diarreia epidêmica dos suínos A diarreia epidêmica suína PED até 2012 concentravase em países sulasiáticos como Japão Coreia do Sul China e Tailândia além de casos esporádicos e menos graves em países do Leste Europeu Entretanto em abril de 2012 ocorreu contaminação de rebanhos suínos norteamericanos seguida de disseminação da doença para praticamente todos os estados de produção suína relevante Em seguida México Canadá Peru República Dominicana e Colômbia relataram surtos da enfermidade A PED é causada também por um coronavírus do grupo do alphacoronavirus mas não induz reação ou imunidade cruzada com o vírus da TGE A manifestação clínica transmissão e lesões histológicas são idênticas às observadas na TGE sendo esse o principal diferencial entretanto a mortalidade de leitões até 1 semana de idade é de até 100 em granjas com PED O diagnóstico é realizado somando o quadro clínico lesões microscópicas e técnicas moleculares como a PCR e imunohistoquímica Peritonite infecciosa felina A peritonite infecciosa felina PIF é uma doença viral imunomediada fatal e de distribuição mundial que acomete gatos de qualquer idade porém é mais frequentemente observada em animais entre 6 e 24 meses e acima de 13 anos É causada pelo vírus da peritonite infecciosa felina FIPV feline infectious peritonitis virus um coronavírus felino FCoV feline coronavirus da família Coronaviridae As coronaviroses estão divididas em cinco grupos antigênicos e o grupo I inclui os coronavírus felinos o vírus da gastrenterite transmissível suína o coronavírus respiratório suíno o coronavírus canino e o coronavírus humano 229E Dos coronavírus felinos isolados de amostras de campo alguns causam PIF FIPV e outros causam doença gastrintestinal leve FECV feline enteric coronavirus Desse modo dois biotipos de FCoV são reconhecidos o FIPV e o FECV Esses vírus embora apresentem comportamento biológico distinto são morfologicamente e antigenicamente indistinguíveis Existe uma hipótese de que o FIPV se origina de uma mutação in vivo do FECV A evidência mais importante se deve ao fato de haver maior semelhança genética entre o FIPV e o FECV isolados do mesmo grupo de felinos do que a existente entre amostras de regiões geográficas diferentes Outra observação que merece destaque é que grupos de felinos soropositivos para coronavírus têm maior probabilidade de apresentar casos de PIF havendo ou não histórico prévio da doença nesse mesmo grupo Essa hipótese propõe que a PIF é o resultado da mutação in vivo no intestino do gato infectado do FECV para FIPV e que com essa mutação o vírus tornase capaz de infectar macrófagos e assim fazer disseminação sistêmica com consequente manifestação da doença Apesar de os FCoV serem muito frequentes em gatos a manifestação da PIF é esporádica Os animais que desenvolvem a doença têm resposta imune celular ineficiente Parece não haver predileção por sexo mas existem relatos que indicam maior frequência em machos A infecção pelos vírus da leucemia felina FeLV feline leukemia virus ou da imunodeficiência felina FIV feline immunodeficiency virus pode precipitar o aparecimento da doença em animais infectados por FCoV A prevalência do vírus na população felina é difícil de ser aferida pois os testes sorológicos não possibilitam a diferenciação do FIPV dos outros tipos de coronavírus A transmissão do vírus que está presente nas fezes e na saliva de felinos doentes pode ocorrer pela ingestão ou por aerossóis rota oronasal a transmissão transplacentária também é citada Após a infecção o vírus se replica nas tonsilas ou no epitélio do topo das vilosidades intestinais e a partir daí infecta os macrófagos O vírus então se dissemina via sistema monocíticofagocitário alcançando assim o fígado o baço e os linfonodos viscerais A manifestação da doença vai ser influenciada por diversos fatores como a amostra e a carga viral rota de infecção idade e imunocompetência do hospedeiro Gatos infectados com FCoV que não apresentam manifestação clínica são considerados portadores assintomáticos e podem transmitir o vírus para outros gatos que desenvolvem a PIF Duas formas da doença são reconhecidas efusiva e não efusiva A forma efusiva ocorre em gatos que apresentam reação humoral intensa porém mostram reação celular fraca ou mesmo inexistente Assim a formação sistêmica de imunocomplexos sua deposição na parede vascular e a ativação do complemento causam vasculite alteração da permeabilidade vascular e intensa exsudação cavitária A forma não efusiva da doença aparece em felinos que além da resposta humoral expressam reação celular moderada e se caracteriza pela formação de lesões piogranulomatosas em diversos órgãos As lesões macroscópicas observadas na forma efusiva da PIF são peritonite ou pleurite difusas ou mesmo ambas Nessa forma observamse quantidades variáveis de líquido viscoso amarelado e translúcido eventualmente contendo flocos de fibrina nas cavidades abdominal ou torácica associado à deposição de exsudato esbranquiçado nas serosas parietais e viscerais e de placas necróticas disseminadas Aderências discretas entre as serosas podem surgir nos quadros de evolução mais longa As lesões peritoneais aparecem em até 75 dos casos Microscopicamente as lesões nas serosas apresentam as características de uma inflamação fibrinosa na qual se observa uma camada de fibrina de espessura variável que se sobrepõe à camada de infiltrado composto de neutrófilos linfócitos e macrófagos A fibroplasia e a neoformação vascular podem acompanhar esse exsudato nos casos que apresentem evolução mais longa Lesões nodulares mais características da forma não efusiva também podem estar presentes em diversos órgãos Essas lesões se desenvolvem ao redor das estruturas vasculares do tecido e são caracterizadas por inflamação fibrinonecrótica e formação de piogranulomas O infiltrado celular é formado por macrófagos linfócitos plasmócitos e neutrófilos Na forma não efusiva da doença as lesões macroscópicas observadas são múltiplos nódulos salientes Figura 386 que medem de 02 mm até alguns centímetros comprometendo rins linfonodos viscerais fígado intestino e pulmões As lesões microscópicas da forma não efusiva são granulomas ou piogranulomas perivasculares associados à vasculite ou trombovasculite sistêmica O envolvimento do SNC e dos olhos está presente em 60 dos casos da forma não efusiva da PIF No SNC as lesões piogranulomatosas localizamse preferencialmente nas leptomeninges e na substância branca periventricular assim como na medula As lesões oculares descritas incluem uveíte e iridociclite ou coriorretinite retinite hemorragia e descolamento da retina além de neurite Figura 386 Forma não efusiva seca da peritonite infecciosa felina PIF em gato A Placas e nódulos de tamanhos variados sobre a serosa intestinal B Superfície hepática e esplênica Cortesia da Dra Roselene Ecco Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Coronavirose canina O coronavírus canino é um vírus RNA membro da família Coronaviridae causador de gastrenterite aguda A verdadeira importância desse tipo de infecção na população canina não é conhecida porém quando surge apresenta morbidade alta e mortalidade baixa acometendo mais frequentemente animais neonatos Devese ressaltar que a infecção concorrente com o parvovírus canino PVC acentua muito a gravidade do quadro Além disso relatos indicam que o coronavírus canino tem se tornado mais virulento A transmissão do vírus se dá pela rota fecaloral havendo a invasão dos enterócitos do topo das vilosidades o que causa diarreia de grau de gravidade variável As lesões macroscópicas observadas concentramse no intestino delgado sendo mais consistentes e graves no íleo Observamse rugosidade e perda do brilho da serosa na região do jejuno e do íleo O conteúdo desses segmentos assim como o do cólon tem odor fétido consistência aquosa e coloração que varia entre o alaranjado e o vermelho intenso ou enegrecido Microscopicamente as lesões concentramse nos enterócitos As células infectadas podem sofrer lise in situ e liberar partículas virais contidas em vacúolos citoplasmáticos ou podem sofrer esfoliação Se essa esfoliação é intensa observamse desnudamento atrofia e fusão de vilosidades e os enterócitos remanescentes são células imaturas colunares baixas cuboides ou mesmo escamosas A lâmina própria mostra nas fases iniciais da infecção sinais de inflamação aguda e nas fases mais tardias infiltrado mononuclear discreto A hiperplasia das criptas intestinais repõe as células perdidas havendo regressão da atrofia e da fusão de vilosidades Papilomatose oral canina O vírus da papilomatose oral canina VPOC é um papovavírus que produz lesões principalmente na cavidade oral e faringe de cães Esse agente também foi identificado em papilomas orais de coiotes e lobos A doença geralmente regride de maneira espontânea Os animais jovens são mais suscetíveis a média de idade gira em torno de 1 ano Não existe predisposição por sexo ou raça O VPOC como outros vírus DNA oncogênicos transforma as células infectadas subvertendo os controles celulares por intermédio de seus genes precoces Alguns desses genes codificam proteínas multifuncionais que interagem com genes celulares e em última análise são responsáveis pelo bloqueio da apoptose ou pela interferência na regulação da replicação celular Provavelmente as proteínas codificadas pelos genes precoces se ligam às proteínas codificadas por genes supressores tumorais mais especificamente os genes Rb e p53 o que leva à perda de controle do crescimento celular e à transformação da célula Dessa maneira o vírus estimula a proliferação de células do estrato basal Por outro lado os genes tardios que codificam proteínas do envelope viral são expressos somente nas células epiteliais bem diferenciadas o que possibilita que partículas virais estejam presentes nas células mais superficiais dos papilomas facilitando a transmissão As lesões que seguem sempre o padrão exofítico são encontradas nos lábios na língua na faringe no palato duro e na epiglote podendo estar presentes ocasionalmente no esôfago Em geral são múltiplas e inicialmente são caracterizadas como pequenos nódulos esbranquiçados achatados lisos e firmes que posteriormente tornamse maiores transformandose em lesões sésseis ou pedunculadas acinzentadas ou róseas que mostram superfície rugosa ver Figura 313 Microscopicamente os papilomas são constituídos por epitélio escamoso hiperplásico sendo nítidas a acantose e a degeneração balonosa das células do estrato espinhoso as quais podem ainda mostrar inclusões basofílicas intranucleares Essa camada epitelial é sustentada por formação estromal papilar delicada A transformação maligna dessas lesões resultando no desenvolvimento de um carcinoma é um evento raro Parvovirose canina A parvovirose canina é causada pelo parvovírus canino CPV canine parvovírus pertencente à família Parvoviridae gênero Parvovirus O PVC é um importante agente causador de enterite em cães do mundo inteiro sendo muito provável que acometa a maioria dos canídeos Os primeiros relatos datam de 1978 porém até hoje a origem do vírus continua incerta A morbidade e a mortalidade são altas e esta última varia entre 16 e 48 A doença clínica é mais grave nos animais jovens de crescimento rápido e principalmente naqueles portadores de parasitas protozoários e determinados gêneros de bactérias intestinais como Clostridium sp Campylobacter spp e Salmonella spp Cães das raças Dobermann Pinscher e Rottweiler mostram suscetibilidade maior à doença A transmissão do vírus se dá pelo contato direto com cães infectados porém a transmissão indireta por meio de fômites também tem papel importante A difusão do vírus entre os cães é rápida Após a ingestão o vírus se replica no tecido linfoide da região da orofaringe nos linfonodos mesentéricos e no timo A viremia subsequente possibilita a difusão do vírus que ataca células na fase S do ciclo celular e portanto acomete principalmente tecidos com alto índice proliferativo como o epitélio das criptas do jejuno e do íleo o tecido linfopoético e a medula óssea A ação inicial do vírus sobre o tecido linfoide é responsável pela linfopenia que precede os sinais gastrintestinais Da mesma maneira a replicação na medula óssea e no tecido linfopoético causa neutropenia e linfopenia Além disso o vírus pode ser encontrado no epitélio de revestimento da cavidade oral língua e esôfago e nos pulmões fígado rins e miocárdio O quadro clínico inclui anorexia letargia pirexia desidratação vômito e diarreia mucoide líquida ou sanguinolenta Nos animais que morrem o quadro macroscópico caracterizase por lesões entéricas importantes O intestino mostra efusão fibrinosa que recobre discretamente a serosa dandolhe aspecto granular Figura 387 A além de hemorragias subserosas Após a abertura da víscera o conteúdo apresenta consistência mucoide ou fluida com exsudação fibrinosa e na maioria dos casos é francamente hemorrágico Figura 387 B A congestão e o edema da mucosa são acentuados e as placas de Peyer proeminentes Devese ressaltar que essas alterações podem ser difusas ou segmentares No estômago o conteúdo pode ser hemorrágico ou bilioso e a mucosa mostra congestão de grau variável Os linfonodos mesentéricos aumentam de volume e sua superfície de corte é úmida e hemorrágica linfoadenomegalia mesentérica A atrofia do timo é tão intensa que muitas vezes há dificuldade para encontrar o órgão A medula óssea pode estar pálida e apresentar consistência semilíquida Microscopicamente as lesões intestinais se traduzem por necrose epitelial inclusive das células das criptas de Lieberkuhn desnudamento e atrofia das vilosidades e colapso do estroma da lâmina própria As criptas remanescentes encontramse dilatadas e repletas de restos celulares e leucócitos ou mostramse revestidas por epitélio escamoso ou hiperplásico No tecido linfoide a principal alteração microscópica observada é a linfocitólise que compromete as placas de Peyer a camada cortical do timo e os centros germinativos dos linfonodos o que resulta em acentuada depleção linfoide A forma cardíaca da doença miocardite não supurativa é mais rara e causa morte súbita em filhotes com idade entre 3 e 8 semanas Figura 387 Parvovirose em cão A Efusão fibrinosa que recobre discretamente a serosa dandolhe aspecto granular e hemorrágico difuso Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS B Mucosa intestinal necrótica e revestida de fina camada de fibrina e edema da parede intestinal Panleucopenia felina A panleucopenia felina é causada pelo vírus da panleucopenia felina FPLV feline panleukopenia virus pertencente ao gênero Parvovirus família Parvoviridae O FPLV é muito semelhante ao parvovírus canino CPV Canine Parvovirus Casos naturais e experimentais já foram relatados em gatos com panleucopenia felina tendo cepas de parvovírus canino como agente etiológico Assim como o CPV o FPLV apresenta distribuição mundial é altamente contagioso e persistente no meio ambiente A doença em gatos também apresenta similaridades com aquela observada em cães uma vez que acomete gatos jovens especialmente os não vacinados Uma vez que animais doentes eliminam o vírus em fezes diarreicas a transmissão do vírus se dá principalmente pela rota fecaloral Além disso como o vírus persiste no ambiente fômites também podem servir de fonte de transmissão O vírus utiliza linfonodos da região oronasal como sítio de replicação primário para posteriormente ganharem a corrente sanguínea viremia e infectar células em fase S do ciclo celular em tecidos mitoticamente ativos como medula óssea criptas intestinais e tecidos linfoides O tropismo viral por várias células hematopoéticas da linhagem branca explica o quadro clínico que deu nome à doença panleucopenia Enterite variando de mucoide a hemorrágica também é um sinal clínico comum em animais doentes Gatas infectadas no terço final da gestação podem gerar fetos com lesões no sistema nervoso central sendo a hipoplasia cerebelar o achado mais comumente descrito Gatas infectadas no início da gestação apresentam morte fetal com mumificação ou aborto Macroscopicamente animais que vieram a óbito por FPLV apresentamse desidratados com mucosas pálidas anêmicas e sinais de diarreia nos pelos ao redor do ânus Ao exame interno as vísceras podem encontrarse pálidas e à manipulação deixam fluir sangue claro pouco viscoso que não se coagula ou coagula lentamente anemia O timo pode estar marcadamente atrofiado em animais jovens Lesões entéricas nem sempre estão presentes à necropsia mas quando estão observamse conteúdo intestinal líquido vermelho ou marrom mucosa do intestino delgado congesta eou com hemorragia petequial ou sufusão Focos com deposição de fibrina podem ser observados na mucosa do intestino delgado especialmente sobre as placas de Peyer A medula óssea pode estar pálida e apresentar consistência semilíquida Microscopicamente a lesão mais característica é necrose com dilatação das criptas intestinais que ocorre de forma multifocal e mais consistentemente no íleo o cólon é menos frequentemente afetado portanto não é incomum que múltiplos cortes histológicos do intestino delgado sejam necessários para visualizar essa alteração O lúmen das criptas afetadas além de dilatado pode conter células epiteliais descamadas fragmentos de células necrosadas e células inflamatórias As criptas tornamse revestidas por epitélio cuboidal ou pavimentoso achatado Animais que morrem na fase aguda início da infecção da doença podem apresentar inclusões basofílicas intranucleares no epitélio de revestimento das criptas Já animais que morrem em fases mais avançadas da doença apresentam criptas em processo regenerativo com epitélio de revestimento proliferado composto de células empilhadas em várias camadas com núcleo grande e claro Em consequência da destruição das criptas há atrofia achatamento e fusão de vilosidades que podem também apresentarse revestidas por células epiteliais de aspecto pavimentoso cuboide ou por células com características proliferativas com núcleo grande cromatina frouxa e nucléolo proeminente Em casos mais graves erosões ulcerações e depósitos de fibrina com hemácias misturadas ou não com bactérias estão presentes na superfície das vilosidades Infiltrado de neutrófilos e eosinófilos podem ser vistos expandindo a lâmina própria nas áreas mais afetadas As alterações histológicas nos órgãos linfoides ocorrem no início da doença e se resumem basicamente em depleção linfoide por linfocitólise Esta última se dá em linfócitos infectados pelo vírus devido à característica marcante dos parvovírus de induzir apoptose Associado à depleção linfoide há grande número de histiócitos histiocitose que apresentam citoplasma amplo levemente eosinofílico contendo fragmentos basofílicos corpúsculos apoptóticos de linfócitos Também nas fases mais iniciais da doença a medula óssea apresentase hipocelular com acentuada depleção de todas as linhagens celulares Pode ocorrer hiperplasia de célulastronco na medula óssea em fases mais tardias da doença Doenças bacterianas do sistema digestório Actinobacilose Actinobacilose é uma doença crônica que frequentemente apresentase como estomatite profunda Ocorre principalmente em bovinos mas outros ruminantes e suínos também podem ser acometidos O agente etiológico Actinobacillus lignieresii está presente na microbiota normal da cavidade oral de animais saudáveis Quando há lesão da mucosa oral esse organismo tem acesso a estruturas mais profundas nas quais pode provocar reação inflamatória crônica A língua é a estrutura da cavidade oral mais comumente afetada Casos mais graves costumam ser acompanhados de intensa fibroplasia com substituição de fibras musculares da língua por tecido conjuntivo fibroso denso levando o nome comum da doença língua de pau O sulco da língua é o local em que as lesões se desenvolvem preferencialmente talvez por ser onde fibras de plantas se alojam naturalmente causando trauma Macroscopicamente as lesões presentes na submucosa variam em tamanho e normalmente são centralizadas por pequenos grânulos amarelos chamados de grânulos de enxofre Microscopicamente as lesões aparecem como piogranulomas com cordões de cocobacilos no centro de onde irradiam estruturas eosinofílicas que consistem em complexos imunes frequentemente chamados de club colonies Essas por sua vez são circundadas por numerosos neutrófilos e mais externamente por macrófagos epitelioides células gigantes e finalmente tecido conjuntivo fibroso Pode ocorrer disseminação para os linfáticos com frequente reação inflamatória granulomatosa com piogranulomas em linfonodos regionais Figura 388 Em alguns casos pode ocorrer envolvimento de outras estruturas além da língua em especial quando a doença ocorre em ovinos Eventualmente lesões podem ser encontradas nos préestômagos de ruminantes Actinomicose A actinomicose é causada por bactérias do gênero Actinomyces que fazem parte da microbiota normal da cavidade oral e da mucosa nasofaringiana Os agentes são bastonetes Grampositivos que podem se apresentar filamentosos ou ramificados São comensais de baixa patogenicidade e que penetram nos tecidos por meio de lesões traumáticas A forma clássica da doença aparece nos bovinos e é causada pelo A bovis A lesão característica é o aumento de volume irregular da mandíbula ou menos frequentemente da maxila devido ao comprometimento das estruturas ósseas por um processo de evolução longa e progressiva de características piogranulomatosas A introdução do agente se dá por meio de ferimentos penetrantes nos tecidos moles da região da mucosa oral como as gengivas e o periodonto sendo produzidos por arames fragmentos grosseiros de vegetais ou de madeira O envolvimento do tecido ósseo acontece posteriormente As lesões se caracterizam por exsudato purulento viscoso envolvido por tecido de granulação proliferado que comprime os tecidos normais da região O aumento de volume da estrutura óssea é resultado da reação inflamatória e da proliferação do tecido ósseo As áreas de reabsorção óssea coincidem com os focos supurativos presentes na lesão A superfície de corte da área da lesão apresenta coloração brancoacinzentada na qual se destacam as áreas de supuração de coloração amarela em meio à qual estão presentes grânulos amarelos denominados de grânulos de enxofre Figura 388 Actinobacilose em bovino caracterizada por linfadenite piogranulomatosa Cortesia da Dra Roselene Ecco União Pioneira de Integração Social Brasília DF Microscopicamente o agente forma colônias basofílicas muitas vezes em forma de roseta circundadas por halo eosinofílico Ao redor dessas estruturas a reação é composta de neutrófilos e mais externamente de macrófagos epitelioides que apresentam citoplasma abundante e espumoso Eventualmente podem ser também observados nessa região linfócitos e células gigantes tipo Langhans Cada foco de reação é envolvido por tecido de granulação que separa e circunda a lesão como um todo Nos casos de longa duração pode ocorrer mineralização O diagnóstico pode ser feito observandose as lesões características O emprego do método de Gram tanto nos exames citológicos quanto histopatológicos pode auxiliar na identificação do agente O exame a fresco dos focos de supuração grânulos de enxofre pode evidenciar as rosetas que mostram estruturas em forma de clava em arranjo radial Esse exame é realizado colocandose o material coletado entre lâmina e lamínula após diluição em água ou clarificação com hidróxido de sódio sendo observado ao microscópio sob baixa iluminação O diagnóstico diferencial inclui actinobacilose nocardiose e estafilococose botriomicose A morfologia das colônias e dos microrganismos além das suas reações tintoriais fornece os dados necessários para a diferenciação Devese ressaltar que na actinobacilose dos bovinos os tecidos moles são envolvidos preferencialmente e microscopicamente as colônias têm tamanho maior Bactérias do gênero Actinomyces também produzem lesões em outras espécies A hordeovulneris é o agente responsável por abscessos e infecções sistêmicas em cães A israelii está associado a lesões granulomatosas em humanos e mais raramente a lesões piogranulomatosas em bovinos e cães A suis é o causador de mastites piogranulomatosas em suínos e A vicosus está relacionado com quadros de pneumonia piotórax e abscessos subcutâneos em cães Clostridioses enterotoxemias Os microrganismos do gênero Clostridium são bacilos esporulados anaeróbios Grampositivos Na sua forma vegetativa que se desenvolve nos tecidos infectados dos animais aparecem de modo isolado formando pares ou mais raramente cadeias Os esporos são ovais ou esféricos e de posição central subterminal ou terminal As bactérias desse gênero costumam ser divididas em duas categorias aquelas invasoras dos tecidos como no caso da gangrena gasosa e aquelas produtoras de toxina enterotoxemia botulismo e tétano Devese ressaltar que essa divisão é arbitrária já que todas produzem toxinas Sob a denominação de enterotoxemia estão agrupados os processos intestinais produzidos pelas potentes exotoxinas do Clostridium perfringens microrganismo presente no solo e no intestino dos animais Os diferentes tipos da bactéria são denominados por letras maiúsculas A B C D e E e a sua ação sobre a mucosa intestinal se dá pela produção de uma ou mais toxinas que são denominadas por letras gregas como alfa beta e gama C perfringens tipo A é causador de diarreias hemorrágicas em cães as quais se caracterizam por necrose de coagulação da mucosa do intestino delgado e extensa destruição das vilosidades O processo denominado de colite X nos equinos que se caracteriza por diarreia profusa desidratação hemorragia e necrose do cólon também é atribuído a C perfringens tipo A Leitões lactentes Figura 389 particularmente nos primeiros 5 dias de vida podem ser acometidos por diarreia pastosa e desidratação causadas pelo C perfringens tipo A as quais normalmente não provocam morte mas afetam o peso ao desmame O C perfringens tipo B é responsável pela disenteria dos cordeiros lamb disentery que acomete animais com menos de 3 semanas de idade principalmente na Europa e África do Sul A doença se caracteriza por curso agudo e alguns animais morrem sem mostrar sinais clínicos Geralmente o quadro clínico inclui diarreia aquosa e sanguinolenta decúbito e sinais de dor abdominal A principal lesão encontrada é a enterite hemorrágica com ou sem ulcerações Eventualmente ocorre o envolvimento do cólon Esses segmentos intestinais mostram coloração vermelhoazulada intensa Também são observadas petéquias e equimoses no endocárdio e epicárdio além de excesso de líquido no interior do saco pericárdico Na enterotoxemia dos bezerros e dos potros também causada por C perfringens tipo B as lesões intestinais são muito semelhantes às descritas para os cordeiros O C perfringens tipo C produz quadros de enterotoxemia em ovinos adultos assim como em cordeiros bezerros potros e leitões Na maioria dos casos os animais não mostram sinais clínicos devido ao curso rápido da doença As lesões são semelhantes às descritas para o tipo B Nos ovinos adultos um achado marcante é o acúmulo de líquido amareloclaro na cavidade peritoneal Nos cordeiros bezerros e potros o quadro de enterite necrótica ocorre durante os primeiros dias de vida comprometendo o jejuno e o íleo A evolução da doença nos leitões pode durar de 12 a 48 h e o segmento intestinal comprometido é o jejuno Além disso os suínos Figura 390 podem apresentar linfadenite hemorrágica que compromete a cadeia mesentérica e o líquido serohemorrágico nas cavidades pleural peritoneal e pericárdica além de provocar hemorragias no pericárdio e nos rins Figura 389 Infecção por Clostridium perfringens tipo A em leitões jovens Grande quantidade de bacilos em contato direto com enterócitos Cortesia do Dr Jim Collins University of Minnesota EUA Figura 390 Fotomicrografia de enterite necrohemorrágica aguda causada por C perfringens tipo C em leitão neonato Intensa necrose profunda da mucosa com grande quantidade de bacilos nessa área associada a enfisemas na submucosa e à intensa hemorragia em submucosa muscular e serosa 100 O C perfringens tipo D é o responsável por quadros de enterotoxemia em ovinos rim pulposo caprinos e bovinos É a forma clássica de enterotoxemia dos ovinos e ocorre com maior regularidade em cordeiros do que em animais adultos Geralmente está relacionada com a mudança brusca para dieta rica em grãos o que proporciona um meio favorável para o desenvolvimento do agente A toxina produzida causa dano vascular principalmente nos capilares cerebrais Podem não ser notados sinais clínicos devido à evolução muito rápida do quadro como nos outros tipos de enterotoxemia Excitação incoordenação convulsão e coma podem preceder a morte Opistótono andar em círculo e a tendência de pressionar a cabeça contra objetos estáticos como paredes são também sinais de envolvimento do SNC Outros sinais como anorexia diarreia e fezes recobertas por muco eventualmente estão presentes Hiperglicemia e glicosúria são sempre observadas Nos cordeiros as lesões encontradas são discretos focos de hiperemia na parede intestinal e o acúmulo de líquido no interior do saco pericárdico Nos animais mais velhos são mais comuns as lesões hemorrágicas do miocárdio assim como petéquias e equimoses que comprometem a musculatura abdominal e a serosa intestinal Em geral há grande quantidade de alimento no rúmen e no abomaso Os rins mostramse amolecidos e friáveis devido à autólise rápida dando origem ao nome de rim pulposo pulp kidney para a doença As lesões mais específicas da doença ocorrem no sistema nervoso central Observase malácia focal bilateral e simétrica dos gânglios basais e tálamo além de desmielinização também simétrica e bilateral da substância branca subcortical e pedúnculos cerebelares A enterocolite dos equinos causada por bactérias do gênero Clostridium é uma doença aguda e esporádica que se caracteriza por diarreia e cólica A etiologia do processo está relacionada com C difficile e C perfringens Alterações na dieta dos animais e antibioticoterapia são fatores predisponentes Dor abdominal diarreia e distensão abdominal são os sinais clínicos presentes e a lesão principal é a enterocolite necrótica C difficile tem aparecido também como um importante agente de diarreia neonatal em suínos Esse agente faz parte da microbiota normal dos suínos mas em condições particulares multiplicamse e produzem as toxinas A e B que são citolíticas Acomete mais frequentemente leitões neonatos até 5 dias de idade Os fatores predisponentes ainda são pouco conhecidos mas o uso indiscriminado de medicação preventiva para controle de outras enfermidades entéricas bacterianas como E coli enterotoxigênica tem sido associado ao aparecimento de casos Clinicamente leitões apresentam diarreia pastosa que afeta o ganho de peso e o peso final ao desmame mas raramente levam à morte À necropsia o edema de mesocolón acentuado Figura 391 A tem um valor preditivo positivo alto Histologicamente existe edema marcante de mesocólon uma redução do número de células caliciformes em segmentos do intestino grosso e intenso infiltrado neutrofílico multifocal nas porções superficiais da lâmina própria no cólon espiral que por vezes rompe o revestimento epitelial de enterócitos e extravasa para o lúmen dando um aspecto de erupção de vulcão Figura 391 B O diagnóstico é baseado na observação de lesões macro e microscópicas e na detecção de toxinas AB em amostras de fezes utilizando testes de ELISA de captura Colibacilose Escherichia coli é um bacilo ou cocobacilo curto Gramnegativo flagelado com fímbrias e algumas vezes encapsulado Resiste por alguns dias à temperatura ambiente Cresce aeróbica ou anaerobicamente em uma grande variedade de meios de cultura e algumas cepas são hemolíticas Existe uma grande variedade de cepas de E coli já tendo sido descrita na literatura em um mesmo indivíduo a ocorrência de 25 cepas diferentes A grande maioria das cepas de E coli é de comensais inofensivos constituintes da microbiota intestinal Entretanto existem algumas cepas produtoras de toxinas que têm sido apontadas como principal grupo de patógenos causadores de diarreia A doença ocorre quando cepas patogênicas específicas infectam uma população suscetível ou quando fatores ambientais eou de manejo atuam juntamente com uma redução da imunidade específica propiciando o crescimento e a supremacia de determinadas cepas potencialmente patogênicas de E coli presentes na microbiota intestinal Figura 391 Clostridium difficile em leitão de 3 dias de idade A Intenso edema de mesocólon B Infiltrado neutrofílico na porção superficial da lâmina própria rompendo o epitélio de revestimento e extravasando para lúmen intestinal E coli enterotoxigênica ETEC enterotoxigenic Escherichia coli é o agente infeccioso mais frequentemente isolado de casos de diarreia em animais jovens No suíno a colibacilose pode ser dividida em três tipos quanto à faixa etária em que ocorre neonatal primeiros dias após nascimento animais jovens da primeira semana até o desmame e pósdesmame esta última por sua vez é subdividida em diarreia pósdesmame e doença do edema podendo ocorrer associação entre essas duas formas O desenvolvimento dessas diferentes formas clínicas depende de fatores de virulência presentes em diferentes cepas de E coli da idade e do estado imunitário dos leitões Os dois principais fatores de virulência da ETEC são as adesinas representadas pelas fímbrias e as enterotoxinas Esses dois fatores de virulência são essenciais para o desenvolvimento da doença Isolados de ETEC provenientes de suínos produzem seis diferentes tipos de fímbrias F4 K88 F5 K99 F6 987 P F18 F41 e adesina envolvida em aderência difusa AIDA adhesin involved in diffuse adherence Essas fímbrias adesivas se ligam especificamente a receptores presentes na membrana plasmática dos enterócitos possibilitando assim a colonização bacteriana da superfície celular e a produção de toxinas A suscetibilidade à ETEC é determinada em grande parte pela presença desses receptores celulares nos enterócitos A idade do animal e a maior ou menor suscetibilidade de certas linhagens de animais estão associadas à disponibilidade de receptores celulares para fixação de fímbrias bacterianas Assim sendo particularmente no suíno a suscetibilidade a diferentes cepas de E coli depende da idade e da linhagem genética desses animais ETEC causa diarreia aquosa profusa eou alterações circulatórias sistêmicas em decorrência da liberação de enterotoxinas como a toxina lábil ao calor LT toxinas termoestáveis STa STb e EAST1 e a toxina Shiga STx2e A diarreia produzida é do tipo secretória provocada pelas toxinas LT STa STb e EAST1 em que não ocorre lesão do epitélio de revestimento intestinal mas sim um estímulo ao aumento da secreção de íons por enterócitos das criptas intestinais Como as moléculas de bicarbonato são um importante constituinte da secreção intestinal o conteúdo diarreico aquoso nos casos de infecções por E coli toxigênica é normalmente alcalino A toxina Shiga STx2e produzida por cepas de E coli que causam doença do edema em leitões recémdesmamados é absorvida no intestino e causa aumento da permeabilidade vascular sistêmica Consequentemente ocorre transudação de líquidos para o interstício A disseminação de E coli patogênica pode ocorrer via aerossóis alcançando distâncias de até 15 m ração veículos e leitões e por outros animais Cepas causadoras de colibacilose pósdesmame tendem a ser similares em grandes áreas geográficas e regiões A simples presença das cepas patogênicas mencionadas anteriormente é essencial para a ocorrência de infecções pósdesmame mas não suficiente A presença simultânea de fatores predisponentes como 1 linhagens de suínos que expressem receptores para adesinas fímbrias de E coli específicas 2 coinfecções por rotavírus 3 coinfecção pelo vírus da síndrome respiratória e reprodutiva suína PRRS porcine reproductive and respiratory syndrome ausente no Brasil 4 possivelmente coinfecção pelo circovírus suíno tipo 2 e 5 deficiências nos processos de higiene e desinfecção e o excesso de contaminação ambiental geralmente estão relacionados com a ocorrência de sinais clínicos Além disso superlotação qualidade da água e nutrientes inadequados podem também predispor ao desencadeamento da enfermidade A primeira manifestação clínica em leitões acometidos pela diarreia pósdesmame é a morte súbita de alguns animais a partir de 2 dias após o desmame Associados a isso observamse uma redução marcante do consumo de ração e o aparecimento de diarreia aquosa Por apresentar pH alcalino essa diarreia pode também causar irritação na pele da região perianal que se apresenta normalmente bastante avermelhada Os animais afetados desidratamse rapidamente e ficam apáticos mas ainda procuram os bebedouros A temperatura corporal não se altera O pico da mortalidade ocorre entre 6 e 10 dias depois do desmame Apesar do atraso no ganho de peso os animais que sobrevivem recuperamse clinicamente À necropsia como o processo é rápido os leitões apresentam boa condição corporal intensa desidratação com olhos fundos e intestinos dilatados ligeiramente edematosos e congestos O conteúdo intestinal é líquido ou mucoso Nos casos agudos de doença do edema o edema subcutâneo é marcante principalmente nas pálpebras orelhas fronte focinho e lábios A diarreia só é aparente em alguns poucos animais no estágio final da doença e frequentemente apresenta estrias de sangue Nos animais que sobrevivem à fase aguda da doença observamse distúrbios nervosos unilaterais caracterizados por andar em círculos ou com a cabeça inclinada lateralmente e atrofia muscular progressiva associada à fraqueza e perda de peso Nesses casos mais crônicos o edema subcutâneo dificilmente é observado À necropsia observase edema marcante da parede do cólon espiral e estômago Em alguns casos existe associação entre diarreia pósdesmame e doença do edema A anorexia é o primeiro sinal clínico observado e pode durar vários dias Em seguida tem início uma diarreia de curta duração raramente fatal que dura em média 1 semana Normalmente sintomatologia nervosa é observada já em ausência de diarreia Edema subcutâneo associado à ataxia progressiva que culmina com decúbito lateral é frequentemente observado O exame histológico do intestino delgado principalmente íleo revela a presença de bacilo difusamente aderido à superfície intestinal Figura 392 No caso de doença do edema animais que desenvolvem a forma mais crônica apresentam lesões necróticas simétricas no encéfalo semelhantes às descritas nos quadros de enterotoxemia de cordeiros por C perfringens Colibacilose enterotoxigênica em bezerros cordeiros e potros acomete animais de poucos dias de vida e é causada por cepas com fímbrias do tipo F41 e F5 Acomete frequentemente bezerros de 2 a 3 dias de idade Animais mais velhos apresentam diminuição progressiva da suscetibilidade à infecção o que pode ser justificado pela diminuição de receptores específicos em enterócitos com o desenvolvimento do animal Lesões macro e microscópicas são semelhantes às observadas em suínos Figura 392 Fotomicrografia de infecção por Escherichia coli enterotoxigênica em leitão neonato Notar a grande quantidade de colônias de cocobacilos em íntimo contato com a superfície apical de enterócitos 200 Cortesia do Dr Jim Collins University of Minnesota EUA Cepas de E coli ênterohemorrágicas EHEC enterohemorragic Escherichia coli são particularmente patogênicas para bezerros entre 3 dias e 2 meses de idade Animais afetados morrem em poucos dias mas pode existir recuperação total entre 7 e 10 dias Macroscopicamente as lesões se concentram no reto e no cólon mas podem se estender para o ceco e o íleo provocando enterite fibrinosa ou fibrinohemorrágica A mucosa do cólon está congesta com muco e material necrótico aderido em sua superfície Linfonodos mesentéricos estão aumentados de volume e congestos Microscopicamente vilosidades podem estar atrofiadas e os epitélios tanto do intestino delgado quanto do grosso estão delgados com áreas de microerosão Observamse colônias bacterianas cocobacilos em íntimo contato com enterócitos principalmente das criptas Colites por espiroquetas em suínos São duas as espiroquetas enteropatogênicas para o suíno identificadas no Brasil até o momento a Brachyspira pilosicoli causadora da colite espiroquetal e a Brachyspira hyodysenteriae causadora da disenteria suína Outras duas espécies de espiroquetas B hampsonii e B suanatina foram identificadas e associadas a surtos de disenteria suína na América do Norte e em países nórdicos respectivamente As Brachyspira spp são espiroquetas anaeróbicas flageladas e Gramnegativas A B hyodysenteriae produz βhemólise em ágarsangue e a B pilosicoli causa fraca hemólise Ambas têm crescimento lento e fastigioso in vitro Existe uma grande diversidade de cepas antigenicamente diferentes tanto de B hyodysenteriae quanto de B pilosicoli que apresentam diferentes atributos relativos à motilidade no muco intestinal e adesão a enterócitos Desse modo diferentes cepas apresentam diferenças em patogenicidade O período de incubação da disenteria suína pode variar de 2 dias a 3 meses mas com maior frequência observamse os primeiros sinais clínicos entre 10 e 14 dias após exposição natural A doença se espalha gradualmente no rebanho Esporadicamente alguns animais podem desenvolver a forma hiperaguda com hipertermia 40 a 405C e morrem em um período de poucas horas após a infecção com pouca ou nenhuma evidência de diarreia Na forma aguda da disenteria suína a B hyodysenteriae causa colite grave que cursa com diarreia que se inicia pastosa e amarelada e que no decorrer de poucas horas ou dias tornase amplamente mucosa e sanguinolenta se não tratada pode levar os suínos à morte Clinicamente pode ser confundida com a forma aguda da enteropatia proliferativa Na sua forma crônica causa diarreia catarral depressão e diminuição do ganho de peso diário que se assemelham com colite espiroquetal e ileíte crônica Suínos de todas as idades podem se infectar até leitões lactentes mas ela é mais comum em animais de recria e terminação A colite espiroquetal tem apresentação mais branda que a disenteria suína Afeta animais desmamados até cevados de terminação e esporadicamente matrizes gestantes principalmente associada a eventos de mistura de animais e mudança de dieta Sem dúvida a idade mais frequentemente acometida é a de animais na recria de 1 a 2 semanas após alojamento A diarreia que se inicia pastosa passa a mucosa após algumas horas Raramente alguns animais apresentam melena A diarreia é autolimitante persistindo entre 2 e 14 dias apesar de haver casos de recorrência após o tratamento Não é observada mortalidade sendo o impacto da doença representado basicamente pela piora na conversão alimentar e redução do ganho de peso Tanto a B hyodysenteriae quanto a B pilosicoli têm tropismo por células caliciformes particularmente abundantes no intestino grosso O mecanismo de destruição tissular da B hyodysenteriae não foi totalmente elucidado mas duas toxinas parecem ter importante papel as hemolisinas e as lipooligossacaridases Acreditase que tenham ação direta sobre enterócitos superficiais da mucosa colônica Não ocorre invasão bacteriana além da camada da lâmina própria da mucosa consequentemente as lesões observadas são mais superficiais ao contrário da salmonelose A diarreia ocorre pela diminuição da absorção de líquidos pelo epitélio lesionado e pelo ligeiro aumento da permeabilidade intestinal No caso da B pilosicoli grupamentos de bactérias aderemse à superfície de enterócitos em um ângulo de 90 algumas vezes formando uma borda em escova visível em preparações histológicas coradas com hematoxilina e eosina Essas bactérias induzem modificação estrutural do citoesqueleto de enterócitos e destruição de microvilosidades Ocorre penetração da bactéria no espaço intercelular o que favorece a descamação de enterócitos e a exposição da lâmina própria A diarreia ocorre devido a uma redução da absorção de líquidos e ácidos graxos voláteis Tanto na disenteria suína quanto na colite espiroquetal as lesões entéricas são restritas ao intestino grosso Na disenteria suína no início do quadro diarreico a mucosa apresentase difusamente edematosa e hiperêmica com conteúdo aquosomucoso abundante Material mucohemorrágico ou necrótico aderido à mucosa é visto com poucos dias após início da sintomatologia clínica e progride rapidamente para uma necrose extensa mas superficial da mucosa que está coberta por uma membrana fibrinonecrótica Outras lesões que podem ser observadas são aumento de volume e edema de linfonodos mesentéricos e edema de mesocólon Na colite espiroquetal o mesocólon pode estar edematoso Figura 393 e o segmento oral do cólon repleto de gás O conteúdo do ceco e do cólon tem consistência pastosa coloração verdeamarelada e aspecto mucoso As lesões de mucosa são caracterizadas por lesões fibrinonecróticas e erosões superficiais focais a coalescentes Figura 394 Histologicamente como na disenteria suína observase necrose superficial de mucosa frequentemente associada à fina camada de exsudato fibrinonecrótico na área erodida Trombos de fibrina podem ser observados em capilares e vênulas da lâmina própria superficial Normalmente edemas de lâmina própria de submucosa e de serosa estão presentes Com o aumento da taxa de renovação epitelial enterócitos das criptas tornamse hiperplásicos principalmente células caliciformes e frequentemente estão dilatados com o acúmulo de restos celulares e muco no lúmen A coloração histoquímica pela prata revela grande quantidade de espiroquetas aderidas à superfície de enterócitos em ambas as enfermidades Figura 395 Figura 393 Espiroquetose colônica em suíno de 70 dias de idade Intenso edema de mesocólon Figura 394 Espiroquetose colônica em suíno Colite necrótica multifocal Cortesia do Dr David Barcellos Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Paratuberculose doença de Johne Paratuberculose ou doença de Johne é uma doença infecciosa debilitante que afeta ruminantes Ocorre em quase todas as partes do mundo com morbidade significativa e grandes perdas econômicas decorrentes da queda de produção O agente etiológico é o Mycobacterium avium subsp paratuberculosis Map uma bactéria álcoolácido resistente de crescimento lento Os hospedeiros naturais incluem ruminantes domésticos e silvestres e camelídeos embora a doença possa raramente ocorrer em outras espécies Acreditase que a infecção ocorra durante os primeiros 6 meses de vida embora devido ao período de incubação que pode variar de 2 a 10 anos a doença só se manifeste anos mais tarde A bactéria é internalizada no intestino por meio das células epiteliais e permanece inicialmente no íleo e nos linfonodos mesentéricos Há resistência na digestão intracelular e a bactéria persiste indefinidamente dentro dos macrófagos O mecanismo de persistência não é totalmente conhecido mas talvez o Map iniba a maturação dos lisossomos Nos estágios iniciais da infecção as células imunes dentro da lâmina própria são hiperresponsivas o que provavelmente contribui para a pouca resposta imune da mucosa e a replicação do microrganismo Cedo ou tarde a lâmina própria é preenchida e expandida por macrófagos o que resulta em má absorção Figura 395 Fotomicrografia do intestino grosso de suíno infectado pela Brachyspira pilosicoli Notar a espessa camada de bactérias intimamente aderidas à superfície de enterócitos 200 Coloração de Warthin Starry Os sinais clínicos quando aparecem consistem em diarreia crônica perda de peso e diminuição da produção de leite Os animais clinicamente afetados liberam grande quantidade de microrganismos no ambiente mas permanecem bem e alerta Macroscopicamente o intestino tem parede espessada com numerosas e proeminentes pregas transversais formando uma aparência corrugada cerebriforme O espessamento da mucosa é mais proeminente no íleo Diferentemente das pregas que são vistas no intestino normal de ruminantes durante a necropsia as pregas observadas na doença de Johne não podem ser esticadas e desfeitas As lesões podem ser multifocais ou difusas mais concentradas no íleo mas também podem ocorrer no jejuno e no ceco Histologicamente a lâmina própria está marcadamente expandida por macrófagos epitelioides o que resulta em ampla separação das glândulas e frequente encurtamento ou fusão das vilosidades Como resultado do espessamento da lâmina própria formase uma grande distância da célula epitelial até o vaso quilífero por conseguinte ocorre síndrome da má absorção Alguns vasos quilíferos podem estar dilatados e preenchidos por macrófagos com numerosos microrganismos Granulomas multifocais podem estar presentes nos linfonodos mesentéricos Esses principais achados são vistos em todos os casos de paratuberculose mas existe uma divisão histológica em dois principais tipos provavelmente decorrente do reflexo da resposta imune do hospedeiro Em uma avaliação simplista e excessiva dos casos as duas classificações extremas são lepromatosa e tuberculoide com variações intermediárias Aqueles da categoria lepromatosa são associados a uma alta resposta humoral ao passo que as lesões associadas à forma tuberculoide são mais dependentes da imunidade celular A maioria dos casos de paratuberculose apresentase na forma lepromatoide extrema evidenciando a lâmina própria que contém predominantemente macrófagos epitelioides e comumente células gigantes tipo Langhans Também nessa forma os macrófagos podem ser observados na submucosa associados a edema e ocasionalmente arterite granulomatosa e trombose Vasos linfáticos da serosa e mesentéricos estão espessos Nessa forma da doença de Johne microrganismos em forma de bastonete podem ser detectados facilmente pela coloração álcoolácido resistente em geral em agregados dentro dos macrófagos afetados consequentemente essa forma é denominada de multibacilar Figura 396 Na minoria dos casos os macrófagos são acompanhados por numerosos linfócitos às vezes os linfócitos são as células predominantes e a lesão é denominada tuberculoide Esse tipo de lesão geralmente tem menor número de micobactérias quando se usa a coloração álcoolácido resistente e é denominada de forma paucibacilar Nesses casos a parte basal da lâmina própria é extensivamente infiltrada e as lesões na submucosa são menos acentuadas que aquelas observadas na forma multibacilar Células gigantes ou pequenos granulomas especialmente na região das placas de Peyer podem ser observados Nessa forma os linfonodos mesentéricos são mais afetados com acentuada inflamação granulomatosa frequentemente com numerosas células gigantes tipo Langhans Outras lesões observadas em casos de paratuberculose incluem mineralização da aorta ou do átrio esquerdo O mecanismo dessas lesões é desconhecido mas elas podem estar associadas ao funcionamento inadequado dos macrófagos Figura 396 Fotomicrografia de intestino delgado de bovino infectado pelo Mycobacterium avium paratuberculosis Atrofia de vilosidades e afastamento de criptas intestinais devidos à intensa infiltração macrofágica na lâmina própria Intensa marcação citoplasmática de bacilos álcoolácido resistentes em macrófagos na lâmina própria Coloração de ZiehlNeelsen Enteropatia proliferativa A enteropatia proliferativa EP é uma doença infectocontagiosa que acomete suínos equinos e outras espécies animais como hamster e coelho O agente etiológico da EP é uma bactéria intracelular obrigatória Lawsonia intracellularis A EP é caracterizada pelo espessamento da mucosa intestinal causado pela proliferação de enterócitos imaturos infectados pela bactéria L intracellularis A doença pode ser reproduzida experimentalmente com culturas puras de L intracellularis ou com homogeneizados de mucosa de intestino de suínos doentes A bactéria é um bacilo vibrioide curvo pequeno Gramnegativo microaerofílico com flagelo unipolar único Por ser um microrganismo intracelular obrigatório a L intracellularis necessita de cultivos celulares com células ainda em multiplicação Desse modo são necessárias condições semelhantes ao isolamento viral em que cultivos celulares também se fazem necessários Até o momento é impossível o isolamento da L intracellularis em meios de cultivo bacteriológicos convencionais Na espécie suína a enteropatia proliferativa apresenta duas formas clínicas distintas a forma aguda ou hemorrágica que acomete animais de reposição e cevados próximo à idade de abate e é caracterizada por diarreia sanguinolenta e morte súbita e a forma crônica que acomete leitões em crescimento e é caracterizada por redução do ganho de peso e por vezes diarreia transitória Essa doença já foi relatada em todos os países de expressiva produção suinícola independentemente do padrão sanitário dos rebanhos Pouco se sabe sobre os mecanismos celulares de infecção pela L intracellularis Estudos in vitro demonstraram que após 10 min de exposição a bactéria pode ser encontrada em íntimo contato com a membrana de células eucariotas permissíveis à infecção Uma hora após a exposição a bactéria pode ser encontrada em vacúolos no citoplasma de células eucarióticas Três horas após a inoculação a bactéria é observada livremente no citoplasma de células infectadas A bactéria então se multiplica no citoplasma celular por divisão binária e 5 a 10 dias após a infecção protrusões celulares repletas de bactérias se rompem liberandoas no meio extracelular Suspeitase de que o contato inicial entre bactéria e membrana celular seja receptor específico e dependente entretanto ainda não existem dados comprobatórios Foi relatada atividade citolítica da L intracellularis em células infectadas A expressão de uma proteína hemolisina que pode estar relacionada com a adesão e a invasão celulares foi descrita in vitro e in vivo entretanto ainda há necessidade de experimentos funcionais para a investigação desses mecanismos Casos de diarreia hemorrágica e morte súbita em marrãs ou mesmo porcas de primeiro e segundo parto em alguns casos são situações bastante comuns Lesões no íleo caracterizadas por espessamento da parede intestinal edema e congestão do mesentério rugosidade da mucosa com pregas espessas e evidentes e conteúdo fibrinohemorrágico com coágulo no lúmen intestinal são normalmente encontradas Figura 397 Caso essas lesões não sejam observadas no íleo a avaliação de toda a extensão do jejuno é de extrema importância pois muito comumente existem lesões somente no jejuno Síndrome hemorrágica intestinal é outro diagnóstico diferencial importante Em casos de síndrome hemorrágica suína que são normalmente esporádicos as alças intestinais se encontram bastante distendidas com gases e congestas e com a parede intestinal delgada Caso lesões macroscópicas sejam observadas somente no intestino grosso salmonelose e espiroquetose colônica devem ser consideradas importantes diferenciais mas enteropatia proliferativa suína EPS pode em alguns casos acometer somente essa porção intestinal Animais intensamente afetados pela forma crônica apresentam edema de mesentério próximo à inserção com a alça intestinal lesionada A serosa intestinal apresenta aspecto cerebroide assemelhandose às circunvoluções cerebrais A parede intestinal está espessada e a mucosa com pregas bem evidentes Como na forma aguda o íleo é mais frequentemente afetado mas lesões podem ser encontradas somente no jejuno ceco ou cólon Uma membrana fibrinonecrótica pode estar presente em animais com lesões avançadas Figura 398 Nos casos mais brandos da forma crônica as lesões são bem pequenas com 5 a 10 cm de extensão e podem passar despercebidas As duas formas clínicas da doença têm basicamente as mesmas características histopatológicas Observase proliferação das células epiteliais das criptas de Lieberkuhn no intestino delgado e glândulas mucosas do intestino grosso com a presença de um microrganismo intracelular curvo na porção apical desses enterócitos Essas criptas estão alongadas e alargadas com um número aumentado de células epiteliais imaturas com elevado índice mitótico Há redução marcante do número de células caliciformes nas criptas afetadas Figura 399 A Figura 397 Enteropatia proliferativa hemorrágica em marrã de reposição Serosa do intestino delgado hiperêmica e irregular espessamento da parede do intestino delgado evidenciação de pregas do intestino delgado e conteúdo intestinal sanguinolento coagulado Figura 398 Enteropatia proliferativa necrótica em suíno Intenso espessamento da parede intestinal que apresenta mucosa corrugada e material necrótico amarelado superficial Intensa congestão e edema de mesentério A infiltração de células inflamatórias não é uma característica marcante da enfermidade Intestinos afetados pela forma aguda da EPS apresentam congestão grave de vasos sanguíneos da mucosa e acúmulo de sangue no lúmen intestinal Estudos ultraestruturais de áreas lesionadas em hamsters e suínos demonstraram um encurtamento de microvilosidades em enterócitos altamente infectados pela bactéria A bactéria L intracellularis foi demonstrada na porção apical de enterócitos imaturos por meio de técnicas histoquímicas como coloração pela prata Warthin Starry Young modificado ou Levaditi imunofluorescência indireta e imunoperoxidase usando anticorpo monoclonal específico contra L intracellularis Figura 399 B Salmonelose Os microrganismos do gênero Salmonella sp são aeróbios móveis e Gramnegativos Dentro da subespécie Salmonella enterica enterica agrupamse os principais subtipos causadores de doença em mamíferos e aves domésticas Entre esses encontramse os sorotipos Typhimurium Newport Dublin Anatum Montevideo Cholerasuis e Enteriditis As fezes dos animais doentes ou de portadores inaparentes assim como de roedores e pássaros silvestres contaminam os alimentos e a água propiciando a propagação da doença Alguns animais os portadores inaparentes ou carreadores adquirem o agente do ambiente e não adoecem porém podem persistir disseminando a bactéria por semanas ou meses A via de infecção é a oral o que possibilita que o agente alcance o intestino e invada a mucosa Essa invasão é precedida da aderência da Salmonella à superfície apical das células M intestinais Essas células epiteliais recobrem estruturas linfoides como as placas de Peyer A bactéria após atravessar as células M alcança o tecido linfoide subjacente e essa penetração na lâmina própria leva ao quadro de enterite e diarreia Embora haja predisposição para a invasão de células M Salmonella também invade eficientemente enterócitos e até mesmo células caliciformes Figura 3100 A fagocitose por macrófagos intestinais e a multiplicação da bactéria nessas células podem facilitar a invasão do organismo resultando em doença sistêmica A capacidade de sobrevivência da Salmonella no interior dos macrófagos depende de mecanismos moleculares bacterianos Esse processo é complexo e envolve alterações das características do fagossomo que se transforma em um nicho de replicação bacteriana intracelular Por outro lado em adultos imunocompetentes o infiltrado neutrofílico na mucosa típico da resposta aguda muitas vezes caracteriza os quadros de infecção autolimitante A enterocolite e a septicemia são as formas que caracterizam a salmonelose nos animais domésticos Figura 399 Fotomicrografia de intestino delgado de suíno com enteropatia proliferativa hemorrágica A Notamse ausência de vilosidade e intensa hiperplasia de enterócitos em criptas intestinais ausência de células caliciformes e acúmulo de restos celulares e células inflamatórias em algumas criptas dilatadas Congestão intensa de lâmina própria B Intensa marcação de Lawsonia intracellularis no ápice de enterócitos hiperplásicos Técnica imunohistoquímica Figura 3100 Microscopia eletrônica de transmissão Mucosa intestinal de bezerro 15 min após inoculação experimental com Salmonella enterica sorovar Typhimurium A Bactéria em contato com as microvilosidades de um enterócito com formação de projeções citoplasmáticas cabeça de seta e bactérias internalizadas em enterócitos seta Barra 24 μm B Célula M com bactérias intracitoplasmáticas seta Barra 1 mm Imagens reproduzidas com autorização de Santos et al 2002 Há evidências experimentais de que a Salmonella enterica é muito bem adaptada ao ambiente intestinal inflamado Assim a Salmonella tem fatores de virulência e mecanismos de patogenicidade que induzem e estimulam a resposta inflamatória intestinal do hospedeiro Por outro lado no ambiente intestinal inflamado a Salmonella tem a capacidade de competir com a microbiota o que favorece a proliferação intestinal do patógeno a qual associada à enterite e consequentemente à diarreia resulta em abundante contaminação do ambiente favorecendo a transmissão da doença O quadro macroscópico de enterocolite se manifesta por hiperemia ou hemorragia da mucosa que se mostra espessada e recoberta por exsudato avermelhado amarelado ou acinzentado com ou sem a presença de ulcerações Figura 3101 Figura 3101 Salmonelose em javali A Cólon espiral de coloração brancacenta de parede espessada e edema de mesocólon B Úlceras multifocais no ceco Cortesia da Dra Roselene Ecco União Pioneira de Integração Social Brasília DF Microscopicamente observamse hemorragia edema e necrose da mucosa Figura 3102 associados ao infiltrado inflamatório inicialmente neutrofílico e que depois de 24 a 48 h de infecção passa a ser predominantemente histiocítico A chegada do agente pela via linfática até os linfonodos mesentéricos provoca o aumento de volume dessas estruturas devido à congestão edema hemorragia e necrose Além dessas alterações o exame microscópico revela acúmulo de histiócitos Nos suínos é comum a presença de úlceras intestinais de limites bem demarcados Figura 3103 Nessa espécie a proctite ulcerativa pode levar à formação de cicatrizes que provocam a estenose do segmento retal esses animais mostram retardo no desenvolvimento distensão abdominal e constipação intestinal O quadro septicêmico ocorre principalmente em bezerros cordeiros potros e leitões recémnascidos Observamse petéquias e equimoses nas serosas pleural e peritoneal no endocárdio nos rins e nas meninges As lesões hepáticas caracterizamse pelo aumento de volume do órgão e pela presença de focos de necrose Muitos desses focos correspondem microscopicamente a um tipo de lesão hepática muito frequente porém não patognomônica da salmonelose que são os nódulos paratíficos Estes consistem em pequenos agregados histiocitários que mostram infiltrado linfocitário de grau variável e que podem ou não estar associados a focos de necrose Pneumonia intersticial lobular focos necróticos múltiplos renais e esplenomegalia associada a congestão e hiperplasia da polpa branca são também achados comuns nessa forma da doença Rodococose A rodococose é uma doença de distribuição mundial causada pelo Rodococcus equi um cocobacilo Grampositivo intracelular facultativo actinomiceto encontrado no solo e no intestino de animais saudáveis de várias espécies Existem cepas não virulentas e virulentas dessa bactéria sendo estas últimas frequentemente isoladas de áreas endêmicas da doença O R equi infecta várias espécies e o ser humano porém potros entre 3 semanas e 5 meses de idade são mais suscetíveis e podem desenvolver tanto a forma respiratória pneumonia piogranulomatosa como a intestinal enterocolite e tiflite ulcerativa ou as duas formas concomitantemente Cerca de 50 dos animais com pneumonia também apresentam a forma intestinal Acreditase que esta última se desenvolva após o estabelecimento da pneumonia uma vez que a lesão pulmonar favorece a deglutição de secreções pulmonares com a bactéria Abscessos ou piogranulomas subcutâneos também podem ser observados em equinos Sugerese que essa lesão seja decorrente da migração de larvas de Strongyloides westeri que carreiam a bactéria do intestino para a pele A transmissão ocorre pela via pulmonar ou oral e normalmente está associada a ambientes secos em que haja poeira e fezes contaminadas Após a inalação ou ingestão de modo semelhante ao que ocorre nas micobacterioses as cepas virulentas de R equi invadem macrófagos e inibem a fusão de fagossomo com lisossomos propiciando a replicação da bactéria no citoplasma dessas células Consequentemente há intensa produção de citocinas principalmente TNFalfa e IL1 o que resulta em dano tecidual necrose Clinicamente os animais apresentam febre tosse corrimento nasal e diarreia Macroscopicamente as lesões intestinais podem ocorrer na mucosa de todo o intestino delgado e grosso mas estão preferencialmente distribuídas sobre as placas de Peyer As lesões são caracterizadas por úlceras entre 1 e 2 cm de diâmetro frequentemente recobertas por material necrótico ou purulento ver Figura 374 Nos pulmões há duas formas da doença uma com nódulos milímétricos disseminados forma miliar mas aguda e a outra apresentandose como nódulos maiores centímetros e menos numerosos forma crônica Em ambas as apresentações a distribuição é predominantemente cranioventral Ao corte esses nódulos apresentam material caseoso ou purulento Os linfonodos mesentéricos e mediastínicos podem estar edemaciados ou apresentar material purulento ou caseoso ao corte Menos comumente outros órgãos também podem apresentar abscessospiogranulomas como os rins fígado e baço Microscopicamente o principal achado da doença no sistema digestório é a inflamação purulenta a piogranulomatosa com necrose Essas alterações podem estar presentes na mucosa dos intestinos delgado e grosso e nos linfonodos mesentéricos Nos intestinos estão especialmente distribuídas sobre as placas de Peyer Inúmeros neutrófilos macrófagos e macrófagos epitelioides com poucas células gigantes multinucleadas de Langhans são os componentes celulares predominantes das lesões Os macrófagos apresentam citoplasma amplo que contém de forma variável agregados de cocobacilos Grampositivos Em fases mais crônicas da doença as lesões no intestino evoluem para úlceras frequentemente recobertas por material fibrinonecrótico Reação piogranulomatosa com ou sem bactérias também ocorre nos pulmões e nos linfonodos mediastínicos A distribuição pulmonar é claramente peribronquilar ou peribrônquica característica de infecção aerógena Figura 3102 A Mucosa intestinal normal de bezerro Barra 50 μm B Intestino 2 h após infecção com Samonella enterica sorovar Typhimurium com retração acentuada das vilosidades Barra 50 μm C Microscopia eletrônica de varredura da mucosa intestinal normal na placa de Peyer mesmo segmento de A Barra 100 μm D Mucosa intestinal 3 h após infecção mesmo segmento de B Barra 100 μm E Mucosa intestinal 3 h após infecção com desprendimento de enterócitos e erosão na extremidade da vilosidade Barra 30 μm F Microscopia de varredura do mesmo segmento de E Barra 30 μm Imagens reproduzidas com autorização de Santos et al 2002 Figura 3103 Salmonelose crônica em suíno Múltiplas úlceras botonosas bem delimitadas no intestino grosso Cortesia do Dr Ernane Fagundes do Nascimento Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Yersiniose Yersinia enterocolitica e Y pseudotuberculosis A yersiniose a ser abordada neste capítulo está relacionada à enterocolite e à tiflite É causada por Yersinia enterocolitica e Yersinia pseudotuberculosis que são cocobacilos Gramnegativos que acometem várias espécies entre elas bovinos ovinos suínos equinos caninos e felinos Aves e roedores são considerados reservatório da doença Primatas não humanos jovens parecem ser mais suscetíveis à yersiniose A transmissão é fecaloral e ocorre pela ingestão de comida ou água contaminada Em humanos a doença está comumente associada a infecção alimentar No intestino a bactéria invade enterócitos e células M para se multiplicar nas placas de Peyer resultando em necrose e ulceração da mucosa onde estão distribuídas Pode haver lesão supurativa nos linfonodos mesentéricos e menos comumente septicemia com abscessos e necrose no fígado baço e pulmões Não se conhece a situação dessa doença em espécies domésticas no Brasil Em 2012 foi descrito um surto da doença em chinchilas no Rio Grande do Sul Macroscopicamente animais infectados desenvolvem enterocolite e tiflite fibrinonecrótica e ulcerativa Os linfonodos mesentéricos estão comumente aumentados Hepato e esplenomegalia com múltiplos pontos brancos bem delimitados de necrose ou pequenos abscessos são achados em animais com septicemia Microscopicamente da porção final do íleo até o cólon e o ceco há enterocolite e tiflite fibrinonecrótica e ulcerativa com acentuado infiltrado inflamatório predominantemente neutrofílico na lâmina própria Em meio aos neutrófilos podem ser observadas grandes colônias de cocobacilos Gramnegativos formando microabscessos As placas de Peyer são frequentemente acometidas com acúmulo de grande quantidade de restos celulares necrose Pode haver atrofia de vilosidades e hiperplasia de criptas no intestino delgado Os linfonodos mesentéricos podem apresentar inflamação que varia de purulenta a piogranulomatosa com colônias bacterianas centralizando os infiltrados inflamatórios Campilobacteriose A campilobacteriose é uma das mais frequentes causas de gastrenterite bacteriana no ser humano é uma doença zoonótica causada principalmente por Campylobacter jejuni e Campylobacter coli Por ser uma doença de origem alimentar os humanos adquirem a bactéria pela via fecaloral Enterites causadas principalmente por C jejuni também podem ocorrer nos animais As principais fontes de contaminação para o ser humano e para os animais são aves doentes ou portadoras assim como água ou alimentos contaminados O gênero Campylobacter compreende bactérias pequenas Gramnegativas em forma de bastão ou espiral No intestino aderemse à membrana celular e as cepas virulentas conseguem penetrar nas células por endocitose Nos cães a enterocolite ou a diarreia secretória mediada por toxina compõem o quadro clínico As fezes são líquidas e contêm muco e eventualmente sangue A lesão observada é enterocolite discreta associada a infiltrado linfoplasmocitário na lâmina própria Não parece haver dúvidas de que em filhotes o C jejuni atua como patógeno primário No entanto em animais mais velhos a sua ação seria como microrganismo oportunista Assim sendo para a instalação do processo teria que haver a participação de fatores predisponentes como o estresse ou a ação de outros patógenos entéricos como parvovírus coronavírus e Giardia sp Doenças micóticas do sistema digestório Candidíase Candidíase é uma das doenças micóticas mais frequentes em medicina veterinária Ela pode ser causada por várias espécies de fungos do gênero Candida sendo Candida albicans a espécie mais comumente descrita em animais Candida spp são organismos oportunistas podendo ser encontrados como leveduras na superfície de mucosas do trato digestório de indivíduos sadios Entretanto quando há perda da integridade epitelial alteração da microbiota local ou imunossupressão as leveduras se transformam em hifas e pseudohifas e dessa maneira invadem e lesam a mucosa A doença ocorre mais frequentemente em animais jovens como leitões bezerros e potros As lesões ocorrem em áreas queratinizadas da mucosa principalmente cavidade oral esôfago rúmen omaso retículo e mucosa gástrica escamosa de leitões e potros Há também a forma cutânea e sistêmica da doença ver outros capítulos Macroscopicamente as lesões do trato digestório são caracterizadas por espessamento da mucosa formando placas ou pseudomembranas esbranquiçadas ou amareladas que quando removidas deixam tecido ulcerado e congesto Microscopicamente pseudohifas cadeias de blastoconidia hifas septadas e leveduras são encontradas com auxílio de colorações especiais PAS ou GMS em meio à camada córnea proliferada hiperqueratose paraqueratótica às crostas serocelulares ricas em neutrófilos degenerados e às bactérias Úlceras ou erosões são frequentes Pode haver também espongiose e proliferação do estrato espinhoso acantose em áreas mais preservadas da epiderme que assim como a derme superficial pode estar variavelmente infiltrada predominantemente por neutrófilos Zigomicoses As zigomicoses são doenças micóticas causadas por fungos do filo Zygomycota da ordem Mucorales mucormicoses incluindo os gêneros Absidia Mucor e Rhizopus e da ordem Entomophthorales entomoftoramicose incluindo os gêneros Conidiobolus e Basidiobolus As mucormicoses causam lesões principalmente no rúmen retículo e omaso de bovinos cuja dieta é rica em concentrados e que desenvolvem quadros de acidose láctea recorrente ou podem estar associadas a outras doenças debilitantes Esses fungos invadem pequenas artérias causando arterites e trombose e consequentemente hemorragia e infarto transmural do segmento afetado Pitiose A pitiose é causada pelo oomiceto Pythium insidiosum pertencente ao reino Straminipila segundo classificação mais recente Por muito tempo acreditouse que se tratava de um fungo porém posteriormente verificouse que pertencia a outro reino pois entre outras diferenças sua reprodução se dá por oogamia e em seu ciclo de vida há formação de zoósporos biflagelados móveis de ambientes aquáticos P insidiosum habita a água e solos úmidos de regiões tropicais e subtropicais A pitiose é mais comumente descrita como causa de granulomas subcutâneos e raramente lesão gastrintestinal em cavalos que pastejam em áreas alagadas Por outro lado em cães espécie animal mais acometida depois dos equinos a infecção pelo P insidiosum resulta predominantemente em lesões gastrintestinais facilmente confundidas com neoplasia menos frequentemente resulta em granulomas subcutâneos A pitiose também ocorre em outras espécies como felinos ovinos e bovinos mas raramente associada a lesões gastrintestinais nessas espécies Há apenas um relato com dois gatos que apresentaram acometimento gastroentérico No Brasil a pitiose ocorre comumente em equinos no Pantanal matogrossense norte do estado do Rio de Janeiro Minas Gerais Rio Grande do Sul e em alguns estados do Nordeste A transmissão do P insidiosum se dá a partir de zoósporos flagelados móveis presentes na água que infectam o animal por meio de pequenas feridas cutâneas ou de sua ingestão infecção gastrintestinal Os zoósporos apresentam grande tropismo por pelo feridas e mucosa intestinal portanto o local de desenvolvimento da lesão está intimamente relacionado com as partes do corpo em contato direto com ambientes aquáticos que contenham os zoósporos Outra forma potencial de transmissão mais recentemente descrita e ainda pouco estudada é pela picada de insetos uma vez que há relato de isolamento de P insidiosum de larvas de mosquitos do gênero Culex na Índia Isso implicaria a possibilidade ainda não comprovada de insetos servirem de vetores da doença Em equinos a distribuição das lesões cutâneas ocorre predominantemente em partes baixas do corpo ou nas que permanecem mais tempo em contato com a água características que enfraquecem a hipótese de que mosquitos sejam vetores importantes da doença Clinicamente a forma gastrintestinal da pitiose é descrita predominantemente em cães jovens imunossuprimidos e que tiveram contato com ambientes aquáticos como lagos rios pântanos ou áreas produtoras de arroz irrigado Essa forma de apresentação é raramente descrita em equinos A doença é caracterizada por vômito e diarreia crônicos emagrecimento progressivo formação de massas palpáveis no abdome anemia e eosinofilia Estômago e intestinos delgado e grosso são os órgãos mais frequentemente acometidos e o esôfago o mais infrequentemente afetado As lesões podem se disseminar para linfonodos mesentéricos e pâncreas assim como outros órgãos da cavidade abdominal Macroscopicamente as lesões são espessamento transmural que tende a ser segmentar ou mesmo massas irregulares de tamanhos variados no esôfago estômago ou intestinos Essas massas são firmes e esbranquiçadas fibrose e têm múltiplos pontos amarelados necrose O lúmen desses órgãos pode apresentarse estenosados e em alguns casos obstruídos Ulceração da mucosa e edema assim como envolvimento de omento e de linfonodos mesentéricos ocorrem comumente Microscopicamente há múltiplas nodulações coalescentes representadas por inflamação granulomatosa a piogranulomatosa predominantemente na submucosa e na muscular dos segmentos afetados Esses granulomas comumente apresentam área central de necrose contendo imagens negativas de hifas circundada por numerosos eosinófilos e menor quantidade de neutrófilos macrófagos epitelioides e células gigantes multinucleadas Mais externamente os granulomas estão envolvidos por abundante proliferação de tecido conjuntivo fibroso Arterite necrosante é outro achado histopatológico menos frequente Em cortes corados com o método de GMS Grocott Methenamine Silver as hifas facilmente visualizadas nas áreas de necrose variam de 4 a 10 μm de largura e apresentam ramificações irregulares em ângulo reto e raras septações Por se tratar de um oomiceto e não de um fungo as hifas de P insidiosum são negativas ou pobremente coradas pelo método do PAS Periodic Acid Schiff pois suas paredes não contêm quitina Histoplasmose A histoplasmose é uma doença causada pelo Histoplasma capsulatum um fungo dimórfico presente no solo especialmente aqueles que contêm matéria orgânica rica em nitrogênio como fezes de aves e de morcegos No ambiente o H capsulatum está sob a forma de micélio e no hospedeiro sob a forma de leveduras O H capsulatum apresenta distribuição mundial sendo a histoplasmose endêmica em determinadas regiões No Brasil a doença ocorre em seres humanos e há poucos relatos em cães e gatos É provável que ela esteja subdiagnosticada ou que casos diagnosticados em animais não sejam amplamente publicados no país Em gatos a histoplasmose é a segunda doença micótica mais importante depois da criptococose e se manifesta mais comumente como dermatite ou pneumonia granulomatosa Já em cães a infecção por H capsulatum resulta em pneumonia e enterite granulomatosa Doença disseminada também ocorre nessas espécies principalmente em animais jovens e imunocomprometidos A transmissão se dá pela inalação ou ingestão dos esporos do H capsulatum Ao exame macroscópico do trato gastrintestinal os intestinos delgado e grosso apresentam espessamento da parede e mucosa intestinal com áreas de ulceração Os linfonodos mesentéricos podem estar aumentados e firmes Microscopicamente há inflamação granulomatosa transmural com macrófagos epitelioides apresentando citoplasma expandido contendo leveduras de 2 a 4 μm de diâmetro delimitadas por uma parede não corada cápsula de 4 μm de espessura As leveduras são mais facilmente visualizadas em cortes corados com PAS Doenças do sistema digestório causadas por protozoários e algas Coccidiose Os parasitas dos gêneros Eimeria e Isospora são importantes patógenos intestinais dos animais domésticos Embora existam várias espécies em cada um desses gêneros algumas se destacam por sua maior patogenicidade O ciclo evolutivo de Eimeria serve como base para a compreensão do ciclo dos outros coccídios e envolve a liberação nas fezes dos oocistos não esporulados A forma infectante o oocisto esporulado aparece após divisão assexuada chamada esporogonia pela qual são formados quatro esporocistos cada um com dois esporozoítos Quando ingerido o oocisto esporulado libera os esporozoítos que invadem as células epiteliais intestinais e se transformam em trofozoítos As sucessivas divisões do núcleo do trofozoíto dão origem a uma forma multinucleada chamada esquizonte À medida que se agregam porções de citoplasma ao redor de cada núcleo surgem os merontes ou merócitos que dão origem aos merozoítos Nesse momento a célula epitelial se rompe e libera os merozoítos que invadem outras células intestinais de modo que ocorrem novas divisões esquizogônicas Quando se encerram essas divisões os merozoítos dão origem às formas sexuadas que são os microgametas gameta masculino e macrogametas gametas femininos dando início à reprodução sexuada por gametogonia Os merozoítos precursores dos gametas masculinos geram vários microgametas dentro da mesma célula intestinal os quais a rompem e invadem outras que contêm o macrogameta fecundandoo Assim formase o oocisto no interior da célula que antes só continha o macrogameta Após a ruptura da célula os oocistos não esporulados são liberados nas fezes Nos ruminantes Eimeria zuernii e E bovis parasitam bovinos E crandallis e E ovinoidallis parasitam ovinos e E arloingi e E ninakohlyakimovae parasitam caprinos Nos bovinos o quadro se manifesta por diarreia escura o que originou a denominação de curso negro As lesões fibrinohemorrágicas observadas nos casos fatais desenvolvemse no ceco e no cólon nos casos de infecção por E zuernii ou no íleo terminal nas infecções por E bovis O conteúdo intestinal é fluido e tem coloração que varia de acastanhada a enegrecida dependendo da quantidade de sangue presente As diferentes formas evolutivas de Eimeria podem ser observadas microscopicamente no interior das células da mucosa intestinal que descamam em grande quantidade Figura 3104 Além disso erosões exsudação fibrinosa hemorragia e infiltrado neutrofílico difuso completam o quadro microscópico Embora sejam mais claramente detectadas em cortes histológicos as formas evolutivas do parasita também são detectadas em raspados ou esfregaços de mucosa Nos pequenos ruminantes E ovinoidallis ovinos e E ninakohlyakimovae caprinos produzem lesões semelhantes que se limitam a edema e congestão da mucosa do íleo terminal ceco e segmentos orais do cólon Nos ovinos E crandallis provoca atrofia de vilosidades sendo observados também esquizontes gigantes na lâmina própria À medida que o processo avança as criptas tanto do intestino delgado quanto do ceco tornamse hiperplásicas Nos caprinos a infecção por E arloingi leva ao aparecimento de focos amarelados ou esbranquiçados visíveis através da serosa no intestino delgado Após a abertura das alças notase que esses focos representam áreas hiperplásicas elevadas da mucosa que se mostram intensamente infectadas Figura 3104 Coccidiose em bubalino As diferentes formas evolutivas de Eimeria sp encontramse no interior das células epiteliais das vilosidades intestinais Lâmina própria mostra intensa congestão vascular 200 Nos equinos E leuckarti é encontrado em cortes histológicos de intestino É muito fácil a identificação dos gamontes gigantes no interior de células epiteliais hipertróficas na lâmina própria do intestino delgado Alguns autores relacionam E leuckarti a processos patológicos intestinais A prevalência desse parasita pode ser alta nos potros Nos suínos o principal agente da coccidiose é Isospora suis responsável por quadro de diarreia em leitões no período perinatal A morbidade é alta e a mortalidade geralmente é baixa Dependendo do grau de infecção as lesões podem variar desde enterites leves nas quais o conteúdo intestinal é fluido e amarelado até quadros mais graves de enterite fibrinosa ou fibrinonecrótica sempre comprometendo o segmento aboral do intestino delgado O ambiente com oocistos é a principal forma de contaminação As porcas não têm papel importante na transmissão para os leitões No diagnóstico diferencial devem ser consideradas as enterites por Strongiloides ramsoni infecção por Escherichia coli enterotoxigênica gastrenterite transmissível suína enterotoxemia por C perfringens e enterites por rotavírus Nos cães e gatos Isospora spp é responsável por quadros de diarreia aquosa em filhotes As espécies envolvidas são Isospora canis I ohioensis I burrowsi e I neorivolta nos cães e I felis e I rivolta nos gatos Criptosporidiose Cryptosporidium sp é um coccídio de tamanho diminuto de ciclo evolutivo direto e que se desenvolve por esquizogonia gametogonia e esporogonia em vacúolos parasitóforos no ápice da célula intestinal Esses microvacúolos apresentam a aposição de duas membranas da célula hospedeira e são provavelmente formados pela inversão das microvilosidades A partir da ingestão dos oocistos ocorre a liberação dos esporozoítos que se desenvolvem em vacúolos parasitóforos os quais abrigam também a esquizogonia a gametogonia e a produção de oocistos A maioria dos oocistos produzidos tem parede espessa e é eliminada nas fezes No entanto cerca de 20 dos oocistos têm por característica apresentar parede delgada assim rompemse ainda dentro do hospedeiro e liberam os esporozoítos que vão penetrar nas células intestinais reiniciando o ciclo É esse mecanismo que produz a autoinfecção interna que leva à cronicidade em indivíduos imunocompetentes e às hiperinfecções mortais em indivíduos imunocomprometidos As espécies de importância médicoveterinária são Cryptosporidium parvum que parasita ruminantes camundongos e seres humanos C andersoni que parasita os bovinos C suis que parasita suínos C felis que parasita felinos e C canis que parasita caninos Nos cortes histológicos de amostras bem preservadas os coccídios podem ser observados junto à porção apical do epitélio intestinal que recobre as vilosidades Em todos os hospedeiros a infecção por Cryptosporidium sp causa atrofia de vilosidades em graus variáveis assim como achatamento e fusão dessas estruturas A hiperplasia das criptas é outro achado importante As lesões se concentram na região do íleo O quadro diarreico associado se deve à má absorção resultante das alterações morfológicas da mucosa intestinal Devese ressaltar que o parasitismo por Cryptosporidium sp além de produzir doença nos animais domésticos constituise em zoonose importante visto que as pessoas podem por exemplo ser infectadas por C parvum oriundo de bovinos Giardíase Giardia spp é um protozoário piriforme com flagelos posteriores aparelho sugador ventral e quatro núcleos Giardia lamblia parasita o intestino delgado de uma grande variedade de espécies a citar seres humanos cães gatos bovinos coelhos cavalos cobaios entre outras Infecção assintomática é a condição mais frequente entretanto principalmente em indivíduos jovens ou imunocomprometidos pode ocorrer a doença Em cães e gatos cuja enfermidade é mais importante apesar de incomum o principal sinal clínico é diarreia crônica intermitente que pode persistir por vários meses As fezes se apresentam pastosas e mucosas e apesar da manutenção do apetite animais doentes apresentam redução do ganho de peso ou mesmo perda de peso o que sugere um processo de má absorção G lamblia parasita o intestino delgado particularmente o duodeno por meio da adesão em microvilosidades causando danos e encurtamento do órgão Não são observadas lesões histológicas marcantes em animais com giardíase podendo estar presentes um maior número de células inflamatórias na lâmina própria e mais frequentemente aumento do número de linfócitos intraepiteliais O diagnóstico é realizado por meio da identificação dos organismos em preparações frescas de fezes ou na sua visualização em preparações histológicas coradas com hematoxilina e eosina ou Giemsa Prototecose A prototecose é uma doença causada pela alga aclorofílica Prototheca zopfii ou P wickerhamii Em animais a P zopfii é a principal causa da doença Fatores predisponentes para a prototecose intestinal são pouco conhecidos É possível que a Prototheca seja uma invasora oportunista de lesões intestinais preexistentes Em bovinos a infecção resulta em mastite e em cães apresenta diferentes manifestações cutânea ocular e entérica sendo a colite hemorrágica a apresentação mais comum Animais afetados desenvolvem diarreia hemorrágica e perda de peso progressiva Macroscopicamente há colite e enterite hemorrágica e ulcerativa podendo haver comprometimento de linfonodos mesentéricos linfadenomegalia Microscopicamente é observado discreto infiltrado linfohistioplasmocitário associado a estruturas esféricas a ovoides com cerca de 5 a 12 μm com cápsula refringente dispersas na lâmina própria eou dispostas em cordões entre feixes de tecido conjuntivo na submucosa Linfáticos dilatados da lâmina própria e seios linfáticos de linfonodos mesentéricos podem estar dilatados e repletos com o organismo A Prototheca é visível em colorações por PAS e pela prata Presença de endosporulação com formação de 2 a 20 esporangióforos dentro de um único esporângio é característica de Prototheca spp e Chlorella spp Chlorella apresenta grânulos citoplasmáticos PAS positivos que se tornam negativos após digestão com diastase enquanto a Prototheca não apresenta esses grânulos Artrópodes e helmintos parasitas do trato gastrintestinal Serão apresentadas aqui as características gerais de cada parasita assim como seu ciclo evolutivo sinais clínicos e as lesões por eles produzidas isoladamente Devese lembrar de que geralmente em condições naturais as infecções são mistas e muitas vezes estão acompanhadas de outros tipos de comprometimento como a desnutrição Portanto são esperadas algumas variações na apresentação dos diferentes tipos de parasitoses Gasterophilus spp Os estágios larvares das moscas do gênero Gasterophilus são parasitas do trato gastrintestinal dos cavalos Gasterophilus nasalis é a espécie mais comum nas regiões neotropicais inclusive no Brasil Em 2007 foi assinalado o estabelecimento definitivo de G intestinalis na região Sul do Brasil As fêmeas de G nasalis depositam seus ovos no espaço intermandibular e após a eclosão ocorre uma fase de migração oral ainda não completamente esclarecida Essas larvas de primeiro estágio formam bolsas de material purulento na gengiva dos cavalos As larvas de terceiro estágio têm coloração castanha e se encontram fixadas na mucosa da ampola duodenal Figura 3105 Quando maduras as larvas se desprendem e saem com as fezes Já no solo as pupas darão origem aos adultos em um período de 3 a 12 semanas As larvas de terceiro estágio provocam lesões sob a forma de erosões e ulcerações ao longo da região dorsal da ampola duodenal Microscopicamente observase no ponto de fixação das larvas o acúmulo de restos celulares associado à exsudação fibrinosa Eventualmente também ocorre hiperplasia epitelial nas bordas da lesão atrofia de vilosidades e metaplasia escamosa da mucosa O infiltrado inflamatório é composto de linfócitos e macrófagos e grande número de eosinófilos As úlceras alcançam a submucosa que geralmente mostra sinais de inflamação crônica A despeito das lesões produzidas pelas larvas de Gasterophilus sp encontramse poucas evidências de que estas sejam responsáveis por quadros clínicos importantes No entanto são citados casos de ruptura de estômago abscessos subserosos e esplênicos além de peritonite em animais parasitados Figura 3105 Gasterofilose em um equino Diversos exemplares de Gasterophilus nasalis fixados à mucosa da ampola duodenal Paramphistomum cervi Paramphistomum cervi é um trematódeo que se localiza no rúmen de bovinos e ovinos Os vermes adultos são hermafroditas de cor vermelha têm corpo em forma de gota e medem alguns milímetros Quando na água os ovos desse parasita eclodem miracídios que invadem caramujos nos quais se desenvolvem as cercárias Estas abandonam o caramujo e se encistam na vegetação Depois de ingeridas por hospedeiros adequados as metacercárias desencistamse no duodeno e migram pelo abomaso até o rúmen Os adultos podem ser responsáveis por atrofia das papilas ruminais e as formas larvares quando em grande número produzem enterite grave Physaloptera spp Parasitas do gênero Physaloptera localizamse no estômago de felinos P praeputiallis e caninos P canis As formas larvares encontramse em besouros baratas e grilos Camundongos e rãs podem atuar como hospedeiros paratênicos Após a ingestão de um desses hospedeiros por cães ou gatos as larvas são liberadas ocorrendo o desenvolvimento direto dos adultos que medem entre 30 e 40 mm e são encontrados fixados na mucosa gástrica ou duodenal Figura 3106 No ponto de fixação do parasita observase a formação de pequenas úlceras que podem eventualmente sangrar Infestações graves levam à anemia e à perda de peso Habronema spp e Draschia megastoma Habronema muscae H microstoma e Draschia megastoma são parasitas do estômago de equinos e medem cerca de 13 mm de comprimento Os dois primeiros são encontrados livres na superfície mucosa envoltos por secreção mucoide Já os exemplares de D megastoma são encontrados envoltos por exsudato esverdeado no interior de nódulos submucosos multiloculares exofíticos esféricos ou ovalados que medem cerca de 5 cm de diâmetro Os nódulos têm um pequeno orifício pelo qual seu interior se comunica com o lúmen gástrico facilitando a eliminação dos ovos do parasita Essas lesões se localizam preferencialmente nas proximidades do margo plicatus Após a eclosão dos ovos as larvas de Habronema spp e D megastoma são ingeridas por larvas de moscas sendo Musca domestica hospedeiro intermediário de H muscae D megastoma e Stomoxys calcitrans que serve de hospedeiro intermediário para H microstoma No interior do inseto as larvas se desenvolvem até L3 e podem ser depositadas no focinho dos equídeos onde são ingeridas alcançando o trato digestório Quando as larvas são depositadas em feridas cutâneas dão origem a lesões que caracterizam a habronemose cutânea também chamada de ferida de verão ou esponja Essas larvas não completam seu desenvolvimento porém mantêm o processo inflamatório ativo impedindo a cicatrização Figura 3106 Physaloptera praeputiallis aderidos à mucosa gástrica de um gato Hyostrongylus rubidus É um parasita do estômago de suínos que mede em torno de 9 mm As larvas de terceiro estágio quando ingeridas invadem as glândulas gástricas e mudam para o quarto e o quinto estádio Provocam gastrite catarral erosões e úlceras gástricas Microscopicamente observamse metaplasia e hiperplasia das glândulas infectadas associadas à presença de infiltrado inflamatório constituído por neutrófilos eosinófilos linfócitos e plasmócitos A hiperplasia glandular leva ao aparecimento de nódulos esbranquiçados na mucosa Trichostrongylus axei São parasitas filiformes com aproximadamente 7 mm de comprimento encontrados no estômago de monogástricos e no abomaso de ruminantes Devido ao seu tamanho diminuto mesmo em infecções maciças os parasitas podem passar despercebidos Os ovos eclodem logo após serem liberados nas fezes e as larvas infectantes L3 se desenvolvem rapidamente estas após a ingestão cavam galerias na mucosa gástrica das regiões fúndica e pilórica mudando para L4 e posteriormente para L5 O parasita adulto se estabelece parcialmente embebido na mucosa Nos ruminantes a lesão relacionada com esse tipo de parasitismo é a formação de placas circulares ou irregulares salientes na mucosa do abomaso em consequência da resposta hiperplásica ao parasitismo Nos equinos a infestação ocorre em animais que dividem o pasto com ruminantes e se manifesta também pela formação de placas esbranquiçadas na mucosa Outras espécies de Trichostrongylus sp são parasitas do intestino delgado de ruminantes Ostertagia ostertagi e Teladorsagia circumcincta Ostertagia ostertagi e Teladorsagia circumcincta são parasitas do abomaso de bovinos e pequenos ruminantes respectivamente Ambos medem em torno de 14 mm têm coloração acastanhada e provocam em seus hospedeiros correspondentes um quadro denominado de ostertagiose O ciclo biológico desses parasitas é muito semelhante ao de T axei com as larvas L3 abrigandose na mucosa Porém podem causar tipos diferentes de infecção devido à capacidade das larvas de permanecerem em hipobiose Dessa maneira na ostertagiose do tipo I observada principalmente em bezerros e cordeiros as larvas infectantes que se desenvolveram no pasto infectam os ruminantes dando origem diretamente a um grande número de vermes adultos A ostertagiose do tipo II ocorre quando as larvas ingeridas tornamse dormentes ou têm seu desenvolvimento inibido no período inicial de L4 larvas hipobióticas e emergem em sincronia da mucosa Nas regiões de clima temperado as larvas são ingeridas na primavera e a doença se manifesta no verão ou outono subsequentes Nas regiões mais frias as larvas são adquiridas no final do outono e a doença se manifesta no final do inverno ou no início da primavera Assim as formas larvares do parasita são protegidas das condições adversas do meio ambiente como o frio intenso do inverno nas regiões frias ou a seca nas regiões quentes As lesões produzidas nas glândulas gástricas pela ostertagiose levam à abomasite crônica que se manifesta pelo espessamento da mucosa com formação de nódulos salientes e umbilicados principalmente na região fúndica O pH gástrico se eleva de 3 até 6 a 7 O pepsinogênio tem sua conversão para pepsina reduzida e pode transpor a mucosa lesionada e alcançar o plasma Por isso altos níveis de pepsinogênio no plasma são indicativos de ostertagiose Haemonchus spp São parasitas hematófagos que medem de 18 mm machos a 30 mm fêmeas Nestas a cor branca do útero espiralado em contraste com a cor vermelha enegrecida do seu intestino fornece uma característica morfológica importante para o reconhecimento do verme a qual levou à denominação de barber pole worm Esse termo referese à semelhança que existe entre o aspecto descrito das fêmeas de Haemonchus sp e o tipo de poste listrado utilizado nos EUA para identificar as barbearias Todas as espécies desse gênero são parasitas de abomaso de ruminantes H contortus acomete principalmente ovinos e caprinos ao passo que H placei acomete principalmente bovinos O ciclo é semelhante ao de outros tricostrongilídeos parasitas de ruminantes As larvas de terceiro estágio infectantes penetram nas glândulas do abomaso e aí mudam para quarto estágio Posteriormente emergem para o lúmen onde prosseguem seu desenvolvimento Devese destacar que tanto os estágios adultos quanto os larvais são patogênicos pois ambos são sugadores de sangue Nas regiões de clima temperado o fenômeno da hipobiose observado nas infestações por Ostertagia sp pode também ser observado nas infestações por Haemonchus sp Nesses casos as L4 têm seu desenvolvimento inibido e podem emergir simultaneamente da mucosa do abomaso Isso pode ocorrer com H placei durante o inverno o que possibilita que as larvas retomem o desenvolvimento durante a primavera eliminando ovos nos pastos em um período mais favorável Nos ovinos o quadro de haemoncose pode ser superagudo agudo ou crônico dependendo do número de larvas ingeridas e da resposta do hospedeiro As lesões observadas estão relacionadas com a perda de eritrócitos e proteína Portanto os achados característicos da haemoncose incluem a palidez das mucosas e dos tecidos em geral o descoramento e a fluidez excessiva do sangue além da presença de edema submandibular papeira hidrotórax hidropericárdio e hidroperitônio O abomaso mostra conteúdo aquoso de coloração escura e a mucosa mostrase edemaciada e com hemorragias focais Os parasitas podem ser identificados movimentandose sobre a mucosa se ainda vivos ou em meio ao conteúdo se mortos Nematodirus spp e Cooperia spp Cooperia punctata C oncophora e C pectinata são parasitas do intestino delgado de bovinos ao passo que C curticei tem como hospedeiros os ovinos e caprinos Os vermes medem cerca de 9 mm de comprimento e são encontrados nas infecções leves preferencialmente nos primeiros 3 a 6 m do intestino e além desse limite nas infecções graves O ciclo biológico é semelhante ao dos demais tricostrongilídeos porém não provocam escavações na mucosa intestinal mas permanecem inseridos entre as vilosidades Provocam atrofia de vilosidades e redução das enzimas associadas a estas o que causa diarreia e hipoproteinemia As espécies de Nematodirus também são encontradas no intestino delgado de ruminantes sendo N sphatiger e N fillicolis parasitas de ovinos e N helvetianus parasita de bovinos N battus infecta principalmente ovinos podendo produzir doença em bezerros Os vermes adultos podem alcançar até 25 mm embora o comprimento possa variar bastante O ciclo biológico de Nematodirus sp é diferente do ciclo dos outros tricostrongilídeos já que a evolução até L3 se dá dentro do ovo para algumas espécies os estímulos do meio ambiente principalmente as condições climáticas influenciam na eclosão À semelhança de Cooperia sp as larvas e os adultos não penetram na mucosa mas abrigamse entre as vilosidades intestinais A maioria das espécies não provoca doença clínica porém N battus produz um quadro entérico específico em ovinos jovens caracterizado por diarreia grave Microscopicamente observamse atrofia de vilosidades e hiperplasia das criptas além de reação inflamatória representada pelo aumento do número de linfócitos plasmócitos e eosinófilos na lâmina própria Ocorre ainda redução dos níveis de fosfatase alcalina e de dissacaridases na mucosa alteração que tem correlação com a gravidade do quadro diarreico apresentado Na necropsia dos ovinos acometidos observamse desidratação enterite catarral e edema dos linfonodos mesentéricos Oesophagostomum spp São parasitas de intestino grosso de ruminantes O columbianum O venulosum O radiatum e O ovina e de suínos O dentatum e O brevicaudum Os adultos medem entre 8 e 12 mm de comprimento são finos e têm coloração branca ou cinza O ciclo biológico é direto As larvas são ingeridas e penetram na mucosa do intestino grosso em algumas horas retornando ao lúmen em 6 a 20 dias Nas porcas ocorre um pico de eliminação de ovos logo após o parto sendo uma fonte importante de infecção dos leitões A penetração das larvas na parede do intestino grosso origina a formação de nódulos e são essas lesões as responsáveis pelo quadro clínico de diarreia fétida por vezes fatal Devido a isso esses parasitas são denominados de vermes nodulares À necropsia a principal alteração é a presença de nódulos de tamanhos variáveis 5 a 10 mm na serosa do intestino grosso preenchidos por exsudato esverdeado envolvendo apenas uma larva viva Esse é o quadro observado nos surtos Esses nódulos posteriormente podem calcificarse e predispor ao aparecimento de intussuscepções Os nódulos representam na verdade uma reação exacerbada de hospedeiros previamente sensibilizados à presença das larvas Os parasitas adultos eventualmente podem provocar diarreia em cordeiros Trichuris spp Os parasitas desse gênero medem entre 40 e 70 mm apresentando a parte anterior do corpo afilada e a posterior mais robusta São encontrados no ceco e eventualmente no cólon de caninos T vulpis felinos T campanula T serrata suínos T suis bovinos T discolor e pequenos ruminantes T ovis T globulosa T skrjabini Os vermes adultos se fixam na mucosa do intestino grosso inserindo a porção afilada do corpo no epitélio sem ultrapassar os limites da membrana basal O ciclo evolutivo é direto A larva infectante se desenvolve dentro do ovo e só eclode quando ingerida pelo hospedeiro Com isso sobrevive no ambiente por anos o que propicia a reinfecção de animais confinados em ambientes contaminados Após a eclosão a larva penetra na mucosa do intestino anterior migrando posteriormente para o ceco As infestações discretas não levam à produção de doença clínica Nas infestações graves dos cães os parasitas são encontrados em grande número no ceco e no cólon provocando episódios de diarreia devido à tiflocolite erosiva O conteúdo nesses segmentos intestinais é nitidamente hemorrágico Nos ruminantes eventualmente podem ocorrer quadros de tiflocolite hemorrágica Nos suínos Figura 3107 o quadro é semelhante porém devese ressaltar que as lesões podem ser potencializadas pela microbiota intestinal devido a uma provável supressão da resposta imune provocada pelo parasita Strongyloides spp Os membros desse gênero alternam gerações de vida livre e de vida parasitária As formas parasitas são as fêmeas partenogenéticas que produzem larvas capazes de reinfectar o hospedeiro ou larvas que se desenvolvem como indivíduos de vida livre Fora do hospedeiro vivem os machos e as fêmeas de vida livre que geram larvas heterogônicas com reprodução sexuada ou assexuada ou larvas infectantes homogônicas estas quando encontram o hospedeiro adequado penetram na pele desenvolvendose até fêmeas partenogenéticas parasitas no intestino Portanto não existem machos parasitas e as fêmeas partenogenéticas não têm gônadas masculinas nelas os ovos se desenvolvem por partenogênese mitótica e geram as larvas rabditiformes homogônicas além das larvas heterogônicas que darão origem aos machos e às fêmeas de vida livre Após a penetração na pele do hospedeiro ou menos frequentemente após sua ingestão as larvas alcançam a circulação sanguínea Nos animais jovens ao chegar aos pulmões rompem a parede alveolar e seguem pelas vias respiratórias sendo carreadas pelo movimento ciliar até a faringe Após serem deglutidas as larvas que medem de 2 a 6 mm de comprimento estabelecemse em galerias no fundo das criptas ou junto à base das vilosidades do intestino delgado Em alguns hospedeiros como caninos equinos suínos e ruminantes algumas larvas migram para outros tecidos e alcançam a glândula mamária podendo ser transmitidas para a prole por meio do leite essa é uma via importante de infecção dos animais lactentes O principal sinal clínico da infecção é a diarreia que acomete animais jovens A atrofia das vilosidades a hiperplasia das criptas e o infiltrado mononuclear que comprometem a lâmina própria são os achados histopatológicos relacionados com a presença do parasita no intestino delgado As espécies de interesse veterinário são S ransomi suínos S westeri equinos S papillosus ruminantes S stercolaris caninos S felis felinos Figura 3107 Tricuríase em javali Intensa infestação por Trichuris suis na mucosa do ceco Cortesia da União Pioneira de Integração Social Brasília DF Ancylostoma spp Uncinaria sp Globocephalus sp e Bunostomum sp Os ancilostomídeos são parasitas hematófagos encontrados no intestino delgado de cães Ancylostoma caninum A braziliense A ceylanicum Uncinaria stenocephala gatos A braziliense A tubaeformae suínos Globocephalus ursubulatus e ruminantes Bunostomum trigonocephalus Esses parasitas têm coloração acinzentada ou escura e medem entre 10 e 15 mm A infecção dos hospedeiros pode se dar por ingestão ou penetração percutânea das larvas Os ovos na fase de mórula são encontrados nas fezes e as larvas embainhadas se desenvolvem em 6 a 8 dias As larvas deglutidas evoluem diretamente até adultos no intestino Aquelas que penetram na pele do hospedeiro alcançam a circulação sanguínea e chegam aos pulmões Após romperem a parede alveolar seguem pelo trato respiratório até a faringe sendo então deglutidas Nos cães nem todas as larvas independentemente da via de infecção evoluem até adultos Uma parte delas após penetrarem em células musculares esqueléticas ou mesmo na parede do intestino entra em estado de dormência Estímulos ainda não bem estabelecidos podem reativar essas larvas que então evoluem até adultos no intestino do hospedeiro As larvas dormentes podem também migrar para a glândula mamária e serem transmitidas pelo leite para os filhotes Além disso pode ocorrer a reativação das larvas no período final da gestação o que possibilita a transmissão transplacentária A gravidade da infecção depende da virulência e do número de parasitas assim como da idade e da resistência do hospedeiro Cães jovens quando recebem as larvas pelo leite podem apresentar um quadro hiperagudo caracterizado por anemia grave debilidade fezes escuras e morte A exposição a um grande número de larvas seja em animais jovens seja em adultos leva a um quadro agudo de anemia O quadro crônico pode ser assintomático sendo o diagnóstico feito pela presença de ovos nas fezes Além disso a ancilostomose pode complicar secundariamente o quadro clínico de animais que apresentam outros processos como desnutrição As lesões observadas nos animais parasitados por ancilostomídeos são palidez das mucosas e dos tecidos em geral edema subcutâneo e efusões cavitárias Nos casos crônicos associase a essas alterações a caquexia O conteúdo intestinal é escuro ou francamente hemorrágico e a mucosa mostra hemorragias puntiformes múltiplas resultantes da ação direta dos parasitas que podem ser encontrados em grande número aderidos à mucosa ou em meio ao conteúdo Figura 3108 Devese destacar que nos quadros hiperagudos de animais muito jovens o número de parasitas pode não ser muito grande O resultado da migração larval pelos pulmões leva ao aparecimento de hemorragias focais no parênquima Para os cães A caninum é mais patogênico do que A braziliense e U stenocephala porque suga mais sangue Os parasitas do gênero Bunostomum produzem quadro de anemia e hipoproteinemia em animais com menos de 1 ano de idade As larvas dos ancilostomídeos principalmente de A braziliense estão relacionadas com o quadro de dermatite serpiginosa bicho geográfico em seres humanos que se caracteriza por eritemas lineares tortuosos e intensamente pruriginosos Essas lesões são resultantes da penetração da larva na pele de indivíduos que têm contato com ambiente contaminado por fezes de cães e gatos Figura 3108 Ancilostomose em cão jovem Vários exemplares de Ancylostoma sp envoltos por conteúdo intestinal hemorrágico Estrongilídeos S vulgaris S edentatus S equinus e Triodontophorus e ciatostomíneos pequenos estrôngilos Na família Strongylidae encontramse duas subfamílias importantes para os equídeos as subfamílias Strongylinae conhecidos como grandes estrôngilos e Cyathostominae os pequenos estrôngilos Os grandes estrôngilos incluem os gêneros Strongylus e Triodontophorus parasitas de intestino grosso Strongylus vulgaris S edentatus e S equinus são vermes hematófagos que parasitam o ceco e o cólon podendo ser responsáveis por quadros de anemia No entanto a migração das larvas no organismo dos equídeos produz lesões importantes que sobrepujam as relacionadas com os parasitas adultos Devese ressaltar que o ciclo evolutivo de cada uma dessas três espécies é diferente Sendo assim as larvas infectantes L3 de S vulgaris são ingeridas e penetram na parede do ceco e do cólon ocorrendo aí a muda para o quarto estágio L4 Elas penetram em pequenas arteríolas alcançando a íntima Sobre a camada mais interna as larvas migram pelos vasos cada vez mais calibrosos que são os ramos da artéria mesentérica cranial As larvas geralmente se fixam nas artérias dessa região durante aproximadamente 4 meses Após alcançarem o quinto estádio desprendemse e chegam carreadas pela circulação sanguínea até o ceco e o cólon ficando encapsuladas em nódulos na parede desses segmentos intestinais em seguida os adultos jovens migram para o lúmen intestinal As lesões vasculares produzidas pelas larvas são as tromboarterites Eventualmente formamse aneurismas dos ramos da artéria mesentérica como consequência da destruição da camada elástica dos vasos pelo processo inflamatório induzido pelas larvas As alterações levam à redução do fluxo sanguíneo intestinal devido à obstrução vascular parcial Além disso o envolvimento dos plexos nervosos intestinais contíguos ao vaso comprometido induz ao comprometimento da motilidade intestinal Apesar da gravidade das lesões vasculares o infarto intestinal é raro Quando ocorre o infarto é devido à obstrução de vasos intestinais por êmbolos originários das lesões trombóticas arteriais Formamse então lesões hemorrágicas circunscritas e elevadas geralmente localizadas no ceco e no cólon que variam de tamanho conforme o calibre do vaso obstruído Clinicamente esse quadro é denominado de cólica tromboembólica As larvas de S edentatus ultrapassam a parede do intestino grosso e penetram no fígado dando início a um período de migração no parênquima hepático que dura em torno de 2 meses Essa migração deixa como sinal a presença de placas fibróticas na cápsula hepática e na face peritoneal do diafragma Posteriormente as larvas migram pelo ligamento hepático e atingem os tecidos retroperitoneais até alcançarem de volta a parede da base do ceco e em seguida o lúmen da víscera Já as larvas de S equinus após permanecerem em nódulos na parede do intestino grosso migram pela cavidade peritoneal até o fígado Migram pelo parênquima hepático também por cerca de 2 meses e depois voltam à cavidade peritoneal ou penetram no pâncreas onde sofrem a última muda para em seguida voltar ao intestino como adultos A migração das larvas de Strongylus sp principalmente S edentatus produz ainda uma lesão muito frequente na serosa da borda antimesentérica do íleo denominada de hemomelasma ilei Essa alteração aparece na forma de placas hemorrágicas subserosas e é geralmente um achado incidental sem expressão clínica Triodontophorus tenuicolis outro parasita importante dessa subfamília localizase no cólon ventral onde forma grupos aderidos à mucosa causando ulceração Esses parasitas não migram por outros órgãos além do intestino sendo portanto menos patogênicos Os pequenos estrôngilos ou ciatostomíneos têm sua patogenicidade relacionada com a emergência das larvas a partir de nódulos localizados na parede do intestino grosso Os adultos mesmo que em grande quantidade Figura 3109 não são considerados patogênicos Ascarídeos Ascaris sp Parascaris sp Toxocara sp e Toxascaris sp Os ascarídeos estão entre os maiores parasitas que acometem os animais domésticos O tamanho varia nas espécies porém alguns como Parascaris equorum chegam a 50 cm de comprimento O ciclo evolutivo envolve migração no organismo do hospedeiro com um padrão peculiar para cada gênero No entanto duas características comuns a todos os gêneros são a realização de duas mudas ainda dentro do ovo e a eclosão da larva de terceiro estágio dentro do hospedeiro Outra característica dos ascarídeos é sua especificidade quanto ao hospedeiro parasitado Entre os membros mais importantes da ordem Ascaridida parasitas dos animais domésticospodem ser citadas as espécies Ascaris suum suínos Parascaris equorum equinos Toxocara vitulorum bovinos e bubalinos Toxocara canis caninos Toxocara cati felinos e Toxascaris leonina caninos e felinos Figura 3109 Pequenos estrôngilos no cólon de um equino Cortesia do Dr Antonio Carlos Alessi Universidade Estadual Paulista Jaboticabal SP O ciclo evolutivo de A suum se inicia com a ingestão dos ovos e a liberação das larvas que penetram na parede do ceco e do cólon Pelas veias do sistema porta as larvas chegam ao fígado onde deambulam por alguns dias Após penetrarem na veia cava caudal as larvas chegam aos pulmões perfuram a parede alveolar e seguem pelos bronquíolos e brônquios até a faringe de onde são deglutidas Desse modo alcançam o intestino delgado no qual terminam seu desenvolvimento Os parasitas adultos quando em grande número além de espoliar o hospedeiro podem provocar obstrução intestinal Podem ainda penetrar no ducto colédoco produzindo obstrução e icterícia ou simplesmente se alojar na vesícula biliar A migração das larvas produz lesões parenquimatosas no fígado causando manchas brancacentas de origem cicatricial na cápsula hepática denominadas manchas de leite milk spot Nos pulmões focos hemorrágicos são os resultados da ação das larvas eventualmente associados a um quadro clínico de tosse Microscopicamente nesse órgão observase bronquiolite eosinofílica Larvas ou seus restos podem ser observados em diferentes órgãos sempre circundados por reação granulomatosa à qual se associam muitos eosinófilos Os suínos com mais de 4 meses de idade tornamse resistentes às infecções por A suum P equorum apresenta ciclo evolutivo semelhante a A suum realizando migração hepatotraqueal A espoliação e as lesões produzidas pelas larvas são efeitos importantes Quadros de tosse e inflamação respiratória catarral associadas à pneumonia focal são consequências da migração larval Os adultos podem provocar processos intestinais graves como obstrução intraluminal intussuscepção e mais raramente perfuração Os potros com mais de 1 ano de idade são resistentes às infecções por P equorum T vitulorum é parasita de bovinos e bubalinos principalmente em países em desenvolvimento Os bezerros se infectam por via transmamária e possivelmente também por via transplacentária As larvas que eclodem no intestino dos animais mais velhos e portanto já resistentes acumulamse nos pulmões fígado e rins permanecendo quiescentes não completando seu desenvolvimento Os bezerros são infectados ao ingerir o leite de suas mães principalmente nos primeiros 8 dias de lactação É possível também que durante a gestação as larvas atravessem a placenta e infectem o feto Nos animais jovens o ciclo evolutivo é hepatotraqueal Bezerros de até 6 meses de idade apresentam diarreia e comprometimento do desenvolvimento podendo ocorrer também obstrução intestinal A infecção por T vitulorum é particularmente grave em bezerros bubalinos T canis é parasita de intestino delgado de cães jovens que se infectam ingerindo o ovo com a larva infectante Os parasitas adultos medem entre 4 e 18 cm e são encontrados envoltos em muco alguns assumem posição espiralada O ciclo é semelhante ao dos outros ascarídeos citados com a eclosão e a penetração da larva na parede intestinal A rota seguida até o retorno ao intestino é a hepatotraqueal Nos animais mais velhos que desenvolvem resistência ao parasita as larvas podem permanecer na circulação e alojarse em outros órgãos tornandose quiescentes No caso das cadelas as larvas acumuladas nos tecidos são reativadas durante a prenhez atravessam a placenta e infectam o feto Algumas larvas também alcançam o filhote recémnascido pela via transmamária Hospedeiros paratênicos representados por roedores ovinos suínos macacos e humanos também podem albergar larvas inibidas em seus tecidos A ingestão de um hospedeiro paratênico como um roedor ou de seus tecidos pode levar à infecção do cão As larvas se mantêm vivas nos tecidos somáticos por vários meses produzindo o quadro denominado de larva migrans visceral Em crianças que ingerem ovos de T canis pode ocorrer envolvimento hepático ocular e do sistema nervoso central Na toxocarose dos cães jovens observamse desenvolvimento retardado e pelo arrepiado e sem brilho além de abdome distendido e diarreia mucoide Pode ocorrer também obstrução intestinal devido à presença de massas enoveladas de parasitas Pneumonia verminótica ascite e esteatose hepática são achados nas infecções graves Granulomas eosinofílicos em diferentes órgãos como o rim causados pela migração larval são observados em filhotes e em animais adultos A larva migrans ocular também pode ocorrer nos cães O ciclo evolutivo do T cati parasita de intestino delgado de felinos difere em alguns pontos do ciclo de T canis A via transplacentária não ocorre nos felinos e na infecção por ingestão de ovos a via traqueal continua ativa durante toda a vida dos gatos Do mesmo modo que em outras espécies a via transmamária é importante para os filhotes porém o hábito predatório característico dos felinos torna os hospedeiros paratênicos também importantes Os efeitos do parasitismo sobre os gatos são semelhantes aos descritos para T canis nos cães Oxyuris equi São parasitas de ceco e intestino grosso de equídeos nos quais são encontrados em meio ao conteúdo digestório do qual se alimentam Os adultos medem de 1 a 15 cm e as fêmeas apresentam a característica cauda afilada As fêmeas no momento da postura dos ovos insinuamse pelo ânus do animal depositando os ovos na região perianal Os ovos são aglutinados por uma substância gelatinosa irritante que causa prurido intenso fazendo com que os animais parasitados esfreguem a região do períneo contra mourões troncos de árvores postes etc Assim um dos sinais da parasitose é a presença de pelos arrepiados e áreas alopécicas na base da cauda além de escarificações na região perineal As larvas causam lesões discretas na mucosa intestinal e os adultos são considerados apatogênicos Cestódeos Os membros da classe Cestoda apresentam corpo achatado dorsoventralmente em forma de fita e dividido em segmentos chamados de escólice cabeça colo e estróbilo constituído por proglotes Na porção anterior da cabeça estão os órgãos de fixação que são as ventosas e eventualmente ganchos acúleos Dipylidium caninum parasita o intestino delgado de cães e gatos As proglotes são eliminadas nas fezes ou alcançam o meio exterior passando ativamente pelo ânus Após a liberação os ovos são ingeridos por larvas de pulgas Ctenocephalides spp e Pulex irritans ou por piolhos mastigadores Trichodectes canis nos quais se desenvolvem até o estágio de larva cisticercoide O hospedeiro definitivo adquire o parasita quando ingere o inseto com cisticercoides As formas adultas se desenvolvem no intestino delgado em poucas semanas São reconhecidos por medirem entre 15 e 20 cm e apresentarem proglotes grávidas mais longas do que largas em forma de semente de abóbora São pouco patogênicos para os cães e os gatos aparecendo como achados incidentais nas necropsias Na família Anoplocephalidae são encontrados diversos gêneros de parasitas de importância médicoveterinária tais como Anoplocephala sp Paranoplocephala sp e Moniezia sp Ácaros oribatídeos encontrados nas pastagens são os hospedeiros intermediários abrigando os cisticercoides dos parasitas dessa família A ingestão dos ácaros com a pastagem faz com que as formas larvares penetrem no hospedeiro definitivo Anoplocephala magna que mede cerca de 80 cm de comprimento e Paranoplocephala mammilana com cerca de 5 cm são parasitas considerados apatogênicos do intestino delgado de equídeos No entanto Anoplocephala perfoliata é encontrada no ceco ou no íleo terminal frequentemente formando aglomerados fixados à válvula ileocecal Figura 3110 Nessa região formamse erosões e ulcerações ou mesmo espessamentos irregulares da mucosa A associação do parasitismo por A perfoliata e o aparecimento de quadros de cólica espasmódica assim como de compactações de íleo intussuscepções ileocólica e cecocecal têm sido relatados por vários autores Embora a presença do parasita possa levar à obstrução parcial da válvula ileocecal não existe evidência concreta da relação desse parasita com o processo de hipertrofia de íleo nos equinos Figura 3110 Dois exemplares de Anoplocephala perfoliata na mucosa do ceco de um equino O gênero Moniezia é o mais difundido dos cestódeos parasitas de ruminantes As espécies M benedeni M expansa e M caprae habitam o intestino delgado e são consideradas pouco patogênicas ou mesmo apatogênicas porém alguns autores sustentam que quando em grande número podem causar obstrução intestinal Outros cestódeos podem ser encontrados principalmente no intestino delgado de carnívoros Podem ser citados nos cães Echinococcus granulosus Taenia pisiformes Taenia hidatigena Taenia ovis Taenia serialis e Taenia multiceps nos gatos Taenia taeniformis é outro cestódeo muito comum Tóxicos exógenos com ação sobre o sistema digestório Neste segmento serão abordados os processos nos quais o trato digestório é o alvo principal do agente tóxico ou aqueles em que as lesões dos órgãos desse sistema mesmo que secundárias têm participação importante no quadro apresentado pelo animal Intoxicação por arsênico As formas orgânicas e inorgânicas do arsênico podem produzir quadros de intoxicação nos animais sendo influenciadas pela espécie animal envolvida e pelo tempo de exposição Dentro do grupo dos arsenicais inorgânicos podem ser citados trióxido de arsênico pentóxido de arsênico arsenito de potássio arsenito de sódio arsenato de chumbo e arsenato de cálcio Devese ressaltar que devido à redução da utilização dessas substâncias atualmente esse tipo de intoxicação tornouse pouco frequente Outro dado importante é que entre as espécies domésticas os felinos parecem ser mais sensíveis Devido ao tipo de mecanismo de ação dos compostos arsenicais os tecidos ricos em enzimas oxidativas como aqueles do trato gastrintestinal o fígado os rins os pulmões e as células endoteliais e da epiderme são mais comprometidos No trato gastrintestinal a mucosa mostrase hiperêmica e edemaciada de início porém com a evolução do processo ocorre a necrose do epitélio e dos tecidos subjacentes Além dessas lesões observamse degeneração e necrose hepática e dos túbulos renais O grupo dos arsenicais orgânicos inclui substâncias utilizadas como estimulantes para grandes animais desfolhantes praguicidas na lavoura arsenicais orgânicos alifáticos e no tratamento de dirofilariose dos cães arsenicais orgânicos aromáticos e aditivos na ração de aves e suínos As lesões são semelhantes às produzidas pelos arsenicais inorgânicos Fluoracetato de sódio Composto altamente tóxico para todas as espécies utilizado como rodenticida Por tratarse de substância incolor inodora e solúvel em água pode ser ingerida acidentalmente sendo também identificada em envenenamentos propositais A dose tóxica é de 01 a 8 mg por quilograma de peso vivo O diagnóstico pode ser difícil se não houver histórico de exposição ao veneno já que os sinais clínicos são inespecíficos O fluoracetato de sódio atua bloqueando a produção celular de energia mais especificamente o ciclo do ácido tricarboxílico Os animais intoxicados apresentam hiperestimulação do sistema nervoso central cães ou alteração da função cardíaca equinos ovinos e caprinos Os dois tipos de comprometimento podem ser observados nos suínos e felinos As lesões são inespecíficas porém podemse observar cianose hemorragias subepicárdicas e enterite acentuada Intoxicação por ureia No manejo nutricional de bovinos a ureia é utilizada como fonte de nitrogênio havendo portanto a possibilidade de ocorrência de quadros de intoxicação quando a quantidade administrada aos animais é exagerada O quadro tóxico surge como consequência dos efeitos locais e sistêmicos da amônia produzida pela hidrólise da ureia pela urease no interior do rúmen Os sinais clínicos incluem ataxia e convulsão À necropsia o rúmen mostra odor amoniacal hiperemia ou até necrose coagulativa da mucosa Tanto o rúmen quanto o abomaso apresentam pH elevado Eventualmente podemse observar abomasite e enterite graves além de hepatite tóxica e necrose de túbulos renais No cérebro ocorrem degeneração neuronal congestão e hemorragias de meninge Intoxicação aguda por cobre A intoxicação por cobre não é incomum e embora possa acometer qualquer espécie doméstica afeta principalmente os ovinos A ingestão de 20 a 100 mg de cobre por quilograma de peso vivo desencadeia o quadro em ovinos e em bezerros Por serem mais resistentes os bovinos adultos necessitam de 200 a 800 mg de cobre por quilograma de peso para que os sinais de intoxicação se manifestem O quadro clínico se caracteriza por dor abdominal diarreia anorexia desidratação e choque As lesões observadas são de gastrenterite grave com aparecimento de erosões e úlceras de abomaso Os animais que sobrevivem por mais tempo podem desenvolver quadro hemolítico semelhante ao observado na intoxicação crônica por cobre Concentrações superiores a 15 partes por milhão de cobre nos rins são indicativas de intoxicação aguda por cobre Intoxicação por chumbo Esse tipo de intoxicação é mais comum em caninos e bovinos Entre os cães os animais mais jovens são mais suscetíveis e o contato se dá no ambiente doméstico principalmente com tintas à base de chumbo No ambiente rural graxas pesos de chumbo e baterias são as fontes do metal além da vegetação nas margens das rodovias O quadro de intoxicação aguda ocorre mais frequentemente em animais jovens caracterizandose por sinais gastrintestinais e nervosos No quadro subagudo mais frequente em ovinos e bovinos adultos observamse anorexia estase ruminal diarreia cegueira e incoordenação Na necropsia de animais que morrem de intoxicação aguda pode ser detectada em meio ao conteúdo digestório a provável fonte de chumbo além dos sinais de gastrenterite No SNC observamse microscopicamente necrose cortical laminar e edema da substância branca Nos rins além da necrose tubular podem ser detectadas inclusões acidorresistentes nas células epiteliais renais Níveis superiores a dez partes por milhão de chumbo no fígado ou no córtex renal são indicativos de intoxicação Intoxicação por Ricinus communis mamona O vegetal Ricinus communis é um arbusto cujas sementes são utilizadas para a produção de óleo de mamona utilizado em tintas vernizes óleos combustíveis e lubrificantes Essas sementes têm uma potente toxina denominada ricina é uma fitotoxina com peso molecular que varia de 60000 a 65000 dáltons e que é eliminada do óleo de mamona durante o processamento Seja de forma natural ou experimental a toxicidade da ricina foi comprovada nas espécies domésticas assim como em seres humanos A toxicidade resulta da inibição da síntese proteica do dano direto à membrana celular provocado por alterações estruturais e funcionais do estímulo à liberação de citocinas e do acionamento dos mecanismos de apoptose O quadro clínico se caracteriza por diarreia sanguinolenta salivação fraqueza tremores e incoordenação As lesões observadas são gastrite aguda grave ou abomasite nos ruminantes hiperemia e edema da mucosa do intestino delgado principalmente duodeno e jejuno que podem estar associados à hemorragia petequial e presença de conteúdo sanguinolento Microscopicamente a mucosa intestinal mostra áreas de necrose ocorrem degeneração hidrópica esteatose e necrose de hepatócitos além de necrose tubular renal Outras plantas tóxicas que provocam lesões do trato digestório estão apontadas na Tabela 31 Tabela 31 Plantas tóxicas com ação sobre o sistema digestório Nome cientí co nome popular Distribuição Principais espécies animais acometidas Princípio tóxico Sinais clínicos Lesões Bacharis coridifolia miomio Bacharis megapotamica Paraná Santa Catarina e Rio Grande do Sul Bovinos e ovinos Tricotecenos macrocíclicos Nos ruminantes timpanismo ataxia e tremores musculares Congestão edema e necrose da mucosa dos préestômagos Stryphnodendron coriaceum barbatimão fava Piauí Maranhão Tocantins Ceará e Bahia Bovinos Saponinas Sialorreia corrimento nasal e ocular paralisia de rúmen diarreia sanguinolenta e fotossensibilização Hiperemia e aderência de papilas dos pré estômagos erosões de abomaso e vesículas microscópicas na mucosa do trato digestório anterior Sisyrinchium platense alhomacho alho bravo Rio Grande do Sul Bovinos e ovinos Desconhecido Sialorreia corrimento nasal e ocular Não relatadas Bibliograጡጡa ABUTARBUSH S M RADOSTITS O M Obstruction of the small intestine caused by a hairball in 2 young beef calves Can Vet J v 45 p 324325 2004 ADDIE D D Feline coronavirus that enigmatic little critter Vet J v 167 p 56 2004 ALMEIDA A P MALM C LAVALLE G E et al Salivary gland carcinosarcoma in a dog Braz J Vet Pathol v 3 p 136140 2010 ALVES G E S SANTOS R L FALEIROS R R 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diferentes espécies está na Figura 42 Diagramas como esses são úteis para assinalar a distribuição das lesões hepáticas ao descrever a necropsia O peso aproximado do fígado em relação ao peso corpóreo é de 3 a 4 em cães 2 a 3 em suínos 2 em gatos e 1 a 15 em herbívoros Em fetos e recémnascidos o fígado é relativamente maior Figura 43 que no adulto provavelmente devido à sua função hematopoética nessa fase do desenvolvimento Figura 41 Aspecto macroscópico normal do fígado de um bovino O fígado é marromavermelhado com superfície capsular lisa Figura 42 Diagrama mostrando o contorno normal do fígado de várias espécies A Cão e gato B Suíno C Equino D Bovino Figura 43 Fígado de cão recémnascido Observar que o fígado é volumoso em relação aos outros órgãos Em fetos e recémnascidos o fígado é relativamente maior que em adultos provavelmente devido à intensa hematopoese nessa fase do desenvolvimento O fígado apresenta dupla circulação aferente pela veia porta e pela artéria hepática esses vasos penetram no fígado junto à fissura portal em uma estrutura referida como porta hepática e se distribuem pelos lobos hepáticos A veia porta é responsável por 75 do sangue que chega ao fígado vindo dos préestômagos e estômago glandular intestinos baço e pâncreas Esse fluxo venoso é importante para as funções hepáticas porque possibilita a absorção de nutrientes e a captação e o metabolismo de substâncias tóxicas microrganismos e materiais imunogênicos que são absorvidos do intestino e chegam ao fígado pela circulação portal A artéria hepática contribui com 25 a 30 do sangue aferente penetra o fígado e se distribui pelos lobos paralelamente à veia porta O sangue da veia porta e da artéria hepática misturase nos sinusoides hepáticos O fluxo eferente do fígado ocorre pela veia hepática um vaso curto tributário da veia cava caudal Vários ligamentos mantêm o fígado em sua posição O ligamento falciforme fixa a linha média do fígado à linha média do abdome na margem livre do ligamento falciforme encontrase a veia umbilical que após o nascimento transformase no ligamento redondo os ligamentos triangulares localizamse à direita e à esquerda dos lobos hepáticos fixandoos ao diafragma o ligamento coronário une o fígado ao diafragma e está conectado em ambos os lados aos ligamentos triangulares os ligamentos hepatoduodenal e gastrohepático são partes do omento menor e conectam o duodeno e o estômago ao hilo hepático Em espécies sem vesícula biliar equídeos girafas ratos elefantes o ducto hepático comum DHC é formado na parte ventral da fissura portal pela união dos ductos hepáticos direito e esquerdo Nos equinos o DHC tem 5 cm de comprimento e 1 a 15 cm de largura e penetra o duodeno aproximadamente a 12 a 15 cm do piloro ao lado do ducto pancreático Nas espécies que têm vesícula biliar o ducto cístico contendo o material excretado da vesícula encontra o ducto hepático formado pela convergência dos ductos hepáticos menores que vêm do fígado e forma o ducto colédoco que penetra a porção cranial do duodeno A vesícula biliar tem um formato aproximado de pera e na sua maior extensão está fortemente aderida ao fígado TUSVUVSBNJDSPTDØQJDBEPGÓHBEP Projeções de tecido conjuntivo septos interlobulares partem da cápsula e dividem o fígado em pequenas porções de tamanho e forma aproximadamente iguais denominadas lóbulos hepáticos Os septos interlobulares são bem desenvolvidos no fígado de suínos mas quase imperceptíveis nas outras espécies domésticas O lóbulo hepático é uma estrutura hexagonal com aproximadamente 15 mm de largura e pouco mais que isso de altura com o ápice ligeiramente convexo A quantidade de lóbulos contidos em um fígado varia entre as espécies mas é estimada em 500000 no fígado humano No centro do lóbulo há uma veia centrolobular também chamada vênula hepática terminal para onde convergem as placas de hepatócitos no ângulo do hexágono localizamse os espaçosporta Figura 44 onde se podem observar três tríade portal tipos de estruturas tubulares ramos da veia porta ramos da artéria hepática e ductos revestidos por epitélio cúbico ou colunar simples Figura 45 Vasos linfáticos também podem ocasionalmente ser observados no espaçoporta no entanto como têm paredes muito delicadas colapsam facilmente tornando difícil sua detecção Nervos são ocasionalmente observados O tecido conjuntivo que mantém juntas essas estruturas é mais abundante nos espaçosporta que em outras regiões do fígado A placa limitante uma borda descontínua de hepatócitos forma o limite externo do trato portal Figura 46 O sangue portal venoso e o sangue da artéria hepática misturamse nos sinusoides e convergem para as veias centrolobulares e daí para veias de calibre progressivamente maior culminando na veia hepática o vaso eferente do fígado A nomenclatura da localização de alterações no parênquima hepático varia conforme as marcações anatômicas usadas Figura 44 Estrutura histológica normal do lóbulo hepático Os limites irregulares e hexagonais do lóbulo são definidos por uma tênue faixa de tecido conjuntivo e as estruturas tubulares dos espaçosporta EP Os sinusoides originamse na margem do lóbulo fazem seu trajeto entre as placas de hepatócitos em anastomose e convergem para a veia centrolobular VC Nesta imagem os sinusoides aparecem como fendas entre os hepatócitos Cortesia da Dra Raquel Rech University of Georgia Athens Georgia EUA Figura 45 Fígado de bovino Estrutura histológica normal do espaçoporta No espaçoporta encontramse três tríade portal tipos de estruturas tubulares O vaso com lúmen de maior diâmetro e com parede mais delgada é um ramo da veia porta V O vaso de diâmetro menor com parede muscular mais espessa é um ramo da artéria hepática A que irriga o fígado com sangue oxigenado A estrutura revestida de epitélio colunar simples é um ducto biliar B interlobular Vasos linfáticos também podem ser observados no espaçoporta porém por terem paredes muito delicadas colapsam frequentemente e são difíceis de visualizar Cortesia da Dra Raquel Rech University of Georgia Athens Georgia EUA Quando considerado como uma glândula secretora de bile o fígado é subdividido em ácinos Figura 47 O ácino é centrado nos ramos distributivos dos vasos das áreas portais zona 1 A zona 1 situase mais próximo do suprimento de sangue e a zona 3 é que fica mais afastada desse suprimento próximo da veia centrolobular A zona 2 está entre as zonas 1 e 3 Cada veia centrolobular recebe sangue de vários ácinos As zonas 1 2 e 3 são conhecidas também como zonas de Rappaport Figura 46 Esquema do lóbulo hepático normal O espaçoporta contém ramos da artéria hepática A da veia porta V e do ducto biliar interlobular D As placas de hepatócitos e os sinusoides S convergem para a veia centrolobular VC A placa limitante setas forma o limite externo do trato portal Desenho do Dr Daniel Rissi Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS Figura 47 Representação esquemática do ácino hepático O ácino é centrado nos ramos distributivos dos vasos das áreas portais zona 1 A zona 1 situase mais próxima do suprimento de sangue e a zona 3 fica mais afastada desse suprimento próxima à veia centrolobular A zona 2 está entre as zonas 1 e 3 Isso é conhecido como conceito de zonas hepáticas de Rappaport Desenho do Dr Daniel Rissi Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS O leitor deve ser aqui advertido de que os termos centrolobular periacinar e zona 3 indicam a mesma região do mesmo modo que centroacinar periportal e zona 1 são sinônimos e indicam a mesma região hepática e ainda que a zona média do lóbulo pode ser referida tanto como mediozonal ou zona 2 Neste capítulo serão utilizadas consistentemente apenas as denominações que levam o lóbulo clássico em consideração isto é centrolobular mediozonal e periportal As superfícies dos hepatócitos que estão voltadas para o lúmen dos sinusoides contêm abundantes microvilosidades que aumentam a área de superfície do hepatócito facilitando a captação de substâncias oriundas do plasma e a secreção de produtos do metabolismo hepático Os canalículos biliares originamse da união da membrana plasmática de dois hepatócitos adjacentes que formam um lúmen para a secreção da bile As placas de hepatócitos são separadas por sinusoides que diferem de capilares sanguíneos por serem revestidos por endotélio descontínuo e não apresentarem membrana basal típica Os sinusoides são críticos para a função adequada do fígado Uma delicada trama de matriz extracelular constituída principalmente por colágeno tipos III IV e XIII apoia as células endoteliais dos sinusoides Figura 48 Esses componentes principalmente o colágeno III comumente designados como reticulina podem ser observados em colorações especiais arranjados radialmente a partir da veia centrolobular Figura 49 O espaço entre os hepatócitos e as células endoteliais é denominado espaço de Disse Figura 48 nele os constituintes do plasma entram em contato com a superfície luminal rica em microvilosidades Células hepáticas estrelares também denominadas lipócitos ou células de Ito são encontradas no espaço de Disse projetandose entre hepatócitos Figura 48 e são responsáveis pelo armazenamento de vitamina A no citoplasma Em casos de lesão hepática perdem os grânulos de gordura e sintetizam colágeno além disso têm participação importante na fibrose hepática O contato do plasma com os hepatócitos no espaço de Disse é vital para a função hepática e lesões que bloqueiam esse contato induzem graves sinais de insuficiência hepática O lúmen dos sinusoides contém macrófagos denominados células de Kupffer Figura 48 que são membros do sistema fagocítico mononuclear SFM e fazem a limpeza de agentes infecciosos e células senescentes como eritrócitos material particulado endotoxinas e outras substâncias veiculadas no sangue dos sinusoides São células móveis que podem migrar ao longo dos sinusoides para áreas de lesão no parênquima hepático e para os linfonodos regionais As células de Kupffer têm participação na resposta imune do fígado Figura 48 A Representação esquemática do sinusoide hepático O lúmen vascular é revestido de células endoteliais E descontínuas As células de Kupffer K repousam sobre as células endoteliais e se projetam para o lúmen do sinusoide Entre as células endoteliais e os sinusoides há um espaço denominado espaço de Disse D O contato do plasma com os hepatócitos H no espaço de Disse é vital para a função hepática e lesões que bloqueiem esse contato induzem graves sinais de insuficiência hepática Células hepáticas estrelares também denominadas lipócitos ou células de Ito L são encontradas no espaço de Disse As paredes dos canalículos biliares o início do sistema biliar são formadas apenas pelas membranas celulares de hepatócitos adjacentes Fibrilas de colágeno são encontradas no espaço de Disse Desenho do Dr Daniel Rissi Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS B Microscopia eletrônica de transmissão mostrando um hepatócito e suas relações com mais outros quatro hepatócitos À direita e levemente abaixo as membranas celulares de três hepatócitos adjacentes formam o início de um canalículo biliar Cortesia do Dr Mauro Soares Universidade Federal de Pelotas Pelotas RS Figura 49 Matriz extracelular do fígado normal de um bovino A reticulina colágeno tipo III aparece como linhas pretas arranjadas radialmente a partir da veia centrolobular Coloração de Gordon e Sweet A bile flui pelo lóbulo em uma direção oposta ao fluxo do sangue O sistema biliar iniciase como canalículo nas áreas centrolobulares do lóbulo hepático As paredes dos canalículos são formadas apenas pelas membranas celulares de hepatócitos adjacentes Os canalículos drenam para colangíolos também conhecidos como canais de Hering que são revestidos por epitélio cúbico Os colangíolos convergem para os ductos biliares interlobulares ver Figura 45 que são revestidos por epitélio cuboide ou colunar e estão localizados nas áreas portais A bile daí flui para os ductos hepáticos direito e esquerdo que se unem para formar o ducto hepático A vesícula biliar é uma bolsa muscular revestida por epitélio O epitélio de revestimento da vesícula biliar é simples colunar alto com núcleos localizados na base e microvilosidades no ápice O epitélio repousa sobre uma membrana basal e abaixo dela há uma submucosa formada por tecido conjuntivo frouxo com vasos sanguíneos e linfáticos Abaixo da submucosa está a capa de tecido muscular e mais externamente uma adventícia de tecido conjuntivo VOÎÍPIFQÈUJDB O fígado realiza várias funções importantes Nem todas serão revisadas aqui Um axioma em patologia válido para o estudo de qualquer sistema orgânico é que na doença não ocorre nenhum mecanismo novo mas sim alterações ou supressões de mecanismos fisiológicos preexistentes Um corolário disso é que se as funções isto é os mecanismos fisiológicos de um órgão são compreendidas é mais fácil deduzir o que ocorre no organismo na forma de sinais clínicos na insuficiência específica desse órgão Em razão disso serão discutidos aqui os mecanismos mais frequentemente afetados em casos de insuficiência hepática em animais domésticos os quais incluem Metabolismo da bilirrubina Metabolismo dos ácidos biliares Metabolismo das gorduras Metabolismo dos carboidratos Neutralização de substâncias tóxicas Metabolismo das proteínas Função imune Metabolismo da bilirrubina A excreção da bile é a principal função exócrina do fígado A bile é composta de água colesterol ácidos biliares bilirrubina íons inorgânicos e outros constituintes Os propósitos do organismo para a síntese da bile são excretar vários produtos de desgaste do organismo tais como excesso de colesterol bilirrubina e substâncias tóxicas metabolizadas pelo fígado facilitar a digestão por meio dos ácidos biliares fornecer tampões para neutralizar o pH do quimo A bilirrubina um dos componentes principais da bile é o produto final da degradação do heme A maior parte do heme envolvido no metabolismo da bilirrubina é oriunda da degradação da hemoglobina de eritrócitos senescentes Figura 410 Macrófagos no baço medula óssea e fígado normalmente fagocitam eritrócitos velhos e degradam a hemoglobina em heme e globina No interior do macrófago a globina é fragmentada e seus aminoácidos reciclados para uso subsequente pelo organismo O ferro do heme é transferido para proteínas ligadoras do ferro e também reciclado O ferro pode ficar armazenado em células do SFM na forma de hemossiderina O restante do heme é oxidado pela heme oxidase em biliverdina que por sua vez é convertida em bilirrubina pela biliverdina redutase A bilirrubina é então ligada a uma albumina para circular no plasma Essa forma circulante no plasma está ligada à albumina e é conhecida como bilirrubina não conjugada ou bilirrubina de reação indireta A bilirrubina não conjugada é metabolizada no fígado em um processo que envolve três fases captação conjugação e secreção Na primeira fase a bilirrubina não conjugada é separada da albumina na superfície do sinusoide transferida para a ligandina uma proteína de transporte intrahepático e captada pelo hepatócito A segunda fase ocorre no retículo endoplasmático do hepatócito onde a bilirrubina é conjugada a uma ou duas moléculas de ácido glicurônico pela enzima UDPglicuroniltransferase A forma resultante dessa conjugação é denominada bilirrubina conjugada ou bilirrubina de reação direta que é hidrossolúvel e menos tóxica Na terceira fase a bilirrubina conjugada é excretada nos canalículos biliares Sob condições normais pouca bilirrubina escapa para a circulação sistêmica A microbiota do trato intestinal reduz a bilirrubina conjugada em urobilinogênio Parte do urobilinogênio é absorvida pela mucosa intestinal e transportada de volta ao fígado pelo sistemaporta a maior parte desse urobilinogênio retorna ao intestino pelas vias biliares em um processo conhecido como circulação ênterohepática Uma pequena quantidade de bilirrubina no lúmen intestinal é hidrolisada para bilirrubina não conjugada e absorvida Uma pequena porção de urobilinogênio passa da circulação para a urina O urobilinogênio que não é absorvido do intestino é reduzido em estercobilina responsável pela cor das fezes Figura 410 Esquema do metabolismo da bilirrubina A bilirrubina oriunda do metabolismo do heme em células do sistema fagocitário mononuclear é ligada à albumina para ser veiculada à corrente circulatória hemobilirrubina ou bilirrubina não conjugada e chegar ao fígado onde é conjugada a duas moléculas de ácido glicurônico formando o diglicuronato de bilirrubina bilirrubina conjugada A bilirrubina não conjugada é excretada por meio das vias biliares no intestino onde é transformada em urobilinogênio e estercobilina e eliminada nas fezes Parte do urobilinogênio volta ao fígado e novamente ao intestino formando o chamado ciclo ênterohepático Parte do urobilinogênio que chega à circulação sanguínea é eliminada na urina Metabolismo dos ácidos biliares Os ácidos biliares perfazem até 90 da porção orgânica da bile São produzidos no fígado pela oxidação do colesterol conjugados aos aminoácidos taurina ou glicina a sulfatos ou a um glicuronídio Os principais ácidos biliares são ácido cólico ácido quenodeoxicólico ácido glicocólico e ácido taurocólico Ácidos biliares são substâncias anfotéricas que atuam como detergentes estes por sua vez facilitam a excreção de colesterol e fosfolipídio do fígado pela bile e a absorção de lipídios e substâncias lipossolúveis vitamina A D E e K do intestino Metabolismo das gorduras Os ácidos graxos chegam ao fígado de duas fontes do intestino da dieta ou dos depósitos adiposos do organismo quando o animal necessita usar a gordura armazenada para a produção de energia Ácidos graxos com menos de dez átomos de carbono são absorvidos diretamente do trato gastrintestinal ligados à albumina e levados ao fígado pela circulação porta No entanto a maioria dos ácidos graxos de cadeia curta é incorporada em fosfolipídios ou triglicerídios pelo epitélio intestinal e transportada para o fígado pelo sangue portal O restante dos ácidos graxos absorvidos do trato gastrintestinal é transportado como triglicerídios em quilomícrons partículas lipoproteicas de 75 a 1200 nm Os ácidos graxos liberados do tecido adiposo chegam ao fígado ligados à albumina Figura 411 A principal função do fígado no metabolismo das gorduras é esterificar os ácidos graxos em triglicerídios para exportálos para outros tecidos Os triglicerídios são empacotados junto com proteína carboidratos e colesterol no retículo endoplasmático rugoso do hepatócito na forma de lipoproteínas de muito baixa densidade VLDL very low density lipoproteins as quais contêm principalmente triglicerídios e lipoproteínas de alta densidade HDL high density lipoproteins as quais contêm principalmente fosfolipídio As VLDL e HDL são liberadas nos sinusoides hepáticos Quando as VLDL alcançam a circulação sistêmica são captadas pelo tecido adiposo ou as lipases endoteliais alteram sua composição removendo os triglicerídios e formando lipoproteínas de densidade intermediária IDL intermediary density lipoproteins e lipoproteínas de baixa densidade LDL low density lipoproteins que retornam por endocitose ao hepatócito no qual seus constituintes são catabolizados e reciclados Além de formar as lipoproteínas para exportação o fígado pode oxidar os ácidos graxos livres nas mitocôndrias para obtenção de energia Figura 411 Esquema do metabolismo das gorduras no fígado Os ácidos graxos que chegam ao fígado vêm do intestino ou do tecido adiposo No fígado parte é oxidada nas mitocôndrias para produção de energia e parte é sintetizada em triglicerídios no retículo endoplasmático Esses triglicerídios são acoplados a proteínas lipoproteínas que são acondicionadas no aparelho de Golgi e liberadas para os sinusoides Desenho do Dr Daniel Rissi Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS Grande quantidade de ácidos graxos e triglicerídios circulam continuamente pelo fígado A síntese e a liberação de VLDL são processos hepatocelulares dependentes de energia por isso lesão hepática que resulte em decréscimo na produção é frequentemente associada à deposição de gordura visível triglicerídios no citoplasma do hepatócito um processo conhecido como lipidose hepatocelular ver o item Alterações degenerativas Metabolismo dos carboidratos O fígado é responsável pela síntese armazenamento e liberação da glicose Monossacarídios absorvidos do trato gastrintestinal são levados pelo sangue portal até o fígado no qual a maioria da glicose é fosforilada em glicose6fosfato pela enzima hexoquinase O restante da glicose é liberado para a circulação sistêmica Outros monossacarídios frutose galactose são fosforilados e convertidos no fígado em glicose6fosfato A maioria da glicose6fosfato é convertida em glicogênio e armazenada e uma pequena porcentagem é oxidada para formar trifosfato de adenosina embora a principal fonte de trifosfato de adenosina no fígado seja a oxidação de aminoácidos e ácidos graxos Aproximadamente a metade da glicose do fígado entra na via do fosfogliconato para a produção de adenina dinucleotídio fosfato uma coenzima portadora de elétrons em várias reações necessária como um agente redutor na biossíntese de ácidos graxos e colesterol Glicocorticoides catecolaminas glucagon e hormônio tireoidiano aumentam a gliconeogênese a síntese de glicose a partir de precursores não carboidratos e glicogenólise no fígado enquanto a insulina inibe a gliconeogênese Neutralização de substâncias tóxicas O fígado processa uma série de reações enzimáticas que alteram a atividade e as propriedades físicas de vários compostos endógenos e exógenos um processo conhecido como biotransformação Substratos submetidos à biotransformação são geralmente hidrofóbicos e necessitam ser convertidos em compostos hidrossolúveis para serem eliminados do organismo pela bile ou pela urina Inicialmente fase 1 grupos polares são adicionados ao composto ou grupos polares preexistentes no composto são expostos por oxidação hidroxilação ou redução Na fase 2 o produto da fase 1 é conjugado a glicuronato ou sulfato Exemplos de substâncias endógenas biotransformadas no fígado incluem amônia bilirrubina e hormônios esteroides estrógenos cortisol aldosterona Além disso o processo de biotransformação hepática envolve substâncias exógenas como drogas terapêuticas toxinas de plantas inseticidas e mercaptanos A fase 1 da biotransformação ocorre primariamente em sistemas enzimáticos do retículo endoplasmático conhecidos como microssomos As enzimas desse sistema absorvem os raios de luz na amplitude de 450 nm e são por isso conhecidas como enzimas do sistema P450 As enzimas P450 são também referidas como oxidases de função mista Alguns substratos denominados indutores são capazes de saturar as enzimas envolvidas na biotransformação A indução e a saturação enzimáticas causam hipertrofia do retículo endoplasmático rugoso e aumento de todas as enzimas ali contidas a fim de acelerar a remoção do substrato Indutores não só aceleram a velocidade de sua própria remoção mas também aceleram a biotransformação de outras substâncias endógenas e exógenas Exemplos de indutores enzimáticos são barbitúricos fenilbutazona e hidrocarbonetos clorados Algumas substâncias podem inibir a atividade das oxidases de função mista prolongando o efeito de outros substratos Essas substâncias incluem cloranfenicol organofosforados morfina cimetidina e quinidina A biotransformação hepática resulta às vezes na formação de um metabólito tóxico a partir de compostos não tóxicos submetidos à biotransformação Exemplos incluem ácido acetilsalicílico halotano e o princípio ativo de certas plantas como Senecio spp Metabolismo das proteínas O fígado sintetiza cerca de 90 das proteínas plasmáticas e é o único local de síntese de albumina e fibrinogênio São ainda sintetizados no fígado outros fatores da coagulação e da fibrinólise fatores II V VII a XIII antitrombina 3 proteína C plasminogênio inibidor do ativador de plasminogênio α2antiplasmina α2macroglobulina e α1antitripsina proteínas de transporte haptoglobulina transferrina ceruloplasmina proteínas de transporte de hormônios e proteínas reagentes da fase aguda α e βglobulinas O fígado realiza ainda a transaminação isto é a transferência reversível de um grupo amina de um aminoácido para um αcetoácido um novo aminoácido e um novo cetoácido A desaminação dos aminoácidos é um passo necessário para que possam ser usados como energia ou convertidos em gordura ou carboidratos A maior parte da desaminação ocorre no fígado e a amônia é um subproduto dessa reação O fígado é responsável pela conversão de amônia livre em ureia a principal forma de excreção do grupo amina em mamíferos A ureia é formada pela condensação irreversível de duas moléculas de amônia com dióxido de carbono A reação ocorre na mitocôndria do hepatócito via ciclo de Krebs e a ureia neoformada é liberada do hepatócito para o sinusoide e transportada ao rim como nitrogênio ureico sanguíneo para excreção Função imune As células de Kupffer perfazem a maior parte do SFM Células do SFM são derivadas de progenitores mieloides da medula óssea realizam fagocitose e servem como células processadoras de antígeno para os linfócitos Células de Kupffer respondem à opsonina e sintetizam um vasto espectro de mediadores inflamatórios incluindo interleucinas fator de necrose tumoral e eicosanoides As células de Kupffer funcionam principalmente na fagocitose e são estrategicamente localizadas ao longo dos sinusoides ver Figura 48 nos quais participam da limpeza de antígenos do sangue portal antes que estes entrem em contato com o hepatócito As células de Kupffer também participam da limpeza do sangue que chega pela artéria hepática removendo produtos de degradação da fibrina ativadores do plasminogênio tecidual e outras partículas TUSVUVSBFGVOÎÍPEPQÉODSFBT O pâncreas é um órgão tubuloacinoso em forma de V Figura 412 localizado junto à porção cranial do duodeno Apresenta uma porção intermediária o corpo do pâncreas uma porção duodenal direita o lobo pancreático direito e uma porção esplênica o lobo pancreático esquerdo No equino o corpo do pâncreas envolve a veia porta como um todo e é designado anel pancreático O pâncreas é brancoróseo e sua superfície aparece lobulada porque sua cápsula é suficientemente delgada para possibilitar a visualização das estruturas subjacentes O pâncreas é um órgão com dupla função endócrina e exócrina A porção exócrina libera suas secreções no intestino por dois condutos o ducto pancreático e o ducto pancreático acessório cuja presença e importância variam entre as diferentes espécies O ducto pancreático é o único ducto presente em pequenos ruminantes e na maioria dos gatos está ausente em suínos e bovinos é o principal ducto em equinos e é secundário no cão espécie em que pode estar ausente O ducto pancreático acessório não ocorre em pequenos ruminantes é o único ducto em suínos e bovinos está ausente na maioria dos gatos é secundário no cão e é o principal ducto excretor do pâncreas de equinos O ducto pancreático acessório penetra o intestino na papila menor no duodeno descendente o ducto pancreático entra no duodeno cranial na papila duodenal principal junto com o ducto biliar ou imediatamente adjacente a ele Figura 412 Aspecto macroscópico normal do pâncreas de um cão O pâncreas é um órgão lobulado brancoróseo com forma aproximada de um V e localizado junto à porção cranial do duodeno Histologicamente o pâncreas é revestido por uma fina cápsula de tecido conjuntivo coberta por peritônio Septos de tecido conjuntivo partem da cápsula e dividem o parênquima exócrino do pâncreas em lóbulos Esses septos são extremamente delgados mas prontamente visíveis nas preparações histológicas pois aparecem distendidos por artefatos de fixação As principais estruturas prontamente visualizadas ao exame microscópico são os ácinos que compõem a porção exócrina os ductos que transportam a secreção exócrina e as ilhotas de Langerhans a porção endócrina do pâncreas Figura 413 A porção exócrina do pâncreas perfaz 80 a 85 do tecido pancreático e consiste em células secretórias organizadas em ácinos e conectadas a um sistema de ductos que leva seu produto de secreção até o intestino delgado Um ácino pancreático Figura 414 é formado por células piramidais com o núcleo localizado na base e com o ápice a porção de menor amplitude voltado para o centro do ácino O núcleo é cercado por um citoplasma basofílico rico em retículo endoplasmático rugoso o citoplasma entre o núcleo e o ápice das células contém grânulos de zimogênio eosinofílicos Dependendo da incidência do corte ocasionalmente podem ser percebidas células com o núcleo claro e o citoplasma fracamente eosinofílico localizadas no centro do ácino as denominadas centroacinares que formam o início do sistema ductal excretor do pâncreas exócrino os chamados ductos intercalados O sistema ductal do pâncreas exócrino iniciase com os ductos intercalados que se comunicam sucessivamente com os ductos intralobulares interlobulares e coletores Dependendo de seu diâmetro os ductos são revestidos por células epiteliais achatadas cuboides ou colunares Nos ductos maiores podemse observar células caliciformes entre as células colunares Figura 413 Aspecto histológico normal do pâncreas de um cão Vários ácinos a porção exócrina cercam uma ilhota de Langerhans IL a porção endócrina Septos S que delimitam o lóbulo pancreático e um ducto pancreático DP que conduz a secreção exócrina até o intestino podem ser observados A base das células acinares é basofílica Os grânulos eosinofílicos observados nas células acinares são de grânulos de secreção de zimogênio Figura 414 Esquema do ácino pancreático normal mostrando células piramidais azul com o núcleo localizado na base e com o ápice voltado para o centro do ácino O citoplasma é basofílico rico em retículo endoplasmático rugoso o citoplasma entre o núcleo e o ápice das células contém grânulos de zimogênio eosinofílicos As células claras no centro do ácino são as células centroacinares que formam o início do sistema ductal excretor do pâncreas exócrino os chamados ductos intercalados O sistema ductal do pâncreas exócrino iniciase com os ductos intercalados que se comunicam sucessivamente com os ductos intralobulares interlobulares e coletores Desenho do Dr Daniel Rissi Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS O pâncreas exócrino produz e secreta dois tipos de solução Uma delas consiste em enzimas secretadas pelas células acinares que digerem ou hidrolisam as proteínas gorduras e os carboidratos presentes no quimo A outra é secretada pelas células epiteliais dos ductos e consiste em uma solução concentrada de bicarbonato de sódio que serve para elevar o pH do quimo para o transporte pelo intestino delgado A maior parte das enzimas pancreáticas é secretada pelas células acinares na forma inativa o que impede a autólise das células pancreáticas pelas enzimas que elas próprias sintetizam Após entrarem no intestino delgado as enzimas são convertidas nas suas formas ativas As enzimas ribonuclease e desoxirribonuclease degradam respectivamente ácido ribonucleico RNA ribonucleic acid e ácido desoxirribonucleico DNA deoxyribonucleic acid em nucleotídios Enzimas proteolíticas incluem tripsina e quimotripsina secretadas respectivamente como os precursores inativos tripsinogênio e quimotripsinogênio e a carboxipeptidase que atua sobre peptídios Tripsina e quimotripsina fragmentam proteínas inteiras e carboxipeptidases fragmentam terminais aminoácidos Outras enzimas secretadas pelas células acinares do pâncreas incluem amilase pancreática converte o amido em maltose um dissacarídio maltase hidrolisa a maltose em glicose e lipase pancreática hidrolisa gorduras em ácidos graxos e glicerol ÍPMFTÜFT MFTÜFTTFNTJHOJåDBEPDMÓOJDPFBMUFSBÎÜFTpost mortem Não lesões são estruturas normais que por serem pouco conhecidas ou semelhantes a lesões são ocasionalmente interpretadas como tais Lesões sem significado clínico são as que não se traduzem em manifestações clínicas e portanto não podem ser associadas às causas da morte do animal Alterações post mortem resultam de processos autolíticos ou putrefativos que ocorrem após a morte ÍPMFTÜFT Corpúsculos de Pacini Denominados em homenagem ao seu descobridor o anatomista italiano Filippo Pacini corpúsculos de Pacini são mecanorreceptores localizados em vários órgãos que possam ser deformados pela pressão como pele tecido subcutâneo cápsula articular mesentério e parede da bexiga Esses corpúsculos são normalmente proeminentes no tecido conjuntivo interlobular do pâncreas e no mesentério de gatos e podem ser visualizados macroscopicamente como estruturas ovais bem definidas de 1 a 5 mm no maior diâmetro Figura 415 Ocasionalmente podem ser confundidos com cistos parasitários FTÜFTTFNTJHOJåDBEPDMÓOJDP Telangiectasia Telangiectasia é uma dilatação cavernosa dos sinusoides em áreas onde hepatócitos foram perdidos Macroscopicamente aparecem como áreas deprimidas vermelhas ou vermelhoazuladas arredondadas de contornos irregulares e distribuídas aleatoriamente pelo parênquima hepático tanto na superfície capsular Figura 416 A como no interior do parênquima Figura 416 B Podem variar de milímetros até alguns centímetros de diâmetro Histologicamente Figura 416 B há ectasia dos sinusoides e perda de hepatócitos a lesão é por vezes associada à fibrose focal Ocorre com frequência em bovinos espécie em que consiste provavelmente na lesão hepática mais comum e aparentemente sem significado clínico No entanto é uma causa frequente de condenação por motivos estéticos do fígado de bovinos em abatedouros em que a lesão é conhecida como angiomatose Nos EUA estimase que um pouco mais de 10 das condenações de fígado seja por telangiectasia o que resultaria na perda de 23 toneladas do produto por ano Dados parciais sugerem que no Brasil as perdas podem ser maiores em um estudo realizado em frigoríficos de Santa Catarina a telangiectasia foi a principal causa 23 de condenações de fígado Várias etiologias e patogêneses têm sido propostas para essa lesão em bovinos Um estudo sugere que uma alteração primária da barreira sinusoidal seja responsável pela deposição de componentes da matriz extracelular fibronectina laminina colágeno tipo IV na região perissinusoidal isso tornaria a troca de oxigênio e substratos entre sangue e hepatócitos mais difícil causando atrofia e ruptura das placas de hepatócitos Telangiectasia também sem significado clínico aparente ocorre no parênquima subcapsular do fígado de gatos velhos Figura 417 e pode ser confundida com tumores vasculares hemangiomas ou hemangiossarcomas Em cães no entanto peliose hepática tem sido associada à infecção por Bartonella henselae e considerada uma lesão significativa Figura 415 Corpúsculos de Pacini no pâncreas de gato A Essas estruturas são mecanorreceptores observadas macroscopicamente no pâncreas e no mesentério de gatos como estruturas ovais bem definidas de 1 a 5 mm no maior diâmetro B Corte histológico de um corpúsculo de Pacini mostrando o aspecto laminar característico semelhante à casca de cebola Figura 416 Telangiectasia no fígado de um bovino A Áreas deprimidas vermelhas ou vermelhoazuladas arredondadas de contornos irregulares aparecem distribuídas aleatoriamente pelo parênquima na superfície capsular do fígado B Áreas semelhantes podem ser observadas também na superfície de corte C No aspecto histológico observase acentuada ectasia dos sinusoides A telangiectasia bovina tem sido comparada a uma lesão semelhante que acomete humanos referida como peliose hepática Em humanos a lesão é frequentemente associada a doenças crônicas depauperantes a transplantes de rim e aos efeitos adversos de várias drogas e toxinas incluindo azatioprina estrógenos e andrógenos O termo peliose tem sido aplicado também às lesões de dilatação de sinusoides observadas principalmente no fígado e no baço de bovinos intoxicados por espécies de plantas do gênero Pimelea uma doença que ocorre na Austrália e é conhecida como doença de Saint George Na intoxicação por Pimelea spp no entanto as dilatações sinusoides ocorrem também em outros órgãos e são responsáveis por grave comprometimento circulatório com aumento de até 100 do volume sanguíneo circulatório por conta das dilatações vasculares Cistos biliares congênitos Cistos biliares congênitos são encontrados ocasionalmente como achado incidental no fígado de todas as espécies Podem ser solitários ou múltiplos Apresentam uma parede de tecido conjuntivo delgada são revestidos por epitélio do tipo biliar e contêm líquido claro razão pela qual são também referidos como cistos serosos Figura 418 A origem provável da maioria dessas alterações congênitas é o desenvolvimento anormal dos ductos biliares intrahepáticos Esses cistos congênitos devem ser diferenciados de cistos parasitários como cisto hidático e Cysticercus tenuicollis ver o item Doenças específicas Cistos múltiplos sem significado clínico ocorrem ocasionalmente no fígado de gatos suínos e cães e são considerados malformações do sistema biliar intrahepático São difíceis de distinguir de neoplasias císticas do sistema biliar Cistos congênitos são observados com maior frequência como achados incidentais em animais jovens o que sugere que tendem a desaparecer com a idade Figura 417 Telangiectasia no fígado de um gato As lesões consistem em manchas escuras e deprimidas logo abaixo da cápsula e podem ser confundidas com tumores vasculares Figura 418 Cistos serosos congênitos no fígado de um cão A lesão aparece como cistos multiloculados contendo líquido claro no lobo lateral esquerdo Esses cistos devem ser diferenciados de cistos parasitários e de neoplasias císticas do sistema biliar Cistos pancreáticos Cistos pancreáticos solitários ou múltiplos podem ser observados ocasionalmente em todas as espécies são provavelmente malformações congênitas de origem ductular Alternativamente a obstrução da drenagem ductular em animais adultos pode resultar em cistos sem significado clínico Nódulos de tecido pancreático ectópico Nódulos de tecido pancreático ectópico ocorrem ocasionalmente no duodeno estômago baço vesícula biliar e mesentério do cão e do gato Lipidose de tensão Lipidose de tensão Figura 419 identificase por áreas focais bem demarcadas pálidas ou amareladas de forma geométrica localizadas próximo às bordas do fígado ou em qualquer local do órgão onde existam ligamentos de tecido conjuntivo ou aderências fibrosas Essas áreas têm bordas retas e se estendem para o parênquima em uma profundidade semelhante à sua largura São comuns em equinos aparecem com menor frequência em bovinos e raramente em outras espécies Acreditase que a tensão exercida pelos ligamentos ou aderências sobre o fígado induza hipoxia local e degeneração hepatocelular Microscopicamente os hepatócitos da área focal pálida observada na macroscopia apresentam lipidose hepatocelular mas há manutenção da arquitetura lobular Figura 419 Fígado de bovino com lipidose de tensão A Aspecto da superfície capsular A área de lipidose de tensão LP é bem demarcada setas em relação à área normal B Aspecto da superfície de corte Manchas leitosas na cápsula hepática Manchas leitosas na cápsula hepática de suínos são áreas de cicatriz fibrosa deixadas pela migração de Ascaris suum Figura 420 as larvas ao migrarem pelo parênquima deixam trajetos de necrose tecidual que induzem inflamação e finalmente cicatrização O tecido fibroso espesso tem um aspecto macroscópico opaco e brancacento semelhante a uma mancha de leite Figura 420 Manchas leitosas na cápsula do fígado de um suíno Áreas focais brancas semelhantes a manchas de leite derramado sobre a cápsula hepática podem ser observadas Representam cicatrizes produzidas pela migração de Ascaris suum Fibrose capsular Fibrose capsular também ocorre na superfície diafragmática do fígado de equinos sob duas formas como placas grandes de tecido conjuntivo ocupando 20 cm ou mais da superfície do órgão ou como franjas finas e longas 1 a 5 mm de tecido conjuntivo aderidas à cápsula Figura 421 Essas lesões provavelmente resultam da cura com cicatriz de peritonites assépticas e têm sido também associadas à migração de larvas de Strongylus edentatus Fibrose capsular hepática pode ser observada ocasionalmente também em bovinos Figura 421 C Figura 421 Franjas e placas fibrosas no fígado e no diafragma A Numerosas franjas fibrosas são observadas na superfície diafragmática do fígado de um equino B Franjas semelhantes aparecem no diafragma C Placa fibrosa na cápsula hepática do fígado de um bovino Essas lesões provavelmente resultam da cura com cicatriz de peritonites assépticas Anomalias da vesícula biliar Anomalias da vesícula biliar como vesículas bi ou trilobadas e vesículas extremamente tortuosas ou inseridas no parênquima são achados de necropsia relativamente comuns em gatos e não associados a sinais clínicos Acentuação do padrão lobular Um grau moderado de acentuação do padrão reticular é observado frequentemente no fígado de gatos Figura 422 e equinos sem associação com lesões necróticas O exame histológico do fígado nesses casos revela apenas congestão centrolobular e discreta vacuolização lipidose dos hepatócitos Figura 422 Acentuação do padrão lobular no fígado de um gato Um grau moderado de acentuação do padrão reticular é observado na superfície capsular Não foram encontradas alterações histológicas além de uma quantidade levemente maior de sangue nos sinusoides da região centrolobular Figura 423 Hiperplasia nodular no fígado de um cão A O nódulo brancoamarelado saliente na cápsula hepática representa hiperplasia benigna de hepatócitos O nódulo é claro devido à lipidose dos hepatócitos hiperplásicos B Superfície de corte do nódulo hiperplásico mostrado em A Hiperplasia nodular benigna do fígado Hiperplasia nodular benigna do fígado consiste em nódulos de hepatócitos bem delimitados de tamanhos variáveis em geral múltiplos distribuídos aleatoriamente pelo parênquima hepático e que não interferem na função do órgão A lesão ocorre com alta frequência em cães e é rara em outras espécies embora tenha sido relatada em suínos A incidência da hiperplasia nodular está relacionada com a idade aparece em cães adultos 6 a 8 anos de idade e 70 a 100 dos cães com 14 anos apresentam essa lesão Não há evidências de que a hiperplasia nodular seja préneoplásica como não há necrose associada a ela acreditase que não tenha também caráter regenerativo Macroscopicamente nódulos hiperplásicos aparecem salientes na cápsula ou podem estar incluídos no parênquima hepático Figura 423 São em geral esféricos ou ovoides e não têm cápsula fibrosa definida que os delimite São pequenos 2 mm de diâmetro ou podem alcançar até 3 cm de diâmetro Em alguns casos os nódulos são amarelos em razão da deposição de gordura no citoplasma dos hepatócitos que formam a lesão do contrário podem ter cor normal ou dependendo da quantidade de sangue ser mais vermelhos que o parênquima circunjacente Ao exame histológico Figura 423 B os nódulos de hiperplasia hepática consistem em hepatócitos de aspecto normal ou vacuolizados lipidose aumentados de volume e dispostos em placas de uma a duas células de espessura A organização lobular é parcialmente mantida o que serve para diferenciar a hiperplasia nodular do adenoma hepatocelular Os nódulos da hiperplasia nodular não são associados à fibrose o que serve para distinguilos dos nódulos regenerativos associados à necrose hepática ver o item Resposta do fígado à agressão Hiperplasia nodular benigna do pâncreas Hiperplasia nodular benigna do pâncreas Figura 424 é muito comum em cães e gatos mais velhos como um achado incidental de necropsia e ocorre ocasionalmente no pâncreas de bovinos adultos A lesão consiste em nódulos claros e múltiplos de tamanhos variados salientes na cápsula e aprofundados no parênquima Não há sinais clínicos associados a essa lesão Histologicamente consistem em nódulos bem delimitados mas não encapsulados de células acinares bem diferenciadas Hiperplasia cística mucinosa da vesícula biliar Hiperplasia cística mucinosa da vesícula biliar é um achado incidental de necropsia em cães velhos idade média de 10 anos Macroscopicamente a mucosa encontrase espessada por múltiplos cistos Figura 425 e a bile está viscosa ou semissólida Histologicamente há hiperplasia cística da mucosa com glândulas preenchidas por muco Uma lesão incidental semelhante tem sido descrita em ovinos MUFSBÎÜFTpost mortem Alterações post mortem no fígado Alterações da cor ocorrem após a morte e são denominadas livores cadavéricos livor mortis antes de coagular o sangue se distribui pelo organismo sob a ação da gravidade ou da pressão dos órgãos gastrintestinais expandidos por gases produzidos pelas bactérias saprófitas A pressão exercida pelas costelas no fígado comprimido contra a caixa torácica pelas vísceras gastrintestinais distendidas deixa áreas paralelas mais pálidas na superfície hepática de onde o sangue foi expulso pela pressão Figura 426 A embebição por hemoglobina é a impregnação dos tecidos com esse pigmento sanguíneo que resulta da lise eritrocitária post mortem e que torna as áreas afetadas vermelhoescuras A pseudomelanose é uma alteração da cor dos tecidos em contato com os intestinos Essa alteração resulta da combinação do sulfeto de hidrogênio produzido por bactérias da putrefação no intestino com o ferro liberado de eritrócitos lisados O sulfeto de ferro é um pigmento que mancha os tecidos de azulacinzentado verde ou preto A pseudomelanose hepática ocorre como áreas pretas ou azulacinzentadas e é observada na face visceral devido ao contato com o intestino mas não na superfície diafragmática Figura 424 Hiperplasia nodular no pâncreas de um cão A lesão consiste em nódulos claros e múltiplos de tamanho variado e salientes na cápsula Figura 425 Hiperplasia cística mucinosa da vesícula biliar em um cão A mucosa da vesícula contém múltiplos cistos é um achado incidental de necropsia em cães velhos Figura 426 Marcas da pressão das costelas sobre o parênquima hepático de um cão As faixas amarelas e deprimidas na superfície hepática são marcas causadas pela pressão exercida pelas costelas no fígado comprimido contra a caixa torácica pelas vísceras gastrintestinais distendidas Coloração amarela ou esverdeada devida à embebição biliar ocorre nas porções do fígado e em outros tecidos adjacentes à vesícula biliar Figura 427 Focos marromclaros ou amarelos de 1 a 3 mm de diâmetro ocorrem no hilo hepático e consistem em áreas de autólise e putrefação por bactérias saprófitas vindas do intestino Com o tempo essas áreas coalescem em áreas maiores disseminamse pelo fígado e tornamse crepitantes enfisematosas e salientes devido à produção de gás pelas bactérias saprófitas Figura 428 Alterações post mortem no pâncreas Alterações post mortem no pâncreas ocorrem rapidamente a dissociação por autólise das células exócrinas pode ocorrer em 4 h após a morte Temperaturas elevadas animais com lã ou excessivo depósito adiposo subcutâneo e manuseio inadequado do órgão na necropsia causando ruptura das células acinares aceleram o processo de autólise A cor brancorósea do órgão tornase marromavermelhada escura embebição por hemoglobina ou esverdeada pseudomelanose à medida que a autólise progride Frequentemente há extravasamento post mortem de soro e eritrócitos para o interstício pancreático dando a falsa impressão de edema e hemorragia Figura 427 Embebição biliar post mortem em fígado de bovino Após a morte a bile extravasa da vesícula biliar e confere uma cor amarelada a partes do fígado e de outros tecidos adjacentes Figura 428 Enfisema hepático post mortem em fígado de cão O fígado está aumentado de volume e crepitante devido à produção de gás pelas bactérias saprófitas durante o processo de putrefação ÓHBEP OPNBMJBTEPEFTFOWPMWJNFOUP Cistos Cistos congênitos solitários ou múltiplos de pouca ou nenhuma importância clínica ocorrem em todas as espécies domésticas e foram discutidos anteriormente neste capítulo ver o item Lesões sem significado clínico Doença policística de origem hereditária caracterizada por múltiplos cistos no fígado e no rim ocorre em gatos principalmente Persas cães principalmente terriers Cairn e branco West Highland e cabras Animais afetados morrem em virtude de insuficiência hepática ou renal Fibrose hepática congênita associada a múltiplos cistos biliares é descrita como uma alteração hereditária autossômica recessiva em equinos da raça Freiberger suíça Derivações arterioportais Derivações arterioportais congênitas são comunicações diretas entre os ramos da artéria hepática e da veia porta com consequente mistura do sangue arterial de alta pressão com o sangue venoso isso resulta em hipertensão portal com formação de derivações portossistêmicas adquiridas ascite e outros sinais de insuficiência nos animais afetados São alterações pouco frequentes mas têm sido relatadas em cães e gatos Podem ocorrer em qualquer lugar no parênquima hepático e envolver um ou mais lobos Em alguns casos as derivações arterioportais podem ser observadas macroscopicamente como vasos dilatados tortuosos e pulsáteis sob a cápsula de um lobo hepático atrófico As alterações microscópicas incluem hiperplasia e anastomoses de arteríolas com vênulas e atrofia do parênquima hepático Os vasos envolvidos nas derivações arterioportais apresentam espessamento da íntima por deposição de elastina proliferação de células musculares lisas hiperplasia da camada média degeneração e mineralização da média de arteríolas e trombose dos ramos da veia porta Derivações portossistêmicas congênitas Derivações shunts portossistêmicas congênitas são canais vasculares que comunicam o sangue da circulação portal ou seus tributários com a circulação sistêmica cava ou alguma outra veia sistêmica desviando o sangue do fígado podem ser intra ou extrahepáticas Ao contrário das derivações portossistêmicas adquiridas que serão tratadas mais adiante as derivações congênitas são tipicamente constituídas de apenas um canal ou ocasionalmente dois que comunica as duas circulações Ocorrem em cães gatos e mais raramente em outras espécies e resultam em manifestações clínicas graves pois a exclusão do fígado no percurso do sangue impede as funções de neutralização de substâncias tóxicas Além disso fatores de crescimento hepático veiculados pelo sangue são desviados do fígado de animais afetados por derivações portossistêmicas congênitas resultando em hipotrofia hepática Animais afetados apresentam deficiência no desenvolvimento e distúrbios neurológicos ligados à encefalopatia hepática ver o item Síndromes clínicas de insuficiência hepática como depressão e convulsões Tipicamente não há ascite ou hipertensão portal Os níveis de amônia no sangue estão elevados e cristais de biurato de amônia podem ser eliminados na urina Figura 429 e observados sobre a mucosa das vias urinárias principalmente da bexiga Alterações histopatológicas incluem atrofia de hepatócitos e lóbulos hepáticos pequenos com tríades portais mais perto umas das outras Nos espaçosporta as arteríolas podem ser múltiplas e tortuosas e os ramos da veia porta estão colapsados sem sangue ou podem não ser visíveis Hipoplasia da veia porta Hipoplasia da veia porta é uma anomalia vascular congênita que ocorre em cães e ocasionalmente em gatos Nessa anomalia ramos intrahepáticos ou extrahepáticos estão pouco desenvolvidos ou ausentes e o fígado é pequeno As alterações histológicas lembram as encontradas nas derivações portossistêmicas congênitas e são caracterizadas por atrofia de hepatócitos reduplicação de arteríolas e ausência de veias ou veias pouco desenvolvidas no espaçoporta Ao contrário do que ocorre nas alterações portossistêmicas congênitas os casos de hipoplasia da veia porta são acompanhados de hipertensão portal e ascite razão pela qual essa condição é também referida como hipertensão portal não cirrótica MUFSBÎÜFTDJSDVMBUØSJBT Congestão Congestão aguda ou crônica do fígado está quase invariavelmente ligada à insuficiência cardíaca direita Adicionalmente congestão aguda ocorre em cães em casos de choque por diversas causas Nesses casos o fígado está tumefeito e escuro Figura 430 e deixa fluir grande quantidade de sangue na superfície de corte Microscopicamente os sinusoides aparecem ingurgitados de sangue e dilatados A uma insuficiência cardíaca direita aguda corresponderá uma lesão congestiva aguda no fígado Em casos em que a insuficiência cardíaca direita permanece por longo tempo alterações morfológicas características vão se sucedendo no fígado O sangue acumulase no centro do lóbulo devido ao impedimento do efluxo venoso por estase do sangue na circulação geral A estase centrolobular causa anoxia lipidose e atrofia hepatocelulares e subsequente perda dos hepatócitos do centro do lóbulo Eritrócitos ocupam os espaços deixados pela perda de hepatócitos formando um lago de sangue Essas alterações são observadas macroscopicamente como acentuação do padrão lobular por áreas vermelhas estase sanguínea centrolobular intercaladas com áreas mais claras de hepatócitos periportais mais ou menos íntegros Na congestão crônica a quantidade de tecido conjuntivo fibroso aumenta preenchendo os espaços deixados pelos hepatócitos perdidos O fígado assume um padrão reticular bem marcado devido ao contraste das zonas centrolobulares de congestão com perda de hepatócitos e fibrose que se alternam com zonas de parênquima periportal tumefeito composto de hepatócitos com lipidose As zonas centrolobulares estão também frequentemente deprimidas em razão da perda de hepatócitos e da fibrose Com o passar do tempo a fibrose centrolobular liga as veias centrolobulares umas às outras e às tríades portais fibrose cardíaca ou cirrose cardíaca Esse padrão reticular hepático é comparado à superfície de corte de uma nozmoscada e conhecido como fígado de nozmoscada Figura 431 O fígado parece aumentado de volume azulado e com cápsula espessa O padrão clássico de congestão crônica é particularmente marcado em ruminantes e equinos e é em geral acompanhado de ascite e derivações portossistêmicas em todas as espécies Em cães gatos e suínos as bordas dos lobos centrais do fígado tornamse arredondadas e há filtração de líquido por meio da cápsula do fígado como esse líquido é rico em fatores da coagulação tende a coagular formando aderências de fibrina entre os lobos hepáticos com o tempo há proliferação de tecido fibrovascular sobre essa película de fibrina formando placas fibrosas espessas Figura 432 Esse aspecto do fígado de insuficiência crônica do coração direito é bem característico para as três espécies Em cães o líquido ascítico na insuficiência cardíaca crônica é vermelho diluído transudato modificado ao contrário do líquido claro que ocorre na ascite resultante de lesão hepática primária crônica Figura 433 O aspecto do líquido ascítico é valioso para diferenciar lesões cardíacas primárias de lesões hepáticas primárias em casos de ascite em cães Em bovinos o líquido ascítico é claro tanto na insuficiência cardíaca como na insuficiência hepática Figura 429 Cristais de biurato de amônia na bexiga de cão portador de derivações portossistêmicas congênitas Nesses casos os níveis de amônia estão elevados no sangue e os cristais são eliminados na urina Figura 430 Fígado tumefeito e escuro de um gato que morreu após desenvolver choque hipovolêmico Este é um exemplo de congestão hepática passiva aguda A B C Figura 431 Fígado de nozmoscada em consequência de insuficiência cardíaca crônica A Aspecto macroscópico da superfície natural B Aspecto macroscópico espécime fixado em formol da superfície de corte C Aspecto histológico mostrando perda de hepatócitos fibrose e congestão centrolobulares Figura 432 Fígado em insuficiência cardíaca direita em cão A As bordas centrais estão arredondadas há placas fibrosas espessas na superfície capsular B Maior aproximação da lesão mostrada em A O padrão de nozmoscada pode ser imitado por algumas formas de necrose centrolobular tóxica mas o termo fígado de nozmoscada deve ser reservado para designar a lesão secundária à insuficiência cardíaca congestiva crônica do coração direito O espessamento da cápsula hepática por tecido fibroso e o aspecto arboriforme escuro e deprimido da lesão centrolobular ajudam no diagnóstico diferencial O reconhecimento da lesão de nozmoscada e o entendimento de que é uma lesão hepática secundária são importantes pois a lesão cardíaca primária deve ser investigada na necropsia Essas lesões cardíacas podem estar localizadas no endocárdio incluindo as valvas no miocárdio ou no pericárdio As causas mais comuns de insuficiência cardíaca congestiva e fígado de nozmoscada encontramse na Tabela 41 Figura 433 Aspectos diferenciais do líquido ascítico em cães A Punção do líquido ascítico em um cão com insuficiência cardíaca direita B Punção do líquido ascítico em um cão com cirrose Em cães o líquido ascítico em insuficiência cardíaca congestiva é vermelho diluído transudato modificado ao contrário do líquido claro que aparece em ascite resultante de lesão hepática primária crônica Hipertensão portal Hipertensão portal é um distúrbio circulatório caracterizado por pressão alta persistente na veia porta As principais causas de hipertensão portal estão associadas a impedimento do fluxo intrahepático do sangue como ocorre em casos de doença hepática crônica com fibrose perda da arquitetura lobular e formações de nódulos regenerativos cirrose Impedimento préhepático do fluxo portal pode também levar à hipertensão portal mas esses casos são menos comuns e incluem trombose da veia porta compressão da veia porta por tumores ou abscessos e hipoplasia congênita de segmentos da veia porta Impedimento póshepático do fluxo portal como ocorre na insuficiência cardíaca congestiva também pode resultar em hipertensão portal Causas de hipertensão portal póshepática incluem o comprometimento da circulação do sangue nos ramos principais da veia hepática ou no coração direito por exemplo por feocromocitomas e tumores de base do coração quimiodectomas A hipertensão portal persistente com frequência causa derivações portossistêmicas adquiridas ascite e esplenomegalia congestiva Tabela 41 Condições associadas à insuficiência cardíaca congestiva direita e fígado de nozmoscada em algumas espécies domésticas Espécie Condição Bovinos Pericardite restritiva traumática Endocardite valvar de tricúspide Fibrose do miocárdio induzida pela ingestão de Ateleia glazioviana Fibrose do miocárdio induzida pela ingestão de Tetrapterys multiglandulosa e T acutifolia Fibrose do miocárdio induzida pela intoxicação crônica por antibióticos ionóforos Linfossarcoma leucose bovina enzoótica no miocárdio Pneumonia intersticial cor pulmonale Trombose da veia cava caudal Defeitos congênitos do septo interventricular em bezerros Miocardite congênita por infecção in utero pelo vírus da diarreia bovina Cães Insu ciência valvar de tricúspide por endocardiose Cardiomiopatia primária principalmente cardiomiopatia dilatada Insu ciência valvar de tricúspide por endocardite Diro laríase Cardiopatias congênitas principalmente estenose de valva pulmonar Fibrose do miocárdio associada à terapia antineoplásica com doxorrubicina Miocardite em lhotes pela infecção por parvovírus canino tipo 2 Neoplasias quimiodectoma de base de coração hemangiossarcoma do átrio direito linfossarcoma do miocárdio Suínos Pericardite constritiva crônica Haemophilus parasuis Equinos Endocardite valvular de tricúspide Pneumonia intersticial Derivações portossistêmicas adquiridas Derivações shunts portossistêmicas adquiridas intra e extrahepáticas ocorrem devido à hipertensão portal secundária e a várias doenças hepáticas crônicas São comunicações entre o sangue portal e a circulação sistêmica O prejuízo funcional dessas comunicações decorre do fato de o sangue portal ser desviado dos hepatócitos comprometendo a neutralização de substâncias tóxicas pelo fígado Ao contrário das derivações congênitas que são únicas ou ocasionalmente duplas as derivações portossistêmicas adquiridas são múltiplas tortuosas e de aspecto varicoso Figura 434 Derivações adquiridas originamse de comunicações portossistêmicas preexistentes e não funcionais que se dilatam e se tornam funcionais em resposta à hipertensão portal Tendem a se desenvolver entre as veias mesentéricas e a veia cava caudal veia renal direita ou as veias gonadais Figura 434 Derivações portossistêmicas adquiridas em cão As derivações portossistêmicas adquiridas são múltiplas tortuosas e de aspecto varicoso Nesse caso são secundárias à hipertensão portal por cirrose hepática Infarto Infartos do fígado são pouco frequentes devido à dupla circulação veia porta e artéria hepática do sangue aferente Quando ocorrem os infartos localizamse na margem do órgão Geralmente são bem demarcados e hemorrágicos quando agudos e pálidos com o passar do tempo Histologicamente consistem em uma área de necrose de coagulação separada do parênquima normal por uma faixa de células inflamatórias e ocasionalmente hemorragia Áreas de necrose de coagulação descritas como infartos ocorrem no fígado de bovinos na hemoglobinúria bacilar e na intoxicação aguda por samambaia Figura 435 Há dúvidas no entanto se essas lesões são verdadeiros infartos por isquemia ou apenas necroses de coagulação induzidas por toxinas bacterianas Infarto venoso causado pela torção de todo o lobo lateral esquerdo ocorre ocasionalmente em cães MUFSBÎÜFTEFHFOFSBUJWBT Alterações da posição e ruptura Deslocamento do fígado no sentido cranial ocorre na maioria das espécies domésticas principalmente por aumento de volume do órgão como nos casos de congestão aguda e infiltração neoplásica Figura 436 Deslocamentos craniais do fígado ocorrem ainda relacionados com a hérnia diafragmática em todas as espécies mas com maior frequência em cães Figura 437 e gatos Nos casos de hérnia diafragmática um dos lobos hepáticos pode ficar encarcerado e a pressão do anel herniário sobre a raiz do lobo compromete o retorno venoso e causa congestão crônica de modo semelhante ao que ocorre na torção de lobo hepático Com o passar do tempo há necrose dos hepatócitos por anoxia perda de hepatócitos e fibrose O lobo afetado fica endurecido vermelhoescuro e opaco Figura 438 Em alguns casos pode haver ruptura do lobo afetado seguida de hemorragia e choque hipovolêmico Esporos de Clostridium spp preexistentes no lobo afetado podem germinar no tecido necrosado e resultar em putrefação em vida do tecido hepático comprometido que aparece vermelhoescuro seco e crepitante Deslocamento de lobo hepático ou de partes dele também ocorre embora mais raramente em bovinos como resultado de hérnia diafragmática Figura 439 O lobo tornase encarcerado com consequências circulatórias semelhantes às da insuficiência cardíaca congestiva fígado de nozmoscada Figura 435 Infarto no fígado de bovino em intoxicação por Pteridium aquilinum samambaia A Aspecto macroscópico mostrando área quadrangular de necrose bem demarcada por hemorragia B Aspecto histológico Uma área de necrose de coagulação é separada do parênquima normal por agregados de bactérias Figura 436 Deslocamento cranial do fígado de um canino devido ao aumento de volume do órgão por infiltração de células neoplásicas linfossarcoma Figura 437 Deslocamento cranial do fígado em um cão com hérnia diafragmática adquirida Alças intestinais e parte do fígado encontramse na cavidade torácica Figura 438 Congestão crônica do lobo lateral esquerdo do fígado de um cão com hérnia diafragmática A O lobo afetado está endurecido vermelhoescuro e opaco B Maior aproximação da lesão mostrada em A A torção do fígado ou de um lobo hepático é um evento pouco frequente em animais domésticos com exceção de coelhos Nessa espécie a torção hepática ocorre principalmente em consequência do manuseio do animal é comum em coelhos usados como animais de companhia e que são constantemente manuseados por crianças que brincam com o animal Figura 440 É também descrita no cão espécie em que o lobo lateral esquerdo é particularmente predisposto à torção por ser mais volumoso e bem destacado em relação aos outros lobos As consequências da torção do lobo hepático são semelhantes às descritas para o encarceramento do lobo na hérnia diafragmática Figura 439 Fibrose hepática em bovino devido ao encarceramento de hérnia diafragmática Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 440 Torção de lobo hepático de um coelho após manuseio excessivo do animal O lobo afetado mostra congestão aguda A ruptura hepática é frequente em cães vítimas de atropelamento por veículos automotores O fígado é frágil em relação ao seu grande volume e é particularmente suscetível às acelerações e pressões bruscas que ocorrem nos atropelamentos por carro Em um estudo das causas de morte de cães abrangendo 4844 necropsias de cães realizadas no laboratório do autor de 155 cães atropelados 32 266 apresentavam ruptura hepática O trauma por compressão do tórax durante manobras vigorosas de ressuscitamento é uma causa comum de ruptura hepática em pequenos animais e o traumatismo com fratura de costelas associado ao parto é causa ocasional de ruptura hepática em potros Condições que tornam o fígado maior e mais friável como lipidose p ex a hiperlipemia em pôneis congestão aguda e infiltrado neoplásico p ex linfossarcoma em cães predispõem à ruptura hepática A ruptura hepática pode ser observada na necropsia como uma grande laceração na cápsula hepática ou em um padrão linear pouco profundo entrecortandoa Figura 441 Se a hemorragia não for muito acentuada podem ocorrer coagulação do sangue sobre as linhas de ruptura e posterior fibrinólise do coágulo com reabsorção da parte líquida pelos linfáticos em um período de 1 a 2 dias Em casos de necropsia as linhas de ruptura podem não ser associadas à hemorragia esse é um caso em que a ausência de hemorragia não possibilita a conclusão de que se trata de uma ruptura post mortem como ocorre em rupturas de outros órgãos A ruptura das vias biliares provoca uma reação inflamatória asséptica do peritônio que fica manchado de bile uma condição designada peritonite biliar A ruptura hepática em si tem pouca influência sobre a função do fígado sua importância clínica está associada à quantidade e à velocidade da perda sanguínea A perda de grandes quantidades de sangue aproximadamente 30 da volemia em um curto espaço de tempo pode levar ao choque hipovolêmico frequentemente fatal Figura 441 Ruptura no fígado de um cão após atropelamento por automóvel A ruptura ocorreu em um padrão linear pouco profundo entrecortando a cápsula hepática Atro a Atrofia hepática ocorre por falta prolongada de nutrientes lesão nas vias biliares lesão vascular com comprometimento do fluxo sanguíneo da veia porta ou da artéria hepática com resultante falta de fatores tróficos ou por comprometimento do fluxo venoso secundário à pressão direta sobre o fígado por lesões que ocupam espaço dentro dele p ex amiloidose neoplasias ou em órgãos vizinhos Os mecanismos de produção da atrofia envolvem autofagocitose processo em que as organelas são sequestradas em autolisossomos formando corpúsculos residuais observados à microscopia de luz como lipofuscina e à macroscopia como uma coloração parda Fígados atróficos de vacas velhas de descarte ou bovinos desnutridos por alguma outra causa têm uma coloração mais escura devido à lipofuscina hepatocelular A atrofia pode ocorrer também por perda de células por apoptose com fragmentação celular e fagocitose dos fragmentos por células vizinhas O processo de autofagocitose predomina na atrofia hepática A fibrose difusa do trato biliar na fasciolose resulta preferencialmente em atrofia do lobo hepático esquerdo isso é explicado pela maior dificuldade da drenagem biliar desse lobo mais sujeito à gravidade A atrofia do lobo lateral direito é um evento comum em cavalos velhos Ao nascimento o lobo lateral direito do potro é o mais desenvolvido mas com o passar do tempo essa porção do fígado frequentemente sofre atrofia e é denominada appendix fibrosa hepatis Figura 442 Não há evidência de doença clínica associada à atrofia do lobo lateral direito em equinos embora essa condição tenha sido descrita em um equino de 22 anos de idade associada à colelitíase No entanto é geralmente aceito que a causa da atrofia do lobo lateral direito é a distensão da base do ceco e do cólon dorsal direito a qual resulta em compressão dos sinusoides hepáticos desse lobo que fica comprimido contra a superfície visceral do diafragma Histologicamente há poucos hepatócitos remanescentes em meio ao tecido conjuntivo fibroso recoberto por uma cápsula enrugada Figura 442 A Fígado normal de um cavalo B Atrofia do lobo lateral direito LD do fígado em cavalo velho Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Pigmentações FNPTTJEFSPTF Hemossiderose é o depósito excessivo de hemossiderina no organismo A hemossiderina é um pigmento marrom que tem 35 de seu peso em ferro férrico e que se acumula preferencialmente no citoplasma das células do sistema fagocítico mononuclear A hemossiderina corase de azul na coloração do azul da Prússia ferrocianeto de potássio o que possibilita que ele seja diferenciado de outros pigmentos como hematina lipofuscina e pigmentos biliares A hemossiderose difusa ocorre em todas as espécies domésticas e é geralmente associada à hemólise excessiva com reutilização do íon ferro Nos casos de hemossiderose hepática a deposição de hemossiderina não é em geral suficientemente grande para ser observada macroscopicamente Microscopicamente é observada no interior de células de Kupffer ou quando a pigmentação é extensa no citoplasma dos hepatócitos Anemias hemolíticas como as que ocorrem em tripanossomíase anemia infecciosa equina após transfusões de sangue e em doenças com eritropoese ineficaz Figura 443 resultam em hemossiderose hepática A ocorrência de hemossiderose é normal no fígado de recémnascidos quando a hemoglobina fetal está sendo substituída por hemoglobina adulta A hemossiderose localizada está geralmente associada a hemorragias ou congestão como é o caso das células da falha cardíaca na congestão pulmonar causada por insuficiência cardíaca congestiva esquerda Não há prejuízo da função do órgão afetado por hemossiderose portanto não há sinais clínicos associados à condição Figura 443 Hemossiderose no fígado em caso de eritropoese ineficaz em gato com mielose eritrêmica Coloração pelo azul da Prússia FNPDSPNBUPTF Hemocromatose é uma sobrecarga de ferro no organismo depositada na forma de hemossiderina em células parenquimatosas de diferentes órgãos e tecidos e associada a distúrbios morfológicos e funcionais do órgão afetado Os seguintes mecanismos têm sido propostos para a ação tóxica do ferro peroxidação lipídica por reações de radicais livres catalisadas pelo ferro reação de Fenton indução da síntese de colágeno e interações diretas entre o ferro e o DNA da célula levando a alterações letais Como o ferro livre é potencialmente tóxico mecanismos evolucionários resultaram na adaptação de proteínas específicas para a captação o transporte transferrina a utilização hemoglobina e o armazenamento ferritina do ferro A manutenção de quantidades normais de ferro no organismo é dada pelo equilíbrio entre a sua captação pelo intestino e a sua eliminação A regulação da captação é essencial uma vez que os mecanismos de excreção são limitados Hemocromatose é descrita com maior frequência em humanos mas tem sido observada em várias espécies animais incluindo espécies silvestres como aves rinocerontes antas e espécies domésticas como equinos ovinos e bovinos da raça Salers Duas formas de hemocromatose são reconhecidas a primária ou hereditária em que um defeito hereditário causa absorção excessiva de ferro e a secundária ou adquirida Em humanos a hemocromatose secundária pode se desenvolver como consequência de anemia e eritropoese ineficaz doença hepática p ex cirrose alcoólica múltiplas transfusões de sangue e na siderose do povo banto que ingere uma bebida com altas concentrações de ferro e parece ter uma predisposição genética para o acúmulo de ferro Em animais em cativeiro acreditase que dieta com baixa concentração de taninos favoreça a absorção e deposição crônica de ferro propiciando a hemocromatose Esses animais quando em liberdade ingeririam uma dieta rica em taninos que controlaria a absorção de ferro Hemocromatose semelhante à forma secundária de seres humanos é ocasionalmente observada em ovinos e bovinos que ingerem excesso de ferro associado à pastagem ou à água Animais com hemocromatose apresentam sinais de insuficiência hepática e lesões de cirrose hepática As lesões hepáticas de hemocromatose são caracterizadas como acentuada deposição hepatocelular de ferro marcada perda de hepatócitos fibrose em ponte regeneração micronodular e hiperplasia de ductos biliares Em bovinos da raça Salers a hemocromatose é causada por um defeito hereditário autossômico recessivo e é comparada à hemocromatose primária em humanos No entanto há diferenças Nos seres humanos além do fígado o acúmulo de ferro ocorre nos ácinos e nas ilhotas de Langerhans do pâncreas resultando em diabetes mellitus em 75 a 80 das pessoas afetadas Nos bovinos o depósito pancreático também ocorre mas é apenas nos ácinos e não se observa diabetes nem depósitos de ferro no miocárdio Outro achado na hemocromatose bovina que difere da doença em humanos é a mineralização dos ramos da veia porta O diagnóstico definitivo de hemocromatose requer a evidência de lesão e insuficiência hepática e a confirmação dos níveis excessivos de ferro pela biopsia hepática acima de 10000 ppm Índices altos de saturação de transferrina podem ser indicativos úteis no diagnóstico de hemocromatose mas casos dessa condição foram relatados em equinos sem que houvesse saturação do sistema de transporte sérico de ferro JMJSSVCJOB Excesso de bilirrubina ocorre no fígado em casos de colestase intra ou extrahepática ou em doenças hemolíticas e pode dar uma tonalidade alaranjada Figura 444 A ou esverdeada Figura 444 B ao fígado Microscopicamente um pigmento amarelo ou amareloesverdeado distende os canalículos hepáticos Figura 444 C 1JHNFOUBÎÍPQPSIFNBUJOB A hematina é um pigmento que também contém ferro ocorre por um artefato de fixação e deve ser distinguida da hemossiderina A hematina formase nos tecidos pela exposição da hemoglobina ao ácido fórmico durante a fixação de tecidos e consiste em cristais marrons geralmente extracelulares birrefringentes sob a luz polarizada Devido à sua associação com a hemoglobina ocorre principalmente em áreas de congestão e hemorragia Esse artefato é conhecido no jargão da histopatologia como pigmento de formol por resultar da fixação dos tecidos em formol não tamponado O patologista experiente dificilmente confundirá hematina com outros pigmentos que ocorrem no fígado Em contraste com o que ocorre com a hemossiderina a hematina não se cora pelo azul da Prússia porque o seu componente de ferro está na forma de ferro ferroso e esse método pode ser usado para a distinção entre os dois pigmentos A ocorrência de hematina nos tecidos é particularmente indesejável nas marcações imunohistoquímicas quando se usa um substrato marromescuro como diaminobenzidina DAB O uso de substrato de outra cor vermelha ou a aplicação de técnicas laboratoriais que retiram o pigmento de formol diminui esse contratempo FMBOPTFDPOHÐOJUB Embora indique alteração degenerativa o termo melanose é aplicado para designar acúmulos normais de melanina em vários órgãos incluindo o fígado Cordeiros e leitões de raças pigmentadas p ex Suffolk Duroc são mais frequentemente afetados pela melanose congênita hepática e o depósito ocorre como áreas pretoazuladas de 1 a 2 cm de diâmetro e contornos irregulares localizadas no tecido conjuntivo interlobular ou na cápsula Essas áreas tendem a desbotar e desaparecer com a idade Uma condição designada impropriamente como melanose adquirida é descrita em ovinos e menos frequentemente bovinos mantidos em áreas de pastagens pobres da Austrália Ilhas Malvinas e Escandinávia Na Noruega essa condição é descrita também inadequadamente como lipofuscinose hepática pois o pigmento em todos esses casos não é realmente melanina nem lipofuscina e parece ser derivado da dieta e sequestrado em lisossomos A condição não é associada a distúrbio na função hepática Macroscopicamente a cor do fígado pode variar de cinzaclara a preta Histologicamente o pigmento ocorre como grânulos nos lisossomos dos hepatócitos principalmente nos das zonas periportal e mediozonal O mesmo pigmento pode ser observado no epitélio tubular do rim e em macrófagos alveolares do pulmão A B C Figura 444 Fígado com pigmento de bilirrubina A Fígado de potro amarelado em consequência do excesso de bilirrubina em doença hemolítica leptospirose B Fígado verde devido ao excesso de bilirrubina em doença colestática Intoxicação em ovino por Bachiaria decumbens C Histopatologia do fígado de bovino com bilestase Os canalículos biliares estão distendidos por pigmento amarelado Intoxicação em bovino por Bachiaria sp Amiloidose Amiloidose hepática ocorre na maioria das espécies de animais domésticos Não é uma única doença mas um termo usado para vários distúrbios que causam a deposição de proteínas compostas de mantos de bainhas βplissadas de fibrilas não ramificadas Os fígados afetados estão aumentados de volume e pálidos Histologicamente o amiloide hepático aparece como um material eosinofílico amorfo geralmente depositado no espaço de Disse ao longo dos sinusoides mas também nas tríades portais e na parede dos vasos sanguíneos É observado como um material eosinofílico amorfo na coloração especial pelo vermelho Congo mas tornase verde birrefringente quando preparações coradas por essa técnica são examinadas ao microscópio de luz polarizada Na amiloidose primária as fibrilas de amiloide são referidas como amiloide de cadeia leve AL derivado das cadeias leves de imunoglobulinas produzidas por plasmócitos Amiloidose secundária ou reativa ocorre como uma consequência de inflamação prolongada como infecção ou destruição tecidual crônicas A amiloidose secundária é a mais comum em animais é associada a amiloide derivado da proteína SAA proteína associada a amiloide sérico produzida pelo fígado Esse tipo de amiloide AA pode ser diferenciado do amiloide do tipo AL pelo tratamento dos tecidos com permanganato de potássio O amiloide AA é sensível a esse tratamento e perde a afinidade pelo vermelho Congo Em cães e gatos formas familiares de amiloidose têm sido descritas Uma predisposição hereditária para amiloidose tem sido observada em gatos Abissínios e cães SharPei Casos esporádicos de amiloidose em famílias ou indivíduos aparentados têm sido observados em cães das raças Beagle Grey Collie English Foxhound e em gatos Siameses Inclusões intranucleares Inclusões intranucleares ocorrem em hepatócitos nas infecções por vírus em animais jovens por exemplo adenovírus canino 1 hepatite infecciosa canina vírus da pseudorraiva doença de Aujeszky em suínos herpesvírus equino 1 e herpesvírus canino 1 Essas inclusões são associadas à necrose hepatocelular multifocal aleatória com escassa resposta inflamatória Outros tipos de inclusões não associadas à infecção ocorrem no núcleo de hepatócitos As mais comuns são inclusões cristalinas eosinofílicas de contornos geométricos em geral retangulares observadas particularmente em cães adultos ou velhos Figura 445 São provavelmente de constituição proteica mas sua composição exata não foi ainda determinada Mesmo quando grandes não interferem na função da célula mas devem ser diferenciadas das inclusões associadas a agentes infecciosos que geralmente são associadas a lesões e das inclusões intranucleares que ocorrem na intoxicação por chumbo Estas últimas embora ocorram em hepatócitos são mais comuns no epitélio dos túbulos renais e são positivas na coloração de ZiehlNeelsen enquanto as inclusões cristalinas eosinofílicas são negativas Outro tipo de inclusão intranuclear comum em hepatócitos mais adequadamente referida como pseudoinclusão consiste em glóbulos eosinofílicos às vezes vazios revestidos por membrana Estes glóbulos representam invaginações da membrana celular com constituintes do citoplasma para o interior no núcleo Ocorrem com frequência em fígados com lesões crônicas principalmente na intoxicação por plantas que contenham alcaloides pirrolizidínicos Figura 446 na aflatoxicose e em células neoplásicas Essas inclusões quando observadas ao microscópio eletrônico revelam ser fragmentos de citoplasma contendo glicogênio e organelas envoltos por membrana nuclear Figura 445 Inclusões cristalinas eosinofílicas de contorno geométrico retangular no núcleo do hepatócito Essas inclusões são observadas particularmente em cães adultos ou velhos e não são associadas à doença Cortesia da Dra Raquel Rech University of Georgia Athens Georgia EUA Figura 446 Pseudoinclusão revestida de membrana seta no núcleo de um hepatócito em intoxicação por Senecio brasiliensis em equino Carioteca cabeça de seta Tratase de invaginação de porções de citoplasma no núcleo do hepatócito Macrófagos espumosos Aglomerados de macrófagos com citoplasma espumoso Figura 447 os quais por vezes fundemse em células gigantes multinucleadas ocorrem com distribuição aleatória no parênquima hepático de bovinos clinicamente normais mantidos em pastagens de Brachiaria decumbens e B brizantha O material armazenado no citoplasma desses macrófagos espumosos é negativo nas colorações de ácido periódicoSchiff PAS periodic acidSchiff e Oil red O e corase fracamente de azul na coloração do azul da Prússia À microscopia eletrônica estruturas em forma de fendas com imagem negativa aparecem nesses macrófagos e em hepatócitos vizinhos Figura 448 Achados semelhantes ocorrem nos linfonodos hepáticos e mesentéricos e por vezes no baço Embora os bovinos com essa lesão não apresentem sinais clínicos lesões semelhantes têm sido descritas associadas à colangiopatia em casos de fotossensibilização por Panicum coloratum e por Brachiaria decumbens É provável que a lesão em todos os casos tenha a mesma etiopatogênese e que a ausência de sinais clínicos represente menor intensidade das lesões hepáticas Figura 447 No lado direito da foto observase um acúmulo de macrófagos espumosos alguns multinucleados entre os hepatócitos Esses acúmulos de macrófagos são comuns no fígado de bovinos com intoxicação por Bachiaria spp Figura 448 Fotomicrografia eletrônica de transmissão de macrófago hepático com acúmulos de numerosas imagens negativas de cristais aciculares no citoplasma Essas alterações correspondem aos macrófagos espumosos observados na histopatologia do fígado na Figura 447 Acetato de uranilacitrato de chumbo Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Degeneração vacuolar Espaços vazios vacúolos ocorrem no citoplasma dos hepatócitos e podem ou não significar alterações degenerativas O material anteriormente existente nesses vacúolos é perdido durante o processamento do tecido hepático para exame histológico Enquanto a natureza do material que ocupava os vacúolos não é determinada é comum usar os termos inespecíficos degeneração vacuolar ou hepatopatia vacuolar para designar a condição Em geral as degenerações vacuolares do hepatócito englobam três tipos degeneração hidrópica glicogenose e lipidose FHFOFSBÎÍPIJESØQJDB A degeneração hidrópica é uma lesão aguda do hepatócito precedida de tumefação e seguida de formação de vacúolos de bordas indistintas na célula Figura 449 essa alteração pode provocar tumefação acentuada e danos mais graves ao hepatócito e nessas situações a alteração é por vezes denominada degeneração balonosa A degeneração hidrópica e suas variantes resultam de agressões tóxicas metabólicas e hipóxicas que levam à insuficiência na bomba de sódio e potássio da membrana celular O influxo de água e sódio resultante expande os compartimentos membranosos das organelas como mitocôndrias lisossomos e retículo endoplasmático Um tipo especial de degeneração hidrópica a degeneração plumosa ocorre no citoplasma de hepatócitos de uma área submetida à colestase crônica Nessa condição material biliar retido dá um aspecto espumoso difuso e meio amarelado ao citoplasma Figura 450 Figura 449 A degeneração hidrópica hepatocelular caracterizase por formação de vacúolos intracitoplasmáticos e por vezes intranucleares de bordas indistintas no citoplasma Figura 450 Degeneração plumosa um tipo especial de degeneração hidrópica observada na área do fígado de um gato submetido à colestase crônica Nessa condição o material biliar retido dá um aspecto espumoso difuso e meio amarelado ao citoplasma DÞNVMPEFHMJDPHÐOJP O acúmulo de glicogênio no citoplasma do hepatócito é mais bem exemplificado por uma condição em cães conhecida como hepatopatia glicocorticoide Figura 451 também referida como hepatopatia induzida por esteroide ou glicogenose hepática Nessa condição o acúmulo de glicogênio resulta de hiperadrenocorticismo causado por tumores funcionais do córtex adrenal ou da pituitária ou de terapia com glicocorticoides Macroscopicamente o fígado está aumentado de volume e marrompálido Os hepatócitos estão tumefeitos e o citoplasma apresenta vacúolos de tamanhos variáveis que podem aumentar várias vezes o tamanho da célula e deslocar o núcleo perifericamente A alteração celular na hepatopatia glicocorticoide deve ser diferenciada da alteração que ocorre no citoplasma do hepatócito na lipidose hepática nesta última os vacúolos lipídicos são esféricos e bem definidos enquanto as margens dos vacúolos na hepatopatia glicocorticoide são mal definidas Além do acúmulo de glicogênio há degeneração hidrópica do citoplasma do hepatócito A patogênese dessa condição é incerta uma vez que o depósito de glicogênio por si só não explica o influxo de líquido para o interior da célula têm sido sugeridas possíveis perturbações nos canais de íons hepatocelulares e aquaporinas O conteúdo de glicogênio pode ser demonstrado pela fixação do fígado em álcool seguida da coloração pelo PAS Figura 451 Hepatopatia glicocorticoide no fígado de um cão portador de carcinoma de córtex adrenal e hiperadrenocorticismo Os hepatócitos estão tumefeitos e o citoplasma apresenta vacúolos de tamanhos variáveis que podem aumentar várias vezes o tamanho da célula e deslocar o núcleo perifericamente JQJEPTFIFQÈUJDB Lipidose hepática degeneração gordurosa ou esteatose são termos usados para descrever acúmulo visível de triglicerídios na forma de glóbulos redondos de tamanhos variáveis no citoplasma de hepatócitos Nas preparações rotineiras esses glóbulos aparecem como vacúolos espaços vazios no citoplasma da célula Figura 452 A e o conteúdo do vacúolo pode ser confirmado como gordura por colorações especiais p ex Sudão IV e Oil red O ou pela microscopia eletrônica Figura 452 B Lipidose ocorre principalmente no fígado que é o principal órgão envolvido no metabolismo das gorduras mas pode também ocorrer no coração músculo estriado rim e adrenais A lipidose hepática pode ser induzida por hepatotoxinas que alteram as funções mitocondriais e microssomais por anoxia ou hipoxia que inibe a oxidação de gorduras e por desnutrição aumenta a mobilização de ácidos graxos dos tecidos periféricos e seu aporte no fígado Figura 452 A Lipidose hepática histopatologia Nas preparações rotineiras o espaço antes preenchido por gordura no citoplasma aparece como um vacúolo espaço vazio no citoplasma do hepatócito B Fotomicrografia eletrônica de transmissão mostrando o núcleo de um hepatócito comprimido por duas gotas intracitoplasmáticas de gordura em intoxicação por Senecio brasiliensis em equinos Os ácidos graxos livres oriundos do tecido adiposo ou provenientes da alimentação são normalmente transportados para os hepatócitos Lá são esterificados em triglicerídios convertidos em colesterol ou fosfolipídios ou oxidados em corpos cetônicos A liberação dos triglicerídios dos hepatócitos requer sua associação com proteínas lipoproteínas O acúmulo excessivo de triglicerídios no fígado pode resultar de defeitos em qualquer um dos eventos da sequência entre a entrada dos ácidos graxos e a saída das lipoproteínas O significado da degeneração gordurosa depende da causa e da gravidade do acúmulo de triglicerídios Quando é leve pode não causar defeito na função celular Uma degeneração gordurosa mais grave pode causar insuficiência hepática O aspecto microscópico dos glóbulos de triglicerídios nos hepatócitos varia desde pequenas e diminutas gotículas que não deslocam o núcleo do hepatócito e formam a apresentação conhecida como lipidose hepática microvacuolar até gotas de gordura maiores que deslocam o núcleo para a periferia formando a apresentação conhecida como lipidose hepática macrovacuolar Lipidose aguda com predominância de acúmulo microvesicular tende a resultar em um fígado discretamente aumentado de volume sem muita alteração na textura Em algumas lesões tóxicas mais crônicas ocorre lipidose hepática macrovacuolar nesses casos os fígados tendem a ser mais amarelos e mais volumosos e a ter uma textura mais friável Em geral cada hepatócito contém um grande vacúolo que desloca o núcleo para a periferia e os sinusoides são comprimidos de modo que quando observado em aumento menor o aspecto do tecido hepático lembra o do tecido adiposo A degeneração gordurosa pode ter uma disposição zonal se estiver restrita ao centro ou à periferia do lóbulo e intercalada por tecido hepático normal ou congesto Na forma difusa grave o fígado está volumoso e amarelado e fragmentos dele podem flutuar na água ou no fixador A lipidose hepática é em geral reversível embora um fígado que tenha degeneração gordurosa por algum tempo tenda a apresentar fibrose acúmulo de pigmento e hiperplasia nodular Algumas alterações crônicas comumente observadas no fígado de cães velhos podem ser associadas à degeneração gordurosa e incluem lipogranulomas cistos de gordura acúmulo de ceroide e raramente fibrose local com mineralização ou acúmulos de colesterol FUPTFCPWJOB O aumento da mobilização de triglicerídios durante as fases finais de gestação ou durante intensa lactação em ruminantes causa deposição de triglicerídios nos hepatócitos e é considerado um evento normal lipidose hepática fisiológica Porém algumas vacas leiteiras altamente produtoras quando privadas de alimento podem desenvolver uma forma grave de cetose clínica com acidose metabólica Figura 453 A A cetose acetonemia aguda de vacas leiteiras em lactação com pouca alimentação ou alimentação insuficiente secundária a deslocamento de abomaso é geralmente associada à lipidose hepática com um padrão predominantemente microvacuolar difuso A condição pode também ocorrer em vacas de corte gestantes e pode ser uma situação individual ou de rebanho Podem ocorrer sinais neurológicos os bovinos ficam nervosos excitáveis incoordenados e ocasionalmente cegos Os sinais progridem para decúbito coma e morte Acreditase que a patogênese inclua superalimentação que resulta em deposição de gordura nos estoques do organismo e uma privação súbita de energia Condições que ocorrem na lactação ou no final da gestação p ex equilíbrio negativo de energia hipoglicemia altas concentrações de hormônios lipolíticos e outros fatores não bem entendidos estimulam a mobilização de gordura dos depósitos orgânicos o que resulta em aumento do aporte de ácidos graxos no fígado Lesões de degeneração gordurosa no rim são frequentemente associadas a essa condição Figura 453 B Figura 453 Cetose bovina A O fígado está difusamente amarelado devido à deposição de triglicerídios no citoplasma do hepatócito B Nessa condição frequentemente o rim também é afetado por lipidose das células dos túbulos renais e macroscopicamente aparece marromamarelado 5PYFNJBEBQSFOIF A toxemia da prenhez em ovelhas é uma condição semelhante porém com maior taxa de mortalidade Os fatores de risco para ovelhas que desenvolvem a condição incluem fase final da gestação obesidade ou gestação de fetos múltiplos ou únicos mas grandes Essa condição afeta principalmente ovelhas criadas intensivamente e pode ser associada a quedas súbitas na alimentação e condições climáticas inclementes quando os animais estressados pela intempérie não se alimentam Pode ocorrer como um problema de rebanho com muitos animais afetados por várias semanas Os sinais clínicos incluem distúrbios neurológicos semelhantes aos da cetose dos bovinos e provavelmente produzidos por encefalopatia hipoglicêmica Há cegueira e alterações no comportamento Os ovinos pressionam a cabeça contra objetos andam em círculos ou permanecem parados com um olhar perdido Tremores e convulsões podem ocorrer entremeados por períodos de depressão incoordenação e ataxia Outros sinais incluem constipação intestinal bruxismo e hálito cetônico Nas fases terminais as ovelhas entram em decúbito e tornamse comatosas morrendo em 4 a 7 dias após o início dos sinais clínicos Pode ocorrer distocia com morte fetal nesses casos a morte pode ocorrer por toxemia resultante da decomposição dos fetos Um período de anorexia ou fome por 1 a 2 dias é o fator precipitante e pode ser precedido por uma queda gradual no plano de nutrição durante a prenhez A anorexia e a fome resultam em hipoglicemia e hiperacetonemia semelhantes à cetose bovina o decréscimo no consumo de alimento é acompanhado por uma perda elevada de glicose devido às exigências de um feto muito grande ou de fetos múltiplos Em vacas a lipidose hepática é predominantemente periacinar ao passo que é mais acentuada na zona periportal de ovelhas com toxemia da prenhez JQFSMJQJEFNJBFRVJOB A hiperlipidemia equina é um distúrbio do metabolismo dos lipídios primariamente de pôneis principalmente da raça Shetland mas ocorre também com alguma frequência em cavalos das raças miniaturas Éguas no fim da gestação ou início da lactação são mais frequentemente afetadas que garanhões ou machos castrados Animais bem nutridos ou obesos parecem ser predispostos à doença Muitos equídeos com hiperlipidemia apresentam um histórico de estresse recente p ex transporte clima inclemente alterações na dieta Os sinais clínicos incluem inapetência letargia relutância em moverse incoordenação e fraqueza Dor abdominal intermitente e motilidade intestinal e produção de fezes diminuídas são achados comuns Diarreia desenvolvese nas fases finais e a maioria dos equinos afetados apresenta sinais neurológicos A morte sobrevém em até 10 dias após o aparecimento dos sinais clínicos Outros sinais clínicos incluem pirexia taquipneia icterícia membranas mucosas congestas e edema subcutâneo ventral Uma doença intercorrente foi identificada em apenas um terço dos casos de hiperlipidemia Exemplos de tais doenças incluem parasitismo intestinal e outros distúrbios gastrintestinais hiperadrenocorticismo laminite e metrite Na hiperlipidemia a lipólise do tecido adiposo é induzida pela ativação da lipase hormônioresponsiva durante períodos de equilíbrio negativo de energia ou em períodos de estresse O diagnóstico é feito por meio de vários parâmetros As concentrações de triglicerídios plasmáticos geralmente são superiores a 400 mgdl o plasma de equídeos acentuadamente afetados está lipêmico com uma aparência leitosa Outros achados bioquímicos do soro incluem hipoglicemia acidose metabólica evidência de insuficiência hepática p ex aumento das atividades das enzimas séricas hiperbilirrubinemia hiperamonemia prolongamento do tempo de protrombina e azotemia Lesões de necropsia incluem lipidose acentuada no fígado e em graus variáveis em miocárdio músculos esqueléticos rim e córtex adrenal Casos de ruptura hepática em razão da lipidose são descritos Alterações histopatológicas incluem lipidose hepática ocasionalmente necrose hepatocelular focal e evidências de coagulação intravascular disseminada CID caracterizadas por hemorragias das serosas e trombos microscópicos em vários órgãos e infartos no miocárdio e rins Pequenos êmbolos lipídicos ocorrem no pulmão miocárdio e cérebro e podem ser detectados em cortes de congelação corados por Sudão IV mas seu significado no desenvolvimento da doença é incerto JQJEPTFIFQÈUJDBGFMJOB A lipidose hepática felina ocorre principalmente em fêmeas obesas estressadas nutricionalmente Os sinais clínicos incluem vômito anorexia fraqueza perda de peso icterícia Figura 454 A e hepatomegalia Figura 454 B Ocorre encefalopatia hepática com sinais neurológicos caracterizados por alteração do comportamento salivação e depressão Há hiperbilirrubinemia e elevação na atividade sérica da fosfatase alcalina A mortalidade é alta mas a maioria dos animais reage bem ao tratamento adequado O fígado apresenta lipidose hepática microvesicular ou macrovesicular difusa em mais de 50 dos hepatócitos e pigmento biliar nos canalículos e nas células de Kupffer A patogênese da lipidose hepática é multifatorial e não esclarecida completamente no entanto provavelmente envolve o aumento da mobilização e da captação pelo fígado de ácidos graxos não esterificados alterações na formação e liberação de VLDL e comprometimento da oxidação de ácidos graxos nos hepatócitos Lipidose hepática grave pode também ocorrer em gatos como manifestação secundária a diabetes mellitus Figura 454 C pancreatite aguda e inflamações como colangioepatites nefrite enterites neoplasia e hipertireoidismo Diabetes mellitus A lipidose hepática do diabetes mellitus ocorre por deficiência de insulina ou de seus receptores e ocorre com maior frequência em cães e gatos A resultante falta de captação celular de glicose incrementa a lipólise das reservas adiposas e provoca um excessivo aporte de ácidos graxos o qual sobrecarrega o fígado Alguns casos em cães e gatos são complicados por insuficiência hepática concorrente e o diabetes pode ser complicado por hipoproteinemia No início a distribuição zonal da lipidose por diabetes é centrolobular mas em casos avançados tornase difusa Figura 454 C A B C Figura 454 Degeneração gordurosa hepática A Icterícia em lipidose hepática felina B Aspecto macroscópico do fígado em lipidose hepática felina O fígado está amarelado e aumentado de volume C Degeneração gordurosa hepática em gato com diabetes BVTBTIJQØYJDBTFBOØYJDBTEFMJQJEPTFIFQÈUJDB A síntese e o transporte de lipoproteínas dependem do metabolismo oxidativo Assim a hipoxia leva à acumulação de triglicerídios no citoplasma de hepatócitos Causas comuns de hipoxia hepatocelular são anemia e congestão venosa passiva A hipoxia é também provavelmente a causa da lipidose hepática focal conhecida como lipidose de tensão e explicada com mais detalhes em Lesões sem significado clínico neste capítulo JQJEPTFIFQÈUJDBBTTPDJBEBBJOUPYJDBÎÜFT Há vários estágios no ciclo do metabolismo dos lipídios hepáticos que podem ser afetados por várias toxinas que produzem degeneração gordurosa hepática A maioria das toxinas que causam lipidose em situações espontâneas produz também necrose hepatocelular elas serão discutidas em tópico apropriado deste capítulo No entanto é oportuno frisar que a ocorrência de lipidose hepática requer tempo e é mais provável que ocorra em toxicoses com cursos clínicos prolongados em que exista um equilíbrio negativo de energia Além disso são necessárias reservas consideráveis de gordura pois se as reservas de tecido adiposo são exauridas haverá menos lipídio disponível para se acumular no fígado JQPEJTUSPåBIFQÈUJDB Bezerros Galloway afetados por uma condição de etiologia indeterminada conhecida como lipodistrofia hepática desenvolvem letargia tremores e opistótono Os bezerros geralmente não sobrevivem até os 5 meses de idade Lesões macroscópicas incluem fígados aumentados de volume pálidos e moteados Ao exame microscópico há acentuada lipidose hepática fibrose portal e hiperplasia de ductos biliares Degeneração esponjosa encefalopatia hepática ocorre na substância branca do encéfalo JQFSMJQPQSPUFJOFNJBTJEJPQÈUJDBTPVHFOÏUJDBT Essas condições são descritas associadas à lipidose hepática em cães e gatos Uma deficiência congênita e hereditária de lipase de lipoproteína de provável origem autossômica recessiva foi descrita em gatos e é conhecida como hiperlipoproteinemia familiar A condição é caracterizada por acúmulo de lipídio e ceroide no fígado baço linfonodos rim e adrenais xantomas multifocais e alterações degenerativas focais em artérias Em cães Schnauzer miniatura é relatada uma condição semelhante embora sem que o defeito metabólico tenha sido determinado por isso a condição é denominada hiperlipoproteinemia idiopática Cães afetados acumulam glicogênio e triglicerídios no citoplasma dos hepatócitos o que resulta em perda de hepatócitos colapso do estroma e formação de nódulos regenerativos FåDJÐODJBTOVUSJDJPOBJT Embora a lipidose hepática seja mais frequentemente associada a distúrbios no metabolismo de energia algumas deficiências nutricionais específicas produzem essa condição A deficiência de cobalto e vitamina B12 de ocorrência espontânea é descrita em ovinos e ocasionalmente em cabras como doença do fígado branco de ovinos Embora essa doença não tenha sido descrita no Brasil tem certa importância na Austrália no Reino Unido e na Europa continental Ovinos afetados apresentam baixas concentrações de cobalto nos tecidos e de vitamina B12 no plasma e respondem bem ao tratamento com essas duas substâncias Na necropsia o fígado está aumentado de volume e branco Histologicamente nos estágios iniciais a lipidose hepática é centrolobular mas tornase difusa e associada ao pigmento ceroide em hepatócitos e macrófagos Há também dissociação e necrose de hepatócitos e proliferação de dúctulos biliares o epitélio dos dúctulos menores nas tríades portais é displásico Degeneração esponjosa encefalopatia hepática na substância branca do encéfalo ocorre como consequência de hiperamonemia PFOÎBTEFEFQØTJUPMJTPTTPNBM Como em outros tecidos a deficiência hereditária de enzimas lisossômicas específicas ocasiona depósitos no citoplasma de hepatócitos de substratos normalmente catabolizados pela enzima deficiente ou ausente Esses depósitos lisossomais podem não ser muito óbvios no fígado e é pouco provável que causem insuficiência hepática Doenças de depósito lisossomal de origem genética com reflexo no fígado incluem em gatos as deficiências de beta1galactosidase gangliosidose GM1 e αmanosidose e a deficiência de alfaLiduronidase mucopolissacaridose tipo I em cães A inibição tóxica das hidrolases dos lisossomos pode causar doenças de depósito lisossomal adquiridas Exemplo disso é a intoxicação por Sida carpinifolia em caprinos ovinos e bovinos Necrose hepatocelular 5JQPTEFOFDSPTFIFQBUPDFMVMBS A morte de hepatócitos independentemente do insulto manifestase sob três tipos principais necrose apoptose e morte de células individuais Apoptose é uma forma de morte celular programada que possibilita a remoção dos detritos celulares em geral sem vazamento de enzimas ou inflamação Pode ser iniciada por eventos extrínsecos via receptores de morte na superfície celular e intrínsecos por dano de DNA ou mitocondrial Manifestações morfológicas de necrose hepatocelular incluem necrose coagulativa Figura 455 e necrose lítica Figura 456 O primeiro tipo ocorre quando lesões geralmente tóxicas ou hipóxicas súbitas e intensas afetam os hepatócitos que se apresentam mumificados com citoplasma vermelho e encolhido mas mantêm a arquitetura celular geral embora o núcleo esteja picnótico ou fragmentado Na necrose coagulativa há desnaturação coagulação das proteínas citoplasmáticas o que impede que as enzimas lisossomais liquefaçam os componentes citoplasmáticos dos hepatócitos Na necrose lítica os hepatócitos estão desintegrados observamse apenas fragmentos e detritos celulares na área necrosada que pode estar infiltrada por células inflamatórias principalmente neutrófilos polimorfonucleares É provável que a necrose seja originada por um insulto menos intenso e que a célula passe pelas fases de tumefação e degeneração balonosa antes de morrer Figura 455 Necrose hepatocelular de coagulação de hepatócitos centrolobulares em anemia hemolítica em bovino com anaplasmose Os hepatócitos do centro do lóbulo estão com citoplasma vermelho e um pouco encolhido mas mantêm a arquitetura celular geral embora o núcleo esteja picnótico em cariorrexia ou ausente Figura 456 Necrose hepatocelular lítica à esquerda fígado normal à direita Na área de necrose os hepatócitos estão desintegrados e se observam apenas fragmentos detritos celulares e células inflamatórias Os hepatócitos morrem por vezes de maneira pontual ou aleatória em uma forma de morte celular referida como morte de células individuais Nessa manifestação morfológica de morte celular os hepatócitos não se fragmentam mas se desprendem e se tornam uma célula atrófica e eosinofílica Os chamados corpúsculos de Councilman são um exemplo clássico desse processo Figura 457 Esses corpúsculos são grandes inclusões eosinofílicas associadas à atrofia e têm sido referidos também citossegrossomos e corpos acidofílicos São estruturas esféricas retráteis e eosinofílicas em que se transformaram hepatócitos que sofreram agressão subletal por vários insultos incluindo hipoxia intoxicações deficiências nutricionais e algumas infecções virais corpúsculos de Councilman foram descritos originalmente na febre amarela É importante observar que os hepatócitos durante a autólise podem se embeber de plasma o qual forma inclusões semelhantes mas menos eosinofílicas e não envoltas por membranas Figura 457 Corpúsculo de Councilman em fígado de bovino em intoxicação por Senecio spp O corpúsculo é o glóbulo eosinofílico grande que aparece sequestrado no citoplasma de um hepatomegalócito 1BESÜFTEFEJTUSJCVJÎÍPEBOFDSPTFIFQBUPDFMVMBS A maneira como as áreas de necrose distribuemse no parênquima hepático pode na maioria das vezes ser percebida macroscopicamente e sua interpretação tem importância prática pois propicia a redução das possibilidades diagnósticas isto é cada padrão é mais ou menos específico de um grupo de agentes etiológicos FDSPTFIFQBUPDFMVMBSBMFBUØSJBGPDBMPVNVMUJGPDBM Ocorre em hepatócitos esparsos ou agregados de hepatócitos com distribuição focal ou multifocal no parênquima hepático O termo aleatória indica que os focos de necrose não obedecem nenhum padrão anatômico consistente mas distribuemse ao acaso sem uma localização previsível dentro do lóbulo Esse padrão é típico de muitos agentes infecciosos incluindo protozoários vírus e bactérias Macroscopicamente as lesões aparecem como áreas pálidas de 1 mm até vários centímetros e bem demarcadas do parênquima adjacente Figura 458 O tamanho de tais focos é variável desde pequeninos menores que 1 mm até vários centímetros Histologicamente há focos de necrose geralmente lítica associada a infiltrado inflamatório Em razão disso muitas vezes essa lesão é referida como hepatite necrosante multifocal aleatória FDSPTFIFQBUPDFMVMBSPOBM Frequentemente a necrose hepática exibe uma distribuição zonal Figura 459 isto é afeta hepatócitos não aleatoriamente mas aqueles em áreas anatômicas bem definidas do lóbulo hepático A necrose pode localizarse ao redor da veia centrolobular necrose centrolobular Figura 459 B entre o centro e a periferia do lóbulo necrose mediozonal Figura 459 C ou nos hepatócitos localizados próximo às tríades portais necrose periportal Figura 459 D Necrose paracentral Figura 459 E é semelhante à centrolobular mas afeta apenas uma cunha cujo ápice está colocado junto à veia centrolobular A necrose em ponte é a manifestação morfológica da confluência de áreas de necrose centrolobulares A necrose massiva Figura 459 F atinge completamente todo o lóbulo hepático isto é todos os hepatócitos de um lobo estão afetados A necrose massiva pode afetar apenas alguns lóbulos hepáticos nesse caso é por vezes denominada submassiva ou a maior parte do parênquima hepático O mesmo tipo de insulto que produz necrose centrolobular pode quando em dose maior produzir necrose massiva Figura 458 Necrose multifocal aleatória em fígado de cordeiro hepatite abscedativa secundária à onfaloflebite A necrose centrolobular Figura 460 é a mais comum de todos os tipos de necrose zonal porque o centro do lóbulo é mais sensível aos insultos tóxicos e hipóxicos pois está distante do suprimento de oxigênio e seus hepatócitos têm maior atividade de enzimas de função mista capazes de transformar certas substâncias em compostos tóxicos Necrose centrolobular pode resultar da hipoxia de anemia aguda ou crônica da hipoxia induzida por congestão crônica ou por insultos tóxicos como hepatotoxinas de ação aguda Degeneração e necrose periportal são bastante incomuns mas ocorrem em certas intoxicações como as causadas por ngaione princípio ativo de Myoporum spp em ovinos A necrose seja centrolobular ou periportal produz uma acentuação do padrão lobular do órgão Se a necrose for associada à hemorragia a zona necrosada do lóbulo aparece macroscopicamente vermelha e deprimida cercada por uma área mais clara que corresponde a hepatócitos vacuolizados Embora a alteração zonal tipicamente produza um padrão lobular acentuado geralmente é necessário o exame microscópico para determinar qual zona está afetada embora alguns livrostextos argumentem que se pode identificar macroscopicamente um vaso no centro do lóbulo e assim determinar se a lesão é centrolobular ou periportal Em casos de anemia grave o fígado pode apresentar acentuação do padrão lobular devido à hipoxia Exemplos comuns em veterinária são as anemias por perda de sangue como hemoncose em ovinos e a ancilostomose em cães e as doenças hemolíticas como a babesiose em bovinos e a rangeliose em cães Os hepatócitos da região centrolobular estão mais distantes do suprimento sanguíneo e por isso são mais intensa e precocemente afetados Necrose de coagulação associada por vezes à lipidose hepatocelular demarca o centro do lóbulo e o padrão lobular pode ser observado macroscopicamente Figura 461 Esse tipo de lesão deve ser diferenciado da necrose centrolobular produzida por hepatotoxinas de ação aguda Figura 459 Diagrama mostrando a distribuição da necrose zonal no parênquima hepático A Fígado normal As linhas pretas delimitam um lóbulo B Necrose centrolobular C Necrose mediozonal D Necrose periportal E Necrose paracentral F Necrose maciça EP espaçoporta VC veia centrolobular Figura 460 Acentuação do padrão lobular no fígado de um ovino com hepatotoxicose aguda As áreas vermelhas e deprimidas correspondem à necrose hemorrágica do centro do lóbulo As áreas claras circunjacentes às áreas vermelhas são de hepatócitos com degeneração vacuolar mais ou menos conservados A Aspecto da superfície natural B Aspecto da superfície de corte O aspecto macroscópico do fígado com necrose massiva varia Se a maior parte do parênquima está afetada o órgão pode estar discretamente aumentado de volume com superfície externa lisa e parênquima escuro devido à extensa congestão Se o processo é localizado o fígado tipicamente é pequeno com cápsula enrugada com as áreas de necrose do parênquima deprimidas e com áreas de congestão espalhadas pelo órgão Microscopicamente as áreas afetadas consistem em espaços cheios de sangue dentro de um estroma de tecido conjuntivo desprovido de hepatócitos ou com hepatócitos com necrose de coagulação Figura 461 Fígado de suíno que morreu por anemia acentuada decorrente de perfuração de úlcera gástrica A Necrose centrolobular representada por áreas vermelhas e deprimidas do lóbulo B Histopatologia do fígado mostrado em A com necrose de coagulação e hemorragia centrolobulares Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Resposta do fígado à agressão Após necrose de hepatócitos pode ocorrer regeneração do parênquima ou substituição do parênquima perdido por fibrose ou hiperplasia biliar essas reações não são excludentes O resultado de um insulto hepático depende da natureza e duração da lesão e da sobrevivência do paciente 3FHFOFSBÎÍPIFQBUPDFMVMBS O fígado tem grande capacidade regenerativa em resposta à perda de células por diferentes tipos de agressões Após a retirada cirúrgica de 70 de seu parênquima o fígado pode se regenerar quanto ao volume e funcionamento originais em um período de 6 semanas Como em qualquer órgão a regeneração é um processo fisiológico estimulado pela necessidade de maior quantidade de tecido funcional e é encerrada quando essa demanda é alcançada O sucesso da regeneração hepática depende de as áreas afetadas apresentarem adequado suprimento sanguíneo drenagem livre de bile e manutenção do arcabouço original de reticulina colágeno tipo III Necrose hepática extensa geralmente é seguida por regeneração do parênquima sem fibrose desde que o arcabouço de reticulina da porção afetada permaneça intacto e que não ocorra colapso como na necrose hepática massiva No entanto na necrose massiva ou quando a lesão for repetitiva as áreas afetadas irão colapsar após a remoção dos hepatócitos necróticos resultando em cicatriz fibrose pósnecrótica Figura 462 Se a integridade estrutural do fígado for danificada durante a agressão celular a regeneração poderá ser desordenada Embora a massa hepática possa retornar ao seu tamanho normal as relações estruturais da arquitetura hepática não serão restauradas e ocorrerá regeneração nodular do parênquima com distorção da arquitetura normal do fígado JCSPTF Fibrose é a consequência da maioria das lesões hepáticas crônicas É uma resposta curativa à lesão caracterizada pelo aumento da deposição de matriz extracelular ou pela formação de uma cicatriz subsequente a uma lesão crônica Figuras 462 e 463 O acúmulo progressivo de matriz extracelular no fígado ocorre em consequência de dano celular repetido por ação de drogas ou substâncias tóxicas agentes infecciosos ou causas metabólicas e autoimunes Independentemente da causa a fibrose hepática é caracterizada pelo aumento dos constituintes da matriz extracelular os quais coletivamente irão formar a cicatriz hepática Essa cicatriz decorre principalmente do aumento na quantidade de colágeno tipo I embora colágenos dos tipos III e IV também sejam produzidos em menor proporção As células de Ito ativadas têm capacidade de sintetizar colágeno dos tipos I III e IV laminina sulfato de condroitina proteoglicanos undulina elastina dermatano e hialuronano Figura 462 Fibrose pósnecrótica em fígado de bovino Quando ocorrer necrose extensa com destruição do arcabouço de matriz extracelular as áreas afetadas irão colapsar após a remoção dos hepatócitos necróticos resultando em cicatriz fibrose pósnecrótica A Aspecto da superfície natural B Aspecto da superfície de corte Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 463 Regeneração hepática nodular no fígado de um cão após necrose com destruição do arcabouço de matriz extracelular desordenada A regeneração é errática e não mimetiza o parênquima hepático normal formando nódulos funcionalmente ineficazes As partes claras correspondem ao tecido conjuntivo fibroso O padrão da fibrose varia com o tipo de insulto hepático A fibrose centrolobular geralmente está associada à insuficiência cardíaca congestiva direita ou à lesão tóxica crônica pois a região centrolobular é o local de metabolismo da maioria das drogas O uso repetitivo de drogas como dimetilnitrosamina e tetracloreto de carbono pode causar fibrose que se estende da região centrolobular até os espaçosporta formando septos que podem se estender pelo parênquima hepático e também alcançar outras áreas centrolobulares A perda dos cordões de hepatócitos nas áreas afetadas promove o colapso e a condensação da matriz extracelular residual A insuficiência hepática evidente decorrente de congestão crônica e de fibrose cardíaca é ocorrência rara em cães e gatos Fibrose periportal resulta de lesão inflamatória crônica ou lesão causada por um pequeno grupo de toxinas que afetam os hepatócitos periportais diretamente O termo fibrose em ponte é aplicado quando a fibrose se estende de um espaçoporta ao centro do lóbulo fibrose centroportal ou do centro de um lóbulo a outro centro lobular fibrose centrocentral A fibrose portal também chamada fibrose biliar está associada à inflamação crônica da região portal e geralmente é observada em cães com hepatite crônica em gatos com colangiohepatite crônica e em bovinos com fasciolose hepática A fibrose biliar está centrada nos ductos biliares dos espaçosporta e ocorre tanto pela proliferação de ductos biliares reativos como pela proliferação de células de Ito ativadas na região periductular A fibrose secundária a grandes áreas de necrose massiva é conhecida como fibrose pósnecrótica ver Figura 462 JQFSQMBTJBEFEVDUPTCJMJBSFT A hiperplasia de ductos biliares é uma resposta inespecífica a vários tipos de lesão hepática Pode ocorrer rapidamente em particular nos animais jovens mas na maioria das vezes é observada em lesões hepáticas de longa duração principalmente após doenças que causam obstrução física do fluxo normal de bile ou como resposta a determinadas toxinas Pode ser uma tentativa de regeneração do parênquima quando os hepatócitos perderam a capacidade de realizar essa função Em animais domésticos a proliferação de ductos biliares Figura 464 é encontrada em várias formas subagudas ou crônicas de lesão hepática como na aflatoxicose em várias espécies intoxicação por alcaloides pirrolizidínicos em herbívoros na infecção pelo trematódeo Fasciola hepatica em ruminantes e ao redor de abscessos e cistos parasitários principalmente cisto hidático em várias espécies JSSPTF Muitos patologistas consideram cirrose um termo impreciso com definições muito variáveis e tendem a evitar seu uso No entanto esse termo é amplamente usado por clínicos e tem uma conotação universalmente aceita de doença hepática crônica portanto seu uso será mantido neste capítulo Para maior clareza a definição de cirrose que será usada aqui é a publicada em 1977 pela Organização Mundial da Saúde cirrose é um processo difuso caracterizado por fibrose e conversão da arquitetura normal do fígado em lóbulos estruturalmente anormais A cirrose é uma lesão crônica e irreversível e constitui o desenlace de várias afecções hepáticas em razão disso a expressão fígado de estágio terminal é alternativamente usada para designar essa condição Na cirrose a arquitetura do fígado é alterada Figura 465 por perda do parênquima hepático condensação do tecido conjuntivo fibroso preexistente fibrose passiva proliferação de tecido conjuntivo fibroso fibrose e regeneração hepatocelular em nódulos entre os feixes fibrosos Figura 466 Esses nódulos de regeneração hepatocelular são característicos da cirrose e resultam de uma tentativa do organismo de reparar a função dos hepatócitos perdidos No entanto os nódulos regenerativos não têm comunicação anatômica adequada com as vias excretoras e a vasculatura hepáticas e por isso essa tentativa é fracassada A retração do tecido fibroso e a proliferação dos nódulos regenerativos dão ao fígado um aspecto nodular em que os nódulos de degeneração do parênquima são separados por bandas de tecido fibroso que aparecem como depressões na superfície hepática ver Figuras 463 e 465 Figura 464 Aspecto histológico da hiperplasia de ductos biliares no fígado de um bovino A hiperplasia de ductos biliares é encontrada em várias formas subagudas ou crônicas de lesão hepática como aflatoxicose em várias espécies intoxicação por alcaloides pirrolizidínicos em herbívoros infecção por Fasciola hepatica e ao redor de abscessos e cistos parasitários As causas de cirrose são numerosas Por se tratar de uma lesão crônica com os efeitos temporalmente muito afastados das causas estas são difíceis ou impossíveis de detectar quando o diagnóstico é feito Insultos tóxicos crônicos resultam da ingestão continuada de hepatotoxinas p ex herbívoros que ingerem plantas tóxicas que contêm alcaloides pirrolizidínicos e cães que recebem tratamento prolongado com drogas anticonvulsivantes Obstrução biliar extrahepática e colestase provocam intensa fibrose que primariamente afeta as tríades portais estendendose mais tarde para o parênquima hepático Hepatites crônicas ou crônicoativas que se seguem a doenças infecciosas como leptospirose podem resultar em cirrose Um tipo de cirrose referida como cirrose biliar resulta de inflamações crônicas do trato biliar colangites um exemplo deste último tipo é a infecção por Fasciola hepatica em ruminantes Congestão crônica resulta em extensa fibrose ao redor da veia centrolobular ver o item Alterações circulatórias alteração que é às vezes denominada cirrose ou fibrose cardíaca Cirrose hepática pode ocorrer em cães de várias raças com distúrbios hereditários do metabolismo do cobre Várias outras doenças ainda não bem definidas podem provocar lesão hepatocelular e fibrose progressivas resultando em cirrose A hepatite lobular dissecante é um tipo específico de cirrose de causa desconhecida que afeta principalmente cães jovens Os fígados afetados nessa condição são pequenos e têm a superfície lisa ao contrário dos fígados multinodulares descritos anteriormente Nesses casos o tecido conjuntivo isola pequenos agrupamentos de hepatócitos Aspecto semelhante ocorre nos fígados cirróticos de bovinos afetados pela intoxicação por Senecio spp em que a regeneração nodular geralmente não é um aspecto notável da cirrose Figura 465 Cirrose hepática em cão Na cirrose a arquitetura do fígado é alterada por perda do parênquima hepático condensação do tecido conjuntivo fibroso preexistente fibrose passiva proliferação de tecido conjuntivo fibroso fibrose e regeneração hepatocelular em nódulos entre os feixes fibrosos A B C Figura 466 Cirrose hepática A Superfície capsular mostrando cirrose macronodular em fígado de cão B Superfície de corte de fígado de cão com cirrose hepática macronodular com múltiplos nódulos de regeneração alguns deles separados por tecido conjuntivo C Aspecto histológico de fígado de cão com cirrose micronodular evidenciando a fibrose Tricrômico de Masson Anomalias vasculares frequentemente estão associadas às lesões de cirrose As principais são as derivações portossistêmicas adquiridas Essas alterações podem ser intra e extrahepáticas e desviam o sangue do fígado Consequentemente o fígado com cirrose não realiza suas funções normais e os animais afetados invariavelmente demonstram sinais clínicos de insuficiência hepática MUFSBÎÜFTJOýBNBUØSJBT Agentes que causam inflamação no parênquima hepático ou nas vias biliares chegam ao fígado pela via hematogênica p ex doenças infecciosas como hepatite infecciosa canina pela via ascendente pelo trato biliar p ex colangite linfocítica crônica dos gatos e pela penetração direta p ex abscessos hepáticos em bovinos causados por corpo estranho metálico A via hematogênica é de longe a mais comum em razão da grande quantidade de sangue que o fígado recebe pela sua dupla circulação sangue arterial pela artéria hepática e sangue venoso do sistema gastrintestinal pela veia porta As inflamações hematogênicas distribuemse no fígado como focos múltiplos e aleatórios de necrose Figura 467 associados ou não a infiltrado inflamatório celular O reconhecimento desse padrão de lesão denominado hepatite necrosante multifocal é importante para estabelecer o diagnóstico ele está na grande maioria das vezes associado a agentes infecciosos que chegam pela via hematogênica A inflamação do parênquima hepático é denominada hepatite e esse termo é usado para designar condições inflamatórias difusas ou focais causadas por agentes infecciosos conhecidos mesmo que o componente de células inflamatórias seja mínimo ou sem causa determinada mas com predominância do componente inflamatório celular Mesmo lesões por toxinas que causam necrose e afluxo leucocitário considerável para o local de agressão são denominadas hepatites tóxicas A natureza e a distribuição das lesões inflamatórias hepáticas são determinadas pela natureza do agente infeccioso p ex vírus bactéria fungo e por qualquer predileção que tenham por um determinado tipo celular no fígado A inflamação dos ductos biliares intra ou extrahepáticos é denominada colangite Quando a inflamação afeta tanto os ductos biliares quanto o parênquima hepático é denominada colangioepatite Colangite e colangioepatite neutrofílicas tipicamente resultam de infecções bacterianas ascendentes do sistema biliar frequentemente como consequência de obstrução biliar por parasitas ou compressão do ducto biliar por tecido fibroso ou por neoplasia Se a inflamação ocorre ao redor dos ductos biliares sem no entanto afetálos é denominada pericolangite se afeta o parênquima hepático das tríades portais é denominada hepatite portal Figura 467 A Hepatite necrosante abscedativa por onfaloflebite em cordeiro B Superfície de corte de A mostrando vários abscessos de distribuição aleatória Hepatite aguda A hepatite aguda frequentemente acompanha a necrose hepatocelular Neutrófilos e subsequentemente linfócitos plasmócitos e macrófagos infiltram áreas de necrose hepatocelular especialmente se um agente infeccioso está envolvido na lesão atraídos pelos estímulos quimiotáticos usuais Se a lesão não for fatal o tecido necrótico é gradualmente removido por fagócitos e substituído por parênquima regenerado ou por tecido fibroso A persistência do agente causa a evolução para um processo inflamatório crônico como um abscesso ou um granuloma Macroscopicamente a inflamação aguda é detectada somente se acompanhada por necrose hepatocelular A caracterização do tipo de inflamação em geral requer avaliação microscópica Vários padrões podem ocorrer Focos aleatórios de hepatite neutrofílica como consequência de invasão bacteriana hematogênica ou migração parasitária são relativamente comuns em bovinos e equinos Figura 468 Em terneiros e potros hepatites necrosantes multifocais são na maioria das vezes produzidas por bactérias como Trueperella Arcanobacterium pyogenes Samonella spp Actinobacillus equuli Escherichia coli Streptococcus spp e Staphylococcus spp Clostridium piliforme ou por vírus como o herpesvírus equino Em muitos desses casos as bactérias chegam ao fígado pelos vasos umbilicais da veia porta ou da artéria hepática Onfaloflebite é a principal causa de abscessos hepáticos em bezerros Figura 468 A Fígado de equino com focos brancos causados por migração parasitária B Aspecto histológico de áreas de necrose aleatórias com infiltrado de eosinófilos Hepatite crônica Se o organismo elimina completamente o agente etiológico o processo inflamatório tende a se resolver rapidamente no entanto a persistência do estímulo antigênico resulta em cronicidade do processo isto é em hepatite crônica A inflamação crônica do fígado é facilmente perceptível macroscopicamente por fibrose granuloma ou abscesso As lesões focais como abscessos ou granulomas não alteram a função hepática ao passo que a hepatite crônica difusa caracterizada por fibrose como as hepatites crônicas dos cães em geral induz doença hepática de estágio terminal com insuficiência hepática e seu conjunto de sinais clínicos associados As hepatites crônicas dos cães a colangitecolangiohepatite dos gatos e os abscessos hepáticos em bovinos serão tratados nos tópicos seguintes enquanto as outras inflamações específicas agudas ou crônicas do fígado e das vias biliares serão tratadas em tópico correspondente neste capítulo ver o item Doenças específicas Hepatite crônica em cães Em cães o termo hepatite crônica tem sido frequentemente utilizado para descrever qualquer doença hepática inflamatória com elevação persistente da atividade sérica de enzimas hepáticas principalmente alanina aminotransferase ALT Durante vários anos um grande número de diferentes agentes etiológicos foi identificado como causa de hepatite crônica em cães assim como várias raças de cães parecem ter predisposição genética para o desenvolvimento de algumas dessas doenças inflamatórias crônicas Entre as causas de hepatite crônica sugeridas para cães incluemse a infecção por adenovírus canino 1 CAV1 canine adenovirus 1 da hepatite canina Leptospira interrogans sorogrupo grippotyphosa infecção pelo agente da hepatite de células acidofílicas dos cães possivelmente um vírus ainda não isolado uso contínuo de anticonvulsivantes ou outras drogas e o acúmulo de cobre A hepatite associada a determinadas raças como Bedlington Terrier Dobermann Pinscher West Highland White Terrier Skye Terrier Cocker Spaniel Americano Cocker Spaniel Inglês Poodle e possivelmente Labrador Retriever também é incluída como hepatopatia crônica Outras formas de hepatite crônica em cães incluem a hepatite crônicoativa idiopática e a hepatite lobular dissecante Hepatite crônicoativa é um diagnóstico morfológico introduzido na patologia veterinária em 1976 Em razão de ter sido usado indiscriminadamente para designar qualquer doença inflamatória do fígado que persiste por poucas semanas e que apresenta lesões que lembram as observadas na hepatite crônicoativa dos humanos perdeu sua especificidade e seu uso está sendo abandonado No entanto o termo é usado para lesões hepáticas em cães caracterizadas por inflamação periportal e necrose em sacabocado destruição dos hepatócitos da placa limitante Algumas raças caninas parecem apresentar uma predisposição familiar para desenvolverem hepatite crônicoativa associada ao acúmulo hepático de cobre O fígado é um órgão importante na regulação das concentrações normais de cobre no organismo pois 80 do cobre absorvido da dieta são excretados na bile O acúmulo de cobre pode resultar de distúrbio primário no metabolismo do cobre ou ocorrer secundariamente à diminuição da eliminação do cobre associada a várias doenças colestáticas As raças de cães afetadas por hepatopatias crônicas associadas ao excesso de cobre incluem Bedlington Terrier West Highland White Terrier Dobermann Pinscher Skye Terrier e Dálmata A doença relacionada com o cobre em cada uma dessas raças será brevemente discutida a seguir Também serão discutidas alterações hepáticas crônicas em cães não relacionadas com o metabolismo do cobre como a hepatite do Cocker Spaniel a hepatite lobular dissecante e as hepatites associadas à leptospirose e à tuberculose FQBUJUFEPFEMJOHUPO5FSSJFS A hepatite crônica dos cães Bedlington Terrier é um distúrbio autossômico recessivo que provoca o acúmulo progressivo de cobre no fígado devido à ligação anormal do cobre com a ceruloplasmina A doença é observada sob três apresentações hepatite aguda fulminante hepatite crônica ou cirrose e assintomática cães com a lesão mas sem sinais clínicos Este último grupo é detectado apenas pelo aumento da ALT sérica e por meio de biopsia hepática Cães adultos jovens de qualquer sexo em geral com menos de 6 anos de idade são acometidos pela forma aguda da doença e desenvolvem sinais clínicos de depressão anorexia letargia e vômito associados à necrose hepática grave Esses sinais têm curso clínico breve e os que não são tratados morrem dentro de 48 a 72 h Cães de meiaidade ou idosos são afetados pela segunda forma da doença com um curso clínico mais crônico e insidioso Os sinais clínicos são semelhantes aos anteriores porém menos graves Nos estágios avançados dessa fase os cães podem apresentar caquexia ascite icterícia e sinais típicos de encefalopatia hepática evidenciando a evolução para cirrose Raramente a liberação aguda de cobre pelos hepatócitos necrosados causa anemia hemolítica podendo ser detectados altos níveis plasmáticos de cobre diminuição do hematócrito hemoglobinemia e hemoglobinúria A anemia hemolítica pode resultar da inibição de enzimas da via pentose fosfato e assim causar a queda nos níveis de glutationa reduzida O decréscimo da glutationa causa oxidação da hemoglobina e assim formação de corpúsculos de Heinz O processo hemolítico é predominantemente intravascular com metahemoglobinúria acentuada e consequente insuficiência renal aguda Na doença de curso mais prolongado podemse observar petéquias ou equimoses melena e epistaxe Muitos dos cães afetados com mais de 1 ano de idade apresentam concentrações de cobre que podem alcançar até 12000 μgg de peso seco As concentrações hepáticas mais baixas são detectadas nos cães mais jovens e aumentam com a idade chegando a um pico por volta dos 6 anos O conteúdo de cobre geralmente declina a partir dessa faixa etária nos cães afetados mas sem que os sinais clínicos desapareçam Esse declínio no conteúdo de cobre pode ser devido à substituição dos hepatócitos contendo cobre por tecido fibroso ou por nódulos regenerativos que não contêm cobre A hepatite associada ao cobre do Bedlington Terrier tem semelhanças com a doença de Wilson degeneração hepatolenticular um distúrbio autossômico recessivo de humanos que também está associado ao acúmulo progressivo de cobre no fígado e se manifesta em crianças após os 5 ou 6 anos de idade mesmo que o acúmulo de cobre se inicie ao nascimento Em humanos geralmente os sinais clínicos caracterizados por doença hepática aguda ou crônica são os mais comuns mas manifestações neuropsiquiátricas como alterações leves do comportamento psicose ou uma síndrome semelhante à doença de Parkinson podem ser os achados iniciais da doença de Wilson manifestada na segunda ou terceira década de vida No entanto há algumas diferenças notáveis entre a doença de Wilson e a hepatite do Bedlington Terrier Os cães não apresentam evidência clínica de acúmulo de cobre no sistema nervoso central ou na córnea como observado em seres humanos Além disso as concentrações de ceruloplasmina estão normais ou aumentadas nos cães e não diminuídas como na doença de Wilson Macroscopicamente nos estágios iniciais da doença o fígado dos Bedlington Terrier pode estar normal ou tumefeito e liso com acentuação do padrão lobular Com o desenvolvimento da cirrose o fígado diminui de tamanho apresentando uma mistura de nódulos de tamanhos variáveis Histologicamente em cortes de fígado corados por hematoxilina e eosina evidenciamse grânulos marromdourados refráteis contendo cobre no interior dos lisossomos dos hepatócitos Esses grânulos não são específicos para cobre mas indicam possibilidade de acúmulo desse elemento Nos estágios iniciais os hepatócitos centrolobulares são os mais afetados mas com o tempo a lesão tornase difusa Nos cães com doença leve os grânulos são vistos apenas nas áreas centrolobulares porém mais tarde aumentam em número e aparecem difusamente no lóbulo Nos cães com hepatite crônicoativa concomitante com um grande número de hepatócitos que contêm grânulos escuros há escasso infiltrado inflamatório constituído por linfócitos plasmócitos macrófagos e neutrófilos localizado nas áreas periportais e acentuada necrose em sacabocado A maioria dos hepatócitos está tumefeita e muitos apresentam degeneração gordurosa Necrose em ponte é vista ocasionalmente Adjacentemente às áreas de necrose pode haver focos de bilestase intracelular e intracanalicular Fibrose em ponte de um espaçoporta a outro ou estendendose de um espaçoporta para o interior do lóbulo também pode ocorrer A última fase da doença é caracterizada por cirrose micro ou macronodular com regeneração hepatocelular hiperplasia de ductos biliares e fibrose Em alguns casos a cirrose é inativa e em outros observase a coexistência de hepatite crônicoativa e cirrose FQBUJUFDSÙOJDBEP8FTUJHIMBOE8IJUF5FSSJFS Cães da raça West Highland White Terrier apresentam pelo menos dois tipos de hepatite crônica Alguns cães estão sob maior risco de hepatite centrolobular necrose hepática e cirrose associadas ao aumento do conteúdo de cobre no fígado enquanto outros apresentam alterações de hepatite crônicoativa idiopática Há algumas diferenças com relação à hepatite crônica associada ao cobre em cães Bedlington Terrier e em West Highland White Terrier Estudos sugerem que a causa é também hereditária mas o modo de transmissão genética ainda é desconhecido Cães West Highland White Terrier não acumulam cobre continuamente por toda a vida como ocorre com o Bedlington Terrier e os picos das concentrações hepáticas de cobre ocorrem por volta dos 6 meses de idade podendo diminuir após o primeiro ano de vida Outra diferença está na quantidade de cobre acumulado no fígado No West Highland White Terrier os valores variam entre 400 e 3600 μgg de peso seco enquanto valores entre 1000 e 12000 μgg de peso seco são vistos no Bedlington Terrier Nas duas raças as alterações hepáticas são observadas somente quando os valores excedem 2000 μgg de peso seco Os cães com hepatite crônicoativa idiopática geralmente apresentam cirrose pósnecrótica como fase final da doença Fêmeas são mais predispostas e muitos animais afetados também apresentam elevada concentração hepática de cobre No entanto algumas características diferenciam a hepatite crônica associada ao cobre da hepatite crônicoativa idiopática em cães West Highland White Terrier A inflamação observada na hepatite por acúmulo de cobre é caracterizada por grandes focos centrolobulares compostos de uma mistura de macrófagos linfócitos plasmócitos neutrófilos e ocasionais hepatócitos apoptóticos ou seus fragmentos FQBUJUFDSÙOJDBEPPCFSNBOO1JOTDIFS Hepatite crônicoativa com colestase intrahepática e elevação das concentrações de cobre hepático frequentemente afeta cães da raça Dobermann Pinscher Fêmeas de qualquer idade 15 a 11 anos de idade são mais suscetíveis Acreditase que a etiologia tenha uma base genética Histologicamente há inflamação portal acentuada necrose em sacabocado e fibrose lesões que acabam evoluindo para cirrose O principal achado dessa doença é a colestase intrahepática demonstrada por tampões de bile na ausência de evidência macroscópica ou microscópica de obstrução do trato biliar extrahepático Os sinais clínicos associados são típicos de doença hepática incluindo anorexia depressão perda de peso e icterícia Com a progressão da doença poderá ocorrer ascite Geralmente os cães levam meses ou até anos para manifestar os sinais clínicos de insuficiência hepática mesmo que as atividades séricas das enzimas hepáticas ALT e fosfatase alcalina FA estejam elevadas durante esse período Na hepatite crônica do Dobermann Pinscher os níveis de cobre hepático estão entre 300 e 3000 μgg de peso seco e essa condição pode ser um distúrbio primário da retenção de cobre ou um acúmulo de cobre secundário à colestase FQBUJUFDSÙOJDBEP4LZF5FSSJFS A hepatite do Skye Terrier apresenta semelhanças com as doenças associadas ao acúmulo de cobre descritas em outras raças no entanto diferenciase das demais pois o acúmulo de cobre é inconstante e ocorre nos estágios iniciais da doença Os níveis aumentados de cobre hepático variam de 800 a 2200 μgg de peso seco Histologicamente no Skye Terrier o estágio inicial da hepatite é caracterizado por degeneração hepatocelular com colestase e inflamação branda As lesões crônicas estão associadas à colestase intracanalicular hepatite crônica e cirrose Colestase intracanalicular é uma das mais importantes características observadas nas lesões em Skye Terrier Outra característica é a diminuição das concentrações de cobre hepático com a maturidade do animal As lesões e a localização do acúmulo de cobre no fígado estão confinadas à zona centrolobular de maneira semelhante ao que ocorre com o Bedlington Terrier e o West Highland White Terrier FQBUJUFDSÙOJDBEPÈMNBUB Recentemente uma hepatite associada ao cobre muito semelhante à que ocorre no Bedlington Terrier foi relatada em Dálmatas jovens A causa pode ser um defeito metabólico primário do cobre A doença está associada a um início agudo progressão rápida e altos níveis de cobre no fígado na ausência de evidências clínicas e histológicas de colestase A zona de localização do acúmulo de cobre no fígado não pôde ser definida devido à necrose hepática acentuada fibrose e desorganização da arquitetura lobular FQBUJUFDSÙOJDBEPPDLFS4QBOJFM Foi sugerido que o Cocker Spaniel Americano e o Cocker Spaniel Inglês apresentam maior incidência de hepatite crônica de causa desconhecida Alguns autores sugerem que a deficiência de α1antitripsina pode ser uma das causas A α1antitripsina inibe a protease circulante que inativa principalmente a elastase neutrofílica liberada nos locais de inflamação Em seres humanos a deficiência de α1antitripsina é um distúrbio autossômico recessivo Clinicamente ocorrem aumentos leves ou moderados de ALT e FA e hipoalbuminemia média de 17 gdl As alterações histopatológicas incluem hepatite linfoplasmocitária periportal crônica acompanhada de fibrose portal variável Alguns neutrófilos também estavam associados ao infiltrado inflamatório Outros achados foram fibrose em ponte necrose em sacabocado degeneração vacuolar dos hepatócitos hiperplasia de ductos biliares e cirrose macro ou micronodular FQBUJUFMPCVMBSEJTTFDBOUF A hepatite lobular dissecante é descrita em cães associada à hepatite crônica com desvios portossistêmicos adquiridos Foram descritos seis casos de hepatite lobular dissecante Três dos cães afetados eram machos da raça Poodle com 7 a 10 meses de idade e os outros três eram fêmeas das raças Cocker Spaniel Pastor Alemão e Golden Retriever com idades que variavam entre 2 e 5 anos Sinais clínicos incluem anorexia polidipsia ascite e elevação marcada da ALT O curso clínico varia de 3 a 8 semanas O aspecto macroscópico do fígado é muito variável podendo ser normal diminuído de volume ou levemente tumefeito com superfície capsular granular ou nodular Desvios portossistêmicos são evidentes com acentuada dilatação da veia porta e numerosos vasos anastomosados distendidos e tortuosos comunicando principalmente as tributárias intestinais e esplênicas da veia porta Vasos proeminentes também podem ser vistos na superfície serosa da porção caudal do esôfago ligando as tributárias gástricas da veia porta com as tributárias esofágicas da veia ázigos Microscopicamente a alteração é caracterizada por hepatite lobular constituída por neutrófilos linfócitos macrófagos e ocasionais plasmócitos no interior dos sinusoides Contudo a lesão mais notável é a desorganização da arquitetura normal do lóbulo hepático em que finas bandas de colágeno e reticulina subdividem o parênquima lobular em pequenos grupos de hepatócitos ou até em hepatócitos individuais Frequentemente há necrose em sacabocado mas ocorre pouca ou nenhuma fibrose nos espaçosporta Várias alterações são observadas nos hepatócitos alguns estão tumefeitos e pálidos ao passo que outros têm o citoplasma eosinofílico e granular Nos espaçosporta observase dilatação das veias porta e dos linfáticos Nos casos mais graves são descritos fibrose em ponte portoportal proliferação de ductos biliares grandes nódulos de regeneração e degeneração gordurosa FQBUJUFDSÙOJDPBUJWBBTTPDJBEBËMFQUPTQJSPTF Leptospirose é classicamente associada à insuficiência renal aguda e à hepatopatia Figura 469 acompanhada de icterícia Além da lesão hepática aguda a Leptospira interrogans sorogrupo grippotyphosa foi apontada como a causa de alterações hepáticas que lembram as da hepatite crônicoativa Esse agente é detectado no soro de muitas espécies incluindo cães Macroscopicamente o fígado é vermelhoescuro e sua superfície capsular é levemente granular com acentuação do padrão lobular e consistência firme Microscopicamente as alterações hepáticas consistem em inflamação portal e intralobular predominantemente constituída por linfócitos e plasmócitos com alguns neutrófilos e macrófagos Necrose de hepatócitos proliferação de ductos biliares e bilestase também ocorrem com frequência Destruição dos hepatócitos da placa limitante e fibrose periportal e em ponte portoportal causam desorganização da arquitetura do parênquima hepático As espiroquetas são esparsas na maioria dos casos e difíceis de serem visualizadas por meio das técnicas de coloração convencionais Assim é possível que alguns casos de hepatite crônica associada a leptospiras tenham sido diagnosticados erroneamente como doença imunomediada com base na aparência histológica As espiroquetas podem ser mais bem visualizadas pela coloração de Warthin Starry mas esta também é uma técnica com resultados inconsistentes Figura 469 Fígado de cão com leptospirose Observar a dissociação de hepatócitos Apesar de ser um fenômeno post mortem ocorre rapidamente em casos de leptospirose e é indicativo confiável para diagnóstico presuntivo da doença 5VCFSDVMPTF Infecções micobacterianas são incomuns em cães Mycobacterium spp são bactérias aeróbicas álcoolacidorresistentes encurvadas ou em forma de bastonetes às vezes filamentosas não formadoras de esporos resistentes ao ambiente e morfologicamente similares com amplas variações na afinidade ao hospedeiro e potencial patogênico Devido a suas propriedades estruturais e capacidade de sobrevida intracelular as micobactérias produzem inflamação granulomatosa no hospedeiro As infecções micobacterianas são divididas em três formas clínicas que incluem granulomas tuberculosos nos órgãos internos forma tuberculosa nódulos cutâneos focais forma lepromatosa ou não tuberculosa que acomete gatos e humanos e inflamação subcutânea forma atípica Figura 470 Tuberculose hepática em várias espécies A Aspecto macroscópico da tuberculose hepática em cães Na superfície de corte do fígado aparecem dois granulomas brancoacinzentados confluentes B Microscopia de A mostrando necrose central e granuloma formado por células epitelioides Não há células gigantes C Granulomas caseocalcários na superfície de corte acima e capsular abaixo em tuberculose hepática de bovino Na superfície de corte da lesão observase uma espessa faixa cinzapérola de inflamação granulomatosa com centro caseoso amarelado D Aspecto histológico da tuberculose em uma girafa Há dois granulomas com células gigantes tipo Langhans A lesão histológica é semelhante à que ocorre em bovinos mas difere da observada em cães Mycobacterium tuberculosis M bovis e M avium são espécies produtoras de granulomas nodulares indiferenciáveis Cães são suscetíveis a infecções por M tuberculosis e M bovis que causam mais comumente lesões no trato respiratório Como M tuberculosis é um patógeno de humanos as infecções caninas são consideradas zoonose inversa embora os cães sejam infectados pelos seres humanos o contrário não tem sido observado M tuberculosis e M bovis são parasitas obrigatórios enquanto o complexo de M avium M avium e M intracellulare é de saprófitas encontradas no meio ambiente Apesar da ocorrência rara da tuberculose em cães tem sido relatado um aumento no número de casos em decorrência da infecção a partir de pessoas com doenças imunossupressoras como a AIDS e transplantadas Herbívoros são os hospedeiros primários de M bovis e cães podem ser infectados pelo M bovis após ingestão de leite não pasteurizado e contaminado carne não cozida ou restos de bovinos infectados A forma de infecção digestória pode produzir granulomas tuberculoides de bovinos Figura 470 A cães Figura 470 B e C e outras espécies domésticas e silvestres Figura 470 D Cães podem ter M bovis no trato respiratório e eliminálo por meio do escarro servindo como fonte de contaminação para outros animais Os cães são mais resistentes à infecção pelo complexo de M avium devido à resistência inata ao microrganismo Quando a infecção pelo complexo de M avium ocorre é provável que o hospedeiro esteja com a imunidade mediada por células deficientes pois a proteção contra a infecção micobacteriana depende mais da imunidade celular do que da imunidade humoral dos anticorpos Os cães contaminamse por meio da ingestão de fezes ou carne de aves infectadas pelos bacilos e contato com solo fômites fezes ou carcaças de aves contaminadas Geralmente o complexo M avium promove o desenvolvimento de uma infecção disseminada em cães Macroscopicamente os granulomas são brancoacinzentados ou amarelos e podem estar presentes em muitos órgãos As lesões histológicas da tuberculose em cães diferem das relatadas em outras espécies Necrose caseosa e células gigantes multinucleadas que são típicas da tuberculose em outras espécies não são comuns em cães infectados por M tuberculosis e M bovis A tuberculose canina por M tuberculosis M bovis e M avium é descrita mais frequentemente em machos O número de bacilos presentes no interior dos macrófagos e células epitelioides é geralmente pequeno na tuberculose por M tuberculosis e M bovis enquanto nas lesões causadas por M avium um vasto número de organismos é observado Os bacilos presentes no granuloma podem ser demonstrados com corantes acidorresistentes no citoplasma das células gigantes de Langhans células epitelioides e macrófagos Colangitecolangioepatite em gatos Colangite eou colangioepatite são causas frequentes de insuficiência hepática em gatos Consistem em inflamação dos ductos biliares e do parênquima hepático circunjacente Três formas dessa síndrome são reconhecidas com base no aspecto histológico das lesões hepáticas que presumivelmente refletem as diversas fases da evolução clínica da enfermidade e o caráter progressivo da lesão hepática Essas formas incluem a colangitecolangioepatite supurativa a colangitecolangioepatite não supurativa crônica progressiva e a cirrose biliar ou colangite esclerosante Cirrose biliar corresponde ao estágio terminal dessa entidade e está associada à inflamação crônica hepatobiliar que resulta em fibrose portal e hiperplasia ductal Tratase da forma menos comum dessa síndrome O número reduzido de relatos de casos de cirrose biliar tem sido atribuído ao fato de que a maior parte dos animais afetados por colangitecolangioepatite morre espontaneamente ou é submetida à eutanásia antes que a doença progrida para a sua fase mais crônica A cirrose biliar é morfologicamente semelhante à colangite esclerosante e à cirrose biliar primária dos humanos Etiologias infecciosas e processos imunomediados têm sido apontados como alguns dos fatores envolvidos na patogenia desse complexo de enfermidades hepáticas inflamatórias que acometem os felinos Infecção bacteriana ascendente é provavelmente uma das causas dessa síndrome Microrganismos da microbiota comensal do trato gastrintestinal poderiam invadir a árvore biliar e atingir o sistema hepatobiliar provocando inflamação peribiliar e fibrose hepática Em humanos há evidências epidemiológicas da associação entre a colangite esclerosante primária e as doenças inflamatórias intestinais Essa hipótese também tem sido levantada para a colangitecolangioepatite dos felinos Colangitecolangioepatite não supurativa e cirrose biliar corresponderiam a estágios evolutivos subsequentes da síndrome quando o agente infeccioso já teria sido destruído mas mecanismos imunológicos perpetuariam a agressão ao sistema hepatobiliar Colelitíase trematódeos como o Platynosomum fastosum protozoários e doença renal síndrome nefrótica também têm sido associados à colangitecolangioepatite Lesões inflamatórias no pâncreas e nos intestinos podem ocorrer simultaneamente àquelas observadas no fígado Clinicamente observase insuficiência hepática caracterizada por icterícia e caquexia Na necropsia observase ascite e o fígado é firme e nodular Histologicamente há extensos agregados linfócitos e plasmócitos nos espaçosporta especialmente ao redor de ductos biliares A inflamação na maioria das vezes é acompanhada por proliferação de ductos biliares fibrose hepática ou biliar e colestase intrahepática Figura 471 Abscessos hepáticos Abscessos hepáticos são comuns especialmente em bovinos Os abscessos hepáticos em ruminantes originamse por várias rotas por onfaloflebite secundários à rumenite por acidose láctica como complicação de reticulite e reticuloperitonite traumática Figura 472 por disseminação hematogênica de êmbolos portais ou da circulação arterial e pelas vias biliares Abscessos arteriogênicos via artéria hepática podem ocorrer em piemias mas são bastante incomuns Com exceção óbvia do segundo mecanismo mencionado anteriormente os mesmos modos de implantação de abscessos no fígado se aplicam aos monogástricos mas nestes a prevalência de abscessos hepáticos é bem menor Abscessos onfalogênicos são mais comuns em bezerros do que em outras espécies mas ocorrem em todas São frequentemente restritos ao lobo hepático esquerdo mas ocasionalmente têm distribuição disseminada no parênquima hepático ou ocorrem somente no lobo direito Em situações de diagnóstico normalmente não se envia material desses abscessos hepáticos para cultura bacteriológica mas nos casos em que se procede à cultura bacteriológica para apoiar o diagnóstico os microrganismos mais frequentemente obtidos incluem Trueperella Arcanobacterium pyogenes Fusobacterium necrophorum Streptococcus spp e Staphylococcus spp Abscessos hepáticos não são a sequela inevitável de onfalite ou mesmo de onfaloflebite mas não se desenvolvem da infecção do umbigo sem onfaloflebite Como não há fluxo de sangue nesses vasos após o nascimento a chegada das bactérias no fígado ocorre por crescimento direto ao longo do trombo que se forma após o nascimento Figura 471 Colangitecolangioepatite não supurativa progressiva crônica A Aspecto macroscópico mostrando a delineação do lóbulo por linhas amareladas que representam infiltrado inflamatório e fibrose B Histopatologia da lesão anterior mostrando infiltrado inflamatório mononuclear proliferação de ductos biliares e leve fibrose em dois espaçosporta Abscessos hepáticos têm muita importância econômica em bovinos confinados São em geral achados incidentais de matadouro mas quando numerosos podem ter importância clínica e causar a morte A patogênese dos abscessos hepáticos de animais confinados e suas consequências estão associadas à dieta inadequadamente excessiva em carboidratos à qual os bovinos confinados estão sujeitos Em razão disso um conjunto de condições patológicas interligadas e muito importantes em patologia bovina se desenvolve Resumidamente a lesão inicial nesses bovinos com sobrecarga de carboidratos é uma rumenite secundária à acidose láctica Como resultado dessa lesão química ao epitélio do rúmen bactérias como Fusobacterium necrophorum são capazes de penetrar a mucosa que não está protegida por epitélio e são transportadas ao sistema de drenagem portal do fígado onde são filtradas e causam áreas de necrose de coagulação as quais se liquefazem originando abscessos hepáticos Se um abscesso localizase adjacentemente à veia cava pode resultar em desenvolvimento de êmbolos sépticos para o interior dessa veia Essa condição provoca uma chuva de êmbolos nos pulmões causando trombose arterial e abscedação pulmonar Essa condição que no final das contas iniciouse com a acidose ruminal e passou por abscessos hepáticos é denominada síndrome de veia cava ou pneumonia metastática Bovinos afetados com a forma clássica dessa síndrome apresentam tosse taquipneia dispneia expiratória epistaxe hemoptise e membranas mucosas pálidas A hemoptise fatal que pode se desenvolver nesses casos e que é um sinal clínico característico dessa condição resulta da erosão causada por um abscesso pulmonar na parede de uma artéria da ruptura de um aneurisma pulmonar ou de ambas Figura 472 A e B Abscesso hepático em bovino cortado para mostrar o conteúdo purulento Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Abscessos hepáticos causados por bactérias que ascendem pelas vias biliares são mais frequentes em suínos e estão associados à migração de ascarídeos pelos ductos biliares Abscessos colangíticos em cavalos cães e gatos são geralmente causados por enterobactérias como parte de uma colangioepatite ascendente As sequelas da abscedação hepática são variáveis Em geral os abscessos são assintomáticos e são achados incidentais de necropsia sua cura espontânea por encapsulamento calcificação ou reabsorção é comum Os abscessos perto da superfície do fígado regularmente produzem inflamação fibrinosa depois fibrose da cápsula e aderências com outras vísceras Os abscessos raramente perfuram a cápsula mas comumente invadem as veias hepáticas produzindo qualquer uma dessas condições ou combinações delas tromboflebite da veia cava endocardite embolismo abscessos pulmonares Principalmente em bezerros com abscessos onfalogênicos mas também em bovinos adultos a morte pode ocorrer por bacteriemia e toxemia Necrobacilose hepática a infecção do fígado por F necrophorum é ocasionalmente observada após onfaloflebite em bezerros ou cordeiros e como uma complicação de rumenite em ovinos adultos As lesões hepáticas são múltiplas e consistem em áreas de necrose e coagulação de alguns centímetros levemente elevadas irregularmente arredondadas secas e cercadas por um halo de hiperemia Os neutrófilos que são atraídos para o local liquefazem o foco de necrose de coagulação transformandoo em um abscesso Esse processo é mais comum de ocorrer em ruminantes adultos uma vez que recémnascidos abscessos onfalogênicos vivem pouco tempo para que o processo se desenvolva completamente Histologicamente a área de necrose central é cercada por uma zona azulada de restos nucleares de leucócitos mortos no processo de fagocitose e pelas toxinas de F necrophorum que produz uma leucotoxina especialmente tóxica para neutrófilos de ruminantes causando a morte de neutrófilos Toxinas colagenolíticas são também produzidas pela bactéria e contribuem para a patogênese da lesão MUFSBÎÜFTQSPMJGFSBUJWBT As neoplasias primárias mais comuns do fígado se originam de hepatócitos adenoma hepatocelular carcinoma hepatocelular das células dos ductos biliares colangiomacistadenomas biliares colangiocarcinoma ou de células mesenquimais hemangiossarcoma e outros sarcomas Células neuroendócrinas localizadas nos ductos biliares podem dar origem aos carcinoides hepáticos mas esses tumores são bastante raros Em estatística laboratorial do autor os tumores malignos primários do fígado estão em quarto lugar em ordem de frequência e perfazem cerca de 10 de todos os tumores em cães e 2342 de todas as condições hepáticas específicas A classificação e a frequência das neoplasias primárias do fígado em cães estão na Tabela 42 Lesões tumoriformes A hiperplasia nodular do fígado frequente em cães maduros e velhos e os cistos hepáticos em várias espécies são lesões que podem ser confundidas com tumores verdadeiros Essas lesões foram tratadas em outra parte deste capítulo ver o item Lesões sem significado clínico Tabela 42 Neoplasias primárias n 40 do fígado encontradas em 4844 necropsias de cães As porcentagens foram calculadas sobre 40 casos Tumor Número de casos Colangiocarcinoma 23 575 Carcinoma hepatocelular 7 175 Colangioma 6 15 Hemangiossarcoma 2 5 Adenoma hepatocelular 2 5 Dados do Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria Adenoma hepatocelular Tumores benignos de hepatócitos são menos comuns que seus correspondentes malignos e devem ser diferenciados de hiperplasia nodular Isso pode ser às vezes difícil e classificações arbitrárias têm conduzido a dados controversos de incidência Enquanto certos relatos dão conta de uma incidência de 04 outros levantamentos nem mencionam o adenoma hepatocelular Esse tipo de neoplasia não produz sinais clínicos pois seu tamanho 2 a 8 cm de diâmetro e sua forma de crescimento expansão simétrica não causam suficiente dano ao parênquima hepático São massas esféricas marromamareladas ou marromescuras Figura 473 Na microscopia podese observar condensação do tecido conjuntivo circunjacente à massa mas não há propriamente uma cápsula fibrosa Os hepatócitos que compõem o tumor são bem diferenciados e podem estar vacuolizados esteatose ou infiltração glicogênica Nos nódulos que compõem o adenoma hepatocelular não se observam as veias centrolobulares e pode haver falta de uma ou mais tríades portais isso ajuda na diferenciação de lesões hiperplásicas pois esses aspectos anatômicos são preservados na hiperplasia nodular do fígado Embora existam substâncias que produzem hiperplasia e neoplasias experimentalmente em animais domésticos a etiologia do adenoma hepatocelular espontâneo em cães é desconhecida Figura 473 Adenoma hepatocelular em cão caracterizado por massa esférica marromamarelada de crescimento expansivo Carcinoma hepatocelular Carcinomas hepatocelulares são tumores derivados da transformação maligna de hepatócitos Têm uma incidência de 152 a 16 por 100000 cães e de 46 a 63 de cada 1000 necropsias de cães Os carcinomas hepatocelulares constituem menos de 1 de todos os tumores de cães Alguns levantamentos indicam que o carcinoma hepatocelular é o tumor mais frequente no fígado de cães ao passo que outros indicam o colangiocarcinoma como o mais frequente ver Tabela 42 A faixa etária mais afetada é de 10 a 11 anos não há predisposição de raça mas segundo alguns relatos machos são afetados mais frequentemente Os sinais clínicos descritos em cães com carcinoma hepatocelular são inespecíficos e incluem anorexia vômito ascite letargia e fraqueza Raramente são relatadas convulsões que podem ser atribuídas à encefalopatia ou à hipoglicemia causada por substâncias semelhantes à insulina secretadas pelo tumor As atividades séricas da alanina aminotransferase ALT e da aspartato aminotransferase AST estão elevadas embora com base nesses dados não seja possível distinguir entre neoplasias e outras afecções com destruição do parênquima hepático Há três formas não mutuamente excludentes de apresentação macroscópica do carcinoma hepatocelular massiva nodular e difusa O carcinoma hepatocelular massivo é a forma de apresentação mais comum e caracterizase pelo aparecimento de um tumor grande que envolve um único lobo ou lobos adjacentes do fígado Figura 474 Por motivos não bem esclarecidos o lobo hepático mais frequentemente afetado é o esquerdo Carcinomas hepatocelulares nodulares consistem em nódulos de distribuição aleatória que geralmente afetam vários lóbulos A forma difusa é observada como múltiplos nódulos pequenos que infiltram difusamente todo o parênquima hepático As formas de apresentação com múltiplos nódulos podem ser causadas por metástases intrahepáticas ou por múltiplos pontos de transformação maligna embora seja impossível distinguir entre essas duas possibilidades morfologicamente O tamanho e a cor do carcinoma hepatocelular são bastante variáveis Os tumores podem variar de alguns milímetros até 10 cm podem ter a cor do parênquima hepático normal geralmente os tumores pequenos podem ser amarelos quando há esteatose das células tumorais ou vermelhoescuros quando há hemorragia ou apresentar áreas brancas devido à necrose da massa tumoral Os tumores não são umbilicados e têm uma textura friável esses aspectos ajudam na diferenciação entre carcinomas hepatocelulares e colangiocarcinomas que são firmes e geralmente umbilicados Histologicamente os tumores são classificados nos tipos trabecular adenoide ou sólido O padrão trabecular é o mais comum e caracterizase por formação de trabéculas de hepatócitos neoplásicos com espessura variável cinco a dez células As células tumorais são geralmente bem diferenciadas Pode ocorrer necrose no interior da massa tumoral o que leva à formação de cavidades preenchidas por sangue No carcinoma hepatocelular adenoide os hepatócitos tumorais organizamse em ácinos o que pode complicar a diferenciação dessa forma de carcinoma hepatocelular do colangiocarcinoma Alguns aspectos morfológicos ajudam na diferenciação o material no lúmen dos ácinos é mucinoso PASpositivo no colangiocarcinoma e proteico no carcinoma hepatocelular o estroma conjuntivo é abundante no colangiocarcinoma e escasso no carcinoma hepatocelular Tumores caracterizados por crescimento de mantos densos de hepatócitos neoplásicos são denominados carcinomas hepatocelulares sólidos Figura 474 Carcinoma hepatocelular em cão A Tumor no cadáver mostrando o lado direito do fígado totalmente envolvido B Espécime destacado do cadáver mostrando a apresentação massiva do carcinoma hepatocelular Essa é a forma mais frequente de apresentação dos carcinomas hepatocelulares C Aspecto histológico do tumor mostrado em A e B Um padrão neoplásico sólido é visto na parte inferior da figura Na porção superior o parênquima hepático não neoplásico apresenta vacuolização lipidose O carcinoma hepatocelular cresce por extensão direta para o restante do fígado omento e peritônio Metástases ocorrem em 25 a 61 dos casos de carcinomas hepatocelulares A etiologia é desconhecida embora exista a possibilidade da associação a infecções por vírus como ocorre em pessoas infectadas pelos vírus da hepatite B e C e em marmotas infectadas por vírus da família Hepadnaviridae ou à ingestão de substâncias tóxicas Colangiomacistadenoma biliar Colangiomascistadenomas biliares são tumores benignos derivados do epitélio dos ductos biliares São relatados com uma incidência baixa em cães e em alguns levantamentos de tumores hepáticos nem foram mencionados Devido a essa raridade é difícil estabelecer dados epidemiológicos como incidência e faixa etária afetada São geralmente silenciosos clinicamente Aparecem macroscopicamente como massas solitárias bem circunscritas císticas Figura 475 ou sólidas os tumores formados por múltiplos pequenos cistos são denominados cistadenomas biliares Histologicamente são formados por células epiteliais que se arranjam em estruturas semelhantes a túbulos ou glândulas com moderada quantidade de tecido conjuntivo entre essas estruturas Pode haver alguma dificuldade em diferenciar cistos biliares de cistadenomas biliares mas os cistos biliares consistem geralmente em um único cisto e apresentam mínimo estroma conjuntivo ao passo que os cistadenomas biliares são formados por múltiplos cistos e têm uma quantidade maior ainda que moderada de estroma A etiologia desses tumores também é desconhecida Como colangiomas foram induzidos em cães pela administração de nitrosamina existe a possibilidade da participação de carcinógenos ambientais nesse e em outros tumores hepáticos Figura 475 Aspecto macroscópico do cistadenoma biliar cístico Colangiocarcinoma O colangiocarcinoma é considerado uma neoplasia pouco comum Representa 036 de todas as neoplasias de cães e tem uma incidência de 16 por 100000 cães Como já foi mencionado há controvérsias na literatura quanto à frequência relativa de colangiocarcinoma versus carcinoma hepatocelular Enquanto levantamentos realizados nos EUA dão conta de que carcinoma hepatocelular é a neoplasia mais frequente levantamentos realizados em outros países como a África do Sul e o Brasil indicam maior frequência de colangiocarcinoma Quanto à faixa etária de maior incidência 65 dos cães com colangiocarcinoma estão acima dos 10 anos Não há descrições quanto à predileção por raça os dados quanto à predileção por sexo são contraditórios e pouco se pode concluir deles Há relatos de que fêmeas intactas ou castradas estejam sob maior risco de desenvolver o tumor mas outros relatos não confirmam esses dados Os sinais clínicos são inespecíficos e muitas vezes são os mesmos descritos para o carcinoma hepatocelular o que torna bastante difícil o diagnóstico clínico À palpação podese notar massa hepática ou hepatomegalia há letargia anorexia vômito perda de peso e dispneia icterícia ocorre em cerca de 10 a 40 de cães com colangiocarcinoma e a fosfatase alcalina está elevada na maioria dos casos a atividade sérica da AST e da ALT pode ou não estar elevada Macroscopicamente os colangiocarcinomas aparecem com um padrão massivo que oblitera todo um lobo e pode se estender para lobos adjacentes ou com um padrão multinodular caracterizado por múltiplos nódulos de 05 a 5 cm de diâmetro Figura 476 A Não se sabe se os múltiplos nódulos resultam de metástases intrahepáticas ou se resultam de lesões primárias em múltiplos cistos As porções do tumor salientes na cápsula têm um aspecto umbilicado característico Figura 476 B A superfície de corte é branca ou brancoacinzentada e bem delineada do parênquima hepático adjacente Os tumores são firmes devido à abundância de tecido conjuntivo e podem ser císticos Os tumores em que predominam as áreas císticas são designados como cistadenocarcinomas biliares O aspecto histológico varia com o grau de diferenciação Colangiocarcinomas bem diferenciados são compostos de células que retêm a característica do epitélio biliar e se arranjam em túbulos ver Figura 476 C ou ácinos são cuboides ou colunares e têm um núcleo redondo com contorno regular e quantidade moderada de citoplasma acidófilo o estroma de tecido conjuntivo é abundante Colangiocarcinomas menos diferenciados tendem a ser sólidos e apresentam áreas de necrose pode haver diferenciação escamosa o tecido conjuntivo é geralmente abundante e o grau de anaplasia pode ser acentuado a ponto de tornar difícil o diagnóstico histológico do tumor Uma característica dos colangiocarcinomas é uma grande quantidade de mitoses aspecto que distingue esse tumor do carcinoma hepatocelular A Figura 476 Colangiocarcinoma em cão A Macroscopicamente os colangiocarcinomas aparecem em um padrão massivo que oblitera todo um lobo e pode se estender para lobos adjacentes ou em um padrão multinodular caracterizado por múltiplos nódulos de 05 a 5 cm de diâmetro B As porções do tumor salientes na cápsula têm um aspecto umbilicado característico C O aspecto histológico varia com o grau de diferenciação Colangiocarcinomas bem diferenciados são compostos de células que retêm a característica do epitélio biliar e se arranjam em túbulos ou ácinos A etiologia permanece ainda desconhecida mas o colangiocarcinoma já foi associado ao parasitismo por Clonorchis sinensis no cão e no gato e Platynosomum fastosum no gato e há a possibilidade de que carcinógenos químicos identificados experimentalmente possam estar relacionados com a ocorrência espontânea dos tumores Hemangiossarcoma Hemangiossarcomas primários são descritos no fígado de várias espécies principalmente em cães É considerada a terceira neoplasia hepática primária mais frequente nessa espécie constituindo cerca de 5 de todas as neoplasias primárias do fígado de cães Dados epidemiológicos sobre essa neoplasia em cães são por vezes difíceis de avaliar devido à dificuldade em estabelecer o local primário do hemangiossarcoma quando a neoplasia ocorre em vários órgãos Cães acima dos 10 anos de idade constituem a faixa etária mais afetada e há indicações de que o Pastor Alemão seja a raça mais propensa quando se consideram os hemangiossarcomas em qualquer uma das localizações anatômicas Os sinais clínicos são inespecíficos e incluem depressão anorexia e aumento de volume do abdome Hemangiossarcomas do baço e do fígado podem romper e sangrar Dependendo da intensidade da hemorragia ocorrem vários graus de anemia ou mesmo hemoperitônio com choque e morte súbita Macroscopicamente hemangiossarcomas são tumores escuros muitas vezes formando cavidades císticas que contêm grande quantidade de sangue Os tumores podem ocorrer como massas solitárias ou múltiplas e seu tamanho varia de 1 a 10 cm de diâmetro Histologicamente os tumores são compostos de células endoteliais fusiformes grandes e com núcleos hipercromáticos as quais revestem cavidades espaços císticos vasculares ou numerosas estruturas semelhantes a capilares ou se arranjam em mantos sólidos com apenas algumas fendas entre as células As metástases dos hemagiossarcomas são frequentes para pulmão baço e outros órgãos mas não se pode excluir a possibilidade de que esses tumores tenham origem multicêntrica em vez de se tratar realmente de uma neoplasia metastática Tumores secundários Tumores secundários do fígado incluem tumores multicêntricos e tumores metastáticos Tumores multicêntricos são parte da manifestação de condições neoplásicas que afetam múltiplos órgãos mas cujo local primário do tumor nunca é definido Por outro lado tumores metastáticos são primários de outro local anatômico definido e que metastatizam para outros órgãos incluindo o fígado Em um estudo realizado em laboratório do autor e que pesquisou a causa da morte de 4844 cães tumores ocorreram em 378 casos e o fígado foi o segundo órgão mais frequentemente afetado por tumores multicêntricos e metástases No estudo referido 32 cães morreram em consequência de tumores hepáticos multicêntricos Desses 23 718 eram linfossarcomas 7 219 eram hemangiossarcomas e 2 62 eram parte de mastocitose sistêmica Na rotina do laboratório do autor o fígado é o quarto órgão com maior frequência de metástases De 163 tumores metastáticos encontrados como causa de morte em 4844 cães 103 632 metastatizaram para o pulmão 85 521 para os linfonodos e 28 172 para os pulmões Em cães os tumores que mais frequentemente metastatizam para o fígado são os tumores de mama 1ÉODSFBT OPNBMJBTEPEFTFOWPMWJNFOUP Hipoplasia Hipoplasia do pâncreas exócrino ocorre esporadicamente em terneiros e afeta apenas a porção exócrina do órgão Os sinais observados incluem pelos ásperos perda de peso ou falha em ganhar peso apesar da manutenção do apetite e diarreia resultante de má digestão e má absorção de gorduras carboidratos e proteínas O órgão é pequeno pálido e de textura frouxa Histologicamente as ilhotas estão normais mas os ácinos são rudimentares e formados por células indiferenciadas Anomalias do sistema ductal A distribuição do ducto ou ductos pancreáticos principais varia entre as espécies ver o item Morfologia e função e entre animais da mesma espécie Anomalias específicas incluem estenose congênita e dilatação cística dos ductos pancreáticos Cistos congênitos intrapancreáticos ocorrem ocasionalmente em cordeiros Uma pequena porcentagem de cães pode ter apenas um ducto acessório entrando no duodeno MUFSBÎÜFTSFHSFTTJWBT Degeneração do pâncreas A degeneração das células acinares do pâncreas exócrino é um processo inespecífico decorrente de várias condições localizadas ou sistêmicas Por exemplo a inanição provoca perda dos grânulos de zimogênio no citoplasma das células acinares do pâncreas exócrino Obstrução dos ductos pancreáticos independentemente da causa provoca degeneração e atrofia do pâncreas exócrino Obstrução dos ductos pancreáticos pode ser causada por neoplasias por fibrose periductal na inflamação crônica ou por corpos estranhos como parasitas Eurytrema pancreaticum e cálculos A atrofia pancreática também pode ocorrer em consequência de fibrose intersticial disseminada do pâncreas como acontece em cães com pancreatite crônica Necrose pancreática Degeneração e necrose pancreática multifocal envolvendo pequenos agregados de células acinares é um achado microscópico comum em infecções sistêmicas por vírus epiteliotrópicos A inflamação associada é frequentemente mínima Na maioria dos casos as lesões são incidentais com relação ao curso da doença a menos que enzimas digestórias ampliem o processo ou que lesões significativas ocorram também nas células das ilhotas Agentes responsáveis incluem adenovírus em várias espécies vírus da cinomose parvovírus canino tipo 2 herpesvírus felino 1 vírus da febre aftosa vírus da encefalomiocardite vírus da peste suína africana e cepas virulentas do vírus da peste suína clássica Em ambos os tipos de peste suína a lesão necrótica poderá ser mais pronunciada Várias intoxicações são mencionadas como causas de necrose pancreática em animais A intoxicação por zinco causa necrose pancreática em condições naturais em bezerros leitões ovinos e pássaros e a condição foi reproduzida experimentalmente em gatos ovinos bovinos galinhas e patos Em suínos causas de necrose de células pancreáticas acinares incluem a intoxicação por Senna occidentalis a intoxicação por selênio e micotoxicoses incluindo consumo de toxina T2 deoxinivalenol vomitoxina ou diacetoxiscirpenol anguidina Esses tricotecenos também causam edema intersticial hiperplasia de ductos biliares e necrose das células das ilhotas nessa espécie JQPNBUPTFQBODSFÈUJDB A infiltração de células adiposas no tecido conjuntivo intersticial do pâncreas ocorre de modo ocasional em gatos suínos e bovinos em especial mas não necessariamente em animais obesos O tecido adiposo acumulase no interstício e dispersa o parênquima criando a impressão microscópica falsa de massa exócrina diminuída com substituição por tecido adiposo Embora possa ocorrer alguma atrofia por pressão do parênquima a lipomatose não é funcionalmente significativa Cálculos pancreáticos A formação de concreções ou pedras no sistema de ductos pancreáticos é denominada pancreolitíase e ocorre com pouca frequência em bovinos Em geral é um achado incidental em matadouros e a maior frequência é em bovinos com mais de 4 anos de idade Lipofuscinose pancreática A lipofuscinose pancreática é ocasionalmente observada em cães com deficiência de vitamina E O acúmulo de lipofuscina causa uma alteração macroscópica caracterizada por cor cáqui ou marrom do pâncreas e da camada de músculo liso do intestino à bexiga os linfonodos mesentéricos podem também estar afetados Microscopicamente aparecem grânulos marromdourados de pigmento localizados na porção basal das células pancreáticas acinares e nos miócitos intestinais esses grânulos são positivos na reação com PAS sudanofílicos e fracamente álcoolacidorresistentes O acúmulo microscópico de pigmento pode ocorrer em outros tecidos incluindo o epitélio pigmentar da retina Vacuolização celular A vacuolização das células acinares exócrinas do epitélio dos ductos e das células das ilhotas pode ser observada nas doenças como α e βmanosidose e galactossialidose Vacuolização das células acinares pancreáticas ocorre também em doenças adquiridas do depósito lisossomal como a intoxicação por Sida carpinifolia em cabras e bovinos Atro a pancreática Atrofia pancreática exócrina é comum mas frequentemente negligenciada Pode ser primária ou secundária a algum outro distúrbio do pâncreas ou de seus ductos Na atrofia primária o órgão é difusa e uniformemente afetado Figura 477 Um decréscimo na massa é geralmente a única anormalidade discernível embora infiltração por gordura possa ser ocasionalmente observada Alterações histológicas são difíceis de discernir se o tecido não for comparado com um controle Figura 477 Atrofia pancreática secundária A Macroscopia O pâncreas está difusamente nodular devido à perda de parênquima e à substituição por tecido conjuntivo que retrai porções do parênquima Comparar com o aspecto do pâncreas normal da Figura 412 B Histologia da lesão mostrada em A Observase extensa fibrose separando restos de ácinos pancreáticos As células acinares sofrem atrofia se a proteína ou energia da dieta ficar abaixo do desejado Atrofia difusa do órgão ocorre em animais que passam fome ou têm anorexia prolongada caquexia deficiência proteicocalórica e síndromes de má digestão ou má absorção Na fome crônica a massa pancreática pode ser menor que 10 da massa normal Outros tecidos particularmente o fiado podem estar também atrofiados nessas condições A atrofia pancreática secundária resulta principalmente de obstrução ductal mas também de fibrose intersticial inflamação crônica e neoplasia Um exemplo de atrofia pancreática secundária desse tipo é a euritrematose pancreática ver o item Doenças específicas Atro a pancreática juvenil em cães Atrofia acinar pancreática de aparecimento juvenil é uma importante condição em cães até recentemente era classificada de maneira errônea como hipoplasia pancreática É diagnosticada com maior frequência no Pastor Alemão prevalência de 1 como uma condição hereditária autossômica recessiva Ocorre também com predisposição familiar em Collie de Pelo Longo e Setter Inglês e é encontrada esporadicamente em outras raças A atrofia do pâncreas exócrino é precedida por infiltração focal acentuada de linfócitos T associados à degeneração atrofia apoptose e necrose de células acinares Plasmócitos aparecem em grandes números nas áreas de degeneração pancreática parenquimatosa Nesse estágio a fibrose é mínima e a lesão é denominada pancreatite linfocítica atrófica Esse aspecto morfológico sugere uma reação autoimune dirigida contra os ácinos pancreáticos exócrinos Os sinais clínicos aparecem em geral quando os cães afetados chegam a 6 a 12 meses de idade mas a fase subclínica pode ocasionalmente durar anos em alguns casos o traço genético pode nunca se manifestar fenotipicamente Fatores de estresse como troca de residência ou de dieta e doença intercorrente podem precipitar a atrofia pancreática juvenil Quando o cão manifesta os sinais clínicos a atrofia do pâncreas está avançada e pouco resta do infiltrado inflamatório e da degeneração celular que são observados no estágio inicial da doença Achados de necropsia incluem intestinos distendidos por conteúdo volumoso e desaparecimento dos depósitos de gordura da cavidade abdominal O parênquima delgado do pâncreas atrófico pode ser detectado pelo mesentério desprovido de gordura Em razão da atrofia do parênquima os ductos principais e seus tributários maiores são notavelmente conspícuos com escasso parênquima pancreático ao seu redor Histologicamente o lóbulo pancreático é pequeno e composto de células acinares pequenas As ilhotas de Langhans geralmente têm aspecto histológico normal mas com uma distribuição desorganizada e irregular MUFSBÎÜFTJOýBNBUØSJBTFSFBÎÜFTEPQÉODSFBTËBHSFTTÍP Pancreatite aguda A pancreatite aguda espontânea ou idiopática ocorre com maior frequência no cão Cadelas obesas e sedentárias são especialmente predispostas A pancreatite em cães ocorre como consequência da liberação de enzimas pancreáticas ativadas no parênquima pancreático e tecidos adjacentes Essas enzimas ativadas particularmente a fosfolipase A e a elastase digerem o tecido pancreático Isso por sua vez provoca liberação de mediadores da inflamação que amplificam ainda mais o processo e atraem células inflamatórias O mecanismo responsável pela liberação de potentes enzimas pancreáticas nesses tecidos não está completamente caracterizado e pode envolver mais de um evento desencadeador A pancreatite aguda frequentemente ocorre após o cão ter ingerido uma refeição com níveis elevados de gordura Sinais clínicos de pancreatite aguda incluem anorexia vômitos e dor abdominal As lesões de pancreatite aguda são degradação proteolítica do parênquima pancreático lesão vascular hemorragia e necrose da gordura peripancreática por enzimas lipolíticas Inflamação caracterizada pela acumulação de leucócitos ao redor do tecido afetado sobrepõese rapidamente na necrose tecidual inicial Casos brandos de pancreatite são caracterizados por edema do tecido intersticial do pâncreas A pancreatite hemorrágica aguda é mais grave e caracterizada por edema do pâncreas que contém áreas brancoacinzentadas de necrose de coagulação e áreas vermelhoescuras ou azulenegrecidas de hemorragia Áreas de necrose da gordura aparecem como focos com aspecto de giz devido à saponificação do tecido adiposo necrótico no mesentério adjacente ao pâncreas Porções de parênquima podem aparecer interpostas entre as porções afetadas Na cavidade peritoneal frequentemente há líquido serossanguinolento que pode conter gotículas de gordura A peritonite manifestase por aderências fibrinosas entre as porções afetadas do pâncreas e os tecidos adjacentes O aspecto microscópico da pancreatite hemorrágica aguda inclui extensas áreas focais de necrose de coagulação do parênquima pancreático acúmulo de exsudato fibrinoso nos septos interlobulares hemorragia infiltração leucocitária necrose e inflamação da gordura do mesentério adjacente às porções afetadas do pâncreas A pancreatite aguda grave produz efeitos sistêmicos nos cães afetados A liberação de mediadores da inflamação e enzimas ativadas oriundas do pâncreas lesionado pode produzir lesão vascular disseminada e subsequentemente hemorragia disseminada choque e CID O fígado também é afetado em muitos casos de pancreatite como é indicado pela elevação nas atividades de enzimas hepáticas como ALT no soro e pela necrose hepática focal A pancreatite é ocasionalmente iniciada por traumatismo principalmente em pequenos animais como consequência de lesões por esmagamento ou por impacto no abdome O vazamento de enzimas do pâncreas como consequência de traumatismo dá início à necrose e à inflamação do pâncreas e dos tecidos adjacentes da mesma maneira descrita anteriormente para a pancreatite no cão A pancreatite aguda com intensidade suficiente para causar sinais clínicos é aparentemente muito menos frequente em outras espécies do que no cão A necrose pancreática aguda ocorre de maneira esporádica em gatos e cavalos e a pancreatite foi descrita no cavalo embora com patogênese diferente a necrose e a inflamação na pancreatite do cavalo são provavelmente iniciadas pela migração de larvas de estrôngilos pelo pâncreas A subsequente liberação de enzimas pancreáticas resulta em digestão enzimática do pâncreas e dos tecidos circunvizinhos Pancreatite crônica A pancreatite crônica é tipicamente acompanhada por fibrose e atrofia do parênquima A inflamação crônica do pâncreas é mais comum e importante no cão e ocorre em outras espécies incluindo gatos cavalos e bovinos mas raramente tem importância clínica nessas espécies No cão a fibrose pancreática e a pancreatite crônica são consequências de destruição progressiva do pâncreas por episódios brandos recorrentes de necrose pancreática aguda e pancreatite O pâncreas aparentemente tem pouca capacidade de regeneração e responde à agressão com substituição do tecido necrótico por fibrose e com atrofia do parênquima remanescente Assim a destruição continuada do tecido pancreático irá causar perda progressiva sem reposição do tecido glandular Se uma porção significativa do pâncreas é afetada os cães podem desenvolver sinais de insuficiência pancreática exócrina com ou sem sinais de insuficiência pancreática endócrina diabetes mellitus O pâncreas de animais afetados está acentuadamente distorcido e tornase uma massa encolhida e nodular Aderências fibrosas do pâncreas aos tecidos adjacentes estão presentes com frequência A destruição do tecido pancreático frequentemente não tem magnitude suficiente para causar insuficiência pancreática exócrina uma vez que áreas de fibrose pancreática são às vezes encontradas como lesões incidentais na necropsia de cães com função digestória aparentemente normal A fibrose pancreática também ocorre em cães e em ovinos intoxicados por zinco A pancreatite crônica e a substituição do parênquima por fibrose ocorrem ocasionalmente no cavalo em geral como consequência de migração parasitária ou de infecção bacteriana ascendente do sistema ductal pancreático No entanto a pancreatite crônica no cavalo é na maioria das vezes clinicamente silenciosa Infecções parasitárias Vários organismos podem parasitar os ductos pancreáticos dos animais domésticos incluindo trematódeos das famílias Opisthorchidae Opisthorchis tenuicollis O viverrini Clonorchis sinensis Metorchis albidus M conjunctus e Dicrocoelidae Eurytrema pancreaticum Concinnum procyonis Dicrocoelium dendriticum que podem parasitar ductos pancreáticos de várias espécies animais Ascarídeos são nematódeos gastrintestinais comuns de espécies domésticas que ocasionalmente podem alojarse nos ductos pancreáticos em particular de suínos MUFSBÎÜFTQSPMJGFSBUJWBT Neoplasias do pâncreas exócrino podem ser adenomas benignos e carcinomas malignos e é possível que ocorram formas de transição entre tumores benignos e malignos Ocorrem em carnívoros com baixa frequência e raramente em outras espécies animais Hiperplasia nodular multifocal lesão tumoriforme é comum em cães e gatos velhos As neoplasias do pâncreas endócrino estão detalhadas no Capítulo 13 Adenoma exócrino Adenomas exócrinos são menos comuns que carcinomas exócrinos e foram descritos em cães e bovinos Em geral são pequenos 05 cm de diâmetro com nódulos sólidos ocasionalmente podem ser císticos brancos ou marromamarelados levemente salientes na superfície do pâncreas e bem circunscritos Podem ser confundidos com nódulos hiperplásicos Histologicamente são crescimentos tubulares ou acinares sustentados por delicadas trabéculas colágenas e encapsulados por fina cápsula fibrosa e podem comprimir o tecido pancreático adjacente Grânulos de zimogênio são mais evidentes nas células dos adenomas do que nas células acinares normais Os núcleos são redondos e as mitoses são raras Pode ser difícil distinguir adenoma de hiperplasia nodular mas a observação de algumas características das duas condições pode auxiliar Tabela 43 Carcinoma exócrino É o tumor mais comum do pâncreas exócrino Sua frequência é alta em cães moderada em gatos e baixa em equinos bovinos e suínos Em geral cães mais velhos são afetados e parece não haver predisposição por sexo ou raça Sinais clínicos incluem dor abdominal vômito e perda de peso Pelo exame físico podese notar uma massa palpável e dolorosa na porção cranial do abdome Icterícia e colestase ocorrem como resultado da obstrução do ducto biliar pelo tumor ou por lesão hepática secundária Ocasionalmente podese observar a ascite como resultado da disseminação transcelômica ou por compressão da circulação portal O efeito corrosivo do vazamento das enzimas proteolíticas de carcinomas de pâncreas pode resultar em alterações císticas no tumor primário e esteatite necrosante na gordura do omento e do peritônio Tabela 43 Diferença entre adenomas e hiperplasia nodular de pâncreas exócrino Característica Adenomas Hiperplasia Frequência Rara Comum cães e gatos idosos Distribuição Solitária Múltipla Cápsula Sim Não Compressão do parênquima adjacente Sim Pouca Os carcinomas pancreáticos localizamse na porção média do pâncreas em cães e tendem a ser difusos lembrando pancreatite crônica ou hiperplasia nodular em gatos Alguns tumores são bem definidos e nodulares no entanto com maior frequência são massas pouco circunscritas irregulares com consistência variável friáveis e que infiltram o estroma normal adjacente Áreas de amolecimento e necrose podem ocorrer e zonas hemorrágicas focais ou difusas são comuns particularmente nos gatos Histologicamente carcinomas exócrinos apresentam um grande espectro de diferenciação alguns são adenocarcinomas tubulares bem diferenciados com estruturas acinares revestidas por células cuboides irregulares ou por células colunares mais diferenciadas outros podem formar mantos mais sólidos de células pouco diferenciadas que não mais lembram os ácinos pancreáticos Células individuais apresentam citoplasma eosinofílico que frequentemente é vacuolizado mas grânulos de zimogênio eosinofílicos somente são vistos em carcinomas bem diferenciados Os núcleos são uniformes e ovais com cromatina esparsa e são situados na base das células colunares revestindo os ácinos Em tumores pouco diferenciados os limites celulares não são fáceis de discernir e os núcleos são densamente agrupados tendem a ser mais irregulares na forma e apresentam tamanhos variáveis com quantidades variáveis de cromatina grosseira O quociente núcleocitoplasma depende do grau relativo de diferenciação dos tumores Carcinomas bem diferenciados com formações acinares geralmente têm células uniformes com polaridade regular e com quociente núcleocitoplasma baixo O índice mitótico reflete o nível de diferenciação tumores pobremente diferenciados têm maior número de mitoses por campo microscópico de grande aumento As mitoses são numerosas em carcinomas do tipo sólido pobremente diferenciado O estroma de sustentação é geralmente denso nos tumores pouco diferenciados com fibrose resultante Nos adenocarcinomas tubulares os túbulos são sustentados por fina estrutura trabecular colagenosa delgada mas regular Tumores grandes com frequência têm relativamente maior quantidade de componentes do estroma mas o encapsulamento de todo o tumor é pouco comum Hemorragia e necrose frequentemente induzem uma reação inflamatória que consiste em números moderados de neutrófilos macrófagos e linfócitos Agregados focais de linfócitos geralmente linfócitos T às vezes são observados Esses focos são em geral periféricos mas podem também ocorrer no estroma neoplásico Se a histopatologia não é suficientemente determinante identificações imunohistoquímicas usando anticorpos para insulina glucagon ou somatostatina podem ser úteis para fazer o diagnóstico Metástases ou disseminação transcelômica de carcinoma pancreático podem ser difíceis de distinguir de carcinomas de outra origem Infiltração local destrutiva crescimento contíguo disseminado e metástases transcelômicas são comuns Os locais mais frequentes de metástases são peritônio mesentério e órgãos gastrintestinais adjacentes seguidos por pulmões e fígado e menos frequentemente baço rim e diafragma A histogênese do carcinoma exócrino é incerta Uma origem ductular é presumida nos casos de arquitetura tubular mas a análise ultraestrutural indica que as células acinares podem ser as células de origem Infiltração local destrutiva crescimento contíguo disseminado e metástases transcelômicas são comuns Locais mais frequentes para metástases são peritônio mesentério e órgãos gastrintestinais adjacentes seguidos por pulmões e fígado e com menor frequência baço rins e diafragma Tumores não epiteliais Tumores não epiteliais primários que não têm origem de ácinos pancreáticos têm sido relatados mas com pouca frequência São geralmente mesenquimais e incluem fibromas fibrossarcomas linfomas tumores de bainha de nervo lipossarcomas e hemangiossarcomas Hemangiossarcoma no cão faz parte de uma neoplasia agressiva generalizada metastática ou multicêntrica com apresentação de tumores semelhantes no baço no fígado eou nos músculos esqueléticos Lesões tumoriformes Cistos solitários ou múltiplos podem ser observados e são provavelmente malformações congênitas de origem ductular Alternativamente a obstrução da drenagem ductular em animais adultos pode criar cistos Pseudocistos podem ocorrer associados a carcinomas de crescimento rápido ou pancreatite no cão e no gato mas cistos verdadeiros são relativamente bem definidos e têm a parede claramente fina Hiperplasia nodular benigna é muito comum em cães e gatos mais velhos como um achado incidental de necropsia e ocorre ocasionalmente no pâncreas de bovinos adultos Não há problemas clínicos quanto a essa condição PFOÎBTFTQFDÓåDBT Hepatite infecciosa canina A hepatite infecciosa canina HIC é uma doença viral de cães e de outras espécies das famílias Canidae e Ursidae causada por adenovírus canino 1 CAV1 canine adenovirus 1 um vírus sorologicamente homólogo mas antigênica e geneticamente distinto de adenovírus canino 2 CAV2 que produz doença respiratória em cães CAV1 é altamente resistente à inativação no ambiente sobrevive à desinfecção com várias substâncias químicas como clorofórmio éter ácido e formalina e é estável quando exposto à radiação ultravioleta CAV1 sobrevive por vários dias à temperatura ambiente em fômites contaminados e permanece viável por meses em temperaturas abaixo de 4C É inativado após 5 min em 50 a 60C Desinfecção por iodo fenol e hidróxido de sódio é eficiente Cães com HIC apresentam febre anorexia latidos frequentes dor abdominal tonsilite membranas mucosas pálidas e sinais clínicos de distúrbios neurológicos em cerca de um terço dos casos A morte pode ocorrer de forma superaguda ou aguda Na forma aguda a evolução pode ser de apenas algumas horas e os sinais clínicos podem não ser percebidos Formas subagudas leves e inaparentes são também descritas Em um estudo que utilizou 817 amostras de soro de cães não vacinados de Santa Maria RS 43 foram positivas para adenovírus canino portanto é provável que a infecção por CAV1 seja muito mais frequente que a doença clínica nessa região Em outros países estimase que apenas 12 a 25 dos cães afetados morram e que os restantes desenvolvam doença subclínica ou leve e se recuperem mantendo níveis séricos de anticorpos Após penetrar no organismo por via oronasal CAV1 localizase inicialmente nas tonsilas onde se replica e aumenta a carga viral Posteriormente disseminase para linfonodos regionais de onde ganha a circulação sanguínea pelos vasos linfáticos e ducto torácico A viremia que ocorre em 4 a 8 dias após a infecção propicia a disseminação do vírus para outros tecidos e secreções orgânicas incluindo saliva urina e fezes Hepatócitos células do sistema fagocítico mononuclear e células endoteliais de vários tecidos são os alvos primários do vírus A lesão hepática é de necrose hepatocelular zonal ou aleatória Cães que sobrevivem à fase de necrose hepatocelular apresentam regeneração hepática e títulos de anticorpos Alguns autores acreditam que parte desses cães pode desenvolver hepatite crônica e cirrose mas isso em geral não é aceito pela maioria dos pesquisadores As complicações clínicas oculares na HIC ocorrem em aproximadamente 20 dos cães naturalmente infectados e em menos que 1 dos cães após a vacinação subcutânea com vírus vivo atenuado O chamado olho azul tem desenvolvimento tardio em casos de cães afetados por HIC e ocorre em animais convalescentes em geral entre 14 e 21 dias após a infecção Essa manifestação ocular que torna o olho opaco e azulado Figura 478 resulta de edema inflamatório na íris no aparelho ciliar e na própria córnea e de abundante infiltrado inflamatório no ângulo de filtração Há evidências de que a lesão ocular seja uma reação de hipersensibilidade do tipo III Figura 478 Olho azul em cão com hepatite infecciosa canina HIC Essa alteração tem desenvolvimento tardio em cães afetados por HIC e ocorre em animais convalescentes em geral entre 14 e 21 dias após a infecção Acreditase que a lesão ocular seja uma reação de hipersensibilidade do tipo III Embora a causa da morte em casos de HIC seja incerta o fígado é o local primário da lesão causada pelo vírus e a insuficiência hepática e a CID estão envolvidas na sua gênese Originalmente era aceito que a tendência disseminada à hemorragia que ocorre nos casos de HIC deviase apenas à lesão direta ao endotélio associada à incapacidade do fígado de sintetizar fatores da coagulação Embora provavelmente isso tenha participação na patogênese acreditase que a CID seja o evento patogenético central das hemorragias A maioria dos casos de CID nas doenças virais resulta da liberação de fatores prócoagulantes do tecido necrótico A perda do endotélio induzida pelo vírus expõe a matriz subendotelial ao ataque das plaquetas e as células endoteliais degeneradas são fontes de tromboplastina tecidual Defeitos da hemostasia que ocorrem na hepatite infecciosa canina incluem trombocitopenia trombocitopatia tempo de protrombina prolongado atividade diminuída do fator VIII e aumento dos produtos de degradação de fibrina O número reduzido de plaquetas reflete tanto o aumento no consumo para reparar a lesão endotelial induzida pelo vírus quanto o dano direto causado pelo vírus nas plaquetas Em consequência da lesão endotelial disseminada produzida pelo vírus ocorre consumo excessivo de fatores da coagulação o que favorece as hemorragias A HIC é mais frequentemente encontrada em cães com menos de 1 ano de idade embora cães não vacinados de todas as idades possam ser afetados Os dados clínicos de necropsia e histopatológicos e imunohistoquímicos apresentados a seguir foram compilados de um estudo retrospectivo realizado em laboratório do autor que envolveu 5361 necropsias de cães entre 1965 e 2005 Dessas 62 12 tinham diagnóstico de HIC o que indica que essa não é uma doença frequentemente encontrada em necropsias de cães O curso clínico das formas fatais da doença varia de poucas horas a 15 dias e mortes súbitas são relatadas No entanto não se observam diferenças histológicas no fígado de cães que sucumbem à HIC após evolução clínica superaguda aguda ou subaguda Os sinais clínicos incluem anorexia apatia diarreia frequentemente com sangue distúrbios neurológicos vômito petéquias e equimoses nas membranas mucosas eou na pele hipotermia dor abdominal icterícia aumento de volume e congestão das tonsilas febre e ascite É importante salientar que a icterícia não é um achado frequente ou proeminente em cães que morrem de HIC provavelmente pelo curso clínico rápido da doença No estudo referido anteriormente apenas 6 dos 62 cães com HIC 97 apresentaram icterícia todos com intensidade leve Achados semelhantes têm sido descritos também em outros estudos Assim HIC não deve ser considerada como um diagnóstico diferencial provável em um cão com icterícia acentuada A correlação errônea entre icterícia e hepatite infecciosa canina originouse provavelmente do fato de esse sinal clínico ser frequente na hepatite viral de humanos uma doença não relacionada com a HIC Na necropsia cães com HIC apresentam fígado aumentado de volume túrgido e congesto com áreas irregulares de hemorragia e áreas mais claras Figura 479 Frequentemente cerca de 20 dos casos o órgão está recoberto por uma película de fibrina Edema da vesícula biliar é uma lesão macroscópica frequente Figura 480 As lesões extrahepáticas mais frequentes em cães afetados por HIC estão relacionadas na Tabela 44 Quantidades variáveis 10 a 700 ml de líquido são observadas na cavidade abdominal Em vários casos esse líquido é serossanguinolento ou consiste em sangue total mas pode ser incolor ou amarelocitrino Os linfonodos principalmente os mesentéricos estão aumentados de volume e avermelhados Ao corte são macios e deixam fluir líquido tingido de sangue Víbices sufusões e petéquias ocorrem na serosa de várias vísceras da cavidade torácica e abdominal principalmente na pleura visceral Figura 481 e na serosa do estômago e intestino A serosa do intestino delgado pode assumir um aspecto granular Figura 482 semelhante ao descrito como característico de parvovirose Dessa maneira como essa alteração é também frequentemente descrita associada à HIC não deve ser interpretada como uma lesão exclusiva de parvovirose Tal lesão tem sido explicada como resultante de reação de linfáticos superficiais da serosa Hemorragias são também observadas no encéfalo Figura 483 e provavelmente são responsáveis pelos distúrbios nervosos Figura 479 Fígado de cão com hepatite infecciosa canina O órgão está aumentado de volume e apresenta hemorragias irregulares na superfície capsular Figura 480 Hepatite infecciosa canina A superfície de corte do fígado mostra acentuado edema gelatinoso da parede da vesícula biliar Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Tabela 44 Alterações macroscópicas extrahepáticas em casos de hepatite infecciosa canina Sistema Alteração Integumento e tecido subcutâneo Mucosas anêmicas Mucosas ictéricas Hemorragias na pele Edema subcutâneo Petéquias na mucosa oral Cardiovascular Equimoses e petéquias subepicárdicas e subendocárdicas Hemolinfopoético Linfonodos aumentados de volume congestos e edematosos Hemorragiasedema do timo Tonsilas aumentadas de volume e hiperêmicas Respiratório Hemorragias na pleura visceral Pulmões avermelhados pesados e úmidos Hidrotórax Digestório Intestino com mucosa avermelhada e sangue no lúmen Ascite Hemorragias na serosa do estômago do intestino e de outras vísceras da cavidade abdominal Sangue no conteúdo gástrico Serosa intestinal de aspecto granular Avermelhamento da mucosa gástrica Edema intersticial de aspecto gelatinoso no pâncreas Hemoperitônio Intussuscepção do intestino delgado Urinário Sangue na urina Pontilhado vermelho multifocal no rim Nervoso Hemorragias no encéfalo Figura 481 Extensas áreas de hemorragia na pleura visceral de cão afetado por hepatite infecciosa canina Figura 482 Serosa do intestino delgado com aspecto caracteristicamente granular em cão com hepatite infecciosa canina As principais alterações histológicas da HIC localizamse no fígado que em todos os casos evidencia inclusões intranucleares IN em hepatócitos células de Kupffer ou células endoteliais do revestimento dos sinusoides Na quase totalidade dos casos há necrose hepática Figura 484 associada à hemorragia e a infiltrado inflamatório misto nos espaçosporta Em cerca da metade dos casos há necrose em distribuição zonal centrobular mas pode ser aleatória As IN são basofílicas ou anfofílicas e geralmente observadas em células da periferia dos focos de necrose algumas delas preenchem todo o núcleo mas a maioria apresenta um halo claro entre a inclusão e o limite da carioteca Figura 485 É interessante lembrar que nos hepatócitos de cães ocorrem IN inespecíficas que têm sido confundidas com as inclusões de HIC Essas IN são fortemente acidofílicas e poliédricas ver Figura 446 e ocorrem em cães de meiaidade ou idosos e sem as outras alterações associadas à HIC Figura 483 Corte transversal rostral ao quiasma óptico no encéfalo de cão com hepatite infecciosa canina Os núcleos caudato septal putame globo pálido e a cápsula interna mostram hemorragias multifocais Figura 484 Distribuição da necrose hepática zonal em hepatite infecciosa canina Figura 485 Aspecto histológico do fígado de cão com hepatite infecciosa canina mostrando hepatócitos com inclusões intranucleares anfofílicas sólidas cercadas por halo claro e com marginação da cromatina nuclear contra a carioteca O diagnóstico post mortem de HIC é facilmente confirmado pela presença das IN características Imunohistoquímica usando anticorpo monoclonal para detecção de antígeno CAV1 pode ser empregada para confirmar o diagnóstico e determinar a distribuição do antígeno nos diferentes tecidos Figura 486 Hemoglobinúria bacilar Hemoglobinúria bacilar é uma doença infecciosa aguda de bovinos que ocasionalmente afeta ovinos e raramente suínos e equinos Uma lecitinase necrosante e hemolítica βtoxina produzida por Clostridium haemolyticum C novyi tipo D um anaeróbio do solo é a causa da doença que se caracteriza por febre hemólise intravascular hemoglobinúria e necrose hepática Como a hemoglobinúria bacilar tem importância em bovinos e como os sinais clínicos e a patogênese das lesões em bovinos podem ser em grande parte extrapolados para as outras três espécies afetadas neste tópico será dada ênfase à doença em bovinos Figura 486 Aspectos imunohistoquímicos da hepatite infecciosa canina Método da estreptavidinabiotinaperoxidase contracoloração com hematoxilina de Harris A Fígado Marcação positiva preenchendo todo o núcleo de hepatócitos e de forma difusa nas células de Kupffer B Rim Marcação positiva nas células endoteliais dos tufos glomerulares A hemoglobinúria bacilar ocorre de forma endêmica em bovinos bem nutridos acima de 2 anos de idade nos meses de verão e outono em regiões onde são comuns a infestação por Fasciola hepatica e a presença de C haemolyticum isto é em pastos irrigados e com drenagem deficiente especialmente os de pH alcalino A doença ocorre também esporadicamente em locais onde não há F hepatica e acreditase que nesses casos a lesão hepática inicial seja produzida por outras causas Cysticercus tenuicollis telangiectasia e trajetos produzidos pela agulha de biopsia hepática são mencionados como lesões hepáticas que raramente são capazes de precipitar a doença A contaminação dos pastos pode ocorrer a partir de fezes de cadáveres em decomposição os esporos de C haemolyticum podem permanecer nos ossos de cadáveres por até 2 anos e a doença se transfere de uma área para outra por enchentes drenagem natural feno de pasto colhido em áreas afetadas e administrado a animais de áreas indenes e pelo transporte de ossos por cães e outros carnívoros Na região Sul do Brasil a doença ocorre em campos baixos de drenagem deficiente e sujeitos a inundações como os do litoral após períodos de cheia quando ocorre aumento na infestação por F hepatica com taxas de morbidade de 025 a 18 e letalidade próxima a 100 As taxas de morbidade podem ser bem maiores quando se introduzem bovinos de zonas indenes em zonas endêmicas Vários eventos da patogênese da hemoglobinúria bacilar são bem conhecidos Sob condições naturais os esporos do microrganismo são ingeridos com alimento contaminado e chegam ao fígado no qual permanecem dormentes nas células de Kupffer por vários meses até serem estimulados a germinar A migração de larvas de F hepatica pelo fígado é o principal fator que desencadeia a doença a lesão hepática inicial por esses trematódeos em um fígado que está abrigando esporos latentes de C haemolyticum cria as condições favoráveis de hipoxia anaerobiose necessárias para que os esporos germinem cresçam vegetativamente e produzam βtoxina uma toxina hepatotóxica e exacerbadora de necrose hepática preexistente Após ganhar a circulação sistêmica a βtoxina causa hemólise intravascular que culmina em anemia hemoglobinemia e hemoglobinúria Animais afetados morrem por hipoxia e toxemia O período de incubação da hemoglobinúria bacilar é de 7 a 10 dias e o curso clínico é agudo em geral 12 a 24 h embora casos de até 4 dias de evolução sejam relatados Provavelmente devido a condições de manejo extensivo alguns bovinos são encontrados mortos no campo sem que tenham sido observados sinais clínicos Em um exame cuidadoso observase febre 395 a 41C nos estágios iniciais que tende a desaparecer com o decorrer da doença Cessam as funções como ruminação alimentação lactação e defecação As fezes são marromescuras e pode haver diarreia com muito muco e algum sangue O bovino geme ao movimentarse e movimentase com o dorso arqueado provavelmente em decorrência de dor abdominal Frequentemente há dispneia e edema subcutâneo ventral na região do peito A cor vermelha da urina devese à presença de hemoglobina Figura 487 Há icterícia mas esta pode não ser muito marcante Vacas prenhes podem abortar Imediatamente antes da morte dispneia grave é evidente Nos estágios mais avançados ocorre anemia e a contagem de eritrócitos diminui para valores entre 1 e 4 106mm3 de sangue e a hemoglobina entre 3 e 8 mgdl de sangue O leucograma varia consideravelmente de 6700 a 34800 leucócitosmm3 de sangue A contagem diferencial varia de maneira semelhante com uma tendência de neutrofilia em casos graves Os níveis séricos de cálcio e fósforo estão normais mas os níveis de glicose podem estar elevados 100 a 120 mgdl em alguns casos Figura 487 Hemoglobinúria bacilar em bovino Bexiga repleta de urina vermelha em razão da hemoglobina que está sendo eliminada com a urina Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Os cadáveres de bovinos que morrem de hemoglobinúria bacilar estão em geral em boas condições de nutrição e levemente ictéricos o rigor mortis desenvolvese rapidamente e o períneo está sujo de urina vermelhoescura e fezes O sangue é aquoso e coagula com dificuldade Um achado importante são áreas de necrose de 5 a 20 cm no parênquima hepático Figura 488 Essas áreas geralmente são solitárias mas podem ser múltiplas são firmes bem circunscritas e levemente elevadas sobre a superfície capsular Tais áreas têm sido descritas como infartos secundários à trombose portal mas é pouco provável que esse seja o caso e talvez a trombose que ocorre nas áreas afetadas do fígado possa ser consequência e não causa das lesões hepáticas A trombose é encontrada mais frequentemente nas vênulas hepáticas do que nos ramos da veia porta Os rins são escuros devido à nefrose hemoglobinúrica Figura 489 semelhantemente aos rins observados na babesiose bovina ou na intoxicação crônica por cobre em ovinos As serosas das vísceras abdominais estão impregnadas por hemoglobina e assumem uma coloração vinhosa embebição hemoglobínica ante mortem em alguns casos há peritonite fibrinosa Histologicamente a lesão hepática corresponde a uma área de necrose de coagulação Figura 490 rodeada de bacilos Grampositivos Figura 488 Infarto área púrpura à direita no fígado de bovino com hemoglobinúria bacilar O restante do órgão está amarelado por pigmento biliar Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 489 Rim escuro nefrose hemoglobinúrica por hemoglobinúria bacilar em bovino Em caso de suspeita de hemoglobinúria bacilar devese remeter o fígado com a lesão e o rim em formol a 10 e tecido refrigerado para bacteriologia tecido da borda do infarto hepático colocado em um recipiente bem fechado e imunofluorescência quatro lâminas de esfregaço da lesão secas ao ar O diagnóstico diferencial da hemoglobinúria bacilar inclui outras doenças que cursam com urina vermelha ou vermelhoescura hemoglobinúria mioglobinúria e hematúria Essas doenças incluem babesiose nunca anaplasmose hemoglobinúria pósparto leptospirose aguda intoxicação crônica por cobre principalmente em ovinos intoxicação por Brachiaria radicans intoxicação por antibióticos ionóforos hematúria enzoótica intoxicação crônica por samambaia Pteridium aquilinum febre catarral maligna e pielonefrite Figura 490 Histopatologia do infarto do fígado em hemoglobinúria bacilar em bovino Uma área de necrose de coagulação é separada do restante do órgão por uma faixa de reação inflamatória onde se encontram também bacilos de Clostridium haemolyticum Fasciolose Fasciolose é uma doença parasitária do fígado causada por Fasciola hepatica filo Platelmintos classe Trematoda subclasse Digenea família Fasciolidae um trematódeo importante do fígado de animais domésticos e tem distribuição cosmopolita Áreas enzoóticas para fasciolose são campos baixos e úmidos isto é as mesmas áreas enzoóticas para o caramujo que serve de hospedeiro intermediário Lymnae spp Os vermes adultos de F hepatica têm forma de folha Figura 491 medem 2 a 3 cm de comprimento e 13 cm de largura e parasitam principalmente os ductos biliares ou a vesícula biliar de bovinos ovinos caprinos suínos e outras espécies incluindo o ser humano embora sejam economicamente importante apenas em ovinos e bovinos Por serem vermes hermafroditas apenas um trematódeo pode estabelecer infecção patente Cada adulto vive até 11 anos e pode produzir 20000 ovosdia Devido à longevidade dos trematódeos adultos nos ductos biliares bovinos e ovinos infectados podem permanecer portadores Os ovos passam junto com a bile pelos ductos biliares até o duodeno e são eliminados nas fezes Em uma temperatura ótima 26C os ovos eclodem em 10 a 12 dias produzindo os miracídios ou larvas de primeiro estágio que só podem sobreviver em ambientes úmidos em que existam caramujos do gênero Lymnaea O miracídio penetra ativamente no caramujo e se desenvolve em esporocistos Cada esporocisto dá origem a cinco a oito rédias que por sua vez dão origem a rédias filhas e cercárias Cercárias abandonam o caramujo em 4 a 7 semanas após a penetração dos miracídios e acomodamse nas lâminas de gramíneas ou outras plantas logo abaixo do nível da água As cercárias se encistam tornandose metacercárias e permanecem nas plantas ou submergem ao fundo da água Sob condições favoráveis esses eventos ovos até cercárias encistadas levam de 1 a 2 meses O hospedeiro final ruminante ingere as cercárias junto com as plantas Bovinos e outros animais que caminham na água em que bebem podem com o movimento das patas na água fazer com que as metacercárias que repousam no fundo emirjam para a superfície propiciando sua ingestão pelos animais que bebem a água contaminada As metacercárias ingeridas desfazem o cisto excistam no duodeno do hospedeiro definitivo e penetram na parede intestinal Vinte e quatro horas após a infecção a maioria dos trematódeos imaturos está na cavidade abdominal e em 4 a 6 dias a maioria penetrou na cápsula hepática e migrou através do parênquima Embora algumas formas imaturas do trematódeo possam chegar ao fígado por via hematogênica a via usual é a transcelômica pela cavidade abdominal e as metacercárias penetram pela cápsula e migram pelo parênquima hepático até os ductos biliares A migração pelo parênquima hepático dura 5 a 6 semanas Cerca de 7 semanas após a infecção os trematódeos imaturos alcançam os ductos biliares nos quais alcançam a maturidade sexual em 2 a 3 meses A partir desse momento os ovos são encontrados na bile e subsequentemente nas fezes Alguns trematódeos podem penetrar acidentalmente as veias hepáticas e daí atingirem a circulação sistêmica e localizarse em sítios incomuns em particular nos pulmões de bovinos Figura 492 Figura 491 Exemplares de Fasciola hepatica Esses trematódeos têm forma de folha A patogênese da doença causada por F hepatica está relacionada com o efeito da ação das metacercárias no fígado dano ao parênquima hepático e ao efeito dos trematódeos adultos nos ductos biliares hematofagia e colangite Dependendo do número de metacercárias ingeridas pelo animal a fasciolose pode ser aguda subaguda ou crônica As formas aguda e subaguda ocorrem quase exclusivamente em ovinos embora esporadicamente sejam observadas em bovinos ao passo que a doença crônica ocorre nas duas espécies e é a forma mais comum de manifestação da fasciolose A fasciolose aguda ocorre 2 a 6 semanas após a ingestão de 2000 ou mais metacercárias Resulta de grave dano hepático causado pela migração de numerosas larvas de F hepatica pelo parênquima do fígado Coeficientes de mortalidade acima de 10 são descritos em ovinos afetados por essa forma Sinais clínicos geralmente não são observados em animais com morte aguda ou superaguda mas a observação mais cuidadosa de ovinos afetados pode revelar anemia dispneia cólica e ascite Na necropsia o fígado aparece aumentado de volume e recoberto por espessa camada de fibrina Figura 493 A há abundante líquido serossanguinolento na cavidade abdominal A superfície de corte do fígado aparece entrecortada por numerosos trajetos hemorrágicos causados pela migração das metacercárias Alterações histológicas incluem trajetos fistulosos lineares produzidos pelas larvas migratórias que aparecem nos cortes transversais de alguns desses trajetos Figura 493 B A maioria dos trajetos é circundada por hepatócitos necróticos células inflamatórias principalmente eosinófilos excreções dos trematódeos e outros detritos não identificados os trajetos são cercados por tecido conjuntivo fibroso que ocasionalmente comunicase com as tríades portais Alterações nos ductos biliares são mínimas ou ausentes A cápsula hepática está espessada por tecido conjuntivo e fibrina resultante da reação à penetração das larvas Figura 492 Fasciolose pulmonar em bovino A Superfície natural B Superfície de corte Figura 493 Fasciolose aguda em ovino A Superfície natural mostrando o fígado coberto por várias camadas de fibrina B Na superfície de corte observamse trajetos hemorrágicos por onde migraram as larvas do trematódeo A fasciolose subaguda em ovinos ocorre 6 a 10 semanas após a ingestão de 500 a 1500 metacercárias Sinais clínicos dessa forma incluem marcada palidez das mucosas anemia marcada causada por hemorragia emagrecimento hepatomegalia edema subcutâneo submandibular e ascite Figura 494 a mortalidade pode ser alta mas o curso clínico é mais demorado 1 a 2 semanas Nesse estágio já ocorre colangite mas os trajetos hemorrágicos ainda são marcantes na superfície de corte do fígado A fasciolose crônica desenvolvese lentamente resulta da ação de trematódeos adultos nos ductos biliares e consiste em colangite e colangioepatite crônicas Ocorre 4 a 5 meses após a ingestão de números menores 200 a 500 de metacercárias Nessa fase a espoliação é crônica pode haver perda de cerca de 05 ml de sanguedia pelos ductos biliares infectados e os principais sinais clínicos são relacionados com anemia e hipoalbuminemia Em infecções acentuadas pode ocorrer emagrecimento anemia observada como palidez das mucosas hipocrômica e macrocítica hipoalbuminemia observada como edema subcutâneo submandibular e ascite Ovos de F hepatica podem ser constatados nas fezes Em infestações com maior carga de parasitas há perda da produtividade observada como emagrecimento e diminuição da produção de leite entretanto em infestações mais leves o quadro clínico é menos grave e pode passar despercebido Na necropsia o fígado está firme e tem um contorno irregular os ductos biliares estão espessados e proeminentes Na face visceral do fígado os ductos biliares aparecem como ramificações de estruturas proeminentes brancacentas e firmes que podem ter 25 cm de diâmetro Figura 495 e áreas segmentares de ectasia com diâmetro maior O espessamento dos ductos biliares pode ser também observado na superfície de corte Figura 496 Em bovinos as lesões ductais são mais acentuadas e correspondem a uma maior proliferação de tecido fibrovascular na parede ductal Figura 497 Em adição em bovinos o tecido fibrovascular é internamente mineralizado Os ductos biliares assim afetados contêm exsudato marromescuro e viscoso que é formado por flóculos de bile pus células ductais descamadas fragmentos de trematódeos e ovos desses parasitas Lesões granulomatosas em reação aos ovos de F hepatica são observadas frequentemente Exemplares de F hepatica podem ser observados em meio ao exsudato As alterações biliares podem ocorrer em todos os lobos mas consistentemente o lobo esquerdo é afetado de maneira mais acentuada A proliferação de tecido conjuntivo na parede dos ductos biliares estendese a áreas periportais e há fibrose deixada pela migração das larvas pelo parênquima de modo que a fibrose oblitera a arquitetura do lobo esquerdo Nesses casos avançados o lobo esquerdo está atrofiado duro e irregular o lobo direito está hipertrofiado hipertrofia compensatória e leve ou acentuadamente arredondado Figura 498 A fibrose desenvolvese por duas razões principais cicatrização pósnecrótica em reação à migração das metacercárias e fibrose biliar ao redor dos ductos pela ação dos trematódeos nos pequenos ductos biliares Casos de colangioepatite crônica podem ser leves ou acentuados dependendo da carga parasitária e do tempo de evolução do processo Figura 494 Bovino com fasciolose crônica mostrando mau estado nutricional e edema subcutâneo submandibular Esse bovino apresentava ainda acentuada anemia Figura 495 Achado de necropsia em bovino com fasciolose crônica Na face visceral do lobo esquerdo do fígado os ductos biliares aparecem como ramificações de estruturas proeminentes brancacentas e firmes com superfície interna calcificada Vários espécimes de Fasciola hepatica são observados dentro dos ductos e ao seu lado Figura 496 Na superfície de corte do fígado de bovino com fasciolose observase acentuado espessamento dos ductos biliares os quais têm seu revestimento epitelial necrosado e calcificado Vêse um exemplar de Fasciola hepatica em cada um dos ductos à esquerda O parênquima hepático entre os ductos afetados mostra uma fina trama de tecido conjuntivo Figura 497 Histopatologia da forma crônica de fasciolose bovina Um ducto biliar está acentuadamente espessado por tecido conjuntivo fibroso e células inflamatórias O epitélio de revestimento está hiperplásico e se pode ver a superfície de corte de três exemplares de Fasciola hepatica no interior dos ductos Cortesia do Dr André M R Correa Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 498 Fasciolose bovina Há acentuada atrofia do lobo esquerdo do fígado e hiperplasia compensatória do lobo direito que aparece arredondado e acentuadamente aumentado de volume Migração aberrante é mais comum em bovinos e nódulos de parasitas encapsulados são frequentemente observados no pulmão Esses nódulos variam de um a vários centímetros consistem em abscessos de paredes finas situados na extremidade de brônquios e contêm líquido viscoso com aspecto achocolatado e parcialmente coagulado em meio ao qual podemse observar os parasitas O diagnóstico clínico pode ser facilitado se realizado por meio de exames de fezes que visem encontrar ovos de trematódeos pela determinação da atividade de enzimas hepáticas no soro e pela detecção de anticorpos contra componentes de F hepatica As enzimas que devem ser determinadas são glutamato desidrogenase que indica dano hepatocelular durante a migração das larvas pelo parênquima hepático e γglutamil transpeptidase que indica dano às células de revestimento dos ductos biliares pelos vermes adultos Os métodos de detecção de anticorpos mais confiáveis contra F hepatica incluem ensaio imunossorvente ligado à enzima ELISA enzymelinked immunosorbent assay e teste de hemaglutinação passiva O diagnóstico em ovinos é facilmente realizado pela necropsia A infecção por F hepatica é um fator predisponente para a hemoglobinúria bacilar em bovinos e para a doença negra hepatite necrosante infecciosa em ovinos Acreditase que a migração das larvas pelo fígado crie o ambiente adequado para a proliferação de Clostridium haemolyticum C novyi tipo D Outras causas comuns de distomoníase em animais domésticos incluem Fascioloides magna Fasciola gigantica e Dicrocoelium dendriticum Fasciola gigantica é encontrada na África na Ásia e no Havaí sua morfologia e seu ciclo de vida são semelhantes aos de F hepatica Fascioloides magna pode chegar a 7 cm de comprimento e 2 a 25 cm de largura Seus hospedeiros naturais são veados e alces americanos Nos hospedeiros definitivos F magna se encista em uma cápsula fibrosa no interior do parênquima hepático O cisto comunicase com um ducto biliar o que possibilita que ovos e produtos excretórios do trematódeo passem do cisto para um ducto biliar e sejam posteriormente eliminados nas fezes Em bovinos e suínos F magna se encista mas não ocorre a comunicação com um ducto biliar o cisto se enche com grande quantidade de ovos e produtos de excreção do trematódeo Esses produtos de excreção são ricos em pigmento com ferro e porfirina Em ovinos F magna não se encista e migra de maneira contínua pelo parênquima induzindo extensa necrose hepática e frequentemente causando a morte Dicrocoelium dendriticum necessita de dois hospedeiros intermediários O primeiro é um caramujo da terra no qual as cercárias se desenvolvem e são eliminadas em estruturas semelhantes a bolas viscosas essas estruturas são ingeridas por formigas o segundo hospedeiro intermediário nas quais se desenvolvem em metacercárias que são infectantes para o hospedeiro intermediário Uma ou duas metacercárias migram para o gânglio subesofágico da formiga o que altera seu comportamento induzindo a formiga a se prender às partes superiores das gramíneas e de outras plantas facilitando a ingestão Euritrematose pancreática Eurytrema pancreaticum filo Platelmintos classe Trematoda subclasse Digenea família Dicrocoeliidae subfamília Eurytrematini e várias outras espécies do gênero Eurytrema têm sido descritas nos ductos pancreáticos e raramente nos ductos biliares e no duodeno de bovinos ovinos búfalos camelos suínos e outras espécies incluindo o ser humano Na América do Norte Eurytrema procyonis parasita o ducto pancreático de pequenos carnívoros incluindo o racoon Procyon lotor gatos e raposas Infecções de ruminantes são relatadas na Ásia no Brasil e em outros países sulamericanos E coelamaticum é descrita como a espécie mais comum nos ductos pancreáticos de bovinos e ovinos mas não está bem claro se E coelamaticum e E pancreaticum são realmente espécies diferentes O trematódeo adulto mede 85 a 127 mm de comprimento por 59 a 89 mm de largura O período prépatente em bovinos e ovinos é 80 a 100 dias Os ovos são eliminados nas fezes e são ingeridos pelo hospedeiro intermediário que no Brasil é o caramujo Bradybaena similaris No interior do caramujo ocorrem duas gerações de esporocistos Aproximadamente 5 meses após a infecção a segunda geração produz cercárias que são liberadas no pasto pouco antes do amanhecer Cercárias são ingeridas pelo segundo hospedeiro intermediário gafanhotos gênero Concephalus como é o caso no Brasil ou grilos Oecanthus longicuandus como é o caso na Malásia e na antiga União Soviética Os hospedeiros finais são infectados pela ingestão acidental de gafanhotos infectados com metacercárias infectantes As metacercárias se encistam no duodeno do hospedeiro final migram pelos ductos pancreáticos acessórios e se distribuem por todos os ductos pancreáticos tributários A euritrematose é comumente encontrada no Brasil tendo sido relatada nas regiões Central Sudoeste e Sul Em um relato é mencionado que de 55004855 pâncreas de bovinos examinados em um período de dez anos 1970 a 1979 pela Inspeção Federal em Frigoríficos de Minas Gerais 406768 foram rejeitados devido a lesões causadas por Eurytrema sp Em outro relato no estado de São Paulo 70 dos bovinos abatidos em abatedouros municipais apresentavam parasitismo pancreático por Eurytrema sp As lesões pancreáticas causadas por Eurytrema spp em ruminantes domésticos variam de leve a acentuada fibrose inflamação e perda do tecido pancreático Os trematódeos são sempre encontrados no lúmen dos ductos Figura 499 mas os ovos penetram as paredes dos ductos e causam reação granulomatosa com células gigantes multinucleadas Figura 4100 O tecido pancreático perdido pela parasitose é substituído às vezes quase completamente por tecido fibroso ou adiposo o tecido pancreático que persiste seja qual for sua quantidade é essencialmente normal Relatase que o tamanho dos trematódeos adultos em meio às lesões pancreáticas é inversamente proporcional à intensidade dessas lesões provavelmente refletindo a falta de nutrição para o verme devido à destruição tecidual Nos pâncreas em que a destruição tecidual é mínima os trematódeos adultos são grandes ativos e restritos aos ductos maiores Em pâncreas gravemente danificados os trematódeos são pequenos e atróficos e encontrados nos ductos menores Lesões causadas por E pancreaticum parecem ocorrer com maior frequência no lobo esquerdo do pâncreas Figura 499 Euritrematose pancreática em bovino A Aspecto macroscópico da superfície de corte do pâncreas Os ductos estão dilatados e contêm exemplares de Eurytrema pancreaticum O parênquima pancreático apresenta acentuada atrofia As áreas mais escuras representam reação granulomatosa ao redor de aglomerados de ovos B Corte transversal de vários exemplares de E pancreaticum no ducto pancreático de bovino Observar as proeminentes ventosas cavidade corporal esponjosa e glândulas vitelares que identificam os parasitas como trematódeos ao exame microscópico Figura 4100 Euritrematose pancreática Granulomas ao redor de ovos de E pancreaticum no pâncreas de bovino Esses granulomas eram percebidos como áreas multifocais escuras na Figura 499 A Os sinais clínicos associados à euritrematose pancreática em ruminantes domésticos podem ser discretos Má nutrição e caquexia são frequentemente relatadas mas casos subclínicos são comuns Alterações que lembram diabetes mellitus têm sido descritas ocasionalmente em ovinos e bovinos no entanto outros relatos afirmam que o pâncreas endócrino é em geral poupado o que é difícil de entender quando se examinam pâncreas em que pouco tecido quer exócrino ou endócrino pode ser encontrado Lipidose hepática centrolobular e nefrose com glicosúria acentuada têm sido relatadas em bovinos com euritrematose pancreática Hidatidose hepática equinococose Hidatidose é representada por lesões císticas cisto hidático que ocorrem no interior do parênquima de vários órgãos parenquimatosos mas principalmente pulmão e fígado É o estágio larval de um cestódeo Echinococcus granulosus Em geral o ciclo evolutivo característico dos cestódeos é indireto com um hospedeiro intermediário O cestódeo adulto é encontrado no intestino delgado do hospedeiro definitivo de onde segmentos e ovos são liberados nas fezes e a forma larval localizase nos tecidos do hospedeiro intermediário Quando o ovo é ingerido pelo hospedeiro intermediário as secreções gástrica e intestinal digerem o embrióforo e ativam a oncosfera que atravessa a mucosa intestinal alcançando a circulação Quando alcança seu local de predileção a oncosfera perde seus ganchos e se desenvolve em estágios larvais conhecidos como metacestódeos No caso da hidatidose o parasita adulto é denominado Echinococcus granulosus e a forma larval cisto hidático Há duas cepas principais de E granulosus que parasitam animais domésticos E granulosus granulosus e E granulosus equinus Como a segunda ocorre na Europa quando for usada a denominação E granulosus neste tópico será uma referência a Echinococcus granulosus granulosus Os hospedeiros definitivos de E granulosus um cestódeo pequeno de 6 mm de comprimento são o cão e vários canídeos silvestres e os hospedeiros intermediários que desenvolvem os cistos hidáticos incluem ruminantes domésticos e silvestres suínos Figura 4101 e humanos O período prépatente no hospedeiro definitivo é de 40 a 50 dias O crescimento do cisto hidático se completa em 12 meses A cápsula do cisto é formada por uma membrana externa pelo epitélio germinativo interno de onde se originam as vesículasfilhas cada uma com vários escólices Figura 4102 Essas vesículas podem soltarse no líquido do cisto formando a areia hidática Figura 4101 Fígado de suíno com hidatidose A Na superfície capsular observamse múltiplos nódulos esféricos brancos e salientes com 25 cm de diâmetro B Na superfície de corte podese observar que esses nódulos são císticos contêm líquido claro têm uma cápsula fibrosa espessa e são revestidos por uma membrana delgada e branca O líquido não é observado na fotografia e os cistos aparecem como cavidades vazias nas quais se veem apenas as membranas delgadas e a cápsula fibrosa espessa Figura 4102 Cisto hidático em fígado de bovino Histopatologia mostrando três escólices brotando da cápsula prolígera A distribuição dos cistos varia entre as espécies em ovinos cerca de 70 deles ocorrem nos pulmões e 25 no fígado o restante é distribuído por outros órgãos Em bovinos 90 dos cistos hidáticos ocorrem no fígado Figura 4103 e o restante em outros órgãos incluindo pulmão coração Figura 4104 e baço Figura 4105 Com o passar do tempo o cisto hidático se calcifica tornandose inviável nesse estágio por vezes é confundido com granuloma tuberculoide Os cistos hidáticos ocorrem no parênquima hepático e fazem saliência na superfície capsular Uma reação inflamatória granulomatosa que circunda o cisto ocorre como reação do hospedeiro Figura 4103 Cisto hidático em fígado de bovino Praticamente todo o parênquima hepático está tomado por múltiplos nódulos esféricos com cápsula espessa cistos hidáticos no entanto este bovino não apresentou sinais clínicos relacionados com a hidatidose Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 4104 Cisto hidático em pulmão de bovino Figura 4105 Cisto hidático em baço de bovino E granulosus não é patogênico independentemente da carga de infestação intestinal do cão não há sinais clínicos associados Também os cistos hidáticos no hospedeiro intermediário são bem tolerados a não ser que ocorram em órgãos como o pâncreas e o sistema nervoso central o que é raro em animais domésticos No entanto quando os cistos hidáticos se desenvolvem em humanos geralmente produzem sinais clínicos graves Essa é portanto uma doença de interesse em saúde pública A epidemiologia da hidatidose abrange o ciclo pastoral e o silvestre O ciclo silvestre ocorre em canídeos e ruminantes silvestres Nesse ciclo os hospedeiros definitivos adquirem a doença por predação ou consumo de cadáveres de animais silvestres que tenham os cistos No ciclo pastoral o cão é o hospedeiro definitivo envolvido e se infecta ingerindo vísceras contaminadas de ruminantes Persiste ainda em muitas fazendas o costume de quando se abate um ovino jogar para os cães as vísceras principalmente o pulmão que nessa espécie é o órgão que mais contém cistos hidáticos O hospedeiro intermediário doméstico varia de acordo com o tipo de criação local mas o mais importante é o ovino e em segundo lugar o bovino Esse ciclo pastoral é a principal fonte de hidatidose para o ser humano que se infecta por ingestão acidental de oncosferas presas aos pelos de cães ou por ingestão de verduras e legumes contaminados por fezes de cães Cysticercus tenuicollis A forma larval metacestódeo da Taenia hydatigena é um cisticerco denominado Cysticercus tenuicollis Um cisticerco é um cisto cheio de líquido com um único escólex invaginado fixado às vezes denominado protoescólex Taenia hydatigena é um grande cestódeo de até 500 cm de comprimento Seu hospedeiro definitivo é o cão mas canídeos silvestres também podem ser infestados As oncosferas de T hydatigena são infectantes para ovinos bovinos e suínos As oncosferas são ingeridas pelos hospedeiros intermediários e transportadas pela circulação até as serosas abdominais onde se fixam Após 4 semanas cada uma se desenvolve no Cysticercus tenuicollis caracteristicamente grande o qual tem até 8 cm de diâmetro Não há sinais clínicos associados a essa condição os cisticercos de T hydatigena são mais comumente encontrados em ovinos Figura 4106 como uma lesão incidental na necropsia ou um achado de abatedouro Raramente grande número de cisticercos em desenvolvimento migra pelo fígado produzindo uma condição conhecida como hepatite cisticercosa Figura 4107 que pode ser fatal Ocasionalmente cisticercos em desenvolvimento são destruídos no fígado provavelmente em ovinos previamente expostos à infecção nesses casos a superfície subcapsular do fígado se encontra salpicada de nódulos esverdeados de aproximadamente 1 cm de diâmetro Figura 4106 Aspecto macroscópico do Cysticercus tenuicollis no fígado de ovino Os cistos forma larvais de Taenia hydatigena aparecem como estruturas esféricas ou ovaladas translúcidas de cerca de 2 a 3 cm de diâmetro presas à cápsula hepática por um pedículo Figura 4107 Aspecto macroscópico da hepatite cisticercosa em bovino A Superfície natural B Superfície de corte Essa condição ocorre raramente quando grande número de larvas migra pelo parênquima hepático É mais grave e mais comum em ovinos Coccidiose hepática A coccidiose hepática em lagomorfos é causada pelo coccídio Eimeria stiedae reino Protista filo Apicomplexa classe Conoidasida ordem Eucoccidiorida família Eimeridae que provoca hiperplasia dos ductos biliares e afeta tanto coelhos domésticos como lagomorfos selvagens principalmente à época do desmame Infestações por E stiedae podem se manifestar por retardo no crescimento e no ganho de peso e por doença clínica com mortalidade Além disso em coelhos com altas cargas parasitárias pode haver comprometimento da resposta imune e predisposição a doenças intercorrentes A ocorrência de doença clínica está relacionada com a dose de esporocisto ingerida experimentos com doses orais de 100 a 1000000 de esporocistos por coelho resultaram em coeficientes de mortalidade de 40 e 80 respectivamente Doses menores não provocam mortalidade mas podem provocar lesões subclínicas que levam à condenação de fígados em abatedouros Isso resulta em um problema econômico para a criação de coelhos destinados ao consumo O ciclo evolutivo de E stiedae é semelhante ao de outros coccídios Os coelhos tornamse infectados ingerindo oocistos esporulados esporocistos os esporozoítos ativados por tripsina e bile deixam os esporocistos e invadem as células epiteliais da mucosa duodenal migram para a lâmina própria e chegam à circulação sistêmica Acreditase que os microrganismos migrem para os linfonodos mesentéricos regionais e cheguem ao fígado 48 h após a ingestão dos oocistos por via linfática ou hematogênica Ao chegar ao fígado os esporozoítos penetram as células epiteliais dos ductos biliares e realizam esquizogonia e gametogonia com resultante formação dos oocistos que passam para os ductos biliares e daí para o intestino de onde são eliminados nas fezes em cerca de 7 semanas ou mais após a exposição O período prépatente é de aproximadamente 15 a 18 dias Os oocistos são normalmente resistentes a alterações ambientais e quando esporulados permanecem infectantes por vários meses A coccidiose hepática é tradicionalmente dividida em quatro estágios Estágio inicial que corresponde à produção de E stiedae coincide com lesão hepatocelular durante a esquizogonia e é associado à elevação na atividade sérica das transaminases Estágio colestático em que ocorre elevação sérica de bilirrubina conjugada e das transaminases coincide com o início da produção de oocistos Estágio de disfunção metabólica caracterizado por hipoglicemia e hipoproteinemia Estágio de imunossupressão em coelhos com alta carga parasitária resultando em incapacidade de interromper a produção dos estágios sexuais do parasita Achados de necropsia de coelhos afetados incluem emaciação distensão abdominal e ausência dos depósitos de tecido adiposo Os pelos da região perianal estão sujos de fezes marrons ou verdes Ocasionalmente ocorre ascite em casos de comprometimento acentuado do fígado há hepatomegalia e icterícia As lesões hepáticas macroscópicas são muito características anatomicamente associadas aos ductos biliares e possibilitam o diagnóstico na necropsia Consistem em estruturas lineares amarelas e salientes na superfície do parênquima hepático Figura 4108 que correspondem aos ductos biliares engrossados por fenômenos proliferativos e que podem chegar a um calibre de 05 a 2 cm de diâmetro A parede da vesícula biliar em geral está espessada e contém bile viscosa Na superfície de corte podemse notar ectasia e espessamento da parede dos ductos biliares que contêm bile espessa verdeescura ou castanha A lesão microscópica característica é uma marcada hiperplasia dos ductos biliares decorrente da irritação causada pelo parasita durante a produção de oocistos Há extensa fibrose e infiltrado celular inflamatório misto nas regiões periportais A hiperplasia do epitélio nos ductos afetados induz projeções papilares revestidas por células epiteliais reativas que repousam sobre um estroma de tecido conjuntivo de sustentação Grandes números de gametócitos e oocistos estão geralmente presentes nas células epiteliais dos ductos parasitados Figura 4109 À medida que a lesão se torna crônica os microrganismos diminuem de número e em casos de muito longa duração podem estar ausentes restando apenas fibrose periportal proeminente O diagnóstico pode ser confirmado na necropsia pelas lesões características Esfregaços de impressão da superfície de corte das lesões e aspirados da vesícula biliar possibilitam a fácil visualização dos oocistos As lesões biliares proliferativas e os microrganismos observados histologicamente são patognomônicos Figura 4108 Coccidiose hepática infecção por Eimeria stiedae em coelho aspecto macroscópico Observamse estruturas amarelas e salientes na superfície do parênquima hepático Essas estruturas correspondem aos ductos biliares engrossados por fenômenos proliferativos Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 4109 Coccidiose hepática em coelho aspecto histopatológico Há acentuada hiperplasia do epitélio dos ductos biliares que contêm várias formas evolutivas de Eimeria stiedae Além da coccidiose hepática coelhos são suscetíveis à coccidiose entérica e 12 espécies de Eimeria foram descritas no trato intestinal de coelhos domésticos e selvagens Dessas as mais patogênicas são E intestinalis e E flavescens As de patogenicidade intermediária são E magna E irresidua e E piriformis Espécies consideradas de baixa patogenicidade incluem E perforans E neoleporis e E media A coccidiose intestinal é uma condição comum em criações comerciais de coelhos e pode se tornar um problema econômico À semelhança da coccidiose hepática a doença intestinal ocorre mais frequentemente em coelhos ao desmame e dependendo da espécie de Eimeria e da carga parasitária pode não ocorrer doença clínica ou ocorrer diarreia verde profusa e aquosa Nessa forma de coccidiose as lesões são restritas ao ceco e ao cólon e incluem congestão e edema da mucosa o conteúdo intestinal é aquoso malcheiroso e verdeescuro ou marrom Na histologia a localização das lesões no intestino depende da espécie de Eimeria envolvida essas lesões incluem necrose de enterócitos atrofia das vilosidades infiltrado acentuado de heterófilos e presença de gametócitos e oócitos nos enterócitos Hepatite de células acidofílicas Hepatite de células acidofílicas HCA em cães é uma doença algo obscura que pode ser aguda ou crônica associada à hiperplasia nodular e à insuficiência hepática O agente causador provavelmente um vírus até então não determinado pode ser transmitido por injeções subcutâneas de homogeneizado de fígado e soro de animais afetados Testes moleculares reação em cadeia de polimerase afastaram a possibilidade de que o vírus seja hepadnavírus CAV1 vírus E da hepatite vírus C da hepatite e parvovírus canino O quadro final é visto como insuficiência hepática caracterizada por hipertensão portal ascite e morte A hepatite das células acidofílicas foi descrita pela primeira vez no Reino Unido durante estudos que tentavam identificar uma causa viral para alterações hepáticas em cães da região de Glasgow que apresentavam alta incidência de carcinoma hepatocelular primário Os pesquisadores se baseavam em estudos anteriores que relacionavam o vírus da hepatite B de humanos e o hepadnavírus das marmotas que são causas de carcinoma hepatocelular nessas duas espécies A HCA foi então reproduzida em um cão Yorkshire Terrier de 2 anos de idade que apresentou vômito coma intermitente artralgia e dor abdominal por mais de 1 ano As alterações clínicas e bioquímicas elevação da atividade sérica de ALT eram típicas de insuficiência hepática crônica e hipertensão portal O exame histopatológico demonstrou hepatite crônica grave com áreas de fibrose e hiperplasia nodular Independentemente do estágio da lesão células acidofílicas eram observadas consistentemente nas lesões são hepatócitos degenerados ou necróticos com forma angular encolhidos com núcleo hipercromático e citoplasma intensamente eosinofílico em decorrência de pequenos grânulos acidofílicos citoplasmáticos que tendem a coalescer Soro e preparações com extrato de tecido hepático desse Yorkshire Terrier foram inoculados subcutaneamente em outros seis cães que apresentaram elevação intermitente da atividade sérica de ALT alguns com febre superior a 40C Macroscopicamente o fígado desses cães estava aumentado de volume firme e com acentuação do padrão lobular Histologicamente células acidofílicas eram vistas próximo aos tratos portais associadas a alterações de hepatite crônica persistente mas normalmente as células acidofílicas nos casos experimentais não são tão marcantes como nos poucos casos espontâneos descritos Hepatose dietética A hepatose dietética necrose hepática nutricional ocorre em suínos de crescimento rápido com 2 a 16 semanas de idade É um de vários distúrbios causados pela deficiência de vitamina E eou selênio As lesões incluem edema subcutâneo transudato nas cavidades serosas e necrose hepatocelular hemorrágica Nos últimos anos a hepatose dietética tem se tornado uma doença rara em suínos provavelmente em razão do uso generalizado de rações balanceadas de boa qualidade A maioria dos suínos afetados é encontrada morta Em casos esporádicos ocorre dispneia depressão grave vômito icterícia e incoordenação A degeneração muscular é regularmente encontrada na necropsia associada às lesões hepáticas mas geralmente os sinais de insuficiência hepática obscurecem os sinais de incapacitação muscular Pode ocorrer aumento significativo nas atividades séricas da creatinoquinase CK creatine quinase e AST A patogenia das lesões hepáticas nessa doença não está completamente determinada mas é incluída no grupo de doenças responsivas ao selênio e à vitamina E que são antagonistas da formação de radicais livres e portanto importantes na manutenção da estabilidade e integridade das membranas celulares A hepatose dietética é caracterizada por necrose hemorrágica massiva O aspecto do fígado reflete a extensão da necrose hepática a gravidade das hemorragias e a duração da deficiência Regiões de necrose massiva no fígado afetado estarão inicialmente distendidas vermelhoescuras e macias Em suínos que sobrevivem à doença aguda as áreas de necrose colapsam e são substituídas por faixas densas de fibrose processo conhecido como cicatrização pósnecrótica Histologicamente pode haver necrose massiva de vários lóbulos em uma região e outros serem poupados Capilariose Calodium hepaticum previamente Capillaria hepatica Hepaticola hepatica é um nematódeo que parasita vários hospedeiros embora seja considerado um patógeno primário de roedores como ratazana Rattus norvegicus ratodostelhados R rattus camundongos Mus musculus e vários outros roedores silvestres Outras espécies afetadas incluem coiotes gambás cães gatos porcos coelhos lebres ungulados primatas não humanos e humanos Em cães e gatos a doença em geral é clinicamente silenciosa mas alguns animais de maneira ocasional apresentam anorexia vômitos diarreia dor abdominal e raramente encefalopatia hepática C hepaticum foi descrito pela primeira vez em 1850 no fígado de um rato no Brasil o primeiro relato em cão ocorreu no Rio de Janeiro em 1954 O ciclo de vida é direto O parasita adulto é muito delgado varia de 22 a 104 mm de comprimento e habita o parênquima hepático no qual faz a ovopostura Para que os ovos sejam liberados do fígado é necessário que o hospedeiro primário morra e que o cadáver se decomponha possibilitando liberação dos ovos para o ambiente O hospedeiro contaminado também pode ser consumido por um predador que liberará os ovos pelas fezes No meio ambiente com altos índices de oxigênio e umidade os ovos permanecem um período que varia de 28 a 30 dias até que se tornem larvados e infectantes A infecção ocorre por meio da ingestão dos ovos larvados por um hospedeiro suscetível Os ovos eclodem no ceco e as larvas migram até o sistemaporta atingem o fígado e desenvolvemse até a forma adulta No fígado os parasitas adultos permanecem por menos de 2 meses e depositam os ovos em aglomerados Os parasitas adultos e os ovos favorecem a formação de granulomas assim quase sempre são um achado incidental na necropsia pois geralmente os cães não manifestam sinais clínicos associados à lesão hepática Macroscopicamente o fígado difusamente acometido é firme pálido e levemente aumentado de volume tem superfícies capsular e de corte irregulares finamente granular e com um padrão reticulado evidenciado por listras ou faixas amarelas que se entrecruzam no parênquima Figura 4110 Quando o fígado apresenta granulomas multifocais estes são caracterizados por pontos amarelos ou áreas pálidas que variam de alguns milímetros até 1 cm de diâmetro distribuídos aleatoriamente na superfície natural e de corte Histologicamente em casos em que há poucos agregados multifocais de ovos ocorre apenas leve infiltrado inflamatório mononuclear com raros eosinófilos e discreta proliferação de fibroblastos circundando os aglomerados de ovos Figura 4111 Quando vários agregados de ovos e cortes transversais de parasitas adultos estão presentes no fígado podese observar um infiltrado inflamatório mononuclear com eosinófilos células gigantes e extensas faixas de tecido fibroso circundando os ovos e parasitas Os hepatócitos circunjacentes podem mostrar degeneração gordurosa Formas adultas degeneradas e calcificação de ovos são ocasionalmente encontradas Figura 4110 Capilariose hepática em cão A e B As superfícies natural e de corte estão finamente granulares e com um padrão reticulado evidenciado por listras ou faixas amarelas que se entrecruzam no parênquima Figura 4111 Histologia da capilariose hepática em cão A Um aglomerado de ovos de Calodium hepaticum é circundado por tecido conjuntivo fibroso e mínimo infiltrado inflamatório mononuclear Cortes longitudinais mostram ovos em forma de barril e com um tampão em cada extremidade B Coloração pelo tricrômico de Masson para evidenciar colágeno englobando os ovos de C hepaticum O diagnóstico é feito por meio das características morfológicas dos ovos de C hepaticum que incluem formato de barril cutícula externa espessa e dupla tampões bipolares e tamanho de 5 a 68 μm por 28 a 35 μm Cães de rua ou que têm acesso eventual às ruas com hábitos de ingerir carcaças de roedores são mais predispostos contribuindo também como disseminadores de ovos e servindo de fonte de infecção para si próprios para outros animais e para o ser humano Doença de Tyzzer A doença de Tyzzer causada pelo Clostridium piliforme é uma condição infecciosa de animais de laboratório e embora com frequência esporádica também afeta animais domésticos como potros bezerros cães e gatos Casos já foram também relatados em seres humanos Entre as espécies domésticas é mais comum em potros Tipicamente apenas animais muito jovens ou imunossuprimidos são afetados Em potros a doença de Tyzzer é limitada a indivíduos com idade entre 7 e 42 dias Os sinais clínicos são inespecíficos e incluem perda do reflexo de mamar depressão que progride para decúbito febre taquipneia taquicardia icterícia diarreia desidratação convulsões choque e coma A doença é esporádica e por isso acreditase que não seja contagiosa Não é certo que essa doença já tenha ocorrido no Brasil Na necropsia há aumento de volume edema e hemorragia de linfonodos abdominais e focos pálidos de necrose distribuídos aleatoriamente pelo parênquima hepático Figura 4112 Microscopicamente há múltiplos focos aleatórios de necrose hepatocelular de coagulação associados à moderada quantidade de células inflamatórias neutrofílicas Figura 4113 O isolamento do bacilo é difícil mas sua presença junto aos focos de necrose pode ser demonstrada por técnicas de coloração especial como Warthin Starry Figura 4112 Fígado de potro afetado pela doença de Tyzzer mostrando múltiplos focos pálidos de necrose distribuídos aleatoriamente pelo parênquima Cortesia do Dr John F Edwards Texas A M University College Station Texas EUA Figura 4113 Doença de Tyzzer Aspecto microscópico do fígado de potro afetado Há múltiplos focos aleatórios de necrose hepatocelular associados à moderada quantidade de células inflamatórias neutrofílicas Cortesia do Dr John F Edwards Texas A M University College Station Texas EUA Doença de Theiler hepatite sérica equina Essa doença foi descrita pela primeira vez em 1918 na África do Sul por Arnold Theiler que observou que os cavalos afetados adoeceram após a vacinação contra a peste equina com vírus vivo e antissoro de origem equina Na década de 1930 uma doença semelhante foi descrita nos EUA Do mesmo modo os cavalos afetados nos casos americanos tinham sido vacinados contra encefalomielite equina com vírus vivo e antissoro de origem equina A doença de Theiler é também referida como hepatite sérica equina necrose hepática aguda hepatite associada ao soro e doença do soro Ocorre em equinos adultos embora exista um relato de doença subclínica em uma potranca de 2 meses O aparecimento dos sinais clínicos é abrupto e o curso da doença é de 2 a 7 dias A maioria dos cavalos afetados tem anorexia icterícia e sinais neurológicos relacionados com a encefalopatia hepática Morte súbita fotodermatite diátese hemorrágica febre edema subcutâneo de declive e cólica podem ocorrer Hemólise intravascular ocorre em estágios terminais da doença Embora raramente alguns cavalos com doença de Theiler mostram aparecimento insidioso de perda crônica de peso A doença típica ocorre esporadicamente mas surtos que envolvem vários cavalos em uma mesma fazenda por vários meses têm sido relatados Parece haver um padrão sazonal de ocorrência no verão e no outono Na maioria das vezes mas nem sempre equinos com doença de Theiler receberam um produto biológico de origem equina 4 a 10 semanas antes do início dos sinais clínicos daí o nome hepatite associada ao soro Esses produtos biológicos incluem vacinas ou antissoro para peste equina encefalomielites equinas tipo Leste e Oeste Bacillus anthracis antitoxina tetânica Clostridium perfringens C botulinum Streptococcus equi influenza herpesvírus equino tipo 1 e soro de égua prenhe Recentemente uma equipe de cientistas americanos SkewesCox et al 2013 mostrou evidências de que a doença de Theiler é causada por um vírus que foi denominado vírus associado à doença de Theiler TDAV Em uma fazenda oito equinos desenvolveram subitamente hepatite após terem sido injetados com um produto biológico antitoxina contra a toxina botulínica TDAV foi isolado de cada um dos oito equinos afetados e do equino de uma outra propriedade que serviu de fonte da antitoxina contaminada Além da icterícia disseminada as alterações patológicas estão limitadas ao fígado O fígado de animais afetados é pequeno friável e amolecido Figura 4114 há acentuação do padrão lobular devido à degeneração e à necrose centrolobular difusa de hepatócitos e consequente congestão dessas áreas necróticas Frequentemente apenas estreitas faixas de hepatócitos periportais sobrevivem e podem estar acompanhados de ductos biliares proliferados e fibrose Figura 4115 o que indica que a doença tem uma evolução mais crônica do que sugerem apenas os sinais clínicos Figura 4114 Aspecto macroscópico do fígado de equino afetado pela doença de Theiler O fígado é pequeno e amolecido pela necrose e por perda de hepatócitos Cortesia do Dr John F Edwards Texas A M University College Station Texas EUA Figura 4115 Doença de Theiler aspecto microscópico do fígado A maioria dos hepatócitos foi perdida por necrose e restam apenas alguns acompanhados por proliferação de ductos biliares e discreta fibrose Cortesia do Dr John F Edwards Texas A M University College Station Texas EUA O diagnóstico é feito com base no histórico que inclui administração de produtos biológicos de origem equina na elevação das atividades séricas das enzimas hepáticas que inclui sorbitol desidrogenase e arginase e em achados histopatológicos em biopsias hepáticas ou achados de necropsia e histopatologia post mortem A doença existe no Brasil Não há documentação oficial mas há casos com histórico sinais clínicos e lesões semelhantes observados na rotina da necropsia de equinos O problema com essa doença é que é difícil de confirmar o diagnóstico na falta de um agente etiológico definido seja qual for Uma revisão da literatura dessa condição deixa o leitor com a impressão de que doenças de várias etiologias podem estar sendo colocadas como uma entidade específica única 5ØYJDPTFYØHFOPTDPNBÎÍPTPCSFPGÓHBEP O sangue da veia porta que drena a superfície de absorção do intestino e flui diretamente para fígado transportando substâncias ingeridas como toxinas de plantas de fungos e de bactérias metais minerais e agentes terapêuticos torna esse órgão muito suscetível a lesões causadas por toxinas Compostos lipossolúveis têm de ser transformados no fígado em produtos hidrossolúveis que possam ser eliminados na urina e na bile Esse processo é denominado biotransformação hepática Os hepatócitos do centro do lóbulo zona 3 são mais sensíveis a um insulto tóxico em comparação com os hepatócitos da periferia do lóbulo zona 1 porque apresentam níveis altos de enzimas do sistema P450 que atuam transformando compostos lipossolúveis em substâncias tóxicas e porque no centro do lóbulo há baixa tensão de oxigênio e níveis reduzidos de glutationa peroxidase Os hepatócitos da periferia do lóbulo zona 1 são mais suscetíveis a substâncias tóxicas de ação direta devido à sua proximidade do fluxo sanguíneo que chega pelos ramos da veia porta e artéria hepática Tradicionalmente hepatotoxinas têm sido classificadas de acordo com o modo de ação e o tipo morfológico de lesão que causam A hepatotoxicidade pode ser intrínseca ou idiossincrática De acordo com o modo de ação as toxinas intrínsecas são correlacionadas com a dose previsíveis podem ser reproduzidas em espécies adequadas de animais e seus mecanismos patogenéticos são relativamente conhecidos podem ter ação direta ou indireta quando são primeiramente transformadas em metabólitos reativos A toxicose produzida pelas toxinas idiossincráticas é menos relacionada com a dose e mais imprevisível ela ocorre em apenas uma pequena proporção dos indivíduos expostos A patogênese da hepatotoxicidade idiossincrática é em geral desconhecida mas reflete uma suscetibilidade não usual dos indivíduos afetados De acordo com a lesão morfológica produzida as hepatotoxicoses podem ser classificadas em agudas ou crônicas Qualquer uma dessas duas pode ser classificada ainda em citotóxica quando a lesão afeta principalmente os hepatócitos colestática quando a lesão interfere no fluxo da bile ou mista quando componentes citotóxicos e colestáticos ocorrem simultaneamente As características clínicas e macroscópicas de intoxicações agudas e fatais que destroem o parênquima hepático são bastante consistentes independentemente da origem da toxina O animal morre após um breve período de apatia anorexia cólica e distúrbios neurológicos Achados de necropsia incluem ascite leve ou moderada e hemorragias subcapsulares no fígado Figura 4116 e em serosas de várias vísceras abdominais o conteúdo do reto e do cólon pode estar seco e coberto de muco e podemse observar estrias de sangue e conteúdo sanguinolento no intestino delgado e nas porções orais do cólon Hemorragia difusa para o lúmen do intestino Figura 4117 principalmente no duodeno é comum em ruminantes No entanto a lesão típica é encontrada no fígado que está aumentado de volume e túrgido e apresenta marcada acentuação do padrão lobular o que pode ser observado na superfície capsular Figura 4118 mas é mais evidente na superfície de corte Figura 4119 como áreas pálidas alternandose com áreas vermelhas e deprimidas As áreas vermelhas correspondem à necrose e à hemorragia no centro do lóbulo e as áreas pálidas a hepatócitos degenerados circundados por hepatócitos normais Variações nesse padrão lobular podem ocorrer em relação à dose tóxica Em lesões menos graves sem hemorragia o fígado tende a ser marromclaro devido à combinação de edema exclusão do sangue dos sinusoides destruição dos pigmentos do citocromo e acumulação de pigmento biliar e gordura Quando a dose é maior e a necrose é massiva o fígado está tumefeito e uniformemente vermelhoescuro pois a destruição de todo o lóbulo associada à hemorragia não possibilita a distinção entre uma lesão zonal centrolobular e uma periferia relativamente conservada Geralmente há edema da parede da vesícula e hidropericárdio mas icterícia e fotossensibilização não são aspectos dessas intoxicações agudas provavelmente por serem processos que se desenvolvem de maneira mais vagarosa Figura 4116 Hemorragias subcapsulares no fígado em hepatotoxicose aguda por Dodonea viscosa Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 4117 Hemorragias multifocais no omento em hepatotoxicose aguda por Xanthium cavanillesii Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 4118 Hemorragias no lúmen do cólon espiral em hepatotoxicose aguda por Dodonea viscosa Cortesia do Dr David Driemeier Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Figura 4119 Acentuação do padrão lobular do fígado de bovino com hepatotoxicose aguda por Xanthium cavanillesii A Superfície natural B Superfície de corte Há acentuada delimitação dos lóbulos por áreas centrolobulares hemorrágicas e deprimidas circundadas por áreas mais claras que correspondem a hepatócitos mais conservados Histologicamente há graus variáveis de necrose de coagulação no centro do lóbulo hepático Muitas vezes os hepatócitos da região mediozonal estão vacuolizados degeneração hidrópica e lipidose e os da periferia são mais ou menos preservados Figura 4120 Em outros casos todo o lóbulo é afetado necrose massiva e hemorragia Embora o grau de necrose varie de caso para caso e pareça ser dependente da dose todos os lóbulos tendem a ser afetados igualmente em um mesmo caso Figura 4120 Aspecto microscópico do fígado com intoxicação por Xanthium cavanillesii Os hepatócitos da região centrolobular mostram necrose de coagulação Os da região mediozonal estão vacuolizados degeneração hidrópica e lipidose e os da periferia estão mais ou menos preservados A lesão hepatotóxica crônica manifestase por padrões mais variados que a hepatotoxicidade aguda e incluem hepatite graus variados de necrose esteatose fibrose proliferação de ductos biliares colangite colangiofibrose poliplodia de hepatócitos megalocitose e em casos como aflatoxinas neoplasia Os sinais clínicos de hepatotoxicoses crônicas decorrem em geral de problemas que resultam da destoxificação e da excreção inadequadas incluem icterícia fotossensibilização e encefalopatia hepática A maior parte das toxinas responsáveis pela hepatotoxicose crônica e Senecio spp são bons exemplos disso pode produzir necrose massiva ou zonal aguda se administrada em doses maiores e em menor tempo do que aquelas que os animais esperam encontrar em situação de campo ainda assim casos de intoxicações agudas espontâneas por plantas que classicamente causam doença crônica são ocasionalmente observados Um exemplo disso é a intoxicação espontânea aguda que ocorre em ovinos no Nordeste brasileiro pela ingestão de Crotalaria retusa uma planta tradicionalmente conhecida por seus efeitos hepatotóxicos crônicos Ovinos morrem em consequência da intoxicação aguda 12 h após os primeiros sinais clínicos as lesões de necropsia e histopatologia nesses casos são semelhantes senão idênticas às descritas anteriormente para as hepatotoxicoses agudas O espectro de substâncias que podem causar hepatotoxicidade aguda ou crônica é tão amplo que abrange virtualmente todas as categorias de substâncias químicas naturais e sintéticas Incluem metais ferro cobre drogas acetaminofeno componentes de plantas fitotoxinas metabólitos de fungos micotoxinas produtos de bactérias microcistinaLR de cianobactérias e vários produtos industriais especialmente solventes aromáticos Muitos medicamentos são também hepatotóxicos em animais idiossincraticamente sensíveis em casos de superdose ou intoxicação acidental Diferenças em suscetibilidade a respostas hepatotóxicas provavelmente ocorrem para todas as classes de substâncias químicas metabolizadas pelo fígado Plantas hepatotóxicas ocorrem em várias famílias botânicas Tratar de cada uma dessas intoxicações individualmente não é o objetivo deste tópico mas as principais hepatotoxinas que produzem lesões hepáticas agudas subagudas ou crônicas em animais domésticos e os tipos de lesões que produzem estão resumidos nas Tabelas 45 a 48 Os princípios tóxicos de plantas fungos e insetos potencialmente hepatotóxicos e que induzem hepatotoxicoses espontâneas em animais domésticos no Brasil incluem carboxiatractilosídeo pergidina lofirotomina juranossesquiterpenos e triterpenos lantadene A e B saponinas esteroidais alcaloides pirrolizidínicos e aflatoxinas Carboxiatractilosídeos Atractilosídeo foi inicialmente identificado como o princípio hepatotóxico da planta do Mediterrâneo Atractylis gummifera da qual recebeu o nome É um componente dos glicosídios triterpenoides responsáveis pelo quadro de insuficiência hepática aguda em ruminantes No Brasil são encontrados em Cestrum parqui e Xanthium cavanillesii e produzem necrose centrolobular aguda em bovinos ovinos e suínos Pergidina e lo rotomina Necrose hepática aguda com grande perda de animais tem ocorrido em suínos bovinos e ovinos devido à ingestão de larvas de himenópteros incorretamente denominados moscaserra A boa palatabilidade dessas moscas e possíveis deficiências nutricionais têm sido responsabilizadas como fatores predisponentes à intoxicação Larvas de Lophyrotoma interrupta Arge pullata Argidae Perreyia lepida e Perreyia flavipes Pergidae têm sido associadas a mortes de ovinos bovinos e suínos em vários países No Brasil a doença espontânea foi produzida apenas pela ingestão de larvas Perreyia flavipes que contêm um heptapeptídio pergidina que causa necrose hepática centrolobular aguda Lofirotomina um octapeptídio produzido por Lophyrotoma interrupta produz necrose hepática aguda periportal Os sinais clínicos e as lesões são as descritas anteriormente para as hepatotoxicoses agudas Furanossesquiterpenos Terpenos e terpenoides são substâncias derivadas do carbono 5 do isopreno Os sesquiterpenos são tóxicos comuns em plantas Os subgrupos deles incluem sesquiterpenos furanoides furanossesquiterpenos ipomeanóis ngaiones lactonas sesquiterpênicas e esporidesmina Os furanossesquiterpenos FST como o ngaione e a miodesmona são óleos essenciais presentes em Lasiospermum bipinnatum e estão contidos também nas folhas e frutos do Myoporum spp As espécies de Myoporum que causam lesão hepática em ruminantes incluem M laetum M deserti M tetrandum e M tetrandum affin No Brasil a intoxicação experimental foi reproduzida em ovinos com necrose hepática periportal e bovinos necrose hepática centrolobular Ao contrário de outras hepatotoxinas de ação aguda o ngaione de M laetum produz icterícia Triterpenos Os ácidos triterpênicos lantadene A e B ocorrem em Lantana spp No Brasil a intoxicação por L camara L tiliaefolia e L glutinosa foi diagnosticada em bovinos e ovinos As toxinas da Lantana são absorvidas rapidamente pelo trato alimentar após a ingestão da planta chegam até o fígado pela circulação portal e dentro de poucos minutos provocam o quadro de colestase intrahepática Os triterpenos são metabolizados pelas enzimas do sistema microssomal hepático transformandose em metabólitos ativos Essas toxinas causam colestase intrahepática pela inibição do transporte da bile pelos hepatócitos Os metabólitos do lantadene provocam lesão na membrana das células dos canalículos biliares As principais consequências da colestase são fotossensibilização icterícia e estase ruminal Fotossensibilização ocorre devido ao impedimento da excreção biliar de bilirrubina Estase ruminal que é proeminente na intoxicação pela Lantana ocorre aparentemente pela diminuição do reflexo hepatorruminal processo iniciado pela lesão do tecido Os FST provocam também nefrose tubular Tabela 45 Hepatotoxicoses agudas de interesse veterinário no Brasil Hepatotoxina Espécies afetadas Princípio tóxico Lesão característica Comentários Plantas Xanthium spp Bovinos suínos e ovinos Carboxiatractilosídeo Necrose centrolobular Hipoglicemia e ascite em intoxicações agudas em suínos Cestrum parqui Bovinos Carboxiatractilosídeo Necrose centrolobular Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar Em condições naturais só causa intoxicação aguda Cestrum corymbossum variação hirsutum Bovinos Indeterminado Necrose centrolobular Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar Em condições naturais só causa intoxicação aguda Cestrum intermedium Bovinos Indeterminado Necrose centrolobular Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar Em condições naturais só causa intoxicação aguda Sessea brasiliensis Bovinos Indeterminado Necrose centrolobular Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar Em condições naturais só causa intoxicação aguda Experimentalmente pequenas doses repetidas podem causar cirrose hepática Dodonea viscosa Bovinos Indeterminado Necrose centrolobular Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar Em condições naturais só causa intoxicação aguda Myoporum laetum Ovinos Furanossesquiterpenos Ngaione Geralmente necrose centrolobular Pode ocorrer necrose zonal variável Pode afetar outras espécies mas no Brasil foi reconhecida em ovinos Cestrum intermedium Bovinos Indeterminado Necrose centrolobular Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar Em condições naturais só causa intoxicação aguda Cestrum laevigatum Bovinos Saponina cestrumida Necrose centrolobular Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar Em condições naturais só causa intoxicação aguda Experimentalmente pequenas doses repetidas podem causar cirrose hepática Dodonea viscosa Bovinos Indeterminado Necrose centrolobular Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar Em condições naturais só causa intoxicação aguda Trema micanthra Caprinos e ovinos Indeterminado Necrose centrolobular Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar Em condições naturais só causa intoxicação aguda Vernonia molissima Bovinos e ovinos Indeterminado Necrose centrolobular Degeneração do epitélio dos túbulos renais Vernonia rubricaulis Bovinos Indeterminado Necrose centrolobular Os surtos só ocorrem na época de seca Bactérias Microcystis aeruginosa Bovinos ovinos equinos caprinos e cães Microcistina Necrose centrolobular ou massiva Múltiplas toxinas presentes Pode também causar morte por alteração neuromuscular A doença não foi documentada em animais no Brasil mas há evidências de que ocorra Larvas de insetos Perreyia avipeds moscaserra Bovinos ovinos e suínos Pergidina Necrose centrolobular ou massiva Hemorragias em serosas edema da vesícula biliar A doença foi diagnosticada em bovinos e suínos no Brasil e em bovinos no Uruguai É provável que ocorra em bovinos no Rio Grande do Sul Micotoxina A atoxina Cães suínos e aves Bisfuranocumarínicos Necrose centrolobular lipidose Hemorragias Outras espécies podem ser afetadas mas as três listadas são as mais afetadas no país Pode ocorrer doença crônica Tabela 46 Algumas drogas hepatotóxicas de interesse veterinário que afetam pequenos animais Hepatotoxina Espécies afetadas Lesão característica Comentários Medicamentos Acetaminofeno Cães e gatos Necrose centrolobular aguda Droga antiin amatória Causa insu ciência hepática aguda Gatos são mais sensíveis Trimetoprimasulfonamida Cães Necrose hepática submassiva ou massiva e hepatite colestática Associação de drogas antibióticas Diazepam Gatos Necrose hepática centrolobular ou massiva Reação idiossincrática Ocorre após administração oral repetida de doses terapêuticas recomendadas Mebendazol Cães Necrose hepática centrolobular aguda Droga antihelmíntica de uso comum em cães Amiodarona Cães Necrose centrolobular aguda Droga antiarrítmica de classe III A mesma lesão é descrita em humanos Provavelmente reação idiossincrática Carprofeno Cães Alteração hepatocelular vacuolar massiva necrose lítica apoptose e necrose em ponte com in amação e colestase secundárias discretas Droga antiin amatória não esteroide Estanozolol Gatos Lipidose hepática com colestase Esteroide anabolizante Amiodarona Hepatotoxicidade com lipidose Foi relatada em quatro cães tratados Esse é um dos efeitos adversos de amiodarona em humanos e relacionase ao efeito da droga no metabolismo lipídico Cetoconazol Cães e gatos Doença hepática crônica Droga antifúngica Megestrol Gatos Doença hepática crônica Droga antineoplásica derivada de progesterona Griseofulvina Gatos Doença hepática crônica Droga antifúngica Primidona Cães Doença hepática crônica e cirrose Droga anticonvulsivante Fenitoína Cães Doença hepática crônica e cirrose Droga anticonvulsivante Fenobarbital Cães Doença hepática crônica e cirrose Droga anticonvulsivante Oxibendazoldietilcarbamazina Cães Doença hepática aguda e crônica caracterizada por hepatite periportal e brose periportal Antihelmíntico para ancilostomídeos e diro lárias Micotoxina A atoxina Principalmente cães Necrose centrolobular aguda e lesão Associada principalmente à ingestão crônica com brose e proliferação de ductos de polenta Ocorre nas formas aguda e crônica Tabela 47 Hepatotoxicoses associadas à fotossensibilização de interesse veterinário no Brasil Hepatotoxina Espécies afetadas Princípio tóxico Lesão característica Comentários Brachiaria spp Ovinos bovinos equinos e búfalos Saponinas litogênicas In amação e obstrução do sistema biliar formação de cristais nos ductos biliares necrose de hepatócitos Espécies incluem Brachiaria decumbens B humidicola B brizantha B ruziziensis Panicum spp Ovinos Saponinas litogênicas In amação e obstrução do sistema biliar formação de cristais nos ductos biliares necrose de hepatócitos Casos de intoxicação por Panicum dichotomi orum reconhecidos em ovinos no Brasil Lantana spp Bovinos e ovinos Lantadene A e lantadene B Tumefação de hepatócitos bilestase leve proliferação de ductos biliares Espécies incluem L camara L tiliaefolia L glutinosa Poucos surtos descritos no Brasil Ocorrem também lesões degenerativas no epitélio dos túbulos renais e no miocárdio Myoporum laetum Ovinos Furanossesquiterpenos Necrose centrolobular ou periportal Apenas um surto foi descrito no Brasil Stryphnodedron coriaceum Bovinos Indeterminado Tumefação difusa de hepatócitos Necrose individual de hepatócitos Ocorrem também lesões degenerativas no epitélio dos túbulos renais Enterolobium gummiferum Bovinos Indeterminado Leve tumefação de hepatócitos experimental A intoxicação espontânea é pouco frequente Enterolobium contortisiliquum Bovinos Indeterminado Necrose mediozonal de intensidade variável Há suspeita de que saponinas sejam o princípio ativo Enterolobium timbouva Bovinos Indeterminado Leve tumefação de hepatócitos experimental Poucos surtos descritos no Brasil Também pode causar brose Tabela 48 Hepatotoxicoses crônicas de interesse veterinário no Brasil Hepatotoxina Espécies afetadas Princípio tóxico Lesão característica Comentários Plantas Senecio spp Bovinos equinos e ovinos Alcaloides pirrolizidínicos Fibrose hepatomegalocitose hiperplasia biliar Associada à encefalopatia hepática e à ascite Principal causa de morte de bovinos no estado do Rio Grande do Sul A ocorrência em equinos e ovinos é esporádica Várias espécies ver texto para detalhes dessa planta são capazes de produzir doença idêntica Echium plantagineum Bovinos Alcaloides pirrolizidínicos Hepatomegalocitose brose hiperplasia biliar Lesões semelhantes às da intoxicação por Senecio spp Apenas um surto foi documentado no Brasil Crotalaria spp Ovinos caprinos e bovinos Alcaloides pirrolizidínicos Hepatomegalocitose brose hiperplasia biliar Espécies envolvidas C juncea e C retusa Em equinos ocorrem lesões pulmonares Pode causar intoxicação aguda em pequenos ruminantes Tephrosia cinerea Ovinos Indeterminado Fibrose periportal e subcapsular em ponte Ocorre na região do semiárido do Nordeste brasileiro Micotoxina A atoxina Suínos cães e aves Bisfuranocumarínicos Hepatomegalocitose brose hiperplasia biliar Outras espécies podem ser afetadas mas as três listadas são as mais frequentemente afetadas no país Também causa doença aguda Saponinas esteroidais Saponinas esteroidais são glicosídios com núcleo tipo furostanólico ou espirostanólico que contêm uma ou várias cadeias de açúcares Seu nome deriva da propriedade mais característica desse grupo de compostos que é a formação de espuma persistente e abundante quando em solução aquosa As espécies de Brachiaria e outras plantas Panicum spp Tribulus terrestris Agave lechiguilla e Nathercium ossifragum contêm saponinas esteroidais que induzem a deposição de cristais no sistema biliar colangite e fotossensibilização A hidrólise das saponinas de Brachiaria decumbens protodioscina e outras plantas dicotomina em Panicum spp resulta nas sapogeninas diosgenina e iamogenina que após serem metabolizadas no trato digestório dos animais resultam nas sapogeninas epismilagenina e episarsasapogenina respectivamente que são responsáveis pela formação dos cristais biliares Os cristais causam inflamação e obstrução do sistema biliar além de necrose dos hepatócitos periportais causando icterícia fotossensibilização e hepatite Encontramse também cristais aciculares nos hepatócitos nas células de Kupffer e nas células dos túbulos renais O material cristaloide pode provocar fotossensibilização e icterícia pelo bloqueio físico ao fluxo da bile ou os metabólitos das saponinas podem causar colestase específica com ação similar à lantadene A Os ovinos são mais sensíveis do que os bovinos à intoxicação e os animais jovens são mais sensíveis que os adultos No Brasil são descritos casos de intoxicação por Brachiaria decumbens em bovinos ovinos caprinos e bubalinos e de fotossensibilização hepatógena em equinos pela ingestão de B humidicola Quando os animais são expostos ao sol apresentam inquietação balançam a cabeça e as orelhas esfregam ou coçam as áreas afetadas em objetos e procuram a sombra As lesões de pele iniciamse com eritema seguido de edema fotofobia e dor Ocorre espessamento das partes afetadas da pele com presença de exsudato e formação de crostas O resultado final é necrose e gangrena seca que dá o aspecto de casca de árvore à pele afetada que finalmente desprendese São observados diferentes graus de icterícia bilirrubinemia e bilirrubinúria As lesões são mais graves nas regiões dorsais do corpo e nas partes expostas ao sol quando os animais se deitam As orelhas apresentamse contorcidas e com as bordas voltadas para cima podendo haver ulcerações na parte ventral da língua queratite opacidade de córnea e cegueira Há um aumento significativo nos níveis de γglutamiltransferase GGT e AST Na necropsia além das lesões de pele de língua e oculares descritas anteriormente observamse diversos graus de icterícia O fígado está aumentado de volume com coloração amarelocobre intensa há aumento de consistência e extensas áreas de fibrose em casos mais crônicos A vesícula biliar pode se apresentar distendida e com bile viscosa e espessa Os rins e a urina podem ter a coloração castanhoescura Em casos crônicos o fígado apresenta coloração amarelada que se evidencia ainda mais após um período de 24 h de fixação em formol a 10 Nesses casos os linfonodos hepáticos e mesentéricos não apresentam alterações de tamanho ou alterações externas mas na superfície de corte podem ser observadas numerosas estriações paralelas de cor branca semelhantes a giz dispostas em forma radiada paralela da cortical em direção à medular Alguns linfonodos podem apresentar na região medular pequenos nódulos brancos semelhantes aos da região cortical e que se projetam levemente na superfície de corte Alguns animais podem apresentar além disso áreas vermelhoescuras e irregulares distribuídas principalmente na cortical por vezes intercaladas com finas estriações esbranquiçadas Histologicamente observamse cristais nos ductos biliares e macrófagos espumosos às vezes com cristais no citoplasma Pode haver necrose e degeneração de hepatócitos periportais proliferação de células dos ductos biliares estase biliar colangite pericolangite e fibrose periportal Podemse observar macrófagos espumosos nos linfonodos no baço e ocasionalmente no intestino Alcaloides pirrolizidínicos Alcaloides pirrolizidínicos foram identificados em mais de 6000 plantas pertencentes a três famílias Asteraceae Leguminosae e Boraginaceae Os principais gêneros responsáveis por intoxicação em mamíferos domésticos são Senecio Crotalaria Heliotropium Cynoglossum Amsinckia Echium e Trichodesma Mais de 600 tipos de alcaloides pirrolizidínicos já foram isolados de plantas desses gêneros São essencialmente hepatotóxicos mas alguns têm também efeito sobre os pulmões como a monocrotalina ou sobre o rim Essas toxinas são metabolizadas por enzimas do sistema P450 que realizam a Noxidação e a desidrogenação transformamse e formam os pirróis tóxicos responsáveis pela toxicidade dos alcaloides Os danos causados pelos alcaloides pirrolizidínicos nos hepatócitos são irreversíveis Existem diferenças de suscetibilidade a essas substâncias entre as espécies de animais e mesmo entre animais de uma mesma espécie a resistência de algumas espécies resulta do equilíbrio entre as reações de bioativação desintoxicação e excreção de tais substâncias Os bovinos e equinos são 30 a 40 vezes mais suscetíveis à intoxicação por alcaloides pirrolizidínicos que os ovinos e caprinos Apesar de a literatura apontar os suínos como uma das espécies mais sensíveis experimentos com administração de grandes quantidades de Senecio brasiliensis a suínos resultaram negativos Pode haver variação quanto à sensibilidade à intoxicação dentro de uma mesma espécie ovinos da raça Merino por exemplo são mais resistentes à intoxicação por E plantagineum do que outras raças No Brasil a intoxicação por alcaloides pirrolizidínicos tem maior importância em bovinos e é causada pela ingestão de Senecio spp incluindo S brasiliensis Figura 4121 S oxypillus S cisplatinus S heterotrichius S selloi S cisplatinus e S tweediei É a principal causa mesmo levando em consideração todas as causas como infecciosas nutricionais metabólicas e tóxicas de morte em bovinos adultos No Rio Grande do Sul existe apenas um relato de intoxicação por alcaloides pirrolizidínicos causada por outra espécie de planta Echium plantagineum e de todas as intoxicações causadas por plantas tóxicas 56 são por Senecio spp Figura 4121 Espécime de Senecio brasiliensis A Planta inteira B Detalhes das flores A intoxicação espontânea a campo em bovinos é sempre crônica embora o curso clínico possa ser agudo e muito característica de modo que é possível o diagnóstico por histórico sinais clínicos e dados de necropsia Estes podem ser confirmados pela histopatologia mas isso não é realmente necessário se os sinais clínicos e os achados de necropsia forem conhecidos do veterinário Isso é de importância prática pois possibilita o diagnóstico no campo Aqui se deve fazer um parêntese para dizer que embora muitos patologistas não gostem de admitir é uma verdade simples que o diagnóstico conclusivo de muitas doenças pode ser feito pelos achados de necropsia e o de algumas delas apenas pelos achados clínicos Pontos importantes na epidemiologia devem ser considerados Quando ocorre a doença clínica os animais já apresentam as lesões crônicas há algum tempo Estimase que a planta seja ingerida no inverno entre maio e agosto e que os casos clínicos desenvolvamse meses após a ingestão de Senecio spp A morbidade tem variado de 492 a 568 média de 17 e a letalidade é de cerca de 100 O pico das mortalidades ocorre de meados da primavera ao início do outono mas devido ao caráter crônico da doença casos esporádicos podem ocorrer durante todo o ano A intoxicação por Senecio spp em bovinos é em geral uma doença de animais acima de 18 meses de idade mas já foram relatados casos de bezerros com apenas 4 meses confinados e alimentados com feno contaminado pela planta tóxica Os sinais clínicos e sua frequência relativa estão relacionados no Quadro 41 Dois cursos clínicos são observados um crônico em que a morte é precedida por emagrecimento Figura 4122 associado à diarreia intermitente ao longo de várias semanas ou meses alguns bovinos que ingerem a planta no inverno podem morrer no inverno do ano seguinte e um curso clínico agudo 24 a 96 h o qual ocorre em animais aparentemente em boas condições nutricionais que desenvolvem sinais neurológicos como andar em círculos pressão da cabeça contra objetos incoordenação e cegueira Os bovinos podem ficar indiferentes ao ambiente ou atacar pessoas ou objetos em seu caminho Os sinais nervosos são parte da encefalopatia hepática e quase sempre premonitórios de morte iminente Nessa fase tenesmo que pode levar a prolapso de reto Figura 4123 é observado com frequência moderada Icterícia e fotossensibilização não são características da intoxicação por Senecio spp em bovinos mas ocorrem em alguns poucos casos geralmente naqueles de curso clínico protraído Quadro 41 Sinais clínicos da intoxicação espontânea por Senecio spp em bovinos e suas frequências relativas Muito frequentes 60 a 100 dos casos Diminuição do apetite Animal separado do lote Tenesmo retal Pelos arrepiados Moderadamente frequentes 20 a 60 dos casos Emagrecimento Distúrbios nervosos Prolapso de reto Diarreia Pele com odor agridoce Ascite Pouco frequentes menos de 20 dos casos Icterícia Fotodermatite Edema subcutâneo de declive Figura 4122 Intoxicação por Senecio spp Grupo de bovinos com a manifestação clínica crônica da enfermidade caracterizada por emagrecimento Os achados de necropsia são característicos e estão resumidos no Quadro 42 O fígado está afetado em todos os casos e apresenta graus variáveis de endurecimento Muitas vezes a consistência é firme a ponto de oferecer resistência ao corte da faca O tamanho do fígado é na maioria das vezes normal ou diminuído e ocasionalmente aumentado de maneira moderada A superfície capsular é como regra lisa e cinzenta devido ao espessamento da cápsula Figura 4124 Desse modo se o fígado não for palpado para se detectar a consistência a lesão pode passar despercebida Por vezes pequenas nodulações aparecem tanto na superfície capsular como na de corte Na superfície de corte do fígado podese observar uma trama brancacenta irregular formada por finas traves de tecido fibroso Figura 4125 Por vezes essa trama fibrosa divide o parênquima em nodulações irregulares Esses nódulos interpretados como nódulos de regeneração podem ser conspícuos Figura 4126 ou ausentes Alguns nódulos são variavelmente amarelos em decorrência de degeneração gordurosa Na maioria das vezes a cor da superfície de corte do órgão é mais clara ou marromamarelada provavelmente devido à quantidade de pigmento Em alguns casos manchas avermelhadas necrose e hemorragia são vistas no parênquima hepático A lesão do fígado de bovinos intoxicados por Senecio spp assume um aspecto peculiar quando a fibrose hepática ocorre sobre áreas de lesão prévia de telangiectasia Figura 4127 A vesícula biliar está sempre aumentada de tamanho ver Figura 4124 muitas vezes com edema da parede e contendo bile viscosa Lesões poliposas de aspecto edematoso Figura 4128 ocorrem em cerca de 30 dos casos na mucosa da vesícula biliar Também em todos os casos de intoxicação por Senecio spp em bovinos ocorre edema das pregas do abomaso Figura 4129 e do mesentério Figura 4130 O edema tem aspecto translúcido e gelatinoso e é em geral acentuado Em vários casos principalmente em animais adultos grande quantidade 5 a 30 l de líquido citrino ou seroso pode ser encontrada na cavidade abdominal Edema subcutâneo da região ventral principalmente na região da mandíbula do pescoço e do peito hidrotórax hidropericárdio e lesões hemorrágicas nas serosas das vísceras abdominais são observados em menor número de casos Lesões inespecíficas como hemorragias subendocárdicas e subepicárdicas são relativamente frequentes Figura 4123 Intoxicação por Senecio spp em bovinos A Tenesmo é um sinal clínico comum que frequentemente leva a prolapso de reto B Reproduzido com autorização de Barros et al 2006 Quadro 42 Achados de necropsia em intoxicação espontânea por Senecio spp em bovinos e suas frequências relativas Muito frequentes 60 a 100 dos casos Fígado difusamente rme Edema das dobras do abomaso Edema do mesentério Distensão da vesícula biliar Edema da parede da vesícula biliar Moderadamente frequentes 20 a 60 dos casos Ascite Edema dos linfonodos mesentéricos Pólipos na mucosa da vesícula biliar Pouco frequentes menos de 20 dos casos Icterícia Fotodermatite Edema subcutâneo de declive Hemorragias focais nas serosas abdominais Figura 4124 Aspecto macroscópico da superfície natural de fígado de bovino com intoxicação por Senecio spp mostrando espessamento da cápsula e distensão da vesícula biliar Figura 4125 Aspecto macroscópico da superfície de corte do fígado em intoxicação por Senecio spp em bovino Observase trama de tecido conjuntivo entrecruzando o parênquima hepático Figura 4126 Aspecto macroscópico da superfície de corte em fígado na intoxicação por Senecio spp em bovino A e B Dois tipos de nódulos de regeneração podem ser observados Figura 4127 A lesão do fígado de bovinos intoxicados por Senecio spp assume um aspecto peculiar áreas brancas multifocais quando a fibrose hepática ocorre sobre áreas de lesão prévia de telangiectasia Figura 4128 Lesões poliposas de aspecto edematoso na mucosa da vesícula biliar ocorrem em cerca de 30 dos casos de intoxicação por Senecio spp em bovinos Figura 4129 Edema das pregas do coagulador é um achado de necropsia em 100 dos casos de bovinos que morreram por intoxicação por Senecio spp Figura 4130 Edema do mesentério em bovinos com intoxicação por Senecio spp Histologicamente a lesão hepática tem todos os componentes de uma cirrose clássica A tríade de lesões hepáticas na intoxicação por Senecio spp em bovinos é graus variáveis de fibrose proliferação de ductos biliares e hepatomegalocitose Figura 4131 A lesão pode ser algo semelhante à hepatite lobular dissecante pela desorganização da arquitetura normal do lóbulo hepático por septos de colágeno que subdividem o parênquima lobular em pequenos grupos de hepatócitos ou até em hepatócitos individuais Histologicamente as lesões poliposas da mucosa da vesícula biliar consistem em hiperplasia adenomatoide associada a edema acentuado e discreto infiltrado inflamatório da lâmina própria Em alguns núcleos de hepatócitos glóbulos eosinofílicos aparentemente circundados por membrana nuclear são observados e consistem em invaginações citoplasmáticas para o núcleo de maneira semelhante ao que ocorre na aflatoxicose Degeneração esponjosa em decorrência de encefalopatia hepática ocorre na substância branca do encéfalo e é responsável pelos sinais clínicos de distúrbios nervosos A intoxicação por alcaloides pirrolizidínicos em ovinos está associada ao acúmulo excessivo de cobre no fígado o qual por sua vez está associado à lesão hepatocelular induzida pelos alcaloides pirrolizidínicos uma condição denominada intoxicação crônica hepatógena por cobre O cobre é liberado do hepatócito causando hemólise intravascular hemoglobinemia hemoglobinúria e icterícia sequencialmente A intoxicação aguda pela ingestão de C retusa foi descrita em ovinos no Nordeste do Brasil Os sinais observados incluem anorexia depressão acentuada icterícia moderada incoordenação e decúbito Os ovinos morrem em 12 h após os primeiros sinais clínicos Na necropsia o fígado apresenta aspecto acentuado do padrão lobular com deposição de fibrina na superfície capsular A vesícula biliar está distendida e ocorrem hemorragias subepicárdicas e subendocárdicas hidropericárdio hidrotórax e ascite Sementes e vagens da planta podem ser encontradas em grandes quantidades no rúmen dos ovinos que morrem da intoxicação Lesões histológicas são de necrose hepática centrolobular aguda A B Figura 4131 Histopatologia em intoxicação por Senecio spp em bovinos A Pequeno aumento mostrando fibrose hiperplasia de ductos biliares e hepatomegalocitose B Maior aumento da lesão em B mostrando hepatócitos em megalocitose e fibrose periportal associada à hiperplasia de ductos biliares C Matriz extracelular colágeno tipo III com traçado acentuadamente irregular e englobando pequenos grupos de hepatócitos Comparar com a matriz extracelular hepática normal no fígado mostrada na Figura 49 Coloração de Gordon e Sweet Equinos intoxicados por alcaloides pirrolizidínicos apresentam anorexia perda de peso dermatite e distúrbios neurológicos que incluem apatia ou hiperexcitabilidade pressão da cabeça contra objetos andar compulsivo ou em círculo e ocasionalmente galope descontrolado e violento Decréscimo nos reflexos dos nervos cranianos ataxia e fraqueza também podem ser observados Na necropsia o fígado está firme e apresenta superfície irregular áreas brancas entremeadas com áreas vermelhoescuras e aumento no padrão lobular O fígado de equinos adultos é normalmente escuro e a avaliação macroscópica da acentuação do padrão lobular é muito mais difícil que no bovino As lesões histológicas do fígado caracterizamse por fibrose megalocitose e proliferação de células dos ductos biliares Uma comparação das lesões hepáticas de equinos e bovinos intoxicados por alcaloides pirrolizidínicos de S brasiliensis indica que a fibrose é menos proeminente em equinos do que em bovinos e que a megalocitose de hepatócitos é mais pronunciada em equinos do que em bovinos No sistema nervoso podemse observar astrócitos de Alzheimer tipo II conforme descrito anteriormente no início do capítulo A쐐atoxinas Aflatoxinas são um grupo de compostos bisfurnocumarínicos produzidos principalmente como metabólitos de Aspergillus flavus A parasiticus e Penicillium puberulum portanto são micotoxinas Há pelo menos 17 metabólicos cumarínicos que fazem parte desse grupo mas as aflatoxinas B1 B2 G1 G2 e M1 são as de maior importância em medicina veterinária A designação B e G indica a fluorescência dessas duas aflatoxinas na luz ultravioleta respectivamente azul blue e verde green M1 é assim designada por ter sido encontrada no leite milk De todas as aflatoxinas B1 é a que mais preocupa por ser relativamente abundante e fortemente hepatotóxica A produção de aflatoxinas varia com a cepa de Aspergillus envolvida o tipo de substrato a temperatura a umidade relativa e o conteúdo de umidade do substrato O substrato para os fungos produtores de aflatoxinas são principalmente grãos após a coleta e o armazenamento mas grãos ainda na lavoura e outros substratos incluindo alimentos feitos de grãos como polenta pão e ração comercial podem estar envolvidos em surtos de aflatoxicose As aflatoxinas são metabolizadas pelas oxidases de função mista do fígado em vários produtos tóxicos e não tóxicos o mais potente deles é o metabólito 89epóxido de aflatoxina B1 Esses metabólitos ligamse à adenina nos ácidos nucleicos das espécies sensíveis Entre os animais domésticos ovinos equinos e bovinos adultos são bastante resistentes mas cães suínos e bezerros são sensíveis e podem ser fatalmente intoxicados com doses menores que 1 mgkg A aflatoxicose pode ter várias manifestações clínicas A aflatoxicose aguda fulminante pode ocorrer em cães como resultado da ingestão de grandes quantidades de aflatoxinas Ocorrem sinais de insuficiência hepática incluindo icterícia hematoquezia e elevação da atividade sérica das enzimas hepáticas Na necropsia observase necrose hemorrágica centrolobular A maioria dos hepatócitos do centro do lóbulo desaparece e é substituída por uma mistura de células inflamatórias restos de células dos sinusoides e eritrócitos Figura 4132 Em cães que sobrevivem alguns dias a lipidose hepatocelular é marcante e pode ser uniformemente distribuída no fígado Figura 4133 Outros achados de necropsia incluem hemorragia intestinal Figura 4134 e edema da vesícula biliar Na rotina laboratorial do autor esses casos de aflatoxicose em cães estão relacionados com o hábito de alimentar cães com polenta um alimento barato feito de milho e muito utilizado com cães de fazendas Figura 4132 Aflatoxicose aguda em suíno A Aspecto macroscópico do fígado Há acentuada delimitação dos lóbulos além do normal por áreas centrolobulares hemorrágicas e deprimidas circundadas por áreas mais claras que correspondem a hepatócitos mais ou menos conservados Comparar com a lesão da Figura 4119 B Aspecto microscópico Os hepatócitos da região centrolobular mostram necrose de coagulação e hemorragia Comparar com a lesão da Figura 4120 Figura 4133 Lipidose hepática em cão com aflatoxicose subaguda Figura 4134 Intestino de cão com hemorragia por aflatoxicose aguda A aflatoxicose crônica é a apresentação mais comum da doença Uma exposição prolongada de doses pequenas mesmo em animais sensíveis pode induzir uma doença pouco específica caracterizada por redução no crescimento baixa produtividade e suscetibilidade a outras doenças Em muitos casos pode ocorrer doença hepática crônica em que o fígado está aumentado de volume firme um pouco nodular e amarelo devido à lipidose Figura 4135 Em lesões mais avançadas o fígado tornase atrófico Histologicamente a lesão mais notável e que ocorre em todas as espécies é a proliferação de ductos biliares observada principalmente na periferia do lóbulo Alterações nos hepatócitos incluem lipidose tumefação e necrose focal ou apoptose A necrose no entanto nunca é tão extensa como a que ocorre em casos agudos À medida que as lesões progridem há proliferação de tecido fibrovascular com fibrose periportal e eventualmente cirrose com o tecido fibroso dissecando o fígado e isolando nódulos de regeneração hepatocelular há moderado aumento de volume do citoplasma e núcleo dos hepatócitos megalocitose Pseudoinclusões eosinofílicas são observadas no núcleo As alterações hepáticas na aflatoxicose crônica lembram as produzidas pelos alcaloides pirrolizidínicos talvez pelo fato de que essas duas hepatotoxinas inibem a regeneração hepatocelular de modo que os ductos se regeneram à medida que o fígado se torna atrófico Figura 4135 Fígado de cão com lipidose e fibrose por aflatoxicose crônica Observar o aspecto irregular da superfície de corte Aflatoxinas são carcinogênicas e carcinomas hepatocelulares e colangiocarcinomas têm sido reproduzidos pela administração oral de aflatoxinas a patos perus ratos cobaias trutas suínos ovinos e macacos 4ÓOESPNFTDMÓOJDBTEFJOTVåDJÐODJBIFQÈUJDB O fígado tem a capacidade funcional e o potencial regenerativo muito grandes e a maioria das proteínas plasmáticas é produzida em abundância por esse órgão Assim a insuficiência hepática ocorre somente em lesões difusas agudas ou crônicas quando há comprometimento de aproximadamente 75 do parênquima hepático como ocorre nas intoxicações Portanto geralmente não ocorre insuficiência hepática em consequência de lesões focais ou multifocais como abscessos cistos e hepatite necrosante multifocal O termo insuficiência hepática significa perda da função hepática normal como consequência de dano lesão hepático agudo ou crônico No entanto nem todas as funções hepáticas são perdidas ao mesmo tempo As consequências clínicas da insuficiência hepática incluem distúrbios do fluxo biliar colestase e icterícia manifestações neurológicas encefalopatia hepática e hipoglicemia alterações hemostáticas e hemodinâmicas hemorragia hipoproteinemia e edema e manifestações cutâneas fotodermatite e dermatite necrolítica superficial Figura 4136 Icterícia em ovino intoxicado espontaneamente por Senecio brasiliensis A e B Observar a cor amarela da mucosa oral e da conjuntiva JTUÞSCJPTEPýVYPCJMJBS Colestase e icterícia O mecanismo de formação da bilirrubina foi revisado no primeiro tópico deste capítulo Morfologia e função Resumindo a maior parte da bilirrubina é derivada do processo hemostático de degradação extravascular de eritrócitos senescentes que são removidos por células do sistema fagocítico mononuclear do baço da medula óssea e do fígado Após esse processo a bilirrubina não conjugada bilirrubina indireta é liberada no sangue e circula ligada à albumina Nos hepatócitos a bilirrubina é conjugada com o ácido glicurônico bilirrubina direta e secretada na bile para o intestino no qual é convertida em urobilinogênio Parte do urobilinogênio é reabsorvida pela circulação portal para voltar novamente ao intestino na chamada circulação ênterohepática A concentração aumentada de bilirrubina na circulação é denominada hiperbilirrubinemia A coloração amarela dos tecidos produzida pela deposição desses pigmentos é denominada icterícia Figura 4136 As causas da hiperbilirrubinemia e consequentemente de icterícia incluem Hemólise icterícia préhepática com produção excessiva de bilirrubina não conjugada Quando a hemólise é excessiva a quantidade de pigmento formado sobrepuja a capacidade do fígado de conjugar e excretar a bilirrubina Como resultado o excesso de bilirrubina não conjugada depositase nos tecidos dandolhes a cor amarela característica Para as causas de hemólise ver o Capítulo 6 sobre o sistema hematopoético Deve ser lembrado que a icterícia de fundo hemolítico embora colocada neste tópico por conveniência didática independe de disfunção hepática ainda que alguns autores mencionem que a icterícia clínica de origem hemolítica só ocorre se houver lesão hepática concomitante Entretanto como na hemólise grave aguda ou crônica sempre há hipoxia centrolobular e consequentemente necrose centrolobular essa colocação parece ser irrelevante A icterícia em ruminantes por exemplo na maior parte das vezes decorre de hemólise em vez de ser sequela de lesão hepática Cavalos no entanto podem manifestar icterícia hemolítica associada à disfunção hepática Redução na tomada conjugação ou secreção da bilirrubina pelo hepatócito icterícia hepática como consequência de lesão hepática difusa grave aguda ou crônica Retardamento no fluxo da bile ou colestase icterícia póshepática que ocorre por obstrução dos ductos biliares extrahepáticos colestase extrahepática ou impedimento do fluxo dentro dos canalículos colestase intrahepática A colestase intrahepática é associada a vários distúrbios dos hepatócitos e iniciase onde o fluxo da bile começa isto é nas áreas centrolobulares À medida que a bile se acumula os canalículos tornamse distendidos por bile ver Figura 444 C Em animais as principais causas de colestase intrahepática são toxinas de plantas ver o item Doenças específicas A colestase extrahepática é uma consequência de obstrução mecânica por cálculos biliares ou corpos estranhos incluindo parasitas neoplasias que comprimem ou obstruem os ductos biliares e processos inflamatórios ou reparatórios que resultem em fibrose Obstrução extrahepática leva inicialmente à distensão dos ductos biliares proximais à obstrução e acaba refletindose nos hepatócitos periportais degeneração plumosa e em fibrose dos espaçosporta BOJGFTUBÎÜFTOFVSPMØHJDBT Encefalopatia hepática A expressão encefalopatia hepática coma hepático ou encefalopatia portossistêmica designa uma condição neurológica resultante de uma lesão hepática difusa primária Os sinais clínicos variam desde depressão pressão da cabeça contra objetos Figura 4137 andar a esmo e outros distúrbios Figura 4137 Cavalo pressionando a cabeça contra a parede da baia Esse é um sinal neurológico relacionado com a encefalopatia hepática A lesão hepática primária nesse caso cirrose hepática resultou da intoxicação crônica por Senecio brasiliensis Os sinais clínicos neurológicos da encefalopatia hepática resultam do acúmulo na corrente sanguínea no líquido cefalorraquidiano e no encéfalo de substâncias como amônia ácidos graxos de cadeias curtas e mercaptanos além de alterações nas concentrações de neurotransmissores Normalmente substâncias tóxicas são eliminadas quando de sua passagem pelo fígado o que não ocorre quando há lesão hepática difusa e grave o suficiente para produzir insuficiência hepática Como consequência essas substâncias podem chegar ao encéfalo e como falsos neurotransmissores causar vários sinais clínicos neurológicos A amônia é considerada a principal substância envolvida na patogênese da encefalopatia hepática A disfunção hepática impede a metabolização da amônia principalmente oriunda do intestino em ureia o que resulta em hiperamonemia e acúmulo de amônia no encéfalo Na encefalopatia hepática estão aumentados os níveis de amônia no sangue e de glutamina no líquido cefalorraquidiano A base morfológica desses sinais neurológicos é uma degeneração esponjosa status spongiosus no sistema nervoso central causada pela hiperamonemia A degeneração esponjosa é caracterizada por edema intramielínico microcavitações mais pronunciado nos tratos mielinizados da substância branca cerebral cápsula interna do mesencéfalo base do encéfalo dos pedúnculos cerebelares e na interfase entre substância branca e cinzenta do córtex telencefálico Figura 4138 Ao contrário do que mencionam alguns livrostextos de patologia veterinária essa lesão esponjosa é consistentemente encontrada em bovinos com encefalopatia hepática em razão da cirrose e da insuficiência hepática produzidas em bovinos pela ingestão crônica de Senecio spp No Rio Grande do Sul a encefalopatia hepática é um achado extremamente comum nesses casos É aparente no entanto que existem diferenças entre as espécies na patogênese e na manifestação morfológica da encefalopatia hepática A degeneração esponjosa que ocorre na maioria das espécies domésticas bovinos ovinos cães e gatos difere daquela observada em equinos e humanos Nessas duas espécies as características das lesões encefálicas são astrócitos modificados conhecidos como astrócitos de Alzheimer tipo II Essas células têm o núcleo tumefeito vesicular vazio com a cromatina marginada e ocasionalmente nucléolo proeminente Figura 4139 Essas células associadas a graus variáveis de edema são visualizadas principalmente na substância cinzenta cortical do telencéfalo Segundo experiência do autor astrócitos de Alzheimer tipo II não são observados na encefalopatia hepática de bovinos Figura 4138 Aspecto histológico em degeneração esponjosa status spongiosus em bovino com encefalopatia hepática A degeneração esponjosa é caracterizada por edema intramielínico microcavitações mais pronunciado nos tratos mielinizados da substância branca cerebral cápsula interna do mesencéfalo base do encéfalo dos pedúnculos cerebelares e na interface entre substância branca e cinzenta do córtex telencefálico A lesão hepática primária nesse caso cirrose hepática resultou de intoxicação crônica por Senecio spp Figura 4139 Aspecto histológico em encefalopatia hepática em equino As características das lesões encefálicas são astrócitos modificados conhecidos como astrócitos de Alzheimer tipo II Essas células têm o núcleo tumefeito vesicular vazio com a cromatina marginada e ocasionalmente nucléolo proeminente e são visualizadas principalmente na substância cinzenta do córtex telencefálico Hipoglicemia Como o cérebro necessita de glicose e de oxigênio para a produção de energia os efeitos celulares da diminuição de glicose se assemelham aos da privação de oxigênio Algumas regiões do cérebro são mais sensíveis à hipoglicemia que outras A privação de glicose tem sido bem estudada em humanos e leva inicialmente a lesões nos grandes neurônios piramidais do córtex cerebral o que pode resultar em necrose cortical isquêmica neurônios vermelhos envolvendo também o hipocampo As células Purkinje do cerebelo também são vulneráveis à hipoglicemia mas em menor grau que à hipoxia Se o nível e a duração da hipoglicemia forem suficientemente acentuados tais lesões podem ser generalizadas no cérebro Herbívoros com insuficiência hepática aguda apresentam sinais neurológicos mas não apresentam a lesão clássica status spongiosus da encefalopatia hepática observada nos casos de lesão hepática crônica Por longo tempo tem sido procurada uma explicação para os sinais neurológicos nesses casos e a hipoglicemia tem sido aventada como uma possibilidade De fato hipoglicemia significativa foi recentemente detectada em ovinos experimentalmente intoxicados por Perreyia flavipes uma larva de mosca que produz hepatotoxicose crônica No entanto nesses casos não foram observadas as lesões encefálicas de necrose neuronal aguda correspondentes MUFSBÎÜFTIFNPTUÈUJDBTFIFNPEJOÉNJDBT Hemorragias A lesão aguda grave do fígado pode causar hemorragia Isso ocorre porque durante a necrose o sangue do animal entra em contato com uma grande proporção de tecido lesionado e endotélio vascular o que faz disparar a cascata da coagulação que por sua vez iniciará também o fenômeno de fibrinólise corretiva O resultado se esta sequência de eventos for rápida é o consumo dos fatores de coagulação A diminuição dos fatores da coagulação é adicionalmente complicada porque esses fatores em grande parte são sintetizados pelo fígado Os animais com esse quadro clínicopatológico apresentam diáteses hemorrágicas observadas na necropsia sob a forma de petéquias e equimoses nas serosas e hemorragias da mucosa intestinal ver Figuras 4117 4118 e 4134 Por outro lado lesões hepáticas difusas crônicas em animais domésticos não são como regra acompanhadas de hemorragia facilmente perceptível A razão disso não é completamente determinada mas é provável que seja porque não é apenas a falta de síntese dos fatores da coagulação que tem a principal participação na patogênese das hemorragias Hipoalbuminemia e edema Hipoalbuminemia pode ocorrer em doença hepática difusa grave pelo decréscimo na produção hepática de albumina e pelo aumento da perda de albumina no líquido ascítico ou para o tubo intestinal pela hipertensão portal A hipoalbuminemia como consequência de disfunção hepática em geral reflete doença hepática crônica grave pela meiavida relativamente longa da albumina plasmática que varia de 8 dias em cães a 21 dias em bovinos e pelo tempo necessário para a hipertensão portal desenvolverse Lesão hepática crônica é caracterizada por fibrose difusa do fígado o que distorce a orientação dos sinusoides Isso aumenta a resistência ao fluxo do sangue pelo parênquima hepático e causa hipertensão portal Com o tempo formamse anastomoses vasculares portossistêmicas adquiridas que conectam a veia porta e suas tributárias à circulação venosa sistêmica O aumento da pressão no interior da vasculatura hepática causa transudação de líquido para a cavidade peritoneal produzindo ascite Esse mecanismo é agravado pela diminuição da pressão coloidoosmótica do plasma em razão da hipoalbuminemia por redução da síntese hepática e por perda acelerada de proteínas plasmáticas para o líquido ascítico Ascite associada à doença hepática crônica doença hepática terminal ocorre de maneira mais frequente em cães ocasionalmente em ovinos e raramente em equinos e bovinos BOJGFTUBÎÜFTDVUÉOFBT Fotossensibilização e fotodermatite A sensibilização da pele por pigmentos fotodinâmicos é denominada fotossensibilização A lesão cutânea que resulta da ativação desses pigmentos fotodinâmicos pela luz ultravioleta dos raios solares é denominada fotodermatite Em outras palavras o animal pode estar fotossensibilizado mas se não for exposto ao sol não desenvolverá fotodermatite que é restrita ou pelo menos mais extensa às áreas pouco pigmentadas por melanina Pigmentos fotodinâmicos que podem induzir fotossensibilização incluem os de plantas e certas drogas Há três tipos de fotossensibilização dependendo de sua patogênese e em apenas um deles fotossensibilização hepatógena a disfunção hepática está envolvida na gênese das lesões cutâneas São eles A fotossensibilização primária ocorre quando o pigmento fotodinâmico préformado é ingerido entra na circulação sanguínea e se deposita nos tecidos Algumas plantas como Ammi majus âmiomaior e Fagopyrum esculentum trigomourisco são conhecidas como causadoras de fotossensibilização primária A fotossensibilização hepatógena Figura 4140 ou secundária ocorre em herbívoros com disfunção hepática ou obstrução biliar que comprometem a eliminação de filoeritrina pela bile O pigmento fotodinâmico filoeritrina é produzido a partir da ação da microbiota intestinal sobre a clorofila contida nas plantas e é normalmente absorvido dos intestinos e secretado com a bile utilizando a mesma rota da bilirrubina Assim as mesmas causas de icterícia hepática ou póshepática podem ser causas de fotossensibilização hepatógena As principais plantas que causam fotossensibilização hepatógena em herbívoros no Brasil são discutidas no tópico Doenças específicas ver Tabela 47 Figura 4140 Fotodermatite hepatógena na face de ovino com lesão hepática produzida pela intoxicação espontânea por Senecio brasiliensis Porfiria congênita é um distúrbio metabólico raro já descrito em várias espécies de animais domésticos mas que ocorre como uma doença congênita de gatos e bovinos Resulta em acúmulo de porfirinas nos tecidos As porfirinas são uma classe de moléculas orgânicas com uma estrutura geral de macrociclo tetrapirrólico formado por quatro anéis pirrol e são por si pigmentos fotodinâmicos que induzem lesões de pele fotodermatite por sensibilização Síndrome hepatocutânea A síndrome hepatocutânea é um distúrbio metabólico generalizado que afeta principalmente cães e mais raramente gatos Sinônimos utilizados para essa condição em grande parte derivados da literatura humana incluem dermatite necrolítica superficial necrose epidérmica metabólica eritema migratório necrolítico e dermatose diabética Clinicamente há lesões crostosas nos coxins nas junções mucocutâneas nas orelhas na região periorbital e em pontos de pressão Pode ocorrer prurido resultante de infecções bacterianas secundárias Histologicamente na coloração de hematoxilina e eosina as lesões têm um padrão muito característico o qual consiste em três faixas de cores diferentes vermelho branco e azul que correspondem respectivamente a uma camada de hiperqueratose paraceratótica faixa vermelha um edema intracelular degeneração hidrópica e uma necrose de queratinócitos do estrato espinhoso faixa pálida ou branca e hiperplasia das células do estrato basal faixa azul Esse padrão histológico tem sido comparado à bandeira francesa Figura 4141 Adicionalmente pode haver máculas e pápulas e incontinência pigmentar Em mais de 80 dos casos a causa subjacente das lesões de pele em cães é uma hepatopatia crônica idiopática Na maioria dos casos de síndrome hepatocutânea o fígado é pequeno e nodular Histologicamente há degeneração hepatocelular vacuolar fibrose em ponte com hiperplasia biliar colapso de partes do parênquima hepático e regeneração hepatocelular nodular Figura 4142 Uma lesão semelhante em humanos resulta mais frequentemente de tumor secretor de glucagon e dos poucos casos de síndrome hepatocutânea relatados em gatos um era associado a carcinoma de pâncreas Figura 4141 Síndrome hepatocutânea Histologicamente na coloração por hematoxilina e eosina as lesões têm um padrão muito característico o qual consiste em três faixas de cores diferentes vermelho branco e azul que correspondem respectivamente a uma camada de hiperqueratose paraceratótica faixa vermelha edema intracelular degeneração hidrópica e necrose de ceratinócitos do estrato espinhoso faixa pálida ou branca e hiperplasia das células do estrato basal faixa azul Esse padrão histológico tem sido comparado à bandeira francesa Figura 4142 Síndrome hepatocutânea Histologicamente há degeneração hepatocelular vacuolar fibrose em ponte com hiperplasia biliar colapso de partes do parênquima hepático e regeneração hepatocelular nodular A lesão hepática é idiopática e a patogênese das lesões da pele é desconhecida mas pode estar relacionada com o decréscimo do metabolismo hepático o qual eleva os níveis séricos de glucagon ou com a diminuição nos níveis de aminoácidos por aumento da neoglicogênese e distúrbio no metabolismo do zinco possivelmente resultante de má absorção É improvável que apenas níveis elevados de glucagon sejam diretamente responsáveis pelas lesões de pele pois tanto cães como humanos podem desenvolver a doença na ausência desses níveis elevados e a dermatite não é um resultado inevitável do estado hiperglucagonêmico JCMJPHSBåB BARROS C S L CASTILHOS L M L RISSI D R et al Biópsia hepática no diagnóstico da intoxicação por Senecio brasiliensis em bovinos Pesq Vet Bras v 27 p 5360 2007 CHARLES J A Pancreas In MAXIE M G Jubb Kennedy and Palmers Pathology of domestic animals 5 ed Philadelphia Saunders Elsevier 2007 Capítulo 3 v 2 p 389424 CRAWFORD J M Liver and biliary tract In KUMAR V ABBAS A K FAUSTO N F Robbins and Cotran Pathologic basis of disease 7 ed Philadelphia Saunders Elsevier 2005 Capítulo 18 p 877937 CULLEN J M Liver biliary system and exocrine pancreas In MCGAVIN M D ZACHARY J F Pathologic basis of veterinary disease 4 ed St Louis Mosby Elsevier 2007 Capítulo 8 p 393461 CULLEN J M POPP J A Tumors of the liver and gall bladder In MEUTEN D J Tumors in domestic animals 4 ed Ames Iowa State Press 2002 Capítulo 9 p 483508 FIGHERA R A SILVA M C SOUZA T M et al Aspectos patológicos de 155 casos fatais de cães atropelados por veículos automotivos Ciênc Rural v 38 p 13751380 2008 FIGHERA R A SILVA M C SOUZA T M et al Causas de morte e razões para eutanásia de cães da Mesorregião do Centro Ocidental Riograndense 19652004 Pesq Vet Bras v 28 p 223230 2008 INKELMANN M A ROZZA D B FIGHERA R A et al Hepatite infecciosa canina 62 casos Pesq Vet Bras v 27 p 325332 2007 JONES T C HUNT R D KING N W Veterinary pathology 6 ed Baltimore Williams Wilkins 1997 1392 p OGILVIE T H Medicina interna de grandes animais Porto Alegre ArtMed 2000 526 p SANTOS J C A RIETCORREA F SIMÕES S V D et al Patogênese sinais clínicos e patologia das doenças causadas por plantas hepatotóxicas em ruminantes e equinos no Brasil Pesq Vet Bras v 28 p 114 2008 SANTOS R L OLIVEIRA T F B OLIVEIRA T S et al Cholelithiasis with atrophy of the right lateral hepatic lobe in a horse Ciênc Rural v 37 p 586589 2007 SILVA M C FIGHERA R A BRUM J S et al Cirrose hepática em cães 80 casos 19652003 Pesq Vet Bras v 27 p 471480 2007 SKEWESCOX P ZHONG W GANEM D E et al Identification of a previously undescribed divergent virus from the Flaviviridae family in an outbreak of equine serum hepatitis Proc Natl Acad Sci USA v 110 p 14071415 2013 STALKER M J HAYES M A Liver and biliary system In MAXIE M G Jubb Kennedy and Palmers Pathology of domestic animals 5 ed Philadelphia Saunders Elsevier 2007 Capítulo 2 v 2 p 297388 STALKER M J HAYES M A The liver and biliary tract In MAXIE M G Jubb Kennedy and Palmers Pathology of domestic animals 5 ed Philadelphia Saunders Elsevier 2007 Capítulo 2 v 2 p 297388 STRAFUSS A C Necropsy procedures and basic diagnostic methods for practicing veterinarians Springfield Charles C Thomas 1988 244 p URQUART G M ARMOUR J DUNCAN J L et al Veterinary parasitology 2 ed Oxford Blackwell Science 1996 307 p WHEATHER P R BURKITT H G DANIELS V G Functional histology A text and colour atlas Norwich Churchill Livingstone 1979 278 p RESUMO CAPÍTULO 3 O sistema digestório dos animais é vulnerável a uma variedade de doenças desde cólicas em equinos até infecções virais e bacterianas em diversas espécies domésticas Estruturalmente é composto por órgãos tubulares divididos em quatro camadas principais A cavidade oral por exemplo é revestida por um epitélio estratificado pavimentoso que oferece proteção contra lesões e infecções A presença de uma microbiota equilibrada é crucial para a saúde oral prevenindo condições patológicas como estomatites Anomalias congênitas como lábio leporino e fenda palatina são frequentes em animais jovens afetando a alimentação e podendo levar a complicações respiratórias Alterações como pigmentações anormais e presença de corpos estranhos na boca são indicativos importantes em exames post mortem oferecendo insights sobre a saúde e o ambiente do animal A estomatite vesicular é uma condição caracterizada pela formação de vesículas nas camadas superficiais do epitélio oral ou entre o epitélio e a lâmina própria Ela ocorre comumente em diversas infecções virais que afetam animais como bovinos suínos e equinos Algumas das infecções virais associadas incluem febre aftosa diarreia viral bovina febre catarral maligna entre outras Clinicamente a estomatite vesicular se manifesta com salivação excessiva halitose erosões e ulcerações nas junções mucocutâneas sendo as lesões ulceradas predominantes na superfície dorsal da língua e no palato duro Microscopicamente características como acantólise que é a perda de conexões intercelulares entre os queratinócitos são observadas resultando na formação de vesículas Além das causas virais estomatites erosivas e ulcerativas são frequentemente inespecíficas podendo estar associadas a condições como estomatite plasmocitária felina úlcera eosinofílica em gatos granuloma linear em cães da raça Husky Siberiano entre outras Essas condições podem ser desafiadoras de diferenciar clinicamente requerendo muitas vezes análises histológicas para um diagnóstico definitivo Estomatites profundas podem ocorrer como resultado da invasão de tecido conjuntivo por microrganismos após lesão prévia do epitélio oral Elas variam de purulentas a necróticas gangrenosas ou granulomatosas dependendo do microrganismo envolvido Exemplos incluem estomatite necrótica por Fusobacterium necrophorum e estomatite gangrenosa por espiroquetas e fusiformes que são mais destrutivas e podem causar perfuração tecidual Neoplasias como hiperplasia gengival papilomatose oral carcinoma de células escamosas e melanoma também são condições importantes a considerar na cavidade oral de animais cada uma com suas características clínicas e histopatológicas específicas O diagnóstico preciso dessas condições requer uma abordagem multidisciplinar envolvendo exames clínicos histopatológicos e em alguns casos imunohistoquímicos para diferenciação O capítulo aborda diversos aspectos relacionados à odontologia veterinária abrangendo desde neoplasias até alterações no desenvolvimento dentário e periodontal Neoplasias como fibrossarcomas e plasmocitomas são discutidas em detalhes enfatizando suas características macroscópicas e microscópicas distintivas bem como a importância da imunohistoquímica na diferenciação diagnóstica Explora a estrutura e função dos dentes e do periodonto destacando as alterações causadas por distúrbios metabólicos infecciosos e nutricionais A doença periodontal é descrita como um processo crônico com várias manifestações clínicas influenciadas pela formação de placa bacteriana e reabsorção óssea Alterações odontodistróficas como fluorose e cáries são analisadas em diferentes espécies com ênfase nos mecanismos de desenvolvimento e nas consequências clínicas dessas condições Começando pela cavidade oral são descritas lesões como a necrobacilose que afeta as tonsilas dos suínos sendo um local comum de entrada e persistência para vários vírus Alterações nas glândulas salivares incluem o aptialismo baixa produção de saliva e ptialismo excesso de saliva frequentemente causados por agentes tóxicos ou obstruções nos ductos salivares Cálculos salivares e dilatações ductais também são mencionados como condições que podem comprometer a função salivar normal No esôfago são detalhadas várias condições como estenoses obstruções por corpos estranhos perfurações e o desenvolvimento do megaesôfago Este último é caracterizado pela dilatação anormal do órgão devido à disfunção motora resultando na acumulação de alimentos não digeridos pneumonia aspirativa e outras complicações Outras anomalias como divertículos esofágicos e esofagites são discutidas como causas de ulcerações e inflamações significativas no órgão Papilomas em bovinos são frequentemente associados ao papilomavírus bovino tipo 4 BPV4 podendo causar dificuldades na deglutição e ruminação No Brasil carcinoma de células escamosas na faringe e esôfago foi relacionado à ingestão crônica de samambaia Em cães lesões crônicas por Spirocerca lupi estão associadas ao desenvolvimento de osteossarcomas e fibrossarcomas esofágicos Os préestômagos são fundamentais na digestão dos poligástricos com o rúmen e retículo sendo importantes para diagnósticos de doenças Alterações macroscópicas incluem úlceras inflamações e maceração pósmorte da mucosa Distúrbios como timpanismo são comuns devido a falhas na eructação com consequências graves como anoxia e morte Corpos estranhos como tricobezoares e fitobezoares são comuns nos pré estômagos especialmente em animais jovens ou com dietas inadequadas Objetos perfurantes como pregos podem levar a reticuloperitonite traumática com consequências que incluem pleurite pericardite e abscessos A acidose láctica resulta da ingestão excessiva de carboidratos fermentáveis levando a rumenites inflamatórias graves Isso pode causar distensão ruminal e complicações sérias como paralisia vagal Em resposta a lesões agudas ou crônicas como erosões físicas ou químicas ocorre proliferação das células do istmo e eventual hiperplasia mucosa Em casos mais severos e persistentes podem ocorrer metaplasia e hiperplasia das células mucosas substituindo as células parietais danificadas Lesões metaplásicas e hiperplásicas da mucosa gástrica são frequentemente acompanhadas por características macroscópicas distintas como espessamento nodularidade ou superfície ondulada podendo adquirir um aspecto cerebriforme Embora aumentem a proteção da mucosa contra corrosão ácida local essas alterações podem levar à acloridria reduzindo a acidez gástrica e favorecendo a colonização por microrganismos oportunistas Além disso o texto aborda condições específicas como estenose pilórica dilatação gástrica deslocamento e torção cada uma com suas causas e consequências Por exemplo a dilatação gástrica pode ser primária relacionada à alimentação ou secundária causada por obstruções físicas ou funcionais do esvaziamento gástrico Em casos graves pode levar à torção do estômago especialmente em raças grandes de cães como Pastor Alemão e São Bernardo exigindo intervenção imediata para evitar complicações fatais Outras complicações descritas incluem deslocamento do abomaso em vacas leiteiras e impactação gástrica em equinos e ruminantes geralmente decorrentes de distúrbios de motilidade ou obstruções físicas O texto também discute rupturas e perfurações gástricas frequentemente associadas a condições como úlceras pépticas e neoplasias com potenciais consequências fatais se não tratadas rapidamente O prolapso retal é uma condição comum em ruminantes especialmente ovinos e suínos e pode ser desencadeado por diversos fatores Entre eles estão o tenesmo disúria neuropatia tosse crônica diarreia predisposição genética e consumo de plantas com fitoestrógenos ou rações contaminadas Em ovinos o prolapso retal pode ocorrer como resultado de caudectomia onde a amputação da cauda próxima ao sacro compromete a inervação do esfíncter anal Logo após o prolapso a mucosa retal prolapsada fica congesta e pode apresentar hemorragia Dependendo da duração do prolapso lesões isquêmicas ou traumáticas na mucosa retal também podem ocorrer A febre catarral maligna FCM também conhecida como febre catarral maligna bovina é uma doença esporádica e globalmente distribuída que afeta bovinos e outros ungulados Causada por vírus do gênero Rhadinovirus subfamília Gammaherpesvirinae a FCM é notável por sua capacidade de causar arterite linfocítica e necrose afetando diversos órgãos Clinicamente caracterizase por estomatite erosiva e ulcerativa principalmente nos lábios palato e outras regiões do trato digestório No aspecto histológico observase infiltrado linfocitário ao redor de artérias de pequeno a médio calibre com necrose e trombose vascular A patogenia ainda não é completamente compreendida mas a doença tem implicações significativas para a saúde animal e pode afetar negativamente a produção e o comércio de bovinos CAPÍTULO 4 O fígado é um órgão marromavermelhado com superfície lisa friável e coberto por uma cápsula de tecido conjuntivo Ele possui uma face convexa voltada para o diafragma e uma côncava em contato com as vísceras abdominais O fígado é dividido em lobos por fissuras mais profundas em cães gatos e suínos e menos marcadas em equinos e bovinos O peso relativo do fígado varia entre as espécies sendo de 34 do peso corporal em cães 23 em suínos 2 em gatos e 115 em herbívoros Em fetos e recémnascidos o fígado é proporcionalmente maior devido à função hematopoética O fígado possui uma dupla circulação aferente através da veia porta e da artéria hepática que entram no órgão pela porta hepática A veia porta transporta 75 do sangue proveniente dos préestômagos estômago glandular intestinos baço e pâncreas enquanto a artéria hepática contribui com 2530 Ambos os fluxos sanguíneos se misturam nos sinusoides hepáticos antes de saírem do fígado pela veia hepática O fígado é mantido em posição por vários ligamentos incluindo o falciforme triangular coronário hepatoduodenal e gastrohepático Em espécies sem vesícula biliar como equinos e girafas o ducto hepático comum é formado pela união dos ductos hepáticos direito e esquerdo na fissura portal Nas espécies com vesícula biliar o ducto cístico se junta ao ducto hepático para formar o ducto colédoco O parênquima hepático é composto por lóbulos hepáticos divididos por septos interlobulares Cada lóbulo hepático possui uma estrutura hexagonal com veias centrolobulares no centro e espaçosporta nas margens onde estão presentes ramos da veia porta artéria hepática e ductos biliares Os hepatócitos dentro dos lóbulos estão separados por sinusoides que são revestidos por endotélio descontínuo e são críticos para a função hepática permitindo a troca eficiente de substâncias entre o sangue e os hepatócitos Os hepatócitos são responsáveis pela síntese de bile que contém bilirrubina ácidos biliares e colesterol A bilirrubina é produzida pela degradação do heme dos eritrócitos e é excretada pelo fígado na bile Os ácidos biliares derivados do colesterol atuam como detergentes na emulsificação de gorduras para facilitar sua digestão e absorção O fígado também desempenha papéis essenciais no metabolismo de gorduras carboidratos proteínas na neutralização de substâncias tóxicas e na função imunológica Alterações nestas funções podem levar a sinais clínicos de insuficiência hepática nos animais O fígado desempenha múltiplas funções vitais no organismo incluindo metabolismo de gorduras carboidratos e proteínas além de biotransformação de substâncias tóxicas Ele sintetiza e secreta bile que auxilia na digestão de gorduras e produz proteínas plasmáticas essenciais como albumina e fatores de coagulação Além disso o fígado é responsável pela desintoxicação de compostos endógenos e exógenos convertendoos em formas menos tóxicas para eliminação As células de Kupffer presentes no fígado participam da fagocitose e da resposta imune contribuindo para a limpeza de antígenos e detritos do sangue portal A hiperplasia nodular benigna do pâncreas é uma condição comum em cães e gatos idosos frequentemente descoberta incidentalmente durante necropsias Caracterizase por nódulos múltiplos de células acinares bem diferenciadas salientes na cápsula pancreática e no parênquima Não há sintomas clínicos associados Em contraste a hiperplasia cística mucinosa da vesícula biliar é outro achado necroscópico incidental em cães idosos onde a mucosa da vesícula é espessada por múltiplos cistos preenchidos com muco Ambas as condições são benignas e não exigem tratamento clínico sendo importantes para o diagnóstico diferencial durante exames post mortem A Hipertensão Portal é um distúrbio circulatório caracterizado pelo aumento persistente da pressão na veia porta sendo geralmente causada por impedimentos no fluxo sanguíneo intrahepático As principais causas incluem doenças hepáticas crônicas como cirrose que levam à fibrose e formação de nódulos regenerativos Também pode ocorrer devido a bloqueios préhepáticos como trombose da veia porta ou póshepáticos como insuficiência cardíaca congestiva A hipertensão portal crônica frequentemente leva ao desenvolvimento de derivações portossistêmicas adquiridas ascite e esplenomegalia congestiva complicando ainda mais o quadro clínico A amiloidose hepática é uma condição em que ocorre a deposição de proteínas betapleated fibrilares não ramificadas nos fígados afetados Macroscopicamente esses fígados apresentam aumento de volume e palidez Microscopicamente o amiloide hepático aparece como material eosinofílico amorfo depositado principalmente no espaço de Disse ao longo dos sinusoides nas tríades portais e na parede dos vasos sanguíneos O uso do vermelho Congo revela o amiloide como um material eosinofílico amorfo que se torna verde birrefringente sob luz polarizada Na amiloidose primária as fibrilas de amiloide são derivadas das cadeias leves de imunoglobulinas AL enquanto na amiloidose secundária também chamada de reativa o amiloide é derivado da proteína SAA proteína associada a amiloide sérico produzida pelo fígado em resposta a inflamação prolongada como infecções crônicas Em cães e gatos formas familiares de amiloidose têm sido observadas com predisposição genética em certas raças como os Abissínios e SharPeis O fígado pode responder a diversos tipos de lesões com distintos padrões macroscópicos e microscópicos A necrose massiva pode resultar em um fígado aumentado de volume com superfície lisa e parênquima escuro devido à congestão extensa Em contraste lesões localizadas levam a um fígado pequeno com cápsula enrugada áreas de necrose deprimidas e congestão dispersa Microscopicamente áreas afetadas exibem espaços sanguíneos em um estroma de tecido conjuntivo sem hepatócitos ou com hepatócitos necrosados por coagulação A resposta do fígado à necrose inclui regeneração do parênquima substituição por fibrose ou hiperplasia biliar às vezes coexistindo A regeneração hepática após lesões extensas depende do arcabouço de reticulina preservado e pode resultar em cicatriz fibrose pósnecrótica se o arcabouço se deteriorar Fibrose hepática crônica com aumento da matriz extracelular ocorre frequentemente como resposta a danos repetidos por toxinas infecções ou causas metabólicas Cirrose hepática uma condição crônica e irreversível é caracterizada por fibrose extensa que altera a arquitetura do fígado formando nódulos de regeneração separados por bandas fibrosas Essa condição pode resultar de várias causas incluindo insultos tóxicos crônicos obstrução biliar hepatites crônicas e distúrbios metabólicos Anomalias vasculares como derivações portossistêmicas são comuns na cirrose prejudicando a função hepática Inflamações no fígado denominadas hepatites podem ser causadas por agentes infecciosos toxinas ou obstrução biliar A hepatite aguda frequentemente resulta em necrose hepatocelular com infiltrados inflamatórios neutrofílicos que podem evoluir para processos crônicos se o agente causador persistir Esses padrões de resposta hepática refletem a complexidade das lesões que afetam o fígado variando desde respostas regenerativas até formas crônicas de fibrose e cirrose influenciadas pela natureza e duração da lesão além da capacidade do fígado de se recuperar funcionalmente As infecções micobacterianas em cães são geralmente incomuns sendo causadas por bactérias aeróbicas álcoolácidoresistentes pertencentes ao gênero Mycobacterium Essas bactérias apresentam formas variáveis como bastonetes curvados ou filamentosos não formam esporos e são resistentes ao ambiente Devido às suas propriedades estruturais e capacidade de sobreviver dentro de células as micobactérias causam inflamação granulomatosa nos hospedeiros As infecções micobacterianas em cães são categorizadas em três formas clínicas principais tuberculose com granulomas nos órgãos internos forma tuberculosa nódulos cutâneos focais forma lepromatosa ou não tuberculosa também vista em gatos e humanos e inflamação subcutânea forma atípica Mycobacterium tuberculosis M bovis e M avium são espécies que produzem granulomas indistinguíveis afetando frequentemente o trato respiratório dos cães M tuberculosis e M bovis são considerados patógenos obrigatórios e são transmitidos aos cães principalmente através da ingestão de leite não pasteurizado ou carne contaminada Ao contrário o complexo M avium M avium e M intracellulare é constituído por microrganismos ambientais sendo menos patogênicos para os cães devido à sua resistência inata No entanto em animais imunocomprometidos essas bactérias podem causar infecções disseminadas Macroscopicamente os granulomas micobacterianos são geralmente branco acinzentados ou amarelos e podem ocorrer em diversos órgãos As lesões histológicas diferem entre espécies em cães não são comuns a necrose caseosa e as células gigantes multinucleadas observadas em outras A detecção de bacilos pode ser realizada através de coloração acidorresistente mostrando sua presença no interior de células gigantes células epitelioides e macrófagos O colangiocarcinoma é uma neoplasia rara em cães representando 036 de todas as neoplasias caninas com uma incidência de 16 por 100000 cães Sua prevalência varia entre países com relatos de maior frequência em regiões como África do Sul e Brasil Não há predileção por raça enquanto a influência do sexo no risco de desenvolvimento é incerta Os sinais clínicos são inespecíficos frequentemente incluindo letargia anorexia vômito perda de peso e icterícia em 1040 dos casos Achados laboratoriais revelam frequentemente aumento da fosfatase alcalina com elevação variável da AST e ALT Macroscopicamente os tumores aparecem como massas oblíquas ou multinodulares no fígado com superfície de corte branca a acinzentada Histologicamente podem ser bem ou pouco diferenciados com uma notável taxa de mitoses A etiologia é desconhecida mas associações com parasitas como Clonorchis sinensis e Platynosomum fastosum foram observadas assim como possíveis carcinógenos químicos O diagnóstico é desafiador devido à sobreposição de sinais clínicos com carcinoma hepatocelular e requer exames histológicos para confirmação Por outro lado hemangiossarcomas primários são mais comuns representando cerca de 5 de todas as neoplasias hepáticas primárias em cães Eles ocorrem frequentemente em cães acima de 10 anos com possível predisposição racial em raças como o Pastor Alemão Os sinais clínicos incluem depressão anorexia e distensão abdominal podendo romper e causar hemorragia severa Macroscopicamente aparecem como tumores escuros com cavidades císticas cheias de sangue podendo ser solitários ou múltiplos e variando em tamanho Histologicamente são compostos por células endoteliais fusiformes que revestem espaços císticos vasculares Metástases frequentes ocorrem para pulmão baço e outros órgãos às vezes refletindo origem multicêntrica Tumores secundários no fígado incluem tanto tumores multicêntricos quanto metastáticos sendo comuns metástases de tumores mamários em cães A pancreatite crônica é uma condição caracterizada pela inflamação persistente do pâncreas levando à fibrose e atrofia do tecido pancreático Esta condição é mais prevalente e clinicamente significativa em cães embora também possa ocorrer em outras espécies como gatos cavalos e bovinos com menos frequência Nos cães a pancreatite crônica resulta da destruição progressiva do tecido pancreático devido a episódios recorrentes de inflamação aguda e necrose pancreática O pâncreas tem limitada capacidade de regeneração respondendo à inflamação crônica com a substituição do tecido necrótico por fibrose o que eventualmente leva à perda gradual e irreversível do tecido glandular Em casos severos isso pode resultar em insuficiência pancreática exócrina e em alguns casos também endócrina levando ao diabetes mellitus A aparência macroscópica do pâncreas afetado é alterada com distorção e formação de uma massa nodular e encolhida Adesões fibrosas frequentemente se formam entre o pâncreas e tecidos adjacentes É importante notar que a fibrose pancreática pode ser encontrada incidentalmente em necropsias de cães que aparentemente têm função digestiva normal indicando que nem toda fibrose resulta em insuficiência pancreática Além da inflamação crônica a pancreatite também pode ser desencadeada por infecções parasitárias como a infestação por trematódeos que parasitam os ductos pancreáticos Neoplasias como adenomas e carcinomas do pâncreas são muito menos comuns mas representam uma preocupação clínica quando presentes especialmente devido ao potencial de metástase e impacto nos órgãos adjacentes A Doença de Theiler também conhecida como hepatite sérica equina foi primeiramente descrita em 1918 por Arnold Theiler na África do Sul Observouse que cavalos adoeciam após a vacinação com vírus vivo e antissoros de origem equina A doença é caracterizada por um início abrupto de sintomas como anorexia icterícia e sinais neurológicos relacionados à encefalopatia hepática Outros sinais incluem morte súbita fotodermatite diátese hemorrágica e cólica A hepatite associada ao soro ocorre após a administração de produtos biológicos como vacinas ou antissoros originados de equinos Patologicamente a doença se manifesta com necrose hepática centrolobular difusa e congestão das áreas necróticas frequentemente acompanhadas de proliferação de ductos biliares e fibrose O diagnóstico é baseado na história clínica elevação das enzimas hepáticas e achados histopatológicos Embora a doença de Theiler seja esporádica surtos sazonais foram relatados principalmente no verão e outono Recentemente identificouse o vírus associado à doença de Theiler TDAV reforçando sua etiologia viral No Brasil embora não haja documentação oficial casos com sintomas semelhantes foram observados em rotinas de necropsia de equinos A complexidade diagnóstica reside na ausência de um agente etiológico definido refletindo a dificuldade em distinguir essa condição de outras doenças hepáticas em equinos A intoxicação por alcaloides pirrolizidínicos em bovinos é causada principalmente pela ingestão de plantas como Senecio spp Os sinais clínicos incluem emagrecimento diarreia intermitente pelagem arrepiada e distúrbios nervosos em casos agudos Na necropsia o fígado apresenta consistência firme cápsula espessada e trama fibrosa branca na superfície de corte Edema do abomaso e do mesentério são frequentes assim como vesícula biliar distendida Histologicamente observase fibrose hepática proliferação de ductos biliares e hepatomegalocitose A letalidade é alta especialmente em bovinos adultos e a morbidade varia de 492 a 568 Hipoalbuminemia e edema são interligados por meio de complexos mecanismos fisiopatológicos A hipoalbuminemia caracterizada pela redução dos níveis de albumina no plasma sanguíneo frequentemente ocorre em casos de doença hepática grave Neste contexto a disfunção hepática crônica compromete a capacidade do fígado de sintetizar albumina uma proteína crucial para a manutenção da pressão coloidosmótica do plasma Simultaneamente a hipertensão portal associada à fibrose hepática leva à formação de anastomoses vasculares portossistêmicas aumentando a pressão nos vasos sanguíneos hepáticos Este aumento da pressão resulta na transudação de líquido para a cavidade abdominal ocasionando a ascite A ascite portanto é um desfecho comum da hipoalbuminemia e da hipertensão portal em pacientes com doença hepática crônica A diminuição na pressão coloidosmótica do plasma devido à baixa concentração de albumina contribui para o acúmulo de fluido na cavidade peritoneal Esse líquido ascítico não apenas reflete a gravidade da disfunção hepática mas também pode complicar o quadro clínico ao aumentar a pressão abdominal e interferir na função respiratória e cardiovascular dos pacientes afetados Além disso a síndrome hepatocutânea uma condição metabólica que pode afetar cães e gatos está frequentemente associada à hepatopatia crônica idiopática Esta síndrome se manifesta clinicamente com lesões cutâneas características como crostas nos coxins junções mucocutâneas e outras áreas geralmente acompanhadas de prurido devido a infecções bacterianas secundárias Histologicamente as lesões demonstram padrões distintos de hiperqueratose paraceratótica edema intracelular e necrose de queratinócitos refletindo a complexa interação entre o metabolismo hepático alterado e as manifestações cutâneas observadas Portanto tanto a hipoalbuminemia e edema quanto a síndrome hepatocutânea ilustram a íntima conexão entre a função hepática comprometida e suas repercussões sistêmicas e dermatológicas destacando a importância de abordagens integradas para o manejo clínico dessas condições em pacientes veterinários Livro fornecido