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Medicina Veterinária ·

Patologia Clínica Veterinária

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FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 PUBVET Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso Sinésio Gross Ferreira Filho¹ Francisco Lucas Fernandes¹ Marcelo Oliveira Chamelete² Rosyane Sousa Cruzeiro³ ¹ Graduando em Medicina Veterinária Faculdade de ciências biológicas e da saúde UNIVIÇOSAFACISA ViçosaMG Brasil ² Médico Veterinário VitóriaES Brasil ³ Professora e Médica Veterinária Faculdade de ciências biológicas e da saúde UNIVIÇOSAFACISA ViçosaMG Brasil Resumo As doenças autoimunes são consideradas raras em cães e gatos Dentre elas as mais frequentemente diagnosticadas são o pênfigo foliáceo e o lúpus eritematoso discóide ou cutâneo O lúpus eritematoso discóide é considerado por alguns autores como uma variação benigna do lúpus eritematoso sistêmico com manifestações clínicas restritas ao tegumento A etiologia permanece incerta mas vários fatores parecem influenciar para determinar o seu surgimento e dentre eles podemos citar a predisposição genética envolvimentos hormonais imunológicos e a radiação ultravioleta Os sinais clínicos mais observados são despigmentação eritema e descamação do plano nasal podendo se expandir raramente para pina periocular junções muco cutâneas e condutos auditivos externos O diagnóstico se baseia na anamnese exame físico e histopatologia do tecido cutâneo afetado O tratamento consiste FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 na aplicação tópica eou sistêmica de corticosteróides e protetor solar nas áreas despigmentadas O presente trabalho visa relatar um caso de lúpus eritematoso discóide em um cão da raça pastor alemão com 4 anos de idade e otite bilateral recorrente arresponsiva ao tratamento com solução otológica à base de enrofloxacino sulfadiazina de prata e hidrocortisona Ao exame físico foram notados meneios de cabeça condutos auditivos externos eritematosos doloridos e de fácil sangramento à otoscopia além de despigmentação e lesões erodidas em comissuras nasais Com base nos achados do exame clínico foi possível suspeitar de doença autoimune sendo o LED confirmado pela histopatologia das lesões em comissuras nasais O paciente até a presente data apresenta remissão total das lesões em plano nasal e do quadro de otite externa bilateral Palavraschave corticosteróides dermatologia imunorreatividade Canine discoid lupus erythematosus case report Abstract Autoimmune diseases are considered to be rare in dogs and cats Among them the most commonly diagnosed are pemphigus foliaceus and discoid or cutaneous lupus The discoid lupus erythematosus is considered by some authors as a benign variation of systemic lupus erythematosus with clinical manifestations restricted to the tegument The etiology remains unclear but several factors seem to influence to determine the beginning and among them we can mention genetic predisposition hormonal involvement immunological and ultraviolet radiation The most common clinical signs are depigmentation erythema and scaling of the nose and may expand to more rarely ear periocular mucocutaneous junctions and external auditory canal The diagnosis is based on history physical examination and histopathology the cutaneous tissue affected Treatment consists of topical andor systemic corticosteroids and application of sunscreen on depigmented areas This paper describes a case of discoid lupus erythematosus in a german sheepdog 4 FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 years old history of injury in the nose bilateral and recurrent otitis unresponsive to treatment with ear solution based on enrofloxacin On physical examination head waggle erythema and pain on palpation of the external auditory canal were noted Based on the findings of the clinical examination was possible suspect autoimmune disease confirmed by histopathological examination The treatment was based on topical steroids and elimination of perpetuating factors of recurrent otitis the patient in question had complete remission of injuries Keyword corticosteroids dermatology immunoreactivity INTRODUÇÃO O lúpus eritematoso discóide LED é a segunda doença dermatológica autoimune mais frequentemente diagnosticada em cães GERHAUSER et al 2006 SCOTT et al 1996 Essa dermatopatia é considerada rara em cães e gatos SCOTT et al 1996 contrapondo Gross et al 2009 relata o LED como sendo uma dermatopatologia autoimune de ocorrência não tão rara em cães As raças caninas mais comumente afetas são Pastores Alemães Pointers Alemães de pêlo curto Collie Afghan Hounds Beagles Poodles Pastor de Shetland e Huski Siberiano RHODES 2003 SCOTT et al 1996 THOMPSON 1997 Segundo Rhodes 2003 e Scott et al 1996 não há indícios de predisposição sexual e etária entretanto Thompson 1997 relata maior incidência em cães com faixa etária média de 6 anos Apesar de múltiplos fatores envolvidos a predisposição genética parece contribuir significativamente na ocorrência de autoimunidade BALDA et al 2002 O LED é considerado uma variação benigna do Lúpus Eritematoso Sistêmico LES ou seja não apresenta envolvimento sistêmico sendo restrito ao tecido cutâneo FENNER 2003 GROOTERS 2003 LARSSOM E OTSUKA 2000 ROSENKRANTZ 2005 SCOTT et al 1996 TIZARD 2002 FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 Apesar da fisiopatologia do LED estar bem elucidada a etiologia permanece incerta WERNER 1999 sendo de ocorrência multifatorial e heterogênea com predisposição genética envolvimento viral hormonal e exposição à radiação ultravioleta UVA e UVB levando a produção de anticorpos autorreativos ou seja direcionados contra constituintes próprios do organismo culminando com um processo inflamatório crônico BALDA et al 2002 BERBERT e MANTESE 2005 COSTNER e SONTHEIMER 2003 SCOTT et al 1996 A radiação solar incita ou exarceba o quadro em um número considerável de animais podendo ocorrer piora das lesões no verão IWASAKI et al 1995 RHODES 2003 SCOTT et al 1996 A predisposição genética envolvimento viral hormonal e exposição à radiação utravioleta acabam contribuindo com a alteração da regulação imunológica mediada pelas células T exarcebação da atividade de linfócitos B e inibição da atividade de linfócitos T supressores anticorpos autorreativos são produzidos anormalmente formação de imunocomplexos e interação com o sistema complemento levando ao estabelecimento do LED e intenso processo inflamatório NETO e BONFÁ 2006 Quando a radiação solar incide sobre a epiderme de um indíviduo geneticamente predisposto e atinge a camada basal da epiderme há uma indução no aumento da expressão de autoantigenos na camada superficial da membrana celular dos ceratinócitos Os Autoanticorpos específicos que irão se ligar ao ceratinócito são encontrados no fluido tecidual que banha a epiderme Essa ligação incita citotoxicidade ao ceratinócito o que leva a liberação de vários mediadores inflamatórios que por sua vez vão promover quimiotaxia de linfócitos tais como interleucinas I II III VI VIII fator de necrose tumoral alfa TNF a e ainda os agentes estimuladores de macrófagos monócitos e granulócitos LARSSOM e OTSUKA 2000 SCOTT et al 1996 No LED Segundo Scott et al 1996 parece ocorrer deficiência de células T supressoras associada a hiperresponsividade de células B e déficit de componentes do sistema complemento Larssom 2005 Lawall et al 2008 FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 e Val 2006 relatam o LED como sendo uma dermatopatia autoimune que envolve as reações de hipersensibilidade do tipo II e III culminando com produção de autoanticorpos contra constituintes próprios da pele e formação de imunocomplexos no tecido cutâneo sendo este último segundo Val 2006 o responsável pelos sinais clínicos do LED Visando explicar o aparecimento dos 5 principais tipos de lesões do LED Larssom e Otsuka 2000 e Scott et al 1996 descreveram uma hipótese fotossensibilidade sendo as lesões geradas em conseqüência da radiação solar insulto aos ceratinócitos mediada por linfócitos T e macrófagos infiltração linfocítica síntese de anticorpos autoreativos e depósito de imunocomplexos Diferentemente do que ocorre em humanos onde há infiltração predominante de linfócitos T nas lesões tegumentares seja no LES ou LED nos cães há predomínio de plasmócitos sugerindo que estes possam ter um envolvimento significativo na imunopatogenia do LED Todavia não sabese exatamente o papel dos linfócitos B e plasmócitos na patogenia do LED GERHAUSER et al 2006 As lesões cutâneas mais comumente observadas são eritema despigmentação e descamação de plano nasal GERHAUSER et al 2006 GROSS et al 2009 em casos raros pode expandir para extremidades distais junções mucocutâneas periocular e pina GERHAUSER et al 2006 SCOTT et al 1996 Com a evolução do quadro as lesões podem apresentarse erosivas ulceradas e crostosas podendo evoluir para alopecia e cicatrização RHODES 2003 SCOTT et al 1996 O grau e intensidade do prurido e dor podem variar SCOTT et al 1996 Segundo Palumbo et al 2010 lesões em pavilhão auricular também podem ser observadas apesar de ser menos freqüentes Otites também podem ser inclusas como manifestações clínicas do LED Em todos os casos de otites o clínico veterinário deve buscar identificar os fatores predisponentes causas primárias e perpetuantes visando oferecer o melhor tratamento ao paciente As causas primárias devem ser sempre estabelecidas para que se descubra a causa da otite externa e alcance o FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 sucesso no tratamento a longo prazo Como exemplo de causas primárias principais ressaltase os parasitas Demodex canis Otodectes cynotis carrapatos e pulgas atopia distúrbios da ceratinização hipersensibilidade alimentar e menos comumente doenças autoimunes como o LED Já como fatores predisponentes podese citar a conformação dos condutos auditivos hipertricose auricular pina pendulosa trauma por cotonetes dentre outras Os principais fatores perpetuantes envolvidos são os microorganismos bacterianos e leveduriformes SCOTT et al 1996 Os principais diagnósticos diferenciais para o LED são síndrome úveodermatológica linfoma epiteliotrópico despigmentação nasal reação a medicamentos lúpus eritematoso sistêmico dermatite nasal solar pênfigo foliáceo epidermólise bolhosa eritema multiforme dermatomiosite e dermatite de contato OLIVRY E JACKSON 2001 GROSS 2009 SCOTT et al 1996 O diagnóstico é firmado baseandose no exame clínico e biopsia de pele CONCEIÇÃO et al 2004 LARSSOM e OTSUKA 2000 LAWALL et al 2008 SCOTT et al 1996 Pesquisa de anticorpos antinucleares também pode ser utilizada mas sua eficácia para o LED é de baixo valor diagnóstico sendo detectado em apenas 5 dos casos GROSS et al 2009 RHODES 2003 SCOTT et al 1996 As características histopatológicas da pele biopsiada revelam dermatite de interface seja hidrópica liquenóide ou mista ocorrendo edema intracelular degeneração hidrópica da camada basal e inúmeros ceratinócitos necrosados na epiderme já na liquenóide observase uma infiltração mononuclear com predomínio plasmocitário adjacente aos vasos e constituintes dermais ALMEIDA 2004 GUAGUNÈRE e BENSIGNOR 2005 GERONYM et al 2005 RHODES 2003 SCOTT et al 1996 VAL 2006 Podese observar ainda comumente no LED mucinose dérmica em vários graus e membrana basal focalmente espessada RHODES 2003 SCOTT et al 1996 FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 RELATO DE CASO Um cão da raça pastor alemão de 4 anos de idade foi encaminhado à clinica apresentando histórico de otite bilateral recorrente crônica e não responsiva ao tratamento com produto otológico contendo enrofloxacina sulfadiazina de prata e hidrocortisona O animal apresentava meneios de cabeça sensibilidade à palpação e não tolerava exame de otoscopia Apresentava ainda lesões erodidas em comissuras nasais e despigmentação sendo que estas não haviam sido notadas pelo proprietário Não havia lesões em mucosas orais e junções mucocutâneas Optouse por anestesiar o animal realizar o exame de otoscopia cultura da secreção otológica exame citológico da parede do conduto lavado de ambos os condutos com solução fisiológica e biopsia das lesões erodidas em plano nasal O animal foi medicado com acepran e tramadol sendo posteriormente induzido com propofol entubado e mantido sob anestesia inalatória com isofluorano O exame otoscópico revelou lesões erodidas em ambos os pavilhões auriculares e parede epitelial frágil nos condutos apresentando também fácil sangramento Secreção otológica escura foi notada e submetida a exame parasitológico citológico e de cultura bacteriana A membrana timpânica mostravase íntegra em ambos os ouvidos Foi realizada lavagem em ambos os pavilhões com solução fisiológica NaCl 09 e realizada biópsia das lesões de comissuras nasais com um punch de 5 mm da periferia da lesão contendo então na amostra obtida para biópsia tecido erodido e tecido íntegro sendo acondicionados em solução contendo formoldeído em concentração de 10 e encaminhado para laboratório de histopatologia O exame citológico revelou Mallassezia pachydermatis incontáveis o exame parasitológico não revelou presença de ácaros na amostra e o resultado da cultura e antibiograma foi positivo para Staphylococcus pseudointermedius sendo este sensível a todos os antibióticos de rotina FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 Macroscopicamente observouse fragmento de tecido com consistência fibroelástica medindo 04 cm de diâmetro e apresentando coloração escurecida Ao exame histopatológico foi observado tecido apresentando discreto processo de acantose com foco de erosão notandose ainda evidente infiltrado de linfócitos pequenos pela epiderme principalmente em regiões profundas da mesma figura 1 A Em outras porções do epitélio puderam ser constatadas células em processo de apoptose em camada basal Incontinência pigmentar esteve presente de forma multifocal moderada À derme superficial e principalmente ao redor de anexos cutâneos foi visualizado grave infiltrado inflamatório linfoplasmocitário sendo vistos ocasionais mastócitos associados à lâmina basal da epiderme sugerindo em associação aos outros achados um caso de LED figura 1 B Fonte Arquivo pessoal Figura 1 A Fotomicrografia evidenciando área focalmente extensa de erosão e acentuado infiltrado inflamatório na derme superficial especialmente na interface e também na derme profunda ao redor dos anexos cutâneos 10X B Em maior aumento nesta fotomicrografia é possível evidenciar numerosos linfócitos e plasmócitos seta caracterizando o infiltrado inflamatório predominante 40X FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 A terapia medicamentosa estabelecida foi à base de corticoterapia sistêmica sendo eleito prednisona na dose de 2mgkg por via oral durante sete dias e corticoterapia tópica com solução aquosa de hidrocortisona a 05 instilada nos condutos auditivos externos Ainda como terapia medicamentosa tópica foi utilizado solução comercial contendo enrofloxacino sulfadiazina de prata e hidrocortisona na dose de 6 gotas a cada 12 horas instilada em ambos condutos auditivos externos durante 7 dias RESULTADOS E DISCUSSÃO Concordando com Rhodes 2003 Scott et al 1996 e Thompson 1997 que descrevem o pastor alemão como uma raça com uma maior predisposição para o LED o referido paciente é da raça Pastor Alemão O paciente relatado neste trabalho apresentou ao exame físico lesões cutâneas tais como crosta eritema e despigmentação do plano nasal corroborando com Gerhauser et al 2006 e Gross et al 2009 que descrevem estes tipos de lesão no Lúpus Eritematoso Discóide LED Já a otite externa autoimune apesar de ocorrência mais rara no LED segundo Gerhauser et al 2006 e Scott et al 1996 foi um possível achado importante neste relato de caso já que o diagnóstico do pavilhão foi presuntivo associandoo aos achados da histopatologia das comissuras nasais Os achados histopatológicos revelam infiltrado linfoplasmocitário em epiderme derme e anexos cutâneos concordando com Almeida 2004 Guarnére e Bensignor 2005 Geronym et al 2005 Rhodes 2003 Scott et al 1996 e Val 2006 O tratamento instituído foi à base de corticoterapia sistêmica com prednisona empregandose dose imunossupressora de 22mgkg a cada 24 horas por sete dias demonstrandose eficiente para regredir as lesões sendo retirado gradativamente Scott et al 1996 relata que em alguns casos pode ser necessário manter a corticoterapia sistêmica com prednisona por até um mês Já o tratamento tópico instituído foi à base de hidrocortisona a 05 FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 sendo esta instilada em ambos condutos auditivos externos a cada 12 horas por uso contínuo De acordo com Scott et al 1996 a corticoterapia tópica pode ser iniciada à base de corticosteróides de ação longa como a betametasona ou fluocinolona associada ao DMSO até alcançar completa remissão das lesões podendo posteriormente utilizar drogas de menor potência como a hidrocortisona em concentrações de 1 a 2 espaçandose ao máximo possível Todavia neste caso contradizendo Scott et al 1996 optouse por iniciar a corticoterapia tópica com um corticóide de ação rápida à baixa concentração e sem associação ao DMSO obtendo mesmo assim resultado satisfatório com completa resolução das lesões em plano nasal e da possível causa primária da otite externa Não houve necessidade de associar outros agentes imunomoduladores sistêmicos como azatioprina ou clorambucil já que o paciente alcançou a cura clínica com completa remissão das lesões cutâneas corroborando com Scott et al 1996 De acordo com Scott et al 1996 devese procurar identificar sempre a causa primária de otites Buscando estabelecer a possível causa primária da otite externa bilateral recorrente inferiuse que o LED fosse o responsável apesar de não ter sido biopsiado o conduto auditivo externo como sugere este autor Citologia dos condutos auditivos externos foi feita para identificar possíveis fatores perpetuantes conforme recomenda Scott et al 1996 e incontáveis Malassezias pachydermatis foram identificadas Este mesmo autor também recomenda produtos comerciais que contenham antibióticos à base de neomicina ou polimixina B e antifúngicos como miconazol 1 ou clotrimazol como fármacos de primeira escolha no tratamento de otites bacterianas e fungicas respectivamente Porém por opção financeira do proprietário que já possuía um produto comercial à base de sulfadiazina de prata enrofloxacino e hidrocortisona optouse por eliminar os fatores perpetuantes utililizando este produto Até a presente data o paciente apresenta remissão completa das lesões em plano nasal e não houve recidiva do quadro de otite externa FERREIRA FILHO SG et al Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso PUBVET Londrina V 8 N 22 Ed 271 Art 1810 Novembro 2014 CONCLUSÃO As doenças autoimunes apesar de baixa ocorrência na clínica de cães e gatos quando surgem exigem do clínico veterinário conhecimento para diagnosticar e conduzir o paciente não só ao diagnóstico mas também a melhor modalidade terapêutica possível O LED se caracteriza por ser uma dermatopatia autoimune de caráter benigno com diagnóstico baseado nos achados do exame físico e principalmente histopatologia do tecido afetado possuindo ainda prognóstico favorável Neste caso relatado apesar de ter sido feito estudo histopatológico somente do plano nasal suspeitouse que a otite externa recorrente possuísse relação com o LED inferindose que esta fosse a causa primária da otite sendo estabelecido tratamento tópico e sistêmico à base de corticosteróides Apesar da corticoterapia tópica instituída ter sido com corticóide de ação rápida e em baixa concentração contradizendo a literatura obtevese sucesso Até a presente data além da remissão das lesões do plano nasal o paciente não apresentou recidiva do quadro de otite REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA E M P Estudo das Características Clínicas e Histomorfométricas da pele de gatos cronicamente exposta ao Sol Tese Doutorado Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Ciência Médicas Campinas SP 2004 Orientador Maria Letícia Cintra BALDA A C OTSUKA M MICHALANY N S LARSSON C E Pênfigo foliáceo em cães levantamento retrospectivo de casos atendidos no período de novembro de 1986 a julho de 2000 e de resposta aos protocolos de terapia empregados no Hospital Veterinário da USP Revista Brasileira de Ciência Veterinária Rio de Janeiro v 9 n 2 p 97101 2002 BERBERT A L C V MANTESE S A O Lúpus Eritematoso Cutâneo Aspectos Clínicos e Laboratoriais Anais Brasileiros de Dermatologia p 80 2005 CONCEIÇÃO L G et al Biópsia e Histopatologia da Pele um valioso recurso diagnóstico da dermatologia Revisão parte 1 Clínica Veterinária n51 p 3644 julago 2004 COSTNER M I SONTHEIMER R D Lupus erythematosus In FREEDBERG I M et al Fitzpatricks dermatology in general medicine New York McGrawHill 2003 p 167793 FENNER W R Consulta Rápida em Clínica Veterinária Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2003p 370 371 FREITAS T H P Proença N G Lúpus eritematoso cutâneo crônico estudo de 290 pacientes Anais do Congresso Brasileiro de Dermatologiap 78 2003 GUARNÈRE E BENSIGNOR E Dermatoses AutoImunes In Terapêutica Dermatológica do Cão São Paulo Rocca 2005 GERHAUSER I STROTHMANNLVERSSEN A BAUMGORTNER W A case of interface perianal dermatitis in a dog is this aunsual manifestation of lupus erythematosus Veterinary Pathology Washington v 43 n 5 p 761764 2006 GERONYM V V et al Ocorrência de lúpus eritematoso em cães atendidos no hospital veterinário do centro regional universitário de Espírito Santo do Pinhal Unipinhal no período de 1999 a 2003 Bol Med Vet UNIPINHAL Espírito Santo do Pinhal SP v01 n01 jandez 2005 GROOTERS A Distúrbios do Sistema Endócrino In FENNER W R Consulta Rápida em Clínica Veterinária Rio de Janeiro Guanabara Koogan 3 ed 2003 p370371 GROSS T L et al Doenças de pele do cão e do gato Diagnóstico clínico e histopatológico 2 ed São Paulo Roca 2009 IWASAKI T et al Canine case of discoid lupus erythematosus with circulating autoantibody Journal of Veterinary Medical Science Tokyo v 57 n 6 p 10971099 1995 LARSSOM CE OTSUKA M Lúpus eritematoso discóide LED revisão e casuística em serviço especializado na capital de São Paulo Revista de Educação Continuada do CRMV SP São Paulo v3 n1 p2936 2000 LARSSOM C E Wandering Through the autoimmune dermatoses Pemphigus Complex In WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS 30 th 2005 México Proceedings of 30 th World Small Animal Veterinary Congress FECAVA 2005 Disponível em httpwwwivisorgproceedingswsava200517pdf Acesso em 13 março 2014 1330 LAWALL T et al Lupus eritematoso discoide em caes Estudo de três casos clínicos no hospital veterinário da universidade luterana do Brasil nos anos de 2002 a 2008 In ANAIS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA Gramado RS 2008 NETO E F B BONFÁ E Lúpus Eritematoso Sistêmico In Lopes A C Tratado de Clínica Médica São Paulo Roca 2006 p1595 1604 OLIVRY T JACKSON H A Diagnosing new autoimmune blistering skin diseases of dogs and cats Clinical Techniques in Small Animal Practice v16 n4 p225229 2001 PALUMBO M I P et al Incidência das dermatopatias autoimunes em cães e gatos e estudo retrospectivo de 40 casos de lúpus eritematoso discóide atendidos no serviço de dermatologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP Botucatu Revista Semina Ciências Agrárias Londrina v 31 n 3 p 739744 2010 ROSEKRANTZ WS Discoid lupus erythematosus In GRIFFIN CE KWOCHKA K W MACDO ALO JM Current veterinary dermatology St Louis Mosby 1993 p 149153 RHODES K H Dermatopatias e otopatias dermatoses imunomediadas In BIRCHARD S J SHERDING R G Manual Saunders Clínica de Pequenos Animais 2 ed São Paulo Rocca 2003 SCOTT D W MILLER W H GRIFFIN C E Dermatologia de Pequenos Animais Rio de Janeiro Interlivros 5 ed 1996 p 539543 THOMPSON J P Moléstias imunológicas In ETTINGER S J FELDMAN E C Tratado de Medicina Interna Veterinária 4 ed São PauloManole 1997 v2 p27862790 TIZARD I R Imunologia Veterinária introdução 6 ed p 1154 175190 201 432 437 São Paulo Roca 2002 VAL A C Doenças cutâneas autoimunes e imunomediadas de maior ocorrência em cães e gatos revisão de literatura Clínica Veterinária n 60 p 6874 janfev 2006 WERNER A H Recognizing and treating discoid lúpus erythematous and pemphigus foliaceus in dog Veterinary Medicine Chicago v 1 n 94 p 955966 1999 LÚPUS ERITEMATOSO DISCOIDE EM CÃES Introdução A pele apresentase como o maior órgão do corpo desempenhando funções essenciais para o bemestar do animal e sendo responsável por cerca de 16 do peso vivo Este órgão mantém constante interação com o ambiente e dentre suas funções podemos citar a capacidade de proteger os tecidos internos fornecendo proteção física química e microbiológica o que minimiza a ação de patógenos e também a perda de água Este órgão é constituído por duas camadas principais sendo elas a epiderme e a derme que são compostas por componentes glandulares epiteliais e neurovasculares A epiderme é mais externa e funciona como uma barreira física contra patógenos e exposição a raios ultravioleta A derme responde a fatores fisiológicos da pele e é formada por vasos sanguíneos fibroblastos e células do sistema imune LIMAVERDE et al 2019 É importante destacar que a epiderme também desempenha uma função ativa na resposta imunológica do corpo e a fatores externos Entre a derme e a camada basal da pele existe uma junção denominada de zona da membrana basal que possui importância para o diagnóstico de diversas doenças autoimunes Na medicina veterinária a especialidade de dermatologia vem crescendo na clínica de pequenos animais e muitas vezes se tornando um desafio devido às dificuldades no diagnóstico e por longos tratamentos que exigem muito do proprietário LARSSON OTSUKA 2000 Dentre todas as dermatoses as dermatopatias autoimunes caninas ocorrem entre 03 a 14 e estas por sua vez caracterizamse como patologias causadas por uma orientação desordenada do sistema imune que faz com que o paciente reaja de forma incomum e anormal contra componentes do seu próprio organismo As dermatopatias autoimunes podem ser manifestadas pelas formas de lúpus eritematoso sistêmico LES lúpus eritematoso cutâneo esfoliativo LECE lúpus eritematoso cutâneo vesicular LECV oniquite lupoide canina e lúpus eritematoso discoide LED ATAÍDE et al 2019 Etiopatogenia Lúpus é um termo derivado do latim e utilizado para caracterizar o quadro lesional parecido com o derivado de mordidas de canídeos selvagens Já o termo discóide envolve o aspecto morfológico em formato de disco das injúrias faciais vistas em animais acometidos O lúpus eritematoso discoide LED também conhecido como lúpus eritematoso cutâneo crônico LECC apresentase como uma afecção dermatológica benigna e diferenciase de sua variante sistêmica LES a partir da ausência de manifestações extras tegumentares O LED apresentase clinicamente com despigmentação eritema e crostas sendo essas lesões localizadas em região dorsal do plano nasal e da pele LIMAVERDE et al 2019 Sua patogenicidade ainda não está bem elucidada porém sabese que pode haver predisposição genética e afirmase também que a exposição a radiação ultravioleta iniciamento viral e o uso de medicamentos podem levar a deposição de antígenosanticorpos na junção dermoepidérmica no LED o que induz clinicamente as lesões cutâneas DA SILVA et al 2017 A exposição solar pode agravar a doença em 50 dos casos devido a geração de uma cascata inflamatória que a radiação ultravioleta causa levando à destruição dos componentes da derme e epiderme resultando em uma reação imunomediada crônica e local o que leva ao aparecimento de lesões como descamação crostas e despigmentação Sugerese que a fotossensibilidade desempenhe um papel importante na origem da doença portanto em cães a radiação ultravioleta é o principal fator ambiental desencadeante do LED ATAÍDE et al 2019 Larsson e Otsuka 2000 descreveram uma hipótese para o mecanismo responsável pelo desencadeamento das lesões de LED a luz ultravioleta penetra ao nível das células basais induzindo a expressão aumentada de autoantígenos citoplasmáticos e nucleares na superfície da membrana celular dos queratinócitos posteriormente há a produção de autoanticorpos que se ligam aos antígenos superficiais dos queratinócitos ao nível da membrana basal estimulando fenômenos citotóxicos Os queratinócitos que foram lesionados liberam interleucinas IL1 IL3 IL6 e IL8 estimuladores e ativadores de granulócitos fatores de necrose tumoral macrófagos e monócitos Epidemiologia O primeiro relato da LED foi descrito por Griffin e colaboradores em 1979 na Califórnia Dois cães pertencentes a raça borzoi e collie apresentaram um perfil histopatológico e clínico condizente com o LED No Brasil Larsson e colaboradores em 1985 citaram um cão sem raça definida com LED A doença pode acometer também os gatos e equinos apesar de ser bem raro em felinos No Brasil não existe relato até o presente momento de outras espécies domésticas ou selvagens LARSSON OTSUKA 2000 O lúpus eritematoso discoide pode acometer machos e fêmeas e acreditase que não há forte predileção por sexo e nem por idade As raças mais acometidas são os collies pastores alemães brittany spaniels shetland sheepdogs huskies siberianos border collie bull terrier pinsher e pointers alemães de pelo curto LIMA et al 2020 Sinais Clínicos No LED as lesões estão limitadas à face do paciente embora lesões em membros cavidade oral e genitália já tenham sido descritas No quadro clínico da doença observa se despigmentação eritema e descamação principalmente do focinho O sintoma inicial é a despigmentação e se manifesta de forma precoce com a alteração da cor preta do nariz para cinza azulada e com a perda da arquitetura do revestimento normal do epitélio nasal para uma superfície lisa causando a ausência do típico padrão do focinho em calçamento de pedra ou mosaico português Em geral o plano nasal perde a sua arquitetura arredondada Figura 01 PEREIRA et al 2014 O eritema e a descamação do plano nasal podem evoluir para a formação de úlceras crostas e erosões Pode haver proliferação da doença para a ponte nasal cavidade oral e região periorbitária e nos casos crônicos alopecia e formação de cicatriz A dor e o prurido são variáveis e em casos mais graves como quadros erosivos ou erodoulcerados pode suscitar hemorragias Quando sediado na ponte nasal e ao redor das órbitas nomeia se um padrão lesional em asa de borboleta ou vespertilho Figura 02 BURLINA et al 2014 Figura 01 Descamação do plano nasal Fonte Pereira et al 2014 Figura 02 Lesão alopécica e eritematosa em ponte nasal perda tecidual do plano nasal e presença de crostas hemáticas Fonte Ataíde et al 2019 Diagnóstico As dermatopatias autoimunes apresentam um diagnóstico desafiador devido a especificidade do exame e as características lesionais da doença que se assemelham a grande variedade de outras dermatológicas O diagnóstico definitivo baseiase na anamnese exame físico e principalmente exame histopatológico FERREIRA et al 2014 No exame físico é muito importante observar a presença ou não de lesão no plano nasal uma vez que na maioria dos casos as dermatoses autoimunes atingem essa região do corpo do animal O exame histopatológico é conclusivo e dentre os achados que podem ser observados temos o depósito de imunoglobulinas na membrana basal a degeneração hidrópica das células os queratinócitos apoptóticos e infiltrado de células mononucleares com predomínio de plasmócitos ao redor dos vasos e apêndices dérmicos e o espessamento focal da membrana basal Exames laboratoriais de rotina como esfregaço direto hemograma perfil bioquímico sérico e urinálise não possuem valor diagnóstico Os exames de imunofluorescência e imunohistoquímica demonstram ser úteis se analisados em conjunto com os demais pois existe uma alta ocorrência de resultados falsos positivos e falsos negativos LARSSON OTSUKA 2000 Tratamento A LED é uma doença autoimune sendo assim os animais acometidos não apresentam cura somente ocorre o controle O tratamento para essa enfermidade deverá ser instituído durante toda a vida do animal O objetivo do tratamento é controlar a doença e seus sinais clínicos com as terapias mais seguras e nas doses mais baixas possíveis O tratamento de escolha dependerá da gravidade da doença Em alguns casos o tratamento pode ser feito somente com medicações tópicas e vitaminas já em casos graves e refratários a estes tratamentos empregase fármacos sistêmicos DA SILVA et al 2017 De modo geral os possíveis fármacos utilizados para a terapia imunossupressora aplicada às doenças autoimunes são a prednisona azatioprina clorambucil podendo ser associados com antibióticos como as tetraciclinas e utilização tópica de tacrolimus que apresenta efeito antiinflamatório e atua impedindo a ativação dos linfócitos T e a produção de citocinas LARSSON OTSUKA 2000 Um dos fatores de grande importância para o tratamento da LED é a prevenção da exposição solar de maior intensidade devendo o médico veterinário orientar os proprietários quanto à exposição do animal à radiação solar em horários de grande intensidade como das 800 às 1700 horas bem como da importância do uso de filtros solares tópicos com fator de proteção solar FPS acima de 15 regularmente nas áreas lesionadas A utilização de corticosteróides tópicos pode ser o suficiente para o controle de lesões discretas Nos casos refratários à terapia tópica podese fazer o uso de glicocorticóides sistêmicos também associados à administração de vitamina E que possui efeito antiinflamatório moderado até a remissão dos sinais BURLINA et al 2014 Por fim observase que na maioria dos casos com tratamento adequado alcança se a remissão das lesões e que a terapia deve ser realizada durante toda a vida para se obter uma melhora na qualidade de vida do animal com LED Referências ATAÍDE Wanessa SILVIA Vera Lúcia da FERAZ Henrique Trevizoli AMARAL Andréia Vitor Couto do ROMANI Alana Flávia Lúpus Eritematoso Discoide em cães Enciclopédia Biosfera v 16 n 29 2019 BURLINA Renata Sguillaro Pizzo STAFOCHE Bruna Rodrigues Lúpus Eritematoso Revista Científica de Medicina Veterinária Pequenos Animais e Animais de Estimação v 2 p 5661 2018 DA SILVA Vanessa Lucas MONTEIRO Cynthia Levi Barattal SILVA Michelle Costa CARNEIRO Raimundo Diones JUNIOR Euclides R Pereira LUCENA Lorena Vasconcelos de Diagnóstico e tratamento de lúpus eritematoso discoide canino relato de caso Pubvet v 12 p 130 2017 FERREIRA FILHO Sinésio Gross FERNANDES Francisco Lucas CHAMELETE Marcelo Oliveira CRUZEIRO Rosyane Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso Pubvet v 8 n 22 2014 LARSSON Carlos Eduardo OTSUKA Mary Lúpus Eritematoso DiscoideLED Revisão e casuística em serviço especializado da Capital de São Paulo Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMVSP v 3 n 1 p 2936 2000 LIMA Renan Carvalho SANTOS Karina Maria de Macedo VIANA Daniel de Araújo LAVOR Carlos Tadeu Bandeira VAGO Paula Bittencourt Lúpus eritematoso discoide em cão Ciência Animal v 30 n 2 p 5157 2020 LIMAVERDE Juliana Furtado FERREIRA Tiago Cunha NUNESPINHEIRO Diana Célia Sousa Lupus eritematoso discoide em cão relato de caso Pubvet v 14 p 128 2019 PEREIRA Priscila OYAFUSO Mônica Kanashiro CUNHA Olicies NUNES Anúzia Cristina Barini PAULINO Joyce Alves Lúpus eritematoso discoide LED Relato de caso em um canino SRD v 3 n11 p 390393 2014 LÚPUS ERITEMATOSO DISCOIDE EM CÃES Introdução A pele apresentase como o maior órgão do corpo desempenhando funções essenciais para o bemestar do animal e sendo responsável por cerca de 16 do peso vivo Este órgão mantém constante interação com o ambiente e dentre suas funções podemos citar a capacidade de proteger os tecidos internos fornecendo proteção física química e microbiológica o que minimiza a ação de patógenos e também a perda de água Este órgão é constituído por duas camadas principais sendo elas a epiderme e a derme que são compostas por componentes glandulares epiteliais e neurovasculares A epiderme é mais externa e funciona como uma barreira física contra patógenos e exposição a raios ultravioleta A derme responde a fatores fisiológicos da pele e é formada por vasos sanguíneos fibroblastos e células do sistema imune LIMAVERDE et al 2019 É importante destacar que a epiderme também desempenha uma função ativa na resposta imunológica do corpo e a fatores externos Entre a derme e a camada basal da pele existe uma junção denominada de zona da membrana basal que possui importância para o diagnóstico de diversas doenças autoimunes Na medicina veterinária a especialidade de dermatologia vem crescendo na clínica de pequenos animais e muitas vezes se tornando um desafio devido às dificuldades no diagnóstico e por longos tratamentos que exigem muito do proprietário LARSSON OTSUKA 2000 Dentre todas as dermatoses as dermatopatias autoimunes caninas ocorrem entre 03 a 14 e estas por sua vez caracterizamse como patologias causadas por uma orientação desordenada do sistema imune que faz com que o paciente reaja de forma incomum e anormal contra componentes do seu próprio organismo As dermatopatias autoimunes podem ser manifestadas pelas formas de lúpus eritematoso sistêmico LES lúpus eritematoso cutâneo esfoliativo LECE lúpus eritematoso cutâneo vesicular LECV oniquite lupoide canina e lúpus eritematoso discoide LED ATAÍDE et al 2019 Etiopatogenia Lúpus é um termo derivado do latim e utilizado para caracterizar o quadro lesional parecido com o derivado de mordidas de canídeos selvagens Já o termo discóide envolve o aspecto morfológico em formato de disco das injúrias faciais vistas em animais acometidos O lúpus eritematoso discoide LED também conhecido como lúpus eritematoso cutâneo crônico LECC apresentase como uma afecção dermatológica benigna e diferenciase de sua variante sistêmica LES a partir da ausência de manifestações extras tegumentares O LED apresentase clinicamente com despigmentação eritema e crostas sendo essas lesões localizadas em região dorsal do plano nasal e da pele LIMAVERDE et al 2019 Sua patogenicidade ainda não está bem elucidada porém sabese que pode haver predisposição genética e afirmase também que a exposição a radiação ultravioleta iniciamento viral e o uso de medicamentos podem levar a deposição de antígenosanticorpos na junção dermoepidérmica no LED o que induz clinicamente as lesões cutâneas DA SILVA et al 2017 A exposição solar pode agravar a doença em 50 dos casos devido a geração de uma cascata inflamatória que a radiação ultravioleta causa levando à destruição dos componentes da derme e epiderme resultando em uma reação imunomediada crônica e local o que leva ao aparecimento de lesões como descamação crostas e despigmentação Sugerese que a fotossensibilidade desempenhe um papel importante na origem da doença portanto em cães a radiação ultravioleta é o principal fator ambiental desencadeante do LED ATAÍDE et al 2019 Larsson e Otsuka 2000 descreveram uma hipótese para o mecanismo responsável pelo desencadeamento das lesões de LED a luz ultravioleta penetra ao nível das células basais induzindo a expressão aumentada de autoantígenos citoplasmáticos e nucleares na superfície da membrana celular dos queratinócitos posteriormente há a produção de autoanticorpos que se ligam aos antígenos superficiais dos queratinócitos ao nível da membrana basal estimulando fenômenos citotóxicos Os queratinócitos que foram lesionados liberam interleucinas IL1 IL3 IL6 e IL8 estimuladores e ativadores de granulócitos fatores de necrose tumoral macrófagos e monócitos Epidemiologia O primeiro relato da LED foi descrito por Griffin e colaboradores em 1979 na Califórnia Dois cães pertencentes a raça borzoi e collie apresentaram um perfil histopatológico e clínico condizente com o LED No Brasil Larsson e colaboradores em 1985 citaram um cão sem raça definida com LED A doença pode acometer também os gatos e equinos apesar de ser bem raro em felinos No Brasil não existe relato até o presente momento de outras espécies domésticas ou selvagens LARSSON OTSUKA 2000 O lúpus eritematoso discoide pode acometer machos e fêmeas e acreditase que não há forte predileção por sexo e nem por idade As raças mais acometidas são os collies pastores alemães brittany spaniels shetland sheepdogs huskies siberianos border collie bull terrier pinsher e pointers alemães de pelo curto LIMA et al 2020 Sinais Clínicos No LED as lesões estão limitadas à face do paciente embora lesões em membros cavidade oral e genitália já tenham sido descritas No quadro clínico da doença observa se despigmentação eritema e descamação principalmente do focinho O sintoma inicial é a despigmentação e se manifesta de forma precoce com a alteração da cor preta do nariz para cinza azulada e com a perda da arquitetura do revestimento normal do epitélio nasal para uma superfície lisa causando a ausência do típico padrão do focinho em calçamento de pedra ou mosaico português Em geral o plano nasal perde a sua arquitetura arredondada Figura 01 PEREIRA et al 2014 O eritema e a descamação do plano nasal podem evoluir para a formação de úlceras crostas e erosões Pode haver proliferação da doença para a ponte nasal cavidade oral e região periorbitária e nos casos crônicos alopecia e formação de cicatriz A dor e o prurido são variáveis e em casos mais graves como quadros erosivos ou erodoulcerados pode suscitar hemorragias Quando sediado na ponte nasal e ao redor das órbitas nomeia se um padrão lesional em asa de borboleta ou vespertilho Figura 02 BURLINA et al 2014 Figura 01 Descamação do plano nasal Fonte Pereira et al 2014 Figura 02 Lesão alopécica e eritematosa em ponte nasal perda tecidual do plano nasal e presença de crostas hemáticas Fonte Ataíde et al 2019 Diagnóstico As dermatopatias autoimunes apresentam um diagnóstico desafiador devido a especificidade do exame e as características lesionais da doença que se assemelham a grande variedade de outras dermatológicas O diagnóstico definitivo baseiase na anamnese exame físico e principalmente exame histopatológico FERREIRA et al 2014 No exame físico é muito importante observar a presença ou não de lesão no plano nasal uma vez que na maioria dos casos as dermatoses autoimunes atingem essa região do corpo do animal O exame histopatológico é conclusivo e dentre os achados que podem ser observados temos o depósito de imunoglobulinas na membrana basal a degeneração hidrópica das células os queratinócitos apoptóticos e infiltrado de células mononucleares com predomínio de plasmócitos ao redor dos vasos e apêndices dérmicos e o espessamento focal da membrana basal Exames laboratoriais de rotina como esfregaço direto hemograma perfil bioquímico sérico e urinálise não possuem valor diagnóstico Os exames de imunofluorescência e imunohistoquímica demonstram ser úteis se analisados em conjunto com os demais pois existe uma alta ocorrência de resultados falsos positivos e falsos negativos LARSSON OTSUKA 2000 Tratamento A LED é uma doença autoimune sendo assim os animais acometidos não apresentam cura somente ocorre o controle O tratamento para essa enfermidade deverá ser instituído durante toda a vida do animal O objetivo do tratamento é controlar a doença e seus sinais clínicos com as terapias mais seguras e nas doses mais baixas possíveis O tratamento de escolha dependerá da gravidade da doença Em alguns casos o tratamento pode ser feito somente com medicações tópicas e vitaminas já em casos graves e refratários a estes tratamentos empregase fármacos sistêmicos DA SILVA et al 2017 De modo geral os possíveis fármacos utilizados para a terapia imunossupressora aplicada às doenças autoimunes são a prednisona azatioprina clorambucil podendo ser associados com antibióticos como as tetraciclinas e utilização tópica de tacrolimus que apresenta efeito antiinflamatório e atua impedindo a ativação dos linfócitos T e a produção de citocinas LARSSON OTSUKA 2000 Um dos fatores de grande importância para o tratamento da LED é a prevenção da exposição solar de maior intensidade devendo o médico veterinário orientar os proprietários quanto à exposição do animal à radiação solar em horários de grande intensidade como das 800 às 1700 horas bem como da importância do uso de filtros solares tópicos com fator de proteção solar FPS acima de 15 regularmente nas áreas lesionadas A utilização de corticosteróides tópicos pode ser o suficiente para o controle de lesões discretas Nos casos refratários à terapia tópica podese fazer o uso de glicocorticóides sistêmicos também associados à administração de vitamina E que possui efeito antiinflamatório moderado até a remissão dos sinais BURLINA et al 2014 Por fim observase que na maioria dos casos com tratamento adequado alcança se a remissão das lesões e que a terapia deve ser realizada durante toda a vida para se obter uma melhora na qualidade de vida do animal com LED Referências ATAÍDE Wanessa SILVIA Vera Lúcia da FERAZ Henrique Trevizoli AMARAL Andréia Vitor Couto do ROMANI Alana Flávia Lúpus Eritematoso Discoide em cães Enciclopédia Biosfera v 16 n 29 2019 BURLINA Renata Sguillaro Pizzo STAFOCHE Bruna Rodrigues Lúpus Eritematoso Revista Científica de Medicina Veterinária Pequenos Animais e Animais de Estimação v 2 p 5661 2018 DA SILVA Vanessa Lucas MONTEIRO Cynthia Levi Barattal SILVA Michelle Costa CARNEIRO Raimundo Diones JUNIOR Euclides R Pereira LUCENA Lorena Vasconcelos de Diagnóstico e tratamento de lúpus eritematoso discoide canino relato de caso Pubvet v 12 p 130 2017 FERREIRA FILHO Sinésio Gross FERNANDES Francisco Lucas CHAMELETE Marcelo Oliveira CRUZEIRO Rosyane Lúpus eritematoso discóide canino relato de caso Pubvet v 8 n 22 2014 LARSSON Carlos Eduardo OTSUKA Mary Lúpus Eritematoso DiscoideLED Revisão e casuística em serviço especializado da Capital de São Paulo Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMVSP v 3 n 1 p 2936 2000 LIMA Renan Carvalho SANTOS Karina Maria de Macedo VIANA Daniel de Araújo LAVOR Carlos Tadeu Bandeira VAGO Paula Bittencourt Lúpus eritematoso discoide em cão Ciência Animal v 30 n 2 p 5157 2020 LIMAVERDE Juliana Furtado FERREIRA Tiago Cunha NUNESPINHEIRO Diana Célia Sousa Lupus eritematoso discoide em cão relato de caso Pubvet v 14 p 128 2019 PEREIRA Priscila OYAFUSO Mônica Kanashiro CUNHA Olicies NUNES Anúzia Cristina Barini PAULINO Joyce Alves Lúpus eritematoso discoide LED Relato de caso em um canino SRD v 3 n11 p 390393 2014