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FATORES DE RISCO QUE CONTRIBUEM PARA O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER GÁSTRICO E DE ESÔFAGO Fernanda da Costa Baú1 Adriane Huth2 A r t i g o REVISTA CONTEXTO SAÚDE IJUÍ EDITORA UNIJUÍ v 11 n 21 JULDEZ 2011 p 1624 Resumo O número de novos casos de câncer no mundo tem aumentado de maneira considerável a cada ano tornandose um grave problema de saúde pública Entre as principais causas que aumentam a incidência de neoplasias do trato digestório e do câncer de esôfago estão os fatores dietéticos como o consumo exagerado de gorduras e a baixa ingesta de fibras entre outros como o uso do fumo do álcool o sedentarismo e o hábito de tomar chimarrão com água em temperaturas elevadas Este estudo constituise de revisão de literatura baseada nas referências com piladas nas bases de dados da Scientific Electronic Libary Online Scie lo do Instituto Nacional do Câncer Inca e da Organização Mundial da Saúde OMS considerando o período de 1995 a 2010 O objetivo deste estudo foi discutir as características da dieta relacionada às neoplasias do trato digestório em especial do câncer gástrico e de esôfago Es tudos têm mostrado que métodos de prevenção como mudanças nos hábitos de vida consumo de alimentos saudáveis com propriedades quimiopreventivas e antioxidantes e o combate ao sedentarismo podem ser fatores de prevenção contra o câncer O nutricionista tem o papel de promover políticas de hábitos de vida saudáveis associadas a uma alimentação nutricionalmente adequada prevenindo doenças crônicas não transmissíveis Palavraschave Nutrição em oncologia Quimiopreventivos Neoplasias do trato digestório Neoplasia de esôfago Risk Factors Contributing to the Development of the Esopha gus And Gastric Cancer Abstract The number of new cancer cases worldwide has increased consi derably each year becoming a major public health problem Among the main causes that increase the incidence of cancers of the digestive tract and esophageal cancer are dietary factors such as excessive use of fats low intake of fiber and others such as tobacco use alcohol sedentary lifestyle and habits mate taken with water at elevated temperatures This study consisted of a literature review based on qualitative analysis of references compiled in the databases of Medline Scielo Inca and WHO considering the period from 1995 to 2010 The aim of this study was to discuss the characteristics of the diet related to cancer of the digestive tract especially gastric and esophageal cancer Studies have shown that prevention methods such as changes in lifestyle consumption of healthy foods with antioxidant and chemopreventive properties against sedentary lifestyle and may be protective factors against cancer The dietitians role is to promote policies of healthy lifestyle habits associated with a nutri tionally adequate preventing the incidence of chronic diseases Keywords Nutrition in oncology Chemoprevention Cancer of the digestive trac Cancer of the esophagus 12 1 Graduada em Nutrição pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Unijuí fernandinhabau hotmailcom 2 Mestre orientadora docente do curso de Nutrição da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Unijuí adrianehuthunijuiedubr 17 FATORES DE RISCO QUE CONTRIBUEM PARA O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER GÁSTRICO E DE ESÔFAGO Revista Contexto Saúde Ijuí v 11 n 21 JulDez 2011 Câncer segundo o Instituto Nacional do Câncer Inca 2010a é a denominação de um conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o cresci mento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos Dividindose rapidamente estas células podem ser muito agressivas e incontroláveis de terminando a formação de tumores malignos que podem se espalhar para outras regiões do corpo As causas do câncer são variadas podendo ser externas ou internas ao organismo estando interre lacionadas As causas externas referemse ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de uma sociedade As causas internas são na maioria das vezes geneticamente predeterminadas e estão ligadas à capacidade de o organismo se defender das agressões externas Os tumores podem ter início em diferentes tipos de células Quando começam em tecidos epiteliais como pele ou mucosas são denominados carcinomas Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos como ossos músculos ou cartilagens são chamados sarcomas Inca 2010a Em 1995 dos cinco principais tipos de câncer no Brasil por 100000 habitantes 669 eram de esôfago Em 2007 639 dos casos de câncer ainda eram de esôfago em homens considerando que a maior prevalência desse tumor é em homens Inca 2010b Em 2006 segundo dados do Departamento de Informática do Sistema de Único Saúde SUS Datasus a cada 100000 habitantes a incidência do câncer de esôfago foi de 86 para homens e de 27 para mulheres A principal incidência do câncer está concentrada na Região Sul do país com incidência de 174 para homens e de 6 para mu lheres seguida da região Sudeste com incidência de 107 para homens e de 3 para mulheres As demais Regiões do país possuem incidência abaixo da média nacional Datasus 2010 No Brasil o câncer de esôfago figura entre os dez mais incidentes 6º entre os homens e 9º entre as mulheres O tipo de câncer de esôfago mais fre quente é o carcinoma epidermoide escamoso rela cionado ao uso de álcool e fumo responsável por 96 dos casos Outro tipo o adenocarcinoma vem aumentando significativamente e está associado ao esôfago de Barrett lesão na parede do esôfago cau sada pelo refluxo do suco gástrico do estômago Monteiro et al 2009 A estimativa de novos casos de câncer de esô fago em 2010 é de 10630 e desses 7890 em ho mens e 2740 em mulheres A estimativa de mortes para o mesmo ano é de 7148 5531 homens e 1617 mulheres Inca 2010a Estudos realizados por Tsugane et al apud Gi meno et al 1995 com imigrantes japoneses em diferentes áreas geográficas revelam que a varia ção nas taxas de incidência de câncer de esôfago é maior para homens do que para mulheres atribuin do tais fatores à exposição prolongada a agentes carcinogênicos como o hábito de fumar e o uso de bebida alcoólica A prevenção do câncer portanto deve estar em ações de promoção da saúde e nas ações de pro teção específicas contra fatores de risco uma vez que a promoção da saúde relacionase às medidas de combate ao tabagismo e ao sedentarismo orien tações sobre dieta saudável não exposição ao sol e proteção específica como as vacinações e o exame de Papanicolau Cestari Zago 2005 O presente estudo descreve os fatores de risco que contribuem para o desenvolvimento e também para a prevenção da ocorrência de cânceres do trato digestório em especial do câncer de estômago e de esôfago Material e Métodos Este texto consiste em uma revisão da literatu ra baseada em análise das referências encontradas em bases de dados da Scielo do Inca e da OMS considerando o período de 1995 a 2010 O critério para inclusão dos dados pesquisados foi no período estabelecido e relacionado a causas e prevenção do câncer de esôfago e gástrico A estratégia de busca foi definida pelos unitermos relativos ao câncer do trato digestório nutrição em oncologia quimiopreventivos neoplasias do trato digestório neoplasia de esôfago 18 Fernanda da Costa Baú Adriane Huth Revista Contexto Saúde Ijuí v 11 n 21 JulDez 2011 Revisão da Literatura Etiologia e Fisiopatologia Os tumores podem ser descritos como uma des regulação no ciclo celular considerando que as mo léculas reguladoras deste ciclo encontramse fre quentemente alteradas nas neoplasias Waitzberg 2006 Segundo Soussi 2000 apud Waitzerg 2006 p 77 várias linhas de evidências apontam para um pa pelchave do p53 na supressão tumoral Perda de um p53 funcional por mutação ou deleção está associada à tumorigênese uma vez que o DNA danificado é replicado e aumenta a instabilidade genética Mutações no p53 são alterações gené ticas mais comuns em neoplasias estando este gene mutado por exemplo entre 50 e 79 de carcinoma gástrico Curiosamente a maior parte das mutações rompe as vias de degradação da proteína resultado de níveis muito altos de proteínas mutantes Portanto a supressão de p53 detectada por imunoistoquímica indica a presença de p53 mutada O câncer de esôfago na sua fase inicial não apresenta sinais nem sintomas por isso quando o paciente apresenta sintomas como a disfagia a doença já está em estágio bem avançado Sen do assim no progresso da doença alguns sintomas característicos são a dificuldade e dor para engolir alimentos dor retroesternal dor torácica sensação de obstrução para deglutir os alimentos náuseas vômitos e perda do apetite sendo um dos motivos do difícil tratamento assim como rápida e grande perda de peso Inca 2010a Silva 2006 referencia estudos que são unâni mes ao revelar que o paciente oncológico desen volve um sintoma comum chamado caquexia que é uma síndrome complexa e multifatorial em que ocorre um intenso consumo do tecido corporal muscular e esquelético com perda rápida de peso desenvolvendo anemia astenia balanço nitrogena do negativo disfunção imune e alterações metabó licas como a anorexia e a bulimia Fatores de Risco A Organização Mundial da Saúde OMS 2010 estima que a cada dia 100 mil crianças tornamse fumantes em todo o planeta e cerca de 5 milhões de pessoas morrem por ano pelo uso do tabaco Se as estimativas do aumento do uso de fumo como o cigarro charuto e cachimbo se confirmarem esse número poderá aumentar em cerca de 10 milhões de mortes por ano até 2030 Outro fator de risco importante para o desenvol vimento do câncer é a ingestão de alguns tipos de alimentos por um longo período de tempo como os ricos em gordura a carne vermelha frituras mo lhos à base de maionese leites integrais e deriva dos bacon presunto salsicha linguiça mortadela e demais embutidos Os alimentos industrializados principalmente os embutidos contêm nitritos e ni tratos usados como conservantes os quais são im portantes agentes carcinogênicos No estômago os nitritos e nitratos se transformam em nitrosaminas responsáveis pelos altos índices de câncer de estô mago em pessoas que consomem alimentos com estas características de forma abundante e frequente Inca 2010a Basílio e Mattos 2008 alertam que a dieta tem sido considerada um fator relacionado ao desenvol vimento de câncer de esôfago também nas popula ções com baixa prevalência de tabagismo Além dos fatores supracitados Monteiro et al 2009 atribuem as causas do câncer de esôfago a fatores como idade história familiar associação genética e também a situações extrínsecas como etilismo tabagismo uso de nitrosaminas e afloto xinas infecções locais por fungos deficiência de riboflavina e vitamina A e alta ingestão de erva mate sedentarismo e obesidade Algumas afecções como o megaesôfago estenoses cáusticas do esôfa go e esôfago de Barrett têm sido também fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de esôfago Alguns elementos ocupacionais também têm sido estudados como fatores de risco para o câncer de esôfago como a exposição em longo prazo à poeira de sílica hidrocarbonetos aromáticos policíclicose metais 19 FATORES DE RISCO QUE CONTRIBUEM PARA O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER GÁSTRICO E DE ESÔFAGO Revista Contexto Saúde Ijuí v 11 n 21 JulDez 2011 Fumo Álcool Nitritos e Nitratos O câncer de esôfago tem maior incidência em pessoas com idade avançada do que em indivíduos mais jovens e estudos mostram que esse tipo de câncer se desenvolve a partir da ingestão em ex cesso de álcool e ao hábito de fumar e o diagnós tico aparece após algum tempo de exposição a tais agentes carcinogênicos O uso de álcool aumenta a incidência de vários tipos de câncer como o de boca garganta esôfago cólon e fígado este último levando à cirrose hepá tica Esses riscos aumentam quando associados a hábitos de vida não saudáveis como o tabagismo e o sedentarismo OMS 2010 O álcool é a droga mais consumida no mundo inteiro causando dependência danos mentais neu rológicos e emocionais O consumo da bebida alco ólica induz a falhas na memória como esquecimen to e riscos de problemas mentais OMS 2010 Da mesma forma o hábito de fumar é tratado como um vício uma doença de dependência sendo um grande fator de risco para o desenvolvimento de várias doenças que demandam tratamento e custo elevado ao Estado dentre elas o câncer e as doenças cardiovasculares Menezes et al 2002 O uso de tabaco e de álcool de modo contínuo pode levar à morte e ao dano celular com hiperpro liferação de células anormais de forma acelerada podendo ser o resultado da mutação de oncogenes ou de gene supressor de tumor como o p53 com perda da função levando à carcinogênese Putz et al 2002 Montesanto et al 1996 Fagundes et al 2001 apud Waitzberg 2006 O combate ao fumo vem crescendo a cada dia incentivado por organizações instituições e empre sas em todo o mundo como a OMS com o obje tivo de prevenir e diminuir a incidência de várias doenças atribuídas a ele O câncer de esôfago é uma dessas doenças mais incidentes e a saúde pública precisa investir anualmente valores muito elevados para o tratamento de doenças não transmissíveis no Brasil Em estudo realizado no período de 19992000 por Menezes et al 2002 com uma amostra de pacientes com câncer de laringe e de esôfago sendo 50 casos de câncer de laringe 48 casos de câncer de esôfago e 96 controles comum a ambos a pre valência de tabagismo foi de 571 entre os casos de câncer de esôfago e de 305 entre os controles Os fumantes tiveram uma probabilidade 45 vezes maior de ter câncer de esôfago do que os não fu mantes Vários estudos apontam o fumo como causador do câncer de esôfago Segundo Queiroga e Pernam buco 2006 o uso do fumo isoladamente aumenta o risco de câncer de esôfago em duas a quatro ve zes devendo levarse em consideração o tempo de uso do fumo e o aumento do risco com a ingestão de álcool A eliminação do fumo mostra uma redução na incidência de câncer de esôfago laringe pulmão boca faringe bexiga pâncreas e rim assim como diminui o risco para outras doenças como as pul monares bronquite asma entre outras Para Menezes et al 2002 em um estudo de fatores de risco para pulmão laringe e esôfago atri buídos ao fumo este indica que a eliminação total do tabagismo levaria à prevenção de 54 do câncer de esôfago 71 de pulmão e de 86 de laringe Estudo de Dietz et al 1998 sobre fatores de risco relacionados ao câncer de esôfago no Estado do Rio Grande do Sul com fumantes exfumantes e não fumantes mostrou uma diferença significativa quando comparado à categoria de não fumantes Os fumantes há mais de 20 anos mostraram maior inci dência de câncer de esôfago Além disso o hábito de ingerir álcool diariamente por um longo período de tempo independente do tipo de álcool mostra ser significativo no aumento dos casos de câncer de esôfago Vários estudos apontam o câncer de esôfago como uma doença de prevalência em pessoas que habitam em locais de precárias condições socioeco nômicas com uma dieta deficiente em vitaminas fibras e minerais O consumo de álcool e fumo por 20 Fernanda da Costa Baú Adriane Huth Revista Contexto Saúde Ijuí v 11 n 21 JulDez 2011 tanto tem papel importante no desenvolvimento do tumor em várias partes do mundo Gimeno et al 1995 Estudo realizado na área metropolitana da Re gião Sudeste do Brasil sobre fatores de risco para o câncer de esôfago sugere que o álcool o fumo e o consumo frequente de pimenta são situações de risco independentes para o câncer de esôfago Re sultado semelhante de tal afirmação foi encontrado por outros pesquisadores dentre eles Tuyms 1990 apud Gimeno et al 1995 que destaca que o álco ol é uma das substâncias químicas envolvidas em certos tipos de câncer em humanos como o câncer de boca laringe hipofaringe e esôfago embora não sendo mostrado esse fato em estudo experimental Blot 1992 apud Gimeno et al 1995 descreve possíveis mecanismos de ação do álcool na pro moção do câncer de esôfago como a diminuição da disponibilidade de nutrientes vitaminas e mine rais sendo estes protetores contra o câncer O tabaco contribui também para outros tipos de câncer como o de pulmão laringe boca e faringe sendo os dois últimos associados a condições pre cárias de nutrição e ao consumo de álcool e outros fatores comuns no Brasil Guerra et al 2005 No estudo de Guerra et al 2005 foram ana lisados os fatores de risco para os principais tipos de câncer como de pulmão boca faringe esôfago estômago colo do útero mama próstata cólon e reto apontando para o consumo de tabaco álcool e chimarrão além de hábitos alimentares como comer churrasco como situações de risco independentes para o desenvolvimento do câncer de esôfago O tabaco e o álcool são fatores importantes na etiologia de tumores do trato digestivo embo ra elementos genéticos como história familiar de câncer de cabeça de pescoço e de esôfago também sejam considerados fatores de risco Schirmer et al 1997 Alguns conservantes de alimentos utilizados em conservas picles salsichas e salames contêm grandes quantidades de nitratos e nitritos fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de esôfago e estômago quando consumidos habitualmente A ingestão de nitratos e nitritos induz à formação de células tumorais por mecanismos que aumentam os compostos nitrosos e associados ao aumento de radicais livres provocam lesão das células na pare de do estômago reduzem a produção de muco fator de proteção contribuindo para a maior incidência de câncer de estômago Garófolo et al 2004 Alguns métodos usados na preservação e no preparo de carnes contribuem para o aumento de câncer do trato digestório como o uso de nitratos e a formação de aminas heterocíclicas formadas ao assar o churrasco Garófolo et al 2004 Aminas Heterocíclicas e Chimarrão A preparação dos alimentos em altas tempera turas especialmente sobre a chama também pode ser um fator de risco importante pois produz com postos potencialmente carcinogênicos como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos HAP e aminas heterocíclicas HA World Cancer Resear ch Fund et al 1997 Boyle et al 1995 apud Waitz berg 2006 p 203 As HA são formadas a partir de certos açúcares e de creatinina abundante na carne e no peixe em quantidade diretamente dependente da temperatura e duração do aquecimento Hennekens et al 1996 apud Waitzberg 2006 p 243 O uso de grelhados ou churrasco tem se mostra do outro fator de risco para o câncer de estômago e de esôfago já o uso de frituras tem sido relacionado ao câncer de laringe e do câncer colateral Leejk et al 1995 apud Waitzberg 2006 p 203 e a in gestão de carnes bem passadas relacionados com o câncer de estômago Butler et al 2003 Ward et al 1997 apud Waitzberg 2006 p 203 Para Dietz et al 2000 o uso do fumo e do álcool o hábito de tomar chimarrão agricultores com antecedentes de câncer de esôfago na família e a adição de sal nos alimentos aumentam a proba bilidade do diagnóstico de câncer de esôfago No estudo de Barros et al 2000 em uma lo calidade de Taquara RS foram realizadas visitas domiciliares por pesquisadores que aplicaram um questionário sobre o consumo de chimarrão e medi 21 FATORES DE RISCO QUE CONTRIBUEM PARA O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER GÁSTRICO E DE ESÔFAGO Revista Contexto Saúde Ijuí v 11 n 21 JulDez 2011 ram a temperatura da água tomada naquele momen to A amostra expôs que a temperatura do chimarrão era superior a 60ºC considerado fator de risco para o desenvolvimento do tumor esofágico Fatores de proteção O aumento anual dos casos de câncer tem le vado pesquisadores a estudar compostos fitoquími cos com propriedades antioxidantes bem como a valorizar hábitos saudáveis de vida e o não seden tarismo fatores que têm se mostrado eficientes na proteção contra a doença Alguns hábitos de vida podem evitar o apare cimento do câncer como não fumar aumentar a ingesta de vegetais frutas legumes ricos em vita minas antioxidantes e cereais além de diminuir o consumo de carnes e alimentos gordurosos evitar a ingestão de bebidas alcoólicas e praticar atividades físicas regularmente OMS 2010 Vitaminas e fitoquímicos Em seus estudos Silva e Naves 2001 apresen tam o resultado de inúmeras pesquisas realizadas por diferentes estudiosos Segundo os autores di versas vitaminas têm sido investigadas como possí vel prevenção para o surgimento do câncer como as vitaminas A C E e os carotenoides As vitaminas C E e os carotenoides funcionam como antioxidan tes no nosso organismo Rock et al 1996 Stahl Sies 1997 apud Silva Naves 2001 Já o processo carcinogênico é caracterizado por um estado oxida tivo crônico especialmente na etapa de promoção Cerutti 1994 apud Silva Naves 2001 O estado de iniciação do processo carcinogênico está asso ciado na maioria das vezes com o ataque de radi cais livres no material genético da célula Ander son 1996 apud Silva Naves 2001 Desse modo os nutrientes antioxidantes encontrados em alguns alimentos poderiam reduzir o risco de câncer ini bindo danos oxidativos no DNA Cerutti 1994 Co zzi et al 1997 PoolZobel et al 1997 apud Silva Naves 2001 sendo portanto considerados fatores de proteção eou quimiopreventivos Bonne et al 1990 apud Silva Naves 2001 Silva e Naves 2001 apresentam ainda o estudo de Hathcock para quem a vitamina C inibe a sín tese de agentes promotores do câncer de estômago como as nitrosaminas Estudos epidemiológicos su gerem que a ingestão deve ser de 60 a 90mgdia ou mais podendo reduzir o risco de doenças crônicas como o câncer especialmente combinado com alta ingestão de vitamina E Já Levine apud Sichieri et al 2008 sugere 200mgdia equivalente a uma ingestão diária de cinco porções de frutas e vegetais O que caracteriza um alimento funcional é a sua propriedade benéfica ao corpo humano podendo ser metabólica fisiológica ou ter qualquer outra função normal no organismo pela presença de substâncias bioativas conhecidas por fitoquímicos Para um ali mento ser considerado funcional no entanto deve ser comprovada a sua ação benéfica ao organismo por meio de estudos científicos Resolução nº 18 de 1999 No Brasil o Ministério da Saúde por intermédio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária Anvi sa regulamentou os alimentos funcionais por meio das seguintes resoluções AnvisaMS 1699 Anvisa MS 1799 e AnvisaMS 1999 Os alimentos que contêm antioxidantes na sua composição têm sido estudados na prevenção de várias doenças como as cardiovasculares e o cân cer Acreditase que o câncer seja provocado por vários eventos celulares como formação de radicais livres e pela ação do fumo que oxida as células e as transforma em células cancerígenas Os alimentos funcionais com composição de carotenoides como o licopeno luteína zeaxantina têm a ação de prote ger a célula contra radicais livres Anvisa 2010 Segundo Olson apud Shami Moreira 2004 os carotenoides são considerados componentes antioxidantes pois sequestram o oxigênio single te removem os radicais peróxidos modulam o 22 Fernanda da Costa Baú Adriane Huth Revista Contexto Saúde Ijuí v 11 n 21 JulDez 2011 metabolismo carcinogênico inibem a proliferação celular e estimulam a comunicação entre células aumentando a proteção contra radicais livres Estudos in vitro demonstram que o licopeno ini be a proliferação de células cancerosas orais deno minadas KB1 na fase G1 com concentrações fisio lógicas 7uM O licopeno no caso inibiu cerca de 10 do número de células cancerosas 20uM e induziu linfoblastos T à apoptose em 24 horas Gomes 2007 Observase em vários estudos tanto in vitro quanto in vivo que o aumento da ingestão de ali mentos ricos em carotenoides tem efeito protetor contra o câncer Segundo PoolZabel et al 1997 apud Gomes 2007 em estudo experimental com seres humanos não fumantes as frutas os legumes e as verduras como espinafre cenoura e tomate possuem um efeito protetor contra o câncer valor benéfico atribuído aos carotenoides presentes em tais alimentos Porini et al 2005 apud Gomes 2007 demons tram que a ingestão de tomate fonte de carotenoi des melhora o sistema de defesa antioxidante dos linfócitos reduzindo a lesão à célula de DNA Os benefícios do licopeno podem ser eviden ciados principalmente pelo consumo do tomate e seus derivados O licopeno ingerido na sua forma natural não é bem absorvido enquanto que o pro cessamento térmico melhora sua disponibilidade Produtos industrializados como o molho de toma te entretanto devem ser usados moderadamente devido às quantidades significativas de sódio e de conservantes que não trazem benefícios à saúde e podem irritar a mucosa gástrica dandose preferên cia portanto ao molho de tomate caseiro Vários estudos trazem evidências de que o con sumo de tomate e seus derivados está associado à redução da incidência de cânceres e de doenças car diovasculares Rao apud Shami Moreira 2004 O licopeno é encontrado em grande quantidade no tomate e na melancia No tomate ele é o mais potente antioxidante estudado na prevenção de cer tos cânceres A luteína e a zeaxantina são também carotenoi des presentes no organismo humano que auxiliam na redução da catarata e na degeneração macular Estes carotenoides estão na retina do olho e na lente embora também sejam encontrados em alimentos como brócolis couvedebruxelas espinafre e sal sa milho pimentão amarelo rúcula e em hortaliças de coloração verde e verde escura Thane Reddy 1997 apud Carvalho et al 2006 A soja é considerada um alimento com papel preventivo contra vários tipos de câncer por con ter um elevado teor de isoflavonas Garófolo et al 2004 O teor de isoflavonas presente na soja está relacionado à ingestão da leguminosa na sua forma mais natural Em alimentos como iogurte de soja leite de soja hambúrguer de soja entre outros o teor de isoflavonas diminui Devese levar em con sideração o teor de sal e conservantes existentes nesses alimentos preferindo as fontes mais naturais da soja Ácidos Graxos Ômega 3 Ômega 6 e Fibras Os ácidos graxos essenciais ômega3 e ômega6 têm o poder de inibir a carcinogênese e diminuir o crescimento de tumores podendo também aumentar a eficácia da radioterapia e de várias drogas quimio terápicas Carmo Correia 2009 O ômega6 ácido linoleico está presente em óleos vegetais sementes nozes e produtos inte grais Já o ômega3 ácido linolênico é encontrado em peixes óleo de peixes linhaça castanha nozes óleos vegetais canola soja e vegetais verdeses curos Uma das funções destes ácidos graxos é a con versão enzimática em eicosanóides os quais pos suem várias atividades biológicas modulam a res posta inflamatória e a resposta imunológica têm papel importante na agregação plaquetária e no crescimento e diferenciação celular A ingestão des ses ácidos graxos faz com que as prostaglandinas produzidas a partir do ácido graxo essencial EPA tenham efeito inflamatório e proliferativo menor diminuindo o crescimento e a proliferação de célu las cancerosas Carmo Correia 2009 23 FATORES DE RISCO QUE CONTRIBUEM PARA O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER GÁSTRICO E DE ESÔFAGO Revista Contexto Saúde Ijuí v 11 n 21 JulDez 2011 Em estudos sobre o câncer do esôfago e pulmão temse demonstrado o importante papel das frutas e das hortaliças na prevenção dessas neoplasias ma lignas assim como outros tipos de câncer Garófolo et al 2004 Burkitt apud Garófolo et al 2004 em um es tudo mostrou a elevada relação entre a ingestão de fibras e a baixa existência de câncer de cólon e reto entre a população do leste da África Existem evidências fortes e consistentes de que dietas ricas em hortaliças e frutas podem diminuir o risco de muitos tipos de câncer Steinmitz Potter 1996 Colditz Atwood et al 2000 apud Waitzberg 2006 p 199 e muito provavelmente ajudam a pre venir a sua incidência em geral em comparação com indivíduos que não têm o hábito de consumir esses alimentos World Cancer Research Fund et al 1997 Boyle et al 1995 apud Waitzberg 2006 p 199 Essas evidências são mais fortes ainda quando relacionadas aos cânceres do trato gastrointestinal e respiratório e menos evidentes nos casos de cânce res hormonais World Cancer Research Fund et al 1997 The European Code Against Cancer 2003 Boyle et al 1995 apud Waitzberg 2006 p 199 A grande maioria dos estudos sobre o assunto revelam uma redução de 40 no risco de câncer gastroin testinal e de pulmão associado à elevada ingestão de frutas e hortaliças Byers 1995 apud Waitzberg 2006 p 199 Considerações Finais O câncer de esôfago decorre da exposição fre quente e prolongada a vários fatores de risco em conjunto ou isoladamente como o fumo o álcool a dieta rica em gorduras reduzido consumo de frutas e verduras o sedentarismo hábito do tomar chimar rão condição socioeconômica sal dentre outros O fumo é um dos mais importantes fatores de risco citados nos estudos para o desenvolvimento do câncer de esôfago e em segundo lugar o uso do álcool independentemente do tipo consumido É importante uma dieta equilibrada que inclua frutas verduras alimentos integrais nozes óleos vegetais castanhas peixes e óleo de peixes uma vez que garante uma boa ingestão de fibras vita minas A C e E e ácidos graxos ômega 3 e 6 nu trientes que podem inibir ou proteger contra células tumorais Vários estudos mostram a importância de uma alimentação saudável na prevenção do câncer prin cipalmente do trato digestório um câncer que em pouco tempo causa grave desnutrição e perda de peso Também devem ser propostas aos profissionais de saúde políticas de prevenção de doenças não transmissíveis para que a população possa ter cla reza da importância da prevenção dessas doenças mediante simples mudanças nos seus hábitos de vida Sendo assim é de suma importância a publica ção de novos estudos demonstrando os fatores de risco e de proteção contra o câncer do trato diges tório para maior conhecimento e aplicação pelos profissionais da área de saúde e pela população em geral Referências ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitá ria Ministério da Saúde Disponível em http wwwanvisagovbralimentoscomissoestecnolis taalegahtm Acesso em 3 dez 2010 BARROS Sérgio Gabriel Silva de et al Mate chi marrão é consumido em alta temperatura por po pulação sob risco para o carcinoma epidermóide de esôfago Arq Gastroenterol v 37 n 1 janmar 2000 BASÍLIO Denise Vianna MATTOS Inês Eche nique Câncer em mulheres idosas das regiões Sul e Sudeste do Brasil evolução da mortalidade no período 19802005 Rev Bras Epidemiol v 11 n 2 p 204214 2008 24 Fernanda da Costa Baú Adriane Huth Revista Contexto Saúde Ijuí v 11 n 21 JulDez 2011 CARMO Maria Carmen Neves Souza CORREIA Maria Isabel Toulson Davisson A importância dos ácidos graxos ômega3 no câncer Revista Brasilei ra de Cancerologia v 55 n 3 p 279287 2009 CARVALHO Patrícia G B de et al Hortaliças como alimentos funcionais Hortic Bras v 24 n 4 outdez 2006 CESTARI Maria Elisa Wotzasek ZAGO Márcia Maria Fontão A prevenção do câncer e a promoção da saúde um desafio para o século XXI Revista Brasileira de Enfermagem v 58 n 2 p 218221 marabr 2005 DATASUS Departamento de Informática do SUS Disponível em httpwww trabnetdatasusgov brabdataLivroIDBedrev05pdf Acesso em 28 nov 2010 DIETZ J et al Fatores de risco relacionados ao câncer de esôfago no Rio Grande do Sul Revista Ass Méd Brasil p 269272 1998 Pesquisa de micronúcleos na mucosa eso fágica e sua relação com fatores de risco ao câncer de esôfago Revista Ass Méd Brasi v 46 n 3 p 207211 2000 GARÓFOLO Adriana et al Dieta e câncer um en foque epidemiológico Revista Nutrição Campinas SP p 491505 outdez 2004 GIMENO Suely Godoy Agostinho et al Fatores de risco para o câncer de esôfago estudo casocontrole em área metropolitana da região Sudeste do Bra sil Revista Saúde Pública v 29 n 3 p 159165 1995 GOMES Fabio da Silva Carotenóides uma pos sível proteção contra o desenvolvimento de câncer Revista Nutrição Campinas SP v 20 n 5 p 537 548 setout 2007 GUERRA Maximiliano Ribeiro et al Risco de cân cer no Brasil tendências e estudos epidemiológicos mais recentes Revista Brasileira de Cancerologia p 227234 2005 INCA Instituto Nacional do Câncer Ministério da Saúde Disponível em httpwwwincagovbr Acesso em 28 jun 2010a Instituto Nacional do Câncer Ministério da Saúde Alta de mortalidade por câncer Disponível em 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