·
História ·
História
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Prefere sua atividade resolvida por um tutor especialista?
- Receba resolvida até o seu prazo
- Converse com o tutor pelo chat
- Garantia de 7 dias contra erros
Recomendado para você
11
Sinagoga Paulista - Gustavo Barroso
História
UNIFRAN
24
A História Local e a Sala de Aula no Ensino Médio
História
UNIFRAN
24
Prática de Ensino em História no Ensino Médio: O Professor como Pesquisador
História
UNIFRAN
22
Prática de Ensino em História no Ensino Médio: Ensinando Fora da Sala de Aula
História
UNIFRAN
6
Planilha de Controle e Registro de Horas de Estágio - História Licenciatura
História
UNIFRAN
34
Orientações de Estudo para a Disciplina de História Contemporânea
História
UNIFRAN
24
Interdisciplinaridade no Ensino de História: Diálogos Possíveis
História
UNIFRAN
28
Orientações de Estudo para a Disciplina de História Contemporânea
História
UNIFRAN
28
Orientações de Estudo para História Contemporânea
História
UNIFRAN
6
Planilha de Controle de Horas de Estágio - Licenciatura em História
História
UNIFRAN
Texto de pré-visualização
451 PROJETO CIRCUITOS PATRIMONIAIS VISITAS HISTÓRICAS AO PATRIMÔNIO CULTURAL DO PAMPA Hilda Jaqueline de Fraga Universidade Federal do Pampa Unipampa Jaguarão hildajaqueline7gmailcom Resumo O artigo pretende discorrer sobre o Projeto de Ensino Circuitos Patrimoniais Visitas históricas ao patrimônio cultural do Pampa que envolve os acadêmicos dos Cursos de Licenciatura em Pedagogia e em História da Universidade Federal do Pampa Campus JaguarãoRS O projeto faz parte das atividades da disciplina Metodologia de Ensino de História oferecida pelo currículo de ambos os cursos e tenciona incorporar a temática Cidade Educação e Patrimônio Cultural ao processo formativo dos futuros professores e ao currículo do Ensino Básico a partir da aproximação com os elementos da História e do patrimônio cultural das cidades localizadas na região do Pampa Apresenta como pressupostos as contribuições teóricometodológicas do campo do Patrimônio da metodologia de Educação Patrimonial e do campo da Educação através do conceito de cidade educadora Palavraschave Cidade Educadora Patrimônio cultural Ensino de História A cidade como espaço educativo perspectivas para o ensino de História Não basta ensinar na cidade é preciso ensinar a cidade DIETZSCH 20067 Tendências educacionais mais recentes têm chamado a atenção para o caráter educativo das cidades e suas inúmeras possibilidades de aprendizagem cidadã A ideia das cidades como espaços educativos para a qualificação das relações sociais e da atuação política de seus habitantes nas diferentes esferas de sua gestão surgiu pela primeira vez através da Declaração de Barcelona 1990 Carta das Cidades Educadoras ratificada posteriormente em Bolonha em 1994 A principal contribuição da elaboração desse documento consiste na emergência da concepção de Cidade Educadora apresentada no Primeiro Congresso Internacional de Ciudades Educadoras realizado em Barcelona A reconceitualização da cidade provocada por esta nova concepção da cidade trouxe elementos importantes para a ampliação de suas funções e responsabilidades sociais ao enfatizar a urgência de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade da vida da cidade e para a garantia dos direitos básicos de cidadania pela população Nesse sentido no conceito de cidade educadora subjaz uma intencionalidade pedagógica que busca educar seus habitantes para a ampliação de seus usos e percepções utilitárias quais sejam os econômicos de prestação de serviços e de circulação de bens de consumo entre outros Muito mais do que uma paisagem geográfica ou espaço de trabalho e consumo a cidade sob o viés educador necessita ser apreendida como um símbolo inesgotável da existência humana como o lugar que deveria e deverá ser o do cidadão daquele que habita a cidade DIETZSCH 200612 452 Em suma tratase da movimentação de uma pedagogia urbana preocupada com a retomada do lugar do cidadão na urbe isto é daqueles que dão sentido a sua feitura cotidiana numa clara oposição à tendência predominante em sua gestão de naturalização das contradições nela existentes Desta maneira ao assumirse educadora a cidade tem por objetivos a formação a promoção e o desenvolvimento autônomo de todos os seus habitantes mediante uma Educação entendida como um processo que se constitui por meio de redes de interação e portanto se configura como um conjunto de sujeitos cenários valores costumes e fazeres que durante um bom tempo estiveram ausentes das discussões educacionais Nesta forma de conceber a cidade subentendese o reconhecimento de outros itinerários educativos dos outros lugares onde a Educação se dá por meio de estratégias e práticas diferenciadas da escola com as quais o ensino formal necessita dialogar na tentativa de mostrar que ensinar a cidade corresponde a fazer com que seus moradores usufruam dos conhecimentos existentes em seus espaços e em suas instituições educativas formais e não formais Como um dos principais exercícios para este tipo de ensino está o de preconizar relações intersetoriais que capacitem a escola e os professores para a realização de um trabalho educativo em parceria com as demais instâncias do Poder Público visando a ações educativas conjuntas de descoberta e de construção de conhecimentos sobre a cidade A mediação pedagógica a partir da cidade supõe levar crianças jovens e adultos a se interrogarem sobre suas dimensões materiais históricas e culturais Em uma Cidade Educadora a ênfase nas três dimensões acima é fator indispensável para a formação haja vista que a interpretação e a reflexividade histórica bem como o respeito e a valorização da diversidade cultural são condições fundamentais para a qualidade da participação cidadã dando voz às suas distintas aspirações e projetos futuros fortalecendo assim as relações de pertencimento entre o cidadão e a cidade como mencionam dois princípios da Carta das Cidades Educadoras de 1994 Neles tanto as escolas como os Poderes municipais têm como tarefa 1 planejar uma política educativa ampla e de alcance global com o fim de incluir nela todas as modalidades de educação formal e as manifestações culturais fontes de informações e vias de descoberta da realidade que se produzem na cidade 15 encontrar preservar e apresentar sua própria identidade Assim sendo ela a cidade será considerada única e será a base para um diálogo fecundo com seus habitantes GADOTI CABEZUDO 2004148151 Ao contemplar a história e o universo da cultura dentre suas diretrizes a Carta das Cidades Educadoras reportase às designações asti e polis utilizadas pelos gregos na Antiguidade para se referirem à cidade que necessitam ser potencializadas na contemporaneidade na medida em que auxiliam no entendimento dos compromissos e das responsabilidades de se ensinar na cidade Para os gregos asti remetia à exterioridade da cidade às configurações materiais e aparentes no desenho de sua organização espacial e de seus referenciais identitários explicitados no traçado urbano nas praças nos monumentos e nas edificações Todavia a polis é a sua forma de vida ou seja aquilo que lhe dá sentido e existência Diz respeito às práticas sociais e aos modos encontrados pelos habitantes para nela se movimentarem na condição de protagonistas da história um aspecto essencial para a sustentação da democracia Embora as diferenciações ambas formam seu ethos MATOS 200363 Podese então concluir que para os gregos as cidades eram o resultado da articulação entre carne e pedra1 isto é entre o construído e o experienciado pela ação humana 1 SENNET Richard Carne e Pedra o corpo e a cidade na civilização ocidental São Paulo Papiros 2003 452 453 Construir e viver a cidade representava ocupar a ágora para tomar a palavra e defender pensamentos com vistas a decidir sobre seu destino Na atualidade é cada vez mais imprescindível que o ensino na cidade privilegie tanto a materialidade quanto o simbólico que permeiam as formas de viver a cidade e as experiências produzidas por seus habitantes ao longo de sua história Sob esse prisma a interpretação e a reflexividade em torno das histórias presentes na arquitetura de suas construções nas expressões culturais e nos contornos urbanos transformam o cenário urbano numa fonte inesgotável de informações históricas que ao mesmo tempo revelam uma gama de paisagens culturais que segundo Xavier 2010258 deixam antever imagens de diferentes agentes sociais e tempos de uma cidade e sua evolução É nesse ponto que os percursos pedagógicos da Cidade Educadora podem se entrelaçar com o ensino específico da História e a docência uma vez que entre os objetivos da área está o de propiciar aos estudantes a leitura de mundo sem a qual é impossível entender o mundo e sistematizar uma escrita que o transforme Em se tratando da disciplina de História a leitura e a escrita estão relacionadas com o contar a própria história SEFFNER 2000269 entendendo que ela está enredada na historicidade da própria cidade nas tomadas de decisões acerca de suas reais demandas educacionais históricas e culturais Para isso há que se valorizar as experiências vivenciadas fora dos muros da escola como pontos de partida na construção de um raciocínio de natureza crítica e mobilizadora que aponte para o futuro pressuposto fundamental para a vida do homem em sociedade SEFFNER 2000268269 Sob esse ângulo a Cidade Educadora é lócus privilegiado para essa experimentação da leitura de mundo na medida em que passa a ser encarada como um texto a ser relido e reescrito por seus agentes sociais a partir das demandas do presente Para tanto é mister agregar ao currículo da disciplina conteúdos e metodologias que a tomem como objeto de conhecimento histórico nas aulas de História levando os alunos e os professores a transitarem por seus espaços com um olhar atento a suas belezas e mazelas refletindo e discutindo sobre elas identificando suas origens levantando inferências e propondo caminhos para a qualificação de seus bens e serviços assim como o faziam os cidadãos em seus debates fervorosos e na participação ativa na ágora da Grécia Antiga Primar pela Educação pautada por uma cidadania ativa é tentar desconstruir o que normalmente tem sido ensinado nos currículos escolares a respeito da cidade e que na maioria das vezes se restringe às comemorações da data de fundação ao destaque para determinadas etnias formadoras em detrimento de outras culturas e ao enaltecimento de registros e bens culturais de cunho elitista entre outros que pouco ou nada acrescentam de significado aos seus moradores Entretanto sabese que relacionar o ensino com a cidade enquanto leitura e escrita a fim de problematizar a História ensinada nas escolas não depende exclusivamente da vontade de seus dirigentes mas também de uma formação acadêmica disposta a tematizar sobre a cultura e a memória e suas contribuições para a disciplina nos Cursos de Licenciatura tendo em vista que segundo Bergamaschi e Sthepanou 200297 realizar atividades de leitura da cidade sinaliza para o planejamento docente de situações de aprendizagens da e na cidade substanciadas pelo contato dos alunos com documentos de diferentes suportes dentre eles documentos que integram o que se convencionou chamar de Patrimônio Cultural indicando abordagens ao ensino da História bastante férteis e interessantes tendo em vista as mudanças ocorridas nos últimos anos na historiografia que trouxeram como consequência a ampliação da noção de documento antes reduzida às fontes escritas As modificações em torno do que até então era legitimado como documento a ser explorado pelo historiador tem propiciado ao ensino da disciplina o espaço para a inclusão de outros suportes produzidos pelas sociedades como objetos monumentos e edificações na análise e na escrita da História A repercussão dessa ampliação acrescentou para a área 454 o debate em torno do uso das fontes em sala de aula como elementos para a compreensão da complexidade dos processos históricos de uma sociedade e para o desenvolvimento de habilidades cognitivas indispensáveis aos alunos FRAGA DELFINO 20122 O uso de fontes nas situações didáticas de sala de aula é um tema que tem aparecido com frequência nos encontros e congressos sobre o Ensino de História o que justifica sua inserção nos Parâmetros Curriculares Nacionais de acordo com os quais Entre as competências essenciais da disciplina ressaltase a importância dos documentos para a aprendizagem dos alunos Destacase o saber a utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos b dominar procedimentos de pesquisa escolar e de produção de texto aprendendo a observar e colher informações de diferentes paisagens e registros escritos iconográficos sonoros e materiais e c utilizar fontes históricas em suas pesquisas escolares BRASIL MEC 19974354 A referência nos PCNs aos documentos no ensino de História articulase à proposta de Cidade Educadora ao salientar que as histórias e as várias formas de seus registros materiais ou imateriais não devem ser desconsideradas porque podem se converter em ricas oportunidades educativas Cabe frisar que a relação entre a cidade e as fontes históricas na sala de aula não se reduz às fontes primárias mas abrange também aquelas que dizem respeito à cultura material e aos bens culturais O cruzamento de dados e conhecimentos oportunizados pela pesquisa escolar na cidade a partir do contato com os diversos suportes patrimoniais é capaz de desencadear um processo educacional que além de ensinar conteúdos históricos incide na criação de vínculos dos alunos com a cidade em sua integração com diferentes gerações e saberes e principalmente na mudança de posturas frente às problemáticas e potencialidades culturais Na atualidade a intensificação do diálogo entre os campos da Educação do Patrimônio e do Ensino de História tem como resultado uma série de estratégias formativas pautadas por iniciativas de Educação Patrimonial Paulatinamente a Educação Patrimonial como metodologia tem oportunizado caminhos para experimentações originais do ensino de História em museus arquivos e pontos históricos da cidade dando outras feições ao conceito de Cidade Educadora ao concebêla também com um bem cultural MENESES 2006 Sendo assim ensinar e aprender História na Cidade Educadora e também cultural consiste em perceber as marcas e os vestígios de um patrimônio cultural híbrido na percepção de que os bens culturais educam para tornar visíveis as muitas formas de habitar registrar e fazer história na e com a cidade Podese dizer então que uma cidade é também educadora ao tomar os bens culturais como matériaprima para a disciplina de História com vistas a problematizar entre outros pontos os procedimentos as estratégias os conteúdos e os conhecimentos comumente ensinados nas aulas e na mesma medida para entender como os alunos diferentemente organizam estruturam e constroem o conhecimento histórico a respeito de seu entorno social O patrimônio como ferramenta para esse tipo de aprendizagem na cidade associado a uma metodologia própria de ensino Educação Patrimonial e seus entrelaçamentos com as premissas da Cidade Educadora vem se inserindo nos planos de ensino de algumas disciplinas dos Cursos de Licenciatura em Pedagogia e em História da Universidade Federal do Pampa Campus de JaguarãoRS no intuito de criar no espaço acadêmico um fluxo de debates e práticas de ensino que acrescente à formação dos futuros docentes a temática 454 455 até aqui exposta e suas relações Para além disso estão os projetos de Pesquisa Extensão e Ensino oriundos delas que trazem como resultado o projeto de ensino Circuitos patrimoniais visitas históricas ao patrimônio cultural do Pampa ora em curso na Universidade direcionado aos alunos egressos de ambos os cursos Incursões no Pampa aprendizagens com e na cidade Para discorrer sobre o significado das incursões propostas pelo projeto de ensino em questão fazse necessário antes situar o lugar de onde partem seus percursos Como professoraformadora de professores de História e de pedagogos e ao mesmo tempo como pesquisadora da Educação tenho conversado com meus alunos e alunas sobre a inclusão da temática Cidade Educação e Patrimônio Cultural no processo formativo A possibilidade dessa inserção tem se concretizado especificamente nas aulas das disciplinas Ensinar e aprender História e Metodologia do Ensino de História A primeira é oferecida às futuras pedagogas e a segunda para os futuros professores de História Apesar de suas especificidades ambas propõem abordagens teóricometodológicas do campo do Ensino de História a partir da análise e do aprofundamento de estudos conteúdos e metodologias entre elas as ligadas ao terreno do patrimônio cultural da educação para o patrimônio e de estudo da cidade com o objetivo de exercitar na prática as questões anteriormente colocadas Como contrapartida venho constatando que isso tem viabilizado à formação docente incursões interessantes e desafiadoras para o ensino de História nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio Como suporte teórico e prático o trabalho durante as aulas das disciplinas supracitadas tem contado com as contribuições de autores que de alguma maneira produzem sobre o assunto ou que indiretamente oferecem pontes para a conexão que compreende o estudo e a formação sobre a temática dentre eles Benjamin 1987 1993 Certeau 1994 Gadotti 2010 Calvino 1990 Horta 1983 1999 Itaqui e Villagran 1998 Grumberg 1999 Pelegrini 2009 Chagas 2000 Soares 2003 2008 e Fraga 2000 As considerações sobre as leituras os estudos e as atividades originaram um projeto de ensino que transcende os limites academicistas privilegiando o contato dos acadêmicos com a História e os bens culturais das cidades localizadas na região do Pampa A proposição de um projeto sob esse enfoque devese à constatação das potencialidades patrimoniais e históricas pouco conhecidas e exploradas pelos estudantes da região e mais ainda aos alunos vindos de outros Estados para se aprender e ensinar aspectos da História tanto local como regional e nacional bem como suas dimensões culturais como algo relevante para a prática do direito à cidadania e à cultura Pensando em aproximar a teoria e a prática optouse por um percurso investigativo dando destaque à experiência com e na cidade com grande interesse também em provocar o diálogo com o Poder Público local e as comunidades sobre a importância da valorização e da preservação da história e da memória ultrapassando assim as fronteiras disciplinares ao se pretender dar atenção às políticas públicas de gestão do patrimônio mostrandoas como algo que perpassa a Educação e o ensino de História Para tanto o projeto ainda em fase de preparação se desdobra através de ações de mapeamento e pesquisa história de cada cidade colocada no roteiro de saída de campo seguido dos contatos com as Prefeituras instituições como museus arquivos casas de cultura e agentes comunitários para o planejamento conjunto das ações de visitação cuja periodicidade é semestral ou seja uma cidade por semestre A área de abrangência contempla dez cidades da região do Pampa São elas Piratini Bagé Caçapava do Sul Dom Pedrito Alegrete São Gabriel São Borja Santana do 456 Livramento Uruguaiana e Itaqui Porém sua sistemática de organização traz como prerrogativa uma experimentação sensível dos alunos com extratos de histórias e memórias ora visíveis ora invisíveis matizadas em espaços lugares objetos e culturas desafiando o olhar e o andar disciplinado pela cidade Nesta reeducação proposta pelo projeto o percorrer e o perscrutar a cidade representam trazer de volta a importância da experiência de leitura crítica e atenta da História e de suas omissões simulacros silêncios lembranças e esquecimentos a que faz menção Benjamin em sua obra Rua de mão única publicada pela primeira vez em 1928 Para o autor a cidade é escrita histórica sempre por fazerse De acordo com Bolle 1991138 na percepção do filósofo a cidade como escrita e a quantidade de textos nela onipresentes ao olhar desavisado e distraído dos cidadãos remetem a uma revisão da cultura letrada tradicional centrada em torno do livro do suporte escrito Sustentado por essa concepção os suportes os documentos a serem descobertos lidos como textos pelos acadêmicos durante as visitas são os bens culturais materiais e imateriais Cabe no entanto esclarecer a função educativa que eles adquirem no percurso dos alunos pela cidade Nesse caso recorrese à origem latina do termo em que o documento é considerado aquilo que ensina alguma coisa a alguém CHAGAS 2003144 Mas ensinar o quê Para a docência nas aulas de História ao ensino da cidade pautado nos bens culturais como documentos corresponde através do projeto ensinar aos alunos participantes uma leitura da História que desvele ao mesmo tempo o que conta e 456 457 tenciona a narrativa histórica oficial naturalizada pelos moradores da cidade e legitimada na escola Como método para realizar essa aprendizagem com alunos e professores em formação é novamente Benjamin que diante do labirinto de contradições das cidades oferece um fio de Ariadne frente à inatividade e à rotina que a cidade do espetáculo impõe cotidianamente É a figura de flâneur que descortina uma maneira de transitar com uma postura crítica pela cidade mediante a descoberta de alguma dimensão da realidade ainda desconhecida GONÇALVES 2003175179 e portanto não apreendida que pode aparecer nas dobras de uma rua nas reentrâncias de um prédio ou até mesmo na memória de algum narrador Esse método permite que o processo de formação docente intercambie experiências e saberes e redimensione as concepções e as práticas consolidadas pelas vivências como alunos a fim de que não sejam apenas repetidas no exercício da docência mas refletidas e repensadas A esse método corresponde uma metodologia que eduque a cidade os alunos e os professores para irem à busca de novos indícios e fontes a exemplo do patrimônio cultural que assegurem essa ressignificação da disciplina de História no currículo incluindo outras perspectivas metodologias e temáticas em seu ensino acompanhadas da consciência de sua função política e transformadora nos espaços da cidade No caso do projeto de incursão ao patrimônio cultural do Pampa a opção tem sido pelos pressupostos da Educação Patrimonial como uma metodologia adequada para o trabalho educativo com e a partir dos bens culturais aprofundando suas contribuições para o ensino de História Como objetivos principais o projeto de ensino tem como intenções Promover visitas às cidades históricas localizadas na região do pampa visando o 1 reconhecimento das potencialidades da história regional e do patrimônio cultural para o ensino e a formação docente dos alunos dos cursos de licenciatura em Pedagogia e História Estabelecer o intercâmbio com as prefeituras municipais das cidades visitadas e 2 comunidades Fomentar estudos e estratégias de ensino que incorporem o tema patrimônio cultura 3 e cidadania às discussões curriculares junto aos acadêmicos Desenvolver a produção de material didático pedagógico virtual a partir das 4 experiências e ações do projeto envolvendo conteúdos para o ensino contemplando a história e o patrimônio cultural do pampa a ser socializado com as escolas museus arquivos históricos e secretarias de educação e cultura envolvidas com o projeto Contribuir para a qualificação das políticas públicas no âmbito da gestão do 5 patrimônio cultural na região Embora se conheçam das dificuldades e se saiba o quanto as iniciativas do projeto desacomodam estruturas atitudes e formas de organizar e conceber a cidade e a História enquanto disciplina escolar acreditase que dos impactos junto às comunidades visitadas e aos acadêmicos poderão surgir ações que a médio e longo prazo servirão como novos pontos de partida para outras imersões na e com a cidade 458 REfERêNCIAS BERGAMASCHI Maria Aparecida STHEPANOU Maria Ensino de História e Educação Patrimonial memória açoriana In CORSETTI Berenice PADRÓS Enrique RODRIGUES Gabriela BERGAMASCHI Maria Aparecida BARROSO Vera Lucia Maciel Orgs Ensino de História formação de professores e cotidiano escolar Porto Alegre EdEST 2002 p92101 BOLLE Willi A cidade como escrita In CUNHA Maria Clementina Pereira Org O direito à memória patrimônio histórico e cidadania São Paulo Secretaria Municipal de Cultura Departamento do Patrimônio Histórico 1992 p137144 BRASIL Ministério da Educação Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais História Brasília MEC SEF 1998 CDU 371214 BRASIL Ministério da Educação e do Desporto Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Fundamental 1a a 4a séries e 5a a 8a séries História Brasília MEC SEF 1997 CHAGAS Mário Memória política e política da memória In ABREU Regina CHAGAS Mário Orgs Memória e Patrimônio ensaios contemporâneos Rio de Janeiro DPA 2003 p141174 DIETZSCH Mary Julia Martins Leituras da Cidade e Educação Caderno de Pesquisas São Paulo v26 n129 p514 setdez 2006 FRAGA Hilda Jaqueline de DELFINO Jesianne Pereira O patrimônio cultural de Jaguarão através da história das mulheres uma experiência de educação patrimonial da e na cidade In GASPAROTTO Alessandra FRAGA Adriana Al aram Cauiá FERRER Everton de Oliveira FRAGA Hilda Jaqueline de BERGAMASCHI Maria Aparecida Orgs Ensino de História no Cone Sul patrimônio cultural territórios e fronteiras Porto Alegre Evangraf 2012 no prelo GADOTTI Moacir CABEZUDO Alicia Carta das Cidades Educadoras Declaração de Barcelona 1990 In GADOTTI Moacir PADILHA Paulo CABEZUDO Alicia Orgs Cidade Educadora princípios e experiências São Paulo Cortez 2004 p145151 GONÇALVES José Reginaldo Santos Os museus e as cidades In ABREU Regina CHAGAS Mário Orgs Memória e Patrimônio ensaios contemporâneos Rio de Janeiro DPA 2003 p175189 MATOS Olgária Walter Benjamin polis grega metrópoles modernas In JOBIM E SOUZA Solange KRAMER Sonia Orgs Política cidade e Educação itinerários de Walter Benjamin Rio de Janeiro ContrapontoEdPUC 2009 p6186 MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de A cidade como bem cultural Áreas envoltórias e outros dilemas equívocos e alcance na preservação do patrimônio ambiental urbano In MORI Victor Hugo SOUZA Marise Campos de BASTOS Rossano Lopes GALLO Haroldo Orgs Patrimônio atualizando o debate São Paulo 9 SR Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN 2006 p3536 SEFFNER Fernando Teoria metodologia e ensino de História In GUAZZELLI César Augusto Barcellos PETERSEN Sílvia Regina Ferraz SCHMIDT Benito Bisso XAVIER Regina Célia Lima Orgs Questões da teoria e metodologia da História Porto Alegre EdUFRGS 2000 p257288 SENNETT Richard Carne e Pedra o corpo e a cidade na civilização ocidental São Paulo Papiros 2003 362 p XAVIER Luiz Merino de F A cidade como um livro didático Educação no âmbito do Programa Monumenta In POSSAMAI Zita Org Leitura da cidade Porto Alegre Evangraf 2010 p257274
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora
Recomendado para você
11
Sinagoga Paulista - Gustavo Barroso
História
UNIFRAN
24
A História Local e a Sala de Aula no Ensino Médio
História
UNIFRAN
24
Prática de Ensino em História no Ensino Médio: O Professor como Pesquisador
História
UNIFRAN
22
Prática de Ensino em História no Ensino Médio: Ensinando Fora da Sala de Aula
História
UNIFRAN
6
Planilha de Controle e Registro de Horas de Estágio - História Licenciatura
História
UNIFRAN
34
Orientações de Estudo para a Disciplina de História Contemporânea
História
UNIFRAN
24
Interdisciplinaridade no Ensino de História: Diálogos Possíveis
História
UNIFRAN
28
Orientações de Estudo para a Disciplina de História Contemporânea
História
UNIFRAN
28
Orientações de Estudo para História Contemporânea
História
UNIFRAN
6
Planilha de Controle de Horas de Estágio - Licenciatura em História
História
UNIFRAN
Texto de pré-visualização
451 PROJETO CIRCUITOS PATRIMONIAIS VISITAS HISTÓRICAS AO PATRIMÔNIO CULTURAL DO PAMPA Hilda Jaqueline de Fraga Universidade Federal do Pampa Unipampa Jaguarão hildajaqueline7gmailcom Resumo O artigo pretende discorrer sobre o Projeto de Ensino Circuitos Patrimoniais Visitas históricas ao patrimônio cultural do Pampa que envolve os acadêmicos dos Cursos de Licenciatura em Pedagogia e em História da Universidade Federal do Pampa Campus JaguarãoRS O projeto faz parte das atividades da disciplina Metodologia de Ensino de História oferecida pelo currículo de ambos os cursos e tenciona incorporar a temática Cidade Educação e Patrimônio Cultural ao processo formativo dos futuros professores e ao currículo do Ensino Básico a partir da aproximação com os elementos da História e do patrimônio cultural das cidades localizadas na região do Pampa Apresenta como pressupostos as contribuições teóricometodológicas do campo do Patrimônio da metodologia de Educação Patrimonial e do campo da Educação através do conceito de cidade educadora Palavraschave Cidade Educadora Patrimônio cultural Ensino de História A cidade como espaço educativo perspectivas para o ensino de História Não basta ensinar na cidade é preciso ensinar a cidade DIETZSCH 20067 Tendências educacionais mais recentes têm chamado a atenção para o caráter educativo das cidades e suas inúmeras possibilidades de aprendizagem cidadã A ideia das cidades como espaços educativos para a qualificação das relações sociais e da atuação política de seus habitantes nas diferentes esferas de sua gestão surgiu pela primeira vez através da Declaração de Barcelona 1990 Carta das Cidades Educadoras ratificada posteriormente em Bolonha em 1994 A principal contribuição da elaboração desse documento consiste na emergência da concepção de Cidade Educadora apresentada no Primeiro Congresso Internacional de Ciudades Educadoras realizado em Barcelona A reconceitualização da cidade provocada por esta nova concepção da cidade trouxe elementos importantes para a ampliação de suas funções e responsabilidades sociais ao enfatizar a urgência de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade da vida da cidade e para a garantia dos direitos básicos de cidadania pela população Nesse sentido no conceito de cidade educadora subjaz uma intencionalidade pedagógica que busca educar seus habitantes para a ampliação de seus usos e percepções utilitárias quais sejam os econômicos de prestação de serviços e de circulação de bens de consumo entre outros Muito mais do que uma paisagem geográfica ou espaço de trabalho e consumo a cidade sob o viés educador necessita ser apreendida como um símbolo inesgotável da existência humana como o lugar que deveria e deverá ser o do cidadão daquele que habita a cidade DIETZSCH 200612 452 Em suma tratase da movimentação de uma pedagogia urbana preocupada com a retomada do lugar do cidadão na urbe isto é daqueles que dão sentido a sua feitura cotidiana numa clara oposição à tendência predominante em sua gestão de naturalização das contradições nela existentes Desta maneira ao assumirse educadora a cidade tem por objetivos a formação a promoção e o desenvolvimento autônomo de todos os seus habitantes mediante uma Educação entendida como um processo que se constitui por meio de redes de interação e portanto se configura como um conjunto de sujeitos cenários valores costumes e fazeres que durante um bom tempo estiveram ausentes das discussões educacionais Nesta forma de conceber a cidade subentendese o reconhecimento de outros itinerários educativos dos outros lugares onde a Educação se dá por meio de estratégias e práticas diferenciadas da escola com as quais o ensino formal necessita dialogar na tentativa de mostrar que ensinar a cidade corresponde a fazer com que seus moradores usufruam dos conhecimentos existentes em seus espaços e em suas instituições educativas formais e não formais Como um dos principais exercícios para este tipo de ensino está o de preconizar relações intersetoriais que capacitem a escola e os professores para a realização de um trabalho educativo em parceria com as demais instâncias do Poder Público visando a ações educativas conjuntas de descoberta e de construção de conhecimentos sobre a cidade A mediação pedagógica a partir da cidade supõe levar crianças jovens e adultos a se interrogarem sobre suas dimensões materiais históricas e culturais Em uma Cidade Educadora a ênfase nas três dimensões acima é fator indispensável para a formação haja vista que a interpretação e a reflexividade histórica bem como o respeito e a valorização da diversidade cultural são condições fundamentais para a qualidade da participação cidadã dando voz às suas distintas aspirações e projetos futuros fortalecendo assim as relações de pertencimento entre o cidadão e a cidade como mencionam dois princípios da Carta das Cidades Educadoras de 1994 Neles tanto as escolas como os Poderes municipais têm como tarefa 1 planejar uma política educativa ampla e de alcance global com o fim de incluir nela todas as modalidades de educação formal e as manifestações culturais fontes de informações e vias de descoberta da realidade que se produzem na cidade 15 encontrar preservar e apresentar sua própria identidade Assim sendo ela a cidade será considerada única e será a base para um diálogo fecundo com seus habitantes GADOTI CABEZUDO 2004148151 Ao contemplar a história e o universo da cultura dentre suas diretrizes a Carta das Cidades Educadoras reportase às designações asti e polis utilizadas pelos gregos na Antiguidade para se referirem à cidade que necessitam ser potencializadas na contemporaneidade na medida em que auxiliam no entendimento dos compromissos e das responsabilidades de se ensinar na cidade Para os gregos asti remetia à exterioridade da cidade às configurações materiais e aparentes no desenho de sua organização espacial e de seus referenciais identitários explicitados no traçado urbano nas praças nos monumentos e nas edificações Todavia a polis é a sua forma de vida ou seja aquilo que lhe dá sentido e existência Diz respeito às práticas sociais e aos modos encontrados pelos habitantes para nela se movimentarem na condição de protagonistas da história um aspecto essencial para a sustentação da democracia Embora as diferenciações ambas formam seu ethos MATOS 200363 Podese então concluir que para os gregos as cidades eram o resultado da articulação entre carne e pedra1 isto é entre o construído e o experienciado pela ação humana 1 SENNET Richard Carne e Pedra o corpo e a cidade na civilização ocidental São Paulo Papiros 2003 452 453 Construir e viver a cidade representava ocupar a ágora para tomar a palavra e defender pensamentos com vistas a decidir sobre seu destino Na atualidade é cada vez mais imprescindível que o ensino na cidade privilegie tanto a materialidade quanto o simbólico que permeiam as formas de viver a cidade e as experiências produzidas por seus habitantes ao longo de sua história Sob esse prisma a interpretação e a reflexividade em torno das histórias presentes na arquitetura de suas construções nas expressões culturais e nos contornos urbanos transformam o cenário urbano numa fonte inesgotável de informações históricas que ao mesmo tempo revelam uma gama de paisagens culturais que segundo Xavier 2010258 deixam antever imagens de diferentes agentes sociais e tempos de uma cidade e sua evolução É nesse ponto que os percursos pedagógicos da Cidade Educadora podem se entrelaçar com o ensino específico da História e a docência uma vez que entre os objetivos da área está o de propiciar aos estudantes a leitura de mundo sem a qual é impossível entender o mundo e sistematizar uma escrita que o transforme Em se tratando da disciplina de História a leitura e a escrita estão relacionadas com o contar a própria história SEFFNER 2000269 entendendo que ela está enredada na historicidade da própria cidade nas tomadas de decisões acerca de suas reais demandas educacionais históricas e culturais Para isso há que se valorizar as experiências vivenciadas fora dos muros da escola como pontos de partida na construção de um raciocínio de natureza crítica e mobilizadora que aponte para o futuro pressuposto fundamental para a vida do homem em sociedade SEFFNER 2000268269 Sob esse ângulo a Cidade Educadora é lócus privilegiado para essa experimentação da leitura de mundo na medida em que passa a ser encarada como um texto a ser relido e reescrito por seus agentes sociais a partir das demandas do presente Para tanto é mister agregar ao currículo da disciplina conteúdos e metodologias que a tomem como objeto de conhecimento histórico nas aulas de História levando os alunos e os professores a transitarem por seus espaços com um olhar atento a suas belezas e mazelas refletindo e discutindo sobre elas identificando suas origens levantando inferências e propondo caminhos para a qualificação de seus bens e serviços assim como o faziam os cidadãos em seus debates fervorosos e na participação ativa na ágora da Grécia Antiga Primar pela Educação pautada por uma cidadania ativa é tentar desconstruir o que normalmente tem sido ensinado nos currículos escolares a respeito da cidade e que na maioria das vezes se restringe às comemorações da data de fundação ao destaque para determinadas etnias formadoras em detrimento de outras culturas e ao enaltecimento de registros e bens culturais de cunho elitista entre outros que pouco ou nada acrescentam de significado aos seus moradores Entretanto sabese que relacionar o ensino com a cidade enquanto leitura e escrita a fim de problematizar a História ensinada nas escolas não depende exclusivamente da vontade de seus dirigentes mas também de uma formação acadêmica disposta a tematizar sobre a cultura e a memória e suas contribuições para a disciplina nos Cursos de Licenciatura tendo em vista que segundo Bergamaschi e Sthepanou 200297 realizar atividades de leitura da cidade sinaliza para o planejamento docente de situações de aprendizagens da e na cidade substanciadas pelo contato dos alunos com documentos de diferentes suportes dentre eles documentos que integram o que se convencionou chamar de Patrimônio Cultural indicando abordagens ao ensino da História bastante férteis e interessantes tendo em vista as mudanças ocorridas nos últimos anos na historiografia que trouxeram como consequência a ampliação da noção de documento antes reduzida às fontes escritas As modificações em torno do que até então era legitimado como documento a ser explorado pelo historiador tem propiciado ao ensino da disciplina o espaço para a inclusão de outros suportes produzidos pelas sociedades como objetos monumentos e edificações na análise e na escrita da História A repercussão dessa ampliação acrescentou para a área 454 o debate em torno do uso das fontes em sala de aula como elementos para a compreensão da complexidade dos processos históricos de uma sociedade e para o desenvolvimento de habilidades cognitivas indispensáveis aos alunos FRAGA DELFINO 20122 O uso de fontes nas situações didáticas de sala de aula é um tema que tem aparecido com frequência nos encontros e congressos sobre o Ensino de História o que justifica sua inserção nos Parâmetros Curriculares Nacionais de acordo com os quais Entre as competências essenciais da disciplina ressaltase a importância dos documentos para a aprendizagem dos alunos Destacase o saber a utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos b dominar procedimentos de pesquisa escolar e de produção de texto aprendendo a observar e colher informações de diferentes paisagens e registros escritos iconográficos sonoros e materiais e c utilizar fontes históricas em suas pesquisas escolares BRASIL MEC 19974354 A referência nos PCNs aos documentos no ensino de História articulase à proposta de Cidade Educadora ao salientar que as histórias e as várias formas de seus registros materiais ou imateriais não devem ser desconsideradas porque podem se converter em ricas oportunidades educativas Cabe frisar que a relação entre a cidade e as fontes históricas na sala de aula não se reduz às fontes primárias mas abrange também aquelas que dizem respeito à cultura material e aos bens culturais O cruzamento de dados e conhecimentos oportunizados pela pesquisa escolar na cidade a partir do contato com os diversos suportes patrimoniais é capaz de desencadear um processo educacional que além de ensinar conteúdos históricos incide na criação de vínculos dos alunos com a cidade em sua integração com diferentes gerações e saberes e principalmente na mudança de posturas frente às problemáticas e potencialidades culturais Na atualidade a intensificação do diálogo entre os campos da Educação do Patrimônio e do Ensino de História tem como resultado uma série de estratégias formativas pautadas por iniciativas de Educação Patrimonial Paulatinamente a Educação Patrimonial como metodologia tem oportunizado caminhos para experimentações originais do ensino de História em museus arquivos e pontos históricos da cidade dando outras feições ao conceito de Cidade Educadora ao concebêla também com um bem cultural MENESES 2006 Sendo assim ensinar e aprender História na Cidade Educadora e também cultural consiste em perceber as marcas e os vestígios de um patrimônio cultural híbrido na percepção de que os bens culturais educam para tornar visíveis as muitas formas de habitar registrar e fazer história na e com a cidade Podese dizer então que uma cidade é também educadora ao tomar os bens culturais como matériaprima para a disciplina de História com vistas a problematizar entre outros pontos os procedimentos as estratégias os conteúdos e os conhecimentos comumente ensinados nas aulas e na mesma medida para entender como os alunos diferentemente organizam estruturam e constroem o conhecimento histórico a respeito de seu entorno social O patrimônio como ferramenta para esse tipo de aprendizagem na cidade associado a uma metodologia própria de ensino Educação Patrimonial e seus entrelaçamentos com as premissas da Cidade Educadora vem se inserindo nos planos de ensino de algumas disciplinas dos Cursos de Licenciatura em Pedagogia e em História da Universidade Federal do Pampa Campus de JaguarãoRS no intuito de criar no espaço acadêmico um fluxo de debates e práticas de ensino que acrescente à formação dos futuros docentes a temática 454 455 até aqui exposta e suas relações Para além disso estão os projetos de Pesquisa Extensão e Ensino oriundos delas que trazem como resultado o projeto de ensino Circuitos patrimoniais visitas históricas ao patrimônio cultural do Pampa ora em curso na Universidade direcionado aos alunos egressos de ambos os cursos Incursões no Pampa aprendizagens com e na cidade Para discorrer sobre o significado das incursões propostas pelo projeto de ensino em questão fazse necessário antes situar o lugar de onde partem seus percursos Como professoraformadora de professores de História e de pedagogos e ao mesmo tempo como pesquisadora da Educação tenho conversado com meus alunos e alunas sobre a inclusão da temática Cidade Educação e Patrimônio Cultural no processo formativo A possibilidade dessa inserção tem se concretizado especificamente nas aulas das disciplinas Ensinar e aprender História e Metodologia do Ensino de História A primeira é oferecida às futuras pedagogas e a segunda para os futuros professores de História Apesar de suas especificidades ambas propõem abordagens teóricometodológicas do campo do Ensino de História a partir da análise e do aprofundamento de estudos conteúdos e metodologias entre elas as ligadas ao terreno do patrimônio cultural da educação para o patrimônio e de estudo da cidade com o objetivo de exercitar na prática as questões anteriormente colocadas Como contrapartida venho constatando que isso tem viabilizado à formação docente incursões interessantes e desafiadoras para o ensino de História nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio Como suporte teórico e prático o trabalho durante as aulas das disciplinas supracitadas tem contado com as contribuições de autores que de alguma maneira produzem sobre o assunto ou que indiretamente oferecem pontes para a conexão que compreende o estudo e a formação sobre a temática dentre eles Benjamin 1987 1993 Certeau 1994 Gadotti 2010 Calvino 1990 Horta 1983 1999 Itaqui e Villagran 1998 Grumberg 1999 Pelegrini 2009 Chagas 2000 Soares 2003 2008 e Fraga 2000 As considerações sobre as leituras os estudos e as atividades originaram um projeto de ensino que transcende os limites academicistas privilegiando o contato dos acadêmicos com a História e os bens culturais das cidades localizadas na região do Pampa A proposição de um projeto sob esse enfoque devese à constatação das potencialidades patrimoniais e históricas pouco conhecidas e exploradas pelos estudantes da região e mais ainda aos alunos vindos de outros Estados para se aprender e ensinar aspectos da História tanto local como regional e nacional bem como suas dimensões culturais como algo relevante para a prática do direito à cidadania e à cultura Pensando em aproximar a teoria e a prática optouse por um percurso investigativo dando destaque à experiência com e na cidade com grande interesse também em provocar o diálogo com o Poder Público local e as comunidades sobre a importância da valorização e da preservação da história e da memória ultrapassando assim as fronteiras disciplinares ao se pretender dar atenção às políticas públicas de gestão do patrimônio mostrandoas como algo que perpassa a Educação e o ensino de História Para tanto o projeto ainda em fase de preparação se desdobra através de ações de mapeamento e pesquisa história de cada cidade colocada no roteiro de saída de campo seguido dos contatos com as Prefeituras instituições como museus arquivos casas de cultura e agentes comunitários para o planejamento conjunto das ações de visitação cuja periodicidade é semestral ou seja uma cidade por semestre A área de abrangência contempla dez cidades da região do Pampa São elas Piratini Bagé Caçapava do Sul Dom Pedrito Alegrete São Gabriel São Borja Santana do 456 Livramento Uruguaiana e Itaqui Porém sua sistemática de organização traz como prerrogativa uma experimentação sensível dos alunos com extratos de histórias e memórias ora visíveis ora invisíveis matizadas em espaços lugares objetos e culturas desafiando o olhar e o andar disciplinado pela cidade Nesta reeducação proposta pelo projeto o percorrer e o perscrutar a cidade representam trazer de volta a importância da experiência de leitura crítica e atenta da História e de suas omissões simulacros silêncios lembranças e esquecimentos a que faz menção Benjamin em sua obra Rua de mão única publicada pela primeira vez em 1928 Para o autor a cidade é escrita histórica sempre por fazerse De acordo com Bolle 1991138 na percepção do filósofo a cidade como escrita e a quantidade de textos nela onipresentes ao olhar desavisado e distraído dos cidadãos remetem a uma revisão da cultura letrada tradicional centrada em torno do livro do suporte escrito Sustentado por essa concepção os suportes os documentos a serem descobertos lidos como textos pelos acadêmicos durante as visitas são os bens culturais materiais e imateriais Cabe no entanto esclarecer a função educativa que eles adquirem no percurso dos alunos pela cidade Nesse caso recorrese à origem latina do termo em que o documento é considerado aquilo que ensina alguma coisa a alguém CHAGAS 2003144 Mas ensinar o quê Para a docência nas aulas de História ao ensino da cidade pautado nos bens culturais como documentos corresponde através do projeto ensinar aos alunos participantes uma leitura da História que desvele ao mesmo tempo o que conta e 456 457 tenciona a narrativa histórica oficial naturalizada pelos moradores da cidade e legitimada na escola Como método para realizar essa aprendizagem com alunos e professores em formação é novamente Benjamin que diante do labirinto de contradições das cidades oferece um fio de Ariadne frente à inatividade e à rotina que a cidade do espetáculo impõe cotidianamente É a figura de flâneur que descortina uma maneira de transitar com uma postura crítica pela cidade mediante a descoberta de alguma dimensão da realidade ainda desconhecida GONÇALVES 2003175179 e portanto não apreendida que pode aparecer nas dobras de uma rua nas reentrâncias de um prédio ou até mesmo na memória de algum narrador Esse método permite que o processo de formação docente intercambie experiências e saberes e redimensione as concepções e as práticas consolidadas pelas vivências como alunos a fim de que não sejam apenas repetidas no exercício da docência mas refletidas e repensadas A esse método corresponde uma metodologia que eduque a cidade os alunos e os professores para irem à busca de novos indícios e fontes a exemplo do patrimônio cultural que assegurem essa ressignificação da disciplina de História no currículo incluindo outras perspectivas metodologias e temáticas em seu ensino acompanhadas da consciência de sua função política e transformadora nos espaços da cidade No caso do projeto de incursão ao patrimônio cultural do Pampa a opção tem sido pelos pressupostos da Educação Patrimonial como uma metodologia adequada para o trabalho educativo com e a partir dos bens culturais aprofundando suas contribuições para o ensino de História Como objetivos principais o projeto de ensino tem como intenções Promover visitas às cidades históricas localizadas na região do pampa visando o 1 reconhecimento das potencialidades da história regional e do patrimônio cultural para o ensino e a formação docente dos alunos dos cursos de licenciatura em Pedagogia e História Estabelecer o intercâmbio com as prefeituras municipais das cidades visitadas e 2 comunidades Fomentar estudos e estratégias de ensino que incorporem o tema patrimônio cultura 3 e cidadania às discussões curriculares junto aos acadêmicos Desenvolver a produção de material didático pedagógico virtual a partir das 4 experiências e ações do projeto envolvendo conteúdos para o ensino contemplando a história e o patrimônio cultural do pampa a ser socializado com as escolas museus arquivos históricos e secretarias de educação e cultura envolvidas com o projeto Contribuir para a qualificação das políticas públicas no âmbito da gestão do 5 patrimônio cultural na região Embora se conheçam das dificuldades e se saiba o quanto as iniciativas do projeto desacomodam estruturas atitudes e formas de organizar e conceber a cidade e a História enquanto disciplina escolar acreditase que dos impactos junto às comunidades visitadas e aos acadêmicos poderão surgir ações que a médio e longo prazo servirão como novos pontos de partida para outras imersões na e com a cidade 458 REfERêNCIAS BERGAMASCHI Maria Aparecida STHEPANOU Maria Ensino de História e Educação Patrimonial memória açoriana In CORSETTI Berenice PADRÓS Enrique RODRIGUES Gabriela BERGAMASCHI Maria Aparecida BARROSO Vera Lucia Maciel Orgs Ensino de História formação de professores e cotidiano escolar Porto Alegre EdEST 2002 p92101 BOLLE Willi A cidade como escrita In CUNHA Maria Clementina Pereira Org O direito à memória patrimônio histórico e cidadania São Paulo Secretaria Municipal de Cultura Departamento do Patrimônio Histórico 1992 p137144 BRASIL Ministério da Educação Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais História Brasília MEC SEF 1998 CDU 371214 BRASIL Ministério da Educação e do Desporto Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Fundamental 1a a 4a séries e 5a a 8a séries História Brasília MEC SEF 1997 CHAGAS Mário Memória política e política da memória In ABREU Regina CHAGAS Mário Orgs Memória e Patrimônio ensaios contemporâneos Rio de Janeiro DPA 2003 p141174 DIETZSCH Mary Julia Martins Leituras da Cidade e Educação Caderno de Pesquisas São Paulo v26 n129 p514 setdez 2006 FRAGA Hilda Jaqueline de DELFINO Jesianne Pereira O patrimônio cultural de Jaguarão através da história das mulheres uma experiência de educação patrimonial da e na cidade In GASPAROTTO Alessandra FRAGA Adriana Al aram Cauiá FERRER Everton de Oliveira FRAGA Hilda Jaqueline de BERGAMASCHI Maria Aparecida Orgs Ensino de História no Cone Sul patrimônio cultural territórios e fronteiras Porto Alegre Evangraf 2012 no prelo GADOTTI Moacir CABEZUDO Alicia Carta das Cidades Educadoras Declaração de Barcelona 1990 In GADOTTI Moacir PADILHA Paulo CABEZUDO Alicia Orgs Cidade Educadora princípios e experiências São Paulo Cortez 2004 p145151 GONÇALVES José Reginaldo Santos Os museus e as cidades In ABREU Regina CHAGAS Mário Orgs Memória e Patrimônio ensaios contemporâneos Rio de Janeiro DPA 2003 p175189 MATOS Olgária Walter Benjamin polis grega metrópoles modernas In JOBIM E SOUZA Solange KRAMER Sonia Orgs Política cidade e Educação itinerários de Walter Benjamin Rio de Janeiro ContrapontoEdPUC 2009 p6186 MENESES Ulpiano Toledo Bezerra de A cidade como bem cultural Áreas envoltórias e outros dilemas equívocos e alcance na preservação do patrimônio ambiental urbano In MORI Victor Hugo SOUZA Marise Campos de BASTOS Rossano Lopes GALLO Haroldo Orgs Patrimônio atualizando o debate São Paulo 9 SR Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN 2006 p3536 SEFFNER Fernando Teoria metodologia e ensino de História In GUAZZELLI César Augusto Barcellos PETERSEN Sílvia Regina Ferraz SCHMIDT Benito Bisso XAVIER Regina Célia Lima Orgs Questões da teoria e metodologia da História Porto Alegre EdUFRGS 2000 p257288 SENNETT Richard Carne e Pedra o corpo e a cidade na civilização ocidental São Paulo Papiros 2003 362 p XAVIER Luiz Merino de F A cidade como um livro didático Educação no âmbito do Programa Monumenta In POSSAMAI Zita Org Leitura da cidade Porto Alegre Evangraf 2010 p257274