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1 ENSINO DE GEOGRAFIA X USO DE MAPAS EM BUSCA DE UMA RECONCILIAÇÃO Ângela Massumi Katuta1 O presente trabalho procurou verificar o uso do mapa como meio de localização por alunos de primeiro grau de quinta e oitava séries Para tanto verificamos em diferentes níveis como os alunos das referidas séries usam mapas das mais diversas escalas desde mapas da cidade como planisférios para localizarem inúmeros pontos utilizandose de noções e habilidades de orientação e localização Por conta da pesquisa ter caráter qualitativo aplicamos questionários e entrevistas com 20 alunos sendo que dez deles estavam na 5ª série do primeiro grau e 10 estavam na 8ª série Fizemos de início uma ficha de identificação do aluno com questões sobre seus deslocamentos uso de mapas fora da sala de aula e algumas situações cuja resposta envolvia o uso do mapa logo a seguir aplicamos um questionário sobre dados sócio econômicos e culturais para nos inteirarmos melhor da realidade da clientela que estávamos entrevistando logo após em várias seções aplicamos um questionário que envolviam o uso de noções e habilidades necessárias para orientação e localização As provas ou questionários aplicados envolviam um conjunto de questões que classificamos da seguinte maneira Provas que envolvem o uso de noções espaciais básicas para orientação uso de relações espaciais topológicas uso de coordenadas x y em diferentes situações uso de relações espaciais projetivas Provas que envolvem o uso de pontos cardeais em representações pictóricas muito próximas do real utilização dos pontos cardeais a partir de diferentes perspectivas utilização de pontos cardeais de acordo com diferentes deslocamentos do sujeito utilização de esquemas de orientação a partir de uma foto aérea Provas que envolvem o uso de pontos cardeais em mapas uso de esquemas de orientação e localização num mapa de Presidente Prudente SP Brasil do Estado de São Paulo Brasil do Brasil e num planisfério Provas que envolvem a utilização de redes geográficas conceitos dos alunos de latitude longitude paralelos e meridianos e seu uso Além de aplicarmos os questionários junto aos alunos entrevistamos os professores que trabalhavam com as classes junto às quais aplicamos os questionários é importante salientar que como havia uma professora de história que também utilizava mapas em sala de aula acabamos incluindo a mesma no nosso rol de entrevistados É importante ressaltar que embora entendemos que o mapa pode e deve ser utilizado para outros fins na escola elegemos esse o único papel a ser estudado na mesma porque esse é o tipo de uso que mais se faz desse material Professores de diferentes níveis em diferentes séries utilizam o mapa como meio de localizar pontos cidades países rios elevações mares oceanos etc poucos docentes têm a preocupação em fazer um uso mais elaborado do mapa análises geográficas a partir de mapas de várias escalas isso por vários motivos que vão desde a falta de preparo para o trabalho com esse material até a falta ou ausência do próprio nas escolas Essa 1Professora das Faculdades Integradas Riopretense São José do Rio Preto SP Brasil e mestranda da Faculdade de Ciências e Tecnologia UNESP Campus de Presidente Prudente SP Brasil 2 questão também é verificada quando os alunos respondem para que serve o mapa a totalidade deles responde que é para localizar cidades países etc isso porque a função que os alunos atribuem à esse material tem relação com o uso que o professor faz do mesmo Como nos propusemos a investigar o que ocorre com o mapa no ensino de primeiro grau e verificamos que o principal uso é a localização quando esta ocorre resolvemos avaliar esse material a partir desse ponto de vista Isso se justifica na medida em que é resgatando as inúmeras experiências do professor em sala de aula ou é resgatando o saber fazer pedagógico desse sujeito que podemos a partir do mesmo propor um redimensionamento do trabalho docente utilizandose de mapas O que pudemos verificar em linhas gerais é que apesar do docente entender que o uso do mapa é importante isso não se traduz na sua prática pedagógica ou seja o docente acaba utilizando o mapa somente enquanto meio de localização de fenômenos quando utiliza As noções conceitos e habilidades de localização e orientação são exercitadas durante somente um período na quinta série para posteriormente serem relegadas para a vala do esquecimento ou seja esses conhecimentos não são retomados muito menos aprofundados Isso ao nosso ver decorre de um conjunto de fatores que acabam materializandose no tipo de uso de mapas que se legitima Um dos fatores que poderiam explicar a falta de intimidade do discente no uso do mapa enquanto meio de localização e orientação é que a nossa vida cotidiana ou nossos deslocamentos cotidianos acabam por não forjar a necessidade de saber orientarse pois nos deslocamos com a utilização de pistas por exemplo o muro a escola a delegacia o prédio cinza etc além disso nossos deslocamentos são feitos através de meios de transportes que têm itinerários prédefinidos O que podese observar é que o mapa enquanto meio de localização é pouco utilizado pois nossa forma de viver nessa sociedade não nos coloca a necessidade desse tipo de utilização tampouco a necessidade de orientação A questão da observação também fica relegada a um segundo plano pois poucos professores valorizam essa atividade as aulas de geografia tornamse então algo repleto de denúncias políticas que aparentemente não se materializam num determinado território Outro fato que nos chamou a atenção na pesquisa realizada é que apesar da familiaridade com o espaço da cidade de Presidente Prudente local onde foi realizada a pesquisa ao responderem a questões referentes à orientação e localização de pontos na cidade os alunos utilizavamse para se orientar e localizar no mapa alguns pontos de referência por exemplo ficavam procurando algum lugar conhecido rua instituição etc para a partir daí estabelecerem relações com outros espaços na cidade É preciso ressaltar que os alunos não conseguiram na sua maior parte colocar os pontos cardeais no mapa de forma que os mesmos estivessem corretos notamos que sempre houve a predominância do esquema aprendido de forma rígida na escola o norte tem sempre que ficar acima Como o mapa de Presidente Prudente apresenta o norte indicado à direita os alunos apesar de observarem a indicação na sua maior parte a ignoravam por acreditarem que a posição correta dos pontos cardeais é aquela que traz o norte acima o sul abaixo à direita o leste e à esquerda oeste Em relação à utilização de pontos cardeais observamos também que por conta dos mesmos serem aprendidos de forma estática como citamos acima os alunos não utilizam um esquema móvel de orientação e localização pelo contrário os esquemas são fixos prejudicando a capacidade dos alunos de orientaremse e localizaremse a partir 3 de referenciais geográficos Um outro fato percebido é que os alunos tem dificuldades de estabelecimento de relações espaciais em diferentes escalas existe de fato uma dificuldade de conceber o espaço dessa forma ou seja não existe clareza de que dependendo do fenômeno que se quer analisar é preciso mapas de diferentes escalas caso contrário o fenômeno pode deixar de ser visto Apesar de termos feito a afirmação acima isso não quer dizer que o mapa é utilizado para fazer leituras geográficas da realidade pelo contrário o mesmo não é usado nesse caso como se os fenômenos geográficos que servem de conteúdos para o entendimento da realidade pairassem no ar como se as territorializações produzida pelo homem na sua relação com outros homens e com a natureza não pudessem ser entendidas Essa atitude tem sido respaldada por muitos pseudodiscursos que se dizem críticos mas que na verdade servem para marginalizar ainda mais os alunos da escola pública dado que esses discursos são excessivamente panfletários pouco auxiliando assim o aluno no entendimento das múltiplas territorializações produzidas pelo homem A pesquisa verificou também que os referenciais espaciais como não são trabalhados de forma móvel acabam por tornarse fixos levando o aluno a ter noções de orientação e localização também fixos desde os espaços mais restritos bairro cidade etc aos mais amplos Estado País Continente Planeta além disso a simplificação da linguagem e do esquema de pensamento realizada de maneira irrefletida pelo professor pode trazer graves consequências ao processo de ensino aprendizagem Isso pode ser demonstrado pela fala de um aluno da oitava série ao perguntarmos em várias situações onde o sol sofria a cada vez uma rotação de 90º O norte sei que vaificar no mesmo lugar2 porque no norte tem um imã gigante e ele não vai sair do lugar então o norte vai ficar sempre ali Verificase que o aluno apesar de já estar na oitava série do primeiro grau faz uso de conhecimentos equivocados para resolver as questões Outro ponto a ser destacado é o fato de todos os alunos em geral não saberem ou não conseguirem verbalizar os conceitos de latitude longitude paralelo e meridiano Ao perguntarmos para que serviam os alunos não sabiam ou se o sabiam era de forma muito vaga pois mesmo os alunos que falaram que latitude e longitude serviam para localização ao pedirmos que localizassem determinados pontos através de latitudes e longitudes dadas os mesmos não conseguiam fazêlo Pelo exposto ao nosso ver o mapa enquanto meio de localização não apresenta muito significado para o aluno Esse fato ficou mais evidente na entrevista que fizemos com os professores Um deles ao perguntarmos porque os alunos não sabem se localizar com mapas nos respondeu que é porque eles não precisam disso ou seja na fala desse professor estava contida a explicação de que para as pessoas deslocarem se atualmente não há quase a necessidade de utilização de mapas Até porque dada a realidade do aluno da escola pública poucos são os que se deslocam horizontalmente poucos são aqueles cujas necessidades diárias sugerem o uso de mapas Ao tentarmos avaliar o uso do mapa como um meio de localização na escola junto aos alunos de 5ª e 8ª séries pudemos verificar que apesar desse ser um dos únicos usos que se faz desse material ocorre a subutilização do mesmo na medida em que esse material ao nosso ver apesar de suas limitações apesar de ser uma imagem altamente abstrata e longínqua do real auxilia no entendimento de múltiplas relações e territorializações realizadas pelo homem Na verdade o mapa enquanto meio de 2Grifo nosso 4 localização não está repleto de significados para o aluno porque esse uso é perfeitamente substituível por outras formas de localização principalmente no que se refere a espaços locais Propomos então a partir disso sem desmerecer o papel do mapa enquanto meio também de localização que haja um redimensionamento no uso do mapa principalmente nas aulas de geografia Isso porque esse é um material eficiente para elaborarmos leituras geográficas a partir de informações nele contidas É claro que somente o mapa em si enquanto forma de linguagem ou de representação de uma dada realidade é insuficiente é preciso que o docente de geografia se aproprie de inúmeras formas de representação da realidade para melhor se aproximar dela criando assim inúmeros significados em torno da mesma É preciso destacar no entanto que não estamos fazendo uma apologia do mapa enquanto meio de comunicação da realidade geográfica mas apenas propondo um repensar acerca do mesmo pois parece ter ocorrido um divórcio da geografia com os mapas principalmente com o aparecimento da famosa geografia crítica onde de forma equivocada muitos professores entenderam que era necessário para se fazer uma geografia realmente crítica o rompimento com conteúdos e materiais didáticos inclua se aí também o mapa Observamos que quase houve um rompimento da geografia com o uso dos mapas e é por isso que o presente trabalho propõe um repensar a possibilidade de uma reconciliação Entendemos que tornase relevante o uso do mapa principalmente no ensino de geografia pois esta se preocupa enquanto ciência e disciplina escolar com o entendimento das múltiplas territorializações produzidas pela humanidade nas suas relações recíprocas e nas relações com a natureza Essas territorializações por sua vez são passíveis de serem mapeadas e organizadas de forma que possam salientar informações e podem por sua vez propiciar raciocínios e entendimentos É claro que a leitura e entendimento da realidade propiciada pelo mapa vai depender em grande parte da visão social de mundo que está sendo adotada É preciso ressaltar por fim que não é o uso do mapa que torna boa ou ruim uma aula de geografia mas é precisamente a visão social de mundo que se adota juntamente com o entendimento e da clareza de que tipo de alunos queremos qual o papel da escola nesse sentido e qual visão social de mundo estamos enquanto docentes auxiliando referendar O mapa pode apenas e tão somente ressaltar e salientar determinadas relações que queremos tornar evidentes para o entendimento da lógica da territorialização de determinados espaços Portanto o uso desse material poderá ou não tornar mais eficiente o ensino de geografia dependendo em grande parte da prática pedagógica docente