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COMPREENDER O BEHAVIORISMO Comportamento cultura e evolução William M Baum 2ª edição revisada e ampliada wwwfacebookcomgroupslivrosparadownload wwwjspsiblogspotcom B347c Baum William M Compreender o behaviorismo comportamento cultura e evolução William M Baum tradução Maria Teresa Araujo Silva et alj 2 ed rev e ampl Porto Alegre Artmed 2006 312 p 23 cm ISBN 9788536306971 1 Psicologia Behaviorismo I Título CDU 15990194 Catalogação na publicação Julia Angst Coelho CRB 101712 COMPREENDER O BEHAVIORISMO Comportamento cultura e evolução William M Baum University of New Hampshire 2a edição revisada e ampliada Tradução j María Teresa Araujo Silva Maria Amelia Matos Gerson Yukio TomanaW Professores no Departamento de Psicologia Experimental do instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Emmanuel Zagury Tourihho Professor no Departamento de Psicologia da da Universidade Federal do Pará Consultoria supervisão e revisão técnica desta edição Maria Teresa Araujo Silva Frederico Dentello Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Reimpressão 2008 Associação Unificada Paulista do Ensino Renovado Objetivo ASSUPERO Data Ncie Cham ada na de Volume Registrado por A v ó m s QaAWJ 2006 Obra originalmente publicada sob o título Understanding Behaviorism Behavior Culture and Evolution Second Edition Blackwell ISBN 140511262X 2005 by William Baum This edition is published by arrangement with Blackwell Publishing Ltd Oxford Translated by Artmed Editora SA from the original English language version Responsibility of the accuracy of the translation rests solely with the Artmed Editora SA and is not the responsibility of Blackwell Publishing Ltd Edição publicada conforme acordo firmado com Blackwell Publishing Ltd Oxford Tradução de Aitmed Editora SA do original em língua inglesa A responsabilidade pela precisão da tradução é totalmente da Artmed Editora SA não recaindo em nenhum momento com a Blackwell Publishing Ltd Capa Gustavo Macri Preparação do original Josiane Tibursky Supervisão editorial Mônica Ballejo Canto Projeto gráfico e editoração eletrônica Armazém Digital Editoração Eletrônica rcrnv Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à ARTMED EDITORA SA Av Jerônimo de Orneias 670 Santana 90040340 Porto Alegre RS Fone 51 30277000 Fax 51 30277070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume no todo ou em parte sob quaisquer formas ou por quaisquer meios eletrônico mecânico gravação fotocópia distribuição na Web e outros sem permissão expressa da Editora SÃO PAULO Av Angélica 1091 Higienópolis 01227100 São Paulo SP Fone 11 36651100 Fax 11 36671333 SAC 0800 7033444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Agradecimentos A i o preparar esta edição recebi especialmente a ajuda de duas pessoas Howie Rachlin com suas sugestões animadoras e amigáveis e Jack Marr com suas críticas incansáveis e desafiadoras Agradeço a Gerry Zuriff por suas críticas e por me en viar1 a avaliação de seus alunos quanto ao livro John Kraft também me forneceu resultados de seu uso do livro como texto didático Sou grato à Universidade de Canterbury Nova Zelândia onde grande parte das mudanças no novo texto foi realizada por me conceder a bolsa Erskine de professor visitante e particularmen te a Ant McLean Randy Grace e Neville Blampied pelos proveitosos diálogos que tivemos ali Tive conversas úteis com Michael Davison Don Owings e Pete Richerson Sugestões produtivas vieram de Tom Mawbinney John Malone e Phil Hineline Meu filho Gideon me apresentou a teorias e pesquisas de cientistas políticos sobre as relações entre os governos nacionais Sou especialmente grato ao apoio de todos os meus filhos Shona Aaron Zack Naomi e Gideon e de seus companheiros Nick Mareia e Stacy William M Baum Q u a n d o escrevi a primeira edição de Compreender o behaviorismo queria apre sentar uma visão do behaviorismo mais clara e mais atualizada que a disponível nos livros de B F Skinner que eu recomendava a meus alunos Embora meus enten dimentos anteriores ainda se sustentem de que todos os behavioristas concordam que um a ciência do comportamento é possível de que esta proposição define o behaviorismo e de que quaisquer discordâncias que haja entre os behavioristas nascem de questões sobre como caracterizar a ciência e o comportamento para esta edição resolvi concentrarme menos nas idéias de Skinner e mais em minhas próprias Como resultado o livro contém menos jargão da análise comportamental Por estar mais perto do vocabulário do diaadia o livro é ainda mais acessível do que foi inicialmente Corrigi uma série de falhas que colegas e alunos apontaram para mim Os Capítulos 2 e 3 que apresentam o contexto filosófico estão mais claros a respeito da ligação entre o behaviorismo radical e o pragmatismo e a respeito de suas diver gências em relação ao realismo popular e ao dualismo Reforcei a discussão tanto sobre as idéias de Ryle quanto o behaviorismo molar o ponto de vista de Rachlin e o meu próprio Ao longo do livro as apresentações são expostas mais em termos do behaviorismo molar Alguns dos novos materiais aperfeiçoam o relacionamento com a evolução como contexto Esclareci o papel das conseqüências últimas saúde recursos rela cionamentos e reprodução Estabeleci ligações entre autocontrole comportamen to controlado por regras altruísmo cooperação e seguimento de regras culturais ao descrevêlos todos como uma competição entre reforço postergado e imediato O Capítulo 13 sobre evolução da cultura agora deixa mais clara a analogia com a evolução dos organismos O Capítulo 11 sobre relações gerenciamento e governo agora reformula o contracontrole explicitamente como autocontrole e incorporou uma seção sobre o problema da segurança nas relações internacionais 0 Capítulo 14 VÜi Prefácio à segunda edíçpo inclui agora o exemplo específico de uma proposta para aperfeiçoar o processo democrático Para ajudar os estudantes a evitar que sejam sobrecarregados com o novo vocabulário introduzido em cada capítulo adicionei depois de cada seção de leituras adicionais uma lista de termos como guia de estudo Sumário Prefácio à segunda e d ição vii PARTE UM O que é b e h a vio rism o 1 Behaviorismo definição e história17 Referencial histórico18 De filosofia o ciência 18 Psicologia objetivo 20 Psicologia comparativa 21 A primeiro versão do behaviorismo 23 Livrearbítrio versus determinismo 25 Definições 25 Argumentos pró e confra o lívreorbítrio26 Resumo 30 Leituras adicionais 31 Termos introduzidos no Capítulo 1 32 2 O behaviorismo como filosofia da ciência 33 Realismo versus pragmatismo34 Reafemo34 Pragmafismo 36 10 Sumário Behaviorismo radical e pragmatismo43 Resumo45 Leituras adicionais 46 Termos introduzidos no Capítulo 2 47 3 Público privado natural e fictício49 Mentalismo 49 fventos públicos e privados 50 Fventos noíurois50 Natural menta e fictcio51 Objeções ao mentalismo 53 Erros de categoria56 Ryle e o hipótese pammecônica57 O behaviorismo molorde RacMin 59 Eventos privados 63 Comportamento privodo63 Autoconfiecímento e consciência 67 Resumo 69 Leituras adicionais70 Termos introduzidos no Capítulo 3 70 PARTE D O IS Um m odelo científico de com portam ento 4 Teoria da evolução e reforço73 História evolutiva73 Seleção natural74 Reflexos e pacfrôes fixos de ação76 Reforçadores e punidores80 Revisão das influências filogenéticas85 História de reforço 86 Seleção pelas conseqüências 86 Explicações históricas90 Resumo 93 Leituras adicionais94 Termos introduzidos no Capítulo 4 94 5 Intenção e reforço97 História e função 97 O uso de explicações históricos 98 Unidades funcionais100 Três significados de infenção103 Intenção como função 103 intenção como causa 104 Intenção como sentimento outorefatos 109 Resumo 113 Leituras adicionais 114 Termos introduzidos no Capítulo 5 114 6 Controle de estímulo e conhecimento 115 Controle de estímulo116 Estímulos discriminativos 116 Seqüências estendidos e estímulos discriminativos 117 Discriminação 119 Conhecimento 120 Conhecimento operadonol saber como 121 Conhecimento declarativo saber sobre123 Aufoconbecimenfo 126 O comportamento dos cientistas130 Observação e discriminação 130 Conhecimento científico 131 fragmatismo e contextuolismo 132 Resumo133 Leituras adicionais133 Termos introduzidos no Capítulo 6 134 7 Comportamento verbal e linguagem 135 O que é comportamento verbal 135 Comunicação 136 O comportamento verbal como comportamento operante136 FoJante e ouvinte 137 Exemplos141 Comportamento verbal versus linguagem 145 Sumário 11 12 Sumário Unidades funcionais e controle de estímulo147 Atividades verbais como unidades funcionots 147 Controle de estímulo no comportamento verbal148 Alguns equívocos comuns149 Significado152 Teorios de referência152 Significado como uso154 Gramática e sintaxe 157 Regras como descrições 158 Onde estão as regras 160 Resumo160 Leituras adicionais161 Termos introduzidos no Capítulo 7 163 8 Comportamento controlado por regras e pensamento165 O que é comportamento controlado por regras 165 Comportamento controlado por regras versus comportamento modeíado implicitamente166 Regras ordens instruções e conselhos 168 Sempre duas relações172 Aprendizagem de seguimento de regras176 Modelagem do comportamento de seguir regras 177 Onde estão as regras 177 Pensamento e resolução de problemas 178 Mudonça de estímulos 179 Comportamento precorrenfe181 Resumo183 Leituras adicionais 184 Termos introduzidos no Capítulo 8 184 PARTE TRÊS Q uestões so ciais 9 Liberdade 187 Usos da palavra livre 187 Ser livre íivrearbífrio 1 88 Senfirse fivre liberdade poíítica e so cia l 188 Liberdade espiriíual 197 Sumário 13 O desafio do pensamento tradicional199 Resumo200 Leituras adicionais201 Termos introduzidos no Capítulo 9 201 10 Responsabilidade mérito e culpa 203 A rponsabiiidade e as causas do comportamento 203 Üvreorbífrio e visibilidade do confrole204 Atribuição de mérito e culpo 205 Compaixão e confrole 206 A responsabilidade e as conseqüências do comportamento 208 O que é responsabilidade208 Considerações práticos a necessidode de confrole210 Resumo212 Leituras adicionais 213 Termos introduzidos no Capítulo 10214 11 Relações gerenciamento e governo215 Relações 215 Reforço mútuo 216 Indivíduos e instituições 218 Exploração 220 O escravo feliz221 Conseqüências de longo prazo221 Bemestar relativo 223 Controle e contra controle227 Contracontrole 227 Eqüidade 230 Poder231 Democracia233 Resumo234 Leituras adicionais 236 Termos introduzidos no Capítulo 11 237 12 Valores religião e ciência239 Questões de valo r239 ReiafiVsmo moral 240 Padrões éticos 240 14 Sumário Uma abordagem científica dos valores243 Reforçadores e punidores 244 Senfímenlos246 Teoria do evolução e vaíores 248 Resumo 253 Leituras adicionais 254 Termos introduzidos no Capítulo 12 255 13 Evolução da cultura 257 Evolução biológica e cultura258 Replicadores e aptidão258 Sociedades 260 Definição de culfuro 261 Traços que permííem o cultura263 Variação transmissão e seleção267 Variação 268 Transmissão 273 Seleção 276 Resumo 281 Leituras adicionais 283 Termos introduzidos no Capítulo 1 3 284 14 Planejamento culSural experimentação em prol da sobrevivência285 Planejamento pela evolução 286 Cruzamento seletivo286 Avaliação 287 A sobrevivência como critério288 Variação orientada290 Uma sociedade experimental291 Experimentação291 Democracia 292 Felicidade 293 WaldenTwo a visãò de Skinner 294 ObjeçÕes296 Resumo 302 Leituras adicionais 304 Termos introduzidos no Capítuio 14304 Apêndice 305 índice remissivo 307 PARTE UM 0 que é behaviorismo B ehaviorism o é um tópico controverso Algumas objeções são levantadas a partir de uma com preensão correta de suas posições mas as concepções errôneas são inúmeras Os três capítulos desta primeira parte visam esclarecer aquilo que se poderia chamar de postura filosófica do behaviorismo Tudo que é genuinamente controverso sobre o behaviorismo deriva de sua idéia básica de que uma ciência do comportamento é possível Cada ciência em algum ponto de sua história teve de exorcizar causas imaginárias agentes ocul tos que supostam ente existem por detrás ou sob a superfície dos eventos naturais O Capítulo 1 exp lica com o a negação de agentes ocultos defendida pelos behavioristas leva a uma controvérsia autêntica a questão do comportamento ser livre ou determinado O Capítulo 2 se destina a impedir concepções distorcidas que podem surgir porque o behaviorismo mudou ao longo do tempo Uma versão inicial chamada behaviorismo metodológico baseavase no realismo visão segundo a qual toda ex periência é causada por um mundo objetivo e real exterior e separado do mundo subjetivo e interno O realismo pode ser contrastado com o pragmatismo que se cala sobre a origem da experiência mas em compensação aponta a utilidade de tentar entender e buscar o sentido de nossas experiências Uma versão posterior do behaviorismo denominada behaviorismo radical baseiase mais no pragmatismo do que no realismo Quem não entender essa diferença provavelmente terá dificul dade em compieender o aspecto fundamental do behaviorismo radical que é a rejeição do m entalismo A crítica behaviorista do mentalismo explicada no Capítulo 3 permeia o res to do livro pois exige que os behavioristas proponham explicações nãomentalistas do comportamento Parte Dois e soluções nãomentalistas para problemas sociais Parte Três 1 Behaviorismo definição e história i í idéia central do behaviorismo pode ser formulada de maneira simples É possível uma ciência do comportamento Os behavioristas têm visões diferentes sobre o sen tido dessa proposição e especialmente sobre o que é ciência e o que é comporta mento mas todos eles concordam que pode haver uma ciência do comportamento Muitos behavioristas acrescentam que a ciência do comportamento deve ser a psicologia Esse ponto não é pacífico porque muitos psicólogos rejeitam de todo a idéia de que a psicologia seja uma ciência e outros que a vêem como ciência consi deram que seu objeto é alguma outra coisa que não o comportamento Bem ou mal a ciência do comportamento veio a ser chamada de análise comportamental O debate ainda continua se a análise comportamental é parte da psicologia se é o mesmo que psicologia ou se é independente da psicologia mas organizações pro fissionais como a Association for Behavior Analysis e revistas como The Behavior Anályst Journal ofthe Experimental Analysis of Behavior e Journal of Applied Behavior Analysis dão à área sua identidade Sendo um conjunto de idéias sobre essa ciência chamada de análise compor tamental e não a ciência em si o behaviorismo não é propriamente uma ciência mas um a filosofia da ciência Como filosofia do comportamento entretanto abor da tópicos que muitoprezamos e que nos tocam de perto por que fazemos o que fazemos e o que devemos e não devemos fazer Oferece uma visão alternativa que muitas vezes vai contra o pensamento tradicional sobre o agir já que as visões tradicionais não se têm pautado pela ciência Veremos em capítulos posteriores que às vezes ele nos leva em direção radicalmente diferente do pensamento convencio nal Este capítulo cobre um pouco da história do behaviorismo e uma de suas impli cações mais imediatas o determinismo 18 William M Baum REFERENCIAL HISTÓRICO De filosofia a ciência Todas as ciências astronomia física química biologia tiveram sua origem na filosofia e eventualmente se separaram dela Antes que a astronomia existisse como ciência por exemplo os filósofos especulavam sobre a organização do uni verso natural partindo de suposições sobre Deus ou sobre algum outro padrão ideal e através de raciocínio concluíam como seria o universo Por exemplo se todos os eventos importantes aparentem ente ocorrem na Terra então ela deve ser o centro do universo Como o círculo é a forma mais perfeita o Sol deve girar em torno da Terra seguindo uma órbita circular A Lua deve girar em outra órbita circular mais próxima e as estrelas se organizam em torno do conjunto à manei ra de uma esfera que é a mais perfeita forma tridimensional Até hoje o Sol a Lua e as estrelas são chamados corpos celestes porque se supunha que fossem perfeitos As ciências da astronomia e da física surgiram quando as pessoas começaram a tentar entender os objetos e fenômenos naturais por meio de sua observação Ao apontar um telescópio para a Lua Galileu 15641642 observou que sua paisa gem marcada por crateras estava ionge de ser a esfera perfeita imaginada pelos filósofos Quanto à física Galileu observou o movimento de corpos cadentes fa zendo uma bola deslizar por uma rampa Ao descrever suas descobertas ele aju dou a forjar as noções modernas de velocidade e aceleração Isaac Newton 1642 1727 acrescentou conceitos como força e inércia criando um poderoso esquema descritivo para a compreensão do movimento de corpos na Terra assim como de corpos celestes como a Lua Ao criar a ciência da física Galileu Newton e muitos pensadores do Iluminismo romperam com a filosofia O raciocínio da filosofia parte de suposições para con clusões Seus argumentos tomam a forma Se isto fosse assim então aquilo seria assim A ciência segue direção oposta Isto foi observado que verdade poderia levar a essa observação e a que outras observações isso levaria A verdade filosó fica é absoluta se as premissas forem enunciadas explicitamente e se o raciocínio for correto as conclusões seguemse necessariamente A verdade científica é sem pre relativa e provisória é relativa à observação e suscetível de não ser confirmada por novas observações As suposições filosóficas se referem a abstrações além do universo natural Deus harmonia formas ideais e assim por diante As suposições científicas usadas na construção de teorias referemse apenas ao universo natural e sua possível forma de organização Embora fosse teólogo além de físico Newton separava as duas tarefas Sobre a física afirmou que Hypotheses non fingo Não faço hipóteses querendo dizer que ao estudar física não se preocupava com nenhuma entidade ou princípio sobrenatural ou seja com coisa alguma fora do próprio universo natural Os gregos antigos também especularam sobre química tanto quanto sobre física Filósofos como Tales Empédocles e Aristóteles conjeturaram que a matéria varia em suas propriedades por ser dotada de certas qualidades essências ou princí Compreender o behaviorismo 19 pios Aristóteles sugeriu quatro qualidades quente frio úmido e seco Se a substân cia era um líquido possuía maior quantidade da qualidade úmido se era um sóli do a maior quantidade era da qualidade seco A medida que os séculos se sucede ram a lista de qualidades cresceu Diziase que coisas que esquentavam possuíam internam ente a essência calórica Materiais que podiam ser queimados possuíam o flogisto Essas essências eram consideradas substâncias reais escondidas dentro dos materiais Quando os pensadores abandonaram essas especulações e começa ram a confiar na observação das mudanças da matéria nasceu a ciência da quími ca Antoine Lavoisier 17431794 dentre outros desenvolveu o conceito de oxi gênio a partir de cuidadosas observações de pesos Lavoisier descobriu que quan do chumbo um metal é queimado em um recipiente fechado e se transforma em um pó amarelo óxido de chumbo esse pó pesa mais do que o metal original no entanto o recipiente conserva o mesmo peso Lavoisier raciocinou que isso só po deria ocorrer se o metal se combinasse com algum elemento do ar Esse raciocínio aludia exclusivamente a termos naturais ignorava as qualidades sugeridas pela filosofia e estabelecia a química como ciência A biologia rompeu com a filosofia e a teologia da mesma forma Os filósofos raciocinavam que se havia diferença entre coisas vivas e nãovivas era porque Deus havia dado às coisas vivas algo que não havia dado às nãovivas Alguns pen sadores consideravam que essa coisa interna era a alma outros a chamavam de vis viva força viva No século XVII os primeiros fisiólogos começaram a abrir os animais para ver como funcionavam William Harvey 15781657 descobriu algo que se assemelhava mais ao funcionamento de uma máquina do que à ação de uma misteriosa força viva Tornouse claro que o coração funcionava como uma bomba que fazia o sangue circular através das artérias e dos tecidos voltando ao ponto de partida através das veias De novo esse raciocínio abandonava as suposições hipo téticas dos filósofos e usava como único referencial a observação de fenômenos naturais Quando Charles Darwin 18091882 publicou sua teoria da evolução por seleção natural em 1859 despertou verdadeiro furor Alguns se ofenderam porque a teoria ia contra o relato bíblico de que Deus criara todas as plantas e animais em alguns poucos dias Até mesmo alguns geólogos e biólogos se alarmaram com as idéias de Darwin Pela informação proveniente do estudo de fósseis esses cientis tas estavam familiarizados com a esmagadora evidência do surgimento e da extinção de muitas espécies e já estavam convencidos de que a evolução ocorria Ainda assim e embora não mais tomassem o relato bíblico ao pé da letra esses cientistas ainda olhavam a criação da vida portanto a evolução como uma obra de Deus Sentiramse tão agredidos pela teoria darwiniana da seleção natural quanto aque les que tomavam a Bíblia ao pé da letra Na teoria de Darwin o que mais impressionou seus contemporâneos tanto os que eram a favor como os que eram contra foi sua explicação sobre a origem da vida que deixava de fora Deus ou qualquer outra força que não fosse natural A seleção natural é um processo puramente mecânico Se as criaturas variam e a variação é herdada seguese que qualquer vantagem reprodutiva apresentada por um tipo levará esse tipo a substituir todos os seus competidores A teoria moderna da evolução surgiu na primeira metade do século XX quando a idéia de seleção 20 William M Baum natural foi combinada com a teoria da herança genética Essa teoria continua a despertar objeçoes devido a seu caráter naturalista e sem Deus Com a psicologia aconteceu o mesmo que com a astronomia a física a fisiolo gia e a biologia evolutiva A ruptura da psicologia com a filosofia é relativam ente recente Até a década de 1940 era raro encontrar um a universidade que tivesse um departam ento de psicologia e os professores de psicologia em geral se encontravam em departam entos de filosofia Se a biologia evolutiva com suas raízes em meados do século XIX ainda está completando sua ruptura com a dou trina teológica e filosófica não é de espantar que os psicólogos de hoje ainda estejam debatendo as implicações de se considerar a psicologia um a verdadeira ciência e que os leigos estejam apenas começando a descobrir quais são essas implicações na prática Na segunda metade do século XIX tornouse costumeiro chamar a psicologia de ciência da mente A palavra grega psyche tem um significado um pouco mais amplo que espírito porém mente parecia menos especulativo e mais acessível ao estudo científico Como estudar a mente Os psicólogos propuseram a adoção do método dos filósofos a introspecção Se a mente era uma espécie de palco ou arena então deveria ser possível olhar dentro dela e ver o que estava ocorrendo era esse o sentido da palavra introspecção Tratase de um a tarefa difícil tanto mais se o que se deseja é colher fatos científicos fidedignos Parecia aos psicólogos do século XIX que essa dificuldade poderia ser superada com bastante treino e muita prática No entanto duas correntes de pensamento se somaram para corroer essa visão a psicologia objetiva e a psicologia comparativa Psicologia objetiva Alguns psicólogos do século XIX sentiamse pouco à vontade com a introspecção como método científico Ela parecia muito pouco confiável muito vulnerável a distorções pessoais muito subjetiva Outras ciências utilizavam métodos objetivos que produziam medidas verificáveis e replicáveis em laboratórios do m undo intei ro Se duas pessoas treinadas em introspecção discordassem sobre suas conclu sões seria difícil resolver o conflito entretanto se utilizassem métodos objetivos os pesquisadores poderiam notar diferenças de procedimento que talvez explicas sem os resultados diferentes Um dos pioneiros da psicologia objetiva foi o psicólogo holandês E C Donders 18181889 que se inspirou em um intrigante problema colocado pela astrono mia como calcular a hora exata em que uma estrela estará em determ inada posição no céu Quando se vê uma estrela através de um telescópio poderoso parece que ela viaja a uma apreciável velocidade Os astrônomos que tentavam fazer medidas precisas tinham dificuldade em estimar a velocidade com a precisão de um a fração de segundo Um astrônomo ficava ouvindo o tiquetaque de um cronômetro que marcava segundos enquanto observava a estrela e contava os tiques Quando a estrela cruzava uma linha marcada no telescópio o momento de trânsito o astrônomo anotava mentalmente sua posição no momento do tique im ediatamen te anterior e imediatamente posterior ao trânsito e depois estimava a fração da Compreender o behaviorismo 21 distância entre as duas posições que ficava entre a posição imediatamente anterior ao trânsito e a linha O problem a era que diferentes astrônomos observando o mesmo momento de trânsito chegavam a diferentes estimativas de tempo Os as trônomos tentaram solucionar o problema gerado por essa variação calculando uma equação para cada astrônomo a chamada equação pessoar que computaria o tempo correto a partir das estimativas de tempo feitas por um dado astrônomo Donders raciocinou que as estimativas de tempo variavam porque não havia dois astrônomos que levassem o mesmo tempo para julgar o momento exato do trânsito acreditando que estariam chegando a seu julgamento através de diferen tes processos mentais Pareceu a Donders que esse tempo de julgamento poderia ser uma medida objetiva útil Começou a fazer experimentos em que media o tem po de reação das pessoas o tempo exigido para detectar uma luz ou um som e então apertar um botão Descobriu que as pessoas consistentemente levavam mais tempo para escolher o botão correto dentre dois botões quando uma ou outra de duas luzes aparecia do que para apertar um único botão quando uma única luz aparecia Donders argum entou que subtraindo o tempo de reação simples mais curto do tempo de reação de escolha mais longo poderia medir objetivamente o processo mental de escolha Isso era um grande avanço sobre a introspecção por que significava que os psicólogos podiam fazer experimentos de laboratório com os mesmos métodos objetivos utilizados pelas outras ciências Outros psicólogos desenvolveram outros métodos que pareciam medir os pro cessos mentais de forma objetiva Gustav Fechner 18011887 tentou medir a in tensidade subjetiva da sensação desenvolvendo uma escala que se baseava na dife rença apenas perceptível a menor diferença física entre duas luzes ou sons que uma pessoa conseguia detectar Hermann Ebbinghaus 18501909 mediu o tempo que ele próprio levava para aprender e depois reaprender listas de sílabas sem sentido combinações de consoantevogalconsoante sem nenhum significado a fim de produzir medidas de aprendizagem e de memória Outros utilizaram o mé todo desenvolvido por I R Pavlov 18491936 para estudo da aprendizagem e da associação através da m edida de um reflexo simples transferido para novos sinais apresentados no laboratório Essas tentativas traziam em comum a expectativa de que ao seguir métodos objetivos a psicologia poderia se transformar em uma ver dadeira ciência Psicologia comparativa Ao mesmo tempo que os psicólogos tentavam fazer da psicologia uma ciência objeti va a teoria da evolução estava tendo um efeito profundo sobre essa disciplina Os seres humanos não eram mais vistos como entes à parte separados das outras coisas vivas Começavase a reconhecer que compartilhamos com antropóides macacos cães e até peixes não somente traços anatômicos mas também muitos traços comportamentais N de T Apes no original Grupo de símios que compreende orangotangos gorilas e chimpanzés entre outros 22 Williom M Baum Assim nasceu a noção de continuidade da espécie a idéia de que mesmo sendo claramente diferentes entre si as espécies também se assemelham umas às outras à medida que compartilham a mesma história evolutiva A teoria de Darwin ensinou que novas espécies passaram a existir apenas como modificações de espé cies existentes Se evoluiu como qualquer outra nossa espécie deve então ter surgido como modificação de alguma outra Ficava fácil ver que nós e os antropóides tínhamos ancestrais comuns que antropóides e macacos tinham ancestrais comuns que macacos e musaranhos tinham ancestrais comuns que musaranhos e répteis tinham ancestrais comuns e assim por diante Todas as razões levavam a esperar que assim como podíamos ver as origens de nossos traços anatômicos em outras espécies poderíamos também ver as ori gens de nossos próprios traços mentais Presumiase naturalm ente que nossos traços mentais apareceriam em outras espécies sob formas mais simples ou rudi mentares mas a idéia de fazer comparações entre espécies a fim de conhecer me lhor a nossa própria deu origem à psicologia comparativa Tornaramse comuns as comparações entre outras espécies e a nossa O pró prio Darwin escreveu um livro chamado The expression of the emotions in men and animais No início as provas de existência de uma mentalidade aparentemente humana nos outros animais consistiam em observações casuais de criaturas selva gens e domésticas observações essas que muitas vezes não passavam de relatos anedóticos sobre bichos de estimação ou animais de criação Com um pouco de imaginação seria possível imaginar um cão que aprendeu a abrir o portão do jar dim levantando o trinco depois de observar o exemplo de seu dono e raciocinar sobre ele Além disso seria possível imaginar que as sensações os pensamentos e os sentimentos do cachorro deveriam ser semelhantes aos nossos e assim por dian te George Romanes 18481894 levou esse raciocínio a sua conclusão lógica che gando a defender que nossa própria consciência deve servir de base a nossasconje turas sobre uma eventual tênue consciência que ocorra digamos em formigas Essa forma de humanizar a besta ou antropomorfismo soou especulativa demais para alguns psicólogos No final do século XIX e no início do século XX os psicólogos comparativos começaram a substituir as vagas informações anedóticas por observações rigorosas conduzindo experimentos com animais Muitas dessas primeiras pesquisas basearamse em labirintos visto que qualquer criatura que se movimente desde o ser humano até o rato o peixe ou a formiga pode ser adestra da na resolução de um labirinto Era possível contar o tempo que a criatura levava para atravessar o labirinto e o número de erros que cometia assim como o declínio no tempo e nos erros à medida que o labirinto era dominado Em sua tentativa de humanizar a besta esses primeiros pesquisadores freqüentemente acrescentavam especulações sobre estados mentais pensamentos e emoções dos animais Diziase por exemplo que os ratos manifestavam aborrecimento ao fazer um erro ou mos travam confusão hesitação confiança e assim por diante O problema dessas afirmações sobre consciência animal era ficarem muito à mercê de vieses individuais Se duas pessoas ao fazerem uma introspecção po diam discordar se estavam se sentindo irritadas ou tristes com mais razão duas pessoas discordariam sobre um rato sentirse irritado ou triste Dado o caráter sub jetivo das observações a discordância não poderia ser resolvida através de outros Compreender o behaviorismo 23 experimentos Pareceu claro a John B Watson 18791958 o fundador do behavio rismo que como método científico as inferências sobre consciência em animais eram ainda menos confiáveis do que a introspecção e que nenhuma das duas poderia servir como m étodo para uma verdadeira ciência A primeira versão do behaviorismo Em 1913 Watson publicou o artigo Psychology as the behaviorist views it que rapidam ente foi tom ado como manifesto do incipiente behaviorismo Guiado pela psicologia objetiva Watson articulou a crescente insatisfação dos psicólogos com a introspecção e a analogia como métodos Queixavase de que a introspecção ao contrário dos métodos utilizados pela física e pela química era excessivamente dependente do indivíduo Se você não conseguir reproduzir meus dados é porque sua introspecção não foi bem treinada Atacase o observador e não a situação experimental Na física e na química atacamse as condições experimentais Dizse que o equipamento não era suficientemente sensível que foram usadas substâncias químicas impu ras etc Nessas ciências uma técnica melhor fornecerá resultados passíveis de reprodução Na psicologia é diferente Se você não consegue observar de 3 a 9 estágios de clareza na atenção é sua introspecção que é deficiente Se por outro lado um sentimento parece razoavelmente claro para você sua introspecção e culpada de novo Você está vendo demais Os sentimentos nunca são claros Watson 1913 p 163 Também não eram confiáveis as analogias entre animais e seres humanos Watson se queixava de que a ênfase na consciência o obrigava à absurda situação de tentar construir o conteúdo da mente do animal cujo com portamento vínhamos estudando Nessa perspectiva depois de ter demonstrado a capacidade de aprender de nosso animal a simplicidade ou complexidade de seus métodos de aprendizagem o efeito de hábitos passados sobre respostas pre sentes a faixa de estímulos aos quais normalmente responde a faixa ampliada aos quais pode responder sob condições experimentais em termos mais genéri cos seus vários problemas e as várias formas de resolvêlos ainda deveríamos achar que a tarefa está inacabada e que os resultados são inúteis até que possa mos interpretálos por analogia àluz da consciência sentimonos obrigados a dizer alguma coisa sobre os possíveis processos mentais de nosso animal Dize mos que não tendo olhos sua corrente de consciência não pode conter sensa ções de brilho e cor tal como as conhecemos não tendo papilas gustativas essa corrente não pode conter sensações de doce azedo salgado e amargo Mas por outro lado dado que efetivamente ele responde a estímulos térmicos tácteis e orgânicos o conteúdo de sua consciência deve ser constituído em larga escala por essas sensações Com certeza é possível demonstrar a falsidade dc uma doutrina como essa que requer uma interpretação analógica de todos os dados comportamcntais Watson 1913 p 159160 24 William M Baum Os psicólogos se emaranharam nesses esforços infrutíferos argumentou Watson porque definiram a psicologia como ciência da consciência Essa definição era res ponsável pelos métodos pouco confiáveis e pelas especulações infundadas Era res ponsável pela incapacidade da psicologia de se tornar um a verdadeira ciência Em vez disso escrevia Watson a psicologia deveria ser definida como ciência do comportamento Descreveu sua decepção quando ao ver a psicologia definida no início de um livro de Pillsbury como ciência do comportamento descobriu que depois de umas poucas páginas o texto parava de se referir a comportamento e em vez disso voltava ao tratamento convencional da consciência Reagindo Watson escreveu Acredito que podemos compor uma psicologia definila como Pillsbury e jam ais renunciar a nossa definição nunca usar os termos consciência estados mentais mente conteúdo verificável introspectivamente imagens e coisas pareci das Watson 1913 p 166 Evitar os termos relacionados à consciência e à mente deixaria a psicologia livre para estudar o comportamento humano e animal Se a continuidade da espé cie podia levar à humanização da besta podia da mesma forma levar ao oposto bestialização do ser humano se idéias sobre seres humanos pudessem ser apli cadas a animais então princípios desenvolvidos através do estudo de animais po deriam ser aplicados a seres humanos Watson contestou o antropocentrismo Alu diu ao biólogo que ao estudar a evolução coleta dados a partir do estudo de muitas espécies de plantas e animais e tenta elaborar as leis da hereditariedade do tipo específico sobre o qual está conduzindo os experimentos Não é justo dizer que todo o seu trabalho é dirigido para a evolução humana ou que deva ser interpretado em termos da evolução hum ana Watson 1913 p 162 Para Watson era daro que o caminho era fazer da psicologia um a ciência geral do comporta mento que compreendesse todas as espécies e na qual os seres humanos seriam apenas mais uma Essa ciência do comportamento idealizada por Watson não usaria nenhum dos termos tradicionais referentes à mente e à consciência evitaria a subjetividade da introspecção e as analogias entre o animal e o humano e estudaria apenas o comportamento objetivamente observável No entanto mesmo no tempo de Watson os behavioristas discutiam a propriedade dessa receita Não era claro o que objetivo queria dizer ou em que consistia precisamente o comportamento Como esses ter mos ficaram abertos à interpretação as idéias dos behavioristas sobre o que cons titui ciência e como definir comportamento divergiram ao longo dos anos O mais conhecido behaviorista pósWatson é B E Skinner 19041990 Suas idéias a respeito de como chegar a uma ciência do comportamento mostram um nítido contraste com a visão da maior parte dos outros behavioristas Enquanto a principal preocupação dos outros eram os métodos das ciências naturais ade Skinner foi a explicação científica Sustentou que o caminho para uma ciência do compor tam ento estava no desenvolvimento de termos e conceitos que permitissem expli cações verdadeiramente científicas Rotulou a visão oposta de behaviorismo meto dológico e chamou sua própria posição de behaviorismo radical Falaremos mais sobre ambos nos Capítulos 2 e 3 Compreender o behaviorismo 25 Quaisquer que sejam suas divergências todos os behavioristas concordam com as premissas básicas de Watson é possível criar uma ciência natural do com portamento e a psicologia pode ser essa ciência Essa idéia central desperta contro vérsias análogas à reação contra a explicação naturalista de Darwin para a evolu ção Se Darwin agrediu ao deixar de fora a mão oculta de Deus os behavioristas agridem ao deixar de fora outra força oculta o poder das pessoas governarem seu próprio comportamento Assim como a teoria darwiniana desafiou a venerada no ção de um Deus criador o behaviorismo desafia a venerada noção de livrearbítrio Como esse desafio freqüentemente suscita antagonismos a ele passaremos agora LIVREARBÍTRIO ItfffStS DETERMINISMO Definições Na idéia de que é possível uma ciência do comportamento está implícito que o comportamento como qualquer objeto de estudo científico é ordenado pode ser explicado pode ser previsto desde que se tenham os dados necessários e pode ser controlado desde que se tenham os meios necessários Chamase a isso determinismo a noção de que o comportamento é determinado unicamente pela hereditariedade e pelo ambiente Muita gente faz objeções ao determinismo Ele parece ir contra tradições cul turais de longa data que atribuem a responsabilidade pelos atos ao indivíduo e não à hereditariedade e ao ambiente Essas tradições mudaram um pouco a res ponsabilidade pela delinqüência é atribuída a um mau ambiente artistas famosos expressam reconhecimento a pais e professores e admitese que alguns traços comportamentais tais como o alcoolismo a esquizofrenia a lateralidade e o QI tenham um componente genético Entretanto permanece a tendência de atribuir crédito e culpa às pessoas de afirmar que há no comportamento algo mais do que hereditariedade e ambiente que as pessoas têm liberdade para escolher o curso de suas ações O nome que se dá à capacidade de escolha é livrearbítrio O livrearbítrio supõe um terceiro elemento além da hereditariedade e do ambiente supõe algo dentro do indivíduo Afirma que apesar da herança e dos impactos ambientais uma pessoa que se comporta de dada forma poderia ter escolhido comportarse de outra maneira Afirma algo além do mero sentimento de ser capaz de escolher poderia m e parecer que sou capaz de tomar ou não tomar um sorvete e no entan to meu ato de tomar sorvete poderia ser inteiramente determinado por eventos passados O livrearbítrio afirma que a escolha não é uma ilusão que são as próprias pessoas que causam o comportamento Filósofos tentaram conciliar o determinismo e o livrearbítrio Propuseram para o livrearbítrio teorias chamadas de determinismo brando e teorias compatibilizadoras Um tipo de determinismo brando por exemplo atribuído a 26 William M Baum Donald Hebb psicólogo behaviorista ver Sappington 1990 defende que o livre arbítrio consiste em comportamento que depende da hereditariedade e da história ambiental fatores menos visíveis do que o ambiente atual do indivíduo Mas como esse ponto de vista ainda considera que o comportamento resulta unicamente da herança e do meio passado e presente deixa implícito que o livrearbítrio é apenas uma experiência uma ilusão e não um a relação causal entre pessoa e ação A teoria compatibilizadora de livrearbítrio proposta pelo filósofo Daniel Dennett define o livrearbítrio como deliberação antes da ação Dennett 1984 Desde que eu delibere sobre tomar o soivete Será que este sorvete vai me engordar Será que posso compensar as calorias ingeridas fazendo exercício Posso ser feliz se estou sempre fazendo regime meu ato de tomar o sorvete é escolhido livremente Isso é compatível com o determinismo porque a própria deliberação é um comporta m ento que pode ser determinado pela hereditariedade e pelo ambiente passado Se a deliberação tem algum papel no comportamento que a segue estaria funcio nando apenas como um elo em um a cadeia de causalidade que remonta a outros eventos no passado Entretanto essa definição não se conforma ao que as pessoas convencionalmente chamam de livrearbítrio Os filósofos chamam a idéia convencional de livrearbítrio a idéia de que a escolha realmente pode ser independente dos eventos passados de livrearbítrio libertário Qualquer outra definição compatível com o determinismo como as de Hebb e de Dennett não apresenta problemas para o behaviorismo ou para uma ciência do comportamento Apenas o livrearbítrio libertário entra em conflito com o behaviorismo A história desse conceito nas teologias judaica e cristã sugere que ele existe precisamente para negar o tipo de determinismo que o behaviorismo representa Abandonando os filósofos portanto vamos nos referir ao livrearbítrio libertário como livrearbítrio Argumentos pró e contra o livrearbítrio Para provar o livrearbítrio em outras palavras contestar o determinismo seria necessário que embora se conhecessem todos os possíveis fatores determinantes de um ato a consumação desse ato assumisse sentido contrário ao previsto Como na prática esse conhecimento perfeito é impossível o conflito entre determinismo e livrearbítrio nunca poderá ser resolvido por demonstração Pode parecer que crianças de classe média e lares saudáveis que se tornam dependentes de drogas escolheram livremente esse caminho porque não há nada em sua história que possa explicálo mas o determinista insistirá que investigações adicionais revela rão os fatores genéticos e ambientais que levaram a essa dependência Pode pare cer que a carreira musical de Mozart seria inteiramente previsível a partir de seu histórico familiar e da forma como a sociedade vienense funcionava em sua época mas o defensor do livrearbítrio sustentará que o pequeno Wolfgang escolheu livre m ente agradar seus pais com seu trabalho musical ao invés de ficar se entretendo com brinquedos como as outras crianças Já que a persuasão pela prova é impossí Compreender o behaviorismo 27 vel então a aceitação do determinismo ou do livrearbítrio deve depender das conseqüências dessa crença e essas conseqüências podem ser sociais ou estéticas Argumentos sociais Na prática temse a impressão de que a negação do livrearbítrio poderia solapar toda a estrutura moral de nossa sociedade Que acontecerá a nosso sistema judiciá rio se as pessoas não puderem ser consideradas responsáveis por seus atos Já começamos a ter problemas com a alegação feita por criminosos de insanidade ou de incapacidade mental Se as pessoas não têm livrearbítrio que será de nossas instituições democráticas Por que se dar ao trabalho de fazer eleições se a escolha entre os candidatos não é livre A crença de que o comportamento das pessoas é determ inado poderia encorajar ditaduras Por essas razões talvez seja bom e útil acreditar no livrearbítrio mesmo que ele não possa ser demonstrado Os behavioristas têm de levar em consideração esses argumentos caso con trário o behaviorismo corre o risco de ser rotulado como uma doutrina perniciosa Trataremos deles na Parte Três quando discutiremos liberdade política social e valores Agora faremos um breve apanhado que dará uma idéia da direção geral que será tom ada mais adiante A percepção de ameaça à democracia deriva de um pressuposto falso Embora seja verdadeiro que a democracia se baseia na escolha é falso que a escolha se torna sem sentido ou impossível se não houver livrearbítrio A idéia de que a esco lha desapareceria provém de um a noção excessivamente simplista da alternativa ao livrearbítrio Se em um a eleição uma pessoa puder votar de duas formas o voto que de fato ocorrer dependerá não apenas de sua história a longo prazo pro veniência educação familiar valores mas também de eventos imediatemente an teriores à eleição As campanhas eleitorais existem precisamente por essa razão Posso m udar de lado em função de um bom discurso sem o qual eu votaria em outro candidato Para que uma eleição tenha sentido as pessoas não precisam ser livres basta apenas que seu comportamento esteja aberto à influência e persuasão determinantes ambientais de curto prazo Somos favoráveis à democracia não porque tenhamos livrearbítrio mas por que achamos que como conjunto de práticas ela funciona Em uma sociedade democrática as pessoas são mais felizes e mais produtivas do que sob qualquer monarquia ou ditadura conhecidas Em vez de nos preocuparmos com a perda do livrearbítrio podemos com maior proveito nos perguntar o que tem a democra cia que a faz superior Se pudermos analisar nossas instituições democráticas de forma a descobrir o que as faz funcionar poderemos talvez encontrar maneiras de tornálas ainda mais eficientes A liberdade política consiste em algo mais prático do que o livrearbítrio significa ter opções disponíveis e ser capaz de afetar o comportamento daqueles que governam Uma compreensão científica do compor tam ento poderia ser usada para aumentar a liberdade política Dessa forma o conhecimento advindo de uma ciência do comportamento estaria a serviço de um bom uso não é necessário que haja abuso E no fim das contas se realmente 28 William M Baum possuímos o livrearbítrio presumivelmente ninguém precisa se preocupar de qual quer maneira com o uso desse conhecimento E sobre a moral As teologias judaica e cristã incorporaram o livrearbítrio como meio de salvação Sem esses ensinamentos será que as pessoas ainda serão boas Uma forma de responder a essa questão é olhar para a parte da humanidade de longe majoritária que não tem esse compromisso com a noção de livrearbítrio Será que os budistas e hinduístas da China Japão e índia se comportam de forma menos ética Em nossa própria sociedade a ascensão da instrução pública vem deslocando cada vez mais para as escolas a educação moral que antes se dava na igreja e no lar À medida que nos apoiamos mais nas escolas para produzir bons cidadãos a análise comportamental já está contribuindo Não há razão pará que a ciência do comportamento não seja utilizada para transformar crianças em cida dãos bons felizes e eficientes Quanto ao sistema judiciário ele existe para lidar com nossos fracassos e não é preciso encarar a justiça como uma questão puram ente moral Sempre precisare mos considerar as pessoas responsáveis por seu comportamento no sentido prá tico de que os atos são atribuídos a indivíduos Estabelecido o fato de que houve um a transgressão então surgem problemas práticos relativos a como proteger a sociedade do transgressor e a como tornar improvável que essa pessoa se comporte da mesma forma no futuro Colocar o criminoso na cadeia já se mostrou de duvido sa valia Uma ciência do comportamento poderia ajudar tanto na prevenção como no tratamento mais eficiente da criminalidade Argumentos estéticos Os críticos da noção de livrearbítrio muitas vezes apontam sua falta de lógica Mesmo teólogos que promoveram essa idéia se embaraçaram com o paradoxo de seu conflito com um Deus onipotente Santo Agostinho foi claro se Deus faz tudo e sabe tudo antes de acontecer como pode alguém fazer alguma coisa livremente Da mesma forma que no determinismo natural se Deus determina todos os even tos inclusive nossos atos então é apenas nossa ignorância no caso da vontade de Deus que nos permite a ilusão do livrearbítrio A solução teológica comum é chamar o livrearbítrio de mistério de alguma forma Deus nos dá o livrearbítrio apesar de Sua onipotência Essa resposta é insatisfatória porque afronta a lógica e não resolve o paradoxo Em seu conflito com o determinismo divino ou natural o livrearbítrio parece ser função da ignorância Na verdade podese argum entar que o livrearbítrio é simplesmente um nome para a ignorância dos determinantes do comportamento Quanto mais sabemos das razões que estão por trás dos atos de um a pessoa tanto menos nos inclinamos a atribuir esses atos ao livrearbítrio Se um garoto que rou ba carros vem de um meio pobre tendemos a atribuir seu comportamento ao meio e quanto mais sabemos do abuso e da negligência que ele sofreu por parte de sua família e da sociedade menos provável se torna que afirmemos que sua escolha foi livre Quando sabemos que um político foi subornado não mais achamos que ele pode assumir posições políticas livremente Quando ficamos sabendo que um artis Compreender o behaviorismo 29 ta recebeu o apoio dos pais e teve um grande professor sentimos menos admiração por seu talento O outro lado desse argumento é que independente de quanto se saiba ainda assim não se pode prever exatamente o que uma pessoa fará em determinada situa ção Essa imprevisibilidade é às vezes considerada prova de livrearbítrio Entre tanto o clima é também imprevisível mas nunca olhamos para ele como produto de livrearbítrio Há muitos sistemas naturais cujo comportamento momentâneo não podemos prever mas nunca os consideramos livres Fixaríamos para a ciência do comportamento um padrão superior ao das outras ciências naturais Além dis so o erro lógico envolvido é fácil de detectar 0 livrearbítrio realmente implica imprevisibilidade mas de forma alguma isso exige o inverso ou seja que a imprevisibilidade implique livrearbítrio De certa forma deveria até ser falso que o livrearbítrio implique imprevisibi lidade Meus atos podem ser imprevisíveis para outra pessoa mas se meu livre arbítrio pode causar meu comportamento eu devo saber perfeitamente bem o que vou fazer Isso exige que eu conheça minha vontade pois é difícil ver como uma vontade desconhecida poderia ser livre Se decido fazer regime e sei que essa é m inha vontade então devo prever que continuarei com o regime Se conheço mi nha vontade e minha vontade causa meu comportamento deveria ser capaz de prever meu comportamento de forma perfeita A noção de que o livrearbítrio causa o comportamento levanta também um espinhoso problema metafísico Como um evento nãonatural como o livrearbí trio pode causar um evento natural como tomar sorvete Eventos naturais podem levar a outros eventos naturais porque podem estar relacionados um com o outro no tempo e no espaço Uma relação sexual leva a um bebê cerca de nove meses depois A frase leva a deixa implícito que a causa pode ser localizada no tempo e no espaço Por definição entretanto coisas nãonaturais não podem ser localizadas no tempo e no espaço Se pudessem seriam naturais Como então um evento nãonatural pode levar a um evento natural Quando e onde o querer ocorre de modo a me levar a tom ar sorvete Outra versão desse problema é o problema mentecorpo que nos ocupará no Capítulo 3 A nebulosidade dessas conexões hipotéticas conduziu ao Hypotheses nonfingo de Newton A ciência admite enigmas nãoresolvidos porque um enigma pode ao final renderse a novos pensamentos e experimentos mas a conexão entre o livrearbítrio e a ação não pode sèr elucidada dessa forma E um mistério O objetivo da ciência de explicar o mundo exclui mis térios que não possam ser desvendados A natureza misteriosa do livrearbítrio por exemplo vai contra a teoria da evolução Primeiro há o problema da descontinuidade Se falta livrearbítrio aos animais como foi que ele subitamente apareceu em nossa espécie Teria de ter sido prenunciado em nossos ancestrais nãohumanos Segundo mesmo que os ani mais pudessem ter livrearbítrio como poderia uma coisa tão pouco natural ter evoluído Os traços naturais evoluem por modificação de outros traços naturais Podese até imaginar a evolução de um sistema mecânico natural que se compor tasse imprevisivelmente de tempos em tempos Mas não há como conceber uma forma pela qual a evolução natural resultasse em um livrearbítrio nãonatural Talvez seja esse um poderoso motivo para a oposição de certos grupos religiosos à 30 Williom M Boum teoria da evolução inversamente é um motivo igualmente poderoso para excluir o livrearbítrio das explicações científicas do comportamento Com efeito toda a razão por que apresentamos esses argumentos contra o livrearbítrio é realmente mostrar que abordagens científicas do comportamento que excluem o livrearbítrio são possíveis Os argumentos visam defender a ciência do comportamento contra a suposição de que o comportamento hum ano não pode ser compreendido porque as pessoas têm livrearbítrio A análise do comportamen to evita o uso do conceito em arenas em que ele tem conseqüências infelizes como no sistema judiciário Capítulo 10 e no governo Capítulo 11 A análise do com portamento omite o livrearbítrio mas não impõe proibições ao uso do conceito no discurso cotidiano ou nas esferas da religião poesia e literatura sacerdotes poetas e escritores falam com freqüência de livrearbítrio e escolhas livres Uma ciência do comportamento poderia pretender explicar essas falas mas de nenhum a maneira proibilas Neste livro de todo modo exploramos como compreender o comporta mento sem conceitos misteriosos como livrearbítrio RESUMO Todos os behavioristas concordam que é possível uma ciência do comportamento que veio a ser chamada de análise comportamental Apropriadamente o behavio rismo é visto como a filosofia dessa ciência Todas as ciências se originaram da filosofia e dela se separaram A astronomia e a física surgiram quando os cientistas passaram da especulação filosófica à obser vação Ao fazêlo abandonaram qualquer preocupação com coisas sobrenaturais observando o universo natural e explicando os eventos naturais por referência a outros eventos naturais Da mesma forma a química separouse da filosofia quan do abandonou a idéia de essências internas e ocultas como explicação dos eventos químicos Ao se tornar ciência a fisiologia abandonou a vis viva em prol de explica ções mecanicistas sobre o funcionamento do corpo A teoria da evolução de Darwin foi percebida em grande medida como um ataque à religião porque se propunha a explicar a criação de formas de vida apenas com eventos naturais e sem a mão sobrenatural de Deus A psicologia científica também nasceu da filosofia e talvez ainda esteja se separando dela Dois movimentos promoveram essa ruptura a psi cologia objetiva e a psicologia comparativa A psicologia objetiva enfatizou a obser vação e a experimentação métodos que caracterizavam as outras ciências A psico logia comparativa enfatizou a origem comum de todas as espécies inclusive seres humanos na seleção natural e ajudou a promover explicações puram ente naturais acerca do comportamento humano John B Watson que fundou o behaviorismo adotou o caminho da psicologia comparativa Atacou a idéia de que a psicologia era a ciência da mente mostrando que nem a introspecção nem analogias com a consciência animal produziam os resultados confiáveis obtidos pelos métodos de outras ciências Sustentou que so mente através do estudo do comportamento poderia a psicologia atingir a confia bilidade e a generalidade necessárias para se tomar uma ciência natural Compreender o behaviorismo 31 A idéia de que o comportamento pode ser tratado cientificamente continua controversa porque desafia a noção de que ele provém da livre escolha do indiví duo Promove o determinismo segundo o qual todo o comportamento se origina da herança genética e de eventos ambientais O termo livrearbítrio designa a su posta capacidade que têm as pessoas de escolher seu comportamento livremente sem levar em conta a herança ou o ambiente O determinismo afirma que o livre arbítrio é uma ilusão fundada na ignorância dos fatores que determinam o compor tamento Como um a versão branda do determinismo e as teorias compatibilizadoras defendem a idéia de que o livrearbítrio é apenas uma ilusão não representam uma objeção à ciência do comportamento Apenas o livrearbítrio libertário a idéia de que as pessoas realm ente possuem a capacidade de se comportar da forma que escolheram adotada pelo judaísmo e pelo cristianismo entra em conflito com o determinismo Como a disputa entre determinismo e livrearbítrio não pode ser resolvida através de provas o debate acerca de qual desses dois pontos de vista é correto se apóia em argumentos relativos às conseqüências sociais e estéticas da adoção de um a ou de outra Os críticos do determinismo argumentam que a crença no livrearbítrio é ne cessária à preservação da democracia e da moralidade em nossa sociedade Os behavíoristas argum entam que provavelmente o oposto é que é verdadeiro uma abordagem comportamental de problemas sociais pode aperfeiçoar a democracia e favorecer o comportam ento ético Quanto à estética os críticos do livrearbítrio observam que ele é ilógico quando associado à noção de um Deus onipotente como geralmente o é Quer um ato seja atribuído a eventos naturais ou à vontade de Deus ainda assim ele não pode pela lógica ser atribuído ao livrearbítrio do indi víduo Os defensores do livrearbítrio retrucam que dado que os cientistas nunca podem prever em detalhe as ações de um indivíduo o livrearbítrio permanece possível ainda que seja um mistério Os behavioristas respondem que é precisa mente sua natureza misteriosa que o torna inaceitável porque levanta o mesmo problema que outras ciências tiveram de superar como uma causa nãonatural pode levar a eventos naturais Os behavioristas dão a mesma resposta que as ou tras ciências deram os eventos naturais provêm somente de outros eventos natu rais Essa visão científica do comportamento argumenta contra a aplicação da idéia de livrearbítrio à justiça e ao governo contextos em que ela produz escassas con seqüências para a sociedade mas permanece neutra e poderia explicar a respeito do uso da idéia no discurso cotidiano na religião na poesia e na literatura LEITURAS ADICIONAIS Boakes R A 1984 From Darwin to behaviorism psychology and the minds of animals Cambridge Cambridge University Press Excelente avaliação histórica dos primórdios do behaviorismo Dennett D C 1984 Elbow room the varieties of free will worth wanting Cambridge Mass MIT Press Inclui uma discussão completa do tópico do livrearbítrio e um exemplo de uma teoria eompatibilizadora 32 William M Boum Sappington A A 1990 Recent psychological approaches to the free will versus determi nism issue Psychological Bulletin 108 1929 Esse artigo contém um útil sumário das várias posições Watson J B 1913 Psychology as the behavioríst views it Psychological Review 20 158 177 Watson expõe suas idéias originais nesse artigo clássico Zuriff G E 1985 Behaviorism a conceptual reconstruction Nova York Columbia University Press Esse livro é um compêndio e um debate do pensamento de vários behavioristas do começo do século XX até cerca de 1970 TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPITULO 1 Análise comportamental Antropomorfismo Behaviorismo metodológico Behaviorismo radical Calórico Continuidade da espécie Determinismo Diferença apenas perceptível Dualismo Flogisto Introspecção Livrearbítrio libertário Psicologia comparativa Psicologia objetiva Psyche Tempo de reação Vis viva 2 0 behaviorismo como filosofia da ciência A idéia de que pode haver uma ciência do comportamento é ilusivamente sim pies Ela leva a duas questões espinhosas A primeira é O que é ciência Essa pergunta pode evocar uma resposta do tipo Ciência é o estudo do universo natu ral A resposta porém dá origem a outras perguntas O que torna algo natural O que está implícito em estudo Se reformularmos a pergunta para O que diferencia a ciência de outros empreendimentos humanos como a poesia e a reli gião um a possível resposta seria a de que a ciência é objetiva Mas o que é ser objetivo A segunda questão é O que confere caráter científico ao estudo do compor tam ento A resposta depende de como respondemos à primeira questão Talvez o comportamento seja parte do universo natural Talvez haja algo de único na manei ra como falaríamos sobre o comportamento de um ponto de vista científico Este capítulo dará enfoque à primeira questão O tema principal do Capítulo 3 será a segunda questão embora a resposta completa à pergunta sobre o que signi fica estudar cientificamente o comportamento seja expandida no restante do livro As idéias dos behavioristas radicais sobre ciência diferem das idéias dos pri meiros behavioristas assim como também diferem das posições de muitos pensa dores anteriores âo século XX O behaviorismo radical se conforma à tradição filo sófica conhecida como pragmatismo enquanto os pontos de vista anteriores eram derivados do realismo 34 Wiiliom M Baum REALISMO VERSUS PRAGMATISMO Realismo Enquanto visão de mundo o realismo é tão difundido na civilização ocidental que muitos o aceitam sem questionamentos Ele representa a idéia de que as árvores as rochas as construções as estrelas e as pessoas que eu vejo estão lá realmente que há um mundo real fora do sujeito que dá origem a nossas experiências Se dou as costas para uma árvore acredito que ao m e virar eu a verei novamente Parece senso comum que a árvore é parte do mundo real fora de mim enquanto minha experiência da árvore minhas percepções meus pensamentos e sentimentos estão dentro de mim Essa noção aparentemente simples envolve duas pressuposições que não são tão simples Primeiro esse mundo real parece estar de algum modo lá fora em contraste com a nossa experiência que parece estar de algum modo aqui dentro Segundo nossas experiências são experiências do mundo real elas existem à parte do mundo propriamente dito Como veremos adiante ambas as suposições podem ser questionadas com resultados importantes Como no caso do livrearbítrio e do determinismo os filósofos escreveram bastante sobre o realismo Distinguiram diversas versões do realismo A descrição do parágrafo anterior não corresponde a nenhum a versão filosófica Estaria próxi m a do ponto de vista que os filósofos chamam de realismo ingênuo que sustenta que a existência de um objeto subsiste separadamente de nossá percepção dele Uma vez que isso é parte da visão do comportamento que herdamos ao crescer na cultura ocidental muitas vezes chamada de psicologia popular poderíamos chamar isso de realismo popular A noção cotidiana de que a estabilidade de nossa experiência do mundo que a árvore ainda está lá quando eu me volto deriva de sua realidade vamos nos referir simplesmente como realismo 0 üiiVerso objetivo A origem do pensamento científico é atribuída a vários filósofos gregos que vive ram no século VI aC Um deles Tales propôs uma visão do universo que se dife renciava fundamentalmente da perspectiva babilónica amplamente aceita em seu tempo segundo a qual o deus Marduk havia criado o universo e continuava a governar todos os acontecimentos Tales propôs que o Sol a Lua e as estrelas moviam se mecanicamente através do céu durante o dia e à noite moviamse ao redor da Terra plana retornando a suas posições no leste para se elevarem novamente na manhã seguinte Farrington 1980 A despeito de quão distantes essas idéias pos sam parecer em relação às que temos hoje a versão de Tales sobre o universo foi útil Farrington 1980 p 37 comenta que É um começo admirável cujo ponto principal é organizar em uma descrição coerente diversos fatos observados sem introduzir o deus Marduk Em outras palavras Tales propôs que o universo é um mecanismo compreensível Compreender o behaviorismo 35 No contexto do realismo um mecanismo compreensível significa um meca nismo real que existe fora do sujeito e que vimos a conhecer à medida que o estudamos Seu caráter compreensível significa que à medida que o conhecemos melhor esse universo mecânico se faz menos enigmático Sua existência fora do sujeito tornao objetivo isto é independentemente de como nossas concepções sobre ele se alterem o universo permanece exatamente como é Descoberta e verdade O realismo supõe uma certa visão sobre a descoberta científica e a verdade Se há um universo objetivo que podemos conhecer então é apropriado dizer que quan do estudamos cientificamente o universo descobrimos coisas sobre ele Se puder mos descobrir algo a respeito de como funciona o universo então podemos dizer que descobrimos a verdade a seu respeito Dessa perspectiva pouco a pouco des coberta por descoberta alcançamos toda a verdade sobre o modo como o universo funciona Dados sensoríais e subjetividade Para o realista nossa aproximação da verdade é lenta e incerta porque não pode mos estudar o mundo objetivo diretamente Temos contato direto apenas com o que nossos sentidos produzem O filósofo George Berkeley 16851753 levou em consideração essa condição indireta para lançar dúvidas sobre a presunção de que o mundo está realmente lá Ele escreveu em um ensaio intitulado Principies of human knowledge E realmente uma opinião estranhamente predominante entre os homens que casas montanhas rios e em uma palavra todos os objetos sensíveis têm uma existência natural ou real distinta de sua percepção pelo entendimento ainda assim qualquer um que decida questionála perceberá se eu não estiver enganado que ela envolve uma contradição manifesta Pois o que são os objetos acima mencionados senão as coisas que percebemos pelos sentidos E o que per cebemos além de nossas próprias idéias ou sensações Burtt 1939 p 524 Em outras palavras uma vez que não temos contato direto com o mundo real mas apenas com nossas percepções dele não temos nenhuma razão lógica para acreditar que o mundo realmente exista Embora alguns filósofos posteriores a Berkeley tenham partilhado seu ceticis mo sobre o realismo aceitando a idéia de que os objetos do mundo são apenas inferências os filósofos da ciência em geral tenderam a se alinhar com o realismo e trataram a questão colocada por Berkeley de modo diferente Bertrand Russell 18721970 por exemplo escrevendo no início do século XX substituiu as idéias 36 William M Boum e sensações de Berkeley pelo conceito de dados sensoriais Sugeriu que o cientista estuda os dados sensoriais para tentar conhecer o mundo real Os dados sensoriais estando dentro do sujeito são subjetivos mas constituem o meio de entender o mundo real fora do sujeito Explicação Na abordagem realista a explicação consiste na descoberta de como as coisas real mente são Uma vez conhecida a órbita da Terra em volta do Sol teremos explica do por cjue temos estações climáticas e por que a posição do Sol no céu muda como muda E como ter explicado o funcionamento do motor de um carro o eixo vira porque os pistões o empurram quando sobem e descem Para o realista as explicações diferem de meras descrições as quais apenas detalham como nossos dados sensoriais se organizam Descrições de mudanças na posição do Sol existiam muito antes que fosse amplamente aceita a idéia de que a Terra gira em torno do Sol em órbita elíptica A descrição só nos conta a aparência das coisas na superfície quando se descobre a verdade escondida no modo de funcionamento das coisas então os eventos que percebemos estão explicados Pragmatismo O realismo pode ser contrastado com o pragmatismo concepção desenvolvida por filósofos norteamericanos particularmente Charles Peirce 18391914 e William James 18421910 durante a segunda metade do século XIX e início do século XX A noção fundamental do pragmatismo é de que a força da investigação científica reside não tanto na descoberta da verdade sobre a maneira como o universo obje tivo funciona mas no que ela nos perm ite fazer daí o nome pragmatismo da mes ma raiz de prático Em particular a grande realização da ciência é que ela permite dar significado a nossa experiência ela torna nossa experiência compreensível Por exemplo permite compreender que a chuva cai não por causa de algum deus misterioso mas devido ao vapor dágua e às condições climáticas da atmosfera As vezes a ciência nos permite até mesmo prever e controlar o que acontecerá se tivermos os meios para tal Ouvimos as notícias sobre as condições climáticas por que nos são úteis tomamos antibióticos porque sabemos que eles combatem a infecção James 1974 apresentou o pragmatismo como um método para resolver con trovérsias e como uma teoria da verdade Ele assinalava que algumas questões nos levam apenas a argumentos infindáveis sem resultados satisfatórios O mundo é único ou múltiplo predestinado ou livre material ou espiritual algumas dessas noções podem ou não se mostrar adequadas e as discussões a respeito são infindáveis O método pragmático nesses casos é tentar interpretar cada noção identificando as respectivas conseqüências práticas Que diferença Compreender o behoviorismo 37 prática faria a alguém se esta noção e não aquela fosse verdadeira Se nenhuma conseqüência prática pode ser identificada então as alternativas significam do ponto de vista prático a mesma coisa e toda a disputa é inútil Sempre que uma disputa for séria devemos ser capazes de mostrar a diferença prática de um ou outro lado estar certo p 4243 Em outras palavras se a resposta a uma pergunta não promove uma mudança no modo de proceder da ciência isso significa que a própria pergunta é equivocada e não merece atenção James e Peirce consideravam que a questão sobre a existência fora do sujeito de um mundo real imutável e objetivo era uma dessas questões sobre as quais o debate é inútil James escreveu que nossa concepção acerca de um objeto consiste em seus efeitos práticos e nada mais que sensações devemos esperar dele e que reações devemos preparar 1974 p 43 O que importa sobre uma bicicleta é que eu a vejo a chamo pelo nome posso emprestála a um amigo posso andar nela eu mesmo O pragmatismo permanece agnóstico com relação à existência de uma bicicleta real por trás desses efeitos Com esse tipo de postura em relação às questões o pragmatismo traz implíci ta uma atitude especial com respeito à verdade das respostas Como teoria da verdade o pragmatismo equipara aproximadamente verdade com poder explicativo Se a pergunta sobre a existência de um universo real fora do sujeito é fútil então também é fútil perguntar sobre a existência de uma verdade final absoluta Em vez de pensar as idéias como simplesmente falsas ou verdadeiras James propunha que as idéias possam ser mais e menos verdadeiras Uma idéia é mais verdadeira do que outra se nos permite explicar e compreender mais de nossa experiência James coloca a questão deste modo qualquer idéia que nos permita navegar por assim dizer qualquer idéia que nos transporte com vantagem de qualquer parte de nossa experiência a qualquer outra ligando as coisas satisfatoriamente operando com segurança simplificando economizando trabalho é verdadeira só por isso é ver dadeira nessa medida é instrumentalmente verdadeira 1974 p 49 A idéia de que o Sol e as estrelas se movem em volta da Terra explicava apenas por que se movem no céu portanto é menos verdadeira do que a idéia de que a Terra descre ve uma órbita em torno do Sof ao girar sobre seu próprio eixo que também explica por que temos as estações climáticas De acordo com o pragmatismo porém ja mais saberemos se a Terra realmente gira em volta do Sol é concebível que uma outra teoria mais verdadeira possa surgir Em defesa de seu ponto de vista James assinalou que na prática todas as teorias científicas são aproximações Raramente se é que jamais uma teoria expli ca todos os fatos da experiência Em vez disso freqüentemente uma teoria dá con ta de um conjunto de fenômenos enquanto outra teoria lida melhor com outro conjunto James escreveu e tantas formulações rivais são propostas em todos os ramos da ciência que os investigadores se acostumaram à noção de que nenhuma teoria é uma transcrição absoluta da realidade mas que qualquer uma delas pode ser útil de algum ponto de vista Sua grande utilidade é sumariar fatos antigos e levar a novos fatos Elas 38 Williom M Boum são apenas uma linguagem construída pelo homem uma taquigrafia conceituai nas quais escrevemos nossos relatos da natureza 1974 p 4849 A contrapartida m odera a de James é Tomas Kuhn 19221996 que escreveu o livro The structure of scientific revolutions 1970 Nessa obra ele sustentou que a ciência não pode ser caracterizada como um progresso infinito em direção a uma verdade última O aparente progresso do pensamento científico de acordo com Kuhn é em geral ilusório Na maior parte do tempo durante os períodos de ciên cia normal alguns enigmas são resolvidos por pesquisa e investigação enquanto novos enigmas vão surgindo Quando muitos enigmas permanecem sem solução uma visão totalmente diferente do campo de uma ciência pode começar a ganhar aceitação e eventualmente sobreporse à visão até então prevalente Ocorre então uma revolução no pensamento e a nova perspectiva o novo paradigma normal mente explica mais do que a antiga Entretanto ela não explica tudo que o antigo paradigma explicava e também apresenta seus próprios enigmas Essa concepção de ciência poderia ser interpretada não como uma marcha em direção à verdade última mas como uma pista de dança repleta na qual cada dançarino experimenta diferentes passos e poses e na qual de vez em quando a banda começa a tocar uma melodia totalmente diferente Sem exagerar Kuhn ressaltou que a ciência realmen te progride no sentido de que um paradigma substitui outro em parte porque explica mais fenômenos As danças e melodias se tornam mais sofisticadas Ciência e experiência O pragmatismo influenciou o behaviorismo moderno de modo indireto como re sultado da amizade entre Wüliam Jam es e o físico Ernst Mach 18381916 A influência de James aparece no livro de Mach The science of mechanics 1960 uma análise histórica que aplicava o pragmatismo àquele ramo da física Uma vez que esse livro influenciou fortemente Skinner e que este influenciou grandemente o behaviorismo moderno de modo indireto o behaviorismo moderno tem um grande débito para com James Seguindo James Mach argumentava que a ciência tem a ver com a experiên cia particularmente com o esforço para conferir sentido à experiência Achava que a ciência havia se originado da necessidade que têm as pessoas de se comunicar eficiente e economicamente umas com as outras Esse tipo de comunicação é essen cial para a cultura hum ana porque permite uma compreensão do mundo que pode ser facilmente passada de uma geração à outra O princípio de economia requer a invenção de conceitos que organizem nossas experiências em tipos ou categorias permitindonos usar um termo em vez de muitas palavras Mach comparava a ciên cia ao corpo de conhecimentos dos artesãos por ele caracterizados como uma clas se social que pratica um dado ofício Uma classe dessa ordem se ocupa com tipos particulares dc processos naturais Os indivíduos que compõem a classe mudam Antigos membros saem enquanto novos membros ingressam Surge dai a necessidade de partilhar com os mem Compreender o behaviorismo 39 bros recentes o conjunto de experiências e conhecimentos já adquiridos a neces sidade de familiarizálos com as condições para atingir um objetivo definido de modo que o resultado possa ser determinado de antemão Mach 1960 p 5 Um aprendiz de oleiro por exemplo aprende a moldar a argila a queimáia aprende como são os diferentes tipos de argila esmaltes estufas e assim por dian te Sem esse tipo de instrução o aprendiz não poderia ter certeza sobre os procedi mentos que devem ser seguidos para que o produto final seja de boa qualidade Sem os conceitos que permitem essa instrução cada nova geração de oleiros teria de experimentar e descobrir as técnicas a partir do zero Isso não apenas seria ineficiente como também impediria a acumulação de conhecimento ao longo das gerações Imagine como seria a construção de uma casa nos dias de hoje se os carpinteiros não pudessem se beneficiar das experiências dos carpinteiros de cem anos atrás Economia conceituai À ciência é como outras atividades especializadas Se estou lhe ensinando a dirigir um carro seria bobagem colocálo atrás do volante e dizer Pronto vá em frente e experimente Em vez disso eu lhe explicarei conceitos como dar partida dirigir frear acelerar m udar de marcha e assim por diante Você então saberá o que fazer se eu disser Quando estiver entrando em uma curva diminua a aceleração e quando a direção ficar leve pode acelerar novamente Você poderia descobrir es sas regras sozinho através de sua própria experiência mas é muito mais fácil se você for instruído Assim como os conceitos de aceleração e mudança de marcha nos permitem passar adiante uma compreensão de como dirigir os conceitos cien tíficos nos permitem passar adiante um entendimento de experiências com outros aspectos do mundo natural Como Mach escreveu Descobrir então o que permanece inalterado nos fenômenos da natureza desco brir a partir daí os elementos e seu modo de interação e interdependência essa é a tarefa da ciência física Através de uma descrição abrangente e completa ela luta por tomar desnecessária a espera de novas experiências procura nos poupar o esforço da experimentação usando por exemplo a conhecida interdependência de fenômenos segundo a qual se um tipo de evento ocorrer podemos antecipa damente ter certeza de que outro determinado evento ocorrerá 1960 p 78 Em outras palavras a ciência cria conceitos que permitem a uma pessoa dizer a outra o que se relaciona com o que no mundo e o que esperar se determinado evento acontecer conceitos que permitem a previsão com base na experiência passada com esses eventos Quando os cientistas criam termos como oxigênio saté lite e gene cada palavra contém uma história completa de expectativas e previsões Esses conceitos nos permitem falar economicamente dessas expectativas e previ sões sem necessidade de repetidamente darmos longas explicações 40 Williom M Baum Como exemplo do modo como a ciência inventa termos econômicos e sintéti cos Mach reconstituiu o desenvolvimento do conceito de ar Começou no tempo de Galileu 15641642 No tempo de Galileu os filósofos explicavam o fenômeno de sucção a ação de seringas e bombas através do chamado horror vacui a aversão da natureza ao vácuo Pensavase que a natureza possuía o poder de impedir a formação do vácuo agarrando a primeira coisa mais próxima qualquer que fosse e imediata mente preenchendo com ela qualquer espaço vazio que surgisse À parte o ele mento especulativo infundado que essa visão contém devese reconhecer que até cerro ponto ela realmente representa o fenômeno 1960 p 136 Se você já colocou um copo sobre a boca e aspirou todo o ar de modo que ele ficasse colado em seu rosto você sentiu o vácuo puxando sua bochecha para dentro do copo Atualmente isso seria descrito como ação da pressão do ar Um passo crucial nessa mudança de perspectiva foi a observação de que o ar tinha peso Galileu se empenhou em determinar o peso do ar primeiro pesando uma garrafa de vidro que continha apenas ar depois pesando novamente a garrafa após o ar ter sido parcialmente expelido pelo calor Soubese então que o ar era pesado Mas para a maioria dos homens o horror vacui e o peso do ar eram noções conectadas de modo muito remoto 1960 p 137 Foi Torricelli 16081647 quem primeiro viu a conexão entre sucção e peso do ar Ele observou que um tubo fechado em uma das extremidades preenchido com mercúrio e vertido com a extremidade aberta em uma tigela cheia de mercú rio conteria vácuo no topo e uma coluna de mercúrio de certa altura abaixo dele Mach comentou a respeito E possível que no caso de Torricelli as duas idéias tenham se aproximado sufici entemente para leválo à convicção de que todos os fenômenos atribuídos ao horror vacui eram explicáveis de modo simples e lógico pela pressão exercida pelo peso de uma coluna fluida uma coluna de ar Torricelli descobriu então a pressão atmosférica foi ele também o primeiro a observar através de sua coluna de mercúrio as variações da pressão atmosférica 1960 p 137 A invenção da bomba de vácuo possibilitou muitas observações posteriores sobre o que acontece quando o ar é retirado de um recipiente Muitas dessas obser vações foram feitas por Guericke 16021686 que possuía uma das primeiras bom bas de vácuo eficientes Mach comentou Os fenômenos que Guericke observou com esse aparelho são vários e diver sificados O barulho que a água faz no vácuo ao se chocar com as paredes do recipiente de vidro a precipitação violenta do ar e da água em recipientes esva ziados de ar e subitamente abertos a saída através da exaustão de gases ah Compreender o behaviorismo 41 sorvidos em líquidos foram imediatamente observados Uma vela acesa se extingue durante a exaustão porque como conjeturou Guericke ela se alimen ta do ar Um sino não soa no vácuo as aves nele morrem muitos peixes incham e finalmente estouram Uma uva se mantém fresca no vácuo por mais de meio ano 1960 p 145 De acordo com Mach o conceito de ar possibilitou que todas essas observa ções isto é experiências fossem vistas como interligadas em vez de serem toma das como discretas e desorganizadas A palavra ar permite que se fale delas como relacionadas umas às outras de modo fácil e com poucas palavras 0 conceito propicia economia a nossa discussão Explicação e descrição Em algumas das transcrições acima Mach sugere que o objetivo da ciência é a descrição Para o realismo observamos que o objetivo da ciência não é uma mera descrição mas sim uma explicação baseada na descoberta da realidade que existe além de nossa experiência Desse ponto de vista a descrição apenas resume apa rências enquanto a explicação fala do que é realmente verdadeiro Para pragmatistas como James e Mach porém não existe essa distinção porque falando em termos práticos tudo que a ciência tem como suporte são aparências isto é observações ou experiências Para o pragmatismo explicação e descrição são uma única e mes ma coisa O que importa para o pragmatista é que ao descrevermos nossas observa ções usemos termos que relacionem um fenômeno a outro Quando conseguimos ver relações ver como um a observação se relaciona com outras então nossas expe riências aparecem como ordenadas e compreensíveis em vez de caóticas e misterio sas Mach argumentava que o trabalho da ciência começa quando alguns eventos parecem fora do comum quando parecem enigmáticos Portanto a ciência procura aspectos comuns nos fenômenos naturais busca elementos constantes a despeito de toda variação aparente Você se pergunta o que significa uma estátua do Mickey Mouse na mesa de seu chefe até ficar sabendo que se trata de um telefone Quando criança eu estava acostumado com a idéia de que as coisas caem quando você as solta porque têm peso por isso fiquei surpreso ao soltar um balão de hélio e vêlo voar no espaço Mais tarde vim a aprender os conceitos de densidade e flutuação elementos comuns e entendi que um balão de hélio flutua no ar do mesmo modo que um barco flutua na água Mach afirmou que esse processo de descrever um fenômeno em termos co muns familiares é exatamente o que se quer dizer com a palavra explicação Quando atingimos o ponto em que somos capazes de detectar em todo lugar os mesmos poucos e simples elementos combinados de maneira ordinária eles en tão nos parecem familiares não mais nos surpreendemos não há nada novo ou estranho para nós nos fenômenos sentimonos à vontade com eles eles não mais nos deixam perplexos eles estão explicados 1960 p 7 42 William M Baum A explicação científica consiste apenas na descrição de eventos em term os familiares Ela não tem nada a ver com a revelação de uma realidade escondida além de nossa experiência Talvez você se surpreenda com o tom subjetivo de Mach os eventos estão explicados quando nos sentimos à vontade com eles O pensamento de Mach entretanto é de que um evento se mostra familiar é explicado quando é descrito em termos familiares Embora um pragmatista visse um termo familiar simples mente como um termo bemaprendido outra pessoa poderia supor que a familiari dade depende de sentimentos No realismo o que torna um evento familiar não é nada sobre o próprio evento nada objetivo mas algo sobre nossa experiência com esse evento ou eventos similares algo subjetivo Quando um balão de hélio sobe esse evento parecerá misterioso ou familiar aos olhos do realista dependen do não de algo sobre o evento objetivo mas de sua apreciação subjetiva do evento No pragmatismo entretanto se tivesse de haver um a distinção entre subjeti vidade e objetividade ela seria totalm ente diferente daquela do realismo Seria correto dizer que o conflito entre subjetividade e objetividade se resolve para o pragmatismo em favor da subjetividade Uma vez que a existência de um mundo real objetivo não é necessária a objetividade se é que tem algum significado poderia ser no máximo um a qualidade da investigação científica Para o pragmatismo seria coerente simplesmente abandonar os dois termos de uma vez Pode parecer peculiar que em alguns dos trechos citados Mach use a palavra descoberta ao falar das atividades dos cientistas Uma descoberta parece supor a idéia de ir além das aparências em direção à existência real das coisas uma idéia que seria coerente com o realismo Para Mach descobrir os elementos comuns nos fenômenos é a mesma coisa que inventar conceitos Cada elemento comum corresponde a uma categoria ou tipo e seu rótulo é o conceito ou termo Considere o tipo de evento que chamamos de flutuação barcos flutuam na água e balões de hélio flutuam no ar O comportamento do balão de hélio tornase compreensível depois que inventamos ou descobrimos o conceito de flutuação Do mesmo modo que a distinção entre subjetividade e objetividade a distinção entre descoberta e invenção desaparece para o pragmatismo Comentando o conceito de ar Mach escreveu O que poderia ser realmente mais maravilhoso do que a súbita desco berta de que algo que não vemos dificilmente sentimos e quase não notamos constantemente nos envolve por todos os lados e penetra todas as coisas que ele é a condição mais importante da vida da combustão e de fenômenos mecânicos gigantescos p 135 Entretanto Mach poderia simplesmente ter afirmado que o ar o conceito foi uma invenção maravilhosa Da mesma maneira Lavoisier que descobriu o oxigênio descobriu um novo modo de falar da combustão Poderíamos simplesmente dizer que ele inventou um novo termo oxigênio O leitor interessado deve recorrer ao livro de Kuhn The structure of scientific revolutions 1970 para uma discussão mais recente sobre a identidade entre descoberta e invenção Adiante neste livro particularmente nos Capítulos 6 e 7 voltaremos a discu tir a questão dos termos científicos pois de uma ótica behaviorista nenhuma das palavras invenção ou descoberta descreve a ciência tão bem quanto a idéia de que o discurso científico é afinal comportamento Veremos que o cientista é al Compreender o behaviorismo 43 guém que se em penha em certos tipos de comportamento inclusive certos tipos de comportamento verbal Por ora no entanto continuamos com a discussão em nível mais geral BEHAVÍORISMO RADICAL E PRAGMATISMO O behaviorismo contemporâneo radical baseiase no pragmatismo A resposta que ele dá à pergunta O que é ciência é a resposta de James e Mach ciência é a busca de descrições econômicas e abrangentes da experiência natural humana isto é nossa experiência do mundo natural O objetivo de uma ciência do comporta mento é descrevêlo em termos que o tornem familiar e portanto explicado Seus métodos buscam ampliar nossa experiência natural do comportamento atra vés da observação precisa Os behavioristas radicais preferem o pragmatismo ao realismo porque o se gundo leva a um a visão dualista das pessoas que é incompatível com uma ciência do comportamento Se você afirma que o mundo exterior é real isso levanta a questão Se estou separado do mundo real então onde eu estou A resposta de acordo com a psicologia popular é que você abriga um mundo interior privado em que você experimenta sensações pensamentos e sentimentos Somente seu corpo externo pertence ao mundo exterior Como vimos no Capítulo 1 tal dualismo é inaceitável porque introduz mistérios do tipo Como o eu interior ou a mente influencia o comportamento do corpo Uma resposta a essa questão nunca será obtida porque o eu interior é separado do mundo natural e não há maneira de entendermos como coisas nãonaturais podem afetar eventos naturais Discutire mos mais esse ponto no Capítulo 3 Por ora notese que se aceitamos o dualismo interiorexterior uma ciência que lidasse somente com o comportamento exterior pareceria incompleta com efeito os behavioristas costumam ser acusados de igno rar o mundo interior de pensamentos e sentimentos O behaviorismo radical en tretanto rejeita o dualismo entre mundo interior e exterior Em vez disso conside ra que a análise do comportamento lida com um só mundo e o comportamento a ser encontrado nesse mesmo mundo único O behaviorismo antigo metodológico baseavase no realismo Como realis tas os behavioristas metodológicos distinguiam mundo objetivo de mundo subjeti vo Como lhes parecia que a ciência lidava apenas com o mundo objetivo conside ravam que a ciência era constituída de métodos para o estudo do mundo fora do sujeito Uma vez que o realismo supõe que o mesmo mundo objetivo está lá fora acessível a todos enquanto o mundo subjetivo de cada um é diferente e inacessível ao outro os behavioristas metodológicos consideravam que o único caminho para uma ciência do comportamento seria através de métodos objetivos métodos que coletassem dados sensoriais sobre o mundo fora do sujeito o mundo que todos com partilham e sobre o qual poderiam potencialm ente concordar O nome behaviorismo metodológico deriva dessa ênfase nos métodos Ainda que possam se surpreender ao ler isto a maioria dos psicólogos experi mentais parece ser de behavioristas metodológicos Afirmam estudar algo no inte 44 William M Baum rior mente memória atitudes personalidade e assim por diante através de inferências sobre o mundo interior a partir do comportamento exterior tal como o desempenho em tarefas de estimativas quebracabeças testes com caneta e papel ou questionários Já que os psicólogos experimentais não têm métodos para estu dar o mundo interior entretanto estudam o comportamento exterior com métodos objetivos A única diferença entre essa abordagem e o behaviorismo metodológico é que os psicólogos fazem inferências sobre o m undo interior enquanto os behavioristas não Behavioristas pioneiros como John B Watson rejeitavam tais inferências porque as consideravam nãocientíficas Por isso é verdadeira a afirma ção de que o antigo behaviorismo era a psicologia do outro que ele se propunha a estudar somente o comportamento público das pessoas aquele que pudesse ser observado por outras pessoas e que ignorava a consciência O behaviorismo radical por outro lado não faz tais distinções entre os mun dos subjetivo e objetivo Em vez de se concentrar nos métodos ele se concentra em conceitos e termos Assim como a física avançou com a invenção do termo ar uma ciência do comportamento avança com a invenção de seus termos Histórica mente a análise comportamental utilizou conceitos como resposta estímulo e re forço O uso desses conceitos mudou à medida que a ciência progrediu No futuro seu uso pode continuar a mudar ou eles podem ser substituídos por outros termos mais úteis Nos capítulos que se seguirão vamos tom ar muitos termos velhos e novos e avaliálos conforme sua utilidade Vamos perguntar uma e outra vez que termos servem para descrições econômicas e compreensíveis Outra razão para o behaviorismo radical rejeitar o realismo é que este leva a definições confusas do comportamento Em termos do estudo do comportamento o realismo defenderia que há um comportamento real que ocorre no mundo real e que nossos sentidos sejam eles auxiliados por instrumentos ou usados na obser vação direta nos fornecem apenas dados sensoriais sobre aquele comportamento real que nunca conhecemos diretamente Por exemplo se afirmarmos que um homem está movendo seus pés na m a rapidamente um após o outro alguém po deria argumentar que isso não consegue captar o sentido da descrição que o ho mem está correndo na rua Entretanto outra pessoa poderia objetar que isso ainda é insuficiente pois o homem pode estar fazendo exercícios fugindo da polícia ou disputando uma corrida Mesmo se determinarmos que o homem está disputando uma corrida ainda seria possível descrevêlo como uma pessoa que está treinando para as Olimpíadas ou correndo para impressionar sua família e seus amigos Para o realista behaviorista metodológico a melhor maneira de lidar com as diversas descrições possíveis é aterse à primeira descrever a corrida na rua em termos mecânicos tanto quanto possível talvez até especificando os grupos de músculos envolvidos pois aqueles movimentos mecânicos supostamente nos apro ximariam o máximo possível do comportamento real As razões do homem para empenharse nesse comportamento seriam tratadas separadamente No entanto definir o comportamento como uma composição de movimentos dos membros e dos músculos cria uma ambigüidade perturbadora Os mesmos movimentos dos membros e dos músculos podem ocorrer em muitas atividades diferentes No exemplo anterior os m ovim entos do corredor podiam ser parte de um exercício ou de fugir da polícia Dado que os movimentos são os mesmos o Compreender o behaviorismo 45 realista tem de dizer que é o mesmo comportamento mas por nenhuma definição razoável exercitarse e fugir da polícia podem ser o mesmo comportamento O pragm atista behaviorista radical não tendo nenhum compromisso com a idéia de comportamento real pergunta apenas qual das maneiras de descrever o comportamento do homem é mais útil ou nos termos de Mach mais econômica isto é qual delas nos dá a melhor compreensão ou descrição mais coerente É por isso que o behaviorismo radical tende a favorecer os tipos de descrição que incluem as razões do homem para correr como exercitarse e fugir da polícia Uma descrição útil poderia ser O homem está disputando uma corrida na rua como parte de seu treino para ir às Olimpíadas Com efeito poderíamos refinar a descrição ainda mais incorporando as razoes por trás da tentativa de participar das Olimpíadas e outros fatores igualmente Como veremos nos Capítulos 4 e 5 definições coeren tes de atividades devem incluir a função a que servem as razões para desempenhar certo comportamento são parte do próprio comportamento Como o behaviorismo radical responde à pergunta O que é comportamen to A resposta é pragmática Os termos que usamos para falar de comportamento não apenas nos permitem compreendélo mas também o defmem Comportamen to inclui todos os eventos sobre os quais podemos falar com nossos termos inventados O behaviorismo radical investiga as melhores maneiras de falar sobre o comporta mento as mais úteis Se por exemplo é útil dizer que uma pessoa está disputando um a corrida a fim de se classificar para as Olimpíadas então disputar uma corrida para se classificar para as Olimpíadas constitui um evento comportamental No Capítulo 4 quando considerarmos alguns conceitos atualmente empregados pelos analistas comportamentais estaremos também em condições de definir o compor tamento de maneira mais específica A ênfase pragmática sobre a fala os termos e as descrições em oposição à ênfase sobre métodos de observação leva a um dos contrastes notáveis entre behaviorismo metodológico e behaviorismo radical Para o behaviorista radical os fenômenos conscientes estando entre as coisas das quais podemos falar incluem se no estudo do comportamento No Capítulo 3 discutiremos como isso é feito RESUMO A idéia de que pode haver uma ciência do comportamento levanta duas questões 1 o que é ciência E mais especificamente 2 que visão de ciência se aplica ao comportamento Os behavioristas radicais vêem a ciência no contexto da tradição filosófica do pragmatismo O pragmatismo contrasta com o realismo concepção adotada por muitos cientistas anteriores ao século XX e por behavioristas do come ço daquele século O realismo sustenta que há um mundo real fora de nós e que esse m undo real externo dá origem a experiências internas em cada um de nós O rnundo externo é considerado objetivo enquanto o mundo da experiência interna e considerado subjetivo No realismo a ciência consiste na descoberta da verdade sobre o universo objetivo Porém como não temos conhecimento direto do mundo externo mas apenas de nossa experiência interna que nos é dada pelos sentidos 46 William M Baum filósofos como Bertrand RusselI argumentaram que a ciência deve proceder racio cinando a partir de dados sensoriais sobre o que deve ser o universo objetivo Nos sas experiências do mundo real são explicadas quando nosso raciocínio nos leva à verdade última sobre ele O pragmatismo ao contrário não faz nenhuma suposi ção sobre um mundo real externo indiretamente conhecido Ao invés concentra se na tarefa de compreender nossas experiências Perguntas e respostas que nos ajudam a entender o que acontece a nossa volta são úteis Perguntas que não fazem diferença para nossa compreensão como a pergunta sobre a existência de um uni verso real fora de nós não merecem atenção Não há verdade última absoluta em vez disso a verdade de um conceito reside em sua capacidade de articular parcelas de nossa experiência organizálas ou compreendêlas Para pragmatistas como William James e Ernst Mach esse processo de unificar várias partes de nossa expe riência é o que constitui a explicação Na visão de Mach falar de maneira eficaz sobre nossas experiências isto é a comunicação é exatamente o mesmo que explicar Ele sustentava que desde que possamos falar sobre um evento em termos familiares ele estará explicado Na medida em que falar sobre eventos em termos familiares é chamado de descrição explicação e descrição são a mesma coisa A ciência descobre apenas conceitos que tomam nossa experiência mais compreensível Enquanto o behaviorismo radical se baseia no pragmatismo o behaviorismo metodológico se baseava no realismo O behaviorismo radical rejeita o dualismo de mundos interno e externo considerao inimigo de um a ciência do comportamento e no lugar propõe uma ciência baseada no comportamento em um mundo único Para o realista o comportamento real ocorre no mundo real e esse comportamen to real é acessível apenas indiretamente através dos sentidos Conseqüentemente o behaviorista metodológico tenta descrever os eventos comportamentais em ter mos tão mecânicos quanto possível o mais próximo possível da fisiologia O behaviorista radical em vez disso busca termos descritivos que sejam úteis para a compreensão do comportamento e econômicos para sua discussão Descrições prag máticas do comportamento incluem seus fins e o contexto no qual ocorre Para o behaviorista radical termos descritivos tanto explicam quanto definem o que é comportamento LEITURAS ADICIONAIS Berkeley G Principies of human knowledge In E A Burtt ed 1939 The English phüosophers from Bacon to Mül Nova York Random House p 509579 Publicado original mente em 2 710 Esse ensaio clássico inclui a crítica de Berkeley ao realismo Day W 1980 The histórica antecede nts of contemporary behaviorism In R W Rieber e K Salzinger eds Psychology theoreticalhistorical perspectives Nova York Academic Press p 203262 Nesse artigo Day discute a relação entre pragmatismo e behaviorismo radical Farrington B 1980 Greek Science Nottingham RusselI Press Excelente livro sobre o iní cio da ciência grega N de T Título traduzido em português ver Apêndice Compreender o behaviorismo 47 James W 1974 Pragmatism and four essays from The meaning of truth Nova York New American Library Publicado originalmente em 1907 e 1909 Nesse livro podem ser encon tradas as idéias de James sobre o pragmatismo Kuhn T S 1970 The structure of scientific revolutions Chicago University of Chicago Press 2 ed A extensão do pensamento pragmatista elaborada por Kuhn é resumida nesse livro Mach E 1960 The science of mechanics a critical and historical account of its development La Salle Illinois Open Court Publishing Publicado originalmente em 1933 Aplicação do pragmatismo à ciência física por Mach Russell B 1965 On the philosophy of science Nova York BobbsMerrill A visão de Russell sobre ciência pode ser encontrada nessa coleção de ensaios TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 2 Dados sensoriais Economia conceituai Horror vacui Pragmatismo Psicologia popular Realismo Realismo ingênuo Realismo popular Teoria dos dados sensoriais N de T Título traduzido em português ver Apêndice Público privado natural e fictício V imos no Capítulo 2 que o behaviorismo radical não faz distinção entre fenôme nos subjetivos e objetivos no sentido tradicional Neste capítulo veremos que mes mo atribuindo pouca importância à distinção entre eventos públicos e privados que grosseiramente correspondem aos mundos objetivo e subjetivo o behaviorismo radical efetivamente estabelece outras distinções A mais importante é a distinção entre eventos naturais e fictícios MENTÂUSMO O termo mentalismo foi adotado por B F Skinner para se referir a um tipo de explicação que na verdade não explica nada Suponha que você pergunte a um amigo por que ele comprou um par de sapatos e a resposta seja Comprei porque quis ou Comprei por impulso Embora essas afirmações soem como explicações você na verdade não avançou nada em relação à sua pergunta Essas não explica ções são exemplos de mentalismo Ao definir um a ciência do comportamento os behavioristas radicais se con centram na distinção entre explicações válidas e explicações falsas Para os pragmatistas James e Mach ver Capítulo 2 uma explicação válida era lima des crição em termos compreensíveis No mesmo sentido o behaviorismo radical bus ca um conjunto de termos que tomem compreensível um evento como comprar um par de sapatos Ao desenvolver esse conjunto de termos será igualmente útil considerar por que term os como quis e impulso são insuficientes 50 William M Baum Eventos públicos e privados Eventos públicos são eventos que podem ser relatados por mais de uma pessoa Um temporal é um evento público pois eu e você podemos falar dele E claro que muitos eventos públicos não são relatados Podemos ambos ouvir o canto de um pássaro mas não é necessário que falemos disso Mesmo que eu ouça o pássaro quando estou sozinho isso ainda é um evento público pois poderíamos conversar a respeito se você estivesse por perto Em circunstâncias comuns pensamentos sentimentos e sensações são even tos privados porque só uma pessoa pode relatálos mesmo que outras estejam presentes Raquel não pode dizer o que Paula está pensando neste momento por que os pensamentos de Paula são eventos privados Apenas Paula pode relatar seus pensamentos Há dois pontos importantes com relação à distinção públicoprivado Primei ro para o behaviorista radical a distinção tem pouco significado A única diferença entre eventos públicos e privados é o número dê pessoas que podem relatálos Fora isso são eventos do mesmo tipo e possuem as mesmas propriedades Skinner 1969 expressou essa idéia ao afirmar A pele não é tão importante como frontei ra De fato se o registro do cérebro pudesse revelar o que alguém pensa o pensa mento se deslocaria de um evento privado para um evento público sendo a única mudança que então ele poderia ser observado por mais de uma pessoa Assim o tipo de privacidade aqui envolvida é a privacidade de que você usufrui quando está só Se eu espirrar quando estiver sozinho o evento é privado somente porque nin guém mais o observa Ainda que não tenhamos hoje tecnologia para ler os pensa mentos de uma pessoa a possibilidade deve existir de que algum dia com os ins trumentos corretos os pensamentos poderão ser observados por mais de uma pes soa Atribuir uma importância adicional à distinção públicoprivado equivale a reinstalar a distinção objetivosubjetivo sob um a forma diferente Segundo eventos públicos e privados são ambos eventos naturais Se eu pen so Está um dia lindo isso é um evento natural Se eu digo Está um dia lindo isso é um evento natural Se vou à praia isso também é um evento natural São todos eventos do mesmo tipo Eventos naturais Todas as ciências lidam com eventos naturais sejam eles objetos em movi mento reações químicas Crescimento de um tecido estrelas que explodem sele ção natural ou a ação corporal A análise comportamental não é diferente Os eventos naturais específicos que são objeto de estudo da análise comporta mental são aqueles atribuídos a organismos vivos e integrais O comportamento de pedras e estrelas não é parte do objeto de estudo porque pedras e estrelas não estão vivos O comportamento de uma célula de um fígado ou de um a perna não faz parte desse objeto porque não são organismos inteiros No entanto quando meu cão late esse evento o latido do meu cão é atribuído ao organismo como um Compreender o behaviorismo 51 todo meu cão Se eu disser O céu está azul essa verbalização evento é atribuída a mim ela é digamos meu relato de que o céu está azul O mesmo pode ser dito de eventos privados Se eu pensar O carro está fazendo um barulho diferente esse evento é atribuído a mim enquanto organismo como um todo é o meu pensar Esses são os tipos de eventos que estaremos designando neste livro simplesmente como comportamento subentendendose a expressão adicional do organismo como um todo Eventos privados podem ser incluídos na análise do comportamento porque a ciência requer apenas que os eventos sejam naturais eles devem ser observáveis por princípio isto é devem ser localizáveis no tempo e no espaço mas não há nenhum a exigência de que sejam observáveis na prática No Capítulo 2 vimos que um a das observações de Mach sobre o ar era a de que embora observemos muitos fenômenos que atribuímos ao ar não podemos observar o próprio ar Se pudésse mos inventar um a maneira de colorir o ar então poderíamos observálo Natural menta e fictício Na linguagem coloquial as mais diferentes coisas são classificadas como mentais pensamentos sentimentos sensações emoções alucinações e assim por diante Mental é um adjetivo derivado de mente O que todas as coisas classificadas como mentais têm a ver com a mente A maioria das pessoas afirmará que possui uma mente muitos se sentiriam insultados se lhes fosse dito que não a possuem Não ter uma mente é visto como algo ru im A língua inglesa incorpora essa teoria ter uma mente significa ter pensamentos sentimentos emoções e assim por diante e como temos isso tudo somos levados a concluir que cada um de nós tem uma mente O raciocínio porém é circular A única razão para supormos que cada um de nós tem uma m ente é que todos nós sabemos que temos pensamentos isto é todos nós sabe mos que pensamos Examinando expressões em inglês com a palavra mente parece haver dois usos principais da palavra Algumas vezes ela é um lugar ou espaço um tipo de arena ou teatro como quando dizemos Tenho algo em mente ou Posso vêlo neste momento em minha m ente Outras vezes ela parece ser um ator ou agente atuando em seu próprio domínio por exemplo quando se afirma Minha mente vagava por outras paragens ou A filosofia é um dos produtos mais sublimes da m ente hum ana Mas onde está esse espaço ou objeto De que é feito A noção de mente é problemática para uma ciência do comportamento por que a mente não é parte da natureza Se um cirurgião abrir o seu crânio esperase encontrar dentro dele um cérebro O cérebro poderia ser retirado manuseado pesado medido poderíamos inclusive brincar com ele Nada disso poderia ser dito de sua mente No mínimo um objeto de estudo científico precisa ser localizável no N de T A expressão não ter uma mente é tradução literal de mindlessness que também significa estupidez idiotice imbecilidade descuido desatenção esquecimento etc 52 William M Baum tempo e no espaço Seu cérebro sempre tem uma certa localização num certo momento A mente pelo contrário não tem nenhuma das propriedades de um objeto natural As frases mais reveladoras contendo mente em inglês são aquelas em que o termo aparece como verbo ou parte de um advérbio como quando se diz Mind how you go ou I was minding my own business ou I was mindful ofthe danger Os exem plos sugerem que a mente ou o atributo mental é uma qualidade de certos tipos de comportamento comportamento deliberado refletido consciente Alguns compor tamentos são designados como cuidadosos outros como inteligentes alguns como intencionais e alguns como privados Sempre que um comportamento parece inten cional inteligente ou privado as pessoas são tentadas a avançar o sinal e supor que ele envolve a mente Mas isso não é necessário e o behaviorista radical sustenta que na ciência do comportamento isso nao pode ser feito Como veremos nos capítulos posteriores no entanto continua sendo interessante indagar por que certos compor tamentos são chamados de conscientes intencionais ou inteligentes Não posso saber que tenho uma mente no mesmo sentido em que sei que penso sinto e sonho Pensamentos sensações e sonhos são eventos privados natu rais e freqüentemente observáveis por aquele que os experimenta Em contraste a mente e todas as suas partes e processos são fictícios Dizer que a mente é fictícia é dizer que ela é inventada que é um fazde conta Não tenho uma mente da mesma forma que não tenho uma fada madrinha Posso lhe falar sobre minha mente ou sobre minha fada madrinha mas isso não as tom a menos fictícias Ninguém jamais viu qualquer uma delas Recentemente após uma conferência um filósofo presente na audiência argumentou que podia obser var minha mente trabalhando à medida que eu falava Fiquei tentado a responder Na verdade você está vendo o trabalho da minha fada madrinha ela está aqui no meu ombro sussurrando ao meu ouvido Faz tanto sentido considerar a fala ou a resolução de problemas como produto do trabalho da mente como considerar o amor e o casamento como produtos do trabalho de uma fada madrinha Ambas as considerações são possíveis evidentemente como brincadeira ou poesia mas em ciência esse tipo de discurso é inútil A linguagem cotidiana sobre coisas e eventos mentais inclui tanto eventos privados quanto coisas e eventos fictícios Pensar e ver são eventos privados e natu rais enquanto mente vontade psyche personalidade e ego são todos fictícios Quando os behavioristas metodológicos acataram em sua ciência coisas e eventos públicos e excluíram coisas e eventos mentais em sentido coloquial excluíram eventos privados junto com coisas e eventos fictícios Ao contrário os behavioristas radicais admitem todos os eventos naturais incluindo eventos públicos e privados e excluem apenas os eventos fictícios A distinção entre natural e fictício além disso não tem nada a ver com o modo como são estudados isto é com a metodologia N de T As frases poderiam ser traduzidas para Preste atenção em como você anda Eu estava cuidando da minha própria vida Eu estava ciente do perigo Na tradução porém perdese o jogo de palavras em que o termo mente é empregado Compreender o behcjYiorismo 53 Coisas e eventos fictícios são inobserváveis mesmo em princípio Ninguém até agora observou uma mente um desejo um impulso ou uma personalidade são todos inferidos do comportamento Uma pessoa que se comporta agressiva mente por exemplo é considerada portadora de uma personalidade agressiva Mas ninguém jamais verá a personalidade vêse apenas o comportamento Ser inobservável porém não é necessariamente uma desvantagem Exami namos anteriorm ente o exemplo do ar e é fácil pensar em outros conceitos inobserváveis porém aceitáveis átomos moléculas radiação eletricidade genes Todos poderiam ser considerados invenções tanto quanto descobertas 0 que há de errado então com as ficções mentais Objeções ao mentaiismo O mentaiismo é a prática de invocar ficções mentais para tentar explicar o compor tam ento Mente vontade ego e outros conceitos são muitas vezes chamados de ficções explanatórias não porque expliquem algo mas porque supostamente expli cam A objeção central é que não conseguem explicar aquilo a que se propõem Há dois tipos de razão para não conseguirem autonomia e redundância Autonomia causas mentais obstruem a investigação Chamamos de autonomia a capacidade de se comportar Uma coisa é autônoma se atribuímos a ela seu comportamento Uma pessoa um rato ou um peixe são autô nomos nesse sentido pois dizemos que cada um deles se comporta Não há ne nhum problema em atribuir o comportamento aos organismos o problema surge quando o comportamento é atribuído a partes dos organismos particularmente a partes ocultas Na visão de comportamento do realista quando se estabelece uma distinção entre dentro e fora do sujeito parece que deve existir um eu real o meu eu em algum lugar dentro de mim controlando meu corpo externo É como se hou vesse um a pessoazinha dentro um homúnculo que recebe os dados sensoriais dos órgãos dos sentidos e então controla os movimentos do corpo Essa pessoazinha é freqüentemente retratada em caricaturas e em desenhos animados ocupando uma sala de controle interno com telas altofalantes alavancas e botões E fácil perceber que isso não é um a explicação do comportamento mas a visão do realis ta embora menos literal é vítima dos mesmos problemas da noção de homúnculo Os problemas surgem porque a pessoazinha ou o eu interior é autônomo Se fosse verdade que meu comportamento exterior é apenas o resultado do comporta m ento desse eu interior então uma ciência do comportamento teria de estudar o comportamento desse eu interior É impossível estudar o eu interior pelas mesmas razões por que é impossível estudar o homúnculo interior ambos são ficções construídas para tentar dar sentido ao comportamento à luz da divisão prévia en tre dentro e fora do sujeito Uma ciência do comportamento baseada em tais distinções nunca poderia dar certo como não poderiam uma ciência da mecânica 54 William M Baum baseada nas emoções internas da matéria ou uma ciência da fisiologia baseada em uma vis viva interior Em vez disso os eventos de interesse são atribuídos aos obje tos em estudo à rocha ou à esfera na mecânica à célula ou ao tecido na fisiologia e ao organismo como um todo em uma ciência do comportamento Quando os eventos são atribuídos a alguma entidade interna oculta não ape nas a investigação científica é desviada para a tarefa impossível de compreender aquela entidade oculta também a curiosidade tende a cessar A continuidade da investigação é impedida não apenas pela evidente dificuldade da tarefa mas tam bém porque uma explicação aparente é tomada como a explicação verdadeira Esses efeitos acontecem a toda hora no intercâmbio social normal quando uma pessoa a quem se pergunta Por que você fez isso responde Porque me deu vontade ou Eu tive um impulso ou Foi o diabo que me fez fazer isso Somos dissuadidos com tais evasivas seria descortês continuar perguntando e a proposta de uma explicação qualquer impede que continuemos a indagação Como cientis tas no entanto teríamos de ver mais cedo ou mais tarde a inadequação dessas não explicações e investigar mais além Essa inadequação nos leva ao segundo grande defeito do mentalismo Redundância fícções exphnatórias sâo antieconômicas Mesmo ignorando o modo pelo qual as entidades autônomas internas obstruem a indagação elas são inaceitáveis porque pelos padrões científicos normais não são explicações reais Todas as ficções explanatórias autônomas ou não são insuficien tes Além de obstruírem a indagação afirmações como Foi o diabo que me fez fazer isso e Meu eu interno me fez fazer isso não conseguem nenhuma delas explicar o comportamento Mesmo que um impulso interno não fosse considerado autônomo afirmativas do tipo Eu fiz por impulso não constituem uma explicação pelo mesmo motivo o diabo o eu interior e o impulso são todos supérfluos As explicações mentalistas inferem um a entidade fictícia a partir do compor tamento e então afirmam que a entidade inferida é a causa do comportamento Quando se diz que uma pessoa come verduras pelo desejo de manterse saudável ou por sua crença no vegetarianismo essa descrição se origina antes de tudo da observação do comportamento de comer verduras portanto a razão para se dizer que há um desejo ou uma crença é a atividade Essa explicação é inteiramente circular a pessoa tem o desejo por causa de seu comportamento e exibe o compor tamento por causa do desejo A explicação não nos leva além da observação origi nal pois dizer que Verônica acredita no vegetarianismo é dizer que ela come verdu ras Pode dizer algo mais que ela lê revistas de vegetarianos vai a encontros de uma sociedade vegetariana e assim por diante mas sua crença ainda é inferida a partir de seu comportamento A ciência da mecânica enfrentou o mesmo tipo de problema quando se pen sou que o horror vacai explicava os fatos da sucção o mesmo ocorreu com a fisio logia quando a vis viva foi tomada como explicação para o metabolismo celular O horror vacui era inferido dos fatos da sucção e a vis viva era inferida do metabolis mo celular Não se pode na verdade dizer que essas causas inferidas expliquem o Compreender o behaviorismo 55 que quer que seja porque não oferecem uma visão mais simples da sucção ou do metabolismo celular Pelo contrário elas se colocam por assim dizer por detrás dos eventos observados produzindòos misteriosamente Horror vacui vis viva e ficções mentais são todos inúteis porque são antieco nômicos para usar um termo de Mach As ficções mentais são antieconômicas porque em vez de simplificarem nossa percepção dos eventos descrevendoos com poucos conceitos já conhecidos tornam a questão mais complicada de dois mo dos Primeiro como já observamos elas meramente reformulam a observação ori ginal acrescentando algum conceito supérfluo Se aceitarmos a idéia de que Verônica come verduras devido a sua crença no vegetarianismo teremos agora de explicar tanto seus hábitos alimentares quanto sua crença enquanto antes precisávamos explicar apenas seus hábitos alimentares Se o que digo depende do que minha fada m adrinha me fala então teríamos de explicar tanto o fato de que ela fale comigo quanto o de que eu a ouça Segundo a causa invocada não tem nenhuma relação clara com os eventos observados Se dissermos que um adolescente rouba carros devido a sua baixa autoestima temos de indagar como essa baixa autoestima poderia levar a roubar carros No Capítulo 1 vimos que um dos problemas com a noção de livrearbítrio é que a conexão entre o livrearbítrio um evento nãonatural e o ato de tomar sorve te um evento natural será sempre misteriosa A mesma dificuldade surge com qualquer evento nãonatural atribuído à mente Nesse contexto esse é o chamado problema mentecoipo que se expressa na indagação como uma coisa nãonatural pode afetar um a coisa natural Todas as causas mentais colocam esse problema da conexão misteriosa Tal qual a mente todas as causas mentais fictícias se existis sem seriam nãonaturais Elas não podem ser encontradas no corpo jamais se encontrou uma crença atitude personalidade ou ego no coração no fígado ou no cérebro de ninguém Elas nunca são medidas exceto através do comportamento como por exemplo através de respostas a um questionário Como esse ripo de coisa poderia causar o comportamento O problema mentecorpo nunca foi e nunca será resolvido porque é uma pseudoquestão uma questão que em si mesma não faz sentido Quantos anjos po dem dançar sobre a cabeça de um alfinete O que acontece quando uma força irresistível encontra um objeto impossível de ser movido Cada uma dessas ques tões supõe uma premissa sem sentido a de que um anjo poderia dançar sobre a cabeça de um alfinete ou a de que é possível uma força irresistível coexistir com um objeto inamovível A premissa sem sentido subjacente à questão mentecorpo é a idéia de que ficções eomo mente atitude ou crença possam de algum modo cau sar comportamentos Em resposta a esse argumento freqüentemente se sugere que atitudes cren ças desejos e causas desse tipo existem como coisas dentro do cérebro Entretanto nosso estágio atual de compreensão do cérebro não permite tal afirmação Talvez algum dia se venha a compreender suficientemente o funcionamento do cérebro para lançar luz sobre os mecanismos subjacentes ao comportamento de estudar para uma prova ou de roubar uma loja mas esse dia parece distante se é que chegará A análise do comportamento não precisa esperar as descobertas sobre o sistema nervoso assim como a fisiologia não precisou esperar as descobertas da 56 William M Baum bioquímica Atualmente o funcionamento da célula é em geral explicado pela bio química mas os fisiólogos compreenderam essa matéria utilizando conceitos como membrana osmose metabolismo e mitose antes que os químicos estivessem em condições de contribuir para esse estudo Da mesma forma a análise comporta mental pode compreender o comportamento no nível de sua interação com o am biente sem qualquer ajuda dos neurofisiólogos Certamente quando chegar a con tribuição dos neurofisiólogos os analistas de comportamento já terão descrito fe nômenos que poderão ser ainda mais bem explicados por referência a mecanismos somáticos A objeção dos behavioristas radicais ao mentaiismo é na realidade uma ob jeção ao dualismo isto é à idéia de que dois tipos de existência material e não material ou dois tipos de termos referentes ao material e ao nãomaterial são necessários para uma compreensão total do comportamento Todas as ciências não apenas a análise do comportamento rejeitam o dualismo porque causa confu são e é antieconômico Quando Newton afirmou Hypotheses non fingo Eu não faço hipóteses ele queria dizer com hipóteses as causas nãomateriais sobrenatu rais que de algum modo estariam subjacentes aos eventos naturais Os escritos de René Descartes 15961650 tiveram influência no estabeleci mento do dualismo na psicologia Embora Descartes tenha dado muitas contribui ções maravilhosas à matemática e à filosofia sua visão de comportamento não foi útil Ele propôs que os corpos de animais e de homens eram máquinas complexas que trabalhavam de acordo com mecanismos naturais simples Imaginava que o cérebro e os nervos eram preenchidos com um fluido tênue os espíritos animais que fluíam para os músculos produzindo a ação De acordo com a teologia cristã ele sustentava que enquanto os animais eram meramente máquinas os horhens tinham também uma alma Supunha que a alma influenciava o comportamento ativando um a glândula no meio do cérebro a glândula pineal que afetava o fluxo dos espíritos animais Embora essa idéia específica nunca tenha sido aceita a no ção de que o comportamento humano depende da alma permaneceu Posterior mente à medida que a psicologia se tornou mais científica os psicólogos distan ciaramse da teologia cristã substituindo a alma pela mente Nem a glândula pineal nem a mente resolveram o problema levantado pelo dualismo cartesiano o misté rio do fantasm a na máquina Mesmo que a ativação da glândula pineal afetasse o comportamento o mistério continuaria como a alma ativa a glândula pineal Mes mo que a mente não seja transcendental ainda assim ela é imaterial nãonatural e em relação ao comportamento é tão quimérica quanto a alma Não há lugar para esses mistérios na ciência ERROS DE CATEGORIA O filósofo Gilbert Ryle 19001976 também atacou o mentaiismo mas seguiu uma abordagem diferente de Skinner Enquanto Skinner propôs excluir da análise do comportamento termos como mente inteligência razão e crença Ryle achava que os termos poderiam ser úteis se pudéssemos evitar usálos de modo ilógico O pro blema com um termo como inteligência é unicamente que as pessoas dirão que Compreender o behaviorismo 57 Marcus exibe comportamento inteligente e inteligência Enquanto Skinner tratava a inteligência como um a ficção mental inferida do comportamento inteligente Ryle argumentava que a inteligência é comportamento inteligente e que considerar um a causa do outro ou mesmo considerar os dois como ligados de algum modo envolve um erro lógico um erro de categoria Se estamos nom eando exemplos de frutas uma categoria e proponho ce noura como exemplo esse é um erro de categoria porque cenoura não é um a fruta Há vários tipos de erros de categoria várias maneiras através das quais um suposto exemplo pode não pertencer a uma categoria à qual é equivocadamente atribuído Ryle preocupavase com um tipo particular de erro de categoria Suponha que estamos novamente nomeando frutas e alguém sugere vegetais Esse é um tipo de erro diferente de cenoura Vegetais não apenas pertence a uma outra categoria similar é em si próprio o rótulo de uma outra categoria como seriarutas Pareceria até mais estranho em nosso jogo de nomear frutas se alguém sugerisse frutas Não apenas frutas é o rótulo de uma categoria e não um possível membro dela mas é o rótulo da própria categoria de que estamos nomeando exem plos Esse erro de tratar frutas como se fosse um exemplo de frutas é exatam ente o tipo de erro que Ryle considera que ocorre no mentalismo Suponha que nosso jogo agora seja nomear comportamentos inteligentes Os jogadores sugerem fazer contas jogar xadrez projetar uma casa fazer um a coreo grafia e assim por diante Então alguém sugere inteligência Isso pareceria errado de acordo com a perspectiva de Ryle pela mesma razão que era errado responder frutas em nosso jogo de nomear frutas Iriteligência é o rótulo da categoria à qual pertencem os comportamentos de fazer contas jogar xadrez projetar uma casa e fazer uma coreografia Esses comportamentos são todos exemplos de inteligência O erro é tratar o rótulo como se fosse um caso da categoria A provável objeção a esse argumento seria Não o que eu quis dizer por inteligência não é o conjunto desses comportamentos mas algo subjacente a eles que os torna possíveis que os causa Mas onde está essa inteligência De que é feita Como poderia causar o comportamento Sua natureza fantasmagórica deri va do fato de ser o rótulo da categoria e não um de seus exemplos A razão por que o erro lógico ocorre tão facilmente é que a objeção citada exemplifica uma teoria comum sobre o comportamento designada por Ryle de hipótese paramecânica Ryle e a hipótese paramecânica A hipótese param ecânica é a idéia de que os termos que são logicamente rótulos de categorias referemse a coisas fantasmagóricas em algum espaço fantasmagórico a mente e que essas quimeras de alguma forma causam o comportamento me canicam ente Essa é exatam ente a mesma idéia que Skinner denom inava de mentalismo Enquanto Skinner enfatizava os problemas práticos implícitos no mentalismo o fato de ser diversionista e inútil Ryle enfatizava seus problemas lógicos Para ilustrar Ryle apontou o conceito de espírito de equipe Quando assisti mos a um jogo de futebol e vemos os jogadores gritando para encorajar uns aos 58 William M Boum outros dando tapinhas nas costas quando erram e abraçandose quando acertam dizemos que estão demonstrando espírito de equipe Não estamos insinuando que algum espírito fantasmagórico está correndo junto com eles de um lado para outro do campo pairando sobre suas cabeças Se um estrangeiro perguntasse Eu os vejo gritando batendo nas costas e se abraçando mas onde está o famoso espírito de equipe consideraríamos a pergunta imprópria e pensaríamos que o estrangei ro não entendeu o conceito Poderíamos explicar que gritar dar tapinhas e abraçar são o espírito de equipe Estaríamos dizendo que aquelas atividades são exemplos da categoria de atividades que rotulamos de espirito de equipe Elas não são os únicos casos poderíamos expandir bastante a lista O erro do estrangeiro foi provocado pelo modo como falamos de espírito de equipe dizemos que o time o demonstra Por isso o estrangeiro pensou que seria correto colocar lado a lado gritar dar tapinhas abraçar e dem onstrar espírito de equipe É o mesmo erro de colocar lado a lado fazer contas jogar xadrez fazer um a coreografia e demonstrar inteligência Assim como demonstrar espírito de equipe é um rótulo para uma categoria de comportamento também demonstrar inteligên cia é um rótulo para uma categoria de comportamento Fazer contas e jogar xadrez são exemplos da categoria demonstrar inteligência Não há nenhum a inteligência quimérica nenhuma coisa a inteligência a ser demonstrada Ryle aplicou seu argumento a todos os tipos de capacidades e estados mentais que supostamente são demonstrados pelo comportamento ou que causam o com portamento conhecimento intenção emoção e outros Por exemplo por que dize mos Fábio está apaixonado por Juliana Ele compra flores para ela escreve poe sia gagueja e fica vermelho em sua presença declaralhe amor e assim por diante Fábio não faz essas coisas e ama Juliana ou porque ama Juliana o fato de Fábio fazer essas coisas é estar apaixonado por Juliana Em alguns dos capítulos seguintes veremos como o argumento de Ryle se aplica a outros termos Embora tenha atacado o mentalismo primariamente em bases lógicas seus argumentos e os de Skinner diferem principalmente em ênfase a semente das objeções pragmáticas de Skinner pode ser encontrada nos escritos de Ryle e a base das objeções lógicas de Ryle pode ser encontrada nos escritos de Sldnner A principal discordância entre os dois parece ser que Skinner pretendia excluir os termos mentalistas das discussões técnicas sobre o comportamento ao passo que Ryle sugeria que eles poderiam ser usados desde que lembrássemos que amor crença expectativa atitude e termos semelhantes são na verdade apenas rótulos de categorias de comportamento Outros filósofos criticaram os argumentos de Ryle Eles não os consideraram sólidos por duas razões principais Primeiro o uso que Ryle faz de categoria pare cia supor um a condição inaceitavelmente aberta isto é demonstrar inteligência ou estar apaixonado poderiam incorporar um número infinito de atividades que evitaria a especificação exata de quais atividades devem ser tomadas como exemplos da categoria Segundo a insistência de Ryle de que a verdade do relato de um a sensação pura tal como a dor depende inteiram ente necessita da presença de atividades públicas não requer que Eu sinto dor signifique apenas Estou contraído e me contorcendo O filósofo Richard Rorty 1979 por exem plo propõe a crítica do seguinte modo Compreender o behoviorismo B9 O argumento de Ryle foi atacado em termos de que não parece haver meio de fazer uma descrição completa da disposição requerida para se comportar sem fornecer listas infinitamente longas de movimentos e ruídos possíveis Também foi atacado em termos de que qualquer necessidade que se ponha em questão não é um problema de significado mas simplesmente a expressão do fato de que costumamos explicar certos comportamentos em referência a certos estados internos de modo que a necessidade não é mais lingüística ou conceituai do que a que conecta a vermelhidão de um forno ao fogo que está em seu interior 1979 p 98 A última afirmação parece incorreta porque haver fogo no interior de um forno é um a relação claramente física enquanto haver uma crença no interior de uma pessoa não transmite a mesma clareza e as outras afirmações dependem to das de uma visão m entalista de categorias linguagem e significado Independente mente dos filósofos serem persuadidos ou não por essas objeções os behavioristas se fundamentam nas afirmações de Ryle levandoas além com conceitos adicio nais No Capítulo 6 em que consideramos o conceito de controle de estímulos superaremos a objeção sobre a condição aberta das categorias e no Capítulo 7 em que tratamos do comportamento verbal superaremos a objeção sobre significa do Por ora no entanto veremos como a idéia de Ryle sobre categorias pode ser substituída pela idéia mais concreta de uma atividade 0 behaviorismo mofar de Rachlin Howard Rachlin behavíorista contemporâneo levou o argumento de Ryle um pas so adiante Desde a década de 1930 pelo menos alguns behavioristas vêm sugerin do que o comportamento não pode ser compreendido focalizando a atenção ape nas em eventos do momento No século XIX e na primeira metade do século XX eram inúmeras as concepções atomistas sobre a mente e o comportamento Dado que a única unidade de comportamento bem compreendida era o reflexo o discur so sobre o comportamento tendia a ser fraseado em termos de estímulo e resposta eventos instantâneos e a relação mais importante entre eventos era considerada sua proximidade m om entânea no tempo a contiguidade Os críticos das teorias que enfatizavam eventos instantâneos e sua contiguidade denominavam essa visão de molecular e propunham em substituição análises que cham aram de m olares Os teóricos molares argumentam que as concepções moleculares do comportamento malogram por dois motivos Primeiro o comporta mento presente depende não só de eventos presentes mas também de muitos eventos passados Esses eventos passados afetam o comportamento como um conjunto não como acontecimentos instantâneos A razão por que evito comer alimentos gordurosos hoje é que comi muito desses alimentos no passado e engordei nada disso aconteceu em um momento particular no tempo Segundo o comportamento não pode ser instantâneo não importa quão breve seja ele sempre tem uma dura ção Escovar meus dentes pode ser um único evento mas leva um tempo Se eu somar a duração de todas as atividades do meu dia elas devem chegar a 24 horas 60 William M Baum Rachlin via nas idéias de Ryle um a justificativa e um a extensão desse segundo princípio da teoria molar de que as unidades de comportamento isto é as ativida des estendemse no tempo O amor de Fábiopor Juliana não ocorre em nenhum tempo particular porque é um conjunto completo de atividades que ocorrem em tempos diferentes Seria absurdo dizer que Fábio não am a Juliana neste momento porque ele está trabalhando em vez de estar lhe dando flores cobrindoa de mi mos ou praticando qualquer das outras atividades que incluem amar Juliana E perfeitamente razoável dizer que Fábio ama Juliana agora e a vem amando há muitos anos embora tenha passado a maior parte de seu tempo trabalhando e dormindo A solução comum para esse problema de Fábio amar Juliana todo o tempo e ainda assim não demonstrar amor por Juliana todo o tempo é a hipótese paramecânica inventar uma coisaamor fantasmagórica um a ficção mental que está lá o tempo todo para causar o comportamento de amar de Fábio quando ele ocorre e para preencher os períodos de tempo intermediários A despeito do quan to essa idéia possa parecer atraente já vimos que não é realm ente uma solução porque é confusa e antieconômica Skinner e logicamente deficiente Ryle De acordo com a perspectiva de Rachlin o que importa sobre o amor de Fábio é a freqüência com que suas atividades de amar ocorrem Fábio amar Juliana e Fábio demonstrar amor por Juliana são na verdade apenas dois rótulos para a mesma categoria de comportamento Faz sentido dizer que Fábio ama Juliana há anos porque ao longo desses anos as atividades da categoria amar ocorreram com freqüência relativamente alta Fábio demonstrou não um am or mental interno qui mérico mas uma alta taxa de atividades de amar Essas atividades não precisamser a única coisa que ele faz só precisam ocorrer com freqüência suficiente Na verda de a taxa dessas atividades é crucial Se Fábio telefonasse para Juliana apenas uma vez por mês e comprasse flores somente uma vez por ano ela poderia desconfiar de sua sinceridade especialmente se ele telefona para Dolores todo dia e lhe dá flores duas vezes por semana Se Fábio declara que am a Juliana agora e para sem pre ele está prevendo que suas atividades da categoria am ar continuarão ocorren do com alta freqüência Atividades são episódicas Fábio pode trabalhar por algum tempo então falar ao telefone com Juliana por algum tempo então trabalhar mais ura pouco então devanear sobre Juliana então almoçar e depois trabalhar um pouco mais A con versa com Juliana e devanear sobre ela são episódios de amála São partes da atividade estendida de amar Juliana Durante o período que estamos examinando Fábio passa algum tempo trabalhando algum tempo m antendo sua saúde ao co mer e algum tempo amando Juliana Como abreviação para um episódio de uma atividade vamos usar a palavra açao Fábio alterna ações de amor com outras ações por exemplo episódios de trabalho ao longo de todo o dia Isto é o que nos faz dizer que Fábio ama Juliana Os argumentos de Rachlin aplicamse a todos os termos que parecem se refe rir a causas internas do comportamento sejam estados da mente como amor e raiva ou disposições comportamentais como intenções e crenças Ele ilustrou esse ponto com uma discussão do que significa sentir dor Rachlin 1985 Como no caso do amor sentir dor é o mesmo que demonstrar dor e engajarse em atividades que caem na categoria de comportamento de dor fazer caretas gemer encolher Compreender o behoWorismo 61 se gritar agitarse andar mancando e assim por diante Dizer ou não que uma pessoa está sentindo dor depende apenas da freqüência dessas atividades e do contexto em que elas ocorrem Se uma pessoa geme somente uma vez por semana ou apenas quando sua mãe está por perto somos propensos a concluir que ela está fingindo Um ator pode nos convencer completamente de que está com dor no palco mas quando o vemos depois da peça rindo e conversando dizemos que esta va apenas representando Afirmamos com segurança que alguém está com dor somente se o comportamento de dor ocorrer em taxa alta e consistente Se estar dolorido assim como estar apaixonado é simplesmente demonstrar comportamento de dor freqüentem ente e em todas as circunstâncias então não há nenhuma dor mental interna fantasmagórica assim como não havia nenhum amor mental inter no fantasmagórico Em outras palavras não há uma coisa dor que é sentida Em vez disso sentir dor ou estar em agonia é em si uma atividade completa ou um agregado de atividades Uma objeção pode ser levantada Talvez não exista nenhum amor mental in terno quimérico mas a dor não nos parece uma quimera de forma nenhuma Pelo contrário ela parece ser uma sensação um evento privado real o que os filósofos chamam de sensação pura A solução de Rachlin pode ser mais bem compreendi da a partir de sua resposta à objeção assim formulada Mas eu posso sentir dor e não dem onstrála Rachlin argum enta que é impossível sentir dor e não demonstrála porque sentir dor é demonstrála Um filósofo tentou refutar todo o argumento de Rachlin relatando que ao longo de anos teve uma dor de cabeça severa sem nunca divulgá la a ninguém A réplica de Rachlin foi Se é assim seus pais seu médico seus amigos mais próximos e sua esposa e filhos se os tiver ainda não devem até a presente data saber dessas dores de cabeça Alguém quer apostar Embora possa parecer jocoso a questão importante é que uma pessoa não pode estar com dor sem demonstrála seja para outros seja para si mesmo 0 argumento de Rachlin só parece contrariar a experiência quando se insiste que é possível estar com dor e não mostrála a ninguém Sozinho em meu quarto posso sentir uma dor e superála antes que qualquer pessoa me veja Eu não estava com dor Eu estava se a de monstrei mas o episódio todo foi privado somente no sentido de que aconteceu de ninguém presenciálo estivesse lá outra pessoa ela teria dito que eu estava com dor A forma como sei que estou com dor de cabeça é a mesma pela qual você sabe que eu estou com dor de cabeça eu franzo o cenho gemo fecho os olhos reclamo e tomo aspirina Se não fizesse nada disso não estaria mais inclinado do que você a relatar que estava com dor de cabeça Embora pareça paradoxal a idéia de Rachlin de que a dor consiste em com portamento público e não em experiência privada tem muitas provas a sustentála Em particular relatos e outros comportamentos de dor dependem em grande parte das circunstâncias em que ocorrem Muitos de nós tivemos ferimentos que teriam sido dolorosos mas que não o foram porque estávamos distraídos Após torcer o tornozelo um atleta pode continuar correndo e relatar que o tornozelo começou a doer após a corrida O mesmo machucado em outras circunstâncias que não a corrida teria resultado em sentir dor imediatamente A pesquisa sobre dor tem produzido muitos exemplos como esse Embora o parto seja considerado doloroso 62 Williom M Baum em nossa cultura os antropólogos descrevem culturas nas quais as mulheres não demonstram nenhum sinal de dor dão à luz enquanto trabalham nos campos e continuam trabalhando assim que o bebê nasce enquanto o pai fica deitado em casa gemendo e demonstrando todos os sinais de dor intensa Um exemplo parti cularmente notável foi relatado por Henry K Beecher um anestesista que compa rou o comportamento de soldados feridos em um hospital de campanha da Segun da Guerra Mundial ao comportamento de civis que estavam passando por cirurgias que envolviam ferimentos semelhantes aos dos soldados Ele descobriu que en quanto só aproximadamente um terço dos soldados reclamava de dor a ponto de receber morfina quatro de cada cinco pacientes civis o fazia Embora os soldados tenham relatado que sentiram pouca ou nenhuma dor enquanto os civis relatavam dor severa Beecher observou que a diferença não era devido a uma insensibilidade dos soldados a estímulos dolorosos pois eles reclamavam como qualquer um quan do a enfermeira tinha dificuldade em pegar uma veia Beecher concluiu Não há uma relação direta simples entre o ferimento em si e a dor experimenta da A dor é em grande parte determinada por outros fatores e de grande impor tância aqui é o significado do ferimento No soldado ferido a resposta à lesão era de alívio e gratidão até mesmo euforia por escapar vivo do campo de batalha para o civil sua cirurgia era um evento depressivo calamitoso citado porMelzack 1961 p 4243 Às observações de Beecher confirmam a concepção de Rachlin pois em vez do mesmo trauma produzir a mesma dor como requer a hipótese paramecânica toda a categoria comportamento de dor incluindo o relato de sentir dor depende das circunstâncias Embora nossa experiência aparentemente interna de dor pare ça inevitável as evidências clínicas e experimentais dão respaldo à idéia de que estar com dor assim como estar apaixonado ou qualquer outro estado mental consiste primariamente em comportamento público Com essa concepção Rachlin atribui muito menos ênfase aos eventos priva dos do que Skinner Para Rachlin a ocorrência ou não de eventos privados tornase um a questão de menor importância pois sua perspectiva de análise não enfatiza eventos momentâneos e ações isoladas em geral sejam elas públicas ou privadas Fábio estar apaixonado por Juliana pode incluir seu pensar sobre ela mas se n e nhuma das atividades públicas da categoria ocorrer tanto Juliana quanto Fábio deveriam duvidar da sinceridade de Fábio Para Rachlin nem o amor nem a dor precisam existir como um a coisa privada pois na prática o que as pessoas dizem sobre si mesmas ou sobre os outros sempre depende de modo extremamente im portante do comportamento público Nessa perspectiva molar podese realm ente dizer que a maneira pela qual eu me conheço é a mesma maneira pela qual os outros me conhecem Vamos explorar mais esta questão no Capítulo 6 O fato de Rachlin rejeitar os eventos privados pode parecer um retorno ao behaviorismo metodológico mas não se trata disso Tanto os behavioristas m eto dológicos quanto Rachlin defendem o estudo de eventos públicos mas por razões diferentes Os behavioristas metodológicos consideram os eventos públicos como objetivos e excluem do alcance de sua ciência as coisas e os eventos mentais por Compreender o behaviorismo 63 que são subjetivos Abordando o comportamento de um ponto de vista molecular tinham esperança de prever atos momentâneos Rachlin nunca evoca a distinção objetivosubjetivo e nunca exclui coisas e eventos mentais Pelo contrário ele sus tenta que é possível estudar coisas e eventos mentais porque os termos dor amor autoestima e assim por diante que supostamente se referem a eles são na verda de rótulos de atividades molares Desse modo nós os estudamos ao estudarmos os eventos públicos que essas atividades e categorias envolvem Rachlin distanciase do behaviorismo metodológico e alinhase com o behaviorismo radical em dois aspectos básicos antidualismo e pragmatismo Como qualquer behaviorista radi cal rejeita a existência de ficções mentais e especialmente de causas mentais para o comportamento Como ele nunca levanta a distinção objetivosubjetivo preferin do avaliar a verdade a partir de sua força explanatória utilidade suas idéias pertencem à tradição do pragmatismo e não do realismo Ele não precisa negar nem afirmar a existência de eventos privados porque as categorias de comporta mento sobre as quais as pessoas falam sempre incluem muitas ações públicas Na verdade as pessoas não falariam dessas categorias se elas não incluíssem ações públicas mas esse é um tópico para a discussão de comportamento verbal Ver o Capítulo 7 EVENTOS PRIVADOS Para Skinner os eventos privados são naturais e sob todos os aspectos semelhan tes a eventos públicos Mesmo que os pensamentos sejam eventos naturais e que se considere que algumas vezes afetam o comportamento ainda assim eles nunca causam o comportamento no sentido de originálo Embora as origens do compor tamento se encontrem no ambiente presente e passado os eventos privados assu mem lugar importante na análise que Skinner faz de certos tipos de comportamen to particularmente autorelatos que analisaremos agora e no Capítulo 6 e resolu ção de problemas que abordaremos no Capítulo 8 Comportamento privado Como os eventos privados são atribuídos à pessoa e não ao ambiente eles são mais bem compreendidos como eventos comportamentais De um modo geral há dois tipos eventos de pensar e eventos de sentir Para efeito da presente discussão pensar é falar privadamente Isso pode pa recer muito restrito pois pensar é usado de muitas outras maneiras na linguagem cotidiana Estou pensando em ir ao cinema significa que estou inclinado ou pro penso a ir a um cinema Estou pensando em uma pintura que vi outro dia signifi ca que estou imaginando a pintura e é mais bem compreendido como um evento de sentir E mais útil tratar os eventos de pensar à parte dos eventos de sentir porque os pensamentos têm uma relação com a faia pública que o sentir não tem Um pensa mento pode ser enunciado pública ou privadamente Skinner usa as palavras aber 64 William M Baum to e encoberto Eu posso falar alto para mim mesmo O que vai acontecer se eu apertar este botão ou posso sussurrar para mim mesmo ou posso ainda pensar em particular Esses eventos são todos a mesma coisa os dois primeiros poderiam ser ouvidos ao passo que o terceiro não pode Eventos de sentir no entanto não pos suem nenhuma contrapartida pública Ver uma árvore ouvir uma orquestra sentir um a coceira sentir o cheiro de um gambá todos esses eventos são apenas privados Os eventos de sentir são mais bem compreendidos quando contrastados com a concepção usual de sensação e de percepção que Skinner denomina teoria da cópia Alguns filósofos gregos da Antiguidade intrigados com o fato de podermos ver objetos à distância imaginaram que os objetos mandassem cópias de si m es mos para nossos olhos Se vejo uma árvore do outro lado da estrada deve ser porque a árvore manda pequenas cópias de si para meus olhos A concepção m o derna dessa explicação é semelhante exceto que agora dizemos que a árvore refle te a luz que passa através da pupila dos olhos formando imagens na m embrana no fundo do globo ocular Essas imagens substituem as cópias gregas Essa noção pode ser útil para se entender algumas coisas sobre o olho mas de modo algum explica o ver O problema de como a árvore é vista é substituído pelo problema de como a cópia da árvore é vista A teoria da cópia tem todos os defeitos do mentalismo A aparência de uma explicação você vê uma árvore porque há uma cópia dela em seu olho ou em seu cérebro nos afasta da tentativa de entender o que seja o ver A cópia é supérflua pois a questão permanece a mesma quer perguntemos sobre ver a árvore ou sobre ver a cópia o que é ver algo Em particular a teoria não consegue explicar por que o ver é seletivo Nem todos os objetos que refletem luz em nossos olhos são vistos Por que vejo a árvore e não a estrada Como é possível a uma pessoa mostrar algo para outra fazêla ver esse algo Como é possível a uma pes soa olhar exatamente na direção de um aviso e não vêlo Para o behaviorista radical sentir e perpeber são eventos comportamentais são atividades A coisa que é vista ouvida cheirada sentida ou provada é uma qualidade do evento ou seja é parte da definição do evento Ver um lobo é qualita tivamente diferente de ver um urso Os dois eventos têm muito em comum ambos são atos de ver e não de ouvir ou de andar mas também são diferentes Eles são atos diferentes assim como caminhar em direção a uma loja é diferente de cami nhar para um banco Se eu digo em uma ocasião Está um dia agradável e em outra Há um tigre atrás de você ambos são exemplos de fala mas os dois atos diferem do mesmo modo que os dois atos de caminhar o dia agradável e o tigre são parte da definição do ato Assim como é impossível caminhar sem chegar a algum lugar e falar sem dizer nada é impossível ver sem ver algo O lugar e as coisas diferenciam os diversos atos de caminhar falar e ver mas não como seus apêndices Eles são ações diferentes não a mesma ação aplicada a diferentes coisas Podese notar mais claramente que o alvo ou objeto de um evento de sentir é um a qualidade do evento quando falamos de outros sentidos que não a visão Nes sas falas raramente caímos na armadilha da teoria da cópia Se ouço um violino tocando seria pouco provável alguém afirmar que minha atividade de ouvir seja de algum modo um apêndice do som do violino O som é parte do ato ou talvez resulte dele Ouvir um violino e ouvir um oboé são atos diferentes de ouvir não o mesmo ato aplicado a diferentes sons Um antigo enigma zenbudista perguntava Compreender o behaviorismo 65 Se um a árvore cai na floresta e ninguém está lá para ouvir ela produz um som A resposta do behaviorista é não pois um som existe apenas como parte de um ato de ouvir Da mesma m aneira que ouvir um violino difere de ouvir um oboé ver um urso também difere de ver um lobo A relação entre o ver e a coisa vista fica ainda mais clara quando examinamos exemplos do que Skinner denomina ver na ausência da coisa vista Se eu sonho com um lobo o lobo está presente Se eu imagino a casa onde passei a infância a casa está lá Parece até que a teoria da cópia foi inventada para tentar explicar esses casos Se estou vendo deve haver algo para ser visto como não há um lobo nem um a casa deve haver uma cópia de algum modo colocada diante de minha visão não de meus olhos Usar a teoria da cópia dessa maneira é uma forma de mentaiismo o que parece explicação não explica nada Onde está a cópia mental fantasmagórica de que é feita e como pode ser vista Onde antes tínhamos um ato de ver para explicar agora temos o mesmo ato e mais uma cópia misteriosa relacio nada misteriosamente com o ato A alternativa é considerar o ver o lobo com os olhos fechados como semelhante a ver o lobo com os olhos abertos Os dois atos diferem geralmente podemos distinguilos mas têm muito em comum Isso deixa sem resposta perguntas do tipo Como eu sonho e imagino coisas que na verdade nunca vi e E possível treinar a imaginação No entanto considerar o sonhar e o imaginar como atos permite que essas questões sejam abordadas por um estudo científico com maior eficiência do que o são pela teoria da cópia A teoria da cópia tenta explicar o sonhar e o imaginar com a idéia de que as cópias são armazenadas e recuperadas da memória Questões sobre o relembrar tornamse questões sobre processos mentais quiméricos de codificação armazena gem e recuperação Quando imagino a casa de minha infância se vejo lá meu pai supostamente isso ocorre porque as duas memórias estão de algum modo ligadas Se quando alguém diz Perise em pássaros eu penso em pardais tentilhões e avestruzes supostamente isso ocorre porque as memórias daquelas coisas estão ligadas de alguma maneira Em contraste a perspectiva da análise comportamental aponta para fatos da vida Quando eu era criança vendo a casa de minha infância via meu pai também Quando ouvi falar de pássaros freqüentemente ouvi falar de pardais tentilhões e avestruzes Se essas coisas estão ligadas não é na memória mas no tempo e no espaço Recordação é repetição Quando relembro uma visita à praia eu revejo o céu a água a areia ouço novamente as ondas e sinto novamente a brisa marítima Esses atos de imaginação diferem dos atos originais de ver ouvir e sentir mas são também semelhantes Muito de nosso comportamento é repetido todo dia Eu pen teio o cabelo toda manhã Ajuda alguma coisa para compreender como ou por que eu faço isso dizer que deve haver em algum lugar dentro de mim uma memória de pentear o cabelo Muitos psicólogos se agarram à idéia de que se uma atividade se repete ela deve de algum modo ser representada no interior da pessoa presumivelmente no cérebro Quando confrontados com os defeitos das representações como cópias corn freqüência eles insistem que a representação é apenas a atividade do cére bro Por esse raciocínio quando eu ligo meu carro toda manhã o motor em mo vimento deve estar representado no motor em repouso Algum dia os neurofi 66 William M Baum siólogos poderão ter algo a dizer sobre os mecanismos cerebrais através dos quais essas coisas ocorrem Enquanto isso há muito a ser compreendido sobre o ver e o rever como atos Os atos sensoriais são modificados pela experiência estão sujeitos à aprendi zagem Alunos de medicina que estão no primeiro ano do curso vêem um cérebro de forma diferente de seus professores Houve um tempo em que os professores viam tão pouco quanto os alunos de agora algum dia os alunos verão tanto quanto seus professores Aprendemos a distinguir coisas em uma paisagem ou em uma sinfonia Se eu disser a você Veja aquele celeiro no campo ou Ouça o oboé você vê ou ouve algo que não havia notado um minuto atrás A Figura 31 mostra dois esboços Se você nunca os tiver visto eles parecerão um am ontoado de linhas se você já os viu antes lembrese da primeira vez Agora eu digo a você que o de cima mostra um urso subindo em uma árvore ele está do outro lado e o de baixo mostra um soldado com seu cachorro passando atrás de um muro Você passa a vê los de modo diferente Seu comportamento mudou como resultado de ler essas palavras Após examinarmos os conceitos de discriminação e de controle de estí mulos nos Capítulos 6 e 7 ficará mais fácil entender como essa m udança comportamental poderia ser chamada de ver discriminado Figuro 31 Esboços como estes ilustram que ver é um comportamento e como todo com portamento depende do contexto O desenho superior mosira um urso subindo em uma árvore vislo do lado oposio do tronco O da porte inferior mostra um soldado passando com seu cachorro atrás de um muro Á 0 Compreender o behaviorismo 67 Autoconhecimento e consciência A palavra consciente é usada de várias maneiras Ter consciência vem a ser o mesmo que estar consciente pois consciência não é uma coisa mas uma proprie dade Podese dizer que um a pessoa tem consciência ou perdeu a consciência está consciente ou inconsciente as duas dicotomias referemse às mesmas possibilida des Dizemos que um a pessoa está consciente ou inconsciente dependendo do que ela faz particularm ente em resposta a eventos ambientais como perguntas e estimulações De vez em quando alguém pergunta se os animais nãohumanos são conscientes ou não A resposta à pergunta depende do que o animal faz e do que aceitaremos como evidência de consciência Alguns atos são considerados conscien tes outros não Os membros de um júri freqüentemente têm de julgar se uma pessoa decidiu cometer um crime conscientemente ou não Muitos critérios diferentes para julgar a consciência já foram propostos mas não há nenhum consenso sobre o que significa uma pessoa ou um ato ser consciente Continua o debate sobre a possibilidade de cachorros e morcegos serem conscien tes Quando o debate é infindável o cientista começa a suspeitar de que o engano reside menos na resposta do que na própria pergunta Para o behaviorista pode ser interessante tentar entender em que ocasiões as pessoas tendem a usar a palavra consciente mas a noção de consciência não tem nenhuma utilidade para a compreensão científica do comportamento A falta de precisão e a inutilidade da idéia de consciência derivam de seus vínculos com o que Skinner denominou de homúnculo e Ryle de hipótese paramecânica A consciência pertence ao homenzinho ou ao eu autônomo interno que olha para o mundo ex terno através dos sentidos ou olha para o mundo interno da mente e então se torna consciente dos dois mundos Se você questiona essa concepção de mundo interno mundo externo eu interno e mente você estará questionando a noção de consciência pois ela dificilmente tem sentido separada dessas idéias Ao investigar o que faz as pessoas usarem frases como perder a consciência e estar consciente de algo o behaviorista pergunta como as pessoas aprendem a falar desse modo ou que eventos ocasionam esse tipo de discurso Apesar dos grupos sociais variarem consideravelmente todo o mundo parece concordar com um tipo de evidência se as pessoas são capazes de falar sobre seu comportamento são consideradas conscientes e conscientes de seu comportamento Não me é possí vel geralmente descrever todos os atos envolvidos em minha rotina de dirigir o carro para o trabalho eles são inconscientes mas se você me pedisse especifica mente para observálos então eu poderia falar deles com algum detalhe Posso fazer isso até certo ponto mesmo que você nunca me peça Na medida em que posso falar sobre eles as pessoas dirão que meus atos são conscientes Meus atos de dirigir ou andar podem ser conscientes ou inconscientes dependendo de minha capacidade de narrálos a alguém Mesmo atos de falar podem ser considerados conscientes ou inconscientes dependendo da capacidade do falante repetir o que falou Quantas vezes as pessoas dizem as coisas e um minuto depois negam que as tenham dito Nesses casos dizemos que a coisa foi dita inconscientemente Como outros atos os atos de ver e outras modalidades de atos de sentir po dem ser conscientes ou inconscientes dependendo das pessoas falarem ou não 68 William M Baum sobre eles Se um policial pára meu carro e me pergunta Você não viu a placa pare eu posso honestamente responder Não porque mesmo que tenha olhado em sua direção posso não têla visto assim como você não viu o urso e o soldado da primeira vez que olhou para os rabiscos na Figura 31 Se o policial me pergunta Você está vendo a placa agora eu olharei e direi Sim Ambas as respostas são relatos de comportamento a primeira é um relato na ausência do evento a segun da é um relato na ocorrência do evento Embora o evento que está sendo relatado seja privado na concepção de Skinner relatar os próprios atos privados é o mesmo que relatar os próprios atos públicos Aprendemos a falar do que vemos ouvimos sentimos e pensamos do mesmo modo que aprendemos a falar sobre o que come mos onde vamos e o que dizemos O autoconhecimento consiste nesse tipo de discurso No Capítulo 7 veremos que esse discurso é comportamento verbal um produto social sob controle de estímulos que são tanto públicos quanto privados Rachlin compartilha com Skinner a noção geral de que o autoconhecimento pode ser compreendido como um tipo de comportamento mas como considera os atos como exemplos de categorias mais amplas de comportamento atribui aos atos privados um papel muito menos importante no autoconhecimento Para Rachlin ver um sabiá é uma atividade assim como caminhar até uma loja Do mesmo modo que caminhar até a loja inclui comportamentos como andar em um a dada direção falar sobre o andar e depois trazer para casa uma compra ver um sabiá inclui comportamentos como olhar em sua direção apontar para ele falar sobre ele e notar quando ele se vai Parte do comportamento incluído em ver um sabiá poderia ser falar Olhe lá está um sabiá ou Estou vendo um sabiá ou responder Sim quando alguém pergunta se estou vendo um sabiá Na perspectiva molar esses não são relatos de eventos privados são simplesmente partes da atividade pública de ver um sabiá Ao discutir a dor Rachlin estava discutindo um fenômeno que a maioria das pessoas consideraria um evento de sentir privado Sua concepção de sentir dor assemelhase à visão molar de ver um sabiá Sentir dor na perna inclui comporta mentos como apontar para ela apertála andar mancando e falar sobre ela Dizer Minha perna está doendo não é relatar um evento privado é apenas parte da atividade de sentir dor na perna No que diz respeito a Rachlin o evento privado da dor não está em discussão Não apenas é irrelevante pode até nem existir Se um a pessoa reclama de dor na perna e o faz convincentemente nós nos comportamos da mesma maneira exista ou não a dor Só mais tarde podemos ficar sabendo se a pessoa estava fingindo talvez a dor desapareça muito rapidamente ou a pessoa manque com a perna errada O mesmo valeria para ver ou ouvir No filme The heart is a lonely hunter um homem surdo finge estar apreciando uma música movimen tando seu corpo como se estivesse regendo uma orquestra Seu desempenho é convincente mas quando o disco pára e ele continua sua companheira se dá conta de que ele está fingindo Se ele tivesse parado quando o disco parou ela provavel m ente continuaria a achar que ele tinha ouvido a música Cedo ou tarde ele se denunciaria mas se uma pessoa surda pudesse fingir perfeitamente para todos os efeitos e propósitos ela seria capaz de ouvir pois fingir perfeitamente significaria que ninguém percebe a diferença Compreender o behaviorismo 69 Podese argum entar que mesmo que uma pessoa surda pudesse enganar todo o mundo à sua volta ela própria saberia que estava fingindo Entretanto se ela fosse bemsucedida em todas as ocasiões como poderia saber Tanto quanto ela pode saber esse comportamento e ouvir Ela própria só poderia saber que estava fingindo se seu próprio comportamento diferisse do comportamento de outras pes soas Suponha que um a pessoa com boa audição finja ter prazer ao ouvir uma música Se ela faz tudo certo por que não deveria ela acreditar que realmente está apreciando a música A única pista para ela e para os outros seria uma diferença entre seu comportamento e o comportamento daqueles de quem se diz que real mente apreciam música Eles sorriem relaxam não gostam de ser interrompidos e depois falam sobre a música Teria eu menos prazer com a música porque não falo dela depois Talvez Assim como nenhum prazer privado precisa entrar na discus são assim também para a perspectiva molar nenhum ouvir privado precisa entrar na discussão RESUMO Embora os behavioristas radicais defendam concepções diversas sobre muitos tópi cos eles concordam em geral com as seguintes idéias básicas Primeiro as explicações mentalistas do comportamento que aparecem na lin guagem cotidiana não têm lugar em uma ciência Causas mentais do comporta mento são fictícias As origens do comportamento encontramse na hereditarieda de e no ambiente presente e passado Em razão das ficções mentais parecerem explicações elas tendem a impedir a investigação das origens ambientais do com portamento que levariam a uma explicação científica satisfatória O mentaiismo é insatisfatório porque é antieconômico Skinner e logicamente falacioso Ryle Segundo em um a ciência do comportamento termos coloquiais mentalistas como acreditar esperar e pretender devem ser evitados ou cuidadosamente redefi nidos Ainda não está claro em que medida os analistas comportamentais deveriam fazer uma ou outra coisa Veremos nos capítulos seguintes que alguns termos po dem ser redefinidos razoavelmente bem enquanto outros parecem muito estra nhos à abordagem para valer a pena redefinilos Alguns termos novos inventados para permitir a análise do comportamento parecem ser especialmente úteis Terceiro os eventos privados se é que precisamos falar deles são naturais e compartilham todas as propriedades do comportamento público Mesmo que te nhamos de discorrer sobre eles suas origens encontramse no ambiente exata mente como qualquer outro comportamento o comportamento nunca se origina de eventos privados Enquanto Skinner confere a eles um papel em situações que envolvem falar sobre o comportamento privado autoconhecimento Capítulos 6 e 7 behavioristas molares como Rachlin evitam a necessidade de dar aos even tos privados um papel explicativo concebendo o comportamento como organiza do em categorias que ocorrem no decorrer de um tempo estendido Tais ativida des estendidas incluem às vezes entre outros elementos falar sobre eventos privados 70 William M Baum LEITURAS ADICIONAIS Baum W M 2002 From molecular to molar a paradigm shift in behavior analysis Journal of the Experimental Analysis of Behavior 78 95116 Esse artigo explica a perspectiva molar e como ela pode ser aplicada na pesquisa em laboratório e na vida cotidiana Melzack R 1961 The perception of pain Scientific American 204 2 4149 Um exce lente artigo mais antigo que resume os aspectos fisiológicos e circunstanciais da dor Rachlin H 1985 Pain and behavior The Behavioral and Brain Sciences 8 4383 Esse artigo descreve a visão de Rachlin sobre a dor bem como argumentos e provas a seu favor A publicação inclui comentários de vários críticos bem como as respostas de Rachlin a eles Rachlin H 1994 Behavior and mind Oxford Oxford University Press Nesse livro relati vamente avançado Rachlin explica a perspectiva molar e como termos mentalistas podem ser interpretados comportamentalmente Rorty R 1979 Philosophy and the mirror of nature Princeton NJ Princeton University Press Esse livro contém uma crítica extensa do dualismo mentecorpo de um filósofo que é considerado um pragmatista contemporâneo Ryle G 1984 The concept of mind Chicago University of Chicago Press Reimpressão da edição de 1949 O Capítulo 1 explica a hipótese paramecânica o fantasma na máquina e os erros de categoria Os capítulos subseqüentes abordam tópicos mais específicos como conhecimento vontade e emoção Skinner B E 1969 Behaviorism at fifty In Contingencies of reinforcement Nova York AppletonCenturyCrofts p 221268 A mais famosa discussão de Skinner sobre eventos privados em contraste com eventos mentais Skinner B F 1974 About behaviorism Nova York Knopf O Capítulo 1 contém uma com paração do behaviorismo metodológico com o behaviorismo radical O Capítulo 2 discute causas mentais em contraste com eventos privados O Capítulo 5 Perceber discute a teoria da cópia e o ver na ausência da coisa vista TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 3 Aberto e encoberto Ação Atividade Autonomia Consciente Contigüidade Erro de categoria Espíritos animais Evento natural Evento privado Evento público Ficção explanatória Fictício Hipótese paramecânica Homúnculo Mentalismo Perspectiva molar Perspectiva molecular Problema mentecorpo Pseudoquestão Redundância Teoria da cópia N de T Título traduzido em português ver Apêndice PARTE DOIS Um modelo científico de comportamento V L ara ser claro e convincente ao criticar um ponto de vista é necessário oferecer uma visão alternativa aceitável Para ajudar a enxergar o que há de errado com visões mentalistas convencionais de comportamento precisamos levar em conside ração explicações que possam ser cientificamente aceitáveis Nos Capítulos 4 a 8 veremos alguns conceitos básicos de análise comportamental e os utilizaremos para sugerir alternativas a noções mentalistas e nãocientíficas Entretanto fazse necessária uma advertência Como todas as explicações ci entíficas as que iremos adotar são consideradas pelos cientistas como possibilida des abertas a debate e mudança Qualquer uma delas pode vir a ser considerada incorreta futuramente ou talvez não seja endossada por alguns analistas de com portamento mesmo nos dias de hoje Para nossos propósitos a possibilidade de que uma determinada explicação científica venha a ser descartada não é importante Tudo que temos de perceber é que é possível explicar o comportamento cientificamente Conforme progride a análise comportamental as explicações aceitas vão sendo modificadas à medida que surgem novas explicações 7ido que precisamos ver é que tipo de explicação é cientificamente aceitável como alternativa ao mentalismo A locitftjfcVfc M1 ST0I4 H f é u é 0ToCn4ofcSí UH 1 4 Teoria da evolução e reforço A moderna teoria da evolução fornece um poderoso referencial para se falar do comportamento Na verdade já não é mais possível discutir comportamento fora desse contexto porque desde Darwin os biólogos vêm reivindicando cada vez mais o comportamento como parte de seu objeto de estudo Em consonância com a suposição de continuidade das espécies Capítulo 1 sua atenção tem sido dirigida também e cada vez mais3 para o comportamento humano Mais ainda do que no tempo de Watson os psicólogos que hoje ignoram a teoria da evolução correm o risco de ficar à margem da tendência atual do desenvolvimento científico Neste capítulo nosso interesse pela teoria da evolução tem dois aspectos Em primeiro lugar a história evolutiva oufilogênese de qualquer espécie incluindo a nossa própria pode nos ajudar a comprèêncler3 comportamento dessa espécie A maior parte dos genes que um indivíduo herda foi selecionada ao longo de muitas gerações porque promovem comportamentos que contribuem para o sucesso na interação com o ambiente e na reprodução Em segundo lugar a teoria da evolução representa um tipo de explicação atípico entre as ciências As explicações científicas normalmente apelam para o mecanismo ou o modo como as coisas estão organiza das em um dado momento O tipo de explicação da teoria da evolução que chama remos de explicação histórica é critico para a análise de comportamento porque a alternativa cientificamente aceitável ao mentalismo é a explicação histórica HISTÓRIA EVOLUTIVA Quando falamos em filogênese de uma espécie não estamos falando de nenhum evento em particular mas de um a série ou história de eventos no decorrer de um longo tempo A resposta dada pela biologia à questão Por que as girafas têm pescoços compridos é de natureza diferente da resposta dada pela física a uma 74 Williom M Bcium questão do tipo Por que o Sol nasce de manhã A explicação sobre o Sol exige referência apenas a eventos que ocorrem em um determinado instante a rotação da Terra no momento em que o Sol nasce A explicação sobre as girafas exige referência ao nascimento vida e morte de um número incontável de girafas e de ancestrais de girafas no decorrer de muitos milhões de anos A grande contribuição de Darwin foi ver que um mecanismo relativamente simples poderia ajudar a explicar porque a filogenia seguiu o curso que seguiu Darwin enxergou que a história do pescoço das girafas é mais do que um a seqüên cia de mudanças é um a história de seleção O que faz a seleção Não é um Criador onipotente não é a Mãe Natureza não são as girafas mas sim um processo natural e mecânico a seleção natural Seleção natural Em qualquer população de organismos os indivíduos variam Variam em parte devido a fatores ambientais por exemplo nutrição e também devido à herança genética Entre os ancestrais de girafa que moravam onde atualm ente é a Planície de Serengeti na Tanzânia por exemplo a variação nos genes significava que algu mas teriam pescoços mais curtos outras mais compridos Entretanto à medida que o clima foi gradualmente se alterando novos tipos de vegetação mais altos tornaramse mais freqüentes Os ancestrais de girafa que possuíam pescoços mais compridos e eram capazes de atingir locais mais altos conseguiam comer em mé dia um pouco mais Em conseqüência eram um pouco mais saudáveis um pouco mais resistentes a doenças um pouco mais ágeis para fugir de predadores em média Qualquer um dos indivíduos de pescoço mais comprido poderia ter morrido sem deixar descendentes mas em média foram eles que deixaram mais descen dentes que por sua vez tiveram em média maior probabilidade de sobreviver e de deixar mais descendentes Como os pescoços mais longos se tornaram ma is fre qüentes novas combinações genéticas ocorreram resultando em descendentes de çescoço ainda mais longo que o das girafas anteriores e que se saíam ainda melhor A medida que as girafas de pescoço comprido continuavam a se reproduzir em maior número que as de pescoço curto o comprimento médio do pescoço de toda a população aumentou A Figura 41 esquematiza o processo O eixo horizontal representa os com primentos do pescoço aum entando da esquerda para a direita O eixo vertical superior representa a freqüência relativa de diversos comprimentos de pescoço na população de girafas ou de ancestrais de girafa A curva 1 m ostra a variação nos ancestrais de girafas de pescoço curto À medida que a seleção ocorre a distribui ção se desloca para a direita curva 2 indicando que o comprimento do pescoço embora continuasse variando tornouse em média mais longo A curva 3 mostra a variação nas girafas dos dias atuais uma distribuição de freqüência estável que não mais se desloca em direção de pescoços mais compridos Para que ocorra um processo de seleção desse tipo três condições devem ser satisfeitas Primeiro qual quer que seja o fator am biental que torne vantajoso ter um pescoço mais comprido no nosso exemplo a alteração na vegetação ele deve estar sempre presente Compreender o behaviorismo 75 Segundo a variação no comprimento do pescoço deve refletir pelo menos em parte a variação genética Indivíduos com pescoço mais comprido devem ter mai or probabilidade de deixar descendentes de pescoço comprido do que de pescoço curto Se por exemplo toda a variação no comprimento do pescoço fosse devida a variação na alimentação sem variação nos genes os indivíduos que comessem melhor teriam pescoço mais longo em vez do contrário a seleção se tornaria impossível porque geração após geração a mesma variação na alimentação e no comprimento do pescoço se repetiria Terceiro deve haver competição Dado que os recursos de uma região só podem sustentar uma população de girafas de deter minado número um a superpopulação significa que alguns descendentes têm de morrer Os descendentes bemsucedidos irão sobreviver na geração seguinte pro duzindo sua própria descendência Esses três fatores estão incorporados no conceito de aptidão A aptidão de um a variação genética um genótipo é sua tendência a um aumento quantitativo de uma geração à outra em relação aos outros genótipos da população Qualquer genótipo até mesmo um de pescoço curto poderia se sair bem desde que estivesse isolado mas em competição com outros poderá apresentar baixa aptidão Quanto maior a aptidão de um genótipo maior será a tendência de que tal genótipo predo mine no decorrer das gerações O eixo vertical descendente na Figura 41 represen ta a aptidão dos genótipos subjacentes aos diversos comprimentos de pescoço A curva sombreada m ostra como a aptidão varia com o comprimento do pescoço Este permanece o mesmo ao longo do processo de seleção porque representa os N de T Fitness em inglês A tradução por aptidão é utilizada atualmente por biólogos no sentido de aptidão para sobreviver e não no outro sentido que esse vocábulo possa ter de capacidade natural de adquirir conhecimentos ou habilidades motoras gerais ou específicas 76 William M Baum fatores constantes do ambiente a vegetação que ligam o comprimento do pesco ço ao sucesso reprodutivo Seu ponto máximo ocorre junto à linha tracejada a mesma linha que indica o comprimento médio do pescoço das girafas dos dias atuais Quando o genótipo médio em um a população alcança a aptidão máxima a distribuição de genótipos na população se estabiliza Estabilizada a população apenas o deslocamento direcionado cessa a sele ção que é o que mantém a população estável continua A curva de aptidão da Figura 41 passa por um valor máximo porque um pescoço longo demais pode ser uma desvantagem Complicações ao nascimento e a sobrecarga a que o coração seria submetido por bombear sangue a um a grande altura por exemplo podem estabelecer um limite superior para a aptidão Como a curva de aptidão passa por um valor máximo a seleção trabalhará contra os desvios desse valor máximo a média da população em ambas as direções O próprio Darwin e muitos biólogos desde então reconheceram que o com portam ento exerce um papel central na evolução A seleção ocorre porque os indi víduos interagem com seu ambiente Muito dessa interação é comportamento Em nosso exemplo as girafas têm pescoços compridos porque se alimentam Tartaru gas possuem cascos porque ao se encapsularem dentro deles protegemse A re produção chave de todo o processo não pode ocorrer sem comportamentos tais como cortejar acasalarse e cuidar da prole Os indivíduos que se comportam mais eficientemente têm maior aptidão A aptidão de üm genótipo depende de sua capacidade de gerarindivíduos que se comportam melhor do que outros indivíduos que comem melhor que correm mais velozmente que alimentam m elhor a prole que constroem melhor o ninho e assim por diante Na medida em que tais comportamentos são afetados pelo genótipo a seleção natural pode ter atuado para alterálos e estabilizálos Reflexos e padrões fixos de ação Reflexos Alguns traços comportamentais são tão característicos de uma espécie quanto seus traços anatômicos Os mais simples deles são chamados reflexos porque a primeira teoria sobre eles propunha que o efeito somático produzido por um estímulo um evento ambiental que estimula órgãos sensoriais refletiase pelo sistema nervo so em uma resposta um a ação Se seu nariz está coçando você espirra Se você recebe um sopro no oího você pisca Se você está com frio você treme A cócega o sopro e o frio são estímulos o espirrar o piscar e o tremer são respostas Os reflexos são produto da seleção natural Invariavelmente parecem estar envolvidos na manutenção da saúde e na promoção da sobrevivência e da reprodu ção Como exemplos podemos pensai em espirrar piscar tremer liberar adrenalina frente a um perigo excitarse sexualmente Os indivíduos nos quais esses reflexos eram fortes tinham mais probabilidade de sobreviver e de se reproduzir do que os indivíduos nos quais eles eram fracos ou inexistentes Na Figura 41 se substituir mos o comprimento do pescoço pela força do reflexo de espirrar ou pela prontidão Compreender o behaviorismo 77 da ereção do pênis podemos imaginar uma história de seleção semelhante A cur va de aptidão passaria por um valormáximo porque um espirro muito fraco repre senta pouca proteção e uma ereção muito lenta significa menos descendentes mas um espirro muito forte seria prejudicial e um a ereção muito rápida seria um obstá culo sem falar no problema social Ao longo de muitas gerações genótipos que promovessem um reflexo mais forte tenderiam a se reproduzir mais freqüentemente em média distribuições de freqüência l e 2 até chegar à aptidão máxima distri buição de freqüência 3 Padrões fixos de ação Padrões mais complexos de comportamento também podem fazer parte de rela ções fixas com eventos ambientais e ser característicos da espécie Quando uma gaivota chega ao ninho seus filhotes ciscam um ponto de seu bico e um dos pais responde depositando a comida no chão Em outras espécies de pássaros os filho tes abrem ao máximo suas bocas e o pai ou mãe coloca ali a comida Quando uma fêmea de esganagata um pequeno peixe com ovas entra no território de um macho este inicia uma série de movimentos ao seu redor e ela responde aproxi mandose do ninho desse macho Tais reações comportamentais complexas são conhecidas como padrões fixos de ação o ciscar dos filhotes o pássaro genitor regurgitar a comida e a dança de acasalamento do esganagata macho são exem plos Os eventos ambientais que disparam esses padrões são conhecidos comoes UissinaauAíberadores a chegada do pássaro pai as batidas no bico a boca bem aberta abarríga cEeia de ovos da fêmea de esganagata Tal como os reflexos essas reações comportamentais podem ser vistas como importantes para a aptidão e por essa razão como produtos de uma história de seleção natural Vale a mesma análise dos reflexos os indivíduos cujos padrões fixos de ação são ou muito fracos ou muito fortes possuem genótipos menos aptos Embora os estímulos liberadores e os padrões fixos de ação possam parecer mais complexos do que os estímulos e as respostas que constituem os reflexos não há nenhum a linha divisória clara que separe esses tipos de reação Ambos podem ser considerados relações entre um evento ambiental estímulo e uma ação res posta Ambos podem ser considerados característicos de uma espécie por serem traços extremamente constantes tão constantes quanto o pescoço ua girafa ou as manchas do leopardo Por serem de tal forma constantes são considerados incor porados resultantes do genótipo e não aprendidos Reflexos e padrões fixos de ação são reações que aumentam a aptidão por estarem imediatamente disponíveis no momento necessário Quando passa a som bra de um falcão em vôo o filhote de codorna se encolhe como se estivesse parali sado Se essa reação dependesse de experiência poucos filhotes de codorna sobre viveriam para se reproduzir Esse padrão pode ser refinado filhotes de gaivota depois de algum tempo tocam com mais precisão o bico do pai e o chamado de alarme peculiar de um jovem macaco vervet transformase eventualmente em dife N de T Cercopithecux aethiops 78 William M Baum rentes chamados conforme o predador seja digamos um a águia um leopardo ou um a cobra mas sua alta confiabilidade inicial deriva de um a história de seleção dessa mesma confiabilidade Genótipos que exigissem que tais padrões fossem apren didos a partir de zero seriam menos aptos do que genótipos que já trouxessem a forma básica incorporada Da mesma forma que o comprimento do pescoço ou a coloração da pele os reflexos e padrões fixos de ação foram selecionados no decorrer de um longo espa ço de tempo em que o ambiente permaneceu estável o suficiente para m anter a vantagem dos indivíduos que possuíssem o comportamento adequado Os reflexos e padrões fixos de ação que vemos hoje foram selecionados pelo ambiente passado Embora tenham aumentado a aptidão no passado nada garante que continuarão a aumentála no futuro se o ambiente mudar repentinamente a seleção não terá possibilidade de alterar os padrões de comportamento já incorporados Teriam os seres humanos esses padrões nãoaprendidos Dentre todas as es pécies a nossa parece ser a que mais depende da aprendizagem Seria um erro no entanto imaginar que o comportamento humano é inteiramente aprendido Te mos muitos reflexos tosse e espirro sobressalto o piscar a dilatação pupilar salivação secreção glandular e assim por diante E quanto aos padrões fixos de ação Esses são difíceis de serem reconhecidos em seres humanos porque são bas tante modificados por aprendizagem posterior Alguns podem ser reconhecidos porque ocorrem universalmente Um padrão fixo de ação é o sorriso até pessoas cegas de nascença sorriem Um outro é o rápido movimento de sobrancelha que ocorre quando cumprimentamos uma pessoa quando a saudação é sincera as so brancelhas erguemse por uma fração de segundo Normalmente nenhum a das duas pessoas que se saúdam tem consciência dessa resposta mas ela produz na pessoa cumprimentada a sensação de ser acolhida EiblEibesfeldt 1975 Não deveria soar como surpresa que seres humanos possuam padrões fixos de ação embora sejam modificados ou eliminados através de treino cultural Na verdade dificilmente poderíamos aprender todos os padrões complexos que aprendemos sem uma elaborada base de tendências previamente incorporadas Condicionamento respondente Um tipo simples de aprendizagem que ocorre com os reflexos e os padrões fixos de ação é o condicionamento clássico ou respondente E chamado de condicionamento porque seu descobridor í P Pavlov usou o termo reflexo condicional para descrever o resultado da aprendizagem ele considerou qüe um novo reflexo condicional à experiência tinha sido aprendido Pavlov estudou um a série de reflexos mas sua pesquisa mais conhecida centrouse em respostas ao alimento Descobriu que quan do um estímulo tal como um som ou uma luz precede com regularidade o ato de dar comida o comportamento na presença desse estímulo se altera Depois de uma série de pareamentos tomalimento um cão começa a salivar e a secretar sucos digestivos no estômago apenas na presença do tom Se Felipe começa a salivar quando vê o peru assado é evidente que ele não nasceu com essa reação ele saliva porque no passado tais eventos precederam o comer Se Felipe tivesse sido criado Compreender o behaviorismo 79 em uma família hinduísta ortodoxa na índia vegetariano desde o nascimento é pouco provável que a visão do peru assado o fizesse salivar Se tendo sido criado no Brasil fosse visitar a casa de um indiano possivelmente não salivasse frente a algumas das iguarias lá servidas O mesmo condicionamento que governa reações reflexas simples também governa os padrões fixos de ação Pesquisadores que se seguiram a Pavlov descobri ram que em qualquer situação na qual comer tenha ocorrido freqüentemente no passado todos os comportamentos relacionados à comida não apenas a salivação tornamse mais prováveis Cães latem e abanam a cauda comportamentos que acompanham a alimentação grupai em cachorros selvagens Assim que o momento de serem alimentados se aproxima pombos tendem a bicar qualquer coisa uma luz o chão o ar outro pombo até que haja comida para bicar Os analistas de comportamento debatem a melhor forma de falar sobre tais fenômenos A forma mais antiga derivada da idéia de Pavlov sobre reflexos condi cionais fala em respostas eliciadas por estímulos sugerindo uma relação causal de um para um Essa forma pode servir para reações reflexas como a salivação mas muitos pesquisadores consideramna inadequada quando aplicada aos vários com portamentos que se tomam prováveis quando da alimentação Para falar sobre todo o conjunto de comportamentos relacionados à comida foi introduzido o termo induzir Segai 1972 Repetidas apresentações de tom seguidos por alimento indu zem na presença do tom comportamentos relacionados à alimentação Para um cão isso significa que salivar latir e abanar a cauda tornamse todos prováveis quando o tom está presente O que é verdadeiro em relação à comida é verdadeiro em relação a outros eventos fílogeneticamente importantes Situações que precedem o acasalamento induzem excitação sexual todo um conjunto de reflexos e padrões fixos de ação que variam imensamente de um a espécie para outra Para os seres humanos acarre tam mudanças no batimento cardíaco na pressão sanguínea e na secreção glandular Situações que precedem perigo induzem uma série de comportamentos agres sivos e defensivos Um rato ataca outro rato quando recebe choque elétrico na presença deste De forma semelhante pessoas que estão sofrendo dor se tornam freqüentemente agressivas e qualquer situação em que tenham no passado senti do dor induz comportamento agressivo Quantos médicos dentistas e enfermeiros têm de lutar com a resistência de pacientes antes mesmo que qualquer dor lhes tenha sido infligida Tais situações induzem um grande número de reações reflexas e padrões fixos de ação que variam de uma espécie para outra Alguns desses com portamentos têm mais a ver com fuga do que com agressão Em situações que sinalizam perigo é bem provável que as criaturas saiam correndo As vezes quan do uma situação envolve dor que no passado tenha sido inevitável os sinais de perigo induzem passividade extrema E o fenômeno conhecido como desamparo aprendido às vezes comparado especulativamente à depressão clínica em seres humanos O debate sobre o que tudo isso significa e sobre a melhor forma de falar sobre esse assunto continua mas não precisa nos deter aqui Para nossos propósitos é suficiente notar que a história de seleção natural pode ter pelo menos dois tipos de resultado Primeiro pode assegurar que eventos importantes para a aptidão 80 Williom M Baum tais como alimento um parceiro sexual ou um predador produzam invariavelmen te reações comportamentais tanto reflexos simples quanto padrões fixos de ação Segundo pode assegurar a susceptibilidade da espécie ao condicionam ento respondente Felipe pode não ter vindo ao mundo salivando frente a um peru assa do mas ele vem sim construído de tal forma que pode aprender esta reação se for criado em nossa cultura Se os indivíduos que conseguiram aprender a reagir a vários sinais possíveis se mostraram mais aptos então os indivíduos dos dias de hoje possuirão um genótipo que será típico da espécie e que terá resultado de uma história de seleção natural que permite esse tipo de aprendizagem Em certo senti do esse genótipo faz a individualidade porque quais os precisos sinais que induzi rão o comportamento dependerá da história particular do próprio indivíduo quan to aos sinais específicos que precederam eventos específicos filogeneticamente im portantes Esses eventos que estamos chamando de filogeneticamente importantes costu mam ser importantes no sentido de induzir reações comportamentais para todos os membros da espécie Essa uniformidade sugere uma história evolutiva em que na população os indivíduos para os quais esses eventos foram importantes no sentido presente foram mais aptos Os genótipos que constituíram indivíduos para os quais comida e sexo não induziram comportamentos apropriados não foram importantes não estão mais conosco É preciso fazer uma distinção entre o que era importante há muito tempo durante a filogênese e o que consideramos importante em nossa sociedade atual A história evolutiva que tornou filogeneticamente importantes o alimento o sexo e outros eventos estendeuse por milhões de anos As circunstâncias ambientais que ligaram esses eventos à aptidão há um milhão de anos poderiam estar ausentes hoje porque a cultura humana pode mudar enormemente em apenas alguns sécu los tempo em que jamais seria possível ocorrer uma m udança evolutiva significati va em nossa espécie Por exemplo se uma nova geração se inicia a cada 20 anos 300 anos representam apenas 15 gerações o que é inquestionavelmente muito pouco para uma mudança substancial nos genótipos E possível que todas as mu danças que ocorreram como resultado da Revolução Industrial o crescimento de cidades e fábricas carros e aviões armas atômicas a família nuclear não tenham tido efeito algum sobre as tendências com portamentais m antidas por nossos genótipos Portanto nossa história evolutiva pode nos ter dado um a preparação inadequada para os desafios de hoje Quando o médico se aproxima para lhe apli car uma injeção sua tendência pode ser ficar tenso prepararse para o perigo ficar de sobreaviso para a fuga ou agressão enquanto a resposta adequada seria relaxar Agora que temos armas nucleares nas mãos quão mais importante se torna refrear tendências agressivas que evoluíram ao tempo em que um bastão era uma arma poderosa Reforçadores e punidores Por que nos submetemos pacientemente a injeções Os analistas de comportamen to explicam nossa tendência à submissão e não à resistência pelas conseqüências Compreender o behaviorismo 81 dessas ações A resistência poderia evitar alguma dor a curto prazo mas a sujeição à picada da agulha está ligada a conseqüências mais importantes a longo prazo tais como saúde e reprodução As conseqüências tendem a modelar o comporta mento e isso serve de base para um segundo tipo de aprendizagem o condiciona mento ou aprendizagem operante Eventos filogeneticamente importantes quando são conseqüências de com portamento são chamados de reforçadores epunidores Os eventos que durante a filogênese aumentaram a aptidão por estarem presentes são chamados reforçadores porque tendem a fortalecer o comportamento que os produz Como exemplos te mos alimento abrigo e sexo Se alimento e abrigo puderem ser obtidos através de trabalho então eu trabalho Se chego ao sexo através de rituais específicos de minha cultura o namoro então eu namoro Os eventos que aumentaram a apti dão durante a filogênese por estarem ausentes são chamados punidores porque tendem a suprimir punir o comportamento que os produz Como exemplos te mos a dor o frio e a doença Se eu faço um agrado em um cão e ele me morde será menos provável que eu o acaricie novamente Se comer amendoim me faz passar mal será menos provável que eu coma amendoim Essas mudanças no comporta mento s gr causa d eju as conseqüências são exemplosdaprendizagem operante Aprendizagem operante Enquanto o condicionamento respondente ocorre como resultado da relação entre dois estímulos um evento filogeneticamente importante e um sinal a aprendiza gem operante ocorre como resultado de uma relação entre um estímulo e uma atividade um evento filogeneticamente importante e um comportamento que afeta sua ocorrência Colocado em sentido amplo há dois tipos de relação entre comportamento e conseqüência positiva e negativa Se você caça ou trabalha para comer esse comportamento tende a produzir alimento ou a tornálo mais provável Tratase aqui de uma relação positiva entre conseqüência alimento e atividade caçar ou trabalhar Se Lourdinha é alérgica a amendoim ela verifica os ingredientes de alimentos industrializados antes de comprálos para se certificar de que não há amendoim ou óleo de amendoim em sua composição e não passar mal Tratase agora de um a relação negativa a atividade verificar os ingredientes evita a con seqüência doença ou a torna menos provável Com dois tipos de relação atividadeconseqüência positiva e negativa e dois tipos de conseqüência reforçadores e punidores temos quatro tipos de relação que podem dar origem à aprendizagem operante Figura 42 A dependência en tre trabalho e alimento e um exemplo de reforço positivo reforço porque a relação tende a fortalecer ou a m anter a atividade trabalhar e positivo porque a ativida de torna provável o reforçador alimento A relação entre escovar os dentes e desenvolver cáries é um exemplo de reforço negativo reforço porque a relação tende a m anter a escovação dos dentes a atividade e negativo porque escovar torna a cárie o punidor menos provável A relação entre caminhar sobre placas de gelo e cair é um exemplo de punição positiva punição porque a relação torna o caminhar sobre o gelo a atividade menos provável e positiva porque a atividade 82 William M Baum Conseqüência Reforçador Punidor D Reforço Positivo Punição Positiva c Positiva S o Negativa Punição Negativa Reforço Negativo Figura 42 Quatro tipos de relação que dao origem à aprendizagem operante torna o punidor queda mais provável A relaçao entre fazer barulho durante uma caçada e pegar a presa é um exemplo de punição negativa punição porque a rela ção tende a suprimir comportamentos ruidosos e negativa porque fazer barulho a atividade torna o pegar a presa um reforçador menos provável Os eventos filogeneticamente importantes não são os únicos reforçadores e punidores Os estímulos que sinalizam eventos filogeneticamente importantes que integram o condicionamento respondente também funcionam como reforçadores e punidores Um cão treinado a pressionar uma barra para produzir alimento tam bém pressionará essa barra para produzir um som que seja seguido por comida Enquanto continuar a sinalizar comida a relação do condicionamento respondente o tom servirá para reforçar o comportamento de pressionar a barra do cão Isso explica porque as pessoas trabalham por dinheiro como trabalhariam pelo próprio alimento como no condicionamento respondente o dinheiro é pareado com ali mento e outros bens Quando um reforçador ou um punidor é o resultado de um condicionamento respondente desse tipo ele é chamado de adquiiido ou condicio nai Os eventos filogeneticamente importantes que se relacionam diretamente com a aptidão são chamados de reforçadores e punidores incondicionais O dinheiro e um som que sinaliza comida são reforçadores condicionais Eventos dolorosos na sala do médico podem transformar a própria sala em um punidor condicional Na sociedade humana os eventos que se tornam reforçadores e punidores condicionais são numerosos e variados Eles diferem de cultura para cultura de pessoa para pessoa e de tempos em tempos ao longo da vida de um indivíduo Eu quando estava na primeira série lutava por medalhas de ouro hoje incentivo meu filho a batalhar por adesivos que mostram uma carinha sorridente Nos Estados Unidos quando estamos doentes marcamos consultas com médicos em outras culturas as pessoas marcam consultas com mágicos e curandeiros Lourdinha que é alérgica a amendoim acha o cheiro e o aspecto do creme de amendoim detestá N de T Happyfcice stickers são dados a crianças na escola no dentista ou em outras situa ções em que se deseja reforçar um certo comportamento Compreender o behaviorismo 83 veis e se esquiva dele Eu que como creme de amendoim diariamente no almoço vou sempre à m ercearia para comprálo Meu problema é com pimentão verde colocoo de lado quando vem na salada do restaurante O fato de um estímulo se tornar ou se manter reforçador ou punidor condi cional vai depender de sinalizar um reforçador ou um punidor incondicional O dinheiro se mantém como reforçador enquanto sinaliza a obtenção de alimento e de outros reforçadores incondicionais Nos primórdios da existência dos Estados Unidos o governo lançou uma moeda chamada de continental que acabou per dendo o valor porque não tinha muito lastro em ouro isto é não havia muita possibilidade de resgatar o papel por valores reais As pessoas se recusavam a rece ber o título como pagamento e ele parou de funcionar como reforçador Meu ami go Mark que é páraquedista ficou aterrorizado na primeira vez em que saltou de um avião e hesitou por muito tempo antes de pular novamente Entretanto após muitos saltos sem nenhum acidente ele salta agora sem hesitação o salto deixou de ser um punidor Para mim que nunca saltei de um avião só resta admirar a força dos reforçadores condicionais que mantêm esse comportamento Esse último exemplo ilustra um ponto importante a ser lembrado quando discutimos reforço e punição o comportamento com freqüência tem conseqüên cias mistas Frases dó tipo Tem que ser com sofrimento e Graças a Deus hoje é sextafeira revelam essa característica de nossas vidas A vida é cheia de opções entre alternativas que oferecem diferentes combinações de reforço e punição Com parecer ao trabalho propicia tanto receber a remuneração reforço positivo quan to sofrer aporrinhações punição positiva enquanto faltar sob pretexto de estar doente pode acarretar alguma perda monetária punição negativa evitar as apor rinhações reforço negativo propiciar alguns feriados reforço positivo e levar a algum tipo de reprovação no local de trabalho punição positiva Qual desses conjuntos de relações prevalecerá depende da força de cada uma delas o que por sua vez depende tanto das circunstâncias presentes quanto da história pessoal de reforço e punição Fatores biológicos Reforço e punição precisam ser compreendidos à luz das circunstâncias em que nossa espécie evoluiu Como a sensibilidade ao reforço e à punição aumenta a aptidão apenas em algumas circunstâncias e como algumas dessas sensibilidades aumentam mais a aptidão do que outras a filogênese nos deixou uma fisiologia Que de várias formas tanto ajuda como obstrui a ação do reforço e da punição Os analistas de comportam ento consideram três tipos de influência fisiológica Primeiro nenhum reforçador funciona como reforçador o tempo todo Se você acaba de comer três fatias de torta de maçã e seu cortês anfitrião ainda lhe oferece mais uma você agora provavelmente vai recusar Por mais poderoso que seja o reforçador ainda é possível a saturação Se você passou um certo tempo sem o reforçador é provável que ele se mostre poderoso isso é privação Se recente mente você recebeu muito desse reforçador é provável que ele se mostre fraco isso é saciação E até possível que um reforçador se transforme em punidor como bem 84 Williom M Baum sabem todos que um dia comeram demais Se você já está satisfeito com a torta de maçã ter de comer um a outra fatia seria demais seria um punidor A tortura m edie val com água fazia uso dos efeitos punitivos de forçar o indivíduo a beber água além de sua capacidade É provável que essa tendência dos reforçadores a se forta lecerem e se enfraquecerem e mesmo a se tornarem punidores tenha evoluído porque os indivíduos que a possuíam conseguiram melhores índices de sobrevivên cia e de reprodução do que os que não a possuíam Segundo é possível que venhamos ao mundo fisiologicamente preparados para determinados tipos de condicionamento respondente Alguns reforçadores e punidores condicionais parecem ser mais facilmente adquiridos do que outros Al guns exigem muita experiência outros exigem m uito pouca Mesmo alguns reforçadores e punidores aparentemente incondicionais parecem depender um pouco da experiência Quando criança eu odiava cogumelos mas hoje colocoos crus em minha salada Da mesma forma o poder reforçador do sexo parece crescer com a experiência Por outro lado alguns reforçadores e punidores aparentem ente con dicionais são facilmente adquiridos tão facilmente que mal parecem condicionais Para crianças e alguns adultos o doce é um reforçador poderoso Nossos ances trais que comiam muita fruta beneficiavamse da predileção por comida de sabor adocicado porque a fruta madura doce é mais nutritiva do que a fruta verde Conseqüentemente a maioria dos seres humanos vêm ao mundo preparada para desenvolver o gosto pelo sabor doce infelizmente para alguns de nós agora que a rápida mudança cultural tornou muito fácil o acesso a doces Um outro exemplo dessa aprendizagem preparada é o medo de cobras Mui tas crianças manusearão cobras com facilidade e sem demonstrar medo mas mos tram uma sensibilidade especial para qualquer sugestão de que cobras devam ser temidas A mesma criança que uma semana atrás manuseou uma cobra pode hoje gritar e se esconder ao ver a mesma cobra Para nossos ancestrais as cobras eram provavelmente um perigo real e a seleção teria favorecido os indivíduos predispos tos a se amedrontar Com efeito experimentos com macacos demonstram que eles têm o mesmo padrão de neutralidade inicial seguida de um a aquisição extrem a mente facilitada de medo de cobra Mineka et aL 1984 Os seres humanos parecem ser especialmente sensíveis também a sinais de aprovação e desaprovação de outros Alguns desses sinais como o sorriso e o fran zir de sobrancelhas são universais outros variam de uma cultura para outra A aprovação e a desaprovação podem ser expressas por sons gestos e mesmo postu ras corporais excessivamente sutis para um forasteiro mas evidentes para todos que cresceram naquela cultura Em uma espécie social como a nossa a aptidão de cada indivíduo depende das boas relações com os outros membros da comunidade É provável que nossa história de seleção tenha favorecido tanto a sensibilidade a dicas incondicionais como o sorriso e a carranca quanto à capacidade de apren der quaisquer dicas condicionais com especial facilidade Em vez de tentar separar reforçadores e punidores em duas categorias condi cionais e incondicionais talvez seja mais sensato falar em um contínuo de condi cionalidade de altamente condicional a minimamente condicional Doces e cobras talvez sejam minimamente condicionais enquanto dinheiro e fracasso em exames seriam mais condicionais Sorrisos e carrancas talvez sejam minimamente condido Compreender o behaviorismo 85 nais enquanto o menosprezo e o encorajamento sutis seriam altamente condicio nais Qualquer que seja o ponto de vista adotado dois pontos parecem claros 1 há uma faixa extrem am ente am pla de eventos que podem ser reforçadores e punidores 2 em última análise todos os reforçadores e punidores direta ou indiretamente derivam seu poder de seus efeitos sobre a aptidão ou seja de uma história de evolução por seleção natural A terceira influência fisiológica é a preparação do caminho para certos tipos de aprendizagem operante A estrutura de meu corpo faz com que certas aprendi zagens sejam improváveis Por mais que eu abra minhas asas parece que nunca aprendo a voar Por outro lado é extremamente provável que uma águia abra as asas e aprenda a voar É evidente que ela aprende em parte porque tem asas mas também porque está predisposta a usálas Nossa espécie também é predisposta a se comportar de determinadas maneiras e a aprender certas habilidades As crian ças vêm ao m undo com uma especial susceptibilidade para os sons de fala e come çam a balbuciar com pouca idade Virtualmente todas as crianças sem instrução especial acabam falando a língua que ouvem ao seu redor por volta dos 2 anos O falar é aprendido por causa de suas conseqüências pelos efeitos que têm sobre outras pessoas que fornecem reforço e punição As crianças aprendem a pedir bolachas porque é assim que conseguem que alguém lhes dê bolachas Mas essa aprendizagem é altamente preparada Para uin ser humano falar é tão crucial para a aptidão que os genes que favorecem o aprendizádo da fala haveriam de sofrer substancial seleção Conseqüentemente a fisiologia de nossos corpos torna esse aprendizado um a certeza potencial Como resultado de nossa fisiologia algumas habilidades serão aprendidas com grande facilidade enquanto outras mesmo que sejam muito importantes para nossa vida atual serão mais difíceis de aprender Compare a aprendizagem da fala com a aprendizagem da leitura e escrita A primeira não requer instrução as outras demandam escolas e professores Aprender cálculo pode ser útil mas ainda é um desafio para a maioria das pessoas enquanto dirigir um carro ao que parece qual quer um pode aprender O tipo de coordenação de olhos mãos e pés necessário para dirigir tam bém importante para caçar a presa e para espantar predadores é facilmente adquirido por nós enquanto o pensar abstrato exige mais esforço Por milhões de anos o homem caçou e foi caçado enquanto o cálculo foi inventado há menos de 400 anos Isso significa que há diferenças na facilidade com que se adqui rem diferentes habilidades e que a aprendizagem operante pode funcionar melhor com algumas habilidades falar e dirigir do que com outras ler e fazer cálculo Revisão das influências fiiogenéticas De cinco maneiras a história de seleção natural afeta o comportamento 1 Fornece padrões constantes de comportamento reflexos e padrões fi xos de ação que servem à sobrevivência e reprodução 2 Pode favorecer genótipos responsáveis pela capacidade de condiciona m ento respondente em que inúmeros estímulos neutros podem se tor 86 William M Baum nar promessas ou ameaças de situações prestes a ocorrer liberadores que exigem padrões fixos de ação Se essa capacidade de aprender au menta a aptidão o equipamento fisiológico necessário é selecionado 3 Pode favorecer genótipos responsáveis pela capacidade de condiciona mento operante em que as conseqüências reforçadores e punidores modelam o com portamento do qual dependem Se a aprendizagem operante aumentasse a aptidão durante a filogênese a seleção natural teria providenciado o equipamento fisiológico necessário para esse tipo de flexibilidade Os padrões fixos de ação que servem de base para o condicionamento respondente estímulos e respostas incondicionais de acordo com Pavlov servem também de base para a aprendizagem operante como reforçadores e punidores incondicionais Os sinais ou estímulos condicionais do condicionamento respondente funcionam como reforçadores e punidores condicionais na aprendizagem operante 4 Forneceu mecanismos fisiológicos de privação e saciação pelos quais aumenta ou diminui o poder de afetar o comportamento que têm os reforçadores e punidores 5 Seleciona tendências que favorecem o condicionamento de certos sinais no condicionamento respondente e que fortalecem certas atividades no condicionamento operante Se tais sinais e atividades são especialmente importantes para a aptidão embora alguma flexibilidade tam bém o seja então são selecionados mecanismos fisiológicos que tornam essa apren dizagem particularmente fácil HISTÓRIA DE REFORÇO O termo história de reforço em análise comportamental é na verdade um a for ma abreviada de história de reforço e punição a história de aprendizagem operante de um indivíduo desde o nascimento Nesta seção veremos que se trata de uma história de seleção por conseqüências análoga à filogênese O reforço e a punição modelam o comportamento à medida que ele evolui durante a vida de um indiví duo durante a ontogênese do comportamento da mesma maneira que o sucesso reprodutivo modela as características de uma espécie durante a filogênese Seleção pelas conseqüências Na Figura 41 certos ancestrais de girafa que possuíam pescoços mais curtos ti nham tendência a deixar em média menos sobreviventes do que aqueles que pos suíam pescoços mais compridos A menor e maior aptidão sucessos reprodutivos eram conseqüências dos pescoços mais curtos e mais longos Enquanto essas conse qüências diferenciais existiram curvas 1 e 2 da Figura 41 o comprimento médio do pescoço na popiilação continuava a crescer Quando o processo atingiu seu limi te curva 3 ainda havia conseqüências diferenciais do comprimento do pescoço Compreender o behaviorísmo 87 exceto que agora tanto um pescoço muito curto quanto um pescoço muito longo resultariam em um sucesso reprodutivo abaixo da média porque a variação no comprimento do pescoço atinge o ponto de aptidão máxima linha tracejada na Figura 41 Nessa altura as conseqüências diferenciais do comprimento do pesco ço atuam para estabilizar a população O princípio básico da filogênese é que dentre uma população de índivíduos que variam em genótipo os tipos que têm maior sucesso tendem a se tom ar mais freqüentes ou a perm anecer como tal Um princípio análogo é válido para a ontogênese através de reforço e punição é conhecido como a lei do efeito A lei do efeito Os comportamentos bem e malsucedidos se definem por seus efeitos Em termos cotidianos comportamentos bemsucedidos produzem bons efeitos e comporta mentos malsucedidos produzem efeitos não tão bons ou efeitos ruins Em aprendi zagem operante sucesso e fracasso correspondem a reforço e punição Uma ativi dade bemsucedida é aquela que é reforçada uma atividade malsucedida é aquela que é menos reforçada ou punida A lei do efeito é o princípio subjacente à aprendizagem operante Ela estabe lece que quanto mais um a atividade é reforçada mais ela tende a ocorrer e quan to mais uma atividade é punida menos ela tende a ocorrer Os resultados da lei do efeito são freqüentemente tratados como modelagem porque os comportamentos mais bemsucedidos aumentam e os menos bemsucedidos diminuem à semelhan ça do escultor que molda a massa de argila puxando aqui pressionando lá até que o barro adquira a forma desejada Quando você estava aprendendo a escrever até mesmo as aproximações mais remotas de letras como o e c eram acompanhadas por grandes elogios Algumas dessas tentativas eram melhores do que outras e as melhores eram em geral seguidas por elogios mais entusiásticos Um desempenho realmente fraco pode ter gerado até mesmo desaprovação Gradualmente suas letras adquiriram uma forma melhor Os critérios também mudaram formas que eram elogiadas em um estágio inicial passaram a merecer desaprovação em um estágio posterior Modelagem e seleção natural Os analistas comportamentais pensam que a modelagem do comportamento funcio na exatamente da mesma forma que a evolução das espécies Assim como as dife renças no sucesso reprodutivo aptidão modelam a composição de uma popula çao de genótipos reforço e punição modelam a composição do comportamento de utn indivíduo Para clarificar a analogia pense no conjunto de todos os comporta mentos de um determinado tipo digamos dirigir o carro para o trabalho em que urna pessoa se empenhe por um tempo digamos um mês como semelhante à População de girafas Dirigir o carro para o trabalho é uma espécie de comporta 88 William M Baum mento da mesma forma que girafas são uma espécie de animal e todo o meu comportamento de dirigir o carro durante um mês é um a população de atividades de dirigir exatamente como todas as girafas na Planície de Serengeti são uma po pulação de girafas Assim como algumas girafas são mais bemsucedidas quanto a gerar descendentes alguns de meus episódios de dirigir ações Capítulo 3 são mais bemsucedidos quanto a me conduzir ao trabalho Algumas manobras econo mizam tempo elas são reforçadas Outras fazem perder tempo ou se m ostram perigosas essas são punidas As manobras bemsucedidas tendem a se tornar mais freqüentes ou pelo menos se mantêm constantes ao longo dos meses e as m ano bras malsucedidas tendem a se tornar menos freqüentes ou pelo menos perm ane cem raras ao longo dos meses do mesmo modo que os tipos mais bemsucedidos de girafas tendem a permanecer mais comuns e os tipos menos bem adaptados tendem a permanecer raros Da mesma forma que os tipos mais bem adaptados de girafas são selecionados por seu sucesso as maneiras mais bem adaptadas de diri gir um carro são selecionadas pelo seu sucesso Ao longo do tempo a seleção resul ta ou em evolução ou em estabilização da forma de dirigir Suponha que tomemos a Figura 41 e coloquemos velocidade de dirigir em relação ao limite de velocidade em substituição a comprimento de pescoço e eficiên cia economizar tempo sem perigo excessivo em substituição a aptidão O resulta do é a Figura 43 As três curvas de freqüência podem se referir a três estágios diferentes em minha aprendizagem de dirigir Primeiramente eu tendo a dirigir em baixa velocidade curva 1 À medida que adquiro competência dirijo mais velozmente curva 2 Porque estas velocidades tendem a ser menos eficientes menos reforçadas minha velocidade gradualmente m uda para o que é hoje cur va 3 coincidindo em média com a velocidade mais eficiente representada pela linha tracejada cerca de 8 quilômetros por hora acima do limite de velocidade Compreender o behaviorísmo 85 Assim como ocorre com a evolução a modelagem do comportamento opera sobre a população e sobre a média Quando meu comportamento de dirigir estava sendo modelado digamos curva 2 na Figura 43 a velocidade maior significava maior eficiência somente em termos médios As vezes a velocidade maior era me nos eficiente eu posso ter sido detido por um policial ou talvez tenha sofrido um acidente Às vezes a velocidade maior deixava de ser eficiente talvez toda a minha correria só tenha servido para me deixar preso bem na reta final atrás de um vagaroso ônibus escolar ou à espera da passagem de um trem Nem toda ação de um certo tipo precisa ser reforçada ou punida para que o tipo seja fortalecido ou eliminado ao longo do tempo é apenas em média que o tipo precisa ser mais reforçado ou punido Para a evolução ou estabilização de um a população por meio da seleção natu ral são necessários três ingredientes variação reprodução e sucesso diferencial 1 Para haver seleção entre possibilidades deve haver mais de uma possibilidade isto é os indivíduos na população devem variar na característica comprimento de pescoço na Figura 41 velocidade na Figura 43 ou coloração ou incontáveis outras características 2 As diferentes variações devem tender a se reproduzir isto é os descendentes devem se assemelhar a seus pais no decorrer de gerações Para a seleção natural essa semelhança resulta de herança genética Girafas de pescoço longo e de pescoço curto herdam seus pescoços longos ou curtos de seus pais 3 Entre as variações algumas devem ser mais bemsucedidas do que outras isto é deve haver competição Se todas as variações fossem igualmente aptas se em vez da curva mostrada na Figura 41 a aptidão fosse representada por uma linha reta então a característica comprimento do pescoço não se deslocaria em uma direção específica nem perm aneceria estável porém oscilaria de modo imprevisível de um a hora para outra Como o pescoço muito curto reduz a aptidão a população movese uniformemente na direção de pescoços compridos no ponto em que um pescoço longo demais também diminui a aptidão a população fica estável A modelagem por reforço e punição requer os mesmos três ingredientes varia ção reprodução e sucesso diferencial 1 Na modelagem a variação ocorre na população de ações que servem a um propósito semelhante dirigir em nosso exem plo que serve para nos transportar Você raramente faz a mesma coisa duas vezes exatamente do mesmo jeito Às vezes você escova os dentes com força às vezes com delicadeza Às vezes você fala alto às vezes fala baixo Às vezes eu dirijo acima do limite de velocidade às vezes abaixo A população de escovações fortes ou delicadas de vocalizações altas ou baixas ou de conduções mais ou menos velo zes varia exatamente da mesma forma que a população de girafas de pescoços mais compridos é mais curtos 2 Para que a modelagem ocorra as atividades devem tender a se repetir reproduzir de tempos em tempos Se eu escalar um pico ape nas uma vez na vida não há oportunidade para que meu comportamento de esca lar picos seja modelado Porque eu escovo os dentes todos os dias há muitas opor tunidades para que meu comportamento de escovar os dentes seja modelado 3 aia a modelagem sucesso diferencial significa reforço e punição diferenciais Eu talo alto com minha avó caso contrário ela não pode me ouvir e reforçar meu Co Aporta mento de lhe falar Se falo alto demais ela me repreende dizendo Não 90 Williom M Baum grite comigo rapaz Quase sempre consigo achar uma intensidade de voz agradá vel para que possamos manter uma boa conversa ou seja algumas imensidades sonoras são mais bemsucedidas do que outras do mesmo modo que na Figvra 43 algumas velocidades são mais bemsucedidas do que outras Assim como ocorre na seleção natural há um limite para o tamanho da população você escova seus dentes apenas duas ou três vezes ao dia e eu dirijo meu carro durante um número limitado de horas por mês Como as variações mais bemsucedidas tendem a se reproduzir mais freqüentemente dia a dia ou mês a mês as variações menos bem sucedidas tendem a se tornar menos freqüentes Enquanto algumas variações fo rem reforçadas ou punidas mais freqüentemente que outras a população de ações irá se deslocar ou permanecer estável como na Figura 43 Quando uma pessoa administra reforço e punição intencionalmente com o propósito de alterar o comportamento de outra pessoa temos o que se chama de treino ensino ou terapia Os mesmos princípios de reforço e punição se aplicam quer estejamos falando de um técnico esportivo treinando um time de um adestra dor de animais treinando um urso a dançar de um professor ensinando uma crian ça a ler ou de um terapeuta ajudando um cliente a ser mais assertivo com seus superiores A única diferença é que esses exemplos de modelagem constituem rela cionamentos isto é duas pessoas estão envolvidas e o comportamento de ambas está sendo modelado Os Capítulos 7 9 e 11 apresentam mais detalhes a esse respeito Treino ensino e terapia se assemelham ao cruzamento seletivo processo em que o sucesso reprodutivo quais indivíduos conseguem procriar é determinado por uma pessoa e não pelo ambiente natural Quando fazendeiros cruzam apenas as vacas que produzem mais leite eles estão tirando vantagem da herança genética da produção de leite da mesma forma que a seleção natural se aproveita da heran ça de traços vantajosos no ambiente natural Darwin teve a idéia de seleção natu ral em parte por observar o cruzamento seletivo Ele percebeu que o mesmo prin cípio se aplicava à fazenda e à natureza De forma semelhante os mesmos princí pios de reforço e punição se aplicam a nosso ambiente natural nãoestruturado e a situações especialmente estruturadas para a mudança de comportamento Explicações históricas O paralelo entre seleção natural e modelagem não é mero acidente pois ambas as idéias existem para solucionar problemas semelhantes No Capítulo 1 vimos como a teoria da seleção natural de Darwin forneceu a primeira explicação científica da evolução Antes dela até mesmo entre aqueles que rejeitavam a explicação exata da Bíblia era comum considerar a evolução como resultado do planejamento inte ligência ou intenção de Deus Do ponto de vista científico tal explicação é macei tável porque obstrui o avanço do conhecimento e impede o esforço em direção ao progresso verdadeiro Assim como a seleção natural substituiu a intenção divina a seleção por reforço e punição substitui as explicações mentalistas do comporta mento que se referem a planejamento inteligência ou intenção no interior da pes soa ou do animal que se comporta Compreender o behoviorismo 91 A Figura 44 resume o paralelo entre seleção natural e modelagem Ambas as idéias baseiamse na noção de mudança gradual ao longo do tempo ou seja baseiamse em um a história No processo de evolução por seleção natural a histó ria é a filogênese m udança gradual de traços de base genética Na modelagem de comportamento a história é a mudança gradual do comportamento de um indiví duo devida a sua interação com as relações de reforço e punição em seu ambiente Figura 42 Sua história pessoal de reforço e punição inclui todas as vezes em que seu comportamento produziu comida dinheiro aprovação dor ou desaprovação todas essas conseqüências que modelaram seu comportamento transformandoo no que é hoje Ela é parte da ontogênese de seu comportamento Ambas as idéias referemse a uma população em que ocorre variação Na evolução a variação ocorre em uma população de indivíduos sendo que a variação crucial se dá nos genótipos dos indivíduos Na modelagem a variação ocorre em uma população de tipos de ação que engloba todas as diferentes formas que um indivíduo pode exibir no desempenho de uma dada tarefa ou atividade como esco var os dentes ou ir a um a loja Ambas as idéias exigem a reprodução de tipos Na seleção natural os genótipos são passados de geração a geração por herança genética Na modelagem as ativi dades se repetem porque as ocasiões em que elas são oportunas se repetem Eu escovo meus dentes todas as manhãs e todas as noites porque me levanto todas as manhãs e me deito todas as noites As pessoas normalmente chamam tal repetição de hábito O mecanismo preciso subjacente ao hábito deve residir no sistema nervoso mas sabese muito menos sobre esse mecanismo do que sobre a transfe rência genética de características de país para filhos Ambas as idéias atribuem a mudança à seleção por sucesso diferencial Na seleção natural a alteração nos genótipos que compõem uma população é devida à aptidão diferencial ou ao sucesso reprodutivo Na modelagem a alteração nas for Hisfória População Variação Reprodução Seleção Explicação substituída Seleção natural Filogênese Genótipos Herança genética Aptidão diferencial Deus Criador Modelagem História de reforço e punição ontogênese Tipos de ação comporta mento Repetição ou Hábito Reforço e punição diferenciais Intenção vontade inteligência mentaÜsmo Figura 4 Paralelo entre seleção natural e modelagem 92 William M Baum mas de desempenhar um a atividade os tipos de ação se deve a reforço e punição diferenciais as diferenças na eficácia de diferentes tipos de ação Finalmente cada uma dessas idéias substitui um a explicação nãocientífica anterior À seleção natural substitui Deus o Criador a força oculta que guia a evo lução por uma explicação em termos puramente naturais A aparente inteligência e intencionalidade das formas devida são vistas como o resultado da seleção atuando sobre a variação Para as girafas é bom ter pescoço comprido mas nem elas nem o Criador merecem crédito por isso porque foi o ambiente que transformou os pes coços compridos em um a coisa boa e foi ele também que os selecionou A m odela gem por reforço e punição também substitui forças ocultas as causas mentalistas do comportamento por explicações em termos puram ente naturais A inteligência e a intencionalidade das ações são vistas como resultado da seleção reforço e punição atuando sobre a variação Para mim é bom dirigir meu carro de forma atenta e cuidadosa mas nem eu nem qualquer intenção ou inteligência interna merecemos crédito por isso porque foi o ambiente que transformou o dirigir com petente em uma coisa boa e foi ele também que o selecionou As explicações históricas tal como a seleção natural e o reforço diferem das explicações científicas que se baseiam em causas imediatas O nascer do Sol é expli cado por uma causa imediata a rotação da Terra Na explicação histórica a causa do evento não está presente em lugar nenhum mas é toda uma história de eventos passados O pescoço comprido da girafa não pode ser explicado por nenhum even to no momento de seu nascimento ou mesmo de sua concepção mas é explicado pela longa história de seleção que o produziu ao longo de milhões de anos Igual mente a velocidade com que dirijo meu carro não pode ser explicada por nenhum evento no momento em que dirijo ou mesmo no momento em que entro no carro mas é explicada pela história de modelagem que a produziu no decorrer de muitos meses ou anos Biólogos evolucionistas fazem uma distinção entre explicações próximas e ex plicações últimas Alcock 1998 A explicação im ediata de um padrão de com por tam ento referese aos mecanismos fisiológicos que determinam o desenvolvimento do padrão a partir da concepção A dotação genética de um indivíduo explica de m aneira imediata porque o indivíduo espirra sorri e é capaz de aprender Mas a questão mais ampla é porque de início o indivíduo tem aquela carga genética e essa não pode ser explicada pelo momento da concepção ou por qualquer outro momento A explicação última referese à afiliação do indivíduo a um a população ou espécie e estritam ente falando aplicase à população e jam ais ao indivíduo Seres humanos espirram e aprendem porque este reflexo e esta capacidade aum en taram a aptidão dos seres humanos e de seus ancestrais ao longo de milhões de anos essa é a explicação última Explicações últimas são explicações históricas já explicações im ediatas são explicações em termos de causas imediatas Se soubéssemos o suficiente sobre a fisiologia do sistema nervoso talvez fosse possível explicar porque dirigi a 90 quilô metros por hora às 855 do dia 10 de junho Seria então uma explicação im ediata desse momento particular de meu comportamento assim como a genética molecular e a embriologia poderiam vir a fornecer uma explicação imediata da razão por que tenho duas mãos e dois pés Mas a explicação para a população de minhas veloci Compreender o behaviorismo 93 dades ao dirigir ser tal qual é mês após mês não pode ser dada pela fisiologia de meu sistema nervoso pelo mesmo motivo por que as duas mãos e os dois pés dos seres humanos não podem ser explicados pelo desenvolvimento embriológico ou genético de uma pessoa em particular A população requer uma explicação última ou histórica Posso em dada ocasião entregar minha carteira a um homem arma do a explicação histórica indica que esse evento pertence a uma população ação chamada digamos de submissão à ameaça e remete à longa história de reforço pela submissão a ameaças do pátio de recreio à sala de aula e às ruas da cidade de Nova York As pessoas parecem preferir explicações imediatas provavelmente porque é mais simples pensar os eventos como bolas de bilhar batendo umas nas outras do que em termos de história Quando uma ação não tem uma causa imediata visível somos tentados a inventála em vez de olhar para a história de reforço que produ ziu a atividade à qual ela pertence Se a história de reforço responsável pela ida de Fábio ao cinema quando deveria ter ficado estudando é obscura podemos cair na tentação de dizer que sua força de vontade falhou Isso claro é mentalismo O Capítulo 3 criticou extensamente o mentalismo mas nunca ofereceu uma alternativa agora estamos em posição de poder sugerir uma explicação cientifica mente aceitável para propósito e intenção Como mencionamos no início desta parte do livro os detalhes da explicação mudarão com o tempo Tudo que precisa mos é demonstrar que uma explicação verdadeiramente científica é possível Este é o assunto do Capítulo 5 RESUMO A teoria da evolução é importante para a análise comportamental sob dois aspectos Primeiro muito do comportamento se origina da herança genética derivada da história de evolução da espécie filogênese A seleção natural fornece os refle xos e padrões fixos de ação a capacidade de condicionamento respondente a ca pacidade de aprendizagem operante os reforçadores e punidores cuja eficácia muda com o tempo e o contexto e as variações que favorecem determinados tipos de condicionamento respondente e operante Segundo a teoria da evolução fornece um modelo de explicação histórica que é o tipo de explicação que se aplica ao comportamento operante A história de reforço e punição é análoga à história de seleção natural exceto que a primeira opera sobre um tipo de comportamento população de ações durante a vida de um indivíduo enquanto a segunda opera sobre uma espécie população de orga nismos ao longo de muitas gerações Ambos os conceitos substituem explicações nãocientíficas que remetem a um agente inteligente e oculto que guiaria a mu dança evolutiva ou comportamental Enquanto na física e na química as explicações se baseiam em causas imediatas as explicações históricas se referem a efeitos cumulativos de muitos eventos ao longo de muito tempo As mudanças produzidas em uma população como resultado de seleção pelas conseqüências não podem ser localizadas em um momento específico 94 William M Baum Tal como a fílogênese a história de reforço se refere a muitos eventos do passado e foram eles que todos juntos produziram o comportamento presente LEITURAS ADICIONAIS Há muitos livros em diversos níveis que tratam dos tópicos deste capítulo em i maior profundidade j t Alcock J 1998 Animal behavior an evolutionary approach Sunderland Mass Sinauer Associates 6 ed Excelente texto introdutório que cobre a teoria da evolução e a sociobiologia Barash D 1982 Sociobiology and behavior Nova York Elsevier 2 ed Excelente trata mento mais avançado que o de Alcock j EiblEibesfeldt 1 1975 Ethology the biology of behavior Nova York Holt Rinehart and Í Winston 2 ed Esse livro apresenta um tratamento excelente dos padrões fixos de ação j especialmente em seres humanos Gould J L 3982 Ethology the mechanisms and evolution of behavior Nova York Norton i Um livro mais atualizado do que o de EiblEibesfeldt embora não necessariamente melhor j Mazur J E 2002 Learning and behavior Englewood Cliffs NJ PrenticeHall 5 ed j Texto avançado sobre análise comportamental que fornece uma boa visão geral da área Mmeka S Davidson M Cook M e Keir R 1984 Observational learning of snake fear in rhesus monkeys Journal of Abnormal Psychology 93 355372 Esse artigo relata um estudo f sobre a fácil aquisição de medo de cobras por macacos j Segai E E 1972 Induction and the provenance of operants In R M Gilbert e J R i Millenson eds Reinforcement behavioral analyses Nova York Academic Press p 134 t Uma excelente revisão técnica sobre a indução sua interação com o reforço e seus efeitos sobre o comportamento operante i Skinner B F 1953 Science and human behavior Nova York Macmillan Primeiro texto sobre análise comportamental atualmente tem principalmente interesse histórico mas con í tém muitos argumentos e exemplos elucidativos f TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTU10 4 Aprendizagem operante Aptidão Condicionamento clássico Condicionamento operante Condicionamento respondente Desamparo aprendido Eliciar Estímulo condicional Estímulo incondicional Estímulosinal Evento filogeneticamente importante Explicação histórica N de T Título traduzido em português ver Apêndice Compreender o behoviorismo Explicação próxima Explicação última Filogênese Genótipo Induzir Liberador Modelagem Ontogênese Padrão fixo de ação Punição negativa Punição positiva Punidor condicional Punidor incondicional Reflexo condicional Reflexo incondicional Reforçador condicional Reforço incondicional Reforço negativo Reforço positivo Resposta condicional Resposta incondicional Sucesso reprodutivo Intenção e reforço Suponha que um amigo lhe diga que você deve ler o livro Moby Dick e você saia à procura dele nas livrarias A primeira livraria não tem nenhum exemplar então você vai para outra Essa atividade é freqüentemente chamada de intencional por que é supostamente impulsionada por um intenção interna obter e ler o livro Moby Dick Os analistas comportamentais rejeitam a idéia de que uma intenção interna guia a atividade Que podem eles oferecer como alternativa cientificamen te aceitável O Capítulo 4 examinou os estreitos paralelos entre a teoria da evolução na biologia e a teoria do reforço na análise comportamental Vimos que ambas funda mentamse em explicações históricas ao substituir noções nãocientíficas relativas a agentes ocultos Criador inteligência ou vontade atuando nos bastidores Neste capítulo veremos exatamente como o conceito de história de reforço e punição substitui as noções tradicionais acerca de intenções internas HISTÓRIA E FUNÇÃO Vimos no Capítulo 4 que explicações históricas são explicações últimas e que ex plicações últimas elucidam a razão da existência de populações de organismos ou ações e têm pouco a dizer sobre as peculiaridades de organismos ou ações individuais Aponte para uma zebra e pergunte a um biólogo evolucionista sobre suas listras você obterá uma explicação de por que as zebras como um grupo têm listras Se você na verdade quiser saber por que aquela determinada zebra tem um padrão de listras que a torna diferente de outras zebras você terá de procurar um embriologista ou um especialista em desenvolvimento Aponte para uma criança e pergunte a um analista de comportamento por que ela está batendo em seu companheiro com um caminhão de brinquedo você obterá uma explicação sobre por que aquela criança 98 William M Baum está exibindo o grupo de ações que chamamos de comportamento agressivo Se você quiser saber por que a agressão envolve aquele determinado brinquedo e aqueles músculos particulares do braço terá de consultar um fisiólogo Quando biólogos evolucionistas ou analistas de comportamento falam mais especificamen te de uma população eles o fazem definindo subpopulações ou subcategorias Os pardais de coroa branca podem cantar ligeiramente diferente de um a região para outra e eu posso dirigir mais rápido quando estou atrasado do que em outras circunstâncias mas os pardais de uma determinada região e os episódios de dirigir quando estou atrasado continuam sendo populações e continuam sendo explica dos historicamente A explicação histórica e o raciocínio em termos de população andam lado a lado e ambos dem oram um pouco para ser assimilados Isso vale para a explicação histórica usada na análise de comportamento pois as pessoas estão muito predis postas a procurar explicações em causas que estão presentes no momento da ação Quanto ao raciocínio em termos de população as pessoas não estão acostumadas a agrupar ações tendo como parâmetro suas funções isto é em termos do que elas realizam Ao invés elas o fazem tendo como parâmetro sua aparência Vejamos agora mais detalhadam ente como explicações históricas e definições funcionais podem ser empregadas 0 uso de explicações históricas Pelo menos desde que Freud inventou a psicanálise psicólogos e leigos acostuma ramse com a idéia de que eventos da infância afetam nosso comportamento na vida adulta Se fui vítima de violência quando criança posso tender a ser violento com meus próprios filhos quando for adulto Se minha família sempre se reunia para jantar isso poderá parecer essencial para mim quando me tom ar paí de famí lia Observações desse tipo compõem a base das explicações históricas Eu me com porto de determ inada maneira quando adulto por causa dos eventos de minha infância História versus causa imediata É uma grande tentação ao que parece representar de algum modo os eventos da infância no presente Se nenhuma causa óbvia pode ser encontrada no presente a tentação é inventar uma Se eu sofri um trauma quando criança dizse que tenho ansiedade ou um complexo que hoje causa o comportamento maladaptado Se um adolescente cresceu em uma família perturbada ele se comporta mal hoje por que tem baixa autoestima Noções como essas são exemplos de mentalismo a prática de invocar causas imaginárias para tentar explicar o comportamento Falar de ansiedade complexos ou autoestima não acrescenta nada ao que já é conhecido a conexão entre even tos passados e o comportamento presente Atribuir a delinqüência à baixa auto Compreender o behoviorísmo 99 estima de nenhum modo explica a delinqüência De onde vem a baixa autoesti ma Como ela causa a delinqüência Há alguma evidência de baixa autoestima além do comportamento que ela deveria explicar A baixa autoestima é alguma coisa além de um rótulo para a categoria de comportamentos que ela deveria expli car A maneira de escapar dessa armadilha é aceitar que eventos ocorridos há muito tempo possam afetar o comportamento presente de forma direta Se um menino apanhava e era rejeitado quando criança esse fato pode contribuir para seu comportamento de roubar carros na adolescência mesmo após uma lacuna temporal Lacunas temporais A relação observada entre ambiente e comportamento continua a despeito de uma lacuna temporal mas não é aí que reside sua importância científica ou prática Se pessoas que sofreram violência na infância tendem a ser violentas com crianças quando adultos a lacuna entre a infância e a vida adulta não altera a utilidade desse fato que pode levar à terapia e a uma melhor compreensão dos efeitos da experiência passada Mesmo que não tenhamos nenhuma idéia sobre que mecanis mos somáticos perm item essa relação no tempo não precisamos recorrer ao mentalismo nem hesitar em fazer uso das observações Em análise comportamental os episódios que envolvem lacunas temporais assemelhamse àqueles que na física envolvem ação a distância O conceito de gravidade demorou para ser aceito porque parecia estranho que um corpo pudesse exercer influência sobre outro mesmo estando distante dele A gravidade foi final mente aceita porque se m ostrou útil na explicação de fenômenos tão diversos quanto a queda dos corpos e o efeito da Lua nas marés As concepções sobre seus mecanis mos apareceram muito mais tarde Com respeito a lacunas temporais é inquestionável que toleramos relações que envolvem pequenas lacunas Se eu bater um dedo do pé e ainda sentir dor um minuto depois ninguém questionará a idéia de que meu comportamento agora resulta da batida um m inuto antes Se um professor disser a uma criança Levante a mão se tiver dúvidas e a criança levantar a mão cinco minutos depois não temos nenhuma dificuldade em atribuir essa ação à combinação da instrução do professor com o fato da criança ter encontrado dificuldade apesar do lapso de cinco minutos entre esses eventos Lacunas mais longas entretanto anos ou mesmo horas dão margem à tentação de recorrer ao mentalismo Em termos do efeito sobre o comportamento atual não há em princípio nenhuma diferença entre minha batida no dedo do pé há um minuto e meu traum a de 30 anos atrás Um evento ocorreu há muito mais tempo do que o outro mas não há nenhuma necessidade de inventar um complexo Para explicar o segundo como não havia para explicar o primeiro Do mesmo modo nao há em princípio nenhum a diferença entre combinar a instrução do professor e as dúvidas da criança e combinar uma promessa feita na segundafeira com um tOO William M Baum encontro na sextafeira Em cada caso a combinação do evento anterior com o evento posterior torna provável determinado comportamento em um momento posterior A lacuna de quatro dias não requer mais do que a lacuna de cinco minu tos a invenção de um a memória para ligar os eventos Respostas a instruções e promessas que envolvem lacunas de cinco minutos ou quatro dias permitem supor a possibilidade de outras lacunas mais longas Assim como respostas atuais a traumas de infância surgem apesar de uma lacuna de m uitos anos também respostas atuais a instruções e promessas surgem de even tos m uito anteriores Sem uma história de seguir instruções e fazer promessas nem a criança nem o professor poderiam comportarse adequadamente Para que a criança obedeça ao professor é necessário que tenham ocorrido muitas situações nas quais ela foi instruída a fazer alguma coisa seguiu as instruções e seu compor tam ento foi reforçado Para você sair procurando o Moby Dick porque um amigo lhe recom endou é necessário ter havido ocasiões no passado nas quais você seguiu esse tipo de conselho e os resultados foram reforçadores Do mesmo modo fazer e cum prir promessas tem de ter sido reforçado muitas vezes no passado para que um a pessoa agora faça e cumpra um a promessa A instrução específica que foi seguida pode nunca ter sido ouvida antes e a prom essa específica pode nunca ter sido feita antes mas cada história envolve m uitos exemplos semelhantes ao caso em discussão Ninguém jamais lhe havia dito para ler Moby Dick mas as pessoas lhe dizem para fazer outras coisas algumas das quais você faz A história não necessita incluir a instrução específica nem a promes sa específica porque seguir instruções e manter promessas são categorias basea das não na estrutura ou na aparência mas na função Unidades funcionais U m a classe ou categoria funcional é definida pelo que seus membros fazem como agem ou funcionam e não por sua composição ou aparência Um exemplo de unidade estrutural poderia ser móveis com quatro pernas porque basta que uma coisa seja construída de determinado modo para pertencer a essa classe enquanto m esa poderia ser exemplo de uma classe funcional pois para pertencer a essa classe bastaria a uma coisa existir para a finalidade de se colocar objetos sobre ela Uma m esa pode ter três quatro seis ou oito pernas não faz diferença como foi construída Uma classe ou categoria é chamada de unidade quando é tratada como um todo singular Se eu digo que vou comprar uma mesa o objeto particular que trarei p ara casa ainda é desconhecido mas não há dúvida acerca da unidade à qual me refiro De forma semelhante se digo que vou à África para ver girafas os indivídu os particulares que eu verei ainda são desconhecidos mas não há nenhuma dúvida sobre a unidade girafas Se eu disser que lhe darei instruções para você chegar a m inha casa as instruções particulares ainda são desconhecidas mas não há nenhu m a dúvida sobre a unidade instruções Compreender o behaviorismo 101 Espécies como unidades funcionais Antes do advento da moderna teoria da evolução era comum classificar as criatu ras de acordo com sua aparência ou de acordo com sua estrutura Isso funcionava razoavelmente bem exceto que surgiam divergências quando duas espécies se pa reciam tanto que era praticamente impossível distinguilas A variação na colora ção e na estrutura do esqueleto de uma espécie de lagarto poderia tornar impossí vel dizer só por olhar se um determinado exemplar era membro daquela espécie ou de um a outra espécie que apresentava variações semelhantes Hoje em dia os biólogos evolucionistas não definem mais as espécies de acordo com sua estrutura em vez disso passaram a definilas de acordo com o modo como se reproduzem Uma espécie é uma população cujos membros cru zam entre si mas não com os membros de outras populações Cada espécie é uma unidade reprodutiva distinta de outras unidades reprodutivas porque o acasalamento ocorre intraespécies e não entre espécies Há duas espécies de sapo que não se distinguem pela aparência e anatomia e contudo uma delas procria ao am anhecer e a outra ao pôrdosol São duas espécies distintas porque os membros de um a nunca cruzam com os membros da outra Mesmo que se possa fazer dois sapos de espécies diferentes cruzarem em laboratório se eles nunca cruzarem no habitat natural ainda pertencerão a duas espécies distintas Ás hienas têm um a aparência diferente dos chacais mas o que os torna espécies diferentes é que hienas e chacais não cruzam um com o outro O que importa é o que as espécies fazem como funcionam em termos reprodutivos não como parecem soam ou são construídas Atividades como unidades funcionais Categorias molares de ação como as discutidas por Ryle e atividades estendidas no tempo discutidas por Rachlin Capítulo 3 são unidades funcionais Seus mem bros incluem atividades que se estendem ao longo do tempo por exemplo Fábio amar Juliana inclui o fato de escrever sobre ela em seu diário e que podem ser interrompidos por outras atividades por exemplo trabalhar Uma ação operante é uma classe de atos que têm todos o mesmo efeito sobre o am biente No laboratório os operantes habitualmente estudados são a Pressão à barra e o bicar um disco A pressão à barra por exemplo inclui todos s atos que têm o efeito de baixar a barra Não faz nenhuma diferença se o rato Pressiona a barra com a pata esquerda a pata direita o nariz ou a boca são todos exemplos de pressão à barra No mundo em geral reconhecemos operantes qüando falamos de abrir a porta da frente ou ir à cidade como unidades Corno no caso da pressão à barra o operante abrir a porta da frente inclui todos 0s atos que têm o efeito de produzir a porta aberta Não faz nenhuma diferença Se abro a porta com m inha mão esquerda ou direita ambos são casos de abrir a Prta da frente Na perspectiva molar abrir a porta da frente constituiria uma 102 William M Baum atividade ela poderia ser interrom pida por alisar a roupa que se usa mas o todo seria um episódio da atividade e possivelmente parte da atividade mais extensa de saudar um convidado Falár do comportamento em termos de unidades funcionais não é na verda de uma escolha mas uma necessidade Basta observar um rato para ver que ele realmente pressiona a barra de várias maneiras Essa variabilidade pode ser reduzi da especificandose por exemplo que apenas pressões com a pata direita serão reforçadas mas aí o rato pressionaria a barra com sua pata direita de várias manei ras A observação cuidadosa sempre revelaria alguma variação pois o rato não pode pressionar a barra exatamente da mesma maneira duas vezes Cada ato indi vidual é único Se essa singularidade dos atos parece um golpe fatal para um a ciência do comportamento cabe lembrar que toda ciência enfrenta o mesmo problema Para o astrônomo cada estrela é única por isso cada uma recebe um nome próprio Para compreender as estrelas o astrônomo as agrupa em categorias gigantes bran cas anãs vermelhas e assim por diante Embora cada criatura seja única o biólogo compreende os seres vivos agrupandoos em espécies Em certo sentido a tarefa da ciência é exatamente agrupar as coisas e os eventos em categorias Reconhecer a semelhança é o começo da explicação As unidades de comportamento devem constituir agrupamentos mas por que agrupamentos funcionais Por que não agrupar atos por exemplo de acordo com os membros ou músculos envolvidos A resposta é que assim como não funcionam para as espécies agrupamentos estruturalmente definidos não funcionam para o comportamento Como no caso da espécie você pode dizer com propriedade que um ato é membro do atividade pressão à barra apenas olhandoo mas qualquer ambigüidade será resolvida não pela aparência do ato mas pelo que ele produz se a barra de fato abaixa A despeito de quão detalhadamente eu possa especificar os movimentos de abrir a porta da frente a ação não conta como abrir a porta da frente a menos que a porta abra Uma ilustração da impossibilidade de definir uma atividade por sua estrutura é o seguinte excerto de um anúncio escrito por Douglas Hintzman da Universida de de Oregon a respeito de uma palestra que seria dada por um estudioso que chamaremos de Dr X Eu pedi ao Dr X para explicar o ler Ele respondeu que é um método que mi lhões de pessoas têm usado para obter conhecimento Os praticantes dessa arte os leitores como o Dr X os chama adotam a posição sentada e permanecem virtualmente imóveis por longos períodos de tempo Eles mantêm diante de si folhas de papel cobertas com milhares de minúsculas figuras e movimentam seus olhos rapidamente para um lado e para outro Enquanto fazem isso é difícil chamar sua atenção e parecem estar em transe Eu não via como essa atividade bizarra poderia trazer conhecimento Suponha que eu fixe o olhar neste pedaço de papel e movimente meus olhos para um lado e para o outro eu disse pegando um pape de sua mesa Isso me tornará sábio Não ele respondeu aborrecendose com meu ceticismo Leva muitos anos de prática para se tornar um leitor competente E além disso isso foi escrito pelo reitor Compreender o behaviorismo i 13 Assim como pressionar um a barra ou abrir uma porta ler é definido não por sua aparência mas pelo efeito que produz Ler em voz alta ocorre quando a audiência pode ouvir Ler em silêncio ocorre quando o leitor é capaz em seguida de demonstrar compreensão respondendo a questões ou agindo de acordo com o texto Tipicamente atribuímos um a determinada ação a uma unidade funcional com base em ambos seu efeito e seu contexto Um rato pressiona uma barra no contexto da câmara experimental na qual a pressão à barra muitas vezes no passado pro duziu alimento Pressões à barra em outro contexto digamos uma câmara na qual elas produzem água pertenceriam a uma atividade diferente As duas ativi dades podem ser rotuladas de pressão à barra por alimento e pressão à barra por água desde que nos lembremos de que por isso ou aquilo significa aqui que produziu isso ou aquilo em muitas ocasiões no passado7 Podemos considerar que submissão a ameaças é uma atividade porque seus membros ocorrem em certo contexto uma ameaça e historicamente têm produzido um certo efeito remo ção da ameaça Entregar a carteira a minha mulher para que pegue dinheiro é uma atividade diferente de entregar a carteira a um ladrão Procurar uma mercadoria nas lojas define uma unidade funcional que ocor re em um certo contexto a mercadoria permitir uma atividade posterior que será então reforçada Um amigo lhe dizer para ler Moby Dick estabelece o contexto para que você procure o livro pois ter o livro permite que você o leia o que provavel mente será reforçado Procurar Moby Dick em livrarias e ler Moby Dick podem ser partes da atividade apreciar M oby Dick Enquanto na análise comportamental falamos da história como definindo o contexto e as conseqüências de um ato na linguagem coloquial diríamos que dife rentes atos têm diferentes intenções Analisaremos agora os modos pelos quais a análise comportamental trata dos vários usos da palavra intenção TRÊS SIGNIFICADOS DE INTENÇÃO A linguagem coloquial tem um rico vocabulário para falar da relação do comporta mento com suas conseqüências Não usamos apenas a palavra intenção mas inú meros outros termos relacionados a ela como propósito expectativa vontade dese jo intuito e assim por diante Esses termos são o que os filósofos chamam de termos intencionais ou expressões intencionais A despeito de toda sua varieda de os termos intencionais na maioria podem ser agrupados quanto ao uso em três tipos função causa e sentimentos tatenção como função uso de intenção e termos semelhantes é facilmente compatível com o discurso Clentífico Se eu disser que a intenção finalidade deste clipe de papel é prender estes papéis não terei dito nada sobre o clipe além do que ele faz nada além de sua 104 William M Baum função Não há controvérsia porque aqui se usa intenção como definição Isto é o que um clipe é algo que prende papéis Aplicado ao comportamento esse uso de intenção indica efeitos A intenção de uma pressão à barra é baixar a barra Nesse sentido podese dizer que as ativi dades se definem em termos de suas intenções Ir para casa é uma atividade que me faz chegar em casa Nesse contexto a casa é também considerada o objetivo de m inha caminha da Quando conhecemos um a longa história de comportamento que tipicamente leva a um certo resultado casa usamos objetivo para designar o reforçador habi tual para aquele comportamento Falando desse modo poderseia dizer que o objetivo da pressão a barra é a comida Podese até interpretar dessa maneira uma afirmação como Pretendo chegar em casa se pretendo chegar em casa significar engajarme em comportamento que normalmente me faz chegar em casa Visto desse modo O rato está preten dendo obter comida pode simplesmente significar que o rato está pressionando uma barra que produziu comida no passado e O rato quer comida pode simples mente significar que ele está se comportando de maneiras que precederam a comi da no passado Todos esses modos de falar poderiam se aplicar ao comportamento de procu rar MobyDick nas livrarias O objetivo é obter o livro mas obtêlo é o efeito habitual de procurar e o reforçador habitual dessa atividade Você está pretendendo encon trar o livro e você deseja o livro significam que você éstá se em penhando em comportamentos que freqüentem ente produziram a mercadoria procurada no pas sado e provavelmente produzirão o livro agora As pessoas geralm ente consideram que objetivos e desejos envolvem algo mais do que simplesmente nom ear reforçadores habituais freqüentemente dizem que a pessoa ou o rato tem alguma coisa em mente nessas ocasiões Isso nos leva ao próximo uso importante de term os intencionais Intenção como causa Termos como pretender e querer parecem se referir a algum evento no futuro que será produzido pelo comportamento Pretendo abrir a porta sugere que meu es forço está dirigido para um evento futuro a porta aberta E claro que um evento futuro não pode causar o comportamento Isso violaria uma regra básica da ciência apenas eventos que realmente tenham acontecido podem produzir resultados As variáveis das quais meu comportamento depende devem estar no passado ou no presente A m aneira habitual de colocar esse problema é transportar a causa do futuro para o presente Como a porta aberta do futuro não pode causar meu comporta mento de abrir o trinco dizse que o comportamento é causado por uma represen tação mental do objetivo ou intenção a porta aberta Como você ainda não en controu o Moby Dick dizse que sua procura é causada por um a representação mental do livro Compreender o behaviorismo 105 No entanto representações mentais de eventos futuros são exemplos de mentalismo vítimas de todos os problemas que discutimos no Capítulo 3 Onde está essa intenção interna De que ela é feita Como essa porta aberta fantasmagórica poderia causar meu comportamento de abrir o trinco Como uma representação interna do MobyDick poderia causar sua procura Isso não é uma explicação serve apenas para obscurecer os fatos relevantes sobre o ambiente abrir o trinco normal mente leva a uma porta aberta e procurar uma mercadoria normalmente produz a mercadoria Esses fatos naturais explicam o comportamento sem nenhuma neces sidade de introduzir intenções internas Comportamento intencional O que há em comportamentos como abrir o trinco que leva as pessoas a denominá los de comportamento intencional William James escreveu que o comportamento intencional consistia de variar os meios variar o comportamento para obter um fim determinado reforçador costu m eiro S e você alguma vez teve problema para abrir uma porta sabe o que James quis dizer Suponha que a chave não gire com pletamente na fechadura O que você faz Você gira a chave várias outras vezes gira rápido gira lentamente empurra puxa movimenta a chave para dentro e para fora e assim por diante Esses são os meios variados Eventualmente a porta abre o fim determinado e o comportamento cessa Em nosso exemplo do Moby Dick se não há o livro em uma loja você vai para outras até que ao encontrálo você pára de procurar Talvez até mais do que a variação na ação o fato da atividade cessar quando o reforçador ocorre parece compelir ao uso da palavra intencional Na definição de James esse aspecto está contido na preposição para antes de fim determinado Somos inclinados a dizer que o comportamento era dirigido ao objetivo reforçador futuro porque ele cessa quando o objetivo é atingido reforço ocorre Isso parece particularmente verdadeiro no caso de comportamentos como procurar alguma coisa Suponha que eu esteja preparando um prato e chegue ao ponto da receita que pede sal Eu vou ao local onde o sal á habitualmente guardado e não o encon tro Procuro em outras prateleiras na mesa em toda a cozinha e na sala de jantar Pergunto onde está o saí a todos que encontro Eventualmente localizo o sal paro de procurálo e continuo cozinhando O sal não apenas é o reforçador para o com portamento que chamamos de procurar o sal ele também é a ocasião para pros seguir com outra atividade é por isso que a atividade cessa O que pode parecer problemático nessa explicação de procurar o sal é que eu talvez nunca tenha procurado o sal antes Freqüentemente procuramos coisas que nunca havíamos procurado antes e poderia parecer que não houve nenhuma história de reforço para explicar o comportamento Já examinamos a solução para esse tipo de problema é a mesma solução do problema de entregar a carteira a um ladrão pela primeira vez Esse ato específico pode nunca ter ocorrido antes mas outros como ele ocorreram Posso nunca ter sido submetido a essa exata ameaça anteriormente mas tenho uma longa história 106 William M Baum de submeterme a ameaças Posso nunca ter procurado o Moby Dick antes mas já procurei outros livros e outras coisas Os detalhes podem variar procuro o livro em livrarias e o sal por toda a casa mas procurar coisas em casa é procurar coisas em lojas podem ser considerados unidades funcionais de comportamento assim como submeterse a ameaças Com freqüência se ensina explicitamente às crianças a procurar coisas na casa Elas só melhoram o desempenho nessa tarefa após muitas experiências de procurar e encontrar Em algumas culturas aprender a procurar animais raízes e frutos pode ser parte essencial do desenvolvimento O comportamento de procurar frutos é aprendido em parte por causa de ocorrências de encontrar frutos no passado Podese pensar em exemplos de comportamento aparentemente intencional nos quais o objetivo definido nunca é alcançado Suponha que minha causa seja livrar o mundo da pobreza ou salvar as baleias Posso não ter nenhum a experiên cia com pobreza ou baleias então que história de reforço poderia manter o com portamento envolvido A resposta requer que se considere nosso ambiente social particularmente os tipos de reforçadores disponíveis para as pessoas em razão de viverem em determinada cultura As pessoas são aconselhadas por outras pessoas a perseguir atividades socialmente úteis Os reforçadores usados pelos professores estão em geral imediatamente à mão na forma de sorrisos afeto e aprovação Retomaremos esses assuntos nos Capítulos 8 e 13 Máquinas intencionais A inutilidade da invenção de intenções internas para explicar o comportamento intencional tornase mais clara quando examinamos máquinas intencionais isto é certos mecanismos dos quais se pode dizer que se comportam intencionalmente O sistema de aquecimento de um a casa é um exemplo Se a temperatura do ar fica abaixo do que está estabelecido no termostato digamos 20 graus o aquecedor liga e aquece o ar Quando a tem peratura chega a 20 graus o aquecedor desliga E como se o sistema procurasse m anter a temperatura em 20 graus Quando alcança esse objetivo ou intenção cessa seus esforços Máquinas intencionais mais complicadas se prestam ainda mais facilmente a que suas ações sejam atribuídas a intenções Podese dizer que um computador que joga xadrez escolhe os movimentos que espera que o ajudarão na intenção interna de vencer Ele parece pretender ganhar e saber se foi bemsucedido ou não Como o sistema de aquecimento e o computador são máquinas cujo funcio namento é conhecido falai sobre eles com termos intencionais pode ser divertido ou poético mas é desnecessário O termostato contém um interruptor que é ope rado pela temperatura para ligar e desligar o aquecedor isso é tudo que há em sua intencionalidade O com putador é programado para fazer cálculos a cada m o vimento baseado nas posições de todas as peças do jogo e cada movimento depen de apenas do resultado desses cálculos O jogo termina quando o resultado dos cálculos coincide com o xequemate Não há nenhuma intenção interna somente mudanças na ação em resposta a mudanças na posição das peças isto é no am biente Compreender o behaviorismo 107 Se a intencionalidade do sistema de aquecimento e do computador pode ser ilusória deve ser igualmente verdadeiro que a intencionalidade de uma pessoa pode ser ilusória A diferença é que o mecanismo subjacente ao comportamento da pessoa é desconhecido Se soubéssemos exatamente como o sistema nervoso per mite que o ambiente seja sentido e transformado em comportamento poderíamos mostrar nosso interior do mesmo modo que podemos mostrar o interior do termostato e do computador Mêsmo sem um conhecimento perfeito de como o termostato ou o compu tador funcionam podem os evitar falar deles com term os intencionais O term ostato pode ser para mim só um a caixa na parede mas sua aparente inten cionalidade ainda consiste apenas em ser construído de tal modo que uma variá vel am biental tem peratura abaixo de 20 graus inicia a atividade e outra tem peratura acima de 20 graus a interrompe O computador que joga xadrez é construído para responder a um conjunto de variáveis ambientais as posições de todas as peças Alguns computadores são programados para aprender tam bém o program a registra os resultados de movimentos passados em circunstân cias semelhantes Esses programas incluem os resultados passados no cálculo do movimento seguinte Independente da complexidade do programa cada ação movimento ainda é um a resposta ao ambiente presente e à história passada de reforço vencer Do mesmo modo não é necessário nenhum conhecimento especial do funcio namento do corpo humano para que eu evite linguagens intencionais ao discutir suas atividades Uma explicação científica satisfatória pode ser construída a partir do conhecimento das circunstâncias atuais e das conseqüências do comportamento em circunstâncias similares no passado Seleção por conseqüências A intenção interna não é mais necessária nem mais útil para compreender o com portamento de um a pessoa do que para compreender o comportamento de um computador que joga xadrez Quando procuro por um livro ou escalo uma monta nha já procurei antes e escalei antes as conseqüências passadas daquelas ativida des naquelas situações determinam que essas atividades provavelmente ocorrerão novamente nessas situações categorias de situação A seleção por conseqüências invariavelmente implica a história Ao longo do tempo resultados bemsucedidos reforço tornam algumas atividades mais pro váveis e resultados malsucedidos nãoreforço ou ptffiição tornam outras ativi dades menos prováveis Gradualmente o comportamento que ocorre nessas cir cunstâncias vai sendo modelado transformado e elaborado Embora os neurofisió tagos conheçam pouco do mecanismo através do qual a acumulação de êxitos e fracassos altera o comportamento os analistas de comportamento podem estudar a dependência que o comportamento tem dessa acumulação Que história de refor ço determina que uma pessoa irá procurar algo que está faltando Que diferença n história determina que uma pessoa escalará uma montanha enquanto outra irá totografála 108 William M Baum Criatividade Que história de reforço leva alguém a escrever poesia Os críticos do behaviorismo freqüentemente apontam esse tipo de atividade criativa como um desafio insuperá vel Quando o artista pinta um quadro ou o poeta escreve um poema a questão fundamental da atividade é fazer algo nunca feito antes algo original Aparentemen te conseqüências passadas nunca poderiam explicar as obras de arte porque cada trabalho é único e novo A originalidade de cada obra parece sugerir que o artista está de algum modo livre do passado que alguma intenção interna guia seu trabalho Ao enfatizar a singularidade e a novidade de cada trabalho essa concepção obscurece um fato igualmente óbvio sobre a atividade criativa a relação que existe entre os vários trabalhos do mesmo artista Como eu identifico que este é um quadro de Monet e aquele é um quadro de Renoir Não há dois quadros exatam ente iguais de um mesmo artista mas os quadros de Renoir parecem uns com os outros mais do que se parecem com os quadros de Monet Um especialista particularm ente familiarizado com os trabalhos de um artista pode afirmar geralmente se um qua dro pertence ou não àquele artista mesmo diante de uma falsificação cuidadosa Nenhum pintor poeta ou compositor jamais criou uma obra de arte no vácuo Cada novo poema pode ser único mas também tem muita coisa em comum com as realizações anteriores do poeta e originase de uma longa história de escrever poesia Ao longo da vida escrever poesia foi mantido por reforço pelo menos ocasional elogio aprovação dinheiro por parte da família dos amigos e de outras pessoas Em outras palavras escrever poesia como qualquer com portam en to operante é uma atividade modelada por sua história de reforço Vista no contexto de todas as obras do artista a singularidade do trabalho individual parece uma variação dentro de uma atividade Mozart compôs muitas sinfonias compor sinfonias era uma atividade capital em sua vida mas dizer que cada sinfonia representava um ato criativo único seria como dizer que cada vez que o rato pressiona a barra de uma maneira nova ele desempenhou um ato criativo único Dentro da atividade de compor sinfonias cada sinfonia pode ser única as sim como dentro da atividade de pressionar a barra cada pressão é única Esse tipo de variação ocorre também no comportamento de sistemas ina nimados Cada floco de neve é único do mesmo modo que cada pressão à barra é única Se alguém quisesse defender que por trás de cada nova pressão ou nova obra de arte há alguma força especial genialidade ou livrearbítrio teria de conceder que essa força tam bém existe por trás de cada novo floco de neve Parece absurdo sugerir que as nuvens possuam genialidade ou livrearbítrio Logicamente é também absurdo insistir que a criatividade humana possa ser explicada pela genialidade ou pelo livrearbítrio No mínimo podemos concluir que se aquela força é desnecessá ria para explicar flocos de neve ela também é desnecessária para explicar a arte Um compositor difere de uma nuvem ou de um rato quanto ao que as pessoas dizem de sua intenção as pessoas dizem que o compositor cria algo novo intencio nalmente A atividade criativa busca a novidade Isso significa que cada nova obra é composta com um olho nos trabalhos anteriores As obras anteriores estabelecem um contexto no qual o trabalho novo pode se parecer com elas mas não tanto que pareça aquela m esma velha coisa Monet pintou uma série de quadros em que Compreender o behoviorismo 109 aparecem as mesmas pilhas de feno em diferentes horas do dia o esquema de cores de cada quadro o distingue dos outros Considerando a relação com traba lhos anteriores ser criativo intencionalmente não requer a postulação de nenhu ma intenção interna requer apenas que a variação dentro da atividade dependa em parte do trabalho feito antes isto é que é parte da história Analisados sob essa ótica cetáceos e ratos foram adestrados para serem intencionalmente cria tivos Karen Pryor e seus colaboradores no Parque Se a Life no Havaí dispuseram os reforçadores de forma que apenas uma resposta nova truque os recebessem algo que o cetáceo nunca tivesse feito antes Passados alguns dias novas habilida des começaram a aparecer com regularidade Os pesquisadores relataram que um dos animais Malia começou a emitir uma gama de comportamentos sem precedentes incluindo saltos aéreos deslizar com o rabo fora da água e escorregar no chão do tanque alguns deles tão complexos quanto respostas normalmente produzidas por técni cas de modelagem e muitos outros diferentes de qualquer coisa já vista em Malia ou qualquer outro cetáceo pelo pessoal do Parque Sea Life Dava a impressão de que o critério do treinador só serão reforçadas aquelas ações que não foram previamente reforçadas fora atingido por Malia com a apresentação de padrões completos de amplos movimentos corporais nos quais a novidade era um fator intrínseco Pryor et ai 1969 p 653 Meu colega Tony Nevin e alguns alunos de graduação da Universidade de New Hampshire usaram um critério similar para treinar ratos em um tampo de mesa sobre o qual foram colocados vários objetos uma caixa uma rampa um pequeno balanço e um caminhão de brinquedo Os experimentadores observavam o comportamento com relação aos objetos c reforçavam as ações que nunca haviam ocorrido antes Rapidamente os ratos começaram a apresentar respostas novas diante dos objetos Deveríamos concluir dessas observações que cetáceos e ratos possuem um gênio criativo Talvez a novidade seja passível de reforço porque o comportamento passado pode estabelecer um contexto para o comportamento presente Nós nos lembra mos do que fizemos antes e isso nos inclina a nos comportarmos de modo similar ou diferente dependendo do que é reforçado Se você não encontra o Moby Dick em uma livraria vai a um a nova livraria Não é necessário postular uma intenção interna para explicar a novidade em você ou em Monet assim como não é necessá rio postulála para explicar a originalidade no cetáceo ou no rato Menção como sentimento autorelatos A terceira maneira de falar sobre intenção é enquanto parte de uma experiência Privada Quando falamos das intenções dos outros nada podemos dizer sobre even N de T O cetáceo referido é porpoise Stcno bredannensis mamífero aquático semelhan te ao golfinho toninha ou boto 110 William M Baum tos privados mas quando falamos de nossas próprias intenções parece que estamos nos referindo a algo presente e privado Todos os dias indagamos sobre as inten ções uns dos outros e respondemos como se as perguntas fossem perfeitamente razoáveis Você pretendia magoar o Lugui Não eu só estava tentando ajudar Autorelatos como esses parecem dizer que minhas intenções são parte de minha experiência de meu comportamento tentando ajudar Como posso ter tanta certeza Geralmente usamos o verbo sentir nesse contexto por exemplo quando digo Sinto vontade de tomar sorvete ou Sinto vontade de caminhar O que eu sinto De que estou falando Falar sobre o futuro Os autorelatos de intenções desafiam a explicação científica porque parecem falar do futuro O que quero dizer quando falo que desejo ir à praia amanhã Como estar na praia encontrase no futuro e pode nunca acontecer procurase então algo no presente para explicar o que estou dizendo agora Se eu sei o que quero isso significa que algum sentimento interno está se comunicando comigo Às vezes as dicas privadas para autorelatos de intenção são óbvias Se meu estômago está roncando ou minha boca está seca posso relatar que sinto vontade de comer ou beber Em outras situações as dicas são menos claras Eu posso achar difícil dizer exatamente por que estou com vontade de ir ao cinema As di cas podem não ser menos reais mas eu tenho menos experiência com elas do que com um estômago roncando e com uma boca seca Algumas dicas para autorelatos intencionais podem ser públicas Se eu me cortar com um a faca posso dizer Quero ir para o hospital As outras pessoas podem ver o corte e entender essa afirmação sem precisar se preocupar com even tos privados Eu posso dizer É sextafeira à noite e estou com vontade de ir ao cinema Para as outras pessoas a conexão é óbvia O conjunto de todas as dicas públicas e privadas que juntas definem um contexto tornam provável que eu apresente autorelatos intencionais como Eu quero Eu desejo Eu tenho vontade e assim por diante O que eles significam Uma afirmação intencional faz um a predição Eu quero sorvete significa que eu tomaria sorvete se houvesse algum em minha frente e que eu faria algu mas coisas ir ao mercado limpar meu quarto para obter sorvete Em outras pala vras estou dizendo que neste momento o sorvete atuaria como reforçador para o meu comportamento Sinto vontade de dar uma caminhada pode significar que caminhar seria um reforçador para meu comportamento ou pode significar que nessas circunstâncias o caminhar é um comportamento que tem probabilidade de ser reforçado Com base em dicas presentes afirmativas intencionais fazem pre visões sobre quais eventos serão reforçadores e qual comportamento será reforça do Eu quero ler Moby Dick significa que é provável que eu leia o livro Eu pre tendo pegar um ônibus significa que é provável que eu pegue um ônibus Compreender o bebaviorismo 111 Falar sobre o passado Prever o comportamento é como prever o tempo O indivíduo que prevê o tempo não pode ter certeza absoluta de que hoje vai chover assim como não posso ter certeza absoluta de que irei ao cinema mas nós dois dizemos Em circunstâncias como essas tal evento é provável Fazemos isso com base em nossa experiência passada naquelas circunstâncias No passado quando uma frente fria se encontrou com uma frente quente freqüentemente choveu No passado quando eu não tinha nada mais para fazer na sextafeira à noite freqüentemente fui ao cinema As di cas no presente determ inam afirmações no presente por causa de suas relações com eventos do passado Exceto por atribuir um papel a eventos privados os autorelatos de intenção não diferem em nada de afirmações intencionais a respeito de outras pessoas To das as afirmações intencionais incluindo os autorelatos embora pareçam se refe rir ao futuro referemse na verdade ao passado Expressões como pretender que rer tentar esperar e propor sempre podem ser substituídas por Em circunstâncias como estas no passado Quando o leigo diz que o rato pressiona a barra porque quer comida a afirmação pode ser substituída por Nestas circunstâncias no passa do pressionar a barra produziu comida e a comida foi um reforçador Proponho irmos à praia significa Em circunstâncias como estas no passado ir à praia foi reforçador e é provável que esta ida seja também reforçada Na linguagem cotidiana expressões intencionais são convenientes mas em análise comportamental elas constituem mentalismo Na linguagem cotidiana afir mativas intencionais facilitam a interação social mas para a análise do comporta mento são menos que inúteis porque dirigem a investigação para um mundo de sombras em vez de orientála para o mundo natural A explicação científica para a ação aparentemente intencional e para os autorelatos sobre intenções sentidas baseiase nas circunstâncias presentes associadas ao reforço passado em circuns tâncias similares ambas naturais e passíveis de descoberta Nunca seremos capa zes de compreender ou impedir que uma adolescente solteira fique grávida e passe a ser assistida por program as sociais enquanto dissermos que ela desejava isso ou estava pretendendo satisfazer uma necessidade Explicações como essas apenas nos afastam de entender a história e mudar o ambiente que levaria à gravidez Censurar a adolescente ou seus país pode ser cômodo mas interfere com a possibi lidade de uma solução eficaz Sentimentos como subprodutos Quando os sentimentos agem como dicas para afirmações intencionais eles cons tituem eventos privados do tipo eventos de sentir discutidos no Capítulo 3 Esse tipo de evento privado que inclui ouvir um som e sentir uma dor inclui também sntir um formigamento e sentir o coração acelerado 112 William M Baum Como eventos privados no entanto os sentimentos tendem a ser difíceis de compreender Se eu digo que estou com medo provavelmente pouco poderei falar sobre os eventos privados que me fazem dizer isso Um fisiólogo poderia ser capaz de medir mudanças somáticas que acompanham um relato de sentir medo mas a pessoa que relata medo geralmente sabe muito pouco sobre essas mudanças Geralmente consideramos muito mais fácil indicar as circunstâncias públicas que explicam o sentimento Por que digo que estou com medo Porque estou pen durado em um penhasco ou próximo de ir a uma entrevista de seleção para em pre go Por que me sinto feliz Porque acabei de ganhar na loteria ou de conseguir o emprego para o qual estava me candidatando Do ponto de vista das circunstâncias públicas os sentimentos e as afirmações sobre eles surgem de um a história passada com circunstâncias semelhantes Direta ou indiretamente podem ser relacionados à experiência com os eventos filogeneti camente importantes discutidos no Capítulo 4 Às vezes os sentimentos surgem simplesmente da programação genética Não precisamos de nenhum treino especial para ter medo de ficar à beira de um penhasco nem para achar agradável a estimulação sexual Na maior parte das vezes porém os sentimentos surgem em uma situação porque ela foi correlacionada com algum evento filogeneticamente importante um reforçador um punidor ou um estímulo incondicional Em outras palavras sentimentos e relatos de sentimentos resultam do condicionam ento respondente que ocorre junto com a aprendizagem operante As línguas latinas têm um rico vocabulário para falar dos sentimentos que acompanham as situações em que reforço e punição ocorreram no passado Em uma situação em que o reforço positivo é provável relatamos estar felizes orgu lhosos confiantes ansiosos extasiados Se estivermos nos referindo a um a história de reforço negativo é provável que relatemos alívio O cancelam ento de um reforçador punição negativa resulta em relatos de decepção ou frustração Situ ações nas quais ocorreu punição positiva no passado dão origem a relatos de medo ansiedade pavor vergonha e culpa Como os sentimentos surgem da mesma história de reforço e punição que explica o comportamento aparentemente intencional os sentimentos são subpro dutos e não causas do comportamento Quando você finalmente encontra Moby Dick em uma livraria fica feliz porque agora tem o livro pode ler seu exemplar e obter outros reforçadores como ser capaz de falar sobre ele com outras pessoas e se dar o prazer de um a boa leitura Encontrar o livro o deixa feliz porque comprar livros recomendados e agir como recomendado levaram a reforço no passado Você compra o livro e fica feliz você não compra o livro porque ele o faz feliz O jogador que fica feliz depois de fazer um gol fica feliz porque aquela situação freqüentemente foi acompanhada de aprovação e outros reforçadores Seria um equívoco dizer que o jogador tenta fazer o gol porque gois levam à felicidade O comportamento que freqüentemente resultou em gol ocorre porque fazer um gol é um reforçador con dicional o sentimento de felicidade é um subproduto dos mesmos reforçadores aprovação e status que sustentam o reforçador condicional O homem que se sente culpado depois de gritar com a esposa lhe traz flores não porque isso aliviará sua culpa mas porque no passado trazerlhe flores e outros atos de gentileza Compreender o behaviortsmo Ü3 impediram a punição e restabeleceram o reforço esse resultado é claro também dissipa o sentimento de culpa A única exceção à regra geralde que os sentimentos são apenas subprodutos podem ser os relatos de sentimentos O relato Sintome feliz pode ser visto como comportamento verbal operante parcialmente sob controle de eventos privados Como uma discussão completa do assunto requer que primeiro se examine o con ceito de controle de estímulo no Capítulo 6 para então analisar o comportamento verbal em gerai esse tem a será mais bem discutido no Capítulo 7 RESUMO Explicação histórica e raciocínio em termos de população andam lado a lado por que a composição de um a população se explica em última análise por sua história de seleção seja a seleção natural operando sobre uma população de organismos seja o reforço e a punição operando sobre uma população de ações Embora seja geralmente reconhecido que eventos na infância podem afetar o comportamento na vida adulta na linguagem cotidiana há uma tendência a representar o passado com ficções no presente Isso é mentalismo e de modo algum ajuda na compreen são científica do comportamento A tentação de recorrer a esse tipo de mentalismo surge da predisposição para explicar o comportamento apelando para causas presentes no momento em que ele ocorre A maneira de evitar o mentalismo é superar essa predisposição e admitir que eventos no passado podem afetar o comportamento no presente mesmo que presente e passado estejam separados por uma lacuna temporal A lacuna temporal de nenhum modo diminui a utilidade de entender o comportamento presente à luz da história As ações específicas do presente pertencem a populações unidades funcio nais ou atividades que têm uma história comum por causa de sua função comum Ações pertencem à mesma unidade funcional ou atividade se compartilham con textos e conseqüências similares Embora cada ato específico nunca tenha ocorrido antes cada um pertence a alguma unidade funcional que tem uma história de ocorrência em certo tipo de contexto com certo tipo de conseqüências A maioria dos usos de intenção e outras expressões intencionais relacionadas pertence a um de três tipos os quais se referem a ámção causa e sentimentos Quan do a intenção de um ato é identificada com sua função com seu efeito sobre o ambi ente não há nenhum problema para uma explicação científica Quando a intenção é vista como uma causa interna imaginase que uma representação fantasmagórica das conseqüências está presente no momento da ação Um evento futuro não pode explicar o comportamento mas a invenção de uma causa interna também não expli ca porque isso é mentalismo e presa fácil de todos os problemas daí decorrentes Uma explicação científica apropriada do comportamento intencional como procurar um livro referese à história de reforço de tal comportamento O comportamento criativo como escrever poesia também é modelado por sua história de reforço Os autoxelatos de sentimentos de intenção ou propósito têm como base eventos ambientais presentes e privados Eles consistem em predições sobre quais eventos 114 William M Baum provavelmente serão reforçadores e qual comportamento provavelmente será re forçado Essas predições sempre são baseadas na ocorrência passada de reforço Embora os autorelatos sobre a intenção experimentada possam dar a impressão de se referir ao futuro eles na verdade referemse ao passado do indivíduo assim como afirmações sobre as intenções de outra pessoa na verdade referemse a seu passado Quando atuam como dicas para autorelatos os sentimentos são even tos de sentir privados Eles são subprodutos devido ao condicionamento respondente da mesma história de reforço e punição do comportamento operante a que os rela tos se referem Não têm uma relação causal com aquele comportamento operante embora possam ser parte do contexto que explica o relato verbal de um a intenção experimentada LEITURAS ADICIONAIS Dennett D C 1978 Skinner skinned In Brainstorms Cambridge Mass MIT Press p 5370 Um filósofo defende o mentalismo e critica as explicações de Skinner do comporta mento em termos de histórias de reforço O trabalho é interessante por seus equívocos sobre Skinner e análise do comportamento Ghiselin M T 1997 Metaphysics arid the origin of species Albany State University of New York Press Esse livro explica que espécies biológicas constituem unidades funcionais indi víduos mais do que classes ou categorias Pryor K 1985 Dont shoot the dog Nova York Bantam Books Uma apresentação agradá vel do reforço para uso geral Pryor K W Haag R e OReilly J 1969 The creative porpoise training for novel behavior Journal of the Experimental Analysis of Behavior 12 653661 Esse é o relato original do uso de reforço para treinar respostas novas Skinner B F 1969 The inside story In Contingencies of reinforcement Nova York Appleton CenturyCrofts cap 9 p 269297 Esse trabalho contém um resumo das objeções de Skinner ao mentalismo Skinner B F 1974 Operant behavior In About behaviorism Nova York Knopf cap 4 p 4671 Aqui Skinner defende o comportamento operante como um conceito eficaz para substituir as noções tradicionais ineficazes sobre a intenção TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 5 Unidade estrutural Unidade funcional Autorelato Expressão intencional Máquina intencional N de T Título traduzido em português ver Apêndice 6 Controle de estímulo e conhecimento I odo comportamento induzido ou operante ocorre em um determinado contex to Quando me sento para jantar me vem água à boca em outros momentos salivo menos No caso desse comportamento induzido o contexto é o conjunto de cir cunstâncias ambientais que o induzem a sala de jantar a mesa arrumada a visão e o cheiro da comida Respostas específicas da espécie ao alimento a predadores a parceiros sexuais em potencial e a outros eventos filogeneticamente importantes são induzidas pelos contextos nos quais esses eventos são prováveis No contexto da silhueta de um falcão passando sobre sua cabeça a codorna se agacha na au sência desse contexto continua cuidando de sua vida v O comportamento operante também ocorre apenas em um contexto O rato de laboratório treinado a pressionar um a barra emite esse comportamento apenas na câmara experimental Quando colocado na câmara o rato já treinado vai imedia tamente para a barra e começa a pressionála Eu carrego meu guardachuva so mente quando parece que vai chover e vou ao trabalho apenas nos dias úteis Até agora fizemos apenas breves menções ao contexto A história de reforço por exemplo consiste não apenas em certas atividades resultarem em certas conse qüências mas também no fato dessas relações ocorrerem sistematicamente em determinado contexto Submeterse a uma ameaça não tem nenhum significado separado de seu contexto a existência da ameaça a voz alta o punho levantado a arma Para compreender como os behavioristas podem oferecer uma explicação científica do que significa conhecer algo sem recorrer ao mentalismo precisamos entender e aplicar os conceitos que os analistas comportamentais usam para expli car os efeitos do contexto Como veremos adiante conhecer é comportarse em contexto 1 1 6 William M Baum CONTROLE DE ESTÍMULO O comportamento muda à m edida que muda o contexto Eu paro o carro quando o sina está vermelho e continuo dirigindo quando está verde Parar e seguir em frente estão sob controle de estímulo Aqui estímulo significa contexto e controle significa mudar a freqüência ou probabilidade de uma ou mais atividades Freqüentemente faço um a demonstração aos alunos em que um pombo é treinado a bicar um disco de respostas vermelho e a não bicar um disco verde Na primeira etapa do treino o disco está iluminado com a cor vermelha e cada bicada opera o dispensador de comida Gradualmente o número de bicadas necessárias para produzir o alimento é aumentado até 15 bicadas Na segunda etapa introduz se o disco verde com a contingência de que o alimento só será liberado se passa rem 2 segundos sem uma bicada No início o pombo bica o disco verde sem suces so Cedo ou tarde ele faz uma pausa suficiente para que o alimento seja liberado À medida que o pombo pausa mais e bica menos a pausa exigida para a liberação da comida vai sendo gradualmente aumentada até 10 segundos Ao final do treino na demonstração eu controlo a cor do disco por um interruptor no aparelho Quando o disco fica vermelho o pombo bica rapidamente Assim que mudo a cor para verde o pombo pára de bicar À medida que vou mudando de um a cor para outra o bicar muda em uma ou em outra direção A demonstração ilustra o processo de controle de estímulo As cores vermelha e verde no disco controlam o bicar no sentido de que com a m udança de cor muda a probabilidade de bicar Os analistas de comportamento geralmente distinguem controle de estímulo de eliciação estímuloresposta Quando o sinal fica verde tornase provável que eu siga em frente mas não sou compelido a dirigir da mesma maneira que sou compe lido a espirrar quando meu nariz está coçando A mudança de contexto afeta o comportamento operante mais como modulação do que como compulsão Mais importante ainda comportamentos eliciados ou induzidos parecem de pender apenas do contexto se é que uma coceira no nariz pode ser chamada de contexto enquanto o comportamento operante depende das conseqüências que ocorrem em um dado contexto isto é depende da combinação de conseqüências e contexto O contexto coceira é suficiente por si só para tornar o espirro prová vel na demonstração com os pombos as bicadas se tornam mais prováveis no contexto do disco vermelho porque só produzem comida no contexto do disco vermelho Estímulos discriminativos O contexto do comportamento operante é chamado de estímulo discriminativo para distinguilo dos estímulos que eliciam ou induzem o comportamento Na de m onstração com o pombo as luzes vermelha e verde no disco são estímulos discriminativos porque as bicadas no disco só podem ser reforçadas no contexto do disco vermelho e não podem ser reforçadas no contexto do disco verde Como Compreender o behcworismo 117 resultado da diferença nas relações d e reforço de um contexto para o outro as bicadas são mais prováveis quando a luz está vermelha Mesmo no laboratório são com uns estímulos discriminativos mais complica dos Suponha que eu tenha dois discos para o pombo bicar colocados lado a lado e qualquer um deles possa ser ilum inado com luz vermelha ou verde Posso treinar o pombo a bicar um disco verde quando apresentado junto a um disco vermelho e independente de estar o disco verde n o lado esquerdo ou direito reforçando ape nas bicadas no disco verde Em um experim ento como esse o estímulo discriminativo para bicar é disco verde indep en d en te de posição Na tarefa denom inada pareamento com o modelo apresentase ao pombo um estímulo modelo por exem plo vermelho ou verde em um disco central e estímulos de escolha vermelho e verde em dois discos situados um de cada lado do disco modelo Somente as bicadas no disco lateral que coincide com o modelo são reforçadas Os estímulos discriminativos que controlam o bicar n a tarefa de pareamento com o modelo são compostos como por exemplo m odelo vermelho com disco lateral vermelho e modelo verde com disco lateral verde No mundo fora do laboratório os estímulos discriminativos são geralmente compostos como esses Se você está dirigindo em uma estrada de pista simples e encontra um veículo lento pela frente você só o ultrapassa quando a faixa central é seccionada de seu lado e não há nenhum veículo vindo em sentido contrário O estímulo discriminativo para a ultrapassagem consiste em pelo menos três elemen tos 1 o veículo lento na frente 2 a faixa central seccionada 3 a pista de sentido contrário livre Se qualquer desses elementos estiver ausente será impro vável que você ultrapasse A combinação estabelece o contexto ela define o estí mulo discriminativo na presença do qual o comportamento operante ultrapassar será provavelmente reforçado Em contextos ainda maís complicados parte do contexto ou estímulo discri minativo pode ter ocorrido algum tem po antes da ocasião para o comportamento Em um experimento de pareamento com o modelo o modelo pode ser apresentado ao pombo e ser desligado por vários segundos antes que os discos de escolha apa reçam Embora o modelo não esteja m ais presente os pombos ainda assim bicam o disco lateral que coincide com ele Os seres humanos são capazes de suportar lacu nas temporais muito mais longas Se na segundafeira eu lhe disser que o encon trarei em meu escritório na sextafeira às 3 horas seu comportamento de ir ao meu escritório depende de 1 ser sextafeira 2 ser 3 horas da tarde 3 o que eu disse na segundafeira Todos os três elementos são necessários para que sua ida a ttieu escritório tenha probabilidade de ocorrer e de ser reforçada mas um desses elementos só estava presente quatro dias antes Ver o Capítulo 5 para uma discus são adicional sobre lacunas tem porais Seqüências estendidas e estímulos discriminativos Embora muitas vezes no diaadia as partes de uma atividade possam ocorrer em qualquer ordem ao cozinhar posso pôr primeiro o sal e depois a pimenta ou na 1 1 8 William M Baum ordem inversa às vezes as partes de uma atividade devem ocorrer em um a se qüência definida para que seja bemsucedida reforçada O progresso pode ser mesmo impossível na ausência de um certo objeto ou condição Se eu não tenho carro devo alugar ou emprestar um antes de poder ir à praia Seu amigo deve ser convidado antes que vocês possam ir ao cinema juntos Outras vezes criamos condi ções em que o reforço é mais provável que em outras Abasteço o carro antes de ir viajar aumentando a probabilidade de chegar a meu destino sem precisar de mais gasolina Às vezes as seqüências são longas Um estudante universitário vai às aulas de forma a se preparar para as provas a passar nas disciplinas a se formar em quatro anos Em qualquer situação em que as partes devam ocorrer em uma certa seqüên cia a parte anterior produz as condições ambientais requeridas para aparte seguinte Essas pistas para o progresso carro amigo disponível medidor de combustí vel em cheio que estabelecem a ocasião ou o contexto para a atividade seguinte são chamadas de estímulos discriminativos 0 medidor de combustível em cheio serve como estímulo discriminativo para o comportamento operante posterior via jar que só ocorre em sua presença Em acréscimo os analistas comportamentais m uitas vezes consideram que tal estímulo discriminativo funciona como um reforçador Você vai ao posto de gasolina para encher o tanque e se esse posto tiver de fechar você pára de ir lá A atividade anterior ir ao posto de gasolina depende de seu resultado de maneira muito semelhante a como abrir a geladeira quando você tem fome depende do resultado de comer Assim o resultado de abastecer o carro medidor de combustível marcando cheio serve a duas funções Por um lado o ponteiro do medidor serve como estímulo discriminativo para a próxima atividade da seqüência viajar Por outro o ponteiro do medidor serve como um reforçador condicional provisório para o comportamento operante ir ao posto de gasolina que o produz A natureza exata de tais reforçadores é objeto de contro vérsia mas isto não precisa nos deter nesse ponto sem entrar em sutilezas teóricas tratarem os o estímulo produzido pelo comportamento como um reforçador No laboratório podemos treinar um rato a puxar um a corrente para ligar uma luz na presença da qual o pressionar uma barra é reforçado com comida Começamos treinando o rato a pressionar a barra programando o equipamento para que cada pressão opere um dispensador contendo bolinhas de alimento Em seguida reforçamos a pressão somente quando uma luz acima da barra está acesa ligando e desligando a luz aproximadamente a cada minuto Depois de uma ou duas horas a luz está estabelecida como estímulo discriminativo as pressões são freqüentes quando ela está ligada e raras quando está desligada Então deixamos a luz apagada e penduramos a corrente no centro da câmara Esperamos até que o rato se aproxime da corrente ligamos a luz e deixamos o rato pressionar a barra e conseguir o alimento Quando a luz é novamente apagada o rato volta para a corrente e puxar a corrente passa a ser necessário para que a luz acenda Em pouco tempo a seqüência de puxar a corrente seguida da pressão à barra está ocorrendo regularmente A luz tanto reforça condicionalmente o puxar a corrente como estabelece a ocasião para a pressão à barra Quando as seqüências se mantêm ligadas através de um processo no qual o reforçador condicional para uma resposta serve de estímulo discriminativo para a próxima a seqüência é denominada de cadeia comportamental Os elos da cadeia Compreender o behaviorismo 119 são as atividades desempenhadas uma após a outra Os elos são ligados pelas mu danças no contexto os estímulos discriminativos Cadeias comportamentais pre tendem ser um modelo de laboratório para as seqüências de comportamentos no inundo cotidiano Elas modelam uma parte da maneira como as atividades são ligadas no mundo cotidiano algumas partes da atividade podem precisar ocorrer antes mas outras partes podem ocorrer em qualquer ordem Um estudante pode precisar se preparar tanto para uma prova de história quanto para uma de psicolo gia a preparação deve ocorrer antes das provas mas a ordem de estudo das duas matérias pode não ser importante Importe ou não a seqüência a atividade como um todo é mantida pelos refor çadores últimos que ocorrem depois que todas as partes ou quase todas foram completadas O universitário se prepara para as provas e as executa produzindo boas notas que em seguida se somam a bons resultados no currículo que em última instância levam à formatura Se a formatura de algum modo se torna im possível será improvável que o estudante continue a participar das disciplinas Em nosso exemplo do laboratório se o alimento é suspenso tanto o puxar a corrente quanto a pressão à barra cessam A luz perde seu papel como reforçador e como estímulo discriminativo Quando os continentais americanos perderam seu valor como moeda eles não apenas deixaram de funcionar como reforçador mas têlos em mãos tam bém deixou de servir como contexto estímulo discriminativo para o comportamento operante ulterior de ir às compras Se o tempo está chuvoso e frio eu não coloco gasolina no carro para fazer uma viagem à praia o tanque cheio só serve como reforçador e estímulo discriminativo quando o tempo está bom Discriminação Quando o comportamento muda diante da mudança do contexto os analistas de comportamento denom inam essa regularidade de discriminação No experimento do rato a mudança de luz apagada para luz acesa dependia de que o rato puxasse a corrente enquanto na demonstração do pombo o comportamento do animal não afetava a m udança no disco de vermelho para verde era eu quem mudava a cor Em qualquer dos dois casos mudem os estímulos em uma seqüência ou mu dem independentemente do comportamento a mudança de comportamento que acompanha a m udança nos estímulos discriminativos constitui uma discriminação Quando o comportamento muda de trabalhar para fazer compras como resul tado da mudança de estar sem dinheiro para estar com dinheiro temos uma cadeia e uma discriminação Se o comportamento muda quando o dia anoitece tratase não de um a cadeia mas de uma discriminação Como discriminação significa mudança de comportamento com mudança de estímulo toda discriminação envolve pelo menos duas condições de estímulo dois contextos No exemplo mais simples de laboratório a pressão à barra ocorre quando a luz está acesa um estímulo discriminativo e não quando está apagada um segundo estímulo discriminativo Se Marina comportase diferentemente com seus Pais e com seus amigos dizemos que ela discrimina entre esses dois contextos ou Estímulos discriminativos pais e amigos 120 William M Baum Toda discriminação resulta de uma história Se não foi aprendida resulta de um a história evolutiva A codorna recémnascida comportase de modo diferente na presença e na ausência do falcão por causa da fílogênese Se a discriminação é aprendida ela provém de uma história de reforço O rato pressiona a barra quando e a luz está acesa e não quando está apagada porque as pressões à barra foram reforçadas quando a luz estava acesa e não reforçadas quando estava apagada Vou a uma loja quando tenho dinheiro e não quando estou sem dinheiro porque ir à loja foi reforçado quando eu tinha dinheiro e não foi reforçado quando eu não í tinha Em geral uma atividade ocorre na presença de um estímulo discriminativo e outra atividade ocorre na presença de outro estímulo discriminativo porque uma j é reforçada em um contexto e a outra em outro contexto Essa é toda a explicação a discriminação provém da história Nada de men tal normalmente nada nem mesmo privado entra na explicação Para ter mais j acurácia deveríamos dizer que o comportamento do organismo contém um pa f drão de discriminação ou que o comportamento discrimina mas muitas vezes se diz que o organismo é que discrimina Se dissermos que um rato discrimina entre a í presença e a ausência de luz não estamos imaginando nenhum evento menta dentro do rato Se por exemplo alguém dissesse que o rato discrimina porque atenta para a luz poderíamos observar que o atentar nada acrescenta à explica ção pois apenas reafirma a observação de que o comportamento muda quando a í luz é ligada ou desligada E um exemplo de mentalismo Controle de estimulo significa que um estímulo exerce controle sobre o compor tam ento que o comportamento muda em sua presença Seria incorreto dizer qüe o estímulo exerce controle sobre o rato ou a pessoa pois nesse caso o rato ou a pessoa teriam de se empenhar em alguma ação m ental fantasmagórica como aten tar para passar do estímulo ao comportamento A idéia presente no conceito de controle de estímulo é a de que o estímulo afeta o comportamento diretamente J Discriminação referese somente à mudança no comportamento com a mu dança no contexto Seria incorreto dizer que o rato discrimina e pressiona a barra S somente quando a luz está acesa ou que o rato pressiona a barra com a luz acesa p porque discrimina O rato discrimina ou A luz é um estímulo discriminativo significa apenas que a freqüência ou probabilidade de pressão à barra m uda quan j do a luz é ligada e desligada Do mesmo modo M arina discrimina entre seus pais e seus amigos significa somente que o comportamento de Marina é diferente na 5 presença desses dois contextos Em outras palavras seria um erro pensar a discri l mínação como um evento privado que precede e então causa a mudança pública no 5 comportamento Em geral a discriminação nunca é um evento privado a única J exceção reside no modo como alguns analistas do com portam ento tratam do J autoconhecimento que será examinado em seguida j CONHECIMENTO A linguagem cotidiana sobre o conhecimento é mentalista Dizse que um a pessoal possui conhecimento de francês e que o exibe ao falar e entender francês Dizse I que um rato pressiona uma barra porque sabe que pressionála produz c o m id a j Compreender o bebaviorismo 121 Como no caso de intenção e propósito Capítulo 5 o conhecimento e o conhecer de nenhum modo explicam o comportamento que supostamente resulta deles O que é o conhecimento de francês que é exibido quando eu falo francês Onde ele está e de que é feito o que poderia causar o falar francês Da mesma maneira que em todos os exemplos de mentalismo ele parece ser uma quimera escondida den tro do sujeito inventada como tentativa de explicação mas que não informa nada além do que já é conhecido que a pessoa fala e entende francês Como o rato sabe pressionar a barra e compreende a relação bartacomida Dizer que ele sabe infor ma alguma coisa além de que no passado as pressões à barra produziram comida nessa situação Em vez de considerar o conhecimento e o conhecer como explicações do com portamento os behavioristas analisam esses termos focalizando as condições sob as quais ocorrem Em que situações as pessoas tendem a dizer que alguém tem conhecimento ou conhece algo Filósofos e psicólogos geralmente dividem o conhecimento em operacional e declarativo saber como e saber sobre Muito já foi escrito sobre essa distinção especulandose sobre esquemas e significados internos imaginados que poderiam constituir sua base Para o behaviorista se a distinção tiver alguma utilidade deve rá se basear no comportamento e no ambiente eventos externos acessíveis a qual quer observador A tradição também distingue o conhecimento que outras pessoas possuem do conhecimento que eu próprio possuo particularmente o autoconhecimento o co nhecimento da própria pessoa sobre si mesma Tradicionalmente pareceu a muitos pensadores que como tenho uma intimidade especial com todos os meus atos públicos e privados de um modo que não posso ter com os atos de mais ninguém deve haver algo especial e diferente no autoconhecimento De fato freqüentemente se afirma que apenas o autoconhecimento pode ser seguro pois qualquer conheci mento de outros será apenas baseado em inferências Presumivelmente posso ter certeza que sei francês enquanto o conhecimento de francês de César é para mim apenas uma inferência baseada em minha observação de seu comportamento de falar e entender francês Como a distinção entre o eu e o outro passa pela distinção entre conhecim ento operacional e declarativo analisaremos o conhecimento operacional e declarativo no próprio sujeito e nos outros para depois examinar o autoconhecimento em particular Conhecimento operacional saber como A Figura 61 resum e os quatro tipos de conhecimento e os testes que levam a falar Se de conhecer e conhecimento A primeira coluna trata do conhecimento operacio de T A distinção filosófica entre conhecimento operacional e conhecimento declarativo captada em inglês por know how e know about em alguns casos equivalente à distinção entre saber e conhecer em português No contexto deste capímlo optamos por utilizar erilrnente saber como e saber sobre a fim de evidenciar a distinção 122 William M Baum Conhecimento do outro Conhecimento de si mesmo Figura 61 Testes de saber como e saber sobre1 em outros e em si mesmo nal Quando é que dizemos que Diego sabe como nadar Quando o vemos na dando O teste do conhecimento de Diego é se ele alguma vez foi visto nadando Dizer que ele sabe como nadar significa simplesmente que ele efetivamente nada Do mesmo modo quando é que digo que eu sei como nadar Quando eu tiver nadado O teste de meu conhecimento é análogo ao teste do conhecimento de Diego se eu alguma vez me observei nadando Dizer que eu sei como nadar significa simplesmente que eu efetivamente nado Ryle cujos pontos de vista foram discutidos no Capítulo 3 trata o conhecer e o conhecimento como disposições ou rótulos de categoria Saber francês por exem plo é um caso complexo de saber como Podemos arrolar várias ações que pode riam resultar em dizer Érica sabe francês 1 Érica responde em francês quando alguém se dirige a ela em francês 2 Ela reage apropriadamente quando recebe um telegram a escrito em francês 3 Ela ri e chora nos momentos certos durante um filme em francês 4 Ela traduz do francês para o português e do português para o francês 5 Ela lê os jornais franceses e depois discute as notícias Essa lista poderia ser expandida indefinidamente pois a categoria de ações que compreende saber francês é indefinidamente grande No Capítulo 3 vimos que alguns filósofos consideram isto uma falha nos argumentos de Ryle No entan to na prática quando as pessoas falam de conhecimento e conhecer a lista de evidências de fato consideradas é bastante curta Depois de termos presenciado várias ações de saber francês supomos que qualquer quantidade de outras seja possível e dizemos que Érica sabe francês A categoria também pode ser pensada como um a disposição comportamental Podese dizer que Érica sabe francês mesmo quando não está falando francês até quando está dormindo O significado de Érica sabe francês assemelhase ao signi ficado de Érica é fumante Érica fuma apenas em alguns momentos e nunca quando está dormindo dizse que ela fuma porque fuma com freqüência suficien te Do mesmo modo Diego sabe como nadar significa que ele nada algumas Saber Como Saber Sobre Eleela fai SD Comportamento apropriado Eu faço SD Comportamento apropriado Compreender o behaviorismo 123 vezes e Érica sabe francês significa que ela ocasionalmente age de maneira que Se possa dizer que ela sabe francês Uma pessoa afirma Eu sei francês ou Eu sei nadar pelas mesmas razões que essas afirmações poderiam ser feitas sobre Érica e Diego Os meios pelos quais me observo nadando são um pouco diferentes Enquanto vejo Diego nadando ra ramente me vejo nadar exceto em um filme doméstico mas sinto quando estou nadando e vejo a água e partes de meu corpo movimentandose e outras pessoas me dizem que eu estava nadando O mesmo ocorre com falar francês eu me ouço me observo lendo e assim por diante Todos esses eventos seja Diego nadando ou eu nadando têm relação com minhas declarações de que Diego sabe como nadar ou eu sei como nadar do mesmo modo que os estímulos discriminativos têm relação com o comportamento operante Assim como é provável que o rato pressione a barra somente quando a luz está acesa tam bém é provável que eu diga Diego sabe como nadar somente depois de têlo visto nadar Do mesmo modo é provável que eu diga Eu sei como nadar apenas após terem ocorrido os estímulos associados a esse fato Assim como a pressão à barra no exemplo dos ratos minhas verbalizações desse tipo precisam ter sido reforçadas no passado por pessoas à minha volta 0 Capítulo 7 analisará de modo mais aprofundado o comportamento verbal por ora o ponto importante para manter em m ente é que verbalizações como Diego sabe X e Eu sei X são exemplos de comportamento operante sob controle de estímulo A expressão que empregaremos para designar esse tipo de verbalização sob controle de estímulos ambientais será relatos verbais Érica sabe francês ou Eu sei francês é um relato verbal sob controle de eventos de falar francês e provém de uma longa história de reforço por emitir esse tipo de relatos verbais Conhecitnenfo declarativo saber sobre Saber sobre difere de saber como apenas por envolver controle de estímulo Em que situações dizemos O rato sabe sobre a luz ou César sabe sobre aves Diz se que o rato sabe sobre a luz se ele responde mais quando a luz está acesa Dizse que César sabe sobre aves se ele nomeia corretamente vários exemplares explica seus hábitos de construção de ninhos imita seus cantos e assim por diante As condições para essas verbalizações são um pouco diferentes das condições para verbalizações de saber como porque o comportamento envolvido em saber so bre deve ser apropriado a um estímulo discriminativo ou a uma categoria de estí mulos discriminativos A coisa sobre a qual se sabe é o estímulo discriminativo ou a categoria Conhecimento dectarativo e controle de estímulo A Figura 61 indica que o teste do saber sobre é uma resposta apropriada a um estímulo discriminativo Se eu alego que sei sobre a guerra civil americana você 1 2 4 William M Baum pode testar essa alegação dirigindome perguntas como Por que você acha que Pickett não discutiu com Lee em vez de avança em Gettysburg ou O que Grant fez quando Lee chegou ao tribunal de Appomattox Se eu puder dar respostas que concordem com outras coisas que você ouviu e leu será mais provável que você diga que eu sei sobre a guerra civil Quanto mais eu falar sobre ela mais provável será que você diga que eu sei Minhas falas são com portam ento operante sob controle de estímulos originados de você e suas perguntas A Figura 61 sugere também que minha alegação original de saber tem uma base sem elhante Meu próprio comportamento de falar e responder a perguntas sobre a guerra civil cons titui o estímulo discriminativo que controla minha frase Eu sei sobre a guerra civil Se eu não tivesse respostas para suas perguntas seria provável que voltasse atrás ou dissesse que sei pouco sobre a guerra civil A única diferença entre meu teste e o seu teste é que o seu provavelmente é baseado em uma am ostra menor de meu comportamento que o meu teste Isso tudo deixa em aberto um a questão importante como decidimos se o comportamento de saber sobre é apropriado Voltando a nosso exemplo mais simples podese dizer que o rato sabe sobre a luz se ele pressiona mais a barra quando a luz está acesa As pressões à barra são apropriadas porque no passado foram reforçadas em presença da luz De maneira semelhante m inha fala sobre a guerra civil em resposta a perguntas foi reforçada no passado particularmente minhas respostas corretas foram reforçadas e minhas respostas erradas foram pu nidas Descobrese que apropriado significa reforçado e não punido Ensinaramse pombos não apenas a bicar um disco verm elho e não bicar um verde mas também a bicar diapositivos com fotos de seres hum anos é a não bicar diapositivos que não tivessem seres humanos Herrnstein e Loveland 1964 Os diapositivos que contêm seres humanos constituem um a categoria de estímulos discriminativos que controla o bicar dos pombos Como eles bicam somente os diapositivos com pessoas poderíamos dizer que os pombos sabem sobre pessoas em diapositivos Dizemos isso apesar de eles não poderem falar O conhecimento deles é exibido em seu comportamento de bicar Eles bicam apropriadam ente discriminam ou bicam quando o bicar pode ser reforçado e não bicam quando não será reforçado e esse é o contexto para nosso comportamento de dizer que eles sabem sobre Uma vez compreendido que discriminação e reforço são as observações que estabelecem a ocasião para falarmos de saber sobre temos duas alternativas Podemos continuar falando sobre o saber sobre adm itindo que ele na verdade significa somente discriminação e reforço ou podemos parar de falar desse modo e passar a falar de discriminação e reforço Quando visam a precisão os analistas comportamentais usam os termos técnicos pois o discurso m entalista sobre o co nhecimento geralmente resulta em confusão 0 que é a mentira Por exempio alguns filósofos e zoólogos argumentam que se for possível demons trar que uma criatura nãohumana engana seus companheiros então a criatura Compreender o behaviorismo 125 deve ter consciência Cheney e Seyfarth 1990 O seguinte tipo de exemplo é oferecido como prova Um macaco dominante e um subordinado estavam em con flito O subordinado emitiu um chamado de alarme que normalmente acompanha ria a visualização de um predador embora não houvesse nenhum predador à vista Como resultado o macaco dominante fugiu Esses teóricos consideram que o ma caco ameaçado deve ter se colocado privadamente no lugar do outro macaco sa bendo por seu próprio comportamento passado que o macaco dominante fugiria quando ouvisse o chamado de alarme Portanto o subordinado mentiu para o ma caco dominante ao emitir o chamado apesar de saber que não havia nenhum pre dador O que há de errado com essa explicação O behaviorista trata da questão O que é uma mentira indagando acerca das condições sob as quais é provável que as pessoas digam que alguém está con tando uma mentira As pessoas procuram distinguir entre mentira e erro É comum dizer que os dois diferem por ser a mentira dita intencionalmente No Capítulo 5 vimos que um a m aneira de entender o fazer intencional é relacionar o ato a uma história de reforço Se Diana diz a você que o correio fica na Rua do Congresso e você descobre que na verdade fica na Rua Daniel você supõe que ela simplesmen te cometeu um engano pois não havia nenhuma razão isto é nenhum reforço para que ela lhe dissesse o nome errado Se no entanto estava quase na hora de fechar o correio e você estivesse correndo para remeter uma inscrição para um concurso no qual você e Diana estavam competindo você poderia suspeitar que Diana tivesse dito o nome errado intencionalmente pois haveria reforço por as sim fazer Portanto a prim eira condição que torna provável dizer que alguém está men tindo é o reforço para a ação Mentir é um comportamento operante Provavelmen te toda criança em algum momento mente A possibilidade de que o comportamen to de mentir da criança se torne comum depende das conseqüências se ele é refor çado ou punido O reforço para o mentir geralmente é evitar a punição Você comeu os biscoitos Não eu nem os peguei algumas vezes obter uma recom pensa Você já comeu algum doce hoje Não nenhum o dia inteiro Bem então você pode comer a sobremesa O macaco do qual se disse que mentiu emitiu um chamado de alarme que foi reforçado pela retirada do macaco dominan te ameaçador A segunda condição para se chamar uma ação de mentira é a inconsistência Você pode não ter nenhum a idéia dos motivos isto é dos reforçadores da pessoa para mentir mas se João um dia lhe diz que viu um roubo e no outro dia diz que não viu roubo nenhum é provável que você diga que ele agora está mentindo Será particularmente provável que você faça essa afirmação se ele agiu de várias manei ras compatíveis com ter visto o roubo agiu de modo amedrontado relatou os eventos descreveu o ladrão e assim por diante Como vimos no Capítulo 3 Ryle diria que todas essas ações pertencem à mesma categoria comportamentaí e um behaviorista molar diria que todas elas são partes da mesma atividade estendida de testemunhar um roubo O comportamento que é incongruente com a categoria ou com a atividade a negação no exemplo citado é chamado de mentira Prova velmente foi também devido à incongruência que se afirmou que o macaco que emitiu o chamado de alarme mentiu pois os pesquisadores haviam observado a 126 William M Baum emissão do chamado em outras ocasiões em que efetivamente o predador estava presente Como os outros macacos aprendem rapidamente a ignorar os animais cujos chamados não são confiáveis isto é discriminam com base em quem está gritando o reforço para o falso chamado de alarme deve desaparecer em pouco tempo Permanece um a questão de onde veio para começar o falso chamado de alarme A tentação de recorrer ao mentalismo surge exatam ente da ausência dessa informação Como vimos no Capítulo 5 quando desconhecemos a história passada de reforço em nada ajuda inventar histórias sobre origens internas quiméricas O mais provável é que o macaco subordinado tenha emitido chamados de alarme em ocasiões anteriores quando o predador estava presente e que em algumas dessas ocasiões o chamado tenha sido reforçado pela retirada do macaco dominante Pode ter sido apenas um pequeno passo a mais dar o chamado de alarme quando o predador estava ausente Outras pesquisas poderiam revelar se essa progressão ocorreu Isso explicaria a ação do macaco sem qualquer referência a sua vida men tal e sem que se dê nenhum significado especial à sua m entira Autoconhecimento De acordo com a concepção convencional na sociedade em que nos criamos discu tida no Capítulo 2 há um mundo interno subjetivo e um mundo externo objetivo A ênfase do behaviorismo moderno é alheia a essa distinção De acordo com a concepção convencional poderíamos perguntar O que eu conheço melhor meu mundo interno ou o mundo externo A pergunta em si faz pouco sentido para o behaviorista Dois tipos de resposta são possíveis Um deles é traduzir a pergunta em termos mais compreensíveis o que exerce mais controle sobre meu comportamento estímulos públicos ou estímulos privados O outro é determinar as circunstâncias sob as quais se diz que alguém tem autoconhecimento Passamos agora a examinar cada um deles Fsfímuos públicos versus estímulos privados Ao abordarmos a questão de estímulos públicos e privados a primeira coisa a reco nhecer é que apenas os estímulos públicos são acessíveis ao outro no ambiente de uma criança em desenvolvimento Os relatos verbais de um a criança lembrese comportamento operante são reforçados pelas pessoas significativas a sua volta E relativamente fácil reforçar relatos verbais apropriados como nom ear objetos ou cores quando os estímulos são públicos A criança diz Cachorro e o pai diz Está certo é um cachorro Que cor é esta bola Vermelha Otimo está certo Problemas específicos surgem quando tentamos ensinar a criança a relatar eventos privados pois eles não são acessíveis às pessoas que estabeleceriam o con texto para o reforço Examinamos anteriormente casos que permitiam suposições razoáveis devido à existência de dicas públicas coiaterais por exemplo a dor Compreender o behaviorismo 127 Vemos a criança chorando e perguntamos Você se machucou A resposta Sim é seguida de simpatia e de cuidados reforço mas também é seguida por Onde dói Você bateu o joelho Sinais visíveis de ferimento podem ajudar Se juntar mos o treinamento para nomear partes do corpo com perguntas sobre dor even tualmente conseguirem os treinar a criança a emitir relatos verbais com a forma geral de Meu X está doendo Sem esses acompanhamentos públicos confiáveis é muito mais difícil ensinar alguém a relatar eventos privados E por isso que entrar em contato com seus sentimentos parece ser tão lento e difícil Estarei zangado ou com medo Estou fazendo isso por am or ou por culpa São julgamentos difíceis A dificuldade no entanto não surge da falta de informação mas da incerteza sobre como in terp retar a inform ação Colocando na linguagem técnica do behaviorista a dificuldade surge não da falta de estímulos discriminativos públi cos privados passados e presentes mas da falta de uma história de reforço para a discriminação entre um relato verbal e outro A falta da história de reforço resul ta da falta de dicas públicas para controlar o comportamento daqueles que pode riam reforçar o relato verbal correto Se houvesse estímulos discriminativos públi cos indicando se você estava zangado ou com medo digamos se você ficasse vermelho em um caso e verde no outro então você não teria nenhuma dificulda de para dizer se estava com medo ou zangado porque as pessoas em volta não teriam dificuldade para reforçar o relato verbal correto As dicas públicas reais porém são complexas e pouco confiáveis Somente alguém com muito treino pode com segurança distinguir medo de raiva É por isso que o terapeuta que o ajuda a entrar em contato com seus sentimentos talvez possa lhe dizer como você se sente com medo zangado apaixonado culpado melhor do que você mesmo Portanto nossa situação é exatamente o inverso da concepção convencional os eventos privados são menos conhecidos do que os eventos públicos Skinner 1969 Uma vez que o relato verbal como qualquer comportamento operante de pende de reforço confiável e o reforço confiável depende de dicas públicas para que os outros o dispensem os relatos verbais ocorrem prontamente apenas na presença de dicas públicas As assim chamadas emoções puras por exemplo dor de que falam os filósofos são simplesmente os eventos privados com maior probabilidade de ser acompanhados por dicas públicas contorções que permi tem relatos verbais a seu respeito sejam reforçados consistentemente pelos outros Sejam aprendidos com facilidade ou dificuldade os relatos verbais baseados parcialmente em estím ulos privados só podem ser aprendidos se forem acompa nhados por dicas públicas ainda que sutis ou pouco confiáveis Como ocorre com outras formas de conhecimento as dicas públicas que controlam os relatos ver bais que constituem m eu autoconhecimento são muito semelhantes às que contro lam os relatos verbais de outras pessoas relatos esses que constituem seu conheci mento sobre mim A forma pela qual sei que estou com raiva é muito semelhante à forma pela qual outra pessoa sabe que estou com raiva tratase de uma situação na qual as pessoas em geral se comportam de modo raivoso na qual me comportei de modo raivoso no passado e na qual tenho uma expressão de raiva a cara avermelhada e os punhos cerrados A única diferença é claro é que eu também posso relatar pensam entos de raiva e um aperto no peito Outra pessoa no entan 128 William M Baum to poderia notar minha expressão de raiva e meu rosto vermelho em um momento em que eu não posso notálos Os estímulos que controlam meu relato verbal sobre mim mesmo podem diferir dos que controlam o relato verbal de outra pessoa sobre mim mas eles não são necessariamente mais numerosos ou mais confiáveis Essa idéia de que o autoconhecimento depende dos mesmos tipos de obser vação pública que o conhecimento sobre os outros conflita com a visão convencio nal de acordo com a qual o autoconhecimento depende de informação privilegiada inacessível aos outros Contudo existem algumas pesquisas de laboratório que a apóiam Daryl Bem 1967 e seus alunos por exemplo conduziram vários experi mentos para testar se as autopercepções das pessoas estavam sob controle de seu próprio comportamento público No final da década de 1950 um psicólogo chama do Leon Festinger apresentou um a teoria sobre a autopercepção designada teoria da dissonância Como ela supostamente explicava as atribuições das pessoas sobre si mesmas isto é as respostas que elas davam a questões sobre suas crenças e atitudes geralmente em testes escritos a teoria da dissonância rapidam ente tor nouse parte de uma teoria mais geral da atribuição Originouse da observação de que se os sujeitos experimentais fossem persuadidos a dizer sem nenhum a boa desculpa coisas com as quais inicialmente não concordavam suas atribuições mu dariam posteriormente ajustandose mais ao que haviam dito Por exemplo em um experimento os sujeitos primeiro participaram de duas tarefas enfadonhas e depois se lhes pediu que mentissem para uma mulher que esperava em outra sala na verdade uma cúmplice no experimento dizendo a ela que as tarefas eram divertidas e interessantes Metade dos sujeitos recebeu 1 dólar para fazer isso e a outra m etade recebeu 20 dólares Em seguida quando os sujeitos responderam um questionário os que tinham recebido somente 1 dólar classificaram as tarefas como interessantes enquanto os que receberam 20 dólares assim como um outro grupo que não havia sido solicitado a mentir classificaram as tarefas como enfadonhas De acordo com a teoria da dissonância os sujeitos que receberam apenas um dólar mudaram suas autopercepções porque sentiram necessidade de reduzir a dissonância entre o conhecimento interno de que as tarefas eram enfadonhas e o comporta mento externo de dizer que eram interessantes Daryl Bem questionou essa teoria mentalista Sugeriu que os sujeitos sim plesmente observaram o próprio comportamento como observariam o compor tam ento de outra pessoa e concluíram que as afirmações de quem ganhou ape nas 1 dólar tinham maior probabilidade de ser verdadeiras do que as de quem ganhou 20 dólares Em um de seus experimentos Bem criou um a gravação que imitava um dos sujeitos iniciais mentindo convincentemente para a cúmplice que respondia educadamente Todos os sujeitos de Bem nesse experimento ouvi ram a descrição das tarefas e a gravação Foram então divididos em três grupos um grupo a quem não se disse nada um grupo a quem se disse que o sujeito na gravação tinha recebido 1 dólar e um grupo a quem se disse que o sujeito tinha recebido 20 dólares Em um questionário preenchido depois dessa etapa eles classificaram as tarefas como enfadonhas ou interessantes como havia sido feito no estudo sobre dissonância Os resultados foram os mesmos do estudo anterior exceto é claro que agora as classificações atribuições estavam baseadas na observação do comportamento de outra pessoa Bem concluiu que quem recebe Compreendero behaviorismo 129 menos tem maior credibilidade independentemente de ser o próprio sujeito ou alguma outra pessoa Como outras formas de mentalismo a teoria da dissonância serve apenas para desviar nossa atenção da explicação última dos julgamentos de credibilidade nossa experiência social prévia Assim como os pombos em nossa demonstração discriminam entre um disco vermelho e um disco verde a maioria das pessoas discrimina entre pessoas que são pagas para dizer algo e pessoas que não são pagas para isso Do mesmo modo que os pombos as pessoas discriminam como resultado de uma história de reforço que depende do contexto É menos provável que o comportamento congruente com verbalizações de pessoas que são pagas para emi tilas seja reforçado Somos mais inclinados a nos comportarmos de acordo com as verbalizações de uma pessoa que não é paga por emitilas Usando os termos do behaviorismo molar ou de Ryle nossa tendência é apresentar os comportamen tos que pertencem à atividade ou categoria de acreditar no que a pessoa disse Nos experimentos citados fez pouca diferença se o mentiroso que não foi pago era outra pessoa ou o próprio sujeito O autoconhecimento sobre atitudes e crenças internas freqüentemente de pende de discriminações que envolvem muitos eventos ao longo de muito tempo mas os eventos são mais públicos do que privados Quando um dos pais se questio na se fica com seu filho por amor ou por culpa dizse que está se questionando sobre seus motivos Os motivos é claro são ficções mentais De onde vêm esses supostos motivos Discriminar se estou agindo por amor ou por culpa requer aces so à história de reforço desse comportamento Tratase de uma história de reforço positivo ou negativo Eu fico com meu filho porque no passado minha esposa amea çou me censurar e desprezar se não o fizesse Ou fico com meu filho porque no passado ele e minha esposa reforçaram esse comportamento com abraços beijos e outros sinais de afeto Se dissermos que seu terapeuta sabe melhor do que você próprio a diferença entre sua culpa e seu amor é porque ele tem maior capacidade de discriminar um a história de reforço de outra Introspecção As idéias convencionais sobre o autoconhecimento estão intimamente ligadas à noção de introspecção De acordo com essa idéia uma pessoa adquire autoconhe cimento olhando o palco interno da mente para ver que pensamentos idéias per cepções e sensações podem estar lá No Capítulo 3 vimos alguns dos problemas com noções desse tipo a mente teria de ser um espaço naonatural não está claro quem vê ou como vê e assim por diante A explicação de Ryle para o autoconhecimento difere da explicação de Sldnner apenas no tipo de crítica à introspecção Ryle rejeita a introspecção em bases lógi cas Observar um pardal é um rótulo para a categoria de comportamento que inclui falar sobre o pardal apontar para ele descrevêlo dizer quando ele se movi menta e assim por diante Quando você observa um pardal você não faz duas coisas observálo e falar sobre ele pois do ponto de vista lógico tudo o se quer dizer por observar um pardal é que você faz coisas do tipo falar sobre ele Observar 130 William M Baum um pensamento pareceria implicar exatamente o que observar um pardal não im plica isto é que o comportamento de observar é um segundo comportamento distinto do pensamento Se isso fosse verdade então teríamos de ser capazes de nos observar observando observarnos observandonos observando e assim por diante Em outras palavras a idéia de introspecção leva a um a regressão infinita um resultado geralmente considerado absurdo Como no caso de observar um par dal falar de um pensamento é meramente parte de pensar o pensamento Skinner assume a perspectiva mais pragmática de investigar as circunstâncias sob as quais alguém poderia falar de introspecção Se observar um pensamento fosse como observar um pardal então falaríamos do pensamento como falamos do pardal A fala sobre o próprio comportamento particularmente sobre o próprio comportamento privado parece ser a ocasião na qual se poderia dizer que a pessoa está fazendo uma introspecção Por essa razão Skinner se concentra no relato verbal A única diferença entre um relato verbal sobre um pardal e um relato verbal sobre um pensamento é que o estímulo discriminativo é inteiram ente público para o pardal e parcialmente privado para o pensamento Ambos os relatos verbais são exemplos de comportamento operante sob controle de estímulo Examinaremos como é possível tratar os relatos verbais desse modo no Capítulo 7 O COMPORTAMENTO DOS CIENTISTAS Já que um cientista é um organismo que se comporta deveríamos esperar que os conceitos da análise comportamental se apliquem ao comportamento dos cientis tas tanto quanto ao de qualquer outra pessoa E razoável perguntar Quais são as atividades que alguém deve executar para ser chamado dc cientista Essas ativi dades devem ser compreensíveis à luz de nossos conceitos de comportamento operante e controle de estímulo Observação e discriminação O físico Ernst Mach e outros autores ressaltaram que as atividades da ciência são as mesmas de algumas atividades da vida cotidiana só realizadas com mais cuidado e precisão Afirmase que cientistas reúnem dados o que significa dizer que fazem observações com um grau incomum de cuidado e precisão muitas vezes com a ajuda de instrumentos especiais Em ciências nãoexperimentais como a astrono mia a observação representa toda a coleta de dados e novas observações freqüente mente ocorrem por acaso Em ciências experimentais ambientes específicos são construídos e manipulados Um experimento consiste de manipulação combinada com observação No vocabulário técnico da análise comportamental a observação científica é a formação de discriminações Uma das atividades mais básicas da ciência é a no meação O astrônomo observa um a estrela e afirma Aquela é um a gigante verme lha O biólogo observa uma forma em uma célula do corpo e afirma Aquilo é uma Compreender o behaviorismo 131 jnitocôndria De modo similar a mensuração consiste em dizer ou em escrever algo comportamento operante como resultado de observar ou ler algum instru m ento estímulo discriminativo O químico lê um medidor e escreve 3 2 graus em um caderno O analista comportamental lê um contador e escreve 5 2 8 pres sões na barra Análises de dados também consistem em formar discriminações Manipulamos números na forma de tabelas e gráficos procurando padrões final mente tirando conclusões faladas e escritas 0 físico vê que os pontos em um grá fico caem próximo de um a linha e afirma Esses números se conformam à lei de Boyle Um sociólogo calcula o coeficiente de correlação e afirma A violência fa miliar aum enta em épocas de crise econômica Todas essas discriminações compartilham um elemento específico o cientista não somente faz a discriminação baseada na forma leitura de contadores ou pa drões numéricos m as tam bém se comporta de modo a produzir o estímulo discriminativo Essa combinação de atividades produzindo estímulos e discrimi nando com base nos estímulos produzidos estimula as pessoas a chamai a ciência de criativa Manipulamos instrumentos muitas e muitas vezes procurando algum estímulo discriminativo reconhecível até que algo finalmente possa ser dito ou escrito Ali agora você pode ver que é uma mitocôndria ou Agora fica claro que os pontos caem ao longo dessa linha e não daquela ou Se você olhar esses e aqueles números há um a tendência de aumento Os cientistas são particularmente recompensados por produzir novas discri minações que são cham adas de descobertas Prêmios Nobel são concedidos a discriminações como UA estrutura da molécula de DNA é uma dupla hélice ou Esta é uma vacina contra a poliomielite Conhecimento científico O conhecimento científico é um tipo de conhecimento declarativo ou de saber sobre Afirmase que um cientista sabe sobre algo quando ele pode falar e em particular responder questões corretamente no contexto Se um paleontólogo anuncia a descoberta de um fóssil de uma nova espécie de dinossauro outros paleontólogos fazem muitas perguntas Como você pode ter certeza de que não é esta outra espécie Quão boas são suas mensurações Sua estimativa da idade do fóssil poderia estar errada Aquelas formas não são de fato penas A capacidade da pessoa fornecer respostas adequadas determina se a descoberta será aceita Em termos de análise comportamental as respostas do cientista servem como estímulo discriminativo para outros dizerem que ele ou ela sabe algo Se um número sufi ciente de cientistas com eça a dizer isso a descoberta se torna parte do conheci mento comum parte da fala e da escrita daquele grupo de cientistas O conhe cimento científico é a fala e a escrita dos cientistas em contextos científicos O principal ponto aqui envolvido é que os cientistas são organismos que se comportam e que a ciência é um tipo de comportamento operante que como ou tros comportamentos operantes está sob o controle do contexto e das conseqüên cias Falar escrever fazer experimentos realizar mensurações todos são tipos de comportamento operante sob controle do contexto e das conseqüências 132 William M Baum Se as respostas do paleontólogo às perguntas persuadem outros paleontólogos que reforçam o falar e o escrever sobre a descoberta Se outros em grande número rejeitam a descoberta ou fracassam em reforçar o falar e o escrever e mesmo os punem então o descobridor pode eventualmente mudar seu comportamento e desiste ou retira seus argumentos Ou o falar e o escrever do descobridor em poten cial podem persistir por algum tempo diante da ausência de reforço A persistência pode eventualmente ser recompensada mas alguns cientistas foram para o túmulo sustentando idéias que nunca foram aceitas Por que alguns persistem e outros desistem diante da ausência ou da insuficiência de reforço para seu comportamen to fica por ser compreendido mas a resposta será muito provavelmente encontra da nas histórias de reforço individuais Pragmatismo e contextuaiismo A concepção de que os cientistas são organismos que se comportam que a ciência é comportamento operante e que o conhecimento científico consiste na fala e na escrita dos cientistas tudo sob controle do contexto e das conseqüências contradiz a visão de ciência do realista que discutimos no Capítulo 2 Não diz nada sobre um mundo real sobre dados sensoriais nada sobre a verdade última Em vez disso como sugerido no Capítulo 2 a visão analíticocomportamental de ciência continua a tradição do pragmatismo Pragmatistas como William James sustentam que a verdade de uma teoria científica reside em sua utilidade Para o analista comportamental isso se traduz por a probabilidade dos padrões de fala e escrita dependem de seu reforço O discurso sobre a Terra plana persistiu enquanto foi reforçado por ouvintes e por resultados práticos Cessou quando os ouvintes cessaram de reforçálo e pelo contrário começaram a reforçar o discurso sobre a Terra redonda O discurso sobre a Terra redonda foi mais reforçado por resultados práticos do que o discurso sobre a Terra plana Em outras palavras a teoria da Terra redonda foi considerada verdadeira quando se tornou socialmente aceitá vel e foi reconhecida como mais útil em atividades práticas como a navegação A visão analíticocomportamental se parece com uma idéia que historiadores da ciência denominam contextualismo De acordo com o contextualismo as teorias e a pesquisa científica têm de ser compreendidas dentro do contexto de seu tempo e de sua cultura Rejeita a visão de um a ciência objetiva e independente de valores Ao contrário os contextualistas asseveram que as teorias e mesmo os experimentos que os cientistas criam dependem do ambiente cultural em que vivem e no qual cresceram Para os contextualistas hão é coincidência que a teoria da evolução tenha sido proposta e eventualmente aceita ao mesmo tempo em que a Revolução Industrial estava acontecendo O ponto de vista analíticocomportamental coincide com o contextualismo em termos gerais mas vai além ao enfatizar as conseqüências práticas em acrésci mo às conseqüências sociais e ao especificar os meios através dos quais o ambiente social isto é outras pessoas do grupo ou a comunidade verbal como veremos no Capítulo 7 molda a ciência O comportamento dos cientistas falar e escrever como o comportamento operante de outros organismos é modelado por reforço e punição Compreender o behaviorismo 133 RESUMO As pessoas falam de conhecer ou conhecimento quando uma pessoa ou outra criatura se comporta em relação ao mundo natural público ou privado de m anei ras que são reforçadas que são apropriadas O conhecimento operacional ou o saber como significa que algum comportamento ou categoria de comportamento particular foi observado Diego sabe como nadar significa que Diego de vez em quando nada Eu sei como nadar significa que eu de vez em quando nado Afir mações sobre saber falar francês são similares exceto que a categoria saber fran cês inclui comportamentos mais variados O conhecimento declarativo ou saber sobre significa que o comportamento referido está sob controle de estímulo Pode se dizer que um rato sabe como conseguir comida pressionando uma barra sim plesmente porque ele pressiona a barra ao passo que se pode dizer que ele sabe sobre uma luz se ele só pressiona a barra quando a luz está acesa O saber sobre referese à discriminação No caso especial de saber sobre em que o comportamen to sob controle de estímulo é um comportamento verbal dizse que uma pessoa sabe sobre um assunto se ela faz asserções que foram reforçadas que são corre tas sob controle de estímulos discriminativos do ambiente falar sobre pássaros na presença de pássaros particularmente estímulos providos por outras pessoas como perguntas por exemplo Qual a cor dos ovos do pardal O autoconhe cimento pertence à m esm a categoria geral de falar sobre sob controle de estímu lo Ele é escasso e fraco quando diz respeito a eventos privados porque os estí mulos discriminativos privados são inacessíveis para os outros que são quem trei nam as discriminações que compõem o conhecimento declarativo O resultado é o oposto do que seria de esperar a partir da concepção convencional eventos públi cos externos exercem melhor controle sobre o comportamento são mais bem conhecidos do que eventos privados internos O conhecimento científico consiste na fala e na escrita dos cientistas Ele de pende tanto de um contexto criado pela pesquisa quanto das conseqüências no comportamento de ouvintes e leitores normalmente outros cientistas LEITURAS ADICIONAIS Bem D J 1967 Selfperception an alternative interpretation of cognitive dissonance phenomena Psychological Revíew 74 183200 Nesse artigo Bem relata vários experimen tos critica o mentalismo da teoria da dissonância e dá explicações comportamentais para as autopercepções Cheney D L e Seyfarth R M 1990 How monkeys see the world insiãe lhe mind ofanother species Chicago University of Chicago Press Esse livro é sobre macacos vervet observados na selva e está repleto de interpretações mentalistas como o tratamento do mentir discu tido neste capítulo Dennett DC 1987 The intentional stance Cambridge Mass MIT Press Dennett é um filósofo que defende o mentalismo e que inspirou muitas das interpretações mentalistas presentes nas observações de Cheney e Seyfarth sobre o comportamento de macacos Ver especialmente os Capítulos 7 e 8 134 William M Boum Herrnstein R J e Loveland D H 1964 Complex visual concept in the pigeon Science 146 549551 Esse artigo contém o relato original da descoberta de que pombos podem discriminar diapositivos que contêm seres humanos dos que não os contêm Rachlin H 1991 Introduction to modern behaviorism Nova York Freeman 3 ed Ver o Capítulo 5 para uma discussão da cognição em relação a controle de estímulo Ristau C 1991 Cognitive ethology the minds of other animals Hillsdale NJ Erlbaum Esse livro é uma coleção de artigos de zoólogos psicólogos e filósofos cheio de interpre tações mentalistas do comportamento animal e de discussões sobre a validade dessas inter pretações Ryle G 1984 The concept of mind Chicago University of Chicago Press Ver especialmen te os Capítulos 2 e 6 sobre o conhecer e autoconhecimento Skinner B R 1969 Behaviorism at fifty In Contingencies of reinforcement Nova York AppletonCenturyCrofts cap 8 Esse texto inclui uma discussão da introspecção e do autoconhecimento TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPITULO 6 Autoconhecimento Cadeia comportamental Conhecimento declarativo Conhecimento operacional Contextualismo Controle de estímulo Discriminação Estímulo discriminativo Introspecção Pareamento com o modelo Regressão infinita Relato verbal Teoria da dissonância N de T Título traduzido em português ver Apêndice Comportamento verbal e linguagem M u ito do que foi discutido nos Capítulos 34 5 e 6 presumia que o falar é um tipo de comportamento operante Muitas pessoas leigos filósofos lingüistas e psicólo gos consideram a fala e a linguagem como sendo coisas separadas e diferentes de outros comportamentos Na verdade freqüentemente se diz que a linguagem é o que distingue nossa espécie das outras Os analistas de comportamento porém coerentes com sua confiança na teoria da evolução procuram compreender todas as espécies e todos os tipos de comportamento dentro do mesmo quadro geral de referência Oferecem um a explicação da fala e da linguagem que ignora categorias tradicionais acentuando a semelhança da fala com outros tipos de comportamen to Neste capítulo veremos que o falar é um dos tipos e não o único de comporta mento verbal e que a noção de comportamento verbal substitui muitas idéias tra dicionais sobre a fala e a linguagem 0 QUE É COMPORTAMENTO VERBAL Comportamento verbal é um tipo de comportamento operante Pertence a catego ria comportamental mais ampla que poderia ser chamada de comunicação se comunicação não sugerisse uma teoria m entalista alheia ao ponto de vista behaviorista Como veremos a perspectiva comportamental redefine a palavra co municação ou a substitui por outros termos 136 William M Boum Comunicação Quando um pássaro emite um chamado de alarme e todos os outros pássaros do bando se escondem do predador poderíamos dizer que ocorreu um ato de comuni cação Em uma concepção comportamental esse exemplo ilustra tudo o que entra na comunicação A comunicação ocorre quando o comportamento de um orga nismo gera estímulos que afetam o comportamento de outro organismo A concepção convencional sustenta que na comunicação há algo que é pas sado de uma pessoa para outra Etimologicamente comunicação significa tornar comum O que se torna comum Uma idéia uma mensagem um significado Al guns psicólogos enfeitam essa concepção cotidiana acrescentando que a idéia é codificada pelo remetente transmitida em código para o destinatário e depois decodificada por esse destinatário que passa então a possuir a mensagem Como todas as noções mentalistas a noção cotidiana de comunicação nada acrescenta ao que observamos e nos impede uma compreensão maior Onde está a mensagem De que é feita Quem faz a codificação e a decodificaçao A mensa gem a codificação e a decodificaçao são ficções de um mundo mental que perm a nece eternamente fora de nosso alcance O pássaro que emite o chamado se comporta movimenta a faringe e os pulmões e isso resulta em um estímulo auditivo que modifica o comportamento de outros pássaros que estão ao alcance do som Acrescentar que o pássaro que chama emite uma mensagem que os outros recebem não esclarece a explicação Será que é diferente quando uma pessoa fala com outra 0 comportamento verbai como comportamento operante Há uma diferença crucial entre o chamado de alarme e a fala O chamado de alar me do pássaro é um padrão fixo de ação enquanto falar é comportamento operante Quando um padrão fixo de ação gera estímulos auditivos è visuais que afetam o comportamento dos outros como na defesa na agressão e na corte esse processo pode ser chamado de comunicação Entretanto não é comportamento verbal Mesmo o rápido movimento da sobrancelha hum ana como saudação embora possa afetar a pessoa que o percebe e portanto ser comunicativo não é um exemplo de com portamento verbal Comunicação é a categoria mais ampla Todo comportamento verbal poderia ser chamado de comunicação mas o contrário não é verdadeiro Padrões fixos de ação dependem apenas de antecedentes estímulossinal ao passo que o comportamento verba por ser um tipo de comportamento operante depende de suas conseqüências 0 falar tem conseqüências Suponha que Gerson e Sílvia estejam jantando As batatas de Gerson estão sem sal e o sal está perto de Sílvia Gerson diz Me dá o sal por favor A conseqüência Compreender o behaviorismo 137 dessa frase é que Sílvia lhe passa o sal Gerson se comporta movimenta a laringe os lábios a língua e assim por diante Isso gera um estímulo auditivo que Sílvia ouve A fala de Gerson Me dá o sai por favor é reforçada pela entrega do sal Sabemos que a frase de Gerson está sendo controlada por esse reforçador porque se estivesse sozinho ou se as batatas estivessem suficientemente salgadas ou se o sal estivesse perto de seu prato a frase Me dá o sal por favor não ocorre ria O comportamento verbal como qualquer comportamento operante tende a ocorrer apenas no contexto em que tem probabilidade de ser reforçado I comunidade verba As pessoas que ouvem e reforçam o que uma pessoa diz são membros da comuni dade verbal dessa pessoa o grupo de pessoas que falam entre si e que reforçam as verbalizações umas das outras Um experimento de Rand Conger e Peter Killeen 1974 mostrou como a comunidade verbal funciona Quatro pessoas se sentaram a uma mesa conversan do sobre um tem a de interesse comum Três dessas pessoas eram aliados dos experimentadores sem o conhecimento da quarta que era o sujeito experimental e a quem foi dito apenas que o experimento era sobre interações sociais e que seria gravado em vídeo Ocasionalmente em esquemas de intervalo variável duas luzinhas atrás do sujeito acendiam sinalizando às pessoas a sua esquerda e a sua direita que deveriam dizer uma palavra de aprovação como Bem observado ou Tem razão na próxima oportunidade que parecesse adequada A pessoa sentada em frente ao sujeito tinha a função de facilitar a conversa A medida que os esquemas de reforço da esquerda e da direita variavam também variava a freqüência de reforço à direi ta e à esquerda O resultado foi que o comportamento verbal do sujeito mudava quando o reforço mudava Se a pessoa à direita dispensava mais reforçadores o sujeito passava mais tem po falando com ela se a pessoa da esquerda dispensava mais reforçadores o sujeito passava mais tempo falando com essa pessoa Falante e ouvinte Skinner 1957 definiu comportamento verbal como o comportamento operante que exige a presença de outra pessoa para ser reforçado Essa outra pessoa que reforça o comportamento verbal do falante é o ouvinte O comportamento operante de abrir a geladeira ou de dirigir um carro não pode ser chamado de comportamen to verbal pois não é necessária a presença de um ouvinte para reforçálo 0 episódio verbal A Figura 71 apresenta um esquema dos eventos que compõem um episódio com pleto de comportamento verbal No exemplo em que Gerson pede o sal para Sílvia 138 William M Baum Falante SR Cv SP SR C R I Ouvinte 1 1 1 Sg C0 S Falante Sal na mesa fora de alcance Cv Me dá o sal por favor 1 SP S Sal é recebido t C R Obrigado 1 1 Me dá o sal 1 Passa 1 Obrigado Ouvinte por favor o sal sg Co s Figura 71 Um episódio verbal SF é o contexto para o comportamento verbal do falante Cv que gera um estímulo discriminativo S que determina a ocasião para o ouvinte agir CQ de forma a prover reforço S para o comportamento do falante Cv O reforço ao faiante serve também como estímulo discriminativo S que determina a ocasião para uma resposta de retribuição CR da parte do falante Essa provê o reforço S para o comporta mento do ouvinte CQ o contexto iniciador ou estímulo discriminativo S para o pedido de Gerson é a situação em que ambos estão à mesa falta sal nas batatas e o sal está fora do alcance junto a Sílvia Gerson emite o comportamento verbal de movimentar a laringe a língua os lábios e assim por diante Cv a verbalização está escrita na Figura 71 entre colchetes Esse ato verbal gera um estímulo discriminativo audi tivo So entre aspas na Figura 71 Em presença de Me dá o sal por favor é provável que Sílvia passe o sal O fato de receber o sal reforça o ato verbal de pedir por ele como também serve de estímulo discriminativo Sr para Gerson retribuir de alguma maneira Ele movimenta a laringe a língua os lábios e assim por dian te a fim de formar o Obrigado entre colchetes este gera um estímulo auditivo Obrigado que serve de reforçador condicionado para o ato de Sílvia passar o sal Reforço do comportamento verbal O evento crucial na Figura 71 que faz de Cv um comportamento verbal e não um outro tipo de comportamento operante é S o reforço dispensado pelo ouvinte Se Gerson conseguisse o sal de uma forma que excluísse Sílvia talvez se levantando e pegandoo ele próprio não chamaríamos esse comportamento de verbal Para que uma ação seja considerada verbal seu reforço tem de ser dispensado por outra pessoa o ouvinte Compreender o behaviorismo 139 A maior parte do comportamento verbal depende de reforço social Se Gerson avisa Sílvia de que Há um tigre atrás de você o reforço desse ato verbal vem do salto que Sílvia dá para um lugar seguro e de seus profusos agradecimentos Quando você e eu conversamos alternamos o papel de falante e ouvinte meus atos verbais servindo para reforçar seus atos verbais e viceversa Nos termos da Figura 71 a ação do ouvinte C0 em um a conversa é tanto comportamento verbal como Cv Se eu disser Você ouviu a notícia você ouve Você ouviu a notícia e responde Não o que foi Eu ouço Não o que foi e isso reforça meu ato inicial de perguntar minha resposta seguinte reforça seu ato de perguntar e assim por diante Participar de um a conversa geralmente leva a conseqüências últimas mais longas e importantes Conforme a pessoa com quem você fale você pode encontrar um amor obter orientação para chegar a um lugar conseguir um trabalho salvar seu casamento fechar um negócio e assim por diante A atividade de participar de uma conversa é parte de um a atividade mais extensa tal como estar casado traba lhar ou m anter a saúde Assim reforçadores sociais de curto prazo trocados em uma conversa são geralmente sustentados por conseqüências mais significativas A modelagem da troca de papéis durante uma conversa provavelmente come ça cedo Catherine Snow 1977 registrou a interação de duas mães com seus be bês Verificou que as mães já desempenhavam o papel de ouvintes das vocalizações das crianças quando estas tinham apenas 3 meses de idade Nessa idade observou Snow 100 dos arrotos bocejos espirros tosses vocalizações diversas sorrisos e risadas tinham respostas sob a forma de vocalizações maternas p 12 As mães naturalmente contribuíram muito mais para essas conversas do que os bebês mas por volta dos 7 meses a contribuição deles havia aumentado e a freqüência das alternâncias tivera um aumento correspondente Eis um exemplo que Snow gravou p 16 Mãe Ann Ghhhhhghhhhhghhhhh ghhhh Grrrrr grrrrr grrrrr grrrrr choro de protesto Ah você não quer nâo é aaaaaaaaa aaoaa Não eu não eslavo fazendo esse barulho Eu não ia oaaaa aaoaa aaoaa aaaaa Isso tá certo A contribuição dos bebês foi aumentando de forma regular até que aos 18 meses a freqüência de alternância era dez vezes maior Como qualquer outro comportamento operante o comportamento verbal exige apenas reforço interm itente para ser mantido Se Sílvia estivesse brava com Ger son ou ocupada com alguma coisa ou com dificuldade de ouvir Gerson talvez tivesse tentado várias vezes obter o sal antes de conseguilo Poderia até não conse guir nessa ocasião levantarse e pegar o sal ele mesmo Quando a situação se repe tir em outro dia seu pedido ocorrerá de novo Depois de várias tentativas infrutífe ras o comportamento verbal pode vir a se extinguir mas provavelmente isso acon 140 William M Ba um tecerá somente com o comportamento dirigido a Sílvia Se Gerson estiver à mesa com Lígia ele pedirá ò sal Em outras palavras ele será capaz de discriminar De um a maneira geral o comportamento verbal é extremamente persistente e com freqüência é reforçado apenas intermitentemente Como outros comportamentos operantes o comportamento verbal exige me nos reforço para se manter do que para ser adquirido O reforço dos primeiros atos verbais de uma criança são pródigos e freqüentes O que existe de m ais emocionan te para um pai do que as primeiras palavras de um filho Não importa que a criança fale paa em vez de papai ete em vez de leite nana em vez de banana receberá aplausos e afeição em abundância A situação muda evidentemente à medida que a criança cresce Os pais aceitam paa ete e nana em uma criança de 2 anos mas o mesmo ato verbal em uma criança de 4 anos seria corrigido e talvez levemente punido Como muitos outros comportamentos operantes o comportamento verbal é modelado ao longo do tempo por aproximações sucessivas Ernst Moerk 1983 estudou fitas gravadas por Roger Brown 1973 de uma mãe interagindo com sua filha Eve que tinha entre 18 e 27 meses As conversas entre mãe e filha eram extremamente assimétricas a mãe falando quatro ou cinco sentenças para cada verbalização da criança Na estimativa de Moerk a mãe de Eve produzia mais de 20 mil sentençasmodelo a cada dia Com cerca de 18 meses Eve respondia à fala de sua mãe através de imitações parciais Sua mãe dizia algo como Agora você pode comer uma bala Você quer um a bala Eve respondia bala o que sua mãe reforçava com comentários como Está certo você quer uma bala e dandolhe uma bala Tildo indica que as crianças do gênero humano são feitas de forma a apresen tar alta probabilidade de imitar sons de fala que ouvem de pessoas significativas A partir dessa predisposição programada geneticamente e do reforço dado por essas pessoas na qualidade de ouvintes o comportamento verbal é adquirido e modelado 0 papel do ouvinte Para a criança que está aprendendo a falar assim como para o adulto que fala fluentemente o ouvinte desempenha um papel crucial Sem os ouvintes ou sem a comunidade verbal o comportamento verbal não poderia ser adquirido Como ouvintes as mães de Snow reforçaram maciçamente cada uma das vocalizações de seus bebês Os bebês por sua vez reforçaram as vocalizações das mães embora fossem apenas principiantes começavam a exercer o papel de ouvinte Cada um de nós à medida que cresce e participa da cultura que nos rodeia aprende a ser ouvinte Nosso comportamento em outras palavras vem a responder às verbalizações ouvidas dos outros como contextos verbais ou estímulos discriminativos verbais Discriminamos entre vocalizações e ruídos e entre uma vocalização e outra Por volta dos 18 meses a criança normalmente se comporta de forma diferente a o ouvir Você quer uma bala e Você quer um suco Nossas ações como ouvintes provêem reforço para as verbalizações dos falan tes a nossa volta Freqüentemente isso ocorre de forma inconsciente seria uma Compreender o behaviorismo 141 raridade o ouvinte que relatasse Estou reforçando o comportamento verbal desse falante Entretanto podemos dizer que o fazemos intencionalmente no sentido discutido no Capítulo 5 de que nosso comportamento como ouvintes é modelado e mantido por reforço ou seja deriva de uma história de reforço Junto com o falar o ouvir é freqüente e generosamente reforçado em crianças pequenas Nos estudos de Snow e Moerk quando respondiam às vocalizações dos pequenos as mães estavam reforçando tanto o comportamento de falante como o comportamento de ouvinte porque as crianças falavam no contexto de ouvir o que suas mães acabavam de dizer À medida que passa o tempo o reforço diferencial refina o ouvir da criança isto é seu responder apropriado em dado contexto verbal O pai fala Pegue a bola vermelha e quando a criança pega a bola vermelha e não outra seguemse satisfação aplauso e afeição Assim nosso comportamento de ouvinte é reforçado e modelado O adolescente é admoestado a ouvir quando falo com você e eventual mente aprende a m ostrar sinais de que está realmente ouvindo fazendo contato visual assentindo com a cabeça sorrindo e assim por diante Esses sinais junta mente com as conseqüências dos outros atos do ouvinte tais como pegar a bola vermelha ou passar o sal reforçam o comportamento do falante mas as ações do ouvinte têm de ser reforçadas para serem mantidas tanto quanto as ações do fa lante Daí o muito im portante obrigado S da Figura 71 Exemplos A própria noção de comportamento verbal contradiz o ponto de vista convencional sobre o falar e o ouvir Dizer que existe uma coisa chamada comportamento verbal é dizer que falar e ouvir não são especiais nem diferentes de outros comportamen tos mas fazem parte de um mesmo contínuo Em outras palavras o comportamen to verbal é como qualquer outro comportamento operante Em consonância com essa continuidade abundam os exemplos de comporta mento operante que poderiam ou não ser chamados de verbais A categoria com portamento verbal é nebulosa sua definição é pobre em seus limites A nebulosi dade não é um problema pois sublinha a similaridade entre comportamento ver bal e outros comportamentos operantes Mesmo que parte de nosso comportamen to seja claramente nãoverbal e parte possa ser ou não verbal o conceito de com portamento verbal inclui muito do que fazemos A fim de entender a extensão do conceito vamos nos voltar agora para alguns exemplos que são claramente verbais u nãoverbais e para outros que são ambíguos importância da história ap on h a que uma desconhecida comece a falar com você em russo e vocè não etende nenhuma palavra Não há possibilidade de que esse comportamento seja reforçado Tratase de comportamento verba Você está sendo um ouvinte 142 William M Baum Embora a fala da desconhecida não possa ser reforçada nessa situação trata se de comportamento verbal porque foi reforçado em situações passadas pela comunidade verbal a que ela pertence Não há por que desqualificar essa fala como comportamento verbal por não ter sido reforçada naquela ocasião particular pois o comportamento verbal freqüentemente passa sem reforço em certas ocasiões Esse tipo de comportamento é qualificado como verbal porque provém de uma história de reforço por uma comunidade de falantes e ouvintes Se você está sendo ou não um ouvinte embora não entenda nenhum a palavra de russo é uma pergunta cuja resposta depende não apenas da história de reforço mas também da perspectiva de quem olha De sua perspectiva você não pode ser ouvinte porque você não pode reforçar o comportamento da desconhecida Da perspectiva dela porém você está sendo tratado como membro da classe de estí mulos ouvinte Logo ela descobrirá seu erro e discriminará isto é ela irá para outro lugar ou falará com você em outra língua Falar com você em russo como ela fez é um caso de generalização Comó estímulo discriminativo você é suficiente mente parecido com um ouvinte russo para que o comportamento dela ocorra Sua incapacidade de reforçar o comportamento garante que ele sofrerá extinção em sua presença mas a ação inicial se originou de uma história de reforço na presença de ouvintes bastante parecidos com você Da perspectiva dessa história você é inicialmente um ouvinte ou pelo menos um ouvinte potencial Gestos e linguagem de sinais Suponhamos que você e a desconhecida não tenham nenhuma língua em comum e que ela então recorra a gestos Ela aponta o pulso e olha para você inquisitivamente Você lhe mostra o relógio ela acena com a cabeça afirmativamente e sorri Serão seus gestos considerados comportamento verbal De acordo com nossa definição eles são Indicar o pulso é comportamento operante cujo reforço depende de sua presença Isso faz de você um ouvinte mesmo que seja surdo Conforme nossa definição o comportamento verbal não precisa ser compor tamento vocal e pode inclusive ser escrito O grande místico indiano Meher Baba 18941969 que guardou silêncio por 44 anos inicialmente escrevia com giz em uma pedra depois soletrava palavras indicando as letras em um quadro com o alfabeto e finalmente m udou para um sistema de gestos manuais Purdom 1971 Tudo isso seria qualificado como comportamento verbal comportamento operante cujo reforço requer a presença de outra pessoa o ouvinte O melhor exemplo de comportamento verbal nãovocal é a linguagem de si nais Aquele que faz o sinal silenciosamente age como falante e aquele que res ponde ao sinal ainda que surdo é o ouvinte Pessoas que formam um grupo e que usam a linguagem de sinais ora como falantes ora como ouvintes constituem uma comunidade verbal Compreender o behoviorisrno 143 Animais nãohumanos jVleu gato se achega a mim na hora do jantar mia e se esfrega em minha perna Ele faz isso todos os dias e todos os dias eu o alimento quando ele faz isso Será o miado de meu gato um comportamento verbal De acordo com nossa definição pode ser O miar é comportamento operante porque nasceu de uma história em que eu o reforçava dando alimento Exige mi nha presença para ser reforçado Isso faria de mim o ouvinte e de meu gato o falante Entretanto talvez você não qualifique o miar de meu gato como comporta mento verbal porque não é razoável chamar a meu gato e a mim de comunidade verbal Nunca trocamos de papel como falante e ouvinte Nunca lhe peço comida nem ele jamais me alimenta As vezes ele vem quando o chamo mas essa é uma razão frágil demais para que se diga que somos uma comunidade verbal No entanto esse exemplo ilustra uma questão importante a definição de com portamento verbal de forma nenhum a exclui animais nãohumanos Já houve quem ensinasse chimpanzés a se comunicar com seres humanos por meio de linguagem de sinais Embora meu gato e eu não a tenhamos um chimpanzé e um ser humano que fazem sinais um para o outro têm a qualificação necessária para serem consi derados uma comunidade verbal Da mesma forma que dois seres humanos fazen do sinais um para o outro se alternam como falante e ouvinte assim também o fazem o chimpanzé e o ser humano Há relatos de casos de dois chimpanzés treina dos que faziam sinais um para o outro alternadamente De acordo com a defini ção isso seria qualificado como comportamento verbal se os dois chimpanzés pu dessem razoavelmente ser considerados membros de uma comunidade verbal Muitos pensadores já defenderam o ponto de vista de que a linguagem é espe cificamente humana A veracidade dessa afirmação depende inteiramente da defi nição de linguagem Se for definida em termos de fala de forma a excluir gestos então evidentemente ela pertence apenas aos seres humanos A definição de com portamento verbal poderia ser igualmente afunilada de forma a excluir animais nãohumanos Essas definições entretanto não permitiriam que se atribuísse lin guagem e comportamento verbal às pessoas que usam linguagem de sinais A defi nição que estamos usando ao exigir que o falante e o ouvinte troquem os papéis exclui casos triviais como meu gato e eu mas ao incluir os gestos abre a possibili dade de comportamento verbal em indivíduos nãohumanos A espécie humana é única toda espécie é única não por causa de uma característica especial mas por causa de uma combinação única de características definição nenhuma outra espécie pode compartilhar toda a constelação de características que faz de nós seres humanos mas qualquer uma dessas caracterís ticas pode ser partilhada com outra espécie Da perspectiva da teoria da evolução Qs seres humanos são apenas uma espécie entre muitas e não necessariamente superior a qualquer outra e não se acham separados dos animais por uma bar reira insuperável A ênfase da análise do comportamento se afasta de distinções 1 4 4 William M Baum baseadas no fato de se pertencer a esta ou aquela espécie e se volta para distinções baseadas nas relações entre comportamento e ambiente tais como as distinções entre comportamento operante versus induzido Capítulo 4 e falante versus ouvinte falar consigo próprio Quando falo comigo mesmo isso é comportamento verbal Os analistas de com portamento têm discordâncias sobre esse ponto Suas respostas dependem de acei tarem ou não a idéia de que em um episódio verbal falante e ouvinte possam ser a mesma pessoa Pela Figura 71 podemos ver que se a mesma pessoa puder ser ouvinte e falan te então o comportamento verbal do falante Cv será reforçado por um a mudança de comportamento C0 na mesma pessoa aqui vista como ouvinte Isso pode acontecer por exemplo quando dou instruções ou ordens para mim mesmo Ao dirigir o carro para uma casa cujo endereço não é familiar posso dizer para mim mesmo ao chegar a um cruzamento Bem aqui eu tenho de virar à esquerda Se deste modo como ouvinte eu virar à esquerda meu ato verbal a autoinstrução para virar à esquerda terá sido reforçado especialmente se conseguir chegar a meu destino Minha autoinstrução poderia ser dita em voz alta ou poderia ser dita privada ou encobertamente No laboratório com os instrumentos apropriados fala subvocal pode ser detectada mas em situações do diaadia é possível dizer coisas para mim mesmo sem que o aparato fonador seja envolvido de forma detectável Tal compor tamento encoberto corresponde a um dos usos da palavra pensar tal como quando se diz de alguém que está quieto sentado que está pensando consigo mesmo Encoberta ou aberta minha fala comigo mesmo teria de resultar em m udan ça em meu comportamento como ouvinte para ser chamada de comportamento verbal AutoinstruçÕes e autocoma ndos Conte até 10 antes de falar se caracteri zam como tal Até uma afirmativa feita para mim mesmo como Esse quadro é lindo estaria nessa categoria se então eu fizesse alguma coisa como procurar o nome do artista ou perguntar pelo preço E cantar ou recitar um poema para mim mesmo como dizemos só pelo pra zer Entraria na categoria de comportamento verbal De acordo com nossa defini ção não entraria porque ninguém está no papel de ouvinte Recitar um poema pode ser reforçado pelo som produzido mas o reforço não exige nenhum outro comportamento típico de ouvinte da parte de quem recita Sabemos que nem todo comportamento verbal é vocal por exemplo na linguagem de sinais Agora ve mos que nem todo comportamento vocal é verbal Dentre os analistas de comportamento aqueles que rejeitam a idéia de que falar consigo mesmo constitui comportamento verbal encaram esse tipo de fala N de T Esta seção e a próxima se referem exclusivamente a uma interpretação baseada no referencial teórico de Rachlin 1985 1989 1990 N de T Aberto no sentido de manifesto Compreender o behaviorismo 145 como parte de um a unidade estendida de ação uma atividade Essas unidades ampliadas ou molares têm grande papel na abordagem do comportamento operante proposta por Rachlin e que foi discutida no Capítulo 3 Nessa abordagem meu ato de guiar o carro até a casa desconhecida constituiria uma atividade unitária defini da por sua função A atividade poderia ocorrer de várias formas pegando diferen tes caminhos com ou sem autoinstruçao mas todas as variações poderiam ser consideradas membros da mesma atividade funcional Cada percurso seria um episódio da mesma atividade como vimos no Capítulo 4 Figura 43 Se dirigir o carro seguindo autoinstruções me levar a meu destino isto é for reforçado mais freqüentemente então eu o farei mais freqüentemente Mais provavelmente se guirei esse caminho nas primeiras vezes que for a esse lugar específico e à medida que o caminho se tome familiar dispensarei as autoinstruções Assim falar comigo mesmo é como recitar um poema sozinho o reforço resulta de outras fontes que não um ouvinte Quando se pensa o comportamento nesses termos molares uma atividade só pode ser qualificada como verbal quando ouvinte e falante forem pes soas diferentes Comportamento verbal versus linguagem Comportamento verbal é diferente de linguagem As palavras língua e linguagem quando usadas em frases como língua portuguesa ou linguagem de sinais dão a impressão de serem coisas Muitas vezes se fala de linguagem como se fala de uma posse algo que é adquirido e depois utilizado A idéia comum de que a lingua gem é utilizada como um instrumento desperta todos os problemas do mentalismo Onde está o instrumento De que é feito Ouem o utiliza como e onde Como esse instrumento causa a fala E assim por diante O comportamento verbal compreende eventos concretos enquanto a lingua gem é um a abstração A língua portuguesa como conjunto de palavras e regras gramaticais para combinálas é uma descrição rudimentar do comportamento ver bal Resume a forma de falar de muitas pessoas É rudimentar porque em geral as pessoas falam de maneira peculiar Nem as explicações do dicionário nem as re gras de um livro de gramática coincidem exatamente com as expressões utilizadas por pessoas que falam português Embora o que se fala acerca de uso de linguagem tenha um caráter mentalísta e diversionista o fato é que quando dizemos que uma pessoa está usando uma linguagem o que em geral ela está fazendo é comportamento verbal Como vimos anteriormente eventos como escrever um livro ou recitar um poema para si mes N de T O vocábulo language em inglês tem umsignificado amplo que abarca os vocábulos língua e linguagem em português Por essa razão language foi traduzido como língua guando utilizado no sentido de idioma ou sistema dotado de gramática Language foi traduzido como linguagem quando utilizado no sentido de sistema de signos que seivcm de comunicação entre indivíduos independente do órgão sensorial envolvido tal como quando St fala linguagem iconográfica 1 4 6 Wiiliam M Bown mo são exemplos de uso de linguagem que podem não ser considerados compor tamento verbal Inversamente alguns casos de comportamento verbal como ace nar e apontar podem não ser consideradas uso de linguagem A Figura 72 ilustra as relações entre comportamento verbal comportamento vocal e uso de linguagem Cada círculo representa uma das categorias e podese pensar em eventos particulares como pontos dentro dos círculos Os círculos se sobrepõem de ftírma que eventos particulares podem estar localizados em mais de um círculo o que quer dizer que pertencem a mais de uma categoria O subconjunto central sombreado rotulado como fala indica os eventos que pertencem a todas as três categorias pessoas falando com outras pessoas As áreas em que dois círcu los se sobrepõem indicam eventos que pertencem a essas duas categorias mas não à terceira uma pessoa ou um animal nãohumano pode emitir gritos ou outros sons comportamento vocal que poderiam ser considerados comportamento ver bal mas não seriam considerados uso de linguagem Fazer sinais seria comporta mento verbal e poderia ser chamado de uso de linguagem mas não pode ser considerado vocal Recitar um poema para si próprio seria comportamento vocal e uso de linguagem mas provavelmente não seria chamado de comportamento verbal Finalmente há eventos que só podem ser categorizados em um dos círcu los Um chamado de alarme que seja um padrão fixo de ação seria vocal mas não verbal e nem seria uso de linguagem Gestos como acenar ou apontar são ape nas comportamento verbal Escrever um livro na intimidade do próprio escritório um caso de uso de linguagem não é vocal e porque nenhum ouvinte precisa estar presente para que haja reforço também não é comportamento verbal Figura 72 Relações entre as categorias comportamento verbal comportamento vocal e uso de linguagem Compreender o behoviorismo 147 UNIDADES FUNCIONAIS E CONTROLE DE ESTÍMULO Como outros comportamentos operantes o comportamento verbal consiste de atos que pertencem a classes operantes que são 1 definidas funcionalmente e 2 sujeitas a controle de estímulo Essas duas noções separam o conceito de comporta mento verbal das concepções tradicionais de linguagem e fala Atividades verbais como unidades funcionais No Capítulo 5 distinguimos unidades estruturais de unidades funcionais Podese dizer que todos os eventos têm uma estrutura e é provável que cada evento tenha uma estrutura única Um rato provavelmente não conseguirá pressionar uma barra duas vezes do mesmo jeito usando exatamente os mesmos músculos na mesma exata medida Mesmo que o rato fosse capaz de produzir duas pressões estrutural mente idênticas ainda assim seriam elas eventos únicos por terem ocorrido em tempos diferentes Em contraste as unidades funcionais não são eventos particu lares mas espécies ou populações de eventos particulares confira a Figura 43 e são definidas por seus efeitos sobre o ambiente Da mesma forma que a pressão à barra do rato cada ação verbal tem uma determinada estrutura uma determinada seqüência de movimentos de vários mús culos da garganta e da boca Quando um romancista representa uma verbalização por escrito está apenas fazendo uma descrição grosseira do que seja uma verda deira emissão verbal O leitor tem de imaginar o ritmo e a entonação Os sistemas de notação fonética representam essas ações verbais com maior precisão Por exem plo a ortografia fonética de uma palavra no dicionário nos dá uma idéia de como pronunciála Entretanto não há representação que possa captar verdadeiramente uma determinada verbalização porque cada uma delas é única Mesmo tentando é virtualmente impossível emitir a mesma expressão verbal duas vezes do mesmo jeito Alguma coisa mudará sua inflexão seu tom de voz seu ritmo Dado que raramente sequer tentamos repetir a mesma exata verbalização o comportamento verbal que ocorre naturalm ente é muito variável Uma atividade verbal é uma espécie de ações que têm todos o mesmo efeito sobre o ouvinte Do mesmo modo que todas as formas estruturalmente diferentes de pressionar um a barra pertencem à mesma atividade porque todas produzem o efeito de fazer com que a barra se desloque assim também todas as formas estru turalmente diferentes de pedir o sal pertencem ao mesmo operante porque produ zem o mesmo efeito sobre o ouvinte passar o sal Pense em todas as diferentes formas de pedir o sal que Gerson poderia ter utilizado Poderia me dar o sal por favor Por favor me passe o sal Queria que você me passasse o sal e assim por diante Para um lingüista essas três verbalizações poderiam parecer fundamental mente diferentes a primeira é uma pergunta a segunda é uma sentença imperati va a terceira é um a sentença declarativa Por mais diversas que sejam do ponto de vista estrutural as três expressões pertencem à mesma atividade verbal porque têm o mesmo efeito sobre Sílvia ela passa o sal Alguns membros dessa atividade podem mesmo se situar fora do uso de linguagem talvez baste que Gerson olhe ï 4 8 William M Baum para Sílvia e aponte o sal Se fôssemos enumerar todas as formas estruturalmente diferentes pelas quais Gerson poderia pedir o sal a lista seria longa e variada mas todas as variações ainda seriam exemplos da mesma atividade verbal porque todas funcionariam de modo equivalente Os lingüistas quando descrevem a estrutura de verbalizações possíveis falam de unidades como palavras e morfemas por exemplo o final s em um substantivo plural ou as terminações ei aste ou etc em um verbo no passado Por exem plo a análise da sentença Os gatos miavam indica que ela é composta de três pala vras e nove morfemas o s gat o s mi a va e m As sentenças podem ser assim divididas para fins de análise de süa estrutura mas um a análise desse tipo não diz nada sobre a função da sentença Estruturalmente as sentenças Há um tigre atrás de você e Há uma criança atrás áe você se distinguem por apenas uma palavra Têm o mesmo padrão ou form a Há X atrás de você mas os dois enun ciados pertencem a atividades diferentes porque têm efeitos diferentes Muitas ati vidades verbais incluem uma verbalização estruturada como essa porém essa es trutura é apenas uma dentre as várias possíveis Pense em todas as formas que eu poderia usar para advertilo sobre um perigo Portanto assim como a pressão do rato à barra consiste estruturalmente em muitos pequenos movimentos musculares cada um deles necessário ao funciona mento do todo assim também um a verbalização consiste estruturalmente de pa lavras e morfemas cada um dos quais necessário para o funcionamento do todo Embora necessária a estrutura não nos diz nada sobre a função A função só pode ser compreendida a partir de circunstâncias e efeitos Controle de estímulo no comportamento verba Como qualquer outra atividade operante a ocorrência da atividade verbal é mais ou menos provável dependendo das circunstâncias isto é dependendo dos estí mulos discriminativos Uma das razões por que uma palavra não pode constituir uma unidade funcional é que a mesma palavra pode servir a diferentes funções dependendo das circunstâncias Pense em todas as diferentes situações em que a verbalização água pode ocorrer Estou morto de sede O que é aquela poça no chão O que você obtém quando combina hidrogênio com oxigênio O que a gente tem de colocar na receita agora Como em cada contexto a verbalização água teria um efeito diferente sobre o ouvinte em cada um deles água pertenceria a uma atividade verbal diferente A relação das circunstâncias com a probabilidade do comportamento verbal é uma relação de controle de estímulo Capítulo 6 e não de eliciação Capítulo 4 Não existe um a correspondência estrita ponto a ponto entre um estím ulo discriminativo e uma atividade verbal como pode existir entre uma batida no joe N de T Frame Padrão em português designa esse conceito lingüístico como indica o dicionário Houaiss editora Objetiva 2001 Compreender o behaviorismo 149 lho e um salto da perna Os estímulos discriminativos apenas modulam e tornam prováveis certas instâncias de atividades verbais Dentre os estímulos discriminativos mais importantes que modulam o comporta mento verbal estão os estímulos auditivos e visuais produzidos pela pessoa que está no papel de falante Tendo atuado como ouvinte para a outra pessoa posso atuar como falante e produzir estímulos discriminativos que afetam seu comportamento Como notamos no Capítulo 6 todas as atividades operantes ocorrem dentro de um contexto e o efeito habilitador que o contexto tem sobre a atividade provém da história de reforço associada a esse contexto no passado Tal como é com outras atividades operantes assim também é com as atividades verbais Quando estou perdido peço informações porque me ensinaram a fazêlo e esse comportamento verbal foi reforçado 110 passado por eu ter chegado a meu destino O contexto pode mudar a estrutura de minhas perguntas Ao pedir orientação a um estranho sou mais polido do que ao pedila para meu irmão Ao pedir informações na zona rural de New Hampshire terei de ser cuidadoso na escolha de palavras Se eu disser Essa estrada vai para Newmarket estou sujeito a ouvir a resposta Essa estrada não vai pra lugar nenhum ela fica aí mesmo Eu tenho de dizer Por favor me diga o caminho para Newmarket Então ou eu obterei as informações de que preciso ou depois de alguma consideração Não não dá para chegar lá a partir daqui Ao falar com um adolescente é provável que eu use mais gírias do que ao falar com um gerente de banco Como outras atividades operantes as atividades verbais não podem ser defi nidas apenas em termos de suas conseqüências Normalmente 0 contexto também precisa ser especificado Pedir informação a um estranho é diferente de pedir infor mação a um a pessoa conhecida Seriam duas atividades diferentes por causa dos contextos em que ocorrem Se você estivesse estudando a teoria das boas manei ras que se refere à forma pela qual 0 comportamento verbai depende da pessoa a quem nos dirigimos seria importante fazer a distinção Para outros fins pedir informação ou até mesmo fazer pedidos já seria suficiente Avisar alguém sobre um tigre é diferente de avisálo sobre um mosquito mas para muitos fins basta dizer que a atividade verbal é avisar uma pessoa sobre um perigo A pessoa e 0 perigo tigre ou mosquito partes do contexto são parte da definição Alguns equívocos comuns A idéia de comportamento verbal dá ênfase à similaridade entre fala gesto e outros tipos de comportamento operante As concepções tradicionais procuram colocar o comportamento relacionado à linguagem como um comportamento à parte defi nindoo como um comportamento especial e diferente Três características foram Propostas como específicas do comportamento relacionado à linguagem 1 ele é gerativo as pessoas constantemente geram novas verbalizações 2 a fala dife rentemente de outros comportamentos pode se referir a si mesma 3 a fala diferentemente de outros comportamentos pode se referir a eventos futuros Veja tuos se essas características realmente dissociam o comportamento relacionado à linguagem de outros comportamentos 150 William M Baum l natureza geraftva da linguagem Todos ós dias você gera verbalizações que nunca ocorreram antes Nesse sentido provavelmente a maior parte das sentenças que você fala são novas Na verdade cada enunciado é único pois você não consegue produzir dois exatamente iguais Quando discutimos a criatividade no Capítulo 5 vimos que a impossibilidade de repetição caracteriza todos os comportamentos operantes Não se trata de ver o comportamento verbal como variável e os outros como fixos como a concepção tradicional faria mas sustentamos ao contrário que todos os comportamentos operantes são tão variáveis quanto o comportamento verbal Cada pressão à barra é única tanto quanto cada pedido de sal é único Pedir sal é uma unidade funcio nal tanto quanto pressionar um a barra Os críticos dessa concepção ressaltam a importância da gramática em gerar verbalizações A gramática é parte de qualquer língua e a estrutura gramatical é muitas vezes uma característica do comportamento verbal Mas o máximo que se pode dizer da gramática é que ela oferece uma descrição rudimentar da estrutura de alguns comportamentos verbais Freqüentem ente e às vezes mais do que freqüentemente a fala real não segue a gramática Nossas sentenças muitas vezes violam as regras de construção de sentenças e muitas vezes deixamos sen tenças inacabadas Ainda assim o português falado geralmente segue a ordem sujeitoverboob jeto e há outras regularidades Mas as toscas regularidades estruturais que carac terizam o comportamento verbal também caracterizam outros comportamentos Em cada pressão à barra há uma seqüência regular de movimentos do rato Cada pressão poderia ser com parada a uma sentença e poderíamos escrever um a gra mática de pressões à barra Somente algumas seqüências de movimentos resultam na barra pressionada seriam as sentenças permitidas Como anteriormente vê se que a característica que supostamente isola o comportamento verbal é com partilhada por outros comportamentos Retornaremos um pouco adiante a uma discussão em separado da noção de que o falante segue as regras da gramática ao falar Falar sobre o falar Lógicos e lingüistas dão muita importância às asserções denominadas metáfrases afirmações que se referem a elas mesmas ou a outras asserções As metáfrases são a base de alguns argumentos que afirmam que a capacidade que tem a linguagem de se referir a si m esm a a coloca em uma categoria à parte em relação a outros comportamentos Quando crianças gostávamos meus amigos e eu do paradoxo Esta afirmação é falsa Do ponto de vista lógico essa metáfrase tem um a espécie de sabor mágico porque parece verdadeira e falsa ao mesmo tempo Vista como verbalização como comportamento verbal porém não há nada de mágico nela Conformase à construção padrão de sentenças em português que segue a ordem sujeitoverbopredicativo O único aspecto diferente dessa afirmação específica é que o sujeito é uma verbalização Compreender o behoviorismo 151 Para o analista de comportamento as metáfrases são falas a respeito de falas ou seja comportamento verbal sob controle de estímulo de outro comporta mento verbal Falar sobre o falar ocorre a toda hora Se você não escutou o que eu disse você me pergunta o que acabei de dizer e eu falo de novo Sua pergunta mais o que eu disse que ouvi perfeitamente constituem o estímulo discriminativo para eu repetir m inha verbalização Minha competência para fazêlo deriva de uma jonga história de reforço desse tipo de repetição somos treinados desde pequenos a repetir verbalizações em função de produzir efeitos e quando expostos a dicas Repetir um a verbalização a pedidos é um exemplo de autorelato verbal que é comportamento verbal parcialmente sob controle do próprio comportamento como estímulo discriminativo No Capítulo 3 observamos que se uma pessoa for capaz de relatar seu próprio comportamento tendemos a dizer que ela é consciente dele No Capítulo 6 observamos que o comportamento de uma pessoa pode estar relacionado a um relato verbal da mesma maneira que uma luz se relaciona com a pressão à barra do rato como um estímulo discriminativo de uma atividade operante Você pode me perguntar o que eu fiz hoje de manhã e posso relatar Fui ao mercado Você pode me perguntar o que eu disse na reunião de ontem e posso relatar Eu disse Precisamos planejar o orçamento do ano que vem Nos dois casos meu comportamento verbal atuai está sob controle de um estímulo fornecido por meu próprio comportamento verbal ou não Também podemos fazer relatos sobre o comportamento verbal privado tal como quando você me pergunta o que estou pensando e eu digo Estava pensando como seria bom ir à praia hoje Nesse momento meu comportamento verbal está parcialmente sob controle de um estímulo discriminativo privado As vezes falamos sobre falas que nunca ocorreram realmente mas que mera mente poderiam ter ocorrido Fazemos asserções do tipo Me deu vontade de dizer para ele mesmo fazer isso Tratase aqui de um relato não acerca de um comporta mento verbal real mas acerca de uma propensão para emitir determinado compor tamento verbal E semelhante a relatarmos uma intenção ou qualquer outra ten dência comportamental confira o Capítulo 5 É equivalente a dizermos No pas sado em circunstâncias parecidas freqüentemente me comportei assim Também falamos sobre falas que nunca ocorreram mas que poderiam ocor rer agora Posso dizer Deixa eu te contar o que ouvi hoje Em parte isso representa um pedido para que você sirva de ouvinte e em parte é um relato sobre minha tendência a emitir o comportamento verbal de relatar algo que ouvi hoje Tal como em outros relatos de tendência ou intenção Capítulo 5 embora pareça uma refe rência ao futuro na verdade é uma fala que resulta de uma história de reforço desse mesmo tipo de comportamento verbal nessas mesmas circunstâncias ter ouvido alguma coisa cuja repetição será reforçada pelo ouvinte no passado falar ío futuro Quando você fala de comportamento verbal que está propenso a emitir soa como se você estivesse falando sobre o futuro Como eventos futuros não podem afetar comportamentos presentes as pessoas são tentadas a inventar uma causa no pre Í52 Wídiam M Baum sente um propósito ou significado interno e mesmo a insistir que a fala sobre o futuro prova a existência de imagens mentais Quando você diz Vou lhes falar sobre porcos supostamente a frase foi causada por porcos em sua mente Como vimos no Capítulo 5 essas causas internas imaginárias só nos distraem dos eventos ambientais que conduziram à verbalização que são suas experiências passadas com porcos e com ouvintes que reforçaram o comportamento verbal sob controle de tais experiên cias passadas Não há necessidade de que algo esteja se passando em minha mente ou em qualquer lugar dentro de mim para que eu verbalize expressões que dão a impres são de se referir a eventos no futuro ou da mesma forma a eventos outros que nunca aconteceram Nunca vi um boi vermelho mas já pronunciei vermelho e boi e já coloquei adjetivos junto a substantivos Minha verbalização da locução boi vermelho de nenhum modo exige que eu tenha um boi vermelho em minha mente ou em qualquer outro lugar Apenas exige que eu tenha uma história de reforço do tipo de comportamento verbal que as pessoas muitas vezes chamam de imaginativo Da mesma forma se converso com você na segundafeira sobre um encontro que teremos na sexta não preciso ter em m ente uma imagem ou significado fantasmagórico Combinar e cumprir compromissos é comportamento operante proveniente de uma longa história de reforço Você me diz que quer me ver Ao ouvir esse estímulo discriminativo auditivo tomo nota em minha agenda e digo Encon tro você na sexta às 3 da tarde Fazer e dizer esse tipo de coisa foi reforçado muitas vezes no passado Alguns reforçadores do comportamento da segundafeira talvez só ocorram na sexta lacunas temporais foram discutidas no Capítulo 5 SIGNIFICADO Na visão convencional do comportamento relacionado à linguagem as palavras e sentenças têm significado e o significado contido em uma verbalização é passado do falante para o ouvinte Para o lingüista interessado na análise formal da estrutu ra do português não o português falado informalmente mas o português corre to essa concepção não traz grande prejuízo Entretanto como teoria do compor tamento de falar ou comportamento verbal padece de todas as limitações de uma teoria mentalista Teorias de referência Filósofos e psicólogos na tentativa de uansform ar a noção cotidiana e toscade significado em uma teoria da linguagem mais precisa inventaram teorias que se fundam na noção de referência Dizem que a palavra cachorro por exemplo quer seja falada escrita ou ouvida referese ao tipo de mamífero de quatro pernas que late Dizem que pessoas que falam ou escrevem a palavra cachorro usam essa pala vra em lugar do cachorro real Dizem que ouvintes e leitores utilizam a palavra cachorro ouvida ou vista para compreender algo a respeito do cachorro real Essa visão deixa completamente sem resposta por quê para começar o falante ou o Compreender o behaviortsmo 153 escritor falou ou escreveu a palavra e o que o ouvinte ou leitor faz como resultado de ouvir ou ler a palavra Acrescentará alguma idéia útil à observação de que uma pessoa fala e que em conseqüência outra faz alguma coisa Símbolos e léxicos A noçao de referência sugere que as diferentes formas da palavra cachorro falada ouvida escrita vista são símbolos da categoria de cachorros reais Como podem todos esses símbolos ser reconhecidos como equivalentes Todos os diferentes sím bolos são de algum a forma conectados a alguma coisa interna Como cachorros de verdade não podem estar dentro da pessoa disponíveis para uso é presumida a existência em algum lugar de uma representação interna da categoria e dizse que todos os símbolos de cachorro estão ligados a essa representação Onde está essa representação Dizse que está em um léxico uma coleção dessas representações de objetos e eventos do mundo real Dizse que o falante procura a representação no léxico lá a encontra conectada a seus símbolos e en tão usa o símbolo adequado Dizse que o ouvinte ouve o símbolo procurao no léxico encontrao conectado a sua representação e então o compreende O mentalismo dessa teoria é visível Onde está esse léxico De que é feito Qual sua origem Quem é responsável por toda essa busca e utilização Será que esses complicados eventos mentais lançam alguma luz sobre o falar o ouvir o es crever o ler A idéia de referência foi inventada provavelmente para explicar as equiva lências Como é possível que eu ao ver ou pensar sobre um cachorro aja de diver sas maneiras falando desenhando ou escrevendo cachorro tudo com efeitos equi valentes sobre o ouvinte Como é possível que eu ouça cachorro veja a palavra escrita ou o desenho e trate esses diferentes estímulos como equivalentes Acres centese a isso a diversidade de palavras para cachorro em diferentes línguas e talvez você perceba quão tentadora é a suposição de que todos esses atos e estímu los sejam equivalentes por estarem de algum jeito ligados a alguma representação ou significado em algum lugar dentro do sujeito De modo geral é muito fácil presumir que a equivalência observada provém de alguma quimérica equivalência interna Mas de onde veio a equivalência obser vada ou sua quimera Essa pergunta tem de ser respondida antes de dizermos Que compreendemos a equivalência Ninguém vem ao mundo comportandose da mesma form a ao ouvir o som cachorro e ao ver um cachorro ao ouvir cachorro e ao ouvir dog em inglês Chegamos a isso com o correr do tempo depois de termos sido expostos a esses diferentes estímiüos e depois de uma história de reforço da resposta adequada Os analistas de comportamento já começaram a estudar como animais e crianças aprendem a equivalência de estímulos As criatu ras aprendem a se comportar da mesma forma ou de forma diferente frente a dois Estímulos diferentes Quais as condições necessárias à aprendizagem de equivalên cia A tentação de postular uma fantasmagórica equivalência interna para explicar a Equivalência observada desaparecerá quando a equivalência observada puder ser entendida como resultado de uma história de reforço dentro de um contexto 154 William M Baum importância do contexto Além de não oferecer um a explicação do falar as teorias de referência também não conseguem cumprir a tarefa para a qual foram inventadas entender o significa do porque não podem levar em conta o contexto Se o significado de água fosse na verdade apenas um apêndice desse som ou dessa configuração de letras como a idéia de procurar em um léxico sugere como então seria possível que a verbalização água assumisse diferentes significados em diferentes situações Ela pode ser entre outras coisas um pedido uma pergunta o nome de um líquido que caiu no chão e o nome de um ingrediente dependendo do contexto Se o contexto determ ina o significado de substantivos concretos como água que dizer de sua importância para o significado de substantivos e expressões abs tratas compostas de muitas palavras Considere o significado da palavra mato Muita gente nos Estados Unidos olha a cansanção como mato mas povos de alguns países escandinavos a consideram uma planta de decoração Se a chamamos ou não de mato vai depender de gostarmos ou não dela A palavra mato depende tanto da planta como das circunstâncias Muitas palavras são assim Você pode captar o significado de um nome concreto como cachorro em uma lista de caracte rísticas mamífero quatro pernas que late e assim por diante mas tente fazer isso com piada ou justiça A mesma história que Gerson acha engraçada soa a Sílvia como uma enorme injustiça As teorias de referência têm dificuldade ainda maior com verbalizações reais que contêm várias palavras Suponha que eu e meu filhó estejamos erguendo uma parede de tijolos Minha função é assentar os tijolos a dele é passálos para mim Inúmeras vezes eu peço um tijolo Digo Me passa um tijolo Vamos ao tijolo Tijolo Preciso de um tijolo Dá um tijolo para a gente E muitas outras variações Às vezes eu apenas me viro e olho ou estendo minha mão Todos esses atos têm o mesmo significado Você não poderia descobrir o significado através de um léxico porque o significado está naquilo que o ato consegue obter que meu filho me passe um tijolo de forma que possamos continuar a erguer a parede Significado como uso Da mesma forma que outros termos mentalistas como consciência intenção e co nhecimento o termo sígniícado estritam ente falando não tem lugar na análise comportamental A questão Como se sabe o significado de uma palavra é um pseudoproblema Ela pergunta pelo significado como se estivesse perguntando so bre a ortografia como se significado fosse um atributo da palavra Em vez de falar sobre significado os behavioristas falam sobre o uso ou função de um aio ou verbalização Grosseiramente falando esse é o significado de signtficado Conseqüências e contexto Suponha que eu coloque um rato em uma câmara contendo uma barra e uma corrente Puxar a corrente produz alimento pressionar a barra produz água O Compreender o behavíorísmo 155 rato puxa e come pressiona e bebe Poderseia dizer que o significado de puxar a corrente é comida e que o significado de uma pressão à barra é água Uma pessoa na mesma situação poderia emitir o som comida e receber comida emitir o som água e receber água Serão essas duas situações fundamentalmente diferen tes O behaviorista diz não O rato não come nada já faz algum tempo puxa a corrente e ganha comida André não come nada já faz algum tempo diz comida e ganha comida O rato não bebe nada já faz algum tempo pressiona a barra e ganha água André não bebe nada já faz algum tempo diz água e ganha água Das duas maneiras o uso do ato consiste em suas conseqüências ganhar comida ou água dentro do contexto não ter comido ou bebido por algum tempo estar na câmara estar em presença de um ouvinte O significado do comportamento verbal está em seu uso suas conseqüênci as dentro do contexto Por que nos preocupamos em aprender os nomes de pessoas que conhecemos É para que possamos leválas ao papel de ouvinte conseqüên cia quando estamos próximos contexto ou para que possamos conversar sobre elas com outros ouvintes conseqüência quando estão ausentes contexto O sig nificado de um nome é o contexto e as conseqüências de sua ocorrência Essa idéia de significado como uso fundamenta muitas de nossas discussões anteriores sobre termos difíceis de nosso linguajar diário consciência intenção conhecimento e assim por diante Para cada um desses termos perguntamos pelas condições contexto em que têm probabilidade de ocorrer O contexto em que alguém emitiria uma verbalização que incluísse a palavra significado nos diz qual o significado de significado Perguntar qual o significado de um termo é perguntar qual o contexto e quais as conseqüências de sua ocorrência Como os outros comportamentos operantes o comportamento verbal depen de de um a história de reforço Dizer que o uso ou significado de um operante verbal está em suas conseqüências dentro do contexto é dizer que sua ocorrência depende de uma história de tais conseqüências em tais contextos Meus filhos apren deram a dizer por favor quando pediam alguma coisa porque recorrentemente só havia reforço para pedidos que incluíssem essas palavras Variedades de uso Em termos de nossa vida diária as ações verbais servem a diversos fins Dois dos mais importantes são pedir e informar O episódio verbal esquematizado na Figura 71 exemplifica uma solicitação e pertence a uma categoria maior na qual a ver balização especifica seu próprio reforçador Skinner 1957 denominou de mando esse tipo de verbalização Os mandos incluem não apenas pedidos mas também ordens perguntas e mesmo conselhos O sargento do exército que diz Esquerda volver emite um mando cujo reforçador é o volver à esquerda Minha pergunta Que horas são é um mando cujo reforçador é ouvir ou ver a hora correta Se um pai diz para seu filho Você deve estudar álgebra este ano essa frase também é um mando cujo reforçador é o filho estudar álgebra A exata situação em que o pedi do a pergunta ou o conselho são emitidos pode variar amplamente e no entanto ainda seremos capazes de reconhecêlos como o mesmo mando tanto faz se Ger 156 William M Baum son pede o sal para Sílvia Lígia Kátia ou Sérgio o reforçador é o mesmo Quando o reforçador de uma verbalização é bem especificado a verbalização é um mando Por outro lado verbalizações que podem ser consideradas informativas não especificam um determinado reforçador ao invés ocorrem na presença de deter minados estímulos discriminativos O ponto relevante na expressão Há um tigre atiás de você é o tigre o reforçador que o ouvinte dispensará talvez profusos agradecimentos não é especificado Skinner 1957 chamou de tactos esses operantes verbais É possível que a advertência sobre o tigre tenha um pouco da qualidade de mando principalmente se supusermos que o fato do ouvinte evitar o tigre seja um reforçador para a verbalização do falante A distinção não é absoluta porque os reforçadores dos tactos embora não especificados são em geral convencionalmen te sociais respostas como gratidão e atenção Um exemplo mais puro de tacto seria uma pessoa dizendo para outra Que dia lindo Como precisamente o ouvinte refor çará esse ato fica por ser analisado os principais fatores para compreender sua ocorrência são a situação sol céu azul ouvinte e a história de reforço para verbalizações desse tipo em situações semelhantes Os tactos compreendem um variado conjunto de verbalizações Opiniões e observações são tactos Respostas a perguntas freqüentemente são tactos Você olha seu relógio e me diz a hora certa O que vimos chamando de relatos verbais são todos exemplos de tactos Meu filho está usando uma camisa azul Estou com uma dor no ombro Você pode pegar o ingresso no guichê número dois O primeiro é um relato verbal simples evocado especialmente pela camisaázul O segundo é diferente em um aspecto ele talvez esteja sendo parcialmente controlado por um estímulo discriminativo privado dor no ombro O estímulo discriminativo para o terceiro é mais complexo porque depende de um a história de eventos eu ter ido ao guichê número dois e ter obtido o ingresso Dizemos que ele indica ou tacta como verbo uma relação de reforço ir até o guichê número dois é reforçado pela obtenção do ingresso Visto sob esse prisma o terceiro tacto é um exemplo de regra importante conceito que retomaremos no Capítulo 8 Definições de dicionário Se palavras e verbalizações não podem ser entendidas a partir de um significado inerente porque então nos preocuparmos com as definições que aparecem nos dicionários Reformulemos essa questão Em que as definições dos dicionários nos ajudam Quando me deparo com uma palavra desconhecida e consulto o dicioná rio não é o significado da palavra que aprendo o que obtenho é um resumo de como a palavra é usada geralmente acompanhado de um ou mais exemplos e de alguns sinônimos palavras diferentes que podem ocorrer em circunstâncias seme N de T Tact em inglês termo inventado por Skinner com o objetivo explícito de sugerir que o comportamento faz contato com o mundo físico 1957 p 81 Compreender o behaviorismo 157 lhantes ou ter efeitos semelhantes e antônimos palavras diferentes que ocorrem em circunstâncias opostas ou que têm efeitos opostos Tudo isso ajuda a guiar meu comportamento como leitor ouvinte falante e escritor Os dicionários não contêm significados São um exemplo da forma comum pela qual aprendemos como usar palavras por ouvMas e vêlas em uso Como você aprendeu a falar pular correr conversar carro e bebê A maioria das palavras que utilizamos nunca as procuramos no dicionário nem ninguém nunca as definiu para nós Se não fosse assim os dicionários seriam inúteis porque eles explicam como se usa uma palavra em termos de outras palavras que supõese já são conhe cidas Quando eu tinha 13 anos e cogitava sobre a palavra fornicação o dicionário relacionoua a termos que pensei era capaz de compreender Termos fécnkos 0 que é verdadeiro acerca de termos cotidianos que você procura no dicionário é duplamente verdadeiro no que diz respeito a termos técnicos inventados por cien tistas e outros profissionais Um termo é sempre definido em termos de outros Às vezes um conjunto de termos interrelacionados são igualmente conhecidos ou desconhecidos mas ainda assim são todos definidos em termos um do outro Considere os termos traço gene e herdar Nenhum deles pode ser definido sem que se usem os outros dois O mesmo acontece com os termos da análise comportamental reforço operante estimulo discriminativo O que é comportamento operante É o comportamento que é mais provável na presença de um estímulo discriminativo devido a um a história de reforço em sua presença Essa interdependência das definições só é problema se insistirmos em que cada termo deve ter um significado à parte adequado ao armazenamento em um léxico fantasmagórico Não representa um problema real para os cientistas é sim plesmente uma característica dos vocabulários científicos Interdependência dos termos significa apenas que eles tendem a ser empregados conjuntamente GRAMÁTICA SINTAXE Lingüistas e psicólogos cognitivistas interessados na linguagem tendem a centrar sua atenção na gramática conjunto de regras que governam a junção de palavras de m aneira a formar sentenças Vimos chamando essa ordem sintaxe de estrutu ra do comportamento verbal Embora não exista obrigatoriamente um conflito en tre o interesse do analista comportamental pela função e o interesse do linguista pela estrutura Noam Chomsky 1959 influente lingüista escreveu uma resenha do livro de Skinner Verbal behavior que de tão ácida desencorajou muita gente a explorar a abordagem analíticocomportamental Essa situação começou a mudar recentemente quando alguns lingüistas começaram a mostrar interesse por uma abordagem funcional por exemplo Andresen 1991 Mas ainda permanece a ques tão como o analista comportamental lida com a sintaxe Regras como descrições Toda língua tem suas regularidades Em inglês como no português a ordem mais comum de uma sentença é sujeitoverboobjeto Na sentença Kátia beijou Rubens não fosse peia ordem normal das palavras não ficaria claro quem beijou quem No lugar do sujeito e do objeto ocorrem muitas variações Em O livro sobre a mesa atraiu o olhar de Kátia uma locução nominal contendo uma preposição funcionou como sujeito e uma locução nominal contendo uma locução adjetiva serviu de objeto A estrutura global da sentença pode ser vista como uma regularidade de ordem superior enquanto a estrutura das frases componentes são regularidades de ordem inferior Regularidades do tipo ão para o aumentativo s para o plural e va para o passado seriam ainda de ordem mais baixa O papel do gramático é inventar regras capazes de gerar todas as sentenças consideradas corretas pelos que falam a língua Uma gramática um conjunto de regras desse tipo ofereceria uma descrição concisa de grande parte do inglês ou do português falado Há um debate entre os gramáticos sobre a melhor forma de abordar a gramática Não existe um a gramática única do inglês nem do português o que há são várias candidatas cada qual com suas próprias vantagens e desvanta gens Chomsky inventou uma abordagem particularmente genérica conhecida como gramática transformacional que pode ser aplicada a quase todas as línguas Come ça com um padrão básico como sujeitoverboobjeto e depois arrola todas as re gras pelas quais esse padrão pode ser transformado em sentenças aceitáveis Por exemplo a transformação em voz passiva envolveria o intercâmbio entre sujeito e objeto e a inserção da forma correta do verbo ser e da palavra por Aí então Kátia beijou Rubens se torna Rubens foi beijado por Kátia A elaboração de gramáticas possíveis do inglês ou do português é um inte ressante desafio intelectual e a criação de um a gramática poderia ser útil no ensi no de inglês òu português para adultos Independente de ser interessante ou útil porém a gramática inglesa ou portuguesa continua sendo tãosomente uma des crição das regularidades da língua inglesa ou portuguesa Tendo catalogado um conjunto de regras aparentemente completo para a lín J gua inglesa Chomsky concebeu serem essas regras inatas embutidas em algum lugar dentro da pessoa isso naturalm ente é mentalismo tendo observado regula ridades no comportamento o mentalista inventa regras em algum lugar dentro do organismo De onde vêm as regularidades a gente continua sem saber A idéia de Skinner sobre o comportamento verbal abriu a possibilidade de que a sintaxe de uma língua fosse parcial ou inteiramente aprendida Dado que tratam apenas do português por exemplo correto os gramáticos percó bem quando se voltam para o português efetivamente falado uma dissonância pouco confortável entre o ideal e o real Sua única resposta aos erros do discurs0 Competência e desempenho Compreender o behaviorismo 155 real é corrigilos Não têm nenhum meio de explicálos porque uma gramática não é em nenhum sentido um a teoria do comportamento As regras gramaticais são normas mostrando como os falantes se comportam em geral e como aos olhos da socied ade eles devem se comportar Gramáticos como Chomsky percebem de forma distorcida a natureza da gra mática porque caem na armadilha mentalista de supor que as regras devem existir sob alguma forma em algum lugar dentro de falantes e ouvintes O equívoco se parece àquele possível de ser feito com um termo como espírito de equipe discu tido no Capítulo 3 e provém da forma como as pessoas falam Dizemos que o time mostra espírito de equipe e que seguimos as regras da gramática Ambas as asserções levara a equívocos visto que uma faz parecer que o espírito de equipe é algo sepa rado do comportamento da equipe e a outra que as regras da gramática são algo separado da fala e da escrita do indivíduo Na suposição de que as regras são separadas do comportamento os mentalistas como Chomsky distinguem entre competência o ideal as regras e desempenho o verdadeiro falar e escrever A competência é o ideal interno fantasmagórico É o que as pessoas supostamente sabem mas nem sempre fazem A diferença entre competência e desempenho é o erro A noção de competência apresenta os mesmos problemas de outras explica ções mentalistas e se a aplicarmos a outros exemplos sua inutilidade se tornará clara Se dissermos que os planetas seguem órbitas elípticas em torno do Sol isso significa que cada planeta tem dentro de si uma competência uma órbita elíptica ideal Se a órbita do planeta se desviar um pouco de uma elipse perfeita devemos chamar isso de erro Eis um exemplo de Skintier quando um cachorro pega uma bola jogada para o alto podese dizer que o cachorro em certo sentido seguiu as leis da física relativas a corpos em queda livre Devemos dizer que o cachorro vai para o lugar certo na hora certa porque possui as leis da física em algum lugar dentro de si próprio Igualmente devemos dizer de uma criança de 4 anos que fala geralmente de forma gramatical que ela possui as regras da gramática em algum lugar dentro de si própria Gramática e gramáticos Qutra forma de pensar sobre competências em geral e gramática em particular é conhecer que elas são descrições idealizadas do desempenho real Uma idealização sempre uma simplificação e em decorrência é imprecisa O erro não está no esemPenho3 está na descrição simplificada O desempenho é preciso talvez as eras sejam imprecisas Os gramáticos criam conjuntos de regras ou gramáticas Desde que isso seja tib pC0sa interessante e útil a fazer o comportamento dos gramáticos será reforça e ri r mais Precisa que seja entretanto a gramática não nos diz nada sobre como escr Ue as Pessoas vm a dizer o que dizem Tendo reconhecido que o falar e o eve são formas de comportamento operante podemos começar a explicálos 160 William M Baum Onde estão as regras Se as regras da gramática não estão dentro da pessoa que fala onde estão então Poderseia argumentar que não há necessidade de regras em lugar nenhum mas nossa discussão do comportamento dos cientistas no Capítulo 6 leva a um a idéia diferente Em vez disso podemos dizer que as regras estão no comportamento verbal do observador o cientista ou o gramático O gramático como o cientista tendo feito observações trata de resumilas em forma concisa Em outras palavras o gramático verbaliza um conjunto de regras Se atentamos para essas regras e as seguimos quando são ditadas por um professor de português é porque somos trei nados a ouvir e obedecer Sobre esses assuntos nós nos aprofundaremos no próxi mo capítulo RESUMO Comportamento verbal é comportamento operante que exige a presença de um ouvinte para ser reforçado Falante e ouvinte têm de pertencer à mesma comunida de verbal devem ser capazes de se revezar nesses papéis Comportamento verbal é um exemplo de nosso termo cotidiano comunicação que é uma situação em que o comportamento de um organismo cria estímulos que modificam o comportamen to de outro Como outros comportamentos operantes o comportamento verbal é explicado por suas conseqüências e seu contexto Suas conseqüências são resultado das ações do ouvinte que é a parte principal do contexto Gerson pede o sal para Sílvia porque verbalizações desse tipo foram reforçadas por ouvintes como Sílvia na história de reforço de Gerson O comportamento verbal parece começar na imi tação e depois é modelado por conseqüências como receber doces ou atenção dos pais Exceto pelo papel do ouvinte e da comunidade verbal o comportamento ver bal é exatamente como outros comportamentos operantes De acordo com a defini ção gestos e linguagem de sinais embora nãovocais seriam considerados com portamento verbal e comportamentos nãooperantes embora vocais não seriam Embora exemplos específicos possam ser ambíguos eles não têm muita importân cia porque o objetivo dos behavioristas é expor a semelhança do usar a lingua gem com outros comportamentos operantes e não separálos Em contraste com o comportamento verbal a linguagem é uma abstração A idéia de que a linguagem é usada como um instrum ento é um exemplo de mentalismo Como outras atividades operantes as atividades verbais são unidades funcio nais A mesma atividade verbal contém muitas verbalizações cada um a das quais e estruturalmente única Todas as verbalizações que pertencem à mesma atividade verbal a ela pertencem em parte porque cada uma delas tem o mesmo efeuo sobre o ouvinte Nesse sentido todas as formas estruturalmente diferentes de pedtf sal ou de advertir sobre um perigo seriam exemplos de uma atividade verbal pedir sal ou avisar de perigos Como outras atividades operantes as a tiv id a d e s verbais estão sujeitas a controle de estímulo tornamse mais prováveis em deter minados contextos Tal como no caso de outras atividades operantes a segunda parte da definição de uma atividade verbal além de seus efeitos é o contexto Compreender o behoviorismo 16 que ela ocorre Verbalizações estruturalm ente semelhantes podem pertencer a ati vidades verbais diferentes dependendo do contexto A variação no contexto pode modular as variações estruturais da atividade que provavelmente ocorrerão Alguns pensadores sugerem que o uso da linguagem difere de outros tipos de comportamento porque é geradvo pode referirse a si mesmo e pode referirse ao futuro A natureza gerativa da fala repousa sobre a regularidade estrutural e sobre a freqüente originalidade das verbalizações Visto que são compartilhadas por to dos os outros comportamentos operantes essas propriedades não colocam a lin guagem em uma categoria à parte Também não a coloca à parte o fato de poder se referir a si própria pois isso apenas significa que uma ação verbal pode produzir um estímulo discriminativo para outra Da mesma forma o comportamento verbal nãooperante pode também fornecer estímulos discriminativos assim como pode ser por eles controlado A evidente capacidade que tem a fala de se referir ao futuro se assemelha à capacidade de outros estímulos discriminativos afetarem o compor tamento após terem ocorrido depois de um lapso de tempo Não há nada de espe ciai sobre a questão e é possível entendêla sem recorrer ao mentalismo Como outros comportamentos operantes as atividades verbais tendem a ocor rer em determinados contextos estão sujeitas a controle de estímulo Se algum significado existe no significado de uma ação verbal por exemplo uma verbalização ou um gesto ele consiste nas condições sob as quais é provável que essa ação ocorra o contexto e o reforço nesse contexto Ao compreender as ações verbais à luz de seu uso percebemos que algumas são diretivas chamadas man dos e dependem mais do reforço específico do que do contexto enquanto outras são informativas chamadas tactos e dependem mais do contexto específico do que do reforço A gramática recebe a atenção de lingüistas e de psicólogos por descrever re gularidades de estrutura Uma gramática é um conjunto de regras que podem gerar todas as sentenças consideradas corretas pelos falantes da língua A gramática des creve a estrutura desse subconjunto de comportamento verbal mas não diz nada sobre o comportamento verbal que contraria as regras da gramática ou sobre fun ção Alguns estudiosos caem na armadilha mentalista de imaginar que as regras gramaticais residem dentro da pessoa As regras residem porém no comporta mento verbal daqueles que as enunciam uituras adicionais 8e reSen 1991 Skinner and Chomsky 30 years later on lhe return of the repressed icivior Analyst 14 4960 Um lingüista analisa o crescente apreço de lingüistas pelo Com amento verbal de Skinner e sua migração em direção oposta ao mentalismo de Chomsky R A l u u j i t acionai a grande contribuição de Chomsky para a lingüística 162 William M Baum Chomsky N 1959 Verbal behavior by B F Skinner Language 35 2658 A resenha mes quinha e sem compreensão de Chomsky sobre o livro de Skinner reproduzida em vários livros Conger R e Killeen R 1974 Use of concurrent operants in small group research a demonstration Pacific Sociological Review 17 399415 Relato do experimento descrito nes te capítulo Day W F 1969 On certain similarities between the Philosophical investigations of Ludwig Wittgenstein and the operationism of B F Skinner Journal of the Experimental Analysis of Behavior 12 489506 Day foi um dos primeiros a reconhecer afinidades entre as idéias de Skinner e Wittgenstein Hart B e Risley T R 1995 Meaningful differences in the experience of young American children Baltimore Paul H Brooks Publishing Esse livro relata um estudo longitudinal da aquisição de comportamento verbal por crianças Laudan L 1984 Science and values the aims of science and their roles in scientific debate Berkeley University of California Press Para saber mais sobre o contextualismo consulte esse livro MacCorquodale K 1970 On Chomskys review of Skinners Verbal behavior Journal of the Experimental Analysis of Behavior 138399 Primeira resposta de um analista comportamental à resenha de Chomsky do livro de Skinner Moerk E L 1983 The mother of Eve as a first language teacher Norwood NJ Ablex Um reexame dos dados de Roger Brown sobre aquisição de linguagem no qual Moerk en contra abundantes demonstrações em defesa da idéia de Skinner de que o comportamento verbal é adquirido de maneira semelhante a outros comportamentos operantes Purdom C 1971 The god man North Myrtle Beach SC Sheriar Press Essa biografia contém informação sobre a vida e os ensinamentos de Meher Baba o grande mestre espiri tual indiano Skinner B F 1945 The operational analysis of psychological terms Psychological Review 52 270277 291294 Reproduzido em Cumulative record Nova York AppletonCentury Crofts 1961 p 272286 Contém uma discussão sobre significado e definição Skinner B F 1957 Verbal behavior Nova York AppletonCenturyCrofts Essa obra clássi ca é o fundamento deste capítulo Snow C E 1977 The development of conversation between mothers and babies Journal of Child Language 4 122 Esse artigo traz alguns dados sobre o curso da alternação de papéis entre mães e filhos até 18 meses de idade Wittgenstein L 1958 Philosophical investigations Nova York Macmillan 2ã ed Traduzi do por G E M Anscombe A discussão sobre significado como uso feita neste capítulo se fundamenta parcialmente nesse livro no qual se pode ver que o pensamento de Wittgenstein coincide em grande parte com o de Skinner ver especialmente as páginas 121 N de T Título traduzido em português ver Apêndice Compreender o behaviorismo TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 7 Ação verbal Competência e desempenho Comportamento verbal Comunicação Comunidade verba Definição de dicionário Episódio verbal Falante e ouvinte Gramática Léxico Mando e tacto Metáfrase Regra como descrição Teoria de referência 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 372 373 374 375 376 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 427 428 429 430 431 432 433 434 435 436 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 455 456 457 458 459 460 461 462 463 464 465 466 467 468 469 470 471 472 473 474 475 476 477 478 479 480 481 482 483 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patrões etc Não fosse por essa capacidade nunca nos tom aríam os aculturados Simon 1990 Este capítulo trata da maneira como os analistas comportamentais compreendem o ensino e o segui mento de regras 0 QUE É COMPORTAMENTO CONTROUDO POR REGRAS Dizer que um comportamento é controlado por uma regra é dizer que está sob con trole do estímulo regra e que a regra é um certo tipo de estímulo discriminativo um estímulo discriminativo verbal Quando meu pai me dizia Você tem de estar em casa até as 6 horas para jantar essa era uma regra que controlava meu comportamento porque as conseqüências de chegar atrasado eram bem desagradáveis A regra pode ser tanto escrita quanto falada Uma placa de Não Fume dentro de um elevador é um estímulo discriminativo verbal e a pessoa que afixou a placa é o falante porque parte do reforço por afixar a placa é o efeito sobre os que a lêem ouvintes 166 William M Baum Comportamento controlado por regras versus comportamento modelado implicitamente Apenas os comportamentos que podem ser descritos por regras podem ser chama dos de controlados por regras no sentido ora empregado Um pombo treinado a escolher de acordo com o modelo Capítulo 6 bica um disco iluminado que con tém o estímulo correspondente ao modelo Poderseia afirmar que ele está seguin do uma regra mas a regra é apenas uma síntese verbal uma pequena descrição de seu desempenho Ainda se discute se o comportamento de um animal nãohu mano pode ser chamado de controlado por regras no entanto o comportamento do pombo não se caracteriza como controlado por regras porque não há nenhum estímulo discriminativo verbal envolvido No Capítulo 7 dissemos algo semelhante em relação às regras gramaticais na medida em que a fala de uma criança de 4 anos de idade é gramatical ela segue regras mas como a criança de 4 anos não pode descrever as regras e nenhuma outra pessoa as descreve para ela no sentido aqui empregado seu comportamento verbal não pode ser chamado de controlado por regras Embora as pessoas se sintam propensas a dizer que um a pessoa ou um animal está seguindo um a regra sempre que percebem aigum tipo de regularidade no comportamento nós aqui usamos o termo para designar algo mais específico do que apenas uma discriminação complexa Nós nos concentramos nas discrimina ções que envolvem enunciados verbais de regras tal como as regras de um jogo porque historicamente a capacidade que as pessoas têm de responder ao compor tamento verbal do outro era considerada evidência a favor do mentalismo Os behaviorístas sustentam a possibilidade de uma explicação científica e tentam mos trar que o seguimento de regras pode ser explicado por conceitos da análise comportamental reforço e controle de estímulo Para ajudar a compreender o comportamento controlado por regras eu o distingo do comportamento modelado implicitamente às vezes chamado de com portamento modelado por contingências que pode ser atribuído exclusivamen te a relações de reforço e punição nãoverbalizadas Todo comportamento operante inclusive o controlado por regras é modelado por reforço e punição A expres são modelado implicitamente neste contexto se refere ao comportamento que é modelado diretamente por conseqüências relativamente imediatas que não de pendem de ouvir ou ler uma regra como descrito no Capítulo 4 Um incidente em um episódio da série televisiva AU in the Family ilustra esse ponto Archie Bunker discute com seu genro Mike sobre o método correto de vestir as meias e os sapa tos Mike coloca um a meia e um sapato em um pé e depois a outra meia e o outro sapato no outro pé Archie coloca as duas meias e depois os sapatos Provavelmen te nenhum dos dois foi algum dia instruído a colocar meias e sapatos do modo como o fazem o comportamento de cada um deles foi modelado implicitamente O comportamento controlado por regras depende do comportamento verbal de outra pessoa o falante enquanto o comportamento modelado implicitamente não requer outra pessoa requer somente interação com reforço nãosocial A dife Compreender o behoviorismo 167 rença entre Mike e Archie pode ter surgido por acaso a maneira de colocar meias e sapatos de cada um foi reforçada por permitir executar em cadeia a atividade seguinte Capítulo 4 O comportamento controlado por regras é comentado diri gido instruído sob controle de estímulos discriminativos verbais enquanto o com portamento modelado implicitamente surge sem instrução e freqüentemente não se consegue falar sobre ele Pergunte a alguém como agarra uma bola pergunte a alguém que acabou de contar uma piada como planejou contála de forma tão engraçada ou pergunte a alguém montado em uma bicicleta como ele consegue permanecer na posição vertical normalmente a única resposta que você vai obter é Não sei só sei fazer A pessoa pode demonstrar o ato mas não falar sobre ele o que é um sinal seguro de que o comportamento é modelado implicitamente É difícil pensar em exemplos puros de comportamento modelado implicita mente porque muito de nosso comportamento começa com instruções e passa a ser modelado implicitamente quando se aproxima de sua forma final Explicase para ginastas iniciantes antes de fazer uma acrobacia que devem primeiro colocar as mãos e os pés cuidadosamente de acordo com as instruções executar uma primei ra tentativa rudimentar e depois praticar praticar praticar Enquanto pratica rela ções nãoverbalizadas entre o movimento do corpo e a forma correta modelam o comportamento até que a forma esteja correta Muitas de nossas habilidades se conformam a esse padrão escrever dirigir boas maneiras tocar um instrumento musical e assim por diante A primeira aproximação grosseira é controlada por regras mas o produto final é modelado implicitamente Nos termos do Capítulo 6 o comportamento modelado implicitamente coin cide com conhecimento operacional saber como Uma vez modelado o compor tamento sabemos como nos equilibrar sobre uma bicicleta mesmo que não possa mos explicálo Se for possível falar sobre o comportamento e suas conseqüências temos um tipo de conhecimento declarativo saber sobre Rita sabe sobre o jogo de xadrez se for capaz de explicar suas regras Prescrever regras quase sempre compreende saber sobre Naturalmente com freqüência sabemos como fazer algo e também sabemos sobre isso Podemos aprender a falar sobre o comportamento modelado implici tamente antes ou depois que ele seja modelado Podemos aprender todas as regras de um jogo antes de jogálo depois de ficarmos peritos nele podemos aprender a falar em estratégias para ensinar outras pessoas O episódio entre Archie e Mike ilustra também quão rapidam ente criamos e justificamos regras Archie interrompe Mike e lhe diz que ele deveria vestir as duas meias antes de colocar um sapato Mike se opõe Archie diz E se houver um incêndio Se precisar sair correndo pela rua pelo menos você não estará totalmente descalço Mike responde que ele teria colocado ao menos um sapato e que poderia saltar em um pé só A criação de regras é parte de nossa condição de falantes Discutimos esse ponto implicitamente no Capítulo 7 e vamos retornar a ele nos Capítulos 12 e 13 quando discutirmos valores e cultura Por ora estamos preocupados com a justificativa das regras por que justificar é comportamento verbal acerca de reforço e punição pelo menos você não estará totalmente descalço 168 William M Baum Regras ordens instruções e conselhos Skinner 1953 1969 definiu regra como o estímulo discriminativo verbal quê in dica uma relação de reforço Skinner utilizou a palavra contingência que muitas vezes implica a contigüidade entre uma resposta e um reforçador em vez disso usaremos o termo mais genérico relação de reforço para evitar essa conotação Quando um grupo de pessoas está jogando elas freqüentemente produzem esses estímulos com verbalizações do tipo Se a bola tocar a linha éfora ou Uma quadra ganha de uma trinca Verbalizações como essas são reforçadas pelo comportamento dos ouvintes que concordam que a bola foi fora e aceitam a superioridade de uma quadra sobre uma trinca Como essas regras indicam relações Quando se fala de comportamento operante como estamos fazendo agora uma relação de reforço significa uma relação entre atividade e conseqüências Plantar sementes resulta em colheita isso é uma relação de reforço Vimos no Capítulo 4 que toda relação de reforço pode ser sintetizada por uma sentença na forma Se essa ação ocorrer então essa conseqüência tornarseá mais ou menos provável Se você planta sementes então a colheita se torna mais provável Se você carrega um guardachuva fica menos sujeito a se molhar se chover Dizer que o comportamento verbal de formular uma regra indica a relação é dizer que a verbalização está sob controle de estímulo pela relação ou que a relação determina o contexto para enunciar a regra Nos termos do Capítulo 7 poderíamos muito bem afirmar que a regra indica a relação A afirmação Se você virar a esquina você chegará ao banco reflete á experiência do falante virar à esquerda na esquina tornou a chegada ao banco mais provável um estímulo discriminativo complexo ou contexto Igualmente se estamos jogando tênis e eu digo a você que a bola é fora se cruzar a linha minha verbalização está sob controle de minha experiência de ter rebatido bolas que cruzaram a linha e que foram cha madas de fora A relação indicada é se a bola é rebatida de tal forma que cruze a linha ação então a punição de perder o ponto tornase mais provável Eu dificil mente formularia a regra exatamente desta forma mas essa é uma síntese precisa de minha experiência e o contexto para minha enunciação da regra Um exemplo de um experimento de laboratório pode ajudar a esclarecer o uso que os behavioristas fazem do termo regra Mark Galizio 1979 rem unerou estudantes universitários para trabalharem em um experimento que podia durar até 75 sessões de 50 minutos cada O equipamento em que eles trabalharam está ilustrado na Figura 81 Os estudantes foram informados de que podiam ganhar até 2 dólares por sessão que eventualmente ocorreria uma perda de 5 centavos sina lizada pelo piscar de uma luz vermelha com a palavra perda acompanhado por um tom sonoro e que essas perdas poderiam ser evitadas girandose um botão em 45 graus o que faria piscar a luz azul de informação Nos períodos em que estivessem programadas perdas ocorreria uma perda a cada 10 segundos a menos que a alavanca fosse acionada pelo menos uma vez Cada sessão experimental era dividida em quatro períodos de 125 minutos e seguiu o seguinte plano em um período cada acionamento do botão adiava a perda por 10 segundos em um se gundo período cada acionamento adiava a perda por 30 segundos em um terceiro período cada acionamento adiava a perda por 60 segundos em um quarto perío Compreender o behaviorismo 169 do nenhuma perda estava programada No período de 10 segundos de adiamento as perdas podiam ser evitadas se ocorresse um acionamento da alavanca pelo me nos a cada 10 segundos nos períodos de 30 e 60 segundos de adiamento os acionamentos deveriam ocorrer pelo menos a cada 30 e 60 segundos O período sem perda não exigia que o botão fosse acionado Os quatro períodos eram apre sentados em seqüência aleatória Cada um deles era sinalizado por uma das quatro iâmpadas amarelas mostradas na Figura 81 Na primeira fase do experimento não se fornecia nenhuma informação adicio nal e apenas um em quatro estudantes mostrou taxas apropriadas de acionamento da alavanca nos quatro períodos mais alta no período de 10 segundos mais baixa no período de 30 segundos ainda mais baixa no de 60 segundos e perto de zero no período em que não havia perda Os outros três estudantes giravam a alavanca aproximadamente na mesma freqüência em todos os quatros períodos Na segunda fase foram introduzidas instruções isto é regras em forma de rótulos acima das quatro lâmpadas amarelas como mostrado na Figura 81 O rótulo 10 SEG signifi cava gire a alavanca pelo menos a cada 10 segundos e os rótulos 30 SEG e 60 SEG significavam gire a cada 30 segundos e gire a cada 60 segundos O rótulo SEM PERDA significava não gire a alavanca Dois outros estudantes começaram o ex perimento nessa fase Em três sessões todos os seis estudantes apresentaram a taxa apropriada de acionamento da alavanca em todos os quatro períodos O acionamento da alavanca pelos seis estudantes estava agora sendo controlado pelos rótulos Em termos técnicos todos os seis estudantes apresentaram discrimi nações em relação aos estímulos discriminativos verbais Sem perda lOsegundosj 60 segundosj j30 segundosj O Q O O luzes amarelos O uz vermelha perda o luz azul informação alavanca Figura 81 Equipamento usado no experimento de Gaüzto Cada estudante sentavase em frente ao painel mostrado acima Girar o botão de borracha em 45 graus evitava a perda de dinheiro Cada acionamento da alavanca produzia o piscar da luz azuf As perdas eram sinalizadas pelo piscar da luz vermelha acompanhado por um tom sonoro Cada luz ama rela sinalizava um esquema diferente de esquiva da perda Os rótulos que às vezes ser viam como instruções regras estão mostrados nos retângulos 170 William M Boum Na terceira fase os rótulos foram retirados As luzes amarelas foram embara lhadas em relação aos quatro períodos de forma que os estudantes tinham de rearranjar suas taxas de acionamento da alavanca Dois dos seis estudantes volta ram a girála em torno da mesma taxa em todos os quatro períodos Enquanto os outros quatro haviam discriminado com base nas diferentes luzes amarelas como estímulos discriminativos esses dois estudantes haviam discriminado apenas com base nos estímulos discriminativos verbais Seu comportamento estava estritamen te controlado por regras No experimento de Galizio ele próprio era o falante e os estudantes eram os ouvintes Dar os rótulos era comportamento verbal porque era reforçado por m u danças no comportamento do ouvinte Não houvesse efeitos Galizio não teria sobre o que escrever e não poderia ter publicado o artigo Quando o comporta mento dos estudantes ficou sob controle dos estímulos discriminativos verbais es tava sendo controlado por regras As mudanças de comportamento que foram controladas por regras entretan to foram exatamente as mesmas mudanças controladas pelas luzes O estímulo discriminativo verbal controla o comportamento da mesma forma que o estímulo discriminativo nãoverbal A diferença está na origem do controle Os estímulos discriminativos verbais dependem de uma longa e poderosa história de seguir re gras que começa logo após o nascimento Não deve surpreender que no experi mento de Galizio todos os estudantes tenham respondido apropriadam ente quan do as regras foram introduzidas É notável no entanto que alguns deles tenham respondido adequadamente somente às regras O experimento de Galizio ilustra também que o contato com a relação que produz a regra não precisa ser direto Galizio nunca precisou girar a alavanca para dizer que para evitar perdas era necessário operar a alavanca no mínimo a cada 10 segundos Poderia ter dito isso baseandose nos estímulos gerados quando da programação do equipamento e de sua operação pelos estudantes Da mesma for ma não preciso ter jogado tênis alguma vez na vida para ser capaz de dizer que a bola é fora quando cruza a linha basta que eu tenha visto outras pessoas jogando O estímulo discriminativo ou contexto ainda é a relação só que agora envolve as ações e conseqüências de outras pessoas Existe uma exceção importante às vezes o falante não teve nenhum contato com a relação sequer um contato indireto mas está repetindo o que outra pessoa disse Freqüentemente precedemos essas verbalizações com expressões como Ouvi dizer ou Dizem que Ouvi dizer que você consegue um bom preço na loja da esquina Essa exceção confirma nossa regra geral porque mesmo que eu esteja apenas repetindo o que outra pessoa disse o estímulo discriminativo para o com portam ento do falante foi o contato com a relação Em última análise o estímulo discriminativo para qualquer verbalização que possamos reconhecer como regra é uma relação de reforço O uso cotidiano da palavra regra é mais limitado do que o significado técnico empregado pelos analistas eomportamentais As regras do cotidiano encaixamse na categoria estímulos discriminativos verbais que indicam uma relação de refor ço mas essa categoria também inclui estímulos que normalmente não seriam chamados de regras Por exemplo falando tecnicamente muitas ordens e exigên Compreender o behoviorismo 171 cias são regras Quando um dos pais diz ao filho Não brinque perto da pista porque você pode ser atropelado esse estímulo discriminativo verbal é uma regra porque o comportamento verbal do pai ao prescrevêla está sob controle indica da seguinte relação se um a criança brinca perto da pista então é mais provável que seja atropelada Diremos que um a regra indica uma relação como uma abreviação para o comportamento verbal de enunciar a regra está sob controle de estímulo da rela ção Quando dizem às crianças Diga não às drogas essa regra indica a relação se você disser não às drogas então é mais provável que as conseqüências prejudi ciais de usálas sejam evitadas Freqüentemente como nesse exemplo a regra indica a relação de form a implícita porque o contexto a torna óbvia Mesmo as repetidas ordens do sargento Sentido Descansar Esquerda volver e assim por diante podem ser vistas como regras porque podese dizer que elas indicam a podese dizer que são ocasionadas pela relação de reforço se um soldado obe dece ao sargento rápida e corretamente então é provável que enfrente bem uma batalha Todas as instruções são regras Falase a um estagiário no escritório Abra apenas um arquivo por vez assim você não os mistura Quando você compra uma mesa que precisa ser montada as instruções escritas são regras que indicam impli citamente a relação se você se comportar dessa maneira então é provável que venha a usar a mesa O mesmo se aplica a mapas e diagramas Se eu desenho um mapa de como chegar a minha casa ele o instrui da mesma forma que se eu lhe dissesse ú caminho Desenhar o mapa é comportamento verbal o mapa é uma regra e seguir mapas é comportamento controlado por regras O conselho se conforma à definição de regra Filho acho que você deveria se casar com Isabel ela será um a boa esposa e você será feliz é um estímulo discriminativo verbal que indica explicitamente a relação entre casarse com mu lheres como Isabel e ser feliz Se o filho geralmente segue o conselho de seu pai a probabilidade de casarse com Isabel será alta Pagamos bem pelos conselhos de corretores advogados médicos e outros especialistas porque eles podem indicar relações produzir estímulos discriminativos verbais que nós não podemos Propostas de benefício mútuo às vezes constituem regras se o benefício para uma das partes é adiado para o futuro Se você me der uma mão agora eu vou ajudálo quando você precisar indica uma relação entre seu comportamento e um reforçador provável mas diferido Como estímulo discriminativo aumenta as chances de que você me dará um a mão Discutiremos esse tipo de comportamento altruís ta de forma mais completa no Capítulo 12 Todos esses exemplos têm em comum duas características Primeiro dado que a regra implícita ou explicitamente indica uma relação de reforço é sempre possível reformular a regra sob a forma se essa atividade ocorrer então tal conse qüência se torna provável Você pode reconhecer se um estímulo discriminativo verbal é uma regra formulandoa explicitamente nessa forma No Capítulo 6 vimos que estímulos discriminativos constituem categorias como pessoa em um diaposi tivo o experimento com os pombos ou perguntas sobre a Guerra Civil e as regras não são exceção Pense em todas as maneiras como o comportamento verbal de um paí poderia enunciar a regra Se você vestir um casaco quando sair à rua no 172 William M Baum inverno será menos provável que fique doente Vista um casaco Você não esqueceu de nada O que está faltando nessa foto Hum hum ahã e assim por diante Uma regra é um a categoria funcional porque todas essas variações estruturais são funcionalmente equivalentes Segundo a regra sempre indica algo de maior relevância Isto é a relação que a regra indica atua sempre em um prazo relativamente longo que em geral só se percebe depois de muito tempo um tempo talvez até maior do que o tempo de vida da pessoa As pessoas são aconselhadas a não fumar devido a um a associação entre fum ar e adoecer que apenas aos poucos foi percebida ao longo de muitas décadas Os norteamericanos tendem a insistir na superioridade da democracia devido à experiência com outras alternativas no decorrer de centenas de anos Fundamentalmente o importante em uma regra é o fato de fortalecer um compor tamento que só trará compensações depois de um certo tempo de acordo com a mal definida mas extremamente relevante relação de longo prazo que está indicada Nesse sentido podese dizer que a pessoa que formula a regra age em parte pelo bem da pessoa afetada uma idéia a que retornaremos no Capítulo 12 Sempre duas relações O comportamento controlado por regras sempre envolve duas relações um a de longo prazo a relação última a razão primeira da regra e outra de curto prazo a relação de reforço próxima por seguir a regra Conseqüências postergadas e defi nidas imprecisamente tendem a ser ineficientes raramente um fumante larga o hábito de fumar depois de ouvir que ele pode causar câncer de pulmão dentro de 30 anos ou mesmo uepois de um a experiência de falta de ar E necessário algo mais imediato para fazêlo largar o hábito A regra e o reforço próximo ambos normal mente fornecidos pelo falante fazem com que o ouvinte se em penhe no comporta mento desejado largando o mau hábito ou adquirindo um hábito bom Quando uma criança segue instruções o falante pai mãe ou professora fornece refor ço em abundância Mais tarde na vida quando a pessoa é treinada para executar um trabalho ou praticar um esporte quem a treina fornece reforço por seguir re gras na forma de afirmações como Bom Certo e E por aí A Figura 82 esquematiza as duas relações de reforço do comportamento con trolado por regras a relação próxima na parte superior e a relação última na parte inferior Como foi explicado nos Capítulos 4 e 6 cada relação inclui um con texto estímulo discriminativo ou SD e um reforçador SR para o comportamen to A notação SD C SR indica que o SD aumenta a probabilidade do comporta mento C porque estabelece o contexto no qual C provavelmente produz refor ço O mais notável é que ambas relações afetam o mesmo comportamento um a o encoraja e a outra o justifica 4 relação de reforço próxima A relação próxima é o motivo por que o comportamento C é denominado controla do por regras O estímulo discriminativo verbal fornecido pelo falante é a regra Ele Compreender o behaviorismo 173 estabelece o contexto no qual C pode gerar reforço próximo que em geral é forne cido por outras pessoas freqüentemente o falante Na Figura 82 o reforçador próximo é a aprovação do falante Quando o ouvinte acata uma ordem pedido ou Relação próxima Regra Relação último Relação próxima Regra Relação última Figura 82 As duas relações de reforço do comportamento controlado por regras Painel superior relações representadas por símbolos Ambas relações conformamse ao padrão SD C SR Na relação próxima mostrada na parte de cima do painel o SD ou regra é produzido pelo comportamento verbal do falante Cv e controla o comportamento deseja do do ouvinte C devido a sua relação com o reforço próximo que costuma ser social isto é fornecido por outras pessoas freqüentemente o falante A relação última mostrado na parte inferior do painel é a base da relação próxima porque envolve conseqüências re forço último que são importantes mas postergadas ou obscuras simbolizadas pela seta mais longa O SD último constitui o contexto natural da relação última os sinais que con trolariam C se a relação último assumisse o controle Painel inferior um exemplodas relações O falante digamos um dos pais díz para o ouvinte criança usar sapatos quan do sair de casa isso produz um SD próximo auditivo uma regra Use sapatos Se a criança calça os sapatos isso resulta no reforçador próximo de aprovação ou esquiva de desaprovação do pai A relação última que é importante mas obscura paro a criança relaciona calçar sapatos com o reforço último da boa saúde e além disso da probabilida de de sucesso reprodutivo O SD último que deveria vir a controlar o usar sapatos consiste em condições tais corno pedras pontudas tempo frio parasitas por exemplo bíchodo pé e assim por diante 174 William M Baum instrução o falante fornece aprovação ou reforçadores simbólicos por exemplo dinheiro ou um vale ou retira um a condição aversiva uma ameaça Mesmo um conselho embora seja freqüentemente considerado neutro raram ente o é o pai que aconselha seu filho a casar com Isabel também dará sua aprovação quando seu filho o fizer A relação próxima é relativamente óbvia porque o reforço é relativamente freqüente e imediato simbolizado na Figura 82 pela seta m enor apontando para o reforço próximo Relações daras como essa são especialmente importantes quando o comportamento está em início de treino Uma vez adquirido o comportamento desejado o reforço pode ser menos freqüente e menos imediato relação de reforço última A relação próxima existe por causa da relação última Embora atue a longo prazo simbolizado pela seta mais longa na Figura 82 e seja definida imprecisamente a relação última justifica a relação próxima porque incorpora um a relação entre com portamento e conseqüência que é realmente importante independente de quão trivial ou arbitrária a relação próxima possa parecer A relação é importante porque se refere à saúde à sobrevivência e ao bemestar a longo prazo dos descendentes e da família Em suma a relação última se refere à aptidão Por que as pessoas nos Estados Unidos usam sapatos Por que não ficam descalças como tantas pessoas em vários países do mundo Essa prática parece arbitrária apenas enquanto ignoramos sua relação com a saúde Deixando de lado a proteção contra o frio as conseqüências prováveis de andar descalço são machucados cortes infecções e verminoses Como outras relações últimas a relação em si mesma seria ineficiente porque qualquer pessoa em qualquer época pode não sofrer nenhum tipo de doença por andar descalço somente em média e a longo prazo podemos perceber o dano à saúde Conseqüentemente faz parte de nossacultura fabricar e comprar sapatos para nossas crianças instruílas desde pequenas sobre a necessidade de usálos e proibir que pessoas entrem descalças em lojas Se o contexto último Figura 82 assumir o controle os sapatos serão usados sempre que perigos tais como frio e doença esti verem rondando Entretanto as pessoas que usam sapatos podem ter apenas uma vaga idéia dessa conexão com saúde porque basta que elas saibam o que é social mente aceitável a relação próxima Elas só têm de seguir a regra Quando examinamos as regras à luz das relações últimas com as quais elas fazem contato a ligação com a aptidão tornase em geral evidente mesmo que as pessoas em geral nunca a reconheçam Seguimos a regra a caridade começa em casa porque em última análise é necessário dar prioridade máxima ao bemestar de crianças e parentes próximos para garantir o aumento da aptidão O m anda mento Ame seu próximo como a si mesmo pode ser interpretado como um incen tivo à cooperação entre membros de um grupo o que beneficia a aptidão de todos os membros Outras regras como não deixe para am anhã o que pode fazer hoje e de tostão em tostão se chega ao milhão referemse ao uso eficiente de recursos Compreender o behaviorismo 175 Na Figura 82 a relação de reforço última é mostrada como tendo seu próprio contexto SD último e conseqüência SR último independentes da relação próxi ma Circunstâncias que ameaçam a saúde tais como objetos cortantes larvas de vermes cobras escorpiões fungos e plantas espinhosas constituem o contexto o SD último para usar sapatos C porque usar sapatos impede ferimentos e doen ças que podem ser adquiridos por andar descalço A redução da probabilidade de ferimentos e doenças e o aumento da probabilidade de sobreviver e reproduzir constituem o reforço último por usar sapatos Dizemos às crianças sejam boas com seus primos porque cooperar C com parentes SD último aumenta a apti dão de genes comuns SR último Em sentido amplo todos os reforçadores últimos ao afetar a aptidão como o fazem se relacionam a quatro grandes categorias de atividades ou resultados manutenção da saúde inclusive sobrevivência obtenção de recursos fazer e manter relacionamentos com familiares e amigos e reprodução inclusive os relacionamen tos com um cônjuge outros parceiros sexuais filhos e netos Coletivamente isso é simbolizado na Figura 82 pelas letras SRRR Todas as regras em especial as regras características de um a cultura dependem em última instância de relações entre o comportamento e SRRR Calçamos sapatos para manter a saúde trabalhamos para obter recursos batem os papo para m anter relacionamentos com os amigos e a família namoramos para obter sexo e produzir descendência Em sentido estrito todas as outras três categorias poderiam ser reduzidas à quarta a razão por que a saude e a sobrevivência os recursos e os relacionamentos são importantes está em que todos eles possibilitam direta ou indiretamente a reprodução o ingrediente essencial para a evolução Discutiremos esse assunto com mais detalhes nos Capí tulos 12 e 13 As relações com o reforço próximo e último dão ao comportamento verbal do falante CV na Figura 82 a dupla função de ordenar e informar Nos termos do Capítulo 7 formular a regra Cv é um mando quanto à relação próxima mas é um tacto quanto à relação última O reforçador próximo para a enunciação da regra é a subordinação do ouvinte obedecer à ordem seguir o conselho Pessoas que afixam placas de Proibido Fumar geralmente o fazem para seu próprio conforto entre outras razões Se existir algum reforçador último para a enunciação da regra ele está vinculado aos reforçadores últimos para o seguimento de regras pelo ou vinte O interesse de um pai na sobrevivência e na reprodução de um filho benefi cia o sucesso reprodutivo do próprio genitor Quanto ao comportamento do ouvin te entretanto a relação com o sucesso reprodutivo é de longo prazo e relativamen te ineficiente Assim a regra enunciada pelo pai talvez seja mantida em primeiro lugar pela aquiescência do filho Embora o experimento de Galizio Figura 81 pareça simples em compara ção com situações do mundo real ele também se conforma ao padrão observado na Figura 82 A relação de reforço próxima era a relação entre seguir as instruções dos rótulos e evitar perdas A relação última era entre seguir as instruções e receber quase o máximo de 2 dólares por sessão Evitar esforço excessivo pode também ter sido um fator Os rótulos constituíam as regras e a situação experimental era o SD último A regra e o reforço próximo podem ser temporários Se o comportamento ç for suficientemente fortalecido ele entrará em contato com o reforço último e será mantido por ele As crianças jamais aprenderiam que usar sapatos é uma coisa boa se nunca os tivessem usado Depois que a criança começa a usar sapatos quase o tempo todo as vantagens de usálos o reforço último podem assumir o controle A situação é parecida com dar partida em um carro o motor tem de estar a uma certa velocidade antes que possa girar por si próprio O reforço próximo é como o motor de arranque põe o comportamento para funcionar a uma taxa suficiente para que o reforço último o mantenha em andamento No experimento de Galizio alguns estudantes fizeram a transição do reforço próximo para o reforço último quando dispensaram os rótulos que lhes diziam como responder às diferentes rela ções de perda Digo para meus filhos serem honestos com os outros na esperança de que algum dia eles sejam honestos sem que eu tenha de lhes dizer isso Se as ocasiões para a ocorrência de comportamento controlado por regras forem muito infreqüentes então a transição para o reforço último pode nunca vira acontecer Talvez seja por isso que alguns dos estudantes de Galizio nunca conse guiram chegar ao desempenho adequado com mais treino eles eventualmente poderiam ter dispensado as instruções Quando compro uma mesa montável sigo as instruções como um escravo porque essa é a primeira e provavelmente a única vez em que m ontarei essa mesa Em contraste uma pessoa que trabalha em uma fábrica montando muitas mesas todos os dias logo pára de consultar as instruções Passamos por simulações de incêndio e de batalhas para que quando o SD último incêndio ou batalha de fato surgir o comportamento apropriado provavelmente ocorra quanto mais realista a simulação melhor será Uma questão permanece as pessoas muitas vezes podem ser capazes de v dizer o que fazer mas não por que fazêlo Se o falante não consegue verbalizara relação de reforço última não tem a menor idéia por que os filhos deveriam ser bons com seus primos então de onde surgiu a regra Alguém teve de formulála mas é suficiente que apenas uma pessoa tenha um dia entrado em contato com a relação última porque os membros de uma mesma cultura aprendem regras uns com os outros Uma vez que essa pessoa tenha formulado a regra e a tenha ensina do a seus descendentes parentes e vizinhos se a regra de fato entrou em contato com a relação última ela se propaga de pessoa a pessoa e de grupo a grupo Formu lar regras assim como seguir regras é uma parte fundamental da cultura humana Mais sobre esse tópico nos Capítulos 13 e 14 APRENDIZAGEM DE SEGUIMENTO DE REGRAS As pessoas têm forte uma tendência a fazer as coisas conforme lhes dizem As vezes gostaríamos que as pessoas fossem menos obedientes e pensassem por si mesmas com mais freqüência especialmente soldados e burocratas O famoso experiment0 de Stanley Milgrim sobre obediência em que as pessoas se mostraram dispostas liberar choques quase letais a um estranho seguindo as ordens de um psicólogo peS quísador ações de nazistas em campos de concentração e ações de soldados i americanos no Vietnã mostraram como essa obediência pode ir longe Apesar des Compreender o behaWorismo 177 exem plos continua sendo verdade que a concordância em geral vale a pena nor malmente até mesmo o adolescente mais rebelde pode ser persuadido a usar filtro solar na praia Por que as pessoas seguem regras com tanta presteza Modelagem do comportamento de seguir regras Talvez as pessoas sejam tão propensas a seguir regras em parte porque são expos tas desde muito cedo a tantas e tão diferentes relações de reforço próximas Inú meras vezes as crianças fazem o que lhes mandam fazer e ganham doces afeto e aprovação As regras são verbalizadas pela mãe pai outros membros da família e depois pelos professores Existem até mesmo jogos que ensinam a seguir regras tais como o Faça o que seu mestre mandar Conseqüentemente seguir regras tornase uma categoria funcional uma ha bilidade generalizada tanto que seguimos sem hesitação as instruções para che gar a um local dadas por um estranho À medida que ocorre generalização o pró prio comportamento de seguir regras tornase parcialmente controlado por regras Dizse às crianças Faça como eu digo e Ouça os mais velhos Formamos tam bém discriminações Não ouça o Jucá ele é um mentiroso Em um antigo episó dio do programa de TV WKRP in Cincinnad um personagem diz a outro Dá azar seguir o conselho de pessoas malucas Em certo sentido esse seguir regras generalizado faz o mundo girar Galizio fez uso disso em seu experimento presumindo que os sujeitos leriam e responde riam aos rótulos acima das luzes Figura 81 Sem o seguimento de regras genera lizado as possibilidades de cultura seriam na verdade limitadas Com ele práticas complexas como colocar os filhos em escolas públicas ou construir aviões a jato podem existir e ser transmitidas Mais sobre esse tópico nos Capítulos 13 e 14 Onde estão as regras As explicações tradicionais do seguimento de regras são mentalistas Como na gra mática falase de regras como se elas fossem coisas possuídas como se as pessoas possuíssem Psicólogos dizem às vezes que as regras são internalizadas Como utras formas de mentalismo as regras que controlam nosso comportamento estão supostamente em algum lugar interno como se cada um de nós tivesse um caderno Sras interno onde as regras estivessem de alguma forma gravadas e pudes 0 er localizadas na ocasião propícia Surgem então as questões habituais sobre vçojnntaSm0 Capítulo 3 Onde estão essas regras internas De que são feitas côm 0em causar o comportamento Quem as procura quem as escreve O 0 Prtamento de escrever e procurar as regras não seria tão complicado quanto Portamento que elas deveriam explicar E assim por diante í o r i t C Sum sentido falar em regras como localizadas em algum lugar os beha mas c as as clocam no ambiente Elas se apresentam não apenas figurativamente ncretamente sob a forma de sons e sinais Elas são estímulos discriminativos 178 William M Baum As pessoas são tentadas a pensar em regras como alguma coisa interna por que a regra que fortalece o comportamento C pode estar ausente quando C ocorre Existem duas razões para isso Primeiro surge o problema da lacuna tem poral discutido nos Capítulos 5 e 6 Como a regra pode ter ocorrido em um m om ento anterior há uma lacuna entre a ação e parte do contexto Eu insisto que m eus filhos sejam honestos comigo na esperança de que seu comportamento se generalize e que eles sejam honestos com os outros Se meus filhos são honestos com professo res e amigos poderíamos dizer que as crianças lembraram a regra mas não pre cisamos Não é necessário supor que as crianças tenham formulado a regra publica mente ou mesmo privadamente naquele momento É necessário apenas reconhe cer que parte do contexto para o ato ocorreu em um momento anterior Segundo como o controle pelo reforço próximo pode ser tem porário quando o reforço último assume o controle a regra pode estar ausente talvez definitiva mente Quando as pessoas falam sobre regras internalizadas estão provavelm en te falando dessa transição Sobre os estudantes que no experimento de Galizio responderam adequadam ente depois de retirados os rótulos poderseia dizer que internalizaram as regras A alteração no entanto não é de uma regra externa para uma interna mas de um a relação de reforço relativamente de curto prazo para outra de longo prazo No experimento de Galizio o controle passou dos rótulos para as luzes amarelas Quando meus filhos são atenciosos com seus primos seus primos também são em contrapartida atenciosos com eles o que resulta em meus filhos continuarem a ser atenciosos Meus filhos não internalizaram a regra sobre tratar bem seus primos em vez disso as conseqüências naturais e de longo prazo mantêm agora seu comportamento PENSAMENTO E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Com freqüência regras são soluções de problemas Se você se com portar assim a situação resultará em tal e tal reforçador Quando confrontados com um proble ma pode ser preciso formular uma regra E bastante provável que se diga que alguém está pensando quando essa pessoa está resolvendo um problema O arquiteto que está procurando o melhor projeto para um a sala de estar ou o motorista que trancou o carro com as chaves dentro podem ponderar a situação considerar várias soluções ou perderse em pensamentos O mentalista vê em tais situações a justificativa para im aginar processos internos complexos porque a pessoa pode se sentar imóvel por algum tempo aparentem ente sem fazer nada e então de repente agir e solucionar um problema Está aí um desafio para os behavioristas portanto Será possível discutir a resolução de problemas sem apelar para complexos processos internos No Capítulo 5 discutimos brevemente a abordagem com portam ental da reso lução de problemas As interpretações mentalistas enfatizam a característica abrupta da solução no m om ento criativo ou inspirado Ignoram a longa história de reforço anterior a qualquer caso particular de resolução de um problem a Assim como aprendemos a ser ouvintes aprendemos a ser solucionadores de problem as Tratase de uma habilidade essencial na vida e o pai ou o professor que não ajuda Compreender o behaviorismo 179 a criança a aprender como solucionar problemas é considerado negligente O mo torista que tranca o carro com aschaves dentro talvez peça ajuda à polícia Esse motorista foi instruído nesse tipo de solução antes e talvez já tenha ligado anterior mente para a polícia em tais ocasiões de impotência O projeto do arquiteto igual mente por mais que pareça original deriva de treino prática e observação Em nenhum caso a resolução de problemas ocorre isoladamente ela tem de ser enten dida à luz de treino prévio instrução e reforço Embora os behavioristas concordem com essa abordagem geral eles diferem um pouco em suas interpretações Os behavioristas molares consideram a resolu ção de problemas como algo completamente integrado com a história prévia Ad quirimos experiência com determinados tipos de situações e nelas agimos de deter minadas maneiras Sob essa perspectiva a resolução de problemas é apenas um passo ao longo do caminho e não é particularmente relevante Alguém se torna cientista comportandose e recebendo conseqüências no laboratório no campo em seu escritório e em conferências Ocorrem soluções para problemas com equi pamentos dados e teorias mas tudo isso faz parte de se tornar e ser um cientista Esse comportamento é controlado por regras apenas na medida em que depende de instrução prévia A interpretação molecular de Skínner 1969 que iremos agora focalizar tra ta a resolução de problemas como comportamento controlado por regras em um sentido diferente mais imediato Dado que Skinner aceitava a idéia de que falar consigo mesmo pode ser considerado comportamento verbal Capítulo 7 que uma pessoa pode exercer simultaneamente os papéis de falante e ouvinte sua interpretação se apóia no conceito de autoinstrução como falantes damonos regras como ouvintes Mudança de estímulos Gomo vimos no Capítulo 5 as situações que identificamos como problemas são aquelas em que o reforçador o resultado bemsucedido é claro mas o compor tamento que deve ser emitido a solução é obscuro O problema é eliminado quando surge a solução e obtémse o reforçador Quando o arquiteto esboça um projeto que funciona que atende às exigências seguese uma imensa satisfação sem falar no dinheiro e nos elogios dos clientes e colegas Enquanto o arquiteto está resolvendo o problema sua mesa pode ficar cober ta de esboços Tentase uma possibilidade depois outra depois outra Cada esboço sugere o próximo e características de muitos esboços podem ser combinadas na quele que finalmente vai prevalecer O comportamento esboçar varia mas está longe de ser aleatório Além de depender de treino e observações prévias do arqui teto os esboços dependem uns dos outros Dizer que um esboço influencia o seguinte é dizer que o primeiro age como um estímulo discriminativo para fazer o próximo O arquiteto faz um esboço dá uma olhada conclui que não funciona ou que funciona parcialmente e então tenta um outro Todos os esboços precedentes estabelecem o contexto para o esboço final Dizer que eles eliminam algumas possibilidades e sugerem outras significa que como 180 William M Baum estímulos discriminativos enfraquecem alguns atos futuros de esboçar e fortalece outros O comportamento de resolver problemas produz estímulos que servem par alterar a probabilidade do comportamento futuro que poderá incluir a solução Não há mistério sobre a origem desse tipo de comportamento No arquiteto experiente brainstorms desse tipo foram reforçadas muitas vezes no passado Dis cutimos no Capítulo 5 como se ensinam cetáceos e ratos e também seres humanos a fazer discriminações em que o comportamento passado faz parte do contexto Embora cada novo ato possa ser único ele ainda assim se relaciona com os que vieram antes Quando as soluções não precisam ser originais para serem reforçadas a ten dência é utilizar soluções semelhantes para problemas semelhantes desde que es sas soluções continuem a proporcionar as devidas compensações Muitos manuais de psicologia descrevem um experimento de A C Luchins em que pessoas tinham de resolver uma série de problemas como os mostrados na Tabela 81 Cada proble ma apresentava três jarras imaginárias de água mostrava as capacidades da Jarra A Jarra B e Jarra C e exigia como solução que fosse apontada um a seqüência de transferências do conteúdo de uma jarra para outra que resultasse em uma das jarras conter a quantidade indicada na coluna D Os três primeiros problemas são resolvidos subtraindose um A e dois Cs de B Os problemas 4 e 5 também podem ser resolvidos desse modo mas podem ser resolvidos mais facilmente subtraindo se C de A O problema 6 só pode ser solucionado subtraindose C de A Luchins descobriu que os problemas 4 e 5 eram quase sempre resolvidos da maneira mais complicada tal como se resolviam os problemas í a 3 e que a maioria dos partici pantes do experimento não conseguiam resolver o problema 6 As tentativas mentalistas de explicar os resultados de Luchins atribuíramnos a uma disposição m ental ou disposição cognitiva Presumivelmente a pessoa forma essa disposição internamente enquanto está resolvendo os três primeiros problemas e depois a disposição faz com que ela continue resolvendo os proble mas da mesma forma Essa disposição supostamente também impediria a solução do sexto problema Como vimos no Capítulo 3 o behaviorista pergunta onde esta ria essa disposição de que é feita e como afeta o comportamento Ela apenas TABELA 81 Uma série de problemas usados por Luchins em seu experimento sobre disposição mental Cada problema apresenta três jarras de diferentes capacidades colunas A B e C A quantidade exigida coluna Dj tem de restar em uma das jarras depois de seu conteúdo ser transferido para as outras Problema Jarra A Jarra È Jarra C Quantidade exigida D 1 14 163 25 99 2 18 43 10 5 3 9 42 6 21 4 23 49 3 20 5 14 36 8 6 6 28 76 3 25 Compreender o behaviorismo 181 rotula a observação que precisa ser explicada a persistência de um certo padrão de c0mportamentos aclui BA2C É pior do que nenhuma explicação porque dá uma ilusão de explicação que nos desvia do caminho em direção a uma explicação verdadeira ver o Capítulo 3 Os analistas comportamentais que procuram explicações no mundo natural de comportamento e ambiente vêem a situação de outro modo À medida que cada um dos três primeiros problemas são resolvidos um padrão de comportamen to BA2C é reforçado Esse padrão fornece um estimulo discriminativo um estímulo discriminativo verbal se o padrão é formulado como BA2C ou um estí mulo visual se o padrão é visto como uma seqüência de ações imaginadas Esse estímulo discriminativo controla o comportamento nos problemas subseqüentes A história de reforço do padrão BA2C combinada com a aparente semelhança en tre todos os problemas assegura que a cada novo problema o padrão BA2C seja o primeiro a ocorrer Soluções que omitam B por exemplo AC serão improváveis e ocorrerão apenas após muitos padrões envolvendo B se é que ocorrerão A diferença entre os sujeitos de Luchins que caíram em uma rotina e o arqui teto criativo reside em suas histórias de reforço A resolução de problemas tornase estereotipada ou criativa e original em função de se reforçar repetidamente o mesmo padrão ou de novos padrões serem reforçados O único aspecto incomum dessas explicações é que os estímulos discriminativos que fortalecem as possíveis soluções surgem do próprio comportamento de quem resolve o problema Assim como os sujeitos de Luchins poderiam ter falado consigo próprios sobre os problemas da jarra o arquiteto também poderia ter falado consi go próprio dizendo coisas do tipo E se a cozinha ficasse aqui ou Suponha que mudemos esse quarto para o andar de cima Exercendo o papel de falante o arquite to está gerando estímulos discriminativos verbais como a regra na Figura 82 que por sua vez alteram a probabilidade de determinado comportamento futuro no papel de ouvinte do arquiteto A variação na ação que acaba levando à solução vem do próprio comportamento verbal do arquiteto Quando estou tentando resolver um problema posso falar comigo mesmo em voz alta ou privadamente Falar consigo mesmo inaudivelmente é comumente cha mado de pensamento Se meu carro não pega posso dizer para mim mesmo Talvez eu deva pisar no acelerador Quer isso seja dito em voz alta ou privadamente o comportamento gera um estímulo discriminativo verbal como na Figura 82 que torna mais provável que eu pise no acelerador A pessoa que se senta silencio samente e depois de repente soluciona um problema pode ter passado por todo um processo de dizer coisas e visualizar resultados privadamente um após o outro Quer tenha sido aberto ou encoberto ainda assim o processo pode ser entendido como a atividade de falante alternandose com a atividade de ouvinte Comportamento precorrente Skinner 1969 chamou a atividade de falante que gera estímulos discriminativos precorrente no sentido de que acontece antes da solução A atividade precorrente Permite que a resolução de problemas atividade de ouvinte varie sistematica 182 WiÜiam M Baum mente em vez de aleatoriamente Embora a variação aleatória possa ser útil assim como mexer e girar a chave em um a fechadura velha eventualmente pode abrir a porta a resolução de problemas é geralmente sistemática no sentido de que as tentativas de solução seguem padrões especialmente padrões que tenham funcio nado anteriormente Posso nunca ter me perdido nessa região mas tenho uma história de consultar mapas e derivar possibilidades de caminhos eu me compor to de maneiras que foram bemsucedidas reforçadas no passado O comporta mento precorrente envolvido é freqüentemente chamado de raciocínio imagina ção formulação de hipóteses e assim por diante Todos esses comportamentos têm em comum a propriedade de gerar estímulos discriminativos que alteram a proba bilidade de atividades subseqüentes Ao olhar para os três primeiros problemas na Tabela 81 você poderia ter dito coisas para si próprio como A água tem de ser tirada da Jarra B porque a quantidade exigida é maior do que pode haver em A ou C e Qual a diferença entre B e D Isso seria comportamento precorrente porque quando se ouvisse a si próprio você provavelmente se comportaria de acordo Assim como outros conceitos de análise comportamental a idéia de compor tamento precorrente tangencia as distinções tradicionais Às vezes coincide com o que as pessoas chamam de pensar ou raciocinar ou fazer um brainstorm mas nem sempre Se aceitamos a idéia de que a mesma pessoa pode agir simultaneamente como falante e ouvinte então a atividade precorrente se conformaria à definição de comportamento verbal e os estímulos gerados seriam regras De fato isso pare ce quase óbvio quando falamos para nós mesmos em voz alta ao tentarm os resolver um problema O comportamento precorrente no entanto pode ser privado ou público vocal ou nãovocal Quando uma pessoa montando um quebracabeça escolhe uma peça e a vira de um lado para outro eventualmente achando o lugar certo isso é comportamento precorrente público e nãovocal Se ao tentar deci dir sobre o projeto de cores para a casa manuseio amostras coloridas e imagino a casa pintada naquelas cores isso poderia ser cham ado de com portam ento precorrente parcialmente privado e nãovocal A conexão entre comportamento precorrente e comportamento controlado por regras encontrase nos estímulos discriminativos produzidos Comportamento precorrente é como formular regras Evitamos dizer que são exatamente a mesma coisa porque de acordo com nossa definição para ser caracterizado como regra o estímulo discriminativo deve ser gerado por comportamento sob controle de uma relação de reforço última atuando como estímulo discriminativo Seria um exagera dizer que o encaixe de uma peça de quebracabeça produzido por seu manuseio deva ser chamado de regra O grande ganho por definir o comportamento precorrente é perceber que a resolução de problemas é semelhante ao comportamento controlado por regras Não é preciso inventar novos princípios para compreender como as pessoas supe ram suas dificuldades diárias ou como elas agem criativamente As explicações que consideramos são incompletas e exigem mais investigações mas o essencial está colocado formular regras seguir regras pensar e resolver problemas são todos eles comportamentos que podem ser explicados cientificamente Compreender o behaviorismo 183 RESUMO Formular e seguir regras são duas das atividades mais importantes na vida e cultu ra hum anas O que cham am os de regras faladas ou escritas são estím ulos discriminativos verbais Governam nosso comportamento da mesma forma que estím ulos discriminativos controlam nosso comportamento As regras são verbais porque são geradas pelo comportamento verbal de um falante Quem segue a regra é um ouvinte que reforça o comportamento do falante de formular a regra O comportamento controlado por regras pode ser diferenciado do comportamento modelado implicitamente que deriva diretamente do contato com relações de re forço Embora as pessoas às vezes considerem desempenhos complexos modela dos implicitamente como seguimento de regras a regra seguida é na verdade um breve resumo do desempenho Ao contrário o conceito mais técnico de seguimen to de regras dos analistas comportamentais exclui relações sobre as quais nunca se fala porque definem a regra como um estímulo discriminativo verbal que indica uma relação de reforço Indica uma relação significa é dado por comportamento verbal sob controle de estím ulo de uma relação que age como um estím ulo discriminativo Essa definição inclui a maioria dos exemplos que as pessoas consi derariam como regras e mais ainda Pedidos e ordens freqüentemente se caracte rizam como regras especialmente quando podem ser vistos como ofertas ou am ea ças instruções e conselho também podem ser assim caracterizados A relação indicada por uma regra a relação última é sempre de longo prazo ou mal definida mas é relevante por afetar a saúde e a sobrevivência a obtenção de recursos os relacionamentos especialmente com parentes e amigos e a repro dução SRRR isto é determinando a aptidão no longo prazo A regra é associada a uma relação de reforço mais imediata a relação próxima que envolve refor çadores como aprovação e dinheiro que ajudam a colocar o comportamento em contato com a relação última Ensinase as crianças a seguir regras a ser obedien tes por causa das relações últimas adquirir essa habilidade generalizada faz par te do crescer em um a cultura Quando as pessoas aprendem o seguimento de re gras generalizado entretanto elas adquirem apenas uma discriminação suas ações ficam sob controle de um a certa categoria de estímulos discriminativos provenien tes de um a certa categoria de falantes Imaginar que as regras de alguma forma se movem internamente é mentalismo As regras estão no ambiente Se aceitamos a idéia de que falar consigo mesmo é comportamento verbal que um a pessoa pode ao mesmo tempo exercer os papéis de falante e ouvinte então tornase possível entender a resolução de problemas como um exemplo de comportamento controlado por regras O comportamento dás pessoas gera estímu los discriminativos que freqüentemente podem ser interpretados como regras que aumentam a probabilidade de ações subseqüentes dentre as quais pode estar a solução a ação que é reforçada O comportamento que produz os estímulos é chamado de precorrente Pode ser público ou privado vocal ou nãovocaí e funci ona como a autoinstrução Em particular o pensamento que acontece durante a reso3uçao de problemas pode ser entendido como comportamento precorrente form alm ente privado e vocal 184 William M Baum LEITURAS ADICIONAIS Baum W M 2995 Rules culture and fitness Behavior Analyst 18 121 Esse artigo explica com mais detalhes muitas das idéias sobre regras apresentadas neste capítulo Galizio M 1979 Contingencyshaped and rulegoverned behavior instructional control of human loss avoidance Journal of the Experimental Analysis of Behavior 31 5370 Esse artigo relata o experimento de Galizio descrito neste capítulo Hayes S C 1989 Rulegoverned behavior cognition contingencies and instructional control Nova York Plenum Esse livro contém muito do que se pensa atualmente sobre o compor tamento controlado por regras Simon H A 3990 A mechanism for social selection and successful altruism Science 250 16651668 O autor conhecido psicólogo cognitivista e cientista da computação faz as co nexões entre docilidade seguir regras cultura e aptidão Skinner B F 1953 Science and human behavior Nova York Macmillan Veja o Capítulo 16 sobre pensamento Skinner B F 1969 An operant analysis of problem solving In Contingencies of reinforcement Nova York AppletonCenturyCrofts cap 6 p 133171 Essa é a discussão clássica de Skinner sobre regras e comportamento precorrente TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPITULO 8 Comportamento controlado por regras Comportamento modelado implicitamente Comportamento precorrente Regra Relação de reforço próxima Relação de reforço última SD C SR Seguimento de regras N de T Título traduzido cm português ver Apêndice Questões sociais A ix s áreas de aplicação da análise do comportamento e do pensamento comporta mental são amplas e diversificadas Tome qualquer aspecto da existência humana e você verá que o behaviorismo lhe dá uma nova perspectiva Política governo jus tiça educação economia relações internacionais e ambientalismo todos ganham uma nova fisionomia Nossos problemas sociais são problemas comportamentais Todos eles têm a ver com fazer as pessoas se comportarem melhor governar bem obedecer à lei aprender na escola reciclar o lixo Como poderíamos levar as pessoas a se compor tar adequadamente e a propósito o que é comportamento adequado Os trata mentos tradicionais dessas difíceis questões são quase sempre mentalistas e por tanto de pouca valia Os analistas comportamentais teriam uma proposta melhor A Parte Três traz poucas respostas definitivas mas em compensação oferece uma abordagem nova a abordagem comportamental Ela visa demonstrar que a análise do comportamento pode auxiliar a resolver os problemas do mundo A ausência de soluções simples ou definitivas não precisa nos desencorajar pois o pensamento comportamental nos permite equacionar os problemas em forma pas sível de solução Metade do trabalho de resolução de um problema é colocálo em seus termos corretos Tentar mudar o comportamento sem os conceitos de reforço indução e controle de estímulo é como querer criar novas moléculas e substâncias químicas sem a teoria atômica Os behavioristas já escreveram muito sobre questões sociais com resultados diversos Por exemplo John B Watson foi um prolífico autor da imprensa popular mas provavelmente não serviu muito a seus leitores porque se sabia relativamente pouco sobre comportamento nas décadas de 1920 e 1930 Entretanto sabese muito mais agora Quando Skinner escreveu Beyond freedom and dignity em 1971 ele dispunha de novos conceitos em que se basear A Parte Três cobre em grande parte a mesma área do livro de Skinner mas expande e atualiza a discussão de forma a incluir o pensamento que se desenvolveu desde então Liberdade D a mesma forma que tratamos outros termos podemos tratar a palavra livre a fim de entender o que ela significa examinaremos como é utilizada Como viis no Capítulo 1 apenas a noção de Iivrearbítrio conflita com o behaviorismo A maioria dos usos da palavra livre podem ser compreendidos em termos compor tamentais USOS DA PALAVRA LIVRE Há três tipos de uso para a palavra livre Em primeiro lugar as pessoas falam de liberdade de restrições como quando se fala em ficar livre da escravidão Isso é freqüentemente referido como ser livre sugerindo que a liberdade é um atributo ou um a coisa possuída A extensão dessa idéia é a noção de livrearbítrio na qua está implícito que a pessoa tem a liberdade de se comportar independentemente de seu ambiente passado ou presente Em segundo lugar as pessoas falam de liberda de política e social Aqui o essencial não é tanto o problema das restrições quanto o de ter de enfrentar conseqüências desagradáveis devido a certas opções Ser per seguido por causa de suas convicções não significa que você não possa agir cie acordo com elas mas que será punido por fazêlo Assim é quando falamos de falta de liberdade política ou religiosa e dizemos que não nos sentimos livres Em ter ceiro lugar as pessoas em particular as pessoas religiosas falam de liberdade espiritual Quando uma igreja anuncia que ílesus vos libertará da servidão não está sugerindo que falta livrearbítrio ou liberdade política ou religiosa mas está se referindo à libertação de uma prisão metafórica Falaremos de todos esses usos a seguir 188 Williom M Boum Ser livre iivrearbífrio Ser libertado de uma prisão representa a remoção de uma restrição física Trancada em uma cela a pessoa não pode sair A abertura da cela é como a abertura de uma gaiola livre como um pássaro significa que a pessoa pode se locomover à vonta de sem ser tolhida Essa forma particular de ser livre não apresenta problema para a análise comportamental porque se refere apenas ao fato de um a ação ser ou não possível É como dizer que o rato não é livre para pressionar a barra se ela for removida ou que é livre para pressionála se ela for inserida No que se refere a restrições prisões e gaiolas são as mais óbvias Você nunca opta livremente por respirar andar ou mesmo aprender a falar Essas opções foram limitadas pelos seus genes e seu ambiente Se fosse possível líbertarse desse limi tes então teríamos o livrearbítrio No Capítulo 1 discutimos problemas levantados pela noção de livrearbítrio Afora considerações filosóficas e estéticas os resultados de políticas públicas basea das na presunção de livrearbítrio vão de pífios a desastrosos A presunção é muitas vezes utilizada como justificativa para não fazer nada Se dependentes de cocaína são livres para optar por não usar a droga então a dependência é culpa dos depen dentes Eles deveriam ter vergonha na cara e nenhum a ajuda lhes deveria ser dispensada Parece que aos poucos estamos aprendendo que políticas sensatas não po dem presumir o livrearbítrio É inútil e só serve para autoconsolo dizer que indiví duos que crescem em favelas optam pela ignorância e pelo desemprego Alguns projetos de pequena monta em escolas secundárias urbanas têm conseguido man ter a freqüência dos alunos e o treinamento profissional vem trazendo pessoas de volta ao trabalho e tirandoas da lista de pensões da previdência social Esses pro jetos tiveram êxito porque criaram relações de reforço adequadas e as sustentaram com encorajamento e explicações regras no sentido do Capítulo 8 Os analistas comportamentais defendem a tese de que enquanto continuar mos presumindo o livrearbítrio não conseguiremos resolver nossos problemas sociais Se porém avançarmos para um referencial francamente comportamental e tentarmos modificar o comportamento problemático aí então nosso foco se des locará para questões relativas a que método utilizar Skinner defendeu o uso do reforço positivo por duas razões Primeiro por ser extremamente eficiente Segun do e este ponto é relevante para nossa discussão de liberdade porque quando o comportamento é modelado e mantido por reforço positivo as pessoas não se sen tem coagidas sentemse livres Sentirse livre Uberdade política e social Os escravos são outro exemplo de pessoas das quais se diz que não têm liberdade A falta de liberdade dos escravos tem menos a ver com restrição física pois o escra vo pode se recusar a trabalhar A conseqüência provável dessa recusa porém seria Compreender o behcmorismo 18 f o chicote O indivíduo que coopera devido a uma ameaça de punição pode em princípio ser livre para enfrentar a ameaça mas não se sente livre para fazêlo Também de pessoas que vivem em um estado policial se diz que não têm liberdade porque muitas de suas ações são proibidas pela ameaça de punição Não se sentem livres como grande parte de nós que vivemos em uma sociedade demo crática Sentimonos livres para criticar nossos governantes em público porque eles não podem nos punir por fazêlo O principal obstáculo ao sentimento de liberdade é a coerção As pessoas não podem se sentir livres quando coagidas isto é quando seu comportamento é controlado pela ameaça de conseqüências aversivas Coerção e controle aversivo No Capítulo 4 definimos os dois tipos de controle aversivo punição positiva e reforço negativo Se falar o que pensamos resulta em uma surra nesse caso o falar foi positivamente punido Se mentir evita a surra então o mentir foi negativamen te reforçado Em geral os dois andam juntos se uma ação é punida normalmente há alguma alternativa que evita a punição A Figura 91 ilustra a relação envolvida na coerção Quando um feitor segura o chicote e m anda o escravo trabalhar o comportamento de trabalhar do escravo é negativamente reforçado por impedir o açoite Os passos intermediários envolvem uma interação entre ò feitor controlador e o escravo controlado Brandir o chicote ou comportamento de ameaça CA produz um estímulo discriminativo para o escravo S em geral chamado de ameaça O estímuloameaça determina a ocasião para a submissão Cs trabalhar ou fazer o que o patrão deseja A submissão do controlado produz um reforçador positivo Sf digamos fazer a colheita para o controlador de forma que o comportamento de ameaça do controlador é positivamente reforçado como resultado da atividade do controlado Desde que o escravo trabalhe e reforce positivamente o comportamento de amea çar do feitor esse se aferra ao chicote Isso quer dizer que o reforçador positivo Controlador feitor Objetivo CA Ss S Nâo CP CT 1 í 1 I Controlado escravo 1 1 1 1 Sg Cs Não SP SÇ Ameaça Submissão Figura 91 Coerção O comportamento ameaçador do controlador CA é positivamente reforçado como resultado da submissão do controlado Cs que produz o reforçador S que constitui o objetivo do controlador A submissão do controlado determina a ocasião S para o controlador terminar a punição CT e é reforçada por evitara punição ameaçada por reforço negativo 190 William M Baum objetivo do controlador também funciona como estímulo discriminativo Sj que determina a ocasião para que o controlador não exerça a punição Não Cp ou para que a termine CT Para o controlado a conseqüência é a não punição Não Sp ou o reforço negativo de terminála S A Figura 91 é parecida com a Figura 71 o diagrama de um episódio verbal O comportamento de ameaça do controlador é semelhante ao comportamento ver bal para ser reforçado exige um ouvinte o controlado Quando duas pessoas reforçam mutuamente seu comportamento como indicado nas Figuras 91 e 71 podemos dizer que elas têm um relacionamento O tema dos relacionamentos será explorado de forma mais geral no Capítulo 11 A Figura 91 mostra as principais características que definem a coerção refor ço positivo para o comportamento do controlador associado ao reforço negativo para o comportamento do controlado Sempre que existir essa assimetria dizse que o controlado é coagido não tem liberdade ou não se sente livre Inúmeras formas de relacionamento podem ser coercivas Pais podem intimi dar um filho com a ameaça de surra ou desaprovação a fim de conseguir obe diência Professores podem am eaçar alunos com notas baixas ou humilhação públi ca Um cônjuge pode coagir o outro com ameaças de escândalo ou de negação de afeto e sexo ao parceiro O patrão pode ameaçar seu empregado com desaprova ção humilhação e perda do emprego Todos esses relacionamentos coercivos podem ser substituídos por relaciona ihentos nãocoercivos O pai pode dar afeto ou presentes quando a criança obede ce O professor pode dar boas notas ou aprovação quando o aluno tem bom desem penho Marido e mulher podem se gratificar mutuamente com afeto compreensão e apoio Patrões podem reforçar o bom desempenho com sinais de aprovação cer tificados distintivos móveis para o escritório e com dinheiro Por que então as pessoas recorrem tão freqüentemente à coerção A razão principal é que em geral a coerção funciona Os que sustentam que a coerção não é eficaz estão enganados pois devidamente treinados os seres hu manos são extraordinariamente sensíveis a possíveis conseqüências aversivas em especial à desaprovação e isolamento social Todas as culturas têm seus tabus e a maior parte dos membros de qualquer grupo cultural aprende a evitar transgres sões sob o risco de desaprovação e de rejeição Mesmo uma ameaça tão rem ota quanto a cadeia já é suficiente para nos manter na linha A minoria que acaba na cadeia geralmente não foi exposta em criança a reforçadores sociais positivos e a regras sobre conseqüências aversivas a longo prazo isto é essas pessoas recebe ram pouco afeto ou pouca aprovação por boas ações e nenhum reforço por seguir regras O problema da coerção são as conseqüências a longo prazo para a pessoa controlada e eventualmente para o controlador Com o passar do tempo famílias ou sociedades que se fiam na coerção como meio de enquadrar seus membros sofrerão desagradáveis efeitos colaterais Os mais relevantes são o ressentimento o ódio e a agressão As pessoas que são controladas por meios aversivos além de se sentirem m e nos livres tendem a ser ressentidas rancorosas e agressivas É provável que a his tória evolutiva tenha muito a ver com isso pois a seleção natural favoreceria indi Compreender o behavtorismo 191 víduos que respondessem agressivamente aos dois maiores instrumentos de coer ção a dor e a ameaça de perda de recursos Um método certeiro de induzir com portamento agressivo em muitas espécies incluindo a nossa é infligir dor Dois ratinhos pacíficos começam a se atacar quase imediatamente após receberem um choque elétrico Assim não deveria ser surpresa para ninguém a tendência à vio lência de presos nas cadeias A ameaça de perda de recursos perda de reforço positivo também induz muitas espécies à agressão inclusive seres humanos Basta que se suspenda a alimentação de um pombo para que ele passe a atacar outro pombo que está por perto A rivalidade entre irmãos pode ser brutal em famílias onde a afeição é escassa Como forma de lidar com as pessoas portanto a coerção é ruim porque torna as pessoas rancorosas agressivas e ressentidas Hm uma palavra tornaas infelizes e o controlado infeliz eventualmente se comportará de forma aversiva para o controlador O desamor eventualmente leva à não cooperação e à revolta A criança foge ou se envolve em comportamentos autodestrutivos O casamento aca ba O empregado rouba a empresa sabota projetos ou se demite O indivíduo que se sente aprisionado em uma relação coerciva demonstra todos os sinais de infeli cidade A pessoa que se sente livre é feliz liberdade e felicidade Ao se falar de liberdade política ou social dizse freqüentemente que liberdade é ter escolhas Para o analista de comportamento ter escolhas não tem nada a ver com livrearbítrio significa apenas que mais de uma ação é possível Consistirá a liberdade social em ter escolhas em ter a possibilidade de votar no candidato que se escolheu ou freqüentar a igreja pela qual se optou Nossa discussão de coerção sugere que a liberdade social consiste não tanto em ter escolhas como em não ser punido por elas Posso optar por integrar um partido político ou um a religião banidos pela lei dizemos que minha liberdade política ou religiosa é restrita pois serei punido As condições sob as quais nos sentimos livres acabam sendo idênticas às con dições sob as quais nos sentimos felizes Trabalhar por salário é bem mais agradá vel do que trabalhar para se livrar do chicote A maioria das pessoas preferiria comprar um bilhete de loteria a pagar impostos para o governo Sentimonos tanto livres quanto felizes quando nos comportamos de uma maneira e não de outra quando integramos um grupo e não outro quando trabalhamos em uma tarefa e não em outra não porque a ação que não escolhemos seria punida mas porque a que escolhemos foi mais positivamente reforçada Evidentemente é raro que uma escolha leve a resultados exclusivamente agra dáveis A maioria das situações sociais são uma mistura de condições Quando alguém diz que se sente amarrado mas feliz no casamento está dizendo que no conjunto o reforço positivo por permanecer na relação supera qualquer controle aversivo coerção nela existente Cidadãos aceitam restrições como ter de licenciar o carro e pagar impostos se no conjunto o comportamento de cidadania for positi vamente reforçado Discutiremos relações e governo mais adiante no Capítulo 11 192 William M Baum Por ora ficamos com a observação de que quanto menos nosso comportamento for modelado por punição e ameaça de punição quanto mais nossas escolhas forem guiadas por reforço positivo tanto mais nos sentiremos livres e felizes Objeções ao ponto de vista comportamental Várias objeções ao ponto de vista do analista comportamental sobre liberdade so cial são levantadas pelos críticos Consideraremos duas que julgamos especialmen te relevantes 1 o ponto de vista não pode ser correto devido à natureza do dese jo 2 essa visão é ingênua A primeira objeção se baseia na idéia de que a liberdade consiste em ser capaz de fazer o que quero No Capítulo 5 tratamos de termos como querer que pare cem se referir ao futuro ou a alguma representação fantasmagórica no presente mostrando que você diz que quer ou deseja alguma coisa quando está inclinado a agir de forma a obter essa coisa Essa coisa é um reforçador e o querer a tendên cia a agir ocorre em um contexto em que houve reforço no passado Uma das primeiras formas de ação verbal que as crianças aprendem é Eu quero X Como mando ela é reforçada com X ou com a oportunidade de agir de forma a conseguir X Raquel diz a sua mãe que quer um doce e sua mãe lhe dá o doce ou lhe diz para pegálo De uma maneira geral uma pessoa diria Eu quero X quando o ouvinte estivesse inclinado a responder de alguma forma digamos com dinheiro ou conselhos Mas prossegue a objeção você pode desejar coisas nunca antes experimenta das Você pode dizer que quer passar férias no Caribe mesmo se nunca tiver ido para lá Como uma história de reforço poderia explicar isso Dois fatores explicam o querer um a coisa nova generalização e regras A probabilidade de dizer que quer algiima coisa só existe se você tiver tido experiên cia com coisas semelhantes Talvez você nunca tenha estado no Caribe mas já esteve em férias e fez outras viagens Você generaliza dentro da categoria férias e viagens de lazer Além disso alguém talvez um amigo ou um comercial de TV lhe fala sobre o Caribe dizendo Vá para o Caribe e divirtase Em outras palavras alguém gera estímulos discriminativos verbais regras que tornam provável que você se comporte com relação ao Caribe da forma como você se comporta em relação a outras férias e viagens de lazer Assim como fazem com a criatividade e a resolução de problemas os analistas de comportamento olham para as histórias de reforço ao invés de postular repre sentações mentais para entender o comportamento de desejo No fim das contas de onde veio esse desejo interior A segunda objeção à explicação behaviorista da liberdade social que é ingê nua advém do ceticismo com relação ao caráter benigno do reforço positivo Poderia parecer que conceder ao controlador os meios para prover reforço positivo seria concederlhe um poder que pode facilmente ser mal empregado Afinal di zem os críticos o poder de dar é também o poder de tirar Da mesma forma que o empregador poderia coagir o empregado com a ameaça de perder sua fonte de Compreender o behoviorismo 193 renda o governo que detenha o poder de reforçar comportamentos com o atendi mento de necessidades vitais poderia coagir os cidadãos pela ameaça de retirálo A resposta a essa objeção requer uma discussão mais cuidadosa da diferença entre reforçadores e punidores Observamos no Capítulo 4 que a diferença às ve zes dá a impressão de ser arbitrária Ficar doente é um punidor ou é permanecer saudável que é reforçador Alimentome adequadamente a fim de evitar doenças reforço negativo ou a fim de permanecer saudável reforço positivo Se eu co mer em demasia e passar mal minha extravagância será punida positivamente pelo malestar ou negativamente pela perda do bemestar As multas por conduta ilegal pareceriam ser um a punição negativa e no entanto as pessoas se compor tam como se a multa fosse uma punição positiva talvez não tão ruim quanto quebrar um braço mas na mesma direção Todas essas questões dizem respeito a normas ou o estado habitual das coisas na vida dos indivíduos Alguém que seja normalmente saudável tomará uma dor de garganta como um evento aversivo enquanto uma pessoa com câncer trocaria de bom grado sua doença pela dor de garganta Os seres humanos têm uma notável capacidade de se adaptar a suas circuns tâncias habituais É por isso que os ricos não são mais felizes que os outros Quando temos dinheiro habituamonos a ele Mesmo que você seja muito rico que esteja acostumado com três casas e dois iates perder um dos iates ainda parecerá um desastre Para quem se adaptou a certo nível de fartura ver sua riqueza diminuir parece ser um evento realmente aversivo Essa adaptação à norm a pode ser entendida como uma condição estabele cedora semelhante à privação e saciedade No Capítulo 4 observamos que a eficá cia dos reforçadores e punidores aumenta e diminui de acordo com as circunstân cias predominantes no passado recente É pouco provável que o alimento seja um reforçador poderoso para uma pessoa bem alimentada Igualmente o comporta mento do rico é menos afetado do que o do pobre pela possibilidade de ganhar ou perder cem reais precisamente como se o rico estivesse relativamente saciado e o pobre relativamente carente A perda monetária uma multa tornase aversiva quando a pessoa se acostumou a ter dinheiro mas para ser eficaz o valor da multa tem de refletir os recursos dessa pessoa Se for muito alto o valor não é realista porque não se pode tirar leite de pedra se for muito baixo não significa nada Assim as multas em geral convergem para o nível em que relativamente aos recursos habituais das pessoas a ameaça de perda aparece a um tempo como rea lista e nãotrivial O controle do comportamento por ameaças de perda do conforto habitual constitui uma coerção igual ao controle por ameaças de tortura É verdade que o poder de dar é também o poder de tirar e que esse poder pode ser mal empregado Quando ele for mal empregado porém as pessoas não se sentirão nem livres nem felizes Reforço positivo significa prover relações de reforço pelas quais o comporta mento socialmente desejável pode levar o indivíduo a uma melhor sina Algumas indústrias norteamericanas estão aprendendo que o caminho para fabricar produ tos de boa qualidade é recompensar os operários por seus esforços nesse sentido O 194 Williom M Baum custo extra é mais do que compensado pelo aumento de qualidade e os trabalha dores ficam mais felizes também Há comunidades que já tentaram gratificar mo toristas por dirigir bem em vez de punilos por transgredir regras Teríamos senti mentos bem diferentes sobre os policiais rodoviários se de vez em quando eles nos parassem e nos dessem uma gratificação por respeitar o limite de velocidade Isso pouparia verbas públicas porque seriam necessários menos guardas e seria consu mido menos tempo nos tribunais e as pessoas talvez ficassem mais predispostas a obedecer o limite de velocidade O reforço positivo entretanto tem um problema ele pode ser mal emprega do Reforçadores pequenos porém conspícuos liberados imediatamente podem ser tão poderosos que as pessoas sacrificarão o bemestar a longo prazo pelo ganho a curto prazo Essa situação pode ser chamada uma armadilha de reforço Armadilhas de reforço e autocontrole Existe um reconhecimento implícito da armadilha presente em uma relação de reforço quando as pessoas falam que alguém é escravo de um hábito Os maus hábitos e particularmente as dependências são difíceis de largar e a pessoa que vivência os desagradáveis efeitos do hábito não parece nem se sente livre Quando Fábio está fumando e parece descontraído podemos dizer que ele simplesmente gostade fumar mas quando ele fica sem cigarro no meio da noite e se mostra à beira de um ataque de nervos somos mais propensos a dizer que ele está preso na armadilha de um mau hábito Dizse que maus hábitos como fum ar e com er em excesso exigiriam autocontrole Essa colocação parece sugerir o controle por um eu em algum lugar interno ou um eu interno controlando o comportamento externo Os analistas comportamentais rejeitam esses pontos de vista por mentalistas Ao invés pergun tam O que é o comportamento que as pessoas chamam de autocontrole5 Autocontrole consiste em fazer uma opção 0 fumante que se abstém de fu mar mostra autocontrole A alternativa que seria ceder ao hábito é agir impulsiva m ente O fum ante se depara com um a escolha entre duas alternativas a impulsividade fumar e o autocontrole absterse A diferença entre os dois é que a impulsividade consiste em se comportar de acordo com o reforço a curto prazo desfrutar o cigarro ao passo que o autocontrole consiste em compòrtarse de acordo com o reforço a longo prazo gozar de boa saúde A Figura 92 ilustra uma armadilha de reforço 0 esquema superior mostra a armadilha em termos gerais Agir impulsivamente C leva a um reforçador peque no porém relativamente imediato SR 0 caráter relativamente imediato do refor ço é simbolizado por uma flecha curta O reforço a curto prazo para o fumar que aparece no esquema inferior está nos efeitos da nicotina e em reforçadores sociais tais como parecer adulto ou requintado O problema do comportamento impulsivo está nos efeitos nocivos a longo prazo simbolizados pelo punidor grande Sp A flecha comprida indica que a punição pela impulsividade é substancialmente retar dada Podem transcorrer meses ou anos antes que o mau hábito cobre seu preço em conseqüências como câncer doença cardíaca e enfisema mostradas no esquema Compreender o behaviorismo i f s c sp SR Fumar cardíaca enfisema Câncer doença nicotina reforçadores sociais Absterse saúde sintomas de abstinência desconforto Figura 92 Uma armadilha de reforço um problema de autocontrole ou um mau hábito Agir impulsivamente C fumar produz reforço a curto prazo nicotina e reforço social e punição grave a longo prazo câncer doença cardíaca e enfisema O emprego de autocontrole CA absterse de fumar produz punição a curto prazo sintomas de abstinên cia e desconforto sociaf e reforço importante a longo prazo saúde inferior como efeitos do fumo a longo prazo 0 tamanho avantajado do símbolo indica que os efeitos nocivos a longo prazo são muito mais significativos do que os reforçadores a curto prazo A alternativa à impulsividade o autocontrole está simbolizada na Figura 92 por CA No esquema inferior ela é indicada como absterse de fumar embora pu desse consistir em alternativas específicas como mascar chiclete Tal como a impulsividade o comportamento de autocontrole leva a conseqüências tanto de curto quanto de longo prazo As conseqüências de curto prazo indicadas pela fle cha curta são punitivas mas relativamente pequenas sintomas de abstinência por exemplo dor de cabeça e possivelmente desconforto social A longo prazo fle cha comprida entretanto o autocontrole leva ao reforço importante SR grande Absterse de fumar reduz o risco de câncer doença cardíaca e enfisema ao fim promove a saúde Nos termos de Rachlin Capítulo 3 afirmar que alguém é fumante é afirmar que essa pessoa fuma com freqüência que o padrão de suas atividades diárias incluem a atividade de fumar Afirmar que alguém se abstém de fumar é afirmar que o padrão de atividades diárias da pessoa exclui o fumar Já que o padrão diário que exclui fumar implica uma imediata punição temporária deixar de fumar pro vavelmente precisará de algum tipo de reforçadores de curto prazo a fim de contra balançar a punição Embora o exfumante eventualmente venha a desfrutar de saúde a longo prazo o intervalo até a saúde de longo prazo e sua natureza progres siva fazem dela um a conseqüência relativamente ineficaz Reforçadores sociais como aprovação de familiares amigos e colegas de trabalho apresentados em vá rios momentos durante o dia quando a pessoa é vista sem fumar aumentam a força do padrão diário de abstenção m Williom M Baum Uma segunda categoria importante de armadilhas de reforço é o adiamento e a procrastinação Quando uma pessoa está com uma cárie pequena e adia a ida ao dentista o desconforto imediato da obturação prevalece sobre a punição maior adiada eventuais dores de dente tratamento de canal perda do dente Nos termos da Figura 92 o adiamento é impulsividade C e ir ao dentista é autocontrole CA O adiamento é reforçado imediatamente pela esquiva do pequeno desconfor to mas é punido ao final pelo grande desconforto Ir ao dentista é punido imedia tamente pelo pequeno desconforto mas é reforçado ao final pela esquiva do gran de desconforto e pela manutenção de dentes em boas condições Um terceiro exemplo comum de armadilhas de reforço é o conflito entre gas tar e economizar De início gastar impulsividade é reforçado imediatamente por pequenas compras Com o passar do tempo economizar autocontrole produz um reforço muito maior como comprar um carro ou saldar a dívida da casa própria 0 comprador compulsivo é aquele que caiu na armadilha do reforço imediato do gastar Vemos o gastar compulsivo como um mau hábito ou mesmo uma dependên cia porque ele é punido ao final pela perda de um reforço significativo As situações que se assemelham às da Figura 92 são chamadas de armadilhas por duas razões Em primeiro lugar a pessoa que se comporta impulsivamente fica presa na armadilha do reforço pequeno e imediato para a impulsividade e da puni ção pequena e imediata para o autocontrole O atraso enfraquece o efeito de qual quer conseqüência Se o efeito está em um futuro longínquo mesmo conseqüên cias tão sérias como m orrer de câncer são subjugadas pelas conseqüências peque nas e imediatas Em segundo lugar o punidor importante para a impulsividade é reconhecido e comentado Em termos mais técnicos a punição a longo prazo fun ciona como estímulo discriminativo para o comportamento verbal inclusive para palavras como armadilha e escravo Antes de todo o debate sobre a conexão entre cigarro e câncer o fumar era visto com maior complacência havia pessoas que o chamavam de mau hábito mas não era nada como hoje em dia O reconhecimento das conseqüências aversivas da impulsividade explica por que as pessoas presas em armadilhas de reforço são infelizes e não se sentem livres A armadilha de reforço se parece com a coerção à medida que a punição longínqua funciona como uma ameaça e o autocontrole é visto como esquiva da ameaça Se a pessoa presa à armadilha ouve alguém até mesmo e possivelmente ela própria falar sobre os perigos a longo prazo de fumar Sft na Figura 91 então o auto controle se torna semelhante à submissão embora evidentemente a punição por não se submeter seja m inistrada pela conexão natural entre o fumar e a doença e não por um controlador Armadilhas de reforço se conformam à lei geral de que as pessoas se sentem presas e infelizes quandoo comportamento que prefeririam em outras situações cria uma ameaça de punição A pessoa que escapa de uma armadi lha de reforço tal como a que escapa da coerção sentese livre e feliz Pergunte a quem já venceu uma dependência Não é por acaso que as conseqüências a longo prazo da Figura 92 se parecem com as conseqüências últimas discutidas no Capítulo 8 e esquematizadas na Figura 82 Muitos dos estímulos discriminativos verbais chamados regras e das relações de reforço imediatas que os acompanham existem precisamente para ajudar as pesso as a se esquivarem de armadilhas de reforço Quando o pai ou a mãe diz a seu filho Compreender o behavionsmo 197 ara recusar drogas ilícitas que lhe sejam oferecidas o objetivo dessa ordem é resguardálo de sofrer a longo prazo as conseqüências da dependência O reforço social próximo por seguir a regra vindo dos pais compensa o reforço relativamen te imediato por usar drogas que arrastaria o filho para a armadilha Vistas por esse ângulo muitas práticas culturais parecem ser esquivas de armadilha Usar sapatos exemplo dado no Capítulo 8 é semelhante ao autocontrole porque toleramos o incômodo imediato de usar sapatos pelo reforço a longo prazo de evitar doenças Sem o suporte cultural sob a forma de regras as pessoas poderiam ficar descalças impulsivamente pela comodidade a curto prazo e sofrer conseqüências terríveis a longo prazo Retornaremos a esse ponto no Capítulo 12 quando considerarmos como o comportamento que produz reforço a longo prazo é rotulado de bom enquanto o comportamento que produz reforço a curto prazo é rotulado de mau e no Capítulo 13 quando virmos como as práticas culturais se desenvolvem em resposta a conseqüências últimas Sem a proteção de regras e da obediência a elas a facilidade com que o con trolado cai em armadilhas de reforço constitui uma tentação para o controlador 0 controlador usa o reforço positivo abusivamente quando dispõe armadilhas de re forço para o controlado Todos nós reprovamos o traficante de drogas que oferece amostras gratuitas para crianças mas o que dizer do governo que estabelece arma dilhas de reforço Certas leis velhacas recorrem a loterias para conseguir mais re ceita sabendo que gente que detesta pagar impostos jogará alegremente na loteria ainda que passe por dificuldades para arcar com esse gasto Um governo que tire proveito de uma fraqueza como essa é um governo explorador Dado que as ques tões envolvidas com esse problema têm mais a ver com gerenciamento do que com liberdade a discussão da exploração aguardará o Capítulo 11 A noção de armadilhas de reforço nos ajuda a entender alguns casos de não conseguir se sentir livre e de se libertar Também nos ajuda a entender outro uso da palavra livre uso que parece ser diferente dos que discutimos até agora liberdade espiritual Uberdade espiritual Ao longo de todas as eras personagens religiosas falam de liberdade espiritual Esse discurso não tem nada a ver com liberdade social como por exemplo a liberdade de poder freqüentar a igreja de sua escolha Ao invés o foco é o mundo os bens munda nos e o conforto mundano Recomendase insistentemente às pessoas que se liber tem da servidão do apego ou da escravidãoaos prazeres mundanos O líder espiri tual indiano Meher Baba 1987 por exemplo ensinou que Uma importante condi ção da liberdade espiritual é a liberdade de todo desejo p 341 Ele continua O homem procura objetos de prazer mundanos e tenta evitar coisas que trazem dor sem se aperceber que não pode ter um e fugir do outro Enquanto houver apego a objetos de prazer mundanos ee terá de abrigar perpetuamente o sofrimento de não os possuir e o sofrimento de perdêlos após os haver conquistado O desapego duradouro liberta de todos os desejos e de todo apego p 391392 198 William M Baum A idéia de libertação do apego a coisas mundanas também tem seu lugar na literatura No romance Sidarta Hermann Hesse 1951 descreve as impressões do protagonista quando viu Buda pela primeira vez 0 Buda continuou quieto seu caminho perdido em pensamentos Sua fisionomia de paz não era feliz nem triste Parecia estar sorrindo para si próprio suavemen te Com um sorriso secreto como o de uma criança saudável ele caminhava sereno e em paz Vestia sua túnica e caminhava a passo exatamente como os outros monges mas seu rosto e seuandar o olhar de paz dirigido para o chão sua tranqüila mão pendente e cada um de seus dedos falavam de paz falavam de integridade não buscavam nada não imitavam nada e refletiam uma calma continua uma luz inapagável uma paz invulnerável p 2728 Não se limita aos livros religiosos essa ligação da liberdade espiritual à fuga dos desejos mundanos No romance Freefall de William Golding 1959 o prota gonista se depara a certa altura montado em sua bicicleta em frente à casa de Beatrice por quem está apaixonado E mesmo quando estava na bicicleta perto do farol já não era mais livre Pois essa parte de Londres tinha o toque de Beatrice Ela via essa ponte rendada e coberta de fuligem a maneira dos ônibus se alçarem sobre seu arco lhe seria familiar Uma dessas ruas seria a dela um quarto numa dessas casas pardas Eu sabia o nome da rua Squadron Street sabia também que a visão do nome numa placa de metal ou numa tabuleta deixaria meu coração de novo apertado tiraria a força das minhas pernas e me cortaria a respiração Coloquei a bicicleta na descida da ponte esperando pelo sinal verde e pelo sinal de virar à esquerda e já sabia que tinha deixado minha liberdade para trás p 79 Aqui de novo o sentido de liberdade é oposto ao sentido de ânsia apego ou desejo Embora Golding não denomine a liberdade de espiritual é evidente que ele a identificaria com a ausência de desejo por Beatrice Prazeres m undanos comida sexo belos carros férias no Caribe são to dos reforçadores Em termos técnicos os escritores precedentes parecem falar so bre alguma coisa que transcende a libertação do controle aversivo parecem falar sobre a libertação que transcende até mesmo o reforço positivo Se a gente pudesse se libertar do controle aversivo e do reforço positivo que controle sobraria Falar de liberdade espiritual supõe necessariamente que as pessoas possam se libertar de todo o controle Os behavioristas conseguem ver algumsentido nesse discurso Uma forma de compreender a liberdade espiritual se torna mais clara quando consideramos não apenas o que é denegrido mas também o que é defendido Se perseguir o prazer mundano é mau então o que é bom As respostas variam mas em geral preconizam valores como a bondade e a simplicidade Ajude os outros mesmo que isso lhe traga problemas Coma para viver em vez de viver para comer Abandone o egoísmo e os excessos De uma perspectiva comportamental prescrições desse tipo mostram conse qüências aversivas postergadas O egoísmo e uma vida luxuosa podem valer a pena Compreender o behaviorismo I 9 a curto prazo mas ao final levam à solidão à doença e ao remorso A longo prazo você será mais feliz se ajudar os outros e levar a vida com moderação Essas rela ções de reforço de longo prazo são precisamente aquelas que têm pouco efeito sobre o comportamento se não houver regras e obediência a elas Faze aos outros o que queres que te façam é uma regra que torna provável que nosso comporta mento social entre em contato com as vantagens a longo prazo de ajudar os outros A bondade e a simplicidade têm um a compensação maior do que simplesmen te evitar a dor elas também têm seu reforço positivo Nós nos beneficiamos de relacionamentos mutuamente proveitosos com outras pessoas a moderação ge ralmente leva a uma saúde melhor e os defensores da liberdade espiritual também apontam recompensas menos tangíveis Isso fica particularmente claro na citação de Hermann Hesse A palavra paz aparece cinco vezes naquela passagem O desapego de Buda significa alcançar se renidade interna tranqüilidade liberação da ansiedade de perseguir objetivos mundanos dar adeus à montanharussa do desespero e da elação Foi Meher Baba quem disse Não se preocupe seja feliz Em termos comportamentais a defesa da liberdade espiritual pode ser vista não como um argumento em prol da libertação de todos os reforços positivos mas antes como um argumento a favor de um conjunto de reforçadores positivos em contraposição a outro Tratase da qualidade de vida Comer para viver e mode ração em tudo não significa abrir mão de alimento sexo roupas ou carros signi fica que esses não deveriam ser os principais ou únicos reforçadores na vida de uma pessoa Esse argumento se assemelha ao raciocínio sobre armadilhas de reforço ilus trado na Figura 92 Os reforçadores mundanos do egoísmo e da autoindulgência que seriam análogos à impulsividade são relativamente imediatos Ao final são sobrepujados por conseqüências últimas aversivas e mais importantes tais como doença solidão e sofrimento Ao contrário o reforço pela bondade e moderação análogo ao autocontrole embora potencialmente grande é ao mesmo tempo relativamente postergado Sob esse prisma a libertação de reforçadores mundanos a curto prazo isto é a liberdade espiritual significa tãosomente fazer uma mu dança ficar sob controle do reforço a longo prazo por uma vida simples e modera da e pelo respeito pelo outro Retornaremos à idéia de comportarse pelo bem dos outros no Capítulo 12 o DESAFIO DO PENSAMENTO TRADICIONAL 0 pensamento tradicional baseado no livrearbítrio é um desafio para o ponto dé vista analíticocomportamental sobre a liberdade Se todo comportamento é deter minado pela hereditariedade e pela história comportamental como então poderá o lxidivíduo ser responsabilizado por seus atos Não seria a ruína da sociedade se não fosse possível atribuir responsabilidade às pessoas Mesmo que o determinismo fosse verdade talvez ainda assim ele devesse ser combatido por ser uma idéia Perniciosa que solapa a democracia e leva inevitavelmente ao autoritarismo Ao fim e ao cabo será que a ciência não nos diz apenas como nos comportamos Não 200 William M Boum continua muda sobre como devemos nos comportar C S Lewis 1960 coloca essa questão de forma especialmente clara em seu livro Mere Chiistianity No universo inteiro há uma coisa e apenas uma que conhecemos melhor do que seria possível a partir da observação externa Essa coisa singular é o Homem Não somente observamos os homens nós somos homens Nesse caso nós temos por assim dizer informação privilegiada nós estamos no saber E por isso sabemos que os homens se encontram sob uma lei moral que não foi formulada por eles que não pode ser por eles inteiramente esquecida mesmo quando o tentam e a que sabem que devem obedecer Observem o seguinte Quem quer que estudasse o Homem olhando de fora como estudamos eletricidade ou repolhos não conhe cendo nossa linguagem e conseqüentemente não sendo capaz de obter nenhum conhecimento interno sobre nós mas meramente observando o que fazemos jamais conseguiria obter a mais tênue prova de que temos essa lei moral Como poderia Pois suas observações só lhe mostrariam o que fazemos e a lei moral diz respeito ao que devemos fazer p 33 O argumento de Lewis é expresso em termos do dualismo aqui dentro lá fora que criticamos nos Capítulos 2 e 3 Tratamos sobre ter regras Lewis escreve sobre ter uma lei moral no Capítulo 8 Mas a objeção permanece o que pode a ciência nos dizer sobre como devemos nos comportar Os capítulos restantes deste livro tratam dessas questões No Capítulo 10 veremos como o determinismo ainda admite a nõçãò de responsabilidade O Capí tulo 11 examina como o pensamento comportamental poderia ajudar a resolver problemas sociais sem ameaçar nossa liberdade No Capítulo 12 avaliamos até que ponto a ciência pode chegar na compreensão do como devemos nos comportar Nos Capítulos 13 e 14 analisamos a cultura e como ela se transforma e como o pensamento comportamental pode expandir ao invés de mutilar a democracia RESUMO O único uso das palavras livre e liberdade que conflita com o pensamento com portamental é aquele que implica o livrearbítrio Outros usos têm mais a ver com sentirse livre e feliz Liberdade social política e religiosa consiste em liberdade de coerção que definimos aqui como liberdade da ameaça de punição Quando algu mas de nossas alternativas comportamentais são punidas não podemos nos sentir livres Mesmo se o comportamento é positivamente reforçado a curto prazo se ele leva a uma punição maior a longo prazo a pessoa que cai nessa armadilha de reforço não pode se sentir livre Quando nosso comportamento é mantido por outro lado por reforço positivo a curto e a longo prazo e escolhemos entre dife rentes reforçadores sentimonos tanto livres como felizes Até mesmo a liberdade espiritual pode ser compreendida em termos comportamentais como quando ve mos que seus defensores encorajam o afastamento do reforço pessoal mundano a curto prazo e a aproximação do reforço a longo prazo proveniente da simplicidade e da solidariedade Compreender o behoviorismo 201 Embora a maior parte dos usos das palavras livre e Uberdade possa ser inter pretada comportamentalmente tais interpretações implicam uma mudança sobre coiuo vemos as pessoas a cultura o governo a justiça a educação e outras institui ções sociais Exceto pelo livrearbítrio os outros tipos de liberdade possuem fun ções sociais úteis Eles indicam o caminho para uma questão mais básica a felicida de Defensores da liberdade social se opõem ao uso de ameaças e punição para controlar o comportamento porque as pessoas que são coagidas são infelizes Os defensores da liberdade espiritual dão força aos efeitos de relações de reforço que produzem uma maior felicidade a longo prazo Quando a sociedade dispõe de re forço positivo para comportamentos desejáveis e apóia relações de reforço de lon go prazo seus cidadãos são produtivos e felizes leituras adicionais Golding W 1959 Free fali Nova York Harcourt Brace and World Romance sobre um jovem artista num período crucial de sua vida explorando a questão da liberdade e da responsabilidade Hesse H 1951 Siddhartha Nova York New Directions Romance sobre a caminhada espiritual de um jovem na índia no tempo de Buda Lewis C S 1960 Mere Christianity Nova York Macmillan Coletânea de artigos desse famoso pensador religioso Lewis apresenta a objeção à visão científica do mundo de forma clara e em termos modernos Meher Baba 1987 Discourses Myrtle Beach SC Sheriar Press 7 ed Coletânea de deba tes sobre questões espirituais por um líder espiritual indiano contemporâneo Sidman M 1989 Coercion and ítsfallout Boston Authors Cooperative Esse livro trata extensamente das desvantagens do controle aversivo e das vantagens de sua substituição pelo reforço positivo Skinner B F 1971 Beyond freedom and dignity Nova York Knopf Nesse livro Skinner expôs a conceituação básica do ponto de vista analíticocomportamental sobre a liberdade O capítulo presente faz uso substancial dos Capítulos 1 e 2 de Skinner TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 9 Armadilha de reforço Impulsividade Autocontrole Uberdade espiritual Coerção Liberdade social Controle aversivo N de T Título traduzido em português ver Apêndice 10 Responsabilidade mérito e culpa E m Beyond freedom and dignity Skinner afirmou que o mentalismo não só interfe re com a busca de explicações científicas do comportamento como também não é prático no sentido de que nos impede de solucionar problemas sociais como a guerra o crime e a pobreza Dois termos mentalistas por ele criticados foram méri to e culpa Skinner discutiu mérito e culpa em conexão com o conceito de dignida de mas em minha experiência as afirmações sobre implicações sociais do beha viorismo giram mais freqüentemente em torno da noção afim de responsabilidade Consideramos que as pessoas têm dignidade quando elas podem ser consideradas responsáveis Neste capítulo enfocaremos o conceito de responsabilidade seus fundamentos filosóficos e suas implicações práticas A RESPONSABILIDADE E AS CAUSAS DO COMPORTAMENTO Em muitos de seus usos a palavra responsável parece ser uma forma de falar sobre causas Quando dizemos A fiação danificada foi responsável pelo incêndio pode ríamos igualmente dizer A fiação danificada causou o incêndio Podem existir também outros fatores mas o que queremos dizer é que a fiação danificada foi o fator crucial Mas o que queremos dizer quando dizemos que Marcus foi responsável pelo incêndio Substituir a fiação danificada por Marcus tem dois tipos de implicações Primeiro há a implicação prática de que Marcus pôs fogo no local tratase de uma ligação potencialmente importante e pode requerer alguma ação de nossa parte Segundo há a implicação de que Marcus causou o incêndio da mesma forma que um a fiação danificada o faria Voltaremos às considerações práticas mais adiante antes precisamos examinar a noção de que uma pessoa pode ser uma causa 204 William M Baum Livrearbítrio e visibilidade do controle A idéia de que uma pessoa possa ser responsável por uma ação no sentido de causar essa ação é baseada na noção de livrearbítrio discutida no Capítulo 1 No modo de pensar mais corriqueiro a diferença entre uma fiação danificada causar um incêndio e Marcus causar um incêndio está em que Marcus escolheu livremente provocar o incêndio A fiação danificada é atribuída a fatores ambientais tais como dilatações e contrações e o clima enquanto a ação de Marcus é atribuída ao pró prio Marcus Embora possa parecer quase senso comum que Marcus e a fiação danificada devessem ser tratados de forma diferente a distinção entre eles tende a desapare cer sob um exame mais atento A fiação funcionava bem logo que foi instalada Ela deteriorou depois de muito tempo muitos invernos muitos verões anos de con trações e expansões No fim ela se desgastou e provocou o incêndio Com Marcus de modo semelhante uma combinação de fatores genéticos e uma história de eventos ambientais sua educação fez com que ele se tornasse danificado e provocasse o incêndio Marcus como a fiação é apenas o instrumento através do qual o incên dio ocorreu Essa maneira de ver a ação de Marcus pode parecer estranha porque estamos acostumados a traçar uma linha divisória entre o comportamento das coisas e das pessoas O comportamento das pessoas parece diferente do comportamento das coisas por duas razões as alternativas dentre as quais uma pessoa pode escolher parecem óbvias e os fatores que determinam a ação escolhida permanecem ocul tos Poucos de nós ateamos fogo em casas parece óbvio que Marcus poderia se comportar exatamente como o restante de nós Mas será isso tão óbvio Muitas vezes desculpamos as ações de uma pessoa dizendo que ela não tinha escolha Imagine que alguém estivesse apontando uma arma para a cabeça de Marcus quando ele ateou o fogo poderíamos dizer que ele não teve escolha Nesse ponto chegamos a uma contradição Se Marcus tinha escolha antes ele tem escolha agora Ele poderia se recusar e arriscar que lhe estourassem a cabeça Ou Marcus tem escolha em ambas as situações isto é quando está com a arma apontada para sua cabeça e quando age por si próprio ou não tem escolha em nenhuma das duas Marcus parece não ter escolha apenas porque o motivo a arma de sua ação é visível Quanto mais viermos a saber das razões que levaram Marcus a atear o fogo menos diremos que ele escolheu livremente Digamos que ele tenha sido violentado quando criança ou que seja piromaníaco Começamos a pensar nele como danificado tanto quanto a fiação e dizemos que ele não poderia ter evitado aquela ação A tentação de recorrer ao livrearbítrio surge porque não podemos ver nada de errado em Marcus do mesmo modo como podemos ver em um fio desgastado Se não há uma causa clara e atual como uma arma apontada para a cabeça de Marcus então temos de olhar para eventos no passado Esses no entanto podem Compreender o behovíorismo 205 ser difíceis de descobrir Recorrer ao livrearbítrio é uma saída fácil mas não é de forma nenhuma um a explicação do ponto de vista científico Atribuição de mérito e culpa Quando a responsabilidade é ligada ao livrearbítrio e à idéia de que as pessoas causam seu próprio comportamento então parece simplesmente natural atribuir mérito e culpa às pessoas pelas ações que aprovamos ou desaprovamos Mérito e culpa são outra maneira de falar em causas mas com o elemento adicional da aprovação e desaprovação Ações louváveis são reforçadas ações censuráveis são punidas Discutiremos ações boas e más mais à frente no Capítulo 12 mas para a presente discussão é suficiente notarmos que as pessoas procuram o mérito e evitam a culpa As pessoas inventam os mais variados tipos de desculpa quando são pilhadas em um ato vergonhoso desde Foi o diabo que me fez fazer isso até minha infân cia infeliz O objetivo é atribuir a culpa a alguma outra coisa em outras palavras colocar as causas do comportamento no ambiente Advogados de defesa pedem compaixão Convencem juizes a considerar circunstâncias atenuantes na vida de pessoas condenadas aos mais diferentes tipos de crime Do ponto de vista comporta mental circunstâncias atenuantes significam fatores ambientais e com paixão significa levar em conta esses fatores ambientais Em contraste quando se atribui mérito às pessoas por algum feito digno de elogio elas muitas vezes resistem a qualquer sugestão de que fatores ambientais possam ter contribuído de alguma forma Empresários bemsucedidos freqüente mente atribuem suas realizações a trabalho árduo e sacrifício e raramente à sorte Artistas escritores compositores e dentistas muitas vezes evitam ou se ressentem com questões sobre as fontes de suas idéias Ninguém quer falar sobre as circuns tâncias atenuantes de suas ações meritórias a menos que a modéstia seja tida como um a virtude maior do que a ação meritória Se estamos dispostos a atribuir ao ambiente a culpa por ações passíveis de punição então por que resistir em atribuir ao ambiente o mérito por ações passí veis de reforço As razões para isso não são difíceis de localizar Atribuir culpa ao ambiente é um comportamento operante principalmente verbal É reforçado por evitar punição Nós nos livramos de situações difíceis jogando a culpa em fatores ambientais As pessoas resistem em atribuir mérito ao ambiente porque isso teria um efeito análogo porém com perda de mérito em vez de perda de culpa O com portam ento de atribuir mérito ao ambiente seria punido pela perda de reforço Enquanto se mantiver a prática de associar reforço à atribuição de mérito as pesso as tenderão a esconder os fatores ambientais aos quais poderia ser atribuído méri to Se ao invés o reforço por ações adequadas fosse dispensado sem que fosse necessário fingir que as ações tiveram uma origem inteiramente interna as pessoas se sentiriam mais livres para reconhecer os fatores ambientais como fez ísaac Newton quando disse Se vi tão longe é porque me apoiei nos ombros de gigan 206 William M Baum tes Se desvincular a punição da culpa pessoal resulta em compaixão desvincular reforço de mérito pessoal resulta em honestidade Compaixão e controle No passado a idéia de que as pessoas escolhem de acordo com o livrearbítrio era freqüentemente atrelada ao uso de punição visando persuadir as pessoas a evitar ações inadequadas Cortavamse as mãos de ladrões enforcamentos públicos eram comuns Nos Estados Unidos hoje esse tipo de idéias e práticas está cedendo lugar a um tratamento mais humano do comportamento inadequado A noção de que po dem existir circunstâncias atenuantes permite ir além da responsabilização e puni ção de criminosos Ela permite aos juizes maior flexibilidade na decisão das penas O adolescente que rouba um carro para impressionar seus amigos pode receber um tratamento diferente do adulto que fez de roubar carros uma profissão De um ponto de vista prático o comportamento criminoso levanta dois tipos de questão 1 Podese modificar o comportamento 2 Se a resposta é sim o que deve ser feito para modificálo Se a resposta à primeira pergunta for não então a segunda pergunta passa a ser sobre como proteger o resto da sociedade de um criminoso incorrigível Quando nos concentramos em como modificar o compor tamento levantamos questões práticas por exemplo sobre a utilidade de prender o malfeitor o benefício que poderia lhe trazer um treinamento profissional ou a ajuda que poderia advir de um aconselhamento psicológico Quanto mais reconhe cermos que o comportamento está sob controle dos genes e da história ambiental mais nos sentiremos livres para sermos compassivos e práticos em relação à corre ção de malfeitores Há muita controvérsia acerca de infligir a pena de morte nos casos de crimes hediondos A execução não pode reduzir a probabilidade do comportamento recor rente porque nenhum outro comportamento ocorrerá Seus defensores geralmen te a consideram um impeditivo para outros delinqüentes em potencial Alguns es tados dos EUA substituíram a pena de morte pela prisão perpétua mas depois de algum tempo a taxa de homicídios não mostrou mudanças Até agora não há evidências que apóiem a idéia de que a pena de morte age como um impeditivo Enquanto não haja evidências nesse sentido e considerando que às vezes podemos executar pessoas inocentes a oposição à pena de morte parece bem fundamenta da Contraargumentos são possíveis no entanto porque a prisão perpétua não serve a outra função senão a de m anter essa pessoa fora das ruas e manter alguém na prisão é altamente custoso aos contribuintes O debate continuará mas poderia ser considerado em termos mais práticos do que as noções errôneas que as pessoas têm sobre escolhas livres e retribuição Se é melhor ser prático em relação ao comportamento inadequado o mesmo deve ser verdade em relação ao comportamento adequado As vantagens de ser prático em relação ao comportamento adequado vêm sendo compreendidas mais devagar principalmente porque as pessoas recebem louvor por ações adequadas apenas enquanto as razões da virtude permanecem obscuras Quando vimos a sa Compreender o behoviorismo 207 ber que um filantropo ganha desconto no imposto de renda damos a ele menos crédito pela doação Se as pessoas fossem recompensadas por obedecer o limite de velocidade em vez de serem multadas por desobedecerlhe os que obedecem não poderiam mais se sentir virtuosos e superiores àqueles que desobedecem Pessoas que se apegam ao mérito freqüentemente chamam de suborno o uso de recompensas com o objetivo de fortalecer comportamentos desejáveis como se houvesse algo de ignóbil em agir corretamente por razões claras Em 1991 a apresentadora Oprah Winfrey promoveu uma discussão em seu programa de TV sobre um projeto social altam ente eficiente dirigido a jovens adolescentes objetivando a prevenção da gravidez e a conclusão do ensino médio Tratavase de uma entidade privada que estava ajudando adolescentes que já tinham engravidado uma vez pagando a elas semanalmente uma pequena quantia em dinheiro desde que permanecessem na escola não engravidassem e freqüentassem aulas especiais sobre nutrição e cuidados infantis Muitos membros da audiência protestaram con tra o programa com argumentos como Eu não posso concordar em pagar para as pessoas fazerem o que não é mais do que sua obrigação Ironicamente objeções como essas surgiram apesar do programa ter economizado consideráveis recursos dos contribuintes A m aior parte das mães adolescentes nunca termina o ensino médio e precisa receber pensão da previdência social para sobreviver Freqüente mente elas têm um filho atrás do outro e continuam na folha de pagamento da previdência As participantes do programa entretanto que tinham estado todas no programa do governo agora já não tinham mais filhos estavam terminando a escola e estavam se libertando da dependência da assistência social Mesmo se o programa estivesse utilizando fundos federais e não estava ele ainda assim esta ria representando um a economia porque seu custo era irrisório em relação aos gastos com as pensões do governo Insistir que as pessoas deveriam agir adequada mente por razões delas próprias isto é por razões obscuras e chamar o reforço de suborno apenas bloqueiam o uso do reforço para fortalecer o comportamento desejável e poupar o dinheiro de quem paga impostos A reação daquela audiência mostra como tem sido muito mais lenta a aceita ção da idéia de abrir mão do mérito pessoal em favor do reforço programado Ao decidir se deveriam punir o comportamento das meninas essas mesmas pessoas teriam provavelmente falado de compaixão e circunstâncias atenuantes No en tanto no momento de decidir sobre a conveniência de reforçar comportamentos corretos os participantes do debate nunca levaram em consideração circunstâncias atenuantes O program a procurava atingir jovens adolescentes que já tinham fi lhos uma população de risco Muito embora algumas mulheres no auditório fos sem mães solteiras que bem poderiam ter trazido à baila os fatores ambientais o destino provável das meninas se nada fosse feito não foi capaz de promover a aceitação do reforço Para que as decisões sobre política social tornemse mais viá veis temos de considerar os efeitos ambientais tanto nas decisões sobre o reforço quanto sobre a punição N de T Esse exemplo não se refere ao Brasil 208 William M Baum A RESPONSABILIDADE E AS CONSEQÜÊNCIAS DO COMPORTAMENTO Na prática a responsabilidade se resume a uma decisão acerca de impor ou não impor conseqüências Ao tentar decidir se punirão um crime as pessoas podem falar em justiça e moralidade mas ao final a decisão se resume a aplicar ou não uma punição e em que grau fazêlo Como analista comportamental minha ten dência é olhar para esse final o resultado prático Se meu filho quebra uma janela minha decisão sobre punilo ou não depende mais do que espero obter com a puni ção do que de considerações sobre justiça Será que reduzirei a probabilidade de uma repetição ou vou apenas deixálo ressentido A situação pode ser particular mente complicada se ele confessou a infração devo punir para evitar a repetição ou reforçar para fortalecer o dizer a verdade Se você declara que considera Marcus responsável por uma ação quebrar uma janela ou salvar sua vida isso me diz mais acerca de seu comportamento do que sobre o comportamento de Marcus Diz que você está inclinado a estabelecer conseqüências a punir ou reforçar o comportamento de Marcus Se você acredita em livrearbítrio isso apenas reflete um pouco mais as suas tendências você pro vavelmente tem mais propensão a punir do que a reforçar Sua tendência a se comportar dessa forma entretanto pode não ter nada a ver com a crença no livre arbítrio Que não é necessário acreditar em livrearbítrio tornase evidente quando examinamos o modo pelo qual as pessoas usam a palavra responsabilidade à qual nos voltamos agora 0 que é responsabilidade O filósofo Gilbert Ryle argumentou que decidir se um ato é responsável assemelha se a decidir se ele é inteligente Como vimos no Capítulo 3 nenhum critério isolado governa a decisão sobre a inteligência de uma determinada ação procuramos gru pos ou padrões de atividade em que a ação particular se encaixe Uma pessoa faz um lance brilhante em um jogo de xadrez o lance foi inteligente ou foi produto da boa sorte Uma pessoa rouba dinheiro do patrão o roubo foi parte de um padrão de atividade desonesta e criminosa ou foi uma aberração Defender uma ação com o argumento de insanidade temporária tem duas implicações Primeiro implica que o ato não foi característico Chamamse teste munhas para depor que o homem que espancou sua nam orada em um acesso de ira não é de natureza violenta é carinhoso com animais e crianças ajuda pessoas idosas a atravessar a rua e jamais levanta a voz No exemplo em que Marcus provo ca o incêndio perguntamos se ele tem sido sempre um bom cidadão ou se já se envolveu em outros atos antisociais Segundo a insanidade temporária significa que punir o ato seria inútil se é pouco provável que o comportamento jamais se repita não há motivo para impedilo Se provocar incêndios não combina em nada com as características de Marcus então não precisamos ter medo de que a trans gressão se repita Compreender o behaviorismo 209 A noção de responsabilidade tem muito em comum com as noções de inten ção e ação intencional discutidas no Capítulo 5 Quando determinada ação é parte de um padrão e seu reforço é óbvio tendemos a dizer que foi feito intencionalmen te e que o indivíduo deveria ser responsabilizado por ele Em uma abordagem prática da transgressão o problema é o reforço O caixa de banco é tentado a furtar por causa do dinheiro Os gerentes de banco normalmente tentam impedir esse tipo de comportamento ameaçando punilo e efetivamente levando a cabo a puni ção caso ele ocorra A am eaça e a punição visam eliminar a tentação e o reforço Responsabilizamos a pessoa no sentido de que fazemos a ameaça e punimos o comportamento caso ele ocorra Embora seja comum falar sobre responsabilidade no contexto de atos repreen síveis o raciocínio pode ser estendido também a atos meritórios A questão quanto a ações desejáveis é se devemos reforçálas ou não Se uma criança faz sua lição de casa regularmente talvez não seja necessário fornecer nenhum reforço especial mas se a lição de casa é feita irregularmente e apenas com cobranças então pode ser essencial reforçar a execução da tarefa com elogios e presentes especiais Isso é errado E suborno Se há boas razões reforçadores a longo prazo para o compor tamento então o reforço especial deveria ser necessário apenas para instalar o comportamento Depois que a lição de casa for feita regularmente os reforçadores especiais podem ser gradualm ente eliminados Uma política desse tipo justificaria programas como aquele que paga para mães evitarem a gravidez e permanecerem na escola depois que a m ulher se formar e for capaz de se sustentar como normal mente esperaríamos a pensão pode ser suspensa A pensão é claro deve ser pe quena em comparação ao reforço por se autosustentar Quando alguém se comporta de forma responsável essa pessoa está se com portando de uma form a que a sociedade julga útil Habitualmente isso significa comportarse de acordo com relações de reforço de longo prazo nos termos do Capítulo 9 esse uso de responsável coincide com autocontrole CA na Figura 92 Se Maria guarda suas economias em vez de esbanjálas ela está se comportando de forma responsável Igualmente se Maria permanece na escola de acordo com o reforço a longo prazo em vez de abandonála de acordo com o reforço a curto prazo ela estará se com portando de forma responsável O comportamento responsável necessita ser mantido Se o reforço a longo prazo por permanecer na escola CA é insuficiente para manter o comportamento e se essa permanência é desejável então as instituições privadas ou públicas têm de oferecer reforço de curto prazo explícito para a permanência suficiente para contrabalançar o reforço a curto prazo por abandonar a escola Q na Figura 92 E por isso que o pagam ento a mães adolescentes por permanecer na escola talvez seja ao mesmo tempo prático e necessário Do ponto de vista comportamental falar sobre responsabilidade é discutir se é desejável ou útil estabelecer conseqüências Dizer que consideramos uma pessoa responsável é dizer que esperamos mudar seu comportamento punindoo ou refor çandoo As relações de reforço que o mantém ou deveriam mantêlo são claras e desejamos contrabalançálas ou aumentálas Dizer que Marcus não deveria ser considerado responsável é dizer que ele c incorrigível possivelmente insano ou 210 William M Baum que a ação nunca acontecerá novamente foi uma aberração envolvendo sorte oq j azar Em qualquer dos casos seria inútil punir ou reforçar o comportamento Di zer que consideramos Marcus responsável ou que desejamos tornálo responsável 4 dizer que seria útil punir seu comportamento inadequado ou reforçar seu compor tam ento adequado Os analistas de comportamento norm alm ente recomendam fortalecer 0 comportamento desejável com reforço positivo Considerações práticas a necessidade de controle Pessoas que prezam a liberdade opõemse ao gerenciamento por coerção porque reconhecem que a coerção resulta a longo prazo em infelicidade e em revolta Muitas pessoas que se opõem à coerção generalizam e afirmam se opor a qualquer forma de controle Baseiam sua posição na idéia de que as pessoas deveriam ter 0 direito de escolher livremente Na perspectiva comportamental não existe nada semelhante a escolher livre f mente no sentido de exercer livrearbítrio ou escolher sem explicação No Capítulo í 9 discutimos o escolher livremente no sentido de escolher com base em reforço positivo condição na qual as pessoas tendem a se sentir livres e felizes E como na perspectiva comportamental todas as ações são controladas isto é são explicá veis pela herança genética e pela história ambiental a questão de fugir ao contro le não se coloca O pai ou 0 administrador que se recusa a controlar o comporta mento de filhos ou de empregados apenas deixa o controle para outros e para 0 í acaso O controle ocorrerá mas vindo de outras crianças outros empregados e í pessoas estranhas sabese lá com que resultados Pais e administradores que se recusam a controlar podem ser chamados de irresponsáveis no sentido em que í responsável denota comportarse de acordo com relações de reforço de longo pra zo O tratamento responsável da administração e dos problemas sociais em geral í consiste em planejar e criar ambientes em que as pessoas se comportarão bem i Essa idéia coloca duas grandes questões que serão tratadas no restante do livro quem controlará Como o controle será executado Estabelecer consequências Gostemos ou não reconheçamos ou não estamos constantemente reforçando e punindo o comportamento uns dos outros Provavelmente a maioria das vezes não j estamos conscientes das conseqüências que dispensamos para o comportamento r alheio Uma frase que digo sem pensar pode arrasálo ou animálo embora eu não fique sabendo nada do resultado Pessoas em posição administrativa entretanto pais professores supervisores ou governantes têm de estar conscientes das con seqüências que provêem é parte de sua função Para captar o sentido dessa admn nistração deliberada de conseqüências podemos usar a palavra estabelecer e falai em estabelecer reforço e punição 1 Estabelecer conseqüências uma parte da atividade gerencial é em si mes mo comportamento operante e está sob controle de relações de reforço de longQ Compreender o behoviorismo 2 1 prazo Educar filhos adequadamente determina o êxito das crianças na vida adul ta Paatento reconhece os sinais de realização última de uma criança desem penho na escola amigos esporte e se comporta de modo a produzilos Da mes ma forma uma supervisão adequada determina a rentabilidade de um negócio 0 comportamento do administrador competente está sob controle de sinais que pre dizem um bom resultado final reforçadores condicionados tais como registros de freqüência relatórios de controle de qualidade e vendas Muitos dos reforçadores e punidores que controlam o comportamento do ge renciador freqüência notas escolares e assim por diante provêm daqueles que estão sendo controlados Esse fato deveria ser significativo para todos que prezam a liberdade porque abre a porta para o reconhecimento e planejamento explícito do controle mútuo não apenas em administração mas em todas as relações huma nas Consideraremos a questão do controle mútuo no próximo capítulo Por en quanto passamos à questão de como controlar Que tipo de controle Vimos no Capítulo 9 que os analistas comportamentais defendem o uso de reforço positivo em vez de métodos aversivos Quando o comportamento é controlado por punição e ameaças as pessoas dizem se sentir aprisionadas infelizes ressentidas e muito provavelmente reclamam esquivamse e revoltamse A coerção é um méto do insatisfatório de controle porque habitualmente a longo prazo o tiro sai pela culatra Embora ela possa ser eficiente a curto prazo mais cedo ou mais tarde seus resultados são superados por seus deploráveis efeitos colaterais Quando o comportam ento está sob controle de um reforço positivo adequa do as pessoas dizem que se sentem livres felizes e respeitadas Sentemse livres porque não são punidas por suas escolhas felizes porque suas escolhas resultam em coisas boas e respeitadas porque os reforçadores contam a favor de seu mérito Todavia dizer reforço positivo adequado implica algo importante Tal como o gerenciamento por coerção o gerenciamento por reforço positivo pode retroagir negativamente Quando isso ocorre há geralmente duas razões má combinação de comportam ento e reforçador e desconsideração da história Discu timos brevemente a idéia dessa má combinação no Capítulo 4 quando observamos que os reforçadores freqüentemente induzem certos tipos de comportamento e são também particularmente eficientes em reforçálos O comportamento de bicar o disco em pombos é um bom exemplo pombos tendem a bicar especialmente objetos brilhantes em situações em que provavelmente obterão alimento e se as bicadas em um disco forem reforçadas com comida essa resposta é instalada com muita rapidez Igualmente quando uma criança interage com a mãe ou o pai Manifestações de afeto tocar sorrir elogiar tornamse reforçadores poderosos que rapidamente fortalecem o comportamento que os produz Outros reforçadores tais como dinheiro e presentes podem funcionar mas não tão bem sem afeto eles Podem ao final não dar certo A não ser que pais professores e outras pessoas que cuidam da criança dêem o suporte do afeto ao reforço por símbolos por exemplo fichas que podem ser trocadas por coisas e privilégios concedidos para reforçar 212 William M Baum comportamentos adequados esse tipo de gerenciamento de conseqüências prova velmente não produzirá efeito Ao lidar com adultos um fator importante no gerenciamento é a afiliação É visível que as pessoas trabalham melhor quando participam de grupos de tamanho médio nos quais são membros estáveis Com o correr do tempo as reiteradas interações com as mesmas pessoas tendem a tornálas uma poderosa fonte de re forço social Os japoneses há muito tempo usam o poder da afiliação em seu gerenciamento industrial e a indústria norteamericana está começando a seguir o exemplo complementando ou substituindo o isolamento da linha de montagem por círculos de qualidade isto é grupos que trabalham como uma unidade fabri cando um produto do início ao fim Como para crianças o reforço monetário para adultos funciona melhor se estiver sustentado por reforço social A segunda razão de insucesso a desconsideração da história pode ser entendi da por analogia ao momentum em física Tentar alterar um comportamento que foi modelado por uma longa história de poderoso reforço superpondo uma nova rela ção de reforço artificial pode ser análogo a tentar desviar a rota de um ônibus em alta velocidade atingindoo com uma bola de borracha Parte da competência do bom terapeuta é reconhecer as relações de reforço antigas e potentes Nesse ponto os psicanalistas estão certos para compreender o comportamento do adulto você tem de olhar muitas vezes para os eventos da infância Por exemplo se uma mu lher tem um comportamento inadequado com homens um terapeuta compor tamental hábil procurará descobrir se seu pai era carinhoso que tipo de comporta mento ele reforçava com afeto e que tipo de comportamento sua mãe tinha com seu pai A melhor m aneira de prevenir o furto é prover uma história de reforço para o comportamento que chamamos de respeito pela propriedade alheia ou com portamento incompatível com roubar O caixa de banco que desvia fundos muito provavelmente não possui tal história e seria preferível se o gerente do banco que faz ameaças ou emprega pequenos incentivos esperando evitar que isso volte a acontecer afastasse a pessoa da tentação As intervenções que ignoram a história de reforço do comportamento atual muito provavelmente serão malsucedidas O reforço positivo pode ser o meio mais poderoso de modificar o comporta mento mas deve ser aplicado corretamente Um entusiasmo ingênuo não pode substituir a compreensão de indução reforço regras e conseqüências postergadas Sem a devida compreensão o reforço positivo como qualquer outra técnica pode dar errado de diversas maneiras e pode mesmo ser usado abusivamente No Capf tulo 11 veremos como os analistas de comportamento lidam com o problema do gerenciamento correto e eqüitativo RESUMO A palavra responsável é freqüentemente usada no discurso sobre causas como quan do dizemos que um terrem oto foi responsável por um desastre Quando aplicado a pessoas esse uso suscita todos os problemas do livrearbítrio porque as pessoas são vistas como origem ou causa de seus comportamentos As pessoas são vistas como causa de seu próprio comportamento quando suas escolhas parecem óbvias e Compreender o behoviorismo 213 aS causas ambientais permanecem obscuras Quando os fatores ambientais tor namse claros freqüentemente se diz que a pessoa não tinha escolha À medida que os determinantes genéticos e ambientais são compreendidos o discurso sobre livrearbítrio e responsabilidade tende a dar lugar ao discurso sobre circunstâncias atenuantes Do ponto de vista prático as ações meritórias são aquelas que a comunidade reforça ações condenáveis são aquelas que a comunidade pune As ações condená veis são freqüentemente atribuídas a fatores genéticos e ambientais circunstân cias atenuantes e tratadas com compaixão enquanto feitos meritórios são nor malmente atribuídos à pessoa As pessoas tentam obter crédito por suas ações para assegurar que sejam reforçadas Reconhecer os efeitos do ambiente em ações meri tórias resulta em honestidade Se podemos ser práticos e compassivos quanto a punir comportamentos inadequados podemos ser práticos e honestos quanto a reforçar comportamentos desejáveis Na prática decidir se alguém é ou não é res ponsável vem a ser uma decisão sobre estabelecer ou não conseqüências O apelo à insanidade temporária ou a uma aberração do comportamento implica que ne nhum benefício prático advirá da punição Chamar uma ação de afortunada su põe a inutilidade do uso do reforço Pais professores supervisores e governantes gerenciariam o comportamento com maior eficiência se tomassem decisões sobre reforço e punição abertamente Sua eficiência seria máxima se fortalecessem o comportamento desejável com reforço positivo Controle por ameaças e punição pode funcionar a curto prazo mas resulta em revoltas e desafeto a longo prazo Gerenciamento por reforço positivo entretanto requer cuidado e habilidade Não se consegue um bom resultado quando o reforço é inadequado e a história é negligenciada Em nossa espécie o reforço adequado ao gerenciamento é pelo menos em parte social Dinheiro e outros símbolos de reforçadores parecem ser mais eficazes quando acompanhados pelo reforço da aprovação e do afeto de pes soas significativas O menosprezo da história leva a maus resultados quando se presume uma história normal que na realidade não existe Uma história de refor ço deficiente ou anormal pode se sobrepor até mesmo às melhores relações de reforço de gerenciamento A correção dos efeitos de uma longa história exige tera pia até que eles sejam corrigidos o gerenciador age corretamente ao evitar con textos em que a história tem probabilidade de gerar comportamento inadequado leituras adicionais Hineline P N 1990 The origins of environmentbased psychological theory Journal ofthe Experimental Analysis of Behavior 53 305320 Esse artigo que é uma resenha do livro clássico de Skinner Behavior of organisms compara explicações do comportamento basea das no ambiente com explicações baseadas no organismo Skinner B F 1971 Beyond freedom and digmty Nova York Knopf Os Capítulos 3 4 e 5 sobre dignidade punição e alternativas à punição tratam de temas semelhantes àqueles tratados no presente capítulo N de T Título traduzido em português ver Apêndice 214 William M Baum TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 10 Afiliação Circunstâncias atenuantes Estabelecimento de conseqüências Má combinação de comportamento e reforçador Responsabilidade Relações gerenciamento e governo c Ueres humanos são criaturas altamente sociais Muito de nossa estimulação reforço e punição provêm uns dos outros O dar e receber estímulos e conseqüências nos leva a estabelecer relacionamentos uns com os outros Consideramos natural que uma pessoa normal se relacione com seus pais irmãos outros parentes cônjuge amigos e vizinhos Tais relações pessoais são características de nossa espécie e também podem ser vistas em outras espécies As relações especiais que denominamos gerenciamento e governo originaramse mais recentemente e nós as associamos exclusivamente com a cultura Neste capítulo examinaremos como os analistas comportamentais podem tratar do tópico relativo às relações em geral e em especial àquelas de gerenciamento e governo Pessoas que criticam o behaviorismo fre qüentemente afirmam que essa abordagem levará a práticas desumanas de geren ciamento e a governos totalitários Este capítulo mostra por que essas acusações são falsas RELAÇÕES Quando dizemos que dois indivíduos têm uma relação Encontros isolados a gran des intervalos de tempo não bastam Se o carteiro e eu nos cumprimentamos uma vez por mês dificilmente se poderá dizer que temos uma relação mas se nos cum primentássemos diariamente já poderia haver algum fundamento para essa afir mação Embora a freqüência de interações necessária para dizer que duas pessoas têm um relacionamento varie de falante a falante quanto maior ela for maior será a probabilidade desse tipo de comportamento verbal Se uma relação consiste em interações freqüentemente repetidas ainda pre cisamos esclarecer o que queremos dizer com interação As Figuras 7J e 91 mos 216 William M Baum tram sob forma esquemática dois tipos de interação um episódio verbal e episódio coercivo Tais episódios poderiam nunca se repetir eu poderia perguntar as horas a alguém que jamais voltasse a ver assim como poderia entregar minha I carteira a um ladrão com quem jamais me encontrasse de novo Quando tais episó j dios contudo se repetem continuamente entre duas pessoas então essas duas pessoas têm uma relação Para entender o que interação significa em termos compor tamentais precisamos entender um a característica que episódios verbais episódios í coercivos e outras formas de interação têm em comum o reforço mútuo Reforço mútuo Classificamos episódios verbais e episódios coercivos como sociais porque o com portamento de cada pessoa provê reforço para o da outra Quando uma pessoa observa outra um detetive em uma investigação policial ou um espião nada de v social ocorre porque o reforço ocorre somente em um a única direção Uma repre í sentação teatral normalmente não pode ser considerada social ela só se torna so ciai quando o comportamento do ator é reforçado pela audiência Para um episódio ser denominado interação social e ser considerado como base de um relacionamen to o reforço deve ser mútuo A Figura 111 mostra um esquema genérico de interação social Assim como em esquemas anteriores o sinal de doispontos indica controle de estímulo e a seta liga a conseqüência ao comportamento que a produz Uma pessoa inicia o episódio emitindo um comportamento operante qualquer C sob controle da situação Sft que inclui a outra pessoa o interlocutor ou aquele que responde O comportamen to Cj poderia ser o enunciar de uma regra fazer um a ameaça ou promessa como por exemplo Se você não trabalhar vou bater em você ou Se você trabalhar eu lhe pago poderia ser sorrir ou oferecer um presente Esse comportamento pro duz um estímulo discriminativo S r tornando provável que o interlocutor respon Agente que inicia Si C SÏ SP2 C12 i î I Agente que responde 1 1 1 Sr C r Sr Srí Cm Figura 111 Esquema genérico de um episódio social mostrando reforço mútuo Setas indicam comportamentos que produzem conseqüências doispontos indicam controle de estímulo O comporta mento da pessoa que inicia a interação C produz um reforço S que é o resultado do comportamento da pessoa que responde CR o qual por sua vez produz reforço S que resulta do comportamento da pessoa que iniciou a interação Cl2 Quando 1ais episódios se repetem freqüentemente dizse que as duas pessoas m a n tê m uma relação Compreender o behaviorismo 217 da ou aja também trabalhe sorria dê um presente de tal forma que Q seja refor çado Sf Esse reforçador funciona também como um estímulo discriminativo S para comportamentos adicionais por parte da pessoa que iniciou a interação C12 que por sua vez atuarão como reforçadores Sr para o comportamento do interlocutor CR No momento em que os dois participantes agiram e suas ações foram reforça das o episódio pode terminar Isso poderia ser denominado de episódio social mí nimo Entretanto o episódio poderia continuar tal como quando duas pessoas man têm uma conversa Na Figura 111 quando a pessoa que iniciou a interação res ponde ao S2 fornecido pelo comportamento do interlocutor poderseia dizer que eles trocaram de papéis Esses papéis poderiam ser trocados novamente Essa pos sibilidade é indicada na Figura 111 pela anotação entre colchetes que mostra que Sr poderia servir como estímulo discriminativo S para comportamentos ulterio res Cj Os papéis poderiam ser trocados e revertidos um sem número de vezes até que ocorresse algum tipo de pausa na interação As vezes uma interação pode parecer interminável para uma das partes como quando o interlocutor é uma pes soa cortês e a outra pessoa é por exemplo um vendedor persistente ou um reli gioso fanático Examinemos alguns exemplos Pedro trabalha em uma grande firma atacadis ta que vende lentes para fabricantes de óculos Ana é sua supervisora A chegada de vários pedidos de compra pelo correio S ocasiona uma interação entre eles Ana passa para Pedro um a pilha de pedidos para que ele os atenda Q A pilha de pedidos estabelece o contexto S para Pedro começar a trabalhar procurando em várias gavetas CR os vários tipos de lentes A visão de Pedro trabalhando reforça S o comportamento original de Ana dar ordens a Pedro e também serve como estímulo discriminativo S para que ela diga algo como Muito bem ou talvez apenas para que deixe de fazer uma crítica qualquer um dos dois constituiria C12 o que por sua vez serve para reforçar S o trabalhar de Pedro Ao término do mês é claro em outro episódio interativo o Muito bem de Ana é acompanhado por um cheque Em um segundo exemplo temos um casal Rubens e Kátia Durante a semana Kátia sai para o trabalho às 730 horas S Ela pára na porta antes de sair e diz Já estou saindo C o que produz o som Já estou saindo que Rubens ouve SR e que o leva a dizer CR Tenha um bom dia eu a vejo à noite enquanto a beija O comportamento afetuoso de Rubens serve para reforçar S1 a frase original de Kátia e também estabelece o contexto Sfè para que ela por sua vez diga algo como Pra você também CI2 Ouvir a resposta afetuosa de Kátia reforça Sft o comportamento afetuoso de Rubens Quando episódios sociais como esses ocorrem com freqüência entre as mes mas pessoas dizemos que essas pessoas têm uma relação Em certas relações bas tante restritas as ações e os reforçadores podem ser sempre os mesmos Se Bei compra o jornal sempre do mesmo jornaleiro todas as manhãs podese dizer que Bei e o vendedor têm uma relação Em outras relações as ações e os reforçadores envolvidos variam enormemente Marido e mulher podem cozinhar um para o utro fazer compras juntos discutir a educaçêo dos filhos namorar manter rela 218 William M Baum ções sexuais Tudo isso pode ser esquematizado como na Figura 111 mas as ações e reforçadores específicos diferem de uma interação para outra Podemos distinguir um a relação de igualdade entre dois parceiros de uma relação de desigualdade Dois irmãos ou dois amigos podem ser parceiros eqüitati vos mas um patrão e um empregado ou meu gato e eu temos o que poderia ser considerada uma relação desigual Duas pessoas podem ser chamadas parceiras eqüitativas quando suas interações incluem atos e reforçadores que de ambas as partes são do mesmo tipo Se dois irmãos são afetuosos um com o outro pedem e dão dinheiro um para o outro e emprestam brinquedos ou ferramentas um para o outro então podemos dizer que são parceiros eqüitativos Poderíamos negar essa paridade se um fosse afetuoso e o outro não ou se um sempre obtivesse dinheiro emprestado do outro mas o contrário não ocorresse Em relações de desigualdade a sobreposição entre ações e reforçadores de ambas as partes inexiste ou é pequena Ana a supervisora distribui as tarefas paga salários e recebe parte do lucro das vendas Pedro o empregado trabalha e recebe salário O paciente apresenta sintomas e paga a consulta o médico dá con selhos e prescreve tratamentos O legislador faz leis o cidadão as segue Indivíduos e instituições A concepção de relação representada na Figura 111 pode ser aplicada não só a relações entre indivíduos mas também a relações entre indivíduos e instituições e até mesmo a relações entre instituições Para fazêlo é conveniente tratar a institui ção como se fosse um indivíduo Isso não causa qualquer confusão contanto que nos lembremos que as instituições afinal de contas são compostas de indivíduos Uma companhia igreja ou governo é um grupo de indivíduos os quais mantêm relações com outros membros do grupo Talvez não se possa dizer que cada indivíduo de uma firma mantenha uma relação com todos os demais dessa firma mas ser parte daque la firma implica ter relações por exemplo com superiores e subordinados Faz sentido tratar instituições como se fossem indivíduos porque os funcioná rios institucionais são substituíveis Juizes ministros médicos e enfermeiras saem e são substituídos por novos indivíduos que exercem as mesmas funções Em algu mas instituições os indivíduos são até mesmo intercambiáveis trocando papéis em momentos diferentes Quando você procura um funcionário da Receita Federal para resolver dúvidas ou é admitido no prontosocorro de um hospital não tem idéia de qual dos funcionários o atenderá ou que enfermeira ou médico estará de plantão Podese falar sobre relações com instituições porque quaisquer que sejam as pessoas individuais que desempenham os papéis institucionais as relações de re forço envolvidas permanecem as mesmas De certo modo isso é verdade por defi nição falamos de algo como sendo uma instituição porque tem uma certa estabi lidade Não é o quadro de pessoal que é estável pois as pessoas vêm e vão Nem edifícios transformam algo em uma instituição um hospital pode se mudar para um novo prédio e ainda ser identificado como o mesmo hospital Se o hospital e Compreender o behaviorismo 219 a d q u i r i d o por novos donos entretanto ele pode se tornar um hospital diferente niesmo que permaneça no mesmo edifício O que permanece estável em uma institui ção é seu modo de funcionar em nossos termos as relações de reforço e punição Em certo sentido as atividades de uma instituição são análogas às atividades esten didas de um indivíduo porque as ações dos membros de uma instituição são partes que devem funcionar em conjunto para que a instituição funcione de modo bemsucedido assim como as várias atividades de um indivíduo devem funcionar como elementos de um conjunto para que a atividade estendida seja bemsucedi da Assar um bolo requer juntar ingredientes misturálos colocar a massa em uma fôrma e levála ao forno para produzir um bolo bemsucedido Do mesmo modo o funcionamento de um banco requer as atividades de caixas analistas de crédito vendedores arquivistas supervisores guardas faxineiros etc para funcionar de modo bemsucedido A diferença é claro está em que na atividade estendida de um indivíduo todas as partes atividades da mesma pessoa enquanto na instituição todas as partes são atividades de diferentes pessoas Assim como na atividade es tendida de um indivíduo no entanto o reforço do todo o sucesso da organização fornece reforço para todas as partes Em qualquer relação inclusive aquelas no interior de uma instituição o reforço mútuo é a chave se a relação ou instituição for bemsucedida todos os envolvidos devem se beneficiar de seu funcionamento Como na relação entre dois indivíduos na relação entre um indivíduo e uma instituição bá dois conjuntos de relações de reforço as que afetam o comporta mento do indivíduo e as que afetam o comportamento da instituição Nos termos da Figura 111 tanto o indivíduo como a instituição poderiam atuar como agente iniciador ou como aquele que responde que chamaremos de agente respondedor Se um banco envia uma oferta para que você solicite um empréstimo o banco é o iniciador Porém se você vai a um banco sem ser chamado e pede o empréstimo você é o iniciador Você preenche um formulário Q que fornece os estímulos S para o banco tomar a decisão CR de lhe emprestar dinheiro reforçando assim seu comportamento de pedir S Nesse momento você responde assinando o contrato de empréstimo CI2 o que reforça o comportamento do banco de lhe conceder o empréstimo Você e o banco terão agora uma relação freqüente porque você e o banco terão interações mensais nas quais o banco enviará uma cobrança você pagará e o banco lhe enviará um recibo Alguns analistas de comportamento aplicaram esse esquema geral para anali sar relações internacionais considerando interações entre governos como análo gas a interações entre indivíduos Corridas armamentistas por exemplo podem ser compreendidas sob esse prism a Nevin 1985 Quando um país monta Q um grande arsenal isso é uma ameaça Sg para outro país O outro país responde com uma ameaça maior O primeiro responde do mesmo modo e assim por diante Cientistas políticos se referem a essa tendência como um dilema de segurança Em um artigo inspirador sobre as origens da Primeira Guerra Mundial Van Evera 1984 descreveu a escalada armamentista anterior à guerra como uma oscilação a ascendência entre governos que se opunham Em um momento um deles au mentava suas capacidades agressivas então o outro governo o fazia e a cada vez a ascendência trocava de lado porque um governo ao tentar garantir sua segurança 220 William M Baum sempre ia além da paridade O período de ascendência criava uma janela de opor tunidade em que a parte mais forte era tentada a atacar enquanto tinha a vantg gem Em uma dessas janelas de oportunidade afirmava Van Evera finalmente sè deflagrou a guerra j Cada ação em uma relação oscilante como essa faz sentido é reforçada a J curto prazo mas as conseqüências a longo prazo são desastrosas A situação pocje i ser vista como um problema de autocontrole Figura 92 porque as alternativas j para colocar um fim a essa escalada como assinar tratados de amizade e de coope ração funcionam a longo prazo mas podem ser difíceis de implementar porque 1 envolvem riscos a curto prazo Nos termos do Capítulo 8 a ausência de forneci mento de regras como campanhas de paz virtualmente garante que relações de reforço de curto prazo tais como obter a vantagem ao atacar primeiro prevalece rão sobre relações de reforço de longo prazo tais como os maiores benefícios da paz ao longo de muitos anos EXPLORAÇÃO Em nossas discussões sobre coerção Capítulos 9 e 10 vimos que as interações sociais nem sempre servem aos interesses de todos os parceiros embora os com portamentos de todos sejam reforçados Quando um ladrão exige dinheiro e o consegue só o ladrão se beneficia porque entregar o dinheiro é um comportamen to reforçado negativamente a vítima só se beneficia na medida em que evita outros prejuízos como ser ferida Um outro tipo de interação me leva a falar de trapaça Suponha que eu entre em uma loja para comprar uma peça de roupa e o comerciante me cobre o dobro do preço normal Analisando essa interação em termos da Figura 111 temos de concordar que tanto minhas ações como as do comerciante foram reforçadas posi tivamente Eu ganho a roupa S e o comerciante o dinheiro Sr Dizemos que o á comerciante me enganou porque em um contexto maior fica evidente a desigual dade entre os dois reforçadores o ganho do comerciante é muito maior do que o meu Esse contexto maior estabelece o preço justo Talvez eu nunca venha a saber que fui enganado mas se pesquisar em outras lojas ou conversar com pessoas que trabalham no ramo posso concluir que fui enganado esses estímulos discriminativos mudam meu comportamento verbal f Em uma forma mais sutil de trapaça os dois parceiros mantêm uma relação ativa e o parceiro que está sendo enganado não entra em contato com o contexto maior que exporia a iniqüidade do reforço Esse contexto maior normalmente se desenvolve ao longo de muito tempo Por exemplo um a pessoa pode fazer promes sas mas não cumprilas ou mais provavelmente cumprir apenas algumas delas e entao fazer mais promessas Dizemos que essa pessoa está enrolando o outro Eventualmente a pessoa lograda pode se dar conta do que está acontecendo por que a situação se prolongou por um tempo suficiente para poder ser comparada a alternativas outros empregos um divórcio uma rebelião Os governos às vezes implementam medidas para proteger os cidadãos dessas situações de trapaça a longo prazo particularmente daquelas em que os cidadãos só podem descobrir que f Compreender o behaviorismo 221 en gan ad os quando já é tarde demais Por exemplo leis que regulamentam o balho in fan til impedem que crianças entrem em uma relação eom certos pa 5 que lhes seria vantajosa a curto prazo mas que impedindoas de usufruir da ri J unidade de brincar e estudar acabariam por prejudicálas a longo prazo Uma Hcão desse tipo com reforço positivo a curto prazo mas prejuízos a longo prazo f denominada exploração 0 escravo feliz A possibilidade de coerção e através dela a escravidão pode representar uma ameaça menor para a democracia que a possibilidade do escravo feliz A coerção é imediatamente reconhecida como tal pela pessoa coagida enquanto o escravo feliz se sente contente a curto prazo e pode vir a descobrir que está sendo explora do só muito tempo depois Sentindose contentes porque seu comportamento está sêndo reforçado positivamente os escravos felizes não tomam qualquer medida para corrigir sua situação Crianças que trabalhavam em fábricas no século XIX eram pagas com regularidade e freqüentemente eram objetos de outros cuidados e no geral estavam bastante satisfeitas Só quando atingiam a meiaidade se da vam conta se é que o faziam de que haviam sido enganadas Qualquer medida que pudessem tom ar a essa altura viria muito tarde para impedir os danos causados Escravos felizes podem existir em muitos e diversos tipos de relação Pais podem explorar seus filhos recompensandoos com cuidados e afeto desde que trabalhem peçam esmolas na rua ou participem de atos sexuais O marido pode explorar sua esposa reforçando os serviços que ela presta a ele e a seus filhos dandolhe afeto e presentes do mesmo modo a esposa pode explorar seu marido reforçando longas horas de trabalho pesado 0 patrão pode explorar seus empre gados oferecendolhes pagamento extra por trabalharem em condições perigosas ou insalubres O governo pode explorar seus cidadãos reforçando o apostar em jogos de loteria Uma nação pode explorar outra nação importando dela matéria prima em troca de bens manufaturados com esse material Em cada um desses exemplos aquele que é explorado pode se sentir contente com a situação por um tango tempo ou até mesmo indefinidamente Conseqüências de longo prazo Do ponto de vista da parte explorada o problema com a exploração é que a longo Prazo ela implica punição A Figura 112 é uma versão modificada da Figura 111 e mostra tal punição O comportamento alvo CR resulta em dois tipos de conseqüên Cas o mais imediato Sj e a punição postergada S A flecha longa indica sua natureza de longo prazo A sigla Sr aparece em um tamanho maior para enfatizar 0 fatorchave que nos leva a chamar a relação de exploradora a punição a longo Prazo pesa mais do que o reforço a curto prazo A Figura 112 omite outra característica comum na relação de exploração Os efeitos do punidor S normalmente aumentam cumulativamente por pequenos 222 William M Baum Explorador SŸ C S SP2 C B Î 1 Explorado 1 1 1 Si C SÊ 1 S pR FIGURA 112 Uma relação de exploração O comportamento da parte explorada CR pro duz reforço a curto prazo para ambas as partes S e S mas leva a conseqüências bastan te desfavoráveis S a longo prazo seta longa A punição final é muito maior que o reforço imediato Sjj incrementos à m edida que a relação continua Se uma criança trabalha durante um verão pode ocorrer apenas uma pequena perda e a experiência até pode ser chamada benéfica Mas se a criança trabalha durante toda sua infância os resulta dos são extremamente danosos A cada ano o trabalho aum enta o buraco por assim dizer O fato de que a punição tem efeitos ao mesmo tempo postergados e gradualmente cumulativos torna essa relação particularmente difícil de ser identi ficada pela pessoa explorada Nos termos do Capítulo 9 a Figura 112 ilustra o fato de que um a relação de exploração constitui uma armadilha de reforço ver Figura 92 O comportamento alvo CR corresponde a agir impulsivamente sob controle do reforço a curto prazo O autocontrole que age de acordo com a punição de longo prazo significaria agir de modo a não entrar em uma relação de exploração ou a mudar a relação de tal forma que ela não fosse mais exploradora A Figura 112 representa exatamente esse tipo de relação de reforço ali descrita por regras Capítulo 8 através das quais pais e tutores alertam as crianças sobre os perigos de agirem impulsivamente e reforçam comportamentos que impedem a exploração A dificuldade com relações do tipo escravo feliz no que diz respeito à questão de gerenciamento comportamental é que essas relações são instáveis A parte ex plorada pode se dar conta dos prejuízos e os comportamentos então resultantes se assemelham à coerção O exescravo feliz tornase agora ressentido cheio de raiva e revoltado A criança explorada que perdeu em saúde educação ou na capacidade de se envolver em relacionamentos normais passa a rejeitar os pais O cônjuge explorado que nunca buscou seus próprios interesses pode agora abandonar o casamento Empregados que foram explorados eventualmente castigam de alguma forma seus patrões Cidadãos e colônias rebelamse Tal como a coerção ao final das contas a exploração é um tiro que sai pela culatra Parece que a eqüidade é a única política estável Aqui porém duas velhas perguntas se colocam o que é eqüidade Como alcançála A análise do comporta mento nos permite recolocar essas perguntas de uma maneira que possibilita res postas relativamente claras A primeira pode ser entendida como uma pergunta sobre comportamento verbal e nós a discutiremos a seguir A pergunta sobre como alcançar a eqüidade será tratada quando discutirmos a questão do contracontrole Compreender o behoviorismo 223 Bemestar relativo Quando as pessoas se referem à eqüidade e iniqüidade Essas palavras são notórias pela dificuldade em definilas A noção de eqüidade varia de pessoa a pessoa Bei pode dizer que estava certo fazer os prisioneiros trabalharem acorrentados na constru ção de estradas de ferro durante o século passado André pode considerar isso uma exploração vergonhosa As concepções de eqüidade em uma mesma cultura variam de século para século nos primeiros dias da Revolução Industrial a maioria das pessoas aceitava a idéia de que os capitalistas deveriam lucrar tanto quanto pudes sem e os trabalhadores deveriam trabalhar tanto quanto agüentassem Com o tempo contudo à medida que as pessoas começaram a chamar essa situação de injusta e iníqua ocorreram reformas surgiram os sindicatos as leis trabalhistas e o socialismo Os analistas de comportamento abordam a questão de mudanças no compor 7 tamento verbal quer de pessoa para pessoa quer de época para época analisando as conseqüências e o contexto do comportamento Se Bei diz que a situação de v prisioneiros trabalhando em estradas de ferro representa uma relação eqüitativa ela está fazendo um a discriminação que André não faz Digamos que ela considere os prisioneiros como um peso inútil e caro um desperdício de dinheiro público Quer dizer seu comportamento verbal sobre condenados prisões dinheiro público e dívidas com a sociedade foi modelado por uma história de reforço diferente de André sem dúvida alguma eles transitam ou transitaram em círculos diferentes em comunidades verbais diferentes Talvez os pais de André reforçassem o com portáinento de falar sobre igualdade perante a lei ou aos olhos de Deus O estímulo discriminativo para o comportamento de chamar uma relação de exploradora ou iníqua é um a comparação de conseqüências As conseqüências para uma pessoa ou grupo são comparadas com as conseqüências para outra pessoa ou v grupo Por exemplo é justo para as mulheres receber menor remuneração que os homens pela mesma tarefa Nos Estados Unidos e em outras nações ocidentais as crianças aprendem desde cedo a fazer tais comparações entre si e os outros A verbalização Ela ganhou mais que eu provavelmente é reforçada com mais sorvete mais brinquedos ou o que quer que seja que esteja sendo comparado Não é justo tornase um refrão em alguns lares porque é freqüentemente reforçado com ex pressões de simpatia senão com coisas materiais A medida que nos tornamos adultos nossas discussões sobre o que é justo se tornam mais complicadas Os estímulos discriminativos que controlam nosso com portamento verbal sobre questões de eqüidade ficam mais complexos Aprende mos que às vezes é justo que uma pessoa receba mais do que outra especialmente se essa pessoa contribui com mais esforço que a outra Talvez o trabalhador de construção que opera com solda devesse receber um pagamento maior do que o carpinteiro se considerarmos os perigos envolvidos nos dois tipos de trabalho teoro da eqüidade Ao discutir a questão da eqüidade psicólogos organizacionais e psicólogos sociais Se referem a um índice que compara o reforço relativamente imediato chamado 224 William M Baum saída ou lucro com condições de prazo mais longo chamadas entrada ou investi mento No enunciado clássico da teoria da eqüidade por George Homans 1961 o índice é escrito deste modo lucroinvestimento Homans propôs que as decisões sobre eqüidade dependem dessa proporção Se duas pessoas envolvidas em um relacionamento têm índices lucroinvestimento iguais a relação entre elas é eqüitativa Se duas pessoas ou grupos têm em sua relação com uma terceira parte a Companhia de Lentes Acme ou o governo dos Estados Unidos índices de lucroinvestimento desiguais então a disparidade en tre eles é iníqua O índice lucroinvestimento pode aumentar de dois modos o investimento pode diminuir ou o lucro pode aumentar Se uma mulher e um homem investem igualmente em um trabalho então a eqüidade exige que o pagam ento da mulher lucro seja igual ao do homem Em nosso exemplo da relação supervisorempregado porém se Ana a supervisora investe mais do que Pedro o empregado então os 1 seus índices de lucroinvestimento só podem ser iguais se ela ganhar mais da rela ção entre os dois do que Pedro ganha Ela também ganha mais de sua relação com a firma do que Pedro Para determinar se existe eqüidade entre duas partes não podemos olhar o lucro ou o investimento isoladamente devemos considerar a pro porção entre os dois A teoria da eqüidade concebe o lucro como incluindo conseqüências a prazo relativamente curto tais como esforço e salário O lucro consiste no ganho líquido que alguém consegue em uma relação ou seja ganho menos custo por exemplo salários menos esforço Quando Pedro se empenha para preencher os pedidos de compra a firma na qual trabalha deve reforçar seu trabalho com salário adequado a fim de que seu comportamento se mantenha Em outros tipos de relação os lucros são menos tangíveis Para que Rubens lave a louça regularmente sua esposa Kátia deve garantir que ele ganhe algo suficientemente importante por isso de forma que continue a fazêlo De acordo com a teoria da eqüidade o lucro que Rubens rira do matrimônio seria avaliado subtraindo esforços como lavar a louça de ganhos como afeto e ter filhos O conceito de Homans sobre investimento inclui dois componentes 1 esfor ços como os despendidos na educação que são um investimento na medida em que presumivelmente haverá um ganho ou reforço a longo prazo 2 atributos pessoais como boa aparência ou diferença de gênero que podem ser úteis em interações sociais mas que não são investimentos no sentido comum da palavra O primeiro componente não apresenta dúvidas aceitamse de maneira inquestionável os crité rios de educação e experiência quando se discutem salários Em termos da teoria da eqüidade se a única diferença entre Meca e Polé é que Meca tem um diploma de curso superior e Polé só terminou o ensino médio o índice de lucroinvestimento de Meca só se igualará ao de Polé se Meca receber um salário maior que o de Polé Provavelmente tanto Meca como Polé concordariam que essa medida é eqüitativa O segundo tipo de investimento gera mais controvérsia E certo que outras coisas sendo iguais os homens devam receber um salário maior que o das mulhe res pelo mesmo trabalho independente de serem ou não corretas essas disparidades salariais ocorrem A teoria da eqüidade nada diz sobre como as pessoas devem se comportar ela se refere a como de fato se comportam O indivíduo que foi educa Compreender o behaviorismo 225 An de modo a pensar que homens devem receber salários maiores que mulheres oü Que brancos devem receber salários maiores que negros não verá nenhuma iniqüidade no fato de homens e brancos receberem salários maiores Esses atribu tos são investimentos na medida em que logicamente falando eles pertencem ao denom inador do índice lucroinvestimentos um homem que pensa que deve rece ber mais que uma mulher exige um lucro maior antes de declarar que está receben do em condições eqüitativas às de uma mulher Um fenômeno semelhante aconte ce no campo das relações pessoais quando as pessoas bonitas exigem maiores lucros de uma relação que seus parceiros menos favorecidos Uma boa aparência pode ser considerada um investimento no mesmo sentido que as pessoas usam quando dizem que certas pessoas faturam sobre sua aparência Uma linda mulher pode exigir jóias caras dizendo Mereço isto um homem bonito pode exigir rela ções sexuais antes que sua parceira esteja disposta a mantêlas e não ver nada de injusto nessa atitude O ponto de vista mentalista sobre a questão do investimento apela para algo dentro da pessoa tal como um a expectativa acerca do reforço Dizse que a pessoa exige mais lucros por causa de sua expectativa Para o analista do comportamento essa explicação nada explica Seria o caso de perguntar o que é uma expectativa e de onde ela se origina Da perspectiva do analista de comportamento os elementos da teoria da eqüi dade ganho custo e investimento constituemse todos em estímulos discrimi nativos que controlam nosso comportamento verbal sobre eqüidade A utilidade da teoria da eqüidade é que ela mostra os vários fatores que levam alguém a conside rar uma relação eqüitativa ou ao contrário injusta Se um dos parceiros em um relacionamento recebe mais reforço ou uma remuneração maior que o outro par ceiro isso é ponderado em relação a qualquer diferença quanto a custos imediatos por exemplo o esforço despendido ou à experiência e à educação de ambos bem como a diferenças em atributos pessoais por exemplo gênero classe social e apa rência A relação lucroinvestimento não pode ser considerada como uma quanti dade matemática porque ninguém sabe calcular lucro ou investimento a partir de todos os diferentes fatores que para eles contribuem mas ilustra o fato de que várias comparações contraditórias se combinam para afetar a probabilidade de palavras tais como equitativo e iníquo justo e injusto Pedro pode considerar justo Que sua supervisora Ana receba um salário maior que o seu considerando sua maior experiência mas se Ana fosse um homem e a história passada de Pedro o levasse a considerar justo que homens tenham um salário maior que mulheres entao provavelmente ele estaria disposto a aceitar uma disparidade ainda maior Cfttre seu salário e o de seu supervisor e ainda consideraria isso eqiiitativo Que comparações jrSSe último exemplo ilustra a força da análise do comportamento A teoria da eqüi ace só mostra os vários fatores que entram na análise da eqüidade e não questio na0s fatores que devam ser ponderados A análise de comportamento vai um passo ao perguntar o que determina quais fatores serão ponderados 226 William M Boum A resposta a essa pergunta está na história passada da pessoa Toda discjjj nação depende de uma história de reforço e punição e identificar algumas relaçõe1 como eqüitativas e outras como iníquas não seria uma exceção Há dois modo pelos quais Pedro poderia considerar salários mais altos para os homens como uma política eqüitativa Primeiro ele poderia de fato ter passado por vários empreg0s em que as mulheres recebiam menos que os homens pelo mesmo trabalho Segim do seus pais ou outras figuras de autoridade poderiam ter lhe ensinado isto mode lando seu comportamento verbal sobre homens mulheres e justiça De qualquer modo a história de Pedro com fatores como sexo cor educação e aparência afeta que disparidades ele considera justas e quais ele chama de injustas Quando ele se apaixona por Teresa que ardentemente apóia os direitos das mulheres suas consi derações sobre eqüidade mudam À medida que Teresa pune ou reforça seu com portamento verbal e nãoverbal relativo a mulheres Pedro se conscientiza e não diz mais que pagar salários mais baixos para mulheres é eqüitativo Freqüentemente mudanças em como os fatores são ponderados se traduzem em mudanças quanto ao grupo que será tomado como comparação No século XIX o trabalho infantil pode ter parecido eqüitativo porque a comparação era feita com crianças camponesas que morriam à míngua No século XX quando os custos sociais do trabalho infantil ficaram evidentes a comparação era feita com crianças de classe média que têm condições para brincar e para freqüentar escolas e conse qüentemente nosso comportamento verbal sobre trabalho infantil muda de modo correspondente Trabalhadores queaprenderam a se comparar apenas com outros trabalhadores não vêm nenhuma iniqüidade no fato de burocratas gozarem de privilégios especiais outros trabalhadores sem tal treinamento podem comparar sua própria condição com a da burocracia e declararemna iníqua Quando tais comparações forem feitas em quantidade suficiente nós nos defrontaremos com eventos tais como os que levaram ao colapso da União Soviética Lamal 1991 Cooperação Nossos conceitos de reforço eqüitativo e mútuo nos permitem compreender a coo peração Um relacionamento de cooperação é aquele em que o reforço é ao mes mo tempo mútuo e eqüitativo Às vezes a cooperação ocorre a curto prazo quan do ambas as partes devem contribuir imediatamente antes que o comportamento de cada um possa ser reforçado Por exemplo se uma orquestra executa uma sinfo nia cada músico deve tocar uma parte antes que toda a execução possa ser aprova da pela audiência e paga pelos patrocinadores Todos tocam uma parte e todos se beneficiam juntos Com freqüência no entanto a cooperação ocorre somente a longo prazo quando as contribuições das diferentes partes são feitas em momen tos diferentes Isso acontece quando as pessoas têm um relacionamento recíproco como quando os cônjuges se alternam nas tarefas domésticas ou amigos oferecenij IM dc T Assim como 80 anos antes circunstâncias sem elhantes levaram ao colapso às aristocracia russa Compreender o behaviorismo 227 ao outro bebidas e refeições Relacionamentos recíprocos abrem a possibilida d e trapaça se um a parte fracassa em contribuir suficientemente isto é fracassa m fornecer o da Figura 1 1 2 com freqüência suficiente Na medida em que a reCipr cidade se desenvolve no sentido da eqüidade a longo prazo entretanto o relacionam ento se constitui em cooperação Discutiremos tais relacionamentos com maisdetalhes quando tratarm os do altruísmo no Capítulo 12 CONTROLE E CONTRACONTROLE Declarações de iniqüidade ocasionadas por relações coercivas e exploradoras inci tam à revolução como meio para tornar mais justas essas relações A derrubada de um governo a separação de um casal a falência de uma firma são resultados de uma ação extrema Uma revolução um divórcio ou uma greve parecem ser o últi mo recurso tomado apenas quando todos os outros falharam Medidas extremas m udam a situação da pessoa explorada controlada ao cortar sua relação com o explorador medidas menos extremas tais como ameaças e promessas produzem mudanças dentro da relação ao mudar o comportamento do explorador controlador A ameaça de uma revolução de um divórcio ou de uma greve pode funcionar para coagir o parceiro ofensivo a mudar Tal controle ao retroagir sobre o controlador acrescenta à relação uma nova relação de reforço que pode ser representada nas condições gerais da Figura 111 Os analistas de comportamento a denominam de contracontrole Contra controle 0 contracontrole do tipo coercivo pode ser esquematizado como na Figura 91 A pessoa ou grupo arrasados ameaçam com a remoção do reforço bens ou servi ços a menos que o controlador aceda Os exemplos não precisam ser tão extre mos como ameaças de revolução e divórcio as ameaças podem ser de sabotagem ou desafeto Não importa quão assimétrica seja a relação contanto que o controlador deseje algo do controlado contanto que o comportamento do controlador possa ser reforçado pelo controlado o controlado pode ameaçálo de sustar o reforço Quando a ameaça é eficaz o comportamento do controlador é contracontrolado através de reforço negativo O contracontrole tam bém pode acontecer através de reforço positivo Muitos relacionamentos perm item que ameaças sejam substituídas por promessas Os empregados podem prom eter uma produtividade maior se seus salários forem ele vados A mulher pode prom eter contribuir para as despesas da casa se seu marido ajudála a seguir um a carreira Se o comportamento do controlador muda ele foi reforçado positivamente O reforço pode demorar a chegar mas o conüolador even hialmente estará em melhores condições O contracontrole implica que o controlador tenha escolha que uma ação al ternativa seja possível Dado que a escolha é entre uma alternativa que recompensa somente a curto prazo e um a que recompensa mais a longo prazo a situação do 228 William M Baum controlador pode ser comparada à Figura 92 é um problema de autocontrole q j controlado produz um estímulo discriminativo que muda a probabilidade da alter nativa que recompensa mais no longo prazo Quando o povo ameaça uma revolta j os governantes podem baixar os impostos em vez de aumentálos Quando os em I pregados prometem para o dono de uma fábrica uma melhora na qualidade do produto manufaturado o dono pode mudar adotando o novo esquema adminis trativo sugerido pelos empregados Dado que as ameaças ou promessas feitas pe0 controlado constituem regras e podem ser sustentadas por reforço imediato a situação pode ser comparada à da Figura 82 que representa o comportamento controlado por regras Assim a escolha do controlador pela relação que é melhor a longo prazo corresponde tanto ao autocontrole Figura 92 quanto ao comporta mento controlado por regras Figura 82 A Figura 113 mostra sob forma esquemática os dois tipos de contracontrole que acabamos de discutir Em cada esquema as interações à esquerda mostram contracontrole O controlador pode agir de qualquer um de dois modos de forma eqüitativa CA impostos mais baixos e cessação da guerra ou de forma explorado ra CB impostos aumentados e continuação da guerra Cada um a das duas alter nativas leva a uma relação diferente entre as partes envolvidas simbolizadas pelos retângulos à direita A relação para a qual a atividade CB conduz no retângulo inferior pode ser a situação atual CB manteria a situação como sempre foi A atividade CA porém conduziria a uma nova relação retângulo superior que seria mais benéfica tanto para o controlador como para o controlado O controlado pro mete ou ameaça Cc produzindo o estímulo discriminativo S Aumente nossos salários ou entramos em greve uma regra ver Capítulo 8 que indica o retângu lo superior relação com seu conjunto de relações de reforço e fortalece a alterna tiva do controlador CA por exemplo aumento de salários Quando o controlado contracontroia através de ameaças esquema superior Sc indica a superioridade de CA baseado no fato de que CB conduz em última instância a conseqüências aversivas em grande escala S para o controlador Essas resultam do comporta mento do controlado CR3 em resposta a Sr as conseqüências aversivas a longo prazo para o controlado Se os governantes aumentam os impostos o povo se rebe la e depõe os governantes Quando o controlado contracontroia por meio de promessa esquema inferior na Figura 113 Sg indica a superioridade de CA com base em que ele conduz em última instância a um grande reforço para ambas as partes S e S Quando o povo desfruta paz e prosperidade ele ama e louva seus governantes Uma ação por parte do controlado CR3 pode ou não ser necessária uma combinação de distri buição de lucros e melhoria no controle de qualidade pode trazer benefícios diretos a empregadores e empregados Aqueles que são controlados freqüentemente combinam os dois tipos de con tracontrole apresentando tanto ameaças como promessas Grupos de cidadãos podem ameaçar remover funcionários públicos de suas funções se esses adotarem uma de terminada política enquanto simultaneamente podem prometer apoio se adotarem outra Essa estratégia é freqüentemente denominada a técnica do bate e afaga A necessidade de contracontrole surge porque a escolha do controlador entre CA e CB é difícil por duas razões Primeiro dentre os reforçadores imediatos SBi e Compreender o behaviorismo Contracontrole por ameaça Controlador Cc Controlado Controlador CA1 Sar S CA L 4 1 Controlado Srí C rj Si 1 Controlador 1 Cai I si Sb Cb2 4 i s p 1 Controlado i l t s T C r2 Sr2 1 hi í 1 C t 1 JR R3 Contraconirole por promessa Cc Controlado Controlador C ai S SA C Sa t 1t Controlado 4 1 t r Sr1 C ri Sjtj Controlador C bi Sj Sb C b2 1t Controlado 1 T í Sr2 C r2 Srj fSUra 113 C o n tra c o n tro le Em ambos contracontrole através de ameaça esquema su perior e contracontrole através de promessa esquema inferior o controlador escolhe snire duas relações com o controlado mostradas nos retângulos à direita A ação C A por Parte do controlador conduz a uma relação melhor a longo prazo A açâo C B conduz a UnílQ relação menos favorável ou a mantém O contracontrole através de ameaça acontece guando o controlado gera um estímulo discriminativo jS que indica uma punição a longo Prao S para o comportamento C B do controlador O contracontrole através de promes Sq acontece quando indica um reforço a longo prazo S para o comportamento CA O ontracontrole é necessário quando pequenas conseqüências imediatas SA S e S ten em sobrepujar as conseqüências de longo prazo S ou S O controlado pode ser jPaz de fornecer alguns reforçadores de curto prazo para C A S que ajudam a contraba nÇar as conseqüências de curto prazo que favorecem C B maior que S Além disso como na Figura 92 algum punidor imediato S p0r exemplo ser humilhado pode resultar da escolha de CA e algum reforçador Ime diato S por exemplo derrotar um oponente pode resultar da escolha de CB As conseqüências imediatas e de curto prazo todas favorecem a escolha da relação exploradora Em segundo lugar embora as principais conseqüências e S exce dam as àiferenças a curto prazo no reforço essas conseqüências são adiadas o controlador pode ter de esperar muito tempo antes de obter as vantagens de CA É isso o que torna a escolha entre CA e CB sem contracontrole um a armadilha de reforço Figura 92 Sem contracontrole é provável que o controlador se compor te impulsivamente e escolha CB A enunciação de regras pelo controlado entretan to apoiada por reforçadores imediatos S na Figura 113 por exemplo aprovação e congratulações que contrabalançam as conseqüências imediatas que favorecem CB ajuda a promover a alternativa que é melhor a longo prazo ver Figura 82 Eqüidade O contracontrole surge a partir de considerações sobre a eqüidade Se o estímulo discriminativo para falarmos sobre iniqüidade é uma comparação entre indivíduos ou grupos então essa comparação também é responsável pelo início do contracon trole Uma vez bemsucedido contudo o contracontrole se torna parte permanen te da relação porque ajuda a m anter em situação semelhante os indivíduos ou grupos comparados isto é impede a recorrência da iniqüidade O contracontrole é também um mecanismo pelo qual as relações podem continuar m udando para melhor Considerando que nosso discurso sobre iniqüidade muda de tempos em tem pos então é possível que novas exigências de contracontrole também surjam Isso acontece quando uma nova comparação é feita A m edida que o conceito deV estratificação social se altera as pessoas de uma classe ou casta social mais baixa começam a comparar suas condições de vida com as de pessoas de estratos supe riores originalmente seus superiores Historiadores atribuem a Revolução Fran cesa ao descontentamento da classe média emergente em relação a sua falta de poder político em comparação com aquele nas mãos da aristocracia francesa Des de que ameaças não mudaram o comportamento do rei a classe média se rebelou e estabeleceu uma forma nova de governo que propiciou mais poder a esta classe isto é um contracontrole mais eficaz Em uma sociedade verdadeiram ente sem classes sociais as comparações seriam extremamente genéricas qualquer indiví duo ou grupo poderia ser comparado com qualquer outro indivíduo ou grupo 0 ideal De cada um de acordo com sua capacidade a cada um de acordo com sua necessidade foi em parte responsável pela Revolução Russa A eqüidade última é a igualdade Em uma relação entre iguais não só existe eqüidade no sentido de que nenhuma comparação desfavorável existe mas a coifl paração é feita entre as partes que estão naquela relação Antes do século XX 3 relação entre marido e mulher era considerada desigual porém hoje em dia comparações de eqüidade são freqüentemente feitas entre o marido e a mulher efli vez de serem feitas entre esse marido e outros maridos ou essa esposa e outras Compreender o behaviorismo 231 esposas Em outras palavras sugerimos que os dois cônjuges devam estar igual mente satisfeitos com a relação Se mantivermos nossa definição inicial de parceiros como iguais que recebem oS mesmos reforçadores a maioria das parcerias não seria considerada entre iguais já que na maioria delas os diferentes parceiros recebem reforçadores diferentes no relacionamento Dizemos de cada membro de um casal que as fontes de sua satis fação diferem porque os reforçadores em seu relacionamento S f e Sr na Figura lll Sa e Si por exemplo na Figura 113 diferera em tipo mas eles podem falar e também passar a se comportar de um modo ta que eles próprios e as outras pessoas digam que estão igualmente satisfeitos Quando esse comportamento ver bal ocorre ele é um estímulo discriminativo para dizermos que os parceiros são iguais Em termos da teoria da eqüidade advogar a igualdade significa que os inves timentos dos dois parceiros devem ser vistos como iguais ignorando as diferenças de sexo cor aparência ou educação Na prática raramente as pessoas se compor tam desse modo O ponto principal da teoria da eqüidade é explicar como as pesso as são capazes de chamar relações desiguais de eqüitativas A teoria admite contu do a possibilidade de que investimentos possam ser iguais neste caso então a eqüidade exigiria que os lucros ou ganhos fossem também iguais No caso especial de relações entre iguais a distinção entre controle e contracontrole desaparece porque nenhum parceiro pode ser considerado contro lador ou controlado nenhum ganha mais na relação que o outro Cada um contro la o comportamento do outro igualmente Mudar da eqüidade parcial para a igualdade produz mudanças profundas em uma relação Quando os trabalhadores só se comparam com outros trabalhadores eles podem considerar um a situação eqüitativa mesmo que seus patrões tirem da relação um ganho maior que o deles Se porém os trabalhadores começarem a se comparar com seus empregadores eles teriam a fim de conseguir a eqüidade de atingir a igualdade Tais movimentos conduzem à autogestão a empresas adminis tradas pelos próprios empregados ou em escala maior a empresas estatais e ao socialismo Poder Discussões sobre a eqüidade normalmente também envolvem discussões sobre o poder Definições de poder normalmente apelam para a intuição ou o bom senso A analise comportamental oferece um caminho para compreendermos melhor esse fenômeno Eqüidade e poder se referem a aspectos diferentes de uma relação A discus Sao sobre eqüidade diz respeito aos benefícios derivados da relação A discussão sbre poder diz respeito ao grau de controle que cada parceiro exerce sobre o COlnPortnmenlo do outro Quando os parceiros se beneficiam de forma desigual do acionamento aquele que obtém mais benefícios também tem mais poder Esse aior poder tanto quanto o maior benefício é o que nos leva a denominar esse Parceiro de controlador 232 Williom M Boum Porém estritamente falando relações de reforço são poderosas não as pessoas Uma pessoa tem poder quando é instrumento de uma relação de reforço poderosa Quando um empregador pode privar um empregado de seu emprego por ter apre sentado um desempenho incompetente o comportamento do empregado está sob o controle de uma relação de reforço poderosa O poder de uma pessoa depende inteiramente do poder das relações de reforço que ele ou ela gèrencia Dois fatores tornam poderosa uma relação de reforço a importância do reforçador e a precisão do controle sobre o reforçador A importância do reforçador depende não de seu valor absoluto mas de seu valor relativo a outros reforçadores existentes na vida do controlado Se dizemos de Meca que seu trabalho é sua vida queremos dizer que além do trabalho existem poucas coisas capazes de prover reforço na vida de Meca Isso significa que para Meca a perda do emprego seria devastadora e que provavelmente ela fará qualquer coisa para m anter seu emprego o que dá a seu empregador um enorme poder na relação que os dois mantêm Porém se Meca tem vários outros relacionamentos em sua vida pais marido filhos amigos e particularmente se ela tem outras fontes de renda seu l emprego terá uma importância menor Neste caso seu patrão teria menos con dições de controlar seu comportamento com a ameaça de perda de emprego Em geral visto que os patrões são mais ricos que seus empregados os benefícios de v í rivados da relação empregatícia têm maior importância para os empregados do que para os patrões embora sejam de menor valor em termos absolutos Unindo os reforçadores que os trabalhadores individuais controlam os sindicatos conseguem i em parte contrabalançar essa diferença ro valor dos reforçadores envolvidos na relação A mesma diferença aparece em outros relacionamentos entre parceiros desi j guais A nota que o professor dá ao aluno é normalmente mais importante para o aluno do que o aplauso do aluno é para o professor O afeto dos pais é normalmen te mais importante para a criança do que o afeto da criança para os pais A pessoa v r mais poderosa controla o reforçador mais importante v í O modo pelo qual a importância do reforçador contribui para dar poder é f muitas vezes especialmente óbvio em relações que fogem ao normal Quando o í desempenho de um filho é mais importante para os pais do que o afeto dos pais para a criança a criança m anda nos pais Quando estudantes podem ameaçar o professor com facas e revólveres o comportamento do professor é muito influen ciado pela aprovação dos alunos Quando um empregado tem habilidades essen ciais impossíveis de serem substituídas o empregado pode passar a mandar no patrão í O poder dessas relações de reforço também depende de sua precisão Mesmo que os reforçadores sejam importantes a relação se tom a menos poderosa se sua í ocorrência é postergada ou incerta O pai demasiadamente ocupado que precisa dizer para o filho esperar até o fim de semana para passarem algum tempo juntos conversando ou brincando tem menos poder para controlar o comportamento da I criança O patrão que só pode dar aumento de salário dependendo de um aumento j nos lucros perde poder no controle do comportamento de seus empregados Go vem os totalitários aumentam a precisão do controle aversivo espionando a popula j ção por exemplo gravando suas conversas telefônicas e assim tornam mais Compreender o behaviorismo 2 3 3 órecisa a possibilidade de aplicação de punição àqueles que praticam oposição às políticas do governo O poder distribuído de forma desigual está na base da distribuição desigual çjgg vantagens Aquele que gerencia as relações de reforço mais poderosas é o mes mo que colhe as maiores vantagens O controlador reforça o comportamento do controlado que produz o maior reforço para si próprio A iniqüidade porém tem limites Se a freqüência de reforço para os compor tamentos do controlado fica muito baixa ou se as exigências para que seu com portamento seja finalmente reforçado são muito altas a ocorrência de contracontrole se torna muito provável Quando os trabalhadores de uma firma recebem salários mais baixos do que os de outra ou quando não podem alimentar suas famílias com o que ganham deixam o emprego protestam ou se organizam Dependendo do evento que serve como estímulo discriminativo para a comparação o controlado a certa altura denuncia que o controlador está abusando de seu poder e que a relação se tornou uma relação de exploração Mesmo que o comportamento do controlador continue a levar a situação até seu limite máximo ainda assim o desequilíbrio de poder pode se m anter só até certo grau de desequilíbrio nas vantagens O contracontrole atua no sentido de reparar a iniqüidade por meio de uma diminuição no desequilíbrio na distribuição de poder Criar relações que reforçam ou punem o comportamento do controlador significa que o controlado pode refor çar positiva ou negativamente fazendo promessas ou ameaças o comportamen to do controlador de dar mais ou mais freqüentemente Para evitar uma rebelião o ditador diminui os impostos Por causa da promessa de melhoria na qualidade da produção o industrial pode instituir uma política de participação nos lucros para os empregados Como o contracontrole aumenta o poder relativo do controlado ele produz ma Is eqüidade por diminuir o desequilíbrio de poder e no extremo ambos poder e vantagens se tornam iguais Por exemplo quando marido e mu lher têm uma relação de iguais seus comportamentos não só são reforçados igual mente mas outras fontes de reforço tornam o reforço que advém do matrimônio igualmente importante para ambos Democracia Por que a democracia é tão popular como forma de governo As respostas tradi cionais se referem aos sentimentos dos cidadãos sentimentos de liberdade e de felicidade A análise comportamental permite um entendimento mais amplo e mais claro das virtudes da democracia É verdade como vimos no Capítulo 9 que os cidadãos em um estado demo Jatico sentemse relativamente livres e felizes Porém poderíamos imaginar um Qitador benevolente que controla o comportamento dos cidadãos com reforço po Sltivo Com tal governante os cidadãos poderiam se sentir livres mas não teriam Condições de garantir a benevolência do ditador Em uma democracia o ingredien te que salvaguarda a liberdade das pessoas é o contracontrole A democracia proporciona a seus cidadãos relações de reforço com as quais Pdem controlar o comportamento de seus governantes Nos Estados Unidos o 234 William M Baum presidente e os representantes do povo no congresso são avaliados periodicamen te com a possibilidade de serem reeleitos ou de serem substituídos Se o povo norteamericano não gostar do que eles fazem pode afastálos O contracontrole em uma democracia pode ocorrer através da ameaça ou por meio da promessa A ameaça seria no sentido de que se a atuação de um gover nante eleito CA e na Figura 113 produzisse conseqüências punitivas S para o povo então os eleitores votariam Ckj em outra pessoa e assim destituiriam o governante S Tais ameaças são explicitadas em manifestações convenções e reuniões O contracontrole por promessa seria no sentido de que se a atuação desse governante produzisse reforço S então os eleitores votariam nele CCR3a m antendoo em seu cargo S Em termos cotidianos o contracontrole por meio de uma promessa é chamado fazer lobby A democracia é também caracterizada por um tipo de igualdade simbolizada nas revoluções francesa e russa na qual todos são considerados e portanto cada pessoa é chamada de cidadão ou camarada A relação entre o presidente e os cidadãos de um país não pode ser uma relação entre iguais enquanto ocupam tal cargo os governantes em um estado democrático são claramente os controladores Uma vez fora desse cargo contudo voltam novamente à condição de cidadãos comuns controlados como todos os demais A longo prazo estão sujeitos às mes mas relações de reforço a que estão sujeitos todos os demais As políticas de governantes democráticos mais cedo ou mais tarde acabam por afetar os próprios governantes Até mesmo enquanto exercem seus cargos o presidente e os membros do congresso devem pagar impostos Uma vez fora desses cargos eles mais do que ninguém estão sujeitos às regras e leis que promulgaram A longo prazo o regime democrático tende a levar a relação entre controladores e controlados de uma condição de eqüidade parcial para uma condição de igualdade Essa descrição da democracia é obviamente uma idealização Funcionários governamentais às vezes se envolvem em atividades secretas e ilegais e às vezes aceitam suborno Um expresidente só em parte volta ao estado de cidadão co mum Porém como um todo o regime democrático é geralmente considerado um progresso em relação a regimes absolutistas como monarquias e ditaduras A im perfeição dos processos democráticos porém sugere que eles ainda poderiam ser objeto de mais e melhores mudanças talvez melhores métodos de contracontrole possam ser encontrados Discutiremos como uma sociedade poderia passar por tais progressos no Capítulo 14 quando analisarmos a questão da engenharia social RESUMO Para que um episódio entre duas pessoas ou entre uma pessoa e um grupo possa et chamado de interação social cada parte deve reforçar o comportamento da outra o reforço deve ser mútuo Exemplos analisados em capítulos anteriores incluetf1 comportamento verbal e coerção Dizse que duas pessoas têm um relacionamefltj7 quando interações sociais entre elas ocorrem freqüentemente Esse mesmo cone1 to se aplica a relações entre indivíduos e instituições i í1 Compreender o behaviorismo 235 Embora o relacionamento baseado em mecanismos coercivos seja obviamen te injusto uma forma mais sutil de iniqüidade marca aquelas relações de explora ção em que as ações de ambos os parceiros são reforçadas positivamente Essas relações são consideradas iníquas porque a longo prazo um dos parceiros acaba por ser enganado a participação do parceiro explorado na relação é em última instância severamente punida A curto prazo a pessoa que é enganada até poderia continuar contente tais pessoas são chamadas escravos felizes A longo prazo escravos felizes freqüentemente acabam descobrindo ou alguém os adverte sobre a trapaça de que são vítimas isto é eles se deparam com estímulos discriminativos que tornam prováveis ações de revolta e discordância Essa instabilidade a longo prazo faz da exploração assim como da coerção um m étodo precário de gerenciamento A tendência a se rebelar contra relações de exploração mais do que contra relações coercivas depende do comportamento verbal das pessoas na sociedade O falar sobre a exploração tende a ocorrer nos mesmos contextos que o falar sobre injustiça e iniqüidade Fazse uma comparação entre dois indivíduos ou dois gru pos e dizse que a pessoa ou grupo maltratado foi explorado Considerando que a comparação feita depende da história de reforço daquele que fala o falar sobre í exploração eqüidade e iniqüidade varia de pessoa para pessoa e de uma época para outra A coerção e a exploração são reparadas inudandose a relação entre as partes envolvidas Podese cortar a relação mas freqüentemente mudanças menos drásti cas podem perm itir que ela continue O movimento em direção a maior igualdade entre dois parceiros acontece como resultado de relações de reforço adicionais ou contracontrole Ao controlador é oferecida a escolha de uma relação alternativa uma modificação na relação existente e estímulos discriminativos apresentados pelo parceiro controlado que mostram a possibilidade de conseqüências a longo prazo muito melhores para o controlador aumentam a probabilidade de que o controlador adote a nova alternativa O contracontrole funciona por meio de pro messas e ameaças por meio de estímulos regras que mostram a possibilidade de reforço futuro e de esquiva da punição futura As ameaças e promessas apoiadas por reforço social ajudam o controlador a evitar a escolha impulsiva da relação que é melhor a curto prazo optando ao invés pela relação melhor a longo prazo autocontrole A introdução de uma nova relação de reforço pela qual o controla do p0de afetar o comportamento do controlador contracontrole muda a relação no sentido de um a maior eqüidade Quando o reforço mútuo em uma relação é equitativa a longo prazo a relação é freqüentemente denominada cooperação Quando novas comparações ocorrem o relacionamento pode mudar ainda Se as novas comparações são feitas em relação a um grupo mais amplo o cionam ento se modifica no sentido de maior eqüidade e em última instância M aldade na qual as partes envolvidas na relação se comparam uma com a Em uma relação entre iguais ambas as partes envolvidas se beneficiam igual nte Quando o reforço é igual as distinções entre controle versus contracontrole eíUre controlador versus controlado desaparecem porque cada parceiro controla cmportamento do outro de forma igual 236 William M Baum 0 controle que cada parceiro exerce na relação sobre o comportamento outro é o poder daquele parceiro ou mais precisamente é o poder das relações reforço através das quais aquele parceiro controla o comportamento do outro q poder de uma relação depende da importância do reforçador e da precisão d0 controle exercido sobre o reforçador Quanto mais importante for o reforçador e quanto mais preciso for o controle sobre ele mais poderosas serão as relações çe reforço Um desequilíbrio de poder nas relações de reforço existentes em um rela cionamento leva à desigualdade na distribuição das vantagens derivadas da rela ção Como o contracontrole aumenta o poder do controlado ele tende a reduzir a iniqüidade ao reduzir o desequilíbrio de poder A grande força da democracia é que esse regime político dá às pessoas aos controlados o poder de contracontrolar O contracontrole acontece por meio de eleições manifestações e lobby Embora a relação permaneça desigual mesmo com contracontrole a duração limitada do tempo de m andato dos governantes assegu ra igualdade a longo prazo porque ao deixarem seus cargos os governantes se tornam sujeitos às mesmas relações de reforço que controlam todos os demais Quando o comportamento de todos está sujeito às mesmas relações todos são iguais entre si Essa é a teoria pelo menos o regime democrático tal como exerci do no mundo de hoje necessita ser aperfeiçoado LEITURAS ADICIONAIS Adams J S 1965 Inequity in social exchange In L Berkowitz org Advances in expe rimental social psychology vol 2 p 267299 Nova York Academic Press Artigo clássico que ampliai a teoria da eqüidade de Homans ao considerar os efeitos de diferentes padrões de comparação Homans G C 1961 Socfai freiavior its elem entaiy form s Nova York Harcourt Brace World Texto clássico que contém a teoria da eqüidade original de Homans Lamal R A 1991 Three metacontingencies in the preperestroika Soviet Union Behavior and Social Issues 1 7590 Esse artigo é uma análise comportamental de algumas práticas de gerenciamento que funcionaram inadequadamente na União Soviética Mearsheimer J J 1995 The false promise of international institutions international Security 19 549 Este artigo contém uma discussão ampiiada sobre o dilema da segurança nas relações internacionais do ponto de vista de um cientista político Nevin J A 1985 Behavior analysis the nuclear arms race and the peace movement In S Oskamp oig International conflict and national policy issues Applied Social Psychology Annual 6 2744 Beverly Hills Sage Publications Esse artigo é um exemplo de como a análise comportamental pode ser aplicada a relações internacionais Rao R K e Mawhinney T C 1991 Superiorsubordinate dyads dependence of leader effectiveness on mutual reinforcement contingencies Journai of the Experim ental A nalyst o f Behavior 56 105118 Esse artigo descreve estudos realizados em laboratório de relações superiorsubordinado focalizando particularmente como elas dependem da im portância dos reforçadores Compreender o behaviorismo 237 Skinner B F 1974 About behaviorism Nova York Knopf 0 contra controle é discutido eXpicitamente no capítulo 12 The question of control Skinner B F Cl978 Reflections on behaviorism and society Nova York AppletonCentury Crofts Essa obra contém entre outros um ensaio sobre a natureza exploradora das loterias oficia is Freedom at last from the burden of taxation Van Evera S 1984 The cult of the offensive and the origins of the first world war frtemotioilal Security 9 58107 Descrição de um cientista político sobre o dilema da segu rança e o modo como este levòu à Primeira Guerra Mundial termos introduzidos NO CAPITULO 11 Còntracontrole Dilema da segurança Episódio social mínimo Eqüidade Escravo feliz Exploração Lucroinvestimento Poder Reforço mútuo Teoria da eqüidade T Título traduzido em português ver Apêndice ARCHIVE 12 Valores religião e ciência A 5 questões que se colocam sobre valores são perguntas sobre o bom e o mau o certo e o errado Ao sermos criados em determinada cultura aprendemos a chamar certas coisas e atividades de boas lutamos por essas coisas e nos empenhamos nessas atividades Aprendemos a chamar certas coisas e atividades de más e evita mos essas coisas e nos afastamos dessas atividades A aprovaçãopor nossos seme lhantes é boa o trabalho honesto é bom a doença é má a mesquinharia é má Neste capítulo aceitamos sem discutir que essas coisas sejam chamadas de boas e más que sejam adotadas ou evitadas Estamos interessados em como explicar o comportamento de chamálas de boas e más Na concepção tradicional valores são idéias e atitudes coisas mentais exis tentes em algum lugar dentro do sujeito Para pessoas de orientação religiosa esses valores mentais vêm de Deus A suposição dessa origem divina está implícita na citação de C S Lewis no final do Capítulo 9 dizendo que a ciência não pode lançar nenhuma luz sobre questões de valor que pode nos dizer como nos comportamos mas não como devemos nos comportar Os behavioristas atuais discordam de Lewis é possível à ciência lançar alguma luz sobre o problema de como devemos nos comportar QUESTÕES DE VALOR Os behavioristas rejeitam a noção de que os valores são entidades mentais se são alguma coisa são comportamento Lewis está certo ao dizer que a ciência não tem ttada a dizer sobre o que é bom ou mau aos olhos de Deus mas pode ter muito a dizer sobre o que é bom ou mau aos olhos dos homens Mesmo que Lewis esteja correto ao afirmar que a análise comportamental só pode lidar com o que as pes soas fazem uma das coisas que as pessoas fazem é falar sobre como devem se cniportar A análise comportamental pode abordar questões sobre valores focali 249 William M Baum zando o que as pessoas fazem e particularmente o que dizem seu comportamento verbal em relação ao bom e mau ao certo e errado A ciência pode indagar por que as pessoas fazem determinadas afirmações a respeito de valores Relativismo moral Temse a impressão de que há tanta diversidade de pessoa para pessoa de lugar para lugar e de cultura para cultura que alguns pensadores dizem que não há pa drão universal que possa explicar as idéias a respeito do certo e errado Falam em ética situacional a ética que se origina de situações particulares e não de princí pios universais como a única possibilidade Em outras palavras esses relativistas morais sustentam que cada pessoa desenvolve suas próprias idéias sobre o bom e o mau dependendo de sua situação particular A extensão desse pensamento é a afir mação Nada é bom ou mau mas pensálos assim assim os torna Um dos problemas do relativismo moral é que ao que parece ele não oferece meios de resolver conflitos entre pessoas que têm idéias diferentes quanto ao bom e ao mau Tomando um exemplo extremo suponhamos que um sádico considere que é bom infligir dor a outra pessoa Se não há padrão universal como podemos concluir que suas ações são más O que poderia limitar a noção de que Se isso faz você se sentir bem façao O relativismo moral pode responder a essas questões remetendo às conven ções sociais O grupo pode decidir que comportamento chamará de bom oumau e a partir daí essa convenção se torna parte da situação do indivíduo Podese ensinar ao sádico que o grupo rejeita esse comportamento Essa posição porém deixa algumas questões em aberto 1 Como um grupo chegaria a convenções sobre o bom e o mau 2 Como o grupo faria para persuadir os indivíduos a aceitar as convenções Padrões éticos A alternativa ao estrito relativismo moral é a idéia de que há padrões éticos univer sais de que é possível descobrir princípios que expliquem as asserções que as pes soas fazem sobre o bom e o mau como resultado de algo mais do que suas situações particulares Tanto o religioso Lewis como o behaviorista Sldnner rejeitaram o relativismo moral em favor de padrões éticos universais Suas idéias a respeito de que padrão usar naturalmente são diferentes em especial no que diz respeito a origem desse padrão vj A Lei da Natureza Humana j Lewis 1960 começa com a observação de que as pessoas muitas vezes têm diver gências sobre o que é justo Compreender o behaviorismo 241 Acredito que podemos aprender algo muito importante ouvindo o tipo de coisa que eles falam Dizem coisas como Você gostaria que alguém fizesse isso com você Este lugar é meu eu cheguei primeiro Deixeo em paz ele não está prejudicando ninguém Por que você tinha de empurrar primeiro Me dá um gomo da sua laranja eu te dei um Vamos lá você prometeu p 17 Do ponto de vista de Lewis essas frases sugerem que quando há discordância as pessoas apelam para um padrão ético que imaginam ser compartilhado por todo o mundo Agora o que me interessa nessas observações é que a pessoa que as faz não está simplesmente dizendo que o comportamento do outro lhe desagrada Está ape lando para um padrão de comportamento que espera que o outro conheça E o outro raramente retruca Às favas o teu padrão Quase sempre ele tenta provar que o que fez na verdade não vai contra nenhum padrão ou se vai é porque há uma desculpa importante Ele faz de conta que há uma razão especial naquele caso para que a pessoa que pegou o lugar continue sentada ou que as coisas eram muito diferentes na ocasião em que ganhou o gomo de laranja ou que algo inesperado aconteceu que agora o impede de cumprir a promessa É como se na verdade os dois lados tivessem em mente algum tipo de Lei ou Regra de jogo limpo ou comportamento decente ou moralidade ou que nome se lhe dê sobre a qual realmente concordassem E têm p 17 Essa lei ou regra com a qual todo mundo concorda é chamada por Lewis de lei da natureza hum ana Ele explica cuidadosamente como vimos no Capítulo 9 que essa lei não diz respeito ao que fazemos mas ao que devemos fazer E uma lei que pode ser e muitas vezes é desobedecida Lendo nas entrelinhas podemos ver que a lei de Lewis diz respeito à bondade e à justiça Acaba resultando na Regra de Ouro faze aos outros o que queres que te façam Para Lewis parece que violamos a regra por interesse próprio e ele está interessado em saber por que há ocasiões em que obedecemos a ela Dá a entender que nossa única razão para agir altruisticamente é nosso senso interior do que é correto que nos foi dado por Deus Lewis ignora a possibilidade de que as pessoas também possam obedecer à Regra de Ouro por interesse próprio De acordo com nossa discussão sobre regras no Capítulo 8 essa regra mostra conseqüências a longo prazo e a probabilidade de retribuição quando fazemos coisas boas para os outros eles freqüentemente fa coisas boas para nós Hesitamos em violar abertamente a regra porque se girmos de forma egoísta com os outros é provável que eles respondam agindo de tnia egoísta conosco Nos termos mais técnicos do Capítulo 11 a Regra de Ouro obriga à eqüidade Você não consegue reforçar suficientemente o comportamento da outra pessoa larC0T rtamentO deseJado desaparecerá Se Míriam der a Cilene um gomo de vel a 6 dePs Cilene se recusar a dar um gomo a Míriam tornase pouco prová sua Ue ram venha a dar qualquer outra coisa a Cilene Se Lugui não cumprir c Prmessa a Sérgio é improvável que o comportamento de Sérgio venha a ser rlado de novo por uma promessa de Lugui uma regra Capítulo 8 Fazer aos 242 Wiliiom M Baum outros o que você quer que lhe façam significa que você reforça o comportamento dos outros e eles reforçam o seu Os biólogos evolucionistas também reconhecem o altruísmo ser bom para os outros e a reciprocidade considerações de eqüidade a longo prazo como univer sais humanos Reconhecem outros universais culturais como casamento direito de propriedade e reconhecimento de parentes O raciocínio dos biólogos é parale lo ao de Lewis onde quer que se olhe vêse que as pessoas compartilham e fazem sacrifícios por outros praticam altruísmo pelo menos parte do tempo que trapaças falta de reciprocidade a longo prazo também ocorrem e que a trapaça é punida especialmente pelos que foram logrados A universalidade desses fenômenos suge re realmente que a bondade e a justiça constituem uma lei da natureza humana Entretanto ao contrário de Lewis evolucionistas e behavioristas vêem as re gularidades do comportamento humano apenas como um reflexo de várias formas de egoísmo Míriam dá a Cilene um gomo de laranja só se for provável que Cilene retribua reforce o ato de doar de Míriam a longo prazo Sérgio pode dar tempo e dinheiro para sua igreja mas só se obtiver algo em troca a longo prazo Trapaças e comportamento verbal capaz de evitar punições devido a trapaças fingir de acordo com Lewis são diferentes do comportamento correto apenas por serem reforçados de forma mais imediata Constituem apenas uma forma mais óbvia de egoísmo agir de forma a produzir maior reforço a curto prazo Assim o altruís mo por aumentar o benefício a longo prazo ainda é egoísta A grande exceção ao egoísmo humano ocorre no comportamento dirigido a parentes Os pais principalmente fazem sacrifícios por seus filhos sem esperar retorno Irmãos muitas vezes se ajudam uns aos outros mesmo quando a recipro cidade é improvável ou abertamente rejeitam qualquer retribuição Tios e tias aju dam seus sobrinhos e sobrinhas Uma pessoa bem de vida pode até ajudar um primo que não tem condições de lhe corresponder As exceções porém confirmam a regra A universalidade do altruísmo sugere uma base genética Os genes de altruísmo dirigido a parentes seriam selecionados porque os parentes compartilham esses genes e a ajuda entre si tende a aumentar a freqüência dos genes compartilhados no conjunto gênico da população Genes que promovem o altruísmo dirigido a pessoas que não têm parentesco podem ser selecionados contanto que acompanhem genes responsáveis pela sensibilidade ao reforço a longo prazo Isso nos leva à questão das origens de onde provém a lei da natureza humana A questõo das origens Da mesma forma que evolucionistas e behavioristas Lewis rejeita a idéia dos relativistas morais de que os valores sobre os quais há acordo sejam simplesmente convenções sociais Eis como ele discute a questão O que você chama de Lei Moia j não seria só uma convenção social algo que nos é inculcado pela educação Concordo plenamente que aprendemos a Regra do Comportamento Decente corn j nossos pais e professores amigos e livros tal como aprendemos tudo o mais Pie algumas das coisas que aprendemos são meras convenções que poderiam ser o1 Compreender o behaviorismo 243 rentes aprendemos a ficar do lado esquerdo nas estradas mas a regra poderia perfeitamente ser manterse à direita e outras como na matemática são verdades reais A questão é saber a que classe pertence a Lei da Natureza Humana p 24 Lewis é claro sustenta que essa lei é uma verdade real e não uma dessas convenções que poderiam ser diferentes Detémse longamente na rejeição de uma explicação afim de que a conduta decente beneficia como um todo a sociedade a que se pertence assim formulando o argumento Os seres humanos afinal têm algum bom senso percebem que você não pode ter verdadeira segurança ou felicida de a não ser em uma sociedade em que cada um jogue limpo e é por isso que tentam se comportar decentemente Ele repudia essa explicação da seguinte forma Ora com certeza é perfeitamente verdadeiro que a segurança e a felicidade só podem existir se indivíduos classes e nações forem honestos justos e bondosos uns com os outros Essa é uma das mais importantes verdades no mundo Mas como explicação de por que sentimos o que sentimos com relação ao Certo e Errado simplesmente não leva a nada Se perguntarmos Por que não devo ser egoísta e você responder Porque é bom para a sociedade podemos então per guntar Por que eu me importaria com o que é bom para a sociedade senão no que atinja a mim pessoalmente e então você terá de dizer Porque você não deve ser egoísta o que simplesmente nos traz de volta ao ponto de partida p 29 Para Lewis tem de existir algum fator adicional alguma razão última para explicar por que sentimos o que sentimos com relação ao certo e errado e por que devemos nos comportar de forma nãoegoísta Os biólogos evolucionistas usam um argumento semelhante contra as explica ções de altruísmo que apelam para o agir para o bem da espécie ou para a seleção do grupo Se os indivíduos se comportassem de forma a aumentar a aptidão do grupo às suas próprias custas então qualquer membro do grupo que agisse egoisticamente usufruindo os benefícios de pertencer ao grupo sem fazer sacrifí cios isto é trapaceando teria aptidão superior ao resto Aumentaria o número de indivíduos egoístas o que eventualmente desmantelaria a organização social Qualquer sistema social baseado no bem do grupo seria vulnerável a rupturas cau sadas por trapaceiros a não ser que alguma consideração maior em última análise egoísta pudesse obrigar os indivíduos a permanecer altruístas Embora as explicações religiosa e evolutiva dos valores concordem em que algum fator último ou padrão absoluto deva explicar nossos valores a concordan ce acaba aí Lewis propõe que a lei da natureza humana vem de Deus enquanto os eVolucionistas argumentam que ela é resultado da seleção natural UMA abordagem científica dos valores k explicação científica dos valores não pode apelar para causas sobrenaturais como 0eus Contrariando a afirmação de Lewis terão os behavioristas algo a dizer sobre 9Ue devemos fazer independentemente do que de fato fazemos 244 William M Baum A resposta é sim e não Os analistas de comportamento podem explicar açõ f que são consideradas boas ou más e particularmente podem explicar o comporta mento verbal das pessoas sobre o bom e o mau o certo e o errado isto é expliCg o que as pessoas falam acerca do que devemos fazer Uma pessoa religiosa coin0 I Lewis porém poderia ficar insatisfeita com essas explicações e querer saber p0r que o universo é de tal forma construído que chegamos a dizer uns aos outros coisas do tipo Não roubarás Mesmo que possamos explicar como se chegou a isso í sendo o m undo do jeito que é permanece a questão de por que o mundo é dessé I jeito Como disse Lewis 1960 A ciência trabalha por meio de experimentos Observa como as coisas se compor tam Por mais complicado que pareça ao final todo enunciado científico na ver dade significa algo como Apontei o telescópio para tal parte do céu às 220 da manhã do dia 15 de janeiro e vi isso e aquilo ou Coloquei um pouco dessa substância numa vasilha aquecia a tal temperatura e aconteceu isso e aquilo Mas por que de qualquer maneira alguma coisa aparece lá e se há alguma coisa por trás das coisas que a ciência observa algo de uma qualidade diferente í isso não é uma questão cientifica Se há Algo Atrás terá de ficar de todo desconhecido dos homens ou então terá de se fazer conhecido de outra forma A afirmação de que essa coisa existe bem como a afirmação de que essa coisa não existe não são afirmações que a ciência possa fazer Afinal é na verdade uma questão de senso comum Suponhamos que a ciência se tomasse algum dia tão completa que viesse a conhecer cada uma das coisas existentes em todo o universo Não é óbvio que as perguntas Por que o universo existe Por que continua como é e Ele tem algum sentido ficariam exatamente do mesmo jeito p 32 Reconhecendo a correção do argumento geral de Lewis quanto à existência de questões que estão fora do âmbito da ciência podemos discordar de suas afir mações tratando a lei da natureza hum ana como advinda do Além desde que V concentremos nossa atenção nos atos e falas que se conformam à lei Podemos explicar por que as pessoas se comportam de forma nãoegoísta e por que se refe rem ao com portam ento egoísta como mau e ao nãoegoísta como bom Como an tes usarem os como fundamento conceitos analíticocomportamentais básicos como reforço com portam ento verbal e controle de estímulo Reforçadores e punidores Skinner 1971 ofereceu uma regra prática simples coisas que são chamadas boas são reforçadores positivos Coisas que são chamadas más são punidores Atividades chamadas boas são aquelas que são reforçadas Atividades que são chamadas más são aquelas que são punidas Certas coisas e atividades são boas ou más devido à forma como nossos cor pos são construídos A saúde é boa a doença é má A comida e o comer são bonSi a dor e a prostração são más O afeto é bom a rejeição é má Compreender o behaviorismo 245 Reforçadores e punidores adquiridos são chamados bons ou maus porque ror3rn associados a reforçadores ou punidores incondicionais Dinheiro é bom si al de doença é mau Um A é uma boa nota um E é uma nota má Seu poder como conseqüência assim como seu rótulo verbal provêm de uma história pessoal Variam de época para época de pessoa para pessoa e de cultura para cultura 0 comporta mento de muitas crianças pode ser reforçado com figurinhas de futebol e essas crianças chamam essas figurinhas de boas Raramente isso acontece com adultos mas para alguns deles as figurinhas continuam sendo reforçadores Para o habitan te de uma aldeia tibetana é pouco provável que essas figurinhas funcionem como reforçadores ou que sejam chamadas boas elas não estão associadas a reforçadores incondicionais nem o comportamento verbal de chamálas boas é reforçado A maior parte dos reforçadores e punidores adquiridos resulta do fato de vivermos em sociedade com outras pessoas Notas medalhas repreensões elogios chegar ao trabalho na hora pegar o ônibus o poder de todas essas conseqüências é social em sua origem é o resultado de relações organizadas pelo grupo Todas elas são chamadas boas ou más dependendo de reforçarem ou punirem o com portamento que as produz Repreensões são más punem a mentira a fraude o atraso o descuido e assim por diante Chegar ao trabalho é bom reforça o acordar cedo comer depressa pegar o ônibus e assim por diante Se a maior parte das coisas chamadas boas ou más são assim designadas devi do a circunstâncias sociais assim também a maioria das atividades chamadas boas ou más são assim designadas devido a circunstâncias sociais isto é porque são reforçadas ou punidas por outras pessoas Dividir coisas com irmãos ou com outras crianças é chamado de bom e é reforçado por pais e professores Fazer doações a instituições de caridade é chamado de bom e é reforçado por amigos colunistas de jornal e pela Receita Federal através da redução de impostos Mentir é chamado de mau e é punido por pais professores e amigos Oferecer ou aceitar suborno é chamado de mau e é punido pelo sistema judiciário A regra prática de Skinner que considera o reforço como bom e a punição como má importa em um a regra sobre julgamentos de valor o comportamento verbal envolvendo bom mau certo e errado A verbalização Mentir é errado ocorre porque verbalizações desse tipo foram reforçadas por pais e professores Assim uma pessoa que nunca recebeu aprovação por tais verbalizações jamais dirá que mentir é errado embora talvez nunca venha a mentir se sua história incluiu o reforço da honestidade e a punição da mentira Outra pessoa poderá dizer que mentir é errado e no entanto mentir freqüentemente Em geral porém as pessoas Que foram punidas por mentir são as mesmas cujo comportamento verbal de dizer Que mentir é errado foi reforçado Chamar reforçadores de bons e comportamento reforçado de certo assim como chamar punidores de maus e comportamento puni do de errado é comportamento verbal que é normalmente reforçado Essa explicação esclarece um pouco por que chamamos coisas e atividades de boas e más mas não responde a pelo menos duas questões fundamentais Primeiro ternos sentimentos intensos a respeito do certo e do errado a respeito da Regra do Comportamento Decente como diria Lewis Quando fazemos algo bom senrimo ns bem quando fazemos algo mau sentimonos mal Muitas vezes se sugere que 246 William M Baum chamamos as coisas de boas ou más em função do que sentimos sobre elas Como os sentimentos se relacionam com as coisas que chamamos de boas ou más Em segundo lugar mesmo que seja verdade que as atividades boas e más são aquelas que são reforçadas e punidas em nossa sociedade ainda nos resta explicar por que é costume dessa sociedade reforçar e punir aquelas atividades específicas O que há nas atividades boas e más que leva o grupo a reforçálas e punilas Esse é o enigma que Lewis levantou e respondeu apelando para Deus Os analistas comportamentais hoje em dia seguem geralmente a posição de Skinner 1971 1981 e respondem à questão referindose à teoria da evolução como veremos neste capítulo e no próximo Primeiramente atacaremos a questão do papel dos sentimentos e depois passaremos ao papel tía evolução Sentimentos Skinner 1971 discutiu a diferença entre o que podemos fazer e o que devemos fazer como exemplo da diferença entre um fato e como nos sentimos a respeito desse fato Embora as pessoas facilmente aceitem essa distinção Skinner salienta que para o analista comportamental tanto o ato como o sentim ento sobre ele são fatos a serem explicados 0 que as pessoas sentem sobre os fatos ou o que significa sentir alguma coisa é questão para a qual a ciência do comportamento deveria ter uma resposta Um fato é sem dúvida diferente do que a pessoa sente a respeito dele mas o sentimento é um fato tam bém p 103 Se Sérgio perde a cabeça grita com Cilene e depois se sente péssim o mais tarde o analista comportamental precisa explicar não apenas os gritos de Sérgio mas também seu sentirse péssimo Tanto o gritar de Sérgio quanto seu sentirse mal são atividades Seu sentirse mal inclui abaixar a cabeça e falar sobre quão m al ele se sente Os relatos que falam em sentirse bem ou sentirse mal são exemplos de autoconhecimento Capítulo 6 Para entender esses relatos temos de examinar a história de reforço e punição da pessoa Nem todo o mundo se sente mal após gritar com alguém então porque Sérgio se sente Muito provavelmente seu gritar foi freqüentemente punido ao longo dos anos por pais professores e amigos O resultado é que quando se com porta mal ele fica infeliz e relata sentimentos de ansiedade vergonha e culpa Skinner argumentou que esses relatos são comportamento verbal sob con trole discriminativo das condições do corpo Essas condições pelo menos parcial mente podem ser públicas como quando se registram mudanças no ritmo car díaco na respiração nas secreções gástricas ou nas glândulas sudoríparas duran te uma situação emocionalmente carregada Públicas ou privadas elas fu n cio nam como estímulos discriminativos os quais junto com circunstâncias externas a gritaria a expressão magoada no rosto de Cilene determinam a ocasião para os relatos de sentirse mal envergonhado ou culpado Relatos de sentirse bein ocorrem em situações similares àquelas em que o comportamento no passad o foi reforçado O relato de Míriam dizendo que se sente bem quando tira A em Compreender o behaviorismo 247 algum curso resulta de condições somáticas que também recebem o nome de alegria e êxtase Os relatos porém não explicam por que as situações que lhes deram origem são chamadas boas e más na verdade os relatos de sentimentos e as verbalizações bom e m au provêm da mesma fonte a história Os sentimentos e os julgamen tos de valor brotam de duas histórias de reforço e punição paralelas Skinner atri buiu as condições somáticas ao condicionamento respondente elas são reações fisiológicas a situações nas quais reforçadores e punidores eventos filogeneticamente im portantes Capítulo 4 ocorreram no passado do indivíduo Surgiram como subproduto das relações operantes que controlaram os reforçadores e punidores isto é relações de reforço que modelaram encorajaram ou desencorajaram o comportamento designado como bom ou mau As verbalizações sobre bom e mau procedem de um conjunto paralelo de relações no qual rótulos de bom foram refor çados na presença de reforçadores e de comportamento reforçado e no qual rótu los de mau foram reforçados na presença de punidores e de comportamento puni do Tendo gritado com Cilene Sérgio diz que fez algo errado e que se sente mal mas ele não faz um por causa do outro as duas ações verbais provêm de histórias de reforço que se sobrepõem mas que são diferentes A diferença entre as histórias explica por que as pessoas conseguem falar sobre o que é bom e mau sem se sentir necessariamente bem ou mal As discussões sobre certo e errado em geral provocam paixão mas elas podem proceder calma mente Posso decidir que devo fazer um seguro sem sentir nada especial a respeito O histórico de afirmações de valor difere do histórico de sentimentos o que nos permite entender o uso de palavras como deve e deveria Enunciados que envol vem essas palavras são regras no sentido do Capítulo 8 isto é estímulos discri minativos verbais Quando Míriam diz para Lugui Para chegar ao banco você deveria virar à esquerda na esquina ela poderia igualmente ter dito Se você virar à esquerda essa ação será reforçada por chegar ao banco O deveria é uma dica para Lugui de que seu comportamento pode ser reforçado As regras são geralmen te cham adas julgam entos de valor quando indicam reforço social em que os reforçadores são fornecidos por outras pessoas Skinner 1971 argumentou que uma afirmação como Você deveria você deve dizer a verdade é um julgamento de valor no sentido de que indica relações de reforço Isto poderia ser traduzido em termos como Se a aprovação de outras pessoas é reforçadora para você então o seu dizer a verdade será reforçado Ele comentou É um julgamento ético e moral no sentido em que ethos e mores se referem às práticas costumeiras de um grupo p 112113 Nos termos do Capítulo 8 Skinner está aqui argumentando que um Julgamento de valor é um a regra que mostra um reforço último que é social em sua natureza o resultado de práticas costumeiras do grupo ao qual falante e ouvinte Pertencem Se o comportamento do ouvinte se conforma às práticas do grupo o ouvinte colherá os benefícios de pertencer ao grupo por exemplo a aprovação tam bém recursos e oportunidades de reprodução Não podemos porém dis cutir práticas culturais Capítulo 13 ou princípios morais mais adiante sem pri meiro revisitar a teoria cla evolução j Teoria da evolução e valores I Até agora nossa discussão não respondeu a uma questão fundamental ou corno diria Lewis à verdadeira questão Se coisas e atividades boas são reforçadores e j atividades reforçadas e se coisas e atividades más são punidores e atividades puni das então o que faz com que os reforçadores tenham efeito reforçador e os j punidores tenham efeito punitivo j Esboçamos um a resposta parcial no Capítulo 4 a aptidão O alimento é reforçador para um organismo privado porque os tipos de uma população que graças a seu genótipo são organizados de forma a que o alimento seja reforçador se reproduzem em m aior número do que os que não têm essa organização A dor e um estímulo punitivo porque os tipos que são organizados de forma tal que lesões corporais causadoras de dor sejam um punidor se reproduzem em maior número do que aqueles que não têm essa organização Ocasionalmente devido a um defei to genético nasce um indivíduo desprovido da capacidade de ser punido por es timulaçao dolorosa Essas pessoas se machucam com muita freqüência e sobrevivem I à infância somente com vigilância constante por parte de quem cuida delas Proble mas do gênero apareceriam com pessoas deficientes em outros reforçadores e punidores pessoais abrigo sexo calor e frio excessivos náusea e assim por diante Como nossa espécie é social a aptidão de nossos genes é freqüentemente ligada a nosso comportamento uns com os outros Os benefícios de viver em grupo i só podem ser auferidos à custa de mecanismos que nos tornam sensíveis uns aos outros e dependentes uns dos outros Muitas vezes pesa sobrenós não apenas a aprovação de nossos irmãos mas também seu bemestar Não só um choro de bebê mas sinais de aflição mesmo em um estranho são geralmente aversivos Há com provação experimental de que o comportamento altruísta para com os outros fun ciona como reforçador mesmo independente de qualquer outro ganho pessoal Nossos interesses individuais de curto prazo são muitas vezes sacrificados no altar v do bem maior do grupo que acaba sendo nosso próprio bem maior a longo prazo Mais precisamente o bem maior a longo prazo é o bem maior de nossos genes O biólogo evolucionista Richard Dawkins 1989 coloca eloqüentemente a ques tão descrevendo os organismos como máquinas de sobrevivência que fazem apos tas dependendo da forma como seus genes organizaram seus corpos Em um mundo complexo a previsão é uma coisa arriscada Toda decisão tomada por uma máquina de sobrevivência é uma aposta e é tarefa dos genes programar os cérebros de antemão de modo que em média tomem decisões que valham a pena A moeda do cassino da evolução é a sobrevivência mais exatamente a sobrevivência dos genes mas para muitos fins a sobrevivência individual já é uma aproximação razoável Se você vai à cacimba beber água aumenta seu risco de ser comido por predadores que vivem de emboscar presas em cacimbas Se você não vai à cacimba eventualmente morrerá de sede Há riscos de qualquer lado que você olhe e você tem de tomar a decisão que maximize as oportunida des de sobrevivência de seus genes a longo prazo Algum tipo de avaliação das probabilidades tem de ser feito Mas não tem os de pensar evidentem ente que os anim ais fazem os cálculos conscientem ente Apenas tem os de acreditar 248 Williom M Baum Compreender o behaviorismo 24 que os indivíduos cujos genes construíram cérebros tais que os levam a fazer as apostas corretas terão como conseqüência direta maior probabilidade de sobrevi ver e portanto de propagar esses mesmos genes Cp 5556 Apostas e decisões aqui referemse a comportamento e geralmente em nossa espécie a comportamento aprendido Do ponto de vista dos genes a apren dizagem implica mais apostas ainda porque há menos segurança para os genes de que o organismo se comportará corretamente Renunciar a um pouco de controle a fim de fazer experiências com o ambiente pode auxiliar a sobrevivência assim sendo os genes que o permitirem se multiplicarão Por outro lado os genes que limitam a gama de atividades que podem ser aprendidas e a gama de aspectos do ambiente que podem ser sensíveis à aprendizagem serão selecionados se de uma maneira geral conduzirem o organismo a fazer boas apostas É por isso que os genes são responsáveis pela aprendizagem mas só até certo ponto Uma das for mas pela qual os genes mantêm o controle é determinando as coisas que serão boas emás ou reforçadores e punidores Sobre a aprendizagem operante Dawldns 1989 escreve Uma maneira pela qual os genes resolvem o problema de fazer previsões em ambientes bastante imprevisíveis é incorporar a capacidade de aprender Aqui o programa poderá assumir a forma das seguintes instruções à máquina de sobre vivência Eis aqui uma lista de coisas definidas como gratificantes gosto doce na boca orgasmo temperatura moderada uma criança sorrindo E aqui está uma lista de coisas desagradáveis vários tipos de dor náusea estômago vazio crian ça chorando Se lhe acontecer de fazer algo que venha a ser seguido por uma dessas coisas ruins não o faça de novo mas por outro lado repita qualquer coisa que for seguida por uma das coisas boas A vantagem desse tipo de programação é reduzir em muito o número de regras detalhadas que teriam de ser introduzidas no programa original além disso ela é capaz de lidar com mudanças ambientais que não poderiam ter sido previstas em detalhe p 57 Genes que definem reforçadores e punidores e que fornecem os meios para a aprendizagem operante serão geralmente selecionados em uma espécie como a nossa que vive em um ambiente incerto Por seu turno os reforçadores e punidores definem o que é bom e o que é mau mesmo quando a aposta dá errado e o compor tamento malogra em promover a aptidão ou mesmo a reduz Dawkins continua Em nosso exemplo os genes prevêem que o gosto doce na boca e o orgasmo serão bons no sentido de que comer açúcar e copular provavelmente serão benéficos à sobrevivência dos genes De acordo com esse exemplo a possibilida de de existência da sacarina e da masturbação não é antecipada como também não o são os perigos da ingestão excessiva de açúcar em nosso meio onde ele existe em abundância nãonatural p 57 Esse último aspecto merece destaque o açúcar existe em abundância não natural em nosso meio porque o meio mudou O ambiente em que os genes foram 250 William M Boum selecionados e que fez do gosto doce um reforçador nao mais existe O açúcar é agora abundante devido à mudança cultural e a mudança cultural é tão rápida erti comparação à mudança evolutiva que as mudanças no conjunto gênico da popula ção nunca conseguem acompanhála Mas a mudança cultural continua e atual mente comer muito açúcar tornouse uma coisa má e o bom é cuidar da dieta Esses rótulos porém têm a ver com algo que está além do indivíduo porque de pendem de práticas culturais de reforço e punição Voltaremos à cultura e à mu dança cultural no Capítulo 13 Altruísmo De acordo com a teoria da evolução e com a análise comportamental o verdadeiro altruísmo no sentido de autosacrifício sem possibilidade de ganho a longo prazo não pode existir Biólogos evolucionistas salientam que o altruísmo é quase sempre direcionado para a família O autosacrifício em prol de familiares pode ser selecio nado porque a família compartilha os genes responsáveis pelo comportamento al truísta mesmo que o altruísta saia perdendo do ponto de vista pessoal os genes podem aumentar através do benefício à família Os biólogos ainda argumentam que o autosacrifício se estende a estranhos apenas quando a reciprocidade é pro vável quando por exemplo a participação em um grupo requer o autosacrifício como preço dos benefícios dessa participação É muito mais provável que as pessoas ajudem á quem pertence a seu clube a sua vizinhança ou a seü povo do que auxiliem alguém com quem não tenham nenhum laço Os analistas comportamentais levam essa idéia um passo adiante ao notar que o comportamento altruísta depende de reforço Skinner 1971 por exemplo considerou o agir para o bem de outrem como resultado de reforço social Ele argumentou que quando outras pessoas dispõem reforço para um comportamento de um indivíduo podese dizer que a pessoa afetada se comporta para o bem de outrem p 108109 O indivíduo que é alvo do altruísmo pode se beneficiar de forma mais imediata mas o altruísta também se beneficia ao final As pessoas se comportam altruisticamente para com as outras em duas circunstâncias 1 quan do estão envolvidas em alguma relação com elas tal como descrito no Capítulo 11 de forma que a outra parte eventualmente lhe dará um retorno 2 quando tercei ros administram a situação de forma que a ação venha a ser reforçada Uma baba sacrifica tempo e esforço e às vezes corre o risco de se ferir pelo bem do filho de outra pessoa mas ao final é recompensada por dinheiro e pela aprovação dos pais da criança Os governos exigem que os cidadãos se sacrifiquem pagando impostos mas o pagamento de impostos é reforçado a longo prazo por serviços tais como escolas e coleta de lixo É evidente que pagando impostos também se evitam multas prisão e outras formas de punição O reforço a longo prazo nos ajuda a entender por que o altruísmo ocorre e a mesma natureza postergada do reforço nos ajuda a compreender porque o altruís mo muitas vezes não ocorre Nos termos dos Capítulos 9 Figura 92 e 11 o com portamento egoísta geralmente constitui impulsividade e o altruísmo geralmente e autocontrole As pessoas freqüentemente se comportam de forma egoísta porque o Compreender o behaviorismo 251 reforço para o egoísmo é relativamente imediato As pessoas mentem trapaceiam roubam e matam porque esses comportamentos recompensam a curto prazo Uma boa parte do que chamamos socialização consiste em colocar o com portamento em contato com conseqüências de longo prazo que reforçam a bonda de e a generosidade O comportamento verbal acerca de fazer o bem para os outros fornece regras no sentido dos Capítulos 8 e 11 que ajudam as pessoas a evitar as armadilhas de reforço do egoísmo Vimos uma dessas armadilhas na Figura 113 na qual o controlador tem de escolher entre uma relação de exploração que com pensa a curto prazo e uma relação mais cooperativa que compensa a longo prazo 0 controlado provê uma regra por exemplo uma promessa ou uma ameaça que fortalece a escolha que é melhor a longo prazo Como vimos nos Capítulos 8 e 9 èssas regras são geralmente amparadas por reforço social relativamente imediato por exemplo aprovação social O mal existe porque as regras e o reforço social talvez sejam ineficientes quando não totalmente ausentes no ambiente do indiví duo Na medida em que as pessoas se comportam bem entretanto o treinamento social funciona Visivelmente o comportamento altruísta nunca é destituído de autointeres se porque em última análise pode ser rastreado à influência genética a uma história de reforço ou mais freqüentemente a ambos As pessoas em geral são boas para seus irmãos e primos porque compartilham genes com esses parentes e porque foram ensinadas a assim fazêlo as ações boas foram reforçadas por pais e outros familiares Por serem reforçados os atos altruístas são chamados de bons Quando uma igreja ensina a seus membros que é bom ajudar os aflitos esse comportamento verbal mostra a probabilidade de atos de caridade serem reforçados por aprovação e status na igreja Um estímulo discriminativo verbal que rotula uma ação como boa ou que pareia deveria e deve com o nome da atividade constitui uma regra no sentido do Capítulo 8 Concluindo uma vez que tanto o comportamento do falante como o do ouvinte são reforçados o bom comportamento geralmente é constituído de comportamento controlado por regras no contexto de uma relação Embora Lewis 1960 estivesse correto ao afirmar que a ciência não pode tratar de questões últimas como Por que o universo existe equivocouse ao sus tentar que a ciência não poderia dizer nada sobre o que é certo ou errado ou sobre 0 que as pessoas devem fazer Mesmo que nenhum cientista possa dizer por que o universo está organizado de forma tal que as sociedades vieram a ser o que são os analistas comportamentais podem explicar as convenções isto é o comportamen to verbal acerca do certo do errado e do dever a lei da natureza humana como resultado de efeitos genéticos e aprendizagem operante Princípios Se é verdade que expressões irritadas com o Por que você tinha de empurrar pri meiro ou Me dá um gomo da sua laranja eu te dei um constituem comporta mento verbal oriundo de reforço passado o mesmo se aplica a julgamentos e ímpo SlÇões morais O mandamento Não roubarás que é equivalente a dizer que roubar 252 William M Baum é errado é uma regra no sentido do Capítulo 8 É um estímulo discriminativo verbal que indica um a punição costumeira roubar é um tipo de atividade que provavelmente será punida em nossa sociedade Como estímulo discriminativo reduz a probabilidade do roubo O mesmo pode ser dito dos outros nove man damentos Ao chamar esse tipo de asserção de mandamento ou imposição estamos a distinguilo de outras regras como conselhos Quando um pai aconselha um filho a não mentir a punição indicada é de natureza mais pessoal não só a sociedade pune o mentir mas o pai também desaprova Os estímulos discriminativos verbais chamados de princípios porém indicam apenas os reforços e punições mais gené ricos resultantes das práticas do grupo Nossa discussão de regras no Capítulo 8 nos leva a considerar essas relações de reforço sociais genéricas como próximas e a procurar mais além por conseqüências últimas que poderiam explicar a existência da regra Como vimos naquele capítulo Figura 82 estaríamos procurando um efeito sobre a aptidão Será que o roubar ao final tenderá a diminuir a aptidão do indivíduo Essa pergunta é mais bem respon dida na discussão mais genérica sobre a proveniência das práticas culturais aí inclu ídos os mandamentos morais Retomaremos esse ponto no Capítulo 13 l vida plena Nenhuma discussão sobre valores seria completa sem algumareferência à questão do que é o bem último A que finalidade última se destinam as práticas grupais e o comportamento verbal sobre o bom e o mau Muitos filósofos economistas e ou tros cientistas sociais conjeturaram se seria possível à sociedade hum ana atingir algum dia um estado ideal e como seria essa vida plena absoluta Existirá um objetivo para o qual poderíamos estar trabalhando alguma organização social que seja se não ideal pelo menos a melhor possível Platão propôs a monarquia com um reifilósofo O economista Jeremy Bentham propôs a ordem econômica do maior bem para o maior número As análises que pressupõem um estado final desse tipo são muitas vezes cha madas de utópicas nome derivado do país imaginário Utopia palavra grega que significa lugar nenhum sobre o qual Thomas More escreveu Teriam os analistas de comportamento um a nova utopia para propor O Capítulo 14 dará um a respos ta mais ampla a essa pergunta mas podese dar aqui uma breve resposta Os analistas comportamentais não podem especificar para onde a sociedade está se dirigindo da mesma forma que os biólogos evolucionistas não podem pre ver onde ao final a evolução poderá acabar Embora Walden Two obra de ficção de Skinner 19481976 tenha sido freqüentemente chamada de utópica Skinner sempre desautorizou esse rótulo porque para ele a comunidade imaginária desse livro representava um método e não um objetivo Muito embora os analistas de comportamento não possam especificar um es tado fina ideal eles podem oferecer métodos de mudança e métodos para decidir se as mudanças estão encaminhando a sociedade para a direção correta Por exenv pio a democracia se mostrou uma boa prática por ter aumentado a satisfação de Compreender o behaviorísmo 253 muita gente em relação a situações anteriores e em comparação com ditaduras vigentes Da forma como a conhecemos entretanto pode ser que a democracia não seja a palavra final em matéria de sistemas de governo Nas eleições america nas è chocante ver as baixas porcentagens de eleitores que votam Há gente de caís sem educação sem emprego sem teto Poderemos implementar mudanças que aumentem a participação Poderemos passar de relações de reforço coercivas e exploratórias para relações mais eqüitativas Ao procurarmos meios de eliminar as falhas de nosso sistema de governo os analistas comportamentais podem suge rir mudanças deliberadas de relações de reforço a serem feitas em base experimen tal e a serem avaliadas pela sua capacidade de aumentar a satisfação da sociedade Essas idéias de experimentação e avaliação social serão retomadas no Capítulo 14 RESUMO Os analistas comportamentais abordam questões relativas a valores focalizando o que as pessoas fazem e dizem sobre coisas e atividades que são chamadas boas e más ou certas e erradas O relativismo moral idéia segundo a qual os rótulos de bom e mau variam arbitrariamente de cultura para cultura e surgem estritamente como convenções sociais é rejeitado tanto por pensadores religiosos como por analistas comportamentais Em vez disso ambos os grupos se mostram favoráveis a um padrão universal a algum princípio que todos os seres humanos partilham em comum C S Lewis pensador religioso defendeu a idéia de que todos temos uma noção das regras de como se comportar mesmo que freqüentemente as viole mos Os analistas comportamentais também reconhecem princípios universais de comportamento decente na forma do altruísmo e da reciprocidade Lewis diverge dos analistas comportamentais porém na questão das origens Enquanto os pen sadores religiosos vêem os padrões de certo e errado como emanados de Deus os analistas de comportamento vêem esses padrões como oriundos da história evolutiva tal como Skinner Segundo a regra prática de Skinner sobre o bom e o mau as coisas chamadas boas são reforçadores positivos as coisas chamadas más são reforçadores negati vos atividades chamadas de boas são reforçadas e as atividades chamadas más são punidas Embora reforçadores e punidores incondicionais bem como as ativi dades a eles associadas venham a ser chamados bons e maus devido à forma como são construídos nosso mundo e nossos corpos muitas coisas e atividades também são chamadas boas e más devido a nosso ambiente social visto que grande parte do reforço e punição que nosso comportamento recebe resulta das atividades de utras pessoas Desde cedo na infância essas pessoas não somente ensinam refor çadores e punidores condicionais mas também nos ensinam a chamar de más as coisas que punem e as atividades que são punidas e de boas as coisas que reforçam e as atividades que são reforçadas A história de reforço e punição do indivíduo explica não apenas por que ele totula coisas como boas ou más mas também por que se sente bem ou mal a respeito dessas coisas As pessoas dizem que se sentem mal em situações nas quais SeU comportamento foi punido os eventos fisiológicos chamados sentimentos 254 William M Baum funcionam juntamente com o contexto público como estímulos discriminativos que induzem esses relatos As pessoas dizem sentirse bem por razões análogas em situações nas quais seu com portam ento foi reforçado Os sentimentos não expli cam a fala sobre o bom e o mau na verdade os eventos fisiológicos e os relatos sobre sentirse bem ou mal provêm de um a história de reforço e punição paralela e parcialmente sobreposta à história que gera o discurso sobre coisas e atividades boas e más isto é julgamentos de valor Os julgamentos de valor o que é muito claro quando envolvem deveria ou deve são regras estímulos discriminativos ver bais que indicam relações últimas que são sociais originamse das práticas do grupo a que o ouvinte pertence e afetam o relacionamento com outros membros do grupo Quando inquiridos sobre a origem dos reforçadores e punidores especial mente os sociais os analistas eom portam entais respondem que ela está na seleção natural Os genes que tornaram certos eventos reforçadores ou punidores desse modo promovendo o sucesso reprodutivo dos indivíduos deles portadores seriam selecionados Assim se explica não apenas porque o gosto doce e o orgasmo são reforçadores mas também por que ajudar pessoas de sua família ainda que se sacrificando é reforçador O altruísm o p a ra com filhos e outros parentes é selecio nado porque promove os genes indutores de altruísmo compartilhados pela famí lia O altruísmo para com pessoas que não têm parentesco depende dos benefícios a longo prazo para o altruísta Ou a pessoa estranha retribui ao final porque tem uma relação com o altruísta ou práticas grupais determinam que outros membros do grupo forneçam o reforço último Em qualquer dos casos o altruísmo ao final beneficia o altruísta é reforçado No contexto dessas relações de reforço sociais as imposições morais e éticas constituem estímulos discriminativos verbais regras que resultam em reforço ou punição social A análise com portam ental pode ajudar nossa sociedade a trabalhar por uma vida plena oferecendo form as de identificar e implementar um melhor reforço social LEITURAS ADICIONAIS Dawkins R 1989 The selfish gene Oxford Oxford University Press Excelente livro que apresenta a moderna teoria da evolução de forma amigável Lewis C S 1960 Mere Christianity Nova York Macmillan O ensaio que dá título ao livro trata de ciência e religião Midgley M 1978 Beast and man the roots of human nature Nova York New American Library Discussão a respeito de valores sob a perspectiva da filosofia moral e da teoria da evolução Skinner B E 1971 Beyond freedom and dignity Nova York Knopf O capítulo 6 em espe cial trata de valores N de T Título traduzido em português ver A pêndice Compreender o behoviorismo 255 Skinner B F 19481976 Walden Two Nova York Macmillan O romance de Skinner originalmente publicado em 1948 sobre uma sociedade experimental contém discussões sobre valores e reforço social Skinner B E 1981 Selection by consequences Science 213 501504 Reproduzido em Upun further reflection Nova York Prentice Hall 5163 Nesse artigo clássico Skinner com para aprendizagem operante seleção natural e evolução cultural VVeiss R E Buchanan W Altstatt i e Lombardo J R 1971 Altruism is rewarding Science 171 12621263 Esse artigo reiata um estudo em que sujeitos humanos demonstra ram sem terem sido instruídos os efeitos reforçadores de reduzir o nívei de desconforto de outra pessoa TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPITULO 12 Altruísmo Ética situacional Reciprocidade Relativismo moral Utopia de T Título traduzido em português ver Apêndice Prefabricated buildings offer many advantages for a school project or a walkin clinicdurability availability fast costeffective assembly on site design compatibility and typically low environmental impactAs an option many prefabricated buildings feature metal structural framing and exterior finish materials that are resistant to fire pests and moisture They also often integrate energy efficient systems and componentsAn additional important advantage with metal prefabricated building systems is the ease of adding to or expanding the structure later This can be a costeffective advantage when a building owner or school board lacks funding up front for an entire project or when the size future expansion will require is unknownNSBA has long worked to promote systembuilt construction with the intent of maximizing quality and saving cost and time An April 2012 NSBA publication featured information on metal frame building systems This booklet addresses key design and construction issues with the nonstructural components of a metal building envelope It is designed as a companion to NSBAs booklet that addresses important nonstructural design and construction issues for masonry building envelopes All buildings require a weathertight enclosure as protection from the elements but the components used for this purpose are materially different for masonry and metal building envelope systemsThis booklet is divided into two parts Part One contains design and construction information for metal building envelope components Part Two contains supporting technical design data tables and construction detail examplesAt a 5 degree F outside design temperature a 2x6 metal stud wall with 3 inches of polyurethane insulation a solid foam insulated commercial entry door and a double pane clear window with a U value of 037 can yield an R value of about 20 Designs and assemblies in other climates could be evaluated with other wall thickness insulation thickness door and window U values and more Refer to Part 2 for tables and charts on the thermal performance of products and assemblies for metal building envelopesRegardless of the building system design and construction professionals designing and constructing educational and specialty facilities should keep the following primary goals in minda The building envelope must resist environmental elements of windrain heatcold and vapor migration to provide a durable weathertight safe structure with good energy efficiency b The building envelope should contribute to the design and development of the school It should promote good indoor environmental quality so students are comfortable can focus and learn and staff can achieve the highest possible productivity and morale c The construction products integrated in the building envelope should be durable sound integral and have a welldocumented history of performance Prefabricated building systems can meet these goals and when combined with an appropriate level of design assessment and quality craftsmanship can satisfy the needs of students staff and visiting parents and community members No single system process or manufacturer will be ideal for every local need but an understanding of the capabilities and limitations of prefabricated building technology can serve as a guide to selecting the appropriate building system for a project Prefabricated metal building systems are typically made from a steel framework and metal sheeting that can serve as the roof and walls They can be manufactured in many shapes and sizes and have many types of interior finish Their external finish can be paint wall panels or other covering materials eg brick veneer Prefabricated metal buildings are including school classrooms administrative buildings and walkin clinics for health care facilities This booklet addresses the nonstructural design and construction issues associated with the metal building envelope which is part of the outer shell of the building that encloses protects and shelters the interior from environmental elements The subjects addressed in this booklet include writing specs for a metal building envelope product selection designing for thermal comfort designing for environmental protection protecting the integrity of workmanship on the construction site and durability The technical information in Part Two includes weatherwater resistance fire resistance acoustics thermal evaluations structural principles drawings and code considerationsThe technical information in Part Two includes weatherwater resistance fire resistance acoustics thermal evaluations structural principles drawings and code considerationsSOURCESThis booklet is based on documents and standards provided by the Metal Building Manufacturers Association MBMA National Roofing Contractors Association NRCA Air Barrier Association of America ABAA and American Society of Heating Refrigeration and Air Conditioning Engineers ASHRAE and the National Institute of Building Sciences NIBS REFERENCESNational Institute of Building Sciences NIBS Whole Building Design Guide wwwwbdgorgMetal Building Manufacturers Association MBMA wwwmbmacomNational Roofing Contractors Association NRCA wwwnrcanetAir Barrier Association of America ABAA wwwairbarrierorgASHRAE Handbook Fundamentals 2009 edition wwwashraeorg This document was developed by the National Steel Bridge Alliance as a resource in the design and construction of metal building envelopes for educational and specialty facility projects NSBA is a nonprofit trade association with over 100 corporate members in the steel bridge industry NSBAs mission is to improve the quality safety and economy of steel bridge projectsContact Information National Steel Bridge Alliance trade association of the American Institute of Steel Construction27100 Timberbrook Dr Suite 120 Valencia CA 91355Phone 661 7750100 Fax 661 7750199 wwwsteelbridgesorg 612 13 Evolução da cultura Le há uma coisa que diferencia os seres humanos das outras espécies é a cultura não no sentido de melhor educação ou de erudição mas no sentido de costumes do diaadia compartilhados e transmitidos por um grupo de uma geração para outra O mundo contém tal diversidade de culturas que por um tempo os estudiosos de antropologia cultural se concentraram simplesmente na tarefa de classificar e cata logar as culturas existentes de acordo com seus principais traços pois parecia não haver uma maneira cientificamente correta de explicar essa diversidade Essa situa ção mudou na década de 1970 quando psicólogos e biólogos evolucionistas expan diram suas explicações acerca do comportamento de forma a incluír a cultura Como essas explicações enfocavam o comportamento um dos resultados da influência dos biólogos e psicólogos foi a redefinição da cultura em termos comportamentais Antes da década de 1970 a maioria dos antropólogos definia cultura em termos de abstrações conceitos mentalistas tais como conjunto de valores e crenças compartilhados Uma exceção notável a essa postura era a do antropólogo Marvin Harris que definia a cultura mais concretamente em termos de costumes compartilhados comportamento Como Harris Skinner 1971 defi niu a cultura concretamente ao indicar as práticas tanto verbais como nãoverbais que um grupo poderia compartilhar Os costumes não apenas diferem de um local para o outro mas mesmo dentro de um mesmo grupo podem mudar drasticamente ao longo do tempo Se um nor teamericano fosse hoje transportado para o período colonial teria dificuldade em Se comunicar com seus conterrâneos porque o inglês falado mudou enormemente nestes últimos 300 anos Outras dificuldades e malentendidos também ocorreriam no campo das convenções sociais vestuário casamento sexo e posse da terra De acordo com C J Sommerville 1982 por exemplo a infância é uma invenção relativamente recente originada no século XVI O aniversário de crianças somente Passou a ser comemorado de forma regular a partir do século XVII 258 William M Baum Na teoria da evolução o problema de explicar a diversidade de formas coïnci de com o problema de explicar sua mudança porque formas novas e diversas sur gem como resultado de mudanças em formas ancestrais Nas teorias de evolução biológica imaginase por exemplo uma população ancestral de ursos alguns dos quais migraram cada vez mais para o norte e tornaramse como resultado da sele ção cada vez maiores e mais brancos vindo a constituir a espécie diferente qUe temos hoje De modo semelhante o problema de explicar a diversidade de culturas coin cide com o problema de explicar mudanças nas culturas Em uma teoria de evolu ção cultural poderseia imaginar um a cultura ancestral carregada por um grupo que se dividiu em dois A partir dos costumes ancestrais novos costumes poderiam surgir através de modificações até que as culturas dos dois grupos praticamente não apresentassem semelhanças Surge a possibilidade de um paralelo poderia a evolução cultural ser explicada pelo mesmo tipo de teoria que explica a evolução biológica como resultado da seleção atuando sobre a variação Como mencionado em capítulos anteriores os detalhes dessa explicação são relativamente sem importância Alguns detalhes podem estar errados e as explica ções da evolução cultural m udarão à medida que apareçam novas idéias Nosso objetivo é apenas demonstrar que uma explicação comportamental é possível e mostrar que essa explicação é suficientemente complexa para ser plausível EVOLUÇÃO BIOLÓGICA E CULTURA Para traçar um paralelo entre a evolução biológica que altera um conjunto gênico populacional e a evolução cultural que altera o comportamento social de um gru po precisamos pensar o conceito de seleção em termos muito gerais como fizemos no Capítulo 4 onde traçamos um paralelo entre seleção natural e aprendizagem operante Como esses dois conceitos a evolução cultural também pode ser vista como resultado de variação transmissão e seleção Porém a evolução cultural não pode ser entendida independentemente daqueles dois conceitos porque o compor tamento envolvido é comportamento operante e depende para sua aquisição de uma base genética que se origina da seleção natural Replicadores e aptidão Quais são as unidades da seleção Quais são as coisas que variam e são transm iti das e selecionadas Com o s conceitos de seleção natural e aprendizagem operante pudemos evitar essa pergunta simplesmente falando sobre genes alelos e variação no comportamento operante Com a evolução cultural as unidades de seleção são menos óbvias e mais controversas porque falar de cultura em termos de com porta mento e de seleção contradiz a tradição Quais são as partes que compõem uma cultura e entram no processo de seleção Para responder a essas perguntas biólogos evolucionistas como R ichard Dawkins 1989 desenvolveram o conceito de replicador uma entidade que uma Compreender o behaviorismo 259 veZ existente faz cópias de si mesma Não se pode afirmar que mesmo o DNA copia a si mesmo porque ele apenas entra em um processo químico que resulta eIn unia cópia do original Para se qualificar como replicador a entidade deve possuir três tipos de estabilidade 1 longevidade 2 fecundidade e 3 fidelida de de cópia Como a reprodução é demorada a longevidade garante que o replicador existirá por um tempo suficientemente longo para se reproduzir Dawkins imagina um gene um pedaço de DNA em um caldo primordial existente antes dos orga nismos A molécula ou pedaço de molécula teria de permanecer quimicamente estável por um tempo suficiente para ser copiada e quanto mais durasse mais cópias seriam feitas Depois do advento dos organismos os genes de um conjunto gênico tendiam a ser quimicamente estáveis mas poderiam ser alterados por ra diação ou fracionados durante a divisão celular em especial durante a formação dos gametas na meiose porque os gametas carregam as cópias que são transmi V tidas de um a geração para outra A fecundidade referese à tendência de copiarse freqüentemente de dois replicadores rivais alelos o que é copiado mais vezes se tomará mais freqüente no conjunto gênico populacional Fidelidade na cópia refe rese à exatidão Cópias imprecisas tendem a perder os traços de seus genitores As cópias de um replicador bemsucedido se assemelham a ele e quanto mais seme lhantes melhor Essas três exigências favorecem unidades pequenas porque um pequeno pe daço de DNA é menos suscetível de ser danificado ou se quebrar é copiado mais rapidamente e há menor possibilidade de erros Se nada afetasse essas considera ções os replicadores teriam sempre o menor tamanho possível Os requisitos da estabilidade são contrabalançados por outras considerações que favorecem unida des maiores Os fatores que facilitam a existência de replicadores maiores podem ser resu midos na palavra eficácia Uma unidade grande pode ter um efeito grande no fenótipo organismo em que está situada e assim pode ter um efeito grande em seu pró prio futuro Se um único gene controlasse a produção de uma molécula inteira de proteína digamos um a enzima que por sua vez controlasse várias reações quími cas ele asseguraria que seu fenótipo tivesse os traços que conduziriam a uma vida longa e reproduções freqüentes Entre as vantagens do tamanho pequeno estabilidade ou grande eficácia s replicadores tendem a ficar com um tamanho intermediário e variável As vezes um pedaço relativamente grande de DNA pode ser estável o bastante para se pro Pgar em um a população As vezes um pedaço pequeno pode ser suficientemente eficaz para ser selecionado se controlar um pedaço crucial da estrutura de uma molécula de proteína por exemplo Uma forma particularmente interessante de conseguir eficácia em pequenas umdades pode ser chamada de trabalho em equipe Dawkins mostra que os genes raramente operam sozinhos A seleção favorece genes que cooperam ou agem em A ju n to com outros genes Digamos que dois alelos de um gene X e X se igualem aptidão sob todos os pontos de vista exceto que X trabalha com outro gene Y Para produzir um fenótipo mais bemsucedido A combinação XY aumentará e Possivelmente eliminará completamente as combinações do alelo X Desse modo Agrupamentos de genes e de traços podem ser selecionados agrupamentos intei 260 William M Boum ros como pulmões e respiração pele e membros ou penas fortes asas voar e construir ninhos em árvores Dawkins teoriza que é dessa maneira que os organis mos surgiram os genes sobreviveram e se reproduziram melhor quando foram agrupados em máquinas de sobrevivência Sociedades Se os genes geralmente se saem melhor em agrupamentos então talvez às vezes eles pudessem se sair melhor ainda em agrupamentos de agrupamentos Quer di zer às vezes os genes poderiam se beneficiar da construção de máquinas de sobre vivência que se juntassem em grupos Existem várias vantagens para peixes que nadam em cardumes ou pássaros que voam em bandos Em comparação com indi víduos isolados tais agrupamentos oferecem por exemplo melhor proteção con tra predadores e maior eficiência na localização de comida Grupos de predadores como leões ou hienas podem subjugar presas muito maiores do que poderiam fazêlo sozinhos Outras coisas sendo iguais podese dizer que se alelos que cons troem máquinas de sobrevivência sociais tendem a sobreviver mais do que alelos que constroem máquinas de sobrevivência isoladas então com o passar do tempo essa espécie passará a ser encontrada em grupos Contudo é necessário mais do que um agrupamento para constituir uma so ciedade Um rebanho ou bando pode ser um tipo de parceria limitada como o comportamento de indivíduos que se limitam a manterse perto do resto do grupo só enquanto se alimentam Em uma sociedade porém os indivíduos não se com portam apenas em seu próprio benefício Quando um grupo de lobos rastreia e mata um alce eles se comportam juntos de maneira a beneficiar a todos O com portamento de cada um é necessário para a obtenção da meta e sem os esforços de todos nenhum se beneficiaria Isso é cooperação Capítulo 11 Para os lobos um alce é um a meta compartilhada literalmente falando uma vez morto ele é compartilhado pelos membros do grupo Se a participação de cada indivíduo depende dos benefícios que colherá das atividades do grupo então cada indivíduo deve receber um a parte dos benefícios Qualquer tendência à trapaça deve ser restringida porque os benefícios de cada indivíduo cessariam se o grupo se desintegrasse Serão selecionados aqueles genes que ajudarem a subordinar os interesses a curto prazo do indivíduo trapacear por exemplo aos interesses a longo prazo desse indivíduo m anter a associação com os demais Essa tendência em agir para o bem dos demais a curto prazo mas visando a recompensas maiores a longo prazo é o que denominamos altruísmo Capítulo 12 O altruísmo é a marca registrada de uma sociedade Quando um grupo vive junto em uma associação estável e seus membros se comportam altruisticam ente uns com os outros isso é um a sociedade Em uma sociedade como uma colônia de formigas em que todos são parentes o altruísmo pode ser selecionado pelo bene fício que traz aos genes altruístas compartilhados entre parentes próximos não h necessidade de reciprocidade Entre indivíduos sem qualquer grau de parentescc contudo o benefício m útuo depende de reciprocidade Junto com genes que prop1 ciam o comportamento altruísta devem ser selecionados também genes que pr Compreender o behoviorismo 261 iciem o lembrarse dos demais membros do grupo e o pagar dívidas tudo como fim só pacote Saber quem é quem e quem fez o que para quem torna possível até jflesmo para um grupo de leões sem nenhum parentesco formarem um bando capturarem uma presa grande protegeremse uns aos outros e alimentarem a ni nhada uns dos outros Claro que algum grau de parentesco sempre ajuda Não só o altruísmo mas muitos outros comportamentos sociais são seleciona i s quando as sociedades favorecem a aptidão Em seus estudos sobre marmotas pavid Barash 1982 encontrou diferenças dramáticas entre uma espécie de marmotas comuns no Canadá e nos Estados Unidos que são solitárias e marmotas olímpicas que são sociais Essas marmotas solitárias vivem em áreas baixas e fe cundas com prolongadas estações férteis enquanto as marmotas olímpicas vivem no alto de montanhas onde a estação fértil é curta e as condições climáticas muito duras As marmotas solitárias aparentemente se dão muito bem em sua região de clima ameno apesar de viverem sós Mantêm territórios dos quais excluem outros indivíduos da mesma espécie Machos e fêmeas se juntam apenas para acasalar e as fêmeas mantêm os filhotes apenas até o desmame quando então a ninhada se dispersa Para elas os custos de uma vida em sociedade excederiam o valor de seus eventuais benefícios Nas marmotas olímpicas foi selecionado juntamente com a pelagem espessa tudo aquilo que é necessário para a vida em grupo chamados de saudação reconhecimento de outros membros do grupo chamados de alarme manutenção de tocas divisão de alimentos e cooperação na defesa Além disso a ninhada em geral perm anece com o grupo por duas ou três estações férteis presumivelmente os filhotes não podem se desenvolver rapidamente com os recur sos tão limitados de um clima severo Barash teoriza que a maturação lenta pode ser o fatorchave que faz com que para esses animais os benefícios excedam os custos de viver em sociedade Apesar de viverem em sociedade poderíamos dizer que formigas ou até mes mo marmotas olímpicas têm uma cultura As formigas mostram uma capacidade surpreendente de adaptação Elas podem ser as únicas criaturas além dos seres humanos que se envolvem em guerras com os grupos lutando até a morte Al gumas espécies têm um a agricultura cultivam fungos comestíveis em pedaços de folhas trazidos para a colônia com essa finalidade Ainda assim não vemos nem Operamos encontrar um a cultura em uma colônia de formigas O que está faltando definição de cultura 0 Que está faltando é a aprendizagem porque cultura é o comportamento aprendi do de um grupo Consiste em comportamento operante tanto verbal como não erhal adquirido como resultado de pertencer a um grupo Poderseia dizer que formigas e marmotas olímpicas aprendem como resultado de pertencer ao grupo Pis elas reconhecem outros membros de seu grupo As formigas matam estranhas Que entram em suas colônias porque essas exalam o odor errado uma formiga de T Wooddmck 2 62 William M Baum estranha que tenha sido pincelada com as substâncias químicas da colônia é aceita As marmotas olímpicas saúdam os membros do grupo e afugentam os estranhos Essas discriminações têm de ser aprendidas porque o odor de cada colônia dç formiga e de cada sociedade de marmotas é único Embora tais aprendizagem possam sugerir os rudimentos de uma cultura ainda assim isso é muito poucopara atender a nossos critérios Em primeiro lugar o comportamento envolvido prova velmente não é comportamento operante As discriminações consistem na ocorrên cia ou nãoocorrência de exibições de saudação ou ataques agressivos os quais constituem padrões fixos de ação A aprendizagem envolvida parece ser mais do tipo condicionamento clássico do que aprendizagem operante ela depende intei ramente do contexto e quase nada das conseqüências Além disso nenhuma ação é transmitida de um indivíduo para outro e não se encontra nada parecido com ensi no A aprendizagem operante como resultado de pertencer a um grupo implica que o comportamento do grupo programe conseqüências para seus membros Em uma sociedade humana os pais programam reforços para o comportamento de seus filhos Voltaremos a esse assunto em breve mas primeiro precisamos ver como a teoria da evolução explica por que as culturas afinal de contas existem Cultura e sociedade Para que as culturas existam há que haver primeiro sociedades pois uma cultura é posse de uma sociedade Robert Boyd e Peter Richerson 1985 explicam que cul tura é um fenômeno de nível populacional Assim como um conjunto gênico populacional uma cultura só pode ser vista se olharmos para a população inteira Eles comparam o conjunto de traços culturais com o conjunto gênico populacional toda população tem um conjunto gênico mas somente algumas possivelmente só populações humanas têm conjuntos de traços culturais Da mesma maneira que o conjunto gênico populacional é transmitido de ge ração a geração assim também é transmitido o conjunto de traços culturais Uma criança que cresce no Japão ou nos Estados Unidos carrega parte do conjunto gênico populacional em que nasceu e eventualmente à medida que aprende os costumes da cultura em que vive carrega também parte do conjunto de traços desta cultura A criança tomase um adulto passa a cultura para outras crianças e então morre Assim os indivíduos morrem mas os conjuntos gênicos e culturais permanecem A maioria das pessoas no Japão come com hashi enquanto a maioria das pessoas nos Estados Unidos come com garfos facas e colheres mas exatamente quem come deste ou daquele modo muda de geração para geração Os indivíduos carregam os genes e carregam os traços culturais mas o conjunto gênico e o conjunto cultural transcendem o indivíduo Em nível de população faz sentido dizer que os indivíduos como máquinas de sobrevivência e organismos que se comportam são apenas os meios pelos quais os conjuntos gênicos e culturais são transmitidos Quando duas sociedades com culturas diferentes entram em contato é raro que uma delas seja tão dominante que todos os traços da cultura dominada se percam Normalmente formase uma nova cultura que inclui elementos de ambas Isso acontece porque os traços de cada cultura competem mutuamente por aceita Compreender o behaviorismo 263 só Ora os de um a ganham ora os da outra A razão por que os traços de uma cuitura substituem os traços de outra deve estar relacionada com a razão por que as culturas afinal existem direta ou indiretamente deve haver um efeito sobre a aptidão Cultura e aptidao A aprendizagem do tipo envolvido na cultura do ponto de vista dos genes é um negócio arriscado pois uma máquina de sobrevivência dotada de comportamentos préprogramados tem menos probabilidade de se comportar inadequadamente porem se em média máquinas de sobrevivência que aprendem têm mais probabili dade de sobreviver e de se reproduzir do que máquinas de sobrevivência que não o fazem então genes que favoreçam a aprendizagem tenderão a sobreviver e aumentar Mesmo que a aprendizagem apresente falhas aqui e ali se ela é benéfica no conjunto dos indivíduos e ao longo de muitas gerações seus genes serão selecionados Imaginese um ambiente mutável ou para ser mais preciso vários ambientes potencialmente habitáveis onde os recursos e os perigos são muito numerosos e diversos para serem catalogados facilmente Consideremse as possibilidades de dispersão se os membros de uma espécie pudessem sobreviver nas regiões tropi cais no deserto em climas temperados e nas regiões árticas Para que todas essas alternativas fossem possíveis seria essencial possuir a capacidade de aprender que recursos e perigos existem e como obtêlos ou evitálos Os seres humanos e as outras espécies aprendem porque os genes que permitem a aprendizagem trazem benefícios que compensam seus riscos Uma linha de raciocínio semelhante explica a existência da cultura Se é útil aprender poderia ser útil aprender com outros de sua espécie com os membros de sua sociedade Quer dizer se um benefício médio para a aptidão pode selecionar genes que permitem a aprendizagem então um benefício médio para a aptidão pode selecionar genes que permitam a cultura Se há muito para aprender ou se há muitas alternativas que devam ser eliminadas então aprender de outros seria um atalho valioso Como você pode saber se é melhor usar sapatos ou não ou que tipo de sapatos seriam melhores Como descobrir isso mais rapidamente do que as pessoas a seu redor Uma pessoa que vive em isolamento talvez nunca chegasse a uma solução adequada do problema A transmissão cultural evita que tenhamos de reinventar a roda Se traços culturalmente transmitidos como usar sapatos ou falar inglês po dem aum entar a aptidão dos genes em uma máquina de sobrevivência então os genes responsáveis pelos traços que garantem a transmissão cultural serão selecio nados Que tipo de traços tornam o atalho possível ftços que permitem a cultura pelo menos três exigências para que reconheçamos que um comportamento aPrendido foi transmitido do grupo para o indivíduo por meios que classifica 264 WilliamM Baurn ríamos de ensino ou educação Os dois primeiros limites do estímulo e imita ção permitem que o indivíduo aprenda com o grupo mas servem de base apenas para um tipo rudimentar de cultura que denominaremos cultura só por imitação Á terceira exigência é reforço social cujo acréscimo distingue a cultura só por imita ção da cultura plena Os reforçadores sociais permitem o elementochave da cultu ra humana a educação Limites do estimulo Se aprender é arriscado então é provável que seja também passível de limites isto é que possa ser guiado ou dirigido pela estrutura do organismo particularmente pela estrutura do sistema nervoso e dos órgãos sensoriais Isso significa que certos estímulos afetarão o comportamento com muito mais probabilidade do que outros Se a ingestão de alguma coisa é seguida por malestar então é provável que um rato evite alimentos que tenham o odor daquela substância que precedeu sua en fermidade Codornas e pombos pássaros que encontram sua comida através da visão evitam alimentos que se parecem com aqueles que comeram antes de adoe cerem Seres humanos parecem propensos aos dois vieses o indivíduo que ficou doente depois de comer lagosta ao termidor pode sentir náuseas mais tarde à vista ou cheiro de lagosta Quando os estímulos em relação aos quais desenvolvemos tais propensões são produzidos por outros membros de nossa espécie então aprendemos rapidamente com esses indivíduos Os biólogos evolucionistas mostram que muitas criaturas além dos seres humanos exibem esse tipo de sensibilidade Por exemplo o pardal de coroa branca mostra uma sensibilidade especial às canções de outros pardais de coroa branca e um filhote desse pardal tem de ouvir o canto de um macho adulto de sua espécie antes que possa também cantar essa canção ao atingir a vida adulta Se o pássaro é criado em laboratório e não ouve nenhum a canção ou ouve apenas o canto de uma espécie semelhante o pardal do brejo ele cresce cantando algo rudimentar pouco semelhante ao canto típico de sua espécie Ele precisa ouvir o canto de um pardal de coroa branca uma gravação em fita cassete é o suficiente e nenhum outro o substitui para que seu canto se desenvolva corretamente e sua canção se assemelhe àquela que ouviu quando jovem Essa transmissão do adulto para o jovem permite dialetos locais no canto pardais de coroa branca de diferen tes áreas exibem diferentes variações de seu canto A aprendizagem da linguagem entre seres humanos parece ser limitada guia da de um modo semelhante à aprendizagem do canto pelo pardal de coroa bran ca O sistema auditivo humano parece ser especialmente sensível a sons da fala há demonstrações de que a capacidade de realizar certas discriminações fonêmicas críticas já se manifesta logo após o nascimento Há também demonstrações de que bebês podem distinguir faces humanas de outros padrões visuais uma capacidade que pode servir para a aquisição de linguagem bem como para vários outros pro dutos sociais Longe de ser uma tábula rasa na qual a experiência se inscreve o bebê humano chega ao mundo construído para ser afetado por estímulos cruciais prove Compreender o behaviorismo 265 etites de outros seres humanos Esses estímulos sociais são tão essenciais para o desenvolvimento norm al que foram selecionados genes para que a produção des ses estímulos pelos pais bem como sua recepção pelos filhos não fosse deixada ao acaso Pais se interessam muito por seus filhos e filhos têm um grande interesse por seus pais Da mesma m aneira que todos os pardais machos de coroa branca ensaiam suas primeiras tentativas de canto em uma certa idade assim também todos os bebês humanos começam a balbuciar quando têm alguns meses de idade Para desenvolver seu canto o pássaro deve poder ouvir a si próprio cantando O mesmo parece ser verdade em relação à fala humana crianças com infecções crônicas no ouvido desenvolvem um padrão de fala anormal normalmente corrigível através de terapia fonoaudiológica Sensibilidades específicas em relação a determinados estímulos andam lado a lado com tendências comportamentais específicas como balbuciar Em particular deve haver um grande valor adaptativo em associar a sensibilidade ao comporta mento do outro com a tendência a se comportar como ele Em outras palavras sensibilidades específicas freqüentemente andam junto com a tendência a imitar lifíitaçõo A cultura provavelmente seria impossível sem a imitação Se há alguma vantagem v adaptativa em aprender sobre ambientes em mutação então haveria vantagens em imitar porque ajudaria a garantir a aquisição do comportamento adequado Para tornar esse argumento mais concreto Boyd e Richerson 1985 consideraram uma população hipotética de organismos aculturais vivendo em um ambiente que varia de tempos em tempos que passa por ciclos de seca e chuva por exemplo Imagine se em cada geração os indivíduos tivessem de aprender por si próprios qual o comportamento adequado ao ambiente de cada período alguns conseguiriam outros não Os autores continuam Agora considere a evolução de um hipotético gene imitador mutante que per mite a seus portadores evitar a aprendizagem individual e copiar o comporta mento de indivíduos de gerações anteriores Contanto que o ambiente não mude muito entre gerações o comportamento médio desses modelos estará próximo do comportamento que no momento é adaptativo Copiando o comportamento de indivíduos de uma geração anterior os imitadores evitam custosas tentativas de aprendizagem e se representam a média de vários modelos têm maior chance de adquirir o comportamento que no momento é adaptativo do que os nãoimita dores p 15 Em outras palavras os indivíduos que imitam têm maior chance de se com portar de maneiras que resultem em sobrevivência e reprodução no ambiente exis tente de modo que os genes responsáveis pela imitação tenderão a aumentar em freqüência no conjunto gênico populacional A imitação acontece em numerosas espécies muitas das quais consideraría mos aculturais Epstein 1984 mostrou que quando um pombo sem qualquer 2 6 6 WilliamM Baum í treinamento é colocado em um aparelho no qual pode observar outro pombo bi cando um a bola de pinguepongue e recebendo reforço sob a forma de comida em f breve ele começa a bicar uma bola que esteja de seu lado do aparelho e continuará a bicar mesmo depois que o outro pombo tenha sido retirado O pombo sem dúvija 1 deixa de bicar depois de um certo tempo mas se o aparelho fosse programado de forma que suas bicadas também produzissem comida o bicar seria reforçado e 1 passaria de comportamento induzido a comportamento operante Porém mesmo se um bando inteiro de pombos aprendesse a bicar bolas de pinguepongue por imitação ainda hesitaríamos em dizer que os pombos têm um a verdadeira cultura embora possamos lhes atribuir uma cultura extremamente rudimentar O mesmo se aplica ao grupo de macacos em que todos aprenderam a lavar batatasdoces colocadas na areia de uma praia Os pesquisadores que colocaram as batatas observaram que uma macaca começou a lavar suas batatas individualmen te Em seguida alguns macacos e logo todos faziam o mesmo A difusão desse traço presumivelmente por imitação e reforço poderia caracterizar o episódio como parte de uma cultura rudimentar limitada à lavagem de comida e a alguns outros traços típicos desse grupo Ver Goodenough et al 1993 p 138140 para um resumo sobre aprendizagem social em animais nãohumanos Podemos denominar esse conjunto de traços transmitidos exclusivamente por imitação de cultura só por imitação embora ela tenha muitos elementos em comum com a cultura humana o elemento de educação ensino ou treino está faltando Em uma cultura só por imitação o comportamento de outros membros do grupo serve apenas como um estímulo on contexto indutor As conseqüências do comportamento imitado lavar batatas se originam a partir de aspectos nãosociais do ambiente do indivíduo areia que adere à batata No ensino entretanto dois indivíduos têm uma relação Capítulo 11 o reforço para o comportamento do aprendiz é programado pelo instrutor e normalmente pelo menos alguns dos reforçadores elogios e apro vação partem dele Tais relações de reforço social empurram a cultura humana muito além das possibilidades da cultura só por imitação Discutiremos os efeitos do ensino sobre a cultura mais tarde Primeiro anali saremos como a evolução pode ter fornecido uma base genética para o processo de ensino ao selecionar reforçadores sociais poderosos Reforçadores sociais Para crianças que crescem em um a cultura hum ana seria provavelmente impossí vel aprender todas as coisas que precisam sem um a modelagem contínua por parte dos adultos Se houvesse um a vantagem em aprender mais habilidades e discriminações mais sutis então os genes que favorecessem tais aquisições seriam selecionados Nos Capítulos 4 e 12 discutimos a probabilidade de que genes que tornam certos reforçadores importantes comida um possível companheiro abrigo as sim como genes que tornam certos eventos punidores dor enfermidade predado res seriam selecionados em qualquer espécie cuja aptidão fosse aumentada pela Compreender o behoviorismo 267 aprendizagem operante A extensão desse raciocínio explica como sinais sociais sutis puderam se tom ar reforçadores poderosos e servir de base para a cultura No Capítulo 12 por exemplo vimos que Dawkins incluiu em sua lista de reforçadores criança sorrindo e em sua lista de punições criança chorando A maioria dos pais atestaria que a visão de uma criança sorridente é um reforçador poderoso e um estímulo indutor estímulo incondicional ou liberador Capítulo 4 O som de um bebê chorando embora mais baixo do que muitos sons com que convivemos é um dos sons mais aversivos que conhecemos pais saem correndo para alimentar ou para trocar fraldas ou para fazer o que quer que seja necessário para a criança parar de chorar Não há consideração sobre saúde individual dos pais ou sobre sua sobrevivência que explique por que o sorriso ou o choro do filho deveriam afetálos tão intensamente Cuidar de um filho entretanto tem tudo a ver com a sobrevi vência de genes e um pacote de genes que inclua a tendência a produzir esse efeito certamente prosperará O sorriso e o choro da criança são os meios pelos quais os genes induzem e reforçam nos pais o comportamento de cuidar do filho Se é verdade que a criança modela o comportamento dos pais quão mais verdadeiro é que os pais modelam o comportamento da criança Os adultos exibem múltiplas mudanças comportamentais perto de crianças Eles sorriem contemplam nas afetuosamente e elevam o tom de voz todos padrões fixos de ação Capítulo 4 Para a criança o sorriso dos pais seu olhar voz e contato são reforçadores podero sos mas se não fosse pelas vantagens culturais não haveria nenhuma razão óbvia para que assim ocorresse Se a criança não tivesse nada a aprender de seus pais os genes que transform am esses sinais sutis em reforçadores nunca teriam sido selecio nados Dados esses poderosos reforçadores sociais contudo as possibilidades de transmissão cultural excedem de muito aquelas de uma cultura só por imitação Os reforçadores sociais são especialmente eficazes por estarem ao alcance da mão Imaginem um pai ou uma mãe tentando modelar o comportamento do filho com reforçadores nãosociais como comida e dinheiro Cada vez que a criança apresenta a resposta desejada o pai tem de lhe dar um biscoito que a criança come ou uma moeda que a criança gasta depois Quão ineficiente em comparação com a natureza fácil e im ediata de um sorriso um elogio um abraço Diferentemente do dinheiro esses reforçadores sociais estão sempre à disposição dos pais não importa a situação Diferentemente dos biscoitos o afeto pode ser dado inúmeras vezes sem que a criança se sacie Liberação rápida e saciedade lenta significam que esses reforçadores permitem que a educação da criança seja contínua durante todas as horas em que está desperta VARIAÇÃO TRANSMISSÃO E SELEÇÃO Os tipos de traços que vimos discutindo limites do estímulo imitação e reforçadores sociais não só produzem cultura mas também permitem mudanças culturais A evolução cultural pode ocorrer de modo análogo à evolução genética isto é pela combinação de variação transmissão e seleção a transmissão seletiva da varia Çâo Para entender como isso pode vir a acontecer precisamos responder a algu 268 William M Boum mas questões básicas O que varia e como Como as variações são transmitidas Quais são os mecanismos de seleção Variação A evolução é impossível sem variação Na evolução genética os lócos dos genes nos cromossomos devem poder ser ocupados por vários alelos vários pacotes de genes e várias máquinas de sobrevivência devem ser possíveis Do mesmo modo a evolu ção cultural requer que vários alelos culturais se submetam à competição e vá rios pacotes de traços devem ser possíveis Mas quais são os análogos de genes alelos e pacotes e quais são os mecanismos de sua variação Replicadores culturais A pergunta O que varia é uma pergunta sobre unidades Nos termos da posição de Dawkins ela se torna Quais são os replicadores culturais que possuem longe vidade fecundidade e fidelidade de cópia O problema aqui é precisamente análogo ao problema de identificar unidades de comportamento operante Capítulo 4 e a solução é praticamente a mesma Aqui como lá as unidades são identificadas pela sua função Um replicador cultu ral é uma ação desempenhada e transmitida pelo grupo que possui determinada função resulta em determinado efeito ou produz um certo resultado Em outras palavras um replicador cultural realiza uma determ inada tarefa O uso de roupas quentes no inverno protege nossa saúde A programação de computadores permite que um a pessoa ganhe a vida e adquira status Tal como pacotes de genes podese pensar nos replicadores culturais como tendo diferentes tamanhos Por exemplo os antropólogos diferenciam as culturas com base em uma série de critérios alguns específicos outros gerais A produção de um artefato específico pode ser pensada como um replicador relativamente pe queno em uma cultura tecnológica a montagem de televisores de determinada marca seria um exemplo Replicadores maiores ou pacotes de replicadores são definidos por agrupamentos interdependentes de costumes ou práticas sociais Costumes relativos a matrimônio e família por exemplo tendem a se agrupar Em culturas com a noção de família estendida os matrimônios arranjados são a regra presumivelmente porque o número de pessoas envolvidas é grande demais para que a associação de duas famílias seja deixada ao sabor dos caprichos de um ro mance Casamentos por amor ficam mais comuns à m edida que haja menos pesso as envolvidas além do próprio casal Nos últimos 300 anos temos assistido no Ocidente a uma substituição da família estendida pela família nuclear e a uma predominância de casamentos por amor Falar inglês poderia ser considerado um replicador embora seja algo tão am plo que não ajuda muito na compreensão das práticas culturais Replicadores ver bais mais específicos seriam por exemplo formas de saudação ou de pechinchar preços e bens de consumo Oi tudo b em e M eu burro vale pelo menos três de Compreender o behaviorismo 26 9 sUaS ovelhas podem ser ditos em inúmeras línguas e o idioma normalmente é plenos importante do que o resultado o efeito que produz A maior parte das cllturas possui formas diferentes de saudação para diferentes tipos de relação por exemplo com o cônjuge ou com o patrão e essas diferentes saudações são Replicadores Em algumas culturas é costume mentir sobre a qualidade e origem oS bens de consumo à venda como muitos de nós que estivemos na Turquia ou na índia podemos testemunhar Diferentes costumes no processo de barganha em cul turas diferentes constituem replicadores Mime gene cultural prática Diferentes nomes já foram propostos para os replicadores culturais Lumsden e Wilson 1981 sugeriram gene cultural culturgen e Dawkins 1989 sugeriu mime do grego mimesis imitação Skinner 1971 empregou a palavra prática A histó ria da ciência inclui exemplos de invenção de termos novos oxigênio e aceleração e de apropriação de termos de nosso vocabulário cotidiano força e resposta Para nossas finalidades manteremos os termos práticas e costumes que nos lembram que replicadores culturais são atividades Entre biólogos evolucionistas a discussão sobre evolução cultural tem sido prejudicada pela incapacidade de reconhecer que replicadores culturais são ativi v dades Dawkins e Lumsden e Wilson escrevem sobre a evolução de crenças idéias e valores A crença idéia ou valoração do ato de roubar como errado se pensada como uma coisa nunca poderia evoluir através de processos físicos porque é não natural Os problemas com o mentalismo que discutimos no Capítulo 3 se aplicam a práticas culturais tanto quanto a qualquer outro tipo de comportamento operante Não entendemos melhor esses fenômenos imaginando que as unidades de evolu ção cultural sejam entidades mentais Boyd e Richerson 1985 ou estruturas neurais desconhecidas Dawkins 1989 Tais ficções explanatórias sempre serão supérflu as e não podem explicar como as práticas culturais se originam e mudam uma pergunta que exige para sua resposta que atentemos para a história e o comporta mento ao longo do tem po Capítulo 4 Da mesma m aneira que a freqüência de um gene em um conjunto gênico populacional só pode ser avaliada levando em conta todos os indivíduos dessa população assim a freqüência de uma prática ou costume só pode ser avaliado levando em conta todos os indivíduos do grupo Por exemplo há mais mulheres norteamericanas que usam batom hoje do que na década de 1970 e menos usa vam batom na década de 1970 do que na década de 1950 essas mudanças cultu rais só poderiam ser medidas estudandose muitas mulheres A coisa que muda em freqüência passando por muitas mulheres e ao longo de muito tempo é a própria Pratica usar batom isto é o replicador Agrupamentos de práticas que funcio nam como replicadores são rótulo para categorias Ryle ou atividades agregadas ra perspectiva molar Capítulo 3 Por exemplo desaprovar o roubo é uma ati Vdade composta de partes tais como punir o roubo e ensinar as crianças a não roubar Capítulo 3 Considerando que o termo denota algo natural um conjunto de ações interdependentes ele denota algo que poderia evoluir pelo processo natu 2 7 0 William M Baum ral de seleção os membros de um grupo podem punir o ato de roubar reform comportamentos incompatíveis com esse ato e falar sobre como é errado roub Não roubarás e cada uma dessas ações poderia ser selecionada à medida diminuísse a freqüência dos roubos O fato de que falar é parte da cultura merece destaque especial Entre as práticas de uma cultura estão certas verbalizações tradicionais provérbios histórias e mitos No estado de New Hampshire EUA a frase Se isso aí não está quebrado não tente consertar é parte da cultura local Uma parte da antiga cultura gregg eram seus mitos Particularmente importantes para um a cultura são as verbalizações que identificamos no Capítulo 8 como regras As regras incluem normas morais Não roubarás instruções Diga sempre Por favor e Muito obrigado e in 1 formações sobre o ambiente Você vai precisar de um casaco bem quente por aqui vi no inverno Até mesmo as histórias e os mitos de um a cultura têm algo a ver com as regras porque normalmente transmitem lições práticas ou de moral isto é normalmente se referem a reforços e punições costumeiros A história do menino que gritava lobo por exemplo contém uma lição sobre estímulos discriminativos i verbais confiabilidade e reforço C J Sommerville 1982 em seu livro sobre a infância afirma que até mesmo os contos de fada infantis sobre jovens valentes V donzelas formosas dragões e madrastas malvadas possuem funções socialmente úteis ao ensinarem indiretamente lições de vida e ao encorajarem confiança nas í interações com o mundo Ele escreve eles oferecem algo que deve preceder desenvolvimento moral encorajando a criança a tom ar partido Ao simpatizar com j um personagem e se posicionar contra outro a criança adquire o hábito de ídentí ficarse com aqueles que deseja emular p 139 Em outras palavras assim como as imposições morais os contos de fada de uma cultura contribuem para produzir comportamentos que serão reforçados pelas práticas do grupo Quando biólogos e antropólogos falam sobre crenças idéias e valores de uma cultura provável mente estão se referindo especificamente a comportamentos verbais tradicionais í naquela cultura Podemos distinguir a formulação de uma regra de sua prescrição como dis tinguiríamos invenção de repetição Pessoas compõem regras vez ou outra no sentido de que emitem novas verbalizações sob a forma de imposições conselhos ou instruções Apenas algumas dessas regras se tornam parte das prescrições carac terísticas da cultura que se difundem de pessoa a pessoa e de uma geração à outra através de imitação associada a reforço Elaborar e prescrever regras são compor tamentos que compõem a cultura humana O modo particular de prescrever regras dentro de um grupo ajuda a distinguir um a cultura de outra bem como mudanças em uma cultura de um período para outro Os pais de um jovem em idade de casar na índia de hoje podem lhe dizer p Quando você conhecer a mulher que escolhemos para sua esposa se não gostar dela pode recusála Nos Estados Unidos poderiam dizer a ele Quando conhe cermos a mulher que você escolheu para sua esposa se não gostarmos dela pode remos recusála Há três séculos o jovem norteamericano poderia ter ouvido algo mais no estilo do que o jovem indiano de hoje escuta Regras variam de um lugar para outro e de uma época para outra Compreender o behoviorismo 271 r pfor punição sociais c característico de toda cultura que certas ações são reforçadas ou punidas por ejnbros do grupo A obediência de uma criança a seus pais resulta em aprovação eafeto Mentir enganar e roubar resultam em desaprovação e rejeição Esses cos wrnes relativos ao reforço e à punição sociais constituem as mais importantes prá ticas culturais porque formam a base para as culturas que vão além das culturas só or imitação O comportamento operante que denominamos ensinar corrigir ou Instruir consiste em reforçar comportamentos que são normais para aquela cultu ara e punir os comportamentos que desviam da norma Gomo comportamento operante o próprio ensinar também precisa ser reforçado freqüentemente pelo comportamento correto dos alunos mas também por outras práticas culturais tais como o pagam ento de salários Skinner 19711974 considerou o reforço social tão importante para a cultu a r a humana que sugeriu que a palavra prática fosse utilizada apenas para se referir a tais relações de reforço De seu ponto de vista o reforço social modela o compor ytamento que é normal para aquela cultura Considerando que o comportamento resulta de relações de reforço estas são mais básicas do que o comportamento Assim conhecer um a cultura seria conhecer suas relações de reforço e punição A fabricação de gamelas de cerâmica de determinado formato seria secundário re forçar o fazer gamelas naquele formato seria uma parte essencial daquela cultura 0 fato de primos casarem ou não entre si seria secundário as propostas de casa mento entre primos serem reforçadas ou punidas isso seria o fundamental A posição de Skinner tem duas implicações principais Primeiro elimina cul aturas só por imitação e limita a possibilidade de existirem culturas em espécies nãohumanas As espécies nãohumanas teriam de se envolver em comportamen to operante que tivesse o efeito de reforçar ou punir o comportamento de outros membros do grupo Não seria suficiente que o comportamento de lavar batatas se difundisse de pais para filhos os pais deveriam reforçar em seus descendentes o lavar batatas Segundo o ponto de vista de Skinner muda a perspectiva dessa questão dim inuindo a ênfase dada a um a pergunta difícil e possivelmente irrespondível quantos membros de um grupo têm de se comportar de um certo v antes que esse tipo de comportamento seja considerado característico ou normal para aquela cultura Skinner responde de fato que o número é irrelevante contanto que alguns membros do grupo reforcem aquele tipo de comportamento em outros Se alguns membros do grupo sejam muitos ou poucos reforçam o comportamento ele persistirá como parte do comportamento do grupo Os biólogos evolucionistas divergem de Skinner nos dois pontos Primeiro os que reconhecem a importância da educação definem cultura como consistindo de comportamentos aprendidos como resultado de pertencer a um grupo Essa defini ção não traça um a linha divisória entre culturas só por imitação e culturas que lricluem educação nem traça dentro de uma mesma cultura uma linha divisória entre comportamentos adquiridos por imitação combinada com reforço nãosocial por exemplo lavar batatas e comportamentos adquiridos como resultado de interações com outros membros do grupo isto é como resultado de um relaciona mento no sentido do Capítulo 11 Para essa visão mais abrangente seria sufiCien te que membros do grupo servissem de modelo eles não precisariam ser também fonte de reforço Em segundo lugar contornam a questão do que é normal par uma cultura comparando a cultura a um conjunto gênico populacional Em UrTl conjunto de práticas culturais certas práticas podem ser comuns e outras raras o que importa é se permanecem no conjunto ou desaparecem Mutação recombinação e migração Se um conjunto de práticas culturais é como um conjunto gênico então ele deve conter dentro de si os meios para produzir o novo No conjunto gênico populacional três processos geram o novo 1 a mutação constitui uma fonte de novos alelos 2 a recombinação ou permutação a quebra e o reagrupamento de DNA que acontecem durante a meiose organiza novas combinações de alelos 3 a migra ção de indivíduos de uma população para outra permite o aparecimento de combi nações completamente novas em um conjunto gênico populacional Análogos des ses três processos acontecem no conjunto de práticas culturais O análogo cultural da mutação é o erro ou acidente Já discutimos a impossi bilidade de uma mesma ação se repetir exatamente da mesma maneira A variação é inerente ao comportamento e algumas variações podem ter mais êxito do que outras Outro tipo de acidente pode ser imposto por algum evento ambientai ineontrolável Quando machuquei minha mão direita eu me vi forçado a escovar os dentes com a mão esquerda e descobri que dessa maneira poderia fazer uma limpeza melhor nos dentes do lado direito Agora alterno as mãos quando escovo os dentes Quando você se vê impedido de realizar as coisas do modo habitual você pode descobrir modos melhores de realizálas Finalmente tal como na replicação genética podem acontecer erros de cópia Um atleta pode imitar incor retamente um treinador de tênis e assim pode descobrir um modo melhor de sacar Uma criança pode imitar imperfeitamente seus pais e assim descobrir um modo melhor de amarrar os sapatos Porém do mesmo modo que ocorre com as mutações a maioria dos enganos piora a situação é raro o acidente feliz que me lhora as coisas Uma possível analogia comportamental da recombinação é a falha no contro le de estímulo Você pode virar seu carro na esquina errada vestir roupas que não combinam ou dizer algo inadequado a um parente embora por centenas de vezes você tivesse feito tudo certo nessas situações São padrões de comportamento que normalmente permaneceriam separados mas que não obstante se misturam nes sa situação particular Embora tal mistura seja normalmente desastrosa ocasional mente ela pode leválo a descobrir um caminho alternativo muito melhor uma maneira de se vestir mais alegre ou um modo mais adequado de se comunicar com seus parentes Assim como pode haver migração para um conjunto gênico populacional tam bém pode haver migração para um conjunto de práticas culturais Isso pode acon tecer quando indivíduos de um a sociedade passam para outra Por exemplo oci dentais que moraram no Japão nos séculos XIX e XX transferiram muitas práticas 272 William M Baum Compreender o behaviorismo 273 sua cultura para a cultura japonesa O processo imigratório para os Estados Unids introduziu novas maneiras de cozinhar novas expressões verbais modos n0vos de fazer negócios e novas formas de religião Novas práticas também podem penetrar uma cultura através da migração de íitia subcultura isto é de um conjunto de práticas características de um subgrupo daquela sociedade Os efeitos da imigração em qualquer país freqüentemente se fazem sentir com algum atraso porque um grupo étnico pode permanecer parcial mente segregado do resto da população passando a integrar a cultura principal somente depois de algumas gerações Quase todos os norteamericanos sabem o significado de expressões comojive pasta e chutney mesmo que não conheçam suas origens étnicas Transmissão 0 segundo ingrediente essencial para que a evolução por seleção ocorra é a trans missão de traços de um a geração para outra Na evolução genética a transmissão ocorre por transferência de material genético DNA de pais para filhos Na evolu ção cultural ela ocorre através de meios mais diretos transferência do comporta mento de um membro do grupo para outro Herança de traços adquiridos Antes do século XX sugeriase às vezes que certos traços pudessem ser passados de pai para filho por transferência direta de tal forma que as características adqui ridas por um dos genitores poderiam aparecer em seus descendentes Se os braços de um ferreiro crescessem em massa muscular como resultado de seu trabalho então o traço braços musculosos poderia ser passado para seus filhos Embora essa concepção nunca tenha produzido qualquer prova de sua operação na evolu ção genética esses são exatamente os meios de transmissão na evolução cultural Em um a espécie detentora de cultura como a nossa as crianças tendem a aprender o que quer que seja que seus pais aprenderam Tudo do modo de se vestir aos bons modos à mesa de dialetos a maneirismos sociais pode ser passado direta mente de pai para filho Para alguns traços culturais a transferência de material genético de pai para filho pode não ter um papel direto mas a herança genética de Pai para filho pode também guiar a transmissão cultural os filhos podem ter uma Predisposição a aprender certas coisas como resultado de genes que herdaram Por exemplo um a criança e seu pai poderiam compartilhar uma predisposição para ter toedo de altura aprender música ou desenvolver habilidades manuais de T No ja zz jiv e significa falar ou brincar nos intervalos entre um compasso e outro Psta do italiano é um term o genérico para designar pratos com m acarrão Chutney é uni termo de origem indiana que designa um a combinação de tem peros sob a forma de uma geléia que acom panha carnes 274 William M Baum Contudo desde que a transferência de material genético pode ser irrelevan em termos de transmissão cultural os pais genéticos de um a pessoa podem difei de seus pais culturais A criança pode adquirir traços culturais de uma série adultos tios tias professores sacerdotes treinadores As pessoas também pocW adquirir práticas de seus pares as crianças tipicamente aprendem com outras criati ças o código da classe e adultos aprendem os macetes de uma situação atravé de outros adultos Essa forma de transmissão impossível para os genes é chama horizontal Considerando que a transmissão horizontal acontece dentro de unia geração os traços culturais podem se difundir no mesmo grupo no período de uma única geração genética Isso significa que a evolução culturai é muito mais rápida do que a evolução genética Enquanto a transmissão genética é lim itada a só um momento na vida do indivíduo a transmissão cultural acontece ao longo de toda sua vida A trans missão cultural permite que novos traços substituam os velhos até mesmo em uma grande população no espaço de apenas alguns anos Às vezes a velocidade da evolução cultural relativamente à da evolução genética cria problemas como exemplos temos nossos problemas atuais que vão desde as conseqüências da ingestão de açúcar até o uso de armas nucleares As práticas de fabricação dé açúcar e de armas nucleares evoluíram muito rápido para que os genes subjacentes a nossa atração pelo gosto doce e a nossas tendências agressivas tenham sofrido uma diminuição no conjunto gênico populacional Em vez disso outras práticas culturais evoluíram para compensar os efeitos ruins daqueles primeiros genes Fazemos dieta e escovamos os dentes participamos de debates sobre questões de desarmamento e paz Imitação Uma forma pela qual os traços culturais adquiridos são transmitidos é a cópia dire ta a imitação Na evolução biológica a cópia do DNA ocorre durante a formação dos gametas e o DNA então afeta o desenvolvimento do indivíduo para o qual foi transferido Esse é um processo relativamente incerto e indireto se comparado com o processo de cópia direta do fenótipo envolvido na imitação Crianças imitam adultos e outras crianças Adultos normalmente imitam ou tros adultos mas às vezes eles imitam crianças Expressões de gíria usadas por crianças como valeu e legal tendem a deslizar para a fala de adultos que as ouvem A imitação provê uma base para a aprendizagem operante Uma vez que uma ação tenha sido induzida por imitação ela pode ser reforçada e modelada até atin gir formas mais evoluídas Uma vez que uma criança articula aga os ouvintes po dem responder aprovando a verbalização da criança e dandolhe água reforçan do e eventualmente modelando esse comportamento até que ela articule água Se nenhum reforço acontece ou se a ação é punida ela permanece com baixa freqüên cia ou desaparece Uma criança pode bater em outra imitando um comportamento agressivo visto na Ty mas a continuidade da agressão vai depender do com porta mento ser reforçado ou punido Compreender o behaviorismo 275 podemos distinguir imitação aprendida de imitação nãoaprendida A imita 5o em pombos e macacos provavelmente é nãoaprendida e muito da imitação em crianças e talvez adultos é comportamento nãoaprendido no sentido de não nenhuma experiência especial E como se alguns de nossos genes instruíssem nossos corpos Vejam e escutem as pessoas ao redor e façam como elas fazem Sem qualquer treino um a criança pequena que vê seu pai batendo pregos com um martelo apanhará um martelo e o baterá contra um pedaço de madeira A imitação nãoaprendida combinada com a modelagem explica por que as crianças aprendem a falar e a se comportar socialmente como as pessoas a seu redor Até mesmo adultos que vivem fora de sua terra natal podem adquirir o sota que e as maneiras da nova terra sem sequer o perceber A imitação aprendida é outra questão E um tipo de comportamento controla do por regras no sentido do Capítulo 8 Quando uma pessoa diz para outra fazer assim a capacidade daquele que está sendo instruído de se comportar adequada mente depende de sua história de reforço por imitar nessas situações A transição de imitação nãoaprendida para aprendida pode ocorrer em vários e diferentes contextos em casa quando os pais dizem Olhe para cá no pátio da escola quando um colega diz Veja o que eu consigo fazer em sala de aula quando o professor brinca de Fazer o que seu mestre mandar Embora a imitação nãoaprendida permita uma rápida transmissão cultural a imitação aprendida é ainda mais veloz Através da imitação aprendida um simples episódio social pode ser suficiente para transmitir uma prática Uma pessoa diz a outra Penteie seu cabelo assim e a outra imediatamente o faz Supondose que o ambiente forneça os reforços necessários sociais ou nãosociais para esse com portamento ele persistirá Comportamento controlado por regras A imitação aprendida é exemplo de um tipo mais geral de transmissão cultural transmissão através de regras Uma das primeiras lições que as crianças aprendem é obedecer a seus pais e outras autoridades Em vez de apenas imitar nós as ensina dos a fazer aquilo que os outros mandarem Quando há um conflito elas ouvem Faça o que eu digo não faça o que eu faço Sem dúvida alguma as crianças têm essa predisposição para aprender a seguir regras devido a sua sensibilidade para estímulos provenientes de seus pais particularmente o som de sua fala e devido a sua susceptibilidade a reforçadores sociais liberados pelos pais Coitada da criança que não aprende a seguir regras pois não conseguirá ad quirir uma série de comportamentos socialmente aceitáveis Muitas das verbalizações um pai dirige a seu filho são equivalentes a declarações do tipo Em nossa cultura fazemos X e X é reforçado por membros de nosso grupo ou Em nossa cultura evitamos fazer X e X é punido por membros de nosso grupo Tais regras Mostram as relações que em geral denominamos convenções Um pai diz para o plho Dê adeus Segure seu garfo com a mão esquerda e a faca com a direita ou ê a mão para atravessar a rua e todas essas ações são reforçadas por membros 276 William M Baum do grupo Um pai diz a seu filho Não bata no tio Chico Não enfie o dedo n nariz em público ou Não dê risada muito alto e todas essas ações são punj por membros do grupo S Essas convenções derivam seu poder em última instância dos benefícios qye o fato de pertencer ao grupo traz para a aptidão Nos termos do Capítulo 8 0 reforço último tem a forma Se você se comportar assim então estará em condi ções de auferir a proteção e partilhar dos recursos de que dispõe este grupo Des viarse muito do comportamento aceito é correr o risco de ostracismo No seriado de TV The American Experience havia um episódio que descrevia o dram a de uma mulher no início do século XIX em uma pequena e longínqua cidade da Nova Ingla terra e que quando adolescente havia dado seu filho ilegítimo para adoção e então muito tempo depois sem saber casouse com o próprio filho Quando o engano foi descoberto o filho foi afastado e a mulher relegada ao ostracismo Embora algumas pessoas tivessem pena dela ela foi deixada à míngua até morrer de fome em uma palhoça nos limites da cidade Hoje em dia as pessoas que são excluídas dessa maneira acabam na sarjeta As convenções sociais diferem de regras que indicam reforços e punições rela tivas à saúde e ao bemestar pessoais Agasalhese bem no inverno é um conselho muito bom para pessoas que vivem em uma região de clima temperado não impor ta se os demais membros do grupo aprovem ou não As convenções sociais são afirmações valorativas que indicam reforço e punição de origem predominante mente social Elas freqüentemente incluem palavras como deveria e deve Um pai norteamericano poderia dizer a seu filho Você jamais deveria roubar de seus amigos mas tudo bem escamotear um pouco em sua declaração de imposto de renda Como vimos no Capítulo 12 deveria e deve indicam os reforços e punições últimos Em convenções sociais inclusive declarações morais como Honrar pai e mãe o reforço e a punição últimos são liberados por outros membros do grupo No esquema SRRR dos Capítulos 8 e 12 o reforço último das convenções sociais envolvem os dois últimos Rs relacionamentos e reprodução Seleção Além da variação e transmissão a evolução de práticas em um conjunto de práticas culturais requer algum mecanismo de seleção Na evolução genética a seleção ocor re devido a diferenças na sobrevivência e na reprodução Algo análogo deve ocorrer com a evolução cultural Tal como ocorre com os genes algumas variações dos replicadores culturais são longevas mais férteis e mais fielmente copiadas Transmissão seletiva Indivíduos máquinas de sobrevivência que indiscriminadamente copiassem quai5 quer práticas que aparecessem a seu redor poderiam se sair pior do que in d iv íd u o s que copiassem seletivamente Aqueles que imitam seletivamente terão maior pi0 Compreender o behoviorismo 277 hjlidade de adquirir os comportamentos mais adaptativos contanto que haja gjgutf1 critério imediatamente disponível e de caráter manifesto no qual basear a ejeção A melhor regra para a imitação seletiva seria imite o sucesso Em um ambiente Instável no qual as melhores pistas para um comportamento adaptativo são as atividades das pessoas em volta um gene ou conjunto de genes que contivesse essa diretriz se daria melhor que os outros Porém os genes nunca poderiam codificar uma diretriz tão abstrata como imite o sucesso em vez disso teriam de orientar a imitação na direção de critérios concretos que habitualmente estão correlacionados com o sucesso Boyd e Richerson 1985 por exemplo mostram que freqüen temente certas circunstâncias podem fazer com que seja mais útil imitar outros indivíduos em vez dos pais Por exemplo freqüentemente os filhos emigram Os indivíduos nativos do novo habitat provavelmente serão modelos muito melhores do que os pais biológicos do imigrante p 15 Em tais circunstâncias como se poderia saber quem ou o que imitar Um critério concreto que Boyd e Richerson sugerem é freqüência As ações mais comuns as normas de um grupo social serão provavelmente aquelas que se mostraram mais bemsucedidas Seria relativamente simples conseguir que as ati vidades mais freqüentemente encontradas fossem imitadas pode ser necessário simplesmente por exemplo reduzir a velocidade da imitação de forma que várias exposições fossem necessárias para que uma atividade viesse a ser copiada Tal regra poderia dar errado se um a prática melhor fosse menos freqüente mas uma prática só precisa gerar maior aptidão em média e a longo prazo para que os genes responsáveis por ela sejam selecionados Um possível segundo critério concreto poderia ser imitar aqueles indivíduos mais freqüentemente encontrados Em nossa espécie esses indivíduos estariam normalmente entre os pais biológicos mas aí poderiam estar também incluídos pais adotivos tios tias professores ou amigos Os genes responsáveis pelo reco nhecimento de membros da família e outras pessoas significativas poderiam ser selecionados por um a série de razões além daquela de guiar a imitação por exem plo guiar o altruísmo em relação à família ou àqueles que provavelmente agirão com reciprocidade À regra A caridade começa em casa poderia ser acrescentada regra A imitação começa em casa Imitar as pessoas que encontramos freqüentemente assim como imitar as atividades freqüentem ente observadas implica alguns riscos Os seres humanos parecem imitar os adultos que os criam freqüentemente com bons resultados mas às vezes desastrosamente Pessoas que sofreram violência por parte dos pais en quanto crianças podem jurar que nunca baterão em seus próprios filhos mas po dem achar difícil conterse quando estejam nessa situação de fato Da perspectiva dos genes essa cópia de comportamentos desajustados seria compensada desde 9ue a cópia do comportamento dos pais fosse vantajosa na maior parte das vezes média e a longo prazo Para imitar atividades menos freqüentes ou outras pessoas que não os pais um outro critério de sucesso seria necessário Em seu poema The road not taken Robert Frost escreveu Dois caminhos se abrem na floresta e eu eu tomei o nos trilhado o que fez toda a diferença Qual foi essa diferença 278 William M Baum Uma atividade bemsucedida é uma atividade que é reforçada e uma pessoa bemsucedida é uma pessoa cujas atividades são reforçadas As pessoas tendem a imitar atividades que são reforçadas e a imitar as pessoas que possuem reforçadores Motoristas em um engarrafamento normalmente permanecem em suas faixas de trânsito que é o comportamento socialmente correto reforçado mas se um carro trafega pelo acostamento que está livre sem punição aparente outros carros cer tamente o seguirão Pessoas com o típico papel de modelos para crianças e adultos são pessoas com riqueza e status atores de cinema atletas profissionais políticos executivos de sucesso pessoas cujo comportamento é altamente reforçado Os genes poderiam codificar a tendência de im itar pessoas e atividades bem sucedidas causando um aumento na tendência de imitar sempre que houvesse reforçadores presentes Isso seria equivalente a uma instrução do tipo Sempre que você observar eventos que estão em sua lista de reforçadores imite as pessoas próximas a eles Alternativamente a tendência poderia ser em grande parte ou completamente modelada pela cultura Poderseia ensinar às crianças a imitar o sucesso Veja sua da Wilma Você não gostaria de ser rico como ela quando crescer Quer a tendência a imitar atividades e pessoas associadas com reforço seja principalmente um produto dos genes ou da cultura ela constitui um a força seleti va poderosa Ela explica por que até práticas relativamente raras podem se difundir em um grupo social No começo do século XX os automóveis eram raros e muitos proprietários de cavalos os ridicularizavam A medida que as vantagens de possuir um automóvel em vez de um cavalo mais reforços e menos punição ficaram ób vias porém a prática de possuir automóveis se difundiu e em um a geração anu lou a prática de possuir cavalos Essa mudança de costumes provavelmente nunca poderia ter acontecido tão rapidamente se não fosse pela imitação seletiva Seguimento de regras e formulação de regras As mesmas considerações aplicáveis à imitação seletiva também se aplicam ao se guir regras seletivamente As pessoas freqüentemente seguem ordens e conselhos por exemplo mas não apenas qualquer ordem ou conselho Da mesma maneira que provavelmente imitamos mais as práticas que ocorrem freqüentemente no con junto de práticas culturais assim também provavelmente seguiremos mais as re gras que freqüentemente ocorrem nesse conjunto Deste modo as práticas domi nantes tendem a ser perpetuadas Enquanto está crescendo uma criança pode ou vir falar tanto de todos os lados sobre o erro de roubar que pode se tornar extre mamente cautelosa evitando até mesmo a aparência de roubar A alta freqüência de exortações contra a violência pode explicar por que relativamente tão poucas crianças imitam a violência que vêem pela televisão Assim como nos inclinamos a imitar pessoas bemsucedidas também nos in clinamos a seguir regras dadas por pessoas bemsucedidas Se você estivesse perdi do em uma cidade a quem pediria informações a uma pessoa andrajosa sentada na calçada ou a uma pessoa bem vestida andando pela rua Não estamos dispostos a seguir o conselho de alguém que mostra poucos sinais de que seu com p ortam en to seja reforçado mas às vezes até pagamos pelo conselho de pessoas que m ostrem Compreender o behaviorismo 2 7 9 sinais de sucesso comprando livros sobre como se sair bem nos negócios sobre jardinagem sobre perda de peso Juntam ente com a tendência a imitar o sucesso a tendência a seguir regras dadas por pessoas manifestamente bemsucedidas explica como uma prática rara pode se propagar rapidamente em um conjunto de práticas culturais Quando os gravadores de videocassete caíram a preços razoáveis a maioria das pessoas nos Estados Unidos os comprou em poucos anos A rapidez com que eles se propaga ram deveuse em grande parte aos anúncios em meios de comunicação e à propa ganda boca a boca isto é pessoas bemsucedidas ou seja pessoas cujo comporta mento é reforçado diziam a outras que a compra e o uso de videocassete seriam comportamentos reforçados Depoimentos em anúncios contam com nossa ten dência em seguir regras passadas por pessoas bemsucedidas As pessoas que insis tem que você compre algo em geral são famosas e sempre têm uma boa aparência usam roupas caras e são bem falantes Em seu livro Programmed to learn Ronaíd Pulliam e Peter Dunford 1980 contam um a história chamada A lenda de Eslok que ilustra como uma cultura é modelada por variação combinada com transmissão seletiva Nessa história vemos algumas pessoas bem e malsucedidas assim como o surgimento de uma regra em resposta a uma situação de reforço a curto prazo conflitante com efeitos a longo prazo sobre a aptidão Aqui vai um breve relato da história Era uma vez há muito tempo e muito longe um lugar onde existia uma comunidade agrícola uma aldeia em üm vale fértil e longínquo As pessoas não eram nem pobres nem ricas elas se viravam Um dia Mefistófeles apareceu na aldeia sob a forma de um velho Ele ajudou alguns sitiantes e os presenteou com coisas como sementes e ferramentas A princípio hesitaram em aceitar os pre sentes mas depois de algum tempo alguns o fizeram Quase imediatamente estes começaram a prosperar Suas colheitas eram maiores que as de todos os demais Vendo seu sucesso os outros aldeões começaram a aceitar também os presentes do velho Logo todos prosperavam e Mefistófeles deixou a aldeia Os aldeões não tinham como saber que alguns anos após uma família ter aceito os presentes todos os seus filhos morreriam Como todas as famílias na aldeia havíam aceito os presentes todas as crianças morreram Finalmente quando todos os adultos estavam envelhecendo e morrendo um homem chamado Eslok deixou a vila e seu vale para viajar Eslok viajou muitos dias até que chegou a outro vilarejo Estabeleceuse lá e contou para as pessoas a história do velho e seus presentes Depois que Eslok morreu a história ainda era repetida com uma advertência ao final Não aceite presentes de estranhos Algumas gerações se passaram e a história de Eslôk vèio a ser considerada um mito Eventualmente o vilarejo cresceu demais e alguns jovens aventureiros par tiram para fundar um novo povoado Viajaram muito à procura de um bom lugar e chegaram ao fértil vale agora despovoado que tinha sido o lar de Eslok Lá eles pararam se estabeleceram e fundaram uma vila Mais uma vez Mefistófeles veio oferecer seus presentes Como antes algumas pessoas os aceitaram Desta vez no entanto algumas se lembraram do dita o Não aceite presentes de estranhos e recusaram os presentes Depois e a guns 280 William M Bduiti í 1 anos as crianças cujos pais haviam aceitado os presentes começaram a morrer y0 1 ver isso acontecer os aldeões expulsaram Mefistófeles Uma vez que algumas pes soas haviam recusado os presentes a comunidade sobreviveu ao desastre e voltou a seu modesto estilo de vida Posteriormente isso se tomou uma regra inabalável j para os aldeões Nunca aceite presentes de estranhos I Como vimos nessa história ambos o seguimento de regras e a formulação de 1 regras dependem em última instância de quanto esses comportamentos aumen tam a aptidão A regra sobre estranhos surgiu em resposta aos efeitos desastrosos sobre a aptidão e quem a seguiu evitou o desastre Autointeresse No livro The selfish gene Dawkins enfatiza que os replicadores quer genes quer práticas culturais agem tendo em vista seu próprio interesse eles promovem a si mesmos no sentido de que seus efeitos tendem a aumentar a freqüência de sua própria reprodução Não obstante muitos traços geneticamente codificados e mui tas práticas culturais parecem promover a sobrevivência do grupo ou da cultura freqüentemente às custas da máquina de sobrevivência individual Vimos em nos sa discussão acerca dos benefícios societários como é possível ocorrer a seleção de genes que propiciam a subordinação do bemestar do indivíduo em favor do grupo esses genes só precisam se sair melhor em média e a longo prazo do que os genes que priorizam o benefício imediato e individual Essa é genericamente falando a explicação para o comportamento altruísta e cooperativo Algo semelhante poderia ocorrer com os replicadores culturais que também aumentariam sua freqüência às custas das máquinas de sobrevivência individuais Como resultado da imitação e do seguimento de regras soldados vão para a guerra e freqüentemente morrem Quando as armas eram primitivas os genes responsá veis pela afiliação ao grupo e pela obediência à autoridade provavelmente eram beneficiados pela guerra Como resultado as práticas culturais do guerrear pude ram sobreviver e crescer pois eram reforçadas em média e a longo prazo por exemplo por aumentos nos bens e territórios acumulados A analogia com os genes sugere ainda que certas práticas possam ser selecio nadas porque auxiliam na manutenção de outras práticas Tais práticas tenderiam a ser conservadoras isto é tenderiam a resistir à mudança cultural Por exemplo a xenofobia poderia ser explicada desse modo pois m atar ou expulsar forasteiros ajudaria a proteger a cultura da invasão por práticas estrangeiras ajudando todas as outras práticas da cultura a sobreviver Durante os séculos XVII e XVIII a cultura japonesa resistiu com sucesso à influência de visitantes do Ocidente através de uma extrema xenofobia Somente quando navios de guerra modernos chegaram a sua costa tom ando qualquer resistência perigosa esse bloqueio terminou Os be nefícios a curto prazo do isolamento poderiam explicar a resistência xenófoba enquanto o bem estar do povo a longo prazo poderia explicar a eventual abertura à cultura ocidental Compreender o behaviorísmo 281 A lógica da teoria da evolução determina que a evolução cultural deva operar dentro de limites fixados pela evolução biológica Boyd e Richerson 1985 Os genes que estabelecem os limites do que pode ser aprendido e do que pode ser reforçador foram selecionados antes que a cultura existisse A curto prazo as pes soas podem se ocupar de práticas que são reforçadoras porém prejudiciais à saúde 0u à reprodução mas a longo prazo elas tendem a agir de forma a preservar a saúde e a promover a reprodução Essa é a razão pela qual os reforços últimos do comportamento controlado por regras referemse à aptidão Capítulo 8 Quando há um conflito entre práticas culturais e aptidão dos genes o conflito é eventual mente resolvido por uma mudança na cultura Uma das mensagens implícitas na lenda de Eslok é a de que quando o sucesso a curto prazo aceitar presentes de estranhos compete com o sucesso reprodutivo a longo prazo morte das crianças então novas práticas enunciar a regra Nunca aceite presentes de estranhos surgem como compensação Por exemplo quando certas práticas evoluíram tor nando o acesso ao açúcar mais fácil bem como a manufatura de doces uma em preitada proveitosa as pessoas começaram a consumir cada vez mais açúcar e doces Nos Estados Unidos o custo a longo prazo desse hábito para a saúde da população tornouse aos poucos evidente desenvolvendose então práticas como escovar os dentes e usar substitutos do açúcar Do mesmo modo os perigos implí citos na existência de armamento nuclear estão sendo contrabalançados pelos movimentos em prol do desarmamento Em ultima análise a mudança cultural é guiada pelo bemestar de nossos genes Esse ponto será especialmente importante para as questões a serem discutidas no Capítulo 14 que diz respeito à mudança cultural intencional RESUMO A cultura de um grupo consiste em comportamento aprendido compartilhado pe los membros do grupo adquirido como resultado de pertencer ao grupo e transmi tido de um membro do grupo a outro A evolução da cultura acontece de maneira análoga à modelagem do comportamento operante e à evolução genética varia ção associada com transmissão seletiva As unidades da seleção as coisas que variam e são seletivamente transmitidas são os replicadores Um replicador é Qualquer entidade que promove a produção de cópias de si mesma Um bom replicador possui longevidade fecundidade fidelidade de cópia e eficácia Um requisito para a existência de cultura é a existência da sociedade Uma Verdadeira sociedade inclui a cooperação comportamento altruísta que beneficia utros a curto prazo e beneficia o altruísta a longo prazo Um segundo requisito Para a existência de cultura é a capacidade dos membros do grupo de aprender uns com os outros pois essa é a maneira pela qual as traços culturais são transmitidos a longo do tempo Na evolução biológica o conjunto de replicadores que todos os organismos de unia população possuem é conhecido como conjunto gênico populacional Na evolu cultural o conjunto de traços que uma sociedade possui é chamado de conjunto 282 Wiiliom M Baum de práticas culturais Essas práticas constituem os replicadores da cultura e à medi da que eles são transmitidos no conjunto de práticas culturais suas freqüências po dem aumentar ou diminuir dependendo da freqüência com que são aprendidos Quando aprender com o outro beneficia a longo prazo os genes do aprendiz como ocorre em nossa espécie os traços que possibilitam essa aprendizagem serão selecionados Três traços com essas características são limites do estímulo imita ção e reforçadores sociais Nossos corpos são feitos de tal forma que estamos sinto nizados com os estímulos produzidos por outras pessoas tais como suas faces e os sons da língua Se um organismo imita outro e o resultado é reforçador então a aprendizagem operante rapidamente ocorre Reforçadores sociais tais como sorri sos tapinhas nas costas e abraços permitem uma aprendizagem a partir do outro ainda mais rápida porque introduzem as práticas de ensino e instrução Os replicadores culturais práticas são as atividades de membros do grupo passadas de um indivíduo para o outro por imitação e educação Essas unidades são definidas funcionalmente como as atividades operantes porque são ações operantes Elas incluem não apenas práticas nãoverbais tais como seleção e pro dução de alimentos mas também práticas verbais como histórias provérbios e injunções morais Essas práticas verbais são úteis quer porque fornecem regras quer porque oferecem instruções análogas às regras isto é fornecem estímulos discriminativos indutores de comportamentos que são socialmente reforçados A cultura humana inclui práticas de seguir prescrever e formular regras Todas elas dependem de relações de reforço organizadas por outras pessoas reforço e puni ção sociais Essas práticas de reforço e punição Sdcíais à parte o comportamento que produzem podem constituir o grupo mais importante de replicadores da cul tura humana O primeiro ingrediente da teoria da evolução é a variação Da mesma manei ra que os genes variam assim também os replicadores culturais variam Tal como os acidentes genéticos os acidentes comportamentais são ocasionalmente benéfi cos Tal como um conjunto gênico populacional um conjunto de práticas culturais pode se beneficiar da migração O segundo ingrediente é a transmissão Diferentemente da transmissão gené tica a transmissão cultural significa herdar traços adquiridos As possibilidades de transmissão cultural excedem em muito àquelas da transmissão genética porque aqueles que transmitem uma prática cultural os pais culturais não necessitam possuir qualquer conexão genética com aqueles que a recebem os filhos culturais Transmissão cultural também difere de transmissão genética na m edida em que a transmissão genética acontece apenas no momento da concepção enquanto a trans missão cultural acontece ao longo de toda a duração da vida A existência de mui tas fontes e muitas oportunidades de transmissão cultural significa que a evolução cultural acontece muito mais rapidamente do que a evolução biológica Problemas sociais surgem quando a evolução cultural muda o ambiente de tal modo que os mecanismos que aum entam a aptidão no velho ambiente tornam uma prática pre judicial no novo ambiente Quando tais problemas surgem novas práticas tendem a evoluir para contrabalançálos A transmissão cultural ocorre por imitação e por regras A imitação aprendida é uma forma de comportamento controlado por regras As crianças aprendem o Compreender o behaviorismo 283 comportamento de seguir regras porque a transmissão de práticas sociais através do seguimento de regras é particularmente rápida O terceiro ingrediente da evolução cultural a seleção acontece porque a trans missão é seletiva Se é provável que um organismo entre em contato com ambien tes diversos então poderia ocorrer a evolução de mecanismos através dos quais a transmissão seria dirigida para a recepção de práticas bemsucedidas em determi nado ambiente Um critério provável de sucesso é a freqüência As pessoas imitam práticas freqüentemente observadas assim como imitam indivíduos com quem se deparam freqüentemente O seguimento de regras pode ser seletivo de um modo ainda mais diretamente relacionado ao sucesso se as pessoas se inclinarem a se guir regras que vêm de outros cujo comportamento é freqüentemente reforçado A idéia de que as práticas culturais são replicadores análogos aos genes ajuda a explicar por que as pessoas agem freqüentemente em seu próprio prejuízo para o bem da comunidade ou do país Práticas desprendidas doar dinheiro tempo esforço e arriscar a própria vida continuarão a fazer parte da cultura contanto que as conseqüências para esses comportamentos sejam em média e a longo pra zo reforçadoras Os reforçadores sociais que mantêm tais práticas derivam em última análise dos efeitos dessas mesmas práticas sobre a aptidão dos genes UíTURÂS ADICIONAIS Bàrásh D P1982 Sociobiology and behavior Nova York Elsevier 2 ed Esse livro apre senta várias teorias subjacentes à explicação do comportamento em termos evolutivos Con tém discussões sobre relações societárias incluindo a comparação com marmotas Barash D V 1986 The hare and the tortoise culture biology and human nature Nova York Viking Penguin Esse livro compara a evolução cultural e a evolução biológica Boyd R e Richerson P J 1985 Culture and the evoludonaiy process Chicago University of Chicago Press Essa obra envolve um tratamento erudito da questão da evolução cultural que esclarece muitas de suas semelhanças diferenças e interações com a evolução genética Dawkins R 1989 The selfish gene Oxford Oxford University Press 2 ed Ver especial mente o capítulo 11 Memes the new replicators1 Epstein R 1984 Spontaneous and deferred imitation in the pigeon Behavioural Processes 9 347354 Esse artigo relata experimentos mostrando que pombos imitam uns aos outros Goodenough J McGuire B e Wallace R 1993 Perspectives on animal behavior Nova York Wiley Esse livro fomece informações sobre mecanismos e teorias do comportamento animal Harris M 1980 Cultural materialism Nova York Random House O título desse livro indica claramente sua abordagem comportamental do estudo da cultura no âmbito da antropologia Hull D L Langman R E e Glenn S S 2001 A general account of selection biology immunology and behavior Behavioral and Brain Sciences 24 511573 Esse artigo apresen ta as analogias entre a seleção na evolução biológica o sistema imunológico e o reforço Está acompanhado de comentários redigidos por uma série de outros acadêmicos de T Título traduzido em português ver Apêndice 284 William M Boum Lamal P A org 1991 Behavioral analysis of societies and cultural practices Bristol Pa Hemisphere Publishing Esse livro é uma coletânea de trabalhos de analistas comportamentais Lumsden C J e Wilson E O 1981 Genes mind and culture the revolutionary process Cambridge Mass Harvard University Press Um dos primeiros livros a discutir a interação entre evolução cultural e biológica Pulliam H R e Dunford C 1980 Programmed to learn an essay on the evolution of culture Nova York Columbia University Press Esse agradável livro entretém ao mesmo tempo que explora o modo pelo qual os genes orientam a aprendizagem e o modo pelo qual essa orientação contribui para a cultura Ver o relato original da lenda de Eslok no Capítulo 8 Skinner B F 1971 Beyond freedom and dignity Nova York Knopf Ver especialmente o Capítulo 7 sobre a evolução cultural Skinner B F 1974 About behaviorism Nova York Knopf Esse livro em que Skinner res pondeu a seus críticos contém uma discussão sobre o comportamento controlado por regras no Capítulo 8 Causas e razões Sommerville C J 1982 The rise and fall of childhood Beverly Hills Sage Publications Esse livro contém uma discussão das práticas relativas a crianças ao longo dos anos na civilização ocidental TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 13 Alelo Cultura Cultura plena Cultura só por imitação Eficácia Imitação aprendida Máquina de sobrevivência Mime Pais genéticos e pais culturais Prática Replicador Sociedade Transmissão horizontal N de T Título traduzido em português ver A pêndice 14 Planejamento cultural experimentação em prol da sobrevivência T alvez nada do que Skinner escreveu tenha provocado tanta controvérsia como suas idéias sobre planejamento cultural Seus opositores viram nessas idéias o espec tro de um governo totalitário da padronização e da estagnação culturais Parecia lhes um a proposta perigosa uma fórmula para o desastre Como poderia alguém ser sábio o bastante para projetar um a cultura E o que aconteceria às pessoas que discordassem do projeto Alimentando o fogo de tais objeções Skinner escrevera também sobre engenharia comportamental o que soava ainda mais sinistro Embora algumas idéias behavioristas sobre livrearbítrio mente e lingua gem por exemplo sejam verdadeiramente controversas o planejamento cultural e a engenharia comportamental só podem parecer controversos quando interpre tados à luz dos preconceitos mais comuns sobre as palavras planejar e engenharia Para os críticos essas palavras sugerem algo como um plano mestre uma idéia fixa sobre como determinada cultura deveria ser que fosse executada sem levar em conta se as pessoas concordam ou se opõem Porém a extensão lógica da análise comportamental dos conceitos de liberdade Capítulo 9 governo Capítulo 11 e valores Capítulo 12 não condiz com essa interpretação As idéias expostas por Skinner em Beyondfreedom and dignity e Walden Two por exemplo se assemelham rnais ao processo de tentativa e erro pelo qual engenheiros e planejadores passam guando estão buscando criar um produto que funcione O arquiteto que projeta uma casa faz um esboço talvez construa um modelo examina esse protótipo bus cando falhas e testa o anteprojeto mostrandoo a seu cliente A qualquer altura do Processo e particularmente se o cliente rejeita o projeto tudo volta à estaca zero oucas pessoas se opõem a projetos governamentais como treinamento profíssio ou incentivos fiscais eles são vistos como tentativas legítimas de levar as pesso as a se comportarem de uma maneira socialmente desejável Como veremos os Calistas comportamentais sugerem apenas que talvez devêssemos nos envolver 286 Wiiliam M Boum com esse tipo de experimentação de uma forma mais ampla e de modo mais siste mático PIANEJAMENTO PELA EVOLUÇÃO Tendo reconhecido que as culturas mudam por meio de um processo evolutivo que é resultado de variação transmissão e seleção deveríamos então ser capazes de agir para melhorar essa evolução aperfeiçoando todos esses três aspectos Poderíamos aumentar e orientar a variação testando deliberadamente novas práticas Podería mos garantir a transmissão através de práticas educacionais consideradas boas no sentido exposto nos Capítulos 12 e 13 para nossas escolas Poderíamos refinar a seleção treinando especialistas na avaliação de programas experimentais Cruzamento seletivo As idéias de Darwin sobre seleção natural se originaram em parte de seus estudos sobre cruzamento seletivo Darwin não tinha uma teoria definida sobre como os traços físicos passavam de uma geração para outra mas não havia dúvida que os criadores de animais eram capazes de melhorar seu gado escolhendo matrizes de tentoras dos traços que desejavam ver nas crias Cavalos podiam ser criados com vistas à velocidade vacas visando ao tamanho e à produção de leite Darwin racio cinou que se o ambiente organizasse as coisas mesmo que um pouco a esmo de forma tal que certos membros de uma população tivessem maior probabilidade de gerar filhos então com o tempo a população tenderia a abranger um número cada vez maior de indivíduos que possuíssem os traços responsáveis pelo maior sucesso reprodutivo O cruzamento seletivo difere da seleção natural em um aspecto importante a escolha deliberada dos membros da população que se reproduzirão resulta em uma seleção mais poderosa O cruzamento seletivo está para a seleção natural assim como o planejamento cultural está para a evolução cultural Da mesma maneira que os especialistas em agricultura podem experimentar criar seletivamente e pro duzir linhagens mais aperfeiçoadas que os fazendeiros então usam com proveito deveria ser possível que especialistas em cultura experimentassem avaliassem e produzissem práticas culturais melhores que a sociedade poderia então utilizar Essa experimentação até certo ponto já existe Na década de 1930 nos Esta dos Unidos muitas pessoas consideravam a previdência social e o segurodesen prego como uma experiência tal como hoje muitas pessoas vêem a prática da ação afirmativa Ocasionalmente alguns estados norteamericanos testam novas práti N de T Ação afirmativa é uma prática do governo e instituições americanas no sentido de organizarem quotas especiais de bolsas de estudo oportunidades de emprego vagas nas escolas etc para minorias desprivilegiadas tais como negros mulheres deficientes etc à fim de melhor garantir sua inserção na sociedade Compreender o bebavicrismo 287 cas por exemplo imposto de renda negativo para ajudar os pobres e loterias para financiar a educação A maioria dessas práticas experimentais acontece em uma escala mais reduzida em cidades distritos escolares ou até mesmo em um único bairro reciclagem de lixo escolha da escola pública prevenção do crime Algu mas experiências se mostraram ineficazes ou desastrosas como as do imposto de renda negativo e a desregulamentação das instituições de crédito e poupança Avaliação Planejamento cultural significa apenas que devemos fazer mais experimentação e fazêla mais cuidadosamente isto é com planejamento e avaliação Quando se realizam experimentos sem uma proposta de avaliação então as decisões sobre seu bom ou mau êxito exigem que seus resultados sejam espetaculares Os resulta dos da experimentação cultural porém provavelmente serão sutis mudanças por exemplo na freqüência de certos eventos gravidez na adolescência ou mortes relacionadas ao consumo de drogas ou desempenhos individuais dentro de um grupo notas em provas escolares ou no vestibular Mesmo que algumas pessoas mudem muito algumas poderão mudar menos e outras não mudarão nada as sim a avaliação exige mais do que uma observação casual e os dados devem ser coletados e analisados Da mesma maneira que os cientistas de laboratório têm de usar gráficos e testes estatísticos para decidir sobre os resultados de suas experiên cias assim também os cientistas culturais devem usar métodos semelhantes Essa é a razão pela qual as agências que financiam experiências novas freqüentemente exigem um plano de avaliação antes que o projeto de pesquisa seja aprovado O financiamento em larga escala em geral depende também de demonstra ções em pequena escala ou experimentospiloto Se um experimentopiloto cultu ral der errado sua escala reduzida permite detectar os problemas e diminuir os efeitos indesejáveis de maneira relativamente mais rápida e mais fácil Se os efei tos da desregulamentação de instituições de crédito e de poupança tivessem sido testados inicialmente em pequena escala seus efeitos desastrosos sobre a econo mia norteamericana poderiam ter sido evitados Mesmo que a desregulamentação pareça ter funcionado bem em outros contextos e na ausência de avaliação criteriosa a dúvida permanece as agências de crédito e de poupança representa vam um novo contexto no qual a desregulamentação deveria ter sido avaliada inicialmente por meio de um experimentopiloto Porém a avaliação levanta uma questão Em experiências agrícolas os cria dores avaliam as novas linhagens de acordo com metas bem definidas e padrões hem estabelecidos tais como resistência a doenças e produtividade Todo o mundo Pode concordar sobre o sucesso ou fracasso de alguns experimentos culturais mas nnuitas experiências dão margem à discordância porque nossas conclusões depen dem dos critérios que empregamos Uma pessoa que analise as loterias oficiais à luz da renda que produzem poderia considerálas um grande sucesso mas quem estivesse olhando o modo pelo qual elas tiram seu lucro principalmente dos grupos socioeconomicamente menos favorecidos talvez as considerasse um fracasso total Que tipo de critério deve ser empregado na avaliação de experiências culturais 288 William M Baum A SOBREVIVÊNCIA COMO CRITÉRIO Ao se dirigir à questão dos critérios Skinner freqüentemente se referiu à sobrevi vência Às vezes ao considerar problemas globais ele parece ter tido como referên cia a sobrevivência do gênero humano Porém em outros momentos ele não se referia à sobrevivência dos povos mas à de suas culturas Para sobreviver um a cultura deve ser capaz de mudar pois ela só poderia permanecer estável em um mundo sem novos desafios ambientais e sem competi ção por parte de outras culturas No mundo de hoje considerando que o ambiente está se deteriorando e a comunicação global permite um contato constante entre diferentes culturas a sobrevivência depende de como lidamos com as mudanças ambientais e como absorvemos as práticas de outras culturas As práticas culturais competem entre si não só dentro de uma mesma cultura mas entre culturas Se um a prática estrangeira se mostra reforçadora ela passa para a cultura nativa e pode até substituir práticas tradicionais O japoneses adotaram do Ocidente as prá ticas de produção em massa e controle de qualidade os ocidentais por sua vez desfrutam de sushi e praticam caratê Como as práticas tendem a ocorrer em agru pam entos e dependem um as das outras o fato de adotarm os um a prática freqüentemente conduz à adoção de outras Uma pessoa que se interessou por caratê pode vir a se interessar pelo zenbudismo a adoção por parte dos japoneses da produção em massa levouos à adoção do controle de qualidade A interdepen dência de práticas leva à competição entre padrões culturais amplos e até mesmo entre culturas inteiras Quando um grupo abandona sua cultura tradicional e adota uma outra em sua totalidade podese dizer que a cultura tradicional morreu Em um ambiente em transformação se uma cultura muda a fim de enfrentar novos desafios ao passo que outra não o faz é provável que só a primeira sobrevi va Tais desafios são particularmente cruciais quando produzidos pelas próprias práticas culturais Por exemplo as práticas de fabricação de armamento nuclear e de depósito de lixo atômico ameaçam o bemestar de gerações futuras Muita coisa depende de como a culm ra responde a esses desafios autogerados A sobrevivência como critério implica não só mudança mas m udança em resposta a relações de longo prazo Responder apenas a relações de curto prazo normalmente significa desastre porque relações de curto e de longo prazo geral mente entram em conflito A curto prazo sacolas plásticas se tornaram muito po pulares entre os norteamericanos porque são convenientes e baratas a longo pra zo acabam em terrenos baldios e poluem o ambiente No final das contas seu custo real é alto porque demanda um sistema capaz de eliminálas satisfatoria mente A curto prazo combustíveis fósseis parecem um a fonte conveniente e bara ta de energia mas no final das contas seu uso promove engarrafamentos de tráfe go e poluição atmosférica A maioria dos desafios com que nos defrontamos são armadilhas de reforço na acepção do Capítulo 9 Agir conforme conseqüências de curto prazo é reforçado de m aneira relativamente imediata o reforço é óbvio Relações de longo prazo porém apresentam dificuldades porque suas conseqüências em geral são posterga das e seus efeitos aum entam de maneira gradual A descarga de um pouco de lixo Compreender o behoviorismo 285 tóxico em uma corrente de água pode não ter qualquer conseqüência duradoura importante mas continuar descarregando um pouco todo dia por anos a fio pode eventualmente produzir um enorme desastre devido ao efeito cumulativo Se as empresas por si próprias não podem merecer nossa confiança no que diz respeito a relações de longo prazo então é preciso impor relações de reforço regu ladoras Não se pode esperar que empresas geradoras de eletricidade encorajem a conservação de energia um a vez que quanto maior o consumo maiores serão seus lucros No estado do Maine EUA a comissão de serviços públicos fez uma experiên cia com um modo de eliminar esse desinteresse pela conservação de energia Se o consumo diminui a tarifa sobe de tal forma que os lucros da empresa de eletrici dade se mantêm aproximadamente constantes 0 resultado foi que o consumo di minuiu Quando a promoção do consumo por parte da empresa já não era mais reforçada e a empresa começou a encorajar a economia de luz ou pelo menos deixou de encorajar o consumo os consumidores individualmente tornaramse mais propensos a economizar O reforço regulador alinhou o comportamento da companhia de eletricidade com relações de longo prazo que favorecem a conserva ção da energia Responder a tais relações de longo prazo requer previsão e freqüentemente adivinhações As vezes um a ação preventiva deve ser encetada mesmo se a previ são é incerta Por exemplo parece que nossas práticas de consumir madeira e combustíveis fósseis que lançam grandes quantidades de gás carbônico na at mosfera podem resultar em um aquecimento de toda a Terra o efeito estufa A ligação entre os dois fenômenos contudo é eonjetural porque a temperatura sobe e desce por outras razões Uma tendência geral ao aquecimento poderia demorar muitos anos para ser confirmada Se esperarmos para entrar em açao até termos certeza de que há realmente um problema poderá já ser tarde demais para evitar o desastre Somente um núm ero pequeno de especialistas pode ser treinado para realizar previsões sobre conseqüências ambientais econômicas e sociais de longo prazo A sociedade é forçada a se basear nesses especialistas para a revelação dessas rela ções de longo prazo e para a recomendação de novas práticas para lidarmos com elas Essas recomendações porém só podem produzir transformações se a socie dade incluir grupos que respondam ao comportamento verbal desses especialistas e que trabalhem em prol da sobrevivência da cultura Grupos que encorajam a reciclagem do lixo por exemplo representam esse papel Quer encorajando as pessoas a manterem uma dieta melhor ou a economiza rem eletricidade as novas práticas substituindo as antigas e resolvendo os proble mas por elas gerados têm dois efeitos asseguram a sobrevivência da cultura e Promovem a longo prazo o sucesso reprodutivo dos membros da sociedade No Capítulo 13 vimos que a explicação mais provável de por que afinal sociedades e culturas existem seria o aum ento de aptidão As práticas mudam para aumentar a aPtidão dos que as praticam ou tendo em vista os problemas produzidos por algu mas de nossas práticas para impedir quedas significativas em nossa aptidão Ao discutir a necessidade de mudanças as pessoas freqüentemente mencionam a saú de e a sobrevivência de seus filhos e netos 290 William M Baum Variação orientada Em seu livro Culture and the evolutionaiy process Boyd e Richerson 1985 consi deraram tão óbvio o conceito que Sldnner denominou planejamento cultural qUç lhe atribuíram um nome técnico variação orientada e classificaramno como uma das forças da evolução cultural Eles equiparam a variação orientada com o comportamento individualmente aprendido que é então transmitido por imitação ou por ensino Sua concepção contudo é mais ampla que a de Sldnner porque inclui casos que envolvem comportamento nãoverbal por exemplo uma criatura aprende por ensaio e erro e então as demais a imitam Boyd e Richerson se concen tram porém no que chamam de cálculo racional que corresponde ao comporta mento precorrente de Sldnner Capítulo 8 O comportamento precorrente como experimentar diferentes dietas ou testar plásticos biodegradáveis resulta em solu ções que estabelecem a ocasião para comportamento verbal regras do tipo Coma mais verduras que fazem bem à saúde ou Use sacolas de plástico biodegradável para diminuir a poluição Essas regras induzem comportamentos controlados por regras naqueles que as ouvem e esses comportamentos controlados por regras devem em última análise ser reforçados Boyd e Richerson introduzem o reforço sob a forma de um padrão adaptativo O efeito da força da variação orientada sobre a evolução depende da existência de algum padrão adaptativo como gosto ou uma sensação de prazer ou dor Por exemplo a adaptação resultante de um cálculo racional procede através da cole ta de informações sobre o ambiente da estimativa dos resultados de vários pa drões alternativos de comportamento e de uma avaliação de quão desejáveis são os possíveis resultados de acordo com algum critério São esses critérios orientadores que traduzem as variações no ambiente em mudanças direcionadas e freqüentemente adaptativas mudanças no fenótipo que são então cultural mente transmitidas às gerações subseqüentes A fonte desses critérios deve ser claramente e em última instância externa ao próprio processo de variação orien tada Em uma análise final seremos forçados a explicar os critérios orientadores como produtos de algum outro processo p 9 Interpretando o fraseado mentalista do trecho acima temos que gosto ou uma sensação de prazer ou dor correspondem às propriedades reforçadoras e aversivas de várias conseqüências filhos riqueza náusea e assim por diante e critérios significa reforçadores e punidores As expressões coleta de informa ções e estimativa de resultados correspondem a comportamentos precorrentes alguns verbais e alguns talvez manipulativos que produzem vários estímulos discriminativos resultados que controlam comportamentos verbais ulteriores Mudanças no fenótipo significa aqui uma mudança em algumas práticas cultu rais A fonte ou processo responsável pelos critérios obviamente é a seleção natural Como já vimos nos Capítulos 4 e 13 os eventos ganham poder reforçadoi e punitivo se tal poder aum enta de modo geral a aptidão Se a variação orientada de Boyd e Richerson significa praticamente a mesma coisa que o conceito de planejamento cultural de Sldnner por que apenas a coloca Compreender o behaviorismo 291 cão de Skinner gera controvérsias A principal razão provavelmente é que enquan to á discussão de Boyd e Richerson é estritamente descritiva a discussão de Skinner freq ü en tem en te se torna prescritiva Embora ambos indiquem um processo que já acontece em nossa sociedade somente Skinner prossegue ao ponto de insistir que deveríamos incrementar ainda mais a variação orientada e fazêlo de maneira mais sistem ática Isso provoca o medo de que os especialistas ganhem muita influência em nossa sociedade e se tornem uma ameaça para a democracia Respondendo a essa e outras objeções Skinner 1971 em geral concorda que o medo seja legítimo mas insiste em uma perspectiva mais ampla Uma cultura bem planejada incluiria relações de reforço contracontrole Capítulo 11 que im pediriam os especialistas de chegar a essa influência indevida Sua proposta que chamou de sociedade experimental incluía a experimentação em várias frentes não só em algumas áreas limitadas UMA SOCIEDADE EXPERIMENTAI Temendo pela sobrevivência da humanidade e da civilização Skinner preocupava se com o fato de que adaptamos nossas práticas culturais de lidar com questões ambientais muito lentamente para podermos evitar a destruição Práticas que fun cionaram no passado podem se tornar maiadaptativas e podem requerer substitui çâo Skinner propôs que em vez de nos agarrarmos a velhas práticas deveríamos estar constantemente testando novas práticas para ver se funcionam melhor e de veríamos fazer da experimentação com novas práticas uma prática cultural Em vez de sociedade experimenta ele poderia na verdade ter usado o termo socieda de em experimentação Experimentação Skinner 1971 comparou a experimentação com práticas culturais à experimenta ção no laboratório Uma cultura se parece muito com o ambiente experimental empregado na análi se comportamental Uma criança nasce em uma cultura como um organismo é colocado em um ambiente experimental Planejar uma cultura é como planejar um experimento contingências isto é relações de reforço são dispostas e os efeitos registrados Em um experimento estamos interessados no que acontece ao planejar uma cultura estamos interessados em saber se funcionará Essa é a diferença entre ciência e tecnologia p 153 Skinner indica aqui a diferença entre a análise comportamental a ciência e a enologia comportamental Enquanto o objetivo da ciência é somente entender a tecnologia procura resultados práticos A tecnologia e a ciência são em parte mu dam ente dependentes a ciência explica por que certas práticas podem funcionar e a tecnologia empurra a ciência para descobrir práticas que de fato funcionem 252 WilÜam M Baum Democracia Por exemplo especulamos no Capítulo 11 que a democracia pode ser superior a outros sistemas de governo porque proporciona aos cidadãos um maior contra controle Essa teoria pode indicar o caminho a ulteriores aperfeiçoamentos do pro cesso democrático Em um artigo intitulado From candidate to criminal the contingencies of corruption in elected public office os analistas comportamentais Mark Goldstein e Henry Pennypacker 1998 discutiram a maior ameaça singular à democracia a corrupção Eles argumentaram que a corrupção ocorre porque as relações de reforço que afetam o comportamento dos candidatos que disputam um cargo diferem das relações de reforço que afetam o comportamento dos ocupantes de cargos públicos depois que são eleitos Ao concorrer ao cargo o candidato le vanta fundos e ganha votos através da promessa de que representará os interesses do povo de que m udará práticas governamentais ineficazes e de que dará ouvidos às necessidades dos eleitores Depois de ser eleita a pessoa então está sujeita a um novo e quase irresistível conjunto de relações de reforço grupos específicos com grande poder econômico oferecem presentes e contribuições se o eleito tom ar de cisões a seu favor ao mesmo tempo que outros ocupantes de cargos públicos o encorajam a aceitar as doações Na esfera nacional um deputado ou um senador subitamente se torna objeto da ação de lobistas que apontam para a necessidade de fazer uma grande caixa de campanha quando chega a época de disputar a reelei ção Na esfera local relações similares ocorrem mesmo que os valores sejam mais baixos porque empreendedores e negócios demandam concessões oficiais e servi ços especiais Seus representantes levam os ocupantes dos cargos para jantar ofe recem entradas para competições esportivas e viagens de férias Goldstein e Pennypacker 1998 descrevem a situação de um indivíduo denominado Amistoso O candidato vivenciou uma rica agenda de contatos pessoais apoio alimentação e respostas públicas positivas de cabos eleitorais A maior parte disso cessa de pois da eleição tornando o detentor do cargo extremamente suscetível a quais quer outros reforçadores Os que procuram obter tratamento favorável isto é os que corromperiam Amistoso estão mais do que prontos para entrar em cena e preencher o vazio de reforçadores com um sistema de contingências próprio Eles são habilitados nas técnicas de seleção de reforçadores e modelagem Em breve Amistoso terá um novo repertório p 67 A sucumbência do ocupante do cargo ao novo e poderoso reforço poderia ser remediada nas urnas quando se repetisse o período eleitoral mas então o proble ma permanece de que um a outra pessoa sucumbirá mais uma vez à mesma mu dança de relações de reforço Uma solução para a corrupção requer algumas mu danças no relacionamento entre o ocupante do cargo público e os eleitores que proporcionem mais contracontrole Goldstein e Pennypacker sugerem uma alternativa para representantes eleitos i localmente Eles descrevem sua proposta desta maneira I lr Todos os ocupantes de cargos eletivos estariam sujeitos a um plebiscito a cada f aniversário de sua eleição Anualmente os eleitores responderiam um a q u e s tã o j Compreender o behaviorismo 293 sobre cada eleito ele ou ela deve continuar sem questionamento por mais um ano Uma votação majoritariamente afirmativa permitiria ao eleito continuar no cargo sem ser posto em dúvida Uma votação negativa por outro íado seria um convite para um julgamento no próximo plebiscito anual que poderia resultar em sua substituição Sob esse sistema um ocupante de cargo público recémeleito teria assegurada sua posição por no mínimo dois anos Daí em diante cada ano sem questionamentos presumivelmente funcionaria como uma resposta positiva do público referente ao desempenho do eleito Se o voto de desconfiança ocorresse o ocupante do cargo teria o ano por vir para corrigir suas práticas a fim de triunfar na eleição seguinte O fracasso nessas modificações presumivelmente levaria a sua remoção em tempo pelos eleitores Esse procedimento não aumentaria em nada os custos do governo local dado que algum tipo de eleição normalmente ocorre todos os anos e o plebiscito seria simplesmente superposto a elas p 7 Dado que sua proposta garante resultados reforço ou punição mais freqüen tes apoiados pela ameaça de destituição do cargo contracontrole ela estimularia ó comportamento correto por tanto tempo quanto o eleito permaneça no cargo Ela removeria algumas das desvantagens de mandatos fixos para os cargos de que ocupantes de cargos públicos ficam por alguns anos isolados do contracontrole e então são forçados a enfrentar o julgamento das urnas mesmo que façam um bom trabalho Embora a proposta possa soar razoável entretanto a única maneira de descobrir se ela funciona seria testála Felicidade Como sabemos quando um a prática funciona Essa questão nos remete de volta aos padrões adaptativos e critérios orientadores de Boyd e Richerson A resposta mais comum é expressa em termos de felicidade O que funciona é o que torna as pessoas felizes Porém isso só resulta em uma reformulação do problema sob quais condi ções podemos dizer que as pessoas são felizes Já vimos Capítulos 9 11 e 12 como os analistas comportamentais abordam essa questão Em primeiro lugar pa rece evidente que as pessoas relatam uma maior felicidade quando estão livres da possibilidade de conseqüências aversivas ou da possibilidade de perderem o refor ço habitual No Capítulo 9 notamos que as pessoas relatam felicidade quando seu arnbiente permite escolhas alternativas de ações possíveis e essas escolhas têm conseqüências reforçadoras em vez de aversivas As pessoas tendem a estar felizes nas mesmas condições nas quais relatam sentiremse livres especialmente livres de coerção mas também como nossa análise de liberdade espiritual sugeriu livres de guns tipos de reforço positivo Uma qualificação deve ser feita a nossa opção de felicidade como um critério que funciona em uma cultura estamos falando aqui de felicidade a longo prazo y felicidade a longo prazo proveniente da cultura de que uma pessoa faz parte reqüentemente está em conflito com o reforço pessoal a curto prazo A curto pra ninguém gosta de pagar impostos mas todo o mundo se beneficia ao final das cutas de escolas públicas e da coleta do lixo 294 William M Baum No Capítulo 11 introduzimos a perspectiva de longo prazo em nossas análi ses ao examinarmos as relações de exploração e de eqüidade As relações de refor ço e punição de uma cultura são manifestadas concretamente em relacionamentos que consistem na troca repetida de estímulos discriminativos e conseqüências pelas quais as pessoas controlam o comportamento umas das outras e as instituições controlam o comportamento das pessoas As pessoas relatam uma m aior felicidade a longo prazo quando estão livres de relações de exploração e recebem reforço eqüitativo reforço equivalente àquele recebido por um grupo de comparação Historicamente a tendência nos Estados Unidos tem sido fazer comparações cada vez mais amplas Esposas já não são comparadas apenas entre si senão com seus esposos Minorias já não são comparadas apenas entre si senão com a maioria Em última instância se a população como um todo se torna o grupo de comparação o padrão de eqüidade para todos seria o mesmo Nos Capítulos 12 e 13 nós nos lembramos de queem última análise porque somos produtos da seleção natural nossa felicidade tende a coincidir com a apti dão de nossos genes Para a maioria das pessoas a felicidade reforço deriva de condições em nós próprios e nos outros reforçadores que em últim a instância estão ligadas à aptidão a sobrevivência e o conforto pessoais o bemestar dos filhos o bemestar de membros da família e de outros parentes e o bem estar de pessoas que não são parentes mas com as quais mantemos relações mutuamente benéficas Capítulo 11 cônjuge amigos íntimos membros da comunidade Walden Two a visão de Skinner Um modo pelo qual Sldnner tentou transmitir sua idéia da sociedade experimental ou em experimentação foi descrevendoa em seu romance Walden Two Como fic ção o livro oferece ilustrações concretas de como uma sociedade em experimenta ção poderia ser Como um ensaio que defende as virtudes de uma sociedade em experimentação ele é indireto porque Skinner passa seu ponto de vista através de diálogos entre seus personagens Para apreciar o livro em toda sua extensão é necessário interpretálo à luz das concepções de Skinner Interpretação de Walden Two O livro começa com dois professores universitários de meiaidade Burris e Castle decidindo visitar uma comunidade experimental localizada em uma fazenda no meiooeste americano Eles se defrontam com um povoado localizado em um pe queno pedaço de terra com um aprazível plano urbanístico de aproximadamente mil habitantes Os dias que lá passam são dominados pelas conversas com Frazier o criador da comunidade que ainda lá vive mas que então tem uma influência apenas marginal no que diz respeito a seu funcionamento Uma maneira de lêlo é como se o livro fosse uma batalha entre Frazier e Castle para conquistar a adesão de Burris Castle descrito como uma pessoa confoí tável em seu papel de acadêmico um filósofo com excesso de peso e verbalmente Compreender o behaviorismo 295 beligerante é a personificação do mentalismo Frazier o homem de ação é descri to como vigoroso e combativo excessivamente autoconfiante Ele representa a espe rança em um mundo novo baseado na tecnologia comportamental Burris pouco à vontade em seu papel de acadêmico descontente com a vida que leva está aberto à persuasão Podese dizer que nenhum dos três representa Skinner embora possa mos imaginar que as discussões que acontecem entre eles especialmente entre Frazier e Burris poderiam se assemelhar às discussões de Skinner consigo próprio À medida que Frazier lhes mostra a comunidade Walden Two Burris e Castle conhecem os vários aspectos daquela cultura suas práticas relativas à economia governo educação casamento e lazer Frazier explica que as práticas são baseadas em princípios com portam entais Castle aponta problemas e usa argumentos mentalistas que Frazier refuta Burris vacila Uma após a outra as objeções à idéia de uma sociedade em experimentação são levantadas a maioria por Castle algu mas por Burris e respondidas Cada um dos aspectos de Walden Two é retratado como funcionando melhor que nos Estados Unidos de modo geral Não há necessidade de dinheiro as pessoas ganham créditos de trabalho por realizarem tarefas úteis mais créditos por hora em tarefas trabalhosas como lavar janelas menos créditos em tarefas agradáveis como ensinar O governo é tão sensível às manifestações de seus cidadãos que as eleições ficaram obsoletas Ensinase às crianças como se autoeducarem de forma que necessitam apenas de um a leve orientação dos professores As pessoas desfru tam de períodos enormes de lazer e os usam de maneira produdva O vestuário é variado As interações sociais são diretas e carinhosas Acima de tudo todo o mun do está contente Burris passa eventualmente por um tipo de conversão deixa Castle em sua viagem de volta à universidade e retorna a Walden Two para ficar Walden Two é uma utopia Claro Walden Two parece bom dem ais para ser verdade O livro tem sido freqüentemente classificado como obra utópica como o livro de Thomas More Utopia Várias ficções desse tipo já foram escritas em geral versando sobre uma comunidade pequena e isolada onde a vida é de longe muito melhor do que no mundo em que vivemos Sob um ponto de vista superficial Walden Two se encaixa nesse modelo Skinner porém negou que o livro fosse utópico afirmando que pretendia descrever a idéia básica de uma sociedade experimental em experimentação Os detalhes concretos da economia do governo da vida social e assim por diante foram incluídos somente como ilustração Ao contrário do que ocorre em ficções utópicas típicas nas quais esses pormenores são o ponto focal do livro Walden Two vai além dos detalhes e m ostra um método o método experimental Tomar os Pormenores como recomendações de Skinner é uma interpretação equivocada do livro Na verdade a própria lógica da postura de Skinner impediria que ele tivesse Qualquer idéia definida acerca dos detalhes de Walden Iwo porque esses detalhes deveriam evoluir com o tempo como resultado de experimentação e de seleção Quern sabe se o sistema de crédito por trabalho o sistema de governo por meio de 296 Williom M Boum consultas constantes à população ou o autodidatismo funcionariam Em um a soci edade em experimentação esses aspectos poderiam ser testados modificados e conservados ou descartados Ao longo dos anos utópico ganhou significados adicionais como inviável ou inexeqüível e a obra Walden Two poderia ser chamada de utópica nesse sentido Poderseia dizer que experimentar em uma comunidade de mil pessoas é possível mas nunca poderia ser feito em um país com 300 milhões de pessoas ou até mes mo em um estado ou cidade de qualquer tamanho razoavelmente grande Assim mesmo que uma comunidade como Walden Two tivesse sucesso ela sobreviveria como uma pequena ilha encerrada em si mesma No livro Skinner imaginou outras comunidades semelhantes a Walden Two brotando pelo país Estava implícito que eventualmente se um número suficientemente grande de pessoas vivessem em tais comunidades elas começariam a influenciar o país É difícil saber se as suposições de Skinner se mostrarão corretas pois as tenta tivas de instalar tais comunidades tiveram pouco sucesso Uma delas Twin Oaks iniciada na década de 1960 nos Estados Unidos sobreviveu até a década de 1990 porém notícias recentes indicam que a prática de experimentação foi abandonada Uma comunidade mexicana Los Horcones reteve a prática de experimentação mas é muito pequena para ter muita influência Talvez o crescimento da prática de experimentação cultural não devesse ficar restrita a pequenas comunidades Poderíamos argumentar que vários governos norte americanos em todos os seus níveis têm demonstrado uma tendência crescente desde a crise de 1929 no sentido de realizarem experimentações com práticas culturais Os jornais freqüentemente descrevem projetospiloto que testam novos modos de lidar com a coleta de lixo urbano o uso de drogas a gravidez na adoles cência e o desemprego Práticas empregadas em outras sociedades são trazidas para análise e possível adoção Um pessimista poderia apontar para o poder de grupos de interesse militantes que se opõem à mudança enquanto um otimista poderia dizer que apesar de tudo estamos caminhando lenta e pausadam ente em direção a uma sociedade em experimentação Skinner provavelmente insistiria que devêssemos agir mais rápida e sistematicamente no trato de nossos problemas comportamentais antes que seja tarde demais OBJEÇÕES Em Walden Two e Beyondfieedom and dignity Skinner tentou responder às objeções feitas a sua concepção de sociedade em experimentação Começa mostrando que gostemos ou não já existe uma tecnologia comportamental em estágio rudimen tar talvez mas em crescimento Já não há mais qualquer dúvida de que as ações das pessoas podem ser controladas por relações de reforço planejadas para esse fim A pergunta é como esse conhecimento será usado A primeira objeção pode ser colocada do seguinte modo sua concepção é errada porque mesmo que seja possível controlar as ações das pessoas no laborató rio esse é um ambiente de condições artificiais e simplificadas que não tem nada em comum com as complexidades do mundo real Sldnner respondeu m ostrando Compreender o behaviorismo 297 que os experimentos em física e química são igualmente realizados em condições artificiais e simplificadas contudo ninguém duvida que seus resultados possam ser aplicados no mundo real Não é necessário que o controle seja perfeito para que seja útil as agências de publicidade demonstram diariamente que o histórico das pessoas pode ser explorado Felizmente pode haver também usos mais construti vos gerenciamento comportamental em salas de aula e instituições para doentes mentais por exemplo Em Walden Two Frazier sugere que houve falhas mas não há nenhuma dúvida de que a tecnologia funciona Skinner 1971 instou aqueles que rejeitariam um a tecnologia comportamental por ser muito simples a examina rem a alternativa uma supersimplificação realmente grande é representada pelo apelo tradicio nai a estados da mente sentimentos e outros aspectos do homem autônomo que a análise comportamental está substituindo A facilidade com que podem ser inventadas explicações mentalistas ad hoc é talvez a melhor medida de quão pouca atenção deveríamos prestar a elas E o mesmo pode ser dito de práticas tradicionais A tecnologia que emergiu de uma análise experimental fdo compor tamento só deveria ser avaliada em comparação com o que tem sido feito a partir de outras concepções Afinal de contas o que temos para mostrar daquilo que foi produzido por métodos nãocientíficos ou pelo senso comum précíentí fico ou simplesmente pelo bom senso ou até mesmo pela experiência pessoal É ciência ou nada e a única solução para a simplificação é aprender a lidar com complexidades p 160 Ele prosseguiu reconhecendo que a análise comportamental como qualquer outra ciência não pode responder a toda e qualquer questão que lhe seja colocada A medida que progride entretanto consegue responder a um número cada vez maior dos problemas que lhe são colocados A ciência do comportamento não está ainda pronta para resolver todos os nossos problemas mas é uma ciência em desenvolvimento e sua adequação última não pode ser avaliada agora Quando seus críticos afirmam que ela não pode explicar esse ou aquele aspecto do comportamento humano eles normalmente deixam implícito que ela nunca poderá vir a fazêlo mas a análise continua a se desen volver e de fato está em um estágio muito mais avançado do que seus críticos geralmente supõem p 160 Uma segunda objeção equipara planejamento com interferência Inovações Pouco inteligentes poderiam levar a catástrofes tentaremos uma experiência não seremos capazes de prever suas conseqüências e produziremos mais mal do que bem Assim em vez de assumir o risco de conseqüências imprevisíveis seria me lhor deixarmos as coisas como estão e deixar que os eventos sigam o curso que bem lhes parecer Skinner respondeu a essa postura mostrando que o não planejado também dá errado Se nos abstemos de intervir deixamos nosso destino ao acaso Isso pode ter funcionado bastante bem no passado mas em um mundo em que bossas ações ameaçam nossa própria existência seria irresponsável sentarse à es Pera de que as coisas se ajeitem 298 William M Baum A comunidade Walden Two de Skinner inclui um grupo de Planejadores cada um dos quais serve durante determinado mandato Eles avaliam as práticas exis tentes na comunidade com base nas informações que recebem dos Gerentes cada um dos quais está ligado a um determinado grupo de trabalho saúde produção de leite e derivados preparação de comida cuidados com as crianças e assim por diante Os Gerentes coletam os dados os Planejadores os analisam Usando esses dados os Planejadores decidem quais práticas funcionam quais poderiam ser me lhoradas e que novas práticas deveriam ser postas à prova Os Planejadores são especialistas eles devem ter passado por um treinamen to em avaliação e planejamento de inovações Um governo responsável confia em especialistas para sugerir soluções a problemas complexos Tal como ocorre com problemas como o estabelecimento de padrões para a construção de pontes ou a avaliação de um novo m edicam ento assim tam bém ocorre com problemas comportamentais como poluição e crime as soluções demandam especialistas Os analistas de comportamento estão sendo chamados cada vez mais para planeja rem práticas a serem utilizadas em escolas prisões e hospitais A medida que se tornam úteis seu papel pode crescer Uma terceira objeção dá ao planejamento o significado de estagnação O pla nejamento produziria um ambiente estultificante sem espaço para inovações Como discutimos antes esse ponto de vista interpreta erroneamente a palavra planejar Uma das forças da abordagem experimenta é que ela encoraja a inovação Qual quer acaso feliz pode ser explorado e qualquer proposta nova que seja promisso ra pode ser experimentada Deveríamos confiar apenas em acasos felizes Uma outra objeção relacionada à anterior vê no planejamento o caminho para a padronização e uniformidade Se determinados estilos de roupa ou de pre paro de alimentos fossem considerados os melhores então todo o mundo seria obrigado a seguilos Só os produtos dados como os melhores poderiam estar à venda nas lojas Esse medo desconsidera suas próprias bases o valor da diversidade da variabilidade A história da civilização ocidental nos ensina que as pessoas são mais felizes quando podem escolher A diversidade de que desfrutamos hoje não só pode ser preservada por um planejamento adequado mas poderia ser aumentada Se a diversidade tem valor podemos criar um planejamento para que ela ocorra Uma quarta e mais bem direcionada objeção é que uma sociedade como essa não teria graça O próprio Skinner disse Eu não gostaria dela1 ou traduzindo Essa cultura seria aversiva e não me reforçaria da maneira a que estou acostuma do Cp 163 A vida em um a comunidade como Walden Two onde não há privações os riscos de perigo são mínimos as oportunidades de lazer são enormes todo o mundo é saudável agradável e ninguém está estressado pode ser bastante aborrecida Em um mundo sem sofrimento onde estaria um Dostoievsky ou um Mozart Skinner reconheceu que essa objeção tinha seus méritos e ele próprio tinha dúvidas se desejaria viver em um lugar como Walden Two Ao responder contudo ele considerou que essa sociedade seria boa não para nós que vivemos no mundo de hoje mas para as pessoas que nela vivessem Em Walden Two Frazier faz essa crítica a Castle e Burris O próprio Frazier é descrito como um desajustado em Walden Two Ele ama a comunidade mas como produto de sua cultura pregressa ele se acha pouco à vontade na nova cultura que ajudou a criar Compreender o behoviorismo 29 Essa crítica Eu não gostaria dela tem menos a ver com a idéia de uma sociedade em experimentação quecom a idéia de um mecanismo estatal que ga ranta o bemestar em todos os seus níveis Estado de bemestar social Se uma sociedade em experimentação estabelece como critério para a escolha de boas prá ticas que elas produzam conforto saúde ordem e segurança então ela se encami nha para um Estado de bemestar social em que o comportamento de cada um seria reforçado positivamente tanto quanto possível afastandose de relações coer civas e da maior parte dos controles aversivos existentes Para muitas pessoas isso exigiria uma grande m udança nos reforçadores e nas relações de reforço que con trolam suas atividades Atividades produtivas e criativas poderiam ser explicita mente reforçadas Presumivelmente haveria pouca ou nenhuma necessidade de alguém provarse a si próprio de competir enganar roubar ou mentir Quer ou não esse m undo soe entediante para alguém que vive em nosso mun do se caminhássemos na direção de mudanças essas deveriam ocorrer gradual mente Mesmo a comunidade imaginária Walden Two evoluiu ao longo de um cer to tempo É provável que a maioria de nós daria boasvindas a quaisquer mudanças que pudessem acontecer durante nossas vidas e cada geração cresceria em uma cultura substancialmente diferente daquela que veio antes É improvável que eles a achassem aborrecida A quinta e maior objeção ao planejamento cultural é que isso representa uma ameaça à democracia e leva ao regime ditatorial Classificados junto com a literatu ra sobre utopias estão o que se poderia denominar romances de pesadelo como a Obra de George Orwell 1984 e o livro de Aldous Huxley Brave new world Orwell imaginou um estado totalitário no qual os princípios comportamentais são usados para amedrontar as pessoas levandoas à obediência Praticamente todos os méto dos usados por esse governo são coercivos e embora as pessoas sejam miseráveis e estejam constantemente sob o jugo do medo o estado é poderoso o bastante para se manter Podese lem brar da Alemanha nazista ou da União Soviética No livro de Huxley o populacho é m antido na linha por meio de reforço positivo Não há qual quer privação mas todo o mundo é viciado cedo na vida no uso de uma droga do prazer algo como a cocaína que é livre e amplamente distribuída As pessoas são ensinadas a passar o tem po desfrutando sexo promíscuo jogos e em atividades amenas que não levam a nada e são mantidas na ignorância da literatura filosofia ciência ou de qualquer coisa que consideramos a herança intelectual de uma pes soa educada Duas respostas podem ser apresentadas diante das preocupações levantadas por essas duas obras Primeiro quão realistas são esses pesadelos A sociedade de Orwell nos faz lembrar da Alemanha nazista e da União Soviética nenhuma das quais durou Como fizemos notar nos Capítulos 9 e 11 relações coercivas são ineren temente instáveis as pessoas eventualmente fogem ou se rebelam O pesadelo de Huxley parece mais inquietante só porque o uso de reforço positivo que ele descreve parece tornar uma revolta muito pouco provável Os métodos de gerenciamento descritos são típicos de relações de exploração Como vimos no Capítulo 11 as pessoas se rebelam ou agem no sentido de mudar relações exploradoras somente Quando percebem a iniqüidade da relação isto é somente quando é feita uma comparação com um grupo em melhores condições Na obra de Huxley embora 300 William M Baum nenhuma comparação desse tipo seja feita há uma dasse dominante que leva uma vida muito melhor que a dos explorados Podemos apenas conjeturar sobre como essa classe dominante impediria que as demais pessoas fizessem comparações Em antigas sociedades hierárquicas como a Grécia clássica ou a Roma imperial até mesmo os membros da classe dominante eventualmente falavam contra a iniqüida de A longo prazo um gerenciamento baseado em exploração tam bém é instável Uma segunda resposta seria que uma adm inistração estável inclui um contracontrole eficaz Capítulo 11 A relação entre governantes e governados não pode ser uma relação entre pares ou iguais Tal relação porém pode ser estável se os meios de contracontrole vão além da simples ameaça de distúrbios Em uma democracia a ameaça de uma rebelião raramente surge porque as pessoas têm formas alternativas de contracontrole eleições lobby e manifestações Uma segunda característica essencial da democracia que já apontamos no Capítulo 11 é que no final das contas governantes e governados compartilham as mesmas relações de reforço Quando o mandato do governante expira ele se torna um cidadão comum novamente As mesmas leis se aplicam tanto ao exgovernante como aos demais cidadãos Relações de reforço compartilhadas constituem uma forma adicional a longo prazo de controle sobre o comportamento do governante ações levadas a cabo durante o mandato de um governante em última análise vigorarão tanto para os demais cidadãos como para ele após deixar seu cargo Tais relações de longo prazo porém precisam ser complementadas por relações relati vamente imediatas de contracontrole que têm mais efeito sobre as ações dos governantes porque atuam a prazo mais curto Todavia apesar de tudo que é dito em seu favor a democracia tal como prati cada nos Estados Unidos está longe da perfeição Como método de contracontrole as eleições são insatisfatórias porque fornecem respostas apenas depois de um período de anos a fim de prover conseqüências imediatas para o comportamento dos governantes as eleições deveriam ser freqüentes mas eleições freqüentes cau sariam muitos problemas A proposta de Goldstein e Pennypacker permitiria elei ções menos freqüentes com menos distúrbios ao menos em nível local mas outros problemas permanecem Quando uma eleição ocorre muitas vezes menos da me tade dos eleitores cadastrados vota Não se pode supor que aqueles que votam analisaram as questões críticas porque as campanhas eleitorais raram ente cobrem essas questões Como a condução de uma campanha eleitoral é extremamente cara as pessoas ricas podem exercer muito mais influência do que seria justo Delegar poderes sobre os reforçadores também apresenta problemas porque as pessoas nomeadas podem ser menos suscetíveis a contracontrole que aqueles que os desig nam A maioria dos americanos tem pelo menos uma história a contar de encontros frustrantes com burocratas A pessoa que recebe seu requerimento para expedição de sua carteira de motorista pode com completa impunidade ser rude com você porque você não tem qualquer idéia do que fazer a respeito e você precisa da cooperação dessa pessoa para dar andamento a seu pedido O grau de variação no N de T Nos Estados U nidos votar tam bém é um ato de livre cidadania ou seja o voto na é obrigatório e freqüentem ente m uito poucos eleitores com parecem às um as Compreender o behaviorismo 301 tratamento que recebemos de um serviço para outro é surpreendente Quer seja um serviço público ou particular de um banco ou de um supermercado em uma organização bem administrada todos são corteses e prestativos Oque causa a dife rença O que faz com que uma organização seja bem administrada e outra não Em Waíden Two Skinner supôs quais seriam as respostas e soluções às ques tões acerca do que é bom em uma democracia e como ela poderia ser melhorada Os Planejadores têm mandatos de duração fixa claro de forma que se vejam obri gados a partilhar as relações de reforço com os demais a longo prazo Contudo não existem eleições Ao invés Skinner propõe freqüentes consultas ao povo atra vés de pesquisas de opinião e por meio de solicitações de sugestões consultas essas a serem feitas através dos Gerentes Ele pode ter antecipado a preocupação que vemos hoje com a comunicação Quando examinamos o que as pessoas querem dizer quando falam de comunicação particularmente em discussões sobre geren ciamento e administração parece que elas estão falando de contracontrole Os burocratas e prestadores de serviço são atentos e corteses quando escutar e ser cortês são comportamentos reforçados Considerando que o público tem poucos meios para reforçálos o reforço deve vir de cima Porém isso depende de como aqueles que estão em cima agem para tomar ciência do comportamento de seus supervisionados e de como os instruem sobre como se comportar Esse agir para tomar ciência observar e essa instrução devem eles próprios ser reforçados também Quando um supervisor assim se comunica com seus supervisionados não só os comportamentos apropriados relativos aos usuários aumentam mas os usuários ganham mais poder de contracontrolar As respostas favoráveis e desfavo ráveis de usuários fazem mais diferença porque elas são observadas Skinner suge riu que um governo poderia do mesmo modo e igualmente bem ser assim adminis trado Em seu livro os Gerentes servidores realizam pesquisas de opinião entre seus eleitores usuários de modo que os Planejadores possam estar cientes dos efeitos de suas práticas Em outras palavras as consultas fornecem estímulos discriminativos que além de reforçar e punir o comportamento dos Planejadores também servem para induzir uma ação manutenção ou mudança de práticas Consultar a opinião pública nos Estados Unidos cresceu ao ponto em que hoje é quase uma atividade contínua essa prática poderia ser submetida a um melhor uso Os problemas que enfrentamos hoje são terríveis Há razões para sermos pes simistas sobre nossa capacidade de resolvêlos Ainda ouvimos falar da necessida de de mudar as m entes das pessoas sem reconhecer que o que precisamos mudar é o comportamento das pessoas e que mudar suas mentes em geral não funciona Ainda ouvimos falar da necessidade de mais punições para impedir comportamen tos indesejáveis Enquanto uma linguagem metafísica sobre sentimentos c sobre um eu interno dominarem nossas discussões enquanto uma linguagem moralista induzir o uso de controle aversivo em vez de reforço positivo não conseguiremos abordar nossos problemas como problemas de comportamento e não conseguire nios usar técnicas comportamentais para resolvêlos Precisamos planejar experi mentar e avaliar Conseguiremos realizar em tempo as tão necessárias mudanças nas relações de reforço Enquanto conseqüências de longo prazo não controlarem nossas decisões políticas e consequências de curto prazo continuarem controlando nosso comportamento o desastre parece inevitável 302 William M Baum Não obstante parece haver alguma razão para nos sentirmos otimistas Em bora considerações de curto prazo possam dominar em nossa cultura parece que estamos mudando de forma a sermos cada vez mais controlados por conseqüências de longo prazo No passado cada geração deixou para a próxima geração ainda mais problemas do que encontrou poluição armamentos dívidas públicas por agir baseandose apenas em considerações de curto prazo A medida que passamos de um a crise para a próxima certas práticas evoluem e elas poderão finalmente nos ajudar a evitar novas crises Tais práticas inevitavelmente dependem de espe cialistas que possam avaliar e prever relações de longo prazo prováveis Elas tam bém dependem de um número suficiente de cidadãos informados e participantes agindo para prover estímulos discriminativos e conseqüências para aqueles que governam A julgar pelos noticiários especialistas e cidadãos comprometidos com o bemestar geral parecem pouco a pouco ter sucesso na aprovação de leis de proteção ambiental de diminuição da pobreza e de melhorarias na saúde em vários países do mundo inclusive nos Estados Unidos Essas práticas estão sendo cada vez mais avaliadas e comparadas com alternativas Queiramos ou não acreditássemos ou não ser isso possível parece que estamos caminhando na direção da sociedade em experimentação de Skinner Esperemos que sim RESUMO Embora as recomendações dos analistas comportamentais sobre planejamento cul tural tenham às vezes gerado oposição se entendidas corretamente elas dificil mente seriam consideradas controversas O conceito de planejamento longe de sugerir algum plano fixo a ser imposto às pessoas quer dele gostem ou não implica um processo de experimentação e avaliação no qual as práticas são selecionadas de acordo com a felicidade a longo prazo das pessoas Nesse sentido o planejamento se relaciona com a evolução cultural como o cruzamento seletivo se relaciona com a seleção natural Da mesma maneira que o cruzamento seletivo tira partido da variação e transmissão genética ao deliberadamente selecionar certos traços assim o planejamento cultural tira partido da variação e transmissão cultural ao selecio nar deliberadamente certas práticas A experimentação e a seleção sistemáticas produzirão mudanças culturais mais rápidas em resposta a problemas sociais e ambientais Práticas experimentais visam à sobrevivência sobrevivência da sociedade mas mais freqüentemente sobrevivência da cultura modo de vida Para sobrevi ver a cultura deve mudar em resposta a transformações no ambiente e deve adotar práticas com base em suas conseqüências de longo prazo Prever os prováveis re sultados de várias práticas requer que os dados necessários para detectar esses efeitos a longo prazo sejam coletados e analisados por especialistas treinados A adoção de práticas novas depende das conclusões desses especialistas A mudança freqüentemente depende também de grupos dentro da sociedade que respondam às predições dos especialistas agindo para que a m udança ocorra isto é envol vendose em comportamento verbal que gere estímulos discriminativos que forta leçam essas novas práticas Compreender o behaviorismo 303 O critério de seleção para a sobrevivência e mudança de uma cultura é o reforço Uma prática bemsucedida é aquela que provê mais reforço a longo prazo ou menos punição a longo prazo do que as variações com as quais compete Experimentar e selecionar as alternativas mais reforçadoras corresponde a com portamentos precorrentes que fortalecem várias possíveis soluções para um pro blema e podem então conduzir a comportamentos verbais sobre soluções e não soluções isto é comportamentos que são e não são reforçados Em última instância a mudança e sobrevivência de uma cultura dependem da aptidão Reforçadores e punidores incondicionais sociais e nãosociais são resul tado da seleção natural Considerando que as práticas culturais são os meios próxi mos pelos quais os genes responsáveis por elas são selecionados então podemos dizer que as práticas culturais selecionadas por suas conseqüências aumentam a aptidão no longo prazo Uma sociedade experimenta de acordo com Skinner é aquela que rotinei ramente experim enta e seleciona novas práticas Um nome melhor poderia ser o de sociedade em experimentação O romance de Skinner Walden Two descreve tal sociedade Ela foi considerada utópica no sentido de descrever uma comuni dade idílica e relativam ente isolada Essa é uma interpretação errônea da obra porque os detalhes concretos dessa comunidade serviram apenas para dar subs tância ao que é realm ente o ponto principal o método experimental de planeja mento cultural Uma leitura mais correta mostra o livro como um ensaio no qual os personagens levantam objeções e as respondem ao projeto de planejamen to cultural Essas objeções incluem afirmações de que técnicas comportamentais não po dem funcionar no mundo real que o planejamento resultará em catástrofe ou em padronização e que uma sociedade em experimentação não seria divertida Essas objeções são facilm en te respondidas foi dem onstrado que as técnicas comportamentais funcionam no mundo real a experimentação busca evitar catás trofes e encorajar a diversidade as mudanças culturais são graduais e a cultura de uma sociedade em experimentação será adequada às histórias passadas daqueles que nela vivem A m aior objeção é aquela de que um planejamento cultural conduzirá à ditadura As ditaduras porém dependem de práticas de coerção ou exploração relações essas que são inerentemente instáveis Uma sociedade em experimenta ção que vise à felicidade das pessoas dificilmente poderá ser ditatorial porque as pessoas só ficam felizes quando seu comportamento é positivamente reforçado e quando estão livres de relações coercivas e exploradoras Estabilidade e felicida de dependem de eqüidade e contracontrole as duas marcas características da democracia Como meio de contracontrole as eleições poderiam ser substituídas Por meios mais eficientes de comunicação e isso fortaleceria a democracia em vez de enfraquecêla Embora a humanidade se defronte hoje com problemas sem precedentes tal vez haja razões para termos esperanças Quanto mais experimentarmos e coletar mos dados quanto mais consultarmos especialistas bem treinados quanto mais cidadãos bem informados clamarem por práticas culturais mais adequadas mais provável é que tenhamos sucesso 304 William M Baum LEITURAS ADICIONAIS Boyd R e Richerson R J 1985 Culture and the evolutionary process Chicago University of Chicago Press Material sobre variação orientada aparece nos Capítulos 1 e 4 Goldstein M K e Pennypacker H S 1998 From candidate to criminal the contingencies of corruption in elected public office Behavior and Social Issues 8 18 Nesse artigo os autores discutem a mudança nas relações de reforço antes e depois de uma eleição que conduzem o comportamento de um candidato à corrupção e propõem seu sistema alterna tivo de eleições para tentar resolver o problema através do aumento do contracontrole Huxley A 1989 Brave new world Nova York Harper Collins reimpressão Esse é um romance de pesadelo originalmente publicado em 1946 em que a elite dominante conser va o populacho na linha com drogas e diversão amena Orwell G 1983 1984 Nova York New American Library reimpressão Esse é outro exemplo de romance de pesadelo originalmente publicado em 1949 sobre uma sociedade dominada por coerção isto é controle aversivo Skinner B F 1961 Freedom and the control of men In Cumulative record Nova York AppletonCentuiyCrofts edição ampliada p 318 Originalmente publicado em 1955 esse ensaio discute muitas das objeções levantadas contra o planejamento cultural Skinner B F 1971 Beyond freedom and dignity Nova York Knopf O Capítulo 8 trata de planejamento cultural e das objeções a ele levantadas Skinner B F 1976 Walden Two Nova York Macmillan Esse é o romance de Skinner originalmente publicado em 1948 em que ele descreve uma sociedade em experimentação e responde às objeções ao planejamento cultural Essa edição inclui um ensaio intitulado Walden Two revisited TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 14 Cruzamento seletivo Sociedade experimental Variação orientada N de T Título traduzido em português ver Apêndice Apêndice LEITURAS ADICIONAIS OBRAS TRADUZIDAS EM PORTUGUÊS Berkeley G 17101973 Tratado sobre os princípios do conhecimento humano São Paulo Abril Chomsky N 19571980 Estruturas sintácticas Lisboa Edições 70 Dawkins R 19761979 Gene egoísta Belo Horizonte Itatiaia Hesse H 19511970 Sídarta um poema indiano Rio de Janeiro Opera Mundi Huxley A 19461997 Admirável mundo novo 17 ed São Paulo Globo Kuhn T S 19701996 Estrutura das revoluções científicas 4 ed São Paulo Perspectiva Orwell G 19491976 1984 São Paulo Companhia Editora Nacional Ryle G 19491970 O conceito de espírito Lisboa Moraes Sidman M 19891995 Coerção e suas implicações Campinas Editorial Psy Skinner B F 19711983 O mito da liberdade São Paulo Summus Skinner B F 19481972 Walden II uma sociedade do futuro São Paulo Herder Skinner B F 19691975 Contingências do reforço São Paulo Abril Skinner B F 19571978 Comportamento verbal São Paulo Cultrix Skinner B E 19741982 Sobre o behaviorismo São Paulo Cultrix Skinner B F 19531985 Ciência e comportamento humano 6 ed São Paulo Martins Fontes Wittgenstein L 19581991 Investigações filosóficas 5 ed São Paulo Nova Cultural Abstração 18 344145 Agente 2627 5051 9394 97 Agostinho Santo 2829 Altruísmo 226227 241244 250251 260261 276277 280281 Alvo 64 221 250 Antropomorfismo 2223 Aptidão 7589 9194 174175 183184 243 248249 252 258259 261 263 266 276277 279283 289290 294 303 Aristóteles 1819 Armadilha de reforço 193197199201222223 230 250251 288289 Atribuição teoria da 128 Autoconhecimemo 6769 121122 126130 133134 245246 Autoestima 5455 6263 9899 Autointeresse 241 248 250251 260261 279281 Autonomia 5254 Autorelato 6263 109114 150151 B Barash D 9394 260261 283 Beecher H K 62 Behaviorismo metodológico 15242544475152 6263 70 molar 7 59 129 radical 15 2425 33 4356 6265 6870 Bemham J 252253 índice remissivo Berkeley G 3536 Beyond freedom and dignity 185 203 285 296297 Boyd R 261265 269 276277 280283 290293 304 Brown R 140 161162 c Cadeia 26 28 118119 134 167 190 Calórica essência 19 Câmara experimental 102103 115 118119 154155 Chomsky N 157159 161162 Ciência do comportamento 15 17 2324 3133 4449 5154 6970101102 245246 298 Coerção 189197 209212 219223 234235 293294 303304 Comportamento decente 241 242243 245 253254 precorrente 181184 290 303304 verbal 133135 161162 165168 170176 178184 190 196197 215 220227 231 234235 240246 250252 270 289290 302304 vozal 142 144 146 Comunicação 135136 159161 301302 Comunidade verbal 132133 136137 140143 159161 223224 Condicionamento clássico 78 94 262 Conger R 136137 161162 Conhecimento 5859 120124 154155 científico 130132 308 índice declarativo 123124 167 operacional 121123 167 Consciência 2224 30 44 67 78125 154155 Conselho 100155168171174177183192 218 252 270 276 278 Contexto 7 31 35 4546 55 61 73 93103 104 108110 113120124126 129 131133 137138140 148149 153 155 160161166168170175 178 379 192 209 213 217 220 223 235 251 254 262 266 275 287 Contextualismo 132 134 162 Contiguidade 5960 168 Contingência 116 166 168 291292 Continuidade da espécie 2122 2425 2930 7374 Contracontrole 7 222 227228 230231 233237 291293 300304 Controle aversivo 189192 211212232233 293294 301302 de estímulo 66 116124 129130 132134 146151 161162 165166 168 170171 180181 184 185 216 244245 272 Criatividade 108109 192193 Cruzamento seletivo 90 286 302 304 Culpa 2526 203206 213 Cultura 7980 8485 184 257 284 285291 302304 D Dados sensoriais 3537 4447 5253 131132 Darwin C 1922 2426 3032 7374 76 90 286287 Dawkins R 248250 254255 259260 266269 279280 283 Definição funcional 98 Definições em dicionário 156157 162163 Democracia 2728 3132 172 199200 220221 232236 252253 292293 300301 304 Dennett D 2627 32 113114 133134 Desamparo aprendido 7980 Descartes R 5557 Descoberta 3537 3944 4647 5253 130132 272 292 Descrição 34 36 39 4142 4446 49 54 59 128 145 147 150 158159 163 166 234 237 Desejo 5354 104105 191193 197199 Determinismo 2532 199200 Discriminação 66 118121 124 127134 166 170 177 180 184 223226 261267 Donders F C 2021 Dualismo 4449 5557 6263 6970 200201 Dunford C 278279 284 E Ebbinghaus H 2122 Ego 5155 EUciar 7879 116 148149 Episódio social 217 274275 verbal 137138 143144 154155 190 216 Epstein R 265266 283 Erro de categoria 5658 Espíritos animais 5557 Estabelecer conseqüências 208210 Estímulo 4546 5960 7677 8082 116 135136 263265 281 discriminativo 116124 127 129138 140142 147157 160161 165168 170175 178 180184 189190 192193 196197 216217 219230 232235 245247 250255 270 282 290 293294 301303 incondicional 7980 8283 111112 266267 limites 264 267 282 Estímulossinal 77 136 Evento natural 152932444550566263144145 privado 5053 6170 109114 120121 126127 133134 150151 155156 182184 público 5053 5859 6164 6970 109112 121122 126130 132134 182184 245246 Evolução 1926 2931 7376 9094 97 100101 132135 143144 175176 245246 248250 254255 258260 261262 280282 Explicação 2425 3637 4149 5355 6871 101102 110111 120121 124 histórica 9094 9799 110113 Exploração 219227234235250253 293294 300 303304 F Falante 136137 145146 148160 165179 181184 215 234235 246247 250251 Farrington B 3435 47 Fechner G 2122 Fesiinger L 3435 47 Picçâo explamuória 5253 5657 269 índice 309 Fictício 5152 5657 6869 Filogênese 7374 7984 8688 9094 119120 Filosofia 1720 3031 Flogisto 1819 Frost R 277 G Galileu G 18 4041 Genótipo 7475 Golding W 198 201 Gramática 144146 149151 157162 166 177 transformational 157162 Guericke 4142 H Harris M 257 Harvey W 1819 Hebb D 2527 Herança genética 1920 3132 74 8993 210211 274 Hesse H 197199 Hineline R N 213 Hipótese paramecânica 5762 6770 Homans G 223226 235236 Hojmúnculo 5254 67 Horror vacui 4042 5455 Huxley A 300 304 Idioma intencional 103108 110114 Imaginação 6366 150151 181183 Imigração 272273 Imitação 140 264267 174175 272279 281283 290 Imprevisibilidade 2931 Induzir 7880 115116 172174 191 211212 265266 274275 Instrução 28 39 85 99100144145 167 174 179 183 278 282 301 Intenção 58 9093 97 103114 121 151 154155 209 Introspecção 1925 128130 Invenção 38 40 42 44 100 106 113 257 269270 J James W 3639 4144 49 104106 131132 K Kiilecn P 136137 Kuhn T 3839 4344 L Lacunas temporais 60 99100 116117 160161 178 Lavoisier A 1819 4344 Lei da natureza humana 241245 251252 do efeito 8788 Lewis C S 199201 239245 248 251254 Léxico 151157 Liberdade 25 187192 197201 210211 233 285 espiritual 187 197201 293 política 27 187191 social 191192 197 200201 Linguagem 8586 135 142145 149152 157158 160162 264265 de sinais 141145 160161 gerativa 149151 160161 Livrearbítrio 2532 34 55 108 187188 191 199200 204206 208 210 212 285 Lunsden C J 269 M Mach E 3844 4647 5051 5455 129130 Mando 155156 161162 175176 191192 Máquina de sobrevivência 248259260 262264 267268 276277 2802B1 Meher Baba 142143 162163 197199 201 Memória 4647 6566 99100 Mentalismo 15 4959 6365 6870 7374 9093 9899 104105 110114 119120 125129 133136 144145 153154 158162 166 177 184 203 269 294295 Mente 1920 2425 3132 4445 5058 Mentecorpo problema 2930 4445 5456 Mérito 203207 211 298 Milgrim S 176 Moevk E 140141 162163 More T 252253 295296 Moivo 125126 128129 N Nevin J A 109 219220 236237 Newton 1819 2930 5556 206 Novidade 108109 149150 160161 272273 310 índice O Ontogênese 8687 91 95 Operante 81 8587 9394 101 108 112119 123127 130132 135145 147152 155157 159162 166 168 205210 216 247 249 251 255 258 261262 266269 271 274 281282 verbal 155 Ordem 168 171176 184 197 Organismo como um todo 5054 Orwell G 300 304 Ouvinte 132133 136137 144156 158161 165 168 170 172176 178179 181184 190192 246247 250254 274275 P Padrão adaptativo 290 293 fixo de ação 7780 8587 9294 135136 146147 261262 267268 Paradigma 3839 6970 Parceiros 218 231 300 Pareamento com o modelo 117 134 PavJov I P 3839 8384 7879 8687 Peirce C 3638 Pensamento 5052 6264 129130 143144 150154 178184 Personalidade 4445 5155 Poder 192194 231236 301 População 7476 7980 8687 9394 97102 112114 146147 248 258259 261266 269 272 274 286287 Pragmatismo 1533 36374447 6263131133 Princípios morais 247 Privação 8387 192193 Pseudoquestão 55 70 Psicologia comparativa 2123 3132 objetiva 2023 3132 Psyche 1920 5152 Pulliam H R 278279 284 Punição 8283 8592 97 107108 111114 125126 132133 166167 188189 191192 195197 200201 205209 211212 215 219 225226 232235 241242 245247 260261 270272 275276 282 diferencial 9192 história de 194197200201221223303304 negativa 8182 8384 192193 positiva 8184 Punidor 8087 90 9394111112168189190 292397 207208 210211 221222 229230 244249 253254 266267 275276 290 303304 R Rachlin H 5963 6770 100101 195196 Realismo 15 3337 4147 6263 Redundância 5354 70 Referência 30565974126135151154163 252 288 Referencial 1819 73 188 Reforçador 8087 103106 110112 125126 136138 155156 172176 190194 198199 211212 217218 231232 244249 condicional 8 287112113117119 244245 253254 incondicional 8287 244245 253254 303304 Reforçadores sociais 139 190 194195 264 266267 275 282283 Reforço 4546 8284 116118 126127 132133 142147 155162 166168 171172 182185 205209 219 231236 244245 252253 265266 290293 diferencial 8992 140141 história de 8384 8687 9394 97 105108 111115 119120 122129 131132 140142 153157 160161 178181 191193 212213 223226 234235 245247 250254 274275 intermitente 140 mútuo 216219 226227 234236 negativo 8184 111112 128129 189 192193 227 positivo 8184 111112 128129 188194 197201 209213 220221 227 233234 293294 299302 social 8586 139 211212 215 234235 245247 250255 261268 270272 282 296297 Regra de Ouro 241242 Regras comportamento controlado por 165167 172174 178179 182184 228 250251 274276 280282 290 seguimento de 165 176178 182184 190 197199 274276 278283 Relato verbal 505863 6768109114122123 126130 150151 155156 211212 231 245246 253254 293294 Replicador 258260 268271 276277 279283 cultural 268 índice 311 Representação mental 6366 104105 112114 151154 191193 Resolução de problemas 178184 Responsabilidade 2529 199201 203213 Richerson R J 261265 269 276277 280281 283 290291 293 304 Romanes G 2223 Rorty R 5859 6970 Russell B 3536 4647 Ryle G 565760 6770 100101 121123 125126 128130 133134 207208 269 s Segal E F 7879 9394 Seleção 19 30 50 7480 8493 107 112113 190 243 254255 258259 267268 270 273 276277 280284 286 290 292 294295 302303 natural 1920 3032 50 7477 7980 848S 9394 112113 191 243244 253255 258260 276277 283 286287 291294 302304 Sentimentos 2224 3435 4445 5051 62 6769 109114 126127 188189 200201 245247 253254 293294 296297 301302 Sintaxe 157159 Skinner B F 2425 3839 4950 5660 62 65 6770 9495 113114 127130 134137 155159 161163 168 178179 181185 188 201203 213 236237 240 244247 250 252257 269 271 284285 287288 290292 294295 299304 Snow C E 139141 162163 Sociedade 259263 273 281 289290 experimental 254255 291304 Sommemlle C J 257 270 284 T Tacto 155156 161162 175176 Tales 3435 Tecnologia comportamental 292297 Tempo de reação 2021 Teoria da cópia 6370 Torricelli 4042 TVansmissão 258 273274 282 286287 cultural 263264 267268273275 281282 286287 302303 horizontal 274 seletiva 276279 281283 u Unidade estrutural 99102 146147 Unidade funcional 99103 105106 113114 146150 160161 Utopia 252253 295296 V Variação 1920 7475 8687 8992 100102 104106 108109 154155 181182 258 267273 278282 286287 290291 302303 orientada 290291 Verdade 183539464758596263131132 242243 WíVíVa 1819 3031 5355 w Walden Two 252253 285 294299 301 303304 Watson J B 2225 3132 4546 7374 185 Wilson E O 269 284 z Zuriff G E 32

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COMPREENDER O BEHAVIORISMO Comportamento cultura e evolução William M Baum 2ª edição revisada e ampliada wwwfacebookcomgroupslivrosparadownload wwwjspsiblogspotcom B347c Baum William M Compreender o behaviorismo comportamento cultura e evolução William M Baum tradução Maria Teresa Araujo Silva et alj 2 ed rev e ampl Porto Alegre Artmed 2006 312 p 23 cm ISBN 9788536306971 1 Psicologia Behaviorismo I Título CDU 15990194 Catalogação na publicação Julia Angst Coelho CRB 101712 COMPREENDER O BEHAVIORISMO Comportamento cultura e evolução William M Baum University of New Hampshire 2a edição revisada e ampliada Tradução j María Teresa Araujo Silva Maria Amelia Matos Gerson Yukio TomanaW Professores no Departamento de Psicologia Experimental do instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Emmanuel Zagury Tourihho Professor no Departamento de Psicologia da da Universidade Federal do Pará Consultoria supervisão e revisão técnica desta edição Maria Teresa Araujo Silva Frederico Dentello Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Reimpressão 2008 Associação Unificada Paulista do Ensino Renovado Objetivo ASSUPERO Data Ncie Cham ada na de Volume Registrado por A v ó m s QaAWJ 2006 Obra originalmente publicada sob o título Understanding Behaviorism Behavior Culture and Evolution Second Edition Blackwell ISBN 140511262X 2005 by William Baum This edition is published by arrangement with Blackwell Publishing Ltd Oxford Translated by Artmed Editora SA from the original English language version Responsibility of the accuracy of the translation rests solely with the Artmed Editora SA and is not the responsibility of Blackwell Publishing Ltd Edição publicada conforme acordo firmado com Blackwell Publishing Ltd Oxford Tradução de Aitmed Editora SA do original em língua inglesa A responsabilidade pela precisão da tradução é totalmente da Artmed Editora SA não recaindo em nenhum momento com a Blackwell Publishing Ltd Capa Gustavo Macri Preparação do original Josiane Tibursky Supervisão editorial Mônica Ballejo Canto Projeto gráfico e editoração eletrônica Armazém Digital Editoração Eletrônica rcrnv Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à ARTMED EDITORA SA Av Jerônimo de Orneias 670 Santana 90040340 Porto Alegre RS Fone 51 30277000 Fax 51 30277070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume no todo ou em parte sob quaisquer formas ou por quaisquer meios eletrônico mecânico gravação fotocópia distribuição na Web e outros sem permissão expressa da Editora SÃO PAULO Av Angélica 1091 Higienópolis 01227100 São Paulo SP Fone 11 36651100 Fax 11 36671333 SAC 0800 7033444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Agradecimentos A i o preparar esta edição recebi especialmente a ajuda de duas pessoas Howie Rachlin com suas sugestões animadoras e amigáveis e Jack Marr com suas críticas incansáveis e desafiadoras Agradeço a Gerry Zuriff por suas críticas e por me en viar1 a avaliação de seus alunos quanto ao livro John Kraft também me forneceu resultados de seu uso do livro como texto didático Sou grato à Universidade de Canterbury Nova Zelândia onde grande parte das mudanças no novo texto foi realizada por me conceder a bolsa Erskine de professor visitante e particularmen te a Ant McLean Randy Grace e Neville Blampied pelos proveitosos diálogos que tivemos ali Tive conversas úteis com Michael Davison Don Owings e Pete Richerson Sugestões produtivas vieram de Tom Mawbinney John Malone e Phil Hineline Meu filho Gideon me apresentou a teorias e pesquisas de cientistas políticos sobre as relações entre os governos nacionais Sou especialmente grato ao apoio de todos os meus filhos Shona Aaron Zack Naomi e Gideon e de seus companheiros Nick Mareia e Stacy William M Baum Q u a n d o escrevi a primeira edição de Compreender o behaviorismo queria apre sentar uma visão do behaviorismo mais clara e mais atualizada que a disponível nos livros de B F Skinner que eu recomendava a meus alunos Embora meus enten dimentos anteriores ainda se sustentem de que todos os behavioristas concordam que um a ciência do comportamento é possível de que esta proposição define o behaviorismo e de que quaisquer discordâncias que haja entre os behavioristas nascem de questões sobre como caracterizar a ciência e o comportamento para esta edição resolvi concentrarme menos nas idéias de Skinner e mais em minhas próprias Como resultado o livro contém menos jargão da análise comportamental Por estar mais perto do vocabulário do diaadia o livro é ainda mais acessível do que foi inicialmente Corrigi uma série de falhas que colegas e alunos apontaram para mim Os Capítulos 2 e 3 que apresentam o contexto filosófico estão mais claros a respeito da ligação entre o behaviorismo radical e o pragmatismo e a respeito de suas diver gências em relação ao realismo popular e ao dualismo Reforcei a discussão tanto sobre as idéias de Ryle quanto o behaviorismo molar o ponto de vista de Rachlin e o meu próprio Ao longo do livro as apresentações são expostas mais em termos do behaviorismo molar Alguns dos novos materiais aperfeiçoam o relacionamento com a evolução como contexto Esclareci o papel das conseqüências últimas saúde recursos rela cionamentos e reprodução Estabeleci ligações entre autocontrole comportamen to controlado por regras altruísmo cooperação e seguimento de regras culturais ao descrevêlos todos como uma competição entre reforço postergado e imediato O Capítulo 13 sobre evolução da cultura agora deixa mais clara a analogia com a evolução dos organismos O Capítulo 11 sobre relações gerenciamento e governo agora reformula o contracontrole explicitamente como autocontrole e incorporou uma seção sobre o problema da segurança nas relações internacionais 0 Capítulo 14 VÜi Prefácio à segunda edíçpo inclui agora o exemplo específico de uma proposta para aperfeiçoar o processo democrático Para ajudar os estudantes a evitar que sejam sobrecarregados com o novo vocabulário introduzido em cada capítulo adicionei depois de cada seção de leituras adicionais uma lista de termos como guia de estudo Sumário Prefácio à segunda e d ição vii PARTE UM O que é b e h a vio rism o 1 Behaviorismo definição e história17 Referencial histórico18 De filosofia o ciência 18 Psicologia objetivo 20 Psicologia comparativa 21 A primeiro versão do behaviorismo 23 Livrearbítrio versus determinismo 25 Definições 25 Argumentos pró e confra o lívreorbítrio26 Resumo 30 Leituras adicionais 31 Termos introduzidos no Capítulo 1 32 2 O behaviorismo como filosofia da ciência 33 Realismo versus pragmatismo34 Reafemo34 Pragmafismo 36 10 Sumário Behaviorismo radical e pragmatismo43 Resumo45 Leituras adicionais 46 Termos introduzidos no Capítulo 2 47 3 Público privado natural e fictício49 Mentalismo 49 fventos públicos e privados 50 Fventos noíurois50 Natural menta e fictcio51 Objeções ao mentalismo 53 Erros de categoria56 Ryle e o hipótese pammecônica57 O behaviorismo molorde RacMin 59 Eventos privados 63 Comportamento privodo63 Autoconfiecímento e consciência 67 Resumo 69 Leituras adicionais70 Termos introduzidos no Capítulo 3 70 PARTE D O IS Um m odelo científico de com portam ento 4 Teoria da evolução e reforço73 História evolutiva73 Seleção natural74 Reflexos e pacfrôes fixos de ação76 Reforçadores e punidores80 Revisão das influências filogenéticas85 História de reforço 86 Seleção pelas conseqüências 86 Explicações históricas90 Resumo 93 Leituras adicionais94 Termos introduzidos no Capítulo 4 94 5 Intenção e reforço97 História e função 97 O uso de explicações históricos 98 Unidades funcionais100 Três significados de infenção103 Intenção como função 103 intenção como causa 104 Intenção como sentimento outorefatos 109 Resumo 113 Leituras adicionais 114 Termos introduzidos no Capítulo 5 114 6 Controle de estímulo e conhecimento 115 Controle de estímulo116 Estímulos discriminativos 116 Seqüências estendidos e estímulos discriminativos 117 Discriminação 119 Conhecimento 120 Conhecimento operadonol saber como 121 Conhecimento declarativo saber sobre123 Aufoconbecimenfo 126 O comportamento dos cientistas130 Observação e discriminação 130 Conhecimento científico 131 fragmatismo e contextuolismo 132 Resumo133 Leituras adicionais133 Termos introduzidos no Capítulo 6 134 7 Comportamento verbal e linguagem 135 O que é comportamento verbal 135 Comunicação 136 O comportamento verbal como comportamento operante136 FoJante e ouvinte 137 Exemplos141 Comportamento verbal versus linguagem 145 Sumário 11 12 Sumário Unidades funcionais e controle de estímulo147 Atividades verbais como unidades funcionots 147 Controle de estímulo no comportamento verbal148 Alguns equívocos comuns149 Significado152 Teorios de referência152 Significado como uso154 Gramática e sintaxe 157 Regras como descrições 158 Onde estão as regras 160 Resumo160 Leituras adicionais161 Termos introduzidos no Capítulo 7 163 8 Comportamento controlado por regras e pensamento165 O que é comportamento controlado por regras 165 Comportamento controlado por regras versus comportamento modeíado implicitamente166 Regras ordens instruções e conselhos 168 Sempre duas relações172 Aprendizagem de seguimento de regras176 Modelagem do comportamento de seguir regras 177 Onde estão as regras 177 Pensamento e resolução de problemas 178 Mudonça de estímulos 179 Comportamento precorrenfe181 Resumo183 Leituras adicionais 184 Termos introduzidos no Capítulo 8 184 PARTE TRÊS Q uestões so ciais 9 Liberdade 187 Usos da palavra livre 187 Ser livre íivrearbífrio 1 88 Senfirse fivre liberdade poíítica e so cia l 188 Liberdade espiriíual 197 Sumário 13 O desafio do pensamento tradicional199 Resumo200 Leituras adicionais201 Termos introduzidos no Capítulo 9 201 10 Responsabilidade mérito e culpa 203 A rponsabiiidade e as causas do comportamento 203 Üvreorbífrio e visibilidade do confrole204 Atribuição de mérito e culpo 205 Compaixão e confrole 206 A responsabilidade e as conseqüências do comportamento 208 O que é responsabilidade208 Considerações práticos a necessidode de confrole210 Resumo212 Leituras adicionais 213 Termos introduzidos no Capítulo 10214 11 Relações gerenciamento e governo215 Relações 215 Reforço mútuo 216 Indivíduos e instituições 218 Exploração 220 O escravo feliz221 Conseqüências de longo prazo221 Bemestar relativo 223 Controle e contra controle227 Contracontrole 227 Eqüidade 230 Poder231 Democracia233 Resumo234 Leituras adicionais 236 Termos introduzidos no Capítulo 11 237 12 Valores religião e ciência239 Questões de valo r239 ReiafiVsmo moral 240 Padrões éticos 240 14 Sumário Uma abordagem científica dos valores243 Reforçadores e punidores 244 Senfímenlos246 Teoria do evolução e vaíores 248 Resumo 253 Leituras adicionais 254 Termos introduzidos no Capítulo 12 255 13 Evolução da cultura 257 Evolução biológica e cultura258 Replicadores e aptidão258 Sociedades 260 Definição de culfuro 261 Traços que permííem o cultura263 Variação transmissão e seleção267 Variação 268 Transmissão 273 Seleção 276 Resumo 281 Leituras adicionais 283 Termos introduzidos no Capítulo 1 3 284 14 Planejamento culSural experimentação em prol da sobrevivência285 Planejamento pela evolução 286 Cruzamento seletivo286 Avaliação 287 A sobrevivência como critério288 Variação orientada290 Uma sociedade experimental291 Experimentação291 Democracia 292 Felicidade 293 WaldenTwo a visãò de Skinner 294 ObjeçÕes296 Resumo 302 Leituras adicionais 304 Termos introduzidos no Capítuio 14304 Apêndice 305 índice remissivo 307 PARTE UM 0 que é behaviorismo B ehaviorism o é um tópico controverso Algumas objeções são levantadas a partir de uma com preensão correta de suas posições mas as concepções errôneas são inúmeras Os três capítulos desta primeira parte visam esclarecer aquilo que se poderia chamar de postura filosófica do behaviorismo Tudo que é genuinamente controverso sobre o behaviorismo deriva de sua idéia básica de que uma ciência do comportamento é possível Cada ciência em algum ponto de sua história teve de exorcizar causas imaginárias agentes ocul tos que supostam ente existem por detrás ou sob a superfície dos eventos naturais O Capítulo 1 exp lica com o a negação de agentes ocultos defendida pelos behavioristas leva a uma controvérsia autêntica a questão do comportamento ser livre ou determinado O Capítulo 2 se destina a impedir concepções distorcidas que podem surgir porque o behaviorismo mudou ao longo do tempo Uma versão inicial chamada behaviorismo metodológico baseavase no realismo visão segundo a qual toda ex periência é causada por um mundo objetivo e real exterior e separado do mundo subjetivo e interno O realismo pode ser contrastado com o pragmatismo que se cala sobre a origem da experiência mas em compensação aponta a utilidade de tentar entender e buscar o sentido de nossas experiências Uma versão posterior do behaviorismo denominada behaviorismo radical baseiase mais no pragmatismo do que no realismo Quem não entender essa diferença provavelmente terá dificul dade em compieender o aspecto fundamental do behaviorismo radical que é a rejeição do m entalismo A crítica behaviorista do mentalismo explicada no Capítulo 3 permeia o res to do livro pois exige que os behavioristas proponham explicações nãomentalistas do comportamento Parte Dois e soluções nãomentalistas para problemas sociais Parte Três 1 Behaviorismo definição e história i í idéia central do behaviorismo pode ser formulada de maneira simples É possível uma ciência do comportamento Os behavioristas têm visões diferentes sobre o sen tido dessa proposição e especialmente sobre o que é ciência e o que é comporta mento mas todos eles concordam que pode haver uma ciência do comportamento Muitos behavioristas acrescentam que a ciência do comportamento deve ser a psicologia Esse ponto não é pacífico porque muitos psicólogos rejeitam de todo a idéia de que a psicologia seja uma ciência e outros que a vêem como ciência consi deram que seu objeto é alguma outra coisa que não o comportamento Bem ou mal a ciência do comportamento veio a ser chamada de análise comportamental O debate ainda continua se a análise comportamental é parte da psicologia se é o mesmo que psicologia ou se é independente da psicologia mas organizações pro fissionais como a Association for Behavior Analysis e revistas como The Behavior Anályst Journal ofthe Experimental Analysis of Behavior e Journal of Applied Behavior Analysis dão à área sua identidade Sendo um conjunto de idéias sobre essa ciência chamada de análise compor tamental e não a ciência em si o behaviorismo não é propriamente uma ciência mas um a filosofia da ciência Como filosofia do comportamento entretanto abor da tópicos que muitoprezamos e que nos tocam de perto por que fazemos o que fazemos e o que devemos e não devemos fazer Oferece uma visão alternativa que muitas vezes vai contra o pensamento tradicional sobre o agir já que as visões tradicionais não se têm pautado pela ciência Veremos em capítulos posteriores que às vezes ele nos leva em direção radicalmente diferente do pensamento convencio nal Este capítulo cobre um pouco da história do behaviorismo e uma de suas impli cações mais imediatas o determinismo 18 William M Baum REFERENCIAL HISTÓRICO De filosofia a ciência Todas as ciências astronomia física química biologia tiveram sua origem na filosofia e eventualmente se separaram dela Antes que a astronomia existisse como ciência por exemplo os filósofos especulavam sobre a organização do uni verso natural partindo de suposições sobre Deus ou sobre algum outro padrão ideal e através de raciocínio concluíam como seria o universo Por exemplo se todos os eventos importantes aparentem ente ocorrem na Terra então ela deve ser o centro do universo Como o círculo é a forma mais perfeita o Sol deve girar em torno da Terra seguindo uma órbita circular A Lua deve girar em outra órbita circular mais próxima e as estrelas se organizam em torno do conjunto à manei ra de uma esfera que é a mais perfeita forma tridimensional Até hoje o Sol a Lua e as estrelas são chamados corpos celestes porque se supunha que fossem perfeitos As ciências da astronomia e da física surgiram quando as pessoas começaram a tentar entender os objetos e fenômenos naturais por meio de sua observação Ao apontar um telescópio para a Lua Galileu 15641642 observou que sua paisa gem marcada por crateras estava ionge de ser a esfera perfeita imaginada pelos filósofos Quanto à física Galileu observou o movimento de corpos cadentes fa zendo uma bola deslizar por uma rampa Ao descrever suas descobertas ele aju dou a forjar as noções modernas de velocidade e aceleração Isaac Newton 1642 1727 acrescentou conceitos como força e inércia criando um poderoso esquema descritivo para a compreensão do movimento de corpos na Terra assim como de corpos celestes como a Lua Ao criar a ciência da física Galileu Newton e muitos pensadores do Iluminismo romperam com a filosofia O raciocínio da filosofia parte de suposições para con clusões Seus argumentos tomam a forma Se isto fosse assim então aquilo seria assim A ciência segue direção oposta Isto foi observado que verdade poderia levar a essa observação e a que outras observações isso levaria A verdade filosó fica é absoluta se as premissas forem enunciadas explicitamente e se o raciocínio for correto as conclusões seguemse necessariamente A verdade científica é sem pre relativa e provisória é relativa à observação e suscetível de não ser confirmada por novas observações As suposições filosóficas se referem a abstrações além do universo natural Deus harmonia formas ideais e assim por diante As suposições científicas usadas na construção de teorias referemse apenas ao universo natural e sua possível forma de organização Embora fosse teólogo além de físico Newton separava as duas tarefas Sobre a física afirmou que Hypotheses non fingo Não faço hipóteses querendo dizer que ao estudar física não se preocupava com nenhuma entidade ou princípio sobrenatural ou seja com coisa alguma fora do próprio universo natural Os gregos antigos também especularam sobre química tanto quanto sobre física Filósofos como Tales Empédocles e Aristóteles conjeturaram que a matéria varia em suas propriedades por ser dotada de certas qualidades essências ou princí Compreender o behaviorismo 19 pios Aristóteles sugeriu quatro qualidades quente frio úmido e seco Se a substân cia era um líquido possuía maior quantidade da qualidade úmido se era um sóli do a maior quantidade era da qualidade seco A medida que os séculos se sucede ram a lista de qualidades cresceu Diziase que coisas que esquentavam possuíam internam ente a essência calórica Materiais que podiam ser queimados possuíam o flogisto Essas essências eram consideradas substâncias reais escondidas dentro dos materiais Quando os pensadores abandonaram essas especulações e começa ram a confiar na observação das mudanças da matéria nasceu a ciência da quími ca Antoine Lavoisier 17431794 dentre outros desenvolveu o conceito de oxi gênio a partir de cuidadosas observações de pesos Lavoisier descobriu que quan do chumbo um metal é queimado em um recipiente fechado e se transforma em um pó amarelo óxido de chumbo esse pó pesa mais do que o metal original no entanto o recipiente conserva o mesmo peso Lavoisier raciocinou que isso só po deria ocorrer se o metal se combinasse com algum elemento do ar Esse raciocínio aludia exclusivamente a termos naturais ignorava as qualidades sugeridas pela filosofia e estabelecia a química como ciência A biologia rompeu com a filosofia e a teologia da mesma forma Os filósofos raciocinavam que se havia diferença entre coisas vivas e nãovivas era porque Deus havia dado às coisas vivas algo que não havia dado às nãovivas Alguns pen sadores consideravam que essa coisa interna era a alma outros a chamavam de vis viva força viva No século XVII os primeiros fisiólogos começaram a abrir os animais para ver como funcionavam William Harvey 15781657 descobriu algo que se assemelhava mais ao funcionamento de uma máquina do que à ação de uma misteriosa força viva Tornouse claro que o coração funcionava como uma bomba que fazia o sangue circular através das artérias e dos tecidos voltando ao ponto de partida através das veias De novo esse raciocínio abandonava as suposições hipo téticas dos filósofos e usava como único referencial a observação de fenômenos naturais Quando Charles Darwin 18091882 publicou sua teoria da evolução por seleção natural em 1859 despertou verdadeiro furor Alguns se ofenderam porque a teoria ia contra o relato bíblico de que Deus criara todas as plantas e animais em alguns poucos dias Até mesmo alguns geólogos e biólogos se alarmaram com as idéias de Darwin Pela informação proveniente do estudo de fósseis esses cientis tas estavam familiarizados com a esmagadora evidência do surgimento e da extinção de muitas espécies e já estavam convencidos de que a evolução ocorria Ainda assim e embora não mais tomassem o relato bíblico ao pé da letra esses cientistas ainda olhavam a criação da vida portanto a evolução como uma obra de Deus Sentiramse tão agredidos pela teoria darwiniana da seleção natural quanto aque les que tomavam a Bíblia ao pé da letra Na teoria de Darwin o que mais impressionou seus contemporâneos tanto os que eram a favor como os que eram contra foi sua explicação sobre a origem da vida que deixava de fora Deus ou qualquer outra força que não fosse natural A seleção natural é um processo puramente mecânico Se as criaturas variam e a variação é herdada seguese que qualquer vantagem reprodutiva apresentada por um tipo levará esse tipo a substituir todos os seus competidores A teoria moderna da evolução surgiu na primeira metade do século XX quando a idéia de seleção 20 William M Baum natural foi combinada com a teoria da herança genética Essa teoria continua a despertar objeçoes devido a seu caráter naturalista e sem Deus Com a psicologia aconteceu o mesmo que com a astronomia a física a fisiolo gia e a biologia evolutiva A ruptura da psicologia com a filosofia é relativam ente recente Até a década de 1940 era raro encontrar um a universidade que tivesse um departam ento de psicologia e os professores de psicologia em geral se encontravam em departam entos de filosofia Se a biologia evolutiva com suas raízes em meados do século XIX ainda está completando sua ruptura com a dou trina teológica e filosófica não é de espantar que os psicólogos de hoje ainda estejam debatendo as implicações de se considerar a psicologia um a verdadeira ciência e que os leigos estejam apenas começando a descobrir quais são essas implicações na prática Na segunda metade do século XIX tornouse costumeiro chamar a psicologia de ciência da mente A palavra grega psyche tem um significado um pouco mais amplo que espírito porém mente parecia menos especulativo e mais acessível ao estudo científico Como estudar a mente Os psicólogos propuseram a adoção do método dos filósofos a introspecção Se a mente era uma espécie de palco ou arena então deveria ser possível olhar dentro dela e ver o que estava ocorrendo era esse o sentido da palavra introspecção Tratase de um a tarefa difícil tanto mais se o que se deseja é colher fatos científicos fidedignos Parecia aos psicólogos do século XIX que essa dificuldade poderia ser superada com bastante treino e muita prática No entanto duas correntes de pensamento se somaram para corroer essa visão a psicologia objetiva e a psicologia comparativa Psicologia objetiva Alguns psicólogos do século XIX sentiamse pouco à vontade com a introspecção como método científico Ela parecia muito pouco confiável muito vulnerável a distorções pessoais muito subjetiva Outras ciências utilizavam métodos objetivos que produziam medidas verificáveis e replicáveis em laboratórios do m undo intei ro Se duas pessoas treinadas em introspecção discordassem sobre suas conclu sões seria difícil resolver o conflito entretanto se utilizassem métodos objetivos os pesquisadores poderiam notar diferenças de procedimento que talvez explicas sem os resultados diferentes Um dos pioneiros da psicologia objetiva foi o psicólogo holandês E C Donders 18181889 que se inspirou em um intrigante problema colocado pela astrono mia como calcular a hora exata em que uma estrela estará em determ inada posição no céu Quando se vê uma estrela através de um telescópio poderoso parece que ela viaja a uma apreciável velocidade Os astrônomos que tentavam fazer medidas precisas tinham dificuldade em estimar a velocidade com a precisão de um a fração de segundo Um astrônomo ficava ouvindo o tiquetaque de um cronômetro que marcava segundos enquanto observava a estrela e contava os tiques Quando a estrela cruzava uma linha marcada no telescópio o momento de trânsito o astrônomo anotava mentalmente sua posição no momento do tique im ediatamen te anterior e imediatamente posterior ao trânsito e depois estimava a fração da Compreender o behaviorismo 21 distância entre as duas posições que ficava entre a posição imediatamente anterior ao trânsito e a linha O problem a era que diferentes astrônomos observando o mesmo momento de trânsito chegavam a diferentes estimativas de tempo Os as trônomos tentaram solucionar o problema gerado por essa variação calculando uma equação para cada astrônomo a chamada equação pessoar que computaria o tempo correto a partir das estimativas de tempo feitas por um dado astrônomo Donders raciocinou que as estimativas de tempo variavam porque não havia dois astrônomos que levassem o mesmo tempo para julgar o momento exato do trânsito acreditando que estariam chegando a seu julgamento através de diferen tes processos mentais Pareceu a Donders que esse tempo de julgamento poderia ser uma medida objetiva útil Começou a fazer experimentos em que media o tem po de reação das pessoas o tempo exigido para detectar uma luz ou um som e então apertar um botão Descobriu que as pessoas consistentemente levavam mais tempo para escolher o botão correto dentre dois botões quando uma ou outra de duas luzes aparecia do que para apertar um único botão quando uma única luz aparecia Donders argum entou que subtraindo o tempo de reação simples mais curto do tempo de reação de escolha mais longo poderia medir objetivamente o processo mental de escolha Isso era um grande avanço sobre a introspecção por que significava que os psicólogos podiam fazer experimentos de laboratório com os mesmos métodos objetivos utilizados pelas outras ciências Outros psicólogos desenvolveram outros métodos que pareciam medir os pro cessos mentais de forma objetiva Gustav Fechner 18011887 tentou medir a in tensidade subjetiva da sensação desenvolvendo uma escala que se baseava na dife rença apenas perceptível a menor diferença física entre duas luzes ou sons que uma pessoa conseguia detectar Hermann Ebbinghaus 18501909 mediu o tempo que ele próprio levava para aprender e depois reaprender listas de sílabas sem sentido combinações de consoantevogalconsoante sem nenhum significado a fim de produzir medidas de aprendizagem e de memória Outros utilizaram o mé todo desenvolvido por I R Pavlov 18491936 para estudo da aprendizagem e da associação através da m edida de um reflexo simples transferido para novos sinais apresentados no laboratório Essas tentativas traziam em comum a expectativa de que ao seguir métodos objetivos a psicologia poderia se transformar em uma ver dadeira ciência Psicologia comparativa Ao mesmo tempo que os psicólogos tentavam fazer da psicologia uma ciência objeti va a teoria da evolução estava tendo um efeito profundo sobre essa disciplina Os seres humanos não eram mais vistos como entes à parte separados das outras coisas vivas Começavase a reconhecer que compartilhamos com antropóides macacos cães e até peixes não somente traços anatômicos mas também muitos traços comportamentais N de T Apes no original Grupo de símios que compreende orangotangos gorilas e chimpanzés entre outros 22 Williom M Baum Assim nasceu a noção de continuidade da espécie a idéia de que mesmo sendo claramente diferentes entre si as espécies também se assemelham umas às outras à medida que compartilham a mesma história evolutiva A teoria de Darwin ensinou que novas espécies passaram a existir apenas como modificações de espé cies existentes Se evoluiu como qualquer outra nossa espécie deve então ter surgido como modificação de alguma outra Ficava fácil ver que nós e os antropóides tínhamos ancestrais comuns que antropóides e macacos tinham ancestrais comuns que macacos e musaranhos tinham ancestrais comuns que musaranhos e répteis tinham ancestrais comuns e assim por diante Todas as razões levavam a esperar que assim como podíamos ver as origens de nossos traços anatômicos em outras espécies poderíamos também ver as ori gens de nossos próprios traços mentais Presumiase naturalm ente que nossos traços mentais apareceriam em outras espécies sob formas mais simples ou rudi mentares mas a idéia de fazer comparações entre espécies a fim de conhecer me lhor a nossa própria deu origem à psicologia comparativa Tornaramse comuns as comparações entre outras espécies e a nossa O pró prio Darwin escreveu um livro chamado The expression of the emotions in men and animais No início as provas de existência de uma mentalidade aparentemente humana nos outros animais consistiam em observações casuais de criaturas selva gens e domésticas observações essas que muitas vezes não passavam de relatos anedóticos sobre bichos de estimação ou animais de criação Com um pouco de imaginação seria possível imaginar um cão que aprendeu a abrir o portão do jar dim levantando o trinco depois de observar o exemplo de seu dono e raciocinar sobre ele Além disso seria possível imaginar que as sensações os pensamentos e os sentimentos do cachorro deveriam ser semelhantes aos nossos e assim por dian te George Romanes 18481894 levou esse raciocínio a sua conclusão lógica che gando a defender que nossa própria consciência deve servir de base a nossasconje turas sobre uma eventual tênue consciência que ocorra digamos em formigas Essa forma de humanizar a besta ou antropomorfismo soou especulativa demais para alguns psicólogos No final do século XIX e no início do século XX os psicólogos comparativos começaram a substituir as vagas informações anedóticas por observações rigorosas conduzindo experimentos com animais Muitas dessas primeiras pesquisas basearamse em labirintos visto que qualquer criatura que se movimente desde o ser humano até o rato o peixe ou a formiga pode ser adestra da na resolução de um labirinto Era possível contar o tempo que a criatura levava para atravessar o labirinto e o número de erros que cometia assim como o declínio no tempo e nos erros à medida que o labirinto era dominado Em sua tentativa de humanizar a besta esses primeiros pesquisadores freqüentemente acrescentavam especulações sobre estados mentais pensamentos e emoções dos animais Diziase por exemplo que os ratos manifestavam aborrecimento ao fazer um erro ou mos travam confusão hesitação confiança e assim por diante O problema dessas afirmações sobre consciência animal era ficarem muito à mercê de vieses individuais Se duas pessoas ao fazerem uma introspecção po diam discordar se estavam se sentindo irritadas ou tristes com mais razão duas pessoas discordariam sobre um rato sentirse irritado ou triste Dado o caráter sub jetivo das observações a discordância não poderia ser resolvida através de outros Compreender o behaviorismo 23 experimentos Pareceu claro a John B Watson 18791958 o fundador do behavio rismo que como método científico as inferências sobre consciência em animais eram ainda menos confiáveis do que a introspecção e que nenhuma das duas poderia servir como m étodo para uma verdadeira ciência A primeira versão do behaviorismo Em 1913 Watson publicou o artigo Psychology as the behaviorist views it que rapidam ente foi tom ado como manifesto do incipiente behaviorismo Guiado pela psicologia objetiva Watson articulou a crescente insatisfação dos psicólogos com a introspecção e a analogia como métodos Queixavase de que a introspecção ao contrário dos métodos utilizados pela física e pela química era excessivamente dependente do indivíduo Se você não conseguir reproduzir meus dados é porque sua introspecção não foi bem treinada Atacase o observador e não a situação experimental Na física e na química atacamse as condições experimentais Dizse que o equipamento não era suficientemente sensível que foram usadas substâncias químicas impu ras etc Nessas ciências uma técnica melhor fornecerá resultados passíveis de reprodução Na psicologia é diferente Se você não consegue observar de 3 a 9 estágios de clareza na atenção é sua introspecção que é deficiente Se por outro lado um sentimento parece razoavelmente claro para você sua introspecção e culpada de novo Você está vendo demais Os sentimentos nunca são claros Watson 1913 p 163 Também não eram confiáveis as analogias entre animais e seres humanos Watson se queixava de que a ênfase na consciência o obrigava à absurda situação de tentar construir o conteúdo da mente do animal cujo com portamento vínhamos estudando Nessa perspectiva depois de ter demonstrado a capacidade de aprender de nosso animal a simplicidade ou complexidade de seus métodos de aprendizagem o efeito de hábitos passados sobre respostas pre sentes a faixa de estímulos aos quais normalmente responde a faixa ampliada aos quais pode responder sob condições experimentais em termos mais genéri cos seus vários problemas e as várias formas de resolvêlos ainda deveríamos achar que a tarefa está inacabada e que os resultados são inúteis até que possa mos interpretálos por analogia àluz da consciência sentimonos obrigados a dizer alguma coisa sobre os possíveis processos mentais de nosso animal Dize mos que não tendo olhos sua corrente de consciência não pode conter sensa ções de brilho e cor tal como as conhecemos não tendo papilas gustativas essa corrente não pode conter sensações de doce azedo salgado e amargo Mas por outro lado dado que efetivamente ele responde a estímulos térmicos tácteis e orgânicos o conteúdo de sua consciência deve ser constituído em larga escala por essas sensações Com certeza é possível demonstrar a falsidade dc uma doutrina como essa que requer uma interpretação analógica de todos os dados comportamcntais Watson 1913 p 159160 24 William M Baum Os psicólogos se emaranharam nesses esforços infrutíferos argumentou Watson porque definiram a psicologia como ciência da consciência Essa definição era res ponsável pelos métodos pouco confiáveis e pelas especulações infundadas Era res ponsável pela incapacidade da psicologia de se tornar um a verdadeira ciência Em vez disso escrevia Watson a psicologia deveria ser definida como ciência do comportamento Descreveu sua decepção quando ao ver a psicologia definida no início de um livro de Pillsbury como ciência do comportamento descobriu que depois de umas poucas páginas o texto parava de se referir a comportamento e em vez disso voltava ao tratamento convencional da consciência Reagindo Watson escreveu Acredito que podemos compor uma psicologia definila como Pillsbury e jam ais renunciar a nossa definição nunca usar os termos consciência estados mentais mente conteúdo verificável introspectivamente imagens e coisas pareci das Watson 1913 p 166 Evitar os termos relacionados à consciência e à mente deixaria a psicologia livre para estudar o comportamento humano e animal Se a continuidade da espé cie podia levar à humanização da besta podia da mesma forma levar ao oposto bestialização do ser humano se idéias sobre seres humanos pudessem ser apli cadas a animais então princípios desenvolvidos através do estudo de animais po deriam ser aplicados a seres humanos Watson contestou o antropocentrismo Alu diu ao biólogo que ao estudar a evolução coleta dados a partir do estudo de muitas espécies de plantas e animais e tenta elaborar as leis da hereditariedade do tipo específico sobre o qual está conduzindo os experimentos Não é justo dizer que todo o seu trabalho é dirigido para a evolução humana ou que deva ser interpretado em termos da evolução hum ana Watson 1913 p 162 Para Watson era daro que o caminho era fazer da psicologia um a ciência geral do comporta mento que compreendesse todas as espécies e na qual os seres humanos seriam apenas mais uma Essa ciência do comportamento idealizada por Watson não usaria nenhum dos termos tradicionais referentes à mente e à consciência evitaria a subjetividade da introspecção e as analogias entre o animal e o humano e estudaria apenas o comportamento objetivamente observável No entanto mesmo no tempo de Watson os behavioristas discutiam a propriedade dessa receita Não era claro o que objetivo queria dizer ou em que consistia precisamente o comportamento Como esses ter mos ficaram abertos à interpretação as idéias dos behavioristas sobre o que cons titui ciência e como definir comportamento divergiram ao longo dos anos O mais conhecido behaviorista pósWatson é B E Skinner 19041990 Suas idéias a respeito de como chegar a uma ciência do comportamento mostram um nítido contraste com a visão da maior parte dos outros behavioristas Enquanto a principal preocupação dos outros eram os métodos das ciências naturais ade Skinner foi a explicação científica Sustentou que o caminho para uma ciência do compor tam ento estava no desenvolvimento de termos e conceitos que permitissem expli cações verdadeiramente científicas Rotulou a visão oposta de behaviorismo meto dológico e chamou sua própria posição de behaviorismo radical Falaremos mais sobre ambos nos Capítulos 2 e 3 Compreender o behaviorismo 25 Quaisquer que sejam suas divergências todos os behavioristas concordam com as premissas básicas de Watson é possível criar uma ciência natural do com portamento e a psicologia pode ser essa ciência Essa idéia central desperta contro vérsias análogas à reação contra a explicação naturalista de Darwin para a evolu ção Se Darwin agrediu ao deixar de fora a mão oculta de Deus os behavioristas agridem ao deixar de fora outra força oculta o poder das pessoas governarem seu próprio comportamento Assim como a teoria darwiniana desafiou a venerada no ção de um Deus criador o behaviorismo desafia a venerada noção de livrearbítrio Como esse desafio freqüentemente suscita antagonismos a ele passaremos agora LIVREARBÍTRIO ItfffStS DETERMINISMO Definições Na idéia de que é possível uma ciência do comportamento está implícito que o comportamento como qualquer objeto de estudo científico é ordenado pode ser explicado pode ser previsto desde que se tenham os dados necessários e pode ser controlado desde que se tenham os meios necessários Chamase a isso determinismo a noção de que o comportamento é determinado unicamente pela hereditariedade e pelo ambiente Muita gente faz objeções ao determinismo Ele parece ir contra tradições cul turais de longa data que atribuem a responsabilidade pelos atos ao indivíduo e não à hereditariedade e ao ambiente Essas tradições mudaram um pouco a res ponsabilidade pela delinqüência é atribuída a um mau ambiente artistas famosos expressam reconhecimento a pais e professores e admitese que alguns traços comportamentais tais como o alcoolismo a esquizofrenia a lateralidade e o QI tenham um componente genético Entretanto permanece a tendência de atribuir crédito e culpa às pessoas de afirmar que há no comportamento algo mais do que hereditariedade e ambiente que as pessoas têm liberdade para escolher o curso de suas ações O nome que se dá à capacidade de escolha é livrearbítrio O livrearbítrio supõe um terceiro elemento além da hereditariedade e do ambiente supõe algo dentro do indivíduo Afirma que apesar da herança e dos impactos ambientais uma pessoa que se comporta de dada forma poderia ter escolhido comportarse de outra maneira Afirma algo além do mero sentimento de ser capaz de escolher poderia m e parecer que sou capaz de tomar ou não tomar um sorvete e no entan to meu ato de tomar sorvete poderia ser inteiramente determinado por eventos passados O livrearbítrio afirma que a escolha não é uma ilusão que são as próprias pessoas que causam o comportamento Filósofos tentaram conciliar o determinismo e o livrearbítrio Propuseram para o livrearbítrio teorias chamadas de determinismo brando e teorias compatibilizadoras Um tipo de determinismo brando por exemplo atribuído a 26 William M Baum Donald Hebb psicólogo behaviorista ver Sappington 1990 defende que o livre arbítrio consiste em comportamento que depende da hereditariedade e da história ambiental fatores menos visíveis do que o ambiente atual do indivíduo Mas como esse ponto de vista ainda considera que o comportamento resulta unicamente da herança e do meio passado e presente deixa implícito que o livrearbítrio é apenas uma experiência uma ilusão e não um a relação causal entre pessoa e ação A teoria compatibilizadora de livrearbítrio proposta pelo filósofo Daniel Dennett define o livrearbítrio como deliberação antes da ação Dennett 1984 Desde que eu delibere sobre tomar o soivete Será que este sorvete vai me engordar Será que posso compensar as calorias ingeridas fazendo exercício Posso ser feliz se estou sempre fazendo regime meu ato de tomar o sorvete é escolhido livremente Isso é compatível com o determinismo porque a própria deliberação é um comporta m ento que pode ser determinado pela hereditariedade e pelo ambiente passado Se a deliberação tem algum papel no comportamento que a segue estaria funcio nando apenas como um elo em um a cadeia de causalidade que remonta a outros eventos no passado Entretanto essa definição não se conforma ao que as pessoas convencionalmente chamam de livrearbítrio Os filósofos chamam a idéia convencional de livrearbítrio a idéia de que a escolha realmente pode ser independente dos eventos passados de livrearbítrio libertário Qualquer outra definição compatível com o determinismo como as de Hebb e de Dennett não apresenta problemas para o behaviorismo ou para uma ciência do comportamento Apenas o livrearbítrio libertário entra em conflito com o behaviorismo A história desse conceito nas teologias judaica e cristã sugere que ele existe precisamente para negar o tipo de determinismo que o behaviorismo representa Abandonando os filósofos portanto vamos nos referir ao livrearbítrio libertário como livrearbítrio Argumentos pró e contra o livrearbítrio Para provar o livrearbítrio em outras palavras contestar o determinismo seria necessário que embora se conhecessem todos os possíveis fatores determinantes de um ato a consumação desse ato assumisse sentido contrário ao previsto Como na prática esse conhecimento perfeito é impossível o conflito entre determinismo e livrearbítrio nunca poderá ser resolvido por demonstração Pode parecer que crianças de classe média e lares saudáveis que se tornam dependentes de drogas escolheram livremente esse caminho porque não há nada em sua história que possa explicálo mas o determinista insistirá que investigações adicionais revela rão os fatores genéticos e ambientais que levaram a essa dependência Pode pare cer que a carreira musical de Mozart seria inteiramente previsível a partir de seu histórico familiar e da forma como a sociedade vienense funcionava em sua época mas o defensor do livrearbítrio sustentará que o pequeno Wolfgang escolheu livre m ente agradar seus pais com seu trabalho musical ao invés de ficar se entretendo com brinquedos como as outras crianças Já que a persuasão pela prova é impossí Compreender o behaviorismo 27 vel então a aceitação do determinismo ou do livrearbítrio deve depender das conseqüências dessa crença e essas conseqüências podem ser sociais ou estéticas Argumentos sociais Na prática temse a impressão de que a negação do livrearbítrio poderia solapar toda a estrutura moral de nossa sociedade Que acontecerá a nosso sistema judiciá rio se as pessoas não puderem ser consideradas responsáveis por seus atos Já começamos a ter problemas com a alegação feita por criminosos de insanidade ou de incapacidade mental Se as pessoas não têm livrearbítrio que será de nossas instituições democráticas Por que se dar ao trabalho de fazer eleições se a escolha entre os candidatos não é livre A crença de que o comportamento das pessoas é determ inado poderia encorajar ditaduras Por essas razões talvez seja bom e útil acreditar no livrearbítrio mesmo que ele não possa ser demonstrado Os behavioristas têm de levar em consideração esses argumentos caso con trário o behaviorismo corre o risco de ser rotulado como uma doutrina perniciosa Trataremos deles na Parte Três quando discutiremos liberdade política social e valores Agora faremos um breve apanhado que dará uma idéia da direção geral que será tom ada mais adiante A percepção de ameaça à democracia deriva de um pressuposto falso Embora seja verdadeiro que a democracia se baseia na escolha é falso que a escolha se torna sem sentido ou impossível se não houver livrearbítrio A idéia de que a esco lha desapareceria provém de um a noção excessivamente simplista da alternativa ao livrearbítrio Se em um a eleição uma pessoa puder votar de duas formas o voto que de fato ocorrer dependerá não apenas de sua história a longo prazo pro veniência educação familiar valores mas também de eventos imediatemente an teriores à eleição As campanhas eleitorais existem precisamente por essa razão Posso m udar de lado em função de um bom discurso sem o qual eu votaria em outro candidato Para que uma eleição tenha sentido as pessoas não precisam ser livres basta apenas que seu comportamento esteja aberto à influência e persuasão determinantes ambientais de curto prazo Somos favoráveis à democracia não porque tenhamos livrearbítrio mas por que achamos que como conjunto de práticas ela funciona Em uma sociedade democrática as pessoas são mais felizes e mais produtivas do que sob qualquer monarquia ou ditadura conhecidas Em vez de nos preocuparmos com a perda do livrearbítrio podemos com maior proveito nos perguntar o que tem a democra cia que a faz superior Se pudermos analisar nossas instituições democráticas de forma a descobrir o que as faz funcionar poderemos talvez encontrar maneiras de tornálas ainda mais eficientes A liberdade política consiste em algo mais prático do que o livrearbítrio significa ter opções disponíveis e ser capaz de afetar o comportamento daqueles que governam Uma compreensão científica do compor tam ento poderia ser usada para aumentar a liberdade política Dessa forma o conhecimento advindo de uma ciência do comportamento estaria a serviço de um bom uso não é necessário que haja abuso E no fim das contas se realmente 28 William M Baum possuímos o livrearbítrio presumivelmente ninguém precisa se preocupar de qual quer maneira com o uso desse conhecimento E sobre a moral As teologias judaica e cristã incorporaram o livrearbítrio como meio de salvação Sem esses ensinamentos será que as pessoas ainda serão boas Uma forma de responder a essa questão é olhar para a parte da humanidade de longe majoritária que não tem esse compromisso com a noção de livrearbítrio Será que os budistas e hinduístas da China Japão e índia se comportam de forma menos ética Em nossa própria sociedade a ascensão da instrução pública vem deslocando cada vez mais para as escolas a educação moral que antes se dava na igreja e no lar À medida que nos apoiamos mais nas escolas para produzir bons cidadãos a análise comportamental já está contribuindo Não há razão pará que a ciência do comportamento não seja utilizada para transformar crianças em cida dãos bons felizes e eficientes Quanto ao sistema judiciário ele existe para lidar com nossos fracassos e não é preciso encarar a justiça como uma questão puram ente moral Sempre precisare mos considerar as pessoas responsáveis por seu comportamento no sentido prá tico de que os atos são atribuídos a indivíduos Estabelecido o fato de que houve um a transgressão então surgem problemas práticos relativos a como proteger a sociedade do transgressor e a como tornar improvável que essa pessoa se comporte da mesma forma no futuro Colocar o criminoso na cadeia já se mostrou de duvido sa valia Uma ciência do comportamento poderia ajudar tanto na prevenção como no tratamento mais eficiente da criminalidade Argumentos estéticos Os críticos da noção de livrearbítrio muitas vezes apontam sua falta de lógica Mesmo teólogos que promoveram essa idéia se embaraçaram com o paradoxo de seu conflito com um Deus onipotente Santo Agostinho foi claro se Deus faz tudo e sabe tudo antes de acontecer como pode alguém fazer alguma coisa livremente Da mesma forma que no determinismo natural se Deus determina todos os even tos inclusive nossos atos então é apenas nossa ignorância no caso da vontade de Deus que nos permite a ilusão do livrearbítrio A solução teológica comum é chamar o livrearbítrio de mistério de alguma forma Deus nos dá o livrearbítrio apesar de Sua onipotência Essa resposta é insatisfatória porque afronta a lógica e não resolve o paradoxo Em seu conflito com o determinismo divino ou natural o livrearbítrio parece ser função da ignorância Na verdade podese argum entar que o livrearbítrio é simplesmente um nome para a ignorância dos determinantes do comportamento Quanto mais sabemos das razões que estão por trás dos atos de um a pessoa tanto menos nos inclinamos a atribuir esses atos ao livrearbítrio Se um garoto que rou ba carros vem de um meio pobre tendemos a atribuir seu comportamento ao meio e quanto mais sabemos do abuso e da negligência que ele sofreu por parte de sua família e da sociedade menos provável se torna que afirmemos que sua escolha foi livre Quando sabemos que um político foi subornado não mais achamos que ele pode assumir posições políticas livremente Quando ficamos sabendo que um artis Compreender o behaviorismo 29 ta recebeu o apoio dos pais e teve um grande professor sentimos menos admiração por seu talento O outro lado desse argumento é que independente de quanto se saiba ainda assim não se pode prever exatamente o que uma pessoa fará em determinada situa ção Essa imprevisibilidade é às vezes considerada prova de livrearbítrio Entre tanto o clima é também imprevisível mas nunca olhamos para ele como produto de livrearbítrio Há muitos sistemas naturais cujo comportamento momentâneo não podemos prever mas nunca os consideramos livres Fixaríamos para a ciência do comportamento um padrão superior ao das outras ciências naturais Além dis so o erro lógico envolvido é fácil de detectar 0 livrearbítrio realmente implica imprevisibilidade mas de forma alguma isso exige o inverso ou seja que a imprevisibilidade implique livrearbítrio De certa forma deveria até ser falso que o livrearbítrio implique imprevisibi lidade Meus atos podem ser imprevisíveis para outra pessoa mas se meu livre arbítrio pode causar meu comportamento eu devo saber perfeitamente bem o que vou fazer Isso exige que eu conheça minha vontade pois é difícil ver como uma vontade desconhecida poderia ser livre Se decido fazer regime e sei que essa é m inha vontade então devo prever que continuarei com o regime Se conheço mi nha vontade e minha vontade causa meu comportamento deveria ser capaz de prever meu comportamento de forma perfeita A noção de que o livrearbítrio causa o comportamento levanta também um espinhoso problema metafísico Como um evento nãonatural como o livrearbí trio pode causar um evento natural como tomar sorvete Eventos naturais podem levar a outros eventos naturais porque podem estar relacionados um com o outro no tempo e no espaço Uma relação sexual leva a um bebê cerca de nove meses depois A frase leva a deixa implícito que a causa pode ser localizada no tempo e no espaço Por definição entretanto coisas nãonaturais não podem ser localizadas no tempo e no espaço Se pudessem seriam naturais Como então um evento nãonatural pode levar a um evento natural Quando e onde o querer ocorre de modo a me levar a tom ar sorvete Outra versão desse problema é o problema mentecorpo que nos ocupará no Capítulo 3 A nebulosidade dessas conexões hipotéticas conduziu ao Hypotheses nonfingo de Newton A ciência admite enigmas nãoresolvidos porque um enigma pode ao final renderse a novos pensamentos e experimentos mas a conexão entre o livrearbítrio e a ação não pode sèr elucidada dessa forma E um mistério O objetivo da ciência de explicar o mundo exclui mis térios que não possam ser desvendados A natureza misteriosa do livrearbítrio por exemplo vai contra a teoria da evolução Primeiro há o problema da descontinuidade Se falta livrearbítrio aos animais como foi que ele subitamente apareceu em nossa espécie Teria de ter sido prenunciado em nossos ancestrais nãohumanos Segundo mesmo que os ani mais pudessem ter livrearbítrio como poderia uma coisa tão pouco natural ter evoluído Os traços naturais evoluem por modificação de outros traços naturais Podese até imaginar a evolução de um sistema mecânico natural que se compor tasse imprevisivelmente de tempos em tempos Mas não há como conceber uma forma pela qual a evolução natural resultasse em um livrearbítrio nãonatural Talvez seja esse um poderoso motivo para a oposição de certos grupos religiosos à 30 Williom M Boum teoria da evolução inversamente é um motivo igualmente poderoso para excluir o livrearbítrio das explicações científicas do comportamento Com efeito toda a razão por que apresentamos esses argumentos contra o livrearbítrio é realmente mostrar que abordagens científicas do comportamento que excluem o livrearbítrio são possíveis Os argumentos visam defender a ciência do comportamento contra a suposição de que o comportamento hum ano não pode ser compreendido porque as pessoas têm livrearbítrio A análise do comportamen to evita o uso do conceito em arenas em que ele tem conseqüências infelizes como no sistema judiciário Capítulo 10 e no governo Capítulo 11 A análise do com portamento omite o livrearbítrio mas não impõe proibições ao uso do conceito no discurso cotidiano ou nas esferas da religião poesia e literatura sacerdotes poetas e escritores falam com freqüência de livrearbítrio e escolhas livres Uma ciência do comportamento poderia pretender explicar essas falas mas de nenhum a maneira proibilas Neste livro de todo modo exploramos como compreender o comporta mento sem conceitos misteriosos como livrearbítrio RESUMO Todos os behavioristas concordam que é possível uma ciência do comportamento que veio a ser chamada de análise comportamental Apropriadamente o behavio rismo é visto como a filosofia dessa ciência Todas as ciências se originaram da filosofia e dela se separaram A astronomia e a física surgiram quando os cientistas passaram da especulação filosófica à obser vação Ao fazêlo abandonaram qualquer preocupação com coisas sobrenaturais observando o universo natural e explicando os eventos naturais por referência a outros eventos naturais Da mesma forma a química separouse da filosofia quan do abandonou a idéia de essências internas e ocultas como explicação dos eventos químicos Ao se tornar ciência a fisiologia abandonou a vis viva em prol de explica ções mecanicistas sobre o funcionamento do corpo A teoria da evolução de Darwin foi percebida em grande medida como um ataque à religião porque se propunha a explicar a criação de formas de vida apenas com eventos naturais e sem a mão sobrenatural de Deus A psicologia científica também nasceu da filosofia e talvez ainda esteja se separando dela Dois movimentos promoveram essa ruptura a psi cologia objetiva e a psicologia comparativa A psicologia objetiva enfatizou a obser vação e a experimentação métodos que caracterizavam as outras ciências A psico logia comparativa enfatizou a origem comum de todas as espécies inclusive seres humanos na seleção natural e ajudou a promover explicações puram ente naturais acerca do comportamento humano John B Watson que fundou o behaviorismo adotou o caminho da psicologia comparativa Atacou a idéia de que a psicologia era a ciência da mente mostrando que nem a introspecção nem analogias com a consciência animal produziam os resultados confiáveis obtidos pelos métodos de outras ciências Sustentou que so mente através do estudo do comportamento poderia a psicologia atingir a confia bilidade e a generalidade necessárias para se tomar uma ciência natural Compreender o behaviorismo 31 A idéia de que o comportamento pode ser tratado cientificamente continua controversa porque desafia a noção de que ele provém da livre escolha do indiví duo Promove o determinismo segundo o qual todo o comportamento se origina da herança genética e de eventos ambientais O termo livrearbítrio designa a su posta capacidade que têm as pessoas de escolher seu comportamento livremente sem levar em conta a herança ou o ambiente O determinismo afirma que o livre arbítrio é uma ilusão fundada na ignorância dos fatores que determinam o compor tamento Como um a versão branda do determinismo e as teorias compatibilizadoras defendem a idéia de que o livrearbítrio é apenas uma ilusão não representam uma objeção à ciência do comportamento Apenas o livrearbítrio libertário a idéia de que as pessoas realm ente possuem a capacidade de se comportar da forma que escolheram adotada pelo judaísmo e pelo cristianismo entra em conflito com o determinismo Como a disputa entre determinismo e livrearbítrio não pode ser resolvida através de provas o debate acerca de qual desses dois pontos de vista é correto se apóia em argumentos relativos às conseqüências sociais e estéticas da adoção de um a ou de outra Os críticos do determinismo argumentam que a crença no livrearbítrio é ne cessária à preservação da democracia e da moralidade em nossa sociedade Os behavíoristas argum entam que provavelmente o oposto é que é verdadeiro uma abordagem comportamental de problemas sociais pode aperfeiçoar a democracia e favorecer o comportam ento ético Quanto à estética os críticos do livrearbítrio observam que ele é ilógico quando associado à noção de um Deus onipotente como geralmente o é Quer um ato seja atribuído a eventos naturais ou à vontade de Deus ainda assim ele não pode pela lógica ser atribuído ao livrearbítrio do indi víduo Os defensores do livrearbítrio retrucam que dado que os cientistas nunca podem prever em detalhe as ações de um indivíduo o livrearbítrio permanece possível ainda que seja um mistério Os behavioristas respondem que é precisa mente sua natureza misteriosa que o torna inaceitável porque levanta o mesmo problema que outras ciências tiveram de superar como uma causa nãonatural pode levar a eventos naturais Os behavioristas dão a mesma resposta que as ou tras ciências deram os eventos naturais provêm somente de outros eventos natu rais Essa visão científica do comportamento argumenta contra a aplicação da idéia de livrearbítrio à justiça e ao governo contextos em que ela produz escassas con seqüências para a sociedade mas permanece neutra e poderia explicar a respeito do uso da idéia no discurso cotidiano na religião na poesia e na literatura LEITURAS ADICIONAIS Boakes R A 1984 From Darwin to behaviorism psychology and the minds of animals Cambridge Cambridge University Press Excelente avaliação histórica dos primórdios do behaviorismo Dennett D C 1984 Elbow room the varieties of free will worth wanting Cambridge Mass MIT Press Inclui uma discussão completa do tópico do livrearbítrio e um exemplo de uma teoria eompatibilizadora 32 William M Boum Sappington A A 1990 Recent psychological approaches to the free will versus determi nism issue Psychological Bulletin 108 1929 Esse artigo contém um útil sumário das várias posições Watson J B 1913 Psychology as the behavioríst views it Psychological Review 20 158 177 Watson expõe suas idéias originais nesse artigo clássico Zuriff G E 1985 Behaviorism a conceptual reconstruction Nova York Columbia University Press Esse livro é um compêndio e um debate do pensamento de vários behavioristas do começo do século XX até cerca de 1970 TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPITULO 1 Análise comportamental Antropomorfismo Behaviorismo metodológico Behaviorismo radical Calórico Continuidade da espécie Determinismo Diferença apenas perceptível Dualismo Flogisto Introspecção Livrearbítrio libertário Psicologia comparativa Psicologia objetiva Psyche Tempo de reação Vis viva 2 0 behaviorismo como filosofia da ciência A idéia de que pode haver uma ciência do comportamento é ilusivamente sim pies Ela leva a duas questões espinhosas A primeira é O que é ciência Essa pergunta pode evocar uma resposta do tipo Ciência é o estudo do universo natu ral A resposta porém dá origem a outras perguntas O que torna algo natural O que está implícito em estudo Se reformularmos a pergunta para O que diferencia a ciência de outros empreendimentos humanos como a poesia e a reli gião um a possível resposta seria a de que a ciência é objetiva Mas o que é ser objetivo A segunda questão é O que confere caráter científico ao estudo do compor tam ento A resposta depende de como respondemos à primeira questão Talvez o comportamento seja parte do universo natural Talvez haja algo de único na manei ra como falaríamos sobre o comportamento de um ponto de vista científico Este capítulo dará enfoque à primeira questão O tema principal do Capítulo 3 será a segunda questão embora a resposta completa à pergunta sobre o que signi fica estudar cientificamente o comportamento seja expandida no restante do livro As idéias dos behavioristas radicais sobre ciência diferem das idéias dos pri meiros behavioristas assim como também diferem das posições de muitos pensa dores anteriores âo século XX O behaviorismo radical se conforma à tradição filo sófica conhecida como pragmatismo enquanto os pontos de vista anteriores eram derivados do realismo 34 Wiiliom M Baum REALISMO VERSUS PRAGMATISMO Realismo Enquanto visão de mundo o realismo é tão difundido na civilização ocidental que muitos o aceitam sem questionamentos Ele representa a idéia de que as árvores as rochas as construções as estrelas e as pessoas que eu vejo estão lá realmente que há um mundo real fora do sujeito que dá origem a nossas experiências Se dou as costas para uma árvore acredito que ao m e virar eu a verei novamente Parece senso comum que a árvore é parte do mundo real fora de mim enquanto minha experiência da árvore minhas percepções meus pensamentos e sentimentos estão dentro de mim Essa noção aparentemente simples envolve duas pressuposições que não são tão simples Primeiro esse mundo real parece estar de algum modo lá fora em contraste com a nossa experiência que parece estar de algum modo aqui dentro Segundo nossas experiências são experiências do mundo real elas existem à parte do mundo propriamente dito Como veremos adiante ambas as suposições podem ser questionadas com resultados importantes Como no caso do livrearbítrio e do determinismo os filósofos escreveram bastante sobre o realismo Distinguiram diversas versões do realismo A descrição do parágrafo anterior não corresponde a nenhum a versão filosófica Estaria próxi m a do ponto de vista que os filósofos chamam de realismo ingênuo que sustenta que a existência de um objeto subsiste separadamente de nossá percepção dele Uma vez que isso é parte da visão do comportamento que herdamos ao crescer na cultura ocidental muitas vezes chamada de psicologia popular poderíamos chamar isso de realismo popular A noção cotidiana de que a estabilidade de nossa experiência do mundo que a árvore ainda está lá quando eu me volto deriva de sua realidade vamos nos referir simplesmente como realismo 0 üiiVerso objetivo A origem do pensamento científico é atribuída a vários filósofos gregos que vive ram no século VI aC Um deles Tales propôs uma visão do universo que se dife renciava fundamentalmente da perspectiva babilónica amplamente aceita em seu tempo segundo a qual o deus Marduk havia criado o universo e continuava a governar todos os acontecimentos Tales propôs que o Sol a Lua e as estrelas moviam se mecanicamente através do céu durante o dia e à noite moviamse ao redor da Terra plana retornando a suas posições no leste para se elevarem novamente na manhã seguinte Farrington 1980 A despeito de quão distantes essas idéias pos sam parecer em relação às que temos hoje a versão de Tales sobre o universo foi útil Farrington 1980 p 37 comenta que É um começo admirável cujo ponto principal é organizar em uma descrição coerente diversos fatos observados sem introduzir o deus Marduk Em outras palavras Tales propôs que o universo é um mecanismo compreensível Compreender o behaviorismo 35 No contexto do realismo um mecanismo compreensível significa um meca nismo real que existe fora do sujeito e que vimos a conhecer à medida que o estudamos Seu caráter compreensível significa que à medida que o conhecemos melhor esse universo mecânico se faz menos enigmático Sua existência fora do sujeito tornao objetivo isto é independentemente de como nossas concepções sobre ele se alterem o universo permanece exatamente como é Descoberta e verdade O realismo supõe uma certa visão sobre a descoberta científica e a verdade Se há um universo objetivo que podemos conhecer então é apropriado dizer que quan do estudamos cientificamente o universo descobrimos coisas sobre ele Se puder mos descobrir algo a respeito de como funciona o universo então podemos dizer que descobrimos a verdade a seu respeito Dessa perspectiva pouco a pouco des coberta por descoberta alcançamos toda a verdade sobre o modo como o universo funciona Dados sensoríais e subjetividade Para o realista nossa aproximação da verdade é lenta e incerta porque não pode mos estudar o mundo objetivo diretamente Temos contato direto apenas com o que nossos sentidos produzem O filósofo George Berkeley 16851753 levou em consideração essa condição indireta para lançar dúvidas sobre a presunção de que o mundo está realmente lá Ele escreveu em um ensaio intitulado Principies of human knowledge E realmente uma opinião estranhamente predominante entre os homens que casas montanhas rios e em uma palavra todos os objetos sensíveis têm uma existência natural ou real distinta de sua percepção pelo entendimento ainda assim qualquer um que decida questionála perceberá se eu não estiver enganado que ela envolve uma contradição manifesta Pois o que são os objetos acima mencionados senão as coisas que percebemos pelos sentidos E o que per cebemos além de nossas próprias idéias ou sensações Burtt 1939 p 524 Em outras palavras uma vez que não temos contato direto com o mundo real mas apenas com nossas percepções dele não temos nenhuma razão lógica para acreditar que o mundo realmente exista Embora alguns filósofos posteriores a Berkeley tenham partilhado seu ceticis mo sobre o realismo aceitando a idéia de que os objetos do mundo são apenas inferências os filósofos da ciência em geral tenderam a se alinhar com o realismo e trataram a questão colocada por Berkeley de modo diferente Bertrand Russell 18721970 por exemplo escrevendo no início do século XX substituiu as idéias 36 William M Boum e sensações de Berkeley pelo conceito de dados sensoriais Sugeriu que o cientista estuda os dados sensoriais para tentar conhecer o mundo real Os dados sensoriais estando dentro do sujeito são subjetivos mas constituem o meio de entender o mundo real fora do sujeito Explicação Na abordagem realista a explicação consiste na descoberta de como as coisas real mente são Uma vez conhecida a órbita da Terra em volta do Sol teremos explica do por cjue temos estações climáticas e por que a posição do Sol no céu muda como muda E como ter explicado o funcionamento do motor de um carro o eixo vira porque os pistões o empurram quando sobem e descem Para o realista as explicações diferem de meras descrições as quais apenas detalham como nossos dados sensoriais se organizam Descrições de mudanças na posição do Sol existiam muito antes que fosse amplamente aceita a idéia de que a Terra gira em torno do Sol em órbita elíptica A descrição só nos conta a aparência das coisas na superfície quando se descobre a verdade escondida no modo de funcionamento das coisas então os eventos que percebemos estão explicados Pragmatismo O realismo pode ser contrastado com o pragmatismo concepção desenvolvida por filósofos norteamericanos particularmente Charles Peirce 18391914 e William James 18421910 durante a segunda metade do século XIX e início do século XX A noção fundamental do pragmatismo é de que a força da investigação científica reside não tanto na descoberta da verdade sobre a maneira como o universo obje tivo funciona mas no que ela nos perm ite fazer daí o nome pragmatismo da mes ma raiz de prático Em particular a grande realização da ciência é que ela permite dar significado a nossa experiência ela torna nossa experiência compreensível Por exemplo permite compreender que a chuva cai não por causa de algum deus misterioso mas devido ao vapor dágua e às condições climáticas da atmosfera As vezes a ciência nos permite até mesmo prever e controlar o que acontecerá se tivermos os meios para tal Ouvimos as notícias sobre as condições climáticas por que nos são úteis tomamos antibióticos porque sabemos que eles combatem a infecção James 1974 apresentou o pragmatismo como um método para resolver con trovérsias e como uma teoria da verdade Ele assinalava que algumas questões nos levam apenas a argumentos infindáveis sem resultados satisfatórios O mundo é único ou múltiplo predestinado ou livre material ou espiritual algumas dessas noções podem ou não se mostrar adequadas e as discussões a respeito são infindáveis O método pragmático nesses casos é tentar interpretar cada noção identificando as respectivas conseqüências práticas Que diferença Compreender o behoviorismo 37 prática faria a alguém se esta noção e não aquela fosse verdadeira Se nenhuma conseqüência prática pode ser identificada então as alternativas significam do ponto de vista prático a mesma coisa e toda a disputa é inútil Sempre que uma disputa for séria devemos ser capazes de mostrar a diferença prática de um ou outro lado estar certo p 4243 Em outras palavras se a resposta a uma pergunta não promove uma mudança no modo de proceder da ciência isso significa que a própria pergunta é equivocada e não merece atenção James e Peirce consideravam que a questão sobre a existência fora do sujeito de um mundo real imutável e objetivo era uma dessas questões sobre as quais o debate é inútil James escreveu que nossa concepção acerca de um objeto consiste em seus efeitos práticos e nada mais que sensações devemos esperar dele e que reações devemos preparar 1974 p 43 O que importa sobre uma bicicleta é que eu a vejo a chamo pelo nome posso emprestála a um amigo posso andar nela eu mesmo O pragmatismo permanece agnóstico com relação à existência de uma bicicleta real por trás desses efeitos Com esse tipo de postura em relação às questões o pragmatismo traz implíci ta uma atitude especial com respeito à verdade das respostas Como teoria da verdade o pragmatismo equipara aproximadamente verdade com poder explicativo Se a pergunta sobre a existência de um universo real fora do sujeito é fútil então também é fútil perguntar sobre a existência de uma verdade final absoluta Em vez de pensar as idéias como simplesmente falsas ou verdadeiras James propunha que as idéias possam ser mais e menos verdadeiras Uma idéia é mais verdadeira do que outra se nos permite explicar e compreender mais de nossa experiência James coloca a questão deste modo qualquer idéia que nos permita navegar por assim dizer qualquer idéia que nos transporte com vantagem de qualquer parte de nossa experiência a qualquer outra ligando as coisas satisfatoriamente operando com segurança simplificando economizando trabalho é verdadeira só por isso é ver dadeira nessa medida é instrumentalmente verdadeira 1974 p 49 A idéia de que o Sol e as estrelas se movem em volta da Terra explicava apenas por que se movem no céu portanto é menos verdadeira do que a idéia de que a Terra descre ve uma órbita em torno do Sof ao girar sobre seu próprio eixo que também explica por que temos as estações climáticas De acordo com o pragmatismo porém ja mais saberemos se a Terra realmente gira em volta do Sol é concebível que uma outra teoria mais verdadeira possa surgir Em defesa de seu ponto de vista James assinalou que na prática todas as teorias científicas são aproximações Raramente se é que jamais uma teoria expli ca todos os fatos da experiência Em vez disso freqüentemente uma teoria dá con ta de um conjunto de fenômenos enquanto outra teoria lida melhor com outro conjunto James escreveu e tantas formulações rivais são propostas em todos os ramos da ciência que os investigadores se acostumaram à noção de que nenhuma teoria é uma transcrição absoluta da realidade mas que qualquer uma delas pode ser útil de algum ponto de vista Sua grande utilidade é sumariar fatos antigos e levar a novos fatos Elas 38 Williom M Boum são apenas uma linguagem construída pelo homem uma taquigrafia conceituai nas quais escrevemos nossos relatos da natureza 1974 p 4849 A contrapartida m odera a de James é Tomas Kuhn 19221996 que escreveu o livro The structure of scientific revolutions 1970 Nessa obra ele sustentou que a ciência não pode ser caracterizada como um progresso infinito em direção a uma verdade última O aparente progresso do pensamento científico de acordo com Kuhn é em geral ilusório Na maior parte do tempo durante os períodos de ciên cia normal alguns enigmas são resolvidos por pesquisa e investigação enquanto novos enigmas vão surgindo Quando muitos enigmas permanecem sem solução uma visão totalmente diferente do campo de uma ciência pode começar a ganhar aceitação e eventualmente sobreporse à visão até então prevalente Ocorre então uma revolução no pensamento e a nova perspectiva o novo paradigma normal mente explica mais do que a antiga Entretanto ela não explica tudo que o antigo paradigma explicava e também apresenta seus próprios enigmas Essa concepção de ciência poderia ser interpretada não como uma marcha em direção à verdade última mas como uma pista de dança repleta na qual cada dançarino experimenta diferentes passos e poses e na qual de vez em quando a banda começa a tocar uma melodia totalmente diferente Sem exagerar Kuhn ressaltou que a ciência realmen te progride no sentido de que um paradigma substitui outro em parte porque explica mais fenômenos As danças e melodias se tornam mais sofisticadas Ciência e experiência O pragmatismo influenciou o behaviorismo moderno de modo indireto como re sultado da amizade entre Wüliam Jam es e o físico Ernst Mach 18381916 A influência de James aparece no livro de Mach The science of mechanics 1960 uma análise histórica que aplicava o pragmatismo àquele ramo da física Uma vez que esse livro influenciou fortemente Skinner e que este influenciou grandemente o behaviorismo moderno de modo indireto o behaviorismo moderno tem um grande débito para com James Seguindo James Mach argumentava que a ciência tem a ver com a experiên cia particularmente com o esforço para conferir sentido à experiência Achava que a ciência havia se originado da necessidade que têm as pessoas de se comunicar eficiente e economicamente umas com as outras Esse tipo de comunicação é essen cial para a cultura hum ana porque permite uma compreensão do mundo que pode ser facilmente passada de uma geração à outra O princípio de economia requer a invenção de conceitos que organizem nossas experiências em tipos ou categorias permitindonos usar um termo em vez de muitas palavras Mach comparava a ciên cia ao corpo de conhecimentos dos artesãos por ele caracterizados como uma clas se social que pratica um dado ofício Uma classe dessa ordem se ocupa com tipos particulares dc processos naturais Os indivíduos que compõem a classe mudam Antigos membros saem enquanto novos membros ingressam Surge dai a necessidade de partilhar com os mem Compreender o behaviorismo 39 bros recentes o conjunto de experiências e conhecimentos já adquiridos a neces sidade de familiarizálos com as condições para atingir um objetivo definido de modo que o resultado possa ser determinado de antemão Mach 1960 p 5 Um aprendiz de oleiro por exemplo aprende a moldar a argila a queimáia aprende como são os diferentes tipos de argila esmaltes estufas e assim por dian te Sem esse tipo de instrução o aprendiz não poderia ter certeza sobre os procedi mentos que devem ser seguidos para que o produto final seja de boa qualidade Sem os conceitos que permitem essa instrução cada nova geração de oleiros teria de experimentar e descobrir as técnicas a partir do zero Isso não apenas seria ineficiente como também impediria a acumulação de conhecimento ao longo das gerações Imagine como seria a construção de uma casa nos dias de hoje se os carpinteiros não pudessem se beneficiar das experiências dos carpinteiros de cem anos atrás Economia conceituai À ciência é como outras atividades especializadas Se estou lhe ensinando a dirigir um carro seria bobagem colocálo atrás do volante e dizer Pronto vá em frente e experimente Em vez disso eu lhe explicarei conceitos como dar partida dirigir frear acelerar m udar de marcha e assim por diante Você então saberá o que fazer se eu disser Quando estiver entrando em uma curva diminua a aceleração e quando a direção ficar leve pode acelerar novamente Você poderia descobrir es sas regras sozinho através de sua própria experiência mas é muito mais fácil se você for instruído Assim como os conceitos de aceleração e mudança de marcha nos permitem passar adiante uma compreensão de como dirigir os conceitos cien tíficos nos permitem passar adiante um entendimento de experiências com outros aspectos do mundo natural Como Mach escreveu Descobrir então o que permanece inalterado nos fenômenos da natureza desco brir a partir daí os elementos e seu modo de interação e interdependência essa é a tarefa da ciência física Através de uma descrição abrangente e completa ela luta por tomar desnecessária a espera de novas experiências procura nos poupar o esforço da experimentação usando por exemplo a conhecida interdependência de fenômenos segundo a qual se um tipo de evento ocorrer podemos antecipa damente ter certeza de que outro determinado evento ocorrerá 1960 p 78 Em outras palavras a ciência cria conceitos que permitem a uma pessoa dizer a outra o que se relaciona com o que no mundo e o que esperar se determinado evento acontecer conceitos que permitem a previsão com base na experiência passada com esses eventos Quando os cientistas criam termos como oxigênio saté lite e gene cada palavra contém uma história completa de expectativas e previsões Esses conceitos nos permitem falar economicamente dessas expectativas e previ sões sem necessidade de repetidamente darmos longas explicações 40 Williom M Baum Como exemplo do modo como a ciência inventa termos econômicos e sintéti cos Mach reconstituiu o desenvolvimento do conceito de ar Começou no tempo de Galileu 15641642 No tempo de Galileu os filósofos explicavam o fenômeno de sucção a ação de seringas e bombas através do chamado horror vacui a aversão da natureza ao vácuo Pensavase que a natureza possuía o poder de impedir a formação do vácuo agarrando a primeira coisa mais próxima qualquer que fosse e imediata mente preenchendo com ela qualquer espaço vazio que surgisse À parte o ele mento especulativo infundado que essa visão contém devese reconhecer que até cerro ponto ela realmente representa o fenômeno 1960 p 136 Se você já colocou um copo sobre a boca e aspirou todo o ar de modo que ele ficasse colado em seu rosto você sentiu o vácuo puxando sua bochecha para dentro do copo Atualmente isso seria descrito como ação da pressão do ar Um passo crucial nessa mudança de perspectiva foi a observação de que o ar tinha peso Galileu se empenhou em determinar o peso do ar primeiro pesando uma garrafa de vidro que continha apenas ar depois pesando novamente a garrafa após o ar ter sido parcialmente expelido pelo calor Soubese então que o ar era pesado Mas para a maioria dos homens o horror vacui e o peso do ar eram noções conectadas de modo muito remoto 1960 p 137 Foi Torricelli 16081647 quem primeiro viu a conexão entre sucção e peso do ar Ele observou que um tubo fechado em uma das extremidades preenchido com mercúrio e vertido com a extremidade aberta em uma tigela cheia de mercú rio conteria vácuo no topo e uma coluna de mercúrio de certa altura abaixo dele Mach comentou a respeito E possível que no caso de Torricelli as duas idéias tenham se aproximado sufici entemente para leválo à convicção de que todos os fenômenos atribuídos ao horror vacui eram explicáveis de modo simples e lógico pela pressão exercida pelo peso de uma coluna fluida uma coluna de ar Torricelli descobriu então a pressão atmosférica foi ele também o primeiro a observar através de sua coluna de mercúrio as variações da pressão atmosférica 1960 p 137 A invenção da bomba de vácuo possibilitou muitas observações posteriores sobre o que acontece quando o ar é retirado de um recipiente Muitas dessas obser vações foram feitas por Guericke 16021686 que possuía uma das primeiras bom bas de vácuo eficientes Mach comentou Os fenômenos que Guericke observou com esse aparelho são vários e diver sificados O barulho que a água faz no vácuo ao se chocar com as paredes do recipiente de vidro a precipitação violenta do ar e da água em recipientes esva ziados de ar e subitamente abertos a saída através da exaustão de gases ah Compreender o behaviorismo 41 sorvidos em líquidos foram imediatamente observados Uma vela acesa se extingue durante a exaustão porque como conjeturou Guericke ela se alimen ta do ar Um sino não soa no vácuo as aves nele morrem muitos peixes incham e finalmente estouram Uma uva se mantém fresca no vácuo por mais de meio ano 1960 p 145 De acordo com Mach o conceito de ar possibilitou que todas essas observa ções isto é experiências fossem vistas como interligadas em vez de serem toma das como discretas e desorganizadas A palavra ar permite que se fale delas como relacionadas umas às outras de modo fácil e com poucas palavras 0 conceito propicia economia a nossa discussão Explicação e descrição Em algumas das transcrições acima Mach sugere que o objetivo da ciência é a descrição Para o realismo observamos que o objetivo da ciência não é uma mera descrição mas sim uma explicação baseada na descoberta da realidade que existe além de nossa experiência Desse ponto de vista a descrição apenas resume apa rências enquanto a explicação fala do que é realmente verdadeiro Para pragmatistas como James e Mach porém não existe essa distinção porque falando em termos práticos tudo que a ciência tem como suporte são aparências isto é observações ou experiências Para o pragmatismo explicação e descrição são uma única e mes ma coisa O que importa para o pragmatista é que ao descrevermos nossas observa ções usemos termos que relacionem um fenômeno a outro Quando conseguimos ver relações ver como um a observação se relaciona com outras então nossas expe riências aparecem como ordenadas e compreensíveis em vez de caóticas e misterio sas Mach argumentava que o trabalho da ciência começa quando alguns eventos parecem fora do comum quando parecem enigmáticos Portanto a ciência procura aspectos comuns nos fenômenos naturais busca elementos constantes a despeito de toda variação aparente Você se pergunta o que significa uma estátua do Mickey Mouse na mesa de seu chefe até ficar sabendo que se trata de um telefone Quando criança eu estava acostumado com a idéia de que as coisas caem quando você as solta porque têm peso por isso fiquei surpreso ao soltar um balão de hélio e vêlo voar no espaço Mais tarde vim a aprender os conceitos de densidade e flutuação elementos comuns e entendi que um balão de hélio flutua no ar do mesmo modo que um barco flutua na água Mach afirmou que esse processo de descrever um fenômeno em termos co muns familiares é exatamente o que se quer dizer com a palavra explicação Quando atingimos o ponto em que somos capazes de detectar em todo lugar os mesmos poucos e simples elementos combinados de maneira ordinária eles en tão nos parecem familiares não mais nos surpreendemos não há nada novo ou estranho para nós nos fenômenos sentimonos à vontade com eles eles não mais nos deixam perplexos eles estão explicados 1960 p 7 42 William M Baum A explicação científica consiste apenas na descrição de eventos em term os familiares Ela não tem nada a ver com a revelação de uma realidade escondida além de nossa experiência Talvez você se surpreenda com o tom subjetivo de Mach os eventos estão explicados quando nos sentimos à vontade com eles O pensamento de Mach entretanto é de que um evento se mostra familiar é explicado quando é descrito em termos familiares Embora um pragmatista visse um termo familiar simples mente como um termo bemaprendido outra pessoa poderia supor que a familiari dade depende de sentimentos No realismo o que torna um evento familiar não é nada sobre o próprio evento nada objetivo mas algo sobre nossa experiência com esse evento ou eventos similares algo subjetivo Quando um balão de hélio sobe esse evento parecerá misterioso ou familiar aos olhos do realista dependen do não de algo sobre o evento objetivo mas de sua apreciação subjetiva do evento No pragmatismo entretanto se tivesse de haver um a distinção entre subjeti vidade e objetividade ela seria totalm ente diferente daquela do realismo Seria correto dizer que o conflito entre subjetividade e objetividade se resolve para o pragmatismo em favor da subjetividade Uma vez que a existência de um mundo real objetivo não é necessária a objetividade se é que tem algum significado poderia ser no máximo um a qualidade da investigação científica Para o pragmatismo seria coerente simplesmente abandonar os dois termos de uma vez Pode parecer peculiar que em alguns dos trechos citados Mach use a palavra descoberta ao falar das atividades dos cientistas Uma descoberta parece supor a idéia de ir além das aparências em direção à existência real das coisas uma idéia que seria coerente com o realismo Para Mach descobrir os elementos comuns nos fenômenos é a mesma coisa que inventar conceitos Cada elemento comum corresponde a uma categoria ou tipo e seu rótulo é o conceito ou termo Considere o tipo de evento que chamamos de flutuação barcos flutuam na água e balões de hélio flutuam no ar O comportamento do balão de hélio tornase compreensível depois que inventamos ou descobrimos o conceito de flutuação Do mesmo modo que a distinção entre subjetividade e objetividade a distinção entre descoberta e invenção desaparece para o pragmatismo Comentando o conceito de ar Mach escreveu O que poderia ser realmente mais maravilhoso do que a súbita desco berta de que algo que não vemos dificilmente sentimos e quase não notamos constantemente nos envolve por todos os lados e penetra todas as coisas que ele é a condição mais importante da vida da combustão e de fenômenos mecânicos gigantescos p 135 Entretanto Mach poderia simplesmente ter afirmado que o ar o conceito foi uma invenção maravilhosa Da mesma maneira Lavoisier que descobriu o oxigênio descobriu um novo modo de falar da combustão Poderíamos simplesmente dizer que ele inventou um novo termo oxigênio O leitor interessado deve recorrer ao livro de Kuhn The structure of scientific revolutions 1970 para uma discussão mais recente sobre a identidade entre descoberta e invenção Adiante neste livro particularmente nos Capítulos 6 e 7 voltaremos a discu tir a questão dos termos científicos pois de uma ótica behaviorista nenhuma das palavras invenção ou descoberta descreve a ciência tão bem quanto a idéia de que o discurso científico é afinal comportamento Veremos que o cientista é al Compreender o behaviorismo 43 guém que se em penha em certos tipos de comportamento inclusive certos tipos de comportamento verbal Por ora no entanto continuamos com a discussão em nível mais geral BEHAVÍORISMO RADICAL E PRAGMATISMO O behaviorismo contemporâneo radical baseiase no pragmatismo A resposta que ele dá à pergunta O que é ciência é a resposta de James e Mach ciência é a busca de descrições econômicas e abrangentes da experiência natural humana isto é nossa experiência do mundo natural O objetivo de uma ciência do comporta mento é descrevêlo em termos que o tornem familiar e portanto explicado Seus métodos buscam ampliar nossa experiência natural do comportamento atra vés da observação precisa Os behavioristas radicais preferem o pragmatismo ao realismo porque o se gundo leva a um a visão dualista das pessoas que é incompatível com uma ciência do comportamento Se você afirma que o mundo exterior é real isso levanta a questão Se estou separado do mundo real então onde eu estou A resposta de acordo com a psicologia popular é que você abriga um mundo interior privado em que você experimenta sensações pensamentos e sentimentos Somente seu corpo externo pertence ao mundo exterior Como vimos no Capítulo 1 tal dualismo é inaceitável porque introduz mistérios do tipo Como o eu interior ou a mente influencia o comportamento do corpo Uma resposta a essa questão nunca será obtida porque o eu interior é separado do mundo natural e não há maneira de entendermos como coisas nãonaturais podem afetar eventos naturais Discutire mos mais esse ponto no Capítulo 3 Por ora notese que se aceitamos o dualismo interiorexterior uma ciência que lidasse somente com o comportamento exterior pareceria incompleta com efeito os behavioristas costumam ser acusados de igno rar o mundo interior de pensamentos e sentimentos O behaviorismo radical en tretanto rejeita o dualismo entre mundo interior e exterior Em vez disso conside ra que a análise do comportamento lida com um só mundo e o comportamento a ser encontrado nesse mesmo mundo único O behaviorismo antigo metodológico baseavase no realismo Como realis tas os behavioristas metodológicos distinguiam mundo objetivo de mundo subjeti vo Como lhes parecia que a ciência lidava apenas com o mundo objetivo conside ravam que a ciência era constituída de métodos para o estudo do mundo fora do sujeito Uma vez que o realismo supõe que o mesmo mundo objetivo está lá fora acessível a todos enquanto o mundo subjetivo de cada um é diferente e inacessível ao outro os behavioristas metodológicos consideravam que o único caminho para uma ciência do comportamento seria através de métodos objetivos métodos que coletassem dados sensoriais sobre o mundo fora do sujeito o mundo que todos com partilham e sobre o qual poderiam potencialm ente concordar O nome behaviorismo metodológico deriva dessa ênfase nos métodos Ainda que possam se surpreender ao ler isto a maioria dos psicólogos experi mentais parece ser de behavioristas metodológicos Afirmam estudar algo no inte 44 William M Baum rior mente memória atitudes personalidade e assim por diante através de inferências sobre o mundo interior a partir do comportamento exterior tal como o desempenho em tarefas de estimativas quebracabeças testes com caneta e papel ou questionários Já que os psicólogos experimentais não têm métodos para estu dar o mundo interior entretanto estudam o comportamento exterior com métodos objetivos A única diferença entre essa abordagem e o behaviorismo metodológico é que os psicólogos fazem inferências sobre o m undo interior enquanto os behavioristas não Behavioristas pioneiros como John B Watson rejeitavam tais inferências porque as consideravam nãocientíficas Por isso é verdadeira a afirma ção de que o antigo behaviorismo era a psicologia do outro que ele se propunha a estudar somente o comportamento público das pessoas aquele que pudesse ser observado por outras pessoas e que ignorava a consciência O behaviorismo radical por outro lado não faz tais distinções entre os mun dos subjetivo e objetivo Em vez de se concentrar nos métodos ele se concentra em conceitos e termos Assim como a física avançou com a invenção do termo ar uma ciência do comportamento avança com a invenção de seus termos Histórica mente a análise comportamental utilizou conceitos como resposta estímulo e re forço O uso desses conceitos mudou à medida que a ciência progrediu No futuro seu uso pode continuar a mudar ou eles podem ser substituídos por outros termos mais úteis Nos capítulos que se seguirão vamos tom ar muitos termos velhos e novos e avaliálos conforme sua utilidade Vamos perguntar uma e outra vez que termos servem para descrições econômicas e compreensíveis Outra razão para o behaviorismo radical rejeitar o realismo é que este leva a definições confusas do comportamento Em termos do estudo do comportamento o realismo defenderia que há um comportamento real que ocorre no mundo real e que nossos sentidos sejam eles auxiliados por instrumentos ou usados na obser vação direta nos fornecem apenas dados sensoriais sobre aquele comportamento real que nunca conhecemos diretamente Por exemplo se afirmarmos que um homem está movendo seus pés na m a rapidamente um após o outro alguém po deria argumentar que isso não consegue captar o sentido da descrição que o ho mem está correndo na rua Entretanto outra pessoa poderia objetar que isso ainda é insuficiente pois o homem pode estar fazendo exercícios fugindo da polícia ou disputando uma corrida Mesmo se determinarmos que o homem está disputando uma corrida ainda seria possível descrevêlo como uma pessoa que está treinando para as Olimpíadas ou correndo para impressionar sua família e seus amigos Para o realista behaviorista metodológico a melhor maneira de lidar com as diversas descrições possíveis é aterse à primeira descrever a corrida na rua em termos mecânicos tanto quanto possível talvez até especificando os grupos de músculos envolvidos pois aqueles movimentos mecânicos supostamente nos apro ximariam o máximo possível do comportamento real As razões do homem para empenharse nesse comportamento seriam tratadas separadamente No entanto definir o comportamento como uma composição de movimentos dos membros e dos músculos cria uma ambigüidade perturbadora Os mesmos movimentos dos membros e dos músculos podem ocorrer em muitas atividades diferentes No exemplo anterior os m ovim entos do corredor podiam ser parte de um exercício ou de fugir da polícia Dado que os movimentos são os mesmos o Compreender o behaviorismo 45 realista tem de dizer que é o mesmo comportamento mas por nenhuma definição razoável exercitarse e fugir da polícia podem ser o mesmo comportamento O pragm atista behaviorista radical não tendo nenhum compromisso com a idéia de comportamento real pergunta apenas qual das maneiras de descrever o comportamento do homem é mais útil ou nos termos de Mach mais econômica isto é qual delas nos dá a melhor compreensão ou descrição mais coerente É por isso que o behaviorismo radical tende a favorecer os tipos de descrição que incluem as razões do homem para correr como exercitarse e fugir da polícia Uma descrição útil poderia ser O homem está disputando uma corrida na rua como parte de seu treino para ir às Olimpíadas Com efeito poderíamos refinar a descrição ainda mais incorporando as razoes por trás da tentativa de participar das Olimpíadas e outros fatores igualmente Como veremos nos Capítulos 4 e 5 definições coeren tes de atividades devem incluir a função a que servem as razões para desempenhar certo comportamento são parte do próprio comportamento Como o behaviorismo radical responde à pergunta O que é comportamen to A resposta é pragmática Os termos que usamos para falar de comportamento não apenas nos permitem compreendélo mas também o defmem Comportamen to inclui todos os eventos sobre os quais podemos falar com nossos termos inventados O behaviorismo radical investiga as melhores maneiras de falar sobre o comporta mento as mais úteis Se por exemplo é útil dizer que uma pessoa está disputando um a corrida a fim de se classificar para as Olimpíadas então disputar uma corrida para se classificar para as Olimpíadas constitui um evento comportamental No Capítulo 4 quando considerarmos alguns conceitos atualmente empregados pelos analistas comportamentais estaremos também em condições de definir o compor tamento de maneira mais específica A ênfase pragmática sobre a fala os termos e as descrições em oposição à ênfase sobre métodos de observação leva a um dos contrastes notáveis entre behaviorismo metodológico e behaviorismo radical Para o behaviorista radical os fenômenos conscientes estando entre as coisas das quais podemos falar incluem se no estudo do comportamento No Capítulo 3 discutiremos como isso é feito RESUMO A idéia de que pode haver uma ciência do comportamento levanta duas questões 1 o que é ciência E mais especificamente 2 que visão de ciência se aplica ao comportamento Os behavioristas radicais vêem a ciência no contexto da tradição filosófica do pragmatismo O pragmatismo contrasta com o realismo concepção adotada por muitos cientistas anteriores ao século XX e por behavioristas do come ço daquele século O realismo sustenta que há um mundo real fora de nós e que esse m undo real externo dá origem a experiências internas em cada um de nós O rnundo externo é considerado objetivo enquanto o mundo da experiência interna e considerado subjetivo No realismo a ciência consiste na descoberta da verdade sobre o universo objetivo Porém como não temos conhecimento direto do mundo externo mas apenas de nossa experiência interna que nos é dada pelos sentidos 46 William M Baum filósofos como Bertrand RusselI argumentaram que a ciência deve proceder racio cinando a partir de dados sensoriais sobre o que deve ser o universo objetivo Nos sas experiências do mundo real são explicadas quando nosso raciocínio nos leva à verdade última sobre ele O pragmatismo ao contrário não faz nenhuma suposi ção sobre um mundo real externo indiretamente conhecido Ao invés concentra se na tarefa de compreender nossas experiências Perguntas e respostas que nos ajudam a entender o que acontece a nossa volta são úteis Perguntas que não fazem diferença para nossa compreensão como a pergunta sobre a existência de um uni verso real fora de nós não merecem atenção Não há verdade última absoluta em vez disso a verdade de um conceito reside em sua capacidade de articular parcelas de nossa experiência organizálas ou compreendêlas Para pragmatistas como William James e Ernst Mach esse processo de unificar várias partes de nossa expe riência é o que constitui a explicação Na visão de Mach falar de maneira eficaz sobre nossas experiências isto é a comunicação é exatamente o mesmo que explicar Ele sustentava que desde que possamos falar sobre um evento em termos familiares ele estará explicado Na medida em que falar sobre eventos em termos familiares é chamado de descrição explicação e descrição são a mesma coisa A ciência descobre apenas conceitos que tomam nossa experiência mais compreensível Enquanto o behaviorismo radical se baseia no pragmatismo o behaviorismo metodológico se baseava no realismo O behaviorismo radical rejeita o dualismo de mundos interno e externo considerao inimigo de um a ciência do comportamento e no lugar propõe uma ciência baseada no comportamento em um mundo único Para o realista o comportamento real ocorre no mundo real e esse comportamen to real é acessível apenas indiretamente através dos sentidos Conseqüentemente o behaviorista metodológico tenta descrever os eventos comportamentais em ter mos tão mecânicos quanto possível o mais próximo possível da fisiologia O behaviorista radical em vez disso busca termos descritivos que sejam úteis para a compreensão do comportamento e econômicos para sua discussão Descrições prag máticas do comportamento incluem seus fins e o contexto no qual ocorre Para o behaviorista radical termos descritivos tanto explicam quanto definem o que é comportamento LEITURAS ADICIONAIS Berkeley G Principies of human knowledge In E A Burtt ed 1939 The English phüosophers from Bacon to Mül Nova York Random House p 509579 Publicado original mente em 2 710 Esse ensaio clássico inclui a crítica de Berkeley ao realismo Day W 1980 The histórica antecede nts of contemporary behaviorism In R W Rieber e K Salzinger eds Psychology theoreticalhistorical perspectives Nova York Academic Press p 203262 Nesse artigo Day discute a relação entre pragmatismo e behaviorismo radical Farrington B 1980 Greek Science Nottingham RusselI Press Excelente livro sobre o iní cio da ciência grega N de T Título traduzido em português ver Apêndice Compreender o behaviorismo 47 James W 1974 Pragmatism and four essays from The meaning of truth Nova York New American Library Publicado originalmente em 1907 e 1909 Nesse livro podem ser encon tradas as idéias de James sobre o pragmatismo Kuhn T S 1970 The structure of scientific revolutions Chicago University of Chicago Press 2 ed A extensão do pensamento pragmatista elaborada por Kuhn é resumida nesse livro Mach E 1960 The science of mechanics a critical and historical account of its development La Salle Illinois Open Court Publishing Publicado originalmente em 1933 Aplicação do pragmatismo à ciência física por Mach Russell B 1965 On the philosophy of science Nova York BobbsMerrill A visão de Russell sobre ciência pode ser encontrada nessa coleção de ensaios TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 2 Dados sensoriais Economia conceituai Horror vacui Pragmatismo Psicologia popular Realismo Realismo ingênuo Realismo popular Teoria dos dados sensoriais N de T Título traduzido em português ver Apêndice Público privado natural e fictício V imos no Capítulo 2 que o behaviorismo radical não faz distinção entre fenôme nos subjetivos e objetivos no sentido tradicional Neste capítulo veremos que mes mo atribuindo pouca importância à distinção entre eventos públicos e privados que grosseiramente correspondem aos mundos objetivo e subjetivo o behaviorismo radical efetivamente estabelece outras distinções A mais importante é a distinção entre eventos naturais e fictícios MENTÂUSMO O termo mentalismo foi adotado por B F Skinner para se referir a um tipo de explicação que na verdade não explica nada Suponha que você pergunte a um amigo por que ele comprou um par de sapatos e a resposta seja Comprei porque quis ou Comprei por impulso Embora essas afirmações soem como explicações você na verdade não avançou nada em relação à sua pergunta Essas não explica ções são exemplos de mentalismo Ao definir um a ciência do comportamento os behavioristas radicais se con centram na distinção entre explicações válidas e explicações falsas Para os pragmatistas James e Mach ver Capítulo 2 uma explicação válida era lima des crição em termos compreensíveis No mesmo sentido o behaviorismo radical bus ca um conjunto de termos que tomem compreensível um evento como comprar um par de sapatos Ao desenvolver esse conjunto de termos será igualmente útil considerar por que term os como quis e impulso são insuficientes 50 William M Baum Eventos públicos e privados Eventos públicos são eventos que podem ser relatados por mais de uma pessoa Um temporal é um evento público pois eu e você podemos falar dele E claro que muitos eventos públicos não são relatados Podemos ambos ouvir o canto de um pássaro mas não é necessário que falemos disso Mesmo que eu ouça o pássaro quando estou sozinho isso ainda é um evento público pois poderíamos conversar a respeito se você estivesse por perto Em circunstâncias comuns pensamentos sentimentos e sensações são even tos privados porque só uma pessoa pode relatálos mesmo que outras estejam presentes Raquel não pode dizer o que Paula está pensando neste momento por que os pensamentos de Paula são eventos privados Apenas Paula pode relatar seus pensamentos Há dois pontos importantes com relação à distinção públicoprivado Primei ro para o behaviorista radical a distinção tem pouco significado A única diferença entre eventos públicos e privados é o número dê pessoas que podem relatálos Fora isso são eventos do mesmo tipo e possuem as mesmas propriedades Skinner 1969 expressou essa idéia ao afirmar A pele não é tão importante como frontei ra De fato se o registro do cérebro pudesse revelar o que alguém pensa o pensa mento se deslocaria de um evento privado para um evento público sendo a única mudança que então ele poderia ser observado por mais de uma pessoa Assim o tipo de privacidade aqui envolvida é a privacidade de que você usufrui quando está só Se eu espirrar quando estiver sozinho o evento é privado somente porque nin guém mais o observa Ainda que não tenhamos hoje tecnologia para ler os pensa mentos de uma pessoa a possibilidade deve existir de que algum dia com os ins trumentos corretos os pensamentos poderão ser observados por mais de uma pes soa Atribuir uma importância adicional à distinção públicoprivado equivale a reinstalar a distinção objetivosubjetivo sob um a forma diferente Segundo eventos públicos e privados são ambos eventos naturais Se eu pen so Está um dia lindo isso é um evento natural Se eu digo Está um dia lindo isso é um evento natural Se vou à praia isso também é um evento natural São todos eventos do mesmo tipo Eventos naturais Todas as ciências lidam com eventos naturais sejam eles objetos em movi mento reações químicas Crescimento de um tecido estrelas que explodem sele ção natural ou a ação corporal A análise comportamental não é diferente Os eventos naturais específicos que são objeto de estudo da análise comporta mental são aqueles atribuídos a organismos vivos e integrais O comportamento de pedras e estrelas não é parte do objeto de estudo porque pedras e estrelas não estão vivos O comportamento de uma célula de um fígado ou de um a perna não faz parte desse objeto porque não são organismos inteiros No entanto quando meu cão late esse evento o latido do meu cão é atribuído ao organismo como um Compreender o behaviorismo 51 todo meu cão Se eu disser O céu está azul essa verbalização evento é atribuída a mim ela é digamos meu relato de que o céu está azul O mesmo pode ser dito de eventos privados Se eu pensar O carro está fazendo um barulho diferente esse evento é atribuído a mim enquanto organismo como um todo é o meu pensar Esses são os tipos de eventos que estaremos designando neste livro simplesmente como comportamento subentendendose a expressão adicional do organismo como um todo Eventos privados podem ser incluídos na análise do comportamento porque a ciência requer apenas que os eventos sejam naturais eles devem ser observáveis por princípio isto é devem ser localizáveis no tempo e no espaço mas não há nenhum a exigência de que sejam observáveis na prática No Capítulo 2 vimos que um a das observações de Mach sobre o ar era a de que embora observemos muitos fenômenos que atribuímos ao ar não podemos observar o próprio ar Se pudésse mos inventar um a maneira de colorir o ar então poderíamos observálo Natural menta e fictício Na linguagem coloquial as mais diferentes coisas são classificadas como mentais pensamentos sentimentos sensações emoções alucinações e assim por diante Mental é um adjetivo derivado de mente O que todas as coisas classificadas como mentais têm a ver com a mente A maioria das pessoas afirmará que possui uma mente muitos se sentiriam insultados se lhes fosse dito que não a possuem Não ter uma mente é visto como algo ru im A língua inglesa incorpora essa teoria ter uma mente significa ter pensamentos sentimentos emoções e assim por diante e como temos isso tudo somos levados a concluir que cada um de nós tem uma mente O raciocínio porém é circular A única razão para supormos que cada um de nós tem uma m ente é que todos nós sabemos que temos pensamentos isto é todos nós sabe mos que pensamos Examinando expressões em inglês com a palavra mente parece haver dois usos principais da palavra Algumas vezes ela é um lugar ou espaço um tipo de arena ou teatro como quando dizemos Tenho algo em mente ou Posso vêlo neste momento em minha m ente Outras vezes ela parece ser um ator ou agente atuando em seu próprio domínio por exemplo quando se afirma Minha mente vagava por outras paragens ou A filosofia é um dos produtos mais sublimes da m ente hum ana Mas onde está esse espaço ou objeto De que é feito A noção de mente é problemática para uma ciência do comportamento por que a mente não é parte da natureza Se um cirurgião abrir o seu crânio esperase encontrar dentro dele um cérebro O cérebro poderia ser retirado manuseado pesado medido poderíamos inclusive brincar com ele Nada disso poderia ser dito de sua mente No mínimo um objeto de estudo científico precisa ser localizável no N de T A expressão não ter uma mente é tradução literal de mindlessness que também significa estupidez idiotice imbecilidade descuido desatenção esquecimento etc 52 William M Baum tempo e no espaço Seu cérebro sempre tem uma certa localização num certo momento A mente pelo contrário não tem nenhuma das propriedades de um objeto natural As frases mais reveladoras contendo mente em inglês são aquelas em que o termo aparece como verbo ou parte de um advérbio como quando se diz Mind how you go ou I was minding my own business ou I was mindful ofthe danger Os exem plos sugerem que a mente ou o atributo mental é uma qualidade de certos tipos de comportamento comportamento deliberado refletido consciente Alguns compor tamentos são designados como cuidadosos outros como inteligentes alguns como intencionais e alguns como privados Sempre que um comportamento parece inten cional inteligente ou privado as pessoas são tentadas a avançar o sinal e supor que ele envolve a mente Mas isso não é necessário e o behaviorista radical sustenta que na ciência do comportamento isso nao pode ser feito Como veremos nos capítulos posteriores no entanto continua sendo interessante indagar por que certos compor tamentos são chamados de conscientes intencionais ou inteligentes Não posso saber que tenho uma mente no mesmo sentido em que sei que penso sinto e sonho Pensamentos sensações e sonhos são eventos privados natu rais e freqüentemente observáveis por aquele que os experimenta Em contraste a mente e todas as suas partes e processos são fictícios Dizer que a mente é fictícia é dizer que ela é inventada que é um fazde conta Não tenho uma mente da mesma forma que não tenho uma fada madrinha Posso lhe falar sobre minha mente ou sobre minha fada madrinha mas isso não as tom a menos fictícias Ninguém jamais viu qualquer uma delas Recentemente após uma conferência um filósofo presente na audiência argumentou que podia obser var minha mente trabalhando à medida que eu falava Fiquei tentado a responder Na verdade você está vendo o trabalho da minha fada madrinha ela está aqui no meu ombro sussurrando ao meu ouvido Faz tanto sentido considerar a fala ou a resolução de problemas como produto do trabalho da mente como considerar o amor e o casamento como produtos do trabalho de uma fada madrinha Ambas as considerações são possíveis evidentemente como brincadeira ou poesia mas em ciência esse tipo de discurso é inútil A linguagem cotidiana sobre coisas e eventos mentais inclui tanto eventos privados quanto coisas e eventos fictícios Pensar e ver são eventos privados e natu rais enquanto mente vontade psyche personalidade e ego são todos fictícios Quando os behavioristas metodológicos acataram em sua ciência coisas e eventos públicos e excluíram coisas e eventos mentais em sentido coloquial excluíram eventos privados junto com coisas e eventos fictícios Ao contrário os behavioristas radicais admitem todos os eventos naturais incluindo eventos públicos e privados e excluem apenas os eventos fictícios A distinção entre natural e fictício além disso não tem nada a ver com o modo como são estudados isto é com a metodologia N de T As frases poderiam ser traduzidas para Preste atenção em como você anda Eu estava cuidando da minha própria vida Eu estava ciente do perigo Na tradução porém perdese o jogo de palavras em que o termo mente é empregado Compreender o behcjYiorismo 53 Coisas e eventos fictícios são inobserváveis mesmo em princípio Ninguém até agora observou uma mente um desejo um impulso ou uma personalidade são todos inferidos do comportamento Uma pessoa que se comporta agressiva mente por exemplo é considerada portadora de uma personalidade agressiva Mas ninguém jamais verá a personalidade vêse apenas o comportamento Ser inobservável porém não é necessariamente uma desvantagem Exami namos anteriorm ente o exemplo do ar e é fácil pensar em outros conceitos inobserváveis porém aceitáveis átomos moléculas radiação eletricidade genes Todos poderiam ser considerados invenções tanto quanto descobertas 0 que há de errado então com as ficções mentais Objeções ao mentaiismo O mentaiismo é a prática de invocar ficções mentais para tentar explicar o compor tam ento Mente vontade ego e outros conceitos são muitas vezes chamados de ficções explanatórias não porque expliquem algo mas porque supostamente expli cam A objeção central é que não conseguem explicar aquilo a que se propõem Há dois tipos de razão para não conseguirem autonomia e redundância Autonomia causas mentais obstruem a investigação Chamamos de autonomia a capacidade de se comportar Uma coisa é autônoma se atribuímos a ela seu comportamento Uma pessoa um rato ou um peixe são autô nomos nesse sentido pois dizemos que cada um deles se comporta Não há ne nhum problema em atribuir o comportamento aos organismos o problema surge quando o comportamento é atribuído a partes dos organismos particularmente a partes ocultas Na visão de comportamento do realista quando se estabelece uma distinção entre dentro e fora do sujeito parece que deve existir um eu real o meu eu em algum lugar dentro de mim controlando meu corpo externo É como se hou vesse um a pessoazinha dentro um homúnculo que recebe os dados sensoriais dos órgãos dos sentidos e então controla os movimentos do corpo Essa pessoazinha é freqüentemente retratada em caricaturas e em desenhos animados ocupando uma sala de controle interno com telas altofalantes alavancas e botões E fácil perceber que isso não é um a explicação do comportamento mas a visão do realis ta embora menos literal é vítima dos mesmos problemas da noção de homúnculo Os problemas surgem porque a pessoazinha ou o eu interior é autônomo Se fosse verdade que meu comportamento exterior é apenas o resultado do comporta m ento desse eu interior então uma ciência do comportamento teria de estudar o comportamento desse eu interior É impossível estudar o eu interior pelas mesmas razões por que é impossível estudar o homúnculo interior ambos são ficções construídas para tentar dar sentido ao comportamento à luz da divisão prévia en tre dentro e fora do sujeito Uma ciência do comportamento baseada em tais distinções nunca poderia dar certo como não poderiam uma ciência da mecânica 54 William M Baum baseada nas emoções internas da matéria ou uma ciência da fisiologia baseada em uma vis viva interior Em vez disso os eventos de interesse são atribuídos aos obje tos em estudo à rocha ou à esfera na mecânica à célula ou ao tecido na fisiologia e ao organismo como um todo em uma ciência do comportamento Quando os eventos são atribuídos a alguma entidade interna oculta não ape nas a investigação científica é desviada para a tarefa impossível de compreender aquela entidade oculta também a curiosidade tende a cessar A continuidade da investigação é impedida não apenas pela evidente dificuldade da tarefa mas tam bém porque uma explicação aparente é tomada como a explicação verdadeira Esses efeitos acontecem a toda hora no intercâmbio social normal quando uma pessoa a quem se pergunta Por que você fez isso responde Porque me deu vontade ou Eu tive um impulso ou Foi o diabo que me fez fazer isso Somos dissuadidos com tais evasivas seria descortês continuar perguntando e a proposta de uma explicação qualquer impede que continuemos a indagação Como cientis tas no entanto teríamos de ver mais cedo ou mais tarde a inadequação dessas não explicações e investigar mais além Essa inadequação nos leva ao segundo grande defeito do mentalismo Redundância fícções exphnatórias sâo antieconômicas Mesmo ignorando o modo pelo qual as entidades autônomas internas obstruem a indagação elas são inaceitáveis porque pelos padrões científicos normais não são explicações reais Todas as ficções explanatórias autônomas ou não são insuficien tes Além de obstruírem a indagação afirmações como Foi o diabo que me fez fazer isso e Meu eu interno me fez fazer isso não conseguem nenhuma delas explicar o comportamento Mesmo que um impulso interno não fosse considerado autônomo afirmativas do tipo Eu fiz por impulso não constituem uma explicação pelo mesmo motivo o diabo o eu interior e o impulso são todos supérfluos As explicações mentalistas inferem um a entidade fictícia a partir do compor tamento e então afirmam que a entidade inferida é a causa do comportamento Quando se diz que uma pessoa come verduras pelo desejo de manterse saudável ou por sua crença no vegetarianismo essa descrição se origina antes de tudo da observação do comportamento de comer verduras portanto a razão para se dizer que há um desejo ou uma crença é a atividade Essa explicação é inteiramente circular a pessoa tem o desejo por causa de seu comportamento e exibe o compor tamento por causa do desejo A explicação não nos leva além da observação origi nal pois dizer que Verônica acredita no vegetarianismo é dizer que ela come verdu ras Pode dizer algo mais que ela lê revistas de vegetarianos vai a encontros de uma sociedade vegetariana e assim por diante mas sua crença ainda é inferida a partir de seu comportamento A ciência da mecânica enfrentou o mesmo tipo de problema quando se pen sou que o horror vacai explicava os fatos da sucção o mesmo ocorreu com a fisio logia quando a vis viva foi tomada como explicação para o metabolismo celular O horror vacui era inferido dos fatos da sucção e a vis viva era inferida do metabolis mo celular Não se pode na verdade dizer que essas causas inferidas expliquem o Compreender o behaviorismo 55 que quer que seja porque não oferecem uma visão mais simples da sucção ou do metabolismo celular Pelo contrário elas se colocam por assim dizer por detrás dos eventos observados produzindòos misteriosamente Horror vacui vis viva e ficções mentais são todos inúteis porque são antieco nômicos para usar um termo de Mach As ficções mentais são antieconômicas porque em vez de simplificarem nossa percepção dos eventos descrevendoos com poucos conceitos já conhecidos tornam a questão mais complicada de dois mo dos Primeiro como já observamos elas meramente reformulam a observação ori ginal acrescentando algum conceito supérfluo Se aceitarmos a idéia de que Verônica come verduras devido a sua crença no vegetarianismo teremos agora de explicar tanto seus hábitos alimentares quanto sua crença enquanto antes precisávamos explicar apenas seus hábitos alimentares Se o que digo depende do que minha fada m adrinha me fala então teríamos de explicar tanto o fato de que ela fale comigo quanto o de que eu a ouça Segundo a causa invocada não tem nenhuma relação clara com os eventos observados Se dissermos que um adolescente rouba carros devido a sua baixa autoestima temos de indagar como essa baixa autoestima poderia levar a roubar carros No Capítulo 1 vimos que um dos problemas com a noção de livrearbítrio é que a conexão entre o livrearbítrio um evento nãonatural e o ato de tomar sorve te um evento natural será sempre misteriosa A mesma dificuldade surge com qualquer evento nãonatural atribuído à mente Nesse contexto esse é o chamado problema mentecoipo que se expressa na indagação como uma coisa nãonatural pode afetar um a coisa natural Todas as causas mentais colocam esse problema da conexão misteriosa Tal qual a mente todas as causas mentais fictícias se existis sem seriam nãonaturais Elas não podem ser encontradas no corpo jamais se encontrou uma crença atitude personalidade ou ego no coração no fígado ou no cérebro de ninguém Elas nunca são medidas exceto através do comportamento como por exemplo através de respostas a um questionário Como esse ripo de coisa poderia causar o comportamento O problema mentecorpo nunca foi e nunca será resolvido porque é uma pseudoquestão uma questão que em si mesma não faz sentido Quantos anjos po dem dançar sobre a cabeça de um alfinete O que acontece quando uma força irresistível encontra um objeto impossível de ser movido Cada uma dessas ques tões supõe uma premissa sem sentido a de que um anjo poderia dançar sobre a cabeça de um alfinete ou a de que é possível uma força irresistível coexistir com um objeto inamovível A premissa sem sentido subjacente à questão mentecorpo é a idéia de que ficções eomo mente atitude ou crença possam de algum modo cau sar comportamentos Em resposta a esse argumento freqüentemente se sugere que atitudes cren ças desejos e causas desse tipo existem como coisas dentro do cérebro Entretanto nosso estágio atual de compreensão do cérebro não permite tal afirmação Talvez algum dia se venha a compreender suficientemente o funcionamento do cérebro para lançar luz sobre os mecanismos subjacentes ao comportamento de estudar para uma prova ou de roubar uma loja mas esse dia parece distante se é que chegará A análise do comportamento não precisa esperar as descobertas sobre o sistema nervoso assim como a fisiologia não precisou esperar as descobertas da 56 William M Baum bioquímica Atualmente o funcionamento da célula é em geral explicado pela bio química mas os fisiólogos compreenderam essa matéria utilizando conceitos como membrana osmose metabolismo e mitose antes que os químicos estivessem em condições de contribuir para esse estudo Da mesma forma a análise comporta mental pode compreender o comportamento no nível de sua interação com o am biente sem qualquer ajuda dos neurofisiólogos Certamente quando chegar a con tribuição dos neurofisiólogos os analistas de comportamento já terão descrito fe nômenos que poderão ser ainda mais bem explicados por referência a mecanismos somáticos A objeção dos behavioristas radicais ao mentaiismo é na realidade uma ob jeção ao dualismo isto é à idéia de que dois tipos de existência material e não material ou dois tipos de termos referentes ao material e ao nãomaterial são necessários para uma compreensão total do comportamento Todas as ciências não apenas a análise do comportamento rejeitam o dualismo porque causa confu são e é antieconômico Quando Newton afirmou Hypotheses non fingo Eu não faço hipóteses ele queria dizer com hipóteses as causas nãomateriais sobrenatu rais que de algum modo estariam subjacentes aos eventos naturais Os escritos de René Descartes 15961650 tiveram influência no estabeleci mento do dualismo na psicologia Embora Descartes tenha dado muitas contribui ções maravilhosas à matemática e à filosofia sua visão de comportamento não foi útil Ele propôs que os corpos de animais e de homens eram máquinas complexas que trabalhavam de acordo com mecanismos naturais simples Imaginava que o cérebro e os nervos eram preenchidos com um fluido tênue os espíritos animais que fluíam para os músculos produzindo a ação De acordo com a teologia cristã ele sustentava que enquanto os animais eram meramente máquinas os horhens tinham também uma alma Supunha que a alma influenciava o comportamento ativando um a glândula no meio do cérebro a glândula pineal que afetava o fluxo dos espíritos animais Embora essa idéia específica nunca tenha sido aceita a no ção de que o comportamento humano depende da alma permaneceu Posterior mente à medida que a psicologia se tornou mais científica os psicólogos distan ciaramse da teologia cristã substituindo a alma pela mente Nem a glândula pineal nem a mente resolveram o problema levantado pelo dualismo cartesiano o misté rio do fantasm a na máquina Mesmo que a ativação da glândula pineal afetasse o comportamento o mistério continuaria como a alma ativa a glândula pineal Mes mo que a mente não seja transcendental ainda assim ela é imaterial nãonatural e em relação ao comportamento é tão quimérica quanto a alma Não há lugar para esses mistérios na ciência ERROS DE CATEGORIA O filósofo Gilbert Ryle 19001976 também atacou o mentaiismo mas seguiu uma abordagem diferente de Skinner Enquanto Skinner propôs excluir da análise do comportamento termos como mente inteligência razão e crença Ryle achava que os termos poderiam ser úteis se pudéssemos evitar usálos de modo ilógico O pro blema com um termo como inteligência é unicamente que as pessoas dirão que Compreender o behaviorismo 57 Marcus exibe comportamento inteligente e inteligência Enquanto Skinner tratava a inteligência como um a ficção mental inferida do comportamento inteligente Ryle argumentava que a inteligência é comportamento inteligente e que considerar um a causa do outro ou mesmo considerar os dois como ligados de algum modo envolve um erro lógico um erro de categoria Se estamos nom eando exemplos de frutas uma categoria e proponho ce noura como exemplo esse é um erro de categoria porque cenoura não é um a fruta Há vários tipos de erros de categoria várias maneiras através das quais um suposto exemplo pode não pertencer a uma categoria à qual é equivocadamente atribuído Ryle preocupavase com um tipo particular de erro de categoria Suponha que estamos novamente nomeando frutas e alguém sugere vegetais Esse é um tipo de erro diferente de cenoura Vegetais não apenas pertence a uma outra categoria similar é em si próprio o rótulo de uma outra categoria como seriarutas Pareceria até mais estranho em nosso jogo de nomear frutas se alguém sugerisse frutas Não apenas frutas é o rótulo de uma categoria e não um possível membro dela mas é o rótulo da própria categoria de que estamos nomeando exem plos Esse erro de tratar frutas como se fosse um exemplo de frutas é exatam ente o tipo de erro que Ryle considera que ocorre no mentalismo Suponha que nosso jogo agora seja nomear comportamentos inteligentes Os jogadores sugerem fazer contas jogar xadrez projetar uma casa fazer um a coreo grafia e assim por diante Então alguém sugere inteligência Isso pareceria errado de acordo com a perspectiva de Ryle pela mesma razão que era errado responder frutas em nosso jogo de nomear frutas Iriteligência é o rótulo da categoria à qual pertencem os comportamentos de fazer contas jogar xadrez projetar uma casa e fazer uma coreografia Esses comportamentos são todos exemplos de inteligência O erro é tratar o rótulo como se fosse um caso da categoria A provável objeção a esse argumento seria Não o que eu quis dizer por inteligência não é o conjunto desses comportamentos mas algo subjacente a eles que os torna possíveis que os causa Mas onde está essa inteligência De que é feita Como poderia causar o comportamento Sua natureza fantasmagórica deri va do fato de ser o rótulo da categoria e não um de seus exemplos A razão por que o erro lógico ocorre tão facilmente é que a objeção citada exemplifica uma teoria comum sobre o comportamento designada por Ryle de hipótese paramecânica Ryle e a hipótese paramecânica A hipótese param ecânica é a idéia de que os termos que são logicamente rótulos de categorias referemse a coisas fantasmagóricas em algum espaço fantasmagórico a mente e que essas quimeras de alguma forma causam o comportamento me canicam ente Essa é exatam ente a mesma idéia que Skinner denom inava de mentalismo Enquanto Skinner enfatizava os problemas práticos implícitos no mentalismo o fato de ser diversionista e inútil Ryle enfatizava seus problemas lógicos Para ilustrar Ryle apontou o conceito de espírito de equipe Quando assisti mos a um jogo de futebol e vemos os jogadores gritando para encorajar uns aos 58 William M Boum outros dando tapinhas nas costas quando erram e abraçandose quando acertam dizemos que estão demonstrando espírito de equipe Não estamos insinuando que algum espírito fantasmagórico está correndo junto com eles de um lado para outro do campo pairando sobre suas cabeças Se um estrangeiro perguntasse Eu os vejo gritando batendo nas costas e se abraçando mas onde está o famoso espírito de equipe consideraríamos a pergunta imprópria e pensaríamos que o estrangei ro não entendeu o conceito Poderíamos explicar que gritar dar tapinhas e abraçar são o espírito de equipe Estaríamos dizendo que aquelas atividades são exemplos da categoria de atividades que rotulamos de espirito de equipe Elas não são os únicos casos poderíamos expandir bastante a lista O erro do estrangeiro foi provocado pelo modo como falamos de espírito de equipe dizemos que o time o demonstra Por isso o estrangeiro pensou que seria correto colocar lado a lado gritar dar tapinhas abraçar e dem onstrar espírito de equipe É o mesmo erro de colocar lado a lado fazer contas jogar xadrez fazer um a coreografia e demonstrar inteligência Assim como demonstrar espírito de equipe é um rótulo para uma categoria de comportamento também demonstrar inteligên cia é um rótulo para uma categoria de comportamento Fazer contas e jogar xadrez são exemplos da categoria demonstrar inteligência Não há nenhum a inteligência quimérica nenhuma coisa a inteligência a ser demonstrada Ryle aplicou seu argumento a todos os tipos de capacidades e estados mentais que supostamente são demonstrados pelo comportamento ou que causam o com portamento conhecimento intenção emoção e outros Por exemplo por que dize mos Fábio está apaixonado por Juliana Ele compra flores para ela escreve poe sia gagueja e fica vermelho em sua presença declaralhe amor e assim por diante Fábio não faz essas coisas e ama Juliana ou porque ama Juliana o fato de Fábio fazer essas coisas é estar apaixonado por Juliana Em alguns dos capítulos seguintes veremos como o argumento de Ryle se aplica a outros termos Embora tenha atacado o mentalismo primariamente em bases lógicas seus argumentos e os de Skinner diferem principalmente em ênfase a semente das objeções pragmáticas de Skinner pode ser encontrada nos escritos de Ryle e a base das objeções lógicas de Ryle pode ser encontrada nos escritos de Sldnner A principal discordância entre os dois parece ser que Skinner pretendia excluir os termos mentalistas das discussões técnicas sobre o comportamento ao passo que Ryle sugeria que eles poderiam ser usados desde que lembrássemos que amor crença expectativa atitude e termos semelhantes são na verdade apenas rótulos de categorias de comportamento Outros filósofos criticaram os argumentos de Ryle Eles não os consideraram sólidos por duas razões principais Primeiro o uso que Ryle faz de categoria pare cia supor um a condição inaceitavelmente aberta isto é demonstrar inteligência ou estar apaixonado poderiam incorporar um número infinito de atividades que evitaria a especificação exata de quais atividades devem ser tomadas como exemplos da categoria Segundo a insistência de Ryle de que a verdade do relato de um a sensação pura tal como a dor depende inteiram ente necessita da presença de atividades públicas não requer que Eu sinto dor signifique apenas Estou contraído e me contorcendo O filósofo Richard Rorty 1979 por exem plo propõe a crítica do seguinte modo Compreender o behoviorismo B9 O argumento de Ryle foi atacado em termos de que não parece haver meio de fazer uma descrição completa da disposição requerida para se comportar sem fornecer listas infinitamente longas de movimentos e ruídos possíveis Também foi atacado em termos de que qualquer necessidade que se ponha em questão não é um problema de significado mas simplesmente a expressão do fato de que costumamos explicar certos comportamentos em referência a certos estados internos de modo que a necessidade não é mais lingüística ou conceituai do que a que conecta a vermelhidão de um forno ao fogo que está em seu interior 1979 p 98 A última afirmação parece incorreta porque haver fogo no interior de um forno é um a relação claramente física enquanto haver uma crença no interior de uma pessoa não transmite a mesma clareza e as outras afirmações dependem to das de uma visão m entalista de categorias linguagem e significado Independente mente dos filósofos serem persuadidos ou não por essas objeções os behavioristas se fundamentam nas afirmações de Ryle levandoas além com conceitos adicio nais No Capítulo 6 em que consideramos o conceito de controle de estímulos superaremos a objeção sobre a condição aberta das categorias e no Capítulo 7 em que tratamos do comportamento verbal superaremos a objeção sobre significa do Por ora no entanto veremos como a idéia de Ryle sobre categorias pode ser substituída pela idéia mais concreta de uma atividade 0 behaviorismo mofar de Rachlin Howard Rachlin behavíorista contemporâneo levou o argumento de Ryle um pas so adiante Desde a década de 1930 pelo menos alguns behavioristas vêm sugerin do que o comportamento não pode ser compreendido focalizando a atenção ape nas em eventos do momento No século XIX e na primeira metade do século XX eram inúmeras as concepções atomistas sobre a mente e o comportamento Dado que a única unidade de comportamento bem compreendida era o reflexo o discur so sobre o comportamento tendia a ser fraseado em termos de estímulo e resposta eventos instantâneos e a relação mais importante entre eventos era considerada sua proximidade m om entânea no tempo a contiguidade Os críticos das teorias que enfatizavam eventos instantâneos e sua contiguidade denominavam essa visão de molecular e propunham em substituição análises que cham aram de m olares Os teóricos molares argumentam que as concepções moleculares do comportamento malogram por dois motivos Primeiro o comporta mento presente depende não só de eventos presentes mas também de muitos eventos passados Esses eventos passados afetam o comportamento como um conjunto não como acontecimentos instantâneos A razão por que evito comer alimentos gordurosos hoje é que comi muito desses alimentos no passado e engordei nada disso aconteceu em um momento particular no tempo Segundo o comportamento não pode ser instantâneo não importa quão breve seja ele sempre tem uma dura ção Escovar meus dentes pode ser um único evento mas leva um tempo Se eu somar a duração de todas as atividades do meu dia elas devem chegar a 24 horas 60 William M Baum Rachlin via nas idéias de Ryle um a justificativa e um a extensão desse segundo princípio da teoria molar de que as unidades de comportamento isto é as ativida des estendemse no tempo O amor de Fábiopor Juliana não ocorre em nenhum tempo particular porque é um conjunto completo de atividades que ocorrem em tempos diferentes Seria absurdo dizer que Fábio não am a Juliana neste momento porque ele está trabalhando em vez de estar lhe dando flores cobrindoa de mi mos ou praticando qualquer das outras atividades que incluem amar Juliana E perfeitamente razoável dizer que Fábio ama Juliana agora e a vem amando há muitos anos embora tenha passado a maior parte de seu tempo trabalhando e dormindo A solução comum para esse problema de Fábio amar Juliana todo o tempo e ainda assim não demonstrar amor por Juliana todo o tempo é a hipótese paramecânica inventar uma coisaamor fantasmagórica um a ficção mental que está lá o tempo todo para causar o comportamento de amar de Fábio quando ele ocorre e para preencher os períodos de tempo intermediários A despeito do quan to essa idéia possa parecer atraente já vimos que não é realm ente uma solução porque é confusa e antieconômica Skinner e logicamente deficiente Ryle De acordo com a perspectiva de Rachlin o que importa sobre o amor de Fábio é a freqüência com que suas atividades de amar ocorrem Fábio amar Juliana e Fábio demonstrar amor por Juliana são na verdade apenas dois rótulos para a mesma categoria de comportamento Faz sentido dizer que Fábio ama Juliana há anos porque ao longo desses anos as atividades da categoria amar ocorreram com freqüência relativamente alta Fábio demonstrou não um am or mental interno qui mérico mas uma alta taxa de atividades de amar Essas atividades não precisamser a única coisa que ele faz só precisam ocorrer com freqüência suficiente Na verda de a taxa dessas atividades é crucial Se Fábio telefonasse para Juliana apenas uma vez por mês e comprasse flores somente uma vez por ano ela poderia desconfiar de sua sinceridade especialmente se ele telefona para Dolores todo dia e lhe dá flores duas vezes por semana Se Fábio declara que am a Juliana agora e para sem pre ele está prevendo que suas atividades da categoria am ar continuarão ocorren do com alta freqüência Atividades são episódicas Fábio pode trabalhar por algum tempo então falar ao telefone com Juliana por algum tempo então trabalhar mais ura pouco então devanear sobre Juliana então almoçar e depois trabalhar um pouco mais A con versa com Juliana e devanear sobre ela são episódios de amála São partes da atividade estendida de amar Juliana Durante o período que estamos examinando Fábio passa algum tempo trabalhando algum tempo m antendo sua saúde ao co mer e algum tempo amando Juliana Como abreviação para um episódio de uma atividade vamos usar a palavra açao Fábio alterna ações de amor com outras ações por exemplo episódios de trabalho ao longo de todo o dia Isto é o que nos faz dizer que Fábio ama Juliana Os argumentos de Rachlin aplicamse a todos os termos que parecem se refe rir a causas internas do comportamento sejam estados da mente como amor e raiva ou disposições comportamentais como intenções e crenças Ele ilustrou esse ponto com uma discussão do que significa sentir dor Rachlin 1985 Como no caso do amor sentir dor é o mesmo que demonstrar dor e engajarse em atividades que caem na categoria de comportamento de dor fazer caretas gemer encolher Compreender o behoWorismo 61 se gritar agitarse andar mancando e assim por diante Dizer ou não que uma pessoa está sentindo dor depende apenas da freqüência dessas atividades e do contexto em que elas ocorrem Se uma pessoa geme somente uma vez por semana ou apenas quando sua mãe está por perto somos propensos a concluir que ela está fingindo Um ator pode nos convencer completamente de que está com dor no palco mas quando o vemos depois da peça rindo e conversando dizemos que esta va apenas representando Afirmamos com segurança que alguém está com dor somente se o comportamento de dor ocorrer em taxa alta e consistente Se estar dolorido assim como estar apaixonado é simplesmente demonstrar comportamento de dor freqüentem ente e em todas as circunstâncias então não há nenhuma dor mental interna fantasmagórica assim como não havia nenhum amor mental inter no fantasmagórico Em outras palavras não há uma coisa dor que é sentida Em vez disso sentir dor ou estar em agonia é em si uma atividade completa ou um agregado de atividades Uma objeção pode ser levantada Talvez não exista nenhum amor mental in terno quimérico mas a dor não nos parece uma quimera de forma nenhuma Pelo contrário ela parece ser uma sensação um evento privado real o que os filósofos chamam de sensação pura A solução de Rachlin pode ser mais bem compreendi da a partir de sua resposta à objeção assim formulada Mas eu posso sentir dor e não dem onstrála Rachlin argum enta que é impossível sentir dor e não demonstrála porque sentir dor é demonstrála Um filósofo tentou refutar todo o argumento de Rachlin relatando que ao longo de anos teve uma dor de cabeça severa sem nunca divulgá la a ninguém A réplica de Rachlin foi Se é assim seus pais seu médico seus amigos mais próximos e sua esposa e filhos se os tiver ainda não devem até a presente data saber dessas dores de cabeça Alguém quer apostar Embora possa parecer jocoso a questão importante é que uma pessoa não pode estar com dor sem demonstrála seja para outros seja para si mesmo 0 argumento de Rachlin só parece contrariar a experiência quando se insiste que é possível estar com dor e não mostrála a ninguém Sozinho em meu quarto posso sentir uma dor e superála antes que qualquer pessoa me veja Eu não estava com dor Eu estava se a de monstrei mas o episódio todo foi privado somente no sentido de que aconteceu de ninguém presenciálo estivesse lá outra pessoa ela teria dito que eu estava com dor A forma como sei que estou com dor de cabeça é a mesma pela qual você sabe que eu estou com dor de cabeça eu franzo o cenho gemo fecho os olhos reclamo e tomo aspirina Se não fizesse nada disso não estaria mais inclinado do que você a relatar que estava com dor de cabeça Embora pareça paradoxal a idéia de Rachlin de que a dor consiste em com portamento público e não em experiência privada tem muitas provas a sustentála Em particular relatos e outros comportamentos de dor dependem em grande parte das circunstâncias em que ocorrem Muitos de nós tivemos ferimentos que teriam sido dolorosos mas que não o foram porque estávamos distraídos Após torcer o tornozelo um atleta pode continuar correndo e relatar que o tornozelo começou a doer após a corrida O mesmo machucado em outras circunstâncias que não a corrida teria resultado em sentir dor imediatamente A pesquisa sobre dor tem produzido muitos exemplos como esse Embora o parto seja considerado doloroso 62 Williom M Baum em nossa cultura os antropólogos descrevem culturas nas quais as mulheres não demonstram nenhum sinal de dor dão à luz enquanto trabalham nos campos e continuam trabalhando assim que o bebê nasce enquanto o pai fica deitado em casa gemendo e demonstrando todos os sinais de dor intensa Um exemplo parti cularmente notável foi relatado por Henry K Beecher um anestesista que compa rou o comportamento de soldados feridos em um hospital de campanha da Segun da Guerra Mundial ao comportamento de civis que estavam passando por cirurgias que envolviam ferimentos semelhantes aos dos soldados Ele descobriu que en quanto só aproximadamente um terço dos soldados reclamava de dor a ponto de receber morfina quatro de cada cinco pacientes civis o fazia Embora os soldados tenham relatado que sentiram pouca ou nenhuma dor enquanto os civis relatavam dor severa Beecher observou que a diferença não era devido a uma insensibilidade dos soldados a estímulos dolorosos pois eles reclamavam como qualquer um quan do a enfermeira tinha dificuldade em pegar uma veia Beecher concluiu Não há uma relação direta simples entre o ferimento em si e a dor experimenta da A dor é em grande parte determinada por outros fatores e de grande impor tância aqui é o significado do ferimento No soldado ferido a resposta à lesão era de alívio e gratidão até mesmo euforia por escapar vivo do campo de batalha para o civil sua cirurgia era um evento depressivo calamitoso citado porMelzack 1961 p 4243 Às observações de Beecher confirmam a concepção de Rachlin pois em vez do mesmo trauma produzir a mesma dor como requer a hipótese paramecânica toda a categoria comportamento de dor incluindo o relato de sentir dor depende das circunstâncias Embora nossa experiência aparentemente interna de dor pare ça inevitável as evidências clínicas e experimentais dão respaldo à idéia de que estar com dor assim como estar apaixonado ou qualquer outro estado mental consiste primariamente em comportamento público Com essa concepção Rachlin atribui muito menos ênfase aos eventos priva dos do que Skinner Para Rachlin a ocorrência ou não de eventos privados tornase um a questão de menor importância pois sua perspectiva de análise não enfatiza eventos momentâneos e ações isoladas em geral sejam elas públicas ou privadas Fábio estar apaixonado por Juliana pode incluir seu pensar sobre ela mas se n e nhuma das atividades públicas da categoria ocorrer tanto Juliana quanto Fábio deveriam duvidar da sinceridade de Fábio Para Rachlin nem o amor nem a dor precisam existir como um a coisa privada pois na prática o que as pessoas dizem sobre si mesmas ou sobre os outros sempre depende de modo extremamente im portante do comportamento público Nessa perspectiva molar podese realm ente dizer que a maneira pela qual eu me conheço é a mesma maneira pela qual os outros me conhecem Vamos explorar mais esta questão no Capítulo 6 O fato de Rachlin rejeitar os eventos privados pode parecer um retorno ao behaviorismo metodológico mas não se trata disso Tanto os behavioristas m eto dológicos quanto Rachlin defendem o estudo de eventos públicos mas por razões diferentes Os behavioristas metodológicos consideram os eventos públicos como objetivos e excluem do alcance de sua ciência as coisas e os eventos mentais por Compreender o behaviorismo 63 que são subjetivos Abordando o comportamento de um ponto de vista molecular tinham esperança de prever atos momentâneos Rachlin nunca evoca a distinção objetivosubjetivo e nunca exclui coisas e eventos mentais Pelo contrário ele sus tenta que é possível estudar coisas e eventos mentais porque os termos dor amor autoestima e assim por diante que supostamente se referem a eles são na verda de rótulos de atividades molares Desse modo nós os estudamos ao estudarmos os eventos públicos que essas atividades e categorias envolvem Rachlin distanciase do behaviorismo metodológico e alinhase com o behaviorismo radical em dois aspectos básicos antidualismo e pragmatismo Como qualquer behaviorista radi cal rejeita a existência de ficções mentais e especialmente de causas mentais para o comportamento Como ele nunca levanta a distinção objetivosubjetivo preferin do avaliar a verdade a partir de sua força explanatória utilidade suas idéias pertencem à tradição do pragmatismo e não do realismo Ele não precisa negar nem afirmar a existência de eventos privados porque as categorias de comporta mento sobre as quais as pessoas falam sempre incluem muitas ações públicas Na verdade as pessoas não falariam dessas categorias se elas não incluíssem ações públicas mas esse é um tópico para a discussão de comportamento verbal Ver o Capítulo 7 EVENTOS PRIVADOS Para Skinner os eventos privados são naturais e sob todos os aspectos semelhan tes a eventos públicos Mesmo que os pensamentos sejam eventos naturais e que se considere que algumas vezes afetam o comportamento ainda assim eles nunca causam o comportamento no sentido de originálo Embora as origens do compor tamento se encontrem no ambiente presente e passado os eventos privados assu mem lugar importante na análise que Skinner faz de certos tipos de comportamen to particularmente autorelatos que analisaremos agora e no Capítulo 6 e resolu ção de problemas que abordaremos no Capítulo 8 Comportamento privado Como os eventos privados são atribuídos à pessoa e não ao ambiente eles são mais bem compreendidos como eventos comportamentais De um modo geral há dois tipos eventos de pensar e eventos de sentir Para efeito da presente discussão pensar é falar privadamente Isso pode pa recer muito restrito pois pensar é usado de muitas outras maneiras na linguagem cotidiana Estou pensando em ir ao cinema significa que estou inclinado ou pro penso a ir a um cinema Estou pensando em uma pintura que vi outro dia signifi ca que estou imaginando a pintura e é mais bem compreendido como um evento de sentir E mais útil tratar os eventos de pensar à parte dos eventos de sentir porque os pensamentos têm uma relação com a faia pública que o sentir não tem Um pensa mento pode ser enunciado pública ou privadamente Skinner usa as palavras aber 64 William M Baum to e encoberto Eu posso falar alto para mim mesmo O que vai acontecer se eu apertar este botão ou posso sussurrar para mim mesmo ou posso ainda pensar em particular Esses eventos são todos a mesma coisa os dois primeiros poderiam ser ouvidos ao passo que o terceiro não pode Eventos de sentir no entanto não pos suem nenhuma contrapartida pública Ver uma árvore ouvir uma orquestra sentir um a coceira sentir o cheiro de um gambá todos esses eventos são apenas privados Os eventos de sentir são mais bem compreendidos quando contrastados com a concepção usual de sensação e de percepção que Skinner denomina teoria da cópia Alguns filósofos gregos da Antiguidade intrigados com o fato de podermos ver objetos à distância imaginaram que os objetos mandassem cópias de si m es mos para nossos olhos Se vejo uma árvore do outro lado da estrada deve ser porque a árvore manda pequenas cópias de si para meus olhos A concepção m o derna dessa explicação é semelhante exceto que agora dizemos que a árvore refle te a luz que passa através da pupila dos olhos formando imagens na m embrana no fundo do globo ocular Essas imagens substituem as cópias gregas Essa noção pode ser útil para se entender algumas coisas sobre o olho mas de modo algum explica o ver O problema de como a árvore é vista é substituído pelo problema de como a cópia da árvore é vista A teoria da cópia tem todos os defeitos do mentalismo A aparência de uma explicação você vê uma árvore porque há uma cópia dela em seu olho ou em seu cérebro nos afasta da tentativa de entender o que seja o ver A cópia é supérflua pois a questão permanece a mesma quer perguntemos sobre ver a árvore ou sobre ver a cópia o que é ver algo Em particular a teoria não consegue explicar por que o ver é seletivo Nem todos os objetos que refletem luz em nossos olhos são vistos Por que vejo a árvore e não a estrada Como é possível a uma pessoa mostrar algo para outra fazêla ver esse algo Como é possível a uma pes soa olhar exatamente na direção de um aviso e não vêlo Para o behaviorista radical sentir e perpeber são eventos comportamentais são atividades A coisa que é vista ouvida cheirada sentida ou provada é uma qualidade do evento ou seja é parte da definição do evento Ver um lobo é qualita tivamente diferente de ver um urso Os dois eventos têm muito em comum ambos são atos de ver e não de ouvir ou de andar mas também são diferentes Eles são atos diferentes assim como caminhar em direção a uma loja é diferente de cami nhar para um banco Se eu digo em uma ocasião Está um dia agradável e em outra Há um tigre atrás de você ambos são exemplos de fala mas os dois atos diferem do mesmo modo que os dois atos de caminhar o dia agradável e o tigre são parte da definição do ato Assim como é impossível caminhar sem chegar a algum lugar e falar sem dizer nada é impossível ver sem ver algo O lugar e as coisas diferenciam os diversos atos de caminhar falar e ver mas não como seus apêndices Eles são ações diferentes não a mesma ação aplicada a diferentes coisas Podese notar mais claramente que o alvo ou objeto de um evento de sentir é um a qualidade do evento quando falamos de outros sentidos que não a visão Nes sas falas raramente caímos na armadilha da teoria da cópia Se ouço um violino tocando seria pouco provável alguém afirmar que minha atividade de ouvir seja de algum modo um apêndice do som do violino O som é parte do ato ou talvez resulte dele Ouvir um violino e ouvir um oboé são atos diferentes de ouvir não o mesmo ato aplicado a diferentes sons Um antigo enigma zenbudista perguntava Compreender o behaviorismo 65 Se um a árvore cai na floresta e ninguém está lá para ouvir ela produz um som A resposta do behaviorista é não pois um som existe apenas como parte de um ato de ouvir Da mesma m aneira que ouvir um violino difere de ouvir um oboé ver um urso também difere de ver um lobo A relação entre o ver e a coisa vista fica ainda mais clara quando examinamos exemplos do que Skinner denomina ver na ausência da coisa vista Se eu sonho com um lobo o lobo está presente Se eu imagino a casa onde passei a infância a casa está lá Parece até que a teoria da cópia foi inventada para tentar explicar esses casos Se estou vendo deve haver algo para ser visto como não há um lobo nem um a casa deve haver uma cópia de algum modo colocada diante de minha visão não de meus olhos Usar a teoria da cópia dessa maneira é uma forma de mentaiismo o que parece explicação não explica nada Onde está a cópia mental fantasmagórica de que é feita e como pode ser vista Onde antes tínhamos um ato de ver para explicar agora temos o mesmo ato e mais uma cópia misteriosa relacio nada misteriosamente com o ato A alternativa é considerar o ver o lobo com os olhos fechados como semelhante a ver o lobo com os olhos abertos Os dois atos diferem geralmente podemos distinguilos mas têm muito em comum Isso deixa sem resposta perguntas do tipo Como eu sonho e imagino coisas que na verdade nunca vi e E possível treinar a imaginação No entanto considerar o sonhar e o imaginar como atos permite que essas questões sejam abordadas por um estudo científico com maior eficiência do que o são pela teoria da cópia A teoria da cópia tenta explicar o sonhar e o imaginar com a idéia de que as cópias são armazenadas e recuperadas da memória Questões sobre o relembrar tornamse questões sobre processos mentais quiméricos de codificação armazena gem e recuperação Quando imagino a casa de minha infância se vejo lá meu pai supostamente isso ocorre porque as duas memórias estão de algum modo ligadas Se quando alguém diz Perise em pássaros eu penso em pardais tentilhões e avestruzes supostamente isso ocorre porque as memórias daquelas coisas estão ligadas de alguma maneira Em contraste a perspectiva da análise comportamental aponta para fatos da vida Quando eu era criança vendo a casa de minha infância via meu pai também Quando ouvi falar de pássaros freqüentemente ouvi falar de pardais tentilhões e avestruzes Se essas coisas estão ligadas não é na memória mas no tempo e no espaço Recordação é repetição Quando relembro uma visita à praia eu revejo o céu a água a areia ouço novamente as ondas e sinto novamente a brisa marítima Esses atos de imaginação diferem dos atos originais de ver ouvir e sentir mas são também semelhantes Muito de nosso comportamento é repetido todo dia Eu pen teio o cabelo toda manhã Ajuda alguma coisa para compreender como ou por que eu faço isso dizer que deve haver em algum lugar dentro de mim uma memória de pentear o cabelo Muitos psicólogos se agarram à idéia de que se uma atividade se repete ela deve de algum modo ser representada no interior da pessoa presumivelmente no cérebro Quando confrontados com os defeitos das representações como cópias corn freqüência eles insistem que a representação é apenas a atividade do cére bro Por esse raciocínio quando eu ligo meu carro toda manhã o motor em mo vimento deve estar representado no motor em repouso Algum dia os neurofi 66 William M Baum siólogos poderão ter algo a dizer sobre os mecanismos cerebrais através dos quais essas coisas ocorrem Enquanto isso há muito a ser compreendido sobre o ver e o rever como atos Os atos sensoriais são modificados pela experiência estão sujeitos à aprendi zagem Alunos de medicina que estão no primeiro ano do curso vêem um cérebro de forma diferente de seus professores Houve um tempo em que os professores viam tão pouco quanto os alunos de agora algum dia os alunos verão tanto quanto seus professores Aprendemos a distinguir coisas em uma paisagem ou em uma sinfonia Se eu disser a você Veja aquele celeiro no campo ou Ouça o oboé você vê ou ouve algo que não havia notado um minuto atrás A Figura 31 mostra dois esboços Se você nunca os tiver visto eles parecerão um am ontoado de linhas se você já os viu antes lembrese da primeira vez Agora eu digo a você que o de cima mostra um urso subindo em uma árvore ele está do outro lado e o de baixo mostra um soldado com seu cachorro passando atrás de um muro Você passa a vê los de modo diferente Seu comportamento mudou como resultado de ler essas palavras Após examinarmos os conceitos de discriminação e de controle de estí mulos nos Capítulos 6 e 7 ficará mais fácil entender como essa m udança comportamental poderia ser chamada de ver discriminado Figuro 31 Esboços como estes ilustram que ver é um comportamento e como todo com portamento depende do contexto O desenho superior mosira um urso subindo em uma árvore vislo do lado oposio do tronco O da porte inferior mostra um soldado passando com seu cachorro atrás de um muro Á 0 Compreender o behaviorismo 67 Autoconhecimento e consciência A palavra consciente é usada de várias maneiras Ter consciência vem a ser o mesmo que estar consciente pois consciência não é uma coisa mas uma proprie dade Podese dizer que um a pessoa tem consciência ou perdeu a consciência está consciente ou inconsciente as duas dicotomias referemse às mesmas possibilida des Dizemos que um a pessoa está consciente ou inconsciente dependendo do que ela faz particularm ente em resposta a eventos ambientais como perguntas e estimulações De vez em quando alguém pergunta se os animais nãohumanos são conscientes ou não A resposta à pergunta depende do que o animal faz e do que aceitaremos como evidência de consciência Alguns atos são considerados conscien tes outros não Os membros de um júri freqüentemente têm de julgar se uma pessoa decidiu cometer um crime conscientemente ou não Muitos critérios diferentes para julgar a consciência já foram propostos mas não há nenhum consenso sobre o que significa uma pessoa ou um ato ser consciente Continua o debate sobre a possibilidade de cachorros e morcegos serem conscien tes Quando o debate é infindável o cientista começa a suspeitar de que o engano reside menos na resposta do que na própria pergunta Para o behaviorista pode ser interessante tentar entender em que ocasiões as pessoas tendem a usar a palavra consciente mas a noção de consciência não tem nenhuma utilidade para a compreensão científica do comportamento A falta de precisão e a inutilidade da idéia de consciência derivam de seus vínculos com o que Skinner denominou de homúnculo e Ryle de hipótese paramecânica A consciência pertence ao homenzinho ou ao eu autônomo interno que olha para o mundo ex terno através dos sentidos ou olha para o mundo interno da mente e então se torna consciente dos dois mundos Se você questiona essa concepção de mundo interno mundo externo eu interno e mente você estará questionando a noção de consciência pois ela dificilmente tem sentido separada dessas idéias Ao investigar o que faz as pessoas usarem frases como perder a consciência e estar consciente de algo o behaviorista pergunta como as pessoas aprendem a falar desse modo ou que eventos ocasionam esse tipo de discurso Apesar dos grupos sociais variarem consideravelmente todo o mundo parece concordar com um tipo de evidência se as pessoas são capazes de falar sobre seu comportamento são consideradas conscientes e conscientes de seu comportamento Não me é possí vel geralmente descrever todos os atos envolvidos em minha rotina de dirigir o carro para o trabalho eles são inconscientes mas se você me pedisse especifica mente para observálos então eu poderia falar deles com algum detalhe Posso fazer isso até certo ponto mesmo que você nunca me peça Na medida em que posso falar sobre eles as pessoas dirão que meus atos são conscientes Meus atos de dirigir ou andar podem ser conscientes ou inconscientes dependendo de minha capacidade de narrálos a alguém Mesmo atos de falar podem ser considerados conscientes ou inconscientes dependendo da capacidade do falante repetir o que falou Quantas vezes as pessoas dizem as coisas e um minuto depois negam que as tenham dito Nesses casos dizemos que a coisa foi dita inconscientemente Como outros atos os atos de ver e outras modalidades de atos de sentir po dem ser conscientes ou inconscientes dependendo das pessoas falarem ou não 68 William M Baum sobre eles Se um policial pára meu carro e me pergunta Você não viu a placa pare eu posso honestamente responder Não porque mesmo que tenha olhado em sua direção posso não têla visto assim como você não viu o urso e o soldado da primeira vez que olhou para os rabiscos na Figura 31 Se o policial me pergunta Você está vendo a placa agora eu olharei e direi Sim Ambas as respostas são relatos de comportamento a primeira é um relato na ausência do evento a segun da é um relato na ocorrência do evento Embora o evento que está sendo relatado seja privado na concepção de Skinner relatar os próprios atos privados é o mesmo que relatar os próprios atos públicos Aprendemos a falar do que vemos ouvimos sentimos e pensamos do mesmo modo que aprendemos a falar sobre o que come mos onde vamos e o que dizemos O autoconhecimento consiste nesse tipo de discurso No Capítulo 7 veremos que esse discurso é comportamento verbal um produto social sob controle de estímulos que são tanto públicos quanto privados Rachlin compartilha com Skinner a noção geral de que o autoconhecimento pode ser compreendido como um tipo de comportamento mas como considera os atos como exemplos de categorias mais amplas de comportamento atribui aos atos privados um papel muito menos importante no autoconhecimento Para Rachlin ver um sabiá é uma atividade assim como caminhar até uma loja Do mesmo modo que caminhar até a loja inclui comportamentos como andar em um a dada direção falar sobre o andar e depois trazer para casa uma compra ver um sabiá inclui comportamentos como olhar em sua direção apontar para ele falar sobre ele e notar quando ele se vai Parte do comportamento incluído em ver um sabiá poderia ser falar Olhe lá está um sabiá ou Estou vendo um sabiá ou responder Sim quando alguém pergunta se estou vendo um sabiá Na perspectiva molar esses não são relatos de eventos privados são simplesmente partes da atividade pública de ver um sabiá Ao discutir a dor Rachlin estava discutindo um fenômeno que a maioria das pessoas consideraria um evento de sentir privado Sua concepção de sentir dor assemelhase à visão molar de ver um sabiá Sentir dor na perna inclui comporta mentos como apontar para ela apertála andar mancando e falar sobre ela Dizer Minha perna está doendo não é relatar um evento privado é apenas parte da atividade de sentir dor na perna No que diz respeito a Rachlin o evento privado da dor não está em discussão Não apenas é irrelevante pode até nem existir Se um a pessoa reclama de dor na perna e o faz convincentemente nós nos comportamos da mesma maneira exista ou não a dor Só mais tarde podemos ficar sabendo se a pessoa estava fingindo talvez a dor desapareça muito rapidamente ou a pessoa manque com a perna errada O mesmo valeria para ver ou ouvir No filme The heart is a lonely hunter um homem surdo finge estar apreciando uma música movimen tando seu corpo como se estivesse regendo uma orquestra Seu desempenho é convincente mas quando o disco pára e ele continua sua companheira se dá conta de que ele está fingindo Se ele tivesse parado quando o disco parou ela provavel m ente continuaria a achar que ele tinha ouvido a música Cedo ou tarde ele se denunciaria mas se uma pessoa surda pudesse fingir perfeitamente para todos os efeitos e propósitos ela seria capaz de ouvir pois fingir perfeitamente significaria que ninguém percebe a diferença Compreender o behaviorismo 69 Podese argum entar que mesmo que uma pessoa surda pudesse enganar todo o mundo à sua volta ela própria saberia que estava fingindo Entretanto se ela fosse bemsucedida em todas as ocasiões como poderia saber Tanto quanto ela pode saber esse comportamento e ouvir Ela própria só poderia saber que estava fingindo se seu próprio comportamento diferisse do comportamento de outras pes soas Suponha que um a pessoa com boa audição finja ter prazer ao ouvir uma música Se ela faz tudo certo por que não deveria ela acreditar que realmente está apreciando a música A única pista para ela e para os outros seria uma diferença entre seu comportamento e o comportamento daqueles de quem se diz que real mente apreciam música Eles sorriem relaxam não gostam de ser interrompidos e depois falam sobre a música Teria eu menos prazer com a música porque não falo dela depois Talvez Assim como nenhum prazer privado precisa entrar na discus são assim também para a perspectiva molar nenhum ouvir privado precisa entrar na discussão RESUMO Embora os behavioristas radicais defendam concepções diversas sobre muitos tópi cos eles concordam em geral com as seguintes idéias básicas Primeiro as explicações mentalistas do comportamento que aparecem na lin guagem cotidiana não têm lugar em uma ciência Causas mentais do comporta mento são fictícias As origens do comportamento encontramse na hereditarieda de e no ambiente presente e passado Em razão das ficções mentais parecerem explicações elas tendem a impedir a investigação das origens ambientais do com portamento que levariam a uma explicação científica satisfatória O mentaiismo é insatisfatório porque é antieconômico Skinner e logicamente falacioso Ryle Segundo em um a ciência do comportamento termos coloquiais mentalistas como acreditar esperar e pretender devem ser evitados ou cuidadosamente redefi nidos Ainda não está claro em que medida os analistas comportamentais deveriam fazer uma ou outra coisa Veremos nos capítulos seguintes que alguns termos po dem ser redefinidos razoavelmente bem enquanto outros parecem muito estra nhos à abordagem para valer a pena redefinilos Alguns termos novos inventados para permitir a análise do comportamento parecem ser especialmente úteis Terceiro os eventos privados se é que precisamos falar deles são naturais e compartilham todas as propriedades do comportamento público Mesmo que te nhamos de discorrer sobre eles suas origens encontramse no ambiente exata mente como qualquer outro comportamento o comportamento nunca se origina de eventos privados Enquanto Skinner confere a eles um papel em situações que envolvem falar sobre o comportamento privado autoconhecimento Capítulos 6 e 7 behavioristas molares como Rachlin evitam a necessidade de dar aos even tos privados um papel explicativo concebendo o comportamento como organiza do em categorias que ocorrem no decorrer de um tempo estendido Tais ativida des estendidas incluem às vezes entre outros elementos falar sobre eventos privados 70 William M Baum LEITURAS ADICIONAIS Baum W M 2002 From molecular to molar a paradigm shift in behavior analysis Journal of the Experimental Analysis of Behavior 78 95116 Esse artigo explica a perspectiva molar e como ela pode ser aplicada na pesquisa em laboratório e na vida cotidiana Melzack R 1961 The perception of pain Scientific American 204 2 4149 Um exce lente artigo mais antigo que resume os aspectos fisiológicos e circunstanciais da dor Rachlin H 1985 Pain and behavior The Behavioral and Brain Sciences 8 4383 Esse artigo descreve a visão de Rachlin sobre a dor bem como argumentos e provas a seu favor A publicação inclui comentários de vários críticos bem como as respostas de Rachlin a eles Rachlin H 1994 Behavior and mind Oxford Oxford University Press Nesse livro relati vamente avançado Rachlin explica a perspectiva molar e como termos mentalistas podem ser interpretados comportamentalmente Rorty R 1979 Philosophy and the mirror of nature Princeton NJ Princeton University Press Esse livro contém uma crítica extensa do dualismo mentecorpo de um filósofo que é considerado um pragmatista contemporâneo Ryle G 1984 The concept of mind Chicago University of Chicago Press Reimpressão da edição de 1949 O Capítulo 1 explica a hipótese paramecânica o fantasma na máquina e os erros de categoria Os capítulos subseqüentes abordam tópicos mais específicos como conhecimento vontade e emoção Skinner B E 1969 Behaviorism at fifty In Contingencies of reinforcement Nova York AppletonCenturyCrofts p 221268 A mais famosa discussão de Skinner sobre eventos privados em contraste com eventos mentais Skinner B F 1974 About behaviorism Nova York Knopf O Capítulo 1 contém uma com paração do behaviorismo metodológico com o behaviorismo radical O Capítulo 2 discute causas mentais em contraste com eventos privados O Capítulo 5 Perceber discute a teoria da cópia e o ver na ausência da coisa vista TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 3 Aberto e encoberto Ação Atividade Autonomia Consciente Contigüidade Erro de categoria Espíritos animais Evento natural Evento privado Evento público Ficção explanatória Fictício Hipótese paramecânica Homúnculo Mentalismo Perspectiva molar Perspectiva molecular Problema mentecorpo Pseudoquestão Redundância Teoria da cópia N de T Título traduzido em português ver Apêndice PARTE DOIS Um modelo científico de comportamento V L ara ser claro e convincente ao criticar um ponto de vista é necessário oferecer uma visão alternativa aceitável Para ajudar a enxergar o que há de errado com visões mentalistas convencionais de comportamento precisamos levar em conside ração explicações que possam ser cientificamente aceitáveis Nos Capítulos 4 a 8 veremos alguns conceitos básicos de análise comportamental e os utilizaremos para sugerir alternativas a noções mentalistas e nãocientíficas Entretanto fazse necessária uma advertência Como todas as explicações ci entíficas as que iremos adotar são consideradas pelos cientistas como possibilida des abertas a debate e mudança Qualquer uma delas pode vir a ser considerada incorreta futuramente ou talvez não seja endossada por alguns analistas de com portamento mesmo nos dias de hoje Para nossos propósitos a possibilidade de que uma determinada explicação científica venha a ser descartada não é importante Tudo que temos de perceber é que é possível explicar o comportamento cientificamente Conforme progride a análise comportamental as explicações aceitas vão sendo modificadas à medida que surgem novas explicações 7ido que precisamos ver é que tipo de explicação é cientificamente aceitável como alternativa ao mentalismo A locitftjfcVfc M1 ST0I4 H f é u é 0ToCn4ofcSí UH 1 4 Teoria da evolução e reforço A moderna teoria da evolução fornece um poderoso referencial para se falar do comportamento Na verdade já não é mais possível discutir comportamento fora desse contexto porque desde Darwin os biólogos vêm reivindicando cada vez mais o comportamento como parte de seu objeto de estudo Em consonância com a suposição de continuidade das espécies Capítulo 1 sua atenção tem sido dirigida também e cada vez mais3 para o comportamento humano Mais ainda do que no tempo de Watson os psicólogos que hoje ignoram a teoria da evolução correm o risco de ficar à margem da tendência atual do desenvolvimento científico Neste capítulo nosso interesse pela teoria da evolução tem dois aspectos Em primeiro lugar a história evolutiva oufilogênese de qualquer espécie incluindo a nossa própria pode nos ajudar a comprèêncler3 comportamento dessa espécie A maior parte dos genes que um indivíduo herda foi selecionada ao longo de muitas gerações porque promovem comportamentos que contribuem para o sucesso na interação com o ambiente e na reprodução Em segundo lugar a teoria da evolução representa um tipo de explicação atípico entre as ciências As explicações científicas normalmente apelam para o mecanismo ou o modo como as coisas estão organiza das em um dado momento O tipo de explicação da teoria da evolução que chama remos de explicação histórica é critico para a análise de comportamento porque a alternativa cientificamente aceitável ao mentalismo é a explicação histórica HISTÓRIA EVOLUTIVA Quando falamos em filogênese de uma espécie não estamos falando de nenhum evento em particular mas de um a série ou história de eventos no decorrer de um longo tempo A resposta dada pela biologia à questão Por que as girafas têm pescoços compridos é de natureza diferente da resposta dada pela física a uma 74 Williom M Bcium questão do tipo Por que o Sol nasce de manhã A explicação sobre o Sol exige referência apenas a eventos que ocorrem em um determinado instante a rotação da Terra no momento em que o Sol nasce A explicação sobre as girafas exige referência ao nascimento vida e morte de um número incontável de girafas e de ancestrais de girafas no decorrer de muitos milhões de anos A grande contribuição de Darwin foi ver que um mecanismo relativamente simples poderia ajudar a explicar porque a filogenia seguiu o curso que seguiu Darwin enxergou que a história do pescoço das girafas é mais do que um a seqüên cia de mudanças é um a história de seleção O que faz a seleção Não é um Criador onipotente não é a Mãe Natureza não são as girafas mas sim um processo natural e mecânico a seleção natural Seleção natural Em qualquer população de organismos os indivíduos variam Variam em parte devido a fatores ambientais por exemplo nutrição e também devido à herança genética Entre os ancestrais de girafa que moravam onde atualm ente é a Planície de Serengeti na Tanzânia por exemplo a variação nos genes significava que algu mas teriam pescoços mais curtos outras mais compridos Entretanto à medida que o clima foi gradualmente se alterando novos tipos de vegetação mais altos tornaramse mais freqüentes Os ancestrais de girafa que possuíam pescoços mais compridos e eram capazes de atingir locais mais altos conseguiam comer em mé dia um pouco mais Em conseqüência eram um pouco mais saudáveis um pouco mais resistentes a doenças um pouco mais ágeis para fugir de predadores em média Qualquer um dos indivíduos de pescoço mais comprido poderia ter morrido sem deixar descendentes mas em média foram eles que deixaram mais descen dentes que por sua vez tiveram em média maior probabilidade de sobreviver e de deixar mais descendentes Como os pescoços mais longos se tornaram ma is fre qüentes novas combinações genéticas ocorreram resultando em descendentes de çescoço ainda mais longo que o das girafas anteriores e que se saíam ainda melhor A medida que as girafas de pescoço comprido continuavam a se reproduzir em maior número que as de pescoço curto o comprimento médio do pescoço de toda a população aumentou A Figura 41 esquematiza o processo O eixo horizontal representa os com primentos do pescoço aum entando da esquerda para a direita O eixo vertical superior representa a freqüência relativa de diversos comprimentos de pescoço na população de girafas ou de ancestrais de girafa A curva 1 m ostra a variação nos ancestrais de girafas de pescoço curto À medida que a seleção ocorre a distribui ção se desloca para a direita curva 2 indicando que o comprimento do pescoço embora continuasse variando tornouse em média mais longo A curva 3 mostra a variação nas girafas dos dias atuais uma distribuição de freqüência estável que não mais se desloca em direção de pescoços mais compridos Para que ocorra um processo de seleção desse tipo três condições devem ser satisfeitas Primeiro qual quer que seja o fator am biental que torne vantajoso ter um pescoço mais comprido no nosso exemplo a alteração na vegetação ele deve estar sempre presente Compreender o behaviorismo 75 Segundo a variação no comprimento do pescoço deve refletir pelo menos em parte a variação genética Indivíduos com pescoço mais comprido devem ter mai or probabilidade de deixar descendentes de pescoço comprido do que de pescoço curto Se por exemplo toda a variação no comprimento do pescoço fosse devida a variação na alimentação sem variação nos genes os indivíduos que comessem melhor teriam pescoço mais longo em vez do contrário a seleção se tornaria impossível porque geração após geração a mesma variação na alimentação e no comprimento do pescoço se repetiria Terceiro deve haver competição Dado que os recursos de uma região só podem sustentar uma população de girafas de deter minado número um a superpopulação significa que alguns descendentes têm de morrer Os descendentes bemsucedidos irão sobreviver na geração seguinte pro duzindo sua própria descendência Esses três fatores estão incorporados no conceito de aptidão A aptidão de um a variação genética um genótipo é sua tendência a um aumento quantitativo de uma geração à outra em relação aos outros genótipos da população Qualquer genótipo até mesmo um de pescoço curto poderia se sair bem desde que estivesse isolado mas em competição com outros poderá apresentar baixa aptidão Quanto maior a aptidão de um genótipo maior será a tendência de que tal genótipo predo mine no decorrer das gerações O eixo vertical descendente na Figura 41 represen ta a aptidão dos genótipos subjacentes aos diversos comprimentos de pescoço A curva sombreada m ostra como a aptidão varia com o comprimento do pescoço Este permanece o mesmo ao longo do processo de seleção porque representa os N de T Fitness em inglês A tradução por aptidão é utilizada atualmente por biólogos no sentido de aptidão para sobreviver e não no outro sentido que esse vocábulo possa ter de capacidade natural de adquirir conhecimentos ou habilidades motoras gerais ou específicas 76 William M Baum fatores constantes do ambiente a vegetação que ligam o comprimento do pesco ço ao sucesso reprodutivo Seu ponto máximo ocorre junto à linha tracejada a mesma linha que indica o comprimento médio do pescoço das girafas dos dias atuais Quando o genótipo médio em um a população alcança a aptidão máxima a distribuição de genótipos na população se estabiliza Estabilizada a população apenas o deslocamento direcionado cessa a sele ção que é o que mantém a população estável continua A curva de aptidão da Figura 41 passa por um valor máximo porque um pescoço longo demais pode ser uma desvantagem Complicações ao nascimento e a sobrecarga a que o coração seria submetido por bombear sangue a um a grande altura por exemplo podem estabelecer um limite superior para a aptidão Como a curva de aptidão passa por um valor máximo a seleção trabalhará contra os desvios desse valor máximo a média da população em ambas as direções O próprio Darwin e muitos biólogos desde então reconheceram que o com portam ento exerce um papel central na evolução A seleção ocorre porque os indi víduos interagem com seu ambiente Muito dessa interação é comportamento Em nosso exemplo as girafas têm pescoços compridos porque se alimentam Tartaru gas possuem cascos porque ao se encapsularem dentro deles protegemse A re produção chave de todo o processo não pode ocorrer sem comportamentos tais como cortejar acasalarse e cuidar da prole Os indivíduos que se comportam mais eficientemente têm maior aptidão A aptidão de üm genótipo depende de sua capacidade de gerarindivíduos que se comportam melhor do que outros indivíduos que comem melhor que correm mais velozmente que alimentam m elhor a prole que constroem melhor o ninho e assim por diante Na medida em que tais comportamentos são afetados pelo genótipo a seleção natural pode ter atuado para alterálos e estabilizálos Reflexos e padrões fixos de ação Reflexos Alguns traços comportamentais são tão característicos de uma espécie quanto seus traços anatômicos Os mais simples deles são chamados reflexos porque a primeira teoria sobre eles propunha que o efeito somático produzido por um estímulo um evento ambiental que estimula órgãos sensoriais refletiase pelo sistema nervo so em uma resposta um a ação Se seu nariz está coçando você espirra Se você recebe um sopro no oího você pisca Se você está com frio você treme A cócega o sopro e o frio são estímulos o espirrar o piscar e o tremer são respostas Os reflexos são produto da seleção natural Invariavelmente parecem estar envolvidos na manutenção da saúde e na promoção da sobrevivência e da reprodu ção Como exemplos podemos pensai em espirrar piscar tremer liberar adrenalina frente a um perigo excitarse sexualmente Os indivíduos nos quais esses reflexos eram fortes tinham mais probabilidade de sobreviver e de se reproduzir do que os indivíduos nos quais eles eram fracos ou inexistentes Na Figura 41 se substituir mos o comprimento do pescoço pela força do reflexo de espirrar ou pela prontidão Compreender o behaviorismo 77 da ereção do pênis podemos imaginar uma história de seleção semelhante A cur va de aptidão passaria por um valormáximo porque um espirro muito fraco repre senta pouca proteção e uma ereção muito lenta significa menos descendentes mas um espirro muito forte seria prejudicial e um a ereção muito rápida seria um obstá culo sem falar no problema social Ao longo de muitas gerações genótipos que promovessem um reflexo mais forte tenderiam a se reproduzir mais freqüentemente em média distribuições de freqüência l e 2 até chegar à aptidão máxima distri buição de freqüência 3 Padrões fixos de ação Padrões mais complexos de comportamento também podem fazer parte de rela ções fixas com eventos ambientais e ser característicos da espécie Quando uma gaivota chega ao ninho seus filhotes ciscam um ponto de seu bico e um dos pais responde depositando a comida no chão Em outras espécies de pássaros os filho tes abrem ao máximo suas bocas e o pai ou mãe coloca ali a comida Quando uma fêmea de esganagata um pequeno peixe com ovas entra no território de um macho este inicia uma série de movimentos ao seu redor e ela responde aproxi mandose do ninho desse macho Tais reações comportamentais complexas são conhecidas como padrões fixos de ação o ciscar dos filhotes o pássaro genitor regurgitar a comida e a dança de acasalamento do esganagata macho são exem plos Os eventos ambientais que disparam esses padrões são conhecidos comoes UissinaauAíberadores a chegada do pássaro pai as batidas no bico a boca bem aberta abarríga cEeia de ovos da fêmea de esganagata Tal como os reflexos essas reações comportamentais podem ser vistas como importantes para a aptidão e por essa razão como produtos de uma história de seleção natural Vale a mesma análise dos reflexos os indivíduos cujos padrões fixos de ação são ou muito fracos ou muito fortes possuem genótipos menos aptos Embora os estímulos liberadores e os padrões fixos de ação possam parecer mais complexos do que os estímulos e as respostas que constituem os reflexos não há nenhum a linha divisória clara que separe esses tipos de reação Ambos podem ser considerados relações entre um evento ambiental estímulo e uma ação res posta Ambos podem ser considerados característicos de uma espécie por serem traços extremamente constantes tão constantes quanto o pescoço ua girafa ou as manchas do leopardo Por serem de tal forma constantes são considerados incor porados resultantes do genótipo e não aprendidos Reflexos e padrões fixos de ação são reações que aumentam a aptidão por estarem imediatamente disponíveis no momento necessário Quando passa a som bra de um falcão em vôo o filhote de codorna se encolhe como se estivesse parali sado Se essa reação dependesse de experiência poucos filhotes de codorna sobre viveriam para se reproduzir Esse padrão pode ser refinado filhotes de gaivota depois de algum tempo tocam com mais precisão o bico do pai e o chamado de alarme peculiar de um jovem macaco vervet transformase eventualmente em dife N de T Cercopithecux aethiops 78 William M Baum rentes chamados conforme o predador seja digamos um a águia um leopardo ou um a cobra mas sua alta confiabilidade inicial deriva de um a história de seleção dessa mesma confiabilidade Genótipos que exigissem que tais padrões fossem apren didos a partir de zero seriam menos aptos do que genótipos que já trouxessem a forma básica incorporada Da mesma forma que o comprimento do pescoço ou a coloração da pele os reflexos e padrões fixos de ação foram selecionados no decorrer de um longo espa ço de tempo em que o ambiente permaneceu estável o suficiente para m anter a vantagem dos indivíduos que possuíssem o comportamento adequado Os reflexos e padrões fixos de ação que vemos hoje foram selecionados pelo ambiente passado Embora tenham aumentado a aptidão no passado nada garante que continuarão a aumentála no futuro se o ambiente mudar repentinamente a seleção não terá possibilidade de alterar os padrões de comportamento já incorporados Teriam os seres humanos esses padrões nãoaprendidos Dentre todas as es pécies a nossa parece ser a que mais depende da aprendizagem Seria um erro no entanto imaginar que o comportamento humano é inteiramente aprendido Te mos muitos reflexos tosse e espirro sobressalto o piscar a dilatação pupilar salivação secreção glandular e assim por diante E quanto aos padrões fixos de ação Esses são difíceis de serem reconhecidos em seres humanos porque são bas tante modificados por aprendizagem posterior Alguns podem ser reconhecidos porque ocorrem universalmente Um padrão fixo de ação é o sorriso até pessoas cegas de nascença sorriem Um outro é o rápido movimento de sobrancelha que ocorre quando cumprimentamos uma pessoa quando a saudação é sincera as so brancelhas erguemse por uma fração de segundo Normalmente nenhum a das duas pessoas que se saúdam tem consciência dessa resposta mas ela produz na pessoa cumprimentada a sensação de ser acolhida EiblEibesfeldt 1975 Não deveria soar como surpresa que seres humanos possuam padrões fixos de ação embora sejam modificados ou eliminados através de treino cultural Na verdade dificilmente poderíamos aprender todos os padrões complexos que aprendemos sem uma elaborada base de tendências previamente incorporadas Condicionamento respondente Um tipo simples de aprendizagem que ocorre com os reflexos e os padrões fixos de ação é o condicionamento clássico ou respondente E chamado de condicionamento porque seu descobridor í P Pavlov usou o termo reflexo condicional para descrever o resultado da aprendizagem ele considerou qüe um novo reflexo condicional à experiência tinha sido aprendido Pavlov estudou um a série de reflexos mas sua pesquisa mais conhecida centrouse em respostas ao alimento Descobriu que quan do um estímulo tal como um som ou uma luz precede com regularidade o ato de dar comida o comportamento na presença desse estímulo se altera Depois de uma série de pareamentos tomalimento um cão começa a salivar e a secretar sucos digestivos no estômago apenas na presença do tom Se Felipe começa a salivar quando vê o peru assado é evidente que ele não nasceu com essa reação ele saliva porque no passado tais eventos precederam o comer Se Felipe tivesse sido criado Compreender o behaviorismo 79 em uma família hinduísta ortodoxa na índia vegetariano desde o nascimento é pouco provável que a visão do peru assado o fizesse salivar Se tendo sido criado no Brasil fosse visitar a casa de um indiano possivelmente não salivasse frente a algumas das iguarias lá servidas O mesmo condicionamento que governa reações reflexas simples também governa os padrões fixos de ação Pesquisadores que se seguiram a Pavlov descobri ram que em qualquer situação na qual comer tenha ocorrido freqüentemente no passado todos os comportamentos relacionados à comida não apenas a salivação tornamse mais prováveis Cães latem e abanam a cauda comportamentos que acompanham a alimentação grupai em cachorros selvagens Assim que o momento de serem alimentados se aproxima pombos tendem a bicar qualquer coisa uma luz o chão o ar outro pombo até que haja comida para bicar Os analistas de comportamento debatem a melhor forma de falar sobre tais fenômenos A forma mais antiga derivada da idéia de Pavlov sobre reflexos condi cionais fala em respostas eliciadas por estímulos sugerindo uma relação causal de um para um Essa forma pode servir para reações reflexas como a salivação mas muitos pesquisadores consideramna inadequada quando aplicada aos vários com portamentos que se tomam prováveis quando da alimentação Para falar sobre todo o conjunto de comportamentos relacionados à comida foi introduzido o termo induzir Segai 1972 Repetidas apresentações de tom seguidos por alimento indu zem na presença do tom comportamentos relacionados à alimentação Para um cão isso significa que salivar latir e abanar a cauda tornamse todos prováveis quando o tom está presente O que é verdadeiro em relação à comida é verdadeiro em relação a outros eventos fílogeneticamente importantes Situações que precedem o acasalamento induzem excitação sexual todo um conjunto de reflexos e padrões fixos de ação que variam imensamente de um a espécie para outra Para os seres humanos acarre tam mudanças no batimento cardíaco na pressão sanguínea e na secreção glandular Situações que precedem perigo induzem uma série de comportamentos agres sivos e defensivos Um rato ataca outro rato quando recebe choque elétrico na presença deste De forma semelhante pessoas que estão sofrendo dor se tornam freqüentemente agressivas e qualquer situação em que tenham no passado senti do dor induz comportamento agressivo Quantos médicos dentistas e enfermeiros têm de lutar com a resistência de pacientes antes mesmo que qualquer dor lhes tenha sido infligida Tais situações induzem um grande número de reações reflexas e padrões fixos de ação que variam de uma espécie para outra Alguns desses com portamentos têm mais a ver com fuga do que com agressão Em situações que sinalizam perigo é bem provável que as criaturas saiam correndo As vezes quan do uma situação envolve dor que no passado tenha sido inevitável os sinais de perigo induzem passividade extrema E o fenômeno conhecido como desamparo aprendido às vezes comparado especulativamente à depressão clínica em seres humanos O debate sobre o que tudo isso significa e sobre a melhor forma de falar sobre esse assunto continua mas não precisa nos deter aqui Para nossos propósitos é suficiente notar que a história de seleção natural pode ter pelo menos dois tipos de resultado Primeiro pode assegurar que eventos importantes para a aptidão 80 Williom M Baum tais como alimento um parceiro sexual ou um predador produzam invariavelmen te reações comportamentais tanto reflexos simples quanto padrões fixos de ação Segundo pode assegurar a susceptibilidade da espécie ao condicionam ento respondente Felipe pode não ter vindo ao mundo salivando frente a um peru assa do mas ele vem sim construído de tal forma que pode aprender esta reação se for criado em nossa cultura Se os indivíduos que conseguiram aprender a reagir a vários sinais possíveis se mostraram mais aptos então os indivíduos dos dias de hoje possuirão um genótipo que será típico da espécie e que terá resultado de uma história de seleção natural que permite esse tipo de aprendizagem Em certo senti do esse genótipo faz a individualidade porque quais os precisos sinais que induzi rão o comportamento dependerá da história particular do próprio indivíduo quan to aos sinais específicos que precederam eventos específicos filogeneticamente im portantes Esses eventos que estamos chamando de filogeneticamente importantes costu mam ser importantes no sentido de induzir reações comportamentais para todos os membros da espécie Essa uniformidade sugere uma história evolutiva em que na população os indivíduos para os quais esses eventos foram importantes no sentido presente foram mais aptos Os genótipos que constituíram indivíduos para os quais comida e sexo não induziram comportamentos apropriados não foram importantes não estão mais conosco É preciso fazer uma distinção entre o que era importante há muito tempo durante a filogênese e o que consideramos importante em nossa sociedade atual A história evolutiva que tornou filogeneticamente importantes o alimento o sexo e outros eventos estendeuse por milhões de anos As circunstâncias ambientais que ligaram esses eventos à aptidão há um milhão de anos poderiam estar ausentes hoje porque a cultura humana pode mudar enormemente em apenas alguns sécu los tempo em que jamais seria possível ocorrer uma m udança evolutiva significati va em nossa espécie Por exemplo se uma nova geração se inicia a cada 20 anos 300 anos representam apenas 15 gerações o que é inquestionavelmente muito pouco para uma mudança substancial nos genótipos E possível que todas as mu danças que ocorreram como resultado da Revolução Industrial o crescimento de cidades e fábricas carros e aviões armas atômicas a família nuclear não tenham tido efeito algum sobre as tendências com portamentais m antidas por nossos genótipos Portanto nossa história evolutiva pode nos ter dado um a preparação inadequada para os desafios de hoje Quando o médico se aproxima para lhe apli car uma injeção sua tendência pode ser ficar tenso prepararse para o perigo ficar de sobreaviso para a fuga ou agressão enquanto a resposta adequada seria relaxar Agora que temos armas nucleares nas mãos quão mais importante se torna refrear tendências agressivas que evoluíram ao tempo em que um bastão era uma arma poderosa Reforçadores e punidores Por que nos submetemos pacientemente a injeções Os analistas de comportamen to explicam nossa tendência à submissão e não à resistência pelas conseqüências Compreender o behaviorismo 81 dessas ações A resistência poderia evitar alguma dor a curto prazo mas a sujeição à picada da agulha está ligada a conseqüências mais importantes a longo prazo tais como saúde e reprodução As conseqüências tendem a modelar o comporta mento e isso serve de base para um segundo tipo de aprendizagem o condiciona mento ou aprendizagem operante Eventos filogeneticamente importantes quando são conseqüências de com portamento são chamados de reforçadores epunidores Os eventos que durante a filogênese aumentaram a aptidão por estarem presentes são chamados reforçadores porque tendem a fortalecer o comportamento que os produz Como exemplos te mos alimento abrigo e sexo Se alimento e abrigo puderem ser obtidos através de trabalho então eu trabalho Se chego ao sexo através de rituais específicos de minha cultura o namoro então eu namoro Os eventos que aumentaram a apti dão durante a filogênese por estarem ausentes são chamados punidores porque tendem a suprimir punir o comportamento que os produz Como exemplos te mos a dor o frio e a doença Se eu faço um agrado em um cão e ele me morde será menos provável que eu o acaricie novamente Se comer amendoim me faz passar mal será menos provável que eu coma amendoim Essas mudanças no comporta mento s gr causa d eju as conseqüências são exemplosdaprendizagem operante Aprendizagem operante Enquanto o condicionamento respondente ocorre como resultado da relação entre dois estímulos um evento filogeneticamente importante e um sinal a aprendiza gem operante ocorre como resultado de uma relação entre um estímulo e uma atividade um evento filogeneticamente importante e um comportamento que afeta sua ocorrência Colocado em sentido amplo há dois tipos de relação entre comportamento e conseqüência positiva e negativa Se você caça ou trabalha para comer esse comportamento tende a produzir alimento ou a tornálo mais provável Tratase aqui de uma relação positiva entre conseqüência alimento e atividade caçar ou trabalhar Se Lourdinha é alérgica a amendoim ela verifica os ingredientes de alimentos industrializados antes de comprálos para se certificar de que não há amendoim ou óleo de amendoim em sua composição e não passar mal Tratase agora de um a relação negativa a atividade verificar os ingredientes evita a con seqüência doença ou a torna menos provável Com dois tipos de relação atividadeconseqüência positiva e negativa e dois tipos de conseqüência reforçadores e punidores temos quatro tipos de relação que podem dar origem à aprendizagem operante Figura 42 A dependência en tre trabalho e alimento e um exemplo de reforço positivo reforço porque a relação tende a fortalecer ou a m anter a atividade trabalhar e positivo porque a ativida de torna provável o reforçador alimento A relação entre escovar os dentes e desenvolver cáries é um exemplo de reforço negativo reforço porque a relação tende a m anter a escovação dos dentes a atividade e negativo porque escovar torna a cárie o punidor menos provável A relação entre caminhar sobre placas de gelo e cair é um exemplo de punição positiva punição porque a relação torna o caminhar sobre o gelo a atividade menos provável e positiva porque a atividade 82 William M Baum Conseqüência Reforçador Punidor D Reforço Positivo Punição Positiva c Positiva S o Negativa Punição Negativa Reforço Negativo Figura 42 Quatro tipos de relação que dao origem à aprendizagem operante torna o punidor queda mais provável A relaçao entre fazer barulho durante uma caçada e pegar a presa é um exemplo de punição negativa punição porque a rela ção tende a suprimir comportamentos ruidosos e negativa porque fazer barulho a atividade torna o pegar a presa um reforçador menos provável Os eventos filogeneticamente importantes não são os únicos reforçadores e punidores Os estímulos que sinalizam eventos filogeneticamente importantes que integram o condicionamento respondente também funcionam como reforçadores e punidores Um cão treinado a pressionar uma barra para produzir alimento tam bém pressionará essa barra para produzir um som que seja seguido por comida Enquanto continuar a sinalizar comida a relação do condicionamento respondente o tom servirá para reforçar o comportamento de pressionar a barra do cão Isso explica porque as pessoas trabalham por dinheiro como trabalhariam pelo próprio alimento como no condicionamento respondente o dinheiro é pareado com ali mento e outros bens Quando um reforçador ou um punidor é o resultado de um condicionamento respondente desse tipo ele é chamado de adquiiido ou condicio nai Os eventos filogeneticamente importantes que se relacionam diretamente com a aptidão são chamados de reforçadores e punidores incondicionais O dinheiro e um som que sinaliza comida são reforçadores condicionais Eventos dolorosos na sala do médico podem transformar a própria sala em um punidor condicional Na sociedade humana os eventos que se tornam reforçadores e punidores condicionais são numerosos e variados Eles diferem de cultura para cultura de pessoa para pessoa e de tempos em tempos ao longo da vida de um indivíduo Eu quando estava na primeira série lutava por medalhas de ouro hoje incentivo meu filho a batalhar por adesivos que mostram uma carinha sorridente Nos Estados Unidos quando estamos doentes marcamos consultas com médicos em outras culturas as pessoas marcam consultas com mágicos e curandeiros Lourdinha que é alérgica a amendoim acha o cheiro e o aspecto do creme de amendoim detestá N de T Happyfcice stickers são dados a crianças na escola no dentista ou em outras situa ções em que se deseja reforçar um certo comportamento Compreender o behaviorismo 83 veis e se esquiva dele Eu que como creme de amendoim diariamente no almoço vou sempre à m ercearia para comprálo Meu problema é com pimentão verde colocoo de lado quando vem na salada do restaurante O fato de um estímulo se tornar ou se manter reforçador ou punidor condi cional vai depender de sinalizar um reforçador ou um punidor incondicional O dinheiro se mantém como reforçador enquanto sinaliza a obtenção de alimento e de outros reforçadores incondicionais Nos primórdios da existência dos Estados Unidos o governo lançou uma moeda chamada de continental que acabou per dendo o valor porque não tinha muito lastro em ouro isto é não havia muita possibilidade de resgatar o papel por valores reais As pessoas se recusavam a rece ber o título como pagamento e ele parou de funcionar como reforçador Meu ami go Mark que é páraquedista ficou aterrorizado na primeira vez em que saltou de um avião e hesitou por muito tempo antes de pular novamente Entretanto após muitos saltos sem nenhum acidente ele salta agora sem hesitação o salto deixou de ser um punidor Para mim que nunca saltei de um avião só resta admirar a força dos reforçadores condicionais que mantêm esse comportamento Esse último exemplo ilustra um ponto importante a ser lembrado quando discutimos reforço e punição o comportamento com freqüência tem conseqüên cias mistas Frases dó tipo Tem que ser com sofrimento e Graças a Deus hoje é sextafeira revelam essa característica de nossas vidas A vida é cheia de opções entre alternativas que oferecem diferentes combinações de reforço e punição Com parecer ao trabalho propicia tanto receber a remuneração reforço positivo quan to sofrer aporrinhações punição positiva enquanto faltar sob pretexto de estar doente pode acarretar alguma perda monetária punição negativa evitar as apor rinhações reforço negativo propiciar alguns feriados reforço positivo e levar a algum tipo de reprovação no local de trabalho punição positiva Qual desses conjuntos de relações prevalecerá depende da força de cada uma delas o que por sua vez depende tanto das circunstâncias presentes quanto da história pessoal de reforço e punição Fatores biológicos Reforço e punição precisam ser compreendidos à luz das circunstâncias em que nossa espécie evoluiu Como a sensibilidade ao reforço e à punição aumenta a aptidão apenas em algumas circunstâncias e como algumas dessas sensibilidades aumentam mais a aptidão do que outras a filogênese nos deixou uma fisiologia Que de várias formas tanto ajuda como obstrui a ação do reforço e da punição Os analistas de comportam ento consideram três tipos de influência fisiológica Primeiro nenhum reforçador funciona como reforçador o tempo todo Se você acaba de comer três fatias de torta de maçã e seu cortês anfitrião ainda lhe oferece mais uma você agora provavelmente vai recusar Por mais poderoso que seja o reforçador ainda é possível a saturação Se você passou um certo tempo sem o reforçador é provável que ele se mostre poderoso isso é privação Se recente mente você recebeu muito desse reforçador é provável que ele se mostre fraco isso é saciação E até possível que um reforçador se transforme em punidor como bem 84 Williom M Baum sabem todos que um dia comeram demais Se você já está satisfeito com a torta de maçã ter de comer um a outra fatia seria demais seria um punidor A tortura m edie val com água fazia uso dos efeitos punitivos de forçar o indivíduo a beber água além de sua capacidade É provável que essa tendência dos reforçadores a se forta lecerem e se enfraquecerem e mesmo a se tornarem punidores tenha evoluído porque os indivíduos que a possuíam conseguiram melhores índices de sobrevivên cia e de reprodução do que os que não a possuíam Segundo é possível que venhamos ao mundo fisiologicamente preparados para determinados tipos de condicionamento respondente Alguns reforçadores e punidores condicionais parecem ser mais facilmente adquiridos do que outros Al guns exigem muita experiência outros exigem m uito pouca Mesmo alguns reforçadores e punidores aparentemente incondicionais parecem depender um pouco da experiência Quando criança eu odiava cogumelos mas hoje colocoos crus em minha salada Da mesma forma o poder reforçador do sexo parece crescer com a experiência Por outro lado alguns reforçadores e punidores aparentem ente con dicionais são facilmente adquiridos tão facilmente que mal parecem condicionais Para crianças e alguns adultos o doce é um reforçador poderoso Nossos ances trais que comiam muita fruta beneficiavamse da predileção por comida de sabor adocicado porque a fruta madura doce é mais nutritiva do que a fruta verde Conseqüentemente a maioria dos seres humanos vêm ao mundo preparada para desenvolver o gosto pelo sabor doce infelizmente para alguns de nós agora que a rápida mudança cultural tornou muito fácil o acesso a doces Um outro exemplo dessa aprendizagem preparada é o medo de cobras Mui tas crianças manusearão cobras com facilidade e sem demonstrar medo mas mos tram uma sensibilidade especial para qualquer sugestão de que cobras devam ser temidas A mesma criança que uma semana atrás manuseou uma cobra pode hoje gritar e se esconder ao ver a mesma cobra Para nossos ancestrais as cobras eram provavelmente um perigo real e a seleção teria favorecido os indivíduos predispos tos a se amedrontar Com efeito experimentos com macacos demonstram que eles têm o mesmo padrão de neutralidade inicial seguida de um a aquisição extrem a mente facilitada de medo de cobra Mineka et aL 1984 Os seres humanos parecem ser especialmente sensíveis também a sinais de aprovação e desaprovação de outros Alguns desses sinais como o sorriso e o fran zir de sobrancelhas são universais outros variam de uma cultura para outra A aprovação e a desaprovação podem ser expressas por sons gestos e mesmo postu ras corporais excessivamente sutis para um forasteiro mas evidentes para todos que cresceram naquela cultura Em uma espécie social como a nossa a aptidão de cada indivíduo depende das boas relações com os outros membros da comunidade É provável que nossa história de seleção tenha favorecido tanto a sensibilidade a dicas incondicionais como o sorriso e a carranca quanto à capacidade de apren der quaisquer dicas condicionais com especial facilidade Em vez de tentar separar reforçadores e punidores em duas categorias condi cionais e incondicionais talvez seja mais sensato falar em um contínuo de condi cionalidade de altamente condicional a minimamente condicional Doces e cobras talvez sejam minimamente condicionais enquanto dinheiro e fracasso em exames seriam mais condicionais Sorrisos e carrancas talvez sejam minimamente condido Compreender o behaviorismo 85 nais enquanto o menosprezo e o encorajamento sutis seriam altamente condicio nais Qualquer que seja o ponto de vista adotado dois pontos parecem claros 1 há uma faixa extrem am ente am pla de eventos que podem ser reforçadores e punidores 2 em última análise todos os reforçadores e punidores direta ou indiretamente derivam seu poder de seus efeitos sobre a aptidão ou seja de uma história de evolução por seleção natural A terceira influência fisiológica é a preparação do caminho para certos tipos de aprendizagem operante A estrutura de meu corpo faz com que certas aprendi zagens sejam improváveis Por mais que eu abra minhas asas parece que nunca aprendo a voar Por outro lado é extremamente provável que uma águia abra as asas e aprenda a voar É evidente que ela aprende em parte porque tem asas mas também porque está predisposta a usálas Nossa espécie também é predisposta a se comportar de determinadas maneiras e a aprender certas habilidades As crian ças vêm ao m undo com uma especial susceptibilidade para os sons de fala e come çam a balbuciar com pouca idade Virtualmente todas as crianças sem instrução especial acabam falando a língua que ouvem ao seu redor por volta dos 2 anos O falar é aprendido por causa de suas conseqüências pelos efeitos que têm sobre outras pessoas que fornecem reforço e punição As crianças aprendem a pedir bolachas porque é assim que conseguem que alguém lhes dê bolachas Mas essa aprendizagem é altamente preparada Para uin ser humano falar é tão crucial para a aptidão que os genes que favorecem o aprendizádo da fala haveriam de sofrer substancial seleção Conseqüentemente a fisiologia de nossos corpos torna esse aprendizado um a certeza potencial Como resultado de nossa fisiologia algumas habilidades serão aprendidas com grande facilidade enquanto outras mesmo que sejam muito importantes para nossa vida atual serão mais difíceis de aprender Compare a aprendizagem da fala com a aprendizagem da leitura e escrita A primeira não requer instrução as outras demandam escolas e professores Aprender cálculo pode ser útil mas ainda é um desafio para a maioria das pessoas enquanto dirigir um carro ao que parece qual quer um pode aprender O tipo de coordenação de olhos mãos e pés necessário para dirigir tam bém importante para caçar a presa e para espantar predadores é facilmente adquirido por nós enquanto o pensar abstrato exige mais esforço Por milhões de anos o homem caçou e foi caçado enquanto o cálculo foi inventado há menos de 400 anos Isso significa que há diferenças na facilidade com que se adqui rem diferentes habilidades e que a aprendizagem operante pode funcionar melhor com algumas habilidades falar e dirigir do que com outras ler e fazer cálculo Revisão das influências fiiogenéticas De cinco maneiras a história de seleção natural afeta o comportamento 1 Fornece padrões constantes de comportamento reflexos e padrões fi xos de ação que servem à sobrevivência e reprodução 2 Pode favorecer genótipos responsáveis pela capacidade de condiciona m ento respondente em que inúmeros estímulos neutros podem se tor 86 William M Baum nar promessas ou ameaças de situações prestes a ocorrer liberadores que exigem padrões fixos de ação Se essa capacidade de aprender au menta a aptidão o equipamento fisiológico necessário é selecionado 3 Pode favorecer genótipos responsáveis pela capacidade de condiciona mento operante em que as conseqüências reforçadores e punidores modelam o com portamento do qual dependem Se a aprendizagem operante aumentasse a aptidão durante a filogênese a seleção natural teria providenciado o equipamento fisiológico necessário para esse tipo de flexibilidade Os padrões fixos de ação que servem de base para o condicionamento respondente estímulos e respostas incondicionais de acordo com Pavlov servem também de base para a aprendizagem operante como reforçadores e punidores incondicionais Os sinais ou estímulos condicionais do condicionamento respondente funcionam como reforçadores e punidores condicionais na aprendizagem operante 4 Forneceu mecanismos fisiológicos de privação e saciação pelos quais aumenta ou diminui o poder de afetar o comportamento que têm os reforçadores e punidores 5 Seleciona tendências que favorecem o condicionamento de certos sinais no condicionamento respondente e que fortalecem certas atividades no condicionamento operante Se tais sinais e atividades são especialmente importantes para a aptidão embora alguma flexibilidade tam bém o seja então são selecionados mecanismos fisiológicos que tornam essa apren dizagem particularmente fácil HISTÓRIA DE REFORÇO O termo história de reforço em análise comportamental é na verdade um a for ma abreviada de história de reforço e punição a história de aprendizagem operante de um indivíduo desde o nascimento Nesta seção veremos que se trata de uma história de seleção por conseqüências análoga à filogênese O reforço e a punição modelam o comportamento à medida que ele evolui durante a vida de um indiví duo durante a ontogênese do comportamento da mesma maneira que o sucesso reprodutivo modela as características de uma espécie durante a filogênese Seleção pelas conseqüências Na Figura 41 certos ancestrais de girafa que possuíam pescoços mais curtos ti nham tendência a deixar em média menos sobreviventes do que aqueles que pos suíam pescoços mais compridos A menor e maior aptidão sucessos reprodutivos eram conseqüências dos pescoços mais curtos e mais longos Enquanto essas conse qüências diferenciais existiram curvas 1 e 2 da Figura 41 o comprimento médio do pescoço na popiilação continuava a crescer Quando o processo atingiu seu limi te curva 3 ainda havia conseqüências diferenciais do comprimento do pescoço Compreender o behaviorísmo 87 exceto que agora tanto um pescoço muito curto quanto um pescoço muito longo resultariam em um sucesso reprodutivo abaixo da média porque a variação no comprimento do pescoço atinge o ponto de aptidão máxima linha tracejada na Figura 41 Nessa altura as conseqüências diferenciais do comprimento do pesco ço atuam para estabilizar a população O princípio básico da filogênese é que dentre uma população de índivíduos que variam em genótipo os tipos que têm maior sucesso tendem a se tom ar mais freqüentes ou a perm anecer como tal Um princípio análogo é válido para a ontogênese através de reforço e punição é conhecido como a lei do efeito A lei do efeito Os comportamentos bem e malsucedidos se definem por seus efeitos Em termos cotidianos comportamentos bemsucedidos produzem bons efeitos e comporta mentos malsucedidos produzem efeitos não tão bons ou efeitos ruins Em aprendi zagem operante sucesso e fracasso correspondem a reforço e punição Uma ativi dade bemsucedida é aquela que é reforçada uma atividade malsucedida é aquela que é menos reforçada ou punida A lei do efeito é o princípio subjacente à aprendizagem operante Ela estabe lece que quanto mais um a atividade é reforçada mais ela tende a ocorrer e quan to mais uma atividade é punida menos ela tende a ocorrer Os resultados da lei do efeito são freqüentemente tratados como modelagem porque os comportamentos mais bemsucedidos aumentam e os menos bemsucedidos diminuem à semelhan ça do escultor que molda a massa de argila puxando aqui pressionando lá até que o barro adquira a forma desejada Quando você estava aprendendo a escrever até mesmo as aproximações mais remotas de letras como o e c eram acompanhadas por grandes elogios Algumas dessas tentativas eram melhores do que outras e as melhores eram em geral seguidas por elogios mais entusiásticos Um desempenho realmente fraco pode ter gerado até mesmo desaprovação Gradualmente suas letras adquiriram uma forma melhor Os critérios também mudaram formas que eram elogiadas em um estágio inicial passaram a merecer desaprovação em um estágio posterior Modelagem e seleção natural Os analistas comportamentais pensam que a modelagem do comportamento funcio na exatamente da mesma forma que a evolução das espécies Assim como as dife renças no sucesso reprodutivo aptidão modelam a composição de uma popula çao de genótipos reforço e punição modelam a composição do comportamento de utn indivíduo Para clarificar a analogia pense no conjunto de todos os comporta mentos de um determinado tipo digamos dirigir o carro para o trabalho em que urna pessoa se empenhe por um tempo digamos um mês como semelhante à População de girafas Dirigir o carro para o trabalho é uma espécie de comporta 88 William M Baum mento da mesma forma que girafas são uma espécie de animal e todo o meu comportamento de dirigir o carro durante um mês é um a população de atividades de dirigir exatamente como todas as girafas na Planície de Serengeti são uma po pulação de girafas Assim como algumas girafas são mais bemsucedidas quanto a gerar descendentes alguns de meus episódios de dirigir ações Capítulo 3 são mais bemsucedidos quanto a me conduzir ao trabalho Algumas manobras econo mizam tempo elas são reforçadas Outras fazem perder tempo ou se m ostram perigosas essas são punidas As manobras bemsucedidas tendem a se tornar mais freqüentes ou pelo menos se mantêm constantes ao longo dos meses e as m ano bras malsucedidas tendem a se tornar menos freqüentes ou pelo menos perm ane cem raras ao longo dos meses do mesmo modo que os tipos mais bemsucedidos de girafas tendem a permanecer mais comuns e os tipos menos bem adaptados tendem a permanecer raros Da mesma forma que os tipos mais bem adaptados de girafas são selecionados por seu sucesso as maneiras mais bem adaptadas de diri gir um carro são selecionadas pelo seu sucesso Ao longo do tempo a seleção resul ta ou em evolução ou em estabilização da forma de dirigir Suponha que tomemos a Figura 41 e coloquemos velocidade de dirigir em relação ao limite de velocidade em substituição a comprimento de pescoço e eficiên cia economizar tempo sem perigo excessivo em substituição a aptidão O resulta do é a Figura 43 As três curvas de freqüência podem se referir a três estágios diferentes em minha aprendizagem de dirigir Primeiramente eu tendo a dirigir em baixa velocidade curva 1 À medida que adquiro competência dirijo mais velozmente curva 2 Porque estas velocidades tendem a ser menos eficientes menos reforçadas minha velocidade gradualmente m uda para o que é hoje cur va 3 coincidindo em média com a velocidade mais eficiente representada pela linha tracejada cerca de 8 quilômetros por hora acima do limite de velocidade Compreender o behaviorísmo 85 Assim como ocorre com a evolução a modelagem do comportamento opera sobre a população e sobre a média Quando meu comportamento de dirigir estava sendo modelado digamos curva 2 na Figura 43 a velocidade maior significava maior eficiência somente em termos médios As vezes a velocidade maior era me nos eficiente eu posso ter sido detido por um policial ou talvez tenha sofrido um acidente Às vezes a velocidade maior deixava de ser eficiente talvez toda a minha correria só tenha servido para me deixar preso bem na reta final atrás de um vagaroso ônibus escolar ou à espera da passagem de um trem Nem toda ação de um certo tipo precisa ser reforçada ou punida para que o tipo seja fortalecido ou eliminado ao longo do tempo é apenas em média que o tipo precisa ser mais reforçado ou punido Para a evolução ou estabilização de um a população por meio da seleção natu ral são necessários três ingredientes variação reprodução e sucesso diferencial 1 Para haver seleção entre possibilidades deve haver mais de uma possibilidade isto é os indivíduos na população devem variar na característica comprimento de pescoço na Figura 41 velocidade na Figura 43 ou coloração ou incontáveis outras características 2 As diferentes variações devem tender a se reproduzir isto é os descendentes devem se assemelhar a seus pais no decorrer de gerações Para a seleção natural essa semelhança resulta de herança genética Girafas de pescoço longo e de pescoço curto herdam seus pescoços longos ou curtos de seus pais 3 Entre as variações algumas devem ser mais bemsucedidas do que outras isto é deve haver competição Se todas as variações fossem igualmente aptas se em vez da curva mostrada na Figura 41 a aptidão fosse representada por uma linha reta então a característica comprimento do pescoço não se deslocaria em uma direção específica nem perm aneceria estável porém oscilaria de modo imprevisível de um a hora para outra Como o pescoço muito curto reduz a aptidão a população movese uniformemente na direção de pescoços compridos no ponto em que um pescoço longo demais também diminui a aptidão a população fica estável A modelagem por reforço e punição requer os mesmos três ingredientes varia ção reprodução e sucesso diferencial 1 Na modelagem a variação ocorre na população de ações que servem a um propósito semelhante dirigir em nosso exem plo que serve para nos transportar Você raramente faz a mesma coisa duas vezes exatamente do mesmo jeito Às vezes você escova os dentes com força às vezes com delicadeza Às vezes você fala alto às vezes fala baixo Às vezes eu dirijo acima do limite de velocidade às vezes abaixo A população de escovações fortes ou delicadas de vocalizações altas ou baixas ou de conduções mais ou menos velo zes varia exatamente da mesma forma que a população de girafas de pescoços mais compridos é mais curtos 2 Para que a modelagem ocorra as atividades devem tender a se repetir reproduzir de tempos em tempos Se eu escalar um pico ape nas uma vez na vida não há oportunidade para que meu comportamento de esca lar picos seja modelado Porque eu escovo os dentes todos os dias há muitas opor tunidades para que meu comportamento de escovar os dentes seja modelado 3 aia a modelagem sucesso diferencial significa reforço e punição diferenciais Eu talo alto com minha avó caso contrário ela não pode me ouvir e reforçar meu Co Aporta mento de lhe falar Se falo alto demais ela me repreende dizendo Não 90 Williom M Baum grite comigo rapaz Quase sempre consigo achar uma intensidade de voz agradá vel para que possamos manter uma boa conversa ou seja algumas imensidades sonoras são mais bemsucedidas do que outras do mesmo modo que na Figvra 43 algumas velocidades são mais bemsucedidas do que outras Assim como ocorre na seleção natural há um limite para o tamanho da população você escova seus dentes apenas duas ou três vezes ao dia e eu dirijo meu carro durante um número limitado de horas por mês Como as variações mais bemsucedidas tendem a se reproduzir mais freqüentemente dia a dia ou mês a mês as variações menos bem sucedidas tendem a se tornar menos freqüentes Enquanto algumas variações fo rem reforçadas ou punidas mais freqüentemente que outras a população de ações irá se deslocar ou permanecer estável como na Figura 43 Quando uma pessoa administra reforço e punição intencionalmente com o propósito de alterar o comportamento de outra pessoa temos o que se chama de treino ensino ou terapia Os mesmos princípios de reforço e punição se aplicam quer estejamos falando de um técnico esportivo treinando um time de um adestra dor de animais treinando um urso a dançar de um professor ensinando uma crian ça a ler ou de um terapeuta ajudando um cliente a ser mais assertivo com seus superiores A única diferença é que esses exemplos de modelagem constituem rela cionamentos isto é duas pessoas estão envolvidas e o comportamento de ambas está sendo modelado Os Capítulos 7 9 e 11 apresentam mais detalhes a esse respeito Treino ensino e terapia se assemelham ao cruzamento seletivo processo em que o sucesso reprodutivo quais indivíduos conseguem procriar é determinado por uma pessoa e não pelo ambiente natural Quando fazendeiros cruzam apenas as vacas que produzem mais leite eles estão tirando vantagem da herança genética da produção de leite da mesma forma que a seleção natural se aproveita da heran ça de traços vantajosos no ambiente natural Darwin teve a idéia de seleção natu ral em parte por observar o cruzamento seletivo Ele percebeu que o mesmo prin cípio se aplicava à fazenda e à natureza De forma semelhante os mesmos princí pios de reforço e punição se aplicam a nosso ambiente natural nãoestruturado e a situações especialmente estruturadas para a mudança de comportamento Explicações históricas O paralelo entre seleção natural e modelagem não é mero acidente pois ambas as idéias existem para solucionar problemas semelhantes No Capítulo 1 vimos como a teoria da seleção natural de Darwin forneceu a primeira explicação científica da evolução Antes dela até mesmo entre aqueles que rejeitavam a explicação exata da Bíblia era comum considerar a evolução como resultado do planejamento inte ligência ou intenção de Deus Do ponto de vista científico tal explicação é macei tável porque obstrui o avanço do conhecimento e impede o esforço em direção ao progresso verdadeiro Assim como a seleção natural substituiu a intenção divina a seleção por reforço e punição substitui as explicações mentalistas do comporta mento que se referem a planejamento inteligência ou intenção no interior da pes soa ou do animal que se comporta Compreender o behoviorismo 91 A Figura 44 resume o paralelo entre seleção natural e modelagem Ambas as idéias baseiamse na noção de mudança gradual ao longo do tempo ou seja baseiamse em um a história No processo de evolução por seleção natural a histó ria é a filogênese m udança gradual de traços de base genética Na modelagem de comportamento a história é a mudança gradual do comportamento de um indiví duo devida a sua interação com as relações de reforço e punição em seu ambiente Figura 42 Sua história pessoal de reforço e punição inclui todas as vezes em que seu comportamento produziu comida dinheiro aprovação dor ou desaprovação todas essas conseqüências que modelaram seu comportamento transformandoo no que é hoje Ela é parte da ontogênese de seu comportamento Ambas as idéias referemse a uma população em que ocorre variação Na evolução a variação ocorre em uma população de indivíduos sendo que a variação crucial se dá nos genótipos dos indivíduos Na modelagem a variação ocorre em uma população de tipos de ação que engloba todas as diferentes formas que um indivíduo pode exibir no desempenho de uma dada tarefa ou atividade como esco var os dentes ou ir a um a loja Ambas as idéias exigem a reprodução de tipos Na seleção natural os genótipos são passados de geração a geração por herança genética Na modelagem as ativi dades se repetem porque as ocasiões em que elas são oportunas se repetem Eu escovo meus dentes todas as manhãs e todas as noites porque me levanto todas as manhãs e me deito todas as noites As pessoas normalmente chamam tal repetição de hábito O mecanismo preciso subjacente ao hábito deve residir no sistema nervoso mas sabese muito menos sobre esse mecanismo do que sobre a transfe rência genética de características de país para filhos Ambas as idéias atribuem a mudança à seleção por sucesso diferencial Na seleção natural a alteração nos genótipos que compõem uma população é devida à aptidão diferencial ou ao sucesso reprodutivo Na modelagem a alteração nas for Hisfória População Variação Reprodução Seleção Explicação substituída Seleção natural Filogênese Genótipos Herança genética Aptidão diferencial Deus Criador Modelagem História de reforço e punição ontogênese Tipos de ação comporta mento Repetição ou Hábito Reforço e punição diferenciais Intenção vontade inteligência mentaÜsmo Figura 4 Paralelo entre seleção natural e modelagem 92 William M Baum mas de desempenhar um a atividade os tipos de ação se deve a reforço e punição diferenciais as diferenças na eficácia de diferentes tipos de ação Finalmente cada uma dessas idéias substitui um a explicação nãocientífica anterior À seleção natural substitui Deus o Criador a força oculta que guia a evo lução por uma explicação em termos puramente naturais A aparente inteligência e intencionalidade das formas devida são vistas como o resultado da seleção atuando sobre a variação Para as girafas é bom ter pescoço comprido mas nem elas nem o Criador merecem crédito por isso porque foi o ambiente que transformou os pes coços compridos em um a coisa boa e foi ele também que os selecionou A m odela gem por reforço e punição também substitui forças ocultas as causas mentalistas do comportamento por explicações em termos puram ente naturais A inteligência e a intencionalidade das ações são vistas como resultado da seleção reforço e punição atuando sobre a variação Para mim é bom dirigir meu carro de forma atenta e cuidadosa mas nem eu nem qualquer intenção ou inteligência interna merecemos crédito por isso porque foi o ambiente que transformou o dirigir com petente em uma coisa boa e foi ele também que o selecionou As explicações históricas tal como a seleção natural e o reforço diferem das explicações científicas que se baseiam em causas imediatas O nascer do Sol é expli cado por uma causa imediata a rotação da Terra Na explicação histórica a causa do evento não está presente em lugar nenhum mas é toda uma história de eventos passados O pescoço comprido da girafa não pode ser explicado por nenhum even to no momento de seu nascimento ou mesmo de sua concepção mas é explicado pela longa história de seleção que o produziu ao longo de milhões de anos Igual mente a velocidade com que dirijo meu carro não pode ser explicada por nenhum evento no momento em que dirijo ou mesmo no momento em que entro no carro mas é explicada pela história de modelagem que a produziu no decorrer de muitos meses ou anos Biólogos evolucionistas fazem uma distinção entre explicações próximas e ex plicações últimas Alcock 1998 A explicação im ediata de um padrão de com por tam ento referese aos mecanismos fisiológicos que determinam o desenvolvimento do padrão a partir da concepção A dotação genética de um indivíduo explica de m aneira imediata porque o indivíduo espirra sorri e é capaz de aprender Mas a questão mais ampla é porque de início o indivíduo tem aquela carga genética e essa não pode ser explicada pelo momento da concepção ou por qualquer outro momento A explicação última referese à afiliação do indivíduo a um a população ou espécie e estritam ente falando aplicase à população e jam ais ao indivíduo Seres humanos espirram e aprendem porque este reflexo e esta capacidade aum en taram a aptidão dos seres humanos e de seus ancestrais ao longo de milhões de anos essa é a explicação última Explicações últimas são explicações históricas já explicações im ediatas são explicações em termos de causas imediatas Se soubéssemos o suficiente sobre a fisiologia do sistema nervoso talvez fosse possível explicar porque dirigi a 90 quilô metros por hora às 855 do dia 10 de junho Seria então uma explicação im ediata desse momento particular de meu comportamento assim como a genética molecular e a embriologia poderiam vir a fornecer uma explicação imediata da razão por que tenho duas mãos e dois pés Mas a explicação para a população de minhas veloci Compreender o behaviorismo 93 dades ao dirigir ser tal qual é mês após mês não pode ser dada pela fisiologia de meu sistema nervoso pelo mesmo motivo por que as duas mãos e os dois pés dos seres humanos não podem ser explicados pelo desenvolvimento embriológico ou genético de uma pessoa em particular A população requer uma explicação última ou histórica Posso em dada ocasião entregar minha carteira a um homem arma do a explicação histórica indica que esse evento pertence a uma população ação chamada digamos de submissão à ameaça e remete à longa história de reforço pela submissão a ameaças do pátio de recreio à sala de aula e às ruas da cidade de Nova York As pessoas parecem preferir explicações imediatas provavelmente porque é mais simples pensar os eventos como bolas de bilhar batendo umas nas outras do que em termos de história Quando uma ação não tem uma causa imediata visível somos tentados a inventála em vez de olhar para a história de reforço que produ ziu a atividade à qual ela pertence Se a história de reforço responsável pela ida de Fábio ao cinema quando deveria ter ficado estudando é obscura podemos cair na tentação de dizer que sua força de vontade falhou Isso claro é mentalismo O Capítulo 3 criticou extensamente o mentalismo mas nunca ofereceu uma alternativa agora estamos em posição de poder sugerir uma explicação cientifica mente aceitável para propósito e intenção Como mencionamos no início desta parte do livro os detalhes da explicação mudarão com o tempo Tudo que precisa mos é demonstrar que uma explicação verdadeiramente científica é possível Este é o assunto do Capítulo 5 RESUMO A teoria da evolução é importante para a análise comportamental sob dois aspectos Primeiro muito do comportamento se origina da herança genética derivada da história de evolução da espécie filogênese A seleção natural fornece os refle xos e padrões fixos de ação a capacidade de condicionamento respondente a ca pacidade de aprendizagem operante os reforçadores e punidores cuja eficácia muda com o tempo e o contexto e as variações que favorecem determinados tipos de condicionamento respondente e operante Segundo a teoria da evolução fornece um modelo de explicação histórica que é o tipo de explicação que se aplica ao comportamento operante A história de reforço e punição é análoga à história de seleção natural exceto que a primeira opera sobre um tipo de comportamento população de ações durante a vida de um indivíduo enquanto a segunda opera sobre uma espécie população de orga nismos ao longo de muitas gerações Ambos os conceitos substituem explicações nãocientíficas que remetem a um agente inteligente e oculto que guiaria a mu dança evolutiva ou comportamental Enquanto na física e na química as explicações se baseiam em causas imediatas as explicações históricas se referem a efeitos cumulativos de muitos eventos ao longo de muito tempo As mudanças produzidas em uma população como resultado de seleção pelas conseqüências não podem ser localizadas em um momento específico 94 William M Baum Tal como a fílogênese a história de reforço se refere a muitos eventos do passado e foram eles que todos juntos produziram o comportamento presente LEITURAS ADICIONAIS Há muitos livros em diversos níveis que tratam dos tópicos deste capítulo em i maior profundidade j t Alcock J 1998 Animal behavior an evolutionary approach Sunderland Mass Sinauer Associates 6 ed Excelente texto introdutório que cobre a teoria da evolução e a sociobiologia Barash D 1982 Sociobiology and behavior Nova York Elsevier 2 ed Excelente trata mento mais avançado que o de Alcock j EiblEibesfeldt 1 1975 Ethology the biology of behavior Nova York Holt Rinehart and Í Winston 2 ed Esse livro apresenta um tratamento excelente dos padrões fixos de ação j especialmente em seres humanos Gould J L 3982 Ethology the mechanisms and evolution of behavior Nova York Norton i Um livro mais atualizado do que o de EiblEibesfeldt embora não necessariamente melhor j Mazur J E 2002 Learning and behavior Englewood Cliffs NJ PrenticeHall 5 ed j Texto avançado sobre análise comportamental que fornece uma boa visão geral da área Mmeka S Davidson M Cook M e Keir R 1984 Observational learning of snake fear in rhesus monkeys Journal of Abnormal Psychology 93 355372 Esse artigo relata um estudo f sobre a fácil aquisição de medo de cobras por macacos j Segai E E 1972 Induction and the provenance of operants In R M Gilbert e J R i Millenson eds Reinforcement behavioral analyses Nova York Academic Press p 134 t Uma excelente revisão técnica sobre a indução sua interação com o reforço e seus efeitos sobre o comportamento operante i Skinner B F 1953 Science and human behavior Nova York Macmillan Primeiro texto sobre análise comportamental atualmente tem principalmente interesse histórico mas con í tém muitos argumentos e exemplos elucidativos f TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTU10 4 Aprendizagem operante Aptidão Condicionamento clássico Condicionamento operante Condicionamento respondente Desamparo aprendido Eliciar Estímulo condicional Estímulo incondicional Estímulosinal Evento filogeneticamente importante Explicação histórica N de T Título traduzido em português ver Apêndice Compreender o behoviorismo Explicação próxima Explicação última Filogênese Genótipo Induzir Liberador Modelagem Ontogênese Padrão fixo de ação Punição negativa Punição positiva Punidor condicional Punidor incondicional Reflexo condicional Reflexo incondicional Reforçador condicional Reforço incondicional Reforço negativo Reforço positivo Resposta condicional Resposta incondicional Sucesso reprodutivo Intenção e reforço Suponha que um amigo lhe diga que você deve ler o livro Moby Dick e você saia à procura dele nas livrarias A primeira livraria não tem nenhum exemplar então você vai para outra Essa atividade é freqüentemente chamada de intencional por que é supostamente impulsionada por um intenção interna obter e ler o livro Moby Dick Os analistas comportamentais rejeitam a idéia de que uma intenção interna guia a atividade Que podem eles oferecer como alternativa cientificamen te aceitável O Capítulo 4 examinou os estreitos paralelos entre a teoria da evolução na biologia e a teoria do reforço na análise comportamental Vimos que ambas funda mentamse em explicações históricas ao substituir noções nãocientíficas relativas a agentes ocultos Criador inteligência ou vontade atuando nos bastidores Neste capítulo veremos exatamente como o conceito de história de reforço e punição substitui as noções tradicionais acerca de intenções internas HISTÓRIA E FUNÇÃO Vimos no Capítulo 4 que explicações históricas são explicações últimas e que ex plicações últimas elucidam a razão da existência de populações de organismos ou ações e têm pouco a dizer sobre as peculiaridades de organismos ou ações individuais Aponte para uma zebra e pergunte a um biólogo evolucionista sobre suas listras você obterá uma explicação de por que as zebras como um grupo têm listras Se você na verdade quiser saber por que aquela determinada zebra tem um padrão de listras que a torna diferente de outras zebras você terá de procurar um embriologista ou um especialista em desenvolvimento Aponte para uma criança e pergunte a um analista de comportamento por que ela está batendo em seu companheiro com um caminhão de brinquedo você obterá uma explicação sobre por que aquela criança 98 William M Baum está exibindo o grupo de ações que chamamos de comportamento agressivo Se você quiser saber por que a agressão envolve aquele determinado brinquedo e aqueles músculos particulares do braço terá de consultar um fisiólogo Quando biólogos evolucionistas ou analistas de comportamento falam mais especificamen te de uma população eles o fazem definindo subpopulações ou subcategorias Os pardais de coroa branca podem cantar ligeiramente diferente de um a região para outra e eu posso dirigir mais rápido quando estou atrasado do que em outras circunstâncias mas os pardais de uma determinada região e os episódios de dirigir quando estou atrasado continuam sendo populações e continuam sendo explica dos historicamente A explicação histórica e o raciocínio em termos de população andam lado a lado e ambos dem oram um pouco para ser assimilados Isso vale para a explicação histórica usada na análise de comportamento pois as pessoas estão muito predis postas a procurar explicações em causas que estão presentes no momento da ação Quanto ao raciocínio em termos de população as pessoas não estão acostumadas a agrupar ações tendo como parâmetro suas funções isto é em termos do que elas realizam Ao invés elas o fazem tendo como parâmetro sua aparência Vejamos agora mais detalhadam ente como explicações históricas e definições funcionais podem ser empregadas 0 uso de explicações históricas Pelo menos desde que Freud inventou a psicanálise psicólogos e leigos acostuma ramse com a idéia de que eventos da infância afetam nosso comportamento na vida adulta Se fui vítima de violência quando criança posso tender a ser violento com meus próprios filhos quando for adulto Se minha família sempre se reunia para jantar isso poderá parecer essencial para mim quando me tom ar paí de famí lia Observações desse tipo compõem a base das explicações históricas Eu me com porto de determ inada maneira quando adulto por causa dos eventos de minha infância História versus causa imediata É uma grande tentação ao que parece representar de algum modo os eventos da infância no presente Se nenhuma causa óbvia pode ser encontrada no presente a tentação é inventar uma Se eu sofri um trauma quando criança dizse que tenho ansiedade ou um complexo que hoje causa o comportamento maladaptado Se um adolescente cresceu em uma família perturbada ele se comporta mal hoje por que tem baixa autoestima Noções como essas são exemplos de mentalismo a prática de invocar causas imaginárias para tentar explicar o comportamento Falar de ansiedade complexos ou autoestima não acrescenta nada ao que já é conhecido a conexão entre even tos passados e o comportamento presente Atribuir a delinqüência à baixa auto Compreender o behoviorísmo 99 estima de nenhum modo explica a delinqüência De onde vem a baixa autoesti ma Como ela causa a delinqüência Há alguma evidência de baixa autoestima além do comportamento que ela deveria explicar A baixa autoestima é alguma coisa além de um rótulo para a categoria de comportamentos que ela deveria expli car A maneira de escapar dessa armadilha é aceitar que eventos ocorridos há muito tempo possam afetar o comportamento presente de forma direta Se um menino apanhava e era rejeitado quando criança esse fato pode contribuir para seu comportamento de roubar carros na adolescência mesmo após uma lacuna temporal Lacunas temporais A relação observada entre ambiente e comportamento continua a despeito de uma lacuna temporal mas não é aí que reside sua importância científica ou prática Se pessoas que sofreram violência na infância tendem a ser violentas com crianças quando adultos a lacuna entre a infância e a vida adulta não altera a utilidade desse fato que pode levar à terapia e a uma melhor compreensão dos efeitos da experiência passada Mesmo que não tenhamos nenhuma idéia sobre que mecanis mos somáticos perm item essa relação no tempo não precisamos recorrer ao mentalismo nem hesitar em fazer uso das observações Em análise comportamental os episódios que envolvem lacunas temporais assemelhamse àqueles que na física envolvem ação a distância O conceito de gravidade demorou para ser aceito porque parecia estranho que um corpo pudesse exercer influência sobre outro mesmo estando distante dele A gravidade foi final mente aceita porque se m ostrou útil na explicação de fenômenos tão diversos quanto a queda dos corpos e o efeito da Lua nas marés As concepções sobre seus mecanis mos apareceram muito mais tarde Com respeito a lacunas temporais é inquestionável que toleramos relações que envolvem pequenas lacunas Se eu bater um dedo do pé e ainda sentir dor um minuto depois ninguém questionará a idéia de que meu comportamento agora resulta da batida um m inuto antes Se um professor disser a uma criança Levante a mão se tiver dúvidas e a criança levantar a mão cinco minutos depois não temos nenhuma dificuldade em atribuir essa ação à combinação da instrução do professor com o fato da criança ter encontrado dificuldade apesar do lapso de cinco minutos entre esses eventos Lacunas mais longas entretanto anos ou mesmo horas dão margem à tentação de recorrer ao mentalismo Em termos do efeito sobre o comportamento atual não há em princípio nenhuma diferença entre minha batida no dedo do pé há um minuto e meu traum a de 30 anos atrás Um evento ocorreu há muito mais tempo do que o outro mas não há nenhuma necessidade de inventar um complexo Para explicar o segundo como não havia para explicar o primeiro Do mesmo modo nao há em princípio nenhum a diferença entre combinar a instrução do professor e as dúvidas da criança e combinar uma promessa feita na segundafeira com um tOO William M Baum encontro na sextafeira Em cada caso a combinação do evento anterior com o evento posterior torna provável determinado comportamento em um momento posterior A lacuna de quatro dias não requer mais do que a lacuna de cinco minu tos a invenção de um a memória para ligar os eventos Respostas a instruções e promessas que envolvem lacunas de cinco minutos ou quatro dias permitem supor a possibilidade de outras lacunas mais longas Assim como respostas atuais a traumas de infância surgem apesar de uma lacuna de m uitos anos também respostas atuais a instruções e promessas surgem de even tos m uito anteriores Sem uma história de seguir instruções e fazer promessas nem a criança nem o professor poderiam comportarse adequadamente Para que a criança obedeça ao professor é necessário que tenham ocorrido muitas situações nas quais ela foi instruída a fazer alguma coisa seguiu as instruções e seu compor tam ento foi reforçado Para você sair procurando o Moby Dick porque um amigo lhe recom endou é necessário ter havido ocasiões no passado nas quais você seguiu esse tipo de conselho e os resultados foram reforçadores Do mesmo modo fazer e cum prir promessas tem de ter sido reforçado muitas vezes no passado para que um a pessoa agora faça e cumpra um a promessa A instrução específica que foi seguida pode nunca ter sido ouvida antes e a prom essa específica pode nunca ter sido feita antes mas cada história envolve m uitos exemplos semelhantes ao caso em discussão Ninguém jamais lhe havia dito para ler Moby Dick mas as pessoas lhe dizem para fazer outras coisas algumas das quais você faz A história não necessita incluir a instrução específica nem a promes sa específica porque seguir instruções e manter promessas são categorias basea das não na estrutura ou na aparência mas na função Unidades funcionais U m a classe ou categoria funcional é definida pelo que seus membros fazem como agem ou funcionam e não por sua composição ou aparência Um exemplo de unidade estrutural poderia ser móveis com quatro pernas porque basta que uma coisa seja construída de determinado modo para pertencer a essa classe enquanto m esa poderia ser exemplo de uma classe funcional pois para pertencer a essa classe bastaria a uma coisa existir para a finalidade de se colocar objetos sobre ela Uma m esa pode ter três quatro seis ou oito pernas não faz diferença como foi construída Uma classe ou categoria é chamada de unidade quando é tratada como um todo singular Se eu digo que vou comprar uma mesa o objeto particular que trarei p ara casa ainda é desconhecido mas não há dúvida acerca da unidade à qual me refiro De forma semelhante se digo que vou à África para ver girafas os indivídu os particulares que eu verei ainda são desconhecidos mas não há nenhuma dúvida sobre a unidade girafas Se eu disser que lhe darei instruções para você chegar a m inha casa as instruções particulares ainda são desconhecidas mas não há nenhu m a dúvida sobre a unidade instruções Compreender o behaviorismo 101 Espécies como unidades funcionais Antes do advento da moderna teoria da evolução era comum classificar as criatu ras de acordo com sua aparência ou de acordo com sua estrutura Isso funcionava razoavelmente bem exceto que surgiam divergências quando duas espécies se pa reciam tanto que era praticamente impossível distinguilas A variação na colora ção e na estrutura do esqueleto de uma espécie de lagarto poderia tornar impossí vel dizer só por olhar se um determinado exemplar era membro daquela espécie ou de um a outra espécie que apresentava variações semelhantes Hoje em dia os biólogos evolucionistas não definem mais as espécies de acordo com sua estrutura em vez disso passaram a definilas de acordo com o modo como se reproduzem Uma espécie é uma população cujos membros cru zam entre si mas não com os membros de outras populações Cada espécie é uma unidade reprodutiva distinta de outras unidades reprodutivas porque o acasalamento ocorre intraespécies e não entre espécies Há duas espécies de sapo que não se distinguem pela aparência e anatomia e contudo uma delas procria ao am anhecer e a outra ao pôrdosol São duas espécies distintas porque os membros de um a nunca cruzam com os membros da outra Mesmo que se possa fazer dois sapos de espécies diferentes cruzarem em laboratório se eles nunca cruzarem no habitat natural ainda pertencerão a duas espécies distintas Ás hienas têm um a aparência diferente dos chacais mas o que os torna espécies diferentes é que hienas e chacais não cruzam um com o outro O que importa é o que as espécies fazem como funcionam em termos reprodutivos não como parecem soam ou são construídas Atividades como unidades funcionais Categorias molares de ação como as discutidas por Ryle e atividades estendidas no tempo discutidas por Rachlin Capítulo 3 são unidades funcionais Seus mem bros incluem atividades que se estendem ao longo do tempo por exemplo Fábio amar Juliana inclui o fato de escrever sobre ela em seu diário e que podem ser interrompidos por outras atividades por exemplo trabalhar Uma ação operante é uma classe de atos que têm todos o mesmo efeito sobre o am biente No laboratório os operantes habitualmente estudados são a Pressão à barra e o bicar um disco A pressão à barra por exemplo inclui todos s atos que têm o efeito de baixar a barra Não faz nenhuma diferença se o rato Pressiona a barra com a pata esquerda a pata direita o nariz ou a boca são todos exemplos de pressão à barra No mundo em geral reconhecemos operantes qüando falamos de abrir a porta da frente ou ir à cidade como unidades Corno no caso da pressão à barra o operante abrir a porta da frente inclui todos 0s atos que têm o efeito de produzir a porta aberta Não faz nenhuma diferença Se abro a porta com m inha mão esquerda ou direita ambos são casos de abrir a Prta da frente Na perspectiva molar abrir a porta da frente constituiria uma 102 William M Baum atividade ela poderia ser interrom pida por alisar a roupa que se usa mas o todo seria um episódio da atividade e possivelmente parte da atividade mais extensa de saudar um convidado Falár do comportamento em termos de unidades funcionais não é na verda de uma escolha mas uma necessidade Basta observar um rato para ver que ele realmente pressiona a barra de várias maneiras Essa variabilidade pode ser reduzi da especificandose por exemplo que apenas pressões com a pata direita serão reforçadas mas aí o rato pressionaria a barra com sua pata direita de várias manei ras A observação cuidadosa sempre revelaria alguma variação pois o rato não pode pressionar a barra exatamente da mesma maneira duas vezes Cada ato indi vidual é único Se essa singularidade dos atos parece um golpe fatal para um a ciência do comportamento cabe lembrar que toda ciência enfrenta o mesmo problema Para o astrônomo cada estrela é única por isso cada uma recebe um nome próprio Para compreender as estrelas o astrônomo as agrupa em categorias gigantes bran cas anãs vermelhas e assim por diante Embora cada criatura seja única o biólogo compreende os seres vivos agrupandoos em espécies Em certo sentido a tarefa da ciência é exatamente agrupar as coisas e os eventos em categorias Reconhecer a semelhança é o começo da explicação As unidades de comportamento devem constituir agrupamentos mas por que agrupamentos funcionais Por que não agrupar atos por exemplo de acordo com os membros ou músculos envolvidos A resposta é que assim como não funcionam para as espécies agrupamentos estruturalmente definidos não funcionam para o comportamento Como no caso da espécie você pode dizer com propriedade que um ato é membro do atividade pressão à barra apenas olhandoo mas qualquer ambigüidade será resolvida não pela aparência do ato mas pelo que ele produz se a barra de fato abaixa A despeito de quão detalhadamente eu possa especificar os movimentos de abrir a porta da frente a ação não conta como abrir a porta da frente a menos que a porta abra Uma ilustração da impossibilidade de definir uma atividade por sua estrutura é o seguinte excerto de um anúncio escrito por Douglas Hintzman da Universida de de Oregon a respeito de uma palestra que seria dada por um estudioso que chamaremos de Dr X Eu pedi ao Dr X para explicar o ler Ele respondeu que é um método que mi lhões de pessoas têm usado para obter conhecimento Os praticantes dessa arte os leitores como o Dr X os chama adotam a posição sentada e permanecem virtualmente imóveis por longos períodos de tempo Eles mantêm diante de si folhas de papel cobertas com milhares de minúsculas figuras e movimentam seus olhos rapidamente para um lado e para outro Enquanto fazem isso é difícil chamar sua atenção e parecem estar em transe Eu não via como essa atividade bizarra poderia trazer conhecimento Suponha que eu fixe o olhar neste pedaço de papel e movimente meus olhos para um lado e para o outro eu disse pegando um pape de sua mesa Isso me tornará sábio Não ele respondeu aborrecendose com meu ceticismo Leva muitos anos de prática para se tornar um leitor competente E além disso isso foi escrito pelo reitor Compreender o behaviorismo i 13 Assim como pressionar um a barra ou abrir uma porta ler é definido não por sua aparência mas pelo efeito que produz Ler em voz alta ocorre quando a audiência pode ouvir Ler em silêncio ocorre quando o leitor é capaz em seguida de demonstrar compreensão respondendo a questões ou agindo de acordo com o texto Tipicamente atribuímos um a determinada ação a uma unidade funcional com base em ambos seu efeito e seu contexto Um rato pressiona uma barra no contexto da câmara experimental na qual a pressão à barra muitas vezes no passado pro duziu alimento Pressões à barra em outro contexto digamos uma câmara na qual elas produzem água pertenceriam a uma atividade diferente As duas ativi dades podem ser rotuladas de pressão à barra por alimento e pressão à barra por água desde que nos lembremos de que por isso ou aquilo significa aqui que produziu isso ou aquilo em muitas ocasiões no passado7 Podemos considerar que submissão a ameaças é uma atividade porque seus membros ocorrem em certo contexto uma ameaça e historicamente têm produzido um certo efeito remo ção da ameaça Entregar a carteira a minha mulher para que pegue dinheiro é uma atividade diferente de entregar a carteira a um ladrão Procurar uma mercadoria nas lojas define uma unidade funcional que ocor re em um certo contexto a mercadoria permitir uma atividade posterior que será então reforçada Um amigo lhe dizer para ler Moby Dick estabelece o contexto para que você procure o livro pois ter o livro permite que você o leia o que provavel mente será reforçado Procurar Moby Dick em livrarias e ler Moby Dick podem ser partes da atividade apreciar M oby Dick Enquanto na análise comportamental falamos da história como definindo o contexto e as conseqüências de um ato na linguagem coloquial diríamos que dife rentes atos têm diferentes intenções Analisaremos agora os modos pelos quais a análise comportamental trata dos vários usos da palavra intenção TRÊS SIGNIFICADOS DE INTENÇÃO A linguagem coloquial tem um rico vocabulário para falar da relação do comporta mento com suas conseqüências Não usamos apenas a palavra intenção mas inú meros outros termos relacionados a ela como propósito expectativa vontade dese jo intuito e assim por diante Esses termos são o que os filósofos chamam de termos intencionais ou expressões intencionais A despeito de toda sua varieda de os termos intencionais na maioria podem ser agrupados quanto ao uso em três tipos função causa e sentimentos tatenção como função uso de intenção e termos semelhantes é facilmente compatível com o discurso Clentífico Se eu disser que a intenção finalidade deste clipe de papel é prender estes papéis não terei dito nada sobre o clipe além do que ele faz nada além de sua 104 William M Baum função Não há controvérsia porque aqui se usa intenção como definição Isto é o que um clipe é algo que prende papéis Aplicado ao comportamento esse uso de intenção indica efeitos A intenção de uma pressão à barra é baixar a barra Nesse sentido podese dizer que as ativi dades se definem em termos de suas intenções Ir para casa é uma atividade que me faz chegar em casa Nesse contexto a casa é também considerada o objetivo de m inha caminha da Quando conhecemos um a longa história de comportamento que tipicamente leva a um certo resultado casa usamos objetivo para designar o reforçador habi tual para aquele comportamento Falando desse modo poderseia dizer que o objetivo da pressão a barra é a comida Podese até interpretar dessa maneira uma afirmação como Pretendo chegar em casa se pretendo chegar em casa significar engajarme em comportamento que normalmente me faz chegar em casa Visto desse modo O rato está preten dendo obter comida pode simplesmente significar que o rato está pressionando uma barra que produziu comida no passado e O rato quer comida pode simples mente significar que ele está se comportando de maneiras que precederam a comi da no passado Todos esses modos de falar poderiam se aplicar ao comportamento de procu rar MobyDick nas livrarias O objetivo é obter o livro mas obtêlo é o efeito habitual de procurar e o reforçador habitual dessa atividade Você está pretendendo encon trar o livro e você deseja o livro significam que você éstá se em penhando em comportamentos que freqüentem ente produziram a mercadoria procurada no pas sado e provavelmente produzirão o livro agora As pessoas geralm ente consideram que objetivos e desejos envolvem algo mais do que simplesmente nom ear reforçadores habituais freqüentemente dizem que a pessoa ou o rato tem alguma coisa em mente nessas ocasiões Isso nos leva ao próximo uso importante de term os intencionais Intenção como causa Termos como pretender e querer parecem se referir a algum evento no futuro que será produzido pelo comportamento Pretendo abrir a porta sugere que meu es forço está dirigido para um evento futuro a porta aberta E claro que um evento futuro não pode causar o comportamento Isso violaria uma regra básica da ciência apenas eventos que realmente tenham acontecido podem produzir resultados As variáveis das quais meu comportamento depende devem estar no passado ou no presente A m aneira habitual de colocar esse problema é transportar a causa do futuro para o presente Como a porta aberta do futuro não pode causar meu comporta mento de abrir o trinco dizse que o comportamento é causado por uma represen tação mental do objetivo ou intenção a porta aberta Como você ainda não en controu o Moby Dick dizse que sua procura é causada por um a representação mental do livro Compreender o behaviorismo 105 No entanto representações mentais de eventos futuros são exemplos de mentalismo vítimas de todos os problemas que discutimos no Capítulo 3 Onde está essa intenção interna De que ela é feita Como essa porta aberta fantasmagórica poderia causar meu comportamento de abrir o trinco Como uma representação interna do MobyDick poderia causar sua procura Isso não é uma explicação serve apenas para obscurecer os fatos relevantes sobre o ambiente abrir o trinco normal mente leva a uma porta aberta e procurar uma mercadoria normalmente produz a mercadoria Esses fatos naturais explicam o comportamento sem nenhuma neces sidade de introduzir intenções internas Comportamento intencional O que há em comportamentos como abrir o trinco que leva as pessoas a denominá los de comportamento intencional William James escreveu que o comportamento intencional consistia de variar os meios variar o comportamento para obter um fim determinado reforçador costu m eiro S e você alguma vez teve problema para abrir uma porta sabe o que James quis dizer Suponha que a chave não gire com pletamente na fechadura O que você faz Você gira a chave várias outras vezes gira rápido gira lentamente empurra puxa movimenta a chave para dentro e para fora e assim por diante Esses são os meios variados Eventualmente a porta abre o fim determinado e o comportamento cessa Em nosso exemplo do Moby Dick se não há o livro em uma loja você vai para outras até que ao encontrálo você pára de procurar Talvez até mais do que a variação na ação o fato da atividade cessar quando o reforçador ocorre parece compelir ao uso da palavra intencional Na definição de James esse aspecto está contido na preposição para antes de fim determinado Somos inclinados a dizer que o comportamento era dirigido ao objetivo reforçador futuro porque ele cessa quando o objetivo é atingido reforço ocorre Isso parece particularmente verdadeiro no caso de comportamentos como procurar alguma coisa Suponha que eu esteja preparando um prato e chegue ao ponto da receita que pede sal Eu vou ao local onde o sal á habitualmente guardado e não o encon tro Procuro em outras prateleiras na mesa em toda a cozinha e na sala de jantar Pergunto onde está o saí a todos que encontro Eventualmente localizo o sal paro de procurálo e continuo cozinhando O sal não apenas é o reforçador para o com portamento que chamamos de procurar o sal ele também é a ocasião para pros seguir com outra atividade é por isso que a atividade cessa O que pode parecer problemático nessa explicação de procurar o sal é que eu talvez nunca tenha procurado o sal antes Freqüentemente procuramos coisas que nunca havíamos procurado antes e poderia parecer que não houve nenhuma história de reforço para explicar o comportamento Já examinamos a solução para esse tipo de problema é a mesma solução do problema de entregar a carteira a um ladrão pela primeira vez Esse ato específico pode nunca ter ocorrido antes mas outros como ele ocorreram Posso nunca ter sido submetido a essa exata ameaça anteriormente mas tenho uma longa história 106 William M Baum de submeterme a ameaças Posso nunca ter procurado o Moby Dick antes mas já procurei outros livros e outras coisas Os detalhes podem variar procuro o livro em livrarias e o sal por toda a casa mas procurar coisas em casa é procurar coisas em lojas podem ser considerados unidades funcionais de comportamento assim como submeterse a ameaças Com freqüência se ensina explicitamente às crianças a procurar coisas na casa Elas só melhoram o desempenho nessa tarefa após muitas experiências de procurar e encontrar Em algumas culturas aprender a procurar animais raízes e frutos pode ser parte essencial do desenvolvimento O comportamento de procurar frutos é aprendido em parte por causa de ocorrências de encontrar frutos no passado Podese pensar em exemplos de comportamento aparentemente intencional nos quais o objetivo definido nunca é alcançado Suponha que minha causa seja livrar o mundo da pobreza ou salvar as baleias Posso não ter nenhum a experiên cia com pobreza ou baleias então que história de reforço poderia manter o com portamento envolvido A resposta requer que se considere nosso ambiente social particularmente os tipos de reforçadores disponíveis para as pessoas em razão de viverem em determinada cultura As pessoas são aconselhadas por outras pessoas a perseguir atividades socialmente úteis Os reforçadores usados pelos professores estão em geral imediatamente à mão na forma de sorrisos afeto e aprovação Retomaremos esses assuntos nos Capítulos 8 e 13 Máquinas intencionais A inutilidade da invenção de intenções internas para explicar o comportamento intencional tornase mais clara quando examinamos máquinas intencionais isto é certos mecanismos dos quais se pode dizer que se comportam intencionalmente O sistema de aquecimento de um a casa é um exemplo Se a temperatura do ar fica abaixo do que está estabelecido no termostato digamos 20 graus o aquecedor liga e aquece o ar Quando a tem peratura chega a 20 graus o aquecedor desliga E como se o sistema procurasse m anter a temperatura em 20 graus Quando alcança esse objetivo ou intenção cessa seus esforços Máquinas intencionais mais complicadas se prestam ainda mais facilmente a que suas ações sejam atribuídas a intenções Podese dizer que um computador que joga xadrez escolhe os movimentos que espera que o ajudarão na intenção interna de vencer Ele parece pretender ganhar e saber se foi bemsucedido ou não Como o sistema de aquecimento e o computador são máquinas cujo funcio namento é conhecido falai sobre eles com termos intencionais pode ser divertido ou poético mas é desnecessário O termostato contém um interruptor que é ope rado pela temperatura para ligar e desligar o aquecedor isso é tudo que há em sua intencionalidade O com putador é programado para fazer cálculos a cada m o vimento baseado nas posições de todas as peças do jogo e cada movimento depen de apenas do resultado desses cálculos O jogo termina quando o resultado dos cálculos coincide com o xequemate Não há nenhuma intenção interna somente mudanças na ação em resposta a mudanças na posição das peças isto é no am biente Compreender o behaviorismo 107 Se a intencionalidade do sistema de aquecimento e do computador pode ser ilusória deve ser igualmente verdadeiro que a intencionalidade de uma pessoa pode ser ilusória A diferença é que o mecanismo subjacente ao comportamento da pessoa é desconhecido Se soubéssemos exatamente como o sistema nervoso per mite que o ambiente seja sentido e transformado em comportamento poderíamos mostrar nosso interior do mesmo modo que podemos mostrar o interior do termostato e do computador Mêsmo sem um conhecimento perfeito de como o termostato ou o compu tador funcionam podem os evitar falar deles com term os intencionais O term ostato pode ser para mim só um a caixa na parede mas sua aparente inten cionalidade ainda consiste apenas em ser construído de tal modo que uma variá vel am biental tem peratura abaixo de 20 graus inicia a atividade e outra tem peratura acima de 20 graus a interrompe O computador que joga xadrez é construído para responder a um conjunto de variáveis ambientais as posições de todas as peças Alguns computadores são programados para aprender tam bém o program a registra os resultados de movimentos passados em circunstân cias semelhantes Esses programas incluem os resultados passados no cálculo do movimento seguinte Independente da complexidade do programa cada ação movimento ainda é um a resposta ao ambiente presente e à história passada de reforço vencer Do mesmo modo não é necessário nenhum conhecimento especial do funcio namento do corpo humano para que eu evite linguagens intencionais ao discutir suas atividades Uma explicação científica satisfatória pode ser construída a partir do conhecimento das circunstâncias atuais e das conseqüências do comportamento em circunstâncias similares no passado Seleção por conseqüências A intenção interna não é mais necessária nem mais útil para compreender o com portamento de um a pessoa do que para compreender o comportamento de um computador que joga xadrez Quando procuro por um livro ou escalo uma monta nha já procurei antes e escalei antes as conseqüências passadas daquelas ativida des naquelas situações determinam que essas atividades provavelmente ocorrerão novamente nessas situações categorias de situação A seleção por conseqüências invariavelmente implica a história Ao longo do tempo resultados bemsucedidos reforço tornam algumas atividades mais pro váveis e resultados malsucedidos nãoreforço ou ptffiição tornam outras ativi dades menos prováveis Gradualmente o comportamento que ocorre nessas cir cunstâncias vai sendo modelado transformado e elaborado Embora os neurofisió tagos conheçam pouco do mecanismo através do qual a acumulação de êxitos e fracassos altera o comportamento os analistas de comportamento podem estudar a dependência que o comportamento tem dessa acumulação Que história de refor ço determina que uma pessoa irá procurar algo que está faltando Que diferença n história determina que uma pessoa escalará uma montanha enquanto outra irá totografála 108 William M Baum Criatividade Que história de reforço leva alguém a escrever poesia Os críticos do behaviorismo freqüentemente apontam esse tipo de atividade criativa como um desafio insuperá vel Quando o artista pinta um quadro ou o poeta escreve um poema a questão fundamental da atividade é fazer algo nunca feito antes algo original Aparentemen te conseqüências passadas nunca poderiam explicar as obras de arte porque cada trabalho é único e novo A originalidade de cada obra parece sugerir que o artista está de algum modo livre do passado que alguma intenção interna guia seu trabalho Ao enfatizar a singularidade e a novidade de cada trabalho essa concepção obscurece um fato igualmente óbvio sobre a atividade criativa a relação que existe entre os vários trabalhos do mesmo artista Como eu identifico que este é um quadro de Monet e aquele é um quadro de Renoir Não há dois quadros exatam ente iguais de um mesmo artista mas os quadros de Renoir parecem uns com os outros mais do que se parecem com os quadros de Monet Um especialista particularm ente familiarizado com os trabalhos de um artista pode afirmar geralmente se um qua dro pertence ou não àquele artista mesmo diante de uma falsificação cuidadosa Nenhum pintor poeta ou compositor jamais criou uma obra de arte no vácuo Cada novo poema pode ser único mas também tem muita coisa em comum com as realizações anteriores do poeta e originase de uma longa história de escrever poesia Ao longo da vida escrever poesia foi mantido por reforço pelo menos ocasional elogio aprovação dinheiro por parte da família dos amigos e de outras pessoas Em outras palavras escrever poesia como qualquer com portam en to operante é uma atividade modelada por sua história de reforço Vista no contexto de todas as obras do artista a singularidade do trabalho individual parece uma variação dentro de uma atividade Mozart compôs muitas sinfonias compor sinfonias era uma atividade capital em sua vida mas dizer que cada sinfonia representava um ato criativo único seria como dizer que cada vez que o rato pressiona a barra de uma maneira nova ele desempenhou um ato criativo único Dentro da atividade de compor sinfonias cada sinfonia pode ser única as sim como dentro da atividade de pressionar a barra cada pressão é única Esse tipo de variação ocorre também no comportamento de sistemas ina nimados Cada floco de neve é único do mesmo modo que cada pressão à barra é única Se alguém quisesse defender que por trás de cada nova pressão ou nova obra de arte há alguma força especial genialidade ou livrearbítrio teria de conceder que essa força tam bém existe por trás de cada novo floco de neve Parece absurdo sugerir que as nuvens possuam genialidade ou livrearbítrio Logicamente é também absurdo insistir que a criatividade humana possa ser explicada pela genialidade ou pelo livrearbítrio No mínimo podemos concluir que se aquela força é desnecessá ria para explicar flocos de neve ela também é desnecessária para explicar a arte Um compositor difere de uma nuvem ou de um rato quanto ao que as pessoas dizem de sua intenção as pessoas dizem que o compositor cria algo novo intencio nalmente A atividade criativa busca a novidade Isso significa que cada nova obra é composta com um olho nos trabalhos anteriores As obras anteriores estabelecem um contexto no qual o trabalho novo pode se parecer com elas mas não tanto que pareça aquela m esma velha coisa Monet pintou uma série de quadros em que Compreender o behoviorismo 109 aparecem as mesmas pilhas de feno em diferentes horas do dia o esquema de cores de cada quadro o distingue dos outros Considerando a relação com traba lhos anteriores ser criativo intencionalmente não requer a postulação de nenhu ma intenção interna requer apenas que a variação dentro da atividade dependa em parte do trabalho feito antes isto é que é parte da história Analisados sob essa ótica cetáceos e ratos foram adestrados para serem intencionalmente cria tivos Karen Pryor e seus colaboradores no Parque Se a Life no Havaí dispuseram os reforçadores de forma que apenas uma resposta nova truque os recebessem algo que o cetáceo nunca tivesse feito antes Passados alguns dias novas habilida des começaram a aparecer com regularidade Os pesquisadores relataram que um dos animais Malia começou a emitir uma gama de comportamentos sem precedentes incluindo saltos aéreos deslizar com o rabo fora da água e escorregar no chão do tanque alguns deles tão complexos quanto respostas normalmente produzidas por técni cas de modelagem e muitos outros diferentes de qualquer coisa já vista em Malia ou qualquer outro cetáceo pelo pessoal do Parque Sea Life Dava a impressão de que o critério do treinador só serão reforçadas aquelas ações que não foram previamente reforçadas fora atingido por Malia com a apresentação de padrões completos de amplos movimentos corporais nos quais a novidade era um fator intrínseco Pryor et ai 1969 p 653 Meu colega Tony Nevin e alguns alunos de graduação da Universidade de New Hampshire usaram um critério similar para treinar ratos em um tampo de mesa sobre o qual foram colocados vários objetos uma caixa uma rampa um pequeno balanço e um caminhão de brinquedo Os experimentadores observavam o comportamento com relação aos objetos c reforçavam as ações que nunca haviam ocorrido antes Rapidamente os ratos começaram a apresentar respostas novas diante dos objetos Deveríamos concluir dessas observações que cetáceos e ratos possuem um gênio criativo Talvez a novidade seja passível de reforço porque o comportamento passado pode estabelecer um contexto para o comportamento presente Nós nos lembra mos do que fizemos antes e isso nos inclina a nos comportarmos de modo similar ou diferente dependendo do que é reforçado Se você não encontra o Moby Dick em uma livraria vai a um a nova livraria Não é necessário postular uma intenção interna para explicar a novidade em você ou em Monet assim como não é necessá rio postulála para explicar a originalidade no cetáceo ou no rato Menção como sentimento autorelatos A terceira maneira de falar sobre intenção é enquanto parte de uma experiência Privada Quando falamos das intenções dos outros nada podemos dizer sobre even N de T O cetáceo referido é porpoise Stcno bredannensis mamífero aquático semelhan te ao golfinho toninha ou boto 110 William M Baum tos privados mas quando falamos de nossas próprias intenções parece que estamos nos referindo a algo presente e privado Todos os dias indagamos sobre as inten ções uns dos outros e respondemos como se as perguntas fossem perfeitamente razoáveis Você pretendia magoar o Lugui Não eu só estava tentando ajudar Autorelatos como esses parecem dizer que minhas intenções são parte de minha experiência de meu comportamento tentando ajudar Como posso ter tanta certeza Geralmente usamos o verbo sentir nesse contexto por exemplo quando digo Sinto vontade de tomar sorvete ou Sinto vontade de caminhar O que eu sinto De que estou falando Falar sobre o futuro Os autorelatos de intenções desafiam a explicação científica porque parecem falar do futuro O que quero dizer quando falo que desejo ir à praia amanhã Como estar na praia encontrase no futuro e pode nunca acontecer procurase então algo no presente para explicar o que estou dizendo agora Se eu sei o que quero isso significa que algum sentimento interno está se comunicando comigo Às vezes as dicas privadas para autorelatos de intenção são óbvias Se meu estômago está roncando ou minha boca está seca posso relatar que sinto vontade de comer ou beber Em outras situações as dicas são menos claras Eu posso achar difícil dizer exatamente por que estou com vontade de ir ao cinema As di cas podem não ser menos reais mas eu tenho menos experiência com elas do que com um estômago roncando e com uma boca seca Algumas dicas para autorelatos intencionais podem ser públicas Se eu me cortar com um a faca posso dizer Quero ir para o hospital As outras pessoas podem ver o corte e entender essa afirmação sem precisar se preocupar com even tos privados Eu posso dizer É sextafeira à noite e estou com vontade de ir ao cinema Para as outras pessoas a conexão é óbvia O conjunto de todas as dicas públicas e privadas que juntas definem um contexto tornam provável que eu apresente autorelatos intencionais como Eu quero Eu desejo Eu tenho vontade e assim por diante O que eles significam Uma afirmação intencional faz um a predição Eu quero sorvete significa que eu tomaria sorvete se houvesse algum em minha frente e que eu faria algu mas coisas ir ao mercado limpar meu quarto para obter sorvete Em outras pala vras estou dizendo que neste momento o sorvete atuaria como reforçador para o meu comportamento Sinto vontade de dar uma caminhada pode significar que caminhar seria um reforçador para meu comportamento ou pode significar que nessas circunstâncias o caminhar é um comportamento que tem probabilidade de ser reforçado Com base em dicas presentes afirmativas intencionais fazem pre visões sobre quais eventos serão reforçadores e qual comportamento será reforça do Eu quero ler Moby Dick significa que é provável que eu leia o livro Eu pre tendo pegar um ônibus significa que é provável que eu pegue um ônibus Compreender o bebaviorismo 111 Falar sobre o passado Prever o comportamento é como prever o tempo O indivíduo que prevê o tempo não pode ter certeza absoluta de que hoje vai chover assim como não posso ter certeza absoluta de que irei ao cinema mas nós dois dizemos Em circunstâncias como essas tal evento é provável Fazemos isso com base em nossa experiência passada naquelas circunstâncias No passado quando uma frente fria se encontrou com uma frente quente freqüentemente choveu No passado quando eu não tinha nada mais para fazer na sextafeira à noite freqüentemente fui ao cinema As di cas no presente determ inam afirmações no presente por causa de suas relações com eventos do passado Exceto por atribuir um papel a eventos privados os autorelatos de intenção não diferem em nada de afirmações intencionais a respeito de outras pessoas To das as afirmações intencionais incluindo os autorelatos embora pareçam se refe rir ao futuro referemse na verdade ao passado Expressões como pretender que rer tentar esperar e propor sempre podem ser substituídas por Em circunstâncias como estas no passado Quando o leigo diz que o rato pressiona a barra porque quer comida a afirmação pode ser substituída por Nestas circunstâncias no passa do pressionar a barra produziu comida e a comida foi um reforçador Proponho irmos à praia significa Em circunstâncias como estas no passado ir à praia foi reforçador e é provável que esta ida seja também reforçada Na linguagem cotidiana expressões intencionais são convenientes mas em análise comportamental elas constituem mentalismo Na linguagem cotidiana afir mativas intencionais facilitam a interação social mas para a análise do comporta mento são menos que inúteis porque dirigem a investigação para um mundo de sombras em vez de orientála para o mundo natural A explicação científica para a ação aparentemente intencional e para os autorelatos sobre intenções sentidas baseiase nas circunstâncias presentes associadas ao reforço passado em circuns tâncias similares ambas naturais e passíveis de descoberta Nunca seremos capa zes de compreender ou impedir que uma adolescente solteira fique grávida e passe a ser assistida por program as sociais enquanto dissermos que ela desejava isso ou estava pretendendo satisfazer uma necessidade Explicações como essas apenas nos afastam de entender a história e mudar o ambiente que levaria à gravidez Censurar a adolescente ou seus país pode ser cômodo mas interfere com a possibi lidade de uma solução eficaz Sentimentos como subprodutos Quando os sentimentos agem como dicas para afirmações intencionais eles cons tituem eventos privados do tipo eventos de sentir discutidos no Capítulo 3 Esse tipo de evento privado que inclui ouvir um som e sentir uma dor inclui também sntir um formigamento e sentir o coração acelerado 112 William M Baum Como eventos privados no entanto os sentimentos tendem a ser difíceis de compreender Se eu digo que estou com medo provavelmente pouco poderei falar sobre os eventos privados que me fazem dizer isso Um fisiólogo poderia ser capaz de medir mudanças somáticas que acompanham um relato de sentir medo mas a pessoa que relata medo geralmente sabe muito pouco sobre essas mudanças Geralmente consideramos muito mais fácil indicar as circunstâncias públicas que explicam o sentimento Por que digo que estou com medo Porque estou pen durado em um penhasco ou próximo de ir a uma entrevista de seleção para em pre go Por que me sinto feliz Porque acabei de ganhar na loteria ou de conseguir o emprego para o qual estava me candidatando Do ponto de vista das circunstâncias públicas os sentimentos e as afirmações sobre eles surgem de um a história passada com circunstâncias semelhantes Direta ou indiretamente podem ser relacionados à experiência com os eventos filogeneti camente importantes discutidos no Capítulo 4 Às vezes os sentimentos surgem simplesmente da programação genética Não precisamos de nenhum treino especial para ter medo de ficar à beira de um penhasco nem para achar agradável a estimulação sexual Na maior parte das vezes porém os sentimentos surgem em uma situação porque ela foi correlacionada com algum evento filogeneticamente importante um reforçador um punidor ou um estímulo incondicional Em outras palavras sentimentos e relatos de sentimentos resultam do condicionam ento respondente que ocorre junto com a aprendizagem operante As línguas latinas têm um rico vocabulário para falar dos sentimentos que acompanham as situações em que reforço e punição ocorreram no passado Em uma situação em que o reforço positivo é provável relatamos estar felizes orgu lhosos confiantes ansiosos extasiados Se estivermos nos referindo a um a história de reforço negativo é provável que relatemos alívio O cancelam ento de um reforçador punição negativa resulta em relatos de decepção ou frustração Situ ações nas quais ocorreu punição positiva no passado dão origem a relatos de medo ansiedade pavor vergonha e culpa Como os sentimentos surgem da mesma história de reforço e punição que explica o comportamento aparentemente intencional os sentimentos são subpro dutos e não causas do comportamento Quando você finalmente encontra Moby Dick em uma livraria fica feliz porque agora tem o livro pode ler seu exemplar e obter outros reforçadores como ser capaz de falar sobre ele com outras pessoas e se dar o prazer de um a boa leitura Encontrar o livro o deixa feliz porque comprar livros recomendados e agir como recomendado levaram a reforço no passado Você compra o livro e fica feliz você não compra o livro porque ele o faz feliz O jogador que fica feliz depois de fazer um gol fica feliz porque aquela situação freqüentemente foi acompanhada de aprovação e outros reforçadores Seria um equívoco dizer que o jogador tenta fazer o gol porque gois levam à felicidade O comportamento que freqüentemente resultou em gol ocorre porque fazer um gol é um reforçador con dicional o sentimento de felicidade é um subproduto dos mesmos reforçadores aprovação e status que sustentam o reforçador condicional O homem que se sente culpado depois de gritar com a esposa lhe traz flores não porque isso aliviará sua culpa mas porque no passado trazerlhe flores e outros atos de gentileza Compreender o behaviortsmo Ü3 impediram a punição e restabeleceram o reforço esse resultado é claro também dissipa o sentimento de culpa A única exceção à regra geralde que os sentimentos são apenas subprodutos podem ser os relatos de sentimentos O relato Sintome feliz pode ser visto como comportamento verbal operante parcialmente sob controle de eventos privados Como uma discussão completa do assunto requer que primeiro se examine o con ceito de controle de estímulo no Capítulo 6 para então analisar o comportamento verbal em gerai esse tem a será mais bem discutido no Capítulo 7 RESUMO Explicação histórica e raciocínio em termos de população andam lado a lado por que a composição de um a população se explica em última análise por sua história de seleção seja a seleção natural operando sobre uma população de organismos seja o reforço e a punição operando sobre uma população de ações Embora seja geralmente reconhecido que eventos na infância podem afetar o comportamento na vida adulta na linguagem cotidiana há uma tendência a representar o passado com ficções no presente Isso é mentalismo e de modo algum ajuda na compreen são científica do comportamento A tentação de recorrer a esse tipo de mentalismo surge da predisposição para explicar o comportamento apelando para causas presentes no momento em que ele ocorre A maneira de evitar o mentalismo é superar essa predisposição e admitir que eventos no passado podem afetar o comportamento no presente mesmo que presente e passado estejam separados por uma lacuna temporal A lacuna temporal de nenhum modo diminui a utilidade de entender o comportamento presente à luz da história As ações específicas do presente pertencem a populações unidades funcio nais ou atividades que têm uma história comum por causa de sua função comum Ações pertencem à mesma unidade funcional ou atividade se compartilham con textos e conseqüências similares Embora cada ato específico nunca tenha ocorrido antes cada um pertence a alguma unidade funcional que tem uma história de ocorrência em certo tipo de contexto com certo tipo de conseqüências A maioria dos usos de intenção e outras expressões intencionais relacionadas pertence a um de três tipos os quais se referem a ámção causa e sentimentos Quan do a intenção de um ato é identificada com sua função com seu efeito sobre o ambi ente não há nenhum problema para uma explicação científica Quando a intenção é vista como uma causa interna imaginase que uma representação fantasmagórica das conseqüências está presente no momento da ação Um evento futuro não pode explicar o comportamento mas a invenção de uma causa interna também não expli ca porque isso é mentalismo e presa fácil de todos os problemas daí decorrentes Uma explicação científica apropriada do comportamento intencional como procurar um livro referese à história de reforço de tal comportamento O comportamento criativo como escrever poesia também é modelado por sua história de reforço Os autoxelatos de sentimentos de intenção ou propósito têm como base eventos ambientais presentes e privados Eles consistem em predições sobre quais eventos 114 William M Baum provavelmente serão reforçadores e qual comportamento provavelmente será re forçado Essas predições sempre são baseadas na ocorrência passada de reforço Embora os autorelatos sobre a intenção experimentada possam dar a impressão de se referir ao futuro eles na verdade referemse ao passado do indivíduo assim como afirmações sobre as intenções de outra pessoa na verdade referemse a seu passado Quando atuam como dicas para autorelatos os sentimentos são even tos de sentir privados Eles são subprodutos devido ao condicionamento respondente da mesma história de reforço e punição do comportamento operante a que os rela tos se referem Não têm uma relação causal com aquele comportamento operante embora possam ser parte do contexto que explica o relato verbal de um a intenção experimentada LEITURAS ADICIONAIS Dennett D C 1978 Skinner skinned In Brainstorms Cambridge Mass MIT Press p 5370 Um filósofo defende o mentalismo e critica as explicações de Skinner do comporta mento em termos de histórias de reforço O trabalho é interessante por seus equívocos sobre Skinner e análise do comportamento Ghiselin M T 1997 Metaphysics arid the origin of species Albany State University of New York Press Esse livro explica que espécies biológicas constituem unidades funcionais indi víduos mais do que classes ou categorias Pryor K 1985 Dont shoot the dog Nova York Bantam Books Uma apresentação agradá vel do reforço para uso geral Pryor K W Haag R e OReilly J 1969 The creative porpoise training for novel behavior Journal of the Experimental Analysis of Behavior 12 653661 Esse é o relato original do uso de reforço para treinar respostas novas Skinner B F 1969 The inside story In Contingencies of reinforcement Nova York Appleton CenturyCrofts cap 9 p 269297 Esse trabalho contém um resumo das objeções de Skinner ao mentalismo Skinner B F 1974 Operant behavior In About behaviorism Nova York Knopf cap 4 p 4671 Aqui Skinner defende o comportamento operante como um conceito eficaz para substituir as noções tradicionais ineficazes sobre a intenção TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 5 Unidade estrutural Unidade funcional Autorelato Expressão intencional Máquina intencional N de T Título traduzido em português ver Apêndice 6 Controle de estímulo e conhecimento I odo comportamento induzido ou operante ocorre em um determinado contex to Quando me sento para jantar me vem água à boca em outros momentos salivo menos No caso desse comportamento induzido o contexto é o conjunto de cir cunstâncias ambientais que o induzem a sala de jantar a mesa arrumada a visão e o cheiro da comida Respostas específicas da espécie ao alimento a predadores a parceiros sexuais em potencial e a outros eventos filogeneticamente importantes são induzidas pelos contextos nos quais esses eventos são prováveis No contexto da silhueta de um falcão passando sobre sua cabeça a codorna se agacha na au sência desse contexto continua cuidando de sua vida v O comportamento operante também ocorre apenas em um contexto O rato de laboratório treinado a pressionar um a barra emite esse comportamento apenas na câmara experimental Quando colocado na câmara o rato já treinado vai imedia tamente para a barra e começa a pressionála Eu carrego meu guardachuva so mente quando parece que vai chover e vou ao trabalho apenas nos dias úteis Até agora fizemos apenas breves menções ao contexto A história de reforço por exemplo consiste não apenas em certas atividades resultarem em certas conse qüências mas também no fato dessas relações ocorrerem sistematicamente em determinado contexto Submeterse a uma ameaça não tem nenhum significado separado de seu contexto a existência da ameaça a voz alta o punho levantado a arma Para compreender como os behavioristas podem oferecer uma explicação científica do que significa conhecer algo sem recorrer ao mentalismo precisamos entender e aplicar os conceitos que os analistas comportamentais usam para expli car os efeitos do contexto Como veremos adiante conhecer é comportarse em contexto 1 1 6 William M Baum CONTROLE DE ESTÍMULO O comportamento muda à m edida que muda o contexto Eu paro o carro quando o sina está vermelho e continuo dirigindo quando está verde Parar e seguir em frente estão sob controle de estímulo Aqui estímulo significa contexto e controle significa mudar a freqüência ou probabilidade de uma ou mais atividades Freqüentemente faço um a demonstração aos alunos em que um pombo é treinado a bicar um disco de respostas vermelho e a não bicar um disco verde Na primeira etapa do treino o disco está iluminado com a cor vermelha e cada bicada opera o dispensador de comida Gradualmente o número de bicadas necessárias para produzir o alimento é aumentado até 15 bicadas Na segunda etapa introduz se o disco verde com a contingência de que o alimento só será liberado se passa rem 2 segundos sem uma bicada No início o pombo bica o disco verde sem suces so Cedo ou tarde ele faz uma pausa suficiente para que o alimento seja liberado À medida que o pombo pausa mais e bica menos a pausa exigida para a liberação da comida vai sendo gradualmente aumentada até 10 segundos Ao final do treino na demonstração eu controlo a cor do disco por um interruptor no aparelho Quando o disco fica vermelho o pombo bica rapidamente Assim que mudo a cor para verde o pombo pára de bicar À medida que vou mudando de um a cor para outra o bicar muda em uma ou em outra direção A demonstração ilustra o processo de controle de estímulo As cores vermelha e verde no disco controlam o bicar no sentido de que com a m udança de cor muda a probabilidade de bicar Os analistas de comportamento geralmente distinguem controle de estímulo de eliciação estímuloresposta Quando o sinal fica verde tornase provável que eu siga em frente mas não sou compelido a dirigir da mesma maneira que sou compe lido a espirrar quando meu nariz está coçando A mudança de contexto afeta o comportamento operante mais como modulação do que como compulsão Mais importante ainda comportamentos eliciados ou induzidos parecem de pender apenas do contexto se é que uma coceira no nariz pode ser chamada de contexto enquanto o comportamento operante depende das conseqüências que ocorrem em um dado contexto isto é depende da combinação de conseqüências e contexto O contexto coceira é suficiente por si só para tornar o espirro prová vel na demonstração com os pombos as bicadas se tornam mais prováveis no contexto do disco vermelho porque só produzem comida no contexto do disco vermelho Estímulos discriminativos O contexto do comportamento operante é chamado de estímulo discriminativo para distinguilo dos estímulos que eliciam ou induzem o comportamento Na de m onstração com o pombo as luzes vermelha e verde no disco são estímulos discriminativos porque as bicadas no disco só podem ser reforçadas no contexto do disco vermelho e não podem ser reforçadas no contexto do disco verde Como Compreender o behcworismo 117 resultado da diferença nas relações d e reforço de um contexto para o outro as bicadas são mais prováveis quando a luz está vermelha Mesmo no laboratório são com uns estímulos discriminativos mais complica dos Suponha que eu tenha dois discos para o pombo bicar colocados lado a lado e qualquer um deles possa ser ilum inado com luz vermelha ou verde Posso treinar o pombo a bicar um disco verde quando apresentado junto a um disco vermelho e independente de estar o disco verde n o lado esquerdo ou direito reforçando ape nas bicadas no disco verde Em um experim ento como esse o estímulo discriminativo para bicar é disco verde indep en d en te de posição Na tarefa denom inada pareamento com o modelo apresentase ao pombo um estímulo modelo por exem plo vermelho ou verde em um disco central e estímulos de escolha vermelho e verde em dois discos situados um de cada lado do disco modelo Somente as bicadas no disco lateral que coincide com o modelo são reforçadas Os estímulos discriminativos que controlam o bicar n a tarefa de pareamento com o modelo são compostos como por exemplo m odelo vermelho com disco lateral vermelho e modelo verde com disco lateral verde No mundo fora do laboratório os estímulos discriminativos são geralmente compostos como esses Se você está dirigindo em uma estrada de pista simples e encontra um veículo lento pela frente você só o ultrapassa quando a faixa central é seccionada de seu lado e não há nenhum veículo vindo em sentido contrário O estímulo discriminativo para a ultrapassagem consiste em pelo menos três elemen tos 1 o veículo lento na frente 2 a faixa central seccionada 3 a pista de sentido contrário livre Se qualquer desses elementos estiver ausente será impro vável que você ultrapasse A combinação estabelece o contexto ela define o estí mulo discriminativo na presença do qual o comportamento operante ultrapassar será provavelmente reforçado Em contextos ainda maís complicados parte do contexto ou estímulo discri minativo pode ter ocorrido algum tem po antes da ocasião para o comportamento Em um experimento de pareamento com o modelo o modelo pode ser apresentado ao pombo e ser desligado por vários segundos antes que os discos de escolha apa reçam Embora o modelo não esteja m ais presente os pombos ainda assim bicam o disco lateral que coincide com ele Os seres humanos são capazes de suportar lacu nas temporais muito mais longas Se na segundafeira eu lhe disser que o encon trarei em meu escritório na sextafeira às 3 horas seu comportamento de ir ao meu escritório depende de 1 ser sextafeira 2 ser 3 horas da tarde 3 o que eu disse na segundafeira Todos os três elementos são necessários para que sua ida a ttieu escritório tenha probabilidade de ocorrer e de ser reforçada mas um desses elementos só estava presente quatro dias antes Ver o Capítulo 5 para uma discus são adicional sobre lacunas tem porais Seqüências estendidas e estímulos discriminativos Embora muitas vezes no diaadia as partes de uma atividade possam ocorrer em qualquer ordem ao cozinhar posso pôr primeiro o sal e depois a pimenta ou na 1 1 8 William M Baum ordem inversa às vezes as partes de uma atividade devem ocorrer em um a se qüência definida para que seja bemsucedida reforçada O progresso pode ser mesmo impossível na ausência de um certo objeto ou condição Se eu não tenho carro devo alugar ou emprestar um antes de poder ir à praia Seu amigo deve ser convidado antes que vocês possam ir ao cinema juntos Outras vezes criamos condi ções em que o reforço é mais provável que em outras Abasteço o carro antes de ir viajar aumentando a probabilidade de chegar a meu destino sem precisar de mais gasolina Às vezes as seqüências são longas Um estudante universitário vai às aulas de forma a se preparar para as provas a passar nas disciplinas a se formar em quatro anos Em qualquer situação em que as partes devam ocorrer em uma certa seqüên cia a parte anterior produz as condições ambientais requeridas para aparte seguinte Essas pistas para o progresso carro amigo disponível medidor de combustí vel em cheio que estabelecem a ocasião ou o contexto para a atividade seguinte são chamadas de estímulos discriminativos 0 medidor de combustível em cheio serve como estímulo discriminativo para o comportamento operante posterior via jar que só ocorre em sua presença Em acréscimo os analistas comportamentais m uitas vezes consideram que tal estímulo discriminativo funciona como um reforçador Você vai ao posto de gasolina para encher o tanque e se esse posto tiver de fechar você pára de ir lá A atividade anterior ir ao posto de gasolina depende de seu resultado de maneira muito semelhante a como abrir a geladeira quando você tem fome depende do resultado de comer Assim o resultado de abastecer o carro medidor de combustível marcando cheio serve a duas funções Por um lado o ponteiro do medidor serve como estímulo discriminativo para a próxima atividade da seqüência viajar Por outro o ponteiro do medidor serve como um reforçador condicional provisório para o comportamento operante ir ao posto de gasolina que o produz A natureza exata de tais reforçadores é objeto de contro vérsia mas isto não precisa nos deter nesse ponto sem entrar em sutilezas teóricas tratarem os o estímulo produzido pelo comportamento como um reforçador No laboratório podemos treinar um rato a puxar um a corrente para ligar uma luz na presença da qual o pressionar uma barra é reforçado com comida Começamos treinando o rato a pressionar a barra programando o equipamento para que cada pressão opere um dispensador contendo bolinhas de alimento Em seguida reforçamos a pressão somente quando uma luz acima da barra está acesa ligando e desligando a luz aproximadamente a cada minuto Depois de uma ou duas horas a luz está estabelecida como estímulo discriminativo as pressões são freqüentes quando ela está ligada e raras quando está desligada Então deixamos a luz apagada e penduramos a corrente no centro da câmara Esperamos até que o rato se aproxime da corrente ligamos a luz e deixamos o rato pressionar a barra e conseguir o alimento Quando a luz é novamente apagada o rato volta para a corrente e puxar a corrente passa a ser necessário para que a luz acenda Em pouco tempo a seqüência de puxar a corrente seguida da pressão à barra está ocorrendo regularmente A luz tanto reforça condicionalmente o puxar a corrente como estabelece a ocasião para a pressão à barra Quando as seqüências se mantêm ligadas através de um processo no qual o reforçador condicional para uma resposta serve de estímulo discriminativo para a próxima a seqüência é denominada de cadeia comportamental Os elos da cadeia Compreender o behaviorismo 119 são as atividades desempenhadas uma após a outra Os elos são ligados pelas mu danças no contexto os estímulos discriminativos Cadeias comportamentais pre tendem ser um modelo de laboratório para as seqüências de comportamentos no inundo cotidiano Elas modelam uma parte da maneira como as atividades são ligadas no mundo cotidiano algumas partes da atividade podem precisar ocorrer antes mas outras partes podem ocorrer em qualquer ordem Um estudante pode precisar se preparar tanto para uma prova de história quanto para uma de psicolo gia a preparação deve ocorrer antes das provas mas a ordem de estudo das duas matérias pode não ser importante Importe ou não a seqüência a atividade como um todo é mantida pelos refor çadores últimos que ocorrem depois que todas as partes ou quase todas foram completadas O universitário se prepara para as provas e as executa produzindo boas notas que em seguida se somam a bons resultados no currículo que em última instância levam à formatura Se a formatura de algum modo se torna im possível será improvável que o estudante continue a participar das disciplinas Em nosso exemplo do laboratório se o alimento é suspenso tanto o puxar a corrente quanto a pressão à barra cessam A luz perde seu papel como reforçador e como estímulo discriminativo Quando os continentais americanos perderam seu valor como moeda eles não apenas deixaram de funcionar como reforçador mas têlos em mãos tam bém deixou de servir como contexto estímulo discriminativo para o comportamento operante ulterior de ir às compras Se o tempo está chuvoso e frio eu não coloco gasolina no carro para fazer uma viagem à praia o tanque cheio só serve como reforçador e estímulo discriminativo quando o tempo está bom Discriminação Quando o comportamento muda diante da mudança do contexto os analistas de comportamento denom inam essa regularidade de discriminação No experimento do rato a mudança de luz apagada para luz acesa dependia de que o rato puxasse a corrente enquanto na demonstração do pombo o comportamento do animal não afetava a m udança no disco de vermelho para verde era eu quem mudava a cor Em qualquer dos dois casos mudem os estímulos em uma seqüência ou mu dem independentemente do comportamento a mudança de comportamento que acompanha a m udança nos estímulos discriminativos constitui uma discriminação Quando o comportamento muda de trabalhar para fazer compras como resul tado da mudança de estar sem dinheiro para estar com dinheiro temos uma cadeia e uma discriminação Se o comportamento muda quando o dia anoitece tratase não de um a cadeia mas de uma discriminação Como discriminação significa mudança de comportamento com mudança de estímulo toda discriminação envolve pelo menos duas condições de estímulo dois contextos No exemplo mais simples de laboratório a pressão à barra ocorre quando a luz está acesa um estímulo discriminativo e não quando está apagada um segundo estímulo discriminativo Se Marina comportase diferentemente com seus Pais e com seus amigos dizemos que ela discrimina entre esses dois contextos ou Estímulos discriminativos pais e amigos 120 William M Baum Toda discriminação resulta de uma história Se não foi aprendida resulta de um a história evolutiva A codorna recémnascida comportase de modo diferente na presença e na ausência do falcão por causa da fílogênese Se a discriminação é aprendida ela provém de uma história de reforço O rato pressiona a barra quando e a luz está acesa e não quando está apagada porque as pressões à barra foram reforçadas quando a luz estava acesa e não reforçadas quando estava apagada Vou a uma loja quando tenho dinheiro e não quando estou sem dinheiro porque ir à loja foi reforçado quando eu tinha dinheiro e não foi reforçado quando eu não í tinha Em geral uma atividade ocorre na presença de um estímulo discriminativo e outra atividade ocorre na presença de outro estímulo discriminativo porque uma j é reforçada em um contexto e a outra em outro contexto Essa é toda a explicação a discriminação provém da história Nada de men tal normalmente nada nem mesmo privado entra na explicação Para ter mais j acurácia deveríamos dizer que o comportamento do organismo contém um pa f drão de discriminação ou que o comportamento discrimina mas muitas vezes se diz que o organismo é que discrimina Se dissermos que um rato discrimina entre a í presença e a ausência de luz não estamos imaginando nenhum evento menta dentro do rato Se por exemplo alguém dissesse que o rato discrimina porque atenta para a luz poderíamos observar que o atentar nada acrescenta à explica ção pois apenas reafirma a observação de que o comportamento muda quando a í luz é ligada ou desligada E um exemplo de mentalismo Controle de estimulo significa que um estímulo exerce controle sobre o compor tam ento que o comportamento muda em sua presença Seria incorreto dizer qüe o estímulo exerce controle sobre o rato ou a pessoa pois nesse caso o rato ou a pessoa teriam de se empenhar em alguma ação m ental fantasmagórica como aten tar para passar do estímulo ao comportamento A idéia presente no conceito de controle de estímulo é a de que o estímulo afeta o comportamento diretamente J Discriminação referese somente à mudança no comportamento com a mu dança no contexto Seria incorreto dizer que o rato discrimina e pressiona a barra S somente quando a luz está acesa ou que o rato pressiona a barra com a luz acesa p porque discrimina O rato discrimina ou A luz é um estímulo discriminativo significa apenas que a freqüência ou probabilidade de pressão à barra m uda quan j do a luz é ligada e desligada Do mesmo modo M arina discrimina entre seus pais e seus amigos significa somente que o comportamento de Marina é diferente na 5 presença desses dois contextos Em outras palavras seria um erro pensar a discri l mínação como um evento privado que precede e então causa a mudança pública no 5 comportamento Em geral a discriminação nunca é um evento privado a única J exceção reside no modo como alguns analistas do com portam ento tratam do J autoconhecimento que será examinado em seguida j CONHECIMENTO A linguagem cotidiana sobre o conhecimento é mentalista Dizse que um a pessoal possui conhecimento de francês e que o exibe ao falar e entender francês Dizse I que um rato pressiona uma barra porque sabe que pressionála produz c o m id a j Compreender o bebaviorismo 121 Como no caso de intenção e propósito Capítulo 5 o conhecimento e o conhecer de nenhum modo explicam o comportamento que supostamente resulta deles O que é o conhecimento de francês que é exibido quando eu falo francês Onde ele está e de que é feito o que poderia causar o falar francês Da mesma maneira que em todos os exemplos de mentalismo ele parece ser uma quimera escondida den tro do sujeito inventada como tentativa de explicação mas que não informa nada além do que já é conhecido que a pessoa fala e entende francês Como o rato sabe pressionar a barra e compreende a relação bartacomida Dizer que ele sabe infor ma alguma coisa além de que no passado as pressões à barra produziram comida nessa situação Em vez de considerar o conhecimento e o conhecer como explicações do com portamento os behavioristas analisam esses termos focalizando as condições sob as quais ocorrem Em que situações as pessoas tendem a dizer que alguém tem conhecimento ou conhece algo Filósofos e psicólogos geralmente dividem o conhecimento em operacional e declarativo saber como e saber sobre Muito já foi escrito sobre essa distinção especulandose sobre esquemas e significados internos imaginados que poderiam constituir sua base Para o behaviorista se a distinção tiver alguma utilidade deve rá se basear no comportamento e no ambiente eventos externos acessíveis a qual quer observador A tradição também distingue o conhecimento que outras pessoas possuem do conhecimento que eu próprio possuo particularmente o autoconhecimento o co nhecimento da própria pessoa sobre si mesma Tradicionalmente pareceu a muitos pensadores que como tenho uma intimidade especial com todos os meus atos públicos e privados de um modo que não posso ter com os atos de mais ninguém deve haver algo especial e diferente no autoconhecimento De fato freqüentemente se afirma que apenas o autoconhecimento pode ser seguro pois qualquer conheci mento de outros será apenas baseado em inferências Presumivelmente posso ter certeza que sei francês enquanto o conhecimento de francês de César é para mim apenas uma inferência baseada em minha observação de seu comportamento de falar e entender francês Como a distinção entre o eu e o outro passa pela distinção entre conhecim ento operacional e declarativo analisaremos o conhecimento operacional e declarativo no próprio sujeito e nos outros para depois examinar o autoconhecimento em particular Conhecimento operacional saber como A Figura 61 resum e os quatro tipos de conhecimento e os testes que levam a falar Se de conhecer e conhecimento A primeira coluna trata do conhecimento operacio de T A distinção filosófica entre conhecimento operacional e conhecimento declarativo captada em inglês por know how e know about em alguns casos equivalente à distinção entre saber e conhecer em português No contexto deste capímlo optamos por utilizar erilrnente saber como e saber sobre a fim de evidenciar a distinção 122 William M Baum Conhecimento do outro Conhecimento de si mesmo Figura 61 Testes de saber como e saber sobre1 em outros e em si mesmo nal Quando é que dizemos que Diego sabe como nadar Quando o vemos na dando O teste do conhecimento de Diego é se ele alguma vez foi visto nadando Dizer que ele sabe como nadar significa simplesmente que ele efetivamente nada Do mesmo modo quando é que digo que eu sei como nadar Quando eu tiver nadado O teste de meu conhecimento é análogo ao teste do conhecimento de Diego se eu alguma vez me observei nadando Dizer que eu sei como nadar significa simplesmente que eu efetivamente nado Ryle cujos pontos de vista foram discutidos no Capítulo 3 trata o conhecer e o conhecimento como disposições ou rótulos de categoria Saber francês por exem plo é um caso complexo de saber como Podemos arrolar várias ações que pode riam resultar em dizer Érica sabe francês 1 Érica responde em francês quando alguém se dirige a ela em francês 2 Ela reage apropriadamente quando recebe um telegram a escrito em francês 3 Ela ri e chora nos momentos certos durante um filme em francês 4 Ela traduz do francês para o português e do português para o francês 5 Ela lê os jornais franceses e depois discute as notícias Essa lista poderia ser expandida indefinidamente pois a categoria de ações que compreende saber francês é indefinidamente grande No Capítulo 3 vimos que alguns filósofos consideram isto uma falha nos argumentos de Ryle No entan to na prática quando as pessoas falam de conhecimento e conhecer a lista de evidências de fato consideradas é bastante curta Depois de termos presenciado várias ações de saber francês supomos que qualquer quantidade de outras seja possível e dizemos que Érica sabe francês A categoria também pode ser pensada como um a disposição comportamental Podese dizer que Érica sabe francês mesmo quando não está falando francês até quando está dormindo O significado de Érica sabe francês assemelhase ao signi ficado de Érica é fumante Érica fuma apenas em alguns momentos e nunca quando está dormindo dizse que ela fuma porque fuma com freqüência suficien te Do mesmo modo Diego sabe como nadar significa que ele nada algumas Saber Como Saber Sobre Eleela fai SD Comportamento apropriado Eu faço SD Comportamento apropriado Compreender o behaviorismo 123 vezes e Érica sabe francês significa que ela ocasionalmente age de maneira que Se possa dizer que ela sabe francês Uma pessoa afirma Eu sei francês ou Eu sei nadar pelas mesmas razões que essas afirmações poderiam ser feitas sobre Érica e Diego Os meios pelos quais me observo nadando são um pouco diferentes Enquanto vejo Diego nadando ra ramente me vejo nadar exceto em um filme doméstico mas sinto quando estou nadando e vejo a água e partes de meu corpo movimentandose e outras pessoas me dizem que eu estava nadando O mesmo ocorre com falar francês eu me ouço me observo lendo e assim por diante Todos esses eventos seja Diego nadando ou eu nadando têm relação com minhas declarações de que Diego sabe como nadar ou eu sei como nadar do mesmo modo que os estímulos discriminativos têm relação com o comportamento operante Assim como é provável que o rato pressione a barra somente quando a luz está acesa tam bém é provável que eu diga Diego sabe como nadar somente depois de têlo visto nadar Do mesmo modo é provável que eu diga Eu sei como nadar apenas após terem ocorrido os estímulos associados a esse fato Assim como a pressão à barra no exemplo dos ratos minhas verbalizações desse tipo precisam ter sido reforçadas no passado por pessoas à minha volta 0 Capítulo 7 analisará de modo mais aprofundado o comportamento verbal por ora o ponto importante para manter em m ente é que verbalizações como Diego sabe X e Eu sei X são exemplos de comportamento operante sob controle de estímulo A expressão que empregaremos para designar esse tipo de verbalização sob controle de estímulos ambientais será relatos verbais Érica sabe francês ou Eu sei francês é um relato verbal sob controle de eventos de falar francês e provém de uma longa história de reforço por emitir esse tipo de relatos verbais Conhecitnenfo declarativo saber sobre Saber sobre difere de saber como apenas por envolver controle de estímulo Em que situações dizemos O rato sabe sobre a luz ou César sabe sobre aves Diz se que o rato sabe sobre a luz se ele responde mais quando a luz está acesa Dizse que César sabe sobre aves se ele nomeia corretamente vários exemplares explica seus hábitos de construção de ninhos imita seus cantos e assim por diante As condições para essas verbalizações são um pouco diferentes das condições para verbalizações de saber como porque o comportamento envolvido em saber so bre deve ser apropriado a um estímulo discriminativo ou a uma categoria de estí mulos discriminativos A coisa sobre a qual se sabe é o estímulo discriminativo ou a categoria Conhecimento dectarativo e controle de estímulo A Figura 61 indica que o teste do saber sobre é uma resposta apropriada a um estímulo discriminativo Se eu alego que sei sobre a guerra civil americana você 1 2 4 William M Baum pode testar essa alegação dirigindome perguntas como Por que você acha que Pickett não discutiu com Lee em vez de avança em Gettysburg ou O que Grant fez quando Lee chegou ao tribunal de Appomattox Se eu puder dar respostas que concordem com outras coisas que você ouviu e leu será mais provável que você diga que eu sei sobre a guerra civil Quanto mais eu falar sobre ela mais provável será que você diga que eu sei Minhas falas são com portam ento operante sob controle de estímulos originados de você e suas perguntas A Figura 61 sugere também que minha alegação original de saber tem uma base sem elhante Meu próprio comportamento de falar e responder a perguntas sobre a guerra civil cons titui o estímulo discriminativo que controla minha frase Eu sei sobre a guerra civil Se eu não tivesse respostas para suas perguntas seria provável que voltasse atrás ou dissesse que sei pouco sobre a guerra civil A única diferença entre meu teste e o seu teste é que o seu provavelmente é baseado em uma am ostra menor de meu comportamento que o meu teste Isso tudo deixa em aberto um a questão importante como decidimos se o comportamento de saber sobre é apropriado Voltando a nosso exemplo mais simples podese dizer que o rato sabe sobre a luz se ele pressiona mais a barra quando a luz está acesa As pressões à barra são apropriadas porque no passado foram reforçadas em presença da luz De maneira semelhante m inha fala sobre a guerra civil em resposta a perguntas foi reforçada no passado particularmente minhas respostas corretas foram reforçadas e minhas respostas erradas foram pu nidas Descobrese que apropriado significa reforçado e não punido Ensinaramse pombos não apenas a bicar um disco verm elho e não bicar um verde mas também a bicar diapositivos com fotos de seres hum anos é a não bicar diapositivos que não tivessem seres humanos Herrnstein e Loveland 1964 Os diapositivos que contêm seres humanos constituem um a categoria de estímulos discriminativos que controla o bicar dos pombos Como eles bicam somente os diapositivos com pessoas poderíamos dizer que os pombos sabem sobre pessoas em diapositivos Dizemos isso apesar de eles não poderem falar O conhecimento deles é exibido em seu comportamento de bicar Eles bicam apropriadam ente discriminam ou bicam quando o bicar pode ser reforçado e não bicam quando não será reforçado e esse é o contexto para nosso comportamento de dizer que eles sabem sobre Uma vez compreendido que discriminação e reforço são as observações que estabelecem a ocasião para falarmos de saber sobre temos duas alternativas Podemos continuar falando sobre o saber sobre adm itindo que ele na verdade significa somente discriminação e reforço ou podemos parar de falar desse modo e passar a falar de discriminação e reforço Quando visam a precisão os analistas comportamentais usam os termos técnicos pois o discurso m entalista sobre o co nhecimento geralmente resulta em confusão 0 que é a mentira Por exempio alguns filósofos e zoólogos argumentam que se for possível demons trar que uma criatura nãohumana engana seus companheiros então a criatura Compreender o behaviorismo 125 deve ter consciência Cheney e Seyfarth 1990 O seguinte tipo de exemplo é oferecido como prova Um macaco dominante e um subordinado estavam em con flito O subordinado emitiu um chamado de alarme que normalmente acompanha ria a visualização de um predador embora não houvesse nenhum predador à vista Como resultado o macaco dominante fugiu Esses teóricos consideram que o ma caco ameaçado deve ter se colocado privadamente no lugar do outro macaco sa bendo por seu próprio comportamento passado que o macaco dominante fugiria quando ouvisse o chamado de alarme Portanto o subordinado mentiu para o ma caco dominante ao emitir o chamado apesar de saber que não havia nenhum pre dador O que há de errado com essa explicação O behaviorista trata da questão O que é uma mentira indagando acerca das condições sob as quais é provável que as pessoas digam que alguém está con tando uma mentira As pessoas procuram distinguir entre mentira e erro É comum dizer que os dois diferem por ser a mentira dita intencionalmente No Capítulo 5 vimos que um a m aneira de entender o fazer intencional é relacionar o ato a uma história de reforço Se Diana diz a você que o correio fica na Rua do Congresso e você descobre que na verdade fica na Rua Daniel você supõe que ela simplesmen te cometeu um engano pois não havia nenhuma razão isto é nenhum reforço para que ela lhe dissesse o nome errado Se no entanto estava quase na hora de fechar o correio e você estivesse correndo para remeter uma inscrição para um concurso no qual você e Diana estavam competindo você poderia suspeitar que Diana tivesse dito o nome errado intencionalmente pois haveria reforço por as sim fazer Portanto a prim eira condição que torna provável dizer que alguém está men tindo é o reforço para a ação Mentir é um comportamento operante Provavelmen te toda criança em algum momento mente A possibilidade de que o comportamen to de mentir da criança se torne comum depende das conseqüências se ele é refor çado ou punido O reforço para o mentir geralmente é evitar a punição Você comeu os biscoitos Não eu nem os peguei algumas vezes obter uma recom pensa Você já comeu algum doce hoje Não nenhum o dia inteiro Bem então você pode comer a sobremesa O macaco do qual se disse que mentiu emitiu um chamado de alarme que foi reforçado pela retirada do macaco dominan te ameaçador A segunda condição para se chamar uma ação de mentira é a inconsistência Você pode não ter nenhum a idéia dos motivos isto é dos reforçadores da pessoa para mentir mas se João um dia lhe diz que viu um roubo e no outro dia diz que não viu roubo nenhum é provável que você diga que ele agora está mentindo Será particularmente provável que você faça essa afirmação se ele agiu de várias manei ras compatíveis com ter visto o roubo agiu de modo amedrontado relatou os eventos descreveu o ladrão e assim por diante Como vimos no Capítulo 3 Ryle diria que todas essas ações pertencem à mesma categoria comportamentaí e um behaviorista molar diria que todas elas são partes da mesma atividade estendida de testemunhar um roubo O comportamento que é incongruente com a categoria ou com a atividade a negação no exemplo citado é chamado de mentira Prova velmente foi também devido à incongruência que se afirmou que o macaco que emitiu o chamado de alarme mentiu pois os pesquisadores haviam observado a 126 William M Baum emissão do chamado em outras ocasiões em que efetivamente o predador estava presente Como os outros macacos aprendem rapidamente a ignorar os animais cujos chamados não são confiáveis isto é discriminam com base em quem está gritando o reforço para o falso chamado de alarme deve desaparecer em pouco tempo Permanece um a questão de onde veio para começar o falso chamado de alarme A tentação de recorrer ao mentalismo surge exatam ente da ausência dessa informação Como vimos no Capítulo 5 quando desconhecemos a história passada de reforço em nada ajuda inventar histórias sobre origens internas quiméricas O mais provável é que o macaco subordinado tenha emitido chamados de alarme em ocasiões anteriores quando o predador estava presente e que em algumas dessas ocasiões o chamado tenha sido reforçado pela retirada do macaco dominante Pode ter sido apenas um pequeno passo a mais dar o chamado de alarme quando o predador estava ausente Outras pesquisas poderiam revelar se essa progressão ocorreu Isso explicaria a ação do macaco sem qualquer referência a sua vida men tal e sem que se dê nenhum significado especial à sua m entira Autoconhecimento De acordo com a concepção convencional na sociedade em que nos criamos discu tida no Capítulo 2 há um mundo interno subjetivo e um mundo externo objetivo A ênfase do behaviorismo moderno é alheia a essa distinção De acordo com a concepção convencional poderíamos perguntar O que eu conheço melhor meu mundo interno ou o mundo externo A pergunta em si faz pouco sentido para o behaviorista Dois tipos de resposta são possíveis Um deles é traduzir a pergunta em termos mais compreensíveis o que exerce mais controle sobre meu comportamento estímulos públicos ou estímulos privados O outro é determinar as circunstâncias sob as quais se diz que alguém tem autoconhecimento Passamos agora a examinar cada um deles Fsfímuos públicos versus estímulos privados Ao abordarmos a questão de estímulos públicos e privados a primeira coisa a reco nhecer é que apenas os estímulos públicos são acessíveis ao outro no ambiente de uma criança em desenvolvimento Os relatos verbais de um a criança lembrese comportamento operante são reforçados pelas pessoas significativas a sua volta E relativamente fácil reforçar relatos verbais apropriados como nom ear objetos ou cores quando os estímulos são públicos A criança diz Cachorro e o pai diz Está certo é um cachorro Que cor é esta bola Vermelha Otimo está certo Problemas específicos surgem quando tentamos ensinar a criança a relatar eventos privados pois eles não são acessíveis às pessoas que estabeleceriam o con texto para o reforço Examinamos anteriormente casos que permitiam suposições razoáveis devido à existência de dicas públicas coiaterais por exemplo a dor Compreender o behaviorismo 127 Vemos a criança chorando e perguntamos Você se machucou A resposta Sim é seguida de simpatia e de cuidados reforço mas também é seguida por Onde dói Você bateu o joelho Sinais visíveis de ferimento podem ajudar Se juntar mos o treinamento para nomear partes do corpo com perguntas sobre dor even tualmente conseguirem os treinar a criança a emitir relatos verbais com a forma geral de Meu X está doendo Sem esses acompanhamentos públicos confiáveis é muito mais difícil ensinar alguém a relatar eventos privados E por isso que entrar em contato com seus sentimentos parece ser tão lento e difícil Estarei zangado ou com medo Estou fazendo isso por am or ou por culpa São julgamentos difíceis A dificuldade no entanto não surge da falta de informação mas da incerteza sobre como in terp retar a inform ação Colocando na linguagem técnica do behaviorista a dificuldade surge não da falta de estímulos discriminativos públi cos privados passados e presentes mas da falta de uma história de reforço para a discriminação entre um relato verbal e outro A falta da história de reforço resul ta da falta de dicas públicas para controlar o comportamento daqueles que pode riam reforçar o relato verbal correto Se houvesse estímulos discriminativos públi cos indicando se você estava zangado ou com medo digamos se você ficasse vermelho em um caso e verde no outro então você não teria nenhuma dificulda de para dizer se estava com medo ou zangado porque as pessoas em volta não teriam dificuldade para reforçar o relato verbal correto As dicas públicas reais porém são complexas e pouco confiáveis Somente alguém com muito treino pode com segurança distinguir medo de raiva É por isso que o terapeuta que o ajuda a entrar em contato com seus sentimentos talvez possa lhe dizer como você se sente com medo zangado apaixonado culpado melhor do que você mesmo Portanto nossa situação é exatamente o inverso da concepção convencional os eventos privados são menos conhecidos do que os eventos públicos Skinner 1969 Uma vez que o relato verbal como qualquer comportamento operante de pende de reforço confiável e o reforço confiável depende de dicas públicas para que os outros o dispensem os relatos verbais ocorrem prontamente apenas na presença de dicas públicas As assim chamadas emoções puras por exemplo dor de que falam os filósofos são simplesmente os eventos privados com maior probabilidade de ser acompanhados por dicas públicas contorções que permi tem relatos verbais a seu respeito sejam reforçados consistentemente pelos outros Sejam aprendidos com facilidade ou dificuldade os relatos verbais baseados parcialmente em estím ulos privados só podem ser aprendidos se forem acompa nhados por dicas públicas ainda que sutis ou pouco confiáveis Como ocorre com outras formas de conhecimento as dicas públicas que controlam os relatos ver bais que constituem m eu autoconhecimento são muito semelhantes às que contro lam os relatos verbais de outras pessoas relatos esses que constituem seu conheci mento sobre mim A forma pela qual sei que estou com raiva é muito semelhante à forma pela qual outra pessoa sabe que estou com raiva tratase de uma situação na qual as pessoas em geral se comportam de modo raivoso na qual me comportei de modo raivoso no passado e na qual tenho uma expressão de raiva a cara avermelhada e os punhos cerrados A única diferença é claro é que eu também posso relatar pensam entos de raiva e um aperto no peito Outra pessoa no entan 128 William M Baum to poderia notar minha expressão de raiva e meu rosto vermelho em um momento em que eu não posso notálos Os estímulos que controlam meu relato verbal sobre mim mesmo podem diferir dos que controlam o relato verbal de outra pessoa sobre mim mas eles não são necessariamente mais numerosos ou mais confiáveis Essa idéia de que o autoconhecimento depende dos mesmos tipos de obser vação pública que o conhecimento sobre os outros conflita com a visão convencio nal de acordo com a qual o autoconhecimento depende de informação privilegiada inacessível aos outros Contudo existem algumas pesquisas de laboratório que a apóiam Daryl Bem 1967 e seus alunos por exemplo conduziram vários experi mentos para testar se as autopercepções das pessoas estavam sob controle de seu próprio comportamento público No final da década de 1950 um psicólogo chama do Leon Festinger apresentou um a teoria sobre a autopercepção designada teoria da dissonância Como ela supostamente explicava as atribuições das pessoas sobre si mesmas isto é as respostas que elas davam a questões sobre suas crenças e atitudes geralmente em testes escritos a teoria da dissonância rapidam ente tor nouse parte de uma teoria mais geral da atribuição Originouse da observação de que se os sujeitos experimentais fossem persuadidos a dizer sem nenhum a boa desculpa coisas com as quais inicialmente não concordavam suas atribuições mu dariam posteriormente ajustandose mais ao que haviam dito Por exemplo em um experimento os sujeitos primeiro participaram de duas tarefas enfadonhas e depois se lhes pediu que mentissem para uma mulher que esperava em outra sala na verdade uma cúmplice no experimento dizendo a ela que as tarefas eram divertidas e interessantes Metade dos sujeitos recebeu 1 dólar para fazer isso e a outra m etade recebeu 20 dólares Em seguida quando os sujeitos responderam um questionário os que tinham recebido somente 1 dólar classificaram as tarefas como interessantes enquanto os que receberam 20 dólares assim como um outro grupo que não havia sido solicitado a mentir classificaram as tarefas como enfadonhas De acordo com a teoria da dissonância os sujeitos que receberam apenas um dólar mudaram suas autopercepções porque sentiram necessidade de reduzir a dissonância entre o conhecimento interno de que as tarefas eram enfadonhas e o comporta mento externo de dizer que eram interessantes Daryl Bem questionou essa teoria mentalista Sugeriu que os sujeitos sim plesmente observaram o próprio comportamento como observariam o compor tam ento de outra pessoa e concluíram que as afirmações de quem ganhou ape nas 1 dólar tinham maior probabilidade de ser verdadeiras do que as de quem ganhou 20 dólares Em um de seus experimentos Bem criou um a gravação que imitava um dos sujeitos iniciais mentindo convincentemente para a cúmplice que respondia educadamente Todos os sujeitos de Bem nesse experimento ouvi ram a descrição das tarefas e a gravação Foram então divididos em três grupos um grupo a quem não se disse nada um grupo a quem se disse que o sujeito na gravação tinha recebido 1 dólar e um grupo a quem se disse que o sujeito tinha recebido 20 dólares Em um questionário preenchido depois dessa etapa eles classificaram as tarefas como enfadonhas ou interessantes como havia sido feito no estudo sobre dissonância Os resultados foram os mesmos do estudo anterior exceto é claro que agora as classificações atribuições estavam baseadas na observação do comportamento de outra pessoa Bem concluiu que quem recebe Compreendero behaviorismo 129 menos tem maior credibilidade independentemente de ser o próprio sujeito ou alguma outra pessoa Como outras formas de mentalismo a teoria da dissonância serve apenas para desviar nossa atenção da explicação última dos julgamentos de credibilidade nossa experiência social prévia Assim como os pombos em nossa demonstração discriminam entre um disco vermelho e um disco verde a maioria das pessoas discrimina entre pessoas que são pagas para dizer algo e pessoas que não são pagas para isso Do mesmo modo que os pombos as pessoas discriminam como resultado de uma história de reforço que depende do contexto É menos provável que o comportamento congruente com verbalizações de pessoas que são pagas para emi tilas seja reforçado Somos mais inclinados a nos comportarmos de acordo com as verbalizações de uma pessoa que não é paga por emitilas Usando os termos do behaviorismo molar ou de Ryle nossa tendência é apresentar os comportamen tos que pertencem à atividade ou categoria de acreditar no que a pessoa disse Nos experimentos citados fez pouca diferença se o mentiroso que não foi pago era outra pessoa ou o próprio sujeito O autoconhecimento sobre atitudes e crenças internas freqüentemente de pende de discriminações que envolvem muitos eventos ao longo de muito tempo mas os eventos são mais públicos do que privados Quando um dos pais se questio na se fica com seu filho por amor ou por culpa dizse que está se questionando sobre seus motivos Os motivos é claro são ficções mentais De onde vêm esses supostos motivos Discriminar se estou agindo por amor ou por culpa requer aces so à história de reforço desse comportamento Tratase de uma história de reforço positivo ou negativo Eu fico com meu filho porque no passado minha esposa amea çou me censurar e desprezar se não o fizesse Ou fico com meu filho porque no passado ele e minha esposa reforçaram esse comportamento com abraços beijos e outros sinais de afeto Se dissermos que seu terapeuta sabe melhor do que você próprio a diferença entre sua culpa e seu amor é porque ele tem maior capacidade de discriminar um a história de reforço de outra Introspecção As idéias convencionais sobre o autoconhecimento estão intimamente ligadas à noção de introspecção De acordo com essa idéia uma pessoa adquire autoconhe cimento olhando o palco interno da mente para ver que pensamentos idéias per cepções e sensações podem estar lá No Capítulo 3 vimos alguns dos problemas com noções desse tipo a mente teria de ser um espaço naonatural não está claro quem vê ou como vê e assim por diante A explicação de Ryle para o autoconhecimento difere da explicação de Sldnner apenas no tipo de crítica à introspecção Ryle rejeita a introspecção em bases lógi cas Observar um pardal é um rótulo para a categoria de comportamento que inclui falar sobre o pardal apontar para ele descrevêlo dizer quando ele se movi menta e assim por diante Quando você observa um pardal você não faz duas coisas observálo e falar sobre ele pois do ponto de vista lógico tudo o se quer dizer por observar um pardal é que você faz coisas do tipo falar sobre ele Observar 130 William M Baum um pensamento pareceria implicar exatamente o que observar um pardal não im plica isto é que o comportamento de observar é um segundo comportamento distinto do pensamento Se isso fosse verdade então teríamos de ser capazes de nos observar observando observarnos observandonos observando e assim por diante Em outras palavras a idéia de introspecção leva a um a regressão infinita um resultado geralmente considerado absurdo Como no caso de observar um par dal falar de um pensamento é meramente parte de pensar o pensamento Skinner assume a perspectiva mais pragmática de investigar as circunstâncias sob as quais alguém poderia falar de introspecção Se observar um pensamento fosse como observar um pardal então falaríamos do pensamento como falamos do pardal A fala sobre o próprio comportamento particularmente sobre o próprio comportamento privado parece ser a ocasião na qual se poderia dizer que a pessoa está fazendo uma introspecção Por essa razão Skinner se concentra no relato verbal A única diferença entre um relato verbal sobre um pardal e um relato verbal sobre um pensamento é que o estímulo discriminativo é inteiram ente público para o pardal e parcialmente privado para o pensamento Ambos os relatos verbais são exemplos de comportamento operante sob controle de estímulo Examinaremos como é possível tratar os relatos verbais desse modo no Capítulo 7 O COMPORTAMENTO DOS CIENTISTAS Já que um cientista é um organismo que se comporta deveríamos esperar que os conceitos da análise comportamental se apliquem ao comportamento dos cientis tas tanto quanto ao de qualquer outra pessoa E razoável perguntar Quais são as atividades que alguém deve executar para ser chamado dc cientista Essas ativi dades devem ser compreensíveis à luz de nossos conceitos de comportamento operante e controle de estímulo Observação e discriminação O físico Ernst Mach e outros autores ressaltaram que as atividades da ciência são as mesmas de algumas atividades da vida cotidiana só realizadas com mais cuidado e precisão Afirmase que cientistas reúnem dados o que significa dizer que fazem observações com um grau incomum de cuidado e precisão muitas vezes com a ajuda de instrumentos especiais Em ciências nãoexperimentais como a astrono mia a observação representa toda a coleta de dados e novas observações freqüente mente ocorrem por acaso Em ciências experimentais ambientes específicos são construídos e manipulados Um experimento consiste de manipulação combinada com observação No vocabulário técnico da análise comportamental a observação científica é a formação de discriminações Uma das atividades mais básicas da ciência é a no meação O astrônomo observa um a estrela e afirma Aquela é um a gigante verme lha O biólogo observa uma forma em uma célula do corpo e afirma Aquilo é uma Compreender o behaviorismo 131 jnitocôndria De modo similar a mensuração consiste em dizer ou em escrever algo comportamento operante como resultado de observar ou ler algum instru m ento estímulo discriminativo O químico lê um medidor e escreve 3 2 graus em um caderno O analista comportamental lê um contador e escreve 5 2 8 pres sões na barra Análises de dados também consistem em formar discriminações Manipulamos números na forma de tabelas e gráficos procurando padrões final mente tirando conclusões faladas e escritas 0 físico vê que os pontos em um grá fico caem próximo de um a linha e afirma Esses números se conformam à lei de Boyle Um sociólogo calcula o coeficiente de correlação e afirma A violência fa miliar aum enta em épocas de crise econômica Todas essas discriminações compartilham um elemento específico o cientista não somente faz a discriminação baseada na forma leitura de contadores ou pa drões numéricos m as tam bém se comporta de modo a produzir o estímulo discriminativo Essa combinação de atividades produzindo estímulos e discrimi nando com base nos estímulos produzidos estimula as pessoas a chamai a ciência de criativa Manipulamos instrumentos muitas e muitas vezes procurando algum estímulo discriminativo reconhecível até que algo finalmente possa ser dito ou escrito Ali agora você pode ver que é uma mitocôndria ou Agora fica claro que os pontos caem ao longo dessa linha e não daquela ou Se você olhar esses e aqueles números há um a tendência de aumento Os cientistas são particularmente recompensados por produzir novas discri minações que são cham adas de descobertas Prêmios Nobel são concedidos a discriminações como UA estrutura da molécula de DNA é uma dupla hélice ou Esta é uma vacina contra a poliomielite Conhecimento científico O conhecimento científico é um tipo de conhecimento declarativo ou de saber sobre Afirmase que um cientista sabe sobre algo quando ele pode falar e em particular responder questões corretamente no contexto Se um paleontólogo anuncia a descoberta de um fóssil de uma nova espécie de dinossauro outros paleontólogos fazem muitas perguntas Como você pode ter certeza de que não é esta outra espécie Quão boas são suas mensurações Sua estimativa da idade do fóssil poderia estar errada Aquelas formas não são de fato penas A capacidade da pessoa fornecer respostas adequadas determina se a descoberta será aceita Em termos de análise comportamental as respostas do cientista servem como estímulo discriminativo para outros dizerem que ele ou ela sabe algo Se um número sufi ciente de cientistas com eça a dizer isso a descoberta se torna parte do conheci mento comum parte da fala e da escrita daquele grupo de cientistas O conhe cimento científico é a fala e a escrita dos cientistas em contextos científicos O principal ponto aqui envolvido é que os cientistas são organismos que se comportam e que a ciência é um tipo de comportamento operante que como ou tros comportamentos operantes está sob o controle do contexto e das conseqüên cias Falar escrever fazer experimentos realizar mensurações todos são tipos de comportamento operante sob controle do contexto e das conseqüências 132 William M Baum Se as respostas do paleontólogo às perguntas persuadem outros paleontólogos que reforçam o falar e o escrever sobre a descoberta Se outros em grande número rejeitam a descoberta ou fracassam em reforçar o falar e o escrever e mesmo os punem então o descobridor pode eventualmente mudar seu comportamento e desiste ou retira seus argumentos Ou o falar e o escrever do descobridor em poten cial podem persistir por algum tempo diante da ausência de reforço A persistência pode eventualmente ser recompensada mas alguns cientistas foram para o túmulo sustentando idéias que nunca foram aceitas Por que alguns persistem e outros desistem diante da ausência ou da insuficiência de reforço para seu comportamen to fica por ser compreendido mas a resposta será muito provavelmente encontra da nas histórias de reforço individuais Pragmatismo e contextuaiismo A concepção de que os cientistas são organismos que se comportam que a ciência é comportamento operante e que o conhecimento científico consiste na fala e na escrita dos cientistas tudo sob controle do contexto e das conseqüências contradiz a visão de ciência do realista que discutimos no Capítulo 2 Não diz nada sobre um mundo real sobre dados sensoriais nada sobre a verdade última Em vez disso como sugerido no Capítulo 2 a visão analíticocomportamental de ciência continua a tradição do pragmatismo Pragmatistas como William James sustentam que a verdade de uma teoria científica reside em sua utilidade Para o analista comportamental isso se traduz por a probabilidade dos padrões de fala e escrita dependem de seu reforço O discurso sobre a Terra plana persistiu enquanto foi reforçado por ouvintes e por resultados práticos Cessou quando os ouvintes cessaram de reforçálo e pelo contrário começaram a reforçar o discurso sobre a Terra redonda O discurso sobre a Terra redonda foi mais reforçado por resultados práticos do que o discurso sobre a Terra plana Em outras palavras a teoria da Terra redonda foi considerada verdadeira quando se tornou socialmente aceitá vel e foi reconhecida como mais útil em atividades práticas como a navegação A visão analíticocomportamental se parece com uma idéia que historiadores da ciência denominam contextualismo De acordo com o contextualismo as teorias e a pesquisa científica têm de ser compreendidas dentro do contexto de seu tempo e de sua cultura Rejeita a visão de um a ciência objetiva e independente de valores Ao contrário os contextualistas asseveram que as teorias e mesmo os experimentos que os cientistas criam dependem do ambiente cultural em que vivem e no qual cresceram Para os contextualistas hão é coincidência que a teoria da evolução tenha sido proposta e eventualmente aceita ao mesmo tempo em que a Revolução Industrial estava acontecendo O ponto de vista analíticocomportamental coincide com o contextualismo em termos gerais mas vai além ao enfatizar as conseqüências práticas em acrésci mo às conseqüências sociais e ao especificar os meios através dos quais o ambiente social isto é outras pessoas do grupo ou a comunidade verbal como veremos no Capítulo 7 molda a ciência O comportamento dos cientistas falar e escrever como o comportamento operante de outros organismos é modelado por reforço e punição Compreender o behaviorismo 133 RESUMO As pessoas falam de conhecer ou conhecimento quando uma pessoa ou outra criatura se comporta em relação ao mundo natural público ou privado de m anei ras que são reforçadas que são apropriadas O conhecimento operacional ou o saber como significa que algum comportamento ou categoria de comportamento particular foi observado Diego sabe como nadar significa que Diego de vez em quando nada Eu sei como nadar significa que eu de vez em quando nado Afir mações sobre saber falar francês são similares exceto que a categoria saber fran cês inclui comportamentos mais variados O conhecimento declarativo ou saber sobre significa que o comportamento referido está sob controle de estímulo Pode se dizer que um rato sabe como conseguir comida pressionando uma barra sim plesmente porque ele pressiona a barra ao passo que se pode dizer que ele sabe sobre uma luz se ele só pressiona a barra quando a luz está acesa O saber sobre referese à discriminação No caso especial de saber sobre em que o comportamen to sob controle de estímulo é um comportamento verbal dizse que uma pessoa sabe sobre um assunto se ela faz asserções que foram reforçadas que são corre tas sob controle de estímulos discriminativos do ambiente falar sobre pássaros na presença de pássaros particularmente estímulos providos por outras pessoas como perguntas por exemplo Qual a cor dos ovos do pardal O autoconhe cimento pertence à m esm a categoria geral de falar sobre sob controle de estímu lo Ele é escasso e fraco quando diz respeito a eventos privados porque os estí mulos discriminativos privados são inacessíveis para os outros que são quem trei nam as discriminações que compõem o conhecimento declarativo O resultado é o oposto do que seria de esperar a partir da concepção convencional eventos públi cos externos exercem melhor controle sobre o comportamento são mais bem conhecidos do que eventos privados internos O conhecimento científico consiste na fala e na escrita dos cientistas Ele de pende tanto de um contexto criado pela pesquisa quanto das conseqüências no comportamento de ouvintes e leitores normalmente outros cientistas LEITURAS ADICIONAIS Bem D J 1967 Selfperception an alternative interpretation of cognitive dissonance phenomena Psychological Revíew 74 183200 Nesse artigo Bem relata vários experimen tos critica o mentalismo da teoria da dissonância e dá explicações comportamentais para as autopercepções Cheney D L e Seyfarth R M 1990 How monkeys see the world insiãe lhe mind ofanother species Chicago University of Chicago Press Esse livro é sobre macacos vervet observados na selva e está repleto de interpretações mentalistas como o tratamento do mentir discu tido neste capítulo Dennett DC 1987 The intentional stance Cambridge Mass MIT Press Dennett é um filósofo que defende o mentalismo e que inspirou muitas das interpretações mentalistas presentes nas observações de Cheney e Seyfarth sobre o comportamento de macacos Ver especialmente os Capítulos 7 e 8 134 William M Boum Herrnstein R J e Loveland D H 1964 Complex visual concept in the pigeon Science 146 549551 Esse artigo contém o relato original da descoberta de que pombos podem discriminar diapositivos que contêm seres humanos dos que não os contêm Rachlin H 1991 Introduction to modern behaviorism Nova York Freeman 3 ed Ver o Capítulo 5 para uma discussão da cognição em relação a controle de estímulo Ristau C 1991 Cognitive ethology the minds of other animals Hillsdale NJ Erlbaum Esse livro é uma coleção de artigos de zoólogos psicólogos e filósofos cheio de interpre tações mentalistas do comportamento animal e de discussões sobre a validade dessas inter pretações Ryle G 1984 The concept of mind Chicago University of Chicago Press Ver especialmen te os Capítulos 2 e 6 sobre o conhecer e autoconhecimento Skinner B R 1969 Behaviorism at fifty In Contingencies of reinforcement Nova York AppletonCenturyCrofts cap 8 Esse texto inclui uma discussão da introspecção e do autoconhecimento TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPITULO 6 Autoconhecimento Cadeia comportamental Conhecimento declarativo Conhecimento operacional Contextualismo Controle de estímulo Discriminação Estímulo discriminativo Introspecção Pareamento com o modelo Regressão infinita Relato verbal Teoria da dissonância N de T Título traduzido em português ver Apêndice Comportamento verbal e linguagem M u ito do que foi discutido nos Capítulos 34 5 e 6 presumia que o falar é um tipo de comportamento operante Muitas pessoas leigos filósofos lingüistas e psicólo gos consideram a fala e a linguagem como sendo coisas separadas e diferentes de outros comportamentos Na verdade freqüentemente se diz que a linguagem é o que distingue nossa espécie das outras Os analistas de comportamento porém coerentes com sua confiança na teoria da evolução procuram compreender todas as espécies e todos os tipos de comportamento dentro do mesmo quadro geral de referência Oferecem um a explicação da fala e da linguagem que ignora categorias tradicionais acentuando a semelhança da fala com outros tipos de comportamen to Neste capítulo veremos que o falar é um dos tipos e não o único de comporta mento verbal e que a noção de comportamento verbal substitui muitas idéias tra dicionais sobre a fala e a linguagem 0 QUE É COMPORTAMENTO VERBAL Comportamento verbal é um tipo de comportamento operante Pertence a catego ria comportamental mais ampla que poderia ser chamada de comunicação se comunicação não sugerisse uma teoria m entalista alheia ao ponto de vista behaviorista Como veremos a perspectiva comportamental redefine a palavra co municação ou a substitui por outros termos 136 William M Boum Comunicação Quando um pássaro emite um chamado de alarme e todos os outros pássaros do bando se escondem do predador poderíamos dizer que ocorreu um ato de comuni cação Em uma concepção comportamental esse exemplo ilustra tudo o que entra na comunicação A comunicação ocorre quando o comportamento de um orga nismo gera estímulos que afetam o comportamento de outro organismo A concepção convencional sustenta que na comunicação há algo que é pas sado de uma pessoa para outra Etimologicamente comunicação significa tornar comum O que se torna comum Uma idéia uma mensagem um significado Al guns psicólogos enfeitam essa concepção cotidiana acrescentando que a idéia é codificada pelo remetente transmitida em código para o destinatário e depois decodificada por esse destinatário que passa então a possuir a mensagem Como todas as noções mentalistas a noção cotidiana de comunicação nada acrescenta ao que observamos e nos impede uma compreensão maior Onde está a mensagem De que é feita Quem faz a codificação e a decodificaçao A mensa gem a codificação e a decodificaçao são ficções de um mundo mental que perm a nece eternamente fora de nosso alcance O pássaro que emite o chamado se comporta movimenta a faringe e os pulmões e isso resulta em um estímulo auditivo que modifica o comportamento de outros pássaros que estão ao alcance do som Acrescentar que o pássaro que chama emite uma mensagem que os outros recebem não esclarece a explicação Será que é diferente quando uma pessoa fala com outra 0 comportamento verbai como comportamento operante Há uma diferença crucial entre o chamado de alarme e a fala O chamado de alar me do pássaro é um padrão fixo de ação enquanto falar é comportamento operante Quando um padrão fixo de ação gera estímulos auditivos è visuais que afetam o comportamento dos outros como na defesa na agressão e na corte esse processo pode ser chamado de comunicação Entretanto não é comportamento verbal Mesmo o rápido movimento da sobrancelha hum ana como saudação embora possa afetar a pessoa que o percebe e portanto ser comunicativo não é um exemplo de com portamento verbal Comunicação é a categoria mais ampla Todo comportamento verbal poderia ser chamado de comunicação mas o contrário não é verdadeiro Padrões fixos de ação dependem apenas de antecedentes estímulossinal ao passo que o comportamento verba por ser um tipo de comportamento operante depende de suas conseqüências 0 falar tem conseqüências Suponha que Gerson e Sílvia estejam jantando As batatas de Gerson estão sem sal e o sal está perto de Sílvia Gerson diz Me dá o sal por favor A conseqüência Compreender o behaviorismo 137 dessa frase é que Sílvia lhe passa o sal Gerson se comporta movimenta a laringe os lábios a língua e assim por diante Isso gera um estímulo auditivo que Sílvia ouve A fala de Gerson Me dá o sai por favor é reforçada pela entrega do sal Sabemos que a frase de Gerson está sendo controlada por esse reforçador porque se estivesse sozinho ou se as batatas estivessem suficientemente salgadas ou se o sal estivesse perto de seu prato a frase Me dá o sal por favor não ocorre ria O comportamento verbal como qualquer comportamento operante tende a ocorrer apenas no contexto em que tem probabilidade de ser reforçado I comunidade verba As pessoas que ouvem e reforçam o que uma pessoa diz são membros da comuni dade verbal dessa pessoa o grupo de pessoas que falam entre si e que reforçam as verbalizações umas das outras Um experimento de Rand Conger e Peter Killeen 1974 mostrou como a comunidade verbal funciona Quatro pessoas se sentaram a uma mesa conversan do sobre um tem a de interesse comum Três dessas pessoas eram aliados dos experimentadores sem o conhecimento da quarta que era o sujeito experimental e a quem foi dito apenas que o experimento era sobre interações sociais e que seria gravado em vídeo Ocasionalmente em esquemas de intervalo variável duas luzinhas atrás do sujeito acendiam sinalizando às pessoas a sua esquerda e a sua direita que deveriam dizer uma palavra de aprovação como Bem observado ou Tem razão na próxima oportunidade que parecesse adequada A pessoa sentada em frente ao sujeito tinha a função de facilitar a conversa A medida que os esquemas de reforço da esquerda e da direita variavam também variava a freqüência de reforço à direi ta e à esquerda O resultado foi que o comportamento verbal do sujeito mudava quando o reforço mudava Se a pessoa à direita dispensava mais reforçadores o sujeito passava mais tem po falando com ela se a pessoa da esquerda dispensava mais reforçadores o sujeito passava mais tempo falando com essa pessoa Falante e ouvinte Skinner 1957 definiu comportamento verbal como o comportamento operante que exige a presença de outra pessoa para ser reforçado Essa outra pessoa que reforça o comportamento verbal do falante é o ouvinte O comportamento operante de abrir a geladeira ou de dirigir um carro não pode ser chamado de comportamen to verbal pois não é necessária a presença de um ouvinte para reforçálo 0 episódio verbal A Figura 71 apresenta um esquema dos eventos que compõem um episódio com pleto de comportamento verbal No exemplo em que Gerson pede o sal para Sílvia 138 William M Baum Falante SR Cv SP SR C R I Ouvinte 1 1 1 Sg C0 S Falante Sal na mesa fora de alcance Cv Me dá o sal por favor 1 SP S Sal é recebido t C R Obrigado 1 1 Me dá o sal 1 Passa 1 Obrigado Ouvinte por favor o sal sg Co s Figura 71 Um episódio verbal SF é o contexto para o comportamento verbal do falante Cv que gera um estímulo discriminativo S que determina a ocasião para o ouvinte agir CQ de forma a prover reforço S para o comportamento do falante Cv O reforço ao faiante serve também como estímulo discriminativo S que determina a ocasião para uma resposta de retribuição CR da parte do falante Essa provê o reforço S para o comporta mento do ouvinte CQ o contexto iniciador ou estímulo discriminativo S para o pedido de Gerson é a situação em que ambos estão à mesa falta sal nas batatas e o sal está fora do alcance junto a Sílvia Gerson emite o comportamento verbal de movimentar a laringe a língua os lábios e assim por diante Cv a verbalização está escrita na Figura 71 entre colchetes Esse ato verbal gera um estímulo discriminativo audi tivo So entre aspas na Figura 71 Em presença de Me dá o sal por favor é provável que Sílvia passe o sal O fato de receber o sal reforça o ato verbal de pedir por ele como também serve de estímulo discriminativo Sr para Gerson retribuir de alguma maneira Ele movimenta a laringe a língua os lábios e assim por dian te a fim de formar o Obrigado entre colchetes este gera um estímulo auditivo Obrigado que serve de reforçador condicionado para o ato de Sílvia passar o sal Reforço do comportamento verbal O evento crucial na Figura 71 que faz de Cv um comportamento verbal e não um outro tipo de comportamento operante é S o reforço dispensado pelo ouvinte Se Gerson conseguisse o sal de uma forma que excluísse Sílvia talvez se levantando e pegandoo ele próprio não chamaríamos esse comportamento de verbal Para que uma ação seja considerada verbal seu reforço tem de ser dispensado por outra pessoa o ouvinte Compreender o behaviorismo 139 A maior parte do comportamento verbal depende de reforço social Se Gerson avisa Sílvia de que Há um tigre atrás de você o reforço desse ato verbal vem do salto que Sílvia dá para um lugar seguro e de seus profusos agradecimentos Quando você e eu conversamos alternamos o papel de falante e ouvinte meus atos verbais servindo para reforçar seus atos verbais e viceversa Nos termos da Figura 71 a ação do ouvinte C0 em um a conversa é tanto comportamento verbal como Cv Se eu disser Você ouviu a notícia você ouve Você ouviu a notícia e responde Não o que foi Eu ouço Não o que foi e isso reforça meu ato inicial de perguntar minha resposta seguinte reforça seu ato de perguntar e assim por diante Participar de um a conversa geralmente leva a conseqüências últimas mais longas e importantes Conforme a pessoa com quem você fale você pode encontrar um amor obter orientação para chegar a um lugar conseguir um trabalho salvar seu casamento fechar um negócio e assim por diante A atividade de participar de uma conversa é parte de um a atividade mais extensa tal como estar casado traba lhar ou m anter a saúde Assim reforçadores sociais de curto prazo trocados em uma conversa são geralmente sustentados por conseqüências mais significativas A modelagem da troca de papéis durante uma conversa provavelmente come ça cedo Catherine Snow 1977 registrou a interação de duas mães com seus be bês Verificou que as mães já desempenhavam o papel de ouvintes das vocalizações das crianças quando estas tinham apenas 3 meses de idade Nessa idade observou Snow 100 dos arrotos bocejos espirros tosses vocalizações diversas sorrisos e risadas tinham respostas sob a forma de vocalizações maternas p 12 As mães naturalmente contribuíram muito mais para essas conversas do que os bebês mas por volta dos 7 meses a contribuição deles havia aumentado e a freqüência das alternâncias tivera um aumento correspondente Eis um exemplo que Snow gravou p 16 Mãe Ann Ghhhhhghhhhhghhhhh ghhhh Grrrrr grrrrr grrrrr grrrrr choro de protesto Ah você não quer nâo é aaaaaaaaa aaoaa Não eu não eslavo fazendo esse barulho Eu não ia oaaaa aaoaa aaoaa aaaaa Isso tá certo A contribuição dos bebês foi aumentando de forma regular até que aos 18 meses a freqüência de alternância era dez vezes maior Como qualquer outro comportamento operante o comportamento verbal exige apenas reforço interm itente para ser mantido Se Sílvia estivesse brava com Ger son ou ocupada com alguma coisa ou com dificuldade de ouvir Gerson talvez tivesse tentado várias vezes obter o sal antes de conseguilo Poderia até não conse guir nessa ocasião levantarse e pegar o sal ele mesmo Quando a situação se repe tir em outro dia seu pedido ocorrerá de novo Depois de várias tentativas infrutífe ras o comportamento verbal pode vir a se extinguir mas provavelmente isso acon 140 William M Ba um tecerá somente com o comportamento dirigido a Sílvia Se Gerson estiver à mesa com Lígia ele pedirá ò sal Em outras palavras ele será capaz de discriminar De um a maneira geral o comportamento verbal é extremamente persistente e com freqüência é reforçado apenas intermitentemente Como outros comportamentos operantes o comportamento verbal exige me nos reforço para se manter do que para ser adquirido O reforço dos primeiros atos verbais de uma criança são pródigos e freqüentes O que existe de m ais emocionan te para um pai do que as primeiras palavras de um filho Não importa que a criança fale paa em vez de papai ete em vez de leite nana em vez de banana receberá aplausos e afeição em abundância A situação muda evidentemente à medida que a criança cresce Os pais aceitam paa ete e nana em uma criança de 2 anos mas o mesmo ato verbal em uma criança de 4 anos seria corrigido e talvez levemente punido Como muitos outros comportamentos operantes o comportamento verbal é modelado ao longo do tempo por aproximações sucessivas Ernst Moerk 1983 estudou fitas gravadas por Roger Brown 1973 de uma mãe interagindo com sua filha Eve que tinha entre 18 e 27 meses As conversas entre mãe e filha eram extremamente assimétricas a mãe falando quatro ou cinco sentenças para cada verbalização da criança Na estimativa de Moerk a mãe de Eve produzia mais de 20 mil sentençasmodelo a cada dia Com cerca de 18 meses Eve respondia à fala de sua mãe através de imitações parciais Sua mãe dizia algo como Agora você pode comer uma bala Você quer um a bala Eve respondia bala o que sua mãe reforçava com comentários como Está certo você quer uma bala e dandolhe uma bala Tildo indica que as crianças do gênero humano são feitas de forma a apresen tar alta probabilidade de imitar sons de fala que ouvem de pessoas significativas A partir dessa predisposição programada geneticamente e do reforço dado por essas pessoas na qualidade de ouvintes o comportamento verbal é adquirido e modelado 0 papel do ouvinte Para a criança que está aprendendo a falar assim como para o adulto que fala fluentemente o ouvinte desempenha um papel crucial Sem os ouvintes ou sem a comunidade verbal o comportamento verbal não poderia ser adquirido Como ouvintes as mães de Snow reforçaram maciçamente cada uma das vocalizações de seus bebês Os bebês por sua vez reforçaram as vocalizações das mães embora fossem apenas principiantes começavam a exercer o papel de ouvinte Cada um de nós à medida que cresce e participa da cultura que nos rodeia aprende a ser ouvinte Nosso comportamento em outras palavras vem a responder às verbalizações ouvidas dos outros como contextos verbais ou estímulos discriminativos verbais Discriminamos entre vocalizações e ruídos e entre uma vocalização e outra Por volta dos 18 meses a criança normalmente se comporta de forma diferente a o ouvir Você quer uma bala e Você quer um suco Nossas ações como ouvintes provêem reforço para as verbalizações dos falan tes a nossa volta Freqüentemente isso ocorre de forma inconsciente seria uma Compreender o behaviorismo 141 raridade o ouvinte que relatasse Estou reforçando o comportamento verbal desse falante Entretanto podemos dizer que o fazemos intencionalmente no sentido discutido no Capítulo 5 de que nosso comportamento como ouvintes é modelado e mantido por reforço ou seja deriva de uma história de reforço Junto com o falar o ouvir é freqüente e generosamente reforçado em crianças pequenas Nos estudos de Snow e Moerk quando respondiam às vocalizações dos pequenos as mães estavam reforçando tanto o comportamento de falante como o comportamento de ouvinte porque as crianças falavam no contexto de ouvir o que suas mães acabavam de dizer À medida que passa o tempo o reforço diferencial refina o ouvir da criança isto é seu responder apropriado em dado contexto verbal O pai fala Pegue a bola vermelha e quando a criança pega a bola vermelha e não outra seguemse satisfação aplauso e afeição Assim nosso comportamento de ouvinte é reforçado e modelado O adolescente é admoestado a ouvir quando falo com você e eventual mente aprende a m ostrar sinais de que está realmente ouvindo fazendo contato visual assentindo com a cabeça sorrindo e assim por diante Esses sinais junta mente com as conseqüências dos outros atos do ouvinte tais como pegar a bola vermelha ou passar o sal reforçam o comportamento do falante mas as ações do ouvinte têm de ser reforçadas para serem mantidas tanto quanto as ações do fa lante Daí o muito im portante obrigado S da Figura 71 Exemplos A própria noção de comportamento verbal contradiz o ponto de vista convencional sobre o falar e o ouvir Dizer que existe uma coisa chamada comportamento verbal é dizer que falar e ouvir não são especiais nem diferentes de outros comportamen tos mas fazem parte de um mesmo contínuo Em outras palavras o comportamen to verbal é como qualquer outro comportamento operante Em consonância com essa continuidade abundam os exemplos de comporta mento operante que poderiam ou não ser chamados de verbais A categoria com portamento verbal é nebulosa sua definição é pobre em seus limites A nebulosi dade não é um problema pois sublinha a similaridade entre comportamento ver bal e outros comportamentos operantes Mesmo que parte de nosso comportamen to seja claramente nãoverbal e parte possa ser ou não verbal o conceito de com portamento verbal inclui muito do que fazemos A fim de entender a extensão do conceito vamos nos voltar agora para alguns exemplos que são claramente verbais u nãoverbais e para outros que são ambíguos importância da história ap on h a que uma desconhecida comece a falar com você em russo e vocè não etende nenhuma palavra Não há possibilidade de que esse comportamento seja reforçado Tratase de comportamento verba Você está sendo um ouvinte 142 William M Baum Embora a fala da desconhecida não possa ser reforçada nessa situação trata se de comportamento verbal porque foi reforçado em situações passadas pela comunidade verbal a que ela pertence Não há por que desqualificar essa fala como comportamento verbal por não ter sido reforçada naquela ocasião particular pois o comportamento verbal freqüentemente passa sem reforço em certas ocasiões Esse tipo de comportamento é qualificado como verbal porque provém de uma história de reforço por uma comunidade de falantes e ouvintes Se você está sendo ou não um ouvinte embora não entenda nenhum a palavra de russo é uma pergunta cuja resposta depende não apenas da história de reforço mas também da perspectiva de quem olha De sua perspectiva você não pode ser ouvinte porque você não pode reforçar o comportamento da desconhecida Da perspectiva dela porém você está sendo tratado como membro da classe de estí mulos ouvinte Logo ela descobrirá seu erro e discriminará isto é ela irá para outro lugar ou falará com você em outra língua Falar com você em russo como ela fez é um caso de generalização Comó estímulo discriminativo você é suficiente mente parecido com um ouvinte russo para que o comportamento dela ocorra Sua incapacidade de reforçar o comportamento garante que ele sofrerá extinção em sua presença mas a ação inicial se originou de uma história de reforço na presença de ouvintes bastante parecidos com você Da perspectiva dessa história você é inicialmente um ouvinte ou pelo menos um ouvinte potencial Gestos e linguagem de sinais Suponhamos que você e a desconhecida não tenham nenhuma língua em comum e que ela então recorra a gestos Ela aponta o pulso e olha para você inquisitivamente Você lhe mostra o relógio ela acena com a cabeça afirmativamente e sorri Serão seus gestos considerados comportamento verbal De acordo com nossa definição eles são Indicar o pulso é comportamento operante cujo reforço depende de sua presença Isso faz de você um ouvinte mesmo que seja surdo Conforme nossa definição o comportamento verbal não precisa ser compor tamento vocal e pode inclusive ser escrito O grande místico indiano Meher Baba 18941969 que guardou silêncio por 44 anos inicialmente escrevia com giz em uma pedra depois soletrava palavras indicando as letras em um quadro com o alfabeto e finalmente m udou para um sistema de gestos manuais Purdom 1971 Tudo isso seria qualificado como comportamento verbal comportamento operante cujo reforço requer a presença de outra pessoa o ouvinte O melhor exemplo de comportamento verbal nãovocal é a linguagem de si nais Aquele que faz o sinal silenciosamente age como falante e aquele que res ponde ao sinal ainda que surdo é o ouvinte Pessoas que formam um grupo e que usam a linguagem de sinais ora como falantes ora como ouvintes constituem uma comunidade verbal Compreender o behoviorisrno 143 Animais nãohumanos jVleu gato se achega a mim na hora do jantar mia e se esfrega em minha perna Ele faz isso todos os dias e todos os dias eu o alimento quando ele faz isso Será o miado de meu gato um comportamento verbal De acordo com nossa definição pode ser O miar é comportamento operante porque nasceu de uma história em que eu o reforçava dando alimento Exige mi nha presença para ser reforçado Isso faria de mim o ouvinte e de meu gato o falante Entretanto talvez você não qualifique o miar de meu gato como comporta mento verbal porque não é razoável chamar a meu gato e a mim de comunidade verbal Nunca trocamos de papel como falante e ouvinte Nunca lhe peço comida nem ele jamais me alimenta As vezes ele vem quando o chamo mas essa é uma razão frágil demais para que se diga que somos uma comunidade verbal No entanto esse exemplo ilustra uma questão importante a definição de com portamento verbal de forma nenhum a exclui animais nãohumanos Já houve quem ensinasse chimpanzés a se comunicar com seres humanos por meio de linguagem de sinais Embora meu gato e eu não a tenhamos um chimpanzé e um ser humano que fazem sinais um para o outro têm a qualificação necessária para serem consi derados uma comunidade verbal Da mesma forma que dois seres humanos fazen do sinais um para o outro se alternam como falante e ouvinte assim também o fazem o chimpanzé e o ser humano Há relatos de casos de dois chimpanzés treina dos que faziam sinais um para o outro alternadamente De acordo com a defini ção isso seria qualificado como comportamento verbal se os dois chimpanzés pu dessem razoavelmente ser considerados membros de uma comunidade verbal Muitos pensadores já defenderam o ponto de vista de que a linguagem é espe cificamente humana A veracidade dessa afirmação depende inteiramente da defi nição de linguagem Se for definida em termos de fala de forma a excluir gestos então evidentemente ela pertence apenas aos seres humanos A definição de com portamento verbal poderia ser igualmente afunilada de forma a excluir animais nãohumanos Essas definições entretanto não permitiriam que se atribuísse lin guagem e comportamento verbal às pessoas que usam linguagem de sinais A defi nição que estamos usando ao exigir que o falante e o ouvinte troquem os papéis exclui casos triviais como meu gato e eu mas ao incluir os gestos abre a possibili dade de comportamento verbal em indivíduos nãohumanos A espécie humana é única toda espécie é única não por causa de uma característica especial mas por causa de uma combinação única de características definição nenhuma outra espécie pode compartilhar toda a constelação de características que faz de nós seres humanos mas qualquer uma dessas caracterís ticas pode ser partilhada com outra espécie Da perspectiva da teoria da evolução Qs seres humanos são apenas uma espécie entre muitas e não necessariamente superior a qualquer outra e não se acham separados dos animais por uma bar reira insuperável A ênfase da análise do comportamento se afasta de distinções 1 4 4 William M Baum baseadas no fato de se pertencer a esta ou aquela espécie e se volta para distinções baseadas nas relações entre comportamento e ambiente tais como as distinções entre comportamento operante versus induzido Capítulo 4 e falante versus ouvinte falar consigo próprio Quando falo comigo mesmo isso é comportamento verbal Os analistas de com portamento têm discordâncias sobre esse ponto Suas respostas dependem de acei tarem ou não a idéia de que em um episódio verbal falante e ouvinte possam ser a mesma pessoa Pela Figura 71 podemos ver que se a mesma pessoa puder ser ouvinte e falan te então o comportamento verbal do falante Cv será reforçado por um a mudança de comportamento C0 na mesma pessoa aqui vista como ouvinte Isso pode acontecer por exemplo quando dou instruções ou ordens para mim mesmo Ao dirigir o carro para uma casa cujo endereço não é familiar posso dizer para mim mesmo ao chegar a um cruzamento Bem aqui eu tenho de virar à esquerda Se deste modo como ouvinte eu virar à esquerda meu ato verbal a autoinstrução para virar à esquerda terá sido reforçado especialmente se conseguir chegar a meu destino Minha autoinstrução poderia ser dita em voz alta ou poderia ser dita privada ou encobertamente No laboratório com os instrumentos apropriados fala subvocal pode ser detectada mas em situações do diaadia é possível dizer coisas para mim mesmo sem que o aparato fonador seja envolvido de forma detectável Tal compor tamento encoberto corresponde a um dos usos da palavra pensar tal como quando se diz de alguém que está quieto sentado que está pensando consigo mesmo Encoberta ou aberta minha fala comigo mesmo teria de resultar em m udan ça em meu comportamento como ouvinte para ser chamada de comportamento verbal AutoinstruçÕes e autocoma ndos Conte até 10 antes de falar se caracteri zam como tal Até uma afirmativa feita para mim mesmo como Esse quadro é lindo estaria nessa categoria se então eu fizesse alguma coisa como procurar o nome do artista ou perguntar pelo preço E cantar ou recitar um poema para mim mesmo como dizemos só pelo pra zer Entraria na categoria de comportamento verbal De acordo com nossa defini ção não entraria porque ninguém está no papel de ouvinte Recitar um poema pode ser reforçado pelo som produzido mas o reforço não exige nenhum outro comportamento típico de ouvinte da parte de quem recita Sabemos que nem todo comportamento verbal é vocal por exemplo na linguagem de sinais Agora ve mos que nem todo comportamento vocal é verbal Dentre os analistas de comportamento aqueles que rejeitam a idéia de que falar consigo mesmo constitui comportamento verbal encaram esse tipo de fala N de T Esta seção e a próxima se referem exclusivamente a uma interpretação baseada no referencial teórico de Rachlin 1985 1989 1990 N de T Aberto no sentido de manifesto Compreender o behaviorismo 145 como parte de um a unidade estendida de ação uma atividade Essas unidades ampliadas ou molares têm grande papel na abordagem do comportamento operante proposta por Rachlin e que foi discutida no Capítulo 3 Nessa abordagem meu ato de guiar o carro até a casa desconhecida constituiria uma atividade unitária defini da por sua função A atividade poderia ocorrer de várias formas pegando diferen tes caminhos com ou sem autoinstruçao mas todas as variações poderiam ser consideradas membros da mesma atividade funcional Cada percurso seria um episódio da mesma atividade como vimos no Capítulo 4 Figura 43 Se dirigir o carro seguindo autoinstruções me levar a meu destino isto é for reforçado mais freqüentemente então eu o farei mais freqüentemente Mais provavelmente se guirei esse caminho nas primeiras vezes que for a esse lugar específico e à medida que o caminho se tome familiar dispensarei as autoinstruções Assim falar comigo mesmo é como recitar um poema sozinho o reforço resulta de outras fontes que não um ouvinte Quando se pensa o comportamento nesses termos molares uma atividade só pode ser qualificada como verbal quando ouvinte e falante forem pes soas diferentes Comportamento verbal versus linguagem Comportamento verbal é diferente de linguagem As palavras língua e linguagem quando usadas em frases como língua portuguesa ou linguagem de sinais dão a impressão de serem coisas Muitas vezes se fala de linguagem como se fala de uma posse algo que é adquirido e depois utilizado A idéia comum de que a lingua gem é utilizada como um instrumento desperta todos os problemas do mentalismo Onde está o instrumento De que é feito Ouem o utiliza como e onde Como esse instrumento causa a fala E assim por diante O comportamento verbal compreende eventos concretos enquanto a lingua gem é um a abstração A língua portuguesa como conjunto de palavras e regras gramaticais para combinálas é uma descrição rudimentar do comportamento ver bal Resume a forma de falar de muitas pessoas É rudimentar porque em geral as pessoas falam de maneira peculiar Nem as explicações do dicionário nem as re gras de um livro de gramática coincidem exatamente com as expressões utilizadas por pessoas que falam português Embora o que se fala acerca de uso de linguagem tenha um caráter mentalísta e diversionista o fato é que quando dizemos que uma pessoa está usando uma linguagem o que em geral ela está fazendo é comportamento verbal Como vimos anteriormente eventos como escrever um livro ou recitar um poema para si mes N de T O vocábulo language em inglês tem umsignificado amplo que abarca os vocábulos língua e linguagem em português Por essa razão language foi traduzido como língua guando utilizado no sentido de idioma ou sistema dotado de gramática Language foi traduzido como linguagem quando utilizado no sentido de sistema de signos que seivcm de comunicação entre indivíduos independente do órgão sensorial envolvido tal como quando St fala linguagem iconográfica 1 4 6 Wiiliam M Bown mo são exemplos de uso de linguagem que podem não ser considerados compor tamento verbal Inversamente alguns casos de comportamento verbal como ace nar e apontar podem não ser consideradas uso de linguagem A Figura 72 ilustra as relações entre comportamento verbal comportamento vocal e uso de linguagem Cada círculo representa uma das categorias e podese pensar em eventos particulares como pontos dentro dos círculos Os círculos se sobrepõem de ftírma que eventos particulares podem estar localizados em mais de um círculo o que quer dizer que pertencem a mais de uma categoria O subconjunto central sombreado rotulado como fala indica os eventos que pertencem a todas as três categorias pessoas falando com outras pessoas As áreas em que dois círcu los se sobrepõem indicam eventos que pertencem a essas duas categorias mas não à terceira uma pessoa ou um animal nãohumano pode emitir gritos ou outros sons comportamento vocal que poderiam ser considerados comportamento ver bal mas não seriam considerados uso de linguagem Fazer sinais seria comporta mento verbal e poderia ser chamado de uso de linguagem mas não pode ser considerado vocal Recitar um poema para si próprio seria comportamento vocal e uso de linguagem mas provavelmente não seria chamado de comportamento verbal Finalmente há eventos que só podem ser categorizados em um dos círcu los Um chamado de alarme que seja um padrão fixo de ação seria vocal mas não verbal e nem seria uso de linguagem Gestos como acenar ou apontar são ape nas comportamento verbal Escrever um livro na intimidade do próprio escritório um caso de uso de linguagem não é vocal e porque nenhum ouvinte precisa estar presente para que haja reforço também não é comportamento verbal Figura 72 Relações entre as categorias comportamento verbal comportamento vocal e uso de linguagem Compreender o behoviorismo 147 UNIDADES FUNCIONAIS E CONTROLE DE ESTÍMULO Como outros comportamentos operantes o comportamento verbal consiste de atos que pertencem a classes operantes que são 1 definidas funcionalmente e 2 sujeitas a controle de estímulo Essas duas noções separam o conceito de comporta mento verbal das concepções tradicionais de linguagem e fala Atividades verbais como unidades funcionais No Capítulo 5 distinguimos unidades estruturais de unidades funcionais Podese dizer que todos os eventos têm uma estrutura e é provável que cada evento tenha uma estrutura única Um rato provavelmente não conseguirá pressionar uma barra duas vezes do mesmo jeito usando exatamente os mesmos músculos na mesma exata medida Mesmo que o rato fosse capaz de produzir duas pressões estrutural mente idênticas ainda assim seriam elas eventos únicos por terem ocorrido em tempos diferentes Em contraste as unidades funcionais não são eventos particu lares mas espécies ou populações de eventos particulares confira a Figura 43 e são definidas por seus efeitos sobre o ambiente Da mesma forma que a pressão à barra do rato cada ação verbal tem uma determinada estrutura uma determinada seqüência de movimentos de vários mús culos da garganta e da boca Quando um romancista representa uma verbalização por escrito está apenas fazendo uma descrição grosseira do que seja uma verda deira emissão verbal O leitor tem de imaginar o ritmo e a entonação Os sistemas de notação fonética representam essas ações verbais com maior precisão Por exem plo a ortografia fonética de uma palavra no dicionário nos dá uma idéia de como pronunciála Entretanto não há representação que possa captar verdadeiramente uma determinada verbalização porque cada uma delas é única Mesmo tentando é virtualmente impossível emitir a mesma expressão verbal duas vezes do mesmo jeito Alguma coisa mudará sua inflexão seu tom de voz seu ritmo Dado que raramente sequer tentamos repetir a mesma exata verbalização o comportamento verbal que ocorre naturalm ente é muito variável Uma atividade verbal é uma espécie de ações que têm todos o mesmo efeito sobre o ouvinte Do mesmo modo que todas as formas estruturalmente diferentes de pressionar um a barra pertencem à mesma atividade porque todas produzem o efeito de fazer com que a barra se desloque assim também todas as formas estru turalmente diferentes de pedir o sal pertencem ao mesmo operante porque produ zem o mesmo efeito sobre o ouvinte passar o sal Pense em todas as diferentes formas de pedir o sal que Gerson poderia ter utilizado Poderia me dar o sal por favor Por favor me passe o sal Queria que você me passasse o sal e assim por diante Para um lingüista essas três verbalizações poderiam parecer fundamental mente diferentes a primeira é uma pergunta a segunda é uma sentença imperati va a terceira é um a sentença declarativa Por mais diversas que sejam do ponto de vista estrutural as três expressões pertencem à mesma atividade verbal porque têm o mesmo efeito sobre Sílvia ela passa o sal Alguns membros dessa atividade podem mesmo se situar fora do uso de linguagem talvez baste que Gerson olhe ï 4 8 William M Baum para Sílvia e aponte o sal Se fôssemos enumerar todas as formas estruturalmente diferentes pelas quais Gerson poderia pedir o sal a lista seria longa e variada mas todas as variações ainda seriam exemplos da mesma atividade verbal porque todas funcionariam de modo equivalente Os lingüistas quando descrevem a estrutura de verbalizações possíveis falam de unidades como palavras e morfemas por exemplo o final s em um substantivo plural ou as terminações ei aste ou etc em um verbo no passado Por exem plo a análise da sentença Os gatos miavam indica que ela é composta de três pala vras e nove morfemas o s gat o s mi a va e m As sentenças podem ser assim divididas para fins de análise de süa estrutura mas um a análise desse tipo não diz nada sobre a função da sentença Estruturalmente as sentenças Há um tigre atrás de você e Há uma criança atrás áe você se distinguem por apenas uma palavra Têm o mesmo padrão ou form a Há X atrás de você mas os dois enun ciados pertencem a atividades diferentes porque têm efeitos diferentes Muitas ati vidades verbais incluem uma verbalização estruturada como essa porém essa es trutura é apenas uma dentre as várias possíveis Pense em todas as formas que eu poderia usar para advertilo sobre um perigo Portanto assim como a pressão do rato à barra consiste estruturalmente em muitos pequenos movimentos musculares cada um deles necessário ao funciona mento do todo assim também um a verbalização consiste estruturalmente de pa lavras e morfemas cada um dos quais necessário para o funcionamento do todo Embora necessária a estrutura não nos diz nada sobre a função A função só pode ser compreendida a partir de circunstâncias e efeitos Controle de estímulo no comportamento verba Como qualquer outra atividade operante a ocorrência da atividade verbal é mais ou menos provável dependendo das circunstâncias isto é dependendo dos estí mulos discriminativos Uma das razões por que uma palavra não pode constituir uma unidade funcional é que a mesma palavra pode servir a diferentes funções dependendo das circunstâncias Pense em todas as diferentes situações em que a verbalização água pode ocorrer Estou morto de sede O que é aquela poça no chão O que você obtém quando combina hidrogênio com oxigênio O que a gente tem de colocar na receita agora Como em cada contexto a verbalização água teria um efeito diferente sobre o ouvinte em cada um deles água pertenceria a uma atividade verbal diferente A relação das circunstâncias com a probabilidade do comportamento verbal é uma relação de controle de estímulo Capítulo 6 e não de eliciação Capítulo 4 Não existe um a correspondência estrita ponto a ponto entre um estím ulo discriminativo e uma atividade verbal como pode existir entre uma batida no joe N de T Frame Padrão em português designa esse conceito lingüístico como indica o dicionário Houaiss editora Objetiva 2001 Compreender o behaviorismo 149 lho e um salto da perna Os estímulos discriminativos apenas modulam e tornam prováveis certas instâncias de atividades verbais Dentre os estímulos discriminativos mais importantes que modulam o comporta mento verbal estão os estímulos auditivos e visuais produzidos pela pessoa que está no papel de falante Tendo atuado como ouvinte para a outra pessoa posso atuar como falante e produzir estímulos discriminativos que afetam seu comportamento Como notamos no Capítulo 6 todas as atividades operantes ocorrem dentro de um contexto e o efeito habilitador que o contexto tem sobre a atividade provém da história de reforço associada a esse contexto no passado Tal como é com outras atividades operantes assim também é com as atividades verbais Quando estou perdido peço informações porque me ensinaram a fazêlo e esse comportamento verbal foi reforçado 110 passado por eu ter chegado a meu destino O contexto pode mudar a estrutura de minhas perguntas Ao pedir orientação a um estranho sou mais polido do que ao pedila para meu irmão Ao pedir informações na zona rural de New Hampshire terei de ser cuidadoso na escolha de palavras Se eu disser Essa estrada vai para Newmarket estou sujeito a ouvir a resposta Essa estrada não vai pra lugar nenhum ela fica aí mesmo Eu tenho de dizer Por favor me diga o caminho para Newmarket Então ou eu obterei as informações de que preciso ou depois de alguma consideração Não não dá para chegar lá a partir daqui Ao falar com um adolescente é provável que eu use mais gírias do que ao falar com um gerente de banco Como outras atividades operantes as atividades verbais não podem ser defi nidas apenas em termos de suas conseqüências Normalmente 0 contexto também precisa ser especificado Pedir informação a um estranho é diferente de pedir infor mação a um a pessoa conhecida Seriam duas atividades diferentes por causa dos contextos em que ocorrem Se você estivesse estudando a teoria das boas manei ras que se refere à forma pela qual 0 comportamento verbai depende da pessoa a quem nos dirigimos seria importante fazer a distinção Para outros fins pedir informação ou até mesmo fazer pedidos já seria suficiente Avisar alguém sobre um tigre é diferente de avisálo sobre um mosquito mas para muitos fins basta dizer que a atividade verbal é avisar uma pessoa sobre um perigo A pessoa e 0 perigo tigre ou mosquito partes do contexto são parte da definição Alguns equívocos comuns A idéia de comportamento verbal dá ênfase à similaridade entre fala gesto e outros tipos de comportamento operante As concepções tradicionais procuram colocar o comportamento relacionado à linguagem como um comportamento à parte defi nindoo como um comportamento especial e diferente Três características foram Propostas como específicas do comportamento relacionado à linguagem 1 ele é gerativo as pessoas constantemente geram novas verbalizações 2 a fala dife rentemente de outros comportamentos pode se referir a si mesma 3 a fala diferentemente de outros comportamentos pode se referir a eventos futuros Veja tuos se essas características realmente dissociam o comportamento relacionado à linguagem de outros comportamentos 150 William M Baum l natureza geraftva da linguagem Todos ós dias você gera verbalizações que nunca ocorreram antes Nesse sentido provavelmente a maior parte das sentenças que você fala são novas Na verdade cada enunciado é único pois você não consegue produzir dois exatamente iguais Quando discutimos a criatividade no Capítulo 5 vimos que a impossibilidade de repetição caracteriza todos os comportamentos operantes Não se trata de ver o comportamento verbal como variável e os outros como fixos como a concepção tradicional faria mas sustentamos ao contrário que todos os comportamentos operantes são tão variáveis quanto o comportamento verbal Cada pressão à barra é única tanto quanto cada pedido de sal é único Pedir sal é uma unidade funcio nal tanto quanto pressionar um a barra Os críticos dessa concepção ressaltam a importância da gramática em gerar verbalizações A gramática é parte de qualquer língua e a estrutura gramatical é muitas vezes uma característica do comportamento verbal Mas o máximo que se pode dizer da gramática é que ela oferece uma descrição rudimentar da estrutura de alguns comportamentos verbais Freqüentem ente e às vezes mais do que freqüentemente a fala real não segue a gramática Nossas sentenças muitas vezes violam as regras de construção de sentenças e muitas vezes deixamos sen tenças inacabadas Ainda assim o português falado geralmente segue a ordem sujeitoverboob jeto e há outras regularidades Mas as toscas regularidades estruturais que carac terizam o comportamento verbal também caracterizam outros comportamentos Em cada pressão à barra há uma seqüência regular de movimentos do rato Cada pressão poderia ser com parada a uma sentença e poderíamos escrever um a gra mática de pressões à barra Somente algumas seqüências de movimentos resultam na barra pressionada seriam as sentenças permitidas Como anteriormente vê se que a característica que supostamente isola o comportamento verbal é com partilhada por outros comportamentos Retornaremos um pouco adiante a uma discussão em separado da noção de que o falante segue as regras da gramática ao falar Falar sobre o falar Lógicos e lingüistas dão muita importância às asserções denominadas metáfrases afirmações que se referem a elas mesmas ou a outras asserções As metáfrases são a base de alguns argumentos que afirmam que a capacidade que tem a linguagem de se referir a si m esm a a coloca em uma categoria à parte em relação a outros comportamentos Quando crianças gostávamos meus amigos e eu do paradoxo Esta afirmação é falsa Do ponto de vista lógico essa metáfrase tem um a espécie de sabor mágico porque parece verdadeira e falsa ao mesmo tempo Vista como verbalização como comportamento verbal porém não há nada de mágico nela Conformase à construção padrão de sentenças em português que segue a ordem sujeitoverbopredicativo O único aspecto diferente dessa afirmação específica é que o sujeito é uma verbalização Compreender o behoviorismo 151 Para o analista de comportamento as metáfrases são falas a respeito de falas ou seja comportamento verbal sob controle de estímulo de outro comporta mento verbal Falar sobre o falar ocorre a toda hora Se você não escutou o que eu disse você me pergunta o que acabei de dizer e eu falo de novo Sua pergunta mais o que eu disse que ouvi perfeitamente constituem o estímulo discriminativo para eu repetir m inha verbalização Minha competência para fazêlo deriva de uma jonga história de reforço desse tipo de repetição somos treinados desde pequenos a repetir verbalizações em função de produzir efeitos e quando expostos a dicas Repetir um a verbalização a pedidos é um exemplo de autorelato verbal que é comportamento verbal parcialmente sob controle do próprio comportamento como estímulo discriminativo No Capítulo 3 observamos que se uma pessoa for capaz de relatar seu próprio comportamento tendemos a dizer que ela é consciente dele No Capítulo 6 observamos que o comportamento de uma pessoa pode estar relacionado a um relato verbal da mesma maneira que uma luz se relaciona com a pressão à barra do rato como um estímulo discriminativo de uma atividade operante Você pode me perguntar o que eu fiz hoje de manhã e posso relatar Fui ao mercado Você pode me perguntar o que eu disse na reunião de ontem e posso relatar Eu disse Precisamos planejar o orçamento do ano que vem Nos dois casos meu comportamento verbal atuai está sob controle de um estímulo fornecido por meu próprio comportamento verbal ou não Também podemos fazer relatos sobre o comportamento verbal privado tal como quando você me pergunta o que estou pensando e eu digo Estava pensando como seria bom ir à praia hoje Nesse momento meu comportamento verbal está parcialmente sob controle de um estímulo discriminativo privado As vezes falamos sobre falas que nunca ocorreram realmente mas que mera mente poderiam ter ocorrido Fazemos asserções do tipo Me deu vontade de dizer para ele mesmo fazer isso Tratase aqui de um relato não acerca de um comporta mento verbal real mas acerca de uma propensão para emitir determinado compor tamento verbal E semelhante a relatarmos uma intenção ou qualquer outra ten dência comportamental confira o Capítulo 5 É equivalente a dizermos No pas sado em circunstâncias parecidas freqüentemente me comportei assim Também falamos sobre falas que nunca ocorreram mas que poderiam ocor rer agora Posso dizer Deixa eu te contar o que ouvi hoje Em parte isso representa um pedido para que você sirva de ouvinte e em parte é um relato sobre minha tendência a emitir o comportamento verbal de relatar algo que ouvi hoje Tal como em outros relatos de tendência ou intenção Capítulo 5 embora pareça uma refe rência ao futuro na verdade é uma fala que resulta de uma história de reforço desse mesmo tipo de comportamento verbal nessas mesmas circunstâncias ter ouvido alguma coisa cuja repetição será reforçada pelo ouvinte no passado falar ío futuro Quando você fala de comportamento verbal que está propenso a emitir soa como se você estivesse falando sobre o futuro Como eventos futuros não podem afetar comportamentos presentes as pessoas são tentadas a inventar uma causa no pre Í52 Wídiam M Baum sente um propósito ou significado interno e mesmo a insistir que a fala sobre o futuro prova a existência de imagens mentais Quando você diz Vou lhes falar sobre porcos supostamente a frase foi causada por porcos em sua mente Como vimos no Capítulo 5 essas causas internas imaginárias só nos distraem dos eventos ambientais que conduziram à verbalização que são suas experiências passadas com porcos e com ouvintes que reforçaram o comportamento verbal sob controle de tais experiên cias passadas Não há necessidade de que algo esteja se passando em minha mente ou em qualquer lugar dentro de mim para que eu verbalize expressões que dão a impres são de se referir a eventos no futuro ou da mesma forma a eventos outros que nunca aconteceram Nunca vi um boi vermelho mas já pronunciei vermelho e boi e já coloquei adjetivos junto a substantivos Minha verbalização da locução boi vermelho de nenhum modo exige que eu tenha um boi vermelho em minha mente ou em qualquer outro lugar Apenas exige que eu tenha uma história de reforço do tipo de comportamento verbal que as pessoas muitas vezes chamam de imaginativo Da mesma forma se converso com você na segundafeira sobre um encontro que teremos na sexta não preciso ter em m ente uma imagem ou significado fantasmagórico Combinar e cumprir compromissos é comportamento operante proveniente de uma longa história de reforço Você me diz que quer me ver Ao ouvir esse estímulo discriminativo auditivo tomo nota em minha agenda e digo Encon tro você na sexta às 3 da tarde Fazer e dizer esse tipo de coisa foi reforçado muitas vezes no passado Alguns reforçadores do comportamento da segundafeira talvez só ocorram na sexta lacunas temporais foram discutidas no Capítulo 5 SIGNIFICADO Na visão convencional do comportamento relacionado à linguagem as palavras e sentenças têm significado e o significado contido em uma verbalização é passado do falante para o ouvinte Para o lingüista interessado na análise formal da estrutu ra do português não o português falado informalmente mas o português corre to essa concepção não traz grande prejuízo Entretanto como teoria do compor tamento de falar ou comportamento verbal padece de todas as limitações de uma teoria mentalista Teorias de referência Filósofos e psicólogos na tentativa de uansform ar a noção cotidiana e toscade significado em uma teoria da linguagem mais precisa inventaram teorias que se fundam na noção de referência Dizem que a palavra cachorro por exemplo quer seja falada escrita ou ouvida referese ao tipo de mamífero de quatro pernas que late Dizem que pessoas que falam ou escrevem a palavra cachorro usam essa pala vra em lugar do cachorro real Dizem que ouvintes e leitores utilizam a palavra cachorro ouvida ou vista para compreender algo a respeito do cachorro real Essa visão deixa completamente sem resposta por quê para começar o falante ou o Compreender o behaviortsmo 153 escritor falou ou escreveu a palavra e o que o ouvinte ou leitor faz como resultado de ouvir ou ler a palavra Acrescentará alguma idéia útil à observação de que uma pessoa fala e que em conseqüência outra faz alguma coisa Símbolos e léxicos A noçao de referência sugere que as diferentes formas da palavra cachorro falada ouvida escrita vista são símbolos da categoria de cachorros reais Como podem todos esses símbolos ser reconhecidos como equivalentes Todos os diferentes sím bolos são de algum a forma conectados a alguma coisa interna Como cachorros de verdade não podem estar dentro da pessoa disponíveis para uso é presumida a existência em algum lugar de uma representação interna da categoria e dizse que todos os símbolos de cachorro estão ligados a essa representação Onde está essa representação Dizse que está em um léxico uma coleção dessas representações de objetos e eventos do mundo real Dizse que o falante procura a representação no léxico lá a encontra conectada a seus símbolos e en tão usa o símbolo adequado Dizse que o ouvinte ouve o símbolo procurao no léxico encontrao conectado a sua representação e então o compreende O mentalismo dessa teoria é visível Onde está esse léxico De que é feito Qual sua origem Quem é responsável por toda essa busca e utilização Será que esses complicados eventos mentais lançam alguma luz sobre o falar o ouvir o es crever o ler A idéia de referência foi inventada provavelmente para explicar as equiva lências Como é possível que eu ao ver ou pensar sobre um cachorro aja de diver sas maneiras falando desenhando ou escrevendo cachorro tudo com efeitos equi valentes sobre o ouvinte Como é possível que eu ouça cachorro veja a palavra escrita ou o desenho e trate esses diferentes estímulos como equivalentes Acres centese a isso a diversidade de palavras para cachorro em diferentes línguas e talvez você perceba quão tentadora é a suposição de que todos esses atos e estímu los sejam equivalentes por estarem de algum jeito ligados a alguma representação ou significado em algum lugar dentro do sujeito De modo geral é muito fácil presumir que a equivalência observada provém de alguma quimérica equivalência interna Mas de onde veio a equivalência obser vada ou sua quimera Essa pergunta tem de ser respondida antes de dizermos Que compreendemos a equivalência Ninguém vem ao mundo comportandose da mesma form a ao ouvir o som cachorro e ao ver um cachorro ao ouvir cachorro e ao ouvir dog em inglês Chegamos a isso com o correr do tempo depois de termos sido expostos a esses diferentes estímiüos e depois de uma história de reforço da resposta adequada Os analistas de comportamento já começaram a estudar como animais e crianças aprendem a equivalência de estímulos As criatu ras aprendem a se comportar da mesma forma ou de forma diferente frente a dois Estímulos diferentes Quais as condições necessárias à aprendizagem de equivalên cia A tentação de postular uma fantasmagórica equivalência interna para explicar a Equivalência observada desaparecerá quando a equivalência observada puder ser entendida como resultado de uma história de reforço dentro de um contexto 154 William M Baum importância do contexto Além de não oferecer um a explicação do falar as teorias de referência também não conseguem cumprir a tarefa para a qual foram inventadas entender o significa do porque não podem levar em conta o contexto Se o significado de água fosse na verdade apenas um apêndice desse som ou dessa configuração de letras como a idéia de procurar em um léxico sugere como então seria possível que a verbalização água assumisse diferentes significados em diferentes situações Ela pode ser entre outras coisas um pedido uma pergunta o nome de um líquido que caiu no chão e o nome de um ingrediente dependendo do contexto Se o contexto determ ina o significado de substantivos concretos como água que dizer de sua importância para o significado de substantivos e expressões abs tratas compostas de muitas palavras Considere o significado da palavra mato Muita gente nos Estados Unidos olha a cansanção como mato mas povos de alguns países escandinavos a consideram uma planta de decoração Se a chamamos ou não de mato vai depender de gostarmos ou não dela A palavra mato depende tanto da planta como das circunstâncias Muitas palavras são assim Você pode captar o significado de um nome concreto como cachorro em uma lista de caracte rísticas mamífero quatro pernas que late e assim por diante mas tente fazer isso com piada ou justiça A mesma história que Gerson acha engraçada soa a Sílvia como uma enorme injustiça As teorias de referência têm dificuldade ainda maior com verbalizações reais que contêm várias palavras Suponha que eu e meu filhó estejamos erguendo uma parede de tijolos Minha função é assentar os tijolos a dele é passálos para mim Inúmeras vezes eu peço um tijolo Digo Me passa um tijolo Vamos ao tijolo Tijolo Preciso de um tijolo Dá um tijolo para a gente E muitas outras variações Às vezes eu apenas me viro e olho ou estendo minha mão Todos esses atos têm o mesmo significado Você não poderia descobrir o significado através de um léxico porque o significado está naquilo que o ato consegue obter que meu filho me passe um tijolo de forma que possamos continuar a erguer a parede Significado como uso Da mesma forma que outros termos mentalistas como consciência intenção e co nhecimento o termo sígniícado estritam ente falando não tem lugar na análise comportamental A questão Como se sabe o significado de uma palavra é um pseudoproblema Ela pergunta pelo significado como se estivesse perguntando so bre a ortografia como se significado fosse um atributo da palavra Em vez de falar sobre significado os behavioristas falam sobre o uso ou função de um aio ou verbalização Grosseiramente falando esse é o significado de signtficado Conseqüências e contexto Suponha que eu coloque um rato em uma câmara contendo uma barra e uma corrente Puxar a corrente produz alimento pressionar a barra produz água O Compreender o behavíorísmo 155 rato puxa e come pressiona e bebe Poderseia dizer que o significado de puxar a corrente é comida e que o significado de uma pressão à barra é água Uma pessoa na mesma situação poderia emitir o som comida e receber comida emitir o som água e receber água Serão essas duas situações fundamentalmente diferen tes O behaviorista diz não O rato não come nada já faz algum tempo puxa a corrente e ganha comida André não come nada já faz algum tempo diz comida e ganha comida O rato não bebe nada já faz algum tempo pressiona a barra e ganha água André não bebe nada já faz algum tempo diz água e ganha água Das duas maneiras o uso do ato consiste em suas conseqüências ganhar comida ou água dentro do contexto não ter comido ou bebido por algum tempo estar na câmara estar em presença de um ouvinte O significado do comportamento verbal está em seu uso suas conseqüênci as dentro do contexto Por que nos preocupamos em aprender os nomes de pessoas que conhecemos É para que possamos leválas ao papel de ouvinte conseqüên cia quando estamos próximos contexto ou para que possamos conversar sobre elas com outros ouvintes conseqüência quando estão ausentes contexto O sig nificado de um nome é o contexto e as conseqüências de sua ocorrência Essa idéia de significado como uso fundamenta muitas de nossas discussões anteriores sobre termos difíceis de nosso linguajar diário consciência intenção conhecimento e assim por diante Para cada um desses termos perguntamos pelas condições contexto em que têm probabilidade de ocorrer O contexto em que alguém emitiria uma verbalização que incluísse a palavra significado nos diz qual o significado de significado Perguntar qual o significado de um termo é perguntar qual o contexto e quais as conseqüências de sua ocorrência Como os outros comportamentos operantes o comportamento verbal depen de de um a história de reforço Dizer que o uso ou significado de um operante verbal está em suas conseqüências dentro do contexto é dizer que sua ocorrência depende de uma história de tais conseqüências em tais contextos Meus filhos apren deram a dizer por favor quando pediam alguma coisa porque recorrentemente só havia reforço para pedidos que incluíssem essas palavras Variedades de uso Em termos de nossa vida diária as ações verbais servem a diversos fins Dois dos mais importantes são pedir e informar O episódio verbal esquematizado na Figura 71 exemplifica uma solicitação e pertence a uma categoria maior na qual a ver balização especifica seu próprio reforçador Skinner 1957 denominou de mando esse tipo de verbalização Os mandos incluem não apenas pedidos mas também ordens perguntas e mesmo conselhos O sargento do exército que diz Esquerda volver emite um mando cujo reforçador é o volver à esquerda Minha pergunta Que horas são é um mando cujo reforçador é ouvir ou ver a hora correta Se um pai diz para seu filho Você deve estudar álgebra este ano essa frase também é um mando cujo reforçador é o filho estudar álgebra A exata situação em que o pedi do a pergunta ou o conselho são emitidos pode variar amplamente e no entanto ainda seremos capazes de reconhecêlos como o mesmo mando tanto faz se Ger 156 William M Baum son pede o sal para Sílvia Lígia Kátia ou Sérgio o reforçador é o mesmo Quando o reforçador de uma verbalização é bem especificado a verbalização é um mando Por outro lado verbalizações que podem ser consideradas informativas não especificam um determinado reforçador ao invés ocorrem na presença de deter minados estímulos discriminativos O ponto relevante na expressão Há um tigre atiás de você é o tigre o reforçador que o ouvinte dispensará talvez profusos agradecimentos não é especificado Skinner 1957 chamou de tactos esses operantes verbais É possível que a advertência sobre o tigre tenha um pouco da qualidade de mando principalmente se supusermos que o fato do ouvinte evitar o tigre seja um reforçador para a verbalização do falante A distinção não é absoluta porque os reforçadores dos tactos embora não especificados são em geral convencionalmen te sociais respostas como gratidão e atenção Um exemplo mais puro de tacto seria uma pessoa dizendo para outra Que dia lindo Como precisamente o ouvinte refor çará esse ato fica por ser analisado os principais fatores para compreender sua ocorrência são a situação sol céu azul ouvinte e a história de reforço para verbalizações desse tipo em situações semelhantes Os tactos compreendem um variado conjunto de verbalizações Opiniões e observações são tactos Respostas a perguntas freqüentemente são tactos Você olha seu relógio e me diz a hora certa O que vimos chamando de relatos verbais são todos exemplos de tactos Meu filho está usando uma camisa azul Estou com uma dor no ombro Você pode pegar o ingresso no guichê número dois O primeiro é um relato verbal simples evocado especialmente pela camisaázul O segundo é diferente em um aspecto ele talvez esteja sendo parcialmente controlado por um estímulo discriminativo privado dor no ombro O estímulo discriminativo para o terceiro é mais complexo porque depende de um a história de eventos eu ter ido ao guichê número dois e ter obtido o ingresso Dizemos que ele indica ou tacta como verbo uma relação de reforço ir até o guichê número dois é reforçado pela obtenção do ingresso Visto sob esse prisma o terceiro tacto é um exemplo de regra importante conceito que retomaremos no Capítulo 8 Definições de dicionário Se palavras e verbalizações não podem ser entendidas a partir de um significado inerente porque então nos preocuparmos com as definições que aparecem nos dicionários Reformulemos essa questão Em que as definições dos dicionários nos ajudam Quando me deparo com uma palavra desconhecida e consulto o dicioná rio não é o significado da palavra que aprendo o que obtenho é um resumo de como a palavra é usada geralmente acompanhado de um ou mais exemplos e de alguns sinônimos palavras diferentes que podem ocorrer em circunstâncias seme N de T Tact em inglês termo inventado por Skinner com o objetivo explícito de sugerir que o comportamento faz contato com o mundo físico 1957 p 81 Compreender o behaviorismo 157 lhantes ou ter efeitos semelhantes e antônimos palavras diferentes que ocorrem em circunstâncias opostas ou que têm efeitos opostos Tudo isso ajuda a guiar meu comportamento como leitor ouvinte falante e escritor Os dicionários não contêm significados São um exemplo da forma comum pela qual aprendemos como usar palavras por ouvMas e vêlas em uso Como você aprendeu a falar pular correr conversar carro e bebê A maioria das palavras que utilizamos nunca as procuramos no dicionário nem ninguém nunca as definiu para nós Se não fosse assim os dicionários seriam inúteis porque eles explicam como se usa uma palavra em termos de outras palavras que supõese já são conhe cidas Quando eu tinha 13 anos e cogitava sobre a palavra fornicação o dicionário relacionoua a termos que pensei era capaz de compreender Termos fécnkos 0 que é verdadeiro acerca de termos cotidianos que você procura no dicionário é duplamente verdadeiro no que diz respeito a termos técnicos inventados por cien tistas e outros profissionais Um termo é sempre definido em termos de outros Às vezes um conjunto de termos interrelacionados são igualmente conhecidos ou desconhecidos mas ainda assim são todos definidos em termos um do outro Considere os termos traço gene e herdar Nenhum deles pode ser definido sem que se usem os outros dois O mesmo acontece com os termos da análise comportamental reforço operante estimulo discriminativo O que é comportamento operante É o comportamento que é mais provável na presença de um estímulo discriminativo devido a um a história de reforço em sua presença Essa interdependência das definições só é problema se insistirmos em que cada termo deve ter um significado à parte adequado ao armazenamento em um léxico fantasmagórico Não representa um problema real para os cientistas é sim plesmente uma característica dos vocabulários científicos Interdependência dos termos significa apenas que eles tendem a ser empregados conjuntamente GRAMÁTICA SINTAXE Lingüistas e psicólogos cognitivistas interessados na linguagem tendem a centrar sua atenção na gramática conjunto de regras que governam a junção de palavras de m aneira a formar sentenças Vimos chamando essa ordem sintaxe de estrutu ra do comportamento verbal Embora não exista obrigatoriamente um conflito en tre o interesse do analista comportamental pela função e o interesse do linguista pela estrutura Noam Chomsky 1959 influente lingüista escreveu uma resenha do livro de Skinner Verbal behavior que de tão ácida desencorajou muita gente a explorar a abordagem analíticocomportamental Essa situação começou a mudar recentemente quando alguns lingüistas começaram a mostrar interesse por uma abordagem funcional por exemplo Andresen 1991 Mas ainda permanece a ques tão como o analista comportamental lida com a sintaxe Regras como descrições Toda língua tem suas regularidades Em inglês como no português a ordem mais comum de uma sentença é sujeitoverboobjeto Na sentença Kátia beijou Rubens não fosse peia ordem normal das palavras não ficaria claro quem beijou quem No lugar do sujeito e do objeto ocorrem muitas variações Em O livro sobre a mesa atraiu o olhar de Kátia uma locução nominal contendo uma preposição funcionou como sujeito e uma locução nominal contendo uma locução adjetiva serviu de objeto A estrutura global da sentença pode ser vista como uma regularidade de ordem superior enquanto a estrutura das frases componentes são regularidades de ordem inferior Regularidades do tipo ão para o aumentativo s para o plural e va para o passado seriam ainda de ordem mais baixa O papel do gramático é inventar regras capazes de gerar todas as sentenças consideradas corretas pelos que falam a língua Uma gramática um conjunto de regras desse tipo ofereceria uma descrição concisa de grande parte do inglês ou do português falado Há um debate entre os gramáticos sobre a melhor forma de abordar a gramática Não existe um a gramática única do inglês nem do português o que há são várias candidatas cada qual com suas próprias vantagens e desvanta gens Chomsky inventou uma abordagem particularmente genérica conhecida como gramática transformacional que pode ser aplicada a quase todas as línguas Come ça com um padrão básico como sujeitoverboobjeto e depois arrola todas as re gras pelas quais esse padrão pode ser transformado em sentenças aceitáveis Por exemplo a transformação em voz passiva envolveria o intercâmbio entre sujeito e objeto e a inserção da forma correta do verbo ser e da palavra por Aí então Kátia beijou Rubens se torna Rubens foi beijado por Kátia A elaboração de gramáticas possíveis do inglês ou do português é um inte ressante desafio intelectual e a criação de um a gramática poderia ser útil no ensi no de inglês òu português para adultos Independente de ser interessante ou útil porém a gramática inglesa ou portuguesa continua sendo tãosomente uma des crição das regularidades da língua inglesa ou portuguesa Tendo catalogado um conjunto de regras aparentemente completo para a lín J gua inglesa Chomsky concebeu serem essas regras inatas embutidas em algum lugar dentro da pessoa isso naturalm ente é mentalismo tendo observado regula ridades no comportamento o mentalista inventa regras em algum lugar dentro do organismo De onde vêm as regularidades a gente continua sem saber A idéia de Skinner sobre o comportamento verbal abriu a possibilidade de que a sintaxe de uma língua fosse parcial ou inteiramente aprendida Dado que tratam apenas do português por exemplo correto os gramáticos percó bem quando se voltam para o português efetivamente falado uma dissonância pouco confortável entre o ideal e o real Sua única resposta aos erros do discurs0 Competência e desempenho Compreender o behaviorismo 155 real é corrigilos Não têm nenhum meio de explicálos porque uma gramática não é em nenhum sentido um a teoria do comportamento As regras gramaticais são normas mostrando como os falantes se comportam em geral e como aos olhos da socied ade eles devem se comportar Gramáticos como Chomsky percebem de forma distorcida a natureza da gra mática porque caem na armadilha mentalista de supor que as regras devem existir sob alguma forma em algum lugar dentro de falantes e ouvintes O equívoco se parece àquele possível de ser feito com um termo como espírito de equipe discu tido no Capítulo 3 e provém da forma como as pessoas falam Dizemos que o time mostra espírito de equipe e que seguimos as regras da gramática Ambas as asserções levara a equívocos visto que uma faz parecer que o espírito de equipe é algo sepa rado do comportamento da equipe e a outra que as regras da gramática são algo separado da fala e da escrita do indivíduo Na suposição de que as regras são separadas do comportamento os mentalistas como Chomsky distinguem entre competência o ideal as regras e desempenho o verdadeiro falar e escrever A competência é o ideal interno fantasmagórico É o que as pessoas supostamente sabem mas nem sempre fazem A diferença entre competência e desempenho é o erro A noção de competência apresenta os mesmos problemas de outras explica ções mentalistas e se a aplicarmos a outros exemplos sua inutilidade se tornará clara Se dissermos que os planetas seguem órbitas elípticas em torno do Sol isso significa que cada planeta tem dentro de si uma competência uma órbita elíptica ideal Se a órbita do planeta se desviar um pouco de uma elipse perfeita devemos chamar isso de erro Eis um exemplo de Skintier quando um cachorro pega uma bola jogada para o alto podese dizer que o cachorro em certo sentido seguiu as leis da física relativas a corpos em queda livre Devemos dizer que o cachorro vai para o lugar certo na hora certa porque possui as leis da física em algum lugar dentro de si próprio Igualmente devemos dizer de uma criança de 4 anos que fala geralmente de forma gramatical que ela possui as regras da gramática em algum lugar dentro de si própria Gramática e gramáticos Qutra forma de pensar sobre competências em geral e gramática em particular é conhecer que elas são descrições idealizadas do desempenho real Uma idealização sempre uma simplificação e em decorrência é imprecisa O erro não está no esemPenho3 está na descrição simplificada O desempenho é preciso talvez as eras sejam imprecisas Os gramáticos criam conjuntos de regras ou gramáticas Desde que isso seja tib pC0sa interessante e útil a fazer o comportamento dos gramáticos será reforça e ri r mais Precisa que seja entretanto a gramática não nos diz nada sobre como escr Ue as Pessoas vm a dizer o que dizem Tendo reconhecido que o falar e o eve são formas de comportamento operante podemos começar a explicálos 160 William M Baum Onde estão as regras Se as regras da gramática não estão dentro da pessoa que fala onde estão então Poderseia argumentar que não há necessidade de regras em lugar nenhum mas nossa discussão do comportamento dos cientistas no Capítulo 6 leva a um a idéia diferente Em vez disso podemos dizer que as regras estão no comportamento verbal do observador o cientista ou o gramático O gramático como o cientista tendo feito observações trata de resumilas em forma concisa Em outras palavras o gramático verbaliza um conjunto de regras Se atentamos para essas regras e as seguimos quando são ditadas por um professor de português é porque somos trei nados a ouvir e obedecer Sobre esses assuntos nós nos aprofundaremos no próxi mo capítulo RESUMO Comportamento verbal é comportamento operante que exige a presença de um ouvinte para ser reforçado Falante e ouvinte têm de pertencer à mesma comunida de verbal devem ser capazes de se revezar nesses papéis Comportamento verbal é um exemplo de nosso termo cotidiano comunicação que é uma situação em que o comportamento de um organismo cria estímulos que modificam o comportamen to de outro Como outros comportamentos operantes o comportamento verbal é explicado por suas conseqüências e seu contexto Suas conseqüências são resultado das ações do ouvinte que é a parte principal do contexto Gerson pede o sal para Sílvia porque verbalizações desse tipo foram reforçadas por ouvintes como Sílvia na história de reforço de Gerson O comportamento verbal parece começar na imi tação e depois é modelado por conseqüências como receber doces ou atenção dos pais Exceto pelo papel do ouvinte e da comunidade verbal o comportamento ver bal é exatamente como outros comportamentos operantes De acordo com a defini ção gestos e linguagem de sinais embora nãovocais seriam considerados com portamento verbal e comportamentos nãooperantes embora vocais não seriam Embora exemplos específicos possam ser ambíguos eles não têm muita importân cia porque o objetivo dos behavioristas é expor a semelhança do usar a lingua gem com outros comportamentos operantes e não separálos Em contraste com o comportamento verbal a linguagem é uma abstração A idéia de que a linguagem é usada como um instrum ento é um exemplo de mentalismo Como outras atividades operantes as atividades verbais são unidades funcio nais A mesma atividade verbal contém muitas verbalizações cada um a das quais e estruturalmente única Todas as verbalizações que pertencem à mesma atividade verbal a ela pertencem em parte porque cada uma delas tem o mesmo efeuo sobre o ouvinte Nesse sentido todas as formas estruturalmente diferentes de pedtf sal ou de advertir sobre um perigo seriam exemplos de uma atividade verbal pedir sal ou avisar de perigos Como outras atividades operantes as a tiv id a d e s verbais estão sujeitas a controle de estímulo tornamse mais prováveis em deter minados contextos Tal como no caso de outras atividades operantes a segunda parte da definição de uma atividade verbal além de seus efeitos é o contexto Compreender o behoviorismo 16 que ela ocorre Verbalizações estruturalm ente semelhantes podem pertencer a ati vidades verbais diferentes dependendo do contexto A variação no contexto pode modular as variações estruturais da atividade que provavelmente ocorrerão Alguns pensadores sugerem que o uso da linguagem difere de outros tipos de comportamento porque é geradvo pode referirse a si mesmo e pode referirse ao futuro A natureza gerativa da fala repousa sobre a regularidade estrutural e sobre a freqüente originalidade das verbalizações Visto que são compartilhadas por to dos os outros comportamentos operantes essas propriedades não colocam a lin guagem em uma categoria à parte Também não a coloca à parte o fato de poder se referir a si própria pois isso apenas significa que uma ação verbal pode produzir um estímulo discriminativo para outra Da mesma forma o comportamento verbal nãooperante pode também fornecer estímulos discriminativos assim como pode ser por eles controlado A evidente capacidade que tem a fala de se referir ao futuro se assemelha à capacidade de outros estímulos discriminativos afetarem o compor tamento após terem ocorrido depois de um lapso de tempo Não há nada de espe ciai sobre a questão e é possível entendêla sem recorrer ao mentalismo Como outros comportamentos operantes as atividades verbais tendem a ocor rer em determinados contextos estão sujeitas a controle de estímulo Se algum significado existe no significado de uma ação verbal por exemplo uma verbalização ou um gesto ele consiste nas condições sob as quais é provável que essa ação ocorra o contexto e o reforço nesse contexto Ao compreender as ações verbais à luz de seu uso percebemos que algumas são diretivas chamadas man dos e dependem mais do reforço específico do que do contexto enquanto outras são informativas chamadas tactos e dependem mais do contexto específico do que do reforço A gramática recebe a atenção de lingüistas e de psicólogos por descrever re gularidades de estrutura Uma gramática é um conjunto de regras que podem gerar todas as sentenças consideradas corretas pelos falantes da língua A gramática des creve a estrutura desse subconjunto de comportamento verbal mas não diz nada sobre o comportamento verbal que contraria as regras da gramática ou sobre fun ção Alguns estudiosos caem na armadilha mentalista de imaginar que as regras gramaticais residem dentro da pessoa As regras residem porém no comporta mento verbal daqueles que as enunciam uituras adicionais 8e reSen 1991 Skinner and Chomsky 30 years later on lhe return of the repressed icivior Analyst 14 4960 Um lingüista analisa o crescente apreço de lingüistas pelo Com amento verbal de Skinner e sua migração em direção oposta ao mentalismo de Chomsky R A l u u j i t acionai a grande contribuição de Chomsky para a lingüística 162 William M Baum Chomsky N 1959 Verbal behavior by B F Skinner Language 35 2658 A resenha mes quinha e sem compreensão de Chomsky sobre o livro de Skinner reproduzida em vários livros Conger R e Killeen R 1974 Use of concurrent operants in small group research a demonstration Pacific Sociological Review 17 399415 Relato do experimento descrito nes te capítulo Day W F 1969 On certain similarities between the Philosophical investigations of Ludwig Wittgenstein and the operationism of B F Skinner Journal of the Experimental Analysis of Behavior 12 489506 Day foi um dos primeiros a reconhecer afinidades entre as idéias de Skinner e Wittgenstein Hart B e Risley T R 1995 Meaningful differences in the experience of young American children Baltimore Paul H Brooks Publishing Esse livro relata um estudo longitudinal da aquisição de comportamento verbal por crianças Laudan L 1984 Science and values the aims of science and their roles in scientific debate Berkeley University of California Press Para saber mais sobre o contextualismo consulte esse livro MacCorquodale K 1970 On Chomskys review of Skinners Verbal behavior Journal of the Experimental Analysis of Behavior 138399 Primeira resposta de um analista comportamental à resenha de Chomsky do livro de Skinner Moerk E L 1983 The mother of Eve as a first language teacher Norwood NJ Ablex Um reexame dos dados de Roger Brown sobre aquisição de linguagem no qual Moerk en contra abundantes demonstrações em defesa da idéia de Skinner de que o comportamento verbal é adquirido de maneira semelhante a outros comportamentos operantes Purdom C 1971 The god man North Myrtle Beach SC Sheriar Press Essa biografia contém informação sobre a vida e os ensinamentos de Meher Baba o grande mestre espiri tual indiano Skinner B F 1945 The operational analysis of psychological terms Psychological Review 52 270277 291294 Reproduzido em Cumulative record Nova York AppletonCentury Crofts 1961 p 272286 Contém uma discussão sobre significado e definição Skinner B F 1957 Verbal behavior Nova York AppletonCenturyCrofts Essa obra clássi ca é o fundamento deste capítulo Snow C E 1977 The development of conversation between mothers and babies Journal of Child Language 4 122 Esse artigo traz alguns dados sobre o curso da alternação de papéis entre mães e filhos até 18 meses de idade Wittgenstein L 1958 Philosophical investigations Nova York Macmillan 2ã ed Traduzi do por G E M Anscombe A discussão sobre significado como uso feita neste capítulo se fundamenta parcialmente nesse livro no qual se pode ver que o pensamento de Wittgenstein coincide em grande parte com o de Skinner ver especialmente as páginas 121 N de T Título traduzido em português ver Apêndice Compreender o behaviorismo TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 7 Ação verbal Competência e desempenho Comportamento verbal Comunicação Comunidade verba Definição de dicionário Episódio verbal Falante e ouvinte Gramática Léxico Mando e tacto Metáfrase Regra como descrição Teoria de referência 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 372 373 374 375 376 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 427 428 429 430 431 432 433 434 435 436 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 455 456 457 458 459 460 461 462 463 464 465 466 467 468 469 470 471 472 473 474 475 476 477 478 479 480 481 482 483 484 485 486 487 488 489 490 491 492 493 494 495 496 497 498 499 500 501 502 503 504 505 506 507 508 509 510 511 512 513 514 515 516 517 518 519 520 521 522 523 524 525 526 527 528 529 530 531 532 533 534 535 536 537 538 539 540 541 542 543 544 545 546 547 548 549 550 551 552 553 554 555 556 557 558 559 560 561 562 563 564 565 566 567 568 569 570 571 572 573 574 575 576 577 578 579 580 581 582 583 584 585 586 587 588 589 590 591 592 593 594 595 596 597 598 599 600 601 602 603 604 605 606 607 608 609 610 611 612 613 614 615 616 617 618 619 620 621 622 623 624 625 626 627 628 629 630 631 632 633 634 635 636 637 638 639 640 641 642 643 644 645 646 647 648 649 650 651 652 653 654 655 656 657 658 659 660 661 662 663 664 665 666 667 668 669 670 671 672 673 674 675 676 677 678 679 680 681 682 683 684 685 686 687 688 689 690 691 692 693 694 695 696 697 698 699 700 701 702 703 704 705 706 707 708 709 710 711 712 713 714 715 716 717 718 719 720 721 722 723 724 725 726 727 728 729 730 731 732 733 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patrões etc Não fosse por essa capacidade nunca nos tom aríam os aculturados Simon 1990 Este capítulo trata da maneira como os analistas comportamentais compreendem o ensino e o segui mento de regras 0 QUE É COMPORTAMENTO CONTROUDO POR REGRAS Dizer que um comportamento é controlado por uma regra é dizer que está sob con trole do estímulo regra e que a regra é um certo tipo de estímulo discriminativo um estímulo discriminativo verbal Quando meu pai me dizia Você tem de estar em casa até as 6 horas para jantar essa era uma regra que controlava meu comportamento porque as conseqüências de chegar atrasado eram bem desagradáveis A regra pode ser tanto escrita quanto falada Uma placa de Não Fume dentro de um elevador é um estímulo discriminativo verbal e a pessoa que afixou a placa é o falante porque parte do reforço por afixar a placa é o efeito sobre os que a lêem ouvintes 166 William M Baum Comportamento controlado por regras versus comportamento modelado implicitamente Apenas os comportamentos que podem ser descritos por regras podem ser chama dos de controlados por regras no sentido ora empregado Um pombo treinado a escolher de acordo com o modelo Capítulo 6 bica um disco iluminado que con tém o estímulo correspondente ao modelo Poderseia afirmar que ele está seguin do uma regra mas a regra é apenas uma síntese verbal uma pequena descrição de seu desempenho Ainda se discute se o comportamento de um animal nãohu mano pode ser chamado de controlado por regras no entanto o comportamento do pombo não se caracteriza como controlado por regras porque não há nenhum estímulo discriminativo verbal envolvido No Capítulo 7 dissemos algo semelhante em relação às regras gramaticais na medida em que a fala de uma criança de 4 anos de idade é gramatical ela segue regras mas como a criança de 4 anos não pode descrever as regras e nenhuma outra pessoa as descreve para ela no sentido aqui empregado seu comportamento verbal não pode ser chamado de controlado por regras Embora as pessoas se sintam propensas a dizer que um a pessoa ou um animal está seguindo um a regra sempre que percebem aigum tipo de regularidade no comportamento nós aqui usamos o termo para designar algo mais específico do que apenas uma discriminação complexa Nós nos concentramos nas discrimina ções que envolvem enunciados verbais de regras tal como as regras de um jogo porque historicamente a capacidade que as pessoas têm de responder ao compor tamento verbal do outro era considerada evidência a favor do mentalismo Os behaviorístas sustentam a possibilidade de uma explicação científica e tentam mos trar que o seguimento de regras pode ser explicado por conceitos da análise comportamental reforço e controle de estímulo Para ajudar a compreender o comportamento controlado por regras eu o distingo do comportamento modelado implicitamente às vezes chamado de com portamento modelado por contingências que pode ser atribuído exclusivamen te a relações de reforço e punição nãoverbalizadas Todo comportamento operante inclusive o controlado por regras é modelado por reforço e punição A expres são modelado implicitamente neste contexto se refere ao comportamento que é modelado diretamente por conseqüências relativamente imediatas que não de pendem de ouvir ou ler uma regra como descrito no Capítulo 4 Um incidente em um episódio da série televisiva AU in the Family ilustra esse ponto Archie Bunker discute com seu genro Mike sobre o método correto de vestir as meias e os sapa tos Mike coloca um a meia e um sapato em um pé e depois a outra meia e o outro sapato no outro pé Archie coloca as duas meias e depois os sapatos Provavelmen te nenhum dos dois foi algum dia instruído a colocar meias e sapatos do modo como o fazem o comportamento de cada um deles foi modelado implicitamente O comportamento controlado por regras depende do comportamento verbal de outra pessoa o falante enquanto o comportamento modelado implicitamente não requer outra pessoa requer somente interação com reforço nãosocial A dife Compreender o behoviorismo 167 rença entre Mike e Archie pode ter surgido por acaso a maneira de colocar meias e sapatos de cada um foi reforçada por permitir executar em cadeia a atividade seguinte Capítulo 4 O comportamento controlado por regras é comentado diri gido instruído sob controle de estímulos discriminativos verbais enquanto o com portamento modelado implicitamente surge sem instrução e freqüentemente não se consegue falar sobre ele Pergunte a alguém como agarra uma bola pergunte a alguém que acabou de contar uma piada como planejou contála de forma tão engraçada ou pergunte a alguém montado em uma bicicleta como ele consegue permanecer na posição vertical normalmente a única resposta que você vai obter é Não sei só sei fazer A pessoa pode demonstrar o ato mas não falar sobre ele o que é um sinal seguro de que o comportamento é modelado implicitamente É difícil pensar em exemplos puros de comportamento modelado implicita mente porque muito de nosso comportamento começa com instruções e passa a ser modelado implicitamente quando se aproxima de sua forma final Explicase para ginastas iniciantes antes de fazer uma acrobacia que devem primeiro colocar as mãos e os pés cuidadosamente de acordo com as instruções executar uma primei ra tentativa rudimentar e depois praticar praticar praticar Enquanto pratica rela ções nãoverbalizadas entre o movimento do corpo e a forma correta modelam o comportamento até que a forma esteja correta Muitas de nossas habilidades se conformam a esse padrão escrever dirigir boas maneiras tocar um instrumento musical e assim por diante A primeira aproximação grosseira é controlada por regras mas o produto final é modelado implicitamente Nos termos do Capítulo 6 o comportamento modelado implicitamente coin cide com conhecimento operacional saber como Uma vez modelado o compor tamento sabemos como nos equilibrar sobre uma bicicleta mesmo que não possa mos explicálo Se for possível falar sobre o comportamento e suas conseqüências temos um tipo de conhecimento declarativo saber sobre Rita sabe sobre o jogo de xadrez se for capaz de explicar suas regras Prescrever regras quase sempre compreende saber sobre Naturalmente com freqüência sabemos como fazer algo e também sabemos sobre isso Podemos aprender a falar sobre o comportamento modelado implici tamente antes ou depois que ele seja modelado Podemos aprender todas as regras de um jogo antes de jogálo depois de ficarmos peritos nele podemos aprender a falar em estratégias para ensinar outras pessoas O episódio entre Archie e Mike ilustra também quão rapidam ente criamos e justificamos regras Archie interrompe Mike e lhe diz que ele deveria vestir as duas meias antes de colocar um sapato Mike se opõe Archie diz E se houver um incêndio Se precisar sair correndo pela rua pelo menos você não estará totalmente descalço Mike responde que ele teria colocado ao menos um sapato e que poderia saltar em um pé só A criação de regras é parte de nossa condição de falantes Discutimos esse ponto implicitamente no Capítulo 7 e vamos retornar a ele nos Capítulos 12 e 13 quando discutirmos valores e cultura Por ora estamos preocupados com a justificativa das regras por que justificar é comportamento verbal acerca de reforço e punição pelo menos você não estará totalmente descalço 168 William M Baum Regras ordens instruções e conselhos Skinner 1953 1969 definiu regra como o estímulo discriminativo verbal quê in dica uma relação de reforço Skinner utilizou a palavra contingência que muitas vezes implica a contigüidade entre uma resposta e um reforçador em vez disso usaremos o termo mais genérico relação de reforço para evitar essa conotação Quando um grupo de pessoas está jogando elas freqüentemente produzem esses estímulos com verbalizações do tipo Se a bola tocar a linha éfora ou Uma quadra ganha de uma trinca Verbalizações como essas são reforçadas pelo comportamento dos ouvintes que concordam que a bola foi fora e aceitam a superioridade de uma quadra sobre uma trinca Como essas regras indicam relações Quando se fala de comportamento operante como estamos fazendo agora uma relação de reforço significa uma relação entre atividade e conseqüências Plantar sementes resulta em colheita isso é uma relação de reforço Vimos no Capítulo 4 que toda relação de reforço pode ser sintetizada por uma sentença na forma Se essa ação ocorrer então essa conseqüência tornarseá mais ou menos provável Se você planta sementes então a colheita se torna mais provável Se você carrega um guardachuva fica menos sujeito a se molhar se chover Dizer que o comportamento verbal de formular uma regra indica a relação é dizer que a verbalização está sob controle de estímulo pela relação ou que a relação determina o contexto para enunciar a regra Nos termos do Capítulo 7 poderíamos muito bem afirmar que a regra indica a relação A afirmação Se você virar a esquina você chegará ao banco reflete á experiência do falante virar à esquerda na esquina tornou a chegada ao banco mais provável um estímulo discriminativo complexo ou contexto Igualmente se estamos jogando tênis e eu digo a você que a bola é fora se cruzar a linha minha verbalização está sob controle de minha experiência de ter rebatido bolas que cruzaram a linha e que foram cha madas de fora A relação indicada é se a bola é rebatida de tal forma que cruze a linha ação então a punição de perder o ponto tornase mais provável Eu dificil mente formularia a regra exatamente desta forma mas essa é uma síntese precisa de minha experiência e o contexto para minha enunciação da regra Um exemplo de um experimento de laboratório pode ajudar a esclarecer o uso que os behavioristas fazem do termo regra Mark Galizio 1979 rem unerou estudantes universitários para trabalharem em um experimento que podia durar até 75 sessões de 50 minutos cada O equipamento em que eles trabalharam está ilustrado na Figura 81 Os estudantes foram informados de que podiam ganhar até 2 dólares por sessão que eventualmente ocorreria uma perda de 5 centavos sina lizada pelo piscar de uma luz vermelha com a palavra perda acompanhado por um tom sonoro e que essas perdas poderiam ser evitadas girandose um botão em 45 graus o que faria piscar a luz azul de informação Nos períodos em que estivessem programadas perdas ocorreria uma perda a cada 10 segundos a menos que a alavanca fosse acionada pelo menos uma vez Cada sessão experimental era dividida em quatro períodos de 125 minutos e seguiu o seguinte plano em um período cada acionamento do botão adiava a perda por 10 segundos em um se gundo período cada acionamento adiava a perda por 30 segundos em um terceiro período cada acionamento adiava a perda por 60 segundos em um quarto perío Compreender o behaviorismo 169 do nenhuma perda estava programada No período de 10 segundos de adiamento as perdas podiam ser evitadas se ocorresse um acionamento da alavanca pelo me nos a cada 10 segundos nos períodos de 30 e 60 segundos de adiamento os acionamentos deveriam ocorrer pelo menos a cada 30 e 60 segundos O período sem perda não exigia que o botão fosse acionado Os quatro períodos eram apre sentados em seqüência aleatória Cada um deles era sinalizado por uma das quatro iâmpadas amarelas mostradas na Figura 81 Na primeira fase do experimento não se fornecia nenhuma informação adicio nal e apenas um em quatro estudantes mostrou taxas apropriadas de acionamento da alavanca nos quatro períodos mais alta no período de 10 segundos mais baixa no período de 30 segundos ainda mais baixa no de 60 segundos e perto de zero no período em que não havia perda Os outros três estudantes giravam a alavanca aproximadamente na mesma freqüência em todos os quatros períodos Na segunda fase foram introduzidas instruções isto é regras em forma de rótulos acima das quatro lâmpadas amarelas como mostrado na Figura 81 O rótulo 10 SEG signifi cava gire a alavanca pelo menos a cada 10 segundos e os rótulos 30 SEG e 60 SEG significavam gire a cada 30 segundos e gire a cada 60 segundos O rótulo SEM PERDA significava não gire a alavanca Dois outros estudantes começaram o ex perimento nessa fase Em três sessões todos os seis estudantes apresentaram a taxa apropriada de acionamento da alavanca em todos os quatro períodos O acionamento da alavanca pelos seis estudantes estava agora sendo controlado pelos rótulos Em termos técnicos todos os seis estudantes apresentaram discrimi nações em relação aos estímulos discriminativos verbais Sem perda lOsegundosj 60 segundosj j30 segundosj O Q O O luzes amarelos O uz vermelha perda o luz azul informação alavanca Figura 81 Equipamento usado no experimento de Gaüzto Cada estudante sentavase em frente ao painel mostrado acima Girar o botão de borracha em 45 graus evitava a perda de dinheiro Cada acionamento da alavanca produzia o piscar da luz azuf As perdas eram sinalizadas pelo piscar da luz vermelha acompanhado por um tom sonoro Cada luz ama rela sinalizava um esquema diferente de esquiva da perda Os rótulos que às vezes ser viam como instruções regras estão mostrados nos retângulos 170 William M Boum Na terceira fase os rótulos foram retirados As luzes amarelas foram embara lhadas em relação aos quatro períodos de forma que os estudantes tinham de rearranjar suas taxas de acionamento da alavanca Dois dos seis estudantes volta ram a girála em torno da mesma taxa em todos os quatro períodos Enquanto os outros quatro haviam discriminado com base nas diferentes luzes amarelas como estímulos discriminativos esses dois estudantes haviam discriminado apenas com base nos estímulos discriminativos verbais Seu comportamento estava estritamen te controlado por regras No experimento de Galizio ele próprio era o falante e os estudantes eram os ouvintes Dar os rótulos era comportamento verbal porque era reforçado por m u danças no comportamento do ouvinte Não houvesse efeitos Galizio não teria sobre o que escrever e não poderia ter publicado o artigo Quando o comporta mento dos estudantes ficou sob controle dos estímulos discriminativos verbais es tava sendo controlado por regras As mudanças de comportamento que foram controladas por regras entretan to foram exatamente as mesmas mudanças controladas pelas luzes O estímulo discriminativo verbal controla o comportamento da mesma forma que o estímulo discriminativo nãoverbal A diferença está na origem do controle Os estímulos discriminativos verbais dependem de uma longa e poderosa história de seguir re gras que começa logo após o nascimento Não deve surpreender que no experi mento de Galizio todos os estudantes tenham respondido apropriadam ente quan do as regras foram introduzidas É notável no entanto que alguns deles tenham respondido adequadamente somente às regras O experimento de Galizio ilustra também que o contato com a relação que produz a regra não precisa ser direto Galizio nunca precisou girar a alavanca para dizer que para evitar perdas era necessário operar a alavanca no mínimo a cada 10 segundos Poderia ter dito isso baseandose nos estímulos gerados quando da programação do equipamento e de sua operação pelos estudantes Da mesma for ma não preciso ter jogado tênis alguma vez na vida para ser capaz de dizer que a bola é fora quando cruza a linha basta que eu tenha visto outras pessoas jogando O estímulo discriminativo ou contexto ainda é a relação só que agora envolve as ações e conseqüências de outras pessoas Existe uma exceção importante às vezes o falante não teve nenhum contato com a relação sequer um contato indireto mas está repetindo o que outra pessoa disse Freqüentemente precedemos essas verbalizações com expressões como Ouvi dizer ou Dizem que Ouvi dizer que você consegue um bom preço na loja da esquina Essa exceção confirma nossa regra geral porque mesmo que eu esteja apenas repetindo o que outra pessoa disse o estímulo discriminativo para o com portam ento do falante foi o contato com a relação Em última análise o estímulo discriminativo para qualquer verbalização que possamos reconhecer como regra é uma relação de reforço O uso cotidiano da palavra regra é mais limitado do que o significado técnico empregado pelos analistas eomportamentais As regras do cotidiano encaixamse na categoria estímulos discriminativos verbais que indicam uma relação de refor ço mas essa categoria também inclui estímulos que normalmente não seriam chamados de regras Por exemplo falando tecnicamente muitas ordens e exigên Compreender o behoviorismo 171 cias são regras Quando um dos pais diz ao filho Não brinque perto da pista porque você pode ser atropelado esse estímulo discriminativo verbal é uma regra porque o comportamento verbal do pai ao prescrevêla está sob controle indica da seguinte relação se um a criança brinca perto da pista então é mais provável que seja atropelada Diremos que um a regra indica uma relação como uma abreviação para o comportamento verbal de enunciar a regra está sob controle de estímulo da rela ção Quando dizem às crianças Diga não às drogas essa regra indica a relação se você disser não às drogas então é mais provável que as conseqüências prejudi ciais de usálas sejam evitadas Freqüentemente como nesse exemplo a regra indica a relação de form a implícita porque o contexto a torna óbvia Mesmo as repetidas ordens do sargento Sentido Descansar Esquerda volver e assim por diante podem ser vistas como regras porque podese dizer que elas indicam a podese dizer que são ocasionadas pela relação de reforço se um soldado obe dece ao sargento rápida e corretamente então é provável que enfrente bem uma batalha Todas as instruções são regras Falase a um estagiário no escritório Abra apenas um arquivo por vez assim você não os mistura Quando você compra uma mesa que precisa ser montada as instruções escritas são regras que indicam impli citamente a relação se você se comportar dessa maneira então é provável que venha a usar a mesa O mesmo se aplica a mapas e diagramas Se eu desenho um mapa de como chegar a minha casa ele o instrui da mesma forma que se eu lhe dissesse ú caminho Desenhar o mapa é comportamento verbal o mapa é uma regra e seguir mapas é comportamento controlado por regras O conselho se conforma à definição de regra Filho acho que você deveria se casar com Isabel ela será um a boa esposa e você será feliz é um estímulo discriminativo verbal que indica explicitamente a relação entre casarse com mu lheres como Isabel e ser feliz Se o filho geralmente segue o conselho de seu pai a probabilidade de casarse com Isabel será alta Pagamos bem pelos conselhos de corretores advogados médicos e outros especialistas porque eles podem indicar relações produzir estímulos discriminativos verbais que nós não podemos Propostas de benefício mútuo às vezes constituem regras se o benefício para uma das partes é adiado para o futuro Se você me der uma mão agora eu vou ajudálo quando você precisar indica uma relação entre seu comportamento e um reforçador provável mas diferido Como estímulo discriminativo aumenta as chances de que você me dará um a mão Discutiremos esse tipo de comportamento altruís ta de forma mais completa no Capítulo 12 Todos esses exemplos têm em comum duas características Primeiro dado que a regra implícita ou explicitamente indica uma relação de reforço é sempre possível reformular a regra sob a forma se essa atividade ocorrer então tal conse qüência se torna provável Você pode reconhecer se um estímulo discriminativo verbal é uma regra formulandoa explicitamente nessa forma No Capítulo 6 vimos que estímulos discriminativos constituem categorias como pessoa em um diaposi tivo o experimento com os pombos ou perguntas sobre a Guerra Civil e as regras não são exceção Pense em todas as maneiras como o comportamento verbal de um paí poderia enunciar a regra Se você vestir um casaco quando sair à rua no 172 William M Baum inverno será menos provável que fique doente Vista um casaco Você não esqueceu de nada O que está faltando nessa foto Hum hum ahã e assim por diante Uma regra é um a categoria funcional porque todas essas variações estruturais são funcionalmente equivalentes Segundo a regra sempre indica algo de maior relevância Isto é a relação que a regra indica atua sempre em um prazo relativamente longo que em geral só se percebe depois de muito tempo um tempo talvez até maior do que o tempo de vida da pessoa As pessoas são aconselhadas a não fumar devido a um a associação entre fum ar e adoecer que apenas aos poucos foi percebida ao longo de muitas décadas Os norteamericanos tendem a insistir na superioridade da democracia devido à experiência com outras alternativas no decorrer de centenas de anos Fundamentalmente o importante em uma regra é o fato de fortalecer um compor tamento que só trará compensações depois de um certo tempo de acordo com a mal definida mas extremamente relevante relação de longo prazo que está indicada Nesse sentido podese dizer que a pessoa que formula a regra age em parte pelo bem da pessoa afetada uma idéia a que retornaremos no Capítulo 12 Sempre duas relações O comportamento controlado por regras sempre envolve duas relações um a de longo prazo a relação última a razão primeira da regra e outra de curto prazo a relação de reforço próxima por seguir a regra Conseqüências postergadas e defi nidas imprecisamente tendem a ser ineficientes raramente um fumante larga o hábito de fumar depois de ouvir que ele pode causar câncer de pulmão dentro de 30 anos ou mesmo uepois de um a experiência de falta de ar E necessário algo mais imediato para fazêlo largar o hábito A regra e o reforço próximo ambos normal mente fornecidos pelo falante fazem com que o ouvinte se em penhe no comporta mento desejado largando o mau hábito ou adquirindo um hábito bom Quando uma criança segue instruções o falante pai mãe ou professora fornece refor ço em abundância Mais tarde na vida quando a pessoa é treinada para executar um trabalho ou praticar um esporte quem a treina fornece reforço por seguir re gras na forma de afirmações como Bom Certo e E por aí A Figura 82 esquematiza as duas relações de reforço do comportamento con trolado por regras a relação próxima na parte superior e a relação última na parte inferior Como foi explicado nos Capítulos 4 e 6 cada relação inclui um con texto estímulo discriminativo ou SD e um reforçador SR para o comportamen to A notação SD C SR indica que o SD aumenta a probabilidade do comporta mento C porque estabelece o contexto no qual C provavelmente produz refor ço O mais notável é que ambas relações afetam o mesmo comportamento um a o encoraja e a outra o justifica 4 relação de reforço próxima A relação próxima é o motivo por que o comportamento C é denominado controla do por regras O estímulo discriminativo verbal fornecido pelo falante é a regra Ele Compreender o behaviorismo 173 estabelece o contexto no qual C pode gerar reforço próximo que em geral é forne cido por outras pessoas freqüentemente o falante Na Figura 82 o reforçador próximo é a aprovação do falante Quando o ouvinte acata uma ordem pedido ou Relação próxima Regra Relação último Relação próxima Regra Relação última Figura 82 As duas relações de reforço do comportamento controlado por regras Painel superior relações representadas por símbolos Ambas relações conformamse ao padrão SD C SR Na relação próxima mostrada na parte de cima do painel o SD ou regra é produzido pelo comportamento verbal do falante Cv e controla o comportamento deseja do do ouvinte C devido a sua relação com o reforço próximo que costuma ser social isto é fornecido por outras pessoas freqüentemente o falante A relação última mostrado na parte inferior do painel é a base da relação próxima porque envolve conseqüências re forço último que são importantes mas postergadas ou obscuras simbolizadas pela seta mais longa O SD último constitui o contexto natural da relação última os sinais que con trolariam C se a relação último assumisse o controle Painel inferior um exemplodas relações O falante digamos um dos pais díz para o ouvinte criança usar sapatos quan do sair de casa isso produz um SD próximo auditivo uma regra Use sapatos Se a criança calça os sapatos isso resulta no reforçador próximo de aprovação ou esquiva de desaprovação do pai A relação última que é importante mas obscura paro a criança relaciona calçar sapatos com o reforço último da boa saúde e além disso da probabilida de de sucesso reprodutivo O SD último que deveria vir a controlar o usar sapatos consiste em condições tais corno pedras pontudas tempo frio parasitas por exemplo bíchodo pé e assim por diante 174 William M Baum instrução o falante fornece aprovação ou reforçadores simbólicos por exemplo dinheiro ou um vale ou retira um a condição aversiva uma ameaça Mesmo um conselho embora seja freqüentemente considerado neutro raram ente o é o pai que aconselha seu filho a casar com Isabel também dará sua aprovação quando seu filho o fizer A relação próxima é relativamente óbvia porque o reforço é relativamente freqüente e imediato simbolizado na Figura 82 pela seta m enor apontando para o reforço próximo Relações daras como essa são especialmente importantes quando o comportamento está em início de treino Uma vez adquirido o comportamento desejado o reforço pode ser menos freqüente e menos imediato relação de reforço última A relação próxima existe por causa da relação última Embora atue a longo prazo simbolizado pela seta mais longa na Figura 82 e seja definida imprecisamente a relação última justifica a relação próxima porque incorpora um a relação entre com portamento e conseqüência que é realmente importante independente de quão trivial ou arbitrária a relação próxima possa parecer A relação é importante porque se refere à saúde à sobrevivência e ao bemestar a longo prazo dos descendentes e da família Em suma a relação última se refere à aptidão Por que as pessoas nos Estados Unidos usam sapatos Por que não ficam descalças como tantas pessoas em vários países do mundo Essa prática parece arbitrária apenas enquanto ignoramos sua relação com a saúde Deixando de lado a proteção contra o frio as conseqüências prováveis de andar descalço são machucados cortes infecções e verminoses Como outras relações últimas a relação em si mesma seria ineficiente porque qualquer pessoa em qualquer época pode não sofrer nenhum tipo de doença por andar descalço somente em média e a longo prazo podemos perceber o dano à saúde Conseqüentemente faz parte de nossacultura fabricar e comprar sapatos para nossas crianças instruílas desde pequenas sobre a necessidade de usálos e proibir que pessoas entrem descalças em lojas Se o contexto último Figura 82 assumir o controle os sapatos serão usados sempre que perigos tais como frio e doença esti verem rondando Entretanto as pessoas que usam sapatos podem ter apenas uma vaga idéia dessa conexão com saúde porque basta que elas saibam o que é social mente aceitável a relação próxima Elas só têm de seguir a regra Quando examinamos as regras à luz das relações últimas com as quais elas fazem contato a ligação com a aptidão tornase em geral evidente mesmo que as pessoas em geral nunca a reconheçam Seguimos a regra a caridade começa em casa porque em última análise é necessário dar prioridade máxima ao bemestar de crianças e parentes próximos para garantir o aumento da aptidão O m anda mento Ame seu próximo como a si mesmo pode ser interpretado como um incen tivo à cooperação entre membros de um grupo o que beneficia a aptidão de todos os membros Outras regras como não deixe para am anhã o que pode fazer hoje e de tostão em tostão se chega ao milhão referemse ao uso eficiente de recursos Compreender o behaviorismo 175 Na Figura 82 a relação de reforço última é mostrada como tendo seu próprio contexto SD último e conseqüência SR último independentes da relação próxi ma Circunstâncias que ameaçam a saúde tais como objetos cortantes larvas de vermes cobras escorpiões fungos e plantas espinhosas constituem o contexto o SD último para usar sapatos C porque usar sapatos impede ferimentos e doen ças que podem ser adquiridos por andar descalço A redução da probabilidade de ferimentos e doenças e o aumento da probabilidade de sobreviver e reproduzir constituem o reforço último por usar sapatos Dizemos às crianças sejam boas com seus primos porque cooperar C com parentes SD último aumenta a apti dão de genes comuns SR último Em sentido amplo todos os reforçadores últimos ao afetar a aptidão como o fazem se relacionam a quatro grandes categorias de atividades ou resultados manutenção da saúde inclusive sobrevivência obtenção de recursos fazer e manter relacionamentos com familiares e amigos e reprodução inclusive os relacionamen tos com um cônjuge outros parceiros sexuais filhos e netos Coletivamente isso é simbolizado na Figura 82 pelas letras SRRR Todas as regras em especial as regras características de um a cultura dependem em última instância de relações entre o comportamento e SRRR Calçamos sapatos para manter a saúde trabalhamos para obter recursos batem os papo para m anter relacionamentos com os amigos e a família namoramos para obter sexo e produzir descendência Em sentido estrito todas as outras três categorias poderiam ser reduzidas à quarta a razão por que a saude e a sobrevivência os recursos e os relacionamentos são importantes está em que todos eles possibilitam direta ou indiretamente a reprodução o ingrediente essencial para a evolução Discutiremos esse assunto com mais detalhes nos Capí tulos 12 e 13 As relações com o reforço próximo e último dão ao comportamento verbal do falante CV na Figura 82 a dupla função de ordenar e informar Nos termos do Capítulo 7 formular a regra Cv é um mando quanto à relação próxima mas é um tacto quanto à relação última O reforçador próximo para a enunciação da regra é a subordinação do ouvinte obedecer à ordem seguir o conselho Pessoas que afixam placas de Proibido Fumar geralmente o fazem para seu próprio conforto entre outras razões Se existir algum reforçador último para a enunciação da regra ele está vinculado aos reforçadores últimos para o seguimento de regras pelo ou vinte O interesse de um pai na sobrevivência e na reprodução de um filho benefi cia o sucesso reprodutivo do próprio genitor Quanto ao comportamento do ouvin te entretanto a relação com o sucesso reprodutivo é de longo prazo e relativamen te ineficiente Assim a regra enunciada pelo pai talvez seja mantida em primeiro lugar pela aquiescência do filho Embora o experimento de Galizio Figura 81 pareça simples em compara ção com situações do mundo real ele também se conforma ao padrão observado na Figura 82 A relação de reforço próxima era a relação entre seguir as instruções dos rótulos e evitar perdas A relação última era entre seguir as instruções e receber quase o máximo de 2 dólares por sessão Evitar esforço excessivo pode também ter sido um fator Os rótulos constituíam as regras e a situação experimental era o SD último A regra e o reforço próximo podem ser temporários Se o comportamento ç for suficientemente fortalecido ele entrará em contato com o reforço último e será mantido por ele As crianças jamais aprenderiam que usar sapatos é uma coisa boa se nunca os tivessem usado Depois que a criança começa a usar sapatos quase o tempo todo as vantagens de usálos o reforço último podem assumir o controle A situação é parecida com dar partida em um carro o motor tem de estar a uma certa velocidade antes que possa girar por si próprio O reforço próximo é como o motor de arranque põe o comportamento para funcionar a uma taxa suficiente para que o reforço último o mantenha em andamento No experimento de Galizio alguns estudantes fizeram a transição do reforço próximo para o reforço último quando dispensaram os rótulos que lhes diziam como responder às diferentes rela ções de perda Digo para meus filhos serem honestos com os outros na esperança de que algum dia eles sejam honestos sem que eu tenha de lhes dizer isso Se as ocasiões para a ocorrência de comportamento controlado por regras forem muito infreqüentes então a transição para o reforço último pode nunca vira acontecer Talvez seja por isso que alguns dos estudantes de Galizio nunca conse guiram chegar ao desempenho adequado com mais treino eles eventualmente poderiam ter dispensado as instruções Quando compro uma mesa montável sigo as instruções como um escravo porque essa é a primeira e provavelmente a única vez em que m ontarei essa mesa Em contraste uma pessoa que trabalha em uma fábrica montando muitas mesas todos os dias logo pára de consultar as instruções Passamos por simulações de incêndio e de batalhas para que quando o SD último incêndio ou batalha de fato surgir o comportamento apropriado provavelmente ocorra quanto mais realista a simulação melhor será Uma questão permanece as pessoas muitas vezes podem ser capazes de v dizer o que fazer mas não por que fazêlo Se o falante não consegue verbalizara relação de reforço última não tem a menor idéia por que os filhos deveriam ser bons com seus primos então de onde surgiu a regra Alguém teve de formulála mas é suficiente que apenas uma pessoa tenha um dia entrado em contato com a relação última porque os membros de uma mesma cultura aprendem regras uns com os outros Uma vez que essa pessoa tenha formulado a regra e a tenha ensina do a seus descendentes parentes e vizinhos se a regra de fato entrou em contato com a relação última ela se propaga de pessoa a pessoa e de grupo a grupo Formu lar regras assim como seguir regras é uma parte fundamental da cultura humana Mais sobre esse tópico nos Capítulos 13 e 14 APRENDIZAGEM DE SEGUIMENTO DE REGRAS As pessoas têm forte uma tendência a fazer as coisas conforme lhes dizem As vezes gostaríamos que as pessoas fossem menos obedientes e pensassem por si mesmas com mais freqüência especialmente soldados e burocratas O famoso experiment0 de Stanley Milgrim sobre obediência em que as pessoas se mostraram dispostas liberar choques quase letais a um estranho seguindo as ordens de um psicólogo peS quísador ações de nazistas em campos de concentração e ações de soldados i americanos no Vietnã mostraram como essa obediência pode ir longe Apesar des Compreender o behaWorismo 177 exem plos continua sendo verdade que a concordância em geral vale a pena nor malmente até mesmo o adolescente mais rebelde pode ser persuadido a usar filtro solar na praia Por que as pessoas seguem regras com tanta presteza Modelagem do comportamento de seguir regras Talvez as pessoas sejam tão propensas a seguir regras em parte porque são expos tas desde muito cedo a tantas e tão diferentes relações de reforço próximas Inú meras vezes as crianças fazem o que lhes mandam fazer e ganham doces afeto e aprovação As regras são verbalizadas pela mãe pai outros membros da família e depois pelos professores Existem até mesmo jogos que ensinam a seguir regras tais como o Faça o que seu mestre mandar Conseqüentemente seguir regras tornase uma categoria funcional uma ha bilidade generalizada tanto que seguimos sem hesitação as instruções para che gar a um local dadas por um estranho À medida que ocorre generalização o pró prio comportamento de seguir regras tornase parcialmente controlado por regras Dizse às crianças Faça como eu digo e Ouça os mais velhos Formamos tam bém discriminações Não ouça o Jucá ele é um mentiroso Em um antigo episó dio do programa de TV WKRP in Cincinnad um personagem diz a outro Dá azar seguir o conselho de pessoas malucas Em certo sentido esse seguir regras generalizado faz o mundo girar Galizio fez uso disso em seu experimento presumindo que os sujeitos leriam e responde riam aos rótulos acima das luzes Figura 81 Sem o seguimento de regras genera lizado as possibilidades de cultura seriam na verdade limitadas Com ele práticas complexas como colocar os filhos em escolas públicas ou construir aviões a jato podem existir e ser transmitidas Mais sobre esse tópico nos Capítulos 13 e 14 Onde estão as regras As explicações tradicionais do seguimento de regras são mentalistas Como na gra mática falase de regras como se elas fossem coisas possuídas como se as pessoas possuíssem Psicólogos dizem às vezes que as regras são internalizadas Como utras formas de mentalismo as regras que controlam nosso comportamento estão supostamente em algum lugar interno como se cada um de nós tivesse um caderno Sras interno onde as regras estivessem de alguma forma gravadas e pudes 0 er localizadas na ocasião propícia Surgem então as questões habituais sobre vçojnntaSm0 Capítulo 3 Onde estão essas regras internas De que são feitas côm 0em causar o comportamento Quem as procura quem as escreve O 0 Prtamento de escrever e procurar as regras não seria tão complicado quanto Portamento que elas deveriam explicar E assim por diante í o r i t C Sum sentido falar em regras como localizadas em algum lugar os beha mas c as as clocam no ambiente Elas se apresentam não apenas figurativamente ncretamente sob a forma de sons e sinais Elas são estímulos discriminativos 178 William M Baum As pessoas são tentadas a pensar em regras como alguma coisa interna por que a regra que fortalece o comportamento C pode estar ausente quando C ocorre Existem duas razões para isso Primeiro surge o problema da lacuna tem poral discutido nos Capítulos 5 e 6 Como a regra pode ter ocorrido em um m om ento anterior há uma lacuna entre a ação e parte do contexto Eu insisto que m eus filhos sejam honestos comigo na esperança de que seu comportamento se generalize e que eles sejam honestos com os outros Se meus filhos são honestos com professo res e amigos poderíamos dizer que as crianças lembraram a regra mas não pre cisamos Não é necessário supor que as crianças tenham formulado a regra publica mente ou mesmo privadamente naquele momento É necessário apenas reconhe cer que parte do contexto para o ato ocorreu em um momento anterior Segundo como o controle pelo reforço próximo pode ser tem porário quando o reforço último assume o controle a regra pode estar ausente talvez definitiva mente Quando as pessoas falam sobre regras internalizadas estão provavelm en te falando dessa transição Sobre os estudantes que no experimento de Galizio responderam adequadam ente depois de retirados os rótulos poderseia dizer que internalizaram as regras A alteração no entanto não é de uma regra externa para uma interna mas de um a relação de reforço relativamente de curto prazo para outra de longo prazo No experimento de Galizio o controle passou dos rótulos para as luzes amarelas Quando meus filhos são atenciosos com seus primos seus primos também são em contrapartida atenciosos com eles o que resulta em meus filhos continuarem a ser atenciosos Meus filhos não internalizaram a regra sobre tratar bem seus primos em vez disso as conseqüências naturais e de longo prazo mantêm agora seu comportamento PENSAMENTO E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Com freqüência regras são soluções de problemas Se você se com portar assim a situação resultará em tal e tal reforçador Quando confrontados com um proble ma pode ser preciso formular uma regra E bastante provável que se diga que alguém está pensando quando essa pessoa está resolvendo um problema O arquiteto que está procurando o melhor projeto para um a sala de estar ou o motorista que trancou o carro com as chaves dentro podem ponderar a situação considerar várias soluções ou perderse em pensamentos O mentalista vê em tais situações a justificativa para im aginar processos internos complexos porque a pessoa pode se sentar imóvel por algum tempo aparentem ente sem fazer nada e então de repente agir e solucionar um problema Está aí um desafio para os behavioristas portanto Será possível discutir a resolução de problemas sem apelar para complexos processos internos No Capítulo 5 discutimos brevemente a abordagem com portam ental da reso lução de problemas As interpretações mentalistas enfatizam a característica abrupta da solução no m om ento criativo ou inspirado Ignoram a longa história de reforço anterior a qualquer caso particular de resolução de um problem a Assim como aprendemos a ser ouvintes aprendemos a ser solucionadores de problem as Tratase de uma habilidade essencial na vida e o pai ou o professor que não ajuda Compreender o behaviorismo 179 a criança a aprender como solucionar problemas é considerado negligente O mo torista que tranca o carro com aschaves dentro talvez peça ajuda à polícia Esse motorista foi instruído nesse tipo de solução antes e talvez já tenha ligado anterior mente para a polícia em tais ocasiões de impotência O projeto do arquiteto igual mente por mais que pareça original deriva de treino prática e observação Em nenhum caso a resolução de problemas ocorre isoladamente ela tem de ser enten dida à luz de treino prévio instrução e reforço Embora os behavioristas concordem com essa abordagem geral eles diferem um pouco em suas interpretações Os behavioristas molares consideram a resolu ção de problemas como algo completamente integrado com a história prévia Ad quirimos experiência com determinados tipos de situações e nelas agimos de deter minadas maneiras Sob essa perspectiva a resolução de problemas é apenas um passo ao longo do caminho e não é particularmente relevante Alguém se torna cientista comportandose e recebendo conseqüências no laboratório no campo em seu escritório e em conferências Ocorrem soluções para problemas com equi pamentos dados e teorias mas tudo isso faz parte de se tornar e ser um cientista Esse comportamento é controlado por regras apenas na medida em que depende de instrução prévia A interpretação molecular de Skínner 1969 que iremos agora focalizar tra ta a resolução de problemas como comportamento controlado por regras em um sentido diferente mais imediato Dado que Skinner aceitava a idéia de que falar consigo mesmo pode ser considerado comportamento verbal Capítulo 7 que uma pessoa pode exercer simultaneamente os papéis de falante e ouvinte sua interpretação se apóia no conceito de autoinstrução como falantes damonos regras como ouvintes Mudança de estímulos Gomo vimos no Capítulo 5 as situações que identificamos como problemas são aquelas em que o reforçador o resultado bemsucedido é claro mas o compor tamento que deve ser emitido a solução é obscuro O problema é eliminado quando surge a solução e obtémse o reforçador Quando o arquiteto esboça um projeto que funciona que atende às exigências seguese uma imensa satisfação sem falar no dinheiro e nos elogios dos clientes e colegas Enquanto o arquiteto está resolvendo o problema sua mesa pode ficar cober ta de esboços Tentase uma possibilidade depois outra depois outra Cada esboço sugere o próximo e características de muitos esboços podem ser combinadas na quele que finalmente vai prevalecer O comportamento esboçar varia mas está longe de ser aleatório Além de depender de treino e observações prévias do arqui teto os esboços dependem uns dos outros Dizer que um esboço influencia o seguinte é dizer que o primeiro age como um estímulo discriminativo para fazer o próximo O arquiteto faz um esboço dá uma olhada conclui que não funciona ou que funciona parcialmente e então tenta um outro Todos os esboços precedentes estabelecem o contexto para o esboço final Dizer que eles eliminam algumas possibilidades e sugerem outras significa que como 180 William M Baum estímulos discriminativos enfraquecem alguns atos futuros de esboçar e fortalece outros O comportamento de resolver problemas produz estímulos que servem par alterar a probabilidade do comportamento futuro que poderá incluir a solução Não há mistério sobre a origem desse tipo de comportamento No arquiteto experiente brainstorms desse tipo foram reforçadas muitas vezes no passado Dis cutimos no Capítulo 5 como se ensinam cetáceos e ratos e também seres humanos a fazer discriminações em que o comportamento passado faz parte do contexto Embora cada novo ato possa ser único ele ainda assim se relaciona com os que vieram antes Quando as soluções não precisam ser originais para serem reforçadas a ten dência é utilizar soluções semelhantes para problemas semelhantes desde que es sas soluções continuem a proporcionar as devidas compensações Muitos manuais de psicologia descrevem um experimento de A C Luchins em que pessoas tinham de resolver uma série de problemas como os mostrados na Tabela 81 Cada proble ma apresentava três jarras imaginárias de água mostrava as capacidades da Jarra A Jarra B e Jarra C e exigia como solução que fosse apontada um a seqüência de transferências do conteúdo de uma jarra para outra que resultasse em uma das jarras conter a quantidade indicada na coluna D Os três primeiros problemas são resolvidos subtraindose um A e dois Cs de B Os problemas 4 e 5 também podem ser resolvidos desse modo mas podem ser resolvidos mais facilmente subtraindo se C de A O problema 6 só pode ser solucionado subtraindose C de A Luchins descobriu que os problemas 4 e 5 eram quase sempre resolvidos da maneira mais complicada tal como se resolviam os problemas í a 3 e que a maioria dos partici pantes do experimento não conseguiam resolver o problema 6 As tentativas mentalistas de explicar os resultados de Luchins atribuíramnos a uma disposição m ental ou disposição cognitiva Presumivelmente a pessoa forma essa disposição internamente enquanto está resolvendo os três primeiros problemas e depois a disposição faz com que ela continue resolvendo os proble mas da mesma forma Essa disposição supostamente também impediria a solução do sexto problema Como vimos no Capítulo 3 o behaviorista pergunta onde esta ria essa disposição de que é feita e como afeta o comportamento Ela apenas TABELA 81 Uma série de problemas usados por Luchins em seu experimento sobre disposição mental Cada problema apresenta três jarras de diferentes capacidades colunas A B e C A quantidade exigida coluna Dj tem de restar em uma das jarras depois de seu conteúdo ser transferido para as outras Problema Jarra A Jarra È Jarra C Quantidade exigida D 1 14 163 25 99 2 18 43 10 5 3 9 42 6 21 4 23 49 3 20 5 14 36 8 6 6 28 76 3 25 Compreender o behaviorismo 181 rotula a observação que precisa ser explicada a persistência de um certo padrão de c0mportamentos aclui BA2C É pior do que nenhuma explicação porque dá uma ilusão de explicação que nos desvia do caminho em direção a uma explicação verdadeira ver o Capítulo 3 Os analistas comportamentais que procuram explicações no mundo natural de comportamento e ambiente vêem a situação de outro modo À medida que cada um dos três primeiros problemas são resolvidos um padrão de comportamen to BA2C é reforçado Esse padrão fornece um estimulo discriminativo um estímulo discriminativo verbal se o padrão é formulado como BA2C ou um estí mulo visual se o padrão é visto como uma seqüência de ações imaginadas Esse estímulo discriminativo controla o comportamento nos problemas subseqüentes A história de reforço do padrão BA2C combinada com a aparente semelhança en tre todos os problemas assegura que a cada novo problema o padrão BA2C seja o primeiro a ocorrer Soluções que omitam B por exemplo AC serão improváveis e ocorrerão apenas após muitos padrões envolvendo B se é que ocorrerão A diferença entre os sujeitos de Luchins que caíram em uma rotina e o arqui teto criativo reside em suas histórias de reforço A resolução de problemas tornase estereotipada ou criativa e original em função de se reforçar repetidamente o mesmo padrão ou de novos padrões serem reforçados O único aspecto incomum dessas explicações é que os estímulos discriminativos que fortalecem as possíveis soluções surgem do próprio comportamento de quem resolve o problema Assim como os sujeitos de Luchins poderiam ter falado consigo próprios sobre os problemas da jarra o arquiteto também poderia ter falado consi go próprio dizendo coisas do tipo E se a cozinha ficasse aqui ou Suponha que mudemos esse quarto para o andar de cima Exercendo o papel de falante o arquite to está gerando estímulos discriminativos verbais como a regra na Figura 82 que por sua vez alteram a probabilidade de determinado comportamento futuro no papel de ouvinte do arquiteto A variação na ação que acaba levando à solução vem do próprio comportamento verbal do arquiteto Quando estou tentando resolver um problema posso falar comigo mesmo em voz alta ou privadamente Falar consigo mesmo inaudivelmente é comumente cha mado de pensamento Se meu carro não pega posso dizer para mim mesmo Talvez eu deva pisar no acelerador Quer isso seja dito em voz alta ou privadamente o comportamento gera um estímulo discriminativo verbal como na Figura 82 que torna mais provável que eu pise no acelerador A pessoa que se senta silencio samente e depois de repente soluciona um problema pode ter passado por todo um processo de dizer coisas e visualizar resultados privadamente um após o outro Quer tenha sido aberto ou encoberto ainda assim o processo pode ser entendido como a atividade de falante alternandose com a atividade de ouvinte Comportamento precorrente Skinner 1969 chamou a atividade de falante que gera estímulos discriminativos precorrente no sentido de que acontece antes da solução A atividade precorrente Permite que a resolução de problemas atividade de ouvinte varie sistematica 182 WiÜiam M Baum mente em vez de aleatoriamente Embora a variação aleatória possa ser útil assim como mexer e girar a chave em um a fechadura velha eventualmente pode abrir a porta a resolução de problemas é geralmente sistemática no sentido de que as tentativas de solução seguem padrões especialmente padrões que tenham funcio nado anteriormente Posso nunca ter me perdido nessa região mas tenho uma história de consultar mapas e derivar possibilidades de caminhos eu me compor to de maneiras que foram bemsucedidas reforçadas no passado O comporta mento precorrente envolvido é freqüentemente chamado de raciocínio imagina ção formulação de hipóteses e assim por diante Todos esses comportamentos têm em comum a propriedade de gerar estímulos discriminativos que alteram a proba bilidade de atividades subseqüentes Ao olhar para os três primeiros problemas na Tabela 81 você poderia ter dito coisas para si próprio como A água tem de ser tirada da Jarra B porque a quantidade exigida é maior do que pode haver em A ou C e Qual a diferença entre B e D Isso seria comportamento precorrente porque quando se ouvisse a si próprio você provavelmente se comportaria de acordo Assim como outros conceitos de análise comportamental a idéia de compor tamento precorrente tangencia as distinções tradicionais Às vezes coincide com o que as pessoas chamam de pensar ou raciocinar ou fazer um brainstorm mas nem sempre Se aceitamos a idéia de que a mesma pessoa pode agir simultaneamente como falante e ouvinte então a atividade precorrente se conformaria à definição de comportamento verbal e os estímulos gerados seriam regras De fato isso pare ce quase óbvio quando falamos para nós mesmos em voz alta ao tentarm os resolver um problema O comportamento precorrente no entanto pode ser privado ou público vocal ou nãovocal Quando uma pessoa montando um quebracabeça escolhe uma peça e a vira de um lado para outro eventualmente achando o lugar certo isso é comportamento precorrente público e nãovocal Se ao tentar deci dir sobre o projeto de cores para a casa manuseio amostras coloridas e imagino a casa pintada naquelas cores isso poderia ser cham ado de com portam ento precorrente parcialmente privado e nãovocal A conexão entre comportamento precorrente e comportamento controlado por regras encontrase nos estímulos discriminativos produzidos Comportamento precorrente é como formular regras Evitamos dizer que são exatamente a mesma coisa porque de acordo com nossa definição para ser caracterizado como regra o estímulo discriminativo deve ser gerado por comportamento sob controle de uma relação de reforço última atuando como estímulo discriminativo Seria um exagera dizer que o encaixe de uma peça de quebracabeça produzido por seu manuseio deva ser chamado de regra O grande ganho por definir o comportamento precorrente é perceber que a resolução de problemas é semelhante ao comportamento controlado por regras Não é preciso inventar novos princípios para compreender como as pessoas supe ram suas dificuldades diárias ou como elas agem criativamente As explicações que consideramos são incompletas e exigem mais investigações mas o essencial está colocado formular regras seguir regras pensar e resolver problemas são todos eles comportamentos que podem ser explicados cientificamente Compreender o behaviorismo 183 RESUMO Formular e seguir regras são duas das atividades mais importantes na vida e cultu ra hum anas O que cham am os de regras faladas ou escritas são estím ulos discriminativos verbais Governam nosso comportamento da mesma forma que estím ulos discriminativos controlam nosso comportamento As regras são verbais porque são geradas pelo comportamento verbal de um falante Quem segue a regra é um ouvinte que reforça o comportamento do falante de formular a regra O comportamento controlado por regras pode ser diferenciado do comportamento modelado implicitamente que deriva diretamente do contato com relações de re forço Embora as pessoas às vezes considerem desempenhos complexos modela dos implicitamente como seguimento de regras a regra seguida é na verdade um breve resumo do desempenho Ao contrário o conceito mais técnico de seguimen to de regras dos analistas comportamentais exclui relações sobre as quais nunca se fala porque definem a regra como um estímulo discriminativo verbal que indica uma relação de reforço Indica uma relação significa é dado por comportamento verbal sob controle de estím ulo de uma relação que age como um estím ulo discriminativo Essa definição inclui a maioria dos exemplos que as pessoas consi derariam como regras e mais ainda Pedidos e ordens freqüentemente se caracte rizam como regras especialmente quando podem ser vistos como ofertas ou am ea ças instruções e conselho também podem ser assim caracterizados A relação indicada por uma regra a relação última é sempre de longo prazo ou mal definida mas é relevante por afetar a saúde e a sobrevivência a obtenção de recursos os relacionamentos especialmente com parentes e amigos e a repro dução SRRR isto é determinando a aptidão no longo prazo A regra é associada a uma relação de reforço mais imediata a relação próxima que envolve refor çadores como aprovação e dinheiro que ajudam a colocar o comportamento em contato com a relação última Ensinase as crianças a seguir regras a ser obedien tes por causa das relações últimas adquirir essa habilidade generalizada faz par te do crescer em um a cultura Quando as pessoas aprendem o seguimento de re gras generalizado entretanto elas adquirem apenas uma discriminação suas ações ficam sob controle de um a certa categoria de estímulos discriminativos provenien tes de um a certa categoria de falantes Imaginar que as regras de alguma forma se movem internamente é mentalismo As regras estão no ambiente Se aceitamos a idéia de que falar consigo mesmo é comportamento verbal que um a pessoa pode ao mesmo tempo exercer os papéis de falante e ouvinte então tornase possível entender a resolução de problemas como um exemplo de comportamento controlado por regras O comportamento dás pessoas gera estímu los discriminativos que freqüentemente podem ser interpretados como regras que aumentam a probabilidade de ações subseqüentes dentre as quais pode estar a solução a ação que é reforçada O comportamento que produz os estímulos é chamado de precorrente Pode ser público ou privado vocal ou nãovocaí e funci ona como a autoinstrução Em particular o pensamento que acontece durante a reso3uçao de problemas pode ser entendido como comportamento precorrente form alm ente privado e vocal 184 William M Baum LEITURAS ADICIONAIS Baum W M 2995 Rules culture and fitness Behavior Analyst 18 121 Esse artigo explica com mais detalhes muitas das idéias sobre regras apresentadas neste capítulo Galizio M 1979 Contingencyshaped and rulegoverned behavior instructional control of human loss avoidance Journal of the Experimental Analysis of Behavior 31 5370 Esse artigo relata o experimento de Galizio descrito neste capítulo Hayes S C 1989 Rulegoverned behavior cognition contingencies and instructional control Nova York Plenum Esse livro contém muito do que se pensa atualmente sobre o compor tamento controlado por regras Simon H A 3990 A mechanism for social selection and successful altruism Science 250 16651668 O autor conhecido psicólogo cognitivista e cientista da computação faz as co nexões entre docilidade seguir regras cultura e aptidão Skinner B F 1953 Science and human behavior Nova York Macmillan Veja o Capítulo 16 sobre pensamento Skinner B F 1969 An operant analysis of problem solving In Contingencies of reinforcement Nova York AppletonCenturyCrofts cap 6 p 133171 Essa é a discussão clássica de Skinner sobre regras e comportamento precorrente TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPITULO 8 Comportamento controlado por regras Comportamento modelado implicitamente Comportamento precorrente Regra Relação de reforço próxima Relação de reforço última SD C SR Seguimento de regras N de T Título traduzido cm português ver Apêndice Questões sociais A ix s áreas de aplicação da análise do comportamento e do pensamento comporta mental são amplas e diversificadas Tome qualquer aspecto da existência humana e você verá que o behaviorismo lhe dá uma nova perspectiva Política governo jus tiça educação economia relações internacionais e ambientalismo todos ganham uma nova fisionomia Nossos problemas sociais são problemas comportamentais Todos eles têm a ver com fazer as pessoas se comportarem melhor governar bem obedecer à lei aprender na escola reciclar o lixo Como poderíamos levar as pessoas a se compor tar adequadamente e a propósito o que é comportamento adequado Os trata mentos tradicionais dessas difíceis questões são quase sempre mentalistas e por tanto de pouca valia Os analistas comportamentais teriam uma proposta melhor A Parte Três traz poucas respostas definitivas mas em compensação oferece uma abordagem nova a abordagem comportamental Ela visa demonstrar que a análise do comportamento pode auxiliar a resolver os problemas do mundo A ausência de soluções simples ou definitivas não precisa nos desencorajar pois o pensamento comportamental nos permite equacionar os problemas em forma pas sível de solução Metade do trabalho de resolução de um problema é colocálo em seus termos corretos Tentar mudar o comportamento sem os conceitos de reforço indução e controle de estímulo é como querer criar novas moléculas e substâncias químicas sem a teoria atômica Os behavioristas já escreveram muito sobre questões sociais com resultados diversos Por exemplo John B Watson foi um prolífico autor da imprensa popular mas provavelmente não serviu muito a seus leitores porque se sabia relativamente pouco sobre comportamento nas décadas de 1920 e 1930 Entretanto sabese muito mais agora Quando Skinner escreveu Beyond freedom and dignity em 1971 ele dispunha de novos conceitos em que se basear A Parte Três cobre em grande parte a mesma área do livro de Skinner mas expande e atualiza a discussão de forma a incluir o pensamento que se desenvolveu desde então Liberdade D a mesma forma que tratamos outros termos podemos tratar a palavra livre a fim de entender o que ela significa examinaremos como é utilizada Como viis no Capítulo 1 apenas a noção de Iivrearbítrio conflita com o behaviorismo A maioria dos usos da palavra livre podem ser compreendidos em termos compor tamentais USOS DA PALAVRA LIVRE Há três tipos de uso para a palavra livre Em primeiro lugar as pessoas falam de liberdade de restrições como quando se fala em ficar livre da escravidão Isso é freqüentemente referido como ser livre sugerindo que a liberdade é um atributo ou um a coisa possuída A extensão dessa idéia é a noção de livrearbítrio na qua está implícito que a pessoa tem a liberdade de se comportar independentemente de seu ambiente passado ou presente Em segundo lugar as pessoas falam de liberda de política e social Aqui o essencial não é tanto o problema das restrições quanto o de ter de enfrentar conseqüências desagradáveis devido a certas opções Ser per seguido por causa de suas convicções não significa que você não possa agir cie acordo com elas mas que será punido por fazêlo Assim é quando falamos de falta de liberdade política ou religiosa e dizemos que não nos sentimos livres Em ter ceiro lugar as pessoas em particular as pessoas religiosas falam de liberdade espiritual Quando uma igreja anuncia que ílesus vos libertará da servidão não está sugerindo que falta livrearbítrio ou liberdade política ou religiosa mas está se referindo à libertação de uma prisão metafórica Falaremos de todos esses usos a seguir 188 Williom M Boum Ser livre iivrearbífrio Ser libertado de uma prisão representa a remoção de uma restrição física Trancada em uma cela a pessoa não pode sair A abertura da cela é como a abertura de uma gaiola livre como um pássaro significa que a pessoa pode se locomover à vonta de sem ser tolhida Essa forma particular de ser livre não apresenta problema para a análise comportamental porque se refere apenas ao fato de um a ação ser ou não possível É como dizer que o rato não é livre para pressionar a barra se ela for removida ou que é livre para pressionála se ela for inserida No que se refere a restrições prisões e gaiolas são as mais óbvias Você nunca opta livremente por respirar andar ou mesmo aprender a falar Essas opções foram limitadas pelos seus genes e seu ambiente Se fosse possível líbertarse desse limi tes então teríamos o livrearbítrio No Capítulo 1 discutimos problemas levantados pela noção de livrearbítrio Afora considerações filosóficas e estéticas os resultados de políticas públicas basea das na presunção de livrearbítrio vão de pífios a desastrosos A presunção é muitas vezes utilizada como justificativa para não fazer nada Se dependentes de cocaína são livres para optar por não usar a droga então a dependência é culpa dos depen dentes Eles deveriam ter vergonha na cara e nenhum a ajuda lhes deveria ser dispensada Parece que aos poucos estamos aprendendo que políticas sensatas não po dem presumir o livrearbítrio É inútil e só serve para autoconsolo dizer que indiví duos que crescem em favelas optam pela ignorância e pelo desemprego Alguns projetos de pequena monta em escolas secundárias urbanas têm conseguido man ter a freqüência dos alunos e o treinamento profissional vem trazendo pessoas de volta ao trabalho e tirandoas da lista de pensões da previdência social Esses pro jetos tiveram êxito porque criaram relações de reforço adequadas e as sustentaram com encorajamento e explicações regras no sentido do Capítulo 8 Os analistas comportamentais defendem a tese de que enquanto continuar mos presumindo o livrearbítrio não conseguiremos resolver nossos problemas sociais Se porém avançarmos para um referencial francamente comportamental e tentarmos modificar o comportamento problemático aí então nosso foco se des locará para questões relativas a que método utilizar Skinner defendeu o uso do reforço positivo por duas razões Primeiro por ser extremamente eficiente Segun do e este ponto é relevante para nossa discussão de liberdade porque quando o comportamento é modelado e mantido por reforço positivo as pessoas não se sen tem coagidas sentemse livres Sentirse livre Uberdade política e social Os escravos são outro exemplo de pessoas das quais se diz que não têm liberdade A falta de liberdade dos escravos tem menos a ver com restrição física pois o escra vo pode se recusar a trabalhar A conseqüência provável dessa recusa porém seria Compreender o behcmorismo 18 f o chicote O indivíduo que coopera devido a uma ameaça de punição pode em princípio ser livre para enfrentar a ameaça mas não se sente livre para fazêlo Também de pessoas que vivem em um estado policial se diz que não têm liberdade porque muitas de suas ações são proibidas pela ameaça de punição Não se sentem livres como grande parte de nós que vivemos em uma sociedade demo crática Sentimonos livres para criticar nossos governantes em público porque eles não podem nos punir por fazêlo O principal obstáculo ao sentimento de liberdade é a coerção As pessoas não podem se sentir livres quando coagidas isto é quando seu comportamento é controlado pela ameaça de conseqüências aversivas Coerção e controle aversivo No Capítulo 4 definimos os dois tipos de controle aversivo punição positiva e reforço negativo Se falar o que pensamos resulta em uma surra nesse caso o falar foi positivamente punido Se mentir evita a surra então o mentir foi negativamen te reforçado Em geral os dois andam juntos se uma ação é punida normalmente há alguma alternativa que evita a punição A Figura 91 ilustra a relação envolvida na coerção Quando um feitor segura o chicote e m anda o escravo trabalhar o comportamento de trabalhar do escravo é negativamente reforçado por impedir o açoite Os passos intermediários envolvem uma interação entre ò feitor controlador e o escravo controlado Brandir o chicote ou comportamento de ameaça CA produz um estímulo discriminativo para o escravo S em geral chamado de ameaça O estímuloameaça determina a ocasião para a submissão Cs trabalhar ou fazer o que o patrão deseja A submissão do controlado produz um reforçador positivo Sf digamos fazer a colheita para o controlador de forma que o comportamento de ameaça do controlador é positivamente reforçado como resultado da atividade do controlado Desde que o escravo trabalhe e reforce positivamente o comportamento de amea çar do feitor esse se aferra ao chicote Isso quer dizer que o reforçador positivo Controlador feitor Objetivo CA Ss S Nâo CP CT 1 í 1 I Controlado escravo 1 1 1 1 Sg Cs Não SP SÇ Ameaça Submissão Figura 91 Coerção O comportamento ameaçador do controlador CA é positivamente reforçado como resultado da submissão do controlado Cs que produz o reforçador S que constitui o objetivo do controlador A submissão do controlado determina a ocasião S para o controlador terminar a punição CT e é reforçada por evitara punição ameaçada por reforço negativo 190 William M Baum objetivo do controlador também funciona como estímulo discriminativo Sj que determina a ocasião para que o controlador não exerça a punição Não Cp ou para que a termine CT Para o controlado a conseqüência é a não punição Não Sp ou o reforço negativo de terminála S A Figura 91 é parecida com a Figura 71 o diagrama de um episódio verbal O comportamento de ameaça do controlador é semelhante ao comportamento ver bal para ser reforçado exige um ouvinte o controlado Quando duas pessoas reforçam mutuamente seu comportamento como indicado nas Figuras 91 e 71 podemos dizer que elas têm um relacionamento O tema dos relacionamentos será explorado de forma mais geral no Capítulo 11 A Figura 91 mostra as principais características que definem a coerção refor ço positivo para o comportamento do controlador associado ao reforço negativo para o comportamento do controlado Sempre que existir essa assimetria dizse que o controlado é coagido não tem liberdade ou não se sente livre Inúmeras formas de relacionamento podem ser coercivas Pais podem intimi dar um filho com a ameaça de surra ou desaprovação a fim de conseguir obe diência Professores podem am eaçar alunos com notas baixas ou humilhação públi ca Um cônjuge pode coagir o outro com ameaças de escândalo ou de negação de afeto e sexo ao parceiro O patrão pode ameaçar seu empregado com desaprova ção humilhação e perda do emprego Todos esses relacionamentos coercivos podem ser substituídos por relaciona ihentos nãocoercivos O pai pode dar afeto ou presentes quando a criança obede ce O professor pode dar boas notas ou aprovação quando o aluno tem bom desem penho Marido e mulher podem se gratificar mutuamente com afeto compreensão e apoio Patrões podem reforçar o bom desempenho com sinais de aprovação cer tificados distintivos móveis para o escritório e com dinheiro Por que então as pessoas recorrem tão freqüentemente à coerção A razão principal é que em geral a coerção funciona Os que sustentam que a coerção não é eficaz estão enganados pois devidamente treinados os seres hu manos são extraordinariamente sensíveis a possíveis conseqüências aversivas em especial à desaprovação e isolamento social Todas as culturas têm seus tabus e a maior parte dos membros de qualquer grupo cultural aprende a evitar transgres sões sob o risco de desaprovação e de rejeição Mesmo uma ameaça tão rem ota quanto a cadeia já é suficiente para nos manter na linha A minoria que acaba na cadeia geralmente não foi exposta em criança a reforçadores sociais positivos e a regras sobre conseqüências aversivas a longo prazo isto é essas pessoas recebe ram pouco afeto ou pouca aprovação por boas ações e nenhum reforço por seguir regras O problema da coerção são as conseqüências a longo prazo para a pessoa controlada e eventualmente para o controlador Com o passar do tempo famílias ou sociedades que se fiam na coerção como meio de enquadrar seus membros sofrerão desagradáveis efeitos colaterais Os mais relevantes são o ressentimento o ódio e a agressão As pessoas que são controladas por meios aversivos além de se sentirem m e nos livres tendem a ser ressentidas rancorosas e agressivas É provável que a his tória evolutiva tenha muito a ver com isso pois a seleção natural favoreceria indi Compreender o behavtorismo 191 víduos que respondessem agressivamente aos dois maiores instrumentos de coer ção a dor e a ameaça de perda de recursos Um método certeiro de induzir com portamento agressivo em muitas espécies incluindo a nossa é infligir dor Dois ratinhos pacíficos começam a se atacar quase imediatamente após receberem um choque elétrico Assim não deveria ser surpresa para ninguém a tendência à vio lência de presos nas cadeias A ameaça de perda de recursos perda de reforço positivo também induz muitas espécies à agressão inclusive seres humanos Basta que se suspenda a alimentação de um pombo para que ele passe a atacar outro pombo que está por perto A rivalidade entre irmãos pode ser brutal em famílias onde a afeição é escassa Como forma de lidar com as pessoas portanto a coerção é ruim porque torna as pessoas rancorosas agressivas e ressentidas Hm uma palavra tornaas infelizes e o controlado infeliz eventualmente se comportará de forma aversiva para o controlador O desamor eventualmente leva à não cooperação e à revolta A criança foge ou se envolve em comportamentos autodestrutivos O casamento aca ba O empregado rouba a empresa sabota projetos ou se demite O indivíduo que se sente aprisionado em uma relação coerciva demonstra todos os sinais de infeli cidade A pessoa que se sente livre é feliz liberdade e felicidade Ao se falar de liberdade política ou social dizse freqüentemente que liberdade é ter escolhas Para o analista de comportamento ter escolhas não tem nada a ver com livrearbítrio significa apenas que mais de uma ação é possível Consistirá a liberdade social em ter escolhas em ter a possibilidade de votar no candidato que se escolheu ou freqüentar a igreja pela qual se optou Nossa discussão de coerção sugere que a liberdade social consiste não tanto em ter escolhas como em não ser punido por elas Posso optar por integrar um partido político ou um a religião banidos pela lei dizemos que minha liberdade política ou religiosa é restrita pois serei punido As condições sob as quais nos sentimos livres acabam sendo idênticas às con dições sob as quais nos sentimos felizes Trabalhar por salário é bem mais agradá vel do que trabalhar para se livrar do chicote A maioria das pessoas preferiria comprar um bilhete de loteria a pagar impostos para o governo Sentimonos tanto livres quanto felizes quando nos comportamos de uma maneira e não de outra quando integramos um grupo e não outro quando trabalhamos em uma tarefa e não em outra não porque a ação que não escolhemos seria punida mas porque a que escolhemos foi mais positivamente reforçada Evidentemente é raro que uma escolha leve a resultados exclusivamente agra dáveis A maioria das situações sociais são uma mistura de condições Quando alguém diz que se sente amarrado mas feliz no casamento está dizendo que no conjunto o reforço positivo por permanecer na relação supera qualquer controle aversivo coerção nela existente Cidadãos aceitam restrições como ter de licenciar o carro e pagar impostos se no conjunto o comportamento de cidadania for positi vamente reforçado Discutiremos relações e governo mais adiante no Capítulo 11 192 William M Baum Por ora ficamos com a observação de que quanto menos nosso comportamento for modelado por punição e ameaça de punição quanto mais nossas escolhas forem guiadas por reforço positivo tanto mais nos sentiremos livres e felizes Objeções ao ponto de vista comportamental Várias objeções ao ponto de vista do analista comportamental sobre liberdade so cial são levantadas pelos críticos Consideraremos duas que julgamos especialmen te relevantes 1 o ponto de vista não pode ser correto devido à natureza do dese jo 2 essa visão é ingênua A primeira objeção se baseia na idéia de que a liberdade consiste em ser capaz de fazer o que quero No Capítulo 5 tratamos de termos como querer que pare cem se referir ao futuro ou a alguma representação fantasmagórica no presente mostrando que você diz que quer ou deseja alguma coisa quando está inclinado a agir de forma a obter essa coisa Essa coisa é um reforçador e o querer a tendên cia a agir ocorre em um contexto em que houve reforço no passado Uma das primeiras formas de ação verbal que as crianças aprendem é Eu quero X Como mando ela é reforçada com X ou com a oportunidade de agir de forma a conseguir X Raquel diz a sua mãe que quer um doce e sua mãe lhe dá o doce ou lhe diz para pegálo De uma maneira geral uma pessoa diria Eu quero X quando o ouvinte estivesse inclinado a responder de alguma forma digamos com dinheiro ou conselhos Mas prossegue a objeção você pode desejar coisas nunca antes experimenta das Você pode dizer que quer passar férias no Caribe mesmo se nunca tiver ido para lá Como uma história de reforço poderia explicar isso Dois fatores explicam o querer um a coisa nova generalização e regras A probabilidade de dizer que quer algiima coisa só existe se você tiver tido experiên cia com coisas semelhantes Talvez você nunca tenha estado no Caribe mas já esteve em férias e fez outras viagens Você generaliza dentro da categoria férias e viagens de lazer Além disso alguém talvez um amigo ou um comercial de TV lhe fala sobre o Caribe dizendo Vá para o Caribe e divirtase Em outras palavras alguém gera estímulos discriminativos verbais regras que tornam provável que você se comporte com relação ao Caribe da forma como você se comporta em relação a outras férias e viagens de lazer Assim como fazem com a criatividade e a resolução de problemas os analistas de comportamento olham para as histórias de reforço ao invés de postular repre sentações mentais para entender o comportamento de desejo No fim das contas de onde veio esse desejo interior A segunda objeção à explicação behaviorista da liberdade social que é ingê nua advém do ceticismo com relação ao caráter benigno do reforço positivo Poderia parecer que conceder ao controlador os meios para prover reforço positivo seria concederlhe um poder que pode facilmente ser mal empregado Afinal di zem os críticos o poder de dar é também o poder de tirar Da mesma forma que o empregador poderia coagir o empregado com a ameaça de perder sua fonte de Compreender o behoviorismo 193 renda o governo que detenha o poder de reforçar comportamentos com o atendi mento de necessidades vitais poderia coagir os cidadãos pela ameaça de retirálo A resposta a essa objeção requer uma discussão mais cuidadosa da diferença entre reforçadores e punidores Observamos no Capítulo 4 que a diferença às ve zes dá a impressão de ser arbitrária Ficar doente é um punidor ou é permanecer saudável que é reforçador Alimentome adequadamente a fim de evitar doenças reforço negativo ou a fim de permanecer saudável reforço positivo Se eu co mer em demasia e passar mal minha extravagância será punida positivamente pelo malestar ou negativamente pela perda do bemestar As multas por conduta ilegal pareceriam ser um a punição negativa e no entanto as pessoas se compor tam como se a multa fosse uma punição positiva talvez não tão ruim quanto quebrar um braço mas na mesma direção Todas essas questões dizem respeito a normas ou o estado habitual das coisas na vida dos indivíduos Alguém que seja normalmente saudável tomará uma dor de garganta como um evento aversivo enquanto uma pessoa com câncer trocaria de bom grado sua doença pela dor de garganta Os seres humanos têm uma notável capacidade de se adaptar a suas circuns tâncias habituais É por isso que os ricos não são mais felizes que os outros Quando temos dinheiro habituamonos a ele Mesmo que você seja muito rico que esteja acostumado com três casas e dois iates perder um dos iates ainda parecerá um desastre Para quem se adaptou a certo nível de fartura ver sua riqueza diminuir parece ser um evento realmente aversivo Essa adaptação à norm a pode ser entendida como uma condição estabele cedora semelhante à privação e saciedade No Capítulo 4 observamos que a eficá cia dos reforçadores e punidores aumenta e diminui de acordo com as circunstân cias predominantes no passado recente É pouco provável que o alimento seja um reforçador poderoso para uma pessoa bem alimentada Igualmente o comporta mento do rico é menos afetado do que o do pobre pela possibilidade de ganhar ou perder cem reais precisamente como se o rico estivesse relativamente saciado e o pobre relativamente carente A perda monetária uma multa tornase aversiva quando a pessoa se acostumou a ter dinheiro mas para ser eficaz o valor da multa tem de refletir os recursos dessa pessoa Se for muito alto o valor não é realista porque não se pode tirar leite de pedra se for muito baixo não significa nada Assim as multas em geral convergem para o nível em que relativamente aos recursos habituais das pessoas a ameaça de perda aparece a um tempo como rea lista e nãotrivial O controle do comportamento por ameaças de perda do conforto habitual constitui uma coerção igual ao controle por ameaças de tortura É verdade que o poder de dar é também o poder de tirar e que esse poder pode ser mal empregado Quando ele for mal empregado porém as pessoas não se sentirão nem livres nem felizes Reforço positivo significa prover relações de reforço pelas quais o comporta mento socialmente desejável pode levar o indivíduo a uma melhor sina Algumas indústrias norteamericanas estão aprendendo que o caminho para fabricar produ tos de boa qualidade é recompensar os operários por seus esforços nesse sentido O 194 Williom M Baum custo extra é mais do que compensado pelo aumento de qualidade e os trabalha dores ficam mais felizes também Há comunidades que já tentaram gratificar mo toristas por dirigir bem em vez de punilos por transgredir regras Teríamos senti mentos bem diferentes sobre os policiais rodoviários se de vez em quando eles nos parassem e nos dessem uma gratificação por respeitar o limite de velocidade Isso pouparia verbas públicas porque seriam necessários menos guardas e seria consu mido menos tempo nos tribunais e as pessoas talvez ficassem mais predispostas a obedecer o limite de velocidade O reforço positivo entretanto tem um problema ele pode ser mal emprega do Reforçadores pequenos porém conspícuos liberados imediatamente podem ser tão poderosos que as pessoas sacrificarão o bemestar a longo prazo pelo ganho a curto prazo Essa situação pode ser chamada uma armadilha de reforço Armadilhas de reforço e autocontrole Existe um reconhecimento implícito da armadilha presente em uma relação de reforço quando as pessoas falam que alguém é escravo de um hábito Os maus hábitos e particularmente as dependências são difíceis de largar e a pessoa que vivência os desagradáveis efeitos do hábito não parece nem se sente livre Quando Fábio está fumando e parece descontraído podemos dizer que ele simplesmente gostade fumar mas quando ele fica sem cigarro no meio da noite e se mostra à beira de um ataque de nervos somos mais propensos a dizer que ele está preso na armadilha de um mau hábito Dizse que maus hábitos como fum ar e com er em excesso exigiriam autocontrole Essa colocação parece sugerir o controle por um eu em algum lugar interno ou um eu interno controlando o comportamento externo Os analistas comportamentais rejeitam esses pontos de vista por mentalistas Ao invés pergun tam O que é o comportamento que as pessoas chamam de autocontrole5 Autocontrole consiste em fazer uma opção 0 fumante que se abstém de fu mar mostra autocontrole A alternativa que seria ceder ao hábito é agir impulsiva m ente O fum ante se depara com um a escolha entre duas alternativas a impulsividade fumar e o autocontrole absterse A diferença entre os dois é que a impulsividade consiste em se comportar de acordo com o reforço a curto prazo desfrutar o cigarro ao passo que o autocontrole consiste em compòrtarse de acordo com o reforço a longo prazo gozar de boa saúde A Figura 92 ilustra uma armadilha de reforço 0 esquema superior mostra a armadilha em termos gerais Agir impulsivamente C leva a um reforçador peque no porém relativamente imediato SR 0 caráter relativamente imediato do refor ço é simbolizado por uma flecha curta O reforço a curto prazo para o fumar que aparece no esquema inferior está nos efeitos da nicotina e em reforçadores sociais tais como parecer adulto ou requintado O problema do comportamento impulsivo está nos efeitos nocivos a longo prazo simbolizados pelo punidor grande Sp A flecha comprida indica que a punição pela impulsividade é substancialmente retar dada Podem transcorrer meses ou anos antes que o mau hábito cobre seu preço em conseqüências como câncer doença cardíaca e enfisema mostradas no esquema Compreender o behaviorismo i f s c sp SR Fumar cardíaca enfisema Câncer doença nicotina reforçadores sociais Absterse saúde sintomas de abstinência desconforto Figura 92 Uma armadilha de reforço um problema de autocontrole ou um mau hábito Agir impulsivamente C fumar produz reforço a curto prazo nicotina e reforço social e punição grave a longo prazo câncer doença cardíaca e enfisema O emprego de autocontrole CA absterse de fumar produz punição a curto prazo sintomas de abstinên cia e desconforto sociaf e reforço importante a longo prazo saúde inferior como efeitos do fumo a longo prazo 0 tamanho avantajado do símbolo indica que os efeitos nocivos a longo prazo são muito mais significativos do que os reforçadores a curto prazo A alternativa à impulsividade o autocontrole está simbolizada na Figura 92 por CA No esquema inferior ela é indicada como absterse de fumar embora pu desse consistir em alternativas específicas como mascar chiclete Tal como a impulsividade o comportamento de autocontrole leva a conseqüências tanto de curto quanto de longo prazo As conseqüências de curto prazo indicadas pela fle cha curta são punitivas mas relativamente pequenas sintomas de abstinência por exemplo dor de cabeça e possivelmente desconforto social A longo prazo fle cha comprida entretanto o autocontrole leva ao reforço importante SR grande Absterse de fumar reduz o risco de câncer doença cardíaca e enfisema ao fim promove a saúde Nos termos de Rachlin Capítulo 3 afirmar que alguém é fumante é afirmar que essa pessoa fuma com freqüência que o padrão de suas atividades diárias incluem a atividade de fumar Afirmar que alguém se abstém de fumar é afirmar que o padrão de atividades diárias da pessoa exclui o fumar Já que o padrão diário que exclui fumar implica uma imediata punição temporária deixar de fumar pro vavelmente precisará de algum tipo de reforçadores de curto prazo a fim de contra balançar a punição Embora o exfumante eventualmente venha a desfrutar de saúde a longo prazo o intervalo até a saúde de longo prazo e sua natureza progres siva fazem dela um a conseqüência relativamente ineficaz Reforçadores sociais como aprovação de familiares amigos e colegas de trabalho apresentados em vá rios momentos durante o dia quando a pessoa é vista sem fumar aumentam a força do padrão diário de abstenção m Williom M Baum Uma segunda categoria importante de armadilhas de reforço é o adiamento e a procrastinação Quando uma pessoa está com uma cárie pequena e adia a ida ao dentista o desconforto imediato da obturação prevalece sobre a punição maior adiada eventuais dores de dente tratamento de canal perda do dente Nos termos da Figura 92 o adiamento é impulsividade C e ir ao dentista é autocontrole CA O adiamento é reforçado imediatamente pela esquiva do pequeno desconfor to mas é punido ao final pelo grande desconforto Ir ao dentista é punido imedia tamente pelo pequeno desconforto mas é reforçado ao final pela esquiva do gran de desconforto e pela manutenção de dentes em boas condições Um terceiro exemplo comum de armadilhas de reforço é o conflito entre gas tar e economizar De início gastar impulsividade é reforçado imediatamente por pequenas compras Com o passar do tempo economizar autocontrole produz um reforço muito maior como comprar um carro ou saldar a dívida da casa própria 0 comprador compulsivo é aquele que caiu na armadilha do reforço imediato do gastar Vemos o gastar compulsivo como um mau hábito ou mesmo uma dependên cia porque ele é punido ao final pela perda de um reforço significativo As situações que se assemelham às da Figura 92 são chamadas de armadilhas por duas razões Em primeiro lugar a pessoa que se comporta impulsivamente fica presa na armadilha do reforço pequeno e imediato para a impulsividade e da puni ção pequena e imediata para o autocontrole O atraso enfraquece o efeito de qual quer conseqüência Se o efeito está em um futuro longínquo mesmo conseqüên cias tão sérias como m orrer de câncer são subjugadas pelas conseqüências peque nas e imediatas Em segundo lugar o punidor importante para a impulsividade é reconhecido e comentado Em termos mais técnicos a punição a longo prazo fun ciona como estímulo discriminativo para o comportamento verbal inclusive para palavras como armadilha e escravo Antes de todo o debate sobre a conexão entre cigarro e câncer o fumar era visto com maior complacência havia pessoas que o chamavam de mau hábito mas não era nada como hoje em dia O reconhecimento das conseqüências aversivas da impulsividade explica por que as pessoas presas em armadilhas de reforço são infelizes e não se sentem livres A armadilha de reforço se parece com a coerção à medida que a punição longínqua funciona como uma ameaça e o autocontrole é visto como esquiva da ameaça Se a pessoa presa à armadilha ouve alguém até mesmo e possivelmente ela própria falar sobre os perigos a longo prazo de fumar Sft na Figura 91 então o auto controle se torna semelhante à submissão embora evidentemente a punição por não se submeter seja m inistrada pela conexão natural entre o fumar e a doença e não por um controlador Armadilhas de reforço se conformam à lei geral de que as pessoas se sentem presas e infelizes quandoo comportamento que prefeririam em outras situações cria uma ameaça de punição A pessoa que escapa de uma armadi lha de reforço tal como a que escapa da coerção sentese livre e feliz Pergunte a quem já venceu uma dependência Não é por acaso que as conseqüências a longo prazo da Figura 92 se parecem com as conseqüências últimas discutidas no Capítulo 8 e esquematizadas na Figura 82 Muitos dos estímulos discriminativos verbais chamados regras e das relações de reforço imediatas que os acompanham existem precisamente para ajudar as pesso as a se esquivarem de armadilhas de reforço Quando o pai ou a mãe diz a seu filho Compreender o behavionsmo 197 ara recusar drogas ilícitas que lhe sejam oferecidas o objetivo dessa ordem é resguardálo de sofrer a longo prazo as conseqüências da dependência O reforço social próximo por seguir a regra vindo dos pais compensa o reforço relativamen te imediato por usar drogas que arrastaria o filho para a armadilha Vistas por esse ângulo muitas práticas culturais parecem ser esquivas de armadilha Usar sapatos exemplo dado no Capítulo 8 é semelhante ao autocontrole porque toleramos o incômodo imediato de usar sapatos pelo reforço a longo prazo de evitar doenças Sem o suporte cultural sob a forma de regras as pessoas poderiam ficar descalças impulsivamente pela comodidade a curto prazo e sofrer conseqüências terríveis a longo prazo Retornaremos a esse ponto no Capítulo 12 quando considerarmos como o comportamento que produz reforço a longo prazo é rotulado de bom enquanto o comportamento que produz reforço a curto prazo é rotulado de mau e no Capítulo 13 quando virmos como as práticas culturais se desenvolvem em resposta a conseqüências últimas Sem a proteção de regras e da obediência a elas a facilidade com que o con trolado cai em armadilhas de reforço constitui uma tentação para o controlador 0 controlador usa o reforço positivo abusivamente quando dispõe armadilhas de re forço para o controlado Todos nós reprovamos o traficante de drogas que oferece amostras gratuitas para crianças mas o que dizer do governo que estabelece arma dilhas de reforço Certas leis velhacas recorrem a loterias para conseguir mais re ceita sabendo que gente que detesta pagar impostos jogará alegremente na loteria ainda que passe por dificuldades para arcar com esse gasto Um governo que tire proveito de uma fraqueza como essa é um governo explorador Dado que as ques tões envolvidas com esse problema têm mais a ver com gerenciamento do que com liberdade a discussão da exploração aguardará o Capítulo 11 A noção de armadilhas de reforço nos ajuda a entender alguns casos de não conseguir se sentir livre e de se libertar Também nos ajuda a entender outro uso da palavra livre uso que parece ser diferente dos que discutimos até agora liberdade espiritual Uberdade espiritual Ao longo de todas as eras personagens religiosas falam de liberdade espiritual Esse discurso não tem nada a ver com liberdade social como por exemplo a liberdade de poder freqüentar a igreja de sua escolha Ao invés o foco é o mundo os bens munda nos e o conforto mundano Recomendase insistentemente às pessoas que se liber tem da servidão do apego ou da escravidãoaos prazeres mundanos O líder espiri tual indiano Meher Baba 1987 por exemplo ensinou que Uma importante condi ção da liberdade espiritual é a liberdade de todo desejo p 341 Ele continua O homem procura objetos de prazer mundanos e tenta evitar coisas que trazem dor sem se aperceber que não pode ter um e fugir do outro Enquanto houver apego a objetos de prazer mundanos ee terá de abrigar perpetuamente o sofrimento de não os possuir e o sofrimento de perdêlos após os haver conquistado O desapego duradouro liberta de todos os desejos e de todo apego p 391392 198 William M Baum A idéia de libertação do apego a coisas mundanas também tem seu lugar na literatura No romance Sidarta Hermann Hesse 1951 descreve as impressões do protagonista quando viu Buda pela primeira vez 0 Buda continuou quieto seu caminho perdido em pensamentos Sua fisionomia de paz não era feliz nem triste Parecia estar sorrindo para si próprio suavemen te Com um sorriso secreto como o de uma criança saudável ele caminhava sereno e em paz Vestia sua túnica e caminhava a passo exatamente como os outros monges mas seu rosto e seuandar o olhar de paz dirigido para o chão sua tranqüila mão pendente e cada um de seus dedos falavam de paz falavam de integridade não buscavam nada não imitavam nada e refletiam uma calma continua uma luz inapagável uma paz invulnerável p 2728 Não se limita aos livros religiosos essa ligação da liberdade espiritual à fuga dos desejos mundanos No romance Freefall de William Golding 1959 o prota gonista se depara a certa altura montado em sua bicicleta em frente à casa de Beatrice por quem está apaixonado E mesmo quando estava na bicicleta perto do farol já não era mais livre Pois essa parte de Londres tinha o toque de Beatrice Ela via essa ponte rendada e coberta de fuligem a maneira dos ônibus se alçarem sobre seu arco lhe seria familiar Uma dessas ruas seria a dela um quarto numa dessas casas pardas Eu sabia o nome da rua Squadron Street sabia também que a visão do nome numa placa de metal ou numa tabuleta deixaria meu coração de novo apertado tiraria a força das minhas pernas e me cortaria a respiração Coloquei a bicicleta na descida da ponte esperando pelo sinal verde e pelo sinal de virar à esquerda e já sabia que tinha deixado minha liberdade para trás p 79 Aqui de novo o sentido de liberdade é oposto ao sentido de ânsia apego ou desejo Embora Golding não denomine a liberdade de espiritual é evidente que ele a identificaria com a ausência de desejo por Beatrice Prazeres m undanos comida sexo belos carros férias no Caribe são to dos reforçadores Em termos técnicos os escritores precedentes parecem falar so bre alguma coisa que transcende a libertação do controle aversivo parecem falar sobre a libertação que transcende até mesmo o reforço positivo Se a gente pudesse se libertar do controle aversivo e do reforço positivo que controle sobraria Falar de liberdade espiritual supõe necessariamente que as pessoas possam se libertar de todo o controle Os behavioristas conseguem ver algumsentido nesse discurso Uma forma de compreender a liberdade espiritual se torna mais clara quando consideramos não apenas o que é denegrido mas também o que é defendido Se perseguir o prazer mundano é mau então o que é bom As respostas variam mas em geral preconizam valores como a bondade e a simplicidade Ajude os outros mesmo que isso lhe traga problemas Coma para viver em vez de viver para comer Abandone o egoísmo e os excessos De uma perspectiva comportamental prescrições desse tipo mostram conse qüências aversivas postergadas O egoísmo e uma vida luxuosa podem valer a pena Compreender o behaviorismo I 9 a curto prazo mas ao final levam à solidão à doença e ao remorso A longo prazo você será mais feliz se ajudar os outros e levar a vida com moderação Essas rela ções de reforço de longo prazo são precisamente aquelas que têm pouco efeito sobre o comportamento se não houver regras e obediência a elas Faze aos outros o que queres que te façam é uma regra que torna provável que nosso comporta mento social entre em contato com as vantagens a longo prazo de ajudar os outros A bondade e a simplicidade têm um a compensação maior do que simplesmen te evitar a dor elas também têm seu reforço positivo Nós nos beneficiamos de relacionamentos mutuamente proveitosos com outras pessoas a moderação ge ralmente leva a uma saúde melhor e os defensores da liberdade espiritual também apontam recompensas menos tangíveis Isso fica particularmente claro na citação de Hermann Hesse A palavra paz aparece cinco vezes naquela passagem O desapego de Buda significa alcançar se renidade interna tranqüilidade liberação da ansiedade de perseguir objetivos mundanos dar adeus à montanharussa do desespero e da elação Foi Meher Baba quem disse Não se preocupe seja feliz Em termos comportamentais a defesa da liberdade espiritual pode ser vista não como um argumento em prol da libertação de todos os reforços positivos mas antes como um argumento a favor de um conjunto de reforçadores positivos em contraposição a outro Tratase da qualidade de vida Comer para viver e mode ração em tudo não significa abrir mão de alimento sexo roupas ou carros signi fica que esses não deveriam ser os principais ou únicos reforçadores na vida de uma pessoa Esse argumento se assemelha ao raciocínio sobre armadilhas de reforço ilus trado na Figura 92 Os reforçadores mundanos do egoísmo e da autoindulgência que seriam análogos à impulsividade são relativamente imediatos Ao final são sobrepujados por conseqüências últimas aversivas e mais importantes tais como doença solidão e sofrimento Ao contrário o reforço pela bondade e moderação análogo ao autocontrole embora potencialmente grande é ao mesmo tempo relativamente postergado Sob esse prisma a libertação de reforçadores mundanos a curto prazo isto é a liberdade espiritual significa tãosomente fazer uma mu dança ficar sob controle do reforço a longo prazo por uma vida simples e modera da e pelo respeito pelo outro Retornaremos à idéia de comportarse pelo bem dos outros no Capítulo 12 o DESAFIO DO PENSAMENTO TRADICIONAL 0 pensamento tradicional baseado no livrearbítrio é um desafio para o ponto dé vista analíticocomportamental sobre a liberdade Se todo comportamento é deter minado pela hereditariedade e pela história comportamental como então poderá o lxidivíduo ser responsabilizado por seus atos Não seria a ruína da sociedade se não fosse possível atribuir responsabilidade às pessoas Mesmo que o determinismo fosse verdade talvez ainda assim ele devesse ser combatido por ser uma idéia Perniciosa que solapa a democracia e leva inevitavelmente ao autoritarismo Ao fim e ao cabo será que a ciência não nos diz apenas como nos comportamos Não 200 William M Boum continua muda sobre como devemos nos comportar C S Lewis 1960 coloca essa questão de forma especialmente clara em seu livro Mere Chiistianity No universo inteiro há uma coisa e apenas uma que conhecemos melhor do que seria possível a partir da observação externa Essa coisa singular é o Homem Não somente observamos os homens nós somos homens Nesse caso nós temos por assim dizer informação privilegiada nós estamos no saber E por isso sabemos que os homens se encontram sob uma lei moral que não foi formulada por eles que não pode ser por eles inteiramente esquecida mesmo quando o tentam e a que sabem que devem obedecer Observem o seguinte Quem quer que estudasse o Homem olhando de fora como estudamos eletricidade ou repolhos não conhe cendo nossa linguagem e conseqüentemente não sendo capaz de obter nenhum conhecimento interno sobre nós mas meramente observando o que fazemos jamais conseguiria obter a mais tênue prova de que temos essa lei moral Como poderia Pois suas observações só lhe mostrariam o que fazemos e a lei moral diz respeito ao que devemos fazer p 33 O argumento de Lewis é expresso em termos do dualismo aqui dentro lá fora que criticamos nos Capítulos 2 e 3 Tratamos sobre ter regras Lewis escreve sobre ter uma lei moral no Capítulo 8 Mas a objeção permanece o que pode a ciência nos dizer sobre como devemos nos comportar Os capítulos restantes deste livro tratam dessas questões No Capítulo 10 veremos como o determinismo ainda admite a nõçãò de responsabilidade O Capí tulo 11 examina como o pensamento comportamental poderia ajudar a resolver problemas sociais sem ameaçar nossa liberdade No Capítulo 12 avaliamos até que ponto a ciência pode chegar na compreensão do como devemos nos comportar Nos Capítulos 13 e 14 analisamos a cultura e como ela se transforma e como o pensamento comportamental pode expandir ao invés de mutilar a democracia RESUMO O único uso das palavras livre e liberdade que conflita com o pensamento com portamental é aquele que implica o livrearbítrio Outros usos têm mais a ver com sentirse livre e feliz Liberdade social política e religiosa consiste em liberdade de coerção que definimos aqui como liberdade da ameaça de punição Quando algu mas de nossas alternativas comportamentais são punidas não podemos nos sentir livres Mesmo se o comportamento é positivamente reforçado a curto prazo se ele leva a uma punição maior a longo prazo a pessoa que cai nessa armadilha de reforço não pode se sentir livre Quando nosso comportamento é mantido por outro lado por reforço positivo a curto e a longo prazo e escolhemos entre dife rentes reforçadores sentimonos tanto livres como felizes Até mesmo a liberdade espiritual pode ser compreendida em termos comportamentais como quando ve mos que seus defensores encorajam o afastamento do reforço pessoal mundano a curto prazo e a aproximação do reforço a longo prazo proveniente da simplicidade e da solidariedade Compreender o behoviorismo 201 Embora a maior parte dos usos das palavras livre e Uberdade possa ser inter pretada comportamentalmente tais interpretações implicam uma mudança sobre coiuo vemos as pessoas a cultura o governo a justiça a educação e outras institui ções sociais Exceto pelo livrearbítrio os outros tipos de liberdade possuem fun ções sociais úteis Eles indicam o caminho para uma questão mais básica a felicida de Defensores da liberdade social se opõem ao uso de ameaças e punição para controlar o comportamento porque as pessoas que são coagidas são infelizes Os defensores da liberdade espiritual dão força aos efeitos de relações de reforço que produzem uma maior felicidade a longo prazo Quando a sociedade dispõe de re forço positivo para comportamentos desejáveis e apóia relações de reforço de lon go prazo seus cidadãos são produtivos e felizes leituras adicionais Golding W 1959 Free fali Nova York Harcourt Brace and World Romance sobre um jovem artista num período crucial de sua vida explorando a questão da liberdade e da responsabilidade Hesse H 1951 Siddhartha Nova York New Directions Romance sobre a caminhada espiritual de um jovem na índia no tempo de Buda Lewis C S 1960 Mere Christianity Nova York Macmillan Coletânea de artigos desse famoso pensador religioso Lewis apresenta a objeção à visão científica do mundo de forma clara e em termos modernos Meher Baba 1987 Discourses Myrtle Beach SC Sheriar Press 7 ed Coletânea de deba tes sobre questões espirituais por um líder espiritual indiano contemporâneo Sidman M 1989 Coercion and ítsfallout Boston Authors Cooperative Esse livro trata extensamente das desvantagens do controle aversivo e das vantagens de sua substituição pelo reforço positivo Skinner B F 1971 Beyond freedom and dignity Nova York Knopf Nesse livro Skinner expôs a conceituação básica do ponto de vista analíticocomportamental sobre a liberdade O capítulo presente faz uso substancial dos Capítulos 1 e 2 de Skinner TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 9 Armadilha de reforço Impulsividade Autocontrole Uberdade espiritual Coerção Liberdade social Controle aversivo N de T Título traduzido em português ver Apêndice 10 Responsabilidade mérito e culpa E m Beyond freedom and dignity Skinner afirmou que o mentalismo não só interfe re com a busca de explicações científicas do comportamento como também não é prático no sentido de que nos impede de solucionar problemas sociais como a guerra o crime e a pobreza Dois termos mentalistas por ele criticados foram méri to e culpa Skinner discutiu mérito e culpa em conexão com o conceito de dignida de mas em minha experiência as afirmações sobre implicações sociais do beha viorismo giram mais freqüentemente em torno da noção afim de responsabilidade Consideramos que as pessoas têm dignidade quando elas podem ser consideradas responsáveis Neste capítulo enfocaremos o conceito de responsabilidade seus fundamentos filosóficos e suas implicações práticas A RESPONSABILIDADE E AS CAUSAS DO COMPORTAMENTO Em muitos de seus usos a palavra responsável parece ser uma forma de falar sobre causas Quando dizemos A fiação danificada foi responsável pelo incêndio pode ríamos igualmente dizer A fiação danificada causou o incêndio Podem existir também outros fatores mas o que queremos dizer é que a fiação danificada foi o fator crucial Mas o que queremos dizer quando dizemos que Marcus foi responsável pelo incêndio Substituir a fiação danificada por Marcus tem dois tipos de implicações Primeiro há a implicação prática de que Marcus pôs fogo no local tratase de uma ligação potencialmente importante e pode requerer alguma ação de nossa parte Segundo há a implicação de que Marcus causou o incêndio da mesma forma que um a fiação danificada o faria Voltaremos às considerações práticas mais adiante antes precisamos examinar a noção de que uma pessoa pode ser uma causa 204 William M Baum Livrearbítrio e visibilidade do controle A idéia de que uma pessoa possa ser responsável por uma ação no sentido de causar essa ação é baseada na noção de livrearbítrio discutida no Capítulo 1 No modo de pensar mais corriqueiro a diferença entre uma fiação danificada causar um incêndio e Marcus causar um incêndio está em que Marcus escolheu livremente provocar o incêndio A fiação danificada é atribuída a fatores ambientais tais como dilatações e contrações e o clima enquanto a ação de Marcus é atribuída ao pró prio Marcus Embora possa parecer quase senso comum que Marcus e a fiação danificada devessem ser tratados de forma diferente a distinção entre eles tende a desapare cer sob um exame mais atento A fiação funcionava bem logo que foi instalada Ela deteriorou depois de muito tempo muitos invernos muitos verões anos de con trações e expansões No fim ela se desgastou e provocou o incêndio Com Marcus de modo semelhante uma combinação de fatores genéticos e uma história de eventos ambientais sua educação fez com que ele se tornasse danificado e provocasse o incêndio Marcus como a fiação é apenas o instrumento através do qual o incên dio ocorreu Essa maneira de ver a ação de Marcus pode parecer estranha porque estamos acostumados a traçar uma linha divisória entre o comportamento das coisas e das pessoas O comportamento das pessoas parece diferente do comportamento das coisas por duas razões as alternativas dentre as quais uma pessoa pode escolher parecem óbvias e os fatores que determinam a ação escolhida permanecem ocul tos Poucos de nós ateamos fogo em casas parece óbvio que Marcus poderia se comportar exatamente como o restante de nós Mas será isso tão óbvio Muitas vezes desculpamos as ações de uma pessoa dizendo que ela não tinha escolha Imagine que alguém estivesse apontando uma arma para a cabeça de Marcus quando ele ateou o fogo poderíamos dizer que ele não teve escolha Nesse ponto chegamos a uma contradição Se Marcus tinha escolha antes ele tem escolha agora Ele poderia se recusar e arriscar que lhe estourassem a cabeça Ou Marcus tem escolha em ambas as situações isto é quando está com a arma apontada para sua cabeça e quando age por si próprio ou não tem escolha em nenhuma das duas Marcus parece não ter escolha apenas porque o motivo a arma de sua ação é visível Quanto mais viermos a saber das razões que levaram Marcus a atear o fogo menos diremos que ele escolheu livremente Digamos que ele tenha sido violentado quando criança ou que seja piromaníaco Começamos a pensar nele como danificado tanto quanto a fiação e dizemos que ele não poderia ter evitado aquela ação A tentação de recorrer ao livrearbítrio surge porque não podemos ver nada de errado em Marcus do mesmo modo como podemos ver em um fio desgastado Se não há uma causa clara e atual como uma arma apontada para a cabeça de Marcus então temos de olhar para eventos no passado Esses no entanto podem Compreender o behovíorismo 205 ser difíceis de descobrir Recorrer ao livrearbítrio é uma saída fácil mas não é de forma nenhuma um a explicação do ponto de vista científico Atribuição de mérito e culpa Quando a responsabilidade é ligada ao livrearbítrio e à idéia de que as pessoas causam seu próprio comportamento então parece simplesmente natural atribuir mérito e culpa às pessoas pelas ações que aprovamos ou desaprovamos Mérito e culpa são outra maneira de falar em causas mas com o elemento adicional da aprovação e desaprovação Ações louváveis são reforçadas ações censuráveis são punidas Discutiremos ações boas e más mais à frente no Capítulo 12 mas para a presente discussão é suficiente notarmos que as pessoas procuram o mérito e evitam a culpa As pessoas inventam os mais variados tipos de desculpa quando são pilhadas em um ato vergonhoso desde Foi o diabo que me fez fazer isso até minha infân cia infeliz O objetivo é atribuir a culpa a alguma outra coisa em outras palavras colocar as causas do comportamento no ambiente Advogados de defesa pedem compaixão Convencem juizes a considerar circunstâncias atenuantes na vida de pessoas condenadas aos mais diferentes tipos de crime Do ponto de vista comporta mental circunstâncias atenuantes significam fatores ambientais e com paixão significa levar em conta esses fatores ambientais Em contraste quando se atribui mérito às pessoas por algum feito digno de elogio elas muitas vezes resistem a qualquer sugestão de que fatores ambientais possam ter contribuído de alguma forma Empresários bemsucedidos freqüente mente atribuem suas realizações a trabalho árduo e sacrifício e raramente à sorte Artistas escritores compositores e dentistas muitas vezes evitam ou se ressentem com questões sobre as fontes de suas idéias Ninguém quer falar sobre as circuns tâncias atenuantes de suas ações meritórias a menos que a modéstia seja tida como um a virtude maior do que a ação meritória Se estamos dispostos a atribuir ao ambiente a culpa por ações passíveis de punição então por que resistir em atribuir ao ambiente o mérito por ações passí veis de reforço As razões para isso não são difíceis de localizar Atribuir culpa ao ambiente é um comportamento operante principalmente verbal É reforçado por evitar punição Nós nos livramos de situações difíceis jogando a culpa em fatores ambientais As pessoas resistem em atribuir mérito ao ambiente porque isso teria um efeito análogo porém com perda de mérito em vez de perda de culpa O com portam ento de atribuir mérito ao ambiente seria punido pela perda de reforço Enquanto se mantiver a prática de associar reforço à atribuição de mérito as pesso as tenderão a esconder os fatores ambientais aos quais poderia ser atribuído méri to Se ao invés o reforço por ações adequadas fosse dispensado sem que fosse necessário fingir que as ações tiveram uma origem inteiramente interna as pessoas se sentiriam mais livres para reconhecer os fatores ambientais como fez ísaac Newton quando disse Se vi tão longe é porque me apoiei nos ombros de gigan 206 William M Baum tes Se desvincular a punição da culpa pessoal resulta em compaixão desvincular reforço de mérito pessoal resulta em honestidade Compaixão e controle No passado a idéia de que as pessoas escolhem de acordo com o livrearbítrio era freqüentemente atrelada ao uso de punição visando persuadir as pessoas a evitar ações inadequadas Cortavamse as mãos de ladrões enforcamentos públicos eram comuns Nos Estados Unidos hoje esse tipo de idéias e práticas está cedendo lugar a um tratamento mais humano do comportamento inadequado A noção de que po dem existir circunstâncias atenuantes permite ir além da responsabilização e puni ção de criminosos Ela permite aos juizes maior flexibilidade na decisão das penas O adolescente que rouba um carro para impressionar seus amigos pode receber um tratamento diferente do adulto que fez de roubar carros uma profissão De um ponto de vista prático o comportamento criminoso levanta dois tipos de questão 1 Podese modificar o comportamento 2 Se a resposta é sim o que deve ser feito para modificálo Se a resposta à primeira pergunta for não então a segunda pergunta passa a ser sobre como proteger o resto da sociedade de um criminoso incorrigível Quando nos concentramos em como modificar o compor tamento levantamos questões práticas por exemplo sobre a utilidade de prender o malfeitor o benefício que poderia lhe trazer um treinamento profissional ou a ajuda que poderia advir de um aconselhamento psicológico Quanto mais reconhe cermos que o comportamento está sob controle dos genes e da história ambiental mais nos sentiremos livres para sermos compassivos e práticos em relação à corre ção de malfeitores Há muita controvérsia acerca de infligir a pena de morte nos casos de crimes hediondos A execução não pode reduzir a probabilidade do comportamento recor rente porque nenhum outro comportamento ocorrerá Seus defensores geralmen te a consideram um impeditivo para outros delinqüentes em potencial Alguns es tados dos EUA substituíram a pena de morte pela prisão perpétua mas depois de algum tempo a taxa de homicídios não mostrou mudanças Até agora não há evidências que apóiem a idéia de que a pena de morte age como um impeditivo Enquanto não haja evidências nesse sentido e considerando que às vezes podemos executar pessoas inocentes a oposição à pena de morte parece bem fundamenta da Contraargumentos são possíveis no entanto porque a prisão perpétua não serve a outra função senão a de m anter essa pessoa fora das ruas e manter alguém na prisão é altamente custoso aos contribuintes O debate continuará mas poderia ser considerado em termos mais práticos do que as noções errôneas que as pessoas têm sobre escolhas livres e retribuição Se é melhor ser prático em relação ao comportamento inadequado o mesmo deve ser verdade em relação ao comportamento adequado As vantagens de ser prático em relação ao comportamento adequado vêm sendo compreendidas mais devagar principalmente porque as pessoas recebem louvor por ações adequadas apenas enquanto as razões da virtude permanecem obscuras Quando vimos a sa Compreender o behoviorismo 207 ber que um filantropo ganha desconto no imposto de renda damos a ele menos crédito pela doação Se as pessoas fossem recompensadas por obedecer o limite de velocidade em vez de serem multadas por desobedecerlhe os que obedecem não poderiam mais se sentir virtuosos e superiores àqueles que desobedecem Pessoas que se apegam ao mérito freqüentemente chamam de suborno o uso de recompensas com o objetivo de fortalecer comportamentos desejáveis como se houvesse algo de ignóbil em agir corretamente por razões claras Em 1991 a apresentadora Oprah Winfrey promoveu uma discussão em seu programa de TV sobre um projeto social altam ente eficiente dirigido a jovens adolescentes objetivando a prevenção da gravidez e a conclusão do ensino médio Tratavase de uma entidade privada que estava ajudando adolescentes que já tinham engravidado uma vez pagando a elas semanalmente uma pequena quantia em dinheiro desde que permanecessem na escola não engravidassem e freqüentassem aulas especiais sobre nutrição e cuidados infantis Muitos membros da audiência protestaram con tra o programa com argumentos como Eu não posso concordar em pagar para as pessoas fazerem o que não é mais do que sua obrigação Ironicamente objeções como essas surgiram apesar do programa ter economizado consideráveis recursos dos contribuintes A m aior parte das mães adolescentes nunca termina o ensino médio e precisa receber pensão da previdência social para sobreviver Freqüente mente elas têm um filho atrás do outro e continuam na folha de pagamento da previdência As participantes do programa entretanto que tinham estado todas no programa do governo agora já não tinham mais filhos estavam terminando a escola e estavam se libertando da dependência da assistência social Mesmo se o programa estivesse utilizando fundos federais e não estava ele ainda assim esta ria representando um a economia porque seu custo era irrisório em relação aos gastos com as pensões do governo Insistir que as pessoas deveriam agir adequada mente por razões delas próprias isto é por razões obscuras e chamar o reforço de suborno apenas bloqueiam o uso do reforço para fortalecer o comportamento desejável e poupar o dinheiro de quem paga impostos A reação daquela audiência mostra como tem sido muito mais lenta a aceita ção da idéia de abrir mão do mérito pessoal em favor do reforço programado Ao decidir se deveriam punir o comportamento das meninas essas mesmas pessoas teriam provavelmente falado de compaixão e circunstâncias atenuantes No en tanto no momento de decidir sobre a conveniência de reforçar comportamentos corretos os participantes do debate nunca levaram em consideração circunstâncias atenuantes O program a procurava atingir jovens adolescentes que já tinham fi lhos uma população de risco Muito embora algumas mulheres no auditório fos sem mães solteiras que bem poderiam ter trazido à baila os fatores ambientais o destino provável das meninas se nada fosse feito não foi capaz de promover a aceitação do reforço Para que as decisões sobre política social tornemse mais viá veis temos de considerar os efeitos ambientais tanto nas decisões sobre o reforço quanto sobre a punição N de T Esse exemplo não se refere ao Brasil 208 William M Baum A RESPONSABILIDADE E AS CONSEQÜÊNCIAS DO COMPORTAMENTO Na prática a responsabilidade se resume a uma decisão acerca de impor ou não impor conseqüências Ao tentar decidir se punirão um crime as pessoas podem falar em justiça e moralidade mas ao final a decisão se resume a aplicar ou não uma punição e em que grau fazêlo Como analista comportamental minha ten dência é olhar para esse final o resultado prático Se meu filho quebra uma janela minha decisão sobre punilo ou não depende mais do que espero obter com a puni ção do que de considerações sobre justiça Será que reduzirei a probabilidade de uma repetição ou vou apenas deixálo ressentido A situação pode ser particular mente complicada se ele confessou a infração devo punir para evitar a repetição ou reforçar para fortalecer o dizer a verdade Se você declara que considera Marcus responsável por uma ação quebrar uma janela ou salvar sua vida isso me diz mais acerca de seu comportamento do que sobre o comportamento de Marcus Diz que você está inclinado a estabelecer conseqüências a punir ou reforçar o comportamento de Marcus Se você acredita em livrearbítrio isso apenas reflete um pouco mais as suas tendências você pro vavelmente tem mais propensão a punir do que a reforçar Sua tendência a se comportar dessa forma entretanto pode não ter nada a ver com a crença no livre arbítrio Que não é necessário acreditar em livrearbítrio tornase evidente quando examinamos o modo pelo qual as pessoas usam a palavra responsabilidade à qual nos voltamos agora 0 que é responsabilidade O filósofo Gilbert Ryle argumentou que decidir se um ato é responsável assemelha se a decidir se ele é inteligente Como vimos no Capítulo 3 nenhum critério isolado governa a decisão sobre a inteligência de uma determinada ação procuramos gru pos ou padrões de atividade em que a ação particular se encaixe Uma pessoa faz um lance brilhante em um jogo de xadrez o lance foi inteligente ou foi produto da boa sorte Uma pessoa rouba dinheiro do patrão o roubo foi parte de um padrão de atividade desonesta e criminosa ou foi uma aberração Defender uma ação com o argumento de insanidade temporária tem duas implicações Primeiro implica que o ato não foi característico Chamamse teste munhas para depor que o homem que espancou sua nam orada em um acesso de ira não é de natureza violenta é carinhoso com animais e crianças ajuda pessoas idosas a atravessar a rua e jamais levanta a voz No exemplo em que Marcus provo ca o incêndio perguntamos se ele tem sido sempre um bom cidadão ou se já se envolveu em outros atos antisociais Segundo a insanidade temporária significa que punir o ato seria inútil se é pouco provável que o comportamento jamais se repita não há motivo para impedilo Se provocar incêndios não combina em nada com as características de Marcus então não precisamos ter medo de que a trans gressão se repita Compreender o behaviorismo 209 A noção de responsabilidade tem muito em comum com as noções de inten ção e ação intencional discutidas no Capítulo 5 Quando determinada ação é parte de um padrão e seu reforço é óbvio tendemos a dizer que foi feito intencionalmen te e que o indivíduo deveria ser responsabilizado por ele Em uma abordagem prática da transgressão o problema é o reforço O caixa de banco é tentado a furtar por causa do dinheiro Os gerentes de banco normalmente tentam impedir esse tipo de comportamento ameaçando punilo e efetivamente levando a cabo a puni ção caso ele ocorra A am eaça e a punição visam eliminar a tentação e o reforço Responsabilizamos a pessoa no sentido de que fazemos a ameaça e punimos o comportamento caso ele ocorra Embora seja comum falar sobre responsabilidade no contexto de atos repreen síveis o raciocínio pode ser estendido também a atos meritórios A questão quanto a ações desejáveis é se devemos reforçálas ou não Se uma criança faz sua lição de casa regularmente talvez não seja necessário fornecer nenhum reforço especial mas se a lição de casa é feita irregularmente e apenas com cobranças então pode ser essencial reforçar a execução da tarefa com elogios e presentes especiais Isso é errado E suborno Se há boas razões reforçadores a longo prazo para o compor tamento então o reforço especial deveria ser necessário apenas para instalar o comportamento Depois que a lição de casa for feita regularmente os reforçadores especiais podem ser gradualm ente eliminados Uma política desse tipo justificaria programas como aquele que paga para mães evitarem a gravidez e permanecerem na escola depois que a m ulher se formar e for capaz de se sustentar como normal mente esperaríamos a pensão pode ser suspensa A pensão é claro deve ser pe quena em comparação ao reforço por se autosustentar Quando alguém se comporta de forma responsável essa pessoa está se com portando de uma form a que a sociedade julga útil Habitualmente isso significa comportarse de acordo com relações de reforço de longo prazo nos termos do Capítulo 9 esse uso de responsável coincide com autocontrole CA na Figura 92 Se Maria guarda suas economias em vez de esbanjálas ela está se comportando de forma responsável Igualmente se Maria permanece na escola de acordo com o reforço a longo prazo em vez de abandonála de acordo com o reforço a curto prazo ela estará se com portando de forma responsável O comportamento responsável necessita ser mantido Se o reforço a longo prazo por permanecer na escola CA é insuficiente para manter o comportamento e se essa permanência é desejável então as instituições privadas ou públicas têm de oferecer reforço de curto prazo explícito para a permanência suficiente para contrabalançar o reforço a curto prazo por abandonar a escola Q na Figura 92 E por isso que o pagam ento a mães adolescentes por permanecer na escola talvez seja ao mesmo tempo prático e necessário Do ponto de vista comportamental falar sobre responsabilidade é discutir se é desejável ou útil estabelecer conseqüências Dizer que consideramos uma pessoa responsável é dizer que esperamos mudar seu comportamento punindoo ou refor çandoo As relações de reforço que o mantém ou deveriam mantêlo são claras e desejamos contrabalançálas ou aumentálas Dizer que Marcus não deveria ser considerado responsável é dizer que ele c incorrigível possivelmente insano ou 210 William M Baum que a ação nunca acontecerá novamente foi uma aberração envolvendo sorte oq j azar Em qualquer dos casos seria inútil punir ou reforçar o comportamento Di zer que consideramos Marcus responsável ou que desejamos tornálo responsável 4 dizer que seria útil punir seu comportamento inadequado ou reforçar seu compor tam ento adequado Os analistas de comportamento norm alm ente recomendam fortalecer 0 comportamento desejável com reforço positivo Considerações práticas a necessidade de controle Pessoas que prezam a liberdade opõemse ao gerenciamento por coerção porque reconhecem que a coerção resulta a longo prazo em infelicidade e em revolta Muitas pessoas que se opõem à coerção generalizam e afirmam se opor a qualquer forma de controle Baseiam sua posição na idéia de que as pessoas deveriam ter 0 direito de escolher livremente Na perspectiva comportamental não existe nada semelhante a escolher livre f mente no sentido de exercer livrearbítrio ou escolher sem explicação No Capítulo í 9 discutimos o escolher livremente no sentido de escolher com base em reforço positivo condição na qual as pessoas tendem a se sentir livres e felizes E como na perspectiva comportamental todas as ações são controladas isto é são explicá veis pela herança genética e pela história ambiental a questão de fugir ao contro le não se coloca O pai ou 0 administrador que se recusa a controlar o comporta mento de filhos ou de empregados apenas deixa o controle para outros e para 0 í acaso O controle ocorrerá mas vindo de outras crianças outros empregados e í pessoas estranhas sabese lá com que resultados Pais e administradores que se recusam a controlar podem ser chamados de irresponsáveis no sentido em que í responsável denota comportarse de acordo com relações de reforço de longo pra zo O tratamento responsável da administração e dos problemas sociais em geral í consiste em planejar e criar ambientes em que as pessoas se comportarão bem i Essa idéia coloca duas grandes questões que serão tratadas no restante do livro quem controlará Como o controle será executado Estabelecer consequências Gostemos ou não reconheçamos ou não estamos constantemente reforçando e punindo o comportamento uns dos outros Provavelmente a maioria das vezes não j estamos conscientes das conseqüências que dispensamos para o comportamento r alheio Uma frase que digo sem pensar pode arrasálo ou animálo embora eu não fique sabendo nada do resultado Pessoas em posição administrativa entretanto pais professores supervisores ou governantes têm de estar conscientes das con seqüências que provêem é parte de sua função Para captar o sentido dessa admn nistração deliberada de conseqüências podemos usar a palavra estabelecer e falai em estabelecer reforço e punição 1 Estabelecer conseqüências uma parte da atividade gerencial é em si mes mo comportamento operante e está sob controle de relações de reforço de longQ Compreender o behoviorismo 2 1 prazo Educar filhos adequadamente determina o êxito das crianças na vida adul ta Paatento reconhece os sinais de realização última de uma criança desem penho na escola amigos esporte e se comporta de modo a produzilos Da mes ma forma uma supervisão adequada determina a rentabilidade de um negócio 0 comportamento do administrador competente está sob controle de sinais que pre dizem um bom resultado final reforçadores condicionados tais como registros de freqüência relatórios de controle de qualidade e vendas Muitos dos reforçadores e punidores que controlam o comportamento do ge renciador freqüência notas escolares e assim por diante provêm daqueles que estão sendo controlados Esse fato deveria ser significativo para todos que prezam a liberdade porque abre a porta para o reconhecimento e planejamento explícito do controle mútuo não apenas em administração mas em todas as relações huma nas Consideraremos a questão do controle mútuo no próximo capítulo Por en quanto passamos à questão de como controlar Que tipo de controle Vimos no Capítulo 9 que os analistas comportamentais defendem o uso de reforço positivo em vez de métodos aversivos Quando o comportamento é controlado por punição e ameaças as pessoas dizem se sentir aprisionadas infelizes ressentidas e muito provavelmente reclamam esquivamse e revoltamse A coerção é um méto do insatisfatório de controle porque habitualmente a longo prazo o tiro sai pela culatra Embora ela possa ser eficiente a curto prazo mais cedo ou mais tarde seus resultados são superados por seus deploráveis efeitos colaterais Quando o comportam ento está sob controle de um reforço positivo adequa do as pessoas dizem que se sentem livres felizes e respeitadas Sentemse livres porque não são punidas por suas escolhas felizes porque suas escolhas resultam em coisas boas e respeitadas porque os reforçadores contam a favor de seu mérito Todavia dizer reforço positivo adequado implica algo importante Tal como o gerenciamento por coerção o gerenciamento por reforço positivo pode retroagir negativamente Quando isso ocorre há geralmente duas razões má combinação de comportam ento e reforçador e desconsideração da história Discu timos brevemente a idéia dessa má combinação no Capítulo 4 quando observamos que os reforçadores freqüentemente induzem certos tipos de comportamento e são também particularmente eficientes em reforçálos O comportamento de bicar o disco em pombos é um bom exemplo pombos tendem a bicar especialmente objetos brilhantes em situações em que provavelmente obterão alimento e se as bicadas em um disco forem reforçadas com comida essa resposta é instalada com muita rapidez Igualmente quando uma criança interage com a mãe ou o pai Manifestações de afeto tocar sorrir elogiar tornamse reforçadores poderosos que rapidamente fortalecem o comportamento que os produz Outros reforçadores tais como dinheiro e presentes podem funcionar mas não tão bem sem afeto eles Podem ao final não dar certo A não ser que pais professores e outras pessoas que cuidam da criança dêem o suporte do afeto ao reforço por símbolos por exemplo fichas que podem ser trocadas por coisas e privilégios concedidos para reforçar 212 William M Baum comportamentos adequados esse tipo de gerenciamento de conseqüências prova velmente não produzirá efeito Ao lidar com adultos um fator importante no gerenciamento é a afiliação É visível que as pessoas trabalham melhor quando participam de grupos de tamanho médio nos quais são membros estáveis Com o correr do tempo as reiteradas interações com as mesmas pessoas tendem a tornálas uma poderosa fonte de re forço social Os japoneses há muito tempo usam o poder da afiliação em seu gerenciamento industrial e a indústria norteamericana está começando a seguir o exemplo complementando ou substituindo o isolamento da linha de montagem por círculos de qualidade isto é grupos que trabalham como uma unidade fabri cando um produto do início ao fim Como para crianças o reforço monetário para adultos funciona melhor se estiver sustentado por reforço social A segunda razão de insucesso a desconsideração da história pode ser entendi da por analogia ao momentum em física Tentar alterar um comportamento que foi modelado por uma longa história de poderoso reforço superpondo uma nova rela ção de reforço artificial pode ser análogo a tentar desviar a rota de um ônibus em alta velocidade atingindoo com uma bola de borracha Parte da competência do bom terapeuta é reconhecer as relações de reforço antigas e potentes Nesse ponto os psicanalistas estão certos para compreender o comportamento do adulto você tem de olhar muitas vezes para os eventos da infância Por exemplo se uma mu lher tem um comportamento inadequado com homens um terapeuta compor tamental hábil procurará descobrir se seu pai era carinhoso que tipo de comporta mento ele reforçava com afeto e que tipo de comportamento sua mãe tinha com seu pai A melhor m aneira de prevenir o furto é prover uma história de reforço para o comportamento que chamamos de respeito pela propriedade alheia ou com portamento incompatível com roubar O caixa de banco que desvia fundos muito provavelmente não possui tal história e seria preferível se o gerente do banco que faz ameaças ou emprega pequenos incentivos esperando evitar que isso volte a acontecer afastasse a pessoa da tentação As intervenções que ignoram a história de reforço do comportamento atual muito provavelmente serão malsucedidas O reforço positivo pode ser o meio mais poderoso de modificar o comporta mento mas deve ser aplicado corretamente Um entusiasmo ingênuo não pode substituir a compreensão de indução reforço regras e conseqüências postergadas Sem a devida compreensão o reforço positivo como qualquer outra técnica pode dar errado de diversas maneiras e pode mesmo ser usado abusivamente No Capf tulo 11 veremos como os analistas de comportamento lidam com o problema do gerenciamento correto e eqüitativo RESUMO A palavra responsável é freqüentemente usada no discurso sobre causas como quan do dizemos que um terrem oto foi responsável por um desastre Quando aplicado a pessoas esse uso suscita todos os problemas do livrearbítrio porque as pessoas são vistas como origem ou causa de seus comportamentos As pessoas são vistas como causa de seu próprio comportamento quando suas escolhas parecem óbvias e Compreender o behoviorismo 213 aS causas ambientais permanecem obscuras Quando os fatores ambientais tor namse claros freqüentemente se diz que a pessoa não tinha escolha À medida que os determinantes genéticos e ambientais são compreendidos o discurso sobre livrearbítrio e responsabilidade tende a dar lugar ao discurso sobre circunstâncias atenuantes Do ponto de vista prático as ações meritórias são aquelas que a comunidade reforça ações condenáveis são aquelas que a comunidade pune As ações condená veis são freqüentemente atribuídas a fatores genéticos e ambientais circunstân cias atenuantes e tratadas com compaixão enquanto feitos meritórios são nor malmente atribuídos à pessoa As pessoas tentam obter crédito por suas ações para assegurar que sejam reforçadas Reconhecer os efeitos do ambiente em ações meri tórias resulta em honestidade Se podemos ser práticos e compassivos quanto a punir comportamentos inadequados podemos ser práticos e honestos quanto a reforçar comportamentos desejáveis Na prática decidir se alguém é ou não é res ponsável vem a ser uma decisão sobre estabelecer ou não conseqüências O apelo à insanidade temporária ou a uma aberração do comportamento implica que ne nhum benefício prático advirá da punição Chamar uma ação de afortunada su põe a inutilidade do uso do reforço Pais professores supervisores e governantes gerenciariam o comportamento com maior eficiência se tomassem decisões sobre reforço e punição abertamente Sua eficiência seria máxima se fortalecessem o comportamento desejável com reforço positivo Controle por ameaças e punição pode funcionar a curto prazo mas resulta em revoltas e desafeto a longo prazo Gerenciamento por reforço positivo entretanto requer cuidado e habilidade Não se consegue um bom resultado quando o reforço é inadequado e a história é negligenciada Em nossa espécie o reforço adequado ao gerenciamento é pelo menos em parte social Dinheiro e outros símbolos de reforçadores parecem ser mais eficazes quando acompanhados pelo reforço da aprovação e do afeto de pes soas significativas O menosprezo da história leva a maus resultados quando se presume uma história normal que na realidade não existe Uma história de refor ço deficiente ou anormal pode se sobrepor até mesmo às melhores relações de reforço de gerenciamento A correção dos efeitos de uma longa história exige tera pia até que eles sejam corrigidos o gerenciador age corretamente ao evitar con textos em que a história tem probabilidade de gerar comportamento inadequado leituras adicionais Hineline P N 1990 The origins of environmentbased psychological theory Journal ofthe Experimental Analysis of Behavior 53 305320 Esse artigo que é uma resenha do livro clássico de Skinner Behavior of organisms compara explicações do comportamento basea das no ambiente com explicações baseadas no organismo Skinner B F 1971 Beyond freedom and digmty Nova York Knopf Os Capítulos 3 4 e 5 sobre dignidade punição e alternativas à punição tratam de temas semelhantes àqueles tratados no presente capítulo N de T Título traduzido em português ver Apêndice 214 William M Baum TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 10 Afiliação Circunstâncias atenuantes Estabelecimento de conseqüências Má combinação de comportamento e reforçador Responsabilidade Relações gerenciamento e governo c Ueres humanos são criaturas altamente sociais Muito de nossa estimulação reforço e punição provêm uns dos outros O dar e receber estímulos e conseqüências nos leva a estabelecer relacionamentos uns com os outros Consideramos natural que uma pessoa normal se relacione com seus pais irmãos outros parentes cônjuge amigos e vizinhos Tais relações pessoais são características de nossa espécie e também podem ser vistas em outras espécies As relações especiais que denominamos gerenciamento e governo originaramse mais recentemente e nós as associamos exclusivamente com a cultura Neste capítulo examinaremos como os analistas comportamentais podem tratar do tópico relativo às relações em geral e em especial àquelas de gerenciamento e governo Pessoas que criticam o behaviorismo fre qüentemente afirmam que essa abordagem levará a práticas desumanas de geren ciamento e a governos totalitários Este capítulo mostra por que essas acusações são falsas RELAÇÕES Quando dizemos que dois indivíduos têm uma relação Encontros isolados a gran des intervalos de tempo não bastam Se o carteiro e eu nos cumprimentamos uma vez por mês dificilmente se poderá dizer que temos uma relação mas se nos cum primentássemos diariamente já poderia haver algum fundamento para essa afir mação Embora a freqüência de interações necessária para dizer que duas pessoas têm um relacionamento varie de falante a falante quanto maior ela for maior será a probabilidade desse tipo de comportamento verbal Se uma relação consiste em interações freqüentemente repetidas ainda pre cisamos esclarecer o que queremos dizer com interação As Figuras 7J e 91 mos 216 William M Baum tram sob forma esquemática dois tipos de interação um episódio verbal e episódio coercivo Tais episódios poderiam nunca se repetir eu poderia perguntar as horas a alguém que jamais voltasse a ver assim como poderia entregar minha I carteira a um ladrão com quem jamais me encontrasse de novo Quando tais episó j dios contudo se repetem continuamente entre duas pessoas então essas duas pessoas têm uma relação Para entender o que interação significa em termos compor tamentais precisamos entender um a característica que episódios verbais episódios í coercivos e outras formas de interação têm em comum o reforço mútuo Reforço mútuo Classificamos episódios verbais e episódios coercivos como sociais porque o com portamento de cada pessoa provê reforço para o da outra Quando uma pessoa observa outra um detetive em uma investigação policial ou um espião nada de v social ocorre porque o reforço ocorre somente em um a única direção Uma repre í sentação teatral normalmente não pode ser considerada social ela só se torna so ciai quando o comportamento do ator é reforçado pela audiência Para um episódio ser denominado interação social e ser considerado como base de um relacionamen to o reforço deve ser mútuo A Figura 111 mostra um esquema genérico de interação social Assim como em esquemas anteriores o sinal de doispontos indica controle de estímulo e a seta liga a conseqüência ao comportamento que a produz Uma pessoa inicia o episódio emitindo um comportamento operante qualquer C sob controle da situação Sft que inclui a outra pessoa o interlocutor ou aquele que responde O comportamen to Cj poderia ser o enunciar de uma regra fazer um a ameaça ou promessa como por exemplo Se você não trabalhar vou bater em você ou Se você trabalhar eu lhe pago poderia ser sorrir ou oferecer um presente Esse comportamento pro duz um estímulo discriminativo S r tornando provável que o interlocutor respon Agente que inicia Si C SÏ SP2 C12 i î I Agente que responde 1 1 1 Sr C r Sr Srí Cm Figura 111 Esquema genérico de um episódio social mostrando reforço mútuo Setas indicam comportamentos que produzem conseqüências doispontos indicam controle de estímulo O comporta mento da pessoa que inicia a interação C produz um reforço S que é o resultado do comportamento da pessoa que responde CR o qual por sua vez produz reforço S que resulta do comportamento da pessoa que iniciou a interação Cl2 Quando 1ais episódios se repetem freqüentemente dizse que as duas pessoas m a n tê m uma relação Compreender o behaviorismo 217 da ou aja também trabalhe sorria dê um presente de tal forma que Q seja refor çado Sf Esse reforçador funciona também como um estímulo discriminativo S para comportamentos adicionais por parte da pessoa que iniciou a interação C12 que por sua vez atuarão como reforçadores Sr para o comportamento do interlocutor CR No momento em que os dois participantes agiram e suas ações foram reforça das o episódio pode terminar Isso poderia ser denominado de episódio social mí nimo Entretanto o episódio poderia continuar tal como quando duas pessoas man têm uma conversa Na Figura 111 quando a pessoa que iniciou a interação res ponde ao S2 fornecido pelo comportamento do interlocutor poderseia dizer que eles trocaram de papéis Esses papéis poderiam ser trocados novamente Essa pos sibilidade é indicada na Figura 111 pela anotação entre colchetes que mostra que Sr poderia servir como estímulo discriminativo S para comportamentos ulterio res Cj Os papéis poderiam ser trocados e revertidos um sem número de vezes até que ocorresse algum tipo de pausa na interação As vezes uma interação pode parecer interminável para uma das partes como quando o interlocutor é uma pes soa cortês e a outra pessoa é por exemplo um vendedor persistente ou um reli gioso fanático Examinemos alguns exemplos Pedro trabalha em uma grande firma atacadis ta que vende lentes para fabricantes de óculos Ana é sua supervisora A chegada de vários pedidos de compra pelo correio S ocasiona uma interação entre eles Ana passa para Pedro um a pilha de pedidos para que ele os atenda Q A pilha de pedidos estabelece o contexto S para Pedro começar a trabalhar procurando em várias gavetas CR os vários tipos de lentes A visão de Pedro trabalhando reforça S o comportamento original de Ana dar ordens a Pedro e também serve como estímulo discriminativo S para que ela diga algo como Muito bem ou talvez apenas para que deixe de fazer uma crítica qualquer um dos dois constituiria C12 o que por sua vez serve para reforçar S o trabalhar de Pedro Ao término do mês é claro em outro episódio interativo o Muito bem de Ana é acompanhado por um cheque Em um segundo exemplo temos um casal Rubens e Kátia Durante a semana Kátia sai para o trabalho às 730 horas S Ela pára na porta antes de sair e diz Já estou saindo C o que produz o som Já estou saindo que Rubens ouve SR e que o leva a dizer CR Tenha um bom dia eu a vejo à noite enquanto a beija O comportamento afetuoso de Rubens serve para reforçar S1 a frase original de Kátia e também estabelece o contexto Sfè para que ela por sua vez diga algo como Pra você também CI2 Ouvir a resposta afetuosa de Kátia reforça Sft o comportamento afetuoso de Rubens Quando episódios sociais como esses ocorrem com freqüência entre as mes mas pessoas dizemos que essas pessoas têm uma relação Em certas relações bas tante restritas as ações e os reforçadores podem ser sempre os mesmos Se Bei compra o jornal sempre do mesmo jornaleiro todas as manhãs podese dizer que Bei e o vendedor têm uma relação Em outras relações as ações e os reforçadores envolvidos variam enormemente Marido e mulher podem cozinhar um para o utro fazer compras juntos discutir a educaçêo dos filhos namorar manter rela 218 William M Baum ções sexuais Tudo isso pode ser esquematizado como na Figura 111 mas as ações e reforçadores específicos diferem de uma interação para outra Podemos distinguir um a relação de igualdade entre dois parceiros de uma relação de desigualdade Dois irmãos ou dois amigos podem ser parceiros eqüitati vos mas um patrão e um empregado ou meu gato e eu temos o que poderia ser considerada uma relação desigual Duas pessoas podem ser chamadas parceiras eqüitativas quando suas interações incluem atos e reforçadores que de ambas as partes são do mesmo tipo Se dois irmãos são afetuosos um com o outro pedem e dão dinheiro um para o outro e emprestam brinquedos ou ferramentas um para o outro então podemos dizer que são parceiros eqüitativos Poderíamos negar essa paridade se um fosse afetuoso e o outro não ou se um sempre obtivesse dinheiro emprestado do outro mas o contrário não ocorresse Em relações de desigualdade a sobreposição entre ações e reforçadores de ambas as partes inexiste ou é pequena Ana a supervisora distribui as tarefas paga salários e recebe parte do lucro das vendas Pedro o empregado trabalha e recebe salário O paciente apresenta sintomas e paga a consulta o médico dá con selhos e prescreve tratamentos O legislador faz leis o cidadão as segue Indivíduos e instituições A concepção de relação representada na Figura 111 pode ser aplicada não só a relações entre indivíduos mas também a relações entre indivíduos e instituições e até mesmo a relações entre instituições Para fazêlo é conveniente tratar a institui ção como se fosse um indivíduo Isso não causa qualquer confusão contanto que nos lembremos que as instituições afinal de contas são compostas de indivíduos Uma companhia igreja ou governo é um grupo de indivíduos os quais mantêm relações com outros membros do grupo Talvez não se possa dizer que cada indivíduo de uma firma mantenha uma relação com todos os demais dessa firma mas ser parte daque la firma implica ter relações por exemplo com superiores e subordinados Faz sentido tratar instituições como se fossem indivíduos porque os funcioná rios institucionais são substituíveis Juizes ministros médicos e enfermeiras saem e são substituídos por novos indivíduos que exercem as mesmas funções Em algu mas instituições os indivíduos são até mesmo intercambiáveis trocando papéis em momentos diferentes Quando você procura um funcionário da Receita Federal para resolver dúvidas ou é admitido no prontosocorro de um hospital não tem idéia de qual dos funcionários o atenderá ou que enfermeira ou médico estará de plantão Podese falar sobre relações com instituições porque quaisquer que sejam as pessoas individuais que desempenham os papéis institucionais as relações de re forço envolvidas permanecem as mesmas De certo modo isso é verdade por defi nição falamos de algo como sendo uma instituição porque tem uma certa estabi lidade Não é o quadro de pessoal que é estável pois as pessoas vêm e vão Nem edifícios transformam algo em uma instituição um hospital pode se mudar para um novo prédio e ainda ser identificado como o mesmo hospital Se o hospital e Compreender o behaviorismo 219 a d q u i r i d o por novos donos entretanto ele pode se tornar um hospital diferente niesmo que permaneça no mesmo edifício O que permanece estável em uma institui ção é seu modo de funcionar em nossos termos as relações de reforço e punição Em certo sentido as atividades de uma instituição são análogas às atividades esten didas de um indivíduo porque as ações dos membros de uma instituição são partes que devem funcionar em conjunto para que a instituição funcione de modo bemsucedido assim como as várias atividades de um indivíduo devem funcionar como elementos de um conjunto para que a atividade estendida seja bemsucedi da Assar um bolo requer juntar ingredientes misturálos colocar a massa em uma fôrma e levála ao forno para produzir um bolo bemsucedido Do mesmo modo o funcionamento de um banco requer as atividades de caixas analistas de crédito vendedores arquivistas supervisores guardas faxineiros etc para funcionar de modo bemsucedido A diferença é claro está em que na atividade estendida de um indivíduo todas as partes atividades da mesma pessoa enquanto na instituição todas as partes são atividades de diferentes pessoas Assim como na atividade es tendida de um indivíduo no entanto o reforço do todo o sucesso da organização fornece reforço para todas as partes Em qualquer relação inclusive aquelas no interior de uma instituição o reforço mútuo é a chave se a relação ou instituição for bemsucedida todos os envolvidos devem se beneficiar de seu funcionamento Como na relação entre dois indivíduos na relação entre um indivíduo e uma instituição bá dois conjuntos de relações de reforço as que afetam o comporta mento do indivíduo e as que afetam o comportamento da instituição Nos termos da Figura 111 tanto o indivíduo como a instituição poderiam atuar como agente iniciador ou como aquele que responde que chamaremos de agente respondedor Se um banco envia uma oferta para que você solicite um empréstimo o banco é o iniciador Porém se você vai a um banco sem ser chamado e pede o empréstimo você é o iniciador Você preenche um formulário Q que fornece os estímulos S para o banco tomar a decisão CR de lhe emprestar dinheiro reforçando assim seu comportamento de pedir S Nesse momento você responde assinando o contrato de empréstimo CI2 o que reforça o comportamento do banco de lhe conceder o empréstimo Você e o banco terão agora uma relação freqüente porque você e o banco terão interações mensais nas quais o banco enviará uma cobrança você pagará e o banco lhe enviará um recibo Alguns analistas de comportamento aplicaram esse esquema geral para anali sar relações internacionais considerando interações entre governos como análo gas a interações entre indivíduos Corridas armamentistas por exemplo podem ser compreendidas sob esse prism a Nevin 1985 Quando um país monta Q um grande arsenal isso é uma ameaça Sg para outro país O outro país responde com uma ameaça maior O primeiro responde do mesmo modo e assim por diante Cientistas políticos se referem a essa tendência como um dilema de segurança Em um artigo inspirador sobre as origens da Primeira Guerra Mundial Van Evera 1984 descreveu a escalada armamentista anterior à guerra como uma oscilação a ascendência entre governos que se opunham Em um momento um deles au mentava suas capacidades agressivas então o outro governo o fazia e a cada vez a ascendência trocava de lado porque um governo ao tentar garantir sua segurança 220 William M Baum sempre ia além da paridade O período de ascendência criava uma janela de opor tunidade em que a parte mais forte era tentada a atacar enquanto tinha a vantg gem Em uma dessas janelas de oportunidade afirmava Van Evera finalmente sè deflagrou a guerra j Cada ação em uma relação oscilante como essa faz sentido é reforçada a J curto prazo mas as conseqüências a longo prazo são desastrosas A situação pocje i ser vista como um problema de autocontrole Figura 92 porque as alternativas j para colocar um fim a essa escalada como assinar tratados de amizade e de coope ração funcionam a longo prazo mas podem ser difíceis de implementar porque 1 envolvem riscos a curto prazo Nos termos do Capítulo 8 a ausência de forneci mento de regras como campanhas de paz virtualmente garante que relações de reforço de curto prazo tais como obter a vantagem ao atacar primeiro prevalece rão sobre relações de reforço de longo prazo tais como os maiores benefícios da paz ao longo de muitos anos EXPLORAÇÃO Em nossas discussões sobre coerção Capítulos 9 e 10 vimos que as interações sociais nem sempre servem aos interesses de todos os parceiros embora os com portamentos de todos sejam reforçados Quando um ladrão exige dinheiro e o consegue só o ladrão se beneficia porque entregar o dinheiro é um comportamen to reforçado negativamente a vítima só se beneficia na medida em que evita outros prejuízos como ser ferida Um outro tipo de interação me leva a falar de trapaça Suponha que eu entre em uma loja para comprar uma peça de roupa e o comerciante me cobre o dobro do preço normal Analisando essa interação em termos da Figura 111 temos de concordar que tanto minhas ações como as do comerciante foram reforçadas posi tivamente Eu ganho a roupa S e o comerciante o dinheiro Sr Dizemos que o á comerciante me enganou porque em um contexto maior fica evidente a desigual dade entre os dois reforçadores o ganho do comerciante é muito maior do que o meu Esse contexto maior estabelece o preço justo Talvez eu nunca venha a saber que fui enganado mas se pesquisar em outras lojas ou conversar com pessoas que trabalham no ramo posso concluir que fui enganado esses estímulos discriminativos mudam meu comportamento verbal f Em uma forma mais sutil de trapaça os dois parceiros mantêm uma relação ativa e o parceiro que está sendo enganado não entra em contato com o contexto maior que exporia a iniqüidade do reforço Esse contexto maior normalmente se desenvolve ao longo de muito tempo Por exemplo um a pessoa pode fazer promes sas mas não cumprilas ou mais provavelmente cumprir apenas algumas delas e entao fazer mais promessas Dizemos que essa pessoa está enrolando o outro Eventualmente a pessoa lograda pode se dar conta do que está acontecendo por que a situação se prolongou por um tempo suficiente para poder ser comparada a alternativas outros empregos um divórcio uma rebelião Os governos às vezes implementam medidas para proteger os cidadãos dessas situações de trapaça a longo prazo particularmente daquelas em que os cidadãos só podem descobrir que f Compreender o behaviorismo 221 en gan ad os quando já é tarde demais Por exemplo leis que regulamentam o balho in fan til impedem que crianças entrem em uma relação eom certos pa 5 que lhes seria vantajosa a curto prazo mas que impedindoas de usufruir da ri J unidade de brincar e estudar acabariam por prejudicálas a longo prazo Uma Hcão desse tipo com reforço positivo a curto prazo mas prejuízos a longo prazo f denominada exploração 0 escravo feliz A possibilidade de coerção e através dela a escravidão pode representar uma ameaça menor para a democracia que a possibilidade do escravo feliz A coerção é imediatamente reconhecida como tal pela pessoa coagida enquanto o escravo feliz se sente contente a curto prazo e pode vir a descobrir que está sendo explora do só muito tempo depois Sentindose contentes porque seu comportamento está sêndo reforçado positivamente os escravos felizes não tomam qualquer medida para corrigir sua situação Crianças que trabalhavam em fábricas no século XIX eram pagas com regularidade e freqüentemente eram objetos de outros cuidados e no geral estavam bastante satisfeitas Só quando atingiam a meiaidade se da vam conta se é que o faziam de que haviam sido enganadas Qualquer medida que pudessem tom ar a essa altura viria muito tarde para impedir os danos causados Escravos felizes podem existir em muitos e diversos tipos de relação Pais podem explorar seus filhos recompensandoos com cuidados e afeto desde que trabalhem peçam esmolas na rua ou participem de atos sexuais O marido pode explorar sua esposa reforçando os serviços que ela presta a ele e a seus filhos dandolhe afeto e presentes do mesmo modo a esposa pode explorar seu marido reforçando longas horas de trabalho pesado 0 patrão pode explorar seus empre gados oferecendolhes pagamento extra por trabalharem em condições perigosas ou insalubres O governo pode explorar seus cidadãos reforçando o apostar em jogos de loteria Uma nação pode explorar outra nação importando dela matéria prima em troca de bens manufaturados com esse material Em cada um desses exemplos aquele que é explorado pode se sentir contente com a situação por um tango tempo ou até mesmo indefinidamente Conseqüências de longo prazo Do ponto de vista da parte explorada o problema com a exploração é que a longo Prazo ela implica punição A Figura 112 é uma versão modificada da Figura 111 e mostra tal punição O comportamento alvo CR resulta em dois tipos de conseqüên Cas o mais imediato Sj e a punição postergada S A flecha longa indica sua natureza de longo prazo A sigla Sr aparece em um tamanho maior para enfatizar 0 fatorchave que nos leva a chamar a relação de exploradora a punição a longo Prazo pesa mais do que o reforço a curto prazo A Figura 112 omite outra característica comum na relação de exploração Os efeitos do punidor S normalmente aumentam cumulativamente por pequenos 222 William M Baum Explorador SŸ C S SP2 C B Î 1 Explorado 1 1 1 Si C SÊ 1 S pR FIGURA 112 Uma relação de exploração O comportamento da parte explorada CR pro duz reforço a curto prazo para ambas as partes S e S mas leva a conseqüências bastan te desfavoráveis S a longo prazo seta longa A punição final é muito maior que o reforço imediato Sjj incrementos à m edida que a relação continua Se uma criança trabalha durante um verão pode ocorrer apenas uma pequena perda e a experiência até pode ser chamada benéfica Mas se a criança trabalha durante toda sua infância os resulta dos são extremamente danosos A cada ano o trabalho aum enta o buraco por assim dizer O fato de que a punição tem efeitos ao mesmo tempo postergados e gradualmente cumulativos torna essa relação particularmente difícil de ser identi ficada pela pessoa explorada Nos termos do Capítulo 9 a Figura 112 ilustra o fato de que um a relação de exploração constitui uma armadilha de reforço ver Figura 92 O comportamento alvo CR corresponde a agir impulsivamente sob controle do reforço a curto prazo O autocontrole que age de acordo com a punição de longo prazo significaria agir de modo a não entrar em uma relação de exploração ou a mudar a relação de tal forma que ela não fosse mais exploradora A Figura 112 representa exatamente esse tipo de relação de reforço ali descrita por regras Capítulo 8 através das quais pais e tutores alertam as crianças sobre os perigos de agirem impulsivamente e reforçam comportamentos que impedem a exploração A dificuldade com relações do tipo escravo feliz no que diz respeito à questão de gerenciamento comportamental é que essas relações são instáveis A parte ex plorada pode se dar conta dos prejuízos e os comportamentos então resultantes se assemelham à coerção O exescravo feliz tornase agora ressentido cheio de raiva e revoltado A criança explorada que perdeu em saúde educação ou na capacidade de se envolver em relacionamentos normais passa a rejeitar os pais O cônjuge explorado que nunca buscou seus próprios interesses pode agora abandonar o casamento Empregados que foram explorados eventualmente castigam de alguma forma seus patrões Cidadãos e colônias rebelamse Tal como a coerção ao final das contas a exploração é um tiro que sai pela culatra Parece que a eqüidade é a única política estável Aqui porém duas velhas perguntas se colocam o que é eqüidade Como alcançála A análise do comporta mento nos permite recolocar essas perguntas de uma maneira que possibilita res postas relativamente claras A primeira pode ser entendida como uma pergunta sobre comportamento verbal e nós a discutiremos a seguir A pergunta sobre como alcançar a eqüidade será tratada quando discutirmos a questão do contracontrole Compreender o behoviorismo 223 Bemestar relativo Quando as pessoas se referem à eqüidade e iniqüidade Essas palavras são notórias pela dificuldade em definilas A noção de eqüidade varia de pessoa a pessoa Bei pode dizer que estava certo fazer os prisioneiros trabalharem acorrentados na constru ção de estradas de ferro durante o século passado André pode considerar isso uma exploração vergonhosa As concepções de eqüidade em uma mesma cultura variam de século para século nos primeiros dias da Revolução Industrial a maioria das pessoas aceitava a idéia de que os capitalistas deveriam lucrar tanto quanto pudes sem e os trabalhadores deveriam trabalhar tanto quanto agüentassem Com o tempo contudo à medida que as pessoas começaram a chamar essa situação de injusta e iníqua ocorreram reformas surgiram os sindicatos as leis trabalhistas e o socialismo Os analistas de comportamento abordam a questão de mudanças no compor 7 tamento verbal quer de pessoa para pessoa quer de época para época analisando as conseqüências e o contexto do comportamento Se Bei diz que a situação de v prisioneiros trabalhando em estradas de ferro representa uma relação eqüitativa ela está fazendo um a discriminação que André não faz Digamos que ela considere os prisioneiros como um peso inútil e caro um desperdício de dinheiro público Quer dizer seu comportamento verbal sobre condenados prisões dinheiro público e dívidas com a sociedade foi modelado por uma história de reforço diferente de André sem dúvida alguma eles transitam ou transitaram em círculos diferentes em comunidades verbais diferentes Talvez os pais de André reforçassem o com portáinento de falar sobre igualdade perante a lei ou aos olhos de Deus O estímulo discriminativo para o comportamento de chamar uma relação de exploradora ou iníqua é um a comparação de conseqüências As conseqüências para uma pessoa ou grupo são comparadas com as conseqüências para outra pessoa ou v grupo Por exemplo é justo para as mulheres receber menor remuneração que os homens pela mesma tarefa Nos Estados Unidos e em outras nações ocidentais as crianças aprendem desde cedo a fazer tais comparações entre si e os outros A verbalização Ela ganhou mais que eu provavelmente é reforçada com mais sorvete mais brinquedos ou o que quer que seja que esteja sendo comparado Não é justo tornase um refrão em alguns lares porque é freqüentemente reforçado com ex pressões de simpatia senão com coisas materiais A medida que nos tornamos adultos nossas discussões sobre o que é justo se tornam mais complicadas Os estímulos discriminativos que controlam nosso com portamento verbal sobre questões de eqüidade ficam mais complexos Aprende mos que às vezes é justo que uma pessoa receba mais do que outra especialmente se essa pessoa contribui com mais esforço que a outra Talvez o trabalhador de construção que opera com solda devesse receber um pagamento maior do que o carpinteiro se considerarmos os perigos envolvidos nos dois tipos de trabalho teoro da eqüidade Ao discutir a questão da eqüidade psicólogos organizacionais e psicólogos sociais Se referem a um índice que compara o reforço relativamente imediato chamado 224 William M Baum saída ou lucro com condições de prazo mais longo chamadas entrada ou investi mento No enunciado clássico da teoria da eqüidade por George Homans 1961 o índice é escrito deste modo lucroinvestimento Homans propôs que as decisões sobre eqüidade dependem dessa proporção Se duas pessoas envolvidas em um relacionamento têm índices lucroinvestimento iguais a relação entre elas é eqüitativa Se duas pessoas ou grupos têm em sua relação com uma terceira parte a Companhia de Lentes Acme ou o governo dos Estados Unidos índices de lucroinvestimento desiguais então a disparidade en tre eles é iníqua O índice lucroinvestimento pode aumentar de dois modos o investimento pode diminuir ou o lucro pode aumentar Se uma mulher e um homem investem igualmente em um trabalho então a eqüidade exige que o pagam ento da mulher lucro seja igual ao do homem Em nosso exemplo da relação supervisorempregado porém se Ana a supervisora investe mais do que Pedro o empregado então os 1 seus índices de lucroinvestimento só podem ser iguais se ela ganhar mais da rela ção entre os dois do que Pedro ganha Ela também ganha mais de sua relação com a firma do que Pedro Para determinar se existe eqüidade entre duas partes não podemos olhar o lucro ou o investimento isoladamente devemos considerar a pro porção entre os dois A teoria da eqüidade concebe o lucro como incluindo conseqüências a prazo relativamente curto tais como esforço e salário O lucro consiste no ganho líquido que alguém consegue em uma relação ou seja ganho menos custo por exemplo salários menos esforço Quando Pedro se empenha para preencher os pedidos de compra a firma na qual trabalha deve reforçar seu trabalho com salário adequado a fim de que seu comportamento se mantenha Em outros tipos de relação os lucros são menos tangíveis Para que Rubens lave a louça regularmente sua esposa Kátia deve garantir que ele ganhe algo suficientemente importante por isso de forma que continue a fazêlo De acordo com a teoria da eqüidade o lucro que Rubens rira do matrimônio seria avaliado subtraindo esforços como lavar a louça de ganhos como afeto e ter filhos O conceito de Homans sobre investimento inclui dois componentes 1 esfor ços como os despendidos na educação que são um investimento na medida em que presumivelmente haverá um ganho ou reforço a longo prazo 2 atributos pessoais como boa aparência ou diferença de gênero que podem ser úteis em interações sociais mas que não são investimentos no sentido comum da palavra O primeiro componente não apresenta dúvidas aceitamse de maneira inquestionável os crité rios de educação e experiência quando se discutem salários Em termos da teoria da eqüidade se a única diferença entre Meca e Polé é que Meca tem um diploma de curso superior e Polé só terminou o ensino médio o índice de lucroinvestimento de Meca só se igualará ao de Polé se Meca receber um salário maior que o de Polé Provavelmente tanto Meca como Polé concordariam que essa medida é eqüitativa O segundo tipo de investimento gera mais controvérsia E certo que outras coisas sendo iguais os homens devam receber um salário maior que o das mulhe res pelo mesmo trabalho independente de serem ou não corretas essas disparidades salariais ocorrem A teoria da eqüidade nada diz sobre como as pessoas devem se comportar ela se refere a como de fato se comportam O indivíduo que foi educa Compreender o behaviorismo 225 An de modo a pensar que homens devem receber salários maiores que mulheres oü Que brancos devem receber salários maiores que negros não verá nenhuma iniqüidade no fato de homens e brancos receberem salários maiores Esses atribu tos são investimentos na medida em que logicamente falando eles pertencem ao denom inador do índice lucroinvestimentos um homem que pensa que deve rece ber mais que uma mulher exige um lucro maior antes de declarar que está receben do em condições eqüitativas às de uma mulher Um fenômeno semelhante aconte ce no campo das relações pessoais quando as pessoas bonitas exigem maiores lucros de uma relação que seus parceiros menos favorecidos Uma boa aparência pode ser considerada um investimento no mesmo sentido que as pessoas usam quando dizem que certas pessoas faturam sobre sua aparência Uma linda mulher pode exigir jóias caras dizendo Mereço isto um homem bonito pode exigir rela ções sexuais antes que sua parceira esteja disposta a mantêlas e não ver nada de injusto nessa atitude O ponto de vista mentalista sobre a questão do investimento apela para algo dentro da pessoa tal como um a expectativa acerca do reforço Dizse que a pessoa exige mais lucros por causa de sua expectativa Para o analista do comportamento essa explicação nada explica Seria o caso de perguntar o que é uma expectativa e de onde ela se origina Da perspectiva do analista de comportamento os elementos da teoria da eqüi dade ganho custo e investimento constituemse todos em estímulos discrimi nativos que controlam nosso comportamento verbal sobre eqüidade A utilidade da teoria da eqüidade é que ela mostra os vários fatores que levam alguém a conside rar uma relação eqüitativa ou ao contrário injusta Se um dos parceiros em um relacionamento recebe mais reforço ou uma remuneração maior que o outro par ceiro isso é ponderado em relação a qualquer diferença quanto a custos imediatos por exemplo o esforço despendido ou à experiência e à educação de ambos bem como a diferenças em atributos pessoais por exemplo gênero classe social e apa rência A relação lucroinvestimento não pode ser considerada como uma quanti dade matemática porque ninguém sabe calcular lucro ou investimento a partir de todos os diferentes fatores que para eles contribuem mas ilustra o fato de que várias comparações contraditórias se combinam para afetar a probabilidade de palavras tais como equitativo e iníquo justo e injusto Pedro pode considerar justo Que sua supervisora Ana receba um salário maior que o seu considerando sua maior experiência mas se Ana fosse um homem e a história passada de Pedro o levasse a considerar justo que homens tenham um salário maior que mulheres entao provavelmente ele estaria disposto a aceitar uma disparidade ainda maior Cfttre seu salário e o de seu supervisor e ainda consideraria isso eqiiitativo Que comparações jrSSe último exemplo ilustra a força da análise do comportamento A teoria da eqüi ace só mostra os vários fatores que entram na análise da eqüidade e não questio na0s fatores que devam ser ponderados A análise de comportamento vai um passo ao perguntar o que determina quais fatores serão ponderados 226 William M Boum A resposta a essa pergunta está na história passada da pessoa Toda discjjj nação depende de uma história de reforço e punição e identificar algumas relaçõe1 como eqüitativas e outras como iníquas não seria uma exceção Há dois modo pelos quais Pedro poderia considerar salários mais altos para os homens como uma política eqüitativa Primeiro ele poderia de fato ter passado por vários empreg0s em que as mulheres recebiam menos que os homens pelo mesmo trabalho Segim do seus pais ou outras figuras de autoridade poderiam ter lhe ensinado isto mode lando seu comportamento verbal sobre homens mulheres e justiça De qualquer modo a história de Pedro com fatores como sexo cor educação e aparência afeta que disparidades ele considera justas e quais ele chama de injustas Quando ele se apaixona por Teresa que ardentemente apóia os direitos das mulheres suas consi derações sobre eqüidade mudam À medida que Teresa pune ou reforça seu com portamento verbal e nãoverbal relativo a mulheres Pedro se conscientiza e não diz mais que pagar salários mais baixos para mulheres é eqüitativo Freqüentemente mudanças em como os fatores são ponderados se traduzem em mudanças quanto ao grupo que será tomado como comparação No século XIX o trabalho infantil pode ter parecido eqüitativo porque a comparação era feita com crianças camponesas que morriam à míngua No século XX quando os custos sociais do trabalho infantil ficaram evidentes a comparação era feita com crianças de classe média que têm condições para brincar e para freqüentar escolas e conse qüentemente nosso comportamento verbal sobre trabalho infantil muda de modo correspondente Trabalhadores queaprenderam a se comparar apenas com outros trabalhadores não vêm nenhuma iniqüidade no fato de burocratas gozarem de privilégios especiais outros trabalhadores sem tal treinamento podem comparar sua própria condição com a da burocracia e declararemna iníqua Quando tais comparações forem feitas em quantidade suficiente nós nos defrontaremos com eventos tais como os que levaram ao colapso da União Soviética Lamal 1991 Cooperação Nossos conceitos de reforço eqüitativo e mútuo nos permitem compreender a coo peração Um relacionamento de cooperação é aquele em que o reforço é ao mes mo tempo mútuo e eqüitativo Às vezes a cooperação ocorre a curto prazo quan do ambas as partes devem contribuir imediatamente antes que o comportamento de cada um possa ser reforçado Por exemplo se uma orquestra executa uma sinfo nia cada músico deve tocar uma parte antes que toda a execução possa ser aprova da pela audiência e paga pelos patrocinadores Todos tocam uma parte e todos se beneficiam juntos Com freqüência no entanto a cooperação ocorre somente a longo prazo quando as contribuições das diferentes partes são feitas em momen tos diferentes Isso acontece quando as pessoas têm um relacionamento recíproco como quando os cônjuges se alternam nas tarefas domésticas ou amigos oferecenij IM dc T Assim como 80 anos antes circunstâncias sem elhantes levaram ao colapso às aristocracia russa Compreender o behaviorismo 227 ao outro bebidas e refeições Relacionamentos recíprocos abrem a possibilida d e trapaça se um a parte fracassa em contribuir suficientemente isto é fracassa m fornecer o da Figura 1 1 2 com freqüência suficiente Na medida em que a reCipr cidade se desenvolve no sentido da eqüidade a longo prazo entretanto o relacionam ento se constitui em cooperação Discutiremos tais relacionamentos com maisdetalhes quando tratarm os do altruísmo no Capítulo 12 CONTROLE E CONTRACONTROLE Declarações de iniqüidade ocasionadas por relações coercivas e exploradoras inci tam à revolução como meio para tornar mais justas essas relações A derrubada de um governo a separação de um casal a falência de uma firma são resultados de uma ação extrema Uma revolução um divórcio ou uma greve parecem ser o últi mo recurso tomado apenas quando todos os outros falharam Medidas extremas m udam a situação da pessoa explorada controlada ao cortar sua relação com o explorador medidas menos extremas tais como ameaças e promessas produzem mudanças dentro da relação ao mudar o comportamento do explorador controlador A ameaça de uma revolução de um divórcio ou de uma greve pode funcionar para coagir o parceiro ofensivo a mudar Tal controle ao retroagir sobre o controlador acrescenta à relação uma nova relação de reforço que pode ser representada nas condições gerais da Figura 111 Os analistas de comportamento a denominam de contracontrole Contra controle 0 contracontrole do tipo coercivo pode ser esquematizado como na Figura 91 A pessoa ou grupo arrasados ameaçam com a remoção do reforço bens ou servi ços a menos que o controlador aceda Os exemplos não precisam ser tão extre mos como ameaças de revolução e divórcio as ameaças podem ser de sabotagem ou desafeto Não importa quão assimétrica seja a relação contanto que o controlador deseje algo do controlado contanto que o comportamento do controlador possa ser reforçado pelo controlado o controlado pode ameaçálo de sustar o reforço Quando a ameaça é eficaz o comportamento do controlador é contracontrolado através de reforço negativo O contracontrole tam bém pode acontecer através de reforço positivo Muitos relacionamentos perm item que ameaças sejam substituídas por promessas Os empregados podem prom eter uma produtividade maior se seus salários forem ele vados A mulher pode prom eter contribuir para as despesas da casa se seu marido ajudála a seguir um a carreira Se o comportamento do controlador muda ele foi reforçado positivamente O reforço pode demorar a chegar mas o conüolador even hialmente estará em melhores condições O contracontrole implica que o controlador tenha escolha que uma ação al ternativa seja possível Dado que a escolha é entre uma alternativa que recompensa somente a curto prazo e um a que recompensa mais a longo prazo a situação do 228 William M Baum controlador pode ser comparada à Figura 92 é um problema de autocontrole q j controlado produz um estímulo discriminativo que muda a probabilidade da alter nativa que recompensa mais no longo prazo Quando o povo ameaça uma revolta j os governantes podem baixar os impostos em vez de aumentálos Quando os em I pregados prometem para o dono de uma fábrica uma melhora na qualidade do produto manufaturado o dono pode mudar adotando o novo esquema adminis trativo sugerido pelos empregados Dado que as ameaças ou promessas feitas pe0 controlado constituem regras e podem ser sustentadas por reforço imediato a situação pode ser comparada à da Figura 82 que representa o comportamento controlado por regras Assim a escolha do controlador pela relação que é melhor a longo prazo corresponde tanto ao autocontrole Figura 92 quanto ao comporta mento controlado por regras Figura 82 A Figura 113 mostra sob forma esquemática os dois tipos de contracontrole que acabamos de discutir Em cada esquema as interações à esquerda mostram contracontrole O controlador pode agir de qualquer um de dois modos de forma eqüitativa CA impostos mais baixos e cessação da guerra ou de forma explorado ra CB impostos aumentados e continuação da guerra Cada um a das duas alter nativas leva a uma relação diferente entre as partes envolvidas simbolizadas pelos retângulos à direita A relação para a qual a atividade CB conduz no retângulo inferior pode ser a situação atual CB manteria a situação como sempre foi A atividade CA porém conduziria a uma nova relação retângulo superior que seria mais benéfica tanto para o controlador como para o controlado O controlado pro mete ou ameaça Cc produzindo o estímulo discriminativo S Aumente nossos salários ou entramos em greve uma regra ver Capítulo 8 que indica o retângu lo superior relação com seu conjunto de relações de reforço e fortalece a alterna tiva do controlador CA por exemplo aumento de salários Quando o controlado contracontroia através de ameaças esquema superior Sc indica a superioridade de CA baseado no fato de que CB conduz em última instância a conseqüências aversivas em grande escala S para o controlador Essas resultam do comporta mento do controlado CR3 em resposta a Sr as conseqüências aversivas a longo prazo para o controlado Se os governantes aumentam os impostos o povo se rebe la e depõe os governantes Quando o controlado contracontroia por meio de promessa esquema inferior na Figura 113 Sg indica a superioridade de CA com base em que ele conduz em última instância a um grande reforço para ambas as partes S e S Quando o povo desfruta paz e prosperidade ele ama e louva seus governantes Uma ação por parte do controlado CR3 pode ou não ser necessária uma combinação de distri buição de lucros e melhoria no controle de qualidade pode trazer benefícios diretos a empregadores e empregados Aqueles que são controlados freqüentemente combinam os dois tipos de con tracontrole apresentando tanto ameaças como promessas Grupos de cidadãos podem ameaçar remover funcionários públicos de suas funções se esses adotarem uma de terminada política enquanto simultaneamente podem prometer apoio se adotarem outra Essa estratégia é freqüentemente denominada a técnica do bate e afaga A necessidade de contracontrole surge porque a escolha do controlador entre CA e CB é difícil por duas razões Primeiro dentre os reforçadores imediatos SBi e Compreender o behaviorismo Contracontrole por ameaça Controlador Cc Controlado Controlador CA1 Sar S CA L 4 1 Controlado Srí C rj Si 1 Controlador 1 Cai I si Sb Cb2 4 i s p 1 Controlado i l t s T C r2 Sr2 1 hi í 1 C t 1 JR R3 Contraconirole por promessa Cc Controlado Controlador C ai S SA C Sa t 1t Controlado 4 1 t r Sr1 C ri Sjtj Controlador C bi Sj Sb C b2 1t Controlado 1 T í Sr2 C r2 Srj fSUra 113 C o n tra c o n tro le Em ambos contracontrole através de ameaça esquema su perior e contracontrole através de promessa esquema inferior o controlador escolhe snire duas relações com o controlado mostradas nos retângulos à direita A ação C A por Parte do controlador conduz a uma relação melhor a longo prazo A açâo C B conduz a UnílQ relação menos favorável ou a mantém O contracontrole através de ameaça acontece guando o controlado gera um estímulo discriminativo jS que indica uma punição a longo Prao S para o comportamento C B do controlador O contracontrole através de promes Sq acontece quando indica um reforço a longo prazo S para o comportamento CA O ontracontrole é necessário quando pequenas conseqüências imediatas SA S e S ten em sobrepujar as conseqüências de longo prazo S ou S O controlado pode ser jPaz de fornecer alguns reforçadores de curto prazo para C A S que ajudam a contraba nÇar as conseqüências de curto prazo que favorecem C B maior que S Além disso como na Figura 92 algum punidor imediato S p0r exemplo ser humilhado pode resultar da escolha de CA e algum reforçador Ime diato S por exemplo derrotar um oponente pode resultar da escolha de CB As conseqüências imediatas e de curto prazo todas favorecem a escolha da relação exploradora Em segundo lugar embora as principais conseqüências e S exce dam as àiferenças a curto prazo no reforço essas conseqüências são adiadas o controlador pode ter de esperar muito tempo antes de obter as vantagens de CA É isso o que torna a escolha entre CA e CB sem contracontrole um a armadilha de reforço Figura 92 Sem contracontrole é provável que o controlador se compor te impulsivamente e escolha CB A enunciação de regras pelo controlado entretan to apoiada por reforçadores imediatos S na Figura 113 por exemplo aprovação e congratulações que contrabalançam as conseqüências imediatas que favorecem CB ajuda a promover a alternativa que é melhor a longo prazo ver Figura 82 Eqüidade O contracontrole surge a partir de considerações sobre a eqüidade Se o estímulo discriminativo para falarmos sobre iniqüidade é uma comparação entre indivíduos ou grupos então essa comparação também é responsável pelo início do contracon trole Uma vez bemsucedido contudo o contracontrole se torna parte permanen te da relação porque ajuda a m anter em situação semelhante os indivíduos ou grupos comparados isto é impede a recorrência da iniqüidade O contracontrole é também um mecanismo pelo qual as relações podem continuar m udando para melhor Considerando que nosso discurso sobre iniqüidade muda de tempos em tem pos então é possível que novas exigências de contracontrole também surjam Isso acontece quando uma nova comparação é feita A m edida que o conceito deV estratificação social se altera as pessoas de uma classe ou casta social mais baixa começam a comparar suas condições de vida com as de pessoas de estratos supe riores originalmente seus superiores Historiadores atribuem a Revolução Fran cesa ao descontentamento da classe média emergente em relação a sua falta de poder político em comparação com aquele nas mãos da aristocracia francesa Des de que ameaças não mudaram o comportamento do rei a classe média se rebelou e estabeleceu uma forma nova de governo que propiciou mais poder a esta classe isto é um contracontrole mais eficaz Em uma sociedade verdadeiram ente sem classes sociais as comparações seriam extremamente genéricas qualquer indiví duo ou grupo poderia ser comparado com qualquer outro indivíduo ou grupo 0 ideal De cada um de acordo com sua capacidade a cada um de acordo com sua necessidade foi em parte responsável pela Revolução Russa A eqüidade última é a igualdade Em uma relação entre iguais não só existe eqüidade no sentido de que nenhuma comparação desfavorável existe mas a coifl paração é feita entre as partes que estão naquela relação Antes do século XX 3 relação entre marido e mulher era considerada desigual porém hoje em dia comparações de eqüidade são freqüentemente feitas entre o marido e a mulher efli vez de serem feitas entre esse marido e outros maridos ou essa esposa e outras Compreender o behaviorismo 231 esposas Em outras palavras sugerimos que os dois cônjuges devam estar igual mente satisfeitos com a relação Se mantivermos nossa definição inicial de parceiros como iguais que recebem oS mesmos reforçadores a maioria das parcerias não seria considerada entre iguais já que na maioria delas os diferentes parceiros recebem reforçadores diferentes no relacionamento Dizemos de cada membro de um casal que as fontes de sua satis fação diferem porque os reforçadores em seu relacionamento S f e Sr na Figura lll Sa e Si por exemplo na Figura 113 diferera em tipo mas eles podem falar e também passar a se comportar de um modo ta que eles próprios e as outras pessoas digam que estão igualmente satisfeitos Quando esse comportamento ver bal ocorre ele é um estímulo discriminativo para dizermos que os parceiros são iguais Em termos da teoria da eqüidade advogar a igualdade significa que os inves timentos dos dois parceiros devem ser vistos como iguais ignorando as diferenças de sexo cor aparência ou educação Na prática raramente as pessoas se compor tam desse modo O ponto principal da teoria da eqüidade é explicar como as pesso as são capazes de chamar relações desiguais de eqüitativas A teoria admite contu do a possibilidade de que investimentos possam ser iguais neste caso então a eqüidade exigiria que os lucros ou ganhos fossem também iguais No caso especial de relações entre iguais a distinção entre controle e contracontrole desaparece porque nenhum parceiro pode ser considerado contro lador ou controlado nenhum ganha mais na relação que o outro Cada um contro la o comportamento do outro igualmente Mudar da eqüidade parcial para a igualdade produz mudanças profundas em uma relação Quando os trabalhadores só se comparam com outros trabalhadores eles podem considerar um a situação eqüitativa mesmo que seus patrões tirem da relação um ganho maior que o deles Se porém os trabalhadores começarem a se comparar com seus empregadores eles teriam a fim de conseguir a eqüidade de atingir a igualdade Tais movimentos conduzem à autogestão a empresas adminis tradas pelos próprios empregados ou em escala maior a empresas estatais e ao socialismo Poder Discussões sobre a eqüidade normalmente também envolvem discussões sobre o poder Definições de poder normalmente apelam para a intuição ou o bom senso A analise comportamental oferece um caminho para compreendermos melhor esse fenômeno Eqüidade e poder se referem a aspectos diferentes de uma relação A discus Sao sobre eqüidade diz respeito aos benefícios derivados da relação A discussão sbre poder diz respeito ao grau de controle que cada parceiro exerce sobre o COlnPortnmenlo do outro Quando os parceiros se beneficiam de forma desigual do acionamento aquele que obtém mais benefícios também tem mais poder Esse aior poder tanto quanto o maior benefício é o que nos leva a denominar esse Parceiro de controlador 232 Williom M Boum Porém estritamente falando relações de reforço são poderosas não as pessoas Uma pessoa tem poder quando é instrumento de uma relação de reforço poderosa Quando um empregador pode privar um empregado de seu emprego por ter apre sentado um desempenho incompetente o comportamento do empregado está sob o controle de uma relação de reforço poderosa O poder de uma pessoa depende inteiramente do poder das relações de reforço que ele ou ela gèrencia Dois fatores tornam poderosa uma relação de reforço a importância do reforçador e a precisão do controle sobre o reforçador A importância do reforçador depende não de seu valor absoluto mas de seu valor relativo a outros reforçadores existentes na vida do controlado Se dizemos de Meca que seu trabalho é sua vida queremos dizer que além do trabalho existem poucas coisas capazes de prover reforço na vida de Meca Isso significa que para Meca a perda do emprego seria devastadora e que provavelmente ela fará qualquer coisa para m anter seu emprego o que dá a seu empregador um enorme poder na relação que os dois mantêm Porém se Meca tem vários outros relacionamentos em sua vida pais marido filhos amigos e particularmente se ela tem outras fontes de renda seu l emprego terá uma importância menor Neste caso seu patrão teria menos con dições de controlar seu comportamento com a ameaça de perda de emprego Em geral visto que os patrões são mais ricos que seus empregados os benefícios de v í rivados da relação empregatícia têm maior importância para os empregados do que para os patrões embora sejam de menor valor em termos absolutos Unindo os reforçadores que os trabalhadores individuais controlam os sindicatos conseguem i em parte contrabalançar essa diferença ro valor dos reforçadores envolvidos na relação A mesma diferença aparece em outros relacionamentos entre parceiros desi j guais A nota que o professor dá ao aluno é normalmente mais importante para o aluno do que o aplauso do aluno é para o professor O afeto dos pais é normalmen te mais importante para a criança do que o afeto da criança para os pais A pessoa v r mais poderosa controla o reforçador mais importante v í O modo pelo qual a importância do reforçador contribui para dar poder é f muitas vezes especialmente óbvio em relações que fogem ao normal Quando o í desempenho de um filho é mais importante para os pais do que o afeto dos pais para a criança a criança m anda nos pais Quando estudantes podem ameaçar o professor com facas e revólveres o comportamento do professor é muito influen ciado pela aprovação dos alunos Quando um empregado tem habilidades essen ciais impossíveis de serem substituídas o empregado pode passar a mandar no patrão í O poder dessas relações de reforço também depende de sua precisão Mesmo que os reforçadores sejam importantes a relação se tom a menos poderosa se sua í ocorrência é postergada ou incerta O pai demasiadamente ocupado que precisa dizer para o filho esperar até o fim de semana para passarem algum tempo juntos conversando ou brincando tem menos poder para controlar o comportamento da I criança O patrão que só pode dar aumento de salário dependendo de um aumento j nos lucros perde poder no controle do comportamento de seus empregados Go vem os totalitários aumentam a precisão do controle aversivo espionando a popula j ção por exemplo gravando suas conversas telefônicas e assim tornam mais Compreender o behaviorismo 2 3 3 órecisa a possibilidade de aplicação de punição àqueles que praticam oposição às políticas do governo O poder distribuído de forma desigual está na base da distribuição desigual çjgg vantagens Aquele que gerencia as relações de reforço mais poderosas é o mes mo que colhe as maiores vantagens O controlador reforça o comportamento do controlado que produz o maior reforço para si próprio A iniqüidade porém tem limites Se a freqüência de reforço para os compor tamentos do controlado fica muito baixa ou se as exigências para que seu com portamento seja finalmente reforçado são muito altas a ocorrência de contracontrole se torna muito provável Quando os trabalhadores de uma firma recebem salários mais baixos do que os de outra ou quando não podem alimentar suas famílias com o que ganham deixam o emprego protestam ou se organizam Dependendo do evento que serve como estímulo discriminativo para a comparação o controlado a certa altura denuncia que o controlador está abusando de seu poder e que a relação se tornou uma relação de exploração Mesmo que o comportamento do controlador continue a levar a situação até seu limite máximo ainda assim o desequilíbrio de poder pode se m anter só até certo grau de desequilíbrio nas vantagens O contracontrole atua no sentido de reparar a iniqüidade por meio de uma diminuição no desequilíbrio na distribuição de poder Criar relações que reforçam ou punem o comportamento do controlador significa que o controlado pode refor çar positiva ou negativamente fazendo promessas ou ameaças o comportamen to do controlador de dar mais ou mais freqüentemente Para evitar uma rebelião o ditador diminui os impostos Por causa da promessa de melhoria na qualidade da produção o industrial pode instituir uma política de participação nos lucros para os empregados Como o contracontrole aumenta o poder relativo do controlado ele produz ma Is eqüidade por diminuir o desequilíbrio de poder e no extremo ambos poder e vantagens se tornam iguais Por exemplo quando marido e mu lher têm uma relação de iguais seus comportamentos não só são reforçados igual mente mas outras fontes de reforço tornam o reforço que advém do matrimônio igualmente importante para ambos Democracia Por que a democracia é tão popular como forma de governo As respostas tradi cionais se referem aos sentimentos dos cidadãos sentimentos de liberdade e de felicidade A análise comportamental permite um entendimento mais amplo e mais claro das virtudes da democracia É verdade como vimos no Capítulo 9 que os cidadãos em um estado demo Jatico sentemse relativamente livres e felizes Porém poderíamos imaginar um Qitador benevolente que controla o comportamento dos cidadãos com reforço po Sltivo Com tal governante os cidadãos poderiam se sentir livres mas não teriam Condições de garantir a benevolência do ditador Em uma democracia o ingredien te que salvaguarda a liberdade das pessoas é o contracontrole A democracia proporciona a seus cidadãos relações de reforço com as quais Pdem controlar o comportamento de seus governantes Nos Estados Unidos o 234 William M Baum presidente e os representantes do povo no congresso são avaliados periodicamen te com a possibilidade de serem reeleitos ou de serem substituídos Se o povo norteamericano não gostar do que eles fazem pode afastálos O contracontrole em uma democracia pode ocorrer através da ameaça ou por meio da promessa A ameaça seria no sentido de que se a atuação de um gover nante eleito CA e na Figura 113 produzisse conseqüências punitivas S para o povo então os eleitores votariam Ckj em outra pessoa e assim destituiriam o governante S Tais ameaças são explicitadas em manifestações convenções e reuniões O contracontrole por promessa seria no sentido de que se a atuação desse governante produzisse reforço S então os eleitores votariam nele CCR3a m antendoo em seu cargo S Em termos cotidianos o contracontrole por meio de uma promessa é chamado fazer lobby A democracia é também caracterizada por um tipo de igualdade simbolizada nas revoluções francesa e russa na qual todos são considerados e portanto cada pessoa é chamada de cidadão ou camarada A relação entre o presidente e os cidadãos de um país não pode ser uma relação entre iguais enquanto ocupam tal cargo os governantes em um estado democrático são claramente os controladores Uma vez fora desse cargo contudo voltam novamente à condição de cidadãos comuns controlados como todos os demais A longo prazo estão sujeitos às mes mas relações de reforço a que estão sujeitos todos os demais As políticas de governantes democráticos mais cedo ou mais tarde acabam por afetar os próprios governantes Até mesmo enquanto exercem seus cargos o presidente e os membros do congresso devem pagar impostos Uma vez fora desses cargos eles mais do que ninguém estão sujeitos às regras e leis que promulgaram A longo prazo o regime democrático tende a levar a relação entre controladores e controlados de uma condição de eqüidade parcial para uma condição de igualdade Essa descrição da democracia é obviamente uma idealização Funcionários governamentais às vezes se envolvem em atividades secretas e ilegais e às vezes aceitam suborno Um expresidente só em parte volta ao estado de cidadão co mum Porém como um todo o regime democrático é geralmente considerado um progresso em relação a regimes absolutistas como monarquias e ditaduras A im perfeição dos processos democráticos porém sugere que eles ainda poderiam ser objeto de mais e melhores mudanças talvez melhores métodos de contracontrole possam ser encontrados Discutiremos como uma sociedade poderia passar por tais progressos no Capítulo 14 quando analisarmos a questão da engenharia social RESUMO Para que um episódio entre duas pessoas ou entre uma pessoa e um grupo possa et chamado de interação social cada parte deve reforçar o comportamento da outra o reforço deve ser mútuo Exemplos analisados em capítulos anteriores incluetf1 comportamento verbal e coerção Dizse que duas pessoas têm um relacionamefltj7 quando interações sociais entre elas ocorrem freqüentemente Esse mesmo cone1 to se aplica a relações entre indivíduos e instituições i í1 Compreender o behaviorismo 235 Embora o relacionamento baseado em mecanismos coercivos seja obviamen te injusto uma forma mais sutil de iniqüidade marca aquelas relações de explora ção em que as ações de ambos os parceiros são reforçadas positivamente Essas relações são consideradas iníquas porque a longo prazo um dos parceiros acaba por ser enganado a participação do parceiro explorado na relação é em última instância severamente punida A curto prazo a pessoa que é enganada até poderia continuar contente tais pessoas são chamadas escravos felizes A longo prazo escravos felizes freqüentemente acabam descobrindo ou alguém os adverte sobre a trapaça de que são vítimas isto é eles se deparam com estímulos discriminativos que tornam prováveis ações de revolta e discordância Essa instabilidade a longo prazo faz da exploração assim como da coerção um m étodo precário de gerenciamento A tendência a se rebelar contra relações de exploração mais do que contra relações coercivas depende do comportamento verbal das pessoas na sociedade O falar sobre a exploração tende a ocorrer nos mesmos contextos que o falar sobre injustiça e iniqüidade Fazse uma comparação entre dois indivíduos ou dois gru pos e dizse que a pessoa ou grupo maltratado foi explorado Considerando que a comparação feita depende da história de reforço daquele que fala o falar sobre í exploração eqüidade e iniqüidade varia de pessoa para pessoa e de uma época para outra A coerção e a exploração são reparadas inudandose a relação entre as partes envolvidas Podese cortar a relação mas freqüentemente mudanças menos drásti cas podem perm itir que ela continue O movimento em direção a maior igualdade entre dois parceiros acontece como resultado de relações de reforço adicionais ou contracontrole Ao controlador é oferecida a escolha de uma relação alternativa uma modificação na relação existente e estímulos discriminativos apresentados pelo parceiro controlado que mostram a possibilidade de conseqüências a longo prazo muito melhores para o controlador aumentam a probabilidade de que o controlador adote a nova alternativa O contracontrole funciona por meio de pro messas e ameaças por meio de estímulos regras que mostram a possibilidade de reforço futuro e de esquiva da punição futura As ameaças e promessas apoiadas por reforço social ajudam o controlador a evitar a escolha impulsiva da relação que é melhor a curto prazo optando ao invés pela relação melhor a longo prazo autocontrole A introdução de uma nova relação de reforço pela qual o controla do p0de afetar o comportamento do controlador contracontrole muda a relação no sentido de um a maior eqüidade Quando o reforço mútuo em uma relação é equitativa a longo prazo a relação é freqüentemente denominada cooperação Quando novas comparações ocorrem o relacionamento pode mudar ainda Se as novas comparações são feitas em relação a um grupo mais amplo o cionam ento se modifica no sentido de maior eqüidade e em última instância M aldade na qual as partes envolvidas na relação se comparam uma com a Em uma relação entre iguais ambas as partes envolvidas se beneficiam igual nte Quando o reforço é igual as distinções entre controle versus contracontrole eíUre controlador versus controlado desaparecem porque cada parceiro controla cmportamento do outro de forma igual 236 William M Baum 0 controle que cada parceiro exerce na relação sobre o comportamento outro é o poder daquele parceiro ou mais precisamente é o poder das relações reforço através das quais aquele parceiro controla o comportamento do outro q poder de uma relação depende da importância do reforçador e da precisão d0 controle exercido sobre o reforçador Quanto mais importante for o reforçador e quanto mais preciso for o controle sobre ele mais poderosas serão as relações çe reforço Um desequilíbrio de poder nas relações de reforço existentes em um rela cionamento leva à desigualdade na distribuição das vantagens derivadas da rela ção Como o contracontrole aumenta o poder do controlado ele tende a reduzir a iniqüidade ao reduzir o desequilíbrio de poder A grande força da democracia é que esse regime político dá às pessoas aos controlados o poder de contracontrolar O contracontrole acontece por meio de eleições manifestações e lobby Embora a relação permaneça desigual mesmo com contracontrole a duração limitada do tempo de m andato dos governantes assegu ra igualdade a longo prazo porque ao deixarem seus cargos os governantes se tornam sujeitos às mesmas relações de reforço que controlam todos os demais Quando o comportamento de todos está sujeito às mesmas relações todos são iguais entre si Essa é a teoria pelo menos o regime democrático tal como exerci do no mundo de hoje necessita ser aperfeiçoado LEITURAS ADICIONAIS Adams J S 1965 Inequity in social exchange In L Berkowitz org Advances in expe rimental social psychology vol 2 p 267299 Nova York Academic Press Artigo clássico que ampliai a teoria da eqüidade de Homans ao considerar os efeitos de diferentes padrões de comparação Homans G C 1961 Socfai freiavior its elem entaiy form s Nova York Harcourt Brace World Texto clássico que contém a teoria da eqüidade original de Homans Lamal R A 1991 Three metacontingencies in the preperestroika Soviet Union Behavior and Social Issues 1 7590 Esse artigo é uma análise comportamental de algumas práticas de gerenciamento que funcionaram inadequadamente na União Soviética Mearsheimer J J 1995 The false promise of international institutions international Security 19 549 Este artigo contém uma discussão ampiiada sobre o dilema da segurança nas relações internacionais do ponto de vista de um cientista político Nevin J A 1985 Behavior analysis the nuclear arms race and the peace movement In S Oskamp oig International conflict and national policy issues Applied Social Psychology Annual 6 2744 Beverly Hills Sage Publications Esse artigo é um exemplo de como a análise comportamental pode ser aplicada a relações internacionais Rao R K e Mawhinney T C 1991 Superiorsubordinate dyads dependence of leader effectiveness on mutual reinforcement contingencies Journai of the Experim ental A nalyst o f Behavior 56 105118 Esse artigo descreve estudos realizados em laboratório de relações superiorsubordinado focalizando particularmente como elas dependem da im portância dos reforçadores Compreender o behaviorismo 237 Skinner B F 1974 About behaviorism Nova York Knopf 0 contra controle é discutido eXpicitamente no capítulo 12 The question of control Skinner B F Cl978 Reflections on behaviorism and society Nova York AppletonCentury Crofts Essa obra contém entre outros um ensaio sobre a natureza exploradora das loterias oficia is Freedom at last from the burden of taxation Van Evera S 1984 The cult of the offensive and the origins of the first world war frtemotioilal Security 9 58107 Descrição de um cientista político sobre o dilema da segu rança e o modo como este levòu à Primeira Guerra Mundial termos introduzidos NO CAPITULO 11 Còntracontrole Dilema da segurança Episódio social mínimo Eqüidade Escravo feliz Exploração Lucroinvestimento Poder Reforço mútuo Teoria da eqüidade T Título traduzido em português ver Apêndice ARCHIVE 12 Valores religião e ciência A 5 questões que se colocam sobre valores são perguntas sobre o bom e o mau o certo e o errado Ao sermos criados em determinada cultura aprendemos a chamar certas coisas e atividades de boas lutamos por essas coisas e nos empenhamos nessas atividades Aprendemos a chamar certas coisas e atividades de más e evita mos essas coisas e nos afastamos dessas atividades A aprovaçãopor nossos seme lhantes é boa o trabalho honesto é bom a doença é má a mesquinharia é má Neste capítulo aceitamos sem discutir que essas coisas sejam chamadas de boas e más que sejam adotadas ou evitadas Estamos interessados em como explicar o comportamento de chamálas de boas e más Na concepção tradicional valores são idéias e atitudes coisas mentais exis tentes em algum lugar dentro do sujeito Para pessoas de orientação religiosa esses valores mentais vêm de Deus A suposição dessa origem divina está implícita na citação de C S Lewis no final do Capítulo 9 dizendo que a ciência não pode lançar nenhuma luz sobre questões de valor que pode nos dizer como nos comportamos mas não como devemos nos comportar Os behavioristas atuais discordam de Lewis é possível à ciência lançar alguma luz sobre o problema de como devemos nos comportar QUESTÕES DE VALOR Os behavioristas rejeitam a noção de que os valores são entidades mentais se são alguma coisa são comportamento Lewis está certo ao dizer que a ciência não tem ttada a dizer sobre o que é bom ou mau aos olhos de Deus mas pode ter muito a dizer sobre o que é bom ou mau aos olhos dos homens Mesmo que Lewis esteja correto ao afirmar que a análise comportamental só pode lidar com o que as pes soas fazem uma das coisas que as pessoas fazem é falar sobre como devem se cniportar A análise comportamental pode abordar questões sobre valores focali 249 William M Baum zando o que as pessoas fazem e particularmente o que dizem seu comportamento verbal em relação ao bom e mau ao certo e errado A ciência pode indagar por que as pessoas fazem determinadas afirmações a respeito de valores Relativismo moral Temse a impressão de que há tanta diversidade de pessoa para pessoa de lugar para lugar e de cultura para cultura que alguns pensadores dizem que não há pa drão universal que possa explicar as idéias a respeito do certo e errado Falam em ética situacional a ética que se origina de situações particulares e não de princí pios universais como a única possibilidade Em outras palavras esses relativistas morais sustentam que cada pessoa desenvolve suas próprias idéias sobre o bom e o mau dependendo de sua situação particular A extensão desse pensamento é a afir mação Nada é bom ou mau mas pensálos assim assim os torna Um dos problemas do relativismo moral é que ao que parece ele não oferece meios de resolver conflitos entre pessoas que têm idéias diferentes quanto ao bom e ao mau Tomando um exemplo extremo suponhamos que um sádico considere que é bom infligir dor a outra pessoa Se não há padrão universal como podemos concluir que suas ações são más O que poderia limitar a noção de que Se isso faz você se sentir bem façao O relativismo moral pode responder a essas questões remetendo às conven ções sociais O grupo pode decidir que comportamento chamará de bom oumau e a partir daí essa convenção se torna parte da situação do indivíduo Podese ensinar ao sádico que o grupo rejeita esse comportamento Essa posição porém deixa algumas questões em aberto 1 Como um grupo chegaria a convenções sobre o bom e o mau 2 Como o grupo faria para persuadir os indivíduos a aceitar as convenções Padrões éticos A alternativa ao estrito relativismo moral é a idéia de que há padrões éticos univer sais de que é possível descobrir princípios que expliquem as asserções que as pes soas fazem sobre o bom e o mau como resultado de algo mais do que suas situações particulares Tanto o religioso Lewis como o behaviorista Sldnner rejeitaram o relativismo moral em favor de padrões éticos universais Suas idéias a respeito de que padrão usar naturalmente são diferentes em especial no que diz respeito a origem desse padrão vj A Lei da Natureza Humana j Lewis 1960 começa com a observação de que as pessoas muitas vezes têm diver gências sobre o que é justo Compreender o behaviorismo 241 Acredito que podemos aprender algo muito importante ouvindo o tipo de coisa que eles falam Dizem coisas como Você gostaria que alguém fizesse isso com você Este lugar é meu eu cheguei primeiro Deixeo em paz ele não está prejudicando ninguém Por que você tinha de empurrar primeiro Me dá um gomo da sua laranja eu te dei um Vamos lá você prometeu p 17 Do ponto de vista de Lewis essas frases sugerem que quando há discordância as pessoas apelam para um padrão ético que imaginam ser compartilhado por todo o mundo Agora o que me interessa nessas observações é que a pessoa que as faz não está simplesmente dizendo que o comportamento do outro lhe desagrada Está ape lando para um padrão de comportamento que espera que o outro conheça E o outro raramente retruca Às favas o teu padrão Quase sempre ele tenta provar que o que fez na verdade não vai contra nenhum padrão ou se vai é porque há uma desculpa importante Ele faz de conta que há uma razão especial naquele caso para que a pessoa que pegou o lugar continue sentada ou que as coisas eram muito diferentes na ocasião em que ganhou o gomo de laranja ou que algo inesperado aconteceu que agora o impede de cumprir a promessa É como se na verdade os dois lados tivessem em mente algum tipo de Lei ou Regra de jogo limpo ou comportamento decente ou moralidade ou que nome se lhe dê sobre a qual realmente concordassem E têm p 17 Essa lei ou regra com a qual todo mundo concorda é chamada por Lewis de lei da natureza hum ana Ele explica cuidadosamente como vimos no Capítulo 9 que essa lei não diz respeito ao que fazemos mas ao que devemos fazer E uma lei que pode ser e muitas vezes é desobedecida Lendo nas entrelinhas podemos ver que a lei de Lewis diz respeito à bondade e à justiça Acaba resultando na Regra de Ouro faze aos outros o que queres que te façam Para Lewis parece que violamos a regra por interesse próprio e ele está interessado em saber por que há ocasiões em que obedecemos a ela Dá a entender que nossa única razão para agir altruisticamente é nosso senso interior do que é correto que nos foi dado por Deus Lewis ignora a possibilidade de que as pessoas também possam obedecer à Regra de Ouro por interesse próprio De acordo com nossa discussão sobre regras no Capítulo 8 essa regra mostra conseqüências a longo prazo e a probabilidade de retribuição quando fazemos coisas boas para os outros eles freqüentemente fa coisas boas para nós Hesitamos em violar abertamente a regra porque se girmos de forma egoísta com os outros é provável que eles respondam agindo de tnia egoísta conosco Nos termos mais técnicos do Capítulo 11 a Regra de Ouro obriga à eqüidade Você não consegue reforçar suficientemente o comportamento da outra pessoa larC0T rtamentO deseJado desaparecerá Se Míriam der a Cilene um gomo de vel a 6 dePs Cilene se recusar a dar um gomo a Míriam tornase pouco prová sua Ue ram venha a dar qualquer outra coisa a Cilene Se Lugui não cumprir c Prmessa a Sérgio é improvável que o comportamento de Sérgio venha a ser rlado de novo por uma promessa de Lugui uma regra Capítulo 8 Fazer aos 242 Wiliiom M Baum outros o que você quer que lhe façam significa que você reforça o comportamento dos outros e eles reforçam o seu Os biólogos evolucionistas também reconhecem o altruísmo ser bom para os outros e a reciprocidade considerações de eqüidade a longo prazo como univer sais humanos Reconhecem outros universais culturais como casamento direito de propriedade e reconhecimento de parentes O raciocínio dos biólogos é parale lo ao de Lewis onde quer que se olhe vêse que as pessoas compartilham e fazem sacrifícios por outros praticam altruísmo pelo menos parte do tempo que trapaças falta de reciprocidade a longo prazo também ocorrem e que a trapaça é punida especialmente pelos que foram logrados A universalidade desses fenômenos suge re realmente que a bondade e a justiça constituem uma lei da natureza humana Entretanto ao contrário de Lewis evolucionistas e behavioristas vêem as re gularidades do comportamento humano apenas como um reflexo de várias formas de egoísmo Míriam dá a Cilene um gomo de laranja só se for provável que Cilene retribua reforce o ato de doar de Míriam a longo prazo Sérgio pode dar tempo e dinheiro para sua igreja mas só se obtiver algo em troca a longo prazo Trapaças e comportamento verbal capaz de evitar punições devido a trapaças fingir de acordo com Lewis são diferentes do comportamento correto apenas por serem reforçados de forma mais imediata Constituem apenas uma forma mais óbvia de egoísmo agir de forma a produzir maior reforço a curto prazo Assim o altruís mo por aumentar o benefício a longo prazo ainda é egoísta A grande exceção ao egoísmo humano ocorre no comportamento dirigido a parentes Os pais principalmente fazem sacrifícios por seus filhos sem esperar retorno Irmãos muitas vezes se ajudam uns aos outros mesmo quando a recipro cidade é improvável ou abertamente rejeitam qualquer retribuição Tios e tias aju dam seus sobrinhos e sobrinhas Uma pessoa bem de vida pode até ajudar um primo que não tem condições de lhe corresponder As exceções porém confirmam a regra A universalidade do altruísmo sugere uma base genética Os genes de altruísmo dirigido a parentes seriam selecionados porque os parentes compartilham esses genes e a ajuda entre si tende a aumentar a freqüência dos genes compartilhados no conjunto gênico da população Genes que promovem o altruísmo dirigido a pessoas que não têm parentesco podem ser selecionados contanto que acompanhem genes responsáveis pela sensibilidade ao reforço a longo prazo Isso nos leva à questão das origens de onde provém a lei da natureza humana A questõo das origens Da mesma forma que evolucionistas e behavioristas Lewis rejeita a idéia dos relativistas morais de que os valores sobre os quais há acordo sejam simplesmente convenções sociais Eis como ele discute a questão O que você chama de Lei Moia j não seria só uma convenção social algo que nos é inculcado pela educação Concordo plenamente que aprendemos a Regra do Comportamento Decente corn j nossos pais e professores amigos e livros tal como aprendemos tudo o mais Pie algumas das coisas que aprendemos são meras convenções que poderiam ser o1 Compreender o behaviorismo 243 rentes aprendemos a ficar do lado esquerdo nas estradas mas a regra poderia perfeitamente ser manterse à direita e outras como na matemática são verdades reais A questão é saber a que classe pertence a Lei da Natureza Humana p 24 Lewis é claro sustenta que essa lei é uma verdade real e não uma dessas convenções que poderiam ser diferentes Detémse longamente na rejeição de uma explicação afim de que a conduta decente beneficia como um todo a sociedade a que se pertence assim formulando o argumento Os seres humanos afinal têm algum bom senso percebem que você não pode ter verdadeira segurança ou felicida de a não ser em uma sociedade em que cada um jogue limpo e é por isso que tentam se comportar decentemente Ele repudia essa explicação da seguinte forma Ora com certeza é perfeitamente verdadeiro que a segurança e a felicidade só podem existir se indivíduos classes e nações forem honestos justos e bondosos uns com os outros Essa é uma das mais importantes verdades no mundo Mas como explicação de por que sentimos o que sentimos com relação ao Certo e Errado simplesmente não leva a nada Se perguntarmos Por que não devo ser egoísta e você responder Porque é bom para a sociedade podemos então per guntar Por que eu me importaria com o que é bom para a sociedade senão no que atinja a mim pessoalmente e então você terá de dizer Porque você não deve ser egoísta o que simplesmente nos traz de volta ao ponto de partida p 29 Para Lewis tem de existir algum fator adicional alguma razão última para explicar por que sentimos o que sentimos com relação ao certo e errado e por que devemos nos comportar de forma nãoegoísta Os biólogos evolucionistas usam um argumento semelhante contra as explica ções de altruísmo que apelam para o agir para o bem da espécie ou para a seleção do grupo Se os indivíduos se comportassem de forma a aumentar a aptidão do grupo às suas próprias custas então qualquer membro do grupo que agisse egoisticamente usufruindo os benefícios de pertencer ao grupo sem fazer sacrifí cios isto é trapaceando teria aptidão superior ao resto Aumentaria o número de indivíduos egoístas o que eventualmente desmantelaria a organização social Qualquer sistema social baseado no bem do grupo seria vulnerável a rupturas cau sadas por trapaceiros a não ser que alguma consideração maior em última análise egoísta pudesse obrigar os indivíduos a permanecer altruístas Embora as explicações religiosa e evolutiva dos valores concordem em que algum fator último ou padrão absoluto deva explicar nossos valores a concordan ce acaba aí Lewis propõe que a lei da natureza humana vem de Deus enquanto os eVolucionistas argumentam que ela é resultado da seleção natural UMA abordagem científica dos valores k explicação científica dos valores não pode apelar para causas sobrenaturais como 0eus Contrariando a afirmação de Lewis terão os behavioristas algo a dizer sobre 9Ue devemos fazer independentemente do que de fato fazemos 244 William M Baum A resposta é sim e não Os analistas de comportamento podem explicar açõ f que são consideradas boas ou más e particularmente podem explicar o comporta mento verbal das pessoas sobre o bom e o mau o certo e o errado isto é expliCg o que as pessoas falam acerca do que devemos fazer Uma pessoa religiosa coin0 I Lewis porém poderia ficar insatisfeita com essas explicações e querer saber p0r que o universo é de tal forma construído que chegamos a dizer uns aos outros coisas do tipo Não roubarás Mesmo que possamos explicar como se chegou a isso í sendo o m undo do jeito que é permanece a questão de por que o mundo é dessé I jeito Como disse Lewis 1960 A ciência trabalha por meio de experimentos Observa como as coisas se compor tam Por mais complicado que pareça ao final todo enunciado científico na ver dade significa algo como Apontei o telescópio para tal parte do céu às 220 da manhã do dia 15 de janeiro e vi isso e aquilo ou Coloquei um pouco dessa substância numa vasilha aquecia a tal temperatura e aconteceu isso e aquilo Mas por que de qualquer maneira alguma coisa aparece lá e se há alguma coisa por trás das coisas que a ciência observa algo de uma qualidade diferente í isso não é uma questão cientifica Se há Algo Atrás terá de ficar de todo desconhecido dos homens ou então terá de se fazer conhecido de outra forma A afirmação de que essa coisa existe bem como a afirmação de que essa coisa não existe não são afirmações que a ciência possa fazer Afinal é na verdade uma questão de senso comum Suponhamos que a ciência se tomasse algum dia tão completa que viesse a conhecer cada uma das coisas existentes em todo o universo Não é óbvio que as perguntas Por que o universo existe Por que continua como é e Ele tem algum sentido ficariam exatamente do mesmo jeito p 32 Reconhecendo a correção do argumento geral de Lewis quanto à existência de questões que estão fora do âmbito da ciência podemos discordar de suas afir mações tratando a lei da natureza hum ana como advinda do Além desde que V concentremos nossa atenção nos atos e falas que se conformam à lei Podemos explicar por que as pessoas se comportam de forma nãoegoísta e por que se refe rem ao com portam ento egoísta como mau e ao nãoegoísta como bom Como an tes usarem os como fundamento conceitos analíticocomportamentais básicos como reforço com portam ento verbal e controle de estímulo Reforçadores e punidores Skinner 1971 ofereceu uma regra prática simples coisas que são chamadas boas são reforçadores positivos Coisas que são chamadas más são punidores Atividades chamadas boas são aquelas que são reforçadas Atividades que são chamadas más são aquelas que são punidas Certas coisas e atividades são boas ou más devido à forma como nossos cor pos são construídos A saúde é boa a doença é má A comida e o comer são bonSi a dor e a prostração são más O afeto é bom a rejeição é má Compreender o behaviorismo 245 Reforçadores e punidores adquiridos são chamados bons ou maus porque ror3rn associados a reforçadores ou punidores incondicionais Dinheiro é bom si al de doença é mau Um A é uma boa nota um E é uma nota má Seu poder como conseqüência assim como seu rótulo verbal provêm de uma história pessoal Variam de época para época de pessoa para pessoa e de cultura para cultura 0 comporta mento de muitas crianças pode ser reforçado com figurinhas de futebol e essas crianças chamam essas figurinhas de boas Raramente isso acontece com adultos mas para alguns deles as figurinhas continuam sendo reforçadores Para o habitan te de uma aldeia tibetana é pouco provável que essas figurinhas funcionem como reforçadores ou que sejam chamadas boas elas não estão associadas a reforçadores incondicionais nem o comportamento verbal de chamálas boas é reforçado A maior parte dos reforçadores e punidores adquiridos resulta do fato de vivermos em sociedade com outras pessoas Notas medalhas repreensões elogios chegar ao trabalho na hora pegar o ônibus o poder de todas essas conseqüências é social em sua origem é o resultado de relações organizadas pelo grupo Todas elas são chamadas boas ou más dependendo de reforçarem ou punirem o com portamento que as produz Repreensões são más punem a mentira a fraude o atraso o descuido e assim por diante Chegar ao trabalho é bom reforça o acordar cedo comer depressa pegar o ônibus e assim por diante Se a maior parte das coisas chamadas boas ou más são assim designadas devi do a circunstâncias sociais assim também a maioria das atividades chamadas boas ou más são assim designadas devido a circunstâncias sociais isto é porque são reforçadas ou punidas por outras pessoas Dividir coisas com irmãos ou com outras crianças é chamado de bom e é reforçado por pais e professores Fazer doações a instituições de caridade é chamado de bom e é reforçado por amigos colunistas de jornal e pela Receita Federal através da redução de impostos Mentir é chamado de mau e é punido por pais professores e amigos Oferecer ou aceitar suborno é chamado de mau e é punido pelo sistema judiciário A regra prática de Skinner que considera o reforço como bom e a punição como má importa em um a regra sobre julgamentos de valor o comportamento verbal envolvendo bom mau certo e errado A verbalização Mentir é errado ocorre porque verbalizações desse tipo foram reforçadas por pais e professores Assim uma pessoa que nunca recebeu aprovação por tais verbalizações jamais dirá que mentir é errado embora talvez nunca venha a mentir se sua história incluiu o reforço da honestidade e a punição da mentira Outra pessoa poderá dizer que mentir é errado e no entanto mentir freqüentemente Em geral porém as pessoas Que foram punidas por mentir são as mesmas cujo comportamento verbal de dizer Que mentir é errado foi reforçado Chamar reforçadores de bons e comportamento reforçado de certo assim como chamar punidores de maus e comportamento puni do de errado é comportamento verbal que é normalmente reforçado Essa explicação esclarece um pouco por que chamamos coisas e atividades de boas e más mas não responde a pelo menos duas questões fundamentais Primeiro ternos sentimentos intensos a respeito do certo e do errado a respeito da Regra do Comportamento Decente como diria Lewis Quando fazemos algo bom senrimo ns bem quando fazemos algo mau sentimonos mal Muitas vezes se sugere que 246 William M Baum chamamos as coisas de boas ou más em função do que sentimos sobre elas Como os sentimentos se relacionam com as coisas que chamamos de boas ou más Em segundo lugar mesmo que seja verdade que as atividades boas e más são aquelas que são reforçadas e punidas em nossa sociedade ainda nos resta explicar por que é costume dessa sociedade reforçar e punir aquelas atividades específicas O que há nas atividades boas e más que leva o grupo a reforçálas e punilas Esse é o enigma que Lewis levantou e respondeu apelando para Deus Os analistas comportamentais hoje em dia seguem geralmente a posição de Skinner 1971 1981 e respondem à questão referindose à teoria da evolução como veremos neste capítulo e no próximo Primeiramente atacaremos a questão do papel dos sentimentos e depois passaremos ao papel tía evolução Sentimentos Skinner 1971 discutiu a diferença entre o que podemos fazer e o que devemos fazer como exemplo da diferença entre um fato e como nos sentimos a respeito desse fato Embora as pessoas facilmente aceitem essa distinção Skinner salienta que para o analista comportamental tanto o ato como o sentim ento sobre ele são fatos a serem explicados 0 que as pessoas sentem sobre os fatos ou o que significa sentir alguma coisa é questão para a qual a ciência do comportamento deveria ter uma resposta Um fato é sem dúvida diferente do que a pessoa sente a respeito dele mas o sentimento é um fato tam bém p 103 Se Sérgio perde a cabeça grita com Cilene e depois se sente péssim o mais tarde o analista comportamental precisa explicar não apenas os gritos de Sérgio mas também seu sentirse péssimo Tanto o gritar de Sérgio quanto seu sentirse mal são atividades Seu sentirse mal inclui abaixar a cabeça e falar sobre quão m al ele se sente Os relatos que falam em sentirse bem ou sentirse mal são exemplos de autoconhecimento Capítulo 6 Para entender esses relatos temos de examinar a história de reforço e punição da pessoa Nem todo o mundo se sente mal após gritar com alguém então porque Sérgio se sente Muito provavelmente seu gritar foi freqüentemente punido ao longo dos anos por pais professores e amigos O resultado é que quando se com porta mal ele fica infeliz e relata sentimentos de ansiedade vergonha e culpa Skinner argumentou que esses relatos são comportamento verbal sob con trole discriminativo das condições do corpo Essas condições pelo menos parcial mente podem ser públicas como quando se registram mudanças no ritmo car díaco na respiração nas secreções gástricas ou nas glândulas sudoríparas duran te uma situação emocionalmente carregada Públicas ou privadas elas fu n cio nam como estímulos discriminativos os quais junto com circunstâncias externas a gritaria a expressão magoada no rosto de Cilene determinam a ocasião para os relatos de sentirse mal envergonhado ou culpado Relatos de sentirse bein ocorrem em situações similares àquelas em que o comportamento no passad o foi reforçado O relato de Míriam dizendo que se sente bem quando tira A em Compreender o behaviorismo 247 algum curso resulta de condições somáticas que também recebem o nome de alegria e êxtase Os relatos porém não explicam por que as situações que lhes deram origem são chamadas boas e más na verdade os relatos de sentimentos e as verbalizações bom e m au provêm da mesma fonte a história Os sentimentos e os julgamen tos de valor brotam de duas histórias de reforço e punição paralelas Skinner atri buiu as condições somáticas ao condicionamento respondente elas são reações fisiológicas a situações nas quais reforçadores e punidores eventos filogeneticamente im portantes Capítulo 4 ocorreram no passado do indivíduo Surgiram como subproduto das relações operantes que controlaram os reforçadores e punidores isto é relações de reforço que modelaram encorajaram ou desencorajaram o comportamento designado como bom ou mau As verbalizações sobre bom e mau procedem de um conjunto paralelo de relações no qual rótulos de bom foram refor çados na presença de reforçadores e de comportamento reforçado e no qual rótu los de mau foram reforçados na presença de punidores e de comportamento puni do Tendo gritado com Cilene Sérgio diz que fez algo errado e que se sente mal mas ele não faz um por causa do outro as duas ações verbais provêm de histórias de reforço que se sobrepõem mas que são diferentes A diferença entre as histórias explica por que as pessoas conseguem falar sobre o que é bom e mau sem se sentir necessariamente bem ou mal As discussões sobre certo e errado em geral provocam paixão mas elas podem proceder calma mente Posso decidir que devo fazer um seguro sem sentir nada especial a respeito O histórico de afirmações de valor difere do histórico de sentimentos o que nos permite entender o uso de palavras como deve e deveria Enunciados que envol vem essas palavras são regras no sentido do Capítulo 8 isto é estímulos discri minativos verbais Quando Míriam diz para Lugui Para chegar ao banco você deveria virar à esquerda na esquina ela poderia igualmente ter dito Se você virar à esquerda essa ação será reforçada por chegar ao banco O deveria é uma dica para Lugui de que seu comportamento pode ser reforçado As regras são geralmen te cham adas julgam entos de valor quando indicam reforço social em que os reforçadores são fornecidos por outras pessoas Skinner 1971 argumentou que uma afirmação como Você deveria você deve dizer a verdade é um julgamento de valor no sentido de que indica relações de reforço Isto poderia ser traduzido em termos como Se a aprovação de outras pessoas é reforçadora para você então o seu dizer a verdade será reforçado Ele comentou É um julgamento ético e moral no sentido em que ethos e mores se referem às práticas costumeiras de um grupo p 112113 Nos termos do Capítulo 8 Skinner está aqui argumentando que um Julgamento de valor é um a regra que mostra um reforço último que é social em sua natureza o resultado de práticas costumeiras do grupo ao qual falante e ouvinte Pertencem Se o comportamento do ouvinte se conforma às práticas do grupo o ouvinte colherá os benefícios de pertencer ao grupo por exemplo a aprovação tam bém recursos e oportunidades de reprodução Não podemos porém dis cutir práticas culturais Capítulo 13 ou princípios morais mais adiante sem pri meiro revisitar a teoria cla evolução j Teoria da evolução e valores I Até agora nossa discussão não respondeu a uma questão fundamental ou corno diria Lewis à verdadeira questão Se coisas e atividades boas são reforçadores e j atividades reforçadas e se coisas e atividades más são punidores e atividades puni das então o que faz com que os reforçadores tenham efeito reforçador e os j punidores tenham efeito punitivo j Esboçamos um a resposta parcial no Capítulo 4 a aptidão O alimento é reforçador para um organismo privado porque os tipos de uma população que graças a seu genótipo são organizados de forma a que o alimento seja reforçador se reproduzem em m aior número do que os que não têm essa organização A dor e um estímulo punitivo porque os tipos que são organizados de forma tal que lesões corporais causadoras de dor sejam um punidor se reproduzem em maior número do que aqueles que não têm essa organização Ocasionalmente devido a um defei to genético nasce um indivíduo desprovido da capacidade de ser punido por es timulaçao dolorosa Essas pessoas se machucam com muita freqüência e sobrevivem I à infância somente com vigilância constante por parte de quem cuida delas Proble mas do gênero apareceriam com pessoas deficientes em outros reforçadores e punidores pessoais abrigo sexo calor e frio excessivos náusea e assim por diante Como nossa espécie é social a aptidão de nossos genes é freqüentemente ligada a nosso comportamento uns com os outros Os benefícios de viver em grupo i só podem ser auferidos à custa de mecanismos que nos tornam sensíveis uns aos outros e dependentes uns dos outros Muitas vezes pesa sobrenós não apenas a aprovação de nossos irmãos mas também seu bemestar Não só um choro de bebê mas sinais de aflição mesmo em um estranho são geralmente aversivos Há com provação experimental de que o comportamento altruísta para com os outros fun ciona como reforçador mesmo independente de qualquer outro ganho pessoal Nossos interesses individuais de curto prazo são muitas vezes sacrificados no altar v do bem maior do grupo que acaba sendo nosso próprio bem maior a longo prazo Mais precisamente o bem maior a longo prazo é o bem maior de nossos genes O biólogo evolucionista Richard Dawkins 1989 coloca eloqüentemente a ques tão descrevendo os organismos como máquinas de sobrevivência que fazem apos tas dependendo da forma como seus genes organizaram seus corpos Em um mundo complexo a previsão é uma coisa arriscada Toda decisão tomada por uma máquina de sobrevivência é uma aposta e é tarefa dos genes programar os cérebros de antemão de modo que em média tomem decisões que valham a pena A moeda do cassino da evolução é a sobrevivência mais exatamente a sobrevivência dos genes mas para muitos fins a sobrevivência individual já é uma aproximação razoável Se você vai à cacimba beber água aumenta seu risco de ser comido por predadores que vivem de emboscar presas em cacimbas Se você não vai à cacimba eventualmente morrerá de sede Há riscos de qualquer lado que você olhe e você tem de tomar a decisão que maximize as oportunida des de sobrevivência de seus genes a longo prazo Algum tipo de avaliação das probabilidades tem de ser feito Mas não tem os de pensar evidentem ente que os anim ais fazem os cálculos conscientem ente Apenas tem os de acreditar 248 Williom M Baum Compreender o behaviorismo 24 que os indivíduos cujos genes construíram cérebros tais que os levam a fazer as apostas corretas terão como conseqüência direta maior probabilidade de sobrevi ver e portanto de propagar esses mesmos genes Cp 5556 Apostas e decisões aqui referemse a comportamento e geralmente em nossa espécie a comportamento aprendido Do ponto de vista dos genes a apren dizagem implica mais apostas ainda porque há menos segurança para os genes de que o organismo se comportará corretamente Renunciar a um pouco de controle a fim de fazer experiências com o ambiente pode auxiliar a sobrevivência assim sendo os genes que o permitirem se multiplicarão Por outro lado os genes que limitam a gama de atividades que podem ser aprendidas e a gama de aspectos do ambiente que podem ser sensíveis à aprendizagem serão selecionados se de uma maneira geral conduzirem o organismo a fazer boas apostas É por isso que os genes são responsáveis pela aprendizagem mas só até certo ponto Uma das for mas pela qual os genes mantêm o controle é determinando as coisas que serão boas emás ou reforçadores e punidores Sobre a aprendizagem operante Dawldns 1989 escreve Uma maneira pela qual os genes resolvem o problema de fazer previsões em ambientes bastante imprevisíveis é incorporar a capacidade de aprender Aqui o programa poderá assumir a forma das seguintes instruções à máquina de sobre vivência Eis aqui uma lista de coisas definidas como gratificantes gosto doce na boca orgasmo temperatura moderada uma criança sorrindo E aqui está uma lista de coisas desagradáveis vários tipos de dor náusea estômago vazio crian ça chorando Se lhe acontecer de fazer algo que venha a ser seguido por uma dessas coisas ruins não o faça de novo mas por outro lado repita qualquer coisa que for seguida por uma das coisas boas A vantagem desse tipo de programação é reduzir em muito o número de regras detalhadas que teriam de ser introduzidas no programa original além disso ela é capaz de lidar com mudanças ambientais que não poderiam ter sido previstas em detalhe p 57 Genes que definem reforçadores e punidores e que fornecem os meios para a aprendizagem operante serão geralmente selecionados em uma espécie como a nossa que vive em um ambiente incerto Por seu turno os reforçadores e punidores definem o que é bom e o que é mau mesmo quando a aposta dá errado e o compor tamento malogra em promover a aptidão ou mesmo a reduz Dawkins continua Em nosso exemplo os genes prevêem que o gosto doce na boca e o orgasmo serão bons no sentido de que comer açúcar e copular provavelmente serão benéficos à sobrevivência dos genes De acordo com esse exemplo a possibilida de de existência da sacarina e da masturbação não é antecipada como também não o são os perigos da ingestão excessiva de açúcar em nosso meio onde ele existe em abundância nãonatural p 57 Esse último aspecto merece destaque o açúcar existe em abundância não natural em nosso meio porque o meio mudou O ambiente em que os genes foram 250 William M Boum selecionados e que fez do gosto doce um reforçador nao mais existe O açúcar é agora abundante devido à mudança cultural e a mudança cultural é tão rápida erti comparação à mudança evolutiva que as mudanças no conjunto gênico da popula ção nunca conseguem acompanhála Mas a mudança cultural continua e atual mente comer muito açúcar tornouse uma coisa má e o bom é cuidar da dieta Esses rótulos porém têm a ver com algo que está além do indivíduo porque de pendem de práticas culturais de reforço e punição Voltaremos à cultura e à mu dança cultural no Capítulo 13 Altruísmo De acordo com a teoria da evolução e com a análise comportamental o verdadeiro altruísmo no sentido de autosacrifício sem possibilidade de ganho a longo prazo não pode existir Biólogos evolucionistas salientam que o altruísmo é quase sempre direcionado para a família O autosacrifício em prol de familiares pode ser selecio nado porque a família compartilha os genes responsáveis pelo comportamento al truísta mesmo que o altruísta saia perdendo do ponto de vista pessoal os genes podem aumentar através do benefício à família Os biólogos ainda argumentam que o autosacrifício se estende a estranhos apenas quando a reciprocidade é pro vável quando por exemplo a participação em um grupo requer o autosacrifício como preço dos benefícios dessa participação É muito mais provável que as pessoas ajudem á quem pertence a seu clube a sua vizinhança ou a seü povo do que auxiliem alguém com quem não tenham nenhum laço Os analistas comportamentais levam essa idéia um passo adiante ao notar que o comportamento altruísta depende de reforço Skinner 1971 por exemplo considerou o agir para o bem de outrem como resultado de reforço social Ele argumentou que quando outras pessoas dispõem reforço para um comportamento de um indivíduo podese dizer que a pessoa afetada se comporta para o bem de outrem p 108109 O indivíduo que é alvo do altruísmo pode se beneficiar de forma mais imediata mas o altruísta também se beneficia ao final As pessoas se comportam altruisticamente para com as outras em duas circunstâncias 1 quan do estão envolvidas em alguma relação com elas tal como descrito no Capítulo 11 de forma que a outra parte eventualmente lhe dará um retorno 2 quando tercei ros administram a situação de forma que a ação venha a ser reforçada Uma baba sacrifica tempo e esforço e às vezes corre o risco de se ferir pelo bem do filho de outra pessoa mas ao final é recompensada por dinheiro e pela aprovação dos pais da criança Os governos exigem que os cidadãos se sacrifiquem pagando impostos mas o pagamento de impostos é reforçado a longo prazo por serviços tais como escolas e coleta de lixo É evidente que pagando impostos também se evitam multas prisão e outras formas de punição O reforço a longo prazo nos ajuda a entender por que o altruísmo ocorre e a mesma natureza postergada do reforço nos ajuda a compreender porque o altruís mo muitas vezes não ocorre Nos termos dos Capítulos 9 Figura 92 e 11 o com portamento egoísta geralmente constitui impulsividade e o altruísmo geralmente e autocontrole As pessoas freqüentemente se comportam de forma egoísta porque o Compreender o behaviorismo 251 reforço para o egoísmo é relativamente imediato As pessoas mentem trapaceiam roubam e matam porque esses comportamentos recompensam a curto prazo Uma boa parte do que chamamos socialização consiste em colocar o com portamento em contato com conseqüências de longo prazo que reforçam a bonda de e a generosidade O comportamento verbal acerca de fazer o bem para os outros fornece regras no sentido dos Capítulos 8 e 11 que ajudam as pessoas a evitar as armadilhas de reforço do egoísmo Vimos uma dessas armadilhas na Figura 113 na qual o controlador tem de escolher entre uma relação de exploração que com pensa a curto prazo e uma relação mais cooperativa que compensa a longo prazo 0 controlado provê uma regra por exemplo uma promessa ou uma ameaça que fortalece a escolha que é melhor a longo prazo Como vimos nos Capítulos 8 e 9 èssas regras são geralmente amparadas por reforço social relativamente imediato por exemplo aprovação social O mal existe porque as regras e o reforço social talvez sejam ineficientes quando não totalmente ausentes no ambiente do indiví duo Na medida em que as pessoas se comportam bem entretanto o treinamento social funciona Visivelmente o comportamento altruísta nunca é destituído de autointeres se porque em última análise pode ser rastreado à influência genética a uma história de reforço ou mais freqüentemente a ambos As pessoas em geral são boas para seus irmãos e primos porque compartilham genes com esses parentes e porque foram ensinadas a assim fazêlo as ações boas foram reforçadas por pais e outros familiares Por serem reforçados os atos altruístas são chamados de bons Quando uma igreja ensina a seus membros que é bom ajudar os aflitos esse comportamento verbal mostra a probabilidade de atos de caridade serem reforçados por aprovação e status na igreja Um estímulo discriminativo verbal que rotula uma ação como boa ou que pareia deveria e deve com o nome da atividade constitui uma regra no sentido do Capítulo 8 Concluindo uma vez que tanto o comportamento do falante como o do ouvinte são reforçados o bom comportamento geralmente é constituído de comportamento controlado por regras no contexto de uma relação Embora Lewis 1960 estivesse correto ao afirmar que a ciência não pode tratar de questões últimas como Por que o universo existe equivocouse ao sus tentar que a ciência não poderia dizer nada sobre o que é certo ou errado ou sobre 0 que as pessoas devem fazer Mesmo que nenhum cientista possa dizer por que o universo está organizado de forma tal que as sociedades vieram a ser o que são os analistas comportamentais podem explicar as convenções isto é o comportamen to verbal acerca do certo do errado e do dever a lei da natureza humana como resultado de efeitos genéticos e aprendizagem operante Princípios Se é verdade que expressões irritadas com o Por que você tinha de empurrar pri meiro ou Me dá um gomo da sua laranja eu te dei um constituem comporta mento verbal oriundo de reforço passado o mesmo se aplica a julgamentos e ímpo SlÇões morais O mandamento Não roubarás que é equivalente a dizer que roubar 252 William M Baum é errado é uma regra no sentido do Capítulo 8 É um estímulo discriminativo verbal que indica um a punição costumeira roubar é um tipo de atividade que provavelmente será punida em nossa sociedade Como estímulo discriminativo reduz a probabilidade do roubo O mesmo pode ser dito dos outros nove man damentos Ao chamar esse tipo de asserção de mandamento ou imposição estamos a distinguilo de outras regras como conselhos Quando um pai aconselha um filho a não mentir a punição indicada é de natureza mais pessoal não só a sociedade pune o mentir mas o pai também desaprova Os estímulos discriminativos verbais chamados de princípios porém indicam apenas os reforços e punições mais gené ricos resultantes das práticas do grupo Nossa discussão de regras no Capítulo 8 nos leva a considerar essas relações de reforço sociais genéricas como próximas e a procurar mais além por conseqüências últimas que poderiam explicar a existência da regra Como vimos naquele capítulo Figura 82 estaríamos procurando um efeito sobre a aptidão Será que o roubar ao final tenderá a diminuir a aptidão do indivíduo Essa pergunta é mais bem respon dida na discussão mais genérica sobre a proveniência das práticas culturais aí inclu ídos os mandamentos morais Retomaremos esse ponto no Capítulo 13 l vida plena Nenhuma discussão sobre valores seria completa sem algumareferência à questão do que é o bem último A que finalidade última se destinam as práticas grupais e o comportamento verbal sobre o bom e o mau Muitos filósofos economistas e ou tros cientistas sociais conjeturaram se seria possível à sociedade hum ana atingir algum dia um estado ideal e como seria essa vida plena absoluta Existirá um objetivo para o qual poderíamos estar trabalhando alguma organização social que seja se não ideal pelo menos a melhor possível Platão propôs a monarquia com um reifilósofo O economista Jeremy Bentham propôs a ordem econômica do maior bem para o maior número As análises que pressupõem um estado final desse tipo são muitas vezes cha madas de utópicas nome derivado do país imaginário Utopia palavra grega que significa lugar nenhum sobre o qual Thomas More escreveu Teriam os analistas de comportamento um a nova utopia para propor O Capítulo 14 dará um a respos ta mais ampla a essa pergunta mas podese dar aqui uma breve resposta Os analistas comportamentais não podem especificar para onde a sociedade está se dirigindo da mesma forma que os biólogos evolucionistas não podem pre ver onde ao final a evolução poderá acabar Embora Walden Two obra de ficção de Skinner 19481976 tenha sido freqüentemente chamada de utópica Skinner sempre desautorizou esse rótulo porque para ele a comunidade imaginária desse livro representava um método e não um objetivo Muito embora os analistas de comportamento não possam especificar um es tado fina ideal eles podem oferecer métodos de mudança e métodos para decidir se as mudanças estão encaminhando a sociedade para a direção correta Por exenv pio a democracia se mostrou uma boa prática por ter aumentado a satisfação de Compreender o behaviorísmo 253 muita gente em relação a situações anteriores e em comparação com ditaduras vigentes Da forma como a conhecemos entretanto pode ser que a democracia não seja a palavra final em matéria de sistemas de governo Nas eleições america nas è chocante ver as baixas porcentagens de eleitores que votam Há gente de caís sem educação sem emprego sem teto Poderemos implementar mudanças que aumentem a participação Poderemos passar de relações de reforço coercivas e exploratórias para relações mais eqüitativas Ao procurarmos meios de eliminar as falhas de nosso sistema de governo os analistas comportamentais podem suge rir mudanças deliberadas de relações de reforço a serem feitas em base experimen tal e a serem avaliadas pela sua capacidade de aumentar a satisfação da sociedade Essas idéias de experimentação e avaliação social serão retomadas no Capítulo 14 RESUMO Os analistas comportamentais abordam questões relativas a valores focalizando o que as pessoas fazem e dizem sobre coisas e atividades que são chamadas boas e más ou certas e erradas O relativismo moral idéia segundo a qual os rótulos de bom e mau variam arbitrariamente de cultura para cultura e surgem estritamente como convenções sociais é rejeitado tanto por pensadores religiosos como por analistas comportamentais Em vez disso ambos os grupos se mostram favoráveis a um padrão universal a algum princípio que todos os seres humanos partilham em comum C S Lewis pensador religioso defendeu a idéia de que todos temos uma noção das regras de como se comportar mesmo que freqüentemente as viole mos Os analistas comportamentais também reconhecem princípios universais de comportamento decente na forma do altruísmo e da reciprocidade Lewis diverge dos analistas comportamentais porém na questão das origens Enquanto os pen sadores religiosos vêem os padrões de certo e errado como emanados de Deus os analistas de comportamento vêem esses padrões como oriundos da história evolutiva tal como Skinner Segundo a regra prática de Skinner sobre o bom e o mau as coisas chamadas boas são reforçadores positivos as coisas chamadas más são reforçadores negati vos atividades chamadas de boas são reforçadas e as atividades chamadas más são punidas Embora reforçadores e punidores incondicionais bem como as ativi dades a eles associadas venham a ser chamados bons e maus devido à forma como são construídos nosso mundo e nossos corpos muitas coisas e atividades também são chamadas boas e más devido a nosso ambiente social visto que grande parte do reforço e punição que nosso comportamento recebe resulta das atividades de utras pessoas Desde cedo na infância essas pessoas não somente ensinam refor çadores e punidores condicionais mas também nos ensinam a chamar de más as coisas que punem e as atividades que são punidas e de boas as coisas que reforçam e as atividades que são reforçadas A história de reforço e punição do indivíduo explica não apenas por que ele totula coisas como boas ou más mas também por que se sente bem ou mal a respeito dessas coisas As pessoas dizem que se sentem mal em situações nas quais SeU comportamento foi punido os eventos fisiológicos chamados sentimentos 254 William M Baum funcionam juntamente com o contexto público como estímulos discriminativos que induzem esses relatos As pessoas dizem sentirse bem por razões análogas em situações nas quais seu com portam ento foi reforçado Os sentimentos não expli cam a fala sobre o bom e o mau na verdade os eventos fisiológicos e os relatos sobre sentirse bem ou mal provêm de um a história de reforço e punição paralela e parcialmente sobreposta à história que gera o discurso sobre coisas e atividades boas e más isto é julgamentos de valor Os julgamentos de valor o que é muito claro quando envolvem deveria ou deve são regras estímulos discriminativos ver bais que indicam relações últimas que são sociais originamse das práticas do grupo a que o ouvinte pertence e afetam o relacionamento com outros membros do grupo Quando inquiridos sobre a origem dos reforçadores e punidores especial mente os sociais os analistas eom portam entais respondem que ela está na seleção natural Os genes que tornaram certos eventos reforçadores ou punidores desse modo promovendo o sucesso reprodutivo dos indivíduos deles portadores seriam selecionados Assim se explica não apenas porque o gosto doce e o orgasmo são reforçadores mas também por que ajudar pessoas de sua família ainda que se sacrificando é reforçador O altruísm o p a ra com filhos e outros parentes é selecio nado porque promove os genes indutores de altruísmo compartilhados pela famí lia O altruísmo para com pessoas que não têm parentesco depende dos benefícios a longo prazo para o altruísta Ou a pessoa estranha retribui ao final porque tem uma relação com o altruísta ou práticas grupais determinam que outros membros do grupo forneçam o reforço último Em qualquer dos casos o altruísmo ao final beneficia o altruísta é reforçado No contexto dessas relações de reforço sociais as imposições morais e éticas constituem estímulos discriminativos verbais regras que resultam em reforço ou punição social A análise com portam ental pode ajudar nossa sociedade a trabalhar por uma vida plena oferecendo form as de identificar e implementar um melhor reforço social LEITURAS ADICIONAIS Dawkins R 1989 The selfish gene Oxford Oxford University Press Excelente livro que apresenta a moderna teoria da evolução de forma amigável Lewis C S 1960 Mere Christianity Nova York Macmillan O ensaio que dá título ao livro trata de ciência e religião Midgley M 1978 Beast and man the roots of human nature Nova York New American Library Discussão a respeito de valores sob a perspectiva da filosofia moral e da teoria da evolução Skinner B E 1971 Beyond freedom and dignity Nova York Knopf O capítulo 6 em espe cial trata de valores N de T Título traduzido em português ver A pêndice Compreender o behoviorismo 255 Skinner B F 19481976 Walden Two Nova York Macmillan O romance de Skinner originalmente publicado em 1948 sobre uma sociedade experimental contém discussões sobre valores e reforço social Skinner B E 1981 Selection by consequences Science 213 501504 Reproduzido em Upun further reflection Nova York Prentice Hall 5163 Nesse artigo clássico Skinner com para aprendizagem operante seleção natural e evolução cultural VVeiss R E Buchanan W Altstatt i e Lombardo J R 1971 Altruism is rewarding Science 171 12621263 Esse artigo reiata um estudo em que sujeitos humanos demonstra ram sem terem sido instruídos os efeitos reforçadores de reduzir o nívei de desconforto de outra pessoa TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPITULO 12 Altruísmo Ética situacional Reciprocidade Relativismo moral Utopia de T Título traduzido em português ver Apêndice Prefabricated buildings offer many advantages for a school project or a walkin clinicdurability availability fast costeffective assembly on site design compatibility and typically low environmental impactAs an option many prefabricated buildings feature metal structural framing and exterior finish materials that are resistant to fire pests and moisture They also often integrate energy efficient systems and componentsAn additional important advantage with metal prefabricated building systems is the ease of adding to or expanding the structure later This can be a costeffective advantage when a building owner or school board lacks funding up front for an entire project or when the size future expansion will require is unknownNSBA has long worked to promote systembuilt construction with the intent of maximizing quality and saving cost and time An April 2012 NSBA publication featured information on metal frame building systems This booklet addresses key design and construction issues with the nonstructural components of a metal building envelope It is designed as a companion to NSBAs booklet that addresses important nonstructural design and construction issues for masonry building envelopes All buildings require a weathertight enclosure as protection from the elements but the components used for this purpose are materially different for masonry and metal building envelope systemsThis booklet is divided into two parts Part One contains design and construction information for metal building envelope components Part Two contains supporting technical design data tables and construction detail examplesAt a 5 degree F outside design temperature a 2x6 metal stud wall with 3 inches of polyurethane insulation a solid foam insulated commercial entry door and a double pane clear window with a U value of 037 can yield an R value of about 20 Designs and assemblies in other climates could be evaluated with other wall thickness insulation thickness door and window U values and more Refer to Part 2 for tables and charts on the thermal performance of products and assemblies for metal building envelopesRegardless of the building system design and construction professionals designing and constructing educational and specialty facilities should keep the following primary goals in minda The building envelope must resist environmental elements of windrain heatcold and vapor migration to provide a durable weathertight safe structure with good energy efficiency b The building envelope should contribute to the design and development of the school It should promote good indoor environmental quality so students are comfortable can focus and learn and staff can achieve the highest possible productivity and morale c The construction products integrated in the building envelope should be durable sound integral and have a welldocumented history of performance Prefabricated building systems can meet these goals and when combined with an appropriate level of design assessment and quality craftsmanship can satisfy the needs of students staff and visiting parents and community members No single system process or manufacturer will be ideal for every local need but an understanding of the capabilities and limitations of prefabricated building technology can serve as a guide to selecting the appropriate building system for a project Prefabricated metal building systems are typically made from a steel framework and metal sheeting that can serve as the roof and walls They can be manufactured in many shapes and sizes and have many types of interior finish Their external finish can be paint wall panels or other covering materials eg brick veneer Prefabricated metal buildings are including school classrooms administrative buildings and walkin clinics for health care facilities This booklet addresses the nonstructural design and construction issues associated with the metal building envelope which is part of the outer shell of the building that encloses protects and shelters the interior from environmental elements The subjects addressed in this booklet include writing specs for a metal building envelope product selection designing for thermal comfort designing for environmental protection protecting the integrity of workmanship on the construction site and durability The technical information in Part Two includes weatherwater resistance fire resistance acoustics thermal evaluations structural principles drawings and code considerationsThe technical information in Part Two includes weatherwater resistance fire resistance acoustics thermal evaluations structural principles drawings and code considerationsSOURCESThis booklet is based on documents and standards provided by the Metal Building Manufacturers Association MBMA National Roofing Contractors Association NRCA Air Barrier Association of America ABAA and American Society of Heating Refrigeration and Air Conditioning Engineers ASHRAE and the National Institute of Building Sciences NIBS REFERENCESNational Institute of Building Sciences NIBS Whole Building Design Guide wwwwbdgorgMetal Building Manufacturers Association MBMA wwwmbmacomNational Roofing Contractors Association NRCA wwwnrcanetAir Barrier Association of America ABAA wwwairbarrierorgASHRAE Handbook Fundamentals 2009 edition wwwashraeorg This document was developed by the National Steel Bridge Alliance as a resource in the design and construction of metal building envelopes for educational and specialty facility projects NSBA is a nonprofit trade association with over 100 corporate members in the steel bridge industry NSBAs mission is to improve the quality safety and economy of steel bridge projectsContact Information National Steel Bridge Alliance trade association of the American Institute of Steel Construction27100 Timberbrook Dr Suite 120 Valencia CA 91355Phone 661 7750100 Fax 661 7750199 wwwsteelbridgesorg 612 13 Evolução da cultura Le há uma coisa que diferencia os seres humanos das outras espécies é a cultura não no sentido de melhor educação ou de erudição mas no sentido de costumes do diaadia compartilhados e transmitidos por um grupo de uma geração para outra O mundo contém tal diversidade de culturas que por um tempo os estudiosos de antropologia cultural se concentraram simplesmente na tarefa de classificar e cata logar as culturas existentes de acordo com seus principais traços pois parecia não haver uma maneira cientificamente correta de explicar essa diversidade Essa situa ção mudou na década de 1970 quando psicólogos e biólogos evolucionistas expan diram suas explicações acerca do comportamento de forma a incluír a cultura Como essas explicações enfocavam o comportamento um dos resultados da influência dos biólogos e psicólogos foi a redefinição da cultura em termos comportamentais Antes da década de 1970 a maioria dos antropólogos definia cultura em termos de abstrações conceitos mentalistas tais como conjunto de valores e crenças compartilhados Uma exceção notável a essa postura era a do antropólogo Marvin Harris que definia a cultura mais concretamente em termos de costumes compartilhados comportamento Como Harris Skinner 1971 defi niu a cultura concretamente ao indicar as práticas tanto verbais como nãoverbais que um grupo poderia compartilhar Os costumes não apenas diferem de um local para o outro mas mesmo dentro de um mesmo grupo podem mudar drasticamente ao longo do tempo Se um nor teamericano fosse hoje transportado para o período colonial teria dificuldade em Se comunicar com seus conterrâneos porque o inglês falado mudou enormemente nestes últimos 300 anos Outras dificuldades e malentendidos também ocorreriam no campo das convenções sociais vestuário casamento sexo e posse da terra De acordo com C J Sommerville 1982 por exemplo a infância é uma invenção relativamente recente originada no século XVI O aniversário de crianças somente Passou a ser comemorado de forma regular a partir do século XVII 258 William M Baum Na teoria da evolução o problema de explicar a diversidade de formas coïnci de com o problema de explicar sua mudança porque formas novas e diversas sur gem como resultado de mudanças em formas ancestrais Nas teorias de evolução biológica imaginase por exemplo uma população ancestral de ursos alguns dos quais migraram cada vez mais para o norte e tornaramse como resultado da sele ção cada vez maiores e mais brancos vindo a constituir a espécie diferente qUe temos hoje De modo semelhante o problema de explicar a diversidade de culturas coin cide com o problema de explicar mudanças nas culturas Em uma teoria de evolu ção cultural poderseia imaginar um a cultura ancestral carregada por um grupo que se dividiu em dois A partir dos costumes ancestrais novos costumes poderiam surgir através de modificações até que as culturas dos dois grupos praticamente não apresentassem semelhanças Surge a possibilidade de um paralelo poderia a evolução cultural ser explicada pelo mesmo tipo de teoria que explica a evolução biológica como resultado da seleção atuando sobre a variação Como mencionado em capítulos anteriores os detalhes dessa explicação são relativamente sem importância Alguns detalhes podem estar errados e as explica ções da evolução cultural m udarão à medida que apareçam novas idéias Nosso objetivo é apenas demonstrar que uma explicação comportamental é possível e mostrar que essa explicação é suficientemente complexa para ser plausível EVOLUÇÃO BIOLÓGICA E CULTURA Para traçar um paralelo entre a evolução biológica que altera um conjunto gênico populacional e a evolução cultural que altera o comportamento social de um gru po precisamos pensar o conceito de seleção em termos muito gerais como fizemos no Capítulo 4 onde traçamos um paralelo entre seleção natural e aprendizagem operante Como esses dois conceitos a evolução cultural também pode ser vista como resultado de variação transmissão e seleção Porém a evolução cultural não pode ser entendida independentemente daqueles dois conceitos porque o compor tamento envolvido é comportamento operante e depende para sua aquisição de uma base genética que se origina da seleção natural Replicadores e aptidão Quais são as unidades da seleção Quais são as coisas que variam e são transm iti das e selecionadas Com o s conceitos de seleção natural e aprendizagem operante pudemos evitar essa pergunta simplesmente falando sobre genes alelos e variação no comportamento operante Com a evolução cultural as unidades de seleção são menos óbvias e mais controversas porque falar de cultura em termos de com porta mento e de seleção contradiz a tradição Quais são as partes que compõem uma cultura e entram no processo de seleção Para responder a essas perguntas biólogos evolucionistas como R ichard Dawkins 1989 desenvolveram o conceito de replicador uma entidade que uma Compreender o behaviorismo 259 veZ existente faz cópias de si mesma Não se pode afirmar que mesmo o DNA copia a si mesmo porque ele apenas entra em um processo químico que resulta eIn unia cópia do original Para se qualificar como replicador a entidade deve possuir três tipos de estabilidade 1 longevidade 2 fecundidade e 3 fidelida de de cópia Como a reprodução é demorada a longevidade garante que o replicador existirá por um tempo suficientemente longo para se reproduzir Dawkins imagina um gene um pedaço de DNA em um caldo primordial existente antes dos orga nismos A molécula ou pedaço de molécula teria de permanecer quimicamente estável por um tempo suficiente para ser copiada e quanto mais durasse mais cópias seriam feitas Depois do advento dos organismos os genes de um conjunto gênico tendiam a ser quimicamente estáveis mas poderiam ser alterados por ra diação ou fracionados durante a divisão celular em especial durante a formação dos gametas na meiose porque os gametas carregam as cópias que são transmi V tidas de um a geração para outra A fecundidade referese à tendência de copiarse freqüentemente de dois replicadores rivais alelos o que é copiado mais vezes se tomará mais freqüente no conjunto gênico populacional Fidelidade na cópia refe rese à exatidão Cópias imprecisas tendem a perder os traços de seus genitores As cópias de um replicador bemsucedido se assemelham a ele e quanto mais seme lhantes melhor Essas três exigências favorecem unidades pequenas porque um pequeno pe daço de DNA é menos suscetível de ser danificado ou se quebrar é copiado mais rapidamente e há menor possibilidade de erros Se nada afetasse essas considera ções os replicadores teriam sempre o menor tamanho possível Os requisitos da estabilidade são contrabalançados por outras considerações que favorecem unida des maiores Os fatores que facilitam a existência de replicadores maiores podem ser resu midos na palavra eficácia Uma unidade grande pode ter um efeito grande no fenótipo organismo em que está situada e assim pode ter um efeito grande em seu pró prio futuro Se um único gene controlasse a produção de uma molécula inteira de proteína digamos um a enzima que por sua vez controlasse várias reações quími cas ele asseguraria que seu fenótipo tivesse os traços que conduziriam a uma vida longa e reproduções freqüentes Entre as vantagens do tamanho pequeno estabilidade ou grande eficácia s replicadores tendem a ficar com um tamanho intermediário e variável As vezes um pedaço relativamente grande de DNA pode ser estável o bastante para se pro Pgar em um a população As vezes um pedaço pequeno pode ser suficientemente eficaz para ser selecionado se controlar um pedaço crucial da estrutura de uma molécula de proteína por exemplo Uma forma particularmente interessante de conseguir eficácia em pequenas umdades pode ser chamada de trabalho em equipe Dawkins mostra que os genes raramente operam sozinhos A seleção favorece genes que cooperam ou agem em A ju n to com outros genes Digamos que dois alelos de um gene X e X se igualem aptidão sob todos os pontos de vista exceto que X trabalha com outro gene Y Para produzir um fenótipo mais bemsucedido A combinação XY aumentará e Possivelmente eliminará completamente as combinações do alelo X Desse modo Agrupamentos de genes e de traços podem ser selecionados agrupamentos intei 260 William M Boum ros como pulmões e respiração pele e membros ou penas fortes asas voar e construir ninhos em árvores Dawkins teoriza que é dessa maneira que os organis mos surgiram os genes sobreviveram e se reproduziram melhor quando foram agrupados em máquinas de sobrevivência Sociedades Se os genes geralmente se saem melhor em agrupamentos então talvez às vezes eles pudessem se sair melhor ainda em agrupamentos de agrupamentos Quer di zer às vezes os genes poderiam se beneficiar da construção de máquinas de sobre vivência que se juntassem em grupos Existem várias vantagens para peixes que nadam em cardumes ou pássaros que voam em bandos Em comparação com indi víduos isolados tais agrupamentos oferecem por exemplo melhor proteção con tra predadores e maior eficiência na localização de comida Grupos de predadores como leões ou hienas podem subjugar presas muito maiores do que poderiam fazêlo sozinhos Outras coisas sendo iguais podese dizer que se alelos que cons troem máquinas de sobrevivência sociais tendem a sobreviver mais do que alelos que constroem máquinas de sobrevivência isoladas então com o passar do tempo essa espécie passará a ser encontrada em grupos Contudo é necessário mais do que um agrupamento para constituir uma so ciedade Um rebanho ou bando pode ser um tipo de parceria limitada como o comportamento de indivíduos que se limitam a manterse perto do resto do grupo só enquanto se alimentam Em uma sociedade porém os indivíduos não se com portam apenas em seu próprio benefício Quando um grupo de lobos rastreia e mata um alce eles se comportam juntos de maneira a beneficiar a todos O com portamento de cada um é necessário para a obtenção da meta e sem os esforços de todos nenhum se beneficiaria Isso é cooperação Capítulo 11 Para os lobos um alce é um a meta compartilhada literalmente falando uma vez morto ele é compartilhado pelos membros do grupo Se a participação de cada indivíduo depende dos benefícios que colherá das atividades do grupo então cada indivíduo deve receber um a parte dos benefícios Qualquer tendência à trapaça deve ser restringida porque os benefícios de cada indivíduo cessariam se o grupo se desintegrasse Serão selecionados aqueles genes que ajudarem a subordinar os interesses a curto prazo do indivíduo trapacear por exemplo aos interesses a longo prazo desse indivíduo m anter a associação com os demais Essa tendência em agir para o bem dos demais a curto prazo mas visando a recompensas maiores a longo prazo é o que denominamos altruísmo Capítulo 12 O altruísmo é a marca registrada de uma sociedade Quando um grupo vive junto em uma associação estável e seus membros se comportam altruisticam ente uns com os outros isso é um a sociedade Em uma sociedade como uma colônia de formigas em que todos são parentes o altruísmo pode ser selecionado pelo bene fício que traz aos genes altruístas compartilhados entre parentes próximos não h necessidade de reciprocidade Entre indivíduos sem qualquer grau de parentescc contudo o benefício m útuo depende de reciprocidade Junto com genes que prop1 ciam o comportamento altruísta devem ser selecionados também genes que pr Compreender o behoviorismo 261 iciem o lembrarse dos demais membros do grupo e o pagar dívidas tudo como fim só pacote Saber quem é quem e quem fez o que para quem torna possível até jflesmo para um grupo de leões sem nenhum parentesco formarem um bando capturarem uma presa grande protegeremse uns aos outros e alimentarem a ni nhada uns dos outros Claro que algum grau de parentesco sempre ajuda Não só o altruísmo mas muitos outros comportamentos sociais são seleciona i s quando as sociedades favorecem a aptidão Em seus estudos sobre marmotas pavid Barash 1982 encontrou diferenças dramáticas entre uma espécie de marmotas comuns no Canadá e nos Estados Unidos que são solitárias e marmotas olímpicas que são sociais Essas marmotas solitárias vivem em áreas baixas e fe cundas com prolongadas estações férteis enquanto as marmotas olímpicas vivem no alto de montanhas onde a estação fértil é curta e as condições climáticas muito duras As marmotas solitárias aparentemente se dão muito bem em sua região de clima ameno apesar de viverem sós Mantêm territórios dos quais excluem outros indivíduos da mesma espécie Machos e fêmeas se juntam apenas para acasalar e as fêmeas mantêm os filhotes apenas até o desmame quando então a ninhada se dispersa Para elas os custos de uma vida em sociedade excederiam o valor de seus eventuais benefícios Nas marmotas olímpicas foi selecionado juntamente com a pelagem espessa tudo aquilo que é necessário para a vida em grupo chamados de saudação reconhecimento de outros membros do grupo chamados de alarme manutenção de tocas divisão de alimentos e cooperação na defesa Além disso a ninhada em geral perm anece com o grupo por duas ou três estações férteis presumivelmente os filhotes não podem se desenvolver rapidamente com os recur sos tão limitados de um clima severo Barash teoriza que a maturação lenta pode ser o fatorchave que faz com que para esses animais os benefícios excedam os custos de viver em sociedade Apesar de viverem em sociedade poderíamos dizer que formigas ou até mes mo marmotas olímpicas têm uma cultura As formigas mostram uma capacidade surpreendente de adaptação Elas podem ser as únicas criaturas além dos seres humanos que se envolvem em guerras com os grupos lutando até a morte Al gumas espécies têm um a agricultura cultivam fungos comestíveis em pedaços de folhas trazidos para a colônia com essa finalidade Ainda assim não vemos nem Operamos encontrar um a cultura em uma colônia de formigas O que está faltando definição de cultura 0 Que está faltando é a aprendizagem porque cultura é o comportamento aprendi do de um grupo Consiste em comportamento operante tanto verbal como não erhal adquirido como resultado de pertencer a um grupo Poderseia dizer que formigas e marmotas olímpicas aprendem como resultado de pertencer ao grupo Pis elas reconhecem outros membros de seu grupo As formigas matam estranhas Que entram em suas colônias porque essas exalam o odor errado uma formiga de T Wooddmck 2 62 William M Baum estranha que tenha sido pincelada com as substâncias químicas da colônia é aceita As marmotas olímpicas saúdam os membros do grupo e afugentam os estranhos Essas discriminações têm de ser aprendidas porque o odor de cada colônia dç formiga e de cada sociedade de marmotas é único Embora tais aprendizagem possam sugerir os rudimentos de uma cultura ainda assim isso é muito poucopara atender a nossos critérios Em primeiro lugar o comportamento envolvido prova velmente não é comportamento operante As discriminações consistem na ocorrên cia ou nãoocorrência de exibições de saudação ou ataques agressivos os quais constituem padrões fixos de ação A aprendizagem envolvida parece ser mais do tipo condicionamento clássico do que aprendizagem operante ela depende intei ramente do contexto e quase nada das conseqüências Além disso nenhuma ação é transmitida de um indivíduo para outro e não se encontra nada parecido com ensi no A aprendizagem operante como resultado de pertencer a um grupo implica que o comportamento do grupo programe conseqüências para seus membros Em uma sociedade humana os pais programam reforços para o comportamento de seus filhos Voltaremos a esse assunto em breve mas primeiro precisamos ver como a teoria da evolução explica por que as culturas afinal de contas existem Cultura e sociedade Para que as culturas existam há que haver primeiro sociedades pois uma cultura é posse de uma sociedade Robert Boyd e Peter Richerson 1985 explicam que cul tura é um fenômeno de nível populacional Assim como um conjunto gênico populacional uma cultura só pode ser vista se olharmos para a população inteira Eles comparam o conjunto de traços culturais com o conjunto gênico populacional toda população tem um conjunto gênico mas somente algumas possivelmente só populações humanas têm conjuntos de traços culturais Da mesma maneira que o conjunto gênico populacional é transmitido de ge ração a geração assim também é transmitido o conjunto de traços culturais Uma criança que cresce no Japão ou nos Estados Unidos carrega parte do conjunto gênico populacional em que nasceu e eventualmente à medida que aprende os costumes da cultura em que vive carrega também parte do conjunto de traços desta cultura A criança tomase um adulto passa a cultura para outras crianças e então morre Assim os indivíduos morrem mas os conjuntos gênicos e culturais permanecem A maioria das pessoas no Japão come com hashi enquanto a maioria das pessoas nos Estados Unidos come com garfos facas e colheres mas exatamente quem come deste ou daquele modo muda de geração para geração Os indivíduos carregam os genes e carregam os traços culturais mas o conjunto gênico e o conjunto cultural transcendem o indivíduo Em nível de população faz sentido dizer que os indivíduos como máquinas de sobrevivência e organismos que se comportam são apenas os meios pelos quais os conjuntos gênicos e culturais são transmitidos Quando duas sociedades com culturas diferentes entram em contato é raro que uma delas seja tão dominante que todos os traços da cultura dominada se percam Normalmente formase uma nova cultura que inclui elementos de ambas Isso acontece porque os traços de cada cultura competem mutuamente por aceita Compreender o behaviorismo 263 só Ora os de um a ganham ora os da outra A razão por que os traços de uma cuitura substituem os traços de outra deve estar relacionada com a razão por que as culturas afinal existem direta ou indiretamente deve haver um efeito sobre a aptidão Cultura e aptidao A aprendizagem do tipo envolvido na cultura do ponto de vista dos genes é um negócio arriscado pois uma máquina de sobrevivência dotada de comportamentos préprogramados tem menos probabilidade de se comportar inadequadamente porem se em média máquinas de sobrevivência que aprendem têm mais probabili dade de sobreviver e de se reproduzir do que máquinas de sobrevivência que não o fazem então genes que favoreçam a aprendizagem tenderão a sobreviver e aumentar Mesmo que a aprendizagem apresente falhas aqui e ali se ela é benéfica no conjunto dos indivíduos e ao longo de muitas gerações seus genes serão selecionados Imaginese um ambiente mutável ou para ser mais preciso vários ambientes potencialmente habitáveis onde os recursos e os perigos são muito numerosos e diversos para serem catalogados facilmente Consideremse as possibilidades de dispersão se os membros de uma espécie pudessem sobreviver nas regiões tropi cais no deserto em climas temperados e nas regiões árticas Para que todas essas alternativas fossem possíveis seria essencial possuir a capacidade de aprender que recursos e perigos existem e como obtêlos ou evitálos Os seres humanos e as outras espécies aprendem porque os genes que permitem a aprendizagem trazem benefícios que compensam seus riscos Uma linha de raciocínio semelhante explica a existência da cultura Se é útil aprender poderia ser útil aprender com outros de sua espécie com os membros de sua sociedade Quer dizer se um benefício médio para a aptidão pode selecionar genes que permitem a aprendizagem então um benefício médio para a aptidão pode selecionar genes que permitam a cultura Se há muito para aprender ou se há muitas alternativas que devam ser eliminadas então aprender de outros seria um atalho valioso Como você pode saber se é melhor usar sapatos ou não ou que tipo de sapatos seriam melhores Como descobrir isso mais rapidamente do que as pessoas a seu redor Uma pessoa que vive em isolamento talvez nunca chegasse a uma solução adequada do problema A transmissão cultural evita que tenhamos de reinventar a roda Se traços culturalmente transmitidos como usar sapatos ou falar inglês po dem aum entar a aptidão dos genes em uma máquina de sobrevivência então os genes responsáveis pelos traços que garantem a transmissão cultural serão selecio nados Que tipo de traços tornam o atalho possível ftços que permitem a cultura pelo menos três exigências para que reconheçamos que um comportamento aPrendido foi transmitido do grupo para o indivíduo por meios que classifica 264 WilliamM Baurn ríamos de ensino ou educação Os dois primeiros limites do estímulo e imita ção permitem que o indivíduo aprenda com o grupo mas servem de base apenas para um tipo rudimentar de cultura que denominaremos cultura só por imitação Á terceira exigência é reforço social cujo acréscimo distingue a cultura só por imita ção da cultura plena Os reforçadores sociais permitem o elementochave da cultu ra humana a educação Limites do estimulo Se aprender é arriscado então é provável que seja também passível de limites isto é que possa ser guiado ou dirigido pela estrutura do organismo particularmente pela estrutura do sistema nervoso e dos órgãos sensoriais Isso significa que certos estímulos afetarão o comportamento com muito mais probabilidade do que outros Se a ingestão de alguma coisa é seguida por malestar então é provável que um rato evite alimentos que tenham o odor daquela substância que precedeu sua en fermidade Codornas e pombos pássaros que encontram sua comida através da visão evitam alimentos que se parecem com aqueles que comeram antes de adoe cerem Seres humanos parecem propensos aos dois vieses o indivíduo que ficou doente depois de comer lagosta ao termidor pode sentir náuseas mais tarde à vista ou cheiro de lagosta Quando os estímulos em relação aos quais desenvolvemos tais propensões são produzidos por outros membros de nossa espécie então aprendemos rapidamente com esses indivíduos Os biólogos evolucionistas mostram que muitas criaturas além dos seres humanos exibem esse tipo de sensibilidade Por exemplo o pardal de coroa branca mostra uma sensibilidade especial às canções de outros pardais de coroa branca e um filhote desse pardal tem de ouvir o canto de um macho adulto de sua espécie antes que possa também cantar essa canção ao atingir a vida adulta Se o pássaro é criado em laboratório e não ouve nenhum a canção ou ouve apenas o canto de uma espécie semelhante o pardal do brejo ele cresce cantando algo rudimentar pouco semelhante ao canto típico de sua espécie Ele precisa ouvir o canto de um pardal de coroa branca uma gravação em fita cassete é o suficiente e nenhum outro o substitui para que seu canto se desenvolva corretamente e sua canção se assemelhe àquela que ouviu quando jovem Essa transmissão do adulto para o jovem permite dialetos locais no canto pardais de coroa branca de diferen tes áreas exibem diferentes variações de seu canto A aprendizagem da linguagem entre seres humanos parece ser limitada guia da de um modo semelhante à aprendizagem do canto pelo pardal de coroa bran ca O sistema auditivo humano parece ser especialmente sensível a sons da fala há demonstrações de que a capacidade de realizar certas discriminações fonêmicas críticas já se manifesta logo após o nascimento Há também demonstrações de que bebês podem distinguir faces humanas de outros padrões visuais uma capacidade que pode servir para a aquisição de linguagem bem como para vários outros pro dutos sociais Longe de ser uma tábula rasa na qual a experiência se inscreve o bebê humano chega ao mundo construído para ser afetado por estímulos cruciais prove Compreender o behaviorismo 265 etites de outros seres humanos Esses estímulos sociais são tão essenciais para o desenvolvimento norm al que foram selecionados genes para que a produção des ses estímulos pelos pais bem como sua recepção pelos filhos não fosse deixada ao acaso Pais se interessam muito por seus filhos e filhos têm um grande interesse por seus pais Da mesma m aneira que todos os pardais machos de coroa branca ensaiam suas primeiras tentativas de canto em uma certa idade assim também todos os bebês humanos começam a balbuciar quando têm alguns meses de idade Para desenvolver seu canto o pássaro deve poder ouvir a si próprio cantando O mesmo parece ser verdade em relação à fala humana crianças com infecções crônicas no ouvido desenvolvem um padrão de fala anormal normalmente corrigível através de terapia fonoaudiológica Sensibilidades específicas em relação a determinados estímulos andam lado a lado com tendências comportamentais específicas como balbuciar Em particular deve haver um grande valor adaptativo em associar a sensibilidade ao comporta mento do outro com a tendência a se comportar como ele Em outras palavras sensibilidades específicas freqüentemente andam junto com a tendência a imitar lifíitaçõo A cultura provavelmente seria impossível sem a imitação Se há alguma vantagem v adaptativa em aprender sobre ambientes em mutação então haveria vantagens em imitar porque ajudaria a garantir a aquisição do comportamento adequado Para tornar esse argumento mais concreto Boyd e Richerson 1985 consideraram uma população hipotética de organismos aculturais vivendo em um ambiente que varia de tempos em tempos que passa por ciclos de seca e chuva por exemplo Imagine se em cada geração os indivíduos tivessem de aprender por si próprios qual o comportamento adequado ao ambiente de cada período alguns conseguiriam outros não Os autores continuam Agora considere a evolução de um hipotético gene imitador mutante que per mite a seus portadores evitar a aprendizagem individual e copiar o comporta mento de indivíduos de gerações anteriores Contanto que o ambiente não mude muito entre gerações o comportamento médio desses modelos estará próximo do comportamento que no momento é adaptativo Copiando o comportamento de indivíduos de uma geração anterior os imitadores evitam custosas tentativas de aprendizagem e se representam a média de vários modelos têm maior chance de adquirir o comportamento que no momento é adaptativo do que os nãoimita dores p 15 Em outras palavras os indivíduos que imitam têm maior chance de se com portar de maneiras que resultem em sobrevivência e reprodução no ambiente exis tente de modo que os genes responsáveis pela imitação tenderão a aumentar em freqüência no conjunto gênico populacional A imitação acontece em numerosas espécies muitas das quais consideraría mos aculturais Epstein 1984 mostrou que quando um pombo sem qualquer 2 6 6 WilliamM Baum í treinamento é colocado em um aparelho no qual pode observar outro pombo bi cando um a bola de pinguepongue e recebendo reforço sob a forma de comida em f breve ele começa a bicar uma bola que esteja de seu lado do aparelho e continuará a bicar mesmo depois que o outro pombo tenha sido retirado O pombo sem dúvija 1 deixa de bicar depois de um certo tempo mas se o aparelho fosse programado de forma que suas bicadas também produzissem comida o bicar seria reforçado e 1 passaria de comportamento induzido a comportamento operante Porém mesmo se um bando inteiro de pombos aprendesse a bicar bolas de pinguepongue por imitação ainda hesitaríamos em dizer que os pombos têm um a verdadeira cultura embora possamos lhes atribuir uma cultura extremamente rudimentar O mesmo se aplica ao grupo de macacos em que todos aprenderam a lavar batatasdoces colocadas na areia de uma praia Os pesquisadores que colocaram as batatas observaram que uma macaca começou a lavar suas batatas individualmen te Em seguida alguns macacos e logo todos faziam o mesmo A difusão desse traço presumivelmente por imitação e reforço poderia caracterizar o episódio como parte de uma cultura rudimentar limitada à lavagem de comida e a alguns outros traços típicos desse grupo Ver Goodenough et al 1993 p 138140 para um resumo sobre aprendizagem social em animais nãohumanos Podemos denominar esse conjunto de traços transmitidos exclusivamente por imitação de cultura só por imitação embora ela tenha muitos elementos em comum com a cultura humana o elemento de educação ensino ou treino está faltando Em uma cultura só por imitação o comportamento de outros membros do grupo serve apenas como um estímulo on contexto indutor As conseqüências do comportamento imitado lavar batatas se originam a partir de aspectos nãosociais do ambiente do indivíduo areia que adere à batata No ensino entretanto dois indivíduos têm uma relação Capítulo 11 o reforço para o comportamento do aprendiz é programado pelo instrutor e normalmente pelo menos alguns dos reforçadores elogios e apro vação partem dele Tais relações de reforço social empurram a cultura humana muito além das possibilidades da cultura só por imitação Discutiremos os efeitos do ensino sobre a cultura mais tarde Primeiro anali saremos como a evolução pode ter fornecido uma base genética para o processo de ensino ao selecionar reforçadores sociais poderosos Reforçadores sociais Para crianças que crescem em um a cultura hum ana seria provavelmente impossí vel aprender todas as coisas que precisam sem um a modelagem contínua por parte dos adultos Se houvesse um a vantagem em aprender mais habilidades e discriminações mais sutis então os genes que favorecessem tais aquisições seriam selecionados Nos Capítulos 4 e 12 discutimos a probabilidade de que genes que tornam certos reforçadores importantes comida um possível companheiro abrigo as sim como genes que tornam certos eventos punidores dor enfermidade predado res seriam selecionados em qualquer espécie cuja aptidão fosse aumentada pela Compreender o behoviorismo 267 aprendizagem operante A extensão desse raciocínio explica como sinais sociais sutis puderam se tom ar reforçadores poderosos e servir de base para a cultura No Capítulo 12 por exemplo vimos que Dawkins incluiu em sua lista de reforçadores criança sorrindo e em sua lista de punições criança chorando A maioria dos pais atestaria que a visão de uma criança sorridente é um reforçador poderoso e um estímulo indutor estímulo incondicional ou liberador Capítulo 4 O som de um bebê chorando embora mais baixo do que muitos sons com que convivemos é um dos sons mais aversivos que conhecemos pais saem correndo para alimentar ou para trocar fraldas ou para fazer o que quer que seja necessário para a criança parar de chorar Não há consideração sobre saúde individual dos pais ou sobre sua sobrevivência que explique por que o sorriso ou o choro do filho deveriam afetálos tão intensamente Cuidar de um filho entretanto tem tudo a ver com a sobrevi vência de genes e um pacote de genes que inclua a tendência a produzir esse efeito certamente prosperará O sorriso e o choro da criança são os meios pelos quais os genes induzem e reforçam nos pais o comportamento de cuidar do filho Se é verdade que a criança modela o comportamento dos pais quão mais verdadeiro é que os pais modelam o comportamento da criança Os adultos exibem múltiplas mudanças comportamentais perto de crianças Eles sorriem contemplam nas afetuosamente e elevam o tom de voz todos padrões fixos de ação Capítulo 4 Para a criança o sorriso dos pais seu olhar voz e contato são reforçadores podero sos mas se não fosse pelas vantagens culturais não haveria nenhuma razão óbvia para que assim ocorresse Se a criança não tivesse nada a aprender de seus pais os genes que transform am esses sinais sutis em reforçadores nunca teriam sido selecio nados Dados esses poderosos reforçadores sociais contudo as possibilidades de transmissão cultural excedem de muito aquelas de uma cultura só por imitação Os reforçadores sociais são especialmente eficazes por estarem ao alcance da mão Imaginem um pai ou uma mãe tentando modelar o comportamento do filho com reforçadores nãosociais como comida e dinheiro Cada vez que a criança apresenta a resposta desejada o pai tem de lhe dar um biscoito que a criança come ou uma moeda que a criança gasta depois Quão ineficiente em comparação com a natureza fácil e im ediata de um sorriso um elogio um abraço Diferentemente do dinheiro esses reforçadores sociais estão sempre à disposição dos pais não importa a situação Diferentemente dos biscoitos o afeto pode ser dado inúmeras vezes sem que a criança se sacie Liberação rápida e saciedade lenta significam que esses reforçadores permitem que a educação da criança seja contínua durante todas as horas em que está desperta VARIAÇÃO TRANSMISSÃO E SELEÇÃO Os tipos de traços que vimos discutindo limites do estímulo imitação e reforçadores sociais não só produzem cultura mas também permitem mudanças culturais A evolução cultural pode ocorrer de modo análogo à evolução genética isto é pela combinação de variação transmissão e seleção a transmissão seletiva da varia Çâo Para entender como isso pode vir a acontecer precisamos responder a algu 268 William M Boum mas questões básicas O que varia e como Como as variações são transmitidas Quais são os mecanismos de seleção Variação A evolução é impossível sem variação Na evolução genética os lócos dos genes nos cromossomos devem poder ser ocupados por vários alelos vários pacotes de genes e várias máquinas de sobrevivência devem ser possíveis Do mesmo modo a evolu ção cultural requer que vários alelos culturais se submetam à competição e vá rios pacotes de traços devem ser possíveis Mas quais são os análogos de genes alelos e pacotes e quais são os mecanismos de sua variação Replicadores culturais A pergunta O que varia é uma pergunta sobre unidades Nos termos da posição de Dawkins ela se torna Quais são os replicadores culturais que possuem longe vidade fecundidade e fidelidade de cópia O problema aqui é precisamente análogo ao problema de identificar unidades de comportamento operante Capítulo 4 e a solução é praticamente a mesma Aqui como lá as unidades são identificadas pela sua função Um replicador cultu ral é uma ação desempenhada e transmitida pelo grupo que possui determinada função resulta em determinado efeito ou produz um certo resultado Em outras palavras um replicador cultural realiza uma determ inada tarefa O uso de roupas quentes no inverno protege nossa saúde A programação de computadores permite que um a pessoa ganhe a vida e adquira status Tal como pacotes de genes podese pensar nos replicadores culturais como tendo diferentes tamanhos Por exemplo os antropólogos diferenciam as culturas com base em uma série de critérios alguns específicos outros gerais A produção de um artefato específico pode ser pensada como um replicador relativamente pe queno em uma cultura tecnológica a montagem de televisores de determinada marca seria um exemplo Replicadores maiores ou pacotes de replicadores são definidos por agrupamentos interdependentes de costumes ou práticas sociais Costumes relativos a matrimônio e família por exemplo tendem a se agrupar Em culturas com a noção de família estendida os matrimônios arranjados são a regra presumivelmente porque o número de pessoas envolvidas é grande demais para que a associação de duas famílias seja deixada ao sabor dos caprichos de um ro mance Casamentos por amor ficam mais comuns à m edida que haja menos pesso as envolvidas além do próprio casal Nos últimos 300 anos temos assistido no Ocidente a uma substituição da família estendida pela família nuclear e a uma predominância de casamentos por amor Falar inglês poderia ser considerado um replicador embora seja algo tão am plo que não ajuda muito na compreensão das práticas culturais Replicadores ver bais mais específicos seriam por exemplo formas de saudação ou de pechinchar preços e bens de consumo Oi tudo b em e M eu burro vale pelo menos três de Compreender o behaviorismo 26 9 sUaS ovelhas podem ser ditos em inúmeras línguas e o idioma normalmente é plenos importante do que o resultado o efeito que produz A maior parte das cllturas possui formas diferentes de saudação para diferentes tipos de relação por exemplo com o cônjuge ou com o patrão e essas diferentes saudações são Replicadores Em algumas culturas é costume mentir sobre a qualidade e origem oS bens de consumo à venda como muitos de nós que estivemos na Turquia ou na índia podemos testemunhar Diferentes costumes no processo de barganha em cul turas diferentes constituem replicadores Mime gene cultural prática Diferentes nomes já foram propostos para os replicadores culturais Lumsden e Wilson 1981 sugeriram gene cultural culturgen e Dawkins 1989 sugeriu mime do grego mimesis imitação Skinner 1971 empregou a palavra prática A histó ria da ciência inclui exemplos de invenção de termos novos oxigênio e aceleração e de apropriação de termos de nosso vocabulário cotidiano força e resposta Para nossas finalidades manteremos os termos práticas e costumes que nos lembram que replicadores culturais são atividades Entre biólogos evolucionistas a discussão sobre evolução cultural tem sido prejudicada pela incapacidade de reconhecer que replicadores culturais são ativi v dades Dawkins e Lumsden e Wilson escrevem sobre a evolução de crenças idéias e valores A crença idéia ou valoração do ato de roubar como errado se pensada como uma coisa nunca poderia evoluir através de processos físicos porque é não natural Os problemas com o mentalismo que discutimos no Capítulo 3 se aplicam a práticas culturais tanto quanto a qualquer outro tipo de comportamento operante Não entendemos melhor esses fenômenos imaginando que as unidades de evolu ção cultural sejam entidades mentais Boyd e Richerson 1985 ou estruturas neurais desconhecidas Dawkins 1989 Tais ficções explanatórias sempre serão supérflu as e não podem explicar como as práticas culturais se originam e mudam uma pergunta que exige para sua resposta que atentemos para a história e o comporta mento ao longo do tem po Capítulo 4 Da mesma m aneira que a freqüência de um gene em um conjunto gênico populacional só pode ser avaliada levando em conta todos os indivíduos dessa população assim a freqüência de uma prática ou costume só pode ser avaliado levando em conta todos os indivíduos do grupo Por exemplo há mais mulheres norteamericanas que usam batom hoje do que na década de 1970 e menos usa vam batom na década de 1970 do que na década de 1950 essas mudanças cultu rais só poderiam ser medidas estudandose muitas mulheres A coisa que muda em freqüência passando por muitas mulheres e ao longo de muito tempo é a própria Pratica usar batom isto é o replicador Agrupamentos de práticas que funcio nam como replicadores são rótulo para categorias Ryle ou atividades agregadas ra perspectiva molar Capítulo 3 Por exemplo desaprovar o roubo é uma ati Vdade composta de partes tais como punir o roubo e ensinar as crianças a não roubar Capítulo 3 Considerando que o termo denota algo natural um conjunto de ações interdependentes ele denota algo que poderia evoluir pelo processo natu 2 7 0 William M Baum ral de seleção os membros de um grupo podem punir o ato de roubar reform comportamentos incompatíveis com esse ato e falar sobre como é errado roub Não roubarás e cada uma dessas ações poderia ser selecionada à medida diminuísse a freqüência dos roubos O fato de que falar é parte da cultura merece destaque especial Entre as práticas de uma cultura estão certas verbalizações tradicionais provérbios histórias e mitos No estado de New Hampshire EUA a frase Se isso aí não está quebrado não tente consertar é parte da cultura local Uma parte da antiga cultura gregg eram seus mitos Particularmente importantes para um a cultura são as verbalizações que identificamos no Capítulo 8 como regras As regras incluem normas morais Não roubarás instruções Diga sempre Por favor e Muito obrigado e in 1 formações sobre o ambiente Você vai precisar de um casaco bem quente por aqui vi no inverno Até mesmo as histórias e os mitos de um a cultura têm algo a ver com as regras porque normalmente transmitem lições práticas ou de moral isto é normalmente se referem a reforços e punições costumeiros A história do menino que gritava lobo por exemplo contém uma lição sobre estímulos discriminativos i verbais confiabilidade e reforço C J Sommerville 1982 em seu livro sobre a infância afirma que até mesmo os contos de fada infantis sobre jovens valentes V donzelas formosas dragões e madrastas malvadas possuem funções socialmente úteis ao ensinarem indiretamente lições de vida e ao encorajarem confiança nas í interações com o mundo Ele escreve eles oferecem algo que deve preceder desenvolvimento moral encorajando a criança a tom ar partido Ao simpatizar com j um personagem e se posicionar contra outro a criança adquire o hábito de ídentí ficarse com aqueles que deseja emular p 139 Em outras palavras assim como as imposições morais os contos de fada de uma cultura contribuem para produzir comportamentos que serão reforçados pelas práticas do grupo Quando biólogos e antropólogos falam sobre crenças idéias e valores de uma cultura provável mente estão se referindo especificamente a comportamentos verbais tradicionais í naquela cultura Podemos distinguir a formulação de uma regra de sua prescrição como dis tinguiríamos invenção de repetição Pessoas compõem regras vez ou outra no sentido de que emitem novas verbalizações sob a forma de imposições conselhos ou instruções Apenas algumas dessas regras se tornam parte das prescrições carac terísticas da cultura que se difundem de pessoa a pessoa e de uma geração à outra através de imitação associada a reforço Elaborar e prescrever regras são compor tamentos que compõem a cultura humana O modo particular de prescrever regras dentro de um grupo ajuda a distinguir um a cultura de outra bem como mudanças em uma cultura de um período para outro Os pais de um jovem em idade de casar na índia de hoje podem lhe dizer p Quando você conhecer a mulher que escolhemos para sua esposa se não gostar dela pode recusála Nos Estados Unidos poderiam dizer a ele Quando conhe cermos a mulher que você escolheu para sua esposa se não gostarmos dela pode remos recusála Há três séculos o jovem norteamericano poderia ter ouvido algo mais no estilo do que o jovem indiano de hoje escuta Regras variam de um lugar para outro e de uma época para outra Compreender o behoviorismo 271 r pfor punição sociais c característico de toda cultura que certas ações são reforçadas ou punidas por ejnbros do grupo A obediência de uma criança a seus pais resulta em aprovação eafeto Mentir enganar e roubar resultam em desaprovação e rejeição Esses cos wrnes relativos ao reforço e à punição sociais constituem as mais importantes prá ticas culturais porque formam a base para as culturas que vão além das culturas só or imitação O comportamento operante que denominamos ensinar corrigir ou Instruir consiste em reforçar comportamentos que são normais para aquela cultu ara e punir os comportamentos que desviam da norma Gomo comportamento operante o próprio ensinar também precisa ser reforçado freqüentemente pelo comportamento correto dos alunos mas também por outras práticas culturais tais como o pagam ento de salários Skinner 19711974 considerou o reforço social tão importante para a cultu a r a humana que sugeriu que a palavra prática fosse utilizada apenas para se referir a tais relações de reforço De seu ponto de vista o reforço social modela o compor ytamento que é normal para aquela cultura Considerando que o comportamento resulta de relações de reforço estas são mais básicas do que o comportamento Assim conhecer um a cultura seria conhecer suas relações de reforço e punição A fabricação de gamelas de cerâmica de determinado formato seria secundário re forçar o fazer gamelas naquele formato seria uma parte essencial daquela cultura 0 fato de primos casarem ou não entre si seria secundário as propostas de casa mento entre primos serem reforçadas ou punidas isso seria o fundamental A posição de Skinner tem duas implicações principais Primeiro elimina cul aturas só por imitação e limita a possibilidade de existirem culturas em espécies nãohumanas As espécies nãohumanas teriam de se envolver em comportamen to operante que tivesse o efeito de reforçar ou punir o comportamento de outros membros do grupo Não seria suficiente que o comportamento de lavar batatas se difundisse de pais para filhos os pais deveriam reforçar em seus descendentes o lavar batatas Segundo o ponto de vista de Skinner muda a perspectiva dessa questão dim inuindo a ênfase dada a um a pergunta difícil e possivelmente irrespondível quantos membros de um grupo têm de se comportar de um certo v antes que esse tipo de comportamento seja considerado característico ou normal para aquela cultura Skinner responde de fato que o número é irrelevante contanto que alguns membros do grupo reforcem aquele tipo de comportamento em outros Se alguns membros do grupo sejam muitos ou poucos reforçam o comportamento ele persistirá como parte do comportamento do grupo Os biólogos evolucionistas divergem de Skinner nos dois pontos Primeiro os que reconhecem a importância da educação definem cultura como consistindo de comportamentos aprendidos como resultado de pertencer a um grupo Essa defini ção não traça um a linha divisória entre culturas só por imitação e culturas que lricluem educação nem traça dentro de uma mesma cultura uma linha divisória entre comportamentos adquiridos por imitação combinada com reforço nãosocial por exemplo lavar batatas e comportamentos adquiridos como resultado de interações com outros membros do grupo isto é como resultado de um relaciona mento no sentido do Capítulo 11 Para essa visão mais abrangente seria sufiCien te que membros do grupo servissem de modelo eles não precisariam ser também fonte de reforço Em segundo lugar contornam a questão do que é normal par uma cultura comparando a cultura a um conjunto gênico populacional Em UrTl conjunto de práticas culturais certas práticas podem ser comuns e outras raras o que importa é se permanecem no conjunto ou desaparecem Mutação recombinação e migração Se um conjunto de práticas culturais é como um conjunto gênico então ele deve conter dentro de si os meios para produzir o novo No conjunto gênico populacional três processos geram o novo 1 a mutação constitui uma fonte de novos alelos 2 a recombinação ou permutação a quebra e o reagrupamento de DNA que acontecem durante a meiose organiza novas combinações de alelos 3 a migra ção de indivíduos de uma população para outra permite o aparecimento de combi nações completamente novas em um conjunto gênico populacional Análogos des ses três processos acontecem no conjunto de práticas culturais O análogo cultural da mutação é o erro ou acidente Já discutimos a impossi bilidade de uma mesma ação se repetir exatamente da mesma maneira A variação é inerente ao comportamento e algumas variações podem ter mais êxito do que outras Outro tipo de acidente pode ser imposto por algum evento ambientai ineontrolável Quando machuquei minha mão direita eu me vi forçado a escovar os dentes com a mão esquerda e descobri que dessa maneira poderia fazer uma limpeza melhor nos dentes do lado direito Agora alterno as mãos quando escovo os dentes Quando você se vê impedido de realizar as coisas do modo habitual você pode descobrir modos melhores de realizálas Finalmente tal como na replicação genética podem acontecer erros de cópia Um atleta pode imitar incor retamente um treinador de tênis e assim pode descobrir um modo melhor de sacar Uma criança pode imitar imperfeitamente seus pais e assim descobrir um modo melhor de amarrar os sapatos Porém do mesmo modo que ocorre com as mutações a maioria dos enganos piora a situação é raro o acidente feliz que me lhora as coisas Uma possível analogia comportamental da recombinação é a falha no contro le de estímulo Você pode virar seu carro na esquina errada vestir roupas que não combinam ou dizer algo inadequado a um parente embora por centenas de vezes você tivesse feito tudo certo nessas situações São padrões de comportamento que normalmente permaneceriam separados mas que não obstante se misturam nes sa situação particular Embora tal mistura seja normalmente desastrosa ocasional mente ela pode leválo a descobrir um caminho alternativo muito melhor uma maneira de se vestir mais alegre ou um modo mais adequado de se comunicar com seus parentes Assim como pode haver migração para um conjunto gênico populacional tam bém pode haver migração para um conjunto de práticas culturais Isso pode acon tecer quando indivíduos de um a sociedade passam para outra Por exemplo oci dentais que moraram no Japão nos séculos XIX e XX transferiram muitas práticas 272 William M Baum Compreender o behaviorismo 273 sua cultura para a cultura japonesa O processo imigratório para os Estados Unids introduziu novas maneiras de cozinhar novas expressões verbais modos n0vos de fazer negócios e novas formas de religião Novas práticas também podem penetrar uma cultura através da migração de íitia subcultura isto é de um conjunto de práticas características de um subgrupo daquela sociedade Os efeitos da imigração em qualquer país freqüentemente se fazem sentir com algum atraso porque um grupo étnico pode permanecer parcial mente segregado do resto da população passando a integrar a cultura principal somente depois de algumas gerações Quase todos os norteamericanos sabem o significado de expressões comojive pasta e chutney mesmo que não conheçam suas origens étnicas Transmissão 0 segundo ingrediente essencial para que a evolução por seleção ocorra é a trans missão de traços de um a geração para outra Na evolução genética a transmissão ocorre por transferência de material genético DNA de pais para filhos Na evolu ção cultural ela ocorre através de meios mais diretos transferência do comporta mento de um membro do grupo para outro Herança de traços adquiridos Antes do século XX sugeriase às vezes que certos traços pudessem ser passados de pai para filho por transferência direta de tal forma que as características adqui ridas por um dos genitores poderiam aparecer em seus descendentes Se os braços de um ferreiro crescessem em massa muscular como resultado de seu trabalho então o traço braços musculosos poderia ser passado para seus filhos Embora essa concepção nunca tenha produzido qualquer prova de sua operação na evolu ção genética esses são exatamente os meios de transmissão na evolução cultural Em um a espécie detentora de cultura como a nossa as crianças tendem a aprender o que quer que seja que seus pais aprenderam Tudo do modo de se vestir aos bons modos à mesa de dialetos a maneirismos sociais pode ser passado direta mente de pai para filho Para alguns traços culturais a transferência de material genético de pai para filho pode não ter um papel direto mas a herança genética de Pai para filho pode também guiar a transmissão cultural os filhos podem ter uma Predisposição a aprender certas coisas como resultado de genes que herdaram Por exemplo um a criança e seu pai poderiam compartilhar uma predisposição para ter toedo de altura aprender música ou desenvolver habilidades manuais de T No ja zz jiv e significa falar ou brincar nos intervalos entre um compasso e outro Psta do italiano é um term o genérico para designar pratos com m acarrão Chutney é uni termo de origem indiana que designa um a combinação de tem peros sob a forma de uma geléia que acom panha carnes 274 William M Baum Contudo desde que a transferência de material genético pode ser irrelevan em termos de transmissão cultural os pais genéticos de um a pessoa podem difei de seus pais culturais A criança pode adquirir traços culturais de uma série adultos tios tias professores sacerdotes treinadores As pessoas também pocW adquirir práticas de seus pares as crianças tipicamente aprendem com outras criati ças o código da classe e adultos aprendem os macetes de uma situação atravé de outros adultos Essa forma de transmissão impossível para os genes é chama horizontal Considerando que a transmissão horizontal acontece dentro de unia geração os traços culturais podem se difundir no mesmo grupo no período de uma única geração genética Isso significa que a evolução culturai é muito mais rápida do que a evolução genética Enquanto a transmissão genética é lim itada a só um momento na vida do indivíduo a transmissão cultural acontece ao longo de toda sua vida A trans missão cultural permite que novos traços substituam os velhos até mesmo em uma grande população no espaço de apenas alguns anos Às vezes a velocidade da evolução cultural relativamente à da evolução genética cria problemas como exemplos temos nossos problemas atuais que vão desde as conseqüências da ingestão de açúcar até o uso de armas nucleares As práticas de fabricação dé açúcar e de armas nucleares evoluíram muito rápido para que os genes subjacentes a nossa atração pelo gosto doce e a nossas tendências agressivas tenham sofrido uma diminuição no conjunto gênico populacional Em vez disso outras práticas culturais evoluíram para compensar os efeitos ruins daqueles primeiros genes Fazemos dieta e escovamos os dentes participamos de debates sobre questões de desarmamento e paz Imitação Uma forma pela qual os traços culturais adquiridos são transmitidos é a cópia dire ta a imitação Na evolução biológica a cópia do DNA ocorre durante a formação dos gametas e o DNA então afeta o desenvolvimento do indivíduo para o qual foi transferido Esse é um processo relativamente incerto e indireto se comparado com o processo de cópia direta do fenótipo envolvido na imitação Crianças imitam adultos e outras crianças Adultos normalmente imitam ou tros adultos mas às vezes eles imitam crianças Expressões de gíria usadas por crianças como valeu e legal tendem a deslizar para a fala de adultos que as ouvem A imitação provê uma base para a aprendizagem operante Uma vez que uma ação tenha sido induzida por imitação ela pode ser reforçada e modelada até atin gir formas mais evoluídas Uma vez que uma criança articula aga os ouvintes po dem responder aprovando a verbalização da criança e dandolhe água reforçan do e eventualmente modelando esse comportamento até que ela articule água Se nenhum reforço acontece ou se a ação é punida ela permanece com baixa freqüên cia ou desaparece Uma criança pode bater em outra imitando um comportamento agressivo visto na Ty mas a continuidade da agressão vai depender do com porta mento ser reforçado ou punido Compreender o behaviorismo 275 podemos distinguir imitação aprendida de imitação nãoaprendida A imita 5o em pombos e macacos provavelmente é nãoaprendida e muito da imitação em crianças e talvez adultos é comportamento nãoaprendido no sentido de não nenhuma experiência especial E como se alguns de nossos genes instruíssem nossos corpos Vejam e escutem as pessoas ao redor e façam como elas fazem Sem qualquer treino um a criança pequena que vê seu pai batendo pregos com um martelo apanhará um martelo e o baterá contra um pedaço de madeira A imitação nãoaprendida combinada com a modelagem explica por que as crianças aprendem a falar e a se comportar socialmente como as pessoas a seu redor Até mesmo adultos que vivem fora de sua terra natal podem adquirir o sota que e as maneiras da nova terra sem sequer o perceber A imitação aprendida é outra questão E um tipo de comportamento controla do por regras no sentido do Capítulo 8 Quando uma pessoa diz para outra fazer assim a capacidade daquele que está sendo instruído de se comportar adequada mente depende de sua história de reforço por imitar nessas situações A transição de imitação nãoaprendida para aprendida pode ocorrer em vários e diferentes contextos em casa quando os pais dizem Olhe para cá no pátio da escola quando um colega diz Veja o que eu consigo fazer em sala de aula quando o professor brinca de Fazer o que seu mestre mandar Embora a imitação nãoaprendida permita uma rápida transmissão cultural a imitação aprendida é ainda mais veloz Através da imitação aprendida um simples episódio social pode ser suficiente para transmitir uma prática Uma pessoa diz a outra Penteie seu cabelo assim e a outra imediatamente o faz Supondose que o ambiente forneça os reforços necessários sociais ou nãosociais para esse com portamento ele persistirá Comportamento controlado por regras A imitação aprendida é exemplo de um tipo mais geral de transmissão cultural transmissão através de regras Uma das primeiras lições que as crianças aprendem é obedecer a seus pais e outras autoridades Em vez de apenas imitar nós as ensina dos a fazer aquilo que os outros mandarem Quando há um conflito elas ouvem Faça o que eu digo não faça o que eu faço Sem dúvida alguma as crianças têm essa predisposição para aprender a seguir regras devido a sua sensibilidade para estímulos provenientes de seus pais particularmente o som de sua fala e devido a sua susceptibilidade a reforçadores sociais liberados pelos pais Coitada da criança que não aprende a seguir regras pois não conseguirá ad quirir uma série de comportamentos socialmente aceitáveis Muitas das verbalizações um pai dirige a seu filho são equivalentes a declarações do tipo Em nossa cultura fazemos X e X é reforçado por membros de nosso grupo ou Em nossa cultura evitamos fazer X e X é punido por membros de nosso grupo Tais regras Mostram as relações que em geral denominamos convenções Um pai diz para o plho Dê adeus Segure seu garfo com a mão esquerda e a faca com a direita ou ê a mão para atravessar a rua e todas essas ações são reforçadas por membros 276 William M Baum do grupo Um pai diz a seu filho Não bata no tio Chico Não enfie o dedo n nariz em público ou Não dê risada muito alto e todas essas ações são punj por membros do grupo S Essas convenções derivam seu poder em última instância dos benefícios qye o fato de pertencer ao grupo traz para a aptidão Nos termos do Capítulo 8 0 reforço último tem a forma Se você se comportar assim então estará em condi ções de auferir a proteção e partilhar dos recursos de que dispõe este grupo Des viarse muito do comportamento aceito é correr o risco de ostracismo No seriado de TV The American Experience havia um episódio que descrevia o dram a de uma mulher no início do século XIX em uma pequena e longínqua cidade da Nova Ingla terra e que quando adolescente havia dado seu filho ilegítimo para adoção e então muito tempo depois sem saber casouse com o próprio filho Quando o engano foi descoberto o filho foi afastado e a mulher relegada ao ostracismo Embora algumas pessoas tivessem pena dela ela foi deixada à míngua até morrer de fome em uma palhoça nos limites da cidade Hoje em dia as pessoas que são excluídas dessa maneira acabam na sarjeta As convenções sociais diferem de regras que indicam reforços e punições rela tivas à saúde e ao bemestar pessoais Agasalhese bem no inverno é um conselho muito bom para pessoas que vivem em uma região de clima temperado não impor ta se os demais membros do grupo aprovem ou não As convenções sociais são afirmações valorativas que indicam reforço e punição de origem predominante mente social Elas freqüentemente incluem palavras como deveria e deve Um pai norteamericano poderia dizer a seu filho Você jamais deveria roubar de seus amigos mas tudo bem escamotear um pouco em sua declaração de imposto de renda Como vimos no Capítulo 12 deveria e deve indicam os reforços e punições últimos Em convenções sociais inclusive declarações morais como Honrar pai e mãe o reforço e a punição últimos são liberados por outros membros do grupo No esquema SRRR dos Capítulos 8 e 12 o reforço último das convenções sociais envolvem os dois últimos Rs relacionamentos e reprodução Seleção Além da variação e transmissão a evolução de práticas em um conjunto de práticas culturais requer algum mecanismo de seleção Na evolução genética a seleção ocor re devido a diferenças na sobrevivência e na reprodução Algo análogo deve ocorrer com a evolução cultural Tal como ocorre com os genes algumas variações dos replicadores culturais são longevas mais férteis e mais fielmente copiadas Transmissão seletiva Indivíduos máquinas de sobrevivência que indiscriminadamente copiassem quai5 quer práticas que aparecessem a seu redor poderiam se sair pior do que in d iv íd u o s que copiassem seletivamente Aqueles que imitam seletivamente terão maior pi0 Compreender o behoviorismo 277 hjlidade de adquirir os comportamentos mais adaptativos contanto que haja gjgutf1 critério imediatamente disponível e de caráter manifesto no qual basear a ejeção A melhor regra para a imitação seletiva seria imite o sucesso Em um ambiente Instável no qual as melhores pistas para um comportamento adaptativo são as atividades das pessoas em volta um gene ou conjunto de genes que contivesse essa diretriz se daria melhor que os outros Porém os genes nunca poderiam codificar uma diretriz tão abstrata como imite o sucesso em vez disso teriam de orientar a imitação na direção de critérios concretos que habitualmente estão correlacionados com o sucesso Boyd e Richerson 1985 por exemplo mostram que freqüen temente certas circunstâncias podem fazer com que seja mais útil imitar outros indivíduos em vez dos pais Por exemplo freqüentemente os filhos emigram Os indivíduos nativos do novo habitat provavelmente serão modelos muito melhores do que os pais biológicos do imigrante p 15 Em tais circunstâncias como se poderia saber quem ou o que imitar Um critério concreto que Boyd e Richerson sugerem é freqüência As ações mais comuns as normas de um grupo social serão provavelmente aquelas que se mostraram mais bemsucedidas Seria relativamente simples conseguir que as ati vidades mais freqüentemente encontradas fossem imitadas pode ser necessário simplesmente por exemplo reduzir a velocidade da imitação de forma que várias exposições fossem necessárias para que uma atividade viesse a ser copiada Tal regra poderia dar errado se um a prática melhor fosse menos freqüente mas uma prática só precisa gerar maior aptidão em média e a longo prazo para que os genes responsáveis por ela sejam selecionados Um possível segundo critério concreto poderia ser imitar aqueles indivíduos mais freqüentemente encontrados Em nossa espécie esses indivíduos estariam normalmente entre os pais biológicos mas aí poderiam estar também incluídos pais adotivos tios tias professores ou amigos Os genes responsáveis pelo reco nhecimento de membros da família e outras pessoas significativas poderiam ser selecionados por um a série de razões além daquela de guiar a imitação por exem plo guiar o altruísmo em relação à família ou àqueles que provavelmente agirão com reciprocidade À regra A caridade começa em casa poderia ser acrescentada regra A imitação começa em casa Imitar as pessoas que encontramos freqüentemente assim como imitar as atividades freqüentem ente observadas implica alguns riscos Os seres humanos parecem imitar os adultos que os criam freqüentemente com bons resultados mas às vezes desastrosamente Pessoas que sofreram violência por parte dos pais en quanto crianças podem jurar que nunca baterão em seus próprios filhos mas po dem achar difícil conterse quando estejam nessa situação de fato Da perspectiva dos genes essa cópia de comportamentos desajustados seria compensada desde 9ue a cópia do comportamento dos pais fosse vantajosa na maior parte das vezes média e a longo prazo Para imitar atividades menos freqüentes ou outras pessoas que não os pais um outro critério de sucesso seria necessário Em seu poema The road not taken Robert Frost escreveu Dois caminhos se abrem na floresta e eu eu tomei o nos trilhado o que fez toda a diferença Qual foi essa diferença 278 William M Baum Uma atividade bemsucedida é uma atividade que é reforçada e uma pessoa bemsucedida é uma pessoa cujas atividades são reforçadas As pessoas tendem a imitar atividades que são reforçadas e a imitar as pessoas que possuem reforçadores Motoristas em um engarrafamento normalmente permanecem em suas faixas de trânsito que é o comportamento socialmente correto reforçado mas se um carro trafega pelo acostamento que está livre sem punição aparente outros carros cer tamente o seguirão Pessoas com o típico papel de modelos para crianças e adultos são pessoas com riqueza e status atores de cinema atletas profissionais políticos executivos de sucesso pessoas cujo comportamento é altamente reforçado Os genes poderiam codificar a tendência de im itar pessoas e atividades bem sucedidas causando um aumento na tendência de imitar sempre que houvesse reforçadores presentes Isso seria equivalente a uma instrução do tipo Sempre que você observar eventos que estão em sua lista de reforçadores imite as pessoas próximas a eles Alternativamente a tendência poderia ser em grande parte ou completamente modelada pela cultura Poderseia ensinar às crianças a imitar o sucesso Veja sua da Wilma Você não gostaria de ser rico como ela quando crescer Quer a tendência a imitar atividades e pessoas associadas com reforço seja principalmente um produto dos genes ou da cultura ela constitui um a força seleti va poderosa Ela explica por que até práticas relativamente raras podem se difundir em um grupo social No começo do século XX os automóveis eram raros e muitos proprietários de cavalos os ridicularizavam A medida que as vantagens de possuir um automóvel em vez de um cavalo mais reforços e menos punição ficaram ób vias porém a prática de possuir automóveis se difundiu e em um a geração anu lou a prática de possuir cavalos Essa mudança de costumes provavelmente nunca poderia ter acontecido tão rapidamente se não fosse pela imitação seletiva Seguimento de regras e formulação de regras As mesmas considerações aplicáveis à imitação seletiva também se aplicam ao se guir regras seletivamente As pessoas freqüentemente seguem ordens e conselhos por exemplo mas não apenas qualquer ordem ou conselho Da mesma maneira que provavelmente imitamos mais as práticas que ocorrem freqüentemente no con junto de práticas culturais assim também provavelmente seguiremos mais as re gras que freqüentemente ocorrem nesse conjunto Deste modo as práticas domi nantes tendem a ser perpetuadas Enquanto está crescendo uma criança pode ou vir falar tanto de todos os lados sobre o erro de roubar que pode se tornar extre mamente cautelosa evitando até mesmo a aparência de roubar A alta freqüência de exortações contra a violência pode explicar por que relativamente tão poucas crianças imitam a violência que vêem pela televisão Assim como nos inclinamos a imitar pessoas bemsucedidas também nos in clinamos a seguir regras dadas por pessoas bemsucedidas Se você estivesse perdi do em uma cidade a quem pediria informações a uma pessoa andrajosa sentada na calçada ou a uma pessoa bem vestida andando pela rua Não estamos dispostos a seguir o conselho de alguém que mostra poucos sinais de que seu com p ortam en to seja reforçado mas às vezes até pagamos pelo conselho de pessoas que m ostrem Compreender o behaviorismo 2 7 9 sinais de sucesso comprando livros sobre como se sair bem nos negócios sobre jardinagem sobre perda de peso Juntam ente com a tendência a imitar o sucesso a tendência a seguir regras dadas por pessoas manifestamente bemsucedidas explica como uma prática rara pode se propagar rapidamente em um conjunto de práticas culturais Quando os gravadores de videocassete caíram a preços razoáveis a maioria das pessoas nos Estados Unidos os comprou em poucos anos A rapidez com que eles se propaga ram deveuse em grande parte aos anúncios em meios de comunicação e à propa ganda boca a boca isto é pessoas bemsucedidas ou seja pessoas cujo comporta mento é reforçado diziam a outras que a compra e o uso de videocassete seriam comportamentos reforçados Depoimentos em anúncios contam com nossa ten dência em seguir regras passadas por pessoas bemsucedidas As pessoas que insis tem que você compre algo em geral são famosas e sempre têm uma boa aparência usam roupas caras e são bem falantes Em seu livro Programmed to learn Ronaíd Pulliam e Peter Dunford 1980 contam um a história chamada A lenda de Eslok que ilustra como uma cultura é modelada por variação combinada com transmissão seletiva Nessa história vemos algumas pessoas bem e malsucedidas assim como o surgimento de uma regra em resposta a uma situação de reforço a curto prazo conflitante com efeitos a longo prazo sobre a aptidão Aqui vai um breve relato da história Era uma vez há muito tempo e muito longe um lugar onde existia uma comunidade agrícola uma aldeia em üm vale fértil e longínquo As pessoas não eram nem pobres nem ricas elas se viravam Um dia Mefistófeles apareceu na aldeia sob a forma de um velho Ele ajudou alguns sitiantes e os presenteou com coisas como sementes e ferramentas A princípio hesitaram em aceitar os pre sentes mas depois de algum tempo alguns o fizeram Quase imediatamente estes começaram a prosperar Suas colheitas eram maiores que as de todos os demais Vendo seu sucesso os outros aldeões começaram a aceitar também os presentes do velho Logo todos prosperavam e Mefistófeles deixou a aldeia Os aldeões não tinham como saber que alguns anos após uma família ter aceito os presentes todos os seus filhos morreriam Como todas as famílias na aldeia havíam aceito os presentes todas as crianças morreram Finalmente quando todos os adultos estavam envelhecendo e morrendo um homem chamado Eslok deixou a vila e seu vale para viajar Eslok viajou muitos dias até que chegou a outro vilarejo Estabeleceuse lá e contou para as pessoas a história do velho e seus presentes Depois que Eslok morreu a história ainda era repetida com uma advertência ao final Não aceite presentes de estranhos Algumas gerações se passaram e a história de Eslôk vèio a ser considerada um mito Eventualmente o vilarejo cresceu demais e alguns jovens aventureiros par tiram para fundar um novo povoado Viajaram muito à procura de um bom lugar e chegaram ao fértil vale agora despovoado que tinha sido o lar de Eslok Lá eles pararam se estabeleceram e fundaram uma vila Mais uma vez Mefistófeles veio oferecer seus presentes Como antes algumas pessoas os aceitaram Desta vez no entanto algumas se lembraram do dita o Não aceite presentes de estranhos e recusaram os presentes Depois e a guns 280 William M Bduiti í 1 anos as crianças cujos pais haviam aceitado os presentes começaram a morrer y0 1 ver isso acontecer os aldeões expulsaram Mefistófeles Uma vez que algumas pes soas haviam recusado os presentes a comunidade sobreviveu ao desastre e voltou a seu modesto estilo de vida Posteriormente isso se tomou uma regra inabalável j para os aldeões Nunca aceite presentes de estranhos I Como vimos nessa história ambos o seguimento de regras e a formulação de 1 regras dependem em última instância de quanto esses comportamentos aumen tam a aptidão A regra sobre estranhos surgiu em resposta aos efeitos desastrosos sobre a aptidão e quem a seguiu evitou o desastre Autointeresse No livro The selfish gene Dawkins enfatiza que os replicadores quer genes quer práticas culturais agem tendo em vista seu próprio interesse eles promovem a si mesmos no sentido de que seus efeitos tendem a aumentar a freqüência de sua própria reprodução Não obstante muitos traços geneticamente codificados e mui tas práticas culturais parecem promover a sobrevivência do grupo ou da cultura freqüentemente às custas da máquina de sobrevivência individual Vimos em nos sa discussão acerca dos benefícios societários como é possível ocorrer a seleção de genes que propiciam a subordinação do bemestar do indivíduo em favor do grupo esses genes só precisam se sair melhor em média e a longo prazo do que os genes que priorizam o benefício imediato e individual Essa é genericamente falando a explicação para o comportamento altruísta e cooperativo Algo semelhante poderia ocorrer com os replicadores culturais que também aumentariam sua freqüência às custas das máquinas de sobrevivência individuais Como resultado da imitação e do seguimento de regras soldados vão para a guerra e freqüentemente morrem Quando as armas eram primitivas os genes responsá veis pela afiliação ao grupo e pela obediência à autoridade provavelmente eram beneficiados pela guerra Como resultado as práticas culturais do guerrear pude ram sobreviver e crescer pois eram reforçadas em média e a longo prazo por exemplo por aumentos nos bens e territórios acumulados A analogia com os genes sugere ainda que certas práticas possam ser selecio nadas porque auxiliam na manutenção de outras práticas Tais práticas tenderiam a ser conservadoras isto é tenderiam a resistir à mudança cultural Por exemplo a xenofobia poderia ser explicada desse modo pois m atar ou expulsar forasteiros ajudaria a proteger a cultura da invasão por práticas estrangeiras ajudando todas as outras práticas da cultura a sobreviver Durante os séculos XVII e XVIII a cultura japonesa resistiu com sucesso à influência de visitantes do Ocidente através de uma extrema xenofobia Somente quando navios de guerra modernos chegaram a sua costa tom ando qualquer resistência perigosa esse bloqueio terminou Os be nefícios a curto prazo do isolamento poderiam explicar a resistência xenófoba enquanto o bem estar do povo a longo prazo poderia explicar a eventual abertura à cultura ocidental Compreender o behaviorísmo 281 A lógica da teoria da evolução determina que a evolução cultural deva operar dentro de limites fixados pela evolução biológica Boyd e Richerson 1985 Os genes que estabelecem os limites do que pode ser aprendido e do que pode ser reforçador foram selecionados antes que a cultura existisse A curto prazo as pes soas podem se ocupar de práticas que são reforçadoras porém prejudiciais à saúde 0u à reprodução mas a longo prazo elas tendem a agir de forma a preservar a saúde e a promover a reprodução Essa é a razão pela qual os reforços últimos do comportamento controlado por regras referemse à aptidão Capítulo 8 Quando há um conflito entre práticas culturais e aptidão dos genes o conflito é eventual mente resolvido por uma mudança na cultura Uma das mensagens implícitas na lenda de Eslok é a de que quando o sucesso a curto prazo aceitar presentes de estranhos compete com o sucesso reprodutivo a longo prazo morte das crianças então novas práticas enunciar a regra Nunca aceite presentes de estranhos surgem como compensação Por exemplo quando certas práticas evoluíram tor nando o acesso ao açúcar mais fácil bem como a manufatura de doces uma em preitada proveitosa as pessoas começaram a consumir cada vez mais açúcar e doces Nos Estados Unidos o custo a longo prazo desse hábito para a saúde da população tornouse aos poucos evidente desenvolvendose então práticas como escovar os dentes e usar substitutos do açúcar Do mesmo modo os perigos implí citos na existência de armamento nuclear estão sendo contrabalançados pelos movimentos em prol do desarmamento Em ultima análise a mudança cultural é guiada pelo bemestar de nossos genes Esse ponto será especialmente importante para as questões a serem discutidas no Capítulo 14 que diz respeito à mudança cultural intencional RESUMO A cultura de um grupo consiste em comportamento aprendido compartilhado pe los membros do grupo adquirido como resultado de pertencer ao grupo e transmi tido de um membro do grupo a outro A evolução da cultura acontece de maneira análoga à modelagem do comportamento operante e à evolução genética varia ção associada com transmissão seletiva As unidades da seleção as coisas que variam e são seletivamente transmitidas são os replicadores Um replicador é Qualquer entidade que promove a produção de cópias de si mesma Um bom replicador possui longevidade fecundidade fidelidade de cópia e eficácia Um requisito para a existência de cultura é a existência da sociedade Uma Verdadeira sociedade inclui a cooperação comportamento altruísta que beneficia utros a curto prazo e beneficia o altruísta a longo prazo Um segundo requisito Para a existência de cultura é a capacidade dos membros do grupo de aprender uns com os outros pois essa é a maneira pela qual as traços culturais são transmitidos a longo do tempo Na evolução biológica o conjunto de replicadores que todos os organismos de unia população possuem é conhecido como conjunto gênico populacional Na evolu cultural o conjunto de traços que uma sociedade possui é chamado de conjunto 282 Wiiliom M Baum de práticas culturais Essas práticas constituem os replicadores da cultura e à medi da que eles são transmitidos no conjunto de práticas culturais suas freqüências po dem aumentar ou diminuir dependendo da freqüência com que são aprendidos Quando aprender com o outro beneficia a longo prazo os genes do aprendiz como ocorre em nossa espécie os traços que possibilitam essa aprendizagem serão selecionados Três traços com essas características são limites do estímulo imita ção e reforçadores sociais Nossos corpos são feitos de tal forma que estamos sinto nizados com os estímulos produzidos por outras pessoas tais como suas faces e os sons da língua Se um organismo imita outro e o resultado é reforçador então a aprendizagem operante rapidamente ocorre Reforçadores sociais tais como sorri sos tapinhas nas costas e abraços permitem uma aprendizagem a partir do outro ainda mais rápida porque introduzem as práticas de ensino e instrução Os replicadores culturais práticas são as atividades de membros do grupo passadas de um indivíduo para o outro por imitação e educação Essas unidades são definidas funcionalmente como as atividades operantes porque são ações operantes Elas incluem não apenas práticas nãoverbais tais como seleção e pro dução de alimentos mas também práticas verbais como histórias provérbios e injunções morais Essas práticas verbais são úteis quer porque fornecem regras quer porque oferecem instruções análogas às regras isto é fornecem estímulos discriminativos indutores de comportamentos que são socialmente reforçados A cultura humana inclui práticas de seguir prescrever e formular regras Todas elas dependem de relações de reforço organizadas por outras pessoas reforço e puni ção sociais Essas práticas de reforço e punição Sdcíais à parte o comportamento que produzem podem constituir o grupo mais importante de replicadores da cul tura humana O primeiro ingrediente da teoria da evolução é a variação Da mesma manei ra que os genes variam assim também os replicadores culturais variam Tal como os acidentes genéticos os acidentes comportamentais são ocasionalmente benéfi cos Tal como um conjunto gênico populacional um conjunto de práticas culturais pode se beneficiar da migração O segundo ingrediente é a transmissão Diferentemente da transmissão gené tica a transmissão cultural significa herdar traços adquiridos As possibilidades de transmissão cultural excedem em muito àquelas da transmissão genética porque aqueles que transmitem uma prática cultural os pais culturais não necessitam possuir qualquer conexão genética com aqueles que a recebem os filhos culturais Transmissão cultural também difere de transmissão genética na m edida em que a transmissão genética acontece apenas no momento da concepção enquanto a trans missão cultural acontece ao longo de toda a duração da vida A existência de mui tas fontes e muitas oportunidades de transmissão cultural significa que a evolução cultural acontece muito mais rapidamente do que a evolução biológica Problemas sociais surgem quando a evolução cultural muda o ambiente de tal modo que os mecanismos que aum entam a aptidão no velho ambiente tornam uma prática pre judicial no novo ambiente Quando tais problemas surgem novas práticas tendem a evoluir para contrabalançálos A transmissão cultural ocorre por imitação e por regras A imitação aprendida é uma forma de comportamento controlado por regras As crianças aprendem o Compreender o behaviorismo 283 comportamento de seguir regras porque a transmissão de práticas sociais através do seguimento de regras é particularmente rápida O terceiro ingrediente da evolução cultural a seleção acontece porque a trans missão é seletiva Se é provável que um organismo entre em contato com ambien tes diversos então poderia ocorrer a evolução de mecanismos através dos quais a transmissão seria dirigida para a recepção de práticas bemsucedidas em determi nado ambiente Um critério provável de sucesso é a freqüência As pessoas imitam práticas freqüentemente observadas assim como imitam indivíduos com quem se deparam freqüentemente O seguimento de regras pode ser seletivo de um modo ainda mais diretamente relacionado ao sucesso se as pessoas se inclinarem a se guir regras que vêm de outros cujo comportamento é freqüentemente reforçado A idéia de que as práticas culturais são replicadores análogos aos genes ajuda a explicar por que as pessoas agem freqüentemente em seu próprio prejuízo para o bem da comunidade ou do país Práticas desprendidas doar dinheiro tempo esforço e arriscar a própria vida continuarão a fazer parte da cultura contanto que as conseqüências para esses comportamentos sejam em média e a longo pra zo reforçadoras Os reforçadores sociais que mantêm tais práticas derivam em última análise dos efeitos dessas mesmas práticas sobre a aptidão dos genes UíTURÂS ADICIONAIS Bàrásh D P1982 Sociobiology and behavior Nova York Elsevier 2 ed Esse livro apre senta várias teorias subjacentes à explicação do comportamento em termos evolutivos Con tém discussões sobre relações societárias incluindo a comparação com marmotas Barash D V 1986 The hare and the tortoise culture biology and human nature Nova York Viking Penguin Esse livro compara a evolução cultural e a evolução biológica Boyd R e Richerson P J 1985 Culture and the evoludonaiy process Chicago University of Chicago Press Essa obra envolve um tratamento erudito da questão da evolução cultural que esclarece muitas de suas semelhanças diferenças e interações com a evolução genética Dawkins R 1989 The selfish gene Oxford Oxford University Press 2 ed Ver especial mente o capítulo 11 Memes the new replicators1 Epstein R 1984 Spontaneous and deferred imitation in the pigeon Behavioural Processes 9 347354 Esse artigo relata experimentos mostrando que pombos imitam uns aos outros Goodenough J McGuire B e Wallace R 1993 Perspectives on animal behavior Nova York Wiley Esse livro fomece informações sobre mecanismos e teorias do comportamento animal Harris M 1980 Cultural materialism Nova York Random House O título desse livro indica claramente sua abordagem comportamental do estudo da cultura no âmbito da antropologia Hull D L Langman R E e Glenn S S 2001 A general account of selection biology immunology and behavior Behavioral and Brain Sciences 24 511573 Esse artigo apresen ta as analogias entre a seleção na evolução biológica o sistema imunológico e o reforço Está acompanhado de comentários redigidos por uma série de outros acadêmicos de T Título traduzido em português ver Apêndice 284 William M Boum Lamal P A org 1991 Behavioral analysis of societies and cultural practices Bristol Pa Hemisphere Publishing Esse livro é uma coletânea de trabalhos de analistas comportamentais Lumsden C J e Wilson E O 1981 Genes mind and culture the revolutionary process Cambridge Mass Harvard University Press Um dos primeiros livros a discutir a interação entre evolução cultural e biológica Pulliam H R e Dunford C 1980 Programmed to learn an essay on the evolution of culture Nova York Columbia University Press Esse agradável livro entretém ao mesmo tempo que explora o modo pelo qual os genes orientam a aprendizagem e o modo pelo qual essa orientação contribui para a cultura Ver o relato original da lenda de Eslok no Capítulo 8 Skinner B F 1971 Beyond freedom and dignity Nova York Knopf Ver especialmente o Capítulo 7 sobre a evolução cultural Skinner B F 1974 About behaviorism Nova York Knopf Esse livro em que Skinner res pondeu a seus críticos contém uma discussão sobre o comportamento controlado por regras no Capítulo 8 Causas e razões Sommerville C J 1982 The rise and fall of childhood Beverly Hills Sage Publications Esse livro contém uma discussão das práticas relativas a crianças ao longo dos anos na civilização ocidental TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 13 Alelo Cultura Cultura plena Cultura só por imitação Eficácia Imitação aprendida Máquina de sobrevivência Mime Pais genéticos e pais culturais Prática Replicador Sociedade Transmissão horizontal N de T Título traduzido em português ver A pêndice 14 Planejamento cultural experimentação em prol da sobrevivência T alvez nada do que Skinner escreveu tenha provocado tanta controvérsia como suas idéias sobre planejamento cultural Seus opositores viram nessas idéias o espec tro de um governo totalitário da padronização e da estagnação culturais Parecia lhes um a proposta perigosa uma fórmula para o desastre Como poderia alguém ser sábio o bastante para projetar um a cultura E o que aconteceria às pessoas que discordassem do projeto Alimentando o fogo de tais objeções Skinner escrevera também sobre engenharia comportamental o que soava ainda mais sinistro Embora algumas idéias behavioristas sobre livrearbítrio mente e lingua gem por exemplo sejam verdadeiramente controversas o planejamento cultural e a engenharia comportamental só podem parecer controversos quando interpre tados à luz dos preconceitos mais comuns sobre as palavras planejar e engenharia Para os críticos essas palavras sugerem algo como um plano mestre uma idéia fixa sobre como determinada cultura deveria ser que fosse executada sem levar em conta se as pessoas concordam ou se opõem Porém a extensão lógica da análise comportamental dos conceitos de liberdade Capítulo 9 governo Capítulo 11 e valores Capítulo 12 não condiz com essa interpretação As idéias expostas por Skinner em Beyondfreedom and dignity e Walden Two por exemplo se assemelham rnais ao processo de tentativa e erro pelo qual engenheiros e planejadores passam guando estão buscando criar um produto que funcione O arquiteto que projeta uma casa faz um esboço talvez construa um modelo examina esse protótipo bus cando falhas e testa o anteprojeto mostrandoo a seu cliente A qualquer altura do Processo e particularmente se o cliente rejeita o projeto tudo volta à estaca zero oucas pessoas se opõem a projetos governamentais como treinamento profíssio ou incentivos fiscais eles são vistos como tentativas legítimas de levar as pesso as a se comportarem de uma maneira socialmente desejável Como veremos os Calistas comportamentais sugerem apenas que talvez devêssemos nos envolver 286 Wiiliam M Boum com esse tipo de experimentação de uma forma mais ampla e de modo mais siste mático PIANEJAMENTO PELA EVOLUÇÃO Tendo reconhecido que as culturas mudam por meio de um processo evolutivo que é resultado de variação transmissão e seleção deveríamos então ser capazes de agir para melhorar essa evolução aperfeiçoando todos esses três aspectos Poderíamos aumentar e orientar a variação testando deliberadamente novas práticas Podería mos garantir a transmissão através de práticas educacionais consideradas boas no sentido exposto nos Capítulos 12 e 13 para nossas escolas Poderíamos refinar a seleção treinando especialistas na avaliação de programas experimentais Cruzamento seletivo As idéias de Darwin sobre seleção natural se originaram em parte de seus estudos sobre cruzamento seletivo Darwin não tinha uma teoria definida sobre como os traços físicos passavam de uma geração para outra mas não havia dúvida que os criadores de animais eram capazes de melhorar seu gado escolhendo matrizes de tentoras dos traços que desejavam ver nas crias Cavalos podiam ser criados com vistas à velocidade vacas visando ao tamanho e à produção de leite Darwin racio cinou que se o ambiente organizasse as coisas mesmo que um pouco a esmo de forma tal que certos membros de uma população tivessem maior probabilidade de gerar filhos então com o tempo a população tenderia a abranger um número cada vez maior de indivíduos que possuíssem os traços responsáveis pelo maior sucesso reprodutivo O cruzamento seletivo difere da seleção natural em um aspecto importante a escolha deliberada dos membros da população que se reproduzirão resulta em uma seleção mais poderosa O cruzamento seletivo está para a seleção natural assim como o planejamento cultural está para a evolução cultural Da mesma maneira que os especialistas em agricultura podem experimentar criar seletivamente e pro duzir linhagens mais aperfeiçoadas que os fazendeiros então usam com proveito deveria ser possível que especialistas em cultura experimentassem avaliassem e produzissem práticas culturais melhores que a sociedade poderia então utilizar Essa experimentação até certo ponto já existe Na década de 1930 nos Esta dos Unidos muitas pessoas consideravam a previdência social e o segurodesen prego como uma experiência tal como hoje muitas pessoas vêem a prática da ação afirmativa Ocasionalmente alguns estados norteamericanos testam novas práti N de T Ação afirmativa é uma prática do governo e instituições americanas no sentido de organizarem quotas especiais de bolsas de estudo oportunidades de emprego vagas nas escolas etc para minorias desprivilegiadas tais como negros mulheres deficientes etc à fim de melhor garantir sua inserção na sociedade Compreender o bebavicrismo 287 cas por exemplo imposto de renda negativo para ajudar os pobres e loterias para financiar a educação A maioria dessas práticas experimentais acontece em uma escala mais reduzida em cidades distritos escolares ou até mesmo em um único bairro reciclagem de lixo escolha da escola pública prevenção do crime Algu mas experiências se mostraram ineficazes ou desastrosas como as do imposto de renda negativo e a desregulamentação das instituições de crédito e poupança Avaliação Planejamento cultural significa apenas que devemos fazer mais experimentação e fazêla mais cuidadosamente isto é com planejamento e avaliação Quando se realizam experimentos sem uma proposta de avaliação então as decisões sobre seu bom ou mau êxito exigem que seus resultados sejam espetaculares Os resulta dos da experimentação cultural porém provavelmente serão sutis mudanças por exemplo na freqüência de certos eventos gravidez na adolescência ou mortes relacionadas ao consumo de drogas ou desempenhos individuais dentro de um grupo notas em provas escolares ou no vestibular Mesmo que algumas pessoas mudem muito algumas poderão mudar menos e outras não mudarão nada as sim a avaliação exige mais do que uma observação casual e os dados devem ser coletados e analisados Da mesma maneira que os cientistas de laboratório têm de usar gráficos e testes estatísticos para decidir sobre os resultados de suas experiên cias assim também os cientistas culturais devem usar métodos semelhantes Essa é a razão pela qual as agências que financiam experiências novas freqüentemente exigem um plano de avaliação antes que o projeto de pesquisa seja aprovado O financiamento em larga escala em geral depende também de demonstra ções em pequena escala ou experimentospiloto Se um experimentopiloto cultu ral der errado sua escala reduzida permite detectar os problemas e diminuir os efeitos indesejáveis de maneira relativamente mais rápida e mais fácil Se os efei tos da desregulamentação de instituições de crédito e de poupança tivessem sido testados inicialmente em pequena escala seus efeitos desastrosos sobre a econo mia norteamericana poderiam ter sido evitados Mesmo que a desregulamentação pareça ter funcionado bem em outros contextos e na ausência de avaliação criteriosa a dúvida permanece as agências de crédito e de poupança representa vam um novo contexto no qual a desregulamentação deveria ter sido avaliada inicialmente por meio de um experimentopiloto Porém a avaliação levanta uma questão Em experiências agrícolas os cria dores avaliam as novas linhagens de acordo com metas bem definidas e padrões hem estabelecidos tais como resistência a doenças e produtividade Todo o mundo Pode concordar sobre o sucesso ou fracasso de alguns experimentos culturais mas nnuitas experiências dão margem à discordância porque nossas conclusões depen dem dos critérios que empregamos Uma pessoa que analise as loterias oficiais à luz da renda que produzem poderia considerálas um grande sucesso mas quem estivesse olhando o modo pelo qual elas tiram seu lucro principalmente dos grupos socioeconomicamente menos favorecidos talvez as considerasse um fracasso total Que tipo de critério deve ser empregado na avaliação de experiências culturais 288 William M Baum A SOBREVIVÊNCIA COMO CRITÉRIO Ao se dirigir à questão dos critérios Skinner freqüentemente se referiu à sobrevi vência Às vezes ao considerar problemas globais ele parece ter tido como referên cia a sobrevivência do gênero humano Porém em outros momentos ele não se referia à sobrevivência dos povos mas à de suas culturas Para sobreviver um a cultura deve ser capaz de mudar pois ela só poderia permanecer estável em um mundo sem novos desafios ambientais e sem competi ção por parte de outras culturas No mundo de hoje considerando que o ambiente está se deteriorando e a comunicação global permite um contato constante entre diferentes culturas a sobrevivência depende de como lidamos com as mudanças ambientais e como absorvemos as práticas de outras culturas As práticas culturais competem entre si não só dentro de uma mesma cultura mas entre culturas Se um a prática estrangeira se mostra reforçadora ela passa para a cultura nativa e pode até substituir práticas tradicionais O japoneses adotaram do Ocidente as prá ticas de produção em massa e controle de qualidade os ocidentais por sua vez desfrutam de sushi e praticam caratê Como as práticas tendem a ocorrer em agru pam entos e dependem um as das outras o fato de adotarm os um a prática freqüentemente conduz à adoção de outras Uma pessoa que se interessou por caratê pode vir a se interessar pelo zenbudismo a adoção por parte dos japoneses da produção em massa levouos à adoção do controle de qualidade A interdepen dência de práticas leva à competição entre padrões culturais amplos e até mesmo entre culturas inteiras Quando um grupo abandona sua cultura tradicional e adota uma outra em sua totalidade podese dizer que a cultura tradicional morreu Em um ambiente em transformação se uma cultura muda a fim de enfrentar novos desafios ao passo que outra não o faz é provável que só a primeira sobrevi va Tais desafios são particularmente cruciais quando produzidos pelas próprias práticas culturais Por exemplo as práticas de fabricação de armamento nuclear e de depósito de lixo atômico ameaçam o bemestar de gerações futuras Muita coisa depende de como a culm ra responde a esses desafios autogerados A sobrevivência como critério implica não só mudança mas m udança em resposta a relações de longo prazo Responder apenas a relações de curto prazo normalmente significa desastre porque relações de curto e de longo prazo geral mente entram em conflito A curto prazo sacolas plásticas se tornaram muito po pulares entre os norteamericanos porque são convenientes e baratas a longo pra zo acabam em terrenos baldios e poluem o ambiente No final das contas seu custo real é alto porque demanda um sistema capaz de eliminálas satisfatoria mente A curto prazo combustíveis fósseis parecem um a fonte conveniente e bara ta de energia mas no final das contas seu uso promove engarrafamentos de tráfe go e poluição atmosférica A maioria dos desafios com que nos defrontamos são armadilhas de reforço na acepção do Capítulo 9 Agir conforme conseqüências de curto prazo é reforçado de m aneira relativamente imediata o reforço é óbvio Relações de longo prazo porém apresentam dificuldades porque suas conseqüências em geral são posterga das e seus efeitos aum entam de maneira gradual A descarga de um pouco de lixo Compreender o behoviorismo 285 tóxico em uma corrente de água pode não ter qualquer conseqüência duradoura importante mas continuar descarregando um pouco todo dia por anos a fio pode eventualmente produzir um enorme desastre devido ao efeito cumulativo Se as empresas por si próprias não podem merecer nossa confiança no que diz respeito a relações de longo prazo então é preciso impor relações de reforço regu ladoras Não se pode esperar que empresas geradoras de eletricidade encorajem a conservação de energia um a vez que quanto maior o consumo maiores serão seus lucros No estado do Maine EUA a comissão de serviços públicos fez uma experiên cia com um modo de eliminar esse desinteresse pela conservação de energia Se o consumo diminui a tarifa sobe de tal forma que os lucros da empresa de eletrici dade se mantêm aproximadamente constantes 0 resultado foi que o consumo di minuiu Quando a promoção do consumo por parte da empresa já não era mais reforçada e a empresa começou a encorajar a economia de luz ou pelo menos deixou de encorajar o consumo os consumidores individualmente tornaramse mais propensos a economizar O reforço regulador alinhou o comportamento da companhia de eletricidade com relações de longo prazo que favorecem a conserva ção da energia Responder a tais relações de longo prazo requer previsão e freqüentemente adivinhações As vezes um a ação preventiva deve ser encetada mesmo se a previ são é incerta Por exemplo parece que nossas práticas de consumir madeira e combustíveis fósseis que lançam grandes quantidades de gás carbônico na at mosfera podem resultar em um aquecimento de toda a Terra o efeito estufa A ligação entre os dois fenômenos contudo é eonjetural porque a temperatura sobe e desce por outras razões Uma tendência geral ao aquecimento poderia demorar muitos anos para ser confirmada Se esperarmos para entrar em açao até termos certeza de que há realmente um problema poderá já ser tarde demais para evitar o desastre Somente um núm ero pequeno de especialistas pode ser treinado para realizar previsões sobre conseqüências ambientais econômicas e sociais de longo prazo A sociedade é forçada a se basear nesses especialistas para a revelação dessas rela ções de longo prazo e para a recomendação de novas práticas para lidarmos com elas Essas recomendações porém só podem produzir transformações se a socie dade incluir grupos que respondam ao comportamento verbal desses especialistas e que trabalhem em prol da sobrevivência da cultura Grupos que encorajam a reciclagem do lixo por exemplo representam esse papel Quer encorajando as pessoas a manterem uma dieta melhor ou a economiza rem eletricidade as novas práticas substituindo as antigas e resolvendo os proble mas por elas gerados têm dois efeitos asseguram a sobrevivência da cultura e Promovem a longo prazo o sucesso reprodutivo dos membros da sociedade No Capítulo 13 vimos que a explicação mais provável de por que afinal sociedades e culturas existem seria o aum ento de aptidão As práticas mudam para aumentar a aPtidão dos que as praticam ou tendo em vista os problemas produzidos por algu mas de nossas práticas para impedir quedas significativas em nossa aptidão Ao discutir a necessidade de mudanças as pessoas freqüentemente mencionam a saú de e a sobrevivência de seus filhos e netos 290 William M Baum Variação orientada Em seu livro Culture and the evolutionaiy process Boyd e Richerson 1985 consi deraram tão óbvio o conceito que Sldnner denominou planejamento cultural qUç lhe atribuíram um nome técnico variação orientada e classificaramno como uma das forças da evolução cultural Eles equiparam a variação orientada com o comportamento individualmente aprendido que é então transmitido por imitação ou por ensino Sua concepção contudo é mais ampla que a de Sldnner porque inclui casos que envolvem comportamento nãoverbal por exemplo uma criatura aprende por ensaio e erro e então as demais a imitam Boyd e Richerson se concen tram porém no que chamam de cálculo racional que corresponde ao comporta mento precorrente de Sldnner Capítulo 8 O comportamento precorrente como experimentar diferentes dietas ou testar plásticos biodegradáveis resulta em solu ções que estabelecem a ocasião para comportamento verbal regras do tipo Coma mais verduras que fazem bem à saúde ou Use sacolas de plástico biodegradável para diminuir a poluição Essas regras induzem comportamentos controlados por regras naqueles que as ouvem e esses comportamentos controlados por regras devem em última análise ser reforçados Boyd e Richerson introduzem o reforço sob a forma de um padrão adaptativo O efeito da força da variação orientada sobre a evolução depende da existência de algum padrão adaptativo como gosto ou uma sensação de prazer ou dor Por exemplo a adaptação resultante de um cálculo racional procede através da cole ta de informações sobre o ambiente da estimativa dos resultados de vários pa drões alternativos de comportamento e de uma avaliação de quão desejáveis são os possíveis resultados de acordo com algum critério São esses critérios orientadores que traduzem as variações no ambiente em mudanças direcionadas e freqüentemente adaptativas mudanças no fenótipo que são então cultural mente transmitidas às gerações subseqüentes A fonte desses critérios deve ser claramente e em última instância externa ao próprio processo de variação orien tada Em uma análise final seremos forçados a explicar os critérios orientadores como produtos de algum outro processo p 9 Interpretando o fraseado mentalista do trecho acima temos que gosto ou uma sensação de prazer ou dor correspondem às propriedades reforçadoras e aversivas de várias conseqüências filhos riqueza náusea e assim por diante e critérios significa reforçadores e punidores As expressões coleta de informa ções e estimativa de resultados correspondem a comportamentos precorrentes alguns verbais e alguns talvez manipulativos que produzem vários estímulos discriminativos resultados que controlam comportamentos verbais ulteriores Mudanças no fenótipo significa aqui uma mudança em algumas práticas cultu rais A fonte ou processo responsável pelos critérios obviamente é a seleção natural Como já vimos nos Capítulos 4 e 13 os eventos ganham poder reforçadoi e punitivo se tal poder aum enta de modo geral a aptidão Se a variação orientada de Boyd e Richerson significa praticamente a mesma coisa que o conceito de planejamento cultural de Sldnner por que apenas a coloca Compreender o behaviorismo 291 cão de Skinner gera controvérsias A principal razão provavelmente é que enquan to á discussão de Boyd e Richerson é estritamente descritiva a discussão de Skinner freq ü en tem en te se torna prescritiva Embora ambos indiquem um processo que já acontece em nossa sociedade somente Skinner prossegue ao ponto de insistir que deveríamos incrementar ainda mais a variação orientada e fazêlo de maneira mais sistem ática Isso provoca o medo de que os especialistas ganhem muita influência em nossa sociedade e se tornem uma ameaça para a democracia Respondendo a essa e outras objeções Skinner 1971 em geral concorda que o medo seja legítimo mas insiste em uma perspectiva mais ampla Uma cultura bem planejada incluiria relações de reforço contracontrole Capítulo 11 que im pediriam os especialistas de chegar a essa influência indevida Sua proposta que chamou de sociedade experimental incluía a experimentação em várias frentes não só em algumas áreas limitadas UMA SOCIEDADE EXPERIMENTAI Temendo pela sobrevivência da humanidade e da civilização Skinner preocupava se com o fato de que adaptamos nossas práticas culturais de lidar com questões ambientais muito lentamente para podermos evitar a destruição Práticas que fun cionaram no passado podem se tornar maiadaptativas e podem requerer substitui çâo Skinner propôs que em vez de nos agarrarmos a velhas práticas deveríamos estar constantemente testando novas práticas para ver se funcionam melhor e de veríamos fazer da experimentação com novas práticas uma prática cultural Em vez de sociedade experimenta ele poderia na verdade ter usado o termo socieda de em experimentação Experimentação Skinner 1971 comparou a experimentação com práticas culturais à experimenta ção no laboratório Uma cultura se parece muito com o ambiente experimental empregado na análi se comportamental Uma criança nasce em uma cultura como um organismo é colocado em um ambiente experimental Planejar uma cultura é como planejar um experimento contingências isto é relações de reforço são dispostas e os efeitos registrados Em um experimento estamos interessados no que acontece ao planejar uma cultura estamos interessados em saber se funcionará Essa é a diferença entre ciência e tecnologia p 153 Skinner indica aqui a diferença entre a análise comportamental a ciência e a enologia comportamental Enquanto o objetivo da ciência é somente entender a tecnologia procura resultados práticos A tecnologia e a ciência são em parte mu dam ente dependentes a ciência explica por que certas práticas podem funcionar e a tecnologia empurra a ciência para descobrir práticas que de fato funcionem 252 WilÜam M Baum Democracia Por exemplo especulamos no Capítulo 11 que a democracia pode ser superior a outros sistemas de governo porque proporciona aos cidadãos um maior contra controle Essa teoria pode indicar o caminho a ulteriores aperfeiçoamentos do pro cesso democrático Em um artigo intitulado From candidate to criminal the contingencies of corruption in elected public office os analistas comportamentais Mark Goldstein e Henry Pennypacker 1998 discutiram a maior ameaça singular à democracia a corrupção Eles argumentaram que a corrupção ocorre porque as relações de reforço que afetam o comportamento dos candidatos que disputam um cargo diferem das relações de reforço que afetam o comportamento dos ocupantes de cargos públicos depois que são eleitos Ao concorrer ao cargo o candidato le vanta fundos e ganha votos através da promessa de que representará os interesses do povo de que m udará práticas governamentais ineficazes e de que dará ouvidos às necessidades dos eleitores Depois de ser eleita a pessoa então está sujeita a um novo e quase irresistível conjunto de relações de reforço grupos específicos com grande poder econômico oferecem presentes e contribuições se o eleito tom ar de cisões a seu favor ao mesmo tempo que outros ocupantes de cargos públicos o encorajam a aceitar as doações Na esfera nacional um deputado ou um senador subitamente se torna objeto da ação de lobistas que apontam para a necessidade de fazer uma grande caixa de campanha quando chega a época de disputar a reelei ção Na esfera local relações similares ocorrem mesmo que os valores sejam mais baixos porque empreendedores e negócios demandam concessões oficiais e servi ços especiais Seus representantes levam os ocupantes dos cargos para jantar ofe recem entradas para competições esportivas e viagens de férias Goldstein e Pennypacker 1998 descrevem a situação de um indivíduo denominado Amistoso O candidato vivenciou uma rica agenda de contatos pessoais apoio alimentação e respostas públicas positivas de cabos eleitorais A maior parte disso cessa de pois da eleição tornando o detentor do cargo extremamente suscetível a quais quer outros reforçadores Os que procuram obter tratamento favorável isto é os que corromperiam Amistoso estão mais do que prontos para entrar em cena e preencher o vazio de reforçadores com um sistema de contingências próprio Eles são habilitados nas técnicas de seleção de reforçadores e modelagem Em breve Amistoso terá um novo repertório p 67 A sucumbência do ocupante do cargo ao novo e poderoso reforço poderia ser remediada nas urnas quando se repetisse o período eleitoral mas então o proble ma permanece de que um a outra pessoa sucumbirá mais uma vez à mesma mu dança de relações de reforço Uma solução para a corrupção requer algumas mu danças no relacionamento entre o ocupante do cargo público e os eleitores que proporcionem mais contracontrole Goldstein e Pennypacker sugerem uma alternativa para representantes eleitos i localmente Eles descrevem sua proposta desta maneira I lr Todos os ocupantes de cargos eletivos estariam sujeitos a um plebiscito a cada f aniversário de sua eleição Anualmente os eleitores responderiam um a q u e s tã o j Compreender o behaviorismo 293 sobre cada eleito ele ou ela deve continuar sem questionamento por mais um ano Uma votação majoritariamente afirmativa permitiria ao eleito continuar no cargo sem ser posto em dúvida Uma votação negativa por outro íado seria um convite para um julgamento no próximo plebiscito anual que poderia resultar em sua substituição Sob esse sistema um ocupante de cargo público recémeleito teria assegurada sua posição por no mínimo dois anos Daí em diante cada ano sem questionamentos presumivelmente funcionaria como uma resposta positiva do público referente ao desempenho do eleito Se o voto de desconfiança ocorresse o ocupante do cargo teria o ano por vir para corrigir suas práticas a fim de triunfar na eleição seguinte O fracasso nessas modificações presumivelmente levaria a sua remoção em tempo pelos eleitores Esse procedimento não aumentaria em nada os custos do governo local dado que algum tipo de eleição normalmente ocorre todos os anos e o plebiscito seria simplesmente superposto a elas p 7 Dado que sua proposta garante resultados reforço ou punição mais freqüen tes apoiados pela ameaça de destituição do cargo contracontrole ela estimularia ó comportamento correto por tanto tempo quanto o eleito permaneça no cargo Ela removeria algumas das desvantagens de mandatos fixos para os cargos de que ocupantes de cargos públicos ficam por alguns anos isolados do contracontrole e então são forçados a enfrentar o julgamento das urnas mesmo que façam um bom trabalho Embora a proposta possa soar razoável entretanto a única maneira de descobrir se ela funciona seria testála Felicidade Como sabemos quando um a prática funciona Essa questão nos remete de volta aos padrões adaptativos e critérios orientadores de Boyd e Richerson A resposta mais comum é expressa em termos de felicidade O que funciona é o que torna as pessoas felizes Porém isso só resulta em uma reformulação do problema sob quais condi ções podemos dizer que as pessoas são felizes Já vimos Capítulos 9 11 e 12 como os analistas comportamentais abordam essa questão Em primeiro lugar pa rece evidente que as pessoas relatam uma maior felicidade quando estão livres da possibilidade de conseqüências aversivas ou da possibilidade de perderem o refor ço habitual No Capítulo 9 notamos que as pessoas relatam felicidade quando seu arnbiente permite escolhas alternativas de ações possíveis e essas escolhas têm conseqüências reforçadoras em vez de aversivas As pessoas tendem a estar felizes nas mesmas condições nas quais relatam sentiremse livres especialmente livres de coerção mas também como nossa análise de liberdade espiritual sugeriu livres de guns tipos de reforço positivo Uma qualificação deve ser feita a nossa opção de felicidade como um critério que funciona em uma cultura estamos falando aqui de felicidade a longo prazo y felicidade a longo prazo proveniente da cultura de que uma pessoa faz parte reqüentemente está em conflito com o reforço pessoal a curto prazo A curto pra ninguém gosta de pagar impostos mas todo o mundo se beneficia ao final das cutas de escolas públicas e da coleta do lixo 294 William M Baum No Capítulo 11 introduzimos a perspectiva de longo prazo em nossas análi ses ao examinarmos as relações de exploração e de eqüidade As relações de refor ço e punição de uma cultura são manifestadas concretamente em relacionamentos que consistem na troca repetida de estímulos discriminativos e conseqüências pelas quais as pessoas controlam o comportamento umas das outras e as instituições controlam o comportamento das pessoas As pessoas relatam uma m aior felicidade a longo prazo quando estão livres de relações de exploração e recebem reforço eqüitativo reforço equivalente àquele recebido por um grupo de comparação Historicamente a tendência nos Estados Unidos tem sido fazer comparações cada vez mais amplas Esposas já não são comparadas apenas entre si senão com seus esposos Minorias já não são comparadas apenas entre si senão com a maioria Em última instância se a população como um todo se torna o grupo de comparação o padrão de eqüidade para todos seria o mesmo Nos Capítulos 12 e 13 nós nos lembramos de queem última análise porque somos produtos da seleção natural nossa felicidade tende a coincidir com a apti dão de nossos genes Para a maioria das pessoas a felicidade reforço deriva de condições em nós próprios e nos outros reforçadores que em últim a instância estão ligadas à aptidão a sobrevivência e o conforto pessoais o bemestar dos filhos o bemestar de membros da família e de outros parentes e o bem estar de pessoas que não são parentes mas com as quais mantemos relações mutuamente benéficas Capítulo 11 cônjuge amigos íntimos membros da comunidade Walden Two a visão de Skinner Um modo pelo qual Sldnner tentou transmitir sua idéia da sociedade experimental ou em experimentação foi descrevendoa em seu romance Walden Two Como fic ção o livro oferece ilustrações concretas de como uma sociedade em experimenta ção poderia ser Como um ensaio que defende as virtudes de uma sociedade em experimentação ele é indireto porque Skinner passa seu ponto de vista através de diálogos entre seus personagens Para apreciar o livro em toda sua extensão é necessário interpretálo à luz das concepções de Skinner Interpretação de Walden Two O livro começa com dois professores universitários de meiaidade Burris e Castle decidindo visitar uma comunidade experimental localizada em uma fazenda no meiooeste americano Eles se defrontam com um povoado localizado em um pe queno pedaço de terra com um aprazível plano urbanístico de aproximadamente mil habitantes Os dias que lá passam são dominados pelas conversas com Frazier o criador da comunidade que ainda lá vive mas que então tem uma influência apenas marginal no que diz respeito a seu funcionamento Uma maneira de lêlo é como se o livro fosse uma batalha entre Frazier e Castle para conquistar a adesão de Burris Castle descrito como uma pessoa confoí tável em seu papel de acadêmico um filósofo com excesso de peso e verbalmente Compreender o behaviorismo 295 beligerante é a personificação do mentalismo Frazier o homem de ação é descri to como vigoroso e combativo excessivamente autoconfiante Ele representa a espe rança em um mundo novo baseado na tecnologia comportamental Burris pouco à vontade em seu papel de acadêmico descontente com a vida que leva está aberto à persuasão Podese dizer que nenhum dos três representa Skinner embora possa mos imaginar que as discussões que acontecem entre eles especialmente entre Frazier e Burris poderiam se assemelhar às discussões de Skinner consigo próprio À medida que Frazier lhes mostra a comunidade Walden Two Burris e Castle conhecem os vários aspectos daquela cultura suas práticas relativas à economia governo educação casamento e lazer Frazier explica que as práticas são baseadas em princípios com portam entais Castle aponta problemas e usa argumentos mentalistas que Frazier refuta Burris vacila Uma após a outra as objeções à idéia de uma sociedade em experimentação são levantadas a maioria por Castle algu mas por Burris e respondidas Cada um dos aspectos de Walden Two é retratado como funcionando melhor que nos Estados Unidos de modo geral Não há necessidade de dinheiro as pessoas ganham créditos de trabalho por realizarem tarefas úteis mais créditos por hora em tarefas trabalhosas como lavar janelas menos créditos em tarefas agradáveis como ensinar O governo é tão sensível às manifestações de seus cidadãos que as eleições ficaram obsoletas Ensinase às crianças como se autoeducarem de forma que necessitam apenas de um a leve orientação dos professores As pessoas desfru tam de períodos enormes de lazer e os usam de maneira produdva O vestuário é variado As interações sociais são diretas e carinhosas Acima de tudo todo o mun do está contente Burris passa eventualmente por um tipo de conversão deixa Castle em sua viagem de volta à universidade e retorna a Walden Two para ficar Walden Two é uma utopia Claro Walden Two parece bom dem ais para ser verdade O livro tem sido freqüentemente classificado como obra utópica como o livro de Thomas More Utopia Várias ficções desse tipo já foram escritas em geral versando sobre uma comunidade pequena e isolada onde a vida é de longe muito melhor do que no mundo em que vivemos Sob um ponto de vista superficial Walden Two se encaixa nesse modelo Skinner porém negou que o livro fosse utópico afirmando que pretendia descrever a idéia básica de uma sociedade experimental em experimentação Os detalhes concretos da economia do governo da vida social e assim por diante foram incluídos somente como ilustração Ao contrário do que ocorre em ficções utópicas típicas nas quais esses pormenores são o ponto focal do livro Walden Two vai além dos detalhes e m ostra um método o método experimental Tomar os Pormenores como recomendações de Skinner é uma interpretação equivocada do livro Na verdade a própria lógica da postura de Skinner impediria que ele tivesse Qualquer idéia definida acerca dos detalhes de Walden Iwo porque esses detalhes deveriam evoluir com o tempo como resultado de experimentação e de seleção Quern sabe se o sistema de crédito por trabalho o sistema de governo por meio de 296 Williom M Boum consultas constantes à população ou o autodidatismo funcionariam Em um a soci edade em experimentação esses aspectos poderiam ser testados modificados e conservados ou descartados Ao longo dos anos utópico ganhou significados adicionais como inviável ou inexeqüível e a obra Walden Two poderia ser chamada de utópica nesse sentido Poderseia dizer que experimentar em uma comunidade de mil pessoas é possível mas nunca poderia ser feito em um país com 300 milhões de pessoas ou até mes mo em um estado ou cidade de qualquer tamanho razoavelmente grande Assim mesmo que uma comunidade como Walden Two tivesse sucesso ela sobreviveria como uma pequena ilha encerrada em si mesma No livro Skinner imaginou outras comunidades semelhantes a Walden Two brotando pelo país Estava implícito que eventualmente se um número suficientemente grande de pessoas vivessem em tais comunidades elas começariam a influenciar o país É difícil saber se as suposições de Skinner se mostrarão corretas pois as tenta tivas de instalar tais comunidades tiveram pouco sucesso Uma delas Twin Oaks iniciada na década de 1960 nos Estados Unidos sobreviveu até a década de 1990 porém notícias recentes indicam que a prática de experimentação foi abandonada Uma comunidade mexicana Los Horcones reteve a prática de experimentação mas é muito pequena para ter muita influência Talvez o crescimento da prática de experimentação cultural não devesse ficar restrita a pequenas comunidades Poderíamos argumentar que vários governos norte americanos em todos os seus níveis têm demonstrado uma tendência crescente desde a crise de 1929 no sentido de realizarem experimentações com práticas culturais Os jornais freqüentemente descrevem projetospiloto que testam novos modos de lidar com a coleta de lixo urbano o uso de drogas a gravidez na adoles cência e o desemprego Práticas empregadas em outras sociedades são trazidas para análise e possível adoção Um pessimista poderia apontar para o poder de grupos de interesse militantes que se opõem à mudança enquanto um otimista poderia dizer que apesar de tudo estamos caminhando lenta e pausadam ente em direção a uma sociedade em experimentação Skinner provavelmente insistiria que devêssemos agir mais rápida e sistematicamente no trato de nossos problemas comportamentais antes que seja tarde demais OBJEÇÕES Em Walden Two e Beyondfieedom and dignity Skinner tentou responder às objeções feitas a sua concepção de sociedade em experimentação Começa mostrando que gostemos ou não já existe uma tecnologia comportamental em estágio rudimen tar talvez mas em crescimento Já não há mais qualquer dúvida de que as ações das pessoas podem ser controladas por relações de reforço planejadas para esse fim A pergunta é como esse conhecimento será usado A primeira objeção pode ser colocada do seguinte modo sua concepção é errada porque mesmo que seja possível controlar as ações das pessoas no laborató rio esse é um ambiente de condições artificiais e simplificadas que não tem nada em comum com as complexidades do mundo real Sldnner respondeu m ostrando Compreender o behaviorismo 297 que os experimentos em física e química são igualmente realizados em condições artificiais e simplificadas contudo ninguém duvida que seus resultados possam ser aplicados no mundo real Não é necessário que o controle seja perfeito para que seja útil as agências de publicidade demonstram diariamente que o histórico das pessoas pode ser explorado Felizmente pode haver também usos mais construti vos gerenciamento comportamental em salas de aula e instituições para doentes mentais por exemplo Em Walden Two Frazier sugere que houve falhas mas não há nenhuma dúvida de que a tecnologia funciona Skinner 1971 instou aqueles que rejeitariam um a tecnologia comportamental por ser muito simples a examina rem a alternativa uma supersimplificação realmente grande é representada pelo apelo tradicio nai a estados da mente sentimentos e outros aspectos do homem autônomo que a análise comportamental está substituindo A facilidade com que podem ser inventadas explicações mentalistas ad hoc é talvez a melhor medida de quão pouca atenção deveríamos prestar a elas E o mesmo pode ser dito de práticas tradicionais A tecnologia que emergiu de uma análise experimental fdo compor tamento só deveria ser avaliada em comparação com o que tem sido feito a partir de outras concepções Afinal de contas o que temos para mostrar daquilo que foi produzido por métodos nãocientíficos ou pelo senso comum précíentí fico ou simplesmente pelo bom senso ou até mesmo pela experiência pessoal É ciência ou nada e a única solução para a simplificação é aprender a lidar com complexidades p 160 Ele prosseguiu reconhecendo que a análise comportamental como qualquer outra ciência não pode responder a toda e qualquer questão que lhe seja colocada A medida que progride entretanto consegue responder a um número cada vez maior dos problemas que lhe são colocados A ciência do comportamento não está ainda pronta para resolver todos os nossos problemas mas é uma ciência em desenvolvimento e sua adequação última não pode ser avaliada agora Quando seus críticos afirmam que ela não pode explicar esse ou aquele aspecto do comportamento humano eles normalmente deixam implícito que ela nunca poderá vir a fazêlo mas a análise continua a se desen volver e de fato está em um estágio muito mais avançado do que seus críticos geralmente supõem p 160 Uma segunda objeção equipara planejamento com interferência Inovações Pouco inteligentes poderiam levar a catástrofes tentaremos uma experiência não seremos capazes de prever suas conseqüências e produziremos mais mal do que bem Assim em vez de assumir o risco de conseqüências imprevisíveis seria me lhor deixarmos as coisas como estão e deixar que os eventos sigam o curso que bem lhes parecer Skinner respondeu a essa postura mostrando que o não planejado também dá errado Se nos abstemos de intervir deixamos nosso destino ao acaso Isso pode ter funcionado bastante bem no passado mas em um mundo em que bossas ações ameaçam nossa própria existência seria irresponsável sentarse à es Pera de que as coisas se ajeitem 298 William M Baum A comunidade Walden Two de Skinner inclui um grupo de Planejadores cada um dos quais serve durante determinado mandato Eles avaliam as práticas exis tentes na comunidade com base nas informações que recebem dos Gerentes cada um dos quais está ligado a um determinado grupo de trabalho saúde produção de leite e derivados preparação de comida cuidados com as crianças e assim por diante Os Gerentes coletam os dados os Planejadores os analisam Usando esses dados os Planejadores decidem quais práticas funcionam quais poderiam ser me lhoradas e que novas práticas deveriam ser postas à prova Os Planejadores são especialistas eles devem ter passado por um treinamen to em avaliação e planejamento de inovações Um governo responsável confia em especialistas para sugerir soluções a problemas complexos Tal como ocorre com problemas como o estabelecimento de padrões para a construção de pontes ou a avaliação de um novo m edicam ento assim tam bém ocorre com problemas comportamentais como poluição e crime as soluções demandam especialistas Os analistas de comportamento estão sendo chamados cada vez mais para planeja rem práticas a serem utilizadas em escolas prisões e hospitais A medida que se tornam úteis seu papel pode crescer Uma terceira objeção dá ao planejamento o significado de estagnação O pla nejamento produziria um ambiente estultificante sem espaço para inovações Como discutimos antes esse ponto de vista interpreta erroneamente a palavra planejar Uma das forças da abordagem experimenta é que ela encoraja a inovação Qual quer acaso feliz pode ser explorado e qualquer proposta nova que seja promisso ra pode ser experimentada Deveríamos confiar apenas em acasos felizes Uma outra objeção relacionada à anterior vê no planejamento o caminho para a padronização e uniformidade Se determinados estilos de roupa ou de pre paro de alimentos fossem considerados os melhores então todo o mundo seria obrigado a seguilos Só os produtos dados como os melhores poderiam estar à venda nas lojas Esse medo desconsidera suas próprias bases o valor da diversidade da variabilidade A história da civilização ocidental nos ensina que as pessoas são mais felizes quando podem escolher A diversidade de que desfrutamos hoje não só pode ser preservada por um planejamento adequado mas poderia ser aumentada Se a diversidade tem valor podemos criar um planejamento para que ela ocorra Uma quarta e mais bem direcionada objeção é que uma sociedade como essa não teria graça O próprio Skinner disse Eu não gostaria dela1 ou traduzindo Essa cultura seria aversiva e não me reforçaria da maneira a que estou acostuma do Cp 163 A vida em um a comunidade como Walden Two onde não há privações os riscos de perigo são mínimos as oportunidades de lazer são enormes todo o mundo é saudável agradável e ninguém está estressado pode ser bastante aborrecida Em um mundo sem sofrimento onde estaria um Dostoievsky ou um Mozart Skinner reconheceu que essa objeção tinha seus méritos e ele próprio tinha dúvidas se desejaria viver em um lugar como Walden Two Ao responder contudo ele considerou que essa sociedade seria boa não para nós que vivemos no mundo de hoje mas para as pessoas que nela vivessem Em Walden Two Frazier faz essa crítica a Castle e Burris O próprio Frazier é descrito como um desajustado em Walden Two Ele ama a comunidade mas como produto de sua cultura pregressa ele se acha pouco à vontade na nova cultura que ajudou a criar Compreender o behoviorismo 29 Essa crítica Eu não gostaria dela tem menos a ver com a idéia de uma sociedade em experimentação quecom a idéia de um mecanismo estatal que ga ranta o bemestar em todos os seus níveis Estado de bemestar social Se uma sociedade em experimentação estabelece como critério para a escolha de boas prá ticas que elas produzam conforto saúde ordem e segurança então ela se encami nha para um Estado de bemestar social em que o comportamento de cada um seria reforçado positivamente tanto quanto possível afastandose de relações coer civas e da maior parte dos controles aversivos existentes Para muitas pessoas isso exigiria uma grande m udança nos reforçadores e nas relações de reforço que con trolam suas atividades Atividades produtivas e criativas poderiam ser explicita mente reforçadas Presumivelmente haveria pouca ou nenhuma necessidade de alguém provarse a si próprio de competir enganar roubar ou mentir Quer ou não esse m undo soe entediante para alguém que vive em nosso mun do se caminhássemos na direção de mudanças essas deveriam ocorrer gradual mente Mesmo a comunidade imaginária Walden Two evoluiu ao longo de um cer to tempo É provável que a maioria de nós daria boasvindas a quaisquer mudanças que pudessem acontecer durante nossas vidas e cada geração cresceria em uma cultura substancialmente diferente daquela que veio antes É improvável que eles a achassem aborrecida A quinta e maior objeção ao planejamento cultural é que isso representa uma ameaça à democracia e leva ao regime ditatorial Classificados junto com a literatu ra sobre utopias estão o que se poderia denominar romances de pesadelo como a Obra de George Orwell 1984 e o livro de Aldous Huxley Brave new world Orwell imaginou um estado totalitário no qual os princípios comportamentais são usados para amedrontar as pessoas levandoas à obediência Praticamente todos os méto dos usados por esse governo são coercivos e embora as pessoas sejam miseráveis e estejam constantemente sob o jugo do medo o estado é poderoso o bastante para se manter Podese lem brar da Alemanha nazista ou da União Soviética No livro de Huxley o populacho é m antido na linha por meio de reforço positivo Não há qual quer privação mas todo o mundo é viciado cedo na vida no uso de uma droga do prazer algo como a cocaína que é livre e amplamente distribuída As pessoas são ensinadas a passar o tem po desfrutando sexo promíscuo jogos e em atividades amenas que não levam a nada e são mantidas na ignorância da literatura filosofia ciência ou de qualquer coisa que consideramos a herança intelectual de uma pes soa educada Duas respostas podem ser apresentadas diante das preocupações levantadas por essas duas obras Primeiro quão realistas são esses pesadelos A sociedade de Orwell nos faz lembrar da Alemanha nazista e da União Soviética nenhuma das quais durou Como fizemos notar nos Capítulos 9 e 11 relações coercivas são ineren temente instáveis as pessoas eventualmente fogem ou se rebelam O pesadelo de Huxley parece mais inquietante só porque o uso de reforço positivo que ele descreve parece tornar uma revolta muito pouco provável Os métodos de gerenciamento descritos são típicos de relações de exploração Como vimos no Capítulo 11 as pessoas se rebelam ou agem no sentido de mudar relações exploradoras somente Quando percebem a iniqüidade da relação isto é somente quando é feita uma comparação com um grupo em melhores condições Na obra de Huxley embora 300 William M Baum nenhuma comparação desse tipo seja feita há uma dasse dominante que leva uma vida muito melhor que a dos explorados Podemos apenas conjeturar sobre como essa classe dominante impediria que as demais pessoas fizessem comparações Em antigas sociedades hierárquicas como a Grécia clássica ou a Roma imperial até mesmo os membros da classe dominante eventualmente falavam contra a iniqüida de A longo prazo um gerenciamento baseado em exploração tam bém é instável Uma segunda resposta seria que uma adm inistração estável inclui um contracontrole eficaz Capítulo 11 A relação entre governantes e governados não pode ser uma relação entre pares ou iguais Tal relação porém pode ser estável se os meios de contracontrole vão além da simples ameaça de distúrbios Em uma democracia a ameaça de uma rebelião raramente surge porque as pessoas têm formas alternativas de contracontrole eleições lobby e manifestações Uma segunda característica essencial da democracia que já apontamos no Capítulo 11 é que no final das contas governantes e governados compartilham as mesmas relações de reforço Quando o mandato do governante expira ele se torna um cidadão comum novamente As mesmas leis se aplicam tanto ao exgovernante como aos demais cidadãos Relações de reforço compartilhadas constituem uma forma adicional a longo prazo de controle sobre o comportamento do governante ações levadas a cabo durante o mandato de um governante em última análise vigorarão tanto para os demais cidadãos como para ele após deixar seu cargo Tais relações de longo prazo porém precisam ser complementadas por relações relati vamente imediatas de contracontrole que têm mais efeito sobre as ações dos governantes porque atuam a prazo mais curto Todavia apesar de tudo que é dito em seu favor a democracia tal como prati cada nos Estados Unidos está longe da perfeição Como método de contracontrole as eleições são insatisfatórias porque fornecem respostas apenas depois de um período de anos a fim de prover conseqüências imediatas para o comportamento dos governantes as eleições deveriam ser freqüentes mas eleições freqüentes cau sariam muitos problemas A proposta de Goldstein e Pennypacker permitiria elei ções menos freqüentes com menos distúrbios ao menos em nível local mas outros problemas permanecem Quando uma eleição ocorre muitas vezes menos da me tade dos eleitores cadastrados vota Não se pode supor que aqueles que votam analisaram as questões críticas porque as campanhas eleitorais raram ente cobrem essas questões Como a condução de uma campanha eleitoral é extremamente cara as pessoas ricas podem exercer muito mais influência do que seria justo Delegar poderes sobre os reforçadores também apresenta problemas porque as pessoas nomeadas podem ser menos suscetíveis a contracontrole que aqueles que os desig nam A maioria dos americanos tem pelo menos uma história a contar de encontros frustrantes com burocratas A pessoa que recebe seu requerimento para expedição de sua carteira de motorista pode com completa impunidade ser rude com você porque você não tem qualquer idéia do que fazer a respeito e você precisa da cooperação dessa pessoa para dar andamento a seu pedido O grau de variação no N de T Nos Estados U nidos votar tam bém é um ato de livre cidadania ou seja o voto na é obrigatório e freqüentem ente m uito poucos eleitores com parecem às um as Compreender o behaviorismo 301 tratamento que recebemos de um serviço para outro é surpreendente Quer seja um serviço público ou particular de um banco ou de um supermercado em uma organização bem administrada todos são corteses e prestativos Oque causa a dife rença O que faz com que uma organização seja bem administrada e outra não Em Waíden Two Skinner supôs quais seriam as respostas e soluções às ques tões acerca do que é bom em uma democracia e como ela poderia ser melhorada Os Planejadores têm mandatos de duração fixa claro de forma que se vejam obri gados a partilhar as relações de reforço com os demais a longo prazo Contudo não existem eleições Ao invés Skinner propõe freqüentes consultas ao povo atra vés de pesquisas de opinião e por meio de solicitações de sugestões consultas essas a serem feitas através dos Gerentes Ele pode ter antecipado a preocupação que vemos hoje com a comunicação Quando examinamos o que as pessoas querem dizer quando falam de comunicação particularmente em discussões sobre geren ciamento e administração parece que elas estão falando de contracontrole Os burocratas e prestadores de serviço são atentos e corteses quando escutar e ser cortês são comportamentos reforçados Considerando que o público tem poucos meios para reforçálos o reforço deve vir de cima Porém isso depende de como aqueles que estão em cima agem para tomar ciência do comportamento de seus supervisionados e de como os instruem sobre como se comportar Esse agir para tomar ciência observar e essa instrução devem eles próprios ser reforçados também Quando um supervisor assim se comunica com seus supervisionados não só os comportamentos apropriados relativos aos usuários aumentam mas os usuários ganham mais poder de contracontrolar As respostas favoráveis e desfavo ráveis de usuários fazem mais diferença porque elas são observadas Skinner suge riu que um governo poderia do mesmo modo e igualmente bem ser assim adminis trado Em seu livro os Gerentes servidores realizam pesquisas de opinião entre seus eleitores usuários de modo que os Planejadores possam estar cientes dos efeitos de suas práticas Em outras palavras as consultas fornecem estímulos discriminativos que além de reforçar e punir o comportamento dos Planejadores também servem para induzir uma ação manutenção ou mudança de práticas Consultar a opinião pública nos Estados Unidos cresceu ao ponto em que hoje é quase uma atividade contínua essa prática poderia ser submetida a um melhor uso Os problemas que enfrentamos hoje são terríveis Há razões para sermos pes simistas sobre nossa capacidade de resolvêlos Ainda ouvimos falar da necessida de de mudar as m entes das pessoas sem reconhecer que o que precisamos mudar é o comportamento das pessoas e que mudar suas mentes em geral não funciona Ainda ouvimos falar da necessidade de mais punições para impedir comportamen tos indesejáveis Enquanto uma linguagem metafísica sobre sentimentos c sobre um eu interno dominarem nossas discussões enquanto uma linguagem moralista induzir o uso de controle aversivo em vez de reforço positivo não conseguiremos abordar nossos problemas como problemas de comportamento e não conseguire nios usar técnicas comportamentais para resolvêlos Precisamos planejar experi mentar e avaliar Conseguiremos realizar em tempo as tão necessárias mudanças nas relações de reforço Enquanto conseqüências de longo prazo não controlarem nossas decisões políticas e consequências de curto prazo continuarem controlando nosso comportamento o desastre parece inevitável 302 William M Baum Não obstante parece haver alguma razão para nos sentirmos otimistas Em bora considerações de curto prazo possam dominar em nossa cultura parece que estamos mudando de forma a sermos cada vez mais controlados por conseqüências de longo prazo No passado cada geração deixou para a próxima geração ainda mais problemas do que encontrou poluição armamentos dívidas públicas por agir baseandose apenas em considerações de curto prazo A medida que passamos de um a crise para a próxima certas práticas evoluem e elas poderão finalmente nos ajudar a evitar novas crises Tais práticas inevitavelmente dependem de espe cialistas que possam avaliar e prever relações de longo prazo prováveis Elas tam bém dependem de um número suficiente de cidadãos informados e participantes agindo para prover estímulos discriminativos e conseqüências para aqueles que governam A julgar pelos noticiários especialistas e cidadãos comprometidos com o bemestar geral parecem pouco a pouco ter sucesso na aprovação de leis de proteção ambiental de diminuição da pobreza e de melhorarias na saúde em vários países do mundo inclusive nos Estados Unidos Essas práticas estão sendo cada vez mais avaliadas e comparadas com alternativas Queiramos ou não acreditássemos ou não ser isso possível parece que estamos caminhando na direção da sociedade em experimentação de Skinner Esperemos que sim RESUMO Embora as recomendações dos analistas comportamentais sobre planejamento cul tural tenham às vezes gerado oposição se entendidas corretamente elas dificil mente seriam consideradas controversas O conceito de planejamento longe de sugerir algum plano fixo a ser imposto às pessoas quer dele gostem ou não implica um processo de experimentação e avaliação no qual as práticas são selecionadas de acordo com a felicidade a longo prazo das pessoas Nesse sentido o planejamento se relaciona com a evolução cultural como o cruzamento seletivo se relaciona com a seleção natural Da mesma maneira que o cruzamento seletivo tira partido da variação e transmissão genética ao deliberadamente selecionar certos traços assim o planejamento cultural tira partido da variação e transmissão cultural ao selecio nar deliberadamente certas práticas A experimentação e a seleção sistemáticas produzirão mudanças culturais mais rápidas em resposta a problemas sociais e ambientais Práticas experimentais visam à sobrevivência sobrevivência da sociedade mas mais freqüentemente sobrevivência da cultura modo de vida Para sobrevi ver a cultura deve mudar em resposta a transformações no ambiente e deve adotar práticas com base em suas conseqüências de longo prazo Prever os prováveis re sultados de várias práticas requer que os dados necessários para detectar esses efeitos a longo prazo sejam coletados e analisados por especialistas treinados A adoção de práticas novas depende das conclusões desses especialistas A mudança freqüentemente depende também de grupos dentro da sociedade que respondam às predições dos especialistas agindo para que a m udança ocorra isto é envol vendose em comportamento verbal que gere estímulos discriminativos que forta leçam essas novas práticas Compreender o behaviorismo 303 O critério de seleção para a sobrevivência e mudança de uma cultura é o reforço Uma prática bemsucedida é aquela que provê mais reforço a longo prazo ou menos punição a longo prazo do que as variações com as quais compete Experimentar e selecionar as alternativas mais reforçadoras corresponde a com portamentos precorrentes que fortalecem várias possíveis soluções para um pro blema e podem então conduzir a comportamentos verbais sobre soluções e não soluções isto é comportamentos que são e não são reforçados Em última instância a mudança e sobrevivência de uma cultura dependem da aptidão Reforçadores e punidores incondicionais sociais e nãosociais são resul tado da seleção natural Considerando que as práticas culturais são os meios próxi mos pelos quais os genes responsáveis por elas são selecionados então podemos dizer que as práticas culturais selecionadas por suas conseqüências aumentam a aptidão no longo prazo Uma sociedade experimenta de acordo com Skinner é aquela que rotinei ramente experim enta e seleciona novas práticas Um nome melhor poderia ser o de sociedade em experimentação O romance de Skinner Walden Two descreve tal sociedade Ela foi considerada utópica no sentido de descrever uma comuni dade idílica e relativam ente isolada Essa é uma interpretação errônea da obra porque os detalhes concretos dessa comunidade serviram apenas para dar subs tância ao que é realm ente o ponto principal o método experimental de planeja mento cultural Uma leitura mais correta mostra o livro como um ensaio no qual os personagens levantam objeções e as respondem ao projeto de planejamen to cultural Essas objeções incluem afirmações de que técnicas comportamentais não po dem funcionar no mundo real que o planejamento resultará em catástrofe ou em padronização e que uma sociedade em experimentação não seria divertida Essas objeções são facilm en te respondidas foi dem onstrado que as técnicas comportamentais funcionam no mundo real a experimentação busca evitar catás trofes e encorajar a diversidade as mudanças culturais são graduais e a cultura de uma sociedade em experimentação será adequada às histórias passadas daqueles que nela vivem A m aior objeção é aquela de que um planejamento cultural conduzirá à ditadura As ditaduras porém dependem de práticas de coerção ou exploração relações essas que são inerentemente instáveis Uma sociedade em experimenta ção que vise à felicidade das pessoas dificilmente poderá ser ditatorial porque as pessoas só ficam felizes quando seu comportamento é positivamente reforçado e quando estão livres de relações coercivas e exploradoras Estabilidade e felicida de dependem de eqüidade e contracontrole as duas marcas características da democracia Como meio de contracontrole as eleições poderiam ser substituídas Por meios mais eficientes de comunicação e isso fortaleceria a democracia em vez de enfraquecêla Embora a humanidade se defronte hoje com problemas sem precedentes tal vez haja razões para termos esperanças Quanto mais experimentarmos e coletar mos dados quanto mais consultarmos especialistas bem treinados quanto mais cidadãos bem informados clamarem por práticas culturais mais adequadas mais provável é que tenhamos sucesso 304 William M Baum LEITURAS ADICIONAIS Boyd R e Richerson R J 1985 Culture and the evolutionary process Chicago University of Chicago Press Material sobre variação orientada aparece nos Capítulos 1 e 4 Goldstein M K e Pennypacker H S 1998 From candidate to criminal the contingencies of corruption in elected public office Behavior and Social Issues 8 18 Nesse artigo os autores discutem a mudança nas relações de reforço antes e depois de uma eleição que conduzem o comportamento de um candidato à corrupção e propõem seu sistema alterna tivo de eleições para tentar resolver o problema através do aumento do contracontrole Huxley A 1989 Brave new world Nova York Harper Collins reimpressão Esse é um romance de pesadelo originalmente publicado em 1946 em que a elite dominante conser va o populacho na linha com drogas e diversão amena Orwell G 1983 1984 Nova York New American Library reimpressão Esse é outro exemplo de romance de pesadelo originalmente publicado em 1949 sobre uma sociedade dominada por coerção isto é controle aversivo Skinner B F 1961 Freedom and the control of men In Cumulative record Nova York AppletonCentuiyCrofts edição ampliada p 318 Originalmente publicado em 1955 esse ensaio discute muitas das objeções levantadas contra o planejamento cultural Skinner B F 1971 Beyond freedom and dignity Nova York Knopf O Capítulo 8 trata de planejamento cultural e das objeções a ele levantadas Skinner B F 1976 Walden Two Nova York Macmillan Esse é o romance de Skinner originalmente publicado em 1948 em que ele descreve uma sociedade em experimentação e responde às objeções ao planejamento cultural Essa edição inclui um ensaio intitulado Walden Two revisited TERMOS INTRODUZIDOS NO CAPÍTULO 14 Cruzamento seletivo Sociedade experimental Variação orientada N de T Título traduzido em português ver Apêndice Apêndice LEITURAS ADICIONAIS OBRAS TRADUZIDAS EM PORTUGUÊS Berkeley G 17101973 Tratado sobre os princípios do conhecimento humano São Paulo Abril Chomsky N 19571980 Estruturas sintácticas Lisboa Edições 70 Dawkins R 19761979 Gene egoísta Belo Horizonte Itatiaia Hesse H 19511970 Sídarta um poema indiano Rio de Janeiro Opera Mundi Huxley A 19461997 Admirável mundo novo 17 ed São Paulo Globo Kuhn T S 19701996 Estrutura das revoluções científicas 4 ed São Paulo Perspectiva Orwell G 19491976 1984 São Paulo Companhia Editora Nacional Ryle G 19491970 O conceito de espírito Lisboa Moraes Sidman M 19891995 Coerção e suas implicações Campinas Editorial Psy Skinner B F 19711983 O mito da liberdade São Paulo Summus Skinner B F 19481972 Walden II uma sociedade do futuro São Paulo Herder Skinner B F 19691975 Contingências do reforço São Paulo Abril Skinner B F 19571978 Comportamento verbal São Paulo Cultrix Skinner B E 19741982 Sobre o behaviorismo São Paulo Cultrix Skinner B F 19531985 Ciência e comportamento humano 6 ed São Paulo Martins Fontes Wittgenstein L 19581991 Investigações filosóficas 5 ed São Paulo Nova Cultural Abstração 18 344145 Agente 2627 5051 9394 97 Agostinho Santo 2829 Altruísmo 226227 241244 250251 260261 276277 280281 Alvo 64 221 250 Antropomorfismo 2223 Aptidão 7589 9194 174175 183184 243 248249 252 258259 261 263 266 276277 279283 289290 294 303 Aristóteles 1819 Armadilha de reforço 193197199201222223 230 250251 288289 Atribuição teoria da 128 Autoconhecimemo 6769 121122 126130 133134 245246 Autoestima 5455 6263 9899 Autointeresse 241 248 250251 260261 279281 Autonomia 5254 Autorelato 6263 109114 150151 B Barash D 9394 260261 283 Beecher H K 62 Behaviorismo metodológico 15242544475152 6263 70 molar 7 59 129 radical 15 2425 33 4356 6265 6870 Bemham J 252253 índice remissivo Berkeley G 3536 Beyond freedom and dignity 185 203 285 296297 Boyd R 261265 269 276277 280283 290293 304 Brown R 140 161162 c Cadeia 26 28 118119 134 167 190 Calórica essência 19 Câmara experimental 102103 115 118119 154155 Chomsky N 157159 161162 Ciência do comportamento 15 17 2324 3133 4449 5154 6970101102 245246 298 Coerção 189197 209212 219223 234235 293294 303304 Comportamento decente 241 242243 245 253254 precorrente 181184 290 303304 verbal 133135 161162 165168 170176 178184 190 196197 215 220227 231 234235 240246 250252 270 289290 302304 vozal 142 144 146 Comunicação 135136 159161 301302 Comunidade verbal 132133 136137 140143 159161 223224 Condicionamento clássico 78 94 262 Conger R 136137 161162 Conhecimento 5859 120124 154155 científico 130132 308 índice declarativo 123124 167 operacional 121123 167 Consciência 2224 30 44 67 78125 154155 Conselho 100155168171174177183192 218 252 270 276 278 Contexto 7 31 35 4546 55 61 73 93103 104 108110 113120124126 129 131133 137138140 148149 153 155 160161166168170175 178 379 192 209 213 217 220 223 235 251 254 262 266 275 287 Contextualismo 132 134 162 Contiguidade 5960 168 Contingência 116 166 168 291292 Continuidade da espécie 2122 2425 2930 7374 Contracontrole 7 222 227228 230231 233237 291293 300304 Controle aversivo 189192 211212232233 293294 301302 de estímulo 66 116124 129130 132134 146151 161162 165166 168 170171 180181 184 185 216 244245 272 Criatividade 108109 192193 Cruzamento seletivo 90 286 302 304 Culpa 2526 203206 213 Cultura 7980 8485 184 257 284 285291 302304 D Dados sensoriais 3537 4447 5253 131132 Darwin C 1922 2426 3032 7374 76 90 286287 Dawkins R 248250 254255 259260 266269 279280 283 Definição funcional 98 Definições em dicionário 156157 162163 Democracia 2728 3132 172 199200 220221 232236 252253 292293 300301 304 Dennett D 2627 32 113114 133134 Desamparo aprendido 7980 Descartes R 5557 Descoberta 3537 3944 4647 5253 130132 272 292 Descrição 34 36 39 4142 4446 49 54 59 128 145 147 150 158159 163 166 234 237 Desejo 5354 104105 191193 197199 Determinismo 2532 199200 Discriminação 66 118121 124 127134 166 170 177 180 184 223226 261267 Donders F C 2021 Dualismo 4449 5557 6263 6970 200201 Dunford C 278279 284 E Ebbinghaus H 2122 Ego 5155 EUciar 7879 116 148149 Episódio social 217 274275 verbal 137138 143144 154155 190 216 Epstein R 265266 283 Erro de categoria 5658 Espíritos animais 5557 Estabelecer conseqüências 208210 Estímulo 4546 5960 7677 8082 116 135136 263265 281 discriminativo 116124 127 129138 140142 147157 160161 165168 170175 178 180184 189190 192193 196197 216217 219230 232235 245247 250255 270 282 290 293294 301303 incondicional 7980 8283 111112 266267 limites 264 267 282 Estímulossinal 77 136 Evento natural 152932444550566263144145 privado 5053 6170 109114 120121 126127 133134 150151 155156 182184 público 5053 5859 6164 6970 109112 121122 126130 132134 182184 245246 Evolução 1926 2931 7376 9094 97 100101 132135 143144 175176 245246 248250 254255 258260 261262 280282 Explicação 2425 3637 4149 5355 6871 101102 110111 120121 124 histórica 9094 9799 110113 Exploração 219227234235250253 293294 300 303304 F Falante 136137 145146 148160 165179 181184 215 234235 246247 250251 Farrington B 3435 47 Fechner G 2122 Fesiinger L 3435 47 Picçâo explamuória 5253 5657 269 índice 309 Fictício 5152 5657 6869 Filogênese 7374 7984 8688 9094 119120 Filosofia 1720 3031 Flogisto 1819 Frost R 277 G Galileu G 18 4041 Genótipo 7475 Golding W 198 201 Gramática 144146 149151 157162 166 177 transformational 157162 Guericke 4142 H Harris M 257 Harvey W 1819 Hebb D 2527 Herança genética 1920 3132 74 8993 210211 274 Hesse H 197199 Hineline R N 213 Hipótese paramecânica 5762 6770 Homans G 223226 235236 Hojmúnculo 5254 67 Horror vacui 4042 5455 Huxley A 300 304 Idioma intencional 103108 110114 Imaginação 6366 150151 181183 Imigração 272273 Imitação 140 264267 174175 272279 281283 290 Imprevisibilidade 2931 Induzir 7880 115116 172174 191 211212 265266 274275 Instrução 28 39 85 99100144145 167 174 179 183 278 282 301 Intenção 58 9093 97 103114 121 151 154155 209 Introspecção 1925 128130 Invenção 38 40 42 44 100 106 113 257 269270 J James W 3639 4144 49 104106 131132 K Kiilecn P 136137 Kuhn T 3839 4344 L Lacunas temporais 60 99100 116117 160161 178 Lavoisier A 1819 4344 Lei da natureza humana 241245 251252 do efeito 8788 Lewis C S 199201 239245 248 251254 Léxico 151157 Liberdade 25 187192 197201 210211 233 285 espiritual 187 197201 293 política 27 187191 social 191192 197 200201 Linguagem 8586 135 142145 149152 157158 160162 264265 de sinais 141145 160161 gerativa 149151 160161 Livrearbítrio 2532 34 55 108 187188 191 199200 204206 208 210 212 285 Lunsden C J 269 M Mach E 3844 4647 5051 5455 129130 Mando 155156 161162 175176 191192 Máquina de sobrevivência 248259260 262264 267268 276277 2802B1 Meher Baba 142143 162163 197199 201 Memória 4647 6566 99100 Mentalismo 15 4959 6365 6870 7374 9093 9899 104105 110114 119120 125129 133136 144145 153154 158162 166 177 184 203 269 294295 Mente 1920 2425 3132 4445 5058 Mentecorpo problema 2930 4445 5456 Mérito 203207 211 298 Milgrim S 176 Moevk E 140141 162163 More T 252253 295296 Moivo 125126 128129 N Nevin J A 109 219220 236237 Newton 1819 2930 5556 206 Novidade 108109 149150 160161 272273 310 índice O Ontogênese 8687 91 95 Operante 81 8587 9394 101 108 112119 123127 130132 135145 147152 155157 159162 166 168 205210 216 247 249 251 255 258 261262 266269 271 274 281282 verbal 155 Ordem 168 171176 184 197 Organismo como um todo 5054 Orwell G 300 304 Ouvinte 132133 136137 144156 158161 165 168 170 172176 178179 181184 190192 246247 250254 274275 P Padrão adaptativo 290 293 fixo de ação 7780 8587 9294 135136 146147 261262 267268 Paradigma 3839 6970 Parceiros 218 231 300 Pareamento com o modelo 117 134 PavJov I P 3839 8384 7879 8687 Peirce C 3638 Pensamento 5052 6264 129130 143144 150154 178184 Personalidade 4445 5155 Poder 192194 231236 301 População 7476 7980 8687 9394 97102 112114 146147 248 258259 261266 269 272 274 286287 Pragmatismo 1533 36374447 6263131133 Princípios morais 247 Privação 8387 192193 Pseudoquestão 55 70 Psicologia comparativa 2123 3132 objetiva 2023 3132 Psyche 1920 5152 Pulliam H R 278279 284 Punição 8283 8592 97 107108 111114 125126 132133 166167 188189 191192 195197 200201 205209 211212 215 219 225226 232235 241242 245247 260261 270272 275276 282 diferencial 9192 história de 194197200201221223303304 negativa 8182 8384 192193 positiva 8184 Punidor 8087 90 9394111112168189190 292397 207208 210211 221222 229230 244249 253254 266267 275276 290 303304 R Rachlin H 5963 6770 100101 195196 Realismo 15 3337 4147 6263 Redundância 5354 70 Referência 30565974126135151154163 252 288 Referencial 1819 73 188 Reforçador 8087 103106 110112 125126 136138 155156 172176 190194 198199 211212 217218 231232 244249 condicional 8 287112113117119 244245 253254 incondicional 8287 244245 253254 303304 Reforçadores sociais 139 190 194195 264 266267 275 282283 Reforço 4546 8284 116118 126127 132133 142147 155162 166168 171172 182185 205209 219 231236 244245 252253 265266 290293 diferencial 8992 140141 história de 8384 8687 9394 97 105108 111115 119120 122129 131132 140142 153157 160161 178181 191193 212213 223226 234235 245247 250254 274275 intermitente 140 mútuo 216219 226227 234236 negativo 8184 111112 128129 189 192193 227 positivo 8184 111112 128129 188194 197201 209213 220221 227 233234 293294 299302 social 8586 139 211212 215 234235 245247 250255 261268 270272 282 296297 Regra de Ouro 241242 Regras comportamento controlado por 165167 172174 178179 182184 228 250251 274276 280282 290 seguimento de 165 176178 182184 190 197199 274276 278283 Relato verbal 505863 6768109114122123 126130 150151 155156 211212 231 245246 253254 293294 Replicador 258260 268271 276277 279283 cultural 268 índice 311 Representação mental 6366 104105 112114 151154 191193 Resolução de problemas 178184 Responsabilidade 2529 199201 203213 Richerson R J 261265 269 276277 280281 283 290291 293 304 Romanes G 2223 Rorty R 5859 6970 Russell B 3536 4647 Ryle G 565760 6770 100101 121123 125126 128130 133134 207208 269 s Segal E F 7879 9394 Seleção 19 30 50 7480 8493 107 112113 190 243 254255 258259 267268 270 273 276277 280284 286 290 292 294295 302303 natural 1920 3032 50 7477 7980 848S 9394 112113 191 243244 253255 258260 276277 283 286287 291294 302304 Sentimentos 2224 3435 4445 5051 62 6769 109114 126127 188189 200201 245247 253254 293294 296297 301302 Sintaxe 157159 Skinner B F 2425 3839 4950 5660 62 65 6770 9495 113114 127130 134137 155159 161163 168 178179 181185 188 201203 213 236237 240 244247 250 252257 269 271 284285 287288 290292 294295 299304 Snow C E 139141 162163 Sociedade 259263 273 281 289290 experimental 254255 291304 Sommemlle C J 257 270 284 T Tacto 155156 161162 175176 Tales 3435 Tecnologia comportamental 292297 Tempo de reação 2021 Teoria da cópia 6370 Torricelli 4042 TVansmissão 258 273274 282 286287 cultural 263264 267268273275 281282 286287 302303 horizontal 274 seletiva 276279 281283 u Unidade estrutural 99102 146147 Unidade funcional 99103 105106 113114 146150 160161 Utopia 252253 295296 V Variação 1920 7475 8687 8992 100102 104106 108109 154155 181182 258 267273 278282 286287 290291 302303 orientada 290291 Verdade 183539464758596263131132 242243 WíVíVa 1819 3031 5355 w Walden Two 252253 285 294299 301 303304 Watson J B 2225 3132 4546 7374 185 Wilson E O 269 284 z Zuriff G E 32

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