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manifesto comunista Com ensaios de Antonio Labriola Jean Jaurès Leon Trotsky Harold Laski Lucien Martin James Petras Organização e introdução Osvaldo Coggiola No final de fevereiro de 1848 foi publicado em Londres um pequeno panfleto que acabaria por se tornar o documento político mais importante de todos os tempos o Manifesto Comunista de Marx e Engels Passado um século e meio a atualidade e o vigor deste texto continuam a ser reafirmados por intelectuais das mais diversas correntes de pensamento Esta edição que a Boitempo Editorial preparou para as comemorações do 150º aniversário do Manifesto seis especiais refletem sobre as múltiplas facetas desta que é ainda a obra política mais lida e difundida em todo o mundo ISBN 8585934239 9788585934231 O internacionalismo e o Manifesto O internacionalismo proletário é uma das ideias centrais do Manifesto Comunista Não por acaso a sua última frase Proletários de todos os países unívos virou símbolo da corrente marxista do movimento operário Para Marx e Engels o internacionalismo não é só o elementochave da estratégia do movimento socialista é também a expressão do seu humanismo revolucionário para o qual a emancipação de toda a humanidade é o valor supremo e o objetivo final Algumas passagens do Manifesto porém são economicistas e evidenciam certo otimismo livrecambista Como exemplo podese citar a sugestão de que o proletariado vitorioso continuará a abolição dos antagonismos nacionais iniciada pelo mercado mundial A experiência histórica sobretudo na Irlanda ensinará a Marx e Engels que o reinado da burguesia e do mercado capitalista agrava esses antagonismos Marx dá uma expressão organizada e concreta ao internacionalismo proletário com a fundação da AIT As seguintes Internacionais Operárias e Socialistas da II até a IV reivindicam essa herança mas conhecerão crises deformações burocráticas e isolamento Ainda assim assistimos nos primeiros anos seguintes à Revolução de Outubro e mais tarde durante as Brigadas Internacionais da MANIFESTO COMUNISTA Karl Marx 18181883 Ler Marx e Engels é certamente um convite a aventurar e conhecer os processos de exploração da vida humana do capitalismo É sentirse impotente diante dessa máquina devoradora da humanidade Após ler esses escritos caberá responder a uma questão Friedrich Engels 18201895 Karl Marx e Friedrich Engels MANIFESTO COMUNISTA Organização e introdução Osvaldo Coggiola BOITEMPO EDITORIAL Copyright desta edição Boitempo Editorial Tradução do Manifesto Comunista Álvaro Pina Assistente editorial Daniela Jinkings Revisão Alice Kobayashi Flamarion Maués Priscila Úrsula dos Santos Capa Antonio Kehl sobre desenho de Maringoni Editoração eletrônica Flávio Valverde Garotti Fotolitos Augusto Associados Impressão e acabamento Ferrari Agradecemos a valiosa colaboração de Francisco Melo edições Avante Alexandre Antunes Pereira e Floriano da Costa Durão que se empenharam particularmente na edição deste Manifesto ISBN 8585934239 Todos os direitos reservados Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a expressa autorização da editora 1ª edição março de 1998 1ª reimpressão abril de 1998 2ª reimpressão abril de 1999 3ª reimpressão agosto de 2002 4ª reimpressão junho de 2005 BOITEMPO EDITORIAL Jinkings Editores Associados Ltda Rua Euclides de Andrade 27 Perdizes 05030030 São Paulo SP TelFax 11 38757250 38726869 email editoraboitempocom site wwwboitempocom SUMÁRIO Nota da edição 7 Introdução 9 Osvaldo Coggiola MANIFESTO COMUNISTA 37 Karl Marx e Friedrich Engels I Burgueses e proletários 40 II Proletários e comunistas 51 III Literatura socialista e comunista 59 IV Posição dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição 68 Prefácios de Marx e Engels Prefácio à edição alemã de 1872 71 Prefácio à edição russa de 1882 72 Prefácio à edição alemã de 1883 74 Prefácio à edição inglesa de 1888 74 Prefácio à edição alemã de 1890 78 Prefácio à edição polonesa de 1892 80 Prefácio à edição italiana de 1893 81 Em memória do Manifesto Comunista 87 Antonio Labriola O Manifesto Comunista de Marx e Engels 137 Jean Jaurès Noventa anos do Manifesto Comunista 159 Leon Trotsky O Manifesto Comunista de 1848 169 Harold Laski Cem anos depois do Manifesto 231 Lucien Martin O Manifesto Comunista qual sua relevância hoje 239 James Petras NOTA DA EDIÇÃO ESTA TRADUÇÃO do Manifesto do Partido Comunista foi feita por Álvaro Pina a partir da edição alemã de 1890 prefaciada e anotada por Friedrich Engels para as edições Avante Lisboa 1975 A tradução portuguesa foi publicada pela primeira vez em 1975 com introdução e notas de Vasco MagalhãesVilhena e revista e complementada em 1997 por José BarataMoura Para esta edição além de alguns ajustes ortográficos promovidos por Luciana Crespo fizemos um cotejamento minucioso com a versão inglesa de Samuel Moore revisada prefaciada e anotada por Engels Harmondsworth Penguin Books 1967 com a tradução francesa de E Bottigelli Paris AubierMontaigne 1971 e com a italiana de Antonio Labriola Milão Avanti 1960 Confrontamos ainda essa tradução com duas edições brasileiras a de 1986 São Paulo Novos Rumos introdução de Edgard Carone e a de 1988 Petrópolis Vozes tradução de Marco Aurélio Nogueira e Leandro Konder O que ora lhes apresentamos é ao final de tudo isso uma versão nova do Manifesto Comunista de Marx e Engels Para as notas de rodapé em número reduzido uma vez que não era nossa intenção fazer uma edição crítica utilizamos como fontes as mesmas edições já citadas em especial as portuguesas dirigidas por MagalhãesVilhena e BarataMoura e o livro Le Manifeste Communiste de Marx et Engels Histoire et bibliographie de Bert Andréas Milão Feltrinelli 1963 As notas indicadas com números são de Marx eou Engels as indicadas com asterisco da edição brasileira Acréscimos e explicações estão indicados com colchetes no texto ou parênteses nas notas Nos seis ensaios que acompanham este Manifesto utilizamos o mesmo critério números para as notas dos autores e asteriscos para as notas da editora ou das traduções neste caso indicadas com N da T Ivana Jinkings 150 ANOS DO MANIFESTO COMUNISTA Osvaldo Coggiola O MANIFESTO do Partido Comunista foi publicado pela primeira vez no final de fevereiro ou início de março de 1848 em Londres Segundo Bert Andreas é provável que o próprio Marx tenha levado os originais de Bruxelas sua residência de exílio para Londres na última semana de fevereiro de 1848 A urgência foi ditada pela explosão dia 22 da revolução de fevereiro na França O Manifesto tinha sido encomendado a Marx entre três e quatro meses antes pela Liga dos Comunistas O Manifesto e 1848 Quando o Manifesto foi encomendado em novembro de 1847 todos acreditavam que a Europa estava às vésperas de uma revolução Apesar do sentimento geral de urgência Marx aparentemente despreocupado demorou para entregar o documento No final de janeiro a direção da Liga dos Comunistas sediada em Londres enviou a Marx uma carta impaciente O Comitê Central por meio desta autoriza o Comitê do Distrito de Bruxelas a comunicar ao cidadão Marx que caso o Manifesto do Partido Comunista que ele se propôs a redigir no último Congresso não chegue a Londres antes do dia 1º de fevereiro tomarseão medidas contra ele Na eventualidade do cidadão Marx não escrever o Manifesto o Comitê Central pede que os documentos a ele confiados pelo Congresso sejam devolvidos imediatamente A carta estava assinada por Bauer Schapper e Moll três operários alemães exilados em Londres que eram então dirigentes da Liga O Manifesto coincidiu com o início da esperada revolução Ela estourou na Suíça A Liga dos Justos e o comunismo O termo comunista merece uma explicação Na época o socialismo era considerado uma doutrina burguesa identificada com os vários esquemas reformistas experimentais e utópicos dos ideólogos pequenoburgueses Os comunistas eram aqueles que estavam claramente a favor da derrubada revolucionária da ordem existente e do estabelecimento de uma sociedade igualitária O comunismo dessa época originarase de uma dissidência de extrema esquerda do jacobinismo francês representado por Gracchus Babeuf e Filippo Buonarroti A Liga dos Justos era composta por trabalhadores principalmente artesãos alemães exilados alocados em Londres Bruxelas e Paris e em algumas partes da Alemanha Não se tratava de proletários modernos trabalhando em grandes fábricas mecanizadas No entanto eles foram atraídos pelas concepções de Marx e Engels acerca da natureza da sociedade capitalista moderna A Liga dos Justos trazia em sua bandeira o slogan Todos os homens são irmãos Quando abraçou as concepções de Marx e tornouse a Liga dos Comunistas adotou o chamado do Manifesto Proletários de todos os países univos fraternidade não é uma palavra vazia mas uma realidade e toda a nobreza da humanidade irradia desses homens endurecidos pelo trabalho A influência do cartismo Levandose em conta essa história tornase compreensível o fragmento do Manifesto consagrado à atitude dos comunistas diante dos outros partidos operários Ela era ditada pelo estado do movimento operário na época particularmente na Inglaterra Os cartistas que haviam ingressado na Liga o fizeram com a condição de que pudessem manter sua ligação com o partido O seu intuito era organizar uma espécie de núcleo comunista no cartismo para ali expandir o programa e os objetivos dos comunistas A influência do movimento cartista foi portanto decisiva para o surgimento do comunismo operário O cartismo por sua vez testemunha o impetuoso surgimento da classe operária no cenário social europeu Já fazia tempo que esta enorme força social em pleno processo de formação não se limitava ao plano defensivo ou à atividade puramente sindical mas também se projetava na ação política Em janeiro de 1792 oito homens criaram a London Corresponding Society que se organizou em grupos de trinta membros baseada em uma contribuição financeira acessível aos operários No final desse ano a sociedade contava já com três mil membros Seus objetivos sufrágio universal igualdade de representação Parlamento honesto fim dos abusos contra os cidadãos humildes fim das pensões outorgadas pelo Parlamento aos membros das classes dirigentes menor jornada de trabalho diminuição dos impostos e entrega das terras comunais aos camponeses rentes do pensamento dos democratas burgueses radicais7 Na prática porém foram bem além disso O desenvolvimento social e político da classe operária criou as bases so ciais para a superação do socialismo até então existente tanto na Frân ça SaintSimon Fourier como na Inglaterra Owen O termo utopistas aplicado a estes três visionários foi assim explicado por Engels Se os utopistas foram utopistas é porque numa época em que a produção ca pitalista estava ainda tão pouco desenvolvida eles não podiam ser outra coisa Se foram obrigados a tirar das suas próprias cabeças os elementos de uma nova sociedade é porque de uma maneira geral estes elementos não eram ainda bem visíveis na velha sociedade se limitaramse a apelar à razão para lançarem os fundamentos de seu novo edifício é porque não podiam ainda apelar à História contemporânea Na própria França o socialismo não baseado na luta de classes teve a sua continuação com o trabalhador artesanal sapateiro PierreJoseph Proudhon que em A Organização do Crédito afirmava O que precisamos o que reivindico em nome dos trabalhadores é a reciprocidade a igualdaae na troca a organização do crédito O crédito gratuito era a solução do pro blema social com ele os trabalhadores comprariam a sua liberdade do capitalista A propriedade é um roubo tinha afirmado Proudhon contra o capitalismo propondo o sistema mutualista baseado na gratuidade do crédito Mas fracassaram suas tentativas de organizar um Banco dos Traba lhadores pela lógica concorrência dos bancos capitalistas Como diz George Lichteim não se tratava de um sistema socialista por carecer de planeja mento central e menos ainda era comunitário O que era Talvez apenas a peculiar visão de Proudhon sobre o socialismo Apesar de criticálo Marx viu em Proudhon um sapateiro a demonstração da capacidade de pensa mento independente da classe operárial Outro francês Louis Blanc por sua vez propunha que o Estado reme diasse o problema social Em A Organização do Trabalho criticava a econo mia individual sustentando que a economia coletiva a fábrica acabaria por se impor O Estado Popular deve regular a produção Para isso cria ria Oficinas Nacionais mistas privadas e estatais a fim de que todos pu dessem ter trabalho A concorrência levará à transformação social pacífíca afirmava rejeitando explicitamente todo ato de violência revolucio nária E completava A revolução social pode ser atingida talvez com 7 Wolfgang Abendroth Historia Social del Movimiento Obrero Europeo Barcelona Laia 1978 p 45 maior facilidade por meio da colaboração entre os operários e a burgue sia Para isto um instrumento o sufrágio universal Estado Popular Foi com referência a estes dois últimos que Marx em Miséria da Filosofia de 1847 afirmou que o ideal corretivo que gostariam de aplicar ao mundo não é senão o reflexo do mundo atual É totalmente impossível reconstituir a sociedade sobre a base de uma sombra embelezada da mesma Na me dida em que a sombra vira corpo percebese que o corpo longe de ser o sonho imaginado é apenas o corpo da sociedade atual De acordo com JeanChristian Petitfils nem a reforma eleitoral nem o desenvolvimento do movimento cartista interessaram a Robert Owen para quem o sufrágio universal era uma simples mania popular Na França as oposições dinásticas e as aspirações republicanas da oposição deixaram SaintSimon e Fourier indiferentes Ambos saíram das provas da Revolu ção de 1789 bastante decepcionados para não dizer mais sem grandes simpatias pelos jacobinos ou pelos babezufistas O partido comunista verdadeiramente atuante Paralelamente aos grandes construtores de sistemas sociais outra tendência se desenvolveu diretamente ligada aos movimentos populares Foi a tendência radical das revoluções democráticas caracterizada pelas suas propostas igualitárias que foram paulatinamente designadas pelo termo comunismo Engels rastreou as origens dessa tendência nos primeiros grandes le vantes contra a aristocracia na época da Reforma e das guerras campo nesas na Alemanha a tendência dos anabatistas e de Thomas Münzer na grande revolução inglesa os levellers e na grande Revolução Francesa Babeuf E esses levantes revolucionários de uma classe incipiente são acom panhados por sua vez pelas correspondentes manifestações teóricas nos séculos XVI e XVII surgem as descrições utópicas de um regime ideal de sociedade no século XVIII teorias já declaradamente comunistas como as de Morelly e Mably A reivindicação da igualdade não se limitava aos direitos políticos mas também às condições sociais de vida de cada indi viduo Já não se tinha em mira abolir apenas os privilégios de classe mas acabar com as próprias diferenças de classe Karl Marx viu nesta tendência o partido comunista verdadeiramente atuante Nos seus Princípios de Comunismo anteriores ao Manifesto Engels respondeu assim à pergunta o que é comunismo É um sistema se gundo o qual a terra deve ser um bem comum dos homens Cada um deve trabalhar e produzir de acordo com as suas capacidades e gozar e consu 17 mir de acordo com as suas forças Diferenciandoo claramente do socia lismo que deve seu nome à palavra latina socialis Ocupase da organi zação da sociedade e das relações entre os homens Mas não estabelece nenhum sistema novo sua ocupação principal é consertar o velho edifí cio esconder as suas fissuras obra do tempo No máximo como os fourieristas pretendem construir um sistema novo acima dos velhos e po dres alicerces do chamado capitalismo No momento mais radical da revolução inglesa do século XVII uma maioria parlamentar chegou a apoiar os levellers igualitários ou niveladores os quais procuravam levar as idéias democráticas à sua conclusão lógica atacando todos os privilégios e proclamando a terra como uma herança natural dos homens Os levellers se concentravam na refor ma política o socialismo implícito da sua doutrina ainda se exprimia em linguagem religiosa Seus continuadores radicais foram os diggers cava dores muito mais precisos em relação à sociedade que desejavam esta belecer e que totalmente descrentes de uma ação política de tipo normal só acreditavam na ação direta Mas a revolução inglesa foi vitoriosa como revolução burguesa conciliandose finalmente com a monarquia e elimi nando as suas alas radicais O período mais radical da Revolução Francesa também foi concluído com a derrota de sua direção os jacobinos donos do poder entre 1792 e 1794 mas estes também tiveram os seus continuadores radicais na cha mada Conspiração dos Iguais encabeçada em 1796 por Gracchus Babeuf Como o próprio nome indica esta fração propôs um programa de pro priedade comunal para aprofundar a revolução uma espécie de socialismo agrário a indústria ainda estava escassamente desenvolvida E foi menos uma conspiração do que uma continuação das insurreições contra a reação antijacobina o Thermidor instalada no poder as revoltas de Germinal e Prairial Segundo Daniel Guérin Babeuf e seus amigos entra ram em contato com os sobreviventes dessas insurreições aprovando seus projetos de poder popular e criticando a fraqueza dessas tentativas a sua desorganização Os Iguais constituíram uma organização centralizada cujo programa criticava a lei bárbara ditada pelo capital que faz mover uma multidão de braços sem que aqueles que os movem recolham daí os fru tos Segundo Guérin no seu clássico Bourgeois et BrasNus o aperfeiçoa mento do maquinismo e o progresso técnico estavam na base do coletivismo dos Iguais cuja proposta política chegou ao limiar da democracia direta de tipo comunal e de conselhos dirigentes eleitos diretamente pela base e permanentemente revogáveis 18 10 A tradição comunista Os Iguais foram derrotados seus dirigentes presos ou como o próprio Babeuf guilhotinados No processo foram acusados de jacobinos e ter roristas Mas criaram uma tradição que sobreviveu em poesias e cantos e num programa em que se lia Um povo sem propriedade e sem os ví cios e os crimes a que ela dá origem não teria necessidade do grande nú mero de leis sob o qual penam as sociedades civilizadas da Europa Não se tratava de maquinações de grupos à margem da corrente histó rica A luta contra o monopólio da propriedade tinha sido proclamada pela própria Constituição jacobina de 1793 embora nunca levada à prática Aquela elevou a igualdade ao nível dos direitos naturais imprescritíveis e deixou de qualificar a propriedade de direito inviolável e sagrado Por outro lado fora da França além dos intelectuais revolucionários foram sobretudo os representantes da nascente classe operária os que lutaram pelos objetivos da Revolução Francesa a solidariedade internacional pela democracia e os direitos do homem A oposição à coalizão das potências européias contra a Revolução Francesa teve sua base social na Inglaterra nos oficiais artesãos e nos operários8 A tradição e o programa igualitarista crescentemente denominado co munista da Revolução Francesa foram transmitidos diretamente ao mo vimento operário por um sobrevivente dos Iguais Felipe Buonarroti des cendente do escultor italiano Michelangelo Buonarroti que escreveu um livro História da Conspiração dos Iguais Em Democracia e Socialismo Arthur Rosenberg informa que após 1830 o livro de Buonarroti era muito co nhecido entre os operários Pertencia à literatura popular junto com os di cursos de Robespierre e os artigos de Marat líderes jacobinoradicais da Revolução Francesa Assim como notou Eric J Hobsbawm na década de 1840 a história eu ropéia assumiu uma nova dimensão o problema social ou melhor a revo lução social em potência encontrava expressão típica no fenômeno do pro letariado Sobre a base de uma classe operária que crescia e se mobilizava era agora possível uma nova e mais significativa fusão da experiência e das teorias jacobinorevolucionáriascomunistas com as socialistasassocia cionistas Na França o jornal democrático Le National atacava em 1847 os comunistas Outro jornal democrático La Réforme lhe respondia As pro postas econômicas dos comunistas estão mais próximas de nós do que as 19 8 Idem p 39 11 do Le National porque lhes reconhecemos o direito à discussão e porque as doutrinas que vêm dos próprios operários são sempre dignas de atenção O comunismo portanto era identificado com o proletariado como sur gido dentro dessa classe e como sua expressão teóricodoutrinária Num paralelo notável poucos anos antes Marx como editor da Rheinische Zeitung Gazeta Renana polemizou contra um jornal alemão o Augsburger que também atacava o comunismo Ele respondeu em sín tese vocês não têm o direito de atacar o comunismo Não conheço o co munismo mas se ele assumiu a defesa dos oprimidos não pode ser con denado sem mais Antes de condenálo é preciso ter um conhecimento exato e completo dessa corrente Quando saiu da Rheinische Zeitung Marx não era ainda um comunista mas já era um homem interessado no co munismo como tendência e como filosofia especial9 As etapas da passa gem de Marx do democratismo radical ao comunismo em meados da dé cada de 1840 encontramse registradas nos Anais FrancoAlemães edita dos por Marx em comum com seu amigo Arnold Ruge Democracia e comunismo Na Inglaterra no final da década de 1840 o movimento cartista dividiuse os seus membros intelectuais e de classe média se agruparam na As sociação Nacional para a Reforma Parlamentar e Financeira os seus mem bros operários por sua vez apoiaram a Associação Nacional da Carta dirigida por Ernest Jones e George Harney e a Liga Nacional da Refor ma dirigida por Bronterre OBrien ambas de programa socialista Harney e Jones mantinham estreito contato com os exilados operários e artesãos alemães junto aos quais Marx e Engels gozavam de ampla influência 9 David Riazanov Op cit p 37 A resposta concreta de Marx foi AGazeta Renana Rheinische Zeitung que não pode sequer atribuir uma realidade teórica às idéias comu nistas em sua atual forma e muito menos desejar ou considerar possível a sua realização prát ica submeterá essas idéias a uma crítica severa Se o Augsburger quisesse e pudesse produ zir mais do que frases escorregadias ele perceberia que escritos como os de Leroux Considérant e sobretudo o trabalho penetrante de Proudhon só podem ser criticados depois de longa e pro fundamente estudados e não por meio de noções passageiras e superficiais Devido a esse desacordo temos que considerar com toda seriedade esses trabalhos teóricos Estamos firme mente convencidos de que o verdadeiro problema reside não no esforço prático mas na expli cação teórica das idéias comunistas Tentativas práticas perigosas mesmo que realizadas em larga escala podem ser derrubadas de um só golpe mas as idéias conquistadas pela inteligên cia incorporadas em nossa perspectiva forjadas em nossa consciência são amarras das quais não nos livramos sem partir nossos corações são demônios que superamos apenas quan do a eles nos submetemos grifo nosso 20 12 No festival operário comemorativo da proclamação da República Fran cesa de 1792 celebrado em Londres em 1845 o manifesto declarou que os democratas de todos os países desejam que a igualdade à qual aspi rou a Revolução Francesa renasça na França e se estenda a toda a Euro pa No seu informe a respeito desse festival Engels escrevia que atual mente a democracia é o comunismo A democracia se transformou em prin cípio proletário princípio de massas grifo nosso Dois anos depois em 1847 como já foi dito a Liga dos Justos que tinha organizado o festival junto aos cartistas ingleses e outros exilados encarregou a Marx e Engels a redação de seu programa que se transformaria no Manifesto Comunista o que levou à mudança no nome da Liga A assimilação entre democracia e comunismo era própria da época e seria superada pela defesa da ditadura do proletariado conceito erronea mente atribuído a Blanqui que Marx vai realizar depois das revoluções de 1848 como balanço das derrotas dessas revoluções o folheto de Marx As Lutas de Classes na França 18481850 registra essa passagem teórico programática Mas ainda em julho de 1846 Marx e Engels dirigiram de Bruxelas em nome de um grupo de emigrados alemães uma declaração de apoio e de adesão ao líder cartista inglês OConnor publicada na folha cartista The Northern Star e assinada pelos comunistas democráticos alemães de Bruxelas o Comitê Engels Ph Gigot Marx grifo nosso David Riazanov força o texto e a História ao afirmar que quando o Ma nifesto assimila a constituição do proletariado como classe dominante à conquista da democracia Marx se refere a uma democracia proletária oposta à democracia burguesa10 Isto não é verdade em meados da déca da de 1840 a democracia era o movimento geral de luta contra o status quo monárquicoaristocrático prevalecente Além disso Marx e Engels não foram antes de serem comunistas democratas vulgares Eles proporcio navam pela primeira vez ao movimento democrático uma compreensão real e completa de seu tempo As idéias atrasadas e infantis sobre o desenvolvi mento econômicosocial do mundo a que estavam apegados os líderes de maçráticos de todos os países antes de 1848 lhes eram alheias Marx e Engels foram portanto os primeiros democratas que se libertaram cora pletamente dessas ilusões e do gosto pelas experiências abstratas Compreen diam seu tempo porque se apropriarn de tudo o que os pensadores da burguesia tinham a dizer de sua própria classe Os economistas ingleses e 21 10 David Riazanov Manifiesto ed cit p 136 os filósofos alemaes haviam compreendido perfeitamente a essÍncia da sociedade burguesa moderna Marx e Engels ao colocarem as doutrinas de Ricardo e de Hegel a serviço da revolução democrática descobriram os fundamentos teóricos dos quais careciam Louis Blanc OConnor e Mazzini11 Mas isto fazendo Marx e Engels viramse na obrigação de superar esse fundamento teórico isto é a filosofia clássica alemã e a economia poIltica inglesa elaborando uma síntese teóricoprática que deu um novo fundamento científico ao já existente comunismo Historicidade da democracia O caráter ilusório da democracia burguesa já fora denunciado por Jean Jacques Rousseau no século XVIII O povo inglês pensa ser livre porém enganase totalmente É livre somente durante a eleição dos membros do Parlamento depois que estes são eleitos é escravo não é nada A soberania não pode ser representada consiste essencialmente na vontade geral e a vontade não se representa É ela mesma ou é outra coisa não há meiotermo O Manifesto colocou positivamente a superação da natureza nãodemocrática do Estado constitucional a primeira fase da revolução operária é o advento do proletariado como classe dominante a conquista da democracia Democracia e domínio político da burguesia são incompatíveis não existe Estado democrático sob hegemonia burguesa e hipoteticamente sob hegemonia proletária mas ditadura burguesa sob formas democráticas A conquista da democracia exige portanto uma revolução cujo primeiro passo é como em toda revolução a destruição da máquina repressiva que é a essência do antigo regime de exploração sem o que a democracia não passa de uma fachada da ditadura da classe exploradora Democracia e comunismo não são idênticos o proletariado no poder só começa a efetuar a passagem para a sociedade comunista por meio da supressão da propriedade privada burguesa e da progressiva socialização dos meios de produção A democracia tem como consequência inevitável o domínio político do proletariado e esse domínio é a primeira premissa de todas as medidas comunistas escreveu Engels em outubro de 1847 Com a sociedade comunista de cada qual segundo as suas capacidades a cada qual segundo as suas necessidades criamse as bases para a superação da alienação política representação mediada pela burocracia estatal da separação entre a sociedade política e a civil Mas nas palavras do Manifesto com a supressão do fundamento dessa cisão a propriedade privada burguesa desaparece o Estado Político e portanto a democracia forma mais desenvolvida desse Estado Uma vez desaparecidos os antagonismos de classe no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados o poder público perderá o seu caráter político Em lugar da antiga sociedade burguesa com suas classes e antagonismos de classe surge una associação onde o livre desenvolvimento de cadaum é a condição do livre desenvolvimento de todos grifo nosso No Manifesto Marx e Engels combateram antecipadamente a ilusão dos revolucionários de 1848 para quem na base das diferenças e antagonismos de classe encontravase a desigualdade política Consequentes com isso quando o governo revolucionário decretou o sufrágio universal declararam também abolidas as classes da sociedade Tal declaração encontrase ipsis litteris na proclamação do governo provisório francês surgido da revolução de fevereiro de 1848 A idéia da universalidade atemporal de uma forma política a democracia apresentada como própria de Marx nada tem a ver com este Certamente Marx e Engels não desprezavam a luta pelo sufrágio universal ainda que sob domínio burguês da mesma maneira que não desprezavam a luta por aumentos salariais ou pela redução da jornada de trabalho em nome da abolição do trabalho assalariado O primeiro partido operário independente o movimento cartista inglês tinha surgido justamente da luta pela extensão do direito do sufrágio O que Marx e Engels faziam era pôr em relevo o caráter revolucionário dessa luta a qual por modestas que fossem as suas reivindicações iniciais conduzia necessariamente a um enfrentamento decisivo entre a burguesia e o proletariado Por isso Marx qualificou a obtenção da jornada de dez horas na Inglaterra em 1847 como a primeira vitória da economia política do proletariado Na França em 1848 a luta pela república acabou pondo frente a frente a burguesia e a classe operária A simples reivindicação do direito ao trabalho originou a Comissão de Luxemburgo que não passou de alguns intentos de cooperativização mas a sua existência bastou para que Marx afirmasse que a esta criação dos operários de Paris cabe o mérito de ter revelado do alto de uma tribuna européia o segredo da revolução do século XIX a emancipação do proletariado12 11 Arthur Rosenberg Democracia e Socialismo São Paulo Global 1986 pp 8991 12 Karl Marx As Lutas de Classes na França In Textos São Paulo Edições Sociais 1977 vol 3 p 120 22 23 Comunismo e revolução Até as revoluções de 1848 os comunistas já uma tendência independentes consideravamse junto à democracia do mesmo lado da barricada no mesmo movimento contra a reação feudal e monárquica os comunistas trabalharn pela união e entendimento dos partidos democráticos de todos os países diz o Manifesto A democracia revolucionária a Montanha na França os Fraternal Democrats na Inglaterra ainda colocava revolucionariamente as suas reivindicações no sentido da luta das massas contra a aristocracia e de um governo independente das massas populares sem diluílas numa democracia formal que só aspira à extensão do direito do sufrágio O desenvolvimento revolucionário do proletariado porém levou a burguesia a aliarse à reação ao preço inclusive de suas minguadas aspirações democráticas O liberalismo burguês traiu a revolução e a democracia radical a Montanha foi uma caricatura do jacobinismo de 17921794 A meio caminho entre o proletariado e a burguesia a sua velha base social as massas pobres de sansculottes tinha se cindido do seu seio já surgira um proletariado socialmente diferenciado teve um papel lamentável na revolução Com a derrota desta estava liquidada a democracia revolucionária tal como a modelara a Revolução Francesa LedruRollin declamando inconscientemente entre as classes e Raveaux levaram ao túmulo o que tinha sido fundado por Robespierre e SaintJust13 No seu lugar surgiu a democracia pura pequenoburguesa da qual Marx disse em 1850 na Circular à Liga dos Comunistas que este partido democrático é mais perigoso para os operários do que foi o partido liberal pois tal como constatou Engels em 1884 só poderia ser um recurso extremo da burguesia contra a revolução proletária Ela pode ter no momento da revolução importância como a mais extrema tendência da burguesia forma sob a qual já se apresentou na Assembléia de Frankfurt em 18481849 e que pode converterse na última tábua de salvação de toda a economia burguesa e mesmo da feudal Nesse momento toda a massa reacionária se coloca por trás dela e a fortalece Tudo o que é reacionário comportase então como democrático Nosso único inimigo no dia da crise e no dia seguinte é essa reação total que se agrupa em torno da democracia pura A derrota do operariado e a crise da democracia revolucionária tinham também um conteúdo positivo A derrota dos insurretos de junho preparara e aplanara o terreno sobre o qual a república burguesa podia ser fundada e edificada mas demonstrava ao mesmo tempo que na Europa as questões em foco não eram apenas a República ou a Monarquia Revelara que a república burguesa significava o despotismo ilimitado de uma classe sobre as outras14 Assim ia se esclarecendo o caminho político para o advento do proletariado como classe dominante O proletariado vai se agrupando cada vez mais em torno do socialismo revolucionário do comunismo que é a declaração de permanência da revolução da ditadura do proletariado como ponto de transição necessário para a supressão das diferenças de classe em geral para a supressão de todas as relações de produção em que repousam tais diferenças de todas as relações sociais que correspondem a estas relações de produção para a subversão de todas as idéias que resultam dessas relações sociais15 Na luta pelas liberdades democráticas de organização sindical e política o proletariado defende o seu direito a organizarse contra o capital o seu direito à vida Situandose à frente dessa luta os comunistas não o fazem em nome de um ideal democrático universal por cima das classes que seria comum ao proletariado e à burguesia Na luta pela defesa e ampliação da democracia política contra a reação burguesa a classe operária age com seus próprios métodos ação direta greve geral preparando as condições para a derrubada da burguesia Nessas condições o sufrágio universal é o índice que permite medir a maturidade da classe operária No Estado atual não pode nem poderá jamais ir além disso mas é o suficiente No dia em que o termômetro do sufrágio universal registrar para os trabalhadores o ponto de ebulição eles saberão tanto quanto os capitalistas o que lhes resta a fazer16 No seu escrito de outubro de 1937 Noventa Anos do Manifesto Comunista Leon Trotsky resgatou a interpretação revolucionária do Manifesto contra a sua deformação democratizante O proletariado não pode conquistar o poder dentro do sistema legal estabelecido pela burguesia Os comunistas proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente O reformismo procurou explicar este postulado do Ma 13 Arthur Rosenberg Op cit p 108 14 Karl Marx O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte In Textos Op cit vol 3 p 220 15 Karl Marx As Lutas de Classes na França In Textos Op cit vol 3 p 121 16 Friedrich Engels Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado Rio de Janeiro Vitória 1964 p 138 24 25 nifesto com base na imaturidade do movimento operário nessa época e no desenvolvimento inadequado da democracia O destino das democracias italiana alemã e de um grande número de outras prova que a imaturidade é o traço que distingue as idéias dos próprios reformistas As origens do Manifesto O grande antecedente do Manifesto Comunista são os Princípios do Comunismo redigidos por Engels por encomenda da Liga dos Justos sob a forma de perguntas e respostas catecismo nos quais o comunismo é definido como a aprendizagem das condições de libertação do proletariado17 Assim como o Manifesto os Princípios contêm um programa de ação na verdade um verdadeiro programa transicional em doze pontos e define claramente que a revolução proletária não será feita num só país já que a grande indústria criando o mercado mundial aproximou já tão estreitamente uns dos outros os povos da Terra que cada povo depende estreitamente do que acontece com os outros a revolução social não será uma revolução puramente nacional Produzirseá ao mesmo tempo em todos os países civilizados Engels foi o precursor do antistalinismo Foi o próprio Engels quem sugeriu a substituição dos Princípios pelo Manifesto que poderia conter os elementos históricos que o catecismo não continha De acordo com Franz Mehring a forma dos Princípios teria em todo caso contribuído para tornálo acessível a todos e não o contrário Teria sido mais apropriado às necessidades de agitação do momento do que o Manifesto que o substituiu quanto ao desenvolvimento das idéias os dois documentos coincidem inteiramente No entanto Engels mostrando até que ponto era escrupuloso sacrificaria de saída as 25 perguntas e respostas por uma exposição histórica o Manifesto no qual o comunismo se anunciaria como um fenômeno histórico universal deveria como dizia o historiador grego Tucídides ser uma obra durável e não um panfleto para ser esquecido tão rapidamente quanto lido O Manifesto posterior não contém uma única idéia que Marx e Engels já não tivessem exposto anteriormente Ele não revelava nada ele apenas concentrava a nova concepção do mundo de seus autores em um espelho cujo vidro não poderia ser mais transparente nem o quadro mais circunscrito A julgar pelo estilo a forma definitiva do Manifesto devese principalmente a Marx enquanto Engels como demonstra o seu projeto conhecia com a mesma clareza as idéias que foram expostas merecendo plenamente o título de coautor18 O próprio Engels reconheceu posteriormente a paternidade de Marx sobre as idéias fundamentais do Manifesto Engels no entanto havia tido um papel muito mais ativo do que Marx na Liga o que fez nascer uma suposta divisão de trabalho entre um Engels prático e um Marx teórico esquecendo o importante trabalho de organização feito por Marx nos três anos precedentes Riazanov protestou contra essa lenda Os historiadores não levaram em consideração todo esse trabalho de organização de Marx quando fizeram dele um pensador de biblioteca Não perceberam o papel de Marx como organizador perdendo assim um dos ângulos mais interessantes de sua fisionomia Sem conhecer o papel que Marx e eu digo Marx e não Engels exerceu entre 184647 como dirigente e inspirador de todo esse trabalho de organização fica impossível compreender o grande papel que ele exerceu em seguida como organizador entre 184849 na época da I Internacional19 O exagero de Riazanov quanto ao papel de Engels não ao de Marx é um excesso polémico contra a socialdemocracia que no período em que foi escrita a obra de Riazanov fazia apelo ao reformismo inexistente de Engels contra o revolucionarismo bolchevique O Manifesto e a dialética O ponto de partida históricouniversal total e simultaneamente classista já contido nos Princípios e desenvolvido no Manifesto permitiu a Marx e Engels superar a filosofia da qual eram ambos tributários o hegeliansimo na questãochave do Estado que Hegel ainda via sob uma forma abstrata e ao mesmo tempo localista alemã Uma multidão de seres humanos somente pode ser chamada Estado se estiver unida para a defesa comum da totalidade Gesamtheit de aquilo que é sua propriedade Para que uma multidão constitua um Estado é necessário que organize uma defesa e uma autoridade política comum20 Para Marx e Engels o Estado nasce dos antagonismos de classe e na 17 Cf Friedrich Engels Princípios do Comunismo e Outros Textos São Paulo Mandacaru 1990 18 Franz Mehring Vie de Karl Marx Paris Pie 1984 pp 662663 19 David Riazanov Marx et Engels ed cit p 72 20 G W F Hegel La Constitución de Alemania Madri Aguilar 1972 pp 2223 26 27 era burguesa ele é de acordo com o Manifesto o comitê administrativo dos interesses cpmuns da burguesia Esta afirmação nada tem de circunstancial como se pretendeu posteriormente e resulta do posicionamento metodológico mais profundo do Manifesto ou seja do marxismo O mais notável porém é que o Manifesto não é só uma novidade com relação à concepção linear dos pensadores históricosociais do século XVIII mas também com relação à concepção semelhante defendida por pensadores do século XX os mesmos que consideram Marx como um pensador do século XIX cujas concepções só se vinculariam à realidade histórica de sua época Comparase assim a precisa e viva análise do Manifesto acerca da ruptura qualitativa imposta pela era do capital na História universal suas raízes diferenciadas dos modos de produção precedentes abrindo o período da História mundial propriamente dita com as concepções de um Immanuel Wallerstein acerca do capitalismo histórico para quem o capital sempre existiu sendo o capitalismo o sistema em que o capital veio a ser usado investido de forma muito específica O capitalismo histórico significaria a mercantilização generalizada dos processos que anteriormente haviam percorrido vias que não as de um mercado Um retrocesso de um século e meio com relação à superação da produção mercantil pela produção capitalista e à concepção dialética da História que inclui as rupturas históricas já expostas no Manifesto O Manifesto reconhece seus antecedentes além do já citado de Engels os Princípios em toda a obra teórica precedente de Marx Maximilien Rubel já disse que foi em Paris que Marx escreveu para os Anais FrancoAlemães um primeiro manifesto revolucionário que já foi chamado de o germe dO Manifesto Comunista Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie Einleitung Nesse ensaio ele se refere pela primeira vez ao proletariado como classe e fala da formação Bildung da classe operária Esses dois conceitos já haviam sido associados concretamente em um documento publicado em Paris quatro meses antes de sua chegada em LUnion Ouvrière de Flora Tristan Em 1843 a grande organizadora operária francesa Flora Tristan fazia um chamado Venho propor a união geral dos operários e operárias de todo o reino sem distinção de ofícios Esta união teria por objetivo construir a classe operária e construir estabelecimentos Palácios da União Operária distribuídos por toda a França Seriam aí educadas crianças dos dois sexos dos 6 aos 18 anos e seriam também recebidos os operários doentes os feridos e os velhos Há na França cinco milhões de operários e dois milhões de operárias Na sua Critica da Filosofia do Direito de Hegel Marx criticava no filósofo alemão que reclamasse não só o espírito do Estado mas também o espírito da autoridade o espírito burocrático chegando a criticar a inconseqüência surda e o espírito da autoridade de Hegel que chegam a ser verdadeiramente repugnantes grifo de Marx O espectro que ronda a Europa No mesmo momento em que Marx chegava a essas conclusões o comunismo se tornava uma força política na Alemanha e na Europa o espectro de que fala o Manifesto na sua frase inicial De acordo com David McLellan o socialismo e o comunismo os termos eram usados aleatoriamente na Alemanha nessa época tinham existido como doutrina na Alemanha desde pelo menos o início da década de 1830 mas foi em 1842 que eles atraíram a atenção geral pela primeira vez Isso se deu em parte por intermédio de Moses Hess que converteu tanto Engels como Bakunin ao comunismo e publicou anonimamente propaganda comunista na Rheinische Zeitung e em parte graças ao livro de Lorenz von Stein Sozialismus und Kommunismus des heutigen Frankreichs Socialismo e Comunismo na França Contemporânea Este consistia numa investigação da difusão do socialismo francês entre os operários alemães imigrantes em Paris Em carta de Engels à Marx de 22 de fevereiro de 1845 aquele relata a situação em Elberfeld Nossa propaganda realiza um progresso extraordinário As pessoas só falam do comunismo e todo dia recrutamos novos partidários No vale do Wupper o comunismo já é uma realidade melhor dito é virtualmente uma força Você não pode imaginar como é favorável a situação As pessoas mais ignorantes mais preguiçosas e mais filistéias que há pouco não se interessavam por nada estão praticamente gabandose de seu comunismo Não sei quanto tempo isso irá durar A polícia enfrenta verdadeiras dificuldades e não sabe o que fazer acontecimento A crise econômica que precedeu o 1848 e sem a qual os movimentos insurreccionais não poderiam ter alcançado naquele ano uma amplitude muito superior àquela das conspirações tramadas ao longo das décadas precedentes por sociedades secretas ou grupos de conspiradores e inclusive aquela das banais emoções populares teve provavelmente um caráter excessivamente clássico normal para provocar uma peculiar inquietude em todos aqueles que fisicamente não foram vítimas dele Coube a Marx justamente o mérito de ter sido o único a prever a amplitude social dos acontecimentos iminentes e de formular um programa de acordo com essa perspectiva que não era vista pela burguesia liberal revolucionária seus ideólogos e chefes políticos Os chefes do movimento liberal são professores universitários Eles são hostis tanto aos plutocratas da França como à aristocracia privilegiada Eles não se ocupam do povo Eles acreditam que os problemas deste não dizem respeito ao problema político que é o único que lhes interessa Dahlmann afinal não gostaria de ver fechado o acesso à escola para os filhos dos pobres para manter o nível de mãodeobra O mínimo que podemos dizer é que a burguesia compreendia mal o problema social O programa de Marx superava em virtude disso a perspectiva de uma revolução puramente burguesa nos países em que a burguesia não tinha ainda ascendído ao poder político Contrastando com essas justificativas economicistas de uma inevitável etapa revolucionária burguesa Marx e Engels também argumentavam a partir de uma perspectiva sociopolítica que anunciava uma concepção explicitamente permanentista da revolução Nesta problemática transicional a revolução burguesa aparece como précondição na medida em que abolindo a monarquia e o poder da nobreza feudal o terreno político fica livre para a contraposição direta entre burguesia e proletariado O prognóstico do Manifesto O famoso prognóstico do Manifesto a Alemanha se encontra às vésperas de uma revolução burguesa e realizará essa revolução nas condições mais avançadas da civilização européia e com um proletariado infinitamente mais desenvolvido que o da Inglaterra no século XVII e o da França no século XVIII e por conseguinte a revolução burguesa alemã só poderá ser o prelúdio imediato de uma revolução proletária se realizou pela negativa a revolução alemã não triunfou como revolução proletária mas por isso mesmo também abortou como revolução democrática burguesa No balanço ulterior de Trotsky em 1848 se chegou à pior das situações históricas o meiotermo A burguesia já não mais queria fazer a revolução Sua tarefa consistia antes em e disso ela se dava conta claramente incluir no velho sistema as garantias necessárias não para a sua dominação política mas simplesmente para uma divisão do poder com as forças do passado o proletariado ainda não podia fazêla por insuficiência de desenvolvimento social e político Em 1848 necessitavase de uma classe que fosse capaz de tomar o controle sobre os acontecimentos prescindindo da burguesia e inclusive em contradição com ela uma classe que estivesse disposta não apenas a empurrar a burguesia adiante com toda a sua força mas inclusive a tirar do caminho no momento decisivo o seu cadáver político Nem a pequena burguesia nem o campesinato eram capazes de fazêlo O proletariado era demasiadamente débil encontravase sem organização sem experiência e sem conhecimentos O desenvolvimento capitalista havia avançado o suficiente para tornar necessária a abolição das velhas condições feudais mas não o suficiente para permitir que a classe operária o produto das novas condições de produção se destacasse como uma força política decisiva Segundo o mesmo Trotsky o erro do Manifesto surgiu por um lado de uma subestimação das possibilidades futuras latentes no capitalismo e por outro de uma sobreestimação da maturidade revolucionária do proletariado A revolução de 1848 não se transformou em uma revolução socialista como o Manifesto havia calculado mas permitiu à Alemanha um vasto crescimento posterior de tipo capitalista De acordo com Engels a desgraça da revolução alemã foi ter chegado a reboque da revolução na França tendo a burguesia manifestado seu pavor em ser superada pela revolução social não a partir dos acontecimentos alemães mas das jornadas de junho em Paris a primeira jornada política independente da classe operária Para além do erro de prognóstico resta O que Marx e Engels traziam ao comunismo já existente era uma capacidade de formular seus objetivos baseada numa síntese de conhecimentos que nenhum de seus teóricos pregressos principalmente franceses e ingleses possuía por diversos motivos Antes de 1848 a única práxis sobre a qual Marx podia refletir era a dos jacobinos e seus sucessores entre as seitas radicais de Paris por outro lado a sua economia e a de Engels era já a dos socialistas ricardianos e owenistas da GrãBretanha Mas o arsenal de instrumentos conceituais com que contribuiu para o conhecimento dos fatos compreendia um elemento que nem o racionalismo francês nem o empirismo britânico podiam prover a filosofia da História de Hegel e a visão de que a totalidade do mundo forma um conjunto ordenado que o intelecto pode compreender e dominar Em 1860 em Herr Vogt Marx expôs o caminho teórico que o levaria à redação do Manifesto como programa para a Liga dos Justos ou dos Comunistas percorrido na década de 1840 Publicamos ao mesmo tempo uma série de folhetos impressos ou litografados Submetemos a uma crítica impiedosa a mistura de socialismo ou comunismo anglofrancês e de filosofia alemã que constituía na época a doutrina secreta da Liga estabelecemos que apenas o estudo científico da estrutura econômica da sociedade burguesa podia proporcionar uma sólida base teórica e expusemos por último em forma popular que não se tratava de colocar em vigor um sistema utópico mas de intervir com conhecimento de causa no processo de transformação histórica que se efetua na sociedade Em A Sagrada Família de 1845 Marx já tinha claro que se tratava de dotar de um programa a um movimento já existente e consciente de seus objetivos Não há necessidade de explicar aqui que uma grande parte do proletariado inglês e francês já está consciente de sua tarefa histórica e trabalha constantemente para desenvolver essa consciência com total clareza O objetivo político do Manifesto portanto é dotar de um programa a um partido cujos contornos estão ainda pouco definidos O partido communista de que fala o Manifesto é um partido internacional cujos embriões são a Liga dos Comunistas e os Fraternal Democrats isto é de um lado uma organização composta sobretudo por alemães mas dispersa por toda a Europa e de outro uma organização concentrada em Londres mas composta de representantes exilados de grupos operários e comunistas de vários países do continente O Manifesto e a revolução O Manifesto em 1848 foi portanto o arremate de uma obra teórica política e organizativa cujos diversos aspectos são inseparáveis ou como disse Fernando Claudín análises da conjuntura prérevolucionária formação da Liga dos Comunistas elaboração teórica estão estreitamente entrelaçadas na atividade de Marx e Engels durante o ano de 1847 e janeirofevereiro de 1848 sendo que o seu resultado políticoorganizacional no segundo congresso da Liga e sua grande síntese teóricopolítica foi o Manifesto O centro do Manifesto porém é a elaboração de um programa para a revolução vindoura na qual Jean Jaurès foi o primeiro em ver uma teoria da revolução proletária que coincide com aquela que mais tarde será chamada de revolução permanente O socialista argentino Juan B Justo criticou a dialética de Marx culpada segundo ele por têlo feito antever no Manifesto revoluções proletárias no horizonte de 1848 Para Karl Korsch o prognóstico de Marx sobre 1848 ficou preso à visão dos revolucionários do passado ao contrapor o programa da revolução social à concreta revolução democrática que se desenvolvia A sociedade burguesa nascida da revolução em sua sóbria realidade acabou por contradizer em grande medida tanto as elevadas idéias que de seus resultados haviam formado seus participantes e espectadores entusiastas quanto o heroísmo o sacrifício os horrores a guerra civil e as matanças populares que havia necessitado para vir ao mundo No entanto embora a explosão política de 1848 fosse previsível como dissemos acima o seu alcance social estava longe de ser evidente antes de seu o fato de que os eixos metodológicos do Manifesto se revelaram corretos 1º a idéia de que o desenvolvimento econÔmico e social a civilização seu grau de maturação revolucionária não podem ser medidos nos limites de um só Estado mas em escala internacional europeia no século XIX 2º a compreensão do fato de que uma revolução burguesa clássica de tipo inglês ou francês não se pode repetir na Alemanha em função do peso social e político que ganhou o proletariado no país 3º a intuição de que a revolução burguesa e a revolução proletária não são duas etapas históricas distintas mas dois momentos de um mesmo processo revolucionário ininterrupto36 A ressalva final de Löwy a afirmação de uma prioridade necessária da revolução burguesa abre a porta para uma interpretação de tipo etapista do texto não se justifica diante do texto do desenvolvimento histórico e sobretudo diante do balanço feito pelos próprios Marx e Engels A sina do Manifesto As revoluções de 1848 culminaram com a desmobilização proletária Foi um ano de desmobilização para o movimento operário em seu conjunto dominado pelo desânimo Em abril a Inglaterra conheceu o fracasso da grande manifestação cartista de Kennington Common ponto culminante da agitação política e social Em junho a fuzilaria da Guarda Nacional coloca na França um ponto final na era dos bons sentimentos surgida na euforia da revolução de fevereiro37 Na própria Alemanha acontece coisa semelhante de acordo com Engels não sem deixar estabelecidas as bases do movimento operário futuro Com a condenação dos comunistas de Colônia em 1852 fechamse as cortinas sobre o primeiro período do movimento independente dos trabalhadores alemães Tratase de um período hoje quase esquecido No entanto estendeuse desde 1836 até 1852 e o movimento se refletiu com a dispersão dos trabalhadores alemães pelo estrangeiro em quase todos os países civilizados Isso não é tudo O atual movimento internacional dos trabalhadores é no fundo uma continuação direta desse movimento alemão que foi o primeiro movimento operário internacional de onde saíram muitos daqueles que na Associação Internacional dos Trabalhadores tiveram um papel de liderança38 Manifesto Comunista Capa da primeira edição do Manifesto do Partido Comunista publicada em Londres no final de fevereiro de 1848 I Burgueses e proletários A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes Homem livre e escravo patrício e plebeu senhor feudal e servo mestre de corporação e companheiro em resumo opressores e oprimidos em constante oposição têm vivido numa guerra ininterrupta ora franca ora disfarçada uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira ou pela destruição das duas classes em conflito Nas mais remotas épocas da História verificamos quase por toda parte uma completa estruturação da sociedade em classes distintas uma múltipla gradação das posições sociais Na Roma antiga encontramos patrícios cavaleiros plebeus escravos na idade Média senhores vassalos mestres das corporações aprendizes companheiros servos e em cada uma destas classes outras gradações particulares A sociedade burguesa moderna que brotou das ruínas da sociedade feudal não aboliu os antagonismos de classe Não fez mais do que estabelecer novas classes novas condições de opressão novas formas de luta em lugar das que existiram no passado Entretanto a nossa época a época da burguesia caracterizase por ter simplificado os antagonismos de classe A sociedade dividese cada vez mais em dois campos opostos em duas grandes classes em confronto direto a burguesia e o proletariado Dos servos da Idade Média nasceram os moradores dos primeiros burgos desta população municipal saíram os primeiros elementos da burguesia A descoberta da América a circunavegação da África abriram um novo campo de ação à burguesia emergente Os mercados das Índias Orientais e da China a colonização da América o comércio colonial o incremento dos meios de troca e das mercadorias em geral imprimiram ao comércio à indústria e à navegação um impulso desconhecido até então e por conseguinte desenvolveram rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição A organização feudal da indústria em que esta era circunscrita a corporações fechadas já não satisfazia as necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados A manufatura a substituiu A pequena burguesia industrial suplantou os mestres das corporações a divisão do trabalho entre as diferentes corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina Todavia os mercados ampliavamse cada vez mais a procura por mercadorias continuava a aumentar A própria manufatura tornouse insuficiente então o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial A grande indústria moderna suplantou a manufatura a média burguesia manufatureira cedeu lugar aos milionários da indústria aos chefes de verdadeiros exércitos industriais aos burgueses modernos A grande indústria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da América O mercado mundial acelerou enormemente o desenvolvimento do comércio da navegação dos meios de comunicação Este desenvolvimento reagiu por sua vez sobre a expansão da indústria e à medida que a indústria o comércio a navegação as vias férreas se desenvolviam crescia a burguesia multiplicando seus capitais e colocando num segundo plano todas as classes legadas pela Idade Média Vemos pois que a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento de uma série de transformações no modo de produção e de circulação Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia foi acompanhada de um progresso político correspondente Classe oprimida pelo despotismo feudal associação armada e autônoma na comu na aqui república urbana independente ali terceiro estado tributário da monarquia depois durante o período manufatureiro contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta base principal das grandes monarquias a burguesia com o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial conquistou finalmente a soberania política exclusiva no Estado representativo moderno O executivo no Estado moderno não é senão um comité para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa A burguesia desempenhou na História um papel iminentemente revolucionário Onde quer que tenha conquistado o poder a burguesia destruiu as relações feudais patriarcais e idílicas Rasgou todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus superiores naturais para só deixar subsistir de homem para homem o laço do frio interesse as duras exigências do pagamento à vista Afogou os fervores sagrados da exaltação religiosa do entusiasmo cavaleiresco do sentimentalismo pequenoburguês nas águas geladas do cálculo egoísta Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca substituiu as numerosas liberdades conquistadas duramente por uma única liberdade sem escrúpulos a do comércio Em uma palavra em lugar da exploração dissimulada por ilusões religiosas e políticas a burguesia colocou uma exploração aberta direta despudorada e brutal A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas como dignas e encaradas com piedoso respeito Fez do médico do jurista do sacerdote do poeta do sábio seus servidores assalariados A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziuas a meras relações monetárias A burguesia revelou como a brutal manifestação de força na Idade Média tão admirada pela reação encontra seu complemento natural na ociosidade mais completa Foi a primeira a provar o que a atividade humana pode realizar criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito os aquedutos romanos as catedrais góticas conduziu expedições que empanaram mesmo as antigas invasões e as Cruzadas A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção por conseguinte as relações de produção e com isso todas as relações sociais A conservação inalterada do antigo modo de produção era pelo contrário a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores Essa subversão contínua da produção esse abalo constante de todo o sistema social essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes Dissolvemse todas as relações sociais antigas e cristalizadas com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas as relações que as substituem tornamse antiquadas antes de se consolidarem Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas relações com os outros homens Impelida pela necessidade de mercados sempre novos a burguesia invade todo o globo terrestre Necessita estabelecerse em toda parte explorar em toda parte criar vínculos em toda parte Pela exploração do mercado mundial a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países Para desespero dos reacionários ela roubou da indústria sua base nacional As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas diariamente São suplantadas por novas indústrias cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas indústrias que já não empregam matériasprimas nacionais mas sim matériasprimas vindas das regiões mais distantes e cujos produtos se consomem não somente no próprio país mas em todas as partes do mundo Ao invés das antigas necessidades satisfeitas pelos produtos nacionais surgem novas demandas que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e de climas os mais diversos No lugar do antigo isolamento de regiões e nações autosuficientes desenvolvemse um intercâmbio universal e uma universal interdependência das nações E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual As criações intelectuais de uma nação tornamse patrimônio comum A estreiteza e a unilateralidade nacionais tornamse cada vez mais impossíveis das numerosas literaturas nacionais e locais nasce uma literatura universal Com o rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e o constante progresso dos meios de comunicação a burguesia arrasta para a torrente da civilização todas as nações até mesmo as mais bárbaras Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China e obriga à capitulação os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros Sob pena de ruína total ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção constrangeas a abraçar a chamada civilização isto é a se tornarem burguesas Em uma palavra cria um mundo à sua imagem e semelhança A burguesia submeteu o campo à cidade Criou grandes centros urbanos aumentou prodigiosamente a população das cidades em relação à dos campos e com isso arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural Do mesmo modo que subordina o campo à cidade os países bárbaros ou semibárbaros aos países civilizados subordinou os povos camponeses aos povos burgueses o Oriente ao Ocidente A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção da propriedade e da população Aglomerou as populações centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos A conseqüência necessária dessas transformações foi a centralização política Províncias independentes ligadas apenas por débeis laços federativos possuindo interesses leis governos e tarifas aduaneiras diferentes foram reunidas em uma só nação com um só governo uma só lei um só interesse nacional de classe uma só barreira alfandegária A burguesia em seu domínio de classe de apenas um século criou forças produtivas mais numerosas e mais colossais do que todas as gerações passadas em seu conjunto A subjugação das forças da natureza as máquinas a aplicação da química na indústria e na agricultura a navegação a vapor as estradas de ferro o telégrafo elétrico a exploração de continentes inteiros a canalização dos rios populações inteiras brotando da terra como por encanto que século anterior teria suspeitado que semelhantes forças produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho social Vimos portanto que os meios de produção e de troca sobre cuja base se ergue a burguesia foram gerados no seio da sociedade feudal Numa certa etapa do desenvolvimento desses meios de produção e de troca as condições em que a sociedade feudal produzia e trocava a organização feudal da agricultura e da manufatura em suma o regime feudal de propriedade deixaram de corresponder às forças produtivas em pleno desenvolvimento Tolhiam a produção em lugar de impulsionála Transformaramse em outros tantos grilhões que era preciso despedaçar e foram despedaçados Em seu lugar surgiu a livre concorrência com uma organização social e política apropriada com a supremacia econômica e política da classe burguesa Assistimos hoje a um processo semelhante A sociedade burguesa com suas relações de produção e de troca o regime burguês de propriedade a sociedade burguesa moderna que conjurou gigantescos meios de produção e de troca assemelhase ao feiticeiro que já não pode controlar os poderes infernais que invocou Há dezenas de anos a história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as modernas relações de produção contra as relações de propriedade que condicionam a existência da burguesia e seu domínio Basta mencionar as crises comerciais que repetindose periodicamente ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos fabricados mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já criadas Uma epidemia que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo desaba sobre a sociedade a epidemia da superprodução A sociedade vêse subitamente reconduzida a um estado de barbárie momentânea como se a fome ou uma guerra de extermínio houvessem lhe cortado todos os meios de subsistência o comércio e a indústria parecem aniquilados E por quê Porque a sociedade possui civilização em excesso meios de subsistência em excesso indústria em excesso comércio em excesso As forças produtivas de que dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações burguesas de propriedade pelo contrário tornaramse poderosas demais para estas condições passam a ser tolidas por elas e assim que se libertam desses entraves lançam na desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa O sistema burguês tornouse demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio E de que maneira consegue a burguesia vencer essas crises De um lado pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas de outro pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos A que leva isso Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitálas As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo voltamse hoje contra a própria burguesia A burguesia porém não se limitou a forjar as armas que lhe trarão a morte produziu também os homens que empunharão essas armas os operários modernos os proletários Com o desenvolvimento da burguesia isto é do capital desenvolvese também o proletariado a classe dos operários modernos os quais só vivem enquanto têm trabalho e só têm trabalho enquanto seu trabalho aumenta o capital Esses operários constrangidos a venderse a retalho são mercadoria artigo de comércio como qualquer outro em conseqüência estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência a todas as flutuações do mercado O crescente emprego de máquinas e a divisão do trabalho despojam a atividade do operário de seu caráter autônomo tirandolhe todo o atrativo O operário tornase um simples apêndice da máquina e dele só se requer o manejo mais simples mais monótono mais fácil de aprender Desse modo o custo do operário se reduz quase exclusivamente aos meios de subsistência que lhe são necessários para viver e perpetuar sua espécie Ora o preço do trabalho como de toda mercadoria é igual ao seu custo de produção Portanto à medida que aumenta o caráter enfadonho do trabalho decrescem os salários Mais ainda na mesma medida em que aumenta a maquinaria e a divisão do trabalho sobe também a quantidade de trabalho quer pelo aumento das horas de trabalho quer pelo aumento do trabalho exigido num determinado tempo quer pela aceleração do movimento das máquinas etc A indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da corporação patriarcal na grande fábrica do industrial capitalista Massas de operários amontoadas na fábrica são organizadas militarmente Como soldados rasos da indústria estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais Não são apenas servos da classe burguesa do Estado burguês mas também dia a dia hora a hora escravos da máquina do contramestre e sobretudo do dono da fábrica E esse despotismo é tanto mais mesquinho mais odioso e exasperador quanto maior é a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo Quanto menos habilidade e força o trabalho manual exige isto é quanto mais a indústria moderna progride tanto mais o trabalho dos homens é suplantado pelo de mulheres e crianças As diferenças de idade e de sexo não têm mais importância social para a classe operária Não há senão instrumentos de trabalho cujo preço varia segundo a idade e o sexo 25 Depois de sofrer a exploração do fabricante e de receber seu salário em dinheiro o operário tornase presa de outros membros da burguesia o senhorio o varejista o penhorista etc As camadas inferiores da classe média de outrora os pequenos industriais pequenos comerciantes os que vivem de rendas rentiers artesãos e camponeses caem nas fileiras do proletariado uns porque seu pequeno capital não permite empregar os processos da grande indústria e sucumbem na concorrência com os grandes capitalistas outros porque sua habilidade profissional é depreciada pelos novos métodos de produção Assim o proletariado é recrutado em todas as classes da população O proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento Sua luta contra a burguesia começa com a sua existência No começo empenhamse na luta operários isolados mais tarde operários de uma mesma fábrica finalmente operários de um mesmo ramo de indústria de uma mesma localidade contra o burguês que os explora diretamente Dirigem os seus ataques não só contra as relações burguesas de produção mas também contra os instrumentos de produção destroem as mercadorias estrangeiras que lhes fazem concorrência quebram as máquinas queimam as fábricas e esforçamse para reconquistar a posição perdida do trabalhador da Idade Média Nessa fase o proletariado constitui massa disseminada por todo o país e dispersa pela concorrência A coesão maciça dos operários não é ainda o resultado de sua própria união mas da união da burguesia que para atingir seus próprios fins políticos é levada a pôr em movimento todo o proletariado o que por enquanto ainda pode fazer Durante essa fase os proletários não combatem seus próprios inimigos mas os inimigos de seus inimigos os restos da monarquia absoluta os proprietários de terras os burgueses nãoindustriais os pequenos burgueses Todo o movimento histórico está desse modo concentrado nas mãos da burguesia e qualquer vitória alcançada nessas condições é uma vitória burguesa Mas com o desenvolvimento da indústria o proletariado não apenas se multiplica comprimese em massas cada vez maiores sua força cresce e ele adquire maior consciência dela Os interesses as condições de existência dos proletários se igualam cada vez mais à medida que a máquina extingue toda diferença de trabalho e quase por toda parte reduz o salário a um nível igualmente baixo Em virtude comerciais que disso resultam os salários se tornam cada vez mais instáveis o aperfeiçoamento constante e cada vez mais rápido das máquinas torna a condição de vida do operário cada vez mais precária os choques individuais entre o operário singular e o burguês singular tomam cada vez mais o caráter de confrontos entre duas classes Os operários começam a formar coalizões contra os burgueses e atuam em comum na defesa de seus salários chegam a fundar associações permanentes a fim de se precaverem de insurreições eventuais Aqui e ali a luta irrompe em motim 26 De tempos em tempos os operários triunfam mas é um triunfo efêmero O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito imediato mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores Esta união é facilitada pelo crescimento dos meios de comunicação criados pela grande indústria e que permitem o contato entre operários de diferentes localidades Basta porém este contato para concentrar as numerosas lutas locais que têm o mesmo caráter em toda parte em uma luta nacional uma luta de classes Mas toda luta de classes é uma luta política E a união que os burgueses da Idade Média com seus caminhos vicinais levaram séculos a realizar os proletários modernos realizam em poucos anos por meio das ferrovias A organização do proletariado em classe e portanto em partido político é incessantemente destruída pela concorrência que fazem entre si os próprios operários Mas renasce sempre e cada vez mais forte mais sólida mais poderosa Aproveitase das divisões internas da burguesia para obrigála ao reconhecimento legal de certos interesses da classe operária como por exemplo a lei da jornada de dez horas de trabalho na Inglaterra Em geral os choques que se produzem na velha sociedade favorecem de diversos modos o desenvolvimento do proletariado A burguesia vive em luta permanente primeiro contra a aristocracia depois contra as frações da própria burguesia cujos interesses se encontram em conflito com os progressos da indústria e sempre contra a burguesia dos países estrangeiros Em todas estas lutas vêse forçada a apelar para o proletariado a recorrer a sua ajuda e desta forma arrastálo para o movimento político A burguesia fornece aos proletários os elementos de sua própria educação política isto é armas contra ela própria Além disso como já vimos frações inteiras da classe dominante em conseqüência do desenvolvimento da indústria são lançadas no proletariado ou pelo menos ameaçadas em suas condições de existência Também elas trazem ao proletariado numerosos elementos de educação Finalmente nos períodos em que a luta de classes se aproxima da hora decisiva o processo de dissolução da classe dominante de toda a velha sociedade adquire um caráter tão violento e agudo que uma pequena fração da classe dominante se desliga desta ligandose à classe revolucionária à classe que traz nas mãos o futuro Do mesmo modo que outrora uma parte da nobreza passou para a burguesia em nossos dias uma parte da burguesia passa para o proletariado especialmente a parte dos ideólogos burgueses que chegaram à compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto De todas as classes que hoje em dia se opõem à burguesia só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria o proletariado pelo contrário é seu produto mais autêntico As camadas médias pequenos comerciantes pequenos fabricantes artesãos camponeses combatem a burguesia porque esta compromete sua existência como camadas médias Não são pois revolucionárias mas conservadoras mais ainda são reacionárias pois pretendem fazer girar para trás a roda da História Quando se tornam revolucionárias isto se dá em conseqüência de sua iminente passagem para o proletariado não defendem então seus interesses atuais mas seus interesses futuros abandonam seu próprio ponto de vista para se colocar no do proletariado O lúmpenproletariado putrefação passiva das camadas mais baixas da velha sociedade pode às vezes ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária todavia suas condições de vida o predispõem mais a venderse à reação As condições de existência da velha sociedade já estão destruídas nas condições de existência do proletariado O proletário não tem propriedade suas relações com a mulher e os filhos já nada têm em comum com as relações familiares burguesas O trabalho industrial moderno a subjugação do operário ao capital tanto na Inglaterra como na França na América como na Alemanha despoja o proletário de todo caráter nacional As leis a moral a religião são para ele meros preconceitos burgueses atrás dos quais se ocultam outros tantos interesses burgueses Todas as classes que no passado conquistaram o poder trataram de consolidar a situação adquirida submetendo toda a sociedade às suas condições de apropriação Os proletários não podem apoderarse das forças produtivas sociais senão abolindo o modo de apropriação a elas correspondente e por conseguinte todo modo de apropriação existente até hoje Os proletários nada têm de seu a salvaguardar sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes Todos os movimentos históricos têm sido até hoje movimentos de minorias ou em proveito de minorias O movimento proletário é o movimento autônomo da imensa maioria em proveito da imensa maioria O proletariado a camada mais baixa da sociedade atual não pode erguerse pôrse de pé sem fazer saltar todos os estratos superpostos que constituem a sociedade oficial A luta do proletariado contra a burguesia embora não seja na essência uma luta nacional revestese dessa forma num primeiro momento É natural que o proletariado de cada país deva antes de tudo liquidar a sua própria burguesia Esboçando em linhas gerais as fases do desenvolvimento proletário descrevemos a história da guerra civil mais ou menos oculta na sociedade existente até a hora em que essa guerra explode numa revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia Todas as sociedades anteriores como vimos se basearam no antagonismo entre classes opressoras e classes oprimidas Mas para oprimir uma classe é preciso poder garantirlhe condições tais que lhe permitam pelo menos uma existência servil O servo em plena servidão conseguiu tornarse membro da comuna da mesma forma que o pequeno burguês sob o jugo do absolutismo feudal elevouse à categoria de burguês O operário moderno pelo contrário longe de se elevar com o progresso da indústria desce cada vez mais caindo abaixo das condições de sua própria classe O trabalhador tornase um indigente e o pauperismo cresce ainda mais rapidamente do que a população e a riqueza Fica assim evidente que a burguesia é incapaz de continuar desempenhando o papel de classe dominante e de impor à sociedade como lei suprema as condições de existência de sua classe Não pode exercer o seu domínio porque não pode mais assegurar a existência de seu escravo mesmo no quadro de sua escravidão porque é obrigada a deixálo afundar numa situação em que deve nutrilo em lugar ser nutrida por ele A sociedade não pode mais existir sob sua dominação o que quer dizer que a existência da burguesia não é mais compatível com a sociedade A condição essencial para a existência e supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos de particulares a formação e o crescimento do capital a condição de existência do capital é o trabalho assalariado Este baseiase exclusivamente na concorrência dos operários entre si O progresso da indústria de que a burguesia é agente passivo e involuntário substitui o isolamento dos operários resultante da competição por sua união revolucionária resultante da associação Assim o desenvolvimento da grande indústria retira dos pés da burguesia a própria base sobre a qual ela assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos A burguesia produz sobretudo seus próprios coveiros Seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis II Proletários e comunistas Qual a relação dos comunistas com os proletários em geral Os comunistas não formam um partido à parte oposto aos outros partidos operários Não têm interesses diferentes dos interesses do proletariado em geral Não proclamam princípios particulares segundo os quais pretendam moldar o movimento operário Os comunistas se distinguem dos outros partidos operários somente em dois pontos 1 Nas diversas lutas nacionais dos proletários destacam e fazem prevalecer os interesses comuns do proletariado independentemente da nacionalidade 2 Nas diferentes fases de desenvolvimentos por que passa a luta entre proletários e burgueses representam sempre e em toda parte os interesses do movimento em seu conjunto Na prática os comunistas constituem a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país a fração que impulsiona as demais teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições do curso e dos fins gerais do movimento proletário O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários constituição do proletariado em classe derrubada da supremacia burguesa conquista do poder político pelo proletariado As proposições teóricas dos comunistas não se baseiam de modo al gum em idéias ou princípios inventados ou descobertos por este ou aquele reformador do mundo São apenas a expressão geral das condições efetivas de uma luta de classes que existe de um movimento histórico que se desenvolve diante dos olhos A abolição das relações de propriedade que até hoje existiram não é uma característica peculiar e exclusiva do comunismo Todas as relações de propriedade têm passado por modificações constantes em conseqüência das contínuas transformações das condições históricas A Revolução Francesa por exemplo aboliu a propriedade feudal em proveito da propriedade burguesa O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade em geral mas a abolição da propriedade burguesa Mas a moderna propriedade privada burguesa é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classes na exploração de uns pelos outros Nesse sentido os comunistas podem resumir sua teoria numa única expressão supressão da propriedade privada Nós comunistas temos sido sensurados por querer abolir a propriedade pessoalmente adquirida fruto do trabalho do indivíduo propriedade que dizem ser a base de toda liberdade de toda atividade de toda independência individual Propriedade pessoal fruto do trabalho e do mérito Falais da propriedade do pequeno burguês do pequeno camponês forma de propriedade anterior à propriedade burguesa Não precisamos abolila porque o progresso da indústria já a aboliu e continua abolindoa diariamente Ou porventura falais da moderna propriedade privada da propriedade burguesa Mas o trabalho do proletário o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário De modo algum Cria o capital isto é a propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de gerar novo trabalho assalariado para voltar a explorálo Em sua forma atual a propriedade se move entre dois termos antagônicos capital e trabalho Examinemos os termos desse antagonismo Ser capitalista significa ocupar não somente uma posição pessoal mas também uma posição social na produção O capital é um produto coletivo e só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade em última instância pelos esforços combinados de todos os membros da sociedade O capital não é portanto um poder pessoal é um poder social Assim quando o capital é transformado em propriedade comum pertencente a todos os membros da sociedade não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade social O que se transformou foi o caráter social da propriedade Esta perde seu caráter de classe Vejamos agora o trabalho assalariado O preço médio que se paga pelo trabalho assalariado é o mínimo de salário ou seja a soma dos meios de subsistência necessários para que o operário viva como operário Por conseguinte o que o operário recebe com o seu trabalho é o estritamente necessário para a mera conservação e reprodução de sua existência Não pretendemos de modo algum abolir essa apropriação pessoal dos produtos do trabalho indispensável à manutenção e à reprodução da vida humana uma apropriação que não deixa nenhum lucro líquido que confira poder sobre o trabalho alheio Queremos apenas suprimir o caráter miserável desta apropriação que faz com que o operário só viva para aumentar o capital e só viva na medida em que o exigem os interesses da classe dominante Na sociedade burguesa o trabalho vivo é sempre um meio de aumentar o trabalho acumulado Na sociedade comunista o trabalho acumulado é um meio de ampliar enriquecer e promover a existência dos trabalhadores Na sociedade burguesa o passado domina o presente na sociedade comunista é o presente que domina o passado Na sociedade burguesa o capital é independente e pessoal ao passo que o indivíduo que trabalha é dependente e impessoal É a supressão dessa situação que a burguesia chama de supressão da individualidade e da liberdade E com razão Porque se trata efetivamente de abolir a individualidade burguesa a independência burguesa a liberdade burguesa Por liberdade nas atuais relações burguesas de produção compreendese a liberdade de comércio a liberdade de comprar e vender Mas se o tráfico desaparece desaparecerá também a liberdade de traficar Toda a fraseologia sobre o livre comércio bem como todas as bravatas de nossa burguesia sobre a liberdade só têm sentido quando se referem ao comércio constrangido e ao burguês oprimido da Idade Média nenhum sentido têm quando se trata da supressão comunista do tráfico das relações burguesas de produção e da própria burguesia Horrorizeivos porque queremos suprimir a propriedade privada Mas em vossa sociedade a propriedade privada está suprimida para nove décimos de seus membros E é precisamente porque não existe para estes nove décimos que ela existe para vós Censurainos portanto por querermos abolir uma forma de propriedade que pressupõe como condição necessária que a imensa maioria da sociedade não possua propriedade Numa palavra censurainos por querermos abolir a vossa propriedade De fato é isso que queremos A partir do momento em que o trabalho não possa mais ser convertido em capital em dinheiro em renda da terra numa palavra em poder social capaz de ser monopolizado isto é a partir do momento em que a propriedade individual não possa mais se converter em propriedade burguesa declarais que o indivíduo está suprimido Confessais no entanto que quando falais do indivíduo quereis referirvos unicamente ao burguês ao proprietário burguês E este indivíduo sem dúvida deve ser suprimido O comunismo não priva ninguém do poder de se apropriar de sua parte dos produtos sociais apenas suprime o poder de subjugar o trabalho de outros por meio dessa apropriação Alegase ainda que com a abolição da propriedade privada toda a atividade cessaria uma inércia geral apoderarseia do mundo Se isso fosse verdade há muito que a sociedade burguesa teria sucumbido à ociosidade pois os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham Toda a objeção se reduz a essa tautologia não haverá mais trabalho assalariado quando não mais existir capital As objeções feitas ao modo comunista de produção e de apropriação dos produtos materiais foram igualmente ampliadas à produção e à apropriação dos produtos do trabalho intelectual Assim como o desaparecimento da propriedade de classe equivale para o burguês ao desaparecimento de toda a produção o desaparecimento da cultura de classe significa para ele o desaparecimento de toda a cultura A cultura cuja perda o burguês deplora é para a imensa maioria dos homens apenas um adestramento que os transforma em máquinas Mas não discutais conosco aplicando à abolição da propriedade burguesa o critério de vossas noções burguesas de liberdade cultura direito etc Vossas próprias idéias são produtos das relações de produção e de propriedade burguesas assim como o vosso direito não passa da vontade de vossa classe erigida em lei vontade cujo conteúdo é determinado pelas condições materiais de vossa existência como classe Essa concepção interesseira que vos leva a transformar em leis eternas da natureza e da razão as relações sociais oriundas do vosso modo de produção e de propriedade relações transitórias que surgem e desaparecem no curso da produção é por vós compartilhada com todas as classes dominantes já desaparecidas O que aceitais para a propriedade antiga o que aceitais para a propriedade feudal já não podeis aceitar para a propriedade burguesa Supressão da família Até os mais radicais se indignam com esse propósito infame dos comunistas Sobre que fundamento repousa a família atual a família burguesa Sobre o capital sobre o ganho individual A família na sua plenitude só existe para a burguesia mas encontra seu complemento na ausência forçada da família entre os proletários e na prostituição pública A família burguesa desvanecese naturalmente com o desvanecer de seu complemento e ambos desaparecem com o desaparecimento do capital Censurainos por querermos abolir a exploração das crianças pelos seus próprios pais Confessamos este crime Dizeis também que destruímos as relações mais íntimas ao substituirmos a educação doméstica pela educação social E vossa educação não é também determinada pela sociedade pelas condições sociais em que educais vossos filhos pela intervenção direta ou indireta da sociedade por meio de vossas escolas etc Os comunistas não inventaram a intromissão da sociedade na educação apenas procuram modificar seu caráter arrancando a educação da influência da classe dominante O palavreado burguês sobre a família e a educação sobre os doces laços que unem a criança aos pais tornase cada vez mais repugnante à medida que a grande indústria destrói todos os laços familiares dos proletários e transforma suas crianças em simples artigos de comércio em simples instrumentos de trabalho Vós comunistas quereis introduzir a comunidade das mulheres gritanos toda a burguesia em coro Para o burguês a mulher nada mais é do que um instrumento de produção Ouvindo dizer que os instrumentos de produção serão explorados em comum conclui naturalmente que o destino de propriedade coletiva caberá igualmente às mulheres Não imagina que se trata preci samente de arrancar a mulher de seu papel de simples instrumento de produção De resto nada é mais ridículo que a virtuosa indignação que os nossos burgueses em relação à pretensa comunidade oficial das mulheres que adotariam os comunistas Os comunistas não precisam introduzir a comunidade das mulheres Ela quase sempre existiu Nossos burgueses não contentes em ter à sua disposição as mulheres e as filhas dos proletários sem falar da prostituição oficial têm singular prazer em seduzir as esposas uns dos outros O casamento burguês é na realidade a comunidade das mulheres casadas No máximo poderiam acusar os comunistas de querer substituir uma comunidade de mulheres hipócrita e dissimulada por outra que seria franca e oficial De resto é evidente que com a abolição das atuais relações de produção desaparecerá também a comunidade das mulheres que deriva dessas relações ou seja a prostituição oficial e nãooficial Os comunistas também são acusados de querer abolir a pátria a nacionalidade Os operários não têm pátria Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem Como porém o proletariado tem por objetivo conquistar o poder político e elevarse a classe dirigente da nação tornarse ele próprio nação ele é nessa medida nacional mas de modo nenhum no sentido burguês da palavra Os isolamentos e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia com a liberdade de comércio com o mercado mundial com a uniformidade da produção industrial e com as condições de existência a ela correspondentes A supremacia do proletariado fará com que desapareçam ainda mais depressa A ação comum do proletariado pelo menos nos países civilizados é uma das primeiras condições para sua emancipação À medida que for suprimida a exploração do homem pelo homem será suprimida a exploração de uma nação por outra Quando os antagonismos de classes no interior das nações tiverem desaparecido desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações As acusações feitas aos comunistas em nome da religião da filosofia e da ideologia em geral não merecem um exame aprofundado Será preciso grande inteligência para compreender que ao mudarem as relações de vida dos homens as suas relações sociais a sua existência social mudam também as suas representações as suas concepções e conceitos numa palavra muda a sua consciência Que demonstra a história das idéias senão que a produção intelectual se transforma com a produção material As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante Quando se fala de idéias que revolucionam uma sociedade inteira isto quer dizer que no seio da velha sociedade se formaram os elementos de uma sociedade nova e que a dissolução das velhas idéias acompanha a dissolução das antigas condições de existência Quando o mundo antigo declinava as antigas religiões foram vencidas pela religião cristã quando no século XVIII as idéias cristãs cederam lugar às idéias iluministas a sociedade feudal travava sua batalha decisiva contra a burguesia então revolucionária As idéias de liberdade religiosa e de consciência não fizeram mais que proclamar o império da livre concorrência no domínio do conhecimento Mas dirão as idéias religiosas morais filosóficas políticas jurídicas etc modificaramse no curso do desenvolvimento histórico A religião a moral a filosofia a política o direito sobreviveram sempre a essas transformações Além disso há verdades eternas como a liberdade a justiça etc que são comuns a todos os regimes sociais Mas o comunismo quer abolir estas verdades eternas quer abolir a religião e a moral em lugar de lhes dar uma nova forma e isso contradiz todos os desenvolvimentos históricos anteriores A que se reduz essa acusação A história de toda a sociedade até nossos dias moveuse em antagonismos de classes antagonismos que se têm revestido de formas diferentes nas diferentes épocas Mas qualquer que tenha sido a forma assumida a exploração de uma parte da sociedade por outra é um fato comum a todos os séculos anteriores Portanto não é de espantar que a consciência social de todos os séculos apesar de toda sua variedade e diversidade se tenha movido sempre sob certas formas comuns formas de consciência que só se dissolverão completamente com o desaparecimento total dos antagonismos de classes A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade não admira portanto que no curso de seu desenvolvimento se rompa do modo mais radical com as idéias tradicionais Mas deixemos de lado as objeções feitas pela burguesia ao movimento comunista Vimos antes que a primeira fase da revolução operária é a elevação do proletariado a classe dominante a conquista da democracia O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo o capital da burguesia para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado isto é do proletariado organizado como classe dominante e para aumentar o mais rapidamente possível o total das forças produtivas Isso naturalmente só poderá ser realizado a princípio por intervenções despóticas no direito de propriedade e nas relações de produção burguesas isto é pela aplicação de medidas que do ponto de vista econômico parecerão insuficientes e insustentáveis mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção Essas medidas é claro serão diferentes nos diferentes países Nos países mais adiantados contudo quase todas as seguintes medidas poderão ser postas em prática 1 Expropriação da propriedade fundiária e emprego da renda da terra para despesas do Estado 2 Imposto fortemente progressivo 3 Abolição do direito de herança 4 Confisco da propriedade de todos os emigrados e rebeldes 5 Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo 6 Centralização de todos os meios de comunicação e transporte nas mãos do Estado 7 Multiplicação das fábricas nacionais e dos instrumentos de produção arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas segundo um plano geral 8 Unificação do trabalho obrigatório para todos organização de exércitos industriais particularmente para a agricultura 9 Unificação dos trabalhos agrícola e industrial abolição gradual da distinção entre a cidade e o campo por meio de uma distribuição mais igualitária da população pelo país 10 Educação pública e gratuita a todas as crianças abolição do trabalho das crianças nas fábricas tal como é praticado hoje Combinação da educação com a produção material etc Quando no curso do desenvolvimento desaparecerem os antagonismos de classes e toda a produção for concentrada nas mãos dos indivíduos associados o poder público perderá seu caráter político O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra Se o proletariado em sua luta contra a burguesia se organiza forçosamente como classe se por meio de uma revolução se converte em classe dominante e como classe dominante destrói violentamente as antigas relações de produção destrói juntamente com essas relações de produção as condições de existência dos antagonismos entre as classes destrói as classes em geral e com isso sua própria dominação como classe Em lugar da antiga sociedade burguesa com suas classes e antagonismos de classes surge uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos III Literatura socialista e comunista 1 O socialismo reacionário a O socialismo feudal Por sua posição histórica as aristocracias da França e da Inglaterra viramse chamadas a lançar libelos contra a sociedade burguesa Na revolução francesa de julho de 1830 no movimento inglês pela reforma tinham sucumbido mais uma vez sob os golpes desta odiada arrivista A partir daí não se podia tratar de uma luta política séria só lhes restava a luta literária Mas também no domínio literário tornarase impossível a velha fraseologia da Restauração5 Para despertar simpatias a aristocracia fingiu deixar de lado seus próprios interesses e dirigiu sua acusação contra a burguesia aparentando defender apenas os interesses da classe operária explorada Desse modo entregouse ao prazer de cantarolar sátiras sobre os novos senhores e de lhes sussurrar ao ouvido profecias sinistras Assim surgiu o socialismo feudal em parte lamento em parte pasquim em parte ecos do passado em parte ameaças ao futuro Se por vezes a sua crítica amarga mordaz e espirituosa feriu a burguesia no Sob a pressão das massas a Câmara dos Comuns inglesa aprovou em 1831 uma reforma eleitoral que facilitava o acesso da burguesia industrial ao parlamento 5 Não se trata da Restauração Inglesa de 1660 a 1689 mas da Restauração Francesa de 18141830 Nota de F Engels à edição inglesa de 1888 coração sua impotência absoluta em compreender a marcha da História moderna terminou sempre produzindo um efeito cômico Para atrair o povo a aristocracia desfiou como bandeira a sacola do mendigo mas assim que o povo acorreu percebeu que as costas da bandeira estavam ornadas com os velhos brasões feudais e dispersouse com grandes e irreverentes gargalhadas Uma parte dos legitimistas franceses e a Jovem Inglaterra ofereceram ao mundo esse espetáculo Quando os feudais demonstraram que o seu modo de exploração era diferente do da burguesia esqueceram apenas uma coisa que o feudalismo explorava em circunstâncias e condições completamente diversas hoje em dia ultrapassadas Quando ressaltam que sob o regime feudal o proletariado moderno não existia esquecem que a burguesia foi precisamente um fruto necessário de sua organização social Além disso ocultam tão pouco o caráter reacionário de sua crítica que sua principal acusação contra a burguesia consiste justamente em dizer que esta assegura sob seu regime o desenvolvimento de uma classe que fará ir pelos ares toda a antiga ordem social O que reprovam à burguesia é mais o fato de ela ter produzido um proletariado revolucionário que o de ter criado o proletariado em geral Por isso na luta política participam ativamente de todas as medidas de repressão contra a classe operária E na vida diária a despeito de sua pomposa fraseologia conformamse perfeitamente em colher as maçãs de ouro da árvore da indústria e em trocar honra amor e fidelidade pelo comércio de lã açúcar de beterraba e aguardente6 Do mesmo modo que o padre e o senhor feudal marcharam sempre de mãos dadas o socialismo clerical marcha lado a lado com o socialismo feudal Nada é mais fácil que recobrir o ascetismo cristão com um verniz socialista O cristianismo também não se ergueu contra a propriedade privada o matrimônio o Estado E em seu lugar não pregou a caridade e a pobreza o celibato e a mortificação da carne a vida monástica e a Igreja O socialismo cristão não passa da água benta com que o padre abençoa o desfeito da aristocracia b O socialismo pequenoburguês A aristocracia feudal não é a única classe arruinada pela burguesia não é a única classe cujas condições de existência se atrofiam e perecem na sociedade burguesa moderna Os pequenos burgueses e os pequenos camponeses da Idade Média foram os precursores da burguesia moderna Nos países onde o comércio e a indústria são pouco desenvolvidos esta classe continua a vegetar ao lado da burguesia em ascensão Nos países onde a civilização moderna está florescente formase uma nova classe de pequenos burgueses que oscila entre o proletariado e a burguesia fração complementar da sociedade burguesa reconstituindose sempre como os membros dessa classe no entanto se vêem constantemente precipitados no proletariado devido à concorrência e com a marcha progressiva da grande indústria sentem aproximarse o momento em que desaparecerão completamente como fração independente da sociedade moderna e em que serão substituídos no comércio na manufatura e na agricultura por supervisores capatazes e empregados Em países como a França onde os camponeses constituem bem mais da metade da população era natural que os escritores que se batiam pelo proletariado e contra a burguesia aplicassem à sua crítica do regime burguês critérios do pequeno burguês e do pequeno camponês e defendessem a causa operária do ponto de vista da pequena burguesia Desse modo se formou o socialismo pequenoburguês Sismondi é o chefe dessa literatura não somente na França mas também na Inglaterra Esse socialismo dissecou com muita perspicácia as contradições inerentes às modernas relações de produção Pôs a nu as hipócritas apologias dos economistas Demonstrou de um modo irrefutável os efeitos mortíferos das máquinas e da divisão do trabalho da concentração dos capitais e da propriedade territorial a superprodução as crises a decadência inevitável dos pequenos burgueses e pequenos camponeses a miséria do proletariado a anarquia na produção a clamorosa desproporção na distribuição das riquezas a guerra industrial e extermínio entre as nações a dissolução dos velhos costumes das velhas relações de família das velhas nacionalidades Quanto ao seu conteúdo positivo porém o socialismo pequeno burguês quer ou restabelecer os antigos meios de produção e de troca e com eles as antigas relações de propriedade e toda a antiga sociedade ou então fazer entrar à força os meios modernos de produção e de troca no quadro estreito das antigas relações de propriedade que foram destruídas e necessariamente despedaçadas por eles Num e noutro caso esse socialismo é ao mesmo tempo reacionário e utópico Sistema corporativo na manufatura e economia patriarcal no campo eis suas últimas palavras Por fim quando os obstinados fatos históricos dissiparamlhe a embriaguez essa escola socialista abandonouse a uma covarde ressaca c O socialismo alemão ou o verdadeiro socialismo A literatura socialista e comunista da França nascida sob a pressão de uma burguesia dominante e expressão literária da revolta contra esse domínio foi introduzida na Alemanha quando a burguesia começava a sua luta contra o absolutismo feudal Filósofos semifilósofos e impostores alemães lançaramse avidamente sobre essa literatura mas esqueceramse de que com a importação da literatura francesa na Alemanha não eram importadas ao mesmo tempo as condições de vida da França Nas condições alemãs a literatura francesa perdeu toda a significação prática imediata e tomou um caráter puramente literário Aparecia apenas como especulação ociosa sobre a realização da essência humana Assim as reivindicações da primeira revolução francesa só eram para os filósofos alemães do século XVIII as reivindicações da razão prática em geral e a manifestação da vontade dos burgueses revolucionários da França não expressava a seus olhos senão as leis da vontade pura da vontade tal como deve ser da vontade verdadeiramente humana O trabalho dos literatos alemães limitouse a colocar as idéias francesas em harmonia com a sua velha consciência filosófica ou melhor a apropriarse das idéias francesas sem abandonar seu próprio ponto de vista filosófico Apropriaramse delas da mesma forma com que se assimila uma língua estrangeira pela tradução Sabese que os monges escreveram hagiografias católicas insípidas sobre os manuscritos em que estavam registradas as obras clássicas da antiguidade pagã Os literatos alemães agiram em sentido inverso a respeito da literatura francesa profana Introduziram suas insanidades filosóficas no original francês Por exemplo sob a crítica francesa das funções do dinheiro escreveram alienação da essência humana sob a crítica francesa do Estado burguês escreveram superação do domínio da universalidade abstrata e assim por diante A esta interpolação do palavreado filosófico nas teorias francesas deram o nome de filosofia da ação verdadeiro socialismo ciência alemã do socialismo justificação filosófica do socialismo etc Desse modo emascularam completamente a literatura socialista e comunista francesa E como nas mãos dos alemães essa literatura tinha deixado de ser a expressão da luta de uma classe contra outra eles se felicitaram por teremse elevado acima da estreiteza francesa e terem defendido não verdadeiras necessidades mas a necessidade da verdade não os interesses do proletário mas os interesses do ser humano do homem em geral do homem que não pertence a nenhuma classe nem à realidade alguma e que só existe no céu brumoso da fantasia filosófica Esse socialismo alemão que levava tão solenemente a sério seus canhestros exercícios de escolar e que os apregoava tão charlatanescamente foi perdendo pouco a pouco sua inocência pedante A luta da burguesia alemã e especialmente da burguesia prussiana contra os feudais e a monarquia absoluta numa palavra o movimento liberal tornouse mais séria Desse modo apresentouse ao verdadeiro socialismo a tão desejada oportunidade de contrapor ao movimento político as reivindicações socialistas de lançar os anátemas tradicionais contra o liberalismo o regime representativo a concorrência burguesa a liberdade burguesa de imprensa o direito burguês a liberdade e a igualdade burguesas de pregar às massas que nada tinham a ganhar mas pelo contrário tudo a perder nesse movimento burguês O socialismo alemão esqueceu bem a propósito que a crítica francesa da qual era o eco monótono pressupunha a sociedade burguesa moderna com as condições materiais de existência que lhe correspondem e uma constituição política adequada precisamente as coisas que na Alemanha estava ainda por conquistar Esse socialismo serviu de espantalho para amedrontar a burguesia ameaçadoramente ascendente aos governos absolutos da Alemanha com seu cortejo de padres pedagogos fidalgos rurais e burocratas Juntou sua hipocrisia adocicada aos tiros de fuzil e às chicotadas com que esses mesmos governos respondiam aos levantes dos operários alemães Se o verdadeiro socialismo se tornou assim uma arma nas mãos dos governos contra a burguesia alemã representou também diretamente mato reduzido da nova Jerusalém e para dar realidade a todos esses castelos no ar vêemse obrigados a apelar para os bons sentimentos e os cofres dos filantropos burgueses Pouco a pouco caem na categoria dos socialistas reacionários ou conservadores descritos anteriormente e só se distinguem deles por um pedantismo mais sistemático uma fé supersticiosa e fanática nos efeitos miraculosos de sua ciência social Por isso se opõem com exasperação a qualquer ação política da classe operária porque em sua opinião tal ação só poderia decorrer de uma descrença cega no novo evangelho Desse modo os owenistas na Inglaterra e os fourieristas na França reagem respectivamente contra os cartistas e os reformistas IV Posição dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição O que já dissemos no capítulo II basta para determinar a relação dos comunistas com os partidos operários já constituídos e por conseguinte sua relação com os cartistas na Inglaterra e os reformadores agrários na América do Norte Os comunistas lutam pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária mas ao mesmo tempo defendem e representam no movimento atual o futuro do movimento Aliamse na França ao partido socialdemocrata9 contra a burguesia conservadora e radical reservandose o direito de criticar a fraseologia e as ilusões legadas pela tradição revolucionária Na Suíça apóiam os radicais sem esquecer que esse partido se compõe de elementos contraditórios em parte socialistas democráticos no sentido francês da palavra em parte burgueses radicais Democratas republicanos e socialistas pequenoburgueses partidários do jornal francês La Réforme 18431850 Defendiam a instauração da república e a realização de reformas democráticas e sociais 9 Esse partido era representado no Parlamento por LedruRollin na literatura por Louis Blanc 181182 na imprensa pelo Réforme O nome socialdemocracia significava para aqueles que o criavam a parte do Partido Democrático ou Republicano com tendências mais ou menos socialistas Nota de F Engels à edição inglesa de 1888 Na Polônia os comunistas apóiam o partido que vê numa revolução agrária a condição da libertação nacional o partido que desencadeou a insurreição de Cracóvia em 1846 Na Alemanha o Partido Comunista luta junto com a burguesia todas as vezes que esta age revolucionariamente contra a monarquia absoluta a propriedade rural feudal e a pequena burguesia Mas em nenhum momento esse Partido se descuida de despertar nos operários uma consciência clara e nítida do violento antagonismo que existe entre a burguesia e o proletariado para que na hora precisa os operários alemães saibam converter as condições sociais e políticas criadas pelo regime burguês em outras tantas armas contra a burguesia para que logo após terem sido destruídas as classes reacionárias da Alemanha possa ser travada a luta contra a própria burguesia É sobretudo para a Alemanha que se volta a atenção dos comunistas porque a Alemanha se encontra às vésperas de uma revolução burguesa e porque realizará essa revolução nas condições mais avançadas da civilização européia e com um proletariado infinitamente mais desenvolvido que o da Inglaterra no século XVII e o da França no século XVIII e por que a revolução burguesa alemã só poderá ser portanto o prelúdio imediato de uma revolução proletária Em resumo os comunistas apóiam em toda parte qualquer movimento revolucionário contra a ordem social e política existente Em todos estes movimentos colocam em destaque como questão fundamental a questão da propriedade qualquer que seja a forma mais ou menos desenvolvida de que esta se revista Finalmente os comunistas trabalham pela união e pelo entendimento dos partidos democráticos de todos os países Os comunistas se recusam a dissimular suas opiniões e seus fins Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução comunista Nela os proletários nada têm a perder a não ser os seus grilhões Têm um mundo a ganhar PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES UNIVOS Insurreição iniciada pelos democratas revolucionários poloneses Dembowski e outros em fevereiro de 1846 com o objetivo de conquistar a libertação nacional da Polônia Foi derrotada no começo de março de 1846 um interesse reacionário o interesse da pequena burguesia alemã A classe dos pequenos burgueses legada pelo século XVI e desde então renascendo sem cessar sob formas diversas constitui na Alemanha a verdadeira base social do regime estabelecido Mantêla é manter na Alemanha o regime estabelecido A supremacia industrial e política da burguesia ameaça a pequena burguesia de destruição de um lado pela concentração do capital de outro pelo desenvolvimento de um proletariado revolucionário O verdadeiro socialismo pareceu aos pequenos burgueses uma arma capaz de aniquilar esses dois inimigos Propagouse como uma epidemia A roupagem tecida com os fios imateriais da especulação bordada com as flores da retórica e banhada de orvalho sentimental essa roupagem na qual os socialistas alemães envolveram o miserável esqueleto das suas verdades eternas não fez senão ativar a venda de sua mercadoria entre aquele público Por seu lado o socialismo alemão compreendeu cada vez mais que sua vocação era ser o representante grandiloqüente dessa pequena burguesia Proclamou que a nação alemã era a nação modelo e o pequeno burguês alemão o homem modelo A todas as infâmias desse homem modelo atribuiu um sentido oculto um sentido superior e socialista que as tornava exatamente o contrário do que eram Foi conseqüente até o fim levantandose contra a tendência brutalmente destrutiva do comunismo declarando que pairava imparcialmente acima de todas as lutas de classes Com raras exceções todas as pretensas publicações socialistas ou comunistas que circulam na Alemanha pertencem a esta suja e debilitante literatura7 2 O socialismo conservador ou burguês Uma parte da burguesia procura remediar os males sociais para a existência da sociedade burguesa Nessa categoria enfileiramse os economistas os filantropos os humanitários os que se ocupam em melhorar a sorte da classe operária os organizadores de beneficências os protetores dos animais os fundadores das sociedades antialcoólicas enfim os reformadores de gabinete de toda categoria Esse socialismo burguês chegou até a ser elaborado em sistemas completos Como exemplo citemos a Filosofia da Miséria de Proudhon Os socialistas burgueses querem as condições de vida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que dela decorrem fatalmente Querem a sociedade atual mas eliminando os elementos que a revolucionam e dissolvem Querem a burguesia sem o proletariado A burguesia naturalmente concebe o mundo em que domina como o melhor dos mundos O socialismo burguês elabora em um sistema mais ou menos completo essa concepção consoladora Quando convida o proletariado a realizar esses sistemas e entrar na nova Jerusalém no fundo o que pretende é induzilo a manterse na sociedade atual desembaraçandose porém do ódio que sente por essa sociedade Uma segunda forma desse socialismo menos sistemática porém mais prática procura fazer com que os operários se afastem de qualquer movimento revolucionário demonstrandolhes que não será tal ou qual mudança política mas somente uma transformação das condições de vida material e das relações econômicas que poderá ser proveitosa para eles Por transformação das condições materiais de existência esse socialismo não compreende em absoluto a abolição das relações burguesas de produção que só é possível pela via revolucionária mas apenas reformas administrativas realizadas sobre a base das próprias relações de produção burguesas e que portanto não afetam as relações entre o capital e o trabalho assalariado servindo no melhor dos casos para diminuir os gastos da burguesia com sua dominação e simplificar o trabalho administrativo de seu Estado O socialismo burguês só atinge sua expressão correspondente quando se torna simples figura de retórica Livre comércio no interesse da classe operária Tarifas protetoras no interesse da classe operária Prisões celulares no interesse da classe operária Eis a última palavra do socialismo burguês a única pronunciada à sério O seu raciocínio se resume na frase os burgueses são burgueses no interesse da classe operária 3 O socialismo e o comunismo críticoutópicos Não se trata aqui da literatura que em todas as grandes revoluções modernas exprimiu as reivindicações do proletariado escritos de Babeuf etc As primeiras tentativas diretas do proletariado para fazer prevalecer seus próprios interesses de classe feitas numa época de agitação geral no período da derrubada da sociedade feudal fracassaram necessariamente não só por causa do estado embrionário do próprio proletariado como devido à ausência das condições materiais de sua emancipação condições que apenas surgem como produto da época burguesa A literatura revolucionária que acompanhava esses primeiros movimentos do proletariado teve forçosamente um conteúdo reacionário Preconizava um ascetismo geral e um grosseiro igualitarismo Os sistemas socialistas e comunistas propriamente ditos os de SaintSimon Fourier Owen etc aparecem no primeiro período da luta entre o proletariado e a burguesia período anteriormente descrito ver Burgueses e proletários Os fundadores desses sistemas compreendem bem o antagonismo das classes assim como a ação dos elementos dissolventes na própria sociedade dominante Mas não percebem no proletariado nenhuma iniciativa histórica nenhum movimento político que lhes seja peculiar Como o desenvolvimento dos antagonismos de classes acompanha o desenvolvimento da indústria não distinguem tampouco as condições materiais da emancipação do proletariado e põemse à procura de uma ciência social de leis sociais que permitam criar essas condições Substituem a atividade social por sua própria imaginação pessoal as condições históricas da emancipação por condições fantásticas a organização gradual e espontânea do proletariado em classe por uma organização da sociedade préfabricada por eles A história futura do mundo se resume para eles na propaganda e na execução prática de seus planos de organização social Todavia na confecção de seus planos têm a convicção de defender antes de tudo os interesses da classe operária como a classe mais sofredora A classe operária só existe para eles sob esse aspecto o de classe mais sofredora Mas a forma rudimentar da luta de classes e sua própria posição social os levam a considerarse muito acima de qualquer antagonismo de classe Desejam melhorar as condições materiais de vida de todos os membros da sociedade mesmo dos mais privilegiados Por isso não cessam de apelar indistintamente à sociedade inteira e de preferência à classe dominante Bastaria compreender seu sistema para reconhecêlo como o melhor plano possível para a melhor sociedade possível Rejeitam portanto toda ação política e sobretudo toda ação revolucionária procuram atingir seu objetivo por meios pacíficos e tentam abrir um caminho ao novo evangelho social pela força do exemplo com experiências em pequena escala e que naturalmente sempre fracassam Essa descrição fantástica da sociedade futura feita numa época em que o proletariado ainda pouco desenvolvido encara sua própria posição de um modo fantástico corresponde às primeiras aspirações instintivas dos operários a uma completa transformação da sociedade Mas as obras socialistas e comunistas encerram também elementos críticos Atacam todas as bases da sociedade existente Por isso fornecem em seu tempo materiais de grande valor para esclarecer os operários Suas proposições positivas sobre a sociedade futura tais como a supressão do contraste entre a cidade e o campo a abolição da família do lucro privado e do trabalho assalariado a proclamação da harmonia social e a transformação do Estado numa simples administração da produção todas essas propostas apenas exprimem o desaparecimento do antagonismo entre as classes antagonismo que mal começa e que esses autores somente conhecem em suas formas imprecisas Assim essas proposições têm ainda um sentido puramente utópico A importância do socialismo e do comunismo críticoutópicos está na razão inversa do seu desenvolvimento histórico À medida que a luta de classes se acentua e toma formas mais definidas a fantástica pressa de abstrairse dela essa fantástica oposição que lhe é feita perde qualquer valor prático qualquer justificacao teórica Por isso se em muitos aspectos os fundadores desses sistemas foram revolucionários as seitas formadas por seus discípulos formam sempre seitas reacionárias Aferramse às velhas concepções de seus mestres apesar do desenvolvimento histórico contínuo do proletariado Procuram portanto e nisto são conseqüentes atenuar a luta de classes e conciliar os antagonismos Continuam a sonhar com a realização experimental de suas utopias sociais instituição de falanstérios isolados criação de colônias no interior fundação de uma pequena Icária8 edição em for 8 Falanstérios eram colônias socialistas projetadas por Charles Fourier Icária era o nome dado por Cabet a seu país utópico e mais tarde à sua colônia comunista na América Nota de F Engels à edição inglesa de 1888 Colônias no interior home colonies era como Owen chamava as sociedades comunistasmodelo acrescentado por F Engels à edição alemã de 1890 PREFÁCIOS DE MARX E ENGELS Prefácio à edição alemã de 1872 A Liga dos Comunistas associação internacional de operários que nas condições de então só poderia ser secreta incumbiu os abaixo assinados por ocasião do congresso realizado em Londres em novembro de 1847 de escrever para fins de publicação um programa detalhado teórico e prático do partido Foi esta a origem do Manifesto que se segue cujo manuscrito foi enviado a Londres para impressão poucas semanas antes da revolução de fevereiro Primeiramente publicado em alemão teve pelo menos umas doze edições diferentes nessa língua na Alemanha na Inglaterra e na América do Norte Foi publicado em inglês pela primeira vez em 1850 no Red Republican de Londres traduzido pela Srta Helen Macfarlane e teve em 1871 pelo menos três traduções diferentes na América do Norte A primeira versão francesa foi publicada em Paris pouco antes da insurreição de junho de 1848 e recentemente no Le Socialiste de Nova York Há atualmente uma nova tradução sendo preparada Uma versão polonesa apareceu em Londres pouco depois da primeira edição alemã Uma tradução russa foi publicada em Genebra na década de 1860 Também para o dinamarquês foi traduzido pouco depois de sua primeira publicação Por mais que tenham mudado as condições nos últimos 25 anos os princípios gerais expressados nesse Manifesto conservam em seu conjunto toda a sua exatidão Em algumas partes certos detalhes devem ser melhorados Segundo o próprio Manifesto a aplicação prática dos princípios dependerá em todos os lugares e em todas as épocas das condições históricas vigentes e por isso não se deve atribuir importância demasiada às medidas revolucionárias propostas no final da seção II Hoje em dia esse trecho seria redigido Das últimas mencionadas apenas a tradução russa foi de fato encontrada 71 Marx e Engels de maneira diferente em muitos aspectos Em certos pormenores esse programa está antiquado levandose em conta o desenvolvimento colossal da indústria moderna desde 1848 os progressos correspondentes da organização da classe operária e a experiência prática adquirida primeiramente na revolução de fevereiro e mais ainda na Comuna de Paris onde coube ao proletariado pela primeira vez a posse do poder político durante quase dois meses A Comuna de Paris demonstrou especialmente que não basta que a classe trabalhadora se apodere da máquina estatal para fazêla servir a seus próprios finsver A Guerra Civil na França Manifesto do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores de 1871 onde essa idéia é mais desenvolvida Além do mais é evidente que a crítica da literatura socialista mostrase deficiente em relação ao presente porque só chega a 1847 as observações sobre as relações dos comunistas com os diferentes partidos de oposição seção IV embora em princípio corretas na prática estão desatualizadas pois a situação política modificouse totalmente e o desenvolvimento histórico fez desaparecer a maior parte dos partidos ali enumerados Entretanto o Manifesto tornouse um documento histórico que não nos cabe mais alterar Uma edição futura talvez apareça acompanhada de uma introdução que preencha a lacuna entre 1847 e os nossos dias a atual reimpressão foi inesperada demais para que tivéssemos tempo de escrevêla Karl Marx e Friedrich Engels Londres 24 de junho de 1872 Prefácio à edição russa de 1882 A primeira edição russa do Manifesto do Partido Comunista traduzida por Bakunin foi impressa em princípios da década de 1860 na tipografia do Kolokol Naquela época o Ocidente via nessa edição uma simples curiosidade literária Hoje em dia essa concepção seria impossível O campo limitado do movimento proletário daquele tempo dezembro de 1847 está expresso na última parte do Manifesto a posição dos comunistas em relação aos vários partidos de oposição nos diferentes países A Rússia e os Estados Unidos precisamente não foram mencionados Era a época em que a Rússia se constituía na última grande reserva da reação européia e em que os Estados Unidos absorviam o excedente das forças proletárias da Europa que para lá emigravam Ambos os países proviam a Europa de matériasprimas sendo ao mesmo tempo mercado para a venda de seus produtos industriais De uma maneira ou de outra eram portanto pilares da ordem européia vigente Que diferença hoje Foi justamente a imigração européia que possibilitou à América do Norte a produção agrícola em proporções gigantescas cuja concorrência está abalando os alicerces da propriedade rural européia a grande como a pequena Ao mesmo tempo deu aos Estados Unidos a oportunidade de explorar seus imensos recursos industriais com tal energia e em tais proporções que dentro em breve arruinarão o monopólio industrial da Europa ocidental especialmente o da Inglaterra Essas duas circunstâncias repercutem de maneira revolucionária na própria América do Norte Pouco a pouco a pequena e a média propriedade rural a base do regime político em sua totalidade sucumbe diante da competição das fazendas gigantescas ao mesmo tempo formamse pela primeira vez nas regiões industriais um numeroso proletariado e uma concentração fabulosa de capitais E a Rússia Durante a revolução de 184849 os príncipes e a burguesia europeus viam na intervenção russa a única maneira de escapar do proletariado que despertava O czar foi proclamado chefe da reação européia Hoje ele é em Gatchina prisioneiro de guerra da revolução e a Rússia forma a vanguarda da ação revolucionária na Europa O Manifesto Comunista tinha como tarefa a proclamação do desaparecimento próximo e inevitável da moderna propriedade burguesa Mas na Rússia vemos que ao lado do florescimento acelerado da velhacaria capitalista e da propriedade burguesa que começa a desenvolverse mais da metade das terras é possuída em comum pelos camponeses O problema agora é poderia a obshchina russa forma já muito deteriorada da antiga posse em comum da terra transformarse diretamente na propriedade comunista Ou ao contrário deveria primeiramente passar pelo mesmo processo de dissolução que constitui a evolução histórica do Ocidente Hoje em dia a única resposta possível é a seguinte se a revolução russa constituirse no sinal para a revolução proletária no Ocidente de modo que uma complemente a outra a atual propriedade comum da terra na Rússia poderá servir de ponto de partida para uma evolução comunista Karl Marx e Friedrich Engels Londres 21 de janeiro de 1882 Nunca foram confirmadas as afirmações de que o tradutor tenha sido Mikhail Bakunin e a impressão feita na tipografia do Kolokol jornal democráticorevolucionário editado em Genebra Comunidade rural aldeã 72 73 Marx e Engels Prefácios ao Manifesto Comunista Prefácio à edição alemã de 1883 Tenho infelizmente de assinar sozinho o prefácio à presente edição Marx o homem a quem toda a classe trabalhadora da Europa e da América deve mais serviços do que a qualquer outro jaz agora no cemitério de Highgate e sobre seu túmulo já reverdece a primeira relva Depois de sua morte não se pode mais pensar em rever ou complementar o Manifesto Por isso considero ainda mais necessário lembrar expressamente o seguinte A idéia fundamental que percorre todo o Manifesto é a de que em cada época histórica a produção econômica e a estrutura social que dela necessariamente decorre constituem a base da história política e intelectual dessa época que conseqüentemente desde a dissolução do regime primitivo da propriedade comum da terra toda a História tem sido a história da luta de classes da luta entre explorados e exploradores entre as classes dominadas e as dominantes nos vários estágios da evolução social que essa luta porém atingiu um ponto em que a classe oprimida e explorada o proletariado não pode mais libertarse da classe que a explora e oprime a burguesia sem que ao mesmo tempo liberte para sempre toda sociedade da exploração da opressão e da luta de classes este pensamento fundamental pertence única e exclusivamente a Marx 1 Já afirmei isso diversas vezes mas exatamente agora é preciso que esta declaração se torne bem clara no frontispício do Manifesto Friedrich Engels Londres 28 de junho de 1883 Prefácio à edição inglesa de 1888 O Manifesto foi publicado como plataforma da Liga dos Comunistas associação de operários no princípio exclusivamente alemã e mais tarde internacional que nas condições políticas do continente anteriores a 1848 era inevitavelmente uma sociedade secreta No Congresso da Liga realizado em Londres em novembro de 1847 Marx e Engels foram incumbidos de escrever para fins de publicação um completo programa teórico e prático do partido Redigido em alemão em janeiro de 1848 o manuscrito foi enviado ao editor de Londres poucas semanas antes da revolução francesa de 24 de fevereiro Uma tradução francesa apareceu em Paris pouco antes da insurreição de junho de 1848 A primeira tradução inglesa da Srta Helen Macfarlane foi publicada no Red Republican de George Julian Harney Londres 1850 Também foi publicado em dinamarquês e polonês A derrota da insurreição parisiense de junho de 1848 a primeira grande batalha entre o proletariado e a burguesia colocou novamente em um segundo plano as aspirações sociais e políticas do operariado europeu A partir de então a luta pela supremacia voltou a ser como o fora antes da revolução de fevereiro simplesmente uma luta entre diferentes camadas da classe proprietária a classe operária foi levada a limitarse a uma luta pela conquista de espaços políticos assumindo posições da ala extrema dos radicais da classe média Onde quer que o movimento proletário independente manifestasse sinais de vida era logo impiedosamente esmagado A polícia prussiana descobriu o Comitê Central da Liga dos Comunistas então sediado em Colônia Seus membros foram presos e após dezoito meses de encarceramento julgados em outubro de 1852 O célebre Processo Comunista de Colônia estendeuse de 4 de outubro a 12 de novembro sete prisioneiros foram condenados a penas que variavam entre 3 e 6 anos de prisão numa fortaleza Imediatamente após a sentença a Liga foi formalmente dissolvida pelos membros remanescentes Quanto ao Manifesto este parecia ficar a partir de então relegado ao esquecimento Quando os operários europeus reuniram forças suficientes para um novo assalto ao poder das classes dirigentes surgiu a Associação Internacional dos Trabalhadores Seu objetivo era englobar num único e poderoso exército todo o operariado militante da Europa e da América Portanto não poderia partir dos princípios expressos no Manifesto Devia ter um programa que não fechasse as portas às Trades Unions inglesas aos proudhonistas franceses belgas italianos e espanholós ou aos lassalleanos2 alemães Este programa as considerações básicas da In 1 Sobre este pensamento escrevi no prefácio da tradução inglesa de 1888 Pouco a pouco vários anos antes de 1845 fomos elaborando essa idéia que em minha opinião será para a História o que foi para a Biologia a teoria de Darwin O meu livro A Situação da Classe Operária na Inglaterra revela até onde fui autonomamente nessa direção Mas quando reencontrei Marx em Bruxelas na primavera de 1845 ele já a elaborara completamente expondoa diante de mim em termos quase tão claros quanto os que expressei aqui Nota de Engels à edição alemã de 1890 2 Perante nós pessoalmente Lassalle sempre se reconheceu como sendo discípulo de Marx e como tal situavase no terreno do Manifesto Mas na sua agitação pública de 18621864 ele não foi além da reivindicação de oficinas cooperativas sustentadas por crédito estatal Nota de Engels 74 75 ternacional foi redigido por Marx com maestria reconhecida até por Bakunin e pelos anarquistas Para o triunfo decisivo das idéias formuladas pelo Manifesto Marx dependia unicamente do desenvolvimento intelectual da classe operária o qual deveria resultar da unidade da ação e da discussão Os acontecimentos e as vicissitudes da luta contra o capital as derrotas maiores que as vitórias poderiam apenas mostrar aos combatentes a insuficiência de todas as panacéias em que acreditavam fazendoos compreender melhor as verdadeiras condições da emancipação da classe operária E Marx tinha razão A classe trabalhadora de 1874 por ocasião da dissolução da Internacional era em geral diferente da de 1864 quando da sua fundação O proudhonismo do países latinos e o lassallsmo propriamente dito na Alemanha estavam desaparecendo e até mesmo as Trades Unions inglesas então ultraconservadoras se aproximaram pouco a pouco daquilo que em 1887 o presidente do seu Congresso de Swansea dizia O socialismo continental não mais nos aterroriza Mas por essa época o socialismo continental confundiase quase que exclusivamente com a teoria formulada no Manifesto Assim o Manifesto propriamente dito tomou novamente a dianteira Desde 1850 o texto alemão fora editado várias vezes na Suíça na Inglaterra e na América do Norte Em 1872 foi traduzido para o inglês em Nova York sendo publicado no Woodhull and Claflins Weekly Da versão inglesa foi feita a francesa que surgiu no Le Socialiste de Nova York Desde então publicaramse mais duas traduções inglesas na América mais ou menos incompletas e uma delas foi editada na Inglaterra A primeira tradução russa de autoria de Bakunin foi publicada na gráfica Kolokol de Herzen em Genebra por volta de 1863 a segunda pela heróica Vera Zasúlitch também foi publicada em Genebra em 1882 Encontrase uma edição dinamarquesa de 1885 no Socialdemokratisk Bibliothek de Copenhague e uma francesa no Le Socialiste de 1886 em Paris Dessa última publicouse uma versão espanhola em 1886 em Madri Perdeuse a conta das edições alemãs houve pelo menos doze delas Eu soube que uma tradução armênia que deveria ser publicada em Constantinopla há alguns anos atrás não se verificou porque o editor teve medo de publicar um livro O tradutor foi na verdade George Plekhánov 18561918 Engels reconheceria este erro em um artigo no Soziales aus Russiand em 1894 Nesta edição os erros da primeira tradução atribuída por Marx e Engels a Bakunin foram eliminados e com ela iniciouse uma ampla difusão das idéias do Manifesto na Rússia 40 que levasse o nome de Marx e o tradutor recusou divulgála como obra sua Já ouvi falar de outras traduções em outras línguas embora não as tenha visto Portanto a história do Manifesto reflete em grande parte a história do movimento operário moderno atualmente é sem dúvida a obra de maior circulação a mais internacional de toda a literatura socialista o programa comum adotado por milhões de trabalhadores da Sibéria à Califórnia No entanto quando surgiu não poderíamos chamálo um manifesto socialista Em 1847 consideravamse socialistas dois tipos diversos de pessoas De um lado havia os adeptos dos vários sistemas utópicos principalmente os owenistas na Inglaterra e os fourieristas na França ambos já reduzidos a meras seitas agonizantes De outro os vários gêneros de curandeiros sociais que queriam eliminar por meio de suas várias panacéias e com todas as espécies de cataplasma as misérias sociais sem tocar no capital e no lucro Nos dois casos eram pessoas que não pertenciam ao movimento dos trabalhadores preferindo apoiarse nas classes cultas Em contrapartida o setor da classe trabalhadora que exigia uma transformação radical da sociedade convencido de que revoluções meramente políticas eram insuficientes denominavase então comunista Tratavase ainda de um comunismo mal esboçado instintivo e por vezes grosseiro Mas era bastante poderoso para dar origem a dois sistemas de comunismo utópico na França o icariano de Cabet e na Alemanha o de Weitling Em 1847 o socialismo significava um movimento burguês e o comunismo um movimento da classe trabalhadora Ao menos no continente o socialismo era muito bem considerado enquanto o comunismo era o oposto E como desde então éramos decididamente da opinião de que a emancipação dos trabalhadores deve ser obra da própria classe trabalhadora não podíamos hesitar entre os dois nomes a escolher Posteriormente nunca pensamos em modificálo Sendo o Manifesto nossa obra comum cabese declarar que a proposição fundamental pertence a Marx Essa proposição é a de que em cada época histórica a produção econômica o sistema de trocas e a estrutura social que dela necessariamente decorre constituem a base e a explicação da história política e intelectual dessa época que conseqüentemente desde a dissolução do regime primitivo de propriedade comum da terra toda a história da humanidade tem sido a história da luta de classes conflitos entre explorados e exploradores entre as classes dominadas e as dominantes que a história dessas lutas de classes se constitui de uma série de etapas atingindo hoje um ponto em que a classe oprimida e explorada o proletariado 41 não pode mais libertarse da classe que explora e oprime a burguesia sem que ao mesmo tempo liberte de uma vez por todas toda a sociedade da exploração da opressão do sistema de classes e da luta entre elas Pouco a pouco vários anos antes de 1845 fomos elaborando essa idéia que em minha opinião será para a História o que foi para a Biologia a teoria de Darwin O meu livro A Situação da Classe Operária na Inglaterra3 revela até onde fui nessa direção Mas quando reencontrei Marx em Bruxelas na primavera de 1845 ele já a elaborara completamente expondoa diante de mim mais ou menos tão claramente como fiz aqui Do nosso prefácio comum à edição alemã de 1872 cito o seguinte Engels transcreve aqui o segundo parágrafo e a primeira frase do terceiro do referido prefácio A presente tradução é de Samuel Moore o tradutor da maior parte de O Capital de Marx Fizemos a revisão juntos e acrescentei algumas notas com explicações históricas Friedrich Engels Londres 30 de janeiro de 1888 Prefácio à edição alemã de 1890 Após o que foi escrito além da necessidade de uma nova edição alemã surgiram vários fatos que merecem ser lembrados aqui Uma segunda tradução russa por Vera Zasúlitch apareceu em Genebra em 1882 seu prefácio foi escrito por Marx e por mim Infelizmente perdi o manuscrito original alemão tenho portanto que retraduzir do russo o que de maneira alguma é favorável ao texto Aqui Engels reproduz com pequenas alterações o prefácio escrito para a edição russa de 1882 Mais ou menos na mesma época surgiu em Genebra uma nova versão polonesa Manifest Kommunistczny Mais tarde apareceu uma nova tradução dinamarquesa no Socialdemokratisk Bibliothek de Copenhague 1885 Infelizmente não está completa algumas passagens essenciais que ao que parece estavam dando muito trabalho ao tradutor foram omitidas e há também alguns sinais de descuido os quais se tornam ainda mais desagradavelmente evidentes quando se percebe que o tradutor teria feito um excelente trabalho se tivesse se esforçado um pouco mais Apareceu uma nova versão francesa em 1886 no Le Socialiste de Paris esta aliás é a melhor edição até agora Uma versão espanhola dessa última foi publicada no mesmo ano no El Socialista de Madri aparecendo depois sob forma de opúsculo Manifesto del Partido Comunista por Carlos Marx y F Engels Madri Administración El socialista Hernán Cortés 8 Como curiosidade posso acrescentar que o manuscrito de uma tradução espanhola foi apresentado a um editor em Constantinopla Mas o bom homem não teve coragem de publicar algo que levasse o nome de Marx sugerindo que o tradutor pusesse seu próprio nome como autor da obra o que ele recusou Depois que várias das pouco exatas traduções americanas foram repetidamente editadas na Inglaterra uma versão autêntica apareceu finalmente em 1888 graças a meu amigo Samuel Moore nós a repassamos juntos antes de enviála à editora É intitulada Manifesto of the Communist Party de Karl Marx e Friedrich Engels tradução inglesa autorizada editada com observações de Friedrich Engels 1888 Londres William Reeves 185 Fleet Street E C Reproduzi algumas notas dessa edição na atual O Manifesto tem sua própria história Saudado com entusiasmo por ocasião de seu aparecimento pela vanguarda então pouco numerosa do socialismo científico como o provam as traduções mencionadas no primeiro prefácio foi logo colocado num segundo plano pela reação que se seguiu à derrota dos operários em Paris em junho de 1848 e proscrito pela lei com a condenação dos comunistas de Colônia em novembro de 1852 Com o desaparecimento da cena pública do movimento operário que começara com a revolução de fevereiro também o Manifesto passou a um segundo plano Aqui Engels praticamente transcreve o terceiro e o quinto parágrafos do prefácio à edição inglesa de 1888 Proletários de todos os países univos Somente algumas vozes responderam quando lançamos essas palavras ao mundo há 42 anos às vésperas da primeira revolução de Paris na qual o proletariado colocou as suas reivindicações Em 28 de setembro de 1864 entretanto os proletários da maior parte dos países da Europa ocidental reuniramse na Associação Internacional dos Trabalhadores de gloriosa memória É verdade que a Internacional em si só viveu nove anos Mas não há testemunho melhor do que o dia de hoje de que a eterna união dos proletários de todos os países por ela criada existe ainda e está mais poderosa do que nunca Hoje quando escrevo essas linhas o proletariado europeu e o americano passam em revista suas forças de combate pela primeira vez mobilizados em um único exército sob uma única bandeira por um único objetivo imediato a fixação legal da jornada normal de oito horas de trabalho segundo decisão do Congresso Internacional reunido em Genebra em 1866 e do Congresso Operário de Paris reunido em 1889 O espetáculo de hoje mostrará aos capitalistas e proprietários agrícolas de todos os países que de fato os proletários de todos os países estão unidos Se ao menos Marx estivesse a meu lado para ver isso com seus próprios olhos Friedrich Engels Londres 1º de maio de 1890 Prefácio à edição polonesa de 1892 O fato de se ter tornado necessária uma nova edição polonesa do Manifesto Comunista dá ensejo a várias considerações Primeiro é digno de nota que o Manifesto nos últimos tempos se tenha em certa medida tornado um barômetro do desenvolvimento da grande indústria no continente europeu Na medida em que se expande num país a grande indústria cresce também entre os operários desse país o desejo de esclarecimento sobre a sua posição como classe operária perante as classes possuidoras alargase entre eles o movimento socialista e aumenta a procura do Manifesto De modo que não só a situação do movimento operário mas também o grau de desenvolvimento da grande indústria podem ser medidas com bastante exatidão em todos os países pelo número de exemplares do Manifesto que circulam no idioma de cada um Assim a nova edição polonesa indica um progresso decidido da indústria local E que este progresso de fato se verificou desde a última edição publicada há dez anos não pode haver dúvidas A Polônia russa a Polônia do Congresso de Viena tornouse o grande distrito industrial do Império Russo Ao passo que a grande indústria russa está esporadicamente dispersa uma parte no golfo da Finlândia outra parte no centro Moscou e Vladimir uma terceira nas costas do Mar Negro e do Mar de Azov e ainda repartida por outras zonas a polonesa está concentrada num espaço relativamente pequeno e desfruta das vantagens e das desvantagens resultantes desta concentração As vantagens reconheceramnas os fabricantes russos seus concorrentes quando reclamaram proteção alfandegária contra a Polônia apesar do seu ardente desejo de transformar os polacos em russos As desvantagens para os fabricantes poloneses e para o governo russo revelamse na rápida difusão de idéias socialistas entre os operários poloneses e na crescente procura do Manifesto Mas o rápido desenvolvimento da indústria polonesa que deixa para trás a russa é uma nova prova da vitalidade inesgotável do povo polonês e uma nova garantia da iminência da sua restauração nacional A restauração de uma Polônia forte e independente porém é uma causa que não diz respeito só aos poloneses diz respeito a todos Uma colaboração internacional sincera das nações européias só é possível se cada uma destas nações for em sua casa perfeitamente autônoma A revolução de 1848 que sob o estandarte do proletariado acabou por apenas deixar que os combatentes proletários fizessem o trabalho da burguesia também impôs a independência da Itália da Alemanha e da Hungria por meio dos seus executores testamentários Louis Bonaparte e Bismarck mas a Polônia que desde 1792 fez mais pela revolução do que estas três juntas deixaramna entregue a si própria quando em 1863 sucumbiu ao poderio russo dez vezes superior A nobreza não pôde manter nem reconquistar a independência da Polônia para a burguesia esta é hoje pelo menos indiferente E contudo é uma necessidade para a cooperação harmoniosa das nações européias Só o jovem proletariado polonês a pode conquistar e nas suas mãos ela estará bem guardada Pois os operários de todo o resto da Europa precisam tanto da independência da Polônia como os próprios operários poloneses Friedrich Engels Londres 10 de fevereiro de 1892 Prefácio à edição italiana de 1893 Ao leitor italiano A publicação do Manifesto do Partido Comunista coincidiu podese dizer com o 18 de Março de 1848 o dia das revoluções de Milão e Berlim Ao leitor italiano foi o título introduzido pelo tradutor Filippo Turadi do prefácio de Engels que foram levantamentos armados das duas nações situadas no centro uma do continente da Europa a outra do Mediterrâneo duas nações até então enfraquecidas pela divisão e pela discórdia internas e que por isso caíram sob o domínio estrangeiro Se a Itália ficava sujeita ao imperador da Áustria a Alemanha sofria o jugo indireto mas não menos efetivo do czar de todas as Rússias As consequências do 18 de Março de 1848 libertaram tanto a Itália como a Alemanha desta vergonha se de 1848 a 1871 estas duas grandes nações foram reconstituídas e de certo modo devolvidas a si próprias isso deveuse como Karl Marx costumava dizer ao fato de que os homens que abateram a revolução de 1848 foram malgrado seu os seus executores testamentários Por toda a parte a revolução de então foi obra da classe operária foi esta que levantou as barricadas e que pagou com a vida Mas só os operários de Paris tinham a intenção bem definida de derrubando o governo derrubar o regime da burguesia Mas embora profundamente conscientes do antagonismo fatal que existia entre a sua própria classe e a burguesia nem o progresso econômico do país nem o desenvolvimento intelectual das massas operárias francesas contudo tinham atingido ainda o grau que teria tornado possível uma reconstrução social Em última análise portanto os frutos da revolução foram colhidos pela classe capitalista Nos outros países na Itália na Alemanha na Áustria os operários desde o princípio não fizeram mais do que levar a burguesia ao poder Mas em qualquer país o domínio da burguesia é impossível sem a independência nacional Por isso a revolução de 1848 tinha de arrastar consigo a unidade e a autonomia das nações que até então não as tinham desfrutado a Itália a Alemanha a Hungria A vez da Polônia chegará em seu tempo Assim se a revolução de 1848 não foi uma revolução socialista aplanou o caminho preparou o terreno para ela Com o impulso dado em todos os países à grande indústria o regime burguês tem criado por toda a parte nos últimos 45 anos um proletariado numeroso concentrado e forte Criou assim segundo a expressão do Manifesto os seus próprios coveiros Sem restituir a cada nação européia a sua autonomia e unidade não poderiam consumarse nem a união internacional do proletariado nem a cooperação pacífica e inteligente destas nações para fins comuns Imaginese uma ação internacional conjunta dos operários italianos húngaros alemães poloneses e russos nas condições políticas anteriores a 1848 As batalhas travadas em 1848 não foram pois travadas em vão os 45 anos que nos separam daquela etapa revolucionária também não passaram em vão Os frutos amadurecem e tudo o que eu desejo é que a publicação desta tradução italiana do Manifesto seja de tão bom augúrio para a vitória do proletariado italiano como a publicação do original o foi para a revolução internacional O Manifesto Comunista presta plena justiça à ação revolucionária do capitalismo no passado A primeira nação capitalista foi a Itália O fim da Idade Média feudal o limiar da era capitalista moderna é assinalado por uma figura colossal um italiano Dante ao mesmo tempo o último poeta da Idade Média e o primeiro poeta dos tempos modernos Hoje como em 1300 perfilase uma nova era histórica Darnosá a Itália um novo Dante capaz de assinalar o nascimento dessa nova era a era proletária Friedrich Engels Londres 1º de fevereiro de 1893 Capa da edição alemã de 1872 com prefácio de Marx e Engels A edição russa de 1882 traduzida por G V plekhánov Capa da edição alemã de 1890 com prefácio de Engels Primeiro prefácio escrito por Engels após a morte de Marx 1883 Edição inglesa de 1888 a única de que Engels se ocupou pessoalmente Terceira edição polonesa impressa na Inglaterra em 1892 Edição italiana do Manifesto Comunista publicada em 1893 EM MEMÓRIA DO MANIFESTO COMUNISTA Antonio Labriola DAQUI A TRÊS anos nós socialistas poderemos comemorar nosso jubileu A memorável data da publicação do Manifesto Comunista fevereiro de 1848 marca nossa primeira e certa entrada na História A essa data se refere cada juízo cada apreciação nossa sobre os progressos que o proletariado vem fazendo neste meio século Nessa data se mede o percurso da nova era que desabrocha e surge ou melhor sendo por sua própria formação intimamente ligada e imanente à era presente por isso mesmo dela se desprende e a partir dela se desenvolve necessária e inelutavelmente quaisquer que sejam as vicissitudes e as fases que venha a enfrentar por ora certamente imprevisíveis Todos os que entre nós têm urgência e necessidade de possuir a plena consciência do próprio trabalho muitas vezes voltam o pensamento para as causas e para os movimentos que determinaram a gênese do Manifesto naquelas circunstâncias precisas em que ele surgiu ou seja às vésperas da revolução que explodiu de Paris a Viena de Palermo a Berlim Somente por esta via nós é possível extrair da própria forma social em que hoje vivemos a explicação da tendência ao socialismo E assim justificar pela própria presente razão de ser de tal tendência a necessidade de seu efetivo triunfo cujo presságio externamos diariamente Afinal não é este o cerne do Manifesto sua essência e seu caráter decisivo1 Na verdade seria vão procurálo nas medidas práticas que no final do capítulo segundo ali são sugeridas e propostas como adotáveis na eventua 1 Este meu escrito não é uma reelaboração do Manifesto como se eu quisesse adaptálo às condições presentes nem faço aqui sua análise ou comentário Escrevo como diz o título apenas em memória lidade de um sucesso revolucionário do proletariado ou nas indicações de orientação política com relação aos outros partidos revolucionários da época que se encontram no capítulo quarto Essas indicações e sugestões ainda que apreciáveis e notáveis no tempo em que foram formuladas e ditadas e além disso ainda que sejam sobretudo importantes para julgar de maneira precisa a ação política que os comunistas alemães desenvolveram no período revolucionário de 184850 hoje não mais constituem para nós um conjunto de visões práticas a partir das quais nos caiba decidir pró ou contra em cada caso e recorrência Do tempo da Internacional até hoje em vários países vieram se constituindo sobre a base do proletariado e em seu nome explícito e claro partidos políticos que tiveram e têm na medida em que surgem e depois se desenvolvem viva necessidade de adaptar e de conformar suas exigências e sua obra a contingências variadas e multiformes Mas nenhum desses partidos tem tal consciência de saberse agora tão próximo da ditadura do proletariado de sentir urgente a própria necessidade ou mesmo o desejo ou a tentação de rever e de avaliar as propostas do Manifesto no plano de uma verificação que pareça provável porque tida como próxima Na verdade os experimentos históricos são só aqueles que a própria História faz inesperadamente sem ser de propósito sem projeto e sem ordem explícita Assim aconteceu nos tempos da Comuna que foi e é permanece até hoje para nós o único experimento aproximativo da ação do proletariado ainda que confuso e de curta duração que tenha sido colocado frente à nova e dura prova de apoderarse do poder político Experimento esse que não foi feito de caso pensado nem a partir de um projeto mas acima de tudo foi imposto pelas circunstâncias e heroicamente sustentado e agora se converte para nós em sautar ensinamento Nesse caso onde o movimento socialista se encontra apenas na infância pode acontecer que em razão de experiência própria e direta um ou outro como acontece freqüentemente na Itália se apegue à autoridade de um texto como preceito Mas isso efetivamente não conta nada² Aquele cerne ou essência e caráter decisivo a meu ver também não deve ser procurado na orientação sobre outras formas de socialismo que no Manifesto são referidas pelo nome de Literatura Tudo o que é dito no capítulo terceiro sem dúvida serve para definir admiravelmente por meio de antítese e na forma de breves concisas e relevantes características as diferenças que efetivamente existem entre o comunismo que numa expressão infelizmente abusada por muitos hoje nos habituamos a chamar científico e outras formas Ou seja entre o comunismo que tem como tema central o proletariado e como argumento a revolução proletária e as formas reacionárias burguesas semiburguesas pequenoburguesas utópicas e outras Todas essas formas foram recorrentes se renovaram mais vezes recorrem e se renovam ainda hoje nos países em que o movimento proletário moderno mal se encontra no nascedouro Para esses países e em tais circunstâncias o Manifesto exerceu e ainda exerce o papel de crítica atual e de farpa literária Mas nos países onde essas formas já foram teórica e praticamente superadas como é em grande parte o caso da Alemanha e da Áustria ou onde elas sobrevivem só em estado sectário e subjetivo como já ocorre na França e na Inglaterra para não falar de outras tantas nações o Manifesto no que diz respeito a essa diferenciação já cumpriu seu papel E apenas registra como memória aquilo que não se pensa mais dada a ação política do proletariado que já se desenrola em seu processo normal e gradual Ora esta foi precisamente e à guisa de antecipação a disposição de ânimo e de mente daqueles que o escreveram Sobre aquilo que haviam superado com a força do pensamento o qual a partir de poucos mas claros dados de experiência antecipou com precisão os eventos eles exprimiam então apenas a exclusão e a condenação O comunismo crítico este é o seu verdadeiro nome e não existe outro mais exato para tal doutrina não compartilhava mais com os feudais a lembrança nostálgica da velha sociedade para depois contrapor a ela a crítica da sociedade presente pelo contrário olhava apenas para o futuro Não se associava mais aos pequenosburgueses no desejo de salvar o não salvável como por exemplo a pequena propriedade ou a vida pacata da gente humilde que a vertiginosa ação do estado moderno que é o órgão necessário e natural da sociedade atual torna grave e pesado apenas porque esse estado revolucionando continuamente traz em si e consigo a necessidade de outras novas revoluções Também não traduzia em fantasias metafísicas ou em reflexões de sentimento doentio ou de contemplação religiosa os contrastes reais dos interesses materiais da vida cotidiana ao contrário apresentava e expunha esses contrastes em toda sua trivialidade Não construía a sociedade do futuro a partir das linhas de um desenho em cada parte harmonicamente direcionado para o acabamento Não dirigia palavras de louvor e de exaltação ou de evoca ção e de lamento às duas deusas da mitologia filosófica a Justiça e a Igualdade Essas duas deusas hoje fazem triste figura na mísera prática da vida cotidiana quando se percebe como há tantos séculos a História se entrega ao indecente passatempo de contrariar seus infalíveis desígnios Por outro lado aqueles comunistas mesmo explicando e exibindo fatos com força de argumento e de prova que em nossa época os proletários estavam destinados a desempenhar o papel de coveiros da burguesia a ela prestavam homenagem enquanto autora de uma forma social que é em extensão e intensidade um estágio notável do progresso humano e que sozinha pode servir de arena às novas lutas que prometem êxito ao proletariado Nunca foi escrito necrológio de estilo tão monumental Esses louvores dirigidos à burguesia assumem certa forma original de humorismo trágico e para alguns parecem escritos com entonação de ditirambo Não obstante as definições negativas e antitéticas das outras formas de socialismo correntes então e até hoje freqüentemente recorrentes por serem incensuráveis na substância na forma e no objetivo a que visam não pretendem ser nem são a efetiva história do socialismo e não apresentam nem a pista nem o esquema dela se alguém quiser escrevêla Na verdade a História não se apóia sobre a diferença entre verdadeiro e falso ou justo e injusto menos ainda sobre a mais abstrata antítese entre possível e real como se as coisas permanecessem de um lado e tivessem do outro lado as próprias sombras e fantasmas nas idéias Ela está sempre toda de um lado e se apóia inteira sobre o processo de formação e transformação da sociedade o que pode ser percebido em sentido objetivo e independentemente de nossa aceitação ou repulsa Ela é uma dinâmica de gênero especial como convém dizer aos positivistas que tanto se deleitam com tais expressões e freqüentemente não vão além da própria nova palavra que põem em circulação Hoje elas várias formas de concepção de ação socialistas que apareceram e desapareceram no curso dos séculos com tantas diferenças nos motivos na fisionomia e nos efeitos são todas estudadas e explicadas pelas condições específicas e complexas da vida social em que se produziram Ao examinálas vêse que não constituem um único conjunto de processo contínuo porque a série foi muitas vezes interrompida pela mudança do complexo social pelo obscurecimento e pela ruptura da tradição Só no tempo da Grande Revolução o socialismo assume certa unidade de processo que se torna mais evidente de 1830 em diante com o definitivo advento da burguesia no domínio político na França e na Inglaterra e por último se torna intuitiva diria mesmo palpável da Internacional até os dias de hoje Nesta estrada neste caminho o Manifesto se ergue como grande marco da distância percorrida com dupla indicação por assim dizer para as duas direções De um lado está o incunábulo da nova doutrina que depois deu a volta ao mundo De outro está a orientação sobre as formas que ele exclui mas das quais não traz a exposição e o relato³ O cerne a essência o caráter decisivo deste escrito consiste inteiramente na nova concepção histórica que o fundamenta e que ele mesmo em parte explica e desenvolve quando não aponta refere ou apenas supõe Por essa concepção o comunismo cessando de ser esperança aspiração lembrança conjectura ou subterfúgio encontrava pela primeira vez a expressão adequada na consciência de sua própria necessidade isto é na consciência de ser o êxito e a solução das atuais lutas de classes Não se trata das lutas de classes de todos os tempos e lugares sobre as quais a História do passado se exericou e desenvolveu ao contrário todas elas perdem estatura e se reduzem predominantemente à luta entre burguesia capitalista e trabalhadores fatalmente proletarizados É desta luta que o Manifesto encontra a gênese determina o ritmo de evolução e prevê o efeito final Em tal concepção histórica está toda a doutrina do comunismo científico Deste ponto em diante os adversários teóricos do socialismo não são mais chamados a discutir a possibilidade abstrata da socialização democrática dos meios de produção⁴ como se disto fosse possível extraíremse ligações das atitudes gerais e comuníssimas da assim chamada natureza humana Ao contrário aqui se trata de reconhecer ou de não reconhecer no curso presente das coisas humanas uma necessidade que transcende cada simpatia e cada aprovação subjetiva nossa Nos países que mais pro grediram encontrase ou não a sociedade a ponto de alcançar o comunismo pelas leis imanentes à sua própria transformação dada sua atual estrutura econômica e considerando os atritos que ela por si e em si mesma necessariamente produz até romperse e dissolverse Este é o tema da discussão desde que tal doutrina apareceu E esta é conjuntamente a regra de conduta que se impõe à ação dos partidos socialistas sejam eles compostos unicamente por proletários ou acolham em suas fileiras homens saídos de outras classes que fazem papel de voluntários no exército do proletariado Por isso nós socialistas que de bom grado nos deixamos chamar científicos se não se tentar com tal epíteto confundirnos com os positivistas que são nossos hóspedes frequentes mas nem sempre bemaceitos e a seu bel prazer monopolizam a palavra ciência não lutamos para sustentar uma tese abstrata e genérica como se fôssemos causídicos ou sofistas nem nos apressamos em demonstrar a racionalidade de nossos objetivos Nossos objetivos são unicamente a expressão teórica e a explicação pacífica dos dados que nos oferece a interpretação do processo que se cumpre através de nós e em torno a nós e que está ínteiro nas relações objetivas da vida social da qual somos sujeito e objeto causa e efeito escopo e parte Nossos objetivos são racionais não porque se fundamentem em argumentos extraídos da razão da discussão mas porque são deduzidos da consideração objetiva das coisas o que equivale dizer que são deduzidos a partir da elucidação do seu processo que não é nem pode ser resultado de nosso arbítrio mas ao contrário vence e submete nosso arbítrio O manifesto dos comunistas por sua eficácia específica não pode ser substituído por nenhum dos escritos anteriores ou posteriores de seus próprios autores que por extensão e porte científico são tão maiores Todavia ele nos oferece em sua clássica simplicidade a expressão genuína desta situação o proletariado moderno é se coloca cresce e se desenvolve na História contemporânea como o sujeito concreto como a força positiva de cuja ação inevitavelmente revolucionária o comunismo deverá necessariamente resultar E por isso por tal enunciação de presságio teoricamente fundamentada e expressa em frases breves rápidas concisas e memoráveis este escrito constitui um conjunto ou mais ainda um viveiro inexaurível de gens de pensamento que o leitor pode indefinidamente fecundar e multiplicar conservando a força original e originária da coisa recémnascida e não ainda desenvolta e desviada do campo de sua própria produção Observação esta que se dirige principalmente àqueles que com a dialética tornavase capaz de abraçar e de compreender o movimento da História nas suas causas mais íntimas e até então inexploradas porque latentes e difíceis de destrinchar Ambos comunistas e revolucionários mas não por instinto nem por puro impulso ou paixão eles tinham quase elaborada toda uma nova crítica da ciência econômica e tinham incorporado o nexo e o significado histórico do movimento proletário do lado de cá e do lado de lá da Mancha ou seja da França e da Inglaterra antes mesmo que fossem chamados a ditar no Manifesto o programa e a doutrina da Liga dos Comunistas Sediada em Londres e com notáveis ramificações no continente a Liga construiria uma boa trajetória de vida e de desenvolvimento próprio através de fases diversas Dos dois Engels era já há algum tempo autor de um ensaio crítico que superando qualquer restrição subjetiva e unilateral pela primeira vez tirava objetivamente a crítica da economia política dos antagonismos inerentes aos enunciados e aos conceitos da própria economia depois alcançara a fama com um livro sobre a condição dos operários ingleses que é a primeira tentativa bem sucedida de representar os movimentos da classe operária como resultante do próprio jogo das forças e dos meios de produção6 O outro Marx tinha acumulado no breve correr dos anos a experiência de publicista radical na Alemanha e igualmente em Paris e Bruxelas a excogitação quase madura dos primeiros rudimentos da concepção materialista da História a crítica teórica e vitoriosa dos pressupostos e das lições da doutrina de Proudhon e a primeira elucidação precisa da origem do sobrevalor de compra e do uso da força de trabalho ou seja o primeiro germe das concepções cujas demonstrações reconexões e particularidades alcançaram a maturidade mais tarde no Capital Ambos ligados por muitas e várias vias de comunicação aos revolucionários dos vários países da Europa especialmente da França da Bélgica e da Inglaterra não compuseram o Manifesto como ensaio de opinião pessoal mas sobretudo como a doutrina de um partido que em seu âmbito estreito no ânimo nos intentos e na ação já era a primeira Internacional dos Trabalhadores Neste ponto começa o socialismo estritamente moderno Aqui está a linha divisória de todo o resto 6 Os Umrisse zu einer Kritik der Nationaloekonomie Apontamentos para uma Crítica da Economia Nacional foram publicados nos Deutsch Franzoesische Jahrbücher em Paris em 1844 pp 85114 O livro com o título Die Lage der arbeitenden Klasse in England A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra foi publicado em primeira edição em Leipzig em 1845 Publicado no Brasil pela Global 1986 49 A Liga dos Comunistas tornarase tal depois de ter sido Liga dos Justos e esta por sua vez por clara consciência de intentos proletários gradativamente se diferenciara da liga genérica dos prófugos isto é dos desgarrados Como modelo que traz em si em desenho quase embrionário a forma dos ulteriores movimentos socialistas e proletários ela atravessara as várias fases da conspiração e do socialismo igualitário Fora metafísica com Grün e utópica com Weitling Tendo sua sede principal em Londres aproximarase do movimento cartista refluindo em parte sobre ele em seu caráter intermitente por ser primeiro experimento e ponto premeditado por não ser mais conspiração ou seita esse movimento exemplificava a dura e penosa formação do partido verdadeiro e próprio da política proletária A tendência ao socialismo só alcançou a maturidade no Cartismo quando o movimento já estava próximo de fracassar e de fato fracassou Sois inesquecíveis Jones e Harney A Liga sentia o cheiro da revolução em toda parte porque a coisa estava no ar porque seu instinto e seu método de informação a levavam a isso e enquanto a revolução efetivamente estourava ela buscou na nova doutrina do Manifesto um instrumento de orientação que era ao mesmo tempo uma arma de combate Realmente internacional em parte pela qualidade e origem variada de seus membros mas bem mais ainda pelo instinto e pela vocação que todos eles tinham ela veio a assumir seu lugar no movimento geral da vida política como prenúncio claro e preciso de tudo o que hoje se pode chamar socialismo moderno se com a palavra moderno não se entender uma simples data de cronologia extrínseca mas diferentemente um sinal do processo interno ou seja morfológico da sociedade Uma longa intermissão de 1852 a 1864 o período da reação política e ao mesmo tempo do desaparecimento da dispersão e da reabsorção das velhas escolas socialistas separa a Internacional que mal começara com a Arbeiterbildungsverein em Londres da Internacional propriamente dita que de 1864 a 1873 tentou igualar pelas condições de luta as ações do proletariado na Europa e na América Outras intermissões teve a ação do proletariado sobretudo na Alemanha e especialmente na França da dissolução da Internacional de gloriosa memória até esta nova que hoje vive com outros meios e se desenvolve com outros modos todos de acordo com a situação política em que nos encontramos e com as sugestões de uma experiência mais larga e amadurecida Mas como os sobreviven Associação dos operários N da T 50 tes entre os que de novembro a dezembro de 1847 discutiram e aceitaram a nova doutrina reapareceram na cena pública da grande Internacional e reapareceram por último nesta nova doutrina também o Manifesto voltou continuamente à luz da publicidade fazendo de fato aquela volta ao mundo em todas as línguas dos países civilizados desígnio que seus autores haviam traçado desde o primeiro momento Esse é o verdadeiro prenúncio esses foram nossos verdadeiros precursores Mexeramse antes dos outros cedo com passo apressado mas firme exatamente naquele caminho que nós temos que percorrer e de fato estamos percorrendo Mas o nome de precursores não cai bem àqueles que percorreram caminhos que depois tenha sido conveniente abandonar ou seja para sair da metáfora àqueles que formularam doutrinas e iniciaram movimentos sem dúvida explicáveis pelos tempos e pelas circunstâncias em que nasceram mas que depois foram todos superados pela doutrina do comunismo crítico que é a teoria da revolução proletária Não é que essas doutrinas e tentativas tenham aparecido de modo acidental inútil e supérfluo Não há nada que seja absolutamente irracional no curso histórico dos acontecimentos porque nele não existe nada de imotivado e portanto meramente supérfluo Tampouco nos é possível nem mesmo hoje alcançar a consciência do comunismo crítico sem repassar mentalmente aquelas doutrinas percorrendo de novo o processo de seu aparecimento e desaparecimento O fato é que essas doutrinas não são passadas no tempo ou na memória mas foram intrinsecamente ultrapassadas tanto pela mudança da condição da sociedade quanto pelo progresso da inteligência das leis sobre as quais se apóiam sua formação e seu processo O momento em que se verifica tal passar que intrinsecamente é um ultrapassar é precisamente aquele em que aparece o Manifesto Como primeiro sinal da gênese do socialismo moderno este escrito que da nova doutrina apresenta apenas os traços mais gerais ou seja mais facilmente comunicáveis traz consigo os vestígios do terreno histórico em que nasceu o da França da Inglaterra e da Alemanha O terreno de propagação e difusão tornouse depois cada vez mais largo e hoje é tão vasto quanto o mundo civilizado Em todos os países onde a tendência ao comunismo veio sucessivamente se desenvolvendo através dos antagonismos variadamente posicionados e no entanto a cada dia mais claros entre burguesia e proletariado o processo da primeira formação continuou se repetindo em parte ou no todo Os partidos proletários que continuamente se constituíram voltaram a percorrer os estágios de formação que os pioneiros percorreram pela primeira vez entretanto tal processo se fez de país em país e de ano em ano cada vez mais breve tanto pelas crescentes evidência urgência e energia dos antagonismos quanto porque assimilar uma doutrina ou uma orientação é muito mais fácil que produzilas pela primeira vez Também por isso nossos colaboradores de cinqüenta anos atrás foram internacionais porque deram ao proletariado das várias nações com o próprio exemplo e experiência a pista antecipada e geral do trabalho a cumprir Mas a consciência teórica do socialismo está hoje como antes e como sempre estará na compreensão de sua necessidade histórica ou seja na consciência da forma de sua gênese e esta se reflete como campo restrito de observação e como exemplo conciso na própria formação do Manifesto Ele mesmo por colocarse como instrumento de luta não apresenta indícios aparentes de sua origem porque se exprime por um conteúdo de enunciados e não por um conjunto de demonstrações A demonstração está inteira no imperativo da necessidade Mas a formação pode ser toda refeita e hoje refazêla significa entendermos verdadeiramente a doutrina do Manifesto De fato há uma análise que separando abstratamente os fatores de um organismo os destrói enquanto elementos participantes da unidade do complexo Mas há outro tipo de análise e só essa tem valor para a compreensão da História é a que distingue e separa os elementos apenas para reconhecer a necessidade objetiva da participação deles no resultado Hoje é opinião popular que o socialismo é um fruto normal e portanto inevitável da História atual Sua ação política que por certo admite de agora em diante adiamentos e atrasos mas não mais reabsorção total e aniquilamento decididamente começou com a Internacional Por trás dela porém está o Manifesto Sua doutrina é acima de tudo a luz teórica levada ao movimento proletário o qual de resto se gerara e continua a gerarse independentemente da ação de qualquer doutrina Além disso ele é mais que essa luz O comunismo crítico só surge no momento em que o movimento proletário além de ser resultado de condições sociais já se fortaleceu a ponto de entender que essas condições são mutáveis e a ponto de perceber com que meios e em que sentido podem ser mudadas Não bastava que o socialismo fosse um resultado da História além disso era necessário entender como era tal resultado intrinsecamente e a que acontecimento conduzia sua agitação A expressão de tal consciência a saber o proletariado como resultado necessário da sociedade moderna traz em si a missão de suceder à burguesia de sucedêla como força produtora de uma nova ordem de convivência em que os antagonismos de classicional e ao qual se possa estar predisposto por vontade própria tornavase um processo a ser facilitado sustentado e secundado A revolução se tornava objeto de uma política cujas condições são dadas pela situação complexa da sociedade um resultado que o proletariado deve alcançar através de várias lutas e meios variados de organização ainda não cogitados pela velha tática das revoltas E isto porque o proletariado não é um acessório uma excrescência um mal eliminável desta sociedade em que vivemos mas é o seu substrato sua condição essencial seu efeito inevitável e por sua vez a causa que conserva e mantém viva a própria sociedade que não se pode emancipar senão emancipando tudo e todos ou seja revolucionando integralmente a forma de produção Como a Liga dos Justos se tornara Liga dos Comunistas despontandose das formas simbólicas e conspiratórias voltandose gradualmente para os meios da propaganda e da ação política algum tempo depois que a insurreição de Barbès e Blanqui fracassou 1839 assim a doutrina nova que a própria Liga aceitava e fazia sua superou definitivamente as idéias que guiavam a ação conspiratória e converteu em fim e resultado objetivo de um processo aquilo que os conspiradores pensavam que estivesse na ponta de um projeto deles ou que pudesse ser a emanação e o eflúvio de seu heroísmo E aqui está uma outra linha ascendente na ordem dos fatos uma outra conexão de conceitos e de doutrinas O comunismo conspiratório o blanquismo da época nos faz remontar através de Buonarroti e em parte através de Bazard e da Carbonária até chegar à conspiração de Babeuf que foi verdadeiro herói de tragédia antiga que tromba com o destino por ignorar a incongruência do próprio projeto com a condição econômica do tempo ainda não apta a pôr na cena política um proletariado munido de explícita consciência de classe De Babeuf através de alguns elementos menos conhecidos do período jacobino passando Boissel e Fauchet se remonta ao intuitivo Morelly e ao versátil e genial Mably e se assim se quiser até o caótico testamento do cura Meslier rebelião instintiva e violenta do bom senso contra a selvagem opressão do pobre camponês Foram todos igualitaristas esses precursores do socialismo violento protestatário conspiratório como também foram igualitaristas a maioria dos próprios conspiradores Por singular mas inevitável deslumbramento todos eles adotaram uma arma de combate mas interpretandoa e generalizandoa pelo avesso aquela mesma doutrina da igualdade que desenvolvida como direito natural paralelamente à formação da teoria eco nômica fora instrumento na mão da burguesia que conquistava gradualmente sua posição atual para converter a sociedade do privilégio na do liberalismo político e econômico e do código civil7 Por tal ligação imediata que no fundo era simples ilusão isto é por serem todos os homens naturalmente iguais eles teriam que ser iguais também nas posses acreditavase que o apelo à razão encerrasse em si cada elemento e força de persuasão e propaganda e que a rápida instantânea e violenta tomada de posse dos instrumentos exteriores do poder político fosse o único instrumento para trazer à ordem os renitentes Mas onde nasceram e como se regulam essas desigualdades que parecem tão irracionais à luz de um tão simples e simplista conceito de justiça O Manifesto surge como a negação decisiva do princípio de igualdade assim tão ingênua e toscamente compreendido No ato em que anuncia como inevitável a abolição das classes na futura forma de produção coletiva fala destas mesmas classes como um fato como são como nasceram e como se tornaram um fato que não é a exceção nem derroga a exceção a um princípio abstrato mas pelo contrário é o próprio processo da História Como o proletariado moderno pressupõe a burguesia esta não vive sem ele E um e outra são o resultado de um processo de formação que fundamenta tudo no modo de produzir os meios necessários à vida isto é tudo se fundamenta no modo da produção econômica A sociedade burguesa surgiu da sociedade corporativa e feudal e dela surgiu lutando e revolucionando o que tinha diante de si para apoderarse dos instrumentos e dos meios de produção que depois todos eles culminam na formação e no alargamento e na reprodução e multiplicação do capital Descrever a origem e o progresso da burguesia nas suas várias fases expor seus sucessos no desenvolvimento colossal da técnica e na conquista do mercado mundial indicar as conseqüentes transformações políticas que são a expressão de tais conquistas as defesas e o resultado significa fazer ao mesmo tempo a história do proletariado Este em sua condição atual é inerente à época da sociedade burguesa e teve e terá tantas e tantas fases quantas tem esta própria sociedade até sua dissolução O antagonismo 7 Proliferaram nestes últimos anos muitos juristas que procuraram nas correções ao Código Civil os meios práticos para elevar a condição do proletariado Mas porque não pedem ao Papa que assuma a chefia da Liga dos Livres pensadores Entre outros é notável o caso daquele escritor italiano que recentemente tratando da luta de classes pediu que ao lado do Código que garante os direitos do capital se elabore um outro que garanta os direitos do trabalho 100 52 entre ricos e pobres entre gozosos e sofridos opressores e oprimidos não é algum acontecimento acidental e facilmente removível como parecera aos entusiastas amantes da justiça Ao contrário é um fato de necessária correlação dado o princípio diretivo da atual forma de produção como aparece na necessidade do assalariado Esta necessidade é dúplice em si mesma O capital só pode apoderarse da produção proletarizandose e só pode continuar a existir a ser frutífero a acumularse a multiplicarse e a transformarse se assalariar os proletarizados E estes por sua vez só podem existir e renovarse entregandose como mercadoria como força de trabalho cujo uso é abandonado ao critério isto é às conveniências dos possuidores de capital A harmonia entre capital e trabalho está toda nisto o trabalho é a força viva com a qual os proletários continuamente põem em movimento e reproduzem com novo acréscimo o trabalho acumulado no capital Este nexo que é resultado de um desenvolvimento que é toda a essência íntima da História moderna propicia a chave para entender a nova razão da luta de classes da qual a concepção comunista se tornou auxílio e expressão é por outro lado feito de tal maneira que nenhum protesto do coração e do sentimento nenhuma argumentação de justiça pode resolvêlo ou desfazêlo Por tais razões aqui por mim apresentadas até onde espero com plausível popularidade o comunismo igualitário permanecia vencido A sua impotência prática era igual à sua incapacidade teórica de perceber as causas das injustiças ou seja das desigualdades que queria corajosa ou irrefletidamente sepultar e eliminar de repente A partir daí compreender a História se tornava a principal preocupação dos teóricos do comunismo E como se poderia contrapor à dura realidade da História um almejado e até mesmo perfeitíssimo ideal Nem se poderia afirmar que o comunismo seja o estado natural e necessário da vida humana de todos os tempos e lugares em relação ao qual todo o curso das formações históricas deve parecer uma série de desvios e de aberrações Nem que a ele se pode chegar ou se transformar por abnegação espartana e por resignação cristã Ele pode ser e efetivamente deve ser e será a conseqüência da dissolução desta nossa sociedade capitalista Mas nela a dissolução não pode ser inoculada artificialmente nem importada ab extra Ela se dissolverá pelo próprio peso diria Maquiavel Cairá como forma de produção que gera em si mesma a constante e progressiva rebelião das forças produtivas contra as relações jurídicas e políticas da produção e no entanto só continua a viver enquanto viver porque aumenta continuamente a concorrên ci a que gera as crises e estende vertiginosamente sua esfera de ação condições intrínsecas de sua morte inevitável Como aconteceu com a morte natural em outro ramo de ciência também na forma social a morte se transformem em caso fisiológico O Manifesto não apresentou nem devia apresentar o projeto da sociedade futura Por outro lado disse como a presente sociedade se dissolverá pela dinâmica progressiva de suas forças imanentes Para isso recorreu principalmente à exposição do desenvolvimento da burguesia e a fez em traços rápidos que são capítulo exemplar da filosofia da História suscetível a retoques acréscimos e acima de tudo a amplo desenvolvimento mas que não admite correção no que lhe é intrínseco8 SaintSimon e Fourier ainda que não tenham sido reproduzidos no teor de suas idéias nem imitados no encaminhamento de suas abordagens permaneciam por tal elevação teórica justificados e confirmados Ambos ideólogos eles tinham superado a época liberal dentro dela mesma em uma antecipação de singular genialidade que no horizonte por eles visualizado culminava com a Grande Revolução O primeiro subverteu a interpretação da história do direito à economia e da política à física social e em meio a muitas incertezas de entendimento idealista e de entendimento positivo quase encontrou a gênese do terceiro estado O outro por ignorância de detalhes desconhecidos ou por ele desprezados e por exuberância de engenho não disciplinado fantasiou uma grande sequência de épocas histórias vagamente diferenciadas e marcadas por certos sinais do princípio diretivo das formas de produção e de distribuição Em seguida alinhavou o argumento da construção de uma sociedade em que os antagonismos atuais desaparecessem Entre esses antagonismos com perspicácia genial descobriu um que estudou com amor especial o círculo vicioso da produção Sem o saber concorria com Sismondi que na mesma época com outro intuito e por outras vias a partir do exemplo das crises e dos apontados inconvenientes da grande indústria e da concorrência impiedosa explicava com timidez o fiasco da ciência econômica recémelaborada Do alto da serena meditação sobre o mundo futuro dos harmoniosos Fourier olhou com sereno desprezo para a miséria dos civilizados e escreveu tranqüilo a sátira da História Ideólogos tanto um quanto outro ignoraram a dura luta que o proletariado é convocado a sustentar antes de por termo à época da ex ploração e dos antagonismos e por necessidade subjetiva de concluir se tornaram um projetista e o outro um utopista9 Mas adivinharam alguns aspectos notáveis dos princípios diretivos da sociedade sem antagonismos O primeiro concebeu claramente o governo técnico da sociedade sem domínio do homem sobre o homem E Fourier adivinhou divisou e previu através de tantas extravagâncias de sua luxuriante e irrefreada fantasia não poucos aspectos notáveis da psicologia e da pedagogia daquela convivência futura na qual segundo a expressão do Manifesto o livre desenvolvimento de cada um é condição do livre desenvolvimento de todos O saintsimonismo já se havia dissipado quando o Manifesto apareceu Por outro lado o fourierismo florescia na França por sua própria índole não como partido mas como escola Quando a escola tentou alcançar a utopia por meio da lei os proletários parisienses já tinham sido derrotados nas jornadas de junho por aquela burguesia que derrotandoos propiciou a si mesma o domínio de um apogeu insigne e aventureiro que durou vinte anos Não como voz de uma escola mas como promessa ameaça e vontade de um partido vinha à luz a nova doutrina dos comunistas críticos Seus autores e sequazes não viviam de fantasia do futuro mas com o ânimo completamente voltado para a experiência e para as necessidades do presente Viviam da consciência dos proletários cujo instinto ainda não submetido pela experiência em Paris e na Inglaterra estimulava a subverter o domínio da burguesia com velocidade de ações não dirigidas por uma tática estudada Esses comunistas difundiram na Alemanha as idéias revolucionárias foram os defensores das vítimas de junho e tiveram na Neue Rheinische Zeitung um órgão político que hoje tantos anos depois ainda faz escola especialmente pelos seus textos que esparsamente vêm sendo reproduzidos Cessadas as contingências históricas que em 1848 impulsionaram os proletários para a frente da cena política a doutrina do Manifesto não encontrou mais nem base nem terreno de difusão Esperou anos para difundirse porque foram necessários anos antes que o proletariado pudesse por outras vias e com outros modos voltar à cena como força política fazer dessa doutrina seu órgão intelectual e encontrar nela os meios de orientação 8 Tal desenvolvimento é O Capital de Marx que neste caso eu não me sinto qualificado para chamar de filosofia da História 9 Não sou contrário a reconhecer como Anton Menger que SaintSimon não foi verdadeiramente utopista como foram de forma acentuada típica e clássica Fourier e Owen Nova Gazeta Renana N da T 101 53 Mas desde o dia em que apareceu ela foi a crítica antecipada daquele socialismus vulgaris que vegetou pela Europa e especialmente na França desde o golpe de Estado até o aparecimento da Internacional que em seu breve período de vida não teve tempo de vencêlo esgotálo eliminálo totalmente Esse socialismo vulgar se alimentava se não de outras idéias mais desconexas principalmente das doutrinas e mais ainda dos paradoxos de Proudhon que já há muito tempo superado por Marx só foi praticamente vencido durante a Comuna quando seus sequazes pela mais salutar lição dos fatos foram obrigados a contrariar as doutrinas do mestre Desde que apareceu esta nova doutrina do comunismo foi a crítica implícita de todas as formas de socialismo de Estado de Louis Blanc a Lassalle O socialismo de Estado embora ainda mesclado a tendências revolucionárias se concentrava inteiro na fábula no Hokus Pokus do direito ao trabalho Esta expressão é insidiosa se implica questão que se dirija a um governo mesmo de burgueses revolucionários É absurdo econômico se se tem em mente suprimir a variável desemprego que influi na variação dos salários ou seja nas condições da concorrência Pode ser artifício de politiqüeiros se é empregada para aplacar as turbulências de uma massa agitada de proletários nãoorganizados É uma futilidade teórica para quem conceba claramente o curso de uma revolução vitoriosa do proletariado que não pode deixar de encaminhar a socialização dos meios de produção mediante a tomada de posse deles ou seja não pode deixar de encaminhar à forma econômica em que não há nem mercadoria nem salariado onde o direito ao trabalho e o dever de trabalhar se unem na necessidade comum a todos de que todos trabalhem A fábula do direito ao trabalho acaba na tragédia das jornadas de junho A discussão parlamentar que se fez sobre elas em seguida foi paródia O choroso e retórico Lamartine aquele grande oportunista tinha tido ocasião de pronunciar a última ou a penúltima de suas festejadas frases a experiência dos povos são as catástrofes e bastava isto para a ironia da História Mas o Manifesto esse escrito de tão pequeno porte de estilo tão distante da insinuação retórica de uma fé ou de uma crença possibilitou a consolidação de muitos pensamentos e a reunião de germes com potencial de largo desenvolvimento E não foi porém nem pretendeu ser o código do socialismo nem o catecismo do comunismo crítico nem o vade mecum da revolução proletária Podemos bem deixar as quintessências para Schäffle por conta de quem também deixamos de bom grado a famosa frase a questão social é uma questão de ventre O ventre de Schäffle por muitos anos se exibiu pelo mundo para deleite de tantos esportistas do socialismo e para alívio de tantos policiais O comunismo crítico mal começava com o Manifesto deveria desenvolverse e de fato se desenvolveu O complexo de doutrinas que hoje são comumente chamadas marxismo só alcançou a verdadeira maturidade entre os anos 60 e 70 Certamente desenvolveuse muito a partir do opúsculo Trabalho assalariado e Capital10 no qual pela primeira vez em termos precisos se toca em como da compra e do uso da mercadoria trabalho se obtém um produto superior ao custo o que era o nó da questão não resolvida da maisvalia até as amplas complicadas e multilaterais considerações do livro O Capital Esse livro esgota a gênese da época burguesa em toda sua íntima estrutura econômica e supera intelectualmente essa mesma época porque a explica em seus procedimentos em suas leis particulares e nos antagonismos que ela organicamente produz e que organicamente a dissolvem E corre como variante do movimento proletário que fracassou em 1848 até este de nossos dias que depois de ter reaparecido na superfície da vida política em meio a muitas dificuldades veio se desenvolvendo com tal e tanta constância de processo mas com lentidão de movimentos estudados Até poucos anos atrás esta regularidade de movimento progressivo no proletariado só era notada e admirada na Alemanha onde a democracia social como árvore em terreno próprio da conferência operária de Nuremberg de 1868 em diante veio crescendo normalmente em processo constante Mas depois o que acontecia na Alemanha se repetiu de várias formas em outros países Ora nesse desenvolvimento amplo do marxismo e nesse crescimento do movimento do proletariado nos modos compassados da ação política não houve talvez como dizem muitos uma atenuação do caráter belicoso da forma originária do comunismo crítico Ou talvez tenha sido uma passagem da revolução para a assim chamada evolução Ou pelo contrário uma aquiescência do espírito revolucionário às exigências do reformismo Estas reflexões e objeções surgiram e surgem continuamente tanto no seio do socialismo pela boca dos mais inflamados de ânimo e de fantasia entre seus seguidores quanto do lado dos adversários para quem é van 10 Digo opúsculo referindome à forma a que foi reduzido o escrito com fim de propaganda em 1884 Originalmente foram arquivos da Neue Rheinische Zeitung abril de 1849 que reproduziam conferências proferidas no Círculo Operário Alemão de Bruxelas em 1847 104 105 tagem generalizar os casos particulares de insucesso as pausas as demoras para afirmar que o comunismo absolutamente não tem futuro Quem avaliar o atual movimento proletário e o seu curso variado e complicado sob a impressão do Manifesto quando sua leitura não for acompanhada de outros conhecimentos pode facilmente acreditar que existia alguma coisa exageradamente juvenil e prematura na firme autoconfiança daqueles comunistas de cinqüenta anos atrás Nas palavras deles há como um grito de batalha e o eco da vibrante eloquência de alguns oradores do cartismo e quase o anúncio de um novo 93 feito de modo a não dar lugar a um novo Termidor E todavia o Termidor veio e se repetiu muitas vezes no mundo em formas variadas e mais ou menos explícitas ou dissimuladas foram seus autores de 1848 aos dias de hoje exradicais à francesa ou expatriotas à italiana ou burocratas à alemã na idéia adoradores do deus Estado e na prática bons servos do deus dinheiro ou parlamentares à inglesa finórios conhecedores dos artifícios e expedientes da arte de governo ou até mesmo policiais com máscara de anarquistas de Chicago e similares De um lado os muitos protestos contra o socialismo e aqui e ali os argumentos de pessimistas e de otimistas contra a probabilidade do seu sucesso A muitos parece que a constelação do Termidor não deve mais desaparecer do céu da História ou seja falando de forma mais prosaica para esses o liberalismo que é a sociedade dos iguais em direito presumido sinaliza o extremo limite da evolução humana e para além dele só pode acontecer o regresso A isto de bom grado se acomodam todos aqueles que de maneira geral recolocam a razão e o fim de todo progresso unicamente na sucessiva extensão da forma burguesa Sejam otimistas ou pessimistas todos encontram as colunas de Hércules do gênero humano Não raras vezes acontece que tal sentimento na sua forma pessimista atue inconscientemente sobre muitos dos que junto com outros déclassés vão engrossar as fileiras do anarquismo Há também os que se lançam mais além e assim se põem a teorizar sobre a objetiva inverossimelhança dos assuntos do comunismo crítico O enunciado do Manifesto que diz que a simplificação de todas as lutas de classe em uma única luta traz consigo a necessidade da revolução proletária seria intrinsecamente falacioso para estes polemistas que teorizam Essa nossa doutrina seria infundada como a que pretende extrair uma ilação científica e uma regra de conduta prática da argumentada previsão de um fato presumido o qual na opinião divergente destes bons e pacíficos opositores seria um simples ponto teórico deslocável e diferenciável ao infinito A suposta inevitável e resolutiva colisão entre as forças produtivas e a forma de produção nunca aconteceria segundo eles porque se dispersa em infinitos atritos particulares se multiplica nas colisões parciais da concorrência econômica é retardada e obstruída pelos expedientes e vilências da arte de governo Em outros termos a sociedade presente ao contrário de rachar e dissolverse renovaria perpetuamente a obra de seu reaparecimento e retoque Cada movimento proletário que não fosse reprimido com violência como aconteceu em junho de 1848 e em maio de 1871 cessaria por lenta exaustão como aconteceu com o cartismo que acabou no Trade Unionismo cavalo de batalha deste modo de argumentar honra e vaidade dos economistas vulgares e dos sociólogos baratos Cada movimento proletário moderno seria meteórico e não orgânico seria uma perturbação e não um processo e à mercê de tais críticos mesmo contra nossa vontade nós seríamos ainda hoje utopistas A previsão histórica que está no fundo da doutrina do Manifesto e que depois na seqüência o comunismo crítico ampliou e especificou com a mais larga e minuciosa análise do mundo presente teve por certo pelas circunstâncias do tempo em que apareceu pela primeira vez calor de batalha e vivíssima cor de expressão Mas não implicava com não implica ainda hoje nem uma data cronológica nem a pintura antecipada de uma configuração social como foi e é próprio das antigas e novas profecias e dos apocalipses O heróico Frei Dolcino não havia surgido de novo para ecoar pelas terras o grito de batalha pela profecia de Gioacchino di Fiore Nem se comemorava novamente em Münster a ressurreição do reino de Jerusalém Não mais taboristas ou milenaristas Não mais Fourier que esperasse chez soi com hora marcada por anos a fio o candidato da humanidade Não era mais o caso de que o iniciador de uma nova vida começasse por iniciativa própria a conceber com meões premeditados e de modo unilateral e artificial o primeiro embrião de uma associação que refizesse como enxerto a planta homem como aconteceu com Bellers através de Owen e Cabet até o empreendimento dos fourieristas do Texas que foi a catástrofe ou mais ainda a tumba do utopismo ilustrada por um singular epitáfio o emudecimento da eloquência quente de Condierant Não é mais a seita que em ato de religiosa abstinência se retira do mundo pudica e timidamente para celebrar em um círculo reservado a perfeita idéia da comunidade como os Irmãozinhos nos confins das colônias socialistas da América Ao contrário na doutrina do comunismo crítico é a sociedade inteira que em um momento de seu processo geral descobre a causa de seu caminho fatal e em um ponto saliente da curva se ilumina para explicar a lei de seu movimento A previsão com a qual o Manifesto acenava pela primeira vez não era cronológica de prenúncio ou de promessa mas para dizêla em uma palavra que a meu ver exprime tudo sucintamente morfológica Sob o estrépito e o brilho das paixões sobre as quais habitualmente se exercita a conversação cotidiana mais aquém dos movimentos visíveis das vontades que agem de acordo com planos que é o que os cronistas e historiadores vêem e narram mais abaixo do aparelho jurídico e político da nossa convivência civilizada muito atrás das significações que a religião e a arte dão ao espetáculo e à experiência da vida está e consiste e se altera e transforma a estrutura elementar da sociedade que sustenta todo o resto O estudo anatômico de tal estrutura subjacente é a Economia E porque a convivência humana muitas vezes mudou ou parcialmente ou integralmente no seu aparelho exterior mais visível e nas suas manifestações ideológicas religiosas artísticas e similares antes de tudo é preciso encontrar os móveis e as razões de tais mudanças que os historiadores habitualmente relatam nas mutações mais ocultas e menos visíveis à primeira vista dos processos econômicos da estrutura subjacente Ou seja é preciso voltarse para o estudo das diferenças que permeiam as várias formas da produção quando se tratar de épocas históricas nitidamente distintas e propriamente ditas e onde se tratar de explicar a sucessão de tais formas ou seja a substituição de uma pela outra é preciso estudar as causas de erosão e estiolamento da forma que morre e por último quando se quiser entender o fato histórico concreto e determinado é necessário estudar e explicar os atritos e os contrastes que nascem dos vários concorrentes ou seja as classes suas subdivisões e os laços destas e daquelas que formam uma determinada configuração Quando o Manifesto diz que a História até hoje nada mais é que a história das lutas de classes e que nelas está a razão de todas as revoluções e de todos os retrocessos ele faz duas coisas a um só tempo Dá ao comunismo os elementos de uma nova doutrina e aos comunistas o fio condutor para reconhecer nos intrincados acontecimentos da vida política as condições do movimento econômico subjacente Nos cinqüenta anos decorridos daquela época até hoje a previsão genérica de uma nova era histórica tornouse para os socialistas a arte minuciosa de entender caso a caso aquilo que convém e que se deve fazer porque por si mesma essa era nova está em contínua formação O comunismo tornouse uma arte porque os proletários se tornaram ou foram levados a se tornar um partido político O espírito revolucionário se plasma diariamente na organização proletária A anunciada conjunção dos comunistas e dos proletários¹ é hoje um fato Estes cinqüenta anos foram a prova sempre crescente da rebelião ampliada das forças produtivas contra as formas da produção À parte esta lição intuitiva dos fatos nós utopistas não temos outra resposta a oferecer àqueles que ainda falam de perturbações meteóricas que segundo a opinião deles reverterão todas à calma desta insuperada e insuperável época de civilização E tal lição basta Passados onze anos da publicação do Manifesto Marx encerrava em clara e transparente fórmula os princípios retores da interpretação materialista da História no prefácio de um livro que é o precursor de O Capital² Eis reproduzida a passagem O primeiro trabalho que empreendi para resolver as dúvidas que me assaltavam foi uma revisão crítica da Filosofia do Direito de Hegel trabalho cuja introdução apareceu nos Anais Francoalemães publicados em Paris em 1844 Minhas investigações me conduziram ao seguinte resultado as relações jurídicas bem como as formas do Estado não podem ser explicadas por si mesmas nem pela chamada evolução geral do espírito humano estas relações têm ao contrário suas raízes nas condições materiais de existência em seu conjunto condições estas que Hegel a exemplo dos ingleses e dos franceses do século XVIII compreendia sob o nome de sociedade civil Cheguei também à conclusão de que a anatomia da sociedade deve ser procurada na economia política Eu havia começado o estudo desta última em Paris e o continuara em Bruxelas onde eu me havia estabelecido em conseqüência de uma sentença de expulsão ditada pelo Sr Guizot contra mim O resultado geral a que cheguei e que uma vez obtido servi de guia para meus estudos pode formularse resumidamente assim Na produção social da própria existência os homens entram em relações determinadas necessárias independentes de sua vontade estas relações de produção correspondem a um grau determinado de desenvolv vimento de suas forças produtivas materiais O conjunto dessas relações de produção constituiu a estrutura econômica da sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social política e intelectual Não é a consciência dos homens que determina a realidade ao contrário é a realidade social que determina sua consciência Em certa fase de seu desenvolvimento as forças produtivas da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou o que não é mais que sua expressão jurídica com as relações de propriedade no seio das quais elas se haviam desenvolvido até então De formas evolutivas das forças produtivas que eram essas relações convertemse em seus entraves Abrese então uma era de revolução social A transformação que se produziu na base econômica transtorna mais ou menos lenta ou rapidamente toda a colossal superestrutura Quando se consideram tais transformações convém distinguir sempre a transformação material das condições econômicas de produção que podem ser verificadas fielmente com a ajuda das ciências físicas e naturais e as formas jurídicas políticas religiosas artísticas ou filosóficas em resumo as formas ideológicas sob as quais os homens adquirem consciência desse conflito e o levam até ao fim Do mesmo modo que não se pode julgar uma tal época de abalos pela consciência que ela tem de si mesma É preciso ao contrário explicar esta consciência pelas condições da vida material pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção Uma sociedade jamais desaparece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas que possa conter as relações de produção novas e superiores não tomam jamais seu lugar antes que as condições materiais de existência dessas relações tenham sido incubadas no próprio seio da velha sociedade Eis por que a humanidade não se propõe nunca senão os problemas que ela pode resolver pois aprofundando a análise verseá sempre que o próprio problema só se apresenta quando as condições materiais para resolvêlo existem ou estão em vias de existir Esboçados em largos traços os modos de produção asiáticos antigos feudais e burgueses modernos podem ser designados como outras tantas épocas progressivas da formação social econômica As relações de produção burguesas são a última forma antagônica do processo de produção social antagônica não no sentido de um antagonismo individual mas de um antagonismo que nasce das condições de existência sociais dos indivíduos as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam ao mesmo tempo as condições materiais para resolver este antagonismo Com esta formação social termina pois a préHistória da sociedade humana Enquanto Marx assim escrevia já há muitos anos havia abandonado a arena política à qual só retornaria mais tarde nos tempos da Internacional A reação havia derrotado a revolução na Itália na Áustria na Hungria na Alemanha quer a revolução patriótica quer a liberal ou a democrática A burguesia de sua parte vencera ao mesmo tempo os proletários na França e na Inglaterra As condições indispensáveis ao desenvolvimento do movimento democrático e proletário desapareceram de uma penada As fileiras não certamente muito numerosas dos comunistas do Manifesto que se haviam mesclado à revolução e logo após participaram de todas as ações de resistência e de insurreição popular contra a reação assistiram finalmente ao bloqueio de sua atividade com o memorável processo de Colônia Os sobreviventes do movimento tentaram um recomeço em Londres mas rapidamente Marx Engels e outros deram as costas aos revolucionários profissionais e retiraramse da ação imediata A crise passou Persistia uma longa pausa Ela era o sintoma da lenta desaparição do movimento cartista ou seja do movimento proletário do país que é a coluna vertebral do sistema capitalista Naquele momento a História não dava razão às ilusão dos revolucionários Antes de dedicarse quase que exclusivamente à prolongada incubação dos fundamentos que ele já havia encontrado na crítica da economia política Marx ilustrou a história do período revolucionário de 184850 em vários escritos em particular as lutas de classes na França narrandoas de tal maneira que se a revolução na forma que assumia naquele momento estava falida não por isso se desmentia a teoria revolucionária da História¹³ traço apenas esboçado no Manifesto mas que já assumia seu papel de condutor de toda a exposição Mais ainda o texto que tem como título O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte¹⁴ foi a primeira tentativa de plasmar a nova concepção histórica no relato de uma ordem de fatos compreendidos em parâmetros tempo ³ Os artigos publicados na Neue Rheinische Zeitung PolitischOekonomische Revue Hamburgo 1850 foram recentemente reproduzidos por Engels Berlim 1895 em opúsculo precedido de um prefácio seu O título do opúsculo é precisamente As Lutas de Classe na França de 1848 a 1850 ⁴ Este escrito de Marx foi publicado em uma revista de Nova York em 1852 Depois foi muitas vezes reproduzido na Alemanha Hoje pode ser lido também em francês Lille 1891 e Delory rais precisos Não é certamente pequena a dificuldade em passar do movimento aparente ao movimento real da História para aí descobrir o nexo íntimo É grande a dificuldade de passar os indícios passionais oratórios parlamentares eleitorais e assemelhados ao interior das engrenagens sociais para nelas descobrir explicandoas os vários interesses dos grandes e dos pequenos burgueses dos camponeses dos artesãos e dos operários dos padres e dos soldados dos banqueiros dos usuários e da canalha esses interesses conscientemente ou inconscientemente não importa operam escondendose elidindose combinandose ou fundindose na desarmônica vida dos civilizados A crise havia passado e havia passado precisamente nos países que constituíam o terreno histórico do qual o comunismo crítico havia surgido Entender a reação nas suas causas econômicas repostas era tudo o que os comunistas críticos poderiam ter feito porque naquele momento entender a reação era como continuar a obra da revolução Sucede assim que em outras condições e formas vinte anos depois quando Marx em nome da Internacional no opúsculo sobre A Guerra Civil na França escreve uma apologia da Comuna seja esta simultaneamente a sua crítica objetiva A heróica resignação com a qual Marx deixou a arena política depois de 1850 possui uma réplica no seu afastamento da Internacional depois do Congresso de Haia em 1972 Os dois fatos podem interessar aos biógrafos porque neles se encontra o seu caráter pessoal no qual efetivamente tanto as idéias como o temperamento tanto a política como o pensamento tornamse uma unidade Mas nestes fatos particulares existe um significado mais estrito e de maior importância para nós O comunismo crítico não fabrica as revoluções não prepara as insurreições não arma as sublevações De fato ele forma um todo com o movimento proletário mas observa e sustenta esse movimento na plena compreensão das conexões que têm ou pode e deve ter com o conjunto de todas as relações da vida social Resumindo não é um seminário no qual se forma o estado maior dos capitães da revolução proletária mas é apenas a consciência de tal revolução e sobretudo em determinadas contingências a consciência de sua dificuldade O movimento proletário vem crescendo de forma colossal nestes últimos trinta anos Atravessou muitas dificuldades passando por tantas vicissitudes de passos para trás e de passos adiante e tem paulatinamente assumido formas políticas com métodos passo a passo escolhidos e lentamente experimentados Os comunistas não festejaram tudo isso com a ação mágica da doutrina divulgada e comunicada com a capacidade persuasiva da palavra e da escrita Desde o princípio souberam ser a ala à extrema esquerda de cada movimento proletário mas à medida em que este se desenvolvia e se especificava era necessidade e ao mesmo tempo dever para os comunistas considerar nos programas e nas ações práticas dos partidos as várias contingências do desenvolvimento econômico e conseqüentemente da situação política Nestes cinqüenta anos desde a publicação do Manifesto a diversidade e a complexificação do movimento proletário tornaramse tais e tantos que já não existe nem existirá uma mente capaz de abraçálas penetrálas entendêlas e explicálas em suas causas e relações verdadeiras A Internacional unitária que teve sua existência entre 186473 fez aquilo que tinha por ofício uma aproximação preliminar nas tendências gerais e nas idéias comuns e indispensáveis ao conjunto do proletariado e depois devia desaparecer Ninguém pensará ou poderá pensar em reconstruir algo que com ela se pareça Duas causas entre outras contribuíram para a ampla diversidade e complexificação do movimento proletário Em muitos países a burguesia tem sentido a necessidade de limitar em causa própria muitos dos abusos que se seguiram à primeira e súbita introdução do sistema industrial e daí o nascimento da legislação operária ou como alguns dizem pomposamente social A mesma burguesia ou por defesa ou sob a pressão das circunstâncias foi obrigada a ampliar as condições gerais de liberdade em muitos países e em particular estender o direito de voto Por estas duas circunstâncias que trouxeram o proletariado para dentro da cerca da vida política cotidiana crescem enormemente a sua capacidade de movimento e com maior agilidade e flexibilidade agora à disposição dele permitiram ao proletariado enfrentarse com a burguesia na arena dos comícios e nas seções parlamentares E posto que é do processo das coisas que emerge o processo das idéias correspondem assim a este desenvolvimento prático multiforme do proletariado que é tanto diversificado em suas formas e imbricações que ninguém mais pode colocálo sob os olhos e repensálo em seu conjunto um gradual desenvolvimento das doutrinas do comunismo crítico em sua tarefa de entender a História e entender a vida presente até a minuciosa descrição das menores partículas da economia Este em resumo tornouse uma ciência se este nome for tomado com a devida discrição Mas tudo isso não é como insistentemente dizem alguns um desvio da doutrina simples e imperativa do Manifesto Ou como repetem outros 112 113 o que se ganha em extensão e complexidade não seria perdido em intensidade e precisão Tais perguntas nascem segundo me parece de um conceito equivocado do movimento proletário atual e de uma ilusão de ótica sobre a intensidade da energia e sobre o valor revolucionário de manifestações passadas já há muitos anos Qualquer que seja a concessão que a burguesia faça no ordenamento econômico até a redução máxima da jornada de trabalho permanece sempre verdadeiro o fato de que a necessidade da exploração sobre a qual toda a ordem social presente se apóia possui limites intransponíveis além dos quais o capital como instrumento de produção privado perde a sua razão de ser Se uma atual concessão pode acalmar uma forma imediata de inquietação no proletariado a mesma concessão não pode deixar de despertar o desejo de outras e novas e sempre crescentes A necessidade da legislação operária nascida na Inglaterra antecipando o movimento cartista desenvolvendose posteriormente com ele obtém seus primeiros sucessos no período de tempos imediatamente posterior à queda do próprio cartismo Os princípios e as razões deste movimento em suas relações intrínsecas de causa e efeito foram estudados criticamente por Marx no Capital para depois passarem aos programas dos partidos socialistas por mediação da Internacional E assim finalmente todo esse processo concentrandose na reivindicação da jornada de oito horas transformouse na festa do 1º de maio como uma resenha internacional do proletariado na qual são registrados os sinais de seus avanços Por outro lado a competição política à qual o proletariado se habituar não democratiza os usos e costumes e assim não constrói uma verdadeira democracia mas mesmo esta no longo prazo não poderá se acomodar à forma política atual que como órgão da sociedade exploradora é uma hierarquia burocrática uma burocracia judiciária uma sociedade de mútuo socorro entre os capitalistas e o militarismo a serviço dos impostos alfandegários protetores dos eternos juros da dívida pública da renda da terra e de cada uma das formas de interesse do capital Os dois mencionados fatos portanto que aparentam desviarse ao infinito das previsões do comunismo isso segundo a opinião dos furiosos e dos hipercîticos convertemse ao contrário em meios e condições novas que confirmam aquelas previsões Os aparentes desencaminhadores da revolução tornamse em suma seus motores Sequer é necessário por outro lado exagerar a amplidão da expectativa revolucionária dos comunistas de cinqüenta anos atrás Dada a atual situação política da Europa de hoje se algum crédito deve serlhes dado é o de terem sido precursores e o foram de fato se eles tinham alguma expectativa era a de que as condições políticas da Itália Áustria Hungria Alemanha e Polônia se aproximassem das formas modernas o que acabou acontecendo pouco tempo mais tarde e pelo menos em parte mas por outro caminho Se neles havia esperança era esta a de que o movimento proletário da França e da Inglaterra continuasse e se desenvolvesse A reação engrandecida varreu muita coisa desviou e procrastinou muitos desenvolvimentos que estavam então implícitos ou em plena marcha Também varreu do campo do socialismo a velha tática revolucionária e estes últimos anos não criaram uma nova Eis tudol5 Nem o Manifesto quer ser melhor e mais do que o primeiro fio condutor de uma ciência e de uma prática que apenas a experiência e os anos poderiam desenvolver Ele diz respeito ao andamento geral do movimento proletário e concerne por assim dizer apenas ao esquema e ao ritmo Indubitavelmente refletese aí o impacto que a experiência dos dois movimentos que há pouco observamos causava sobre os comunistas daqueles tempos o da França e sobretudo o cartismo que rapidamente foi tomado pela paralisia pelo malogro da manifestação insurrecional de 10 de abril de 1848 Mas em tal esquema nada aparece idealizado que posteriormente se converta em uma taxativa tática de guerra como de fato aconteceu muitas vezes que os revolucionários houvessem reduzido a um catecismo precipitado o que não poderia ser mais do que um simples produto do desenvolvimento das coisas Aquele esquema tornouse posteriormente mais amplo e complexo graças à expansão do sistema burguês que se apossou do mundo do qual compreende uma parte muito maior O ritmo do movimento tornouse mais variado e mais lento precisamente porque a massa operária entrou em cena como verdadeiro e próprio partido político assim mudando o modo e a cadência da ação não se perde o movimento Como mesmo antes do aperfeiçoamento das armas e de outros meios de defesa a tática da insurreição já se mostrava inoportuna como a complexificação do estado moderno faz parecer insuficiente a ocupação improvisada de um Hôtel de Ville para impor a todo um povo a vontade e o ideário de uma minoria ainda que corajosa e progressista da mesma forma a massa proletária não está mais disponível à palavra de or 114 115 15 Engels aprofunda esta questão do desenvolvimento objetivo da nova tática revolucionária no prefácio do citado opúsculo e em outros escritos dem de poucos chefes nem baliza suas ações pelas prescrições dos capitães os quais podem quando muito criar sobre as ruínas de um governo de classe ou de camarilha um outro do mesmo gênero A massa proletária tem feito e faz sua própria educação democrática onde quer que ela tenha se envolvido na política Isto é elege e avalia os seus representantes e apropriase pelo exame das suas idéias e propostas que em razão de seus estudos e conhecimentos foram capazes de intuir e prever e já sabe ou pelo menos começa a entender segundo os diferentes países que a conquista do poder político não deve nem pode ser feita por outros em seu nome mesmo que seja pelos grupos de corajosos já mencionados e que sobretudo aquela conquista não pode acontecer por um golpe de mão Em resumo massa proletária ou sabe ou saberá compreender que a ditadura do proletariado que deverá preparar a socialização dos meios de produção não pode advir de uma insurreição de uma turba dirigida por alguns mas deve ser e será o resultado dos próprios proletários que são já em si e por longo exercício uma organização política O desenvolvimento e a extensão do sistema burguês foram rápidos e colossais nestes cinqüenta anos Enfim ele corroe a velha e santa Rússia e cria não na América nem na Austrália ou na Índia como era de se esperar mas finalmente no Japão novos e modernos centros de produção complicando as condições de concorrência e os interesses do mercado mundial Os efeitos das transformações políticas ou já estão em curso ou não se farão esperar longamente Igualmente rápidos e colossais foram os progressos do proletariado Sua educação política aponta cada dia um novo passo na conquista do poder político A rebelião das forças produtivas contra a forma da produção ou seja a luta do trabalho vivo contra o trabalho acumulado fazse cada dia mais patente O sistema burguês está agora na defensiva o que transparece no estado e na posição em que se encontra nesta contradição singular o pacífico mundo da indústria tornouse um enorme acampamento em cujo interior vegeta o militarismo A época da indústria pacífica transformase pela ironia das coisas na época da descoberta contínua de novos e mais poderosos meios de guerra e de destruição O socialismo impôsse Finalmente os semisocialistas finalmente os charlatães que atravancam a imprensa e as assembléias de nossos partidos nem sempre sem nos causar embaraços são de qualquer maneira uma homenagem que a vaidade e a ambição prestam a seu modo à nova potência que surge no horizonte Apesar da proibição antecipada do socialismo científico que não é dado à compreensão de todos os boticários da questão social pululam e se multiplicam a cada instante sempre tendo qualquer coisa de particular a sugerir ou propor para curar ou eliminar esta ou aquela doença social nacionalização do solo monopólio dos grãos por parte do Estado controle estatal do sistema hipotecário municipalização dos meios de transportes orçamento democrático greve geral e assim vai sem nunca ter fim Mas a democracia social elimina todas as fantasias semelhantes porque o instinto da própria situação induz os proletários tão pronto adquiram algum traquejo na arena política a entender o socialismo de modo integral16 Isso significa que eles devem visar sobretudo somente uma coisa à abolição do trabalho assalariado que apenas uma forma de sociedade torna possível e inclusive necessária a eliminação das classes isto é a associação que não produz mercadorias e que tal forma de sociedade não é mais o estado é antes seu oposto ou seja a direção técnica e pedagógica da convivência humana o selfgovernment do trabalho Não mais jacobinos nem aqueles heroicamente gigantes de 93 nem as caricaturas de 1848 Democracia social Mas não é esta repetem muitos uma evidente atenuação da doutrina do comunismo que foi expressa em termos tão vibrantes e resolutos no Manifesto Parece ocioso lembrar como o nome democracia social teve na França de 1837 a 1848 significados muito diferentes entre si que pouco depois se diluíram num vago sentimento Nem vale a pena explicar como os alemães conseguiram exprimir nesta denominação cujo significado neste caso deve ser buscado apenas no contexto do próprio fato todo o rico e amplo desenvolvimento de seu socialismo desde o episódio de Lassalle superado e exaurido de uma vez por todas até os nossos dias Certamente que democracia social pode significar significou e significa tantas coisas que nem foram nem são nem serão jamais nem o comunismo nem a preparação consciente da revolução proletária Certa é a opinião de que o socialismo contemporâneo mesmo nos países onde seu desenvolvimento é mais claro preciso e avançado carrega sobre si muita escória da qual deve ir se liberando paulatinamente ao longo de seu caminho e finalmente também é certo que tantos intrujões e hóspedes ingratos em nosso seio fazem da denominação exageradamente lata de democracia social escudo e armadura Mas urge que aqui se diga algo muito distinto e se fixe a atenção sobre um ponto de capital importância 16 Aviso ao leitor Malon dava a esta palavra um outro significado E além do mais de resto ne sutor ultra crepidam Não suba o sapateiro acima da sandália 117 KARL MARX Karl Marx 18181883 foi um sociólogo e revolucionário alemão responsável por teorias e bases da doutrina comunista embasando o socialismo cientifico por meio de seu estudo suas ideias são chamadas de Marxismo sendo essa a doutrina mais usada em países comunistas O sociólogo nasceu em 1818 na cidade de Tréveris nascido em uma família considerada rica Marx é um dos críticos ao regime capitalista Seu pai foi um importante advogado ocupando ainda um cargo de conselheiro dentro do governo alemão Marx teve uma vida cheia de bens materiais estudou nas melhores escolas mas sempre teve consciência de sua classe e dos privilégios que eram concedidos a ele desde seu nascimento Marx estudou direito e filosofia na universidade de Bonn após um ano transferiu seus estudos para a Universidade de Berlim seu professor e reitor Georg Hegel foi um dos responsáveis por inspirar o trabalho de Marx Já em Berlim fez parte do clube dos Doutores a partir de então teve o primeiro contato com a filosofia passou a fazer parte do movimento de esquerda dos jovens Hegelianos que era um grupo voltado principalmente a analisar questões sociais e políticas da Alemanha Dentro do curso de filosofia Marx passou a fazer críticas aos governantes e governo passando assim a ser um crítico social No ano de 1841 Karl Marx recebeu o título de doutor em filosofia após apresentar a tese de Diferenças entre o sistema filosófico de Demócrito e de Epicuro essa tese foi estabelecida conforme a pesquisa do filosófo o sonho de Marx era dar aulas porém não era aceito nas universidades uma vez que aqueles que seguiam as ideias de Hegel não eram bem vistos nas instituições de ensino Após buscas por emprego mal sucedidas Marx passou a escrever artigos para um jornal de um conhecido mas foi perseguido e censurado foi nessa época que ele teve o primeiro contato com o jornalismo No ano de 1842 o sociólogo se mudou para a Colônia onde passou a ser diretor do jornal chamado Gazeta Renana Em 1843 casouse com Jenny von Westphalen e tiveram ao todo sete filhos porém somente três chegaram à vida adulta No ano de 1847 Marx e Engels redigiram o manifesto no congresso da liga dos justos Após uns anos Marx escreveu o manifesto comunista onde escreveu críticas duras ao capitalismo e a seus defensores defendendo a classe operária em todos os seus trechos Marx foi um defensor da luta e história operária sendo usado como exemplo mesmo após anos dentro desse manifesto ele expôs aspectos relevantes sobre a luta de classe e o preconceito de classe existente Para Marx a desigualdade social é formada pelo interesse em bens materiais acima da vida de operários para ele a união da classe operaria é fundamental para tornar a sociedade um ambiente mais igualitário O socialismo Marxista promove a ideia de que os meios de produção devem ser atribuídos a uma competência do povo assim existiria uma revolução socialista onde o poder emanava do povo de forma absoluta nessa visão o Estado com o tempo não seria mais um elemento necessário dentro da sociedade pois todas as classes estariam em igualitário patamar sem qualquer distinção ou detenção de riquezas apenas em uma monopólios então passariam a não existir na visão de Mark somente quando não existir mais essa diferença de classes a sociedade estará de fato evoluída tornandose então uma sociedade comunista na visão de Marx sobre o Estado é possível entender O Estado é o meio pelo qual os indivíduos de classe dominante fazem valer seus interesses comuns que sintetiza a sociedade inteira MARX 1999 Marx desenvolveu teorias fundamentais para o comunismo reconhecendo que a existência de divergentes tipos de classe afastar a sociedade de obter uma igualdade a teoria marxista vai contrária as imposições existentes do capitalismo na visão do sociólogo a história da humanidade está firmada principalmente por uma luta de classes ele critica o capitalismo principalmente porque na visão de Marx essas classes nesse tipo de regime é dominada exclusivamente por meio da burguesia aqueles que não possuem bens financeiros são colocados em um conceito de inferioridade e subordinação a burguesia no capitalismo é detentora de todos os meios de produção além disso os resultados obtidos são concentrados apenas para a burguesia o proletariado por outro lado somente possui sua mão de obra o comunismo na visão de Marx pode ser entendido então como uma forma do indivíduo se liberar do trabalho como uma amarra em sua concepção o trabalho não pode ser conceituado como um elemento que determina a liberdade ou não de um indivíduo Karl Marx morreu em 14 de março de 1883 em Londres até os dias atuais o sociólogo é um representante da luta trabalhadora em todo o mundo REFERÊNCIAS ENGELS Friedrich MARX Karl O manifesto comunista 5ed São Paulo Ed Paz e Terra 1999 Dec 04 2023 Plagiarism Scan Report Excluded URL None Content Checked for Plagiarism Karl Marx 18181883 foi um sociólogo e revolucionário alemão responsável por teorias e bases da doutrina comunista embasando o socialismo cientico por meio de seu estudo suas ideias são chamadas de Marxismo sendo essa a doutrina mais usada em países comunistas O sociólogo nasceu em 1818 na cidade de Tréveris nascido em uma família considerada rica Marx é um dos críticos ao regime capitalista Seu pai foi um importante advogado ocupando ainda um cargo de conselheiro dentro do governo alemão Marx teve uma vida cheia de bens materiais estudou nas melhores escolas mas sempre teve consciência de sua classe e dos privilégios que eram concedidos a ele desde seu nascimento Marx estudou direito e losoa na universidade de Bonn após um ano transferiu seus estudos para a Universidade de Berlim seu professor e reitor Georg Hegel foi um dos responsáveis por inspirar o trabalho de Marx Já em Berlim fez parte do clube dos Doutores a partir de então teve o primeiro contato com a losoa passou a fazer parte do movimento de esquerda dos jovens Hegelianos que era um grupo voltado principalmente a analisar questões sociais e políticas da Alemanha Dentro do curso de losoa Marx passou a fazer críticas aos governantes e governo passando assim a ser um crítico social No ano de 1841 Karl Marx recebeu o título de doutor em losoa após apresentar a tese de Diferenças entre o sistema losóco de Demócrito e de Epicuro essa tese foi estabelecida conforme a pesquisa do losofo o sonho de Marx era dar aulas porém não era aceito nas universidades uma vez que aqueles que seguiam as ideias de Hegel não eram bem vistos nas instituições de ensino Após buscas por emprego mau sucedidas Marx passou a escrever artigos para um jornal de um conhecido mas foi perseguido e censurado foi nessa época que ele teve o primeiro contato com o jornalismo No ano de 1842 o sociólogo se mudou para a Colônia onde passou a ser diretor do jornal chamado Gazeta Renana Em 1843 casouse com Jenny von Westphalen e tiveram ao todo sete lhos porém somente três chegaram à vida adulta No ano de 1847 Marx e Engels redigiram o manifesto no congresso da liga dos justos Após uns anos Marx escreveu o manifesto comunista onde escreveu críticas duras ao capitalismo e a seus defensores defendendo a classe operária em todos os seus trechos Marx foi um defensor da luta e história operária sendo usado como exemplo mesmo após anos dentro desse manifesto ele expôs aspectos relevantes sobre a luta de classe e o preconceito de classe existente Para Marx a desigualdade social é formada pelo interesse em bens materiais 0 Plagiarized 100 Unique Characters4652 Words766 Sentences29 Speak Time 7 Min Page 1 of 2 acima da vida de operários para ele a união da classe operaria é fundamental para tornar a sociedade um ambiente mais igualitário O socialismo Marxista promove a ideia de que os meios de produção devem ser atribuídos a uma competência do povo assim existiria uma revolução socialista onde o poder emanava do povo de forma absoluta nessa visão o Estado com o tempo não seria mais um elemento necessário dentro da sociedade pois todas as classes estariam em igualitário patamar sem qualquer distinção ou detenção de riquezas apenas em uma monopólios então passariam a não existir na visão de Mark somente quando não existir mais essa diferença de classes a sociedade estará de fato evoluída tornandose então uma sociedade comunista na visão de Marx sobre o Estado é possível entender Marx desenvolveu teorias fundamentais para o comunismo reconhecendo que a existência de divergentes tipos de classe afastar a sociedade de obter uma igualdade a teoria marxista vai contrária as imposições existentes do capitalismo na visão do sociólogo a historia da humanidade está rmada principalmente por uma luta de classes ele critica o capitalismo principalmente porque na visão de Marx essas classes nesse tipo de regime é dominada exclusivamente por meio da burguesia aqueles que não possuem bens nanceiros são colocados em um conceito de inferioridade e subordinação a burguesia no capitalismo é detentora de todos os meios de produção além disso os resultados obtidos são concentrados apenas para a burguesia o proletariado por outro lado somente possui sua mão de obra o comunismo na visão de Marx pode ser entendido então como uma forma do indivíduo se liberar do trabalho como uma amarra em sua concepção o trabalho não pode ser conceituado como um elemento que determina a liberdade ou não de um indivíduo Karl Marx morreu em 14 de março de 1883 em Londres até os dias atuais o sociólogo é um representante da luta trabalhadora em todo o mundo Sources Home Blog Testimonials About Us Privacy Policy Copyright 2022 Plagiarism Detector All right reserved Page 2 of 2
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Texto de pré-visualização
manifesto comunista Com ensaios de Antonio Labriola Jean Jaurès Leon Trotsky Harold Laski Lucien Martin James Petras Organização e introdução Osvaldo Coggiola No final de fevereiro de 1848 foi publicado em Londres um pequeno panfleto que acabaria por se tornar o documento político mais importante de todos os tempos o Manifesto Comunista de Marx e Engels Passado um século e meio a atualidade e o vigor deste texto continuam a ser reafirmados por intelectuais das mais diversas correntes de pensamento Esta edição que a Boitempo Editorial preparou para as comemorações do 150º aniversário do Manifesto seis especiais refletem sobre as múltiplas facetas desta que é ainda a obra política mais lida e difundida em todo o mundo ISBN 8585934239 9788585934231 O internacionalismo e o Manifesto O internacionalismo proletário é uma das ideias centrais do Manifesto Comunista Não por acaso a sua última frase Proletários de todos os países unívos virou símbolo da corrente marxista do movimento operário Para Marx e Engels o internacionalismo não é só o elementochave da estratégia do movimento socialista é também a expressão do seu humanismo revolucionário para o qual a emancipação de toda a humanidade é o valor supremo e o objetivo final Algumas passagens do Manifesto porém são economicistas e evidenciam certo otimismo livrecambista Como exemplo podese citar a sugestão de que o proletariado vitorioso continuará a abolição dos antagonismos nacionais iniciada pelo mercado mundial A experiência histórica sobretudo na Irlanda ensinará a Marx e Engels que o reinado da burguesia e do mercado capitalista agrava esses antagonismos Marx dá uma expressão organizada e concreta ao internacionalismo proletário com a fundação da AIT As seguintes Internacionais Operárias e Socialistas da II até a IV reivindicam essa herança mas conhecerão crises deformações burocráticas e isolamento Ainda assim assistimos nos primeiros anos seguintes à Revolução de Outubro e mais tarde durante as Brigadas Internacionais da MANIFESTO COMUNISTA Karl Marx 18181883 Ler Marx e Engels é certamente um convite a aventurar e conhecer os processos de exploração da vida humana do capitalismo É sentirse impotente diante dessa máquina devoradora da humanidade Após ler esses escritos caberá responder a uma questão Friedrich Engels 18201895 Karl Marx e Friedrich Engels MANIFESTO COMUNISTA Organização e introdução Osvaldo Coggiola BOITEMPO EDITORIAL Copyright desta edição Boitempo Editorial Tradução do Manifesto Comunista Álvaro Pina Assistente editorial Daniela Jinkings Revisão Alice Kobayashi Flamarion Maués Priscila Úrsula dos Santos Capa Antonio Kehl sobre desenho de Maringoni Editoração eletrônica Flávio Valverde Garotti Fotolitos Augusto Associados Impressão e acabamento Ferrari Agradecemos a valiosa colaboração de Francisco Melo edições Avante Alexandre Antunes Pereira e Floriano da Costa Durão que se empenharam particularmente na edição deste Manifesto ISBN 8585934239 Todos os direitos reservados Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a expressa autorização da editora 1ª edição março de 1998 1ª reimpressão abril de 1998 2ª reimpressão abril de 1999 3ª reimpressão agosto de 2002 4ª reimpressão junho de 2005 BOITEMPO EDITORIAL Jinkings Editores Associados Ltda Rua Euclides de Andrade 27 Perdizes 05030030 São Paulo SP TelFax 11 38757250 38726869 email editoraboitempocom site wwwboitempocom SUMÁRIO Nota da edição 7 Introdução 9 Osvaldo Coggiola MANIFESTO COMUNISTA 37 Karl Marx e Friedrich Engels I Burgueses e proletários 40 II Proletários e comunistas 51 III Literatura socialista e comunista 59 IV Posição dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição 68 Prefácios de Marx e Engels Prefácio à edição alemã de 1872 71 Prefácio à edição russa de 1882 72 Prefácio à edição alemã de 1883 74 Prefácio à edição inglesa de 1888 74 Prefácio à edição alemã de 1890 78 Prefácio à edição polonesa de 1892 80 Prefácio à edição italiana de 1893 81 Em memória do Manifesto Comunista 87 Antonio Labriola O Manifesto Comunista de Marx e Engels 137 Jean Jaurès Noventa anos do Manifesto Comunista 159 Leon Trotsky O Manifesto Comunista de 1848 169 Harold Laski Cem anos depois do Manifesto 231 Lucien Martin O Manifesto Comunista qual sua relevância hoje 239 James Petras NOTA DA EDIÇÃO ESTA TRADUÇÃO do Manifesto do Partido Comunista foi feita por Álvaro Pina a partir da edição alemã de 1890 prefaciada e anotada por Friedrich Engels para as edições Avante Lisboa 1975 A tradução portuguesa foi publicada pela primeira vez em 1975 com introdução e notas de Vasco MagalhãesVilhena e revista e complementada em 1997 por José BarataMoura Para esta edição além de alguns ajustes ortográficos promovidos por Luciana Crespo fizemos um cotejamento minucioso com a versão inglesa de Samuel Moore revisada prefaciada e anotada por Engels Harmondsworth Penguin Books 1967 com a tradução francesa de E Bottigelli Paris AubierMontaigne 1971 e com a italiana de Antonio Labriola Milão Avanti 1960 Confrontamos ainda essa tradução com duas edições brasileiras a de 1986 São Paulo Novos Rumos introdução de Edgard Carone e a de 1988 Petrópolis Vozes tradução de Marco Aurélio Nogueira e Leandro Konder O que ora lhes apresentamos é ao final de tudo isso uma versão nova do Manifesto Comunista de Marx e Engels Para as notas de rodapé em número reduzido uma vez que não era nossa intenção fazer uma edição crítica utilizamos como fontes as mesmas edições já citadas em especial as portuguesas dirigidas por MagalhãesVilhena e BarataMoura e o livro Le Manifeste Communiste de Marx et Engels Histoire et bibliographie de Bert Andréas Milão Feltrinelli 1963 As notas indicadas com números são de Marx eou Engels as indicadas com asterisco da edição brasileira Acréscimos e explicações estão indicados com colchetes no texto ou parênteses nas notas Nos seis ensaios que acompanham este Manifesto utilizamos o mesmo critério números para as notas dos autores e asteriscos para as notas da editora ou das traduções neste caso indicadas com N da T Ivana Jinkings 150 ANOS DO MANIFESTO COMUNISTA Osvaldo Coggiola O MANIFESTO do Partido Comunista foi publicado pela primeira vez no final de fevereiro ou início de março de 1848 em Londres Segundo Bert Andreas é provável que o próprio Marx tenha levado os originais de Bruxelas sua residência de exílio para Londres na última semana de fevereiro de 1848 A urgência foi ditada pela explosão dia 22 da revolução de fevereiro na França O Manifesto tinha sido encomendado a Marx entre três e quatro meses antes pela Liga dos Comunistas O Manifesto e 1848 Quando o Manifesto foi encomendado em novembro de 1847 todos acreditavam que a Europa estava às vésperas de uma revolução Apesar do sentimento geral de urgência Marx aparentemente despreocupado demorou para entregar o documento No final de janeiro a direção da Liga dos Comunistas sediada em Londres enviou a Marx uma carta impaciente O Comitê Central por meio desta autoriza o Comitê do Distrito de Bruxelas a comunicar ao cidadão Marx que caso o Manifesto do Partido Comunista que ele se propôs a redigir no último Congresso não chegue a Londres antes do dia 1º de fevereiro tomarseão medidas contra ele Na eventualidade do cidadão Marx não escrever o Manifesto o Comitê Central pede que os documentos a ele confiados pelo Congresso sejam devolvidos imediatamente A carta estava assinada por Bauer Schapper e Moll três operários alemães exilados em Londres que eram então dirigentes da Liga O Manifesto coincidiu com o início da esperada revolução Ela estourou na Suíça A Liga dos Justos e o comunismo O termo comunista merece uma explicação Na época o socialismo era considerado uma doutrina burguesa identificada com os vários esquemas reformistas experimentais e utópicos dos ideólogos pequenoburgueses Os comunistas eram aqueles que estavam claramente a favor da derrubada revolucionária da ordem existente e do estabelecimento de uma sociedade igualitária O comunismo dessa época originarase de uma dissidência de extrema esquerda do jacobinismo francês representado por Gracchus Babeuf e Filippo Buonarroti A Liga dos Justos era composta por trabalhadores principalmente artesãos alemães exilados alocados em Londres Bruxelas e Paris e em algumas partes da Alemanha Não se tratava de proletários modernos trabalhando em grandes fábricas mecanizadas No entanto eles foram atraídos pelas concepções de Marx e Engels acerca da natureza da sociedade capitalista moderna A Liga dos Justos trazia em sua bandeira o slogan Todos os homens são irmãos Quando abraçou as concepções de Marx e tornouse a Liga dos Comunistas adotou o chamado do Manifesto Proletários de todos os países univos fraternidade não é uma palavra vazia mas uma realidade e toda a nobreza da humanidade irradia desses homens endurecidos pelo trabalho A influência do cartismo Levandose em conta essa história tornase compreensível o fragmento do Manifesto consagrado à atitude dos comunistas diante dos outros partidos operários Ela era ditada pelo estado do movimento operário na época particularmente na Inglaterra Os cartistas que haviam ingressado na Liga o fizeram com a condição de que pudessem manter sua ligação com o partido O seu intuito era organizar uma espécie de núcleo comunista no cartismo para ali expandir o programa e os objetivos dos comunistas A influência do movimento cartista foi portanto decisiva para o surgimento do comunismo operário O cartismo por sua vez testemunha o impetuoso surgimento da classe operária no cenário social europeu Já fazia tempo que esta enorme força social em pleno processo de formação não se limitava ao plano defensivo ou à atividade puramente sindical mas também se projetava na ação política Em janeiro de 1792 oito homens criaram a London Corresponding Society que se organizou em grupos de trinta membros baseada em uma contribuição financeira acessível aos operários No final desse ano a sociedade contava já com três mil membros Seus objetivos sufrágio universal igualdade de representação Parlamento honesto fim dos abusos contra os cidadãos humildes fim das pensões outorgadas pelo Parlamento aos membros das classes dirigentes menor jornada de trabalho diminuição dos impostos e entrega das terras comunais aos camponeses rentes do pensamento dos democratas burgueses radicais7 Na prática porém foram bem além disso O desenvolvimento social e político da classe operária criou as bases so ciais para a superação do socialismo até então existente tanto na Frân ça SaintSimon Fourier como na Inglaterra Owen O termo utopistas aplicado a estes três visionários foi assim explicado por Engels Se os utopistas foram utopistas é porque numa época em que a produção ca pitalista estava ainda tão pouco desenvolvida eles não podiam ser outra coisa Se foram obrigados a tirar das suas próprias cabeças os elementos de uma nova sociedade é porque de uma maneira geral estes elementos não eram ainda bem visíveis na velha sociedade se limitaramse a apelar à razão para lançarem os fundamentos de seu novo edifício é porque não podiam ainda apelar à História contemporânea Na própria França o socialismo não baseado na luta de classes teve a sua continuação com o trabalhador artesanal sapateiro PierreJoseph Proudhon que em A Organização do Crédito afirmava O que precisamos o que reivindico em nome dos trabalhadores é a reciprocidade a igualdaae na troca a organização do crédito O crédito gratuito era a solução do pro blema social com ele os trabalhadores comprariam a sua liberdade do capitalista A propriedade é um roubo tinha afirmado Proudhon contra o capitalismo propondo o sistema mutualista baseado na gratuidade do crédito Mas fracassaram suas tentativas de organizar um Banco dos Traba lhadores pela lógica concorrência dos bancos capitalistas Como diz George Lichteim não se tratava de um sistema socialista por carecer de planeja mento central e menos ainda era comunitário O que era Talvez apenas a peculiar visão de Proudhon sobre o socialismo Apesar de criticálo Marx viu em Proudhon um sapateiro a demonstração da capacidade de pensa mento independente da classe operárial Outro francês Louis Blanc por sua vez propunha que o Estado reme diasse o problema social Em A Organização do Trabalho criticava a econo mia individual sustentando que a economia coletiva a fábrica acabaria por se impor O Estado Popular deve regular a produção Para isso cria ria Oficinas Nacionais mistas privadas e estatais a fim de que todos pu dessem ter trabalho A concorrência levará à transformação social pacífíca afirmava rejeitando explicitamente todo ato de violência revolucio nária E completava A revolução social pode ser atingida talvez com 7 Wolfgang Abendroth Historia Social del Movimiento Obrero Europeo Barcelona Laia 1978 p 45 maior facilidade por meio da colaboração entre os operários e a burgue sia Para isto um instrumento o sufrágio universal Estado Popular Foi com referência a estes dois últimos que Marx em Miséria da Filosofia de 1847 afirmou que o ideal corretivo que gostariam de aplicar ao mundo não é senão o reflexo do mundo atual É totalmente impossível reconstituir a sociedade sobre a base de uma sombra embelezada da mesma Na me dida em que a sombra vira corpo percebese que o corpo longe de ser o sonho imaginado é apenas o corpo da sociedade atual De acordo com JeanChristian Petitfils nem a reforma eleitoral nem o desenvolvimento do movimento cartista interessaram a Robert Owen para quem o sufrágio universal era uma simples mania popular Na França as oposições dinásticas e as aspirações republicanas da oposição deixaram SaintSimon e Fourier indiferentes Ambos saíram das provas da Revolu ção de 1789 bastante decepcionados para não dizer mais sem grandes simpatias pelos jacobinos ou pelos babezufistas O partido comunista verdadeiramente atuante Paralelamente aos grandes construtores de sistemas sociais outra tendência se desenvolveu diretamente ligada aos movimentos populares Foi a tendência radical das revoluções democráticas caracterizada pelas suas propostas igualitárias que foram paulatinamente designadas pelo termo comunismo Engels rastreou as origens dessa tendência nos primeiros grandes le vantes contra a aristocracia na época da Reforma e das guerras campo nesas na Alemanha a tendência dos anabatistas e de Thomas Münzer na grande revolução inglesa os levellers e na grande Revolução Francesa Babeuf E esses levantes revolucionários de uma classe incipiente são acom panhados por sua vez pelas correspondentes manifestações teóricas nos séculos XVI e XVII surgem as descrições utópicas de um regime ideal de sociedade no século XVIII teorias já declaradamente comunistas como as de Morelly e Mably A reivindicação da igualdade não se limitava aos direitos políticos mas também às condições sociais de vida de cada indi viduo Já não se tinha em mira abolir apenas os privilégios de classe mas acabar com as próprias diferenças de classe Karl Marx viu nesta tendência o partido comunista verdadeiramente atuante Nos seus Princípios de Comunismo anteriores ao Manifesto Engels respondeu assim à pergunta o que é comunismo É um sistema se gundo o qual a terra deve ser um bem comum dos homens Cada um deve trabalhar e produzir de acordo com as suas capacidades e gozar e consu 17 mir de acordo com as suas forças Diferenciandoo claramente do socia lismo que deve seu nome à palavra latina socialis Ocupase da organi zação da sociedade e das relações entre os homens Mas não estabelece nenhum sistema novo sua ocupação principal é consertar o velho edifí cio esconder as suas fissuras obra do tempo No máximo como os fourieristas pretendem construir um sistema novo acima dos velhos e po dres alicerces do chamado capitalismo No momento mais radical da revolução inglesa do século XVII uma maioria parlamentar chegou a apoiar os levellers igualitários ou niveladores os quais procuravam levar as idéias democráticas à sua conclusão lógica atacando todos os privilégios e proclamando a terra como uma herança natural dos homens Os levellers se concentravam na refor ma política o socialismo implícito da sua doutrina ainda se exprimia em linguagem religiosa Seus continuadores radicais foram os diggers cava dores muito mais precisos em relação à sociedade que desejavam esta belecer e que totalmente descrentes de uma ação política de tipo normal só acreditavam na ação direta Mas a revolução inglesa foi vitoriosa como revolução burguesa conciliandose finalmente com a monarquia e elimi nando as suas alas radicais O período mais radical da Revolução Francesa também foi concluído com a derrota de sua direção os jacobinos donos do poder entre 1792 e 1794 mas estes também tiveram os seus continuadores radicais na cha mada Conspiração dos Iguais encabeçada em 1796 por Gracchus Babeuf Como o próprio nome indica esta fração propôs um programa de pro priedade comunal para aprofundar a revolução uma espécie de socialismo agrário a indústria ainda estava escassamente desenvolvida E foi menos uma conspiração do que uma continuação das insurreições contra a reação antijacobina o Thermidor instalada no poder as revoltas de Germinal e Prairial Segundo Daniel Guérin Babeuf e seus amigos entra ram em contato com os sobreviventes dessas insurreições aprovando seus projetos de poder popular e criticando a fraqueza dessas tentativas a sua desorganização Os Iguais constituíram uma organização centralizada cujo programa criticava a lei bárbara ditada pelo capital que faz mover uma multidão de braços sem que aqueles que os movem recolham daí os fru tos Segundo Guérin no seu clássico Bourgeois et BrasNus o aperfeiçoa mento do maquinismo e o progresso técnico estavam na base do coletivismo dos Iguais cuja proposta política chegou ao limiar da democracia direta de tipo comunal e de conselhos dirigentes eleitos diretamente pela base e permanentemente revogáveis 18 10 A tradição comunista Os Iguais foram derrotados seus dirigentes presos ou como o próprio Babeuf guilhotinados No processo foram acusados de jacobinos e ter roristas Mas criaram uma tradição que sobreviveu em poesias e cantos e num programa em que se lia Um povo sem propriedade e sem os ví cios e os crimes a que ela dá origem não teria necessidade do grande nú mero de leis sob o qual penam as sociedades civilizadas da Europa Não se tratava de maquinações de grupos à margem da corrente histó rica A luta contra o monopólio da propriedade tinha sido proclamada pela própria Constituição jacobina de 1793 embora nunca levada à prática Aquela elevou a igualdade ao nível dos direitos naturais imprescritíveis e deixou de qualificar a propriedade de direito inviolável e sagrado Por outro lado fora da França além dos intelectuais revolucionários foram sobretudo os representantes da nascente classe operária os que lutaram pelos objetivos da Revolução Francesa a solidariedade internacional pela democracia e os direitos do homem A oposição à coalizão das potências européias contra a Revolução Francesa teve sua base social na Inglaterra nos oficiais artesãos e nos operários8 A tradição e o programa igualitarista crescentemente denominado co munista da Revolução Francesa foram transmitidos diretamente ao mo vimento operário por um sobrevivente dos Iguais Felipe Buonarroti des cendente do escultor italiano Michelangelo Buonarroti que escreveu um livro História da Conspiração dos Iguais Em Democracia e Socialismo Arthur Rosenberg informa que após 1830 o livro de Buonarroti era muito co nhecido entre os operários Pertencia à literatura popular junto com os di cursos de Robespierre e os artigos de Marat líderes jacobinoradicais da Revolução Francesa Assim como notou Eric J Hobsbawm na década de 1840 a história eu ropéia assumiu uma nova dimensão o problema social ou melhor a revo lução social em potência encontrava expressão típica no fenômeno do pro letariado Sobre a base de uma classe operária que crescia e se mobilizava era agora possível uma nova e mais significativa fusão da experiência e das teorias jacobinorevolucionáriascomunistas com as socialistasassocia cionistas Na França o jornal democrático Le National atacava em 1847 os comunistas Outro jornal democrático La Réforme lhe respondia As pro postas econômicas dos comunistas estão mais próximas de nós do que as 19 8 Idem p 39 11 do Le National porque lhes reconhecemos o direito à discussão e porque as doutrinas que vêm dos próprios operários são sempre dignas de atenção O comunismo portanto era identificado com o proletariado como sur gido dentro dessa classe e como sua expressão teóricodoutrinária Num paralelo notável poucos anos antes Marx como editor da Rheinische Zeitung Gazeta Renana polemizou contra um jornal alemão o Augsburger que também atacava o comunismo Ele respondeu em sín tese vocês não têm o direito de atacar o comunismo Não conheço o co munismo mas se ele assumiu a defesa dos oprimidos não pode ser con denado sem mais Antes de condenálo é preciso ter um conhecimento exato e completo dessa corrente Quando saiu da Rheinische Zeitung Marx não era ainda um comunista mas já era um homem interessado no co munismo como tendência e como filosofia especial9 As etapas da passa gem de Marx do democratismo radical ao comunismo em meados da dé cada de 1840 encontramse registradas nos Anais FrancoAlemães edita dos por Marx em comum com seu amigo Arnold Ruge Democracia e comunismo Na Inglaterra no final da década de 1840 o movimento cartista dividiuse os seus membros intelectuais e de classe média se agruparam na As sociação Nacional para a Reforma Parlamentar e Financeira os seus mem bros operários por sua vez apoiaram a Associação Nacional da Carta dirigida por Ernest Jones e George Harney e a Liga Nacional da Refor ma dirigida por Bronterre OBrien ambas de programa socialista Harney e Jones mantinham estreito contato com os exilados operários e artesãos alemães junto aos quais Marx e Engels gozavam de ampla influência 9 David Riazanov Op cit p 37 A resposta concreta de Marx foi AGazeta Renana Rheinische Zeitung que não pode sequer atribuir uma realidade teórica às idéias comu nistas em sua atual forma e muito menos desejar ou considerar possível a sua realização prát ica submeterá essas idéias a uma crítica severa Se o Augsburger quisesse e pudesse produ zir mais do que frases escorregadias ele perceberia que escritos como os de Leroux Considérant e sobretudo o trabalho penetrante de Proudhon só podem ser criticados depois de longa e pro fundamente estudados e não por meio de noções passageiras e superficiais Devido a esse desacordo temos que considerar com toda seriedade esses trabalhos teóricos Estamos firme mente convencidos de que o verdadeiro problema reside não no esforço prático mas na expli cação teórica das idéias comunistas Tentativas práticas perigosas mesmo que realizadas em larga escala podem ser derrubadas de um só golpe mas as idéias conquistadas pela inteligên cia incorporadas em nossa perspectiva forjadas em nossa consciência são amarras das quais não nos livramos sem partir nossos corações são demônios que superamos apenas quan do a eles nos submetemos grifo nosso 20 12 No festival operário comemorativo da proclamação da República Fran cesa de 1792 celebrado em Londres em 1845 o manifesto declarou que os democratas de todos os países desejam que a igualdade à qual aspi rou a Revolução Francesa renasça na França e se estenda a toda a Euro pa No seu informe a respeito desse festival Engels escrevia que atual mente a democracia é o comunismo A democracia se transformou em prin cípio proletário princípio de massas grifo nosso Dois anos depois em 1847 como já foi dito a Liga dos Justos que tinha organizado o festival junto aos cartistas ingleses e outros exilados encarregou a Marx e Engels a redação de seu programa que se transformaria no Manifesto Comunista o que levou à mudança no nome da Liga A assimilação entre democracia e comunismo era própria da época e seria superada pela defesa da ditadura do proletariado conceito erronea mente atribuído a Blanqui que Marx vai realizar depois das revoluções de 1848 como balanço das derrotas dessas revoluções o folheto de Marx As Lutas de Classes na França 18481850 registra essa passagem teórico programática Mas ainda em julho de 1846 Marx e Engels dirigiram de Bruxelas em nome de um grupo de emigrados alemães uma declaração de apoio e de adesão ao líder cartista inglês OConnor publicada na folha cartista The Northern Star e assinada pelos comunistas democráticos alemães de Bruxelas o Comitê Engels Ph Gigot Marx grifo nosso David Riazanov força o texto e a História ao afirmar que quando o Ma nifesto assimila a constituição do proletariado como classe dominante à conquista da democracia Marx se refere a uma democracia proletária oposta à democracia burguesa10 Isto não é verdade em meados da déca da de 1840 a democracia era o movimento geral de luta contra o status quo monárquicoaristocrático prevalecente Além disso Marx e Engels não foram antes de serem comunistas democratas vulgares Eles proporcio navam pela primeira vez ao movimento democrático uma compreensão real e completa de seu tempo As idéias atrasadas e infantis sobre o desenvolvi mento econômicosocial do mundo a que estavam apegados os líderes de maçráticos de todos os países antes de 1848 lhes eram alheias Marx e Engels foram portanto os primeiros democratas que se libertaram cora pletamente dessas ilusões e do gosto pelas experiências abstratas Compreen diam seu tempo porque se apropriarn de tudo o que os pensadores da burguesia tinham a dizer de sua própria classe Os economistas ingleses e 21 10 David Riazanov Manifiesto ed cit p 136 os filósofos alemaes haviam compreendido perfeitamente a essÍncia da sociedade burguesa moderna Marx e Engels ao colocarem as doutrinas de Ricardo e de Hegel a serviço da revolução democrática descobriram os fundamentos teóricos dos quais careciam Louis Blanc OConnor e Mazzini11 Mas isto fazendo Marx e Engels viramse na obrigação de superar esse fundamento teórico isto é a filosofia clássica alemã e a economia poIltica inglesa elaborando uma síntese teóricoprática que deu um novo fundamento científico ao já existente comunismo Historicidade da democracia O caráter ilusório da democracia burguesa já fora denunciado por Jean Jacques Rousseau no século XVIII O povo inglês pensa ser livre porém enganase totalmente É livre somente durante a eleição dos membros do Parlamento depois que estes são eleitos é escravo não é nada A soberania não pode ser representada consiste essencialmente na vontade geral e a vontade não se representa É ela mesma ou é outra coisa não há meiotermo O Manifesto colocou positivamente a superação da natureza nãodemocrática do Estado constitucional a primeira fase da revolução operária é o advento do proletariado como classe dominante a conquista da democracia Democracia e domínio político da burguesia são incompatíveis não existe Estado democrático sob hegemonia burguesa e hipoteticamente sob hegemonia proletária mas ditadura burguesa sob formas democráticas A conquista da democracia exige portanto uma revolução cujo primeiro passo é como em toda revolução a destruição da máquina repressiva que é a essência do antigo regime de exploração sem o que a democracia não passa de uma fachada da ditadura da classe exploradora Democracia e comunismo não são idênticos o proletariado no poder só começa a efetuar a passagem para a sociedade comunista por meio da supressão da propriedade privada burguesa e da progressiva socialização dos meios de produção A democracia tem como consequência inevitável o domínio político do proletariado e esse domínio é a primeira premissa de todas as medidas comunistas escreveu Engels em outubro de 1847 Com a sociedade comunista de cada qual segundo as suas capacidades a cada qual segundo as suas necessidades criamse as bases para a superação da alienação política representação mediada pela burocracia estatal da separação entre a sociedade política e a civil Mas nas palavras do Manifesto com a supressão do fundamento dessa cisão a propriedade privada burguesa desaparece o Estado Político e portanto a democracia forma mais desenvolvida desse Estado Uma vez desaparecidos os antagonismos de classe no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados o poder público perderá o seu caráter político Em lugar da antiga sociedade burguesa com suas classes e antagonismos de classe surge una associação onde o livre desenvolvimento de cadaum é a condição do livre desenvolvimento de todos grifo nosso No Manifesto Marx e Engels combateram antecipadamente a ilusão dos revolucionários de 1848 para quem na base das diferenças e antagonismos de classe encontravase a desigualdade política Consequentes com isso quando o governo revolucionário decretou o sufrágio universal declararam também abolidas as classes da sociedade Tal declaração encontrase ipsis litteris na proclamação do governo provisório francês surgido da revolução de fevereiro de 1848 A idéia da universalidade atemporal de uma forma política a democracia apresentada como própria de Marx nada tem a ver com este Certamente Marx e Engels não desprezavam a luta pelo sufrágio universal ainda que sob domínio burguês da mesma maneira que não desprezavam a luta por aumentos salariais ou pela redução da jornada de trabalho em nome da abolição do trabalho assalariado O primeiro partido operário independente o movimento cartista inglês tinha surgido justamente da luta pela extensão do direito do sufrágio O que Marx e Engels faziam era pôr em relevo o caráter revolucionário dessa luta a qual por modestas que fossem as suas reivindicações iniciais conduzia necessariamente a um enfrentamento decisivo entre a burguesia e o proletariado Por isso Marx qualificou a obtenção da jornada de dez horas na Inglaterra em 1847 como a primeira vitória da economia política do proletariado Na França em 1848 a luta pela república acabou pondo frente a frente a burguesia e a classe operária A simples reivindicação do direito ao trabalho originou a Comissão de Luxemburgo que não passou de alguns intentos de cooperativização mas a sua existência bastou para que Marx afirmasse que a esta criação dos operários de Paris cabe o mérito de ter revelado do alto de uma tribuna européia o segredo da revolução do século XIX a emancipação do proletariado12 11 Arthur Rosenberg Democracia e Socialismo São Paulo Global 1986 pp 8991 12 Karl Marx As Lutas de Classes na França In Textos São Paulo Edições Sociais 1977 vol 3 p 120 22 23 Comunismo e revolução Até as revoluções de 1848 os comunistas já uma tendência independentes consideravamse junto à democracia do mesmo lado da barricada no mesmo movimento contra a reação feudal e monárquica os comunistas trabalharn pela união e entendimento dos partidos democráticos de todos os países diz o Manifesto A democracia revolucionária a Montanha na França os Fraternal Democrats na Inglaterra ainda colocava revolucionariamente as suas reivindicações no sentido da luta das massas contra a aristocracia e de um governo independente das massas populares sem diluílas numa democracia formal que só aspira à extensão do direito do sufrágio O desenvolvimento revolucionário do proletariado porém levou a burguesia a aliarse à reação ao preço inclusive de suas minguadas aspirações democráticas O liberalismo burguês traiu a revolução e a democracia radical a Montanha foi uma caricatura do jacobinismo de 17921794 A meio caminho entre o proletariado e a burguesia a sua velha base social as massas pobres de sansculottes tinha se cindido do seu seio já surgira um proletariado socialmente diferenciado teve um papel lamentável na revolução Com a derrota desta estava liquidada a democracia revolucionária tal como a modelara a Revolução Francesa LedruRollin declamando inconscientemente entre as classes e Raveaux levaram ao túmulo o que tinha sido fundado por Robespierre e SaintJust13 No seu lugar surgiu a democracia pura pequenoburguesa da qual Marx disse em 1850 na Circular à Liga dos Comunistas que este partido democrático é mais perigoso para os operários do que foi o partido liberal pois tal como constatou Engels em 1884 só poderia ser um recurso extremo da burguesia contra a revolução proletária Ela pode ter no momento da revolução importância como a mais extrema tendência da burguesia forma sob a qual já se apresentou na Assembléia de Frankfurt em 18481849 e que pode converterse na última tábua de salvação de toda a economia burguesa e mesmo da feudal Nesse momento toda a massa reacionária se coloca por trás dela e a fortalece Tudo o que é reacionário comportase então como democrático Nosso único inimigo no dia da crise e no dia seguinte é essa reação total que se agrupa em torno da democracia pura A derrota do operariado e a crise da democracia revolucionária tinham também um conteúdo positivo A derrota dos insurretos de junho preparara e aplanara o terreno sobre o qual a república burguesa podia ser fundada e edificada mas demonstrava ao mesmo tempo que na Europa as questões em foco não eram apenas a República ou a Monarquia Revelara que a república burguesa significava o despotismo ilimitado de uma classe sobre as outras14 Assim ia se esclarecendo o caminho político para o advento do proletariado como classe dominante O proletariado vai se agrupando cada vez mais em torno do socialismo revolucionário do comunismo que é a declaração de permanência da revolução da ditadura do proletariado como ponto de transição necessário para a supressão das diferenças de classe em geral para a supressão de todas as relações de produção em que repousam tais diferenças de todas as relações sociais que correspondem a estas relações de produção para a subversão de todas as idéias que resultam dessas relações sociais15 Na luta pelas liberdades democráticas de organização sindical e política o proletariado defende o seu direito a organizarse contra o capital o seu direito à vida Situandose à frente dessa luta os comunistas não o fazem em nome de um ideal democrático universal por cima das classes que seria comum ao proletariado e à burguesia Na luta pela defesa e ampliação da democracia política contra a reação burguesa a classe operária age com seus próprios métodos ação direta greve geral preparando as condições para a derrubada da burguesia Nessas condições o sufrágio universal é o índice que permite medir a maturidade da classe operária No Estado atual não pode nem poderá jamais ir além disso mas é o suficiente No dia em que o termômetro do sufrágio universal registrar para os trabalhadores o ponto de ebulição eles saberão tanto quanto os capitalistas o que lhes resta a fazer16 No seu escrito de outubro de 1937 Noventa Anos do Manifesto Comunista Leon Trotsky resgatou a interpretação revolucionária do Manifesto contra a sua deformação democratizante O proletariado não pode conquistar o poder dentro do sistema legal estabelecido pela burguesia Os comunistas proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente O reformismo procurou explicar este postulado do Ma 13 Arthur Rosenberg Op cit p 108 14 Karl Marx O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte In Textos Op cit vol 3 p 220 15 Karl Marx As Lutas de Classes na França In Textos Op cit vol 3 p 121 16 Friedrich Engels Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado Rio de Janeiro Vitória 1964 p 138 24 25 nifesto com base na imaturidade do movimento operário nessa época e no desenvolvimento inadequado da democracia O destino das democracias italiana alemã e de um grande número de outras prova que a imaturidade é o traço que distingue as idéias dos próprios reformistas As origens do Manifesto O grande antecedente do Manifesto Comunista são os Princípios do Comunismo redigidos por Engels por encomenda da Liga dos Justos sob a forma de perguntas e respostas catecismo nos quais o comunismo é definido como a aprendizagem das condições de libertação do proletariado17 Assim como o Manifesto os Princípios contêm um programa de ação na verdade um verdadeiro programa transicional em doze pontos e define claramente que a revolução proletária não será feita num só país já que a grande indústria criando o mercado mundial aproximou já tão estreitamente uns dos outros os povos da Terra que cada povo depende estreitamente do que acontece com os outros a revolução social não será uma revolução puramente nacional Produzirseá ao mesmo tempo em todos os países civilizados Engels foi o precursor do antistalinismo Foi o próprio Engels quem sugeriu a substituição dos Princípios pelo Manifesto que poderia conter os elementos históricos que o catecismo não continha De acordo com Franz Mehring a forma dos Princípios teria em todo caso contribuído para tornálo acessível a todos e não o contrário Teria sido mais apropriado às necessidades de agitação do momento do que o Manifesto que o substituiu quanto ao desenvolvimento das idéias os dois documentos coincidem inteiramente No entanto Engels mostrando até que ponto era escrupuloso sacrificaria de saída as 25 perguntas e respostas por uma exposição histórica o Manifesto no qual o comunismo se anunciaria como um fenômeno histórico universal deveria como dizia o historiador grego Tucídides ser uma obra durável e não um panfleto para ser esquecido tão rapidamente quanto lido O Manifesto posterior não contém uma única idéia que Marx e Engels já não tivessem exposto anteriormente Ele não revelava nada ele apenas concentrava a nova concepção do mundo de seus autores em um espelho cujo vidro não poderia ser mais transparente nem o quadro mais circunscrito A julgar pelo estilo a forma definitiva do Manifesto devese principalmente a Marx enquanto Engels como demonstra o seu projeto conhecia com a mesma clareza as idéias que foram expostas merecendo plenamente o título de coautor18 O próprio Engels reconheceu posteriormente a paternidade de Marx sobre as idéias fundamentais do Manifesto Engels no entanto havia tido um papel muito mais ativo do que Marx na Liga o que fez nascer uma suposta divisão de trabalho entre um Engels prático e um Marx teórico esquecendo o importante trabalho de organização feito por Marx nos três anos precedentes Riazanov protestou contra essa lenda Os historiadores não levaram em consideração todo esse trabalho de organização de Marx quando fizeram dele um pensador de biblioteca Não perceberam o papel de Marx como organizador perdendo assim um dos ângulos mais interessantes de sua fisionomia Sem conhecer o papel que Marx e eu digo Marx e não Engels exerceu entre 184647 como dirigente e inspirador de todo esse trabalho de organização fica impossível compreender o grande papel que ele exerceu em seguida como organizador entre 184849 na época da I Internacional19 O exagero de Riazanov quanto ao papel de Engels não ao de Marx é um excesso polémico contra a socialdemocracia que no período em que foi escrita a obra de Riazanov fazia apelo ao reformismo inexistente de Engels contra o revolucionarismo bolchevique O Manifesto e a dialética O ponto de partida históricouniversal total e simultaneamente classista já contido nos Princípios e desenvolvido no Manifesto permitiu a Marx e Engels superar a filosofia da qual eram ambos tributários o hegeliansimo na questãochave do Estado que Hegel ainda via sob uma forma abstrata e ao mesmo tempo localista alemã Uma multidão de seres humanos somente pode ser chamada Estado se estiver unida para a defesa comum da totalidade Gesamtheit de aquilo que é sua propriedade Para que uma multidão constitua um Estado é necessário que organize uma defesa e uma autoridade política comum20 Para Marx e Engels o Estado nasce dos antagonismos de classe e na 17 Cf Friedrich Engels Princípios do Comunismo e Outros Textos São Paulo Mandacaru 1990 18 Franz Mehring Vie de Karl Marx Paris Pie 1984 pp 662663 19 David Riazanov Marx et Engels ed cit p 72 20 G W F Hegel La Constitución de Alemania Madri Aguilar 1972 pp 2223 26 27 era burguesa ele é de acordo com o Manifesto o comitê administrativo dos interesses cpmuns da burguesia Esta afirmação nada tem de circunstancial como se pretendeu posteriormente e resulta do posicionamento metodológico mais profundo do Manifesto ou seja do marxismo O mais notável porém é que o Manifesto não é só uma novidade com relação à concepção linear dos pensadores históricosociais do século XVIII mas também com relação à concepção semelhante defendida por pensadores do século XX os mesmos que consideram Marx como um pensador do século XIX cujas concepções só se vinculariam à realidade histórica de sua época Comparase assim a precisa e viva análise do Manifesto acerca da ruptura qualitativa imposta pela era do capital na História universal suas raízes diferenciadas dos modos de produção precedentes abrindo o período da História mundial propriamente dita com as concepções de um Immanuel Wallerstein acerca do capitalismo histórico para quem o capital sempre existiu sendo o capitalismo o sistema em que o capital veio a ser usado investido de forma muito específica O capitalismo histórico significaria a mercantilização generalizada dos processos que anteriormente haviam percorrido vias que não as de um mercado Um retrocesso de um século e meio com relação à superação da produção mercantil pela produção capitalista e à concepção dialética da História que inclui as rupturas históricas já expostas no Manifesto O Manifesto reconhece seus antecedentes além do já citado de Engels os Princípios em toda a obra teórica precedente de Marx Maximilien Rubel já disse que foi em Paris que Marx escreveu para os Anais FrancoAlemães um primeiro manifesto revolucionário que já foi chamado de o germe dO Manifesto Comunista Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie Einleitung Nesse ensaio ele se refere pela primeira vez ao proletariado como classe e fala da formação Bildung da classe operária Esses dois conceitos já haviam sido associados concretamente em um documento publicado em Paris quatro meses antes de sua chegada em LUnion Ouvrière de Flora Tristan Em 1843 a grande organizadora operária francesa Flora Tristan fazia um chamado Venho propor a união geral dos operários e operárias de todo o reino sem distinção de ofícios Esta união teria por objetivo construir a classe operária e construir estabelecimentos Palácios da União Operária distribuídos por toda a França Seriam aí educadas crianças dos dois sexos dos 6 aos 18 anos e seriam também recebidos os operários doentes os feridos e os velhos Há na França cinco milhões de operários e dois milhões de operárias Na sua Critica da Filosofia do Direito de Hegel Marx criticava no filósofo alemão que reclamasse não só o espírito do Estado mas também o espírito da autoridade o espírito burocrático chegando a criticar a inconseqüência surda e o espírito da autoridade de Hegel que chegam a ser verdadeiramente repugnantes grifo de Marx O espectro que ronda a Europa No mesmo momento em que Marx chegava a essas conclusões o comunismo se tornava uma força política na Alemanha e na Europa o espectro de que fala o Manifesto na sua frase inicial De acordo com David McLellan o socialismo e o comunismo os termos eram usados aleatoriamente na Alemanha nessa época tinham existido como doutrina na Alemanha desde pelo menos o início da década de 1830 mas foi em 1842 que eles atraíram a atenção geral pela primeira vez Isso se deu em parte por intermédio de Moses Hess que converteu tanto Engels como Bakunin ao comunismo e publicou anonimamente propaganda comunista na Rheinische Zeitung e em parte graças ao livro de Lorenz von Stein Sozialismus und Kommunismus des heutigen Frankreichs Socialismo e Comunismo na França Contemporânea Este consistia numa investigação da difusão do socialismo francês entre os operários alemães imigrantes em Paris Em carta de Engels à Marx de 22 de fevereiro de 1845 aquele relata a situação em Elberfeld Nossa propaganda realiza um progresso extraordinário As pessoas só falam do comunismo e todo dia recrutamos novos partidários No vale do Wupper o comunismo já é uma realidade melhor dito é virtualmente uma força Você não pode imaginar como é favorável a situação As pessoas mais ignorantes mais preguiçosas e mais filistéias que há pouco não se interessavam por nada estão praticamente gabandose de seu comunismo Não sei quanto tempo isso irá durar A polícia enfrenta verdadeiras dificuldades e não sabe o que fazer acontecimento A crise econômica que precedeu o 1848 e sem a qual os movimentos insurreccionais não poderiam ter alcançado naquele ano uma amplitude muito superior àquela das conspirações tramadas ao longo das décadas precedentes por sociedades secretas ou grupos de conspiradores e inclusive aquela das banais emoções populares teve provavelmente um caráter excessivamente clássico normal para provocar uma peculiar inquietude em todos aqueles que fisicamente não foram vítimas dele Coube a Marx justamente o mérito de ter sido o único a prever a amplitude social dos acontecimentos iminentes e de formular um programa de acordo com essa perspectiva que não era vista pela burguesia liberal revolucionária seus ideólogos e chefes políticos Os chefes do movimento liberal são professores universitários Eles são hostis tanto aos plutocratas da França como à aristocracia privilegiada Eles não se ocupam do povo Eles acreditam que os problemas deste não dizem respeito ao problema político que é o único que lhes interessa Dahlmann afinal não gostaria de ver fechado o acesso à escola para os filhos dos pobres para manter o nível de mãodeobra O mínimo que podemos dizer é que a burguesia compreendia mal o problema social O programa de Marx superava em virtude disso a perspectiva de uma revolução puramente burguesa nos países em que a burguesia não tinha ainda ascendído ao poder político Contrastando com essas justificativas economicistas de uma inevitável etapa revolucionária burguesa Marx e Engels também argumentavam a partir de uma perspectiva sociopolítica que anunciava uma concepção explicitamente permanentista da revolução Nesta problemática transicional a revolução burguesa aparece como précondição na medida em que abolindo a monarquia e o poder da nobreza feudal o terreno político fica livre para a contraposição direta entre burguesia e proletariado O prognóstico do Manifesto O famoso prognóstico do Manifesto a Alemanha se encontra às vésperas de uma revolução burguesa e realizará essa revolução nas condições mais avançadas da civilização européia e com um proletariado infinitamente mais desenvolvido que o da Inglaterra no século XVII e o da França no século XVIII e por conseguinte a revolução burguesa alemã só poderá ser o prelúdio imediato de uma revolução proletária se realizou pela negativa a revolução alemã não triunfou como revolução proletária mas por isso mesmo também abortou como revolução democrática burguesa No balanço ulterior de Trotsky em 1848 se chegou à pior das situações históricas o meiotermo A burguesia já não mais queria fazer a revolução Sua tarefa consistia antes em e disso ela se dava conta claramente incluir no velho sistema as garantias necessárias não para a sua dominação política mas simplesmente para uma divisão do poder com as forças do passado o proletariado ainda não podia fazêla por insuficiência de desenvolvimento social e político Em 1848 necessitavase de uma classe que fosse capaz de tomar o controle sobre os acontecimentos prescindindo da burguesia e inclusive em contradição com ela uma classe que estivesse disposta não apenas a empurrar a burguesia adiante com toda a sua força mas inclusive a tirar do caminho no momento decisivo o seu cadáver político Nem a pequena burguesia nem o campesinato eram capazes de fazêlo O proletariado era demasiadamente débil encontravase sem organização sem experiência e sem conhecimentos O desenvolvimento capitalista havia avançado o suficiente para tornar necessária a abolição das velhas condições feudais mas não o suficiente para permitir que a classe operária o produto das novas condições de produção se destacasse como uma força política decisiva Segundo o mesmo Trotsky o erro do Manifesto surgiu por um lado de uma subestimação das possibilidades futuras latentes no capitalismo e por outro de uma sobreestimação da maturidade revolucionária do proletariado A revolução de 1848 não se transformou em uma revolução socialista como o Manifesto havia calculado mas permitiu à Alemanha um vasto crescimento posterior de tipo capitalista De acordo com Engels a desgraça da revolução alemã foi ter chegado a reboque da revolução na França tendo a burguesia manifestado seu pavor em ser superada pela revolução social não a partir dos acontecimentos alemães mas das jornadas de junho em Paris a primeira jornada política independente da classe operária Para além do erro de prognóstico resta O que Marx e Engels traziam ao comunismo já existente era uma capacidade de formular seus objetivos baseada numa síntese de conhecimentos que nenhum de seus teóricos pregressos principalmente franceses e ingleses possuía por diversos motivos Antes de 1848 a única práxis sobre a qual Marx podia refletir era a dos jacobinos e seus sucessores entre as seitas radicais de Paris por outro lado a sua economia e a de Engels era já a dos socialistas ricardianos e owenistas da GrãBretanha Mas o arsenal de instrumentos conceituais com que contribuiu para o conhecimento dos fatos compreendia um elemento que nem o racionalismo francês nem o empirismo britânico podiam prover a filosofia da História de Hegel e a visão de que a totalidade do mundo forma um conjunto ordenado que o intelecto pode compreender e dominar Em 1860 em Herr Vogt Marx expôs o caminho teórico que o levaria à redação do Manifesto como programa para a Liga dos Justos ou dos Comunistas percorrido na década de 1840 Publicamos ao mesmo tempo uma série de folhetos impressos ou litografados Submetemos a uma crítica impiedosa a mistura de socialismo ou comunismo anglofrancês e de filosofia alemã que constituía na época a doutrina secreta da Liga estabelecemos que apenas o estudo científico da estrutura econômica da sociedade burguesa podia proporcionar uma sólida base teórica e expusemos por último em forma popular que não se tratava de colocar em vigor um sistema utópico mas de intervir com conhecimento de causa no processo de transformação histórica que se efetua na sociedade Em A Sagrada Família de 1845 Marx já tinha claro que se tratava de dotar de um programa a um movimento já existente e consciente de seus objetivos Não há necessidade de explicar aqui que uma grande parte do proletariado inglês e francês já está consciente de sua tarefa histórica e trabalha constantemente para desenvolver essa consciência com total clareza O objetivo político do Manifesto portanto é dotar de um programa a um partido cujos contornos estão ainda pouco definidos O partido communista de que fala o Manifesto é um partido internacional cujos embriões são a Liga dos Comunistas e os Fraternal Democrats isto é de um lado uma organização composta sobretudo por alemães mas dispersa por toda a Europa e de outro uma organização concentrada em Londres mas composta de representantes exilados de grupos operários e comunistas de vários países do continente O Manifesto e a revolução O Manifesto em 1848 foi portanto o arremate de uma obra teórica política e organizativa cujos diversos aspectos são inseparáveis ou como disse Fernando Claudín análises da conjuntura prérevolucionária formação da Liga dos Comunistas elaboração teórica estão estreitamente entrelaçadas na atividade de Marx e Engels durante o ano de 1847 e janeirofevereiro de 1848 sendo que o seu resultado políticoorganizacional no segundo congresso da Liga e sua grande síntese teóricopolítica foi o Manifesto O centro do Manifesto porém é a elaboração de um programa para a revolução vindoura na qual Jean Jaurès foi o primeiro em ver uma teoria da revolução proletária que coincide com aquela que mais tarde será chamada de revolução permanente O socialista argentino Juan B Justo criticou a dialética de Marx culpada segundo ele por têlo feito antever no Manifesto revoluções proletárias no horizonte de 1848 Para Karl Korsch o prognóstico de Marx sobre 1848 ficou preso à visão dos revolucionários do passado ao contrapor o programa da revolução social à concreta revolução democrática que se desenvolvia A sociedade burguesa nascida da revolução em sua sóbria realidade acabou por contradizer em grande medida tanto as elevadas idéias que de seus resultados haviam formado seus participantes e espectadores entusiastas quanto o heroísmo o sacrifício os horrores a guerra civil e as matanças populares que havia necessitado para vir ao mundo No entanto embora a explosão política de 1848 fosse previsível como dissemos acima o seu alcance social estava longe de ser evidente antes de seu o fato de que os eixos metodológicos do Manifesto se revelaram corretos 1º a idéia de que o desenvolvimento econÔmico e social a civilização seu grau de maturação revolucionária não podem ser medidos nos limites de um só Estado mas em escala internacional europeia no século XIX 2º a compreensão do fato de que uma revolução burguesa clássica de tipo inglês ou francês não se pode repetir na Alemanha em função do peso social e político que ganhou o proletariado no país 3º a intuição de que a revolução burguesa e a revolução proletária não são duas etapas históricas distintas mas dois momentos de um mesmo processo revolucionário ininterrupto36 A ressalva final de Löwy a afirmação de uma prioridade necessária da revolução burguesa abre a porta para uma interpretação de tipo etapista do texto não se justifica diante do texto do desenvolvimento histórico e sobretudo diante do balanço feito pelos próprios Marx e Engels A sina do Manifesto As revoluções de 1848 culminaram com a desmobilização proletária Foi um ano de desmobilização para o movimento operário em seu conjunto dominado pelo desânimo Em abril a Inglaterra conheceu o fracasso da grande manifestação cartista de Kennington Common ponto culminante da agitação política e social Em junho a fuzilaria da Guarda Nacional coloca na França um ponto final na era dos bons sentimentos surgida na euforia da revolução de fevereiro37 Na própria Alemanha acontece coisa semelhante de acordo com Engels não sem deixar estabelecidas as bases do movimento operário futuro Com a condenação dos comunistas de Colônia em 1852 fechamse as cortinas sobre o primeiro período do movimento independente dos trabalhadores alemães Tratase de um período hoje quase esquecido No entanto estendeuse desde 1836 até 1852 e o movimento se refletiu com a dispersão dos trabalhadores alemães pelo estrangeiro em quase todos os países civilizados Isso não é tudo O atual movimento internacional dos trabalhadores é no fundo uma continuação direta desse movimento alemão que foi o primeiro movimento operário internacional de onde saíram muitos daqueles que na Associação Internacional dos Trabalhadores tiveram um papel de liderança38 Manifesto Comunista Capa da primeira edição do Manifesto do Partido Comunista publicada em Londres no final de fevereiro de 1848 I Burgueses e proletários A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes Homem livre e escravo patrício e plebeu senhor feudal e servo mestre de corporação e companheiro em resumo opressores e oprimidos em constante oposição têm vivido numa guerra ininterrupta ora franca ora disfarçada uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira ou pela destruição das duas classes em conflito Nas mais remotas épocas da História verificamos quase por toda parte uma completa estruturação da sociedade em classes distintas uma múltipla gradação das posições sociais Na Roma antiga encontramos patrícios cavaleiros plebeus escravos na idade Média senhores vassalos mestres das corporações aprendizes companheiros servos e em cada uma destas classes outras gradações particulares A sociedade burguesa moderna que brotou das ruínas da sociedade feudal não aboliu os antagonismos de classe Não fez mais do que estabelecer novas classes novas condições de opressão novas formas de luta em lugar das que existiram no passado Entretanto a nossa época a época da burguesia caracterizase por ter simplificado os antagonismos de classe A sociedade dividese cada vez mais em dois campos opostos em duas grandes classes em confronto direto a burguesia e o proletariado Dos servos da Idade Média nasceram os moradores dos primeiros burgos desta população municipal saíram os primeiros elementos da burguesia A descoberta da América a circunavegação da África abriram um novo campo de ação à burguesia emergente Os mercados das Índias Orientais e da China a colonização da América o comércio colonial o incremento dos meios de troca e das mercadorias em geral imprimiram ao comércio à indústria e à navegação um impulso desconhecido até então e por conseguinte desenvolveram rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição A organização feudal da indústria em que esta era circunscrita a corporações fechadas já não satisfazia as necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados A manufatura a substituiu A pequena burguesia industrial suplantou os mestres das corporações a divisão do trabalho entre as diferentes corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina Todavia os mercados ampliavamse cada vez mais a procura por mercadorias continuava a aumentar A própria manufatura tornouse insuficiente então o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial A grande indústria moderna suplantou a manufatura a média burguesia manufatureira cedeu lugar aos milionários da indústria aos chefes de verdadeiros exércitos industriais aos burgueses modernos A grande indústria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da América O mercado mundial acelerou enormemente o desenvolvimento do comércio da navegação dos meios de comunicação Este desenvolvimento reagiu por sua vez sobre a expansão da indústria e à medida que a indústria o comércio a navegação as vias férreas se desenvolviam crescia a burguesia multiplicando seus capitais e colocando num segundo plano todas as classes legadas pela Idade Média Vemos pois que a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento de uma série de transformações no modo de produção e de circulação Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia foi acompanhada de um progresso político correspondente Classe oprimida pelo despotismo feudal associação armada e autônoma na comu na aqui república urbana independente ali terceiro estado tributário da monarquia depois durante o período manufatureiro contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta base principal das grandes monarquias a burguesia com o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial conquistou finalmente a soberania política exclusiva no Estado representativo moderno O executivo no Estado moderno não é senão um comité para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa A burguesia desempenhou na História um papel iminentemente revolucionário Onde quer que tenha conquistado o poder a burguesia destruiu as relações feudais patriarcais e idílicas Rasgou todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus superiores naturais para só deixar subsistir de homem para homem o laço do frio interesse as duras exigências do pagamento à vista Afogou os fervores sagrados da exaltação religiosa do entusiasmo cavaleiresco do sentimentalismo pequenoburguês nas águas geladas do cálculo egoísta Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca substituiu as numerosas liberdades conquistadas duramente por uma única liberdade sem escrúpulos a do comércio Em uma palavra em lugar da exploração dissimulada por ilusões religiosas e políticas a burguesia colocou uma exploração aberta direta despudorada e brutal A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas como dignas e encaradas com piedoso respeito Fez do médico do jurista do sacerdote do poeta do sábio seus servidores assalariados A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziuas a meras relações monetárias A burguesia revelou como a brutal manifestação de força na Idade Média tão admirada pela reação encontra seu complemento natural na ociosidade mais completa Foi a primeira a provar o que a atividade humana pode realizar criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito os aquedutos romanos as catedrais góticas conduziu expedições que empanaram mesmo as antigas invasões e as Cruzadas A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção por conseguinte as relações de produção e com isso todas as relações sociais A conservação inalterada do antigo modo de produção era pelo contrário a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores Essa subversão contínua da produção esse abalo constante de todo o sistema social essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes Dissolvemse todas as relações sociais antigas e cristalizadas com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas as relações que as substituem tornamse antiquadas antes de se consolidarem Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas relações com os outros homens Impelida pela necessidade de mercados sempre novos a burguesia invade todo o globo terrestre Necessita estabelecerse em toda parte explorar em toda parte criar vínculos em toda parte Pela exploração do mercado mundial a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países Para desespero dos reacionários ela roubou da indústria sua base nacional As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas diariamente São suplantadas por novas indústrias cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas indústrias que já não empregam matériasprimas nacionais mas sim matériasprimas vindas das regiões mais distantes e cujos produtos se consomem não somente no próprio país mas em todas as partes do mundo Ao invés das antigas necessidades satisfeitas pelos produtos nacionais surgem novas demandas que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e de climas os mais diversos No lugar do antigo isolamento de regiões e nações autosuficientes desenvolvemse um intercâmbio universal e uma universal interdependência das nações E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual As criações intelectuais de uma nação tornamse patrimônio comum A estreiteza e a unilateralidade nacionais tornamse cada vez mais impossíveis das numerosas literaturas nacionais e locais nasce uma literatura universal Com o rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e o constante progresso dos meios de comunicação a burguesia arrasta para a torrente da civilização todas as nações até mesmo as mais bárbaras Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China e obriga à capitulação os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros Sob pena de ruína total ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção constrangeas a abraçar a chamada civilização isto é a se tornarem burguesas Em uma palavra cria um mundo à sua imagem e semelhança A burguesia submeteu o campo à cidade Criou grandes centros urbanos aumentou prodigiosamente a população das cidades em relação à dos campos e com isso arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural Do mesmo modo que subordina o campo à cidade os países bárbaros ou semibárbaros aos países civilizados subordinou os povos camponeses aos povos burgueses o Oriente ao Ocidente A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção da propriedade e da população Aglomerou as populações centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos A conseqüência necessária dessas transformações foi a centralização política Províncias independentes ligadas apenas por débeis laços federativos possuindo interesses leis governos e tarifas aduaneiras diferentes foram reunidas em uma só nação com um só governo uma só lei um só interesse nacional de classe uma só barreira alfandegária A burguesia em seu domínio de classe de apenas um século criou forças produtivas mais numerosas e mais colossais do que todas as gerações passadas em seu conjunto A subjugação das forças da natureza as máquinas a aplicação da química na indústria e na agricultura a navegação a vapor as estradas de ferro o telégrafo elétrico a exploração de continentes inteiros a canalização dos rios populações inteiras brotando da terra como por encanto que século anterior teria suspeitado que semelhantes forças produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho social Vimos portanto que os meios de produção e de troca sobre cuja base se ergue a burguesia foram gerados no seio da sociedade feudal Numa certa etapa do desenvolvimento desses meios de produção e de troca as condições em que a sociedade feudal produzia e trocava a organização feudal da agricultura e da manufatura em suma o regime feudal de propriedade deixaram de corresponder às forças produtivas em pleno desenvolvimento Tolhiam a produção em lugar de impulsionála Transformaramse em outros tantos grilhões que era preciso despedaçar e foram despedaçados Em seu lugar surgiu a livre concorrência com uma organização social e política apropriada com a supremacia econômica e política da classe burguesa Assistimos hoje a um processo semelhante A sociedade burguesa com suas relações de produção e de troca o regime burguês de propriedade a sociedade burguesa moderna que conjurou gigantescos meios de produção e de troca assemelhase ao feiticeiro que já não pode controlar os poderes infernais que invocou Há dezenas de anos a história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as modernas relações de produção contra as relações de propriedade que condicionam a existência da burguesia e seu domínio Basta mencionar as crises comerciais que repetindose periodicamente ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos fabricados mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já criadas Uma epidemia que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo desaba sobre a sociedade a epidemia da superprodução A sociedade vêse subitamente reconduzida a um estado de barbárie momentânea como se a fome ou uma guerra de extermínio houvessem lhe cortado todos os meios de subsistência o comércio e a indústria parecem aniquilados E por quê Porque a sociedade possui civilização em excesso meios de subsistência em excesso indústria em excesso comércio em excesso As forças produtivas de que dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações burguesas de propriedade pelo contrário tornaramse poderosas demais para estas condições passam a ser tolidas por elas e assim que se libertam desses entraves lançam na desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa O sistema burguês tornouse demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio E de que maneira consegue a burguesia vencer essas crises De um lado pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas de outro pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos A que leva isso Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitálas As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo voltamse hoje contra a própria burguesia A burguesia porém não se limitou a forjar as armas que lhe trarão a morte produziu também os homens que empunharão essas armas os operários modernos os proletários Com o desenvolvimento da burguesia isto é do capital desenvolvese também o proletariado a classe dos operários modernos os quais só vivem enquanto têm trabalho e só têm trabalho enquanto seu trabalho aumenta o capital Esses operários constrangidos a venderse a retalho são mercadoria artigo de comércio como qualquer outro em conseqüência estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência a todas as flutuações do mercado O crescente emprego de máquinas e a divisão do trabalho despojam a atividade do operário de seu caráter autônomo tirandolhe todo o atrativo O operário tornase um simples apêndice da máquina e dele só se requer o manejo mais simples mais monótono mais fácil de aprender Desse modo o custo do operário se reduz quase exclusivamente aos meios de subsistência que lhe são necessários para viver e perpetuar sua espécie Ora o preço do trabalho como de toda mercadoria é igual ao seu custo de produção Portanto à medida que aumenta o caráter enfadonho do trabalho decrescem os salários Mais ainda na mesma medida em que aumenta a maquinaria e a divisão do trabalho sobe também a quantidade de trabalho quer pelo aumento das horas de trabalho quer pelo aumento do trabalho exigido num determinado tempo quer pela aceleração do movimento das máquinas etc A indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da corporação patriarcal na grande fábrica do industrial capitalista Massas de operários amontoadas na fábrica são organizadas militarmente Como soldados rasos da indústria estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais Não são apenas servos da classe burguesa do Estado burguês mas também dia a dia hora a hora escravos da máquina do contramestre e sobretudo do dono da fábrica E esse despotismo é tanto mais mesquinho mais odioso e exasperador quanto maior é a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo Quanto menos habilidade e força o trabalho manual exige isto é quanto mais a indústria moderna progride tanto mais o trabalho dos homens é suplantado pelo de mulheres e crianças As diferenças de idade e de sexo não têm mais importância social para a classe operária Não há senão instrumentos de trabalho cujo preço varia segundo a idade e o sexo 25 Depois de sofrer a exploração do fabricante e de receber seu salário em dinheiro o operário tornase presa de outros membros da burguesia o senhorio o varejista o penhorista etc As camadas inferiores da classe média de outrora os pequenos industriais pequenos comerciantes os que vivem de rendas rentiers artesãos e camponeses caem nas fileiras do proletariado uns porque seu pequeno capital não permite empregar os processos da grande indústria e sucumbem na concorrência com os grandes capitalistas outros porque sua habilidade profissional é depreciada pelos novos métodos de produção Assim o proletariado é recrutado em todas as classes da população O proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento Sua luta contra a burguesia começa com a sua existência No começo empenhamse na luta operários isolados mais tarde operários de uma mesma fábrica finalmente operários de um mesmo ramo de indústria de uma mesma localidade contra o burguês que os explora diretamente Dirigem os seus ataques não só contra as relações burguesas de produção mas também contra os instrumentos de produção destroem as mercadorias estrangeiras que lhes fazem concorrência quebram as máquinas queimam as fábricas e esforçamse para reconquistar a posição perdida do trabalhador da Idade Média Nessa fase o proletariado constitui massa disseminada por todo o país e dispersa pela concorrência A coesão maciça dos operários não é ainda o resultado de sua própria união mas da união da burguesia que para atingir seus próprios fins políticos é levada a pôr em movimento todo o proletariado o que por enquanto ainda pode fazer Durante essa fase os proletários não combatem seus próprios inimigos mas os inimigos de seus inimigos os restos da monarquia absoluta os proprietários de terras os burgueses nãoindustriais os pequenos burgueses Todo o movimento histórico está desse modo concentrado nas mãos da burguesia e qualquer vitória alcançada nessas condições é uma vitória burguesa Mas com o desenvolvimento da indústria o proletariado não apenas se multiplica comprimese em massas cada vez maiores sua força cresce e ele adquire maior consciência dela Os interesses as condições de existência dos proletários se igualam cada vez mais à medida que a máquina extingue toda diferença de trabalho e quase por toda parte reduz o salário a um nível igualmente baixo Em virtude comerciais que disso resultam os salários se tornam cada vez mais instáveis o aperfeiçoamento constante e cada vez mais rápido das máquinas torna a condição de vida do operário cada vez mais precária os choques individuais entre o operário singular e o burguês singular tomam cada vez mais o caráter de confrontos entre duas classes Os operários começam a formar coalizões contra os burgueses e atuam em comum na defesa de seus salários chegam a fundar associações permanentes a fim de se precaverem de insurreições eventuais Aqui e ali a luta irrompe em motim 26 De tempos em tempos os operários triunfam mas é um triunfo efêmero O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito imediato mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores Esta união é facilitada pelo crescimento dos meios de comunicação criados pela grande indústria e que permitem o contato entre operários de diferentes localidades Basta porém este contato para concentrar as numerosas lutas locais que têm o mesmo caráter em toda parte em uma luta nacional uma luta de classes Mas toda luta de classes é uma luta política E a união que os burgueses da Idade Média com seus caminhos vicinais levaram séculos a realizar os proletários modernos realizam em poucos anos por meio das ferrovias A organização do proletariado em classe e portanto em partido político é incessantemente destruída pela concorrência que fazem entre si os próprios operários Mas renasce sempre e cada vez mais forte mais sólida mais poderosa Aproveitase das divisões internas da burguesia para obrigála ao reconhecimento legal de certos interesses da classe operária como por exemplo a lei da jornada de dez horas de trabalho na Inglaterra Em geral os choques que se produzem na velha sociedade favorecem de diversos modos o desenvolvimento do proletariado A burguesia vive em luta permanente primeiro contra a aristocracia depois contra as frações da própria burguesia cujos interesses se encontram em conflito com os progressos da indústria e sempre contra a burguesia dos países estrangeiros Em todas estas lutas vêse forçada a apelar para o proletariado a recorrer a sua ajuda e desta forma arrastálo para o movimento político A burguesia fornece aos proletários os elementos de sua própria educação política isto é armas contra ela própria Além disso como já vimos frações inteiras da classe dominante em conseqüência do desenvolvimento da indústria são lançadas no proletariado ou pelo menos ameaçadas em suas condições de existência Também elas trazem ao proletariado numerosos elementos de educação Finalmente nos períodos em que a luta de classes se aproxima da hora decisiva o processo de dissolução da classe dominante de toda a velha sociedade adquire um caráter tão violento e agudo que uma pequena fração da classe dominante se desliga desta ligandose à classe revolucionária à classe que traz nas mãos o futuro Do mesmo modo que outrora uma parte da nobreza passou para a burguesia em nossos dias uma parte da burguesia passa para o proletariado especialmente a parte dos ideólogos burgueses que chegaram à compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto De todas as classes que hoje em dia se opõem à burguesia só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria o proletariado pelo contrário é seu produto mais autêntico As camadas médias pequenos comerciantes pequenos fabricantes artesãos camponeses combatem a burguesia porque esta compromete sua existência como camadas médias Não são pois revolucionárias mas conservadoras mais ainda são reacionárias pois pretendem fazer girar para trás a roda da História Quando se tornam revolucionárias isto se dá em conseqüência de sua iminente passagem para o proletariado não defendem então seus interesses atuais mas seus interesses futuros abandonam seu próprio ponto de vista para se colocar no do proletariado O lúmpenproletariado putrefação passiva das camadas mais baixas da velha sociedade pode às vezes ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária todavia suas condições de vida o predispõem mais a venderse à reação As condições de existência da velha sociedade já estão destruídas nas condições de existência do proletariado O proletário não tem propriedade suas relações com a mulher e os filhos já nada têm em comum com as relações familiares burguesas O trabalho industrial moderno a subjugação do operário ao capital tanto na Inglaterra como na França na América como na Alemanha despoja o proletário de todo caráter nacional As leis a moral a religião são para ele meros preconceitos burgueses atrás dos quais se ocultam outros tantos interesses burgueses Todas as classes que no passado conquistaram o poder trataram de consolidar a situação adquirida submetendo toda a sociedade às suas condições de apropriação Os proletários não podem apoderarse das forças produtivas sociais senão abolindo o modo de apropriação a elas correspondente e por conseguinte todo modo de apropriação existente até hoje Os proletários nada têm de seu a salvaguardar sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes Todos os movimentos históricos têm sido até hoje movimentos de minorias ou em proveito de minorias O movimento proletário é o movimento autônomo da imensa maioria em proveito da imensa maioria O proletariado a camada mais baixa da sociedade atual não pode erguerse pôrse de pé sem fazer saltar todos os estratos superpostos que constituem a sociedade oficial A luta do proletariado contra a burguesia embora não seja na essência uma luta nacional revestese dessa forma num primeiro momento É natural que o proletariado de cada país deva antes de tudo liquidar a sua própria burguesia Esboçando em linhas gerais as fases do desenvolvimento proletário descrevemos a história da guerra civil mais ou menos oculta na sociedade existente até a hora em que essa guerra explode numa revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia Todas as sociedades anteriores como vimos se basearam no antagonismo entre classes opressoras e classes oprimidas Mas para oprimir uma classe é preciso poder garantirlhe condições tais que lhe permitam pelo menos uma existência servil O servo em plena servidão conseguiu tornarse membro da comuna da mesma forma que o pequeno burguês sob o jugo do absolutismo feudal elevouse à categoria de burguês O operário moderno pelo contrário longe de se elevar com o progresso da indústria desce cada vez mais caindo abaixo das condições de sua própria classe O trabalhador tornase um indigente e o pauperismo cresce ainda mais rapidamente do que a população e a riqueza Fica assim evidente que a burguesia é incapaz de continuar desempenhando o papel de classe dominante e de impor à sociedade como lei suprema as condições de existência de sua classe Não pode exercer o seu domínio porque não pode mais assegurar a existência de seu escravo mesmo no quadro de sua escravidão porque é obrigada a deixálo afundar numa situação em que deve nutrilo em lugar ser nutrida por ele A sociedade não pode mais existir sob sua dominação o que quer dizer que a existência da burguesia não é mais compatível com a sociedade A condição essencial para a existência e supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos de particulares a formação e o crescimento do capital a condição de existência do capital é o trabalho assalariado Este baseiase exclusivamente na concorrência dos operários entre si O progresso da indústria de que a burguesia é agente passivo e involuntário substitui o isolamento dos operários resultante da competição por sua união revolucionária resultante da associação Assim o desenvolvimento da grande indústria retira dos pés da burguesia a própria base sobre a qual ela assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos A burguesia produz sobretudo seus próprios coveiros Seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis II Proletários e comunistas Qual a relação dos comunistas com os proletários em geral Os comunistas não formam um partido à parte oposto aos outros partidos operários Não têm interesses diferentes dos interesses do proletariado em geral Não proclamam princípios particulares segundo os quais pretendam moldar o movimento operário Os comunistas se distinguem dos outros partidos operários somente em dois pontos 1 Nas diversas lutas nacionais dos proletários destacam e fazem prevalecer os interesses comuns do proletariado independentemente da nacionalidade 2 Nas diferentes fases de desenvolvimentos por que passa a luta entre proletários e burgueses representam sempre e em toda parte os interesses do movimento em seu conjunto Na prática os comunistas constituem a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país a fração que impulsiona as demais teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições do curso e dos fins gerais do movimento proletário O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários constituição do proletariado em classe derrubada da supremacia burguesa conquista do poder político pelo proletariado As proposições teóricas dos comunistas não se baseiam de modo al gum em idéias ou princípios inventados ou descobertos por este ou aquele reformador do mundo São apenas a expressão geral das condições efetivas de uma luta de classes que existe de um movimento histórico que se desenvolve diante dos olhos A abolição das relações de propriedade que até hoje existiram não é uma característica peculiar e exclusiva do comunismo Todas as relações de propriedade têm passado por modificações constantes em conseqüência das contínuas transformações das condições históricas A Revolução Francesa por exemplo aboliu a propriedade feudal em proveito da propriedade burguesa O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade em geral mas a abolição da propriedade burguesa Mas a moderna propriedade privada burguesa é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classes na exploração de uns pelos outros Nesse sentido os comunistas podem resumir sua teoria numa única expressão supressão da propriedade privada Nós comunistas temos sido sensurados por querer abolir a propriedade pessoalmente adquirida fruto do trabalho do indivíduo propriedade que dizem ser a base de toda liberdade de toda atividade de toda independência individual Propriedade pessoal fruto do trabalho e do mérito Falais da propriedade do pequeno burguês do pequeno camponês forma de propriedade anterior à propriedade burguesa Não precisamos abolila porque o progresso da indústria já a aboliu e continua abolindoa diariamente Ou porventura falais da moderna propriedade privada da propriedade burguesa Mas o trabalho do proletário o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário De modo algum Cria o capital isto é a propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de gerar novo trabalho assalariado para voltar a explorálo Em sua forma atual a propriedade se move entre dois termos antagônicos capital e trabalho Examinemos os termos desse antagonismo Ser capitalista significa ocupar não somente uma posição pessoal mas também uma posição social na produção O capital é um produto coletivo e só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade em última instância pelos esforços combinados de todos os membros da sociedade O capital não é portanto um poder pessoal é um poder social Assim quando o capital é transformado em propriedade comum pertencente a todos os membros da sociedade não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade social O que se transformou foi o caráter social da propriedade Esta perde seu caráter de classe Vejamos agora o trabalho assalariado O preço médio que se paga pelo trabalho assalariado é o mínimo de salário ou seja a soma dos meios de subsistência necessários para que o operário viva como operário Por conseguinte o que o operário recebe com o seu trabalho é o estritamente necessário para a mera conservação e reprodução de sua existência Não pretendemos de modo algum abolir essa apropriação pessoal dos produtos do trabalho indispensável à manutenção e à reprodução da vida humana uma apropriação que não deixa nenhum lucro líquido que confira poder sobre o trabalho alheio Queremos apenas suprimir o caráter miserável desta apropriação que faz com que o operário só viva para aumentar o capital e só viva na medida em que o exigem os interesses da classe dominante Na sociedade burguesa o trabalho vivo é sempre um meio de aumentar o trabalho acumulado Na sociedade comunista o trabalho acumulado é um meio de ampliar enriquecer e promover a existência dos trabalhadores Na sociedade burguesa o passado domina o presente na sociedade comunista é o presente que domina o passado Na sociedade burguesa o capital é independente e pessoal ao passo que o indivíduo que trabalha é dependente e impessoal É a supressão dessa situação que a burguesia chama de supressão da individualidade e da liberdade E com razão Porque se trata efetivamente de abolir a individualidade burguesa a independência burguesa a liberdade burguesa Por liberdade nas atuais relações burguesas de produção compreendese a liberdade de comércio a liberdade de comprar e vender Mas se o tráfico desaparece desaparecerá também a liberdade de traficar Toda a fraseologia sobre o livre comércio bem como todas as bravatas de nossa burguesia sobre a liberdade só têm sentido quando se referem ao comércio constrangido e ao burguês oprimido da Idade Média nenhum sentido têm quando se trata da supressão comunista do tráfico das relações burguesas de produção e da própria burguesia Horrorizeivos porque queremos suprimir a propriedade privada Mas em vossa sociedade a propriedade privada está suprimida para nove décimos de seus membros E é precisamente porque não existe para estes nove décimos que ela existe para vós Censurainos portanto por querermos abolir uma forma de propriedade que pressupõe como condição necessária que a imensa maioria da sociedade não possua propriedade Numa palavra censurainos por querermos abolir a vossa propriedade De fato é isso que queremos A partir do momento em que o trabalho não possa mais ser convertido em capital em dinheiro em renda da terra numa palavra em poder social capaz de ser monopolizado isto é a partir do momento em que a propriedade individual não possa mais se converter em propriedade burguesa declarais que o indivíduo está suprimido Confessais no entanto que quando falais do indivíduo quereis referirvos unicamente ao burguês ao proprietário burguês E este indivíduo sem dúvida deve ser suprimido O comunismo não priva ninguém do poder de se apropriar de sua parte dos produtos sociais apenas suprime o poder de subjugar o trabalho de outros por meio dessa apropriação Alegase ainda que com a abolição da propriedade privada toda a atividade cessaria uma inércia geral apoderarseia do mundo Se isso fosse verdade há muito que a sociedade burguesa teria sucumbido à ociosidade pois os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham Toda a objeção se reduz a essa tautologia não haverá mais trabalho assalariado quando não mais existir capital As objeções feitas ao modo comunista de produção e de apropriação dos produtos materiais foram igualmente ampliadas à produção e à apropriação dos produtos do trabalho intelectual Assim como o desaparecimento da propriedade de classe equivale para o burguês ao desaparecimento de toda a produção o desaparecimento da cultura de classe significa para ele o desaparecimento de toda a cultura A cultura cuja perda o burguês deplora é para a imensa maioria dos homens apenas um adestramento que os transforma em máquinas Mas não discutais conosco aplicando à abolição da propriedade burguesa o critério de vossas noções burguesas de liberdade cultura direito etc Vossas próprias idéias são produtos das relações de produção e de propriedade burguesas assim como o vosso direito não passa da vontade de vossa classe erigida em lei vontade cujo conteúdo é determinado pelas condições materiais de vossa existência como classe Essa concepção interesseira que vos leva a transformar em leis eternas da natureza e da razão as relações sociais oriundas do vosso modo de produção e de propriedade relações transitórias que surgem e desaparecem no curso da produção é por vós compartilhada com todas as classes dominantes já desaparecidas O que aceitais para a propriedade antiga o que aceitais para a propriedade feudal já não podeis aceitar para a propriedade burguesa Supressão da família Até os mais radicais se indignam com esse propósito infame dos comunistas Sobre que fundamento repousa a família atual a família burguesa Sobre o capital sobre o ganho individual A família na sua plenitude só existe para a burguesia mas encontra seu complemento na ausência forçada da família entre os proletários e na prostituição pública A família burguesa desvanecese naturalmente com o desvanecer de seu complemento e ambos desaparecem com o desaparecimento do capital Censurainos por querermos abolir a exploração das crianças pelos seus próprios pais Confessamos este crime Dizeis também que destruímos as relações mais íntimas ao substituirmos a educação doméstica pela educação social E vossa educação não é também determinada pela sociedade pelas condições sociais em que educais vossos filhos pela intervenção direta ou indireta da sociedade por meio de vossas escolas etc Os comunistas não inventaram a intromissão da sociedade na educação apenas procuram modificar seu caráter arrancando a educação da influência da classe dominante O palavreado burguês sobre a família e a educação sobre os doces laços que unem a criança aos pais tornase cada vez mais repugnante à medida que a grande indústria destrói todos os laços familiares dos proletários e transforma suas crianças em simples artigos de comércio em simples instrumentos de trabalho Vós comunistas quereis introduzir a comunidade das mulheres gritanos toda a burguesia em coro Para o burguês a mulher nada mais é do que um instrumento de produção Ouvindo dizer que os instrumentos de produção serão explorados em comum conclui naturalmente que o destino de propriedade coletiva caberá igualmente às mulheres Não imagina que se trata preci samente de arrancar a mulher de seu papel de simples instrumento de produção De resto nada é mais ridículo que a virtuosa indignação que os nossos burgueses em relação à pretensa comunidade oficial das mulheres que adotariam os comunistas Os comunistas não precisam introduzir a comunidade das mulheres Ela quase sempre existiu Nossos burgueses não contentes em ter à sua disposição as mulheres e as filhas dos proletários sem falar da prostituição oficial têm singular prazer em seduzir as esposas uns dos outros O casamento burguês é na realidade a comunidade das mulheres casadas No máximo poderiam acusar os comunistas de querer substituir uma comunidade de mulheres hipócrita e dissimulada por outra que seria franca e oficial De resto é evidente que com a abolição das atuais relações de produção desaparecerá também a comunidade das mulheres que deriva dessas relações ou seja a prostituição oficial e nãooficial Os comunistas também são acusados de querer abolir a pátria a nacionalidade Os operários não têm pátria Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem Como porém o proletariado tem por objetivo conquistar o poder político e elevarse a classe dirigente da nação tornarse ele próprio nação ele é nessa medida nacional mas de modo nenhum no sentido burguês da palavra Os isolamentos e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia com a liberdade de comércio com o mercado mundial com a uniformidade da produção industrial e com as condições de existência a ela correspondentes A supremacia do proletariado fará com que desapareçam ainda mais depressa A ação comum do proletariado pelo menos nos países civilizados é uma das primeiras condições para sua emancipação À medida que for suprimida a exploração do homem pelo homem será suprimida a exploração de uma nação por outra Quando os antagonismos de classes no interior das nações tiverem desaparecido desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações As acusações feitas aos comunistas em nome da religião da filosofia e da ideologia em geral não merecem um exame aprofundado Será preciso grande inteligência para compreender que ao mudarem as relações de vida dos homens as suas relações sociais a sua existência social mudam também as suas representações as suas concepções e conceitos numa palavra muda a sua consciência Que demonstra a história das idéias senão que a produção intelectual se transforma com a produção material As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante Quando se fala de idéias que revolucionam uma sociedade inteira isto quer dizer que no seio da velha sociedade se formaram os elementos de uma sociedade nova e que a dissolução das velhas idéias acompanha a dissolução das antigas condições de existência Quando o mundo antigo declinava as antigas religiões foram vencidas pela religião cristã quando no século XVIII as idéias cristãs cederam lugar às idéias iluministas a sociedade feudal travava sua batalha decisiva contra a burguesia então revolucionária As idéias de liberdade religiosa e de consciência não fizeram mais que proclamar o império da livre concorrência no domínio do conhecimento Mas dirão as idéias religiosas morais filosóficas políticas jurídicas etc modificaramse no curso do desenvolvimento histórico A religião a moral a filosofia a política o direito sobreviveram sempre a essas transformações Além disso há verdades eternas como a liberdade a justiça etc que são comuns a todos os regimes sociais Mas o comunismo quer abolir estas verdades eternas quer abolir a religião e a moral em lugar de lhes dar uma nova forma e isso contradiz todos os desenvolvimentos históricos anteriores A que se reduz essa acusação A história de toda a sociedade até nossos dias moveuse em antagonismos de classes antagonismos que se têm revestido de formas diferentes nas diferentes épocas Mas qualquer que tenha sido a forma assumida a exploração de uma parte da sociedade por outra é um fato comum a todos os séculos anteriores Portanto não é de espantar que a consciência social de todos os séculos apesar de toda sua variedade e diversidade se tenha movido sempre sob certas formas comuns formas de consciência que só se dissolverão completamente com o desaparecimento total dos antagonismos de classes A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade não admira portanto que no curso de seu desenvolvimento se rompa do modo mais radical com as idéias tradicionais Mas deixemos de lado as objeções feitas pela burguesia ao movimento comunista Vimos antes que a primeira fase da revolução operária é a elevação do proletariado a classe dominante a conquista da democracia O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo o capital da burguesia para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado isto é do proletariado organizado como classe dominante e para aumentar o mais rapidamente possível o total das forças produtivas Isso naturalmente só poderá ser realizado a princípio por intervenções despóticas no direito de propriedade e nas relações de produção burguesas isto é pela aplicação de medidas que do ponto de vista econômico parecerão insuficientes e insustentáveis mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção Essas medidas é claro serão diferentes nos diferentes países Nos países mais adiantados contudo quase todas as seguintes medidas poderão ser postas em prática 1 Expropriação da propriedade fundiária e emprego da renda da terra para despesas do Estado 2 Imposto fortemente progressivo 3 Abolição do direito de herança 4 Confisco da propriedade de todos os emigrados e rebeldes 5 Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo 6 Centralização de todos os meios de comunicação e transporte nas mãos do Estado 7 Multiplicação das fábricas nacionais e dos instrumentos de produção arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas segundo um plano geral 8 Unificação do trabalho obrigatório para todos organização de exércitos industriais particularmente para a agricultura 9 Unificação dos trabalhos agrícola e industrial abolição gradual da distinção entre a cidade e o campo por meio de uma distribuição mais igualitária da população pelo país 10 Educação pública e gratuita a todas as crianças abolição do trabalho das crianças nas fábricas tal como é praticado hoje Combinação da educação com a produção material etc Quando no curso do desenvolvimento desaparecerem os antagonismos de classes e toda a produção for concentrada nas mãos dos indivíduos associados o poder público perderá seu caráter político O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra Se o proletariado em sua luta contra a burguesia se organiza forçosamente como classe se por meio de uma revolução se converte em classe dominante e como classe dominante destrói violentamente as antigas relações de produção destrói juntamente com essas relações de produção as condições de existência dos antagonismos entre as classes destrói as classes em geral e com isso sua própria dominação como classe Em lugar da antiga sociedade burguesa com suas classes e antagonismos de classes surge uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos III Literatura socialista e comunista 1 O socialismo reacionário a O socialismo feudal Por sua posição histórica as aristocracias da França e da Inglaterra viramse chamadas a lançar libelos contra a sociedade burguesa Na revolução francesa de julho de 1830 no movimento inglês pela reforma tinham sucumbido mais uma vez sob os golpes desta odiada arrivista A partir daí não se podia tratar de uma luta política séria só lhes restava a luta literária Mas também no domínio literário tornarase impossível a velha fraseologia da Restauração5 Para despertar simpatias a aristocracia fingiu deixar de lado seus próprios interesses e dirigiu sua acusação contra a burguesia aparentando defender apenas os interesses da classe operária explorada Desse modo entregouse ao prazer de cantarolar sátiras sobre os novos senhores e de lhes sussurrar ao ouvido profecias sinistras Assim surgiu o socialismo feudal em parte lamento em parte pasquim em parte ecos do passado em parte ameaças ao futuro Se por vezes a sua crítica amarga mordaz e espirituosa feriu a burguesia no Sob a pressão das massas a Câmara dos Comuns inglesa aprovou em 1831 uma reforma eleitoral que facilitava o acesso da burguesia industrial ao parlamento 5 Não se trata da Restauração Inglesa de 1660 a 1689 mas da Restauração Francesa de 18141830 Nota de F Engels à edição inglesa de 1888 coração sua impotência absoluta em compreender a marcha da História moderna terminou sempre produzindo um efeito cômico Para atrair o povo a aristocracia desfiou como bandeira a sacola do mendigo mas assim que o povo acorreu percebeu que as costas da bandeira estavam ornadas com os velhos brasões feudais e dispersouse com grandes e irreverentes gargalhadas Uma parte dos legitimistas franceses e a Jovem Inglaterra ofereceram ao mundo esse espetáculo Quando os feudais demonstraram que o seu modo de exploração era diferente do da burguesia esqueceram apenas uma coisa que o feudalismo explorava em circunstâncias e condições completamente diversas hoje em dia ultrapassadas Quando ressaltam que sob o regime feudal o proletariado moderno não existia esquecem que a burguesia foi precisamente um fruto necessário de sua organização social Além disso ocultam tão pouco o caráter reacionário de sua crítica que sua principal acusação contra a burguesia consiste justamente em dizer que esta assegura sob seu regime o desenvolvimento de uma classe que fará ir pelos ares toda a antiga ordem social O que reprovam à burguesia é mais o fato de ela ter produzido um proletariado revolucionário que o de ter criado o proletariado em geral Por isso na luta política participam ativamente de todas as medidas de repressão contra a classe operária E na vida diária a despeito de sua pomposa fraseologia conformamse perfeitamente em colher as maçãs de ouro da árvore da indústria e em trocar honra amor e fidelidade pelo comércio de lã açúcar de beterraba e aguardente6 Do mesmo modo que o padre e o senhor feudal marcharam sempre de mãos dadas o socialismo clerical marcha lado a lado com o socialismo feudal Nada é mais fácil que recobrir o ascetismo cristão com um verniz socialista O cristianismo também não se ergueu contra a propriedade privada o matrimônio o Estado E em seu lugar não pregou a caridade e a pobreza o celibato e a mortificação da carne a vida monástica e a Igreja O socialismo cristão não passa da água benta com que o padre abençoa o desfeito da aristocracia b O socialismo pequenoburguês A aristocracia feudal não é a única classe arruinada pela burguesia não é a única classe cujas condições de existência se atrofiam e perecem na sociedade burguesa moderna Os pequenos burgueses e os pequenos camponeses da Idade Média foram os precursores da burguesia moderna Nos países onde o comércio e a indústria são pouco desenvolvidos esta classe continua a vegetar ao lado da burguesia em ascensão Nos países onde a civilização moderna está florescente formase uma nova classe de pequenos burgueses que oscila entre o proletariado e a burguesia fração complementar da sociedade burguesa reconstituindose sempre como os membros dessa classe no entanto se vêem constantemente precipitados no proletariado devido à concorrência e com a marcha progressiva da grande indústria sentem aproximarse o momento em que desaparecerão completamente como fração independente da sociedade moderna e em que serão substituídos no comércio na manufatura e na agricultura por supervisores capatazes e empregados Em países como a França onde os camponeses constituem bem mais da metade da população era natural que os escritores que se batiam pelo proletariado e contra a burguesia aplicassem à sua crítica do regime burguês critérios do pequeno burguês e do pequeno camponês e defendessem a causa operária do ponto de vista da pequena burguesia Desse modo se formou o socialismo pequenoburguês Sismondi é o chefe dessa literatura não somente na França mas também na Inglaterra Esse socialismo dissecou com muita perspicácia as contradições inerentes às modernas relações de produção Pôs a nu as hipócritas apologias dos economistas Demonstrou de um modo irrefutável os efeitos mortíferos das máquinas e da divisão do trabalho da concentração dos capitais e da propriedade territorial a superprodução as crises a decadência inevitável dos pequenos burgueses e pequenos camponeses a miséria do proletariado a anarquia na produção a clamorosa desproporção na distribuição das riquezas a guerra industrial e extermínio entre as nações a dissolução dos velhos costumes das velhas relações de família das velhas nacionalidades Quanto ao seu conteúdo positivo porém o socialismo pequeno burguês quer ou restabelecer os antigos meios de produção e de troca e com eles as antigas relações de propriedade e toda a antiga sociedade ou então fazer entrar à força os meios modernos de produção e de troca no quadro estreito das antigas relações de propriedade que foram destruídas e necessariamente despedaçadas por eles Num e noutro caso esse socialismo é ao mesmo tempo reacionário e utópico Sistema corporativo na manufatura e economia patriarcal no campo eis suas últimas palavras Por fim quando os obstinados fatos históricos dissiparamlhe a embriaguez essa escola socialista abandonouse a uma covarde ressaca c O socialismo alemão ou o verdadeiro socialismo A literatura socialista e comunista da França nascida sob a pressão de uma burguesia dominante e expressão literária da revolta contra esse domínio foi introduzida na Alemanha quando a burguesia começava a sua luta contra o absolutismo feudal Filósofos semifilósofos e impostores alemães lançaramse avidamente sobre essa literatura mas esqueceramse de que com a importação da literatura francesa na Alemanha não eram importadas ao mesmo tempo as condições de vida da França Nas condições alemãs a literatura francesa perdeu toda a significação prática imediata e tomou um caráter puramente literário Aparecia apenas como especulação ociosa sobre a realização da essência humana Assim as reivindicações da primeira revolução francesa só eram para os filósofos alemães do século XVIII as reivindicações da razão prática em geral e a manifestação da vontade dos burgueses revolucionários da França não expressava a seus olhos senão as leis da vontade pura da vontade tal como deve ser da vontade verdadeiramente humana O trabalho dos literatos alemães limitouse a colocar as idéias francesas em harmonia com a sua velha consciência filosófica ou melhor a apropriarse das idéias francesas sem abandonar seu próprio ponto de vista filosófico Apropriaramse delas da mesma forma com que se assimila uma língua estrangeira pela tradução Sabese que os monges escreveram hagiografias católicas insípidas sobre os manuscritos em que estavam registradas as obras clássicas da antiguidade pagã Os literatos alemães agiram em sentido inverso a respeito da literatura francesa profana Introduziram suas insanidades filosóficas no original francês Por exemplo sob a crítica francesa das funções do dinheiro escreveram alienação da essência humana sob a crítica francesa do Estado burguês escreveram superação do domínio da universalidade abstrata e assim por diante A esta interpolação do palavreado filosófico nas teorias francesas deram o nome de filosofia da ação verdadeiro socialismo ciência alemã do socialismo justificação filosófica do socialismo etc Desse modo emascularam completamente a literatura socialista e comunista francesa E como nas mãos dos alemães essa literatura tinha deixado de ser a expressão da luta de uma classe contra outra eles se felicitaram por teremse elevado acima da estreiteza francesa e terem defendido não verdadeiras necessidades mas a necessidade da verdade não os interesses do proletário mas os interesses do ser humano do homem em geral do homem que não pertence a nenhuma classe nem à realidade alguma e que só existe no céu brumoso da fantasia filosófica Esse socialismo alemão que levava tão solenemente a sério seus canhestros exercícios de escolar e que os apregoava tão charlatanescamente foi perdendo pouco a pouco sua inocência pedante A luta da burguesia alemã e especialmente da burguesia prussiana contra os feudais e a monarquia absoluta numa palavra o movimento liberal tornouse mais séria Desse modo apresentouse ao verdadeiro socialismo a tão desejada oportunidade de contrapor ao movimento político as reivindicações socialistas de lançar os anátemas tradicionais contra o liberalismo o regime representativo a concorrência burguesa a liberdade burguesa de imprensa o direito burguês a liberdade e a igualdade burguesas de pregar às massas que nada tinham a ganhar mas pelo contrário tudo a perder nesse movimento burguês O socialismo alemão esqueceu bem a propósito que a crítica francesa da qual era o eco monótono pressupunha a sociedade burguesa moderna com as condições materiais de existência que lhe correspondem e uma constituição política adequada precisamente as coisas que na Alemanha estava ainda por conquistar Esse socialismo serviu de espantalho para amedrontar a burguesia ameaçadoramente ascendente aos governos absolutos da Alemanha com seu cortejo de padres pedagogos fidalgos rurais e burocratas Juntou sua hipocrisia adocicada aos tiros de fuzil e às chicotadas com que esses mesmos governos respondiam aos levantes dos operários alemães Se o verdadeiro socialismo se tornou assim uma arma nas mãos dos governos contra a burguesia alemã representou também diretamente mato reduzido da nova Jerusalém e para dar realidade a todos esses castelos no ar vêemse obrigados a apelar para os bons sentimentos e os cofres dos filantropos burgueses Pouco a pouco caem na categoria dos socialistas reacionários ou conservadores descritos anteriormente e só se distinguem deles por um pedantismo mais sistemático uma fé supersticiosa e fanática nos efeitos miraculosos de sua ciência social Por isso se opõem com exasperação a qualquer ação política da classe operária porque em sua opinião tal ação só poderia decorrer de uma descrença cega no novo evangelho Desse modo os owenistas na Inglaterra e os fourieristas na França reagem respectivamente contra os cartistas e os reformistas IV Posição dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição O que já dissemos no capítulo II basta para determinar a relação dos comunistas com os partidos operários já constituídos e por conseguinte sua relação com os cartistas na Inglaterra e os reformadores agrários na América do Norte Os comunistas lutam pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária mas ao mesmo tempo defendem e representam no movimento atual o futuro do movimento Aliamse na França ao partido socialdemocrata9 contra a burguesia conservadora e radical reservandose o direito de criticar a fraseologia e as ilusões legadas pela tradição revolucionária Na Suíça apóiam os radicais sem esquecer que esse partido se compõe de elementos contraditórios em parte socialistas democráticos no sentido francês da palavra em parte burgueses radicais Democratas republicanos e socialistas pequenoburgueses partidários do jornal francês La Réforme 18431850 Defendiam a instauração da república e a realização de reformas democráticas e sociais 9 Esse partido era representado no Parlamento por LedruRollin na literatura por Louis Blanc 181182 na imprensa pelo Réforme O nome socialdemocracia significava para aqueles que o criavam a parte do Partido Democrático ou Republicano com tendências mais ou menos socialistas Nota de F Engels à edição inglesa de 1888 Na Polônia os comunistas apóiam o partido que vê numa revolução agrária a condição da libertação nacional o partido que desencadeou a insurreição de Cracóvia em 1846 Na Alemanha o Partido Comunista luta junto com a burguesia todas as vezes que esta age revolucionariamente contra a monarquia absoluta a propriedade rural feudal e a pequena burguesia Mas em nenhum momento esse Partido se descuida de despertar nos operários uma consciência clara e nítida do violento antagonismo que existe entre a burguesia e o proletariado para que na hora precisa os operários alemães saibam converter as condições sociais e políticas criadas pelo regime burguês em outras tantas armas contra a burguesia para que logo após terem sido destruídas as classes reacionárias da Alemanha possa ser travada a luta contra a própria burguesia É sobretudo para a Alemanha que se volta a atenção dos comunistas porque a Alemanha se encontra às vésperas de uma revolução burguesa e porque realizará essa revolução nas condições mais avançadas da civilização européia e com um proletariado infinitamente mais desenvolvido que o da Inglaterra no século XVII e o da França no século XVIII e por que a revolução burguesa alemã só poderá ser portanto o prelúdio imediato de uma revolução proletária Em resumo os comunistas apóiam em toda parte qualquer movimento revolucionário contra a ordem social e política existente Em todos estes movimentos colocam em destaque como questão fundamental a questão da propriedade qualquer que seja a forma mais ou menos desenvolvida de que esta se revista Finalmente os comunistas trabalham pela união e pelo entendimento dos partidos democráticos de todos os países Os comunistas se recusam a dissimular suas opiniões e seus fins Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução comunista Nela os proletários nada têm a perder a não ser os seus grilhões Têm um mundo a ganhar PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES UNIVOS Insurreição iniciada pelos democratas revolucionários poloneses Dembowski e outros em fevereiro de 1846 com o objetivo de conquistar a libertação nacional da Polônia Foi derrotada no começo de março de 1846 um interesse reacionário o interesse da pequena burguesia alemã A classe dos pequenos burgueses legada pelo século XVI e desde então renascendo sem cessar sob formas diversas constitui na Alemanha a verdadeira base social do regime estabelecido Mantêla é manter na Alemanha o regime estabelecido A supremacia industrial e política da burguesia ameaça a pequena burguesia de destruição de um lado pela concentração do capital de outro pelo desenvolvimento de um proletariado revolucionário O verdadeiro socialismo pareceu aos pequenos burgueses uma arma capaz de aniquilar esses dois inimigos Propagouse como uma epidemia A roupagem tecida com os fios imateriais da especulação bordada com as flores da retórica e banhada de orvalho sentimental essa roupagem na qual os socialistas alemães envolveram o miserável esqueleto das suas verdades eternas não fez senão ativar a venda de sua mercadoria entre aquele público Por seu lado o socialismo alemão compreendeu cada vez mais que sua vocação era ser o representante grandiloqüente dessa pequena burguesia Proclamou que a nação alemã era a nação modelo e o pequeno burguês alemão o homem modelo A todas as infâmias desse homem modelo atribuiu um sentido oculto um sentido superior e socialista que as tornava exatamente o contrário do que eram Foi conseqüente até o fim levantandose contra a tendência brutalmente destrutiva do comunismo declarando que pairava imparcialmente acima de todas as lutas de classes Com raras exceções todas as pretensas publicações socialistas ou comunistas que circulam na Alemanha pertencem a esta suja e debilitante literatura7 2 O socialismo conservador ou burguês Uma parte da burguesia procura remediar os males sociais para a existência da sociedade burguesa Nessa categoria enfileiramse os economistas os filantropos os humanitários os que se ocupam em melhorar a sorte da classe operária os organizadores de beneficências os protetores dos animais os fundadores das sociedades antialcoólicas enfim os reformadores de gabinete de toda categoria Esse socialismo burguês chegou até a ser elaborado em sistemas completos Como exemplo citemos a Filosofia da Miséria de Proudhon Os socialistas burgueses querem as condições de vida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que dela decorrem fatalmente Querem a sociedade atual mas eliminando os elementos que a revolucionam e dissolvem Querem a burguesia sem o proletariado A burguesia naturalmente concebe o mundo em que domina como o melhor dos mundos O socialismo burguês elabora em um sistema mais ou menos completo essa concepção consoladora Quando convida o proletariado a realizar esses sistemas e entrar na nova Jerusalém no fundo o que pretende é induzilo a manterse na sociedade atual desembaraçandose porém do ódio que sente por essa sociedade Uma segunda forma desse socialismo menos sistemática porém mais prática procura fazer com que os operários se afastem de qualquer movimento revolucionário demonstrandolhes que não será tal ou qual mudança política mas somente uma transformação das condições de vida material e das relações econômicas que poderá ser proveitosa para eles Por transformação das condições materiais de existência esse socialismo não compreende em absoluto a abolição das relações burguesas de produção que só é possível pela via revolucionária mas apenas reformas administrativas realizadas sobre a base das próprias relações de produção burguesas e que portanto não afetam as relações entre o capital e o trabalho assalariado servindo no melhor dos casos para diminuir os gastos da burguesia com sua dominação e simplificar o trabalho administrativo de seu Estado O socialismo burguês só atinge sua expressão correspondente quando se torna simples figura de retórica Livre comércio no interesse da classe operária Tarifas protetoras no interesse da classe operária Prisões celulares no interesse da classe operária Eis a última palavra do socialismo burguês a única pronunciada à sério O seu raciocínio se resume na frase os burgueses são burgueses no interesse da classe operária 3 O socialismo e o comunismo críticoutópicos Não se trata aqui da literatura que em todas as grandes revoluções modernas exprimiu as reivindicações do proletariado escritos de Babeuf etc As primeiras tentativas diretas do proletariado para fazer prevalecer seus próprios interesses de classe feitas numa época de agitação geral no período da derrubada da sociedade feudal fracassaram necessariamente não só por causa do estado embrionário do próprio proletariado como devido à ausência das condições materiais de sua emancipação condições que apenas surgem como produto da época burguesa A literatura revolucionária que acompanhava esses primeiros movimentos do proletariado teve forçosamente um conteúdo reacionário Preconizava um ascetismo geral e um grosseiro igualitarismo Os sistemas socialistas e comunistas propriamente ditos os de SaintSimon Fourier Owen etc aparecem no primeiro período da luta entre o proletariado e a burguesia período anteriormente descrito ver Burgueses e proletários Os fundadores desses sistemas compreendem bem o antagonismo das classes assim como a ação dos elementos dissolventes na própria sociedade dominante Mas não percebem no proletariado nenhuma iniciativa histórica nenhum movimento político que lhes seja peculiar Como o desenvolvimento dos antagonismos de classes acompanha o desenvolvimento da indústria não distinguem tampouco as condições materiais da emancipação do proletariado e põemse à procura de uma ciência social de leis sociais que permitam criar essas condições Substituem a atividade social por sua própria imaginação pessoal as condições históricas da emancipação por condições fantásticas a organização gradual e espontânea do proletariado em classe por uma organização da sociedade préfabricada por eles A história futura do mundo se resume para eles na propaganda e na execução prática de seus planos de organização social Todavia na confecção de seus planos têm a convicção de defender antes de tudo os interesses da classe operária como a classe mais sofredora A classe operária só existe para eles sob esse aspecto o de classe mais sofredora Mas a forma rudimentar da luta de classes e sua própria posição social os levam a considerarse muito acima de qualquer antagonismo de classe Desejam melhorar as condições materiais de vida de todos os membros da sociedade mesmo dos mais privilegiados Por isso não cessam de apelar indistintamente à sociedade inteira e de preferência à classe dominante Bastaria compreender seu sistema para reconhecêlo como o melhor plano possível para a melhor sociedade possível Rejeitam portanto toda ação política e sobretudo toda ação revolucionária procuram atingir seu objetivo por meios pacíficos e tentam abrir um caminho ao novo evangelho social pela força do exemplo com experiências em pequena escala e que naturalmente sempre fracassam Essa descrição fantástica da sociedade futura feita numa época em que o proletariado ainda pouco desenvolvido encara sua própria posição de um modo fantástico corresponde às primeiras aspirações instintivas dos operários a uma completa transformação da sociedade Mas as obras socialistas e comunistas encerram também elementos críticos Atacam todas as bases da sociedade existente Por isso fornecem em seu tempo materiais de grande valor para esclarecer os operários Suas proposições positivas sobre a sociedade futura tais como a supressão do contraste entre a cidade e o campo a abolição da família do lucro privado e do trabalho assalariado a proclamação da harmonia social e a transformação do Estado numa simples administração da produção todas essas propostas apenas exprimem o desaparecimento do antagonismo entre as classes antagonismo que mal começa e que esses autores somente conhecem em suas formas imprecisas Assim essas proposições têm ainda um sentido puramente utópico A importância do socialismo e do comunismo críticoutópicos está na razão inversa do seu desenvolvimento histórico À medida que a luta de classes se acentua e toma formas mais definidas a fantástica pressa de abstrairse dela essa fantástica oposição que lhe é feita perde qualquer valor prático qualquer justificacao teórica Por isso se em muitos aspectos os fundadores desses sistemas foram revolucionários as seitas formadas por seus discípulos formam sempre seitas reacionárias Aferramse às velhas concepções de seus mestres apesar do desenvolvimento histórico contínuo do proletariado Procuram portanto e nisto são conseqüentes atenuar a luta de classes e conciliar os antagonismos Continuam a sonhar com a realização experimental de suas utopias sociais instituição de falanstérios isolados criação de colônias no interior fundação de uma pequena Icária8 edição em for 8 Falanstérios eram colônias socialistas projetadas por Charles Fourier Icária era o nome dado por Cabet a seu país utópico e mais tarde à sua colônia comunista na América Nota de F Engels à edição inglesa de 1888 Colônias no interior home colonies era como Owen chamava as sociedades comunistasmodelo acrescentado por F Engels à edição alemã de 1890 PREFÁCIOS DE MARX E ENGELS Prefácio à edição alemã de 1872 A Liga dos Comunistas associação internacional de operários que nas condições de então só poderia ser secreta incumbiu os abaixo assinados por ocasião do congresso realizado em Londres em novembro de 1847 de escrever para fins de publicação um programa detalhado teórico e prático do partido Foi esta a origem do Manifesto que se segue cujo manuscrito foi enviado a Londres para impressão poucas semanas antes da revolução de fevereiro Primeiramente publicado em alemão teve pelo menos umas doze edições diferentes nessa língua na Alemanha na Inglaterra e na América do Norte Foi publicado em inglês pela primeira vez em 1850 no Red Republican de Londres traduzido pela Srta Helen Macfarlane e teve em 1871 pelo menos três traduções diferentes na América do Norte A primeira versão francesa foi publicada em Paris pouco antes da insurreição de junho de 1848 e recentemente no Le Socialiste de Nova York Há atualmente uma nova tradução sendo preparada Uma versão polonesa apareceu em Londres pouco depois da primeira edição alemã Uma tradução russa foi publicada em Genebra na década de 1860 Também para o dinamarquês foi traduzido pouco depois de sua primeira publicação Por mais que tenham mudado as condições nos últimos 25 anos os princípios gerais expressados nesse Manifesto conservam em seu conjunto toda a sua exatidão Em algumas partes certos detalhes devem ser melhorados Segundo o próprio Manifesto a aplicação prática dos princípios dependerá em todos os lugares e em todas as épocas das condições históricas vigentes e por isso não se deve atribuir importância demasiada às medidas revolucionárias propostas no final da seção II Hoje em dia esse trecho seria redigido Das últimas mencionadas apenas a tradução russa foi de fato encontrada 71 Marx e Engels de maneira diferente em muitos aspectos Em certos pormenores esse programa está antiquado levandose em conta o desenvolvimento colossal da indústria moderna desde 1848 os progressos correspondentes da organização da classe operária e a experiência prática adquirida primeiramente na revolução de fevereiro e mais ainda na Comuna de Paris onde coube ao proletariado pela primeira vez a posse do poder político durante quase dois meses A Comuna de Paris demonstrou especialmente que não basta que a classe trabalhadora se apodere da máquina estatal para fazêla servir a seus próprios finsver A Guerra Civil na França Manifesto do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores de 1871 onde essa idéia é mais desenvolvida Além do mais é evidente que a crítica da literatura socialista mostrase deficiente em relação ao presente porque só chega a 1847 as observações sobre as relações dos comunistas com os diferentes partidos de oposição seção IV embora em princípio corretas na prática estão desatualizadas pois a situação política modificouse totalmente e o desenvolvimento histórico fez desaparecer a maior parte dos partidos ali enumerados Entretanto o Manifesto tornouse um documento histórico que não nos cabe mais alterar Uma edição futura talvez apareça acompanhada de uma introdução que preencha a lacuna entre 1847 e os nossos dias a atual reimpressão foi inesperada demais para que tivéssemos tempo de escrevêla Karl Marx e Friedrich Engels Londres 24 de junho de 1872 Prefácio à edição russa de 1882 A primeira edição russa do Manifesto do Partido Comunista traduzida por Bakunin foi impressa em princípios da década de 1860 na tipografia do Kolokol Naquela época o Ocidente via nessa edição uma simples curiosidade literária Hoje em dia essa concepção seria impossível O campo limitado do movimento proletário daquele tempo dezembro de 1847 está expresso na última parte do Manifesto a posição dos comunistas em relação aos vários partidos de oposição nos diferentes países A Rússia e os Estados Unidos precisamente não foram mencionados Era a época em que a Rússia se constituía na última grande reserva da reação européia e em que os Estados Unidos absorviam o excedente das forças proletárias da Europa que para lá emigravam Ambos os países proviam a Europa de matériasprimas sendo ao mesmo tempo mercado para a venda de seus produtos industriais De uma maneira ou de outra eram portanto pilares da ordem européia vigente Que diferença hoje Foi justamente a imigração européia que possibilitou à América do Norte a produção agrícola em proporções gigantescas cuja concorrência está abalando os alicerces da propriedade rural européia a grande como a pequena Ao mesmo tempo deu aos Estados Unidos a oportunidade de explorar seus imensos recursos industriais com tal energia e em tais proporções que dentro em breve arruinarão o monopólio industrial da Europa ocidental especialmente o da Inglaterra Essas duas circunstâncias repercutem de maneira revolucionária na própria América do Norte Pouco a pouco a pequena e a média propriedade rural a base do regime político em sua totalidade sucumbe diante da competição das fazendas gigantescas ao mesmo tempo formamse pela primeira vez nas regiões industriais um numeroso proletariado e uma concentração fabulosa de capitais E a Rússia Durante a revolução de 184849 os príncipes e a burguesia europeus viam na intervenção russa a única maneira de escapar do proletariado que despertava O czar foi proclamado chefe da reação européia Hoje ele é em Gatchina prisioneiro de guerra da revolução e a Rússia forma a vanguarda da ação revolucionária na Europa O Manifesto Comunista tinha como tarefa a proclamação do desaparecimento próximo e inevitável da moderna propriedade burguesa Mas na Rússia vemos que ao lado do florescimento acelerado da velhacaria capitalista e da propriedade burguesa que começa a desenvolverse mais da metade das terras é possuída em comum pelos camponeses O problema agora é poderia a obshchina russa forma já muito deteriorada da antiga posse em comum da terra transformarse diretamente na propriedade comunista Ou ao contrário deveria primeiramente passar pelo mesmo processo de dissolução que constitui a evolução histórica do Ocidente Hoje em dia a única resposta possível é a seguinte se a revolução russa constituirse no sinal para a revolução proletária no Ocidente de modo que uma complemente a outra a atual propriedade comum da terra na Rússia poderá servir de ponto de partida para uma evolução comunista Karl Marx e Friedrich Engels Londres 21 de janeiro de 1882 Nunca foram confirmadas as afirmações de que o tradutor tenha sido Mikhail Bakunin e a impressão feita na tipografia do Kolokol jornal democráticorevolucionário editado em Genebra Comunidade rural aldeã 72 73 Marx e Engels Prefácios ao Manifesto Comunista Prefácio à edição alemã de 1883 Tenho infelizmente de assinar sozinho o prefácio à presente edição Marx o homem a quem toda a classe trabalhadora da Europa e da América deve mais serviços do que a qualquer outro jaz agora no cemitério de Highgate e sobre seu túmulo já reverdece a primeira relva Depois de sua morte não se pode mais pensar em rever ou complementar o Manifesto Por isso considero ainda mais necessário lembrar expressamente o seguinte A idéia fundamental que percorre todo o Manifesto é a de que em cada época histórica a produção econômica e a estrutura social que dela necessariamente decorre constituem a base da história política e intelectual dessa época que conseqüentemente desde a dissolução do regime primitivo da propriedade comum da terra toda a História tem sido a história da luta de classes da luta entre explorados e exploradores entre as classes dominadas e as dominantes nos vários estágios da evolução social que essa luta porém atingiu um ponto em que a classe oprimida e explorada o proletariado não pode mais libertarse da classe que a explora e oprime a burguesia sem que ao mesmo tempo liberte para sempre toda sociedade da exploração da opressão e da luta de classes este pensamento fundamental pertence única e exclusivamente a Marx 1 Já afirmei isso diversas vezes mas exatamente agora é preciso que esta declaração se torne bem clara no frontispício do Manifesto Friedrich Engels Londres 28 de junho de 1883 Prefácio à edição inglesa de 1888 O Manifesto foi publicado como plataforma da Liga dos Comunistas associação de operários no princípio exclusivamente alemã e mais tarde internacional que nas condições políticas do continente anteriores a 1848 era inevitavelmente uma sociedade secreta No Congresso da Liga realizado em Londres em novembro de 1847 Marx e Engels foram incumbidos de escrever para fins de publicação um completo programa teórico e prático do partido Redigido em alemão em janeiro de 1848 o manuscrito foi enviado ao editor de Londres poucas semanas antes da revolução francesa de 24 de fevereiro Uma tradução francesa apareceu em Paris pouco antes da insurreição de junho de 1848 A primeira tradução inglesa da Srta Helen Macfarlane foi publicada no Red Republican de George Julian Harney Londres 1850 Também foi publicado em dinamarquês e polonês A derrota da insurreição parisiense de junho de 1848 a primeira grande batalha entre o proletariado e a burguesia colocou novamente em um segundo plano as aspirações sociais e políticas do operariado europeu A partir de então a luta pela supremacia voltou a ser como o fora antes da revolução de fevereiro simplesmente uma luta entre diferentes camadas da classe proprietária a classe operária foi levada a limitarse a uma luta pela conquista de espaços políticos assumindo posições da ala extrema dos radicais da classe média Onde quer que o movimento proletário independente manifestasse sinais de vida era logo impiedosamente esmagado A polícia prussiana descobriu o Comitê Central da Liga dos Comunistas então sediado em Colônia Seus membros foram presos e após dezoito meses de encarceramento julgados em outubro de 1852 O célebre Processo Comunista de Colônia estendeuse de 4 de outubro a 12 de novembro sete prisioneiros foram condenados a penas que variavam entre 3 e 6 anos de prisão numa fortaleza Imediatamente após a sentença a Liga foi formalmente dissolvida pelos membros remanescentes Quanto ao Manifesto este parecia ficar a partir de então relegado ao esquecimento Quando os operários europeus reuniram forças suficientes para um novo assalto ao poder das classes dirigentes surgiu a Associação Internacional dos Trabalhadores Seu objetivo era englobar num único e poderoso exército todo o operariado militante da Europa e da América Portanto não poderia partir dos princípios expressos no Manifesto Devia ter um programa que não fechasse as portas às Trades Unions inglesas aos proudhonistas franceses belgas italianos e espanholós ou aos lassalleanos2 alemães Este programa as considerações básicas da In 1 Sobre este pensamento escrevi no prefácio da tradução inglesa de 1888 Pouco a pouco vários anos antes de 1845 fomos elaborando essa idéia que em minha opinião será para a História o que foi para a Biologia a teoria de Darwin O meu livro A Situação da Classe Operária na Inglaterra revela até onde fui autonomamente nessa direção Mas quando reencontrei Marx em Bruxelas na primavera de 1845 ele já a elaborara completamente expondoa diante de mim em termos quase tão claros quanto os que expressei aqui Nota de Engels à edição alemã de 1890 2 Perante nós pessoalmente Lassalle sempre se reconheceu como sendo discípulo de Marx e como tal situavase no terreno do Manifesto Mas na sua agitação pública de 18621864 ele não foi além da reivindicação de oficinas cooperativas sustentadas por crédito estatal Nota de Engels 74 75 ternacional foi redigido por Marx com maestria reconhecida até por Bakunin e pelos anarquistas Para o triunfo decisivo das idéias formuladas pelo Manifesto Marx dependia unicamente do desenvolvimento intelectual da classe operária o qual deveria resultar da unidade da ação e da discussão Os acontecimentos e as vicissitudes da luta contra o capital as derrotas maiores que as vitórias poderiam apenas mostrar aos combatentes a insuficiência de todas as panacéias em que acreditavam fazendoos compreender melhor as verdadeiras condições da emancipação da classe operária E Marx tinha razão A classe trabalhadora de 1874 por ocasião da dissolução da Internacional era em geral diferente da de 1864 quando da sua fundação O proudhonismo do países latinos e o lassallsmo propriamente dito na Alemanha estavam desaparecendo e até mesmo as Trades Unions inglesas então ultraconservadoras se aproximaram pouco a pouco daquilo que em 1887 o presidente do seu Congresso de Swansea dizia O socialismo continental não mais nos aterroriza Mas por essa época o socialismo continental confundiase quase que exclusivamente com a teoria formulada no Manifesto Assim o Manifesto propriamente dito tomou novamente a dianteira Desde 1850 o texto alemão fora editado várias vezes na Suíça na Inglaterra e na América do Norte Em 1872 foi traduzido para o inglês em Nova York sendo publicado no Woodhull and Claflins Weekly Da versão inglesa foi feita a francesa que surgiu no Le Socialiste de Nova York Desde então publicaramse mais duas traduções inglesas na América mais ou menos incompletas e uma delas foi editada na Inglaterra A primeira tradução russa de autoria de Bakunin foi publicada na gráfica Kolokol de Herzen em Genebra por volta de 1863 a segunda pela heróica Vera Zasúlitch também foi publicada em Genebra em 1882 Encontrase uma edição dinamarquesa de 1885 no Socialdemokratisk Bibliothek de Copenhague e uma francesa no Le Socialiste de 1886 em Paris Dessa última publicouse uma versão espanhola em 1886 em Madri Perdeuse a conta das edições alemãs houve pelo menos doze delas Eu soube que uma tradução armênia que deveria ser publicada em Constantinopla há alguns anos atrás não se verificou porque o editor teve medo de publicar um livro O tradutor foi na verdade George Plekhánov 18561918 Engels reconheceria este erro em um artigo no Soziales aus Russiand em 1894 Nesta edição os erros da primeira tradução atribuída por Marx e Engels a Bakunin foram eliminados e com ela iniciouse uma ampla difusão das idéias do Manifesto na Rússia 40 que levasse o nome de Marx e o tradutor recusou divulgála como obra sua Já ouvi falar de outras traduções em outras línguas embora não as tenha visto Portanto a história do Manifesto reflete em grande parte a história do movimento operário moderno atualmente é sem dúvida a obra de maior circulação a mais internacional de toda a literatura socialista o programa comum adotado por milhões de trabalhadores da Sibéria à Califórnia No entanto quando surgiu não poderíamos chamálo um manifesto socialista Em 1847 consideravamse socialistas dois tipos diversos de pessoas De um lado havia os adeptos dos vários sistemas utópicos principalmente os owenistas na Inglaterra e os fourieristas na França ambos já reduzidos a meras seitas agonizantes De outro os vários gêneros de curandeiros sociais que queriam eliminar por meio de suas várias panacéias e com todas as espécies de cataplasma as misérias sociais sem tocar no capital e no lucro Nos dois casos eram pessoas que não pertenciam ao movimento dos trabalhadores preferindo apoiarse nas classes cultas Em contrapartida o setor da classe trabalhadora que exigia uma transformação radical da sociedade convencido de que revoluções meramente políticas eram insuficientes denominavase então comunista Tratavase ainda de um comunismo mal esboçado instintivo e por vezes grosseiro Mas era bastante poderoso para dar origem a dois sistemas de comunismo utópico na França o icariano de Cabet e na Alemanha o de Weitling Em 1847 o socialismo significava um movimento burguês e o comunismo um movimento da classe trabalhadora Ao menos no continente o socialismo era muito bem considerado enquanto o comunismo era o oposto E como desde então éramos decididamente da opinião de que a emancipação dos trabalhadores deve ser obra da própria classe trabalhadora não podíamos hesitar entre os dois nomes a escolher Posteriormente nunca pensamos em modificálo Sendo o Manifesto nossa obra comum cabese declarar que a proposição fundamental pertence a Marx Essa proposição é a de que em cada época histórica a produção econômica o sistema de trocas e a estrutura social que dela necessariamente decorre constituem a base e a explicação da história política e intelectual dessa época que conseqüentemente desde a dissolução do regime primitivo de propriedade comum da terra toda a história da humanidade tem sido a história da luta de classes conflitos entre explorados e exploradores entre as classes dominadas e as dominantes que a história dessas lutas de classes se constitui de uma série de etapas atingindo hoje um ponto em que a classe oprimida e explorada o proletariado 41 não pode mais libertarse da classe que explora e oprime a burguesia sem que ao mesmo tempo liberte de uma vez por todas toda a sociedade da exploração da opressão do sistema de classes e da luta entre elas Pouco a pouco vários anos antes de 1845 fomos elaborando essa idéia que em minha opinião será para a História o que foi para a Biologia a teoria de Darwin O meu livro A Situação da Classe Operária na Inglaterra3 revela até onde fui nessa direção Mas quando reencontrei Marx em Bruxelas na primavera de 1845 ele já a elaborara completamente expondoa diante de mim mais ou menos tão claramente como fiz aqui Do nosso prefácio comum à edição alemã de 1872 cito o seguinte Engels transcreve aqui o segundo parágrafo e a primeira frase do terceiro do referido prefácio A presente tradução é de Samuel Moore o tradutor da maior parte de O Capital de Marx Fizemos a revisão juntos e acrescentei algumas notas com explicações históricas Friedrich Engels Londres 30 de janeiro de 1888 Prefácio à edição alemã de 1890 Após o que foi escrito além da necessidade de uma nova edição alemã surgiram vários fatos que merecem ser lembrados aqui Uma segunda tradução russa por Vera Zasúlitch apareceu em Genebra em 1882 seu prefácio foi escrito por Marx e por mim Infelizmente perdi o manuscrito original alemão tenho portanto que retraduzir do russo o que de maneira alguma é favorável ao texto Aqui Engels reproduz com pequenas alterações o prefácio escrito para a edição russa de 1882 Mais ou menos na mesma época surgiu em Genebra uma nova versão polonesa Manifest Kommunistczny Mais tarde apareceu uma nova tradução dinamarquesa no Socialdemokratisk Bibliothek de Copenhague 1885 Infelizmente não está completa algumas passagens essenciais que ao que parece estavam dando muito trabalho ao tradutor foram omitidas e há também alguns sinais de descuido os quais se tornam ainda mais desagradavelmente evidentes quando se percebe que o tradutor teria feito um excelente trabalho se tivesse se esforçado um pouco mais Apareceu uma nova versão francesa em 1886 no Le Socialiste de Paris esta aliás é a melhor edição até agora Uma versão espanhola dessa última foi publicada no mesmo ano no El Socialista de Madri aparecendo depois sob forma de opúsculo Manifesto del Partido Comunista por Carlos Marx y F Engels Madri Administración El socialista Hernán Cortés 8 Como curiosidade posso acrescentar que o manuscrito de uma tradução espanhola foi apresentado a um editor em Constantinopla Mas o bom homem não teve coragem de publicar algo que levasse o nome de Marx sugerindo que o tradutor pusesse seu próprio nome como autor da obra o que ele recusou Depois que várias das pouco exatas traduções americanas foram repetidamente editadas na Inglaterra uma versão autêntica apareceu finalmente em 1888 graças a meu amigo Samuel Moore nós a repassamos juntos antes de enviála à editora É intitulada Manifesto of the Communist Party de Karl Marx e Friedrich Engels tradução inglesa autorizada editada com observações de Friedrich Engels 1888 Londres William Reeves 185 Fleet Street E C Reproduzi algumas notas dessa edição na atual O Manifesto tem sua própria história Saudado com entusiasmo por ocasião de seu aparecimento pela vanguarda então pouco numerosa do socialismo científico como o provam as traduções mencionadas no primeiro prefácio foi logo colocado num segundo plano pela reação que se seguiu à derrota dos operários em Paris em junho de 1848 e proscrito pela lei com a condenação dos comunistas de Colônia em novembro de 1852 Com o desaparecimento da cena pública do movimento operário que começara com a revolução de fevereiro também o Manifesto passou a um segundo plano Aqui Engels praticamente transcreve o terceiro e o quinto parágrafos do prefácio à edição inglesa de 1888 Proletários de todos os países univos Somente algumas vozes responderam quando lançamos essas palavras ao mundo há 42 anos às vésperas da primeira revolução de Paris na qual o proletariado colocou as suas reivindicações Em 28 de setembro de 1864 entretanto os proletários da maior parte dos países da Europa ocidental reuniramse na Associação Internacional dos Trabalhadores de gloriosa memória É verdade que a Internacional em si só viveu nove anos Mas não há testemunho melhor do que o dia de hoje de que a eterna união dos proletários de todos os países por ela criada existe ainda e está mais poderosa do que nunca Hoje quando escrevo essas linhas o proletariado europeu e o americano passam em revista suas forças de combate pela primeira vez mobilizados em um único exército sob uma única bandeira por um único objetivo imediato a fixação legal da jornada normal de oito horas de trabalho segundo decisão do Congresso Internacional reunido em Genebra em 1866 e do Congresso Operário de Paris reunido em 1889 O espetáculo de hoje mostrará aos capitalistas e proprietários agrícolas de todos os países que de fato os proletários de todos os países estão unidos Se ao menos Marx estivesse a meu lado para ver isso com seus próprios olhos Friedrich Engels Londres 1º de maio de 1890 Prefácio à edição polonesa de 1892 O fato de se ter tornado necessária uma nova edição polonesa do Manifesto Comunista dá ensejo a várias considerações Primeiro é digno de nota que o Manifesto nos últimos tempos se tenha em certa medida tornado um barômetro do desenvolvimento da grande indústria no continente europeu Na medida em que se expande num país a grande indústria cresce também entre os operários desse país o desejo de esclarecimento sobre a sua posição como classe operária perante as classes possuidoras alargase entre eles o movimento socialista e aumenta a procura do Manifesto De modo que não só a situação do movimento operário mas também o grau de desenvolvimento da grande indústria podem ser medidas com bastante exatidão em todos os países pelo número de exemplares do Manifesto que circulam no idioma de cada um Assim a nova edição polonesa indica um progresso decidido da indústria local E que este progresso de fato se verificou desde a última edição publicada há dez anos não pode haver dúvidas A Polônia russa a Polônia do Congresso de Viena tornouse o grande distrito industrial do Império Russo Ao passo que a grande indústria russa está esporadicamente dispersa uma parte no golfo da Finlândia outra parte no centro Moscou e Vladimir uma terceira nas costas do Mar Negro e do Mar de Azov e ainda repartida por outras zonas a polonesa está concentrada num espaço relativamente pequeno e desfruta das vantagens e das desvantagens resultantes desta concentração As vantagens reconheceramnas os fabricantes russos seus concorrentes quando reclamaram proteção alfandegária contra a Polônia apesar do seu ardente desejo de transformar os polacos em russos As desvantagens para os fabricantes poloneses e para o governo russo revelamse na rápida difusão de idéias socialistas entre os operários poloneses e na crescente procura do Manifesto Mas o rápido desenvolvimento da indústria polonesa que deixa para trás a russa é uma nova prova da vitalidade inesgotável do povo polonês e uma nova garantia da iminência da sua restauração nacional A restauração de uma Polônia forte e independente porém é uma causa que não diz respeito só aos poloneses diz respeito a todos Uma colaboração internacional sincera das nações européias só é possível se cada uma destas nações for em sua casa perfeitamente autônoma A revolução de 1848 que sob o estandarte do proletariado acabou por apenas deixar que os combatentes proletários fizessem o trabalho da burguesia também impôs a independência da Itália da Alemanha e da Hungria por meio dos seus executores testamentários Louis Bonaparte e Bismarck mas a Polônia que desde 1792 fez mais pela revolução do que estas três juntas deixaramna entregue a si própria quando em 1863 sucumbiu ao poderio russo dez vezes superior A nobreza não pôde manter nem reconquistar a independência da Polônia para a burguesia esta é hoje pelo menos indiferente E contudo é uma necessidade para a cooperação harmoniosa das nações européias Só o jovem proletariado polonês a pode conquistar e nas suas mãos ela estará bem guardada Pois os operários de todo o resto da Europa precisam tanto da independência da Polônia como os próprios operários poloneses Friedrich Engels Londres 10 de fevereiro de 1892 Prefácio à edição italiana de 1893 Ao leitor italiano A publicação do Manifesto do Partido Comunista coincidiu podese dizer com o 18 de Março de 1848 o dia das revoluções de Milão e Berlim Ao leitor italiano foi o título introduzido pelo tradutor Filippo Turadi do prefácio de Engels que foram levantamentos armados das duas nações situadas no centro uma do continente da Europa a outra do Mediterrâneo duas nações até então enfraquecidas pela divisão e pela discórdia internas e que por isso caíram sob o domínio estrangeiro Se a Itália ficava sujeita ao imperador da Áustria a Alemanha sofria o jugo indireto mas não menos efetivo do czar de todas as Rússias As consequências do 18 de Março de 1848 libertaram tanto a Itália como a Alemanha desta vergonha se de 1848 a 1871 estas duas grandes nações foram reconstituídas e de certo modo devolvidas a si próprias isso deveuse como Karl Marx costumava dizer ao fato de que os homens que abateram a revolução de 1848 foram malgrado seu os seus executores testamentários Por toda a parte a revolução de então foi obra da classe operária foi esta que levantou as barricadas e que pagou com a vida Mas só os operários de Paris tinham a intenção bem definida de derrubando o governo derrubar o regime da burguesia Mas embora profundamente conscientes do antagonismo fatal que existia entre a sua própria classe e a burguesia nem o progresso econômico do país nem o desenvolvimento intelectual das massas operárias francesas contudo tinham atingido ainda o grau que teria tornado possível uma reconstrução social Em última análise portanto os frutos da revolução foram colhidos pela classe capitalista Nos outros países na Itália na Alemanha na Áustria os operários desde o princípio não fizeram mais do que levar a burguesia ao poder Mas em qualquer país o domínio da burguesia é impossível sem a independência nacional Por isso a revolução de 1848 tinha de arrastar consigo a unidade e a autonomia das nações que até então não as tinham desfrutado a Itália a Alemanha a Hungria A vez da Polônia chegará em seu tempo Assim se a revolução de 1848 não foi uma revolução socialista aplanou o caminho preparou o terreno para ela Com o impulso dado em todos os países à grande indústria o regime burguês tem criado por toda a parte nos últimos 45 anos um proletariado numeroso concentrado e forte Criou assim segundo a expressão do Manifesto os seus próprios coveiros Sem restituir a cada nação européia a sua autonomia e unidade não poderiam consumarse nem a união internacional do proletariado nem a cooperação pacífica e inteligente destas nações para fins comuns Imaginese uma ação internacional conjunta dos operários italianos húngaros alemães poloneses e russos nas condições políticas anteriores a 1848 As batalhas travadas em 1848 não foram pois travadas em vão os 45 anos que nos separam daquela etapa revolucionária também não passaram em vão Os frutos amadurecem e tudo o que eu desejo é que a publicação desta tradução italiana do Manifesto seja de tão bom augúrio para a vitória do proletariado italiano como a publicação do original o foi para a revolução internacional O Manifesto Comunista presta plena justiça à ação revolucionária do capitalismo no passado A primeira nação capitalista foi a Itália O fim da Idade Média feudal o limiar da era capitalista moderna é assinalado por uma figura colossal um italiano Dante ao mesmo tempo o último poeta da Idade Média e o primeiro poeta dos tempos modernos Hoje como em 1300 perfilase uma nova era histórica Darnosá a Itália um novo Dante capaz de assinalar o nascimento dessa nova era a era proletária Friedrich Engels Londres 1º de fevereiro de 1893 Capa da edição alemã de 1872 com prefácio de Marx e Engels A edição russa de 1882 traduzida por G V plekhánov Capa da edição alemã de 1890 com prefácio de Engels Primeiro prefácio escrito por Engels após a morte de Marx 1883 Edição inglesa de 1888 a única de que Engels se ocupou pessoalmente Terceira edição polonesa impressa na Inglaterra em 1892 Edição italiana do Manifesto Comunista publicada em 1893 EM MEMÓRIA DO MANIFESTO COMUNISTA Antonio Labriola DAQUI A TRÊS anos nós socialistas poderemos comemorar nosso jubileu A memorável data da publicação do Manifesto Comunista fevereiro de 1848 marca nossa primeira e certa entrada na História A essa data se refere cada juízo cada apreciação nossa sobre os progressos que o proletariado vem fazendo neste meio século Nessa data se mede o percurso da nova era que desabrocha e surge ou melhor sendo por sua própria formação intimamente ligada e imanente à era presente por isso mesmo dela se desprende e a partir dela se desenvolve necessária e inelutavelmente quaisquer que sejam as vicissitudes e as fases que venha a enfrentar por ora certamente imprevisíveis Todos os que entre nós têm urgência e necessidade de possuir a plena consciência do próprio trabalho muitas vezes voltam o pensamento para as causas e para os movimentos que determinaram a gênese do Manifesto naquelas circunstâncias precisas em que ele surgiu ou seja às vésperas da revolução que explodiu de Paris a Viena de Palermo a Berlim Somente por esta via nós é possível extrair da própria forma social em que hoje vivemos a explicação da tendência ao socialismo E assim justificar pela própria presente razão de ser de tal tendência a necessidade de seu efetivo triunfo cujo presságio externamos diariamente Afinal não é este o cerne do Manifesto sua essência e seu caráter decisivo1 Na verdade seria vão procurálo nas medidas práticas que no final do capítulo segundo ali são sugeridas e propostas como adotáveis na eventua 1 Este meu escrito não é uma reelaboração do Manifesto como se eu quisesse adaptálo às condições presentes nem faço aqui sua análise ou comentário Escrevo como diz o título apenas em memória lidade de um sucesso revolucionário do proletariado ou nas indicações de orientação política com relação aos outros partidos revolucionários da época que se encontram no capítulo quarto Essas indicações e sugestões ainda que apreciáveis e notáveis no tempo em que foram formuladas e ditadas e além disso ainda que sejam sobretudo importantes para julgar de maneira precisa a ação política que os comunistas alemães desenvolveram no período revolucionário de 184850 hoje não mais constituem para nós um conjunto de visões práticas a partir das quais nos caiba decidir pró ou contra em cada caso e recorrência Do tempo da Internacional até hoje em vários países vieram se constituindo sobre a base do proletariado e em seu nome explícito e claro partidos políticos que tiveram e têm na medida em que surgem e depois se desenvolvem viva necessidade de adaptar e de conformar suas exigências e sua obra a contingências variadas e multiformes Mas nenhum desses partidos tem tal consciência de saberse agora tão próximo da ditadura do proletariado de sentir urgente a própria necessidade ou mesmo o desejo ou a tentação de rever e de avaliar as propostas do Manifesto no plano de uma verificação que pareça provável porque tida como próxima Na verdade os experimentos históricos são só aqueles que a própria História faz inesperadamente sem ser de propósito sem projeto e sem ordem explícita Assim aconteceu nos tempos da Comuna que foi e é permanece até hoje para nós o único experimento aproximativo da ação do proletariado ainda que confuso e de curta duração que tenha sido colocado frente à nova e dura prova de apoderarse do poder político Experimento esse que não foi feito de caso pensado nem a partir de um projeto mas acima de tudo foi imposto pelas circunstâncias e heroicamente sustentado e agora se converte para nós em sautar ensinamento Nesse caso onde o movimento socialista se encontra apenas na infância pode acontecer que em razão de experiência própria e direta um ou outro como acontece freqüentemente na Itália se apegue à autoridade de um texto como preceito Mas isso efetivamente não conta nada² Aquele cerne ou essência e caráter decisivo a meu ver também não deve ser procurado na orientação sobre outras formas de socialismo que no Manifesto são referidas pelo nome de Literatura Tudo o que é dito no capítulo terceiro sem dúvida serve para definir admiravelmente por meio de antítese e na forma de breves concisas e relevantes características as diferenças que efetivamente existem entre o comunismo que numa expressão infelizmente abusada por muitos hoje nos habituamos a chamar científico e outras formas Ou seja entre o comunismo que tem como tema central o proletariado e como argumento a revolução proletária e as formas reacionárias burguesas semiburguesas pequenoburguesas utópicas e outras Todas essas formas foram recorrentes se renovaram mais vezes recorrem e se renovam ainda hoje nos países em que o movimento proletário moderno mal se encontra no nascedouro Para esses países e em tais circunstâncias o Manifesto exerceu e ainda exerce o papel de crítica atual e de farpa literária Mas nos países onde essas formas já foram teórica e praticamente superadas como é em grande parte o caso da Alemanha e da Áustria ou onde elas sobrevivem só em estado sectário e subjetivo como já ocorre na França e na Inglaterra para não falar de outras tantas nações o Manifesto no que diz respeito a essa diferenciação já cumpriu seu papel E apenas registra como memória aquilo que não se pensa mais dada a ação política do proletariado que já se desenrola em seu processo normal e gradual Ora esta foi precisamente e à guisa de antecipação a disposição de ânimo e de mente daqueles que o escreveram Sobre aquilo que haviam superado com a força do pensamento o qual a partir de poucos mas claros dados de experiência antecipou com precisão os eventos eles exprimiam então apenas a exclusão e a condenação O comunismo crítico este é o seu verdadeiro nome e não existe outro mais exato para tal doutrina não compartilhava mais com os feudais a lembrança nostálgica da velha sociedade para depois contrapor a ela a crítica da sociedade presente pelo contrário olhava apenas para o futuro Não se associava mais aos pequenosburgueses no desejo de salvar o não salvável como por exemplo a pequena propriedade ou a vida pacata da gente humilde que a vertiginosa ação do estado moderno que é o órgão necessário e natural da sociedade atual torna grave e pesado apenas porque esse estado revolucionando continuamente traz em si e consigo a necessidade de outras novas revoluções Também não traduzia em fantasias metafísicas ou em reflexões de sentimento doentio ou de contemplação religiosa os contrastes reais dos interesses materiais da vida cotidiana ao contrário apresentava e expunha esses contrastes em toda sua trivialidade Não construía a sociedade do futuro a partir das linhas de um desenho em cada parte harmonicamente direcionado para o acabamento Não dirigia palavras de louvor e de exaltação ou de evoca ção e de lamento às duas deusas da mitologia filosófica a Justiça e a Igualdade Essas duas deusas hoje fazem triste figura na mísera prática da vida cotidiana quando se percebe como há tantos séculos a História se entrega ao indecente passatempo de contrariar seus infalíveis desígnios Por outro lado aqueles comunistas mesmo explicando e exibindo fatos com força de argumento e de prova que em nossa época os proletários estavam destinados a desempenhar o papel de coveiros da burguesia a ela prestavam homenagem enquanto autora de uma forma social que é em extensão e intensidade um estágio notável do progresso humano e que sozinha pode servir de arena às novas lutas que prometem êxito ao proletariado Nunca foi escrito necrológio de estilo tão monumental Esses louvores dirigidos à burguesia assumem certa forma original de humorismo trágico e para alguns parecem escritos com entonação de ditirambo Não obstante as definições negativas e antitéticas das outras formas de socialismo correntes então e até hoje freqüentemente recorrentes por serem incensuráveis na substância na forma e no objetivo a que visam não pretendem ser nem são a efetiva história do socialismo e não apresentam nem a pista nem o esquema dela se alguém quiser escrevêla Na verdade a História não se apóia sobre a diferença entre verdadeiro e falso ou justo e injusto menos ainda sobre a mais abstrata antítese entre possível e real como se as coisas permanecessem de um lado e tivessem do outro lado as próprias sombras e fantasmas nas idéias Ela está sempre toda de um lado e se apóia inteira sobre o processo de formação e transformação da sociedade o que pode ser percebido em sentido objetivo e independentemente de nossa aceitação ou repulsa Ela é uma dinâmica de gênero especial como convém dizer aos positivistas que tanto se deleitam com tais expressões e freqüentemente não vão além da própria nova palavra que põem em circulação Hoje elas várias formas de concepção de ação socialistas que apareceram e desapareceram no curso dos séculos com tantas diferenças nos motivos na fisionomia e nos efeitos são todas estudadas e explicadas pelas condições específicas e complexas da vida social em que se produziram Ao examinálas vêse que não constituem um único conjunto de processo contínuo porque a série foi muitas vezes interrompida pela mudança do complexo social pelo obscurecimento e pela ruptura da tradição Só no tempo da Grande Revolução o socialismo assume certa unidade de processo que se torna mais evidente de 1830 em diante com o definitivo advento da burguesia no domínio político na França e na Inglaterra e por último se torna intuitiva diria mesmo palpável da Internacional até os dias de hoje Nesta estrada neste caminho o Manifesto se ergue como grande marco da distância percorrida com dupla indicação por assim dizer para as duas direções De um lado está o incunábulo da nova doutrina que depois deu a volta ao mundo De outro está a orientação sobre as formas que ele exclui mas das quais não traz a exposição e o relato³ O cerne a essência o caráter decisivo deste escrito consiste inteiramente na nova concepção histórica que o fundamenta e que ele mesmo em parte explica e desenvolve quando não aponta refere ou apenas supõe Por essa concepção o comunismo cessando de ser esperança aspiração lembrança conjectura ou subterfúgio encontrava pela primeira vez a expressão adequada na consciência de sua própria necessidade isto é na consciência de ser o êxito e a solução das atuais lutas de classes Não se trata das lutas de classes de todos os tempos e lugares sobre as quais a História do passado se exericou e desenvolveu ao contrário todas elas perdem estatura e se reduzem predominantemente à luta entre burguesia capitalista e trabalhadores fatalmente proletarizados É desta luta que o Manifesto encontra a gênese determina o ritmo de evolução e prevê o efeito final Em tal concepção histórica está toda a doutrina do comunismo científico Deste ponto em diante os adversários teóricos do socialismo não são mais chamados a discutir a possibilidade abstrata da socialização democrática dos meios de produção⁴ como se disto fosse possível extraíremse ligações das atitudes gerais e comuníssimas da assim chamada natureza humana Ao contrário aqui se trata de reconhecer ou de não reconhecer no curso presente das coisas humanas uma necessidade que transcende cada simpatia e cada aprovação subjetiva nossa Nos países que mais pro grediram encontrase ou não a sociedade a ponto de alcançar o comunismo pelas leis imanentes à sua própria transformação dada sua atual estrutura econômica e considerando os atritos que ela por si e em si mesma necessariamente produz até romperse e dissolverse Este é o tema da discussão desde que tal doutrina apareceu E esta é conjuntamente a regra de conduta que se impõe à ação dos partidos socialistas sejam eles compostos unicamente por proletários ou acolham em suas fileiras homens saídos de outras classes que fazem papel de voluntários no exército do proletariado Por isso nós socialistas que de bom grado nos deixamos chamar científicos se não se tentar com tal epíteto confundirnos com os positivistas que são nossos hóspedes frequentes mas nem sempre bemaceitos e a seu bel prazer monopolizam a palavra ciência não lutamos para sustentar uma tese abstrata e genérica como se fôssemos causídicos ou sofistas nem nos apressamos em demonstrar a racionalidade de nossos objetivos Nossos objetivos são unicamente a expressão teórica e a explicação pacífica dos dados que nos oferece a interpretação do processo que se cumpre através de nós e em torno a nós e que está ínteiro nas relações objetivas da vida social da qual somos sujeito e objeto causa e efeito escopo e parte Nossos objetivos são racionais não porque se fundamentem em argumentos extraídos da razão da discussão mas porque são deduzidos da consideração objetiva das coisas o que equivale dizer que são deduzidos a partir da elucidação do seu processo que não é nem pode ser resultado de nosso arbítrio mas ao contrário vence e submete nosso arbítrio O manifesto dos comunistas por sua eficácia específica não pode ser substituído por nenhum dos escritos anteriores ou posteriores de seus próprios autores que por extensão e porte científico são tão maiores Todavia ele nos oferece em sua clássica simplicidade a expressão genuína desta situação o proletariado moderno é se coloca cresce e se desenvolve na História contemporânea como o sujeito concreto como a força positiva de cuja ação inevitavelmente revolucionária o comunismo deverá necessariamente resultar E por isso por tal enunciação de presságio teoricamente fundamentada e expressa em frases breves rápidas concisas e memoráveis este escrito constitui um conjunto ou mais ainda um viveiro inexaurível de gens de pensamento que o leitor pode indefinidamente fecundar e multiplicar conservando a força original e originária da coisa recémnascida e não ainda desenvolta e desviada do campo de sua própria produção Observação esta que se dirige principalmente àqueles que com a dialética tornavase capaz de abraçar e de compreender o movimento da História nas suas causas mais íntimas e até então inexploradas porque latentes e difíceis de destrinchar Ambos comunistas e revolucionários mas não por instinto nem por puro impulso ou paixão eles tinham quase elaborada toda uma nova crítica da ciência econômica e tinham incorporado o nexo e o significado histórico do movimento proletário do lado de cá e do lado de lá da Mancha ou seja da França e da Inglaterra antes mesmo que fossem chamados a ditar no Manifesto o programa e a doutrina da Liga dos Comunistas Sediada em Londres e com notáveis ramificações no continente a Liga construiria uma boa trajetória de vida e de desenvolvimento próprio através de fases diversas Dos dois Engels era já há algum tempo autor de um ensaio crítico que superando qualquer restrição subjetiva e unilateral pela primeira vez tirava objetivamente a crítica da economia política dos antagonismos inerentes aos enunciados e aos conceitos da própria economia depois alcançara a fama com um livro sobre a condição dos operários ingleses que é a primeira tentativa bem sucedida de representar os movimentos da classe operária como resultante do próprio jogo das forças e dos meios de produção6 O outro Marx tinha acumulado no breve correr dos anos a experiência de publicista radical na Alemanha e igualmente em Paris e Bruxelas a excogitação quase madura dos primeiros rudimentos da concepção materialista da História a crítica teórica e vitoriosa dos pressupostos e das lições da doutrina de Proudhon e a primeira elucidação precisa da origem do sobrevalor de compra e do uso da força de trabalho ou seja o primeiro germe das concepções cujas demonstrações reconexões e particularidades alcançaram a maturidade mais tarde no Capital Ambos ligados por muitas e várias vias de comunicação aos revolucionários dos vários países da Europa especialmente da França da Bélgica e da Inglaterra não compuseram o Manifesto como ensaio de opinião pessoal mas sobretudo como a doutrina de um partido que em seu âmbito estreito no ânimo nos intentos e na ação já era a primeira Internacional dos Trabalhadores Neste ponto começa o socialismo estritamente moderno Aqui está a linha divisória de todo o resto 6 Os Umrisse zu einer Kritik der Nationaloekonomie Apontamentos para uma Crítica da Economia Nacional foram publicados nos Deutsch Franzoesische Jahrbücher em Paris em 1844 pp 85114 O livro com o título Die Lage der arbeitenden Klasse in England A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra foi publicado em primeira edição em Leipzig em 1845 Publicado no Brasil pela Global 1986 49 A Liga dos Comunistas tornarase tal depois de ter sido Liga dos Justos e esta por sua vez por clara consciência de intentos proletários gradativamente se diferenciara da liga genérica dos prófugos isto é dos desgarrados Como modelo que traz em si em desenho quase embrionário a forma dos ulteriores movimentos socialistas e proletários ela atravessara as várias fases da conspiração e do socialismo igualitário Fora metafísica com Grün e utópica com Weitling Tendo sua sede principal em Londres aproximarase do movimento cartista refluindo em parte sobre ele em seu caráter intermitente por ser primeiro experimento e ponto premeditado por não ser mais conspiração ou seita esse movimento exemplificava a dura e penosa formação do partido verdadeiro e próprio da política proletária A tendência ao socialismo só alcançou a maturidade no Cartismo quando o movimento já estava próximo de fracassar e de fato fracassou Sois inesquecíveis Jones e Harney A Liga sentia o cheiro da revolução em toda parte porque a coisa estava no ar porque seu instinto e seu método de informação a levavam a isso e enquanto a revolução efetivamente estourava ela buscou na nova doutrina do Manifesto um instrumento de orientação que era ao mesmo tempo uma arma de combate Realmente internacional em parte pela qualidade e origem variada de seus membros mas bem mais ainda pelo instinto e pela vocação que todos eles tinham ela veio a assumir seu lugar no movimento geral da vida política como prenúncio claro e preciso de tudo o que hoje se pode chamar socialismo moderno se com a palavra moderno não se entender uma simples data de cronologia extrínseca mas diferentemente um sinal do processo interno ou seja morfológico da sociedade Uma longa intermissão de 1852 a 1864 o período da reação política e ao mesmo tempo do desaparecimento da dispersão e da reabsorção das velhas escolas socialistas separa a Internacional que mal começara com a Arbeiterbildungsverein em Londres da Internacional propriamente dita que de 1864 a 1873 tentou igualar pelas condições de luta as ações do proletariado na Europa e na América Outras intermissões teve a ação do proletariado sobretudo na Alemanha e especialmente na França da dissolução da Internacional de gloriosa memória até esta nova que hoje vive com outros meios e se desenvolve com outros modos todos de acordo com a situação política em que nos encontramos e com as sugestões de uma experiência mais larga e amadurecida Mas como os sobreviven Associação dos operários N da T 50 tes entre os que de novembro a dezembro de 1847 discutiram e aceitaram a nova doutrina reapareceram na cena pública da grande Internacional e reapareceram por último nesta nova doutrina também o Manifesto voltou continuamente à luz da publicidade fazendo de fato aquela volta ao mundo em todas as línguas dos países civilizados desígnio que seus autores haviam traçado desde o primeiro momento Esse é o verdadeiro prenúncio esses foram nossos verdadeiros precursores Mexeramse antes dos outros cedo com passo apressado mas firme exatamente naquele caminho que nós temos que percorrer e de fato estamos percorrendo Mas o nome de precursores não cai bem àqueles que percorreram caminhos que depois tenha sido conveniente abandonar ou seja para sair da metáfora àqueles que formularam doutrinas e iniciaram movimentos sem dúvida explicáveis pelos tempos e pelas circunstâncias em que nasceram mas que depois foram todos superados pela doutrina do comunismo crítico que é a teoria da revolução proletária Não é que essas doutrinas e tentativas tenham aparecido de modo acidental inútil e supérfluo Não há nada que seja absolutamente irracional no curso histórico dos acontecimentos porque nele não existe nada de imotivado e portanto meramente supérfluo Tampouco nos é possível nem mesmo hoje alcançar a consciência do comunismo crítico sem repassar mentalmente aquelas doutrinas percorrendo de novo o processo de seu aparecimento e desaparecimento O fato é que essas doutrinas não são passadas no tempo ou na memória mas foram intrinsecamente ultrapassadas tanto pela mudança da condição da sociedade quanto pelo progresso da inteligência das leis sobre as quais se apóiam sua formação e seu processo O momento em que se verifica tal passar que intrinsecamente é um ultrapassar é precisamente aquele em que aparece o Manifesto Como primeiro sinal da gênese do socialismo moderno este escrito que da nova doutrina apresenta apenas os traços mais gerais ou seja mais facilmente comunicáveis traz consigo os vestígios do terreno histórico em que nasceu o da França da Inglaterra e da Alemanha O terreno de propagação e difusão tornouse depois cada vez mais largo e hoje é tão vasto quanto o mundo civilizado Em todos os países onde a tendência ao comunismo veio sucessivamente se desenvolvendo através dos antagonismos variadamente posicionados e no entanto a cada dia mais claros entre burguesia e proletariado o processo da primeira formação continuou se repetindo em parte ou no todo Os partidos proletários que continuamente se constituíram voltaram a percorrer os estágios de formação que os pioneiros percorreram pela primeira vez entretanto tal processo se fez de país em país e de ano em ano cada vez mais breve tanto pelas crescentes evidência urgência e energia dos antagonismos quanto porque assimilar uma doutrina ou uma orientação é muito mais fácil que produzilas pela primeira vez Também por isso nossos colaboradores de cinqüenta anos atrás foram internacionais porque deram ao proletariado das várias nações com o próprio exemplo e experiência a pista antecipada e geral do trabalho a cumprir Mas a consciência teórica do socialismo está hoje como antes e como sempre estará na compreensão de sua necessidade histórica ou seja na consciência da forma de sua gênese e esta se reflete como campo restrito de observação e como exemplo conciso na própria formação do Manifesto Ele mesmo por colocarse como instrumento de luta não apresenta indícios aparentes de sua origem porque se exprime por um conteúdo de enunciados e não por um conjunto de demonstrações A demonstração está inteira no imperativo da necessidade Mas a formação pode ser toda refeita e hoje refazêla significa entendermos verdadeiramente a doutrina do Manifesto De fato há uma análise que separando abstratamente os fatores de um organismo os destrói enquanto elementos participantes da unidade do complexo Mas há outro tipo de análise e só essa tem valor para a compreensão da História é a que distingue e separa os elementos apenas para reconhecer a necessidade objetiva da participação deles no resultado Hoje é opinião popular que o socialismo é um fruto normal e portanto inevitável da História atual Sua ação política que por certo admite de agora em diante adiamentos e atrasos mas não mais reabsorção total e aniquilamento decididamente começou com a Internacional Por trás dela porém está o Manifesto Sua doutrina é acima de tudo a luz teórica levada ao movimento proletário o qual de resto se gerara e continua a gerarse independentemente da ação de qualquer doutrina Além disso ele é mais que essa luz O comunismo crítico só surge no momento em que o movimento proletário além de ser resultado de condições sociais já se fortaleceu a ponto de entender que essas condições são mutáveis e a ponto de perceber com que meios e em que sentido podem ser mudadas Não bastava que o socialismo fosse um resultado da História além disso era necessário entender como era tal resultado intrinsecamente e a que acontecimento conduzia sua agitação A expressão de tal consciência a saber o proletariado como resultado necessário da sociedade moderna traz em si a missão de suceder à burguesia de sucedêla como força produtora de uma nova ordem de convivência em que os antagonismos de classicional e ao qual se possa estar predisposto por vontade própria tornavase um processo a ser facilitado sustentado e secundado A revolução se tornava objeto de uma política cujas condições são dadas pela situação complexa da sociedade um resultado que o proletariado deve alcançar através de várias lutas e meios variados de organização ainda não cogitados pela velha tática das revoltas E isto porque o proletariado não é um acessório uma excrescência um mal eliminável desta sociedade em que vivemos mas é o seu substrato sua condição essencial seu efeito inevitável e por sua vez a causa que conserva e mantém viva a própria sociedade que não se pode emancipar senão emancipando tudo e todos ou seja revolucionando integralmente a forma de produção Como a Liga dos Justos se tornara Liga dos Comunistas despontandose das formas simbólicas e conspiratórias voltandose gradualmente para os meios da propaganda e da ação política algum tempo depois que a insurreição de Barbès e Blanqui fracassou 1839 assim a doutrina nova que a própria Liga aceitava e fazia sua superou definitivamente as idéias que guiavam a ação conspiratória e converteu em fim e resultado objetivo de um processo aquilo que os conspiradores pensavam que estivesse na ponta de um projeto deles ou que pudesse ser a emanação e o eflúvio de seu heroísmo E aqui está uma outra linha ascendente na ordem dos fatos uma outra conexão de conceitos e de doutrinas O comunismo conspiratório o blanquismo da época nos faz remontar através de Buonarroti e em parte através de Bazard e da Carbonária até chegar à conspiração de Babeuf que foi verdadeiro herói de tragédia antiga que tromba com o destino por ignorar a incongruência do próprio projeto com a condição econômica do tempo ainda não apta a pôr na cena política um proletariado munido de explícita consciência de classe De Babeuf através de alguns elementos menos conhecidos do período jacobino passando Boissel e Fauchet se remonta ao intuitivo Morelly e ao versátil e genial Mably e se assim se quiser até o caótico testamento do cura Meslier rebelião instintiva e violenta do bom senso contra a selvagem opressão do pobre camponês Foram todos igualitaristas esses precursores do socialismo violento protestatário conspiratório como também foram igualitaristas a maioria dos próprios conspiradores Por singular mas inevitável deslumbramento todos eles adotaram uma arma de combate mas interpretandoa e generalizandoa pelo avesso aquela mesma doutrina da igualdade que desenvolvida como direito natural paralelamente à formação da teoria eco nômica fora instrumento na mão da burguesia que conquistava gradualmente sua posição atual para converter a sociedade do privilégio na do liberalismo político e econômico e do código civil7 Por tal ligação imediata que no fundo era simples ilusão isto é por serem todos os homens naturalmente iguais eles teriam que ser iguais também nas posses acreditavase que o apelo à razão encerrasse em si cada elemento e força de persuasão e propaganda e que a rápida instantânea e violenta tomada de posse dos instrumentos exteriores do poder político fosse o único instrumento para trazer à ordem os renitentes Mas onde nasceram e como se regulam essas desigualdades que parecem tão irracionais à luz de um tão simples e simplista conceito de justiça O Manifesto surge como a negação decisiva do princípio de igualdade assim tão ingênua e toscamente compreendido No ato em que anuncia como inevitável a abolição das classes na futura forma de produção coletiva fala destas mesmas classes como um fato como são como nasceram e como se tornaram um fato que não é a exceção nem derroga a exceção a um princípio abstrato mas pelo contrário é o próprio processo da História Como o proletariado moderno pressupõe a burguesia esta não vive sem ele E um e outra são o resultado de um processo de formação que fundamenta tudo no modo de produzir os meios necessários à vida isto é tudo se fundamenta no modo da produção econômica A sociedade burguesa surgiu da sociedade corporativa e feudal e dela surgiu lutando e revolucionando o que tinha diante de si para apoderarse dos instrumentos e dos meios de produção que depois todos eles culminam na formação e no alargamento e na reprodução e multiplicação do capital Descrever a origem e o progresso da burguesia nas suas várias fases expor seus sucessos no desenvolvimento colossal da técnica e na conquista do mercado mundial indicar as conseqüentes transformações políticas que são a expressão de tais conquistas as defesas e o resultado significa fazer ao mesmo tempo a história do proletariado Este em sua condição atual é inerente à época da sociedade burguesa e teve e terá tantas e tantas fases quantas tem esta própria sociedade até sua dissolução O antagonismo 7 Proliferaram nestes últimos anos muitos juristas que procuraram nas correções ao Código Civil os meios práticos para elevar a condição do proletariado Mas porque não pedem ao Papa que assuma a chefia da Liga dos Livres pensadores Entre outros é notável o caso daquele escritor italiano que recentemente tratando da luta de classes pediu que ao lado do Código que garante os direitos do capital se elabore um outro que garanta os direitos do trabalho 100 52 entre ricos e pobres entre gozosos e sofridos opressores e oprimidos não é algum acontecimento acidental e facilmente removível como parecera aos entusiastas amantes da justiça Ao contrário é um fato de necessária correlação dado o princípio diretivo da atual forma de produção como aparece na necessidade do assalariado Esta necessidade é dúplice em si mesma O capital só pode apoderarse da produção proletarizandose e só pode continuar a existir a ser frutífero a acumularse a multiplicarse e a transformarse se assalariar os proletarizados E estes por sua vez só podem existir e renovarse entregandose como mercadoria como força de trabalho cujo uso é abandonado ao critério isto é às conveniências dos possuidores de capital A harmonia entre capital e trabalho está toda nisto o trabalho é a força viva com a qual os proletários continuamente põem em movimento e reproduzem com novo acréscimo o trabalho acumulado no capital Este nexo que é resultado de um desenvolvimento que é toda a essência íntima da História moderna propicia a chave para entender a nova razão da luta de classes da qual a concepção comunista se tornou auxílio e expressão é por outro lado feito de tal maneira que nenhum protesto do coração e do sentimento nenhuma argumentação de justiça pode resolvêlo ou desfazêlo Por tais razões aqui por mim apresentadas até onde espero com plausível popularidade o comunismo igualitário permanecia vencido A sua impotência prática era igual à sua incapacidade teórica de perceber as causas das injustiças ou seja das desigualdades que queria corajosa ou irrefletidamente sepultar e eliminar de repente A partir daí compreender a História se tornava a principal preocupação dos teóricos do comunismo E como se poderia contrapor à dura realidade da História um almejado e até mesmo perfeitíssimo ideal Nem se poderia afirmar que o comunismo seja o estado natural e necessário da vida humana de todos os tempos e lugares em relação ao qual todo o curso das formações históricas deve parecer uma série de desvios e de aberrações Nem que a ele se pode chegar ou se transformar por abnegação espartana e por resignação cristã Ele pode ser e efetivamente deve ser e será a conseqüência da dissolução desta nossa sociedade capitalista Mas nela a dissolução não pode ser inoculada artificialmente nem importada ab extra Ela se dissolverá pelo próprio peso diria Maquiavel Cairá como forma de produção que gera em si mesma a constante e progressiva rebelião das forças produtivas contra as relações jurídicas e políticas da produção e no entanto só continua a viver enquanto viver porque aumenta continuamente a concorrên ci a que gera as crises e estende vertiginosamente sua esfera de ação condições intrínsecas de sua morte inevitável Como aconteceu com a morte natural em outro ramo de ciência também na forma social a morte se transformem em caso fisiológico O Manifesto não apresentou nem devia apresentar o projeto da sociedade futura Por outro lado disse como a presente sociedade se dissolverá pela dinâmica progressiva de suas forças imanentes Para isso recorreu principalmente à exposição do desenvolvimento da burguesia e a fez em traços rápidos que são capítulo exemplar da filosofia da História suscetível a retoques acréscimos e acima de tudo a amplo desenvolvimento mas que não admite correção no que lhe é intrínseco8 SaintSimon e Fourier ainda que não tenham sido reproduzidos no teor de suas idéias nem imitados no encaminhamento de suas abordagens permaneciam por tal elevação teórica justificados e confirmados Ambos ideólogos eles tinham superado a época liberal dentro dela mesma em uma antecipação de singular genialidade que no horizonte por eles visualizado culminava com a Grande Revolução O primeiro subverteu a interpretação da história do direito à economia e da política à física social e em meio a muitas incertezas de entendimento idealista e de entendimento positivo quase encontrou a gênese do terceiro estado O outro por ignorância de detalhes desconhecidos ou por ele desprezados e por exuberância de engenho não disciplinado fantasiou uma grande sequência de épocas histórias vagamente diferenciadas e marcadas por certos sinais do princípio diretivo das formas de produção e de distribuição Em seguida alinhavou o argumento da construção de uma sociedade em que os antagonismos atuais desaparecessem Entre esses antagonismos com perspicácia genial descobriu um que estudou com amor especial o círculo vicioso da produção Sem o saber concorria com Sismondi que na mesma época com outro intuito e por outras vias a partir do exemplo das crises e dos apontados inconvenientes da grande indústria e da concorrência impiedosa explicava com timidez o fiasco da ciência econômica recémelaborada Do alto da serena meditação sobre o mundo futuro dos harmoniosos Fourier olhou com sereno desprezo para a miséria dos civilizados e escreveu tranqüilo a sátira da História Ideólogos tanto um quanto outro ignoraram a dura luta que o proletariado é convocado a sustentar antes de por termo à época da ex ploração e dos antagonismos e por necessidade subjetiva de concluir se tornaram um projetista e o outro um utopista9 Mas adivinharam alguns aspectos notáveis dos princípios diretivos da sociedade sem antagonismos O primeiro concebeu claramente o governo técnico da sociedade sem domínio do homem sobre o homem E Fourier adivinhou divisou e previu através de tantas extravagâncias de sua luxuriante e irrefreada fantasia não poucos aspectos notáveis da psicologia e da pedagogia daquela convivência futura na qual segundo a expressão do Manifesto o livre desenvolvimento de cada um é condição do livre desenvolvimento de todos O saintsimonismo já se havia dissipado quando o Manifesto apareceu Por outro lado o fourierismo florescia na França por sua própria índole não como partido mas como escola Quando a escola tentou alcançar a utopia por meio da lei os proletários parisienses já tinham sido derrotados nas jornadas de junho por aquela burguesia que derrotandoos propiciou a si mesma o domínio de um apogeu insigne e aventureiro que durou vinte anos Não como voz de uma escola mas como promessa ameaça e vontade de um partido vinha à luz a nova doutrina dos comunistas críticos Seus autores e sequazes não viviam de fantasia do futuro mas com o ânimo completamente voltado para a experiência e para as necessidades do presente Viviam da consciência dos proletários cujo instinto ainda não submetido pela experiência em Paris e na Inglaterra estimulava a subverter o domínio da burguesia com velocidade de ações não dirigidas por uma tática estudada Esses comunistas difundiram na Alemanha as idéias revolucionárias foram os defensores das vítimas de junho e tiveram na Neue Rheinische Zeitung um órgão político que hoje tantos anos depois ainda faz escola especialmente pelos seus textos que esparsamente vêm sendo reproduzidos Cessadas as contingências históricas que em 1848 impulsionaram os proletários para a frente da cena política a doutrina do Manifesto não encontrou mais nem base nem terreno de difusão Esperou anos para difundirse porque foram necessários anos antes que o proletariado pudesse por outras vias e com outros modos voltar à cena como força política fazer dessa doutrina seu órgão intelectual e encontrar nela os meios de orientação 8 Tal desenvolvimento é O Capital de Marx que neste caso eu não me sinto qualificado para chamar de filosofia da História 9 Não sou contrário a reconhecer como Anton Menger que SaintSimon não foi verdadeiramente utopista como foram de forma acentuada típica e clássica Fourier e Owen Nova Gazeta Renana N da T 101 53 Mas desde o dia em que apareceu ela foi a crítica antecipada daquele socialismus vulgaris que vegetou pela Europa e especialmente na França desde o golpe de Estado até o aparecimento da Internacional que em seu breve período de vida não teve tempo de vencêlo esgotálo eliminálo totalmente Esse socialismo vulgar se alimentava se não de outras idéias mais desconexas principalmente das doutrinas e mais ainda dos paradoxos de Proudhon que já há muito tempo superado por Marx só foi praticamente vencido durante a Comuna quando seus sequazes pela mais salutar lição dos fatos foram obrigados a contrariar as doutrinas do mestre Desde que apareceu esta nova doutrina do comunismo foi a crítica implícita de todas as formas de socialismo de Estado de Louis Blanc a Lassalle O socialismo de Estado embora ainda mesclado a tendências revolucionárias se concentrava inteiro na fábula no Hokus Pokus do direito ao trabalho Esta expressão é insidiosa se implica questão que se dirija a um governo mesmo de burgueses revolucionários É absurdo econômico se se tem em mente suprimir a variável desemprego que influi na variação dos salários ou seja nas condições da concorrência Pode ser artifício de politiqüeiros se é empregada para aplacar as turbulências de uma massa agitada de proletários nãoorganizados É uma futilidade teórica para quem conceba claramente o curso de uma revolução vitoriosa do proletariado que não pode deixar de encaminhar a socialização dos meios de produção mediante a tomada de posse deles ou seja não pode deixar de encaminhar à forma econômica em que não há nem mercadoria nem salariado onde o direito ao trabalho e o dever de trabalhar se unem na necessidade comum a todos de que todos trabalhem A fábula do direito ao trabalho acaba na tragédia das jornadas de junho A discussão parlamentar que se fez sobre elas em seguida foi paródia O choroso e retórico Lamartine aquele grande oportunista tinha tido ocasião de pronunciar a última ou a penúltima de suas festejadas frases a experiência dos povos são as catástrofes e bastava isto para a ironia da História Mas o Manifesto esse escrito de tão pequeno porte de estilo tão distante da insinuação retórica de uma fé ou de uma crença possibilitou a consolidação de muitos pensamentos e a reunião de germes com potencial de largo desenvolvimento E não foi porém nem pretendeu ser o código do socialismo nem o catecismo do comunismo crítico nem o vade mecum da revolução proletária Podemos bem deixar as quintessências para Schäffle por conta de quem também deixamos de bom grado a famosa frase a questão social é uma questão de ventre O ventre de Schäffle por muitos anos se exibiu pelo mundo para deleite de tantos esportistas do socialismo e para alívio de tantos policiais O comunismo crítico mal começava com o Manifesto deveria desenvolverse e de fato se desenvolveu O complexo de doutrinas que hoje são comumente chamadas marxismo só alcançou a verdadeira maturidade entre os anos 60 e 70 Certamente desenvolveuse muito a partir do opúsculo Trabalho assalariado e Capital10 no qual pela primeira vez em termos precisos se toca em como da compra e do uso da mercadoria trabalho se obtém um produto superior ao custo o que era o nó da questão não resolvida da maisvalia até as amplas complicadas e multilaterais considerações do livro O Capital Esse livro esgota a gênese da época burguesa em toda sua íntima estrutura econômica e supera intelectualmente essa mesma época porque a explica em seus procedimentos em suas leis particulares e nos antagonismos que ela organicamente produz e que organicamente a dissolvem E corre como variante do movimento proletário que fracassou em 1848 até este de nossos dias que depois de ter reaparecido na superfície da vida política em meio a muitas dificuldades veio se desenvolvendo com tal e tanta constância de processo mas com lentidão de movimentos estudados Até poucos anos atrás esta regularidade de movimento progressivo no proletariado só era notada e admirada na Alemanha onde a democracia social como árvore em terreno próprio da conferência operária de Nuremberg de 1868 em diante veio crescendo normalmente em processo constante Mas depois o que acontecia na Alemanha se repetiu de várias formas em outros países Ora nesse desenvolvimento amplo do marxismo e nesse crescimento do movimento do proletariado nos modos compassados da ação política não houve talvez como dizem muitos uma atenuação do caráter belicoso da forma originária do comunismo crítico Ou talvez tenha sido uma passagem da revolução para a assim chamada evolução Ou pelo contrário uma aquiescência do espírito revolucionário às exigências do reformismo Estas reflexões e objeções surgiram e surgem continuamente tanto no seio do socialismo pela boca dos mais inflamados de ânimo e de fantasia entre seus seguidores quanto do lado dos adversários para quem é van 10 Digo opúsculo referindome à forma a que foi reduzido o escrito com fim de propaganda em 1884 Originalmente foram arquivos da Neue Rheinische Zeitung abril de 1849 que reproduziam conferências proferidas no Círculo Operário Alemão de Bruxelas em 1847 104 105 tagem generalizar os casos particulares de insucesso as pausas as demoras para afirmar que o comunismo absolutamente não tem futuro Quem avaliar o atual movimento proletário e o seu curso variado e complicado sob a impressão do Manifesto quando sua leitura não for acompanhada de outros conhecimentos pode facilmente acreditar que existia alguma coisa exageradamente juvenil e prematura na firme autoconfiança daqueles comunistas de cinqüenta anos atrás Nas palavras deles há como um grito de batalha e o eco da vibrante eloquência de alguns oradores do cartismo e quase o anúncio de um novo 93 feito de modo a não dar lugar a um novo Termidor E todavia o Termidor veio e se repetiu muitas vezes no mundo em formas variadas e mais ou menos explícitas ou dissimuladas foram seus autores de 1848 aos dias de hoje exradicais à francesa ou expatriotas à italiana ou burocratas à alemã na idéia adoradores do deus Estado e na prática bons servos do deus dinheiro ou parlamentares à inglesa finórios conhecedores dos artifícios e expedientes da arte de governo ou até mesmo policiais com máscara de anarquistas de Chicago e similares De um lado os muitos protestos contra o socialismo e aqui e ali os argumentos de pessimistas e de otimistas contra a probabilidade do seu sucesso A muitos parece que a constelação do Termidor não deve mais desaparecer do céu da História ou seja falando de forma mais prosaica para esses o liberalismo que é a sociedade dos iguais em direito presumido sinaliza o extremo limite da evolução humana e para além dele só pode acontecer o regresso A isto de bom grado se acomodam todos aqueles que de maneira geral recolocam a razão e o fim de todo progresso unicamente na sucessiva extensão da forma burguesa Sejam otimistas ou pessimistas todos encontram as colunas de Hércules do gênero humano Não raras vezes acontece que tal sentimento na sua forma pessimista atue inconscientemente sobre muitos dos que junto com outros déclassés vão engrossar as fileiras do anarquismo Há também os que se lançam mais além e assim se põem a teorizar sobre a objetiva inverossimelhança dos assuntos do comunismo crítico O enunciado do Manifesto que diz que a simplificação de todas as lutas de classe em uma única luta traz consigo a necessidade da revolução proletária seria intrinsecamente falacioso para estes polemistas que teorizam Essa nossa doutrina seria infundada como a que pretende extrair uma ilação científica e uma regra de conduta prática da argumentada previsão de um fato presumido o qual na opinião divergente destes bons e pacíficos opositores seria um simples ponto teórico deslocável e diferenciável ao infinito A suposta inevitável e resolutiva colisão entre as forças produtivas e a forma de produção nunca aconteceria segundo eles porque se dispersa em infinitos atritos particulares se multiplica nas colisões parciais da concorrência econômica é retardada e obstruída pelos expedientes e vilências da arte de governo Em outros termos a sociedade presente ao contrário de rachar e dissolverse renovaria perpetuamente a obra de seu reaparecimento e retoque Cada movimento proletário que não fosse reprimido com violência como aconteceu em junho de 1848 e em maio de 1871 cessaria por lenta exaustão como aconteceu com o cartismo que acabou no Trade Unionismo cavalo de batalha deste modo de argumentar honra e vaidade dos economistas vulgares e dos sociólogos baratos Cada movimento proletário moderno seria meteórico e não orgânico seria uma perturbação e não um processo e à mercê de tais críticos mesmo contra nossa vontade nós seríamos ainda hoje utopistas A previsão histórica que está no fundo da doutrina do Manifesto e que depois na seqüência o comunismo crítico ampliou e especificou com a mais larga e minuciosa análise do mundo presente teve por certo pelas circunstâncias do tempo em que apareceu pela primeira vez calor de batalha e vivíssima cor de expressão Mas não implicava com não implica ainda hoje nem uma data cronológica nem a pintura antecipada de uma configuração social como foi e é próprio das antigas e novas profecias e dos apocalipses O heróico Frei Dolcino não havia surgido de novo para ecoar pelas terras o grito de batalha pela profecia de Gioacchino di Fiore Nem se comemorava novamente em Münster a ressurreição do reino de Jerusalém Não mais taboristas ou milenaristas Não mais Fourier que esperasse chez soi com hora marcada por anos a fio o candidato da humanidade Não era mais o caso de que o iniciador de uma nova vida começasse por iniciativa própria a conceber com meões premeditados e de modo unilateral e artificial o primeiro embrião de uma associação que refizesse como enxerto a planta homem como aconteceu com Bellers através de Owen e Cabet até o empreendimento dos fourieristas do Texas que foi a catástrofe ou mais ainda a tumba do utopismo ilustrada por um singular epitáfio o emudecimento da eloquência quente de Condierant Não é mais a seita que em ato de religiosa abstinência se retira do mundo pudica e timidamente para celebrar em um círculo reservado a perfeita idéia da comunidade como os Irmãozinhos nos confins das colônias socialistas da América Ao contrário na doutrina do comunismo crítico é a sociedade inteira que em um momento de seu processo geral descobre a causa de seu caminho fatal e em um ponto saliente da curva se ilumina para explicar a lei de seu movimento A previsão com a qual o Manifesto acenava pela primeira vez não era cronológica de prenúncio ou de promessa mas para dizêla em uma palavra que a meu ver exprime tudo sucintamente morfológica Sob o estrépito e o brilho das paixões sobre as quais habitualmente se exercita a conversação cotidiana mais aquém dos movimentos visíveis das vontades que agem de acordo com planos que é o que os cronistas e historiadores vêem e narram mais abaixo do aparelho jurídico e político da nossa convivência civilizada muito atrás das significações que a religião e a arte dão ao espetáculo e à experiência da vida está e consiste e se altera e transforma a estrutura elementar da sociedade que sustenta todo o resto O estudo anatômico de tal estrutura subjacente é a Economia E porque a convivência humana muitas vezes mudou ou parcialmente ou integralmente no seu aparelho exterior mais visível e nas suas manifestações ideológicas religiosas artísticas e similares antes de tudo é preciso encontrar os móveis e as razões de tais mudanças que os historiadores habitualmente relatam nas mutações mais ocultas e menos visíveis à primeira vista dos processos econômicos da estrutura subjacente Ou seja é preciso voltarse para o estudo das diferenças que permeiam as várias formas da produção quando se tratar de épocas históricas nitidamente distintas e propriamente ditas e onde se tratar de explicar a sucessão de tais formas ou seja a substituição de uma pela outra é preciso estudar as causas de erosão e estiolamento da forma que morre e por último quando se quiser entender o fato histórico concreto e determinado é necessário estudar e explicar os atritos e os contrastes que nascem dos vários concorrentes ou seja as classes suas subdivisões e os laços destas e daquelas que formam uma determinada configuração Quando o Manifesto diz que a História até hoje nada mais é que a história das lutas de classes e que nelas está a razão de todas as revoluções e de todos os retrocessos ele faz duas coisas a um só tempo Dá ao comunismo os elementos de uma nova doutrina e aos comunistas o fio condutor para reconhecer nos intrincados acontecimentos da vida política as condições do movimento econômico subjacente Nos cinqüenta anos decorridos daquela época até hoje a previsão genérica de uma nova era histórica tornouse para os socialistas a arte minuciosa de entender caso a caso aquilo que convém e que se deve fazer porque por si mesma essa era nova está em contínua formação O comunismo tornouse uma arte porque os proletários se tornaram ou foram levados a se tornar um partido político O espírito revolucionário se plasma diariamente na organização proletária A anunciada conjunção dos comunistas e dos proletários¹ é hoje um fato Estes cinqüenta anos foram a prova sempre crescente da rebelião ampliada das forças produtivas contra as formas da produção À parte esta lição intuitiva dos fatos nós utopistas não temos outra resposta a oferecer àqueles que ainda falam de perturbações meteóricas que segundo a opinião deles reverterão todas à calma desta insuperada e insuperável época de civilização E tal lição basta Passados onze anos da publicação do Manifesto Marx encerrava em clara e transparente fórmula os princípios retores da interpretação materialista da História no prefácio de um livro que é o precursor de O Capital² Eis reproduzida a passagem O primeiro trabalho que empreendi para resolver as dúvidas que me assaltavam foi uma revisão crítica da Filosofia do Direito de Hegel trabalho cuja introdução apareceu nos Anais Francoalemães publicados em Paris em 1844 Minhas investigações me conduziram ao seguinte resultado as relações jurídicas bem como as formas do Estado não podem ser explicadas por si mesmas nem pela chamada evolução geral do espírito humano estas relações têm ao contrário suas raízes nas condições materiais de existência em seu conjunto condições estas que Hegel a exemplo dos ingleses e dos franceses do século XVIII compreendia sob o nome de sociedade civil Cheguei também à conclusão de que a anatomia da sociedade deve ser procurada na economia política Eu havia começado o estudo desta última em Paris e o continuara em Bruxelas onde eu me havia estabelecido em conseqüência de uma sentença de expulsão ditada pelo Sr Guizot contra mim O resultado geral a que cheguei e que uma vez obtido servi de guia para meus estudos pode formularse resumidamente assim Na produção social da própria existência os homens entram em relações determinadas necessárias independentes de sua vontade estas relações de produção correspondem a um grau determinado de desenvolv vimento de suas forças produtivas materiais O conjunto dessas relações de produção constituiu a estrutura econômica da sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social política e intelectual Não é a consciência dos homens que determina a realidade ao contrário é a realidade social que determina sua consciência Em certa fase de seu desenvolvimento as forças produtivas da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou o que não é mais que sua expressão jurídica com as relações de propriedade no seio das quais elas se haviam desenvolvido até então De formas evolutivas das forças produtivas que eram essas relações convertemse em seus entraves Abrese então uma era de revolução social A transformação que se produziu na base econômica transtorna mais ou menos lenta ou rapidamente toda a colossal superestrutura Quando se consideram tais transformações convém distinguir sempre a transformação material das condições econômicas de produção que podem ser verificadas fielmente com a ajuda das ciências físicas e naturais e as formas jurídicas políticas religiosas artísticas ou filosóficas em resumo as formas ideológicas sob as quais os homens adquirem consciência desse conflito e o levam até ao fim Do mesmo modo que não se pode julgar uma tal época de abalos pela consciência que ela tem de si mesma É preciso ao contrário explicar esta consciência pelas condições da vida material pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção Uma sociedade jamais desaparece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas que possa conter as relações de produção novas e superiores não tomam jamais seu lugar antes que as condições materiais de existência dessas relações tenham sido incubadas no próprio seio da velha sociedade Eis por que a humanidade não se propõe nunca senão os problemas que ela pode resolver pois aprofundando a análise verseá sempre que o próprio problema só se apresenta quando as condições materiais para resolvêlo existem ou estão em vias de existir Esboçados em largos traços os modos de produção asiáticos antigos feudais e burgueses modernos podem ser designados como outras tantas épocas progressivas da formação social econômica As relações de produção burguesas são a última forma antagônica do processo de produção social antagônica não no sentido de um antagonismo individual mas de um antagonismo que nasce das condições de existência sociais dos indivíduos as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam ao mesmo tempo as condições materiais para resolver este antagonismo Com esta formação social termina pois a préHistória da sociedade humana Enquanto Marx assim escrevia já há muitos anos havia abandonado a arena política à qual só retornaria mais tarde nos tempos da Internacional A reação havia derrotado a revolução na Itália na Áustria na Hungria na Alemanha quer a revolução patriótica quer a liberal ou a democrática A burguesia de sua parte vencera ao mesmo tempo os proletários na França e na Inglaterra As condições indispensáveis ao desenvolvimento do movimento democrático e proletário desapareceram de uma penada As fileiras não certamente muito numerosas dos comunistas do Manifesto que se haviam mesclado à revolução e logo após participaram de todas as ações de resistência e de insurreição popular contra a reação assistiram finalmente ao bloqueio de sua atividade com o memorável processo de Colônia Os sobreviventes do movimento tentaram um recomeço em Londres mas rapidamente Marx Engels e outros deram as costas aos revolucionários profissionais e retiraramse da ação imediata A crise passou Persistia uma longa pausa Ela era o sintoma da lenta desaparição do movimento cartista ou seja do movimento proletário do país que é a coluna vertebral do sistema capitalista Naquele momento a História não dava razão às ilusão dos revolucionários Antes de dedicarse quase que exclusivamente à prolongada incubação dos fundamentos que ele já havia encontrado na crítica da economia política Marx ilustrou a história do período revolucionário de 184850 em vários escritos em particular as lutas de classes na França narrandoas de tal maneira que se a revolução na forma que assumia naquele momento estava falida não por isso se desmentia a teoria revolucionária da História¹³ traço apenas esboçado no Manifesto mas que já assumia seu papel de condutor de toda a exposição Mais ainda o texto que tem como título O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte¹⁴ foi a primeira tentativa de plasmar a nova concepção histórica no relato de uma ordem de fatos compreendidos em parâmetros tempo ³ Os artigos publicados na Neue Rheinische Zeitung PolitischOekonomische Revue Hamburgo 1850 foram recentemente reproduzidos por Engels Berlim 1895 em opúsculo precedido de um prefácio seu O título do opúsculo é precisamente As Lutas de Classe na França de 1848 a 1850 ⁴ Este escrito de Marx foi publicado em uma revista de Nova York em 1852 Depois foi muitas vezes reproduzido na Alemanha Hoje pode ser lido também em francês Lille 1891 e Delory rais precisos Não é certamente pequena a dificuldade em passar do movimento aparente ao movimento real da História para aí descobrir o nexo íntimo É grande a dificuldade de passar os indícios passionais oratórios parlamentares eleitorais e assemelhados ao interior das engrenagens sociais para nelas descobrir explicandoas os vários interesses dos grandes e dos pequenos burgueses dos camponeses dos artesãos e dos operários dos padres e dos soldados dos banqueiros dos usuários e da canalha esses interesses conscientemente ou inconscientemente não importa operam escondendose elidindose combinandose ou fundindose na desarmônica vida dos civilizados A crise havia passado e havia passado precisamente nos países que constituíam o terreno histórico do qual o comunismo crítico havia surgido Entender a reação nas suas causas econômicas repostas era tudo o que os comunistas críticos poderiam ter feito porque naquele momento entender a reação era como continuar a obra da revolução Sucede assim que em outras condições e formas vinte anos depois quando Marx em nome da Internacional no opúsculo sobre A Guerra Civil na França escreve uma apologia da Comuna seja esta simultaneamente a sua crítica objetiva A heróica resignação com a qual Marx deixou a arena política depois de 1850 possui uma réplica no seu afastamento da Internacional depois do Congresso de Haia em 1972 Os dois fatos podem interessar aos biógrafos porque neles se encontra o seu caráter pessoal no qual efetivamente tanto as idéias como o temperamento tanto a política como o pensamento tornamse uma unidade Mas nestes fatos particulares existe um significado mais estrito e de maior importância para nós O comunismo crítico não fabrica as revoluções não prepara as insurreições não arma as sublevações De fato ele forma um todo com o movimento proletário mas observa e sustenta esse movimento na plena compreensão das conexões que têm ou pode e deve ter com o conjunto de todas as relações da vida social Resumindo não é um seminário no qual se forma o estado maior dos capitães da revolução proletária mas é apenas a consciência de tal revolução e sobretudo em determinadas contingências a consciência de sua dificuldade O movimento proletário vem crescendo de forma colossal nestes últimos trinta anos Atravessou muitas dificuldades passando por tantas vicissitudes de passos para trás e de passos adiante e tem paulatinamente assumido formas políticas com métodos passo a passo escolhidos e lentamente experimentados Os comunistas não festejaram tudo isso com a ação mágica da doutrina divulgada e comunicada com a capacidade persuasiva da palavra e da escrita Desde o princípio souberam ser a ala à extrema esquerda de cada movimento proletário mas à medida em que este se desenvolvia e se especificava era necessidade e ao mesmo tempo dever para os comunistas considerar nos programas e nas ações práticas dos partidos as várias contingências do desenvolvimento econômico e conseqüentemente da situação política Nestes cinqüenta anos desde a publicação do Manifesto a diversidade e a complexificação do movimento proletário tornaramse tais e tantos que já não existe nem existirá uma mente capaz de abraçálas penetrálas entendêlas e explicálas em suas causas e relações verdadeiras A Internacional unitária que teve sua existência entre 186473 fez aquilo que tinha por ofício uma aproximação preliminar nas tendências gerais e nas idéias comuns e indispensáveis ao conjunto do proletariado e depois devia desaparecer Ninguém pensará ou poderá pensar em reconstruir algo que com ela se pareça Duas causas entre outras contribuíram para a ampla diversidade e complexificação do movimento proletário Em muitos países a burguesia tem sentido a necessidade de limitar em causa própria muitos dos abusos que se seguiram à primeira e súbita introdução do sistema industrial e daí o nascimento da legislação operária ou como alguns dizem pomposamente social A mesma burguesia ou por defesa ou sob a pressão das circunstâncias foi obrigada a ampliar as condições gerais de liberdade em muitos países e em particular estender o direito de voto Por estas duas circunstâncias que trouxeram o proletariado para dentro da cerca da vida política cotidiana crescem enormemente a sua capacidade de movimento e com maior agilidade e flexibilidade agora à disposição dele permitiram ao proletariado enfrentarse com a burguesia na arena dos comícios e nas seções parlamentares E posto que é do processo das coisas que emerge o processo das idéias correspondem assim a este desenvolvimento prático multiforme do proletariado que é tanto diversificado em suas formas e imbricações que ninguém mais pode colocálo sob os olhos e repensálo em seu conjunto um gradual desenvolvimento das doutrinas do comunismo crítico em sua tarefa de entender a História e entender a vida presente até a minuciosa descrição das menores partículas da economia Este em resumo tornouse uma ciência se este nome for tomado com a devida discrição Mas tudo isso não é como insistentemente dizem alguns um desvio da doutrina simples e imperativa do Manifesto Ou como repetem outros 112 113 o que se ganha em extensão e complexidade não seria perdido em intensidade e precisão Tais perguntas nascem segundo me parece de um conceito equivocado do movimento proletário atual e de uma ilusão de ótica sobre a intensidade da energia e sobre o valor revolucionário de manifestações passadas já há muitos anos Qualquer que seja a concessão que a burguesia faça no ordenamento econômico até a redução máxima da jornada de trabalho permanece sempre verdadeiro o fato de que a necessidade da exploração sobre a qual toda a ordem social presente se apóia possui limites intransponíveis além dos quais o capital como instrumento de produção privado perde a sua razão de ser Se uma atual concessão pode acalmar uma forma imediata de inquietação no proletariado a mesma concessão não pode deixar de despertar o desejo de outras e novas e sempre crescentes A necessidade da legislação operária nascida na Inglaterra antecipando o movimento cartista desenvolvendose posteriormente com ele obtém seus primeiros sucessos no período de tempos imediatamente posterior à queda do próprio cartismo Os princípios e as razões deste movimento em suas relações intrínsecas de causa e efeito foram estudados criticamente por Marx no Capital para depois passarem aos programas dos partidos socialistas por mediação da Internacional E assim finalmente todo esse processo concentrandose na reivindicação da jornada de oito horas transformouse na festa do 1º de maio como uma resenha internacional do proletariado na qual são registrados os sinais de seus avanços Por outro lado a competição política à qual o proletariado se habituar não democratiza os usos e costumes e assim não constrói uma verdadeira democracia mas mesmo esta no longo prazo não poderá se acomodar à forma política atual que como órgão da sociedade exploradora é uma hierarquia burocrática uma burocracia judiciária uma sociedade de mútuo socorro entre os capitalistas e o militarismo a serviço dos impostos alfandegários protetores dos eternos juros da dívida pública da renda da terra e de cada uma das formas de interesse do capital Os dois mencionados fatos portanto que aparentam desviarse ao infinito das previsões do comunismo isso segundo a opinião dos furiosos e dos hipercîticos convertemse ao contrário em meios e condições novas que confirmam aquelas previsões Os aparentes desencaminhadores da revolução tornamse em suma seus motores Sequer é necessário por outro lado exagerar a amplidão da expectativa revolucionária dos comunistas de cinqüenta anos atrás Dada a atual situação política da Europa de hoje se algum crédito deve serlhes dado é o de terem sido precursores e o foram de fato se eles tinham alguma expectativa era a de que as condições políticas da Itália Áustria Hungria Alemanha e Polônia se aproximassem das formas modernas o que acabou acontecendo pouco tempo mais tarde e pelo menos em parte mas por outro caminho Se neles havia esperança era esta a de que o movimento proletário da França e da Inglaterra continuasse e se desenvolvesse A reação engrandecida varreu muita coisa desviou e procrastinou muitos desenvolvimentos que estavam então implícitos ou em plena marcha Também varreu do campo do socialismo a velha tática revolucionária e estes últimos anos não criaram uma nova Eis tudol5 Nem o Manifesto quer ser melhor e mais do que o primeiro fio condutor de uma ciência e de uma prática que apenas a experiência e os anos poderiam desenvolver Ele diz respeito ao andamento geral do movimento proletário e concerne por assim dizer apenas ao esquema e ao ritmo Indubitavelmente refletese aí o impacto que a experiência dos dois movimentos que há pouco observamos causava sobre os comunistas daqueles tempos o da França e sobretudo o cartismo que rapidamente foi tomado pela paralisia pelo malogro da manifestação insurrecional de 10 de abril de 1848 Mas em tal esquema nada aparece idealizado que posteriormente se converta em uma taxativa tática de guerra como de fato aconteceu muitas vezes que os revolucionários houvessem reduzido a um catecismo precipitado o que não poderia ser mais do que um simples produto do desenvolvimento das coisas Aquele esquema tornouse posteriormente mais amplo e complexo graças à expansão do sistema burguês que se apossou do mundo do qual compreende uma parte muito maior O ritmo do movimento tornouse mais variado e mais lento precisamente porque a massa operária entrou em cena como verdadeiro e próprio partido político assim mudando o modo e a cadência da ação não se perde o movimento Como mesmo antes do aperfeiçoamento das armas e de outros meios de defesa a tática da insurreição já se mostrava inoportuna como a complexificação do estado moderno faz parecer insuficiente a ocupação improvisada de um Hôtel de Ville para impor a todo um povo a vontade e o ideário de uma minoria ainda que corajosa e progressista da mesma forma a massa proletária não está mais disponível à palavra de or 114 115 15 Engels aprofunda esta questão do desenvolvimento objetivo da nova tática revolucionária no prefácio do citado opúsculo e em outros escritos dem de poucos chefes nem baliza suas ações pelas prescrições dos capitães os quais podem quando muito criar sobre as ruínas de um governo de classe ou de camarilha um outro do mesmo gênero A massa proletária tem feito e faz sua própria educação democrática onde quer que ela tenha se envolvido na política Isto é elege e avalia os seus representantes e apropriase pelo exame das suas idéias e propostas que em razão de seus estudos e conhecimentos foram capazes de intuir e prever e já sabe ou pelo menos começa a entender segundo os diferentes países que a conquista do poder político não deve nem pode ser feita por outros em seu nome mesmo que seja pelos grupos de corajosos já mencionados e que sobretudo aquela conquista não pode acontecer por um golpe de mão Em resumo massa proletária ou sabe ou saberá compreender que a ditadura do proletariado que deverá preparar a socialização dos meios de produção não pode advir de uma insurreição de uma turba dirigida por alguns mas deve ser e será o resultado dos próprios proletários que são já em si e por longo exercício uma organização política O desenvolvimento e a extensão do sistema burguês foram rápidos e colossais nestes cinqüenta anos Enfim ele corroe a velha e santa Rússia e cria não na América nem na Austrália ou na Índia como era de se esperar mas finalmente no Japão novos e modernos centros de produção complicando as condições de concorrência e os interesses do mercado mundial Os efeitos das transformações políticas ou já estão em curso ou não se farão esperar longamente Igualmente rápidos e colossais foram os progressos do proletariado Sua educação política aponta cada dia um novo passo na conquista do poder político A rebelião das forças produtivas contra a forma da produção ou seja a luta do trabalho vivo contra o trabalho acumulado fazse cada dia mais patente O sistema burguês está agora na defensiva o que transparece no estado e na posição em que se encontra nesta contradição singular o pacífico mundo da indústria tornouse um enorme acampamento em cujo interior vegeta o militarismo A época da indústria pacífica transformase pela ironia das coisas na época da descoberta contínua de novos e mais poderosos meios de guerra e de destruição O socialismo impôsse Finalmente os semisocialistas finalmente os charlatães que atravancam a imprensa e as assembléias de nossos partidos nem sempre sem nos causar embaraços são de qualquer maneira uma homenagem que a vaidade e a ambição prestam a seu modo à nova potência que surge no horizonte Apesar da proibição antecipada do socialismo científico que não é dado à compreensão de todos os boticários da questão social pululam e se multiplicam a cada instante sempre tendo qualquer coisa de particular a sugerir ou propor para curar ou eliminar esta ou aquela doença social nacionalização do solo monopólio dos grãos por parte do Estado controle estatal do sistema hipotecário municipalização dos meios de transportes orçamento democrático greve geral e assim vai sem nunca ter fim Mas a democracia social elimina todas as fantasias semelhantes porque o instinto da própria situação induz os proletários tão pronto adquiram algum traquejo na arena política a entender o socialismo de modo integral16 Isso significa que eles devem visar sobretudo somente uma coisa à abolição do trabalho assalariado que apenas uma forma de sociedade torna possível e inclusive necessária a eliminação das classes isto é a associação que não produz mercadorias e que tal forma de sociedade não é mais o estado é antes seu oposto ou seja a direção técnica e pedagógica da convivência humana o selfgovernment do trabalho Não mais jacobinos nem aqueles heroicamente gigantes de 93 nem as caricaturas de 1848 Democracia social Mas não é esta repetem muitos uma evidente atenuação da doutrina do comunismo que foi expressa em termos tão vibrantes e resolutos no Manifesto Parece ocioso lembrar como o nome democracia social teve na França de 1837 a 1848 significados muito diferentes entre si que pouco depois se diluíram num vago sentimento Nem vale a pena explicar como os alemães conseguiram exprimir nesta denominação cujo significado neste caso deve ser buscado apenas no contexto do próprio fato todo o rico e amplo desenvolvimento de seu socialismo desde o episódio de Lassalle superado e exaurido de uma vez por todas até os nossos dias Certamente que democracia social pode significar significou e significa tantas coisas que nem foram nem são nem serão jamais nem o comunismo nem a preparação consciente da revolução proletária Certa é a opinião de que o socialismo contemporâneo mesmo nos países onde seu desenvolvimento é mais claro preciso e avançado carrega sobre si muita escória da qual deve ir se liberando paulatinamente ao longo de seu caminho e finalmente também é certo que tantos intrujões e hóspedes ingratos em nosso seio fazem da denominação exageradamente lata de democracia social escudo e armadura Mas urge que aqui se diga algo muito distinto e se fixe a atenção sobre um ponto de capital importância 16 Aviso ao leitor Malon dava a esta palavra um outro significado E além do mais de resto ne sutor ultra crepidam Não suba o sapateiro acima da sandália 117 KARL MARX Karl Marx 18181883 foi um sociólogo e revolucionário alemão responsável por teorias e bases da doutrina comunista embasando o socialismo cientifico por meio de seu estudo suas ideias são chamadas de Marxismo sendo essa a doutrina mais usada em países comunistas O sociólogo nasceu em 1818 na cidade de Tréveris nascido em uma família considerada rica Marx é um dos críticos ao regime capitalista Seu pai foi um importante advogado ocupando ainda um cargo de conselheiro dentro do governo alemão Marx teve uma vida cheia de bens materiais estudou nas melhores escolas mas sempre teve consciência de sua classe e dos privilégios que eram concedidos a ele desde seu nascimento Marx estudou direito e filosofia na universidade de Bonn após um ano transferiu seus estudos para a Universidade de Berlim seu professor e reitor Georg Hegel foi um dos responsáveis por inspirar o trabalho de Marx Já em Berlim fez parte do clube dos Doutores a partir de então teve o primeiro contato com a filosofia passou a fazer parte do movimento de esquerda dos jovens Hegelianos que era um grupo voltado principalmente a analisar questões sociais e políticas da Alemanha Dentro do curso de filosofia Marx passou a fazer críticas aos governantes e governo passando assim a ser um crítico social No ano de 1841 Karl Marx recebeu o título de doutor em filosofia após apresentar a tese de Diferenças entre o sistema filosófico de Demócrito e de Epicuro essa tese foi estabelecida conforme a pesquisa do filosófo o sonho de Marx era dar aulas porém não era aceito nas universidades uma vez que aqueles que seguiam as ideias de Hegel não eram bem vistos nas instituições de ensino Após buscas por emprego mal sucedidas Marx passou a escrever artigos para um jornal de um conhecido mas foi perseguido e censurado foi nessa época que ele teve o primeiro contato com o jornalismo No ano de 1842 o sociólogo se mudou para a Colônia onde passou a ser diretor do jornal chamado Gazeta Renana Em 1843 casouse com Jenny von Westphalen e tiveram ao todo sete filhos porém somente três chegaram à vida adulta No ano de 1847 Marx e Engels redigiram o manifesto no congresso da liga dos justos Após uns anos Marx escreveu o manifesto comunista onde escreveu críticas duras ao capitalismo e a seus defensores defendendo a classe operária em todos os seus trechos Marx foi um defensor da luta e história operária sendo usado como exemplo mesmo após anos dentro desse manifesto ele expôs aspectos relevantes sobre a luta de classe e o preconceito de classe existente Para Marx a desigualdade social é formada pelo interesse em bens materiais acima da vida de operários para ele a união da classe operaria é fundamental para tornar a sociedade um ambiente mais igualitário O socialismo Marxista promove a ideia de que os meios de produção devem ser atribuídos a uma competência do povo assim existiria uma revolução socialista onde o poder emanava do povo de forma absoluta nessa visão o Estado com o tempo não seria mais um elemento necessário dentro da sociedade pois todas as classes estariam em igualitário patamar sem qualquer distinção ou detenção de riquezas apenas em uma monopólios então passariam a não existir na visão de Mark somente quando não existir mais essa diferença de classes a sociedade estará de fato evoluída tornandose então uma sociedade comunista na visão de Marx sobre o Estado é possível entender O Estado é o meio pelo qual os indivíduos de classe dominante fazem valer seus interesses comuns que sintetiza a sociedade inteira MARX 1999 Marx desenvolveu teorias fundamentais para o comunismo reconhecendo que a existência de divergentes tipos de classe afastar a sociedade de obter uma igualdade a teoria marxista vai contrária as imposições existentes do capitalismo na visão do sociólogo a história da humanidade está firmada principalmente por uma luta de classes ele critica o capitalismo principalmente porque na visão de Marx essas classes nesse tipo de regime é dominada exclusivamente por meio da burguesia aqueles que não possuem bens financeiros são colocados em um conceito de inferioridade e subordinação a burguesia no capitalismo é detentora de todos os meios de produção além disso os resultados obtidos são concentrados apenas para a burguesia o proletariado por outro lado somente possui sua mão de obra o comunismo na visão de Marx pode ser entendido então como uma forma do indivíduo se liberar do trabalho como uma amarra em sua concepção o trabalho não pode ser conceituado como um elemento que determina a liberdade ou não de um indivíduo Karl Marx morreu em 14 de março de 1883 em Londres até os dias atuais o sociólogo é um representante da luta trabalhadora em todo o mundo REFERÊNCIAS ENGELS Friedrich MARX Karl O manifesto comunista 5ed São Paulo Ed Paz e Terra 1999 Dec 04 2023 Plagiarism Scan Report Excluded URL None Content Checked for Plagiarism Karl Marx 18181883 foi um sociólogo e revolucionário alemão responsável por teorias e bases da doutrina comunista embasando o socialismo cientico por meio de seu estudo suas ideias são chamadas de Marxismo sendo essa a doutrina mais usada em países comunistas O sociólogo nasceu em 1818 na cidade de Tréveris nascido em uma família considerada rica Marx é um dos críticos ao regime capitalista Seu pai foi um importante advogado ocupando ainda um cargo de conselheiro dentro do governo alemão Marx teve uma vida cheia de bens materiais estudou nas melhores escolas mas sempre teve consciência de sua classe e dos privilégios que eram concedidos a ele desde seu nascimento Marx estudou direito e losoa na universidade de Bonn após um ano transferiu seus estudos para a Universidade de Berlim seu professor e reitor Georg Hegel foi um dos responsáveis por inspirar o trabalho de Marx Já em Berlim fez parte do clube dos Doutores a partir de então teve o primeiro contato com a losoa passou a fazer parte do movimento de esquerda dos jovens Hegelianos que era um grupo voltado principalmente a analisar questões sociais e políticas da Alemanha Dentro do curso de losoa Marx passou a fazer críticas aos governantes e governo passando assim a ser um crítico social No ano de 1841 Karl Marx recebeu o título de doutor em losoa após apresentar a tese de Diferenças entre o sistema losóco de Demócrito e de Epicuro essa tese foi estabelecida conforme a pesquisa do losofo o sonho de Marx era dar aulas porém não era aceito nas universidades uma vez que aqueles que seguiam as ideias de Hegel não eram bem vistos nas instituições de ensino Após buscas por emprego mau sucedidas Marx passou a escrever artigos para um jornal de um conhecido mas foi perseguido e censurado foi nessa época que ele teve o primeiro contato com o jornalismo No ano de 1842 o sociólogo se mudou para a Colônia onde passou a ser diretor do jornal chamado Gazeta Renana Em 1843 casouse com Jenny von Westphalen e tiveram ao todo sete lhos porém somente três chegaram à vida adulta No ano de 1847 Marx e Engels redigiram o manifesto no congresso da liga dos justos Após uns anos Marx escreveu o manifesto comunista onde escreveu críticas duras ao capitalismo e a seus defensores defendendo a classe operária em todos os seus trechos Marx foi um defensor da luta e história operária sendo usado como exemplo mesmo após anos dentro desse manifesto ele expôs aspectos relevantes sobre a luta de classe e o preconceito de classe existente Para Marx a desigualdade social é formada pelo interesse em bens materiais 0 Plagiarized 100 Unique Characters4652 Words766 Sentences29 Speak Time 7 Min Page 1 of 2 acima da vida de operários para ele a união da classe operaria é fundamental para tornar a sociedade um ambiente mais igualitário O socialismo Marxista promove a ideia de que os meios de produção devem ser atribuídos a uma competência do povo assim existiria uma revolução socialista onde o poder emanava do povo de forma absoluta nessa visão o Estado com o tempo não seria mais um elemento necessário dentro da sociedade pois todas as classes estariam em igualitário patamar sem qualquer distinção ou detenção de riquezas apenas em uma monopólios então passariam a não existir na visão de Mark somente quando não existir mais essa diferença de classes a sociedade estará de fato evoluída tornandose então uma sociedade comunista na visão de Marx sobre o Estado é possível entender Marx desenvolveu teorias fundamentais para o comunismo reconhecendo que a existência de divergentes tipos de classe afastar a sociedade de obter uma igualdade a teoria marxista vai contrária as imposições existentes do capitalismo na visão do sociólogo a historia da humanidade está rmada principalmente por uma luta de classes ele critica o capitalismo principalmente porque na visão de Marx essas classes nesse tipo de regime é dominada exclusivamente por meio da burguesia aqueles que não possuem bens nanceiros são colocados em um conceito de inferioridade e subordinação a burguesia no capitalismo é detentora de todos os meios de produção além disso os resultados obtidos são concentrados apenas para a burguesia o proletariado por outro lado somente possui sua mão de obra o comunismo na visão de Marx pode ser entendido então como uma forma do indivíduo se liberar do trabalho como uma amarra em sua concepção o trabalho não pode ser conceituado como um elemento que determina a liberdade ou não de um indivíduo Karl Marx morreu em 14 de março de 1883 em Londres até os dias atuais o sociólogo é um representante da luta trabalhadora em todo o mundo Sources Home Blog Testimonials About Us Privacy Policy Copyright 2022 Plagiarism Detector All right reserved Page 2 of 2