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Biblioteca Tempo Universitário 1 Martim Heidegger introdução à metafísica 0 dlfTOJt E A OBRA MARTIN HEIDEGGER nasceu em Messkirch na Briifóvú aos 269 1689 Fez sus fonnafio ft kwófiu na Universidade de Friburo na Bnspó ví com Edmundo Husserl o pai da modem feoomenologia e Rickert culturalisla do neokan tiaauamo Ekntorousc xn a Use Dar Urleii im ftlulaiimui O Juízo no Psicologiuoo Em 1916 habilitouse ao magistério com a tese Die Karegorien und Redeutunedehre des Dum Skotui A Doutrina daa Categorias e da Significaçáo do Duna Escoto Assumiu cm 1923 uma cátedra na Universidade de Marburao Começou entio a pro teterse no mundo filosófico com sua mterpreta çóe curriculares sobre a doutrina do préocrá tieos Desde 1921 foi transferido para a Univer sidade de Friburgo ns Brúgdria onde sucedeu a Husserl Numatto Reitor em 1934 renunciou quatro meses depois Em 1951 sposentouse como professor emérito Peta ordem cronológica de publicaçáo sio as scgutntea as obras principais Dot Realiioetipro blem in der modemen nitoecphie 1912 O Pro blema da Realidade na Filosofia Modems Der Idibtfrifl in der Geechichtwimmchaft 1916 O Conceito de Tempo nas dtncia históricas Die Katetorimund Bedeutuntelthre dei Duns Skotiu 1916 A Doutrina da Categoriar e da Significa lo de Dun Eacoto Sein und Zeit 1927 Ser Tempo VwsWesm des Grundet 1929 ÍDa Essetiaelizaçio do Fundamento Kant itnd do Problem der híeiaphydk 1929 Kant e o Proble ma da Metafísica War irt MftaphjaAf 1929 O que 6 a Metafísica Piaom Lehrt von der Wahrheri 1942 A Doutrina de Platão da Ver dade Vam JVeaen der Wuhrheit 1943 Da Es aendalúaçio da Verdade Über dm Humanif mus 1949 Sobre o Humanismo Horwere 1950 Caminho Silvestres EHoeuterunien zu HoedeMu Diehiunt 1951 Dilucidaçóes i poe sia de Hoelderlin EinfüAnmg índio Mriaphy rtk 1933 Introduçio à Metafísica War Aeíãtf DenkenT 1954 O que provoca pensar Foriroe t und Aufnatitt Conferência e Artigos Zur Stintfrngt 1956 Sobre a questão do Ser Was itt dar dit Fhiioiophirf 1956 O que é isso a Filosofia Dn Serz vem Grund 1957 O Principio do Fundamento Idntiltrt uitd Dif ftrmz 1957 Identidade e Diferença Unirrwtt utr üpraclu 1959 A Caminho da Linguagem Nerzrchr 1961 Nietzsche Die Frage nach dem Dini 1962 ÍA Questio da Coisa Kanu Three mbet due Setn 1962 A Tese de Kant sobre o Ser INTRODUÇÃO A METAFÍSICA J978 2 edição q 1987 3 edição 19994a edição Preparada pelo Centro de Catalogaçãonatcnte do SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS RD Heidegger Martin H371 Introdução à metafísica apresentação e tradução de Emma nuel Carneiro Leão 4a ed Rio de Janeiro Tempo Brasileiro Biblioteca Tempo Universitário 1 Do original em alemão Einführung in die Mctaphysik Glossário 1 Metafísica I Titulo II Série 780041 CDD 1118 CDU 11118 MARTIN HEIDEGGER INTRODUÇÃO À METAFÍSICA Apresentação e Tradução de EMMANUEL CARNEIRO LEÀO Tempo Brasileiro Rio de Janeiro RJ 1999 U JW5 BIBLIOTECA TEMPO UNIVERSITÁRIO 1 Coleção dirigida por EDUARDO PORTELLA ANTONIO DIAS e PEDRO PAULO MACHADO Traduzido do original alemão Einfiihrimg in die Metaphysik Direitos reservados às EDIÇÕES TEMPO BRASILEIRO LTDA Rua Gago Coutinho 61 Laranjeiras ZC 01 Tel 2055949 Rio de Janeiro RJ Brasil 1 ITINERÁRIO DO PENSAMENTO DE HEIDEGGER FOR EMMANUEL CARNEIRO LEAO i Inaugurando a Coleção Tempo Universitário aparece ago ra em tradução portuguesa o livro de Martin Heidegger In trodução à Metafísica Já houve quem o apresentasse como talvez a melhor e a mais fácil introdução â filosofia de HeideggerThe Journal of philosophy II 3 Í1954 196 Uma aparência de certo suscitada pelo titulo e amparada nos pareceres correntes sôbre a filosofia Em todo caso outra é a apresentação que faz o pensamento de Heidegger Não se trata de uma obra de tniciação nem de fácil acesso E por duas razões principais A primeira é muito simples e por isso mesmo difícil de se compreender Em filosofia não há possibilidade de introdução Um abismo separa a espaço ordinário da existência em que se move tanto o modo de ser habitual familiar e imediato da vida cotidiana como o modo de ser objetivo técnico e exato da vida cientifica do espaço extraordinário em que se agita n investigação filosófica E nenhuma ponte o poderá transpor Não certamente por estar o espaço da filosofia demasiado dis tante e um demasiado próximo de todos os modos de ser da existência histórica Dai também tôda a dificuldade da filosofia para o homem moderno que vive habitualmente no espaço da ordem do dia Dessa perspectiva o mais longo e o mais difícil dos caminhos é sempre aquele que leva ao que é mais intimo e está mais pró ximo É tão íntima a presença da filosofia no país dos homens que se to na impossível uma introdução e muito difícil o acesso i sua paisagem A filosofia já está sempre operando em todo pensamento que nela se procura iniciar e introduzir O único caminho ainda possível é um retorno brusco da existência à sua origem A paisagem da fiiosofia não está em algum lugar esperando que nela se introduza o pensamento A paisagem áa 9 filosofia se instaura e origina pelo movimento da própria in vestigação filosófica que pondose em questão retorna às ori gens donde ela mesma provém o que significa o titulo do livro cuja tradução portu guêsa ora se oferece Introduzir à metafísica é movimentarlhe a questão fundamental de maneira a levála ducere para dentro intro das origens donde a metafísica procede Um esforço de pensamento que nada tem de horizontal e pro gressivo Cujo movimento se processa antes no sentido vertical v regressivo Na direção do fundamento e proveniência Longe de ser uma iniciação a Introdução à Metafísica pressupõe in timidade com as profundezas da metafísica e a disposição de arriscar o salto nas fontes originárias de suas possibilidades e de seus limites Não é por ser obra da linguagem esotérica e sibilina de Heidegger mas por ser obra de filosofia que se trata de um livro de acesso difícil l segunda razão decorre necessàriamente da primeira e interessa o papel que a Introdução desempenha no itinerário do pensamento Heiâeggeriano Ê um livro de transição Inse rese na passagem como se costuma dizer do Primeiro para o Segundo ou Último Heidegger A ftm de se compreender o sen tido dessa posição caracterizada pelo próprio Autor de inten cionalmente ambígua tornase indispensável um conspecto global de todo o itinerário do Filósofo Nesse propósito traça remos aqui as coordenadas principais do roteiro de pensamen to em cujo sistema se enquadra a Introdução à Metafísica 1 Existência e Reflexão Todo pensamento filosófico au têntico nunca é posto arbitràriamente pelo filósofo mas lhe é sempre imposto vela própria existência cuja Situação Histórica sübministra os temas a investigar e a missão a cumprip A Si tuação da Existência porém não é um simples fato qualquer fato já é sempre feito que de fora viesse impor ao filósofo a problemática de suas reflexões Todo problema de pensamento inclui em sua essencialização um projeto de algo que ainda não e E o que é não pode nunca determinar o que não é A reflexão imerge e ao mesma tempo emerge de uma dada situa ção Êlhe simultâneamente imanente e transcendente Um problema filosófico nasce sempre do que Sartre chamou Ia cfipacíié nulllfiante da existência Da reflexão sôbre a situa ção em que pensa o filósofo 10 A reflexão sôbre a situafõo de nossa existência revela a consciência de uma unidade e de uma interrupção Histórica Sentimonos vtanüantes de um único Dia Histórico que se es tende do sol nascente na aurora grega de Homeraao sol poente na Era Atômica Temos uma consciência nítida de nossa ru tura com a tradição e da diferença entre a manhã e a tarde da História Ocidental Assim qualquer investigação se insere hoje necessariamente na Época da técnica e da ciência Época da ciência não é para dizer com Kant uma generatio aequi voca Não nasceu por geração espontânea ex nihilo sui et subjecti como diríam os AristotéUcos Latinos Pertence a uma tradição milenáría da qual é uma transformação Histó rica Quem hoje se empenha num problema filosófico não pode impedir de acharse no fim de jornada da grande tradição grega Pois a metafísica grega não é algo que num tempo foi e agora já não é mais Não se trata de um presente para empre passado É um pretérito ainda hoje presente no vigor e no império da ciência e da técnica E não só no sentido de que o homem moderno evoca e faz reviver por meio de recons truções historiográficas o passado de sua história mís no sen tido existencial de constituir o próprio fundamento de seu modo de ser moderno Heraclita e Parmenides Platão e Aris tóteles São Tomás e Descartes Kant e Hegel Marx e Nietzsche estão presentes embora transformados pelo dinamismo de seu próprio principio no cérebro eletrônico do qual depende hoje a segurança do Capitalismo e do Socialismo A consciência dessa rutura na unidade de uma tradição determina a Situação de nossa existência que impõe ao pensamento moderno a proble mática central de suas reflexões Transladada para a reflexão filosófica essa situação da existência se transformou na problemática entre imanência e transcendência cujo processo de transformação principiou com a Revolução Copernicana de Kant Em que consiste no pen samento de Heidegger tal problemática O homem não pode exist r senão em comêrc o e comunhão com o mundo dos entes Ente significa tudo que de algum modo s o homem as coisas os acontecimentos até mesmo o Nada enquanto è um Nada ié enquanto tem um significado seja positivo ou negativo para a existência Incluindo o seu mofo 11 te ser tudo que é é um ente e tudo que implica ou se refere ao ente e seu modo de ser é õntico adjetivo formado da pa lavra grega on ente Do ente o homem não pode prescindir Em tàdas as suas indústrias e atividades para pensar e querer sentindo e aman do na vida e na morte o homem não se basta a si mesmo Sempre necessita de algo que êle mesmo não é Sem êsse outro o homem não pode ser Edificandose necessàrtamente dessa indígéncta a existência humana exige que o ente a afete se lhe dè e manifeste para existir o homem tem que imergirse e entregarse aos entes A palavra imanência indica essa con tingência A necessidade do homem de estar sempre presente ao mvndo dos entes para chegar a ser êle mesmo Exprime que o homem não pode ser o ente que é senão encarnado no mundo Em contínua comunhão com os outros entes A índole específica desse modo humano de ser reside na iluminação da imanência ao mundo pela luz do Ser na qual os entes aparecem em seu ser os animais em sua animalidade os instrumentos em sua instrumentalidade os homens em sua humanidade etc Assim a palavra ser é ambígua Uma vez significa o modo de ser áo ente a saber que o ente é e aquilo pelo que êle ê o que é Outra vez significa o fundamento de possibilidade em virtude do qual o ente se essencializa em seu ser fser no primeiro sentido Para distinguirmos essa dupla signijicaçâo nitidamente escrevemos sempre o Ser tomado na segunda acepção e suas várias manifestações com letra maiuscula Nos diversos períodos da metafísica o ser do ente foi de terminada ora como idea ora como ousia ora como essentia ora como objetividade etc Essas várias determinações não são arbitrariedades insignificantes devidas ao gòsto extrava gante que no parecer do bom senso comum têm os filósofos de divergirem sempre entre si em sua verbal superstition em suas dicttssões inúteis sôbre palavras São uma diversidade que resulta das vicissitudes de um apêio Articulam as peripé cias de um destino vigente que instauram originàriamente o acontecer histórico e por isso são Históricos em sentido criador Pelas vicissitudes desse apêio pelas fulgurações desse destina os períodos da história se distinguem e identificam divergem e convergem fundament almente entre si 12 O que é ésse apêio e êsse destino Donde provêm êles e a que se dirigem São o fundamento em que se essencializa a diferença ir redutível e a referência necessária entre o ente e seu ser Provêm da iluminação dessa identidade e diferença e se di rigem ao homem em cuja existência se instaura a diferença referente Ora de vez que a palavra grega logos significa o fundamento em virtude do qual alguma coisa pode ser colhida e recolhida como isso ou aquilo Heidegger chama a diferença referente em cujo fundamento o ente se essencializa em seu ser de diferença antológica jlssiwi se estrutura o seguinte uso terminológico enle é tudo que ê ser com minúscula o fato e o modo de ser do ente enquanto ente Ser com maiúscula a diferença antoló gica fundamento de possibilidade do ser do ente Verdade ou Sentido com maiúscula do Ser a iluminação da diferença referente em que o ente se revelp em seu ser como ente exis tência o modo de ser do homem que é o espaço onde se ins taura a revelação da diferença História com maiúscula as vicissitudes da Verdade do Ser que instaurandose na existên cia institui a verdade dos entes cujas variações lhes consti tuem a história Essencializar exprime o processo antológico em que o ente na instauração existencial revela o seu ser ié se essencializa com minúscula Já dessa explicação de termos meramente formal se pode ver que as três perguntas acima formuladas sõbre o destino das diversas determinações do ser do ente nos vários períodos da metafísica articulam dialêticamente entre si os três momentos centrais a ente em seu ser o homem em sua existência e o Ser em sua Verdade numa única questão a questão sõbre a diferença antológica como tal Durante todo o decurso da história do Ocidente a diferença constitui sempre o funda mento esquecido e não pensado de todo o pensamento meta físico O famoso esquecimento do Ser ISeisnvergessenheit não e outra coisa do que o esquecimento da diferença antológica Para Heidegger ela constitui o que é mais digna de ser posto em questão das Fragwürdigste e investigála é a pre ocupação central e única de tõda a sua filosofia como ainda veremos 13 O comércio com os entes de que necessita o homem para existir se sustenta e articula numa precompreensão multiar me da Verdade do Ser vigente na dimensão da linguagem par cuja fórça o homem sempre usa a palavra é Chama as pes soas e coisas de entes Com elas se comunica em termos de es sência e existência de constância e mutabilidade de ser e não ser de poder e dever ser de ser verdadeiro e falso de vir a ser e sempre ser de ser presente passado e futuro Em tôdas essas locuções o homem apreende e compreende colhe e es colhe une e reúne confere e difere tudo que lhe advêm da totalidade do ente sob o vigor da Verdade do Ser explicita mente indeterminado mas de extensão e compreensão inexgo tável O têrmo transcendência indica essa excelência do homem de ultrapassar e superar a obscuridade do ente com o qual constantemente se comunica em sua existência iluminan dolhe o sentido tornandolhe transparente o ser na luz da Verdade Já o fato de se usar uma mesma palavra a saber luz para significar tanto um fenômeno externo a luz do sol como um fenômeno interno a luz da verdade mostra de algu ma maneira que o sol não se encontra de moda absoluto e exclusivo fora do homem nem que a verdade se acha de modo absoluto e exclusivo dentro do homem mas que primária e origináriamente o homem sempre existe no mundo enquanto o transcende e o mundo sempre transcende enquanto nêle existe Dessa caracterização que se podería chamar diasporádica da existência humana como tensão entre imanêncía e trans cendência poderseia pensar tratarse da antiga solução me tafísica da analogia Não é assim A analogia não é uma res posta A analogia é um problema E um problema derivado porquanto suscita sempre a questão sôbre o fundamento de sua possibilidade Como por exemplo é possível que uma ima gem proveniente do mundo externo possa dizer alguma coisa sôbre o mundo interno Em que se funda a analogia entre a profundidade de um poço e um pensamento profundo Como se terá de conceber a essencialização do homem cuja existên cia sempre se articula na dimensão da analogia Quais são as condições de possibilidade dêsse modo de ser do homem 2 Os Termos da Questão do Ser A problemática da tensão de imanência e transcendência na existência humana 14 agita antes do problema clássico da analogia Investga o fundamento de possibilidade no qual somente tôda analogia pode moverse e o homem pode existir metafisicamente Já na conclusão de sua tese de habilitação ao magistério Die Kate gorien und Bedeutungslehre des Duns Skotus A Doutrina das Categorias e da Significação de Duns Escoto Heidegger levanta o problema da tensão da existência que em Sein und Zeit Ser e Tempo e nas obras posteriores será determinado e articulado como a questão central de seu pensamento a questão sbre o Sentido e a Verdade do Ser como se deverá pensar em sua estrutura antológica a essencialização da exis tência humana que recolhe a individualidade de suas atitudes sempre condicionadas historicamente pela situação de tempo e espaço na universalidade de um sentido Quais são as condi ções de possibilidade da existência humana como tensão entre imanénda e transcendência entre ente e ser Como se com porta a filosofia com a sua própria história Como se deve con ceber a essencialização da verdade que exige para se edificar um lugar e um momento próprio na história Com a publicação dos escritos posteriores já não cabe dú vida que a filosofia Heideggeriana é uma reflexão sempre mais exclusiva sôbre a essencialização da verdade do ente como a Verdade do Ser A existência humana se agita dentro da ten são entre imanénda e transcendência porque o homem existe enquanto instste no domínio da Verdade do Ser ié a vicis situde instaurada pela diferença irredutível e referência ne cessária entre ente e ser A tarefa do pensamento não é pro curar sair dêsse circulo de diferença e referência e sim nêle ingressar de maneira a poder regressar até a fonte originária de sua tensão e unidade A imanénda da existência que tes temunha a indigência do homem de insistir no mundo dos etnes para poder existir é o indice de uma outra indigência Da indigência ainda mais profunda por constituirlhe todo o ser de insistir na vicissitude da Verdade do Ser sem nunca poder possuiIa e domindIa Que o homem só possa transcen der o mundo dos entes na medida em que nêle se encarna e mergulha fã mostra a finitude inexpugnável de sua transcen dência Ale só consegue atingir a verdade do ente enquanto habita a luz do Ser na qual o ente se manifesta como tai 15 Assim até no mais elevado grau de sua potência na própria excelência de seu ser o homem permanece sempre ente sen sível Um ente que deve receber de outro as virtualidades de sua própria humanidade Somente por morar na luz do Ser o homem pode ser o ente que possui o privilégio da verdade O privilégio diaspo rádico de existir f é de sair de si mesmo e se conformar com todo ente A adequação entre o ente que o homem ê e o ente que o homem não é retira o fundamento de sua possibi lidade da revelação do Ser em que pela empara sua própria essencialização o homem deve morar necessariamente A redu plicação ontológica implícita em toda verdade do conhecimen to exige assim o modo de ser existente do homem de sorte que em Sein und Zeit Heidegger caracteriza a verdade do homem como a instauração da verdade do ente Se para tôda a tradição metafísica do Ocidente a verdade é predicative lé um processo de conformidade de conveniência e adequação que se desenvolve origináriamente no juízo entre o conheci mento e o ente a condição de sua possibilidade cifrase numa manifestação do ser do ente Há um primado da verdade ma nifestation sobre a verdade predicativa Ora se se considera que o processo de manifestação da verdade do ente é a tensão dialética entre diferença e referência de ser e ente instaurada na existência a afirmação de Sein und Zeit perde todo cará ter sibilmo mostrando como e por que a verdade da homem é a verdade do ente O Ser nunca é ãiretamente acessível Como diferença on tológica inclui sempre uma irredutibilidade ao ente Nunca poderá ser objetivado Nunca poderá ser encontrado nem como ente nem com o ente nem dentro do ente Nunca poderá ser constatado a modo de um dado fato ou valor objetivo O Ser só se dá obliquamente enquanto retraindose e escondendose em si mesmo ilumina o ente segundo determinada figura de sua Verdade Êsse jogo híbrido de retraimento e manifesta ção de luz e sombra de velar e revelar constitui a essencia lização de sua Verdade tal como os gregos a pensaram ori ginàriamente na aletheia Dessa dinâmica surge a constitui ção dos períodos de sua fulguraçâo como Épocas da Verdade do Ser A palavra Época não apresenta aqui a função téttea 16 da consciência transcendental inerente ao têrmo Husserliano Epoche Ê antes pensada a partir da tendência do Ser de reve lar o ente na medida em que se vela e retrai em si mesmo A Época é sempre uma configuração Histórica do esquecimento do Ser Ora senão a existência espaçe aberto par essa con figuração epocal a Verdade do Ser está mais de posse do que na posse do homem e por isso mesmo é sempre esquecida na história de sua essencialização O homem só pôde principiar a investigar o ente como tal a fim de adequandose a seu ser tomálo por medida e critério da existência porque a Verdade do Ser já antes dêle se tinha apoderado e o havia destinado em determinada Época de sua fulguração Numa Época em que a significação do ente enquanto ente é estruturada na di ferença entre fundamento e fundado Isso quer dizer a essen cialização do pensamento ocidental em que a existência do Ocidente toma consciência de si mesma é absorventemente lógica no sentido de edifiçada na interdependência de funda mento e fundado E por ser lógica e de modo igual ôntica e teísta É igualmente ôntica porque o ser é o fundamento do ente on É igualmente teista porque por necessidade da pró pria fundamentação o ente só será realmente fundamentado se se fundar num último fundamento que exclua a possibili dade e necessidade de ulterior fundamentação Esse funda mento supremo é o absoluto o theos Assim tendo principiado com o esquecimento do Ser a história da metafsiica desdobra em todos os períodos de seu desenvolvimento numa multipli cidade de formas essa constituição ontoteológica É originá riamente uma Época da Verdade do Ser na qual a investiga ção do ente enquanto ente em sua totalidade e no supremo fundamento de sua fundação reivindica para si o direito de conduzir o homem à verdade correta imutável necessária e certa 3 O Modo de Investigação da Questão do Ser De vez que a Verdade do Ser nunca é direta mas apenas obliquamente acessível à reflexão enquanto ié retraindose em si mesma ilumina o ente em determinada figura de referência e dife rença com seu ser a história da existência se tem processado no espaço metafísico instaurado por êsse esquecimento Nessas condições existenciais tòda tentativa de pensar a Verdade do 17 Ser em st mesma sô poderá realizarse numa reflexão sõbre a essencíalízação da verdade do conhecimento vigente na his tória da metafísica O único caminho para retornar ao do mínio da Verdade originária é o da superação da metafísica Fazse necessário çue o pensamento retroceda à dimensão es condida em Que desde o princípio se tem processado e ainda hoje se processa a história da metafísica e procure recuperar todos os passos dessa grande marcha de progresso a partir de sua proveniência Destarte para satisfazer a tarefa e o apêio de um pensamento originário iê de um pensamento que pensa a origem de sua própria esseneialização a FÜosofía Hei deggertana se vê compelida a repensar e interpretar tôda a história da existência como a história metafísica da esqueci mento do Ser Dêsse modo surgiu Heidegger no mundo filosófico como o pensador que pretende repetír desde seus fundamentos tôda a tradição ocidental segundo a questão prévia die Vorfrage sõbre o Sentido e a Verdade do Ser Quer êle trate da Sentença de Anaximandro como o principio der Anfang de tôda a sabedoria do Ocidente ou se ocupe dos Fragmentos de Herá cllto e Parmênldes nos guais Ser e Pensar se compenetram intrinsecamente finnig zusammenghoerenj seja que êle expli que a Doutrina de Platão como uma mudança na essenciali zação da verdade W andei des Wesens der Wahrheit da qual profluiu primàriamente a nãoessencialtzação da metafísica das Unwesen der Metaphysihl ou seja que exponha a Cons tituição Ontoteológica da Metafísica die ontotheologische Verfassung der Metaphysik que encerra em si a aporia Ver legenheit de tôda a filosofia ocidental quer interpretando a Critica da Razão Pura de Kant como uma fundamentação da metafísica eine Grundlegung der Metaphysik ou evocan do a Lógica Hegeliana e o Nihillsmo Nietzsctieano como a con sumação Vollendung da Época metafísica da História do Ser Geschichte des Seins quer esclarecendo a poesia Dichtungl de Hcelderlin quer espondo o significado de Rilke ou um verso de Mcerlke para o tempo da penúria dürftige Zeit quer instituindo a çuestáo sõbre a Técnica die Frage nach der Technih ou investigando a essencialtzação da linguagem das Wesen der Sprache etc etc sempre se propõe Heidegger a questão central do pensamento sõbre o Sentido e a Verdade 18 tio Ser Èsse propósito assumiu tôda a clareza desejável desde a primeira página de Sein und Zeit Será que já temos uma resposta à questão sõbre o que propriamente entendemos com a palavra ente De forma alguma Por isso se trata de pôr novamente a questão sóbre o Sentido do Sei Será que nos sentimos hoje perplexos em não compreendermos a expressão Ser De forma alguma Por isso convém primeiramente despertar de novo uma sensibilidade para a sentido dessa ques tão A elaboração concreta da questão sõbre o Sentido do Ser é o propósito do seguinte tratado A interpretação do tempo como o horizonte de tôda compreensão do Ser simplesmente constitui a sua meta provisória Sein und Zeit pg 1 Em razão de a diferença antológica vigorar num esqueci mento reduplicative de si mesma a questão sõbre o Sentido do Ser não pode ser hoje posta senão na própria luz em que ee ilumina a história da metafísica Porque esquecemos tanto a diferença antológica como que a esquecemos só se poderá in vestigar a Verdade e o Sentido do Ser numa superação da tradição Essa superação não é uma negação Não pretende destruir e aniquilar a metafísica Pretendêlo não seria apenas uma pretensão infantil mas um esforço Münchhauseneano que se atropelaria em seu próprio tropel Pois ignorando a Histó ria do Ser esqueerseia do que é mais digno de ser pensado No livro Was helsst Denken O que significa pensar mostra Heidegger como o esquecimento do Ser da metafísica é a maior provocação para o pensamento em nossos tempos que tanto dão a pensar o que mais provoca o pensamento é não pensar mos ainda A superação da metafísica é no fundo uma re cuperação originária do esquecimento do Ser Isso significa a superação procura enuclear a essencialização da metafísica e traçar dêsse modo os limites de suas possibilidades A supera ção reconduz a metafísica para onde sua essencialização pro voca Pois o esquecimento do Ser é a própria dimensão que escondendo a si mesma protege a verdade da metafísica pos sibilitandolhe a investigação do ente enquanto ente Entendi da assim epocalmente a superação não depõe a metafísica mas a repõe em sua constante verdade recompondolhe a essencia llzação originária Não se trata de progredir além para um domínio ulterior e sim regredir aquém para o espaçe citerior 19 da metafísica Nesse sentido o exórdio da metafísica é o ponto de partida inevitável e obrigatório de tôda investigação sôbre o Sentido c a Verdade do Ser Essa necessidade não é extrinseca A superação não só tem que falar a linguagem em vigor e servirse de seus títulos e de sua gramática para tornarse inteligível dentro dos limites da filosofia vigente È antes de tudo uma necessidade intrin stca Inerente á própria dialética do movimento de superação Pois a metafísica é uma fase eminente e a única até agora visível da História da Ser e por isso o único espaço de qual quer retorno à sua Verdade Para se compreender o itinerário do pensamento de Hei degger é de suma importância o significado dialético dêsse exor dia da metafísica Uma profunda ambiguidade penetra todas os passos da questão sôbre o Sentido do Ser forçandolhe a in vestigação numa marcha cujo movimento é a um tempo pro jetivo e regressivo É projetivo enquanto procurando superar a metafísica prospeta pensar a Verdade do Ser na sua configu ração epocai de esquecimento Nesse sentido parte e retira o primeiro impulso de uma experiência prévia do têrmo de seu movimento É regressivo enquanto volta sôbre êsse ponto de partida para dilucidar a dimensão originária e a proveniéncia de seu vigor na vicissitude da Verdade do Ser Na marcha dêsse duplo movimento o projeto é determinado pelo regresso por quanto a retômo á Verdade do Ser como a dimensão de origem e proveniéncia do esquecimento do Ser é a única maneira de se fazer a experiência da metafísica por sua própria essencia Hzação esquecida A ambiguidade aqui reinante se prende á necessidade de moverse sempre no horizonte da metafísica Já ter que se falar de ser e ente de superação e retorno de fundamento e condição de possibilidade de transcendência e imanência todos esses titulas pertencentes ao âmbito da meta física agrava de tal ambiguidade a investigação do Ser que só aparece um pouco da dimensão da Verdade do Ser total mente diversa Os escritos do assim chamado Primeiro Heidegger desde Das Realitaetsprobiem in der modernen Philosophic O Pro blema da Realidade na Filosofia Moderna de 1912 até a ter ceira edição de Was ist Metaphysik O que é metafísica en 20 contramse na primeira etapa da marcha de superação de sorte que somente a partir da ambiguidade intrínseca de sua dialética se poderá compreenderlhes o sentido no itinerário do pensamento Todos êles investigam a história da metafísica sob o ângulo projetivo da marcha de superação evidencian do o esquecimento do Ser nos processos vigentes na existência ocidental Para exemplificar um caso na questão metafísica do ente enquanto ente um dentre todos os entes ocupa um lugar privilegiado o homem que investiga a questão Pois bem Nos vários períodos de sua história a metafísica embora determinasse diversamente êsse privilégio do homem sempre o representou na única luz que lhe é acessível a saber pelo es quecimento do Ser Ora encontrandose na primeira etapa da marcha de superação Sein und Zeit empenhase de acôrdo com o momento projetívo de seu movimento em remediar o sen tido da essencialização do homem a partir áo esquecimento do Ser e o pensa na Analítica Existencial como Dasein como existência a êsse trabalho de remeditar a tradição meta física pelo pensamento esquecido de sua essencialização que se entregam os escritos do Primeiro Heidegger Os escritos posteriores atribuídos ao chamado Segundo ou último Heidegger desde Platons Lehre von der Wahrheit Dou trina Platônica da Verdade empreendem a etapa regressiva do movimento de superação mostrando que o esquecimento em vigor na metafísica provém de uma iluminação originária da Verdade do Ser que é a figura epocai da vicissitude Histórica instaurada no principio da existência grega A luz dessa ilu minação se vê que a remeditação dos primeiro escritos não se iguala a nenhuma determinação metafísica Assim Wesen e Existenz essencialização e existência em Sein und Zeit não são a essência e existência da metafísica que o projeta de elaboração a partir da metafísica empreendido em Sein und Zeit fã é conduzido pelo regresso à proveniéncia originária da própria metafísica A desconsideração dessa necessidade e ten são no itinerário do pensamento de Heidegger levou a tantas incompreensões e fèz muitos intérpretes distinguirem dois Hei degger opondo os escritos do Segundo ou último aos escritos do Primeiro 21 4 O Lugar da Introdução ã Metafísica A obra apresen tada agora em tradução portuguesa se enquadra dentro do pensamento de Heidegger na passagem do primeiro para o se gundo movimento Como as Preleções de Hegel são indispensá veis para a compreensão de suas obras sistemáticas assim tam bém o presente curso de preleções é imprescindível para se penetrar na oscilação dialética da superação da metafísica no pensamento de Heidegger Escrita em 193S a Introdução á Me tafísica descreve o espaço de movimento da superação dando os passos decisivos do retorno às origens do esquecimento do Ser da metafísica Retomando o conteúdo do escrito Vom Wesen der Wahrheit Da Essenciaiizaçáo da Verdade confe rência pronunciada já em 1930 Heidegger mostra como as raízes mais profundas do mundo moderno se foram implan tando através do processo de constituição histórica num es quecimento sempre mais acentuado do Ser A metafísica é o fundamento em que se edifíca tôda a civilização Ocidental A tecnocracia desenfreada o império da ciência a estetificação da arte a fuga dos deuses a massificação do homem a orga nização planetária a disposição da natureza os estados totali tários a despotencialização do espírito todas essas manifes tações do mundo ocidental são criações e obras do predomínio da metafísica O esquecimento do Ser não é um episódio da vida intelectual de filósofos Ê o destino Histórico da existên cia do Ocidente cuja máxima virulência moderna constitui um apêlo O homem da Era Atômica ator e vitima de uma Época sem memória para o Ser é constantemente provocado a reco brar essa memória que lhe dará as jõrças para instaurar um tiõvo Dia Histórico A Noite Longa que a experiência da His tória de Hcelderlin sente iniciarse com os tempos modernos é o espaço de restauração das forças do Ser para o amanhecer de uma outra Época Assim a Introdução à Metafísica é a pre paração de uma superação que não subestima o que o homem do Ocidente tem pensado e construído Visa ao contrário re cuperar o Sentido do Ser necessãriamentc esquecido no desti no da tradição histórica Semelhante a iodos os escritos de Heidegger a Introdução à Metafísica é de grande densidade de conteúdo e de um ca ráter socrático vigoroso Abrange desde reflexões filolágicas sôbre as palavras mais corriqueiras da linguagem até análises 22 penetrantes da realidade politicosocial de seu tempo Com a crescer da familiaridade do conteúdo se vai revelando aos poucos o desenrolar de tôda a dialética da Verdade do Ser nas diversas configurações existenciais de sua essencialização me tafísica Em 1935 data da Introdução à Metaíísica havia dois anos que o Nazismo subira ao poder na Alemanha As análises do momento politicosocial da Introdução nos proporcionam pe netrar o sentido profundamente antológico que empresta Hei degger à sua participação no movimento em seus primeiros anos Sobre essa posição do Filósofo muito se escreveu no após guerra dentro e fora da Alemanha Sempre numa perspectiva ôntica sua participação já foi criticada defendida persegui da Só não foi pensada nas áimensões antológicas abertas por seu pensamento existencial Com Jean Wahl a maioria dos in térpretes que se ocuparam do assunto separam numa diferen ça sem referência doutrina e vida condenando a incoerência da vida e escoimando a doutrina Aqui não è o lugar de se tratar da questão Interessanos apenas ressaltarlhe o sentido antológico que precisamente o livro traduzido sugere sem nenhuma preocupação de ataque ou defesa diferença aliás sem relevância decisiva para um pen samento existencial De acordo com a experiência Histórica do esquecimento do Ser Heidegger só vê no Nacional Socialismo o momento em que a Alemanha recobrando a memória ãèsse esquecimento é destinada a tornarse o centro de uma nova época se superar primeiro a decadência de espírito em que se debate O povo alemão escreve só poderá retirar désse destino de que esta mos certos uma missão se conseguir criar em si mesmo uma ressonância uma possibilidade de ressonância para tal destino concebendo a sua tradição de modo criador Isso implica e exige que êsse povo ezponha Historicamente a si e a história do Ocidente a partir do centro de seu acontecimento futuro ao domínio originário das potências do Ser Precisamente se a grande decisão sobre a Europa não seguir os caminhos do ani quilamento só poderá seguir os caminhos do desenvolvimento de novas forças espirituaishistóricas a partir do centro O desdobrarse posterior do Nazismo seguiu em direção oposta a um desenvolvimento das fõrças espirituaishistóricas 23 Aprofundando e alargando ainda mais a decadência do espí rito diminuiu a possibilidade requerida pelo Filósofo de uma ressonância para o destino Histórico do povo alemão Acirrou até ao paroxismo do estado totalitário e da aniquflação bélica a noite do esquecimento do Ser Todavia também a derrota e queda do Nazismo não dissiparam nem mesmo sustaram as trevas dessa noite cuja virulência Histórica retira as forças de sua expansão de um vigor vigente muito abaixo da superfície Ôntica dos interêsses em jôgo E o fim da guerra não trouxe a paz do espírito que só se instaura com a superução do esque cimento do Ser Impassível às destruiçôes da guerra a Noite Histórica marcha decididamente por sõbre a reconstrução dos escombros para o meio de sua virulência O leitor irá advertir que as análises do momento politico social da introdução não são digressões extra viam no roteiro do pensamento em marcha para superar a metafísica Consti tuem antes o próprio ritmo dialético da superação Numa pri meira aproximação a Introdução à Metafísica dá a aparência de inserir um tratado sõbre as questões tradicionais do ser e suas relações com o viraser aparecer pensar dever dentro de análises políticosociais e indagações filológicas da lingua gem É só uma aparência No fundo as análises do momento politicosocial as indagações sõbre as origens e peripécias filo lógicas da linguagem ocidental e sua gramática as reflexões sõbre as estruturas metafísicas tradicionais convergem num único movimento de retomo Néle tódas elas são reconduzidas como configurações epocais ão esquecimento do Ser a seu principio originário na prtmigênia Essencialização da diferen ça antológica entre qs pensadores presocráticos 5 A Hermenêutica da Introdução à Metafísica Conce bida como um retorno à fonte originária de sua essencializa ção a superação da metafísica e por conseguinte a investiga ção da questão sõbre o Sentido e a Verdade do Ser parece re duzirse a um simples renascimento ão pensamento presocrá tico A primeira vista a Introdução dá a aparência de não ser senão um esforço de tradução e interpretação filosófica da dor o grafia primitiva dos gregos Em todos os capítulos as ques tões são sempre conduzidas através de pacientes discussões 24 sõbre a significação originária de determinadas palavras entre os primeiros filósofos gregos È outra simples aparência Não se trata de um renasci mento da filosofia presocrática Na famosa Eluleitung Intro dução acrescentada em 1949 ã aula inaugural de 1999 Was ist Metaphysk O que é a Metafísica recusa Heidegger qual quer tentativa nesse sentido coma uma pretensão vá e para doxal E a razão é simples Os chamados filósofos presocrã ticos não são filósofos Sáo mais ão que isso São pensadores do Ser A filosofia só surgiu guando o pensamento deles che gou grandiosamente ao fim com Platão e Aristóteles Chamá los de presocráticos com Nietzsche ou de prearistotélicos com Hegel já é diminuirlhes a grandeza originária na cama procrusteana de Platão e Aristóteles Pois apenas em aparên cia são inocentes e inofensivas tais denominações que se apre sentam como simples classificação cronológica Em verdade encobrem nessa aparente inocência uma canonização de Platão e Aristóteles como o modêlo e a norma de tôda perfeição do pensamento ocidental até êles Os que pensaram antes dêles teriam pensado em função déles Seriam precursores ainda pri mitivos da filosofia propriamente dita instaurada por êles Tôda grandeza e importância dos presocráticos estaria assim em terem sido pre ié um Platão e um Aristóteles de modo imperfeito Em consequência dessa decisão implícita naquelas denomi nações se leram entenderam e interpretaram os primeiros tex tos com os olhos a doutrina e os conceit os platônicos e aris totélicos O sentido originário de seus pensamentos e ãa lin guagem de suas palavras foi profundamente modificado pela filosofia posterior Situação que se agravou sobremodo com as traduções latinas que ao legarem à cultura do Ocidente o patrimônio grego o desfiguraram a ponto ãe tornálo quase incompreensível em sua origínaríedade Hoje já não lemos o que os primeiros pensadores pensaram mas o que outro modo de pensar nos faz perceber E não o lemos porque o alarido da metafísica enchendonos os ouvidos de esquecimento do Ser nos torna surdos para a voz da origem Todo êsse processo de desfiguração não foi um acaso nem se trata de um processo que podería ter sido sustado É o vigor 25 PUCR01 do próprio esquecimento do Ser que se destina Històricamente durante tôda a época da metafísica Nesse sentido o retorno às origens da metafísica não é um esforço para fazer renascer o pensamento presocrátlco como pretendia Nietzsche É a im posição de um pensamento de essencialização das wesentlí che Denken diz Heidegger um pensamento ié que a par tir da própria essencialização da metafísica procura superar lhe o esquecimento da Verdade do Ser Por isso a Hermenêu tica que na Introdução conduz á dimensão originária da Es sencialização do Ser não se identifica com nenhuma herme nêutica cientifica em cuja luz aparecerá sempre arbitrária e deturpadora Com efeito o vigor Histórico do esquecimento do Ser que na era da técnica e da ciência atinge o paroxismo de sua vi rulência opera na metafísica segundo a dialética de revela cão da diferença antológica Nela a Verdade do Ser retraindo se e velandose em si extrai e revela o ente na divergência e convergência entre fundamento e fundado Jogado por tal dialética o pensamento metafísico se edifica em duas dimen sões Enquanto estruturado na diferença lógica de ente e ser reconduz o ente ao fundamento de possibilidade próximo em seu ser e remoto no ser supremo Essa estrutura é a dimensão do pensado no pensamento metafísico De vez que por pensar nessa estrutura o pensamento metafísico não pensa a dife rença antológica como diferença a dimensão do pensado é a dimensão do esquecimento do Ser Por outro lado uma vez que para pensar nessa estrutura o pensamento metafísico já está determinado pela diferença antológica a recondução do ente a seu ser implica a configuração lógica da diferença Essa implicação não é um nada Ê antes a dimenjão do nãopensado na pensamento metafísico Assim o horizonte dentro do qual pensam os pensadores da tradição ocidental exclui diretamen te e ao mesmo tempo inclui obliquamente a dimensão do nãopensado que nutra coisa não é senão a dimensão da Ver dade do Ser Por isso diz Heidegger o nãopensado constitui a mais alto legado que nos pode oferecer um pensamento A dialética de presença e ausência da Verdade do Ser na História da metafísica é o que distingue a Hermenêutica da Introdução de qualquer hermenêutica cientifica Essa se U 26 mita em e por força de sua própria essencialização metafísica ao pensado pelos filósofos da tradição Visa com todo o rigor imposto por essa limitação reconstruir o que foi pensado Para ela legado e pensado coincidem Aquela procurando pensar a essencialização da metafísica situase aquém desses limites na dimensão do não pensado mas legado pelo pensamento da tradição Visa uma repetição do passado presente embora não pensado pelos filósofos da tradição Ê uma hermenêutica que é o Hermes do não pensado ié que interpreta o pensado pela mensagem do não pensado A hermenêutica cientifica não ê mais rigorosa apenas mais limitada da que a Hermenêu tica da Introdução ADVERTÊNCIA DO TRADUTOR O tradutor tem plena consciência dos riscos de traição que comporta o presente esforço Tratase de traduzir para uma língua sem grande tradição filosófica textos ãe um pensamento cuja originalidade é a originãriedade Procurando superar o predomínio da metafísica vigente em tòãas as estruturas da existência ocidental Heidegger revoluciona as relações corren tes entre pensamento e linguagem No modo cotidiano de ser só vemos na linguagem o instru mento Uma técnica de comunicação que nos apresenta já prontas para o uso as distinções com que operamos nas situa ções concretas da vida Essa linguagem cotidiana não é a es sencialização originária da linguagem É apenas a forma mais frequente de sua presença A compreensão do Ser que aqui se articula entretanto não é apenas ingênua e primitiva Uma longa história de pensamento metafísico a precedeu interpre tando instrumentalmente a linguagem na lógica e gramática da tradição Hoje operamos ãe modo inconsciente com distin ções que num supremo esfôrço de reflexão foram criadas e estabelecidas pela metafísica Nos quadros dessa interpretação se movem os recursos e as regras linguísticas que hoje deter minam as qualidades do estilo 27 De acordo com a originariedade tie seu pensamento Hei degger se propõe superar essa interpretação metafísica da tin guagem para atingirlhe a dimensão originária onde se pre senteia o homem com uma revelação do Ser Nesse propósi to teve de usar violência contra a forma vigente da linguagem e do estilo Para isso contou com a grande riqueza semântica da lingua alemã que conserva nos étimos de suas palavras na maleabilidade de seus recursos de expressão nas grandes pas 1 stbütdades de composição adjetivaçãa e substantivação muitos indícios do sentido originário da linguagem Ademais Heideg ger pensa dentro de um espaço linguístico enriquecido por uma das maiores tradições filosóficas do Ocidente A luz dessas considerações comprenderseá melhor a na tureza e o estilo da presente tradução O provérbio italiano tradutore tradlttore é mais do que um simples modo de dizer Quem fêz a experiência de traduzir um livro de Heidegger con firmará sem reservas o testemunho de Gilson Mure Kahn Chiodi Hyppolite e tantos outros de que nenhuma tradução por mais atenta que seja dispensa o original sse será sempre imprescindível para se entender o pensamento do autor O critério seguido na tradução situase no meio lêrmo entre uma versão meramente literal e uma pura e simples in terpretação A maior preocupação foi deixar falar o próprio Heidegger embora com o risco de a tradução não ser mais do que o alemão revestido do português Tal risco nos parece mfngs prejudicial do que o outro de atraiçoar o pensamento Em mais de uma passagem para não trairmos o pensamento traímos a letra do texto Como diz Heidegger mesmo uma tradução literal não é ainda necessáriamente fiel ã palavra E somente quando as suas palavras falam a linguagem da pró pria coísa Alimentamos a esperança de a tradução não ser apenas legível mas de tomar também intelegível a linguagem da própria coísa em função da qual o português foi muitas vêzes torturado No domínio originário onde se move a coisa f do pensamento de Heidegger não há outro modo de inteligên cia do que o exercício da reflexãoprópria Aqui não há pensa mentos conceitos ou explicações independentes da coisa a pensar que à maneira de uma reportagem necessitassem ape nas de uma simples leitura para se fazerem exausttvamente 28 intelegiveis Só poderemos entender os pensamentos os con ceitos ou as explicações dados na medida em que nos expu sermos e díspusermos aquilo que se pensa que se concede ou que se explica Rio de Janeiro dezembro de 1965 Emmanuel Carneiro Leão 29 INTRODUÇÃO À METAFÍSICA ADVERTÊNCIA O presente escrito apresenta o texto inteiramente elabo rado da preleção proferida sob o mesmo titulo na Universi dade de Friburgo na Brisgóvia no semestre de verão de 1935 A prolação já não fala na impressão Sem mudança de conteúdo mas com o fim de facilitarlhe a compreensão dividiramse períodos mais longos Estruturou se com maior densidade o curso do texto Riscaramse repeti ções Eliminaramse equívocos Esclareceramse imprecisões O que se acha em parênteses foi escrito simultãneamente com a elaboração O que se põe em colchetes contém obser vações acrescentadas nos anos sçguintes para o leitor avaliar devidamente em que sentido e com qual razão o nome Metafísica figura no titulo da preleção deve primeiro terlhe percorrido o curso 31 A QUESTÃO FUNDAMENTAL DA METAFÍSICA Por que há simplesmente o ente 1 e não antes o Nada Eis a questão Certamente não se trata de uma questão qual quer Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada essa ê evidentemente a primeira de tõdas as questões A primeira sem dúvida não na ordem da sequência cronológica das questões Em sua caminhada histórica através do tempo o homem e os povos investigam muito Pesquisam e procuram e examinam muitas coisas antes de se depararem com a ques tão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Muitos nunca a encontram não no sentido de a lerem e ouvirem formulada mas no sentido de investigarem a questão le de a levantarem de a colocarem de se porem no estado da questão E não obstante todos são atingidos uma vez ou outra tal vez mesmo de quando em vez por sua fôrça secreta sem sa berem ao certo o que lhes acontece Assim num grande de sespero quando todo pêso parece desaparecer das coisas e se Gbscurece todo sentido surge a questão Talvez apenas insi nuada como uma badalada surda que ecoa na existência 2 e aos poucos de nõvo se esboroa Assim num júbilo da alma quando as coisas se transfiguram e nos parecem rodear pèla primeira vez como se antes nos fôsse possível perceberlhes a ausência do que a presença e essência Assim numa mono tonia quando igualmente distamos de júbilo e desespêro e a banalidade do ente estende um vazio onde se nos afigura in diferente se há o ente ou se não há o que faz ecoar de forma especial a questão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada 33 Em todo caso quer seja mesmo investigada ou quer igno rada como questão perpasse pela existência cotno um hálito tênue quer nos pressione mais duramente ou quer se veja pre terida e recalcada por qualquer pretexto de fato nunca é a questão que na ordem cronológica investigamos por primeiro Mas é a primeira questão em outro sentido a saber quanto à dignidade O que se explica de três modos A ques tão por que há simplesmente o ente e não antes o Nada se constitui para nós na primeira em dignidade antes de tudo por ser a mais vasta depois por ser a mais profunda e afinai por ser a mais originária das questões A questão cobre o máximo de envergadura Não se detém em nenhum ente de qualquer espécie Abrange todo ente ié não só o ente atual no sentido mais amplo como também o ente que já foi e o que ainda será O arco da questão en contra seus limites apenas no que absolutamente nunca pode ser no Nada Tudo que não for nada cai sob seu alcance no fim até mesmo o próprio Nada Não certamente por ser alguma coisa um ente de vez que dêle falamos mas por ser o Nada É tão vasto o âmbito da questão que nunca o podere mos ultrapassar Não investigamos êsse ou aquêle nem mesmo percorrendo um por um todos os entes mas antecipadamente o ente todo ou como dizemos por razões a serem discutidas ainda o ente como tal na totalidade Com ser assim a mais vasta a questão é ainda a mais profunda Por que há simplesmente o ente Por que significa qual é o fundo De que fundo provêm o ênte Em que fundo descansa o ente A questão não investiga isso ou aquilo no ente o que êle é cada vez aqui ou all como é cons tituído pelo que pode ser modificado para que serve etc Ela procura o fundo do ente enquanto ente Procurar o fundo isso é aprofundar O que se põe em questão entra assim numa referência com o fundo Sendo porém uma questão fica aberto se o fundo Grund ê um fundamento originário Urgrund verdadeira mente lundante que produz fundação ou se êle nega qualquer fundação e é assim um abismo Ab grund ou se o fundo não é nem vma nem outra coisa mas dá simplesmente uma aparência talvez necessária de funda ção tomandose destarte um simulacro de fundamento Un 34 grund Como quer que seja procurase decidir a questão no fundo que dá fundamento para o ente ser como tal o ente que é Essa questão do por quê não procura causas de igual espécie e do mesmo plano que o ente Não se move em nenhu ma fácie ou superfície Afundase nas regiões profundas e vai até os últimos limites dos fundos É avessa a tôda superfície e planura voltada para as profundezas A mais vasta é igual mente a mais profunda das questões profundas Por ser a mais vasta e profunda das questões é também a mais originária O que se deve entender por isso Ao refle tirmos sõbre todo o âmbito do que se põe em questão o ente como tal no seu todo deparasencs facilmente o seguinte Afastamonos intelramente de qualquer ente particular en quanto êste ou aquele íntenclonamos sim o ente em seu todo mas sem qualquer preferência Apenas um dentre êles sempre de nõvo se insinua estranhamente o homem que in vestiga a questão Não obstante não está em questão nenhum ente particular No sentido de seu raio ilimitado de ação todos os entes se equivalem Um elefante numa floresta virgem da índia ê tão bem um ente quanto um fenômeno de combus tão química no planêta Marte ou qualquer coisa outra Para satisfazermos portanto a questão Por que há sim plesmente o ente e não antes o Nada1 no sentido correto de sua investigação devemos eliminar a preferência de qualquer ente em particular Inclusive a referência ao homem Pola o que é tsse ente Imaginemos a terra na imensidão obscura do espaço no universo Proporcionalmente não passa de um minúsculo grão de areia com um quilômetro de extensão e o resto é o vácuo Em sua superfície vive rastejando em pro fusão um punhado entorpecido de animais pretensamente as tutos que por um instante descobriram o conhecimento Cfr Nietzsche Sõbre a Verdade e a Mentira no sentido extramoral 1873 inédito E o que significa o espaço de tempo de uma vida humana no curso de milhões de anos Mal uma pulsação do ponteiro de segundos um sopro de respiração Dentro da totalidade do ente não há razão para se privilegiar êste ente que se chama homem e ao qual pertencemos por acaso Mas tão logo o ente em seu todo cai no campo de íõrça da questão investeo a investigação com a qual entra numa 35 relação suí generis porque única Pois sõmente nela o ente em seu todo se revela como talr se abre na direção de seu pos sível fundamento e assim se mantém em questão Para êle a investigação não é um fenômeno qualquer dentro do real como pe a queda dos pingos de chuva A questão do por quê defrontase por assim dizer com o ente no seu todo Dêle como que se desliga embora não de todo E é justamente o que lhe confere uma distinção Ao defrontarse com o ente no seu todo sem todavia se lhe poder escapar de todo repercute o que na questão se investiga sôbre a própria investigação Por que o por quê Em que se funda a questão do por quê que pretende pôr o ente no todo em seu próprio fundo Será ainda êsse por quê uma questão sôbre o fundo entendido como superfície de sorte que sempre se procura um eite para fundamento Não é essa primeirâ questão a primeira em dignidade considerada segundo o valor intrínseco da questão do Ser 3 e suas modalidades Sem dúvida alguma quer se ponha a questão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada quer não em nada se altera o ente em si mesmo Também sem ela os pla netas continuam a percorrer as suas órbitas Também sem ela o elã da vida continua a pulsar através dos animais e das plantas Se porém fõr posta de maneira devida darseá neces sàriamente uma repercussão do que se investiga sôbre a pró pria investigação Por isso não se investiga sôbre a própria investigação Por isso não se trata de um fenômeno qualquer mas de um evento especial que chamamos um acontecimento Como todas as demais questões nela diretamente radica das nas quais se desenvolve a questão do por quê é irredu tível a qualquer outra Impele à procura de seu próprio por quê À primeira vista e considerada de um ponto externo a questão por que o por quê assemelhase a uma repetição jocosa que se poderia repetir até ao infinito da mesma par tícula interrogativa Parece mesmo uma especulação vazia e desvairada sôbre significações verbais sem conteúdo Certa mente assim o parece Tratase apenas de saber se nos deixa remos enganar por essa aparência demasiado fácil dando logo tudo por resolvido ou se ainda seremos capazes de experimen 36 tar na repercussão da questão do por quê sôbre si mesma um acontecimento provocante No caso porém de não sermos vitimas de uma ilusão de ótica havemos de ver que a questão do por quê na quali dade de questão sôbre o ente como tal no seu todo nada tem a ver com qualquer jôgo de palavras Suposto ainda possuir mos tanta fõrça de espirito para realizarmos verdadeiramente a repercussão sôbre seu próprio por quê Pois tal repercussão não se fará certamente por si mesma Então faremos a ex periência de fundarse essa questão eminente num salto No salto em que se deixa para trás 4 tôda e qualquer segurança da existência seja verdadeira ou presumida Sua investigação cu se concretiza no salto e como salto ou não se realiza nunca O que significa aqui salto esclarecerseá mais adiante A questão não é o salto Nêle se deve transformar Eia ainda se acha inocentemente defronte do ente Por ora basta saber que o salto dá origem erspringt ao próprio fundamento da investigação Saltando ela origina para si o fundo em que se funda Um tal salto que origina para si seu próprio fun damento denominamos de acordo com a significação verda deira da palavra um salto originário 5 Ora uma vez que a questão por que há simplesmente o ente e não antes o Nada dá origem ao fundamento de tôda questão verdadeira e lhe é nesse sentido originária devese reconhecêla como a mais originária das questões Assim com o ser a mais vasta e profunda questão é tam bém a mais originária e viceversa Nesse tríplice sentido a questão é a primeira em dignidade E a primeira em dignidade na hierarquia de investigação dentro daquele setor que essa primeira questão instaura e funda dandolhe a medida originária É a questão de tôdas as questões verdadeiras ié das que se põem a sl mesmas em questão É a questão que sempre é investigada quer conscla quer inconsciamente em tôda questão Nenhuma questão e por conseguinte nenhum problema científico se entende a si mesmo se não compreender a questão das questões ié se não a investigar Desde a primeira aula desejamos que fique bem clara uma coisa nunca se poderá acertar objetlvamente se alguém se nós realmente investigamos a questão ié se 37 damos o salto ou se ficamos apenas presos a seu modo de falar A questão perde logo sua dignidade numa existência histórica em que tôda investigação é estranha como fôrça originária Assim aquêie para quem a Bíblia é verdade e revelação divina Jã possui antes de qualquer investigação da questão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada a resposta todo ente que não fôr Deus é por Éle criado Deus mesmo é enquanto criador ineriado Quem se encontra no solo de uma tal fé pode sem dúvida repetir e acompanhar a investigação1 de nossa questão Não poderá propriamente in vestigála sem negarse a si mesmo como crente com tõdas as consequências de tal atitude Poderá apenas fazer como se Por outro lado porém aquela fé se constantemente não se expuser à possibilidade da descrença também não será uma fé mas uma comodidade e um ajuste consigo mesmo a aterse sempre à doutrina como a uma tradição qualquer Nesse caso já não há nem investigação nem fé mas somente indiferença Essa se poderá ocupar então talvez até com muito interêsse de tudo tanto da fé como da investigação Com essa alusão à proteção na fé como um modo próprio de se estar na verdade não se quer dizer naturalmente que a citação das palavras bíblicas No comêço criou Deus o céu e a terra etc represente uma resposta à nossa questão Mesmo fazendo total abstração se essa frase da Bíblia é ou não ver dadeira para a fé ela não representa de forma alguma uma resposta ã nossa questão Pois não possui nenhuma relação com a questão E não possui porque não pode assumir O que prôpriamente se investiga em nossa questão é uma loucura para a fé Nessa loucura consiste a filosofia Uma filosofia cristã é um ferro de madeira e uma Incompreensão Sem dúvida há uma elaboração de pensamento que Investiga a experiência cristã do mundo ié a fé Essa é então teologia Somente tempos que Já não acreditam bastante na verdadeira grande za da tarefa da teologia podem chegar à opinião degradante de que uma teologia refrescada pela filosofia poderá ganhar alguma coisa ou mesmo ser substituída e moldada ao sabor dsts necessidades do tempo A filosofia é para a fé originária w mente cristã uma loucura Filosofar significa investigar Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Investigar realmente essa questão significa tentar ousadamente esgotar ã fôrça de investigações o inesgotável dessa questão revelando aquilo que ela impõe a investigar Onde qualquer coisa de se melhante ocorrer há filosofia Quiséssemos discorrer agora sôbre a filosofia para dizer com mais pormenores o que ela é seria um início infrutífero Alguma coisa sem dúvida deverá saber quem dela se vai ocupar E isso jã foi dito sucintamente Tôda questão essencial da filosofia achase necessária mente fora de seu tempo Por duas razões principais Ou por que a filosofia se projeta para muito além da atualidade Ou então porque faz remontar a atualidade a seu passadopre sente 6 originário Como quer que seja o filosofar é e per manecerá sempre um saber que não só não se deixa moldar pela medida do tempo mas ainda submete o tempo à sua própria medida A filosofia se acha necessariamente fora de seu tempo por pertencer àquelas poucas coisas cujo destino consiste em nun ca poder nem dever encontrar ressonância imediata na atua lidade Onde tal parece ocorrer onde uma filosofia se trans forma em moda é porque ou não há verdadeira filosofia ou uma verdadeira filosofia foi desvirtuada e absurda segundo propósitos alheios para satisfazer às necessidades do tempo Por isso também a filosofia não é um saber que à maneira de conhecimentos técnicos e mecânicos se possa aprender di retamente ou como uma doutrina econômica e formação pro fissional se possa aplicar imediatamente e avaliar de acôrdo com sua utilidade Todavia o que é inútil pode ser e justa mente o inútil uma fôrça O que desconhece tôda ressonância imediata na prática de todos os dias pode estar em profunda consonância com o que prôpriamente acontece na História 7 de um povo Pode até mesmo ser a sua présonância e prenuncio O que se acha fora do tempo terá seu próprio tempo o que vale da filoscfla E é es a a racâo de não se poder estatuir de per si e em geral a missão da filsofla e por conseguinte também o que dela é de se esperar Cada estádio é cada princípio 8 de 39 seu desenvolvimento traz consigo sua própria lei Sòmente o que a filosofia não pode ser nem prestar podese dizer Formulouse uma questão Por que há simplesmente o ente e nâo antes o Nada Para ela se reivindicou a prerroga tiva de ser a primeira Ficou esclarecido o sentido dessa pri mazia Sem embargo porém ainda não investigamos a questão Desviamonos numa discussão sõbre o seu lugar 9 Essa discussão é necessária Com efeito a investigação dessa ques tão é incomparável com tudo que seja habitual Entre ela e o comum não há transição alguma capaz de possibilitar paula tinamente uma familiaridade com sua investigação Par isso tem que ser para dizêlo assim proposta de antemão De outro lado porém no esforço dessa apresentação e na discussão acerca de seu lugar não devemos adiarlhe indefinidamente ou até olvidarlhe inteiramente a investigação Por isso concluiremos com as discussões da presente lição as observações preliminares Tôda forma essencial ao espírito é sempre ambigua Quan to mais for incomparável com qualquer outra coisa tanto maior será o índice de sua incompreensão A filosofia é uma das poucas necessidades autônomas cria doras e às vezes necessárias da existência Histórica do ho mem As incompreensões correntes da filosofia são inúmeras Ademais umas mais outras menos todas elas sempre acertam em alguma coisa Aqui serão nomeadas duas importantes para se esclarecer a situação atual e futura da filosofia A primeira consiste em se sobrecarregar em demasia a Es séncilização da filosofia A outra se refere a uma distorsâo do sentido de seu esforço Considerada em bloco a filosofia sempre visa os primeiros fundamentos do ente mas de tal sorte que o homem experi menta sobretudo quanto a seu próprio ser uma interpretação e orientação Dai facilmente se fazer larga a impressão de que a filosofia podese e devese proporcionar ã existência e época histórica atual e futura de um povo os fundamentos em que se construirá então a cultura Gom semelhantes espe ranças e pretensões todavia se sobrecarregam as possibilida des e a Essencialização da filosofia As mais das vèzes o ex 40 cesso dessas exigências se apresenta na forma de uma defi ciência por parte da filosofia Dizse por exemplo devese rejeitar a metafísica porque não colaborou na preparação da revolução Isso é exatamente tão espirituoso como se alguém dissesse porque não se pode voar com um tômo hã que se destruilo A filosofia jamais poderá proporcionar imediata mente as forças nem tão pouco criar os modos de agir e as ocasiões que conduzem a determinada situação Histórica pela simples razão de concernir de modo imediato apenas a uma minoria Que minoria A minoria daqueles que criando trans formam à minoria dos revolucionários 10 A difusão da fi losofia é sempre mediata e segue caminhos in controláveis para em algum tempo afinal mas já de há muito esquecida como filosofia decair de seu nível originário e transformarse numa banalidade da existência O que ao contrário a filosofia pode e tem que ser por Es sencialização é outra coisa qual seja a manifestação pelo pensamento dos caminhos e das perspectivas de um saber que instaure critérios e hierarquias Fundado nesse saber e a partir dêle um povo concebe e realiza plenamente a sua existência no mundo Histórico do espírito Tratase daquele saber que acen de ameaça e impele tôda Investigação e avaliação A segunda incompreensão mencionada se refere a uma distorção de sentido no esforço da filosofia Se ela não pode proporcionar fundamentação alguma a determinada cultura podeçá ao invés assim se pensa contribuir para facilitarlhe a construção E isso por duas razões ou porque dispõe a to talidade do ente em visões de conjunto e dentro de sistemas subministrando destarte uma imagem do mundo ou por assim dizer um mapa do universo em que estão à disposição as di ferentes coisas possíveis e seus diversos domínios o que fa cultaria uma orientação global e homogênea ou de outro modo porque poupa trabalho às ciências Qcupandose da re flexão sõbre os pressupostos conceitos fundamentais e axio mas das mesmas Assim se espera da filosofia o fomento e até mesmo uma aceleração do dinamismo técnicoprático da cultu ra no sentido de uma facilitação Ora bem a filosofia por Essencialização nunca toma as coisas mais fáceis senão apenas mais graves E isso não lhe é acidental devido ao fato de seu modo de comunlcabilidade 41 parecer estranho e mesmo deslocado 11 ã compreensão vul gar Pois o agravamento da existência Histórica e com isso no fundo do Ser simplesmente constitui o sentido autêntico de seu esforço Êsse agravamento restitui ás coisas ao ente o seu pêso o Ser E por que Porque tal agravamento ê uma das condições essenciais e fundamentais para o nascimento de tudo que é grandioso em cujo número encontramos antes de tudo o destino e as obras de um povo Histórico Ora des tino só há quando a existência se acha dominada por um verdadeiro saber acêrca das coisas e é a filosofia que desbrava os caminhos e abre os horizontes para conseguilo Os equívocos de que a filosofia se vê constantemente cer cada são mais fomentados pelo que fazemos nós outros mes mos pelos professores de filosofia Com efeito nossa tarefa habitual e também justificada e até mesmo Útil consiste em proporcionar um certo conhecimento formativo das filoso fias até agora surgidas o que dá a aparência de ser Isso a própria filosofia quando multo é apenas ciência filosófica A menção e correção dêsses dois equívocos não pretendem fazer com que os senhores entrem de repente numa clara rela ção com a filosofia Todavia os senhores devem ficar logo des confiados e suspeitando quando juízos os mais correntes e até inclusive supostas experiências os assaltarem de surpresa Isso ocorre muitas vêzes de um modo muito inocente e que ra pidamente se impõe Até se crê ter feito pessoalmente a ex periência e se ouve fàcllmente confirmada de que da filosofia não se obtém resultado algum com ela não se pode fazer nada Ambas as maneiras de falar que de modo particular correm nos círculos dos professores e pesquisadores das ciên cias exprimem verificações de indiscutível exatidão Quem tentasse provarlhes que por fim se obtém mesmo alguma coisa êsse não faria outra coisa senão aumentar e consolidar a incompreensão reinante Essa se cifra no preconceito se gundo o qual se podería avaliar a filosofia de acôrdo com os critérios vulgares com que se decide da utilidade de bicicletas ou da eficácia de banhos medicinais Está pois certo e na melhor ordem dizerse que com fi losofia nada se pode fazer O errado seria pensar que com isso terminou o juízo sôbre a filosofia Pois sobrevemlhe aín 43 da um pequena acréscimo na forma de uma contrapergunta se NÓS nada poderemos fazer com filosofia acaso a filosofia também não poderá fazer alguma coisa CONOSCO com tanto que nos abandonemos a ela Isso basta para elucidarnos o que a filosofia não é No início formulamos uma questão por que há simples mente o ente e não antes o Nada Afirmamos que filosofar é investigar essa questão Se inspecionando e refletindo nos dispusermos em sua direção renunciaremos em primeiro lugar a instalarmonos em qualquer um dos domínios correntes do ente Ultrapassaremos tudo que está na ordem do dia Inves tigaremos algo que transcende o trivial e ordinário da ordem de todo dia Nietzshce disse certa vez VII 269 Um filósofo é um homem que constantemente vive vê ouve suspeita e sonha coisas extraordinárias Filosofar ê investigar o extraordinário Dado que como apenas aludimos acima essa Investigação provoca uma re percussão sôbre si mesma não só é extraordinário o que se investiga como o próprio investigar Isso quer dizer a pre sente investigação não se acha à beira do caminho de sorte que um belo dia sem propósito ou mesmo de propósito pudés semos nela cair E por não se achar na ordem trivial de todos os dias não somos forçados a empreendêla em razão de algu ma exigência ou determinados preceitos Nem tão pouco per tence ao âmbito dos cuidados urgentes e da satisfação de ne cessidades prementes Oompletamente fora do ordinário a in vestigação em si mesma se apoia por completo própria e Livre mente no fundo misterioso da liberdade naquilo que chama vamos há pouco o salto O mesmo Nietzsche disse A filoso fia é a vida livre entre o gêlo das altas montanhas XV 2 Filosofar assim podemos dizer agora é a investigação extra ordinária do extraordinário No tempo do primeiro e decisivo desabrochar da filosofia ocidental entre os gregos por quem a investigação do ente como tal na totalidade teve seu verdadeiro princípio chama vase o ente de physis Essa palavra fundamental com que os gregos designavam o ente costumase traduzir com natureza Usase a tradução latina natura que propriamente significa nascer nascimento Todavia já com essa simples tradução 43 latina se distorceu o conteúdo originário da palavra grega physis destruluse a fôrça evocativa propriamente filosófica da palavra grega Isso vale não apenas para a tradução latina DESSA palavra mas também de tôdas as outras traduções da linguagem filosófica da Grécia para a de Roma O processo de tradução do grego para o romano náo é algo trivial e ino fensivo Assinala ao invés a primeira etapa no processo que deteve e alienou a Essencialização originária da filosofia grega A tradução latina se tornou então normativa para o Cristia nismo e a Idade Média Cristã Daqui se transferiu para a fi losofia moderna que movendose dentro do mundo de con ceitos da Idade Média criou as idéias e têrmos correntes com que ainda hoje se entende o princípio da filosofia ocidental Tal princípio vale como algo que os homens de hoje pretendem já ter de há muito superado Aqui porém saltaremos por cima de todo êsse processo de desfiguração e decadência para tratar de reconquistar a fôrça evocativa indestrutível da linguagem e das palavras Pois as palavras e a linguagem não constituem cápsulas em que as coisas se empacotam para o comércio de quem fala e escreve É na palavra é na linguagem que as coisas chegam a ser e são Por isso o abuso da linguagem no simples batepapo 121 nos jargões e frases feitas nos faz perder a referência autêntica com as coisas O que diz então a palavra physis Evoca o que saí ou brota de dentro de si mesmo por exemplo o brotar de uma rosa o desabrochar que se abre o que nesse despregarse se manifesta e nêle se retém e permanece em síntese o vigor dominante 13 Waiten daquilo que brota e permanece Lèxicamente phyein significa crescer fazer cres cer Todavia o que quer dizer crescer Significará porventura apenas incremento quantitativo aumentar de quantidade e tornarse maior A physis entendida como sair e brotar podese experi mentála em tôda parte assim por exemplo nos fenômenos celestes nascer do sol nas ondas do mar no crescimento das plantas no nascimento dos animais e dos homens do seio materno Entretanto physís o vigor dominante que brota não se Identifica com êsses fenômenos que ainda hoje considera mos pertencentes à natureza Tal sair e susterse fora de 44 si e em si mesmo Dieses Aufgehen und insichatissichHi nausstehen não se deve tomar por um fenômeno qualquer que entre outros observamos no ente A pfiysis é o Ser mesmo em virtude do qual o ente se torna e permanece observável Os gregos não experimentaram o que seja a physis nos fenômenos naturais Muito pelo contrário por fôrça de uma experiência fundamental do Ser facultada pela poesia e pelo pensamento se lhes desvelou o que haviam de chamar physis Somente em razão dêsse desvelamento puderam então ter olhos para a natureza em sentido estrito Physis significa por tanto origínàrlamente o céu e a terra a pedra e a planta tanto o animal como o homem e a História humana enquanto obra dos homens e dos deuses finalmente e em primeiro lugar os próprios deuses submetidos ao Destino 14 Pfiysis signifi ca o vigor reinante que brota e o perdurar regido e impreg nado por êle Nesse vigor que no desabrochar se conserva se acham incluídos tanto o viraser como o ser entendido êsse último no sentido restrito de permanência estática Pfiyss é o surgir Entstehen o extrairse a si mesmo do escon dido e assim conservarse Se porém não se entende physis como às mais das vezes acontece no sentido originário de vigor dominante que brota e permanece mas na significação posterior e hodierna a saber como natureza e se além disso ae consideram como a manifes tação fundamental da natureza os fenômenos do movimento das coisas materiais átomos e electrôes ou seja o que a física moderna investiga como physis então o princípio da filosofia grega se converterá numa filosofia da natureza numa repre sentação de tôdas as coisas segundo a qual elas são de na tureza propriamente material Nesse caso o principio da filo sofia grega como de acôrdo com a compreensão vulgar con vém a um principio dá a aparência de ser o que com um vocábulo latino designamos primitivo 15 Assim os gregos seriam no fundo uma espécie melhorada de Hotentotes frente aos quais as ciências modernas teriam progredido infinita mente Omitindo tratar em particular de todo o absurdo que inclui tal concepção do principio da filosofia ocidental conce bido como primitivo devese dizer o seguinte essa interpreta ção se esquece de que se trata de filosofia de algo portanto 45 que pertence às poucas coisas grandiosas do homem Ora tudo o que é grandioso só pode principiar grandiosamente Seu principio é até o que há de mais grandioso Pequeno principia somente o que é pequeno cuja duvidosa grandeza consiste em tudo amesquinhar Pequena principia a decadência a qual também pode chegar a ser grande no sentido da extensão de um total aniquilamento O grandioso principia grand i os a men le conserva essa sua condição pelo livre retôrno da grandeza e chega também se é grandioso grandiosamente á seu fim Foi o que se deu com a filosofia dos gregos Chegou a seu fim grandiosamente com Aristóteles Só o entendimento vulgar e o homem mesquinho pensam que o grandioso cuja duração ainda identificam com a eternidade tem de durar sem fim Ao ente como tal em sua totalidade chamavamno os gregos physis De passagem porém devese acrescentar que já dentro da filosofia grega se introduziu logo cedo uma res trição tia palavra sem que porém sua significação originá ria desaparecesse da experiência do saber e atitude da filo sofia grega Assim em Aristóteles ainda ressoa o conhecimento dêsse sentido originário quando fala dos fundamentos do ente eomo tal Cfr Met Ill 1 1003 a 21 Todavia essa restrição da physis na direção do físico não se deu do modo que hoje Imaginamos Ao físico opomos o psíquico o animico o animado o vivente Sem embargo tudo isso mesmo para os gregos posteriores ainda pertencia â physix Como contrapartida aparece o que os gregos chama vam thesis posição estatuto ou nomos lei regra no sentido dos costumes Mas os costumes não constituem o moral mas se referem ao que afeta os usos ao que se funda nos laços da liberdade e em normas da tradição é o ethos aquilo que diz respeito à livre conduta e atitude que concerne à configura ção do ser Histórico do homem e que então sob a influência da moral foi degradado ao domínio do ético Physis se restringe a partir de sua oposição a teciine que não significa nem arte nem técnica e sim um sober a disposição competente de instituições e planejamentos bem como o domínio dos mesmos Cf Pedro de Platãoí A techne é criação e construção enquanto produção 16 sapiente O 16 mesmo vigor vigente em physis e tectine só se podería escla recer numa reflexão especial O conceito oposto ao físico era sem embargo o Histórico um setor do ente que também era pensado pelos gregos no sentido da physis concebida orlginà riamente de modo mais amplo Isso nada tem a ver com uma interpretação naturalista da História O ente como tal em sua totalidade é physis isso quer dizer que sua Essenciali zação e seu caráter consistem em ser o vigor dominante que brota e permanece Tal sentido se experimenta antes de tudo naquilo que de certo modo se impõe da maneira mais imediata e que veio a significar mais tarde a pfcysts en sentido restrito ta phtgei onta ta physika o ente natural Quando se inves tiga a physis ié quando se investiga o que seja o ente como tal então ta ptiysei onta dão antes de mais nada o ponto de apoio Mas de tal sorte que a investigação não se deve deter nesse ou naquele domínio da natureza sejam corpos sem vida plantas ou animais Deve ultrapassar por sõbre êles todos além de ta phasifca Em grego por sõbre alguma coisa para além de se exprime pela preposição meta A investigação filosófica do ente como tal é assim meta ta ptiysifca Investiga algo que está além do ente É metafísica Agora não é de importância seguir a história particular do nascimento e da significação da palavra A questão por que há simplesmente o ente e não antes o Nada caracterizada por nós como sendo a primeira em dignidade é pois a questão metafísica fundamental Metafísica é o nome para designar o centro decisivo e o núcleo de tôda filosofia Tudo isso se acha exposto superficialmente como convém à finalidade de uma introdução e por conseguinte de modo fundamentalmente ambíguo De acôrdo com a explicação physis significa o Ser do ente Quando se trata de investigar peri physeos sõbre o Ser do ente então o tratado sõbre a phlisís a física em sentido antigo já está além de ta physia além do ente Já está no Ser A Física determina assim desde o principio a Essenclalização e a História da metafisica Mesmo na doutrina do Ser como actus purus iS Tomás de Aquino 1 ou como conceito absoluto Hegel ou como eterno 47 retorno da mesma Vontade de Potência Nietzsche a meta física permanece sempre sem oscilações Física A questão sôbre o Ser como tal possui entretanto outra Essencialização e diferente proveniência Sem dúvida continuandose a pensar dentro do horizon te da metafisiea e segundo sua índole poderiamos considerar a questão sôbre o Ser como tal uma simples repetição mecâ nica da questão sôbre o ente como tal Nesse caso a questão sôbre o Ser como tal seria apenas uma questão transcendental embora de ordom superior Com semelhante transformação do sentido da questão sôbre o Ser como tal barraselhe entre tanto o caminho para um desenvolvimento em conformidade com suas exigências Certamente essa transformação é fácil de ocorrer prjnci palmente porque em Sein und Zeit se fala de um horizonte transcendental Todavia o transcendental aí entendido não é o da consciência subjetiva mas se determina pela tempora lidade ekstátícoexistencial 17 da existência humana Da sein A transformação da questão sôbre o Ser como tal tende a ídentiíicarse com a questão sôbre o ente como tal princi palmente porque a proveniência Essencial da questão sôbre o ente como tal e com ela a Essencialização da metafísica con tinuam na obscuridade A Essencialização da metafísica arras ta para o indeterminado tôda investigação que se refira ao Ser A introdução à metafísica aqui tentada não perde de vista essa situação confusa da questão do Ser Na interpretação corrente questão do Ser significa in vestigar o ente como tal metafsíica Enquanto pensada a partir de Sein und Zeit a questão do Ser significa inves tigar o Ser como tal Êsse sentido do título é também o mais adequado tanto linguística como realmente pois a questão do Ser na acepção da questão metafísica sôbre o ente como tal não INVESTIGA temática mente o Ser mas deixao es quecido Correspondentemente tão ambíguo como o título quesão do Ser é falarse de esquecimento do Ser Seinvergesse nheit 18 A bom direito se assegura que a metafísica in vestiga mesmo o ser do ente e por isso é uma manifesta nes ciedade atribuirlhe um esquecimento do Ser 48 Não obstante se pensarmos a questão do Ser no sentido da questão sôbre o Ser como tal será então claro para todo aquêle que a pensar também que à metafísica o Ser COMO TAL fica oculto permanecelhe esquecido e de modo tão de cisivo que o próprio esquecimento do Ser que é novamente esquecido constitui o impulso desconhecido mas constante da investigação metafísica Se para se tratar da questão do Ser em sentido Indeter minado escolhese o nome metafislea então o título da pre sente preleção permanece ambíguo pois com efeito dá a aparência à primeira vista de aterse a investigação ao hori zonte do ente como tal enquanto de fato aspira desde sua primeira frase a ultrapasar êsse setor a fim de visualizar de modo interrogativo um outro domínio Assim o título da pre leção é pois CONSCIENTEMENTE ambíguo A questão fundamental que se propõe a preleção não tem a mesma índole que a questão condutora da metafísica De acordo com o ponto de partida de Sein und Zeit a preleção investiga a abertura tio Ser Cfr Sein und Zeit p 21s e 37s Abertura significa revelação do que o esquecimento do Ser vela e esconde sòmente por meio dessa investigação se ilumina a Essencialização da Metafísica até agora também escondida Introdução à metafísica significa portanto condução a Investigar a questão fundamental Mas questões e muito menos questões fundamentais não se encontram tão facil mente como pedras e água Questões não se dão à maneira de sapatos e roupas ou livros Questões SAO e são apenas en quanto se investigam realmente A condução a investigar a questão fundamental não será portanto um caminhar para alguma coisa que está ou se encontra em algum lugar Tra tase ao invés de uma condução que deve antes de tudo suscitar e constituir a própria investigação Conduzir significa preceder em atitude de investigação fragendes Vorangehen é uma investigação prévia Vorfrage Tratase de uma con dução que por essência não admite conduzidas Quando algo de semelhante ocorre por exemplo uma escola filosófica é que não se compreendeu a investigação Tais escolas só têm razão de ser no dominio do trabalho científico e profissional 49 Aqui tudo possui a sua jerarquia determinada Um tal traba lho também pertence sem dúvida e até necessariamente á fi losofia embora haja desaparecido hoje em dia Sem embargo a melhor competência profissional nunca substituirá com pro priedade a fôrça do ver do investigar e do dizer por si próprio Tor que há simplesmente o ente e não antes o Nada Tal é a questão Pronunciar o enunciado da questão mesmo no tom de voz interrogativo ainda não é investigar É o que vemos já no simples fato de podermos repetir várias vézes se guidas o enunciado da questão sem que com isso se forme mais viva a atitude interrogativa Multo ao contrário o re petir do enunciado pode até trazer consigo um embotamente da investigação Embora pois o enunciado da questão não seja nem a ques tão nem muito menos a sua investigação todavia não se deve tomálo por simples forma de comunicação linguística mais ou menos no sentido de que o enunciado da questão seja ape nas uma expressão sôbre uma questão Quando lhes falo Tor que há simplesmente o ente e não antes o Nada a in tenção dêsse perguntar e dizer não é comunicarlhe que agora em mim se desenrola um processo interrogativo De certo o enunciado da questão pode também ser encarado desta ma neira mas entào não se atenta preclsamente para a investiga ção Assim não se chega a acompanhar a investigação nem a investigar por si mesmo Assimnão se desperta de forma al guma uma atitude e muito menos um sentido de investigação que consiste num QDEREEsaber O querer não é absoluta mente um mero desejar e aspirar Quem deseja saber aparen temente também investiga mas não vai atém do pronunciar a questão termina justamente quando a questão começa In vestigar é querersaber Quem quer quem empenha tôda a sua existência numa vontade êsse está abertamente resolvído I A decisão nada posterga não negaceia mas age a partir do Instante e sem cessar O estar abertamente resolvído não consiste simplesmente m decidirse a agir mas ê o princípio decisivo do agir que antecipa e atravessa tôda ação Querer é estar abertamente resolvldo Reportase aqui a Essência do querer à resolução aberta A Essência porém dessa última re side no fato de a existência humana descobrirse 201 à ilu minação do Ser e de modo algum numa potencialização do 50 agir Cfr Sein und Zeit í 44 e 5 60 A referéncia 21 ao Ser porém é o deixar Que todo querer se deva fundar nu deixar é algo que causa estranheza ao intelecto Cfr a con ferência Vom Wesen der Wahrheit 19301 Saber porém significa poder manterse na verdade Essa é a manifestação do ente O saber é por conseguinte poder estar na manifestação do ente suportála Possuir simples conhecimentos por mais amplos que sejam não é saber Mesmo em se tratando de conhecimentos ligados ã vida pôsto que modelados pela mais imperiosa necessidade ainda assim sua posse não é saber Quem traz consigo tais conhecimentos e ainda se exercitou em algumas técnicas de uso prático ficará sem embargo desarmado diante da realidade real que sempre difere do que o cidadão comum entende por proximidade da vida e da realidade e será necessariamente um tabaréu E por que Porque não possui saber pois saber significa poder aprender O poderaprender supõe o poderinvestigar Investigar é o querersaber esclarecido acima a resolução de abrirse a um podersuportar a manifestação do ente Visto que se trata para nós da investigação da primeira questão em dignidade tanto o querer como o saber são de índole particularmente ori ginária Por isso o enunciado da questão tanto menos traduzí rá exaustivamente a questão mesmo se fór dito de maneira autênticamente investigadora e ouvido de modo a acompanhar a investigação A questão soa em seu enunciado Como toda via nêle ela se encontra também encerrada e envolvida tem de ser primeiro desenvolvida A atitude de Investigação devese então esclarecer assegurar e firmar pelo exercício Nossa primeira tarefa consiste pois em desdobrar a ques tão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Em que direção se poderá fazêlo Em primeiro lugar a ques tão é acessível em seu enunciado Éle proporciona por assim dizer uma amostra sôbre a questão Por isso sua formulação linguística tem que ser correspondentemente ampla e pouco ri gorosa Consideremos sob éste ponto de vista o enunciado de nossa questão Por que há simplesmente o ente e não antes c Nada A frase contém um inciso Por que há simples mente o ente Com isso a questão já está posta com propríe 51 dade Pois á posição de uma questão pertence 1 a indicação precisa do que se põe em questão ié daquilo que se investiga 2P a indicação daquilo em função do qual se investiga o que se põe em questão ié aquilo pelo qual se investiga Ora em nossa questão se indica com tôda exatidão o que se investiga a saber o ente Aquilo em função do qual se investiga aquilo pelo que se investiga ê o porquê ou seja o fundamento Logo o que ainda segue no enunciado da questão e não antes o Nada é mais um apêndice que numa linguagem introdutó ria e pouco rigorosa se ajunta por si mesmo com o qual nada se acrescenta ao tema seja aquilo que seja aquilo pelo que se Investiga É um floreio de adorno Até sem o apêndice que só nasce da abundância de um discurso impreciso a questão ganha muito mais em precisão e exatidão Por que há sim plesmente o ente O acréscimo e não antes o Nada não só com vistas a uma formulação rigorosa se torna supérfluo como ainda mais em razão de não dizer coisa alguma Pois com efeito o que se poderia ainda investigar no Nada O Nada é simplesmente nada Aqui a investigação já não tem nada mesmo o que procurar Com a introdução do Nada antes de tudo não logramos o inínimo que seja para o conhecimento do ente Quem fala do Nada não sabe o que faz Quem diz algo do Nada transformao ao fazêlo em alguma coisa Dizendo algo dilo pois contra o que pensa Èle se contradiz a si mesmo Ora um dizer que se contradiz instigese contra a regra fundamental de todo dizer logos contra a Lógica Falar do Nada é ilógico O homem que fala e pensa de modo ilógico está iremediàvelmente fora da ciência Quem dentro da filosofia onde a lógica tem a sua cidadela fala do Nada atingeo a incriminação de faltar contra a regra fundamental de todo pensamento ainda mais duramente Um falar do Nada consta sempre de meras frases sem sentido Ademais quem leva o Nada a sério colocase a favor do negativo Fa vorece evidentemente o espírito de negação e serve apenas ao aniquilamento Falar da Nada não só ê Inteiramente contrário ao pensamento como solapa também tôda cultura e qualquer fé Qra desprezar n pensamento em sua lei fundamental como destruir a vontade construtiva e a fé é puro niilismo 52 Em fôrça de todas essas considerações agiriamos bem can celando do enunciado de nossa questão a locução supérflua e não antes o Nada e limitandoo à formulação simples e rigorosa por que há simplesmente o ente Nada a isso se oporia se na formulação da questão ou simplesmente na sua investigação estivéssemos realmente tão livres e sem compromisso como até agora terá parecido Na verdade porém ao investigarmos a questão encontramo nos numa tradição Com efeito a filosofia investigou sempre e cada vez fundamento do ente Com essa questão teve o seu princípio nela terá seu fim suposto que chegue ao fim gran diosamente e não no estado de impotente decadência Ora desde o principio da questão sõbre o ente que a acompanha a questão sõbre o nãoente sõbre o Nada E isso não apenas ex ternamente como um fenômeno concomitante e acessório mas a questão sõbre o Nada se configura de acõrdo com a extensão profundidade e originalidade correspondentes com que se in vestiga a questão sõbre q ente e viceversa O modo de se in vestigar o Nada pode valer como termômetro e indicio do modo de se investigar o ente Se se medita sõbre isso tudo então a fórmula inicial da questão Porque há simplesmente o ente e não antes o Nada parece exprimir a questão sõbre o ente de modo mais adequado do que a fórmula abreviada O fato de introduzirmos a locução do Nada não é desleixo e redundância de estilo como não é uma Invenção nossa mas apenas o respeito rigoroso pela tra dição originária do sentido da questão fundamental Todavia falar do Nada continua a ser em gerai repug nante ao pensamento e destruidor em particular Como assim se tanto o cuidado em observar corretamente a regra funda mental do pensamento como o mêdo do niilismo que deveríam dissuadir de falar do Nada se fundassem ambos num equi voco E assim é Sem dúvida o equívoco que aqui ocorre não é casual Basease numa incompreensão de há muito reinante da questão sõbre o ente E essa incompreensão provém de um esquecimento do ser que mais e mais se consolida Tão redondamente ainda não foi decidi dp que a lógica e suas regras fundamentais possam servir de critério para a questão sõbre o ente como tal Poderia até darse o contrá 53 rio a saber que tôda a lógica que nos é conhecida e tratada como um presente do céu se fundasse numa determinada res posta questão sôbre o ente assim podería ocorrer que todo pensar que seguisse simplesmente as leis de pensamento da lógica tradicional seria de antemão incapaz de simplesmente compreender por si mesmo a questão sôbre o ente e menos ainda de desenvolvêla realmente e levãla a uma resposta Quando se invocam o principio de contradição e em geral a lógica para provar que todo pensar e falar do Nada é contra ditório e por isso mesmo sem sentido só se consegue na ver dade uma aparência de rigor científico Em tais casos a Ló gica vale como um tribunal garantindo desde tôda a eterni dade de cuja competência de ser a primeira e última instân cia na administração da justiça nenhum homem razoável na turalmente duvidaria Quem fala contra a lógica tornase portanto tácita ou expressamente suspeito de arbitrariedade Fazse então passar essa mera suspeita por objeção e prova e se dá por dispensado de tôda reflexão ulterior e própria De fato não é possível falar do Nada e dêle tratar como se ísse uma coisa como a chuva lá fora ou uma montanha ou simplesmente um objeto qualquer O Nada permanece cm princípio inacessível a tôda ciência Quem pretende falar ver dadelramcnte do Nada tem necessariamente que deixar de ser cientifico Isso só será uma grande perda enquanto se fòr da opinião de que o pensar cientifico seja a única e a forma pró pria de pensamento rigoroso e de que somente êie pode e deve ser erigido em critério do pensamento filosófico Entretanto as coisas estão ao inverso Todo pensar científico é que é uma forma derivada e como tal consolidada de pensamento filo sófico A filosofia nunca nasce da ciência nem pela ciência Também jamais se poderá equiparála às ciências Élhes antes anteposta e não apenas logicamente ou num quadro do sis tema das ciências A filosofia situase num domihio e num plano da existência espiritual inteiramente diverso Na mesma dimensão da filosofia e de seu modo de pensar situase ape nas a poesia Entretanto pensar e poetar não são por sua vez coisas iguais Falar do Nada constituirá sempre para a ciência um tormento e uma insensatez Além do filósofo pode fazêlo ainda o poeta não certamente por haver na poesia como crê o entendimento vulgar menos rigor e sim por imperar nela 54 pensase somente na poesia autêntica e de valor em oposi ção a tôda simples ciência uma superioridade de espírito vi gorosa Em razão dessa superioridade o poeta fala sempre como se o ente se exprimisse e fõsse interpelado pela vez pri meira No poetar do poeta como no pensar do filósofo de tai sorte se instaura um mundo que qualquer coisa seja uma árvore uma montanha uma casa o chilrear de um pássaro perde tôda monotonia e vulgaridade Falar verdadeira men te do Nada ficará sempre algo de es tranho Nunca se deixará vulgarizar Logo se dissolve quan do se põe no ácido barato e banal de uma sutileza meramente lógica Por isso também jamais se poderá falar do Nada dire tamente sem intermediários como se descreve por exemplo um quadro É possível porém frustrar a possibilidade de fazêlo Permitase que cite aqui um trecho de uma das últimas obras do poeta Knut Hamsum Após Anos e Dias trad alemã de 1934 p 464i Tratase de uma obra que juntamente com O vagabundo do Campo e Augusto o Navegador do mundo constitui um todo Após Anos e Dias expõe Os últimos anos e o fim de Augusto que personifica a onipotência sem raízes do homem de hoje na forma porém de uma exisfêncía que não pôde perder as relações com o extraordinário por conser varse autêntica e superior em tôda a sua impotência deses perada Em seus últimos dias Augusto vive solitário no cimo de uma montanha Diz o poeta Instalase entre seus ouvidos e escuta o vazio verdadeiro De todo curioso uma alucinação No mar antes Augusto havia viajado muito se mexia ao menos alguma coisa Havia um som algo perceptível um còro de águas Aqui porém o Nada sôbre nada Não há nada nem sequer um buraco Só s e pode balançar resignadamente a cabeça Afinal com o Nada há de fato alguma coisa de especial Por isso retomemos o enunciado de nossa questão para inves tigar profundamente ç ver se as palavras e não antes o Nada representam apenas um explçtivo insignificante ou se possui realmente um sentido essencial na formulação provi sória da questão Para êsse fim atemonos primeiro ao enunciado abreviado em aparência mais simples e pretensamente mais rigoroso 55 Por que há simplesmente o ente Ao investigarmos assim partimos do ente Èsse è énos dado se nos depara e por isso mesmo está sempre em condições de ser encontrado e nos é até certo ponto conhecido Gra dêsse ente que assim jã nos é dado investigamos imediatamente por seu fundamento A investi gação avança dlretamente para um fundamento Tal método não é por assim dizer senão a ampliação e extensão de um modo de proceder comumente exercido Em algum lugar de um vinhedo aparece por exemplo a pulga de videira Incon testàvelmente algo de objetivamente dado 22 iVorhande nes perguntase então donde provêm êsse lato Onde está e qual é a razão De igual modo o ente em sua totalidade é algo de objetivaanente dado Perguntase pois onde está e qual é a razão Tal maneira de investigar se apresenta na forma singela da pergunta Por que há simplesmente o ente Onde está e qual è a sua razão Tàcitamente se procura um outro ente superior Todavia dêsse modo a questão não se es tende de forma alguma até o ente como tal em sua totalidade Se porém perguntamos a questão no enunciado formula do ao início Por que há Simplesmente o ente e não antes o Nada então o acréscimo impede que agitemos a questão imediatamente apenas no domínio do ente dado de antemão como algo de indiscutível e que mal agitada logo a prossiga mos avançando em busca de uma razão que ê um ente tam bém Ao invés disso se põe o ente em questão dentro da pró pria possibilidade do nãoser Dessa maneira o porquê ad quire todo um outro poder tôda uma outra acuidade de in vestigação Por que se arrancou o ente â possibilidade do não ser Por que não retorna sem mais e constantemente ao Nada Assim o ente já não é o objetivamente dado mas co meça a oscilar independente do fato de o conhecimento ou não com tôda certeza de o apreendermos ou não em tôda a sua extensão Desde que o pomos em questão ê o ente como tal que começa a oscilar O arco dessa oscilação se estende até às ralas extremas e máximas da possibilidade contrária a saber até ao nãoser e o Nada Simultâneamente se transfor ma de igual modo a procura do porqué Já não se visa aduzir apenas uma razão explicativa também objetivamente dada para o que é objetivamente dado Procurase um fundamento que 58 deve fundar o império do ente como superação do Nada O fundamento investigado investigase então enquanto funda mento da decisão em prol do ente e contra o Nada ou dito com maior rigor enquanto fundamento da oscilação do ente que em parte sendo em parte não sendo nos carrega e nos deixa o que íaz com que nunca possamos pertencer inteiramente a coisa alguma nem mesmo a nós mesmos não obstante seja a existência em cada caso minha je meines A qualificação em cada caso minha significa t a exis tência me foi outorgada a fim de que meu próprio eu seja n existência Existência porém diz não apenas o cuidado do ser do homem mas o cuidado do ser do ente como tal que se revela estàticamente no próprio cuidado A existência é em cada caso minha isso não quer dizer que seja posta por mim nem que esteja isolada num eu separado A existência é ELA MESMA a partir de sua REFERÊNCIA ESSENCIAL com o Ser simplesmente É o que significa a frase repetida com fre qíiéncia em Sein und Zeit A existência pertence a compreen são do Ser Dèste modo se evidencia que as palavras e não antes o Nada não são de forma alguma um apêndice supérfluo da questão propriamente dita mas parte constitutiva e essencial de todo o enunciado da questão que em sua totalidade ex prime uma questão de todo diferente da que expressa a per gunta Por que há o ente Com nossa questão nos colocamos de tal sorte no domínio do ente que êle perde tôda evidência 23 iSelbstverstsedlichkeit COMO ENTE Pendulando entre os dois extremos da maior e suprema possibilidade ou ente ou Nada1 a própria questão perde tôda base firme Também a nossa existência que investiga entra em oscilação e nessa se sustenta e carrega a si mesma Não obstante o ente não se modifica por investigarmos Continua sendo o que é e tal como é A investigação é apenas um processo espiritual em nossa alma que como quer que se desenrole não poderá nunca afetar o ente em si mesmo Per manece assim como ae nos faz manifesto E entretanto o ente não pode despojarse do caráter questionável que o torna digno de scr investigado em razão do qual poderia também NAO ser o que é e tal como é Essa possibilidade não a experimentamos 57 come algo que acrescentamos ao ente com o pensamento se não que o própria ente a manifesta ié nela se manifesta como ente A investigação abre apenas o espaço para o ente poder revelarse nessa sua investigabilidade 24 Fragwur digkeit Ainda é demasiado pouco e muito grotesco o que sabemos sõbre o processo de uma tal investigação Nela parecemos per tencer totalmente a nós mesmos E todavia é a investigação dessa questão que nos põe a descoberto posto que ela se trans forme a si mesma questionando o que tôda questão autêntica proporciona e projete por sõbre e através de tudo uma nova dimensão Tratase apenas de experimentar as coisas de qualquer vizinhança tais quais são sem nos deixarmos seduzir por teo rias apressadas Ease pedaço de giz aqui é uma coisa extensa relativamente consistente de determinada forma e cõr branca e em tudo isso e com tudo isso é ainda uma coisa para es crever Tão certo como lhe corresponde estar aqui do mesmo inodo lhe pertence poder não estar aqui ou não ter o tamanho que tem Poder ser conduzido pelo quadro negro e gasto nâo é algo que lhe acrescentamos apenas com o pensamento Éle mesmo como o ente que é está nessa possibilidade do con trário não seria um giz qual instrumento para escrever na pedra Correspondentemente todo ente traz consigo de modo diferente em cada caso uma tal possibilidade Essa possibili dade pertence ao giz É éle que tem consigo mesmo determina da possibilidade para determinado uso Sem dúvida na pro cura dessas possibilidades estamos habituados e inclinados a dizer que nâo as vemos nem tocamos É um preconceito Afastálo pertence ao desenvolvimento da questão Por en quanto porém ela tem apenas de descobrir o ente em sua oscilação entre o ser e o nãoser Resistindo à suprema pos sibilidade do nãoser o énte ínsiste no ser embora não tenha nunca ultrapassado e superado a possibilidade do nãoser Eisiws falando de repente do ser e nãoser do ente sem havermos dito como o que assim se denomina se comporta com o próprio ente Acaso serão a mesma coisa o ente e seu ser Segundo essa distinção o que é por exemplo nesse pe daço de giz o ente Já a pergunta é ambígua porque a pala vra o ente se pode entender de dois pontos de vista tal 58 como o grego laou O ente significa em primeiro lugar aquilo que em cada caso é assim no caso do giz essa massa branca de forma determinada leve e quebradiça Em segundo lugar o ente significa por dizêlo assim o que faz que o men cionado acima seja um ente e não um nãoente aquilo que no ente quando o é constituí o ser Segundo essa dupla acep ção da palavra o ente o grego to 011 indica muitas vèzcs o segundo significado portanto não o ente em si mesmo o que é o ente mas o fato de o ente ser a entidade o serente o ser Ao contrário na primeira acepção o ente designa tõdas e cada uma das coisas que são tudo que se refere a elas mes mas e não ã sua entidade à ousia A primeira acepção de to on significa ta onta entia a segunda tò einai esse Já enumeramos o que no pedaço de giz é o ente E pudemos encontrar com relativa facilidade Ademais pudemos ver fàcilmente que o giz pode também não ser que em última análise não precisa estar aqui nem mes mo simplesmente ser Mas então à diferença do que está no ser podendo porém recair no nãoser à diferença portanto do ente o que é então o ser Será o ser a mesma coisa que o ente Repetimos pois a pergunta novamente Mas há pouco não enumeramos o ser Mencionamos apenas massa branco leve de forma determinada quebradiço Onde se esconde então o ser Sem dúvida terá êle que pertencer ao giz de vez que o giz é Com o ente nos deparamos em tôda parte Êle nos rodeia nos leva e subjuga nos encanta e satisfaz nos eleva e decep ciona Todavia em tudo isso onde está e em que consiste o Ser do ente Poderseia responder essa distinção entre o ente e seu ser pode ter sua Importância linguística ou mesmo semântica Podese realizála no simples pensamento ié re presentála e entendêla sem que lhe corresponda no ente algo que seja ente E mesmo assim apenas pensada é uma distinção problemática pois permanece sempre obscuro o que se deva entender por ser Ademais basta conhecer o ente e assegurar o domínio sõbre éle Pretender ainda distinguirlhe o ser é algo artificial que não nos leva a nada Sõbre essa pergunta favorita do que se ganha com tal distinção já fizemos algumas observações 25 Agora inte 59 ressanos apenas nosso propósito Perguntamos por que hã simplesmente o ente e não antes o Nada Na aparência tam bém aqui nos atemos exclusivamente ao ente e evitamos elo cubrações vazias sôbre o ser Todavia o que investigamos pro priamente Por que há o ente como tal Investigamos pois o fundamento de o ente ser de ser aquilo que ê e não antes o Nada No fundo investigamos o ser Mas como Investigando o ser do ente Perguntando ao ente por stu ser Se nos mantivermos dentro do rigor dessa questão em verdade jã estaremos investigando prèvismente o ser em seu fundamento embora se trate de uma investigação implícita d ainda não se tenha decidido se o ser não seria jã em si mes mo fundamento e fundamento bastante Pois se pleiteamos para a questão do ser a primazia em dignidade será que isso poderá ocorrer sem sabermos o que há com o ser e corno êie se distingue do ente Como poderiamos simplesmente procurar o fundamento para o ser do ente e muito menos ainda encon trálo sem termos concebido entendido e aprendido suficien temente c ser em si mesmo Um tal propósito seria tão despro vido de sentido como se alguém quisesse averiguar a causa e razão de um incêndio sem se importar com sua origem local e seu exame Assim a questão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada nos obriga à questão preliminar que a ante cede o que hã com o Ser Investigamos agora algo que mal apreendemos que para nós permanece um mero som verbal e nos arrisca a tornar monos vítimas no desenrolar da investigação de um simples ídolo de palavras Por isso se torna tanto mais necessário es clarecer prèviamente como está para conosco o Ser e a nossa compreensão do Ser Aqui è antes de tudo de importância fazer sempre de nòvo a experiência de que nós não podemos apreender em si mesmo e de modo imediato o Ser do ente nem no ente nu dentro do ente nem simplesmente em qualquer outro lugar Alguns exemplos nos hão de ajudar Ali defronte do outro lado da rua está o prédio da Escola Superior Algo que é Por fora podemos examinálo de todos os lados por dentro poderemos percorrêlo todo do porão ao sótão registrando tudo que se nos apresentar corredores escadas salas e ins 60 talações Por tôda parte encontraremos apenas entes e até dispostos numa ordem bem determinada Mas onde esta o Ser dessa Escola Superior Sem dúvida ela é O prédio é Se alguma coisa pertence a esse ente será o seu Ser e não obs tante não o encontramos dentro do ente Nem tão pouco consiste o Ser no fato de considerarmos o ente O edifício está lã mesmo se não o consideramos Só poderemos depararmonos com êle porque êle já é Ademais c Ser dêsse prédio não parece ser de forma alguma a mesma coisa para todos Para nós que o contemplamos ou lhe pas samos ao lado é diferente do que para os alunos que estão sentados no interior E não só por o verem de dentro mas porque para êles o edifício é propriamente aquilo que é e assim como é O Ser de tais edifícios se pode por assim dizêlo cheirar e muitas vêzes depois de decênios ainda se lhes con serva o cheiro no nariz O odor nos dã o Ser dêsse ente de modo muito mais imediato e verdadeiro do que poderia trans mitilo qualquer descrição ou inspeção Por outro lado a per sistência do edifício não se apoia sôbre essa materia odorante que palra em algum lugar O que há com o Ser Podese ver o Ser Vemos o ente èsse giz aqui Acaso vemos o Ser como a cõr a luz o escuro Ou o ouvimos cheiramos saboreamos tocamos Ouvimos a motocicleta seu barulho pela rua Ouvimos as galinhas Sil vestres passar em arribação pela alta floresta Propriamente ouvimos apenas o barulho do bater do motor o ruído que as galinhas silvestres fazem Ademais é muito difícil e para nós insólito descrever o ruído puro porque não é o que ouvimos comumente Com relação ao simples ruído ouvimos sempre mais Ouvimos a ave que voa embora rigorosamente se deva ser uma galinha silvestre não é algo audível alguma espécie de som que se pudesse enquadrar na escala E o mesmo ocorre com os demais sentidos Tocamos veludo sêda Vêmolos sem mais como ente de tal ou qual maneira Vemos que um é di ferente do outro Em que reside e em que consiste o Ser Temos de percorrer ainda mais variadamente o que vemos ao nosso redor e lembrarnos do círculo mais estreito e mais amplo que nos rodeia no qual nos encontramos sabendo ou sem saber diariamente e a cada hora Um círculo que alarga continuamente seus limites até romperse de repente 61 Uma grande tormenta que se levanta nas montanhas é ou o que dá no mesmo era tie noite Em que consiste o seu Ser Uma cordilheira de montanhas ao longe debaixo de um grande céu também é Em que consiste o seu Ser Quan do e a quem êle se manifesta Ao viajante que admira a pai sagem ou ao camponês que dela e nela constrói seu trabalho diário ou ao metereologlsta que deve redigir o boletim com as previsões do tempo Quem dêsses apreende o Ser Todos e nenhum Ou acaso aquilo que êles apreendem na cordilheira de montanhas debaixo de um largo céu não seja senão deter minados aspectos dela e não a cordilheira em si mesma ta como ela é quer dizer não apreendem aquilo em que con siste propriamente o Ser dela E quem então o apreendería Ou seria um contrasenso contra o sentido do Ser investigar simplesmente o que ela é em si por detrás daqueles aspectos Reside o Ser nos aspectos das coisas O portal de uma antiga igreja romana ê um ente Como c a quem se manifesta o Ser Ao perito em arte que numa excursão a visita e fotografa ou ao abade que nos dias de festa entra pelo portal em procissão com seus monjes ou às crianças que nos dias de verão brincam à sua sombra O que há com o Ser dêsse ente Um Estado êle é Em que consiste seu Ser Estará no fato de a polícia prender um suspeito ou no outro de no ministério do Reich tantas ou quantas máquinas de escrever estarem batendo e recebendo os ditados doa secretários de Es tado e conselheiros ministeriais Ou o Estado é na audiên cia do Führer com o Ministro do Exterior inglês O Estado é Mas onde se mete o Ser Será que se esconde em alguma parte A pintura de van Gog um par de toscos sapatos campo nêses e nada mais Propriamente o quadro não representa nada sem embargo estamos logo sozinhos eom o que está ali como se numa tarde já adiantada de outono voltássemos can sados de enxada na mão do catnpo para casa ao apagarse o último fogo das batatas O que no quadro está sendo A tela As pinceladas As manchas da tinta Em tudo isso que acabamos de mencionar o que é 0 ser do ente Como nos encontramos e andamos pelo mundo afora com nossas idiotas presunções e espertezas 62 Tudo que mencionamos sem dúvida éJ e todavia ao que rermos apreender o 5er ocorrenos sempre como se pegássemos no vazio O Ser que investigamos è quase coma o Nada em bora quiséssemos sempre resistir e precavermonos contra a atenção de dizer que tudo o que é NAO É Mas o Ser continua impossível de localizar quase tanto quanto o Nada ou mesmo inteiramenie como o Nada Assim a palavra Ser é de fato apenas uma palavra vazia Não õjz nada de eletivo palpável real Sua significação é um vapor Irreal Ao fim de contas Nietzsche tem pois tôda razão ao chamar êsses conceitos supremos como Ser a última fu maça da realidade evaporante Crepúsculo dos deuses VIII 78 Quem ainda se disporia a correr atrás de um tal vapor cuja designação verbal é o nome de um grande êrro De fato até agora nada teve uni poder de persuasão mais ingênuo do que o êrro do Ser VIII 60 Ser um vapor e um êrro G que diz Nietzsche aqui do Ser não ê uma observação acidental lançada na embriagues do trabalho preparatório de sua obra principal nunca termi nada Tratase da concepção do Ser que o guia desde os pri meiros dias de seu esforço filosófico É uma concepção que carrega e determina fundamentalmente a sua filosofia Essa ainda agora se tem preservado bem contra todos os torpes e néscios assédios da malta de escritores que hoje sempre mais proliferam em tôrno de Nietzsche Iníelizmente parece ainda não haver superado os piores abusos Ao evocarmos Nietzsche aqui não queremos ter nada a ver com tudo isso nem também com uma cega herói clzação A tarefa é demasiado decisiva e sóbria ao mesmo tempo para fazêlo Eia consiste no seguin te num ataque bem conduzido a Nietzsche propiciar um com pleto desabrochar do que foi por êle provocado O Ser um vapor um êrro Fôsse assim a única consequência que nos restaria seria renunciarmos também à questão por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Com efeito o que ainda pretendería essa questão se aquilo que eia põe em ques tão é apenas um vapor e um êrro Diz Nietzsche a Verdade Ou será também êle apenas uma derradeira vítima de um longo error 26 e omissão e COMO tal vitima o testemunho desconhecido de uma nova neces sidade 63 Reside no Ser mesmo tóda essa confusão E ligase à pró pria palavra o fato de ficar ela tão vazia Qu depende de nós mesmos de havermos decaído do Ser em nossa preocupação e caça do ente Ou tudo isso não está só em nós os modernos nem também só em nossos antepassados próximos e remotos mas no que desde o princípio perpassa pela história do oci dente Um acontecimento que os olhos de todos os historiado res jamais atingirão e que no entanto aconteceu ontem acon tece hoje e acontecerá amanhã Como assim se fôsse possível que o homem que os povos em suas maiores atividades e afa zeres se ativessem ao ente e no entanto de hã muito houves sem decaido do Ser sem o saberem Acaso não seria êsse o fundamento mais profundo e poderoso de sua decadência Cfr Sein und Zeit 5 38 espec pp 179s Tais são as questões que aqui levantamos não acidental mente ou mesmo para o sentimento e a concepção de mundo São questões a que nascida necessariamente da questão prin cipal nos obriga a questão prévia O que há com o Ser Talvez uma questão sóbria mas certamente também uma questão de todo inútil Ainda assim uma questão A questão O Ser é uma simples palavra e sua significação um vapor ou constitui o destino espiritual do ocidente Essa Europa numa cegueira incurável sempre a ponto de apunhalarse a si mesma se encontra hoje entre duas grandes tenazes com a Rússia de um lado e a América de outro Rússia e América consideradas metaíisicamente são ambas a mesma coisa a mesma fúria sem consôlo da técnica desen freada e da organização sem fundamento do homem normal Quando o mais afastado rincão do globo tiver sido conquistado tecnicamente e explorado economicamente quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo sa tiver tornado acessível com qualquer rapidez quando um atentado a um Rei na França e uni concêrto sinfônico em Tóquio poder ser vivido simultaneamente quando tempo significar apenas rapidez instantaueldade e simuilaneidade e o tempo como História houver desaparecido da existência de todos os povos quando o pugilista valer como o grande homem de um povo quando as cifras em milhões dos comícios de massa forem um triunfo então Justamente então continua ainda a atraves 64 sar tôda essa assombração como um fantasma a pergunta para que para onde e o que agora A decadência espiritual da terra já foi tão longe que os povos se vêem ameaçados de perder a última fôrça de espírito capaz de os fazerem simplesmente ver e avaliar como tal a decadência entendida em sua relação com o destino do Ser Essa simples constatação não tem nada a ver com pessimismo cultural nem tão pouco como é óbvio com um otimismo Com efeito o obscurecimento domundo a fuga dos deuses a des truição da terra a massificação do homem a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre já atingiu em todo o orbe dimensões tais que categorias tão pueris como pessimismo e otimismo de há multo se tomaram ridículas Estamos entre tenazes A Alemanha estando no meio su porta a maior pressão das tenazes É o povo que tem mais vi zinhos e dêsse modo o mais ameaçado mas em tudo isso é o povo metafísico Entretanto só poderá retirar para si dêsse destino de que estamos certos uma missão se conseguir criar em si mesmo uma ressonância uma possibilidade de ressonân cia para êsse destino concebendo sua tradição de modo cria dor Isso Implica e exige que êsse povo exponha 27 Histò rtcamente a Si mesmo e a História do Ocidente a partir do cerne de seu acontecimento futuro ao domínio originário das potências do Ser Precisamente se a grande decisão sõbre a Europa não seguir os caminhos da aniquilação ela só poderá então seguir o caminho do desenvolvimento de novas fôrças espirítuaijhistórícaa a partir do centro Investigar o que há com o Ser não significa nada menos do que repetir 28 o princípio de nossa existência es piritualHistórica a fim de transformálo num outro princípio Isso é possível E até mesmo a forma matriz de todo acontecer Histórico por arrancar do acontecimento fundamental Grund geschehnis Um princípio porém não se repete voltando para êle como algo de outros tempos e hoje já conhecido que meramente se deva imitar Um princípio se repete deixan dose que êle principie de novo de modo originário com tudo o que um verdadeiro principia traz consigo de estranho obs curo e incerto Repetlção tal como a entendemos será tudo só não uma continuação melhorada do que tem sido até hoje realizada com os meios de hoje 95 A questão O que Há com o Ser achase incluída como questão prévia em nossa questão condutora Por que há sim plesmente o ente e não antes o Nada Ao propormonos agora perseguir o que está em questão na questão prévia a saber o Ser mostrase logo a sentença de Nietzsche em sua plena verdade Pois considerando devidamente o que mais significa para nós o Ser do que um mero som verbal uma significação indeterminada e tão incapaz de ae pegar como o vapor Sem dúvida Nietasche tomava o seu juízo num sen tido puramente negativo Para êle o Ser é uma ilusão que nunca deveria ter ocorrido O Ser indeterminado flutuante como um vapor De fato é assim Mas não nos queremos es quivar a êsse fato Ao contrário devemos procurar esclare cerlhe a facticidade para atingir o panorama de sua imensa importância Com nossa investigação penetramos numa paisagem cuja pressuposição fundamental para poder ficar nela é reconquis tar para a existência Histórica solidez de fundamento Temos de investigar por que êsse fato de o Ser continuar para nós um vapor verbal insiste precisamente hoje Se e por que já vem persistindo de há muito Temos de vir a saber que êsse fato não é tão inocente como à vista de sua primeira consta tação parece Pois em última análise êle não reside em con tinuar a palavra Ser para nós um som e seu significado um vapor mas em termos nós decaído do que diz essa palavra e em não podermos reencontrálo de nôvo é somente por isso e por nenhuma outra razão que a palavra Ser já não indica nada que ao querermos pegar tudo se dissolve como pôças de nuvens ao sol Por ser assim investigamos o Ser E investi gamos porque sabemos que a verdade jamais caiu de graça no regaço de nenhum povo O fato de também agora ainda não se ter podido nem querido compreender essa questão em bora se investigue de modo ainda mais originário isso não lhe tira nada de seu caráter inadiável De certo poderseia aduzir novamente a ponderação já de há muito conhecida e aparentemente profunda e superior a de que o Ser é o conceito mais universal A envergadura de sua validez se estende a tudo e a cada coisa até ao Nada que enquanto pensado e dito é também alguma coisa Assim 69 qlém do arco de valides dêsse conceito unlvetsalísaimo de 8er Já não há no sentido rigoroso da palavra nada a partir do qual pudesse ser ainda mais determinado O conceito de Ser é de uma suprema universalidade O que ademais corresponde também a uma lei da lógica que diz quanto mais extenso fôr a envergadura de um conceito e o que seria mais ex tenso do que o conceito de Ser tanto mais indetermi nado e vazio o seu conteúdo Essas considerações são para todo homem que pensa nor malmente nós todos queremos ser homens normais Ime diatamente e sem qualquer restrição convincente A questão agora porém é a de saber se a proposição do Ser como o con ceito mais universal atingelhe a Essencialização ou se não a deforma de antemão e tanto a ponto de tornar sem perspec tiva qualquer investigação A questão consiste precisamente em saber se o Ser pode valer apenas como o conceito univer salíssimo que se apresenta inevitàvelmente em todos os con ceitos particulares ou se o Ser é de Essencialização totalmente diferente e assim qualquer outra coisa só não o objeto de uma ontologia suposto que se tome essa palavra no sentido tradicional O título ontologia cunhouse somente no século XVII Designa a elaboração da doutrina tradicional do ente numa disciplina da filosofia e num membro do sistema filosófico A doutrina tradicional porém é a análise e slstematlzação aca dêmica do que para Platão e Aristóteles e depois para Kant constituía uma QUESTÃO embora já não mais originária Nesse sentido ainda hoje se emprega a palavra Ontologia Sob êsse título a filosofia empreende cada vez mats a constitui ção e exposição de uma matéria dentro de seu sistema A pala vra Ontologia pode ser tomada também em sentido amplís simo sem referência a correntes e tendências ontolôgícas Cfr Sein und Zeit 1927 p 11 Nesse caso ontologia significa o esfôrço de traduzir etn linguagem o Ser mas através da ques tão o que há com o Ser não apenas com o ente como tal Até agora porém essa questão não encontrou repercussão nem menos ainda ressonância mas se viu até mesmo repelida ex pressamente pelos diversos círculos de eruditos da filosofia acadêmica que se esforçam por uma ontologia em sentido tra 97 dlclonal Por isso seria conveniente renunciar no futuro ao uso dos têrmos ontologia ontológico Modos de investiga ção separados entre si por todo um inundo como só agora se constata com maior clareza também não devem levar o mes mo nome Investigamos a questão o que há com o Ser Qual é o Sentido do Ser NAO para constituir uma ontologia de estilo tradicional nem tão pouco enumerar criticamente os erros das tentativas anteriores nesse sentido algo totalmente diverso Tratase de enquadrar a existência Histórica do homem o que implica também nossa própria existência futura na totalidade da História a nós destinada dentro do poder do Ser a ser des coberto origínàriamente Tudo isso naturalmente nos limites apenas da capacidade da filosofia Da questão fundamental da metafísica Por que há sim plesmente o ente e não antes o Nada extraímos a flues tão prévia o que há com o Ser A relação de ambas as questões necessita de um esclarecimento pôsto ser de índole tôda pró pria Habltualmente uma questão prévia se absolve antes e fora da questão principal embora em estrita relação a ela Questões filosóficas porém Jamais poderão ser em princípio resolvidas no sentido de as podermos algum dia extingulr A questão prévia não se acha aqui de forma alguma fora da questão fundamental mas lhe constitui a fornalha ardente a lareira de tôda a investigação Isso quer dizer para a inves tigação da questão fundamental tudo depende de tomarmos investigandolhe a questão prévia a posição fundamental de cisiva e de alcançarmos e garantirmos a atitude nela essencial Por isso pusemos a questão do Ser em conexo com o destino da Europa onde se decide o destino da terra enquanto para a própria Europa nossa existência Histórica se demonstra como o centro A questão perguntava O Ser é uma simples palavra e seu significado um vapor ou o que se entende com a palavra Ser abarca o destino es piritual do ocidente Para muitos ouvidos a questão poderá soar de modo for çado e exagerado pois quando multo poderse1 a imaginar que a discussão da questão do Ser devesse ter também rela ta I ção com a questão histórica sôbre o destino da terra mas mui to por longe e de maneira multo mediata de forma alguma porém a tal ponto que a posição fundamental e a atitude da nossa investigação pudessem ser imediatamente determinadas pela História do espírito da terra todavia tal conexão existe Visto que nosso propósito é pôr em movimento a investigação da questão prévia vale agora mostrar que e em que medida a investigação dessa questão se movimenta direta e íundamen talmente em meio à questão decisiva da História Para tal fim fazse mister antecipar na forma de uma afirmação uma perspectiva essencial Afirmávamos acima a investigação da questão prévia e com ela a Investigação da questão fundamental da metafísica é uma Investigação intelramente Histórica Mas dêste modo a metafísica e a filosofia simplesmente não se converteríam numa ciência histórica A historiografia pesquisa o temporal enquanto a filosofia investiga o que se situa acima do tempo A filosofia só é histórica enquanto se realiza como tôda obra do espírito no curso do tempo Mas nesse sentido a caracteri zação da investigação metafísica como histórica não pode de terminar a metafísica Díz apenas algo de evidente Por isso a afirmação ou será insignifleativa e supérflua ou então impos sível por confundir espécies de ciência fundamentalmente di ferentes filosofia e historiografia Sôbre isso devese dizer 1 Metafísica e filosofia não são de forma alguma uma ciência nem poderão vir a sèlo pelo fato de ser a sua inves tigação fundamentalmente Histórica 2 A historiografia por seu lado não determina por ser ciência a referência originária com a História mas ao con trário sempre pressupõe tal referência E somente por essa razão a historiografia pode desfigurar interpretar errado e degradar a um simples conhecimento de antíquariado a refe rência com a História que é em si mesma sempre Histórica ou por outro lado pode também oferecer à relação com a His tória já instituída perspectivas essenciais e permitir experi mentar a História em sua constringência Uma referência His tórica de nossa existência Histórica com a História pode tor 69 narse objeto e configuração 29 de um conhecimento Mas não precisa sêlo Ademais nem todas as referências com a História podem vir a ser objeto e configuração de ciência e precisamente as essenciais não o podem A historiografia nun ca poderá instaurar a referência Histórica com a História Só poderá cada vez Iluminar justificar cdtlcamente uma refe rência já instituída o que sem dúvida para a existência His tórica de um povo consciente é uma necessidade essencial Portanto não se trata nem de algo apenas útil nem de al guma coisa só vantajosa Ora de vez que sòmente na filo sofia à dierenjr de qualquer ciência se edlflcam sempre as referências essenciais com o ente por isso essa referência pode até deve ser para nós hoje uma referência orlglriàrla mente Histórica Para se compreender nossa afirmação de que a Investiga ção metafísica da questão prévia é inteiramente Histórica devese considerar antes de tudo o seguinte História não sig nifica para nós o passado pois êsse é justamente o que jã não acontece História também não é e multo menos o sim ples presente que também nunca acontece mas apenas passa aparece e desaparece História entendida como acontecer é o agir e sofrer pelo presente determinado pelo futuro e que as sume o pretérito vigente O presente é precisamente o que no acontecer desaparece A Investigação da questão metafísica fundamental é His tórica porque desdobra acontecer da existência humana em suas referências Essenciais a saber com o ente como tal na totalidade segundo possibilidades Imprescrutadas Ié futuras Zukünfte 30 e assim também as religa ao princípio de seu pretérito vigente dandolhes dêste modo pêso e perspicá cia no presente Nessa investigação nossa existência se inte gra em sua História no pleno sentido da palavra e é chamada a ter uma consciência Histórica e uma decisão dentro da His tória E isso não ocorre como um corolário no sentido de uma medida útil para a moralidade e concepção do mundo mas Es senclalmente no sentido de ser a posição fundamental e a ati tude da investigação em si mesma em sua Essencialização His tórica está e se sustém no próprio acontecer Desenvolvese a partir e em função dêle 70 Mas ainda ni falta a perspectiva essencial de saber em que medida essa investigação em si mesma Histórica da ques tão do Ser traz consigo uma correspondência intrínseca até mesmo com a História Universal do mundo Acima dizíamos sôbre a terra por tôda parte acontece um obscurecimento do mundo cujos processos Essenciais são a fuga dos deuses a destruição da terra a massificação do homem a primazia da mediocridade O que significa mundo quando falamos de obscurecimento do mundo Mundo é sempre mundo espiritual O animal não tem mundo nem ambiente mundano Obscurecimento do mundo inclui em si uma DESPOTENCIAÇÁO DO ESPÍRITO sua dissolução destruição desvirtuamento e deturpação Tra temos de esclarecer essa despotenciação dó espírito num de seus aspectos no aspecto da deturpação do espírito Dizíamos a Europa já entre tenazes constituídas pela Rssia e a Amé rica que metafisicamente a saber com relação a sua atitude diante do mundo espiritual e do espírito são ambas a mesma coisa A situação da Europa é tanto mais perigosa porquanto a despontenciação do espirito provém dela própria e se cons tituiu definitivamente embora já viesse sendo preparada antes na primeira metade do século 19 por sua própria situação espiritual Entre nós aconteceu mais ou menos no tempo que se costuma chamar brevemente a queda do idea lismo alemão Essa fórmula é por assim dizer um escudo atrás do qual se protege e esconde a falta de espírito que já desponta a dissolução dos podêres espirituais a recusa de tôda investigação originária dos fundamentos e de qualquer depen dência dêles Pois com efeito o que aconteceu não foi a der rocada do idealismo alemão mas sim a época já não era forte o bastante para se conservar à altura da grandeza enverga dura e originariedade daquele mundo espiritual Já não pos suía forças suficientes para realizálo verdadeiramente o que sempre significa coisa muito diferente do que aplicar simples mente frases e princípios A existência começou então a des lisar para um mundo sem a profundidade que restitul e atri bui ao homem o que lhe é essencial e assim o constrlnge à superioridade e o faz agir com jerarquía Tôdas as coisas es corregaram para um mesmo nível para uma superfície que semelhante a um espelho oxidado já não espelha nada re 71 flete A dimensão dominante tornouse a da extensão e do número Capacidade já não significa a potência e prodigali dade advindas de uma alta superabundânela e do domínio das fôrças mas do exercício de uma rotina suscetível de ser aprendida por todos e dependente sempre de certo suor e es fôrço Ora tudo isso se intensificou então na América e na Rússia chegandose à padronização desmedida de uma série progressiva do sempre igual e equivalente a ponto de o quan titativo se transformar numa qualidade própria Desde então vigora o domínio da média do equivalente que já não é algo sem importância e meramente vazio mas a avalanche de uma fôrça que em seu ímpeto destrói tôda jerarqula e todo mun do espiritual e os faz passar por mentira É a avalanche do que chamamos o demoníaco no sentido de uma maldade des truidor Juntamente com a desorientação e insegurança da Europa em si mesma e contra si mesma hã vários indícios do surto dessa demonia Um dêles é a despotenciação do espirito no sentido de seu desvlrtuamento Um acontecimento em cujo centro ainda hoje nos debatemos Vejamos breveniente êase desvirtuamento do espirito na perspectiva de quatro ângulos 1 Decisiva é a transformação do espirito em INTELI GÊNCIA qual seja a simples habilidade ou perícia no exame no cálculo e na avaliação das coisas dadas com vistas a uma possível transformação reprodução e distribuição em massa sujeita em si mesma à possibilidade de uma organização o que não vale para o espírito Todo o literatismo e estetismo são apenas uma conseqíiência ulterior e uma degenerescêncla do espirito falsificado em inteligência O mero engenho o apenas espirituoso é aparência de espirito e a tentativa de esconder a sua ausência 2 O espírito assim falsificado em inteligência se de grada até resvalar para o papel de um instrumento a serviço de outro cujo manejo é suscetível de ser ensinado e aprendido Agora é indiferente se ésse serviço da Inteligência se destina ou serve simplesmente à ordenação racional e explicação de tudo que eventualmente já é dado e pôsto como no positivis mo ou ainda se o serviço da inteligência se realiza na con dução organizada da massa e da raça de um povo É que em 73 qualquer desses casos o espírito desvirtuado em inteligência se torna a superestrutura impotente de uma outra coisa que por ser desprovida ou mesmo hostil ao espírito se apresenta então tomo o real propriamente dito Se a par do marxismo na sua forma mais extrema se tem o espírito como inteli gência então nada é mais justo do que dizerse em contra posição que 6 espírito enquanto inteligência deve sempre permanecer dentro da ordem da forças ativas da existência subordinado à capacidade de um corpo sadio e ao caráter Entretanto essa ordem deixa de ser verdadeira tão logo se conceba a Essenclallzação do espírito em sua verdade Com efeito tôda verdadeira força e beleza do corpo tôda segurança e ousadia da espada como também tôda autenticidade e en genho do entendimento têm suas raizes no espírito e só experi mentam elevação ou degradação numa eventual potência ou impotência do espirito O espirito é sempre o fundamento e o vigor o primeiro e o último e não um terceiro fator apenas indispensável 3 Logo que essa desfiguração instrumental do espírito se impõe os poderes de todo acontecer espiritual a poesia e a arte plástica a constituição do Estado e a religião recaem no âmbito de uma possivêl assistência e planejamento cons cientes ao mesmo tempo em que sofrem uma disposição em regiões O mundo do espírito se transforma em cultura em cuja criação e conservação o indivíduo procura ao mesmo tempo aperfeiçoarse a si mesmo As regiões da cultura se tornam setores de afirmação e atividade livres que de acôrdo com a importância que valem estabelecem para si mesmas os seus critérios Denominamse os critérios dessa valldez de produção e uso valores Os valores culturais só podem ga rantir para sl mesmos importância dentro de uma dada cultu ra concentrandose e limitandose a si mesmos a sua pró pria valtdez poesia pela poesia arte pela arte ciência pela ciência No caso da ciência que aqui na universidade nos inte ressa de modo particular podese constatar facilmente o estado dos últimos dez anos que até hoje apesar de muitas melhoras ainda permanece Inalterado Quando ültlmamente 73 duas concepções aparentemente diversas de ciência parecem combaterse mütuamente a saber a ciência entendida como competência profissional técnica e prática e a ciência inter pretada como valor cultural em si na realidade movemse ambas na mesma rota de decadência de um desvirtuamento e despontenciação do espirito Apenas num ponto dlstlnguemse entre si porquanto a concepção técnicoprática da ciência como especialização pode alardear a seu favor a vantagem de uma aberta e clara coerência dentro da situação atual en quanto a interpretação reacionária ültimamente de novo em voga ao entender a ciência como um valor cultural procura encobrir a impotência do espirito com uma espécie de mentira inconsciente A confusão da falta de espírito pode estender se mesmo até ao ponto de a interpretação técnicoprática da ciência chegar a fazer profissão de cultura e converterse tam bém em ciência como valor cultural de sorte que ambas as concepções se entendem muito bem entre si na mesma ausên cia de espírito Se se pretende chamar de universidade essa instituição que do ponto de vista da doutrina e investigação unifica as várias ciências especializadas então tal intento é apenas um nome e jamais um poder espiritual constringente e originàrlamente uniflcante Ainda hoje vale da universidade alemã o que disse aqui em 1929 por ocasião de meu discurso inaugural Os domínios das ciências estão por demais sepa rados uns dos outros O modo de tratar seus objetos é funda mentalmente diferente entre si Essa multidão esfacelada de disciplinas se conserva ainda aglutinada apenas pela organi zação técnica das universidades c faculdades e mantém um significado somente em função dos fins práticos das matérias Mas a implantação das ciências no solo de seu vigor já fene ceu1 Was 1st Metaphystk 1929 p 8 A ciência em todos os seus setores é hoje uma questão técnica e prática de adquirir e transmitir conhecimentos Dela como ciência não poderá partir nunca um despertar do espírito É de espírito que ela própria necessita 4 A última desfiguração do espirito se funda nas falsi ficações anteriores que interpretam e representam o espirito como inteligência essa como instrumento a serviço de um fim e êsse de parceria com a produtividade como domínio da 14 cultura O espírito como inteligência a serviço de um fim e o espírito como cultura tomase por fim peças de ornamentação e aparelhagem que entre muitas outras se expõem publica mente para se demonstrar que não se deseja negar a cultu ra nem se quer ser bárbaro O comunismo russo após uma atitude inicial puramente negativa logo passou a adotar tais táticas propagandistas Contra êsse desvirtuamento múltiplo do espírito caracte rízamolhe a Essencialização do seguinte modo prefiro a for mulação feita em meu discurso reitoral por se achar tudo re sumido numa forma concisa própria para a ocasião O es pírito não é nem a sutileza vazia nem o jôgo sêm compromis sos da engenhosidade nem tão pouco o exercício desmedido de análises intelectuais nem mesmo a razão universal O espirito é exposição sapiente originàriamente disposta 31 à Essen cialização do Ser Discurso Reitoral p 13 Espirito é a po tenciação das potências do ente como tal na totalidade Onde domina o espírito o ente se torna como tal sempre e cada vez mais ente Por isso investigar o ente como tal na totali dade a investigação da questão do Ser constitui uma das condições fundamentais e essenciais para despertar o espírito e com êle o mundo originário da existência Histórica Para refrear o perigo do obscurecimento do mundo e para assumir a missão Histórica de nosso povo que se acha no centro do Ocidente Só nessas grandes linhas podemos esclarecer aqui que e em que medida a investigação da questão do Ser é em si mesma inteiramente Histórica e que por conseguinte a questão se o Ser continua para nós um mero vapor ou se cons titui o destino do Ocidente é algo muito diferente de um exa gêro e uma fôrça de expressão Se portanto a questão do Ser possui êsse caráter Essen cial de uma decisão então devemos antes de mais nada levar a sério aquilo que lhe confere sua imediata necessidade o fato de ser para nós o Ser efetivamente quase uma simples pala vra e seu significado um vapor flutuante Tal fato não é simplesmente alguma coisa diante da qual estamos como algo estranho alguma coisa que apenas pudéssemos constatar como um dado em sua presença objetiva Tratase de algo em que nos achamos um estado de nossa existência embora não 75 entendido naturalmente no sentido de uma qualidade que pudéssemos apresentar psicologicamente Estado significa aqui tôda a nossa constituição a maneira como nós mesmos nos constituímos com referência ao Ser Não está em jôgo a psicologia mas a nossa História numa acepção Essencial Quan do classificamos de um fato que o Ser seja para nós hoje uma simples palavra e um vapor tratase de uma classifica ção muito provisória Com isso estabelecemos e configuramos apenas o que ainda não foi de modo algum pensado para o qual ainda não temos um lugar embora dê a aparência de ser um fenômeno dentro de nós homens em nós como se costuma e gosta de dizer O fato particular de se constituir para nós o Ser numa pa lavra vazia e num vapor flutuante pretendese enquadrar no fato mais geral de que muitas palavras e justamente as essenciais se acham no mesmo caso ou seja a linguagem sim plesmente já está gasta e abusada Um meio de comunicação indispensável mas sem nobreza aplicável arbitàriamente tão indiferente como os transportes públicos como os bondes em que qualquer um sobe e desce Na linguagem todo mundo es creve e fala desimpedido e principalmente sem nenhum peri go o que é uma verdade Entretanto pouquíssimos apenas são os que estão em condições de pensarem em todo o seu al cance o que há de deficiente e desvirtuado nessa relação da existência humana atual com a linguagem Todavia o vazio da palavra Ser o desaparecimento com pleto de sua fõrça significativa não ê apenas um caso par ticular do desgaste universal da linguagem É ao invés a re ferência cortada com o Ser como tal que constitui o funda mento próprio de tôda essa nossa relação desvirtuada com a linguagem As organizações destinadas a purificar o vernáculo e á defesa contra a crescente degradação da lingua merecem aco lhida Todavia com tais instituições apenas se demonstra com maior claridade ainda que já não se sabe o que há com a linguagem De vez que o destino da linguagem se funda na referência eventual de um povo com o Ser a questão do Ser se entrelaça intimamente com a questão da linguagem Assim é multo mais do que um acaso externo vermonos çbrl 75 gados agora quando vamos explicar em sua importância o fato da evaporação do Ser a partir de reflexões linguísticas NOTAS 1 ENTESEINDS Ente é um substantivo erudito derivado do ta ILui en eotis particlpio presente do verbo esse ser A farms arigbnáriu era sen conservada ainda ent pracsens absens talvez também cm consena Ein português g verbo ser ê defectiva no parti cipio presente Dai a derivação th forma erudita ente dírelanicnle de sua congênere latina Na uso da libguagm é um substantivo pouco frequente substituído qnase sempre pelo infinita substantivado wr Assim ninguém UüfisÊ llz hoje Ho cnins vivos mus seres vivos Mesmo na niosoflu utê HriduggFir a distinçiiu entre ente e ser não rru rlgorutfiu No testa ente Selrndcs significa tudo aquilo que siitiplcsiiicnir Indiferente u seu modo próprio de sty Assim O liQinem ns coisas ng nfuntrei menti lildiaa Indo alé meanm q Nadíi enquanto é inn NbcIú são cnlrs Vrjusr a Introduçòo pàg lüss 3 EXISréArCMD4SELV Com a palavra extatâncis tradiuirnos os dois têrmos técnicos da Filosofia de Heidegger Dnsein t Existem Desig ns ambos sob aspectos diferentes o tnodo de ser cspéclfIôm c exclusivo do homem Nease sentido só o homem existe Dizerse profanfo que de terminado ente não existe significa tâo sòmcnlc que não è segundo o modo de çr próprio do homem Vejase a Introdução pãg Usa O Ser escrito sempre com maiíiscula significa a diferença ontológics isto è a diferença como fu entre o tinte c seu ser Vcju se a tntrdouçâo púg lias 4 ABSWtUlVCs fesse substantivo alemão traduzse aqui pela locução salto em que se deixn paru trás Ô substantivo e formado do verbu afringep saltar pular c da preposição ah dc desde partir dr para baixo Em composição com verbo essa preposição acrescenta b sua conotação de movimento Assim Absprung não diz só o pdq q baIIo ma um pulo e um salto que conota lambem o ponto donde o pulo parte c que deixa para trás 11 5 SALTO ÜlUGi2tfROURSPRyííG O prefixo UrM incide sôbre o radical da palavra ressalte fidoa como o principio e fiindannto primor dial da significação que exprime Asshn Ursprung designa o salto que é o principio e fundamente primordial de todo saltar é portanto o salto originário fil PASSA DOPRSENTEi AS GBWESENEt Heidegger distingue Mie Vergangenheit e die Gewesenhelt ou tias Grwesene VcrgngenhtitT é o passado enquanto passado isto ê algo enquanto num dado momento foi presente tnas depois deixou de ser simplesmente Nesse senlidu o sono de Aristóteles é hojq um presente passado uma Vergaogenheit Das Ge Vtfçticne porém diz o passado que aluda se couxervx presente como pas sdo Assinit a filosofia do Aristóteles ê um passado premente m Ge weaencs pois sc vem conservando stê hoje dh História da existência do kiilente 71 HfSTúRIÀHISTORlOGRAFIAGESCHXGHTEHiSTQfUEi Bit geral llngita alemã tem duas palavras que Be usam promtecuamentr Gechlchte e Historie Gesrhichte1 provém do verbo geschehen acontecer darse processasse e significa o conjunto dos acontecimentos humanol tio curso do tempo Historie de origem grega através dn latim ê a ciên cia da Gcschlchte Em sua filosofia Heidegger distingue rlgcrosaipenta 77 I as duas palavras e entende partir de sua interpretaçáo da História do Ser Geschichte dlalitlcamtnte como a Iluminação da diferença ontoló glca Dai poder falar etn Gcscblchte do ente e em Geschichtc do Ser Traduzimos Historie por historiografia a Gesehichtc do ente por his tória com minúscula e Geschichte do Ser por História com maiúscula 8 PRINCIPIOANFANG O substantivo Anfang derivado do verbo anfangen iniciar começar principiar tem na Filosofia Hcldegge riana o sentido técnico do origem principio primeiro que não apenas Ini cia alguma coisa mas a conserva e sustenta era seu vigor Corresponde era tanientc ao que os gregos pensavam com a palavra arche Como em por tuguês não há um adjetivo derivado de prinetpio traduzi nice o adjetivo alemão anfãnglich por originário Ç DISCURSO SOBRE SEU LUGARERhRTERVNG O substantivo Ertztcrung provim do verho ertetern que por sua ves se deriva de Ort lugarj O significado corrente dêsse verbo t discutir discorrer Hep ortan dose A sua derivação de Ort lugar dir no ter Io discutir o lugar assinalado na e pela existência 10 REVÚLVCiONARJOSUMSETZENDE Essa tradução aó corresponde se se toma revolucionário no sentido et im o lógico da palavra aquêle qua instaura o riginã riamente uma situação da existência revolvendo a situação dada íl DESLOCADOVERRCCKT Verrückt ê o partieipio passado de verrücken Apesar de pouco usado em seu sentido próprio êsse verbo significa deslocar afastar do lunar devido etn sentido figurado multo usado significa louco doido No texto Heidegger pensa em primeiro lugar no sentido próprio de deslocado embora intencionç também ironi camente n sentido figurado Essa intenção irônica resulta do fato de ter escolhido uma palavra de sentido ambíguo e pouco freqüeote em seu uso próprio 13 BATEPAPOGEREDE A palavra alemã das Gerede conversa falátório tem um matiz pejorativo de conversa fiada Preferimos a gíria balqpapo em razão do caráter plástico da expressão 13 VIGOR DOMINANTEWALTEN As palavras mais difíceis de tradu lr são vralten e seus derivados Em bí e em geral o verbo walten ex prime o significado de govwnar dispor imperar mas com a cono tação de fdrça vigor domínio É o que aparece em seus derivados die Gewall a fúrça überwãltingen predominar sobrepujar vergewaltígen violentar O verbo português viglr do latim vl gert seria a tradução ideal infelizmenie ê desusado corrente hojq ape nas em algumas formas como vigente vigor vigência Por isso tra duzlmos walten e seus derivados numa perifrase servindo nos das for mas ainda em uso tt DESTINO GESCBICK A um conceito importante na Interpretação heídeggerlana da História A tradução só é fiel se se tomar destino em seu sentido etmológico Pois o verbo schicken donde se forma Ges cbick significa enviar mandar destinar Heidegger concebe a ne cessidade vigente na história como lima missão encaminhada pele vicis situde da Verdade i o que designa a expressão Geschick des Selns destino do Ser 15 PRIMITIV Com essa palavra lembra Heidegger que as traduções la tinas encaualani determinada interpretação do qua o principio da História do Ocidente nos legou de originário fã PRODUCÃOHERVORBRINGLNG A palavra é entendida aqui em sentido etlmológico o não econômico Composta do verbo ducere levar e da preposição pro diante de em frente de produção á a instauração de vigor que leve o modo dq ser de algum enle para 1 rente da presença histórica 78 17 EKSTÂTICOEXISTENCALEZISTENZIALEKSTATISCB t ura tra duçío literal dos dois momentos que constituem a esaencíal liação do ho mem No pensamento de Heidegger o hoiriem é um ente inapelàvelmente sensível cujo modo de r 4 sempre tcmporallzado pelo tempo originá rio quo e por sua vez uma iluminação História da Verdade do Ser Ve jaae Inntrdouçâo pég 15as IS ESQUECIMENTO DO SERSEINSVEBGESSENBEIT Tínuo caracte rístico da Filosofia Hefdeggerlaoa Exprime o espaço Historic da existên cia ocidental instaurado pela dialética da Verdade do Ser enquanto pro ceaso de luz e sombra de velarse e de revelar 19 RESOLYIDOENTSCI1LOSSEN O verbo entschIieben significa decidirse resolverse É um composto de scbliesaen fechar tran car j entschllcssen diz propriamente desttraucar Heidegger pensa cm tôda decisão e resolução fundada numa atitude aberta destrancada d recepção 30 DESCOBRIRSEENTBORGENHRIT Esse substantivo alemão pro vim do verbo cntbergen deaocultar desvelar que por sua vez se deriva de Bcrg o monte A um têrmo que exprime o processo de Essenciallzação da Verdade enquanto movimento de ravetaçãe descobrt mento do ente mediante a velação o encobrimento do Ser vejase a Nota 19 do Capitulo IV 31 RfiFER6NCIABEZVG Bezug nfto diz simplesmente relação Beziahung isto í um nexo entre duas coisas coordenadas 2 o suporte da Verdade do Ser na existência que faz com que o homem existindo posse reportarse ao Ser S3 OBJETIVAM ENTE DADOVORHANDENES um conceito tipico da Filosofir de Heidegger SemAnticamcnte tratase da um adjetivo formado do substantivo Hand a mão Designa o modo de ser d coisa enquan to É o que está diante da mão como objeto 39 EVlDfeNCIASRLB5TVERSTÂNDLICHKEIT Uma nalavrr de sentido pejorativo diz a evidência aparenta Llteratmente Selbatverstãndllchkeit significa a propriedade do que se estende por al mesmo Sendo totalmente diáfano cm ai dispensa qualquer esfôrço de pensamento paru entender o seu sentido 24 INVESTIGABILJDADEFRAGWtRDlGKEIT Palavra composta de frageu pôr en questão investigar perguntar e würdlg digno merecedor que impõe sigo como valendo a pena de Na composição sig nifica o que por st mesmo é digno de ser investigado de ser posto em questão pelo pensamento 25 Heidegger se refere aqui às observações que fêz aóbre o significado existencial da filosofia ès pãgs 45 26 ERRORHIRE É outro conceito característico da Filosofia Heidegge riana Irre exprime o errar par entre o frenesi do ente e do Antieo sem memória para t Ser Ta urrar porém é uma figure da própria Verdade do Ser ô mitologia grega fala dos erros de Hércules pois é nesse sen tido que se emprega a palavra aqui 37 EXPONHAAUSSTELLT Tem aqui a conotação de abrirse en tregarse sem opor nenhuma resistência ou obstáculo desvirtuante 28 REPARTlRWIEDERROLENi Em geral o verbo wieferholen tem a sígnticação de repetir no sentido de blsar tornar a fazer a mesma coisa A um composto de holen ir buscar alcançar No texto Heidegger pro cura ressaltar essa conotação de alcançar 39 CONFIGVÁAGXOAUSGEBILDETBR ZUSTAND Essa expressão alg al fica pròprlimeute o estado completa mente formado e acabado 79 Ml FUTVRASZIKÜNFTE Correntemente a palavra Zukunft designa o fuluro Hetdgger porém pensa n sua origem do varho kommtnH vir rnegar ft tsse a sentido que se enquadra na concepçío do futura coma uma rise da imhrleaçio temporal da existência Nesse sentida o futuro o aue bi de vir enviado pelo destino da existência que í sempre instau rado tihlriramentr o adventn a por vir 80 SÔBRE A GRAMÁTICA E ETIMOLOGIA DA PALAVRA SER Põsto que para nós o Ser continua sendo uma palavra vazia de significação flutuante tentemos recuperar inteira mente ao menos êsse resto de relação Daí Investigarmos antes de tudo 1 Que palavra é essa Ser segundo a sua morfología IJi 2 O que nos diz a filologia como a ciência da linguagem sôbre o significado originário dessa palavra Para exprimilo de forma erudita investigaremos 1 pela gramática e 2 pela etimologia da palavra Ser Sôbre todo êsse capitulo cfr atualmente Ernst Fraenkel O Ser e suas modalidades aparecido em Lexis Studlen zur Sprachphilo sophle Sprachgeschlchte und Begriffsforschung editado por Johann Lohmann Vol U 1949 pp 149 ss A gramática das palavras não se ocupa sòmente nem em primeiro lugar com a forma literal e fonética das palavras Toma os elementos morfológlcos que as palavras apresentam como indicações de determinadas e diferentes direções de pos síveis significados e como indícios de suas possíveis inserções prellneadas pelos significados numa proposição 1 é numa maior estrutura linguística Os vocábulos êle vai nós fôssemos êles foram vál indo ir são modificações da mesma palavra segundo determinadas direções de significação Nós as conhecemos pelos títulos da gramática Indicativo presente 81 imperfeito do subjuntlvo perfeito imperfeito participle infi nitivo Entretanto desde muito tempo que tais títulos são apenas meios técnicos por cuja indicação se procede mecâni camente a análise da linguagem e a fixação de suas regras Precisamente quando e onde surge uma referência mais ori ginária com a linguagem revelase o que há de morto nessas formas gramaticais porquanto se fazem sentir como meros mecanismos A linguagem e sua interpretação se fossilizaram nessas formas rígidas como numa rêde de aço Já nos estu dos linguísticos ôcos e sem espírito do ginásio se convertem para nós em cascas vazias inteiramente incompreendidas e incompreensíveis É mesmo bom que os alunos em vez disso aprendam de seus mestres alguma coisa sôbre a história originária e pri mitiva dos germanos Todavia tudo isso se afunda logo no mesmo vazio se não se consegue transferir para a Escola e desde os fundamentos o mundo do espírito o que significa se não se cria na Escola uma atmosfera de espirito que subs titua a científica E para tanto o primeiro passo é uma re volução real nas relações com a linguagem Nesse sentido porém temos que revolucionar os professores o que implica que primeiro as universidades se devem modificar e compre ender a sua tarefa em lugar de estufarse com banalidades Já nem mesmo Imaginamos que aquilo que sabemos bastante e de há multo podería sem embargo ser diferente Que essas formas gramaticais não são algo que desde tôda eternidade dividem e regulam a linguagem Ao contrário nasceram de uma interpretação bem determinada da Língua Latina e da Grega Sendo também um ente a linguagem pode tornarse acessível e ser configurada de determinados modos apenas tanto uma como outra coisa dependem naturalmente em sua realização e valldez da concepção fundamental do Ser que lhes serve de guia A determinação da Essencialização da linguagem já até mesmo a sua simples Investigação regese sempre pela pre compreensão dominante a respeito da essência do ente e da concepção de essência Ora essência e ser faiam na linguagem sendo essa uma conexão que já désde agora quando investi gamos a palavra ser cumpre ressaltar Por Isso ao utliizar B2 mós na caracterização gramatical da palavra a gramática tra dicional e suas formas o que de início é Inevitável deve mos fazêlo com a ressalva fundamental de que tais formas gramaticais são Insuficientes para o nosso propósito No curso de nossas reflexões essa radical Insuficiência se demonstrará numa forma gramatical de importância essencial Essa demonstração porém transcende de multo a simples aparência de que se trata aqui de um melhoramento da gra mática Pois na verdade se trata de um esclarecimento es sencial com vistas à sua fundamental imbrlcação com a Es sencialização da linguagem É o que se tem de levar sempre em consideração a fim de não desfigurarmos as reflexões lin guísticas e gramaticais que seguirão no sentido de ninharias ôcas e fora de propósito Perguntamos 1 pela gramática 2 pela etimologia da palavra ser 1 X Gramática da Palavra Str Que palavra é essa o Ser segundo a sua morfologla Ao ser correspondem outras formas como o voar o sonhar o chorar 1 etc Tais formas linguísticas se comportam na linguagem como o pão a habitação 2 a erva a coisa Não obstante logo descobrimos nas primeiras uma di ferença Podemos reduzilas fàcilmente aos verbos voar sonhar chorar etc o que as segundas parecem não per mitir É certo que há para a habitação a forma verbal ha bitar êle habita no bosque Todavia quanto ao significado a relação gramatical entre a habitação e habitar é dife rente da mesma relação entre o sonhar o sonho e sonhar Por outro lado há formações verbais que correspondem exa tamente ás primeiras o voar o sonhar e todavia possuem caráter e significação Idênticos a o pão a habitação Por exemplo o embaixador deu um jantar o soldado se co nhece no andar cadenciado 3 Nesses casos já não atende mos ao fato de pertencerem tais formas a um verbo O verbo se fêz substantivo um nome seguindo o caminho de uma 83 forma determinada que se denomina em latim modus in finltívus Nessas condições se encontra também a palavra ser Êsse substantivo e reduz ao infinitivo ser que pertence às formas tu és Êle é nós éramos vós fostes O ser como substantivo proveio do verbo Por isso se diz a pala vra o ser é um substantivo verbal Com a indicação dessa forma gramatical termina geralmente a caracterização lin guística da palavra ser São coisas conhecidas e óbvias as que agora acabamos de mencionar circunstanciada men te Ou melhor falemos com mais cautela são distinções gramaticais da linguagem corrente e desgastadas Pois óbvias não o são de maneira nenhuma Por isso devemos examinar as formas gramaticais em questão Verbo Substantivo Substantivação do Verbo Infinitivo Particípio Vemos facilmente que para a formação da forma nomi nal o Ser a forma prévia e decisiva é o infinitivo ser A forma do verbo se transfere para a forma de um substanti vo Verbo Infinitivo Substantivo são as três formas grama ticais a partir das quais se determina o caráter nominal da palavra o Ser Tratase em primeiro lugar de se compre enderem em sua significação tais formas gramaticais Dentre elas o Verbo e o Substantivo são as que na origem da gra mática ocidental se conheceram em primeiro lugar Ademais ainda hoje valem como as formas fundamentais das palavras e da gramática Assim com a questão sôbre a essencialização do Substantivo e do Verbo recaímos na questão sôbre a Essen cialização da linguagem como tal Pois o problema se a forma originária da palavra é o nome substantivo ou o verbo coin cide com a questão sôbre o caráter originário de todo dizer e falar Essa por sua vez implica também a questão sôbre a ori gem da linguagem Aqui não poderemos entrar logo nessa úl tima Temos que seguir um caminho de emergência Restrln gimonos primeiro àquelas formas gramaticais que serviram para formar o substantivo verbal os infinitivos ír vir cair cantar esperar ser etc O que significa Infinitivo É uma abreviação do termo com pleto motftís inflnitivus O modo da ilimitação da indetermi nação a saber na maneira como um verbo indica e exerce os préstimos e a direção de seu significado 84 Êsse titulo latino procede com todos os outros do traba lho de gramáticos gregos Também aqui encontramos nova mente o processo da tradução mencionado na oportunidade da discussão sôbre a palavra physis Não se trata de discorrer agora com minúcias sôbre a origem da gramática entre os gregos sua adoção pelos romanos e transmissão para a Idade Média e Moderna Embora coúheçamos muito detalhes de todo o processo ainda não conseguimos penetrar realmente em acontecimento tão fundamental para a fundação e carac terização de todo 0 espírito ocidental Falta até uma colocação suficiente do problema para uma tal reflexão que um dia já não poderá ser evitada por mais que se apresente à margem dos interesses Imediatos O fato de a formação da gramática ocidental se ter ori ginado da reflexão dos gregos sôbre a língua grega conferelhe tôda a Importância Pois a língua grega medida pelas possibi lidades do pensamento é ao lado da alemã a mais poderosa e a mais cheia de espirito Antes de tudo se deve meditar sôbre a circunstância de que a distinção decisiva das formas fundamentais das pala vras substantivo o verbo nomen e verbum na forma grega de onoma e rhema se elaborou e fundamentou pela primeira vez em conexão a mais íntima e imediata com a concepção e interpretação do Ser que posteriormente se tornou normativa para todo o Ocidente A conjugação íntima dêsses deis acon tecimentos ainda hoje nos é acessível intacta e com plena clareza de exposição no diálogo O Sofista de Platão É certo que os títulos onoma e rhema já eram conhecidos antes de Platão Todavia também então como ainda para Platão tra tavase de títulos que designam qualquer emprego de pala vras Onoma significa duas coisas a designação linguística como tal em oposição à pessoa ou coisa designada e o pro nunciar de uma palavra que mais tarde a gramática conce beu como rhema Enquanto rhema significa por sua vez a sentença a oração Assim rhetor é o oradoç que não só pro nuncia verbos mas também onomata no sentido restrito de substantivo Êsse fato de o âmbito abarcado pelo domínio de ambos os títulos ser originàrlamente o mesmo é importante para a Bfl nossa indicação posterior de que a questão tão discutida na filologia a respeito do que representa a forma originária da palavra se o nomen ou o verbum não constitui de maneira nenhuma uma questão autêntica Êsse pseudoproblema sur giu somente quando a gramática já se havia desenvolvido e não de uma visão da Essencialização da linguagem em si antes de ser dissecada pela gramática Ambos os títulos onoma e rhema que designavam originà rlamente todo falar se restringem posteriormente em seu significado e se tornam os títulos das duas primeiras classes de palavras Foi Platão quem apresentou pela primeira vez no Diálogo citado 261ss uma explicação e justificação dessa distinção Èle parte da caracterização geral das funções da pa lavra Em sua acepção mais larga onoma é deloma te phone peri ten ou st an manifestação relativa à e dentro da esfera do ser do ente No domínio do ente podese distinguir pragma e praxis Pragma são as coisas de que nos ocupamos de que se trata em cada eventualidade Praxis é o agir e fazer no sentido mais amplo que incluí também a poiesis As palavras são do tadas de dois gêneros ãitton genos São deloma pragmatos onoma manifestação das coisas e deloma praxeos rhema manifestação de um fazer Onde ocorre um plegma uma spm ploke Ié uma composição ou crase de ambos há o logos elachistos te kai pretos o dizer mais breve e ao mesmo tempo primeiro próprio Todavia sòmente Aristóteles dá uma in terpretação metafísica mais clara do logos no sentido da pro posição enunciativa Distingue onoma como semantikon aneu chronou e rhema como prossemainon chronon De interpre tatlone c 24 Essa concepção da Essencialização do logos tornouse padrão e norma para a constituição posterior da lógica e gramática E por mais que a Interpretação logo se tenha degradado no acadêmico 4 o seu objeto manteve sempre uma importância normativa Os manuais dos gramá ticos gregos e latinos foram por mais de um milênio os textos de ensino do Ocidente Eram tempos êsses nada frágeis e in significantes Estamos investigando a forma verbal que os latinos cha mavam infinitivas Já a expressão negativa modus inflnltlvus verbi alude a um modtts finitus um modo de limitação e de 86 terminação do significado verbal Qual será agora o modêlo grego dessa distinção O que cs gramáticos romanos designam com a expressão pálida de modus chamavase entre os gregos egklisis Inclinação para o lado Essa palavra movese na mes ma direção de significado que uma outra palavra formal da gramática grega Énos conhecida na tradução latina ptosis casus caso no sentido das variações de um nome Oríginà rlamente ptosis designa qualquer espécie de variação declina ção das palavras fundamentais da lingua Não só a dos subs tantivos Também a dos verbos Somente depois de uma ela boração mais precisa da diferença entre verbo e substantivo é que se lhes designaram as variações correspondentes com tí tulos distintos Assim a variação do nome chamouse ptosis casus a do verbo egklisis declinatio Como então se chegou pela reflexão sôbre a linguagem e suas variações ao uso dêsses dois títulos ptosis e egklisis Ob viamente também a língua passa por algo que é É um ente entre os demais entes Assim na concepção e determinação da linguagem age a maneira como os gregos entendiam o ente cm seu ser Somente a partir dessa concepção podese com preender aquêles títulos que como modus e casus de há multo se fizeram gastos e insignificantes para nós No curso dessa preleção constantemente retomaremos à concepção grega do Ser Fols ela ainda é hoje embora muito simplificada e desconhecida como tal a concepção dominante no Ocidente E não apenas nas doutrinas filosóficas Também na cotldianldade de todos os dias Por Isso vamos caracterizá la em seus traços fundamentais discorrendo sôbre a reflexão grega da linguagem Ê um caminho que escolhemos de propósito Há de mostrar num exemplo que e quanto a interpretação concepção e expe riência da linguagem normativa para p Ocidente nasceu e se desenvolveu de uma compreensão do Ser multo determinada Os nomes ptosis e egklisis significam cair virar perdendo o equilíbrio e inclinarse incluem sempre um desvlarse de um estado ereto e em pé Êsse estar erguido sôbre si mesmo o vir e permanecer num tal estado é o que os gregos entendem por Ser O que dessa maneira chega a uma consistência e as sim se torna consistente em sl mesmo Instalase livremente e VI por sí mesmo dentro da necessidade de seus limites perag o limite não é nada que de fora sobrevêm ao ente Muito menos ainda uma deficiência no sentido de uma restrição privativa O manterse que se contém nos limites o terse seguro a si mesmo aquilo no que se sustenta o consistente é o ser do ente Faz com que o ente seja tal em distinção ao nãcente Vir à consistência significa portanto conquistar limites para si delimitarse Dai ser um caráter fundamental do ente o tetos que não diz nem finalidade nem meta ou alvo e sim fim Mas fim não é entendido aqui no sentido negativo como se alguma coisa não já continuasse e sim findasse e ces sasse de todo Fim é conclusão no sentido do grau supremo de plenitude No sentido de perfelção Pois bem limite e fim constituem aquilo em que o ente principia a ser São os prin cípios do ser de um ente Por aqui é de se entender o titulo supremo que Aristóteles usa para Ser entelecheia ié o man terse a si mesmo na conclusão e limite O que a filosofia posterior e mais ainda a btologla fizeram do íttulo entelé quia vejase Leibniz mostra o abandono total da dimensão em que estavam os gregos O que se põe em seus limites inte grandoos em sua perfeição e assim se mantém possui forma morphe A forma entendida como os gregos retira sua Essen ciallzação de um pòrseasímesmadentrodoslimltes Sich indleGrenzestellen Do ponto de vista de um espectador o que é consistência em si mesmo tomase o que se expõe o que se oferece no aspecto em que se apresenta Os gregos chamam o aspecto de uma coisa eiàos ou idea No eidos opera originàriamente o que entendemos ao dizermos que uma coisa tem uma fisionomia Que pode deixarse ver Que está presente A coisa toma uma posição 6 Comparece ié está presente no aparecimento que faz de sua Essencialização Tôdas essas determinações do Ser se fundam e se mantém reunidas no que sem investiga rem o Sentido do Ser os gregos experimentavam e chamavam de ousia ou de maneira mais completa parousia A falta de re flexão costumeira traduz parousia por substância e assim não lhe atinge o sentido Em alemão há uma expressão adequada para dizer parousia na palavra Anwesen Anwesen significa cortiço Hofgut uma propriedade fechada em si mesma de uma fazenda Bauerngut Ainda no tempo de Aristóteles 68 ousia se emprega simultaneamente nesse sentido e no sentido filosófico da palavra Algo se apresenta Consiste em si mes mo e assim se propõe Para os gregos Ser iiz no fundo êsse estado de apresentação e presença Anwesenheit A filosofia grega não retornou mais a êsse fundamento do Ser Aquilo que encobre e protege Atevese ao primeiro plano do que está presente A superfície do presente na presença E o procurou considerar nas determinações mencionadas Pelo que se acaba de dizer entendese com mais facilidade a interpretação grega do Ser aduzida de início para se expli car a palavra Metafísica a percepção do Ser como physis Dizíamos então Devemonos afastar completamente do con ceito posterior de natureza Pois physis significa o surgir emergente que brota O desabrochar e desprenderse que em si mesmo permanece A partir de uma unidade originária se Incluem e manifestam nesse vigor repouso e movimento Ê a presença predominante ainda não dominada pelo pensamento Nesse vigor Walten o presente se apresenta como ente A vigência de tal vigor só se instaura a partir do ocultamento Isso significa para os gregos a aletheia o desocultamento se processa e acontece quando o vigor se conquista a si mes mo como um mundo só através do mundo o ente faz ente Herâclito diz Frag 53 polemos panton men pater estí panton de basileus fcai tous men theous edeixe tous de anthro pous tous men doülous epoiese tous de eleutherous A disposição 7 Auseinandersetzung é o que engendra deixa surgir todos os presentes como também o que conserva mantendose em vigor em todos Assim a uns dei xaos aparecer como deuses a outros como homens a uns expõe como escravos a outros como livres O que Herâclito chama aqui polemos é a disputa que vi gora e impera antes de tudo que é divino e humano Não é de forma alguma uma guerra nos moldes dos homens O embate pensado por Herâclito é o que faz com que o presente das Wesende se desdobra criginàriamente em contrastes É o que possibilita ocupar na presença posição condição e jerar qula Nessa disposição Auseinandertreten se manifestam vácuos distâncias e junturas Na disposição surge mundo A disposlção não separa nem tão pouco destról a unidade 88 Antes a Institui É princípio unificante Logos Polemos e logos são o mesmo O embate a que se alude aqui é o combate originário Pois é êle que faz com que nasçam pela primeira vez os com batentes como combatentes Não se trata de uma simples corrida entre quididades meramente dadas Vorhandenen O embate projeta e desenvolve o inaudito o que até então ainda não foi dito nem pensado Os criadores ié os poetas pensadores e instauradores de Estado Staatsmsenner supor tam êsse embate Objitam entgegenwerfen contra o vigor predominante o bloco da obra e para dentro dessa encanaiam ibannen o mundo que assim se manifesta Com as obras o vigor imperante obtém consistência se consolida no que está presente Só então o ente vem a ser eomo tal como ente sse viraser do mundo Weltwerden é o que constitui pro priamente a História O embate como tal não apenas deixa surgir mas também e só êle protege e conserva o ente em sua consistência De certo onde se extingue o embate lá o ente não desaparece mas o mundo se retrai O ente jâ não se afirma ié não se conserva como tal Ai o ente é apenas achado Tornase um achado O perfeito das Vollendete já nâo é o que se estabelece dentro de limites ié que alcança a plenitude de sua forma mas só o que está pronto e como tal ã disposição de todo mundo É o objetivamente dado onde já nâo se instaura nenhum mundo Ao invés o homem põe e dispõe do disponível O ente se converte em objeto seja para a contemplação aspecto e imagem seja para a ação produ tiva como produto e cálculo O que instaura mundo origina riamente a physis decai e degradase em modelo de imitação e cópia A natureza se transforma numa esfera especial dis tinta da arte e de tudo que se pode produzir e planificar O soerguerse originário em si mesmo das fôrças do vigor do minante o phainesthat o aparecer no grande sentido da epl fanía de um mundo tornase visibilidade ostentável de coisas objetivamente dadas O olhar a visão que numa perspicácia originária perscrutava no vigor imperante o projeto e assim perscrutando expunha a obra se converte em simples exa me Em revista e curiosidade O aspecto é apenas o ótico O ôlho do mundo Das Weltauge de Schoppenhauer o co nhecer puro 90 Sem dúvida o ente continua sendo Sua aglomeração é maior e mais larga do que nunca dantes Mas o Ser se reti rou dêle O ente ainda conserva uma aparência de constância por se haver tornado objeto de uma atividade sem fim e rica de variações Os criadores são banidos da vida do povo e se vêem apenas tolerados como curiosidades marginais Como ornamentos de adorno e extravagâncias alheias à vida o verdadeiro embate prima pela ausência transferindose para a simples polêmica para a agitação e atividade do homem dentro do positlvamente dado É a decadência que já se iniciou Pois então mesmo se uma época ainda procurar manter o nível herdado e a digni dade de sua existência o nível já baixou Um nível só se man tém num processo contínuo de superação criadora Ser significa para os gregos a consistência Stsendigkeít num duplo sentido 1 O estar em si mesmo enquanto surgindo de si mesmo íphysis 2 O perdurar constante ié permanente como tal ousia Nãoser significa por conseguinte desistir sair dessa consistência emergente que surge exlstasthai Existência existir1 significa para os gregos precisamente nãoser A ir reflexão e a vaculdade com que se usa hoje a palavra exis tência e existir para designar o ser testifica uma vez mais a alienação frente ao Ser e a uma interpretação originà riamente poderosa e determinada do mesmo Ptosis e egklisis significam cair inclinarse Não dizem outra coisa senão sair da consistência do estar erguido em si mesmo exprimindo um desvio de tal estado Investigamos porque na reflexão sõbre a linguagem se empregaram justa mente êsses dois nomes A significação das palavras ptosis e egklisis pressupõe em si mesma a representação de um esta do em pé erecto Dizíamos acima os grupos concebem a lin guagem como algo que é e portanto no sentido de sua com preensão do Ser Ente é o consistente o que como tal se apresenta aparece fisse se oferece prevalentemente ã visão 91 Voltemos à forma verbal lexainto Ela manifesta uma poifcíífa de direções significativas Por isso se chama egklisis paremphatikos uma variação que é capaz de fazer aparecer si multaneamente pessoa número gênero modo Essa capacidade se funda no fato de a palavra ser palavra enquanto faz apa recer deíoitn Se colocarmos ao lado da forma lexainto o infinitivo legein temos também uma variação da forma fun damental lego Tratase no entanto de uma egklisis que não faz aparecer pessoa número e modo Aqui demonstra a egkli sis uma deficiência em sua capacidade de fazer aparecer sig nificações Dai chamarse essa forma verbal de egklisis apa remphattkos É a êsse título negativo que corresponde o nome latino modus infinitlvus O significado da forma infinitiva não está determinado e limitado aos aspectos de pessoa número etc A tradução latina de aparemphatikos por infinítus me rece atenção Nela desaparece o momento originàriamente grego que se refere ao aspecto e ao pôremevidência daquilo que está em si mesmo em pé e se inclina O que permanece determinante é a representação meramente formal de limi tação De certo há ainda e prlncipalmente no grego o in finito no passivo no médio e no presente e um infinitivo do perfeito e futuro de sorte que o infinitivo faz aparecer ao menos genus e íewtpas Essa circunstância levou a muitas discussões sôbre o infinitivo de que aqui não nos ocuparemos Só uma dificuldade nos interessa esclarecer agora A forma in finitiva legein dizer pode ser entendida de tal maneira que já não pensemos em genus e tempus mas somente no que o verbo simplesmente significa e faz aparecer Nesse sentido a designação grega originária corresponde particuiarmente bem à essa circunstância Para o título latino o infinitivo é uma forma verbal que por assim dizer separa o que ela significa de tôda relação significativa determinada O significado do In finitivo prescinde abstrai de tôdas referências particulares Nessa abstração o infinitivo só apresenta o que simplesmente concebemos com i palavra em si Por isso a gramática de hoje diz que o infinitivo é o concerto verbal abstrato Éle só con cebe e apreende simplesmente e em gerai o que se concebe com a palavra Designa tão somente êsse conceito universal 2 Num sentido mais amplo os gregos encaravam a linguagem òticamente ié a partir da escrita na qual o falado obtém consistência A linguagem está ié adquire permanência nas figuras escritas das palavras ditas Nos sinais gráficos nas letras grammata Por isso é a gramática que apresenta a tin guagem como ente como algo que é Enquanto pelo fluxo do discurso a linguagem escorre para uma fluidez sem consistên cia Dêsse modo a doutrina da linguagem vem sendo interpre tada gramaticalmente até nossos dias Entretanto os gregos sabiam também do caráter vocal da linguagem a phone Fo ram êles que fundaram a retórica e poética Sem embargo tudo isso não levou por si mesmo a uma interpretação cor respondente da Essencialização da linguagem A reflexão normativa sôbre a linguagem permanece a in terpretação gramatical Ora ela descobre entre os vocábulos e suas formas uns que são desvlações variações de formas fun damentais A posição básica do substantivo nome é o nomi nativo singular pe o kyklos o círculo A posição básica do verbo é a primeira pessoa do singular do presente do indica tivo pe lego digo O infinitivo é um modus verbi especial uma egklisis De que espécie É o que terá de se determinar agora A melhor maneira é através de um exemplo Uma forma do verbo mencionado lego é lexainto êles as pessoas em questão poderíam ser ditos e chamados pex de traido res Essa variação consiste precisamenle no seguinte a forma derivada põe em evidência uma outra pessoa 3a um outro n inner o plural ao Invés de singular um outro gênero pas sivo e não ativo um outro tempo aoristo em lugar do pre sente um outro modo em sentido estrito optative e não indicativo O que se designa com a palavra lexainto não é apresentado como realmente dado mas apenas como possível Tudo isso a forma derivada da palavra faz também com parecer Deixa ser também entendido diretamente Ora fazer também comparecer deixar também entender e ver outra coisa nisso está a faculdade da egklisis pela qual a palavra que estava em pé perde o equilíbrio e se inclina para o lado Por isso se chama egfclisis paremphatikos A palavra qualificativa paremphalno diz de modo autêntico a atitude fundamental dos gregos frente ao ente como o consistente 93 Paremphaino se encontra em Platão Timeu 50e num contexto Importante Investigase a essencialização do devir daquilo que devém Devir significa Vir a ser Platão distin gue três coisas 1 to gignomenon o que devém 2 to en o gignetai aquilo em que devém isto é o melo em que se desen volve o devir 3 to hothen aphonoioumenon aquilo do qual o que devém retira o molde da adequação Pois tudo que devém e vem a ser alguma coisa toma antecipadamente por mo delo de seu devir o que vemaser Para se esclarecer o significado de parem phamo devese considerar o item dois aquilo em que uma coisa devém é o que chamamos espaço Os gregos não possuem nenhuma pala vra para dizer espaço Isso não é um acaso Fizeram a ex periência do que é espacial não a partir da eztensio mas do lugar topos como chora Chora não significa nem lugar nem espaço e sim o que é tomado e ocupado pelo que está em si mesmo O lugar pertence á própria coisa em si mesma As di versas coisas cada uma tem seu lugar próprio Dentro dêsse espaço caracterizado pelo lugar se coloca o que devém e dêsse mesmo espaço local é retirado e extraído Para isso ser possível o espaço deve ser desprovido de qualquer aspec to que pudesse assumir de outra parte Com efeito se se as semelhasse a qualquer uma das modalidades de aspecto que nêle ingressam não poderia possibilitar de vez que recebe formas de essência em parte opostas em parte multo diversas a realização perfeita do modelo deixando aparecer seu próprio aspecto Amorphon on ekeinon apason ton ideem osas melloi dechesthai pothen omoion gar on ton epeisionton tini ta tet enantias ta te tes prapan alies phiseos opotelthoi dechomenon kakos an aphomoiot ten autou paremphainon opsin Aquilo em que as coisas que devêm são postas não pode oferecer um as pecto e um viso próprio A indicação dêsse lugar do Timeu não pretende apenas esclarecer a compertlnêncla 8 entre pa remphaino e on do comparecer e ser como consistência Visa também aludir que pela filosofia platônica isto é na interpre tação do ser como idea se prepara a transformação da Essen cialização do lugar topos e da chora no espaço determinado pela extensão Chora não podería significar o que se aparta de todo particular o que se desvia para uma parte a fim de preclsamente dêsse modo admitir outra coisa e lhe dar lugar 94 Em alemão o infinitivo é a forma deslgnativa do verbo Na forma verbal e no modo de significar do inifinitivo há uma deficiência uma falha o infinitivo já não faz aparecer o que o verbo manifesta de outras maneiras Também na ordem do aparecimento historic das formas verbais da linguagem o Infinitivo é um resultado posterior E muitíssimo posterior é o que se pode mostrar no infinitivo daquela palavra grega cuja dignidade de investigação Frag würdigkeit motivou nossa discussão Ser em grego é einai Sabemos que uma língua altamente culta se desenvolve do falar originàriamente arraigado ao solo e à história do falar dos dialetos Assim a linguagem de Homero é uma mescla de vários dialetos Êsses conservam a forma anterior da lingua gem Ora na formação do infinitivo os dialetos gregos se dis tanciam muitíssimo uns dos outros Isso levou a investigação linguística a fazer precisamente da diferença do Infinitivo o principal critério para separar e agrupar os dialetos1 cfr Wackernagel Vorlesungtn über Syntax I 357s No dialeto ãtico ser é einai no arcádico enai no lésbico emmenai no dórico emen Em latim ser é ése no osco é esum no úmbrio é eram Em ambas as línguas oe modi jiniti já se haviam consolidado e eram patrimônio comum enquanto a effklisis aparempfiatikos ainda conservava suas particulari dades dialetais e oscilava entre elas Vemos nessa circunstân cia um indício de que no conjunto da linguagem o infinito possui uma importância proeminente A questão agora é de saber se Êsse poder de persistência das formas do infinitivo depende do fato de representarem uma forma verbal tardia e abstrata ou de estar o infinitivo à base de tôdas as variações do verbo Por outro lado é justificada a advertência de se ficar de sobreaviso diante da forma do infinitivo de vez que do ponto de vista gramatical é justamente o infinitivo a forma que transmite o mínimo da significação de um verbo Todavia ainda não terminamos de esclarecer totalmente a forma verbal de que tratamos se se considera o modo em que costumamos falar de ser Dizemos o ser Ésse modo de falar resulta de uma substantivação do infinito antepondo lhe o artigo to einai orlginàrlamente o artigo ê um pronome demonstrativo Diz que o que assim se mostra está e é por 95 assim dizer por si mesmo Na linguagem as denominações de monstrativas e indicativas desempenham sempre uma função proeminente Se dissermos apenas ser fica o que assim di zemos muito indeterminado Entretanto pela transformação linguística do infinitivo num substantivo verbal como que se fixa o vazio que já se encontra no infinitivo assm se põe ser como um objeto fixo O substantivo ser supõe que aquilo que dessa maneira se diz seja por si mesmo O ser tor nase agora alguma coisa que é quando manifestamente só o ente é não o ser Todavia fósse o ser em si mesmo algo quando o serente se nos oferece nos entes mesmo quando não que é no ente então deveriamos encontrálo princlpalmente quando o serente se nos oferece nos entes mesmo quando não lhes tenhamos apreendido com precisão as propriedades espe cificas Ainda poderemos estranhar que o ser seja uma palavra tão vazia se já a sua forma verbal assenta num esvaziamento e na aparente fixação dêsse vazio Essa palavra ser se cons titui pra nós numa advertência Não nos deixemos atrair pelo extreme vazio da forma de um substantivo verbal nem tão pouco nos emalhemos na abstração do infinitivo ser Já que pretendemos passar para o ser por através da linguagem atenhamonos antes às formas eu sou tu és ête ela isto é nós somos etc eu era nós éramos êles foram etc Todavia com isso a nossa compreensão do que significa ser e em que está a sua essência em nada se esclarece Ao con trário Basta fazermos só uma tentativa Dizemos eu sou Nessa acepção qualquer um só pode dizer ser de si mesmo o meu ser Em que consiste êsse meu ser e onde se esconde Aparentemente dizêlo é para nós muito fácil de vez que de nenhum outro ente estamos tão perto como do ente que somos nós mesmos Pois não somos nenhum dos outros Todo outro ente também e já é ainda quando nós não sejamos Em aparência tão próximos do ente que nós mesmos somos não podemos estar com relação a nenhum outro Até mesmo nem poderemos dizer sem sentido próprio que estejamos próximos do ente que nós mesmos somos já pelo simples fato de o sermos E todavia também aqui vale nin guém está mais distante de sí mesmo do que êle próprio Tão distante como o eu está do tu no tu és 96 Hoje porém vale o nós Estamos na época do nós em oposição à época do eu Nós somos Qual ser evocamos nessa proposição Também dizemos as Janelas são as pedra são 9 Nós somos Será que reside nessa afirmação uma sim ples constatação do dado objetivo de uma pluralidade de eus E o que hã com o eu era e nós éramos com o ser no pas sado Será que se nos foi embora Ou será que não somos precisamente senão o que fomos Por acaso não chegamos a ser justamente aquilo que somos A consideração das formas verbais DETERMINADAS do infinitivo ser produz o contrário de um esclarecimento do 3er Além disso levanos a novas dificuldades Comparemos o infinitivo dizer e a sua forma fundamental eu digo com o infinitivo ser e sua forma fundamental eu sou Ser sein e sou bin mostramse como vocábulos de radical diferente Dessas diferem por sua vez as formas do passado era e sido war e gewesen 10 É a questão sõbre as diferentes raízes da palavra ser 2 A Etimologia da palavra ser Em primeiro lugar se trata de referir brevemente o que a filologia sabe a respeito das raízes que aparecem nas varia ções do verbo ser Os conhecimentos atuais a êsse respeito não são de forma alguma definitivos Nâo tanto porque pode ríam advir novos fatos mas por se ter de aguardar ainda que o sabido até agora seja examinado com novos olhos e numa investigação mais autentica Tôda a gama de variações do verbo ser é determinada por três raízes diversas As duas primeiras são indogennânicas e ocorrem também nas palavras gregas e latinas para ser 1 A raiz mais antiga e própria é es em sânscrito asws a vida o vivente que por si mesmo está em si mesmo anda e pára o que tem consistência própria Aqui pertencem as formas verbais sânscritas esmi esi esti asmi Em grego correspondemlhes eimi e einai em latim esum e esse For 97 mam um conjunto sunt latim sind e sein alemão É de se notar que o ísí permanece desde o comêço em tôdas as línguas indogeimânicas estín est 2 A outra raiz indogermânica é bftã bheu A ela per tence o grego phyo surgir vigorar imperar chegar por al mesmo a porse a estar de pé e permanecer nessa posição Bhü foi Interpretado até agora de acordo com a concepção corrente e superficial de physis e phyein como natureza e como crescer De acôrdo com uma interpretação mais originária proveniente de uma discussão com o princípio da filosofia gre ga revelase o crescer como o surgir que por sua vez é determinado pelo aparecer e apresentarse estar presente Ültimamente se põe a raiz phy em conexo com pha A physis seria assim o que surge para a luz phyein luzir brilhar e por conseguinte aparecer Cfr Zeitschrlft für vergleichende Spra chíorschung Bd 59 Da mesma raiz é o perfeito latino jui fuo como também o alemão bin bist wir trirn ihr birt os dois últimos extin tos no séc XIV Mais tempo durou ao lado de bin e bist que permaneceram o imperativo bis tris mein Weib sé mi nha mulher 3 A terceira raiz aparece apenas no âmbito de flexão do verbo germânico sein ser wes sânserlto vesami ger mano wesan habitar permanecer deterse a ves perten cem Vestia Vasty Vesta vestibulum Daí se formou no alemão gewesen como ainda was war es west wesen O partici ple wesend se conserva ainda em anwesend abwesend O substantivo Wesen não significa originar iamente o que é a guidãitas mas o perdurar enquanto presente a presença e au sência O sens do latim praesens absens se perdeu Será que a expressão latina díi consentes significa os deuses conjuntamente presentes Das três raizes retiramos as três significações indicadas logo no princípio viver surgir permanecer A filologia as es tabelece Estabelece também que hoje desapareceram de sorte que restou e se conservou apenas um significado abstrato ser Sem embargo é então que surge uma questão decisiva 98 Como e em que concordam as três raízes Indicadas O que traz e conduz a saga 11 do Ser Em que se funda o nosso dizer do Ser por através de tôdas as suas variações linguísti cas A compreensão do Ser e o dizer do Ser são ambos a mesma coisa ou não Como vigora e está presente na saga do Ser a distinção entre Ser e ente Por mais valiosas que sejam as constatações da filologia elas não podem bastar pois é depois delas que começa a investigação Temos uma cadela de questões a formular 1 Que espécie de abstração estêve em jõgo na forma ção da palavra ser 2 Será que aqui se pode mesmo falar em abstração 79 3 Qual é pois a significação abstrata que restou 4 A ocorrência que aqui se manifesta a saber que significações diversas equivalentes a experiências se concreti zem na flexão de um verbo e que verbo poderá tal ocorrên cia ser explicada dlzendose simplesmente que algo se perdeu De uma simples perda não se origina nada e multo menos ainda alguma coisa que unifique e reúna na unidade de seu significado coisas origináriamente diversas 5 Qual poderá ter sido a significação fundamental con dutora que serviu de guia unificação aqui dada 6 Qual a direção de significado que se conserva através de tôda a reunião de tal união 7 Será que não se deve libertar a História interna da etimologia dessa palavra ser da de qualquer outro vocábulo cuja etimologia se investiga Tal libertação não se torna uma necessidade principalmente quando se considera que já as significações de suas raízes viver surgir habitar não refe rem nem revelam minúcias insignificantes 69 n 8 Poderá ser em si completo e originário o Sentido do Ser que em razão de uma interpretação apenas lógleograma tical se nos apresenta abstrato e por isso mesmo derivado0 9 Será que isso se poderá mostrar a partir da Essencia lização da linguagem concebida de modo suficientemente ori ginário Como a questão íundamental da metafísica investigamos Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Nessa questão fundamentai já opera a questão prévia O que há com o Ser O que entendemos com as palavras ser o ser Na ten tativa de uma resposta logo nos vemos em perplexidade Como que procuramos apreender o inapreensive E no entanto con tinuamente somos tocados pelos entes dêies dependemos e sabemos que nós mesmos somos entes Para nós o Ser só vale como um som verbal como um têrmo gasto Já que só isso ainda nos resta devemos então tentar apreender ao menos êsse último resto de posse Por isso investigamos a questão como se comporta a palavra o ser Respondemos a essa questão em duas vias que nos condu ziram à gramática e à etimologia da palavra Reunamos agora o resultado dessa dupla discussão da plavra ser 1 A consideração gramatical da moríologia da palavra deu o seguinte resultado os modos determinados da signifi cação da palavra já não chegam a ter validez no infinitivo mas desaparecem A substantivação do infinito fixa e objetiva com pletamente êsse desaparecimento A palavra se torna um nome que designa algo indeterminado 2 A consideração etimológica do sentido da palavra chegou a estabelecer o que hoje e desde de há muito evoca mos com o nome ser é segundo o significado uma fusão niveladora de três significações de raízes diversas Em sentido próprio e de modo determinante nenhuma delas prevalece no significado do nome Essa íusãp e aquêle desaparecimento con vergem entre sl Na conjugação dêsses dois processos encon 100 tramos assim uma explicação suficiente para fato donde partimos ié para o fato de ser a palavra ser vazia e de significação flutuante NOTAii Na tradução trocamos os exemplas do texto de Heidegei porque seus iMjírespofrdenies literais em português não evidenciam o que o autor pre tende ciplicar No texto original o exemplos são des Gehin1 o an dar dss Fallen1 o cair das Trumcn o sonhar Substituímos js dois primeiros por o voar e o chorar respectivainehti 11 SAGAzSÃiE à palavra alemã Sage deriyase dc verbo sSRtn i dizir Na linguagem corrente significa ou n boato11 ílizqucdiz1 ou te tendk o mito o conto No português medieval se conhere a mesmi palara a saga rom o secundo sentido da palavra alemã Heidegger rmpre talhe um arntido técnico significando com a palavra Suge o dizer originário do Ser que rnnstitul o espaço pm que n 11 ngnagn se cp sen ela ia C mesmo significado é conferido na tradução à antiga palavra por tWutMi saga 2 Trocamos ttovãinenté o exemplo do original pela mesma razão expos ta nn note anterior O exempla dado por Heidegger é das Mata a casa cujo verbo derivado casar não corresponde quanto ao significado ao vrebo alemão hausen morar 3j O exemplo do original é êle morreu de íim mat incurável Outra roca dc exemplo paio mesmo motive 4 t ACADÈMICQDAS SCRULMSSIGE O acadêmico diz t ensino cate noiipodo doa escolas e academias dn antígüídndc posterior SiMPLIMCÁDOVERFLACHTÜ têmio alemão 4 mais plástico do que o portvgiiés VerftecM drlvasc de flach plano chato raso e algni fka arrasado aptenado achatado 6 TOMA UMA POSlÇAOSlTZT È uma locução difícil dc traduzir Ten temos fazêla por meio de uma perl frase 7 DtÜPüElCAOAUSElNAEDERSETZUNG Traduzimos coir a mesma oatevrii di5poaiçQHi duas palavras alemães Auseinandersetzwng e AusqinandertretenAmbas são compostas do mesmo prefixo useínan der l um fora do outro o radical porém uma vez é o verbo treten andar para frente marchar oiüra vez é o verbo srtzrn pôr co locar Ambas as eomposlçCes dizem assim sob aspectos um pouco dife rentes o sair rcspeelivamenle pôr um fora do outro o que procuramos tra duzir servindonos do senlido e da etímologlR com a palavra disposição CMPERTISNCJAZUSAMMEGEHRIEFIT Substantivo formado fo advérbio ztissamman conjuntametife e do verho içehôerew l pertencer significando destarte o estado de duas ou main coisas per tencerem em conjunto urna e outra A o que procuramos exprimir com a pQlavin compertiníncia1 9 Em alemão as formas da primeira e terceira pessoa do plural do prescpíc do indicativo do verbo Jscin ser são idênticas si nd de sorte cíUs se diz Die Steine smd x as pedras ráo e wlr jíndhl nés ídaj 10 Em alemão as formas do imperfeito do indicativo e subjuntivo e a forma do partielpio passado do verbo usein ser difereir niorfològi Umente das outras formas tendo sido derivadas de outro radical a atber wej Êsse radki Dão aparccj no verbo ser das línguas latina c ncolatinas 101 A QUESTÃO SOBRE A ESSENCIALIZAÇÃO DO SER Investigamos a palavra ser para penetrarmos no fato em aprêço e o colocarmos no lugar que lhe pertence Pois não queríamos aceitálo às cegas como admitimos o fato de que há gato e cachorro Queríamos tomar uma atitude frente a êle E o queríamos mesmo com o risco de um tal querer parecer obstinação e alheiamento do mundo que agarrado a análises de meros vocábulos julga real o Irreal e extravagante Queríamos iluminar por dentro o fato Como resultado dêsse esforço constatamos que a linguagem forma em seu processo linguístico infinitivos por ex ser que com o tempo se transformou no significado gasto e indeterminado da palavra É de fato assim mesmo Ao invés de lograrmos uma iluminação por dentro do fato juxtapusemoslhe ou pospusemoslhe um outro da história da língua Se nos voltássemos agora sôbre êsses fatos da história da lingua a fim de Investigarmos por que são assim como são tudo o que talvez ainda pudéssemos aduzir para explicálos longe de esclarecêlos os tomaria apenas mais obscuros O fato poisde estarmos diante da palavra ser na situação em que estamos só confirma a sua Iniludível facticidade E a êsse ponto já chegamos desde muito tempo Nisso se baseia a po sição corrente da filosofia que de antemão explica a palavra ser possui a significação mais vazia de conteúdo e por isso mesmo a mais extensa envergadura O que se pensa com a palavra ser o seu conteúdo é por isso de máxima universa lidade o penus O ens In genere como diz a antiga ontologia 103 podese de certo explicar 1 por outro lado não é menos certo que nêle não há nada mais que buscar Pretenderse ligar a essa palavra vazia até mesmo a questão decisiva da metafísica nada mais significa senão uma total contusão Aqui só hã uma possibilidade reconhecer o mencionado fato da vaculdade da palavra e deixálo assim em paz E agora poderemos fazêlo aparentemente com a consciência tanto mais tranquila posto que foi elentlfieamente explicado pela história da própria linguagem Portanto afastemonos do esquema vazio dessa palavra ser Todavia para onde jr A resposta não poda ser difícil Mo máximo só poderemos estranhar termonos detido por tanto tempo e em tantos pormenores a palavra ser Afastemonos pois dessa palavra vazia e universal e atenhamonos às sin gularidades dos domínios particulares do ente em st mesmo Para isso dispomos imediatamente de uma multidão de coisas Em primeiro lugar das coisas palpáveis de tudo que temos a tôda hora ao alcance das mãos instrumentos veículos etc Caso êsses entes singulares se nos afigurem demasiado cotidia nos não suficientemente grãflnos e condizentes com metafí sica podernosiamos ater à natureza que nos cerca a terra o mar as montanhas os rios as florestas e os diversos entes singulares que contém árvores pássaros e insetos hervas e pedras Se pretendermos coisas grandes a terra está bem pró xima Ente do mesmo modo como o cume mais próximo é a lua que surge por detrás ou um planeta Ente é a multidão e o acotovelarse dos homens numa rua movimentada Entes somos nós mesmos Entes os japonêses Entes as fugas dé Bach Ente a catedral de Estrasburgo Entes são os hinos de Hcelderhn Entes os criminosos Entes os loucos de um ma nicômio Entes os há por tôda parte e sempre à vontade Certa mente Mas donde sabemos que tudo isso que indicamos e enumeramos com tanta segurança é sempre e cada vez um ente A pergunta parece insensata pois com efeito podemos constatar sem possibilidade de engano para qualquer homem normal que tudo isso é ente E para tanto nem é mesmo necessário usar têrmos exóticos para a linguagem corrente como ente e o ente Não pretendemos pôr em dúvida que todos êsses entes sejam fundamentando a nossa dúvida na 104 I constatação pretensamente cientifica de que tudo que então experimentamos não passa de sensações e nós não conseguire mos sair de nosso corpo do qual depende sempre tudo que enumeramos Queremos de antemão fazer notar que essas considerações que tão gratuita e facilmente se dão ares pro fundamente críticos e superiores são completamente destituí das de crítica Ao invés DEIXAMOS o ente assim como na vida diária e nas grandes horas e instantes nos comprime e agride exalta e deprime Deixamos todo ente ser como é Todavia para man termonos no vórtice de nosso ser Histórico geschichtliches Danseln assim como naturaimente somos sem sutileza algu ma para deixarmos o ente ser sempre o ente que é devemos saber de antemão o que significa ê e ser Como então poderiamos constatar que um pretenso ente em dado lugar e tempo não é se não soubéssemos de ante mão distinguir claramente entre Ser e nãoSer Como pode riamos realizar essa distinção nítida se de modo igualmente nítido e determinado não soubéssemos o que significa em sl mesmo aquilo que se distingue na distinção qual seja nãoser e ser Como o ente podería sempre e cada vez ser para nós um ente se não já entendéssemos ser e nãoser Ora constantemente se nos deparam entes Distinguimo los de acordo com o seu ser De um modo ou de outro julga mos sôbre ser e nãoser Sabemos portanto univocamente o que significa ser A afirmação de que essa palavra é vazia e indeterminada seria apenas um modo de falar superficial e um engano Com tais reflexões caímos numa situação extremamente ambígua No começo constatamos a palavra ser não nos diz nada de determinado E em nada nos enganamos a nós mesmos Achamos e continuamos também agora a achar ser tem uma significação flutuante indeterminada De outro lado a consideração que acabamos de realizar nos convence de que distinguimos o ser clara e seguramente do nãoser Para orentarmonos aqui temos que considerar o seguinte de certo se pode duvidar que em algum tempo e lugar um ente partciular seja ou não seja Se a janela all por exemplo que eertamente é um ente esteja ou não esteja fechada 10S Sôbre isso nos poderemos enganar Todavia já para isso poder ser posto simplesmente em dúvida devenos palrar antecipa damente no espírito a distinção determinada entre ser e nãoser Que o ser seja diferente do nãoser disso não duvi damos nesse caso Assim a palavra ser é indeterminada em sua significa ção e entretanto nós a entendemos sempre determtnada mente Ser se mostra pois como algo Intelramente indeter minado totalmente determinado De acôrdó com a lógica cor rente apresentase aqui uma manifesta contradição Ora algo que se contradiz não pode ser Não há um círculo de quatro ângulos E sem embargo há essa contradição o Ser como algo determinado inteiramente indeterminado Se não nos ilu dirmos e nos muitos negócios e ocupações do dia tivermos um Instante de tempo para reflexão veremos que estamos bem dentro no meio dessa contradição Êsse nosso estar na contra dição é tão real como mal podería ser outra coisa que assim denominamos mais real do que cachorro e gato automóvel e jornal O fato de ser para nós o ser uma palavra vazia adquire de repente todo um outro viso Por fim começamos a suspei tar da vacuidade afirmada dessa palavra Ao refletirmos mais de perto termina por se estabelecer que em todo o desapare cimento confusão e universalidade de seu significado entende mos com a palavra ser algo de determinado Tal determinado o é em tais condições e tão único em sua espécie que temos ãté de dizer O Ser que convém a qualquer ente e assim se dispersa no corriqueiro é o que há simplesmente de mais sui generis eln zigartig Tudo o mais todo e qualquer ente mesmo sendo único pode ainda ser comparado com outro A sua determfnabilldade cresce até em função dessas possibilidades numa múltipla in determinação o ser ao contrário não se pode comparar com nada Para éle o outro só é o Nada E aqui não há nada para comparar Se portanto o Ser representa o que há de mais único e determinado então também a palavra ser não pode rá ser vazia E de fato nunca é vazia Uma comparação nos convencerá facilmente disso Ao percebermos a palavra ser 11 sea ouvindoa no som da voz ou vendoa nos caracteres es critos ela sempre se nos apresenta diferente da seqüência de sons ou letras abrakadabra Essa também é uma série de sons mas logo dizemos que é sem sentido embora como fór mula mágica possa ter o seu sentido Désse modo porém o Ser não é sem sentido igualmente escrito ou visto o ser é logo diferente de Itzomil Também essa forma escrita é uma sucessão de letras mas que não nos permite pensar nada Uma palavra vazia não há O que há é uma palavra em ai cheia de conteúdo mas que se desgastou O nome Ser conser va sua fórça denominativa Aquela norma afastemonos dessa palavra vazia ser e atenhamnos aos entes particula res 1 não constitui apenas uma indicação precipitada mas al tamente contestável Reflitamos tudo ainda uma vez num exemplo que como todo exemplo aduzido no âmbito de nossa investigação nunca esclarecerá em todo o seu alcance todo o estado da questão e por isso mesmo fica sujeito a reservas Fomos para exemplo no lugar do conceito universal ser a representação universal árvore Ora ao termos de dizer e definir o que é a essência da árvore afastamonos de sua representação universal e nos dirigimos para as espécies par ticulares de árvore e seus exemplares Individuais Tratase de um procedimento tão óbvio que quase nos acanhamos de ain da mencionálo Entretanto a coisa não ê tão simples assim Como poderiamos simplesmente encontrar o tão Invocado par ticular as árvores singulares COMO TAIS ié como árvore como poderiamos até mesmo procurar simplesmente o que se ria como árvore se já não nos guiasse como um farol a idéia do que é simplesmente uma árvore Se essa idéia universal de árvore fôsse tão indeterminada e confusa que não nos pu desse prestar indícios seguros para a procura e busca podería então acontecer que em lugar de árvores apresentássemos automóveis ou coelhos como casos particulares como exempla res de árvore 8e é certo que para uma determinação mais precisa da variedade da essência de árvore devemos percorrer o singular será ao menos igualmente certo que um descobri mento da variedade essencial e da essência só se poderá exer cer e progredir quanto mais orlglnàriamente nos representar mos e soubermos a essência universal de árvore o que sig nifica aqui a essência do vegetal e isso importa na essên 107 cia do ser vivo e da vida Poderiamos registrar milhares e milhares de árvores se não nos iluminasse préviamente se não se determinasse com clareza crescente a partir de sl mesmo e de seu fundamento essencial um saber sôbre a ARVORIDADE que se fôsse desdobrando progressivamente tudo aquilo seria uma emprêsa írivola em que por causa de tantas árvores já não veriamos a árvore Quanto porém ao significado universal ser poderseia objetar que tratandose precisamente do que há de mais geral já não é possível ascender para algo superior e mais alto Tratandose do conceito supremo mais universal o convite de aplicarse a seus inferiores para superarlhe o vazio não é só recomendável como também a única saída possível Por mais contundente que essa observação possa parecer não é sem embargo verdadeira Citemos duas razões 1 É simplesmente contestável que a universalidade do Ser seja a do gênero Genus Já Aristóteles pressentiu essa pro blematicidade Em consequência é contestável que o ente sin gular possa servir de exemplo do ser como êsse carvalho serve de exemplo para a árvore em geral problemático que os modos do Ser Ser como Natureza Ser como História repre sentem espécies do gênero Ser 2 A palavra ser é de fato um nome universal e apa rentemente uma palavra entre outras Tal aparência entre tanto engana O nome e o seu denominado são únicos Por isso todo esforço de imaginálo por meio de exemplos é no fundo errado e justamente no sentido de que todo exemplo não prova demais e sim de menos Assim quando acima se lembrou a necessidade de termos de antemão que saber o que significa árvore para podermos procurar e encontrar as es pécies particulares de árvore e seus exemplares individuais o mesmo vale e com maior razão para o Ser A necessidade de já entendermos a palavra ser é suprema e incomparável Assim não se segue da universalidade do Ser com relação a todo ente que nos afastemos o mais depressa possível dela e nos voltemos para o particular antes se depreende o contrário a saber que nos atenhamos a ela transformemos em saber a especificidade dêsse nome e sua denominação 108 Frente ao fato de nos ser o significado da palavra ser um vapor indeterminado está esse outro fato de o sempre en tendermos e distinguirmos com certeza do nãoser Mas êsse último não é um segundo fato Constituem ambos entre si uma única unidade Essa unidade perdeu para nós o caráter de fato Não a encontramos absolutamente entre outras coisas dadas objetivamente vorhanden como algo também dado objetivamente vorhanden Pressentimos ao contrário que algo acontece com o que ate agora só temos apreendido como um fato E acontece de uma maneira que exorbita do âmbito de qualquer outra ocorrência Vorkommnls Sem embargo antes de procurarmos apreender em sua verdade o que ocorre com êsse fato tentemos ainda e pela última vez tomálo como algo conhecido e banal Suponha mos que êsse fato simplesmente não exista Admitamos que não haja essa significação indeterminada e que não entenda mos sempre o que ser significa O que ocorrería nesse caso Apenas um nome e um verbo de menos em nossa linguagem De forma alguma Já não havería simplesmente linguagem al guma O ente já não se nos manifestaria como tal em pala vras Já não havería nem quem nem o que se pudesse falar e dizer Pois dizer e evocar o ente como tal inclui em si com preender de antemão o ente como ente ié o seu ser Suposto que simplesmente não compreendéssemos o Ser suposto que a palavra ser não tlvese nem mesmo aquela significação flu tuante então já não baveria nenhuma palavra Nós mesmos nunca poderiamos ser aqueles que falam Já não poderiamos ser aquilo que somos Pois ser homem significa ser um ente que fala O homem só pode ser aquêle que fala sim e não por ser no fundo de sua Essencialização um falante o falante É essa a sua grandeza e ao mesmo tempo a sua miséria É o que o distingue da pedra do vegetal do animal mas também dos deuses Ainda que tivéssemos mil olhos e mil ouvidos mil mãos e mil outros sentidos e órgãos se porém a nossa Essen cialização não consistisse no poder da linguagem permane cernosia fechado e vendado todo ente o ente que nós mes mos somos não menos do que o ente que nós mesmos não somos Assim do que fica dito até agora se evidencia o seguinte ao classificarmos de início como um fato ser primeiro sem 109 nome para nós o Ser uma palavra vazia de significação flu tuante desclasslcamolo e desclassificando o degradamos em sua própria eminência Na realidade porém a compreen são do Ser embora indeterminada possui para a nossa exis tência a suprema eminência porquanto aí vai e se afirma o poder no qual se funda simplesmente a possibilidade essen cial de nossa existência Não se trata de um fato entre outros fatos e sim de algo que em razão de sua eminência exige a maior consideração suposto naturalmente que nossa existên cia que semfe é Histórica não nos seja indiferente E ainda assim mesmo para a existência nos ser indiferente temos que compreender o Ser Sem essa compreensão nem poderemos dizer não à existência Somente dignificando em sua eminência essa proeminên cla da compreensão do Ser preservamola como eminente Mas de que modo poderemos dignificar essa eminência Coibo mantêla em sua dignidade Isso não se encontra ao arbítrio de nossa vontade Em razão de a compreensão do Ser flutuar às mais das vêzes num significado indeterminado e permanecer no entan to certa e determinada em nosso saber a seu respeito em razão de continuar em tôda a sua eminência obscura e con fusa velada e oculta deve ser revelada esclarecida e desoculta da O que só poderá ocorrer inquirindo essa compreensão do Ser que de início tomamos apenas como um fato a fim de colocála em questão A investigação é a maneira autêntica adequada e única de se dignificar o que por sua suprema eminência detém em seu poder a nossa existência Essa compreensão do Ser e mais ainda o Ser mesmo constitui portanto o que há de mais digno de ser posto em questão das Fragwürdigste 2 em tôda investigação A autenticidade de nossa investigação se mede assim quanto mais imediata e diretamente nos manti vermos fiéis ao que é mais digno de ser investigado a saber ao fato de que o Ser é para nós a compreensão das Verstan dene inteiramente indeterminada e ac mesmo tempo suma mente determinada Compreendemos a palavra Ser e com ela tôdas as suas variações ainda que tal compreensão pareça indeterminada no O que compreendemos o que se nos manifesta de algum modo na compreensão dêle dizemos que tem um sentido O Ser porquanto é simplesmente compreendido tem um sentido Fazer a experiência e conceber o Ser como o que mais é digno de ser posto em questão das Fragwürdigste Inquirir por tanto o Ser pròpriamente não significa outra coisa do que in vestigar o sentido do Ser No Tratado Ser e Tempo a questão sôbre o Sentido do Ser é posta e desenvolvida pela primeira vez na história da fi losofia COMO QV ESTÃO pròpriamente dita Nèle também se diz e fundamenta detalhadamente o que se entende por Sen tido a saber a manifestação do Ser e não apenas do ente como tal cfr Sein und Zeit U 2 44 56 Por que já não podemos chamar de um fato o que agora mencionamos Por que essa designação de fato era desde o inicio enganadora Porque a nossa compreensão do Ser não se dá simplesmente em nossa existência como por exemplo o fato de possuirmos lóbulos auriculares dêsse ou daquele feitio O pavilhão auditivo ao invés de lóbulos poderia ser feito de outra forma Ora que compreendemos o Ser não é apenas real mas também necessário Sem essa abertura do Ser não pode riamos de forma alguma ser homens Que o sejamos não é sem dúvida absolutamente necessário De per si subsiste a possibilidade de o homem simplesmente não ser Houve até um tempo em que o homem não era Quer dizer rigorosamente falando não podemos dizer houve um tempo em que o homem não ERA Em todo tempo o homem era é e será porque o tempo só se temporaliza zeitigt enquanto o homem é Não houve tempo algum em que o homem não fôsse não porque o homem seja desde tôda e por tôda a eternidade mas porque tempo não é eternidade porque tempo só se temporaliza num tempo entendido como existência Histórica do homem Se porém o homem está na existência é uma condição necessá ria que êle possa estar presente ao Ser dasein ié que êle compreenda o 3er Enquanto isso íôr necessário o homem será também Historicamente real Por isso sempre compreendemos o Ser e não apenas como podería parecer de início no modo de seu significado verbal flutuante A determinação em que ihe compreendemos o significado indeterminado podese ao 111 contrário delimitar univocamente eindeutig e não só como algo acessório mas como a determinação que sem o saber mos nos domina desde o fundamento de nosso ser Para mos trálo partimos novamente da palavra rtser Devese ressal tar porém que de acôrdo com a questão condutora da meta física exposta no primeiro capítulo a palavra ser se em prega aquJ numa tal envergadura que ser arco só encontra limites no Nada Tudo que não seja simplesmente nada e até mesmo o Nada pertence ao Ser Nas reflexões precedentes demos um passo decisivo Num curso de preleções tudo depende de tais passos Perguntas oca sionais que me foram feitas acêrca do curse denotam repeti damente que os senhores em geral sempre me ouvem na di reção errada e se atém a detalhes particulares certo que nos cursos das ciências interessa também o nexo e a estrutura interna Mas para as ciências êsse nexo se determina imedia tamente a partir do objeto que de alguma maneira é sempre objetivamente dado Na filosofia ao contrário o objeto não apenas não é objetivamente dado como nem há simplesmente objeto algum A filosofia é o processarse de um aconteci mento Geschehnis que sempre de nôvo deve apreender para si mesma o Ser no manifestarse que êle faz de si mesmo e que a éle pertence Somente no processo dêsse acontecimento Geschehen se abre a verdade filosófica Por isso tornase indispensável e decisiva aqui a repetição e competição Nach und Mitvoilzug 3 dos diversos passos dados no processo mencionado Que passo demos Que passo temos de dar sempre de nôvo Em primeiro lugar evidenciamos o seguinte A palavra ser tem uma significação flutuante Equivale quase que a uma palavra vazia A discussão mais acurada dêsse fato reve lou que a flutuação do significado da palavra encontra sua ex plicação 1 no desaparecimento constitutivo do infintivo 2 na confusão em que se fundem tôdas as três significações ori ginárias dos étimos A seguir caracterizamos o fato assim explicado como o ponto de partida inabalável de tõda investigação tradicional da metafísica sòbre o ser Ela parte do ente e para o ente se 112 dirige Não parte do Ser para o que na sua manifestação é digno de ser põsto em questão das Fragwiirdigste Põsto que a significação e o conceito ser possuem a máxima universa lidade a metafísica como física já não pode para uma de terminação maior alçarse mais alto Assim restalhe apenas um caminho descer do universal para o ente singular Dêsse modo se enche o vazio do conceito de ser a partir do ente Ora a indicação de afastarse do Ser e voltarse para o ente singular revelase sem saber como uma burla de si mesma Com efeito o tào invocado ente singular só se nos poderá abrir e manifestar como tal se préviamente já compreender mos e na medida em que prèviamente compreendermos o Ser na sua Sssencializaçáo Essa Essenclallzação já se iluminou embora ainda não te nha sido investigada embora AINDA permaneça isenta de In vestigação Lembremos agora a pergunta levantada de inicio Será o Ser apenas uma palavra vazia Ou será êle e a investi gação da questão do Ser o destino da História espiritual do Ocidente Será o Ser somente a última fumaça de uma realidade que se evapora frente á qual a única atitude seria a de dei xãla evaporarse com indiferença Òu Será êle o mais digno de ser põsto em questão Nessas interrogações damos o passo decisivo que nos faz passar de um fato indiferente e do pretenso vazio de significa ção da palavra ser para o acontecimento mais digno de ser põsto em questão das fragwürdigste Geschehnis qual seja de o Ser se abrir e manifestar necessariamente em nossa com preensão O simples fato aparentemente inabalável em que cegamen te se funda a metafísica está abalado Até agora procuramos apreender na questão sôbre o Ser principalmente a palavra em sua forma e significação Ora mostramos que a questão sôbre o Ser não é uma questão de gramática e etimologia Se não obstante ainda agora volta mos a partir da palavra é que a linguagem deve ter aqui e sempre uma importância tòda particular Geralmente na linguagem a palavra vale como uma ex pressão secundária que acompanha as vivências Porquanto 113 nas vivências se vivem coisas e processos servelhes a lingua gem de expressão mediata por assim dizer de reprodução do ente vivido A palavra relógio por ex possibilita uma trí plice distinção bem conhecida 1 quanto à forma que se pode ouvir e ver 2 quanto ao significado que com ela se pensa 3 quanta à coisa um relógio êsse relógio O primeiro as pecto é uma indicação do segundo e êsse a desginação do ter ceiro Do mesmo modo presumimos nós podemos distinguir quanto à palavra ser a forma o significado e a coisa E não é difícil de ver que enquanto permanecermos na forma da palavra e em seu significado ainda não chegamos com a nossa questão sôbre o Ser até a coisa mesma Quiséssemos pre tender havermos já apreendido a coisa mesma ié o Ser me diante a explicação da palavra e seu significado seria um êrro demasiado evidente Não devemos cometêlo Seria proceder como alguém que tentasse estabelecer e Investigar os movi mentos do éter da matéria os processos atômicos empreen dendo discussões gramaticais sôbre os vocábulos éter e áto mo em lugar de empreender os necessários experimentos físicos Portanto tenha a palavra ser um significado indetermi nado ou determinado ou como se mostrou ambos ao mesmo tempo tratase de chegar à coisa em si mesma ultrapassando todo o plano das significações No entanto será o Ser por acaso uma coisa como relógio casa ou um ente qualquer Já nos deparamos muitas vêzes e já estranhamos bastante que o Ser não é nada de ente nem entidade constitutiva de algum ente O Ser do edifício lá defronte não é TAMBÉM alguma coisa nem da MESMA espécie que o telhado e o porão A pala vra por conseguinte e à significação Ser não corresponde coisa alguma Dai porém não se poderá deduzir que o Ser consista ape nas na palavra e seu significado A significação da palavra não constitui como significação a essência do Ser Isso sig nificaria o Ser do ente por ex daquele edifício consiste numa significação verbal O que seria manifestamente um disparate Ao Invés com a palavra ser com o seu significado através dêle pensamos no Ser em si mesmo só que êle não é uma coisa se entendermos por coisa um ente qualquer 114 Disso se segue que na palavra ser em suas variações o em tudo que se acha na sua esfera verbal palavra e signi ficado mantém uma ligação mais originária com o que com êle se pensa e vice versa Q Ser em sl mesmo está ordenado e referido à palavra de modo muito diferente e bem mais es sencial do que qualquer ente A PALAVRA SER EM CADA UMA DE SUAS VARIA ÇÕES SE COMPORTA COM RESPEITO AO SER EM SI MESMO POR ELA EVOCADO DE UM MODO ESSENCIALMENTE DI VERSO DO QUE TODOS OS OUTROS SUBSTANTIVOS E VER BOS DA LINGUAGEM COM RELAÇÃO AO ENTE NELES EVOCADO Retroativamente daí resulta que as explicações já dadas sÕbre a palavra ser têm outro alcance e importância do que outras quaisquer discussões sôbre palavras e expressões linguís ticas a respeito de qualquer coisa Ora se também aqui tra tandose da palavra ser há uma conexão originalíssima ureí gene entre palavra significação e o Ser em si mesmo embora por assim dizer falte a coisa não devemos por outro lado pensar que a partir da caracterização do significado da pala vra já se pudesse como que desdobrar a Essencialização do Ser Após essa consideração intercalada sôbre a peculiaridade com que a questão sôbre o Ser se vincula intimamente In vestigação sôbre a palavra retomamos novamente a marcíía de nossa Investigação Tratase de se mostrar que e em que me dida nossa compreensão do Ser possui uma determinação pró pria e tem a sua orientação disposta pelo Ser mesmo Ao par tirmos agora de um modo de dizer do Ser uma vez que de certa maneira a isso somos obrigados sempre e essenclalmente é que tentamos e procuramos atender ao Ser em sl mesmo dito naquele modo Escolhemos um modo de dizer simples corrente e quase descuidado no qual o Ser se diz numa forma verbal cujo uso é tão freqdente que mal o notamos Dizemos Deus é A terra é A conferência é na salt de aula Êste homem é da Suábia A taça é de prata O camponês está no campo O livro é dêle 4 Êle é da morte Vermelho é Backbord A miséria da fome está na Rússia O Inimigo está de retirada O pulgão está nos vi nhedos O cão está no jardim Sôbre todos os cimos é paz llí Cada vez se pensa o é diferentemênte Disso nos pode mos persuadir sem dificuldade princípãlmente se tomarmos êsse modo de dizer assim como realmente se dá ou seja não como simples proposições nem como exemplos isolados de uma gramática mas como pronunciados a partir de determinada situação tarefa e disposição afetiva Deus é quer dizer É REALMENTE EXISTENTE GE GENWARTIG A terra é quer dizer a experimentamos e pensamos como CONSTANTEMENTE DADA vorhanden A conferência é na sala de aula significa TEM LUGAR Éste homem é da Suábia diz PROVEM DE LA A taça é de prata significa Ê FEITA DE O camponês está no campo Significa TRANSFERIU SUA ESTADA PARA O CAMPO AI SE DETÉM O livro é dêle significa ÊLE LHE PERTENCE A ÊLE Èle é da morte 5 significa ÊLE SUCUMBIU A MORTE Vermelho é backbord significa FSTA POR O cão está no jardim significa ANDA POR LA Sôbre todos os cimos é serenidade significa o que Significará o é nesses versos a serenidade se encontra é dada tem lugar se detém Nada disso serve aqui E entretanto é o mesmo simples é Ou significa o verso Sôbre todos os cimos REINA serenidaue como numa classe de aula reina silêncio Também não Ou talvez sôbre todos os cimos jaz ou vigora a serenidade Isso seria melhor mas também essa descrição não é adequada Sôbre todos os cimos é serenidade O é não se deixa circunscrever e contínua um simples é dito naqueles poucos versos que Goethe escreveu a lápis no umbral da janela de um casebre de madeira em Kickelhalhn perto de Ilmenau cfr a carta de Zelter dc 4 de setembro de 1831 É estranho va cilarmos e hesitarmos com a circunscriçâo e terminarmos por abandonála completamente não porque a sua compreensão íôsse demasiado complicada e diffcll e sim porque o verso é tão simples Nèle o é se diz de modo ainda mais simples e próprio do que qualquer outro é que continuamente se mis tura sem o percerbermos nos modos de falar e dizer de todo dia Como quer que seja a interpretação de cada exemplo os modos de dizer do é acima mencionados revelam clara mente uma coisa no é o Ser se nos abre e manifesta numa multiplicidade de modos A afirmação à primeira vista su 118 gestiva de que o Ser ê uma pal avia vazia demonstra uma vez mais e de modo ainda mais penetrante a sua inverdade Mas poderseia objetar agora de fato o é se en tende numa multiplicidade de modos Entretanto isso não re side de forma alguma no é em si mas tão somente no con teúdo objetivo diverso das afirmações que por èle se referem em cada caso a entes diferentes Deus terra taça camponês livro miséria da fome serenidade nos cumes Somente porque o é permanece indeterminado em si mesmo e vazio em sua significação pode prestarse a emprego tão heterogêneo e se determinar e encher segundo cs casos A variedade men cionada de significações determinadas prova portanto justa mente o contrário do que deveria demonstrar Só proporciona uma prova claríssima de que o Ser deve ser indeterminado a fim de poder ser determinável O que se deve dizer a isso Chegamos agora ao domínio de uma questão decisiva Será que o é se diversifica em razão do conteúdo das proposições que cada vez se lhe atribuem quer dizer em razão dos diversos setores a que elas se referem ou serã que é o Ser encobre em si mesmo uma pleni tude cujo desdobramento nos possibilita o acesso â diversi dade dos entes no MODO em que êles são em cada caso É uma questão que agora apenas levantamos Pois ainda não es tamos suficientemente preparados para desenvolvêla mais O que porém não se pode negar e queremos ressaltar agora é apenas o seguinte o é denota no dizer uma variedade rica de significações Sempre dizemos é numa dessas signi ficações sem termos expressamente necessidade seja antes ou depois de empreendermos uma interpretação particular do é ou mesmo de refletirmos sôbre o sentido do Ser No dizer o é nos vem simplesmente ao encontro entendido ora de uma ora de outra maneira Sem embargo a variedade de suas signifi cações não é uma variedade qualquer É o que agora veremos Enumeramos pela ordem as diversas significações inter pretadas mediante as descrições acima O Ser evocado no ê significa realmente existente constantemente dado ter lugar provir consistir de morar pertencer su cumbir estar por encontrarse reinar surgir apre sentarse É difícil talvez até impossível pôr oporse a sua 117 Essenciallzáço abstrair um significado comum como conceito genérico universal sob o qual se pudessem subordinar como es pécies os modos mencionados do é Não obstante atra vés de todos êles perpassa um traço homogeneamente determi nado Indica êle a compreensão do verbo ser segundo um de terminado horizonte a partir do qual ela se enche de conteúdo a saber a delimitação do Sentido do ser dentro do âmbito de apresentação Gegenwaertlgkeit e presença Anwesenheit de consistência Bestehen e subsistência Bestand estadia Aufenthalt e aparecer Vorkommen Tudo isso acena na direção daquilo com que nos deparamos na primeira caracterização da experiência e interpretação grega do Ser Se nos atlvermos à Interpretação usual do in finitivo o verbo ser retira então o seu sentido do caráter unitário e determinado do horizonte que guia a compreensão Em síntese nós compreendemos então o substantivo verbal ser pelo infinitivo o qual por sua vez se reporta sempre ao é e à variedade por êle exposta A forma verbal singular e determinada é a TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR DO IN DICATIVO PRESENTE possuí aqui uma proeminência Não compreendemos o ser com relação ao tu és vós sois eu sou ou êles seriam embora tôdas essas formas expressem também e do mesmo modo que o é variações verbals do ser Por outro lado sem o querer e quase como se não tôsse possível de outra maneira explicamos o Infinitivo ser a partir do é Por conseguinte o ser possui a significação indicada que recorda a concepção grega da Essenciallzação do Ser uma de terminação portanto que não nos caiu por acaso do céu mas que desde milênios vem dominando a nossa existência Histó rica com um só golpe pois o nosso esfôrço em determinar a significação verbal do ser se transforma expressamente na quilo que é realmente numa reflexão sôbre a proveniência de nossa história OCULTA A questão o que há com o Ser se deve manter a si mesma dentro da História do Ser a fim de poder desdobrar e conservar sua própria importância Histórica Por isso nos atemos uma vez mais ao dizer do Ser 118 XilT b 1 EXfUCARUlNVrEISEy 0 verbo alemão de per si não significa ex plicar Dit apenas indicar apostar Entretanto o que Hildegger quer direr i a seguinte sendo máxima a universalidade do conceito de ser elucidação de seu conteúdo não pode servirse de nenhum outro conceito dc vex que todo conceito jã inclui e pressupõe o conceito uriiversallsalmo de ser O que se poderá facer i sòraente explicarlhe a máxima universa lidade Tal explicação não erã uma demonstração mas uina indicação U O QUE HA DE H1JS DIGNO DE SEE POSTO EM QlESTAODÁS ifldGlt CRDIGSTE Vejase sôbre essa tradução a Nota 2d dn Cap I 3 REPETKÃONACHVOLLZUG COMPETlClOMlTV0LLZÜG O subs tantivo alemão Volizug significa exercício execução reallução Hei dagger a junta êsse substantivo duas preposlçãet nach depois após e mil juntamente com com Surgem assim os dois substantivos do texto eom que caracteriza o único modo de compreensão e inteligência em ilorra Para se entender ve rdade ir atn ente o processo de ums reflexão fi losófica não basta tomar conhecimento ler ou ouvir É necessário aue em aisss próprio ato de reflexão exerçamos conjuntarrente o mesmo movi inentoe refaçamos depois o mesmo caminho percorrido Essa duas idéias de escCl Cio conjunto e de esfórço que refaz dt nóvo explimemse nos substantivos Nltvollziig e Naehvollzug rcspectívamrnte Piccuramos tra duzila no texto com os derivados portugnêsrs do verbo latino petere ir buscar procurar atingir esforçarse por alcançar Competiçáo e Fepetição 4 LIVRO É DÊLE Em alemão a idéia de pertencer se podo expri mir com o verbo seín ser pond ose a coisa pertencida no nomina tivo t o sujeito n quem ela pertence no dativo assim o livro me per tence te pode dizer Hdas Buch 1st In ir e o livro é a mim ft um dos septWi do verbo ser Em português ocorre a mesma coisa apenas usamos j verb ser numa outra construção o livro ó dãle O livro de mim não se dia Como o exemplo dado no texto é da mlmelra pessoa muda mos prra a terceira na tradução 1 l jtv t da morte tr ht des Todes Essa expressão Idiomática sig nifica tie está condenada a morrer i um homem morto Nrvameute evi dnc um outro significado do verbo ser 119 A DELIMITAÇÃO DO SER Assim como encontramos no é um modo corriqueiro de dizer ser assim também na evocação do nome ser nos de paramos com modos de dizer já transformados em fórmulas Ser e Vir a Ser Ser e Aparência Ser e Pensar ser e Dever Ao dizermos sei sentimonos quase que compelidos por uma fôrça Zwang a dizer Ser e Êsse e não significa apenas que ajuntamos e acrescentamos incidentalmente uma outra coisa Adicionamos ao ser algo do qual éle se distingue Ser e não Ao mesmo tempo pensamos com ésses títulosfór mulas em alguma coisa que como distinta do Ser lhe pertence de certo modo embora apenas como uma outra coisa Até agora o curso de nossa investigação não só desbravou o terreno De início a questão em si a questão fundamental da metafíica compreendemola como uma coisa que nos advém e provém de alguma parte Entretanto progressivamente ela se nos foi revelando no que possui de digno de ser investigado Fragwürdigkeit Agora se mostra mais e mais como o fun damento oculto de nossa existência Histórica Êsse fundamento ainda se mantém e principalmente quando sôbre ele como por sôbre um abismo Abgrund levemente encoberto nos move mos para cá e para lá e empreendemos um mundo de coisas Vamos discutir agora as distinções do Ser frente a outra coisa Faremos então a experiência de que o Ser ao con tário da opinião corrente não é de modo nenhum uma pa lavra vazia É determinado de tantas maneiras que mal po demos conservar suficientemente tôda a sua determinação Isso não basta Essa experiência ainda terá que desenvolverse até 121 ao ponto de transformarse numa experiência fundamental iGrunderfahrung de nossa existência futura A fim de desde o início podermos acompanhar na maneira devida a reali zação das distinções damos logo os seguintes pontos de re ferência 1 O Ser que se delimita frente a outra coisa se deter mina com essa delimitação 2 A delimitação se processa de acòrdo com quatro aspec tos relacionados entre si For conseguinte a delimitação do Ser ou terá de se ramificar ou de se elevar ou de se rebaixar 3 As distinções não são de forma alguma obra do acaso O que nelas se mantém numa divisão impele originàriamente a eonjugarse de vez que se pertencem uma a outra Dai te rem uma necessidade própria e especifica 4 As contraposlções que à primeira vista dão aparên cia de formulas não surgiram em ocasiões quaisquer nem en traram na linguagem por assim dizer como modos de falar Originaramse em estreita conexão com aquela constituição do Ser cuja manifestação se tomou normativa para a História do Ocidente Principiaram com o princípio da investigação fi losófica 5 As distinções não dominaram apenas a filosofia oci dental Impregnam todo saber dizer e fazer do Ocidente mes mo quando não se exprimem especificamente ou nessas pa lavras 6 A sucessão mencionada dos titulos Já oferece um in dicio da ordem de sua contextura essencial e da seqüéncia Histórica de sua constituição1 As duas distinções citadas em primeiro lugar Ser e Vir a ser Ser e Aparência já se configuraram no princípio da filosofia grega com serem as mais antigas são também as mais correntes A terceira distinção Ser e Pensar não menos prellneadas no princípio do que as duas primeiras foi desenvolvida decisl vamente pela filosofia de Platão e Aristóteles Todavia só atin giu sua feição própria no comêço da Era Moderna Contribuiu 122 1 até essencialmente para êsse começo correspondendo à sua História é a mais intrincada e a mais problemática em sua pretensão Por isso constitui para nós a mais digna de ser posta em questão die fragwürdigste A quarta distinção Ser e Dever pertence intelramente ã Época Moderna de vez que só muito remotamente se mo dela na caracterização do on como agathon Desde o fim do século XVIII determina uma das posições predominantes do espírito moderno frente ao ente simplesmente 7 Uma investigação originária da questão do Ser que compreendeu a tarefa de um desenvolvimento da verdade da Essencialização do Ser tem que exporse a si mesma com vistas a uma decisão aos podêres encobertos nessas distinções e as reconduzir à sua própria verdade Tudo isso que agora observamos preliminarmente devese ter sempre em mente nas seguintes reflexões 1 Ser e Vir a Ser Essa separação e contraposição está no princípio da in vestigação do Ser Também hoje ainda é a mais corrente de limitação do Ser por outra coisa É que ela se impõe imedia tamente einleuehten por fôrça de uma representação do Ser já petrificada em evidência natural O que vem a ser ainda não é O que é jã não necessita de vir a ser O que é o ente já deixou atrás de si todo vir a ser de vez que já velo e pôde vir a ser O que em sentido próprio é resiste a todo o impacto do Vir a ser Com perspicácia longemirante e de acòrdo com a tarefa em si Parmênides cuja época recai na transição do VI para o V século expôs pensando poèticamente dichtenddenfcend 12 o Ser do ente em contraste com o Vir a ser Seu Poe ma Lehrgedicht nos foi transmitido apenas em frag mentos extensos e essenciais Aqui mencionaremos apenas uns versos Fragmento VIII lt 123 monos deti mythos hodoio leipetai os estin tautei tlepi semateasi polla mall os ageneion eon kai anolethron estin esti gar oulomeles te kai atremes edateleston oude poten oudestai epei enun estin omou panl en syneches Só resta a Saga Sage da caminho onde se manifesta o que há com o Ser nêle caminho mostrandoo Ser há muitas coisas Como o Ser é sem nascer nem perecer consistindo completamente sòzínho e em si mesmo sem estremecimento e sem necessitar em absoluto de aperfeiçoamento Nem tão pouco foi antes como também não será depois pois como presença é tudo simultaneamente único uni dade uniflcante reunindo a si mesmo em si mesmo a partir de si mesmo cheio de fòrça de presença Gegenweertigkelt é uni ficador Essas poucas palavras se encontram diante de nós como es tátuas gregas da época antiga Frühzeit O que ainda pos suímos do Poema de Parmênides podese reunir num caderno fino Derroga entretanto bibliotecas inteiras de filosofia na pretensiosa necessidade de sua existência Quem conhecer as coordenadas dêsse dizer pensante perderá como cidadão de hoje todo prazer de escrever livros O que se diz ai do Ser são semata Não são sinais do Ser nem predicados É algo que a respeita do Ser mostrao em si mesmo a partir dèle mesmo Em tal modo de considerar de vemos afastar do Ser todo aspecto de nascer e perecer etc Devemos desconsiderar no sentido ativa de considerando o Ser banir da consideração essas coisas Excluilas O que se mantém afastado pelo a e onde não é de acórdo com o Ser O seu acorde é outro De tudo isso depreendemos Ser se mostra a ésse dizer de Parmênides como a própria solidez Gediegenheit do consis tente concentrada em sí mesma não atingida por nenhuma inconstância nem mudança Ainda hoje se costuma contrapor nas exposições do início da filosofia a essa doutrina de Par 124 mênides a de Heráclito Dêsse último se diz proceder uma sen tença muitas vèzes citada panta rhei tudo está fluindo As sim não há Ser Tudo é vir a ser Achase até em perfeita ordem que surjam tais contrastes aqui Ser all vir a ser Pois então se poderá documentar desde o começo da filosofia o que se diz ocorrer em todo o decurso de sua história que lá onde um filósofo diz A outro diz B e enquanto êsse diz A aquele diz B Assim quando se assegura que na História da Filosofia todos os pensadores disseram lundamentalmente a mesma coisa apõese à compreensão vul gar uma exigência estranha para que então serviria a His tória da Filosofia Ocidental tão rica de formas e tão compli cada fie todos dizem o mesmo Bastaria então uma filosofia Tudo já foi dito Todavia êsse o mesmo tem por verdade interior a riqueza inexgotável do que todos os dias é como se fôsse o primeiro dia Heráclito a quem se atribui em aberta oposição a Parmê nides a doutrina do vir a ser diz na verdade o mesmo que êsse último Éle não seria um dos maiores dos grandes gregos se tivesse dito outra coisa Apenas não se poderá interpretar lhe a doutrina do vir a ser segundo as idéias de um Darwinista do século XIX Sem embargo a exposição posterior da con traposição do Ser e Vir a ser nunca mais repousou tão única mente em si mesma como no dizer de Parmênides Nesses grandes tempos o dizer do ser do ente traz consigo mesmo a Essencialização oculta do Ser de que fala Nessa necessidade Histórica se encontra o mistério da grandeza Por razões que serão esclarecidas a seguir limitamos a discussão dessa primei ra diferença entre Ser e Vir a Ser às indicações dadas 2 Ser e Aparência A separação entre er e Aparência é tão antiga quanto a primeira Essa equivalência de originalidade entre ambas as distinções Ber e Vir a ser Ser e Aparência indica uma pro funda conexão entre elas que ainda hoje permanece escon 125 dtda é que a segunda Ser e Aparência ainda não pôde ser desdobrada em seu conteúdo autêntico Para tanto se faz ne cessário compreendêla orlgtnàriamente ié de modo grego O que não é fácil para nós modernos Imbuídos de equívocos epis temológicos e difíceis de evocar a simplicidade do que é es sencial E sempre que conseguimos fazêlo é às mais das vêzes de maneira vazia À primeira vista parece uma distinção clara Ser e Apa rência o real em distinção e contraposição ao irreal o autên tico aposto ao inautêntico Nessa interpretação se insinua uma avaliação que dá preferência ao Ser Dizemos aparência e apa rente como dizemos permanência e permanente 4 Muitas vêzes se reduz a distinção entre Ser e Aparência à primeira entre Ser e Vir a ser Frente ao Ser como o constante em si o aparente é o que surge em dado momento para de nôvo desaparecer mansamente e sem constância nenhuma A distinção entre Ser e Aparência nos é corriqueira É até uma das moedas gastas que na superficialidade da vida co tidiana passamos sem exame de mão em mão Quando muito usamola como exortação moral e regra de vida no sentido de evitar as aparências e aspirar a ser mais vale ser do que parecer Apesar de tôda essa evidência e familiaridade não atina mos como precisamente Ser e Aparência vieram orlginària mente a separarse Uma separação indica uma união Em que consiste ela Antes de tudo se trata de compreender a uni dade escondida de Ser e Aparência Já não a entendemos mais porque decaímos da distinção original que cresceu Historica mente e hoje Jã não fazemos outra coisa senão transmitila adiante como algo posto em circulação em algum tempo e lugar Uma vez mais para compreendermos essa distinção temos que retornar ao princípio Se nos afastarmos devidamente da irreflexão e do palavró rio fácil ainda poderemos encontrar em nós mesmos um in dício que nos servirá de gula para compreender a distinção Dizemos brilhar1 5 e conhecemos a chuva e o brilhar do sol Sonnenscheln O sol brilha Descrevemos no quarto es tava pàlldamente Iluminado pelo brilho de uma vela O dla 126 leto aiamano conhece a palavra Schelnholz madeira bri lhante ié uma madeira que reluz na escuridão Das repre sentações dos santos conhecemos a auréola 6 o anel de luz que brilha em tômo da cabeça Mas também conhecemos os santos aparentes Schelnhelligen aqueles que parecem santos e não o são Encontramos combates aparentes Scheingeíecht ou seja algo que simula um combate Ao brilhar scheint o sol parece scheint moverse ao redor da terra O fato de a lua que brilha scheint medir dois pés de diâmetro é algo que só aparece assim scheint é apenas uma aparência En contramos aqui duas espécies de aparência e aparecer Não se trata de simples juxtaposição duma ao lado da outra mas de uma subordinação uma é a derivada da outra Assim o Sol só pode proporcionar a aparência de moverse ao redor da terra porque aparece em seu brilho scheint Ié porque bri lha e ao brilhar aparece erscheint Ié chega a aparecer zum Vorschein kommt No brilhar do sol como emissão de luz e raios ainda experimentamos irradiação de calor de sorte que o sol brilha significa mostrase e aquece O brilho das luzes que forma o esplendor da auréola faz aparecer como santo quem a traz Considerando com mais rigor encontramos três modos de aparência Schein 1 a aparência como esplendor e brilho 7 e a aparência e o aparecer como o aparecimento Ers cheinen e a presença a que alguma coisa chega 3 a aparên cia como ilusão A simples aparência que uma coisa dá Ao mesmo tempo tornase claro que a aparência mencionada em segundo lugar a saber o aparecer no sentido de mostrarse convém tanto à aparência no sentido de esplendor e brilho como à mera aparência E lhes convém não como uma pro priedade qualquer mas como o fundamento de sua possibili dade A Essencialização da aparência está no aparecer É o mostrarse o apresentarse Darstellen o estar presente Anstehen 8 o subsistir numa presença Vorliegen As sim o livro há tanto esperado aparece agora isso significa agora êle subsiste numa presença vorílegt Está presente como um dado objetivo vorhanden e por isso mesmo pode ser adquirido Ao dizermos a lua aparece brilha isso não significa apenas ela espalha um brilho uma certa claridade mas também está no céu está presente é As esttélas apare 127 cem em seu brilho diz fuzlndo elas estão presentes Aparên cia indica aqui exatamente o mesmo que ser O verso de Safo asteres men amphi fcalan selannan e a poesia de Matthias Claudius Cantar uma canção de ninar à luz da lua Monds chein oferecem uma ocasião propicia para se refletir sôbre Ser e Aparência Se levarmos na devida consideração o que fica dito en contraremos a intima conexão entre Ser e Aparência Mas só a apreenderemos integralmente se entendermos o Ser de modo correspondentemente originário lé grego Já o sabemos para os gregos o Ser se revela como physis O vigor imperante tWalten que brotando permanece é ao mesmo tempo e em si mesmo o aparecimento que aparece Os radicais das duas palavras phy e pha evocam a mesma coisa Phyein o bro tar que repousa em si mesmo ê phainesthai luzir mostrarae aparecer O que dos determinados traços do Ser aduzimos até agora mais a modo de uma enumeração o que concluímos da alusão a Parmênides tudo isso já nos proporciona uma certa compreensão da palavra grega fundamental para designar o Ser Seria muito instrutivo esclarecer ainda a fôrça evocativa dessa palavra partindo da grande poesia dos gregos Aqui sirva apenas a indicação de que por ex para Píndaro a phya cons titui a determinação fundamental da existência to de phya kratiston apan o que é a partir e pela phya ê em sentido absoluto o mais poderoso 01 IX 100 phya diz aquilo que alguém é propriamente e de modo originário o que já está se essencializando Cdas schon GeWesende 9 em distinção ao conjunto de afazeres e atividades Gêmsechte e Getue poste ríormente obtidos e forçados O Ser é a determinação funda mental do nobre e elevado ié daquilo que possui em seu ser uma alta proveniência e nela se funda A êsse respeito criou Píndaro as palavras Genoi oíos essi mathon Pyth n 72 queiras mostrarte como aquêle que és aprendendo O estar em si mesmo não significa para os gregos outra coisa do que o estarpresente Dastehen o estar à luz ImLicht stehen Ser significa aparecer mas não no sentido de que o aparecer seja qualquer coisa de suplementar que às vêzes acresce ao Ser Não O Ser vige e se Essencializa como apa recer 128 Com Isso a idéia tão difundida de que a filosofia grega à diferença rio subjetivismo moderno ensinara reailsticamente um Ser objetivo em si mesmo desmoronase como um castelo de cartas Essa idéia corrente se apóia numa compreensão multo superficial Devemos deixar de lado títulos como sub jetivo e objetivo realista e idealista Agora tratase ã base da concepção mais adequada do Ser tal como os gregos o entenderam de dar o passo decisivo que nos abrirá o interior da conexão íntima entre o Ser e Aparên cia Tratase de proporcionar a visão de um contexto que é originária e unicamente grego mas que nem por isso deixou de ter consequências próprias e peculiares para o espírito do Ocidente O Ser se Essen cializa como pftysís O vigor impe rante que surge e brota é aparecer Êsse apresenta Tudo isso implica o Ser aparecer deixa sair da dimensão do velado do coberto Enquanto o ente é como tal Instaurase e se instala na dimensão do revelado do descoberto 10 Unverborge nheit Sem pensar traduzimos í é interpretamos mal essa palavra por verdade É certo que atualmente aos poucos se começa a traduzir a palavra grega de modo literal Isso não adianta muito se logo depois se entende verdade num sen tido bem diverso e não grego e se põe por baixo da palavra grega Pois a Essencialização grega da verdade só é possível em união com a Essencialização grega do Ser concebido como Vhysis Em razão dessa contextura original de Essencialização entre pftysfs e aletheia podem dizer os gregos O ente en quanto ente é verdadeiro O verdadeiro é como tal ente O que quer dizer O que se mostra no vigor imperante está na dimensão do revelado descoberto Unverborgenen O des coberto o revelado como tal chega a sua consistência no ao mostrarse A verdade como revelação Unverborgenheit não é um acréscimo ao Ser 4 verdade pertence à Essencialização do Ser Ser ente im plica apresentarse surgir aparecendo proporse expor al guma coisa Nãoser ao invés significa afastarse da aparição aparecimento da presença Arrwesenheit Na Essencializa ção do aparecimento se inclui o surgir e o sair o para frente Hln e para trás Her no autêntico sentido demonstra tivo Assim o Ser se dispersa na multidão do ente Esse se 129 Impõe em tôda parte como o mais próximo e de cada momento Jeweiliges Enquanto aparece o ente se dá Adquire um as pecto de consideração dotei Doxa significa êsse aspecto qual seja a consideração em que alguém se encontra Caso o as pecto de acordo com o que nêle se apresenta fõr extraordiná rio dora significa então glória e fama Na teologia helenistica e no Nôvo Testamento doxa tfieoti é a glória Dei a glória de Deus Magnificar rühmen prestar e demonstrar consideração significa para os gregos por ã luz e assim dar consistência ser A fama não é alguma coisa que alguém recebe ou não de quebra É o modo de ser supremo Para os modernos a fama de há muito que se tornou apenas celebridade Algo de multo duvidoso uma promoção que a imprensa e o rádio lançam e propagam agltadamente quase o contrário de ser Para Pín daro magnificar rühmen constitui a Essencialização da poesia Poetar significa por á luz Isso não implica que a represen tação da luz desempenhe um papel especial Diz apenas que êle pensa e poeta como grego Isto é está na Essencialização grega do Ser Tratase de se mostrar que e de que modo para os gregos Aparecer pertence ao Ser Ou mais precisamente que e de que modo o Ser tem sua Essencialização também no Aparecer Ê o que ficou esclarecido na suprema possibilidade do ser hu mano tal como os gregos a configuraram na fama e no mag nificar afamar Fama é doxa Dokeo significa eu me mostro apareço entro na luz O que aqui se experimenta mais pela vista e visão a saber o aspecto de consideração em que alguém se encontra a outra palavra grega para dizer fama kleos en cara mais do ponto de vista do ouvir e propagar Gefiaer tind Rujen Assim a fama é o renome em que alguém se acha Heráclito diz Frag 2B areuntai par en anti apanton oi arittai kleos aenaon thneton oi de polloi kekorentai okotper ktenea Antes de tudo o mais escolhem uma coisa os mais nobres a fama que permanece constante frente ao que morre A multidão está saciada como o gado Bem embargo em tudo isso se insinua uma limitação que revela a coisa em si mesma na plenitude de sua Essencializa ção Doxa é a consideração em que alguém se encontra no sentido mais amplo A consideração que todo ente encerra e 130 encobre em seu aspecto Aussehen 11 eidos idea Uma cidade oferece uma vista grandiosa A vista que um ente tem em si e que por isso pode oferecer de si mesmo pode ser en carada dêste ou daquele ponto de vista De acôrdo com a di versidade do ponto de vista varia a vista que assim se oferece Por isso a vista em perspectiva é sempre também uma visão ié uma vista que nós temos e condicionamos Na experiência e atividade com o ente formamos constantemente visões de seu aspecto Muitas vezes tais visões se formam sem que exami nemos culdadosamente as coisas em si mesmas For êsse ou aquêle meio por essa ou aquela razão chegamos a uma vlslo sôbre determinada coisa Formamos uma opinião a seu res peito Pode ocorrer que a visão que nos parece o nosso pare cer não encontre base na própria coisa Tratase de simples parecer de uma visão De uma suposição Supomos alguma coisa dessa ou daquela maneira Emitimos uma mera opinião Supor é em grego dectiesttiai Todo supor está sempre relacio nado com o que submlnistra o aparecer A doxa no sentido do que se supõe dessa ou daquela maneira é a opinião Estamos aonde queríamos chegar Posto que o Ser physit consiste no aparecer no oferecer aspectos encontrase essen clalmente e portanto necessária e constantemente na possibi lidade de apresentar um aspecto que justamente encobre e oculta o que o ente é na verdade isto é na dimensão do revelado e aescoberio Unverborgeniieit Essa vista em que o ente vem a estar é aparência no sentido de simples aparentar Onde há revelação descobrimento Unverborgenhelt do ente há também a possibilidade da aparência Schein E onde o ente aparece e assim se mantém firme por muito tempo a aparên cia pode desfazerse e desmancharse Com o nome doxa se evoca algo complexo 1 Considera ção como fama 2 Consideração como o mero aspecto que alguma coisa oferece 3 Consideração como simples parecer assim a aparência como simples aparência 4 parecer que alguém forma opinião Essa pollvalêncla de significados não é imprecisão negligente de linguagem É o jôgo profundamente fundado na sabedoria madura de uma grande língua que guar da e protege na palavra traços Essenciais do Ser Para desde o princípio se ter clareza cumpre evitarmos tomar a aparên 131 cia e falseála como algo apenas Imaginado e subjetivo Pelo contrário visto que o aparecer pertence ao próprio ente por isso lhe pertence também a aparência Pensemos no sol Diàriamente êle nasce e se põe Só pou quíssimos astrônomos físicos e filósofos e êsses ainda assim apenas em razão de uma atitude especial mais ou menos cor rente fazem ímedlatamente uma outra experiência desse fato a saber como movimento da terra em redor do sol Sem embargo a aparência em que estão o sol e a terra por exemplo a aurora da paisagem o mar no arrebol a noite constitui uma aparição Erscheínen Essa aparência não é um nada Tão pouco é destituída de verdade Nem mesmo e de maneira al guma a simples aparência de um estado de coisas que na natureza se comporta de per si de modo diferente Essa apa rência é Histórica e História revelada e fundada na poesia e linguagem Sage Assim um domínio essencial de nosso mundo Só a gaia ti ce arrogante de todo epígono e esgotado Müd gewordener crê poder desfazerse do poder Histórico da apa rência declarandoa subjetiva embora seja altamente pro blemática a essência dessa subjetividade Outra é a expe riência grega dêsse poder da aparência Sempre de nôvo ti veram que arrancar o Ser à aparência e protegêlo contra ela O Ser se Essencializa a partir da revelação Unverbor genheit Unicamente por subsistirem ao embate entre Ser e Apa rência extraíram do ente o ser conduzindo o ente à consistên cia e revelaçáo Unverborgenheit os deuses e o Estado o templo e a tragédia a competição e a filosofia Mas tudo isso edifiearam no meio da aparência cercados por ela levandoa a sério conhecendolhe o poder Apenas entre os sofistas e em Platão a aparência se viu declarada simples aparência e assim rebaixada Concomitantemente o Ser se desloca como idea para um lugar suprasensivel O hiato chorismos se abriu entre o ente apenas aparente aqui em baixo e 0 Ser real em algum lugar lá encima O hiato em que depois se instaura a doutrina do Cristianismo transformando o inferior no criado e o superior no Criador e com as próprias armas gregas assim transformadas se opõe à antiguidade como o paganismo e a 132 desvirtua Por isso diz Nietzsche com razão que o Cristianismo é Platonism o para o povo Ao contrário a grande época da existência grega foi uma única autoafirmação criadora na turbulência do Jôgo de tensão muito intrincada entre as potências Ser e Aparência Sôbre o nexo essencial e originário entre a existência do homem o Ser como tal e a verdade no sentido de revelação Unver borgenheit e a nãoverdade como velação encobrimento cfr Sein und Zeit S5 44 e 68 A unidade e o eonflito entre o Ser e a Aparência exercem oríginàriamente no pensamento dos primeiros pensadores gregos uma íôrça poderosa Todavia é nas tragédias gregas que tudo isso vai receber a exposição mais alta e pura Pensemos no Édipo Rei de Sófocles Édipo de início salvador e senhor da Cidade no esplendor da fama e da graça dos deuses vai sendo deslocado dessa aparência Schein que não constitui de forma alguma um parecer meramente subjetivo de Édipo a seu respeito mas a atmosfera em que aparece a sua existência até que se dê a revelação Unverborgenheit de seu ser como assassino do pai e desrepeitador da mãe O caminho que vai daquele começo de glória até êsse fim de horror é um único embate entre a aparência Schein velamento e dissimulação e a revelação o Ser A Cidade está velado e oculto o as sassino do então rei Laio Com a paixão de quem está na evidência do esplendor e é grego empenhase Édipo em des cobrir êsse velado e oculto passo a passo tem que porse a si mesmo a descoberto Revelação que só pôde suportar per furandose os olhos Afastandose de tôda luz Fazendo cair sôbre si o véu da noite Ofuscado e encoberto pela cegueira põese a abrir tôdas as portas a fim de aparecer ao povo como aquele que êle é mesmo Não devemos ver em Édipo apenas o homem decaído De vemos apreender nêle a forma da existência grega na qual a paixão fundamental dos gregos galga o seu grau mais alto e mais brutal a paixão de desvendar o Ser A paixão do com bate pelo Ser em si mesmo Na poesia num azul amável floresce Hcelderlin diz estas palavras videntes O rei Édi po talvez tenha um ôlho demais Êsse ôlho demais é a condi ção fundamental de tôda grande investigação de todo grande 133 saber e também seu único fundamento metafísico Essa paixão constitui todo o saber e toda ciência dos gregos Quando hoje se recomenda à ciência porse ao serviço do povo tratase de uma exigência Imperiosa e digna de ser le vada em consideração Todavia é uma exigência que exige pouco demais e não atinge o que pròpriamente se devia exigir A vontade oculta de uma transfiguração do ente na manifes tação da existência requer muito mais Para se obter uma mudança da ciência isso significa antes tudo j saber origi nário para isso necessita a nossa existência de todo um outro aprofundamento metafísico indispensável Instaurar e cons tituir verdadeiramente uma nova atitude fundamental para com o Ser do ente em sua totalidade A nossa referência atual para com tudo que significa Ser Verdade e Aparência é de há muito tão confusa tão sem fun damento e paixão que mesmo na interpretação e apropriação da poesia grega só pressentimos um mínimo do poder que êsse dizer poético desempenhava na própria existência grega A úl tima Intepretação de Sófocles 1933 que devemos a Carlos Reinhardt está essencialmente multo mais próxima da exis tência e do ser dos gregos porque Reinhardt vê e Investiga o acontecimento trágico a partir das referências fundamentais do Ser da Reevelação e da Aparência Muito embora ainda influam subjetivlsmos e psicologismos modernos constitui uma grandiosa contribuição para a Interpretação de Édlpo Rei como a tragédia da aparência Termino aqui essas Indicações sôbre a configuração poética do embate entre Ser e Aparência ediflcada pelos gregos com a citação de uma passagem de Édlpo Rei de Sófocles que nos dará ocasião sem forçar em nada o texto de restabelecer o nexo entre nossa caracterização provisória do Ser grego en tendido no sentido de consistência e a caracterização agora alcançada do Ser como aparecer Os poucos versos do último côro da Tragédia w 1189ss dizem Tis gar tis aner pleon tos eudaimonias pfterei e fossounton oson dokeín kai dexant apokUnai 134 1 Quem pois que homem traz consigo mab da existência disciplinada e ajustada do que quem está na aparência para depois aparecendo declinar a saber declinar do estado de consis tir de pé em si mesmo Ao esclarecer a essência do infinitivo falouse daquelas palavras que representam uma egklisis um declinar uma queda casus É uma modalidade do Ser entendido êsse como o que está em posição vertical ereto em si mesmo Ambas as derivações do Ser adquirem sua determinação a partir do próprio Ser concebido como a consistência do que está na luz ié do aparecer Agora deve ter ficado mais claro ao próprio Ser enquanto aparecer pertence a aparência Schein O Ser como apa rência não é menos poderoso do que o Ser como revelaçâo e descobrimento Unverborgenheit A aparência Schein se processa no próprio ente com êle mesmo Ora a aparência não só faz aparecer o ente tal como êle pròpriamente não é não apenas dissimula o ente do qual é aparência mas tam bém se encobre a si mesma como aparência posto que se mostra como Ser E é exatamente por isso por dissimular es senclalmente si mesma ao encobrir e dissimular o ente que dizemos com razão as aparências enganam Tal engano re side na própria aparência em si mesma Somente porque a aparência já engana em si mesma pode ela enganar o homem c assim leválo a uma ilusão Mas o iludirse é apenas um entre muitos outros modos em que o homem se move no trí plice mundo de Ser Revelação e Aparência Para dizêlo assim o espaço que se expande dentro dos limites descritos por Ser Revelação e Aparência é o que en tendo por error 12 frre Aparência engano ilusão error estão entre si em determinadas relações de essencialização e processo Tais relações foram tão falsamente interpretadas pela psicologia e gnoseologia que hoje mal as podemos experimentar e reconhecer com a devida clareza como potências da exis tência cotidiana 13õ Em primeiro lugar tratavase de esclarecer como à base da interpretação grega do Ser concebido como phisís e só a partir dessa base pertencem necessàrlamente ao Ser tanto a Verdade no sentido de revelação como a Aparência no sentido de determinado modo de aparecer do mostrarse que surge Dado que Ser e Aparência se pertencem mútuamente e nessa mútua pertinência se implicam um ao outro essa im plicação recíproca instaura sempre a troca de um pelo outro e por conseguinte uma constante confusão e a possibilidade de engano e eq ui vocação Por isso no principio da filosofia ié na primeira manifestação do 3er do ente o esfôrço principal do pensamento teve de convergir para disciplinar a necessidade do Ser na Aparência Para distinguir o Ser da Aparência Essa tarefa exige por sua vez dar a primazia ã verdade entendida como descobrimento frente ao encobrimento Verborgenheit Ao revelarse frente ao velarse concebido como vendar e dis simular Devendo o Ser diferençarse do outro e fixarse como phpsis operase a distinção entre Ser e Nãoser e ao mesmo tempo também entre Nãoser e Aparência Ambas essas dis tinções não coincidem Dado ser essa a situação de Ser Revelação Aparência e Nãoser três caminhos se tomam necessários para o homem que manifestandose se atém a si mesmo no meio do Ser e a partir dessa atitude se comporta dêsse ou daquele modo com o ente Para assumir a sua existência na claridade do Ser o homem deve primeiro dar consistência ao Ser segundo man têlo na e contra a Aparência e terceiro arrancar ao mesmo tempo o Ser e a Aparência ao abismo do Nãoser O homem tem que distinguir êsses três caminhos e se de cidir de acòrdo com êles e frente a êles No princípio da fi losofia pensar é abrir e desbravar êsses três caminhos Distln guíndoo o homem se põe na encruzilhada dêles e por conse guinte em constante re solução Entscheidung Essa reso Iução é o princípio da História Nela e só nela se decide até sôbre os deuses consequentemente resolução Entscheidung não significa aqui juízo e escolha do homem mas uma so lução no sentido de separação Scheidung na contextura do Ser Revelação Aparência e Nãoser O desbravar mais antigo desses trés caminhos nos con serva a tradição na filosofia de Parmenides no Poema já ci tado Determinaremos os três caminhos indicando alguns frag mentos do Poema Não é possível dar aqui uma interpretação completa O Fragmento 4 diz na tradução Eis o que eu digo presta tôda a consideração à pa lavra que ouves sôbre Quais caminhos se há de ter em mira como os únicos próprios de uma investigação O primeiro como o Ser é o que o Ser e também quão impossível o Nãoser A send a de uma confiança fundada é seguir a revela ção Unverborgenheit O segundo Como não é e também quão necessário ié o nãoser Èsse portanto segundo te revelo é uma vereda que não se pode em absoluto interpelar pois nem podes travar conhecimento com o nãoser de vez que não é de tornarse acessível nem podes indlcáio com palavras Aqui se separam claramente antes de tudo dois caminhos 1 O caminho para o ser ê simultaneamente o caminho para a Revelação Êsse caminho é inevitável 2 O caminho para o nãoser embora não possa ser per corrido têm por isso mesmo que se conhecer como um cami nho inviável e precisamente no tocante ao fato de ser o cami nho que leva ao nãoser Êsse fragmento nos dá também o tes temunho mais antigo na filosofia de que juntamente com o caminho do Ser deve ser pensado também e em si mesmo eigens o caminho do nãoser Assim constitui um desconhe cimento da questão do Ser voltar as costas ao Nada assegu rando que o Nada manitestamente não é O fato de o Nada não ser algo de ente de forma alguma exclui que êle perten ça a seu modo ao Ser 137 Sem embargo na reflexão sôbre o sentido dos dois cami nhos mencionados se inclui a discussão com um terceiro que de um modo todo próprio vai de encontro ao primeiro o ter ceiro que de um modo todo próprio vai de encontro ao pri meiro O terceiro caminho parece com o primeiro e todavia não conduz ao Ser Daí suscitar a aparência de ser êle apenas um caminho para o nãoser no sentido do Nada O fragmento 6 mantém primeiro rigidamente separados os dois caminhos expostos no Frag 4 o para o Ser e o para o Nada Mas ao mesmo tempo expõe um terceiro caminho con traposto ao segundo que é inacessível e por Isso mesmo estéril uma vez que se dirige ao Nada Fazse mister tanto da posição coletora sammelndes Hinstellen como da percepção o ente em seu ser Pois o ente tem ser o nãoser não tem nenhum é ad vlrtote a anotares isso Antes de tudo te afastes dêsse caminho de investigação Mas também dêsse outro que evidentemente se prepa ram para si os homens que não sabem os bicéfaios pois o nãosaberorientarse constitui para eles o critério de sua compreensão errante êles são Jogados de lá para cá surdos e cegos tontos a geração dos que não distinguem tem por princípio que o que é dado e o que não é dado Vorhandene e Nichtvorhandene são e não são a mesma coisa Para êles a senda segue em tudo direções con trárias O caminho agora mencionado é o caminho da doxa no sentido da aparência Nêle o ente se deixa ver ora de uma maneira ora de outra Aqui reinam sempre e apenas opiniões Os homens pulam de uma opinião para outra num constante vaivém Assim confundem entre si Ser e Aparência Tal ca minho é ínsistentemente frequentado de sorte que os homens se perdem inteiramente nêle Tanto mais se toma necessário conhecêlo corno tal a fim de que o Ser se desvende na aparência e contra a apa rência Assim encontramos a indicação dêsse terceiro caminho e sua coordenação com o primeiro no fragmento 1 yv 2832 138 Fazse necessáro fazer com que experimentes tu que agora encetas o caminho para o Ser tudo tanto no co ração firme da revelação de beleza esférica como tam bém as opiniões dos homens que não possuem confiança alguma no que é revelado Em tudo isso deves também aprender como se mantém o que aparece atravessando à sua maneira tudo com seu brilho scheinmsessg completando assim a perfeição de tudo O terceiro caminho é o da aparência de tal modo que nêle a aparência ê experimentada como pertencente ao Ser Para os gregos as palavras citadas tinham uma fórça contun dente originária Ser e Verdade haurem a sua Essencialização da physis O mostrarse do que aparece pertence i medi ata mente ao Ser e no fundo não lhe pertence Por isso o apa recer tem que ser exposto também como simples aparência e isso sempre denovo Os três caminhos proporcionam uma Indicação em si unitária O caminho para o Ser é inevitável O caminho para o Nada é inacessível O caminho para a aparência é sempre acessível e fre quentado mas evitável Um homem verdadeiramente sábio não é aquêle que per segue cegamente uma verdade È somente aquêle que conhece constantemente todos os três caminhos o do Ser o do nãoser e o da aparência Um saber superior e todo saber é superiori dade só é concedido àquele que experimentou o ímpeto alado do caminho para o Ser Que não estranhou o espanto do se gundo caminho para o abismo do Nada E que aceitou como constante necessidade o terceiro caminho o da aparência A êsse saber pertence o que os gregos chamaram em sua grande época tolma ousar numa conjuntura com o Ser o Nãoser e a Aparência iê assumir a existência sôbre si le vandoa à resolução entre Ser Nãoser e Aparência A partir dessa posição fundamental frente ao Ser diz um de sens 138 maiores poetas Pindaro Ncmea III 10 en de peira telof diaphainetai na ousada experimentação no meio do ente se mostra diâíana a plenitude a períeição de contornos do que se elevou e chegou ã consistência Léo Ser Aqui fala a mesma posição fundamental que se evidencia na palavra já citada de Heràclito sôbre o polemos A dieposi ção dissoclação de um do outro Auseinanderstzung ié não a mera querela e dissensão mas a disputa do que é disputãvel põe em seus limites e em evidência o essencial e o nãoessen cial o elevado e o baixo Inexgotável para a admiração não é apenas a segurança madura dessa atitude fundamental para com o Ser mas ainda a riqueza de sua formação em palavra e em mármore Finalizamos a explicação da oposição e ao mesmo tempo da unidade de Ser e Aparência com uma palavra de Heràclito Frag 1231 pAysts kryptésthai philei o Ser o aparecer que surge emergente tem em si a Inclinação para ocultarse Porque Ser significa aparecer emergente sair do encobrimen to por isso pertencelhe Essencialmente o encobrimento a pro veniência dêle Tal provenlência reside na Essencialização do Ser Do que aparece como tal Para ela o Ser está sempre inclinado a voltar seja no grande silêncio do obscurecimento seja na superficial dissimulação da camuflagem A proximi dade imediata de physis e Kryptestha revela simultaneamente a intimidade de Ser e Aparência como o seu embate Se entendermos o titulo Ser e Aparência1 na força intac ta da separação que no princípio os gregos conquistaram não sõ se compreenderá a distinção e delimitação do Ser frente à Aparência como também sua pertinência intima à separação entre Ser e vir a Ser O que se detém no vir a ser já não é por um lado o Nada mas por outro também ainda não é o que está destinado a ser Segundo essa dualidade de não mais e ainda não permanece c vir a ser saturado de não ser Sem embargo o vir a ser não é um puro Nada É um não mais isso e um ainda náo aquilo e assim constante mente um outro Por isso se deixa ver ora de um ora de outro modo Apresenta uni aspecto em si mestno inconstante Assim considerado o vir a ser é uma aparência do ser Na explicação do princípio sôbre o ser do ente tanto o vir a ser como a aparência têm que contraporse ao Ser Por outro 140 lado o vir a ser concebido como brotar pertence à pfiysis Se entendermos ambos de modo grego ié o vir a ser como chegaràpresença e o sair dela e o Ser como a presença que surge e aparece o Nãoser como a ausência então a re ferência recíproca de emergir e submergir de surgir e ocultar se é o aparecer o Ser mesmo Como o vir a ser é a aparência do Ser assim também a aparência como aparecer é o vir a ser do Ser Já por aqui vemos que não nos é possível sem mais nem menos reduzir a diferença entre Ser e Aparência à separação entre Ser e Vir a Ser e viceversa Assim tem que permanecer ainda aberta a questão das relações entre ambas as distinções A resposta dependerá da originariedade amplitude e solidez da fundamentação daquilo em que se Êssencializa o ser do ente A filosofia também no princípio não se ateve a sentenças sin gulares Por certo as exposições posteriores de sua História suscitam essa aparência Pois elas são doxogrâficas ié uma descrição das opiniões e pareceres dos grandes pensadores Todavia quem os perscruta e examina à cata de opiniões e pontos de vista pode ficar certo de começar e andar errado antes mesmo de chegar a algum resultado ié de arranjar título ou etiqueta para uma filosofia Pela separação entre os grandes poderes Ser e Vir a Ser Ser e Aparência lutaram o pensamento e a existência dos gregos Essa disputa teve que desenvolver numa forma determinada as relações entre Pensar e Ser Isso significa já entre os gregos se prepara também a configuração da terceira diferença 3 SER E PENSAR Já muitas vêzes se fêz referência ao predomínio normativo na existência ocidental da diferença entre Ser e Pensar Sua predominância deve estar fundada na sua própria essenciali zação Naquilo pelo que ela se separa das duas primeiras e da quarta Por Isso desejamos assinalar já desde o inicio a sua peculiaridade Em primeiro lugar comparemola com as duas 141 consideradas anteriormente Nessas o que se distingula do Ser nos vinha ao encontro a partir do próprio ente Encontra molo no domínio do ente Nào apenas o vir a ser como tam bém a aparência nos ocorrem no ente como tal Vejase o sol que nasce e se põe o bastão tantas vézes lembrado que mer gulhado nágua aparece quebrado e muitos outros congêneres Vir a Ser e Aparecer estão com o ser do ente por dizêlo assim no mesmo plano Quanto à distinção Ser e Pensar porém o que se distingue do Ser o pensar não sòmente pelo conteúdo mas também pelo sentido da contraposição se diferencia essencialmente tanto do Vir a ser como da Aparência O Pensar se contrapõe ao Ser de tal modo que o Ser se lhe apresenta vorgestellt 13 e assim se lhe opõe como o que se lança contra Gegens tand 14 Êsse não era o caso das duas distinções anteriores E essa é também a razão pela qual tal distinção chegou a prevalecer Essa prepoténcia advemlhe do fato de não se pôr simplesmente entre as três outras mas de coloeálas tôdas diante de si e colocandoas diante de sl vorsichstellend por assim dizer as deslocar Assim o pensar não é apenas o membro de uma distinção de certo modo diferente mas se toma o fundamento e a base a partir da qual se decide sôbre o que se contrapõe e isso a tal ponto de o Ser como tal ser interpretado a partir do pensar Nesse sentido devese apreciar a Importância que precisa mente no contexto de nossa tarefa convém à distinção entre Ser e Pensar Pois no fundo Investigamos o que há com o Ser Como e a partir de onde o Ser é levado a susterse em sua Essencialização É entendido compreendido e constituído como normativo Na distinção em aparência indiferente entre Ser e Pentar é de se ver aquela posição fundamental do espirito do Oci dente em que se concentra pròprlamente o nosso ataque Ela só pode ser superada origináriamente lé de tal sorte que a sua verdade originária seja indicada em seus próprios limites e assim novamente fundada Do ponto atual da marcha de nossa Investigação nos é possível descortinar um outro aspecto Já explicamos antes que a palavra 0er possui em contraste com a opinião cor 142 rente um significado bem preciso Isso significa que o Ser mesmo é entendido sempre de modo determinado Assim de terminado énos sempre manifesto Tôda compreensão toda via como uma espécie fundamental de manifestação tem que se mover sempre num determinado ângulo de visão Blick bahn uma coisa qualquer por exemplo um relógio perma necernosá oculto naquilo que é enquanto prèviamente não soubermos o que é tempo cálculo e medição de tempo O ân gulo visual da visão já deve estar antecipadamente aberto Por isso o chamamos o ângulo de prévisão Vorblickbahn a perspectiva Destarte se mostrará que o Ser não apenas não é entendido de modo indeterminado como também que a com preensão determinada do Ser movese em si mesma num ân gulo de visão já predeterminado O moverse para lá e para cá o deslizar e agltarse nesse ângulo já se tornou parte de nossa carne e de nosso sangue a ponto de nem o conhecermos de nem mesmo o levarmos em consideração e entendermos a questão sôbre ele A submersão para não dizer o estar perdido na previsão e perspectiva que conduz e dirige tôda a nossa compreensão do Ser é tanto mais poderosa e ao mesmo tempo oculta porquanto também os gregos não a esclareceram como tal e nem o podiam fazer por razões fundamentais não por qualquer fracasso Entre tanto na constituição e no estabelecimento dêsse ângulo de previsão exn que se movia já a compreensão grega do Ser participa essenclalmente o desenvolvimento da distinção entre Ser e Pensar Hão obstante não a colocamos no primeiro mas no ter ceiro lugar Primeiramente tentaremos explicála em seu con teúdo como fizemos com as anteriores Iniciamos novamente caracterizando aquilo que agora se contrapõe ao Ser O que significa pensar Dizse o homem pensa e Deus dirige 15 Pensar significa aqui planejar idear Isso ou aquilo pensar em alguma coisa auf dieses und jenes denlren diz pretender ex pensar em viajar pensar no mal sig nifica ter em mira pensar em alguém indica não esquecer nesse caso pensar significa recordar rememorar lembrarse Usamos a expressão êle pensa no sentido de imaginar Quan 143 do alguém diz eu penso que vai dar certo quer dizer assim me parece sou dêsse parecer na minha opinião Pensar num sentido reforçado significa refletir sôbre alguma coisa uma situação um plano um acontecimento Pensar vale também como titulo do trabalho e da obra daqueles que chamamos penfiadores É certo que à diferença dos animais todos os homens pensam mas nem todo homem é um pensador O que Inferimos dêsse uso da linguagem O pensar tanto se refere ao futuro como ao passado como ao presente O pensar põe alguma coisa diante de nós apresenta vorstellen Tal apresentar parte sempre de nós Tratase de um livre pôr e dispor de nossa parte mas não arbitrário e sim dependente Dependente do fato de pela apresentação considerarmos e examinarmos o apresentado analisandoo decompondoo e re eompondoo de nõvo Pensando não só porém nos apresenta mos alguma coisa a partir de nós mesmos nem apenas a ana lisamos por analisar mas seguimos reflexivamente o apresen tado Não o admitimos simplesmente segundo nos agrade mas nos pomos a caminho para como se diz perseguir a coisa Então sabemos como ela se encontra em si mesma Fazemos dela um conceito Procuramos o universal Dos caracteres mencionados que constituem o que se cos tuma chamar pensar destacamos três 1 O apresentar a partir de nós mesmos como um comportamento livre 2 O apresentar entendido como uma síntese analítica 3 A apreensão apresentativa do universal De acòrdo com a esfera em que se move êsse apresentar segundo o grau da liberdade conforme a precisão e segurança da análise consoante o alcance da apreensão o pensar será superficial ou profundo vazio ou rico de conteúdo facultativo ou constrlngente jocoso ou sério Todavia ainda não podemos compreender porque o pensar deva alcançar aquela posição fundamental frente ao Ser que Indicamos acima Pensar constitui ao lado de desejar querer e sentir uma de nossas faculdades Em tôda faculdade e em 144 todo modo de comportarse sempre nos referimos ao ente não exclusivamente no pensar Disso não há dúvida Todavia a dis tinção Ser e Pensar indica algo mais essencial do que apenas uma relação com o ente Essa distinção surge de uma corres pondência intrínseca e originária do que nela se distingue e separa com o Ser em si mesmo O Título Ser e Pensar evoca uma distinção que é como exigida pelo próprio Ser Essa correspondência íntima do pensar com o Ser em todo caso não resulta do que aduzimos até agora para caracterizar o pensamento E por que não Porque ainda não logramos um conceito suficiente do pensar Onde porém poderemos obtêlo Fazemos tal pergunta como se não houvesse desde muitos séculos nenhuma Lógica È a ciência do pensar a doutrina das regras do pensamento e das formas do seu conteúdo Constitui ademais dentro da filosofia a ciência e disci plina em que os pontos de vista e as correntes das diversas concepções de mundo não desempenham quase nenhum ou mesmo nenhum papel Como se isso ainda não bastasse ainda é a Lógica uma ciência segura e digna de tôda a confiança De há muito que vem ensinando a mesma coisa Sem dúvida uns transformam a construção e sequência das diversas dou trinas tradicionais outros deixam cair isso ou aquilo ou intro duzem apêndices gnoseológlcos ou fundam tudo na psicologia Todavia no seu todo impera uma concordância feliz A lógica nos dispensa do esforço de termos de investigar circunstancial mente a essencialização do pensar Não obstante temos ainda uma pergunta O que significa Lógica O título é uma expressão abreviada de logike eptsie me ciência do logos E logos significa aqui enunciado proposi ção E todavia a lógica deve ser a doutrina do pensar Ppr que então é a ciência da proposição Por que o pensar se determina a partir do enunciado Isso não se entende de forma alguma por si mesmo Acima explicamos o pensar sem precisar referilo à proposição e ao discurso Dêsse modo a reflexão sôbre a essencialização do pensar se torna de natureza tôda especial se ela se efetua nos moldes de uma reflexão sôbre o Logos e se faz lógica A lógica e o lógico não constituem sem mais nem menos nem como se não houvesse outra possibilidade oj modos exclusivos d 145 do alguém diz eu penso que vai dar certo quer dizer assim me parece sou desse parecer na minha opinião Pensar num sentido reforçado significa refletir sôbre alguma coisa uma situação um plano um acontecimento Pensar vale também como tituio do trabalho e da obra daqueles que chamamos pensadores É certo que à diferença dos animais todos os homens pensam mas nem todo homem é um pensador O que inferimos dêsse uso da linguagem O pensar tanto se refere ao futuro como ao passado como ao presente O pensar põe alguma coisa diante de nós apresenta vorstellen Tal apresentar parte sempre de nós Tratase de um livre pôr e dispor de nossa parte mas não arbitrário e sim dependente Dependente do fato de pela apresentação considerarmos e examinarmos o apresentado analisandoo decompondoo e re compondoo de nõvo Pensando não só porém nos apresenta mos alguma coisa a partir de nós mesmos nem apenas a ana lisamos por analisar mas seguimos reflexivamente o apresen tado Não o admitimos simplesmente segundo nos agrade mas nos pomos a caminho para como se diz perseguir a coisa Então sabemos como ela se encontra em si mesma Fazemos dela um eoneeito Procuramos o universal Dos caracteres mencionados que constituem o que se cos tuma chamar pensar destacamos três 1 O apresentar a partir de nós mesmos como um comportamento livre 2 O apresentar entendido como uma síntese analítica 3 A apreensão apresentativa do universal De acôrdo com a esfera em que se move êsse apresentar segundo o grau da liberdade conforme a precisão e segurança da análise consoante o alcance da apreensão o pensar será superficial ou profundo vazio ou rico de conteúdo facultativo ou constei ngente jocoso ou sério Todavia ainda não podemos compreender porque o pensar deva alcançar aquela posição fundamental frente ao Ser que indicamos acima Pensar constitui ao lado de desejar querer e sentir uma de nossas faculdades Em tôda faculdade e em 144 1 i todo modo de comportarse sempre nos referimos ao ente não exelusivamente no pensar Disso não hã dúvida Todavia a dis tinção Ser e Pensar indica algo mais essencial do que apenas uma relação com o ente Essa distinção surge de uma corres pondência intrínseca e originária do que nela se distingue e separa com o Ser em si mesmo O Titulo Ser e Pensar evoca uma distinção que é como exigida pelo próprio Ser Essa correspondência íntima do pensar com o Ser em todo caso não resulta do que aduzimos até agora para caracterizar o pensamento E por que não Porque ainda não logramos um conceito suficiente do pensar Onde porém poderemos obtêlo Fazemos tal pergunta como se não houvesse desde muitos séculos nenhuma Lógica É a ciência do pensar a doutrina das regras do pensamento e das formas do seu conteúdo Constitui ademais dentro da filosofia a ciência e disci plina em que os pontos de vista e as correntes das diversas concepções de mundo não desempenham quase nenhum ou mesmo nenhum papel Como se isso ainda não bastasse ainda é a Lógica uma ciência segura e digna de tôda a confiança De há muito que vem ensinando a mesma coisa Sem dúvida uns transformam a construção e sequência das diversas dou trinas tradicionais outros deixam cair isso ou aquilo ou intro duzem apêndices gnoseológicos ou fundam tudo na psicologia Todavia no seu todo impera uma concordância feliz A lógica nos dispensa do esforço de termos de investigar circunstancial mente a essencialização do pensar Não obstante temos ainda uma pergunta O que significa Lógica O titulo é uma expressão abreviada de íopifce epíste me ciência do logos E logos significa aqui enunciado proposi ção E todavia a lógica deve ser a doutrina do pensar ppr que então é a ciência da proposição Por que o pensar se determina a partir do enunciado Isso não se entende de forma alguma por si mesmo Acima explicamos o pensar sem precisar referilo à proposição e ao discurso Dêsse modo a reflexão sôbre a essencialização do pensar se toma de natureza tôda especial se ela se efetua nos moldes de uma reflexão sôbre o Logos e se faz lógica A lógica e o lógico não constituem sem mais nem menos nem como se não houvesse outra possibilidade os modos exclusivos d 145 toda determinação do pensar Por outro lado não foi um mero acaso o fato de a doutrina do pensar haver chegado n ser a Lógica Como quer que seja o recurso à lógica com o fim de delimitar a essencialização do pensar já se toma uma emprêsa problemática pelo simples fato de a lógica como tal e não apenas algumas de suas doutrinas e teorias particulares aer algo por demais questionável Fragwürdiges Por isso a Ló gica tem de se pôr em aspas Isso porém não significa ne nhuma pretensão de querermos negar o que é lógico no sen tido de pensado corretamente A serviço do próprio pensar procuramos lograr justamente aquilo a partir do qual a Essen eiallzação do pensar se determina a aietheia e a piiysis o Sei como revelação aquilo que se perdeu precisamente com a lógica Desde quando existe a lógica que ainda hoje determina todo o nosso pensar e dizer e desde cedo vem condetermlnan do essencialmente a concepção gramatical da língua e com Isso a posição fundamental do Ocidente frente à linguagem Desde quando se Iniciou a formação da lógica Desde quando a fi losofia grega entrou em seu fim convertendose numa atri buição das escolas da organização e da técnica Isso se deu quando o eon o Ser do ente aparece como idéia e como tal se tornou o objeto da episieme A lógica se originou no cir culo das atividades didáticas das escolas platónlcoarlstóteli cas É uma invenção dos mestres de escola não dos filósofos E sempre que os filósofos dela se ocuparam fizeramno por preocupações mais originárias e não no interesse da lógica Nem mesmo é fruto do acaso que os grandes e decisivos es forços no sentido da superação da lógica tradicional tenham sido realizados por três filósofos alemães e pelos maiores entre êles por Leibniz Kant e Hegel Como exposição da estrutura formal do pensar e o esta belecimento de suas regras a lógica só pôde surgir depois qu já se havia concretizada a distinção entre Ser e Pensar e de acòrdo com uma visão particular e numa determinada ma neira Por isso em sl mesma e em sua História a lógica nunca poderá dar uma explicação suficiente sôbre a Essencialização da distinção entre Ser e Pensar nem sôbre a sua origem Ao 146 contrário É a lógica que necessita de explicação e fundamen tação no tocante à sua própria origem e ao direito de sua pre tensão de ser a interpretação normativa do pensar Não nos ocupa aqui a origem histórica da Lógica como disciplina aca dêmica nem o seu desenvolvimento ein particular Ao invés temos que considerar as seguintes questões 1 Por que teve que nascer na Escola Platônica algo assim como a Lógica 2 Por que a doutrina sôbre o Pensar se tomou uma teo ria sôbre o logos no sentido da enunclação propo sição 3 Em que se funda desde então o poderio sempre cres cente do Lógico que por fim terminou por expressar se na seguinte frase de Hegel o Lógico é a forma absoluta da verdade e muito mais que isso a verdade pura em si mesma Enciclopédia 4 18 Obras Com pletas t VI 28 A êsse poderio do Lógico corres ponde o fato de Hegel chamar conscientemente de Ló gica a doutrina que em geral se denominava Meta física Pois sua Ciência da Lógica nada tem a ver com um manual de lógica comum Em Latim pensar é inteUigere É coisa do intellectus Quando lutamos contra o intelectualismo devemos então para lutar realmente conhecer o adversário Isso significa saber que o intelectualismo é apenas um rebento e uma decorrên cia moderna e muito precária de uma proemiéncla longamente preparada e ediflcada com os recursos da metafísica ocidental Eliminar as excrescências do intelectualismo moderno é tarefa importante Nem por isso todavia sua posição se deixa no mínimo que seja abalar Não é nem tocada Ao contrário per siste até o perigo de recairem no intelectualismo justam ente aquêles que o pretendem combater Uma luta sòmente mo derna contra o intelectualismo de hoje faz com que os defen sores do uso devido do intelecto tradicional surjam com apa rência de direito Não são sem dúvida Intelectualistas são porém de igual origem Essa reação do espirito contra o que aconteceu até agora a qual provém em parte de uma inér 147 cia natural em parte de um impulso consciente convertese agora no terrena propício para reação política A desfiguração do pensar e o abuso do pensamento desfigurado só poderão ser superados por um pensar autêntico e orignário e por nada mais Uma nova instauração dêsse último exige antes de tudo o regresso à questão sôbre a referência essencial do Pensar com o Ser O que equivale a desdobrar e desenvolver a ques tão do Ser como tal Superação da Lógica tradicional não sig gnlfica abrogar o pensar e instituir o domínio do sentimento puro Significa um pensar mais originário mais rigoroso per tencente ao Ser Após essa caracterização geral da distinção de Ser e Pensar passamos a investigar mais determinadamente 1 Como se Essencializa a unidade originária de Ser e Pensar como unidade de physis e logos 2 Como se dá a separação originária de logos e physis 3 Como se chega ao surgir e aparecer do logos 4 Como o logos o lógico chega a ser a essenciallza ção do pensar 5 De que modo êsse logos entendido como razão e inte lecto chegou a dominar o Ser no princípio da filoso fia grega De acordo com os critérios de orientação acima referidos pgs 154ss seguiremos a distinção entre Ser e Pensar em sua origem Histórica o que significa essencial Atemonos a que o separarse de Ser e Pensar para ser intrínseco e necessário tem que fundarse numa compertinência originária do que se separa Assim nossa questão sôbre a origem da distinção é ao mesmo tempo e antes de tudo a questão sôbre a compertinên cia Essencial do Pensar ao Ser Històricamente pergunta a questão o que se passa com essa compertinência no princípio normativo da filosofia oci dental Como nêle se entende o pensar Podenos dar um in dício o fato de a doutrina grega sôbre o pensar ser uma dou trina sôbre o logos lógica De fato deparamonos com uma conexão originária entre Ser physis e logos Apenas temos de livrarnos de julgar que logos e legein originária e pròpria mente não signifiquem outra coisa do que pensar intelecto e 143 razão Enquanto formos dessa opinião e adotarmos ademais a concepção do logos da lógica posterior como a medida e escala para sua interpretação então só chegaremos a absurdos na tentativa de tornar novamente acessível o princípio da filosofia grega Além disso nessa maneira de pensar nunca se poderá esclarecer 1 por que o logos pôde ser separado do Ser do ente 2 por que Êsse logos teve que determinar a essenclaliza çêo do pensar e opôlo ao Ser Vajnos logo ao decisivo e investiguemos o que significa logos e legein se não significam pensar Logos significa a pa lavra o discurso e legein significa falar Diãlogo ê o colôquio monõlogo o solílóquio Não obstante orignàrlamente logos não significa discurso nem dizer algum Essa palavra não possui em seu significado nenhuma referência imediata â lin guagem Leo legein em latim legere é a mesma palavra como a alemã lesen ler 18 tâhren lesen colher espigas Holz lesen juntar lenha die Weinlese a vlndímia die Auslese seleção Ein Buch lesen ler um livro é apenas um de rivado de lesen em sentido próprio Lesen significa pôr uma coisa ao lado de outra juntálas num conjunto numa síntese coligír reunir Coligtndo colhendo ao mesmo tempo se sele ciona se distingue e separa uma coisa da outra Nesse sentido usam os matemáticos gregos a palavra Logos Uma coleção numismatics não é um simples amontoado de moedas ajunta das de qualquer maneira Na expresão Analogia correspon dência Entsprechung encontramos até juntas ambas as significações a originária de relação Verhaltnis referên cia Beziehung e a de linguagem fala embora com a palavra correspondência Entsprechung mal pensemos em falar 17 Analògicamente tamfcém os gregos não pensa vam com a palavra logos necessariamente em discurso e dizer Para dar um exemplo da significação originária de legein como coligír serve uma passagem de Homero Odisséia XXIV 106 Tratase do encontro no mundo subtérreo 18 dos pretendentes mortos com Agamenon Êsse os reconhece e as sim lhes fala Anfímedão por quais caminhos mergulhastes na escuridão da terra todos vós distintos e da mesma idade Dificilmente 149 procurandose numa Pólis se podería reunir lexaintof homens tão nobres Aristóteles diz na risica vn 1 252a 13 tazis de pasa logos tõda ordem porém possui o caráter de reunião Todavia ainda não estamos investigando como a palavra logos pasta do significado originário que nada tem a ver de início com linguagem palavra ou discurso para o significado de dizer e discurso Recordamos apenas que o têrmo logos mesmo multo tempo depois de significar discurso e enunciação ainda conservou sua significação originária indicando a rela ção de uma coisa com outra Mesmo refletindo sôbre o significado fundamental de logos como reunião reunir pouco é o que ganhamos para o esclare cimento da questão em que medida o Ser e o Lógos são para os gregos numa unidade originária a mesma coisa a ponto de posteriormente poderem e por razões determinadas deverem separarse A alusão ao significado fundamental de logos só nos poderá dar um indicio se já tivermos compreendido o que Ser diz para os gregos physts Não apenas em geral nos esforçamos por compreender c Ser entendido de modo grego mas pelas diferenciações Imediatamente anteriores do Ser frente ao Vir a ser e à Aparência circunscrevemos de modo sempre mais claro o significado de Ser Na suposição de nunca perdermos imediatamente de vista o que ficou dito acima dizemos que o Ser como phüsis é o vigor imperante que surge Em oposição ao vir a ser mostrase como a consistência a presença constante Em oposição à apa rência se afirma como o aparecer como a presença manifesta O que tem a ver o logos reunião com o Ser interpretado Antes porém devese investigar se no principio da filosofia grega se pode documentar uma tal conexão entre Ser e Lógos Realmente se pode Atemonos novamente aos dois pensadores normativos Parmenides e Heràclito e procuramos uma vez mais descobrir a entrada no mundo grego cujas coordenadas fundamentais ainda que distorcidas e deslocadas entulha das e encobertas carregam o nosso mundo Reitero no vamente a necessidade de se inculcar sempre de nôvo por que justamente nos atrevemos à grande e longa missão de de 150 molír um mundo envelhecido e construir um verdadeiramente nôvo ié Histórico temos que conhecer a tradição E temos que saber mais ié de modo mais rigoroso e constrlngente do que tôdas as épocas anteriores e revoluções passadas Só o mais radical saber Histórico nos põe diante do que há de descomunal em nossa tarefa e nos preserva de uma nova Irrupção de sim ples reposição e estéril imitação Iniciamos a demonstração do nexo intrínseco entre lopos e physis existente no principio da filosofia ocidental com uma interpretação de Heràclito No decurso da História ocidental Heràclito é aquêle dentre os mais antigos pensadores gregos que foi mais completamente falsificado numa Interpretação não grega For outro lado foi quem deu nos tempos modernas e contemporâneos os impulsos mais vigorosos para a reabertura do mundo propriamente grego É assim que os dois amigos Hegel e Hoelderlin estão cada um a seu modo na grande e fecunda esteira de Heràclito com a diferença porém de Hegel olhar para trás e fechar um ciclo Hoelderlin olhar para frente e abrir outro ciclo Outra ainda é a atitude cie Nietzsche frente a Heràclito Com efeito Nietzs che se tomou uma vítima da oposição corrente mas falsa de Parmênides e Heràclito Ê essa uma das razões essenciais por que a metafísica de Nietzsche não chegou até a questão decisi va multo embora tenha Nietzsche compreendido a aurora de tôda a existência grega de um modo que só foi superado por Hoeelderlin A modificação do significado de Heràclito se processou com o Cristianismo Já os Padres da Igreja primitiva a iniciaram Hegel ainda está nessa Unha A doutrina de Heràclito do Logos é considerada precursora do logos de que trata o Nôvo Testa mento o Prólogo do Evangelho de São João O Lógos é Cristo Ora de vez que já Heràclito também fala do Lógos os gregos chegaram até às portas da Verdade Absoluta da verdade reve lada do Cristianismo Assim num livro que me chegou nos últimos dias podese ler o seguinte Com a aparição real da Verdade em forma divina e humana se confirmou o conheci mento filosófico dos pensadores gregos acerca do domínio do Lógos sôbre todo ente Essa ratificação e confirmação funda o caráter clássico da filosofia grega 151 De aeõrdo com essa concepção da história tão comum os gregos são os clássicos da filosofia porque ainda não eram teó 1 logos cristãos plenamente amadurecidos Todavia o que há com Heráclito como precursor do Evangelista S João veremos mais adiante depois de ouvirmos Heráclito mesmo Começamos com dois fragmentos nos quais Heráclito trata expressamente do Logos De propósito deixamos sem traduzir a palavra Lógos para lhe obtermos a significação do próprio contexto Fragmento 1 Enquanto porém o Lógos permanece constante os homens gesticulam e se agitam como quem não compreendeu aignetoi tanto antes como depois de haverem ouvido Com efeito tudo chega a ser ente conforme e em vir tude dêsse Lógos entretanto êles os homens se assemelham àqueles que sem saber nunca ousaram alguma coisa embora tentem fazêlo tanto em palavras como em obras iguais âs que levo a cabo discernindo explicando qualquer coisa kata ptiysis segundo o Ser e esclarecendo o modo em que se con duzem as coisas Aos outros homens porém os outros ho mens como êles todos são ot polloí lhes permanece oculto o que fazem propriamente quando estão acordados assim como se lhes volta a esconder depois também aquilo que fizeram du rante o sono Fragmento 2 Por isso se faz mister seguir iê aterse ao que no ente está junto Zusamtnen enquanto porém o Lógos se essencialisa como o que no ente está junto ais dieses Zusammen a multidão vive como se cada qual tivesse seu próprio entendimento sentido O que inferimos dêsses dois fragmentos Do Lógos se diz 1 que lhe pertence a constância o per manecer 2 que êle se essenciallza como o que está junto no ente o conjunto do ente o unificante 3 tudo que acontece ié que chega a ser dáse segundo e em virtude dêsse conjunto constante êsse é o vigor imperante O que aqui se diz do lógos corresponde exatamente ao sig nificado próprio da plavra coleção reunião Sammlung As sim como a palavra alemã Sammlung diz 1 o reunir das Sammeln e 2 o que está reunido die Oesapmelthelt tam bém logot significa aqui a unidade de reunião ié o que es 152 tan do reunido remit die gesammenlnde Gesammeltheit o reunificante originário idas ursprüngiich Sammelnde Logos portanto não significa nem sentido nem palavra nem doutri na nem mesmo sentido de uma doutrina mas significa a unidade de reunião constante e em si mesma imperante que é a que reúne em sentido originário Sem dúvida o contexto do Fragmento 1 parece sugerir uma interpretação do logos no sentido de palavra e discurso e até parece exigila como única possível posto que se alude ao ouvir dos homens Há mesmo um fragmento em que tal nexo entre Lógos e ouvir se exprime diretamente Se não me tendes ouvido a mim mas o Logos então é sábio dizerse portanto um é tudo Fragmento 501 Aqui o Logos é concebido como algo que pode ser ouvido Que outra coisa portanto podería significar essa palavra se não pronunciamento discurso palavra principalmente se se leva em conta que na época de Heráclito lekeiu já era usado com o significado de dizer e falar Ê o que diz o próprio Heráclito Fragmento 73 Não se deve agir e falar como no sono Nesse caso usado em oposição a poiein legein não pode significar outra coisa do que dizer falar Não obstante nas passagens decisivas acima Fragmentos 1 e 2 logos não signi fica discurso e palavra O Fragmento 50 que parece falar es pecialmente em favor de lópos como fala nos dã corretamente interpretado uma indicação para compreendermos logos de um ponto de vista totalmente diferente para se ver e entender com clareza o que significa logos no sentido de reunião constante temos que apreender com maior precisão o contexto dos Fragmentos citados cm primeiro lugar Os homens estão diante do logos como quem não o com preende iaxynetoi Essa palavra Heráclito a usa frequente mente Cfr prineip aim ente o Fragmento 34 Tratase da negação de synMemi que significa ajuntar axUnetor os hcunens são tais que não ajuntam mas não a juntam o quê O logos aquilo que está constantemente junto a unidade de 153 reunião die Gesammelteit I Os homens permanecem sempre aquêles que não ajuntani que não compreendem não apreen dem numa unidade independente de ainda não terem ou já terem ouvido A proposição seguinte diz o que se tem em men te Os homens não chegam até ao logos embora o tentem com palavras epea Sem dúvida que aqui se alude a palavra e fala mas justamente para dlstlnguilas até mesmo opólas ao logos Heráelito quer dizer os homens ouvem e ouvem por certa pa lavras Nesse ouvir porém não podem auscultar ié seguir aquilo que nâo é audível como as palavras o que não é fala alguma e sim o logos Corretamente entendido o Fragmento 50 prova exa tamente o contrário do que dêle geralmente se lê Pois diz não deveis ficar presos às palavras mas perceber o logos Posto que logos e legem já significam então fala e dizer embora não se jam a Essencialização do Logos por isso logos é contraposto aqui às epeo à fala Correspondentemente se opõe também ao simples ouvir e ao ouvir por aí Uoeeren und Herunihceren u autentico ouvir que é auscultar seguir e ser obediente ao que se ouve IIcerigsein 19 o simples ouvir se dispersa e des trój no que se pensa e se diz no ouvir dizer na doxa na apa rência O auscultar autêntico porém não tem nada a ver com orelhas e palavreados mas segue aquilo que o Logos é a uni dade de reunião do ente em si mesmo die Gesammeltheit des Seienden selbst Ouvir verdadeiramente sò podemos quando já prestamos ouvido ié quando somos obediente ao que ouvi pos hcerigsein Essa obediência entretanto nada tem a ver com lóbulos aurieulares Quem não fôr obediente estará de antemão igualmente distante e excluído do logo8 por mais que possa ter ou não ter ouvido antes com as orelhas Aquêles que só ouvem porque esticam as orelhas para tudo e divul gam o que assim ouviram são e permanecem axynetoi os que não compreendem O Fragmento 34 nos diz de que espécie são êsses ouvintes os que não julgam juntar o conjunto constante são ou vintes que equivalem a surdos Cuvem de certo palavras e discursos e não obstante per manecem trancados ao que deviam ouvir O provérbio dá tes temunho do que realmente são presentes ausentes Estão lá 154 mas longe Em que os homens se acham na maioria das vêzes e de que não obstante se encontram distantes S o que diz o Fragmento 34 pois àquilo com que êles às mais das vêzes se entretêm continuamente ao logos a êle lhe voltam as costas e aqui lo com que se deparam diariamente lhes aparece estranho O logos é aquilo com que os homens estão continuamente e do qual também sempre distam São presentes ausentes e assim os axgnetoi os que não compreendem Em que consiste portanto o nãocompreender o não poder compreen der dos homens que embora ouvindo palavras não apreendem o logos Junto a que e longe de que estão sempre os homens Conti nuamente lidam com o Ser e sem embargo o Ser lhes é estra nho Com o Ber têm de haverse sempre porquanto conztan temente e comportam e relacionam com o ente Élhes en tretanto estranho o Ser enquanto dêle se apartam por não o apreenderem e sim pensarem que o ente é simplesmente ente apenas e nada mais De certo estão acordados com relação ao ente e no entanto o Ser lhes permanece oculto Dormem e até ineamo o que então fazem se lhes escapa Afanamse com ente e têm o mais palpável das handgreiflichste pelo que se deve compreender das Zubegreifende E assim cada um tem sempre o que lhe é mais próximo e apreensivel Um se atém a isso outro àquilo e o sentido de cada qual sempre está absorvido pelo que lhe é próprio é sempre o sentido do pró prio e particuar Eigensinn 20 Èsse os impede de ter sensibilidade para o que está reunido em si das ín sich Ge sammelte Tiralhes a possibilidade de serem obedientes assim de ouvirem Logos é a reunião Sammlung constante a unidade de reunião consistente em sl mesma do ente die In sich stehende Gesammeltheít des Seienden ié o Ser Por isso fcafá tòn lo gon e katá physin do Fragmento 1 significam o mesmo Physis e logros são a mesma coisa Lógos caracteriza o Ser de um pon to de vista novo e antigo ao mesmo tempo o que é ente o que é consistente e estável achase reunido em si mesmo por si mesmo e se mantém nessa reunião O eon o ente é em sua essencialização xVnon presença reunida Xgnon não significa 155 o universal mas o que reúne tqdo em si e o mantém junto Um tal xynon é segundo o Fragmento 114 o nomos para a polis a legislação legislar entendido aqui como reunir a es trutura interior das innere Geíüge da polis não um univer sal não algo que flutua sôbre tudo e ninguém apreende mas a unidade origin âri am ente unificante do que tende a separar se Auseinanderstrebende O sentido do próprio e particular Eigen sin idia phronesis que se tranca ao logos se atém apenas a um ou outro aspecto pensando encontrar ai o ver dadeiro O Fragmento 103 diz o ponto inicial e o ponto final reunidos em sí são um e o mesmo na linha circular Não te ri a sentido querer entender nessa passagem zyntm como o flniversal Para os que só têm sentido para o próprio e particular die Eigensinnigen a vida é sòmente vida A morte é para êles morte e mais nada Na realidade porém o ser da vida é ao mesmo tempo morte Tudo que começa a viver já começa também a morrer a caminhar para a morte de sorte que a morte é também vida No Fragmento 8 diz Heràclito o que se contrapõe carregase mútuamente um e outro num vaivém hiniiber und herüber reunese por si mesmo O que tende a oporse é a unidade de reunião logos O Ser de todo ente é o que mais aparece ié o mais belo o que em si mesmo é o mais consistente Para os gregos beleza é disciplina íBamdigung A reunião daquilo que mais tende a oporse é polemos o embate entendido no sentido explicado do processo de porse um fora do outro Auseinandersetzung Para nós modernos o belo é ao contrário o que alivia tensões descansa e tranquiliza e por isso algo destinado ao prazer e gõzo Assim a arte é algo do dominio das confeitarias Na essencialização não faz nenhuma diferença se o gôzo artístico serve para sa tisfazer o sentido apurado do especialista e esteta ou para a elevação moral do espirito Para os gregos on e kaltm dizem a mesma coisa Vigor da presença Anwesen ê puro aparecer A estética pensa de outra maneira Ela é tão antiga como a lógica Para ela arte é a expressão do belo entendido como aquilo que agrada por dar prazer De fato porém a arte é a abertura do Ser do ente Devemos dar um nôvo conteúdo à palavra arte1 e àquilo que ela significa Um nôvo conteúdo 156 a partir de uma posição fundamentai para com o Ser readqui rida originàrlamente Finalizamos a caracterização da Essencialização do Logos que Heràclito pensa assinalando dois pontos que ainda não íoram explicados 1 O dizer e ouvir só são justos quando se orientam prè viamente e em si mesmos pelo Ser o Lógos Somente onde êsse se manifesta a voz chega a ser palavra Sòmente quando se percebe o Ser do ente que se revela o simples ouvir por aí hermhceren se converte em auscultar Enquanto aqueles que não apreendem lagos akousai ovfc epistamenon oudeipein não são capazes de ouvir nem também de dizer frag 19 Não conseguem dar à existência solidez dentro do Ser do ente Só aqueles que podem fazêlo dominam a palavra os poetas e os pensadores Os demais cambaleiam apenas no circulo do sentido do próprio e da incompreensão Só deixam valer o que lhes vem ao encontro o que os lisonjeia e lhes é conhecido São como cachorros kynes gar kai bauzousin on an me gignos kousi pois o cachorro também ladra aos que não conhece Frag 97 São ásininos Onous syrmat an elesthai mallon e chrVson os jumentos preferem feno ao ouro Frag 9 Em tôda a parte se afanam continuamente com o ente enquanto o Ser lhes permanece oculto O Ser não se pode pegar e tocar nem ouvir com as orelhas nem cheirar É algo inteiramente diverso de um mero vapor e fumaça ei panta ta otita kapnos genoito rhines an diagnoein se todos os entes se dissolvessem desfizessem em fumo as narinas seriam o que os distingui riam e perceberíam Frag 7 2 Posto que o Ser entendido como Lógos é reunião ori ginária e não amontoamento e entulho em que tudo Valeria Igualmente tanto e tão pouco convém e lhe pertence emi nência e predomínio Para se poder revelar tem que possuir e conservar em si mesmo uma posição preeminente O fato de Heràclito falar da multidão como de cachorros e jumentos ca racteriza essa posição Ela pertence essencial men te à existên cia grega Quando hoje se é partidário às vêzes com dema siado fervor da Polis dos gregos não se deveria subestimar êsse lado do contrário o conceito de Polis se torna facilmente ino 157 cente e sentimental G eminente é o mais forte Por isso o Ser o Lógos entendido como a harmonia reunida não é fàcil mente e de modo igual acessível todo mundo mas oculto em contraposição àquele acordo que significa nivelamento ani quilamento de tensões igualdade harmonia aphanes premeres kreition a harmonia que não se mostra imediatamente e sem mais é mais poderosa do que o que sempre se mostra Frag 54 Justamente por ser lógos harmonia aletheia physis phai nesthai o Ser não se mostra de qualquer maneira O verda deiro não é para todo mundo mas somente para os fortes Foi em consideração a essa superioridade e ocultamento do Ser que foram ditas aquelas palavras estranhas que por parecerem tão pouco gregas testimunham justamente a Essencialização da experiência grega do Ser do ente alí osper sarma eikei ke chymenon o kattistos kosmos mas como um monte de estéreo confusamente entulhado é o mundo mais belo Frag 124 Sarma é o conceito oposto a logos o simples amontoado frente ao que se sustem em sua consistência o entulho frente à unidade de reurdão o anfiser tMsein frente o Ser A exposição comum e corrente da filosofia de Heráclito a resume nas palavras panta rhei tudo flui Coso provenham de Heráclito tais palavras então elas não querem dizer tudo é uma simples troca e mudança que se processa progressiva mente pura inconstância mas que a totalidade do ente se acha arrojada em seu ser de uma oposição ã outra numa oscilação constante que o Ser é a unidade de reunião dessa inquietação que se contrapõe Ao conceber a significação fundamental de logos como reunião e unidade de reunião devese estabelecer e fjxar o seguinte A reunião nunca é uma simples acumulação e am on toa mento Ela mantém numa correspondência o que tende a des pregarse e contraporse Não permite desfazerse na dispersão e no simples amontoado Entefídldo como retensão o lógos tem o caráter do vigor que domina penetrando Durchwalten da physisL O que assim é dominado a reunião não o deixa dissolverse numa vazia inércia de contrastes e shn a partir de sua união retém o que tende a oporse no máximo rigor de sua tensão 15ü Agora é a ocasião de voltar à questão sôbre o conceito cris tão de lógos especialmente o do Nôvo Testamento Para uma exposição mais exata deveriamos distinguir entre os Sinóticos e São João Em princípio porém podese dizer no Nôvo Tes tamento Lógos não significa desde logo como em Heráclito o Ser do ente a unidade de reunião do que tende a oporse mas entende significar um ente particular o Filho de Deus E êsse no papel de Mediador entre Deus e os homens Essa represen tação do Lógos do Nôvo Testamento é a mesma da filosofia da religião dos judeus que Filão construiu Em sua doutrina da Criação atribui êle ao Lógos a determinação de mesites de me diador Em que medida é êle Iogas Pois na tradução grega do Antigo Tstamento A Septuaginta logos é o nome para a pa lavra e palavra no sentido preciso de ordem mandamento oi deka logoi são os dez mandamentos de Deus o Decálogoi As sim logos significa keryz aggelos o mensageiro o enviado que transmite ordens e mandamentos logos tou staurou ê a palavra da Cruz Ora a mensagem da cruz é o próprio Cristo êle é o Logos da salvação da Vida Eterna lógos zoes Um mun do separa tudo isso de Heráclito Tentames expor a compertinência essencial de physis e iogas com o propósito de compreender por essa unidade a ne cessidade e possibilidade Intrínseca da distinção Todavia agora frente á caracterização do Logos de Herá clito quase que se vê alguém tentado a objetar o Logos perten ce essencialmente de modo tão íntimo ao Ser que se torna inteiramente questionável como poderá nascer dessa unidade e mesmldade de physis e lógos a contraposição do Logos como pensar ao Ser De certo temos aqui uma questão Na ver dade uma questão que de forma alguma pretendemos subes timar embora grande seja a tentação Mas agora só podemos dizer o seguinte se a unidade de pAjsís e toges é tão originá ria também a sua distinção deve ser também correspondente mente originária Se ademais essa distinção entre Ser e Pen sar é diferente e se opõe de maneira diferente das anteriores é porque aqui o separarse tem um outro caráter Por Isso em correspondência ao modo em que afastamos a interpretação do lógos de lôdas as deturpações ulteriores e a procuramos com preender a partir da Essencialização da physis assim também temos de procurar compreender agora êsse acontecimento da 159 Sôbre o que se pergunta em terceiro lugar parece já es tarmos suficientemente informados pelo que se disse anterior mente da physis O noein mencionado em segundo lugar é porém obscuro principalmente se não traduzirmos êsse verbo diretamente por pensar e o determinarmos no sentido da lógica como a predicação analítica Noein significa perceber nous a percepção e num duplo sentido conexo entre si De um lado perceber vernehmen diz admitir hinnehmen deixar chegar a saber aquilo que se mostra que aparece De outro lado perceber vernehmen 21 diz ouvir em depoi mento uma testemunha fazêla comparecer e constatar o ocor rido estabelecendo o que há com o fato Nesse duplo sentido percepção significa o deixar chegar alguém de sorte que não se aceita simplesmente mas se prepara para o que se mostra tuna posição receptiva Aufnahmestellung pretendem então rece ber inimigo que se lhes aproxima e recebêlo de modo a pelo menos detêlo zum Stehen bringen 22 Êsse deter recep tivo wumstehenbrigen daquilo que aparece é o que signi fica noein Dêsse perceber afirma a frase de parmênides que é o mesmo que o Ser Com isso chegamos à explicação do que se perguntava em primeiro lugar o que significa to auto o mesmo O que é o mesmo que outro vale para nós como igual como uma e a mesma coisa Em que sentido de unidade se pensa o um do mesmo Determinálo não está ao sabor de nosso arbítrio Ao contrário agora quando se trata do dizer do Ser devese entender a unidade nc sentido em que Parmêni des pensa com a palavra en Já sabemos que nesse caso a unidade nunca é a vazia indiferença do Igual Einerleitheit não é a mesmldade entendida como mera equivalencla Glelchgültígkeiti Unidade é o pertencer daquilo que tende a oporse a um único conjunto Élsse é o que une originária mente For que diz Parmênides te kai Porque Pensar e Ser estão unidos no sentido do que tende a oporse ié são o mesmo como pertencentes um ao outro num único conjunto Como havemos de compreender isso Partamos do Ser que se nos foi esclare cido como physis de vários aspectos Ser diz estar na luz apa recer entrar na revelação e descobrlmento Unverborgenheit Onde tal acontece ié onde o Ser impera lá também impera e 102 acontece como pertencente a êsse vigor do Ser a percepção o porae em posição receptora daquilo que está em si mesmo cons tante e se mostra Com uma precisão ainda maior diz Permênides a mesma frase no Fragmento 8v 34 taiíton desti noein te kai ouneken esti noema o mesmo é a percepção e aquilo em virtude do qual a percepção se dá A percepção se dá em virtude do Ser Ora êsse só se Essenclaliza como aparecer entra apenas em desvelamento quando se dá revelação quando se dá um abrir se e manifestarse Nessas duas formulações a frase de Par mênldes nos proporciona uma visão ainda mais originária da Essencialização da phVsis A ela pertence percepção o vigor imperante da phiisis é também o vigor imperante da percepção Em primeira aproximação a frase nada diz do homem e sobretudo do homem como sujeito e absolutamente nada de um sujeito que reduz todo o objetivo a algo meramente sub jetivo De tudo isso diz justamente o contrário o Ser vigora e porque e na medida em que vigora e aparece dãse neces sariamente com a aparência também a percepção Se porém no darse Geschehnis dessa aparência e percepção o homem deve participar êsse terá também de ser deverá também per tencer ao Ser A essencialieação e o modo de ser do homem só se pode então determinar a partir da Essencialização do Ser Dado que porém o aparecer pertence ao Ser entendido tomo pAJfsis o homem deve como ente pertencer a tal apa recer Por sua vez visto que o ser homem constitui manifes tamente um ser próprio e peculiar no meio do ente em sua totalidade seguese que a peculiaridade do ser do homem surge do seu modo próprio e específico de pertencer ao Ser como aparecer imperante e vigente Enquanto porém a êsse apa recer pertence percepção o perceber receptor daquilo que se mostra poderseá pressupor que é a partir dai que se deter mina a essencialização do ser homem Por isso tratandose da interpretação daquela frase de Parmênides não podemos proce der introduzindo na interpretação uma concepção do ser do homem posterior ou até moderna Ao contrário a frase por si mesma nos deve dar a indicação de como seguindoa ié se guindo a Essencialização da Ser se determina a essencialização do homem 103 Segundo a frase de Heràclito só se exibe fedelxe se mos tra quem ê o homem no polemos no separarse de deuses e homens no acontecer da irrupção do próprio Ser Quem é o homem não está escrito no céu para os filósofos Aqui vale ao invés o seguinte 1 A determinação da essencialização do homem nunca é uma resposta mas essencialmente uma questão 2 A investigação dessa questão e sua decisão é Histórica não apenas de modo geral mas é a essencialização do acontecer Histórico 3 A questão sôbre quem é o homem deve ser sempre co locada em conexão essencial com a questão sôbre o que há com o Ser A questão sôbre o homem nâo é uma questão antropológica mas uma questão Histórica mente metafísica Essa questão não pode ser investigada suficientemente na esfera da metafísica tradicional que em sua essencialização permanece sempre física Assim o que se chama noits e noeín na frase de parmênides não podemos desfigurar com um conceito de homem que nós mesmos trazemos para a interpretação Devemos antes fazer a experiência de que o ser do homem só se determina a partir do acontecimento da correspondência essencial entre o Ser e a Percepção E o que é o homem nesse vigor de Ser e Percepção O iní cio do Fragmento 6 que já conhecemos nos dá a resposta chre to legein te noein teon emenai o legein Ó necessário tanto quanto a percepção a saber o ente em seu Ser O noein ainda não podemos conceber aqui simplesmente eomo Pensar Nem basta também entendêlo como percepção se e enquanto tomamos percepção nesciamente e de modo corrente como uma faculdade como um modo de comportarse do homem e do homem assim como nos figuramos de acôrdo com uma biologia e psicologia ou gnoseoologia vazia e pálida E é o que ocorre até mesmo quando não nos referimos expres samente a tais representações 164 A percepção e o que Parmênides diz dela não constituí uma faculdade do homem já determinado emsl A percepção é um acontecimento em que o homem nêle acontecendo entra no acontecer Histórico como o ente que é isso quer dizer no sen tido literal da palavra em que o homem mesmo chega ao Ser A percepção não é um modo de comportarse que o ho mem possui como uma propriedade Muito pelo contrário a percepção é o acontecimento que possui o homem Por isso se fala sempre de noein simplesmente de percepção O que se realiza nessa sentença não é nada menos do que o apareci mento InErscheinung tretenl consciente do homem como Histórico guardião do Ser A sentença é tão decisivamente a determinação do ser do homem normativa para o Ocidente como uma caracterização da Essencialização do Ser Na corres pondência de Ser e essencialização do homem se esclarece o separarse de ambos Na distinção Ser e Pensar de há multo esvaziada desarraigada e empalidecida jã não poderemos re conhecerlhe a origem a menos que retornemos ao seu prin cipio A modalidade e o sentido da oposição entre Ser e Pensar só é assim tão particular porque aqui o homem encara o Ser Tal acontecimento é o aparecimento consciente do homem co mo Histórico Somente depois de ter sido conhecido como um tal ente é que êle foi definido num conceito a saber como soon logon echon animal rationale animal racional Nessa de finição do homem se apresenta o lóços mas de uma forma inteiramente irreconhecível e numa vizinhança muito estranha Essa definição do homem ê no fundo zoológica O zoon de semelhante zoologia permanece questionável em muitos pon tos E entretanto foi dentro dos limites dessa definição que a doutrina ocidental do homem tôda psicologia ética gnoseo logia e antropologia se edíficou De há muito nos debatemos numa mistura confusa de representações e conceitos extraídos dessas disciplinas Ora visto que a definição do homem que suporta e car rega tudo isso mesmo sem falar de suas interpretações poste riores já é uma decadência por isso não conseguimos ver nada enquanto pensarmos e investigarmos sob o ângulo de visão por ela aberto o que se diz e se processa na sentença de parmê nides 185 A representação corrente do homem em tõdas as suas va riantes constitui apenas um impeciJho que nos veda o acesso ao espaço em que no princípio se dá e se mantém o apareci mento da essencialização do homem O outro impecilho reside no fato de nos permanecer estranha até a questão sôbre o homem Por certo que há agora livros com o título O que é o homem Todavia a questão figura apenas nas letras da capa Não se investiga e de forma alguma por se haver esquecido a investigação no meio de tantos livros a escrever mas por já se ter uma resposta â questão e uma resposta em que se diz que não se deve Investigar Que alguém creia nas proposições que definem o Dogma da Igreja Católica é uma questão Individual que aqui não se discute Que porém alguém ponha na capa de seus livros a questão O que é o homem embora ndo a investigue porque não quer e não pode é uma maneira de proceder que de antemão já perdeu todo direito de ser levada a sério E que então o Jornal de Frankfurt ainda elogie um tal livro em que só se pergunta na capa dlzendoo extraordiná rio grandioso e corajoso revela até ao mais cego aonde estamos Por que mencionamos aqui coisas desconexas com a inter pretação da Sentença de Parmenides Essa espécie de litera tura é de fato em si mesma sem importância e significação O que porém não carece de Importância é o estado entrevado de tôda paixão de investigar de que sofremos já desde tanto tempo Tal estado acarreta consigo que todos os critérios e atitudes se confundem e a maioria já não sabe onde e entre que se deve decidir caso se deva conjugarse com a grandeza da vontade Histórica o rigor e a originalidade do saber His tórico Indicações como essas só mostram quão longe de nós se acha a investigação de uma questão entendida como acon tecimento fundamental do ser Histórico Já perdemos até a compreensão e sensibilidade da questão Por isso para a re flexão do que se vai seguir damos os pontos essenciais de referência 1 A determinação da essencialidade do homem nunca é resposta mas essenclalmente questão lôfi 2 A investigação dessa Questão é Histórica no sentido originário segundo o qual é essa Investigação que ins taura pela la vez o acontecer Histórico 3 Eé assim porque a questão o que é o homem só pode ser investigada dentro da questão sôbre o Ser 4 Somente quando o Ser se abre na investigação pro cessase o acontecer Histórico e com isso aquêle ser do homem em virtude do qual êle se atreve a uma disputa com o ente como tal 5 Tal disputa que se mantém numa atitude de investiga ção faz o homem retomar ao ente que êle mesmo é e deve ser 6 Somente numa investigação Histórica o homem chega a si mesmo e é uma pessoa Selbst 23 A personalidade do homem significa o homem ê chamado a transformar em História o Ser que se lhe abre e manifesta e darse a si mesmo no espaço assim aberto consistência Per sonalidade não diz que o homem é em primeiro lugar e antes de tudo um eu ou um indivíduo singular Personalidade é tão pouco um eu e um indivíduo singular quão pouco é um nós e uma comunidade 7 Por ser enquanto Histórico êle mesmo a questão sô bre o seu ser específico tem de se transformar da for ma o que é o homem na forma quem é o homem O que a sentença de Farmênldes exprime é uma determi nação da essencialização do homem a partir da Essencialização do Ser em si mesmo Todavia ainda não sabemos como se determina nesse caso a essencialização do homem Até agora tratouse apenas de delimitar o espaço no qual se exprime a sentença e exprimin dose o abre e desdobra Essa indicação gerai entretanto ain da não é suficiente para llvrarnos das representações corren 167 tes do homem e do modo de sua determinação conceituai A compreensão da sentença exige pelo menos que tenhamos uma idéia positiva da existência e do ser grego a fim de podermos apreenderlhe a verdade Da sentença de Herãclito Já tantas vêzes mencionada sa bemos que só no polemos na disposição Auselnadersetzung do Ser se processa e acontece a separação de deuses e de ho mens só êsse embate eideixe mostra faz aparecer e surgir em t seu ser deuses e homens Quem é o homem não chegaremos a saber por meio de uma definição erudita Só o sabemos quando o homem entra numa posição de disputa com o ente tentando pôr o ente em seu lugar ié colocála dentro dos limi tes e da forma o que significa projetando algo de nôvo ainda não presente ié poetando originàriamente fundando poéti camente O pensar de Parmênides e Herãclito ainda é poético o que significa aqui ainda é filosófico e não científico Posto que nesse pensar poetante a proeminência cabe ao pensar a re flexão sôbre o ser do homem adquire uma orientação e uma medida tôda sua Para se iluminar suficientemente êsse pensar poético por meio de seu reverso que lhe pertence intrínseca mente e preparar assim a sua compreensão investigaremos agora um poetar pensante dos gregos e precisamente aquêle em que se instaura pròpriamente o ser e a existência corres pondente dos gregos a tragédia Procuramos entender a separação de Ser e Pensar em sua origem Tratase do titulo com que se designa a atitude fundamental do espírito ocidental Pelo âmbito do pensar e da razão se determina o Ser È o que continua a ocorrer ainda quando o espirito do Ocidente se esquiva a uma simples predo minância da razão procurando o irracional1 e buscando o alóglco Perseguindo a origem da separação de Ser e Pensar en contramos a sentença de Parmênides to gar auto noein estin te kai einai De acòrdo com a tradução e interpretação corren tes isso significa Pensar e Ser são o mesmo Podemos chamar essa sentença o princípio condutor Lelt satz da Filosofia Ocidental mP com a ressalva da seguinte observação 168 A sentença só se tornou o principio condutor da Filosofia Ocidental por não se têla mais compreendido uma vez que a sua verdade originária não pôde ser conservada O afastarse da verdade da sentença já se iniciou entre os próprios gregos lego depois de parmênides Verdades originárias dêsse jaez e envergadura só se poderão conservar na medida em que cons tantemente se desdobram e desenvolvem de modo ainda mais originário Nunca por simples aplicação ou mero recurso e apelação O que é originário só permanece e continua originá rio enquanto gozar e possuir sempre a possibilidade de ser aquilo que é origem entendida como originarse a partir da revelação de sua Essencialização Tentemos readquirir a ver dade originária da sentença A primeira indicação de que a interpretamos de um outro modo temos com a tradução A sentença não diz Pensar e Ser são o mesmo mag Percep ção e Ser pertencem conjuntamente numa reciprocidade Todavia o que significa isso De qualquer modo a sentença evoca o homem Por Isso é quase inevitável que logo se lhe introduza a representação cor rente do homem Assim se falsifica a essencialização do ho mem experimentada de modo grego seja no sentido do con ceito cristão moderno seja no sentido de uma mescla vazia e pálida de ambos Entretanto essa falsificação do homem por meio de uma representação não grega é a mal menor O funesto pròpria mente consiste em não se atingir fundamentaimente a verdade da sentença Com efeito na sentença se realiza a primeira determinação decisiva do ser do homem Por isso não só devemos afastar da interpretação essa ou aquela idéia de homem mas em geràl qualquer uma Temos que tentar ouvir apenas o que na sen tença se diz Por outro Lado visto que não apenas não somos experi mentados em tal ouvir mas temos sempre os ouvidos cheios do que nos impede de ouvir corretamente tivemos de mencionar mais a modo de enumeração as condições de uma investigação autêntica sôbre quem é o homem Como a determinação pensante do ser do homem realizada por Parmênides é de Imediato de acesso difícil e estranha 109 buscaremos ajuda e indicações numa configuração poética do ser do homem dos gregas Leiamos o primeiro Coro de Antigona de Sófocles v 332275 Ouçamos primeiro a palavra grega a fim de termos no ouvido algo de seu som A tradução dia Muitas são as coisas estranhas nada porém há de mais estranho do que o homem Parte sôbre as espumas da préiamar ne melo da tempestade do Inverno sulino e cruza as montanhas de vagas que abrem abismos de T raiva Extenua a infatigabilidade indestrutível da mais sublime das deusas a Terra revolvendoa ano após ano arrastando com cavalos para lá e para cá os arados Sempre astuto o homem enreda o bando dos pássaros em revoada e caça os animais da selva e os agitados moradores do mar Com astúcia domina o animal que pernoita e anda pelos montes subjuga o dorso de ásperas crinas do corsel e põe o jugo das cangas de madeira ao touro não domes ticado A si mesmo encontrou tanto no soar da palavra e na comprensão que com a rapidez do vento tudo abarca como no denôdo com que domina as cidades Igualmente pensou como escapar aos dardos do clima bem como às Inclemênclas do frio Pondose a caminho em tôda parte desprovido de expe riência e em aporia chega êle ao Nada A morte é a única agressão de que não se pode defender por nenhuma fuga embora consiga esquivarse hàbll mente às penas da enfermidade Garboso muito embora porque domina mais do que o esperado a habilidade inventiva cal muitas vêzes até na perver sidade outras saemlhe bem nobres empresas Por entre as leis da terra e a conjuntura exconjurada pelos deuses anda êle Ao sobrepujar o lugar o perde a au dá cia o faz favorecer o nãoser contra o ser Aquele que põe isso em obras não se tome familiar de minha lareira nem tão pouco o meu saber compartilhe comigo o seu desvairarse A interpretação que se segue será forçosamente ineficiente já pelo simples fato de não poder ser construída a partir de todo o texto da tragédia e multo menos ainda de todo o con texto da obra do poeta Nem se tratará da escolha das varian tes e das modificações introduzidas no texto A interpretação se desenvolve em três passos nos quais percorreremos cada vez sob ponto de vista diferente todo o canto No primeiro passo destacaremos propriamente o que cons titui a fôrça interna do poema e que por conseguinte também atravessa e dá consistência à configuração linguistics do todo No segundo passo seguiremos a sequência de estrofes e an tistrofes bem como demarcaremos os limites de todo o domínio que o poema instaura e revela No terceiro passo tentaremos tomar pé no meio do todo para avaliar quem é o homem segundo êsse dizer poético Primeiro passo Buscamos o que carrega e impregna o todo Pràpriamente não precisamos procurálo Três coisas por três vêzes como um choque repetido nos abala e de ante mão esfrangalha todos os critérios das perguntas e determina ções cotidianas A primeira é o inicio polia ta áeina Muitas sâo as coisas estranhas nada porém há de mais estranho do que o homem 171 Nesses dois primeiros versos já de antemao se esboça tudo aquilo que durante todo o canto procuraseá alcançar nos vários versos e esculpir na estrutura das palavras Dito com ttma palavra o homem é to deinotaton o que há de mais es tranho Êsse dizer concebe o homem pelos limites supremos e pelos abismos mais surpreendentes de seu ser Essa surpresa e fínítude nunca se tornarão visíveis aos olhos de uma mera constatação e descrição do que é objetivamente dado Vorhan denesl ainda que fossem mil os olhos que quisessem encontrar no homem estados e propriedades Tal ser só se revela e se abre a um projeto poéücopensante Não se encontra nada de uma descrição de exemplares humanos dados objetivamente nem tão pouco uma exaltação ridiculamente cega da essência do homem de baixo para cima A partir de um ressentimento insatisfeito que procura agarrase a uma importância cuja ausência se ressente Nada da sobranceria de uma personali dade Entre os gregos não há ainda personalidade por isso também nada de superpessoal überpersoenllch O homem é to deinotaton o que há de mais estranho no estranho A palavra grega deinon como u nossa tradução necessitam aqui uma explicação prévia Essa só poderá ser dada a partir de uma previsão inexpressa de todo o canto que é a única coisa que dá uma interpretação adequada para os dois primeiros ver sos A palavra grega deinon ê ambígua oscila naquela estra nha ambiguidade com que o dizer dos gregos percorria as dis posições contrapostas do Ser die gegenwendigen Auseinan dersetzungen des Seins Uma vez deinon significa o terrível não porém os peque nos temores e muito menos ainda possui aquela significação decadente néscia e inútil em que se usa hoje a palavra quando se diz terrivelmente belo Deinon é o terrível no sentido do vigor predominante überwaeltigendes Walten que provoca simultaneamente e de modo igual tanto o terror do pânico a verdadeira angústia como o temor concentrado quieto que vi bra em si mesmo A violência predominante é o caráter essen cial do próprio vigor que impera Walten Onde êsse irrompe pode reter em si o seu poder subjugador Todavia não se torna por isso mais inofensivo e sim ainda mais terrível e distante Outra vez deinon significa o vigoroso no sentido daquele que usa o vigor da violência Que não apenas dispõe de vio 172 lência mais instaura o vigor da violência Gewalttsetig en quanto o emprêgo de violência constitui a feição fundamental não de seu agir mas de sua existência A palavra instaurar n vigor da violência damos aqui um sentido essencial que em principio transcende o significado corrente segundo o qual in dica às mais das vêzes arbítrio e crueldade Assim a violência do vigor é considerada dentro de um âmbito em que o critério da existência é dado pelo acòrdo e contrato de equiparação e mútua assistência e em conseqüência se despreza necessaria mente tôda e qualquer violência como simples perturbação e violação Como vigor imperante o ente em sua totalidade ê o que impõe o vigor que subjuga das überwseltígende o deinon no primeiro sentido O homem porém é deincm uma vez por quanto permanece exposto a êsse vigor imposto visto que per tence em sua essencialização ao Ser outra vez é deinon por ser o que instaura o vigor da violência no sentido indicado em segundo lugar Éle colige o vigor imperante da violência ê permite manifestarse A instauração do vigor não é uma ati vidade a mais e ao lado de outras mas o homem é essa ins tauração no sentido de que no fundo e em sua existência deixa imperar o vigor usando de violência contra a imposição e o jugo do próprio vigor gegen das überwseltigende Destarte por ser duplamente deinon num sentido originàriamente uni tário o homem é tô deinotaton o mas vigoroso o que instaura vigor no meio do vigor que impõe o seu jugo gewaltteetig innitten des überwaeltigenden Mas por que então traduzimos deinon por estranho Não foi certamente para encobrir e diminuir o sentido do vigorante do que impõe o jugo de seu vigor nem também da existência vigorosa Muito pelo contrário Posto que o deinon se diz no mais alto grau de potenciação e conjugação do ser do homem por isso a essencialização do ser assim determinado tem que tornarse logo visível numa perspectiva decisiva Todavia essa caracterização do vigente e vigorante como o estranho não será uma determinação suplementar e supletiva a saber com vistas à ação que sôbre nós exerce o vigor enquanto se trata preclsamente de compreender o deinon como e naquilo que êle é em si mesmo Mas nós aqui não entendemos estranho no 1T3 sentido de uma impressão causada em nossos estados emo cionais Estranho entendemos como o que sai e se retira do fa miliar das Heimliche lé daquilo que nos é caseiro íntimo habitual não ameaçado O estranho não nos deixa estar em casa Nisso reside o vigor que se impõe e subjuga das fiber weeltigende o homem é o que há de mais estranho não só porque conduz o seu ser no meio do estranho assim entendido mas por afastarse e sair dos limites que constituem em pri meiro lugar e às mais das vezes a sua paisagem caseira e ha bitual por transpor como o que instaura vigor as raias do fa miliar e se aventurar justamente na direção do estranho no sentido do vigor que se Impõe Para se avaliar porém em todo o seu alcance e importân cia essa palavra sóbre o homem temos também de levar em conta que ela não pretende atribuirlhe simplesmente uma propriedade especial como se o homem além de ser o que há de mais estranho ainda fôsse outras coisas Ela diz ao con trário que ser o mais estranho é o feitio fundamental da Es sencialização o homem no qual se inscrevem cada vez sempre e necessariamente todos os demais traços e caracteres A afir mação o homem é o que há de mais estranho dá a defi nição propriamente grega do homem Só atingiremos comple tamente o acontecer dessa estranheza ha medida em que tam bém fizermos experiência do poder da aparência e do combate com ela como pertencente à essencialização da existência Depois dos primeiros versos e com relação a êles a segunda palavra que tudo fundamenta e impregna se acha expressa no verso 360 É o meio da segunda estrofe Paníoporos aparos epoutien erchetai Pondose a caminho por tôda a parte des provido de experiência e em aporia chega êle ao Nada As palavras mais importantes são pantoporos aparos A palavra poros significa travessia por passagem para caminho Por tôda a parte o homem se abre caminhos Atrevese em todos os setores do ente do vigor imperante que se impõe E por isso se vê lançado fora de todo caminho Somente dêste modo se abre tôda a estranheza daquele que é o que há de mais estranho Não apenas por experimentar em tôda a sua estra nheza o ente na totalidade Não só porque nela rompe como aquêle que instaura o vigor o que lhe é familiar Êle se torna 174 em tudo leso o que há de mais estranho porque estando em todos os caminhos em aporia sem saída alguma se acha ex pulso de qualquer referência Se lhe corta tôda a ligação com 0 familiar A até a ruína e a desgraça vêm sôbre êle Pres sentimos agora em que medida Êsse pantoporos aporos contém uma Interpretação do deinotaton A interpretação se completa na terceira palavra proemi nente do verso 370 hypsipolis apolis Essa palavra é formada do mesmo modo da anterior pantoporos aporos e se Insere como ela no meio da antistrofe Não obstante se refere a uma outra dimensão do ente Não se evoca o poros mas a polis Não se indicam todos os caminhos do domínio do ente mas o funda mento e lugar da existência humana O ponto de convergên cia e cruzamento de todos os caminhos a polis Traduzse polis por Estado e CidadeEstado Essa tradução não atinge o sen tido pleno da palavra Polis quer dizer a localidade a dimen são Da em que como tal a existência Daseín expande seu acontecer histórico A polis é 0 lugar histórico o espaço no qual a partir do qual e para o qual acontece a história A essa di mensão histórica pertencem os deuses os templos os sacerdo tes as testas os jogos os poetas os pensadores os governantes o conselho dos anciãos a assembléia do povo o exército dos guerreiros os navios Tudo isso não pertence à polis não é político por assumir uma relação com um homem de Estado com um general ou com os negócios do governo Ao contrário tudo aquilo é político isto é está na dimensão do acontecer histórico enquanto por exemplo os poetas são sàmente mas en tão realmente poetas Quando os pensadores são sòmente mas então realmente pensadores Quando os sacerdotes são sòmen te mas então realmente sacerdotes sendo os governantes sò mente mas então realmente governantes São porém signi fica aqui como os que instauram vigor1 e se tornam assim emi nentes no ser Histórico como criadores e instauradores Emi nentes na dimensão da História são ao mesmo tempo apolis sem cidade e lugar solitários estranhos aporeticos sem saída no meio do ente em sua totalidade sem constituição e limites sem estrutura e dispositivos Fug de vez que como criadores são êles que devem então fundar e instaurar tudo isso O primeiro passo nos mostra assim as linhas mestras Au friss da Essencialização do que há de mais estranho os do 175 minios e a extensão de seu Império e de seu destino Voltamos agora ac início e tentamos o segundo passo da interpretação O segundo passo Seguimos agora à luz do que ficou dito a sequência das estrofes e auscultamos como se desdobra e de senvolve o ser do homem que consiste em ser o que há de mais estranho Temos de prestar atenção no seguinte se se entende e como ss entende o ãeinan no primeiro sentido se aparece e como aparece o deínora no segundo sentido se e como se edi fica dentro da relação recíproca de ambos os sentidos o ser do que há de mais estranho em sua forma essencial A primeira estrofe evoca o mar e a terra cada um a seu modo um vigor que impera e impõe o seu jugo tdefnoni A evocação do mar e da terra não toma naturalmente ambos em sua simples acepção geográfica e geológica tal como hoje se nos apresentam a nós modernos para a seguir retocálos e natizálos com alguns sentimentos mesquinhos e passageiros Mas ê aqui evocado como pela primeira vez e em suas vagas invernais em que êle rasga constantemente suas profundezas mais profundas e se arrasta até elas Logo imediatamente após a sentença principal e condutora do início o canto começa abruptamente com tonto fcuí poliou Canta o abrirse caminho sôbre a face sem fundamento das ondas o abandonar a terra firme Tal empresa não se dá no espelho sereno de águas re luzentes mas na tempestade encapelada do inverno O modo de dizer dessa partida se encaixa tão perfeitamente no movimento de cadência da estrutura da palavra e do verso como o chorei do verso 336 se põe exatamente no ponto em que a métrica muda bruscamente chorei êle abandona o lugar êle se vai e se aventura na prepotência da maré de um mar sem lugares Na estrutura dêsses versos a palavra chorei se ergue como uma coluna grega Implicada numa unidade com essa erupção largada vigo rosa no vigor imperioso do mar está a Irrupção de modo algum pacifica no império indestrutível da terra Observemos bem a terra é chamada aqui a mais excelsa das divindades O vigor insta ura dor do homem turba o repouso do crescimento da nu trição e geração da Infatigável Aqui o vigor imperioso não reina na selvageria que se devora a si mesma e sim como aquilo que sem esfôrço e fadiga sazona e prodigaliza tomando 176 da tranquilidade de uma grande riqueza tesouros inexgotávels que excedem qualquer generosidade Nesse vigor imperante ir rompe o instaurador Ano após ano o interrompe com arados e Impele a Infatigável no borborinho de seu esfôrço O mar a terra a erupção o transtorno tudo isso é enfeixado em si pelo kai do verso 334 ao qual corresponde o te no verso 338 Ouçamos agora a antistrofe Evoca os bandos de pássa ros nos ares os animais das águas os touros e cavalos das mon tanhas Os seres vivos se movem dentro de si e de seu meio Embora transbordando continuamente sôbre si mesmos se renovem em formas sempre novas permanecem todavia numa unlca trilha pela qual conhecem o lugar por onde andam e onde pernoitam Como Sêres vivos se encaixam no vigor im perante do mar e da terra Nessa vida que se desenrola em si mesma desabituada em seu círculo estrutura e fundamento lança o homem os seus laços e as suas rédes Arrancaa de sua ordem e tranca em cercados e currais submetendoa a jugo Lá irrupção e desmoita Aqui aprisionamento e sub jugação Agora antes de passar à segunda estrofe e sua antistrofe fazse necessário Intercalar uma advertência para pôr côbro a uma interpretação falsa de todo o poema Um perigo sugestivo e mesmo corrente para o homem moderno Já indicamos antes que não se trata no poema de uma descrição e caracterização dos diversos domínios e da conduta do homem qual ente dado entre outros entes Tratase do projeto poético de seu ser ediflcado segundo suas possibilidades e seus limites supremos Com isso já se previne contra outra opinião segundo a qual o poema narraria a evolução do homem desde o caçador selva gem e habitante de árvore até o construtor de cidades e cultu ras São representações da etnografia e psicologia dos primi tivos que nascem da falsa transposição de uma ciência natural já em si mesma não verdadeira para o ser do homem O erro fundamental que serve de base a tais modos de pensar con siste em se crer que o principio do acontecer Histórico deve ser primitivo atrazado acanhado e débil Na verdade porém se dá o contrário O princípio é o que há de mais estranho e poderoso O que lhe sucede não é progresso e evolução mas aplanamento no sentido de simples propagação e alargamento 177 É a impossibilidade de reter e conservar o principio É sim plificação inofensiva e exorbitância do principio que o defor ma em grandeza no sentido de quantidade puramente numé rica e grandeza de massa O que há de mais estranho é o que é por guardar em si um princípio em que tudo prorrompe conjuntamente de uma superabundâncla e plenitude num vigor que se impõe e se destina a predominar Não se poder explicar que um tal princípio não constitui ne nhuma deficiência e fracasso de nosso conhecimento do acon tecer Histórico Na compreensão do caráter misterioso dêsse principio reside ao contrário a autenticidade e a grandeza de um conhecimento Histórico Saber algo de uma História ori ginária não consiste em remover a poeira do primitivo nem em colecionar esqueletos Não é ciência natural nem pela metade nem por inteiro e sim no caso de ser alguma coisa Mitologia A primeira estrofe e antistrofe evocam o mar a terra e o anima como o vigor que se impõe dominante o qual aquele que instaura o vigor deixa manlfestarse em todo o vigor de sua fôrça prevalente tlbergewalt Considerada externa mente a segunda estrofe passa de uma descrição do mar da terra dos animais para a caracterização do homem Não obstante assim como na primeira estrofe e antistrofe não se falava apenas da natureza no sentido estrito assim também não se fala na segunda unicamente do homem Antes pelo contrário o que será evocado agora a lingua gem a compreensão a disposição afetiva Stimmung 24 a paixão e a edificação não pertencem menos à fôrça do vigor imperante do que o mar a terra o animal A diferença reside apenas no modo do vigor Os últimos exercem o seu vigor circundando e carregando constrlngindo e estimulando o ho mem enquanto o vigor dos primeiros o impregna e perpassa como aquilo que o homem como o ente que é tem de assumir em seu ser Êsse vigor que se exerce impregnando nada perde de sua fôrça subjugante pelo fato de o homem tomáto imediatamente em seu poder e usálo como tal Dessa forma o estranho da linguagem das paixões se oculta como aquilo no qual o ho mem como homem Histórico está disposto parecendolhe multo embora ser êle quem dispõe A estranheza dêsses poderes re side precisamente em sua aparente familiaridade e facilidade 178 Imedlatamente só se dão e oferecem ao homem em seu modo de ser não essencial Unwesen e assim o mantém fora de sua essencialização Desta sorte o que para êle tem a aparência de ser o mais próximo e Imediatamente dado élhe no fundo ainda mais distante o seu vigor o domina ainda mais do que o mar e a terra Quão distante o homem se acha de sua própria essencia lização mostra a opinião que faz de sl mesmo como quem In ventou e pôde Inventar a linguagem e a compreensão as edi ficações e a poesia Como podería o homem jamais inventar o vigor que o im pregna em razão do qual êle pode ser simplesmente homem Pensando que o poeta atribuí aqui ao homem a Invenção de coisas tais como edificações e linguagem esquecemos total mente de que nesse poema se trata do vigor que subjuga dei non do estranho A palavra eáitiaxato não significa que o homem Inventou mas que êle se encontrou no vigor que do mina e subjuga e só aqui encontrou a si mesmo a saber a fôrça de quem instaura êsse vigor Segundo o que antecede o a sl mesmo significa também aquilo que irrompe e arrotei a que aprisiona e submete a jugo É êsse Irromper e arrotear êsse aprisionar e domar que constituem em st mesmos a abertura o espaço livre que re vela o ente como mar como terra como animal Irrupção e arroteamento só acontecem quando o poder da linguagem da compreensão da disposição afetiva e da edificação são dis ciplinados na instauração de vigor Gewalttsetigkeit Êsse vigor de Instauração do dizer poético do projeto do pensador das estruturas de construção da criação política não é uma atividade ou atuação de faculdades que o homem possui mas um sujeitar e dispor das forças do vigor em virtude das quais o ente se abre e manifesta como tal ao inserirse e instau rarse nêle o homem Essa abertura e manifestação do ente constitui o vigor que o homem tem de disciplinar para ins taurando vigor ser então êle mesmo no meio do ente Ié para ser Histórico O que aqui nessa segunda estrofe se en tende por deinon não se deve falsear Interpretando como uma invenção ou simples faculdade ou propriedade do homem O uso da fôrça e vigor na linguagem na compreensão na formação e edificação cria também o que sempre significa 178 produz a Instauração vigorosa que abre caminhos no ente circunstante só quando hovermos entendido isso é que com preenderemos o caráter estranho Unheímlichkeit de tôda ins tauração de vigor Pois o homem sempre em tôda parte a ca minho não se vê em aporia e sem saída no sentido externo de esbarrar em barreiras de fora que o impeçam de continuar adiante Diante de obstáculos externos êle pode sempre con tinuar num indefinido e assim adiante A aporia consiste ao invés no fato de êle ser sempre reconduzido aos cami nhos por êle mesmo abertos aferrandose a seus percursos enredandose no já percorrido traçando nessa rêde o círculo de seu mundo emaranhandose com a aparência e trancan dose assim ao Ser Dessa forma êle se agita numa atividade febril virandose e revirandose dentro de seu próprio círculo Tudo que se opor à êsse círculo poderá excluir do raio de sua atividade Tôda habilidade que nêle se enquadrar poderá apli câIa em seu devido lugar A instauração do vigor que abre origlnàriamente os caminhos engendra então em si mesma a própria ausência de sua essencialização Unwesen na ativi dade febril de uma múltipla aplicação de habilidades Essa não é em si mesma outra coisa do que aporia Ausweglosig keit como ausência de saídas e a tal ponto que ela se tranca a si mesma o caminho de uma reflexão sôbre a aparência em que ela própria se agita Só há uma coisa em que a instauração do vigor fracassa imediatamente é a morte Ela completa überendet tôda completação Vollendung ela limita tôda limitação Aqui não há irrupção e arroteamento nem aprisionamento e sujei ção Todavia êsse estranho Unheimliche que de modo com pleto e absoluto está fora de tudo que é familiar não é um acontecimento especial que deve ser rpencionado entre os de mais por se dar também no fim Frente à morte o homem não se sente numa aporia sem saídas apenas quando tem de morrer mas constantemente e de modo essencial Enquanto o homem É encontrase na aporia da morte Assim a existência como o lugar do Ser Dasein constitui o próprio acontecer do estranho Êsse acontecer deve ser instituído para nós de modo originário corno existência 18ü Com a evocação dêsse vigor estranho que se impõe a morte o projeto poético do ser e da essencialização do homem esta belece seus próprios limites Com eíeito a segunda antístrote já não traz mais outros poderes Recolhe tudo que já foi dito em sua íntima unidade A estrofe final reconduz tudo a seu princípio fundamental Ora de acòrdo com o que ressaltamos no primeiro passo o prin cipio fundamental do que pròpriamente se tem a dizer do deinotaton consiste precisamente na referência recíproca do duplo significado de deinon Em conformidade a estrofe fina evoca em sua recapitulação três coisas 1 O vigor o império vigoroso no quai se move a ação instauradora de vigor do homem constitui todo o âmbito das maquinações to machanoen que lhe são confiadas Não to mamos a palavra maquinação em sentido pejorativo Por ela entendemos algo de essencial que se nos apresenta na pala vra grega teehne Techne não significa nem arte nem habili dade nem de certo técnica no sentido moderno Traduzimos techne por saber mas isso precisa de uma explicação Saber não significa aqui o resultado de simples constatações a res peito de dados objetivos Vorhandençs antes desconhecidos Tais conhecimentos são sempre algo apenas acessório multo embora indispensável para o saber Êsse no sentido autên tico da techne é precisamente um ver que ultrapassa o que é dado de modo objetivo Vorhandenes e assim se torna prin cipio e origem anfsenglich de permanência e consistência stsendig Essa ultravísao opera de modo diverso e por ca minhos e domínios diferentes põe em ação prèviamente o que confere ao que já é dado de modo objetivo seu devido direito sua possível determinação e com Isso seus limites Saber é o poder de pôr o Ser em ação como um tal ou qual ente Os gregos chamavam de modo especial techne a arte em sentido próprio e a obra darte porque é a arte que do modo mais Imediato erige e esculpe em algo que está presente Anwe endeni a obra o Ser ié o aparecer que se apresenta em si mesmo A obra darte não é em primeiro lugar obra por quanto é confeccionada é feita mas porque opera 25 o Ser em um ente Operar significa aqui pôr em obra na qual como no que aparece chega a brilhar a physis o brotar imperante 131 que vigora Pela obra darte como o Ser que é tudo que apa rece e pode ser encontrado é confirmado tomase intelegível acessível e compreensível como ente ou nãoente Visto que a arte erige e faz aparecer num sentido acentua do o Ser como ente na obra a arte vale a bom direito como o poderpôr em obra simplesmente dito como techne O poder pôr em obra é um operar manlfestatlvo do Ser no ente O saber consiste nesse abrir e manter aberto reflexivo e operante A paixão do saber está em investigar questões Por ser um tal saber é que a arte é techne e não por pertencerem à sua efetivação habilidades técnicas instrumentos e materiais de obras Assim a techne caracteriza o deinon a instauração de vigor em seu principio fundamental Pois a instauração de vigor é o uso vigoroso da fôrça contra o que se impõe de modo sub jugante a conquista pela luta do saber do Ser antes tran cado e escondido no que aparece como ente 2 Do mesmo modo como deínon enquanto instauração de vigor imperante reúne e concentra sua Essencialização na pa lavra grega fundamental techne assim também aparece o deinon enquanto o vigor que se impõe e subjuga na outra pa lavra fundamental grega dike Traduzimola como juntura Fug Entendemos juntura primeiro no sentido de junta e articulação em segundo lugar como disposição como a des tlnação e indicação que vigor que se impõe e predomina dá à sua imposição e predomínio e por fim como a conjuntura dispositiva que força a inserção e o enquadramento Traduzida por justiça e entendida essa no sentido jurídico e moral a palavra dike perde todo o seu conteúdo metafísico fundamental O mesmo vale da interpretação da dike como norma Em todos os seus domínios e poderes o vigor que se impõe e subjuga é conjuntura O Ser a physis como vigor im perante é unidade originária de reunião tópos é conjuntura dispositiva dike Destarte o demon enquanto o vigor que se impõe e pre domina tiifce e o deinon enquanto a instauração da fôrça do vigor techne se contrapõem um ao outro não porém como duas coisas objetlvamente dadas vorhandene Dinge Essa 183 contraposição consiste antes em a techne irromper contra a ílfce que por sua vez enquanto conjuntura dispõe de tôda techne Essa recíproca contraposição é Mas é apenas en quanto o que há de mais estranho o ser do homem acontece ié se essencializa cOmo acontecer Histórico 3 O princípio fundamental do deinotaton reside na re ferência reciproca do duplo significado de detnon O saplente lançase dentro da conjuntura rasga rasgo Rlss o Ser no ente mas nunca consegue dominar o vigor que se impõe e predomina Por isso é lançado peudularmente entre conjuntura ordem que articula e descon juntura desordem que desarticula entre o nobre e o vil Tôda disciplina Bsen digung que Instaura vigor da violência vlgorante Gewalti gen ou é triunfo ou derrota Ambos tanto o triunfo como a derrota arrancam cada um a seu modo do que é familiar e desenvolvem de maneiras diferentes a periculosidade do Ser conquistado ou perdido Ambos estão circundados diferente mente pela ameaça da ruina Quem instaura vigor o criador que alcança o nãodito que irrompe no nãopensado que con quista o nãoacontecido e faz aparecer o nãovlsto um tal Instaurador de vigor está sempre em risco tólma v 371 Aventurandose a sujeitar o Ser tem que arriscar os impactos do nãoente rií káltm os descalabros as inconsistências as desconjunturas e desestruturações Quando mais elevados forem os cimos da existência Histórica tanto mais profundo e largo o abismo para uma precipitação repentina no nãoHlstó rico que só se arrasta num borborinho sem saídas e ao mesmo tempo destituído de lugares Chegados ao fim do segundo passo poderiamos perguntar o que ainda resta para um terceiro o terceiro passa No primeiro passo se destacou a verdade decisiva do canto O segundo passo nos levou através de todos os domínios essenciais da fôrça do vigor e de sua instaura ção A estrofe final reúne na unidade de um rasgo o iodo do canto na essencialização do que há de mais estranho que ficaram ainda algumas particularidades a considerar e esclarecer mais de perto Isso porém daria lugar para w apêndice ao que já se disse nunca porém para um nôvo passo de interpretação Se pretendéssemos Jlmltarnos apenas ao 183 que se diz imediata e diretamente no poema estaria realmente terminada a interpretação Entretanto ela se encontra ainda no inicio A interpretação propriamente dita deve mostrar aquilo que já não se acha nas palavras apesar de também se achar dito Para isso ela deve usar necessariamente da fôrça do vigor O que há de próprio no poema é de se procurar lá onde uma interpretação cientifica já não encontra mais nada e ferra tudo que fica fora de seu cercado com a marca de nãocientífico Aqui porém quando nos temos de cíngir a um canto desgarrado do resto da obra só nos poderemos atrever a dar êsse terceiro passo num aspecto delimitado de acôrdo com nossa finalidade aqui e ainda assim apenas uns poucos movi mentos Recordando o que ficou dito no primeiro passo ini ciamos exatamente naquilo que no segundo resultou da ex plicação da estrofe final O deinotaton do deinon o que há de mais estranho no es tranho está na referência mútua e contrastante de dike e techne o mais estranho não é o grau superlativo ié a gra duação mais elevada do estranho É segundo a sua especifi cação o que há de único e sui generis no estranho No con traste reciproco entre o vigor prepotente do ente em sua totalidade e a instauração de vigor da existência se opera a possibilidade de uma precipitação no que não tem saída nem lugar a possibilidade da ruína Essa porém e a sua possibilidade não surgem apenas no final quando o homem que Instaura o vigor não consegue êxito e falha em alguma atividade instauradora particular A ruína impera vigorosa mente e espera em princípio e desde o fundo no contraste recíproco entre a fôrça do vigor que se impõe e subjuga e a instauração vigorosa de sua violência A instauração de vigor contra a supremacia do Ser que impõe o seu vigor tem que se abater contra essa supremacia de vez que o Ser vigora como o que Essencializa como phvsis vigor imperante que surge Essa necessidade de abaterse porém só pode subsistir en quanto o que se deve abater é necessitado numa tal existên cia Daseln Ora o homem é necessitado numa tal exis tência Dasein é lançado na necessidade dêsse ser porque o 184 vigor que impera e predomina exige braucht e precisa como tal para aparecer ha fôrça de seu vigor dum espaço aberto de manifestação Compreendido a partir dessa necessidade neces sitada pelo próprio Ser a essencialização do homem se nos abre e revela em seu ser A Existência Dasein do homem Histó rico significa ser posto como brecha em que com seu apare cimento irrompe a supremacia vigorosa do Ser a fim de que essa mesma brecha se abata e se quebre no próprio Ser O que há de mais estranho o homem é aquilo que êle é por no fundo só cultivar e proteger o familiar para dêle se arrancar deixando irromper o vigor cuja fôrça o subjuga É o próprio Ser que lança o homem na rota dêsse rasgo Fortrisa que o constrtnge a lançarse para além de si mesmo alongan dose até ao Ser com o fim de o pôr em obra e dêsse modo manter aberto e manifesto o ente em sua totalidade Por isso quem Instaura vigor não conhece nem bondade nem favore cimento no sentido comum desconhece todo apaziguamento e satisfação logrados com sucessos ou prestigio qu sua con firmação Aquele que instaura vigor e assim cria só vê em tudo isso simples aparência de perfeição e plenitude Aparên cia essa que êle menospreza Na vontade do inaudito desde nha e recusa qualquer auxílio A decadência significa para êle a afirmação mais profunda e ampla do vigor prepotente que se impõe e subjuga No fracasso da obra realizada naquele saber de que ela é uma desordem Unfug um surma um monte de esterco o homem abandona e entrega o vigor que impera a seu próprio principio articulador Fug Tudo isso porém não na forma de vivências psíquicas nas quais a alma do criador se debate e enrola e muito menos ainda na forma de complexos de inferioridade mas unicamente no modo próprio do operar do pôr em obra É pela obra que o vigor que predomina o Ser se afirma e confirma como acontecer Histórico Como a brecha para a abertura e manifestação do Ser pósto em obra no ente a existência do homem Histórico é um incidente a incidência em que surgem de repente as fôrças da supremacia desencadeada do Ser e se põem à obra como aponteeer Histórico Èsse caráter repentino e único da exis tência os gregos pressentiram profundamente Nesse pressen 155 dmento foram constrangidos pelo próprio Ser que se lhes abriu e manifestou como pfiysis lagos e dike Só não se pode pensar que êles tenham tomado para si a pretensão de forjar a cultu ra do Ocidente nos milênios posteriores Èles conquistaram para si mesmos as condições fundamentais de verdadeira grandeza Histórica unicamente porque na necessidade exclu siva e única de sua existência souberam usar apenas da violên cia do vigor e dêsse modo longe de afastar a necessidade sou beram fortalecêla e potenclála A essencialização do Ser do homem assim experimentada e reposta poètlcamente em seu fundamento permanecerá tran cada em seu caráter de mistério à compreensão caso essa re correr apressadamente a qualquer apreciação A avaliação do ser do homem como audácia e superiori dade orgulhosa arrancao da necessidade de sua essenciali zação a de ser incldência Tais apreciações supõem ser o homem algo de objetivamente dado transportamno para um espaço vazio e o medem e avaliam segundo uma escala de va lôres estabelecida e trazida de fora A essa mesma espécie de incompreensão pertence também a opinião segundo a qual o dizer do poeta é pròpriamente um repúdio implícito e não pro nunciado de um tal ser do homem É uma recomendação ve lada de uma modéstia sem vigor algum que se contenta com o cuidado de uma comodidade tranquila e impertubuável Essa opinião poderseia até julgar confirmada em sua justeza pela conclusão do canto Um tal ente tal no sentido do que há de mais estranho se deve manter afastado do lar e entretenimento do poeta Essas palavras finais do Cõto entretanto não contradizem o que antes disse sôbre o ser do homem Ao voltarse para o que há de mais estranho o Côro diz que êsse modo de ser no é o modo de ser cotidiano Tal existência não poderá ser lida e encontrada nos hábitos e costumes de qualquer comporta mento e conduta Essas palavras finais são tão pouco de admi rar que nos deveriamos admirar se elas faltassem Em sua atitude defensiva são a confirmação imediata e completa do caráter estranho da essencialização do homem Nessa sua con clusão o dizer do canto volta a moverse dentro de seu prin cipio 180 Mas o que tem a ver tudo isso com a sentença de Parmê nldos Esse nada diz sôbre a estranheza Quase que com ex cessiva sobriedade afirma apenas a compertinéncia a corres pondência de Percepção e Ser Foi investigando o que é essa cor respondência que nos desviamos para uma intrepretaçâo de Só foetes E o que nos adiantou ela Não a poderemos transferir simplesmente para dentro da interpretação de Parmênides De certo que não Todavia nos devemos recordar do conexo ori ginário de essencialização entre o dizer poético e o dizer pen sante prlncipalmente quando se trata como nesse caso da fundação e instituição originária por meio do pensar e poetar da existência Histórica de um povo Ademais além dessa re lação de essencialização geral encontramos num e noutro um traço bem determinado que tem conteúdo comum em ambos No segundo passo quando se tratou de resumir as caracte rísticas da segunda estrofe ressaltamos de propósito a refe rência recíproca entre dike e íecftne Dike é a conjuntura vigorosamente predominante Techne é a instauração de vigor do saber A referência recíproca de ambas constitui o aconte cimento do çstrnnho Afirmamos agora a compertinência e correspondência re ciproca de noein percepção e eínaí Ser que evoca a sen tença de Parmênides não é outra coisa do que aquela refe rência reciproca Se se mostra isso então fica comprovada a afirmação anterior de que é essa sentença de Parmênides que por primeiro delimita a essencialização do ser do homem e não chega a íalar do homem ocasíonalmente de alguma pers pectiva Para provar essa nossa afirmação faremos primeiro duas considerações mais gerais A seguir tentaremos uma inter pretação particular da sentença Na referência recíproca de dike e techne evocada poética mente dike equivale ao Ser do ente em sua totalidade Ja antes de Sófodes encontramos no pensar dos gregos êsse em prego da palavra A sentença mais antiga que nos foi trans mitida pela tradição a sentença de Anaximandro fala do Ser em conexão essencial com dike Igualmente Herãclito evoca a dike quando estabelece algo essencial do Ser Assim o Fragmento 80 começa cidenai de 181 chre ton polcmon conta xynon kai diken erin mister se faz ter em vista que o desdobrarse se Essencializa ajuntando num conjunto e a conjuntura se Essencializa contrastan do Dike como conjuntura que dispõe pertence ao des abrochar que contrasta segundo o que a yhysis surgindo deixa aparecer apresentarse o que aparece e assim se Essen cializa como Ser Cfr Fragmentos 23 e 28 E por fim o próprio Parmenides continua sendo uma tes temunha decisiva do emprego que fazem os pensadores gregos da palavra díJce no dizer do Ser Para êle dike é a deusa Guarda as chaves que abrem e fecham as portas do dia e da noite o que quer dizer dos caminhos do Ser que se desven da da Aparência que se dissimula e do Nada que se tranca Isso significa o ente só se abre e manifesta quando se pre serva e conserva a conjuntura do Ser Como dike o Ser é a chave do ente em sua articulação Êsse sentido de dike se pode apreender inequivocamente dos trinta versos vigorosos de in trodução do Poema de Parmenides que nos foram conservados completos Vêse assim claramente que o dizer do Ser tanto o da poesia como o do pensar evocamno ié Instauram e deli mitam o Ser com a mesma palavra dike O outro ponto que se pode aduzir de modo geral para comprovar nossa afirmação é o seguinte Antes jã se indicou a maneira pela qual na percepção entendida como apresenta ção acolhedora se abre e manifesta o ente como tal que destarte advêm a um estado de revelação e descobrlmento Unverborgenheit O embate da techne contra a dite cons titui para o poeta o acontecimento pelo qual o homem deixa de ser familiar perde a intimidade de seu lar É nessa expul são do que lhe é intimo que se abre e desvenda como tal o que lhe é familiar E ao mesmo tempo e sòmente dêsse modo se lhe abre e manifesta como tal o que lhe é alheio o vigor que predomina É portanto no acontecer do que é estranho que se abre e expande o ente em sua totalidade Essa abertura e expansão é o acontecer da revelação que outra coisa não é senão o acontecimento da estranheza De certo objetarseá isso vale do que diz o poeta Mas é precisamente essa estranheza que não se encontra na sentença sóbria de Parmenides 188 Por isso procuraremos agora colocar em sua verdadeira luz a sobriedade do pensar é o que nos proporciona uma inter pretação particular da sentença de Parmênldes Fica de ante mão acertado se se conseguir mostrar que em sua conexão essencial com o Ser dike a percepção é o que necessita de vio lência para instaurar o vigor e ê assim como tal instauração uma carência Not e como carência só se poderá manter e subsistir na necessidade 26 de um combate no sentido de põ lemos e éris e se ademais no curso dessa demonstração se fizer ver que a percepção está numa conexão expressa com o Lógos e que êsse Lógos se mostra como o fundamento do ser do homem então a nossa afirmação de que a sentença do pensador e o dizer do poeta são intrinsecamente afins estará fundamentada Três coisas portanto é o que temos de mostrar 1 A percepção não é um mero dado psíquico Vorgang mas uma resoluçâo 2 A percepção possuí uma comunidade interna de essen eiallzaçâo com o Lógos Êsse é para eia uma neces sidade Not 3 O Lógos Institui e funda a Essencialização da lingua gem Como tal é um embate e o fundamento fundan te da existência Histórica do homem no meio do ente em sua totalidade Sôbre 1 Ainda não se concebe suficientemente a Essen cialização do noein a percepção se apenas se procura evitar confundila com a atividade de pensar e com a de julgar A percepção enquanto a tomada de uma posição acolhedora no sentido antes explicado frente ao aparecimento do ente não é senão o colocarse sui generis num caminho especial Nisso se inclui que a percepção é a travessia a passagem através do cruzamento dos três caminhos Ora ela só poderá sêlo se fôr fundamentalmente resolüçãú pelo Ser contra o Nada e com isso disputa com a Aparência Êsse resolver essencial porém tem que usar de violência em sua execução e exercício contra 186 o perigo sempre iminente de enredarse no cotidiano e habi tual A instauração violenta de vigor do lançarse resoluto no caminho para o Ser do ente arranca o homem da intimidade e familiaridade com o que lhe é próximo e usual Só quando concebermos a percepção no sentido dêsse lan çarse estaremos protegidos contra o extravio de falsificála como um comportamento qualquer do homem como um uso que se entende por si mesmo de suas faculdades espirituais ou até mesmo como um fato psiquico que ocasionalmente tam bém se dá Ma realidade ao Invés a percepção se logra e con quista abgerungen à atividade rotineira e em luta contra ela Sua compertlnêncla e correspondência ao Ser do ente não surge por si mesma A designação dessa correspondência não é a simples constatação de um fato mas evoca e aponta àquela luta A sobriedade da sentença é uma sobriedade do pensar para a qual o rigor do conceito que percebe constitui a forma fundamental do que aí é apreendido Sôbre 2 Aduzimos antes o Fragmento 6 para eviden ciar a distinção entre si dos três caminhos Postergamos então conscientemente uma interpretação mais pormenorizada do pri meiro verso Entrementes lemos e auscultamolo de um outro modo chre to legein te noein teon emmenai Para o consistir reunido como para o perceber fazse necessário not tut que o ente seja ser Vemos aqui noein mencionado conjunta mente com legein percepção com Lógos Além disso no Iníelo do verso se põe de modo repentino e abrupto o chre Mister é percepção e lógos Juntamente com a percepção se evoca o legein como acontecimento do mesmo caráter E até legein é nomeado primeiro Lógos não pode significar aqui a unidade de reunião como conJuntura do Ser mas deve Juntamente com a percepção ter o sentido da instauração violenta de vigor em virtude da qual o Ser é recolhido em sua unidade de reu nião Pertencendo à percepção é necessária a reunião e ambas têm que acontecer em virtude do Ser Reunião significa nesse caso prenderse no meio da dispersão ao inconsistente pren derse novamente a partir da confusão à aparência Essa reunião todavia por ser ainda uma aversão de só poderá ser realizada e exercida por fôrça daquela reunião que enquanto conversão para consuma e produz o recolhimento do ente na unidade de reunião de seu ser Assim o Lógos entra nesse 1Ü11 caso em carência Not e se separa do Lógos como unidade de reunião do Ser íphgsis O Lógos enquanto reunião como o reunirse e concentrarse do homem na conjuntura põe pela primeira vez o ser do homem em sua essencialização e o expõe assim ao que não lhe é familiar de vez que o familiar é dominado pela aparência do habitual corriqueiro e super ficial Resta ainda investigar porque o legeiné mencionado antes do noein A resposta é a seguinte é do legein que o noein recebe e adquire a sua Essencialização como percepção que reúne e recolhe A determinação da essencialização do ser do homem que se realiza aqui no principio da filosofia ocidental não se efetua estabelecendose propriedades de qualquer tipo que sejam no ser vivo homem em distinção e à diferença de outros sêres vivos O ser do homem se determina a partir de uma refe rência com o ente como tal em sua totalidade A essencialíaa çdo do homem mostrase aqui como a referência que abre e manifesta ao homem o Ser O ser do homem enquanto carên cia Not de percepção e reunião é o encarecímento da liber dade de assumir a techne o pôr em obra do Ser mediante o saber assim que acontece História Da Essencialização do logos entendido como reunião se segue e resulta uma consequência essencial para o caráter do legein Põsto que o legein como um tal recolher depende da unidade originária de reunião do Ser e visto que por outro lado Ser significa chegar à revelação Unverborgenhelt por isso a reunião e o recolher do legein possui o caráter funda mental de abrir e manifestar Dêsse modo legein entra em claro e agudo contraste com cobrir e ocultar É o que se comprova de modo direto e inequívoco com uma sentença de Heràclito O Fragmento 93 diz O dominador cuja profecia se dá em Delfos cute legei oute kryptei nem reúne nem oculta alia semainei dá indícios Reunir está aqui em oposição a ocultar Ê nesse caso desocultar manifestar Podese levantar agora a questão simples donde poderá ter recebido a palavra legein reunir o significado de mani festar desocultar em oposição a ocultar senão em razão de sua referência essencial com o lógos no sentido de physis O 191 vigor imperante que surgindo se mostra é a revelação De acòrdo com essa referência legein significa produzlr no sen tido de expor o desvelado como tal o ente em sua revela ção Assim não só em Herãclito mas ainda em Platão logos tem o caráter do delotin de manifestação Aristóteles caracte riza o legein do logos como apophainesthai i é como conduzir e levar a mostrarse Cfr Sein und Zeit 6 7 e 5 44 Essa carac terização de legein como descobrir e manifestar é um teste munho tanto mais forte em favor da orlginariedade dessa de terminação porquanto justamente com Platão e Aristóteles já se Inicia a decadência dessa determinação de lógos pela qua a lógica se tomou possível Desde então ié desde de dois milênios essas relações entre logos atetkeia phgsis noein e idea foram escondidas e encobertas pela incompreensão No principio porém se passa o seguinte o lógos como reunião revelante na qual o Ser é conjuntura no sentido da physis se torna a necessidade da essencialização do homem Histórico Daqui basta apenas um passo para se compreender como o logos assim entendido determina a essencialização da linguagem e chega a ser o nome do discurso O ser do homem em sua essencialização Histórica ié em sua essencialização que instaura o acontecer Histórico é logos reunião e percepção do ser do ente ié aquêle acontecer do que há de mais es tranho em que pela instauração violenta o vigor que pre domina chega a aparecer e erigirse em consistência Ora no Canto do Córo da Antigone de Sófocles auscultamos que Juntamente com a irrupção no Ser se dá o prenderse e en contrarse na palavra acontece a linguagem Ao Investigar a essencialização da linguagem surge sempre a questão sôbre a sua origem Por caminhos escusos procurase uma resposta A primeira resposta decisiva à questão sôbre a origem da linguagem encontramos também aqui Essa origem fica sempre mistério Não porém porque os homens até agora não tenham sido suficientemente sabidos e sim porque tôda sabedoria e sutileza têm tomado sempre o caminho errado antes mesmo de se estenderem G caráter de mistério pertence à própria Essencialização da origem da linguagem Isso sig nifica que a linguagem só pode ter principiado a partir do vigor prepotente que impera e do estranho na irrupção do 192 homem na Ser Nessa irrupção a linguagem enquanto conver são do Ser em palavra era poesia Dichtung A linguagem é a poesia originária UrDiehtung em que um povo poetiza o Ser Inversamente vale a grande poesia pela qual um povo entra na História inicia a configuração de sua linguagem Os gregos criaram e experimentaram tal poesia através de Homero A linguagem se manifestou à existência grega como irrupção no Ser como configuração reveladora do ente Que a linguagem seja logos reunião não é em si de forma alguma uma evidência imediata Não obstante entendemos essa interpretação da linguagem como logos a partir do prin cipio da existência Histórica dos gregos a partir da direção fundamental em que se lhes manifestou e abriu o Ser e em que êles o erigiram na consistência do ente A partir do impacto direto do vigor predominante a pa lavra ou seja o nomear repõe o ente que se abre e manifesta em seu ser o retém e conserva nessa abertura delimitação e consistência Não é o nomear que posteriormente vem con ferir a um ente já de outro modo manifesto uma designação um sinal chamado palavra Muito pelo contário a palavra desce da altura de sua originária instauração violenta de vigor en quanto abertura e manifestação do Ser e se transforma em simples sinal de tal sorte que êsse se antepõe então ao ente No dizer originário porém o ser do ente se abre e revela na articulação de sua unidade de reunião Essa abertura e reve lação se recolhe e reúne no segundo sentido pelo qual a pa lavra conserva o recolhido orlginàrimente e assim instaura no vigor do exercício o que impera e domina a phgsis O homem como o que está e se instaura no logos na reunião é o coletor isammleri Assume e exerce a instauração vigorosa O imfjé rlo do que predomina e impõe seu vigor Por outro lado já sabemos que essa instauração de vigor é o que há de mais estranho Em virtude do tolma da audá cia o homem chega necessariamente tanto ao baixo e vil como ao elevado e nobre Onde a linguagem fala como reunião vio lenta do vigor como contenção do que predomina e vigora como conservação aí e só aí há necessàrlamente dissolução e perda Por isso a linguagem é em seu acontecer palavreado Gerede Em lugar de abertura e manifestação do Ser o seu eneobrl 193 mento e ocultação Ao invés ds recolhimento na articulação e conjuntura a dispersão e dissipação na desjuntura e d esor dem É que o logos como linguagem não se faz por si mesmo O legein é carência Not chre to legein é carência a percepção do ser do ente Donde encarece a carência Sôbre 3 De vez que a Essencialização da linguagem se acha nc recolhimento da unidade de reunião do Ser só chegará à verdade na sua forma de discurso Rede cotidiano se o dizer e ouvir se relacionarem e dependerem do lópos como a unidade de reunião dentro do Sentido do Ser Pois é no Ser e em sua articulação que o ente é de modo originário e decisivo já de antemão um legomenon ié recolhido dito e pronunciado Só agora compreenderemos todo o contexto em que se insere aquela sentença de Parmenides segundo a qual a percepção acontece em virtude do Ser A passagem VIU 3436 diz São em si pertencentes e correspondentes entre si a per cepção e aquilo em virtude do qual a percepção acontece Com efeito sem o ente em que já foi pronunciado o Ser não en contrarás alcançarás a percepção A referência ao lopos como physis converte o legein em reunião perceptiva e a per cepção em percepção reunítiva Por isso o legein para perma necer reunido deve afastarse do que é mero palavreado íala tório e facilidade verbal Assim encontramos em Parmênfdes uma oposição rigorosa entre logos e glossa Frag VIL v 3ss A passagem corresponde ao inicio do Fragmento 6 em que com relação à tomada do primeiro caminho inevitável para o Ser se diz que se toma necessário concentrarse no ser do ente Agora se trata de dar algumas indicações sôbre o percurso do terceiro caminho para a Aparência Êsse conduz através do ente que está sempre numa aparência É o caminho mais comumente frequentado Por isso o homem avisado tem que retirarse constantemente dêle e empenharse no legein e noein do ser do ente e o hábito tão destro não te deve de forma alguma forçar em direção dêsse caminho Pois tu te perderías a ti mesmo num olhar qne não vê e num ouvir ensurdecedor e na facilidade da 194 lingua Deeidete antes separando colocando dian te de ti recolhido numa unidade a indicação do conflito múltiplo que te proponho Nesse lugar logos se acha em estreita ligação com fcríncín cindir no sentido de decidir no exercício da concentração sôbre a unidade de reunião do Ser O ler seletivo fundamenta e sustenta a perseguição do Ser e a recusa da Aparência No conteúdo significativo de krinein ecoam e repercutem os se guintes significados escolher selecionar critério determinante de jerarquia Por essa tríplice indicação a Interpretação ilumina a sen tença a ponto de se tornar claro que Parmenides realmente trata também do logos em perspectivas essenciais O lógos i uma carência Not e em si mesmo carece de vigor violento para defenderse do verbaltsmo e da dissipação Como legein o lógos vai de encontro à physis Nessa diversificação Ausel nandertreten o lógos como acontecimento da reunião se toma o fundamento que funda o ser do homem Dai pudermos dizer na sentença se realiza pela primeira vez a determi nação decisiva da essencialização do homem Ser homem sig nifica assumir a reunião a percepção recolhedora do ser do ente o operar no sentido de pôr cientemente em obra a apa rição e dêsse modo exercer o vigor verwalten da revelação e conservála bewahren contra o encobrimento e a ocupação Destarte já no principio da filosofia ocidental se vê como a questão do Ser inclui necessàriamente a fundamentação da existência Essa implicação e conexo entre Ser e Existência como também a sua investigação não se atinge de forma algu ma com indicações e recursos a questões gnoseológicas nem igualmente com a constatação externa de que tóda concepção do Ser depende de uma concepção da existência Se a questão do Ser procura não só o ser do ente mas o Ser mesmo em sua Essencialização necessita então de maneira completa e ex pressa de uma fundamentação da existência calcada nessa questão à qual se deu por essa necessidade e só por Isso o nome de ontologia fundamental cfr Seln und Zelt Intro dução 195 Essa abertura e manifstação originária da essencialização do ser do homem chamamola de decisiva Todavia não foi conservada e mantida como o grande princípio Teve ao con trário por conseqüência coisa muito diferente a definição do homem como animal racional posteriormente corrente no Oci dente e hoje ainda não abalada na opinião e atitude dominan te No sentido de tornar visível a distância dessa definição frente à abertura da originária essencialização do ser humano vamos confrontar em duas fórmulas o princípio e o fim o fim se apresenta na fórmula anthropos soon logon echon o homem o animal que tem por dote a razão O princípio to mamolo numa fórmula plasmada livremente mas que resume nossa interpretação physis lógos anthropon echon o Ser o aparecer predominante do vigor encarece a reunião que tem em seu poder e fundamenta o ser do homem Lá no íím ainda há um resto da implicação e nexo entre lógos e ser humano todavia o lógos de há muito que se alienou verseusserlicht como faculdade do entendimento e da razão Essa faculdade se funda em si mesma sôbre o dado objetivo de uma espécie particular de seres vivos sôbre o soon beltiston o animal mais excelente Xenofonte Aqui no princípio ao contrário o ser humano se funda na abertura e manifestação do ser do ente Na perspectiva de definições correntes e predominantes na perspectiva ié da metafísica gnosoelogia antropologia e éti ca modernas e atuais determinadas pelo cristianismo a nossa interpretação da sentença terá que aparecer necessariamente como uma modificação arbitrária de seu significado como uma introdução de algo que uma interpretação exata nunca po derá constatar É exato Para a opinião comum e hodisrna de fato o que deixamos dito é apenas um resultado da violên cia e unilateralidade já proverbiais dos métodos e processos hermenêuticos de Heidegger Todavia é o caso de se poder e dever perguntar Qual interpretação é a verdadeira aquela que simplesmente aceita a perspectiva de sua compreensão por já se encontrar nela e se lhe afigurar evidente e comum ou então essa outra que põe em questão desde seus fundamentos a perspectiva habitual por ser possível e real que tal perspec tiva não permita de forma alguma a visão do que se tem de ver 196 Sem dúvida o abandono do comum e corrente e o retorno à interpretação que se põe a si mesma em questão é um salto Sprung Ora saltar só pode quem toma o impulso devido E é nesse impulso que tudo se decide Pois êle significa que voltamos realmente a investigar de mesmo as questões E é no moverse das questões que se criam as perspectivas O que todavia não se processa numa arbitrariedade dissolute c muito menos com apoio em algum sistema canonizado em rorma e sim numa e a partir de uma necessidade Histórica a partir de uma carência Not da existência Histórica Legein e noein reunião e percepção são uma carência Not e uma instauração violenta de vigor contra a prepotên cia vigorante mas sempre também em favor dessa prepotência Assim os que instauram violentamente o vigor terão sempre que hesitar de espanto em usar da violência instauradora e sem embargo náo poderão esquivarse e evitála Nessa hesi tação e nesse querer sobrepujar há de surgir por instantes a possibilidade de que a sujeição do vigor prepotente será então conquistada da maneira mais completa e segura se simples mente se deixar o Ser o vigor imperante que brota e em si mesmo se essencializa como lógos como a unidade de reu nião do que se defronta no oculto e encoberto Verbor genheit e destarte fracassar de certo modo tôda possibili dade de aparecimento e manifestação A instauração de vigor do que há de mais estranho pertence tal temeridade que na verdade é o maior reconhecimento qual seja dominar o vigor imperante que aparece na recusa de tôda a sua abertura e manifestação e serlhe superior mantendo trancada à vio lência todo poderosa de seu vigor o lugar de aparecimento A recusa ao Sr dessa abertura não significa porém para a existência outra coisa do que abandonar a sua essenciail zação E isso exige apostatar do Ser ou também nunca chegar a entrar na existência é o que novamente Sófocles exprime num Cõro da Tragédia Édipo em Colona v 1224s me phynai ton aponta ni kti longon nunca haver entrada na existência triunfa sôbre a unidade de reunião do ente em sua totalidade Não ter assumido nunca a existência me ptjmei se diz do homem como aquele que está recolhido com a physis essen clalmente como o sew coletor Sammler Aqui se usa physis phynai do ser do homem e lógos no sentido de Heràclito como 1ST a conjuntura vigente do ente na sua totalidade Essas pala vras poéticas exprimem a referência mais íntima da existên cia com o Ser e sua abertura enquanto chama de nãoexis têncla a maior distância e afastamento do Ser É aqui que se mostra e ostenta a possibilidade mais estranha da existência a de romper na suprema instauração de violência contra si tnesma a prepotência vigorosa do Ser A existência não tem essa possibilidade como uma saída vaziamas ê essa possibili dade enquanto existe Pois em tôda instauração violenta de vigor ela tem como existência de romperse e quebrarse no Ser Parece pessimismo E todavia seria errônea rotular a exis tência grega de pessimista Não porque os gregos íôssem no fundo otimistas mas porque tais avaliações simplesmente não atingem a existência grega Os gregos eram sem dúvida mais pessimistas do que poderá sêlo qualquer pessimista Mas tam bém eram mais otimistas do que qualquer otimista É que a sua existência Histórica ainda se situa aquém de todo pes simismo e de qualquer otimismo Ambas apreciações já de antemão consideram a existência igualmente como um ne gócio seja mau ou bom Êsse modo de ver o mundo se ex prime na conhecida frase de Schopenhauer A vida é um ne gócio que não cobre os seus gastos Tal frase não ê verdadei ra porque a vida termina mesmo por cobrir os seus gastos mas porque a vida como existência simplesmente não é ne gócio embora desde séculos que se haja tomado E é por isso também que a existência grega nos é tão exótica e es trangeira A nãoexLstência constitui a maior vitória sôbre o Ser Existir é a carência constante de derrota e ressurgimento da Instauração violenta de vigor contra o Ser c de tal modo que a violência todo vigorosa do Ser violenta tem sentido literal com seu vigor a existência forçandoa a que seja o lugar de seu aparecimento a cerca e impregna de vigor e assim a detém e conserva no ser Dáse e se processa uma separação e diversificação de logos e pfcpsis Isso porém ainda não significa uma apostasia do lógos O que quer dizer o lógos aínda não se contrapõe de tal sorte ao Ser do ente nem surge ainda de tal maneira defronte 198 dèle a ponto de fazer de st mesmo como razão o tribunal que julga sôbre o Ser e de assumir e regular a determinação do Ser do ente A isso chega só e excluslvamente quando abandona a sua essencialização originária encobrindo e transformando o sen tido do Ser como píijsis Em consequência se muda a exis tência do homem O fim lento dessa História dentro do qual nos achamos desde muito tempo é o predomínio do pensar como ratio como entendimento tanto quanto como razão sôbre o Ser do ente È a partir daqui que se inicia o jôgo de revezamento reciproco entre racionalismo e irracionallsmo que até agora ainda se está jogando com todos os disfarces possíveis e com os títulos mais contraditórios O irraclonalismo é apenas a fraqueza manifestada e a completo fracasso do racionalismo e por isso mesmo em si um racionalismo Ir raclonalismo é uma saída do racionalismo que não nos conduz ã liberdade e sim nêle ainda mais nos enleia por sucitar a aparência de estar êle superado por um simples não Ao contrário é então que êle se torna mais perigoso porque con tinua o seu jõço Imperturbado e às escondidas Não pertence à tarefa dessa preleção expor a história in terna em que se configurou o predomínio do pensar como ratio da lógica sôbre o Ser do ente Prescindindo das próprias dificuldades tal exposição permanecería sem qualquer eficácia Histórica enquanto nós mesmos não tivermos despertado as fôrças de uma investigação própria a partir e em prol de nossa História em seu momento atual Não obstante é necessário mostrar ainda como se chegou em razão da diversificação originária de lógos s physls àquela apostasia do lógos que se tornou então ponto de partida para a edificação do predomínio da razão Essa apostasia do lógos e a sua preparação para o tribunal de julgamento do Ser se dá ainda dentro da filosofia grega Determina até o seu fim Só conseguiremos instaurar vigorosa mente o vigor da filosofia grega como o princípio da filosofia ocidental na medida em que compreendermos simultaneamente êsse princípio em seu fim prlnctpiatlvo originário Pois foi êsse fim e só êle que se tornou para os tempos posterlores o principio e Isso de tal modo que encobriu ao mesmo tempo o 199 principio originário princípiativo Todavia êsse fim princi piatlvo e originário do grande principio a filosofia de Platão e Aristóteles continua sendo grande mesmo se subtrairmos e descontarmos a grandeza de sua expansão ocidental Investigamos agora Como se deu a apostasia e a prima sia do lógos frente ao Ser Como se processou a configuração decisiva da separação de Ser e Pensar Também essa História aqui só pode ser rabiscada em poucos traços grosseiros Partimos do fim e perguntamos 1 Como aparece a relação entre logos e physis no fim da filosofia grega em Platão e Aristóteles como se entende aqui a physis Que figura e papel assume o lógos 2 Como se chegou ao fim Onde reside o fundamento pròpriamente dito da mudança e transformação Sôbre 1 No fim surge como nome normativo e predomi nante do Ser a palavra idea eiãos idéia Desde então a in terpretação do Ser como idéia domina todo o pensar ociden tal por através da história de suas transformações até os dias de hoje Nessa proveniência está também fundado o fato de que na conclusão grandiosa e final da primeira etapa do peri samento ocidental a saber no sistema de tiegel a reali dade do real o ser em sentido absoluto foi concebido como Idéia e assim expressamente chamado Todavia o que sig nifica ter Platão interpretado a pJiysis como idea Já na primeira caracterização introdutória da experiência grega do Ser foram enumerados entre outros os títulos idea eidos Ao depararmonos diretamente com a filosofia de Hegel ou com a de qualquer outro pensador moderno ou com a Es colástlca Medieval ou até mesmo ao encontrarmos em qualquer parte o emprego do nome Idéia para o Ser temos que con fessar para não nos iludirmos a nós mesmos que não compre endemos nada com os recursos das representações correntes Ao contrário compreendemos tal fato quando provimos do principio da filosofia grega Poderemos então medir logo a distância entre a interpretação do Ser como physis e a inter pretação do Ser como idea 200 A palavra idea significa o visto no visível o viso que al guma coisa oferece O que se oferece é o aspecto Aussehen eídos do que vem ao encontro O aspecto de uma coisa cons titui aquilo em que ela como dizemos se nos apresenta se nos propõe e como tal está diante de nós é aquilo em que e como tal ela está presente anwest o que significa aqui para os gregos aquilo em que e como tal ela é Tal estar é a consistência do que surgiu e brotou a partir de si mesmo é a consistência da pftysis Por outro lado êsse estarpresente do consistente é ao mesmo tempo considerado a partir do ho mem o proscênio do que se apresenta anwest a partir de si mesmo é o perceptível No aspecto o presente o ente se faz presente em sua qualidade e modalidade É percebido e assumido Está na posse de um tomar É o que se tem nessa posse É a presença Anwesen disponível do presente ottsia Dêsse modo ousia pode significar ambas as coisas presença de um presente e o presente na quídidade de seu aspecto É aqui que se oculta e esconde a origem da distinção sub sequente de essentia e exístentía Se porém se toma a dis tinção corriqueira de existência e essentia por assim dizer ce gamente da tradição nunca se poderá entender como e em que medida exístentia e essentia com sua distinção se separam do ser do ente para caracterizálo Se no entanto conceber mos a idea o aspecto como presença então essa se mostra como consistência num duplo sentido Pois no aspecto se en contra de um lado o estarforaapartírdarevelação das HerausstehenausderUnverborgenheit o simples estin De outro lado no aspecto se mostra o que nêle se apresenta o íi estin Assim a idéia constitui o Ser do ente Idea e eídos se em pregam aqui num sentido mais amplo não só para o que se vê com os olhos do corpo mas para tudo que se pode perceber O que um ente é reside em seu aspecto o qual por sua vez apresenta deixa fazerse presente êsse o que ié a qui didade Mas já nos teremos perguntado a nós mesmos essa inter pretação to Ser como idea não será então autêntica mente grega Ela se segue com irrecusável necessidade do fato de o Ser ter sido experimentado como physis como vigor que brota e surge como aparecer como estarãluz Que outra coisa 201 mostra no sen aparecimento aquilo que aparece senão o seu aspecto Em que medida essa interpretação do Ser como idea se pode afastar e distanciar ainda da physis Não estará com tôda razão a tradição da filosofia grega quando por tantos séculos a vem considerando à luz da filosofia platônica A interpretação do Ser como idea por Platão significa tão pouco um afastamento e menos ainda uma decadência do princípio que se deve até dizer que ela ao fundamentálo na teoria das idéias o apreende de um modo mais desenvolto e preciso Platão é a consumação do princípio D fato não se poderá negar que a interpretação do Ser como idea resulte e provenha da experiência fundamental do Ser como physis Tratase eomo dizemos de uma consequên cia necessária da essencialização do Ser como o aparecer nas cente Nisso não vai nada de afastamento ou mesmo de deca dência do princípio Certamente que não Se porém o que é uma consequência essencial fôr ele vado à condição de Essencialização e passar assim a ocupar o lugar da Essencialização o que se há de pensar então Então se instaura a decadência que por sua vez frutificara conse quências particulares É o que aconteceu O decisivo não é ter sido caracterizada a physis como idea mas a idea se haver apresentado e imposto como a interpretação única e normativa do Ser Poderseá avaliar fàcilmente a distância que medeia entre ambas as interpretações considerandose a diversidade de pers pectivas em que se movem ambas as determinações do Ser como physis e idea Physis é o vigor imperante que surge o estaremslmesmo é a consistência Idea é o aspecto enten dido como o que é visto é uma determinação do consistente enquanto e só enquanto êle vem ao e de encontro a uma visão Mas a physis enquanto vigor nascente já é também um apa recer Realmente Apenas aparecer tem dois sentidos Uma vez significa o erigirse sichzumStandbr in gen na unidade de reunião que recolhe e assim consiste Outra vez porém significa oferecer para a visão um frontispício Vorderflseche uma superfície um aspecto que já se sustem num estado de consistência Considerada a partir da noção de espaço a distinção entre os dois aparecer é a seguinte o aparecer no primeiro sentido 202 e no sentido propriamente dito ocupa o espaço erigindose numa consistência recolhida o conquista como o que assim consiste se cria para si espaço opera tudo que lhe pertence sem ser reproduzido O aparecer no segundo sentido surge e se apresenta de um espaço já pronto e constituído e é visto pela visão dentro das dimensões já estruturadas dêsse espaço O viso que a coisa faz e apresenta é que se torna o decisivo e não a coisa em si mesma O aparecer no primeiro sentido é o que pela primeira vez rasga e abre Ié instaura espaço O aparecer no segundo sentido dá apenas os contámos e as di mensões do espaço já aberto Não obstante não já diz a sentença de Parmênides que Ser e Percepção se pertencem reclprocamente portanto o visto e o ver òbviamente o que é visto um visto pertence a todo ver disso porém não se segue que só o servisto como tal possa e deva determinar sozinho a presença Anwesen do que é visto E c j ustamente a sentença de Parmênides que diz que o Ser não deve ser compreendido a partir da percep ção ié só e apenas como o percebido mas é a percepção que é em virtude e por graça do Ser A percepção deve abrir e manifestar o ente de tal maneira a ponto de repor o ente em seu Ser de tomálo em função do fato de que êle e de como êle se apresenta Pot outro lado na interpretação do Ser como idea não apenas uma consequência da Essencializa ção se desvirtua na própria Essencialização como também o que assim se desvirtua ainda é falsificado e novamente dentro do curso da experiência e interpretação grega A idéia constitui como aspecto do ente aquilo que êsse é A quididade a essência nesse sentido ié o conceito de es sência tornase igualmente ambíguo a um ente se essencializa vige e vigora evoca e adquire o que lhe pertence ié também e justamente o conflito b um ente se apresenta como êste e aquèle possui tal determinação qulditativa Como na transformação da pfiisis na idéia o ti estin ia quididade surge e como dèle se distingui o Aoti es tin o fato de ser ié a proveniêncla essencial da distinção de essentia 203 e exístentía a issc já se fêz alusão embora disso aqui não se trate Foi objeto de uma preleção inédita do semestre de verão em 1027 Tão logo porém a Essencialização do Ser se acha na qui didade Idéia essa como o ser do ente se torna também o que há de mais ente no ente É assim o ente pròpriamente dito on tos on O Ser como idéia se converte então no ente pròpriamente e o ente mesma o que antes imperava no vigor degradase no que Platão chama me on no que pròpriamente não devia ser e também pròpriamente não ê Pois êle desfigura sempre a idéia o puro aspecto ao realizála configurandoa na matéria Por seu turno a idea se torna o puradeigma o paradigma a figura exemplar Assim a idéia se converte ne cessariamente em ideal O exempla que se configura segundo a figura exemplar não é em sentido próprio mas tem ape nas parte no Ser methexis Rasgase e se estabelece o chcris mos o abismo entre a idéia como o ente pròpriamente a fi gura exemplar e originária e o nãoente pròpriamente o exemplo configurado e Imitado O aparecer recebe então da Idéia um outro sentido O que aparece a aparência já não é a phgsis o vigor imperante que surge nem também o mostrarse do aspecto Aparência ê agora o surgir da cópia do exemplo Enquanto nunca atinge a sua figura exemplar e originária o que aparece é uma simples aparência pròpriamente um parecer o que significa um defeito c deficiência É agora que se separam on e phainomenon Nessa separação radica uma conseqíiêncía essencial Visto que a idéia é o ente pròpriamente e o modêlo exemplar tôda abertura e manifestação do ente tem que procurar igualarse ao exemplar originário deve adequarse ao modélo confor marse ã forma da idéia A verdade da physis a aletheia en tendida como a revelação vigente no vigor imperante do que brota tornase homoiosis e mimesis conveniência adequação uni regularse com convertese em correção Rlchtigkeit da isão da percepção como representação Se compreendermos devidamente tudo isso já não havemos de querer negar que com a interpretação do Ser como idéia se interpõe um abismo frente ao principio originário Ao falar mos aqui de decadência é de se advertir que tal decadência ninda se conserva apesar de tudo num nivel elevado sem se 204 degradar nos níveis baixos Podemos avaliarlhe a altura pelo seguinte A grande época da existência grega é tão grande em si mesma a única clássica que cria até as condições meta físicas da possibilidade de todo ciassicismo Nos conceitos fun damentais de idea paratieigma homoiosis e mimesis já se acha presign ada a metafísica do ciassicismo Platão ainda não é um classic 1st a pela simples razão de ainda não poder sêlo Êle é o clássico do ciassicismo A transformação do Ser em Idea provoca uma das formas essenciais de movimento em que se move o acontecer Histórico do Ocidente e não apenas o de sua arte Tratase agora de se indicar o que em correspondência a essa transformação acontece com o logos A abertura e ma nifestação do ente se dá no lógos entendido como reunião Essa se processa originàriamente na linguagem Por isso o logos se torna a determinação normativa da essencialização do discurso A linguagem guarda e conserva no que se pro nuncia se diz e se pode sempre de nôvo dizer o ente respecti vamente aberto e manifesto O que se diz pode ser rédito e dito adiante A verdade assim retida e conservada se espalha e de tal modo que o ente originàriamente aberto e manifes tado na reunião nem sempre ê experimentado como tal de modo próprio No que se diz adiante a verdade como que se dissocia do ente Isso pode ir tão longe que o redizer se con verte num mero recitar na glossa Tudo que se exprime e enuncia se acha constante men te nesse perigo cfr Sein und Zeit 544b Por isso a decisão acerca do verdadeiro se exerce agora numa disputa entre o dizer correto e o mero recitar O lôgos no sentido de dizer e enunciar tomase o âmbito e o lugar em que se decide sôbre a verdade o que significa originária mente sôbre a revelação do ente e com isso sôbre o Ser do ente No principio entendido como reunião o Lógos é o acon tecer da revelação nela se funda e a ela serve Agora ao contrário entendido como enunciado o Lógos se torna o lugar da verdade no sentido da correção Chegase à frase de Aris tõteles segundo a qual como enunciado o Lógos é o que pode ser verdadeiro ou falso Originàriamente concebida como re velação um processo do ente vigente em si mesmo e disposta e exercida pela reunião a verdade se converte agora numa pro 205 priedade do Logos Transformada em propriedads do enuncia do a verdade não só desfoca o seu lugar Muda também de essencialização Considerada a partir do enunciado só se atinge 0 verdadeiro quando o enunciar se atém aquilo sôbre que enuncia quando o enunciado se regula pelo ente A verdade é a correção do Lagos Dessa forma o Lógos se livra da de tenção originária dentro do acontecimento da revelação para a partir e em função de si mesmo decidir sôbre a verdade e o ente E não só sôbre o ente mas mesmo até sôbre o Ser Logos é agora legein ti kata tinas dizer uma coisa de outra Aquilo do que se diz alguma coisa constitui o que está à base do enunciado o seu substrato hypokewenon subjectum Con siderado a partir do Lagos entendido como o que se tornou independente e autônomo no enunciado o Scr se apresenta e se dá como tal substrato Essa determinação do Ser como a idéia está já prelineáda no tocante à sua possibilidade na physs Pois somente o vigor imperante que surge pode en quanto presença determinarse e transformarse em aspecto e substrato O substrato pode ser apresentado no enunciado numa va riedade de modos pode ser exposto como constituído dessa ou daquela maneira com êsse ou aquêle tamanho dotado dessas ou daquelas relações Ora sereonstituído sergrande e ser relaeionado são determinações do Ser Como porém enquan to modos de enunciar se extraem e colhem do Logos e como enunciar em grego é kaiegorein chamamse as determinações do ser do ente de kategoriai categorias É êsse o motivo porque a doutrina do Ser e das determinações do ente como tal veio a ser a doutrina que investiga as categorias e sua estrutura A meta de tôda ontologia é a teoria das categorias Êsse fato de serem os caracteres essenciais do ser categorias vale hoje e já desde muito como qualquer coisa de evidente que se entende por si mesmo No fundo porém é algo exótico e pe regrino Èle só se poderá mesmo entender se compreendermos e concebermos o fato e a medida em que o Lagos tomado como enunciado não só se diversifica mas também se contrapõe a physis e ao mesmo tempo surge e se impõe como o domino decisivo que chega a ser o lugar originário das determinações do ser 206 O Lagos pfiasis a dicção no sentido de enunciado decide de maneira tão originária sobre o ser do ente que tôda vez que uma dicção está contra outra sempre que há contradtção untiphasis o que se contradiz não pode ser Enquanto ao contrário o que não se contradiz é ao menos possível quanto a seu ser A antiga questão disputada se o principio de contra dição possui em Aristóteles um sentido ontológico ou ló gico é uma pseudoquestão de vez que para o Estagirita ainda não faã nem lógica nem ontologia Tanto uma como a outra só nasceram do solo da filosofia arlstotélica o prin cípio de contradição tem maia um sentido ontológico por ser a lei fundamental do Lógos por ser um princípio lógico A superação do princípio de contradição na Dialética de Hegel não é em princípio uma superação do predomínio do Lógos É apenas a sua máxima patenciação O fato de Hegel inti tular a metafísica pròpriamente dita lé a Física com o nome de Lógica faznos evocar tanto o Lógos no sentido do lugar das categorias como o Lógos da physis originária Na forma de enunciado o Lógos tomouse em si mesmo algo objetivamente dado Esse dado é algo tnanuseável que se pode manejar para obter e assegurar a verdade entendida como correção Daí se considerar tal manejo na conquista da verdade como um instrumento organon e se procurar tomálo manejável de maneira correta e justa O que se faz tanto mais premente e urgente quanto mais decididamente a transforma ção da physis em eidos e do logos em categoria vai excluindo a abertura e manifestação originárias do ser do ente o ver dadeiro concebido como o correto se vai difundindo e alar gando por meio das discussões do ensino e das prescrições Disso o Lógos deveria ser o instrumento e já estar pronto à mão Soa a hora do nascimento da lógica Não sem razão a filosofia antiga reuniu os tratados de Aristóteles que se referem ao Lógos sob o titulo de Organon É que nêles a lógica já se encontra concluída e terminada em seus caracteres fundamentais Assim dois milênios depois po derá Kant dizer no prólogo da 2a Edição da Crítica da Razão Pura que desde Aristóteles a lógica não pôde dar nem um passo para trás mas até agora também não conseguiu ainda dar nem um passo para frente e segundo tudo indica parece 207 jà estar concluída e completa Não só parece Está mesmo Pois apesar de Kant e Hegel a lógica já não deu nenhum passo a mais na direção de sua Essencialização originária É que o único passo ainda possível é arrancála a saber en quanto perspectiva normativa da interpretação do Sen de seus gonzos desde seu fundamento Consideremos ainda numa visão de conjunto o que se disse sôbre physis e logos a physis se converte em ideo yaradeig ma a verdade em correção O lógos se faz enunciado o lugar da verdade enquanto correção a origem das categorias o prin cipio fundamental das possibilidades do Ser Idéia e catego ria serão no futuro os dois títulos a que se submeterá o pensar o fazer e o julgar tóda a existência do Ocidente A transfor mação de physis e logos e com isso a transformação de suas referências reciprocas é uma decadência do principio origi nário e principiativo A filosofia grega chega assim a predo minar no Ocidente não a partir de seu princípio originário mas a partir do fim de seu princípio que em Hegel atingiu a sua grandiosa e definitiva plenitude A História autêntica não ter mina não vai a fundo cessando e extinguindose simplesmente como o animal História só vai a fundo acontecendo Histori camente 2 Mas o que aconteceu o que teve de acontecer para se che gar a êsse fim do princípio da filosofia grega para se chegar a essa transformação de physis e lógos Estamos na segunda questão Sôbre 2 Na transformação descrita é de se considerar duas coisas a Essa transformação se instaura na essencialização de physis e logos ou mais exatamente numa consequência dessa essencialização e de tal sorte que o que em seu aparecer aparece ostenta um aspecto e o que se diz cai logo para o domínio do discurso enunciativo Assim a transformação não advêm do exterior mas do interior O que porém significa aqui interior Não estão em questão a physis de per si e o lógos de per si Com Parmênides vimos que ambos se comper tencem essenclalmente È a própria referência dêles que cons titui o fundamento sustentador e imperante de sua essenciali zação o seu interior muito embora o fundamento dessa re 208 feréncia esteja primeira e propriamente oculta e escondida na essencialização da physis De que espécie porém é essa re ferência É o que veremos destacando o segundo ponto b A transfomação sempre se processa no sentido de que a essencialização originária da verdade a aieífteta revelação tanto do ponto de vista da Idéia como do enunciado se muda em correção A revelação portanto é o interior ié a refe rência vigente e imperante entre pipsís e lógos no sentido ori ginário O vigor imperante se essencializa como o surgir na revelação Ora percepção e reunião constituem o exercício que aàre e manifesta a revelação para o ente Assim a trans formação de physis e lógos em idéia e enunciado tem seu fun damento interno numa mudança da Essencialização da ver dade como revelação para a verdade como correção Ê que a essencialização da verdade não podia ser mantida e conservada na originalidade do principio Ruiu a ravelação o espaço instaurado para o aparecimento do ente Idéia e enunciado ousia e categoria se salvaram como frangalhos dessa ruína De vez que nem o ente nem a reunião poderam ser conservados e concebidos a partir da revelação só res tava ainda uma possibilidade o que se desconjuntara e jazia apenas como dado objetivo só podería por sua vez entrar numa relação entre sl se tivesse também em si mesma o ca ráter de dado objetivo Um Logos objetlvamente dado se tem de conformar com um outro dado objetivo o ente como seu objeto e se regular por êle Sem dúvida ainda se mantém e conserva um último brilho e lampejo da Essencialização ori ginária da aletheta O dado objetivo se antepõe tão neces sariamente à revelação como o enunciado representativo a precede Não obstante a aparência ainda restante da aleifteia já não possui mais a fôrça de suporte e expansão para ser o fundamento determinante da essencialização da verdade Já não o é nem nunza mais o será Ao contrário Desde que a idéia e categoria impuseram o seu predomínio em vão se es força a filosofia por explicar por todos os meios possíveis e impossíveis a relação entre o enunciado Pensar e o ser E são baldados os seus esforços porque néles a questão do Ser não é novamente reposta em seu fundamento nutrício para a partir daí se desenvolver e desdobrar 209 A ruína da revelação como chamamos brevemente aquele acontecimento não provêm entretanto de uma mera deficiên cia de um já não poder suportar a tarefa que com essa Es sencialização foi conferida ã guarda do homem Histórico A razão da ruína está em primeiro lugar na grandeza do próprio princípio e em sua Essencialização Ruína e decadência só se apresentam numa luz negativa para uma exposição su perficial o princípio por ser princípiativo e orfginante deve de certo modo deixarse a si mesmo para trás de si É assim que êle se esconde a si mesmo sempre e necessariamente mas tal esconderse não é um Nada Tão imedtatamente como principia o princípio nunca poderá conservar êsse seu prin cipiar assim como devia ser conservado Ié repetindose em sua originalidade de modo ainda mais originário Por isso só se pode tratar devidamente do princípio e da ruína da verdade numa recuperação que o pensa A carência do Ser e a gran deza de seu princípio não ê objeto de uma constatação ex plicação e vaioração simplesmente histórica O que não exclui mas antes inclui e exige que o processo dessa ruína seja evi denciado na medida do possível em seu curso histórico Aqui no decurso dessas preleções nos devemos ater apenas a uma Indicação de Importância decisiva De Heráclitc e Parmênides aprendemos que a revelação do ente não é simplesmente um dado objetivo A revelação só se processa operada pela obra pela obra da palavra na poesia pela obra da pedra no templo e na estátua pela obra da pa lavra no pensamento pela obra da polis como o lugar da His tória que tudo isso funda e protege Obra é de se entender aqui sempre no sentido grego de ergon conforme anterior mente foi explicado como o presente põsto em estado de re velação O debate da revelaçãa do ente e com isso do próprio Ser na obra que já em si mesmo se processa e ocorre como um constante combate é sempre um embate contra a velação o encobrimento contra a aparência A aparência doía não é uma coisa ao lado do Ser e da revelação mas pertence sempre a essa Todavia a dois ê sempre ambígua Significa tanto o viso em que mna coisa se oferece como a opinião o parecer que os homens têm sôbre ela A existência humana se a têm a êsses pareceres São 210 enunciados e propalados em sucessivos pronunciamentos Assim o doxa é uma espécie de LSgas Os pareceres dominantes obs truem a visão sôbre o ente A êsse se rouba a possibilidade de aeceder a partir de si mesmo em seu aparecimento à percep ção A visão a nós comumente accessível se distorce e per verte em opinião e parecer Dêsse modo o predomínio dos pa receres e das opiniões perverte e dtstorce o ente Distorcer e perverter uma coisa chamam os gregos pseu desthai A luta pela revelação do ente alethela se toma assim a luta contra o pseudos a perversão e distorção Ora a essencialização da luta Implica a dependência de quem luta do seu adversário indiferente se o vence ou por êle é vencido Por ser a luta contra a inverdade uma luta contra o pseudos a luta pela verdade devêm inversamente do ponto de vista do pseudos combatido uma luta pelo apseudes pelo nãoper vertido pelo nãodistorcido Com isso põese em perigo a experiência da verdade como revelaçác Ê que o nãodlstorcido e nãopervertido só se atin ge e logra virandose a percepção e apreensão sem distorsão alguma diretamente para o ente ié regulandose por êle O caminho para a verdade concebida como correção acbase destarte aberto Êsse acontecimento da transformação da revelação pela distorção em nãodistorção e dessa em correção deve ser con siderado conjuntamente com a transformação da physis em idea do logos como reunião no logos como enunciado No fundo disso tudo se elabora então para o próprio Ser aquela Interpretação definitiva que a palavra ousta solidifica e con solida Ela pensa o Ser no sentido da apresentação constante de objetividade dada Vorhandenheit Em conseqüência o ente em sentido próprio é então o sempreente aei on Cons tantemente presente porém é aquilo a que de antemão em tôda aprensão e elaboração temos sempre de recorrer e retor nar o modêlo a idea Constantemente presente é aquilo a que em todo logos enunciar temos sempre de remontar como o substrato já desde sempre subjacente o hypokeimenon sub jectum Do ponto de vista da physis do surgir e nascer o substrato já sempre subjacente é o proteron o anterior o a priori 211 Essa determinação do ser do ente caracteriza a maneira em que o ente se contrapõe a todo apreender e enunciar O hypokeiniencm é precursor da interpretação posterior do ente como objeto A percepção o noein é absorvido pelo Logos no sentido de enunciado E assim se chega àquela percepção que ao determinar algo como algo percebe durchvernimmtí por através do que lhe vem ao encontro dianoeisthai Essa percep ção predicativa por através de díonoio é a determinação es sencial do entendimento no sentido da representação judíca tiva A percepção tornase entendimento a percepção se faz razão O Cristianismo transformou o ser do ente em ser criado Pensar e saber vieram a distinguirse da fé Fldes Com isso não se impediu que surgisse o racionalismo e irracionallsmo mas ao contrário se preparou e fortaleceu Por ser o ente uma criatura de Deus ié algo de racional mente preconcebido por isso tão logo se desfaz a relação entre criatura e Criador e a razão humana predomina e se Impõe como absoluta o ser do ente terá que poder ser pensado no pensamento puro da matemática O ser assim calculável e põsto no domínio do cálculo torna o ente apto a ser dominado pela técnica moderna matematicamente estruturada que se distingue Essencialmente de todo uso de instrumentos até então conhecido Ente é somente aquilo que corretamente pensado resiste a um pensar correto O título principal o que quer dizer a interpretação nor mativa do ser do ente é a nusia Como conceito filosófico sig nifica ousífl apresentação consistente Anwesenheitl Na épo ca em que essa palavra já havia alcançado o titulo de con ceito dominante na filosofia conserva ainda o seu significado originário huparchousa ousia sócrates significa o estado de posse objetlvamente dado Todavia mesmo essa significação fundamental de owsía e a direção da interpretação do Ser por ela aberta não se põde manter Logo começou a transformação da ousia em substância É êsse o sentido corrente de ousirt na Idade Média e Moderna até hoje A partir do conceito de substância do qual o conceito de função é apenas uma sub espécle matemática se interpreta retrospectivamente a Fi losofia Grega o que no fundo significa se falsifica 212 Resta ainda ver come se concebem agora a partir da ousia como o título ora normativo do Ser as distinções antes discutidas Ser e Vir a Ser Ser e Aaparência Lembremos por meio de um esquema as distinções em questão Vir a Ser Ser Aparência Pensar O que está defronte como oposição ao Vir a ser é o cons tantemente permanente o que se acha defronte como oposi ção à simples Aparência é o que se vè propriamente a idea Como o ontos on a idéia é o que constantemente permanece frente à aparência inconstante Todavia tanto o Vir a ser como a Aparência não se determinam apenas a partir da ottsia Pois a aasia obteve por sua vez a partir da referência ao Logos à determinação decisiva de juízo enunciativo a dianoia É por isso que Vir a ser e Aparência se determinam também pela perspectiva do pensar Considerado do ponto de vista do pensar judieativo que sempre parte de algo permanente o Vir a ser se apresenta e aparece como não permanência Em primeiro lugar se mostra essa impermanência do que é objetivamente dado como uma não permanência no mesmo lugar O Vir a ser aparece então como mudança de lugar phora transporte A mudança de lugar tornase a manifestação decisiva e normativa no movi mento em cuja luz se deve conceber todo Vir a ser Com o surto do predomínio do pensar no sentido do racionalismo matemático moderno não se reconhece nenhuma outra forma de Vir a ser do que a do movimento no sentido da mudança de lugar Onde aparecem outras manifestações e fenômenos cinéticos procurase aprendêlos a partir da mudança de lugar Essa o movimento em si mesmo se concebe por sua vez úni s camente pela velocidade c Descartes o instaurador t na filosofia dêsse modo de pensar ridiculariza na XIIa de suas Etegulae qualquer outro conceito de movimento Assim como o Vir a ser em correspondência com a ousia se determina a partir do pensar calcular assim também a outra distinção do Ser a Aparência A Aparência é o Incorreto O fundamento da Aparência achase na distorção do pensar A aparência se toma simplesmente uma mera incorreção ou falsidade lógica Daí então poderemos avaliar integralmente o qua significa a contraposição do Fensar ao Ser o pensar estende o seu predomínio quanto à determinação essencial normativa sôbre o Ser e ao mesmo tempo sôbre o que se contrapõe ao Ser Tal predomínio se alonga e progride ainda mais Pois no momento em que o Logos no sentido de enun ciado assume o predomínio sôbre o Ser em que o Ser é ex perimentado e concebido como ousía ser objetivamente dado preparase também a separação entre Ser e Dever O esquema das limitações do Ser se apresenta então do seguinte modo Dever Vir a Ser Ser Aparência 4 Pensar Ser e Dever 214 De acordo com a indicação de nosso esquema essa separa ção segue numa outra direção A separação Ser e Pensar está desenhada para baixo Isso quer mostrar que o pensar é o fundamento que sustenta c determina o Ser O desenho porém da separação de Ser e Dever se dirige para cima Com isso se quer Indicar o seguinte Assim como o Ser é fundado pelo pensar assim também é coroado pelo dever O que significa o Ser já não é mais o decisivo e a norma Todavia êle não é a idéia o modêlo Mas justamente por seu caráter de modêlo também as idéas já não são mais o decisivo e normativo É que entendida como o que dã o aspecto e assim de certa ma neira é um ente on a idéia requer por sua vez enquanto ente a determinação de seu ser ié exige também um aspecto A Idéia das idéias a suprema idéia é para Platão a idea ton agathou a idéia do Bem O Bem não significa aqui o moralmenle ordenado mas o que é como deve ser das Wackere que produz e pode pro duzir aquilo que é devido O agathon constitui o normativo como tal aquilo que confere ao ser a faculdade de vlgir e vi gorar como idéia como modêlo O que confere tal faculdade é o que faculta em sentido originário Enquanto porém as idéias constituem o Ser ousia a idea ton agathou a idéia su prema está epeikeína tes ousias além e acima do Ser Assim o Ser mesmo não por certo simplesmente mas como idéia chega a oontraporse a uma outra coisa e a algo de que êle mesmo o Ser fica dependendo A idéia suprema é o exemplar originá rio de todos os exemplares Agora já não é necessária uma discussão multo extensa para se demonstrar em pormenores como também nessa se paração o que se separa do Ser o Dever Ser não advém e se ajunta ao Ser de fora de qualquer outra parte Na interpre tação determinada como idéia o Ser mesmo traz consigo a re ferência com o que é modelar Vorblldhafte e deve ser Na medida em que o Ser mesmo se afirma e impõe em seu caráter de idéia na mesma medida êle compele também a reparar o seu rebaixamento assim verificado O que porém sõ poderá ocorrer pondose algo acima do Ser algo que o Ser ainda não é mais que cada vez deve ser Tratavase aqui de pôr em evidência a origem essencial da distinção entre Ser e Dever ou o que no fundo vem dar no SIS mesmo o principio Histórico dessa distinção Não se procura aqui a História de seu desenvolvimento e de suas variações Apenas queremos mencionar uma coisa essencial Em tõdas as determinações do Ser e das distinções mencionadas é de ser ter sempre em vista porque o Ser é originàrlamente physís vigor imperante que brota e desdobra êle se apresenta e expõe a si mesmo como eidos e idea A explicação nunca se apõla exclusivamente nem em primeira linha na interpretação dada pela filosofia Ficou explicado que o Dever Ser aparece como contrapo sição ao Ser logo que êsse se determina como idéia Ora com tal determinação o pensar entendido como Logos enunciativo e predicative díalegesthai entra a desempenhar uni papel decisivo e normativo E tão logo nos tempos modernos êsse pensar enquanto razão independente e posta em si mesma predomina preparase a constituição propriamente dita da distinção entre Ser e Dever Ser Um processo que se completa com Kant Para êle o ente é a natureza no sentido do que se pode determinar e se determina no pensamento físicomatemá tico A natureza determinada pela razão e como razão se con trapõe o imperativo categórico Muitas vêzes o próprio Kant o chama o Dever Ser e o faz enquanto o imperativo se refere ao simplesmente ente no sentido de natureza instintiva Fichte faz expressamente da oposição de Ser e Dever Ser a articula ção fundamental de todo o seu sistema No decursa do século 19 ente no sentido de Kant o que é experimentável para as ciências naturais às quais se vêm ajuntar então as ciências his tóricas e econômicas predomina incontestâvelmente Pelo predomínio do ente o Dever Ser se sente ameaçado em sua função de norma E reagiu para afirmarse em sua exigência Para isso teve que tentar fundarse a si mesmo O que quer afirmarse impondose como um dever tem que se credenciar e legitimar para tal a partir de si mesmo Tôda pretensão de dever ser só se pode impor como tal na medida em que impõe a sua pretensão por si mesmo na medida em que traz e ê em si um ualor Os valõres em si tornamse então o fun damento do Dever Ser Visto porém se contraporem ao ser do ente entendido como o que é fato os valóres mesmos não podem ser Por isso se diz os valores não são êles valem Para 316 tódas as estetas do ente ié do objetivamente dado os valo res são o normativo A História não é outra coisa do que a realização de valores Platão concebeu o Ser como idéia A Idéia é modêlo e como tal também normativa O que será mais sugestivo do que se compreender então as Idéias de Platão no sentido de valo res e interpretar o ser do ente a partir do que vale Os valores valem Todavia essa valldez faz pensar em de masia no valer para um sujeito íara garantir ainda mais o Dever Ser elevado a valores atribuise aos valôres um certo ser Ser não significa aqui no fundo outra coisa do que pre sença do objetivamente dado Apenas os valôres não são um dado objetivo tão grosseiro e palpável como o são mesas e ca deiras Com o ser dos valôres a confusão e desraigamento atin gem seu grau mais alto Visto que a expressão valor se apre senta a pouco e pouco desgastada principalmente porque de sempenha também um papel na Economia chamamse agora os valôres de totalldades Com êsse título porém só as letras foram trocadas De fato nessas totalldades se toma antes evidente o que elas são no fundo a saber parcialldades Ora no domínio do que é Essencial as parcialldades as coisas pela metade são sempre muito mais funestas do que o tão temido Nada No ano de 1928 apareceu uma bibliografia completa do conceito de valor Primeira Parte Reúne 661 escritos sôbre o conceito de valor E de se presumir que entrementes êsse número se tenha elevado a mil Tudo isso se chama de filo sofia O que hoje se apresenta como filosofia do Nacional So cialismo que porém não tem nada a ver com a verdade e grandeza interior dêsse movimento a saber com o encontro entre a técnica determinada planetàriamente e o homem mo derno faz suas pescas nessas águas turvas dos valôres f das totalídades Quão tenaz entretanto o pensamento do valor se consoli dou e firmou no século 19 vêse do fato de o próprio Nietzsche e justamente êle haver pensado inteiramente dentro da pers pectiva de uma representação do valor O subtítulo de sua obra principal planejada Vontade de Potência diz Tenta tiva de uma inversão de todos os valôres O livro terceiro da obra se intitula Tentativa de uma nova posição do valor o 217 emaranharse na confusão da idéia de valor a incompreensão de sua proveníèncla questionável é a razão de Nietzsche não haver atingido o cerne próprio da filosofia Mas mesmo que alguém o alcançe no futuro hoje nós só poderemos pre pararlhe o caminho não poderá evitar também um ema ranharse apenas será um outro É que ninguém consegue pular a sua própria sombra NOTAJE 1 COjVSTJriJÇJOztaGCHVG 0 sentido Jmodtato do verbo pragen donde provêm o substantivo Prapgung ê cunhar gravar imprimir Em sentida figurado porém jte diz de qualquer processo de formoçâo Aqui mj refere bó processo hlatóríco da forttiftção dlfttlçõès entre ser e vir m bur bct e aparfincia etc Par lso uwmqs na tradução b palavra constl lulção U1 PÍÍjVSAVW PQTICAMENTEDENKENDDICHTENÜ A conjunção dêsse doh verbos dcnkcn pensar e didileD poria r jpossuem cm Heidegger um significado profundo e essencial Num cojno no outro comportamento do homem a essencialização originária é a mesma As pa lavras português porsifi poetar upaQtn Induzem mal o qnc Hcl digger quer dizer com Díehlung ponia DIchten poetar Dichler poeta Em tôdas elas êlq ae reporta â dimensão originário expressa de maneira na palavra alemA dichtcn Elitnològicumente dlchten len a aenlido de colher ajuntar courijninir retinir Assim o Rfl letlvo ttcht significa concentrado denso compacto auf ctws tctiien significa concrutrarse cm alguma coisa a por cosneguinte me ditar pensar nela Kcfletlndo npssa dircçAo chrgnrscA a compreender o sentido da frase de Nietxscha de que os pensadores Denker e poetas ÍDichtçrl moram em montanhas vizinhas ruas separadas Pura Heidegger punsár e poefor pensai mento e porsia Ao a inesma coísn das Selbe sem serem iguais das Cliche Tratase aqui da dialética le identidade c diferença nvoeada por HrlderHn na frase enquanto estão em pé perma necem separados os troncos vizinho Aqui se aprofunda a observação aci ma referida de Nietzsrhc Evldenlementr uma nota dc página não é o lu gar de w discutir a dialética de idenlklnde e diferença entre pensar e portar Podcsr apenas sugerir o problems 2 POEMA IEfíRGEDJCfíT j A truduçAo de LrhrgiMicht r fritii pâlids mrftfe hnr rlMAtico aLhr vm dr Mfhrfljs ensinar e Gfdfeht 4 o poema 0 problema quci e esconde nessa tradução superficial foi suge nua muito precariamente na Nota anterior no que SC refere a poema a Gedícht No tocante a ensinar Isíiirit vejase o àlllmo livro de Heidegger Die trage nach dem Ding J Qurstàn sêbre a Coisa pp 5355 I COJtfO DIZEMOS PERMANENTE E PERMANÊNCIA Heidegger díx nr original Wundqr milagre e w under bar milagroso maravilhosa Modifieaipcs o exemplo porque rru português não correspond ao que se pretende exprimir 5 BRILfíARSGHEINENt O verbo itemiv scheinen significa brilhar parecer aparecer gm português nAr terno um verbo 6 qur refina essa três significações 21 fl A palavra atemâ para ditcr auréola ou splendor isto é o circulo de iua aô redor da cabeça doi santos é cornpoi H de achrlMen Heiligenschein tradução literal brilho de santo Ç7 APARÊNCIA CWO JÜPLEAFDOfl E BRtLRGSClIRlN ÀLS GLANZ ÜND LÊUCHTEN Á a tradução literal Diretamente a palavra português a purê nela não tem o sentido de brilho e esplendor como a alemã Scbcin ft ESrlfí pJtSlYTEAAr5rÍfE O verbo anskhen tem muitos aig ui ficados O sentido empregado no texto pareceunos melhor expresso pela loruçAo estar premente 1ÍM O QUE J A EST SE ESSESTClALlZÀKDfDAS SCHON GEWESENDE o verihQ wcsenrt ê arcaico em alemão Usase apenas etn algumas forma ri putttvrttj como gcwcscn sido abweaend ausente Bnwesend1 preside das Wisen s propriedade a cssídcíg etc Heidegger o rimtroduitt na linguagem da filosofia Como lêrmo técnico do seu pcusa mcnia MgulficH a dinâmica pela qual um ente chega ao vigor de sua essên rm mi existência humana Essa dinâmica é sempre HUtôri cam ente instau rada peta vicissitude da Verdade do Ser Para exprimir tMa essa estrutura rOMrncinl iimims na tradução um neologismo essenciallzar essencia Mzaçâo 10 bttfENSAO VO RRVELAlW DO VFRRDRGK HBlTt É um térmQ Uptco do pensamento de Heidegger sôbre e Esienciatl zúçuq da Verdade do ber Compucse do verbo uhkuii t pôr a cudío esconder proteger que por sua vez deriva de der Brrg o monte Antigarncntc a cidades vilas e povoados se edlfkúVMm ao sopê de um montoonilf se escondiam os tesouros c coisus de valor quando numa guer ra estavam na Iminência dr serem ocupadas c pilhadas pelo inimigo Ber gen diz levar pura o monte para esconder gimrdar e assim conservar os lasouros para rí cuntra u pilhagem do Inimigos Verbergcn é um ln IrnaificaUvo de bergen cujo parHriplo pftssndo r scrbnrgcn Unver bcrgrn é o verbo que exprime o movimento eontrârid dr befgeli Do par tirfrln pasnado nverhorgen fnrmou Hrideger i sublantivo Uttvrhor genbell que dtz o etado o espaço ou a qualidade de etsar dfiscobtrto Spse niovimrnto dc çnçobrir Paru proteger pensa nrideggcr ue Bcuruu Cuin i cllmologin da palvor grega aléthela a dinâmica da Verdade do Ser que se encobre a si mesma para proteger e revelar o ente em seu ser Essa db nÂnitca da Verdade é que institui c ins latim originário mente a história íasn quer dizer segundo ji vicissitudes dessa dinâmica os homens podem edí fitar r construir m sum existência Ilr A APEC 704 PffX Aspecto só Iraduz flelmetita uAttnsehctiH sc di4i Ta atarmos aptulquer conotação subjetiva e o entendermos total me ate Ir incido renomenulóglcn Isto é como uma tnanircstaçãii qur provém tn próprio ser daquilo a que pertence o aspecto I2i ERRfRlRtE Sõhrc esta trduçàa vejnse a Not 26 do Cap I 131 APAEfVTAJtsrVflATELLExV D verbo vorstellen possui no do mínio do pensamento o significado de representar coneobcr uma idèla Para Heidegger é o scilldo Introduzido peta Interpretação meta física 4o pensamento Por Isso servese do verbo vorslcllen1 cm sua acepção irfgínária ilq fnicr presente apresentar diante de 14 0 QUE SE LAçA CONTRAGEGESTAKD t Gcgenitsiur é objetn Como porém abjeto é um conceito fundamental de metafísica da subjeti vidade Heidegger separa os componontos da palavra para Indicar que a estâ tomando no sentido tijnológko que traduzimn com uma circtinlO euçãn 4151 ejaa a fonua akmâ do provérbio o homem pôc e Deus dispõe ílfl LSELJSA A palavra português ler tem mm mesma origem com se podr verificar rm cnlhM selrçâo riilrciu rtr 219 117 Hrjdegâer Iraduz analogia coui Entsprechung ti correspondência que è um cumpôsto de sp recheo falar Ifi MIAVJO SUBTÈRREOUNTERWELT Dentro da concepção tscatoló gtcn dos gregos após a morte as almas desciam para o Hades o mundo situado em baixo da lem 19 SER OBEDIENTE AG QÜE SE OUVEHURSG SELV O verbo hCren signifies ouvirL Dêlc se forma o edjetivn hatrig que pròpriamente diz ouvinte mfls fie trata de um ouvinte tào concentrado no qiir ouve que e glro e obedece o ouvido 20 O SENTIDO DO PRÓPRIO E PARTICUDAREIGENS1NN Na lingua gem corrente significa Eígenfiinc obstinação wpertinAcia teimosia caprteba Heidegger pensa aqui naobstinação dos que só lèm sentid para o que lhes é próprio j particular É ease a obstinação expressa tino lògicamente pela palavra eigcn próprio Sina sentido 21 PEJtCEBEfíVEAEHMEy Em português o verbo perceber nyj iem êsse sentido do verbo alemão 22 DETHZUJf STEHEN BRINGEN Deter traduz mal a locução ale mã zum Slrhen bringen Essa significa própria mente levar alguém w estar parado em pé 1 23 P5SCJA5ftôT A palavra alemã seíbst pode ser advérbio ou adjetivo significando cm pessoa em sí mesmo au mesmo Heideg ger substantiva essa palavra para exprimir o ser do homeju Êle não ua as palavras pessoa personalidade por serem conceitos próprios da interpretação metafísica do homem À falta de melhor tradução conservn ttu5 a palavra pewoa entre aspas 24 DISPOSIÇÃO AFETIVASTIMMUNGTrata se de um conceito funda mental de todo o pensanento de Heidegger desde Seín nnrf 2eif O trrsr entendido e Interpretado SUnimung no sentido corrente da palavra levin muitos a par de outras íneamprnsôes a fazerem do pcnsamenlo de Hei degger uma filosofia irraci ona lista portanto unia manifestação da metafí sica Stimmnng quer dizer romumente disposição tònus humor emotividade afetação todos conceitos irracionais como se dizem Mas êaoe é o espaço de superfície da palavra Não é nêle que se move o pensa mento de Heidegger cuja originalidade é a orígínarledade Stimnumg vem do verbo itimmcn que significa fazer ouvir a sua voz conlra ou a favor portanto votar significa também afinar Çp ex um ínslriv mento harmonizai 41 acoi darse Ê êsse o sentida originária donde pro cede cortio significações derivadas tanto o sentido de disposição enin llvídade afelividade como o sentido de votar É a Acepção primária de afina r harmonizar acordar que Heidegger tem em mente mm a palavra Stlmmung Traduzimola cam a locução disposição atalha Essa tradução só não trairá o pensamento ac fôr entendida no se nib n otí molõgíro de suas palavrAX 1 25 DPER4 Com no texto original w usa o verbo rtrr wirkcn no sentido dc ins Werk sétzcn assim também na tradução c verbo operar twm ó sentida de em obra reportandose à siw nn geni latina na palavra opus opens a nbta 26 NECESSIDÀDRNOTWENDIGKE1T Heldtggrr pvnsa aqui a palavra Nntwendlgkeit necessidade dentro do espaço semântico aberto pol wntldo dos dois radicais de qtie é composta Not falto envêneta e wenton volverse virar debatorsr em voltas revoltas A enustríngêiv rfe nniií reinante é o virarse e revirarse o rcvolverre na dlmrnsão Ins taurada pejo vigor de uma carência Ê êsse exntamente o espaço efe slgnl firação originário da palavra pnrkiguêsa necessidade 220 V CONCLUSÃO Puseftionos em questão através da investigação das quatro distinções Ser e Vir a Ser Ser e Aparência Ser e Pensar Ser e Dever Ser A discussão foi introduzida e conduzida por sete pontos de referência A princípio parecia que se tratava apenas de um exercício de pensamento da distinção de títulos reuni dos arbitràriamente Agora os repetimos na mesma formulação Assim veremos a medida em que o que ficou dito manteve a direção indi cada por êsses pontos de referência e atingiu o que se tratava de ver 1 Nas distinções mencionadas o Ser se delimita frente a uma outra coisa e já adquire assim nessa demareação de li mites deHmitante uma determinação 2 A delimitação se processa de acordo com quatra aspec tos reciproca e simultânea mente correlacionados entre sl Con sequentemente a determinação do Ser se deve ou ramificar ou elevar correspon dentemente 3 As distinções não são de forma alguma obra do acaso O que nelas se mantém separado compele orlglnàriamente a uma unidade uma vez que se pertencem entre si Por isso as distinções possuem uma necessidade tôda própria 4 As contraposições que à primeira vista dão a apa rência de fórmulas não surgiram por isso em ocasiões quais 221 quer nem entraram para a linguagem por assim dizer como modos de falar Originaramse em estreita conexão com a cons tituição do Ser que se tornou normativa para o Ocidente Prin cipiaram com o princípio da investigação filosófica 5 Essas distinções porém não dominaram apenas a fi losofia ocidental Elas impregnam todo saber fazer e dizer mesmo quando não se acham expressas especificamente ou com essas palavras 6 A sucessão mencionada dos títulos já dá um indicio da ordem de sua contextura essencial e da seqüência Histórica de sua constituição Prgung 7 Uma investigação originária da questão do Ser que compreendeu a tarefa de um desenvolvimento da Verdade da Essencialização do Ser tem que exporse a si mesma para uma decisão aos podérss encobertos nessas distinções e os recon duzir à sua própria verdade Tudo que nesses pontos antes só fora afirmado foinos põsto ante os olhos menos o que se diz no último ponto É que de saída continha apenas uma exigência Para concluir íazse mister mostrar até que ponto e em que medida essa exi gência se justifica e seu desenvolvimento se toma necessário Essa demonstração só ê exequível se simultaneamente se atravessa numa visão penetrante o todo dessa introdução a Metafísica Tudo foi colocado e girou em tômo da questão fundamen tal enunciada no início Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Jã a primeira tentativa de desdobrar e desenvolver essa questão fundamental nos forçou e obrigou ã questão prévia O que há simplesmente com o Ser De início ser nos apareceu como uma palavra vazia de significação flutuante Que assim é apareceunos como uni fato que pode ser constatado entre outros fatos Por fim porém o que parecia destituído de qualquer necessidade de ser investigado e mesmo incapaz de sêlo mostrouse como o que é mais digno de ser pósto em questão numa investigação das 222 Frngwürdigste O Ser e a compreensão do Ser já não são um fato objetivamente dado vorhanden O Ser é o aconteci mento fundamental em cujo único fundamento pode surgir e acontecer a existência Histórica no meio do ente aberto e re velado em sua totalidade Mas êsse fundamento que ê o que há de mais digno de ser investigado da existência Histórica só o poderemos ex perimentar em sua dignidade e excelência pondoo em ques tão Por isso levantamos a questão prévia o que há com o Ser As indicações do emprégo corrente mas complexo do ê nos convenceram ser um êrro falar de indeterminação e va culdade do Ser É o é que determina o sentido e o conteúdo do infinitivo ser e não ao contrário Agora poderemos com preender por que tem que ser assim O é funciona e vale como Cópula como palavra de ligação Kant no enunciado Ê êsse que contém o é Ora uma vez que o enunciado o logos entendido como kategoria se tornou o tribunal de julgamento do Ser é êle que determina o Ser a partir de seru é corres pondente O Ser do qual partimos como de um titulo vazio deve ter em contraste com essa aparência um significado determinado A determinação do Ser foi evidenciada pela discussão das quatro distinções Em oposição ao Vir a Ser o Ser é o permanente Em oposição à Aparência o Ser é o modêlo permanente o sempre igual a si mesmo Em oposição ao Pensar o ser é o substrato objetivamente dado Vorhanden Em oposição ao Dever Ser o Ser é o que prejaz Voriie gende como o que é devido ainda não ou já realizado Permanência Igualdade sempre constante Objetividade dada Prejacència tudo isso é no fundo uma mesma coisa presença constante on como oitsia Essa determinação do Ser não é casual Provém da inter pretação de que depende por intermédio de seu grande prin cípio entre os gregos a nossa existência Histórica Determinar o Ser não é simples questão de definir o significado de uma pa lavra Constitui o poder que ainda hoje carrega e domina todos as nossas referências com o ente em sua totalidade com o Vir a ser oom a Aparência com o Pensar e Dever 223 A questão sôbre o que hã com o Ser se mostra ao mesmo tempo como a questão sôbre o que se passa com a nossa exis tência na História a saber se estamos firmemente implantados ou se cambaleamos na História Considerando metafisicamen íe nós cambaleamos É que por tôda parte nos encaminhamos no meio do ente mas já não sabemos o que há com o Ser Nem mesmo sabemos ao certo que já não o sabemos Mesmo quando nos asseguramos uns aos outros que não estamos cambaleando ainda assim cambaleamos E continuamos a cam balear quando últlmamente se faz um esforço no sentido de mostrar que a questão do Ser só traz confusão só age destruti vamente ê niilismo Essa falsificação que desde o apareci mento do Existencialismo se vem novamente instaurando só é nova para quem não tem nenhuma noção da questão do Ser Mas onde é que reside mesmo e opera o Niilismo Lá onde se aferra e agarra ao ente corriqueiro e se pensa que basta como se tem feito até agora tomar o ente assim como tem sido Dêsse modo porém se repele a questão do Ser e se trata o Ser como um Nihii um Nada o que sem dúvida de certo modo êle também é enquanto se essencializa Ocuparse e afanarse tão só do ente esquecendo o Ser eis o Niilismo Èêsse Niilismo que constitui o fundamento daquele outro Niilis mo que Nietzsche expôs no primeira livro da Vontade de Po tência Agora na questão do Ser chegar expressamente até às raias do Nada e incluílo na investigação do Ser é ao contrário o primeiro e o único passo fecundo para uma verdadeira su peração do Niilismo Que porém tenhamos de estender tão longe a questão do Ser entendido como o que há de mais digno de ser investi gado é o que nos revela a discussão das quatro distinções Aquilo contra o qual o ser se delimita o Vir a ser a Apa rência o Pensar o Dever não é algo de simplesmente pen sado algo engendrado pelo pensar Tratase de forças e po dères que dominam e enfeitiçam com seu vigor o ente a sua abertura e configuração a sua reclusão e deformação O Vir a ser será que é um nada A Aparência será que é um nada O Pensar será que ê umnada O Dever será que é um nada De forma alguma 224 Ora se tudo que nessas separações se contrapõe ao Ser não ê um nada é por ser em si mesmo um ente até mesmo mais ente do que aquilo que se considera ente de acordo com a determinação essencial delimitada do Ser Mas então em que sentido de Ser é ente o que vem a ser o que aparece o pensar e o dever Em todo caso não será no sentido do Ser contra o qual êles se distinguem Ora êsse sentido de Ser é o corrente desde antigamente Logo o conceito ãe Ser até então logrado não basta nem consegue evocar tudo aquilo que é Por isso temos que fazer novamente a experiência do Ser desde o fundamento e em tôda a amplidão possível de sua Es sencialização se quisermos pôr em obra Hlstòrlcamente a nossa existência Histórica Na sua múltipla contextura os poderes que se contrapõem ao Ser as distinções determinam domi nam e impregnam a nossa existência e a mantém dentro da confusão do ser Pela investigação originária das quatro dis tinções se nos torna evidente que o Ser por elas circunscrito se deve transformar no círculo circunscrevente e no funda mento do ente A distinção originária cuja intimidade e sepa ração originárias carrega a História é a distinção entre Ser e ente Mas como terá ela de processarse Onde a filosofia poderá empenharse para pensála Não se deve discutir sôbre em penho mas repetilo em sua execução Pois Já fei executado e exercido pela necessidade de seu princípio ao qual estamos su jeitos Não foi por nada que na discussão das quatro distin ções nos demoramos desproporcionalmente na distinção de Ser e Pensar É ela que ainda hoje constitui o fundamento que suporta tôda determinação do Scr Guiado pelo Lógos no sen tido de enunciado o pensar proporciona e mantém a perspec tiva em que se considera o Ser Por isso para se abrir e fundar o Ser mesmo em sua ori ginária distinção do ente fazse necessária a abertura de uma perspectiva originária A origem da separação entre Ser e Pensar a separação entre Percepção e Ser nos mostra que não se trata de nada menos do que de uma determinação do ser do homem que procede da Essencialização do Ser physisi a ser aberta 225 A questão sôbre a Essencialização do Ser se abotoa e vincula à questão sôbre quem é o homem A determinação da essencialização do homem que aqui carece não é entretanto tarefa de uma antropologia flutuante no ar que no fundo se representa o homem como a Zoologia se representa o animai Em sua perspectiva e em seu alcance a questão sôbre o ser do homem é determinada exclusivamente pela questão do Ser Nela há de se conceber e fundamentar a essencialização dq homem segundo a indicação oculta no principio como o lugar r de que carece o Ser para a sua abertura O homem é a estância sis tência em si mesma aberta ex Nela o ente ínsíste e se põe em obra Daí dizermos o ser do homem é no sentido ri goroso da palavra a exsistência Dasein É na essenciali zação da exsistêneia entendida como tal estância da aber tura do Ser que se deve fundar originàriamente a perspectiva para a abertura do Ser Tôda a concepção e tradição ocidental do Ser e portanto também a referência fundamental com o Ser ainda hoje do minante se resume e reúne no título Ser e Pensar Ser e Tempo porém é um titulo que não se pode equi parar de forma alguma às distinções discutidas Aponta para uma dimensão de investigação totalmente diferente Nêle a palavra pensar não é simplesmente substituída pela palavra tempo Desde o seu fundamento a essenciali zação do tempo é determinada segundo outras perspectivas e dentro unicamente do âmbito da questão do Ser Mas por que justamente tempo Porque no princípio da Filosofia Ocidental a perspectiva que guia e conduz a abertura do Ser é o tempo Mas óé de tal modo que permaneceu e teve de permanecer como perspectiva oculto Quando no fim a oAsia se converte no conceito fundamental do Ser e Ser sig nifica então presença constante que outra coisa podería ainda fundamentar de modo não descoberto e não revelado a es sencialização da constância e a essencialização da presença do que o tempo Ssse tempo porém ainda não foi desdobrado e desenvolvido em sua essencialização nem poderá sêlo no terreno e na perspectiva da Física Pois quando no fim da Filosofia Grega se introduziu com Aristóteles a reflexão sôbre a essencialização do tempo teve êle de ser tomado como algo 22 de algum modo presente ousia tis Éq que se expnme no fato de c tempo ter sido apreendido a partir do agora como o que cada vez e só está presente O passado é o nstomaisagora o futuro o aindanãoagora O Ser no sentido do que é obje tivamente dado presença subministrou a perspectiva para a determinação do tempo E assim o tempo não chega a ser a perspectiva que propriamente se seguiu na interpretação do Ser Em tal reflexão Ser e Tempo não significa um livro mas uma tarefa e um empenho imposto o que nessa tarefa e in cumbência propriamente se impõe é Aquilo que nós não sabemos É Aquilo que na medida em que o sabemos nntên iicamenie a saber enquanto tarefa e empenho imposto sempre só o sabemos investigando Saber investigar significa saber esperar mesmo que seja durante tôda uma vida Numa época porém em que só é real o que vai de pressa e se pode pegar com ambas as mãos temse a Investigação por alheada da realidade por algo que não vale a pena terse em conta de numerário Mas o Essencia Jizante não é o número e sim o tempo certo lé o momento azado a duração devida Pois odeia O Deus sensato Crescimento intempestivo Hoederlin Do motivo dos Titãs rv 2is 227 ÍNDICE ITINERÁRIO DO PENSAMENTO DE HEIDEGGER 9 INTRODUÇÃO A METAFÍSICA 30 I A QUESTÃO FUNDAMENTAI DA METAFÍSICA 31 II SOBRE A GRAMÁTICA E ETIMOLOGIA DA PALA VRA SER 79 ni A QUESTÃO SÔBRE A ESSENCÍALIZAÇAO DO SER 101 IV A DELIMITAÇÃO DO SER 119 V CONCLUSÃO 219 O esforço filosófico de HEIDEGGER procura investigar originariamente questão fundamenta da metafísica No dinamismo dessa investigação desdobrase o problema sobre o rentído e a ver dade do Ser que se retraiu e obnubilou no curso da tradição ocidental A tese de HEIDEGGER é que esse esquecimento do Ser é constitutivo des de origem e para a origem de toda a história do Ocidente A fim de recobrarlhe a memória urge superar a metafísica Superar a metafísica não i aniquilar o pensamento da tradição É re cuperar o sentido esquecido do Ser O maior le gado do pensamento metafísico não reside no que ele pensa e reflete Está no que não pensa nem reflete mas sugere a pensar e refletir era todo que pensa e reflete Na realização desse apelo se insere a Introdu ção d Metafísica cujo propósito é revelar o es quecimento do ser entranhado nas obras históri cas do Ocidente No rigor de uma reflexão Ori ginária as raíres do mundo moderno tecnocra cia massificação predomínio totalitário etc se mostram implantadas no solo da metafísica Das meditações do Filósofo resulta com vigor impressionante o apelo de uma nova hominização em que o homem moderno ator e vítima de uma época sem memória para o Ser possa recuperá la edifícandolhe a verdade nas obras de sua existência histórica Esta tradução brasileira de HEIDEGGER é do professor EMMANUEL CARNEIRO LEAO Li cenciado em Filosofia pela Universidade de Fri burgo Alemanha Doutor pela Universidade de Roma com a tese O Problema da Htrmaniutita Filosófica em Heidetger cm vias de publicação por tampo brasileiro e Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
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Biblioteca Tempo Universitário 1 Martim Heidegger introdução à metafísica 0 dlfTOJt E A OBRA MARTIN HEIDEGGER nasceu em Messkirch na Briifóvú aos 269 1689 Fez sus fonnafio ft kwófiu na Universidade de Friburo na Bnspó ví com Edmundo Husserl o pai da modem feoomenologia e Rickert culturalisla do neokan tiaauamo Ekntorousc xn a Use Dar Urleii im ftlulaiimui O Juízo no Psicologiuoo Em 1916 habilitouse ao magistério com a tese Die Karegorien und Redeutunedehre des Dum Skotui A Doutrina daa Categorias e da Significaçáo do Duna Escoto Assumiu cm 1923 uma cátedra na Universidade de Marburao Começou entio a pro teterse no mundo filosófico com sua mterpreta çóe curriculares sobre a doutrina do préocrá tieos Desde 1921 foi transferido para a Univer sidade de Friburgo ns Brúgdria onde sucedeu a Husserl Numatto Reitor em 1934 renunciou quatro meses depois Em 1951 sposentouse como professor emérito Peta ordem cronológica de publicaçáo sio as scgutntea as obras principais Dot Realiioetipro blem in der modemen nitoecphie 1912 O Pro blema da Realidade na Filosofia Modems Der Idibtfrifl in der Geechichtwimmchaft 1916 O Conceito de Tempo nas dtncia históricas Die Katetorimund Bedeutuntelthre dei Duns Skotiu 1916 A Doutrina da Categoriar e da Significa lo de Dun Eacoto Sein und Zeit 1927 Ser Tempo VwsWesm des Grundet 1929 ÍDa Essetiaelizaçio do Fundamento Kant itnd do Problem der híeiaphydk 1929 Kant e o Proble ma da Metafísica War irt MftaphjaAf 1929 O que 6 a Metafísica Piaom Lehrt von der Wahrheri 1942 A Doutrina de Platão da Ver dade Vam JVeaen der Wuhrheit 1943 Da Es aendalúaçio da Verdade Über dm Humanif mus 1949 Sobre o Humanismo Horwere 1950 Caminho Silvestres EHoeuterunien zu HoedeMu Diehiunt 1951 Dilucidaçóes i poe sia de Hoelderlin EinfüAnmg índio Mriaphy rtk 1933 Introduçio à Metafísica War Aeíãtf DenkenT 1954 O que provoca pensar Foriroe t und Aufnatitt Conferência e Artigos Zur Stintfrngt 1956 Sobre a questão do Ser Was itt dar dit Fhiioiophirf 1956 O que é isso a Filosofia Dn Serz vem Grund 1957 O Principio do Fundamento Idntiltrt uitd Dif ftrmz 1957 Identidade e Diferença Unirrwtt utr üpraclu 1959 A Caminho da Linguagem Nerzrchr 1961 Nietzsche Die Frage nach dem Dini 1962 ÍA Questio da Coisa Kanu Three mbet due Setn 1962 A Tese de Kant sobre o Ser INTRODUÇÃO A METAFÍSICA J978 2 edição q 1987 3 edição 19994a edição Preparada pelo Centro de Catalogaçãonatcnte do SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS RD Heidegger Martin H371 Introdução à metafísica apresentação e tradução de Emma nuel Carneiro Leão 4a ed Rio de Janeiro Tempo Brasileiro Biblioteca Tempo Universitário 1 Do original em alemão Einführung in die Mctaphysik Glossário 1 Metafísica I Titulo II Série 780041 CDD 1118 CDU 11118 MARTIN HEIDEGGER INTRODUÇÃO À METAFÍSICA Apresentação e Tradução de EMMANUEL CARNEIRO LEÀO Tempo Brasileiro Rio de Janeiro RJ 1999 U JW5 BIBLIOTECA TEMPO UNIVERSITÁRIO 1 Coleção dirigida por EDUARDO PORTELLA ANTONIO DIAS e PEDRO PAULO MACHADO Traduzido do original alemão Einfiihrimg in die Metaphysik Direitos reservados às EDIÇÕES TEMPO BRASILEIRO LTDA Rua Gago Coutinho 61 Laranjeiras ZC 01 Tel 2055949 Rio de Janeiro RJ Brasil 1 ITINERÁRIO DO PENSAMENTO DE HEIDEGGER FOR EMMANUEL CARNEIRO LEAO i Inaugurando a Coleção Tempo Universitário aparece ago ra em tradução portuguesa o livro de Martin Heidegger In trodução à Metafísica Já houve quem o apresentasse como talvez a melhor e a mais fácil introdução â filosofia de HeideggerThe Journal of philosophy II 3 Í1954 196 Uma aparência de certo suscitada pelo titulo e amparada nos pareceres correntes sôbre a filosofia Em todo caso outra é a apresentação que faz o pensamento de Heidegger Não se trata de uma obra de tniciação nem de fácil acesso E por duas razões principais A primeira é muito simples e por isso mesmo difícil de se compreender Em filosofia não há possibilidade de introdução Um abismo separa a espaço ordinário da existência em que se move tanto o modo de ser habitual familiar e imediato da vida cotidiana como o modo de ser objetivo técnico e exato da vida cientifica do espaço extraordinário em que se agita n investigação filosófica E nenhuma ponte o poderá transpor Não certamente por estar o espaço da filosofia demasiado dis tante e um demasiado próximo de todos os modos de ser da existência histórica Dai também tôda a dificuldade da filosofia para o homem moderno que vive habitualmente no espaço da ordem do dia Dessa perspectiva o mais longo e o mais difícil dos caminhos é sempre aquele que leva ao que é mais intimo e está mais pró ximo É tão íntima a presença da filosofia no país dos homens que se to na impossível uma introdução e muito difícil o acesso i sua paisagem A filosofia já está sempre operando em todo pensamento que nela se procura iniciar e introduzir O único caminho ainda possível é um retorno brusco da existência à sua origem A paisagem da fiiosofia não está em algum lugar esperando que nela se introduza o pensamento A paisagem áa 9 filosofia se instaura e origina pelo movimento da própria in vestigação filosófica que pondose em questão retorna às ori gens donde ela mesma provém o que significa o titulo do livro cuja tradução portu guêsa ora se oferece Introduzir à metafísica é movimentarlhe a questão fundamental de maneira a levála ducere para dentro intro das origens donde a metafísica procede Um esforço de pensamento que nada tem de horizontal e pro gressivo Cujo movimento se processa antes no sentido vertical v regressivo Na direção do fundamento e proveniência Longe de ser uma iniciação a Introdução à Metafísica pressupõe in timidade com as profundezas da metafísica e a disposição de arriscar o salto nas fontes originárias de suas possibilidades e de seus limites Não é por ser obra da linguagem esotérica e sibilina de Heidegger mas por ser obra de filosofia que se trata de um livro de acesso difícil l segunda razão decorre necessàriamente da primeira e interessa o papel que a Introdução desempenha no itinerário do pensamento Heiâeggeriano Ê um livro de transição Inse rese na passagem como se costuma dizer do Primeiro para o Segundo ou Último Heidegger A ftm de se compreender o sen tido dessa posição caracterizada pelo próprio Autor de inten cionalmente ambígua tornase indispensável um conspecto global de todo o itinerário do Filósofo Nesse propósito traça remos aqui as coordenadas principais do roteiro de pensamen to em cujo sistema se enquadra a Introdução à Metafísica 1 Existência e Reflexão Todo pensamento filosófico au têntico nunca é posto arbitràriamente pelo filósofo mas lhe é sempre imposto vela própria existência cuja Situação Histórica sübministra os temas a investigar e a missão a cumprip A Si tuação da Existência porém não é um simples fato qualquer fato já é sempre feito que de fora viesse impor ao filósofo a problemática de suas reflexões Todo problema de pensamento inclui em sua essencialização um projeto de algo que ainda não e E o que é não pode nunca determinar o que não é A reflexão imerge e ao mesma tempo emerge de uma dada situa ção Êlhe simultâneamente imanente e transcendente Um problema filosófico nasce sempre do que Sartre chamou Ia cfipacíié nulllfiante da existência Da reflexão sôbre a situa ção em que pensa o filósofo 10 A reflexão sôbre a situafõo de nossa existência revela a consciência de uma unidade e de uma interrupção Histórica Sentimonos vtanüantes de um único Dia Histórico que se es tende do sol nascente na aurora grega de Homeraao sol poente na Era Atômica Temos uma consciência nítida de nossa ru tura com a tradição e da diferença entre a manhã e a tarde da História Ocidental Assim qualquer investigação se insere hoje necessariamente na Época da técnica e da ciência Época da ciência não é para dizer com Kant uma generatio aequi voca Não nasceu por geração espontânea ex nihilo sui et subjecti como diríam os AristotéUcos Latinos Pertence a uma tradição milenáría da qual é uma transformação Histó rica Quem hoje se empenha num problema filosófico não pode impedir de acharse no fim de jornada da grande tradição grega Pois a metafísica grega não é algo que num tempo foi e agora já não é mais Não se trata de um presente para empre passado É um pretérito ainda hoje presente no vigor e no império da ciência e da técnica E não só no sentido de que o homem moderno evoca e faz reviver por meio de recons truções historiográficas o passado de sua história mís no sen tido existencial de constituir o próprio fundamento de seu modo de ser moderno Heraclita e Parmenides Platão e Aris tóteles São Tomás e Descartes Kant e Hegel Marx e Nietzsche estão presentes embora transformados pelo dinamismo de seu próprio principio no cérebro eletrônico do qual depende hoje a segurança do Capitalismo e do Socialismo A consciência dessa rutura na unidade de uma tradição determina a Situação de nossa existência que impõe ao pensamento moderno a proble mática central de suas reflexões Transladada para a reflexão filosófica essa situação da existência se transformou na problemática entre imanência e transcendência cujo processo de transformação principiou com a Revolução Copernicana de Kant Em que consiste no pen samento de Heidegger tal problemática O homem não pode exist r senão em comêrc o e comunhão com o mundo dos entes Ente significa tudo que de algum modo s o homem as coisas os acontecimentos até mesmo o Nada enquanto è um Nada ié enquanto tem um significado seja positivo ou negativo para a existência Incluindo o seu mofo 11 te ser tudo que é é um ente e tudo que implica ou se refere ao ente e seu modo de ser é õntico adjetivo formado da pa lavra grega on ente Do ente o homem não pode prescindir Em tàdas as suas indústrias e atividades para pensar e querer sentindo e aman do na vida e na morte o homem não se basta a si mesmo Sempre necessita de algo que êle mesmo não é Sem êsse outro o homem não pode ser Edificandose necessàrtamente dessa indígéncta a existência humana exige que o ente a afete se lhe dè e manifeste para existir o homem tem que imergirse e entregarse aos entes A palavra imanência indica essa con tingência A necessidade do homem de estar sempre presente ao mvndo dos entes para chegar a ser êle mesmo Exprime que o homem não pode ser o ente que é senão encarnado no mundo Em contínua comunhão com os outros entes A índole específica desse modo humano de ser reside na iluminação da imanência ao mundo pela luz do Ser na qual os entes aparecem em seu ser os animais em sua animalidade os instrumentos em sua instrumentalidade os homens em sua humanidade etc Assim a palavra ser é ambígua Uma vez significa o modo de ser áo ente a saber que o ente é e aquilo pelo que êle ê o que é Outra vez significa o fundamento de possibilidade em virtude do qual o ente se essencializa em seu ser fser no primeiro sentido Para distinguirmos essa dupla signijicaçâo nitidamente escrevemos sempre o Ser tomado na segunda acepção e suas várias manifestações com letra maiuscula Nos diversos períodos da metafísica o ser do ente foi de terminada ora como idea ora como ousia ora como essentia ora como objetividade etc Essas várias determinações não são arbitrariedades insignificantes devidas ao gòsto extrava gante que no parecer do bom senso comum têm os filósofos de divergirem sempre entre si em sua verbal superstition em suas dicttssões inúteis sôbre palavras São uma diversidade que resulta das vicissitudes de um apêio Articulam as peripé cias de um destino vigente que instauram originàriamente o acontecer histórico e por isso são Históricos em sentido criador Pelas vicissitudes desse apêio pelas fulgurações desse destina os períodos da história se distinguem e identificam divergem e convergem fundament almente entre si 12 O que é ésse apêio e êsse destino Donde provêm êles e a que se dirigem São o fundamento em que se essencializa a diferença ir redutível e a referência necessária entre o ente e seu ser Provêm da iluminação dessa identidade e diferença e se di rigem ao homem em cuja existência se instaura a diferença referente Ora de vez que a palavra grega logos significa o fundamento em virtude do qual alguma coisa pode ser colhida e recolhida como isso ou aquilo Heidegger chama a diferença referente em cujo fundamento o ente se essencializa em seu ser de diferença antológica jlssiwi se estrutura o seguinte uso terminológico enle é tudo que ê ser com minúscula o fato e o modo de ser do ente enquanto ente Ser com maiúscula a diferença antoló gica fundamento de possibilidade do ser do ente Verdade ou Sentido com maiúscula do Ser a iluminação da diferença referente em que o ente se revelp em seu ser como ente exis tência o modo de ser do homem que é o espaço onde se ins taura a revelação da diferença História com maiúscula as vicissitudes da Verdade do Ser que instaurandose na existên cia institui a verdade dos entes cujas variações lhes consti tuem a história Essencializar exprime o processo antológico em que o ente na instauração existencial revela o seu ser ié se essencializa com minúscula Já dessa explicação de termos meramente formal se pode ver que as três perguntas acima formuladas sõbre o destino das diversas determinações do ser do ente nos vários períodos da metafísica articulam dialêticamente entre si os três momentos centrais a ente em seu ser o homem em sua existência e o Ser em sua Verdade numa única questão a questão sõbre a diferença antológica como tal Durante todo o decurso da história do Ocidente a diferença constitui sempre o funda mento esquecido e não pensado de todo o pensamento meta físico O famoso esquecimento do Ser ISeisnvergessenheit não e outra coisa do que o esquecimento da diferença antológica Para Heidegger ela constitui o que é mais digna de ser posto em questão das Fragwürdigste e investigála é a pre ocupação central e única de tõda a sua filosofia como ainda veremos 13 O comércio com os entes de que necessita o homem para existir se sustenta e articula numa precompreensão multiar me da Verdade do Ser vigente na dimensão da linguagem par cuja fórça o homem sempre usa a palavra é Chama as pes soas e coisas de entes Com elas se comunica em termos de es sência e existência de constância e mutabilidade de ser e não ser de poder e dever ser de ser verdadeiro e falso de vir a ser e sempre ser de ser presente passado e futuro Em tôdas essas locuções o homem apreende e compreende colhe e es colhe une e reúne confere e difere tudo que lhe advêm da totalidade do ente sob o vigor da Verdade do Ser explicita mente indeterminado mas de extensão e compreensão inexgo tável O têrmo transcendência indica essa excelência do homem de ultrapassar e superar a obscuridade do ente com o qual constantemente se comunica em sua existência iluminan dolhe o sentido tornandolhe transparente o ser na luz da Verdade Já o fato de se usar uma mesma palavra a saber luz para significar tanto um fenômeno externo a luz do sol como um fenômeno interno a luz da verdade mostra de algu ma maneira que o sol não se encontra de moda absoluto e exclusivo fora do homem nem que a verdade se acha de modo absoluto e exclusivo dentro do homem mas que primária e origináriamente o homem sempre existe no mundo enquanto o transcende e o mundo sempre transcende enquanto nêle existe Dessa caracterização que se podería chamar diasporádica da existência humana como tensão entre imanêncía e trans cendência poderseia pensar tratarse da antiga solução me tafísica da analogia Não é assim A analogia não é uma res posta A analogia é um problema E um problema derivado porquanto suscita sempre a questão sôbre o fundamento de sua possibilidade Como por exemplo é possível que uma ima gem proveniente do mundo externo possa dizer alguma coisa sôbre o mundo interno Em que se funda a analogia entre a profundidade de um poço e um pensamento profundo Como se terá de conceber a essencialização do homem cuja existên cia sempre se articula na dimensão da analogia Quais são as condições de possibilidade dêsse modo de ser do homem 2 Os Termos da Questão do Ser A problemática da tensão de imanência e transcendência na existência humana 14 agita antes do problema clássico da analogia Investga o fundamento de possibilidade no qual somente tôda analogia pode moverse e o homem pode existir metafisicamente Já na conclusão de sua tese de habilitação ao magistério Die Kate gorien und Bedeutungslehre des Duns Skotus A Doutrina das Categorias e da Significação de Duns Escoto Heidegger levanta o problema da tensão da existência que em Sein und Zeit Ser e Tempo e nas obras posteriores será determinado e articulado como a questão central de seu pensamento a questão sbre o Sentido e a Verdade do Ser como se deverá pensar em sua estrutura antológica a essencialização da exis tência humana que recolhe a individualidade de suas atitudes sempre condicionadas historicamente pela situação de tempo e espaço na universalidade de um sentido Quais são as condi ções de possibilidade da existência humana como tensão entre imanénda e transcendência entre ente e ser Como se com porta a filosofia com a sua própria história Como se deve con ceber a essencialização da verdade que exige para se edificar um lugar e um momento próprio na história Com a publicação dos escritos posteriores já não cabe dú vida que a filosofia Heideggeriana é uma reflexão sempre mais exclusiva sôbre a essencialização da verdade do ente como a Verdade do Ser A existência humana se agita dentro da ten são entre imanénda e transcendência porque o homem existe enquanto instste no domínio da Verdade do Ser ié a vicis situde instaurada pela diferença irredutível e referência ne cessária entre ente e ser A tarefa do pensamento não é pro curar sair dêsse circulo de diferença e referência e sim nêle ingressar de maneira a poder regressar até a fonte originária de sua tensão e unidade A imanénda da existência que tes temunha a indigência do homem de insistir no mundo dos etnes para poder existir é o indice de uma outra indigência Da indigência ainda mais profunda por constituirlhe todo o ser de insistir na vicissitude da Verdade do Ser sem nunca poder possuiIa e domindIa Que o homem só possa transcen der o mundo dos entes na medida em que nêle se encarna e mergulha fã mostra a finitude inexpugnável de sua transcen dência Ale só consegue atingir a verdade do ente enquanto habita a luz do Ser na qual o ente se manifesta como tai 15 Assim até no mais elevado grau de sua potência na própria excelência de seu ser o homem permanece sempre ente sen sível Um ente que deve receber de outro as virtualidades de sua própria humanidade Somente por morar na luz do Ser o homem pode ser o ente que possui o privilégio da verdade O privilégio diaspo rádico de existir f é de sair de si mesmo e se conformar com todo ente A adequação entre o ente que o homem ê e o ente que o homem não é retira o fundamento de sua possibi lidade da revelação do Ser em que pela empara sua própria essencialização o homem deve morar necessariamente A redu plicação ontológica implícita em toda verdade do conhecimen to exige assim o modo de ser existente do homem de sorte que em Sein und Zeit Heidegger caracteriza a verdade do homem como a instauração da verdade do ente Se para tôda a tradição metafísica do Ocidente a verdade é predicative lé um processo de conformidade de conveniência e adequação que se desenvolve origináriamente no juízo entre o conheci mento e o ente a condição de sua possibilidade cifrase numa manifestação do ser do ente Há um primado da verdade ma nifestation sobre a verdade predicativa Ora se se considera que o processo de manifestação da verdade do ente é a tensão dialética entre diferença e referência de ser e ente instaurada na existência a afirmação de Sein und Zeit perde todo cará ter sibilmo mostrando como e por que a verdade da homem é a verdade do ente O Ser nunca é ãiretamente acessível Como diferença on tológica inclui sempre uma irredutibilidade ao ente Nunca poderá ser objetivado Nunca poderá ser encontrado nem como ente nem com o ente nem dentro do ente Nunca poderá ser constatado a modo de um dado fato ou valor objetivo O Ser só se dá obliquamente enquanto retraindose e escondendose em si mesmo ilumina o ente segundo determinada figura de sua Verdade Êsse jogo híbrido de retraimento e manifesta ção de luz e sombra de velar e revelar constitui a essencia lização de sua Verdade tal como os gregos a pensaram ori ginàriamente na aletheia Dessa dinâmica surge a constitui ção dos períodos de sua fulguraçâo como Épocas da Verdade do Ser A palavra Época não apresenta aqui a função téttea 16 da consciência transcendental inerente ao têrmo Husserliano Epoche Ê antes pensada a partir da tendência do Ser de reve lar o ente na medida em que se vela e retrai em si mesmo A Época é sempre uma configuração Histórica do esquecimento do Ser Ora senão a existência espaçe aberto par essa con figuração epocal a Verdade do Ser está mais de posse do que na posse do homem e por isso mesmo é sempre esquecida na história de sua essencialização O homem só pôde principiar a investigar o ente como tal a fim de adequandose a seu ser tomálo por medida e critério da existência porque a Verdade do Ser já antes dêle se tinha apoderado e o havia destinado em determinada Época de sua fulguração Numa Época em que a significação do ente enquanto ente é estruturada na di ferença entre fundamento e fundado Isso quer dizer a essen cialização do pensamento ocidental em que a existência do Ocidente toma consciência de si mesma é absorventemente lógica no sentido de edifiçada na interdependência de funda mento e fundado E por ser lógica e de modo igual ôntica e teísta É igualmente ôntica porque o ser é o fundamento do ente on É igualmente teista porque por necessidade da pró pria fundamentação o ente só será realmente fundamentado se se fundar num último fundamento que exclua a possibili dade e necessidade de ulterior fundamentação Esse funda mento supremo é o absoluto o theos Assim tendo principiado com o esquecimento do Ser a história da metafsiica desdobra em todos os períodos de seu desenvolvimento numa multipli cidade de formas essa constituição ontoteológica É originá riamente uma Época da Verdade do Ser na qual a investiga ção do ente enquanto ente em sua totalidade e no supremo fundamento de sua fundação reivindica para si o direito de conduzir o homem à verdade correta imutável necessária e certa 3 O Modo de Investigação da Questão do Ser De vez que a Verdade do Ser nunca é direta mas apenas obliquamente acessível à reflexão enquanto ié retraindose em si mesma ilumina o ente em determinada figura de referência e dife rença com seu ser a história da existência se tem processado no espaço metafísico instaurado por êsse esquecimento Nessas condições existenciais tòda tentativa de pensar a Verdade do 17 Ser em st mesma sô poderá realizarse numa reflexão sõbre a essencíalízação da verdade do conhecimento vigente na his tória da metafísica O único caminho para retornar ao do mínio da Verdade originária é o da superação da metafísica Fazse necessário çue o pensamento retroceda à dimensão es condida em Que desde o princípio se tem processado e ainda hoje se processa a história da metafísica e procure recuperar todos os passos dessa grande marcha de progresso a partir de sua proveniência Destarte para satisfazer a tarefa e o apêio de um pensamento originário iê de um pensamento que pensa a origem de sua própria esseneialização a FÜosofía Hei deggertana se vê compelida a repensar e interpretar tôda a história da existência como a história metafísica da esqueci mento do Ser Dêsse modo surgiu Heidegger no mundo filosófico como o pensador que pretende repetír desde seus fundamentos tôda a tradição ocidental segundo a questão prévia die Vorfrage sõbre o Sentido e a Verdade do Ser Quer êle trate da Sentença de Anaximandro como o principio der Anfang de tôda a sabedoria do Ocidente ou se ocupe dos Fragmentos de Herá cllto e Parmênldes nos guais Ser e Pensar se compenetram intrinsecamente finnig zusammenghoerenj seja que êle expli que a Doutrina de Platão como uma mudança na essenciali zação da verdade W andei des Wesens der Wahrheit da qual profluiu primàriamente a nãoessencialtzação da metafísica das Unwesen der Metaphysihl ou seja que exponha a Cons tituição Ontoteológica da Metafísica die ontotheologische Verfassung der Metaphysik que encerra em si a aporia Ver legenheit de tôda a filosofia ocidental quer interpretando a Critica da Razão Pura de Kant como uma fundamentação da metafísica eine Grundlegung der Metaphysik ou evocan do a Lógica Hegeliana e o Nihillsmo Nietzsctieano como a con sumação Vollendung da Época metafísica da História do Ser Geschichte des Seins quer esclarecendo a poesia Dichtungl de Hcelderlin quer espondo o significado de Rilke ou um verso de Mcerlke para o tempo da penúria dürftige Zeit quer instituindo a çuestáo sõbre a Técnica die Frage nach der Technih ou investigando a essencialtzação da linguagem das Wesen der Sprache etc etc sempre se propõe Heidegger a questão central do pensamento sõbre o Sentido e a Verdade 18 tio Ser Èsse propósito assumiu tôda a clareza desejável desde a primeira página de Sein und Zeit Será que já temos uma resposta à questão sõbre o que propriamente entendemos com a palavra ente De forma alguma Por isso se trata de pôr novamente a questão sóbre o Sentido do Sei Será que nos sentimos hoje perplexos em não compreendermos a expressão Ser De forma alguma Por isso convém primeiramente despertar de novo uma sensibilidade para a sentido dessa ques tão A elaboração concreta da questão sõbre o Sentido do Ser é o propósito do seguinte tratado A interpretação do tempo como o horizonte de tôda compreensão do Ser simplesmente constitui a sua meta provisória Sein und Zeit pg 1 Em razão de a diferença antológica vigorar num esqueci mento reduplicative de si mesma a questão sõbre o Sentido do Ser não pode ser hoje posta senão na própria luz em que ee ilumina a história da metafísica Porque esquecemos tanto a diferença antológica como que a esquecemos só se poderá in vestigar a Verdade e o Sentido do Ser numa superação da tradição Essa superação não é uma negação Não pretende destruir e aniquilar a metafísica Pretendêlo não seria apenas uma pretensão infantil mas um esforço Münchhauseneano que se atropelaria em seu próprio tropel Pois ignorando a Histó ria do Ser esqueerseia do que é mais digno de ser pensado No livro Was helsst Denken O que significa pensar mostra Heidegger como o esquecimento do Ser da metafísica é a maior provocação para o pensamento em nossos tempos que tanto dão a pensar o que mais provoca o pensamento é não pensar mos ainda A superação da metafísica é no fundo uma re cuperação originária do esquecimento do Ser Isso significa a superação procura enuclear a essencialização da metafísica e traçar dêsse modo os limites de suas possibilidades A supera ção reconduz a metafísica para onde sua essencialização pro voca Pois o esquecimento do Ser é a própria dimensão que escondendo a si mesma protege a verdade da metafísica pos sibilitandolhe a investigação do ente enquanto ente Entendi da assim epocalmente a superação não depõe a metafísica mas a repõe em sua constante verdade recompondolhe a essencia llzação originária Não se trata de progredir além para um domínio ulterior e sim regredir aquém para o espaçe citerior 19 da metafísica Nesse sentido o exórdio da metafísica é o ponto de partida inevitável e obrigatório de tôda investigação sôbre o Sentido c a Verdade do Ser Essa necessidade não é extrinseca A superação não só tem que falar a linguagem em vigor e servirse de seus títulos e de sua gramática para tornarse inteligível dentro dos limites da filosofia vigente È antes de tudo uma necessidade intrin stca Inerente á própria dialética do movimento de superação Pois a metafísica é uma fase eminente e a única até agora visível da História da Ser e por isso o único espaço de qual quer retorno à sua Verdade Para se compreender o itinerário do pensamento de Hei degger é de suma importância o significado dialético dêsse exor dia da metafísica Uma profunda ambiguidade penetra todas os passos da questão sôbre o Sentido do Ser forçandolhe a in vestigação numa marcha cujo movimento é a um tempo pro jetivo e regressivo É projetivo enquanto procurando superar a metafísica prospeta pensar a Verdade do Ser na sua configu ração epocai de esquecimento Nesse sentido parte e retira o primeiro impulso de uma experiência prévia do têrmo de seu movimento É regressivo enquanto volta sôbre êsse ponto de partida para dilucidar a dimensão originária e a proveniéncia de seu vigor na vicissitude da Verdade do Ser Na marcha dêsse duplo movimento o projeto é determinado pelo regresso por quanto a retômo á Verdade do Ser como a dimensão de origem e proveniéncia do esquecimento do Ser é a única maneira de se fazer a experiência da metafísica por sua própria essencia Hzação esquecida A ambiguidade aqui reinante se prende á necessidade de moverse sempre no horizonte da metafísica Já ter que se falar de ser e ente de superação e retorno de fundamento e condição de possibilidade de transcendência e imanência todos esses titulas pertencentes ao âmbito da meta física agrava de tal ambiguidade a investigação do Ser que só aparece um pouco da dimensão da Verdade do Ser total mente diversa Os escritos do assim chamado Primeiro Heidegger desde Das Realitaetsprobiem in der modernen Philosophic O Pro blema da Realidade na Filosofia Moderna de 1912 até a ter ceira edição de Was ist Metaphysik O que é metafísica en 20 contramse na primeira etapa da marcha de superação de sorte que somente a partir da ambiguidade intrínseca de sua dialética se poderá compreenderlhes o sentido no itinerário do pensamento Todos êles investigam a história da metafísica sob o ângulo projetivo da marcha de superação evidencian do o esquecimento do Ser nos processos vigentes na existência ocidental Para exemplificar um caso na questão metafísica do ente enquanto ente um dentre todos os entes ocupa um lugar privilegiado o homem que investiga a questão Pois bem Nos vários períodos de sua história a metafísica embora determinasse diversamente êsse privilégio do homem sempre o representou na única luz que lhe é acessível a saber pelo es quecimento do Ser Ora encontrandose na primeira etapa da marcha de superação Sein und Zeit empenhase de acôrdo com o momento projetívo de seu movimento em remediar o sen tido da essencialização do homem a partir áo esquecimento do Ser e o pensa na Analítica Existencial como Dasein como existência a êsse trabalho de remeditar a tradição meta física pelo pensamento esquecido de sua essencialização que se entregam os escritos do Primeiro Heidegger Os escritos posteriores atribuídos ao chamado Segundo ou último Heidegger desde Platons Lehre von der Wahrheit Dou trina Platônica da Verdade empreendem a etapa regressiva do movimento de superação mostrando que o esquecimento em vigor na metafísica provém de uma iluminação originária da Verdade do Ser que é a figura epocai da vicissitude Histórica instaurada no principio da existência grega A luz dessa ilu minação se vê que a remeditação dos primeiro escritos não se iguala a nenhuma determinação metafísica Assim Wesen e Existenz essencialização e existência em Sein und Zeit não são a essência e existência da metafísica que o projeta de elaboração a partir da metafísica empreendido em Sein und Zeit fã é conduzido pelo regresso à proveniéncia originária da própria metafísica A desconsideração dessa necessidade e ten são no itinerário do pensamento de Heidegger levou a tantas incompreensões e fèz muitos intérpretes distinguirem dois Hei degger opondo os escritos do Segundo ou último aos escritos do Primeiro 21 4 O Lugar da Introdução ã Metafísica A obra apresen tada agora em tradução portuguesa se enquadra dentro do pensamento de Heidegger na passagem do primeiro para o se gundo movimento Como as Preleções de Hegel são indispensá veis para a compreensão de suas obras sistemáticas assim tam bém o presente curso de preleções é imprescindível para se penetrar na oscilação dialética da superação da metafísica no pensamento de Heidegger Escrita em 193S a Introdução á Me tafísica descreve o espaço de movimento da superação dando os passos decisivos do retorno às origens do esquecimento do Ser da metafísica Retomando o conteúdo do escrito Vom Wesen der Wahrheit Da Essenciaiizaçáo da Verdade confe rência pronunciada já em 1930 Heidegger mostra como as raízes mais profundas do mundo moderno se foram implan tando através do processo de constituição histórica num es quecimento sempre mais acentuado do Ser A metafísica é o fundamento em que se edifíca tôda a civilização Ocidental A tecnocracia desenfreada o império da ciência a estetificação da arte a fuga dos deuses a massificação do homem a orga nização planetária a disposição da natureza os estados totali tários a despotencialização do espírito todas essas manifes tações do mundo ocidental são criações e obras do predomínio da metafísica O esquecimento do Ser não é um episódio da vida intelectual de filósofos Ê o destino Histórico da existên cia do Ocidente cuja máxima virulência moderna constitui um apêlo O homem da Era Atômica ator e vitima de uma Época sem memória para o Ser é constantemente provocado a reco brar essa memória que lhe dará as jõrças para instaurar um tiõvo Dia Histórico A Noite Longa que a experiência da His tória de Hcelderlin sente iniciarse com os tempos modernos é o espaço de restauração das forças do Ser para o amanhecer de uma outra Época Assim a Introdução à Metafísica é a pre paração de uma superação que não subestima o que o homem do Ocidente tem pensado e construído Visa ao contrário re cuperar o Sentido do Ser necessãriamentc esquecido no desti no da tradição histórica Semelhante a iodos os escritos de Heidegger a Introdução à Metafísica é de grande densidade de conteúdo e de um ca ráter socrático vigoroso Abrange desde reflexões filolágicas sôbre as palavras mais corriqueiras da linguagem até análises 22 penetrantes da realidade politicosocial de seu tempo Com a crescer da familiaridade do conteúdo se vai revelando aos poucos o desenrolar de tôda a dialética da Verdade do Ser nas diversas configurações existenciais de sua essencialização me tafísica Em 1935 data da Introdução à Metaíísica havia dois anos que o Nazismo subira ao poder na Alemanha As análises do momento politicosocial da Introdução nos proporcionam pe netrar o sentido profundamente antológico que empresta Hei degger à sua participação no movimento em seus primeiros anos Sobre essa posição do Filósofo muito se escreveu no após guerra dentro e fora da Alemanha Sempre numa perspectiva ôntica sua participação já foi criticada defendida persegui da Só não foi pensada nas áimensões antológicas abertas por seu pensamento existencial Com Jean Wahl a maioria dos in térpretes que se ocuparam do assunto separam numa diferen ça sem referência doutrina e vida condenando a incoerência da vida e escoimando a doutrina Aqui não è o lugar de se tratar da questão Interessanos apenas ressaltarlhe o sentido antológico que precisamente o livro traduzido sugere sem nenhuma preocupação de ataque ou defesa diferença aliás sem relevância decisiva para um pen samento existencial De acordo com a experiência Histórica do esquecimento do Ser Heidegger só vê no Nacional Socialismo o momento em que a Alemanha recobrando a memória ãèsse esquecimento é destinada a tornarse o centro de uma nova época se superar primeiro a decadência de espírito em que se debate O povo alemão escreve só poderá retirar désse destino de que esta mos certos uma missão se conseguir criar em si mesmo uma ressonância uma possibilidade de ressonância para tal destino concebendo a sua tradição de modo criador Isso implica e exige que êsse povo ezponha Historicamente a si e a história do Ocidente a partir do centro de seu acontecimento futuro ao domínio originário das potências do Ser Precisamente se a grande decisão sobre a Europa não seguir os caminhos do ani quilamento só poderá seguir os caminhos do desenvolvimento de novas forças espirituaishistóricas a partir do centro O desdobrarse posterior do Nazismo seguiu em direção oposta a um desenvolvimento das fõrças espirituaishistóricas 23 Aprofundando e alargando ainda mais a decadência do espí rito diminuiu a possibilidade requerida pelo Filósofo de uma ressonância para o destino Histórico do povo alemão Acirrou até ao paroxismo do estado totalitário e da aniquflação bélica a noite do esquecimento do Ser Todavia também a derrota e queda do Nazismo não dissiparam nem mesmo sustaram as trevas dessa noite cuja virulência Histórica retira as forças de sua expansão de um vigor vigente muito abaixo da superfície Ôntica dos interêsses em jôgo E o fim da guerra não trouxe a paz do espírito que só se instaura com a superução do esque cimento do Ser Impassível às destruiçôes da guerra a Noite Histórica marcha decididamente por sõbre a reconstrução dos escombros para o meio de sua virulência O leitor irá advertir que as análises do momento politico social da introdução não são digressões extra viam no roteiro do pensamento em marcha para superar a metafísica Consti tuem antes o próprio ritmo dialético da superação Numa pri meira aproximação a Introdução à Metafísica dá a aparência de inserir um tratado sõbre as questões tradicionais do ser e suas relações com o viraser aparecer pensar dever dentro de análises políticosociais e indagações filológicas da lingua gem É só uma aparência No fundo as análises do momento politicosocial as indagações sõbre as origens e peripécias filo lógicas da linguagem ocidental e sua gramática as reflexões sõbre as estruturas metafísicas tradicionais convergem num único movimento de retomo Néle tódas elas são reconduzidas como configurações epocais ão esquecimento do Ser a seu principio originário na prtmigênia Essencialização da diferen ça antológica entre qs pensadores presocráticos 5 A Hermenêutica da Introdução à Metafísica Conce bida como um retorno à fonte originária de sua essencializa ção a superação da metafísica e por conseguinte a investiga ção da questão sõbre o Sentido e a Verdade do Ser parece re duzirse a um simples renascimento ão pensamento presocrá tico A primeira vista a Introdução dá a aparência de não ser senão um esforço de tradução e interpretação filosófica da dor o grafia primitiva dos gregos Em todos os capítulos as ques tões são sempre conduzidas através de pacientes discussões 24 sõbre a significação originária de determinadas palavras entre os primeiros filósofos gregos È outra simples aparência Não se trata de um renasci mento da filosofia presocrática Na famosa Eluleitung Intro dução acrescentada em 1949 ã aula inaugural de 1999 Was ist Metaphysk O que é a Metafísica recusa Heidegger qual quer tentativa nesse sentido coma uma pretensão vá e para doxal E a razão é simples Os chamados filósofos presocrã ticos não são filósofos Sáo mais ão que isso São pensadores do Ser A filosofia só surgiu guando o pensamento deles che gou grandiosamente ao fim com Platão e Aristóteles Chamá los de presocráticos com Nietzsche ou de prearistotélicos com Hegel já é diminuirlhes a grandeza originária na cama procrusteana de Platão e Aristóteles Pois apenas em aparên cia são inocentes e inofensivas tais denominações que se apre sentam como simples classificação cronológica Em verdade encobrem nessa aparente inocência uma canonização de Platão e Aristóteles como o modêlo e a norma de tôda perfeição do pensamento ocidental até êles Os que pensaram antes dêles teriam pensado em função déles Seriam precursores ainda pri mitivos da filosofia propriamente dita instaurada por êles Tôda grandeza e importância dos presocráticos estaria assim em terem sido pre ié um Platão e um Aristóteles de modo imperfeito Em consequência dessa decisão implícita naquelas denomi nações se leram entenderam e interpretaram os primeiros tex tos com os olhos a doutrina e os conceit os platônicos e aris totélicos O sentido originário de seus pensamentos e ãa lin guagem de suas palavras foi profundamente modificado pela filosofia posterior Situação que se agravou sobremodo com as traduções latinas que ao legarem à cultura do Ocidente o patrimônio grego o desfiguraram a ponto ãe tornálo quase incompreensível em sua origínaríedade Hoje já não lemos o que os primeiros pensadores pensaram mas o que outro modo de pensar nos faz perceber E não o lemos porque o alarido da metafísica enchendonos os ouvidos de esquecimento do Ser nos torna surdos para a voz da origem Todo êsse processo de desfiguração não foi um acaso nem se trata de um processo que podería ter sido sustado É o vigor 25 PUCR01 do próprio esquecimento do Ser que se destina Històricamente durante tôda a época da metafísica Nesse sentido o retorno às origens da metafísica não é um esforço para fazer renascer o pensamento presocrátlco como pretendia Nietzsche É a im posição de um pensamento de essencialização das wesentlí che Denken diz Heidegger um pensamento ié que a par tir da própria essencialização da metafísica procura superar lhe o esquecimento da Verdade do Ser Por isso a Hermenêu tica que na Introdução conduz á dimensão originária da Es sencialização do Ser não se identifica com nenhuma herme nêutica cientifica em cuja luz aparecerá sempre arbitrária e deturpadora Com efeito o vigor Histórico do esquecimento do Ser que na era da técnica e da ciência atinge o paroxismo de sua vi rulência opera na metafísica segundo a dialética de revela cão da diferença antológica Nela a Verdade do Ser retraindo se e velandose em si extrai e revela o ente na divergência e convergência entre fundamento e fundado Jogado por tal dialética o pensamento metafísico se edifica em duas dimen sões Enquanto estruturado na diferença lógica de ente e ser reconduz o ente ao fundamento de possibilidade próximo em seu ser e remoto no ser supremo Essa estrutura é a dimensão do pensado no pensamento metafísico De vez que por pensar nessa estrutura o pensamento metafísico não pensa a dife rença antológica como diferença a dimensão do pensado é a dimensão do esquecimento do Ser Por outro lado uma vez que para pensar nessa estrutura o pensamento metafísico já está determinado pela diferença antológica a recondução do ente a seu ser implica a configuração lógica da diferença Essa implicação não é um nada Ê antes a dimenjão do nãopensado na pensamento metafísico Assim o horizonte dentro do qual pensam os pensadores da tradição ocidental exclui diretamen te e ao mesmo tempo inclui obliquamente a dimensão do nãopensado que nutra coisa não é senão a dimensão da Ver dade do Ser Por isso diz Heidegger o nãopensado constitui a mais alto legado que nos pode oferecer um pensamento A dialética de presença e ausência da Verdade do Ser na História da metafísica é o que distingue a Hermenêutica da Introdução de qualquer hermenêutica cientifica Essa se U 26 mita em e por força de sua própria essencialização metafísica ao pensado pelos filósofos da tradição Visa com todo o rigor imposto por essa limitação reconstruir o que foi pensado Para ela legado e pensado coincidem Aquela procurando pensar a essencialização da metafísica situase aquém desses limites na dimensão do não pensado mas legado pelo pensamento da tradição Visa uma repetição do passado presente embora não pensado pelos filósofos da tradição Ê uma hermenêutica que é o Hermes do não pensado ié que interpreta o pensado pela mensagem do não pensado A hermenêutica cientifica não ê mais rigorosa apenas mais limitada da que a Hermenêu tica da Introdução ADVERTÊNCIA DO TRADUTOR O tradutor tem plena consciência dos riscos de traição que comporta o presente esforço Tratase de traduzir para uma língua sem grande tradição filosófica textos ãe um pensamento cuja originalidade é a originãriedade Procurando superar o predomínio da metafísica vigente em tòãas as estruturas da existência ocidental Heidegger revoluciona as relações corren tes entre pensamento e linguagem No modo cotidiano de ser só vemos na linguagem o instru mento Uma técnica de comunicação que nos apresenta já prontas para o uso as distinções com que operamos nas situa ções concretas da vida Essa linguagem cotidiana não é a es sencialização originária da linguagem É apenas a forma mais frequente de sua presença A compreensão do Ser que aqui se articula entretanto não é apenas ingênua e primitiva Uma longa história de pensamento metafísico a precedeu interpre tando instrumentalmente a linguagem na lógica e gramática da tradição Hoje operamos ãe modo inconsciente com distin ções que num supremo esfôrço de reflexão foram criadas e estabelecidas pela metafísica Nos quadros dessa interpretação se movem os recursos e as regras linguísticas que hoje deter minam as qualidades do estilo 27 De acordo com a originariedade tie seu pensamento Hei degger se propõe superar essa interpretação metafísica da tin guagem para atingirlhe a dimensão originária onde se pre senteia o homem com uma revelação do Ser Nesse propósi to teve de usar violência contra a forma vigente da linguagem e do estilo Para isso contou com a grande riqueza semântica da lingua alemã que conserva nos étimos de suas palavras na maleabilidade de seus recursos de expressão nas grandes pas 1 stbütdades de composição adjetivaçãa e substantivação muitos indícios do sentido originário da linguagem Ademais Heideg ger pensa dentro de um espaço linguístico enriquecido por uma das maiores tradições filosóficas do Ocidente A luz dessas considerações comprenderseá melhor a na tureza e o estilo da presente tradução O provérbio italiano tradutore tradlttore é mais do que um simples modo de dizer Quem fêz a experiência de traduzir um livro de Heidegger con firmará sem reservas o testemunho de Gilson Mure Kahn Chiodi Hyppolite e tantos outros de que nenhuma tradução por mais atenta que seja dispensa o original sse será sempre imprescindível para se entender o pensamento do autor O critério seguido na tradução situase no meio lêrmo entre uma versão meramente literal e uma pura e simples in terpretação A maior preocupação foi deixar falar o próprio Heidegger embora com o risco de a tradução não ser mais do que o alemão revestido do português Tal risco nos parece mfngs prejudicial do que o outro de atraiçoar o pensamento Em mais de uma passagem para não trairmos o pensamento traímos a letra do texto Como diz Heidegger mesmo uma tradução literal não é ainda necessáriamente fiel ã palavra E somente quando as suas palavras falam a linguagem da pró pria coísa Alimentamos a esperança de a tradução não ser apenas legível mas de tomar também intelegível a linguagem da própria coísa em função da qual o português foi muitas vêzes torturado No domínio originário onde se move a coisa f do pensamento de Heidegger não há outro modo de inteligên cia do que o exercício da reflexãoprópria Aqui não há pensa mentos conceitos ou explicações independentes da coisa a pensar que à maneira de uma reportagem necessitassem ape nas de uma simples leitura para se fazerem exausttvamente 28 intelegiveis Só poderemos entender os pensamentos os con ceitos ou as explicações dados na medida em que nos expu sermos e díspusermos aquilo que se pensa que se concede ou que se explica Rio de Janeiro dezembro de 1965 Emmanuel Carneiro Leão 29 INTRODUÇÃO À METAFÍSICA ADVERTÊNCIA O presente escrito apresenta o texto inteiramente elabo rado da preleção proferida sob o mesmo titulo na Universi dade de Friburgo na Brisgóvia no semestre de verão de 1935 A prolação já não fala na impressão Sem mudança de conteúdo mas com o fim de facilitarlhe a compreensão dividiramse períodos mais longos Estruturou se com maior densidade o curso do texto Riscaramse repeti ções Eliminaramse equívocos Esclareceramse imprecisões O que se acha em parênteses foi escrito simultãneamente com a elaboração O que se põe em colchetes contém obser vações acrescentadas nos anos sçguintes para o leitor avaliar devidamente em que sentido e com qual razão o nome Metafísica figura no titulo da preleção deve primeiro terlhe percorrido o curso 31 A QUESTÃO FUNDAMENTAL DA METAFÍSICA Por que há simplesmente o ente 1 e não antes o Nada Eis a questão Certamente não se trata de uma questão qual quer Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada essa ê evidentemente a primeira de tõdas as questões A primeira sem dúvida não na ordem da sequência cronológica das questões Em sua caminhada histórica através do tempo o homem e os povos investigam muito Pesquisam e procuram e examinam muitas coisas antes de se depararem com a ques tão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Muitos nunca a encontram não no sentido de a lerem e ouvirem formulada mas no sentido de investigarem a questão le de a levantarem de a colocarem de se porem no estado da questão E não obstante todos são atingidos uma vez ou outra tal vez mesmo de quando em vez por sua fôrça secreta sem sa berem ao certo o que lhes acontece Assim num grande de sespero quando todo pêso parece desaparecer das coisas e se Gbscurece todo sentido surge a questão Talvez apenas insi nuada como uma badalada surda que ecoa na existência 2 e aos poucos de nõvo se esboroa Assim num júbilo da alma quando as coisas se transfiguram e nos parecem rodear pèla primeira vez como se antes nos fôsse possível perceberlhes a ausência do que a presença e essência Assim numa mono tonia quando igualmente distamos de júbilo e desespêro e a banalidade do ente estende um vazio onde se nos afigura in diferente se há o ente ou se não há o que faz ecoar de forma especial a questão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada 33 Em todo caso quer seja mesmo investigada ou quer igno rada como questão perpasse pela existência cotno um hálito tênue quer nos pressione mais duramente ou quer se veja pre terida e recalcada por qualquer pretexto de fato nunca é a questão que na ordem cronológica investigamos por primeiro Mas é a primeira questão em outro sentido a saber quanto à dignidade O que se explica de três modos A ques tão por que há simplesmente o ente e não antes o Nada se constitui para nós na primeira em dignidade antes de tudo por ser a mais vasta depois por ser a mais profunda e afinai por ser a mais originária das questões A questão cobre o máximo de envergadura Não se detém em nenhum ente de qualquer espécie Abrange todo ente ié não só o ente atual no sentido mais amplo como também o ente que já foi e o que ainda será O arco da questão en contra seus limites apenas no que absolutamente nunca pode ser no Nada Tudo que não for nada cai sob seu alcance no fim até mesmo o próprio Nada Não certamente por ser alguma coisa um ente de vez que dêle falamos mas por ser o Nada É tão vasto o âmbito da questão que nunca o podere mos ultrapassar Não investigamos êsse ou aquêle nem mesmo percorrendo um por um todos os entes mas antecipadamente o ente todo ou como dizemos por razões a serem discutidas ainda o ente como tal na totalidade Com ser assim a mais vasta a questão é ainda a mais profunda Por que há simplesmente o ente Por que significa qual é o fundo De que fundo provêm o ênte Em que fundo descansa o ente A questão não investiga isso ou aquilo no ente o que êle é cada vez aqui ou all como é cons tituído pelo que pode ser modificado para que serve etc Ela procura o fundo do ente enquanto ente Procurar o fundo isso é aprofundar O que se põe em questão entra assim numa referência com o fundo Sendo porém uma questão fica aberto se o fundo Grund ê um fundamento originário Urgrund verdadeira mente lundante que produz fundação ou se êle nega qualquer fundação e é assim um abismo Ab grund ou se o fundo não é nem vma nem outra coisa mas dá simplesmente uma aparência talvez necessária de funda ção tomandose destarte um simulacro de fundamento Un 34 grund Como quer que seja procurase decidir a questão no fundo que dá fundamento para o ente ser como tal o ente que é Essa questão do por quê não procura causas de igual espécie e do mesmo plano que o ente Não se move em nenhu ma fácie ou superfície Afundase nas regiões profundas e vai até os últimos limites dos fundos É avessa a tôda superfície e planura voltada para as profundezas A mais vasta é igual mente a mais profunda das questões profundas Por ser a mais vasta e profunda das questões é também a mais originária O que se deve entender por isso Ao refle tirmos sõbre todo o âmbito do que se põe em questão o ente como tal no seu todo deparasencs facilmente o seguinte Afastamonos intelramente de qualquer ente particular en quanto êste ou aquele íntenclonamos sim o ente em seu todo mas sem qualquer preferência Apenas um dentre êles sempre de nõvo se insinua estranhamente o homem que in vestiga a questão Não obstante não está em questão nenhum ente particular No sentido de seu raio ilimitado de ação todos os entes se equivalem Um elefante numa floresta virgem da índia ê tão bem um ente quanto um fenômeno de combus tão química no planêta Marte ou qualquer coisa outra Para satisfazermos portanto a questão Por que há sim plesmente o ente e não antes o Nada1 no sentido correto de sua investigação devemos eliminar a preferência de qualquer ente em particular Inclusive a referência ao homem Pola o que é tsse ente Imaginemos a terra na imensidão obscura do espaço no universo Proporcionalmente não passa de um minúsculo grão de areia com um quilômetro de extensão e o resto é o vácuo Em sua superfície vive rastejando em pro fusão um punhado entorpecido de animais pretensamente as tutos que por um instante descobriram o conhecimento Cfr Nietzsche Sõbre a Verdade e a Mentira no sentido extramoral 1873 inédito E o que significa o espaço de tempo de uma vida humana no curso de milhões de anos Mal uma pulsação do ponteiro de segundos um sopro de respiração Dentro da totalidade do ente não há razão para se privilegiar êste ente que se chama homem e ao qual pertencemos por acaso Mas tão logo o ente em seu todo cai no campo de íõrça da questão investeo a investigação com a qual entra numa 35 relação suí generis porque única Pois sõmente nela o ente em seu todo se revela como talr se abre na direção de seu pos sível fundamento e assim se mantém em questão Para êle a investigação não é um fenômeno qualquer dentro do real como pe a queda dos pingos de chuva A questão do por quê defrontase por assim dizer com o ente no seu todo Dêle como que se desliga embora não de todo E é justamente o que lhe confere uma distinção Ao defrontarse com o ente no seu todo sem todavia se lhe poder escapar de todo repercute o que na questão se investiga sôbre a própria investigação Por que o por quê Em que se funda a questão do por quê que pretende pôr o ente no todo em seu próprio fundo Será ainda êsse por quê uma questão sôbre o fundo entendido como superfície de sorte que sempre se procura um eite para fundamento Não é essa primeirâ questão a primeira em dignidade considerada segundo o valor intrínseco da questão do Ser 3 e suas modalidades Sem dúvida alguma quer se ponha a questão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada quer não em nada se altera o ente em si mesmo Também sem ela os pla netas continuam a percorrer as suas órbitas Também sem ela o elã da vida continua a pulsar através dos animais e das plantas Se porém fõr posta de maneira devida darseá neces sàriamente uma repercussão do que se investiga sôbre a pró pria investigação Por isso não se investiga sôbre a própria investigação Por isso não se trata de um fenômeno qualquer mas de um evento especial que chamamos um acontecimento Como todas as demais questões nela diretamente radica das nas quais se desenvolve a questão do por quê é irredu tível a qualquer outra Impele à procura de seu próprio por quê À primeira vista e considerada de um ponto externo a questão por que o por quê assemelhase a uma repetição jocosa que se poderia repetir até ao infinito da mesma par tícula interrogativa Parece mesmo uma especulação vazia e desvairada sôbre significações verbais sem conteúdo Certa mente assim o parece Tratase apenas de saber se nos deixa remos enganar por essa aparência demasiado fácil dando logo tudo por resolvido ou se ainda seremos capazes de experimen 36 tar na repercussão da questão do por quê sôbre si mesma um acontecimento provocante No caso porém de não sermos vitimas de uma ilusão de ótica havemos de ver que a questão do por quê na quali dade de questão sôbre o ente como tal no seu todo nada tem a ver com qualquer jôgo de palavras Suposto ainda possuir mos tanta fõrça de espirito para realizarmos verdadeiramente a repercussão sôbre seu próprio por quê Pois tal repercussão não se fará certamente por si mesma Então faremos a ex periência de fundarse essa questão eminente num salto No salto em que se deixa para trás 4 tôda e qualquer segurança da existência seja verdadeira ou presumida Sua investigação cu se concretiza no salto e como salto ou não se realiza nunca O que significa aqui salto esclarecerseá mais adiante A questão não é o salto Nêle se deve transformar Eia ainda se acha inocentemente defronte do ente Por ora basta saber que o salto dá origem erspringt ao próprio fundamento da investigação Saltando ela origina para si o fundo em que se funda Um tal salto que origina para si seu próprio fun damento denominamos de acordo com a significação verda deira da palavra um salto originário 5 Ora uma vez que a questão por que há simplesmente o ente e não antes o Nada dá origem ao fundamento de tôda questão verdadeira e lhe é nesse sentido originária devese reconhecêla como a mais originária das questões Assim com o ser a mais vasta e profunda questão é tam bém a mais originária e viceversa Nesse tríplice sentido a questão é a primeira em dignidade E a primeira em dignidade na hierarquia de investigação dentro daquele setor que essa primeira questão instaura e funda dandolhe a medida originária É a questão de tôdas as questões verdadeiras ié das que se põem a sl mesmas em questão É a questão que sempre é investigada quer conscla quer inconsciamente em tôda questão Nenhuma questão e por conseguinte nenhum problema científico se entende a si mesmo se não compreender a questão das questões ié se não a investigar Desde a primeira aula desejamos que fique bem clara uma coisa nunca se poderá acertar objetlvamente se alguém se nós realmente investigamos a questão ié se 37 damos o salto ou se ficamos apenas presos a seu modo de falar A questão perde logo sua dignidade numa existência histórica em que tôda investigação é estranha como fôrça originária Assim aquêie para quem a Bíblia é verdade e revelação divina Jã possui antes de qualquer investigação da questão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada a resposta todo ente que não fôr Deus é por Éle criado Deus mesmo é enquanto criador ineriado Quem se encontra no solo de uma tal fé pode sem dúvida repetir e acompanhar a investigação1 de nossa questão Não poderá propriamente in vestigála sem negarse a si mesmo como crente com tõdas as consequências de tal atitude Poderá apenas fazer como se Por outro lado porém aquela fé se constantemente não se expuser à possibilidade da descrença também não será uma fé mas uma comodidade e um ajuste consigo mesmo a aterse sempre à doutrina como a uma tradição qualquer Nesse caso já não há nem investigação nem fé mas somente indiferença Essa se poderá ocupar então talvez até com muito interêsse de tudo tanto da fé como da investigação Com essa alusão à proteção na fé como um modo próprio de se estar na verdade não se quer dizer naturalmente que a citação das palavras bíblicas No comêço criou Deus o céu e a terra etc represente uma resposta à nossa questão Mesmo fazendo total abstração se essa frase da Bíblia é ou não ver dadeira para a fé ela não representa de forma alguma uma resposta ã nossa questão Pois não possui nenhuma relação com a questão E não possui porque não pode assumir O que prôpriamente se investiga em nossa questão é uma loucura para a fé Nessa loucura consiste a filosofia Uma filosofia cristã é um ferro de madeira e uma Incompreensão Sem dúvida há uma elaboração de pensamento que Investiga a experiência cristã do mundo ié a fé Essa é então teologia Somente tempos que Já não acreditam bastante na verdadeira grande za da tarefa da teologia podem chegar à opinião degradante de que uma teologia refrescada pela filosofia poderá ganhar alguma coisa ou mesmo ser substituída e moldada ao sabor dsts necessidades do tempo A filosofia é para a fé originária w mente cristã uma loucura Filosofar significa investigar Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Investigar realmente essa questão significa tentar ousadamente esgotar ã fôrça de investigações o inesgotável dessa questão revelando aquilo que ela impõe a investigar Onde qualquer coisa de se melhante ocorrer há filosofia Quiséssemos discorrer agora sôbre a filosofia para dizer com mais pormenores o que ela é seria um início infrutífero Alguma coisa sem dúvida deverá saber quem dela se vai ocupar E isso jã foi dito sucintamente Tôda questão essencial da filosofia achase necessária mente fora de seu tempo Por duas razões principais Ou por que a filosofia se projeta para muito além da atualidade Ou então porque faz remontar a atualidade a seu passadopre sente 6 originário Como quer que seja o filosofar é e per manecerá sempre um saber que não só não se deixa moldar pela medida do tempo mas ainda submete o tempo à sua própria medida A filosofia se acha necessariamente fora de seu tempo por pertencer àquelas poucas coisas cujo destino consiste em nun ca poder nem dever encontrar ressonância imediata na atua lidade Onde tal parece ocorrer onde uma filosofia se trans forma em moda é porque ou não há verdadeira filosofia ou uma verdadeira filosofia foi desvirtuada e absurda segundo propósitos alheios para satisfazer às necessidades do tempo Por isso também a filosofia não é um saber que à maneira de conhecimentos técnicos e mecânicos se possa aprender di retamente ou como uma doutrina econômica e formação pro fissional se possa aplicar imediatamente e avaliar de acôrdo com sua utilidade Todavia o que é inútil pode ser e justa mente o inútil uma fôrça O que desconhece tôda ressonância imediata na prática de todos os dias pode estar em profunda consonância com o que prôpriamente acontece na História 7 de um povo Pode até mesmo ser a sua présonância e prenuncio O que se acha fora do tempo terá seu próprio tempo o que vale da filoscfla E é es a a racâo de não se poder estatuir de per si e em geral a missão da filsofla e por conseguinte também o que dela é de se esperar Cada estádio é cada princípio 8 de 39 seu desenvolvimento traz consigo sua própria lei Sòmente o que a filosofia não pode ser nem prestar podese dizer Formulouse uma questão Por que há simplesmente o ente e nâo antes o Nada Para ela se reivindicou a prerroga tiva de ser a primeira Ficou esclarecido o sentido dessa pri mazia Sem embargo porém ainda não investigamos a questão Desviamonos numa discussão sõbre o seu lugar 9 Essa discussão é necessária Com efeito a investigação dessa ques tão é incomparável com tudo que seja habitual Entre ela e o comum não há transição alguma capaz de possibilitar paula tinamente uma familiaridade com sua investigação Par isso tem que ser para dizêlo assim proposta de antemão De outro lado porém no esforço dessa apresentação e na discussão acerca de seu lugar não devemos adiarlhe indefinidamente ou até olvidarlhe inteiramente a investigação Por isso concluiremos com as discussões da presente lição as observações preliminares Tôda forma essencial ao espírito é sempre ambigua Quan to mais for incomparável com qualquer outra coisa tanto maior será o índice de sua incompreensão A filosofia é uma das poucas necessidades autônomas cria doras e às vezes necessárias da existência Histórica do ho mem As incompreensões correntes da filosofia são inúmeras Ademais umas mais outras menos todas elas sempre acertam em alguma coisa Aqui serão nomeadas duas importantes para se esclarecer a situação atual e futura da filosofia A primeira consiste em se sobrecarregar em demasia a Es séncilização da filosofia A outra se refere a uma distorsâo do sentido de seu esforço Considerada em bloco a filosofia sempre visa os primeiros fundamentos do ente mas de tal sorte que o homem experi menta sobretudo quanto a seu próprio ser uma interpretação e orientação Dai facilmente se fazer larga a impressão de que a filosofia podese e devese proporcionar ã existência e época histórica atual e futura de um povo os fundamentos em que se construirá então a cultura Gom semelhantes espe ranças e pretensões todavia se sobrecarregam as possibilida des e a Essencialização da filosofia As mais das vèzes o ex 40 cesso dessas exigências se apresenta na forma de uma defi ciência por parte da filosofia Dizse por exemplo devese rejeitar a metafísica porque não colaborou na preparação da revolução Isso é exatamente tão espirituoso como se alguém dissesse porque não se pode voar com um tômo hã que se destruilo A filosofia jamais poderá proporcionar imediata mente as forças nem tão pouco criar os modos de agir e as ocasiões que conduzem a determinada situação Histórica pela simples razão de concernir de modo imediato apenas a uma minoria Que minoria A minoria daqueles que criando trans formam à minoria dos revolucionários 10 A difusão da fi losofia é sempre mediata e segue caminhos in controláveis para em algum tempo afinal mas já de há muito esquecida como filosofia decair de seu nível originário e transformarse numa banalidade da existência O que ao contrário a filosofia pode e tem que ser por Es sencialização é outra coisa qual seja a manifestação pelo pensamento dos caminhos e das perspectivas de um saber que instaure critérios e hierarquias Fundado nesse saber e a partir dêle um povo concebe e realiza plenamente a sua existência no mundo Histórico do espírito Tratase daquele saber que acen de ameaça e impele tôda Investigação e avaliação A segunda incompreensão mencionada se refere a uma distorção de sentido no esforço da filosofia Se ela não pode proporcionar fundamentação alguma a determinada cultura podeçá ao invés assim se pensa contribuir para facilitarlhe a construção E isso por duas razões ou porque dispõe a to talidade do ente em visões de conjunto e dentro de sistemas subministrando destarte uma imagem do mundo ou por assim dizer um mapa do universo em que estão à disposição as di ferentes coisas possíveis e seus diversos domínios o que fa cultaria uma orientação global e homogênea ou de outro modo porque poupa trabalho às ciências Qcupandose da re flexão sõbre os pressupostos conceitos fundamentais e axio mas das mesmas Assim se espera da filosofia o fomento e até mesmo uma aceleração do dinamismo técnicoprático da cultu ra no sentido de uma facilitação Ora bem a filosofia por Essencialização nunca toma as coisas mais fáceis senão apenas mais graves E isso não lhe é acidental devido ao fato de seu modo de comunlcabilidade 41 parecer estranho e mesmo deslocado 11 ã compreensão vul gar Pois o agravamento da existência Histórica e com isso no fundo do Ser simplesmente constitui o sentido autêntico de seu esforço Êsse agravamento restitui ás coisas ao ente o seu pêso o Ser E por que Porque tal agravamento ê uma das condições essenciais e fundamentais para o nascimento de tudo que é grandioso em cujo número encontramos antes de tudo o destino e as obras de um povo Histórico Ora des tino só há quando a existência se acha dominada por um verdadeiro saber acêrca das coisas e é a filosofia que desbrava os caminhos e abre os horizontes para conseguilo Os equívocos de que a filosofia se vê constantemente cer cada são mais fomentados pelo que fazemos nós outros mes mos pelos professores de filosofia Com efeito nossa tarefa habitual e também justificada e até mesmo Útil consiste em proporcionar um certo conhecimento formativo das filoso fias até agora surgidas o que dá a aparência de ser Isso a própria filosofia quando multo é apenas ciência filosófica A menção e correção dêsses dois equívocos não pretendem fazer com que os senhores entrem de repente numa clara rela ção com a filosofia Todavia os senhores devem ficar logo des confiados e suspeitando quando juízos os mais correntes e até inclusive supostas experiências os assaltarem de surpresa Isso ocorre muitas vêzes de um modo muito inocente e que ra pidamente se impõe Até se crê ter feito pessoalmente a ex periência e se ouve fàcllmente confirmada de que da filosofia não se obtém resultado algum com ela não se pode fazer nada Ambas as maneiras de falar que de modo particular correm nos círculos dos professores e pesquisadores das ciên cias exprimem verificações de indiscutível exatidão Quem tentasse provarlhes que por fim se obtém mesmo alguma coisa êsse não faria outra coisa senão aumentar e consolidar a incompreensão reinante Essa se cifra no preconceito se gundo o qual se podería avaliar a filosofia de acôrdo com os critérios vulgares com que se decide da utilidade de bicicletas ou da eficácia de banhos medicinais Está pois certo e na melhor ordem dizerse que com fi losofia nada se pode fazer O errado seria pensar que com isso terminou o juízo sôbre a filosofia Pois sobrevemlhe aín 43 da um pequena acréscimo na forma de uma contrapergunta se NÓS nada poderemos fazer com filosofia acaso a filosofia também não poderá fazer alguma coisa CONOSCO com tanto que nos abandonemos a ela Isso basta para elucidarnos o que a filosofia não é No início formulamos uma questão por que há simples mente o ente e não antes o Nada Afirmamos que filosofar é investigar essa questão Se inspecionando e refletindo nos dispusermos em sua direção renunciaremos em primeiro lugar a instalarmonos em qualquer um dos domínios correntes do ente Ultrapassaremos tudo que está na ordem do dia Inves tigaremos algo que transcende o trivial e ordinário da ordem de todo dia Nietzshce disse certa vez VII 269 Um filósofo é um homem que constantemente vive vê ouve suspeita e sonha coisas extraordinárias Filosofar ê investigar o extraordinário Dado que como apenas aludimos acima essa Investigação provoca uma re percussão sôbre si mesma não só é extraordinário o que se investiga como o próprio investigar Isso quer dizer a pre sente investigação não se acha à beira do caminho de sorte que um belo dia sem propósito ou mesmo de propósito pudés semos nela cair E por não se achar na ordem trivial de todos os dias não somos forçados a empreendêla em razão de algu ma exigência ou determinados preceitos Nem tão pouco per tence ao âmbito dos cuidados urgentes e da satisfação de ne cessidades prementes Oompletamente fora do ordinário a in vestigação em si mesma se apoia por completo própria e Livre mente no fundo misterioso da liberdade naquilo que chama vamos há pouco o salto O mesmo Nietzsche disse A filoso fia é a vida livre entre o gêlo das altas montanhas XV 2 Filosofar assim podemos dizer agora é a investigação extra ordinária do extraordinário No tempo do primeiro e decisivo desabrochar da filosofia ocidental entre os gregos por quem a investigação do ente como tal na totalidade teve seu verdadeiro princípio chama vase o ente de physis Essa palavra fundamental com que os gregos designavam o ente costumase traduzir com natureza Usase a tradução latina natura que propriamente significa nascer nascimento Todavia já com essa simples tradução 43 latina se distorceu o conteúdo originário da palavra grega physis destruluse a fôrça evocativa propriamente filosófica da palavra grega Isso vale não apenas para a tradução latina DESSA palavra mas também de tôdas as outras traduções da linguagem filosófica da Grécia para a de Roma O processo de tradução do grego para o romano náo é algo trivial e ino fensivo Assinala ao invés a primeira etapa no processo que deteve e alienou a Essencialização originária da filosofia grega A tradução latina se tornou então normativa para o Cristia nismo e a Idade Média Cristã Daqui se transferiu para a fi losofia moderna que movendose dentro do mundo de con ceitos da Idade Média criou as idéias e têrmos correntes com que ainda hoje se entende o princípio da filosofia ocidental Tal princípio vale como algo que os homens de hoje pretendem já ter de há muito superado Aqui porém saltaremos por cima de todo êsse processo de desfiguração e decadência para tratar de reconquistar a fôrça evocativa indestrutível da linguagem e das palavras Pois as palavras e a linguagem não constituem cápsulas em que as coisas se empacotam para o comércio de quem fala e escreve É na palavra é na linguagem que as coisas chegam a ser e são Por isso o abuso da linguagem no simples batepapo 121 nos jargões e frases feitas nos faz perder a referência autêntica com as coisas O que diz então a palavra physis Evoca o que saí ou brota de dentro de si mesmo por exemplo o brotar de uma rosa o desabrochar que se abre o que nesse despregarse se manifesta e nêle se retém e permanece em síntese o vigor dominante 13 Waiten daquilo que brota e permanece Lèxicamente phyein significa crescer fazer cres cer Todavia o que quer dizer crescer Significará porventura apenas incremento quantitativo aumentar de quantidade e tornarse maior A physis entendida como sair e brotar podese experi mentála em tôda parte assim por exemplo nos fenômenos celestes nascer do sol nas ondas do mar no crescimento das plantas no nascimento dos animais e dos homens do seio materno Entretanto physís o vigor dominante que brota não se Identifica com êsses fenômenos que ainda hoje considera mos pertencentes à natureza Tal sair e susterse fora de 44 si e em si mesmo Dieses Aufgehen und insichatissichHi nausstehen não se deve tomar por um fenômeno qualquer que entre outros observamos no ente A pfiysis é o Ser mesmo em virtude do qual o ente se torna e permanece observável Os gregos não experimentaram o que seja a physis nos fenômenos naturais Muito pelo contrário por fôrça de uma experiência fundamental do Ser facultada pela poesia e pelo pensamento se lhes desvelou o que haviam de chamar physis Somente em razão dêsse desvelamento puderam então ter olhos para a natureza em sentido estrito Physis significa por tanto origínàrlamente o céu e a terra a pedra e a planta tanto o animal como o homem e a História humana enquanto obra dos homens e dos deuses finalmente e em primeiro lugar os próprios deuses submetidos ao Destino 14 Pfiysis signifi ca o vigor reinante que brota e o perdurar regido e impreg nado por êle Nesse vigor que no desabrochar se conserva se acham incluídos tanto o viraser como o ser entendido êsse último no sentido restrito de permanência estática Pfiyss é o surgir Entstehen o extrairse a si mesmo do escon dido e assim conservarse Se porém não se entende physis como às mais das vezes acontece no sentido originário de vigor dominante que brota e permanece mas na significação posterior e hodierna a saber como natureza e se além disso ae consideram como a manifes tação fundamental da natureza os fenômenos do movimento das coisas materiais átomos e electrôes ou seja o que a física moderna investiga como physis então o princípio da filosofia grega se converterá numa filosofia da natureza numa repre sentação de tôdas as coisas segundo a qual elas são de na tureza propriamente material Nesse caso o principio da filo sofia grega como de acôrdo com a compreensão vulgar con vém a um principio dá a aparência de ser o que com um vocábulo latino designamos primitivo 15 Assim os gregos seriam no fundo uma espécie melhorada de Hotentotes frente aos quais as ciências modernas teriam progredido infinita mente Omitindo tratar em particular de todo o absurdo que inclui tal concepção do principio da filosofia ocidental conce bido como primitivo devese dizer o seguinte essa interpreta ção se esquece de que se trata de filosofia de algo portanto 45 que pertence às poucas coisas grandiosas do homem Ora tudo o que é grandioso só pode principiar grandiosamente Seu principio é até o que há de mais grandioso Pequeno principia somente o que é pequeno cuja duvidosa grandeza consiste em tudo amesquinhar Pequena principia a decadência a qual também pode chegar a ser grande no sentido da extensão de um total aniquilamento O grandioso principia grand i os a men le conserva essa sua condição pelo livre retôrno da grandeza e chega também se é grandioso grandiosamente á seu fim Foi o que se deu com a filosofia dos gregos Chegou a seu fim grandiosamente com Aristóteles Só o entendimento vulgar e o homem mesquinho pensam que o grandioso cuja duração ainda identificam com a eternidade tem de durar sem fim Ao ente como tal em sua totalidade chamavamno os gregos physis De passagem porém devese acrescentar que já dentro da filosofia grega se introduziu logo cedo uma res trição tia palavra sem que porém sua significação originá ria desaparecesse da experiência do saber e atitude da filo sofia grega Assim em Aristóteles ainda ressoa o conhecimento dêsse sentido originário quando fala dos fundamentos do ente eomo tal Cfr Met Ill 1 1003 a 21 Todavia essa restrição da physis na direção do físico não se deu do modo que hoje Imaginamos Ao físico opomos o psíquico o animico o animado o vivente Sem embargo tudo isso mesmo para os gregos posteriores ainda pertencia â physix Como contrapartida aparece o que os gregos chama vam thesis posição estatuto ou nomos lei regra no sentido dos costumes Mas os costumes não constituem o moral mas se referem ao que afeta os usos ao que se funda nos laços da liberdade e em normas da tradição é o ethos aquilo que diz respeito à livre conduta e atitude que concerne à configura ção do ser Histórico do homem e que então sob a influência da moral foi degradado ao domínio do ético Physis se restringe a partir de sua oposição a teciine que não significa nem arte nem técnica e sim um sober a disposição competente de instituições e planejamentos bem como o domínio dos mesmos Cf Pedro de Platãoí A techne é criação e construção enquanto produção 16 sapiente O 16 mesmo vigor vigente em physis e tectine só se podería escla recer numa reflexão especial O conceito oposto ao físico era sem embargo o Histórico um setor do ente que também era pensado pelos gregos no sentido da physis concebida orlginà riamente de modo mais amplo Isso nada tem a ver com uma interpretação naturalista da História O ente como tal em sua totalidade é physis isso quer dizer que sua Essenciali zação e seu caráter consistem em ser o vigor dominante que brota e permanece Tal sentido se experimenta antes de tudo naquilo que de certo modo se impõe da maneira mais imediata e que veio a significar mais tarde a pfcysts en sentido restrito ta phtgei onta ta physika o ente natural Quando se inves tiga a physis ié quando se investiga o que seja o ente como tal então ta ptiysei onta dão antes de mais nada o ponto de apoio Mas de tal sorte que a investigação não se deve deter nesse ou naquele domínio da natureza sejam corpos sem vida plantas ou animais Deve ultrapassar por sõbre êles todos além de ta phasifca Em grego por sõbre alguma coisa para além de se exprime pela preposição meta A investigação filosófica do ente como tal é assim meta ta ptiysifca Investiga algo que está além do ente É metafísica Agora não é de importância seguir a história particular do nascimento e da significação da palavra A questão por que há simplesmente o ente e não antes o Nada caracterizada por nós como sendo a primeira em dignidade é pois a questão metafísica fundamental Metafísica é o nome para designar o centro decisivo e o núcleo de tôda filosofia Tudo isso se acha exposto superficialmente como convém à finalidade de uma introdução e por conseguinte de modo fundamentalmente ambíguo De acôrdo com a explicação physis significa o Ser do ente Quando se trata de investigar peri physeos sõbre o Ser do ente então o tratado sõbre a phlisís a física em sentido antigo já está além de ta physia além do ente Já está no Ser A Física determina assim desde o principio a Essenclalização e a História da metafisica Mesmo na doutrina do Ser como actus purus iS Tomás de Aquino 1 ou como conceito absoluto Hegel ou como eterno 47 retorno da mesma Vontade de Potência Nietzsche a meta física permanece sempre sem oscilações Física A questão sôbre o Ser como tal possui entretanto outra Essencialização e diferente proveniência Sem dúvida continuandose a pensar dentro do horizon te da metafisiea e segundo sua índole poderiamos considerar a questão sôbre o Ser como tal uma simples repetição mecâ nica da questão sôbre o ente como tal Nesse caso a questão sôbre o Ser como tal seria apenas uma questão transcendental embora de ordom superior Com semelhante transformação do sentido da questão sôbre o Ser como tal barraselhe entre tanto o caminho para um desenvolvimento em conformidade com suas exigências Certamente essa transformação é fácil de ocorrer prjnci palmente porque em Sein und Zeit se fala de um horizonte transcendental Todavia o transcendental aí entendido não é o da consciência subjetiva mas se determina pela tempora lidade ekstátícoexistencial 17 da existência humana Da sein A transformação da questão sôbre o Ser como tal tende a ídentiíicarse com a questão sôbre o ente como tal princi palmente porque a proveniência Essencial da questão sôbre o ente como tal e com ela a Essencialização da metafísica con tinuam na obscuridade A Essencialização da metafísica arras ta para o indeterminado tôda investigação que se refira ao Ser A introdução à metafísica aqui tentada não perde de vista essa situação confusa da questão do Ser Na interpretação corrente questão do Ser significa in vestigar o ente como tal metafsíica Enquanto pensada a partir de Sein und Zeit a questão do Ser significa inves tigar o Ser como tal Êsse sentido do título é também o mais adequado tanto linguística como realmente pois a questão do Ser na acepção da questão metafísica sôbre o ente como tal não INVESTIGA temática mente o Ser mas deixao es quecido Correspondentemente tão ambíguo como o título quesão do Ser é falarse de esquecimento do Ser Seinvergesse nheit 18 A bom direito se assegura que a metafísica in vestiga mesmo o ser do ente e por isso é uma manifesta nes ciedade atribuirlhe um esquecimento do Ser 48 Não obstante se pensarmos a questão do Ser no sentido da questão sôbre o Ser como tal será então claro para todo aquêle que a pensar também que à metafísica o Ser COMO TAL fica oculto permanecelhe esquecido e de modo tão de cisivo que o próprio esquecimento do Ser que é novamente esquecido constitui o impulso desconhecido mas constante da investigação metafísica Se para se tratar da questão do Ser em sentido Indeter minado escolhese o nome metafislea então o título da pre sente preleção permanece ambíguo pois com efeito dá a aparência à primeira vista de aterse a investigação ao hori zonte do ente como tal enquanto de fato aspira desde sua primeira frase a ultrapasar êsse setor a fim de visualizar de modo interrogativo um outro domínio Assim o título da pre leção é pois CONSCIENTEMENTE ambíguo A questão fundamental que se propõe a preleção não tem a mesma índole que a questão condutora da metafísica De acordo com o ponto de partida de Sein und Zeit a preleção investiga a abertura tio Ser Cfr Sein und Zeit p 21s e 37s Abertura significa revelação do que o esquecimento do Ser vela e esconde sòmente por meio dessa investigação se ilumina a Essencialização da Metafísica até agora também escondida Introdução à metafísica significa portanto condução a Investigar a questão fundamental Mas questões e muito menos questões fundamentais não se encontram tão facil mente como pedras e água Questões não se dão à maneira de sapatos e roupas ou livros Questões SAO e são apenas en quanto se investigam realmente A condução a investigar a questão fundamental não será portanto um caminhar para alguma coisa que está ou se encontra em algum lugar Tra tase ao invés de uma condução que deve antes de tudo suscitar e constituir a própria investigação Conduzir significa preceder em atitude de investigação fragendes Vorangehen é uma investigação prévia Vorfrage Tratase de uma con dução que por essência não admite conduzidas Quando algo de semelhante ocorre por exemplo uma escola filosófica é que não se compreendeu a investigação Tais escolas só têm razão de ser no dominio do trabalho científico e profissional 49 Aqui tudo possui a sua jerarquia determinada Um tal traba lho também pertence sem dúvida e até necessariamente á fi losofia embora haja desaparecido hoje em dia Sem embargo a melhor competência profissional nunca substituirá com pro priedade a fôrça do ver do investigar e do dizer por si próprio Tor que há simplesmente o ente e não antes o Nada Tal é a questão Pronunciar o enunciado da questão mesmo no tom de voz interrogativo ainda não é investigar É o que vemos já no simples fato de podermos repetir várias vézes se guidas o enunciado da questão sem que com isso se forme mais viva a atitude interrogativa Multo ao contrário o re petir do enunciado pode até trazer consigo um embotamente da investigação Embora pois o enunciado da questão não seja nem a ques tão nem muito menos a sua investigação todavia não se deve tomálo por simples forma de comunicação linguística mais ou menos no sentido de que o enunciado da questão seja ape nas uma expressão sôbre uma questão Quando lhes falo Tor que há simplesmente o ente e não antes o Nada a in tenção dêsse perguntar e dizer não é comunicarlhe que agora em mim se desenrola um processo interrogativo De certo o enunciado da questão pode também ser encarado desta ma neira mas entào não se atenta preclsamente para a investiga ção Assim não se chega a acompanhar a investigação nem a investigar por si mesmo Assimnão se desperta de forma al guma uma atitude e muito menos um sentido de investigação que consiste num QDEREEsaber O querer não é absoluta mente um mero desejar e aspirar Quem deseja saber aparen temente também investiga mas não vai atém do pronunciar a questão termina justamente quando a questão começa In vestigar é querersaber Quem quer quem empenha tôda a sua existência numa vontade êsse está abertamente resolvído I A decisão nada posterga não negaceia mas age a partir do Instante e sem cessar O estar abertamente resolvído não consiste simplesmente m decidirse a agir mas ê o princípio decisivo do agir que antecipa e atravessa tôda ação Querer é estar abertamente resolvldo Reportase aqui a Essência do querer à resolução aberta A Essência porém dessa última re side no fato de a existência humana descobrirse 201 à ilu minação do Ser e de modo algum numa potencialização do 50 agir Cfr Sein und Zeit í 44 e 5 60 A referéncia 21 ao Ser porém é o deixar Que todo querer se deva fundar nu deixar é algo que causa estranheza ao intelecto Cfr a con ferência Vom Wesen der Wahrheit 19301 Saber porém significa poder manterse na verdade Essa é a manifestação do ente O saber é por conseguinte poder estar na manifestação do ente suportála Possuir simples conhecimentos por mais amplos que sejam não é saber Mesmo em se tratando de conhecimentos ligados ã vida pôsto que modelados pela mais imperiosa necessidade ainda assim sua posse não é saber Quem traz consigo tais conhecimentos e ainda se exercitou em algumas técnicas de uso prático ficará sem embargo desarmado diante da realidade real que sempre difere do que o cidadão comum entende por proximidade da vida e da realidade e será necessariamente um tabaréu E por que Porque não possui saber pois saber significa poder aprender O poderaprender supõe o poderinvestigar Investigar é o querersaber esclarecido acima a resolução de abrirse a um podersuportar a manifestação do ente Visto que se trata para nós da investigação da primeira questão em dignidade tanto o querer como o saber são de índole particularmente ori ginária Por isso o enunciado da questão tanto menos traduzí rá exaustivamente a questão mesmo se fór dito de maneira autênticamente investigadora e ouvido de modo a acompanhar a investigação A questão soa em seu enunciado Como toda via nêle ela se encontra também encerrada e envolvida tem de ser primeiro desenvolvida A atitude de Investigação devese então esclarecer assegurar e firmar pelo exercício Nossa primeira tarefa consiste pois em desdobrar a ques tão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Em que direção se poderá fazêlo Em primeiro lugar a ques tão é acessível em seu enunciado Éle proporciona por assim dizer uma amostra sôbre a questão Por isso sua formulação linguística tem que ser correspondentemente ampla e pouco ri gorosa Consideremos sob éste ponto de vista o enunciado de nossa questão Por que há simplesmente o ente e não antes c Nada A frase contém um inciso Por que há simples mente o ente Com isso a questão já está posta com propríe 51 dade Pois á posição de uma questão pertence 1 a indicação precisa do que se põe em questão ié daquilo que se investiga 2P a indicação daquilo em função do qual se investiga o que se põe em questão ié aquilo pelo qual se investiga Ora em nossa questão se indica com tôda exatidão o que se investiga a saber o ente Aquilo em função do qual se investiga aquilo pelo que se investiga ê o porquê ou seja o fundamento Logo o que ainda segue no enunciado da questão e não antes o Nada é mais um apêndice que numa linguagem introdutó ria e pouco rigorosa se ajunta por si mesmo com o qual nada se acrescenta ao tema seja aquilo que seja aquilo pelo que se Investiga É um floreio de adorno Até sem o apêndice que só nasce da abundância de um discurso impreciso a questão ganha muito mais em precisão e exatidão Por que há sim plesmente o ente O acréscimo e não antes o Nada não só com vistas a uma formulação rigorosa se torna supérfluo como ainda mais em razão de não dizer coisa alguma Pois com efeito o que se poderia ainda investigar no Nada O Nada é simplesmente nada Aqui a investigação já não tem nada mesmo o que procurar Com a introdução do Nada antes de tudo não logramos o inínimo que seja para o conhecimento do ente Quem fala do Nada não sabe o que faz Quem diz algo do Nada transformao ao fazêlo em alguma coisa Dizendo algo dilo pois contra o que pensa Èle se contradiz a si mesmo Ora um dizer que se contradiz instigese contra a regra fundamental de todo dizer logos contra a Lógica Falar do Nada é ilógico O homem que fala e pensa de modo ilógico está iremediàvelmente fora da ciência Quem dentro da filosofia onde a lógica tem a sua cidadela fala do Nada atingeo a incriminação de faltar contra a regra fundamental de todo pensamento ainda mais duramente Um falar do Nada consta sempre de meras frases sem sentido Ademais quem leva o Nada a sério colocase a favor do negativo Fa vorece evidentemente o espírito de negação e serve apenas ao aniquilamento Falar da Nada não só ê Inteiramente contrário ao pensamento como solapa também tôda cultura e qualquer fé Qra desprezar n pensamento em sua lei fundamental como destruir a vontade construtiva e a fé é puro niilismo 52 Em fôrça de todas essas considerações agiriamos bem can celando do enunciado de nossa questão a locução supérflua e não antes o Nada e limitandoo à formulação simples e rigorosa por que há simplesmente o ente Nada a isso se oporia se na formulação da questão ou simplesmente na sua investigação estivéssemos realmente tão livres e sem compromisso como até agora terá parecido Na verdade porém ao investigarmos a questão encontramo nos numa tradição Com efeito a filosofia investigou sempre e cada vez fundamento do ente Com essa questão teve o seu princípio nela terá seu fim suposto que chegue ao fim gran diosamente e não no estado de impotente decadência Ora desde o principio da questão sõbre o ente que a acompanha a questão sõbre o nãoente sõbre o Nada E isso não apenas ex ternamente como um fenômeno concomitante e acessório mas a questão sõbre o Nada se configura de acõrdo com a extensão profundidade e originalidade correspondentes com que se in vestiga a questão sõbre q ente e viceversa O modo de se in vestigar o Nada pode valer como termômetro e indicio do modo de se investigar o ente Se se medita sõbre isso tudo então a fórmula inicial da questão Porque há simplesmente o ente e não antes o Nada parece exprimir a questão sõbre o ente de modo mais adequado do que a fórmula abreviada O fato de introduzirmos a locução do Nada não é desleixo e redundância de estilo como não é uma Invenção nossa mas apenas o respeito rigoroso pela tra dição originária do sentido da questão fundamental Todavia falar do Nada continua a ser em gerai repug nante ao pensamento e destruidor em particular Como assim se tanto o cuidado em observar corretamente a regra funda mental do pensamento como o mêdo do niilismo que deveríam dissuadir de falar do Nada se fundassem ambos num equi voco E assim é Sem dúvida o equívoco que aqui ocorre não é casual Basease numa incompreensão de há muito reinante da questão sõbre o ente E essa incompreensão provém de um esquecimento do ser que mais e mais se consolida Tão redondamente ainda não foi decidi dp que a lógica e suas regras fundamentais possam servir de critério para a questão sõbre o ente como tal Poderia até darse o contrá 53 rio a saber que tôda a lógica que nos é conhecida e tratada como um presente do céu se fundasse numa determinada res posta questão sôbre o ente assim podería ocorrer que todo pensar que seguisse simplesmente as leis de pensamento da lógica tradicional seria de antemão incapaz de simplesmente compreender por si mesmo a questão sôbre o ente e menos ainda de desenvolvêla realmente e levãla a uma resposta Quando se invocam o principio de contradição e em geral a lógica para provar que todo pensar e falar do Nada é contra ditório e por isso mesmo sem sentido só se consegue na ver dade uma aparência de rigor científico Em tais casos a Ló gica vale como um tribunal garantindo desde tôda a eterni dade de cuja competência de ser a primeira e última instân cia na administração da justiça nenhum homem razoável na turalmente duvidaria Quem fala contra a lógica tornase portanto tácita ou expressamente suspeito de arbitrariedade Fazse então passar essa mera suspeita por objeção e prova e se dá por dispensado de tôda reflexão ulterior e própria De fato não é possível falar do Nada e dêle tratar como se ísse uma coisa como a chuva lá fora ou uma montanha ou simplesmente um objeto qualquer O Nada permanece cm princípio inacessível a tôda ciência Quem pretende falar ver dadelramcnte do Nada tem necessariamente que deixar de ser cientifico Isso só será uma grande perda enquanto se fòr da opinião de que o pensar cientifico seja a única e a forma pró pria de pensamento rigoroso e de que somente êie pode e deve ser erigido em critério do pensamento filosófico Entretanto as coisas estão ao inverso Todo pensar científico é que é uma forma derivada e como tal consolidada de pensamento filo sófico A filosofia nunca nasce da ciência nem pela ciência Também jamais se poderá equiparála às ciências Élhes antes anteposta e não apenas logicamente ou num quadro do sis tema das ciências A filosofia situase num domihio e num plano da existência espiritual inteiramente diverso Na mesma dimensão da filosofia e de seu modo de pensar situase ape nas a poesia Entretanto pensar e poetar não são por sua vez coisas iguais Falar do Nada constituirá sempre para a ciência um tormento e uma insensatez Além do filósofo pode fazêlo ainda o poeta não certamente por haver na poesia como crê o entendimento vulgar menos rigor e sim por imperar nela 54 pensase somente na poesia autêntica e de valor em oposi ção a tôda simples ciência uma superioridade de espírito vi gorosa Em razão dessa superioridade o poeta fala sempre como se o ente se exprimisse e fõsse interpelado pela vez pri meira No poetar do poeta como no pensar do filósofo de tai sorte se instaura um mundo que qualquer coisa seja uma árvore uma montanha uma casa o chilrear de um pássaro perde tôda monotonia e vulgaridade Falar verdadeira men te do Nada ficará sempre algo de es tranho Nunca se deixará vulgarizar Logo se dissolve quan do se põe no ácido barato e banal de uma sutileza meramente lógica Por isso também jamais se poderá falar do Nada dire tamente sem intermediários como se descreve por exemplo um quadro É possível porém frustrar a possibilidade de fazêlo Permitase que cite aqui um trecho de uma das últimas obras do poeta Knut Hamsum Após Anos e Dias trad alemã de 1934 p 464i Tratase de uma obra que juntamente com O vagabundo do Campo e Augusto o Navegador do mundo constitui um todo Após Anos e Dias expõe Os últimos anos e o fim de Augusto que personifica a onipotência sem raízes do homem de hoje na forma porém de uma exisfêncía que não pôde perder as relações com o extraordinário por conser varse autêntica e superior em tôda a sua impotência deses perada Em seus últimos dias Augusto vive solitário no cimo de uma montanha Diz o poeta Instalase entre seus ouvidos e escuta o vazio verdadeiro De todo curioso uma alucinação No mar antes Augusto havia viajado muito se mexia ao menos alguma coisa Havia um som algo perceptível um còro de águas Aqui porém o Nada sôbre nada Não há nada nem sequer um buraco Só s e pode balançar resignadamente a cabeça Afinal com o Nada há de fato alguma coisa de especial Por isso retomemos o enunciado de nossa questão para inves tigar profundamente ç ver se as palavras e não antes o Nada representam apenas um explçtivo insignificante ou se possui realmente um sentido essencial na formulação provi sória da questão Para êsse fim atemonos primeiro ao enunciado abreviado em aparência mais simples e pretensamente mais rigoroso 55 Por que há simplesmente o ente Ao investigarmos assim partimos do ente Èsse è énos dado se nos depara e por isso mesmo está sempre em condições de ser encontrado e nos é até certo ponto conhecido Gra dêsse ente que assim jã nos é dado investigamos imediatamente por seu fundamento A investi gação avança dlretamente para um fundamento Tal método não é por assim dizer senão a ampliação e extensão de um modo de proceder comumente exercido Em algum lugar de um vinhedo aparece por exemplo a pulga de videira Incon testàvelmente algo de objetivamente dado 22 iVorhande nes perguntase então donde provêm êsse lato Onde está e qual é a razão De igual modo o ente em sua totalidade é algo de objetivaanente dado Perguntase pois onde está e qual é a razão Tal maneira de investigar se apresenta na forma singela da pergunta Por que há simplesmente o ente Onde está e qual è a sua razão Tàcitamente se procura um outro ente superior Todavia dêsse modo a questão não se es tende de forma alguma até o ente como tal em sua totalidade Se porém perguntamos a questão no enunciado formula do ao início Por que há Simplesmente o ente e não antes o Nada então o acréscimo impede que agitemos a questão imediatamente apenas no domínio do ente dado de antemão como algo de indiscutível e que mal agitada logo a prossiga mos avançando em busca de uma razão que ê um ente tam bém Ao invés disso se põe o ente em questão dentro da pró pria possibilidade do nãoser Dessa maneira o porquê ad quire todo um outro poder tôda uma outra acuidade de in vestigação Por que se arrancou o ente â possibilidade do não ser Por que não retorna sem mais e constantemente ao Nada Assim o ente já não é o objetivamente dado mas co meça a oscilar independente do fato de o conhecimento ou não com tôda certeza de o apreendermos ou não em tôda a sua extensão Desde que o pomos em questão ê o ente como tal que começa a oscilar O arco dessa oscilação se estende até às ralas extremas e máximas da possibilidade contrária a saber até ao nãoser e o Nada Simultâneamente se transfor ma de igual modo a procura do porqué Já não se visa aduzir apenas uma razão explicativa também objetivamente dada para o que é objetivamente dado Procurase um fundamento que 58 deve fundar o império do ente como superação do Nada O fundamento investigado investigase então enquanto funda mento da decisão em prol do ente e contra o Nada ou dito com maior rigor enquanto fundamento da oscilação do ente que em parte sendo em parte não sendo nos carrega e nos deixa o que íaz com que nunca possamos pertencer inteiramente a coisa alguma nem mesmo a nós mesmos não obstante seja a existência em cada caso minha je meines A qualificação em cada caso minha significa t a exis tência me foi outorgada a fim de que meu próprio eu seja n existência Existência porém diz não apenas o cuidado do ser do homem mas o cuidado do ser do ente como tal que se revela estàticamente no próprio cuidado A existência é em cada caso minha isso não quer dizer que seja posta por mim nem que esteja isolada num eu separado A existência é ELA MESMA a partir de sua REFERÊNCIA ESSENCIAL com o Ser simplesmente É o que significa a frase repetida com fre qíiéncia em Sein und Zeit A existência pertence a compreen são do Ser Dèste modo se evidencia que as palavras e não antes o Nada não são de forma alguma um apêndice supérfluo da questão propriamente dita mas parte constitutiva e essencial de todo o enunciado da questão que em sua totalidade ex prime uma questão de todo diferente da que expressa a per gunta Por que há o ente Com nossa questão nos colocamos de tal sorte no domínio do ente que êle perde tôda evidência 23 iSelbstverstsedlichkeit COMO ENTE Pendulando entre os dois extremos da maior e suprema possibilidade ou ente ou Nada1 a própria questão perde tôda base firme Também a nossa existência que investiga entra em oscilação e nessa se sustenta e carrega a si mesma Não obstante o ente não se modifica por investigarmos Continua sendo o que é e tal como é A investigação é apenas um processo espiritual em nossa alma que como quer que se desenrole não poderá nunca afetar o ente em si mesmo Per manece assim como ae nos faz manifesto E entretanto o ente não pode despojarse do caráter questionável que o torna digno de scr investigado em razão do qual poderia também NAO ser o que é e tal como é Essa possibilidade não a experimentamos 57 come algo que acrescentamos ao ente com o pensamento se não que o própria ente a manifesta ié nela se manifesta como ente A investigação abre apenas o espaço para o ente poder revelarse nessa sua investigabilidade 24 Fragwur digkeit Ainda é demasiado pouco e muito grotesco o que sabemos sõbre o processo de uma tal investigação Nela parecemos per tencer totalmente a nós mesmos E todavia é a investigação dessa questão que nos põe a descoberto posto que ela se trans forme a si mesma questionando o que tôda questão autêntica proporciona e projete por sõbre e através de tudo uma nova dimensão Tratase apenas de experimentar as coisas de qualquer vizinhança tais quais são sem nos deixarmos seduzir por teo rias apressadas Ease pedaço de giz aqui é uma coisa extensa relativamente consistente de determinada forma e cõr branca e em tudo isso e com tudo isso é ainda uma coisa para es crever Tão certo como lhe corresponde estar aqui do mesmo inodo lhe pertence poder não estar aqui ou não ter o tamanho que tem Poder ser conduzido pelo quadro negro e gasto nâo é algo que lhe acrescentamos apenas com o pensamento Éle mesmo como o ente que é está nessa possibilidade do con trário não seria um giz qual instrumento para escrever na pedra Correspondentemente todo ente traz consigo de modo diferente em cada caso uma tal possibilidade Essa possibili dade pertence ao giz É éle que tem consigo mesmo determina da possibilidade para determinado uso Sem dúvida na pro cura dessas possibilidades estamos habituados e inclinados a dizer que nâo as vemos nem tocamos É um preconceito Afastálo pertence ao desenvolvimento da questão Por en quanto porém ela tem apenas de descobrir o ente em sua oscilação entre o ser e o nãoser Resistindo à suprema pos sibilidade do nãoser o énte ínsiste no ser embora não tenha nunca ultrapassado e superado a possibilidade do nãoser Eisiws falando de repente do ser e nãoser do ente sem havermos dito como o que assim se denomina se comporta com o próprio ente Acaso serão a mesma coisa o ente e seu ser Segundo essa distinção o que é por exemplo nesse pe daço de giz o ente Já a pergunta é ambígua porque a pala vra o ente se pode entender de dois pontos de vista tal 58 como o grego laou O ente significa em primeiro lugar aquilo que em cada caso é assim no caso do giz essa massa branca de forma determinada leve e quebradiça Em segundo lugar o ente significa por dizêlo assim o que faz que o men cionado acima seja um ente e não um nãoente aquilo que no ente quando o é constituí o ser Segundo essa dupla acep ção da palavra o ente o grego to 011 indica muitas vèzcs o segundo significado portanto não o ente em si mesmo o que é o ente mas o fato de o ente ser a entidade o serente o ser Ao contrário na primeira acepção o ente designa tõdas e cada uma das coisas que são tudo que se refere a elas mes mas e não ã sua entidade à ousia A primeira acepção de to on significa ta onta entia a segunda tò einai esse Já enumeramos o que no pedaço de giz é o ente E pudemos encontrar com relativa facilidade Ademais pudemos ver fàcilmente que o giz pode também não ser que em última análise não precisa estar aqui nem mes mo simplesmente ser Mas então à diferença do que está no ser podendo porém recair no nãoser à diferença portanto do ente o que é então o ser Será o ser a mesma coisa que o ente Repetimos pois a pergunta novamente Mas há pouco não enumeramos o ser Mencionamos apenas massa branco leve de forma determinada quebradiço Onde se esconde então o ser Sem dúvida terá êle que pertencer ao giz de vez que o giz é Com o ente nos deparamos em tôda parte Êle nos rodeia nos leva e subjuga nos encanta e satisfaz nos eleva e decep ciona Todavia em tudo isso onde está e em que consiste o Ser do ente Poderseia responder essa distinção entre o ente e seu ser pode ter sua Importância linguística ou mesmo semântica Podese realizála no simples pensamento ié re presentála e entendêla sem que lhe corresponda no ente algo que seja ente E mesmo assim apenas pensada é uma distinção problemática pois permanece sempre obscuro o que se deva entender por ser Ademais basta conhecer o ente e assegurar o domínio sõbre éle Pretender ainda distinguirlhe o ser é algo artificial que não nos leva a nada Sõbre essa pergunta favorita do que se ganha com tal distinção já fizemos algumas observações 25 Agora inte 59 ressanos apenas nosso propósito Perguntamos por que hã simplesmente o ente e não antes o Nada Na aparência tam bém aqui nos atemos exclusivamente ao ente e evitamos elo cubrações vazias sôbre o ser Todavia o que investigamos pro priamente Por que há o ente como tal Investigamos pois o fundamento de o ente ser de ser aquilo que ê e não antes o Nada No fundo investigamos o ser Mas como Investigando o ser do ente Perguntando ao ente por stu ser Se nos mantivermos dentro do rigor dessa questão em verdade jã estaremos investigando prèvismente o ser em seu fundamento embora se trate de uma investigação implícita d ainda não se tenha decidido se o ser não seria jã em si mes mo fundamento e fundamento bastante Pois se pleiteamos para a questão do ser a primazia em dignidade será que isso poderá ocorrer sem sabermos o que há com o ser e corno êie se distingue do ente Como poderiamos simplesmente procurar o fundamento para o ser do ente e muito menos ainda encon trálo sem termos concebido entendido e aprendido suficien temente c ser em si mesmo Um tal propósito seria tão despro vido de sentido como se alguém quisesse averiguar a causa e razão de um incêndio sem se importar com sua origem local e seu exame Assim a questão Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada nos obriga à questão preliminar que a ante cede o que hã com o Ser Investigamos agora algo que mal apreendemos que para nós permanece um mero som verbal e nos arrisca a tornar monos vítimas no desenrolar da investigação de um simples ídolo de palavras Por isso se torna tanto mais necessário es clarecer prèviamente como está para conosco o Ser e a nossa compreensão do Ser Aqui è antes de tudo de importância fazer sempre de nòvo a experiência de que nós não podemos apreender em si mesmo e de modo imediato o Ser do ente nem no ente nu dentro do ente nem simplesmente em qualquer outro lugar Alguns exemplos nos hão de ajudar Ali defronte do outro lado da rua está o prédio da Escola Superior Algo que é Por fora podemos examinálo de todos os lados por dentro poderemos percorrêlo todo do porão ao sótão registrando tudo que se nos apresentar corredores escadas salas e ins 60 talações Por tôda parte encontraremos apenas entes e até dispostos numa ordem bem determinada Mas onde esta o Ser dessa Escola Superior Sem dúvida ela é O prédio é Se alguma coisa pertence a esse ente será o seu Ser e não obs tante não o encontramos dentro do ente Nem tão pouco consiste o Ser no fato de considerarmos o ente O edifício está lã mesmo se não o consideramos Só poderemos depararmonos com êle porque êle já é Ademais c Ser dêsse prédio não parece ser de forma alguma a mesma coisa para todos Para nós que o contemplamos ou lhe pas samos ao lado é diferente do que para os alunos que estão sentados no interior E não só por o verem de dentro mas porque para êles o edifício é propriamente aquilo que é e assim como é O Ser de tais edifícios se pode por assim dizêlo cheirar e muitas vêzes depois de decênios ainda se lhes con serva o cheiro no nariz O odor nos dã o Ser dêsse ente de modo muito mais imediato e verdadeiro do que poderia trans mitilo qualquer descrição ou inspeção Por outro lado a per sistência do edifício não se apoia sôbre essa materia odorante que palra em algum lugar O que há com o Ser Podese ver o Ser Vemos o ente èsse giz aqui Acaso vemos o Ser como a cõr a luz o escuro Ou o ouvimos cheiramos saboreamos tocamos Ouvimos a motocicleta seu barulho pela rua Ouvimos as galinhas Sil vestres passar em arribação pela alta floresta Propriamente ouvimos apenas o barulho do bater do motor o ruído que as galinhas silvestres fazem Ademais é muito difícil e para nós insólito descrever o ruído puro porque não é o que ouvimos comumente Com relação ao simples ruído ouvimos sempre mais Ouvimos a ave que voa embora rigorosamente se deva ser uma galinha silvestre não é algo audível alguma espécie de som que se pudesse enquadrar na escala E o mesmo ocorre com os demais sentidos Tocamos veludo sêda Vêmolos sem mais como ente de tal ou qual maneira Vemos que um é di ferente do outro Em que reside e em que consiste o Ser Temos de percorrer ainda mais variadamente o que vemos ao nosso redor e lembrarnos do círculo mais estreito e mais amplo que nos rodeia no qual nos encontramos sabendo ou sem saber diariamente e a cada hora Um círculo que alarga continuamente seus limites até romperse de repente 61 Uma grande tormenta que se levanta nas montanhas é ou o que dá no mesmo era tie noite Em que consiste o seu Ser Uma cordilheira de montanhas ao longe debaixo de um grande céu também é Em que consiste o seu Ser Quan do e a quem êle se manifesta Ao viajante que admira a pai sagem ou ao camponês que dela e nela constrói seu trabalho diário ou ao metereologlsta que deve redigir o boletim com as previsões do tempo Quem dêsses apreende o Ser Todos e nenhum Ou acaso aquilo que êles apreendem na cordilheira de montanhas debaixo de um largo céu não seja senão deter minados aspectos dela e não a cordilheira em si mesma ta como ela é quer dizer não apreendem aquilo em que con siste propriamente o Ser dela E quem então o apreendería Ou seria um contrasenso contra o sentido do Ser investigar simplesmente o que ela é em si por detrás daqueles aspectos Reside o Ser nos aspectos das coisas O portal de uma antiga igreja romana ê um ente Como c a quem se manifesta o Ser Ao perito em arte que numa excursão a visita e fotografa ou ao abade que nos dias de festa entra pelo portal em procissão com seus monjes ou às crianças que nos dias de verão brincam à sua sombra O que há com o Ser dêsse ente Um Estado êle é Em que consiste seu Ser Estará no fato de a polícia prender um suspeito ou no outro de no ministério do Reich tantas ou quantas máquinas de escrever estarem batendo e recebendo os ditados doa secretários de Es tado e conselheiros ministeriais Ou o Estado é na audiên cia do Führer com o Ministro do Exterior inglês O Estado é Mas onde se mete o Ser Será que se esconde em alguma parte A pintura de van Gog um par de toscos sapatos campo nêses e nada mais Propriamente o quadro não representa nada sem embargo estamos logo sozinhos eom o que está ali como se numa tarde já adiantada de outono voltássemos can sados de enxada na mão do catnpo para casa ao apagarse o último fogo das batatas O que no quadro está sendo A tela As pinceladas As manchas da tinta Em tudo isso que acabamos de mencionar o que é 0 ser do ente Como nos encontramos e andamos pelo mundo afora com nossas idiotas presunções e espertezas 62 Tudo que mencionamos sem dúvida éJ e todavia ao que rermos apreender o 5er ocorrenos sempre como se pegássemos no vazio O Ser que investigamos è quase coma o Nada em bora quiséssemos sempre resistir e precavermonos contra a atenção de dizer que tudo o que é NAO É Mas o Ser continua impossível de localizar quase tanto quanto o Nada ou mesmo inteiramenie como o Nada Assim a palavra Ser é de fato apenas uma palavra vazia Não õjz nada de eletivo palpável real Sua significação é um vapor Irreal Ao fim de contas Nietzsche tem pois tôda razão ao chamar êsses conceitos supremos como Ser a última fu maça da realidade evaporante Crepúsculo dos deuses VIII 78 Quem ainda se disporia a correr atrás de um tal vapor cuja designação verbal é o nome de um grande êrro De fato até agora nada teve uni poder de persuasão mais ingênuo do que o êrro do Ser VIII 60 Ser um vapor e um êrro G que diz Nietzsche aqui do Ser não ê uma observação acidental lançada na embriagues do trabalho preparatório de sua obra principal nunca termi nada Tratase da concepção do Ser que o guia desde os pri meiros dias de seu esforço filosófico É uma concepção que carrega e determina fundamentalmente a sua filosofia Essa ainda agora se tem preservado bem contra todos os torpes e néscios assédios da malta de escritores que hoje sempre mais proliferam em tôrno de Nietzsche Iníelizmente parece ainda não haver superado os piores abusos Ao evocarmos Nietzsche aqui não queremos ter nada a ver com tudo isso nem também com uma cega herói clzação A tarefa é demasiado decisiva e sóbria ao mesmo tempo para fazêlo Eia consiste no seguin te num ataque bem conduzido a Nietzsche propiciar um com pleto desabrochar do que foi por êle provocado O Ser um vapor um êrro Fôsse assim a única consequência que nos restaria seria renunciarmos também à questão por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Com efeito o que ainda pretendería essa questão se aquilo que eia põe em ques tão é apenas um vapor e um êrro Diz Nietzsche a Verdade Ou será também êle apenas uma derradeira vítima de um longo error 26 e omissão e COMO tal vitima o testemunho desconhecido de uma nova neces sidade 63 Reside no Ser mesmo tóda essa confusão E ligase à pró pria palavra o fato de ficar ela tão vazia Qu depende de nós mesmos de havermos decaído do Ser em nossa preocupação e caça do ente Ou tudo isso não está só em nós os modernos nem também só em nossos antepassados próximos e remotos mas no que desde o princípio perpassa pela história do oci dente Um acontecimento que os olhos de todos os historiado res jamais atingirão e que no entanto aconteceu ontem acon tece hoje e acontecerá amanhã Como assim se fôsse possível que o homem que os povos em suas maiores atividades e afa zeres se ativessem ao ente e no entanto de hã muito houves sem decaido do Ser sem o saberem Acaso não seria êsse o fundamento mais profundo e poderoso de sua decadência Cfr Sein und Zeit 5 38 espec pp 179s Tais são as questões que aqui levantamos não acidental mente ou mesmo para o sentimento e a concepção de mundo São questões a que nascida necessariamente da questão prin cipal nos obriga a questão prévia O que há com o Ser Talvez uma questão sóbria mas certamente também uma questão de todo inútil Ainda assim uma questão A questão O Ser é uma simples palavra e sua significação um vapor ou constitui o destino espiritual do ocidente Essa Europa numa cegueira incurável sempre a ponto de apunhalarse a si mesma se encontra hoje entre duas grandes tenazes com a Rússia de um lado e a América de outro Rússia e América consideradas metaíisicamente são ambas a mesma coisa a mesma fúria sem consôlo da técnica desen freada e da organização sem fundamento do homem normal Quando o mais afastado rincão do globo tiver sido conquistado tecnicamente e explorado economicamente quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo sa tiver tornado acessível com qualquer rapidez quando um atentado a um Rei na França e uni concêrto sinfônico em Tóquio poder ser vivido simultaneamente quando tempo significar apenas rapidez instantaueldade e simuilaneidade e o tempo como História houver desaparecido da existência de todos os povos quando o pugilista valer como o grande homem de um povo quando as cifras em milhões dos comícios de massa forem um triunfo então Justamente então continua ainda a atraves 64 sar tôda essa assombração como um fantasma a pergunta para que para onde e o que agora A decadência espiritual da terra já foi tão longe que os povos se vêem ameaçados de perder a última fôrça de espírito capaz de os fazerem simplesmente ver e avaliar como tal a decadência entendida em sua relação com o destino do Ser Essa simples constatação não tem nada a ver com pessimismo cultural nem tão pouco como é óbvio com um otimismo Com efeito o obscurecimento domundo a fuga dos deuses a des truição da terra a massificação do homem a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre já atingiu em todo o orbe dimensões tais que categorias tão pueris como pessimismo e otimismo de há multo se tomaram ridículas Estamos entre tenazes A Alemanha estando no meio su porta a maior pressão das tenazes É o povo que tem mais vi zinhos e dêsse modo o mais ameaçado mas em tudo isso é o povo metafísico Entretanto só poderá retirar para si dêsse destino de que estamos certos uma missão se conseguir criar em si mesmo uma ressonância uma possibilidade de ressonân cia para êsse destino concebendo sua tradição de modo cria dor Isso Implica e exige que êsse povo exponha 27 Histò rtcamente a Si mesmo e a História do Ocidente a partir do cerne de seu acontecimento futuro ao domínio originário das potências do Ser Precisamente se a grande decisão sõbre a Europa não seguir os caminhos da aniquilação ela só poderá então seguir o caminho do desenvolvimento de novas fôrças espirítuaijhistórícaa a partir do centro Investigar o que há com o Ser não significa nada menos do que repetir 28 o princípio de nossa existência es piritualHistórica a fim de transformálo num outro princípio Isso é possível E até mesmo a forma matriz de todo acontecer Histórico por arrancar do acontecimento fundamental Grund geschehnis Um princípio porém não se repete voltando para êle como algo de outros tempos e hoje já conhecido que meramente se deva imitar Um princípio se repete deixan dose que êle principie de novo de modo originário com tudo o que um verdadeiro principia traz consigo de estranho obs curo e incerto Repetlção tal como a entendemos será tudo só não uma continuação melhorada do que tem sido até hoje realizada com os meios de hoje 95 A questão O que Há com o Ser achase incluída como questão prévia em nossa questão condutora Por que há sim plesmente o ente e não antes o Nada Ao propormonos agora perseguir o que está em questão na questão prévia a saber o Ser mostrase logo a sentença de Nietzsche em sua plena verdade Pois considerando devidamente o que mais significa para nós o Ser do que um mero som verbal uma significação indeterminada e tão incapaz de ae pegar como o vapor Sem dúvida Nietasche tomava o seu juízo num sen tido puramente negativo Para êle o Ser é uma ilusão que nunca deveria ter ocorrido O Ser indeterminado flutuante como um vapor De fato é assim Mas não nos queremos es quivar a êsse fato Ao contrário devemos procurar esclare cerlhe a facticidade para atingir o panorama de sua imensa importância Com nossa investigação penetramos numa paisagem cuja pressuposição fundamental para poder ficar nela é reconquis tar para a existência Histórica solidez de fundamento Temos de investigar por que êsse fato de o Ser continuar para nós um vapor verbal insiste precisamente hoje Se e por que já vem persistindo de há muito Temos de vir a saber que êsse fato não é tão inocente como à vista de sua primeira consta tação parece Pois em última análise êle não reside em con tinuar a palavra Ser para nós um som e seu significado um vapor mas em termos nós decaído do que diz essa palavra e em não podermos reencontrálo de nôvo é somente por isso e por nenhuma outra razão que a palavra Ser já não indica nada que ao querermos pegar tudo se dissolve como pôças de nuvens ao sol Por ser assim investigamos o Ser E investi gamos porque sabemos que a verdade jamais caiu de graça no regaço de nenhum povo O fato de também agora ainda não se ter podido nem querido compreender essa questão em bora se investigue de modo ainda mais originário isso não lhe tira nada de seu caráter inadiável De certo poderseia aduzir novamente a ponderação já de há muito conhecida e aparentemente profunda e superior a de que o Ser é o conceito mais universal A envergadura de sua validez se estende a tudo e a cada coisa até ao Nada que enquanto pensado e dito é também alguma coisa Assim 69 qlém do arco de valides dêsse conceito unlvetsalísaimo de 8er Já não há no sentido rigoroso da palavra nada a partir do qual pudesse ser ainda mais determinado O conceito de Ser é de uma suprema universalidade O que ademais corresponde também a uma lei da lógica que diz quanto mais extenso fôr a envergadura de um conceito e o que seria mais ex tenso do que o conceito de Ser tanto mais indetermi nado e vazio o seu conteúdo Essas considerações são para todo homem que pensa nor malmente nós todos queremos ser homens normais Ime diatamente e sem qualquer restrição convincente A questão agora porém é a de saber se a proposição do Ser como o con ceito mais universal atingelhe a Essencialização ou se não a deforma de antemão e tanto a ponto de tornar sem perspec tiva qualquer investigação A questão consiste precisamente em saber se o Ser pode valer apenas como o conceito univer salíssimo que se apresenta inevitàvelmente em todos os con ceitos particulares ou se o Ser é de Essencialização totalmente diferente e assim qualquer outra coisa só não o objeto de uma ontologia suposto que se tome essa palavra no sentido tradicional O título ontologia cunhouse somente no século XVII Designa a elaboração da doutrina tradicional do ente numa disciplina da filosofia e num membro do sistema filosófico A doutrina tradicional porém é a análise e slstematlzação aca dêmica do que para Platão e Aristóteles e depois para Kant constituía uma QUESTÃO embora já não mais originária Nesse sentido ainda hoje se emprega a palavra Ontologia Sob êsse título a filosofia empreende cada vez mats a constitui ção e exposição de uma matéria dentro de seu sistema A pala vra Ontologia pode ser tomada também em sentido amplís simo sem referência a correntes e tendências ontolôgícas Cfr Sein und Zeit 1927 p 11 Nesse caso ontologia significa o esfôrço de traduzir etn linguagem o Ser mas através da ques tão o que há com o Ser não apenas com o ente como tal Até agora porém essa questão não encontrou repercussão nem menos ainda ressonância mas se viu até mesmo repelida ex pressamente pelos diversos círculos de eruditos da filosofia acadêmica que se esforçam por uma ontologia em sentido tra 97 dlclonal Por isso seria conveniente renunciar no futuro ao uso dos têrmos ontologia ontológico Modos de investiga ção separados entre si por todo um inundo como só agora se constata com maior clareza também não devem levar o mes mo nome Investigamos a questão o que há com o Ser Qual é o Sentido do Ser NAO para constituir uma ontologia de estilo tradicional nem tão pouco enumerar criticamente os erros das tentativas anteriores nesse sentido algo totalmente diverso Tratase de enquadrar a existência Histórica do homem o que implica também nossa própria existência futura na totalidade da História a nós destinada dentro do poder do Ser a ser des coberto origínàriamente Tudo isso naturalmente nos limites apenas da capacidade da filosofia Da questão fundamental da metafísica Por que há sim plesmente o ente e não antes o Nada extraímos a flues tão prévia o que há com o Ser A relação de ambas as questões necessita de um esclarecimento pôsto ser de índole tôda pró pria Habltualmente uma questão prévia se absolve antes e fora da questão principal embora em estrita relação a ela Questões filosóficas porém Jamais poderão ser em princípio resolvidas no sentido de as podermos algum dia extingulr A questão prévia não se acha aqui de forma alguma fora da questão fundamental mas lhe constitui a fornalha ardente a lareira de tôda a investigação Isso quer dizer para a inves tigação da questão fundamental tudo depende de tomarmos investigandolhe a questão prévia a posição fundamental de cisiva e de alcançarmos e garantirmos a atitude nela essencial Por isso pusemos a questão do Ser em conexo com o destino da Europa onde se decide o destino da terra enquanto para a própria Europa nossa existência Histórica se demonstra como o centro A questão perguntava O Ser é uma simples palavra e seu significado um vapor ou o que se entende com a palavra Ser abarca o destino es piritual do ocidente Para muitos ouvidos a questão poderá soar de modo for çado e exagerado pois quando multo poderse1 a imaginar que a discussão da questão do Ser devesse ter também rela ta I ção com a questão histórica sôbre o destino da terra mas mui to por longe e de maneira multo mediata de forma alguma porém a tal ponto que a posição fundamental e a atitude da nossa investigação pudessem ser imediatamente determinadas pela História do espírito da terra todavia tal conexão existe Visto que nosso propósito é pôr em movimento a investigação da questão prévia vale agora mostrar que e em que medida a investigação dessa questão se movimenta direta e íundamen talmente em meio à questão decisiva da História Para tal fim fazse mister antecipar na forma de uma afirmação uma perspectiva essencial Afirmávamos acima a investigação da questão prévia e com ela a Investigação da questão fundamental da metafísica é uma Investigação intelramente Histórica Mas dêste modo a metafísica e a filosofia simplesmente não se converteríam numa ciência histórica A historiografia pesquisa o temporal enquanto a filosofia investiga o que se situa acima do tempo A filosofia só é histórica enquanto se realiza como tôda obra do espírito no curso do tempo Mas nesse sentido a caracteri zação da investigação metafísica como histórica não pode de terminar a metafísica Díz apenas algo de evidente Por isso a afirmação ou será insignifleativa e supérflua ou então impos sível por confundir espécies de ciência fundamentalmente di ferentes filosofia e historiografia Sôbre isso devese dizer 1 Metafísica e filosofia não são de forma alguma uma ciência nem poderão vir a sèlo pelo fato de ser a sua inves tigação fundamentalmente Histórica 2 A historiografia por seu lado não determina por ser ciência a referência originária com a História mas ao con trário sempre pressupõe tal referência E somente por essa razão a historiografia pode desfigurar interpretar errado e degradar a um simples conhecimento de antíquariado a refe rência com a História que é em si mesma sempre Histórica ou por outro lado pode também oferecer à relação com a His tória já instituída perspectivas essenciais e permitir experi mentar a História em sua constringência Uma referência His tórica de nossa existência Histórica com a História pode tor 69 narse objeto e configuração 29 de um conhecimento Mas não precisa sêlo Ademais nem todas as referências com a História podem vir a ser objeto e configuração de ciência e precisamente as essenciais não o podem A historiografia nun ca poderá instaurar a referência Histórica com a História Só poderá cada vez Iluminar justificar cdtlcamente uma refe rência já instituída o que sem dúvida para a existência His tórica de um povo consciente é uma necessidade essencial Portanto não se trata nem de algo apenas útil nem de al guma coisa só vantajosa Ora de vez que sòmente na filo sofia à dierenjr de qualquer ciência se edlflcam sempre as referências essenciais com o ente por isso essa referência pode até deve ser para nós hoje uma referência orlglriàrla mente Histórica Para se compreender nossa afirmação de que a Investiga ção metafísica da questão prévia é inteiramente Histórica devese considerar antes de tudo o seguinte História não sig nifica para nós o passado pois êsse é justamente o que jã não acontece História também não é e multo menos o sim ples presente que também nunca acontece mas apenas passa aparece e desaparece História entendida como acontecer é o agir e sofrer pelo presente determinado pelo futuro e que as sume o pretérito vigente O presente é precisamente o que no acontecer desaparece A Investigação da questão metafísica fundamental é His tórica porque desdobra acontecer da existência humana em suas referências Essenciais a saber com o ente como tal na totalidade segundo possibilidades Imprescrutadas Ié futuras Zukünfte 30 e assim também as religa ao princípio de seu pretérito vigente dandolhes dêste modo pêso e perspicá cia no presente Nessa investigação nossa existência se inte gra em sua História no pleno sentido da palavra e é chamada a ter uma consciência Histórica e uma decisão dentro da His tória E isso não ocorre como um corolário no sentido de uma medida útil para a moralidade e concepção do mundo mas Es senclalmente no sentido de ser a posição fundamental e a ati tude da investigação em si mesma em sua Essencialização His tórica está e se sustém no próprio acontecer Desenvolvese a partir e em função dêle 70 Mas ainda ni falta a perspectiva essencial de saber em que medida essa investigação em si mesma Histórica da ques tão do Ser traz consigo uma correspondência intrínseca até mesmo com a História Universal do mundo Acima dizíamos sôbre a terra por tôda parte acontece um obscurecimento do mundo cujos processos Essenciais são a fuga dos deuses a destruição da terra a massificação do homem a primazia da mediocridade O que significa mundo quando falamos de obscurecimento do mundo Mundo é sempre mundo espiritual O animal não tem mundo nem ambiente mundano Obscurecimento do mundo inclui em si uma DESPOTENCIAÇÁO DO ESPÍRITO sua dissolução destruição desvirtuamento e deturpação Tra temos de esclarecer essa despotenciação dó espírito num de seus aspectos no aspecto da deturpação do espírito Dizíamos a Europa já entre tenazes constituídas pela Rssia e a Amé rica que metafisicamente a saber com relação a sua atitude diante do mundo espiritual e do espírito são ambas a mesma coisa A situação da Europa é tanto mais perigosa porquanto a despontenciação do espirito provém dela própria e se cons tituiu definitivamente embora já viesse sendo preparada antes na primeira metade do século 19 por sua própria situação espiritual Entre nós aconteceu mais ou menos no tempo que se costuma chamar brevemente a queda do idea lismo alemão Essa fórmula é por assim dizer um escudo atrás do qual se protege e esconde a falta de espírito que já desponta a dissolução dos podêres espirituais a recusa de tôda investigação originária dos fundamentos e de qualquer depen dência dêles Pois com efeito o que aconteceu não foi a der rocada do idealismo alemão mas sim a época já não era forte o bastante para se conservar à altura da grandeza enverga dura e originariedade daquele mundo espiritual Já não pos suía forças suficientes para realizálo verdadeiramente o que sempre significa coisa muito diferente do que aplicar simples mente frases e princípios A existência começou então a des lisar para um mundo sem a profundidade que restitul e atri bui ao homem o que lhe é essencial e assim o constrlnge à superioridade e o faz agir com jerarquía Tôdas as coisas es corregaram para um mesmo nível para uma superfície que semelhante a um espelho oxidado já não espelha nada re 71 flete A dimensão dominante tornouse a da extensão e do número Capacidade já não significa a potência e prodigali dade advindas de uma alta superabundânela e do domínio das fôrças mas do exercício de uma rotina suscetível de ser aprendida por todos e dependente sempre de certo suor e es fôrço Ora tudo isso se intensificou então na América e na Rússia chegandose à padronização desmedida de uma série progressiva do sempre igual e equivalente a ponto de o quan titativo se transformar numa qualidade própria Desde então vigora o domínio da média do equivalente que já não é algo sem importância e meramente vazio mas a avalanche de uma fôrça que em seu ímpeto destrói tôda jerarqula e todo mun do espiritual e os faz passar por mentira É a avalanche do que chamamos o demoníaco no sentido de uma maldade des truidor Juntamente com a desorientação e insegurança da Europa em si mesma e contra si mesma hã vários indícios do surto dessa demonia Um dêles é a despotenciação do espirito no sentido de seu desvlrtuamento Um acontecimento em cujo centro ainda hoje nos debatemos Vejamos breveniente êase desvirtuamento do espirito na perspectiva de quatro ângulos 1 Decisiva é a transformação do espirito em INTELI GÊNCIA qual seja a simples habilidade ou perícia no exame no cálculo e na avaliação das coisas dadas com vistas a uma possível transformação reprodução e distribuição em massa sujeita em si mesma à possibilidade de uma organização o que não vale para o espírito Todo o literatismo e estetismo são apenas uma conseqíiência ulterior e uma degenerescêncla do espirito falsificado em inteligência O mero engenho o apenas espirituoso é aparência de espirito e a tentativa de esconder a sua ausência 2 O espírito assim falsificado em inteligência se de grada até resvalar para o papel de um instrumento a serviço de outro cujo manejo é suscetível de ser ensinado e aprendido Agora é indiferente se ésse serviço da Inteligência se destina ou serve simplesmente à ordenação racional e explicação de tudo que eventualmente já é dado e pôsto como no positivis mo ou ainda se o serviço da inteligência se realiza na con dução organizada da massa e da raça de um povo É que em 73 qualquer desses casos o espírito desvirtuado em inteligência se torna a superestrutura impotente de uma outra coisa que por ser desprovida ou mesmo hostil ao espírito se apresenta então tomo o real propriamente dito Se a par do marxismo na sua forma mais extrema se tem o espírito como inteli gência então nada é mais justo do que dizerse em contra posição que 6 espírito enquanto inteligência deve sempre permanecer dentro da ordem da forças ativas da existência subordinado à capacidade de um corpo sadio e ao caráter Entretanto essa ordem deixa de ser verdadeira tão logo se conceba a Essenclallzação do espírito em sua verdade Com efeito tôda verdadeira força e beleza do corpo tôda segurança e ousadia da espada como também tôda autenticidade e en genho do entendimento têm suas raizes no espírito e só experi mentam elevação ou degradação numa eventual potência ou impotência do espirito O espirito é sempre o fundamento e o vigor o primeiro e o último e não um terceiro fator apenas indispensável 3 Logo que essa desfiguração instrumental do espírito se impõe os poderes de todo acontecer espiritual a poesia e a arte plástica a constituição do Estado e a religião recaem no âmbito de uma possivêl assistência e planejamento cons cientes ao mesmo tempo em que sofrem uma disposição em regiões O mundo do espírito se transforma em cultura em cuja criação e conservação o indivíduo procura ao mesmo tempo aperfeiçoarse a si mesmo As regiões da cultura se tornam setores de afirmação e atividade livres que de acôrdo com a importância que valem estabelecem para si mesmas os seus critérios Denominamse os critérios dessa valldez de produção e uso valores Os valores culturais só podem ga rantir para sl mesmos importância dentro de uma dada cultu ra concentrandose e limitandose a si mesmos a sua pró pria valtdez poesia pela poesia arte pela arte ciência pela ciência No caso da ciência que aqui na universidade nos inte ressa de modo particular podese constatar facilmente o estado dos últimos dez anos que até hoje apesar de muitas melhoras ainda permanece Inalterado Quando ültlmamente 73 duas concepções aparentemente diversas de ciência parecem combaterse mütuamente a saber a ciência entendida como competência profissional técnica e prática e a ciência inter pretada como valor cultural em si na realidade movemse ambas na mesma rota de decadência de um desvirtuamento e despontenciação do espirito Apenas num ponto dlstlnguemse entre si porquanto a concepção técnicoprática da ciência como especialização pode alardear a seu favor a vantagem de uma aberta e clara coerência dentro da situação atual en quanto a interpretação reacionária ültimamente de novo em voga ao entender a ciência como um valor cultural procura encobrir a impotência do espirito com uma espécie de mentira inconsciente A confusão da falta de espírito pode estender se mesmo até ao ponto de a interpretação técnicoprática da ciência chegar a fazer profissão de cultura e converterse tam bém em ciência como valor cultural de sorte que ambas as concepções se entendem muito bem entre si na mesma ausên cia de espírito Se se pretende chamar de universidade essa instituição que do ponto de vista da doutrina e investigação unifica as várias ciências especializadas então tal intento é apenas um nome e jamais um poder espiritual constringente e originàrlamente uniflcante Ainda hoje vale da universidade alemã o que disse aqui em 1929 por ocasião de meu discurso inaugural Os domínios das ciências estão por demais sepa rados uns dos outros O modo de tratar seus objetos é funda mentalmente diferente entre si Essa multidão esfacelada de disciplinas se conserva ainda aglutinada apenas pela organi zação técnica das universidades c faculdades e mantém um significado somente em função dos fins práticos das matérias Mas a implantação das ciências no solo de seu vigor já fene ceu1 Was 1st Metaphystk 1929 p 8 A ciência em todos os seus setores é hoje uma questão técnica e prática de adquirir e transmitir conhecimentos Dela como ciência não poderá partir nunca um despertar do espírito É de espírito que ela própria necessita 4 A última desfiguração do espirito se funda nas falsi ficações anteriores que interpretam e representam o espirito como inteligência essa como instrumento a serviço de um fim e êsse de parceria com a produtividade como domínio da 14 cultura O espírito como inteligência a serviço de um fim e o espírito como cultura tomase por fim peças de ornamentação e aparelhagem que entre muitas outras se expõem publica mente para se demonstrar que não se deseja negar a cultu ra nem se quer ser bárbaro O comunismo russo após uma atitude inicial puramente negativa logo passou a adotar tais táticas propagandistas Contra êsse desvirtuamento múltiplo do espírito caracte rízamolhe a Essencialização do seguinte modo prefiro a for mulação feita em meu discurso reitoral por se achar tudo re sumido numa forma concisa própria para a ocasião O es pírito não é nem a sutileza vazia nem o jôgo sêm compromis sos da engenhosidade nem tão pouco o exercício desmedido de análises intelectuais nem mesmo a razão universal O espirito é exposição sapiente originàriamente disposta 31 à Essen cialização do Ser Discurso Reitoral p 13 Espirito é a po tenciação das potências do ente como tal na totalidade Onde domina o espírito o ente se torna como tal sempre e cada vez mais ente Por isso investigar o ente como tal na totali dade a investigação da questão do Ser constitui uma das condições fundamentais e essenciais para despertar o espírito e com êle o mundo originário da existência Histórica Para refrear o perigo do obscurecimento do mundo e para assumir a missão Histórica de nosso povo que se acha no centro do Ocidente Só nessas grandes linhas podemos esclarecer aqui que e em que medida a investigação da questão do Ser é em si mesma inteiramente Histórica e que por conseguinte a questão se o Ser continua para nós um mero vapor ou se cons titui o destino do Ocidente é algo muito diferente de um exa gêro e uma fôrça de expressão Se portanto a questão do Ser possui êsse caráter Essen cial de uma decisão então devemos antes de mais nada levar a sério aquilo que lhe confere sua imediata necessidade o fato de ser para nós o Ser efetivamente quase uma simples pala vra e seu significado um vapor flutuante Tal fato não é simplesmente alguma coisa diante da qual estamos como algo estranho alguma coisa que apenas pudéssemos constatar como um dado em sua presença objetiva Tratase de algo em que nos achamos um estado de nossa existência embora não 75 entendido naturalmente no sentido de uma qualidade que pudéssemos apresentar psicologicamente Estado significa aqui tôda a nossa constituição a maneira como nós mesmos nos constituímos com referência ao Ser Não está em jôgo a psicologia mas a nossa História numa acepção Essencial Quan do classificamos de um fato que o Ser seja para nós hoje uma simples palavra e um vapor tratase de uma classifica ção muito provisória Com isso estabelecemos e configuramos apenas o que ainda não foi de modo algum pensado para o qual ainda não temos um lugar embora dê a aparência de ser um fenômeno dentro de nós homens em nós como se costuma e gosta de dizer O fato particular de se constituir para nós o Ser numa pa lavra vazia e num vapor flutuante pretendese enquadrar no fato mais geral de que muitas palavras e justamente as essenciais se acham no mesmo caso ou seja a linguagem sim plesmente já está gasta e abusada Um meio de comunicação indispensável mas sem nobreza aplicável arbitàriamente tão indiferente como os transportes públicos como os bondes em que qualquer um sobe e desce Na linguagem todo mundo es creve e fala desimpedido e principalmente sem nenhum peri go o que é uma verdade Entretanto pouquíssimos apenas são os que estão em condições de pensarem em todo o seu al cance o que há de deficiente e desvirtuado nessa relação da existência humana atual com a linguagem Todavia o vazio da palavra Ser o desaparecimento com pleto de sua fõrça significativa não ê apenas um caso par ticular do desgaste universal da linguagem É ao invés a re ferência cortada com o Ser como tal que constitui o funda mento próprio de tôda essa nossa relação desvirtuada com a linguagem As organizações destinadas a purificar o vernáculo e á defesa contra a crescente degradação da lingua merecem aco lhida Todavia com tais instituições apenas se demonstra com maior claridade ainda que já não se sabe o que há com a linguagem De vez que o destino da linguagem se funda na referência eventual de um povo com o Ser a questão do Ser se entrelaça intimamente com a questão da linguagem Assim é multo mais do que um acaso externo vermonos çbrl 75 gados agora quando vamos explicar em sua importância o fato da evaporação do Ser a partir de reflexões linguísticas NOTAS 1 ENTESEINDS Ente é um substantivo erudito derivado do ta ILui en eotis particlpio presente do verbo esse ser A farms arigbnáriu era sen conservada ainda ent pracsens absens talvez também cm consena Ein português g verbo ser ê defectiva no parti cipio presente Dai a derivação th forma erudita ente dírelanicnle de sua congênere latina Na uso da libguagm é um substantivo pouco frequente substituído qnase sempre pelo infinita substantivado wr Assim ninguém UüfisÊ llz hoje Ho cnins vivos mus seres vivos Mesmo na niosoflu utê HriduggFir a distinçiiu entre ente e ser não rru rlgorutfiu No testa ente Selrndcs significa tudo aquilo que siitiplcsiiicnir Indiferente u seu modo próprio de sty Assim O liQinem ns coisas ng nfuntrei menti lildiaa Indo alé meanm q Nadíi enquanto é inn NbcIú são cnlrs Vrjusr a Introduçòo pàg lüss 3 EXISréArCMD4SELV Com a palavra extatâncis tradiuirnos os dois têrmos técnicos da Filosofia de Heidegger Dnsein t Existem Desig ns ambos sob aspectos diferentes o tnodo de ser cspéclfIôm c exclusivo do homem Nease sentido só o homem existe Dizerse profanfo que de terminado ente não existe significa tâo sòmcnlc que não è segundo o modo de çr próprio do homem Vejase a Introdução pãg Usa O Ser escrito sempre com maiíiscula significa a diferença ontológics isto è a diferença como fu entre o tinte c seu ser Vcju se a tntrdouçâo púg lias 4 ABSWtUlVCs fesse substantivo alemão traduzse aqui pela locução salto em que se deixn paru trás Ô substantivo e formado do verbu afringep saltar pular c da preposição ah dc desde partir dr para baixo Em composição com verbo essa preposição acrescenta b sua conotação de movimento Assim Absprung não diz só o pdq q baIIo ma um pulo e um salto que conota lambem o ponto donde o pulo parte c que deixa para trás 11 5 SALTO ÜlUGi2tfROURSPRyííG O prefixo UrM incide sôbre o radical da palavra ressalte fidoa como o principio e fiindannto primor dial da significação que exprime Asshn Ursprung designa o salto que é o principio e fundamente primordial de todo saltar é portanto o salto originário fil PASSA DOPRSENTEi AS GBWESENEt Heidegger distingue Mie Vergangenheit e die Gewesenhelt ou tias Grwesene VcrgngenhtitT é o passado enquanto passado isto ê algo enquanto num dado momento foi presente tnas depois deixou de ser simplesmente Nesse senlidu o sono de Aristóteles é hojq um presente passado uma Vergaogenheit Das Ge Vtfçticne porém diz o passado que aluda se couxervx presente como pas sdo Assinit a filosofia do Aristóteles ê um passado premente m Ge weaencs pois sc vem conservando stê hoje dh História da existência do kiilente 71 HfSTúRIÀHISTORlOGRAFIAGESCHXGHTEHiSTQfUEi Bit geral llngita alemã tem duas palavras que Be usam promtecuamentr Gechlchte e Historie Gesrhichte1 provém do verbo geschehen acontecer darse processasse e significa o conjunto dos acontecimentos humanol tio curso do tempo Historie de origem grega através dn latim ê a ciên cia da Gcschlchte Em sua filosofia Heidegger distingue rlgcrosaipenta 77 I as duas palavras e entende partir de sua interpretaçáo da História do Ser Geschichte dlalitlcamtnte como a Iluminação da diferença ontoló glca Dai poder falar etn Gcscblchte do ente e em Geschichtc do Ser Traduzimos Historie por historiografia a Gesehichtc do ente por his tória com minúscula e Geschichte do Ser por História com maiúscula 8 PRINCIPIOANFANG O substantivo Anfang derivado do verbo anfangen iniciar começar principiar tem na Filosofia Hcldegge riana o sentido técnico do origem principio primeiro que não apenas Ini cia alguma coisa mas a conserva e sustenta era seu vigor Corresponde era tanientc ao que os gregos pensavam com a palavra arche Como em por tuguês não há um adjetivo derivado de prinetpio traduzi nice o adjetivo alemão anfãnglich por originário Ç DISCURSO SOBRE SEU LUGARERhRTERVNG O substantivo Ertztcrung provim do verho ertetern que por sua ves se deriva de Ort lugarj O significado corrente dêsse verbo t discutir discorrer Hep ortan dose A sua derivação de Ort lugar dir no ter Io discutir o lugar assinalado na e pela existência 10 REVÚLVCiONARJOSUMSETZENDE Essa tradução aó corresponde se se toma revolucionário no sentido et im o lógico da palavra aquêle qua instaura o riginã riamente uma situação da existência revolvendo a situação dada íl DESLOCADOVERRCCKT Verrückt ê o partieipio passado de verrücken Apesar de pouco usado em seu sentido próprio êsse verbo significa deslocar afastar do lunar devido etn sentido figurado multo usado significa louco doido No texto Heidegger pensa em primeiro lugar no sentido próprio de deslocado embora intencionç também ironi camente n sentido figurado Essa intenção irônica resulta do fato de ter escolhido uma palavra de sentido ambíguo e pouco freqüeote em seu uso próprio 13 BATEPAPOGEREDE A palavra alemã das Gerede conversa falátório tem um matiz pejorativo de conversa fiada Preferimos a gíria balqpapo em razão do caráter plástico da expressão 13 VIGOR DOMINANTEWALTEN As palavras mais difíceis de tradu lr são vralten e seus derivados Em bí e em geral o verbo walten ex prime o significado de govwnar dispor imperar mas com a cono tação de fdrça vigor domínio É o que aparece em seus derivados die Gewall a fúrça überwãltingen predominar sobrepujar vergewaltígen violentar O verbo português viglr do latim vl gert seria a tradução ideal infelizmenie ê desusado corrente hojq ape nas em algumas formas como vigente vigor vigência Por isso tra duzlmos walten e seus derivados numa perifrase servindo nos das for mas ainda em uso tt DESTINO GESCBICK A um conceito importante na Interpretação heídeggerlana da História A tradução só é fiel se se tomar destino em seu sentido etmológico Pois o verbo schicken donde se forma Ges cbick significa enviar mandar destinar Heidegger concebe a ne cessidade vigente na história como lima missão encaminhada pele vicis situde da Verdade i o que designa a expressão Geschick des Selns destino do Ser 15 PRIMITIV Com essa palavra lembra Heidegger que as traduções la tinas encaualani determinada interpretação do qua o principio da História do Ocidente nos legou de originário fã PRODUCÃOHERVORBRINGLNG A palavra é entendida aqui em sentido etlmológico o não econômico Composta do verbo ducere levar e da preposição pro diante de em frente de produção á a instauração de vigor que leve o modo dq ser de algum enle para 1 rente da presença histórica 78 17 EKSTÂTICOEXISTENCALEZISTENZIALEKSTATISCB t ura tra duçío literal dos dois momentos que constituem a esaencíal liação do ho mem No pensamento de Heidegger o hoiriem é um ente inapelàvelmente sensível cujo modo de r 4 sempre tcmporallzado pelo tempo originá rio quo e por sua vez uma iluminação História da Verdade do Ser Ve jaae Inntrdouçâo pég 15as IS ESQUECIMENTO DO SERSEINSVEBGESSENBEIT Tínuo caracte rístico da Filosofia Hefdeggerlaoa Exprime o espaço Historic da existên cia ocidental instaurado pela dialética da Verdade do Ser enquanto pro ceaso de luz e sombra de velarse e de revelar 19 RESOLYIDOENTSCI1LOSSEN O verbo entschIieben significa decidirse resolverse É um composto de scbliesaen fechar tran car j entschllcssen diz propriamente desttraucar Heidegger pensa cm tôda decisão e resolução fundada numa atitude aberta destrancada d recepção 30 DESCOBRIRSEENTBORGENHRIT Esse substantivo alemão pro vim do verbo cntbergen deaocultar desvelar que por sua vez se deriva de Bcrg o monte A um têrmo que exprime o processo de Essenciallzação da Verdade enquanto movimento de ravetaçãe descobrt mento do ente mediante a velação o encobrimento do Ser vejase a Nota 19 do Capitulo IV 31 RfiFER6NCIABEZVG Bezug nfto diz simplesmente relação Beziahung isto í um nexo entre duas coisas coordenadas 2 o suporte da Verdade do Ser na existência que faz com que o homem existindo posse reportarse ao Ser S3 OBJETIVAM ENTE DADOVORHANDENES um conceito tipico da Filosofir de Heidegger SemAnticamcnte tratase da um adjetivo formado do substantivo Hand a mão Designa o modo de ser d coisa enquan to É o que está diante da mão como objeto 39 EVlDfeNCIASRLB5TVERSTÂNDLICHKEIT Uma nalavrr de sentido pejorativo diz a evidência aparenta Llteratmente Selbatverstãndllchkeit significa a propriedade do que se estende por al mesmo Sendo totalmente diáfano cm ai dispensa qualquer esfôrço de pensamento paru entender o seu sentido 24 INVESTIGABILJDADEFRAGWtRDlGKEIT Palavra composta de frageu pôr en questão investigar perguntar e würdlg digno merecedor que impõe sigo como valendo a pena de Na composição sig nifica o que por st mesmo é digno de ser investigado de ser posto em questão pelo pensamento 25 Heidegger se refere aqui às observações que fêz aóbre o significado existencial da filosofia ès pãgs 45 26 ERRORHIRE É outro conceito característico da Filosofia Heidegge riana Irre exprime o errar par entre o frenesi do ente e do Antieo sem memória para t Ser Ta urrar porém é uma figure da própria Verdade do Ser ô mitologia grega fala dos erros de Hércules pois é nesse sen tido que se emprega a palavra aqui 37 EXPONHAAUSSTELLT Tem aqui a conotação de abrirse en tregarse sem opor nenhuma resistência ou obstáculo desvirtuante 28 REPARTlRWIEDERROLENi Em geral o verbo wieferholen tem a sígnticação de repetir no sentido de blsar tornar a fazer a mesma coisa A um composto de holen ir buscar alcançar No texto Heidegger pro cura ressaltar essa conotação de alcançar 39 CONFIGVÁAGXOAUSGEBILDETBR ZUSTAND Essa expressão alg al fica pròprlimeute o estado completa mente formado e acabado 79 Ml FUTVRASZIKÜNFTE Correntemente a palavra Zukunft designa o fuluro Hetdgger porém pensa n sua origem do varho kommtnH vir rnegar ft tsse a sentido que se enquadra na concepçío do futura coma uma rise da imhrleaçio temporal da existência Nesse sentida o futuro o aue bi de vir enviado pelo destino da existência que í sempre instau rado tihlriramentr o adventn a por vir 80 SÔBRE A GRAMÁTICA E ETIMOLOGIA DA PALAVRA SER Põsto que para nós o Ser continua sendo uma palavra vazia de significação flutuante tentemos recuperar inteira mente ao menos êsse resto de relação Daí Investigarmos antes de tudo 1 Que palavra é essa Ser segundo a sua morfología IJi 2 O que nos diz a filologia como a ciência da linguagem sôbre o significado originário dessa palavra Para exprimilo de forma erudita investigaremos 1 pela gramática e 2 pela etimologia da palavra Ser Sôbre todo êsse capitulo cfr atualmente Ernst Fraenkel O Ser e suas modalidades aparecido em Lexis Studlen zur Sprachphilo sophle Sprachgeschlchte und Begriffsforschung editado por Johann Lohmann Vol U 1949 pp 149 ss A gramática das palavras não se ocupa sòmente nem em primeiro lugar com a forma literal e fonética das palavras Toma os elementos morfológlcos que as palavras apresentam como indicações de determinadas e diferentes direções de pos síveis significados e como indícios de suas possíveis inserções prellneadas pelos significados numa proposição 1 é numa maior estrutura linguística Os vocábulos êle vai nós fôssemos êles foram vál indo ir são modificações da mesma palavra segundo determinadas direções de significação Nós as conhecemos pelos títulos da gramática Indicativo presente 81 imperfeito do subjuntlvo perfeito imperfeito participle infi nitivo Entretanto desde muito tempo que tais títulos são apenas meios técnicos por cuja indicação se procede mecâni camente a análise da linguagem e a fixação de suas regras Precisamente quando e onde surge uma referência mais ori ginária com a linguagem revelase o que há de morto nessas formas gramaticais porquanto se fazem sentir como meros mecanismos A linguagem e sua interpretação se fossilizaram nessas formas rígidas como numa rêde de aço Já nos estu dos linguísticos ôcos e sem espírito do ginásio se convertem para nós em cascas vazias inteiramente incompreendidas e incompreensíveis É mesmo bom que os alunos em vez disso aprendam de seus mestres alguma coisa sôbre a história originária e pri mitiva dos germanos Todavia tudo isso se afunda logo no mesmo vazio se não se consegue transferir para a Escola e desde os fundamentos o mundo do espírito o que significa se não se cria na Escola uma atmosfera de espirito que subs titua a científica E para tanto o primeiro passo é uma re volução real nas relações com a linguagem Nesse sentido porém temos que revolucionar os professores o que implica que primeiro as universidades se devem modificar e compre ender a sua tarefa em lugar de estufarse com banalidades Já nem mesmo Imaginamos que aquilo que sabemos bastante e de há multo podería sem embargo ser diferente Que essas formas gramaticais não são algo que desde tôda eternidade dividem e regulam a linguagem Ao contrário nasceram de uma interpretação bem determinada da Língua Latina e da Grega Sendo também um ente a linguagem pode tornarse acessível e ser configurada de determinados modos apenas tanto uma como outra coisa dependem naturalmente em sua realização e valldez da concepção fundamental do Ser que lhes serve de guia A determinação da Essencialização da linguagem já até mesmo a sua simples Investigação regese sempre pela pre compreensão dominante a respeito da essência do ente e da concepção de essência Ora essência e ser faiam na linguagem sendo essa uma conexão que já désde agora quando investi gamos a palavra ser cumpre ressaltar Por Isso ao utliizar B2 mós na caracterização gramatical da palavra a gramática tra dicional e suas formas o que de início é Inevitável deve mos fazêlo com a ressalva fundamental de que tais formas gramaticais são Insuficientes para o nosso propósito No curso de nossas reflexões essa radical Insuficiência se demonstrará numa forma gramatical de importância essencial Essa demonstração porém transcende de multo a simples aparência de que se trata aqui de um melhoramento da gra mática Pois na verdade se trata de um esclarecimento es sencial com vistas à sua fundamental imbrlcação com a Es sencialização da linguagem É o que se tem de levar sempre em consideração a fim de não desfigurarmos as reflexões lin guísticas e gramaticais que seguirão no sentido de ninharias ôcas e fora de propósito Perguntamos 1 pela gramática 2 pela etimologia da palavra ser 1 X Gramática da Palavra Str Que palavra é essa o Ser segundo a sua morfologla Ao ser correspondem outras formas como o voar o sonhar o chorar 1 etc Tais formas linguísticas se comportam na linguagem como o pão a habitação 2 a erva a coisa Não obstante logo descobrimos nas primeiras uma di ferença Podemos reduzilas fàcilmente aos verbos voar sonhar chorar etc o que as segundas parecem não per mitir É certo que há para a habitação a forma verbal ha bitar êle habita no bosque Todavia quanto ao significado a relação gramatical entre a habitação e habitar é dife rente da mesma relação entre o sonhar o sonho e sonhar Por outro lado há formações verbais que correspondem exa tamente ás primeiras o voar o sonhar e todavia possuem caráter e significação Idênticos a o pão a habitação Por exemplo o embaixador deu um jantar o soldado se co nhece no andar cadenciado 3 Nesses casos já não atende mos ao fato de pertencerem tais formas a um verbo O verbo se fêz substantivo um nome seguindo o caminho de uma 83 forma determinada que se denomina em latim modus in finltívus Nessas condições se encontra também a palavra ser Êsse substantivo e reduz ao infinitivo ser que pertence às formas tu és Êle é nós éramos vós fostes O ser como substantivo proveio do verbo Por isso se diz a pala vra o ser é um substantivo verbal Com a indicação dessa forma gramatical termina geralmente a caracterização lin guística da palavra ser São coisas conhecidas e óbvias as que agora acabamos de mencionar circunstanciada men te Ou melhor falemos com mais cautela são distinções gramaticais da linguagem corrente e desgastadas Pois óbvias não o são de maneira nenhuma Por isso devemos examinar as formas gramaticais em questão Verbo Substantivo Substantivação do Verbo Infinitivo Particípio Vemos facilmente que para a formação da forma nomi nal o Ser a forma prévia e decisiva é o infinitivo ser A forma do verbo se transfere para a forma de um substanti vo Verbo Infinitivo Substantivo são as três formas grama ticais a partir das quais se determina o caráter nominal da palavra o Ser Tratase em primeiro lugar de se compre enderem em sua significação tais formas gramaticais Dentre elas o Verbo e o Substantivo são as que na origem da gra mática ocidental se conheceram em primeiro lugar Ademais ainda hoje valem como as formas fundamentais das palavras e da gramática Assim com a questão sôbre a essencialização do Substantivo e do Verbo recaímos na questão sôbre a Essen cialização da linguagem como tal Pois o problema se a forma originária da palavra é o nome substantivo ou o verbo coin cide com a questão sôbre o caráter originário de todo dizer e falar Essa por sua vez implica também a questão sôbre a ori gem da linguagem Aqui não poderemos entrar logo nessa úl tima Temos que seguir um caminho de emergência Restrln gimonos primeiro àquelas formas gramaticais que serviram para formar o substantivo verbal os infinitivos ír vir cair cantar esperar ser etc O que significa Infinitivo É uma abreviação do termo com pleto motftís inflnitivus O modo da ilimitação da indetermi nação a saber na maneira como um verbo indica e exerce os préstimos e a direção de seu significado 84 Êsse titulo latino procede com todos os outros do traba lho de gramáticos gregos Também aqui encontramos nova mente o processo da tradução mencionado na oportunidade da discussão sôbre a palavra physis Não se trata de discorrer agora com minúcias sôbre a origem da gramática entre os gregos sua adoção pelos romanos e transmissão para a Idade Média e Moderna Embora coúheçamos muito detalhes de todo o processo ainda não conseguimos penetrar realmente em acontecimento tão fundamental para a fundação e carac terização de todo 0 espírito ocidental Falta até uma colocação suficiente do problema para uma tal reflexão que um dia já não poderá ser evitada por mais que se apresente à margem dos interesses Imediatos O fato de a formação da gramática ocidental se ter ori ginado da reflexão dos gregos sôbre a língua grega conferelhe tôda a Importância Pois a língua grega medida pelas possibi lidades do pensamento é ao lado da alemã a mais poderosa e a mais cheia de espirito Antes de tudo se deve meditar sôbre a circunstância de que a distinção decisiva das formas fundamentais das pala vras substantivo o verbo nomen e verbum na forma grega de onoma e rhema se elaborou e fundamentou pela primeira vez em conexão a mais íntima e imediata com a concepção e interpretação do Ser que posteriormente se tornou normativa para todo o Ocidente A conjugação íntima dêsses deis acon tecimentos ainda hoje nos é acessível intacta e com plena clareza de exposição no diálogo O Sofista de Platão É certo que os títulos onoma e rhema já eram conhecidos antes de Platão Todavia também então como ainda para Platão tra tavase de títulos que designam qualquer emprego de pala vras Onoma significa duas coisas a designação linguística como tal em oposição à pessoa ou coisa designada e o pro nunciar de uma palavra que mais tarde a gramática conce beu como rhema Enquanto rhema significa por sua vez a sentença a oração Assim rhetor é o oradoç que não só pro nuncia verbos mas também onomata no sentido restrito de substantivo Êsse fato de o âmbito abarcado pelo domínio de ambos os títulos ser originàrlamente o mesmo é importante para a Bfl nossa indicação posterior de que a questão tão discutida na filologia a respeito do que representa a forma originária da palavra se o nomen ou o verbum não constitui de maneira nenhuma uma questão autêntica Êsse pseudoproblema sur giu somente quando a gramática já se havia desenvolvido e não de uma visão da Essencialização da linguagem em si antes de ser dissecada pela gramática Ambos os títulos onoma e rhema que designavam originà rlamente todo falar se restringem posteriormente em seu significado e se tornam os títulos das duas primeiras classes de palavras Foi Platão quem apresentou pela primeira vez no Diálogo citado 261ss uma explicação e justificação dessa distinção Èle parte da caracterização geral das funções da pa lavra Em sua acepção mais larga onoma é deloma te phone peri ten ou st an manifestação relativa à e dentro da esfera do ser do ente No domínio do ente podese distinguir pragma e praxis Pragma são as coisas de que nos ocupamos de que se trata em cada eventualidade Praxis é o agir e fazer no sentido mais amplo que incluí também a poiesis As palavras são do tadas de dois gêneros ãitton genos São deloma pragmatos onoma manifestação das coisas e deloma praxeos rhema manifestação de um fazer Onde ocorre um plegma uma spm ploke Ié uma composição ou crase de ambos há o logos elachistos te kai pretos o dizer mais breve e ao mesmo tempo primeiro próprio Todavia sòmente Aristóteles dá uma in terpretação metafísica mais clara do logos no sentido da pro posição enunciativa Distingue onoma como semantikon aneu chronou e rhema como prossemainon chronon De interpre tatlone c 24 Essa concepção da Essencialização do logos tornouse padrão e norma para a constituição posterior da lógica e gramática E por mais que a Interpretação logo se tenha degradado no acadêmico 4 o seu objeto manteve sempre uma importância normativa Os manuais dos gramá ticos gregos e latinos foram por mais de um milênio os textos de ensino do Ocidente Eram tempos êsses nada frágeis e in significantes Estamos investigando a forma verbal que os latinos cha mavam infinitivas Já a expressão negativa modus inflnltlvus verbi alude a um modtts finitus um modo de limitação e de 86 terminação do significado verbal Qual será agora o modêlo grego dessa distinção O que cs gramáticos romanos designam com a expressão pálida de modus chamavase entre os gregos egklisis Inclinação para o lado Essa palavra movese na mes ma direção de significado que uma outra palavra formal da gramática grega Énos conhecida na tradução latina ptosis casus caso no sentido das variações de um nome Oríginà rlamente ptosis designa qualquer espécie de variação declina ção das palavras fundamentais da lingua Não só a dos subs tantivos Também a dos verbos Somente depois de uma ela boração mais precisa da diferença entre verbo e substantivo é que se lhes designaram as variações correspondentes com tí tulos distintos Assim a variação do nome chamouse ptosis casus a do verbo egklisis declinatio Como então se chegou pela reflexão sôbre a linguagem e suas variações ao uso dêsses dois títulos ptosis e egklisis Ob viamente também a língua passa por algo que é É um ente entre os demais entes Assim na concepção e determinação da linguagem age a maneira como os gregos entendiam o ente cm seu ser Somente a partir dessa concepção podese com preender aquêles títulos que como modus e casus de há multo se fizeram gastos e insignificantes para nós No curso dessa preleção constantemente retomaremos à concepção grega do Ser Fols ela ainda é hoje embora muito simplificada e desconhecida como tal a concepção dominante no Ocidente E não apenas nas doutrinas filosóficas Também na cotldianldade de todos os dias Por Isso vamos caracterizá la em seus traços fundamentais discorrendo sôbre a reflexão grega da linguagem Ê um caminho que escolhemos de propósito Há de mostrar num exemplo que e quanto a interpretação concepção e expe riência da linguagem normativa para p Ocidente nasceu e se desenvolveu de uma compreensão do Ser multo determinada Os nomes ptosis e egklisis significam cair virar perdendo o equilíbrio e inclinarse incluem sempre um desvlarse de um estado ereto e em pé Êsse estar erguido sôbre si mesmo o vir e permanecer num tal estado é o que os gregos entendem por Ser O que dessa maneira chega a uma consistência e as sim se torna consistente em sl mesmo Instalase livremente e VI por sí mesmo dentro da necessidade de seus limites perag o limite não é nada que de fora sobrevêm ao ente Muito menos ainda uma deficiência no sentido de uma restrição privativa O manterse que se contém nos limites o terse seguro a si mesmo aquilo no que se sustenta o consistente é o ser do ente Faz com que o ente seja tal em distinção ao nãcente Vir à consistência significa portanto conquistar limites para si delimitarse Dai ser um caráter fundamental do ente o tetos que não diz nem finalidade nem meta ou alvo e sim fim Mas fim não é entendido aqui no sentido negativo como se alguma coisa não já continuasse e sim findasse e ces sasse de todo Fim é conclusão no sentido do grau supremo de plenitude No sentido de perfelção Pois bem limite e fim constituem aquilo em que o ente principia a ser São os prin cípios do ser de um ente Por aqui é de se entender o titulo supremo que Aristóteles usa para Ser entelecheia ié o man terse a si mesmo na conclusão e limite O que a filosofia posterior e mais ainda a btologla fizeram do íttulo entelé quia vejase Leibniz mostra o abandono total da dimensão em que estavam os gregos O que se põe em seus limites inte grandoos em sua perfeição e assim se mantém possui forma morphe A forma entendida como os gregos retira sua Essen ciallzação de um pòrseasímesmadentrodoslimltes Sich indleGrenzestellen Do ponto de vista de um espectador o que é consistência em si mesmo tomase o que se expõe o que se oferece no aspecto em que se apresenta Os gregos chamam o aspecto de uma coisa eiàos ou idea No eidos opera originàriamente o que entendemos ao dizermos que uma coisa tem uma fisionomia Que pode deixarse ver Que está presente A coisa toma uma posição 6 Comparece ié está presente no aparecimento que faz de sua Essencialização Tôdas essas determinações do Ser se fundam e se mantém reunidas no que sem investiga rem o Sentido do Ser os gregos experimentavam e chamavam de ousia ou de maneira mais completa parousia A falta de re flexão costumeira traduz parousia por substância e assim não lhe atinge o sentido Em alemão há uma expressão adequada para dizer parousia na palavra Anwesen Anwesen significa cortiço Hofgut uma propriedade fechada em si mesma de uma fazenda Bauerngut Ainda no tempo de Aristóteles 68 ousia se emprega simultaneamente nesse sentido e no sentido filosófico da palavra Algo se apresenta Consiste em si mes mo e assim se propõe Para os gregos Ser iiz no fundo êsse estado de apresentação e presença Anwesenheit A filosofia grega não retornou mais a êsse fundamento do Ser Aquilo que encobre e protege Atevese ao primeiro plano do que está presente A superfície do presente na presença E o procurou considerar nas determinações mencionadas Pelo que se acaba de dizer entendese com mais facilidade a interpretação grega do Ser aduzida de início para se expli car a palavra Metafísica a percepção do Ser como physis Dizíamos então Devemonos afastar completamente do con ceito posterior de natureza Pois physis significa o surgir emergente que brota O desabrochar e desprenderse que em si mesmo permanece A partir de uma unidade originária se Incluem e manifestam nesse vigor repouso e movimento Ê a presença predominante ainda não dominada pelo pensamento Nesse vigor Walten o presente se apresenta como ente A vigência de tal vigor só se instaura a partir do ocultamento Isso significa para os gregos a aletheia o desocultamento se processa e acontece quando o vigor se conquista a si mes mo como um mundo só através do mundo o ente faz ente Herâclito diz Frag 53 polemos panton men pater estí panton de basileus fcai tous men theous edeixe tous de anthro pous tous men doülous epoiese tous de eleutherous A disposição 7 Auseinandersetzung é o que engendra deixa surgir todos os presentes como também o que conserva mantendose em vigor em todos Assim a uns dei xaos aparecer como deuses a outros como homens a uns expõe como escravos a outros como livres O que Herâclito chama aqui polemos é a disputa que vi gora e impera antes de tudo que é divino e humano Não é de forma alguma uma guerra nos moldes dos homens O embate pensado por Herâclito é o que faz com que o presente das Wesende se desdobra criginàriamente em contrastes É o que possibilita ocupar na presença posição condição e jerar qula Nessa disposição Auseinandertreten se manifestam vácuos distâncias e junturas Na disposição surge mundo A disposlção não separa nem tão pouco destról a unidade 88 Antes a Institui É princípio unificante Logos Polemos e logos são o mesmo O embate a que se alude aqui é o combate originário Pois é êle que faz com que nasçam pela primeira vez os com batentes como combatentes Não se trata de uma simples corrida entre quididades meramente dadas Vorhandenen O embate projeta e desenvolve o inaudito o que até então ainda não foi dito nem pensado Os criadores ié os poetas pensadores e instauradores de Estado Staatsmsenner supor tam êsse embate Objitam entgegenwerfen contra o vigor predominante o bloco da obra e para dentro dessa encanaiam ibannen o mundo que assim se manifesta Com as obras o vigor imperante obtém consistência se consolida no que está presente Só então o ente vem a ser eomo tal como ente sse viraser do mundo Weltwerden é o que constitui pro priamente a História O embate como tal não apenas deixa surgir mas também e só êle protege e conserva o ente em sua consistência De certo onde se extingue o embate lá o ente não desaparece mas o mundo se retrai O ente jâ não se afirma ié não se conserva como tal Ai o ente é apenas achado Tornase um achado O perfeito das Vollendete já nâo é o que se estabelece dentro de limites ié que alcança a plenitude de sua forma mas só o que está pronto e como tal ã disposição de todo mundo É o objetivamente dado onde já nâo se instaura nenhum mundo Ao invés o homem põe e dispõe do disponível O ente se converte em objeto seja para a contemplação aspecto e imagem seja para a ação produ tiva como produto e cálculo O que instaura mundo origina riamente a physis decai e degradase em modelo de imitação e cópia A natureza se transforma numa esfera especial dis tinta da arte e de tudo que se pode produzir e planificar O soerguerse originário em si mesmo das fôrças do vigor do minante o phainesthat o aparecer no grande sentido da epl fanía de um mundo tornase visibilidade ostentável de coisas objetivamente dadas O olhar a visão que numa perspicácia originária perscrutava no vigor imperante o projeto e assim perscrutando expunha a obra se converte em simples exa me Em revista e curiosidade O aspecto é apenas o ótico O ôlho do mundo Das Weltauge de Schoppenhauer o co nhecer puro 90 Sem dúvida o ente continua sendo Sua aglomeração é maior e mais larga do que nunca dantes Mas o Ser se reti rou dêle O ente ainda conserva uma aparência de constância por se haver tornado objeto de uma atividade sem fim e rica de variações Os criadores são banidos da vida do povo e se vêem apenas tolerados como curiosidades marginais Como ornamentos de adorno e extravagâncias alheias à vida o verdadeiro embate prima pela ausência transferindose para a simples polêmica para a agitação e atividade do homem dentro do positlvamente dado É a decadência que já se iniciou Pois então mesmo se uma época ainda procurar manter o nível herdado e a digni dade de sua existência o nível já baixou Um nível só se man tém num processo contínuo de superação criadora Ser significa para os gregos a consistência Stsendigkeít num duplo sentido 1 O estar em si mesmo enquanto surgindo de si mesmo íphysis 2 O perdurar constante ié permanente como tal ousia Nãoser significa por conseguinte desistir sair dessa consistência emergente que surge exlstasthai Existência existir1 significa para os gregos precisamente nãoser A ir reflexão e a vaculdade com que se usa hoje a palavra exis tência e existir para designar o ser testifica uma vez mais a alienação frente ao Ser e a uma interpretação originà riamente poderosa e determinada do mesmo Ptosis e egklisis significam cair inclinarse Não dizem outra coisa senão sair da consistência do estar erguido em si mesmo exprimindo um desvio de tal estado Investigamos porque na reflexão sõbre a linguagem se empregaram justa mente êsses dois nomes A significação das palavras ptosis e egklisis pressupõe em si mesma a representação de um esta do em pé erecto Dizíamos acima os grupos concebem a lin guagem como algo que é e portanto no sentido de sua com preensão do Ser Ente é o consistente o que como tal se apresenta aparece fisse se oferece prevalentemente ã visão 91 Voltemos à forma verbal lexainto Ela manifesta uma poifcíífa de direções significativas Por isso se chama egklisis paremphatikos uma variação que é capaz de fazer aparecer si multaneamente pessoa número gênero modo Essa capacidade se funda no fato de a palavra ser palavra enquanto faz apa recer deíoitn Se colocarmos ao lado da forma lexainto o infinitivo legein temos também uma variação da forma fun damental lego Tratase no entanto de uma egklisis que não faz aparecer pessoa número e modo Aqui demonstra a egkli sis uma deficiência em sua capacidade de fazer aparecer sig nificações Dai chamarse essa forma verbal de egklisis apa remphattkos É a êsse título negativo que corresponde o nome latino modus infinitlvus O significado da forma infinitiva não está determinado e limitado aos aspectos de pessoa número etc A tradução latina de aparemphatikos por infinítus me rece atenção Nela desaparece o momento originàriamente grego que se refere ao aspecto e ao pôremevidência daquilo que está em si mesmo em pé e se inclina O que permanece determinante é a representação meramente formal de limi tação De certo há ainda e prlncipalmente no grego o in finito no passivo no médio e no presente e um infinitivo do perfeito e futuro de sorte que o infinitivo faz aparecer ao menos genus e íewtpas Essa circunstância levou a muitas discussões sôbre o infinitivo de que aqui não nos ocuparemos Só uma dificuldade nos interessa esclarecer agora A forma in finitiva legein dizer pode ser entendida de tal maneira que já não pensemos em genus e tempus mas somente no que o verbo simplesmente significa e faz aparecer Nesse sentido a designação grega originária corresponde particuiarmente bem à essa circunstância Para o título latino o infinitivo é uma forma verbal que por assim dizer separa o que ela significa de tôda relação significativa determinada O significado do In finitivo prescinde abstrai de tôdas referências particulares Nessa abstração o infinitivo só apresenta o que simplesmente concebemos com i palavra em si Por isso a gramática de hoje diz que o infinitivo é o concerto verbal abstrato Éle só con cebe e apreende simplesmente e em gerai o que se concebe com a palavra Designa tão somente êsse conceito universal 2 Num sentido mais amplo os gregos encaravam a linguagem òticamente ié a partir da escrita na qual o falado obtém consistência A linguagem está ié adquire permanência nas figuras escritas das palavras ditas Nos sinais gráficos nas letras grammata Por isso é a gramática que apresenta a tin guagem como ente como algo que é Enquanto pelo fluxo do discurso a linguagem escorre para uma fluidez sem consistên cia Dêsse modo a doutrina da linguagem vem sendo interpre tada gramaticalmente até nossos dias Entretanto os gregos sabiam também do caráter vocal da linguagem a phone Fo ram êles que fundaram a retórica e poética Sem embargo tudo isso não levou por si mesmo a uma interpretação cor respondente da Essencialização da linguagem A reflexão normativa sôbre a linguagem permanece a in terpretação gramatical Ora ela descobre entre os vocábulos e suas formas uns que são desvlações variações de formas fun damentais A posição básica do substantivo nome é o nomi nativo singular pe o kyklos o círculo A posição básica do verbo é a primeira pessoa do singular do presente do indica tivo pe lego digo O infinitivo é um modus verbi especial uma egklisis De que espécie É o que terá de se determinar agora A melhor maneira é através de um exemplo Uma forma do verbo mencionado lego é lexainto êles as pessoas em questão poderíam ser ditos e chamados pex de traido res Essa variação consiste precisamenle no seguinte a forma derivada põe em evidência uma outra pessoa 3a um outro n inner o plural ao Invés de singular um outro gênero pas sivo e não ativo um outro tempo aoristo em lugar do pre sente um outro modo em sentido estrito optative e não indicativo O que se designa com a palavra lexainto não é apresentado como realmente dado mas apenas como possível Tudo isso a forma derivada da palavra faz também com parecer Deixa ser também entendido diretamente Ora fazer também comparecer deixar também entender e ver outra coisa nisso está a faculdade da egklisis pela qual a palavra que estava em pé perde o equilíbrio e se inclina para o lado Por isso se chama egfclisis paremphatikos A palavra qualificativa paremphalno diz de modo autêntico a atitude fundamental dos gregos frente ao ente como o consistente 93 Paremphaino se encontra em Platão Timeu 50e num contexto Importante Investigase a essencialização do devir daquilo que devém Devir significa Vir a ser Platão distin gue três coisas 1 to gignomenon o que devém 2 to en o gignetai aquilo em que devém isto é o melo em que se desen volve o devir 3 to hothen aphonoioumenon aquilo do qual o que devém retira o molde da adequação Pois tudo que devém e vem a ser alguma coisa toma antecipadamente por mo delo de seu devir o que vemaser Para se esclarecer o significado de parem phamo devese considerar o item dois aquilo em que uma coisa devém é o que chamamos espaço Os gregos não possuem nenhuma pala vra para dizer espaço Isso não é um acaso Fizeram a ex periência do que é espacial não a partir da eztensio mas do lugar topos como chora Chora não significa nem lugar nem espaço e sim o que é tomado e ocupado pelo que está em si mesmo O lugar pertence á própria coisa em si mesma As di versas coisas cada uma tem seu lugar próprio Dentro dêsse espaço caracterizado pelo lugar se coloca o que devém e dêsse mesmo espaço local é retirado e extraído Para isso ser possível o espaço deve ser desprovido de qualquer aspec to que pudesse assumir de outra parte Com efeito se se as semelhasse a qualquer uma das modalidades de aspecto que nêle ingressam não poderia possibilitar de vez que recebe formas de essência em parte opostas em parte multo diversas a realização perfeita do modelo deixando aparecer seu próprio aspecto Amorphon on ekeinon apason ton ideem osas melloi dechesthai pothen omoion gar on ton epeisionton tini ta tet enantias ta te tes prapan alies phiseos opotelthoi dechomenon kakos an aphomoiot ten autou paremphainon opsin Aquilo em que as coisas que devêm são postas não pode oferecer um as pecto e um viso próprio A indicação dêsse lugar do Timeu não pretende apenas esclarecer a compertlnêncla 8 entre pa remphaino e on do comparecer e ser como consistência Visa também aludir que pela filosofia platônica isto é na interpre tação do ser como idea se prepara a transformação da Essen cialização do lugar topos e da chora no espaço determinado pela extensão Chora não podería significar o que se aparta de todo particular o que se desvia para uma parte a fim de preclsamente dêsse modo admitir outra coisa e lhe dar lugar 94 Em alemão o infinitivo é a forma deslgnativa do verbo Na forma verbal e no modo de significar do inifinitivo há uma deficiência uma falha o infinitivo já não faz aparecer o que o verbo manifesta de outras maneiras Também na ordem do aparecimento historic das formas verbais da linguagem o Infinitivo é um resultado posterior E muitíssimo posterior é o que se pode mostrar no infinitivo daquela palavra grega cuja dignidade de investigação Frag würdigkeit motivou nossa discussão Ser em grego é einai Sabemos que uma língua altamente culta se desenvolve do falar originàriamente arraigado ao solo e à história do falar dos dialetos Assim a linguagem de Homero é uma mescla de vários dialetos Êsses conservam a forma anterior da lingua gem Ora na formação do infinitivo os dialetos gregos se dis tanciam muitíssimo uns dos outros Isso levou a investigação linguística a fazer precisamente da diferença do Infinitivo o principal critério para separar e agrupar os dialetos1 cfr Wackernagel Vorlesungtn über Syntax I 357s No dialeto ãtico ser é einai no arcádico enai no lésbico emmenai no dórico emen Em latim ser é ése no osco é esum no úmbrio é eram Em ambas as línguas oe modi jiniti já se haviam consolidado e eram patrimônio comum enquanto a effklisis aparempfiatikos ainda conservava suas particulari dades dialetais e oscilava entre elas Vemos nessa circunstân cia um indício de que no conjunto da linguagem o infinito possui uma importância proeminente A questão agora é de saber se Êsse poder de persistência das formas do infinitivo depende do fato de representarem uma forma verbal tardia e abstrata ou de estar o infinitivo à base de tôdas as variações do verbo Por outro lado é justificada a advertência de se ficar de sobreaviso diante da forma do infinitivo de vez que do ponto de vista gramatical é justamente o infinitivo a forma que transmite o mínimo da significação de um verbo Todavia ainda não terminamos de esclarecer totalmente a forma verbal de que tratamos se se considera o modo em que costumamos falar de ser Dizemos o ser Ésse modo de falar resulta de uma substantivação do infinito antepondo lhe o artigo to einai orlginàrlamente o artigo ê um pronome demonstrativo Diz que o que assim se mostra está e é por 95 assim dizer por si mesmo Na linguagem as denominações de monstrativas e indicativas desempenham sempre uma função proeminente Se dissermos apenas ser fica o que assim di zemos muito indeterminado Entretanto pela transformação linguística do infinitivo num substantivo verbal como que se fixa o vazio que já se encontra no infinitivo assm se põe ser como um objeto fixo O substantivo ser supõe que aquilo que dessa maneira se diz seja por si mesmo O ser tor nase agora alguma coisa que é quando manifestamente só o ente é não o ser Todavia fósse o ser em si mesmo algo quando o serente se nos oferece nos entes mesmo quando não que é no ente então deveriamos encontrálo princlpalmente quando o serente se nos oferece nos entes mesmo quando não lhes tenhamos apreendido com precisão as propriedades espe cificas Ainda poderemos estranhar que o ser seja uma palavra tão vazia se já a sua forma verbal assenta num esvaziamento e na aparente fixação dêsse vazio Essa palavra ser se cons titui pra nós numa advertência Não nos deixemos atrair pelo extreme vazio da forma de um substantivo verbal nem tão pouco nos emalhemos na abstração do infinitivo ser Já que pretendemos passar para o ser por através da linguagem atenhamonos antes às formas eu sou tu és ête ela isto é nós somos etc eu era nós éramos êles foram etc Todavia com isso a nossa compreensão do que significa ser e em que está a sua essência em nada se esclarece Ao con trário Basta fazermos só uma tentativa Dizemos eu sou Nessa acepção qualquer um só pode dizer ser de si mesmo o meu ser Em que consiste êsse meu ser e onde se esconde Aparentemente dizêlo é para nós muito fácil de vez que de nenhum outro ente estamos tão perto como do ente que somos nós mesmos Pois não somos nenhum dos outros Todo outro ente também e já é ainda quando nós não sejamos Em aparência tão próximos do ente que nós mesmos somos não podemos estar com relação a nenhum outro Até mesmo nem poderemos dizer sem sentido próprio que estejamos próximos do ente que nós mesmos somos já pelo simples fato de o sermos E todavia também aqui vale nin guém está mais distante de sí mesmo do que êle próprio Tão distante como o eu está do tu no tu és 96 Hoje porém vale o nós Estamos na época do nós em oposição à época do eu Nós somos Qual ser evocamos nessa proposição Também dizemos as Janelas são as pedra são 9 Nós somos Será que reside nessa afirmação uma sim ples constatação do dado objetivo de uma pluralidade de eus E o que hã com o eu era e nós éramos com o ser no pas sado Será que se nos foi embora Ou será que não somos precisamente senão o que fomos Por acaso não chegamos a ser justamente aquilo que somos A consideração das formas verbais DETERMINADAS do infinitivo ser produz o contrário de um esclarecimento do 3er Além disso levanos a novas dificuldades Comparemos o infinitivo dizer e a sua forma fundamental eu digo com o infinitivo ser e sua forma fundamental eu sou Ser sein e sou bin mostramse como vocábulos de radical diferente Dessas diferem por sua vez as formas do passado era e sido war e gewesen 10 É a questão sõbre as diferentes raízes da palavra ser 2 A Etimologia da palavra ser Em primeiro lugar se trata de referir brevemente o que a filologia sabe a respeito das raízes que aparecem nas varia ções do verbo ser Os conhecimentos atuais a êsse respeito não são de forma alguma definitivos Nâo tanto porque pode ríam advir novos fatos mas por se ter de aguardar ainda que o sabido até agora seja examinado com novos olhos e numa investigação mais autentica Tôda a gama de variações do verbo ser é determinada por três raízes diversas As duas primeiras são indogennânicas e ocorrem também nas palavras gregas e latinas para ser 1 A raiz mais antiga e própria é es em sânscrito asws a vida o vivente que por si mesmo está em si mesmo anda e pára o que tem consistência própria Aqui pertencem as formas verbais sânscritas esmi esi esti asmi Em grego correspondemlhes eimi e einai em latim esum e esse For 97 mam um conjunto sunt latim sind e sein alemão É de se notar que o ísí permanece desde o comêço em tôdas as línguas indogeimânicas estín est 2 A outra raiz indogermânica é bftã bheu A ela per tence o grego phyo surgir vigorar imperar chegar por al mesmo a porse a estar de pé e permanecer nessa posição Bhü foi Interpretado até agora de acordo com a concepção corrente e superficial de physis e phyein como natureza e como crescer De acôrdo com uma interpretação mais originária proveniente de uma discussão com o princípio da filosofia gre ga revelase o crescer como o surgir que por sua vez é determinado pelo aparecer e apresentarse estar presente Ültimamente se põe a raiz phy em conexo com pha A physis seria assim o que surge para a luz phyein luzir brilhar e por conseguinte aparecer Cfr Zeitschrlft für vergleichende Spra chíorschung Bd 59 Da mesma raiz é o perfeito latino jui fuo como também o alemão bin bist wir trirn ihr birt os dois últimos extin tos no séc XIV Mais tempo durou ao lado de bin e bist que permaneceram o imperativo bis tris mein Weib sé mi nha mulher 3 A terceira raiz aparece apenas no âmbito de flexão do verbo germânico sein ser wes sânserlto vesami ger mano wesan habitar permanecer deterse a ves perten cem Vestia Vasty Vesta vestibulum Daí se formou no alemão gewesen como ainda was war es west wesen O partici ple wesend se conserva ainda em anwesend abwesend O substantivo Wesen não significa originar iamente o que é a guidãitas mas o perdurar enquanto presente a presença e au sência O sens do latim praesens absens se perdeu Será que a expressão latina díi consentes significa os deuses conjuntamente presentes Das três raizes retiramos as três significações indicadas logo no princípio viver surgir permanecer A filologia as es tabelece Estabelece também que hoje desapareceram de sorte que restou e se conservou apenas um significado abstrato ser Sem embargo é então que surge uma questão decisiva 98 Como e em que concordam as três raízes Indicadas O que traz e conduz a saga 11 do Ser Em que se funda o nosso dizer do Ser por através de tôdas as suas variações linguísti cas A compreensão do Ser e o dizer do Ser são ambos a mesma coisa ou não Como vigora e está presente na saga do Ser a distinção entre Ser e ente Por mais valiosas que sejam as constatações da filologia elas não podem bastar pois é depois delas que começa a investigação Temos uma cadela de questões a formular 1 Que espécie de abstração estêve em jõgo na forma ção da palavra ser 2 Será que aqui se pode mesmo falar em abstração 79 3 Qual é pois a significação abstrata que restou 4 A ocorrência que aqui se manifesta a saber que significações diversas equivalentes a experiências se concreti zem na flexão de um verbo e que verbo poderá tal ocorrên cia ser explicada dlzendose simplesmente que algo se perdeu De uma simples perda não se origina nada e multo menos ainda alguma coisa que unifique e reúna na unidade de seu significado coisas origináriamente diversas 5 Qual poderá ter sido a significação fundamental con dutora que serviu de guia unificação aqui dada 6 Qual a direção de significado que se conserva através de tôda a reunião de tal união 7 Será que não se deve libertar a História interna da etimologia dessa palavra ser da de qualquer outro vocábulo cuja etimologia se investiga Tal libertação não se torna uma necessidade principalmente quando se considera que já as significações de suas raízes viver surgir habitar não refe rem nem revelam minúcias insignificantes 69 n 8 Poderá ser em si completo e originário o Sentido do Ser que em razão de uma interpretação apenas lógleograma tical se nos apresenta abstrato e por isso mesmo derivado0 9 Será que isso se poderá mostrar a partir da Essencia lização da linguagem concebida de modo suficientemente ori ginário Como a questão íundamental da metafísica investigamos Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Nessa questão fundamentai já opera a questão prévia O que há com o Ser O que entendemos com as palavras ser o ser Na ten tativa de uma resposta logo nos vemos em perplexidade Como que procuramos apreender o inapreensive E no entanto con tinuamente somos tocados pelos entes dêies dependemos e sabemos que nós mesmos somos entes Para nós o Ser só vale como um som verbal como um têrmo gasto Já que só isso ainda nos resta devemos então tentar apreender ao menos êsse último resto de posse Por isso investigamos a questão como se comporta a palavra o ser Respondemos a essa questão em duas vias que nos condu ziram à gramática e à etimologia da palavra Reunamos agora o resultado dessa dupla discussão da plavra ser 1 A consideração gramatical da moríologia da palavra deu o seguinte resultado os modos determinados da signifi cação da palavra já não chegam a ter validez no infinitivo mas desaparecem A substantivação do infinito fixa e objetiva com pletamente êsse desaparecimento A palavra se torna um nome que designa algo indeterminado 2 A consideração etimológica do sentido da palavra chegou a estabelecer o que hoje e desde de há muito evoca mos com o nome ser é segundo o significado uma fusão niveladora de três significações de raízes diversas Em sentido próprio e de modo determinante nenhuma delas prevalece no significado do nome Essa íusãp e aquêle desaparecimento con vergem entre sl Na conjugação dêsses dois processos encon 100 tramos assim uma explicação suficiente para fato donde partimos ié para o fato de ser a palavra ser vazia e de significação flutuante NOTAii Na tradução trocamos os exemplas do texto de Heidegei porque seus iMjírespofrdenies literais em português não evidenciam o que o autor pre tende ciplicar No texto original o exemplos são des Gehin1 o an dar dss Fallen1 o cair das Trumcn o sonhar Substituímos js dois primeiros por o voar e o chorar respectivainehti 11 SAGAzSÃiE à palavra alemã Sage deriyase dc verbo sSRtn i dizir Na linguagem corrente significa ou n boato11 ílizqucdiz1 ou te tendk o mito o conto No português medieval se conhere a mesmi palara a saga rom o secundo sentido da palavra alemã Heidegger rmpre talhe um arntido técnico significando com a palavra Suge o dizer originário do Ser que rnnstitul o espaço pm que n 11 ngnagn se cp sen ela ia C mesmo significado é conferido na tradução à antiga palavra por tWutMi saga 2 Trocamos ttovãinenté o exemplo do original pela mesma razão expos ta nn note anterior O exempla dado por Heidegger é das Mata a casa cujo verbo derivado casar não corresponde quanto ao significado ao vrebo alemão hausen morar 3j O exemplo do original é êle morreu de íim mat incurável Outra roca dc exemplo paio mesmo motive 4 t ACADÈMICQDAS SCRULMSSIGE O acadêmico diz t ensino cate noiipodo doa escolas e academias dn antígüídndc posterior SiMPLIMCÁDOVERFLACHTÜ têmio alemão 4 mais plástico do que o portvgiiés VerftecM drlvasc de flach plano chato raso e algni fka arrasado aptenado achatado 6 TOMA UMA POSlÇAOSlTZT È uma locução difícil dc traduzir Ten temos fazêla por meio de uma perl frase 7 DtÜPüElCAOAUSElNAEDERSETZUNG Traduzimos coir a mesma oatevrii di5poaiçQHi duas palavras alemães Auseinandersetzwng e AusqinandertretenAmbas são compostas do mesmo prefixo useínan der l um fora do outro o radical porém uma vez é o verbo treten andar para frente marchar oiüra vez é o verbo srtzrn pôr co locar Ambas as eomposlçCes dizem assim sob aspectos um pouco dife rentes o sair rcspeelivamenle pôr um fora do outro o que procuramos tra duzir servindonos do senlido e da etímologlR com a palavra disposição CMPERTISNCJAZUSAMMEGEHRIEFIT Substantivo formado fo advérbio ztissamman conjuntametife e do verho içehôerew l pertencer significando destarte o estado de duas ou main coisas per tencerem em conjunto urna e outra A o que procuramos exprimir com a pQlavin compertiníncia1 9 Em alemão as formas da primeira e terceira pessoa do plural do prescpíc do indicativo do verbo Jscin ser são idênticas si nd de sorte cíUs se diz Die Steine smd x as pedras ráo e wlr jíndhl nés ídaj 10 Em alemão as formas do imperfeito do indicativo e subjuntivo e a forma do partielpio passado do verbo usein ser difereir niorfològi Umente das outras formas tendo sido derivadas de outro radical a atber wej Êsse radki Dão aparccj no verbo ser das línguas latina c ncolatinas 101 A QUESTÃO SOBRE A ESSENCIALIZAÇÃO DO SER Investigamos a palavra ser para penetrarmos no fato em aprêço e o colocarmos no lugar que lhe pertence Pois não queríamos aceitálo às cegas como admitimos o fato de que há gato e cachorro Queríamos tomar uma atitude frente a êle E o queríamos mesmo com o risco de um tal querer parecer obstinação e alheiamento do mundo que agarrado a análises de meros vocábulos julga real o Irreal e extravagante Queríamos iluminar por dentro o fato Como resultado dêsse esforço constatamos que a linguagem forma em seu processo linguístico infinitivos por ex ser que com o tempo se transformou no significado gasto e indeterminado da palavra É de fato assim mesmo Ao invés de lograrmos uma iluminação por dentro do fato juxtapusemoslhe ou pospusemoslhe um outro da história da língua Se nos voltássemos agora sôbre êsses fatos da história da lingua a fim de Investigarmos por que são assim como são tudo o que talvez ainda pudéssemos aduzir para explicálos longe de esclarecêlos os tomaria apenas mais obscuros O fato poisde estarmos diante da palavra ser na situação em que estamos só confirma a sua Iniludível facticidade E a êsse ponto já chegamos desde muito tempo Nisso se baseia a po sição corrente da filosofia que de antemão explica a palavra ser possui a significação mais vazia de conteúdo e por isso mesmo a mais extensa envergadura O que se pensa com a palavra ser o seu conteúdo é por isso de máxima universa lidade o penus O ens In genere como diz a antiga ontologia 103 podese de certo explicar 1 por outro lado não é menos certo que nêle não há nada mais que buscar Pretenderse ligar a essa palavra vazia até mesmo a questão decisiva da metafísica nada mais significa senão uma total contusão Aqui só hã uma possibilidade reconhecer o mencionado fato da vaculdade da palavra e deixálo assim em paz E agora poderemos fazêlo aparentemente com a consciência tanto mais tranquila posto que foi elentlfieamente explicado pela história da própria linguagem Portanto afastemonos do esquema vazio dessa palavra ser Todavia para onde jr A resposta não poda ser difícil Mo máximo só poderemos estranhar termonos detido por tanto tempo e em tantos pormenores a palavra ser Afastemonos pois dessa palavra vazia e universal e atenhamonos às sin gularidades dos domínios particulares do ente em st mesmo Para isso dispomos imediatamente de uma multidão de coisas Em primeiro lugar das coisas palpáveis de tudo que temos a tôda hora ao alcance das mãos instrumentos veículos etc Caso êsses entes singulares se nos afigurem demasiado cotidia nos não suficientemente grãflnos e condizentes com metafí sica podernosiamos ater à natureza que nos cerca a terra o mar as montanhas os rios as florestas e os diversos entes singulares que contém árvores pássaros e insetos hervas e pedras Se pretendermos coisas grandes a terra está bem pró xima Ente do mesmo modo como o cume mais próximo é a lua que surge por detrás ou um planeta Ente é a multidão e o acotovelarse dos homens numa rua movimentada Entes somos nós mesmos Entes os japonêses Entes as fugas dé Bach Ente a catedral de Estrasburgo Entes são os hinos de Hcelderhn Entes os criminosos Entes os loucos de um ma nicômio Entes os há por tôda parte e sempre à vontade Certa mente Mas donde sabemos que tudo isso que indicamos e enumeramos com tanta segurança é sempre e cada vez um ente A pergunta parece insensata pois com efeito podemos constatar sem possibilidade de engano para qualquer homem normal que tudo isso é ente E para tanto nem é mesmo necessário usar têrmos exóticos para a linguagem corrente como ente e o ente Não pretendemos pôr em dúvida que todos êsses entes sejam fundamentando a nossa dúvida na 104 I constatação pretensamente cientifica de que tudo que então experimentamos não passa de sensações e nós não conseguire mos sair de nosso corpo do qual depende sempre tudo que enumeramos Queremos de antemão fazer notar que essas considerações que tão gratuita e facilmente se dão ares pro fundamente críticos e superiores são completamente destituí das de crítica Ao invés DEIXAMOS o ente assim como na vida diária e nas grandes horas e instantes nos comprime e agride exalta e deprime Deixamos todo ente ser como é Todavia para man termonos no vórtice de nosso ser Histórico geschichtliches Danseln assim como naturaimente somos sem sutileza algu ma para deixarmos o ente ser sempre o ente que é devemos saber de antemão o que significa ê e ser Como então poderiamos constatar que um pretenso ente em dado lugar e tempo não é se não soubéssemos de ante mão distinguir claramente entre Ser e nãoSer Como pode riamos realizar essa distinção nítida se de modo igualmente nítido e determinado não soubéssemos o que significa em sl mesmo aquilo que se distingue na distinção qual seja nãoser e ser Como o ente podería sempre e cada vez ser para nós um ente se não já entendéssemos ser e nãoser Ora constantemente se nos deparam entes Distinguimo los de acordo com o seu ser De um modo ou de outro julga mos sôbre ser e nãoser Sabemos portanto univocamente o que significa ser A afirmação de que essa palavra é vazia e indeterminada seria apenas um modo de falar superficial e um engano Com tais reflexões caímos numa situação extremamente ambígua No começo constatamos a palavra ser não nos diz nada de determinado E em nada nos enganamos a nós mesmos Achamos e continuamos também agora a achar ser tem uma significação flutuante indeterminada De outro lado a consideração que acabamos de realizar nos convence de que distinguimos o ser clara e seguramente do nãoser Para orentarmonos aqui temos que considerar o seguinte de certo se pode duvidar que em algum tempo e lugar um ente partciular seja ou não seja Se a janela all por exemplo que eertamente é um ente esteja ou não esteja fechada 10S Sôbre isso nos poderemos enganar Todavia já para isso poder ser posto simplesmente em dúvida devenos palrar antecipa damente no espírito a distinção determinada entre ser e nãoser Que o ser seja diferente do nãoser disso não duvi damos nesse caso Assim a palavra ser é indeterminada em sua significa ção e entretanto nós a entendemos sempre determtnada mente Ser se mostra pois como algo Intelramente indeter minado totalmente determinado De acôrdó com a lógica cor rente apresentase aqui uma manifesta contradição Ora algo que se contradiz não pode ser Não há um círculo de quatro ângulos E sem embargo há essa contradição o Ser como algo determinado inteiramente indeterminado Se não nos ilu dirmos e nos muitos negócios e ocupações do dia tivermos um Instante de tempo para reflexão veremos que estamos bem dentro no meio dessa contradição Êsse nosso estar na contra dição é tão real como mal podería ser outra coisa que assim denominamos mais real do que cachorro e gato automóvel e jornal O fato de ser para nós o ser uma palavra vazia adquire de repente todo um outro viso Por fim começamos a suspei tar da vacuidade afirmada dessa palavra Ao refletirmos mais de perto termina por se estabelecer que em todo o desapare cimento confusão e universalidade de seu significado entende mos com a palavra ser algo de determinado Tal determinado o é em tais condições e tão único em sua espécie que temos ãté de dizer O Ser que convém a qualquer ente e assim se dispersa no corriqueiro é o que há simplesmente de mais sui generis eln zigartig Tudo o mais todo e qualquer ente mesmo sendo único pode ainda ser comparado com outro A sua determfnabilldade cresce até em função dessas possibilidades numa múltipla in determinação o ser ao contrário não se pode comparar com nada Para éle o outro só é o Nada E aqui não há nada para comparar Se portanto o Ser representa o que há de mais único e determinado então também a palavra ser não pode rá ser vazia E de fato nunca é vazia Uma comparação nos convencerá facilmente disso Ao percebermos a palavra ser 11 sea ouvindoa no som da voz ou vendoa nos caracteres es critos ela sempre se nos apresenta diferente da seqüência de sons ou letras abrakadabra Essa também é uma série de sons mas logo dizemos que é sem sentido embora como fór mula mágica possa ter o seu sentido Désse modo porém o Ser não é sem sentido igualmente escrito ou visto o ser é logo diferente de Itzomil Também essa forma escrita é uma sucessão de letras mas que não nos permite pensar nada Uma palavra vazia não há O que há é uma palavra em ai cheia de conteúdo mas que se desgastou O nome Ser conser va sua fórça denominativa Aquela norma afastemonos dessa palavra vazia ser e atenhamnos aos entes particula res 1 não constitui apenas uma indicação precipitada mas al tamente contestável Reflitamos tudo ainda uma vez num exemplo que como todo exemplo aduzido no âmbito de nossa investigação nunca esclarecerá em todo o seu alcance todo o estado da questão e por isso mesmo fica sujeito a reservas Fomos para exemplo no lugar do conceito universal ser a representação universal árvore Ora ao termos de dizer e definir o que é a essência da árvore afastamonos de sua representação universal e nos dirigimos para as espécies par ticulares de árvore e seus exemplares Individuais Tratase de um procedimento tão óbvio que quase nos acanhamos de ain da mencionálo Entretanto a coisa não ê tão simples assim Como poderiamos simplesmente encontrar o tão Invocado par ticular as árvores singulares COMO TAIS ié como árvore como poderiamos até mesmo procurar simplesmente o que se ria como árvore se já não nos guiasse como um farol a idéia do que é simplesmente uma árvore Se essa idéia universal de árvore fôsse tão indeterminada e confusa que não nos pu desse prestar indícios seguros para a procura e busca podería então acontecer que em lugar de árvores apresentássemos automóveis ou coelhos como casos particulares como exempla res de árvore 8e é certo que para uma determinação mais precisa da variedade da essência de árvore devemos percorrer o singular será ao menos igualmente certo que um descobri mento da variedade essencial e da essência só se poderá exer cer e progredir quanto mais orlglnàriamente nos representar mos e soubermos a essência universal de árvore o que sig nifica aqui a essência do vegetal e isso importa na essên 107 cia do ser vivo e da vida Poderiamos registrar milhares e milhares de árvores se não nos iluminasse préviamente se não se determinasse com clareza crescente a partir de sl mesmo e de seu fundamento essencial um saber sôbre a ARVORIDADE que se fôsse desdobrando progressivamente tudo aquilo seria uma emprêsa írivola em que por causa de tantas árvores já não veriamos a árvore Quanto porém ao significado universal ser poderseia objetar que tratandose precisamente do que há de mais geral já não é possível ascender para algo superior e mais alto Tratandose do conceito supremo mais universal o convite de aplicarse a seus inferiores para superarlhe o vazio não é só recomendável como também a única saída possível Por mais contundente que essa observação possa parecer não é sem embargo verdadeira Citemos duas razões 1 É simplesmente contestável que a universalidade do Ser seja a do gênero Genus Já Aristóteles pressentiu essa pro blematicidade Em consequência é contestável que o ente sin gular possa servir de exemplo do ser como êsse carvalho serve de exemplo para a árvore em geral problemático que os modos do Ser Ser como Natureza Ser como História repre sentem espécies do gênero Ser 2 A palavra ser é de fato um nome universal e apa rentemente uma palavra entre outras Tal aparência entre tanto engana O nome e o seu denominado são únicos Por isso todo esforço de imaginálo por meio de exemplos é no fundo errado e justamente no sentido de que todo exemplo não prova demais e sim de menos Assim quando acima se lembrou a necessidade de termos de antemão que saber o que significa árvore para podermos procurar e encontrar as es pécies particulares de árvore e seus exemplares individuais o mesmo vale e com maior razão para o Ser A necessidade de já entendermos a palavra ser é suprema e incomparável Assim não se segue da universalidade do Ser com relação a todo ente que nos afastemos o mais depressa possível dela e nos voltemos para o particular antes se depreende o contrário a saber que nos atenhamos a ela transformemos em saber a especificidade dêsse nome e sua denominação 108 Frente ao fato de nos ser o significado da palavra ser um vapor indeterminado está esse outro fato de o sempre en tendermos e distinguirmos com certeza do nãoser Mas êsse último não é um segundo fato Constituem ambos entre si uma única unidade Essa unidade perdeu para nós o caráter de fato Não a encontramos absolutamente entre outras coisas dadas objetivamente vorhanden como algo também dado objetivamente vorhanden Pressentimos ao contrário que algo acontece com o que ate agora só temos apreendido como um fato E acontece de uma maneira que exorbita do âmbito de qualquer outra ocorrência Vorkommnls Sem embargo antes de procurarmos apreender em sua verdade o que ocorre com êsse fato tentemos ainda e pela última vez tomálo como algo conhecido e banal Suponha mos que êsse fato simplesmente não exista Admitamos que não haja essa significação indeterminada e que não entenda mos sempre o que ser significa O que ocorrería nesse caso Apenas um nome e um verbo de menos em nossa linguagem De forma alguma Já não havería simplesmente linguagem al guma O ente já não se nos manifestaria como tal em pala vras Já não havería nem quem nem o que se pudesse falar e dizer Pois dizer e evocar o ente como tal inclui em si com preender de antemão o ente como ente ié o seu ser Suposto que simplesmente não compreendéssemos o Ser suposto que a palavra ser não tlvese nem mesmo aquela significação flu tuante então já não baveria nenhuma palavra Nós mesmos nunca poderiamos ser aqueles que falam Já não poderiamos ser aquilo que somos Pois ser homem significa ser um ente que fala O homem só pode ser aquêle que fala sim e não por ser no fundo de sua Essencialização um falante o falante É essa a sua grandeza e ao mesmo tempo a sua miséria É o que o distingue da pedra do vegetal do animal mas também dos deuses Ainda que tivéssemos mil olhos e mil ouvidos mil mãos e mil outros sentidos e órgãos se porém a nossa Essen cialização não consistisse no poder da linguagem permane cernosia fechado e vendado todo ente o ente que nós mes mos somos não menos do que o ente que nós mesmos não somos Assim do que fica dito até agora se evidencia o seguinte ao classificarmos de início como um fato ser primeiro sem 109 nome para nós o Ser uma palavra vazia de significação flu tuante desclasslcamolo e desclassificando o degradamos em sua própria eminência Na realidade porém a compreen são do Ser embora indeterminada possui para a nossa exis tência a suprema eminência porquanto aí vai e se afirma o poder no qual se funda simplesmente a possibilidade essen cial de nossa existência Não se trata de um fato entre outros fatos e sim de algo que em razão de sua eminência exige a maior consideração suposto naturalmente que nossa existên cia que semfe é Histórica não nos seja indiferente E ainda assim mesmo para a existência nos ser indiferente temos que compreender o Ser Sem essa compreensão nem poderemos dizer não à existência Somente dignificando em sua eminência essa proeminên cla da compreensão do Ser preservamola como eminente Mas de que modo poderemos dignificar essa eminência Coibo mantêla em sua dignidade Isso não se encontra ao arbítrio de nossa vontade Em razão de a compreensão do Ser flutuar às mais das vêzes num significado indeterminado e permanecer no entan to certa e determinada em nosso saber a seu respeito em razão de continuar em tôda a sua eminência obscura e con fusa velada e oculta deve ser revelada esclarecida e desoculta da O que só poderá ocorrer inquirindo essa compreensão do Ser que de início tomamos apenas como um fato a fim de colocála em questão A investigação é a maneira autêntica adequada e única de se dignificar o que por sua suprema eminência detém em seu poder a nossa existência Essa compreensão do Ser e mais ainda o Ser mesmo constitui portanto o que há de mais digno de ser posto em questão das Fragwürdigste 2 em tôda investigação A autenticidade de nossa investigação se mede assim quanto mais imediata e diretamente nos manti vermos fiéis ao que é mais digno de ser investigado a saber ao fato de que o Ser é para nós a compreensão das Verstan dene inteiramente indeterminada e ac mesmo tempo suma mente determinada Compreendemos a palavra Ser e com ela tôdas as suas variações ainda que tal compreensão pareça indeterminada no O que compreendemos o que se nos manifesta de algum modo na compreensão dêle dizemos que tem um sentido O Ser porquanto é simplesmente compreendido tem um sentido Fazer a experiência e conceber o Ser como o que mais é digno de ser posto em questão das Fragwürdigste Inquirir por tanto o Ser pròpriamente não significa outra coisa do que in vestigar o sentido do Ser No Tratado Ser e Tempo a questão sôbre o Sentido do Ser é posta e desenvolvida pela primeira vez na história da fi losofia COMO QV ESTÃO pròpriamente dita Nèle também se diz e fundamenta detalhadamente o que se entende por Sen tido a saber a manifestação do Ser e não apenas do ente como tal cfr Sein und Zeit U 2 44 56 Por que já não podemos chamar de um fato o que agora mencionamos Por que essa designação de fato era desde o inicio enganadora Porque a nossa compreensão do Ser não se dá simplesmente em nossa existência como por exemplo o fato de possuirmos lóbulos auriculares dêsse ou daquele feitio O pavilhão auditivo ao invés de lóbulos poderia ser feito de outra forma Ora que compreendemos o Ser não é apenas real mas também necessário Sem essa abertura do Ser não pode riamos de forma alguma ser homens Que o sejamos não é sem dúvida absolutamente necessário De per si subsiste a possibilidade de o homem simplesmente não ser Houve até um tempo em que o homem não era Quer dizer rigorosamente falando não podemos dizer houve um tempo em que o homem não ERA Em todo tempo o homem era é e será porque o tempo só se temporaliza zeitigt enquanto o homem é Não houve tempo algum em que o homem não fôsse não porque o homem seja desde tôda e por tôda a eternidade mas porque tempo não é eternidade porque tempo só se temporaliza num tempo entendido como existência Histórica do homem Se porém o homem está na existência é uma condição necessá ria que êle possa estar presente ao Ser dasein ié que êle compreenda o 3er Enquanto isso íôr necessário o homem será também Historicamente real Por isso sempre compreendemos o Ser e não apenas como podería parecer de início no modo de seu significado verbal flutuante A determinação em que ihe compreendemos o significado indeterminado podese ao 111 contrário delimitar univocamente eindeutig e não só como algo acessório mas como a determinação que sem o saber mos nos domina desde o fundamento de nosso ser Para mos trálo partimos novamente da palavra rtser Devese ressal tar porém que de acôrdo com a questão condutora da meta física exposta no primeiro capítulo a palavra ser se em prega aquJ numa tal envergadura que ser arco só encontra limites no Nada Tudo que não seja simplesmente nada e até mesmo o Nada pertence ao Ser Nas reflexões precedentes demos um passo decisivo Num curso de preleções tudo depende de tais passos Perguntas oca sionais que me foram feitas acêrca do curse denotam repeti damente que os senhores em geral sempre me ouvem na di reção errada e se atém a detalhes particulares certo que nos cursos das ciências interessa também o nexo e a estrutura interna Mas para as ciências êsse nexo se determina imedia tamente a partir do objeto que de alguma maneira é sempre objetivamente dado Na filosofia ao contrário o objeto não apenas não é objetivamente dado como nem há simplesmente objeto algum A filosofia é o processarse de um aconteci mento Geschehnis que sempre de nôvo deve apreender para si mesma o Ser no manifestarse que êle faz de si mesmo e que a éle pertence Somente no processo dêsse acontecimento Geschehen se abre a verdade filosófica Por isso tornase indispensável e decisiva aqui a repetição e competição Nach und Mitvoilzug 3 dos diversos passos dados no processo mencionado Que passo demos Que passo temos de dar sempre de nôvo Em primeiro lugar evidenciamos o seguinte A palavra ser tem uma significação flutuante Equivale quase que a uma palavra vazia A discussão mais acurada dêsse fato reve lou que a flutuação do significado da palavra encontra sua ex plicação 1 no desaparecimento constitutivo do infintivo 2 na confusão em que se fundem tôdas as três significações ori ginárias dos étimos A seguir caracterizamos o fato assim explicado como o ponto de partida inabalável de tõda investigação tradicional da metafísica sòbre o ser Ela parte do ente e para o ente se 112 dirige Não parte do Ser para o que na sua manifestação é digno de ser põsto em questão das Fragwiirdigste Põsto que a significação e o conceito ser possuem a máxima universa lidade a metafísica como física já não pode para uma de terminação maior alçarse mais alto Assim restalhe apenas um caminho descer do universal para o ente singular Dêsse modo se enche o vazio do conceito de ser a partir do ente Ora a indicação de afastarse do Ser e voltarse para o ente singular revelase sem saber como uma burla de si mesma Com efeito o tào invocado ente singular só se nos poderá abrir e manifestar como tal se préviamente já compreender mos e na medida em que prèviamente compreendermos o Ser na sua Sssencializaçáo Essa Essenclallzação já se iluminou embora ainda não te nha sido investigada embora AINDA permaneça isenta de In vestigação Lembremos agora a pergunta levantada de inicio Será o Ser apenas uma palavra vazia Ou será êle e a investi gação da questão do Ser o destino da História espiritual do Ocidente Será o Ser somente a última fumaça de uma realidade que se evapora frente á qual a única atitude seria a de dei xãla evaporarse com indiferença Òu Será êle o mais digno de ser põsto em questão Nessas interrogações damos o passo decisivo que nos faz passar de um fato indiferente e do pretenso vazio de significa ção da palavra ser para o acontecimento mais digno de ser põsto em questão das fragwürdigste Geschehnis qual seja de o Ser se abrir e manifestar necessariamente em nossa com preensão O simples fato aparentemente inabalável em que cegamen te se funda a metafísica está abalado Até agora procuramos apreender na questão sôbre o Ser principalmente a palavra em sua forma e significação Ora mostramos que a questão sôbre o Ser não é uma questão de gramática e etimologia Se não obstante ainda agora volta mos a partir da palavra é que a linguagem deve ter aqui e sempre uma importância tòda particular Geralmente na linguagem a palavra vale como uma ex pressão secundária que acompanha as vivências Porquanto 113 nas vivências se vivem coisas e processos servelhes a lingua gem de expressão mediata por assim dizer de reprodução do ente vivido A palavra relógio por ex possibilita uma trí plice distinção bem conhecida 1 quanto à forma que se pode ouvir e ver 2 quanto ao significado que com ela se pensa 3 quanta à coisa um relógio êsse relógio O primeiro as pecto é uma indicação do segundo e êsse a desginação do ter ceiro Do mesmo modo presumimos nós podemos distinguir quanto à palavra ser a forma o significado e a coisa E não é difícil de ver que enquanto permanecermos na forma da palavra e em seu significado ainda não chegamos com a nossa questão sôbre o Ser até a coisa mesma Quiséssemos pre tender havermos já apreendido a coisa mesma ié o Ser me diante a explicação da palavra e seu significado seria um êrro demasiado evidente Não devemos cometêlo Seria proceder como alguém que tentasse estabelecer e Investigar os movi mentos do éter da matéria os processos atômicos empreen dendo discussões gramaticais sôbre os vocábulos éter e áto mo em lugar de empreender os necessários experimentos físicos Portanto tenha a palavra ser um significado indetermi nado ou determinado ou como se mostrou ambos ao mesmo tempo tratase de chegar à coisa em si mesma ultrapassando todo o plano das significações No entanto será o Ser por acaso uma coisa como relógio casa ou um ente qualquer Já nos deparamos muitas vêzes e já estranhamos bastante que o Ser não é nada de ente nem entidade constitutiva de algum ente O Ser do edifício lá defronte não é TAMBÉM alguma coisa nem da MESMA espécie que o telhado e o porão A pala vra por conseguinte e à significação Ser não corresponde coisa alguma Dai porém não se poderá deduzir que o Ser consista ape nas na palavra e seu significado A significação da palavra não constitui como significação a essência do Ser Isso sig nificaria o Ser do ente por ex daquele edifício consiste numa significação verbal O que seria manifestamente um disparate Ao Invés com a palavra ser com o seu significado através dêle pensamos no Ser em si mesmo só que êle não é uma coisa se entendermos por coisa um ente qualquer 114 Disso se segue que na palavra ser em suas variações o em tudo que se acha na sua esfera verbal palavra e signi ficado mantém uma ligação mais originária com o que com êle se pensa e vice versa Q Ser em sl mesmo está ordenado e referido à palavra de modo muito diferente e bem mais es sencial do que qualquer ente A PALAVRA SER EM CADA UMA DE SUAS VARIA ÇÕES SE COMPORTA COM RESPEITO AO SER EM SI MESMO POR ELA EVOCADO DE UM MODO ESSENCIALMENTE DI VERSO DO QUE TODOS OS OUTROS SUBSTANTIVOS E VER BOS DA LINGUAGEM COM RELAÇÃO AO ENTE NELES EVOCADO Retroativamente daí resulta que as explicações já dadas sÕbre a palavra ser têm outro alcance e importância do que outras quaisquer discussões sôbre palavras e expressões linguís ticas a respeito de qualquer coisa Ora se também aqui tra tandose da palavra ser há uma conexão originalíssima ureí gene entre palavra significação e o Ser em si mesmo embora por assim dizer falte a coisa não devemos por outro lado pensar que a partir da caracterização do significado da pala vra já se pudesse como que desdobrar a Essencialização do Ser Após essa consideração intercalada sôbre a peculiaridade com que a questão sôbre o Ser se vincula intimamente In vestigação sôbre a palavra retomamos novamente a marcíía de nossa Investigação Tratase de se mostrar que e em que me dida nossa compreensão do Ser possui uma determinação pró pria e tem a sua orientação disposta pelo Ser mesmo Ao par tirmos agora de um modo de dizer do Ser uma vez que de certa maneira a isso somos obrigados sempre e essenclalmente é que tentamos e procuramos atender ao Ser em sl mesmo dito naquele modo Escolhemos um modo de dizer simples corrente e quase descuidado no qual o Ser se diz numa forma verbal cujo uso é tão freqdente que mal o notamos Dizemos Deus é A terra é A conferência é na salt de aula Êste homem é da Suábia A taça é de prata O camponês está no campo O livro é dêle 4 Êle é da morte Vermelho é Backbord A miséria da fome está na Rússia O Inimigo está de retirada O pulgão está nos vi nhedos O cão está no jardim Sôbre todos os cimos é paz llí Cada vez se pensa o é diferentemênte Disso nos pode mos persuadir sem dificuldade princípãlmente se tomarmos êsse modo de dizer assim como realmente se dá ou seja não como simples proposições nem como exemplos isolados de uma gramática mas como pronunciados a partir de determinada situação tarefa e disposição afetiva Deus é quer dizer É REALMENTE EXISTENTE GE GENWARTIG A terra é quer dizer a experimentamos e pensamos como CONSTANTEMENTE DADA vorhanden A conferência é na sala de aula significa TEM LUGAR Éste homem é da Suábia diz PROVEM DE LA A taça é de prata significa Ê FEITA DE O camponês está no campo Significa TRANSFERIU SUA ESTADA PARA O CAMPO AI SE DETÉM O livro é dêle significa ÊLE LHE PERTENCE A ÊLE Èle é da morte 5 significa ÊLE SUCUMBIU A MORTE Vermelho é backbord significa FSTA POR O cão está no jardim significa ANDA POR LA Sôbre todos os cimos é serenidade significa o que Significará o é nesses versos a serenidade se encontra é dada tem lugar se detém Nada disso serve aqui E entretanto é o mesmo simples é Ou significa o verso Sôbre todos os cimos REINA serenidaue como numa classe de aula reina silêncio Também não Ou talvez sôbre todos os cimos jaz ou vigora a serenidade Isso seria melhor mas também essa descrição não é adequada Sôbre todos os cimos é serenidade O é não se deixa circunscrever e contínua um simples é dito naqueles poucos versos que Goethe escreveu a lápis no umbral da janela de um casebre de madeira em Kickelhalhn perto de Ilmenau cfr a carta de Zelter dc 4 de setembro de 1831 É estranho va cilarmos e hesitarmos com a circunscriçâo e terminarmos por abandonála completamente não porque a sua compreensão íôsse demasiado complicada e diffcll e sim porque o verso é tão simples Nèle o é se diz de modo ainda mais simples e próprio do que qualquer outro é que continuamente se mis tura sem o percerbermos nos modos de falar e dizer de todo dia Como quer que seja a interpretação de cada exemplo os modos de dizer do é acima mencionados revelam clara mente uma coisa no é o Ser se nos abre e manifesta numa multiplicidade de modos A afirmação à primeira vista su 118 gestiva de que o Ser ê uma pal avia vazia demonstra uma vez mais e de modo ainda mais penetrante a sua inverdade Mas poderseia objetar agora de fato o é se en tende numa multiplicidade de modos Entretanto isso não re side de forma alguma no é em si mas tão somente no con teúdo objetivo diverso das afirmações que por èle se referem em cada caso a entes diferentes Deus terra taça camponês livro miséria da fome serenidade nos cumes Somente porque o é permanece indeterminado em si mesmo e vazio em sua significação pode prestarse a emprego tão heterogêneo e se determinar e encher segundo cs casos A variedade men cionada de significações determinadas prova portanto justa mente o contrário do que deveria demonstrar Só proporciona uma prova claríssima de que o Ser deve ser indeterminado a fim de poder ser determinável O que se deve dizer a isso Chegamos agora ao domínio de uma questão decisiva Será que o é se diversifica em razão do conteúdo das proposições que cada vez se lhe atribuem quer dizer em razão dos diversos setores a que elas se referem ou serã que é o Ser encobre em si mesmo uma pleni tude cujo desdobramento nos possibilita o acesso â diversi dade dos entes no MODO em que êles são em cada caso É uma questão que agora apenas levantamos Pois ainda não es tamos suficientemente preparados para desenvolvêla mais O que porém não se pode negar e queremos ressaltar agora é apenas o seguinte o é denota no dizer uma variedade rica de significações Sempre dizemos é numa dessas signi ficações sem termos expressamente necessidade seja antes ou depois de empreendermos uma interpretação particular do é ou mesmo de refletirmos sôbre o sentido do Ser No dizer o é nos vem simplesmente ao encontro entendido ora de uma ora de outra maneira Sem embargo a variedade de suas signifi cações não é uma variedade qualquer É o que agora veremos Enumeramos pela ordem as diversas significações inter pretadas mediante as descrições acima O Ser evocado no ê significa realmente existente constantemente dado ter lugar provir consistir de morar pertencer su cumbir estar por encontrarse reinar surgir apre sentarse É difícil talvez até impossível pôr oporse a sua 117 Essenciallzáço abstrair um significado comum como conceito genérico universal sob o qual se pudessem subordinar como es pécies os modos mencionados do é Não obstante atra vés de todos êles perpassa um traço homogeneamente determi nado Indica êle a compreensão do verbo ser segundo um de terminado horizonte a partir do qual ela se enche de conteúdo a saber a delimitação do Sentido do ser dentro do âmbito de apresentação Gegenwaertlgkeit e presença Anwesenheit de consistência Bestehen e subsistência Bestand estadia Aufenthalt e aparecer Vorkommen Tudo isso acena na direção daquilo com que nos deparamos na primeira caracterização da experiência e interpretação grega do Ser Se nos atlvermos à Interpretação usual do in finitivo o verbo ser retira então o seu sentido do caráter unitário e determinado do horizonte que guia a compreensão Em síntese nós compreendemos então o substantivo verbal ser pelo infinitivo o qual por sua vez se reporta sempre ao é e à variedade por êle exposta A forma verbal singular e determinada é a TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR DO IN DICATIVO PRESENTE possuí aqui uma proeminência Não compreendemos o ser com relação ao tu és vós sois eu sou ou êles seriam embora tôdas essas formas expressem também e do mesmo modo que o é variações verbals do ser Por outro lado sem o querer e quase como se não tôsse possível de outra maneira explicamos o Infinitivo ser a partir do é Por conseguinte o ser possui a significação indicada que recorda a concepção grega da Essenciallzação do Ser uma de terminação portanto que não nos caiu por acaso do céu mas que desde milênios vem dominando a nossa existência Histó rica com um só golpe pois o nosso esfôrço em determinar a significação verbal do ser se transforma expressamente na quilo que é realmente numa reflexão sôbre a proveniência de nossa história OCULTA A questão o que há com o Ser se deve manter a si mesma dentro da História do Ser a fim de poder desdobrar e conservar sua própria importância Histórica Por isso nos atemos uma vez mais ao dizer do Ser 118 XilT b 1 EXfUCARUlNVrEISEy 0 verbo alemão de per si não significa ex plicar Dit apenas indicar apostar Entretanto o que Hildegger quer direr i a seguinte sendo máxima a universalidade do conceito de ser elucidação de seu conteúdo não pode servirse de nenhum outro conceito dc vex que todo conceito jã inclui e pressupõe o conceito uriiversallsalmo de ser O que se poderá facer i sòraente explicarlhe a máxima universa lidade Tal explicação não erã uma demonstração mas uina indicação U O QUE HA DE H1JS DIGNO DE SEE POSTO EM QlESTAODÁS ifldGlt CRDIGSTE Vejase sôbre essa tradução a Nota 2d dn Cap I 3 REPETKÃONACHVOLLZUG COMPETlClOMlTV0LLZÜG O subs tantivo alemão Volizug significa exercício execução reallução Hei dagger a junta êsse substantivo duas preposlçãet nach depois após e mil juntamente com com Surgem assim os dois substantivos do texto eom que caracteriza o único modo de compreensão e inteligência em ilorra Para se entender ve rdade ir atn ente o processo de ums reflexão fi losófica não basta tomar conhecimento ler ou ouvir É necessário aue em aisss próprio ato de reflexão exerçamos conjuntarrente o mesmo movi inentoe refaçamos depois o mesmo caminho percorrido Essa duas idéias de escCl Cio conjunto e de esfórço que refaz dt nóvo explimemse nos substantivos Nltvollziig e Naehvollzug rcspectívamrnte Piccuramos tra duzila no texto com os derivados portugnêsrs do verbo latino petere ir buscar procurar atingir esforçarse por alcançar Competiçáo e Fepetição 4 LIVRO É DÊLE Em alemão a idéia de pertencer se podo expri mir com o verbo seín ser pond ose a coisa pertencida no nomina tivo t o sujeito n quem ela pertence no dativo assim o livro me per tence te pode dizer Hdas Buch 1st In ir e o livro é a mim ft um dos septWi do verbo ser Em português ocorre a mesma coisa apenas usamos j verb ser numa outra construção o livro ó dãle O livro de mim não se dia Como o exemplo dado no texto é da mlmelra pessoa muda mos prra a terceira na tradução 1 l jtv t da morte tr ht des Todes Essa expressão Idiomática sig nifica tie está condenada a morrer i um homem morto Nrvameute evi dnc um outro significado do verbo ser 119 A DELIMITAÇÃO DO SER Assim como encontramos no é um modo corriqueiro de dizer ser assim também na evocação do nome ser nos de paramos com modos de dizer já transformados em fórmulas Ser e Vir a Ser Ser e Aparência Ser e Pensar ser e Dever Ao dizermos sei sentimonos quase que compelidos por uma fôrça Zwang a dizer Ser e Êsse e não significa apenas que ajuntamos e acrescentamos incidentalmente uma outra coisa Adicionamos ao ser algo do qual éle se distingue Ser e não Ao mesmo tempo pensamos com ésses títulosfór mulas em alguma coisa que como distinta do Ser lhe pertence de certo modo embora apenas como uma outra coisa Até agora o curso de nossa investigação não só desbravou o terreno De início a questão em si a questão fundamental da metafíica compreendemola como uma coisa que nos advém e provém de alguma parte Entretanto progressivamente ela se nos foi revelando no que possui de digno de ser investigado Fragwürdigkeit Agora se mostra mais e mais como o fun damento oculto de nossa existência Histórica Êsse fundamento ainda se mantém e principalmente quando sôbre ele como por sôbre um abismo Abgrund levemente encoberto nos move mos para cá e para lá e empreendemos um mundo de coisas Vamos discutir agora as distinções do Ser frente a outra coisa Faremos então a experiência de que o Ser ao con tário da opinião corrente não é de modo nenhum uma pa lavra vazia É determinado de tantas maneiras que mal po demos conservar suficientemente tôda a sua determinação Isso não basta Essa experiência ainda terá que desenvolverse até 121 ao ponto de transformarse numa experiência fundamental iGrunderfahrung de nossa existência futura A fim de desde o início podermos acompanhar na maneira devida a reali zação das distinções damos logo os seguintes pontos de re ferência 1 O Ser que se delimita frente a outra coisa se deter mina com essa delimitação 2 A delimitação se processa de acòrdo com quatro aspec tos relacionados entre si For conseguinte a delimitação do Ser ou terá de se ramificar ou de se elevar ou de se rebaixar 3 As distinções não são de forma alguma obra do acaso O que nelas se mantém numa divisão impele originàriamente a eonjugarse de vez que se pertencem uma a outra Dai te rem uma necessidade própria e especifica 4 As contraposlções que à primeira vista dão aparên cia de formulas não surgiram em ocasiões quaisquer nem en traram na linguagem por assim dizer como modos de falar Originaramse em estreita conexão com aquela constituição do Ser cuja manifestação se tomou normativa para a História do Ocidente Principiaram com o princípio da investigação fi losófica 5 As distinções não dominaram apenas a filosofia oci dental Impregnam todo saber dizer e fazer do Ocidente mes mo quando não se exprimem especificamente ou nessas pa lavras 6 A sucessão mencionada dos titulos Já oferece um in dicio da ordem de sua contextura essencial e da seqüéncia Histórica de sua constituição1 As duas distinções citadas em primeiro lugar Ser e Vir a ser Ser e Aparência já se configuraram no princípio da filosofia grega com serem as mais antigas são também as mais correntes A terceira distinção Ser e Pensar não menos prellneadas no princípio do que as duas primeiras foi desenvolvida decisl vamente pela filosofia de Platão e Aristóteles Todavia só atin giu sua feição própria no comêço da Era Moderna Contribuiu 122 1 até essencialmente para êsse começo correspondendo à sua História é a mais intrincada e a mais problemática em sua pretensão Por isso constitui para nós a mais digna de ser posta em questão die fragwürdigste A quarta distinção Ser e Dever pertence intelramente ã Época Moderna de vez que só muito remotamente se mo dela na caracterização do on como agathon Desde o fim do século XVIII determina uma das posições predominantes do espírito moderno frente ao ente simplesmente 7 Uma investigação originária da questão do Ser que compreendeu a tarefa de um desenvolvimento da verdade da Essencialização do Ser tem que exporse a si mesma com vistas a uma decisão aos podêres encobertos nessas distinções e as reconduzir à sua própria verdade Tudo isso que agora observamos preliminarmente devese ter sempre em mente nas seguintes reflexões 1 Ser e Vir a Ser Essa separação e contraposição está no princípio da in vestigação do Ser Também hoje ainda é a mais corrente de limitação do Ser por outra coisa É que ela se impõe imedia tamente einleuehten por fôrça de uma representação do Ser já petrificada em evidência natural O que vem a ser ainda não é O que é jã não necessita de vir a ser O que é o ente já deixou atrás de si todo vir a ser de vez que já velo e pôde vir a ser O que em sentido próprio é resiste a todo o impacto do Vir a ser Com perspicácia longemirante e de acòrdo com a tarefa em si Parmênides cuja época recai na transição do VI para o V século expôs pensando poèticamente dichtenddenfcend 12 o Ser do ente em contraste com o Vir a ser Seu Poe ma Lehrgedicht nos foi transmitido apenas em frag mentos extensos e essenciais Aqui mencionaremos apenas uns versos Fragmento VIII lt 123 monos deti mythos hodoio leipetai os estin tautei tlepi semateasi polla mall os ageneion eon kai anolethron estin esti gar oulomeles te kai atremes edateleston oude poten oudestai epei enun estin omou panl en syneches Só resta a Saga Sage da caminho onde se manifesta o que há com o Ser nêle caminho mostrandoo Ser há muitas coisas Como o Ser é sem nascer nem perecer consistindo completamente sòzínho e em si mesmo sem estremecimento e sem necessitar em absoluto de aperfeiçoamento Nem tão pouco foi antes como também não será depois pois como presença é tudo simultaneamente único uni dade uniflcante reunindo a si mesmo em si mesmo a partir de si mesmo cheio de fòrça de presença Gegenweertigkelt é uni ficador Essas poucas palavras se encontram diante de nós como es tátuas gregas da época antiga Frühzeit O que ainda pos suímos do Poema de Parmênides podese reunir num caderno fino Derroga entretanto bibliotecas inteiras de filosofia na pretensiosa necessidade de sua existência Quem conhecer as coordenadas dêsse dizer pensante perderá como cidadão de hoje todo prazer de escrever livros O que se diz ai do Ser são semata Não são sinais do Ser nem predicados É algo que a respeita do Ser mostrao em si mesmo a partir dèle mesmo Em tal modo de considerar de vemos afastar do Ser todo aspecto de nascer e perecer etc Devemos desconsiderar no sentido ativa de considerando o Ser banir da consideração essas coisas Excluilas O que se mantém afastado pelo a e onde não é de acórdo com o Ser O seu acorde é outro De tudo isso depreendemos Ser se mostra a ésse dizer de Parmênides como a própria solidez Gediegenheit do consis tente concentrada em sí mesma não atingida por nenhuma inconstância nem mudança Ainda hoje se costuma contrapor nas exposições do início da filosofia a essa doutrina de Par 124 mênides a de Heráclito Dêsse último se diz proceder uma sen tença muitas vèzes citada panta rhei tudo está fluindo As sim não há Ser Tudo é vir a ser Achase até em perfeita ordem que surjam tais contrastes aqui Ser all vir a ser Pois então se poderá documentar desde o começo da filosofia o que se diz ocorrer em todo o decurso de sua história que lá onde um filósofo diz A outro diz B e enquanto êsse diz A aquele diz B Assim quando se assegura que na História da Filosofia todos os pensadores disseram lundamentalmente a mesma coisa apõese à compreensão vul gar uma exigência estranha para que então serviria a His tória da Filosofia Ocidental tão rica de formas e tão compli cada fie todos dizem o mesmo Bastaria então uma filosofia Tudo já foi dito Todavia êsse o mesmo tem por verdade interior a riqueza inexgotável do que todos os dias é como se fôsse o primeiro dia Heráclito a quem se atribui em aberta oposição a Parmê nides a doutrina do vir a ser diz na verdade o mesmo que êsse último Éle não seria um dos maiores dos grandes gregos se tivesse dito outra coisa Apenas não se poderá interpretar lhe a doutrina do vir a ser segundo as idéias de um Darwinista do século XIX Sem embargo a exposição posterior da con traposição do Ser e Vir a ser nunca mais repousou tão única mente em si mesma como no dizer de Parmênides Nesses grandes tempos o dizer do ser do ente traz consigo mesmo a Essencialização oculta do Ser de que fala Nessa necessidade Histórica se encontra o mistério da grandeza Por razões que serão esclarecidas a seguir limitamos a discussão dessa primei ra diferença entre Ser e Vir a Ser às indicações dadas 2 Ser e Aparência A separação entre er e Aparência é tão antiga quanto a primeira Essa equivalência de originalidade entre ambas as distinções Ber e Vir a ser Ser e Aparência indica uma pro funda conexão entre elas que ainda hoje permanece escon 125 dtda é que a segunda Ser e Aparência ainda não pôde ser desdobrada em seu conteúdo autêntico Para tanto se faz ne cessário compreendêla orlgtnàriamente ié de modo grego O que não é fácil para nós modernos Imbuídos de equívocos epis temológicos e difíceis de evocar a simplicidade do que é es sencial E sempre que conseguimos fazêlo é às mais das vêzes de maneira vazia À primeira vista parece uma distinção clara Ser e Apa rência o real em distinção e contraposição ao irreal o autên tico aposto ao inautêntico Nessa interpretação se insinua uma avaliação que dá preferência ao Ser Dizemos aparência e apa rente como dizemos permanência e permanente 4 Muitas vêzes se reduz a distinção entre Ser e Aparência à primeira entre Ser e Vir a ser Frente ao Ser como o constante em si o aparente é o que surge em dado momento para de nôvo desaparecer mansamente e sem constância nenhuma A distinção entre Ser e Aparência nos é corriqueira É até uma das moedas gastas que na superficialidade da vida co tidiana passamos sem exame de mão em mão Quando muito usamola como exortação moral e regra de vida no sentido de evitar as aparências e aspirar a ser mais vale ser do que parecer Apesar de tôda essa evidência e familiaridade não atina mos como precisamente Ser e Aparência vieram orlginària mente a separarse Uma separação indica uma união Em que consiste ela Antes de tudo se trata de compreender a uni dade escondida de Ser e Aparência Já não a entendemos mais porque decaímos da distinção original que cresceu Historica mente e hoje Jã não fazemos outra coisa senão transmitila adiante como algo posto em circulação em algum tempo e lugar Uma vez mais para compreendermos essa distinção temos que retornar ao princípio Se nos afastarmos devidamente da irreflexão e do palavró rio fácil ainda poderemos encontrar em nós mesmos um in dício que nos servirá de gula para compreender a distinção Dizemos brilhar1 5 e conhecemos a chuva e o brilhar do sol Sonnenscheln O sol brilha Descrevemos no quarto es tava pàlldamente Iluminado pelo brilho de uma vela O dla 126 leto aiamano conhece a palavra Schelnholz madeira bri lhante ié uma madeira que reluz na escuridão Das repre sentações dos santos conhecemos a auréola 6 o anel de luz que brilha em tômo da cabeça Mas também conhecemos os santos aparentes Schelnhelligen aqueles que parecem santos e não o são Encontramos combates aparentes Scheingeíecht ou seja algo que simula um combate Ao brilhar scheint o sol parece scheint moverse ao redor da terra O fato de a lua que brilha scheint medir dois pés de diâmetro é algo que só aparece assim scheint é apenas uma aparência En contramos aqui duas espécies de aparência e aparecer Não se trata de simples juxtaposição duma ao lado da outra mas de uma subordinação uma é a derivada da outra Assim o Sol só pode proporcionar a aparência de moverse ao redor da terra porque aparece em seu brilho scheint Ié porque bri lha e ao brilhar aparece erscheint Ié chega a aparecer zum Vorschein kommt No brilhar do sol como emissão de luz e raios ainda experimentamos irradiação de calor de sorte que o sol brilha significa mostrase e aquece O brilho das luzes que forma o esplendor da auréola faz aparecer como santo quem a traz Considerando com mais rigor encontramos três modos de aparência Schein 1 a aparência como esplendor e brilho 7 e a aparência e o aparecer como o aparecimento Ers cheinen e a presença a que alguma coisa chega 3 a aparên cia como ilusão A simples aparência que uma coisa dá Ao mesmo tempo tornase claro que a aparência mencionada em segundo lugar a saber o aparecer no sentido de mostrarse convém tanto à aparência no sentido de esplendor e brilho como à mera aparência E lhes convém não como uma pro priedade qualquer mas como o fundamento de sua possibili dade A Essencialização da aparência está no aparecer É o mostrarse o apresentarse Darstellen o estar presente Anstehen 8 o subsistir numa presença Vorliegen As sim o livro há tanto esperado aparece agora isso significa agora êle subsiste numa presença vorílegt Está presente como um dado objetivo vorhanden e por isso mesmo pode ser adquirido Ao dizermos a lua aparece brilha isso não significa apenas ela espalha um brilho uma certa claridade mas também está no céu está presente é As esttélas apare 127 cem em seu brilho diz fuzlndo elas estão presentes Aparên cia indica aqui exatamente o mesmo que ser O verso de Safo asteres men amphi fcalan selannan e a poesia de Matthias Claudius Cantar uma canção de ninar à luz da lua Monds chein oferecem uma ocasião propicia para se refletir sôbre Ser e Aparência Se levarmos na devida consideração o que fica dito en contraremos a intima conexão entre Ser e Aparência Mas só a apreenderemos integralmente se entendermos o Ser de modo correspondentemente originário lé grego Já o sabemos para os gregos o Ser se revela como physis O vigor imperante tWalten que brotando permanece é ao mesmo tempo e em si mesmo o aparecimento que aparece Os radicais das duas palavras phy e pha evocam a mesma coisa Phyein o bro tar que repousa em si mesmo ê phainesthai luzir mostrarae aparecer O que dos determinados traços do Ser aduzimos até agora mais a modo de uma enumeração o que concluímos da alusão a Parmênides tudo isso já nos proporciona uma certa compreensão da palavra grega fundamental para designar o Ser Seria muito instrutivo esclarecer ainda a fôrça evocativa dessa palavra partindo da grande poesia dos gregos Aqui sirva apenas a indicação de que por ex para Píndaro a phya cons titui a determinação fundamental da existência to de phya kratiston apan o que é a partir e pela phya ê em sentido absoluto o mais poderoso 01 IX 100 phya diz aquilo que alguém é propriamente e de modo originário o que já está se essencializando Cdas schon GeWesende 9 em distinção ao conjunto de afazeres e atividades Gêmsechte e Getue poste ríormente obtidos e forçados O Ser é a determinação funda mental do nobre e elevado ié daquilo que possui em seu ser uma alta proveniência e nela se funda A êsse respeito criou Píndaro as palavras Genoi oíos essi mathon Pyth n 72 queiras mostrarte como aquêle que és aprendendo O estar em si mesmo não significa para os gregos outra coisa do que o estarpresente Dastehen o estar à luz ImLicht stehen Ser significa aparecer mas não no sentido de que o aparecer seja qualquer coisa de suplementar que às vêzes acresce ao Ser Não O Ser vige e se Essencializa como apa recer 128 Com Isso a idéia tão difundida de que a filosofia grega à diferença rio subjetivismo moderno ensinara reailsticamente um Ser objetivo em si mesmo desmoronase como um castelo de cartas Essa idéia corrente se apóia numa compreensão multo superficial Devemos deixar de lado títulos como sub jetivo e objetivo realista e idealista Agora tratase ã base da concepção mais adequada do Ser tal como os gregos o entenderam de dar o passo decisivo que nos abrirá o interior da conexão íntima entre o Ser e Aparên cia Tratase de proporcionar a visão de um contexto que é originária e unicamente grego mas que nem por isso deixou de ter consequências próprias e peculiares para o espírito do Ocidente O Ser se Essen cializa como pftysís O vigor impe rante que surge e brota é aparecer Êsse apresenta Tudo isso implica o Ser aparecer deixa sair da dimensão do velado do coberto Enquanto o ente é como tal Instaurase e se instala na dimensão do revelado do descoberto 10 Unverborge nheit Sem pensar traduzimos í é interpretamos mal essa palavra por verdade É certo que atualmente aos poucos se começa a traduzir a palavra grega de modo literal Isso não adianta muito se logo depois se entende verdade num sen tido bem diverso e não grego e se põe por baixo da palavra grega Pois a Essencialização grega da verdade só é possível em união com a Essencialização grega do Ser concebido como Vhysis Em razão dessa contextura original de Essencialização entre pftysfs e aletheia podem dizer os gregos O ente en quanto ente é verdadeiro O verdadeiro é como tal ente O que quer dizer O que se mostra no vigor imperante está na dimensão do revelado descoberto Unverborgenen O des coberto o revelado como tal chega a sua consistência no ao mostrarse A verdade como revelação Unverborgenheit não é um acréscimo ao Ser 4 verdade pertence à Essencialização do Ser Ser ente im plica apresentarse surgir aparecendo proporse expor al guma coisa Nãoser ao invés significa afastarse da aparição aparecimento da presença Arrwesenheit Na Essencializa ção do aparecimento se inclui o surgir e o sair o para frente Hln e para trás Her no autêntico sentido demonstra tivo Assim o Ser se dispersa na multidão do ente Esse se 129 Impõe em tôda parte como o mais próximo e de cada momento Jeweiliges Enquanto aparece o ente se dá Adquire um as pecto de consideração dotei Doxa significa êsse aspecto qual seja a consideração em que alguém se encontra Caso o as pecto de acordo com o que nêle se apresenta fõr extraordiná rio dora significa então glória e fama Na teologia helenistica e no Nôvo Testamento doxa tfieoti é a glória Dei a glória de Deus Magnificar rühmen prestar e demonstrar consideração significa para os gregos por ã luz e assim dar consistência ser A fama não é alguma coisa que alguém recebe ou não de quebra É o modo de ser supremo Para os modernos a fama de há muito que se tornou apenas celebridade Algo de multo duvidoso uma promoção que a imprensa e o rádio lançam e propagam agltadamente quase o contrário de ser Para Pín daro magnificar rühmen constitui a Essencialização da poesia Poetar significa por á luz Isso não implica que a represen tação da luz desempenhe um papel especial Diz apenas que êle pensa e poeta como grego Isto é está na Essencialização grega do Ser Tratase de se mostrar que e de que modo para os gregos Aparecer pertence ao Ser Ou mais precisamente que e de que modo o Ser tem sua Essencialização também no Aparecer Ê o que ficou esclarecido na suprema possibilidade do ser hu mano tal como os gregos a configuraram na fama e no mag nificar afamar Fama é doxa Dokeo significa eu me mostro apareço entro na luz O que aqui se experimenta mais pela vista e visão a saber o aspecto de consideração em que alguém se encontra a outra palavra grega para dizer fama kleos en cara mais do ponto de vista do ouvir e propagar Gefiaer tind Rujen Assim a fama é o renome em que alguém se acha Heráclito diz Frag 2B areuntai par en anti apanton oi arittai kleos aenaon thneton oi de polloi kekorentai okotper ktenea Antes de tudo o mais escolhem uma coisa os mais nobres a fama que permanece constante frente ao que morre A multidão está saciada como o gado Bem embargo em tudo isso se insinua uma limitação que revela a coisa em si mesma na plenitude de sua Essencializa ção Doxa é a consideração em que alguém se encontra no sentido mais amplo A consideração que todo ente encerra e 130 encobre em seu aspecto Aussehen 11 eidos idea Uma cidade oferece uma vista grandiosa A vista que um ente tem em si e que por isso pode oferecer de si mesmo pode ser en carada dêste ou daquele ponto de vista De acôrdo com a di versidade do ponto de vista varia a vista que assim se oferece Por isso a vista em perspectiva é sempre também uma visão ié uma vista que nós temos e condicionamos Na experiência e atividade com o ente formamos constantemente visões de seu aspecto Muitas vezes tais visões se formam sem que exami nemos culdadosamente as coisas em si mesmas For êsse ou aquêle meio por essa ou aquela razão chegamos a uma vlslo sôbre determinada coisa Formamos uma opinião a seu res peito Pode ocorrer que a visão que nos parece o nosso pare cer não encontre base na própria coisa Tratase de simples parecer de uma visão De uma suposição Supomos alguma coisa dessa ou daquela maneira Emitimos uma mera opinião Supor é em grego dectiesttiai Todo supor está sempre relacio nado com o que submlnistra o aparecer A doxa no sentido do que se supõe dessa ou daquela maneira é a opinião Estamos aonde queríamos chegar Posto que o Ser physit consiste no aparecer no oferecer aspectos encontrase essen clalmente e portanto necessária e constantemente na possibi lidade de apresentar um aspecto que justamente encobre e oculta o que o ente é na verdade isto é na dimensão do revelado e aescoberio Unverborgeniieit Essa vista em que o ente vem a estar é aparência no sentido de simples aparentar Onde há revelação descobrimento Unverborgenhelt do ente há também a possibilidade da aparência Schein E onde o ente aparece e assim se mantém firme por muito tempo a aparên cia pode desfazerse e desmancharse Com o nome doxa se evoca algo complexo 1 Considera ção como fama 2 Consideração como o mero aspecto que alguma coisa oferece 3 Consideração como simples parecer assim a aparência como simples aparência 4 parecer que alguém forma opinião Essa pollvalêncla de significados não é imprecisão negligente de linguagem É o jôgo profundamente fundado na sabedoria madura de uma grande língua que guar da e protege na palavra traços Essenciais do Ser Para desde o princípio se ter clareza cumpre evitarmos tomar a aparên 131 cia e falseála como algo apenas Imaginado e subjetivo Pelo contrário visto que o aparecer pertence ao próprio ente por isso lhe pertence também a aparência Pensemos no sol Diàriamente êle nasce e se põe Só pou quíssimos astrônomos físicos e filósofos e êsses ainda assim apenas em razão de uma atitude especial mais ou menos cor rente fazem ímedlatamente uma outra experiência desse fato a saber como movimento da terra em redor do sol Sem embargo a aparência em que estão o sol e a terra por exemplo a aurora da paisagem o mar no arrebol a noite constitui uma aparição Erscheínen Essa aparência não é um nada Tão pouco é destituída de verdade Nem mesmo e de maneira al guma a simples aparência de um estado de coisas que na natureza se comporta de per si de modo diferente Essa apa rência é Histórica e História revelada e fundada na poesia e linguagem Sage Assim um domínio essencial de nosso mundo Só a gaia ti ce arrogante de todo epígono e esgotado Müd gewordener crê poder desfazerse do poder Histórico da apa rência declarandoa subjetiva embora seja altamente pro blemática a essência dessa subjetividade Outra é a expe riência grega dêsse poder da aparência Sempre de nôvo ti veram que arrancar o Ser à aparência e protegêlo contra ela O Ser se Essencializa a partir da revelação Unverbor genheit Unicamente por subsistirem ao embate entre Ser e Apa rência extraíram do ente o ser conduzindo o ente à consistên cia e revelaçáo Unverborgenheit os deuses e o Estado o templo e a tragédia a competição e a filosofia Mas tudo isso edifiearam no meio da aparência cercados por ela levandoa a sério conhecendolhe o poder Apenas entre os sofistas e em Platão a aparência se viu declarada simples aparência e assim rebaixada Concomitantemente o Ser se desloca como idea para um lugar suprasensivel O hiato chorismos se abriu entre o ente apenas aparente aqui em baixo e 0 Ser real em algum lugar lá encima O hiato em que depois se instaura a doutrina do Cristianismo transformando o inferior no criado e o superior no Criador e com as próprias armas gregas assim transformadas se opõe à antiguidade como o paganismo e a 132 desvirtua Por isso diz Nietzsche com razão que o Cristianismo é Platonism o para o povo Ao contrário a grande época da existência grega foi uma única autoafirmação criadora na turbulência do Jôgo de tensão muito intrincada entre as potências Ser e Aparência Sôbre o nexo essencial e originário entre a existência do homem o Ser como tal e a verdade no sentido de revelação Unver borgenheit e a nãoverdade como velação encobrimento cfr Sein und Zeit S5 44 e 68 A unidade e o eonflito entre o Ser e a Aparência exercem oríginàriamente no pensamento dos primeiros pensadores gregos uma íôrça poderosa Todavia é nas tragédias gregas que tudo isso vai receber a exposição mais alta e pura Pensemos no Édipo Rei de Sófocles Édipo de início salvador e senhor da Cidade no esplendor da fama e da graça dos deuses vai sendo deslocado dessa aparência Schein que não constitui de forma alguma um parecer meramente subjetivo de Édipo a seu respeito mas a atmosfera em que aparece a sua existência até que se dê a revelação Unverborgenheit de seu ser como assassino do pai e desrepeitador da mãe O caminho que vai daquele começo de glória até êsse fim de horror é um único embate entre a aparência Schein velamento e dissimulação e a revelação o Ser A Cidade está velado e oculto o as sassino do então rei Laio Com a paixão de quem está na evidência do esplendor e é grego empenhase Édipo em des cobrir êsse velado e oculto passo a passo tem que porse a si mesmo a descoberto Revelação que só pôde suportar per furandose os olhos Afastandose de tôda luz Fazendo cair sôbre si o véu da noite Ofuscado e encoberto pela cegueira põese a abrir tôdas as portas a fim de aparecer ao povo como aquele que êle é mesmo Não devemos ver em Édipo apenas o homem decaído De vemos apreender nêle a forma da existência grega na qual a paixão fundamental dos gregos galga o seu grau mais alto e mais brutal a paixão de desvendar o Ser A paixão do com bate pelo Ser em si mesmo Na poesia num azul amável floresce Hcelderlin diz estas palavras videntes O rei Édi po talvez tenha um ôlho demais Êsse ôlho demais é a condi ção fundamental de tôda grande investigação de todo grande 133 saber e também seu único fundamento metafísico Essa paixão constitui todo o saber e toda ciência dos gregos Quando hoje se recomenda à ciência porse ao serviço do povo tratase de uma exigência Imperiosa e digna de ser le vada em consideração Todavia é uma exigência que exige pouco demais e não atinge o que pròpriamente se devia exigir A vontade oculta de uma transfiguração do ente na manifes tação da existência requer muito mais Para se obter uma mudança da ciência isso significa antes tudo j saber origi nário para isso necessita a nossa existência de todo um outro aprofundamento metafísico indispensável Instaurar e cons tituir verdadeiramente uma nova atitude fundamental para com o Ser do ente em sua totalidade A nossa referência atual para com tudo que significa Ser Verdade e Aparência é de há muito tão confusa tão sem fun damento e paixão que mesmo na interpretação e apropriação da poesia grega só pressentimos um mínimo do poder que êsse dizer poético desempenhava na própria existência grega A úl tima Intepretação de Sófocles 1933 que devemos a Carlos Reinhardt está essencialmente multo mais próxima da exis tência e do ser dos gregos porque Reinhardt vê e Investiga o acontecimento trágico a partir das referências fundamentais do Ser da Reevelação e da Aparência Muito embora ainda influam subjetivlsmos e psicologismos modernos constitui uma grandiosa contribuição para a Interpretação de Édlpo Rei como a tragédia da aparência Termino aqui essas Indicações sôbre a configuração poética do embate entre Ser e Aparência ediflcada pelos gregos com a citação de uma passagem de Édlpo Rei de Sófocles que nos dará ocasião sem forçar em nada o texto de restabelecer o nexo entre nossa caracterização provisória do Ser grego en tendido no sentido de consistência e a caracterização agora alcançada do Ser como aparecer Os poucos versos do último côro da Tragédia w 1189ss dizem Tis gar tis aner pleon tos eudaimonias pfterei e fossounton oson dokeín kai dexant apokUnai 134 1 Quem pois que homem traz consigo mab da existência disciplinada e ajustada do que quem está na aparência para depois aparecendo declinar a saber declinar do estado de consis tir de pé em si mesmo Ao esclarecer a essência do infinitivo falouse daquelas palavras que representam uma egklisis um declinar uma queda casus É uma modalidade do Ser entendido êsse como o que está em posição vertical ereto em si mesmo Ambas as derivações do Ser adquirem sua determinação a partir do próprio Ser concebido como a consistência do que está na luz ié do aparecer Agora deve ter ficado mais claro ao próprio Ser enquanto aparecer pertence a aparência Schein O Ser como apa rência não é menos poderoso do que o Ser como revelaçâo e descobrimento Unverborgenheit A aparência Schein se processa no próprio ente com êle mesmo Ora a aparência não só faz aparecer o ente tal como êle pròpriamente não é não apenas dissimula o ente do qual é aparência mas tam bém se encobre a si mesma como aparência posto que se mostra como Ser E é exatamente por isso por dissimular es senclalmente si mesma ao encobrir e dissimular o ente que dizemos com razão as aparências enganam Tal engano re side na própria aparência em si mesma Somente porque a aparência já engana em si mesma pode ela enganar o homem c assim leválo a uma ilusão Mas o iludirse é apenas um entre muitos outros modos em que o homem se move no trí plice mundo de Ser Revelação e Aparência Para dizêlo assim o espaço que se expande dentro dos limites descritos por Ser Revelação e Aparência é o que en tendo por error 12 frre Aparência engano ilusão error estão entre si em determinadas relações de essencialização e processo Tais relações foram tão falsamente interpretadas pela psicologia e gnoseologia que hoje mal as podemos experimentar e reconhecer com a devida clareza como potências da exis tência cotidiana 13õ Em primeiro lugar tratavase de esclarecer como à base da interpretação grega do Ser concebido como phisís e só a partir dessa base pertencem necessàrlamente ao Ser tanto a Verdade no sentido de revelação como a Aparência no sentido de determinado modo de aparecer do mostrarse que surge Dado que Ser e Aparência se pertencem mútuamente e nessa mútua pertinência se implicam um ao outro essa im plicação recíproca instaura sempre a troca de um pelo outro e por conseguinte uma constante confusão e a possibilidade de engano e eq ui vocação Por isso no principio da filosofia ié na primeira manifestação do 3er do ente o esfôrço principal do pensamento teve de convergir para disciplinar a necessidade do Ser na Aparência Para distinguir o Ser da Aparência Essa tarefa exige por sua vez dar a primazia ã verdade entendida como descobrimento frente ao encobrimento Verborgenheit Ao revelarse frente ao velarse concebido como vendar e dis simular Devendo o Ser diferençarse do outro e fixarse como phpsis operase a distinção entre Ser e Nãoser e ao mesmo tempo também entre Nãoser e Aparência Ambas essas dis tinções não coincidem Dado ser essa a situação de Ser Revelação Aparência e Nãoser três caminhos se tomam necessários para o homem que manifestandose se atém a si mesmo no meio do Ser e a partir dessa atitude se comporta dêsse ou daquele modo com o ente Para assumir a sua existência na claridade do Ser o homem deve primeiro dar consistência ao Ser segundo man têlo na e contra a Aparência e terceiro arrancar ao mesmo tempo o Ser e a Aparência ao abismo do Nãoser O homem tem que distinguir êsses três caminhos e se de cidir de acòrdo com êles e frente a êles No princípio da fi losofia pensar é abrir e desbravar êsses três caminhos Distln guíndoo o homem se põe na encruzilhada dêles e por conse guinte em constante re solução Entscheidung Essa reso Iução é o princípio da História Nela e só nela se decide até sôbre os deuses consequentemente resolução Entscheidung não significa aqui juízo e escolha do homem mas uma so lução no sentido de separação Scheidung na contextura do Ser Revelação Aparência e Nãoser O desbravar mais antigo desses trés caminhos nos con serva a tradição na filosofia de Parmenides no Poema já ci tado Determinaremos os três caminhos indicando alguns frag mentos do Poema Não é possível dar aqui uma interpretação completa O Fragmento 4 diz na tradução Eis o que eu digo presta tôda a consideração à pa lavra que ouves sôbre Quais caminhos se há de ter em mira como os únicos próprios de uma investigação O primeiro como o Ser é o que o Ser e também quão impossível o Nãoser A send a de uma confiança fundada é seguir a revela ção Unverborgenheit O segundo Como não é e também quão necessário ié o nãoser Èsse portanto segundo te revelo é uma vereda que não se pode em absoluto interpelar pois nem podes travar conhecimento com o nãoser de vez que não é de tornarse acessível nem podes indlcáio com palavras Aqui se separam claramente antes de tudo dois caminhos 1 O caminho para o ser ê simultaneamente o caminho para a Revelação Êsse caminho é inevitável 2 O caminho para o nãoser embora não possa ser per corrido têm por isso mesmo que se conhecer como um cami nho inviável e precisamente no tocante ao fato de ser o cami nho que leva ao nãoser Êsse fragmento nos dá também o tes temunho mais antigo na filosofia de que juntamente com o caminho do Ser deve ser pensado também e em si mesmo eigens o caminho do nãoser Assim constitui um desconhe cimento da questão do Ser voltar as costas ao Nada assegu rando que o Nada manitestamente não é O fato de o Nada não ser algo de ente de forma alguma exclui que êle perten ça a seu modo ao Ser 137 Sem embargo na reflexão sôbre o sentido dos dois cami nhos mencionados se inclui a discussão com um terceiro que de um modo todo próprio vai de encontro ao primeiro o ter ceiro que de um modo todo próprio vai de encontro ao pri meiro O terceiro caminho parece com o primeiro e todavia não conduz ao Ser Daí suscitar a aparência de ser êle apenas um caminho para o nãoser no sentido do Nada O fragmento 6 mantém primeiro rigidamente separados os dois caminhos expostos no Frag 4 o para o Ser e o para o Nada Mas ao mesmo tempo expõe um terceiro caminho con traposto ao segundo que é inacessível e por Isso mesmo estéril uma vez que se dirige ao Nada Fazse mister tanto da posição coletora sammelndes Hinstellen como da percepção o ente em seu ser Pois o ente tem ser o nãoser não tem nenhum é ad vlrtote a anotares isso Antes de tudo te afastes dêsse caminho de investigação Mas também dêsse outro que evidentemente se prepa ram para si os homens que não sabem os bicéfaios pois o nãosaberorientarse constitui para eles o critério de sua compreensão errante êles são Jogados de lá para cá surdos e cegos tontos a geração dos que não distinguem tem por princípio que o que é dado e o que não é dado Vorhandene e Nichtvorhandene são e não são a mesma coisa Para êles a senda segue em tudo direções con trárias O caminho agora mencionado é o caminho da doxa no sentido da aparência Nêle o ente se deixa ver ora de uma maneira ora de outra Aqui reinam sempre e apenas opiniões Os homens pulam de uma opinião para outra num constante vaivém Assim confundem entre si Ser e Aparência Tal ca minho é ínsistentemente frequentado de sorte que os homens se perdem inteiramente nêle Tanto mais se toma necessário conhecêlo corno tal a fim de que o Ser se desvende na aparência e contra a apa rência Assim encontramos a indicação dêsse terceiro caminho e sua coordenação com o primeiro no fragmento 1 yv 2832 138 Fazse necessáro fazer com que experimentes tu que agora encetas o caminho para o Ser tudo tanto no co ração firme da revelação de beleza esférica como tam bém as opiniões dos homens que não possuem confiança alguma no que é revelado Em tudo isso deves também aprender como se mantém o que aparece atravessando à sua maneira tudo com seu brilho scheinmsessg completando assim a perfeição de tudo O terceiro caminho é o da aparência de tal modo que nêle a aparência ê experimentada como pertencente ao Ser Para os gregos as palavras citadas tinham uma fórça contun dente originária Ser e Verdade haurem a sua Essencialização da physis O mostrarse do que aparece pertence i medi ata mente ao Ser e no fundo não lhe pertence Por isso o apa recer tem que ser exposto também como simples aparência e isso sempre denovo Os três caminhos proporcionam uma Indicação em si unitária O caminho para o Ser é inevitável O caminho para o Nada é inacessível O caminho para a aparência é sempre acessível e fre quentado mas evitável Um homem verdadeiramente sábio não é aquêle que per segue cegamente uma verdade È somente aquêle que conhece constantemente todos os três caminhos o do Ser o do nãoser e o da aparência Um saber superior e todo saber é superiori dade só é concedido àquele que experimentou o ímpeto alado do caminho para o Ser Que não estranhou o espanto do se gundo caminho para o abismo do Nada E que aceitou como constante necessidade o terceiro caminho o da aparência A êsse saber pertence o que os gregos chamaram em sua grande época tolma ousar numa conjuntura com o Ser o Nãoser e a Aparência iê assumir a existência sôbre si le vandoa à resolução entre Ser Nãoser e Aparência A partir dessa posição fundamental frente ao Ser diz um de sens 138 maiores poetas Pindaro Ncmea III 10 en de peira telof diaphainetai na ousada experimentação no meio do ente se mostra diâíana a plenitude a períeição de contornos do que se elevou e chegou ã consistência Léo Ser Aqui fala a mesma posição fundamental que se evidencia na palavra já citada de Heràclito sôbre o polemos A dieposi ção dissoclação de um do outro Auseinanderstzung ié não a mera querela e dissensão mas a disputa do que é disputãvel põe em seus limites e em evidência o essencial e o nãoessen cial o elevado e o baixo Inexgotável para a admiração não é apenas a segurança madura dessa atitude fundamental para com o Ser mas ainda a riqueza de sua formação em palavra e em mármore Finalizamos a explicação da oposição e ao mesmo tempo da unidade de Ser e Aparência com uma palavra de Heràclito Frag 1231 pAysts kryptésthai philei o Ser o aparecer que surge emergente tem em si a Inclinação para ocultarse Porque Ser significa aparecer emergente sair do encobrimen to por isso pertencelhe Essencialmente o encobrimento a pro veniência dêle Tal provenlência reside na Essencialização do Ser Do que aparece como tal Para ela o Ser está sempre inclinado a voltar seja no grande silêncio do obscurecimento seja na superficial dissimulação da camuflagem A proximi dade imediata de physis e Kryptestha revela simultaneamente a intimidade de Ser e Aparência como o seu embate Se entendermos o titulo Ser e Aparência1 na força intac ta da separação que no princípio os gregos conquistaram não sõ se compreenderá a distinção e delimitação do Ser frente à Aparência como também sua pertinência intima à separação entre Ser e vir a Ser O que se detém no vir a ser já não é por um lado o Nada mas por outro também ainda não é o que está destinado a ser Segundo essa dualidade de não mais e ainda não permanece c vir a ser saturado de não ser Sem embargo o vir a ser não é um puro Nada É um não mais isso e um ainda náo aquilo e assim constante mente um outro Por isso se deixa ver ora de um ora de outro modo Apresenta uni aspecto em si mestno inconstante Assim considerado o vir a ser é uma aparência do ser Na explicação do princípio sôbre o ser do ente tanto o vir a ser como a aparência têm que contraporse ao Ser Por outro 140 lado o vir a ser concebido como brotar pertence à pfiysis Se entendermos ambos de modo grego ié o vir a ser como chegaràpresença e o sair dela e o Ser como a presença que surge e aparece o Nãoser como a ausência então a re ferência recíproca de emergir e submergir de surgir e ocultar se é o aparecer o Ser mesmo Como o vir a ser é a aparência do Ser assim também a aparência como aparecer é o vir a ser do Ser Já por aqui vemos que não nos é possível sem mais nem menos reduzir a diferença entre Ser e Aparência à separação entre Ser e Vir a Ser e viceversa Assim tem que permanecer ainda aberta a questão das relações entre ambas as distinções A resposta dependerá da originariedade amplitude e solidez da fundamentação daquilo em que se Êssencializa o ser do ente A filosofia também no princípio não se ateve a sentenças sin gulares Por certo as exposições posteriores de sua História suscitam essa aparência Pois elas são doxogrâficas ié uma descrição das opiniões e pareceres dos grandes pensadores Todavia quem os perscruta e examina à cata de opiniões e pontos de vista pode ficar certo de começar e andar errado antes mesmo de chegar a algum resultado ié de arranjar título ou etiqueta para uma filosofia Pela separação entre os grandes poderes Ser e Vir a Ser Ser e Aparência lutaram o pensamento e a existência dos gregos Essa disputa teve que desenvolver numa forma determinada as relações entre Pensar e Ser Isso significa já entre os gregos se prepara também a configuração da terceira diferença 3 SER E PENSAR Já muitas vêzes se fêz referência ao predomínio normativo na existência ocidental da diferença entre Ser e Pensar Sua predominância deve estar fundada na sua própria essenciali zação Naquilo pelo que ela se separa das duas primeiras e da quarta Por Isso desejamos assinalar já desde o inicio a sua peculiaridade Em primeiro lugar comparemola com as duas 141 consideradas anteriormente Nessas o que se distingula do Ser nos vinha ao encontro a partir do próprio ente Encontra molo no domínio do ente Nào apenas o vir a ser como tam bém a aparência nos ocorrem no ente como tal Vejase o sol que nasce e se põe o bastão tantas vézes lembrado que mer gulhado nágua aparece quebrado e muitos outros congêneres Vir a Ser e Aparecer estão com o ser do ente por dizêlo assim no mesmo plano Quanto à distinção Ser e Pensar porém o que se distingue do Ser o pensar não sòmente pelo conteúdo mas também pelo sentido da contraposição se diferencia essencialmente tanto do Vir a ser como da Aparência O Pensar se contrapõe ao Ser de tal modo que o Ser se lhe apresenta vorgestellt 13 e assim se lhe opõe como o que se lança contra Gegens tand 14 Êsse não era o caso das duas distinções anteriores E essa é também a razão pela qual tal distinção chegou a prevalecer Essa prepoténcia advemlhe do fato de não se pôr simplesmente entre as três outras mas de coloeálas tôdas diante de si e colocandoas diante de sl vorsichstellend por assim dizer as deslocar Assim o pensar não é apenas o membro de uma distinção de certo modo diferente mas se toma o fundamento e a base a partir da qual se decide sôbre o que se contrapõe e isso a tal ponto de o Ser como tal ser interpretado a partir do pensar Nesse sentido devese apreciar a Importância que precisa mente no contexto de nossa tarefa convém à distinção entre Ser e Pensar Pois no fundo Investigamos o que há com o Ser Como e a partir de onde o Ser é levado a susterse em sua Essencialização É entendido compreendido e constituído como normativo Na distinção em aparência indiferente entre Ser e Pentar é de se ver aquela posição fundamental do espirito do Oci dente em que se concentra pròprlamente o nosso ataque Ela só pode ser superada origináriamente lé de tal sorte que a sua verdade originária seja indicada em seus próprios limites e assim novamente fundada Do ponto atual da marcha de nossa Investigação nos é possível descortinar um outro aspecto Já explicamos antes que a palavra 0er possui em contraste com a opinião cor 142 rente um significado bem preciso Isso significa que o Ser mesmo é entendido sempre de modo determinado Assim de terminado énos sempre manifesto Tôda compreensão toda via como uma espécie fundamental de manifestação tem que se mover sempre num determinado ângulo de visão Blick bahn uma coisa qualquer por exemplo um relógio perma necernosá oculto naquilo que é enquanto prèviamente não soubermos o que é tempo cálculo e medição de tempo O ân gulo visual da visão já deve estar antecipadamente aberto Por isso o chamamos o ângulo de prévisão Vorblickbahn a perspectiva Destarte se mostrará que o Ser não apenas não é entendido de modo indeterminado como também que a com preensão determinada do Ser movese em si mesma num ân gulo de visão já predeterminado O moverse para lá e para cá o deslizar e agltarse nesse ângulo já se tornou parte de nossa carne e de nosso sangue a ponto de nem o conhecermos de nem mesmo o levarmos em consideração e entendermos a questão sôbre ele A submersão para não dizer o estar perdido na previsão e perspectiva que conduz e dirige tôda a nossa compreensão do Ser é tanto mais poderosa e ao mesmo tempo oculta porquanto também os gregos não a esclareceram como tal e nem o podiam fazer por razões fundamentais não por qualquer fracasso Entre tanto na constituição e no estabelecimento dêsse ângulo de previsão exn que se movia já a compreensão grega do Ser participa essenclalmente o desenvolvimento da distinção entre Ser e Pensar Hão obstante não a colocamos no primeiro mas no ter ceiro lugar Primeiramente tentaremos explicála em seu con teúdo como fizemos com as anteriores Iniciamos novamente caracterizando aquilo que agora se contrapõe ao Ser O que significa pensar Dizse o homem pensa e Deus dirige 15 Pensar significa aqui planejar idear Isso ou aquilo pensar em alguma coisa auf dieses und jenes denlren diz pretender ex pensar em viajar pensar no mal sig nifica ter em mira pensar em alguém indica não esquecer nesse caso pensar significa recordar rememorar lembrarse Usamos a expressão êle pensa no sentido de imaginar Quan 143 do alguém diz eu penso que vai dar certo quer dizer assim me parece sou dêsse parecer na minha opinião Pensar num sentido reforçado significa refletir sôbre alguma coisa uma situação um plano um acontecimento Pensar vale também como titulo do trabalho e da obra daqueles que chamamos penfiadores É certo que à diferença dos animais todos os homens pensam mas nem todo homem é um pensador O que Inferimos dêsse uso da linguagem O pensar tanto se refere ao futuro como ao passado como ao presente O pensar põe alguma coisa diante de nós apresenta vorstellen Tal apresentar parte sempre de nós Tratase de um livre pôr e dispor de nossa parte mas não arbitrário e sim dependente Dependente do fato de pela apresentação considerarmos e examinarmos o apresentado analisandoo decompondoo e re eompondoo de nõvo Pensando não só porém nos apresenta mos alguma coisa a partir de nós mesmos nem apenas a ana lisamos por analisar mas seguimos reflexivamente o apresen tado Não o admitimos simplesmente segundo nos agrade mas nos pomos a caminho para como se diz perseguir a coisa Então sabemos como ela se encontra em si mesma Fazemos dela um conceito Procuramos o universal Dos caracteres mencionados que constituem o que se cos tuma chamar pensar destacamos três 1 O apresentar a partir de nós mesmos como um comportamento livre 2 O apresentar entendido como uma síntese analítica 3 A apreensão apresentativa do universal De acòrdo com a esfera em que se move êsse apresentar segundo o grau da liberdade conforme a precisão e segurança da análise consoante o alcance da apreensão o pensar será superficial ou profundo vazio ou rico de conteúdo facultativo ou constrlngente jocoso ou sério Todavia ainda não podemos compreender porque o pensar deva alcançar aquela posição fundamental frente ao Ser que Indicamos acima Pensar constitui ao lado de desejar querer e sentir uma de nossas faculdades Em tôda faculdade e em 144 todo modo de comportarse sempre nos referimos ao ente não exclusivamente no pensar Disso não há dúvida Todavia a dis tinção Ser e Pensar indica algo mais essencial do que apenas uma relação com o ente Essa distinção surge de uma corres pondência intrínseca e originária do que nela se distingue e separa com o Ser em si mesmo O Título Ser e Pensar evoca uma distinção que é como exigida pelo próprio Ser Essa correspondência íntima do pensar com o Ser em todo caso não resulta do que aduzimos até agora para caracterizar o pensamento E por que não Porque ainda não logramos um conceito suficiente do pensar Onde porém poderemos obtêlo Fazemos tal pergunta como se não houvesse desde muitos séculos nenhuma Lógica È a ciência do pensar a doutrina das regras do pensamento e das formas do seu conteúdo Constitui ademais dentro da filosofia a ciência e disci plina em que os pontos de vista e as correntes das diversas concepções de mundo não desempenham quase nenhum ou mesmo nenhum papel Como se isso ainda não bastasse ainda é a Lógica uma ciência segura e digna de tôda a confiança De há muito que vem ensinando a mesma coisa Sem dúvida uns transformam a construção e sequência das diversas dou trinas tradicionais outros deixam cair isso ou aquilo ou intro duzem apêndices gnoseológlcos ou fundam tudo na psicologia Todavia no seu todo impera uma concordância feliz A lógica nos dispensa do esforço de termos de investigar circunstancial mente a essencialização do pensar Não obstante temos ainda uma pergunta O que significa Lógica O título é uma expressão abreviada de logike eptsie me ciência do logos E logos significa aqui enunciado proposi ção E todavia a lógica deve ser a doutrina do pensar Ppr que então é a ciência da proposição Por que o pensar se determina a partir do enunciado Isso não se entende de forma alguma por si mesmo Acima explicamos o pensar sem precisar referilo à proposição e ao discurso Dêsse modo a reflexão sôbre a essencialização do pensar se torna de natureza tôda especial se ela se efetua nos moldes de uma reflexão sôbre o Logos e se faz lógica A lógica e o lógico não constituem sem mais nem menos nem como se não houvesse outra possibilidade oj modos exclusivos d 145 do alguém diz eu penso que vai dar certo quer dizer assim me parece sou desse parecer na minha opinião Pensar num sentido reforçado significa refletir sôbre alguma coisa uma situação um plano um acontecimento Pensar vale também como tituio do trabalho e da obra daqueles que chamamos pensadores É certo que à diferença dos animais todos os homens pensam mas nem todo homem é um pensador O que inferimos dêsse uso da linguagem O pensar tanto se refere ao futuro como ao passado como ao presente O pensar põe alguma coisa diante de nós apresenta vorstellen Tal apresentar parte sempre de nós Tratase de um livre pôr e dispor de nossa parte mas não arbitrário e sim dependente Dependente do fato de pela apresentação considerarmos e examinarmos o apresentado analisandoo decompondoo e re compondoo de nõvo Pensando não só porém nos apresenta mos alguma coisa a partir de nós mesmos nem apenas a ana lisamos por analisar mas seguimos reflexivamente o apresen tado Não o admitimos simplesmente segundo nos agrade mas nos pomos a caminho para como se diz perseguir a coisa Então sabemos como ela se encontra em si mesma Fazemos dela um eoneeito Procuramos o universal Dos caracteres mencionados que constituem o que se cos tuma chamar pensar destacamos três 1 O apresentar a partir de nós mesmos como um comportamento livre 2 O apresentar entendido como uma síntese analítica 3 A apreensão apresentativa do universal De acôrdo com a esfera em que se move êsse apresentar segundo o grau da liberdade conforme a precisão e segurança da análise consoante o alcance da apreensão o pensar será superficial ou profundo vazio ou rico de conteúdo facultativo ou constei ngente jocoso ou sério Todavia ainda não podemos compreender porque o pensar deva alcançar aquela posição fundamental frente ao Ser que indicamos acima Pensar constitui ao lado de desejar querer e sentir uma de nossas faculdades Em tôda faculdade e em 144 1 i todo modo de comportarse sempre nos referimos ao ente não exelusivamente no pensar Disso não hã dúvida Todavia a dis tinção Ser e Pensar indica algo mais essencial do que apenas uma relação com o ente Essa distinção surge de uma corres pondência intrínseca e originária do que nela se distingue e separa com o Ser em si mesmo O Titulo Ser e Pensar evoca uma distinção que é como exigida pelo próprio Ser Essa correspondência íntima do pensar com o Ser em todo caso não resulta do que aduzimos até agora para caracterizar o pensamento E por que não Porque ainda não logramos um conceito suficiente do pensar Onde porém poderemos obtêlo Fazemos tal pergunta como se não houvesse desde muitos séculos nenhuma Lógica É a ciência do pensar a doutrina das regras do pensamento e das formas do seu conteúdo Constitui ademais dentro da filosofia a ciência e disci plina em que os pontos de vista e as correntes das diversas concepções de mundo não desempenham quase nenhum ou mesmo nenhum papel Como se isso ainda não bastasse ainda é a Lógica uma ciência segura e digna de tôda a confiança De há muito que vem ensinando a mesma coisa Sem dúvida uns transformam a construção e sequência das diversas dou trinas tradicionais outros deixam cair isso ou aquilo ou intro duzem apêndices gnoseológicos ou fundam tudo na psicologia Todavia no seu todo impera uma concordância feliz A lógica nos dispensa do esforço de termos de investigar circunstancial mente a essencialização do pensar Não obstante temos ainda uma pergunta O que significa Lógica O titulo é uma expressão abreviada de íopifce epíste me ciência do logos E logos significa aqui enunciado proposi ção E todavia a lógica deve ser a doutrina do pensar ppr que então é a ciência da proposição Por que o pensar se determina a partir do enunciado Isso não se entende de forma alguma por si mesmo Acima explicamos o pensar sem precisar referilo à proposição e ao discurso Dêsse modo a reflexão sôbre a essencialização do pensar se toma de natureza tôda especial se ela se efetua nos moldes de uma reflexão sôbre o Logos e se faz lógica A lógica e o lógico não constituem sem mais nem menos nem como se não houvesse outra possibilidade os modos exclusivos d 145 toda determinação do pensar Por outro lado não foi um mero acaso o fato de a doutrina do pensar haver chegado n ser a Lógica Como quer que seja o recurso à lógica com o fim de delimitar a essencialização do pensar já se toma uma emprêsa problemática pelo simples fato de a lógica como tal e não apenas algumas de suas doutrinas e teorias particulares aer algo por demais questionável Fragwürdiges Por isso a Ló gica tem de se pôr em aspas Isso porém não significa ne nhuma pretensão de querermos negar o que é lógico no sen tido de pensado corretamente A serviço do próprio pensar procuramos lograr justamente aquilo a partir do qual a Essen eiallzação do pensar se determina a aietheia e a piiysis o Sei como revelação aquilo que se perdeu precisamente com a lógica Desde quando existe a lógica que ainda hoje determina todo o nosso pensar e dizer e desde cedo vem condetermlnan do essencialmente a concepção gramatical da língua e com Isso a posição fundamental do Ocidente frente à linguagem Desde quando se Iniciou a formação da lógica Desde quando a fi losofia grega entrou em seu fim convertendose numa atri buição das escolas da organização e da técnica Isso se deu quando o eon o Ser do ente aparece como idéia e como tal se tornou o objeto da episieme A lógica se originou no cir culo das atividades didáticas das escolas platónlcoarlstóteli cas É uma invenção dos mestres de escola não dos filósofos E sempre que os filósofos dela se ocuparam fizeramno por preocupações mais originárias e não no interesse da lógica Nem mesmo é fruto do acaso que os grandes e decisivos es forços no sentido da superação da lógica tradicional tenham sido realizados por três filósofos alemães e pelos maiores entre êles por Leibniz Kant e Hegel Como exposição da estrutura formal do pensar e o esta belecimento de suas regras a lógica só pôde surgir depois qu já se havia concretizada a distinção entre Ser e Pensar e de acòrdo com uma visão particular e numa determinada ma neira Por isso em sl mesma e em sua História a lógica nunca poderá dar uma explicação suficiente sôbre a Essencialização da distinção entre Ser e Pensar nem sôbre a sua origem Ao 146 contrário É a lógica que necessita de explicação e fundamen tação no tocante à sua própria origem e ao direito de sua pre tensão de ser a interpretação normativa do pensar Não nos ocupa aqui a origem histórica da Lógica como disciplina aca dêmica nem o seu desenvolvimento ein particular Ao invés temos que considerar as seguintes questões 1 Por que teve que nascer na Escola Platônica algo assim como a Lógica 2 Por que a doutrina sôbre o Pensar se tomou uma teo ria sôbre o logos no sentido da enunclação propo sição 3 Em que se funda desde então o poderio sempre cres cente do Lógico que por fim terminou por expressar se na seguinte frase de Hegel o Lógico é a forma absoluta da verdade e muito mais que isso a verdade pura em si mesma Enciclopédia 4 18 Obras Com pletas t VI 28 A êsse poderio do Lógico corres ponde o fato de Hegel chamar conscientemente de Ló gica a doutrina que em geral se denominava Meta física Pois sua Ciência da Lógica nada tem a ver com um manual de lógica comum Em Latim pensar é inteUigere É coisa do intellectus Quando lutamos contra o intelectualismo devemos então para lutar realmente conhecer o adversário Isso significa saber que o intelectualismo é apenas um rebento e uma decorrên cia moderna e muito precária de uma proemiéncla longamente preparada e ediflcada com os recursos da metafísica ocidental Eliminar as excrescências do intelectualismo moderno é tarefa importante Nem por isso todavia sua posição se deixa no mínimo que seja abalar Não é nem tocada Ao contrário per siste até o perigo de recairem no intelectualismo justam ente aquêles que o pretendem combater Uma luta sòmente mo derna contra o intelectualismo de hoje faz com que os defen sores do uso devido do intelecto tradicional surjam com apa rência de direito Não são sem dúvida Intelectualistas são porém de igual origem Essa reação do espirito contra o que aconteceu até agora a qual provém em parte de uma inér 147 cia natural em parte de um impulso consciente convertese agora no terrena propício para reação política A desfiguração do pensar e o abuso do pensamento desfigurado só poderão ser superados por um pensar autêntico e orignário e por nada mais Uma nova instauração dêsse último exige antes de tudo o regresso à questão sôbre a referência essencial do Pensar com o Ser O que equivale a desdobrar e desenvolver a ques tão do Ser como tal Superação da Lógica tradicional não sig gnlfica abrogar o pensar e instituir o domínio do sentimento puro Significa um pensar mais originário mais rigoroso per tencente ao Ser Após essa caracterização geral da distinção de Ser e Pensar passamos a investigar mais determinadamente 1 Como se Essencializa a unidade originária de Ser e Pensar como unidade de physis e logos 2 Como se dá a separação originária de logos e physis 3 Como se chega ao surgir e aparecer do logos 4 Como o logos o lógico chega a ser a essenciallza ção do pensar 5 De que modo êsse logos entendido como razão e inte lecto chegou a dominar o Ser no princípio da filoso fia grega De acordo com os critérios de orientação acima referidos pgs 154ss seguiremos a distinção entre Ser e Pensar em sua origem Histórica o que significa essencial Atemonos a que o separarse de Ser e Pensar para ser intrínseco e necessário tem que fundarse numa compertinência originária do que se separa Assim nossa questão sôbre a origem da distinção é ao mesmo tempo e antes de tudo a questão sôbre a compertinên cia Essencial do Pensar ao Ser Històricamente pergunta a questão o que se passa com essa compertinência no princípio normativo da filosofia oci dental Como nêle se entende o pensar Podenos dar um in dício o fato de a doutrina grega sôbre o pensar ser uma dou trina sôbre o logos lógica De fato deparamonos com uma conexão originária entre Ser physis e logos Apenas temos de livrarnos de julgar que logos e legein originária e pròpria mente não signifiquem outra coisa do que pensar intelecto e 143 razão Enquanto formos dessa opinião e adotarmos ademais a concepção do logos da lógica posterior como a medida e escala para sua interpretação então só chegaremos a absurdos na tentativa de tornar novamente acessível o princípio da filosofia grega Além disso nessa maneira de pensar nunca se poderá esclarecer 1 por que o logos pôde ser separado do Ser do ente 2 por que Êsse logos teve que determinar a essenclaliza çêo do pensar e opôlo ao Ser Vajnos logo ao decisivo e investiguemos o que significa logos e legein se não significam pensar Logos significa a pa lavra o discurso e legein significa falar Diãlogo ê o colôquio monõlogo o solílóquio Não obstante orignàrlamente logos não significa discurso nem dizer algum Essa palavra não possui em seu significado nenhuma referência imediata â lin guagem Leo legein em latim legere é a mesma palavra como a alemã lesen ler 18 tâhren lesen colher espigas Holz lesen juntar lenha die Weinlese a vlndímia die Auslese seleção Ein Buch lesen ler um livro é apenas um de rivado de lesen em sentido próprio Lesen significa pôr uma coisa ao lado de outra juntálas num conjunto numa síntese coligír reunir Coligtndo colhendo ao mesmo tempo se sele ciona se distingue e separa uma coisa da outra Nesse sentido usam os matemáticos gregos a palavra Logos Uma coleção numismatics não é um simples amontoado de moedas ajunta das de qualquer maneira Na expresão Analogia correspon dência Entsprechung encontramos até juntas ambas as significações a originária de relação Verhaltnis referên cia Beziehung e a de linguagem fala embora com a palavra correspondência Entsprechung mal pensemos em falar 17 Analògicamente tamfcém os gregos não pensa vam com a palavra logos necessariamente em discurso e dizer Para dar um exemplo da significação originária de legein como coligír serve uma passagem de Homero Odisséia XXIV 106 Tratase do encontro no mundo subtérreo 18 dos pretendentes mortos com Agamenon Êsse os reconhece e as sim lhes fala Anfímedão por quais caminhos mergulhastes na escuridão da terra todos vós distintos e da mesma idade Dificilmente 149 procurandose numa Pólis se podería reunir lexaintof homens tão nobres Aristóteles diz na risica vn 1 252a 13 tazis de pasa logos tõda ordem porém possui o caráter de reunião Todavia ainda não estamos investigando como a palavra logos pasta do significado originário que nada tem a ver de início com linguagem palavra ou discurso para o significado de dizer e discurso Recordamos apenas que o têrmo logos mesmo multo tempo depois de significar discurso e enunciação ainda conservou sua significação originária indicando a rela ção de uma coisa com outra Mesmo refletindo sôbre o significado fundamental de logos como reunião reunir pouco é o que ganhamos para o esclare cimento da questão em que medida o Ser e o Lógos são para os gregos numa unidade originária a mesma coisa a ponto de posteriormente poderem e por razões determinadas deverem separarse A alusão ao significado fundamental de logos só nos poderá dar um indicio se já tivermos compreendido o que Ser diz para os gregos physts Não apenas em geral nos esforçamos por compreender c Ser entendido de modo grego mas pelas diferenciações Imediatamente anteriores do Ser frente ao Vir a ser e à Aparência circunscrevemos de modo sempre mais claro o significado de Ser Na suposição de nunca perdermos imediatamente de vista o que ficou dito acima dizemos que o Ser como phüsis é o vigor imperante que surge Em oposição ao vir a ser mostrase como a consistência a presença constante Em oposição à apa rência se afirma como o aparecer como a presença manifesta O que tem a ver o logos reunião com o Ser interpretado Antes porém devese investigar se no principio da filosofia grega se pode documentar uma tal conexão entre Ser e Lógos Realmente se pode Atemonos novamente aos dois pensadores normativos Parmenides e Heràclito e procuramos uma vez mais descobrir a entrada no mundo grego cujas coordenadas fundamentais ainda que distorcidas e deslocadas entulha das e encobertas carregam o nosso mundo Reitero no vamente a necessidade de se inculcar sempre de nôvo por que justamente nos atrevemos à grande e longa missão de de 150 molír um mundo envelhecido e construir um verdadeiramente nôvo ié Histórico temos que conhecer a tradição E temos que saber mais ié de modo mais rigoroso e constrlngente do que tôdas as épocas anteriores e revoluções passadas Só o mais radical saber Histórico nos põe diante do que há de descomunal em nossa tarefa e nos preserva de uma nova Irrupção de sim ples reposição e estéril imitação Iniciamos a demonstração do nexo intrínseco entre lopos e physis existente no principio da filosofia ocidental com uma interpretação de Heràclito No decurso da História ocidental Heràclito é aquêle dentre os mais antigos pensadores gregos que foi mais completamente falsificado numa Interpretação não grega For outro lado foi quem deu nos tempos modernas e contemporâneos os impulsos mais vigorosos para a reabertura do mundo propriamente grego É assim que os dois amigos Hegel e Hoelderlin estão cada um a seu modo na grande e fecunda esteira de Heràclito com a diferença porém de Hegel olhar para trás e fechar um ciclo Hoelderlin olhar para frente e abrir outro ciclo Outra ainda é a atitude cie Nietzsche frente a Heràclito Com efeito Nietzs che se tomou uma vítima da oposição corrente mas falsa de Parmênides e Heràclito Ê essa uma das razões essenciais por que a metafísica de Nietzsche não chegou até a questão decisi va multo embora tenha Nietzsche compreendido a aurora de tôda a existência grega de um modo que só foi superado por Hoeelderlin A modificação do significado de Heràclito se processou com o Cristianismo Já os Padres da Igreja primitiva a iniciaram Hegel ainda está nessa Unha A doutrina de Heràclito do Logos é considerada precursora do logos de que trata o Nôvo Testa mento o Prólogo do Evangelho de São João O Lógos é Cristo Ora de vez que já Heràclito também fala do Lógos os gregos chegaram até às portas da Verdade Absoluta da verdade reve lada do Cristianismo Assim num livro que me chegou nos últimos dias podese ler o seguinte Com a aparição real da Verdade em forma divina e humana se confirmou o conheci mento filosófico dos pensadores gregos acerca do domínio do Lógos sôbre todo ente Essa ratificação e confirmação funda o caráter clássico da filosofia grega 151 De aeõrdo com essa concepção da história tão comum os gregos são os clássicos da filosofia porque ainda não eram teó 1 logos cristãos plenamente amadurecidos Todavia o que há com Heráclito como precursor do Evangelista S João veremos mais adiante depois de ouvirmos Heráclito mesmo Começamos com dois fragmentos nos quais Heráclito trata expressamente do Logos De propósito deixamos sem traduzir a palavra Lógos para lhe obtermos a significação do próprio contexto Fragmento 1 Enquanto porém o Lógos permanece constante os homens gesticulam e se agitam como quem não compreendeu aignetoi tanto antes como depois de haverem ouvido Com efeito tudo chega a ser ente conforme e em vir tude dêsse Lógos entretanto êles os homens se assemelham àqueles que sem saber nunca ousaram alguma coisa embora tentem fazêlo tanto em palavras como em obras iguais âs que levo a cabo discernindo explicando qualquer coisa kata ptiysis segundo o Ser e esclarecendo o modo em que se con duzem as coisas Aos outros homens porém os outros ho mens como êles todos são ot polloí lhes permanece oculto o que fazem propriamente quando estão acordados assim como se lhes volta a esconder depois também aquilo que fizeram du rante o sono Fragmento 2 Por isso se faz mister seguir iê aterse ao que no ente está junto Zusamtnen enquanto porém o Lógos se essencialisa como o que no ente está junto ais dieses Zusammen a multidão vive como se cada qual tivesse seu próprio entendimento sentido O que inferimos dêsses dois fragmentos Do Lógos se diz 1 que lhe pertence a constância o per manecer 2 que êle se essenciallza como o que está junto no ente o conjunto do ente o unificante 3 tudo que acontece ié que chega a ser dáse segundo e em virtude dêsse conjunto constante êsse é o vigor imperante O que aqui se diz do lógos corresponde exatamente ao sig nificado próprio da plavra coleção reunião Sammlung As sim como a palavra alemã Sammlung diz 1 o reunir das Sammeln e 2 o que está reunido die Oesapmelthelt tam bém logot significa aqui a unidade de reunião ié o que es 152 tan do reunido remit die gesammenlnde Gesammeltheit o reunificante originário idas ursprüngiich Sammelnde Logos portanto não significa nem sentido nem palavra nem doutri na nem mesmo sentido de uma doutrina mas significa a unidade de reunião constante e em si mesma imperante que é a que reúne em sentido originário Sem dúvida o contexto do Fragmento 1 parece sugerir uma interpretação do logos no sentido de palavra e discurso e até parece exigila como única possível posto que se alude ao ouvir dos homens Há mesmo um fragmento em que tal nexo entre Lógos e ouvir se exprime diretamente Se não me tendes ouvido a mim mas o Logos então é sábio dizerse portanto um é tudo Fragmento 501 Aqui o Logos é concebido como algo que pode ser ouvido Que outra coisa portanto podería significar essa palavra se não pronunciamento discurso palavra principalmente se se leva em conta que na época de Heráclito lekeiu já era usado com o significado de dizer e falar Ê o que diz o próprio Heráclito Fragmento 73 Não se deve agir e falar como no sono Nesse caso usado em oposição a poiein legein não pode significar outra coisa do que dizer falar Não obstante nas passagens decisivas acima Fragmentos 1 e 2 logos não signi fica discurso e palavra O Fragmento 50 que parece falar es pecialmente em favor de lópos como fala nos dã corretamente interpretado uma indicação para compreendermos logos de um ponto de vista totalmente diferente para se ver e entender com clareza o que significa logos no sentido de reunião constante temos que apreender com maior precisão o contexto dos Fragmentos citados cm primeiro lugar Os homens estão diante do logos como quem não o com preende iaxynetoi Essa palavra Heráclito a usa frequente mente Cfr prineip aim ente o Fragmento 34 Tratase da negação de synMemi que significa ajuntar axUnetor os hcunens são tais que não ajuntam mas não a juntam o quê O logos aquilo que está constantemente junto a unidade de 153 reunião die Gesammelteit I Os homens permanecem sempre aquêles que não ajuntani que não compreendem não apreen dem numa unidade independente de ainda não terem ou já terem ouvido A proposição seguinte diz o que se tem em men te Os homens não chegam até ao logos embora o tentem com palavras epea Sem dúvida que aqui se alude a palavra e fala mas justamente para dlstlnguilas até mesmo opólas ao logos Heráelito quer dizer os homens ouvem e ouvem por certa pa lavras Nesse ouvir porém não podem auscultar ié seguir aquilo que nâo é audível como as palavras o que não é fala alguma e sim o logos Corretamente entendido o Fragmento 50 prova exa tamente o contrário do que dêle geralmente se lê Pois diz não deveis ficar presos às palavras mas perceber o logos Posto que logos e legem já significam então fala e dizer embora não se jam a Essencialização do Logos por isso logos é contraposto aqui às epeo à fala Correspondentemente se opõe também ao simples ouvir e ao ouvir por aí Uoeeren und Herunihceren u autentico ouvir que é auscultar seguir e ser obediente ao que se ouve IIcerigsein 19 o simples ouvir se dispersa e des trój no que se pensa e se diz no ouvir dizer na doxa na apa rência O auscultar autêntico porém não tem nada a ver com orelhas e palavreados mas segue aquilo que o Logos é a uni dade de reunião do ente em si mesmo die Gesammeltheit des Seienden selbst Ouvir verdadeiramente sò podemos quando já prestamos ouvido ié quando somos obediente ao que ouvi pos hcerigsein Essa obediência entretanto nada tem a ver com lóbulos aurieulares Quem não fôr obediente estará de antemão igualmente distante e excluído do logo8 por mais que possa ter ou não ter ouvido antes com as orelhas Aquêles que só ouvem porque esticam as orelhas para tudo e divul gam o que assim ouviram são e permanecem axynetoi os que não compreendem O Fragmento 34 nos diz de que espécie são êsses ouvintes os que não julgam juntar o conjunto constante são ou vintes que equivalem a surdos Cuvem de certo palavras e discursos e não obstante per manecem trancados ao que deviam ouvir O provérbio dá tes temunho do que realmente são presentes ausentes Estão lá 154 mas longe Em que os homens se acham na maioria das vêzes e de que não obstante se encontram distantes S o que diz o Fragmento 34 pois àquilo com que êles às mais das vêzes se entretêm continuamente ao logos a êle lhe voltam as costas e aqui lo com que se deparam diariamente lhes aparece estranho O logos é aquilo com que os homens estão continuamente e do qual também sempre distam São presentes ausentes e assim os axgnetoi os que não compreendem Em que consiste portanto o nãocompreender o não poder compreen der dos homens que embora ouvindo palavras não apreendem o logos Junto a que e longe de que estão sempre os homens Conti nuamente lidam com o Ser e sem embargo o Ser lhes é estra nho Com o Ber têm de haverse sempre porquanto conztan temente e comportam e relacionam com o ente Élhes en tretanto estranho o Ser enquanto dêle se apartam por não o apreenderem e sim pensarem que o ente é simplesmente ente apenas e nada mais De certo estão acordados com relação ao ente e no entanto o Ser lhes permanece oculto Dormem e até ineamo o que então fazem se lhes escapa Afanamse com ente e têm o mais palpável das handgreiflichste pelo que se deve compreender das Zubegreifende E assim cada um tem sempre o que lhe é mais próximo e apreensivel Um se atém a isso outro àquilo e o sentido de cada qual sempre está absorvido pelo que lhe é próprio é sempre o sentido do pró prio e particuar Eigensinn 20 Èsse os impede de ter sensibilidade para o que está reunido em si das ín sich Ge sammelte Tiralhes a possibilidade de serem obedientes assim de ouvirem Logos é a reunião Sammlung constante a unidade de reunião consistente em sl mesma do ente die In sich stehende Gesammeltheít des Seienden ié o Ser Por isso fcafá tòn lo gon e katá physin do Fragmento 1 significam o mesmo Physis e logros são a mesma coisa Lógos caracteriza o Ser de um pon to de vista novo e antigo ao mesmo tempo o que é ente o que é consistente e estável achase reunido em si mesmo por si mesmo e se mantém nessa reunião O eon o ente é em sua essencialização xVnon presença reunida Xgnon não significa 155 o universal mas o que reúne tqdo em si e o mantém junto Um tal xynon é segundo o Fragmento 114 o nomos para a polis a legislação legislar entendido aqui como reunir a es trutura interior das innere Geíüge da polis não um univer sal não algo que flutua sôbre tudo e ninguém apreende mas a unidade origin âri am ente unificante do que tende a separar se Auseinanderstrebende O sentido do próprio e particular Eigen sin idia phronesis que se tranca ao logos se atém apenas a um ou outro aspecto pensando encontrar ai o ver dadeiro O Fragmento 103 diz o ponto inicial e o ponto final reunidos em sí são um e o mesmo na linha circular Não te ri a sentido querer entender nessa passagem zyntm como o flniversal Para os que só têm sentido para o próprio e particular die Eigensinnigen a vida é sòmente vida A morte é para êles morte e mais nada Na realidade porém o ser da vida é ao mesmo tempo morte Tudo que começa a viver já começa também a morrer a caminhar para a morte de sorte que a morte é também vida No Fragmento 8 diz Heràclito o que se contrapõe carregase mútuamente um e outro num vaivém hiniiber und herüber reunese por si mesmo O que tende a oporse é a unidade de reunião logos O Ser de todo ente é o que mais aparece ié o mais belo o que em si mesmo é o mais consistente Para os gregos beleza é disciplina íBamdigung A reunião daquilo que mais tende a oporse é polemos o embate entendido no sentido explicado do processo de porse um fora do outro Auseinandersetzung Para nós modernos o belo é ao contrário o que alivia tensões descansa e tranquiliza e por isso algo destinado ao prazer e gõzo Assim a arte é algo do dominio das confeitarias Na essencialização não faz nenhuma diferença se o gôzo artístico serve para sa tisfazer o sentido apurado do especialista e esteta ou para a elevação moral do espirito Para os gregos on e kaltm dizem a mesma coisa Vigor da presença Anwesen ê puro aparecer A estética pensa de outra maneira Ela é tão antiga como a lógica Para ela arte é a expressão do belo entendido como aquilo que agrada por dar prazer De fato porém a arte é a abertura do Ser do ente Devemos dar um nôvo conteúdo à palavra arte1 e àquilo que ela significa Um nôvo conteúdo 156 a partir de uma posição fundamentai para com o Ser readqui rida originàrlamente Finalizamos a caracterização da Essencialização do Logos que Heràclito pensa assinalando dois pontos que ainda não íoram explicados 1 O dizer e ouvir só são justos quando se orientam prè viamente e em si mesmos pelo Ser o Lógos Somente onde êsse se manifesta a voz chega a ser palavra Sòmente quando se percebe o Ser do ente que se revela o simples ouvir por aí hermhceren se converte em auscultar Enquanto aqueles que não apreendem lagos akousai ovfc epistamenon oudeipein não são capazes de ouvir nem também de dizer frag 19 Não conseguem dar à existência solidez dentro do Ser do ente Só aqueles que podem fazêlo dominam a palavra os poetas e os pensadores Os demais cambaleiam apenas no circulo do sentido do próprio e da incompreensão Só deixam valer o que lhes vem ao encontro o que os lisonjeia e lhes é conhecido São como cachorros kynes gar kai bauzousin on an me gignos kousi pois o cachorro também ladra aos que não conhece Frag 97 São ásininos Onous syrmat an elesthai mallon e chrVson os jumentos preferem feno ao ouro Frag 9 Em tôda a parte se afanam continuamente com o ente enquanto o Ser lhes permanece oculto O Ser não se pode pegar e tocar nem ouvir com as orelhas nem cheirar É algo inteiramente diverso de um mero vapor e fumaça ei panta ta otita kapnos genoito rhines an diagnoein se todos os entes se dissolvessem desfizessem em fumo as narinas seriam o que os distingui riam e perceberíam Frag 7 2 Posto que o Ser entendido como Lógos é reunião ori ginária e não amontoamento e entulho em que tudo Valeria Igualmente tanto e tão pouco convém e lhe pertence emi nência e predomínio Para se poder revelar tem que possuir e conservar em si mesmo uma posição preeminente O fato de Heràclito falar da multidão como de cachorros e jumentos ca racteriza essa posição Ela pertence essencial men te à existên cia grega Quando hoje se é partidário às vêzes com dema siado fervor da Polis dos gregos não se deveria subestimar êsse lado do contrário o conceito de Polis se torna facilmente ino 157 cente e sentimental G eminente é o mais forte Por isso o Ser o Lógos entendido como a harmonia reunida não é fàcil mente e de modo igual acessível todo mundo mas oculto em contraposição àquele acordo que significa nivelamento ani quilamento de tensões igualdade harmonia aphanes premeres kreition a harmonia que não se mostra imediatamente e sem mais é mais poderosa do que o que sempre se mostra Frag 54 Justamente por ser lógos harmonia aletheia physis phai nesthai o Ser não se mostra de qualquer maneira O verda deiro não é para todo mundo mas somente para os fortes Foi em consideração a essa superioridade e ocultamento do Ser que foram ditas aquelas palavras estranhas que por parecerem tão pouco gregas testimunham justamente a Essencialização da experiência grega do Ser do ente alí osper sarma eikei ke chymenon o kattistos kosmos mas como um monte de estéreo confusamente entulhado é o mundo mais belo Frag 124 Sarma é o conceito oposto a logos o simples amontoado frente ao que se sustem em sua consistência o entulho frente à unidade de reurdão o anfiser tMsein frente o Ser A exposição comum e corrente da filosofia de Heráclito a resume nas palavras panta rhei tudo flui Coso provenham de Heráclito tais palavras então elas não querem dizer tudo é uma simples troca e mudança que se processa progressiva mente pura inconstância mas que a totalidade do ente se acha arrojada em seu ser de uma oposição ã outra numa oscilação constante que o Ser é a unidade de reunião dessa inquietação que se contrapõe Ao conceber a significação fundamental de logos como reunião e unidade de reunião devese estabelecer e fjxar o seguinte A reunião nunca é uma simples acumulação e am on toa mento Ela mantém numa correspondência o que tende a des pregarse e contraporse Não permite desfazerse na dispersão e no simples amontoado Entefídldo como retensão o lógos tem o caráter do vigor que domina penetrando Durchwalten da physisL O que assim é dominado a reunião não o deixa dissolverse numa vazia inércia de contrastes e shn a partir de sua união retém o que tende a oporse no máximo rigor de sua tensão 15ü Agora é a ocasião de voltar à questão sôbre o conceito cris tão de lógos especialmente o do Nôvo Testamento Para uma exposição mais exata deveriamos distinguir entre os Sinóticos e São João Em princípio porém podese dizer no Nôvo Tes tamento Lógos não significa desde logo como em Heráclito o Ser do ente a unidade de reunião do que tende a oporse mas entende significar um ente particular o Filho de Deus E êsse no papel de Mediador entre Deus e os homens Essa represen tação do Lógos do Nôvo Testamento é a mesma da filosofia da religião dos judeus que Filão construiu Em sua doutrina da Criação atribui êle ao Lógos a determinação de mesites de me diador Em que medida é êle Iogas Pois na tradução grega do Antigo Tstamento A Septuaginta logos é o nome para a pa lavra e palavra no sentido preciso de ordem mandamento oi deka logoi são os dez mandamentos de Deus o Decálogoi As sim logos significa keryz aggelos o mensageiro o enviado que transmite ordens e mandamentos logos tou staurou ê a palavra da Cruz Ora a mensagem da cruz é o próprio Cristo êle é o Logos da salvação da Vida Eterna lógos zoes Um mun do separa tudo isso de Heráclito Tentames expor a compertinência essencial de physis e iogas com o propósito de compreender por essa unidade a ne cessidade e possibilidade Intrínseca da distinção Todavia agora frente á caracterização do Logos de Herá clito quase que se vê alguém tentado a objetar o Logos perten ce essencialmente de modo tão íntimo ao Ser que se torna inteiramente questionável como poderá nascer dessa unidade e mesmldade de physis e lógos a contraposição do Logos como pensar ao Ser De certo temos aqui uma questão Na ver dade uma questão que de forma alguma pretendemos subes timar embora grande seja a tentação Mas agora só podemos dizer o seguinte se a unidade de pAjsís e toges é tão originá ria também a sua distinção deve ser também correspondente mente originária Se ademais essa distinção entre Ser e Pen sar é diferente e se opõe de maneira diferente das anteriores é porque aqui o separarse tem um outro caráter Por Isso em correspondência ao modo em que afastamos a interpretação do lógos de lôdas as deturpações ulteriores e a procuramos com preender a partir da Essencialização da physis assim também temos de procurar compreender agora êsse acontecimento da 159 Sôbre o que se pergunta em terceiro lugar parece já es tarmos suficientemente informados pelo que se disse anterior mente da physis O noein mencionado em segundo lugar é porém obscuro principalmente se não traduzirmos êsse verbo diretamente por pensar e o determinarmos no sentido da lógica como a predicação analítica Noein significa perceber nous a percepção e num duplo sentido conexo entre si De um lado perceber vernehmen diz admitir hinnehmen deixar chegar a saber aquilo que se mostra que aparece De outro lado perceber vernehmen 21 diz ouvir em depoi mento uma testemunha fazêla comparecer e constatar o ocor rido estabelecendo o que há com o fato Nesse duplo sentido percepção significa o deixar chegar alguém de sorte que não se aceita simplesmente mas se prepara para o que se mostra tuna posição receptiva Aufnahmestellung pretendem então rece ber inimigo que se lhes aproxima e recebêlo de modo a pelo menos detêlo zum Stehen bringen 22 Êsse deter recep tivo wumstehenbrigen daquilo que aparece é o que signi fica noein Dêsse perceber afirma a frase de parmênides que é o mesmo que o Ser Com isso chegamos à explicação do que se perguntava em primeiro lugar o que significa to auto o mesmo O que é o mesmo que outro vale para nós como igual como uma e a mesma coisa Em que sentido de unidade se pensa o um do mesmo Determinálo não está ao sabor de nosso arbítrio Ao contrário agora quando se trata do dizer do Ser devese entender a unidade nc sentido em que Parmêni des pensa com a palavra en Já sabemos que nesse caso a unidade nunca é a vazia indiferença do Igual Einerleitheit não é a mesmldade entendida como mera equivalencla Glelchgültígkeiti Unidade é o pertencer daquilo que tende a oporse a um único conjunto Élsse é o que une originária mente For que diz Parmênides te kai Porque Pensar e Ser estão unidos no sentido do que tende a oporse ié são o mesmo como pertencentes um ao outro num único conjunto Como havemos de compreender isso Partamos do Ser que se nos foi esclare cido como physis de vários aspectos Ser diz estar na luz apa recer entrar na revelação e descobrlmento Unverborgenheit Onde tal acontece ié onde o Ser impera lá também impera e 102 acontece como pertencente a êsse vigor do Ser a percepção o porae em posição receptora daquilo que está em si mesmo cons tante e se mostra Com uma precisão ainda maior diz Permênides a mesma frase no Fragmento 8v 34 taiíton desti noein te kai ouneken esti noema o mesmo é a percepção e aquilo em virtude do qual a percepção se dá A percepção se dá em virtude do Ser Ora êsse só se Essenclaliza como aparecer entra apenas em desvelamento quando se dá revelação quando se dá um abrir se e manifestarse Nessas duas formulações a frase de Par mênldes nos proporciona uma visão ainda mais originária da Essencialização da phVsis A ela pertence percepção o vigor imperante da phiisis é também o vigor imperante da percepção Em primeira aproximação a frase nada diz do homem e sobretudo do homem como sujeito e absolutamente nada de um sujeito que reduz todo o objetivo a algo meramente sub jetivo De tudo isso diz justamente o contrário o Ser vigora e porque e na medida em que vigora e aparece dãse neces sariamente com a aparência também a percepção Se porém no darse Geschehnis dessa aparência e percepção o homem deve participar êsse terá também de ser deverá também per tencer ao Ser A essencialieação e o modo de ser do homem só se pode então determinar a partir da Essencialização do Ser Dado que porém o aparecer pertence ao Ser entendido tomo pAJfsis o homem deve como ente pertencer a tal apa recer Por sua vez visto que o ser homem constitui manifes tamente um ser próprio e peculiar no meio do ente em sua totalidade seguese que a peculiaridade do ser do homem surge do seu modo próprio e específico de pertencer ao Ser como aparecer imperante e vigente Enquanto porém a êsse apa recer pertence percepção o perceber receptor daquilo que se mostra poderseá pressupor que é a partir dai que se deter mina a essencialização do ser homem Por isso tratandose da interpretação daquela frase de Parmênides não podemos proce der introduzindo na interpretação uma concepção do ser do homem posterior ou até moderna Ao contrário a frase por si mesma nos deve dar a indicação de como seguindoa ié se guindo a Essencialização da Ser se determina a essencialização do homem 103 Segundo a frase de Heràclito só se exibe fedelxe se mos tra quem ê o homem no polemos no separarse de deuses e homens no acontecer da irrupção do próprio Ser Quem é o homem não está escrito no céu para os filósofos Aqui vale ao invés o seguinte 1 A determinação da essencialização do homem nunca é uma resposta mas essencialmente uma questão 2 A investigação dessa questão e sua decisão é Histórica não apenas de modo geral mas é a essencialização do acontecer Histórico 3 A questão sôbre quem é o homem deve ser sempre co locada em conexão essencial com a questão sôbre o que há com o Ser A questão sôbre o homem nâo é uma questão antropológica mas uma questão Histórica mente metafísica Essa questão não pode ser investigada suficientemente na esfera da metafísica tradicional que em sua essencialização permanece sempre física Assim o que se chama noits e noeín na frase de parmênides não podemos desfigurar com um conceito de homem que nós mesmos trazemos para a interpretação Devemos antes fazer a experiência de que o ser do homem só se determina a partir do acontecimento da correspondência essencial entre o Ser e a Percepção E o que é o homem nesse vigor de Ser e Percepção O iní cio do Fragmento 6 que já conhecemos nos dá a resposta chre to legein te noein teon emenai o legein Ó necessário tanto quanto a percepção a saber o ente em seu Ser O noein ainda não podemos conceber aqui simplesmente eomo Pensar Nem basta também entendêlo como percepção se e enquanto tomamos percepção nesciamente e de modo corrente como uma faculdade como um modo de comportarse do homem e do homem assim como nos figuramos de acôrdo com uma biologia e psicologia ou gnoseoologia vazia e pálida E é o que ocorre até mesmo quando não nos referimos expres samente a tais representações 164 A percepção e o que Parmênides diz dela não constituí uma faculdade do homem já determinado emsl A percepção é um acontecimento em que o homem nêle acontecendo entra no acontecer Histórico como o ente que é isso quer dizer no sen tido literal da palavra em que o homem mesmo chega ao Ser A percepção não é um modo de comportarse que o ho mem possui como uma propriedade Muito pelo contrário a percepção é o acontecimento que possui o homem Por isso se fala sempre de noein simplesmente de percepção O que se realiza nessa sentença não é nada menos do que o apareci mento InErscheinung tretenl consciente do homem como Histórico guardião do Ser A sentença é tão decisivamente a determinação do ser do homem normativa para o Ocidente como uma caracterização da Essencialização do Ser Na corres pondência de Ser e essencialização do homem se esclarece o separarse de ambos Na distinção Ser e Pensar de há multo esvaziada desarraigada e empalidecida jã não poderemos re conhecerlhe a origem a menos que retornemos ao seu prin cipio A modalidade e o sentido da oposição entre Ser e Pensar só é assim tão particular porque aqui o homem encara o Ser Tal acontecimento é o aparecimento consciente do homem co mo Histórico Somente depois de ter sido conhecido como um tal ente é que êle foi definido num conceito a saber como soon logon echon animal rationale animal racional Nessa de finição do homem se apresenta o lóços mas de uma forma inteiramente irreconhecível e numa vizinhança muito estranha Essa definição do homem ê no fundo zoológica O zoon de semelhante zoologia permanece questionável em muitos pon tos E entretanto foi dentro dos limites dessa definição que a doutrina ocidental do homem tôda psicologia ética gnoseo logia e antropologia se edíficou De há muito nos debatemos numa mistura confusa de representações e conceitos extraídos dessas disciplinas Ora visto que a definição do homem que suporta e car rega tudo isso mesmo sem falar de suas interpretações poste riores já é uma decadência por isso não conseguimos ver nada enquanto pensarmos e investigarmos sob o ângulo de visão por ela aberto o que se diz e se processa na sentença de parmê nides 185 A representação corrente do homem em tõdas as suas va riantes constitui apenas um impeciJho que nos veda o acesso ao espaço em que no princípio se dá e se mantém o apareci mento da essencialização do homem O outro impecilho reside no fato de nos permanecer estranha até a questão sôbre o homem Por certo que há agora livros com o título O que é o homem Todavia a questão figura apenas nas letras da capa Não se investiga e de forma alguma por se haver esquecido a investigação no meio de tantos livros a escrever mas por já se ter uma resposta â questão e uma resposta em que se diz que não se deve Investigar Que alguém creia nas proposições que definem o Dogma da Igreja Católica é uma questão Individual que aqui não se discute Que porém alguém ponha na capa de seus livros a questão O que é o homem embora ndo a investigue porque não quer e não pode é uma maneira de proceder que de antemão já perdeu todo direito de ser levada a sério E que então o Jornal de Frankfurt ainda elogie um tal livro em que só se pergunta na capa dlzendoo extraordiná rio grandioso e corajoso revela até ao mais cego aonde estamos Por que mencionamos aqui coisas desconexas com a inter pretação da Sentença de Parmenides Essa espécie de litera tura é de fato em si mesma sem importância e significação O que porém não carece de Importância é o estado entrevado de tôda paixão de investigar de que sofremos já desde tanto tempo Tal estado acarreta consigo que todos os critérios e atitudes se confundem e a maioria já não sabe onde e entre que se deve decidir caso se deva conjugarse com a grandeza da vontade Histórica o rigor e a originalidade do saber His tórico Indicações como essas só mostram quão longe de nós se acha a investigação de uma questão entendida como acon tecimento fundamental do ser Histórico Já perdemos até a compreensão e sensibilidade da questão Por isso para a re flexão do que se vai seguir damos os pontos essenciais de referência 1 A determinação da essencialidade do homem nunca é resposta mas essenclalmente questão lôfi 2 A investigação dessa Questão é Histórica no sentido originário segundo o qual é essa Investigação que ins taura pela la vez o acontecer Histórico 3 Eé assim porque a questão o que é o homem só pode ser investigada dentro da questão sôbre o Ser 4 Somente quando o Ser se abre na investigação pro cessase o acontecer Histórico e com isso aquêle ser do homem em virtude do qual êle se atreve a uma disputa com o ente como tal 5 Tal disputa que se mantém numa atitude de investiga ção faz o homem retomar ao ente que êle mesmo é e deve ser 6 Somente numa investigação Histórica o homem chega a si mesmo e é uma pessoa Selbst 23 A personalidade do homem significa o homem ê chamado a transformar em História o Ser que se lhe abre e manifesta e darse a si mesmo no espaço assim aberto consistência Per sonalidade não diz que o homem é em primeiro lugar e antes de tudo um eu ou um indivíduo singular Personalidade é tão pouco um eu e um indivíduo singular quão pouco é um nós e uma comunidade 7 Por ser enquanto Histórico êle mesmo a questão sô bre o seu ser específico tem de se transformar da for ma o que é o homem na forma quem é o homem O que a sentença de Farmênldes exprime é uma determi nação da essencialização do homem a partir da Essencialização do Ser em si mesmo Todavia ainda não sabemos como se determina nesse caso a essencialização do homem Até agora tratouse apenas de delimitar o espaço no qual se exprime a sentença e exprimin dose o abre e desdobra Essa indicação gerai entretanto ain da não é suficiente para llvrarnos das representações corren 167 tes do homem e do modo de sua determinação conceituai A compreensão da sentença exige pelo menos que tenhamos uma idéia positiva da existência e do ser grego a fim de podermos apreenderlhe a verdade Da sentença de Herãclito Já tantas vêzes mencionada sa bemos que só no polemos na disposição Auselnadersetzung do Ser se processa e acontece a separação de deuses e de ho mens só êsse embate eideixe mostra faz aparecer e surgir em t seu ser deuses e homens Quem é o homem não chegaremos a saber por meio de uma definição erudita Só o sabemos quando o homem entra numa posição de disputa com o ente tentando pôr o ente em seu lugar ié colocála dentro dos limi tes e da forma o que significa projetando algo de nôvo ainda não presente ié poetando originàriamente fundando poéti camente O pensar de Parmênides e Herãclito ainda é poético o que significa aqui ainda é filosófico e não científico Posto que nesse pensar poetante a proeminência cabe ao pensar a re flexão sôbre o ser do homem adquire uma orientação e uma medida tôda sua Para se iluminar suficientemente êsse pensar poético por meio de seu reverso que lhe pertence intrínseca mente e preparar assim a sua compreensão investigaremos agora um poetar pensante dos gregos e precisamente aquêle em que se instaura pròpriamente o ser e a existência corres pondente dos gregos a tragédia Procuramos entender a separação de Ser e Pensar em sua origem Tratase do titulo com que se designa a atitude fundamental do espírito ocidental Pelo âmbito do pensar e da razão se determina o Ser È o que continua a ocorrer ainda quando o espirito do Ocidente se esquiva a uma simples predo minância da razão procurando o irracional1 e buscando o alóglco Perseguindo a origem da separação de Ser e Pensar en contramos a sentença de Parmênides to gar auto noein estin te kai einai De acòrdo com a tradução e interpretação corren tes isso significa Pensar e Ser são o mesmo Podemos chamar essa sentença o princípio condutor Lelt satz da Filosofia Ocidental mP com a ressalva da seguinte observação 168 A sentença só se tornou o principio condutor da Filosofia Ocidental por não se têla mais compreendido uma vez que a sua verdade originária não pôde ser conservada O afastarse da verdade da sentença já se iniciou entre os próprios gregos lego depois de parmênides Verdades originárias dêsse jaez e envergadura só se poderão conservar na medida em que cons tantemente se desdobram e desenvolvem de modo ainda mais originário Nunca por simples aplicação ou mero recurso e apelação O que é originário só permanece e continua originá rio enquanto gozar e possuir sempre a possibilidade de ser aquilo que é origem entendida como originarse a partir da revelação de sua Essencialização Tentemos readquirir a ver dade originária da sentença A primeira indicação de que a interpretamos de um outro modo temos com a tradução A sentença não diz Pensar e Ser são o mesmo mag Percep ção e Ser pertencem conjuntamente numa reciprocidade Todavia o que significa isso De qualquer modo a sentença evoca o homem Por Isso é quase inevitável que logo se lhe introduza a representação cor rente do homem Assim se falsifica a essencialização do ho mem experimentada de modo grego seja no sentido do con ceito cristão moderno seja no sentido de uma mescla vazia e pálida de ambos Entretanto essa falsificação do homem por meio de uma representação não grega é a mal menor O funesto pròpria mente consiste em não se atingir fundamentaimente a verdade da sentença Com efeito na sentença se realiza a primeira determinação decisiva do ser do homem Por isso não só devemos afastar da interpretação essa ou aquela idéia de homem mas em geràl qualquer uma Temos que tentar ouvir apenas o que na sen tença se diz Por outro Lado visto que não apenas não somos experi mentados em tal ouvir mas temos sempre os ouvidos cheios do que nos impede de ouvir corretamente tivemos de mencionar mais a modo de enumeração as condições de uma investigação autêntica sôbre quem é o homem Como a determinação pensante do ser do homem realizada por Parmênides é de Imediato de acesso difícil e estranha 109 buscaremos ajuda e indicações numa configuração poética do ser do homem dos gregas Leiamos o primeiro Coro de Antigona de Sófocles v 332275 Ouçamos primeiro a palavra grega a fim de termos no ouvido algo de seu som A tradução dia Muitas são as coisas estranhas nada porém há de mais estranho do que o homem Parte sôbre as espumas da préiamar ne melo da tempestade do Inverno sulino e cruza as montanhas de vagas que abrem abismos de T raiva Extenua a infatigabilidade indestrutível da mais sublime das deusas a Terra revolvendoa ano após ano arrastando com cavalos para lá e para cá os arados Sempre astuto o homem enreda o bando dos pássaros em revoada e caça os animais da selva e os agitados moradores do mar Com astúcia domina o animal que pernoita e anda pelos montes subjuga o dorso de ásperas crinas do corsel e põe o jugo das cangas de madeira ao touro não domes ticado A si mesmo encontrou tanto no soar da palavra e na comprensão que com a rapidez do vento tudo abarca como no denôdo com que domina as cidades Igualmente pensou como escapar aos dardos do clima bem como às Inclemênclas do frio Pondose a caminho em tôda parte desprovido de expe riência e em aporia chega êle ao Nada A morte é a única agressão de que não se pode defender por nenhuma fuga embora consiga esquivarse hàbll mente às penas da enfermidade Garboso muito embora porque domina mais do que o esperado a habilidade inventiva cal muitas vêzes até na perver sidade outras saemlhe bem nobres empresas Por entre as leis da terra e a conjuntura exconjurada pelos deuses anda êle Ao sobrepujar o lugar o perde a au dá cia o faz favorecer o nãoser contra o ser Aquele que põe isso em obras não se tome familiar de minha lareira nem tão pouco o meu saber compartilhe comigo o seu desvairarse A interpretação que se segue será forçosamente ineficiente já pelo simples fato de não poder ser construída a partir de todo o texto da tragédia e multo menos ainda de todo o con texto da obra do poeta Nem se tratará da escolha das varian tes e das modificações introduzidas no texto A interpretação se desenvolve em três passos nos quais percorreremos cada vez sob ponto de vista diferente todo o canto No primeiro passo destacaremos propriamente o que cons titui a fôrça interna do poema e que por conseguinte também atravessa e dá consistência à configuração linguistics do todo No segundo passo seguiremos a sequência de estrofes e an tistrofes bem como demarcaremos os limites de todo o domínio que o poema instaura e revela No terceiro passo tentaremos tomar pé no meio do todo para avaliar quem é o homem segundo êsse dizer poético Primeiro passo Buscamos o que carrega e impregna o todo Pràpriamente não precisamos procurálo Três coisas por três vêzes como um choque repetido nos abala e de ante mão esfrangalha todos os critérios das perguntas e determina ções cotidianas A primeira é o inicio polia ta áeina Muitas sâo as coisas estranhas nada porém há de mais estranho do que o homem 171 Nesses dois primeiros versos já de antemao se esboça tudo aquilo que durante todo o canto procuraseá alcançar nos vários versos e esculpir na estrutura das palavras Dito com ttma palavra o homem é to deinotaton o que há de mais es tranho Êsse dizer concebe o homem pelos limites supremos e pelos abismos mais surpreendentes de seu ser Essa surpresa e fínítude nunca se tornarão visíveis aos olhos de uma mera constatação e descrição do que é objetivamente dado Vorhan denesl ainda que fossem mil os olhos que quisessem encontrar no homem estados e propriedades Tal ser só se revela e se abre a um projeto poéücopensante Não se encontra nada de uma descrição de exemplares humanos dados objetivamente nem tão pouco uma exaltação ridiculamente cega da essência do homem de baixo para cima A partir de um ressentimento insatisfeito que procura agarrase a uma importância cuja ausência se ressente Nada da sobranceria de uma personali dade Entre os gregos não há ainda personalidade por isso também nada de superpessoal überpersoenllch O homem é to deinotaton o que há de mais estranho no estranho A palavra grega deinon como u nossa tradução necessitam aqui uma explicação prévia Essa só poderá ser dada a partir de uma previsão inexpressa de todo o canto que é a única coisa que dá uma interpretação adequada para os dois primeiros ver sos A palavra grega deinon ê ambígua oscila naquela estra nha ambiguidade com que o dizer dos gregos percorria as dis posições contrapostas do Ser die gegenwendigen Auseinan dersetzungen des Seins Uma vez deinon significa o terrível não porém os peque nos temores e muito menos ainda possui aquela significação decadente néscia e inútil em que se usa hoje a palavra quando se diz terrivelmente belo Deinon é o terrível no sentido do vigor predominante überwaeltigendes Walten que provoca simultaneamente e de modo igual tanto o terror do pânico a verdadeira angústia como o temor concentrado quieto que vi bra em si mesmo A violência predominante é o caráter essen cial do próprio vigor que impera Walten Onde êsse irrompe pode reter em si o seu poder subjugador Todavia não se torna por isso mais inofensivo e sim ainda mais terrível e distante Outra vez deinon significa o vigoroso no sentido daquele que usa o vigor da violência Que não apenas dispõe de vio 172 lência mais instaura o vigor da violência Gewalttsetig en quanto o emprêgo de violência constitui a feição fundamental não de seu agir mas de sua existência A palavra instaurar n vigor da violência damos aqui um sentido essencial que em principio transcende o significado corrente segundo o qual in dica às mais das vêzes arbítrio e crueldade Assim a violência do vigor é considerada dentro de um âmbito em que o critério da existência é dado pelo acòrdo e contrato de equiparação e mútua assistência e em conseqüência se despreza necessaria mente tôda e qualquer violência como simples perturbação e violação Como vigor imperante o ente em sua totalidade ê o que impõe o vigor que subjuga das überwseltígende o deinon no primeiro sentido O homem porém é deincm uma vez por quanto permanece exposto a êsse vigor imposto visto que per tence em sua essencialização ao Ser outra vez é deinon por ser o que instaura o vigor da violência no sentido indicado em segundo lugar Éle colige o vigor imperante da violência ê permite manifestarse A instauração do vigor não é uma ati vidade a mais e ao lado de outras mas o homem é essa ins tauração no sentido de que no fundo e em sua existência deixa imperar o vigor usando de violência contra a imposição e o jugo do próprio vigor gegen das überwseltigende Destarte por ser duplamente deinon num sentido originàriamente uni tário o homem é tô deinotaton o mas vigoroso o que instaura vigor no meio do vigor que impõe o seu jugo gewaltteetig innitten des überwaeltigenden Mas por que então traduzimos deinon por estranho Não foi certamente para encobrir e diminuir o sentido do vigorante do que impõe o jugo de seu vigor nem também da existência vigorosa Muito pelo contrário Posto que o deinon se diz no mais alto grau de potenciação e conjugação do ser do homem por isso a essencialização do ser assim determinado tem que tornarse logo visível numa perspectiva decisiva Todavia essa caracterização do vigente e vigorante como o estranho não será uma determinação suplementar e supletiva a saber com vistas à ação que sôbre nós exerce o vigor enquanto se trata preclsamente de compreender o deinon como e naquilo que êle é em si mesmo Mas nós aqui não entendemos estranho no 1T3 sentido de uma impressão causada em nossos estados emo cionais Estranho entendemos como o que sai e se retira do fa miliar das Heimliche lé daquilo que nos é caseiro íntimo habitual não ameaçado O estranho não nos deixa estar em casa Nisso reside o vigor que se impõe e subjuga das fiber weeltigende o homem é o que há de mais estranho não só porque conduz o seu ser no meio do estranho assim entendido mas por afastarse e sair dos limites que constituem em pri meiro lugar e às mais das vezes a sua paisagem caseira e ha bitual por transpor como o que instaura vigor as raias do fa miliar e se aventurar justamente na direção do estranho no sentido do vigor que se Impõe Para se avaliar porém em todo o seu alcance e importân cia essa palavra sóbre o homem temos também de levar em conta que ela não pretende atribuirlhe simplesmente uma propriedade especial como se o homem além de ser o que há de mais estranho ainda fôsse outras coisas Ela diz ao con trário que ser o mais estranho é o feitio fundamental da Es sencialização o homem no qual se inscrevem cada vez sempre e necessariamente todos os demais traços e caracteres A afir mação o homem é o que há de mais estranho dá a defi nição propriamente grega do homem Só atingiremos comple tamente o acontecer dessa estranheza ha medida em que tam bém fizermos experiência do poder da aparência e do combate com ela como pertencente à essencialização da existência Depois dos primeiros versos e com relação a êles a segunda palavra que tudo fundamenta e impregna se acha expressa no verso 360 É o meio da segunda estrofe Paníoporos aparos epoutien erchetai Pondose a caminho por tôda a parte des provido de experiência e em aporia chega êle ao Nada As palavras mais importantes são pantoporos aparos A palavra poros significa travessia por passagem para caminho Por tôda a parte o homem se abre caminhos Atrevese em todos os setores do ente do vigor imperante que se impõe E por isso se vê lançado fora de todo caminho Somente dêste modo se abre tôda a estranheza daquele que é o que há de mais estranho Não apenas por experimentar em tôda a sua estra nheza o ente na totalidade Não só porque nela rompe como aquêle que instaura o vigor o que lhe é familiar Êle se torna 174 em tudo leso o que há de mais estranho porque estando em todos os caminhos em aporia sem saída alguma se acha ex pulso de qualquer referência Se lhe corta tôda a ligação com 0 familiar A até a ruína e a desgraça vêm sôbre êle Pres sentimos agora em que medida Êsse pantoporos aporos contém uma Interpretação do deinotaton A interpretação se completa na terceira palavra proemi nente do verso 370 hypsipolis apolis Essa palavra é formada do mesmo modo da anterior pantoporos aporos e se Insere como ela no meio da antistrofe Não obstante se refere a uma outra dimensão do ente Não se evoca o poros mas a polis Não se indicam todos os caminhos do domínio do ente mas o funda mento e lugar da existência humana O ponto de convergên cia e cruzamento de todos os caminhos a polis Traduzse polis por Estado e CidadeEstado Essa tradução não atinge o sen tido pleno da palavra Polis quer dizer a localidade a dimen são Da em que como tal a existência Daseín expande seu acontecer histórico A polis é 0 lugar histórico o espaço no qual a partir do qual e para o qual acontece a história A essa di mensão histórica pertencem os deuses os templos os sacerdo tes as testas os jogos os poetas os pensadores os governantes o conselho dos anciãos a assembléia do povo o exército dos guerreiros os navios Tudo isso não pertence à polis não é político por assumir uma relação com um homem de Estado com um general ou com os negócios do governo Ao contrário tudo aquilo é político isto é está na dimensão do acontecer histórico enquanto por exemplo os poetas são sàmente mas en tão realmente poetas Quando os pensadores são sòmente mas então realmente pensadores Quando os sacerdotes são sòmen te mas então realmente sacerdotes sendo os governantes sò mente mas então realmente governantes São porém signi fica aqui como os que instauram vigor1 e se tornam assim emi nentes no ser Histórico como criadores e instauradores Emi nentes na dimensão da História são ao mesmo tempo apolis sem cidade e lugar solitários estranhos aporeticos sem saída no meio do ente em sua totalidade sem constituição e limites sem estrutura e dispositivos Fug de vez que como criadores são êles que devem então fundar e instaurar tudo isso O primeiro passo nos mostra assim as linhas mestras Au friss da Essencialização do que há de mais estranho os do 175 minios e a extensão de seu Império e de seu destino Voltamos agora ac início e tentamos o segundo passo da interpretação O segundo passo Seguimos agora à luz do que ficou dito a sequência das estrofes e auscultamos como se desdobra e de senvolve o ser do homem que consiste em ser o que há de mais estranho Temos de prestar atenção no seguinte se se entende e como ss entende o ãeinan no primeiro sentido se aparece e como aparece o deínora no segundo sentido se e como se edi fica dentro da relação recíproca de ambos os sentidos o ser do que há de mais estranho em sua forma essencial A primeira estrofe evoca o mar e a terra cada um a seu modo um vigor que impera e impõe o seu jugo tdefnoni A evocação do mar e da terra não toma naturalmente ambos em sua simples acepção geográfica e geológica tal como hoje se nos apresentam a nós modernos para a seguir retocálos e natizálos com alguns sentimentos mesquinhos e passageiros Mas ê aqui evocado como pela primeira vez e em suas vagas invernais em que êle rasga constantemente suas profundezas mais profundas e se arrasta até elas Logo imediatamente após a sentença principal e condutora do início o canto começa abruptamente com tonto fcuí poliou Canta o abrirse caminho sôbre a face sem fundamento das ondas o abandonar a terra firme Tal empresa não se dá no espelho sereno de águas re luzentes mas na tempestade encapelada do inverno O modo de dizer dessa partida se encaixa tão perfeitamente no movimento de cadência da estrutura da palavra e do verso como o chorei do verso 336 se põe exatamente no ponto em que a métrica muda bruscamente chorei êle abandona o lugar êle se vai e se aventura na prepotência da maré de um mar sem lugares Na estrutura dêsses versos a palavra chorei se ergue como uma coluna grega Implicada numa unidade com essa erupção largada vigo rosa no vigor imperioso do mar está a Irrupção de modo algum pacifica no império indestrutível da terra Observemos bem a terra é chamada aqui a mais excelsa das divindades O vigor insta ura dor do homem turba o repouso do crescimento da nu trição e geração da Infatigável Aqui o vigor imperioso não reina na selvageria que se devora a si mesma e sim como aquilo que sem esfôrço e fadiga sazona e prodigaliza tomando 176 da tranquilidade de uma grande riqueza tesouros inexgotávels que excedem qualquer generosidade Nesse vigor imperante ir rompe o instaurador Ano após ano o interrompe com arados e Impele a Infatigável no borborinho de seu esfôrço O mar a terra a erupção o transtorno tudo isso é enfeixado em si pelo kai do verso 334 ao qual corresponde o te no verso 338 Ouçamos agora a antistrofe Evoca os bandos de pássa ros nos ares os animais das águas os touros e cavalos das mon tanhas Os seres vivos se movem dentro de si e de seu meio Embora transbordando continuamente sôbre si mesmos se renovem em formas sempre novas permanecem todavia numa unlca trilha pela qual conhecem o lugar por onde andam e onde pernoitam Como Sêres vivos se encaixam no vigor im perante do mar e da terra Nessa vida que se desenrola em si mesma desabituada em seu círculo estrutura e fundamento lança o homem os seus laços e as suas rédes Arrancaa de sua ordem e tranca em cercados e currais submetendoa a jugo Lá irrupção e desmoita Aqui aprisionamento e sub jugação Agora antes de passar à segunda estrofe e sua antistrofe fazse necessário Intercalar uma advertência para pôr côbro a uma interpretação falsa de todo o poema Um perigo sugestivo e mesmo corrente para o homem moderno Já indicamos antes que não se trata no poema de uma descrição e caracterização dos diversos domínios e da conduta do homem qual ente dado entre outros entes Tratase do projeto poético de seu ser ediflcado segundo suas possibilidades e seus limites supremos Com isso já se previne contra outra opinião segundo a qual o poema narraria a evolução do homem desde o caçador selva gem e habitante de árvore até o construtor de cidades e cultu ras São representações da etnografia e psicologia dos primi tivos que nascem da falsa transposição de uma ciência natural já em si mesma não verdadeira para o ser do homem O erro fundamental que serve de base a tais modos de pensar con siste em se crer que o principio do acontecer Histórico deve ser primitivo atrazado acanhado e débil Na verdade porém se dá o contrário O princípio é o que há de mais estranho e poderoso O que lhe sucede não é progresso e evolução mas aplanamento no sentido de simples propagação e alargamento 177 É a impossibilidade de reter e conservar o principio É sim plificação inofensiva e exorbitância do principio que o defor ma em grandeza no sentido de quantidade puramente numé rica e grandeza de massa O que há de mais estranho é o que é por guardar em si um princípio em que tudo prorrompe conjuntamente de uma superabundâncla e plenitude num vigor que se impõe e se destina a predominar Não se poder explicar que um tal princípio não constitui ne nhuma deficiência e fracasso de nosso conhecimento do acon tecer Histórico Na compreensão do caráter misterioso dêsse principio reside ao contrário a autenticidade e a grandeza de um conhecimento Histórico Saber algo de uma História ori ginária não consiste em remover a poeira do primitivo nem em colecionar esqueletos Não é ciência natural nem pela metade nem por inteiro e sim no caso de ser alguma coisa Mitologia A primeira estrofe e antistrofe evocam o mar a terra e o anima como o vigor que se impõe dominante o qual aquele que instaura o vigor deixa manlfestarse em todo o vigor de sua fôrça prevalente tlbergewalt Considerada externa mente a segunda estrofe passa de uma descrição do mar da terra dos animais para a caracterização do homem Não obstante assim como na primeira estrofe e antistrofe não se falava apenas da natureza no sentido estrito assim também não se fala na segunda unicamente do homem Antes pelo contrário o que será evocado agora a lingua gem a compreensão a disposição afetiva Stimmung 24 a paixão e a edificação não pertencem menos à fôrça do vigor imperante do que o mar a terra o animal A diferença reside apenas no modo do vigor Os últimos exercem o seu vigor circundando e carregando constrlngindo e estimulando o ho mem enquanto o vigor dos primeiros o impregna e perpassa como aquilo que o homem como o ente que é tem de assumir em seu ser Êsse vigor que se exerce impregnando nada perde de sua fôrça subjugante pelo fato de o homem tomáto imediatamente em seu poder e usálo como tal Dessa forma o estranho da linguagem das paixões se oculta como aquilo no qual o ho mem como homem Histórico está disposto parecendolhe multo embora ser êle quem dispõe A estranheza dêsses poderes re side precisamente em sua aparente familiaridade e facilidade 178 Imedlatamente só se dão e oferecem ao homem em seu modo de ser não essencial Unwesen e assim o mantém fora de sua essencialização Desta sorte o que para êle tem a aparência de ser o mais próximo e Imediatamente dado élhe no fundo ainda mais distante o seu vigor o domina ainda mais do que o mar e a terra Quão distante o homem se acha de sua própria essencia lização mostra a opinião que faz de sl mesmo como quem In ventou e pôde Inventar a linguagem e a compreensão as edi ficações e a poesia Como podería o homem jamais inventar o vigor que o im pregna em razão do qual êle pode ser simplesmente homem Pensando que o poeta atribuí aqui ao homem a Invenção de coisas tais como edificações e linguagem esquecemos total mente de que nesse poema se trata do vigor que subjuga dei non do estranho A palavra eáitiaxato não significa que o homem Inventou mas que êle se encontrou no vigor que do mina e subjuga e só aqui encontrou a si mesmo a saber a fôrça de quem instaura êsse vigor Segundo o que antecede o a sl mesmo significa também aquilo que irrompe e arrotei a que aprisiona e submete a jugo É êsse Irromper e arrotear êsse aprisionar e domar que constituem em st mesmos a abertura o espaço livre que re vela o ente como mar como terra como animal Irrupção e arroteamento só acontecem quando o poder da linguagem da compreensão da disposição afetiva e da edificação são dis ciplinados na instauração de vigor Gewalttsetigkeit Êsse vigor de Instauração do dizer poético do projeto do pensador das estruturas de construção da criação política não é uma atividade ou atuação de faculdades que o homem possui mas um sujeitar e dispor das forças do vigor em virtude das quais o ente se abre e manifesta como tal ao inserirse e instau rarse nêle o homem Essa abertura e manifestação do ente constitui o vigor que o homem tem de disciplinar para ins taurando vigor ser então êle mesmo no meio do ente Ié para ser Histórico O que aqui nessa segunda estrofe se en tende por deinon não se deve falsear Interpretando como uma invenção ou simples faculdade ou propriedade do homem O uso da fôrça e vigor na linguagem na compreensão na formação e edificação cria também o que sempre significa 178 produz a Instauração vigorosa que abre caminhos no ente circunstante só quando hovermos entendido isso é que com preenderemos o caráter estranho Unheímlichkeit de tôda ins tauração de vigor Pois o homem sempre em tôda parte a ca minho não se vê em aporia e sem saída no sentido externo de esbarrar em barreiras de fora que o impeçam de continuar adiante Diante de obstáculos externos êle pode sempre con tinuar num indefinido e assim adiante A aporia consiste ao invés no fato de êle ser sempre reconduzido aos cami nhos por êle mesmo abertos aferrandose a seus percursos enredandose no já percorrido traçando nessa rêde o círculo de seu mundo emaranhandose com a aparência e trancan dose assim ao Ser Dessa forma êle se agita numa atividade febril virandose e revirandose dentro de seu próprio círculo Tudo que se opor à êsse círculo poderá excluir do raio de sua atividade Tôda habilidade que nêle se enquadrar poderá apli câIa em seu devido lugar A instauração do vigor que abre origlnàriamente os caminhos engendra então em si mesma a própria ausência de sua essencialização Unwesen na ativi dade febril de uma múltipla aplicação de habilidades Essa não é em si mesma outra coisa do que aporia Ausweglosig keit como ausência de saídas e a tal ponto que ela se tranca a si mesma o caminho de uma reflexão sôbre a aparência em que ela própria se agita Só há uma coisa em que a instauração do vigor fracassa imediatamente é a morte Ela completa überendet tôda completação Vollendung ela limita tôda limitação Aqui não há irrupção e arroteamento nem aprisionamento e sujei ção Todavia êsse estranho Unheimliche que de modo com pleto e absoluto está fora de tudo que é familiar não é um acontecimento especial que deve ser rpencionado entre os de mais por se dar também no fim Frente à morte o homem não se sente numa aporia sem saídas apenas quando tem de morrer mas constantemente e de modo essencial Enquanto o homem É encontrase na aporia da morte Assim a existência como o lugar do Ser Dasein constitui o próprio acontecer do estranho Êsse acontecer deve ser instituído para nós de modo originário corno existência 18ü Com a evocação dêsse vigor estranho que se impõe a morte o projeto poético do ser e da essencialização do homem esta belece seus próprios limites Com eíeito a segunda antístrote já não traz mais outros poderes Recolhe tudo que já foi dito em sua íntima unidade A estrofe final reconduz tudo a seu princípio fundamental Ora de acòrdo com o que ressaltamos no primeiro passo o prin cipio fundamental do que pròpriamente se tem a dizer do deinotaton consiste precisamente na referência recíproca do duplo significado de deinon Em conformidade a estrofe fina evoca em sua recapitulação três coisas 1 O vigor o império vigoroso no quai se move a ação instauradora de vigor do homem constitui todo o âmbito das maquinações to machanoen que lhe são confiadas Não to mamos a palavra maquinação em sentido pejorativo Por ela entendemos algo de essencial que se nos apresenta na pala vra grega teehne Techne não significa nem arte nem habili dade nem de certo técnica no sentido moderno Traduzimos techne por saber mas isso precisa de uma explicação Saber não significa aqui o resultado de simples constatações a res peito de dados objetivos Vorhandençs antes desconhecidos Tais conhecimentos são sempre algo apenas acessório multo embora indispensável para o saber Êsse no sentido autên tico da techne é precisamente um ver que ultrapassa o que é dado de modo objetivo Vorhandenes e assim se torna prin cipio e origem anfsenglich de permanência e consistência stsendig Essa ultravísao opera de modo diverso e por ca minhos e domínios diferentes põe em ação prèviamente o que confere ao que já é dado de modo objetivo seu devido direito sua possível determinação e com Isso seus limites Saber é o poder de pôr o Ser em ação como um tal ou qual ente Os gregos chamavam de modo especial techne a arte em sentido próprio e a obra darte porque é a arte que do modo mais Imediato erige e esculpe em algo que está presente Anwe endeni a obra o Ser ié o aparecer que se apresenta em si mesmo A obra darte não é em primeiro lugar obra por quanto é confeccionada é feita mas porque opera 25 o Ser em um ente Operar significa aqui pôr em obra na qual como no que aparece chega a brilhar a physis o brotar imperante 131 que vigora Pela obra darte como o Ser que é tudo que apa rece e pode ser encontrado é confirmado tomase intelegível acessível e compreensível como ente ou nãoente Visto que a arte erige e faz aparecer num sentido acentua do o Ser como ente na obra a arte vale a bom direito como o poderpôr em obra simplesmente dito como techne O poder pôr em obra é um operar manlfestatlvo do Ser no ente O saber consiste nesse abrir e manter aberto reflexivo e operante A paixão do saber está em investigar questões Por ser um tal saber é que a arte é techne e não por pertencerem à sua efetivação habilidades técnicas instrumentos e materiais de obras Assim a techne caracteriza o deinon a instauração de vigor em seu principio fundamental Pois a instauração de vigor é o uso vigoroso da fôrça contra o que se impõe de modo sub jugante a conquista pela luta do saber do Ser antes tran cado e escondido no que aparece como ente 2 Do mesmo modo como deínon enquanto instauração de vigor imperante reúne e concentra sua Essencialização na pa lavra grega fundamental techne assim também aparece o deinon enquanto o vigor que se impõe e subjuga na outra pa lavra fundamental grega dike Traduzimola como juntura Fug Entendemos juntura primeiro no sentido de junta e articulação em segundo lugar como disposição como a des tlnação e indicação que vigor que se impõe e predomina dá à sua imposição e predomínio e por fim como a conjuntura dispositiva que força a inserção e o enquadramento Traduzida por justiça e entendida essa no sentido jurídico e moral a palavra dike perde todo o seu conteúdo metafísico fundamental O mesmo vale da interpretação da dike como norma Em todos os seus domínios e poderes o vigor que se impõe e subjuga é conjuntura O Ser a physis como vigor im perante é unidade originária de reunião tópos é conjuntura dispositiva dike Destarte o demon enquanto o vigor que se impõe e pre domina tiifce e o deinon enquanto a instauração da fôrça do vigor techne se contrapõem um ao outro não porém como duas coisas objetlvamente dadas vorhandene Dinge Essa 183 contraposição consiste antes em a techne irromper contra a ílfce que por sua vez enquanto conjuntura dispõe de tôda techne Essa recíproca contraposição é Mas é apenas en quanto o que há de mais estranho o ser do homem acontece ié se essencializa cOmo acontecer Histórico 3 O princípio fundamental do deinotaton reside na re ferência reciproca do duplo significado de detnon O saplente lançase dentro da conjuntura rasga rasgo Rlss o Ser no ente mas nunca consegue dominar o vigor que se impõe e predomina Por isso é lançado peudularmente entre conjuntura ordem que articula e descon juntura desordem que desarticula entre o nobre e o vil Tôda disciplina Bsen digung que Instaura vigor da violência vlgorante Gewalti gen ou é triunfo ou derrota Ambos tanto o triunfo como a derrota arrancam cada um a seu modo do que é familiar e desenvolvem de maneiras diferentes a periculosidade do Ser conquistado ou perdido Ambos estão circundados diferente mente pela ameaça da ruina Quem instaura vigor o criador que alcança o nãodito que irrompe no nãopensado que con quista o nãoacontecido e faz aparecer o nãovlsto um tal Instaurador de vigor está sempre em risco tólma v 371 Aventurandose a sujeitar o Ser tem que arriscar os impactos do nãoente rií káltm os descalabros as inconsistências as desconjunturas e desestruturações Quando mais elevados forem os cimos da existência Histórica tanto mais profundo e largo o abismo para uma precipitação repentina no nãoHlstó rico que só se arrasta num borborinho sem saídas e ao mesmo tempo destituído de lugares Chegados ao fim do segundo passo poderiamos perguntar o que ainda resta para um terceiro o terceiro passa No primeiro passo se destacou a verdade decisiva do canto O segundo passo nos levou através de todos os domínios essenciais da fôrça do vigor e de sua instaura ção A estrofe final reúne na unidade de um rasgo o iodo do canto na essencialização do que há de mais estranho que ficaram ainda algumas particularidades a considerar e esclarecer mais de perto Isso porém daria lugar para w apêndice ao que já se disse nunca porém para um nôvo passo de interpretação Se pretendéssemos Jlmltarnos apenas ao 183 que se diz imediata e diretamente no poema estaria realmente terminada a interpretação Entretanto ela se encontra ainda no inicio A interpretação propriamente dita deve mostrar aquilo que já não se acha nas palavras apesar de também se achar dito Para isso ela deve usar necessariamente da fôrça do vigor O que há de próprio no poema é de se procurar lá onde uma interpretação cientifica já não encontra mais nada e ferra tudo que fica fora de seu cercado com a marca de nãocientífico Aqui porém quando nos temos de cíngir a um canto desgarrado do resto da obra só nos poderemos atrever a dar êsse terceiro passo num aspecto delimitado de acôrdo com nossa finalidade aqui e ainda assim apenas uns poucos movi mentos Recordando o que ficou dito no primeiro passo ini ciamos exatamente naquilo que no segundo resultou da ex plicação da estrofe final O deinotaton do deinon o que há de mais estranho no es tranho está na referência mútua e contrastante de dike e techne o mais estranho não é o grau superlativo ié a gra duação mais elevada do estranho É segundo a sua especifi cação o que há de único e sui generis no estranho No con traste reciproco entre o vigor prepotente do ente em sua totalidade e a instauração de vigor da existência se opera a possibilidade de uma precipitação no que não tem saída nem lugar a possibilidade da ruína Essa porém e a sua possibilidade não surgem apenas no final quando o homem que Instaura o vigor não consegue êxito e falha em alguma atividade instauradora particular A ruína impera vigorosa mente e espera em princípio e desde o fundo no contraste recíproco entre a fôrça do vigor que se impõe e subjuga e a instauração vigorosa de sua violência A instauração de vigor contra a supremacia do Ser que impõe o seu vigor tem que se abater contra essa supremacia de vez que o Ser vigora como o que Essencializa como phvsis vigor imperante que surge Essa necessidade de abaterse porém só pode subsistir en quanto o que se deve abater é necessitado numa tal existên cia Daseln Ora o homem é necessitado numa tal exis tência Dasein é lançado na necessidade dêsse ser porque o 184 vigor que impera e predomina exige braucht e precisa como tal para aparecer ha fôrça de seu vigor dum espaço aberto de manifestação Compreendido a partir dessa necessidade neces sitada pelo próprio Ser a essencialização do homem se nos abre e revela em seu ser A Existência Dasein do homem Histó rico significa ser posto como brecha em que com seu apare cimento irrompe a supremacia vigorosa do Ser a fim de que essa mesma brecha se abata e se quebre no próprio Ser O que há de mais estranho o homem é aquilo que êle é por no fundo só cultivar e proteger o familiar para dêle se arrancar deixando irromper o vigor cuja fôrça o subjuga É o próprio Ser que lança o homem na rota dêsse rasgo Fortrisa que o constrtnge a lançarse para além de si mesmo alongan dose até ao Ser com o fim de o pôr em obra e dêsse modo manter aberto e manifesto o ente em sua totalidade Por isso quem Instaura vigor não conhece nem bondade nem favore cimento no sentido comum desconhece todo apaziguamento e satisfação logrados com sucessos ou prestigio qu sua con firmação Aquele que instaura vigor e assim cria só vê em tudo isso simples aparência de perfeição e plenitude Aparên cia essa que êle menospreza Na vontade do inaudito desde nha e recusa qualquer auxílio A decadência significa para êle a afirmação mais profunda e ampla do vigor prepotente que se impõe e subjuga No fracasso da obra realizada naquele saber de que ela é uma desordem Unfug um surma um monte de esterco o homem abandona e entrega o vigor que impera a seu próprio principio articulador Fug Tudo isso porém não na forma de vivências psíquicas nas quais a alma do criador se debate e enrola e muito menos ainda na forma de complexos de inferioridade mas unicamente no modo próprio do operar do pôr em obra É pela obra que o vigor que predomina o Ser se afirma e confirma como acontecer Histórico Como a brecha para a abertura e manifestação do Ser pósto em obra no ente a existência do homem Histórico é um incidente a incidência em que surgem de repente as fôrças da supremacia desencadeada do Ser e se põem à obra como aponteeer Histórico Èsse caráter repentino e único da exis tência os gregos pressentiram profundamente Nesse pressen 155 dmento foram constrangidos pelo próprio Ser que se lhes abriu e manifestou como pfiysis lagos e dike Só não se pode pensar que êles tenham tomado para si a pretensão de forjar a cultu ra do Ocidente nos milênios posteriores Èles conquistaram para si mesmos as condições fundamentais de verdadeira grandeza Histórica unicamente porque na necessidade exclu siva e única de sua existência souberam usar apenas da violên cia do vigor e dêsse modo longe de afastar a necessidade sou beram fortalecêla e potenclála A essencialização do Ser do homem assim experimentada e reposta poètlcamente em seu fundamento permanecerá tran cada em seu caráter de mistério à compreensão caso essa re correr apressadamente a qualquer apreciação A avaliação do ser do homem como audácia e superiori dade orgulhosa arrancao da necessidade de sua essenciali zação a de ser incldência Tais apreciações supõem ser o homem algo de objetivamente dado transportamno para um espaço vazio e o medem e avaliam segundo uma escala de va lôres estabelecida e trazida de fora A essa mesma espécie de incompreensão pertence também a opinião segundo a qual o dizer do poeta é pròpriamente um repúdio implícito e não pro nunciado de um tal ser do homem É uma recomendação ve lada de uma modéstia sem vigor algum que se contenta com o cuidado de uma comodidade tranquila e impertubuável Essa opinião poderseia até julgar confirmada em sua justeza pela conclusão do canto Um tal ente tal no sentido do que há de mais estranho se deve manter afastado do lar e entretenimento do poeta Essas palavras finais do Cõto entretanto não contradizem o que antes disse sôbre o ser do homem Ao voltarse para o que há de mais estranho o Côro diz que êsse modo de ser no é o modo de ser cotidiano Tal existência não poderá ser lida e encontrada nos hábitos e costumes de qualquer comporta mento e conduta Essas palavras finais são tão pouco de admi rar que nos deveriamos admirar se elas faltassem Em sua atitude defensiva são a confirmação imediata e completa do caráter estranho da essencialização do homem Nessa sua con clusão o dizer do canto volta a moverse dentro de seu prin cipio 180 Mas o que tem a ver tudo isso com a sentença de Parmê nldos Esse nada diz sôbre a estranheza Quase que com ex cessiva sobriedade afirma apenas a compertinéncia a corres pondência de Percepção e Ser Foi investigando o que é essa cor respondência que nos desviamos para uma intrepretaçâo de Só foetes E o que nos adiantou ela Não a poderemos transferir simplesmente para dentro da interpretação de Parmênides De certo que não Todavia nos devemos recordar do conexo ori ginário de essencialização entre o dizer poético e o dizer pen sante prlncipalmente quando se trata como nesse caso da fundação e instituição originária por meio do pensar e poetar da existência Histórica de um povo Ademais além dessa re lação de essencialização geral encontramos num e noutro um traço bem determinado que tem conteúdo comum em ambos No segundo passo quando se tratou de resumir as caracte rísticas da segunda estrofe ressaltamos de propósito a refe rência recíproca entre dike e íecftne Dike é a conjuntura vigorosamente predominante Techne é a instauração de vigor do saber A referência recíproca de ambas constitui o aconte cimento do çstrnnho Afirmamos agora a compertinência e correspondência re ciproca de noein percepção e eínaí Ser que evoca a sen tença de Parmênides não é outra coisa do que aquela refe rência reciproca Se se mostra isso então fica comprovada a afirmação anterior de que é essa sentença de Parmênides que por primeiro delimita a essencialização do ser do homem e não chega a íalar do homem ocasíonalmente de alguma pers pectiva Para provar essa nossa afirmação faremos primeiro duas considerações mais gerais A seguir tentaremos uma inter pretação particular da sentença Na referência recíproca de dike e techne evocada poética mente dike equivale ao Ser do ente em sua totalidade Ja antes de Sófodes encontramos no pensar dos gregos êsse em prego da palavra A sentença mais antiga que nos foi trans mitida pela tradição a sentença de Anaximandro fala do Ser em conexão essencial com dike Igualmente Herãclito evoca a dike quando estabelece algo essencial do Ser Assim o Fragmento 80 começa cidenai de 181 chre ton polcmon conta xynon kai diken erin mister se faz ter em vista que o desdobrarse se Essencializa ajuntando num conjunto e a conjuntura se Essencializa contrastan do Dike como conjuntura que dispõe pertence ao des abrochar que contrasta segundo o que a yhysis surgindo deixa aparecer apresentarse o que aparece e assim se Essen cializa como Ser Cfr Fragmentos 23 e 28 E por fim o próprio Parmenides continua sendo uma tes temunha decisiva do emprego que fazem os pensadores gregos da palavra díJce no dizer do Ser Para êle dike é a deusa Guarda as chaves que abrem e fecham as portas do dia e da noite o que quer dizer dos caminhos do Ser que se desven da da Aparência que se dissimula e do Nada que se tranca Isso significa o ente só se abre e manifesta quando se pre serva e conserva a conjuntura do Ser Como dike o Ser é a chave do ente em sua articulação Êsse sentido de dike se pode apreender inequivocamente dos trinta versos vigorosos de in trodução do Poema de Parmenides que nos foram conservados completos Vêse assim claramente que o dizer do Ser tanto o da poesia como o do pensar evocamno ié Instauram e deli mitam o Ser com a mesma palavra dike O outro ponto que se pode aduzir de modo geral para comprovar nossa afirmação é o seguinte Antes jã se indicou a maneira pela qual na percepção entendida como apresenta ção acolhedora se abre e manifesta o ente como tal que destarte advêm a um estado de revelação e descobrlmento Unverborgenheit O embate da techne contra a dite cons titui para o poeta o acontecimento pelo qual o homem deixa de ser familiar perde a intimidade de seu lar É nessa expul são do que lhe é intimo que se abre e desvenda como tal o que lhe é familiar E ao mesmo tempo e sòmente dêsse modo se lhe abre e manifesta como tal o que lhe é alheio o vigor que predomina É portanto no acontecer do que é estranho que se abre e expande o ente em sua totalidade Essa abertura e expansão é o acontecer da revelação que outra coisa não é senão o acontecimento da estranheza De certo objetarseá isso vale do que diz o poeta Mas é precisamente essa estranheza que não se encontra na sentença sóbria de Parmenides 188 Por isso procuraremos agora colocar em sua verdadeira luz a sobriedade do pensar é o que nos proporciona uma inter pretação particular da sentença de Parmênldes Fica de ante mão acertado se se conseguir mostrar que em sua conexão essencial com o Ser dike a percepção é o que necessita de vio lência para instaurar o vigor e ê assim como tal instauração uma carência Not e como carência só se poderá manter e subsistir na necessidade 26 de um combate no sentido de põ lemos e éris e se ademais no curso dessa demonstração se fizer ver que a percepção está numa conexão expressa com o Lógos e que êsse Lógos se mostra como o fundamento do ser do homem então a nossa afirmação de que a sentença do pensador e o dizer do poeta são intrinsecamente afins estará fundamentada Três coisas portanto é o que temos de mostrar 1 A percepção não é um mero dado psíquico Vorgang mas uma resoluçâo 2 A percepção possuí uma comunidade interna de essen eiallzaçâo com o Lógos Êsse é para eia uma neces sidade Not 3 O Lógos Institui e funda a Essencialização da lingua gem Como tal é um embate e o fundamento fundan te da existência Histórica do homem no meio do ente em sua totalidade Sôbre 1 Ainda não se concebe suficientemente a Essen cialização do noein a percepção se apenas se procura evitar confundila com a atividade de pensar e com a de julgar A percepção enquanto a tomada de uma posição acolhedora no sentido antes explicado frente ao aparecimento do ente não é senão o colocarse sui generis num caminho especial Nisso se inclui que a percepção é a travessia a passagem através do cruzamento dos três caminhos Ora ela só poderá sêlo se fôr fundamentalmente resolüçãú pelo Ser contra o Nada e com isso disputa com a Aparência Êsse resolver essencial porém tem que usar de violência em sua execução e exercício contra 186 o perigo sempre iminente de enredarse no cotidiano e habi tual A instauração violenta de vigor do lançarse resoluto no caminho para o Ser do ente arranca o homem da intimidade e familiaridade com o que lhe é próximo e usual Só quando concebermos a percepção no sentido dêsse lan çarse estaremos protegidos contra o extravio de falsificála como um comportamento qualquer do homem como um uso que se entende por si mesmo de suas faculdades espirituais ou até mesmo como um fato psiquico que ocasionalmente tam bém se dá Ma realidade ao Invés a percepção se logra e con quista abgerungen à atividade rotineira e em luta contra ela Sua compertlnêncla e correspondência ao Ser do ente não surge por si mesma A designação dessa correspondência não é a simples constatação de um fato mas evoca e aponta àquela luta A sobriedade da sentença é uma sobriedade do pensar para a qual o rigor do conceito que percebe constitui a forma fundamental do que aí é apreendido Sôbre 2 Aduzimos antes o Fragmento 6 para eviden ciar a distinção entre si dos três caminhos Postergamos então conscientemente uma interpretação mais pormenorizada do pri meiro verso Entrementes lemos e auscultamolo de um outro modo chre to legein te noein teon emmenai Para o consistir reunido como para o perceber fazse necessário not tut que o ente seja ser Vemos aqui noein mencionado conjunta mente com legein percepção com Lógos Além disso no Iníelo do verso se põe de modo repentino e abrupto o chre Mister é percepção e lógos Juntamente com a percepção se evoca o legein como acontecimento do mesmo caráter E até legein é nomeado primeiro Lógos não pode significar aqui a unidade de reunião como conJuntura do Ser mas deve Juntamente com a percepção ter o sentido da instauração violenta de vigor em virtude da qual o Ser é recolhido em sua unidade de reu nião Pertencendo à percepção é necessária a reunião e ambas têm que acontecer em virtude do Ser Reunião significa nesse caso prenderse no meio da dispersão ao inconsistente pren derse novamente a partir da confusão à aparência Essa reunião todavia por ser ainda uma aversão de só poderá ser realizada e exercida por fôrça daquela reunião que enquanto conversão para consuma e produz o recolhimento do ente na unidade de reunião de seu ser Assim o Lógos entra nesse 1Ü11 caso em carência Not e se separa do Lógos como unidade de reunião do Ser íphgsis O Lógos enquanto reunião como o reunirse e concentrarse do homem na conjuntura põe pela primeira vez o ser do homem em sua essencialização e o expõe assim ao que não lhe é familiar de vez que o familiar é dominado pela aparência do habitual corriqueiro e super ficial Resta ainda investigar porque o legeiné mencionado antes do noein A resposta é a seguinte é do legein que o noein recebe e adquire a sua Essencialização como percepção que reúne e recolhe A determinação da essencialização do ser do homem que se realiza aqui no principio da filosofia ocidental não se efetua estabelecendose propriedades de qualquer tipo que sejam no ser vivo homem em distinção e à diferença de outros sêres vivos O ser do homem se determina a partir de uma refe rência com o ente como tal em sua totalidade A essencialíaa çdo do homem mostrase aqui como a referência que abre e manifesta ao homem o Ser O ser do homem enquanto carên cia Not de percepção e reunião é o encarecímento da liber dade de assumir a techne o pôr em obra do Ser mediante o saber assim que acontece História Da Essencialização do logos entendido como reunião se segue e resulta uma consequência essencial para o caráter do legein Põsto que o legein como um tal recolher depende da unidade originária de reunião do Ser e visto que por outro lado Ser significa chegar à revelação Unverborgenhelt por isso a reunião e o recolher do legein possui o caráter funda mental de abrir e manifestar Dêsse modo legein entra em claro e agudo contraste com cobrir e ocultar É o que se comprova de modo direto e inequívoco com uma sentença de Heràclito O Fragmento 93 diz O dominador cuja profecia se dá em Delfos cute legei oute kryptei nem reúne nem oculta alia semainei dá indícios Reunir está aqui em oposição a ocultar Ê nesse caso desocultar manifestar Podese levantar agora a questão simples donde poderá ter recebido a palavra legein reunir o significado de mani festar desocultar em oposição a ocultar senão em razão de sua referência essencial com o lógos no sentido de physis O 191 vigor imperante que surgindo se mostra é a revelação De acòrdo com essa referência legein significa produzlr no sen tido de expor o desvelado como tal o ente em sua revela ção Assim não só em Herãclito mas ainda em Platão logos tem o caráter do delotin de manifestação Aristóteles caracte riza o legein do logos como apophainesthai i é como conduzir e levar a mostrarse Cfr Sein und Zeit 6 7 e 5 44 Essa carac terização de legein como descobrir e manifestar é um teste munho tanto mais forte em favor da orlginariedade dessa de terminação porquanto justamente com Platão e Aristóteles já se Inicia a decadência dessa determinação de lógos pela qua a lógica se tomou possível Desde então ié desde de dois milênios essas relações entre logos atetkeia phgsis noein e idea foram escondidas e encobertas pela incompreensão No principio porém se passa o seguinte o lógos como reunião revelante na qual o Ser é conjuntura no sentido da physis se torna a necessidade da essencialização do homem Histórico Daqui basta apenas um passo para se compreender como o logos assim entendido determina a essencialização da linguagem e chega a ser o nome do discurso O ser do homem em sua essencialização Histórica ié em sua essencialização que instaura o acontecer Histórico é logos reunião e percepção do ser do ente ié aquêle acontecer do que há de mais es tranho em que pela instauração violenta o vigor que pre domina chega a aparecer e erigirse em consistência Ora no Canto do Córo da Antigone de Sófocles auscultamos que Juntamente com a irrupção no Ser se dá o prenderse e en contrarse na palavra acontece a linguagem Ao Investigar a essencialização da linguagem surge sempre a questão sôbre a sua origem Por caminhos escusos procurase uma resposta A primeira resposta decisiva à questão sôbre a origem da linguagem encontramos também aqui Essa origem fica sempre mistério Não porém porque os homens até agora não tenham sido suficientemente sabidos e sim porque tôda sabedoria e sutileza têm tomado sempre o caminho errado antes mesmo de se estenderem G caráter de mistério pertence à própria Essencialização da origem da linguagem Isso sig nifica que a linguagem só pode ter principiado a partir do vigor prepotente que impera e do estranho na irrupção do 192 homem na Ser Nessa irrupção a linguagem enquanto conver são do Ser em palavra era poesia Dichtung A linguagem é a poesia originária UrDiehtung em que um povo poetiza o Ser Inversamente vale a grande poesia pela qual um povo entra na História inicia a configuração de sua linguagem Os gregos criaram e experimentaram tal poesia através de Homero A linguagem se manifestou à existência grega como irrupção no Ser como configuração reveladora do ente Que a linguagem seja logos reunião não é em si de forma alguma uma evidência imediata Não obstante entendemos essa interpretação da linguagem como logos a partir do prin cipio da existência Histórica dos gregos a partir da direção fundamental em que se lhes manifestou e abriu o Ser e em que êles o erigiram na consistência do ente A partir do impacto direto do vigor predominante a pa lavra ou seja o nomear repõe o ente que se abre e manifesta em seu ser o retém e conserva nessa abertura delimitação e consistência Não é o nomear que posteriormente vem con ferir a um ente já de outro modo manifesto uma designação um sinal chamado palavra Muito pelo contário a palavra desce da altura de sua originária instauração violenta de vigor en quanto abertura e manifestação do Ser e se transforma em simples sinal de tal sorte que êsse se antepõe então ao ente No dizer originário porém o ser do ente se abre e revela na articulação de sua unidade de reunião Essa abertura e reve lação se recolhe e reúne no segundo sentido pelo qual a pa lavra conserva o recolhido orlginàrimente e assim instaura no vigor do exercício o que impera e domina a phgsis O homem como o que está e se instaura no logos na reunião é o coletor isammleri Assume e exerce a instauração vigorosa O imfjé rlo do que predomina e impõe seu vigor Por outro lado já sabemos que essa instauração de vigor é o que há de mais estranho Em virtude do tolma da audá cia o homem chega necessariamente tanto ao baixo e vil como ao elevado e nobre Onde a linguagem fala como reunião vio lenta do vigor como contenção do que predomina e vigora como conservação aí e só aí há necessàrlamente dissolução e perda Por isso a linguagem é em seu acontecer palavreado Gerede Em lugar de abertura e manifestação do Ser o seu eneobrl 193 mento e ocultação Ao invés ds recolhimento na articulação e conjuntura a dispersão e dissipação na desjuntura e d esor dem É que o logos como linguagem não se faz por si mesmo O legein é carência Not chre to legein é carência a percepção do ser do ente Donde encarece a carência Sôbre 3 De vez que a Essencialização da linguagem se acha nc recolhimento da unidade de reunião do Ser só chegará à verdade na sua forma de discurso Rede cotidiano se o dizer e ouvir se relacionarem e dependerem do lópos como a unidade de reunião dentro do Sentido do Ser Pois é no Ser e em sua articulação que o ente é de modo originário e decisivo já de antemão um legomenon ié recolhido dito e pronunciado Só agora compreenderemos todo o contexto em que se insere aquela sentença de Parmenides segundo a qual a percepção acontece em virtude do Ser A passagem VIU 3436 diz São em si pertencentes e correspondentes entre si a per cepção e aquilo em virtude do qual a percepção acontece Com efeito sem o ente em que já foi pronunciado o Ser não en contrarás alcançarás a percepção A referência ao lopos como physis converte o legein em reunião perceptiva e a per cepção em percepção reunítiva Por isso o legein para perma necer reunido deve afastarse do que é mero palavreado íala tório e facilidade verbal Assim encontramos em Parmênfdes uma oposição rigorosa entre logos e glossa Frag VIL v 3ss A passagem corresponde ao inicio do Fragmento 6 em que com relação à tomada do primeiro caminho inevitável para o Ser se diz que se toma necessário concentrarse no ser do ente Agora se trata de dar algumas indicações sôbre o percurso do terceiro caminho para a Aparência Êsse conduz através do ente que está sempre numa aparência É o caminho mais comumente frequentado Por isso o homem avisado tem que retirarse constantemente dêle e empenharse no legein e noein do ser do ente e o hábito tão destro não te deve de forma alguma forçar em direção dêsse caminho Pois tu te perderías a ti mesmo num olhar qne não vê e num ouvir ensurdecedor e na facilidade da 194 lingua Deeidete antes separando colocando dian te de ti recolhido numa unidade a indicação do conflito múltiplo que te proponho Nesse lugar logos se acha em estreita ligação com fcríncín cindir no sentido de decidir no exercício da concentração sôbre a unidade de reunião do Ser O ler seletivo fundamenta e sustenta a perseguição do Ser e a recusa da Aparência No conteúdo significativo de krinein ecoam e repercutem os se guintes significados escolher selecionar critério determinante de jerarquia Por essa tríplice indicação a Interpretação ilumina a sen tença a ponto de se tornar claro que Parmenides realmente trata também do logos em perspectivas essenciais O lógos i uma carência Not e em si mesmo carece de vigor violento para defenderse do verbaltsmo e da dissipação Como legein o lógos vai de encontro à physis Nessa diversificação Ausel nandertreten o lógos como acontecimento da reunião se toma o fundamento que funda o ser do homem Dai pudermos dizer na sentença se realiza pela primeira vez a determi nação decisiva da essencialização do homem Ser homem sig nifica assumir a reunião a percepção recolhedora do ser do ente o operar no sentido de pôr cientemente em obra a apa rição e dêsse modo exercer o vigor verwalten da revelação e conservála bewahren contra o encobrimento e a ocupação Destarte já no principio da filosofia ocidental se vê como a questão do Ser inclui necessàriamente a fundamentação da existência Essa implicação e conexo entre Ser e Existência como também a sua investigação não se atinge de forma algu ma com indicações e recursos a questões gnoseológicas nem igualmente com a constatação externa de que tóda concepção do Ser depende de uma concepção da existência Se a questão do Ser procura não só o ser do ente mas o Ser mesmo em sua Essencialização necessita então de maneira completa e ex pressa de uma fundamentação da existência calcada nessa questão à qual se deu por essa necessidade e só por Isso o nome de ontologia fundamental cfr Seln und Zelt Intro dução 195 Essa abertura e manifstação originária da essencialização do ser do homem chamamola de decisiva Todavia não foi conservada e mantida como o grande princípio Teve ao con trário por conseqüência coisa muito diferente a definição do homem como animal racional posteriormente corrente no Oci dente e hoje ainda não abalada na opinião e atitude dominan te No sentido de tornar visível a distância dessa definição frente à abertura da originária essencialização do ser humano vamos confrontar em duas fórmulas o princípio e o fim o fim se apresenta na fórmula anthropos soon logon echon o homem o animal que tem por dote a razão O princípio to mamolo numa fórmula plasmada livremente mas que resume nossa interpretação physis lógos anthropon echon o Ser o aparecer predominante do vigor encarece a reunião que tem em seu poder e fundamenta o ser do homem Lá no íím ainda há um resto da implicação e nexo entre lógos e ser humano todavia o lógos de há muito que se alienou verseusserlicht como faculdade do entendimento e da razão Essa faculdade se funda em si mesma sôbre o dado objetivo de uma espécie particular de seres vivos sôbre o soon beltiston o animal mais excelente Xenofonte Aqui no princípio ao contrário o ser humano se funda na abertura e manifestação do ser do ente Na perspectiva de definições correntes e predominantes na perspectiva ié da metafísica gnosoelogia antropologia e éti ca modernas e atuais determinadas pelo cristianismo a nossa interpretação da sentença terá que aparecer necessariamente como uma modificação arbitrária de seu significado como uma introdução de algo que uma interpretação exata nunca po derá constatar É exato Para a opinião comum e hodisrna de fato o que deixamos dito é apenas um resultado da violên cia e unilateralidade já proverbiais dos métodos e processos hermenêuticos de Heidegger Todavia é o caso de se poder e dever perguntar Qual interpretação é a verdadeira aquela que simplesmente aceita a perspectiva de sua compreensão por já se encontrar nela e se lhe afigurar evidente e comum ou então essa outra que põe em questão desde seus fundamentos a perspectiva habitual por ser possível e real que tal perspec tiva não permita de forma alguma a visão do que se tem de ver 196 Sem dúvida o abandono do comum e corrente e o retorno à interpretação que se põe a si mesma em questão é um salto Sprung Ora saltar só pode quem toma o impulso devido E é nesse impulso que tudo se decide Pois êle significa que voltamos realmente a investigar de mesmo as questões E é no moverse das questões que se criam as perspectivas O que todavia não se processa numa arbitrariedade dissolute c muito menos com apoio em algum sistema canonizado em rorma e sim numa e a partir de uma necessidade Histórica a partir de uma carência Not da existência Histórica Legein e noein reunião e percepção são uma carência Not e uma instauração violenta de vigor contra a prepotên cia vigorante mas sempre também em favor dessa prepotência Assim os que instauram violentamente o vigor terão sempre que hesitar de espanto em usar da violência instauradora e sem embargo náo poderão esquivarse e evitála Nessa hesi tação e nesse querer sobrepujar há de surgir por instantes a possibilidade de que a sujeição do vigor prepotente será então conquistada da maneira mais completa e segura se simples mente se deixar o Ser o vigor imperante que brota e em si mesmo se essencializa como lógos como a unidade de reu nião do que se defronta no oculto e encoberto Verbor genheit e destarte fracassar de certo modo tôda possibili dade de aparecimento e manifestação A instauração de vigor do que há de mais estranho pertence tal temeridade que na verdade é o maior reconhecimento qual seja dominar o vigor imperante que aparece na recusa de tôda a sua abertura e manifestação e serlhe superior mantendo trancada à vio lência todo poderosa de seu vigor o lugar de aparecimento A recusa ao Sr dessa abertura não significa porém para a existência outra coisa do que abandonar a sua essenciail zação E isso exige apostatar do Ser ou também nunca chegar a entrar na existência é o que novamente Sófocles exprime num Cõro da Tragédia Édipo em Colona v 1224s me phynai ton aponta ni kti longon nunca haver entrada na existência triunfa sôbre a unidade de reunião do ente em sua totalidade Não ter assumido nunca a existência me ptjmei se diz do homem como aquele que está recolhido com a physis essen clalmente como o sew coletor Sammler Aqui se usa physis phynai do ser do homem e lógos no sentido de Heràclito como 1ST a conjuntura vigente do ente na sua totalidade Essas pala vras poéticas exprimem a referência mais íntima da existên cia com o Ser e sua abertura enquanto chama de nãoexis têncla a maior distância e afastamento do Ser É aqui que se mostra e ostenta a possibilidade mais estranha da existência a de romper na suprema instauração de violência contra si tnesma a prepotência vigorosa do Ser A existência não tem essa possibilidade como uma saída vaziamas ê essa possibili dade enquanto existe Pois em tôda instauração violenta de vigor ela tem como existência de romperse e quebrarse no Ser Parece pessimismo E todavia seria errônea rotular a exis tência grega de pessimista Não porque os gregos íôssem no fundo otimistas mas porque tais avaliações simplesmente não atingem a existência grega Os gregos eram sem dúvida mais pessimistas do que poderá sêlo qualquer pessimista Mas tam bém eram mais otimistas do que qualquer otimista É que a sua existência Histórica ainda se situa aquém de todo pes simismo e de qualquer otimismo Ambas apreciações já de antemão consideram a existência igualmente como um ne gócio seja mau ou bom Êsse modo de ver o mundo se ex prime na conhecida frase de Schopenhauer A vida é um ne gócio que não cobre os seus gastos Tal frase não ê verdadei ra porque a vida termina mesmo por cobrir os seus gastos mas porque a vida como existência simplesmente não é ne gócio embora desde séculos que se haja tomado E é por isso também que a existência grega nos é tão exótica e es trangeira A nãoexLstência constitui a maior vitória sôbre o Ser Existir é a carência constante de derrota e ressurgimento da Instauração violenta de vigor contra o Ser c de tal modo que a violência todo vigorosa do Ser violenta tem sentido literal com seu vigor a existência forçandoa a que seja o lugar de seu aparecimento a cerca e impregna de vigor e assim a detém e conserva no ser Dáse e se processa uma separação e diversificação de logos e pfcpsis Isso porém ainda não significa uma apostasia do lógos O que quer dizer o lógos aínda não se contrapõe de tal sorte ao Ser do ente nem surge ainda de tal maneira defronte 198 dèle a ponto de fazer de st mesmo como razão o tribunal que julga sôbre o Ser e de assumir e regular a determinação do Ser do ente A isso chega só e excluslvamente quando abandona a sua essencialização originária encobrindo e transformando o sen tido do Ser como píijsis Em consequência se muda a exis tência do homem O fim lento dessa História dentro do qual nos achamos desde muito tempo é o predomínio do pensar como ratio como entendimento tanto quanto como razão sôbre o Ser do ente È a partir daqui que se inicia o jôgo de revezamento reciproco entre racionalismo e irracionallsmo que até agora ainda se está jogando com todos os disfarces possíveis e com os títulos mais contraditórios O irraclonalismo é apenas a fraqueza manifestada e a completo fracasso do racionalismo e por isso mesmo em si um racionalismo Ir raclonalismo é uma saída do racionalismo que não nos conduz ã liberdade e sim nêle ainda mais nos enleia por sucitar a aparência de estar êle superado por um simples não Ao contrário é então que êle se torna mais perigoso porque con tinua o seu jõço Imperturbado e às escondidas Não pertence à tarefa dessa preleção expor a história in terna em que se configurou o predomínio do pensar como ratio da lógica sôbre o Ser do ente Prescindindo das próprias dificuldades tal exposição permanecería sem qualquer eficácia Histórica enquanto nós mesmos não tivermos despertado as fôrças de uma investigação própria a partir e em prol de nossa História em seu momento atual Não obstante é necessário mostrar ainda como se chegou em razão da diversificação originária de lógos s physls àquela apostasia do lógos que se tornou então ponto de partida para a edificação do predomínio da razão Essa apostasia do lógos e a sua preparação para o tribunal de julgamento do Ser se dá ainda dentro da filosofia grega Determina até o seu fim Só conseguiremos instaurar vigorosa mente o vigor da filosofia grega como o princípio da filosofia ocidental na medida em que compreendermos simultaneamente êsse princípio em seu fim prlnctpiatlvo originário Pois foi êsse fim e só êle que se tornou para os tempos posterlores o principio e Isso de tal modo que encobriu ao mesmo tempo o 199 principio originário princípiativo Todavia êsse fim princi piatlvo e originário do grande principio a filosofia de Platão e Aristóteles continua sendo grande mesmo se subtrairmos e descontarmos a grandeza de sua expansão ocidental Investigamos agora Como se deu a apostasia e a prima sia do lógos frente ao Ser Como se processou a configuração decisiva da separação de Ser e Pensar Também essa História aqui só pode ser rabiscada em poucos traços grosseiros Partimos do fim e perguntamos 1 Como aparece a relação entre logos e physis no fim da filosofia grega em Platão e Aristóteles como se entende aqui a physis Que figura e papel assume o lógos 2 Como se chegou ao fim Onde reside o fundamento pròpriamente dito da mudança e transformação Sôbre 1 No fim surge como nome normativo e predomi nante do Ser a palavra idea eiãos idéia Desde então a in terpretação do Ser como idéia domina todo o pensar ociden tal por através da história de suas transformações até os dias de hoje Nessa proveniência está também fundado o fato de que na conclusão grandiosa e final da primeira etapa do peri samento ocidental a saber no sistema de tiegel a reali dade do real o ser em sentido absoluto foi concebido como Idéia e assim expressamente chamado Todavia o que sig nifica ter Platão interpretado a pJiysis como idea Já na primeira caracterização introdutória da experiência grega do Ser foram enumerados entre outros os títulos idea eidos Ao depararmonos diretamente com a filosofia de Hegel ou com a de qualquer outro pensador moderno ou com a Es colástlca Medieval ou até mesmo ao encontrarmos em qualquer parte o emprego do nome Idéia para o Ser temos que con fessar para não nos iludirmos a nós mesmos que não compre endemos nada com os recursos das representações correntes Ao contrário compreendemos tal fato quando provimos do principio da filosofia grega Poderemos então medir logo a distância entre a interpretação do Ser como physis e a inter pretação do Ser como idea 200 A palavra idea significa o visto no visível o viso que al guma coisa oferece O que se oferece é o aspecto Aussehen eídos do que vem ao encontro O aspecto de uma coisa cons titui aquilo em que ela como dizemos se nos apresenta se nos propõe e como tal está diante de nós é aquilo em que e como tal ela está presente anwest o que significa aqui para os gregos aquilo em que e como tal ela é Tal estar é a consistência do que surgiu e brotou a partir de si mesmo é a consistência da pftysis Por outro lado êsse estarpresente do consistente é ao mesmo tempo considerado a partir do ho mem o proscênio do que se apresenta anwest a partir de si mesmo é o perceptível No aspecto o presente o ente se faz presente em sua qualidade e modalidade É percebido e assumido Está na posse de um tomar É o que se tem nessa posse É a presença Anwesen disponível do presente ottsia Dêsse modo ousia pode significar ambas as coisas presença de um presente e o presente na quídidade de seu aspecto É aqui que se oculta e esconde a origem da distinção sub sequente de essentia e exístentía Se porém se toma a dis tinção corriqueira de existência e essentia por assim dizer ce gamente da tradição nunca se poderá entender como e em que medida exístentia e essentia com sua distinção se separam do ser do ente para caracterizálo Se no entanto conceber mos a idea o aspecto como presença então essa se mostra como consistência num duplo sentido Pois no aspecto se en contra de um lado o estarforaapartírdarevelação das HerausstehenausderUnverborgenheit o simples estin De outro lado no aspecto se mostra o que nêle se apresenta o íi estin Assim a idéia constitui o Ser do ente Idea e eídos se em pregam aqui num sentido mais amplo não só para o que se vê com os olhos do corpo mas para tudo que se pode perceber O que um ente é reside em seu aspecto o qual por sua vez apresenta deixa fazerse presente êsse o que ié a qui didade Mas já nos teremos perguntado a nós mesmos essa inter pretação to Ser como idea não será então autêntica mente grega Ela se segue com irrecusável necessidade do fato de o Ser ter sido experimentado como physis como vigor que brota e surge como aparecer como estarãluz Que outra coisa 201 mostra no sen aparecimento aquilo que aparece senão o seu aspecto Em que medida essa interpretação do Ser como idea se pode afastar e distanciar ainda da physis Não estará com tôda razão a tradição da filosofia grega quando por tantos séculos a vem considerando à luz da filosofia platônica A interpretação do Ser como idea por Platão significa tão pouco um afastamento e menos ainda uma decadência do princípio que se deve até dizer que ela ao fundamentálo na teoria das idéias o apreende de um modo mais desenvolto e preciso Platão é a consumação do princípio D fato não se poderá negar que a interpretação do Ser como idea resulte e provenha da experiência fundamental do Ser como physis Tratase eomo dizemos de uma consequên cia necessária da essencialização do Ser como o aparecer nas cente Nisso não vai nada de afastamento ou mesmo de deca dência do princípio Certamente que não Se porém o que é uma consequência essencial fôr ele vado à condição de Essencialização e passar assim a ocupar o lugar da Essencialização o que se há de pensar então Então se instaura a decadência que por sua vez frutificara conse quências particulares É o que aconteceu O decisivo não é ter sido caracterizada a physis como idea mas a idea se haver apresentado e imposto como a interpretação única e normativa do Ser Poderseá avaliar fàcilmente a distância que medeia entre ambas as interpretações considerandose a diversidade de pers pectivas em que se movem ambas as determinações do Ser como physis e idea Physis é o vigor imperante que surge o estaremslmesmo é a consistência Idea é o aspecto enten dido como o que é visto é uma determinação do consistente enquanto e só enquanto êle vem ao e de encontro a uma visão Mas a physis enquanto vigor nascente já é também um apa recer Realmente Apenas aparecer tem dois sentidos Uma vez significa o erigirse sichzumStandbr in gen na unidade de reunião que recolhe e assim consiste Outra vez porém significa oferecer para a visão um frontispício Vorderflseche uma superfície um aspecto que já se sustem num estado de consistência Considerada a partir da noção de espaço a distinção entre os dois aparecer é a seguinte o aparecer no primeiro sentido 202 e no sentido propriamente dito ocupa o espaço erigindose numa consistência recolhida o conquista como o que assim consiste se cria para si espaço opera tudo que lhe pertence sem ser reproduzido O aparecer no segundo sentido surge e se apresenta de um espaço já pronto e constituído e é visto pela visão dentro das dimensões já estruturadas dêsse espaço O viso que a coisa faz e apresenta é que se torna o decisivo e não a coisa em si mesma O aparecer no primeiro sentido é o que pela primeira vez rasga e abre Ié instaura espaço O aparecer no segundo sentido dá apenas os contámos e as di mensões do espaço já aberto Não obstante não já diz a sentença de Parmênides que Ser e Percepção se pertencem reclprocamente portanto o visto e o ver òbviamente o que é visto um visto pertence a todo ver disso porém não se segue que só o servisto como tal possa e deva determinar sozinho a presença Anwesen do que é visto E c j ustamente a sentença de Parmênides que diz que o Ser não deve ser compreendido a partir da percep ção ié só e apenas como o percebido mas é a percepção que é em virtude e por graça do Ser A percepção deve abrir e manifestar o ente de tal maneira a ponto de repor o ente em seu Ser de tomálo em função do fato de que êle e de como êle se apresenta Pot outro lado na interpretação do Ser como idea não apenas uma consequência da Essencializa ção se desvirtua na própria Essencialização como também o que assim se desvirtua ainda é falsificado e novamente dentro do curso da experiência e interpretação grega A idéia constitui como aspecto do ente aquilo que êsse é A quididade a essência nesse sentido ié o conceito de es sência tornase igualmente ambíguo a um ente se essencializa vige e vigora evoca e adquire o que lhe pertence ié também e justamente o conflito b um ente se apresenta como êste e aquèle possui tal determinação qulditativa Como na transformação da pfiisis na idéia o ti estin ia quididade surge e como dèle se distingui o Aoti es tin o fato de ser ié a proveniêncla essencial da distinção de essentia 203 e exístentía a issc já se fêz alusão embora disso aqui não se trate Foi objeto de uma preleção inédita do semestre de verão em 1027 Tão logo porém a Essencialização do Ser se acha na qui didade Idéia essa como o ser do ente se torna também o que há de mais ente no ente É assim o ente pròpriamente dito on tos on O Ser como idéia se converte então no ente pròpriamente e o ente mesma o que antes imperava no vigor degradase no que Platão chama me on no que pròpriamente não devia ser e também pròpriamente não ê Pois êle desfigura sempre a idéia o puro aspecto ao realizála configurandoa na matéria Por seu turno a idea se torna o puradeigma o paradigma a figura exemplar Assim a idéia se converte ne cessariamente em ideal O exempla que se configura segundo a figura exemplar não é em sentido próprio mas tem ape nas parte no Ser methexis Rasgase e se estabelece o chcris mos o abismo entre a idéia como o ente pròpriamente a fi gura exemplar e originária e o nãoente pròpriamente o exemplo configurado e Imitado O aparecer recebe então da Idéia um outro sentido O que aparece a aparência já não é a phgsis o vigor imperante que surge nem também o mostrarse do aspecto Aparência ê agora o surgir da cópia do exemplo Enquanto nunca atinge a sua figura exemplar e originária o que aparece é uma simples aparência pròpriamente um parecer o que significa um defeito c deficiência É agora que se separam on e phainomenon Nessa separação radica uma conseqíiêncía essencial Visto que a idéia é o ente pròpriamente e o modêlo exemplar tôda abertura e manifestação do ente tem que procurar igualarse ao exemplar originário deve adequarse ao modélo confor marse ã forma da idéia A verdade da physis a aletheia en tendida como a revelação vigente no vigor imperante do que brota tornase homoiosis e mimesis conveniência adequação uni regularse com convertese em correção Rlchtigkeit da isão da percepção como representação Se compreendermos devidamente tudo isso já não havemos de querer negar que com a interpretação do Ser como idéia se interpõe um abismo frente ao principio originário Ao falar mos aqui de decadência é de se advertir que tal decadência ninda se conserva apesar de tudo num nivel elevado sem se 204 degradar nos níveis baixos Podemos avaliarlhe a altura pelo seguinte A grande época da existência grega é tão grande em si mesma a única clássica que cria até as condições meta físicas da possibilidade de todo ciassicismo Nos conceitos fun damentais de idea paratieigma homoiosis e mimesis já se acha presign ada a metafísica do ciassicismo Platão ainda não é um classic 1st a pela simples razão de ainda não poder sêlo Êle é o clássico do ciassicismo A transformação do Ser em Idea provoca uma das formas essenciais de movimento em que se move o acontecer Histórico do Ocidente e não apenas o de sua arte Tratase agora de se indicar o que em correspondência a essa transformação acontece com o logos A abertura e ma nifestação do ente se dá no lógos entendido como reunião Essa se processa originàriamente na linguagem Por isso o logos se torna a determinação normativa da essencialização do discurso A linguagem guarda e conserva no que se pro nuncia se diz e se pode sempre de nôvo dizer o ente respecti vamente aberto e manifesto O que se diz pode ser rédito e dito adiante A verdade assim retida e conservada se espalha e de tal modo que o ente originàriamente aberto e manifes tado na reunião nem sempre ê experimentado como tal de modo próprio No que se diz adiante a verdade como que se dissocia do ente Isso pode ir tão longe que o redizer se con verte num mero recitar na glossa Tudo que se exprime e enuncia se acha constante men te nesse perigo cfr Sein und Zeit 544b Por isso a decisão acerca do verdadeiro se exerce agora numa disputa entre o dizer correto e o mero recitar O lôgos no sentido de dizer e enunciar tomase o âmbito e o lugar em que se decide sôbre a verdade o que significa originária mente sôbre a revelação do ente e com isso sôbre o Ser do ente No principio entendido como reunião o Lógos é o acon tecer da revelação nela se funda e a ela serve Agora ao contrário entendido como enunciado o Lógos se torna o lugar da verdade no sentido da correção Chegase à frase de Aris tõteles segundo a qual como enunciado o Lógos é o que pode ser verdadeiro ou falso Originàriamente concebida como re velação um processo do ente vigente em si mesmo e disposta e exercida pela reunião a verdade se converte agora numa pro 205 priedade do Logos Transformada em propriedads do enuncia do a verdade não só desfoca o seu lugar Muda também de essencialização Considerada a partir do enunciado só se atinge 0 verdadeiro quando o enunciar se atém aquilo sôbre que enuncia quando o enunciado se regula pelo ente A verdade é a correção do Lagos Dessa forma o Lógos se livra da de tenção originária dentro do acontecimento da revelação para a partir e em função de si mesmo decidir sôbre a verdade e o ente E não só sôbre o ente mas mesmo até sôbre o Ser Logos é agora legein ti kata tinas dizer uma coisa de outra Aquilo do que se diz alguma coisa constitui o que está à base do enunciado o seu substrato hypokewenon subjectum Con siderado a partir do Lagos entendido como o que se tornou independente e autônomo no enunciado o Scr se apresenta e se dá como tal substrato Essa determinação do Ser como a idéia está já prelineáda no tocante à sua possibilidade na physs Pois somente o vigor imperante que surge pode en quanto presença determinarse e transformarse em aspecto e substrato O substrato pode ser apresentado no enunciado numa va riedade de modos pode ser exposto como constituído dessa ou daquela maneira com êsse ou aquêle tamanho dotado dessas ou daquelas relações Ora sereonstituído sergrande e ser relaeionado são determinações do Ser Como porém enquan to modos de enunciar se extraem e colhem do Logos e como enunciar em grego é kaiegorein chamamse as determinações do ser do ente de kategoriai categorias É êsse o motivo porque a doutrina do Ser e das determinações do ente como tal veio a ser a doutrina que investiga as categorias e sua estrutura A meta de tôda ontologia é a teoria das categorias Êsse fato de serem os caracteres essenciais do ser categorias vale hoje e já desde muito como qualquer coisa de evidente que se entende por si mesmo No fundo porém é algo exótico e pe regrino Èle só se poderá mesmo entender se compreendermos e concebermos o fato e a medida em que o Lagos tomado como enunciado não só se diversifica mas também se contrapõe a physis e ao mesmo tempo surge e se impõe como o domino decisivo que chega a ser o lugar originário das determinações do ser 206 O Lagos pfiasis a dicção no sentido de enunciado decide de maneira tão originária sobre o ser do ente que tôda vez que uma dicção está contra outra sempre que há contradtção untiphasis o que se contradiz não pode ser Enquanto ao contrário o que não se contradiz é ao menos possível quanto a seu ser A antiga questão disputada se o principio de contra dição possui em Aristóteles um sentido ontológico ou ló gico é uma pseudoquestão de vez que para o Estagirita ainda não faã nem lógica nem ontologia Tanto uma como a outra só nasceram do solo da filosofia arlstotélica o prin cípio de contradição tem maia um sentido ontológico por ser a lei fundamental do Lógos por ser um princípio lógico A superação do princípio de contradição na Dialética de Hegel não é em princípio uma superação do predomínio do Lógos É apenas a sua máxima patenciação O fato de Hegel inti tular a metafísica pròpriamente dita lé a Física com o nome de Lógica faznos evocar tanto o Lógos no sentido do lugar das categorias como o Lógos da physis originária Na forma de enunciado o Lógos tomouse em si mesmo algo objetivamente dado Esse dado é algo tnanuseável que se pode manejar para obter e assegurar a verdade entendida como correção Daí se considerar tal manejo na conquista da verdade como um instrumento organon e se procurar tomálo manejável de maneira correta e justa O que se faz tanto mais premente e urgente quanto mais decididamente a transforma ção da physis em eidos e do logos em categoria vai excluindo a abertura e manifestação originárias do ser do ente o ver dadeiro concebido como o correto se vai difundindo e alar gando por meio das discussões do ensino e das prescrições Disso o Lógos deveria ser o instrumento e já estar pronto à mão Soa a hora do nascimento da lógica Não sem razão a filosofia antiga reuniu os tratados de Aristóteles que se referem ao Lógos sob o titulo de Organon É que nêles a lógica já se encontra concluída e terminada em seus caracteres fundamentais Assim dois milênios depois po derá Kant dizer no prólogo da 2a Edição da Crítica da Razão Pura que desde Aristóteles a lógica não pôde dar nem um passo para trás mas até agora também não conseguiu ainda dar nem um passo para frente e segundo tudo indica parece 207 jà estar concluída e completa Não só parece Está mesmo Pois apesar de Kant e Hegel a lógica já não deu nenhum passo a mais na direção de sua Essencialização originária É que o único passo ainda possível é arrancála a saber en quanto perspectiva normativa da interpretação do Sen de seus gonzos desde seu fundamento Consideremos ainda numa visão de conjunto o que se disse sôbre physis e logos a physis se converte em ideo yaradeig ma a verdade em correção O lógos se faz enunciado o lugar da verdade enquanto correção a origem das categorias o prin cipio fundamental das possibilidades do Ser Idéia e catego ria serão no futuro os dois títulos a que se submeterá o pensar o fazer e o julgar tóda a existência do Ocidente A transfor mação de physis e logos e com isso a transformação de suas referências reciprocas é uma decadência do principio origi nário e principiativo A filosofia grega chega assim a predo minar no Ocidente não a partir de seu princípio originário mas a partir do fim de seu princípio que em Hegel atingiu a sua grandiosa e definitiva plenitude A História autêntica não ter mina não vai a fundo cessando e extinguindose simplesmente como o animal História só vai a fundo acontecendo Histori camente 2 Mas o que aconteceu o que teve de acontecer para se che gar a êsse fim do princípio da filosofia grega para se chegar a essa transformação de physis e lógos Estamos na segunda questão Sôbre 2 Na transformação descrita é de se considerar duas coisas a Essa transformação se instaura na essencialização de physis e logos ou mais exatamente numa consequência dessa essencialização e de tal sorte que o que em seu aparecer aparece ostenta um aspecto e o que se diz cai logo para o domínio do discurso enunciativo Assim a transformação não advêm do exterior mas do interior O que porém significa aqui interior Não estão em questão a physis de per si e o lógos de per si Com Parmênides vimos que ambos se comper tencem essenclalmente È a própria referência dêles que cons titui o fundamento sustentador e imperante de sua essenciali zação o seu interior muito embora o fundamento dessa re 208 feréncia esteja primeira e propriamente oculta e escondida na essencialização da physis De que espécie porém é essa re ferência É o que veremos destacando o segundo ponto b A transfomação sempre se processa no sentido de que a essencialização originária da verdade a aieífteta revelação tanto do ponto de vista da Idéia como do enunciado se muda em correção A revelação portanto é o interior ié a refe rência vigente e imperante entre pipsís e lógos no sentido ori ginário O vigor imperante se essencializa como o surgir na revelação Ora percepção e reunião constituem o exercício que aàre e manifesta a revelação para o ente Assim a trans formação de physis e lógos em idéia e enunciado tem seu fun damento interno numa mudança da Essencialização da ver dade como revelação para a verdade como correção Ê que a essencialização da verdade não podia ser mantida e conservada na originalidade do principio Ruiu a ravelação o espaço instaurado para o aparecimento do ente Idéia e enunciado ousia e categoria se salvaram como frangalhos dessa ruína De vez que nem o ente nem a reunião poderam ser conservados e concebidos a partir da revelação só res tava ainda uma possibilidade o que se desconjuntara e jazia apenas como dado objetivo só podería por sua vez entrar numa relação entre sl se tivesse também em si mesma o ca ráter de dado objetivo Um Logos objetlvamente dado se tem de conformar com um outro dado objetivo o ente como seu objeto e se regular por êle Sem dúvida ainda se mantém e conserva um último brilho e lampejo da Essencialização ori ginária da aletheta O dado objetivo se antepõe tão neces sariamente à revelação como o enunciado representativo a precede Não obstante a aparência ainda restante da aleifteia já não possui mais a fôrça de suporte e expansão para ser o fundamento determinante da essencialização da verdade Já não o é nem nunza mais o será Ao contrário Desde que a idéia e categoria impuseram o seu predomínio em vão se es força a filosofia por explicar por todos os meios possíveis e impossíveis a relação entre o enunciado Pensar e o ser E são baldados os seus esforços porque néles a questão do Ser não é novamente reposta em seu fundamento nutrício para a partir daí se desenvolver e desdobrar 209 A ruína da revelação como chamamos brevemente aquele acontecimento não provêm entretanto de uma mera deficiên cia de um já não poder suportar a tarefa que com essa Es sencialização foi conferida ã guarda do homem Histórico A razão da ruína está em primeiro lugar na grandeza do próprio princípio e em sua Essencialização Ruína e decadência só se apresentam numa luz negativa para uma exposição su perficial o princípio por ser princípiativo e orfginante deve de certo modo deixarse a si mesmo para trás de si É assim que êle se esconde a si mesmo sempre e necessariamente mas tal esconderse não é um Nada Tão imedtatamente como principia o princípio nunca poderá conservar êsse seu prin cipiar assim como devia ser conservado Ié repetindose em sua originalidade de modo ainda mais originário Por isso só se pode tratar devidamente do princípio e da ruína da verdade numa recuperação que o pensa A carência do Ser e a gran deza de seu princípio não ê objeto de uma constatação ex plicação e vaioração simplesmente histórica O que não exclui mas antes inclui e exige que o processo dessa ruína seja evi denciado na medida do possível em seu curso histórico Aqui no decurso dessas preleções nos devemos ater apenas a uma Indicação de Importância decisiva De Heráclitc e Parmênides aprendemos que a revelação do ente não é simplesmente um dado objetivo A revelação só se processa operada pela obra pela obra da palavra na poesia pela obra da pedra no templo e na estátua pela obra da pa lavra no pensamento pela obra da polis como o lugar da His tória que tudo isso funda e protege Obra é de se entender aqui sempre no sentido grego de ergon conforme anterior mente foi explicado como o presente põsto em estado de re velação O debate da revelaçãa do ente e com isso do próprio Ser na obra que já em si mesmo se processa e ocorre como um constante combate é sempre um embate contra a velação o encobrimento contra a aparência A aparência doía não é uma coisa ao lado do Ser e da revelação mas pertence sempre a essa Todavia a dois ê sempre ambígua Significa tanto o viso em que mna coisa se oferece como a opinião o parecer que os homens têm sôbre ela A existência humana se a têm a êsses pareceres São 210 enunciados e propalados em sucessivos pronunciamentos Assim o doxa é uma espécie de LSgas Os pareceres dominantes obs truem a visão sôbre o ente A êsse se rouba a possibilidade de aeceder a partir de si mesmo em seu aparecimento à percep ção A visão a nós comumente accessível se distorce e per verte em opinião e parecer Dêsse modo o predomínio dos pa receres e das opiniões perverte e dtstorce o ente Distorcer e perverter uma coisa chamam os gregos pseu desthai A luta pela revelação do ente alethela se toma assim a luta contra o pseudos a perversão e distorção Ora a essencialização da luta Implica a dependência de quem luta do seu adversário indiferente se o vence ou por êle é vencido Por ser a luta contra a inverdade uma luta contra o pseudos a luta pela verdade devêm inversamente do ponto de vista do pseudos combatido uma luta pelo apseudes pelo nãoper vertido pelo nãodistorcido Com isso põese em perigo a experiência da verdade como revelaçác Ê que o nãodlstorcido e nãopervertido só se atin ge e logra virandose a percepção e apreensão sem distorsão alguma diretamente para o ente ié regulandose por êle O caminho para a verdade concebida como correção acbase destarte aberto Êsse acontecimento da transformação da revelação pela distorção em nãodistorção e dessa em correção deve ser con siderado conjuntamente com a transformação da physis em idea do logos como reunião no logos como enunciado No fundo disso tudo se elabora então para o próprio Ser aquela Interpretação definitiva que a palavra ousta solidifica e con solida Ela pensa o Ser no sentido da apresentação constante de objetividade dada Vorhandenheit Em conseqüência o ente em sentido próprio é então o sempreente aei on Cons tantemente presente porém é aquilo a que de antemão em tôda aprensão e elaboração temos sempre de recorrer e retor nar o modêlo a idea Constantemente presente é aquilo a que em todo logos enunciar temos sempre de remontar como o substrato já desde sempre subjacente o hypokeimenon sub jectum Do ponto de vista da physis do surgir e nascer o substrato já sempre subjacente é o proteron o anterior o a priori 211 Essa determinação do ser do ente caracteriza a maneira em que o ente se contrapõe a todo apreender e enunciar O hypokeiniencm é precursor da interpretação posterior do ente como objeto A percepção o noein é absorvido pelo Logos no sentido de enunciado E assim se chega àquela percepção que ao determinar algo como algo percebe durchvernimmtí por através do que lhe vem ao encontro dianoeisthai Essa percep ção predicativa por através de díonoio é a determinação es sencial do entendimento no sentido da representação judíca tiva A percepção tornase entendimento a percepção se faz razão O Cristianismo transformou o ser do ente em ser criado Pensar e saber vieram a distinguirse da fé Fldes Com isso não se impediu que surgisse o racionalismo e irracionallsmo mas ao contrário se preparou e fortaleceu Por ser o ente uma criatura de Deus ié algo de racional mente preconcebido por isso tão logo se desfaz a relação entre criatura e Criador e a razão humana predomina e se Impõe como absoluta o ser do ente terá que poder ser pensado no pensamento puro da matemática O ser assim calculável e põsto no domínio do cálculo torna o ente apto a ser dominado pela técnica moderna matematicamente estruturada que se distingue Essencialmente de todo uso de instrumentos até então conhecido Ente é somente aquilo que corretamente pensado resiste a um pensar correto O título principal o que quer dizer a interpretação nor mativa do ser do ente é a nusia Como conceito filosófico sig nifica ousífl apresentação consistente Anwesenheitl Na épo ca em que essa palavra já havia alcançado o titulo de con ceito dominante na filosofia conserva ainda o seu significado originário huparchousa ousia sócrates significa o estado de posse objetlvamente dado Todavia mesmo essa significação fundamental de owsía e a direção da interpretação do Ser por ela aberta não se põde manter Logo começou a transformação da ousia em substância É êsse o sentido corrente de ousirt na Idade Média e Moderna até hoje A partir do conceito de substância do qual o conceito de função é apenas uma sub espécle matemática se interpreta retrospectivamente a Fi losofia Grega o que no fundo significa se falsifica 212 Resta ainda ver come se concebem agora a partir da ousia como o título ora normativo do Ser as distinções antes discutidas Ser e Vir a Ser Ser e Aaparência Lembremos por meio de um esquema as distinções em questão Vir a Ser Ser Aparência Pensar O que está defronte como oposição ao Vir a ser é o cons tantemente permanente o que se acha defronte como oposi ção à simples Aparência é o que se vè propriamente a idea Como o ontos on a idéia é o que constantemente permanece frente à aparência inconstante Todavia tanto o Vir a ser como a Aparência não se determinam apenas a partir da ottsia Pois a aasia obteve por sua vez a partir da referência ao Logos à determinação decisiva de juízo enunciativo a dianoia É por isso que Vir a ser e Aparência se determinam também pela perspectiva do pensar Considerado do ponto de vista do pensar judieativo que sempre parte de algo permanente o Vir a ser se apresenta e aparece como não permanência Em primeiro lugar se mostra essa impermanência do que é objetivamente dado como uma não permanência no mesmo lugar O Vir a ser aparece então como mudança de lugar phora transporte A mudança de lugar tornase a manifestação decisiva e normativa no movi mento em cuja luz se deve conceber todo Vir a ser Com o surto do predomínio do pensar no sentido do racionalismo matemático moderno não se reconhece nenhuma outra forma de Vir a ser do que a do movimento no sentido da mudança de lugar Onde aparecem outras manifestações e fenômenos cinéticos procurase aprendêlos a partir da mudança de lugar Essa o movimento em si mesmo se concebe por sua vez úni s camente pela velocidade c Descartes o instaurador t na filosofia dêsse modo de pensar ridiculariza na XIIa de suas Etegulae qualquer outro conceito de movimento Assim como o Vir a ser em correspondência com a ousia se determina a partir do pensar calcular assim também a outra distinção do Ser a Aparência A Aparência é o Incorreto O fundamento da Aparência achase na distorção do pensar A aparência se toma simplesmente uma mera incorreção ou falsidade lógica Daí então poderemos avaliar integralmente o qua significa a contraposição do Fensar ao Ser o pensar estende o seu predomínio quanto à determinação essencial normativa sôbre o Ser e ao mesmo tempo sôbre o que se contrapõe ao Ser Tal predomínio se alonga e progride ainda mais Pois no momento em que o Logos no sentido de enun ciado assume o predomínio sôbre o Ser em que o Ser é ex perimentado e concebido como ousía ser objetivamente dado preparase também a separação entre Ser e Dever O esquema das limitações do Ser se apresenta então do seguinte modo Dever Vir a Ser Ser Aparência 4 Pensar Ser e Dever 214 De acordo com a indicação de nosso esquema essa separa ção segue numa outra direção A separação Ser e Pensar está desenhada para baixo Isso quer mostrar que o pensar é o fundamento que sustenta c determina o Ser O desenho porém da separação de Ser e Dever se dirige para cima Com isso se quer Indicar o seguinte Assim como o Ser é fundado pelo pensar assim também é coroado pelo dever O que significa o Ser já não é mais o decisivo e a norma Todavia êle não é a idéia o modêlo Mas justamente por seu caráter de modêlo também as idéas já não são mais o decisivo e normativo É que entendida como o que dã o aspecto e assim de certa ma neira é um ente on a idéia requer por sua vez enquanto ente a determinação de seu ser ié exige também um aspecto A Idéia das idéias a suprema idéia é para Platão a idea ton agathou a idéia do Bem O Bem não significa aqui o moralmenle ordenado mas o que é como deve ser das Wackere que produz e pode pro duzir aquilo que é devido O agathon constitui o normativo como tal aquilo que confere ao ser a faculdade de vlgir e vi gorar como idéia como modêlo O que confere tal faculdade é o que faculta em sentido originário Enquanto porém as idéias constituem o Ser ousia a idea ton agathou a idéia su prema está epeikeína tes ousias além e acima do Ser Assim o Ser mesmo não por certo simplesmente mas como idéia chega a oontraporse a uma outra coisa e a algo de que êle mesmo o Ser fica dependendo A idéia suprema é o exemplar originá rio de todos os exemplares Agora já não é necessária uma discussão multo extensa para se demonstrar em pormenores como também nessa se paração o que se separa do Ser o Dever Ser não advém e se ajunta ao Ser de fora de qualquer outra parte Na interpre tação determinada como idéia o Ser mesmo traz consigo a re ferência com o que é modelar Vorblldhafte e deve ser Na medida em que o Ser mesmo se afirma e impõe em seu caráter de idéia na mesma medida êle compele também a reparar o seu rebaixamento assim verificado O que porém sõ poderá ocorrer pondose algo acima do Ser algo que o Ser ainda não é mais que cada vez deve ser Tratavase aqui de pôr em evidência a origem essencial da distinção entre Ser e Dever ou o que no fundo vem dar no SIS mesmo o principio Histórico dessa distinção Não se procura aqui a História de seu desenvolvimento e de suas variações Apenas queremos mencionar uma coisa essencial Em tõdas as determinações do Ser e das distinções mencionadas é de ser ter sempre em vista porque o Ser é originàrlamente physís vigor imperante que brota e desdobra êle se apresenta e expõe a si mesmo como eidos e idea A explicação nunca se apõla exclusivamente nem em primeira linha na interpretação dada pela filosofia Ficou explicado que o Dever Ser aparece como contrapo sição ao Ser logo que êsse se determina como idéia Ora com tal determinação o pensar entendido como Logos enunciativo e predicative díalegesthai entra a desempenhar uni papel decisivo e normativo E tão logo nos tempos modernos êsse pensar enquanto razão independente e posta em si mesma predomina preparase a constituição propriamente dita da distinção entre Ser e Dever Ser Um processo que se completa com Kant Para êle o ente é a natureza no sentido do que se pode determinar e se determina no pensamento físicomatemá tico A natureza determinada pela razão e como razão se con trapõe o imperativo categórico Muitas vêzes o próprio Kant o chama o Dever Ser e o faz enquanto o imperativo se refere ao simplesmente ente no sentido de natureza instintiva Fichte faz expressamente da oposição de Ser e Dever Ser a articula ção fundamental de todo o seu sistema No decursa do século 19 ente no sentido de Kant o que é experimentável para as ciências naturais às quais se vêm ajuntar então as ciências his tóricas e econômicas predomina incontestâvelmente Pelo predomínio do ente o Dever Ser se sente ameaçado em sua função de norma E reagiu para afirmarse em sua exigência Para isso teve que tentar fundarse a si mesmo O que quer afirmarse impondose como um dever tem que se credenciar e legitimar para tal a partir de si mesmo Tôda pretensão de dever ser só se pode impor como tal na medida em que impõe a sua pretensão por si mesmo na medida em que traz e ê em si um ualor Os valõres em si tornamse então o fun damento do Dever Ser Visto porém se contraporem ao ser do ente entendido como o que é fato os valóres mesmos não podem ser Por isso se diz os valores não são êles valem Para 316 tódas as estetas do ente ié do objetivamente dado os valo res são o normativo A História não é outra coisa do que a realização de valores Platão concebeu o Ser como idéia A Idéia é modêlo e como tal também normativa O que será mais sugestivo do que se compreender então as Idéias de Platão no sentido de valo res e interpretar o ser do ente a partir do que vale Os valores valem Todavia essa valldez faz pensar em de masia no valer para um sujeito íara garantir ainda mais o Dever Ser elevado a valores atribuise aos valôres um certo ser Ser não significa aqui no fundo outra coisa do que pre sença do objetivamente dado Apenas os valôres não são um dado objetivo tão grosseiro e palpável como o são mesas e ca deiras Com o ser dos valôres a confusão e desraigamento atin gem seu grau mais alto Visto que a expressão valor se apre senta a pouco e pouco desgastada principalmente porque de sempenha também um papel na Economia chamamse agora os valôres de totalldades Com êsse título porém só as letras foram trocadas De fato nessas totalldades se toma antes evidente o que elas são no fundo a saber parcialldades Ora no domínio do que é Essencial as parcialldades as coisas pela metade são sempre muito mais funestas do que o tão temido Nada No ano de 1928 apareceu uma bibliografia completa do conceito de valor Primeira Parte Reúne 661 escritos sôbre o conceito de valor E de se presumir que entrementes êsse número se tenha elevado a mil Tudo isso se chama de filo sofia O que hoje se apresenta como filosofia do Nacional So cialismo que porém não tem nada a ver com a verdade e grandeza interior dêsse movimento a saber com o encontro entre a técnica determinada planetàriamente e o homem mo derno faz suas pescas nessas águas turvas dos valôres f das totalídades Quão tenaz entretanto o pensamento do valor se consoli dou e firmou no século 19 vêse do fato de o próprio Nietzsche e justamente êle haver pensado inteiramente dentro da pers pectiva de uma representação do valor O subtítulo de sua obra principal planejada Vontade de Potência diz Tenta tiva de uma inversão de todos os valôres O livro terceiro da obra se intitula Tentativa de uma nova posição do valor o 217 emaranharse na confusão da idéia de valor a incompreensão de sua proveníèncla questionável é a razão de Nietzsche não haver atingido o cerne próprio da filosofia Mas mesmo que alguém o alcançe no futuro hoje nós só poderemos pre pararlhe o caminho não poderá evitar também um ema ranharse apenas será um outro É que ninguém consegue pular a sua própria sombra NOTAJE 1 COjVSTJriJÇJOztaGCHVG 0 sentido Jmodtato do verbo pragen donde provêm o substantivo Prapgung ê cunhar gravar imprimir Em sentida figurado porém jte diz de qualquer processo de formoçâo Aqui mj refere bó processo hlatóríco da forttiftção dlfttlçõès entre ser e vir m bur bct e aparfincia etc Par lso uwmqs na tradução b palavra constl lulção U1 PÍÍjVSAVW PQTICAMENTEDENKENDDICHTENÜ A conjunção dêsse doh verbos dcnkcn pensar e didileD poria r jpossuem cm Heidegger um significado profundo e essencial Num cojno no outro comportamento do homem a essencialização originária é a mesma As pa lavras português porsifi poetar upaQtn Induzem mal o qnc Hcl digger quer dizer com Díehlung ponia DIchten poetar Dichler poeta Em tôdas elas êlq ae reporta â dimensão originário expressa de maneira na palavra alemA dichtcn Elitnològicumente dlchten len a aenlido de colher ajuntar courijninir retinir Assim o Rfl letlvo ttcht significa concentrado denso compacto auf ctws tctiien significa concrutrarse cm alguma coisa a por cosneguinte me ditar pensar nela Kcfletlndo npssa dircçAo chrgnrscA a compreender o sentido da frase de Nietxscha de que os pensadores Denker e poetas ÍDichtçrl moram em montanhas vizinhas ruas separadas Pura Heidegger punsár e poefor pensai mento e porsia Ao a inesma coísn das Selbe sem serem iguais das Cliche Tratase aqui da dialética le identidade c diferença nvoeada por HrlderHn na frase enquanto estão em pé perma necem separados os troncos vizinho Aqui se aprofunda a observação aci ma referida de Nietzsrhc Evldenlementr uma nota dc página não é o lu gar de w discutir a dialética de idenlklnde e diferença entre pensar e portar Podcsr apenas sugerir o problems 2 POEMA IEfíRGEDJCfíT j A truduçAo de LrhrgiMicht r fritii pâlids mrftfe hnr rlMAtico aLhr vm dr Mfhrfljs ensinar e Gfdfeht 4 o poema 0 problema quci e esconde nessa tradução superficial foi suge nua muito precariamente na Nota anterior no que SC refere a poema a Gedícht No tocante a ensinar Isíiirit vejase o àlllmo livro de Heidegger Die trage nach dem Ding J Qurstàn sêbre a Coisa pp 5355 I COJtfO DIZEMOS PERMANENTE E PERMANÊNCIA Heidegger díx nr original Wundqr milagre e w under bar milagroso maravilhosa Modifieaipcs o exemplo porque rru português não correspond ao que se pretende exprimir 5 BRILfíARSGHEINENt O verbo itemiv scheinen significa brilhar parecer aparecer gm português nAr terno um verbo 6 qur refina essa três significações 21 fl A palavra atemâ para ditcr auréola ou splendor isto é o circulo de iua aô redor da cabeça doi santos é cornpoi H de achrlMen Heiligenschein tradução literal brilho de santo Ç7 APARÊNCIA CWO JÜPLEAFDOfl E BRtLRGSClIRlN ÀLS GLANZ ÜND LÊUCHTEN Á a tradução literal Diretamente a palavra português a purê nela não tem o sentido de brilho e esplendor como a alemã Scbcin ft ESrlfí pJtSlYTEAAr5rÍfE O verbo anskhen tem muitos aig ui ficados O sentido empregado no texto pareceunos melhor expresso pela loruçAo estar premente 1ÍM O QUE J A EST SE ESSESTClALlZÀKDfDAS SCHON GEWESENDE o verihQ wcsenrt ê arcaico em alemão Usase apenas etn algumas forma ri putttvrttj como gcwcscn sido abweaend ausente Bnwesend1 preside das Wisen s propriedade a cssídcíg etc Heidegger o rimtroduitt na linguagem da filosofia Como lêrmo técnico do seu pcusa mcnia MgulficH a dinâmica pela qual um ente chega ao vigor de sua essên rm mi existência humana Essa dinâmica é sempre HUtôri cam ente instau rada peta vicissitude da Verdade do Ser Para exprimir tMa essa estrutura rOMrncinl iimims na tradução um neologismo essenciallzar essencia Mzaçâo 10 bttfENSAO VO RRVELAlW DO VFRRDRGK HBlTt É um térmQ Uptco do pensamento de Heidegger sôbre e Esienciatl zúçuq da Verdade do ber Compucse do verbo uhkuii t pôr a cudío esconder proteger que por sua vez deriva de der Brrg o monte Antigarncntc a cidades vilas e povoados se edlfkúVMm ao sopê de um montoonilf se escondiam os tesouros c coisus de valor quando numa guer ra estavam na Iminência dr serem ocupadas c pilhadas pelo inimigo Ber gen diz levar pura o monte para esconder gimrdar e assim conservar os lasouros para rí cuntra u pilhagem do Inimigos Verbergcn é um ln IrnaificaUvo de bergen cujo parHriplo pftssndo r scrbnrgcn Unver bcrgrn é o verbo que exprime o movimento eontrârid dr befgeli Do par tirfrln pasnado nverhorgen fnrmou Hrideger i sublantivo Uttvrhor genbell que dtz o etado o espaço ou a qualidade de etsar dfiscobtrto Spse niovimrnto dc çnçobrir Paru proteger pensa nrideggcr ue Bcuruu Cuin i cllmologin da palvor grega aléthela a dinâmica da Verdade do Ser que se encobre a si mesma para proteger e revelar o ente em seu ser Essa db nÂnitca da Verdade é que institui c ins latim originário mente a história íasn quer dizer segundo ji vicissitudes dessa dinâmica os homens podem edí fitar r construir m sum existência Ilr A APEC 704 PffX Aspecto só Iraduz flelmetita uAttnsehctiH sc di4i Ta atarmos aptulquer conotação subjetiva e o entendermos total me ate Ir incido renomenulóglcn Isto é como uma tnanircstaçãii qur provém tn próprio ser daquilo a que pertence o aspecto I2i ERRfRlRtE Sõhrc esta trduçàa vejnse a Not 26 do Cap I 131 APAEfVTAJtsrVflATELLExV D verbo vorstellen possui no do mínio do pensamento o significado de representar coneobcr uma idèla Para Heidegger é o scilldo Introduzido peta Interpretação meta física 4o pensamento Por Isso servese do verbo vorslcllen1 cm sua acepção irfgínária ilq fnicr presente apresentar diante de 14 0 QUE SE LAçA CONTRAGEGESTAKD t Gcgenitsiur é objetn Como porém abjeto é um conceito fundamental de metafísica da subjeti vidade Heidegger separa os componontos da palavra para Indicar que a estâ tomando no sentido tijnológko que traduzimn com uma circtinlO euçãn 4151 ejaa a fonua akmâ do provérbio o homem pôc e Deus dispõe ílfl LSELJSA A palavra português ler tem mm mesma origem com se podr verificar rm cnlhM selrçâo riilrciu rtr 219 117 Hrjdegâer Iraduz analogia coui Entsprechung ti correspondência que è um cumpôsto de sp recheo falar Ifi MIAVJO SUBTÈRREOUNTERWELT Dentro da concepção tscatoló gtcn dos gregos após a morte as almas desciam para o Hades o mundo situado em baixo da lem 19 SER OBEDIENTE AG QÜE SE OUVEHURSG SELV O verbo hCren signifies ouvirL Dêlc se forma o edjetivn hatrig que pròpriamente diz ouvinte mfls fie trata de um ouvinte tào concentrado no qiir ouve que e glro e obedece o ouvido 20 O SENTIDO DO PRÓPRIO E PARTICUDAREIGENS1NN Na lingua gem corrente significa Eígenfiinc obstinação wpertinAcia teimosia caprteba Heidegger pensa aqui naobstinação dos que só lèm sentid para o que lhes é próprio j particular É ease a obstinação expressa tino lògicamente pela palavra eigcn próprio Sina sentido 21 PEJtCEBEfíVEAEHMEy Em português o verbo perceber nyj iem êsse sentido do verbo alemão 22 DETHZUJf STEHEN BRINGEN Deter traduz mal a locução ale mã zum Slrhen bringen Essa significa própria mente levar alguém w estar parado em pé 1 23 P5SCJA5ftôT A palavra alemã seíbst pode ser advérbio ou adjetivo significando cm pessoa em sí mesmo au mesmo Heideg ger substantiva essa palavra para exprimir o ser do homeju Êle não ua as palavras pessoa personalidade por serem conceitos próprios da interpretação metafísica do homem À falta de melhor tradução conservn ttu5 a palavra pewoa entre aspas 24 DISPOSIÇÃO AFETIVASTIMMUNGTrata se de um conceito funda mental de todo o pensanento de Heidegger desde Seín nnrf 2eif O trrsr entendido e Interpretado SUnimung no sentido corrente da palavra levin muitos a par de outras íneamprnsôes a fazerem do pcnsamenlo de Hei degger uma filosofia irraci ona lista portanto unia manifestação da metafí sica Stimmnng quer dizer romumente disposição tònus humor emotividade afetação todos conceitos irracionais como se dizem Mas êaoe é o espaço de superfície da palavra Não é nêle que se move o pensa mento de Heidegger cuja originalidade é a orígínarledade Stimnumg vem do verbo itimmcn que significa fazer ouvir a sua voz conlra ou a favor portanto votar significa também afinar Çp ex um ínslriv mento harmonizai 41 acoi darse Ê êsse o sentida originária donde pro cede cortio significações derivadas tanto o sentido de disposição enin llvídade afelividade como o sentido de votar É a Acepção primária de afina r harmonizar acordar que Heidegger tem em mente mm a palavra Stlmmung Traduzimola cam a locução disposição atalha Essa tradução só não trairá o pensamento ac fôr entendida no se nib n otí molõgíro de suas palavrAX 1 25 DPER4 Com no texto original w usa o verbo rtrr wirkcn no sentido dc ins Werk sétzcn assim também na tradução c verbo operar twm ó sentida de em obra reportandose à siw nn geni latina na palavra opus opens a nbta 26 NECESSIDÀDRNOTWENDIGKE1T Heldtggrr pvnsa aqui a palavra Nntwendlgkeit necessidade dentro do espaço semântico aberto pol wntldo dos dois radicais de qtie é composta Not falto envêneta e wenton volverse virar debatorsr em voltas revoltas A enustríngêiv rfe nniií reinante é o virarse e revirarse o rcvolverre na dlmrnsão Ins taurada pejo vigor de uma carência Ê êsse exntamente o espaço efe slgnl firação originário da palavra pnrkiguêsa necessidade 220 V CONCLUSÃO Puseftionos em questão através da investigação das quatro distinções Ser e Vir a Ser Ser e Aparência Ser e Pensar Ser e Dever Ser A discussão foi introduzida e conduzida por sete pontos de referência A princípio parecia que se tratava apenas de um exercício de pensamento da distinção de títulos reuni dos arbitràriamente Agora os repetimos na mesma formulação Assim veremos a medida em que o que ficou dito manteve a direção indi cada por êsses pontos de referência e atingiu o que se tratava de ver 1 Nas distinções mencionadas o Ser se delimita frente a uma outra coisa e já adquire assim nessa demareação de li mites deHmitante uma determinação 2 A delimitação se processa de acordo com quatra aspec tos reciproca e simultânea mente correlacionados entre sl Con sequentemente a determinação do Ser se deve ou ramificar ou elevar correspon dentemente 3 As distinções não são de forma alguma obra do acaso O que nelas se mantém separado compele orlglnàriamente a uma unidade uma vez que se pertencem entre si Por isso as distinções possuem uma necessidade tôda própria 4 As contraposições que à primeira vista dão a apa rência de fórmulas não surgiram por isso em ocasiões quais 221 quer nem entraram para a linguagem por assim dizer como modos de falar Originaramse em estreita conexão com a cons tituição do Ser que se tornou normativa para o Ocidente Prin cipiaram com o princípio da investigação filosófica 5 Essas distinções porém não dominaram apenas a fi losofia ocidental Elas impregnam todo saber fazer e dizer mesmo quando não se acham expressas especificamente ou com essas palavras 6 A sucessão mencionada dos títulos já dá um indicio da ordem de sua contextura essencial e da seqüência Histórica de sua constituição Prgung 7 Uma investigação originária da questão do Ser que compreendeu a tarefa de um desenvolvimento da Verdade da Essencialização do Ser tem que exporse a si mesma para uma decisão aos podérss encobertos nessas distinções e os recon duzir à sua própria verdade Tudo que nesses pontos antes só fora afirmado foinos põsto ante os olhos menos o que se diz no último ponto É que de saída continha apenas uma exigência Para concluir íazse mister mostrar até que ponto e em que medida essa exi gência se justifica e seu desenvolvimento se toma necessário Essa demonstração só ê exequível se simultaneamente se atravessa numa visão penetrante o todo dessa introdução a Metafísica Tudo foi colocado e girou em tômo da questão fundamen tal enunciada no início Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada Jã a primeira tentativa de desdobrar e desenvolver essa questão fundamental nos forçou e obrigou ã questão prévia O que há simplesmente com o Ser De início ser nos apareceu como uma palavra vazia de significação flutuante Que assim é apareceunos como uni fato que pode ser constatado entre outros fatos Por fim porém o que parecia destituído de qualquer necessidade de ser investigado e mesmo incapaz de sêlo mostrouse como o que é mais digno de ser pósto em questão numa investigação das 222 Frngwürdigste O Ser e a compreensão do Ser já não são um fato objetivamente dado vorhanden O Ser é o aconteci mento fundamental em cujo único fundamento pode surgir e acontecer a existência Histórica no meio do ente aberto e re velado em sua totalidade Mas êsse fundamento que ê o que há de mais digno de ser investigado da existência Histórica só o poderemos ex perimentar em sua dignidade e excelência pondoo em ques tão Por isso levantamos a questão prévia o que há com o Ser As indicações do emprégo corrente mas complexo do ê nos convenceram ser um êrro falar de indeterminação e va culdade do Ser É o é que determina o sentido e o conteúdo do infinitivo ser e não ao contrário Agora poderemos com preender por que tem que ser assim O é funciona e vale como Cópula como palavra de ligação Kant no enunciado Ê êsse que contém o é Ora uma vez que o enunciado o logos entendido como kategoria se tornou o tribunal de julgamento do Ser é êle que determina o Ser a partir de seru é corres pondente O Ser do qual partimos como de um titulo vazio deve ter em contraste com essa aparência um significado determinado A determinação do Ser foi evidenciada pela discussão das quatro distinções Em oposição ao Vir a Ser o Ser é o permanente Em oposição à Aparência o Ser é o modêlo permanente o sempre igual a si mesmo Em oposição ao Pensar o ser é o substrato objetivamente dado Vorhanden Em oposição ao Dever Ser o Ser é o que prejaz Voriie gende como o que é devido ainda não ou já realizado Permanência Igualdade sempre constante Objetividade dada Prejacència tudo isso é no fundo uma mesma coisa presença constante on como oitsia Essa determinação do Ser não é casual Provém da inter pretação de que depende por intermédio de seu grande prin cípio entre os gregos a nossa existência Histórica Determinar o Ser não é simples questão de definir o significado de uma pa lavra Constitui o poder que ainda hoje carrega e domina todos as nossas referências com o ente em sua totalidade com o Vir a ser oom a Aparência com o Pensar e Dever 223 A questão sôbre o que hã com o Ser se mostra ao mesmo tempo como a questão sôbre o que se passa com a nossa exis tência na História a saber se estamos firmemente implantados ou se cambaleamos na História Considerando metafisicamen íe nós cambaleamos É que por tôda parte nos encaminhamos no meio do ente mas já não sabemos o que há com o Ser Nem mesmo sabemos ao certo que já não o sabemos Mesmo quando nos asseguramos uns aos outros que não estamos cambaleando ainda assim cambaleamos E continuamos a cam balear quando últlmamente se faz um esforço no sentido de mostrar que a questão do Ser só traz confusão só age destruti vamente ê niilismo Essa falsificação que desde o apareci mento do Existencialismo se vem novamente instaurando só é nova para quem não tem nenhuma noção da questão do Ser Mas onde é que reside mesmo e opera o Niilismo Lá onde se aferra e agarra ao ente corriqueiro e se pensa que basta como se tem feito até agora tomar o ente assim como tem sido Dêsse modo porém se repele a questão do Ser e se trata o Ser como um Nihii um Nada o que sem dúvida de certo modo êle também é enquanto se essencializa Ocuparse e afanarse tão só do ente esquecendo o Ser eis o Niilismo Èêsse Niilismo que constitui o fundamento daquele outro Niilis mo que Nietzsche expôs no primeira livro da Vontade de Po tência Agora na questão do Ser chegar expressamente até às raias do Nada e incluílo na investigação do Ser é ao contrário o primeiro e o único passo fecundo para uma verdadeira su peração do Niilismo Que porém tenhamos de estender tão longe a questão do Ser entendido como o que há de mais digno de ser investi gado é o que nos revela a discussão das quatro distinções Aquilo contra o qual o ser se delimita o Vir a ser a Apa rência o Pensar o Dever não é algo de simplesmente pen sado algo engendrado pelo pensar Tratase de forças e po dères que dominam e enfeitiçam com seu vigor o ente a sua abertura e configuração a sua reclusão e deformação O Vir a ser será que é um nada A Aparência será que é um nada O Pensar será que ê umnada O Dever será que é um nada De forma alguma 224 Ora se tudo que nessas separações se contrapõe ao Ser não ê um nada é por ser em si mesmo um ente até mesmo mais ente do que aquilo que se considera ente de acordo com a determinação essencial delimitada do Ser Mas então em que sentido de Ser é ente o que vem a ser o que aparece o pensar e o dever Em todo caso não será no sentido do Ser contra o qual êles se distinguem Ora êsse sentido de Ser é o corrente desde antigamente Logo o conceito ãe Ser até então logrado não basta nem consegue evocar tudo aquilo que é Por isso temos que fazer novamente a experiência do Ser desde o fundamento e em tôda a amplidão possível de sua Es sencialização se quisermos pôr em obra Hlstòrlcamente a nossa existência Histórica Na sua múltipla contextura os poderes que se contrapõem ao Ser as distinções determinam domi nam e impregnam a nossa existência e a mantém dentro da confusão do ser Pela investigação originária das quatro dis tinções se nos torna evidente que o Ser por elas circunscrito se deve transformar no círculo circunscrevente e no funda mento do ente A distinção originária cuja intimidade e sepa ração originárias carrega a História é a distinção entre Ser e ente Mas como terá ela de processarse Onde a filosofia poderá empenharse para pensála Não se deve discutir sôbre em penho mas repetilo em sua execução Pois Já fei executado e exercido pela necessidade de seu princípio ao qual estamos su jeitos Não foi por nada que na discussão das quatro distin ções nos demoramos desproporcionalmente na distinção de Ser e Pensar É ela que ainda hoje constitui o fundamento que suporta tôda determinação do Scr Guiado pelo Lógos no sen tido de enunciado o pensar proporciona e mantém a perspec tiva em que se considera o Ser Por isso para se abrir e fundar o Ser mesmo em sua ori ginária distinção do ente fazse necessária a abertura de uma perspectiva originária A origem da separação entre Ser e Pensar a separação entre Percepção e Ser nos mostra que não se trata de nada menos do que de uma determinação do ser do homem que procede da Essencialização do Ser physisi a ser aberta 225 A questão sôbre a Essencialização do Ser se abotoa e vincula à questão sôbre quem é o homem A determinação da essencialização do homem que aqui carece não é entretanto tarefa de uma antropologia flutuante no ar que no fundo se representa o homem como a Zoologia se representa o animai Em sua perspectiva e em seu alcance a questão sôbre o ser do homem é determinada exclusivamente pela questão do Ser Nela há de se conceber e fundamentar a essencialização dq homem segundo a indicação oculta no principio como o lugar r de que carece o Ser para a sua abertura O homem é a estância sis tência em si mesma aberta ex Nela o ente ínsíste e se põe em obra Daí dizermos o ser do homem é no sentido ri goroso da palavra a exsistência Dasein É na essenciali zação da exsistêneia entendida como tal estância da aber tura do Ser que se deve fundar originàriamente a perspectiva para a abertura do Ser Tôda a concepção e tradição ocidental do Ser e portanto também a referência fundamental com o Ser ainda hoje do minante se resume e reúne no título Ser e Pensar Ser e Tempo porém é um titulo que não se pode equi parar de forma alguma às distinções discutidas Aponta para uma dimensão de investigação totalmente diferente Nêle a palavra pensar não é simplesmente substituída pela palavra tempo Desde o seu fundamento a essenciali zação do tempo é determinada segundo outras perspectivas e dentro unicamente do âmbito da questão do Ser Mas por que justamente tempo Porque no princípio da Filosofia Ocidental a perspectiva que guia e conduz a abertura do Ser é o tempo Mas óé de tal modo que permaneceu e teve de permanecer como perspectiva oculto Quando no fim a oAsia se converte no conceito fundamental do Ser e Ser sig nifica então presença constante que outra coisa podería ainda fundamentar de modo não descoberto e não revelado a es sencialização da constância e a essencialização da presença do que o tempo Ssse tempo porém ainda não foi desdobrado e desenvolvido em sua essencialização nem poderá sêlo no terreno e na perspectiva da Física Pois quando no fim da Filosofia Grega se introduziu com Aristóteles a reflexão sôbre a essencialização do tempo teve êle de ser tomado como algo 22 de algum modo presente ousia tis Éq que se expnme no fato de c tempo ter sido apreendido a partir do agora como o que cada vez e só está presente O passado é o nstomaisagora o futuro o aindanãoagora O Ser no sentido do que é obje tivamente dado presença subministrou a perspectiva para a determinação do tempo E assim o tempo não chega a ser a perspectiva que propriamente se seguiu na interpretação do Ser Em tal reflexão Ser e Tempo não significa um livro mas uma tarefa e um empenho imposto o que nessa tarefa e in cumbência propriamente se impõe é Aquilo que nós não sabemos É Aquilo que na medida em que o sabemos nntên iicamenie a saber enquanto tarefa e empenho imposto sempre só o sabemos investigando Saber investigar significa saber esperar mesmo que seja durante tôda uma vida Numa época porém em que só é real o que vai de pressa e se pode pegar com ambas as mãos temse a Investigação por alheada da realidade por algo que não vale a pena terse em conta de numerário Mas o Essencia Jizante não é o número e sim o tempo certo lé o momento azado a duração devida Pois odeia O Deus sensato Crescimento intempestivo Hoederlin Do motivo dos Titãs rv 2is 227 ÍNDICE ITINERÁRIO DO PENSAMENTO DE HEIDEGGER 9 INTRODUÇÃO A METAFÍSICA 30 I A QUESTÃO FUNDAMENTAI DA METAFÍSICA 31 II SOBRE A GRAMÁTICA E ETIMOLOGIA DA PALA VRA SER 79 ni A QUESTÃO SÔBRE A ESSENCÍALIZAÇAO DO SER 101 IV A DELIMITAÇÃO DO SER 119 V CONCLUSÃO 219 O esforço filosófico de HEIDEGGER procura investigar originariamente questão fundamenta da metafísica No dinamismo dessa investigação desdobrase o problema sobre o rentído e a ver dade do Ser que se retraiu e obnubilou no curso da tradição ocidental A tese de HEIDEGGER é que esse esquecimento do Ser é constitutivo des de origem e para a origem de toda a história do Ocidente A fim de recobrarlhe a memória urge superar a metafísica Superar a metafísica não i aniquilar o pensamento da tradição É re cuperar o sentido esquecido do Ser O maior le gado do pensamento metafísico não reside no que ele pensa e reflete Está no que não pensa nem reflete mas sugere a pensar e refletir era todo que pensa e reflete Na realização desse apelo se insere a Introdu ção d Metafísica cujo propósito é revelar o es quecimento do ser entranhado nas obras históri cas do Ocidente No rigor de uma reflexão Ori ginária as raíres do mundo moderno tecnocra cia massificação predomínio totalitário etc se mostram implantadas no solo da metafísica Das meditações do Filósofo resulta com vigor impressionante o apelo de uma nova hominização em que o homem moderno ator e vítima de uma época sem memória para o Ser possa recuperá la edifícandolhe a verdade nas obras de sua existência histórica Esta tradução brasileira de HEIDEGGER é do professor EMMANUEL CARNEIRO LEAO Li cenciado em Filosofia pela Universidade de Fri burgo Alemanha Doutor pela Universidade de Roma com a tese O Problema da Htrmaniutita Filosófica em Heidetger cm vias de publicação por tampo brasileiro e Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro