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© 2017 Editora Unesp Fundação Editora da Unesp (FEU) Praça da Sé, 108 01001-900 – São Paulo – SP Tel.: (0xx11) 3242-7171 Fax: (0xx11) 3242-7172 www.editoriaunesp.com.br www.livrariaunesp.com.br feu@editoria.unesp.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Vagner Rodolfo CRB-8/9410 S762g Sposito, Eliseu Savério Glossário de geografia humana e econômica / organização Eliseu Savério Sposito. – São Paulo: Editora Unesp, 2017. ISBN 978-85-393-0700-5 1. Economia. 2. Geografia econômica. 3. Geografia urbana. 4. Glossário. I. Título. 2017-500 CDD: 330.91 CDU: 338.1 Meio técnico-científico-informacional Antonio Henrique Bernardes* Eliseu Savério Sposito** Conceito elaborado pelo geógrafo brasileiro Milton Santos que se refere à construção de um discurso que retrate o período atual da sociedade no mundo contemporâneo caracterizado, por sua vez, cada vez mais pelo seu conteúdo de ciência, tecnologia e informação, em que a ciência passa a preceder a técnica como elemento dinâmico do modo capitalista de produção. A informação, assim como o conjunto de ações e de objetos a ela imbricados, ganham mais relevância na conjuntura atual, pois possibilitam maior relação e conhecimento do mundo por meio das redes de comunicações. Uma vez conhecidos, esses elementos podem ser apreendidos pelo estudo do espaço, especificamente o espaço geográfico, segundo a concepção de Milton Santos. A categoria espaço, então, passa a ter um papel privilegiado na construção do discurso, uma vez que é nele, enquanto elemento empírico, que se cristalizam os momentos anteriores e é onde se encontram o passado e o futuro, mediante as relações sociais do presente que aí se realizam. Assim, o que se chama de * Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ – Brasil. ** Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, SP – Brasil. 275 Antonio Henrique Bernardes • Eliseu Savério Sposito meio técnico-científico-informacional é a espacialização de certas formas e processos que se manifestam do atual momento histórico, erigido com um crescente conteúdo de ciência, técnica e informação. A constituição e posterior expansão do meio técnico-científico-informacional se realiza no meio natural, ou seja, há um processo constante e contínuo de tecnificação da natureza. Entretanto, o meio natural, hoje, refere-se ao meio modificado e cada vez mais meio técnico, não havendo, assim, a necessidade de separação entre meio ecológico e infraestrutura, pois esta compõe a base do trabalho humano pela superposição das técnicas. Para se chegar à constituição do atual período e sua espacialização, é necessário remeter-se aos períodos precedentes ao atual, os quais, tendo suas especializações cristalizadas, imprimiram diferentes feições resultantes da utilização de diferentes paradigmas. Isso porque cada período é conformado pelo conjunto de ações e relações que se manifestam no espaço de modo diferenciado, mediado por um conjunto de técnicas características e específicas que levam a diferentes processos de transformação, produção e apropriação do espaço geográfico. Desde modo, Milton Santos propôs uma periodização histórica do espaço geográfico, do ponto de vista da incorporação da ciência aos objetos e às ações, denominando-o e determinando-o da seguinte maneira: meio natural, meio técnico e meio técnico-científico-informacional. A periodização do espaço geográfico em meio natural, meio técnico e meio técnico-científico-informacional está baseada na obra do mesmo autor intitulada A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção, o que não exclui a necessidade de discorrer sobre o meio técnico-científico que comparece em algumas obras precedentes do referido autor. O primeiro período concerne à passagem do meio natural ao meio artificial. O meio natural pode ser identificado pela fase histórica na qual o homem colhia da natureza aquilo que era fundamental ao exercício da vida e valorizava, diferentemente, essas condições naturais que, sem grandes modificações, constituíam a base material de sua existência. A principal diferenciação entre o homem e as outras formas de existência é o trabalho, expresso em extensões corpóreas no espaço através de dispositivos mecânicos. Entretanto, o homem inventa e não apenas repete (Santos, 1988, p.87); ou seja, o homem, ao se relacionar com o meio é 276 Meio técnico-científico-informacional paz, pela reflexão desse meio e sobre si próprio, cunhar objetos independentemente das coisas existentes; isto é, o conhecimento tem como princípio a experiência, mas nem tudo dela deriva (Kant, 2005, p.44). Nesse sentido, “a relação entre o homem e seu entorno é um processo sempre renovado que tanto modifica o homem quanto a natureza” (Santos, 1988, p.88), em que toda produção se dá no espaço por meio do trabalho, passando a natureza a adquirir diferentes feições correspondentes a diferentes períodos, por incorporar a ação humana a fim de melhor suprir as condições necessárias à manutenção da espécie humana. Aí se estabelece um paradoxo, em que “a natureza se socializa e o homem se naturaliza” (Santos, 1988, p.89), assim como o processo de naturalização da natureza torna-se, cada vez mais, o processo de sua tecnificação, em que o homem produz uma natureza mais adaptada aos seus fins, pois os objetos criados pelo avanço das técnicas substituem cada vez mais as coisas naturais. É possível, desse modo, deduzir que as técnicas têm como meio e fim o intuito de dominar a natureza, por exemplo, pela domesticação de plantas e animais, que são transformações impostas e mediadas pelas técnicas. No entanto, nesse período os sistemas técnicos (sem objetos técnicos) não tinham existência autônoma, pois sua simbiose com a natureza era total e suas motivações de uso eram essencialmente locais. (Santos, 1996, p.235-236). No período seguinte, o meio técnico, que tende a substituir o meio natural, compreende a fase posterior à invenção e ao uso das máquinas que dão novas dimensões de análise ao espaço, pois ele é provido de objetos que não são somente culturais, mas também técnicos. Então, “desde que a produção se tornou social, pode-se falar em meio técnico” (Santos, 1985, p.37), em que as técnicas têm como objetivo primeiro o comando da natureza, podendo se falar em período técnico-científico somente quando há o desenvolvimento da ciência das técnicas (tecnologia). Nesse período, como afirma Santos (1996, p.237), a “razão comercial” emerge e busca seu firmamento em detrimento da razão pautada nos aspectos naturais, pois os tempos sociais tendem a se superpor e contrapor aos em que os objetos o homem se sente, então, capaz de enfrentar a natureza em território, não são mais prolongamentos do corpo, mas prolongamentos do corpo, mas prolongados ao como se fossem próteses. Utilizando novos materiais e transcendendo as distâncias, o homem começa a fabricar um tempo novo pautado no referencial de um novo tempo. Os lugares, assim como áreas, regiões, países etc., passam a se diferenciar pela quantidade do meio técnico manifestado, ou seja, eles contêm a capacidade de substituir os objetos, as coisas naturais e os objetos culturais por objetos técnicos. No entanto, esse fenômeno era limitado, pois não era em qualquer fração do espaço que os progressos técnicos podiam se instalar, assim como seu efeito, ou melhor, seu raio de ação, era igualmente limitado. Ao fim do período técnico, limiar do período técnico-científico, inicia-se o processo de unificação das técnicas e, com ele, a ciência torna-se uma força produtiva direta, precedendo a técnica e o conhecimento. Com a predominância do trabalho intelectual, acelera-se o processo de unificação do trabalho; ou seja, os indivíduos, para produzirem mais, precisam estar sob um mesmo comando, o que requer também a concentração de bens e de pessoas, havendo a diferenciação do trabalhador das atividades diretamente produtivas daqueles encarregados de atividades terciárias, o que acaba por refletir na própria ocupação do espaço, especialmente do espaço urbano. Um terceiro período é aquele que se refere ao meio técnico-científico. A diferenciação entre esse período e o seguinte, chamado de meio técnico-científico-informacional, pode ser vista em algumas obras de Milton Santos, senão de modo implícito, ou seja, o meio técnico-científico, a espacialização do período técnico-científico, é precedente e difere do período técnico-científico-informacional basicamente por considerar, ao retratar o atual período, o elemento informação. Em algumas obras de Milton Santos, como A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção, essa distinção não fica clara (Santos, 1996, p.234). Entretanto, a diferenciação pode ser localizada, principalmente, quando se refere ao meio técnico-científico, como nas obras Espaço e método e metamorfoses do espaço habitado e Urbanização brasileira. Nestas obras, assim como em outras que precedem a construção efetiva do conceito de meio técnico-científico-informacional e em alguns artigos que podem ser encontrados, como no livro Técnica, espaço e tempo, o autor trata da espacialização do atual período como meio técnico-científico. No discurso que se remete a ele, o elemento informação não é retratado em sua mesma dinâmica como em obras posteriores. É preciso salientar também que Milton Santos trabalha com a construção Meio técnico-científico-informacional do conceito de meio técnico-científico tomando-o como processo de desenvolvimento intelectual que desemboca no conceito de meio técnico-científico-informacional desde 1980, quando sua proposta teórica foi apresentada em uma comunicação durante o Encontro Nacional dos Geógrafos, em 1982, em Porto Alegre. A própria nomenclatura dos conceitos evidencia uma diferenciação que se entende como resultado do enriquecimento do conceito, em que o autor passa a considerar a relevância adquirida pelo elemento informação em sua relação com a sociedade. Aí ele tece o conceito de período técnico-científico-informacional baseado no conceito precedente de período técnico-científico, incorporando ao período anterior o elemento informação, que já vinha se desenhando em relação a outros conceitos trabalhados por Milton Santos: fixos e fluxos, conjunto de sistema de ações e conjunto de sistema de objetos (que passam a ser praticamente sinônimos). A diferenciação nominal e de certo modo conceitual das periodizações é vislumbrada ao se tomar as obras de Milton Santos como um todo, assim como pela análise do desenvolvimento intelectual do autor. Essa abordagem permite confrontar ambas as periodizações e compreender que elas se superpõem, pois na atualidade verifica-se a dinâmica dos objetos e ações referentes aos dois períodos, o que confere ao espaço geográfico a coexistência de tempos diferentes. Assim, o meio técnico-científico é compreendido como momento histórico no qual a construção ou reconstrução do espaço se dará com crescente conteúdo de ciências e de técnicas mediado pelo desenvolvimento da tecnologia, o que não ocorria no período precedente. Sua geografização se dá de forma diferencial, isto é, de forma contínua em algumas áreas e de modo disperso em outras áreas. Entretanto, a tendência é a conquista rápida por mais áreas, o que não se evidenciava no meio técnico, que se desenvolvia em ritmo mais lento e mais seletivo. Por outro lado, há as especializações das tarefas no território com grande diferenciação das produções, que transcinam necessidades, o que pode ser compreendido como uma “complementaridade” de produção regional. A tendência à generalização do meio técnico-científico, tanto na composição técnica do território pelos aportes maciços de investimentos em infraestrutura, como na composição orgânica do território, se dá graças à cientifização do trabalho, sendo tal dinâmica imposta tanto no meio rural quanto no meio urbano. Essa maior cientifização do trabalho impõe e expõe uma hierarquia dos espaços de produção, que acaba por se refletir na ocupação, produção e transformação do espaço, especialmente do urbano. Desse modo, o conteúdo técnico-científico do espaço permite a produção de um mesmo produto em quantidades maiores e em tempo menor, rompendo os equilíbrios preexistentes e impondo outros. Na atualidade, é preciso falar em meio técnico-científico-informacional que se trata, teoricamente, da sobreposição de todos os meios anteriores. A partir da Segunda Guerra Mundial generaliza-se esta tendência que traz mudanças importantes tanto na composição técnica como na composição orgânica do território, paralela à sua informatização e à maior cientifização do trabalho. O período técnico-científico-informacional é caracterizado não somente pela inter-relação entre ciência e técnica, o que já era percebido no período precedente, mas pelo estreitamento dessa inter-relação, levando a ciência a preceder a técnica como elemento dinâmico do modo capitalista de produção. Isso ocorre considerando-se também o papel da informação e do conjunto de ações e de objetos a ela relacionados que ganham relevância na conjuntura atual, com o decorrente maior relacionamento e conhecimento do mundo por meio das redes de comunicações, tornando-se elementos amplos que tratam o território como potencialidade, o que propicia a noção de instantaneidade contida na obra de Milton Santos. A espacialização do período técnico-científico-informacional é denominada de meio técnico-científico-informacional e formada, principalmente, pela ação conjunta de dois elementos, conforme Santos (1994, p.32): 1) A tecnosfera, resultado da crescente artificialização do meio ambiente, sendo a esfera natural cada vez mais substituída por uma esfera técnica, tanto na cidade como no campo; 2) A psicoesfera, resultado de crenças, desejos, vontades e hábitos que inspiram comportamentos filosóficos e práticos, as relações interpessoais e a comunhão com o universo. As noções de psicoesfera e tecnosfera são congruentes, respectivamente, às noções de conjunto indissociável de sistema de ações e sistema de objetos, podendo o próprio espaço geográfico ser chamado de meio técnico-científico-informacional (Santos, 1994, p.123), em que seus elementos são produtos da criatividade humana, ou seja, da técnica. A espacialização da tecnosfera é paralela à da psicoesfera, sendo ambas o sustentáculo com o qual o meio técnico-científico-informacional introduz a racionalidade dos atores hegemônicos no próprio conteúdo do território. No entanto, a psicoesfera apoia, acompanha e, por vezes, antecede a expansão do meio técnico-científico-informacional. Como exemplo dessa dinâmica, podemos destacar o papel de empresas que criam demanda que antecede a oferta, ou seja, que fomentam o desejo com o intuito de se criar a necessidade para que a demanda desemboque no consumo, anteriormente à própria comercialização do produto ou ao estabelecimento de uma relação empírica do cliente com o objeto. Desse modo, o discurso e a informação precedem os objetos técnicos para facilitar e naturalizar a sua inserção nos lugares que, carregados de intencionalidades, artificializam o espaço geográfico impondo suas ações, normalmente estranhos ao lugar, pois atualmente "as ações não são exclusivamente conforme aos fins, mas conforme ao meio, isto é, conforme aos objetos" (Santos, 1994, p.102), o que propicia a mudança da escala de valores culturais e favorece o processo de alienação das pessoas em sua relação com o meio e com outras pessoas. Assim, a psicoesfera, como um elemento do espaço mais presente, consolida a base social da técnica e a adequação comportamental da interação moderna entre tecnologia e valores sociais, visto que os objetos criados pelas atividades hegemônicas são dotados de intencionalidade específica, o que não era obrigatoriamente um fato nos períodos anteriores. Dessa maneira, o número de fluxos sobre o território se multiplica no atual período, fazendo com que os valores de uso, transformados em valores de troca, ampliem a economicização da vida social. A busca de homogeneização do espaço geográfico que responde aos interesses dos atores hegemônicos dá-se de modo centralizado, enquanto se consideram os lugares de gestão do território. Esses lugares se restringem às áreas com maior conteúdo de ciência, tecnologia e informação, com a psicoesfera e a tecnosfera densificadas e entrelaçadas. Essas parcelas do espaço são encontradas, principalmente, nos grandes centros urbanos. Antonio Henrique Bernardes * Eliseu Savério Sposito O principal elemento difusor do discurso, amparado nos interesses dos atores hegemônicos, está na publicidade, que produz imagens simbólicas que compõem e direcionam nosso entendimento de mundo, tendo nos publicitários a figura de um verdadeiro demiurgo contemporâneo. O reforço desse processo está intimamente ligado ao desenvolvimento das telecomunicações, mola mestra nesse período que propicia a expansão e a veiculação do discurso e da informação de modo quase instantâneo em qualquer parte do globo. Por essa razão, no intuito de atingir novas áreas, a tendência de homogeneização do espaço geográfico, no âmbito da psicoesfera, realiza-se de modo esparso. Assim, a publicidade serve como um "lubrificante" que busca diminuir o atrito entre o mercado e a sociedade, transformando desejos em necessidades, sendo gerida de modo centralizado e operando de modo esparso, determinando o território como potencialidade. Os lugares mais dotados de conteúdo técnico-científico-informacional são mais fluidos, ou melhor, mais racionais com relação às ordens dos atores hegemônicos, formando o que Santos (1994, p.93) denomina de verticalidades, ou seja, pontos no espaço, separados uns dos outros, que asseguram o funcionamento global da sociedade e da economia em uma determinada lógica (a lógica dos atores hegemônicos), confirmando, desse modo, a tendência de fluxos mais numerosos e qualitativamente diferentes em diferentes lugares, em diferentes intensidades mas diretamente inter-relacionados. Por outro lado, a existência de lugares em que as relações são realizadas de modo íntimo ao território decorre também da interdependência solidária entre os atores. Esses lugares são tidos como irracionais ou "desobedientes" às ordens dos atores hegemônicos, pois são dotados de conteúdo mínimo de tecnologia, ciência e informação, além das relações se darem de modo menos rígido e hierarquizado, ou seja, com relações mais horizontalizadas. A interseção de verticalidades e horizontalidades propicia que o mundo se realize no lugar, possibilitando a interdependência e interinfluência entre o lugar e o todo. O lugar, dispondo de certa autonomia, contém algumas especificidades que o tornam singular, e a coexistência de elementos de períodos diferentes que sintetizam a evolução da sociedade não permite que a pretensa homogeneização do espaço geográfico se realize apenas como metáforas Meio técnico-científico-informacional simultaneidade, instantaneidade, universalidade, flexibilidade, globalização etc. Isso explicita as situações atuais que podem ser fatores de resistência ao novo, pois cada lugar é marcado por uma posição técnica e por diferentes componentes de capital. No atual período, todos os espa- ços são alcançados por certo número de modernizações, o que, de certo modo, pode desconfigurar a organização anterior do espaço. Contudo, nem todos os lugares são capazes de receber modernizações; por exemplo, devido às defasagens atreladas à resistência ao novo, há lugares que se revigoram ou que sucumbem à presença de elementos ditos modernos. É possível, portanto, que as modernizações alcancem os espaços de forma heterogênea, o que induz a diferenciação entre eles. Assim, as modernizações vêm acompanhadas de uma especialização de funções, o que propicia uma hierarquização funcional pautada no princípio da informação, pois as áreas que acolhem as modernizações ou seus principais efeitos são aquelas mais capazes de acolher outras modernizações. Nesse senti- do, é que as cidades, cada vez mais, se tornam diferentes entre si, contendo suas especificidades, mesmo com a presença de elementos semelhantes, pois ocorre a distribuição de funções produtivas entre as cidades e uma centralização da atividade gestora do território. A distribuição das funções produtivas entre as cidades assim como a centralização da atividade ges- tora estão pautadas nos paradigmas do período técnico-científico-informacional, em que a tecnologia, precedida pela ciência, e os mecanismos de informação - virtuais e não virtuais - tanto na sua criação como na sua difusão, baseados na evolução dos meios transportes e, por conseqüên- cia, das redes viárias, propiciam a confluência de frações do espaço. Essa dinâmica atribui às diferentes frações do espaço diferentes valores e lhes proporciona uma posição no “espaço-mundo”, como racional ou irracio- nal, de acordo com os ditames do atual período. As modernizações rela- tivas a cada período são impostas e procedem do centro para periferia, ou melhor, das áreas mais racionais para as áreas menos racionais, a fim de propiciar o aumento da complexidade do sistema. Nessa conjuntura, as cidades de porte médio passam a acolher maio- res contingentes de classe média, um número crescente de letrados, indis- pensáveis à produção material (industrial e agrícola) que se intelectualiza, em contraposição à redistribuição dos pobres, que a grandes cidades vêm absorver como reserva de maior potencial de trabalho. No atual contexto, a especialização da função pelas cidades tende a se fazer pela profunda diferenciação, a partir da seletividade dos fatores técnicos e científicos, que as fazem também, cada vez mais, interdependentes entre si, pelas diferenças que as separam. A existência de redes amplas de transportes e de informações, neste contexto, permite que cada cidade tenha uma posição particular no sistema, estreitando as relações com o exterior, na medida que se especializa em uma ou outra função. No en- tanto, a especialização não implica autossuficiência e, sim, interação com diferentes frações do território, fazendo com que a cidade, cada vez mais, se apresente como espaço de integração e de inclusão de processos técnicos e científicos, e não apenas como área de circulação de mercadorias produzidas pelo sistema técnico-científico.