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DIMENSOES e Vol 21 2008 125 Sado Domingos o grande Sado Domingos repercussdes e representacdes da Revolucdao Haitiana no Brasil escravista 1791 1840 WASHINGTON SANTOS NASCIMENTO Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia RESUMO Este artigo tem por proposito estabelecer uma discussdo sobre as reper cuss6es e as representacées da revolucao haitiana no periodo de 1791 a 1840 entre autoridades coloniais letrados brasileiros e viajantes que pas saram por aqui Pretende mostrar como tais individuos construiram um im aginario representacional sobre 0 perigo a que estava submetido o sistema escravista colonial brasileiro e mais particularmente as ligdes negativas positivas aprendidas com a revoluaéo ocorrida em Sao Domingos PALAVRASCHAVE Haiti Negro Representagdes Revolucaéo ABSTRACT This article has for purpose to do a discussion relative ace images and representations of the Haitian revolution among the Brazilian scholars and travelers that passed for here from 1791 to 1840 He intends to show through these texts as such individuals built an imaginary relative representational to the dangers the one that they were submitted the system Brazilian colonial slaves and more particularly the lessons negatives and positive they be learned herit with the revolution happened in Sao Domingos Keyworps Haiti Black Representations Revolution 126 Programa de PésGraduacao em Historia UFES m 1824 na vila de Laranjeiras no Estado de Sergipe onde Him uma grande coldnia de portugueses um grupo de anticolonialistas liderado pelo rabula Anténio Pereira dos Santos pregou nas portas das casas um cartaz com a seguinte inscriao Morram os marotos e Caiados morram portugueses e brancos Além da colagem dos cartazes foi organizado na casa de Anténio um jantar em que foram feitos elogios ao rei do Haiti e a SAéo Domingos a grande S40 Domingos 0 que atemorizou as autoridades coloniais como podemos perceber nesta carta enviada por uma autoridade colo nial ao governador das armas de Sergipe Senhor Governador das Armas ALERTA Uma pequena faisca faz um grande incéndio O Incéndio ja foi lavrado No jantar que deram nas Lar anjeiras os Mata Caiados se fizeram trés sates primeiros a extingao de tudo quanto é do reino a segunda a tudo quanto é branco do Brasil a terceira 4 igualdade de sangue e de direitos Um menino R Irm4o de outro bom menino fez muitos elogios ao Rei de Haiti e porque nao o entendiam falou mais claro S4o Domingos o Grande Sao Domingos Alerta Alerta Acudir enquanto é tempo Laranjeiras 26 de junho de 1824 Philioordinio As falas contidas neste trecho do documento revelam as difer entes faces das repercussdes da Revolucao Haitiana que por um lado era motivo de orgulho para a populac4o mais carente referindose a ela como Sao Domingos 0 Grande SAo Domingos mas por outro causava temor nas autoridades coloniais Alerta Alerta Acudir em quanto é tempo Essas imagens diferentes vio ser constantes nos im aginarios construidos sobre a Revolucao Haitiana durante a primeira metade do século XIX De todos os territérios ocupados pela Franga nenhum alcancou tanta prosperidade quanto SAo Domingos era um dos maiores produ tores mundiais de acucar e café e contava com uma ampla maioria da populaado composta de escravos e negros A rebeliao ocorrida na parte leste da ilha de Sao Domingos atual Haiti foi a unica feita por africanos na historia americana que culminou em uma revolucao destruiu o sistema escravo de plantagao e transformou o Haiti no primeiro pais negro fora da Africa Os seus impactos foram multiplos influiu sobre os pregos do acucar e gerou um grande medo de que uma insurreiaéo daquela escala acontecesse em outros lugares da América escravista Este medo segundo Gilroy DIMENSOES e Vol 21 2008 127 200111 marcou o edificio da euromodernidade de forma muito mais profunda do que se tem reconhecido Essa insurreiAo teve inicio durante a Revolucao Francesa quando devido a acontecimentos na metropole a ilha ganha uma maior au tonomia e representatividade no parlamento levando a um crescimento das disputas internas entre brancos e mulatos e ao nascimento de uma série de levantes da populacéo escrava em 1791 De uma rebeliao transformase em uma revolugao na qual se envolvem direta ou indi retamente a Franca a Espanha e a Inglaterra O resultado é que sob a liderancga de Toussaint LOuverture os negros e exescravos con seguem governar a ilha mas continuam sob a tutela da Franga Com Jacques Dessalines no ano de 1804 o Haiti separase definitivamente dos franceses e é proclamada a sua independéncia O restante da ilha continuou dominado pelos espanhdis e hoje corresponde ao territorio da Republica Dominicana De maneira geral a Revolucao Haitiana mostrou as classes de sen hores brancos da América que guerras civis internas ou mesmo guerras de independéncia contra o poder metropolitano levariam a destruigao dos regimes coloniais que elas tanto buscavam proteger Haitianismo foi o termo que circulou pelos quatro cantos da América e que era usado para definir a influéncia da Revoluao Haitiana sobre a aao politica dos negros mulatos escravos e livres em todo 0 mundo atlantico A Revolugao Haitiana também trouxe um endurecimento das leis escravistas e dos mecanismos coercitivos além de uma atitude menos tolerante para com os homens livres de cor Para os escravos mostrou que era possivel construir um movimento de libertagéo que os levasse a tomada do poder O Haiti também se transformou em um exemplo de revoluao anticolonialista exitosa e contribuiu para a emancipacao das coldnias espanholas Simon Bolivar se refugiou no Haiti no inicio do século XIX onde recebeu ajuda de Pétion governador da parte sul da ilha Francisco de Miranda um dos lideres da independéncia venezuelana esteve na ilha em 20 de fevereiro de 1806 0 governo haitiano também colaborou com os irmaos Miguel y Fernando Carabajfio que organizaram uma expediao de 150 homens contra Cartagena Col6mbia os mexicanos Toledo y Her rera contaram com a ajuda do corsario haitiano Bellegarde no ataque a Tampico e Veracruz outro mexicano Francisco Javier Mina também esteve no Haiti preparando uma invasdo ao México colonial quando foi acompanhado por varios marinheiros haitianos Com esses exemplos 128 Programa de PésGraduacao em Historia UFES podese inegavelmente atestar como a Revoluéo Haitiana contribuiu para a emancipacao das col6énias espanholas e como foi bemvista pelos rebeldes anticolonialistas Mesmo assim o Haiti foi marginalizado pelas nagées recéminde pendentes aqueles que tinham recebido ajuda dos haitianos deixaram a ilha isolada pois ela inspirava mais medo do que admiracao pelas novas classes que haviam conquistado o poder politico No Brasil o grande medo da revolucao de SAo Domingos so mado a emergéncia do movimento abolicionista trouxe grande temor para a elite senhorial Ora perguntavamse alguns assustados grandes homens que viviam no Brasil de entéo se em S40 Domingos os negros finalmente conseguiram 0 que sempre estiveram tentando fazer isto é subverter a ordem e acabar de vez com a tranqiiilidade dos ricos proprietarios por que nao se repetiria o mesmo aqui Garantias de que o Brasil seria diferente de outros paises escravistas uma espécie de pais abencoado por Deus nao havia nenhuma Azevedo 200429 A Revolugao Haitiana nunca esteve tao proxima da classe sen horial escravista brasileira Menos de um ano depois de proclamada a independéncia da ilha no Rio de Janeiro soldados negros usavam medalhées com o rosto de Dessalines Em 1814 apds uma sublevacéo escrava em Salvador os comerciantes denunciavam que os cativos falavam abertamente sobre o Haiti e gritavam pelas ruas de Salvador Liberdade Viva os negros e seu rei e Morte aos brancos e mula tos numa clara alusdo a revolucao haitiana Em 1824 durante a revolta regencial conhecida como Confed eracao do Equador o Batalhao dos Pardos junto a populaao pobre local resolveu atacar os comerciantes portugueses da cidade cantando o seguinte refrao Qual eu imito Crist6vao Este imortal haitiano E1a imitai seu povo O meu povo soberano fazendo referéncias a Henri Cristophe um dos generais de Toussaint LOuverture Neste episddio também merece destaque o fato de que o comandante do batalhao depois de fugir de Recife refugiouse no Haiti em 1826 Em 1831 noticiavase a presenga de negros da ilha de So Domingos no Rio de Janeiro Nesta mesma cidade algum tempo depois foi denun ciada a existéncia de um haitiano que se chamava Moiro e que segundo os denunciantes estava convidando os escravos das vilas do Bananal Areia Barra Mansa e Sao Joao Marcos para se insurgirem O plano ja contava com DIMENSOES e Vol 21 2008 129 cerca de sete mil escravos O haitiano foi preso nao negou as acusaées de que estava chamando os escravos para a insurreicao dizendo entretanto tratarse de uma brincadeira Mesmo com tal argumento as autoridades provinciais pediram a sua expulsao do pais A situagao de instabilidade criada por esses fatos e pela emergéncia de insurreides escravas no inicio do século XIX em todas as partes da América chegou a tal ponto que os senhores tiveram grande medo de um movimento internacionalista de sublevac6es escravas ou seja planos elaborados em escala atlantica para o fim da escravidao com a participaao de abolicionistas europeus No contexto em que a possibilidade de inversao da ordem politica e social parecia estar mais proxima do que nunca ja tendo ocorrido na Franca e no Haiti os letrados do Brasil e viajantes que por aqui passaram comearam nao so a discutir como também a escrever e a construir todo um imaginario representacional principalmente sobre os perigos a que estava submetido o sistema escravista colonial brasileiro e mais particu larmente sobre as ligdes a serem aprendidas em decorréncia da revolugao de SAo Domingos Segundo Chartier 199027 as estruturas do mundo social nao sao um dado objetivo todas elas sao historicamente produzidas pelas praticas articuladas politicas sociais discursivas que constroem as suas figuras As representagdes sao formas maneiras pela quais damos significado as tramas do mundo social procurando tornalas compreensiveis Toda representacao se incorpora ao mundo social pela identificagao com um jadito um ja pensavel que lhe servira de matriz de sentido e a legitimara Nesse sentido a Revolucao Haitiana foi transformada em uma matriz de sentido um dcus para onde convergiram os discursos representacdes sobre a escraviddo e tudo que dela derivava A razao para isto esta nas especificidades desse evento primeiro pelo fato de ser a Unica revolucdo escrava e negra vitoriosa do mundo moderno 0 unico local fora da Africa que se constituiu apds a independéncia como uma republica negra pelos supostos extremismos de violéncia cometidos pelos revolucionarios negros e por fim pela pobreza do pais apos a independéncia atribuindose a revolucao as responsabilidades pelas mazelas Uma das primeiras referéncias a Revolucao Haitiana no Brasil apareceu na obra do bispo JJ Cunha Azeredo Coutinho Nascido na Capitania da Paraiba do Sul atual Estado do Rio de Janeiro em 1742 130 Programa de PésGraduacao em Historia UFES estudou Filosofia e Letras em Coimbra tornandose bispo Suas idéias nao apresentam muita originalidade a maioria constitui copias de autores contemporaneos mais ou menos famosos representando assim certo corpus de pensamento da época E ele que em 1791 ano em que se inicia a revolucdo em S40 Domin gos escreve em Portugal um texto chamado Memoria sobre o preco do acucar em que chamava a atencAo para a alta do prego do acgucar em toda a Europa gracas a desgragada revolugao das coldénias francesas além de intempéries climaticas ocorridas no Caribe Este texto foi publicado no Brasil no ano de 1794 e acreditamos ser este 0 primeiro escrito a fazer uma alusao direta aos acontecimentos de SAo Domingos Para ele aquele seria o momento em que Portugal deveria aumentar a produgao de acucar em suas coldnias pois a revolucgao inesperada ac ontecida nas col6nias francesas é um daqueles impulsos extraordinarios com que a Providéncia faz parar a carreira ordinaria das coisas estando agora os plantadores franceses de maos atadas e antes que eles principiem nova carreira era urgente que Portugal aumentasse a sua produgao de agucar Para Azeredo Coutinho um outro fator que poderia ajudar os portugueses era o fato de que havendo qualquer guerra entre aquelas col6énias alem das perdas que ela consigo traz as suas plantag6es e searas sao muitas vezes queimadas e destruidas pela facilidade com que s4o atacadas por todas as partes pelas naus inimigas Azeredo Coutinho 1966183 NAo seriam as naus inimigas que destruiriam as plantacées de canadeacucar mas sim a ferocidade com que se deu 0 embate entre os negros e os franceses Mesmo assim Azeredo Coutinho ja prenunciava o resultado final da revolucdéo de SAo Domingos Em um outro texto publicado no Brasil em 1808 denominado Andlise sobre a Justiga do comércio do resgate dos escravos da Costa da Africa Azeredo Coutinho faz referéncias diretas a SAo Domingos O objetivo do texto foi criticar os novos filésofos franceses que condenavam o trafico de escravos com a Africa Os novos filésofos que se dizem os defensores da humanidade oprimida que de males nao tem eles feito sofrer a humanidade A revolugao da Franca e a carnagem da ilha de Sao Domingos nao bastam ainda para desmascarar estes hipécritas da humanidade Azeredo Coutinho 1966237 DIMENSOES e Vol 21 2008 131 A critica aos franceses e as suas idéias perniciosas eram ainda mais duras na dedicatoria feita ao povo brasileiro A vos felizes brasileiros meus amigos meus bons concidado a vés todos dedico esta obra filha do meu trabalho obra por cuja causa eu tendo sido insultado e perseguido pelos ocultos inimigos da nossa patria e pelos desumanos e cruéis agentes ou sectarios dos barbaros Brissot e Robespierre destes monstros com figura humana que estabeleceram em regra peregam antes as colénias do que um so principio principio destruidor da ordem social e cujo ensaio foi o transtorno geral de sua Patria e a rica e flores cente ilha de Sao Domingos abrasada em chamas nadando em sangue Azeredo Coutinho 1966233 Um ano depois deste texto de Azeredo Coutinho aconteceu em Londres a publicagao da obra Narrativa de uma Viagem ao Brasil 1805 escrita pelo viajante inglés Thomas Lindley que procurava apresentar o pais com base em seu diario escrito entre os anos de 1802 e 1803 periodo em que aqui estivera principalmente nas provincias de Porto Seguro e Sao Salvador Ele era magom e de alguma forma admirava os resultados da Revoluca4o Francesa Mesmo assim para ele a Franca em sua fase de mais completa revoluao e igualdade dos cidadaos néo se equivalia a igualdade de tratamento que se encontrava no Brasil entre pessoas de dif erentes racas Talvez isso explicasse por que conclui ele dado o numero excepcional de negros existentes no Brasil e os ultimos acontecimentos de S40 Domingos nao se viam grandes perigos de uma insurreicao negra mesmo ja tendo ocorrido a Guerra de Palmares um século antes tendo os negros se mostrado sempre alegres e contentes o que configurava uma politica acertada do governo portugués Pouco tempo depois no ano de 1810 um advogado paulista Antonio Vellozo de Oliveira em Memoria sobre os melhoramentos da provincia de Sao Paulo tocava tangencialmente no assunto destacando em seu texto dois aspectos que para ele dificultavam a continuidade da escravidao por um lado o Tratado de Comércio firmado com a Inglaterra que previa a extingao da escravidao e por outro os casos tristes e recentes ocorridos no Suriname na Jamaica e em S40 Domingos que segundo ele mereciam uma particular reflexao Talvez o principal difusor do conjunto de idéias que depois veio a ser conhecido como haitianismo tenha sido Joao Severiano Maciel da Costa Ele era brasileiro marqués de Queluz governou a Guiana Francesa entre 1809 e 1819 foi membro da Assembléia Constituinte 1823 ministro do 132 Programa de PésGraduagao em Historia UFES Império 18234 presidente da Provincia da Bahia 18256 e ministro dos Negocios Estrangeiros e da Fazenda 1827 Com este curriculo salienta Joao José Reis sua Memoria sobre a necessidade de abolir a introdugao dos escravos africanos no Brasil 1821 nao deve ter passado desperce bida na época Neste texto ele fazia questao de salientar 0 perigo que o aumento da escravaria somado ao contagio de idéias estrangeiras traria para o Brasil Se felizes circunstancias tém até agora afastado de nossas raias a empestada atmosfera que derramou idéias contagiosas de liberdade e quimérica igual dade nas cabegas dos africanos das colénias francesas que as abrasaram e perderam estaremos nos intensa e eficazmente preservados O que parece de dificilimo remédio é uma insurreiao subita assoprada por um inimigo estrangeiro e poderoso estabelecido em nossas fronteiras e com um pendao de liberdade arvorado ante suas linhas Costa 198822 Joao Severiano Maciel da Costa fazia questéo de disseminar o medo de rebelides escravas dizendo que Roma teve de combater dez vezes seus escravos que ao menos tinham outra civilizac4o e costumes e venceu Sao Domingos sucumbiu Para ele apenas felizes circun stancias tinham barrado no Brasil rebelides como aquela ocorrida em Sao Domingos entao era mais que urgente substituir os trabalhadores escravos por trabalhadores livres E fazendo questao de reforar seu argumento volta a descrever o que tinha acontecido na ilha de Sao Domingos contemple a ilha de SAo Domingos primor da cultura cultural a joia preciosa das Antilhas fumando ainda com o sacrificio de vitimas humanas e inocentes Observe sem lagrimas se pode dois tronos levantados sobre os ossos de senhores legitimos para servirem de recompensa aos vingadores de Toussaint L Ouverture Costa et al 198822 Na nota que coloca ao final desta citagao ele se diz indignado com o fato de que as nacGées uma referéncia a Inglaterra e aos Estados Unidos que podiam dar fim a tal escandalo assim nao o faziam mas antes até mesmo protegiam aqueles barbaros Percebemos que Severiano da Costa procurava criar um imaginario do medo em torno da possibilidade de acontecer no Brasil uma revolucgao escrava tal qual acontecera em S40 Domingos caso 0 trafico de escravos continuasse e nao se introduzissem novas formas de trabalho DIMENSOES Vol 21 2008 133 Este mesmo imaginario é criado por José Bonifacio de Andrada e Silva politico paulista o patriarca da Independéncia em Representagao a Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a Escravatura encaminhada no ano de 1823 em que era ainda mais enfatico Se o mal esta feito nao o aumentemos senhores multiplicando cada vez mais o numero de nossos inimigos domésticos desses vis escravos que nada tém que perder antes tudo que esperar de alguma revolucdo como a de Sao Domingos ouvi pois torno a dizer os gemidos de cara patria que implora socorro e patrocinio Silva 198875 Ciente do que acontecera em S40 Domingos Andrada e Silva lembrava a elite colonial os perigos que ela corria caso se mantivesse desunida Pelejemos denotadamente a favor da razio e humanidade e a favor de nossos proprios interesses embora contra vos uive e ronque 0 egoismo e a vil cobiga sua perversa indignag4o e seus desentoados gritos sejam para nods novos estimulos de triunfo seguindo a estrada limpa da verdadeira politica Silva 198875 Utilizandose de algumas idéias de José Bonifacio de Andrada e Silva que cita em seu texto e seguindo a linha de pensamento de fendida também por Severiano da Costa Frederico Leopoldo Cezar Burlamaque brasileiro nascido no Piaui doutor em Ciéncias Matemati cas e Naturais e membro do Conselho do Imperador e da Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional escreveu em 1837 fruto de um concurso publico 0 livro Memoria analytica a Cerca do Commercio descravos e a Cerca dos Males da escraviddo Domestica Nesse ensaio ele se referia ao fato ocorrido na ilha de Sao Domingos como exemplo do que o crescimento descontrolado dos escravos poderia provocar e citando Charles Comte afirmava No tempo em que a ilha de S40 Domingos era possuida por homens de raga européia a perda de individuos possuidos chegava todos os anos a um vigésimo e os acidentes a faziam subir 4 décima quinta parte Sao Domin gos diziam era a rainha das col6nias Comte apud Burlamaque 1988161 Para ele o Brasil corria sérios riscos caso a populaéo escrava continuasse a aumentar propunha entao que os exescravos fossem extraditados para a Africa tal qual faziam os ingleses e americanos Para Rafael de Bivar Marquese é preciso ter cuidado na analise do haitianismo presente nas obras desses autores devese procurar 134 Programa de PésGraduacao em Historia UFES avaliar se o medo de fato expressava os sentimentos reais ou se fora utilizado como um recurso retorico para convencer as autoridades bra sileiras da necessidade de fazer reformas na escravidao Neste sentido Antonio Penalves Rocha defende que o antiescravismo europeu do qual os ilustrados brasileiros eram dependentes da segunda metade do século XVIII explorou a tese de que por estar relegado a condigées de miserabi lidade para o negro so restava a insurreiao Assim a idéia de revolta foi usada para fins retdricos a fim de fazer as autoridades se convencerem da necessidade de reformar a escravidao unica forma de evitar uma rebelido escrava generalizada Seguindo esta légica os ilustrados brasileiros principalmente Joao Severiano Maciel da Costa e José Bonifacio de An drada e Silva se apropriaram dos acontecimentos de SAo Domingos para propagandear a necessidade de reformar a escravidao Para justificar esta tese Penalves Rocha cita um trecho do livro do Abade Raynal Historia filosofica e politica dos estabelecimentos europeus nas duas indias escrito em 1781 em que o Abade carrega as tintas sobre os perigos de uma revolta escrava generalizada tentando mostrar como este medo era anterior a revolucao de SAo Domingos sO falta aos negros um chefe bastante corajoso para conduzilos a vin ganga e a carnificina Onde esta este homem que a natureza deve aos seus filhos vexados oprimidos atormentados Onde esta Ele aparecera nao duvidemos e se apresentara carregando o estandarte sagrado da liberdade Este sinal veneravel reunira em torno dele seus companheiros de infortunio Mais impetuosos que as torrentes deixaréo em todos os lugares os tracos indeléveis dos seus justos ressentimentos Espanhdis portugueses ingleses franceses holandeses todos os seus tiranos se tornarao presas do ferro e das chamas Raynal in Rocha 200059 Embora nao discordando do ponto de vista de Penalves Rocha salientado pela afirmagao de Raynal acreditamos que a realidade era mais complexa do que a prenunciada por este autor Para ilus trar esta complexidade basta dizer que Toussaint L Ouverture principal dirigente da primeira metade da revolugao de Sao Do mingos leu a obra do Abade Raynal Assim a retorica utilizada pelo religioso poderia ter cumprido uma dupla fungao lembrar as elites de uma possivel rebelido escrava caso a escravidao nao fosse reformada e por outro incentivar Toussaint LOuverture a tomar as redes das rebelides negras que assolavam a ilha de S40 Domingos principalmente a partir de 1791 DIMENSOES e Vol 21 2008 135 Outro exemplo da complexidade dessa situag4o é o fato de nao ex istirem somente imagens negativas sobre a revolug4o de Sao Domingos O baiano Antonio Pereira Rebougas por exemplo mulato entéo secretario do governo sergipano de Manuel Fernandes da Silveira foi um dos poucos intelectuais que procurou elucidar a sua maneira é claro 0 que ocorrera na ilha de Sao Domingos escrevendo uma biografia publicada em um jornal sobre Toussaint LOuverture Outro letrado que fazia referéncias elogiosas 4 Revolucaéo Haitiana era o jornalista Hipolito da Costa redator e editor do primeiro jornal regular a circular no Brasil o Correio Braziliense que era editado em Londres Hipolito escrevia em seu jornal que o povo do Haiti deseja ser livre e independente Eles sic o serao Eles nao precisam de apoio estrangeiro as suas mesmas forgas protegerfo a sua liberdade Cipriano Barata quando deputado nas cortes de Portugal em 1822 fez um pronunciamento que depois se transformou em um texto exaltador da coragem dos valorosos habitantes de SAo Domingos que souberam defender a sua soberania nacional O redator de jornais e politico Antonio Borges da Fonseca 18081872 em 1829 publicou um perfil biografico de Toussaint LOuverture extremante elogioso Havia também posiées dubias em relagao ao Haiti como podemos perceber na andlise da obra Viagem pitoresca através do Brasil escritaem 1935 pelo viajante alem4o Johann Moritz Rugendas que esteve no Brasil em 1921 onde empreendeu viagens de reconhecimento pelas cidades de Salvador e Rio de Janeiro Nos doze anos em que esteve nas Américas Rugendas também visitou o México a Argentina o Peru a Bolivia e o Chile tempo em que construiu trés mil obras particularmente gravuras e desenhos diversos O fato de ter visitado tantos paises o ajudou a ter uma ampla visao das colénias na sua obra Viagem Pitoresca ao Brasil encontramse refer ncias a outras realidades coloniais principalmente para ressaltar o suposto atraso em que vivia o Brasil pelo fato de ainda nao ter tomado medidas efetivas para o fim da escravidao Tal qual Thomas Lindley e ciente do que tinha acontecido na ilha de Sao Domingos Rugendas se pergunta como tao grande numero de negros poderia ser subordinado por tao pequeno numero de brancos pois a experiéncia referindose ao Haiti demonstrou que pela fora os negros ganhariam na maioria das col6nias Para ele a resposta estaria em uma suposta forga moral branca que se sobrepunha aos interesses dos negros Estes como criancas gozam da feliz faculdade 136 Programa de PésGraduacao em Historia UFES de apreciar os prazeres do momento sem se preocupar com o passado ou com o futuro e gracas principalmente a adoao convicta dos negros a religiao catdlica consoladora dos negros nao se viam no Brasil paganismos presenga marcante nas coldnias inglesas e no Haiti Ao que nos parece o Haiti impressionava Rugendas pois se ele postula que os negros sao inferiores uma inferioridade intrinseca e organica em relacgao aos brancos e dai o fato de serem subordinados como entao justificar que negros governem um Estado Ele responde a esta inquietaao Que existam negros instruidos e civilizados e que se possam citar atos gen erosos deles isso nada prova a existéncia da Republica do Haiti nao basta para justificar tudo o que foi dito em prol dos negros é evidente que a administracao do Haiti nao passa a despeito das formas republicanas de uma simples imitag4o da burocracia européia tal qual nasceu da Revolucao Francesa e do governo imperial Rugendas sd20 Percebemos que Rugendas reconhece a existéncia de uma repu blica negra nas Américas o Haiti ele alude a esse fato de forma direta sdo os terriveis acontecimentos da ilha de Sao Domingos Para ele a razao de um governo negro no Haiti estaria no fato de que eles imita vam as instituigdes ocidentais particularmente a burocracia européia nascida na Franga Para Rugendas o Haiti era simbolo do que poderia ocorrer com a emancipaao gradativa dos escravos pois tomando como base o destino de pobreza da ilha ele assinala que o negro liberto toma sozinho o seu lugar nas classes inferiores da sociedade o lugar que lhes é assinalado pela sua capacidade e fortuna Para ele o destino dos negros seria o da pobreza e o da marginalizacao nao muito diferente do destino do Haiti Entretanto por mais contraditorio que possa parecer ele também assinala que a emancipacao dos escravos foi importante para o Haiti pois o aumento da populacao do Haiti apds horriveis devastagdes demonstra as vantagens que teria a Europa com a extingao da escravidio Também presente em Rugendas estava o medo de que a classe senhorial branca brasileira tivesse o mesmo destino da classe dominante de Sao Domingos quando brancos e mulatos entraram em conflito e os negros aproveitaram para se insurgirem Segundo ele s6 uma politica sabia de uniao das classes poderia evitar uma explosdo violenta comum em muitos Estados da América mas DIMENSOES Vol 21 2008 137 se o curso dos acontecimentos a imprevidéncia dos partidos ou a im prudéncia dos governos provocarem um dia uma revolta de escravos so sera possivel dominala mediante o apoio da populacao livre de homens de cor e negros E por conseguinte muito importante ligalos definitivamente aos brancos por um interesse comum Rugendas sd249 Ao final dessas analises podemos perceber que a Revolucao do Haiti constituiu um modelo politico vigoroso fosse ele rejeitado manipulado temido ou admirado Muito se falou sobre a Revolucdo Haitiana mas pouco se aprofundou Isto entretanto nao significa que nao houvesse preocupado com o problema Muito pelo contrario a auséncia de uma investigacao mais aprofundada por parte dos letrados revela um receio de difundir informagées sobre o que acontecera na ilha de Sao Domingos no intuito de nao motivar ainda mais as insur reigdes escravas E preciso entender que as representac6es e imagens da Revolucao Haitiana assumiram diferentes significados entre os letrados primeiro pela emergéncia e importancia do protesto negro no contexto da rev olucgao de Sao Domingos nunca nas Américas a insurreiéo escrava esteve tao vigorosa segundo pela disseminacéo do medo do Haiti com proposiéo de medidas coercitivas ou proposiéo de reformas no sistema escravista e terceiro pelo poder do racismo das elites dirigentes das Américas e da elite brasileira que em linhas gerais definiram politicas internacionais que condicionaram o Haiti a marginalizacao e a pobreza Politica iniciada com Simon Bolivar que mesmo ajudado pelos haitianos excluiu o Haiti dos paises convidados para a Confer éncia do Panama em 1826 Ainda na contemporaneidade o Haiti costuma ser visto como uma espécie de calamidade negra um lugar que assume a forma de Estadonaéo moderno mas sem sélo sede de violenta tirania e exoticas crengas religiosas cuja pobreza constitui uma heranga tanto de seu primitivismo quanto de sua exploraao pelas naées européias e pelos Estados Unidos Para as elites dominantes da América era vital que o Haiti nao desse certo como conviver com uma nacao negra e prospera que subvertera todas as convengées durante 0 seu processo de independéncia 138 Programa de PésGraduacao em Historia UFES Notas Artigo submetido a avaliagéo em 8 de maio de 2007 e aprovado para publicacéo em 18 de junho de 2007 Arquivo Nacional IG 105 folhas 177119 apud Luiz R B Mott Brancos pardos e pretos em Sergipe 18251830 Anais de Historia ano 6 1974 139184 Nada menos que 95 da populacdo em SAo Domingos era formado por negros segundo as in formacées de Lavinia 2005 3 Os estudos classicos sobre a revolucdo Haitiana sdo o de CRL James 2000 0 de Fick 2004 e Dubois 2004 Outro forte impacto também se deu na economia pois como Haiti deixa de ser o maior produtor mundial de acucar Sao Domingos respondendo a cerca de 30 da producao mundial causou um aumento nos precos do aucar e incentivou o aumento das plantagdes em Cuba na Jamaica e no Brasil Para maiores informagées ver o artigo de Gomes e Libaneo 2002 Ver Morel 2004 7 Para maiores detalhes sobre as repercussdes da revolucdo Haitiana ver Mott 1982 Gomes 2002 Morel 2004 Gomes e Libaneo 2002 e Morel 2004 A alusao a este medo é feito por Gomes 1995 Idem pagina 184 0 Ver Lindley 1805 pp7le 128 OLIVEIRA Antonio Vellozo de Memérias sobre os Melhoramentos da Provincia de Sao Paulo Aplicavel em Grande parte 4 todas as Outras provincias do Brasil Rio de Janeiro Nacional 1822 Este texto é analisado por Azevedo 1987 Esta constatacdo esta presente no livro de Reis 2003 3 Ver Costa 1988 p 21 4 Tdem p 55 S Este texto foi escrito para um concurso promovido pela Sociedade Defensora da Liberdade e Independéncia Nacional 6 Para maiores detalhes ver Marquese 2004 7 Sobre esse fato ver POMER 1980 8 Ele era acusado de pertencer a uma sociedade secreta a Sociedade Gregoriana que objetivava instigar a guerra contra os brancos tornando as gentes de cor os novos donos do poder Ver Morel 2004 32 Ver Rugendas 1835 p 120 DIMENSOES Vol 21 2008 139 1 Tdem p 251 2 Tdem p 123 3 Tdem p 124 Referéncias Fontes primarias BURLAMAQUE F L C Memoria analitica acerca do comércio de escravos e acerca dos males da escravidéo doméstica 1837 In COSTA J S Met alli Memorias Sobre a escraviddo Publicacées Historicas Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1988 COSTA J SM Memoria sobre a necessidade de abolir a introducao dos escravos africanos no Brasil sobre o modo e condiées com que esta abolicao se deve fazer e sobre os meios de remediar a falta de bracgos que ela pode ocasionar 1821 IN COSTA J SM et alli Memorias Sobre a escravidao Publicacées Historicas Rio de Janeiro Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1988 COUTINHO JJ C A Obras econémicas 17941804 Sao Paulo Com panhia Editora Nacional 1966 LINDLEY T Narrativa de uma Viagem ao Brasil Sao Paulo Companhia Editora Nacional 1969 Original de 1805 SILVA J B A Representacgéo a Assembléia Geral Constituinte e Legis lativa do Império do Brasil sobre a escravatura 1825 IN COSTA J S M et alli Memorias Sobre a escraviddo Publicagées Histéricas Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1988 RUGENDAS JM Viagem pitoresca através do Brasil Sio Paulo Circulo do Livro sd ediao original de 1835 Obras de Apoio ALVES A F O medo da africanizagao e da haitianizacao do Brasil a seguranga social e a experiéncia haitiana In NetHistoria Disponivel em httpwwwnethistoriacom Acesso em 15 Ago 2005 140 Programa de PésGraduacao em Historia UFES AZEVEDO C M M Onda Negra Medo Branco 0 negro no imaginario das elites século XIX Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 BRITO E Z C de B O Haiti era 14 aqui e acola Os discursos sobre a escravidao no século XIX In ALMEIDA J de CABRERA O Orgs Caribe Sintonias e Dissondncias Goiania Centro de Estudos do Caribe no Brasil 2004 CHARTIER R Historia cultural entre praticas e representaées Lisboa Rio de Janeiro DifelBertrand Brasil 1990 COOPER F et alli Aém da escraviddo Investigaées sobre raga trabalho e cidadania em sociedades pésemancipacao Rio de Janeiro Civilizagao Brasileira 2005 COSTA EV Coroas de Gloria Lagrimas de Sangue A rebelidéo dos escravos de Demerara em 1823 Sao Paulo Companhia das Letras 1998 CRL J Os jacobinos negros Toussaint LOuverture e a revolugao de Sao Domingos Sio Paulo Boitempo 2000 GILROY P O Atlantico negro Modernidade e dupla consciéncia Sao Paulo Editora 34 Rio de Janeiro Universidade Candido Mendes Centro de Estudos AfroAsiaticos 2001 GOMES F Em torno dos bumerangues outras historias de mocambo na Amazonia Revista USP Sao Paulo n 28 p 4055 DezembroFevereiro 19951996 GOMES F Experiéncias transatlanticas e significados locais idéias te mores e narrativas em torno do Brasil escravista Tempo v 7 n 13 Julho de 2002 GOMES F e LIBANEO C E Sediées Haitianismos e conexées no Brasil outras margens do Atlantico negro Revista Novos Estudos Cebrap n 63 Sado Paulo Julho de 2002 GORENDER J O pico e 0 tragico na historia do Haiti Estudos Avana dos v 24 n 3 p483512 Haiti Primera nacion independiente de América latina Revista todo es Historia Buenos Aires n 245 noviembre 1987 DIMENSOES Vol 21 2008 141 LAVINA J De Saint Domingue a Haiti las revoluciones en la colonia francesa del caribe EAVirtual Revista del Grupo de Estudios Afroameri canos Universidad de Barcelona Barcelona n 3 2005 KLEIN H 4 Escravidao Africana na América Latina e Caribe Sao Paulo Brasiliense 1988 MARQUESE RB Feitores do corpo missiondarios da mente Senhores letrados e o controle dos escravos nas Américas 16601860 Sado Paulo Companhia das Letras2004 MOREL M O Haiti nao foi aqui Revista Nossa Historia ano 1 n 11 Setembro de 2004 MOTT L B Arevolugao dos negros do Haiti e o Brasil Historia Questdes e Debates 34 p 5563 1982 POMER L América historias delirios e outras magias Sao Paulo Editora Brasiliense 1980 ROCHA A P Idéias antiescravistas da Ilustragdo na sociedade escravista brasileira Revista Brasileira de Historia Sao Paulo v 20 n 39 p 43 79 2000 REIS J J Rebelido escrava no Brasil a historia do levante dos malés em 1835 Sao Paulo Companhia das Letras 2003 REIS J J Nos achamos em campo a tratar da liberdade a resisténcia negra no Brasil oitocentista In MOTA Carlos Guilherme Org Viagem incompleta A experiéncia brasileira 15002000 Formagao Historia 2 edido SAo Paulo Editora SENAC Sao Paulo 2000 RETAMAR R F Bicentendrio de la independéncia de Haiti Uma esponja empapada de sangre Version de la conferencia magistral pronunciada em Sala Che Guevara de la Casa de las Américas el viernes 26 de septiembre de 2003 SALGADO G Introdugao In COSTA J SM et alli Memorias Sobre a escraviddao Publicagées Historicas Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1988 SANTOS E F A Revolucao Haitiana e suas repercuss6es Revista de Historia da Universidade do Espirito Santos Vitoria n 4 2003 142 Programa de PósGraduação em História UFES SOARES C E L S e GOMES F Com o Pé sobre um Vulcão Africanos Minas Identidades e a Repressão Antiafricana no Rio de Janeiro 1830 1840 Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 23 nº 2 p 144 2001