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Texto de pré-visualização
3 Gêneros literários 1 É dos mais antigos na crítica e teoria literárias o problema dos gêneros em literatura Já Aristóteles o formulara e Horácio o incluiu no corpo de doutrinas que constituíram o credo clássico em crítica A poética neoclássica pósrenascentista conceituouos como entidades absolutas e exteriores à própria obra Em nome da liberdade individual e do espírito criador os românticos atacaram o conceito de gênero tal como era entendido até então e mais tarde Benedetto Croce levando ao extremo a reação negoulhe qualquer realidade afirmando que não passavam os gêneros de meros nomes ou etiquetas vazias de sentido Sua condenação foi despertada sobretudo pela teoria evolucionista aplicada aos gêneros literários tal como estabelecida por Brunetière Essa atitude de negação total teve a virtude de provocar uma revisão do conceito por parte da teoria poética contemporânea através da qual em nossos dias atingimos uma doutrina mais equilibrada e justa do fenômeno reconhecendo a sua legitimidade e a realidade essencial que ele encerra no que concerne à criação e ao estudo histórico das literaturas Assim a genologia como Van Tieghem designou esse setor dos estudos literários é dos mais importantes na atualidade não somente para o conhecimento histórico e a interpretação do fenômeno da literatura senão também pela solução que oferece à metodologia do ensino das letras em muitos centros universitários feito à luz de seus princípios como o indica o volume de Irvin Ehrenpreis sobre The Types Approach to Literature que o concebe as a way of coming up to literature or as a gateway to literature p XII O reconhecimento dessa importância ficou patenteado com a realização em 1939 do III Congresso Internacional de História Literária em Lyon França dedicado ao assunto Para um bom entendimento do problema dos gêneros há que proceder a um levantamento sumário embora do que foi a polêmica em torno dele na história da crítica ocidental 2 É a Aristóteles que remonta o conceito É verdade que antes dele já Aristófanes e Platão trataram do tema segundo naturalmente uma concepção ética mas há neles vestígios da divisão básica em épica lírica dramática vistas sobretudo em relação ao efeito e à maneira de imitação que escolheram À estética aristotélica se deve no entanto a primeira exposição do conceito de gênero segundo um tratamento coerente com a filosofia peripatética e à luz da observação dos fatos fornecidos pela literatura grega método a que obrigava o espírito científico do estagirita A coordenação de sua doutrina dos gêneros e que faz dele o fundador da teoria literária Alfonso Reyes está contida na Poética elaborada entre 335 e 323 aC a qual só chegou até nós incompleta Grande parte do pequeno tratado é dedicada ao estudo da tragédia outra ao da epopeia além de referências esparsas ao lirismo e à comédia contidas também em outros livros do filósofo aos quais é mister recorrer para a compreensão integral de sua doutrina estética e crítica4 4 Cf COUTINHO Afrânio Crítica e poética Rio de Janeiro Acadêmica 1968 A poética helênica reconhece a existência de três variedades essenciais do fenômeno literário a épica a lírica a dramática Mas Aristóteles em seu tratamento do problema dando ênfase especial à epopeia e à tragédia não passou do plano da filosofia da arte procurando interpretar a partir da observação empírica dos textos que lhe oferecia a literatura grega a natureza da poesia as condições de sua aparição as variedades em que se apresenta O que realiza é portanto uma investigação no terreno da estética e da poética relativamente aos gêneros fundamentais 3 Em Roma com Horácio e por influência da doutrina moral de Platão para o qual a arte deverá ser um instrumento de ação extraliterária a teoria poética subordinouse à finalidade moral e didática de formação do bom cidadão Para ensinar deleitando a literatura deveria submeterse aos cânones e normas codificados em artes poéticas ou tratados de preceitos regras essas derivadas da teoria e prática dos modelos ideais Ficou assim estabelecido o cânon clássico em crítica literária o qual teria imensa fortuna ao ser transplantado para o Renascimento graças ao trabalho dos comentaristas italianos que ressuscitaram Aristóteles mas o seu Aristóteles adquiriu um sentido nitidamente horaciano e foi esse que imprimiu a marca da doutrina poética a partir de então 4 Ao culto da Antiguidade ao critério da autoridade e ao princípio da imitação devese a restauração da poética clássica no Renascimento Os gêneros segundo a perspectiva horaciana foram vistos como entidades fixas e fechadas sujeitos de modo absoluto às regras arroladas nos tratados de preceptística ou artes poéticas que tiveram larga difusão e influência nos três primeiros séculos modernos em toda a literatura ocidental A poesia para ser poesia universal deveria caber em um dos gêneros estabelecidos e o valor dela estaria na maneira pela qual o artista soubesse executála de acordo com o arquétipo do gênero Os humanistas renascentistas Castelvetro Minturno Piccolomini Robortelo Riccoboni Scaligero e outros lançaram os fundamentos da doutrina neoclássica ou classicismo moderno que teve no período francês de Luís XIV os máximos representantes com a doutrina das três unidades no drama e com a teoria dos gêneros minuciosamente distinguidos e classificados Boileau foi o mais notável codificador da poética neoclássica inspirada numa filosofia racionalista para a qual a razão era a diretriz suprema inimiga da inspiração da liberdade criadora da originalidade do gênio Como ele destacamse Pope Vives Para as teorias neoclássicas dos séculos XVII e XVIII os gêneros oferecem as seguintes características são entidades abstratas organismos limitados e fechados uns aos outros permanecem fixos são puros concentramse numa só emoção e não se misturam quanto às qualidades cada obra pertence a um gênero diferente obedecem a uma hierarquia havendo gêneros nobres e gêneros inferiores não somente de acordo com o valor estético senão também relativamente à categoria social tragédia para os reis comédia para a classe média etc 5 A doutrina neoclássica dos gêneros e das regras imutáveis que os dominam teve que enfrentar a partir sobretudo do século XVIII uma rebelião de caráter cada vez mais radical Mesmo antes já se fazia notar a deficiência de seu esquematismo para explicar e classificar diversas obras antigas medievais e modernas Bruno Guarini Lope de Vega Marino Giraldi Gravina Du Bos De la Motte Voltaire Diderot Metastasio Vico foram os principais marcos dessa rebelião em que tiveram parte relevante os italianos culminada no Romantismo com Victor Hugo à frente no Prefácio ao Cromwell 1827 rebelião paralela à marcha da velha poética para a ciência estética moderna em que se resolveu afinal a crise da poética Frederico Schlegel Francesco de Sanctis completaram essa evolução a que iria Brunetière acrescentar uma nova dimensão A doutrina romântica a respeito dos gêneros estabeleceu à base do conceito de literatura como produto exclusivo da individualidade criadora e da inspiração subjetiva a tese da individualidade da obra literária como organismo autônomo criadora de suas próprias leis e razão de ser de sua forma específica uma para cada obra Assim atacou a regra no gênero e na literatura e deu lugar ao nascimento de gêneros desconhecidos da poética neoclássica como o drama a tragicomédia o romance além de gêneros mistos Em vez de gêneros passouse a falar de arte e de unidade da arte Victor Hugo deu o sinal de partida ao tentar mostrar a arbitrariedade pedantismo e inconsistência da doutrina e da classificação dos gêneros 6 Brunetière 18491906 constitui um capítulo à parte Em oposição aos anteriores que pretenderam reduzir o conceito de gênero a uma pura designação extrínseca e a certos românticos que concorreram para a dissolução dos gêneros o crítico francês tentou uma reabilitação do conceito emprestandolhe antes uma existência individual comparável aos organismos vivos com nascimento crescimento morte ou transformação Era uma volta à teoria clássica acrescentada porém da filosofia evolucionista e transformista à imagem do que se passava no seio das ciências naturais Assim propôsse ele traçar uma verdadeira história natural dos gêneros sujeitos estes às leis da evolução Sua tentativa de conciliação entre a estética neoclássica e a teoria evolucionista partia de uma crença na realidade dos gêneros que para ele não eram simples palavras ou categorias arbitrárias imaginadas pela crítica mas ao contrário tinham vida própria 7 Foi sobretudo em face da teoria de Brunetière que se desencadeou a reação de Benedetto Croce 18661952 formulada primeiramente em sua Estética 1902 embora já em publicações anteriores o assunto lhe houvesse despertado a atenção A ele devese a mais sistemática negação do conceito de gênero em nome da unidade e individualidade da arte ou da poesia eliminando as categorias empíricas devidas à estética neoclássica romântica e positivista Para ele o gênero era uma simples designação externa posterior à operação intuitiva da criação e independente do próprio processo crítico criada apenas para comodidade didática Advogou assim o abandono completo desse conceito a seu ver errôneo além de vazio de realidade Todavia em pronunciamentos posteriores como demonstra Mário Fubini Croce evoluiu de sua posição extremada e radical contra as teorias naturalistas sobre os gêneros em filosofia da arte negandolhes validade como critério de juízo e categoria estética para um reconhecimento de sua legitimidade pelo caráter instrumental que têm em crítica e história literária na classificação dos vários tipos de literatura bem como em história social e moral A evolução de sua teoria pode ser seguida através da Lógica 1901 Problemi di Estetica 1910 Breviario dEstetica 1912 Per una Poetica Moderna 1922 Poesia Popolare e Poesia dArte 1933 Aesthetica in Nuce 1928 La Poesia 1936 e outros pontos De qualquer modo a negação crociana completou a reação que se processara no século XIX quando a crítica literária segundo Croce devera i suoi grandi progressi in molta parte all aver abbandonato dei generi 8 Contudo se a repulsa da ideia de gênero libertando a consciência literária das prisões a que a havia condenado a poética renascentista e clássica escravizando a criação artística e o juízo crítico por outro lado não logrou destruíla totalmente Desencadeouse então no século XX a polêmica sobre os gêneros literários culminando com o III Congresso Internacional de História Literária em 1939 inteiramente dedicado ao problema de cujos debates participaram alguns notáveis especialistas em teoria literária Do exame do histórico da questão e do estado atual das doutrinas à luz dos que melhor trataram do assunto Croce Van Tieghem Fubini Hankiss Wellek Warren Pearson Northrop Frye podese estabelecer um certo número de conclusões que constituem a base da doutrina que a poética contemporânea formula acerca dos gêneros em literatura o que faz reagindo igualmente contra o negativismo radical de Croce o extremado racionalismo autoritário do neoclassicismo e o naturalismo e evolucionismo positivistas 9 De maneira geral como se depreende dos trabalhos de Wellek e Hankiss a poética contemporânea relativamente aos gêneros é descritiva e analítica ao invés de sistemática e sintética reconhecendo que o problema não comporta uma resposta simples e única Hankiss e que se deve antes analisar em vez de codificar e sobretudo que não compete oferecer regras aos autores Wellek Assume destarte uma posição anticlássica nisso que liberta o conceito da formulação preceptística e rija que caracterizava a poética neoclássica De toda a polêmica pósromântica resultou a negação das qualidades atribuídas aos gêneros pela teoria neoclássica a pureza a fixidez a hierarquia Compreendeuse que os gêneros não são limitados em número e que sofrem mudanças ou transformações que podem alguns desaparecer e novos surgir que se podem misturar numa mesma obra que alguns podem corresponder mais que outros às exigências ou necessidades de determinadas épocas estilísticas ou mesmo autores que há dificuldade de classificação de certas obras que há escritores que se subordinam apenas parcialmente aos arquétipos do gênero modificandoos ou por sua vez renovandoos que muitos gêneros se renovam ou renascem pelo contato com etapas primitivas ou populares da literatura Exemplos numerosos tirados da história literária comprovam sobejamente essas assertivas A tragédia por exemplo não é a mesma sem deixar de ser a tragédia se compararmos entre si os diversos tipos que prevaleceram entre os gregos os romanos os elisabetanos os franceses do período luísquatorziano os espanhóis do Século de Ouro os modernos escandinavos e russos e os mais recentes Por outro lado não se pode desconhecer a penetração da tragédia no romance contemporâneo fato de extrema importância Igual observação se deve fazer a respeito da epopeia e do romance O gênero épico sofreu uma diferenciação da epopeia grega para a medieval e a renascentista Por outro lado são diferentes o romance do século XVIII e o do século XX passando pelo do século XIX sem embargo de constituírem o mesmo gênero sob formas transformadas de acordo com as teorias estéticas da época e as imposições dos gêneros individuais diversos dos seus cultores A melhor doutrina foi exposta por A Warren no livro escrito com R Wellek Theory of Literature Os gêneros diz ele não são um simples nome como afirmou Croce São instituições imperativas que exercem pressão sobre o escritor e são por ele também pressionadas e modificadas São princípios de ordem e classificação segundo os quais a literatura é dividida em tipos literários de organização e estrutura Representam uma soma de artifícios estéticos à disposição do escritor e inteligíveis ao leitor São convenções estéticas de que a obra participa modelandolhes a forma e o caráter Em conclusão acentua ainda aquele tratadista o gênero deve ser concebido como um agrupamento de obras literárias baseado teoricamente tanto sobre a forma exterior métrica ou estrutura específica quanto sobre a forma interna atitude tom propósito 10 De acordo com tal concepção a tendência mais forte é ainda conforme Warren no sentido de restringir o número dos gêneros àqueles que se caracterizam como de literatura propriamente criadora ou imaginativa Dichtung Para a poética atual a literatura é uma arte a arte da palavra e como tal somente lhe pertence o que for produto da imaginação criadora Assim muitas atividades outrora incluídas nos gêneros de literatura como o jornalismo a história a filosofia a conversa etc escapam ao quadro da atual teoria genológica São atividades que pretendem a informação o conhecimento do passado a compreensão do universo mobilizando antes a inteligência o raciocínio lógicoformal a razão especulativa do que a imaginação Estão portanto fora dos quadros dos gêneros literários Voltase destarte à concepção grega para a qual a literatura se reduzia a três categorias fundamentais a narrativa a lírica a dramática podendo ser em prosa ou verso A estas se acrescentariam algumas outras formas que fogem a tal caracterização Se a literatura de imaginação ou criadora é uma interpretação verbal da vida por um artista essa interpretação pode ser corporificada através de fórm as que lhe emprestarão uma forma são os gêneros Para isso contudo o artista pode usar métodos diferentes isto é pode dar vazão à sua interpretação da realidade direta ou indiretamente É o que mostra a seguinte classificação moderna dos gêneros literários segundo Walley e Wilson The Anatomy of Literature Nova York Farrar Rinchart 1934 cap III 11 O estudo dos gêneros consoante a doutrina exposta acima consistirá na descrição de suas características dos elementos componentes de sua estrutura das leis que presidem à sua organização interna tal como aparecem nos seus arquétipos e outrossim a evolução que tiveram na literatura universal e suas variedades principais 12 A abordagem da literatura pelos gêneros constitui além de seu interesse na interpretação e estudo da história literária um método de pedagogia O problema do ensino da literatura tem sido nos últimos anos objeto de intensa investigação e revisão no que tange ao método tendo em vista resolver o conflito entre o estudo histórico e crítico da literatura nos currículos de humanidades Os gêneros oferecem ao ensino literário um meio de abordagem do fenômeno uma porta de entrada para a literatura Depois de longos debates sobre o assunto entre as sociedades educacionais e as universidades nas últimas décadas nos Estados Unidos tem sido estabelecido em numerosas escolas tanto no nível secundário quanto no superior o sistema de ensino da literatura pelos gêneros em currículos do mais variado feitiø O estado de esgotamento e crise a que chegou o ensino da literatura à luz do método tradicional com base na memorização de sumários do ambiente social e histórico da biografia dos autores e das listas de obras e datas exigiu uma mudança de processos O que importa no ensino da literatura é a criação do gosto para a obra literária e isto somente se consegue com a leitura e compreensão da literatura como literatura isto é pela abordagem através das obras elas mesmas formais os gêneros ou tipos e estudada na sua constituição íntima nas suas leis nos elementos literários que compõem a sua estrutura e nos diversos meios de expressão de cada um A ênfase é posta assim no aspecto propriamente literário deixandose para segunda etapa o pano de fundo históricosocial O método tem ganho muita popularidade espalhandose por toda a parte os cursos baseados na genologia em que se tomam um ou mais tipos literários para leitura e estudo em profundidade através de obras específicas de um autor do período estilístico O excelente resultado desses cursos tem sido largamente proclamado pois o contato do estudante com um menor número de obras analisadas em profundidade estimula o interesse pela literatura consolida os seus meios de apreensão pela leitura aperfeiçoalhe o domínio da expressão vernácula desenvolvelhe a capacidade de apreciação favorecendolhe a ampliação dos horizontes intelectuais pois lhe força a passagem de obra a obra numa escala crescente de profundidade e importância entre as obras do mesmo gênero De modo geral o método dirige o espírito do estudante no sentido da literatura e não no da história ou biografia e esta ênfase só pode ter bom efeito na formação mental humanística e literária do futuro crítico professor homem de letras ou leitor comum O valor literário é o objetivo a que visa o método favorecendo a aquisição de um sadio critério de valor literário à luz do qual se sente e julga melhor a produção da literatura A essência da abordagem é a técnica indutiva partindose da própria obra ou texto escolhido o tipo A leitura silenciosa e isolada ao lado da leitura em grupo a discussão em seminários sobre temas isolados para o desenvolvimento do senso crítico a redação de ensaios de apreciação conduzindo sempre que possível à comparação com outras obras do mesmo gênero lística e a classificação genológica Assim em história literária são relegadas para segundo plano as considerações de ordem biográfica e social bem como se liberta o historiador da tirania cronológica identificandose no trabalho historiográfico o crítico e o historiador no exame da literatura com base na expressão formal único denominador comum satisfatório Pearson Essa concepção impropriamente chamada de formalista implica o abandono da noção de que os velhos conceitos de forma e conteúdo existem em separado ao contrário são inseparáveis na obra de arte constituindo antes uma unidade indestrutível Essa ideia tem sido posta em relevo sobretudo graças aos debates provocados pelas novas teorias críticas e estéticas em especial as do formalismo eslavo Para eles forma é a unidade total da obra de arte e literatura é forma Como acreditavam os gregos cada tipo de expressão literária dá lugar ou exige uma forma e um estilo próprios 14 A despeito de condenada à morte por diversos críticos e escolas literárias a noção de gênero continua viva e necessária Ela é ligada à própria natureza formal da literatura e não há como suprimila O essencial é concebêla de um ponto de vista dinâmico O ato criador consiste mesmo em dar forma a uma visão da realidade pelo artista que retira da natureza a sua inspiração e experiência recriandoa ou transfigurandoa numa forma derramando essa visão numa fôrma o gênero cria suas leis Saindo do espírito do artista transformase num todo concreto visível tocável Forma assim entendida não se opõe a conteúdo não é somente o invólucro exterior mas o princípio vital interior e a obra só existe porque engloba num todo indivisível forma e matéria A criação toma corpo numa trama de palavras e essa trama por sua vez se organiza em estruturas bemarticuladas e reguladas pelas exigências Não é apenas a capacidade de apreciação e crítica que se desenvolve mas incentivase dessa maneira a criação individual colocandose o espírito do jovem no âmago do próprio fenômeno literário constituído pelas obrasprimas da literatura nacional e universal Na leitura diária o educando adquire os segredos do ofício da técnica da mecânica da arte literária dos artifícios e convenções dos materiais que se transformam em criação literária além da terminologia específica para o tratamento crítico É a experiência que se enriquece Trabalhando maciçamente sobre um gênero o estudante adquire ao lado do conhecimento de seus arquétipos a capacidade de comparálos entre as diversas manifestações no tempo e no espaço e a aptidão de distinguir as suas características e inovações contemporâneas o que vai ao encontro da tendência de cada um a viver em passo certo com a produção de seu tempo que assim estará mais facilmente compreendida e julgada Propondo uma combinação da leitura e da análise da obra no seu gênero o método genológico de ensino proporciona eficiente aprendizagem da literatura com desenvolvimento da aptidão apreciativa do senso crítico do gosto e do espírito criador 13 A ideia de gênero impõese também na reformulação do método em historiografia literária Este é outro problema que tem desafiado os tratadistas nos últimos decênios a história literária A crise do conceito levou os historiadores a buscar novos métodos mais consentâneos com a natureza do fenômeno em lide É uma das soluções apontadas é a que manda usar como básico ponto de referência a ideia de forma Compreendendo a forma tanto relativamente às grandes distinções genéricas quanto ao aspecto formal de expressão Pearson conciliamse a periodização esti do espírito do artista em diferentes qualidades da experiência e diversos modos de comunicação Um gênero é no princípio uma tendência do espírito humano O homem gosta de contar histórias Pouco a pouco dado o caráter dos que fazem o relato e dos que o ouvem e por causa dos hábitos e convenções que se constituíram insensivelmente o modo de dizer histórias tornase uniforme A tendência do espírito tornouse um gênero e o gênero cria suas leis mas no fundo ele fica sempre uma tendência do espírito Essa famosa citação de Faguet traduz bem o processo originário e a evolução do gênero O ponto de partida ou a raiz é então uma motivação emocional uma experiência humana psicológica Como afirma JC La Drière as qualidades da experiência expressa formam a base dos gêneros É essa experiência do artista no que respeita a incidentes e pessoas que imprime o tipo à obra Há portanto que encarar os gêneros de um ponto de vista formal e psicológico Da perspectiva formal as obras literárias devem classificarse por gêneros ou tipos tendo a tradição crítica aceito um certo número de categorias com características tipológicas bemdelineadas A Aristóteles devese a formulação de uma classificação básica e simples a que se pode retornar sem violência ao desenvolvimento da literatura pois ela corresponde às qualidades da experiência À maneira da comunicação acrescentase a qualidade da experiência portanto o aspecto psicológico à luz do qual compreendemos que um mesmo gênero pode apresentarse diferentemente conforme a motivação psicológica a atitude ou impulso da imaginação É o que ensina o Professor Philo Buck Jr inspirandose em Aristóteles ao apontar que gêneros como a épica a lírica o romance podem ser cômicos trágicos satíricos ou quase tudo o que o autor encontra na experiência Essa doutrina favorece o entendimento do problema dos gêneros condenando a atitude absolutista bem como a nominalista Aceita a realidade do fenômeno como fundado na natureza compreende as relações entre os diversos gêneros os gêneros mistos as obras que incluem vários gêneros a flexibilidade das fronteiras dos gêneros a sua transformação e morte o seu reaparecimento a adequação melhor de certos gêneros a épocas estilísticas e às preferências dos autores a sua modificação e enriquecimento por certos autores Ela conduz outrossim a uma posição mais própria a penetrar o que Philo Buck chama a decent visibility de certos gêneros ou obras É que em muitos casos a dificuldade é grande em introduzir distinções entre uns e outros de modo a tornálos nitidamente classificáveis sob uma qualquer categoria Buck cita diversos exemplos Henry IV de Shakespeare é tragédia ou história Ou é drama A tragédia modernamente reside tanto no romance de Dostoievski quanto nas peças de Ibsen É que há uma mudança de experiência psicológica no autor e no leitor comandando as diferenças formais estruturais e ideológicas dos gêneros através dos tempos sem que tal significasse o abandono da longa tradição que os visualizou E sem que isso queira dizer a negação dos gêneros como tais pois mesmo modificandoos ou renovandoos os autores se submetem às suas essências como um Joyce em relação a Balzac no que tange ao romance Não há pois que negar a noção de gênero ou abandonála Ela faz parte da literatura e constitui o núcleo da crítica e da teoria literária
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3 Gêneros literários 1 É dos mais antigos na crítica e teoria literárias o problema dos gêneros em literatura Já Aristóteles o formulara e Horácio o incluiu no corpo de doutrinas que constituíram o credo clássico em crítica A poética neoclássica pósrenascentista conceituouos como entidades absolutas e exteriores à própria obra Em nome da liberdade individual e do espírito criador os românticos atacaram o conceito de gênero tal como era entendido até então e mais tarde Benedetto Croce levando ao extremo a reação negoulhe qualquer realidade afirmando que não passavam os gêneros de meros nomes ou etiquetas vazias de sentido Sua condenação foi despertada sobretudo pela teoria evolucionista aplicada aos gêneros literários tal como estabelecida por Brunetière Essa atitude de negação total teve a virtude de provocar uma revisão do conceito por parte da teoria poética contemporânea através da qual em nossos dias atingimos uma doutrina mais equilibrada e justa do fenômeno reconhecendo a sua legitimidade e a realidade essencial que ele encerra no que concerne à criação e ao estudo histórico das literaturas Assim a genologia como Van Tieghem designou esse setor dos estudos literários é dos mais importantes na atualidade não somente para o conhecimento histórico e a interpretação do fenômeno da literatura senão também pela solução que oferece à metodologia do ensino das letras em muitos centros universitários feito à luz de seus princípios como o indica o volume de Irvin Ehrenpreis sobre The Types Approach to Literature que o concebe as a way of coming up to literature or as a gateway to literature p XII O reconhecimento dessa importância ficou patenteado com a realização em 1939 do III Congresso Internacional de História Literária em Lyon França dedicado ao assunto Para um bom entendimento do problema dos gêneros há que proceder a um levantamento sumário embora do que foi a polêmica em torno dele na história da crítica ocidental 2 É a Aristóteles que remonta o conceito É verdade que antes dele já Aristófanes e Platão trataram do tema segundo naturalmente uma concepção ética mas há neles vestígios da divisão básica em épica lírica dramática vistas sobretudo em relação ao efeito e à maneira de imitação que escolheram À estética aristotélica se deve no entanto a primeira exposição do conceito de gênero segundo um tratamento coerente com a filosofia peripatética e à luz da observação dos fatos fornecidos pela literatura grega método a que obrigava o espírito científico do estagirita A coordenação de sua doutrina dos gêneros e que faz dele o fundador da teoria literária Alfonso Reyes está contida na Poética elaborada entre 335 e 323 aC a qual só chegou até nós incompleta Grande parte do pequeno tratado é dedicada ao estudo da tragédia outra ao da epopeia além de referências esparsas ao lirismo e à comédia contidas também em outros livros do filósofo aos quais é mister recorrer para a compreensão integral de sua doutrina estética e crítica4 4 Cf COUTINHO Afrânio Crítica e poética Rio de Janeiro Acadêmica 1968 A poética helênica reconhece a existência de três variedades essenciais do fenômeno literário a épica a lírica a dramática Mas Aristóteles em seu tratamento do problema dando ênfase especial à epopeia e à tragédia não passou do plano da filosofia da arte procurando interpretar a partir da observação empírica dos textos que lhe oferecia a literatura grega a natureza da poesia as condições de sua aparição as variedades em que se apresenta O que realiza é portanto uma investigação no terreno da estética e da poética relativamente aos gêneros fundamentais 3 Em Roma com Horácio e por influência da doutrina moral de Platão para o qual a arte deverá ser um instrumento de ação extraliterária a teoria poética subordinouse à finalidade moral e didática de formação do bom cidadão Para ensinar deleitando a literatura deveria submeterse aos cânones e normas codificados em artes poéticas ou tratados de preceitos regras essas derivadas da teoria e prática dos modelos ideais Ficou assim estabelecido o cânon clássico em crítica literária o qual teria imensa fortuna ao ser transplantado para o Renascimento graças ao trabalho dos comentaristas italianos que ressuscitaram Aristóteles mas o seu Aristóteles adquiriu um sentido nitidamente horaciano e foi esse que imprimiu a marca da doutrina poética a partir de então 4 Ao culto da Antiguidade ao critério da autoridade e ao princípio da imitação devese a restauração da poética clássica no Renascimento Os gêneros segundo a perspectiva horaciana foram vistos como entidades fixas e fechadas sujeitos de modo absoluto às regras arroladas nos tratados de preceptística ou artes poéticas que tiveram larga difusão e influência nos três primeiros séculos modernos em toda a literatura ocidental A poesia para ser poesia universal deveria caber em um dos gêneros estabelecidos e o valor dela estaria na maneira pela qual o artista soubesse executála de acordo com o arquétipo do gênero Os humanistas renascentistas Castelvetro Minturno Piccolomini Robortelo Riccoboni Scaligero e outros lançaram os fundamentos da doutrina neoclássica ou classicismo moderno que teve no período francês de Luís XIV os máximos representantes com a doutrina das três unidades no drama e com a teoria dos gêneros minuciosamente distinguidos e classificados Boileau foi o mais notável codificador da poética neoclássica inspirada numa filosofia racionalista para a qual a razão era a diretriz suprema inimiga da inspiração da liberdade criadora da originalidade do gênio Como ele destacamse Pope Vives Para as teorias neoclássicas dos séculos XVII e XVIII os gêneros oferecem as seguintes características são entidades abstratas organismos limitados e fechados uns aos outros permanecem fixos são puros concentramse numa só emoção e não se misturam quanto às qualidades cada obra pertence a um gênero diferente obedecem a uma hierarquia havendo gêneros nobres e gêneros inferiores não somente de acordo com o valor estético senão também relativamente à categoria social tragédia para os reis comédia para a classe média etc 5 A doutrina neoclássica dos gêneros e das regras imutáveis que os dominam teve que enfrentar a partir sobretudo do século XVIII uma rebelião de caráter cada vez mais radical Mesmo antes já se fazia notar a deficiência de seu esquematismo para explicar e classificar diversas obras antigas medievais e modernas Bruno Guarini Lope de Vega Marino Giraldi Gravina Du Bos De la Motte Voltaire Diderot Metastasio Vico foram os principais marcos dessa rebelião em que tiveram parte relevante os italianos culminada no Romantismo com Victor Hugo à frente no Prefácio ao Cromwell 1827 rebelião paralela à marcha da velha poética para a ciência estética moderna em que se resolveu afinal a crise da poética Frederico Schlegel Francesco de Sanctis completaram essa evolução a que iria Brunetière acrescentar uma nova dimensão A doutrina romântica a respeito dos gêneros estabeleceu à base do conceito de literatura como produto exclusivo da individualidade criadora e da inspiração subjetiva a tese da individualidade da obra literária como organismo autônomo criadora de suas próprias leis e razão de ser de sua forma específica uma para cada obra Assim atacou a regra no gênero e na literatura e deu lugar ao nascimento de gêneros desconhecidos da poética neoclássica como o drama a tragicomédia o romance além de gêneros mistos Em vez de gêneros passouse a falar de arte e de unidade da arte Victor Hugo deu o sinal de partida ao tentar mostrar a arbitrariedade pedantismo e inconsistência da doutrina e da classificação dos gêneros 6 Brunetière 18491906 constitui um capítulo à parte Em oposição aos anteriores que pretenderam reduzir o conceito de gênero a uma pura designação extrínseca e a certos românticos que concorreram para a dissolução dos gêneros o crítico francês tentou uma reabilitação do conceito emprestandolhe antes uma existência individual comparável aos organismos vivos com nascimento crescimento morte ou transformação Era uma volta à teoria clássica acrescentada porém da filosofia evolucionista e transformista à imagem do que se passava no seio das ciências naturais Assim propôsse ele traçar uma verdadeira história natural dos gêneros sujeitos estes às leis da evolução Sua tentativa de conciliação entre a estética neoclássica e a teoria evolucionista partia de uma crença na realidade dos gêneros que para ele não eram simples palavras ou categorias arbitrárias imaginadas pela crítica mas ao contrário tinham vida própria 7 Foi sobretudo em face da teoria de Brunetière que se desencadeou a reação de Benedetto Croce 18661952 formulada primeiramente em sua Estética 1902 embora já em publicações anteriores o assunto lhe houvesse despertado a atenção A ele devese a mais sistemática negação do conceito de gênero em nome da unidade e individualidade da arte ou da poesia eliminando as categorias empíricas devidas à estética neoclássica romântica e positivista Para ele o gênero era uma simples designação externa posterior à operação intuitiva da criação e independente do próprio processo crítico criada apenas para comodidade didática Advogou assim o abandono completo desse conceito a seu ver errôneo além de vazio de realidade Todavia em pronunciamentos posteriores como demonstra Mário Fubini Croce evoluiu de sua posição extremada e radical contra as teorias naturalistas sobre os gêneros em filosofia da arte negandolhes validade como critério de juízo e categoria estética para um reconhecimento de sua legitimidade pelo caráter instrumental que têm em crítica e história literária na classificação dos vários tipos de literatura bem como em história social e moral A evolução de sua teoria pode ser seguida através da Lógica 1901 Problemi di Estetica 1910 Breviario dEstetica 1912 Per una Poetica Moderna 1922 Poesia Popolare e Poesia dArte 1933 Aesthetica in Nuce 1928 La Poesia 1936 e outros pontos De qualquer modo a negação crociana completou a reação que se processara no século XIX quando a crítica literária segundo Croce devera i suoi grandi progressi in molta parte all aver abbandonato dei generi 8 Contudo se a repulsa da ideia de gênero libertando a consciência literária das prisões a que a havia condenado a poética renascentista e clássica escravizando a criação artística e o juízo crítico por outro lado não logrou destruíla totalmente Desencadeouse então no século XX a polêmica sobre os gêneros literários culminando com o III Congresso Internacional de História Literária em 1939 inteiramente dedicado ao problema de cujos debates participaram alguns notáveis especialistas em teoria literária Do exame do histórico da questão e do estado atual das doutrinas à luz dos que melhor trataram do assunto Croce Van Tieghem Fubini Hankiss Wellek Warren Pearson Northrop Frye podese estabelecer um certo número de conclusões que constituem a base da doutrina que a poética contemporânea formula acerca dos gêneros em literatura o que faz reagindo igualmente contra o negativismo radical de Croce o extremado racionalismo autoritário do neoclassicismo e o naturalismo e evolucionismo positivistas 9 De maneira geral como se depreende dos trabalhos de Wellek e Hankiss a poética contemporânea relativamente aos gêneros é descritiva e analítica ao invés de sistemática e sintética reconhecendo que o problema não comporta uma resposta simples e única Hankiss e que se deve antes analisar em vez de codificar e sobretudo que não compete oferecer regras aos autores Wellek Assume destarte uma posição anticlássica nisso que liberta o conceito da formulação preceptística e rija que caracterizava a poética neoclássica De toda a polêmica pósromântica resultou a negação das qualidades atribuídas aos gêneros pela teoria neoclássica a pureza a fixidez a hierarquia Compreendeuse que os gêneros não são limitados em número e que sofrem mudanças ou transformações que podem alguns desaparecer e novos surgir que se podem misturar numa mesma obra que alguns podem corresponder mais que outros às exigências ou necessidades de determinadas épocas estilísticas ou mesmo autores que há dificuldade de classificação de certas obras que há escritores que se subordinam apenas parcialmente aos arquétipos do gênero modificandoos ou por sua vez renovandoos que muitos gêneros se renovam ou renascem pelo contato com etapas primitivas ou populares da literatura Exemplos numerosos tirados da história literária comprovam sobejamente essas assertivas A tragédia por exemplo não é a mesma sem deixar de ser a tragédia se compararmos entre si os diversos tipos que prevaleceram entre os gregos os romanos os elisabetanos os franceses do período luísquatorziano os espanhóis do Século de Ouro os modernos escandinavos e russos e os mais recentes Por outro lado não se pode desconhecer a penetração da tragédia no romance contemporâneo fato de extrema importância Igual observação se deve fazer a respeito da epopeia e do romance O gênero épico sofreu uma diferenciação da epopeia grega para a medieval e a renascentista Por outro lado são diferentes o romance do século XVIII e o do século XX passando pelo do século XIX sem embargo de constituírem o mesmo gênero sob formas transformadas de acordo com as teorias estéticas da época e as imposições dos gêneros individuais diversos dos seus cultores A melhor doutrina foi exposta por A Warren no livro escrito com R Wellek Theory of Literature Os gêneros diz ele não são um simples nome como afirmou Croce São instituições imperativas que exercem pressão sobre o escritor e são por ele também pressionadas e modificadas São princípios de ordem e classificação segundo os quais a literatura é dividida em tipos literários de organização e estrutura Representam uma soma de artifícios estéticos à disposição do escritor e inteligíveis ao leitor São convenções estéticas de que a obra participa modelandolhes a forma e o caráter Em conclusão acentua ainda aquele tratadista o gênero deve ser concebido como um agrupamento de obras literárias baseado teoricamente tanto sobre a forma exterior métrica ou estrutura específica quanto sobre a forma interna atitude tom propósito 10 De acordo com tal concepção a tendência mais forte é ainda conforme Warren no sentido de restringir o número dos gêneros àqueles que se caracterizam como de literatura propriamente criadora ou imaginativa Dichtung Para a poética atual a literatura é uma arte a arte da palavra e como tal somente lhe pertence o que for produto da imaginação criadora Assim muitas atividades outrora incluídas nos gêneros de literatura como o jornalismo a história a filosofia a conversa etc escapam ao quadro da atual teoria genológica São atividades que pretendem a informação o conhecimento do passado a compreensão do universo mobilizando antes a inteligência o raciocínio lógicoformal a razão especulativa do que a imaginação Estão portanto fora dos quadros dos gêneros literários Voltase destarte à concepção grega para a qual a literatura se reduzia a três categorias fundamentais a narrativa a lírica a dramática podendo ser em prosa ou verso A estas se acrescentariam algumas outras formas que fogem a tal caracterização Se a literatura de imaginação ou criadora é uma interpretação verbal da vida por um artista essa interpretação pode ser corporificada através de fórm as que lhe emprestarão uma forma são os gêneros Para isso contudo o artista pode usar métodos diferentes isto é pode dar vazão à sua interpretação da realidade direta ou indiretamente É o que mostra a seguinte classificação moderna dos gêneros literários segundo Walley e Wilson The Anatomy of Literature Nova York Farrar Rinchart 1934 cap III 11 O estudo dos gêneros consoante a doutrina exposta acima consistirá na descrição de suas características dos elementos componentes de sua estrutura das leis que presidem à sua organização interna tal como aparecem nos seus arquétipos e outrossim a evolução que tiveram na literatura universal e suas variedades principais 12 A abordagem da literatura pelos gêneros constitui além de seu interesse na interpretação e estudo da história literária um método de pedagogia O problema do ensino da literatura tem sido nos últimos anos objeto de intensa investigação e revisão no que tange ao método tendo em vista resolver o conflito entre o estudo histórico e crítico da literatura nos currículos de humanidades Os gêneros oferecem ao ensino literário um meio de abordagem do fenômeno uma porta de entrada para a literatura Depois de longos debates sobre o assunto entre as sociedades educacionais e as universidades nas últimas décadas nos Estados Unidos tem sido estabelecido em numerosas escolas tanto no nível secundário quanto no superior o sistema de ensino da literatura pelos gêneros em currículos do mais variado feitiø O estado de esgotamento e crise a que chegou o ensino da literatura à luz do método tradicional com base na memorização de sumários do ambiente social e histórico da biografia dos autores e das listas de obras e datas exigiu uma mudança de processos O que importa no ensino da literatura é a criação do gosto para a obra literária e isto somente se consegue com a leitura e compreensão da literatura como literatura isto é pela abordagem através das obras elas mesmas formais os gêneros ou tipos e estudada na sua constituição íntima nas suas leis nos elementos literários que compõem a sua estrutura e nos diversos meios de expressão de cada um A ênfase é posta assim no aspecto propriamente literário deixandose para segunda etapa o pano de fundo históricosocial O método tem ganho muita popularidade espalhandose por toda a parte os cursos baseados na genologia em que se tomam um ou mais tipos literários para leitura e estudo em profundidade através de obras específicas de um autor do período estilístico O excelente resultado desses cursos tem sido largamente proclamado pois o contato do estudante com um menor número de obras analisadas em profundidade estimula o interesse pela literatura consolida os seus meios de apreensão pela leitura aperfeiçoalhe o domínio da expressão vernácula desenvolvelhe a capacidade de apreciação favorecendolhe a ampliação dos horizontes intelectuais pois lhe força a passagem de obra a obra numa escala crescente de profundidade e importância entre as obras do mesmo gênero De modo geral o método dirige o espírito do estudante no sentido da literatura e não no da história ou biografia e esta ênfase só pode ter bom efeito na formação mental humanística e literária do futuro crítico professor homem de letras ou leitor comum O valor literário é o objetivo a que visa o método favorecendo a aquisição de um sadio critério de valor literário à luz do qual se sente e julga melhor a produção da literatura A essência da abordagem é a técnica indutiva partindose da própria obra ou texto escolhido o tipo A leitura silenciosa e isolada ao lado da leitura em grupo a discussão em seminários sobre temas isolados para o desenvolvimento do senso crítico a redação de ensaios de apreciação conduzindo sempre que possível à comparação com outras obras do mesmo gênero lística e a classificação genológica Assim em história literária são relegadas para segundo plano as considerações de ordem biográfica e social bem como se liberta o historiador da tirania cronológica identificandose no trabalho historiográfico o crítico e o historiador no exame da literatura com base na expressão formal único denominador comum satisfatório Pearson Essa concepção impropriamente chamada de formalista implica o abandono da noção de que os velhos conceitos de forma e conteúdo existem em separado ao contrário são inseparáveis na obra de arte constituindo antes uma unidade indestrutível Essa ideia tem sido posta em relevo sobretudo graças aos debates provocados pelas novas teorias críticas e estéticas em especial as do formalismo eslavo Para eles forma é a unidade total da obra de arte e literatura é forma Como acreditavam os gregos cada tipo de expressão literária dá lugar ou exige uma forma e um estilo próprios 14 A despeito de condenada à morte por diversos críticos e escolas literárias a noção de gênero continua viva e necessária Ela é ligada à própria natureza formal da literatura e não há como suprimila O essencial é concebêla de um ponto de vista dinâmico O ato criador consiste mesmo em dar forma a uma visão da realidade pelo artista que retira da natureza a sua inspiração e experiência recriandoa ou transfigurandoa numa forma derramando essa visão numa fôrma o gênero cria suas leis Saindo do espírito do artista transformase num todo concreto visível tocável Forma assim entendida não se opõe a conteúdo não é somente o invólucro exterior mas o princípio vital interior e a obra só existe porque engloba num todo indivisível forma e matéria A criação toma corpo numa trama de palavras e essa trama por sua vez se organiza em estruturas bemarticuladas e reguladas pelas exigências Não é apenas a capacidade de apreciação e crítica que se desenvolve mas incentivase dessa maneira a criação individual colocandose o espírito do jovem no âmago do próprio fenômeno literário constituído pelas obrasprimas da literatura nacional e universal Na leitura diária o educando adquire os segredos do ofício da técnica da mecânica da arte literária dos artifícios e convenções dos materiais que se transformam em criação literária além da terminologia específica para o tratamento crítico É a experiência que se enriquece Trabalhando maciçamente sobre um gênero o estudante adquire ao lado do conhecimento de seus arquétipos a capacidade de comparálos entre as diversas manifestações no tempo e no espaço e a aptidão de distinguir as suas características e inovações contemporâneas o que vai ao encontro da tendência de cada um a viver em passo certo com a produção de seu tempo que assim estará mais facilmente compreendida e julgada Propondo uma combinação da leitura e da análise da obra no seu gênero o método genológico de ensino proporciona eficiente aprendizagem da literatura com desenvolvimento da aptidão apreciativa do senso crítico do gosto e do espírito criador 13 A ideia de gênero impõese também na reformulação do método em historiografia literária Este é outro problema que tem desafiado os tratadistas nos últimos decênios a história literária A crise do conceito levou os historiadores a buscar novos métodos mais consentâneos com a natureza do fenômeno em lide É uma das soluções apontadas é a que manda usar como básico ponto de referência a ideia de forma Compreendendo a forma tanto relativamente às grandes distinções genéricas quanto ao aspecto formal de expressão Pearson conciliamse a periodização esti do espírito do artista em diferentes qualidades da experiência e diversos modos de comunicação Um gênero é no princípio uma tendência do espírito humano O homem gosta de contar histórias Pouco a pouco dado o caráter dos que fazem o relato e dos que o ouvem e por causa dos hábitos e convenções que se constituíram insensivelmente o modo de dizer histórias tornase uniforme A tendência do espírito tornouse um gênero e o gênero cria suas leis mas no fundo ele fica sempre uma tendência do espírito Essa famosa citação de Faguet traduz bem o processo originário e a evolução do gênero O ponto de partida ou a raiz é então uma motivação emocional uma experiência humana psicológica Como afirma JC La Drière as qualidades da experiência expressa formam a base dos gêneros É essa experiência do artista no que respeita a incidentes e pessoas que imprime o tipo à obra Há portanto que encarar os gêneros de um ponto de vista formal e psicológico Da perspectiva formal as obras literárias devem classificarse por gêneros ou tipos tendo a tradição crítica aceito um certo número de categorias com características tipológicas bemdelineadas A Aristóteles devese a formulação de uma classificação básica e simples a que se pode retornar sem violência ao desenvolvimento da literatura pois ela corresponde às qualidades da experiência À maneira da comunicação acrescentase a qualidade da experiência portanto o aspecto psicológico à luz do qual compreendemos que um mesmo gênero pode apresentarse diferentemente conforme a motivação psicológica a atitude ou impulso da imaginação É o que ensina o Professor Philo Buck Jr inspirandose em Aristóteles ao apontar que gêneros como a épica a lírica o romance podem ser cômicos trágicos satíricos ou quase tudo o que o autor encontra na experiência Essa doutrina favorece o entendimento do problema dos gêneros condenando a atitude absolutista bem como a nominalista Aceita a realidade do fenômeno como fundado na natureza compreende as relações entre os diversos gêneros os gêneros mistos as obras que incluem vários gêneros a flexibilidade das fronteiras dos gêneros a sua transformação e morte o seu reaparecimento a adequação melhor de certos gêneros a épocas estilísticas e às preferências dos autores a sua modificação e enriquecimento por certos autores Ela conduz outrossim a uma posição mais própria a penetrar o que Philo Buck chama a decent visibility de certos gêneros ou obras É que em muitos casos a dificuldade é grande em introduzir distinções entre uns e outros de modo a tornálos nitidamente classificáveis sob uma qualquer categoria Buck cita diversos exemplos Henry IV de Shakespeare é tragédia ou história Ou é drama A tragédia modernamente reside tanto no romance de Dostoievski quanto nas peças de Ibsen É que há uma mudança de experiência psicológica no autor e no leitor comandando as diferenças formais estruturais e ideológicas dos gêneros através dos tempos sem que tal significasse o abandono da longa tradição que os visualizou E sem que isso queira dizer a negação dos gêneros como tais pois mesmo modificandoos ou renovandoos os autores se submetem às suas essências como um Joyce em relação a Balzac no que tange ao romance Não há pois que negar a noção de gênero ou abandonála Ela faz parte da literatura e constitui o núcleo da crítica e da teoria literária