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GEOGRAFIA METODOLOGIA DO ENSINO Eduem Maringá 2012 EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ REITOR Prof Dr Mauro Luciano Baesso VICEREITOR Prof Dr Julio César Damasceno DIRETORA DA EDUEM Profa Dra Terezinha Oliveira EDITORACHEFE DA EDUEM Profa Dra Gisella Maria Zanin CONSELHO EDITORIAL PRESIDENTE Profa Dra Terezinha Oliveira EDITORES CIENTÍFICOS Profa Dra Ana Lúcia Rodrigues Profa Dra Angela Mara de Barros Lara Profa Dra Analete Regina Schelbauer Prof Dr Antonio Ozai da Silva Profa Dra Cecília Edna Mareze da Costa Prof Dr Eduardo Augusto Tomanik Profa Dra Elaine Rodrigues Profa Dra Larissa Michelle Lara Prof Dr Luiz Roberto Evangelista Profa Dra Luzia Marta Bellini Prof Me Marcelo Soncini Rodrigues Prof Dr Márcio Roberto do Prado Prof Dr Mário Luiz Neves de Azevedo Profa Dra Maria Cristina Gomes Machado Prof Dr Oswaldo Curty da Motta Lima Prof Dr Raymundo de Lima Profa Dra Regina Lúcia Mesti Prof Dr Reginaldo Benedito Dias Prof Dr Sezinando Luiz Menezes Profa Dra Valéria Soares de Assis EQUIPE TÉCNICA FLUXO EDITORIAL Edneire Franciscon Jacob Marinalva Spolon Almeida Mônica Tanamati Hundzinski Vania Cristina Scomparin PROJETO GRÁFICO E DESIGN Luciano Wilian da Silva Marcos Kazuyoshi Sassaka Marcos Roberto Andreussi MARKETING Gerson Ribeiro de Andrade COMERCIALIZAÇÃO Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima COPYRIGHT 2016 EDUEM Todos os direitos reservados Proibida a reprodução mesmo parcial por qualquer processo mecânico eletrônico reprográfico etc sem a autorização por escrito do autor Todos os direitos reservados desta edição 2016 para a editora EDUEM EDITORA DA UNIV ESTADUAL DE MARINGÁ Av Colombo 5790 Bloco 40 Campus Universitário 87020900 Maringá Paraná Fone 0xx44 30114103 httpwwweduemuembr eduemuembr FORMAÇÃO DE PROFESSORES EAD Geografia Metodologia do Ensino CLAUDIVAN SANCHES LOPES CLERES DO NASCIMENTO MANSANO JORGE ULISES GUERRA VILLALOBOS ORGANIZADORES 54 Eduem Maringá 2012 Coleção Formação de Professores EAD Apoio técnico Rosane Gomes Carpanese Normalização e catalogação Ivani Baptista CRB 9331 Revisão Gramatical Annie Rose dos Santos Edição e Produção Editorial Carlos Alexandre Venancio Eliane Arruda Copyright 2012 para o autor 1a reimpressão 2016 revisada Todos os direitos reservados Proibida a reprodução mesmo parcial por qualquer processo mecânico eletrônico reprográfico etc sem a autorização por escrito do autor Todos os direitos reservados desta edição 2012 para Eduem Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Geografia metodologia do ensino Claudivan Sanches Lopes Cleres do Nascimento Mansano Jorge Ulises Guerra Villalobos organizadores Maringá Eduem 2012 154 p 21 cm Formação de Professores EAD v 54 ISBN 9788576284505 1 Geografia Metodologia do ensino 2 I Lopes Claudivan Sanchez org II Mansano Ceres do Nascimento org 3 Villalobos Jorge Ulises Guerra org CDD 21 ed 37135 G345 Eduem Editora da Universidade Estadual de Maringá Av Colombo 5790 Bloco 40 Campus Universitário 87020900 Maringá Paraná Fone 0xx44 30114103 httpwwweduemuembr eduemuembr 5 7 9 11 15 41 47 55 73 umário S Sobre os autores Apresentação da coleção Apresentação do livro Capítulo 1 O ensino de geografia nos anos iniciais do ensino fundamental Claudivan sanches lopes Capítulo 2 O trabalho do professor na organização de práticas de educação geográficas Claudivan Sanches Lopes Capítulo 3 As propostas curriculares oficiais para o ensino da geografia nas sériesanos iniciais Cleres do nascimento mansano Capítulo 4 Representações a linguagem cartográfica Cleres do Nascimento Mansano Capítulo 5 Livro didático de geografia análise e avaliação Cleres do Nascimento Mansano Geografi a Metodologia do Ensino 6 Capítulo 6 Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografia Cleres do Nascimento Mansano Capítulo 7 Escalas geográficas algumas considerações Cleres do Nascimento Mansano Capítulo 8 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Jorge Ulises Guerra Villalobos Capítulo 9 Fotografia território e literatura Jorge Ulises Guerra Villalobos Capítulo 10 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Jorge Ulises Guerra Villalobos Valter Tadeu Dubiela 83 95 105 121 139 7 CLAUDIVAN SANCHES LOPES Professor de Prática de Ensino em Geografi a e Metodologia de Ensino em Geo grafi a junto ao Departamento de Geografi a na Universidade Estadual de Maringá Licenciado em Geografi a pela Universidade Estadual de Maringá1989 Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá PPE Área de concentração aprendizagem e ação docente 2001 e Doutor em Geografi a Humana junto ao Programa de PósGraduação em Geografi a Humana FFLCH USP CLERES DO NASCIMENTO MANSANO Professora do Ensino Superior da área de Ensino do Departamento de Geografi a UEM Maringá PR e do Ensino Básico Col Est João de Faria Pioli Ens Fund e Médio Maringá PR Graduada em Geografi a pela Universidade Estadual de Ma ringá UEM Especialista em Administração Supervisão e Orientação Educacional pela UNOPAR Londrina PR Mestre em Educação para Ciência e o Ensino da Matemática pela UEM Maringá PR e Doutora em Geografi a pela UEM PGE JORGE ULISES GUERRA VILLALOBOS Professor na Universidade Estadual de Maringá Departamento de Geografi a Ma ringáPR Pósgraduado pela Universidade de São Paulo Bacharel e Licenciado em Geografi a com títulos convalidos pela Universidade Estadual de Maringá Possui Especialização em Açúcar e Álcool pela Universidade Estadual de Maringá 2008 Mestrado em Geografi a pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 1990 e doutorado em Geografi a pela Universidade de São Paulo 1996 Atualmen te é professor Associado AS3 Nível C na Universidade Estadual de Maringá VALTER TADEU DUBIELA Doutor em Aménagement pela Université de Montréal Arquiteto e Urbanista pela Universidade Federal de Santa Catarina Sobre os autores 9 A coleção Formação de Professores EAD teve sua primeira edição em 2004 com a publicação de 33 títulos fi nanciados pela Secretaria de Educação a Distância SEED do Ministério da Educação MEC para que os livros pudessem ser utilizados como material didático nos cursos de licenciatura ofertados no âmbito do Programa de Formação de Professores PróLicenciatura 1 A tiragem da primeira edição foi de 2500 exemplares A partir de 2008 demos início ao processo de organização e publicação da segunda edição da coleção com o acréscimo de 12 novos títulos A conclusão dos trabalhos deverá ocorrer somente no ano de 2012 tendo em vista que o fi nanciamento para esta edição será liberado gradativamente de acordo com o cronograma estabelecido pela Diretoria de Educação a Distância DED da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior CAPES que é responsável pelo do programa denominado Universidade Aberta do Brasil UAB A principio serão impressos 695 exemplares de cada título uma vez que os livros da nova coleção serão utilizados como material didático para os alunos matriculados no Curso de Pedagogia Modalidade de Educação a Distância ofertado pela Universi dade Estadual de Maringá no âmbito do Sistema UAB Cada livro da coleção traz em seu bojo um objeto de refl exão que foi pensado para uma disciplina específi ca do curso mas em nenhum deles seus organizadores e autores tiveram a pretensão de dar conta da totalidade das discussões teóricas e práticas construídas historicamente no que se refere aos conteúdos apresentados O que se busca com cada um dos livros publicados é abrir a possibilidade da leitura da refl exão e do aprofundamento das questões pensadas como fundamentais para a formação do Pedagogo na atualidade Por isso mesmo esta coleção somente poderia ser construída a partir do esforço coletivo de professores das mais diversas áreas e departamentos da Universidade Esta dual de Maringá UEM e das instituições que tem se colocado como parceiras nesse processo A presentação da Coleção Geografi a Metodologia do Ensino 10 Em função disto agradecemos sinceramente aos colegas da UEM e das demais instituições que organizaram livros ou escreveram capítulos para os diversos livros desta coleção Agradecemos ainda à administração central da UEM que por meio da atuação direta da Reitoria e de diversas PróReitorias não mediu esforços para que os trabalhos pudessem ser desenvolvidos da melhor maneira possível De modo bastante especifi co destacamos aqui o esforço da Reitoria para que os recursos para o fi nanciamento desta coleção pudessem ser liberados de acordo com os trâmites burocráticos e os prazos exíguos estabelecidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE Internamente destacamos ainda o envolvimento direito dos professores do De partamento de Fundamentos da Educação DFE vinculado ao Centro de Ciências Humanas Letras e Artes DFE que no decorrer dos últimos anos empreenderam esforços para que o curso de Pedagogia na modalidade de educação a distância pu desse ser criado ofi cialmente o que exigiu um repensar no trabalho acadêmico e uma modifi cação signifi cativa da sistemática das atividades docentes No que se refere ao Ministério da Educação ressaltamos o esforço empreendido pela Diretoria da Educação a Distância DED da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior CAPES e pela Secretaria de Educação de Educação a Distância SEEDMEC que em parceria com as Instituições de Ensino Superior IES conseguiram romper barreiras temporais e espaciais para que os convênios para libe ração dos recursos fossem assinados e encaminhados aos órgãos competentes para aprovação tendo em vista a ação direta e efi ciente de um número muito pequeno de pessoas que integram a Coordenação Geral de Supervisão e Fomento e a Coordenação Geral de Articulação Esperamos que a segunda edição da Coleção Formação de Professores EAD possa contribuir para a formação dos alunos matriculados no curso de Pedagogia bem como de outros cursos superiores a distância de todas as instituições públicas de en sino superior que integram e possam integrar em um futuro próximo o Sistema UAB Maria Luisa Furlan Costa Organizadora da Coleção 11 O objetivo deste material é oferecer refl exões a respeito da metodologia do ensino de Geografi a para os anos iniciais do Ensino Fundamental Cientes de que a Geografi a deve colaborar no esforço global do currículo escolar em formar integralmente colo camos a disposição dos leitores instrumentos teóricos e práticos para organização de práticas de educação geográfi cas No primeiro capítulo O ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSI NO FUNDAMENTAL o autor destaca o papel da Geografi a no currículo escolar sua fun ção específi ca na formação global dos alunos do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental e importância social Com o intuito de explicitar os modos de pensar e de operar da ciência geográfi ca discuti aspectos relacionados ao seu lugar no campo das ciências seus principais conceitos e procedimentos ligados à sua forma particular de produzir conhecimento e de explicar o mundo No segundo capítulo O TRABALHO DO PROFESSOR NA ORGANIZAÇÃO DE PRÁ TICAS DE EDUCAÇÃO GEOGRÁFICAS o autor enfatiza os saberes que podem subsidiar os professores na organização de práticas de educação geográfi cas Sem a intenção de apresentar prescrições encaminha discussão a respeito do conjunto de conhecimentos que permitem aos professores considerando a natureza do conhecimento geográfi co proporcionar aos alunos aprendizagens signifi cativas No terceiro capítulo AS PROPOSTAS CURRICULARES OFICIAIS PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA NAS SÉRIESANOS INICIAIS a autora apresenta e discute a implementa ção das propostas ofi ciais de ensino e aplicações para Geografi a escolar em especial voltado para as sériesanos iniciais Apresenta como proposta de atividade um quadro comparativo entre as propostas discutidas com o objetivo de propor refl exão sobre as questões teóricas e metodológicas da prática pedagógica geográfi ca No quarto capítulo intitulado REPRESENTAÇÕES A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA o objetivo é discorrer sobre a alfabetização cartográfi ca como um recurso essencial para o ensino de Geografi a Apresentase discussão sobre o tema bem como algumas pro postas de atividades aplicáveis em sala de aula Apresentação do livro Geografi a Metodologia do Ensino 12 No quinto capítulo LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA ANÁLISE E AVALIAÇÃO são realizadas uma discussão sobre a importância do livro didático para o processo de ensi noaprendizagem bem como os problemas que vão desde a escolha até a sua utilização em sala de aula Como proposta de atividade é solicitada que seja realizada uma análise de coleção de livro didático voltado para as séries inicia O objetivo é possibilitar o contato do futuro professor com este recurso e possibilitálo a avaliação bem como a escolha na sua futura prática profi ssional No sexto capítulo intitulado OS ESTUDOS DO MEIO UMA ESTRATÉGIA METO DOLÓGICA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA a autora aborda a importância deste re curso que possibilita a construção do conhecimento pela observação orientada pela ótica realidade possibilitando a aprimoração do olhar geográfi co do educando e do educador São apresentadas algumas propostas que possibilitam ao professor a práxis No sétimo capítulo ESCALAS GEOGRÁFICAS ALGUMAS CONSIDERAÇÕES é a distinção entre a escala geográfi ca e cartográfi ca sendo que na Geografi a as duas são fundamentais e complementares Assim entender os seus signifi cados e aplicações faz parte da educação geográfi ca e essencial para a apreensão do fenômeno geográfi co As cidades experimentaram ao longo de seu processo de expansão e consolidação inúmeras inovações tais como as provenientes da inclusão das áreas verdes dentro de um marco de política higenista quanto das inovações em vias de circulação provocadas pela mudança dos meios No entanto sempre mantiveram uma constante qual foi a de regrar os usos do solo particularmente intensas foram as ações dos planejadores quan do disciplinaram as atividades industriais que pretendiam ocupar o perímetro urbano No oitavo capítulo AS CIDADES O TERRITÓRIO A PAISAGEM E O PLANEJAMENTO URBANO o professor Jorge G Villalobos analisa com detalhes a questão urbana con temporânea que resulta dos novos processos tecnológicos A qualquer geógrafo ou professor de geografi a que perguntássemos pelo nome de Alexander von Humboldt 17691859 diria no mínimo que está associado diretamente à história da geografi a científi ca No entanto esse naturalista alemão está também vin culado com a apresentação do invento de Louis Jacques Mande Daguerre 17871851 o Daguerrotipo à Academia de Ciências de Paris e sua participação não parece ter sido secundária haja vista que desde essa época a Fotografi a passou a ser incorporada em todos os trabalhos geográfi cos Porém nunca fora deixado de lado o caráter descritivo e de certa forma literário quando analisado o território desde os personagens que o integram No nono capítulo denominado FOTOGRAFIA TERRITÓRIO E LITERATURA o professor Jorge G Villalobos explora esses temas No décimo capítulo destinado à análise da paisagem desde o ponto de vista da preservação Jorge G Villalobos e Valter Tadeu Dubiela revisão em detalhes a ESTAÇÃO 13 RODOVIÁRIA AMÉRICO DIAS FERRAZ na cidade de Maringá Objetivando expor as razões que justifi cam a conservação restauração e tombamento do prédio que forma parte do patrimônio histórico artístico e natural e paisagístico da cidade de Maringá bem como seu valor para a toda a região colonizada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná Assim como desenvolvem uma análise a respeito dos atos praticados pela Administração Municipal que culminaram com a demolição do prédio Claudivan Sanches Lopes Cleres do Nascimento Mansano Jorge Ulises Guerra Villalobos Organizadores Apresentação do livro 15 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Claudivan Sanches Lopes INTRODUÇÃO O objetivo deste livro como ressaltamos na apresentação é oferecer refl exões a respeito da metodologia do ensino de Geografi a para os anos iniciais do Ensino Fun damental Cientes de que a Geografi a deve colaborar no esforço global do currículo escolar em formar integralmente colocamos à disposição dos futuros professores ins trumentos teóricos e práticos para a organização de práticas de educação geográfi cas que consideramos adequadas ao grau de desenvolvimento cognitivo dos alunos que frequentam esse nível de ensino Em consonância com outros autores pressupomos que os conteúdos geográfi cos presentes nos currículos escolares podem contribuir efetivamente na alfabetização das crianças e na promoção de seu desenvolvimento pois desencadeiam processos que permitem à criança iniciar a compreensão do mun do de forma sistematizada e ao mesmo tempo fornecem os alicerces para as aprendi zagens futuras da Geografi a na Educação Básica CALLAI 2005 Ao enfatizarmos o aspecto metodológico entretanto não descuidamos dos princi pais conceitos e procedimentos que fazem parte dos modos de pensar e de operar da ciência geográfi ca e que defi nem sua especifi cidade É impossível na verdade separar os conteúdos de ensino dos procedimentos metodológicos que se adotam para ensiná los Assim é necessário esclarecer aspectos relacionados à natureza e à especifi cidade da Geografi a enquanto ciência no quadro geral do conhecimento humano para depois examinarmos sua possível contribuição no currículo escolar e particularmente no currículo das séries iniciais do Ensino Fundamental Com efeito salientamos inicialmente o papel da Geografi a no campo das ciências humanas para em seguida avançarmos na compreensão dos possíveis signifi cados atribuídos à educação geográfi ca função da Geografi a no currículo escolar e sua importância para a formação dos indivíduos de maneira geral e especialmente das 1 Geografi a Metodologia do Ensino 16 crianças que frequentam as séries iniciais do Ensino Fundamental alvo indireto deste material pedagógico A GEOGRAFIA ACADÊMICA E SEU LUGAR NO CAMPO DAS CIÊNCIAS SO CIAIS UMA REFERÊNCIA FUNDAMENTAL A refl exão acerca do lugar da Geografi a no currículo escolar e as tentativas de se compreender melhor o sentido do que estamos chamando de educação geográfi ca passam como já pontuamos pela consideração do lugar da Geografi a no campo das ciências sociais A compreensão da Geografi a como ciência social parte da premissa de que a expli cação da sociedade pode ser realizada por meio de inúmeras entradas ou pontos de vista como explica Moraes 2000 p 23 os campos disciplinares devem exprimir visões angulares da realidade so cial isto é caminhos peculiares no deslindamento do movimento da sociedade os quais a partir da investigação de fenômenos e processos específi cos de vem conseguir iluminar algumas relações e mediações que formam parte da tecitura do fl uir histórico em outras palavras abordam elementos da totalidade movente Com a fi nalidade portanto de captar e interpretar de maneira singular mas não única o movimento da totalidade social a tarefa particular da Geografi a estaria cen trada na dimensão espacial da sociedade humana Tratase por conseguinte de um recorte analítico Recorrendo mais uma vez a Moraes 2000 p 2728 poderseia dizer que a Geografi a humana deveria estudar a espacialidade da vida social vista como uma mediação particularizadora na compreensão da história de uma sociedade concreta Ela objetivaria assim uma dada visão an gular da história dedicada ao deslindamento de uma dimensão específi ca de seu movimento a espacial Sob esse prisma não existe uma realidade exclusivamente geográfi ca Como a realidade social não é totalmente geográfi ca a teoria geográfi ca como qualquer outra é insufi ciente para explicála em sua totalidade e é bom recordar está sem pre em movimento A Geografi a permite em sua epistemologia captar a realidade mediante uma determinada perspectiva e dessa forma explicála A função da Geo grafi a como defende Escolar 1996 é produzir teorias para interpretar a espaciali zação da realidade social O repertório de teorias que compõem a ciência geográfi ca se constitui assim em uma janela da qual o geógrafo e o estudante de Geogra fi a ainda que em diferentes níveis de compreensão podem observar e analisar a sociedade 17 Ao valorizar a dimensão espacial da sociedade a Geografi a não nega a existência de outras dimensões possíveis de análise ao contrário procura estabelecer um diálogo com elas e entre elas Não se trata de tentar constituir como nos alerta Moraes 2000 uma superciência capaz de trabalhar empiricamente com a totalidade social Concomi tantemente se aceita a existência de outras perspectivas e se busca estabelecer pontes entre elas Tomase por prerrogativa que a realidade social é multidimensional o mundo é um só e a separação disciplinar é um esforço metodológico no caso do geógrafo na tentativa de compreender a realidade social e orientar práticas Como assinala Santos 2004 p 20 uma disciplina é uma parcela autônoma mas não inde pendente do saber geral O diálogo interdisciplinar muito desejável nos dias de hoje em virtude da excessi va especialização das ciências não nega a especifi cidade das disciplinas ou caminhos particulares de análise pelo contrário delimitar o campo consolidando a identidade de uma disciplina é um caminho necessário para o diálogo interdisciplinar Em síntese a especifi cidade do trabalho do pesquisador em Geografi a ou do pro fessor de Geografi a se defi ne muito mais pelo recorte que o pesquisadorprofessor realiza na totalidade social a relação da sociedade com o espaço do que pela exis tência de um objeto particular e exclusivo de estudo Tratase de uma forma específi ca de ver a realidade social o olhar geográfi co sobre o mundo Figura 1 A observação do espaço mediada pela teoria geográfi ca possibilita o desenvolvimento do olhar geográfi co sobre o mundo Ilustração de Paulo Henrique Lopes e Estevão Pastori Garbin A inexistência de sociedades aespaciais obriga a considerar a dimensão espacial das sociedades na organização da vida humana MORAES 2000 O estudo da espa cialidade expressa concretamente nas diversas formas que compõem as paisagens O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 18 naturais vales rios montanhas etc e culturais ruas edifícios praças etc com a qual se deparam os seres humanos todos os dias e ao longo de toda a vida em seu irevir pelo espaço geográfi co pode revelar aspectos importantes da lógica ou lógicas que regem a sociedade Ao considerarmos que as construções espaciais expressam os conteúdos das relações sociais que as engendram MORAES COSTA 1984 p 126 o conhecimento geográfi co pode ser um fator propiciador de maior consciência sobre a organização da vida humana visto que à medida que permite a desnaturalização das construções espaciais abre possibilidades para a investigação do conteúdo as relações sociais que dá forma às paisagens Em uma perspectiva crítica a invenção da Geografi a pelos seres humanos decorre da constatação de que a sociedade humana não pode prescindir da compreensão do espaço em seu caminhar histórico por ser ele um fator que condiciona essa caminhada Estudar geografi camente o mundo tornase sob tal vertente um exercício cognitivo muito relevante que supõe o deslindamento da lógica que rege a realidade social por in termédio da observação e do estudo metódico do espaço Tratase do desenvolvimento sistemático do raciocínio espacial que estabelece como produto mental a formação de uma consciência espacial ou geográfi ca Revelase por essa via de acordo com os propósitos deste tópico o sentido ou a importância da ciência geográfi ca na vida do estudante de Geografi a e de indivíduos que compõem a sociedade Cabe ao professor como veremos mais detalhadamente adiante organizar atividades pedagógicas que ilu minadas pela teoria geográfi ca proporcionem aos alunos o desenvolvimento do modo de pensar geográfi co Em outras palavras que possam desenvolver gradativamente seu raciocínio geográfi co O RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO Considerando que já tenhamos alcançado a clareza sufi ciente sobre a especifi cida de da Geografi a no campo das ciências sociais podemos avançar na caracterização do processo de construção do raciocínio geográfi co Este se refere à capacidade cognitiva de compreender como as diversas sociedades organizam o seu espaço e por outro mas inseparavelmente as implicações dos diversos arranjos espaciais na vida social e em particular na vida pessoal de seus membros Em outros termos como os diversos arran jos espaciais que compõem o território infl uenciam e até qualifi cam o dia a dia dos seres humanos Como por exemplo a localização do indivíduo no espaço e as características geográfi cas do lugar onde mora podem facilitar ou difi cultar o exercício da cidadania Sobre essa questão Santos 1993 p 81 observa Cada homem vale pelo lugar onde está o seu valor como produtor consumi dor cidadão depende de sua localização no território Seu valor vai mudando 19 incessantemente para melhor ou para pior em função das diferenças de aces sibilidade tempo freqüência preço independentes de sua própria condição Pessoas com as mesmas virtualidades a mesma formação até mesmo o mesmo salário têm valor diferente segundo o lugar em que vivem as oportunidades não são as mesmas Por isso a possibilidade de ser mais ou menos cidadão de pende em larga proporção do ponto do território onde se está Enquanto um lugar vem a ser condição de sua pobreza um outro lugar poderia no mesmo momento histórico facilitar o acesso àqueles bens e serviços que lhe são teori camente devidos mas que de fato lhe faltam O mesmo autor argumenta entretanto que o estudo da pobreza não pode limitarse à simples localização da pobreza no espaço e nos adverte que optar por uma ótica espacista pode levarnos a perder de vista as verdadeiras causas da pobreza e impedir a compreensão das razões de sua localização e fi nalmente retirarnos as possibilidades de indicar caminhos alternativos p 85 As injustiças identifi cadas no espaço não se explicam por elas mesmas As causas reais devem ser buscadas no pro cesso sócio histórico que produziu o espaço nesse caso sua causa real Para Moraes 2000 p 31 o fato de o espaço infl uir no curso dos processos sociais não signi fi ca que tal dimensão possa determinálos E acrescenta que não é o espaço como ser ontológico que determina a vida humana em um determinado lugar mas sim são as próprias relações sociais observáveis espacialmente que a condicionam e que permi tem sua reprodução Observemos por exemplo a charge a seguir Figura 2 As desigualdades sociais se materizam no espaço Disponível em httpcontextoshistoricosblogs potcom201106testeseusconhecimentossobreashtml Acesso em 20092011 A desigualdade social que marca sensivelmente paisagens urbanas e rurais em nosso país e notadamente nas grandes cidades revela como denuncia a Figura 2 uma questão que é primeiramente social As causas das injustiças que se revelam nas paisagens devem ser buscadas portanto na lógica da dinâmica social que as produz e reproduz O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 20 Compreendemos mais profundamente deste modo o quanto o desenvolvimento sistemático do raciocínio geográfi co uma educação geográfi ca pode ser importante no desvelamento das lógicas que fundam a vida social e a dinâmica de uma determina da sociedade A análise das características do lugar que um indivíduo ou grupo ocupa em um determinado território pode ser extremamente reveladora das injustiças e das mazelas da sociedade que em uma perspectiva emancipatória necessitam ser histori camente transformadas SANTOS 1993 Uma educação dessa natureza poderia contribuir signifi cativamente para afrouxar as amarras da ideologia hegemônica que naturaliza os processos de construção do es paço geográfi co Negando explicações simplistas baseadas no senso comum em seu sentido mais banal poderia simultaneamente instrumentalizar uma possível ação política que vise a uma transformação Ultrapassando uma simples constatação e des crição de fatos isolados estarseia nessa circunstância diante de uma educação das consciências de caráter prospectivo ou seja favorecedora de uma práxis Ao expor as injustiças sociais reveladas pela análise da dimensão espacial da sociedade a Geografi a oferece instrumentos valiosos para a compreensão e superação daquelas injustiças que de acordo com Santos 1993 p 112 devem ser corrigidas em nome da cidadania O próprio domínio da representação espacial tornase um elemento importante nesse processo visto que o protagonismo na representação do lugar e do território onde se vive e a negação de assimilar ou engolir representações distantes e desvin culadas dos próprios interesses são um fator de superação da alienação imposta pela ideologia hegemônica que nos confi gura Assumir a autoria da representação do espa ço onde se vive é um fator importante para as lutas enraizadas no lugar Em suma é outro fator importante para o estabelecimento de uma consciência geográfi ca1 Os alunos da Educação Básica ou quaisquer outros indivíduos independentemen te de já terem estudado Geografi a ou não possuem uma determinada consciência espacial Nesse âmbito o papel do geógrafoprofessor como representante do co nhecimento científi co do espaço não deve estar pautado na negação da consciência subjetiva do espaço presente nos alunos ou em qualquer outra pessoa Pelo contrário considerando que a teoria e as práticas geográfi cas podem iluminar a consciência individual devemos valorizála como ponto de partida para o desenvolvimento de práticas pedagógicas signifi cativas Para além da sala de aula o conhecimento geográ fi co pode permitir ao indivíduo planejar ações e reações sobre o espaço com o intuito 1 Considerando a relevância da representação do espaço em um processo de educação geográfi ca dedi caremos mais adiante um capítulo para discutir esse tema e sua importância para a formação integral das crianças do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental 21 de transformálo de acordo com suas necessidades ou interesses Como afi rma Moraes 1986 p 43 Na medida em que se aceita que os homens agem movidos por suas consciên cias sem negar toda a carga de determinações históricosociais presentes nessa ação a questão da subjetividade emerge com importância na explicação do movimento das sociedades A produção da história poderseia dizer passa pelas formas pelas quais os homens se vêem no mundo pelos seus valores suas crenças e concepções Enfi m também pelo fl uído mundo das representa ções O fl uir da história se manifesta enquanto cotidianidade para seus agentes concretos Por isso o fator subjetivo não pode ser desprezado Claro que sua apreensão não se dará na ótica do subjetivismo O trabalho pedagógico do professor de Geografi a deve proporcionar aos alunos portanto a construção de uma consciência geográfi ca A atividade pedagógica ilu minada pela teoria geográfi ca e por sua compreensão qualifi cada deve conduzir os alunos a uma consciência espacial cada vez mais concreta ou seja a uma síntese de múltiplas determinações Entendemos que esse conhecimento pode subsidiar a ação dos alunos no lugar onde vivem e da sociedade de maneira geral Pensar o ensino de Geografi a como um processo de educação geográfi ca como aqui estamos propondo tem implicações diretas tanto nas práticas de sala de aula como nos processos de formação do professor Avancemos então na compreensão da importância da Geografi a no currículo escolar e suas implicações na prática pedagógi ca dos professores responsáveis por ministrálo EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA SOBRE OS OBJETIVOS E PROPÓSITOS DO ENSI NO DE GEOGRAFIA NO CURRÍCULO ESCOLAR A Geografi a recebe dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs um tratamento específi co como área ou seja admitese que possui como as demais áreas que com põem esse currículo uma identidade própria e é por esse olhar mais específi co que se deve considerar os diversos conteúdos por ela trabalhados e os objetivos a eles vin culados A Geografi a propala esse documento oferece instrumentos essenciais para a compreensão e intervenção na realidade social BRASIL 1998 Por um lado os objetivos a serem alcançados pela Geografi a no primeiro e se gundo ciclos do Ensino Fundamental são compartilhados com as demais disciplinas e podem estar ligados às questões vividas pela comunidade na qual a escola está inseri da ou expressos no projeto pedagógico da instituição escolar Ou seja os conteúdos de Geografi a como os demais devem somar esforços na tarefa maior de formação geral e integral dos educandos Por outro lado os conteúdos da disciplina Geografi a desempenham um papel particular têm uma função específi ca que precisa ser bem compreendida pelo professor O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 22 Nesse sentido com base na natureza e na epistemologia dessa disciplina no currí culo escolar entendemos que os saberes que devem orientar sua atividade profi ssional são constituídos em grande medida pelo trabalho com atividades didáticopedagógi cas próprias desse campo disciplinar Ou seja devem estar alicerçados nos conceitos e procedimentos mais importantes e centrais que caracterizam essa disciplina escolar e a ciência de referência Cabe ao professor encaminhar atividades que proporcionem aos alunos a oportunidade de se apropriarem dos conteúdos procedimentos e das habilidades sui generis próprios ou específi cos dessa área do currículo escolar Podemos observar ao examinar a literatura preocupada voltada para o ensino de Geografi a a preocupação latente dos pesquisadores dessa área em delimitar e expli citar os objetivos e o papel que essa disciplina deve exercer no currículo escolar Na análise dessa literatura sobretudo a mais recente que trata do ensino de Geografi a é comum a utilização de expressões correlatas como educação geográfi ca consciên cia espacial alfabetização espacial olhar espacial alfabetização geográfi ca leitura geográfi ca do mundo raciocínio geográfi co pensar geográfi co pensamento lógico espacial imaginação geográfi ca entre outras Ao utilizar tais expressões seus auto res estão buscando exatamente concretizar a identidade e a função da disciplina de Geografi a na Educação Básica Atentam com muita propriedade para a necessidade e importância de se considerar o domínio da dimensão espacial na organização da vida humana e do potencial educativo político e estratégico da Geografi a no diaadia dos alunos dos professores e da sociedade de maneira geral A ideia da necessidade e relevância de uma educação geográfi ca permite no interior de uma lógica conceitualmente incorporadora unir sem o estabelecimento de hierarquias de importância o conteúdo geográfi co e seu sentido pedagógico Leiamos com atenção por exemplo um pequeno excerto da professora Lana Sou za Cavalcanti A autora como poderemos observar está preocupada em reafi rmar e explicar a importância do ensino de Geografi a para a formação geral de cidadãos Ela enuncia Na relação cognitiva de crianças jovens e adultos com o mundo o raciocínio espacial é necessário pois as práticas sociais cotidianas têm uma dimensão es pacial Os alunos que estudam essa disciplina já possuem conhecimentos nessa área oriundos de sua relação direta e cotidiana com o espaço vivido Sendo assim o trabalho de educação geográfi ca é o de ajudar os alunos a analisarem esses conhecimentos a desenvolverem modos do pensamento geográfi co a in ternalizarem métodos e procedimentos de captar a realidade a vivida e a apre sentada pela Geografi a escolar tendo consciência de sua espacialidade Esse modo de pensar geográfi co é importante para a realização de práticas sociais variadas já que essas práticas são sempre práticas socioespaciais CAVALCANTI 2006b p 34 grifos nossos 23 Dessa forma ao consolidar sua identidade por meio do desenvolvimento de con teúdos procedimentos e habilidades característicos desse campo a Geografi a pode marcar seu espaço no rol das disciplinas que compõem o currículo do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental e dessa maneira cumprir seu papel É preci so atentar às especifi cidades do conhecimento geográfi co e da educação geográfi ca que se quer por intermédio desse conhecimento promover Dito de outra maneira é no exercício consciente e sistemático de práticas geográfi cas escolares que em uma perspectiva crítica a Geografi a pode garantir sua legitimidade e relevância social Em decorrência é possível evitar a naturalização da disciplina e dos temas selecionados para ensinar mostrando em cada tempo e lugar para além de interesses corporativos seu valor e importância social A própria refl exão sociológica e histórica a respeito das disciplinas ou dos saberes escolares coloca em evidência esse fato FORQUIN 1992 CHERVEL 1990 GOOD SON 1990 Ensinar e aprender argumenta Forquin 1992 p 44 grifo do autor supõe esforços custos sacrifícios de toda a natureza Por isso é preciso que no sentido próprio da palavra aquilo que se ensina valha a pena O professor deve relacionarse de maneira autônoma com os conteúdos que ministra incluindo aí a visão de Geo grafi a presente no livro didático que utiliza tendo sempre em mente a importância do conhecimento geográfi co para a formação integral e cidadã do aluno Nesse sentido é importante considerar que a Geografi a escolar ou seja aquela ensinada na escola não é uma mera simplifi cação didática da ciência que lhe serve de referência a Geografi a acadêmica Tratase de um saber transformado e organizado tendo em vista os objetivos educacionais a que se destina Como registra Marechal apud PONTUSCHKA 2001b p 132 grifo nosso é importante que se considere o saber que se torna objeto de ensino na escola não é o saber universitá rio simplifi cado é um saber transformado recomposto segundo um processo que trata de dominar ao máximo evitando simplifi cações que deformam os conhecimentos ou que provocam desvios É este portanto o grande desafi o dos professores de modo geral e que quere mos seja também seu caro leitor ao longo desse curso que estamos iniciando o de transformar considerando as características dos alunos de cada nível de ensino os conhecimentos científi cos selecionados pelo currículo escolar em conhecimentos a ser ensinados O cumprimento dessa tarefa exige que o professor adquira e mobilize uma série de saberes com destaque evidentemente para o domínio dos conteúdos curriculares e das formas mais apropriadas de em um determinado contexto ensinar seus alunos A maneira de ensinar ou seja seu aspecto metodológico está condicionado como já O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 24 salientamos à natureza do conhecimento a ser ensinado Há assim uma íntima conexão entre os conteúdos de uma disciplina e os métodos que são utilizados em seu ensino Para que o raciocínio geográfi co do aluno possa ser gradativamente desenvolvido é mister que o professor se aproprie dos referenciais teóricometodológicos produzi dos pela ciência geográfi ca e que seja capaz de em uma vertente didática e pedagó gica mobilizálos ao longo de suas aulas A adequada mobilização desses referenciais pelo professor propiciará ao aluno compreender a realidade e o mundo em uma pers pectiva geográfi ca A LEITURA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO CONCEITOS E PROCEDIMENTOS GE RADORES DO RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO A leitura do espaço e a possibilidade do desenvolvimento de modos de pensar geo gráfi cos requerem que os alunos internalizem por meio de um trabalho pedagógico bem defi nido os conceitos e os procedimentos estruturadores dessa forma particular de pensar Para além de dados e informações geográfi cas sobre diferentes lugares do país e do mundo que sem dúvida são importantes é necessário que os alunos cons truam gradativamente e a partir dos conhecimentos que já possuem os conceitos cotidianos o raciocínio geográfi co A esse respeito lemos nos PCNs No que se refere ao ensino fundamental é importante considerar quais são as categorias da Geografi a mais adequadas para os alunos em relação à sua faixa etária ao momento da escolaridade em que se encontram e às capacidades que se espera que eles desenvolvam Embora o espaço geográfi co deva ser o objeto central de estudo as categorias paisagem território e lugar devem também ser abordadas principalmente nos ciclos iniciais quando se mostram mais acessí veis aos alunos tendo em vista suas características cognitivas e afetivas BRASIL 1998 p 110 grifos nossos Há certo consenso entre os pesquisadores da área do ensino de Geografi a CA VALCANTI 2006a e com eles como vimos concorda o texto extraído dos PCNs que o espaço geográfi co deve ser o objeto central de estudo dessa disciplina no currículo escolar A Geografi a preocupase assim em estudar as relações entre o proces so histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza por meio da leitura do espaço geográfi co o objeto central de estudo e da paisagem BRASIL 1998 p 109 O espaço geográfi co é o espaço onde todos nós vivemos e resulta de sucessivas ações das sociedades humanas sobre a natureza tratase de um produto da história É o homem que socialmente e por meio do trabalho produz e reproduz continuamen te o espaço geográfi co ou simplesmente o espaço Leiamos com atenção o texto do geógrafo Ruy Moreira que segue O autor compara mediante uma metáfora o espaço geográfi co a uma quadra de futsal 25 UMA QUADRA DE FUTSAL O espaço geográfi co pode ser concebido por intermédio de uma metáfora Se observarmos uma quadra de futsal o antigo futebol de salão notaremos que o arranjo do terreno reproduz as regras desse esporte Basta aproveitarmos a mesma quadra e nela superpormos o arranjo espacial de outras modalidades de esporte como o vôlei o basquete e o handball cada qual com leis próprias para notarmos que o arranjo espacial diferirá para cada uma Diferirá porque o arranjo espacial reproduz as regras do jogo e essas regras diferem para cada modalidade de esporte considerado Se fossem as mesmas leis para todas o arranjo seria um só Assim também é o espaço geográfi co com relação à sociedade O arranjo do espaço geográfi co exprime o modo de socialização da natureza Tal o modo de produção tal será o espaço geográfi co O processo de socialização da natureza pelo trabalho social ou seja a transformação da história natural em história dos homens ou da história dos homens em história natural implica uma estrutura de relações sob determinação do social E é essa estrutura complexa e em perpétuo movimento dialético que conhecemos sob a designação de espaço geográfi co Fonte MOREIRA Ruy Repensando a geografi a In SANTOS Milton Novos rumos da Geografi a brasileira São Paulo Hucitec 1982 p 35 O lugar da Geografi a nas séries iniciais está relacionado como já discutimos an teriormente à necessidade de aprender a pensar o espaço geográfi co E isso signifi ca como alega Callai 2005 p 229 criar condições para que a criança leia o espaço vivido Ou seja que compreenda por meio do trabalho geográfi copedagógico do professor a lógica da produção do espaço em que se move e vive É no trabalho simultâneo de conteúdos categorias e procedimentos que o profes sor pode favorecer a formação nos alunos de maneiras geográfi cas de observar de compreender e de agir no mundo O trecho da obra de Callai 2010 p 3233 transcrito a seguir nos permite apro fundar a compreensão do signifi cado do espaço geográfi co para a Geografi a escolar e ao mesmo tempo a importância das categorias lugar território e paisagem no desenvolvimento do raciocínio geográfi co dos alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental Tratamse de conceitos que devem ser apropriados e mobilizados pelo professor em seu trabalho cotidiano A geografi a propõe a leitura do espaço por meio do que é específi co em seu trabalho isto é o espaço construído um espaço territorializado que faz par te da vida das pessoas que é por elas construído por sua ação mas também por sua passividade sua não ação O espaço é o palco que serve de susten táculo para as ações mas ao mesmo tempo interfere possibilitando impe dindo ou facilitando estas ações Quer dizer o espaço é um território vivo E é pela paisagem que podemos fazer a leitura desse território A paisagem é O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 26 o retrato de um determinado lugar em um tempo específi co Isto quer dizer que pode se apresentar de formas variadas ao longo do tempo Além disso nossa apreensão pode não abarcar a visão de tudo pois somos seletivos e portanto nossa percepção da paisagem é sempre um processo seletivo de apreensão Sendo a paisagem o que vemos é preciso olhar para além do visível é importante buscar as motivações que deram origem à forma com que se apresenta em determinados momentos Em resumo podese dizer que a paisagem de um lugar é resultado de dados físicos que decorrem da natureza como a vegetação o relevo a hidrografi a o clima mas também de outros que são os edifi cados os prédios as ruas os caminhos as praças os monumentos os símbolos E há também a história e as diversas histórias particularizadas a memória a simbologia que expressam os sentimentos a cultura do lugar Essa cultura é a síntese é o que dá identidade É preciso conhecer este lugar e para isso há que se considerar que cada sujeito vai trabalhar com seu cotidiano ali ele conhece tudo sabe o que existe e o que falta como são as pessoas como estão organizadas as atividades como é o lugar enfi m Este é um saber do senso comum aquele que faz parte da rotina diária de vivência sabese de ver de ouvir de contar etc Exatamente neste ponto reside o aspecto fundamental deste tipo de trabalho como trabalhar o lugar sem considerálo o único sem pensar que as explicações estão todas ali e sem cair no risco de isolálo no espaço e no tempo Grifos nossos Considerando as categorias propostas pelo PCNs como elementares na compreen são do espaço geográfi co como por exemplo lugar paisagem e território e baseados na sistematização proposta por Cavalcanti apresentamos na sequência breve discus são relativa a esses conceitos Como já postulamos são conceitos fundamentais e es truturadores do raciocínio geográfi co A expressão paisagem tanto na literatura quanto em nossas relações cotidianas assume diferentes concepções Considerando as defi nições baseadas no senso comum aparece normalmente associada a um lugar esteticamente bonito e constituído de formas naturais ou seja vinculadas à natureza Na Geografi a entretanto possui um caráter específi co e desempenha um papel muito importante para o estudo e a análise do espaço geográfi co A paisagem segundo Santos 2004 p 103 é o conjunto de formas que num dado momento exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza E prossegue o autor Tudo aquilo que nós vemos o que a nossa visão alcança é a paisagem Esta pode ser defi nida como o domínio do visível aquilo que a vista abarca Não é formada apenas de volumes mas também de cores movimentos odores sons etc SANTOS 1988 p 61 Podemos de acordo com a teorização formulada por Santos afi rmar que as paisa gens são constituídas de dois tipos de elementos ou formas as naturais e as sociais ou culturais As formas naturais são resultado da dinâmica da própria natureza tais 27 como as montanhas os vales os solos os rios os oceanos etc As formas sociais ou culturais são resultado do trabalho humano tais como praças edifi cações pontes viadutos rodovias etc Quando uma paisagem ainda não foi alterada pela ação humana dizemos tratarse de uma paisagem natural Quando já sofreu um processo de transformação dizemos tratarse uma de paisagem humanizada ou cultural Nas paisagens humanizadas por tanto temos necessariamente uma integração entre formas naturais e humanas O estudo da paisagem é deste modo um ponto de partida importante para a análise e compreensão do espaço geográfi co Para além de sua materialidade ou seja suas formas a paisagem revela o conteúdo social que a produziu inclusive com suas contradições É no estudo da relação existente entre as formas a materialidade que pode ser visualizada observada e descrita e seu conteúdo a dinâmica social que a produziu e às faz suscetível às constantes transformações que podemos compreender o espaço geográfi co O estudo da paisagem não pode portanto restringirse à descrição das formas na turais ou culturais visualmente observáveis na paisagem É preciso que a análise avan ce considerando a dinâmica natural e social que as engendraram No ensino de Geo grafi a é necessário por conseguinte partir da a concepção de que os espaços têm uma forma que expressa seu conteúdo o movimento social de que a paisagem revela as relações de produção da sociedade seu imaginário social suas crenças seus valo res seus sentimentos CAVALCANTI 2006b p 39 A mediação didáticopedagógica do professor é nesse caso fundamental O esquema abaixo representado busca ilustrar o que estamos mostrando e pode ser muito útil ao trabalho pedagógico do professor Figura 3 Sitematização do conceito de Paisagem Fonte Cavalcanti 2006b p 37 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 28 O estudo da paisagem deve começar pela observação e descrição das formas que podem visualmente ser identifi cadas para em um segundo momento analisarse a dinâmica socialnatural que a produziu É preciso evitar então que esse processo se reduza apenas à observação e descrição é necessário mostrar que embora nem todos os processos sociais possam ser visualmente observados na paisagem são fundamen tais em sua compreensão É essencial considerar também que a observação da paisagem comporta elemen tos objetivos e subjetivos As diferentes percepções dos alunos sobre a mesma paisa gem devem ser consideradas pelos professores O caminho para uma compreensão objetiva da paisagem função do trabalho pedagógico do professor não nega a subjeti vidade dos alunos ao contrário é um importante ponto de partida As paisagens não são imutáveis Elas se transformam constantemente para atender às demandas da sociedade ou de parte dela que podem ser de ordem econômica cultural política etc Como os grupos ou classes que compõem uma determinada sociedade no passado presente ou no futuro não têm os mesmos interesses muitas dessas transformações ocorrem a favor de alguns grupos ou classes e em detrimento de outrosoutras A política assim é um aspecto relevante na evolução e transforma ção das paisagens A título de exemplo podemos citar a recente 2010 derrubada do prédio da antiga estação rodoviária da cidade de Maringá Paraná edifi cada na década de 1960 Sua demolição foi alvo de intensa discussão pública e disputa judicial que envolveu o poder público os concessionários das antigas lojas que lá funcionavam os empreen dedores imobiliários pessoas ligadas à preservação do patrimônio histórico e a so ciedade em geral No fi nal predominou o interesse do atual governo municipal e o prédio foi demolido Sua retirada mudou sensivelmente a paisagem do centro da cidade Atualmente no lugar do antigo edifício há um estacionamento e no futuro deve ser construído um edifício de grande porte Para alguns a ausência do prédio provoca um sentimento de saudade de perda e para outros uma oportunidade de lucros baseados em empreendimentos imobiliários Os seres humanos são nos dias atuais os principais agentes da transformação das paisagens mas a dinâmica da natureza também produz sensíveis modifi cações Toda via normalmente salvo eventos de grande dimensão como terremotos maremotos atividade vulcânica etc as transformações provocadas pela própria natureza são mais lentas e menos perceptíveis na paisagem O conceito de lugar como podemos verifi car na Figura 4 está relacionado à ideia de local e referese àquelas porções do espaço com as quais temos familiaridade com os quais estabelecemos em diversos níveis uma relação de afetividade É a porção do 29 espaço onde se travam portanto nossas relações cotidianas O lugar é na acepção de Carlos 1996 p 20 a porção do espaço apropriável para a vida a rua onde mora mos nosso bairro a praça de convivência e lazer nosso quintal Figura 4 Sistematização do conceito de lugar Fonte Cavalcanti 2006b p 37 Embora os lugares sejam percebidos na esfera do cotidiano e com os quais de al guma forma nos identifi camos as relações que se travam em seu interior são cada vez mais nesses tempos de mundialização da economia infl uenciadas por fatos e ocorrên cias dos mais variados pontos do planeta O lugar é por conseguinte o habitual da vida cotidiana mas por outro lado também é por onde se concretizam relações e processos globais O lugar produzse na relação do mundial com o local que é ao mesmo tempo a possibilidade de manifestação do global e de realização de resistências à globalização CAVALCANTI 2006b p 36 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 30 O LUGAR E OS ATOS INDIVIDUAIS Os indivíduos agem e se locomovem num determinado espaço e tempo Em relação aos indivíduos o espaço é o lugar e o tempo é o cotidiano que regula as horas de trabalho de locomoção de sono de lazer etc O lugar é o espaço do vivido sentido pensando e apropriado pelo corpo portanto o bairro ou a cidade pequena e interiorana O lugar é o espaço onde os indivíduos e grupos sociais resistem às mudanças às forças da desagregação familiar aos processos de transformação á medida que reafi rmam os valores da cultura tradicional É nesse espaço que ainda encontramos a diferença e a originalidade porque há resistência ao processo de homogeneização Por outro lado há lugares em que a cultura tradicional é extremamente atuante submetendo a manifestação da individualidade ao consenso grupal O processo de globalização tende a diminuir as diferenças entre os indivíduos e os grupos sociais O desenvolvimento tecnológico os meios de comunicação ligando todos os pontos do planeta impõem os mesmos gostos o consumo dos mesmos produtos o que resulta numa homogeneização da cultura As paisagens das grandes metrópoles são muito semelhantes assim também os indivíduos que animam e lhe dão vida pois se vestem de forma semelhante gostam das mesmas comidas dos mesmos fi lmes ou dos mesmos heróis em quadrinhos Apesar disso é principalmente nas grandes metrópoles que os indivíduos encontram o espaço para a realização de seus desejos e sonhos permitindo o fl orescer da individualidade Fonte PITTE JR Org Geografi a a natureza humanizada São Paulo FTD 1998 p 234 O conceito de território por sua vez vinculase diretamente à ideia de poder Figura 5 É comum falarse então de território nacional território de um muni cípio ou estado território indígena território do narcotráfi co território da ação de uma determinada gangue urbana território de ação de uma empresa etc Em cada um deles como ensinam Moreira e Sene 2002 p 16 há relações de poder de posse ou de domínio e vigoram determinadas regras ou leis Essas leis podem ser institucionais criadas pelo Estado ou reconhecidas informalmente pela sociedade não estão escritas mas todos as conhecem Em um país por exemplo é o Estado representado pelas autoridades constituídas que é o responsável pela gestão e proteção do território Não raramente as estratégias de ocupação dos territórios seja por poderes nacionais constituídos sejam por diferentes grupos sociais pessoas ou organizações se atritam e podem gerar confl itos O território se revela assim como um campo de forças em que são estabelecidos limites e fronteiras O território relacionase também à semelhança do conceito de lugar à ideia de identidade e nesse sentido indica a porção do espaço ao qual uma pessoa ou um grupo social tem a sensação de pertencer O território defi nese então pela posse e pelo sentimento de pertença a um determinado espaço 31 Figura 5 Sistematização do conceito de território Fonte Cavalcanti 2006b p 37 Logo é importante trabalhar com esse conceito levandose em consideração os diferentes territórios em que se movem e vivem os alunos No ensino devemos consi derar como assinala Cavalcanti 2006b p 41 o que pensam os alunos sobre o conceito Observase pela experiência que muitas crianças e jovens o associam a um espaço legalmente constituído como os espaços nacionais como os países Mas por outro lado quando eles pensam em seu espaço cotidiano apontam território com um lugar ocupado no qual al guém tem a propriedade Por exemplo este é o meu território ali é o território de alguém é quando o espaço tem um dono De fato na prática cotidiana de jovens e crianças estão muito presentes os territórios nas brincadeiras nas ruas nos espaços públicos e até mesmo nos privados suas práticas vão tomando uma dinâmica que requer defi nições territoriais muitas vezes explícitas Em relação aos procedimentos básicos ou os modos de operar da Geografi a é importante desenvolver no aluno habilidades de localização orientação representa ção observação descrição análise síntese explicaçãolevantamento de hipóteses e representação É fundamental assim que o professor crie e planeje situações nas quais os alunos possam conhe cer e utilizar esses procedimentos A observação descrição experimentação analogia e síntese devem ser ensinadas para que os alunos possam aprender a explicar compreender e até mesmo representar os processos de construção do espaço e dos diferentes tipos de paisagens e territórios Isso não signifi ca que os procedimentos tenham um fi m em si mesmos observar descrever experimen tar e comparar servem para construir noções espacializar os fenômenos levan tar problemas e compreender as soluções propostas enfi m para conhecer e O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 32 começar a operar com os procedimentos e as explicações que a Geografi a como ciência produz BRASIL 1998 p 115116 Evidentemente alguns desses procedimentos só podem ser desenvolvidos com o auxílio do professor já que as crianças dos primeiros e dos segundos ciclos do Ensino Fundamental ainda têm pouca autonomia Entretanto a partir de sucessivas aproxima ções e com a mediação didáticapedagógica do professor os alunos deverão gradati vamente se apropriarem dos procedimentos observação descrição representação etc e daqueles conceitos espaço paisagem lugar território que articulados são cruciais para o desenvolvimento do raciocínio geográfi co aqui já destacado TEXTO COMPLEMENTAR UMA NECESSIDADE EPISTEMOLÓGICA A DISTINÇÃO ENTRE PAISAGEM E ESPAÇO Paisagem e espaço não são sinônimos A paisagem é o conjunto de formas que num dado momento exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza O espaço são essas formas mais a vida que as anima A palavra paisagem é freqüentemente utilizada em vez da expressão confi guração territorial Esta é o conjunto de elementos naturais e artifi ciais que fi sicamente caracterizam uma área A rigor a paisagem é apenas a porção da confi guração territorial que é possível abarcar com a visão Assim quando se fala em paisagem há também referência à confi guração territorial e em muitos idiomas o uso das duas expressões é indiferente A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais concretos Nesse sentido a paisagem é transtemporal juntando objetos passados e presentes uma construção transversal O espaço é sempre um presente uma construção horizontal uma situação única Cada paisagem se caracteriza por uma dada distribuição de formasobjetos providas de um conteúdo técnico específi co Já o espaço resulta da intrusão da sociedade nessas formasobjetos Por isso esses objetos não mudam de lugar mas mudam de função isto é de signifi cação de valor sistêmico A paisagem é pois um sistema material e nessa condição relativamente imutável o espaço é um sistema de valores que se transforma permanentemente O espaço uno e múltiplo por suas diversas parcelas e através do seu uso é um conjunto de mercadorias cujo valor individual é função do valor que a sociedade em um dado momento atribui a cada pedaço de matéria isto é cada fração da paisagem O espaço é a sociedade e a paisagem também o é No entanto entre espaço e paisagem o acordo não é total e a busca desse acordo é permanente essa busca nunca chega a um fi m A paisagem existe através de suas formas criadas em momentos históricos diferentes porém coexistindo no momento atual No espaço as formas de que se compõe a paisagem preenchem no momento atual uma função atual como resposta às necessidades atuais da sociedade Tais formas nasceram sob diferentes necessidades emanaram de sociedades sucessivas mas só as formas mais recentes correspondem a determinações da sociedade atual Durante a guerra fria os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar da produção de um engenho a bomba de nêutrons capaz de aniquilar a vida humana em uma dada área mas preservando todas as construções O Presidente Kennedy afi nal renunciou a levar a cabo esse projeto Senão o que na véspera seria ainda o espaço após a temida explosão seria apenas paisagem Não temos melhor imagem para mostrar a diferença entre esses dois conceitos Fonte SANTOS Milton A Natureza do espaço São Paulo EDUSP 1996 p 103106 33 Referências BRABANT J M Crise da Geografi a crise da escola In OLIVEIRA A U Org Para onde vai o ensino de Geografi a 4 ed São Paulo Contexto 1994 p 1523 BRASIL Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros curriculares nacionais Geografi a Brasília DF MEC 1998 CALLAI H C Aprendendo a ler o mundo a Geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental In CASTELLAR S M V Org Educação geográfi ca e as teorias de aprendizagens Cadernos Cedes Campinas SP v 25 n 66 p 227247 2005 CALLAI H C O ensino de Geografi a recortes espaciais para análise In CASTROGIOVANNI et al Org Geografi a em sala de aula prática refl exões Porto Alegre RS Editora da UFRGS 2001b p 5763 CALLAI H C Escola cotidiano e lugar Brasília DF Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica 2010 Coleção explorando o ensino Geografi a v 22 CALLAI H C A Geografi a e a escola muda a Geografi a Muda o ensino Terra Livre São Paulo n 16 p 133152 2001a CALLAI H C Projetos interdisciplinares e a formação do professor em serviço In PONTUSCHKA N N OLIVEIRA A O Org Geografi a em perspectiva São Paulo Contexto 2002 p 255259 CARLOS A F O lugar nodo mundo São Paulo Hucitec 1996 CARVALHO M I Fim de século a escola e a Geografi a 2 ed Ijuí RS Ed Unijuí 2004 CASTELLAR S M V Org Educação geográfi ca teorias e práticas docentes São Paulo Contexto 2005a CASTELLAR S M V Org Educação geográfi ca e as teorias de aprendizagens Cadernos Cedes Campinas SP v 25 n 66 p 129272 2005b O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 34 CAVALCANTI L S Bases teóricometodológicas da Geografi a uma referência para a formação e a prática de ensino In CAVALCANTI L S Org Formação de professores concepções e práticas em Geografi a Goiânia Vieira 2006b p 2749 CAVALCANTI L S Geografi a escola e construção de conhecimentos 9 ed Campinas SP Papirus 2006a CAVALCANTI L S Geografi a e práticas de ensino Goiânia Alternativa 2002 CAVALCANTI L S A prática docente em Geografi a contextos e sujeitos In ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO 12 2004 Curitiba Anais eletrônicos Curitiba PUCPR 2004 CHERVEL A História das disciplinas escolares refl exões sobre um campo de pesquisa Teoria Educação Porto Alegre n 2 p 177229 1990 ESCOLAR M Crítica do discurso geográfi co São Paulo Hucitec 1996 FORQUIN J C Saberes escolares imperativos didáticos e dinâmicas sociais Teoria Educação Porto Alegre n 5 p 2849 1992 FOUCHER M Lecionar a Geografi a apesar de tudo In VESENTINI J W Org Geografi a e ensino textos críticos Campinas SP Papirus 1989 p 1329 GOODSON I Tornandose uma matéria acadêmica padrões de explicação e evolução Teoria Educação Porto Alegre n 2 p 231254 1990 LANDER E Org A colonialidade do saber Buenos Aires Clacso 2005 MORAES A C R Capitalismo Geografi a e meio ambiente 2000 Tese Livre DocênciaDepartamento de Geografi a Faculdade de Filosofi a Letras e Ciências Humanas USP São Paulo 2000 MORAES A C R Historicidade consciência e construção do espaço notas para um debate In BARRIOS S et al A construção do espaço São Paulo Nobel 1986 p 3350 35 MORAES A C R COSTA W M A valorização do espaço São Paulo Hucitec 1984 MOREIRA R Repensando a Geografi a In SANTOS Milton Novos rumos da Geografi a brasileira São Paulo Hucitec 1982 MOREIRA J C SENE E Geografi a para o ensino médio São Paulo Scipione 2002 PITTE J R Coord A natureza humanizada São Paulo FTD 1998 PONTUSCHKA N N O conceito de estudo do meio transformase em tempos diferentes em escolas diferentes com professores diferentes In VESENTINI J W O ensino de Geografi a no século XXI Campinas SP Papirus 2004 p 249288 PONTUSCHKA N N A formação inicial do professor de Geografi a In PICONEZ I C B Coord A prática de ensino e o estágio supervisionado 6 ed Campinas SP Papirus 2001a p 101124 PONTUSCHKA N NA Geografi a ensino e pesquisa In CARLOS A F Org Novos caminhos da Geografi a São Paulo Contexto 2001b p 111142 PONTUSCHKA N N Geografi a representações sociais e escola pública Terra Livre São Paulo n 15 p 145154 2000 PONTUSCHKA N N O perfi l do professor e o ensinoaprendizagem da Geografi a Cadernos Cedes Ensino de Geografi a Campinas SP n 39 p 5763 1996 PONTUSCHKA N N PAGANELLI T I CACETE N H Para ensinar e aprender Geografi a São Paulo Cortez 2007 SANTOS M O espaço do cidadão 3 ed São Paulo Nobel 1993 SANTOS M Metamorfoses do espaço habitado fundamentos teóricos e metodológicos da Geografi a São Paulo Hucitec 1988 SANTOS M A natureza do espaço técnica e tempo razão e emoção 4 ed São Paulo Edusp 2004 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 36 SILVA J L B O que está acontecendo com o ensino de Geografi a primeiras impressões In PONTUSCHKA N N OLIVEIRA A O Org Geografi a em perspectiva São Paulo Contexto 2002 p 313322 SILVA J L B Formação de professores de Geografi a e suas abordagens didáticas In ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA 7 2005 Dourados MS Anais eletrônicos Dourados MS UFMS 2005 SIMIELLI M E R Cartografi a no ensino fundamental e médio In CARLOS A F A Org A Geografi a na sala de aula São Paulo Contexto 2001 p 92103 Proposta de Atividades 1 Considerando o fragmento de texto do geógrafo Milton Santos 1993 p 81 e as ilustra ções que se seguem responda Cada homem vale pelo lugar onde está o seu valor como produtor consumi dor cidadão depende de sua localização no território Seu valor vai mudando incessantemente para melhor ou para pior em função das diferenças de aces sibilidade tempo freqüência preço independentes de sua própria condição Pessoas com as mesmas virtualidades a mesma formação até mesmo o mesmo salário têm valor diferente segundo o lugar em que vivem as oportunidades não são as mesmas Por isso a possibilidade de ser mais ou menos cidadão de pende em larga proporção do ponto do território onde se está Enquanto um lugar vem a ser condição de sua pobreza um outro lugar poderia no mesmo momento histórico facilitar o acesso àqueles bens e serviços que lhe são teori camente devidos mas que de fato lhe faltam Figura 6 Disponível em httpwacandidoblogspotcom201010 desigualdadesocialnobrasilhtml Acesso em 26 set 2016 37 Figura 7 Disponível em httpwacandidoblogspotcom201010 desigualdadesocialnobrasilhtml Acesso em 26 set 2016 a Qual relação é possível de ser estabelecida entre o texto e as duas paisagens b Considerando a leitura das paisagens retratadas nas ilustrações explique a seguinte frase do autor Cada homem vale pelo lugar onde está o seu valor como produtor consumidor cidadão depende de sua localização no território c Qual o sentido atribuído pelo autor ao território d A Geografi a pode contribuir para a construção da cidadania Explique 2 As paisagens geográfi cas estão retratadas em inúmeros artefatos da cultura como por exemplo a poesia a literatura e as artes de modo geral Leia o poema que segue e respon da às questões propostas A RUA DIFERENTE Na minha rua estão cortando árvores botando trilhos construindo casas Minha rua acordou mudada os vizinhos não se conformam Só minha fi lha goza o espetáculo e se diverte com os andaimes à luz da solda autógena e o cimento escorrendo nas formas Andrade Carlos Drummond de Sentimentos do mundo 6 ed Rio de Janeiro Record 1998 p 28 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 38 a O que signifi ca dizer em linguagem geográfi ca Na minha rua estão cortando árvores bo tando trilhos construindo casas b Quais os conceitos geográfi cos que devemos mobilizar para interpretar geografi camente o poema c Por que em contraposição à desolação dos vizinhos a fi lha do poeta goza do espetáculo Situações como a retratada no poema são estranhas ao lugar onde você mora Anotações 39 Anotações O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 40 Anotações 41 O trabalho do professor na organização de práticas de educação geográfi cas1 Claudivan Sanches Lopes Após a leitura do primeiro capítulo deste livro é possível compreendermos o tra balho pedagógico do professor com os conteúdos da disciplina Geografi a como um grande esforço que consiste na organização e na promoção de atividades que aninha das no currículo escolar mas em íntima conexão com os conteúdos dessa disciplina possibilitem ao aluno exercitar seu raciocínio espacial e desenvolver sua consciência geográfi ca Tratase de uma educação com caráter prospectivo e propiciadora de prá xis Se concretizada seria lícito falar de uma educação genuinamente geográfi ca que muito perto da vida do aluno poderia contribuir para que este compreenda melhor o seu bairro sua cidade seu país em suma sua vida que muitas vezes é extremamente desfavorecida pela realidade socioespacial Pode colaborar para que o aluno compreen da progressivamente sob a perspectiva geográfi ca o mundo e a si mesmo ou seja que se aproprie e desenvolva de maneira crítica um olhar geográfi co sobre o mundo Con tudo vale repetir que o professor precisa considerar que o aluno já é portador de uma determinada consciência geográfi ca e que esta deve ser enriquecida e não afrontada com a teoria objetiva ou científi ca que o professor manipula em seu trabalho Quais saberes podem subsidiar o professor de Geografi a nesse audacioso em preendimento Como ensinar Geografi a a crianças no início de seu processo de for mação Como a Geografi a pode contribuir para a formação das crianças do primeiro e segundo ciclos no Ensino Fundamental 1 Este texto é uma versão adaptada de parte da tese de doutorado do autor intitulada O profes sor de Geograf a e os saberes prof ssionais o processo formativo e o desenvolvimento da prof ssionali dade defendida junto à FFLCHUSP em 2010 2 Geografi a Metodologia do Ensino 42 Ao considerar no âmbito de um projeto educativo maior a importância de uma educação geográfi ca é mister que o professor detenha um determinado saber que lhe permita mostrar aos alunos o contributo científi co e educacional da teoria geográfi ca no esforço dos seres humanos em compreender o mundo e de forjar instrumentos para nele poder agir Conclusivamente a resposta para a pergunta para que ensinar Geografi a deve estar sufi cientemente bem resolvida pelo professor O conteúdo seria assim um meio e não um fi m uma lente para fornecer aos alunos a possibilidade de por meio dos conceitoschave espaço natureza sociedade paisagem lugar território região e procedimentos localização observação registro descrição análise síntese etc trabalhados pela Geografi a realizar uma leitura crítica do mundo e nele poder atuar com autonomia É muito oportuna e ilustrativa a refl e xão de Saviani 2007 p 62 um geógrafo uma vez que tem por objetivo o esclarecimento do fenômeno geográfi co encara a Geografi a como um fi m Para o professor de Geografi a entretanto o objetivo é outro é a promoção do homem no caso o aluno A Geografi a é apenas um meio para chegar àquele objetivo Desta forma o con teúdo será selecionado e organizado de modo a atingir o resultado pretendido Isto explica porque nem sempre o melhor professor de Geografi a é o geógrafo o que pode ser generalizado nos seguintes termos nem sempre o melhor pro fessor de determinada ciência é o cientista respectivo Pedimos desculpas pela obviedade da afi rmação para que o aluno possa exercitar o raciocínio espacial e alcançar gradativamente certa consciência espacial uma edu cação geográfi ca é necessário que primeiro esse processo ocorra no professor ou seja é preciso que o professor disponha dos meios para realizála É forçoso que para além do conteúdo em si mesmo o professor domine um conhecimento geográfi co para ensinar Vislumbramos aqui o saber especial ou distintivo da atividade profi ssio nal docente o domínio de um conhecimento transformado e preparado para ser en sinado Logo como observa Marechal apud PONTUSCHKA 2001b p 132 é preciso problematizar os conhecimentos que servem de referência para o saber a ser ensinado O saber deve ser bem compreendido como um constructo em contínua constituição e redefi nição entendido como um produto histórico elaborado O docente de Geografi a deve ser capaz de mostrar como esse saber inscrevese em uma problemática bem defi nida O mais importante no trabalho educativo não é o fato de o professor estar por dentro da última notícia da última novidade Para além do acesso às informações disponíveis nos meios de comunicação é necessário que o docente se aproprie do aparato conceitual que lhe permita compreender as notícias criticálas discernilas Entendemos que os alicerces da ciência de referência devem ser bem fi ncados no 43 processo formativo São esses alicerces as categorias de base da Geografi a que propiciam o desenvolvimento do raciocínio geográfi co e não o simples acesso aos noticiários ou aos resultados das últimas pesquisas da academia Qual seria então a função do professor durante as aulas de Geografi a Poderíamos dizer em uma breve formulação que sua função mais específi ca é considerando o nível de desenvolvimento cognitivo de seus alunos organizar práticas de educação geográfi cas que possibilitem ao educando desenvolver raciocínios geográfi cos visan do à construção de uma determinada consciência geográfi ca Buscase mais ampla mente contribuir para o desenvolvimento do pensamento autônomo do educando e para o favorecimento do agir cidadão no mundo Tratase considerando a idade dos educandos nos primeiros ciclos de um passo importante para futuras aprendizagens propiciadoras de pensamentos e ações mais amplas e complexas Considerando o trabalho de Lopes 2010 e Lopes e Pontuschka 2011 podemos sintetizar do seguinte modo os saberes que podem guiar os professores na organiza ção de práticas de educação geográfi cas signifi cativas aos alunos nos diversos níveis de ensino Figura 1 Conhecimentos implicados na organização de Práticas de Educação Geográfi cas Fonte GessNewsome 1999 apud Lopes 2010 p 178 O conhecimento disciplinar geográfi co e de disciplinas afi ns referese ao conhe cimento das estruturas do conhecimento geográfi co de seus principais conceitos e temas dos procedimentos de pesquisa de suas especifi cidades de suas relações com outras ciências e ainda de seus propósitos no currículo escolar São adquiridos pelo estudo e análise crítica da produção científi ca formal na área e de documentos ofi ciais disponíveis na formação inicial e continuada O trabalho do professor na organização de práticas de educação geográfi cas Geografi a Metodologia do Ensino 44 O conhecimento pedagógico geral envolve os conhecimentos produzidos pelas ciências da educação fundamentos e valores éticos da educação que transcendem o domínio de um campo disciplinar adquiridos semelhantemente ao conhecimento disciplinar pelo contato e exame crítico com ada literatura especializada O conhecimento do contexto da ação educativa reportase ao conhecimento das características dos alunos e do contexto sociogeográfi co em que desenvolve seu traba lho comunidade escolar bairro cidade estado país de suas vivências e experiências geográfi cas em sua necessária interdependência com o espaço global É adquirido pelo contato com a literatura especializada e pelo exame do contexto onde realiza seu trabalho O conhecimento pedagógico geográfi co CPG é uma criação dos próprios profes sores no âmbito de sua prática profi ssional SHULMAN 2005a 2005b LOPES 2010 LOPES PONTUSCHKA 2011 A elaboração e o desenvolvimento do CPG se realizam por meio de um processo complexo que consiste na qualifi cação do conhecimento geográfi co e de ciências afi ns que o professor possui É esse domínio qualifi cado do conhecimento geográfi co um conhecimento preparado para o ensino que podería mos defi nir como o conhecimento profi ssional de excelência do professor O CPG é um tipo saber que é confi gurado e reconfi gurado na experiência profi s sional porquanto sua elaboração leva em conta necessariamente as características daqueles que estão aprendendo bem como as condições particulares da escola e dos alunos que a frequentam Tratase de um tipo de conhecimento profi ssional que se manifesta concretamente nos exem plos analogias exercícios atividades metáforas ilustrações demonstrações etc potencialmente esclarecedores que os professores utilizamdesenvolvem em sala de aula com o propósito de tornar os conteúdos interessantes acessí veis e úteis aos alunos LOPES 2010 A tarefa de ensinar Geografi a exige que o professor domine simultânea e integra damente seus temas e conteúdos sua signifi cância social seu sentido pedagógico e as formas mais adequadas de em um determinado contexto representálos aos alunos Na prática real dos professores portanto pedagogia e conhecimentos específi cos nes se caso geográfi cos nunca se separam LOPES 2010 LOPES PONTUSCHKA 2011 Essa vertente implica diretamente na defi nição do ser professor de Geografi a no processo formativo desse professor e na constituição dos saberesconhecimentos de base para o exercício de sua profi ssionalidade Com efeito a imagem do professor como simples passador ou repassador de conteúdos científi cos produzidos na esfera acadêmica é veementemente questionada O trabalho do professor ganha relevo por que é dele a tarefa de no interior de uma comunidade profi ssional e de uma tradição 45 disciplinar transformar mediante uma ação complexa o conhecimento científi co em conhecimento a ser ensinado Podemos identifi car nesse ângulo de visão o saber distintivo do ofício docente a capacidade sempre em contínuo processo de desenvol vimento de tornar acessível a todos os alunos o conhecimento geográfi co historica mente acumulado pela sociedade humana Referências GESSNEWSOME J LEDERMAN N G Examining pedagogical content knowledge the construct and its implications for science teaching Dordrecht Kluwer 1999 LOPES C S O professor de Geografi a e os saberes profi ssionais o processo formativo e o desenvolvimento da profi ssionalidade 2010 Tese Doutorado em Geografi a HumanaUSPFFLCH São Paulo 2010 Disponível em wwwtesesusp br Acesso em 26 set 2016 LOPES C S PONTUSCHKA N N Mobilização e construção de saberes na prática pedagógica do professor de Geografi a Geosaberes Fortaleza CE v 2 n 3 p 88 104 2011 Disponível em wwwgeosaberesufcbr Acesso em 27 ago 2016 PONTUSCHKA N N A Geografi a ensino e pesquisa In CARLOS A F Org Novos caminhos da Geografi a São Paulo Contexto 2001b p 111142 SAVIANI D Educação do senso comum à consciência fi losófi ca 17 ed Campinas SP Autores Associados 2007 SHULMAN L S El saber y entender de la profesión docente Estúdios Públicos Santiago Chile n 99 p 195224 2005a SHULMAN L S Conocimiento y enseñanza fundamentos de la nueva reforma Profesorado Revista de Currículum y Formación del Profesorado Granada España ano 9 n 2 p 130 2005b Disponível em httpswwwugresrecfpro rev92ART1pdf Acesso em 27 set 2016 O trabalho do professor na organização de práticas de educação geográfi cas Geografi a Metodologia do Ensino 46 Referências 1 A fi gura a seguir ilustra paisagens de um mesmo lugar fi ctício em diferentes momentos históricos Considerando os conhecimentos adquiridos elabore um texto didático apro priado a alunos dos primeiros e segundos ciclos do Ensino Fundamental com o título a atividade humana constrói e reconstrói o espaço geográfi co continuamente Ilustração de Paulo Henrique Lopes e Estevão Pastori Garbin 47 3 As propostas curriculares ofi ciais para o ensino da geografi a nas sériesanos iniciais Cleres do Nascimento Mansano Nos anos de 1980 instaurase no Brasil um novo período político ou seja o retor no da democracia e no campo educacional iniciamse discussões sobre novas práticas pedagógicas Em especial no ensino de Geografi a ocorre a discussão sobre o conteú do e a forma de ensino escolar pois a prática pedagógica geográfi ca realizada de forma tradicional de memorização não satisfazia as necessidades educacionais e os anseios da sociedade Era necessária uma Geografi a que desse conta não só da observação descrição e nomenclaturas mas também crítica que buscasse soluções e que fosse ao encontro das situaçõesproblemas vivenciadas na atualidade No contexto da redemocratização do país a Constituição Federal BRASIL 1988 abre espaço para que as refl exões relativas à educação saíssem do papel e se tornassem aplicáveis Já nos anos de 1990 no Brasil apresentamse novas propostas pedagógicas ofi ciais como a Lei 939496 BRASIL 1996 e os Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs No campo educacional do Paraná é elaborado o Currículo Básico para as Es colas Públicas do Estado do Paraná em 1990 e no ano de 2006 o Estado apresenta seu novo documento as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná DCEs o qual foi reformulado em 2008 Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados pela Secretaria de Educa ção Fundamental do Ministério da Educação MEC publicados em meados da década de 1990 resultado de meses de trabalho e de discussão empreendidos por especialis tas e educadores de todo o país O documento explicita a proposta de reorientação curricular para o Ensino Funda mental e é divido em ciclos iniciais 1º e 2º e fi nais 3º e 4º É organizado em diversos Geografi a Metodologia do Ensino 48 volumes o introdutório os referentes às diversas Áreas de Conhecimento escolar um que trata da interdisciplinaridade e outro dos Temas Transversais que envolvem questões sociais relativas à Ética Saúde Orientação Sexual Meio Ambiente Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural O 5º volume corresponde à História e Geografi a e sua capa é reproduzida abaixo Figura 1 Parâmetros Curriculares Nacionais5º volume Fonte BRASIL1997 Essa coleção contempla as ciências escolares e contém um parâmetro para o ensi no ou seja não é uma camisa de força a qual o professor é obrigado a nortear toda sua ação docente mas são caminhos que auxiliam as práticas pedagógicas oferecendo instrumentos essenciais para a compreensão e intervenção na realidade social BRA SIL 1997 p 99 Seu objetivo principal é auxiliar os professores na execução de seus trabalhos pedagógicos servindo de estímulo e apoio à refl exão sobre a prática diária ao planejamento de aulas e sobretudo ao desenvolvimento do currículo da escola contribuindo ainda para a atualização profi ssional Segundo os PCNs o papel da escola deve levar em consideração a realidade dos alunos ou seja compreender o meio em que eles vivem Desta forma a escola cria condições que garantam a todos o desenvolvimento de capacidades e a aprendiza gem de conteúdos necessários à vida em sociedade oferecendo instrumentos de com preensão da realidade e também favorecendo a participação dos alunos em relações sociais e políticas diversifi cadas e cada vez mais amplas Nesse sentido os PCNs trouxeram mudança de enfoque em relação aos conteúdos curriculares pois o conteúdo é visto como meio para os alunos desenvolverem capaci dades que lhes permitam produzir e usufruir os bens culturais sociais e econômicos Quanto os objetivos gerais de Geografi a propostos para os ciclos inicias os PCNs BRASIL 1997 p 121 ressaltam que Esperase que ao longo dos oito anos do en sino fundamental os alunos construam um conjunto de conhecimentos referentes a conceitos procedimentos e atitudes relacionados à Geografi a 49 Vejamos no quadro abaixo o resumo dos objetivos do Ensino de Geografi a ou seja o que o aluno ao fi nal dos ciclos iniciais do Ensino Fundamental deve ser capaz PCNs e os objetivos para o ensino de geografi a Objetivos de Geografi a para o Primeiro Ciclo reconhecer na paisagem local e no lugar em que se encontram inseridos conhecer e comparar a presença da natureza expressa na paisagem local reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos sociais se apropriam da natureza e a transfor mam conhecer e começar a utilizar fontes de informação escritas e imagéticas utili zando para tanto alguns procedimentos básicos saber utilizar a observação e a de scrição na leitura direta ou indireta da paisagem reconhecer no seu cotidiano os refer enciais espaciais de localização orienta ção e distância reconhecer a importância de uma ati tude responsável de cuidado com o meio em que vivem Objetivos de Geografi a para o Segundo Ciclo reconhecer e comparar o papel da so ciedade e da natureza na construção de diferentes paisagens urbanas e rurais brasileiras reconhecer semelhanças e diferenças entre os modos de vida das cidades e do campo reconhecer no lugar no qual se encon tram inseridos as relações existentes entre o mundo urbano e o mundo rural conhecer e compreender algumas das conseqüências das transformações da natureza causadas pelas ações huma nas reconhecer o papel das tecnologias da informação da comunicação e dos transportes na confi guração de paisa gens urbanas e rurais e na estruturação da vida em sociedade saber utilizar os procedimentos básicos de observação descrição registro com paração análise e síntese utilizar a linguagem cartográfi ca para representar e interpretar informações valorizar o uso refl etido da técnica e da tecnologia em prol da preservação e conservação do meio ambiente adotar uma atitude responsável em re lação ao meio ambiente conhecer e valorizar os modos de vida de diferentes grupos sociais Fonte BRASIL 1997 p 130145 Organização da autora Quanto ao conhecimento geográfi co os PCNs informam que A Geografi a es tuda as relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades hu manas e o funcionamento da natureza por meio da leitura do espaço geográfi co e da paisagem BRASIL 1997 p 109 As propostas curriculares ofi ciais para o ensino da geografi a nas sériesanos iniciais Geografi a Metodologia do Ensino 50 Quanto à interdisciplinaridade na escola é uma das práticas pedagógicas fun damentais para que o aluno construa uma aprendizagem signifi cativa para sua vida Uma das formas de se alcançar a produção do conhecimento de modo interdisciplinar é trabalhar bimestralmente elegendo temas que fazem parte do cotidiano do aluno ou de assuntos da atualidade a partir daí todas as disciplinas deverão buscar trabalhar em conjunto cada uma contribuindo com a sua especifi cidade Seria impossível esgotar as relações existentes entre as ciências contudo vislum bramos a possibilidade de lançar um novo olhar sobre as nossas práticas pedagógicas descobrindo e sendo capazes de proporcionar novos encontros entre as áreas do co nhecimento Fazenda 2001 p 2425 assevera que a interdisciplinaridade ultrapassa a fragmentação do conhecimento produzido no mundo dos humanos A interdisciplinaridade vista do ponto de vista estático compreendo pontos de ligação entre os diferentes mundos humanos do artista do poeta do mate mático do historiador do geógrafo do educador Enquanto dinâmica ultrapas saria a segmentação recupera o homem da esfacelação e mutilação do seu ser e do seu pensar fragmentados Assim na ação unifi cadora do conhecimento resgatase na dialética homemmundo a possibilidade de serem educadas as novas gerações numa outra perspectiva Logo os PCNs trabalhados de maneira adequada pelos professores de forma transversal e interdisciplinar poderão contribuir muito com o ensino signifi cativo de Geografi a Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do ParanáCBEPPR O CBEPPR 1990 foi construído em um momento em que a Pedagogia Históri co Crítica discutida por Saviani estava no auge sendo a base de sua fundamentação teórica apresentando críticas sobre o fazer pedagógico geográfi co realizado de forma tradicional com base na memorização e nomenclaturas Lembramos que quando os PCNS foram instituídos em meados de 1990 o do cumento do Paraná já estava pronto assim houve uma negação por parte do Ensino Público na aceitação do documento nacional Até mesmo houve críticas quanto a não preocupação metodológica e à fundamentação teórica dos PCNs O documento do Estado do Paraná norteava o ensino de 1º grau apresentando os conteúdos de forma seriada tratavase de um documento de cunho conteudista mas inovador Embora esse documento de 1990 tenha sido substituído pelas DCEs em 2006 ain da constituise uma base importante de consulta para o fazer pedagógico geográfi co das sériesanos iniciais e Educação Infantil pois por conta da municipalização desses níveis de ensino o novo documento não apresenta orientações mais precisas 51 O quadro a seguir reproduz os principais temas geográfi cos a serem trabalhados CONTEÚDOS PRÉESCOLA 3ª e 4ª SÉRIES O HABITAT DO HOMEM OS ELEMENTOS FORMADORES DA SOCIEDADE PARANAENSE I A superfície terrestre é o meio ambiente do homem II A escola como espaço de relações CICLO BÁSICO DE ALFABETIZAÇÃO 1ª SÉRIE 3ª SÉRIE I O meio ambiente onde vivemos II As pessoas utilizam os elementos Do meio ambiente e asseguram sua existência III As paisagens dos lugares onde vivemos IV A criança e o seu meio ambiente I O espaço do município nas suas relações com outros espaços II A atividade industrial e a transformação do espaço III A atividades primárias e as transformações do espaço 2ª SÉRIE 4ª SÉRIE I A superfície terrestre é a moradia dos seres vivos II Os grupos humanos modifi cam a superfície terrestre e criam diferentes lugares para viverem III O meio ambiente onde vivemos IV As paisagens dos lugares onde vivemos I O espaço paranaense na sua integração com outros espaços II A produção do espaço paranaense Fonte PARANÁ 1990 Organização A autora Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná DCEs As novas Diretrizes para o Ensino Básico do Paraná PARANÁ 2008 em especial na disciplina de Geografi a apresentaram mudanças signifi cativas para a prática peda gógica No entanto antes de discutirmos essas mudanças cabe refl etir sobre o quadro político do Estado do Paraná e o ensino Em 1990 tínhamos o governo Dias e suas ações refl etiamse também no campo educacional Assim foi criado um documento denominado Currículo Básico para o Estado do Paraná o qual trouxe para a prática pedagógica a discussão de uma nova Geografi a para o ensino ou seja procurou mostrar a importância de superar a Geo grafi a tradicional na escola bem como a dicotomia entre a Geografi a Física e Humana No campo educacional na década de 1990 os estudos de Saviani estavam no auge dos debates referentes ao ensino e procurouse elaborar um documento que refl etisse a sua teoria históricocrítica No início da mesma década houve mudança no campo político do Paraná e no ano de 2003 começaram os ensaios referentes às novas dire trizes e com a ideia de deixar transparecer a democracia do ensino levar para as esco las e para os professores a discussão do que é a Geografi a por que ensinar Geografi a o que ensinar em Geografi a e como ensinar Geografi a As propostas curriculares ofi ciais para o ensino da geografi a nas sériesanos iniciais Geografi a Metodologia do Ensino 52 No ano de 2006 é apresentada a versão defi nitiva das novas diretrizes O docu mento tem uma linguagem diferenciada em que no ensino de Geografi a espaço geo gráfi co é o objeto de ensino que deve ser trabalhado em quatro dimensões que são os Conteúdos Estruturantes Dimensão econômica da produção do e no espaço Geopolítica Dimensão socioambiental e Dinâmica cultural e demográfi ca Cada um dos conteúdos estruturantes desdobrase em conteúdos específi cos enfatizando que o ensino geográfi co deve possibilitar ao aluno o entendimento dos conceitos geográfi cos paisagem região sociedade lugar território e natureza Currículo de Geografia na rede municipal de ensino Com a municipalização das séries iniciais do Ensino Fundamental em meados da década de 1990 houve a necessidade de o ensino municipal construir um currículo que possibilitasse a articulação e a discussão de um currículo de Geografi a que fosse capaz de contemplar as questões locais A Rede Municipal de Ensino aponta a necessidade da construção de um currículo que atenda à realidade das escolas públicas municipais constituindose em base essen cial para todas as suas escolas direcionando a qualidade da educação a ser oferecida Referências 1 Com base na análise dos documentos ofi ciais reproduza e preencha o quadrosíntese com parativo dos PCNs CBEPPR Documento Ofi cial do seu Município e DCEsPR de acordo com o que se pede DOCUMENTO OFICIAL Objetivos Conteúdos Encaminhamentos metodológicos Avaliação PCNs 1º Ciclo 2º Ciclo CBPR 1990 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série Documento Municipal 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série DCEsPR 2008 53 Referências BRASIL Constituição 1988 Constituição da República Federativa do Brasil Brasília DF Senado 1988 BRASIL Parâmetros Curriculares Nacionais Geografi a Brasília DF MEC 1997 BRASIL Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB Lei nº 939496 Brasília DF MEC 1996 FAZENDA Ivani C Arantes Práticas interdisciplinares na escola São Paulo Cortez 2001 PARANÁ Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná Curitiba SEED 1990 PARANÁ Diretrizes Curriculares de Geografi a para a Educação Básica Curitiba SEED 2008 Anotações As propostas curriculares ofi ciais para o ensino da geografi a nas sériesanos iniciais Geografi a Metodologia do Ensino 54 Anotações 55 Representações a linguagem cartográfi ca Cleres do Nascimento Mansano Rodrigues 2002 p 46 postula que a representação é um tema inerente à curio sidade humana há séculos e que dentre as várias contribuições Jean Piaget afi rmou que as representações são constituídas pelo sujeito sendo também um produto de sua percepção Assim a linguagem cartográfi ca que é uma representação do espaço real é necessária à Geografi a e deve fazer parte processo de ensinoaprendizagem pois é uma prática pedagógica para o ensino de Geografi a sendo importante na leiturização do meio Entretanto a linguagem cartográfi ca é uma das problemáticas da prática pedagó gica do ensino de Geografi a sendo trabalhada de forma inadequada e ainda muitas vezes nem faz parte do fazer pedagógico Sobre essa problemática Almeida e Passini 2001 p 15 ressaltam que as preocu pações metodológicas devem constar do fazer pedagógico cartográfi co e questionam a alfabetização do aluno com o todo Vaise à escola para aprender a ler e a contar e por que não também para ler mapas Assim são os fazeres pedagógicos geo gráfi cos que possibilitarão a alfabetização geográfi ca do aluno e o olhar geográfi co Nesse âmbito Pezzato 2001 p 248 faz algumas considerações particularmente relacionadas ao ensino da cartografi a Para o autor a difi culdade do aluno em apreen der a cartografi a está relacionada a diversos fatores como a má formação do professor de Geografi a o fato de a Geografi a escolar ser diferenciada da Geografi a científi ca e na escola a cartografi a ser tratada como um conteúdo isolado e ainda pelo fato de muitos professores planejarem suas aulas com base no livro didático Salientamos que a importância da alfabetização cartográfi ca é possibilitar ao aluno a compreensão do espaço de vivência porque fazer a leitura cartográfi ca é compreen der a visão de mundo do outro As produções cartográfi cas mostram o jogo das rela ções das posições portanto compreender a linguagem dos mapas é compreender o jogo das relações ambientais sociais econômicas e políticas 4 Geografi a Metodologia do Ensino 56 LEITURA DA PRODUÇÃO CARTOGRÁFICA O que é um mapa E o que é ler mapas O mapa é a representação simbólica de um espaço real que se utiliza de uma linguagem semiótica complexa signos projeção e escala Ler mapas é decodifi car os símbolos para entender a sua linguagem e informarse PASSINI 1994 p 23 24 No que tange à leitura da representação cartográfi ca Oliveira 1996 registra que O problema da leitura de mapa encontra difi culdade de aprendizagem e de ensino em todos os níveis escolares De início podemos dizer que a realidade percebida pela criança não é o mundo representado no mapa o problema não é propriamente de tamanho mas de horizonte perceptual por exemplo os conceitos astronômicos de Sol e de Lua são mais imediatos do que os de siste ma fl uvial ou de rede e de transporte podemos ver a Lua e não podemos ver a rede de transporte OLIVEIRA 1996 p 201 Assim tornase necessário que as crianças experienciem o espaço vivido o que pos sibilita a apreensão e posteriormente a representação Os trabalhos da linguagem cartográfi ca devem ir ao encontro dos interesses que fazem sentido para as crianças pois muitas vezes para elas o concreto pode fazer menos sentido do que o abstrato Souza e Katuta 2001 p 133 assinalam que na interpretação da linguagem es tão inseridos elementos que ajudam a compreender a realidade de forma clarifi ca da Contudo os autores enfatizam que a leitura dos mapas é um processo muito complexo Ser leitor de mapas signifi ca a nosso ver que o sujeito é capaz de ler esse ma terial tal como um texto escrito Em outras palavras signifi ca que o leitor de mapas deve extrair signifi cados do texto cartográfi cos que está representado Por isso não se pode chamar de leitura de mapas o ato de decodifi car o que está representado no mapa por meio de legenda A leitura de mapas é um processo muito complexo implica decodifi cação de símbolos e elaboração de signifi cados a partir de representações que foram previamente elaboradas Diante dessas colocações pontuamos que a problemática da decodifi cação das produções cartográfi cas pelas crianças reside no fato de que muitas vezes os mapas trabalhados nas escolas servem somente de ilustração e para uma criança não apre sentam nenhum signifi cado 57 A QUESTÃO DA ESCALA CARTOGRÁFICA Tipos de Escala Escala numérica É representada em forma de fração 110000 ou razão 110000 isso signifi ca que o valor do numerador é o do mapa e o denominador é o valor referente ao espaço real Ex 110000 cada 1 cm no papel mapa corresponde a 10000 cm no espaço real Lemos 1 por 10000 0 50 100 150km Escala Gráfi ca Representa de forma gráfi ca na representação do espaço real as distâncias Vejamos o exemplo ao lado Signifi ca que o espaço gráfi co cor responde a 50 km na realidade Normalmente a escala gráfi ca é apresentada em quilômetros mas diferentemente da numérica que sempre corresponde em cen tímetros a gráfi ca precisa trazer a unidade de medida que está utilizando nesse caso quilômetros ESCALA CARTOGRÁFICA E REPRESENTAÇÃO A escala cartográfi ca corresponde à redução do espaço real que foi representado cartografi camente ela é inversamente proporcional vejamos o quadro abaixo ESCALA PEQUENA ESCALA GRANDE Para representar um grande espaço real ma pear como o planeta Terra utilizase uma pe quena escala ou seja o tamanho dos objetos representados é pequeno e com poucos deta lhes pois ao contrário seria impossível sua re presentação no papel Para representar um espaço real menor mapear como uma cidade utilizase uma grande escala maior do que a utilizada para representar a Terra ou seja o tamanho dos objetos representados serão maiores e com mais detalhes Escala pequena representa poucos detalhes Ex 1 500000000 Escala grande representa muitos detalhes Ex 1 5000 Figura 1 Escalas Cartográfi cas A confusão pode ocorrer quando observamos os dígitos na escala especifi camente a numérica tomamos como exemplo a escala de 15000000000 o número apresenta muitos dígitos mas a escala de representação no mapa é pequena ou seja representa poucos detalhes Representações a linguagem cartográfi ca Geografi a Metodologia do Ensino 58 Analisemos o mapa a seguir Figura 1 Localização de MaringáPR Zonas 02 e 23 Organização A autora Conforme a Figura 1 para representar o Brasil foi utilizada uma escala cartográfi ca pequena de 750 km com poucos detalhes Dessa forma os objetos representados não apresentam detalhes como uma rua Fazendo a conversão um centímetro medido no mapa corresponde a 750 km na realidade 1X750750 e 4 centímetros medidos no mapa correspondem a 3000 km 4X7503000 Para representar um bairro da cidade de Maringá PR Vila Morangueira que é um espaço real menor foi utilizada a escala cartográfi ca de 4 km Nessa escala grande os objetos podem ser representados de forma maior ou seja com mais detalhes Exem plos escola e rua COMO TRANSFORMAR ESCALAS Escalas gráficas em numéricas Devemos pegar o valor do km multiplicar por 1000 e teremos os metros multipli cando mais uma vez por 100 teremos o valor em cm Devemos colocar o resultado em centímetros após 1 um por e teremos uma escala numérica Outro exemplo se em um mapa de escala gráfi ca cada centímetro no mapa papel equivale a 1000 km na realidade utilizando o quadro das medidas de 59 comprimento podemos realizar convergência da escala gráfi ca para a escala numérica Observemos abaixo o quadro de medidas de comprimento Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro Km Hm Dam M DM Cm Mm 1000 10000 100000 1000000 10000000 100000000 1000000000 Então temos 1000 km 1000000 100000000 cm Escalas numéricas em gráficas Para transformar a escala numérica em escala gráfi ca convertemos os centímetros em metro ou quilômetro lembrete toda escala numérica é em centímetro Depois construímos a reta sendo que devemos marcar os pontos de um em um centímetro Em outro exemplo temos a escala numérica que é em centímetros e é só fazer o mesmo raciocínio do quadro de medidas de comprimento mas ao contrário Obser vemos o quadro abaixo Km Hm Dam M DM Cm Mm 1 10 100 1000 10000 100000 1000000 Então temos 100000 cm 1000 m 1 km Dessa forma poderemos saber a distância em quilômetros apenas com a escala numérica Representações cartográficas e nomenclaturas Você sabia que há diferenciação de nomenclatura dos produtos cartográfi cos de pendendo de vários fatores como a escala e os limites representados Entretanto há vários fatores para classifi cação sendo que a escala é um deles2 Vejamos o quadro a seguir 2 Levando em consideração as diferentes nomenclaturas dos produtos cartográfi cos e pensamen tos de autores que discutem a questão da escala cartográfi ca assumimos neste texto somente três produtos cartográfi cos a planta baixa de detalhes com escala grande que pode representar detalhes de imóveis ou quarteirão as cartas topográfi cas e os mapas que representam um bairro cidade e até mesmo o mundo com escalas menores e divisões políticas Representações a linguagem cartográfi ca Geografi a Metodologia do Ensino 60 NOME REPRESENTAÇÃO TAMANHO ESCALAExemplo Plantas Muitos Detalhes Escala Grande 1100 1500 15000 Cartas topográfi cas Os limites são as coordenadas geográfi cas as informações fi cam fora da margem Escala Grande De 120000 até 1250000 Mapas Menos detalhes os limites são os políticos Escala Pequena Menor que 11000000 Planisférios Atinge o mundo poucos detalhes Escala Pequena Menor que 1205000000 Quadro 1 Nomenclaturas das produções cartográfi cas Fonte ALMEIDA PASSINI 2001 Organização A autora Proposta de Atividades 1 Como uma proposta da cartografi a escolar e com a fi nalidade de trabalhar a alfabetiza ção cartográfi ca conceito empregado por Almeida e Passini 2001 apresentamos uma sequência de atividades que poderão ser realizadas com os alunos das sériesanos inicias 2 A Figura 2 representa o esquema de como as atividades para a educação cartográfi ca se in corporam no processo de ensinoaprendizagem É necessário enfatizar que não há obriga toriedade de seguir as atividades à risca pois como parte do processo de ensinoaprendiza gem na alfabetização cartográfi ca muitas vezes é preciso voltar a conceitos já trabalhados como também dependendo da turma se pode avançar 3 Entretanto é bom que tenhamos uma preocupação metodológica com a fi nalidade de os alunos incorporarem a codifi cação e a decodifi cação das produções cartográfi cas e serem capazes de fazer a leitura cartográfi ca Figura 2 Esquema de atividades para o processo de alfabetização cartográfi ca 61 Atividade 1 O desenho Por meio do suporte da linguagem préverbal do desenho é possível representar as infor mações do espaço e a percepção da criança em relação ao meio vivido Nos primeiros passos da alfabetização cartográfi ca incentivase o aluno ao desenho espontâneo e posteriormente à representação do que entendem por paisagem Figura 3 Posteriormente podemos incluir orientações relativas ao desenho da família da escola e assim por diante Figura 3 Desenho sobre a paisagem Autora Silva Gabriela R 6 anos aluna do 1º Ano Ensino Fundamental Com crianças maiores podemos realizar a brincadeira da câmera fotográfi ca que pos sibilita a percepção de que os objetos podem ser representados consistindo na produção de croqui que é uma representação do espaço real mas sem a necessidade de rigor cartográfi co A atividade foi adaptada de Leme 2003 p 2128 que apresenta o método idealizado por Joseph Cornell 1996 e 1997 chamado de Aprendizagem Sequencial Praticando Brincadeira da câmera fotográfica Solicitase aos alunos que se organizem em duplas preferencialmente de alunos morado res do bairro e de nãomoradores Um faz o papel de câmera aluno de olhos fechados e o outro de fotógrafo aluno de olhos abertos Cada dupla percorre os espaços da escola eou do bairro para realizarem uma observação orientada e escolherem as paisagens que serão representadas Para a realização da fase seguinte cada dupla recebe uma prancheta para apoiarem suas folhas Primeiramente na escola o aluno que faz o papel de fotógrafo guia o aluno que faz o papel de câmera posicionandoo para uma paisagem que ele considerou bonita Na se quência guiase a orientase o alunocâmera que abra os olhos e fotografe desenhe represente a impressão da paisagem escolhida Após realizase o mesmo procedimento para a paisagem considerada feia Figura 3 Em aula de campo pelo bairro os alunos realizam o mesmo procedimento acima para representarem as paisagens bonitas e feias do espaço do bairro Orientase que as duplas troquem de função Em sala de aula realizase um debate para que todos possam manifestar suas impressões e suas representações e organizase um painel para expor as representações dos alunos Geografi a Metodologia do Ensino 62 Solicitase aos alunos que se organizem em duplas preferencialmente de alunos morado res do bairro e de nãomoradores Um faz o papel de câmera aluno de olhos fechados e o outro de fotógrafo aluno de olhos abertos Paisagem bonita do bairro Paisagem feia da escola Figura 4 Desenhos de alunos do Ensino Fundamental Fonte MANSANO 2006 Atividade 2 A fotografia Oliveira 1996 p 190 analisando Bunge 1966 enuncia que como recurso para a representação do espaço real existem os mapas os prémapas e nessa categoria estão incluídas as fotografi as até mesmo as aéreas os gráfi cos os blocos diagramas eles possuem certas vantagens que devem ser exploradas apesar de não serem tão seletivos como os mapas e não possuírem a estrutura lógica das matemáticas ao passo que estas são recursos mais amplos e mais fl exíveis do que os mapas quando utilizados em geografi a Assim como o desenho a fotografi a também pode representar cartografi camente um espaço real pois é um tipo de linguagem nãoverbal e o uso desse recurso depen de muito da criatividade do professor A fotografi a como um recurso para a alfabetiza ção cartográfi ca possibilita a percepção dos alunos em relação ao meio porque é um recurso cartográfi co de representação do espaço real e vivido Praticando Fotografando o espaço vivido Essa atividade deve ser realizada em aula de campo na escola e no bairro objetivan do desenvolver a noção de espaço e a compreensão sobre a representação Transcrevemos os passos para a realização dessa atividade 1 A turma é dividida em equipes de cinco alunos sendo agrupados em alunos que moram no bairro e alunos que não moram 2 Em saída de campo pela escola e pelo bairro é solicitado a cada equipe que fotografe os seus espaços 3 Podese pedir que as fotografi as sejam tiradas a partir de dois temas geradores a paisagem bonita e a feia da escola e do bairro Figura 4 4 Usando a escola como ponto de referência instruir o aluno a desenvolver a 63 lateralidade e a orientação cartográfi ca em um primeiro momento anotar se o local está à direita ou à esquerdafrente ou atrás Posteriormente avançase para as orientações cardeais se está ao norte ou ao suloeste ou a leste 5 Pedese que façam legenda título localização da fotografi a e orientação Reali zase um painel com as fotografi as registradas Paisagem bonita do bairro Paisagem feia da escola Figura 5 Desenhos de alunos do Ensino Fundamental Fonte MANSANO 2006 Atividade 3 Os mapas mentais Os mapas mentais desenho do espaço real sobre o meio experienciado contri buem para a decodifi cação e apreensão dos signos Representam e facilitam a leitura do espaço da criança possibilitando compreender o signifi cado das posições dos ob jetos e funções estabelecidas no espaço ou seja é um recurso para a alfabetização cartográfi ca que possibilita a codifi cação e decodifi cação No processo de ensinoaprendizagem evidenciase a importância de trabalhar com os mapas mentais do espaço vivenciado pela criança o espaço que conhece e percebe podendo identifi car as difi culdades dos alunos com relação à cartografi a compreen der a visão do espaço que a criança apresenta e possibilitar a alfabetização cartográfi ca Nesse sentido Teixeira e Nogueira 1999 p15 postulam que O professor com esses elementos para debates poderá inserir o aluno na dis cussão espacial levando em conta a importância que tem o conhecimento local do espaço para o entendimento deste com o todo É valorizado as experiências de vida do cidadãoaluno com o espaço Os mapas mentais servem como estratégia para os professores perceberem como os alunos estão representando o seu mundo Geografi a Metodologia do Ensino 64 FUNÇÕES DOS MAPAS MENTAIS Preparam para comunicar efetivamente informações espaciais Tornam possível ensaiar comportamento espacial na mente São dispositivos mnemônicos quando desejamos memorizar eventos ou pessoas Ajudam na localização Como mapas reais são meios de estruturar e armazenar conhecimento São mundos imaginários permite retratar lugares não acessíveis para as pessoas Fonte TUAN 1975 apud SEEMANN 2003 As representações cartográfi cos trabalhadas a partir da percepção do aluno contri buem para o desenvolvimento da apreensão da linguagem cartográfi ca e da decodifi cação do espaço real servindo de diagnóstico para a prática pedagógica geográfi ca do professor e no planejamento do ensinoaprendizagem De acordo com Almeida 2003 em nossa análise os mapas para diagnóstico não poderiam ser considerados mapas e sim desenhos do espaço Em consonância com a autora existem algumas diferenças entre os desenhos e os mapas vejamos o quadro abaixo Você sabe as diferenças entre o desenho e o mapa a quanto à localização em um desenho o espaço situa os objetos uns em relação aos outros e no mapa situam os objetos com base nas coordenadas geográfi cas b quanto à redução proporcional em um desenho do espaço os objetos são reduzidos por comparação e no mapa são defi nidos pela escala ALMEIDA 2003 O mapa mental desenho do espaço é uma linguagem nãoverbal e assim como toda linguagem é carregada de signifi cação e representa as sensações espaciais e tem porais Convém ressaltar que os mapas mentais apresentam uma relevância na apren dizagem do espaço geográfi co pois a partir dessas atividades o aluno começa a se alfabetizar cartografi camente Eles são instrumentos cartográfi cos facilitadores para o desenvolvimento do olhar geográfi co no mundo compreendendo decodifi cando e representando as relações e disposições dos objetos sobre o espaço geográfi co e pos sibilitando o diálogo do ser humano com o seu meio Desta forma a decodifi cação da paisagem vivida e a sua representação podem desenvolver a criticidade do aluno e a apreensão das relações estabelecidas no seu meio Nesse contexto a educação cartográfi ca implica em validar o seu papel na edu cação geográfi ca que é o de propiciar ao aluno produzir conhecimento a partir da 65 sua realidade construindo decodifi cando e percebendo o espaço a partir de vários instrumentos Nos mapas mentais deve ser considerada a totalidade das informações registradas e defi nidos parâmetros como As principais referências geográfi cas As diferenças entre o morador e o não morador O egocentrismo A questão ambiental A legibilidade MAPA MENTAL E LEGIBILIDADE PROBLEMAS Quanto à questão de legibilidade Nogueira 2002 apud SOUZA 2004 considera que o objetivo do mapa mental é diagnosticar o nível de espacialização dos alunos para encaminhar os debates em sala de aula A seguir apresentamos os problemas na representação dos elementos cartográfi cos que poderão ser verifi cados nos mapas mentais Proporcionalidade alguns mapas mentais podem apresentar a proporcionalidade e coordenação espacial equivocadas como a disposição dos objetos e desproporcionalidade relacionada com a escala Exemplo alguns mapas poderão apresentar as ruas do tamanho dos quarteirões ou uma única casa ocupando um quarteirão inteiro ou ainda os objetos poderão ser localizados errados Elementos cartográfi cos alguns mapas mentais poderão ser apresentados sem nenhum elemento cartográfi co É necessário instruir os alunos para que apresentem pelo menos pelo menos um elemento cartográfi co como título legenda escala e orientação Orientação rosadosventos é a indicação da fi gura que aponta a orientação rosadosventos Alguns mapas podem ser apresentados sem orientação dos pontos cardeais É necessário levar o aluo a perceber que o que indica a orientação é a rosadosventos e não a posição de desenho e que a representação do norte na parte superior do papel é apenas uma convenção Ilustração MANSANO Flávia R V M Organização A autora Geografi a Metodologia do Ensino 66 Praticando Representando o espaço percorrido Essa atividade deve ser realizada em sala de aula para que os alunos tenham maior concentração ao realizar a atividade Para tanto devem ser seguidos os procedimentos Solicitase que o aluno morador do bairro produza um mapa mental do trajeto de sua casa até a escola e que o aluno nãomorador produza um mapa mental do entorno da escola Em um primeiro momento não são cobrados os elementos cartográfi cos e nem a noção de proporção como a representação na Figura 6 conforme vai alfabetizan do cartografi camente a criança a codifi cação deve ser mais precisa e os elementos cartográfi cos devem ser inseridos Figura 7 Discutese com os alunos os problemas encontrados com questionamentos como Será está rua foi desenhada do tamanho correto Observem a proporção do tamanho da rua e dos quarteirões Observem o tamanho das casas e pessoas desenhadas Posteriormente orientase para a inclusão dos elementos cartográfi cos título le genda limite orientação e escala Organizase um painel para apresentar os produtos cartográfi cos dos alunos Figura 6 Trajeto da casa à escola Autora Silva Gabriela R 6 anos aluna do 1º Ano Ensino Fundamental Figura 7 Mapa mental representando a legibilidade Fonte MANSANO 2006 67 Atividade 4 O mapacontorno Essa atividade tem como base um mapacontorno do bairro O objetivo é investigar a partir do mapasíntese as representações o nível de compreensão do grupo com relação ao espaço vivenciado bem como desenvolver a alfabetização cartográfi ca uti lizando como instrumento um mapa já produzido com os limites préestabelecidos Assim os alunos atentarão para a proporção necessária na representação de todos os objetos dispostos no bairro uma vez que têm um espaço que já está delimitado A atividade foi baseada em autores ZAMPLERON FAGLONATO RUFFINO 2003 p 20 que destacam a importância dos mapas na vida do ser humano no que tangem à orientação espacial Praticando Observando o espaço vivido Em nossa adaptação devese realizar o seguinte procedimento Entregase um mapa do contorno do bairro para cada aluno para que ele represen te todas as informações que julgar necessárias a partir de um questionamento sobre o bairro Você mora nesse bairro Há quanto tempo você conhece esse bairro Repre sente no mapa por um símbolo os pontos mais marcantes do bairro Identifi que as principais ruas do bairro Figura 8 Figura 8 Exemplo de mapa mental representando a legibilidade Fonte MANSANO 2006 Atividade 5 O mapa local Compreendemos que as pessoas necessitam dos mapas para se orientar e essa eta pa foi elaborada visando a propiciar o conhecimento do aluno em relação ao espaço geográfi co do bairro Praticando conhecendo o espaço experienciado e mapeado Seguem os procedimentos Primeiramente apresentase o mapa do bairro fi xado no quadronegro Geografi a Metodologia do Ensino 68 preferencialmente em uma escala grande de 1 2000 conseguese junto à prefei tura municipal Discutemse as questões dos limites ruas localizações geográfi cas dos objetos dispostos no bairro a localização de suas casas e os problemas detectados Pedese que cada aluno localize com alfi netes coloridos ou fi tas colantes coloridas a sua casa Caso não more no bairro que localize um ponto de referência que seja importante para ele Em seguida distribuise para cada aluno uma cópia do mapa do bairro em uma escala reduzida reproduzir na folha de sulfi te A4 Trabalhase a questão da escala cartográfi ca e orientação Orientase que os alunos representem os objetos dispostos no bairro utilizando os elementos cartográfi cos Figura 9 Figura 9 Exemplo de mapa mental representando a legibilidade Fonte MANSANO 2006 A seguir apresentamos uma leitura complementar com outra proposta de ativida de que possibilita a alfabetização cartográfi ca 69 LEITURA COMPLEMENTAR 1ª SUGESTÃO MAPEAR O EU Materiais papel de embrulho do tamanho do aluno giz de cera caneta hidrocor giz papel sulfi te tesoura barbante e globo terrestre Procedimento 1 os alunos se alternam para fazer o mapa do próprio corpo 2 cada qual com o contorno do próprio corpo nomeia as partes e escreve ou cola etiquetas 2ª SUGESTÃO A SALA DE AULA DA MAQUETE À PLANTA Materiais sucata lápis e materiais de pintura cordão ou barbante e tesoura Procedimento 1 observar a sala de aula para identifi car os objetos 2 confeccionar a maquete com os objetos em seu interior conservando a mesma posição que ocupam 3ª SUGESTÃO PRÉDIO DA ESCOLA Materiais papel sulfi te e material de pintura Procedimento da Atividade 1 percorrer o prédio 2 criar símbolos para as funções 3 elaborar a legenda e 4 percorrer de maneira imaginária uma planta 4ª SUGESTÃO A ESCOLA Materiais planta ofi cial da escola giz e material de pintura Procedimento 1 percorrer todas as unidades reconhecendo o pátio 2 explorar o espaço mapeado através de exercícios que desenvolvam orientação e localização 5ª SUGESTÃO O QUARTEIRÃO DA ESCOLA Materiais planta do quarteirão da escola croquis da quadra lápis material de pintura Procedimento 1 sair com os alunos para reconhecer nome das ruas dimensão do terreno ocupado pela escola etc 2 elaborar a legenda para os símbolos escolhidos 6ª SUGESTÃO CAMINHO CASA ESCOLA Materiais planta do bairro cópia planta do subdistrito lápis e material de pintura Procedimento 1 pedir que façam o desenho da casa à escola 2 colocar o nome das ruas pontos de referência e legenda 3 reconhecer o caminho que faz na planta e transcrever o desenho 7ª SUGESTÃO CASA Materiais papéis sulfi te materiais de desenho e kit construção se possível Procedimento 1 solicitar aos alunos que desenhem sua casa de vários ângulos 8ª SUGESTÃO O BAIRRO Materiais cópia de planta do bairro lápis e materiais de pintura Procedimento 1 transpor as informações anteriores na nova planta 2 realizar estudo do meio localizar os estabelecimentos principais e escolher um símbolo 3 criar a legenda 4 explorar a ocupação humana 4 classifi car as funções do bairro 5 elaborar uma lista de símbolos para cada categoria 6 fazer a legenda 9ª SUGESTÃO O MUNICÍPIO Materiais mapa mural do município dividido em subdistritos colocado no chão alfi netes coloridos mapa do município em escala maior durex colorido e material para reprodução Procedimento 1 deixar que os alunos encontrem o bairro da escola e façam explorações espontâneas 2 localizar suas casas com o alfi nete e percorre com o dedo o caminho casaescola 3 explorar o mapa após a colocação de todos os alfi netes 10ª SUGESTÃO MUNICÍPIOS VIZINHOS Materiais mapa construído anteriormente Procedimento 1 explorar a relação topológica de vizinhança em termos de interligação e interdependência viva 2 explorar outras interdependências mais complexas como o mercado de compra ou venda matérias primas 11ª SUGESTÃO O ESTADO Materiais mapas murais do estado foto área do mapa anterior municípios vizinhos Procedimento 1 colocar o mapa no chão 2 observar o título 3 leitura da legenda 4 localização dos signos com signifi cados 5 leitura ATIVIDADES QUE AUXILIARÃO NA CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS ESPACIAIS Trabalho com Bússola Trabalho com a Posição do Sol Trabalho com Globos Trabalho com Fotos Trabalho com maquetes Trabalho com varetas Cartas enigmáticas Convenção para o diaadia Representação dinâmica Jardinagem e paisagismo Fonte ALMEIDA PASSINI 2001 p 4689 Adaptação Geografi a Metodologia do Ensino 70 2 Agora vamos brincar de câmera fotográfi ca Nos quadros abaixo faça a representa ção da paisagem bonita e feia do bairro em que mora Referências ALMEIDA Rosangela D Do desenho ao mapa iniciação cartográfi ca na escola 2 ed São Paulo Contexto 2003 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaço geográfi co ensino e representação São Paulo Contexto 2001 LEME Patrícia C Silva O método de Joseph Cornell para aprendizagem seqüencial na natureza In SCHIEL Dietrich et al O estudo de bacias hidrográfi cas uma estratégia para Educação ambiental São Carlos Rima 2003 p 2128 MANSANO Cleres do N A escola e o bairro percepção ambiental e interpretação do espaço de alunos do Ensino Fundamental 2006 170 f Dissertação Mestrado em Educação para o Ensino de Ciências e da MatemáticaCentro de Ciências Exatas Universidade Estadual de Maringá Maringá 2006 OLIVEIRA Lívia de Percepção e representação do espaço geográfi co In DEL RIO Vicente OLIVEIRA Lívia de Percepção ambiental a experiência brasileira São Paulo Ed da UFSCar 1996 p 187212 PASSINI E Y Alfabetização cartográfi ca e o livro didático uma análise crítica Belo Horizonte Editora Lê 1994 PEZZATO João P O desfi o da articulação das diversas linguagens no campo do ensino da Geografi a escolar um debate promissor Boletim de Geografi a Maringá v p 246250 2001 RODRIGUES Gelze S C A Geografi a das representações um estudo das paisagens do Parque Nacional da Serra da Canastra MG GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo n 11 p 6994 2002 71 SEEMANN Jörn Mapas e percepção ambiental do mental ao material e viceversa Cognição percepção e interpretação ambiental na conservação dos recursos naturais e culturais OLAM Ciência e Tecnologia Rio Claro v 3 n 1 p 200233 set 2003 SOUZA José G de KATUTA Angela M Geografi a e conhecimentos cartográfi cos a Cartografi a e o movimento de renovação da Geografi a brasileira e a importância do uso de mapas São Paulo Ed da UNESP 2001 SOUZA Luciana C T Mapas mentais para perceber interpretar e representar o ambiente vivido e telepercebido um ponto de partida para a Educação ambiental OLAM Ciência e Tecnologia Rio Claro v 4 n 1 p 673678 abr 2004 Edição especial I Encontro sobre percepção e conservação ambiental a interdisciplinaridade no estudo da paisagem CDROM TEIXEIRA Salete K NOGUEIRA Amélia R B A Geografi a das representações e sua aplicação pedagógica contribuições de uma experiência vivida Revista do Departamento de Geografi a USP São Paulo v 13 n 1 p 239257 1999 Humanistas ZAMPLERON Sonia L M FAGLONATO Sandra RUFFINO Paulo H P Ambiente representação social e percepção In SCHIEL Dietrich et al O estudo de bacias hidrográfi cas uma estratégia para Educação ambiental São Carlos Rima 2003 p 1720 Anotações Geografi a Metodologia do Ensino 72 Anotações 73 Livro didático de geografi a análise e avaliação Cleres do Nascimento Mansano Para desenvolver em nossos alunos um olhar espacial um olhar geográfi co é necessário o uso dos procedimentos próprios de nossa ciência que são a observação orientada a descrição a análise a síntese a representação a analogia o levantamen to de hipóteses a cartografi a entre outros Com esses procedimentos corretamente utilizados é possível que o aluno apreenda os conceitoschave da Geografi a espaço paisagem região território lugar ou seja apreender Geografi a Nesse contexto um dos instrumentos utilizados no fazer pedagógico é o livro di dático que não é o único mas é importante para a Geografi a escolar Não podemos fazer do livro didático uma bússola planejando aulas e atividades somente com esse referencial teórico tampouco podemos desenvolver no aluno a ideia de que o livro didático é sagrado de que tudo que está escrito nele é verdade é inquestionável mas também não há como desprezálo no processo de ensinoaprendizagem Para Malysz 2007 p 171 o livro didático oferece um estudo estático ou seja que não possibilita a construção do conhecimento geográfi co Em relação ao uso do livro didático na ação docente tanto em caráter pedagógico quanto em caráter específi co é preciso desenvolver a autonomia para que o profi ssio nal docente aprenda a utilizar outras referências no planejamento de suas aulas pois A geografi a encontrada na maioria dos livros didáticos e que é ensinada geralmente nas escolas apresenta uma análise descritiva ALMEIDA 1991 p 84 Não podemos afi rmar que o livro didático não tem valor que é inútil pelo contrá rio é muito importante por ser quase sempre a única fonte de pesquisa para o aluno especialmente na escola pública mas devemos ter consciência de que as aulas orien tadas somente no livro didático não possibilitam a análise do fenômeno geográfi co Sobre essa questão Pezzato 2001 p 248 pondera que O fato revela entre outras coisas a importância do livro didático na des orientação e na seleção dos conteúdos escolares apesar de inúmeros tra balhos produzidos nas últimas décadas tratando ou até denunciando da 5 Geografi a Metodologia do Ensino 74 propalada problemática do livro didático seguido como bíblia nas escolas contemporâneas O ensino geográfi co tem sido trabalhado na maioria das vezes tendo o livro didá tico como um manual seguido à risca Mesmo criticado pelos próprios professores estes utilizam o material como um recurso inquestionável uma vez que nem sempre dispõem de tempo para preparar aulas e desenvolver pesquisas Sendo assim mui tas vezes trabalham conteúdos sem sentido que não proporcionam a construção do conhecimento geográfi co Não podemos negar o papel do livro didático na preparação das aulas mas da forma como é utilizado não oferece oportunidades para o professor ampliar a sua visão e tampouco o aluno desenvolver uma aprendizagem signifi cativa Deste modo a maneira de utilização e a escolha do livro didático são aspectos importantes na alfabetização geográfi ca A ESCOLHA E AVALIAÇÃO O LIVRO DIDÁTICO Quanto à escolha do livro didático sabemos que vai além das questões intrínse cas no processo de ensino aprendizagem pois antes das questões que antecedem a escolha do livro na escola há um longo caminho a ser percorrido e comumente a qualidade é sobreposta pela indústria do livro didático Tais questões são mais evidentes quando se trata da escola pública porque a venda das coleções para o governo tornase um mercado de oportunidades para editoras e autores Geralmente os livros que chegam para a escolha nas escolas já passaram por um crivo de avaliação e seleção um tanto duvidoso E nos casos mais graves há uma imposição por determinado título Cabe ressaltar que os livros didáticos muitas vezes se constituem no único re curso que o professor dispõe para o trabalho em sala de aula em especial na escola pública e a ausência de recursos necessários e adequados para o ensinoaprendiza gem nas escolas é um dos entraves ao ensino de Geografi a Nesse contexto a preo cupação do professor ao escolher o livro didático deve passar por questões como conteúdo metodologia diagramação linguagem apropriada entre outras Um aspecto que deve ser levado em consideração é a preocupação metodoló gica com relação à cartografi a escolar ou seja a alfabetização cartográfi ca Passini 1994 p 53 efetuou uma pesquisa com sete coleções de livros didáticos e consta tou que salta aos olhos a deseducação cartográfi ca Para a realização da pesquisa a autora observou 21 categorias utilizadas nos livros didáticos e como forma de organização agrupou em três conjuntos sendo 75 1 O espaço e sua territorialidade 2 As formas de representar a Terra 3 Os elementos cartográfi cos Quanto ao espaço e sua territorialidade Passini 1994 verifi cou a necessida de de haver a noção de continuidade e da dinâmica do espaço geográfi co conside rando as categorias autorretrato quarto da criança casa escola trajeto casaescola bairro município e Estado VOLUME O APARECIMENTO DAS CATEGORIAS POR SÉRIEANO 1 EuCasaEscolaCasaEscola 2 EscolaSala de aulaRuaBairroCidade 3 MunicípioCidadeEstadoPaís 4 TerraGloboBrasilAméricaRegiões brasileirasEstado Quadro 1 Categorias Fonte Passini 1994 Adaptação Como exemplo da pesquisa realizada pela autora apresentamos ao lado a ordem como as categorias apareceram em uma das coleções analisada PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO PNLD VOCÊ SABIA QUE O Programa Nacional do Livro Didático PNLD promove desde 1996 a avaliação do livro didático com a fi nalidade de assegurar à escola pública de educação básica obras com qualidade editorial científi ca e pedagógica Esse processo de avaliação vem cumprindo com o objetivo de selecionar obras que atendam a esses requisitos apresentando indicadores que permitem uma adequada escolha do livro didático por parte da escola e de seus professores BRASIL 2009 Como forma de garantir a qualidade o Ministério da Educação por meio do PNLD avalia as coleções de livros didáticos para que os professores possam se guiar na melhor escolha oferecendo um guia do livro didático Vejamos no quadro a seguir o que os livros didáticos devem possibilitar aos alu nos de acordo com o PNLD Livro didático de geografi a análise e avaliação Geografi a Metodologia do Ensino 76 OS LIVROS DIDÁTICOS DEVEM POSSIBILITAR AOS ALUNOS analisar a realidade percebendo suas semelhanças diferenças e desigualdades sociais e apresentar propostas para sua transformação compreender as interações da sociedade com a natureza para explicar como as sociedades produzem o espaço compreender o espaço geográfi co como resultado de um processo de construção social e não como uma enumeração de fatos e fenômenos desarticulados saber utilizar os conceitos de natureza paisagem espaço território região e lugar para analisar e refl etir compreender seu espaço imediato assim como as escalas mais amplas utilizar variáveis básicas como dis tância localização semelhanças diferenças hierarquias atividades e sistemas de relações para identifi car e interrelacionar formas conteúdos processos e funções permitir a discussão e a crítica esti mulando atitudes para o exercício da cidadania favorecer a apropriação da lingua gem cartográfi ca para estabelecer correlações e desenvolver as habili dades de representar e interpretar o mundo Fonte BRASIL 2009 p 9 Salientamos que quem deve fazer a escolha e a avaliação do livro didático é o pró prio professor Observemos a fi gura abaixo que representa os elementos envolvidos na escolha do livro didático Figura 1 Esquema na escolha do livro didático Fonte Sposito 2006 A Figura 1 expressa o ciclo que envolve a escolha do livro didático e como pode mos observar a escolha não é tão simples porque envolve a prática pedagógica e a realidade da escola e o aluno Se o aluno é o objetivo da existência da escola e do professor deve ser levado em conta primeiramente para quem o livro será destinado ou seja o professor ao fazer a escolha do livro didático principalmente na escola pública deve considerar que este é um material de apoio de suas aulas para seus alunos tanto em sala de aula quanto em casa Dessa maneira é preciso entender a realidade do alunado bem como 77 a concepção pedagógica adotada pela escola Quanto à preocupação metodológica com relação à alfabetização cartográ fi ca as atividades propostas são extremamente importantes no processo O quadro abaixo sintetiza a análise e a classifi cação das atividades encontradas nos livros didáti cos conforme a pesquisa de Passini 1994 CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES ENCONTRADAS TIPOS DE ATIVIDADES CLASSIFICAÇÃO 1 As atividades que possibilitam ao aluno perceber as relações de proxi midade vizinhança limites interiori dade exterioridade Trabalho operatório para o desenvolvi mento das relações espaciais topológi cas auxiliares para a compreensão das noções de limitesfronteiras e a própria territorialidade dos espaços geográfi cos 2 Atividades que exigissem diferencia ção do ponto de vista observações descentradas cujo preparo se ini cia com a lateralidade e orientação do próprio corpo evoluindo para a orientação geográfi ca Trabalho operatório para o desenvolvi mento da lateralidade possibilitando a construção das relações espaciais pro jetivas auxiliar para a construção das projeções cartográfi cas 3 Atividades de tomar medidas do corpo da criança ou a localização de qualquer objeto ou lugar utilizan dose um referencial fi xo como en dereço da criança ou da escola Trabalho operatório que possibilita o de senvolvimento das relações espaciais euclidianas importantes para a com preensão da noção de escalas e coorde nadas geográfi cas na leitura de mapas 4 atividades para criança dese nhar seja o seu corpo seja rua seja a sua escola Trabalho operatório que desenvolve a função simbólica possibilitando a capa cidade de leituracompreensão dos sím bolos do mapa através da decodifi cação de legenda 5 Os questionários exercícios de preencher lacunas e cópias quer de textos quer de mapas ou plantas Trabalho reprodutivo que desenvolve a habilidade de copiar Quadro 2 Classifi cação de Atividades Fonte PASSINI 1994 p 5557 Organização A autora ATIVIDADES FINAIS Com base na pesquisa realizada por Passini 1994 analise uma coleção de livro didático você poderá conseguir junto às editoras Para a atividade considere os volu mes do 1º ao 5º anos Caso a edição não tenha o 1º ano analise a do 2º ano em diante Livro didático de geografi a análise e avaliação Geografi a Metodologia do Ensino 78 ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA E O LIVRO DIDÁTICO Coleção analisada conforme a ABNT De acordo com o Quadro 2 analise as atividades apresentadas na coleção esco lhida por você Indique a quantidade de vezes em que aparecem Volume 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Fonte Passini 1994 p 55 57 Organização A autora Considerando o Quadro 1 analise o conjunto de categoria o espaço e sua territorialidade Escreva na sequência que se apresentam em cada volume selecionado para sua análise Volume O aparecimento das categorias por sérieano 1 2 3 4 5 Fonte PASSINI 1994 p 5557 Organização A autora Em consonância com a pesquisa de Passini 1994 e os textos acima analise o conjunto de categoria os elementos cartográfi cos Escreva a quantidade de vezes que são representadas em cada volume escolhido por você para análise 79 Os elementos nos mapas Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4 Volume 5 Símbolossignos Legenda Orientação Coordenadas geográfi cas Escala Fonte PASSINI 1994 p 5557 Organização A autora Nos itens a seguir avalie a coleção de livro didático escolhida segundo os parâme tros do edital do PNLD 2010 Marque com X sendo que N corresponde a Não SS corresponde a Sim Satisfatoriamente e SP corresponde à Sim Plenamente AVALIAÇÃO N SS SP 1 Contribui para o desenvolvimento de capacidades básicas do pensa mento autônomo e crítico como compreensão memorização análise classifi cação síntese formulação de hipóteses planejamento argumen tação generalização e crítica 2 Utiliza linguagem adequada ao estágio de desenvolvimento cognitivo do aluno e à abordagem dos conhecimentos geográfi cos 3 Oferece estímulo à apropriação do vocabulário específi co da Geografi a tendo em vista o domínio de conceitos e conteúdos por meio de diferentes tipos de linguagem evitando reducionismos e estereótipos 4 Os conceitos geográfi cos básicos como espaço região lugar territó rio e paisagem assim como os de sociedade e natureza são abordados corretamente 5 As informações básicas suas representações e imagens estão corretas e atualizadas 6 Os fenômenos e fatos geográfi cos abordados estão localizados corre tamente 7 Os conceitos e as informações são explorados corretamente em ativida des exercícios e recursos gráfi cos 8 Proporciona compreensão das relações entre sociedade e natureza 9 Apresenta relações espaçotemporais que possibilitem ao aluno com preender a formação do espaço geográfi co 10 Está isenta de preconceitos ou indução a preconceitos relativos às condições regionais socioeconômicas étnicas de gênero religião idade ou outra forma de discriminação 11 Contempla abordagens referentes à participação do afrodescendente e do indígena na formação do espaço geográfi co brasileiro 12 Contém orientação visando à articulação dos conteúdos dos livros com outras áreas de conhecimento 13 Oferece propostas de atividades individuais ou em grupo que propi ciem a leitura do espaço geográfi co e os estudos do meio Livro didático de geografi a análise e avaliação Geografi a Metodologia do Ensino 80 14 Propicia o desenvolvimento de habilidades do aluno ampliando suas possibilidades de expressão escrita gráfi ca e cartográfi ca distinguindo e articulando diferentes escalas geográfi cas 15 Reproduzem adequadamente a diversidade étnica da população bra sileira a pluralidade social e cultural do país não expressando induzindo ou reforçando preconceitos e estereótipos 16 As legendas dos mapas e demais ilustrações são adequadas e claras sem excesso de informação a serem identifi cadas A escala é utilizada corretamente 17 Possui glossário isento de erros conceituais ou contradições com os textos 18 O sumário espelha corretamente a organização interna da obra e per mite a rápida localização do conteúdo 19 O projeto gráfi co proporciona equilíbrio entre o texto principal as ilus trações e as demais intervenções gráfi cas permitindo o uso do material didático e visando à aprendizagem 20 A obra é recomendada Nos itens a seguir avalie a coleção de livro didático escolhida por você segundo os parâmetros do edital do PNLD 2010 Marque com X a ênfase temática e conceitual que se apresenta em cada volume TEMAS E CONCEITOS Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4 Volume 5 Natureza e meio ambiente Socialização e identidade Trabalho e economia Espaço rural e urbano Paisagens naturais População e sociedade Formação territorial do Brasil Paisagens e regiões do Brasil Problemas ambientais Problemas sociais Espaço geográfi co Lugar Paisagem Território Relação sociedade natureza Espaço e tempo 81 Com base na análise realizada faça uma análise crítica realçando as qualidades e limitações da obra os aspectos positivos pontos altos e os negativos vulnerabilida des problemas Referências ALMEIDA R D de A propósito da questão teóricometodológica sobre o ensino de geografi a Terra Livre São Paulo n 8 1991 BRASIL Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Guia de livros didáticos PNLD 2010 Geografi a Brasília DF 2009 MALYSZ Sandra T Estudo do meio In PASSINI Elza Y PASSINI Romão MALYSZ Sandra T Prática de ensino de Geografi a e estágio supervisionado São Paulo Contexto 2007 p 171177 PASSINI E Y Alfabetização cartográfi ca e o livro didático uma análise crítica Belo Horizonte Editora Lê 1994 SPÓSITO E S Livro didático de geografi a do processo de avaliação à sua escolha Salto para o Futuro JCR Rio de Janeiro RJ v 5 p 2643 2006 Série TV PEZZATO João P O desfi o da articulação das diversas linguagens no campo do ensino da Geografi a Escolar um debate promissor Boletim de Geografi a Maringá v 19 p 246250 2001 Livro didático de geografi a análise e avaliação Geografi a Metodologia do Ensino 82 Anotações 83 Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Cleres do Nascimento Mansano A Geografi a tem assumido um papel muito importante em uma época em que as informações são transmitidas pelos meios de comunicação com muita rapidez e em grande volume É impossível acompanhar e entender as mudanças os fatos e os fenômenos que ocorrem no mundo sem conhecimentos geográfi cos É no espaço geo gráfi co que se realizam as manifestações da natureza e as atividades humanas Por isso compreender a organização e as transformações sofridas por esse espaço é essencial para a formação do cidadão consciente e crítico Os estudos geográfi cos podem trazer respostas a uma questão que persegue o ho mem Onde estou Desse modo muitas questões no processo de interação entre ser humano e natureza exigem pensamentos e olhares geográfi cos Nessa perspectiva o ser humano pode tomar consciência de que se apropria destrói constrói e reconstrói o meio no qual está inserido e a partir daí gerencia seu espaço geográfi co de maneira satisfatória Dentro de um ensino signifi cativo os estudos do meio possibilitam que os alunos tenham acesso ao conhecimento escolar e científi co da ciência geográfi ca ampliando sua refl exão sobre o espaço em que vivem Com relação ao espaço escolar alguns questionamentos devem permear nossa prática enquanto professores de Geografi a Mas afi nal qual o papel da escola Para que serve a Geografi a escolar A escola é uma instituição de ensinoaprendizagem e cabe a ela possibilitar que o aluno investigue e compreenda as interrelações existentes entre ela e seu entorno Os estudos do meio podem contribuir para tornar o espaço geográfi co legível e para que os indivíduos decodifi quem o seu meio seja ele natural ou cultural Santos 1988 p 88 afi rma que o homem transformou de modo degradante a natureza no decorrer da sua história Para o autor o espaço transformado carrega marcas da ação da intervenção do homem na natureza e a Geografi a tem um papel 6 Geografi a Metodologia do Ensino 84 importantíssimo para a compreensão dessa transformação É relevante salientar que assim como a reorganização do espaço pelo trabalho do homem e a sua comunicação com o meio exigem uma relação de aprendizagem e vivência a forma como ele o in terpreta envolve uma relação de aprendizagem Nas palavras do autor O processo de trabalho exige um aprendizado prévio o homem necessita aprender a natureza a fi m de poder apreendêla SANTOS 1988 p 88 Sabemos que é na formação inicial das crianças que são construídas as principais noções de espaço e consequentemente a leitura do lugar e a construção de conceitos geográfi cos que é um subsídio imprescindível para a prática da cidadania tornando se primordial nesse processo Assim o papel da ciência geográfi ca e da Geografi a enquanto disciplina escolar também é o de alfabetizar o homem em todos os sentidos É possibilitar a leitura do mundo de seus lugares e paisagens e das ações do próprio homem sendo que os estudos do meio confi guramse como um recurso que aprimora o olhar geográfi co do aluno Lopes e Pontuschka 2010 p 9 alegam que O Estudo do Meio pode ser compreendido como um método de ensino interdisciplinar que visa proporcionar para alunos e professores o contato direto com determinada realidade um meio qualquer rural ou urbano que se decida estudar Segundo Malysz 2007 p 172 O estudo do meio propicia o contato direto do educando do educando com o objeto do conhecimento facilitando o resgate do conhe cimento prévio e da transposição didática para o conhecimento cientifi co Assim possi bilita um olhar geográfi co nas relações dos seres humanos com a sociedade e natureza ESTUDO DO MEIO E PESQUISA A Geografi a enquanto ciência ou Geografi a escolar dispõe do meio como um labo ratório amplo de pesquisa e construção do conhecimento A pesquisa que o professor deve propor não pode ser mera cópia de textos soltos e desconexos ela deve partir de aulas sistematizadas planejadas que gerem a necessidade da escolha de fontes e referenciais teóricos a serem discutidos em classe O professor pode utilizar fi lmes músicas poesias fotografi as anúncios entre outros recursos didáticos e audiovisuais para a problematização ponto de partida do trabalho É comum haver o pensamento dicotômico entre a pesquisa e o ensino como se a pesquisa somente fosse realizada pelos bacharéis e transmitida pelo professor Os estudos do meio colaboram para que o professor e o educando se vejam como autô nomos no processo do conhecimento pois o ensino deixa de ser visto como um mero apresentador das pesquisas do bacharel O laboratório de pesquisa para o ensino também é amplo depende somente da percepção que o professor apresenta porque O meio é a sala de aula o pátio da 85 escola o refeitório o corredor a rua do colégio a casa do aluno o bairro a cidade o município o parque fl orestal o fundo de vale etc MALYSZ 2007 p 172 A mesma autora também chama a atenção para a desfragmentação que ocorre com a utilização desse recurso didático visto que o professor tem que planejar suas aulas de acordo com a realidade e conseguir fazer um ensino interativo e não estático como o que é realizado somente por meio do livro didático Ressaltamos que os estudos do meio compõemse de etapas que devem ser res peitadas Para que ocorra a construção do conhecimento é preciso que o professor planeje adequadamente a sua aula a fi m de possibilitar a aprendizagem do educando seguindo essas etapas planejamento a aula de campo e o retorno para a sala de aula FANTIN TAUSCHECK 2005 p 380 Diante das etapas propostas acima idealizamos o esquema abaixo que representa a ordem metodológica para os estudos do meio ESTUDOS DO MEIO PLANEJAMENTO FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA AULA DE CAMPO SISTEMATIZAÇÃO ETAPAS PARA ESTUDOS DO MEIO Figura 1 Esquema para etapas para estudos do meio Como podemos observar é necessário rigor para realizar estudos do meio porque se trata de pesquisa geográfi ca no ensino Aula de Campo É imprescindível que a escola possibilite aos alunos a apropriação das múltiplas lin guagens que facilitarão seu diálogo com o mundo pois no processo do ensinoapren dizagem geográfi co é necessário mais do que informações e conceitos à medida que a construção do conhecimento vai se desenvolvendo ao longo da vida escolar Assim tanto o conteúdo quanto a forma devem ser sistematizados para garantir a construção do conhecimento geográfi co Na relação que existe entre a forma e a aprendizagem os recursos didáticos ade quados servem para viabilizar melhorias qualitativas educacionais Vale a pena pontuar Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 86 que os recursos didáticos deverão ser provenientes do conhecimento LIMA 2007 p 93 E os estudos do meio especialmente os locais possibilitam ao aluno compreen der o seu espaço geográfi co se verem como parte e como agentes transformadores da paisagem e da construção do conhecimento Quanto ao conhecimento geográfi co citamos autoras que assinalam que Quere mos chamar a atenção para a ideia de que na Geografi a o estudo do local do en torno pode ter relevância na construçãoformação de conceitos geográfi cos FANTIN TAUSCHECK 2005 p 380 Nessa acepção a terminologia utilizada para os estudos do meio diferem dependendo das concepções a História por exemplo utiliza o ter mo guia de percurso e a escola pode e deve contribuir para que o aluno amplie sua visão de mundo e perceba com clareza as relações desenvolvidas em seu meio O trabalho de campo é um exemplo de atividade que desenvolve a capacidade de raciocínio geográfi co como a observação e a descrição da paisagem e leva a pensar criticamente a realidade na qual os alunos estão inseridos A Geografi a possui estreita relação com a observação da realidade e o trabalho de campo está relacionado com o local desenvolvendo a observação direta com o espaço vivenciado e possibilitando a relação entre os conceitos teóricos Sabemos que o espa ço geográfi co apresenta marcas peculiares e tornase necessário então compreender todo o processo da transformação para entender a disposição atual No documento Paraná 2006 p 46 consta que a aula de campo é um rico en caminhamento metodológico mas que deve ser realizada com um planejamento adequado Desta maneira julgamos que as aulas de campo servem como experiência prática do conhecimento geográfi co tornando mais rica a aula em que os alunos podem in teragir com o conhecimento Lembramos que existem várias formas de aprendizagem entre elas a visual a auditiva e a sinestésica ESTUDOS DO MEIO E PROJETOS O discurso geográfi co atual no âmbito da escola deve proporcionar a discussão de temas contemporâneos como os ambientais sociais e econômicos O ensino da Geo grafi a escolar deve ultrapassar o conhecimento livresco para responder às questões atuais que integram as problemáticas da sociedade contemporânea e propiciar a cons trução de uma aprendizagem pautada na realidade e no conhecimento historicamente produzido Em conformidade com Sansolo e Cavalheiro 2001 p 114 cabe à geogra fi a considerar o meio natural no espaço geográfi co mesmo naqueles intensamente transformados pelo homem E essa nova abordagem se faz necessária visto que as 87 transformações ocorridas no espaço geográfi co mundial e nacional carecem de um novo diálogo do ser humano com o mundo Tal diálogo pode ser realizado por meio de ações educativas que permitam a análise da percepção dos sujeitos atuais sobre o meio em que vivem Nesse contexto uma das questões ambientais da atualidade está relacionada com a problemática da funcionalidade urbana As vias públicas os edifícios as escolas e to dos os equipamentos que compõem o cenário urbano devem ser percebidos de forma integral e crítica por quem deles faz uso com vista ao efi ciente exercício de funções como moradia trabalho circulação e lazer Embora a preocupação com a funcionali dade seja a mais evidente é certo que não deve ser a única dessas preocupações pois as questões referentes aos valores atribuídos ao ambiente e à ética em relação a ele também devem estar presentes nas abordagens dos estudos do meio que diferentemente do estudo estático baseado em livro didático provoca ain da um maior interesse por parte dos alunos em aprender observando e fa zendo leituras do espaço geográfi co com sua dinâmica diversidade e confl itos MALYSZ 2007 p 171 A seguir apresentamos dois projetos de ensino que podem subsidiar a prática pe dagógica do professor PROJETOS DE ENSINO GEOGRÁFICO Projeto 1 educação ambiental e interdisciplinaridade 1 Palavraschave cidadania interdisciplinaridade educação ambiental 2 Objetivo O objetivo deste trabalho é apresentar uma possível abordagem para o trabalho com a Educação Ambiental no Ensino Fundamental relacionandoa com várias áreas do conhecimento tais como Matemática Português Língua Inglesa Educação Artística Ensino Religioso Educação Física Ciências História e Geografi a 3 Justifi cativa O estudo do ambiente de forma interdisciplinar tornase um instrumento para a ampliação de referências dentro e fora da escola e para promover a aprendizagem signifi cativa para o aluno de maneira coletiva e dialógica 4 Encaminhamentos metodológicos A metodologia consiste na adaptação do trabalho construído por Paulo Freire 2005 em que o autor menciona a necessidade de haver um diálogo transformador partindo da realidade dos alunos ou seja de palavras que possuam sentido experienciado pelo aluno o que Freire chama de tema Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 88 gerador Deste modo cada uma das disciplinas contempladas na matriz curricular da escola pode apresentar sua contribuição A fi gura abaixo apresenta um esquema de trabalho interdisciplinar para a Educação Ambiental no Ensino Fundamental Fonte COSTA 1998 apud COSTA 2002 adaptação Nesse sentido a Educação Ambiental pode alcançar várias dimensões entre elas a interdisciplinar e um tema gerador como a praça pode derivar vários temas secundários partindose sempre da realidade do aluno a saber A disciplina de Matemática pode fazer trabalhos estatísticos com os usuários da praça para conhecer a realidade social de quem utiliza esse ambiente também pode se utilizar das formas espaciais para conceitos matemáticos A disciplina de Português pode contribuir trabalhando textos históricos sobre o local e produzindo trabalhos escritos acerca dos conhecimentos que vão se produzindo ao longo do estudo A disciplina de Língua Inglesa pode utilizar textos relativos ao tema nas aulas contribuindo para que o estudo tenha um caráter científi co e cultural uma vez que na atualidade essa língua é a mais difundida no meio científi co Assim o aluno poderá compreender que os problemas locais também são encontrados em outros lugares do mundo e analisar as soluções encontradas A disciplina de Educação Artística pode trabalhar o folclore das praças a arte contida nela e na igreja contribuindo para resgatar o valor cultural do entorno da escola O Ensino Religioso pode contribuir para levar ao aluno a repensar seus valores éticos já que são essas características que são evidenciadas em atitudes Outra contribuição é a análise das relações sociais que ocorrem nesse espaço A Educação Física que busca a o desenvolvimento físico e mental do aluno pode usar a praça como um recurso didático para o despertar da consciência para a busca por uma melhor qualidade de vida A disciplina de Ciências pode priorizar os estudos dos seres vivos como plantas animais e nós mesmos seres humanos também pode fazer um estudo da qualidade do ar e do solo 89 A disciplina de História pode buscar conhecer a história local como um ponto de partida para a valorização do ambiente e assim levar o aluno a apreender que somos homens históricos A disciplina de Geografi a pode levar os alunos a apreender as relações sociais que ocorrem nesse espaço e os impactos ambientais e suas consequências para a população Outra contribuição é levar o aluno a perceber o ambiente antrópico e a correlacionar as ações do homem e a transformação desse ambiente PROJETO 2 PERCEBENDO A ESCOLA E O BAIRRO 1 Palavraschave escola bairro percepção ambiental 2 Objetivo Despertar nos alunos a percepção crítica das interrelações existentes entre os homens entre si e com o meio ambiente escola e bairro 3 Justifi cativa A escola carece de proporcionar aprendizagem signifi cativa e para tanto é necessário que consiga estabelecer relações com os conteúdos das disciplinas escolares a partir da realidade do aluno 4 Encaminhamentos Metodológicos A melhor forma de levar os alunos a perceberem o seu ambiente é o profes sor orientálos para a capacidade de observar Depois desse primeiro passo deve pedirlhes que listem desenhem descrevam comentem e representem os componentes do ambiente da sala de aula do panorama visto por eles da janela da casa da escola do jardim e das casas que rodeiam sua escola Outra maneira de ensinar o aluno a ter percepção de espaço é fazer com que ele identifi que o que é da natureza e o que foi feito e transformado pela mão do ser humano Por meio de aulas de campo nos bairros o professor deverá orientálos a observar as diferenças dos objetos dispostos e compreender as relações existentes no espaço Também pode leválos a parques ecológicos e propor atividades que os levem a compreender a diferença entre uma mata Atlântica e um parque refl orestado modifi cado pela ação do homem Desse modo o professor deve levar o aluno a fazer comparação entre um ambiente conservado um jardim bem cuidado e um ambiente degradado e maltratado pela ação do homem um jardim sem fl ores sem gramado com bancos des truídos etc Da mesma forma os alunos devem fazer a mesma comparação entre as construções tais como casas prédios escolas etc conservadas e as depredadas por atos de vandalismo a fi m de desenvolverem o conceito de conservação e preservação pois o ser humano é responsável por tudo que o cerca Por último chamar a atenção de sua classe para a limpeza da sala de aula e encarregar cada grupo de alunos das atividades habituais de limpeza passando a ideia de que a todos cabe a responsabilidade de cuidar de seu espaço O mesmo aplicase à sua casa ao seu local de lazer à rua parques e jardins bairros cidade etc Fonte MANSANO 2006 Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 90 Esses projetos foram idealizados diante do contexto educacional da atualidade em que mudanças começam a solicitar a reestruturação de todo o sistema de aprendiza gem exigindo novas performances não só do aluno mas também do professor que deve mudar suas práticas pedagógicas de maneira que o aluno possa construir sua aprendizagem integrando as várias áreas do conhecimento A seguir apresentamos outra proposta para estudos do meio LEITURA COMPLEMENTAR Etapas na organização do estudo do meio O ponto de partida encontro dos sujeitos sociais é a refl exão individual e coletiva sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas em determinada escola Nesse processo buscase pelo exame das características do lugarsolo em que uma determinada unidade escolar deseja fi ncar suas raízes ou seja o exame de seus problemas de seus desejos enfi m de suas mais sérias questões A opção pelo espaço e tema a serem estudados podem estar situados nas adjacências da unidade escolar tais como o quarteirão o bairro o fundo de vale mais próximo passando pelo município como um distrito industrial um prédio público e seus arredores uma área de mata nativa até lugares mais distantes como uma cidade histórica um parque ecológico A defi nição dos objetivos e o planejamento seus objetivos mais gerais podem ser descritos de acordo com Pontuschka Paganelli e Cacete 2007 p 177178 da seguinte maneira consolidação de um método de ensino interdisciplinar denominado estudo do meio no qual interagem a pesquisa e o ensino compartilhamento dos diferentes olhares presentes no trabalho de campo mediante as visões diferenciadas dos sujeitos sociais envolvidos no projeto coleta de dados e informações específi cas do lugar de seus frequentadores e das relações que mantêm com outros espaços emersão de conteúdos curriculares disciplinares e interdisciplinares a ser contemplados na programação produção de instrumentos de avaliação em um trabalho participativo criação de recursos didáticos baseados nos registros divulgação dos processos e do resultado Elaboração do caderno de campo O caderno de campo é um instrumento tradicional no trabalho de pesquisa de geógrafos antropólogos geólogos entre outros Com o advento por exemplo dos computadores portáteis e aparelhos de GPS fruto da revolução tecnológica na qual estamos imersos o caderno de campo em seu formato tradicional um bloco de papel em branco para anotações escritas desenhos e croquis tem perdido importância relativa A experiência tem mostrado que o caderno de campo desempenha função didáticopedagógica fundamental em 91 todas as etapas da realização dos Estudos do Meio Vejamos então os principais elementos que devem compor o caderno de campo A capa A capa elaborada por um aluno ou pelo professor deve expressar o tema central ou um aspecto signifi cativo do Estudo do Meio a ser desenvolvido Pode ser um desenho uma fotografi a ou outro ícone que sintetiza e mostra características marcantes do lugar a ser estudado Revela considerando a interpretação do grupo a identidade do meio ou do espaço a ser estudado É importante reservar na sequência uma página em branco para um desenho pessoal ou individual O roteiro e o cronograma das atividades a serem desenvolvidas durante a pesquisa de campo Outro elemento orientador do trabalho de campo e que deve constar no caderno de campo é um cronograma com as atividades que serão desenvolvidas um roteiro ilustrativo do percurso a ser descrito e que pode ser rápida e convenientemente consultado pelos participantes Deve conter enfi m de maneira explícita os objetivos elaborados pelo grupo e uma grade com os nomes e contatos dos participantes Recomendase também a elaboração de um índice Textos e mapas de apoio Tratase de uma coletânea de textos de mapas de gráfi cos etc selecionados que visam subsidiar o grupo no trabalho de campo a ser desenvolvido em sua dimensão conceitual procedimental e atitudinal Roteiro das entrevistas A realização das entrevistas cumpre papel destacado na concretização dos Estudos do Meio Assim um momento importante para seu sucesso é a prévia elaboração por professores e alunos do conjunto de questões que servirão de guia para a abordagem da população residente na comunidadecidaderegião eleita para estudo e pesquisa Espaços para anotação desenhos e croquis é fundamental reservar espaços nesse caderno de campo para registros diversos tais como a fala dos entrevistados anotações diversas de outros dados e informações consideradas relevantes e apropriadamente espaços para a elaboração de desenhos e croquis O trabalho de campo A ideia de ir a campo apenas como necessidade de sair da sala de aula é um pouco perigosa Pode seguramente esvaziar as potencialidades educativas dessa atividade como método de ensino A pesquisa de campo é reveladora da vida ou seja por meio dela pretendese conhecer mais sistematicamente a maneira como os homens e as mulheres de um determinado espaço e tempo organizam sua existência compreender suas necessidades seus desejos suas lutas com vitórias e fracassos Assim durante o trabalho de campo educadores e educandos devem submergir no cotidiano do espaço a ser pesquisado buscando estabelecer um rico diálogo com o espaço e na condição de pesquisadores com eles mesmos É importante atentar para as oportunidades proporcionadas pelos roteiros de observação para fotografi as fi lmagens e porque não para a inspiração artística na forma de poemas músicas e desenhos A sistematização dos dados coletados na pesquisatrabalho de campo O Estudo do Meio não se encerra com o trabalho de campo Desta forma no primeiro contato entre os participantes do Estudo do Meio conduz se uma exposição livre das sensações experimentadas perguntandose ao grupo os fatos que foram mais importantes ou signifi cativos para cada pessoa A visão fragmentária perde força e iniciase um processo de síntese no qual os envolvidos no trabalho se descobrem como seres interdisciplinares FREIRE Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 92 2000 O momento seguinte é o da construção do conhecimento ou seja da análise do material coletado na pesquisa de campo de pensar coletivamente o que revela o conjunto dos registros Avaliação e divulgação dos resultados Como todo trabalho educativo a avaliação permite aos seus participantes apreciar os resultados aprimorar os processos e sempre que necessário redefi nir seus objetivos É importante também que na medida do possível a equipe responsável possa divulgar seus resultados Assim os possíveis benefícios produzidos pela realização dos Estudos do Meio podem extrapolar as fronteiras da escola que o organizou Fonte LOPES PONTUSCHKA 2010 Adaptação A autora REFLETINDO A escola tem o papel de encaminhar as questões ambientais produzindo conheci mento que leve o aluno a perceber o signifi cado dos objetos que o cercam Para tanto é necessário que esteja conectada com a sociedade e consciente de seus desafi os É im portante que a escola assuma esse papel porque a formação de um cidadão consciente passa a signifi car a afi rmação da possibilidade de exercício da cidadania democrática condição indispensável para a inserção social do indivíduo Considerando que em todas as novas propostas sobre a educação é preciso levar em conta que a aprendizagem deve promover situações em que os alunos possam construir seu conhecimento de forma que tenha sentido para suas vidas entendemos que uma das maneiras de se buscar esse novo diálogo da escola com o mundo é de senvolver projetos educacionais que envolvam os temas contemporâneos objetivando ainda que tais projetos possam ser trabalhados de maneira lúdica prazerosa crítica criativa e interdisciplinar Ressaltamos ainda que os estudos do meio podem representar um dos instrumen tos indispensáveis para a apreensão das relações entre o ser humano e a natureza no ensino formal Proposta de Atividades 1 Elabore um préprojeto sobre os estudos do meio Deve ser levada em con sideração a realidade da escola e do educando lembrese das etapas para estudos do meio 93 Título Palavraschave 1 Introdução 2 Fundamentação teórica 3 Encaminhamentos metodológicos procedimentos equipamentos e materiais a serem utilizados 4 Cronograma geral 5 Resultados esperados Referências 2 Com base em seu préprojeto e na leitura complementar elabore um caderno de campo Observe o roteiro abaixo CAPA ROTEIRO CRONOGRAMA TEXTOS E MAPAS ENTREVISTAS ANOTAÇÕES DESENHOS E CROQUIS Referências COSTA Aurora M F C Educação Ambiental no ensino formal necessidade de construção de caminhos metodológicos In PEDRINI Alexandre de G Org O contrato da ciência unindo saberes na educação ambiental Petrópolis Vozes 2002 p 137171 FANTIN Maria E TAUSCHECK Neusa M Metodologia do Ensino de Geografi a In REZENDE Cláudio José TRICHES Rita Inocêncio Paraná espaço e memória diversos olhares geográfi cos Curitiba Bagozi 2005 LIMA M D G de Ensino de Geografi a e produção de videodocumentário In PASSINI E Y P R MALYSZ S T Prática de ensino de Geografi a e estágio supervisionado São Paulo Contexto 2007 LOPES Claudivan Sanches PONTUSCHKA N Nacib O estudo do meio fundamentos e estratégias Maringá EDUEM 2010 Coleção Fundamentum n 56 Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 94 MALYSZ Sandra T Estudo do meio In PASSINI Elza Y PASSINI Romão MALYSZ Sandra T Prática de ensino de Geografi a e estágio supervisionado São Paulo Contexto 2007 224p MANSANO Cleres do N A escola e o bairro percepção ambiental e interpretação do espaço de alunos do Ensino Fundamental 2006 170 f Dissertação Mestrado em Educação para o Ensino de Ciências e da MatemáticaCentro de Ciências Exatas Universidade Estadual de Maringá Maringá 2006 PARANÁ Secretaria de Estado da Educação Diretrizes curriculares da Educação fundamental da rede de Educação básica do Estado do Paraná ensino fundamental Geografi a Curitiba 2006 SANSOLO Davis G CAVALHEIRO Felisberto Geografi a e Educação ambiental In SANTOS José E dos SATO Michele A contribuição da Educação ambiental à esperança de pandora São Carlos RIMA 2001 p 109131 SANTOS Milton Metamorfoses do espaço habitado São Paulo Hucitec 1988 Anotações 95 Escalas geográfi cas algumas considerações Cleres do Nascimento Mansano Na Geografi a para que haja análise do fenômeno deve ser esclarecida a escala geográfi ca adotada tanto a espacial como a temporal ou seja é impossível analisar um fenômeno geográfi co sem considerar o tempo e a extensão espacial fatores primor diais na manifestação do fenômeno e em sua interpretação Marques e Galo 2008 2009 preconizam que o conceito de escala é abrangente e como não há consenso sobre o conceito de escala geográfi ca ou escala útil para análise do fenômeno geográfi co muitas vezes a escala geográfi ca acaba sendo confundida com escala cartográfi ca É necessário fazer distinção entre a escala cartográfi ca que é fração matemática e se refere à codifi cação e decodifi cação leitura das produções cartográfi cas sendo inver samente proporcional ou seja representação de uma área pequena correspondendo a uma grande escala e viceversa Já escala geográfi ca é diretamente proporcional ou seja um fenômeno que ocorre em uma área de extensão pequena como a problemá tica de um bairro correspondendo a uma escala geográfi ca pequena Para a análise geográfi ca as duas escalas são necessárias mas a categoria de análise baseada na escala geográfi ca corresponde à área real de abrangência do fenômeno enquanto que a esca la cartográfi ca corresponde à representação da área real Para deixar clara a distinção de escala geográfi ca e cartográfi ca Marques e Galo 2008 2009 citam o exemplo de Castro 1996 que explica que um fenômeno geo gráfi co como uma voçoroca não pode ser analisado como de grande escala pois em relação ao espaço físico acontece em uma pequena porção da Terra enquanto que o afastamento das placas tectônicas é um fenômeno geográfi co que acontece em uma grande porção da Terra Assim a representação da voçoroca na cartografi a é de grande escala mas na geográfi ca é de pequena escala NÍVEIS DE HIERARQUIA ESPACIAL TERRESTRE Na escala geográfi ca há os níveis de hierarquia espacial terrestre conforme repre senta o esquema a seguir 7 Geografi a Metodologia do Ensino 96 PLANETA CONTINENTE REGIÃO LOCAL Figura 1 FORMAM 1995 apud MARQUES GALO 2008 2009 p 52 O esquema representa que embora haja a inserção de espaços na realidade no ensino geográfi co não há como trabalhar considerandose a hierarquia seja do global para o local ou viceversa Muitos fenômenos devem ser analisados com base na inter relação existente entre os espaços sejam relações de poder ou de atividade Moura e Alves 2002 p 315 nos alertam que ao trabalharmos com o educando sobre a realidade local não podemos nos esquecer que a realidade não é somente o estudo do bairro ou da cidade vai além pois existem relações entre os espaços A aná lise de um fenômeno geográfi co não pode ser entendida levandose em consideração somente a hierarquia acima e na prática pedagógica O professor precisa ter consciência da escala em que está produzindo a geo grafi a com seus alunos local regional nacional ou internacional pois como vivemos em uma sociedade desigual do ponto de vista social e econômico esse aspecto tornase importante já que cada parcela do espaço geográfi co não se explica por si mesma O estudo de qualquer parte da realidade não deve restrin gir aos seus limites mas estar inserido no interior de um contexto maior que é social cultural político econômico e espacial Desse modo o jogo racional das escalas é importan te para a compreensão entre os fenômenos sociais da mesma escala e sua articulação com escalas de outras dimensões PONTUSCKA 1999 p 135 apud MOURA ALVES 2002 p 315 No ensino geográfi co considerar a existência de diferentes escalas atuantes em determinado fenômeno possibilita a sua compreensão como um todo facilitando o entendimento das relações existentes Racine Raffestin e Ruffy 1983 tratam a escala como um fi ltro que preserva o que é pertinente em relação ao objeto de estudo per mitindo sua compreensão Straforini 2001 p 49 trabalha com o conceito de totalidade de espaço pois acredita que não se pode ensinar Geografi a de forma linear já que Não há como con ceber o mundo linearmente estudando por parte casa rua bairro cidade estado país continente separadamente para depois juntálos formando assim o mundo No ensino analisar os fenômenos geográfi cos em especial os relacionados à proble mática dos conceitos sociedade e natureza e apontar soluções é um dos papéis da Geo grafi a escolar envolvendo respostas práticas e exigindo o olhar geográfi co em uma perspectiva integrada Um exemplo de perspectiva integrada é uma problemática 97 urbana analisada em escala local mas sem desconsiderar o contexto global porque a contemporaneidade exige que sejam analisados os fenômenos geográfi cos com toda a complexidade das relações existentes Castro 1995 afi rma que a escala geográfi ca pode ser considerada como um artifí cio analítico que dá visibilidade ao real Porém realçamos que uma escala geográfi ca não pode ser vista isoladamente uma vez que perde seu poder explicativo O recorte espacial a ser analisado sob o olhar geográfi co estará sempre relacionado com seu en torno com as demais escalas há conexão entre as escalas em um mesmo fenômeno porque vivemos em um mundo globalizado em que as ações realizadas em um deter minado lugar refl etemse em outro Um erro recorrente nas pesquisas geográfi cas são os estudos de bacia hidrográfi ca realizados como se o recorte da paisagem explicasse todos os fenômenos existentes No caso do estudo da degradação de uma microbacia hidrográfi ca existem conexões físicas como as geológicas e climatológicas e as humanas que vão desde o uso que a população local faz dessa bacia até as relações econômicas e políticas que estão inseri das no contexto ambiental O RECORTE TEMPORALESPACIAL As transformações ocorrem no planeta desde a sua formação independentemente da ação humana e muitas dessas transformações levaram bilhões de ocorrência e con tinuam em atividade considerando que o planeta é vivo Analisar o tempo geológico também faz parte da educação geográfi ca porque esses fenômenos também interfe rem na vida das pessoas Alguns fenômenos ocorrem em uma escala geográfi ca e temporal pequena como um tsunami mas não devemos esquecer que as multirrelações existentes entre os recortes espaciais acabam por infl uenciar outros lugares Quanto à questão das transformações do espaço geográfi co os seres humanos constroem seu meio a partir das múltiplas relações e só se torna geográfi co pelo olhar geográfi co lançado pelo indivíduo sobre o objeto Santos 1988 p 61 informa que o estudo do espaço é um tema intrínseco às diversas áreas do conhecimento Segundo o autor há muito tempo diversos profi ssionais analisam o espaço como um produto e processo histórico Contudo Santos 1988 p61 acredita que Todos os espaços são geográfi cos porque são determinados pelos movimentos da sociedade da produção Mas tanto a paisagem quanto o espaço resultam de movimentos superfi ciais e de futuro da sociedade uma realidade de funciona mento unitário um mosaico de relações de formas funções e sentidos Escalas geográfi cas algumas considerações Geografi a Metodologia do Ensino 98 Na contemporaneidade ao lado da escala geográfi ca a escala temporal tem assumi do um papel muito importante pois as transformações do espaço geográfi co ocorrem rapidamente e as informações são transmitidas também com muita rapidez e em gran de volume praticamente inexistindo barreiras de distâncias geográfi cas ou seja as distâncias que são hoje a base da organização do espaço não são mais as distâncias euclidianas mas as distâncias humanas aquelas relativas ao tempo à atividade do ho mem SILVEIRA 2006 p 83 É impossível entender os fenômenos geográfi cos sem relacionar os conceitos de espaço e tempo Callai 2003 p 59 registra que Os fenômenos acontecem no mundo mas são localizados temporal e terri torialmente em um determinado local Isso que dizer que fenômenos que acontecem em certos lugares e em determinados períodos tem infl uencia noutros lugares e noutros períodos inclusive As explicações sejam sociais econômicas ou naturais no sentido de espaço físico podem ser buscadas no lugar em si mas não se esgotam nele apenas Assim devemos pensar que não existe espaço sem tempo nem tempo sem es paço O espaço geográfi co atual é o espaço onde a vida humana tem um papel fundamental e onde os seres humanos se relacionam por isso tornase necessário percebêlo e interpretálo com a fi nalidade de melhor compreender as relações que nele se desenvolvem GLOBALIZAÇÃO E GEOGRAFICIDADE Na contemporaneidade do mundo globalizado a educação geográfi ca deve ser realizada por meio da complexidade das relações existentes entre os espaços e os agentes transformadores do espaço Nesse contexto a análise da escala geográfi ca e as relações existentes ganha relevância em razão das multirrelações existentes uma vez que um fenômeno localizado em determinado espaço apresenta interferências e consequências deem outros espaços devido à relação do poder da natureza ou ins titucional existente Santos 1988 p 61 analisando S Amin 1980 postula que a globalização da sociedade e da economia gera a mundialização do espaço geográfi co e carrega um novo signifi cado acrescentando que Na evolução da sociedade cada um de seus componentes tem um papel diferente no movimento da totalidade e o papel de cada uma é diferente a cada momento Assim a globalização é uma nova forma de análise da Geografi a e sem ela não é possível realizar um olhar geográfi co A análise de qualquer recorte espacial não pode ser realizada desconsiderando a hierarquia espacial seja de forma linear ou não Os recortes espaciais são complementares e interligados e fazem parte de um 99 mesmo processo de integração porque O mundo é hoje globalizado em todas as dimensões espaciais sejam elas o bairro ou o país o local e o global se encontram numa íntima relação de proximidade STTRAFORINI 2001 p 56 Os fenômenos geográfi cos apresentam localização espacial e temporal multirre lações entre lugares e escalas geográfi cas eou cartográfi cas ou seja geografi cida de que pode ser defi nida como O ponto ônticoontológico da tradução do metabolismo homemmeio no metabolismo homemespaço A geografi cidade é assim o serestar es pacial do ente pode ser o homem um objeto natural ou o próprio espaço quando este é posto diante da indagação o espaço o que é qual sua na tureza seja qual for o caráter de sua qualidade MOREIRA apud KATUTA 2009 p 16 No ensino de Geografi a é necessário formar um aluno crítico capaz de agir local mente mas compreender as relações espaciais que envolvem os fenômenos locais Essa forma de ensinar é importante na alfabetização geográfi ca haja vista ser neces sário que o aluno compreenda os recortes espaciais e as relações existentes A escala geográfi ca do fenômeno estudado é de extrema relevância para com preendêlo como um todo exigindo novas práticas pedagógicas que levem o aluno à aprendizagem signifi cativa ou seja aquela que tem signifi cado na vida do aluno Katuta pontua que é por meio do diálogo entre as geografi ciades ou as maneiras como os fe nômenos se organizam espacialmente em diferentes escalas local estadual regional nacional planetária entre outras que os estudantes podem me lhor compreender as determinações dos mesmos tornandose desta maneira capazes de infl uenciar na produção de lugares mais democráticos KATUTA 2009 p 16 A autora também alerta que a prática pedagógica da abordagem do espaço a par tir do círculo concêntrico do local para o global nem sempre é possível e que cabe ao professor estabelecer as escalas de análise em que a geografi cidade do fenômeno será abordada Essa refl exão fazse necessária uma vez que muitos professores acreditam que de vem sempre usar essa fórmula como uma camisa de força mas se o sentido é buscar um ensino signifi cativo de Geografi a o aluno muitas vezes precisará estudar outros espaços geográfi cos fora do seu alcance visual Se no ensino de Geografi a devese considerar o conhecimento prévio do aluno a primeira escala geográfi ca que o educando compreenderá é a escala local mas é ob vio que não se deve desconsiderar que as outras escalas geográfi cas são importantes Escalas geográfi cas algumas considerações Geografi a Metodologia do Ensino 100 para relacionar o conhecimento visto que não há como entender a distribuição de uma população local sem relacionar a hierarquia das escalas espaciais a escala tem poral bem como a relação entre o físico e o humano Uma prática pedagógica envolvendo as diferentes escalas geográfi cas e as rela ções do meio físico e do humano nos é apresentada por Pereira e Antonello 2008 que utilizam o recurso literário da fábula para ensinar sobre o México sobre sua população seus recursos naturais e mazelas sociais aos alunos dos últimos ciclos do Ensino Fundamental O interessante é que há uma delimitação de escala geográfi ca o local o México Não se trata do local de moradia dos educandos mas de fenôme nos de um determinado local que têm características próprias e ao mesmo tempo apresentam relação de conexão com outros lugares americanos Os autores propõem que seja analisado o problema em uma escala local os eji dos mas que também seja relacionado na escala regional e nacional que se tratam dos interesses do governo e até mesmo com a escala global para que os alunos per cebam que os interesses globais suplantam os interesses governamentais de países subdesenvolvidos bem como os interesses da população Os autores também advertem para o professor relacionar a fábula com os conteú dos de Geografi a e com a realidade dos educandos Dessa forma perceberão que a realidade do seu local de moradia tem relação com outros lugares PROPOSTA DE ANÁLISE DO FENÔMENO E CORRELAÇÃO DO ESPAÇO E TEMPO Para a prática pedagógica no ensino de Geografi a propomos que o professor trabalhe com seus alunos no sentido de Observar o entorno identifi cando a relação dos fenômenos locais com os globais e a relação do tempo nas transformações do espaço geográfi co Localizar os fenômenos tendo como referência a sua espacialidade e a ana logia com outros locais bem como localizar o tempo de ocorrência do fenômeno Desenvolver habilidades e noções de localização e orientação Codifi car e decodifi car mapas a fi m de sistematizar a localização e a orien tação dos fenômenos assim como para compreender a diferença de escala cartográfi ca e geográfi ca Correlacionar as informações sobre localização e orientação dos fenômenos em diferentes escalas temporais e espaciais Compreender como as expressões espaciais locais articulamse com os arran jos espaciais pretéritos e globais 101 REFLETINDO Entender as escalas de espaço e tempo e correlacionar as multirrelações que envolvem esses conceitos é primordial na compreensão do conceitochave da Geo grafi a que é o espaço geográfi co pois é nele que se realizam as manifestações da natureza e as atividades humanas Por isso compreender a organização e as transfor mações sofridas por esse espaço é imprescindível para a educação geográfi ca Deste modo à Geografi a escolar cabe fornecer subsídios que permitam aos edu candos compreenderem a realidade que os cerca em sua dimensão espacial em sua complexidade e em sua velocidade e o espaço deve ser entendido como o produto das relações reais que a sociedade estabelece entre si e com a natureza Assim a escolha da escala geográfi ca a localização temporal bem como sua in terpretação e correlação é parte da análise geográfi ca e da apreensão da própria realidade Proposta de Atividades 1 Com base na fi gura a seguir faça uma análise da escala geográfi ca do fenômeno e correla cione com as diferentes escalas geográfi cas Ilustração MANSANO Flávia R V M 2 Diferencie escala geográfi ca e escala cartográfi ca Escalas geográfi cas algumas considerações Geografi a Metodologia do Ensino 102 Referências CALLAI H C O ensino de Geografi a recortes espaciais para análise In CASTROGIOVANI A C et al Org Geografi a em sala de aula práticas e refl exões Porto Alegre UFRGS 2003 CASTRO Iná Elias de O problema da escala In CASTRO I E et al Org Geografi a conceitos e temas São Paulo Bertrand 1995 CASTRO I GOMES P C C CORRÊA R L Org Geografi a conceitos e temas Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1996 KATUTA A M et al Geo Grafando o território a mídia impressa no ensino de Geografi a São Paulo Expressão Popular 2009 MARQUES A J GALO M L B T Escala geográfi ca e escala cartográfi ca distinção necessária Boletim de Geografi a Maringá v 2627 n 1 p 4455 20082009 MOURA Jeani Delgado Paschoal ALVES José Pressupostos teóricometodológicos sobre o ensino de Geografi a elementos para a prática educativa Geografi a Londrina v 11 n 2 juldez 2002 PEREIRA ANTONELLO A compreensão de conceitos geográfi cos mediante a utilização da narrativa literária no ensino de Geografi a In GRATÃO L H B CALVENTE M C M H ARCHELA R S Múltiplas Geografi as ensino pesquisa Londrina Ed Humanidades 2008 RACINE J B RAFFESTIN C RUFFY V Escala e ação contribuições para uma interpretação de mecanismo de escala prática da Geografi a Revista Brasileira de Geografi a Rio de Janeiro v 45 n 1 p 123135 janmar 1983 RAFFESTIN Claude Por uma Geografi a do poder São Paulo Ática 1993 SANTOS Milton Metamorfoses do espaço habitado São Paulo Hucitec 1988 103 SILVEIRA Maria Laura O espaço geográfi co da perspectiva geométrica à perspectiva existencial GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo n 19 p 8191 2006 STRAFORINI Rafael Ensinar Geografi a nas séries iniciais o desafi o da totalidade mundo 2001 155 f Dissertação MestradoUniversidade Estadual de Campinas Instituto de Geociências CampinasSP 2001 Anotações Escalas geográfi cas algumas considerações Geografi a Metodologia do Ensino 104 Anotações 105 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Jorge Ulises Guerra Villalobos AS CIDADES As cidades experimentaram ao longo de seu processo de expansão e consolidação inúmeras inovações tais como as provenientes da inclusão das áreas verdes dentro de um marco de política higienista quanto das inovações nas vias de circulação provo cadas pela mudança dos meios No entanto sempre mantiveram uma constante a de regrar os usos do solo e destacamos que foram particularmente intensas as ações dos planejadores quando disciplinaram as atividades industriais que pretendiam ocupar o perímetro urbano Nesse regramento a ênfase sempre foi no sentido de disciplinar a instalação e o funcionamento das indústrias com base nas consequências conhecidas decorrentes da poluição atmosférica e das águas constatadas desde a Revolução Industrial No Bra sil certamente o caso emblemático de contaminação urbana seja Cubatão no litoral paulista Nesse contexto inúmeras análises de caráter macro foram realizadas ressaltando se os confl itos de usos de solo poluição e doenças Porém desde que Carson em 1962 escreveu Primavera Silenciosa o território urbano também passou a ser foco de novos problemas advindos desde o seu entorno O livro de Carson iniciava com a seguinte assertiva Houve outrora uma cidade no coração da América onde a vida toda parecia viver em harmonia com o ambiente circunstante1 Esse paradigma postula que os habitantes das cidades passam a assumir os riscos 1 Rachel Carson Primavera Silenciosa São Paulo Editora Melhoramentos 1969 8 Geografi a Metodologia do Ensino 106 que os controladores dos insetos calculam2 passando a suportar também os danos Isto signifi ca assinalar que o território não somente pode ser analisado como urbano ou rural uma vez que existe uma profunda implicação quanto ao dinamismo de fl uxos que os integram Nessa perspectiva é possível apontar três eixos de análise da paisagem urbana a saber 1 A deriva de poluentes advindos das indústrias e das atividades 2 A contaminação do solo da água e do ar 3 O meio ambiente de trabalho A respeito do primeiro eixo vale lembrar que em 2009 a Agência Nacional de Vigi lância Sanitária Anvisa constatou que mais de 64 das amostras de pimentão analisa das pelo PARA Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos indicou quantidade de resíduo tóxico acima do permitido A Anvisa também encontrou em alimentos analisados resíduos de agrotóxicos que não são permitidos no Brasil como o caso do leite materno contaminado por agrotóxicos em Lucas do Rio Verde No tocante ao segundo e terceiro temas o caso mais notório foi o que envolveu o Shopping Center Norte em São Paulo o qual foi construído em 1984 em cima de uma área que fora depósito de resíduos urbanos lixão Vamos aos fatos A área era um brejo às margens do Rio Tietê que havia sido utilizado como depósito pelas indústrias e desativado em 1975 Nesse ano houve o primeiro aterro sobre o lixão depositaramse no local os entulhos do prédio Mendes Caldeira que fora implo dido em São Paulo logo depois vieram os restos das escavações das obras do metrô O shopping foi interditado uma vez que havia evidente risco de explosão expondose assim ao perigo centenas de trabalhadores que ali laboravam Entretanto o problema não parou ali Nas proximidades do citado shopping foi construído o projeto Cingapura em 1994 na gestão do prefeito Paulo Maluf e no con junto habitavam 2787 pessoas todas elas ocupando apartamentos em área de risco potencial de explosão em razão do acúmulo de gás metano proveniente do lixão que se encontra debaixo das construções TERRITÓRIO COMO UNIDADE O termo território possui uma conotação geográfi ca no sentido espacial além de uma especifi cidade econômica e política signifi ca ainda lugar que contém uma 2 Rachel Carson Primavera Silenciosa São Paulo Editora Melhoramentos 1969 107 localização e uma especifi cidade de recursos naturais que têm sido apropriados e transformados em um processo de trabalho particular Assim a apropriação e a transformação do território estão referenciadas pelo grau de desenvolvimento que o grupo social possui e pela forma de apropriação realizada segundo padrões de modelos de desenvolvimento havendo nesse processo instru mento específi co que é o planejamento e a gestão3 do território o qual por seu turno envolve tanto os debates puramente técnicos como implica necessariamente na parti cipação da comunidade local em todas as esferas desse processo Isso signifi ca um diálogo permanente ao longo da elaboração das propostas bem como nos debates referentes aos critérios que fundamentam as decisões sendo tam bém desejável que a participação popular adentre no processo de implantação e ava liação das ações de planejamento O PLANEJAMENTO TERRITORIAL O planejamento territorial não é meramente um levantamento de demandas ou de possibilidades associadas com um cronograma de custos e execução o planeja mento confi gurase como um processo que de fato pode iniciarse com as deman das porém não termina com a elaboração do projeto É amplamente aceito hoje que o planejamento é um processo de andar para a frente portanto é permanente e contínuo salientandose que esse andar está norteado por diretrizes que lhe dão fundamento Entendemos que o planejamento não se realiza no terreno dos espaços abstratos mas ele se materializa no território Assim como o território tem um papel de cata lizador das ações humanas que resultaram das dinâmicas históricas tanto de média quanto de curta duração o planejamento constituise como um instrumento que deve contribuir para construir e garantir a harmonia e o equilíbrio em longo prazo a todos os moradores do território Logo o planejamento centrase na articulação das potencialidades e limitações existentes no território de modo a garantir às futuras gerações uma existência com qualidade de vida Vejamos o caso do recuo frontal que é exigido nas construções Além de estar asso ciado à ventilação está relacionado com a paisagem urbana ou seja com a morfologia 3 Gestão territorial tratase da aplicação de uma estrutura funcional construída no âmbito técnicopolíticoparticipativo e para isso se realizam minimamente as seguintes etapas seleção das alternativas de uso colocação em prática das alternativas selecionadas replanejamento que é a correção de rumo resultado da avaliação permanente do processo As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 108 da paisagem urbana e não simplesmente com uma questão de insolação como previs to inicialmente no urbanismo higienista É claro em toda a literatura científi ca que os recuos não são tema novo no Brasil Estes por exemplo podem ser encontrados em 1967 quando o arquiteto Jorge Wi lheim4 coordenou o plano SERETE em Natal e que sobre a famosa ocupação na borda Brasília Teimosa indicou a sua remoção com a justifi cativa de que a precariedade da ocupação marcada pela alta densidade e ausência de recuos frontais nas residências como impossível para uma remodelação segundo os padrões defi nidos pelo Plano Grifouse às fl s 50 Observemos ainda que o referido plano desenvolvido por Wilheim foi responsável pela implantação padrão de avenidas largas para Natal facilitando a penetração dos ventos dominantes e exigindo recuos para iluminação e ventilação das habita ções WILHEIM apud PANTOJA 2006 p 40 grifos nossos Nesse mesmo sentido estão os estudos de Eduardo Alberto Cuscé Nobre que no artigo5 intitulado O ideário urbanístico e a legislação na cidade de São Paulo do Códi go de Posturas ao estatuto da Cidade destaca que a legislação urbanística do período de 1886 já previa a valorização da área central e que para isso haviam contribuído as determinações relacionadas com os parâmetros urbanísticos como as alturas dos pavimentos os recuos e as aberturas das construções Nessa mesma direção está o trabalho de Rudnei Ferreira Campos6 que tratou da Análise da Infl uência da Orientação da Testada dos Lotes na Ocupação do Setor Estru tural de Curitiba e que afi rma Em 1895 foi instituído o primeiro Código de Posturas de Curitiba que estabelecia normas para o ordenamento e crescimento da cidade sobretudo no aspecto da higienização como por exemplo o recuo mínimo entre as casas CAMPOS 2005 p 45 4 Lílian Pantoja Parâmetros urbanísticos para habitação de interesse social uma análise crítica para as rocas em NatalRN Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo Natal 2006 p 50 Jorge Wilheim coordenou através da SERETE o Plano Diretor para Natal 1967 no qual foi estabelecido o conceito de urbanismo como estratégia desenvolvimentista 5 IX Seminário de história da cidade e do urbanismo São Paulo 4 a 6 de setembro de 2006 p 4 6 Rudnei Ferreira Campos Análise da Inf uência da Orientação da Testada dos Lotes na Ocupação do Setor Estrutural de Curitiba Dissertação de Mestrado em Construção Civil do Programa de PósGraduação em Construção civil Setor de Tecnologia Universidade Federal do Paraná Curitiba 2005 109 Na mesma linha de raciocínio Nabil Georges Bonduki7 em Origens da habitação social no Brasil publicada na Revista de Análise social associa o fato da inexistência dos recuos com as soluções habitacionais a maior parte das quais buscando economizar terrenos e materiais através da geminação e da inexistência de recuos frontais e laterais cada qual destinado a uma capacidade de pagamento de aluguel BONDUKI 1994 p 713 grifos nossos Este autor esclarece que a inexistência de recuos se deu em razão da especulação imobiliária escrevendo que para aumentar o aproveitamento de um solo caro e dis putado pela intensa especulação imobiliária BONDUKI 1994 p 713 grifos nossos Ainda no estudo de Sérgio Ricardo Palhares 20018 o autor alega que inicialmente os IAPs adotaram casas unifamiliares no centro do lote com re cuos laterais e frontais contrariando as tendências dos promíscuos cortiços Apesar de o modelo utilizado inicialmente ser considerado impróprio a uma desejada economia de escala buscavase prioritariamente a melhoria de vida dos moradores p 36 Vejamos então que todos os estudos aqui trazidos são coerentes quanto ao enten dimento do papel dos recuos e o seu valor tanto paisagístico quanto urbanístico para o desenvolvimento organizado planejado e de qualidade do ambiente do urbano que se confi gura como ambiente essencialmente construído REFERÊNCIAS PARA O PLANEJAMENTO O planejamento territorial objetiva a organização de ações tanto de caráter econô mico social quanto ambiental as quais segundo H Richter9 podem ser agrupadas sinteticamente em sete categorias gerais 1 Manutenção de uso do solo atual os usos do solo podem gerar efeitos nega tivos que exigem uma ação de orientação para adequálos aos critérios atuais 2 Recuperação de zonas utilizadas inadequadamente os confl itos de interesses de grupos que objetivam somente o benefício econômico direto bem como 7 Nabil Georges Bonduki em Origens da habitação social no Brasil publicada na Revista de Análise social vol XXIX 127 1994 3 p 711732 8 Sérgio Ricardo Palhares Variantes de Modifi cação em habitação popular do espaço planejado ao espaço vivido Belo Horizonte Escola de Arquitetura da UFMG 2001 9 RICHTER H T e position of landscape mangement in the geographical landscape research In Landscape Management Martin Luther Universität Halle 1986 p167173 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 110 a ignorância e as necessidades imediatistas podem causar grandes danos ao território os quais precisam ser remediados 3 Intensifi cação o aumento da intensifi cação unidirecional no uso do território provoca restrições10 para outros possíveis usos 4 Utilização múltipla forma distinta de intensifi cação que combina vários usos sobre o mesmo território e que demanda zonas especiais para preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas11 de bens tais como o abastecimento de água cenários turísticos fontes minerais e biodiversidade12 dentre outros 5 Extensifi cação combinase com a intensifi cação e a utilização múltipla Seu estabelecimento pode reduzir erros provocados em fases do desenvolvimento do território 6 Alteração do uso do solo é geralmente provocada pela ampliação dos núcleos urbanos infraestrutura do tráfego exploração mineral dentre outros Deman dam estudos integrados para evitar efeitos indesejados 7 Construção de novos territórios estudos ambientais13 relativos à construção de novos territórios como são a recuperação de áreas que foram imersas pela implantação de represas recuperação ou restauração de áreas de mineração dentre outros14 Essas categorias servem para entender de forma sintética os desdobramentos das ações de planejamento porém não explicam seu conteúdo Para isso é necessário re correr a um modelo de planejamento o qual foi apresentado de modo revolucionário em fi nais dos anos sessenta por Ian McHarg 200015 Esse modelo se baseia em um es tudo de diagnose de potencialidades as quais são confrontadas com as características 10 Análise de risco ambiental Análise gestão e comunicação de riscos à saúde humana e ao meio ambiente Resolução CONAMA Nº 3052002 11 Artigo 225 1º inciso II da Constituição Federal da República Federativa do Brasil 12 Biodiversidade Compreendem a variedade e genótipos espécies populações comunidades ecossistemas e processos ecológicos existentes em uma determinada região Compreende tam bém a variedade dentro de cada espécie entre espécies e de ecossistemas Vamos Cuidar do Brasil Conferência Nacional do Meio Ambiente Textobase MMA 2003 31p 13 Estudos ambientais Todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacio nados à localização instalação operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento apresentado como subsídio para a análise da licença ambiental Fonte Resolução Conama Nº 3052002 14 Bolos M et al Manual de ciência del paisaje Barcelona Masson 1992 15 Ian L McHarg Proyectar com la naturaleza Gustavo Gili Barcelona 2000 111 inerentes das diferentes unidades territoriais Tratase da relação entre os fatores com potencialidades positivas e as restrições de caráter negativo Assim esse planejamento oferece um processo racional explícito e que leva em conta os valores da comunidade interessada desenhandose dessa forma uma confi guração territorial integrada idô nea considerando as tendências de seu desenvolvimento McHarg 2000 reconhece que os desafi os no processo de planejamento são múlti plos a ponto de que não se trata de planejamento de território mas de planejar com o território questão que coloca o caráter cooperativo da relação do homem com o lugar no qual este realiza sua vida Nas metodologias de análise16 territorial depois de McHarg 2000 se adotaram os estudos integrados do território disciplinandose rigorosamente a realização de diag nose prognose síntese implantação correção de impactos e a avaliação do processo a fi m de que todas as ações do planejamento tivessem sufi ciente substância analítica bem como fossem projetadas com a natureza Além disso hoje é consenso que o pla nejamento territorial também depende fortemente de como se distribui o poder ou seja de como a população se integra no processo Devemos ter sempre presente que o território municipal pode ser conceituado como um conjunto de terras materializadas em um processo de fracionamento e usos do solo Nesse sentido o fracionamento do solo é um meio que disciplina a organi zação funcional estética ambiental social e econômica do território municipal As sim quando existe carência de planejamento no uso e ocupação do solo é comum o surgimento de vários confl itos como por exemplo os resultantes da implantação de indústria nas proximidades das residências fragmentação da malha urbana e conges tionamento de fl uxos entre outros sendo que todas essas situações afetam signifi cati vamente a qualidade da cidade como um todo É fundamental então considerar que o estabelecimento de políticas e diretrizes de planejamento territorial do município incluam necessariamente o planejamento físico a estruturação urbana o parcelamento o uso e a ocupação do solo tanto urbano quanto rural não negligenciando o desenvolvimento econômico e social com ênfase na produção na geração e na distribuição de renda e na participação popular durante todo o processo 16 Análise ambiental Exame detalhado de um sistema ambiental por meio do estudo da qua lidade dos seus fatores componentes ou elementos assim como dos processos e interações que nele possam ocorrer com a fi nalidade de entender sua natureza e determinar suas características essenciais Avaliação ambiental estratégica MMA 92p As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 112 PARTICIPAÇÃO CIDADÃ No planejamento está previsto um quadro normativo que deve garantir a execução das ações para isso existe um plano de investimentos públicos que objetivam vincular as ações com um recurso necessário para concretizar as propostas No entanto para tal é necessária a existência de uma articulação territorial dos diferentes interesses assim um momento importante da relação entre o orçamento participativo e o planejamento territorial se estabelece através dos próprios projetos aos quais se prioriza durante o processo17 Essa articulação se realiza através das denominadas plenárias territoriais que por regra geral incidem mais sobre uma dimensão local bairro e as plenárias temáticas estas últimas incidindo intensamente sobre o conjunto da cidade18 A discussão do orçamento em territórios limitados bairros implica no fato de apresentar certas demandas limitadas em escala de abrangência territorial e que cor respondem exclusivamente ao bairro como são por exemplo as melhorias das cal çadas dos centros comunitários e praças Essa ação local aparece em confl ito com as reivindicações que interessem à cidade como um todo e que têm uma dimensão territorial de ordem estrutural Para equacionar esse risco as assembleias temáticas são estratégicas uma vez que permitem tratar temas de abrangência global como são a saúde e o meio ambiente os quais certamente interessam à cidade como um todo No debate da construção dos critérios exerce um papel essencial a formação dos delegados dos conselheiros e da cidadania em geral19 haja vista que este é um dos ele mentos centrais para o êxito do processo de articulação política do planejamento da cidade A princípio todos participam do Orçamento Participativo e dos processos de planejamento territorial de modo que se estabelece um vínculo forte entre orçamento e planejamento participativo porém esse liame somente será duradouro se entende mos que o orçamento e o planejamento confi guramse em um processo que envolve 17 O Governo Popular Conselho Municipal de Saúde e a população de Maringá conseguiram aumentar o teto fi nanceiro do município para 29 milhões Maringá 01 de setembro de 2005 Executiva Municipal do Partido dos Trabalhadores Maringá 18 Fonte Experiência junto ao Orçamento participativo Maringá Governo Popular 2000 2004 19 Os personagens principais do orçamento participativo o que é ser delegado e conselheiro do orçamento participativo In httpwwwongcidadeorgsitephpnoticiasnoticiasphpcomple taA0areaartigosidnoticia27 Fazer política pública baseada no princípio da vontade popular construída democraticamente traz para a prática dos movimentos sociais um elemento educativo fundamental mantendo o processo do Orçamento Participativo sempre dinâmico e cada vez mais forte no propósito de discutir e defi nir políticas em um processo de cogestão com os moradores da cidade 113 a efetivação dos projetos ao mesmo tempo em que seu acompanhamento e avaliação devendo ser realizado com critérios capazes de indicar com clareza os avanços ou retrocessos em relação às metas estabelecidas Disto decorre um princípio já enunciado no qual o planejamento é visto como processo integral realizado de forma coerente em um sistema dialético participação planejamento No Núcleo Temático referências normativas para a construção do planejamento destacamos que o Marco Constitucional é a principal referência para o processo de planejamento Através dessa Norma Fundamental do Estado Democrático de Direito é que o planejador deve nortearse para fazer chegar os recursos públicos necessários aos territórios mais carentes Esse fundamento facilita a inversão de prioridades territoriais uma vez que deter minadas políticas públicas passam a ser prioritárias principalmente as que possuem caráter distributivo sendo fundamentadas na restauração dos equilíbrios territoriais vejamos especialmente a esse respeito a Constituição Federal em seu Art 3º que preconiza que Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil I construir uma sociedade livre justa e solidária II garantir o desenvolvimento na cional III erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais IV promover o bem de todos sem preconceitos de origem raça sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminação NORMAS PARA A CONSTRUÇÃO DO PLANEJAMENTO20 O pilar fundamental do planejamento reside no ordenamento normativo no Estado brasileiro a Constituição da República Federativa do Brasil os fundamentos desse Estado Democrático de direito estão expressos em seu artigo primeiro21 Quando tratamos dos fundamentos estamos trazendo para o debate aquilo que le gitima para a razão uma questão inequívoca na qual repousa a ordem de um sistema 20 Planejamento seu objetivo é de elaborar uma estrutura de atuação sobre o território Tratase de um sistema que contém um conjunto de relações técnicopolíticoparticipativas realizada por profi ssionais conjuntamente com a população diretamente interessada e que se concretiza em informações projetos leis segundo os conteúdos seguintes Análise territorial Cenários de evolução Síntese com estabelecimento de defi nições de ações Implantação e Avaliação das ações e resultados 21 Art 1º A República Federativa do Brasil formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal constituise em Estado democrático de direito e tem como fundamentos I a soberania II a cidadania III a dignidade da pessoa humana IV os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V o pluralismo político Parágrafo único Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 114 Assim ressaltamos o inciso III que determina que a Dignidade da Pessoa Humana é um tema essencial no campo do planejamento Isso se justifi ca porque essa temática é condição do processo civilizatório e exer cício da razão que garante o questionamento e a ruptura dos paradigmas sociais e a superação das visões conservadoras Nesse contexto o planejador busca materializar os fundamentos estudando e contribuindo no desenvolvimento das condições dos meios e das situações em que estes ou aqueles direitos possam ser realizados22 O desafi o do planejador quanto à dignidade da pessoa humana é entender que participa da construção de alternativas em um processo no qual a sociedade negocia 23 certo consenso o qual termina sendo traduzido em uma fórmula genérica que é aplicada no planejamento E mesmo se de fato pode não resolver todas as contradi ções pode terminar sendo aplicada24 através do exercício da liberdade O professor Bandeira de Mello 200125 reconhece que é importante considerar as especifi cidades das ações e principalmente saber quais são os argumentos para programálas Assim é possível imaginar uma primeira substância negativa na constru ção da igualdade trazendo às luzes do debate no planejamento fatores que poderiam ser erguidos como desacato ao princípio da isonomia No entanto esses elementos residentes nas coisas pessoas ou situações podem ser benefi ciados como exclusivos diferenciadores sem contudo desacatar ao princípio isonômico Para tal as discri minações legais devem estar fundamentadas e não serem obtidas de forma arbitrária As normas gerais referentes ao direito urbanístico antes da Constituição de 1988 são essencialmente o Decreto Lei n 58 de 11 de março de 1937 que disciplinava os loteamentos urbanos e rurais e questões de ordem civil em particular as relações entre o loteador e os adquirentes de lotes Posteriormente está a Lei 676679 que dispõe do parcelamento do solo e que especifi camente veio a resguardar o interesse público contido no ato de parcelar o solo urbano26 22 José Francisco de Assis Dias Capítulo II A Categoria Direitos do Homem 2005 p 1314 23 Bobbio Norberto Sul fondamento dei diritti delluomo in ED 5 Apud José Francisco de Assis Dias Capítulo II A Categoria Direitos do Homem 2005 24 José Francisco de Assis Dias Capítulo II A Categoria Direitos do Homem 2005 25 Celso Antônio Bandeira de Mello Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade São Paulo Malheiros editores Ltda 2001 26 Loteamentos e desmembramentos urbanos Comentários à nova lei de parcelamento do solo urbano lei N 6766 de 20101979 Toshio Mukai Alaôr Caff é Alves e Paulo José Villela Lomar São Paulo Sugestões Literárias 1980 115 Observemos que essa lei ao tratar dos requisitos urbanísticos para loteamento inova em relação á legislação anterior posto que introduz sobre a matéria a nível nacional normas gerais de direito urbanístico tão reclamadas pela doutrina 27 Em 1980 entra em vigor a Lei 680380 que trata do zoneamento industrial nas áreas urbanas críticas de poluição e em 1981 através da Lei n 6938 se institui a Política Nacional do Meio Ambiente a qual incide diretamente na questão urbanística quando determina que a política nacional de meio ambiente visará Art 4 inc I à compatibilização do desenvolvimento econômicosocial com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico Salientamos também o caráter planejador da ação governamental uma vez que o Art 5 da referida norma determina que As diretrizes da política nacional do meio ambiente serão formuladas em nor mas e planos destinados a orientar a ação dos governos da união dos estados do Distrito federal dos territórios e dos municípios no que se rela ciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico observados os princípios estabelecidos no art 2 desta lei Percebamos também que o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental nas cidades está em absoluta consonância com os instrumentos da política nacional do meio ambiente estabelecidos no Art 9 da referida lei Hoje a vigência do estatuto da cidade deu visibilidade a uma importante norma que segundo Lúcia Valle Figueiredo é a norma geral de direito urbanístico emanada da competência da União nos termos constitucionais Art 24 inc I e 1 da Consti tuição da República28 Verifi camos assim que a contribuição da Norma Geral do Estatuto da Cidade apa rece claramente delineada quando o princípio constitucional da livre concorrência se vê afetado por norma municipal que impede a instalação de empresa com igual atividade econômica que outra nas proximidades da área conforme está expresso na Súmula 646 do STF A esse respeito José Afonso da Silva 2010 importante voz autorizada em seu li vro Direito Urbanístico Brasileiro29 sustenta que o conceito de norma geral no direito 27 Toshio Mukai Alaôr Caff é Alves e Paulo José Villela Lomar São Paulo 28 Município Disciplina Urbanística da propriedade 2a edição revista e atualizada São Paulo Malheiros 2005 29 Malheiros Editores 6a edição 2010 p 6465 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 116 urbanístico está essencialmente no sentido de ser norma que se aplica igualmente aos diferentes entes da federação ou seja União estados Distrito Federal territórios e municípios A razão lógica o fundamento da generalidade está na ideia defendida por Carvalho Pinto e Aliomar Baleeiro ou seja as normas gerais hão de apresentar além da genera lidade da aplicação a generalidade no conteúdo Nessa mesma esteira reside o entendimento de Geraldo Ataliba para quem as lei gerais sinônimo de leis nacionais são aquelas que se referem a princípios gerais e abstratos próprios da lei nacional sem invasão portanto das esferas específi cas e privativas das leis federais estaduais e municipais para prevenir possíveis confl itos ocorríveis nos pontos de atrito previsíveis ou nas áreas não defi nidas não atribuídas explícita ou implicitamente a qualquer pessoa pública política pelo instrumento apropriado que é a Constituição30 ATALIBA apud SILVA 2010 p 64 Do mesmo entendimento compartilha o Excelso Administrativista Hely Lopes Mei relles para quem as normas gerais são imposições de caráter genérico e de aplicação indiscriminada em todo o território nacional Vejamos que a questão de norma geral para ter natureza e substância de tal segun do José Afonso da Silva 2010 é indispensável acrescentar a previsibilidade constitu cional específi ca31 p 65 E continua asseverando que as normas gerais não regulam diretamente situações fáticas porque se limitam a defi nir uma normatividade genérica a ser obedecida pela legislação federal estadual e municipal Entendemos então que as normas gerais traçam diretrizes balizas quadros à atua ção legislativa da União dos estados e dos municípios O autor continua com igual entendimento ao nosso enfoque Normas gerais são portanto normas de leis ordinárias ou complementares produzidas pelo legislador federal nas hipóteses previstas na Constituição que estabelecem princípios e diretrizes SILVA 2010 p 65 30 José Afonso da Silva Direito urbanístico brasileiro 6ª ed Revista e atualizada Malheiros 2010 31 José Afonso da Silva Direito urbanístico brasileiro 6ª ed Revista e atualizada Malheiros 2010 117 É evidente assim que as normas municipais que disciplinam os usos e a ocupação do solo possuem evidente lastro ancorador do interesse local sendo elas as normas específi cas do direito urbanístico CONSIDERAÇÕES FINAIS Cabe compreender desde logo que o tipo de organização política vigente no país é fundamental à afi rmação das competências no planejamento dos usos e da ocupação do solo do município Assim o trato normativo de cunho específi co das questões de interesse urbano fi ca para os municípios e seus munícipes O município dessa maneira está incumbido de desempenhar de forma satisfatória todas as suas competências sejam de ordem material ou legislativa para o adequado controle na utilização do uso do solo em sua circunscrição territorial O município cuida do interesse local que direta ou indireta mente atinge a comunidade que vive o problema Lembremos que a Constituição Federal de 1988 determina ser o município o res ponsável pela defi nição e ordenação do solo urbano para a defi nição e implementação dos instrumentos urbanísticos O respaldo constitucional emana dos Artigos 30 e 182 e sua fi nalidade está na limitação do poder de disposição por parte do Poder Público sobre a esfera privada da propriedade direcionando o desenvolvimento urbano e social em um marco do desenvolvimento local sustentável A gestão do território municipal assim é fruto de um planejamento local que signifi ca o estabelecimento de diretrizes índices urbanísticos parâmetros objetivos análises técnicos estudo de programas e a escolha dos meios mais adequados para se alcançar os objetivos traçados democraticamente com a participação popular Segundo Meirelles 200932 a gestão territorial objetiva garantir o desenvolvimento municipal considerandose para isso as especifi cidades geológicas sociais econômi cas e de interesse público que devem conduzir as decisões do Poder Público e de particulares no que se refere ao uso e ocupação do solo Esse dispositivo também mostra com bastante coerência o caráter específi co e téc nico do uso e ocupação do solo uma vez que toda intervenção necessita de respaldo especializado considerando as consequências negativas à qualidade de vida urbana decorrentes de intervenções não estudadas e planejadas 32 Direito Municipal Brasileiro 3ª ed São Paulo ED RT 1977 16ª ed São Paulo Malheiros Editores 2009 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 118 A legislação não é mero instrumento mas instrumento essencial e específi co ao parcelamento e ocupação do solo já que disciplina o ordenamento e planejamento do território municipal de modo a evitar uma situação caótica que resulta da carência de planejamento José Alfonso da Silva 2010 p 204 entende que a ordenação não é apenas a defi nição de um regime jurídico qualquer mas de um regime coerente capaz de produzir a ordem e não a desordem SILVA 2010 p 204 Assim o planejamento do território orientado por princípios constitucionais e de senvolvido detalhadamente na legislação municipal garante o atendimento dos inte resses coletivos33 Constatamos por último que a discricionariedade vista como a liberdade do go vernante está limitada pois existe vinculação na gestão do território à norma a qual deve garantir a qualidade de vida dos que vivem nas cidades Proposta de Atividades 1 Busque no Google com as seguinte palavras Shopping Iguatemi contaminação do solo após escolha as matérias de jornais e as leia a seguir assista ao vídeo com o ambientalista Carlos Bocuhy que participa do Jornal da Record News e discorre sobre a contaminação do solo do Shopping Center Norte em São Paulo Em seguida elabore um roteiro para análise de situações que eventualmente estejam acontecendo no seu município Disponível em httpvideosr7comambientalistafalasobrecontaminacaonosolode shoppingemspidmedia4e8fa681fc9b9ed208cdfa45html Referências BOBBIO Norberto Sul fondamento dei diritti delluomo In DIAS José Francisco de Assis A categoria direitos do homem S ls n2005 Cap 2 BOLOS M et al Manual de Ciência del paisaje Barcelona Masson 1992 33 Se de um lado a Constituição insere no interior do regime da propriedade a obrigação do atendimento de interesses públicos de outro ela impede que a concretização desses interesses fi que ao sabor da arbitrariedade política 119 BONDUKI Nabil Georges Origens da habitação social no Brasil Revista de Análise Social sn v 27n 127 1994 p 711732 BRASIL Constituição 1988 Constituição Federal da República Federativa do Brasil promulgada em 5 de outubro de 1988 Organização do texto Vade Mecum São Paulo RT 2012 BRASIL Ministério do Meio Ambiente Resolução CONAMA Nº 3052002 Dispõe sobre Licenciamento Ambiental Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto no Meio Ambiente de atividades e empreendimentos com Organismos Geneticamente Modifi cados e seus derivados Brasília DF 2002 CAMPOS Rudnei Ferreira Análise da infl uência da orientação da testada dos lotes na ocupação do setor estrutural de Curitiba 2005 Dissertação Mestrado em Construção CivilPrograma de PósGraduação em Construção Civil Setor de Tecnologia Universidade Federal do Paraná Curitiba 2005 CARSON Rachel Primavera silenciosa São Paulo Melhoramentos 1969 DIAS José Francisco de Assis Dias A categoria direitos do homem In DIAS José Francisco de Assis Dias Consensus ommnium gentium Sarandi PR Humanitas Vivens 2005 Cap 2 p 1314 MARINGÁ Governo Popular Conselho Municipal de Saúde Aumento do teto fi nanceiro do município para 29 milhões Maringá 01 de setembro de 2005 MARINGÁ Governo Popular Experiência junto ao orçamento participativo Maringá Pr 20002004 McHARGIan L Proyectar com la naturaleza Barcelona Gustavo Gili 2000 MEIRELLES Hely Lopes Direito municipal brasileiro 3 ed São Paulo RT1977 MEIRELLES Hely Lopes Direito municipal brasileiro 16 ed São Paulo Malheiros 2009 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 120 MELLO Celso Antônio Bandeira de Conteúdo jurídico do princípio da igualdade São Paulo Malheiros 2001 MUKAI Toshio ALVES Alaôr Caffé LOMAR Paulo José Villela Loteamentos e desmembramentos urbanos comentários à nova lei de parcelamento do solo urbano lei N 6766 de 20101979 São Paulo Sugestões Literárias 1980 p 24 MUKAI Toshio ALVES Alaôr Caffé LOMAR Paulo José Villela Município disciplina urbanística da propriedade 2 ed rev e atual São Paulo Malheiros 2005 MUKAI Toshio ALVES Alaôr Caffé LOMAR Paulo José Villela Município disciplina urbanística da propriedade 6 ed rev e atual São Paulo Malheiros 2010 p 6465 PALHARES Sérgio Ricardo Variantes de modifi cação em habitação popular do espaço planejado ao espaço vivido Belo Horizonte Escola de Arquitetura da UFMG 2001 PANTOJA Lílian Parâmetros urbanísticos para habitação de interesse social uma analise crítica para as rocas em NatalRN Natal RN Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo 2006 p 50 OS PERSONAGENS principais do orçamento participativo o que é ser delegado e conselheiro do orçamento participativo SI sn200 Disponível em http wwwongcidadeorgsitephpnoticiasnoticiasphpcompletaA0areaartigos idnoticia27 Acesso em 22 nov 2011 RICHTER H The position of landscape management in the geographical landscape research In LANDSCAPE Management Halle Martin Luther Universität 1986 p 167173 SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO 9 2006 São Paulo Anais São Paulo sn 2006 p 4 121 Fotografi a Território e Literatura Jorge Ulises Guerra Villalobos A FOTOGRAFIA A qualquer geógrafo ou professor de Geografi a que perguntássemos pelo nome de Alexander von Humboldt 17691859 responderia no mínimo que está associado diretamente à história da geografi a científi ca Esse naturalista alemão está também vinculado à apresentação do invento de Louis Jacques Mande Daguerre 17871851 o Daguerrotipo à Academia de Ciências de Paris e sua participação não parece ter sido secundária Humboldt viveu durante anos em Paris como um conceituado homem de ciên cia e mantinha estreita amizade com François Arago1 17861853 Este último era em 1839 deputado republicano pelo partido Pirinueus Orientais Franceses e fora designado pela Academia de Ciências de Paris não somente por ser um político mas também um cientista aberto aos novos descobrimentos para que juntamente com Humboldt e Biot emitisse um parecer sobre a invenção de Daguerre parecer este que considerava a relevância de seu invento Na visita que esses cientistas fi zeram à casa de Daguerre coube a Arago tornar públicos os informes da Comissão O señor Daguerre há descoberto umas pantalhas especiais nas quais a imagem ótica deixa uma perfeita imagem2 Humbodlt não se restringiu a participar somente da Comissão mas certamente infl uenciou a intervenção de Arago na Academia de Ciências de Paris pois o invento revolucionaria todo o mundo Em 7 de janeiro de 1839 se fi zeram públicos os primeiros reconhecimentos da téc nica diabólica3 depois de a Comissão ter emitido parecer favorável e em 19 de agos to desse mesmo ano na sessão da Academia Arago tornou defi nitivamente público o 1 ZUMETA G Diálogos fotográf cos imposibles Andalucia Centro Andaluz de la Fotogra fi a 1996 p 17 2 SOUGEZ M História de la Fotografi a p 54 3 ZUMETA G p 21 9 Geografi a Metodologia do Ensino 122 processo que revolucionaria e substituiria os desenhistas que seriam necessários para copiar os jeroglífi cos existentes seja em Tevas Menfi s Karnak etc4 pois como afi r mava Arago Com o Daguerrotipo um só homem poderia desenvolver esse trabalho Há de esperarse também que seja possível obter mapas fotográfi cos de nosso satélite5 A sala da reunião da Academia fi cou lotada nela estavam os homens mais impor tantes das ciências tais como Watt Morse Humboldt todos atentos à comunicação de Arago No Brasil a primeira notícia pública do invento de Daguerre foi publicada no dia 1 de maio de 1839 no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro e referiase às notícias publicadas na França pelo jornal O Seculo divulgando a primeira apresentação do invento em janeiro desse mesmo ano O invento ou descobrimento de que vamos fauar merece hum e outro titulo a natureza e o engenho do homem podem ahi apostar primazias A natureza apa rece retratandose a si mesma copiando as suas obras assim como as da arte He innegavel a vista do que levamos apontado que este invento hum dos mais admiraveis de nossos tempos terá largas consequencias em todas as artes do desenho e contribuirá não só para o progressos do luxo util e aformoseador da sociedade mas também para maior aproveitamento das viagens quer sejão scientífi cas ou artisticas ou moraes quer de simples divertimento e recreação6 A relação da fotografi a com as viagens que aparece no texto citado é direta e de modo também direto manifestase a relação com a Geografi a uma disciplina profun damente associada às viagens como assim demostram os títulos de revistas france sas em circulação à época Journal de Voyages 1808 La Tour du Monde Lectures Géographiques A palavra fotografi a signifi ca escrever com luz e acreditase que foi utilizada pela primeira vez por Sir John Herschel em 18397 porém em 1832 Hercules Florence um litografi sta de Campinas SP escrevia em seu caderno de notas os seguintes títulos Fi xation des imagens dans la chambre obscure e Photographie como forma de referir se às experiências de impressão com luz solar8 que ele desenvolvia 4 SOUGEZ M p 57 5 SOUGEZ M p 58 6 Jornal do Commercio n 98 p 2 151836 In KOSSOY B Hercules Florence 1833 a descoberta isolada da Fotograf a no Brasil São Paulo Duas Cidades 1980 p 4345 7 Segundo Boris Kossoy a palavra fotografi a fora utilizada pela primeira vez por Hercules Flo rence em 1833 8 KOSSOY B op cit p 7677 123 No contexto das artes o romanticismo e o naturalismo estão no berço da fotogra fi a O real passava a estar presente em uma relação estabelecida entre o espírito da natureza e o espírito do homem e do romanticismo são expoentes clássicos Francisco Goya 17461828 e William Blake 17571877 entre outros Os trabalhos pictóricos do realismo apresentavamse como contraproposta ao romanticismo e ao classicismo mostrando cenas dos trabalhadores a vida cotidiana e as paisagens comuns como são por exemplo os trabalhos de JeanFrançois Miuet 18141875 A relação com as correntes pictóricas dominantes em meados do século XIX mar cou e infl uenciou os fotógrafos que antes de serem técnicos eram artistas Existe consenso entre os historiadores da fotografi a em denominar o período que vai desde a divulgação em Paris do Daguerrotipo até início do século XX de período artístico da fotografi a porque ali estavam imbricados os trabalhos dos pintores e fotó grafos muitas vezes coincidindo em apenas uma ou ambas as artes A sociedade anônima dos artistas pintores escultores e gravadores que seria co nhecida mais tarde como a base do Impressionismo Monet Renoir Dega Cézanne entre outros teve sua primeira exposição no salão de Gaspar Felix Tournachom Na dar 18201910 um conhecido fotógrafo retratista parisiense entre abril e maio de 1874 Certamente foi Nadar quem representou melhor a relação fotografi apintura não somente pela sua participação na Sociedade mas por sua delicada elaboração dos retratos contando entre eles os de Delacroix e Manet O estudo dos irmãos Tournachom era o mais concorrido de Paris chegando a co nhecerse o número 113 da Rua SaintLazare como SaintNadar Nadar era caricaturis ta atividade que lhe permitiu desenvolver a capacidade de obter caráteres sínteses dos personagens habilidade que aplicou com êxito na fotografi a de retratos A relação entre a pintura e fotografi a estava dada no início pela tentativa de ambas as artes para elaborar a cópia fi el da realidade capacidade que desde os primeiros mo mentos a fotografi a demostrou possuir Susan Sontag pontua ser essa a característica que liberou o pintor para se dedicar à fi guração abstrata Voltemos um momento à reunião da Academia de Ciências e observemos como foi descrito o processo do Daguerrotipo Daguerre tomou a placa de cobre prateada e frotou sua superfície suavemente com um algodão molhado numa mistura de pedra pomes e azeite de oliva Cobriu toda a superfície e observei que fazia isto de modo circular e depois em movimentos paralelos Logo lavou a placa com um líquido composto de uma parte de acido nítrico por 16 partes Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 124 de água destilada Depois aqueceu levemente a placa pondo a par te revestida de cobre diretamente na lamparina Novamente deu um banho de acido Assim preparada a placa podia exporse aos vapores de iodo Nesse momento a escuridão se precipitou na sala A placa foi posta numa tabuinha e o conjunto foi colocado numa caixa provida de uma tampa e o iodo que estava no fundo se distribuiu de modo uniforme através de um pano esticado numa moldura de madeira Os vapores de iodo que sobem distribuíamse uniformemente na superfície prateada formandose uma capa de ioduro de prata de cor amarelo cobre Nesse momento chegou uma câmara escura previamente enfoca da em direção ao exterior a placa preparada foi colocada na câmara escura Permaneceu enfocando o exterior um quarto de hora Ao sa car a placa o desânimo foi geral aparentemente nada acontecera e duvidavase do êxito O senhor Daguerre ensinou a placa durante 30 segundos com a cara prateada em direção ao solo três espectadores abriam muito os olhos e afi rmavam não há nada Assim Daguerre a colocou dentro de uma caixa No fundo da qual estava uma vasilha de barro contendo duas libras de mercúrio aca lentado por uma lâmpada até 62 graus Com o mercúrio quente a essa temperatura as partículas de mercúrio se evaporam e sobem para fi xarse na superfície da placa o que fazia aparecer a imagem Na parte superior da caixa uma janela permitia vigiar a operação Quando tudo esteve pronto a placa foi retirada e lavada com água destilada quase fervendo saturada de sal marinho Tudo estava ter minado e foi possível admirar a obra Nunca vi nada tão perfeito Cada objeto aparecia fi namente grava do Com uma lupa era possível diferenciar os grãos e ainda determinar a matéria e essência de cada objeto fi xado9 O trabalho de imprimir de forma direta uma imagem em algum tipo de suporte placa de cobre vidro pedra ou papel era procurado por cientistas amadores e profi s sionais desde quando foi reconhecida a infl uência da ação dos raios solares em certos materiais basicamente os sais de prata 9 SOUGEZ M op cit p 6061 125 É importante assinalarmos que o trabalho de Daguerre não foi um descobrimento isolado como durante anos se pensou A construção da nova técnica não foi indivi dual apareceu simultaneamente em vários outros lugares Pelo que tudo indica a intervenção de Arago junto à Academia de Ciências foi bási ca não somente ao silenciar o trabalho de Bayard mas também pela obtenção da pu blicidade do governo francês ao invento A contribuição direta ao novo processo feita por JosephNicéphore Niépce 17651833 quem desenvolveu o Daguerrotipo tam bém foi silenciada ao manterse como único inventor LouisJacques Mandé Daguerre A importância de Daguerre é inquestionável em todo esse processo mesmo que seja relativizada pelas novas contribuições à história da fotografi a porém a presença de Fox Talbot talvez não fosse ainda reconhecida plenamente porque foi sua contri buição que permitiu passar da cópia única à popularização do número indeterminado de cópias fotográfi cas No entanto o processo de Talbot foi superado pelo trabalho de Archer que em 1851 desenvolvia a fotografi a através de uma chapa umedecida previamente prepara da com nitrato de celulose e sensibilizada com nitrato de prata Mas em 1871 Maddox abriu as portas para os chasis intercambiáveis de chapas fotográfi cas que por volta de 1877 já eram comercializados liberando o fotógrafo de ter que revelar imediatamente as chapas As modifi cações do suporte da imagem fotográfi ca foram também acompanhadas pelas transformações da câmara fotográfi ca que de dimensões intransportáveis foi ce dendo espaço às pequenas e manipuláveis Essas rápidas transformações que seguiram diferentes formatos obrigaram a que em 1889 fosse efetuado em Paris o Primeiro Congresso Internacional de fabricantes e técnicos e em 1891 o segundo em Bruxelas onde foram determinados os padrões de luminosidade dos objetivos e o formato e espessor das placas de cristal10 O ritmo das modifi cações técnicas tanto no que se refere ao suporte como às máquinas fotográfi cas foram surpreendentes entre 1877 e 1900 permitindo a foto grafi a popularizarse de forma defi nitiva O melhor exemplo dessa popularização foi a criação da máquina Brownie da empresa de Eastman a Kodak que custava um dólar George Eastman chegou à fotografi a através de suas experiências domésticas nas quais pretendia modifi car a situação dos fotógrafos que deviam carregar tanto quanto uma mula de carga11 Em 1880 começou a comercializar um papel sensibilizado para 10 SOUGEZ M op cit p 181 11 BUSSELLE M Tudo sobre fotograf a São Paulo Pioneira 1979 p 36 Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 126 fotografi a Mas a associação com Wiuiam Walker em 1884 para formar uma empresa que produzisse e comercializasse suas próprias máquinas e papel fotográfi co modifi cou substancialmente todo o processo fotográfi co conhecido até o momento Essa empresa em 1886 se transformou na Kodak nome que parece ter direta rela ção com o som emitido pela máquina Ko Dak O slogan utilizado pela Kodak era Seu uso dispensa estudos preliminares laboratórios ou produtos químicos12 e Você aperta o botão nós fazemos o resto13 Até 1839 os desenhos litográfi cos dominavam a apresentação das imagens utiliza das nos trabalhos geográfi cos desenhos de linhas contínuas e segmentadas que per mitiam apresentar as paisagens as quais os geógrafos descreviam É pertinente lembrar que esses desenhos eram como uma cópia da realidade interpretada pelo desenhista considerados como muito próximos da situação copiada Dessa data em diante a foto grafi a viria a substituir o eu estive aqui eu vi frases características da descrição in loco Isto quando a imagem produzida pela máquina fotográfi ca assumiu a evidência como afi rma Sontag Algo que conhecemos de escutar mas que duvidamos parece irrefutável quando nos mostram uma fotografi a daquilo14 a imagem transformase na linguagem do dado incontestável que substitui a descrição A imagem vale mais que mil palavras Mas essas imagens para serem produzidas do modo como são atualmente tiveram um complexo desenvolvimento tecnológico Apontamos alguns em particular a im pressão das fotografi as em revistas processo que teve grande impacto na publicação das revistas geográfi cas A utilização das fotografi as obtidas através do procedimento do Daguerrotipo15 não era útil para a impressão em papel daí a intenção de transformar a placa metálica em uma prancha de gravação O primeiro livro publicado com fotografi as e texto foi La Photographie zoologique 12 BUSSELLE M op cit p 37 13 BUSSELLE M op cit p 37 14 SONTAG S Sobre la Fotograf a Barcelona EDHASA 1977 p 15 15 Os fotógrafos itinerantes viajavam frequentemente à Europa em busca de materiais e novi dades da arte fotográfi ca Um exemplo deste tipo de fotógrafo é o francês Amadeo Gras 1805 1871 daguerreotipista e retratista a óleo que em anúncio no Diário do Rio Grande avisa ao público da cidade do Rio Grandeeque acaba de chegar de Paris trazendo novidades fotográfi cas Gras chegou à cidade em maio de 1851 e seu último anúncio data dezembro do mesmo ano e abre estabelecimento na Rua Boa Vista nº 32 mesmo endereço em que trabalharam anteriormente Terragno e Fredricks p 127 Pioneiros da fotografi a em Rio Grande Indícios de passagens e permanências Relato de uma pesquisa histórica In Revista Memória em Rede Pelotas v 2 n 5 abrjul 2011 ISSN 21774129 127 editado na França em 1853 Eram reproduções mediante o procedimento de impreg nar com tinta o relevo da fi gura talhada no metal Em 1856 a Societé Française de Photographie decidiu premiar quem obtivesse um procedimento direto de impressão através do qual fosse evitado o sistema de recons trução da imagem na placa metálica Em 1867 Alphonse Poitevin 18191882 criou o sistema fotolitográfi co tendo como suporte a pedra o qual anos mais tarde daria origem à fototipia que possuía como suporte o vidro Através dessas técnicas foram publicadas as primeiras revistas científi cas de Geo grafi a que incluíam fotografi as como parte da descrição de campo Essa estratégia foi incorporada defi nitivamente na Geografi a O TERRITÓRIO O termo território possui um signifi cado geográfi co além de uma relação com a história econômica e política do lugar Certamente a palavra território não é de uso exclusivo dos geógrafos pois os debates atuais mostram que é utilizada também por outros cientistas como por exemplo os antropólogos Na Geografi a o conceito de território possui o sentido de espaço ou lugar que contém uma localização e um confl ito de recursos naturais que tem sido apropriado e transformado pelo homem mediante o trabalho A apropriação e a transformação de um lugar são realizadas de forma imediata vin culadas ao grau de desenvolvimento tecnológico e político que o grupo social possui compreendendo o grupo social de forma ampla desde uma comunidade silvícola até um Estado Nesse sentido o espaço é transformado em território somente depois que são rea lizadas modifi cações nele Assim a apropriação não implica o domínio real de um território isto é possível somente quando se constrói sobre ele uma estrutura organi zacional econômica e política A estrutura organizacional econômica e política do grupo social está geralmente de acordo com o programa ou projeto de administração que ele propala e isto certamen te infl uencia a forma da exploração do território Nessa perspectiva os confl itos no território são resultados das tensões de diferen tes grupos sociais ou de tensões existentes no interior dos grupos sociais os quais devem ser enfrentados pela apropriação de um espaço no qual procuram determinar uma forma de administração e exploração Os homens apoiados em suas instituições e estruturas sociais se enfrentam para determinar uma forma de utilização econômica e social seja ela particular ou geral Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 128 Entendemos por particular quando se trata de formas de exploração que não são as dominantes do processo de acumulação mundial do capital e geral quando é a forma dominante podendo ser a da formação social específi ca e ou da forma mundial de acumulação O método de apropriação do território se desenvolve de forma tal que os confl itos se dinamizam no sentido de resistência adequação ou imposição Todos eles se confi guram como processos violentos pois não se medem os esforços para a ocupação de um espaço Resistência adequação e imposição não são três momentos isolados no tempo do processo de constituição do espaço em território Eles se associam e constituem refe rencias para as capacidades de organização e nível de desenvolvimento que os grupos envolvidos no confl ito possuem Na resistência está implícita a noção de capacidade de defesa e a manutenção da referência do elemento estruturante do grupo que nos confl itos agrários é a perma nência ou acesso à terra No entanto o que pode parecer a princípio uma situação de domínio está permea do por constantes aparecimentos de focos de resistência sendo estes cada vez mais intensos como demonstram as atuais mobilizações sociais principalmente à medida que as capacidades de intervenção do governo se voltam para ações preocupadas com os grupos de poder como condição básica para manter o processo de dominação e exclusão dos trabalhadores a uma escala mundial Os grupos sociais envolvidos em um processo de ocupação de um espaço para convertêlo em território através da sua transformação estão preocupados com a so brevivência ou com a acumulação de riquezas Com essas perspectivas opostas os grupos procuram estabelecer e construir justifi cativas para suas ações Os confl itos territoriais no Estado do Paraná podem ser datados desde quando os grupos silvícolas se deslocavam à procura de locais adequados para sua sobrevivência há dezenas de séculos No entanto quando a problemática do espaço passa a envolver o título de propriedade ou seja quando a dimensão jurídicosocial adquire hegemo nia os confl itos adquirem uma dimensão ampliada tendo como referência única os limites jurídicos do Estado Essa referência à presença do Estado é pertinente pois nos permite considerar que com a construção do Estado moderno destacamos que entre os séculos XIII e XIX se processa a confi guração do Estado moderno primeiro na Europa e posteriormente ampliase para todo o mundo que o fenômeno da afi rmação do espaço a uma ter ritorialidade é defi nitivamente associado a um poder centralizador e organizador das relações sociais 129 O sentido dado ao território na constituição do Estado é basicamente de ser o es paço de ação e infl uência do seu ordenamento econômico e político Essa concepção implica entender a noção de Estado como impositora de um ordenamento derivado do seu domínio como aparelho de uma dada classe social Assim os confl itos nos territórios tenderiam a estar articulados com processos maiores como o das lutas de classes Não se trata de constituir uma tipologia qualquer dos confl itos Considerando so mente se existe presença direta ou indireta do Estado tratase de afi rmar em um grau mais geral quais são os objetivos envolvidos e poder entender os confl itos como rela cionados a confrontos de classes Essa perspectiva de análise possui maior poder analítico quando pensamos nos confl itos com o Governo de Estado o bem a luta concreta para conquistar uma terra para a implantação de um assentamento da Reforma Agrária Isto nos permite reconhecer então dois níveis fundamentais que alcançam o con fl ito Um denominado confl ito de interesses de classes locais e outro o confl ito de interesses de Estado claramente nacional e internacional Devemos entender que os denominados confl itos de interesses de Estado trabalham com a leitura dos confl i tos regionais como possibilidade de constituir alianças para se expandir para novos territórios A importância que os confl itos locais sejam vistos como desarticulados das realida des nacional e internacional pensemos por exemplo na ocupação de Wall Street reside no fato de que através disso apresentamse como desconectados dos processos de exploração desenvolvidos pelo poder econômico contra os trabalhadores Essa visão de desarticulação e de pontualidade e localidade transmitida pelos meios de comunicação de massa televisão e jornais insiste no isolamento das lutas de resis tência contra o Estado e termina privilegiando os interesses de grupos sociais hegemô nicos os quais procuram impor padrões de exploração econômica em escala global As ideias assinaladas nos permitem conduzir a leitura dos confl itos no Paraná sob uma perspectiva dos confl itos de interesses de classes e da construção de territórios Seguindo as referências anteriores construímos uma cartografi a dos confl itos que pode ser vista no mapa 1 Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 130 Mapa 1 O caso que analisamos aqui é o do Contestado 19121916 Embora os confl itos do Contestado tenham se desenvolvido tanto no Estado de Santa Catarina quanto no Estado do Paraná insistimos em apontar sua ocorrência porque demonstra a maneira a como os demais confl itos no Paraná se desenvolveram em anos posteriores bem como permite recuperar um abundante material fotográfi co e os arquivos judiciais que se encontram disponíveis no sítio do Tribunal de Justiça do Paraná O Contestado tem sido referido como um confl ito decorrente de uma dimensão religiosa A conotação de messiânico utilizada por vários autores nos parece mais um substantivo do que um adjetivo qualifi cativo de um processo de resistência político e econômico que se desenvolve contra a forma de organização social e exploração que os grupos econômicos internacionais tentavam impor com o aval dos grupos sociais que dominavam o poder no Estado brasileiro A região do Contestado era considerada como de ninguém um espaço a ser apro priado e transformado pelos mais fortes Em uma das primeiras ações importantes de resistência contra a ocupação das empresas capitalistas Chico Alonso um dos líderes da mobilização social do Contestado depois de queimar a serraria da Lumber Corpo ration afi rma em um bilhete deixado no local nós tratava de nossas devoções e nem matava e nem roubava mas veio o governo da Republica e tocou os fi lho brasilêro dos terrenos que pertencia à Nação e vendeu tudo para os estrangeiros Nóis agora estamos dispostos a fazer prevalecer nossos direitos Cf ALONSO apud DERENGOSKI 1986 p 66 Esse bilhete exprime claramente a posição e os interesses confl ituosos Tratase por um lado da defesa das condições de sobrevivência dos posseiros em oposição aos 131 interesses de companhias estrangeiras que atuavam com a liberação do governo Outra personagem importante na história é o capitão Mattos Costa do Exército bra sileiro que acompanhou de perto a situação do Contestado e que inclusive informara ao senador Pinheiro Machado acerca da existência de dinheiro falso na região que es tava sendo utilizado pelos fazendeiros e madeireiras nos negócios de terras e madeira Mattos Costa propala que toda essa violência e produto da ignorância de quem não teve outros meios para se defender16 A revolta do Contestado e apenas uma insur reição de sertanejos espoliados nas suas terras nos seus direitos e na sua segurança17 Seguindo essa linha de raciocínio Dinarte de Aleluia Pires tenentecoronel e co mandante da operação em Contestado em 1914 pontua que não cabia as forças regu lares a tarefa de com bater patrícios ignorantes que haviam sido levados ao desespe ro por trafi cantes de província Cf DERENGOSKI 1986 p 34 A questão de terras em todo o momento esteve presente nesse confl ito a ponto que em Rio das Antas colônia da Southern Brazil Lumber and Colonization com panhia estrangeira que explorava a madeira na região os posseiros foram sumaria mente expulsos o mesmo aconteceu na faixa de 15 qui1ômetros laterais a estrada concedida á Brazil Railway Essas ações foram realizadas por pistoleiros trazidos de Texas Estados Unidos como ilustra a fotografi a abaixo reproduzida do arquivo da Guerra do Contestado Fotografi a de funcionário e seguranças da Lumber 1912 jogando pôquer de dados Fonte httpwwwalcablococombrocontestadofotoshistoricashtm 16 Cf COSTA M Apud in DERENGOSKI P 1986 p 66 17 Cf MONTEIRO D 1974 p 45 Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 132 Os posseiros eram tratados como intrusos e expulsos das áreas Monteiro enuncia que a expulsão é executada e a moderna exploração madeireira instalada ar ruína os pequenos produtores locais Cf MONTEIRO 2011 p31 No Contestado os confl itos estão centrados na questão da terra entre quem quer mantêla para seu sustento sejam índios ou posseiros e quem deseja explorála inte grandoa em um sistema de exploração de dependência internacional Estes últimos não reconhecem e ignoram completamente a presença de outros sujeitos que não se adaptam as suas imposições e regras de um novo modelo de transformação e explo ração da terra A utilização especulativa das terras na região do Contestado marca um longo pro cesso na ocupação do território que ainda continua presente LITERATURA Contos da Realidade Uma estratégia para relatar a história do território A Geografi a há muito tempo descreve os lugares as pessoas e seus cotidianos não sendo diferente quando utilizamos a literatura para buscar em suas formas de repre sentação uma fonte para o estudo do território Vejamos um conto da realidade que a seguir desenvolvemos Pedro ouve atento as palavras que João lê para ele Emerge um mundo de sonhos onde as paisagens de fl oresta e as áreas desérticas são cenários de jogos humanos onde a dor e a miséria confi guram formas de vida normais engraçadas João é o pai de Pedro um homem que trabalha numa indústria têxtil durante ses senta horas semanais somando as horas extras Pedro pensa que seu pai gosta de fábrica e às vezes pergunta como está o patrão A criança tem a impressão de que ambos amigos fi cam conversando e por essa razão o pai demora a voltar para casa João tem consciência de que a situação não é essa mas não explica a seu fi lho pois ele não tem idade para entender Maria mãe de Pedro observa como seu fi lho graciosamente se delicia com as histó rias que João lê para ele todas as noites Ela recorda Cangaceiros O Quinze Usina e outros Maria comenta com suas vizinhas que a criança conheceu a vida na fl oresta com Ferreira de Castro autor de A Selva Ele sabe quanto tempo demora um barco de Selam a Manaus como é o trabalho do homem nas terras da seringa Pedro vive de seus heróis que sofriam assassinavam índios e animais selvagens Esses heróis são livres para percorrer a selva passear e desfrutar a vida Pedro gostaria de ser um daqueles e sentirse herói também 133 O tempo transcorre trazendo novas experiências a Pedro Um dia Que acontece pai Algo está errado É por minha causa por não ter feito as tarefas As tarefas da escola são sua obrigação e o controle que mamãe e eu fazemos a res peito é para que você aprenda a obedecer às ordens que os outros lhe dão Obedecer é uma questão fundamental para quem precisa trabalhar a fi m de sobreviver para quem tem que vender sua força de trabalho como única alternativa para reproduzirse do mesmo modo que o seringueiro em A Selva Mas pai você ainda não me disse qual a sua preocupação Filho para sobreviver há que se trabalhar e é um luta conseguir ainda mais para mim que não sou tão jovem Mas você não tem esse problema Gosta da fabrica o patrão é seu amigo Como As relações entre os homens se sustentam por contratos Por exemplo o matri mônio é um deles Existe um contrato também entre mim e o dono da indústria Ele possui os meios de produção e eu vendo para ele minha força de trabalho para poder manternos pois não tenho mais nada para sobreviver Terminando o prazo desse Huummm Cumprido o prazo de tal contrato pode ou não haver renovação Compreendo pai para você não existiu renovação pois não é mais forte Então o que eu pensava da fábrica não é verdade A realidade é outra A realidade não é outra a realidade é um processo do qual você estava compreen dendo uma parte A imaginação e os valores que a escola lhe proporciona ajudam a perceber somente uma parte dos acontecimentos A outra que lhe permite com preender o todo você só chega a conhecer quando passa a fazer parte do mercado de trabalho e para isso há necessidade de pensar o que você signifi ca dentro de todo esse processo Nossa alternativa é sair daqui assim como aconteceu por ocasião da seca do Nor deste lembrase de o Quinze Sim como esquecêlo Então pai nós estamos obrigados a ir em busca de novas possibilidades Nós devemos sair também Quando João Maria e Pedro preparavam as coisas para a viagem Pedro e João A história de nosso mundo aparece narrada nos livros que eu li para você faz tem po As formas de convivência de nossa classe os pobres com os ricos como você diz não são distintas das apresentadas naquelas obras A história em consequência é revi vida na literatura Na Usina podiam se ver algumas formas de concorrência próprias desse sistema em que vivemos um sistema onde a força do dinheiro mobiliza todo Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 134 um processo Os interesses de classes em confl ito mostram os usineiros expandindo o seu domínio na região Aqui todos os métodos são válidos para a conquista do poder João continua falando para Pedro enquanto Maria observa a cena com ternura na esperança de que Pedro pudesse compreender pois ela só sentiu contos e heróis na sua vida e o que João falava causavalhe grande confusão na cabeça Filho a classe dominante passa a infl uenciar o Estado e este exerce sobre nós o direcionamento de nossas vidas Observe como nós os dominados somos vistos e tratados como os seringueiros ou os escravos Somos a mão de obra que tem que ser barata para a usina para o usineiro Oeste modo ele obterá mais dinheiro e aumen tará seu poder Filho João narra algo que para mim é difícil de entender diz a mãe mas ga ranto a você que as histórias de heróis são belas quando acreditamos serem contos porem cruéis quando percebemos que são reais Viver pelo mundo com sonhos de heróis interveio o pai e viver num conto de fadas A terra nova que nos espera poderá ser cheia de aventuras que necessitaremos compreender Será muito bom para nós três sairmos deste lugar tentar uma nova vida e quiçá realizar os sonhos de vocês dois Depois das palavras de João os três começaram a avançar para sair do espaço que lhes consumiu todas as forças e esperanças Olhem para todo esse verde diz o fi lho Ali há uma fábrica está saindo fumaça daquela chaminé de tijolos Os trabalhadores só pelo fato de estarem trabalhando certamente se sentem felizes Podemos fi car Gostaria de conhecer tudo Isso ate se parece com A usina do Senhor Juca lembrase disso Pai não sabia que aquilo era canadeaçúcar e esta uma usina Depois podemos voltar vamos ter tempo Sim pai com certeza podemos voltar depois Que pensava aquele jovem para concordar assim tão facilmente com seu pai Sen tirseia como aquelas crianças castigadas por chuparem cana da usina Estaria pensan do que o mundo dos contos com que sonhava não existe A viagem durou uns dias Durante o trajeto Pedro perguntou a João e Maria muitas coisas de forma tímida quiçá para não sentirse desiludido ou contrariado Haviam chegado e Onde está nossa casa pergunta Maria Teremos que construíla indaga Pedro Rogaremos um pedaço de terra para plantar e com as arvores derrubadas edifi caremos nosso rancho responde o pai 135 Será como estar num seringal exclama Pedro O trabalho foi duro e prolongouse por vários dias até que tudo fi cou pronto Durante algumas semanas João e Pedro au sentavamse caminhavam vários quilômetros para trabalhar no corte de cana e assim poderem comprar os alimentos de que precisavam Nesse ir e vir cortar e cortar Pedro percebeu que a vida daqueles cortadores de cana que tinha visto desde o trem não era fantástica e que o processo de antagonismo das classes sociais a que se referira seu pai voltava a se repetir Ele não gostava de fi car por longos períodos naquele lugar Pre feria voltar prontamente a sua terra a sua casa onde ninguém interviria na sua vida Pedro tinha aprendido que o trabalho era imprescindível para poder sobreviver Aprendeu a observar em todo o processo quem era ele o que signifi cava À medida que ia entendendo a sociedade mais a rejeitava João continuou explicando como funcionava todo o sistema onde os antagonis mos faziam parte da sua dinâmica O único lugar onde os heróis de Pedro ainda se sentiam seguros era a sua terra Sua terra Quando o sistema se expande fi lho ele não conhece limites observe como a história do Senhor Juca refl ete isso Na verdade papai sempre tento fugir esconderme das situações dos fatos Vejo como os homens percorrem longas distâncias para irem ao trabalho na usina Como a cana na verdade é um produto que dá mais dinheiro para o dono da terra do que o feijão ele planta mais cana e paga uma miséria aos trabalhadores com isso o ganho é grande Certo fi lho e você e eu cooperamos nisso e não somos os heróis que pensáva mos que seríamos quando estivéssemos aqui Papai as relações entre as pessoas são complicadas mas nunca imaginei que pu dessem nos acontecer todas essas coisas narradas por aqueles contos Lembra as palavras de sua mãe a respeito de contos e realidade As obras que eu li não são contos são realidades Acontece que as pessoas que escreveram aquilo viveram essas realidades Os leito res em geral vivem os personagens e não os processos e pensam que tudo e produto da fértil imaginação do autor A falta de chuva que tivemos agora lembranos O Quin ze onde a seca havia prejudicado os animais e o cultivo Quando saímos da cidade você não pensou naquele conto Certo pai Agora veja a situação física descrita é diferente da realidade A fumaça da chaminé da usina que já imaginou na obra de Rego por acaso não é exata Quero que compreenda que o homem possui imaginação fértil mas tudo tem uma dose de realidade Somente temos que aprender a discernir o que é aparente do que é real e Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 136 isso é produto da experiência e de leituras de outros livros que a gente chama de sêlos Papai então tudo o que o homem imagina e tem escrito está acontecendo acon tecerá ou aconteceu Maria lembra que foi em 1968 que o homem colocou o pé na Lua Certo Lembro Pedro que nesse tempo eu lia Julio Verne que escreveu um livro sobre fantasias de viagens à lua Esse Senhor é bem antigo e não podia ver coisas como aquelas pois eram do século passado Acontece que ele acertou quase tudo Filho compreende que o escrito não é alheio a nossa realidade Voltar a viver as experiências daqueles livros nos permite compreender e relacionar todos aqueles fatos e processos como pertencentes a uma etapa da história Também e possível que somente nós como leitores possamos compreender o que sucede nos textos pois os personagens dos livros são instrumentos do autor para vivenciar a história de forma novelesca Quando Pedro terminou de ouvir seus pais pensou que havia coisas que não aconteceriam Ei os de dentro Saiam desta terra pois pertence ao senhor todo poderoso gri tou uma voz estranha provavelmente a de um capanga Não foi possível fugir aos contos Pedro ao escutar aquelas palavras sentiu que não podia escapar a um sistema que dominava o espaço Compreendeu ainda mais não ser possível manter a fantasia que tentou construir sobre sua terra Tudo acontecia como nos contos com uma única diferença de que neles os personagens são fi ctícios mas lá estava a realidade Os personagens são instrumentos do autor para vivenciar a história de forma novelesca Algo se moveu porém continuamos sem entender Proposta de Atividades 1 Desenvolva um estudo a respeito da contribuição da fotografi a como fonte de pesquisa para o estudo do território utilizando as fontes do Tribunal de Justiça do Paraná 2 Consulte o mais importante acervo documental da guerra do Contestado que está no portal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná httpportaltjprjusbrwebmuseu justicaguerracontestado É possível além dos processos judiciais verifi car no ende reço httpcontraocontestadobblogspotcom201105arquivofotografi codogoverno html um arquivo fotográfi co de boa qualidade Também estão acessíveis em http wwwalcablococombrocontestadofotoshistoricashtm excelentes fotografi as que re velam parte da história da ocupação do território 137 Referências ALONSO C Apud in DERENGOSKI Paulo Ramos O desmoronamento do Mundo jagunço Florianópolis FCC Edições 1986 p 66 BENCOSTTA Marcus Levy Albino PEREIRA Ana Paula Martins História cultura e sociabilidades representações e imagens das festas escolares Curitiba 19031971 Curitiba Universidade Federal do Paraná 20 Disponível em httpwww2 facedufubrcolubhe06anaisarquivos346Marcus20LevyeAnaPaulaPereirapdf Acesso em 21 nov 2016 MONTEIRO D T Os errantes do novo século São Paulo Edusp 2011 p 31 SILVA Renata Martins O uso da fotografi a no ensino da Geografi aLondrina 2005 Monografi a Especialização em Ensino de Geografi aUniversidade Estadual de Londrina Londrina 2005 VEGAS Cíntia A História contada pela arte da fotografi a Paraná S l s n 20 Disponível em httpwwwparanaonlinecombreditoriaalmanaquenews 419584noticiaAHISTORIACONTADAPELAARTEDAFOTOGRAFIA Acesso em 21 nov 2016 Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 138 Anotações 139 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Jorge Ulises Guerra Villalobos Valter Tadeu Dubiela INTRODUÇÃO Este texto tem por objetivo debater as questões relacionadas com o território e a gestão democrática da cidade Haja vista que a cidade é um dos principais objetos de estudo da Geografi a Esta refl exão foi desenvolvida no marco das funções sociais da cidade Destacandose a garantia do direito a cidades sustentáveis entendido como o direito à terra urbana à moradia ao saneamento ambiental à infraestrutura urbana e principalmente a memória da paisagem urbana Observandose nisso o princípio da gestão democrática da cidade a qual num Estado Democrático de Direito se realiza por meio da participação da população e de associações representativas dos vários seg mentos da comunidade notadamente na formulação execução e acompanhamento de planos programas e projetos de desenvolvimento urbano Assim aqui se expõem utilizandose fontes diversas as razões que justifi cam a conservação restauração e tombamento da Estação Rodoviária Municipal de Maringá como parte do patrimônio histórico artístico e natural da cidade de Maringá e de toda a região colonizada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná1 Também desenvolvemos uma análise sobre os atos praticados pela administração municipal da cidade que culminaram com a demolição do prédio Em 2007 o edifício encontravase interditado pela Prefeitura de Maringá sob o argu mento de que sua estrutura estava condenada e de que o prédio não possuía nenhum valor cultural Apoiados em uma breve exposição do contexto histórico urbanístico e 1 Parecer sobre a importância da Estação Rodoviária Municipal de Maringá na conservação da história local e regional Maringá fevereiro de 2007 10 Geografi a Metodologia do Ensino 140 cultural que envolve o edifício expomos o quanto seria importante a conservação do prédio para a população atual e para as futuras gerações A função do antigo prédio da Estação Rodoviária Municipal de Maringá era estuda da desde a transferência das atividades da rodoviária para o novo terminal da Avenida Tuiuti O rebaixamento da via férrea impôs a ampliação do estudo para toda a área remanescente que se convencionou chamar de Novo Centro Esta última com enor mes potencialidades para a recuperação da qualidade de vida proposta pelo modelo de cidade jardim entregue à voracidade dos empreendedores imobiliários a nosso ver reproduz a lógica insustentável de degradação da cidade ARQUITETURA E MEMÓRIA CULTURAL Em 1962 ano da inauguração da Estação Rodoviária Municipal de Maringá o Brasil fervilhava com o milagre econômico do qual a nova capital Brasília é produto Jusce lino Kubitschek propunha a colonização rápida do interior do país pretendendo um crescimento econômico de 50 anos em 5 Essa década é marcada também o início da ditadura em 1964 e pela instituição do AI5 em 1968 suprimindo as liberdades individuais A construção da rodoviária foi iniciada durante a gestão de Américo Dias Ferraz que lhe dá nome e concluída por João Paulino Vieira Filho com projeto do engenhei ro Gelson E Gubert Em 1984 o edifício sofreu uma reforma que cobriu o pátio de manobras defronte às duas fachadas afastando os arcos da vista dos usurários reves tindo as marquises com lambris metálicos e escondendo a beleza estrutural dos arcos que a sustentavam conferindo um vão de 25 metros à laje de concreto da entrada do saguão O projeto da estrutura metálica da cobertura dos pátios foi elaborado pelo engenheiro Ubiratan Claudino Soares durante a gestão de João Paulino Vieira Filho Ofi cialmente essa rodoviária é a segunda da cidade A primeira foi um simples telheiro de quatro águas sustentado por oito colunas de tijolos situado na Praça Na poleão Moreira da Silva Santos 19752 Apesar da sua rusticidade e simplicidade é a imagem desse telheiro que está associada à busca do eldorado É essa cobertura singela que emoldurou a primeira impressão dos pioneiros sobre o lamaçal ou sobre a terra poeirenta onde eles plantariam o sonho de uma vida melhor Infelizmente essa edifi cação não foi conservada Se a primeira rodoviária havia recebido as levas de migrantes gaúchos catarinen ses paulistas mineiros e estrangeiros que vieram colonizar a região pela segunda 2 Conforme foto página 157 141 rodoviária passaram os fi lhos desses pioneiros que partiram para estudar na capital Foi essa cobertura em abóbada de berço que recebeu os primeiros estudantes paulis tas mineiros e gaúchos atraídos pela qualidade do ensino da Universidade Estadual de Maringá Foi também sob esse portal com seu sugestivo luminoso de boas vindas que passaram os exilados da zona rural que vieram fazer crescer a cidade de Maringá expulsos da zona rural pela erradicação do café que sucedeu à geada negra e ao grande incêndio de 1975 pela expansão das pastagens e introdução da mecanização agrícola da soja Pode ter sido por essa estação que boa parte dos novos migrantes partiu em direção ao Mato Grosso e outros estados do norte do Brasil na eterna busca do sem pre novo eldorado Enfi m esse edifício fazia justiça à sua forma de arco e portal de passagem pois ele carregava a lembrança festiva de reencontros e a memória saudosa de acenos de par tida Independentemente de seu valor estético esse espaço constitui uma referência para a memória afetiva da grande maioria da população e somente esse fato bastaria para justifi car seu tombamento como patrimônio histórico da região norte do Estado do Paraná A primeira rodoviária representa parte da história humana de busca do paraíso onde a aliança entre deus e os homens é reestabelecida concretizada em uma cidade celestial que resolva defi nitivamente a contradição entre o saber humano e as leis na turais onde o sonho utópico de uma vida sem sofrimento poderia ser defi nitivamente realizado A segunda rodoviária retrata a continuidade dessa pulsão ancestral na história do desenvolvimento da colonização do Estado do Paraná e do avanço demográfi co em direção às fronteiras com os outros países sul americanos Ambos se enquadram nessa busca antropológica da pindorama do paraíso do eldorado O tombamento e a restauração da Estação Rodoviária Municipal de Maringá e da Praça Raposo Tavares seriam imprescindíveis a nosso ver para a manutenção da his tória e da identidade ligada ao modelo de cidade jardim à conservação da memória da evolução da ocupação do Estado do Paraná bem como do papel desse Estado na expansão do Brasil em direção ao interior do território A ORIGINALIDADE DA OBRA A originalidade do projeto era dada pela estrutura que suportava o trecho da mar quise sobre as entradas das duas fachadas do saguão O engenheiro Gubert utilizou o princípio estrutural das pontes de concreto onde a via carroçável é atirantada em ar cos para obter um vão livre superior a 25 metros Esse vão ainda hoje insuperado por obras de arquitetura na região era cortado por duas juntas de dilatação prevenindo a A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 142 fadiga da estrutura pela ação da variação da temperatura A leveza da fi na laje da marquise permitiu uma estrutura esbelta que apoiava ainda uma casca em concreto armado Essa casca servia de contraventamento da fachada proporcionando acabamento à cobertura metálica do saguão As largas colunas que ladeiam o saguão faziam pensar que o projeto previa a con tinuidade da casca de concreto sobre todo o espaço de espera e não apenas sobre os mezaninos No entanto essa hipótese necessita ser verifi cada no projeto estrutural Caso se confi rme a fundação e a estrutura da cobertura do saguão estavam superdi mensionadas pois a carga aplicada pela estrutura metálica era muito mais leve do que a carga de uma casca de concreto Gubert parece ter se inspirado em parte na antiga rodoviária de Apucarana com cobertura em arco de madeira e telhado de cimento amianto Seu vão comparável ao obtido pelo arco de concreto abrigava os ônibus lojas e passageiros em um único espaço confi gurando uma rua coberta escura e poluída disputada pelas aves que povoavam a estrutura da cobertura Para resolver o problema do fechamento da parte superior das fachadas do saguão e da sustentação da marquise que cobria a passagem inferior sem obstruíla com pila res Gubert se valeu de sua experiência na construção de pontes Utilizando o arco de concreto e tirantes Gubert conseguiu dar leveza à construção de concreto armado e alvenaria autoportante aliando claridade limpeza simplicidade e beleza em um conjunto bem integrado à paisagem urbana extremamente resistente às adversidades locais à falta de manutenção e às intervenções desastrosas que a enfeiraram e degra daram por um quarto de século Após a retirada dos anexos podemos perceber as qualidades da sua arquitetura ainda não superada nessa cidade Mesmo em meio ao abandono é possível perceber como os pavilhões os arcos e o saguão conduzem o olhar do passante à vista da catedral de um lado e da estação ferroviária de outro A altura do saguão permitia focalizar a torre do templo símbolo da cidade através do pano de vidro por sobre a alameda de frondosas tipuanas e palmeiras imperiais sob o céu luminoso da região A RELAÇÃO ENTRE O EDIFÍCIO E A PRAÇA O edifício era constituído por dois pavilhões abrigando pequenas lojas interliga dos por um saguão em pé direito duplo coberto por estrutura metálica em abóbada que suportava telhado de chapa de zinco ondulado e forro de placas de papelão O pé direito duplo do saguão permitia a iluminação e a aeração das lojas que se abriam para esse amplo espaço que tinha as dimensões de uma rua coberta Uma marquise circundava todo esse conjunto protegendo a entrada das lojas externas e o acesso 143 dos passageiros aos ônibus Ao mesmo tempo em que protegia o espaço de espera o saguão servia de corre dor entre a Praça Raposo Tavares e o terminal de ônibus urbano tal como deveria funcionar se o terminal ferroviário para passageiros houvesse sido mantido e imple mentado Desse espaço de espera tinha acesso às lojas e bilheterias no primeiro piso e pela escada principal chegavase à administração da rodoviária de onde se contro lava a chegada e a saída dos ônibus Por uma escada lateral chegavase ao mezanino de onde era possível dominar ao mesmo tempo a vista do interior do espaço de espera e da praça Nesse nível tinha se acesso às salas comerciais e ao restaurante O restaurante com seu terraço que se prolonga sobre a marquise possibilitava contemplar o movimento dos ônibus a praça e o eixo magnífi co tendo ao fundo a Catedral Nossa Senhora da Glória confi gurando um belvedere privilegiado do centro da cidade Na antiga rodoviária a Praça Raposo Tavares amenizava a monotonia da espera de baldeação oferecendo uma alternativa aos viajantes e o contato com os representan tes da sociedade e da cultura local O percurso integrado com a cidade proporcionava uma multiplicidade de sensações de ruídos cheiros cores e texturas Arquitetura e fl uxos urbanos integravam espaços contrastantes estreitos e amplos abertos e fecha dos permitindo diferentes níveis de observação oferecendo superfícies retangulares e curvilíneas equilibrando opacidade e transparência obscuridade e claridade ari dez e humidade regularidade formal e acaso natural Na Praça Raposo Tavares jornaleiros vendedores ambulantes prostitutas desem pregados e pregadores oferecem seus serviços sob a proteção das frondosas árvores que resistem nesse retângulo quase completamente pavimentado Ainda hoje é sobre o pavimento dessa praça que se organizam a maior parte das manifestações passeatas e comícios É aí que se realiza boa parte dos espetáculos ao ar livre Essa praça faz parte do centro vital da dinâmica urbana e o seu tratamento não pode ser objeto de transformação com base em estudos sumários desligados do interesse público e sem o consentimento expresso da população A PERVERSÃO DO MODELO DE CIDADE JARDIM O Terminal Rodoviário Municipal de Maringá constitui um dos marcos de referên cia que compõem o cenário previsto para a cidade jardim Desde o traçado da planta da cidade de Maringá em 1946 por Jorge Macedo Vieira a avenida onde se concen trariam os principais edifícios públicos estava defi nida sobre o divisor de águas entre o Parque do Ingá e o Parque dos Pioneiros Essa avenida é conhecida hoje pelo nome de Avenida Getúlio Vargas dado em homenagem ao presidente morto em 1955 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 144 Considerando a cidade dentro de uma perspectiva evolutiva em vista da realização do jardim paradisíaco e como laboratório de uma sociedade que se constrói com o lu gar processando suas experiências nos seus planos urbanísticos e edifícios sob essa perspectiva a conservação da Estação Rodoviária Municipal de Maringá é essencial como instrumento cultural e pedagógico desse processo O vasto espaço liberado pelo rebaixamento da via férrea ao qual se convencionou chamar de Novo Centro poderia ter se transformado em um elemento mitigador da degradação do centro de Maringá e um instrumento de recuperação do modelo de cidade jardim do qual se inspirou seu planejamento inicial No estudo preliminar para a integração da Avenida Getúlio Vargas ao Estádio Wil lie Davids adotado pela atual gestão sem consulta pública ou qualquer instrumento de participação social previase a completa destruição da Estação Rodoviária Muni cipal e da Praça Raposo Tavares para dar espaço à construção de estacionamentos subterrâneos e para o rebaixamento do terminal urbano A destruição da praça para a construção do edifíciogaragem demonstrou a nosso ver claramente a intenção de estimular o uso de transporte individual na área central absolutamente contrário à necessidade de conservação da qualidade do ar nas áreas centrais e à urgência de diminuição dos gases de efeito estufa imposta pelo rápido aquecimento climático global GIEC 2001 A demolição da Estação Rodoviária com o objetivo de interligar a Avenida Ge túlio Vargas e a Vila Olímpica em nossa visãoera absolutamente dispensável pois esse edifício não impedia de forma alguma a continuidade viária Pelo contrário a estação valorizava o percurso oferecendo uma obra histórica que marcava o limite entre o velho e o Novo Centro e que dividia a perspectiva da avenida em duas par tes distintas proporcionando variedade e legibilidade à cidade LYNCH BANERJEE SOUTHWORTH 1990 Destruílo descaracterizálo ou abandonálo à deterioração signifi ca em nossa acepção privar a sociedade de sua memória e privar a posteridade de valores de referência que sirvam de base para a construção do futuro A DEMOLIÇÃO DA RODOVIÁRIA AMÉRICO DIAS FERRAZ Evidenciamos o valor histórico do edifício porém a administração municipal com o decreto de utilidade pública da área e deu início à sua desapropriação passando à imissão provisória na posse e por último terminou com a demolição do prédio Discutimos o instituto da desapropriação utilizado pelo Poder Público Municipal Da desapropriação Na lição de José Cretella Júnior o grande princípio que informa o instituto 145 expropriatório é a preponderância do interesse público sobre o interesse privado3 Ele se revela ao autorizar a apropriação do bem particular em nome do interesse co letivo quando verifi cada a necessidade ou a utilidade pública ou por interesse social mediante prévia e justa indenização em dinheiro nos termos do inciso XXIV do Artigo 5º da Constituição Federal Nesse mesmo sentido Diógenes Gasparini sustenta que a desapropriação restau ra a prevalência do interesse público sobre o interesse particular4 Assim segundo este autor o instituto representa o mais grave instrumento de que dispõe o Estado para intervir na propriedade5 Orlando Gomes por sua parte entende que por esse instituto O direito do proprietário é assim extinto contra sua vontade6 Este é sem dúvida um instituto extremo do Poder Público sendo necessário tecermos considerações quanto a seus fundamentos fi losófi cos A desapropriação institui um poder ao Estado que lhe permite retirar dos parti culares sua propriedade sendo a essência da ação permeada pelo interesse público Portanto a validade da ação está condicionada não aos proprietários e sim ao mérito do interesse público7 Essa é a razão pela qual o instituto não pode ser de livre uso no estado democrático de direito já que é condição sine qua non demonstrar o interes se público pois o ato deve ser cumprido estritamente em conformidade com os seus fi ns Deve haver necessidade de motivação haja vista que sua natureza limita a esfera jurídica dos particulares pois é ato de coerção Segundo a melhor doutrina a desapropriação não se presta ao sacrifício do in teresse privado em proveito de outro interesse privado pois seria abusiva Ainda que seja lógico sustentar que o fundamento jurídico da desapropriação deriva da soberania do Estado como um instituto necessário à realização de seus fi ns razões de sobra existem para observar que tal argumento sofreu profundas modifi cações ao longo da história E que a Constituição de 1988 limitou essa questão quando explicita a função social da propriedade 3 José Cretella Júnior Comentário às Leis de Desapropriação 1972 p 22 4 Diógenes Gasparini Direito Administrativo São Paulo Saraiva 1992 p 441 5 op cit p 441 6 Orlando Gomes Direitos Reais Rio de Janeiro Forense p 186 7 OYANGUREN Armando Rizo Manual Elemental de Derecho Administrativo I Leon Nicaragua Universidad Nacional Autonoma de Nicaragua 1991 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 146 O Instituto da desapropriação8 sabemos implica no sacrifício privado para satis fazer às necessidades da comunidade do bem comum O Estado age quando provocado pelo interesse público Mas no caso em análise o município era partícipe proprietário coproprietário condômino do bem situação pela qual estabelecia uma relação de compromisso vinculado ao da preservação do patrimônio como tal Deveria então agir solidária e lealmente com o interesse gover namental ao mesmo tempo em que com o privado pois com ele era coproprietário E não contra esses interesses utilizandose do seu poder Vejamos A desapropriação há de ser feita em prol de um interesse público Não se desapropria em favor de pessoa ou interesse privado9 Salientamos que se o Estado não pode desapropriar para doar também não pode comprar para doar bem como não há razão de Estado para desapropriar e vender a terceiros Hodiernamente o instituto da desapropriação somente tem razão jurídica de exis tência quando combinadas necessariamente duas condições primordiais quais sejam uma a dos fi ns do Estado quanto à satisfação do interesse público duas quando este sem exceção está combinado com a demanda por fazer cumprir a função social da propriedade Lembramos fi nalmente que a Constituinte de 198810 defi niu o Estado enquanto atuante em suas fi nalidades essenciais de modo a impedir que a administração pública se utilizasse de seus poderes próprios do regime jurídico de direito público para se sobrepor economicamente aos agentes particulares Do interesse público11 A administração municipal tanto no Decreto de Desapropriação nº 1343200712 quanto na petição de Depósito Judicial dos autos 24912009 alega o interesse 8 FRANCO SOBRINHO Manoel de Oliveira Desapropriação 2 ed São Paulo Saraiva 1996 568 p 9 Diógenes Gasparini p 447 10 A Constituição Federal em seu art 5º XXIV autoriza tal prática como forma de dar maior efetividade aos incisos XXII da garantia do direito de propriedade e XXIII função social da propriedade 11 Sobre o tema ver FERRAZ ANTÔNIO AUGUSTO MELLO DE CAMARGO In Re vista Justitia n 137 p 51 MAZZILLI HUGO NIGRO A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo 7 ed São Paulo Ed Saraiva 1995 p 3 e 5 MEIRELLES HELY LOPES Direito Administrativo Brasileiro 20 ed São Paulo Malheiros Ed 1995 p 6061 BASTOS CEL SO RIBEIRO Curso de Direito Administrativo São Paulo Ed Saraiva 1994 p 96 12 Gabinete do Prefeito 147 público ou seja fi xa os limites do ato administrativo nessa seara No entanto o interesse público conforme podemos ler no Artigo 2º do decreto desapropriatório municipal nº 13432007 está na Reurbanização da área onde se localiza o imóvel afi rmando que nele serão edifi cados uma obra civil monumental e um centro cultural Porém o que é monumental Com tamanha amplitude somente pode haver in certeza de conceito técnico pois empregar o termo monumental para justifi car uma desapropriação em nosso pensamento é como argumentar o tudo pelo nada Agora dizer Reurbanização que é voltar a urbanizar o que já está urbanizado a nosso ver não faz sentido técnico e jurídico Portanto a administração Municipal pretende fazer o que já está feito em nosso entendimento uma ação desnecessária Para caracterização integral do interesse público no Estado democrático de direi to fundamental é que exista equivalência entre os benefícios aspirados e os meios utilizados para alcançálos que se evidencia pelos princípios da proporcionalidade razoabilidade e economicidade do ato Na mensagem de 2312007 de 11 de dezembro de 2007 que pretende lei autoriza tiva para realizar Concessão Urbanística do imóvel da Antiga Rodoviária Américo Dias Ferraz a administração municipal afi rma que tal empreendimento com certeza contribuirá para a redução do problema de degradação do centro de nossa cidade pela concentração de prostituição e consumidores de drogas grifo nosso Nesse argumento motivo social da desapropriação certamente a administração municipal se excedeu notadamente das margens de seu poder pois pretendeu resol ver um problema altamente complexo com uma intervenção desconhecida em sua extensão forma e qualidade o que em nossa acepção não é somente duvidoso mas temerário Logo depois conforme Ofício nº 2462GRAPE de 21 de dezembro de 2007 a administração municipal solicitou ao Conselho Municipal de Planejamento e Gestão Territorial deliberação e aprovação de projeto de lei complementar que transfor ma uma área específi ca na qual está localizada a Rodoviária Américo Dias Ferraz a Quadra 04 da Zona Central ZC para Zona Especial 15 ZE15 argumentando que tal alteração possibilitará a construção de um empreendimento com características diferenciadas Conforme a Ata da Sessão Extraordinária do Conselho Municipal de Planejamen to e Gestão Territorial de 21 de dezembro de 2007 este discutiu o referido projeto de lei demorando desde seu início até o encerramento da sessão exatos 46 minutos A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 148 O parecer do Conselho permitiu que se expandisse a propriedade existente na Quadra 04 pois se sabe que o direito de propriedade se estende para baixo e para cima consoante a legislação específi ca Esta passou a ter altura máxima a cota de 660 metros sendo antes de 610 metros Vejamos se no início a área era destinada para obra defi nida como monumental logo em seguida passa a empreendimento com características diferenciadas e somente em fi nais de dezembro de 2007 aparecem os primeiros indícios concretos da magnitude da obra Esse fato é constatável na Lei Complementar nº 1054 Anexo III relacionada com a lei complementar 33199 conforme argumento apresentado na mensagem de lei 2432007 de 26 de dezembro de 2007 que cria a Zona Especial ZE15 onde se lê que permitirá a construção de um empreendimento que destacará o crescimento e o desenvolvimento de Maringá grifo nosso Ressaltamos que a redação passa de não mais Monumental como arguia no decre to de desapropriação mas como um empreendimento que destacará Observamos que as expressões e argumentos ambíguos trazidos pela administra ção municipal a nosso ver não possuem o condão de sustentar a mais violenta das ações estatais contra a propriedade privada qual seja a desapropriação Assim o interesse que a administração municipal vai manifestando através das nor mas aparece também na análise retrospectiva da prática do administrador municipal ou seja a dimensão subjetiva das ações realizadas pessoalmente pelo prefeito mu nicipal quando da discussão do tombamento do prédio desenvolvida ao longo do primeiro semestre de 2007 Vejamos Em 25 de abril de 2007 o prefeito municipal participou da reunião da Comissão Permanente de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá para esclarecer a porcentagem da prefeitura e dos condôminos no consorcio da Esta ção Rodoviária Américo Dias Ferraz ATA nº 17 CEPPHAC Em 07 de maio de 2007 o prefeito municipal também participou da reunião da Comissão Permanente de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá Dessa ata transcrevemos o seguinte O Senhor Silvio Barros II prefeito de Maringá disse que cinco arquitetos já estudaram e apresentaram propostas de preservação da rodoviária e que uma delas contemplava a preservação somente do arco não sendo considerada a melhor proposta pois havia uma preocupação quanto a sua estrutura Tam bém expôs que nada teria a opor a preservação caso o estado arcasse com as despesas de restauro Enfatizou ainda que como gestor público não pode aplicar dinheiro neste imóvel para restaurálo pois a prefeitura tem outras prioridades e urgências na área social que são bastante sérias ATA Nº 19 CEPPHAC grifo nosso 149 Em 02 de maio de 2007 através de Ofício nº 7092007GAPRE encaminhado à Vera Mussi Secretária de Cultura do Estado o prefeito Sr Silvio Magalhães Barros II afi rma que A decisão da prefeitura de eliminar as espinhas de peixe simultaneamente ao projeto de revitalização da Avenida Brasil indicou pela conveniência de se construir um estacionamento subterrâneo na praça Raposo Tavares aliás in tenção já manifestada por diversas administrações que nos antecedera existin do a preocupação de que quando das escavações para a construção do estacionamento o edifício da Rodoviária não resista grifo nosso Ou seja nesse documento ofi cial de 02 de maio de 2007 o argumento é a realiza ção de um projeto de estacionamento na Praça Raposo Tavares que poderia afetar o prédio da Antiga Rodoviária No relato do conselheiro ao processo de tombamento estadual nº 012007 José La Pastina Filho datado de 14 de maio de 2007 este cita expressamente o Ofício nº 7092007GAPRE assim como os laudos encaminhados através de Ofício Nº 79107CE de 09 de maio de 2007 da Assembleia Legislativa do Paraná por atendimento ao reque rimento da deputada Cida Borghetti cunhada do prefeito Silvio Magalhães Barros II Ambos os documentos confi rmam A terceira pasta do processo de tombamento Citamos diretamente do texto do relator La Pastina informa a demolição da estrutura metálica a interdição do edifício e a intenção da construção de um estacionamen to sob a praça grifo nosso Esse texto como podemos ver trouxe à baila o argumento do estacionamento na Praça Raposo Tavares certamente devido ao Ofício nº 7092007GAPRE enviado pelo prefeito Silvio Barros Em 14 de maio de 2007 na reunião ordinária 125 do Conselho Estadual do Patri mônio Histórico na qual fora lido o relato de La Pastina o prefeito de Maringá Sr Silvio Magalhães Barros II se fez presente e agradeceu a oportunidade concedida e fez uso da palavra para relatar a pre cariedade da situação física do imóvel e o grau de degradação daquela área da cidade ou seja a situação real do ponto de vista de Maringá Informou ser este edifício de 1954 o terceiro construído na cidade par este fi m Que são ao todo 40 quarenta proprietários e mais a Prefeitura Municipal que desde 1989 não mais funciona a rodoviária no local que o imóvel está interditado pelo Corpo de Bombeiros que em janeiro de 2007 ruiu a estrutura metálica e há laudo de engenharia que comprovam a precária situação física do bem que segundo o Sr Prefeito corre risco de desabamento A Prefeitura Municipal tem a intenção de promover para aquela área um novo empreendimen to que proporcionará requalifi cação do espaço ATA REUNIÃO ORDINÁRIA 125 CEPHA Grifo nosso Aqui uma nova mudança de argumento da administração municipal desta vez a requalifi cação da área para promover um novo empreendimento A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 150 Nessa reunião o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico CEPHA decidia por o retorno da questão ao âmbito municipal para ser objeto de deliberação por parte da Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural do município de Maringá pois não há justifi cativa para o tombamento no âmbito estadual ATA REUNIÃO ORDINÁRIA 125 CEPHA grifo nosso É oportuno lembrarmos que o prefeito municipal já havia dito na reunião da Co missão Permanente de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá que nada teria a opor à preservação caso o Estado arcasse com as des pesas de restauro13 No mesmo dia dessa reunião ordinária do Conselho Estadual do Patrimônio Histó rico e Artístico realizada em 14 de maio de 2007 a Comissão Permanente de Preser vação do Patrimônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá deliberou por maioria não tombar o edifício da Estação Rodoviária Américo Dias Ferraz Ata nº 20 Grifo nosso Porém recomendava que em projetos futuros seja de reforma ou construção no espaço onde se encon tra a estação Rodoviária Américo Dias Ferraz seja mantido o vão de passagem existente no projeto atual como espaço de convívio Assim em 14 de maio de 2007 a questão do Tombamento fi cava decidida desde os Conselhos Estadual e Municipal abrindo então as portas para novos argumentos da intervenção governamental na área da Quadra 04 O primeiro instrumento que o poder público utiliza é o Decreto de Desapropriação No Decreto expropriatório nº 13432007 se declara de utilidade pública para fi ns de desapropriação a área da Quadra 04 Posteriormente a administração municipal promove a alteração do plano diretor criando especifi camente para a Quadra 04 uma Zona Especial denominada ZE15 modifi cando ao mesmo tempo o índice cons trutivo dessa quadra para o maior índice permissível da cidade de Maringá Na sequência a administração municipal estabelece o instrumento de Concorrên cia n 00108 processo n 182008 para fi ns de Concessão Urbanística da Quadra 4 13 Ata 19 Reunião de 07 de maio de 2007 da Comissão Permanente de Preservação do Patri mônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá 151 Nesse instrumento sustenta que se procederá à Demolição do imóvel existen te e à construção de um empreendimento e o município objetivava passar à iniciativa privada o terreno onde estava localizada a Rodoviária Vejamos antes de expormos as razões da desapropriação seu caráter impositivo e os motivos que pareciam ser de utilidade pública porém com as ações desenvolvi das pela administração acima indicadas a razão da desapropriação vai se diluindo e isto acontece mediante os próprios argumentos apresentados pela administração pública A administração municipal em nosso entendimento preferiu agir de modo vio lento usando estratégias para tirar dos proprietários a sua propriedade mesmo cum prindo sua função social como já pontuamos Nesse contexto estamos frente ao desenvolvimento prático da Teoria do Fato Consumado aplicado pela administração Municipal buscando com a demolição a consolidação do fato Assim tanto empenho da administração nos parece estar sus tentado na irracional utilização dessa Teoria objetivando tornar impossível qualquer defesa dos direitos constitucionais CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste texto mostramos como a administração municipal de Maringá em nossa acepção agiu como verdadeiro agente do mercado imobiliário no episódio da de sapropriação da Antiga Estação Rodoviária Podemos observar que em nenhum dos princípios constitucionais está contemplada a ação municipal fundada no interesse imobiliário Portanto julgamos incoerente o fato de atualmente poder público municipal ser agente especial no mercado imobiliário pois este utiliza seus poderes especiais para atender a um mercado que possui capacidade de gestão independente e que pela sua natureza é especulativo Lembramos que existem limitações constitucionais para a intervenção econômica do Estado como já citamos anteriormente nas quais não cabe à administração muni cipal o papel de agente imobiliário Nesse caso por nós relatado é evidente que princípios constitucionais foram feri dos com o ato da administração uma vez que o administrador público em nossa visão ao contrário de utilizar os instrumentos legais a sua disposição para o bem comum fez uso destes com desvio de poder A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 152 Proposta de Atividades 1 Procure utilizando um buscador de internet os termos prédio histórico rodoviária Américo Diaz Ferraz Maringá e leia mais ao respeito da história desse prédio e da cidade de Maringá Após realize no centro urbano da sua cidade um levantamento a respeito dos edifícios que possuem interesse histórico e verifi que a sua situação administrativa junto à prefeitura municipal Pesquise junto à biblioteca Municipal e moradores a respeito desses edifícios e seus usuários Elabore assim um mapa guia de edifícios de interesse do patri mônio paisagístico da sua cidade Referências BEAUDET G Le poids des héritages utopies et dystopies Montreal s n 2006 Paper presented at the Le développement durable atil un avenir DUBIELA V T Qual é o nosso destino tropical Politicas públicas para os fundos de vale de Maringá de 1947 à 2002 Maringá Universidade Estadual de Maringá 2002 Unpublished Mémoire GIEC 2001 Changements climatiques Rapport de Synthèse Résumé à lintention des décideurs Wembley Group dexperts intergouvernemental sur lévolution du climat 2001 GOTTDIENER M Cities in stress a new look at the urban crisis Beverly Hills Calif Sage Publications1986 GOTTDIENER M The decline of urban politics political theory and the crisis of the local state Newbury Park Sage Publications1987 GOTTDIENER M The social production of urban space lst ed Austin University of Texas Press1985 HOWARD E OSBORN F J Garden cities of tomorrow London Faber and Faber 1945 153 JACOBS J The death and life of great American cities New York Random House 1961 LYNCH K The image of the city Cambridge Mass Technology Press MIT Press 1960 LYNCH K BANERJEE T SOUTHWORTH M City sense and city design writings and projects of Kevin Lynch Cambridge Mass MIT Press 1990 NATIONS Unies Commission mondiale sur lenvironnement et le développement Our common future Oxford Toronto Oxford University Press 1987 SACHS I Development and planning Cambridge Cambridgeshire New York Cambridge University Press Paris Editions de la Maison des Sciences de lhomme 1987 SACHS I Lécodéveloppement stratégies de transition vers le XXIe siècle Paris Syros 1993 SACHS I Quelles villes pour quel développement Paris PUF 1996 SANTOS R R D Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná Companhia Melhoramentos Norte do Paraná 1975 SPENGLER O Le déclin de lOccident esquisse dune morphologie de lhistoire universelle Paris Gallimard 1948 THERIVEL R Strategic environmental assessment in action London Sterling VA Earthscan 2004 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 154 Anotações
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GEOGRAFIA METODOLOGIA DO ENSINO Eduem Maringá 2012 EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ REITOR Prof Dr Mauro Luciano Baesso VICEREITOR Prof Dr Julio César Damasceno DIRETORA DA EDUEM Profa Dra Terezinha Oliveira EDITORACHEFE DA EDUEM Profa Dra Gisella Maria Zanin CONSELHO EDITORIAL PRESIDENTE Profa Dra Terezinha Oliveira EDITORES CIENTÍFICOS Profa Dra Ana Lúcia Rodrigues Profa Dra Angela Mara de Barros Lara Profa Dra Analete Regina Schelbauer Prof Dr Antonio Ozai da Silva Profa Dra Cecília Edna Mareze da Costa Prof Dr Eduardo Augusto Tomanik Profa Dra Elaine Rodrigues Profa Dra Larissa Michelle Lara Prof Dr Luiz Roberto Evangelista Profa Dra Luzia Marta Bellini Prof Me Marcelo Soncini Rodrigues Prof Dr Márcio Roberto do Prado Prof Dr Mário Luiz Neves de Azevedo Profa Dra Maria Cristina Gomes Machado Prof Dr Oswaldo Curty da Motta Lima Prof Dr Raymundo de Lima Profa Dra Regina Lúcia Mesti Prof Dr Reginaldo Benedito Dias Prof Dr Sezinando Luiz Menezes Profa Dra Valéria Soares de Assis EQUIPE TÉCNICA FLUXO EDITORIAL Edneire Franciscon Jacob Marinalva Spolon Almeida Mônica Tanamati Hundzinski Vania Cristina Scomparin PROJETO GRÁFICO E DESIGN Luciano Wilian da Silva Marcos Kazuyoshi Sassaka Marcos Roberto Andreussi MARKETING Gerson Ribeiro de Andrade COMERCIALIZAÇÃO Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima COPYRIGHT 2016 EDUEM Todos os direitos reservados Proibida a reprodução mesmo parcial por qualquer processo mecânico eletrônico reprográfico etc sem a autorização por escrito do autor Todos os direitos reservados desta edição 2016 para a editora EDUEM EDITORA DA UNIV ESTADUAL DE MARINGÁ Av Colombo 5790 Bloco 40 Campus Universitário 87020900 Maringá Paraná Fone 0xx44 30114103 httpwwweduemuembr eduemuembr FORMAÇÃO DE PROFESSORES EAD Geografia Metodologia do Ensino CLAUDIVAN SANCHES LOPES CLERES DO NASCIMENTO MANSANO JORGE ULISES GUERRA VILLALOBOS ORGANIZADORES 54 Eduem Maringá 2012 Coleção Formação de Professores EAD Apoio técnico Rosane Gomes Carpanese Normalização e catalogação Ivani Baptista CRB 9331 Revisão Gramatical Annie Rose dos Santos Edição e Produção Editorial Carlos Alexandre Venancio Eliane Arruda Copyright 2012 para o autor 1a reimpressão 2016 revisada Todos os direitos reservados Proibida a reprodução mesmo parcial por qualquer processo mecânico eletrônico reprográfico etc sem a autorização por escrito do autor Todos os direitos reservados desta edição 2012 para Eduem Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Geografia metodologia do ensino Claudivan Sanches Lopes Cleres do Nascimento Mansano Jorge Ulises Guerra Villalobos organizadores Maringá Eduem 2012 154 p 21 cm Formação de Professores EAD v 54 ISBN 9788576284505 1 Geografia Metodologia do ensino 2 I Lopes Claudivan Sanchez org II Mansano Ceres do Nascimento org 3 Villalobos Jorge Ulises Guerra org CDD 21 ed 37135 G345 Eduem Editora da Universidade Estadual de Maringá Av Colombo 5790 Bloco 40 Campus Universitário 87020900 Maringá Paraná Fone 0xx44 30114103 httpwwweduemuembr eduemuembr 5 7 9 11 15 41 47 55 73 umário S Sobre os autores Apresentação da coleção Apresentação do livro Capítulo 1 O ensino de geografia nos anos iniciais do ensino fundamental Claudivan sanches lopes Capítulo 2 O trabalho do professor na organização de práticas de educação geográficas Claudivan Sanches Lopes Capítulo 3 As propostas curriculares oficiais para o ensino da geografia nas sériesanos iniciais Cleres do nascimento mansano Capítulo 4 Representações a linguagem cartográfica Cleres do Nascimento Mansano Capítulo 5 Livro didático de geografia análise e avaliação Cleres do Nascimento Mansano Geografi a Metodologia do Ensino 6 Capítulo 6 Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografia Cleres do Nascimento Mansano Capítulo 7 Escalas geográficas algumas considerações Cleres do Nascimento Mansano Capítulo 8 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Jorge Ulises Guerra Villalobos Capítulo 9 Fotografia território e literatura Jorge Ulises Guerra Villalobos Capítulo 10 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Jorge Ulises Guerra Villalobos Valter Tadeu Dubiela 83 95 105 121 139 7 CLAUDIVAN SANCHES LOPES Professor de Prática de Ensino em Geografi a e Metodologia de Ensino em Geo grafi a junto ao Departamento de Geografi a na Universidade Estadual de Maringá Licenciado em Geografi a pela Universidade Estadual de Maringá1989 Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá PPE Área de concentração aprendizagem e ação docente 2001 e Doutor em Geografi a Humana junto ao Programa de PósGraduação em Geografi a Humana FFLCH USP CLERES DO NASCIMENTO MANSANO Professora do Ensino Superior da área de Ensino do Departamento de Geografi a UEM Maringá PR e do Ensino Básico Col Est João de Faria Pioli Ens Fund e Médio Maringá PR Graduada em Geografi a pela Universidade Estadual de Ma ringá UEM Especialista em Administração Supervisão e Orientação Educacional pela UNOPAR Londrina PR Mestre em Educação para Ciência e o Ensino da Matemática pela UEM Maringá PR e Doutora em Geografi a pela UEM PGE JORGE ULISES GUERRA VILLALOBOS Professor na Universidade Estadual de Maringá Departamento de Geografi a Ma ringáPR Pósgraduado pela Universidade de São Paulo Bacharel e Licenciado em Geografi a com títulos convalidos pela Universidade Estadual de Maringá Possui Especialização em Açúcar e Álcool pela Universidade Estadual de Maringá 2008 Mestrado em Geografi a pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 1990 e doutorado em Geografi a pela Universidade de São Paulo 1996 Atualmen te é professor Associado AS3 Nível C na Universidade Estadual de Maringá VALTER TADEU DUBIELA Doutor em Aménagement pela Université de Montréal Arquiteto e Urbanista pela Universidade Federal de Santa Catarina Sobre os autores 9 A coleção Formação de Professores EAD teve sua primeira edição em 2004 com a publicação de 33 títulos fi nanciados pela Secretaria de Educação a Distância SEED do Ministério da Educação MEC para que os livros pudessem ser utilizados como material didático nos cursos de licenciatura ofertados no âmbito do Programa de Formação de Professores PróLicenciatura 1 A tiragem da primeira edição foi de 2500 exemplares A partir de 2008 demos início ao processo de organização e publicação da segunda edição da coleção com o acréscimo de 12 novos títulos A conclusão dos trabalhos deverá ocorrer somente no ano de 2012 tendo em vista que o fi nanciamento para esta edição será liberado gradativamente de acordo com o cronograma estabelecido pela Diretoria de Educação a Distância DED da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior CAPES que é responsável pelo do programa denominado Universidade Aberta do Brasil UAB A principio serão impressos 695 exemplares de cada título uma vez que os livros da nova coleção serão utilizados como material didático para os alunos matriculados no Curso de Pedagogia Modalidade de Educação a Distância ofertado pela Universi dade Estadual de Maringá no âmbito do Sistema UAB Cada livro da coleção traz em seu bojo um objeto de refl exão que foi pensado para uma disciplina específi ca do curso mas em nenhum deles seus organizadores e autores tiveram a pretensão de dar conta da totalidade das discussões teóricas e práticas construídas historicamente no que se refere aos conteúdos apresentados O que se busca com cada um dos livros publicados é abrir a possibilidade da leitura da refl exão e do aprofundamento das questões pensadas como fundamentais para a formação do Pedagogo na atualidade Por isso mesmo esta coleção somente poderia ser construída a partir do esforço coletivo de professores das mais diversas áreas e departamentos da Universidade Esta dual de Maringá UEM e das instituições que tem se colocado como parceiras nesse processo A presentação da Coleção Geografi a Metodologia do Ensino 10 Em função disto agradecemos sinceramente aos colegas da UEM e das demais instituições que organizaram livros ou escreveram capítulos para os diversos livros desta coleção Agradecemos ainda à administração central da UEM que por meio da atuação direta da Reitoria e de diversas PróReitorias não mediu esforços para que os trabalhos pudessem ser desenvolvidos da melhor maneira possível De modo bastante especifi co destacamos aqui o esforço da Reitoria para que os recursos para o fi nanciamento desta coleção pudessem ser liberados de acordo com os trâmites burocráticos e os prazos exíguos estabelecidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE Internamente destacamos ainda o envolvimento direito dos professores do De partamento de Fundamentos da Educação DFE vinculado ao Centro de Ciências Humanas Letras e Artes DFE que no decorrer dos últimos anos empreenderam esforços para que o curso de Pedagogia na modalidade de educação a distância pu desse ser criado ofi cialmente o que exigiu um repensar no trabalho acadêmico e uma modifi cação signifi cativa da sistemática das atividades docentes No que se refere ao Ministério da Educação ressaltamos o esforço empreendido pela Diretoria da Educação a Distância DED da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior CAPES e pela Secretaria de Educação de Educação a Distância SEEDMEC que em parceria com as Instituições de Ensino Superior IES conseguiram romper barreiras temporais e espaciais para que os convênios para libe ração dos recursos fossem assinados e encaminhados aos órgãos competentes para aprovação tendo em vista a ação direta e efi ciente de um número muito pequeno de pessoas que integram a Coordenação Geral de Supervisão e Fomento e a Coordenação Geral de Articulação Esperamos que a segunda edição da Coleção Formação de Professores EAD possa contribuir para a formação dos alunos matriculados no curso de Pedagogia bem como de outros cursos superiores a distância de todas as instituições públicas de en sino superior que integram e possam integrar em um futuro próximo o Sistema UAB Maria Luisa Furlan Costa Organizadora da Coleção 11 O objetivo deste material é oferecer refl exões a respeito da metodologia do ensino de Geografi a para os anos iniciais do Ensino Fundamental Cientes de que a Geografi a deve colaborar no esforço global do currículo escolar em formar integralmente colo camos a disposição dos leitores instrumentos teóricos e práticos para organização de práticas de educação geográfi cas No primeiro capítulo O ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSI NO FUNDAMENTAL o autor destaca o papel da Geografi a no currículo escolar sua fun ção específi ca na formação global dos alunos do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental e importância social Com o intuito de explicitar os modos de pensar e de operar da ciência geográfi ca discuti aspectos relacionados ao seu lugar no campo das ciências seus principais conceitos e procedimentos ligados à sua forma particular de produzir conhecimento e de explicar o mundo No segundo capítulo O TRABALHO DO PROFESSOR NA ORGANIZAÇÃO DE PRÁ TICAS DE EDUCAÇÃO GEOGRÁFICAS o autor enfatiza os saberes que podem subsidiar os professores na organização de práticas de educação geográfi cas Sem a intenção de apresentar prescrições encaminha discussão a respeito do conjunto de conhecimentos que permitem aos professores considerando a natureza do conhecimento geográfi co proporcionar aos alunos aprendizagens signifi cativas No terceiro capítulo AS PROPOSTAS CURRICULARES OFICIAIS PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA NAS SÉRIESANOS INICIAIS a autora apresenta e discute a implementa ção das propostas ofi ciais de ensino e aplicações para Geografi a escolar em especial voltado para as sériesanos iniciais Apresenta como proposta de atividade um quadro comparativo entre as propostas discutidas com o objetivo de propor refl exão sobre as questões teóricas e metodológicas da prática pedagógica geográfi ca No quarto capítulo intitulado REPRESENTAÇÕES A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA o objetivo é discorrer sobre a alfabetização cartográfi ca como um recurso essencial para o ensino de Geografi a Apresentase discussão sobre o tema bem como algumas pro postas de atividades aplicáveis em sala de aula Apresentação do livro Geografi a Metodologia do Ensino 12 No quinto capítulo LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA ANÁLISE E AVALIAÇÃO são realizadas uma discussão sobre a importância do livro didático para o processo de ensi noaprendizagem bem como os problemas que vão desde a escolha até a sua utilização em sala de aula Como proposta de atividade é solicitada que seja realizada uma análise de coleção de livro didático voltado para as séries inicia O objetivo é possibilitar o contato do futuro professor com este recurso e possibilitálo a avaliação bem como a escolha na sua futura prática profi ssional No sexto capítulo intitulado OS ESTUDOS DO MEIO UMA ESTRATÉGIA METO DOLÓGICA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA a autora aborda a importância deste re curso que possibilita a construção do conhecimento pela observação orientada pela ótica realidade possibilitando a aprimoração do olhar geográfi co do educando e do educador São apresentadas algumas propostas que possibilitam ao professor a práxis No sétimo capítulo ESCALAS GEOGRÁFICAS ALGUMAS CONSIDERAÇÕES é a distinção entre a escala geográfi ca e cartográfi ca sendo que na Geografi a as duas são fundamentais e complementares Assim entender os seus signifi cados e aplicações faz parte da educação geográfi ca e essencial para a apreensão do fenômeno geográfi co As cidades experimentaram ao longo de seu processo de expansão e consolidação inúmeras inovações tais como as provenientes da inclusão das áreas verdes dentro de um marco de política higenista quanto das inovações em vias de circulação provocadas pela mudança dos meios No entanto sempre mantiveram uma constante qual foi a de regrar os usos do solo particularmente intensas foram as ações dos planejadores quan do disciplinaram as atividades industriais que pretendiam ocupar o perímetro urbano No oitavo capítulo AS CIDADES O TERRITÓRIO A PAISAGEM E O PLANEJAMENTO URBANO o professor Jorge G Villalobos analisa com detalhes a questão urbana con temporânea que resulta dos novos processos tecnológicos A qualquer geógrafo ou professor de geografi a que perguntássemos pelo nome de Alexander von Humboldt 17691859 diria no mínimo que está associado diretamente à história da geografi a científi ca No entanto esse naturalista alemão está também vin culado com a apresentação do invento de Louis Jacques Mande Daguerre 17871851 o Daguerrotipo à Academia de Ciências de Paris e sua participação não parece ter sido secundária haja vista que desde essa época a Fotografi a passou a ser incorporada em todos os trabalhos geográfi cos Porém nunca fora deixado de lado o caráter descritivo e de certa forma literário quando analisado o território desde os personagens que o integram No nono capítulo denominado FOTOGRAFIA TERRITÓRIO E LITERATURA o professor Jorge G Villalobos explora esses temas No décimo capítulo destinado à análise da paisagem desde o ponto de vista da preservação Jorge G Villalobos e Valter Tadeu Dubiela revisão em detalhes a ESTAÇÃO 13 RODOVIÁRIA AMÉRICO DIAS FERRAZ na cidade de Maringá Objetivando expor as razões que justifi cam a conservação restauração e tombamento do prédio que forma parte do patrimônio histórico artístico e natural e paisagístico da cidade de Maringá bem como seu valor para a toda a região colonizada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná Assim como desenvolvem uma análise a respeito dos atos praticados pela Administração Municipal que culminaram com a demolição do prédio Claudivan Sanches Lopes Cleres do Nascimento Mansano Jorge Ulises Guerra Villalobos Organizadores Apresentação do livro 15 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Claudivan Sanches Lopes INTRODUÇÃO O objetivo deste livro como ressaltamos na apresentação é oferecer refl exões a respeito da metodologia do ensino de Geografi a para os anos iniciais do Ensino Fun damental Cientes de que a Geografi a deve colaborar no esforço global do currículo escolar em formar integralmente colocamos à disposição dos futuros professores ins trumentos teóricos e práticos para a organização de práticas de educação geográfi cas que consideramos adequadas ao grau de desenvolvimento cognitivo dos alunos que frequentam esse nível de ensino Em consonância com outros autores pressupomos que os conteúdos geográfi cos presentes nos currículos escolares podem contribuir efetivamente na alfabetização das crianças e na promoção de seu desenvolvimento pois desencadeiam processos que permitem à criança iniciar a compreensão do mun do de forma sistematizada e ao mesmo tempo fornecem os alicerces para as aprendi zagens futuras da Geografi a na Educação Básica CALLAI 2005 Ao enfatizarmos o aspecto metodológico entretanto não descuidamos dos princi pais conceitos e procedimentos que fazem parte dos modos de pensar e de operar da ciência geográfi ca e que defi nem sua especifi cidade É impossível na verdade separar os conteúdos de ensino dos procedimentos metodológicos que se adotam para ensiná los Assim é necessário esclarecer aspectos relacionados à natureza e à especifi cidade da Geografi a enquanto ciência no quadro geral do conhecimento humano para depois examinarmos sua possível contribuição no currículo escolar e particularmente no currículo das séries iniciais do Ensino Fundamental Com efeito salientamos inicialmente o papel da Geografi a no campo das ciências humanas para em seguida avançarmos na compreensão dos possíveis signifi cados atribuídos à educação geográfi ca função da Geografi a no currículo escolar e sua importância para a formação dos indivíduos de maneira geral e especialmente das 1 Geografi a Metodologia do Ensino 16 crianças que frequentam as séries iniciais do Ensino Fundamental alvo indireto deste material pedagógico A GEOGRAFIA ACADÊMICA E SEU LUGAR NO CAMPO DAS CIÊNCIAS SO CIAIS UMA REFERÊNCIA FUNDAMENTAL A refl exão acerca do lugar da Geografi a no currículo escolar e as tentativas de se compreender melhor o sentido do que estamos chamando de educação geográfi ca passam como já pontuamos pela consideração do lugar da Geografi a no campo das ciências sociais A compreensão da Geografi a como ciência social parte da premissa de que a expli cação da sociedade pode ser realizada por meio de inúmeras entradas ou pontos de vista como explica Moraes 2000 p 23 os campos disciplinares devem exprimir visões angulares da realidade so cial isto é caminhos peculiares no deslindamento do movimento da sociedade os quais a partir da investigação de fenômenos e processos específi cos de vem conseguir iluminar algumas relações e mediações que formam parte da tecitura do fl uir histórico em outras palavras abordam elementos da totalidade movente Com a fi nalidade portanto de captar e interpretar de maneira singular mas não única o movimento da totalidade social a tarefa particular da Geografi a estaria cen trada na dimensão espacial da sociedade humana Tratase por conseguinte de um recorte analítico Recorrendo mais uma vez a Moraes 2000 p 2728 poderseia dizer que a Geografi a humana deveria estudar a espacialidade da vida social vista como uma mediação particularizadora na compreensão da história de uma sociedade concreta Ela objetivaria assim uma dada visão an gular da história dedicada ao deslindamento de uma dimensão específi ca de seu movimento a espacial Sob esse prisma não existe uma realidade exclusivamente geográfi ca Como a realidade social não é totalmente geográfi ca a teoria geográfi ca como qualquer outra é insufi ciente para explicála em sua totalidade e é bom recordar está sem pre em movimento A Geografi a permite em sua epistemologia captar a realidade mediante uma determinada perspectiva e dessa forma explicála A função da Geo grafi a como defende Escolar 1996 é produzir teorias para interpretar a espaciali zação da realidade social O repertório de teorias que compõem a ciência geográfi ca se constitui assim em uma janela da qual o geógrafo e o estudante de Geogra fi a ainda que em diferentes níveis de compreensão podem observar e analisar a sociedade 17 Ao valorizar a dimensão espacial da sociedade a Geografi a não nega a existência de outras dimensões possíveis de análise ao contrário procura estabelecer um diálogo com elas e entre elas Não se trata de tentar constituir como nos alerta Moraes 2000 uma superciência capaz de trabalhar empiricamente com a totalidade social Concomi tantemente se aceita a existência de outras perspectivas e se busca estabelecer pontes entre elas Tomase por prerrogativa que a realidade social é multidimensional o mundo é um só e a separação disciplinar é um esforço metodológico no caso do geógrafo na tentativa de compreender a realidade social e orientar práticas Como assinala Santos 2004 p 20 uma disciplina é uma parcela autônoma mas não inde pendente do saber geral O diálogo interdisciplinar muito desejável nos dias de hoje em virtude da excessi va especialização das ciências não nega a especifi cidade das disciplinas ou caminhos particulares de análise pelo contrário delimitar o campo consolidando a identidade de uma disciplina é um caminho necessário para o diálogo interdisciplinar Em síntese a especifi cidade do trabalho do pesquisador em Geografi a ou do pro fessor de Geografi a se defi ne muito mais pelo recorte que o pesquisadorprofessor realiza na totalidade social a relação da sociedade com o espaço do que pela exis tência de um objeto particular e exclusivo de estudo Tratase de uma forma específi ca de ver a realidade social o olhar geográfi co sobre o mundo Figura 1 A observação do espaço mediada pela teoria geográfi ca possibilita o desenvolvimento do olhar geográfi co sobre o mundo Ilustração de Paulo Henrique Lopes e Estevão Pastori Garbin A inexistência de sociedades aespaciais obriga a considerar a dimensão espacial das sociedades na organização da vida humana MORAES 2000 O estudo da espa cialidade expressa concretamente nas diversas formas que compõem as paisagens O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 18 naturais vales rios montanhas etc e culturais ruas edifícios praças etc com a qual se deparam os seres humanos todos os dias e ao longo de toda a vida em seu irevir pelo espaço geográfi co pode revelar aspectos importantes da lógica ou lógicas que regem a sociedade Ao considerarmos que as construções espaciais expressam os conteúdos das relações sociais que as engendram MORAES COSTA 1984 p 126 o conhecimento geográfi co pode ser um fator propiciador de maior consciência sobre a organização da vida humana visto que à medida que permite a desnaturalização das construções espaciais abre possibilidades para a investigação do conteúdo as relações sociais que dá forma às paisagens Em uma perspectiva crítica a invenção da Geografi a pelos seres humanos decorre da constatação de que a sociedade humana não pode prescindir da compreensão do espaço em seu caminhar histórico por ser ele um fator que condiciona essa caminhada Estudar geografi camente o mundo tornase sob tal vertente um exercício cognitivo muito relevante que supõe o deslindamento da lógica que rege a realidade social por in termédio da observação e do estudo metódico do espaço Tratase do desenvolvimento sistemático do raciocínio espacial que estabelece como produto mental a formação de uma consciência espacial ou geográfi ca Revelase por essa via de acordo com os propósitos deste tópico o sentido ou a importância da ciência geográfi ca na vida do estudante de Geografi a e de indivíduos que compõem a sociedade Cabe ao professor como veremos mais detalhadamente adiante organizar atividades pedagógicas que ilu minadas pela teoria geográfi ca proporcionem aos alunos o desenvolvimento do modo de pensar geográfi co Em outras palavras que possam desenvolver gradativamente seu raciocínio geográfi co O RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO Considerando que já tenhamos alcançado a clareza sufi ciente sobre a especifi cida de da Geografi a no campo das ciências sociais podemos avançar na caracterização do processo de construção do raciocínio geográfi co Este se refere à capacidade cognitiva de compreender como as diversas sociedades organizam o seu espaço e por outro mas inseparavelmente as implicações dos diversos arranjos espaciais na vida social e em particular na vida pessoal de seus membros Em outros termos como os diversos arran jos espaciais que compõem o território infl uenciam e até qualifi cam o dia a dia dos seres humanos Como por exemplo a localização do indivíduo no espaço e as características geográfi cas do lugar onde mora podem facilitar ou difi cultar o exercício da cidadania Sobre essa questão Santos 1993 p 81 observa Cada homem vale pelo lugar onde está o seu valor como produtor consumi dor cidadão depende de sua localização no território Seu valor vai mudando 19 incessantemente para melhor ou para pior em função das diferenças de aces sibilidade tempo freqüência preço independentes de sua própria condição Pessoas com as mesmas virtualidades a mesma formação até mesmo o mesmo salário têm valor diferente segundo o lugar em que vivem as oportunidades não são as mesmas Por isso a possibilidade de ser mais ou menos cidadão de pende em larga proporção do ponto do território onde se está Enquanto um lugar vem a ser condição de sua pobreza um outro lugar poderia no mesmo momento histórico facilitar o acesso àqueles bens e serviços que lhe são teori camente devidos mas que de fato lhe faltam O mesmo autor argumenta entretanto que o estudo da pobreza não pode limitarse à simples localização da pobreza no espaço e nos adverte que optar por uma ótica espacista pode levarnos a perder de vista as verdadeiras causas da pobreza e impedir a compreensão das razões de sua localização e fi nalmente retirarnos as possibilidades de indicar caminhos alternativos p 85 As injustiças identifi cadas no espaço não se explicam por elas mesmas As causas reais devem ser buscadas no pro cesso sócio histórico que produziu o espaço nesse caso sua causa real Para Moraes 2000 p 31 o fato de o espaço infl uir no curso dos processos sociais não signi fi ca que tal dimensão possa determinálos E acrescenta que não é o espaço como ser ontológico que determina a vida humana em um determinado lugar mas sim são as próprias relações sociais observáveis espacialmente que a condicionam e que permi tem sua reprodução Observemos por exemplo a charge a seguir Figura 2 As desigualdades sociais se materizam no espaço Disponível em httpcontextoshistoricosblogs potcom201106testeseusconhecimentossobreashtml Acesso em 20092011 A desigualdade social que marca sensivelmente paisagens urbanas e rurais em nosso país e notadamente nas grandes cidades revela como denuncia a Figura 2 uma questão que é primeiramente social As causas das injustiças que se revelam nas paisagens devem ser buscadas portanto na lógica da dinâmica social que as produz e reproduz O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 20 Compreendemos mais profundamente deste modo o quanto o desenvolvimento sistemático do raciocínio geográfi co uma educação geográfi ca pode ser importante no desvelamento das lógicas que fundam a vida social e a dinâmica de uma determina da sociedade A análise das características do lugar que um indivíduo ou grupo ocupa em um determinado território pode ser extremamente reveladora das injustiças e das mazelas da sociedade que em uma perspectiva emancipatória necessitam ser histori camente transformadas SANTOS 1993 Uma educação dessa natureza poderia contribuir signifi cativamente para afrouxar as amarras da ideologia hegemônica que naturaliza os processos de construção do es paço geográfi co Negando explicações simplistas baseadas no senso comum em seu sentido mais banal poderia simultaneamente instrumentalizar uma possível ação política que vise a uma transformação Ultrapassando uma simples constatação e des crição de fatos isolados estarseia nessa circunstância diante de uma educação das consciências de caráter prospectivo ou seja favorecedora de uma práxis Ao expor as injustiças sociais reveladas pela análise da dimensão espacial da sociedade a Geografi a oferece instrumentos valiosos para a compreensão e superação daquelas injustiças que de acordo com Santos 1993 p 112 devem ser corrigidas em nome da cidadania O próprio domínio da representação espacial tornase um elemento importante nesse processo visto que o protagonismo na representação do lugar e do território onde se vive e a negação de assimilar ou engolir representações distantes e desvin culadas dos próprios interesses são um fator de superação da alienação imposta pela ideologia hegemônica que nos confi gura Assumir a autoria da representação do espa ço onde se vive é um fator importante para as lutas enraizadas no lugar Em suma é outro fator importante para o estabelecimento de uma consciência geográfi ca1 Os alunos da Educação Básica ou quaisquer outros indivíduos independentemen te de já terem estudado Geografi a ou não possuem uma determinada consciência espacial Nesse âmbito o papel do geógrafoprofessor como representante do co nhecimento científi co do espaço não deve estar pautado na negação da consciência subjetiva do espaço presente nos alunos ou em qualquer outra pessoa Pelo contrário considerando que a teoria e as práticas geográfi cas podem iluminar a consciência individual devemos valorizála como ponto de partida para o desenvolvimento de práticas pedagógicas signifi cativas Para além da sala de aula o conhecimento geográ fi co pode permitir ao indivíduo planejar ações e reações sobre o espaço com o intuito 1 Considerando a relevância da representação do espaço em um processo de educação geográfi ca dedi caremos mais adiante um capítulo para discutir esse tema e sua importância para a formação integral das crianças do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental 21 de transformálo de acordo com suas necessidades ou interesses Como afi rma Moraes 1986 p 43 Na medida em que se aceita que os homens agem movidos por suas consciên cias sem negar toda a carga de determinações históricosociais presentes nessa ação a questão da subjetividade emerge com importância na explicação do movimento das sociedades A produção da história poderseia dizer passa pelas formas pelas quais os homens se vêem no mundo pelos seus valores suas crenças e concepções Enfi m também pelo fl uído mundo das representa ções O fl uir da história se manifesta enquanto cotidianidade para seus agentes concretos Por isso o fator subjetivo não pode ser desprezado Claro que sua apreensão não se dará na ótica do subjetivismo O trabalho pedagógico do professor de Geografi a deve proporcionar aos alunos portanto a construção de uma consciência geográfi ca A atividade pedagógica ilu minada pela teoria geográfi ca e por sua compreensão qualifi cada deve conduzir os alunos a uma consciência espacial cada vez mais concreta ou seja a uma síntese de múltiplas determinações Entendemos que esse conhecimento pode subsidiar a ação dos alunos no lugar onde vivem e da sociedade de maneira geral Pensar o ensino de Geografi a como um processo de educação geográfi ca como aqui estamos propondo tem implicações diretas tanto nas práticas de sala de aula como nos processos de formação do professor Avancemos então na compreensão da importância da Geografi a no currículo escolar e suas implicações na prática pedagógi ca dos professores responsáveis por ministrálo EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA SOBRE OS OBJETIVOS E PROPÓSITOS DO ENSI NO DE GEOGRAFIA NO CURRÍCULO ESCOLAR A Geografi a recebe dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs um tratamento específi co como área ou seja admitese que possui como as demais áreas que com põem esse currículo uma identidade própria e é por esse olhar mais específi co que se deve considerar os diversos conteúdos por ela trabalhados e os objetivos a eles vin culados A Geografi a propala esse documento oferece instrumentos essenciais para a compreensão e intervenção na realidade social BRASIL 1998 Por um lado os objetivos a serem alcançados pela Geografi a no primeiro e se gundo ciclos do Ensino Fundamental são compartilhados com as demais disciplinas e podem estar ligados às questões vividas pela comunidade na qual a escola está inseri da ou expressos no projeto pedagógico da instituição escolar Ou seja os conteúdos de Geografi a como os demais devem somar esforços na tarefa maior de formação geral e integral dos educandos Por outro lado os conteúdos da disciplina Geografi a desempenham um papel particular têm uma função específi ca que precisa ser bem compreendida pelo professor O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 22 Nesse sentido com base na natureza e na epistemologia dessa disciplina no currí culo escolar entendemos que os saberes que devem orientar sua atividade profi ssional são constituídos em grande medida pelo trabalho com atividades didáticopedagógi cas próprias desse campo disciplinar Ou seja devem estar alicerçados nos conceitos e procedimentos mais importantes e centrais que caracterizam essa disciplina escolar e a ciência de referência Cabe ao professor encaminhar atividades que proporcionem aos alunos a oportunidade de se apropriarem dos conteúdos procedimentos e das habilidades sui generis próprios ou específi cos dessa área do currículo escolar Podemos observar ao examinar a literatura preocupada voltada para o ensino de Geografi a a preocupação latente dos pesquisadores dessa área em delimitar e expli citar os objetivos e o papel que essa disciplina deve exercer no currículo escolar Na análise dessa literatura sobretudo a mais recente que trata do ensino de Geografi a é comum a utilização de expressões correlatas como educação geográfi ca consciên cia espacial alfabetização espacial olhar espacial alfabetização geográfi ca leitura geográfi ca do mundo raciocínio geográfi co pensar geográfi co pensamento lógico espacial imaginação geográfi ca entre outras Ao utilizar tais expressões seus auto res estão buscando exatamente concretizar a identidade e a função da disciplina de Geografi a na Educação Básica Atentam com muita propriedade para a necessidade e importância de se considerar o domínio da dimensão espacial na organização da vida humana e do potencial educativo político e estratégico da Geografi a no diaadia dos alunos dos professores e da sociedade de maneira geral A ideia da necessidade e relevância de uma educação geográfi ca permite no interior de uma lógica conceitualmente incorporadora unir sem o estabelecimento de hierarquias de importância o conteúdo geográfi co e seu sentido pedagógico Leiamos com atenção por exemplo um pequeno excerto da professora Lana Sou za Cavalcanti A autora como poderemos observar está preocupada em reafi rmar e explicar a importância do ensino de Geografi a para a formação geral de cidadãos Ela enuncia Na relação cognitiva de crianças jovens e adultos com o mundo o raciocínio espacial é necessário pois as práticas sociais cotidianas têm uma dimensão es pacial Os alunos que estudam essa disciplina já possuem conhecimentos nessa área oriundos de sua relação direta e cotidiana com o espaço vivido Sendo assim o trabalho de educação geográfi ca é o de ajudar os alunos a analisarem esses conhecimentos a desenvolverem modos do pensamento geográfi co a in ternalizarem métodos e procedimentos de captar a realidade a vivida e a apre sentada pela Geografi a escolar tendo consciência de sua espacialidade Esse modo de pensar geográfi co é importante para a realização de práticas sociais variadas já que essas práticas são sempre práticas socioespaciais CAVALCANTI 2006b p 34 grifos nossos 23 Dessa forma ao consolidar sua identidade por meio do desenvolvimento de con teúdos procedimentos e habilidades característicos desse campo a Geografi a pode marcar seu espaço no rol das disciplinas que compõem o currículo do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental e dessa maneira cumprir seu papel É preci so atentar às especifi cidades do conhecimento geográfi co e da educação geográfi ca que se quer por intermédio desse conhecimento promover Dito de outra maneira é no exercício consciente e sistemático de práticas geográfi cas escolares que em uma perspectiva crítica a Geografi a pode garantir sua legitimidade e relevância social Em decorrência é possível evitar a naturalização da disciplina e dos temas selecionados para ensinar mostrando em cada tempo e lugar para além de interesses corporativos seu valor e importância social A própria refl exão sociológica e histórica a respeito das disciplinas ou dos saberes escolares coloca em evidência esse fato FORQUIN 1992 CHERVEL 1990 GOOD SON 1990 Ensinar e aprender argumenta Forquin 1992 p 44 grifo do autor supõe esforços custos sacrifícios de toda a natureza Por isso é preciso que no sentido próprio da palavra aquilo que se ensina valha a pena O professor deve relacionarse de maneira autônoma com os conteúdos que ministra incluindo aí a visão de Geo grafi a presente no livro didático que utiliza tendo sempre em mente a importância do conhecimento geográfi co para a formação integral e cidadã do aluno Nesse sentido é importante considerar que a Geografi a escolar ou seja aquela ensinada na escola não é uma mera simplifi cação didática da ciência que lhe serve de referência a Geografi a acadêmica Tratase de um saber transformado e organizado tendo em vista os objetivos educacionais a que se destina Como registra Marechal apud PONTUSCHKA 2001b p 132 grifo nosso é importante que se considere o saber que se torna objeto de ensino na escola não é o saber universitá rio simplifi cado é um saber transformado recomposto segundo um processo que trata de dominar ao máximo evitando simplifi cações que deformam os conhecimentos ou que provocam desvios É este portanto o grande desafi o dos professores de modo geral e que quere mos seja também seu caro leitor ao longo desse curso que estamos iniciando o de transformar considerando as características dos alunos de cada nível de ensino os conhecimentos científi cos selecionados pelo currículo escolar em conhecimentos a ser ensinados O cumprimento dessa tarefa exige que o professor adquira e mobilize uma série de saberes com destaque evidentemente para o domínio dos conteúdos curriculares e das formas mais apropriadas de em um determinado contexto ensinar seus alunos A maneira de ensinar ou seja seu aspecto metodológico está condicionado como já O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 24 salientamos à natureza do conhecimento a ser ensinado Há assim uma íntima conexão entre os conteúdos de uma disciplina e os métodos que são utilizados em seu ensino Para que o raciocínio geográfi co do aluno possa ser gradativamente desenvolvido é mister que o professor se aproprie dos referenciais teóricometodológicos produzi dos pela ciência geográfi ca e que seja capaz de em uma vertente didática e pedagó gica mobilizálos ao longo de suas aulas A adequada mobilização desses referenciais pelo professor propiciará ao aluno compreender a realidade e o mundo em uma pers pectiva geográfi ca A LEITURA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO CONCEITOS E PROCEDIMENTOS GE RADORES DO RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO A leitura do espaço e a possibilidade do desenvolvimento de modos de pensar geo gráfi cos requerem que os alunos internalizem por meio de um trabalho pedagógico bem defi nido os conceitos e os procedimentos estruturadores dessa forma particular de pensar Para além de dados e informações geográfi cas sobre diferentes lugares do país e do mundo que sem dúvida são importantes é necessário que os alunos cons truam gradativamente e a partir dos conhecimentos que já possuem os conceitos cotidianos o raciocínio geográfi co A esse respeito lemos nos PCNs No que se refere ao ensino fundamental é importante considerar quais são as categorias da Geografi a mais adequadas para os alunos em relação à sua faixa etária ao momento da escolaridade em que se encontram e às capacidades que se espera que eles desenvolvam Embora o espaço geográfi co deva ser o objeto central de estudo as categorias paisagem território e lugar devem também ser abordadas principalmente nos ciclos iniciais quando se mostram mais acessí veis aos alunos tendo em vista suas características cognitivas e afetivas BRASIL 1998 p 110 grifos nossos Há certo consenso entre os pesquisadores da área do ensino de Geografi a CA VALCANTI 2006a e com eles como vimos concorda o texto extraído dos PCNs que o espaço geográfi co deve ser o objeto central de estudo dessa disciplina no currículo escolar A Geografi a preocupase assim em estudar as relações entre o proces so histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza por meio da leitura do espaço geográfi co o objeto central de estudo e da paisagem BRASIL 1998 p 109 O espaço geográfi co é o espaço onde todos nós vivemos e resulta de sucessivas ações das sociedades humanas sobre a natureza tratase de um produto da história É o homem que socialmente e por meio do trabalho produz e reproduz continuamen te o espaço geográfi co ou simplesmente o espaço Leiamos com atenção o texto do geógrafo Ruy Moreira que segue O autor compara mediante uma metáfora o espaço geográfi co a uma quadra de futsal 25 UMA QUADRA DE FUTSAL O espaço geográfi co pode ser concebido por intermédio de uma metáfora Se observarmos uma quadra de futsal o antigo futebol de salão notaremos que o arranjo do terreno reproduz as regras desse esporte Basta aproveitarmos a mesma quadra e nela superpormos o arranjo espacial de outras modalidades de esporte como o vôlei o basquete e o handball cada qual com leis próprias para notarmos que o arranjo espacial diferirá para cada uma Diferirá porque o arranjo espacial reproduz as regras do jogo e essas regras diferem para cada modalidade de esporte considerado Se fossem as mesmas leis para todas o arranjo seria um só Assim também é o espaço geográfi co com relação à sociedade O arranjo do espaço geográfi co exprime o modo de socialização da natureza Tal o modo de produção tal será o espaço geográfi co O processo de socialização da natureza pelo trabalho social ou seja a transformação da história natural em história dos homens ou da história dos homens em história natural implica uma estrutura de relações sob determinação do social E é essa estrutura complexa e em perpétuo movimento dialético que conhecemos sob a designação de espaço geográfi co Fonte MOREIRA Ruy Repensando a geografi a In SANTOS Milton Novos rumos da Geografi a brasileira São Paulo Hucitec 1982 p 35 O lugar da Geografi a nas séries iniciais está relacionado como já discutimos an teriormente à necessidade de aprender a pensar o espaço geográfi co E isso signifi ca como alega Callai 2005 p 229 criar condições para que a criança leia o espaço vivido Ou seja que compreenda por meio do trabalho geográfi copedagógico do professor a lógica da produção do espaço em que se move e vive É no trabalho simultâneo de conteúdos categorias e procedimentos que o profes sor pode favorecer a formação nos alunos de maneiras geográfi cas de observar de compreender e de agir no mundo O trecho da obra de Callai 2010 p 3233 transcrito a seguir nos permite apro fundar a compreensão do signifi cado do espaço geográfi co para a Geografi a escolar e ao mesmo tempo a importância das categorias lugar território e paisagem no desenvolvimento do raciocínio geográfi co dos alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental Tratamse de conceitos que devem ser apropriados e mobilizados pelo professor em seu trabalho cotidiano A geografi a propõe a leitura do espaço por meio do que é específi co em seu trabalho isto é o espaço construído um espaço territorializado que faz par te da vida das pessoas que é por elas construído por sua ação mas também por sua passividade sua não ação O espaço é o palco que serve de susten táculo para as ações mas ao mesmo tempo interfere possibilitando impe dindo ou facilitando estas ações Quer dizer o espaço é um território vivo E é pela paisagem que podemos fazer a leitura desse território A paisagem é O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 26 o retrato de um determinado lugar em um tempo específi co Isto quer dizer que pode se apresentar de formas variadas ao longo do tempo Além disso nossa apreensão pode não abarcar a visão de tudo pois somos seletivos e portanto nossa percepção da paisagem é sempre um processo seletivo de apreensão Sendo a paisagem o que vemos é preciso olhar para além do visível é importante buscar as motivações que deram origem à forma com que se apresenta em determinados momentos Em resumo podese dizer que a paisagem de um lugar é resultado de dados físicos que decorrem da natureza como a vegetação o relevo a hidrografi a o clima mas também de outros que são os edifi cados os prédios as ruas os caminhos as praças os monumentos os símbolos E há também a história e as diversas histórias particularizadas a memória a simbologia que expressam os sentimentos a cultura do lugar Essa cultura é a síntese é o que dá identidade É preciso conhecer este lugar e para isso há que se considerar que cada sujeito vai trabalhar com seu cotidiano ali ele conhece tudo sabe o que existe e o que falta como são as pessoas como estão organizadas as atividades como é o lugar enfi m Este é um saber do senso comum aquele que faz parte da rotina diária de vivência sabese de ver de ouvir de contar etc Exatamente neste ponto reside o aspecto fundamental deste tipo de trabalho como trabalhar o lugar sem considerálo o único sem pensar que as explicações estão todas ali e sem cair no risco de isolálo no espaço e no tempo Grifos nossos Considerando as categorias propostas pelo PCNs como elementares na compreen são do espaço geográfi co como por exemplo lugar paisagem e território e baseados na sistematização proposta por Cavalcanti apresentamos na sequência breve discus são relativa a esses conceitos Como já postulamos são conceitos fundamentais e es truturadores do raciocínio geográfi co A expressão paisagem tanto na literatura quanto em nossas relações cotidianas assume diferentes concepções Considerando as defi nições baseadas no senso comum aparece normalmente associada a um lugar esteticamente bonito e constituído de formas naturais ou seja vinculadas à natureza Na Geografi a entretanto possui um caráter específi co e desempenha um papel muito importante para o estudo e a análise do espaço geográfi co A paisagem segundo Santos 2004 p 103 é o conjunto de formas que num dado momento exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza E prossegue o autor Tudo aquilo que nós vemos o que a nossa visão alcança é a paisagem Esta pode ser defi nida como o domínio do visível aquilo que a vista abarca Não é formada apenas de volumes mas também de cores movimentos odores sons etc SANTOS 1988 p 61 Podemos de acordo com a teorização formulada por Santos afi rmar que as paisa gens são constituídas de dois tipos de elementos ou formas as naturais e as sociais ou culturais As formas naturais são resultado da dinâmica da própria natureza tais 27 como as montanhas os vales os solos os rios os oceanos etc As formas sociais ou culturais são resultado do trabalho humano tais como praças edifi cações pontes viadutos rodovias etc Quando uma paisagem ainda não foi alterada pela ação humana dizemos tratarse de uma paisagem natural Quando já sofreu um processo de transformação dizemos tratarse uma de paisagem humanizada ou cultural Nas paisagens humanizadas por tanto temos necessariamente uma integração entre formas naturais e humanas O estudo da paisagem é deste modo um ponto de partida importante para a análise e compreensão do espaço geográfi co Para além de sua materialidade ou seja suas formas a paisagem revela o conteúdo social que a produziu inclusive com suas contradições É no estudo da relação existente entre as formas a materialidade que pode ser visualizada observada e descrita e seu conteúdo a dinâmica social que a produziu e às faz suscetível às constantes transformações que podemos compreender o espaço geográfi co O estudo da paisagem não pode portanto restringirse à descrição das formas na turais ou culturais visualmente observáveis na paisagem É preciso que a análise avan ce considerando a dinâmica natural e social que as engendraram No ensino de Geo grafi a é necessário por conseguinte partir da a concepção de que os espaços têm uma forma que expressa seu conteúdo o movimento social de que a paisagem revela as relações de produção da sociedade seu imaginário social suas crenças seus valo res seus sentimentos CAVALCANTI 2006b p 39 A mediação didáticopedagógica do professor é nesse caso fundamental O esquema abaixo representado busca ilustrar o que estamos mostrando e pode ser muito útil ao trabalho pedagógico do professor Figura 3 Sitematização do conceito de Paisagem Fonte Cavalcanti 2006b p 37 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 28 O estudo da paisagem deve começar pela observação e descrição das formas que podem visualmente ser identifi cadas para em um segundo momento analisarse a dinâmica socialnatural que a produziu É preciso evitar então que esse processo se reduza apenas à observação e descrição é necessário mostrar que embora nem todos os processos sociais possam ser visualmente observados na paisagem são fundamen tais em sua compreensão É essencial considerar também que a observação da paisagem comporta elemen tos objetivos e subjetivos As diferentes percepções dos alunos sobre a mesma paisa gem devem ser consideradas pelos professores O caminho para uma compreensão objetiva da paisagem função do trabalho pedagógico do professor não nega a subjeti vidade dos alunos ao contrário é um importante ponto de partida As paisagens não são imutáveis Elas se transformam constantemente para atender às demandas da sociedade ou de parte dela que podem ser de ordem econômica cultural política etc Como os grupos ou classes que compõem uma determinada sociedade no passado presente ou no futuro não têm os mesmos interesses muitas dessas transformações ocorrem a favor de alguns grupos ou classes e em detrimento de outrosoutras A política assim é um aspecto relevante na evolução e transforma ção das paisagens A título de exemplo podemos citar a recente 2010 derrubada do prédio da antiga estação rodoviária da cidade de Maringá Paraná edifi cada na década de 1960 Sua demolição foi alvo de intensa discussão pública e disputa judicial que envolveu o poder público os concessionários das antigas lojas que lá funcionavam os empreen dedores imobiliários pessoas ligadas à preservação do patrimônio histórico e a so ciedade em geral No fi nal predominou o interesse do atual governo municipal e o prédio foi demolido Sua retirada mudou sensivelmente a paisagem do centro da cidade Atualmente no lugar do antigo edifício há um estacionamento e no futuro deve ser construído um edifício de grande porte Para alguns a ausência do prédio provoca um sentimento de saudade de perda e para outros uma oportunidade de lucros baseados em empreendimentos imobiliários Os seres humanos são nos dias atuais os principais agentes da transformação das paisagens mas a dinâmica da natureza também produz sensíveis modifi cações Toda via normalmente salvo eventos de grande dimensão como terremotos maremotos atividade vulcânica etc as transformações provocadas pela própria natureza são mais lentas e menos perceptíveis na paisagem O conceito de lugar como podemos verifi car na Figura 4 está relacionado à ideia de local e referese àquelas porções do espaço com as quais temos familiaridade com os quais estabelecemos em diversos níveis uma relação de afetividade É a porção do 29 espaço onde se travam portanto nossas relações cotidianas O lugar é na acepção de Carlos 1996 p 20 a porção do espaço apropriável para a vida a rua onde mora mos nosso bairro a praça de convivência e lazer nosso quintal Figura 4 Sistematização do conceito de lugar Fonte Cavalcanti 2006b p 37 Embora os lugares sejam percebidos na esfera do cotidiano e com os quais de al guma forma nos identifi camos as relações que se travam em seu interior são cada vez mais nesses tempos de mundialização da economia infl uenciadas por fatos e ocorrên cias dos mais variados pontos do planeta O lugar é por conseguinte o habitual da vida cotidiana mas por outro lado também é por onde se concretizam relações e processos globais O lugar produzse na relação do mundial com o local que é ao mesmo tempo a possibilidade de manifestação do global e de realização de resistências à globalização CAVALCANTI 2006b p 36 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 30 O LUGAR E OS ATOS INDIVIDUAIS Os indivíduos agem e se locomovem num determinado espaço e tempo Em relação aos indivíduos o espaço é o lugar e o tempo é o cotidiano que regula as horas de trabalho de locomoção de sono de lazer etc O lugar é o espaço do vivido sentido pensando e apropriado pelo corpo portanto o bairro ou a cidade pequena e interiorana O lugar é o espaço onde os indivíduos e grupos sociais resistem às mudanças às forças da desagregação familiar aos processos de transformação á medida que reafi rmam os valores da cultura tradicional É nesse espaço que ainda encontramos a diferença e a originalidade porque há resistência ao processo de homogeneização Por outro lado há lugares em que a cultura tradicional é extremamente atuante submetendo a manifestação da individualidade ao consenso grupal O processo de globalização tende a diminuir as diferenças entre os indivíduos e os grupos sociais O desenvolvimento tecnológico os meios de comunicação ligando todos os pontos do planeta impõem os mesmos gostos o consumo dos mesmos produtos o que resulta numa homogeneização da cultura As paisagens das grandes metrópoles são muito semelhantes assim também os indivíduos que animam e lhe dão vida pois se vestem de forma semelhante gostam das mesmas comidas dos mesmos fi lmes ou dos mesmos heróis em quadrinhos Apesar disso é principalmente nas grandes metrópoles que os indivíduos encontram o espaço para a realização de seus desejos e sonhos permitindo o fl orescer da individualidade Fonte PITTE JR Org Geografi a a natureza humanizada São Paulo FTD 1998 p 234 O conceito de território por sua vez vinculase diretamente à ideia de poder Figura 5 É comum falarse então de território nacional território de um muni cípio ou estado território indígena território do narcotráfi co território da ação de uma determinada gangue urbana território de ação de uma empresa etc Em cada um deles como ensinam Moreira e Sene 2002 p 16 há relações de poder de posse ou de domínio e vigoram determinadas regras ou leis Essas leis podem ser institucionais criadas pelo Estado ou reconhecidas informalmente pela sociedade não estão escritas mas todos as conhecem Em um país por exemplo é o Estado representado pelas autoridades constituídas que é o responsável pela gestão e proteção do território Não raramente as estratégias de ocupação dos territórios seja por poderes nacionais constituídos sejam por diferentes grupos sociais pessoas ou organizações se atritam e podem gerar confl itos O território se revela assim como um campo de forças em que são estabelecidos limites e fronteiras O território relacionase também à semelhança do conceito de lugar à ideia de identidade e nesse sentido indica a porção do espaço ao qual uma pessoa ou um grupo social tem a sensação de pertencer O território defi nese então pela posse e pelo sentimento de pertença a um determinado espaço 31 Figura 5 Sistematização do conceito de território Fonte Cavalcanti 2006b p 37 Logo é importante trabalhar com esse conceito levandose em consideração os diferentes territórios em que se movem e vivem os alunos No ensino devemos consi derar como assinala Cavalcanti 2006b p 41 o que pensam os alunos sobre o conceito Observase pela experiência que muitas crianças e jovens o associam a um espaço legalmente constituído como os espaços nacionais como os países Mas por outro lado quando eles pensam em seu espaço cotidiano apontam território com um lugar ocupado no qual al guém tem a propriedade Por exemplo este é o meu território ali é o território de alguém é quando o espaço tem um dono De fato na prática cotidiana de jovens e crianças estão muito presentes os territórios nas brincadeiras nas ruas nos espaços públicos e até mesmo nos privados suas práticas vão tomando uma dinâmica que requer defi nições territoriais muitas vezes explícitas Em relação aos procedimentos básicos ou os modos de operar da Geografi a é importante desenvolver no aluno habilidades de localização orientação representa ção observação descrição análise síntese explicaçãolevantamento de hipóteses e representação É fundamental assim que o professor crie e planeje situações nas quais os alunos possam conhe cer e utilizar esses procedimentos A observação descrição experimentação analogia e síntese devem ser ensinadas para que os alunos possam aprender a explicar compreender e até mesmo representar os processos de construção do espaço e dos diferentes tipos de paisagens e territórios Isso não signifi ca que os procedimentos tenham um fi m em si mesmos observar descrever experimen tar e comparar servem para construir noções espacializar os fenômenos levan tar problemas e compreender as soluções propostas enfi m para conhecer e O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 32 começar a operar com os procedimentos e as explicações que a Geografi a como ciência produz BRASIL 1998 p 115116 Evidentemente alguns desses procedimentos só podem ser desenvolvidos com o auxílio do professor já que as crianças dos primeiros e dos segundos ciclos do Ensino Fundamental ainda têm pouca autonomia Entretanto a partir de sucessivas aproxima ções e com a mediação didáticapedagógica do professor os alunos deverão gradati vamente se apropriarem dos procedimentos observação descrição representação etc e daqueles conceitos espaço paisagem lugar território que articulados são cruciais para o desenvolvimento do raciocínio geográfi co aqui já destacado TEXTO COMPLEMENTAR UMA NECESSIDADE EPISTEMOLÓGICA A DISTINÇÃO ENTRE PAISAGEM E ESPAÇO Paisagem e espaço não são sinônimos A paisagem é o conjunto de formas que num dado momento exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza O espaço são essas formas mais a vida que as anima A palavra paisagem é freqüentemente utilizada em vez da expressão confi guração territorial Esta é o conjunto de elementos naturais e artifi ciais que fi sicamente caracterizam uma área A rigor a paisagem é apenas a porção da confi guração territorial que é possível abarcar com a visão Assim quando se fala em paisagem há também referência à confi guração territorial e em muitos idiomas o uso das duas expressões é indiferente A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais concretos Nesse sentido a paisagem é transtemporal juntando objetos passados e presentes uma construção transversal O espaço é sempre um presente uma construção horizontal uma situação única Cada paisagem se caracteriza por uma dada distribuição de formasobjetos providas de um conteúdo técnico específi co Já o espaço resulta da intrusão da sociedade nessas formasobjetos Por isso esses objetos não mudam de lugar mas mudam de função isto é de signifi cação de valor sistêmico A paisagem é pois um sistema material e nessa condição relativamente imutável o espaço é um sistema de valores que se transforma permanentemente O espaço uno e múltiplo por suas diversas parcelas e através do seu uso é um conjunto de mercadorias cujo valor individual é função do valor que a sociedade em um dado momento atribui a cada pedaço de matéria isto é cada fração da paisagem O espaço é a sociedade e a paisagem também o é No entanto entre espaço e paisagem o acordo não é total e a busca desse acordo é permanente essa busca nunca chega a um fi m A paisagem existe através de suas formas criadas em momentos históricos diferentes porém coexistindo no momento atual No espaço as formas de que se compõe a paisagem preenchem no momento atual uma função atual como resposta às necessidades atuais da sociedade Tais formas nasceram sob diferentes necessidades emanaram de sociedades sucessivas mas só as formas mais recentes correspondem a determinações da sociedade atual Durante a guerra fria os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar da produção de um engenho a bomba de nêutrons capaz de aniquilar a vida humana em uma dada área mas preservando todas as construções O Presidente Kennedy afi nal renunciou a levar a cabo esse projeto Senão o que na véspera seria ainda o espaço após a temida explosão seria apenas paisagem Não temos melhor imagem para mostrar a diferença entre esses dois conceitos Fonte SANTOS Milton A Natureza do espaço São Paulo EDUSP 1996 p 103106 33 Referências BRABANT J M Crise da Geografi a crise da escola In OLIVEIRA A U Org Para onde vai o ensino de Geografi a 4 ed São Paulo Contexto 1994 p 1523 BRASIL Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros curriculares nacionais Geografi a Brasília DF MEC 1998 CALLAI H C Aprendendo a ler o mundo a Geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental In CASTELLAR S M V Org Educação geográfi ca e as teorias de aprendizagens Cadernos Cedes Campinas SP v 25 n 66 p 227247 2005 CALLAI H C O ensino de Geografi a recortes espaciais para análise In CASTROGIOVANNI et al Org Geografi a em sala de aula prática refl exões Porto Alegre RS Editora da UFRGS 2001b p 5763 CALLAI H C Escola cotidiano e lugar Brasília DF Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica 2010 Coleção explorando o ensino Geografi a v 22 CALLAI H C A Geografi a e a escola muda a Geografi a Muda o ensino Terra Livre São Paulo n 16 p 133152 2001a CALLAI H C Projetos interdisciplinares e a formação do professor em serviço In PONTUSCHKA N N OLIVEIRA A O Org Geografi a em perspectiva São Paulo Contexto 2002 p 255259 CARLOS A F O lugar nodo mundo São Paulo Hucitec 1996 CARVALHO M I Fim de século a escola e a Geografi a 2 ed Ijuí RS Ed Unijuí 2004 CASTELLAR S M V Org Educação geográfi ca teorias e práticas docentes São Paulo Contexto 2005a CASTELLAR S M V Org Educação geográfi ca e as teorias de aprendizagens Cadernos Cedes Campinas SP v 25 n 66 p 129272 2005b O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 34 CAVALCANTI L S Bases teóricometodológicas da Geografi a uma referência para a formação e a prática de ensino In CAVALCANTI L S Org Formação de professores concepções e práticas em Geografi a Goiânia Vieira 2006b p 2749 CAVALCANTI L S Geografi a escola e construção de conhecimentos 9 ed Campinas SP Papirus 2006a CAVALCANTI L S Geografi a e práticas de ensino Goiânia Alternativa 2002 CAVALCANTI L S A prática docente em Geografi a contextos e sujeitos In ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO 12 2004 Curitiba Anais eletrônicos Curitiba PUCPR 2004 CHERVEL A História das disciplinas escolares refl exões sobre um campo de pesquisa Teoria Educação Porto Alegre n 2 p 177229 1990 ESCOLAR M Crítica do discurso geográfi co São Paulo Hucitec 1996 FORQUIN J C Saberes escolares imperativos didáticos e dinâmicas sociais Teoria Educação Porto Alegre n 5 p 2849 1992 FOUCHER M Lecionar a Geografi a apesar de tudo In VESENTINI J W Org Geografi a e ensino textos críticos Campinas SP Papirus 1989 p 1329 GOODSON I Tornandose uma matéria acadêmica padrões de explicação e evolução Teoria Educação Porto Alegre n 2 p 231254 1990 LANDER E Org A colonialidade do saber Buenos Aires Clacso 2005 MORAES A C R Capitalismo Geografi a e meio ambiente 2000 Tese Livre DocênciaDepartamento de Geografi a Faculdade de Filosofi a Letras e Ciências Humanas USP São Paulo 2000 MORAES A C R Historicidade consciência e construção do espaço notas para um debate In BARRIOS S et al A construção do espaço São Paulo Nobel 1986 p 3350 35 MORAES A C R COSTA W M A valorização do espaço São Paulo Hucitec 1984 MOREIRA R Repensando a Geografi a In SANTOS Milton Novos rumos da Geografi a brasileira São Paulo Hucitec 1982 MOREIRA J C SENE E Geografi a para o ensino médio São Paulo Scipione 2002 PITTE J R Coord A natureza humanizada São Paulo FTD 1998 PONTUSCHKA N N O conceito de estudo do meio transformase em tempos diferentes em escolas diferentes com professores diferentes In VESENTINI J W O ensino de Geografi a no século XXI Campinas SP Papirus 2004 p 249288 PONTUSCHKA N N A formação inicial do professor de Geografi a In PICONEZ I C B Coord A prática de ensino e o estágio supervisionado 6 ed Campinas SP Papirus 2001a p 101124 PONTUSCHKA N NA Geografi a ensino e pesquisa In CARLOS A F Org Novos caminhos da Geografi a São Paulo Contexto 2001b p 111142 PONTUSCHKA N N Geografi a representações sociais e escola pública Terra Livre São Paulo n 15 p 145154 2000 PONTUSCHKA N N O perfi l do professor e o ensinoaprendizagem da Geografi a Cadernos Cedes Ensino de Geografi a Campinas SP n 39 p 5763 1996 PONTUSCHKA N N PAGANELLI T I CACETE N H Para ensinar e aprender Geografi a São Paulo Cortez 2007 SANTOS M O espaço do cidadão 3 ed São Paulo Nobel 1993 SANTOS M Metamorfoses do espaço habitado fundamentos teóricos e metodológicos da Geografi a São Paulo Hucitec 1988 SANTOS M A natureza do espaço técnica e tempo razão e emoção 4 ed São Paulo Edusp 2004 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 36 SILVA J L B O que está acontecendo com o ensino de Geografi a primeiras impressões In PONTUSCHKA N N OLIVEIRA A O Org Geografi a em perspectiva São Paulo Contexto 2002 p 313322 SILVA J L B Formação de professores de Geografi a e suas abordagens didáticas In ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA 7 2005 Dourados MS Anais eletrônicos Dourados MS UFMS 2005 SIMIELLI M E R Cartografi a no ensino fundamental e médio In CARLOS A F A Org A Geografi a na sala de aula São Paulo Contexto 2001 p 92103 Proposta de Atividades 1 Considerando o fragmento de texto do geógrafo Milton Santos 1993 p 81 e as ilustra ções que se seguem responda Cada homem vale pelo lugar onde está o seu valor como produtor consumi dor cidadão depende de sua localização no território Seu valor vai mudando incessantemente para melhor ou para pior em função das diferenças de aces sibilidade tempo freqüência preço independentes de sua própria condição Pessoas com as mesmas virtualidades a mesma formação até mesmo o mesmo salário têm valor diferente segundo o lugar em que vivem as oportunidades não são as mesmas Por isso a possibilidade de ser mais ou menos cidadão de pende em larga proporção do ponto do território onde se está Enquanto um lugar vem a ser condição de sua pobreza um outro lugar poderia no mesmo momento histórico facilitar o acesso àqueles bens e serviços que lhe são teori camente devidos mas que de fato lhe faltam Figura 6 Disponível em httpwacandidoblogspotcom201010 desigualdadesocialnobrasilhtml Acesso em 26 set 2016 37 Figura 7 Disponível em httpwacandidoblogspotcom201010 desigualdadesocialnobrasilhtml Acesso em 26 set 2016 a Qual relação é possível de ser estabelecida entre o texto e as duas paisagens b Considerando a leitura das paisagens retratadas nas ilustrações explique a seguinte frase do autor Cada homem vale pelo lugar onde está o seu valor como produtor consumidor cidadão depende de sua localização no território c Qual o sentido atribuído pelo autor ao território d A Geografi a pode contribuir para a construção da cidadania Explique 2 As paisagens geográfi cas estão retratadas em inúmeros artefatos da cultura como por exemplo a poesia a literatura e as artes de modo geral Leia o poema que segue e respon da às questões propostas A RUA DIFERENTE Na minha rua estão cortando árvores botando trilhos construindo casas Minha rua acordou mudada os vizinhos não se conformam Só minha fi lha goza o espetáculo e se diverte com os andaimes à luz da solda autógena e o cimento escorrendo nas formas Andrade Carlos Drummond de Sentimentos do mundo 6 ed Rio de Janeiro Record 1998 p 28 O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 38 a O que signifi ca dizer em linguagem geográfi ca Na minha rua estão cortando árvores bo tando trilhos construindo casas b Quais os conceitos geográfi cos que devemos mobilizar para interpretar geografi camente o poema c Por que em contraposição à desolação dos vizinhos a fi lha do poeta goza do espetáculo Situações como a retratada no poema são estranhas ao lugar onde você mora Anotações 39 Anotações O ensino de geografi a nos anos iniciais do ensino fundamental Geografi a Metodologia do Ensino 40 Anotações 41 O trabalho do professor na organização de práticas de educação geográfi cas1 Claudivan Sanches Lopes Após a leitura do primeiro capítulo deste livro é possível compreendermos o tra balho pedagógico do professor com os conteúdos da disciplina Geografi a como um grande esforço que consiste na organização e na promoção de atividades que aninha das no currículo escolar mas em íntima conexão com os conteúdos dessa disciplina possibilitem ao aluno exercitar seu raciocínio espacial e desenvolver sua consciência geográfi ca Tratase de uma educação com caráter prospectivo e propiciadora de prá xis Se concretizada seria lícito falar de uma educação genuinamente geográfi ca que muito perto da vida do aluno poderia contribuir para que este compreenda melhor o seu bairro sua cidade seu país em suma sua vida que muitas vezes é extremamente desfavorecida pela realidade socioespacial Pode colaborar para que o aluno compreen da progressivamente sob a perspectiva geográfi ca o mundo e a si mesmo ou seja que se aproprie e desenvolva de maneira crítica um olhar geográfi co sobre o mundo Con tudo vale repetir que o professor precisa considerar que o aluno já é portador de uma determinada consciência geográfi ca e que esta deve ser enriquecida e não afrontada com a teoria objetiva ou científi ca que o professor manipula em seu trabalho Quais saberes podem subsidiar o professor de Geografi a nesse audacioso em preendimento Como ensinar Geografi a a crianças no início de seu processo de for mação Como a Geografi a pode contribuir para a formação das crianças do primeiro e segundo ciclos no Ensino Fundamental 1 Este texto é uma versão adaptada de parte da tese de doutorado do autor intitulada O profes sor de Geograf a e os saberes prof ssionais o processo formativo e o desenvolvimento da prof ssionali dade defendida junto à FFLCHUSP em 2010 2 Geografi a Metodologia do Ensino 42 Ao considerar no âmbito de um projeto educativo maior a importância de uma educação geográfi ca é mister que o professor detenha um determinado saber que lhe permita mostrar aos alunos o contributo científi co e educacional da teoria geográfi ca no esforço dos seres humanos em compreender o mundo e de forjar instrumentos para nele poder agir Conclusivamente a resposta para a pergunta para que ensinar Geografi a deve estar sufi cientemente bem resolvida pelo professor O conteúdo seria assim um meio e não um fi m uma lente para fornecer aos alunos a possibilidade de por meio dos conceitoschave espaço natureza sociedade paisagem lugar território região e procedimentos localização observação registro descrição análise síntese etc trabalhados pela Geografi a realizar uma leitura crítica do mundo e nele poder atuar com autonomia É muito oportuna e ilustrativa a refl e xão de Saviani 2007 p 62 um geógrafo uma vez que tem por objetivo o esclarecimento do fenômeno geográfi co encara a Geografi a como um fi m Para o professor de Geografi a entretanto o objetivo é outro é a promoção do homem no caso o aluno A Geografi a é apenas um meio para chegar àquele objetivo Desta forma o con teúdo será selecionado e organizado de modo a atingir o resultado pretendido Isto explica porque nem sempre o melhor professor de Geografi a é o geógrafo o que pode ser generalizado nos seguintes termos nem sempre o melhor pro fessor de determinada ciência é o cientista respectivo Pedimos desculpas pela obviedade da afi rmação para que o aluno possa exercitar o raciocínio espacial e alcançar gradativamente certa consciência espacial uma edu cação geográfi ca é necessário que primeiro esse processo ocorra no professor ou seja é preciso que o professor disponha dos meios para realizála É forçoso que para além do conteúdo em si mesmo o professor domine um conhecimento geográfi co para ensinar Vislumbramos aqui o saber especial ou distintivo da atividade profi ssio nal docente o domínio de um conhecimento transformado e preparado para ser en sinado Logo como observa Marechal apud PONTUSCHKA 2001b p 132 é preciso problematizar os conhecimentos que servem de referência para o saber a ser ensinado O saber deve ser bem compreendido como um constructo em contínua constituição e redefi nição entendido como um produto histórico elaborado O docente de Geografi a deve ser capaz de mostrar como esse saber inscrevese em uma problemática bem defi nida O mais importante no trabalho educativo não é o fato de o professor estar por dentro da última notícia da última novidade Para além do acesso às informações disponíveis nos meios de comunicação é necessário que o docente se aproprie do aparato conceitual que lhe permita compreender as notícias criticálas discernilas Entendemos que os alicerces da ciência de referência devem ser bem fi ncados no 43 processo formativo São esses alicerces as categorias de base da Geografi a que propiciam o desenvolvimento do raciocínio geográfi co e não o simples acesso aos noticiários ou aos resultados das últimas pesquisas da academia Qual seria então a função do professor durante as aulas de Geografi a Poderíamos dizer em uma breve formulação que sua função mais específi ca é considerando o nível de desenvolvimento cognitivo de seus alunos organizar práticas de educação geográfi cas que possibilitem ao educando desenvolver raciocínios geográfi cos visan do à construção de uma determinada consciência geográfi ca Buscase mais ampla mente contribuir para o desenvolvimento do pensamento autônomo do educando e para o favorecimento do agir cidadão no mundo Tratase considerando a idade dos educandos nos primeiros ciclos de um passo importante para futuras aprendizagens propiciadoras de pensamentos e ações mais amplas e complexas Considerando o trabalho de Lopes 2010 e Lopes e Pontuschka 2011 podemos sintetizar do seguinte modo os saberes que podem guiar os professores na organiza ção de práticas de educação geográfi cas signifi cativas aos alunos nos diversos níveis de ensino Figura 1 Conhecimentos implicados na organização de Práticas de Educação Geográfi cas Fonte GessNewsome 1999 apud Lopes 2010 p 178 O conhecimento disciplinar geográfi co e de disciplinas afi ns referese ao conhe cimento das estruturas do conhecimento geográfi co de seus principais conceitos e temas dos procedimentos de pesquisa de suas especifi cidades de suas relações com outras ciências e ainda de seus propósitos no currículo escolar São adquiridos pelo estudo e análise crítica da produção científi ca formal na área e de documentos ofi ciais disponíveis na formação inicial e continuada O trabalho do professor na organização de práticas de educação geográfi cas Geografi a Metodologia do Ensino 44 O conhecimento pedagógico geral envolve os conhecimentos produzidos pelas ciências da educação fundamentos e valores éticos da educação que transcendem o domínio de um campo disciplinar adquiridos semelhantemente ao conhecimento disciplinar pelo contato e exame crítico com ada literatura especializada O conhecimento do contexto da ação educativa reportase ao conhecimento das características dos alunos e do contexto sociogeográfi co em que desenvolve seu traba lho comunidade escolar bairro cidade estado país de suas vivências e experiências geográfi cas em sua necessária interdependência com o espaço global É adquirido pelo contato com a literatura especializada e pelo exame do contexto onde realiza seu trabalho O conhecimento pedagógico geográfi co CPG é uma criação dos próprios profes sores no âmbito de sua prática profi ssional SHULMAN 2005a 2005b LOPES 2010 LOPES PONTUSCHKA 2011 A elaboração e o desenvolvimento do CPG se realizam por meio de um processo complexo que consiste na qualifi cação do conhecimento geográfi co e de ciências afi ns que o professor possui É esse domínio qualifi cado do conhecimento geográfi co um conhecimento preparado para o ensino que podería mos defi nir como o conhecimento profi ssional de excelência do professor O CPG é um tipo saber que é confi gurado e reconfi gurado na experiência profi s sional porquanto sua elaboração leva em conta necessariamente as características daqueles que estão aprendendo bem como as condições particulares da escola e dos alunos que a frequentam Tratase de um tipo de conhecimento profi ssional que se manifesta concretamente nos exem plos analogias exercícios atividades metáforas ilustrações demonstrações etc potencialmente esclarecedores que os professores utilizamdesenvolvem em sala de aula com o propósito de tornar os conteúdos interessantes acessí veis e úteis aos alunos LOPES 2010 A tarefa de ensinar Geografi a exige que o professor domine simultânea e integra damente seus temas e conteúdos sua signifi cância social seu sentido pedagógico e as formas mais adequadas de em um determinado contexto representálos aos alunos Na prática real dos professores portanto pedagogia e conhecimentos específi cos nes se caso geográfi cos nunca se separam LOPES 2010 LOPES PONTUSCHKA 2011 Essa vertente implica diretamente na defi nição do ser professor de Geografi a no processo formativo desse professor e na constituição dos saberesconhecimentos de base para o exercício de sua profi ssionalidade Com efeito a imagem do professor como simples passador ou repassador de conteúdos científi cos produzidos na esfera acadêmica é veementemente questionada O trabalho do professor ganha relevo por que é dele a tarefa de no interior de uma comunidade profi ssional e de uma tradição 45 disciplinar transformar mediante uma ação complexa o conhecimento científi co em conhecimento a ser ensinado Podemos identifi car nesse ângulo de visão o saber distintivo do ofício docente a capacidade sempre em contínuo processo de desenvol vimento de tornar acessível a todos os alunos o conhecimento geográfi co historica mente acumulado pela sociedade humana Referências GESSNEWSOME J LEDERMAN N G Examining pedagogical content knowledge the construct and its implications for science teaching Dordrecht Kluwer 1999 LOPES C S O professor de Geografi a e os saberes profi ssionais o processo formativo e o desenvolvimento da profi ssionalidade 2010 Tese Doutorado em Geografi a HumanaUSPFFLCH São Paulo 2010 Disponível em wwwtesesusp br Acesso em 26 set 2016 LOPES C S PONTUSCHKA N N Mobilização e construção de saberes na prática pedagógica do professor de Geografi a Geosaberes Fortaleza CE v 2 n 3 p 88 104 2011 Disponível em wwwgeosaberesufcbr Acesso em 27 ago 2016 PONTUSCHKA N N A Geografi a ensino e pesquisa In CARLOS A F Org Novos caminhos da Geografi a São Paulo Contexto 2001b p 111142 SAVIANI D Educação do senso comum à consciência fi losófi ca 17 ed Campinas SP Autores Associados 2007 SHULMAN L S El saber y entender de la profesión docente Estúdios Públicos Santiago Chile n 99 p 195224 2005a SHULMAN L S Conocimiento y enseñanza fundamentos de la nueva reforma Profesorado Revista de Currículum y Formación del Profesorado Granada España ano 9 n 2 p 130 2005b Disponível em httpswwwugresrecfpro rev92ART1pdf Acesso em 27 set 2016 O trabalho do professor na organização de práticas de educação geográfi cas Geografi a Metodologia do Ensino 46 Referências 1 A fi gura a seguir ilustra paisagens de um mesmo lugar fi ctício em diferentes momentos históricos Considerando os conhecimentos adquiridos elabore um texto didático apro priado a alunos dos primeiros e segundos ciclos do Ensino Fundamental com o título a atividade humana constrói e reconstrói o espaço geográfi co continuamente Ilustração de Paulo Henrique Lopes e Estevão Pastori Garbin 47 3 As propostas curriculares ofi ciais para o ensino da geografi a nas sériesanos iniciais Cleres do Nascimento Mansano Nos anos de 1980 instaurase no Brasil um novo período político ou seja o retor no da democracia e no campo educacional iniciamse discussões sobre novas práticas pedagógicas Em especial no ensino de Geografi a ocorre a discussão sobre o conteú do e a forma de ensino escolar pois a prática pedagógica geográfi ca realizada de forma tradicional de memorização não satisfazia as necessidades educacionais e os anseios da sociedade Era necessária uma Geografi a que desse conta não só da observação descrição e nomenclaturas mas também crítica que buscasse soluções e que fosse ao encontro das situaçõesproblemas vivenciadas na atualidade No contexto da redemocratização do país a Constituição Federal BRASIL 1988 abre espaço para que as refl exões relativas à educação saíssem do papel e se tornassem aplicáveis Já nos anos de 1990 no Brasil apresentamse novas propostas pedagógicas ofi ciais como a Lei 939496 BRASIL 1996 e os Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs No campo educacional do Paraná é elaborado o Currículo Básico para as Es colas Públicas do Estado do Paraná em 1990 e no ano de 2006 o Estado apresenta seu novo documento as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná DCEs o qual foi reformulado em 2008 Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados pela Secretaria de Educa ção Fundamental do Ministério da Educação MEC publicados em meados da década de 1990 resultado de meses de trabalho e de discussão empreendidos por especialis tas e educadores de todo o país O documento explicita a proposta de reorientação curricular para o Ensino Funda mental e é divido em ciclos iniciais 1º e 2º e fi nais 3º e 4º É organizado em diversos Geografi a Metodologia do Ensino 48 volumes o introdutório os referentes às diversas Áreas de Conhecimento escolar um que trata da interdisciplinaridade e outro dos Temas Transversais que envolvem questões sociais relativas à Ética Saúde Orientação Sexual Meio Ambiente Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural O 5º volume corresponde à História e Geografi a e sua capa é reproduzida abaixo Figura 1 Parâmetros Curriculares Nacionais5º volume Fonte BRASIL1997 Essa coleção contempla as ciências escolares e contém um parâmetro para o ensi no ou seja não é uma camisa de força a qual o professor é obrigado a nortear toda sua ação docente mas são caminhos que auxiliam as práticas pedagógicas oferecendo instrumentos essenciais para a compreensão e intervenção na realidade social BRA SIL 1997 p 99 Seu objetivo principal é auxiliar os professores na execução de seus trabalhos pedagógicos servindo de estímulo e apoio à refl exão sobre a prática diária ao planejamento de aulas e sobretudo ao desenvolvimento do currículo da escola contribuindo ainda para a atualização profi ssional Segundo os PCNs o papel da escola deve levar em consideração a realidade dos alunos ou seja compreender o meio em que eles vivem Desta forma a escola cria condições que garantam a todos o desenvolvimento de capacidades e a aprendiza gem de conteúdos necessários à vida em sociedade oferecendo instrumentos de com preensão da realidade e também favorecendo a participação dos alunos em relações sociais e políticas diversifi cadas e cada vez mais amplas Nesse sentido os PCNs trouxeram mudança de enfoque em relação aos conteúdos curriculares pois o conteúdo é visto como meio para os alunos desenvolverem capaci dades que lhes permitam produzir e usufruir os bens culturais sociais e econômicos Quanto os objetivos gerais de Geografi a propostos para os ciclos inicias os PCNs BRASIL 1997 p 121 ressaltam que Esperase que ao longo dos oito anos do en sino fundamental os alunos construam um conjunto de conhecimentos referentes a conceitos procedimentos e atitudes relacionados à Geografi a 49 Vejamos no quadro abaixo o resumo dos objetivos do Ensino de Geografi a ou seja o que o aluno ao fi nal dos ciclos iniciais do Ensino Fundamental deve ser capaz PCNs e os objetivos para o ensino de geografi a Objetivos de Geografi a para o Primeiro Ciclo reconhecer na paisagem local e no lugar em que se encontram inseridos conhecer e comparar a presença da natureza expressa na paisagem local reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos sociais se apropriam da natureza e a transfor mam conhecer e começar a utilizar fontes de informação escritas e imagéticas utili zando para tanto alguns procedimentos básicos saber utilizar a observação e a de scrição na leitura direta ou indireta da paisagem reconhecer no seu cotidiano os refer enciais espaciais de localização orienta ção e distância reconhecer a importância de uma ati tude responsável de cuidado com o meio em que vivem Objetivos de Geografi a para o Segundo Ciclo reconhecer e comparar o papel da so ciedade e da natureza na construção de diferentes paisagens urbanas e rurais brasileiras reconhecer semelhanças e diferenças entre os modos de vida das cidades e do campo reconhecer no lugar no qual se encon tram inseridos as relações existentes entre o mundo urbano e o mundo rural conhecer e compreender algumas das conseqüências das transformações da natureza causadas pelas ações huma nas reconhecer o papel das tecnologias da informação da comunicação e dos transportes na confi guração de paisa gens urbanas e rurais e na estruturação da vida em sociedade saber utilizar os procedimentos básicos de observação descrição registro com paração análise e síntese utilizar a linguagem cartográfi ca para representar e interpretar informações valorizar o uso refl etido da técnica e da tecnologia em prol da preservação e conservação do meio ambiente adotar uma atitude responsável em re lação ao meio ambiente conhecer e valorizar os modos de vida de diferentes grupos sociais Fonte BRASIL 1997 p 130145 Organização da autora Quanto ao conhecimento geográfi co os PCNs informam que A Geografi a es tuda as relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades hu manas e o funcionamento da natureza por meio da leitura do espaço geográfi co e da paisagem BRASIL 1997 p 109 As propostas curriculares ofi ciais para o ensino da geografi a nas sériesanos iniciais Geografi a Metodologia do Ensino 50 Quanto à interdisciplinaridade na escola é uma das práticas pedagógicas fun damentais para que o aluno construa uma aprendizagem signifi cativa para sua vida Uma das formas de se alcançar a produção do conhecimento de modo interdisciplinar é trabalhar bimestralmente elegendo temas que fazem parte do cotidiano do aluno ou de assuntos da atualidade a partir daí todas as disciplinas deverão buscar trabalhar em conjunto cada uma contribuindo com a sua especifi cidade Seria impossível esgotar as relações existentes entre as ciências contudo vislum bramos a possibilidade de lançar um novo olhar sobre as nossas práticas pedagógicas descobrindo e sendo capazes de proporcionar novos encontros entre as áreas do co nhecimento Fazenda 2001 p 2425 assevera que a interdisciplinaridade ultrapassa a fragmentação do conhecimento produzido no mundo dos humanos A interdisciplinaridade vista do ponto de vista estático compreendo pontos de ligação entre os diferentes mundos humanos do artista do poeta do mate mático do historiador do geógrafo do educador Enquanto dinâmica ultrapas saria a segmentação recupera o homem da esfacelação e mutilação do seu ser e do seu pensar fragmentados Assim na ação unifi cadora do conhecimento resgatase na dialética homemmundo a possibilidade de serem educadas as novas gerações numa outra perspectiva Logo os PCNs trabalhados de maneira adequada pelos professores de forma transversal e interdisciplinar poderão contribuir muito com o ensino signifi cativo de Geografi a Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do ParanáCBEPPR O CBEPPR 1990 foi construído em um momento em que a Pedagogia Históri co Crítica discutida por Saviani estava no auge sendo a base de sua fundamentação teórica apresentando críticas sobre o fazer pedagógico geográfi co realizado de forma tradicional com base na memorização e nomenclaturas Lembramos que quando os PCNS foram instituídos em meados de 1990 o do cumento do Paraná já estava pronto assim houve uma negação por parte do Ensino Público na aceitação do documento nacional Até mesmo houve críticas quanto a não preocupação metodológica e à fundamentação teórica dos PCNs O documento do Estado do Paraná norteava o ensino de 1º grau apresentando os conteúdos de forma seriada tratavase de um documento de cunho conteudista mas inovador Embora esse documento de 1990 tenha sido substituído pelas DCEs em 2006 ain da constituise uma base importante de consulta para o fazer pedagógico geográfi co das sériesanos iniciais e Educação Infantil pois por conta da municipalização desses níveis de ensino o novo documento não apresenta orientações mais precisas 51 O quadro a seguir reproduz os principais temas geográfi cos a serem trabalhados CONTEÚDOS PRÉESCOLA 3ª e 4ª SÉRIES O HABITAT DO HOMEM OS ELEMENTOS FORMADORES DA SOCIEDADE PARANAENSE I A superfície terrestre é o meio ambiente do homem II A escola como espaço de relações CICLO BÁSICO DE ALFABETIZAÇÃO 1ª SÉRIE 3ª SÉRIE I O meio ambiente onde vivemos II As pessoas utilizam os elementos Do meio ambiente e asseguram sua existência III As paisagens dos lugares onde vivemos IV A criança e o seu meio ambiente I O espaço do município nas suas relações com outros espaços II A atividade industrial e a transformação do espaço III A atividades primárias e as transformações do espaço 2ª SÉRIE 4ª SÉRIE I A superfície terrestre é a moradia dos seres vivos II Os grupos humanos modifi cam a superfície terrestre e criam diferentes lugares para viverem III O meio ambiente onde vivemos IV As paisagens dos lugares onde vivemos I O espaço paranaense na sua integração com outros espaços II A produção do espaço paranaense Fonte PARANÁ 1990 Organização A autora Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná DCEs As novas Diretrizes para o Ensino Básico do Paraná PARANÁ 2008 em especial na disciplina de Geografi a apresentaram mudanças signifi cativas para a prática peda gógica No entanto antes de discutirmos essas mudanças cabe refl etir sobre o quadro político do Estado do Paraná e o ensino Em 1990 tínhamos o governo Dias e suas ações refl etiamse também no campo educacional Assim foi criado um documento denominado Currículo Básico para o Estado do Paraná o qual trouxe para a prática pedagógica a discussão de uma nova Geografi a para o ensino ou seja procurou mostrar a importância de superar a Geo grafi a tradicional na escola bem como a dicotomia entre a Geografi a Física e Humana No campo educacional na década de 1990 os estudos de Saviani estavam no auge dos debates referentes ao ensino e procurouse elaborar um documento que refl etisse a sua teoria históricocrítica No início da mesma década houve mudança no campo político do Paraná e no ano de 2003 começaram os ensaios referentes às novas dire trizes e com a ideia de deixar transparecer a democracia do ensino levar para as esco las e para os professores a discussão do que é a Geografi a por que ensinar Geografi a o que ensinar em Geografi a e como ensinar Geografi a As propostas curriculares ofi ciais para o ensino da geografi a nas sériesanos iniciais Geografi a Metodologia do Ensino 52 No ano de 2006 é apresentada a versão defi nitiva das novas diretrizes O docu mento tem uma linguagem diferenciada em que no ensino de Geografi a espaço geo gráfi co é o objeto de ensino que deve ser trabalhado em quatro dimensões que são os Conteúdos Estruturantes Dimensão econômica da produção do e no espaço Geopolítica Dimensão socioambiental e Dinâmica cultural e demográfi ca Cada um dos conteúdos estruturantes desdobrase em conteúdos específi cos enfatizando que o ensino geográfi co deve possibilitar ao aluno o entendimento dos conceitos geográfi cos paisagem região sociedade lugar território e natureza Currículo de Geografia na rede municipal de ensino Com a municipalização das séries iniciais do Ensino Fundamental em meados da década de 1990 houve a necessidade de o ensino municipal construir um currículo que possibilitasse a articulação e a discussão de um currículo de Geografi a que fosse capaz de contemplar as questões locais A Rede Municipal de Ensino aponta a necessidade da construção de um currículo que atenda à realidade das escolas públicas municipais constituindose em base essen cial para todas as suas escolas direcionando a qualidade da educação a ser oferecida Referências 1 Com base na análise dos documentos ofi ciais reproduza e preencha o quadrosíntese com parativo dos PCNs CBEPPR Documento Ofi cial do seu Município e DCEsPR de acordo com o que se pede DOCUMENTO OFICIAL Objetivos Conteúdos Encaminhamentos metodológicos Avaliação PCNs 1º Ciclo 2º Ciclo CBPR 1990 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série Documento Municipal 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série DCEsPR 2008 53 Referências BRASIL Constituição 1988 Constituição da República Federativa do Brasil Brasília DF Senado 1988 BRASIL Parâmetros Curriculares Nacionais Geografi a Brasília DF MEC 1997 BRASIL Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB Lei nº 939496 Brasília DF MEC 1996 FAZENDA Ivani C Arantes Práticas interdisciplinares na escola São Paulo Cortez 2001 PARANÁ Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná Curitiba SEED 1990 PARANÁ Diretrizes Curriculares de Geografi a para a Educação Básica Curitiba SEED 2008 Anotações As propostas curriculares ofi ciais para o ensino da geografi a nas sériesanos iniciais Geografi a Metodologia do Ensino 54 Anotações 55 Representações a linguagem cartográfi ca Cleres do Nascimento Mansano Rodrigues 2002 p 46 postula que a representação é um tema inerente à curio sidade humana há séculos e que dentre as várias contribuições Jean Piaget afi rmou que as representações são constituídas pelo sujeito sendo também um produto de sua percepção Assim a linguagem cartográfi ca que é uma representação do espaço real é necessária à Geografi a e deve fazer parte processo de ensinoaprendizagem pois é uma prática pedagógica para o ensino de Geografi a sendo importante na leiturização do meio Entretanto a linguagem cartográfi ca é uma das problemáticas da prática pedagó gica do ensino de Geografi a sendo trabalhada de forma inadequada e ainda muitas vezes nem faz parte do fazer pedagógico Sobre essa problemática Almeida e Passini 2001 p 15 ressaltam que as preocu pações metodológicas devem constar do fazer pedagógico cartográfi co e questionam a alfabetização do aluno com o todo Vaise à escola para aprender a ler e a contar e por que não também para ler mapas Assim são os fazeres pedagógicos geo gráfi cos que possibilitarão a alfabetização geográfi ca do aluno e o olhar geográfi co Nesse âmbito Pezzato 2001 p 248 faz algumas considerações particularmente relacionadas ao ensino da cartografi a Para o autor a difi culdade do aluno em apreen der a cartografi a está relacionada a diversos fatores como a má formação do professor de Geografi a o fato de a Geografi a escolar ser diferenciada da Geografi a científi ca e na escola a cartografi a ser tratada como um conteúdo isolado e ainda pelo fato de muitos professores planejarem suas aulas com base no livro didático Salientamos que a importância da alfabetização cartográfi ca é possibilitar ao aluno a compreensão do espaço de vivência porque fazer a leitura cartográfi ca é compreen der a visão de mundo do outro As produções cartográfi cas mostram o jogo das rela ções das posições portanto compreender a linguagem dos mapas é compreender o jogo das relações ambientais sociais econômicas e políticas 4 Geografi a Metodologia do Ensino 56 LEITURA DA PRODUÇÃO CARTOGRÁFICA O que é um mapa E o que é ler mapas O mapa é a representação simbólica de um espaço real que se utiliza de uma linguagem semiótica complexa signos projeção e escala Ler mapas é decodifi car os símbolos para entender a sua linguagem e informarse PASSINI 1994 p 23 24 No que tange à leitura da representação cartográfi ca Oliveira 1996 registra que O problema da leitura de mapa encontra difi culdade de aprendizagem e de ensino em todos os níveis escolares De início podemos dizer que a realidade percebida pela criança não é o mundo representado no mapa o problema não é propriamente de tamanho mas de horizonte perceptual por exemplo os conceitos astronômicos de Sol e de Lua são mais imediatos do que os de siste ma fl uvial ou de rede e de transporte podemos ver a Lua e não podemos ver a rede de transporte OLIVEIRA 1996 p 201 Assim tornase necessário que as crianças experienciem o espaço vivido o que pos sibilita a apreensão e posteriormente a representação Os trabalhos da linguagem cartográfi ca devem ir ao encontro dos interesses que fazem sentido para as crianças pois muitas vezes para elas o concreto pode fazer menos sentido do que o abstrato Souza e Katuta 2001 p 133 assinalam que na interpretação da linguagem es tão inseridos elementos que ajudam a compreender a realidade de forma clarifi ca da Contudo os autores enfatizam que a leitura dos mapas é um processo muito complexo Ser leitor de mapas signifi ca a nosso ver que o sujeito é capaz de ler esse ma terial tal como um texto escrito Em outras palavras signifi ca que o leitor de mapas deve extrair signifi cados do texto cartográfi cos que está representado Por isso não se pode chamar de leitura de mapas o ato de decodifi car o que está representado no mapa por meio de legenda A leitura de mapas é um processo muito complexo implica decodifi cação de símbolos e elaboração de signifi cados a partir de representações que foram previamente elaboradas Diante dessas colocações pontuamos que a problemática da decodifi cação das produções cartográfi cas pelas crianças reside no fato de que muitas vezes os mapas trabalhados nas escolas servem somente de ilustração e para uma criança não apre sentam nenhum signifi cado 57 A QUESTÃO DA ESCALA CARTOGRÁFICA Tipos de Escala Escala numérica É representada em forma de fração 110000 ou razão 110000 isso signifi ca que o valor do numerador é o do mapa e o denominador é o valor referente ao espaço real Ex 110000 cada 1 cm no papel mapa corresponde a 10000 cm no espaço real Lemos 1 por 10000 0 50 100 150km Escala Gráfi ca Representa de forma gráfi ca na representação do espaço real as distâncias Vejamos o exemplo ao lado Signifi ca que o espaço gráfi co cor responde a 50 km na realidade Normalmente a escala gráfi ca é apresentada em quilômetros mas diferentemente da numérica que sempre corresponde em cen tímetros a gráfi ca precisa trazer a unidade de medida que está utilizando nesse caso quilômetros ESCALA CARTOGRÁFICA E REPRESENTAÇÃO A escala cartográfi ca corresponde à redução do espaço real que foi representado cartografi camente ela é inversamente proporcional vejamos o quadro abaixo ESCALA PEQUENA ESCALA GRANDE Para representar um grande espaço real ma pear como o planeta Terra utilizase uma pe quena escala ou seja o tamanho dos objetos representados é pequeno e com poucos deta lhes pois ao contrário seria impossível sua re presentação no papel Para representar um espaço real menor mapear como uma cidade utilizase uma grande escala maior do que a utilizada para representar a Terra ou seja o tamanho dos objetos representados serão maiores e com mais detalhes Escala pequena representa poucos detalhes Ex 1 500000000 Escala grande representa muitos detalhes Ex 1 5000 Figura 1 Escalas Cartográfi cas A confusão pode ocorrer quando observamos os dígitos na escala especifi camente a numérica tomamos como exemplo a escala de 15000000000 o número apresenta muitos dígitos mas a escala de representação no mapa é pequena ou seja representa poucos detalhes Representações a linguagem cartográfi ca Geografi a Metodologia do Ensino 58 Analisemos o mapa a seguir Figura 1 Localização de MaringáPR Zonas 02 e 23 Organização A autora Conforme a Figura 1 para representar o Brasil foi utilizada uma escala cartográfi ca pequena de 750 km com poucos detalhes Dessa forma os objetos representados não apresentam detalhes como uma rua Fazendo a conversão um centímetro medido no mapa corresponde a 750 km na realidade 1X750750 e 4 centímetros medidos no mapa correspondem a 3000 km 4X7503000 Para representar um bairro da cidade de Maringá PR Vila Morangueira que é um espaço real menor foi utilizada a escala cartográfi ca de 4 km Nessa escala grande os objetos podem ser representados de forma maior ou seja com mais detalhes Exem plos escola e rua COMO TRANSFORMAR ESCALAS Escalas gráficas em numéricas Devemos pegar o valor do km multiplicar por 1000 e teremos os metros multipli cando mais uma vez por 100 teremos o valor em cm Devemos colocar o resultado em centímetros após 1 um por e teremos uma escala numérica Outro exemplo se em um mapa de escala gráfi ca cada centímetro no mapa papel equivale a 1000 km na realidade utilizando o quadro das medidas de 59 comprimento podemos realizar convergência da escala gráfi ca para a escala numérica Observemos abaixo o quadro de medidas de comprimento Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro Km Hm Dam M DM Cm Mm 1000 10000 100000 1000000 10000000 100000000 1000000000 Então temos 1000 km 1000000 100000000 cm Escalas numéricas em gráficas Para transformar a escala numérica em escala gráfi ca convertemos os centímetros em metro ou quilômetro lembrete toda escala numérica é em centímetro Depois construímos a reta sendo que devemos marcar os pontos de um em um centímetro Em outro exemplo temos a escala numérica que é em centímetros e é só fazer o mesmo raciocínio do quadro de medidas de comprimento mas ao contrário Obser vemos o quadro abaixo Km Hm Dam M DM Cm Mm 1 10 100 1000 10000 100000 1000000 Então temos 100000 cm 1000 m 1 km Dessa forma poderemos saber a distância em quilômetros apenas com a escala numérica Representações cartográficas e nomenclaturas Você sabia que há diferenciação de nomenclatura dos produtos cartográfi cos de pendendo de vários fatores como a escala e os limites representados Entretanto há vários fatores para classifi cação sendo que a escala é um deles2 Vejamos o quadro a seguir 2 Levando em consideração as diferentes nomenclaturas dos produtos cartográfi cos e pensamen tos de autores que discutem a questão da escala cartográfi ca assumimos neste texto somente três produtos cartográfi cos a planta baixa de detalhes com escala grande que pode representar detalhes de imóveis ou quarteirão as cartas topográfi cas e os mapas que representam um bairro cidade e até mesmo o mundo com escalas menores e divisões políticas Representações a linguagem cartográfi ca Geografi a Metodologia do Ensino 60 NOME REPRESENTAÇÃO TAMANHO ESCALAExemplo Plantas Muitos Detalhes Escala Grande 1100 1500 15000 Cartas topográfi cas Os limites são as coordenadas geográfi cas as informações fi cam fora da margem Escala Grande De 120000 até 1250000 Mapas Menos detalhes os limites são os políticos Escala Pequena Menor que 11000000 Planisférios Atinge o mundo poucos detalhes Escala Pequena Menor que 1205000000 Quadro 1 Nomenclaturas das produções cartográfi cas Fonte ALMEIDA PASSINI 2001 Organização A autora Proposta de Atividades 1 Como uma proposta da cartografi a escolar e com a fi nalidade de trabalhar a alfabetiza ção cartográfi ca conceito empregado por Almeida e Passini 2001 apresentamos uma sequência de atividades que poderão ser realizadas com os alunos das sériesanos inicias 2 A Figura 2 representa o esquema de como as atividades para a educação cartográfi ca se in corporam no processo de ensinoaprendizagem É necessário enfatizar que não há obriga toriedade de seguir as atividades à risca pois como parte do processo de ensinoaprendiza gem na alfabetização cartográfi ca muitas vezes é preciso voltar a conceitos já trabalhados como também dependendo da turma se pode avançar 3 Entretanto é bom que tenhamos uma preocupação metodológica com a fi nalidade de os alunos incorporarem a codifi cação e a decodifi cação das produções cartográfi cas e serem capazes de fazer a leitura cartográfi ca Figura 2 Esquema de atividades para o processo de alfabetização cartográfi ca 61 Atividade 1 O desenho Por meio do suporte da linguagem préverbal do desenho é possível representar as infor mações do espaço e a percepção da criança em relação ao meio vivido Nos primeiros passos da alfabetização cartográfi ca incentivase o aluno ao desenho espontâneo e posteriormente à representação do que entendem por paisagem Figura 3 Posteriormente podemos incluir orientações relativas ao desenho da família da escola e assim por diante Figura 3 Desenho sobre a paisagem Autora Silva Gabriela R 6 anos aluna do 1º Ano Ensino Fundamental Com crianças maiores podemos realizar a brincadeira da câmera fotográfi ca que pos sibilita a percepção de que os objetos podem ser representados consistindo na produção de croqui que é uma representação do espaço real mas sem a necessidade de rigor cartográfi co A atividade foi adaptada de Leme 2003 p 2128 que apresenta o método idealizado por Joseph Cornell 1996 e 1997 chamado de Aprendizagem Sequencial Praticando Brincadeira da câmera fotográfica Solicitase aos alunos que se organizem em duplas preferencialmente de alunos morado res do bairro e de nãomoradores Um faz o papel de câmera aluno de olhos fechados e o outro de fotógrafo aluno de olhos abertos Cada dupla percorre os espaços da escola eou do bairro para realizarem uma observação orientada e escolherem as paisagens que serão representadas Para a realização da fase seguinte cada dupla recebe uma prancheta para apoiarem suas folhas Primeiramente na escola o aluno que faz o papel de fotógrafo guia o aluno que faz o papel de câmera posicionandoo para uma paisagem que ele considerou bonita Na se quência guiase a orientase o alunocâmera que abra os olhos e fotografe desenhe represente a impressão da paisagem escolhida Após realizase o mesmo procedimento para a paisagem considerada feia Figura 3 Em aula de campo pelo bairro os alunos realizam o mesmo procedimento acima para representarem as paisagens bonitas e feias do espaço do bairro Orientase que as duplas troquem de função Em sala de aula realizase um debate para que todos possam manifestar suas impressões e suas representações e organizase um painel para expor as representações dos alunos Geografi a Metodologia do Ensino 62 Solicitase aos alunos que se organizem em duplas preferencialmente de alunos morado res do bairro e de nãomoradores Um faz o papel de câmera aluno de olhos fechados e o outro de fotógrafo aluno de olhos abertos Paisagem bonita do bairro Paisagem feia da escola Figura 4 Desenhos de alunos do Ensino Fundamental Fonte MANSANO 2006 Atividade 2 A fotografia Oliveira 1996 p 190 analisando Bunge 1966 enuncia que como recurso para a representação do espaço real existem os mapas os prémapas e nessa categoria estão incluídas as fotografi as até mesmo as aéreas os gráfi cos os blocos diagramas eles possuem certas vantagens que devem ser exploradas apesar de não serem tão seletivos como os mapas e não possuírem a estrutura lógica das matemáticas ao passo que estas são recursos mais amplos e mais fl exíveis do que os mapas quando utilizados em geografi a Assim como o desenho a fotografi a também pode representar cartografi camente um espaço real pois é um tipo de linguagem nãoverbal e o uso desse recurso depen de muito da criatividade do professor A fotografi a como um recurso para a alfabetiza ção cartográfi ca possibilita a percepção dos alunos em relação ao meio porque é um recurso cartográfi co de representação do espaço real e vivido Praticando Fotografando o espaço vivido Essa atividade deve ser realizada em aula de campo na escola e no bairro objetivan do desenvolver a noção de espaço e a compreensão sobre a representação Transcrevemos os passos para a realização dessa atividade 1 A turma é dividida em equipes de cinco alunos sendo agrupados em alunos que moram no bairro e alunos que não moram 2 Em saída de campo pela escola e pelo bairro é solicitado a cada equipe que fotografe os seus espaços 3 Podese pedir que as fotografi as sejam tiradas a partir de dois temas geradores a paisagem bonita e a feia da escola e do bairro Figura 4 4 Usando a escola como ponto de referência instruir o aluno a desenvolver a 63 lateralidade e a orientação cartográfi ca em um primeiro momento anotar se o local está à direita ou à esquerdafrente ou atrás Posteriormente avançase para as orientações cardeais se está ao norte ou ao suloeste ou a leste 5 Pedese que façam legenda título localização da fotografi a e orientação Reali zase um painel com as fotografi as registradas Paisagem bonita do bairro Paisagem feia da escola Figura 5 Desenhos de alunos do Ensino Fundamental Fonte MANSANO 2006 Atividade 3 Os mapas mentais Os mapas mentais desenho do espaço real sobre o meio experienciado contri buem para a decodifi cação e apreensão dos signos Representam e facilitam a leitura do espaço da criança possibilitando compreender o signifi cado das posições dos ob jetos e funções estabelecidas no espaço ou seja é um recurso para a alfabetização cartográfi ca que possibilita a codifi cação e decodifi cação No processo de ensinoaprendizagem evidenciase a importância de trabalhar com os mapas mentais do espaço vivenciado pela criança o espaço que conhece e percebe podendo identifi car as difi culdades dos alunos com relação à cartografi a compreen der a visão do espaço que a criança apresenta e possibilitar a alfabetização cartográfi ca Nesse sentido Teixeira e Nogueira 1999 p15 postulam que O professor com esses elementos para debates poderá inserir o aluno na dis cussão espacial levando em conta a importância que tem o conhecimento local do espaço para o entendimento deste com o todo É valorizado as experiências de vida do cidadãoaluno com o espaço Os mapas mentais servem como estratégia para os professores perceberem como os alunos estão representando o seu mundo Geografi a Metodologia do Ensino 64 FUNÇÕES DOS MAPAS MENTAIS Preparam para comunicar efetivamente informações espaciais Tornam possível ensaiar comportamento espacial na mente São dispositivos mnemônicos quando desejamos memorizar eventos ou pessoas Ajudam na localização Como mapas reais são meios de estruturar e armazenar conhecimento São mundos imaginários permite retratar lugares não acessíveis para as pessoas Fonte TUAN 1975 apud SEEMANN 2003 As representações cartográfi cos trabalhadas a partir da percepção do aluno contri buem para o desenvolvimento da apreensão da linguagem cartográfi ca e da decodifi cação do espaço real servindo de diagnóstico para a prática pedagógica geográfi ca do professor e no planejamento do ensinoaprendizagem De acordo com Almeida 2003 em nossa análise os mapas para diagnóstico não poderiam ser considerados mapas e sim desenhos do espaço Em consonância com a autora existem algumas diferenças entre os desenhos e os mapas vejamos o quadro abaixo Você sabe as diferenças entre o desenho e o mapa a quanto à localização em um desenho o espaço situa os objetos uns em relação aos outros e no mapa situam os objetos com base nas coordenadas geográfi cas b quanto à redução proporcional em um desenho do espaço os objetos são reduzidos por comparação e no mapa são defi nidos pela escala ALMEIDA 2003 O mapa mental desenho do espaço é uma linguagem nãoverbal e assim como toda linguagem é carregada de signifi cação e representa as sensações espaciais e tem porais Convém ressaltar que os mapas mentais apresentam uma relevância na apren dizagem do espaço geográfi co pois a partir dessas atividades o aluno começa a se alfabetizar cartografi camente Eles são instrumentos cartográfi cos facilitadores para o desenvolvimento do olhar geográfi co no mundo compreendendo decodifi cando e representando as relações e disposições dos objetos sobre o espaço geográfi co e pos sibilitando o diálogo do ser humano com o seu meio Desta forma a decodifi cação da paisagem vivida e a sua representação podem desenvolver a criticidade do aluno e a apreensão das relações estabelecidas no seu meio Nesse contexto a educação cartográfi ca implica em validar o seu papel na edu cação geográfi ca que é o de propiciar ao aluno produzir conhecimento a partir da 65 sua realidade construindo decodifi cando e percebendo o espaço a partir de vários instrumentos Nos mapas mentais deve ser considerada a totalidade das informações registradas e defi nidos parâmetros como As principais referências geográfi cas As diferenças entre o morador e o não morador O egocentrismo A questão ambiental A legibilidade MAPA MENTAL E LEGIBILIDADE PROBLEMAS Quanto à questão de legibilidade Nogueira 2002 apud SOUZA 2004 considera que o objetivo do mapa mental é diagnosticar o nível de espacialização dos alunos para encaminhar os debates em sala de aula A seguir apresentamos os problemas na representação dos elementos cartográfi cos que poderão ser verifi cados nos mapas mentais Proporcionalidade alguns mapas mentais podem apresentar a proporcionalidade e coordenação espacial equivocadas como a disposição dos objetos e desproporcionalidade relacionada com a escala Exemplo alguns mapas poderão apresentar as ruas do tamanho dos quarteirões ou uma única casa ocupando um quarteirão inteiro ou ainda os objetos poderão ser localizados errados Elementos cartográfi cos alguns mapas mentais poderão ser apresentados sem nenhum elemento cartográfi co É necessário instruir os alunos para que apresentem pelo menos pelo menos um elemento cartográfi co como título legenda escala e orientação Orientação rosadosventos é a indicação da fi gura que aponta a orientação rosadosventos Alguns mapas podem ser apresentados sem orientação dos pontos cardeais É necessário levar o aluo a perceber que o que indica a orientação é a rosadosventos e não a posição de desenho e que a representação do norte na parte superior do papel é apenas uma convenção Ilustração MANSANO Flávia R V M Organização A autora Geografi a Metodologia do Ensino 66 Praticando Representando o espaço percorrido Essa atividade deve ser realizada em sala de aula para que os alunos tenham maior concentração ao realizar a atividade Para tanto devem ser seguidos os procedimentos Solicitase que o aluno morador do bairro produza um mapa mental do trajeto de sua casa até a escola e que o aluno nãomorador produza um mapa mental do entorno da escola Em um primeiro momento não são cobrados os elementos cartográfi cos e nem a noção de proporção como a representação na Figura 6 conforme vai alfabetizan do cartografi camente a criança a codifi cação deve ser mais precisa e os elementos cartográfi cos devem ser inseridos Figura 7 Discutese com os alunos os problemas encontrados com questionamentos como Será está rua foi desenhada do tamanho correto Observem a proporção do tamanho da rua e dos quarteirões Observem o tamanho das casas e pessoas desenhadas Posteriormente orientase para a inclusão dos elementos cartográfi cos título le genda limite orientação e escala Organizase um painel para apresentar os produtos cartográfi cos dos alunos Figura 6 Trajeto da casa à escola Autora Silva Gabriela R 6 anos aluna do 1º Ano Ensino Fundamental Figura 7 Mapa mental representando a legibilidade Fonte MANSANO 2006 67 Atividade 4 O mapacontorno Essa atividade tem como base um mapacontorno do bairro O objetivo é investigar a partir do mapasíntese as representações o nível de compreensão do grupo com relação ao espaço vivenciado bem como desenvolver a alfabetização cartográfi ca uti lizando como instrumento um mapa já produzido com os limites préestabelecidos Assim os alunos atentarão para a proporção necessária na representação de todos os objetos dispostos no bairro uma vez que têm um espaço que já está delimitado A atividade foi baseada em autores ZAMPLERON FAGLONATO RUFFINO 2003 p 20 que destacam a importância dos mapas na vida do ser humano no que tangem à orientação espacial Praticando Observando o espaço vivido Em nossa adaptação devese realizar o seguinte procedimento Entregase um mapa do contorno do bairro para cada aluno para que ele represen te todas as informações que julgar necessárias a partir de um questionamento sobre o bairro Você mora nesse bairro Há quanto tempo você conhece esse bairro Repre sente no mapa por um símbolo os pontos mais marcantes do bairro Identifi que as principais ruas do bairro Figura 8 Figura 8 Exemplo de mapa mental representando a legibilidade Fonte MANSANO 2006 Atividade 5 O mapa local Compreendemos que as pessoas necessitam dos mapas para se orientar e essa eta pa foi elaborada visando a propiciar o conhecimento do aluno em relação ao espaço geográfi co do bairro Praticando conhecendo o espaço experienciado e mapeado Seguem os procedimentos Primeiramente apresentase o mapa do bairro fi xado no quadronegro Geografi a Metodologia do Ensino 68 preferencialmente em uma escala grande de 1 2000 conseguese junto à prefei tura municipal Discutemse as questões dos limites ruas localizações geográfi cas dos objetos dispostos no bairro a localização de suas casas e os problemas detectados Pedese que cada aluno localize com alfi netes coloridos ou fi tas colantes coloridas a sua casa Caso não more no bairro que localize um ponto de referência que seja importante para ele Em seguida distribuise para cada aluno uma cópia do mapa do bairro em uma escala reduzida reproduzir na folha de sulfi te A4 Trabalhase a questão da escala cartográfi ca e orientação Orientase que os alunos representem os objetos dispostos no bairro utilizando os elementos cartográfi cos Figura 9 Figura 9 Exemplo de mapa mental representando a legibilidade Fonte MANSANO 2006 A seguir apresentamos uma leitura complementar com outra proposta de ativida de que possibilita a alfabetização cartográfi ca 69 LEITURA COMPLEMENTAR 1ª SUGESTÃO MAPEAR O EU Materiais papel de embrulho do tamanho do aluno giz de cera caneta hidrocor giz papel sulfi te tesoura barbante e globo terrestre Procedimento 1 os alunos se alternam para fazer o mapa do próprio corpo 2 cada qual com o contorno do próprio corpo nomeia as partes e escreve ou cola etiquetas 2ª SUGESTÃO A SALA DE AULA DA MAQUETE À PLANTA Materiais sucata lápis e materiais de pintura cordão ou barbante e tesoura Procedimento 1 observar a sala de aula para identifi car os objetos 2 confeccionar a maquete com os objetos em seu interior conservando a mesma posição que ocupam 3ª SUGESTÃO PRÉDIO DA ESCOLA Materiais papel sulfi te e material de pintura Procedimento da Atividade 1 percorrer o prédio 2 criar símbolos para as funções 3 elaborar a legenda e 4 percorrer de maneira imaginária uma planta 4ª SUGESTÃO A ESCOLA Materiais planta ofi cial da escola giz e material de pintura Procedimento 1 percorrer todas as unidades reconhecendo o pátio 2 explorar o espaço mapeado através de exercícios que desenvolvam orientação e localização 5ª SUGESTÃO O QUARTEIRÃO DA ESCOLA Materiais planta do quarteirão da escola croquis da quadra lápis material de pintura Procedimento 1 sair com os alunos para reconhecer nome das ruas dimensão do terreno ocupado pela escola etc 2 elaborar a legenda para os símbolos escolhidos 6ª SUGESTÃO CAMINHO CASA ESCOLA Materiais planta do bairro cópia planta do subdistrito lápis e material de pintura Procedimento 1 pedir que façam o desenho da casa à escola 2 colocar o nome das ruas pontos de referência e legenda 3 reconhecer o caminho que faz na planta e transcrever o desenho 7ª SUGESTÃO CASA Materiais papéis sulfi te materiais de desenho e kit construção se possível Procedimento 1 solicitar aos alunos que desenhem sua casa de vários ângulos 8ª SUGESTÃO O BAIRRO Materiais cópia de planta do bairro lápis e materiais de pintura Procedimento 1 transpor as informações anteriores na nova planta 2 realizar estudo do meio localizar os estabelecimentos principais e escolher um símbolo 3 criar a legenda 4 explorar a ocupação humana 4 classifi car as funções do bairro 5 elaborar uma lista de símbolos para cada categoria 6 fazer a legenda 9ª SUGESTÃO O MUNICÍPIO Materiais mapa mural do município dividido em subdistritos colocado no chão alfi netes coloridos mapa do município em escala maior durex colorido e material para reprodução Procedimento 1 deixar que os alunos encontrem o bairro da escola e façam explorações espontâneas 2 localizar suas casas com o alfi nete e percorre com o dedo o caminho casaescola 3 explorar o mapa após a colocação de todos os alfi netes 10ª SUGESTÃO MUNICÍPIOS VIZINHOS Materiais mapa construído anteriormente Procedimento 1 explorar a relação topológica de vizinhança em termos de interligação e interdependência viva 2 explorar outras interdependências mais complexas como o mercado de compra ou venda matérias primas 11ª SUGESTÃO O ESTADO Materiais mapas murais do estado foto área do mapa anterior municípios vizinhos Procedimento 1 colocar o mapa no chão 2 observar o título 3 leitura da legenda 4 localização dos signos com signifi cados 5 leitura ATIVIDADES QUE AUXILIARÃO NA CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS ESPACIAIS Trabalho com Bússola Trabalho com a Posição do Sol Trabalho com Globos Trabalho com Fotos Trabalho com maquetes Trabalho com varetas Cartas enigmáticas Convenção para o diaadia Representação dinâmica Jardinagem e paisagismo Fonte ALMEIDA PASSINI 2001 p 4689 Adaptação Geografi a Metodologia do Ensino 70 2 Agora vamos brincar de câmera fotográfi ca Nos quadros abaixo faça a representa ção da paisagem bonita e feia do bairro em que mora Referências ALMEIDA Rosangela D Do desenho ao mapa iniciação cartográfi ca na escola 2 ed São Paulo Contexto 2003 ALMEIDA R D PASSINI E Y O espaço geográfi co ensino e representação São Paulo Contexto 2001 LEME Patrícia C Silva O método de Joseph Cornell para aprendizagem seqüencial na natureza In SCHIEL Dietrich et al O estudo de bacias hidrográfi cas uma estratégia para Educação ambiental São Carlos Rima 2003 p 2128 MANSANO Cleres do N A escola e o bairro percepção ambiental e interpretação do espaço de alunos do Ensino Fundamental 2006 170 f Dissertação Mestrado em Educação para o Ensino de Ciências e da MatemáticaCentro de Ciências Exatas Universidade Estadual de Maringá Maringá 2006 OLIVEIRA Lívia de Percepção e representação do espaço geográfi co In DEL RIO Vicente OLIVEIRA Lívia de Percepção ambiental a experiência brasileira São Paulo Ed da UFSCar 1996 p 187212 PASSINI E Y Alfabetização cartográfi ca e o livro didático uma análise crítica Belo Horizonte Editora Lê 1994 PEZZATO João P O desfi o da articulação das diversas linguagens no campo do ensino da Geografi a escolar um debate promissor Boletim de Geografi a Maringá v p 246250 2001 RODRIGUES Gelze S C A Geografi a das representações um estudo das paisagens do Parque Nacional da Serra da Canastra MG GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo n 11 p 6994 2002 71 SEEMANN Jörn Mapas e percepção ambiental do mental ao material e viceversa Cognição percepção e interpretação ambiental na conservação dos recursos naturais e culturais OLAM Ciência e Tecnologia Rio Claro v 3 n 1 p 200233 set 2003 SOUZA José G de KATUTA Angela M Geografi a e conhecimentos cartográfi cos a Cartografi a e o movimento de renovação da Geografi a brasileira e a importância do uso de mapas São Paulo Ed da UNESP 2001 SOUZA Luciana C T Mapas mentais para perceber interpretar e representar o ambiente vivido e telepercebido um ponto de partida para a Educação ambiental OLAM Ciência e Tecnologia Rio Claro v 4 n 1 p 673678 abr 2004 Edição especial I Encontro sobre percepção e conservação ambiental a interdisciplinaridade no estudo da paisagem CDROM TEIXEIRA Salete K NOGUEIRA Amélia R B A Geografi a das representações e sua aplicação pedagógica contribuições de uma experiência vivida Revista do Departamento de Geografi a USP São Paulo v 13 n 1 p 239257 1999 Humanistas ZAMPLERON Sonia L M FAGLONATO Sandra RUFFINO Paulo H P Ambiente representação social e percepção In SCHIEL Dietrich et al O estudo de bacias hidrográfi cas uma estratégia para Educação ambiental São Carlos Rima 2003 p 1720 Anotações Geografi a Metodologia do Ensino 72 Anotações 73 Livro didático de geografi a análise e avaliação Cleres do Nascimento Mansano Para desenvolver em nossos alunos um olhar espacial um olhar geográfi co é necessário o uso dos procedimentos próprios de nossa ciência que são a observação orientada a descrição a análise a síntese a representação a analogia o levantamen to de hipóteses a cartografi a entre outros Com esses procedimentos corretamente utilizados é possível que o aluno apreenda os conceitoschave da Geografi a espaço paisagem região território lugar ou seja apreender Geografi a Nesse contexto um dos instrumentos utilizados no fazer pedagógico é o livro di dático que não é o único mas é importante para a Geografi a escolar Não podemos fazer do livro didático uma bússola planejando aulas e atividades somente com esse referencial teórico tampouco podemos desenvolver no aluno a ideia de que o livro didático é sagrado de que tudo que está escrito nele é verdade é inquestionável mas também não há como desprezálo no processo de ensinoaprendizagem Para Malysz 2007 p 171 o livro didático oferece um estudo estático ou seja que não possibilita a construção do conhecimento geográfi co Em relação ao uso do livro didático na ação docente tanto em caráter pedagógico quanto em caráter específi co é preciso desenvolver a autonomia para que o profi ssio nal docente aprenda a utilizar outras referências no planejamento de suas aulas pois A geografi a encontrada na maioria dos livros didáticos e que é ensinada geralmente nas escolas apresenta uma análise descritiva ALMEIDA 1991 p 84 Não podemos afi rmar que o livro didático não tem valor que é inútil pelo contrá rio é muito importante por ser quase sempre a única fonte de pesquisa para o aluno especialmente na escola pública mas devemos ter consciência de que as aulas orien tadas somente no livro didático não possibilitam a análise do fenômeno geográfi co Sobre essa questão Pezzato 2001 p 248 pondera que O fato revela entre outras coisas a importância do livro didático na des orientação e na seleção dos conteúdos escolares apesar de inúmeros tra balhos produzidos nas últimas décadas tratando ou até denunciando da 5 Geografi a Metodologia do Ensino 74 propalada problemática do livro didático seguido como bíblia nas escolas contemporâneas O ensino geográfi co tem sido trabalhado na maioria das vezes tendo o livro didá tico como um manual seguido à risca Mesmo criticado pelos próprios professores estes utilizam o material como um recurso inquestionável uma vez que nem sempre dispõem de tempo para preparar aulas e desenvolver pesquisas Sendo assim mui tas vezes trabalham conteúdos sem sentido que não proporcionam a construção do conhecimento geográfi co Não podemos negar o papel do livro didático na preparação das aulas mas da forma como é utilizado não oferece oportunidades para o professor ampliar a sua visão e tampouco o aluno desenvolver uma aprendizagem signifi cativa Deste modo a maneira de utilização e a escolha do livro didático são aspectos importantes na alfabetização geográfi ca A ESCOLHA E AVALIAÇÃO O LIVRO DIDÁTICO Quanto à escolha do livro didático sabemos que vai além das questões intrínse cas no processo de ensino aprendizagem pois antes das questões que antecedem a escolha do livro na escola há um longo caminho a ser percorrido e comumente a qualidade é sobreposta pela indústria do livro didático Tais questões são mais evidentes quando se trata da escola pública porque a venda das coleções para o governo tornase um mercado de oportunidades para editoras e autores Geralmente os livros que chegam para a escolha nas escolas já passaram por um crivo de avaliação e seleção um tanto duvidoso E nos casos mais graves há uma imposição por determinado título Cabe ressaltar que os livros didáticos muitas vezes se constituem no único re curso que o professor dispõe para o trabalho em sala de aula em especial na escola pública e a ausência de recursos necessários e adequados para o ensinoaprendiza gem nas escolas é um dos entraves ao ensino de Geografi a Nesse contexto a preo cupação do professor ao escolher o livro didático deve passar por questões como conteúdo metodologia diagramação linguagem apropriada entre outras Um aspecto que deve ser levado em consideração é a preocupação metodoló gica com relação à cartografi a escolar ou seja a alfabetização cartográfi ca Passini 1994 p 53 efetuou uma pesquisa com sete coleções de livros didáticos e consta tou que salta aos olhos a deseducação cartográfi ca Para a realização da pesquisa a autora observou 21 categorias utilizadas nos livros didáticos e como forma de organização agrupou em três conjuntos sendo 75 1 O espaço e sua territorialidade 2 As formas de representar a Terra 3 Os elementos cartográfi cos Quanto ao espaço e sua territorialidade Passini 1994 verifi cou a necessida de de haver a noção de continuidade e da dinâmica do espaço geográfi co conside rando as categorias autorretrato quarto da criança casa escola trajeto casaescola bairro município e Estado VOLUME O APARECIMENTO DAS CATEGORIAS POR SÉRIEANO 1 EuCasaEscolaCasaEscola 2 EscolaSala de aulaRuaBairroCidade 3 MunicípioCidadeEstadoPaís 4 TerraGloboBrasilAméricaRegiões brasileirasEstado Quadro 1 Categorias Fonte Passini 1994 Adaptação Como exemplo da pesquisa realizada pela autora apresentamos ao lado a ordem como as categorias apareceram em uma das coleções analisada PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO PNLD VOCÊ SABIA QUE O Programa Nacional do Livro Didático PNLD promove desde 1996 a avaliação do livro didático com a fi nalidade de assegurar à escola pública de educação básica obras com qualidade editorial científi ca e pedagógica Esse processo de avaliação vem cumprindo com o objetivo de selecionar obras que atendam a esses requisitos apresentando indicadores que permitem uma adequada escolha do livro didático por parte da escola e de seus professores BRASIL 2009 Como forma de garantir a qualidade o Ministério da Educação por meio do PNLD avalia as coleções de livros didáticos para que os professores possam se guiar na melhor escolha oferecendo um guia do livro didático Vejamos no quadro a seguir o que os livros didáticos devem possibilitar aos alu nos de acordo com o PNLD Livro didático de geografi a análise e avaliação Geografi a Metodologia do Ensino 76 OS LIVROS DIDÁTICOS DEVEM POSSIBILITAR AOS ALUNOS analisar a realidade percebendo suas semelhanças diferenças e desigualdades sociais e apresentar propostas para sua transformação compreender as interações da sociedade com a natureza para explicar como as sociedades produzem o espaço compreender o espaço geográfi co como resultado de um processo de construção social e não como uma enumeração de fatos e fenômenos desarticulados saber utilizar os conceitos de natureza paisagem espaço território região e lugar para analisar e refl etir compreender seu espaço imediato assim como as escalas mais amplas utilizar variáveis básicas como dis tância localização semelhanças diferenças hierarquias atividades e sistemas de relações para identifi car e interrelacionar formas conteúdos processos e funções permitir a discussão e a crítica esti mulando atitudes para o exercício da cidadania favorecer a apropriação da lingua gem cartográfi ca para estabelecer correlações e desenvolver as habili dades de representar e interpretar o mundo Fonte BRASIL 2009 p 9 Salientamos que quem deve fazer a escolha e a avaliação do livro didático é o pró prio professor Observemos a fi gura abaixo que representa os elementos envolvidos na escolha do livro didático Figura 1 Esquema na escolha do livro didático Fonte Sposito 2006 A Figura 1 expressa o ciclo que envolve a escolha do livro didático e como pode mos observar a escolha não é tão simples porque envolve a prática pedagógica e a realidade da escola e o aluno Se o aluno é o objetivo da existência da escola e do professor deve ser levado em conta primeiramente para quem o livro será destinado ou seja o professor ao fazer a escolha do livro didático principalmente na escola pública deve considerar que este é um material de apoio de suas aulas para seus alunos tanto em sala de aula quanto em casa Dessa maneira é preciso entender a realidade do alunado bem como 77 a concepção pedagógica adotada pela escola Quanto à preocupação metodológica com relação à alfabetização cartográ fi ca as atividades propostas são extremamente importantes no processo O quadro abaixo sintetiza a análise e a classifi cação das atividades encontradas nos livros didáti cos conforme a pesquisa de Passini 1994 CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES ENCONTRADAS TIPOS DE ATIVIDADES CLASSIFICAÇÃO 1 As atividades que possibilitam ao aluno perceber as relações de proxi midade vizinhança limites interiori dade exterioridade Trabalho operatório para o desenvolvi mento das relações espaciais topológi cas auxiliares para a compreensão das noções de limitesfronteiras e a própria territorialidade dos espaços geográfi cos 2 Atividades que exigissem diferencia ção do ponto de vista observações descentradas cujo preparo se ini cia com a lateralidade e orientação do próprio corpo evoluindo para a orientação geográfi ca Trabalho operatório para o desenvolvi mento da lateralidade possibilitando a construção das relações espaciais pro jetivas auxiliar para a construção das projeções cartográfi cas 3 Atividades de tomar medidas do corpo da criança ou a localização de qualquer objeto ou lugar utilizan dose um referencial fi xo como en dereço da criança ou da escola Trabalho operatório que possibilita o de senvolvimento das relações espaciais euclidianas importantes para a com preensão da noção de escalas e coorde nadas geográfi cas na leitura de mapas 4 atividades para criança dese nhar seja o seu corpo seja rua seja a sua escola Trabalho operatório que desenvolve a função simbólica possibilitando a capa cidade de leituracompreensão dos sím bolos do mapa através da decodifi cação de legenda 5 Os questionários exercícios de preencher lacunas e cópias quer de textos quer de mapas ou plantas Trabalho reprodutivo que desenvolve a habilidade de copiar Quadro 2 Classifi cação de Atividades Fonte PASSINI 1994 p 5557 Organização A autora ATIVIDADES FINAIS Com base na pesquisa realizada por Passini 1994 analise uma coleção de livro didático você poderá conseguir junto às editoras Para a atividade considere os volu mes do 1º ao 5º anos Caso a edição não tenha o 1º ano analise a do 2º ano em diante Livro didático de geografi a análise e avaliação Geografi a Metodologia do Ensino 78 ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA E O LIVRO DIDÁTICO Coleção analisada conforme a ABNT De acordo com o Quadro 2 analise as atividades apresentadas na coleção esco lhida por você Indique a quantidade de vezes em que aparecem Volume 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Fonte Passini 1994 p 55 57 Organização A autora Considerando o Quadro 1 analise o conjunto de categoria o espaço e sua territorialidade Escreva na sequência que se apresentam em cada volume selecionado para sua análise Volume O aparecimento das categorias por sérieano 1 2 3 4 5 Fonte PASSINI 1994 p 5557 Organização A autora Em consonância com a pesquisa de Passini 1994 e os textos acima analise o conjunto de categoria os elementos cartográfi cos Escreva a quantidade de vezes que são representadas em cada volume escolhido por você para análise 79 Os elementos nos mapas Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4 Volume 5 Símbolossignos Legenda Orientação Coordenadas geográfi cas Escala Fonte PASSINI 1994 p 5557 Organização A autora Nos itens a seguir avalie a coleção de livro didático escolhida segundo os parâme tros do edital do PNLD 2010 Marque com X sendo que N corresponde a Não SS corresponde a Sim Satisfatoriamente e SP corresponde à Sim Plenamente AVALIAÇÃO N SS SP 1 Contribui para o desenvolvimento de capacidades básicas do pensa mento autônomo e crítico como compreensão memorização análise classifi cação síntese formulação de hipóteses planejamento argumen tação generalização e crítica 2 Utiliza linguagem adequada ao estágio de desenvolvimento cognitivo do aluno e à abordagem dos conhecimentos geográfi cos 3 Oferece estímulo à apropriação do vocabulário específi co da Geografi a tendo em vista o domínio de conceitos e conteúdos por meio de diferentes tipos de linguagem evitando reducionismos e estereótipos 4 Os conceitos geográfi cos básicos como espaço região lugar territó rio e paisagem assim como os de sociedade e natureza são abordados corretamente 5 As informações básicas suas representações e imagens estão corretas e atualizadas 6 Os fenômenos e fatos geográfi cos abordados estão localizados corre tamente 7 Os conceitos e as informações são explorados corretamente em ativida des exercícios e recursos gráfi cos 8 Proporciona compreensão das relações entre sociedade e natureza 9 Apresenta relações espaçotemporais que possibilitem ao aluno com preender a formação do espaço geográfi co 10 Está isenta de preconceitos ou indução a preconceitos relativos às condições regionais socioeconômicas étnicas de gênero religião idade ou outra forma de discriminação 11 Contempla abordagens referentes à participação do afrodescendente e do indígena na formação do espaço geográfi co brasileiro 12 Contém orientação visando à articulação dos conteúdos dos livros com outras áreas de conhecimento 13 Oferece propostas de atividades individuais ou em grupo que propi ciem a leitura do espaço geográfi co e os estudos do meio Livro didático de geografi a análise e avaliação Geografi a Metodologia do Ensino 80 14 Propicia o desenvolvimento de habilidades do aluno ampliando suas possibilidades de expressão escrita gráfi ca e cartográfi ca distinguindo e articulando diferentes escalas geográfi cas 15 Reproduzem adequadamente a diversidade étnica da população bra sileira a pluralidade social e cultural do país não expressando induzindo ou reforçando preconceitos e estereótipos 16 As legendas dos mapas e demais ilustrações são adequadas e claras sem excesso de informação a serem identifi cadas A escala é utilizada corretamente 17 Possui glossário isento de erros conceituais ou contradições com os textos 18 O sumário espelha corretamente a organização interna da obra e per mite a rápida localização do conteúdo 19 O projeto gráfi co proporciona equilíbrio entre o texto principal as ilus trações e as demais intervenções gráfi cas permitindo o uso do material didático e visando à aprendizagem 20 A obra é recomendada Nos itens a seguir avalie a coleção de livro didático escolhida por você segundo os parâmetros do edital do PNLD 2010 Marque com X a ênfase temática e conceitual que se apresenta em cada volume TEMAS E CONCEITOS Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4 Volume 5 Natureza e meio ambiente Socialização e identidade Trabalho e economia Espaço rural e urbano Paisagens naturais População e sociedade Formação territorial do Brasil Paisagens e regiões do Brasil Problemas ambientais Problemas sociais Espaço geográfi co Lugar Paisagem Território Relação sociedade natureza Espaço e tempo 81 Com base na análise realizada faça uma análise crítica realçando as qualidades e limitações da obra os aspectos positivos pontos altos e os negativos vulnerabilida des problemas Referências ALMEIDA R D de A propósito da questão teóricometodológica sobre o ensino de geografi a Terra Livre São Paulo n 8 1991 BRASIL Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Guia de livros didáticos PNLD 2010 Geografi a Brasília DF 2009 MALYSZ Sandra T Estudo do meio In PASSINI Elza Y PASSINI Romão MALYSZ Sandra T Prática de ensino de Geografi a e estágio supervisionado São Paulo Contexto 2007 p 171177 PASSINI E Y Alfabetização cartográfi ca e o livro didático uma análise crítica Belo Horizonte Editora Lê 1994 SPÓSITO E S Livro didático de geografi a do processo de avaliação à sua escolha Salto para o Futuro JCR Rio de Janeiro RJ v 5 p 2643 2006 Série TV PEZZATO João P O desfi o da articulação das diversas linguagens no campo do ensino da Geografi a Escolar um debate promissor Boletim de Geografi a Maringá v 19 p 246250 2001 Livro didático de geografi a análise e avaliação Geografi a Metodologia do Ensino 82 Anotações 83 Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Cleres do Nascimento Mansano A Geografi a tem assumido um papel muito importante em uma época em que as informações são transmitidas pelos meios de comunicação com muita rapidez e em grande volume É impossível acompanhar e entender as mudanças os fatos e os fenômenos que ocorrem no mundo sem conhecimentos geográfi cos É no espaço geo gráfi co que se realizam as manifestações da natureza e as atividades humanas Por isso compreender a organização e as transformações sofridas por esse espaço é essencial para a formação do cidadão consciente e crítico Os estudos geográfi cos podem trazer respostas a uma questão que persegue o ho mem Onde estou Desse modo muitas questões no processo de interação entre ser humano e natureza exigem pensamentos e olhares geográfi cos Nessa perspectiva o ser humano pode tomar consciência de que se apropria destrói constrói e reconstrói o meio no qual está inserido e a partir daí gerencia seu espaço geográfi co de maneira satisfatória Dentro de um ensino signifi cativo os estudos do meio possibilitam que os alunos tenham acesso ao conhecimento escolar e científi co da ciência geográfi ca ampliando sua refl exão sobre o espaço em que vivem Com relação ao espaço escolar alguns questionamentos devem permear nossa prática enquanto professores de Geografi a Mas afi nal qual o papel da escola Para que serve a Geografi a escolar A escola é uma instituição de ensinoaprendizagem e cabe a ela possibilitar que o aluno investigue e compreenda as interrelações existentes entre ela e seu entorno Os estudos do meio podem contribuir para tornar o espaço geográfi co legível e para que os indivíduos decodifi quem o seu meio seja ele natural ou cultural Santos 1988 p 88 afi rma que o homem transformou de modo degradante a natureza no decorrer da sua história Para o autor o espaço transformado carrega marcas da ação da intervenção do homem na natureza e a Geografi a tem um papel 6 Geografi a Metodologia do Ensino 84 importantíssimo para a compreensão dessa transformação É relevante salientar que assim como a reorganização do espaço pelo trabalho do homem e a sua comunicação com o meio exigem uma relação de aprendizagem e vivência a forma como ele o in terpreta envolve uma relação de aprendizagem Nas palavras do autor O processo de trabalho exige um aprendizado prévio o homem necessita aprender a natureza a fi m de poder apreendêla SANTOS 1988 p 88 Sabemos que é na formação inicial das crianças que são construídas as principais noções de espaço e consequentemente a leitura do lugar e a construção de conceitos geográfi cos que é um subsídio imprescindível para a prática da cidadania tornando se primordial nesse processo Assim o papel da ciência geográfi ca e da Geografi a enquanto disciplina escolar também é o de alfabetizar o homem em todos os sentidos É possibilitar a leitura do mundo de seus lugares e paisagens e das ações do próprio homem sendo que os estudos do meio confi guramse como um recurso que aprimora o olhar geográfi co do aluno Lopes e Pontuschka 2010 p 9 alegam que O Estudo do Meio pode ser compreendido como um método de ensino interdisciplinar que visa proporcionar para alunos e professores o contato direto com determinada realidade um meio qualquer rural ou urbano que se decida estudar Segundo Malysz 2007 p 172 O estudo do meio propicia o contato direto do educando do educando com o objeto do conhecimento facilitando o resgate do conhe cimento prévio e da transposição didática para o conhecimento cientifi co Assim possi bilita um olhar geográfi co nas relações dos seres humanos com a sociedade e natureza ESTUDO DO MEIO E PESQUISA A Geografi a enquanto ciência ou Geografi a escolar dispõe do meio como um labo ratório amplo de pesquisa e construção do conhecimento A pesquisa que o professor deve propor não pode ser mera cópia de textos soltos e desconexos ela deve partir de aulas sistematizadas planejadas que gerem a necessidade da escolha de fontes e referenciais teóricos a serem discutidos em classe O professor pode utilizar fi lmes músicas poesias fotografi as anúncios entre outros recursos didáticos e audiovisuais para a problematização ponto de partida do trabalho É comum haver o pensamento dicotômico entre a pesquisa e o ensino como se a pesquisa somente fosse realizada pelos bacharéis e transmitida pelo professor Os estudos do meio colaboram para que o professor e o educando se vejam como autô nomos no processo do conhecimento pois o ensino deixa de ser visto como um mero apresentador das pesquisas do bacharel O laboratório de pesquisa para o ensino também é amplo depende somente da percepção que o professor apresenta porque O meio é a sala de aula o pátio da 85 escola o refeitório o corredor a rua do colégio a casa do aluno o bairro a cidade o município o parque fl orestal o fundo de vale etc MALYSZ 2007 p 172 A mesma autora também chama a atenção para a desfragmentação que ocorre com a utilização desse recurso didático visto que o professor tem que planejar suas aulas de acordo com a realidade e conseguir fazer um ensino interativo e não estático como o que é realizado somente por meio do livro didático Ressaltamos que os estudos do meio compõemse de etapas que devem ser res peitadas Para que ocorra a construção do conhecimento é preciso que o professor planeje adequadamente a sua aula a fi m de possibilitar a aprendizagem do educando seguindo essas etapas planejamento a aula de campo e o retorno para a sala de aula FANTIN TAUSCHECK 2005 p 380 Diante das etapas propostas acima idealizamos o esquema abaixo que representa a ordem metodológica para os estudos do meio ESTUDOS DO MEIO PLANEJAMENTO FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA AULA DE CAMPO SISTEMATIZAÇÃO ETAPAS PARA ESTUDOS DO MEIO Figura 1 Esquema para etapas para estudos do meio Como podemos observar é necessário rigor para realizar estudos do meio porque se trata de pesquisa geográfi ca no ensino Aula de Campo É imprescindível que a escola possibilite aos alunos a apropriação das múltiplas lin guagens que facilitarão seu diálogo com o mundo pois no processo do ensinoapren dizagem geográfi co é necessário mais do que informações e conceitos à medida que a construção do conhecimento vai se desenvolvendo ao longo da vida escolar Assim tanto o conteúdo quanto a forma devem ser sistematizados para garantir a construção do conhecimento geográfi co Na relação que existe entre a forma e a aprendizagem os recursos didáticos ade quados servem para viabilizar melhorias qualitativas educacionais Vale a pena pontuar Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 86 que os recursos didáticos deverão ser provenientes do conhecimento LIMA 2007 p 93 E os estudos do meio especialmente os locais possibilitam ao aluno compreen der o seu espaço geográfi co se verem como parte e como agentes transformadores da paisagem e da construção do conhecimento Quanto ao conhecimento geográfi co citamos autoras que assinalam que Quere mos chamar a atenção para a ideia de que na Geografi a o estudo do local do en torno pode ter relevância na construçãoformação de conceitos geográfi cos FANTIN TAUSCHECK 2005 p 380 Nessa acepção a terminologia utilizada para os estudos do meio diferem dependendo das concepções a História por exemplo utiliza o ter mo guia de percurso e a escola pode e deve contribuir para que o aluno amplie sua visão de mundo e perceba com clareza as relações desenvolvidas em seu meio O trabalho de campo é um exemplo de atividade que desenvolve a capacidade de raciocínio geográfi co como a observação e a descrição da paisagem e leva a pensar criticamente a realidade na qual os alunos estão inseridos A Geografi a possui estreita relação com a observação da realidade e o trabalho de campo está relacionado com o local desenvolvendo a observação direta com o espaço vivenciado e possibilitando a relação entre os conceitos teóricos Sabemos que o espa ço geográfi co apresenta marcas peculiares e tornase necessário então compreender todo o processo da transformação para entender a disposição atual No documento Paraná 2006 p 46 consta que a aula de campo é um rico en caminhamento metodológico mas que deve ser realizada com um planejamento adequado Desta maneira julgamos que as aulas de campo servem como experiência prática do conhecimento geográfi co tornando mais rica a aula em que os alunos podem in teragir com o conhecimento Lembramos que existem várias formas de aprendizagem entre elas a visual a auditiva e a sinestésica ESTUDOS DO MEIO E PROJETOS O discurso geográfi co atual no âmbito da escola deve proporcionar a discussão de temas contemporâneos como os ambientais sociais e econômicos O ensino da Geo grafi a escolar deve ultrapassar o conhecimento livresco para responder às questões atuais que integram as problemáticas da sociedade contemporânea e propiciar a cons trução de uma aprendizagem pautada na realidade e no conhecimento historicamente produzido Em conformidade com Sansolo e Cavalheiro 2001 p 114 cabe à geogra fi a considerar o meio natural no espaço geográfi co mesmo naqueles intensamente transformados pelo homem E essa nova abordagem se faz necessária visto que as 87 transformações ocorridas no espaço geográfi co mundial e nacional carecem de um novo diálogo do ser humano com o mundo Tal diálogo pode ser realizado por meio de ações educativas que permitam a análise da percepção dos sujeitos atuais sobre o meio em que vivem Nesse contexto uma das questões ambientais da atualidade está relacionada com a problemática da funcionalidade urbana As vias públicas os edifícios as escolas e to dos os equipamentos que compõem o cenário urbano devem ser percebidos de forma integral e crítica por quem deles faz uso com vista ao efi ciente exercício de funções como moradia trabalho circulação e lazer Embora a preocupação com a funcionali dade seja a mais evidente é certo que não deve ser a única dessas preocupações pois as questões referentes aos valores atribuídos ao ambiente e à ética em relação a ele também devem estar presentes nas abordagens dos estudos do meio que diferentemente do estudo estático baseado em livro didático provoca ain da um maior interesse por parte dos alunos em aprender observando e fa zendo leituras do espaço geográfi co com sua dinâmica diversidade e confl itos MALYSZ 2007 p 171 A seguir apresentamos dois projetos de ensino que podem subsidiar a prática pe dagógica do professor PROJETOS DE ENSINO GEOGRÁFICO Projeto 1 educação ambiental e interdisciplinaridade 1 Palavraschave cidadania interdisciplinaridade educação ambiental 2 Objetivo O objetivo deste trabalho é apresentar uma possível abordagem para o trabalho com a Educação Ambiental no Ensino Fundamental relacionandoa com várias áreas do conhecimento tais como Matemática Português Língua Inglesa Educação Artística Ensino Religioso Educação Física Ciências História e Geografi a 3 Justifi cativa O estudo do ambiente de forma interdisciplinar tornase um instrumento para a ampliação de referências dentro e fora da escola e para promover a aprendizagem signifi cativa para o aluno de maneira coletiva e dialógica 4 Encaminhamentos metodológicos A metodologia consiste na adaptação do trabalho construído por Paulo Freire 2005 em que o autor menciona a necessidade de haver um diálogo transformador partindo da realidade dos alunos ou seja de palavras que possuam sentido experienciado pelo aluno o que Freire chama de tema Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 88 gerador Deste modo cada uma das disciplinas contempladas na matriz curricular da escola pode apresentar sua contribuição A fi gura abaixo apresenta um esquema de trabalho interdisciplinar para a Educação Ambiental no Ensino Fundamental Fonte COSTA 1998 apud COSTA 2002 adaptação Nesse sentido a Educação Ambiental pode alcançar várias dimensões entre elas a interdisciplinar e um tema gerador como a praça pode derivar vários temas secundários partindose sempre da realidade do aluno a saber A disciplina de Matemática pode fazer trabalhos estatísticos com os usuários da praça para conhecer a realidade social de quem utiliza esse ambiente também pode se utilizar das formas espaciais para conceitos matemáticos A disciplina de Português pode contribuir trabalhando textos históricos sobre o local e produzindo trabalhos escritos acerca dos conhecimentos que vão se produzindo ao longo do estudo A disciplina de Língua Inglesa pode utilizar textos relativos ao tema nas aulas contribuindo para que o estudo tenha um caráter científi co e cultural uma vez que na atualidade essa língua é a mais difundida no meio científi co Assim o aluno poderá compreender que os problemas locais também são encontrados em outros lugares do mundo e analisar as soluções encontradas A disciplina de Educação Artística pode trabalhar o folclore das praças a arte contida nela e na igreja contribuindo para resgatar o valor cultural do entorno da escola O Ensino Religioso pode contribuir para levar ao aluno a repensar seus valores éticos já que são essas características que são evidenciadas em atitudes Outra contribuição é a análise das relações sociais que ocorrem nesse espaço A Educação Física que busca a o desenvolvimento físico e mental do aluno pode usar a praça como um recurso didático para o despertar da consciência para a busca por uma melhor qualidade de vida A disciplina de Ciências pode priorizar os estudos dos seres vivos como plantas animais e nós mesmos seres humanos também pode fazer um estudo da qualidade do ar e do solo 89 A disciplina de História pode buscar conhecer a história local como um ponto de partida para a valorização do ambiente e assim levar o aluno a apreender que somos homens históricos A disciplina de Geografi a pode levar os alunos a apreender as relações sociais que ocorrem nesse espaço e os impactos ambientais e suas consequências para a população Outra contribuição é levar o aluno a perceber o ambiente antrópico e a correlacionar as ações do homem e a transformação desse ambiente PROJETO 2 PERCEBENDO A ESCOLA E O BAIRRO 1 Palavraschave escola bairro percepção ambiental 2 Objetivo Despertar nos alunos a percepção crítica das interrelações existentes entre os homens entre si e com o meio ambiente escola e bairro 3 Justifi cativa A escola carece de proporcionar aprendizagem signifi cativa e para tanto é necessário que consiga estabelecer relações com os conteúdos das disciplinas escolares a partir da realidade do aluno 4 Encaminhamentos Metodológicos A melhor forma de levar os alunos a perceberem o seu ambiente é o profes sor orientálos para a capacidade de observar Depois desse primeiro passo deve pedirlhes que listem desenhem descrevam comentem e representem os componentes do ambiente da sala de aula do panorama visto por eles da janela da casa da escola do jardim e das casas que rodeiam sua escola Outra maneira de ensinar o aluno a ter percepção de espaço é fazer com que ele identifi que o que é da natureza e o que foi feito e transformado pela mão do ser humano Por meio de aulas de campo nos bairros o professor deverá orientálos a observar as diferenças dos objetos dispostos e compreender as relações existentes no espaço Também pode leválos a parques ecológicos e propor atividades que os levem a compreender a diferença entre uma mata Atlântica e um parque refl orestado modifi cado pela ação do homem Desse modo o professor deve levar o aluno a fazer comparação entre um ambiente conservado um jardim bem cuidado e um ambiente degradado e maltratado pela ação do homem um jardim sem fl ores sem gramado com bancos des truídos etc Da mesma forma os alunos devem fazer a mesma comparação entre as construções tais como casas prédios escolas etc conservadas e as depredadas por atos de vandalismo a fi m de desenvolverem o conceito de conservação e preservação pois o ser humano é responsável por tudo que o cerca Por último chamar a atenção de sua classe para a limpeza da sala de aula e encarregar cada grupo de alunos das atividades habituais de limpeza passando a ideia de que a todos cabe a responsabilidade de cuidar de seu espaço O mesmo aplicase à sua casa ao seu local de lazer à rua parques e jardins bairros cidade etc Fonte MANSANO 2006 Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 90 Esses projetos foram idealizados diante do contexto educacional da atualidade em que mudanças começam a solicitar a reestruturação de todo o sistema de aprendiza gem exigindo novas performances não só do aluno mas também do professor que deve mudar suas práticas pedagógicas de maneira que o aluno possa construir sua aprendizagem integrando as várias áreas do conhecimento A seguir apresentamos outra proposta para estudos do meio LEITURA COMPLEMENTAR Etapas na organização do estudo do meio O ponto de partida encontro dos sujeitos sociais é a refl exão individual e coletiva sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas em determinada escola Nesse processo buscase pelo exame das características do lugarsolo em que uma determinada unidade escolar deseja fi ncar suas raízes ou seja o exame de seus problemas de seus desejos enfi m de suas mais sérias questões A opção pelo espaço e tema a serem estudados podem estar situados nas adjacências da unidade escolar tais como o quarteirão o bairro o fundo de vale mais próximo passando pelo município como um distrito industrial um prédio público e seus arredores uma área de mata nativa até lugares mais distantes como uma cidade histórica um parque ecológico A defi nição dos objetivos e o planejamento seus objetivos mais gerais podem ser descritos de acordo com Pontuschka Paganelli e Cacete 2007 p 177178 da seguinte maneira consolidação de um método de ensino interdisciplinar denominado estudo do meio no qual interagem a pesquisa e o ensino compartilhamento dos diferentes olhares presentes no trabalho de campo mediante as visões diferenciadas dos sujeitos sociais envolvidos no projeto coleta de dados e informações específi cas do lugar de seus frequentadores e das relações que mantêm com outros espaços emersão de conteúdos curriculares disciplinares e interdisciplinares a ser contemplados na programação produção de instrumentos de avaliação em um trabalho participativo criação de recursos didáticos baseados nos registros divulgação dos processos e do resultado Elaboração do caderno de campo O caderno de campo é um instrumento tradicional no trabalho de pesquisa de geógrafos antropólogos geólogos entre outros Com o advento por exemplo dos computadores portáteis e aparelhos de GPS fruto da revolução tecnológica na qual estamos imersos o caderno de campo em seu formato tradicional um bloco de papel em branco para anotações escritas desenhos e croquis tem perdido importância relativa A experiência tem mostrado que o caderno de campo desempenha função didáticopedagógica fundamental em 91 todas as etapas da realização dos Estudos do Meio Vejamos então os principais elementos que devem compor o caderno de campo A capa A capa elaborada por um aluno ou pelo professor deve expressar o tema central ou um aspecto signifi cativo do Estudo do Meio a ser desenvolvido Pode ser um desenho uma fotografi a ou outro ícone que sintetiza e mostra características marcantes do lugar a ser estudado Revela considerando a interpretação do grupo a identidade do meio ou do espaço a ser estudado É importante reservar na sequência uma página em branco para um desenho pessoal ou individual O roteiro e o cronograma das atividades a serem desenvolvidas durante a pesquisa de campo Outro elemento orientador do trabalho de campo e que deve constar no caderno de campo é um cronograma com as atividades que serão desenvolvidas um roteiro ilustrativo do percurso a ser descrito e que pode ser rápida e convenientemente consultado pelos participantes Deve conter enfi m de maneira explícita os objetivos elaborados pelo grupo e uma grade com os nomes e contatos dos participantes Recomendase também a elaboração de um índice Textos e mapas de apoio Tratase de uma coletânea de textos de mapas de gráfi cos etc selecionados que visam subsidiar o grupo no trabalho de campo a ser desenvolvido em sua dimensão conceitual procedimental e atitudinal Roteiro das entrevistas A realização das entrevistas cumpre papel destacado na concretização dos Estudos do Meio Assim um momento importante para seu sucesso é a prévia elaboração por professores e alunos do conjunto de questões que servirão de guia para a abordagem da população residente na comunidadecidaderegião eleita para estudo e pesquisa Espaços para anotação desenhos e croquis é fundamental reservar espaços nesse caderno de campo para registros diversos tais como a fala dos entrevistados anotações diversas de outros dados e informações consideradas relevantes e apropriadamente espaços para a elaboração de desenhos e croquis O trabalho de campo A ideia de ir a campo apenas como necessidade de sair da sala de aula é um pouco perigosa Pode seguramente esvaziar as potencialidades educativas dessa atividade como método de ensino A pesquisa de campo é reveladora da vida ou seja por meio dela pretendese conhecer mais sistematicamente a maneira como os homens e as mulheres de um determinado espaço e tempo organizam sua existência compreender suas necessidades seus desejos suas lutas com vitórias e fracassos Assim durante o trabalho de campo educadores e educandos devem submergir no cotidiano do espaço a ser pesquisado buscando estabelecer um rico diálogo com o espaço e na condição de pesquisadores com eles mesmos É importante atentar para as oportunidades proporcionadas pelos roteiros de observação para fotografi as fi lmagens e porque não para a inspiração artística na forma de poemas músicas e desenhos A sistematização dos dados coletados na pesquisatrabalho de campo O Estudo do Meio não se encerra com o trabalho de campo Desta forma no primeiro contato entre os participantes do Estudo do Meio conduz se uma exposição livre das sensações experimentadas perguntandose ao grupo os fatos que foram mais importantes ou signifi cativos para cada pessoa A visão fragmentária perde força e iniciase um processo de síntese no qual os envolvidos no trabalho se descobrem como seres interdisciplinares FREIRE Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 92 2000 O momento seguinte é o da construção do conhecimento ou seja da análise do material coletado na pesquisa de campo de pensar coletivamente o que revela o conjunto dos registros Avaliação e divulgação dos resultados Como todo trabalho educativo a avaliação permite aos seus participantes apreciar os resultados aprimorar os processos e sempre que necessário redefi nir seus objetivos É importante também que na medida do possível a equipe responsável possa divulgar seus resultados Assim os possíveis benefícios produzidos pela realização dos Estudos do Meio podem extrapolar as fronteiras da escola que o organizou Fonte LOPES PONTUSCHKA 2010 Adaptação A autora REFLETINDO A escola tem o papel de encaminhar as questões ambientais produzindo conheci mento que leve o aluno a perceber o signifi cado dos objetos que o cercam Para tanto é necessário que esteja conectada com a sociedade e consciente de seus desafi os É im portante que a escola assuma esse papel porque a formação de um cidadão consciente passa a signifi car a afi rmação da possibilidade de exercício da cidadania democrática condição indispensável para a inserção social do indivíduo Considerando que em todas as novas propostas sobre a educação é preciso levar em conta que a aprendizagem deve promover situações em que os alunos possam construir seu conhecimento de forma que tenha sentido para suas vidas entendemos que uma das maneiras de se buscar esse novo diálogo da escola com o mundo é de senvolver projetos educacionais que envolvam os temas contemporâneos objetivando ainda que tais projetos possam ser trabalhados de maneira lúdica prazerosa crítica criativa e interdisciplinar Ressaltamos ainda que os estudos do meio podem representar um dos instrumen tos indispensáveis para a apreensão das relações entre o ser humano e a natureza no ensino formal Proposta de Atividades 1 Elabore um préprojeto sobre os estudos do meio Deve ser levada em con sideração a realidade da escola e do educando lembrese das etapas para estudos do meio 93 Título Palavraschave 1 Introdução 2 Fundamentação teórica 3 Encaminhamentos metodológicos procedimentos equipamentos e materiais a serem utilizados 4 Cronograma geral 5 Resultados esperados Referências 2 Com base em seu préprojeto e na leitura complementar elabore um caderno de campo Observe o roteiro abaixo CAPA ROTEIRO CRONOGRAMA TEXTOS E MAPAS ENTREVISTAS ANOTAÇÕES DESENHOS E CROQUIS Referências COSTA Aurora M F C Educação Ambiental no ensino formal necessidade de construção de caminhos metodológicos In PEDRINI Alexandre de G Org O contrato da ciência unindo saberes na educação ambiental Petrópolis Vozes 2002 p 137171 FANTIN Maria E TAUSCHECK Neusa M Metodologia do Ensino de Geografi a In REZENDE Cláudio José TRICHES Rita Inocêncio Paraná espaço e memória diversos olhares geográfi cos Curitiba Bagozi 2005 LIMA M D G de Ensino de Geografi a e produção de videodocumentário In PASSINI E Y P R MALYSZ S T Prática de ensino de Geografi a e estágio supervisionado São Paulo Contexto 2007 LOPES Claudivan Sanches PONTUSCHKA N Nacib O estudo do meio fundamentos e estratégias Maringá EDUEM 2010 Coleção Fundamentum n 56 Os estudos do meio uma estratégia metodológica para o ensino de geografi a Geografi a Metodologia do Ensino 94 MALYSZ Sandra T Estudo do meio In PASSINI Elza Y PASSINI Romão MALYSZ Sandra T Prática de ensino de Geografi a e estágio supervisionado São Paulo Contexto 2007 224p MANSANO Cleres do N A escola e o bairro percepção ambiental e interpretação do espaço de alunos do Ensino Fundamental 2006 170 f Dissertação Mestrado em Educação para o Ensino de Ciências e da MatemáticaCentro de Ciências Exatas Universidade Estadual de Maringá Maringá 2006 PARANÁ Secretaria de Estado da Educação Diretrizes curriculares da Educação fundamental da rede de Educação básica do Estado do Paraná ensino fundamental Geografi a Curitiba 2006 SANSOLO Davis G CAVALHEIRO Felisberto Geografi a e Educação ambiental In SANTOS José E dos SATO Michele A contribuição da Educação ambiental à esperança de pandora São Carlos RIMA 2001 p 109131 SANTOS Milton Metamorfoses do espaço habitado São Paulo Hucitec 1988 Anotações 95 Escalas geográfi cas algumas considerações Cleres do Nascimento Mansano Na Geografi a para que haja análise do fenômeno deve ser esclarecida a escala geográfi ca adotada tanto a espacial como a temporal ou seja é impossível analisar um fenômeno geográfi co sem considerar o tempo e a extensão espacial fatores primor diais na manifestação do fenômeno e em sua interpretação Marques e Galo 2008 2009 preconizam que o conceito de escala é abrangente e como não há consenso sobre o conceito de escala geográfi ca ou escala útil para análise do fenômeno geográfi co muitas vezes a escala geográfi ca acaba sendo confundida com escala cartográfi ca É necessário fazer distinção entre a escala cartográfi ca que é fração matemática e se refere à codifi cação e decodifi cação leitura das produções cartográfi cas sendo inver samente proporcional ou seja representação de uma área pequena correspondendo a uma grande escala e viceversa Já escala geográfi ca é diretamente proporcional ou seja um fenômeno que ocorre em uma área de extensão pequena como a problemá tica de um bairro correspondendo a uma escala geográfi ca pequena Para a análise geográfi ca as duas escalas são necessárias mas a categoria de análise baseada na escala geográfi ca corresponde à área real de abrangência do fenômeno enquanto que a esca la cartográfi ca corresponde à representação da área real Para deixar clara a distinção de escala geográfi ca e cartográfi ca Marques e Galo 2008 2009 citam o exemplo de Castro 1996 que explica que um fenômeno geo gráfi co como uma voçoroca não pode ser analisado como de grande escala pois em relação ao espaço físico acontece em uma pequena porção da Terra enquanto que o afastamento das placas tectônicas é um fenômeno geográfi co que acontece em uma grande porção da Terra Assim a representação da voçoroca na cartografi a é de grande escala mas na geográfi ca é de pequena escala NÍVEIS DE HIERARQUIA ESPACIAL TERRESTRE Na escala geográfi ca há os níveis de hierarquia espacial terrestre conforme repre senta o esquema a seguir 7 Geografi a Metodologia do Ensino 96 PLANETA CONTINENTE REGIÃO LOCAL Figura 1 FORMAM 1995 apud MARQUES GALO 2008 2009 p 52 O esquema representa que embora haja a inserção de espaços na realidade no ensino geográfi co não há como trabalhar considerandose a hierarquia seja do global para o local ou viceversa Muitos fenômenos devem ser analisados com base na inter relação existente entre os espaços sejam relações de poder ou de atividade Moura e Alves 2002 p 315 nos alertam que ao trabalharmos com o educando sobre a realidade local não podemos nos esquecer que a realidade não é somente o estudo do bairro ou da cidade vai além pois existem relações entre os espaços A aná lise de um fenômeno geográfi co não pode ser entendida levandose em consideração somente a hierarquia acima e na prática pedagógica O professor precisa ter consciência da escala em que está produzindo a geo grafi a com seus alunos local regional nacional ou internacional pois como vivemos em uma sociedade desigual do ponto de vista social e econômico esse aspecto tornase importante já que cada parcela do espaço geográfi co não se explica por si mesma O estudo de qualquer parte da realidade não deve restrin gir aos seus limites mas estar inserido no interior de um contexto maior que é social cultural político econômico e espacial Desse modo o jogo racional das escalas é importan te para a compreensão entre os fenômenos sociais da mesma escala e sua articulação com escalas de outras dimensões PONTUSCKA 1999 p 135 apud MOURA ALVES 2002 p 315 No ensino geográfi co considerar a existência de diferentes escalas atuantes em determinado fenômeno possibilita a sua compreensão como um todo facilitando o entendimento das relações existentes Racine Raffestin e Ruffy 1983 tratam a escala como um fi ltro que preserva o que é pertinente em relação ao objeto de estudo per mitindo sua compreensão Straforini 2001 p 49 trabalha com o conceito de totalidade de espaço pois acredita que não se pode ensinar Geografi a de forma linear já que Não há como con ceber o mundo linearmente estudando por parte casa rua bairro cidade estado país continente separadamente para depois juntálos formando assim o mundo No ensino analisar os fenômenos geográfi cos em especial os relacionados à proble mática dos conceitos sociedade e natureza e apontar soluções é um dos papéis da Geo grafi a escolar envolvendo respostas práticas e exigindo o olhar geográfi co em uma perspectiva integrada Um exemplo de perspectiva integrada é uma problemática 97 urbana analisada em escala local mas sem desconsiderar o contexto global porque a contemporaneidade exige que sejam analisados os fenômenos geográfi cos com toda a complexidade das relações existentes Castro 1995 afi rma que a escala geográfi ca pode ser considerada como um artifí cio analítico que dá visibilidade ao real Porém realçamos que uma escala geográfi ca não pode ser vista isoladamente uma vez que perde seu poder explicativo O recorte espacial a ser analisado sob o olhar geográfi co estará sempre relacionado com seu en torno com as demais escalas há conexão entre as escalas em um mesmo fenômeno porque vivemos em um mundo globalizado em que as ações realizadas em um deter minado lugar refl etemse em outro Um erro recorrente nas pesquisas geográfi cas são os estudos de bacia hidrográfi ca realizados como se o recorte da paisagem explicasse todos os fenômenos existentes No caso do estudo da degradação de uma microbacia hidrográfi ca existem conexões físicas como as geológicas e climatológicas e as humanas que vão desde o uso que a população local faz dessa bacia até as relações econômicas e políticas que estão inseri das no contexto ambiental O RECORTE TEMPORALESPACIAL As transformações ocorrem no planeta desde a sua formação independentemente da ação humana e muitas dessas transformações levaram bilhões de ocorrência e con tinuam em atividade considerando que o planeta é vivo Analisar o tempo geológico também faz parte da educação geográfi ca porque esses fenômenos também interfe rem na vida das pessoas Alguns fenômenos ocorrem em uma escala geográfi ca e temporal pequena como um tsunami mas não devemos esquecer que as multirrelações existentes entre os recortes espaciais acabam por infl uenciar outros lugares Quanto à questão das transformações do espaço geográfi co os seres humanos constroem seu meio a partir das múltiplas relações e só se torna geográfi co pelo olhar geográfi co lançado pelo indivíduo sobre o objeto Santos 1988 p 61 informa que o estudo do espaço é um tema intrínseco às diversas áreas do conhecimento Segundo o autor há muito tempo diversos profi ssionais analisam o espaço como um produto e processo histórico Contudo Santos 1988 p61 acredita que Todos os espaços são geográfi cos porque são determinados pelos movimentos da sociedade da produção Mas tanto a paisagem quanto o espaço resultam de movimentos superfi ciais e de futuro da sociedade uma realidade de funciona mento unitário um mosaico de relações de formas funções e sentidos Escalas geográfi cas algumas considerações Geografi a Metodologia do Ensino 98 Na contemporaneidade ao lado da escala geográfi ca a escala temporal tem assumi do um papel muito importante pois as transformações do espaço geográfi co ocorrem rapidamente e as informações são transmitidas também com muita rapidez e em gran de volume praticamente inexistindo barreiras de distâncias geográfi cas ou seja as distâncias que são hoje a base da organização do espaço não são mais as distâncias euclidianas mas as distâncias humanas aquelas relativas ao tempo à atividade do ho mem SILVEIRA 2006 p 83 É impossível entender os fenômenos geográfi cos sem relacionar os conceitos de espaço e tempo Callai 2003 p 59 registra que Os fenômenos acontecem no mundo mas são localizados temporal e terri torialmente em um determinado local Isso que dizer que fenômenos que acontecem em certos lugares e em determinados períodos tem infl uencia noutros lugares e noutros períodos inclusive As explicações sejam sociais econômicas ou naturais no sentido de espaço físico podem ser buscadas no lugar em si mas não se esgotam nele apenas Assim devemos pensar que não existe espaço sem tempo nem tempo sem es paço O espaço geográfi co atual é o espaço onde a vida humana tem um papel fundamental e onde os seres humanos se relacionam por isso tornase necessário percebêlo e interpretálo com a fi nalidade de melhor compreender as relações que nele se desenvolvem GLOBALIZAÇÃO E GEOGRAFICIDADE Na contemporaneidade do mundo globalizado a educação geográfi ca deve ser realizada por meio da complexidade das relações existentes entre os espaços e os agentes transformadores do espaço Nesse contexto a análise da escala geográfi ca e as relações existentes ganha relevância em razão das multirrelações existentes uma vez que um fenômeno localizado em determinado espaço apresenta interferências e consequências deem outros espaços devido à relação do poder da natureza ou ins titucional existente Santos 1988 p 61 analisando S Amin 1980 postula que a globalização da sociedade e da economia gera a mundialização do espaço geográfi co e carrega um novo signifi cado acrescentando que Na evolução da sociedade cada um de seus componentes tem um papel diferente no movimento da totalidade e o papel de cada uma é diferente a cada momento Assim a globalização é uma nova forma de análise da Geografi a e sem ela não é possível realizar um olhar geográfi co A análise de qualquer recorte espacial não pode ser realizada desconsiderando a hierarquia espacial seja de forma linear ou não Os recortes espaciais são complementares e interligados e fazem parte de um 99 mesmo processo de integração porque O mundo é hoje globalizado em todas as dimensões espaciais sejam elas o bairro ou o país o local e o global se encontram numa íntima relação de proximidade STTRAFORINI 2001 p 56 Os fenômenos geográfi cos apresentam localização espacial e temporal multirre lações entre lugares e escalas geográfi cas eou cartográfi cas ou seja geografi cida de que pode ser defi nida como O ponto ônticoontológico da tradução do metabolismo homemmeio no metabolismo homemespaço A geografi cidade é assim o serestar es pacial do ente pode ser o homem um objeto natural ou o próprio espaço quando este é posto diante da indagação o espaço o que é qual sua na tureza seja qual for o caráter de sua qualidade MOREIRA apud KATUTA 2009 p 16 No ensino de Geografi a é necessário formar um aluno crítico capaz de agir local mente mas compreender as relações espaciais que envolvem os fenômenos locais Essa forma de ensinar é importante na alfabetização geográfi ca haja vista ser neces sário que o aluno compreenda os recortes espaciais e as relações existentes A escala geográfi ca do fenômeno estudado é de extrema relevância para com preendêlo como um todo exigindo novas práticas pedagógicas que levem o aluno à aprendizagem signifi cativa ou seja aquela que tem signifi cado na vida do aluno Katuta pontua que é por meio do diálogo entre as geografi ciades ou as maneiras como os fe nômenos se organizam espacialmente em diferentes escalas local estadual regional nacional planetária entre outras que os estudantes podem me lhor compreender as determinações dos mesmos tornandose desta maneira capazes de infl uenciar na produção de lugares mais democráticos KATUTA 2009 p 16 A autora também alerta que a prática pedagógica da abordagem do espaço a par tir do círculo concêntrico do local para o global nem sempre é possível e que cabe ao professor estabelecer as escalas de análise em que a geografi cidade do fenômeno será abordada Essa refl exão fazse necessária uma vez que muitos professores acreditam que de vem sempre usar essa fórmula como uma camisa de força mas se o sentido é buscar um ensino signifi cativo de Geografi a o aluno muitas vezes precisará estudar outros espaços geográfi cos fora do seu alcance visual Se no ensino de Geografi a devese considerar o conhecimento prévio do aluno a primeira escala geográfi ca que o educando compreenderá é a escala local mas é ob vio que não se deve desconsiderar que as outras escalas geográfi cas são importantes Escalas geográfi cas algumas considerações Geografi a Metodologia do Ensino 100 para relacionar o conhecimento visto que não há como entender a distribuição de uma população local sem relacionar a hierarquia das escalas espaciais a escala tem poral bem como a relação entre o físico e o humano Uma prática pedagógica envolvendo as diferentes escalas geográfi cas e as rela ções do meio físico e do humano nos é apresentada por Pereira e Antonello 2008 que utilizam o recurso literário da fábula para ensinar sobre o México sobre sua população seus recursos naturais e mazelas sociais aos alunos dos últimos ciclos do Ensino Fundamental O interessante é que há uma delimitação de escala geográfi ca o local o México Não se trata do local de moradia dos educandos mas de fenôme nos de um determinado local que têm características próprias e ao mesmo tempo apresentam relação de conexão com outros lugares americanos Os autores propõem que seja analisado o problema em uma escala local os eji dos mas que também seja relacionado na escala regional e nacional que se tratam dos interesses do governo e até mesmo com a escala global para que os alunos per cebam que os interesses globais suplantam os interesses governamentais de países subdesenvolvidos bem como os interesses da população Os autores também advertem para o professor relacionar a fábula com os conteú dos de Geografi a e com a realidade dos educandos Dessa forma perceberão que a realidade do seu local de moradia tem relação com outros lugares PROPOSTA DE ANÁLISE DO FENÔMENO E CORRELAÇÃO DO ESPAÇO E TEMPO Para a prática pedagógica no ensino de Geografi a propomos que o professor trabalhe com seus alunos no sentido de Observar o entorno identifi cando a relação dos fenômenos locais com os globais e a relação do tempo nas transformações do espaço geográfi co Localizar os fenômenos tendo como referência a sua espacialidade e a ana logia com outros locais bem como localizar o tempo de ocorrência do fenômeno Desenvolver habilidades e noções de localização e orientação Codifi car e decodifi car mapas a fi m de sistematizar a localização e a orien tação dos fenômenos assim como para compreender a diferença de escala cartográfi ca e geográfi ca Correlacionar as informações sobre localização e orientação dos fenômenos em diferentes escalas temporais e espaciais Compreender como as expressões espaciais locais articulamse com os arran jos espaciais pretéritos e globais 101 REFLETINDO Entender as escalas de espaço e tempo e correlacionar as multirrelações que envolvem esses conceitos é primordial na compreensão do conceitochave da Geo grafi a que é o espaço geográfi co pois é nele que se realizam as manifestações da natureza e as atividades humanas Por isso compreender a organização e as transfor mações sofridas por esse espaço é imprescindível para a educação geográfi ca Deste modo à Geografi a escolar cabe fornecer subsídios que permitam aos edu candos compreenderem a realidade que os cerca em sua dimensão espacial em sua complexidade e em sua velocidade e o espaço deve ser entendido como o produto das relações reais que a sociedade estabelece entre si e com a natureza Assim a escolha da escala geográfi ca a localização temporal bem como sua in terpretação e correlação é parte da análise geográfi ca e da apreensão da própria realidade Proposta de Atividades 1 Com base na fi gura a seguir faça uma análise da escala geográfi ca do fenômeno e correla cione com as diferentes escalas geográfi cas Ilustração MANSANO Flávia R V M 2 Diferencie escala geográfi ca e escala cartográfi ca Escalas geográfi cas algumas considerações Geografi a Metodologia do Ensino 102 Referências CALLAI H C O ensino de Geografi a recortes espaciais para análise In CASTROGIOVANI A C et al Org Geografi a em sala de aula práticas e refl exões Porto Alegre UFRGS 2003 CASTRO Iná Elias de O problema da escala In CASTRO I E et al Org Geografi a conceitos e temas São Paulo Bertrand 1995 CASTRO I GOMES P C C CORRÊA R L Org Geografi a conceitos e temas Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1996 KATUTA A M et al Geo Grafando o território a mídia impressa no ensino de Geografi a São Paulo Expressão Popular 2009 MARQUES A J GALO M L B T Escala geográfi ca e escala cartográfi ca distinção necessária Boletim de Geografi a Maringá v 2627 n 1 p 4455 20082009 MOURA Jeani Delgado Paschoal ALVES José Pressupostos teóricometodológicos sobre o ensino de Geografi a elementos para a prática educativa Geografi a Londrina v 11 n 2 juldez 2002 PEREIRA ANTONELLO A compreensão de conceitos geográfi cos mediante a utilização da narrativa literária no ensino de Geografi a In GRATÃO L H B CALVENTE M C M H ARCHELA R S Múltiplas Geografi as ensino pesquisa Londrina Ed Humanidades 2008 RACINE J B RAFFESTIN C RUFFY V Escala e ação contribuições para uma interpretação de mecanismo de escala prática da Geografi a Revista Brasileira de Geografi a Rio de Janeiro v 45 n 1 p 123135 janmar 1983 RAFFESTIN Claude Por uma Geografi a do poder São Paulo Ática 1993 SANTOS Milton Metamorfoses do espaço habitado São Paulo Hucitec 1988 103 SILVEIRA Maria Laura O espaço geográfi co da perspectiva geométrica à perspectiva existencial GEOUSP Espaço e Tempo São Paulo n 19 p 8191 2006 STRAFORINI Rafael Ensinar Geografi a nas séries iniciais o desafi o da totalidade mundo 2001 155 f Dissertação MestradoUniversidade Estadual de Campinas Instituto de Geociências CampinasSP 2001 Anotações Escalas geográfi cas algumas considerações Geografi a Metodologia do Ensino 104 Anotações 105 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Jorge Ulises Guerra Villalobos AS CIDADES As cidades experimentaram ao longo de seu processo de expansão e consolidação inúmeras inovações tais como as provenientes da inclusão das áreas verdes dentro de um marco de política higienista quanto das inovações nas vias de circulação provo cadas pela mudança dos meios No entanto sempre mantiveram uma constante a de regrar os usos do solo e destacamos que foram particularmente intensas as ações dos planejadores quando disciplinaram as atividades industriais que pretendiam ocupar o perímetro urbano Nesse regramento a ênfase sempre foi no sentido de disciplinar a instalação e o funcionamento das indústrias com base nas consequências conhecidas decorrentes da poluição atmosférica e das águas constatadas desde a Revolução Industrial No Bra sil certamente o caso emblemático de contaminação urbana seja Cubatão no litoral paulista Nesse contexto inúmeras análises de caráter macro foram realizadas ressaltando se os confl itos de usos de solo poluição e doenças Porém desde que Carson em 1962 escreveu Primavera Silenciosa o território urbano também passou a ser foco de novos problemas advindos desde o seu entorno O livro de Carson iniciava com a seguinte assertiva Houve outrora uma cidade no coração da América onde a vida toda parecia viver em harmonia com o ambiente circunstante1 Esse paradigma postula que os habitantes das cidades passam a assumir os riscos 1 Rachel Carson Primavera Silenciosa São Paulo Editora Melhoramentos 1969 8 Geografi a Metodologia do Ensino 106 que os controladores dos insetos calculam2 passando a suportar também os danos Isto signifi ca assinalar que o território não somente pode ser analisado como urbano ou rural uma vez que existe uma profunda implicação quanto ao dinamismo de fl uxos que os integram Nessa perspectiva é possível apontar três eixos de análise da paisagem urbana a saber 1 A deriva de poluentes advindos das indústrias e das atividades 2 A contaminação do solo da água e do ar 3 O meio ambiente de trabalho A respeito do primeiro eixo vale lembrar que em 2009 a Agência Nacional de Vigi lância Sanitária Anvisa constatou que mais de 64 das amostras de pimentão analisa das pelo PARA Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos indicou quantidade de resíduo tóxico acima do permitido A Anvisa também encontrou em alimentos analisados resíduos de agrotóxicos que não são permitidos no Brasil como o caso do leite materno contaminado por agrotóxicos em Lucas do Rio Verde No tocante ao segundo e terceiro temas o caso mais notório foi o que envolveu o Shopping Center Norte em São Paulo o qual foi construído em 1984 em cima de uma área que fora depósito de resíduos urbanos lixão Vamos aos fatos A área era um brejo às margens do Rio Tietê que havia sido utilizado como depósito pelas indústrias e desativado em 1975 Nesse ano houve o primeiro aterro sobre o lixão depositaramse no local os entulhos do prédio Mendes Caldeira que fora implo dido em São Paulo logo depois vieram os restos das escavações das obras do metrô O shopping foi interditado uma vez que havia evidente risco de explosão expondose assim ao perigo centenas de trabalhadores que ali laboravam Entretanto o problema não parou ali Nas proximidades do citado shopping foi construído o projeto Cingapura em 1994 na gestão do prefeito Paulo Maluf e no con junto habitavam 2787 pessoas todas elas ocupando apartamentos em área de risco potencial de explosão em razão do acúmulo de gás metano proveniente do lixão que se encontra debaixo das construções TERRITÓRIO COMO UNIDADE O termo território possui uma conotação geográfi ca no sentido espacial além de uma especifi cidade econômica e política signifi ca ainda lugar que contém uma 2 Rachel Carson Primavera Silenciosa São Paulo Editora Melhoramentos 1969 107 localização e uma especifi cidade de recursos naturais que têm sido apropriados e transformados em um processo de trabalho particular Assim a apropriação e a transformação do território estão referenciadas pelo grau de desenvolvimento que o grupo social possui e pela forma de apropriação realizada segundo padrões de modelos de desenvolvimento havendo nesse processo instru mento específi co que é o planejamento e a gestão3 do território o qual por seu turno envolve tanto os debates puramente técnicos como implica necessariamente na parti cipação da comunidade local em todas as esferas desse processo Isso signifi ca um diálogo permanente ao longo da elaboração das propostas bem como nos debates referentes aos critérios que fundamentam as decisões sendo tam bém desejável que a participação popular adentre no processo de implantação e ava liação das ações de planejamento O PLANEJAMENTO TERRITORIAL O planejamento territorial não é meramente um levantamento de demandas ou de possibilidades associadas com um cronograma de custos e execução o planeja mento confi gurase como um processo que de fato pode iniciarse com as deman das porém não termina com a elaboração do projeto É amplamente aceito hoje que o planejamento é um processo de andar para a frente portanto é permanente e contínuo salientandose que esse andar está norteado por diretrizes que lhe dão fundamento Entendemos que o planejamento não se realiza no terreno dos espaços abstratos mas ele se materializa no território Assim como o território tem um papel de cata lizador das ações humanas que resultaram das dinâmicas históricas tanto de média quanto de curta duração o planejamento constituise como um instrumento que deve contribuir para construir e garantir a harmonia e o equilíbrio em longo prazo a todos os moradores do território Logo o planejamento centrase na articulação das potencialidades e limitações existentes no território de modo a garantir às futuras gerações uma existência com qualidade de vida Vejamos o caso do recuo frontal que é exigido nas construções Além de estar asso ciado à ventilação está relacionado com a paisagem urbana ou seja com a morfologia 3 Gestão territorial tratase da aplicação de uma estrutura funcional construída no âmbito técnicopolíticoparticipativo e para isso se realizam minimamente as seguintes etapas seleção das alternativas de uso colocação em prática das alternativas selecionadas replanejamento que é a correção de rumo resultado da avaliação permanente do processo As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 108 da paisagem urbana e não simplesmente com uma questão de insolação como previs to inicialmente no urbanismo higienista É claro em toda a literatura científi ca que os recuos não são tema novo no Brasil Estes por exemplo podem ser encontrados em 1967 quando o arquiteto Jorge Wi lheim4 coordenou o plano SERETE em Natal e que sobre a famosa ocupação na borda Brasília Teimosa indicou a sua remoção com a justifi cativa de que a precariedade da ocupação marcada pela alta densidade e ausência de recuos frontais nas residências como impossível para uma remodelação segundo os padrões defi nidos pelo Plano Grifouse às fl s 50 Observemos ainda que o referido plano desenvolvido por Wilheim foi responsável pela implantação padrão de avenidas largas para Natal facilitando a penetração dos ventos dominantes e exigindo recuos para iluminação e ventilação das habita ções WILHEIM apud PANTOJA 2006 p 40 grifos nossos Nesse mesmo sentido estão os estudos de Eduardo Alberto Cuscé Nobre que no artigo5 intitulado O ideário urbanístico e a legislação na cidade de São Paulo do Códi go de Posturas ao estatuto da Cidade destaca que a legislação urbanística do período de 1886 já previa a valorização da área central e que para isso haviam contribuído as determinações relacionadas com os parâmetros urbanísticos como as alturas dos pavimentos os recuos e as aberturas das construções Nessa mesma direção está o trabalho de Rudnei Ferreira Campos6 que tratou da Análise da Infl uência da Orientação da Testada dos Lotes na Ocupação do Setor Estru tural de Curitiba e que afi rma Em 1895 foi instituído o primeiro Código de Posturas de Curitiba que estabelecia normas para o ordenamento e crescimento da cidade sobretudo no aspecto da higienização como por exemplo o recuo mínimo entre as casas CAMPOS 2005 p 45 4 Lílian Pantoja Parâmetros urbanísticos para habitação de interesse social uma análise crítica para as rocas em NatalRN Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo Natal 2006 p 50 Jorge Wilheim coordenou através da SERETE o Plano Diretor para Natal 1967 no qual foi estabelecido o conceito de urbanismo como estratégia desenvolvimentista 5 IX Seminário de história da cidade e do urbanismo São Paulo 4 a 6 de setembro de 2006 p 4 6 Rudnei Ferreira Campos Análise da Inf uência da Orientação da Testada dos Lotes na Ocupação do Setor Estrutural de Curitiba Dissertação de Mestrado em Construção Civil do Programa de PósGraduação em Construção civil Setor de Tecnologia Universidade Federal do Paraná Curitiba 2005 109 Na mesma linha de raciocínio Nabil Georges Bonduki7 em Origens da habitação social no Brasil publicada na Revista de Análise social associa o fato da inexistência dos recuos com as soluções habitacionais a maior parte das quais buscando economizar terrenos e materiais através da geminação e da inexistência de recuos frontais e laterais cada qual destinado a uma capacidade de pagamento de aluguel BONDUKI 1994 p 713 grifos nossos Este autor esclarece que a inexistência de recuos se deu em razão da especulação imobiliária escrevendo que para aumentar o aproveitamento de um solo caro e dis putado pela intensa especulação imobiliária BONDUKI 1994 p 713 grifos nossos Ainda no estudo de Sérgio Ricardo Palhares 20018 o autor alega que inicialmente os IAPs adotaram casas unifamiliares no centro do lote com re cuos laterais e frontais contrariando as tendências dos promíscuos cortiços Apesar de o modelo utilizado inicialmente ser considerado impróprio a uma desejada economia de escala buscavase prioritariamente a melhoria de vida dos moradores p 36 Vejamos então que todos os estudos aqui trazidos são coerentes quanto ao enten dimento do papel dos recuos e o seu valor tanto paisagístico quanto urbanístico para o desenvolvimento organizado planejado e de qualidade do ambiente do urbano que se confi gura como ambiente essencialmente construído REFERÊNCIAS PARA O PLANEJAMENTO O planejamento territorial objetiva a organização de ações tanto de caráter econô mico social quanto ambiental as quais segundo H Richter9 podem ser agrupadas sinteticamente em sete categorias gerais 1 Manutenção de uso do solo atual os usos do solo podem gerar efeitos nega tivos que exigem uma ação de orientação para adequálos aos critérios atuais 2 Recuperação de zonas utilizadas inadequadamente os confl itos de interesses de grupos que objetivam somente o benefício econômico direto bem como 7 Nabil Georges Bonduki em Origens da habitação social no Brasil publicada na Revista de Análise social vol XXIX 127 1994 3 p 711732 8 Sérgio Ricardo Palhares Variantes de Modifi cação em habitação popular do espaço planejado ao espaço vivido Belo Horizonte Escola de Arquitetura da UFMG 2001 9 RICHTER H T e position of landscape mangement in the geographical landscape research In Landscape Management Martin Luther Universität Halle 1986 p167173 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 110 a ignorância e as necessidades imediatistas podem causar grandes danos ao território os quais precisam ser remediados 3 Intensifi cação o aumento da intensifi cação unidirecional no uso do território provoca restrições10 para outros possíveis usos 4 Utilização múltipla forma distinta de intensifi cação que combina vários usos sobre o mesmo território e que demanda zonas especiais para preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas11 de bens tais como o abastecimento de água cenários turísticos fontes minerais e biodiversidade12 dentre outros 5 Extensifi cação combinase com a intensifi cação e a utilização múltipla Seu estabelecimento pode reduzir erros provocados em fases do desenvolvimento do território 6 Alteração do uso do solo é geralmente provocada pela ampliação dos núcleos urbanos infraestrutura do tráfego exploração mineral dentre outros Deman dam estudos integrados para evitar efeitos indesejados 7 Construção de novos territórios estudos ambientais13 relativos à construção de novos territórios como são a recuperação de áreas que foram imersas pela implantação de represas recuperação ou restauração de áreas de mineração dentre outros14 Essas categorias servem para entender de forma sintética os desdobramentos das ações de planejamento porém não explicam seu conteúdo Para isso é necessário re correr a um modelo de planejamento o qual foi apresentado de modo revolucionário em fi nais dos anos sessenta por Ian McHarg 200015 Esse modelo se baseia em um es tudo de diagnose de potencialidades as quais são confrontadas com as características 10 Análise de risco ambiental Análise gestão e comunicação de riscos à saúde humana e ao meio ambiente Resolução CONAMA Nº 3052002 11 Artigo 225 1º inciso II da Constituição Federal da República Federativa do Brasil 12 Biodiversidade Compreendem a variedade e genótipos espécies populações comunidades ecossistemas e processos ecológicos existentes em uma determinada região Compreende tam bém a variedade dentro de cada espécie entre espécies e de ecossistemas Vamos Cuidar do Brasil Conferência Nacional do Meio Ambiente Textobase MMA 2003 31p 13 Estudos ambientais Todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacio nados à localização instalação operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento apresentado como subsídio para a análise da licença ambiental Fonte Resolução Conama Nº 3052002 14 Bolos M et al Manual de ciência del paisaje Barcelona Masson 1992 15 Ian L McHarg Proyectar com la naturaleza Gustavo Gili Barcelona 2000 111 inerentes das diferentes unidades territoriais Tratase da relação entre os fatores com potencialidades positivas e as restrições de caráter negativo Assim esse planejamento oferece um processo racional explícito e que leva em conta os valores da comunidade interessada desenhandose dessa forma uma confi guração territorial integrada idô nea considerando as tendências de seu desenvolvimento McHarg 2000 reconhece que os desafi os no processo de planejamento são múlti plos a ponto de que não se trata de planejamento de território mas de planejar com o território questão que coloca o caráter cooperativo da relação do homem com o lugar no qual este realiza sua vida Nas metodologias de análise16 territorial depois de McHarg 2000 se adotaram os estudos integrados do território disciplinandose rigorosamente a realização de diag nose prognose síntese implantação correção de impactos e a avaliação do processo a fi m de que todas as ações do planejamento tivessem sufi ciente substância analítica bem como fossem projetadas com a natureza Além disso hoje é consenso que o pla nejamento territorial também depende fortemente de como se distribui o poder ou seja de como a população se integra no processo Devemos ter sempre presente que o território municipal pode ser conceituado como um conjunto de terras materializadas em um processo de fracionamento e usos do solo Nesse sentido o fracionamento do solo é um meio que disciplina a organi zação funcional estética ambiental social e econômica do território municipal As sim quando existe carência de planejamento no uso e ocupação do solo é comum o surgimento de vários confl itos como por exemplo os resultantes da implantação de indústria nas proximidades das residências fragmentação da malha urbana e conges tionamento de fl uxos entre outros sendo que todas essas situações afetam signifi cati vamente a qualidade da cidade como um todo É fundamental então considerar que o estabelecimento de políticas e diretrizes de planejamento territorial do município incluam necessariamente o planejamento físico a estruturação urbana o parcelamento o uso e a ocupação do solo tanto urbano quanto rural não negligenciando o desenvolvimento econômico e social com ênfase na produção na geração e na distribuição de renda e na participação popular durante todo o processo 16 Análise ambiental Exame detalhado de um sistema ambiental por meio do estudo da qua lidade dos seus fatores componentes ou elementos assim como dos processos e interações que nele possam ocorrer com a fi nalidade de entender sua natureza e determinar suas características essenciais Avaliação ambiental estratégica MMA 92p As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 112 PARTICIPAÇÃO CIDADÃ No planejamento está previsto um quadro normativo que deve garantir a execução das ações para isso existe um plano de investimentos públicos que objetivam vincular as ações com um recurso necessário para concretizar as propostas No entanto para tal é necessária a existência de uma articulação territorial dos diferentes interesses assim um momento importante da relação entre o orçamento participativo e o planejamento territorial se estabelece através dos próprios projetos aos quais se prioriza durante o processo17 Essa articulação se realiza através das denominadas plenárias territoriais que por regra geral incidem mais sobre uma dimensão local bairro e as plenárias temáticas estas últimas incidindo intensamente sobre o conjunto da cidade18 A discussão do orçamento em territórios limitados bairros implica no fato de apresentar certas demandas limitadas em escala de abrangência territorial e que cor respondem exclusivamente ao bairro como são por exemplo as melhorias das cal çadas dos centros comunitários e praças Essa ação local aparece em confl ito com as reivindicações que interessem à cidade como um todo e que têm uma dimensão territorial de ordem estrutural Para equacionar esse risco as assembleias temáticas são estratégicas uma vez que permitem tratar temas de abrangência global como são a saúde e o meio ambiente os quais certamente interessam à cidade como um todo No debate da construção dos critérios exerce um papel essencial a formação dos delegados dos conselheiros e da cidadania em geral19 haja vista que este é um dos ele mentos centrais para o êxito do processo de articulação política do planejamento da cidade A princípio todos participam do Orçamento Participativo e dos processos de planejamento territorial de modo que se estabelece um vínculo forte entre orçamento e planejamento participativo porém esse liame somente será duradouro se entende mos que o orçamento e o planejamento confi guramse em um processo que envolve 17 O Governo Popular Conselho Municipal de Saúde e a população de Maringá conseguiram aumentar o teto fi nanceiro do município para 29 milhões Maringá 01 de setembro de 2005 Executiva Municipal do Partido dos Trabalhadores Maringá 18 Fonte Experiência junto ao Orçamento participativo Maringá Governo Popular 2000 2004 19 Os personagens principais do orçamento participativo o que é ser delegado e conselheiro do orçamento participativo In httpwwwongcidadeorgsitephpnoticiasnoticiasphpcomple taA0areaartigosidnoticia27 Fazer política pública baseada no princípio da vontade popular construída democraticamente traz para a prática dos movimentos sociais um elemento educativo fundamental mantendo o processo do Orçamento Participativo sempre dinâmico e cada vez mais forte no propósito de discutir e defi nir políticas em um processo de cogestão com os moradores da cidade 113 a efetivação dos projetos ao mesmo tempo em que seu acompanhamento e avaliação devendo ser realizado com critérios capazes de indicar com clareza os avanços ou retrocessos em relação às metas estabelecidas Disto decorre um princípio já enunciado no qual o planejamento é visto como processo integral realizado de forma coerente em um sistema dialético participação planejamento No Núcleo Temático referências normativas para a construção do planejamento destacamos que o Marco Constitucional é a principal referência para o processo de planejamento Através dessa Norma Fundamental do Estado Democrático de Direito é que o planejador deve nortearse para fazer chegar os recursos públicos necessários aos territórios mais carentes Esse fundamento facilita a inversão de prioridades territoriais uma vez que deter minadas políticas públicas passam a ser prioritárias principalmente as que possuem caráter distributivo sendo fundamentadas na restauração dos equilíbrios territoriais vejamos especialmente a esse respeito a Constituição Federal em seu Art 3º que preconiza que Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil I construir uma sociedade livre justa e solidária II garantir o desenvolvimento na cional III erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais IV promover o bem de todos sem preconceitos de origem raça sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminação NORMAS PARA A CONSTRUÇÃO DO PLANEJAMENTO20 O pilar fundamental do planejamento reside no ordenamento normativo no Estado brasileiro a Constituição da República Federativa do Brasil os fundamentos desse Estado Democrático de direito estão expressos em seu artigo primeiro21 Quando tratamos dos fundamentos estamos trazendo para o debate aquilo que le gitima para a razão uma questão inequívoca na qual repousa a ordem de um sistema 20 Planejamento seu objetivo é de elaborar uma estrutura de atuação sobre o território Tratase de um sistema que contém um conjunto de relações técnicopolíticoparticipativas realizada por profi ssionais conjuntamente com a população diretamente interessada e que se concretiza em informações projetos leis segundo os conteúdos seguintes Análise territorial Cenários de evolução Síntese com estabelecimento de defi nições de ações Implantação e Avaliação das ações e resultados 21 Art 1º A República Federativa do Brasil formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal constituise em Estado democrático de direito e tem como fundamentos I a soberania II a cidadania III a dignidade da pessoa humana IV os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa V o pluralismo político Parágrafo único Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 114 Assim ressaltamos o inciso III que determina que a Dignidade da Pessoa Humana é um tema essencial no campo do planejamento Isso se justifi ca porque essa temática é condição do processo civilizatório e exer cício da razão que garante o questionamento e a ruptura dos paradigmas sociais e a superação das visões conservadoras Nesse contexto o planejador busca materializar os fundamentos estudando e contribuindo no desenvolvimento das condições dos meios e das situações em que estes ou aqueles direitos possam ser realizados22 O desafi o do planejador quanto à dignidade da pessoa humana é entender que participa da construção de alternativas em um processo no qual a sociedade negocia 23 certo consenso o qual termina sendo traduzido em uma fórmula genérica que é aplicada no planejamento E mesmo se de fato pode não resolver todas as contradi ções pode terminar sendo aplicada24 através do exercício da liberdade O professor Bandeira de Mello 200125 reconhece que é importante considerar as especifi cidades das ações e principalmente saber quais são os argumentos para programálas Assim é possível imaginar uma primeira substância negativa na constru ção da igualdade trazendo às luzes do debate no planejamento fatores que poderiam ser erguidos como desacato ao princípio da isonomia No entanto esses elementos residentes nas coisas pessoas ou situações podem ser benefi ciados como exclusivos diferenciadores sem contudo desacatar ao princípio isonômico Para tal as discri minações legais devem estar fundamentadas e não serem obtidas de forma arbitrária As normas gerais referentes ao direito urbanístico antes da Constituição de 1988 são essencialmente o Decreto Lei n 58 de 11 de março de 1937 que disciplinava os loteamentos urbanos e rurais e questões de ordem civil em particular as relações entre o loteador e os adquirentes de lotes Posteriormente está a Lei 676679 que dispõe do parcelamento do solo e que especifi camente veio a resguardar o interesse público contido no ato de parcelar o solo urbano26 22 José Francisco de Assis Dias Capítulo II A Categoria Direitos do Homem 2005 p 1314 23 Bobbio Norberto Sul fondamento dei diritti delluomo in ED 5 Apud José Francisco de Assis Dias Capítulo II A Categoria Direitos do Homem 2005 24 José Francisco de Assis Dias Capítulo II A Categoria Direitos do Homem 2005 25 Celso Antônio Bandeira de Mello Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade São Paulo Malheiros editores Ltda 2001 26 Loteamentos e desmembramentos urbanos Comentários à nova lei de parcelamento do solo urbano lei N 6766 de 20101979 Toshio Mukai Alaôr Caff é Alves e Paulo José Villela Lomar São Paulo Sugestões Literárias 1980 115 Observemos que essa lei ao tratar dos requisitos urbanísticos para loteamento inova em relação á legislação anterior posto que introduz sobre a matéria a nível nacional normas gerais de direito urbanístico tão reclamadas pela doutrina 27 Em 1980 entra em vigor a Lei 680380 que trata do zoneamento industrial nas áreas urbanas críticas de poluição e em 1981 através da Lei n 6938 se institui a Política Nacional do Meio Ambiente a qual incide diretamente na questão urbanística quando determina que a política nacional de meio ambiente visará Art 4 inc I à compatibilização do desenvolvimento econômicosocial com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico Salientamos também o caráter planejador da ação governamental uma vez que o Art 5 da referida norma determina que As diretrizes da política nacional do meio ambiente serão formuladas em nor mas e planos destinados a orientar a ação dos governos da união dos estados do Distrito federal dos territórios e dos municípios no que se rela ciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico observados os princípios estabelecidos no art 2 desta lei Percebamos também que o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental nas cidades está em absoluta consonância com os instrumentos da política nacional do meio ambiente estabelecidos no Art 9 da referida lei Hoje a vigência do estatuto da cidade deu visibilidade a uma importante norma que segundo Lúcia Valle Figueiredo é a norma geral de direito urbanístico emanada da competência da União nos termos constitucionais Art 24 inc I e 1 da Consti tuição da República28 Verifi camos assim que a contribuição da Norma Geral do Estatuto da Cidade apa rece claramente delineada quando o princípio constitucional da livre concorrência se vê afetado por norma municipal que impede a instalação de empresa com igual atividade econômica que outra nas proximidades da área conforme está expresso na Súmula 646 do STF A esse respeito José Afonso da Silva 2010 importante voz autorizada em seu li vro Direito Urbanístico Brasileiro29 sustenta que o conceito de norma geral no direito 27 Toshio Mukai Alaôr Caff é Alves e Paulo José Villela Lomar São Paulo 28 Município Disciplina Urbanística da propriedade 2a edição revista e atualizada São Paulo Malheiros 2005 29 Malheiros Editores 6a edição 2010 p 6465 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 116 urbanístico está essencialmente no sentido de ser norma que se aplica igualmente aos diferentes entes da federação ou seja União estados Distrito Federal territórios e municípios A razão lógica o fundamento da generalidade está na ideia defendida por Carvalho Pinto e Aliomar Baleeiro ou seja as normas gerais hão de apresentar além da genera lidade da aplicação a generalidade no conteúdo Nessa mesma esteira reside o entendimento de Geraldo Ataliba para quem as lei gerais sinônimo de leis nacionais são aquelas que se referem a princípios gerais e abstratos próprios da lei nacional sem invasão portanto das esferas específi cas e privativas das leis federais estaduais e municipais para prevenir possíveis confl itos ocorríveis nos pontos de atrito previsíveis ou nas áreas não defi nidas não atribuídas explícita ou implicitamente a qualquer pessoa pública política pelo instrumento apropriado que é a Constituição30 ATALIBA apud SILVA 2010 p 64 Do mesmo entendimento compartilha o Excelso Administrativista Hely Lopes Mei relles para quem as normas gerais são imposições de caráter genérico e de aplicação indiscriminada em todo o território nacional Vejamos que a questão de norma geral para ter natureza e substância de tal segun do José Afonso da Silva 2010 é indispensável acrescentar a previsibilidade constitu cional específi ca31 p 65 E continua asseverando que as normas gerais não regulam diretamente situações fáticas porque se limitam a defi nir uma normatividade genérica a ser obedecida pela legislação federal estadual e municipal Entendemos então que as normas gerais traçam diretrizes balizas quadros à atua ção legislativa da União dos estados e dos municípios O autor continua com igual entendimento ao nosso enfoque Normas gerais são portanto normas de leis ordinárias ou complementares produzidas pelo legislador federal nas hipóteses previstas na Constituição que estabelecem princípios e diretrizes SILVA 2010 p 65 30 José Afonso da Silva Direito urbanístico brasileiro 6ª ed Revista e atualizada Malheiros 2010 31 José Afonso da Silva Direito urbanístico brasileiro 6ª ed Revista e atualizada Malheiros 2010 117 É evidente assim que as normas municipais que disciplinam os usos e a ocupação do solo possuem evidente lastro ancorador do interesse local sendo elas as normas específi cas do direito urbanístico CONSIDERAÇÕES FINAIS Cabe compreender desde logo que o tipo de organização política vigente no país é fundamental à afi rmação das competências no planejamento dos usos e da ocupação do solo do município Assim o trato normativo de cunho específi co das questões de interesse urbano fi ca para os municípios e seus munícipes O município dessa maneira está incumbido de desempenhar de forma satisfatória todas as suas competências sejam de ordem material ou legislativa para o adequado controle na utilização do uso do solo em sua circunscrição territorial O município cuida do interesse local que direta ou indireta mente atinge a comunidade que vive o problema Lembremos que a Constituição Federal de 1988 determina ser o município o res ponsável pela defi nição e ordenação do solo urbano para a defi nição e implementação dos instrumentos urbanísticos O respaldo constitucional emana dos Artigos 30 e 182 e sua fi nalidade está na limitação do poder de disposição por parte do Poder Público sobre a esfera privada da propriedade direcionando o desenvolvimento urbano e social em um marco do desenvolvimento local sustentável A gestão do território municipal assim é fruto de um planejamento local que signifi ca o estabelecimento de diretrizes índices urbanísticos parâmetros objetivos análises técnicos estudo de programas e a escolha dos meios mais adequados para se alcançar os objetivos traçados democraticamente com a participação popular Segundo Meirelles 200932 a gestão territorial objetiva garantir o desenvolvimento municipal considerandose para isso as especifi cidades geológicas sociais econômi cas e de interesse público que devem conduzir as decisões do Poder Público e de particulares no que se refere ao uso e ocupação do solo Esse dispositivo também mostra com bastante coerência o caráter específi co e téc nico do uso e ocupação do solo uma vez que toda intervenção necessita de respaldo especializado considerando as consequências negativas à qualidade de vida urbana decorrentes de intervenções não estudadas e planejadas 32 Direito Municipal Brasileiro 3ª ed São Paulo ED RT 1977 16ª ed São Paulo Malheiros Editores 2009 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 118 A legislação não é mero instrumento mas instrumento essencial e específi co ao parcelamento e ocupação do solo já que disciplina o ordenamento e planejamento do território municipal de modo a evitar uma situação caótica que resulta da carência de planejamento José Alfonso da Silva 2010 p 204 entende que a ordenação não é apenas a defi nição de um regime jurídico qualquer mas de um regime coerente capaz de produzir a ordem e não a desordem SILVA 2010 p 204 Assim o planejamento do território orientado por princípios constitucionais e de senvolvido detalhadamente na legislação municipal garante o atendimento dos inte resses coletivos33 Constatamos por último que a discricionariedade vista como a liberdade do go vernante está limitada pois existe vinculação na gestão do território à norma a qual deve garantir a qualidade de vida dos que vivem nas cidades Proposta de Atividades 1 Busque no Google com as seguinte palavras Shopping Iguatemi contaminação do solo após escolha as matérias de jornais e as leia a seguir assista ao vídeo com o ambientalista Carlos Bocuhy que participa do Jornal da Record News e discorre sobre a contaminação do solo do Shopping Center Norte em São Paulo Em seguida elabore um roteiro para análise de situações que eventualmente estejam acontecendo no seu município Disponível em httpvideosr7comambientalistafalasobrecontaminacaonosolode shoppingemspidmedia4e8fa681fc9b9ed208cdfa45html Referências BOBBIO Norberto Sul fondamento dei diritti delluomo In DIAS José Francisco de Assis A categoria direitos do homem S ls n2005 Cap 2 BOLOS M et al Manual de Ciência del paisaje Barcelona Masson 1992 33 Se de um lado a Constituição insere no interior do regime da propriedade a obrigação do atendimento de interesses públicos de outro ela impede que a concretização desses interesses fi que ao sabor da arbitrariedade política 119 BONDUKI Nabil Georges Origens da habitação social no Brasil Revista de Análise Social sn v 27n 127 1994 p 711732 BRASIL Constituição 1988 Constituição Federal da República Federativa do Brasil promulgada em 5 de outubro de 1988 Organização do texto Vade Mecum São Paulo RT 2012 BRASIL Ministério do Meio Ambiente Resolução CONAMA Nº 3052002 Dispõe sobre Licenciamento Ambiental Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto no Meio Ambiente de atividades e empreendimentos com Organismos Geneticamente Modifi cados e seus derivados Brasília DF 2002 CAMPOS Rudnei Ferreira Análise da infl uência da orientação da testada dos lotes na ocupação do setor estrutural de Curitiba 2005 Dissertação Mestrado em Construção CivilPrograma de PósGraduação em Construção Civil Setor de Tecnologia Universidade Federal do Paraná Curitiba 2005 CARSON Rachel Primavera silenciosa São Paulo Melhoramentos 1969 DIAS José Francisco de Assis Dias A categoria direitos do homem In DIAS José Francisco de Assis Dias Consensus ommnium gentium Sarandi PR Humanitas Vivens 2005 Cap 2 p 1314 MARINGÁ Governo Popular Conselho Municipal de Saúde Aumento do teto fi nanceiro do município para 29 milhões Maringá 01 de setembro de 2005 MARINGÁ Governo Popular Experiência junto ao orçamento participativo Maringá Pr 20002004 McHARGIan L Proyectar com la naturaleza Barcelona Gustavo Gili 2000 MEIRELLES Hely Lopes Direito municipal brasileiro 3 ed São Paulo RT1977 MEIRELLES Hely Lopes Direito municipal brasileiro 16 ed São Paulo Malheiros 2009 As cidades o território a paisagem e o planejamento urbano Geografi a Metodologia do Ensino 120 MELLO Celso Antônio Bandeira de Conteúdo jurídico do princípio da igualdade São Paulo Malheiros 2001 MUKAI Toshio ALVES Alaôr Caffé LOMAR Paulo José Villela Loteamentos e desmembramentos urbanos comentários à nova lei de parcelamento do solo urbano lei N 6766 de 20101979 São Paulo Sugestões Literárias 1980 p 24 MUKAI Toshio ALVES Alaôr Caffé LOMAR Paulo José Villela Município disciplina urbanística da propriedade 2 ed rev e atual São Paulo Malheiros 2005 MUKAI Toshio ALVES Alaôr Caffé LOMAR Paulo José Villela Município disciplina urbanística da propriedade 6 ed rev e atual São Paulo Malheiros 2010 p 6465 PALHARES Sérgio Ricardo Variantes de modifi cação em habitação popular do espaço planejado ao espaço vivido Belo Horizonte Escola de Arquitetura da UFMG 2001 PANTOJA Lílian Parâmetros urbanísticos para habitação de interesse social uma analise crítica para as rocas em NatalRN Natal RN Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo 2006 p 50 OS PERSONAGENS principais do orçamento participativo o que é ser delegado e conselheiro do orçamento participativo SI sn200 Disponível em http wwwongcidadeorgsitephpnoticiasnoticiasphpcompletaA0areaartigos idnoticia27 Acesso em 22 nov 2011 RICHTER H The position of landscape management in the geographical landscape research In LANDSCAPE Management Halle Martin Luther Universität 1986 p 167173 SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO 9 2006 São Paulo Anais São Paulo sn 2006 p 4 121 Fotografi a Território e Literatura Jorge Ulises Guerra Villalobos A FOTOGRAFIA A qualquer geógrafo ou professor de Geografi a que perguntássemos pelo nome de Alexander von Humboldt 17691859 responderia no mínimo que está associado diretamente à história da geografi a científi ca Esse naturalista alemão está também vinculado à apresentação do invento de Louis Jacques Mande Daguerre 17871851 o Daguerrotipo à Academia de Ciências de Paris e sua participação não parece ter sido secundária Humboldt viveu durante anos em Paris como um conceituado homem de ciên cia e mantinha estreita amizade com François Arago1 17861853 Este último era em 1839 deputado republicano pelo partido Pirinueus Orientais Franceses e fora designado pela Academia de Ciências de Paris não somente por ser um político mas também um cientista aberto aos novos descobrimentos para que juntamente com Humboldt e Biot emitisse um parecer sobre a invenção de Daguerre parecer este que considerava a relevância de seu invento Na visita que esses cientistas fi zeram à casa de Daguerre coube a Arago tornar públicos os informes da Comissão O señor Daguerre há descoberto umas pantalhas especiais nas quais a imagem ótica deixa uma perfeita imagem2 Humbodlt não se restringiu a participar somente da Comissão mas certamente infl uenciou a intervenção de Arago na Academia de Ciências de Paris pois o invento revolucionaria todo o mundo Em 7 de janeiro de 1839 se fi zeram públicos os primeiros reconhecimentos da téc nica diabólica3 depois de a Comissão ter emitido parecer favorável e em 19 de agos to desse mesmo ano na sessão da Academia Arago tornou defi nitivamente público o 1 ZUMETA G Diálogos fotográf cos imposibles Andalucia Centro Andaluz de la Fotogra fi a 1996 p 17 2 SOUGEZ M História de la Fotografi a p 54 3 ZUMETA G p 21 9 Geografi a Metodologia do Ensino 122 processo que revolucionaria e substituiria os desenhistas que seriam necessários para copiar os jeroglífi cos existentes seja em Tevas Menfi s Karnak etc4 pois como afi r mava Arago Com o Daguerrotipo um só homem poderia desenvolver esse trabalho Há de esperarse também que seja possível obter mapas fotográfi cos de nosso satélite5 A sala da reunião da Academia fi cou lotada nela estavam os homens mais impor tantes das ciências tais como Watt Morse Humboldt todos atentos à comunicação de Arago No Brasil a primeira notícia pública do invento de Daguerre foi publicada no dia 1 de maio de 1839 no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro e referiase às notícias publicadas na França pelo jornal O Seculo divulgando a primeira apresentação do invento em janeiro desse mesmo ano O invento ou descobrimento de que vamos fauar merece hum e outro titulo a natureza e o engenho do homem podem ahi apostar primazias A natureza apa rece retratandose a si mesma copiando as suas obras assim como as da arte He innegavel a vista do que levamos apontado que este invento hum dos mais admiraveis de nossos tempos terá largas consequencias em todas as artes do desenho e contribuirá não só para o progressos do luxo util e aformoseador da sociedade mas também para maior aproveitamento das viagens quer sejão scientífi cas ou artisticas ou moraes quer de simples divertimento e recreação6 A relação da fotografi a com as viagens que aparece no texto citado é direta e de modo também direto manifestase a relação com a Geografi a uma disciplina profun damente associada às viagens como assim demostram os títulos de revistas france sas em circulação à época Journal de Voyages 1808 La Tour du Monde Lectures Géographiques A palavra fotografi a signifi ca escrever com luz e acreditase que foi utilizada pela primeira vez por Sir John Herschel em 18397 porém em 1832 Hercules Florence um litografi sta de Campinas SP escrevia em seu caderno de notas os seguintes títulos Fi xation des imagens dans la chambre obscure e Photographie como forma de referir se às experiências de impressão com luz solar8 que ele desenvolvia 4 SOUGEZ M p 57 5 SOUGEZ M p 58 6 Jornal do Commercio n 98 p 2 151836 In KOSSOY B Hercules Florence 1833 a descoberta isolada da Fotograf a no Brasil São Paulo Duas Cidades 1980 p 4345 7 Segundo Boris Kossoy a palavra fotografi a fora utilizada pela primeira vez por Hercules Flo rence em 1833 8 KOSSOY B op cit p 7677 123 No contexto das artes o romanticismo e o naturalismo estão no berço da fotogra fi a O real passava a estar presente em uma relação estabelecida entre o espírito da natureza e o espírito do homem e do romanticismo são expoentes clássicos Francisco Goya 17461828 e William Blake 17571877 entre outros Os trabalhos pictóricos do realismo apresentavamse como contraproposta ao romanticismo e ao classicismo mostrando cenas dos trabalhadores a vida cotidiana e as paisagens comuns como são por exemplo os trabalhos de JeanFrançois Miuet 18141875 A relação com as correntes pictóricas dominantes em meados do século XIX mar cou e infl uenciou os fotógrafos que antes de serem técnicos eram artistas Existe consenso entre os historiadores da fotografi a em denominar o período que vai desde a divulgação em Paris do Daguerrotipo até início do século XX de período artístico da fotografi a porque ali estavam imbricados os trabalhos dos pintores e fotó grafos muitas vezes coincidindo em apenas uma ou ambas as artes A sociedade anônima dos artistas pintores escultores e gravadores que seria co nhecida mais tarde como a base do Impressionismo Monet Renoir Dega Cézanne entre outros teve sua primeira exposição no salão de Gaspar Felix Tournachom Na dar 18201910 um conhecido fotógrafo retratista parisiense entre abril e maio de 1874 Certamente foi Nadar quem representou melhor a relação fotografi apintura não somente pela sua participação na Sociedade mas por sua delicada elaboração dos retratos contando entre eles os de Delacroix e Manet O estudo dos irmãos Tournachom era o mais concorrido de Paris chegando a co nhecerse o número 113 da Rua SaintLazare como SaintNadar Nadar era caricaturis ta atividade que lhe permitiu desenvolver a capacidade de obter caráteres sínteses dos personagens habilidade que aplicou com êxito na fotografi a de retratos A relação entre a pintura e fotografi a estava dada no início pela tentativa de ambas as artes para elaborar a cópia fi el da realidade capacidade que desde os primeiros mo mentos a fotografi a demostrou possuir Susan Sontag pontua ser essa a característica que liberou o pintor para se dedicar à fi guração abstrata Voltemos um momento à reunião da Academia de Ciências e observemos como foi descrito o processo do Daguerrotipo Daguerre tomou a placa de cobre prateada e frotou sua superfície suavemente com um algodão molhado numa mistura de pedra pomes e azeite de oliva Cobriu toda a superfície e observei que fazia isto de modo circular e depois em movimentos paralelos Logo lavou a placa com um líquido composto de uma parte de acido nítrico por 16 partes Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 124 de água destilada Depois aqueceu levemente a placa pondo a par te revestida de cobre diretamente na lamparina Novamente deu um banho de acido Assim preparada a placa podia exporse aos vapores de iodo Nesse momento a escuridão se precipitou na sala A placa foi posta numa tabuinha e o conjunto foi colocado numa caixa provida de uma tampa e o iodo que estava no fundo se distribuiu de modo uniforme através de um pano esticado numa moldura de madeira Os vapores de iodo que sobem distribuíamse uniformemente na superfície prateada formandose uma capa de ioduro de prata de cor amarelo cobre Nesse momento chegou uma câmara escura previamente enfoca da em direção ao exterior a placa preparada foi colocada na câmara escura Permaneceu enfocando o exterior um quarto de hora Ao sa car a placa o desânimo foi geral aparentemente nada acontecera e duvidavase do êxito O senhor Daguerre ensinou a placa durante 30 segundos com a cara prateada em direção ao solo três espectadores abriam muito os olhos e afi rmavam não há nada Assim Daguerre a colocou dentro de uma caixa No fundo da qual estava uma vasilha de barro contendo duas libras de mercúrio aca lentado por uma lâmpada até 62 graus Com o mercúrio quente a essa temperatura as partículas de mercúrio se evaporam e sobem para fi xarse na superfície da placa o que fazia aparecer a imagem Na parte superior da caixa uma janela permitia vigiar a operação Quando tudo esteve pronto a placa foi retirada e lavada com água destilada quase fervendo saturada de sal marinho Tudo estava ter minado e foi possível admirar a obra Nunca vi nada tão perfeito Cada objeto aparecia fi namente grava do Com uma lupa era possível diferenciar os grãos e ainda determinar a matéria e essência de cada objeto fi xado9 O trabalho de imprimir de forma direta uma imagem em algum tipo de suporte placa de cobre vidro pedra ou papel era procurado por cientistas amadores e profi s sionais desde quando foi reconhecida a infl uência da ação dos raios solares em certos materiais basicamente os sais de prata 9 SOUGEZ M op cit p 6061 125 É importante assinalarmos que o trabalho de Daguerre não foi um descobrimento isolado como durante anos se pensou A construção da nova técnica não foi indivi dual apareceu simultaneamente em vários outros lugares Pelo que tudo indica a intervenção de Arago junto à Academia de Ciências foi bási ca não somente ao silenciar o trabalho de Bayard mas também pela obtenção da pu blicidade do governo francês ao invento A contribuição direta ao novo processo feita por JosephNicéphore Niépce 17651833 quem desenvolveu o Daguerrotipo tam bém foi silenciada ao manterse como único inventor LouisJacques Mandé Daguerre A importância de Daguerre é inquestionável em todo esse processo mesmo que seja relativizada pelas novas contribuições à história da fotografi a porém a presença de Fox Talbot talvez não fosse ainda reconhecida plenamente porque foi sua contri buição que permitiu passar da cópia única à popularização do número indeterminado de cópias fotográfi cas No entanto o processo de Talbot foi superado pelo trabalho de Archer que em 1851 desenvolvia a fotografi a através de uma chapa umedecida previamente prepara da com nitrato de celulose e sensibilizada com nitrato de prata Mas em 1871 Maddox abriu as portas para os chasis intercambiáveis de chapas fotográfi cas que por volta de 1877 já eram comercializados liberando o fotógrafo de ter que revelar imediatamente as chapas As modifi cações do suporte da imagem fotográfi ca foram também acompanhadas pelas transformações da câmara fotográfi ca que de dimensões intransportáveis foi ce dendo espaço às pequenas e manipuláveis Essas rápidas transformações que seguiram diferentes formatos obrigaram a que em 1889 fosse efetuado em Paris o Primeiro Congresso Internacional de fabricantes e técnicos e em 1891 o segundo em Bruxelas onde foram determinados os padrões de luminosidade dos objetivos e o formato e espessor das placas de cristal10 O ritmo das modifi cações técnicas tanto no que se refere ao suporte como às máquinas fotográfi cas foram surpreendentes entre 1877 e 1900 permitindo a foto grafi a popularizarse de forma defi nitiva O melhor exemplo dessa popularização foi a criação da máquina Brownie da empresa de Eastman a Kodak que custava um dólar George Eastman chegou à fotografi a através de suas experiências domésticas nas quais pretendia modifi car a situação dos fotógrafos que deviam carregar tanto quanto uma mula de carga11 Em 1880 começou a comercializar um papel sensibilizado para 10 SOUGEZ M op cit p 181 11 BUSSELLE M Tudo sobre fotograf a São Paulo Pioneira 1979 p 36 Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 126 fotografi a Mas a associação com Wiuiam Walker em 1884 para formar uma empresa que produzisse e comercializasse suas próprias máquinas e papel fotográfi co modifi cou substancialmente todo o processo fotográfi co conhecido até o momento Essa empresa em 1886 se transformou na Kodak nome que parece ter direta rela ção com o som emitido pela máquina Ko Dak O slogan utilizado pela Kodak era Seu uso dispensa estudos preliminares laboratórios ou produtos químicos12 e Você aperta o botão nós fazemos o resto13 Até 1839 os desenhos litográfi cos dominavam a apresentação das imagens utiliza das nos trabalhos geográfi cos desenhos de linhas contínuas e segmentadas que per mitiam apresentar as paisagens as quais os geógrafos descreviam É pertinente lembrar que esses desenhos eram como uma cópia da realidade interpretada pelo desenhista considerados como muito próximos da situação copiada Dessa data em diante a foto grafi a viria a substituir o eu estive aqui eu vi frases características da descrição in loco Isto quando a imagem produzida pela máquina fotográfi ca assumiu a evidência como afi rma Sontag Algo que conhecemos de escutar mas que duvidamos parece irrefutável quando nos mostram uma fotografi a daquilo14 a imagem transformase na linguagem do dado incontestável que substitui a descrição A imagem vale mais que mil palavras Mas essas imagens para serem produzidas do modo como são atualmente tiveram um complexo desenvolvimento tecnológico Apontamos alguns em particular a im pressão das fotografi as em revistas processo que teve grande impacto na publicação das revistas geográfi cas A utilização das fotografi as obtidas através do procedimento do Daguerrotipo15 não era útil para a impressão em papel daí a intenção de transformar a placa metálica em uma prancha de gravação O primeiro livro publicado com fotografi as e texto foi La Photographie zoologique 12 BUSSELLE M op cit p 37 13 BUSSELLE M op cit p 37 14 SONTAG S Sobre la Fotograf a Barcelona EDHASA 1977 p 15 15 Os fotógrafos itinerantes viajavam frequentemente à Europa em busca de materiais e novi dades da arte fotográfi ca Um exemplo deste tipo de fotógrafo é o francês Amadeo Gras 1805 1871 daguerreotipista e retratista a óleo que em anúncio no Diário do Rio Grande avisa ao público da cidade do Rio Grandeeque acaba de chegar de Paris trazendo novidades fotográfi cas Gras chegou à cidade em maio de 1851 e seu último anúncio data dezembro do mesmo ano e abre estabelecimento na Rua Boa Vista nº 32 mesmo endereço em que trabalharam anteriormente Terragno e Fredricks p 127 Pioneiros da fotografi a em Rio Grande Indícios de passagens e permanências Relato de uma pesquisa histórica In Revista Memória em Rede Pelotas v 2 n 5 abrjul 2011 ISSN 21774129 127 editado na França em 1853 Eram reproduções mediante o procedimento de impreg nar com tinta o relevo da fi gura talhada no metal Em 1856 a Societé Française de Photographie decidiu premiar quem obtivesse um procedimento direto de impressão através do qual fosse evitado o sistema de recons trução da imagem na placa metálica Em 1867 Alphonse Poitevin 18191882 criou o sistema fotolitográfi co tendo como suporte a pedra o qual anos mais tarde daria origem à fototipia que possuía como suporte o vidro Através dessas técnicas foram publicadas as primeiras revistas científi cas de Geo grafi a que incluíam fotografi as como parte da descrição de campo Essa estratégia foi incorporada defi nitivamente na Geografi a O TERRITÓRIO O termo território possui um signifi cado geográfi co além de uma relação com a história econômica e política do lugar Certamente a palavra território não é de uso exclusivo dos geógrafos pois os debates atuais mostram que é utilizada também por outros cientistas como por exemplo os antropólogos Na Geografi a o conceito de território possui o sentido de espaço ou lugar que contém uma localização e um confl ito de recursos naturais que tem sido apropriado e transformado pelo homem mediante o trabalho A apropriação e a transformação de um lugar são realizadas de forma imediata vin culadas ao grau de desenvolvimento tecnológico e político que o grupo social possui compreendendo o grupo social de forma ampla desde uma comunidade silvícola até um Estado Nesse sentido o espaço é transformado em território somente depois que são rea lizadas modifi cações nele Assim a apropriação não implica o domínio real de um território isto é possível somente quando se constrói sobre ele uma estrutura organi zacional econômica e política A estrutura organizacional econômica e política do grupo social está geralmente de acordo com o programa ou projeto de administração que ele propala e isto certamen te infl uencia a forma da exploração do território Nessa perspectiva os confl itos no território são resultados das tensões de diferen tes grupos sociais ou de tensões existentes no interior dos grupos sociais os quais devem ser enfrentados pela apropriação de um espaço no qual procuram determinar uma forma de administração e exploração Os homens apoiados em suas instituições e estruturas sociais se enfrentam para determinar uma forma de utilização econômica e social seja ela particular ou geral Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 128 Entendemos por particular quando se trata de formas de exploração que não são as dominantes do processo de acumulação mundial do capital e geral quando é a forma dominante podendo ser a da formação social específi ca e ou da forma mundial de acumulação O método de apropriação do território se desenvolve de forma tal que os confl itos se dinamizam no sentido de resistência adequação ou imposição Todos eles se confi guram como processos violentos pois não se medem os esforços para a ocupação de um espaço Resistência adequação e imposição não são três momentos isolados no tempo do processo de constituição do espaço em território Eles se associam e constituem refe rencias para as capacidades de organização e nível de desenvolvimento que os grupos envolvidos no confl ito possuem Na resistência está implícita a noção de capacidade de defesa e a manutenção da referência do elemento estruturante do grupo que nos confl itos agrários é a perma nência ou acesso à terra No entanto o que pode parecer a princípio uma situação de domínio está permea do por constantes aparecimentos de focos de resistência sendo estes cada vez mais intensos como demonstram as atuais mobilizações sociais principalmente à medida que as capacidades de intervenção do governo se voltam para ações preocupadas com os grupos de poder como condição básica para manter o processo de dominação e exclusão dos trabalhadores a uma escala mundial Os grupos sociais envolvidos em um processo de ocupação de um espaço para convertêlo em território através da sua transformação estão preocupados com a so brevivência ou com a acumulação de riquezas Com essas perspectivas opostas os grupos procuram estabelecer e construir justifi cativas para suas ações Os confl itos territoriais no Estado do Paraná podem ser datados desde quando os grupos silvícolas se deslocavam à procura de locais adequados para sua sobrevivência há dezenas de séculos No entanto quando a problemática do espaço passa a envolver o título de propriedade ou seja quando a dimensão jurídicosocial adquire hegemo nia os confl itos adquirem uma dimensão ampliada tendo como referência única os limites jurídicos do Estado Essa referência à presença do Estado é pertinente pois nos permite considerar que com a construção do Estado moderno destacamos que entre os séculos XIII e XIX se processa a confi guração do Estado moderno primeiro na Europa e posteriormente ampliase para todo o mundo que o fenômeno da afi rmação do espaço a uma ter ritorialidade é defi nitivamente associado a um poder centralizador e organizador das relações sociais 129 O sentido dado ao território na constituição do Estado é basicamente de ser o es paço de ação e infl uência do seu ordenamento econômico e político Essa concepção implica entender a noção de Estado como impositora de um ordenamento derivado do seu domínio como aparelho de uma dada classe social Assim os confl itos nos territórios tenderiam a estar articulados com processos maiores como o das lutas de classes Não se trata de constituir uma tipologia qualquer dos confl itos Considerando so mente se existe presença direta ou indireta do Estado tratase de afi rmar em um grau mais geral quais são os objetivos envolvidos e poder entender os confl itos como rela cionados a confrontos de classes Essa perspectiva de análise possui maior poder analítico quando pensamos nos confl itos com o Governo de Estado o bem a luta concreta para conquistar uma terra para a implantação de um assentamento da Reforma Agrária Isto nos permite reconhecer então dois níveis fundamentais que alcançam o con fl ito Um denominado confl ito de interesses de classes locais e outro o confl ito de interesses de Estado claramente nacional e internacional Devemos entender que os denominados confl itos de interesses de Estado trabalham com a leitura dos confl i tos regionais como possibilidade de constituir alianças para se expandir para novos territórios A importância que os confl itos locais sejam vistos como desarticulados das realida des nacional e internacional pensemos por exemplo na ocupação de Wall Street reside no fato de que através disso apresentamse como desconectados dos processos de exploração desenvolvidos pelo poder econômico contra os trabalhadores Essa visão de desarticulação e de pontualidade e localidade transmitida pelos meios de comunicação de massa televisão e jornais insiste no isolamento das lutas de resis tência contra o Estado e termina privilegiando os interesses de grupos sociais hegemô nicos os quais procuram impor padrões de exploração econômica em escala global As ideias assinaladas nos permitem conduzir a leitura dos confl itos no Paraná sob uma perspectiva dos confl itos de interesses de classes e da construção de territórios Seguindo as referências anteriores construímos uma cartografi a dos confl itos que pode ser vista no mapa 1 Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 130 Mapa 1 O caso que analisamos aqui é o do Contestado 19121916 Embora os confl itos do Contestado tenham se desenvolvido tanto no Estado de Santa Catarina quanto no Estado do Paraná insistimos em apontar sua ocorrência porque demonstra a maneira a como os demais confl itos no Paraná se desenvolveram em anos posteriores bem como permite recuperar um abundante material fotográfi co e os arquivos judiciais que se encontram disponíveis no sítio do Tribunal de Justiça do Paraná O Contestado tem sido referido como um confl ito decorrente de uma dimensão religiosa A conotação de messiânico utilizada por vários autores nos parece mais um substantivo do que um adjetivo qualifi cativo de um processo de resistência político e econômico que se desenvolve contra a forma de organização social e exploração que os grupos econômicos internacionais tentavam impor com o aval dos grupos sociais que dominavam o poder no Estado brasileiro A região do Contestado era considerada como de ninguém um espaço a ser apro priado e transformado pelos mais fortes Em uma das primeiras ações importantes de resistência contra a ocupação das empresas capitalistas Chico Alonso um dos líderes da mobilização social do Contestado depois de queimar a serraria da Lumber Corpo ration afi rma em um bilhete deixado no local nós tratava de nossas devoções e nem matava e nem roubava mas veio o governo da Republica e tocou os fi lho brasilêro dos terrenos que pertencia à Nação e vendeu tudo para os estrangeiros Nóis agora estamos dispostos a fazer prevalecer nossos direitos Cf ALONSO apud DERENGOSKI 1986 p 66 Esse bilhete exprime claramente a posição e os interesses confl ituosos Tratase por um lado da defesa das condições de sobrevivência dos posseiros em oposição aos 131 interesses de companhias estrangeiras que atuavam com a liberação do governo Outra personagem importante na história é o capitão Mattos Costa do Exército bra sileiro que acompanhou de perto a situação do Contestado e que inclusive informara ao senador Pinheiro Machado acerca da existência de dinheiro falso na região que es tava sendo utilizado pelos fazendeiros e madeireiras nos negócios de terras e madeira Mattos Costa propala que toda essa violência e produto da ignorância de quem não teve outros meios para se defender16 A revolta do Contestado e apenas uma insur reição de sertanejos espoliados nas suas terras nos seus direitos e na sua segurança17 Seguindo essa linha de raciocínio Dinarte de Aleluia Pires tenentecoronel e co mandante da operação em Contestado em 1914 pontua que não cabia as forças regu lares a tarefa de com bater patrícios ignorantes que haviam sido levados ao desespe ro por trafi cantes de província Cf DERENGOSKI 1986 p 34 A questão de terras em todo o momento esteve presente nesse confl ito a ponto que em Rio das Antas colônia da Southern Brazil Lumber and Colonization com panhia estrangeira que explorava a madeira na região os posseiros foram sumaria mente expulsos o mesmo aconteceu na faixa de 15 qui1ômetros laterais a estrada concedida á Brazil Railway Essas ações foram realizadas por pistoleiros trazidos de Texas Estados Unidos como ilustra a fotografi a abaixo reproduzida do arquivo da Guerra do Contestado Fotografi a de funcionário e seguranças da Lumber 1912 jogando pôquer de dados Fonte httpwwwalcablococombrocontestadofotoshistoricashtm 16 Cf COSTA M Apud in DERENGOSKI P 1986 p 66 17 Cf MONTEIRO D 1974 p 45 Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 132 Os posseiros eram tratados como intrusos e expulsos das áreas Monteiro enuncia que a expulsão é executada e a moderna exploração madeireira instalada ar ruína os pequenos produtores locais Cf MONTEIRO 2011 p31 No Contestado os confl itos estão centrados na questão da terra entre quem quer mantêla para seu sustento sejam índios ou posseiros e quem deseja explorála inte grandoa em um sistema de exploração de dependência internacional Estes últimos não reconhecem e ignoram completamente a presença de outros sujeitos que não se adaptam as suas imposições e regras de um novo modelo de transformação e explo ração da terra A utilização especulativa das terras na região do Contestado marca um longo pro cesso na ocupação do território que ainda continua presente LITERATURA Contos da Realidade Uma estratégia para relatar a história do território A Geografi a há muito tempo descreve os lugares as pessoas e seus cotidianos não sendo diferente quando utilizamos a literatura para buscar em suas formas de repre sentação uma fonte para o estudo do território Vejamos um conto da realidade que a seguir desenvolvemos Pedro ouve atento as palavras que João lê para ele Emerge um mundo de sonhos onde as paisagens de fl oresta e as áreas desérticas são cenários de jogos humanos onde a dor e a miséria confi guram formas de vida normais engraçadas João é o pai de Pedro um homem que trabalha numa indústria têxtil durante ses senta horas semanais somando as horas extras Pedro pensa que seu pai gosta de fábrica e às vezes pergunta como está o patrão A criança tem a impressão de que ambos amigos fi cam conversando e por essa razão o pai demora a voltar para casa João tem consciência de que a situação não é essa mas não explica a seu fi lho pois ele não tem idade para entender Maria mãe de Pedro observa como seu fi lho graciosamente se delicia com as histó rias que João lê para ele todas as noites Ela recorda Cangaceiros O Quinze Usina e outros Maria comenta com suas vizinhas que a criança conheceu a vida na fl oresta com Ferreira de Castro autor de A Selva Ele sabe quanto tempo demora um barco de Selam a Manaus como é o trabalho do homem nas terras da seringa Pedro vive de seus heróis que sofriam assassinavam índios e animais selvagens Esses heróis são livres para percorrer a selva passear e desfrutar a vida Pedro gostaria de ser um daqueles e sentirse herói também 133 O tempo transcorre trazendo novas experiências a Pedro Um dia Que acontece pai Algo está errado É por minha causa por não ter feito as tarefas As tarefas da escola são sua obrigação e o controle que mamãe e eu fazemos a res peito é para que você aprenda a obedecer às ordens que os outros lhe dão Obedecer é uma questão fundamental para quem precisa trabalhar a fi m de sobreviver para quem tem que vender sua força de trabalho como única alternativa para reproduzirse do mesmo modo que o seringueiro em A Selva Mas pai você ainda não me disse qual a sua preocupação Filho para sobreviver há que se trabalhar e é um luta conseguir ainda mais para mim que não sou tão jovem Mas você não tem esse problema Gosta da fabrica o patrão é seu amigo Como As relações entre os homens se sustentam por contratos Por exemplo o matri mônio é um deles Existe um contrato também entre mim e o dono da indústria Ele possui os meios de produção e eu vendo para ele minha força de trabalho para poder manternos pois não tenho mais nada para sobreviver Terminando o prazo desse Huummm Cumprido o prazo de tal contrato pode ou não haver renovação Compreendo pai para você não existiu renovação pois não é mais forte Então o que eu pensava da fábrica não é verdade A realidade é outra A realidade não é outra a realidade é um processo do qual você estava compreen dendo uma parte A imaginação e os valores que a escola lhe proporciona ajudam a perceber somente uma parte dos acontecimentos A outra que lhe permite com preender o todo você só chega a conhecer quando passa a fazer parte do mercado de trabalho e para isso há necessidade de pensar o que você signifi ca dentro de todo esse processo Nossa alternativa é sair daqui assim como aconteceu por ocasião da seca do Nor deste lembrase de o Quinze Sim como esquecêlo Então pai nós estamos obrigados a ir em busca de novas possibilidades Nós devemos sair também Quando João Maria e Pedro preparavam as coisas para a viagem Pedro e João A história de nosso mundo aparece narrada nos livros que eu li para você faz tem po As formas de convivência de nossa classe os pobres com os ricos como você diz não são distintas das apresentadas naquelas obras A história em consequência é revi vida na literatura Na Usina podiam se ver algumas formas de concorrência próprias desse sistema em que vivemos um sistema onde a força do dinheiro mobiliza todo Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 134 um processo Os interesses de classes em confl ito mostram os usineiros expandindo o seu domínio na região Aqui todos os métodos são válidos para a conquista do poder João continua falando para Pedro enquanto Maria observa a cena com ternura na esperança de que Pedro pudesse compreender pois ela só sentiu contos e heróis na sua vida e o que João falava causavalhe grande confusão na cabeça Filho a classe dominante passa a infl uenciar o Estado e este exerce sobre nós o direcionamento de nossas vidas Observe como nós os dominados somos vistos e tratados como os seringueiros ou os escravos Somos a mão de obra que tem que ser barata para a usina para o usineiro Oeste modo ele obterá mais dinheiro e aumen tará seu poder Filho João narra algo que para mim é difícil de entender diz a mãe mas ga ranto a você que as histórias de heróis são belas quando acreditamos serem contos porem cruéis quando percebemos que são reais Viver pelo mundo com sonhos de heróis interveio o pai e viver num conto de fadas A terra nova que nos espera poderá ser cheia de aventuras que necessitaremos compreender Será muito bom para nós três sairmos deste lugar tentar uma nova vida e quiçá realizar os sonhos de vocês dois Depois das palavras de João os três começaram a avançar para sair do espaço que lhes consumiu todas as forças e esperanças Olhem para todo esse verde diz o fi lho Ali há uma fábrica está saindo fumaça daquela chaminé de tijolos Os trabalhadores só pelo fato de estarem trabalhando certamente se sentem felizes Podemos fi car Gostaria de conhecer tudo Isso ate se parece com A usina do Senhor Juca lembrase disso Pai não sabia que aquilo era canadeaçúcar e esta uma usina Depois podemos voltar vamos ter tempo Sim pai com certeza podemos voltar depois Que pensava aquele jovem para concordar assim tão facilmente com seu pai Sen tirseia como aquelas crianças castigadas por chuparem cana da usina Estaria pensan do que o mundo dos contos com que sonhava não existe A viagem durou uns dias Durante o trajeto Pedro perguntou a João e Maria muitas coisas de forma tímida quiçá para não sentirse desiludido ou contrariado Haviam chegado e Onde está nossa casa pergunta Maria Teremos que construíla indaga Pedro Rogaremos um pedaço de terra para plantar e com as arvores derrubadas edifi caremos nosso rancho responde o pai 135 Será como estar num seringal exclama Pedro O trabalho foi duro e prolongouse por vários dias até que tudo fi cou pronto Durante algumas semanas João e Pedro au sentavamse caminhavam vários quilômetros para trabalhar no corte de cana e assim poderem comprar os alimentos de que precisavam Nesse ir e vir cortar e cortar Pedro percebeu que a vida daqueles cortadores de cana que tinha visto desde o trem não era fantástica e que o processo de antagonismo das classes sociais a que se referira seu pai voltava a se repetir Ele não gostava de fi car por longos períodos naquele lugar Pre feria voltar prontamente a sua terra a sua casa onde ninguém interviria na sua vida Pedro tinha aprendido que o trabalho era imprescindível para poder sobreviver Aprendeu a observar em todo o processo quem era ele o que signifi cava À medida que ia entendendo a sociedade mais a rejeitava João continuou explicando como funcionava todo o sistema onde os antagonis mos faziam parte da sua dinâmica O único lugar onde os heróis de Pedro ainda se sentiam seguros era a sua terra Sua terra Quando o sistema se expande fi lho ele não conhece limites observe como a história do Senhor Juca refl ete isso Na verdade papai sempre tento fugir esconderme das situações dos fatos Vejo como os homens percorrem longas distâncias para irem ao trabalho na usina Como a cana na verdade é um produto que dá mais dinheiro para o dono da terra do que o feijão ele planta mais cana e paga uma miséria aos trabalhadores com isso o ganho é grande Certo fi lho e você e eu cooperamos nisso e não somos os heróis que pensáva mos que seríamos quando estivéssemos aqui Papai as relações entre as pessoas são complicadas mas nunca imaginei que pu dessem nos acontecer todas essas coisas narradas por aqueles contos Lembra as palavras de sua mãe a respeito de contos e realidade As obras que eu li não são contos são realidades Acontece que as pessoas que escreveram aquilo viveram essas realidades Os leito res em geral vivem os personagens e não os processos e pensam que tudo e produto da fértil imaginação do autor A falta de chuva que tivemos agora lembranos O Quin ze onde a seca havia prejudicado os animais e o cultivo Quando saímos da cidade você não pensou naquele conto Certo pai Agora veja a situação física descrita é diferente da realidade A fumaça da chaminé da usina que já imaginou na obra de Rego por acaso não é exata Quero que compreenda que o homem possui imaginação fértil mas tudo tem uma dose de realidade Somente temos que aprender a discernir o que é aparente do que é real e Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 136 isso é produto da experiência e de leituras de outros livros que a gente chama de sêlos Papai então tudo o que o homem imagina e tem escrito está acontecendo acon tecerá ou aconteceu Maria lembra que foi em 1968 que o homem colocou o pé na Lua Certo Lembro Pedro que nesse tempo eu lia Julio Verne que escreveu um livro sobre fantasias de viagens à lua Esse Senhor é bem antigo e não podia ver coisas como aquelas pois eram do século passado Acontece que ele acertou quase tudo Filho compreende que o escrito não é alheio a nossa realidade Voltar a viver as experiências daqueles livros nos permite compreender e relacionar todos aqueles fatos e processos como pertencentes a uma etapa da história Também e possível que somente nós como leitores possamos compreender o que sucede nos textos pois os personagens dos livros são instrumentos do autor para vivenciar a história de forma novelesca Quando Pedro terminou de ouvir seus pais pensou que havia coisas que não aconteceriam Ei os de dentro Saiam desta terra pois pertence ao senhor todo poderoso gri tou uma voz estranha provavelmente a de um capanga Não foi possível fugir aos contos Pedro ao escutar aquelas palavras sentiu que não podia escapar a um sistema que dominava o espaço Compreendeu ainda mais não ser possível manter a fantasia que tentou construir sobre sua terra Tudo acontecia como nos contos com uma única diferença de que neles os personagens são fi ctícios mas lá estava a realidade Os personagens são instrumentos do autor para vivenciar a história de forma novelesca Algo se moveu porém continuamos sem entender Proposta de Atividades 1 Desenvolva um estudo a respeito da contribuição da fotografi a como fonte de pesquisa para o estudo do território utilizando as fontes do Tribunal de Justiça do Paraná 2 Consulte o mais importante acervo documental da guerra do Contestado que está no portal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná httpportaltjprjusbrwebmuseu justicaguerracontestado É possível além dos processos judiciais verifi car no ende reço httpcontraocontestadobblogspotcom201105arquivofotografi codogoverno html um arquivo fotográfi co de boa qualidade Também estão acessíveis em http wwwalcablococombrocontestadofotoshistoricashtm excelentes fotografi as que re velam parte da história da ocupação do território 137 Referências ALONSO C Apud in DERENGOSKI Paulo Ramos O desmoronamento do Mundo jagunço Florianópolis FCC Edições 1986 p 66 BENCOSTTA Marcus Levy Albino PEREIRA Ana Paula Martins História cultura e sociabilidades representações e imagens das festas escolares Curitiba 19031971 Curitiba Universidade Federal do Paraná 20 Disponível em httpwww2 facedufubrcolubhe06anaisarquivos346Marcus20LevyeAnaPaulaPereirapdf Acesso em 21 nov 2016 MONTEIRO D T Os errantes do novo século São Paulo Edusp 2011 p 31 SILVA Renata Martins O uso da fotografi a no ensino da Geografi aLondrina 2005 Monografi a Especialização em Ensino de Geografi aUniversidade Estadual de Londrina Londrina 2005 VEGAS Cíntia A História contada pela arte da fotografi a Paraná S l s n 20 Disponível em httpwwwparanaonlinecombreditoriaalmanaquenews 419584noticiaAHISTORIACONTADAPELAARTEDAFOTOGRAFIA Acesso em 21 nov 2016 Fotografi a Território e Literatura Geografi a Metodologia do Ensino 138 Anotações 139 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Jorge Ulises Guerra Villalobos Valter Tadeu Dubiela INTRODUÇÃO Este texto tem por objetivo debater as questões relacionadas com o território e a gestão democrática da cidade Haja vista que a cidade é um dos principais objetos de estudo da Geografi a Esta refl exão foi desenvolvida no marco das funções sociais da cidade Destacandose a garantia do direito a cidades sustentáveis entendido como o direito à terra urbana à moradia ao saneamento ambiental à infraestrutura urbana e principalmente a memória da paisagem urbana Observandose nisso o princípio da gestão democrática da cidade a qual num Estado Democrático de Direito se realiza por meio da participação da população e de associações representativas dos vários seg mentos da comunidade notadamente na formulação execução e acompanhamento de planos programas e projetos de desenvolvimento urbano Assim aqui se expõem utilizandose fontes diversas as razões que justifi cam a conservação restauração e tombamento da Estação Rodoviária Municipal de Maringá como parte do patrimônio histórico artístico e natural da cidade de Maringá e de toda a região colonizada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná1 Também desenvolvemos uma análise sobre os atos praticados pela administração municipal da cidade que culminaram com a demolição do prédio Em 2007 o edifício encontravase interditado pela Prefeitura de Maringá sob o argu mento de que sua estrutura estava condenada e de que o prédio não possuía nenhum valor cultural Apoiados em uma breve exposição do contexto histórico urbanístico e 1 Parecer sobre a importância da Estação Rodoviária Municipal de Maringá na conservação da história local e regional Maringá fevereiro de 2007 10 Geografi a Metodologia do Ensino 140 cultural que envolve o edifício expomos o quanto seria importante a conservação do prédio para a população atual e para as futuras gerações A função do antigo prédio da Estação Rodoviária Municipal de Maringá era estuda da desde a transferência das atividades da rodoviária para o novo terminal da Avenida Tuiuti O rebaixamento da via férrea impôs a ampliação do estudo para toda a área remanescente que se convencionou chamar de Novo Centro Esta última com enor mes potencialidades para a recuperação da qualidade de vida proposta pelo modelo de cidade jardim entregue à voracidade dos empreendedores imobiliários a nosso ver reproduz a lógica insustentável de degradação da cidade ARQUITETURA E MEMÓRIA CULTURAL Em 1962 ano da inauguração da Estação Rodoviária Municipal de Maringá o Brasil fervilhava com o milagre econômico do qual a nova capital Brasília é produto Jusce lino Kubitschek propunha a colonização rápida do interior do país pretendendo um crescimento econômico de 50 anos em 5 Essa década é marcada também o início da ditadura em 1964 e pela instituição do AI5 em 1968 suprimindo as liberdades individuais A construção da rodoviária foi iniciada durante a gestão de Américo Dias Ferraz que lhe dá nome e concluída por João Paulino Vieira Filho com projeto do engenhei ro Gelson E Gubert Em 1984 o edifício sofreu uma reforma que cobriu o pátio de manobras defronte às duas fachadas afastando os arcos da vista dos usurários reves tindo as marquises com lambris metálicos e escondendo a beleza estrutural dos arcos que a sustentavam conferindo um vão de 25 metros à laje de concreto da entrada do saguão O projeto da estrutura metálica da cobertura dos pátios foi elaborado pelo engenheiro Ubiratan Claudino Soares durante a gestão de João Paulino Vieira Filho Ofi cialmente essa rodoviária é a segunda da cidade A primeira foi um simples telheiro de quatro águas sustentado por oito colunas de tijolos situado na Praça Na poleão Moreira da Silva Santos 19752 Apesar da sua rusticidade e simplicidade é a imagem desse telheiro que está associada à busca do eldorado É essa cobertura singela que emoldurou a primeira impressão dos pioneiros sobre o lamaçal ou sobre a terra poeirenta onde eles plantariam o sonho de uma vida melhor Infelizmente essa edifi cação não foi conservada Se a primeira rodoviária havia recebido as levas de migrantes gaúchos catarinen ses paulistas mineiros e estrangeiros que vieram colonizar a região pela segunda 2 Conforme foto página 157 141 rodoviária passaram os fi lhos desses pioneiros que partiram para estudar na capital Foi essa cobertura em abóbada de berço que recebeu os primeiros estudantes paulis tas mineiros e gaúchos atraídos pela qualidade do ensino da Universidade Estadual de Maringá Foi também sob esse portal com seu sugestivo luminoso de boas vindas que passaram os exilados da zona rural que vieram fazer crescer a cidade de Maringá expulsos da zona rural pela erradicação do café que sucedeu à geada negra e ao grande incêndio de 1975 pela expansão das pastagens e introdução da mecanização agrícola da soja Pode ter sido por essa estação que boa parte dos novos migrantes partiu em direção ao Mato Grosso e outros estados do norte do Brasil na eterna busca do sem pre novo eldorado Enfi m esse edifício fazia justiça à sua forma de arco e portal de passagem pois ele carregava a lembrança festiva de reencontros e a memória saudosa de acenos de par tida Independentemente de seu valor estético esse espaço constitui uma referência para a memória afetiva da grande maioria da população e somente esse fato bastaria para justifi car seu tombamento como patrimônio histórico da região norte do Estado do Paraná A primeira rodoviária representa parte da história humana de busca do paraíso onde a aliança entre deus e os homens é reestabelecida concretizada em uma cidade celestial que resolva defi nitivamente a contradição entre o saber humano e as leis na turais onde o sonho utópico de uma vida sem sofrimento poderia ser defi nitivamente realizado A segunda rodoviária retrata a continuidade dessa pulsão ancestral na história do desenvolvimento da colonização do Estado do Paraná e do avanço demográfi co em direção às fronteiras com os outros países sul americanos Ambos se enquadram nessa busca antropológica da pindorama do paraíso do eldorado O tombamento e a restauração da Estação Rodoviária Municipal de Maringá e da Praça Raposo Tavares seriam imprescindíveis a nosso ver para a manutenção da his tória e da identidade ligada ao modelo de cidade jardim à conservação da memória da evolução da ocupação do Estado do Paraná bem como do papel desse Estado na expansão do Brasil em direção ao interior do território A ORIGINALIDADE DA OBRA A originalidade do projeto era dada pela estrutura que suportava o trecho da mar quise sobre as entradas das duas fachadas do saguão O engenheiro Gubert utilizou o princípio estrutural das pontes de concreto onde a via carroçável é atirantada em ar cos para obter um vão livre superior a 25 metros Esse vão ainda hoje insuperado por obras de arquitetura na região era cortado por duas juntas de dilatação prevenindo a A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 142 fadiga da estrutura pela ação da variação da temperatura A leveza da fi na laje da marquise permitiu uma estrutura esbelta que apoiava ainda uma casca em concreto armado Essa casca servia de contraventamento da fachada proporcionando acabamento à cobertura metálica do saguão As largas colunas que ladeiam o saguão faziam pensar que o projeto previa a con tinuidade da casca de concreto sobre todo o espaço de espera e não apenas sobre os mezaninos No entanto essa hipótese necessita ser verifi cada no projeto estrutural Caso se confi rme a fundação e a estrutura da cobertura do saguão estavam superdi mensionadas pois a carga aplicada pela estrutura metálica era muito mais leve do que a carga de uma casca de concreto Gubert parece ter se inspirado em parte na antiga rodoviária de Apucarana com cobertura em arco de madeira e telhado de cimento amianto Seu vão comparável ao obtido pelo arco de concreto abrigava os ônibus lojas e passageiros em um único espaço confi gurando uma rua coberta escura e poluída disputada pelas aves que povoavam a estrutura da cobertura Para resolver o problema do fechamento da parte superior das fachadas do saguão e da sustentação da marquise que cobria a passagem inferior sem obstruíla com pila res Gubert se valeu de sua experiência na construção de pontes Utilizando o arco de concreto e tirantes Gubert conseguiu dar leveza à construção de concreto armado e alvenaria autoportante aliando claridade limpeza simplicidade e beleza em um conjunto bem integrado à paisagem urbana extremamente resistente às adversidades locais à falta de manutenção e às intervenções desastrosas que a enfeiraram e degra daram por um quarto de século Após a retirada dos anexos podemos perceber as qualidades da sua arquitetura ainda não superada nessa cidade Mesmo em meio ao abandono é possível perceber como os pavilhões os arcos e o saguão conduzem o olhar do passante à vista da catedral de um lado e da estação ferroviária de outro A altura do saguão permitia focalizar a torre do templo símbolo da cidade através do pano de vidro por sobre a alameda de frondosas tipuanas e palmeiras imperiais sob o céu luminoso da região A RELAÇÃO ENTRE O EDIFÍCIO E A PRAÇA O edifício era constituído por dois pavilhões abrigando pequenas lojas interliga dos por um saguão em pé direito duplo coberto por estrutura metálica em abóbada que suportava telhado de chapa de zinco ondulado e forro de placas de papelão O pé direito duplo do saguão permitia a iluminação e a aeração das lojas que se abriam para esse amplo espaço que tinha as dimensões de uma rua coberta Uma marquise circundava todo esse conjunto protegendo a entrada das lojas externas e o acesso 143 dos passageiros aos ônibus Ao mesmo tempo em que protegia o espaço de espera o saguão servia de corre dor entre a Praça Raposo Tavares e o terminal de ônibus urbano tal como deveria funcionar se o terminal ferroviário para passageiros houvesse sido mantido e imple mentado Desse espaço de espera tinha acesso às lojas e bilheterias no primeiro piso e pela escada principal chegavase à administração da rodoviária de onde se contro lava a chegada e a saída dos ônibus Por uma escada lateral chegavase ao mezanino de onde era possível dominar ao mesmo tempo a vista do interior do espaço de espera e da praça Nesse nível tinha se acesso às salas comerciais e ao restaurante O restaurante com seu terraço que se prolonga sobre a marquise possibilitava contemplar o movimento dos ônibus a praça e o eixo magnífi co tendo ao fundo a Catedral Nossa Senhora da Glória confi gurando um belvedere privilegiado do centro da cidade Na antiga rodoviária a Praça Raposo Tavares amenizava a monotonia da espera de baldeação oferecendo uma alternativa aos viajantes e o contato com os representan tes da sociedade e da cultura local O percurso integrado com a cidade proporcionava uma multiplicidade de sensações de ruídos cheiros cores e texturas Arquitetura e fl uxos urbanos integravam espaços contrastantes estreitos e amplos abertos e fecha dos permitindo diferentes níveis de observação oferecendo superfícies retangulares e curvilíneas equilibrando opacidade e transparência obscuridade e claridade ari dez e humidade regularidade formal e acaso natural Na Praça Raposo Tavares jornaleiros vendedores ambulantes prostitutas desem pregados e pregadores oferecem seus serviços sob a proteção das frondosas árvores que resistem nesse retângulo quase completamente pavimentado Ainda hoje é sobre o pavimento dessa praça que se organizam a maior parte das manifestações passeatas e comícios É aí que se realiza boa parte dos espetáculos ao ar livre Essa praça faz parte do centro vital da dinâmica urbana e o seu tratamento não pode ser objeto de transformação com base em estudos sumários desligados do interesse público e sem o consentimento expresso da população A PERVERSÃO DO MODELO DE CIDADE JARDIM O Terminal Rodoviário Municipal de Maringá constitui um dos marcos de referên cia que compõem o cenário previsto para a cidade jardim Desde o traçado da planta da cidade de Maringá em 1946 por Jorge Macedo Vieira a avenida onde se concen trariam os principais edifícios públicos estava defi nida sobre o divisor de águas entre o Parque do Ingá e o Parque dos Pioneiros Essa avenida é conhecida hoje pelo nome de Avenida Getúlio Vargas dado em homenagem ao presidente morto em 1955 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 144 Considerando a cidade dentro de uma perspectiva evolutiva em vista da realização do jardim paradisíaco e como laboratório de uma sociedade que se constrói com o lu gar processando suas experiências nos seus planos urbanísticos e edifícios sob essa perspectiva a conservação da Estação Rodoviária Municipal de Maringá é essencial como instrumento cultural e pedagógico desse processo O vasto espaço liberado pelo rebaixamento da via férrea ao qual se convencionou chamar de Novo Centro poderia ter se transformado em um elemento mitigador da degradação do centro de Maringá e um instrumento de recuperação do modelo de cidade jardim do qual se inspirou seu planejamento inicial No estudo preliminar para a integração da Avenida Getúlio Vargas ao Estádio Wil lie Davids adotado pela atual gestão sem consulta pública ou qualquer instrumento de participação social previase a completa destruição da Estação Rodoviária Muni cipal e da Praça Raposo Tavares para dar espaço à construção de estacionamentos subterrâneos e para o rebaixamento do terminal urbano A destruição da praça para a construção do edifíciogaragem demonstrou a nosso ver claramente a intenção de estimular o uso de transporte individual na área central absolutamente contrário à necessidade de conservação da qualidade do ar nas áreas centrais e à urgência de diminuição dos gases de efeito estufa imposta pelo rápido aquecimento climático global GIEC 2001 A demolição da Estação Rodoviária com o objetivo de interligar a Avenida Ge túlio Vargas e a Vila Olímpica em nossa visãoera absolutamente dispensável pois esse edifício não impedia de forma alguma a continuidade viária Pelo contrário a estação valorizava o percurso oferecendo uma obra histórica que marcava o limite entre o velho e o Novo Centro e que dividia a perspectiva da avenida em duas par tes distintas proporcionando variedade e legibilidade à cidade LYNCH BANERJEE SOUTHWORTH 1990 Destruílo descaracterizálo ou abandonálo à deterioração signifi ca em nossa acepção privar a sociedade de sua memória e privar a posteridade de valores de referência que sirvam de base para a construção do futuro A DEMOLIÇÃO DA RODOVIÁRIA AMÉRICO DIAS FERRAZ Evidenciamos o valor histórico do edifício porém a administração municipal com o decreto de utilidade pública da área e deu início à sua desapropriação passando à imissão provisória na posse e por último terminou com a demolição do prédio Discutimos o instituto da desapropriação utilizado pelo Poder Público Municipal Da desapropriação Na lição de José Cretella Júnior o grande princípio que informa o instituto 145 expropriatório é a preponderância do interesse público sobre o interesse privado3 Ele se revela ao autorizar a apropriação do bem particular em nome do interesse co letivo quando verifi cada a necessidade ou a utilidade pública ou por interesse social mediante prévia e justa indenização em dinheiro nos termos do inciso XXIV do Artigo 5º da Constituição Federal Nesse mesmo sentido Diógenes Gasparini sustenta que a desapropriação restau ra a prevalência do interesse público sobre o interesse particular4 Assim segundo este autor o instituto representa o mais grave instrumento de que dispõe o Estado para intervir na propriedade5 Orlando Gomes por sua parte entende que por esse instituto O direito do proprietário é assim extinto contra sua vontade6 Este é sem dúvida um instituto extremo do Poder Público sendo necessário tecermos considerações quanto a seus fundamentos fi losófi cos A desapropriação institui um poder ao Estado que lhe permite retirar dos parti culares sua propriedade sendo a essência da ação permeada pelo interesse público Portanto a validade da ação está condicionada não aos proprietários e sim ao mérito do interesse público7 Essa é a razão pela qual o instituto não pode ser de livre uso no estado democrático de direito já que é condição sine qua non demonstrar o interes se público pois o ato deve ser cumprido estritamente em conformidade com os seus fi ns Deve haver necessidade de motivação haja vista que sua natureza limita a esfera jurídica dos particulares pois é ato de coerção Segundo a melhor doutrina a desapropriação não se presta ao sacrifício do in teresse privado em proveito de outro interesse privado pois seria abusiva Ainda que seja lógico sustentar que o fundamento jurídico da desapropriação deriva da soberania do Estado como um instituto necessário à realização de seus fi ns razões de sobra existem para observar que tal argumento sofreu profundas modifi cações ao longo da história E que a Constituição de 1988 limitou essa questão quando explicita a função social da propriedade 3 José Cretella Júnior Comentário às Leis de Desapropriação 1972 p 22 4 Diógenes Gasparini Direito Administrativo São Paulo Saraiva 1992 p 441 5 op cit p 441 6 Orlando Gomes Direitos Reais Rio de Janeiro Forense p 186 7 OYANGUREN Armando Rizo Manual Elemental de Derecho Administrativo I Leon Nicaragua Universidad Nacional Autonoma de Nicaragua 1991 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 146 O Instituto da desapropriação8 sabemos implica no sacrifício privado para satis fazer às necessidades da comunidade do bem comum O Estado age quando provocado pelo interesse público Mas no caso em análise o município era partícipe proprietário coproprietário condômino do bem situação pela qual estabelecia uma relação de compromisso vinculado ao da preservação do patrimônio como tal Deveria então agir solidária e lealmente com o interesse gover namental ao mesmo tempo em que com o privado pois com ele era coproprietário E não contra esses interesses utilizandose do seu poder Vejamos A desapropriação há de ser feita em prol de um interesse público Não se desapropria em favor de pessoa ou interesse privado9 Salientamos que se o Estado não pode desapropriar para doar também não pode comprar para doar bem como não há razão de Estado para desapropriar e vender a terceiros Hodiernamente o instituto da desapropriação somente tem razão jurídica de exis tência quando combinadas necessariamente duas condições primordiais quais sejam uma a dos fi ns do Estado quanto à satisfação do interesse público duas quando este sem exceção está combinado com a demanda por fazer cumprir a função social da propriedade Lembramos fi nalmente que a Constituinte de 198810 defi niu o Estado enquanto atuante em suas fi nalidades essenciais de modo a impedir que a administração pública se utilizasse de seus poderes próprios do regime jurídico de direito público para se sobrepor economicamente aos agentes particulares Do interesse público11 A administração municipal tanto no Decreto de Desapropriação nº 1343200712 quanto na petição de Depósito Judicial dos autos 24912009 alega o interesse 8 FRANCO SOBRINHO Manoel de Oliveira Desapropriação 2 ed São Paulo Saraiva 1996 568 p 9 Diógenes Gasparini p 447 10 A Constituição Federal em seu art 5º XXIV autoriza tal prática como forma de dar maior efetividade aos incisos XXII da garantia do direito de propriedade e XXIII função social da propriedade 11 Sobre o tema ver FERRAZ ANTÔNIO AUGUSTO MELLO DE CAMARGO In Re vista Justitia n 137 p 51 MAZZILLI HUGO NIGRO A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo 7 ed São Paulo Ed Saraiva 1995 p 3 e 5 MEIRELLES HELY LOPES Direito Administrativo Brasileiro 20 ed São Paulo Malheiros Ed 1995 p 6061 BASTOS CEL SO RIBEIRO Curso de Direito Administrativo São Paulo Ed Saraiva 1994 p 96 12 Gabinete do Prefeito 147 público ou seja fi xa os limites do ato administrativo nessa seara No entanto o interesse público conforme podemos ler no Artigo 2º do decreto desapropriatório municipal nº 13432007 está na Reurbanização da área onde se localiza o imóvel afi rmando que nele serão edifi cados uma obra civil monumental e um centro cultural Porém o que é monumental Com tamanha amplitude somente pode haver in certeza de conceito técnico pois empregar o termo monumental para justifi car uma desapropriação em nosso pensamento é como argumentar o tudo pelo nada Agora dizer Reurbanização que é voltar a urbanizar o que já está urbanizado a nosso ver não faz sentido técnico e jurídico Portanto a administração Municipal pretende fazer o que já está feito em nosso entendimento uma ação desnecessária Para caracterização integral do interesse público no Estado democrático de direi to fundamental é que exista equivalência entre os benefícios aspirados e os meios utilizados para alcançálos que se evidencia pelos princípios da proporcionalidade razoabilidade e economicidade do ato Na mensagem de 2312007 de 11 de dezembro de 2007 que pretende lei autoriza tiva para realizar Concessão Urbanística do imóvel da Antiga Rodoviária Américo Dias Ferraz a administração municipal afi rma que tal empreendimento com certeza contribuirá para a redução do problema de degradação do centro de nossa cidade pela concentração de prostituição e consumidores de drogas grifo nosso Nesse argumento motivo social da desapropriação certamente a administração municipal se excedeu notadamente das margens de seu poder pois pretendeu resol ver um problema altamente complexo com uma intervenção desconhecida em sua extensão forma e qualidade o que em nossa acepção não é somente duvidoso mas temerário Logo depois conforme Ofício nº 2462GRAPE de 21 de dezembro de 2007 a administração municipal solicitou ao Conselho Municipal de Planejamento e Gestão Territorial deliberação e aprovação de projeto de lei complementar que transfor ma uma área específi ca na qual está localizada a Rodoviária Américo Dias Ferraz a Quadra 04 da Zona Central ZC para Zona Especial 15 ZE15 argumentando que tal alteração possibilitará a construção de um empreendimento com características diferenciadas Conforme a Ata da Sessão Extraordinária do Conselho Municipal de Planejamen to e Gestão Territorial de 21 de dezembro de 2007 este discutiu o referido projeto de lei demorando desde seu início até o encerramento da sessão exatos 46 minutos A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 148 O parecer do Conselho permitiu que se expandisse a propriedade existente na Quadra 04 pois se sabe que o direito de propriedade se estende para baixo e para cima consoante a legislação específi ca Esta passou a ter altura máxima a cota de 660 metros sendo antes de 610 metros Vejamos se no início a área era destinada para obra defi nida como monumental logo em seguida passa a empreendimento com características diferenciadas e somente em fi nais de dezembro de 2007 aparecem os primeiros indícios concretos da magnitude da obra Esse fato é constatável na Lei Complementar nº 1054 Anexo III relacionada com a lei complementar 33199 conforme argumento apresentado na mensagem de lei 2432007 de 26 de dezembro de 2007 que cria a Zona Especial ZE15 onde se lê que permitirá a construção de um empreendimento que destacará o crescimento e o desenvolvimento de Maringá grifo nosso Ressaltamos que a redação passa de não mais Monumental como arguia no decre to de desapropriação mas como um empreendimento que destacará Observamos que as expressões e argumentos ambíguos trazidos pela administra ção municipal a nosso ver não possuem o condão de sustentar a mais violenta das ações estatais contra a propriedade privada qual seja a desapropriação Assim o interesse que a administração municipal vai manifestando através das nor mas aparece também na análise retrospectiva da prática do administrador municipal ou seja a dimensão subjetiva das ações realizadas pessoalmente pelo prefeito mu nicipal quando da discussão do tombamento do prédio desenvolvida ao longo do primeiro semestre de 2007 Vejamos Em 25 de abril de 2007 o prefeito municipal participou da reunião da Comissão Permanente de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá para esclarecer a porcentagem da prefeitura e dos condôminos no consorcio da Esta ção Rodoviária Américo Dias Ferraz ATA nº 17 CEPPHAC Em 07 de maio de 2007 o prefeito municipal também participou da reunião da Comissão Permanente de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá Dessa ata transcrevemos o seguinte O Senhor Silvio Barros II prefeito de Maringá disse que cinco arquitetos já estudaram e apresentaram propostas de preservação da rodoviária e que uma delas contemplava a preservação somente do arco não sendo considerada a melhor proposta pois havia uma preocupação quanto a sua estrutura Tam bém expôs que nada teria a opor a preservação caso o estado arcasse com as despesas de restauro Enfatizou ainda que como gestor público não pode aplicar dinheiro neste imóvel para restaurálo pois a prefeitura tem outras prioridades e urgências na área social que são bastante sérias ATA Nº 19 CEPPHAC grifo nosso 149 Em 02 de maio de 2007 através de Ofício nº 7092007GAPRE encaminhado à Vera Mussi Secretária de Cultura do Estado o prefeito Sr Silvio Magalhães Barros II afi rma que A decisão da prefeitura de eliminar as espinhas de peixe simultaneamente ao projeto de revitalização da Avenida Brasil indicou pela conveniência de se construir um estacionamento subterrâneo na praça Raposo Tavares aliás in tenção já manifestada por diversas administrações que nos antecedera existin do a preocupação de que quando das escavações para a construção do estacionamento o edifício da Rodoviária não resista grifo nosso Ou seja nesse documento ofi cial de 02 de maio de 2007 o argumento é a realiza ção de um projeto de estacionamento na Praça Raposo Tavares que poderia afetar o prédio da Antiga Rodoviária No relato do conselheiro ao processo de tombamento estadual nº 012007 José La Pastina Filho datado de 14 de maio de 2007 este cita expressamente o Ofício nº 7092007GAPRE assim como os laudos encaminhados através de Ofício Nº 79107CE de 09 de maio de 2007 da Assembleia Legislativa do Paraná por atendimento ao reque rimento da deputada Cida Borghetti cunhada do prefeito Silvio Magalhães Barros II Ambos os documentos confi rmam A terceira pasta do processo de tombamento Citamos diretamente do texto do relator La Pastina informa a demolição da estrutura metálica a interdição do edifício e a intenção da construção de um estacionamen to sob a praça grifo nosso Esse texto como podemos ver trouxe à baila o argumento do estacionamento na Praça Raposo Tavares certamente devido ao Ofício nº 7092007GAPRE enviado pelo prefeito Silvio Barros Em 14 de maio de 2007 na reunião ordinária 125 do Conselho Estadual do Patri mônio Histórico na qual fora lido o relato de La Pastina o prefeito de Maringá Sr Silvio Magalhães Barros II se fez presente e agradeceu a oportunidade concedida e fez uso da palavra para relatar a pre cariedade da situação física do imóvel e o grau de degradação daquela área da cidade ou seja a situação real do ponto de vista de Maringá Informou ser este edifício de 1954 o terceiro construído na cidade par este fi m Que são ao todo 40 quarenta proprietários e mais a Prefeitura Municipal que desde 1989 não mais funciona a rodoviária no local que o imóvel está interditado pelo Corpo de Bombeiros que em janeiro de 2007 ruiu a estrutura metálica e há laudo de engenharia que comprovam a precária situação física do bem que segundo o Sr Prefeito corre risco de desabamento A Prefeitura Municipal tem a intenção de promover para aquela área um novo empreendimen to que proporcionará requalifi cação do espaço ATA REUNIÃO ORDINÁRIA 125 CEPHA Grifo nosso Aqui uma nova mudança de argumento da administração municipal desta vez a requalifi cação da área para promover um novo empreendimento A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 150 Nessa reunião o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico CEPHA decidia por o retorno da questão ao âmbito municipal para ser objeto de deliberação por parte da Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural do município de Maringá pois não há justifi cativa para o tombamento no âmbito estadual ATA REUNIÃO ORDINÁRIA 125 CEPHA grifo nosso É oportuno lembrarmos que o prefeito municipal já havia dito na reunião da Co missão Permanente de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá que nada teria a opor à preservação caso o Estado arcasse com as des pesas de restauro13 No mesmo dia dessa reunião ordinária do Conselho Estadual do Patrimônio Histó rico e Artístico realizada em 14 de maio de 2007 a Comissão Permanente de Preser vação do Patrimônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá deliberou por maioria não tombar o edifício da Estação Rodoviária Américo Dias Ferraz Ata nº 20 Grifo nosso Porém recomendava que em projetos futuros seja de reforma ou construção no espaço onde se encon tra a estação Rodoviária Américo Dias Ferraz seja mantido o vão de passagem existente no projeto atual como espaço de convívio Assim em 14 de maio de 2007 a questão do Tombamento fi cava decidida desde os Conselhos Estadual e Municipal abrindo então as portas para novos argumentos da intervenção governamental na área da Quadra 04 O primeiro instrumento que o poder público utiliza é o Decreto de Desapropriação No Decreto expropriatório nº 13432007 se declara de utilidade pública para fi ns de desapropriação a área da Quadra 04 Posteriormente a administração municipal promove a alteração do plano diretor criando especifi camente para a Quadra 04 uma Zona Especial denominada ZE15 modifi cando ao mesmo tempo o índice cons trutivo dessa quadra para o maior índice permissível da cidade de Maringá Na sequência a administração municipal estabelece o instrumento de Concorrên cia n 00108 processo n 182008 para fi ns de Concessão Urbanística da Quadra 4 13 Ata 19 Reunião de 07 de maio de 2007 da Comissão Permanente de Preservação do Patri mônio Histórico e Artístico e Cultural de Maringá 151 Nesse instrumento sustenta que se procederá à Demolição do imóvel existen te e à construção de um empreendimento e o município objetivava passar à iniciativa privada o terreno onde estava localizada a Rodoviária Vejamos antes de expormos as razões da desapropriação seu caráter impositivo e os motivos que pareciam ser de utilidade pública porém com as ações desenvolvi das pela administração acima indicadas a razão da desapropriação vai se diluindo e isto acontece mediante os próprios argumentos apresentados pela administração pública A administração municipal em nosso entendimento preferiu agir de modo vio lento usando estratégias para tirar dos proprietários a sua propriedade mesmo cum prindo sua função social como já pontuamos Nesse contexto estamos frente ao desenvolvimento prático da Teoria do Fato Consumado aplicado pela administração Municipal buscando com a demolição a consolidação do fato Assim tanto empenho da administração nos parece estar sus tentado na irracional utilização dessa Teoria objetivando tornar impossível qualquer defesa dos direitos constitucionais CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste texto mostramos como a administração municipal de Maringá em nossa acepção agiu como verdadeiro agente do mercado imobiliário no episódio da de sapropriação da Antiga Estação Rodoviária Podemos observar que em nenhum dos princípios constitucionais está contemplada a ação municipal fundada no interesse imobiliário Portanto julgamos incoerente o fato de atualmente poder público municipal ser agente especial no mercado imobiliário pois este utiliza seus poderes especiais para atender a um mercado que possui capacidade de gestão independente e que pela sua natureza é especulativo Lembramos que existem limitações constitucionais para a intervenção econômica do Estado como já citamos anteriormente nas quais não cabe à administração muni cipal o papel de agente imobiliário Nesse caso por nós relatado é evidente que princípios constitucionais foram feri dos com o ato da administração uma vez que o administrador público em nossa visão ao contrário de utilizar os instrumentos legais a sua disposição para o bem comum fez uso destes com desvio de poder A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 152 Proposta de Atividades 1 Procure utilizando um buscador de internet os termos prédio histórico rodoviária Américo Diaz Ferraz Maringá e leia mais ao respeito da história desse prédio e da cidade de Maringá Após realize no centro urbano da sua cidade um levantamento a respeito dos edifícios que possuem interesse histórico e verifi que a sua situação administrativa junto à prefeitura municipal Pesquise junto à biblioteca Municipal e moradores a respeito desses edifícios e seus usuários Elabore assim um mapa guia de edifícios de interesse do patri mônio paisagístico da sua cidade Referências BEAUDET G Le poids des héritages utopies et dystopies Montreal s n 2006 Paper presented at the Le développement durable atil un avenir DUBIELA V T Qual é o nosso destino tropical Politicas públicas para os fundos de vale de Maringá de 1947 à 2002 Maringá Universidade Estadual de Maringá 2002 Unpublished Mémoire GIEC 2001 Changements climatiques Rapport de Synthèse Résumé à lintention des décideurs Wembley Group dexperts intergouvernemental sur lévolution du climat 2001 GOTTDIENER M Cities in stress a new look at the urban crisis Beverly Hills Calif Sage Publications1986 GOTTDIENER M The decline of urban politics political theory and the crisis of the local state Newbury Park Sage Publications1987 GOTTDIENER M The social production of urban space lst ed Austin University of Texas Press1985 HOWARD E OSBORN F J Garden cities of tomorrow London Faber and Faber 1945 153 JACOBS J The death and life of great American cities New York Random House 1961 LYNCH K The image of the city Cambridge Mass Technology Press MIT Press 1960 LYNCH K BANERJEE T SOUTHWORTH M City sense and city design writings and projects of Kevin Lynch Cambridge Mass MIT Press 1990 NATIONS Unies Commission mondiale sur lenvironnement et le développement Our common future Oxford Toronto Oxford University Press 1987 SACHS I Development and planning Cambridge Cambridgeshire New York Cambridge University Press Paris Editions de la Maison des Sciences de lhomme 1987 SACHS I Lécodéveloppement stratégies de transition vers le XXIe siècle Paris Syros 1993 SACHS I Quelles villes pour quel développement Paris PUF 1996 SANTOS R R D Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná Companhia Melhoramentos Norte do Paraná 1975 SPENGLER O Le déclin de lOccident esquisse dune morphologie de lhistoire universelle Paris Gallimard 1948 THERIVEL R Strategic environmental assessment in action London Sterling VA Earthscan 2004 A estação rodoviária Américo Dias Ferraz Maringá Paraná Geografi a Metodologia do Ensino 154 Anotações