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Texto de pré-visualização

Educação Comunicação e Mídia Maringá 2009 EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ Reitor Prof Dr Júlio Santiago Prates Filho ViceReitora Profa Dra Neusa Altoé Diretor da Eduem Prof Dr Alessandro Lucca Braccini EditoraChefe da Eduem Profa Dra Terezinha Oliveira CONSELHO EDITORIAL Presidente Prof Dr Alessandro Lucca Braccini Editores Científicos Prof Dr Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima Profa Dra Ana Lúcia Rodrigues Profa Dra Angela Mara de Barros Lar Profa Dra Analete Regina Schelbauer Prof Dr Antonio Ozai da Silva Profa Dra Cecília Edna Mareze da Costa Prof Dr Clóves Cabreira Jobim Profa Dra Eliane Aparecida Sanches Tonolli Prof Dr Eduardo Augusto Tomanik Prof Dr Eliezer Rodrigues de Souto Prof Dr Evaristo Atêncio Paredes Profa Dra Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso Profa Dra Larissa Michelle Lara Prof Dr Luiz Roberto Evangelista Profa Dra Luzia Marta Bellini Profa Dra Maria Cristina Gomes Machado Prof Dr Oswaldo Curty da Motta Lima Prof Dr Rafael Bruno Neto Prof Dr Raymundo de Lima Profa Dra Regina Lúcia Mesti Prof Dr Reginaldo Benedito Dias Profa Dra Rozilda das Neves Alves Prof Dr Sezinando Luis Menezes Profa Dra Terezinha Oliveira Prof Dr Valdeni Soliani Franco Profa Dra Valéria Soares de Assis EQUIPE TÉCNICA Fluxo Editorial Cicília Conceição de Maria Edneire Franciscon Jacob Mônica Tanati Hundzinski Vania Cristina Scomparin Projeto Gráfico e Design Marcos Kazuyoshi Sassaka Artes Gráficas Luciano Wilian da Silva Marcos Roberto Andreussi Marketing Marcos Cipriano da Silva Comercialização Norberto Pereira da Silva Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima COPyRIGHT 2013 EDUEM Todos os direitos reservados Proibida a reprodução mesmo parcial por qualquer processo mecânico eletrônico reprográfico etc sem a autorização por escrito do autor Todos os direitos reservados desta edição 2013 para a editora EDUEM EDITORA DA UNIV ESTADUAL DE MARINGÁ Av Colombo 5790 Bloco 40 Campus Universitário 87020900 Maringá Paraná Fone 0xx44 30114103 Fax 0xx44 30111392 httpwwweduemuembr eduemuembr Maringá 2009 Formação de ProFessores ead educação Comunicação e mídia Ana Cristina Teodoro da Silva Fátima Maria Neves Regina Lúcia Mesti ORGANIZADORAS 35 Coleção Formação de Professores EAD Apoio técnico Rosane Gomes Carpanese Luciana de Araújo Nascimento Guaraldo Normalização e catalogação Ivani Baptista CRB 9331 Revisão Gramatical Annie Rose dos Santos Edição e Produção Editorial Carlos Alexandre Venancio Eliane Arruda Foto da capa Fragmentos da Gravura Criança Geopolítica assistindo ao nascimentos do novo homem de Salvador Dali 1943 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Copyright 2009 para o autor 2a Reimpressão 2013 Revisada Todos os direitos reservados Proibida a reprodução mesmo parcial por qualquer processo mecânico eletrônico reprográfico etc sem a autorização por escrito do autor Todos os direitos reservados desta edição 2009 para Eduem Educação comunicação e mídia Ana Cristina Teodoro da Silva Fátima Maria Neves Regina Lúcia Mesti organizadoras Maringá Eduem 2009 176 p 21 cm Formação de Professores EAD v 35 ISBN 9788576281702 1 Educação Comunicação Brasil 2 Mídia e formação social 3 Mídia de comunicação e educação I Silva Ana Cristina Teodoro II Neves Fátima Maria III Mesti Regina Lúcia orgs CDD 21 ed 302 23 E24 Endereço para correspondência Eduem Editora da Universidade Estadual de Maringá Av Colombo 5790 Bloco 40 Campus Universitário 87020900 Maringá Paraná Fone 0xx44 30114103 Fax 0xx44 30111392 httpwwweduemuembr eduemuembr 5 Sobre os autores Apresentação da coleção Apresentação do livro CAPÍTULO 1 Comunicar e educar como signos recíprocos Ana Cristina Teodoro da Silva CAPÍTULO 2 A comunicação radiofônica Fábio Viana Ribeiro CAPÍTULO 3 A televisão como instrumento pedagógico Ana Cristina Teodoro da Silva CAPÍTULO 4 Narrativas publicitárias mídia e formação social Luiz Hermenegildo Fabiano CAPÍTULO 5 Cinema entretenimento e educação Zuleika de Paula Bueno 7 9 11 13 23 35 47 61 Sumário EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 6 CAPÍTULO 6 A educação a escola e o desenho animado Fátima Maria Neves CAPÍTULO 7 Imagens mídia e leitura Isaac Antonio Camargo CAPÍTULO 8 A pedagogia das revistas Jorge Luíz Romanello CAPÍTULO 9 A aventura da leitura crítica na imprensa Fábio Massalli CAPÍTULO 10 Internet mídia de comunicação e educação Antonio Mendes da Silva Filho CAPÍTULO 11 Linguagens teatrais e praodução de sentido no ato de comunicação e educação Regina Lúcia Mesti Pedro Carlos de Aquino Ochôa CAPÍTULO 12 A divergência da arte e a convergência da mídia Sonia Maria Vieira Negrão Eloiza Amália Sestito 77 95 109 123 137 153 159 7 ANA CRISTINA TEODORO DA SILVA Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá UEM Graduada em História UEM Mestre em História Unesp Doutora em História Unesp FÁBIO VIANA RIBEIRO Professor Adjunto do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Es tadual de Maringá UEM Graduado em Ciências Sociais UFMG Mestre em Sociologia UFMG Doutor em Sociologia PUCSP FÁTIMA MARIA NEVES Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá UEM Graduada em Pedagogia UEM Mestre em Edu cação Unimep Doutora em História e Sociedade UnespAssis ISAAC ANTONIO CAMARGO Professor do Departamento de Arte Visual da Universidade Estadual de Lon drina UEL Graduado em Desenho e Plástica UnaerpRibeirão Preto Mestre em Educação UEL Doutor em Comunicação e Semiótica PUCSP ELOIZA AMÁLIA BERGO SESTITO Professora da Rede Estadual Graduada em Educação Artística UnimarMarí lia Graduada em Ciências Sociais UnespMarília Mestranda em Educação UEM REGINA LÚCIA MESTI Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universi dade Estadual de Maringá UEM Graduada em Pedagogia UEM Mestre em Educação UnespSP Doutora em Comunicação e Semiótica PUCSP Sobre os autores EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 8 PEDRO CARLOS DE AQUINO OCHÔA Ator e Diretor de Teatro pelo SatedPR Professor e Diretor de Teatro da Uni versidade Estadual de Maringá UEM Graduado em Pedagogia UEM LUIZ HERMENEGILDO FABIANO Professor do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá UEM Graduado em Letras FFCLSão José dos Cam pos Mestre em Filosofia da Educação UnimepPiracicaba Doutor em Filo sofia da Educação UFSCarSão Carlos SONIA MARIA VIEIRA NEGRÃO Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universida de Estadual de Maringá UEM Graduada em Pedagogia UEM Mestre em Educação UnespMarília Doutora em Educação UnespMarília JORGE LUIZ ROMANELLO Professor Colaborador do Departamento de História da Universidade Esta dual de Londrina UEL Graduado em História FCLUnespAssis Mestre em História FCLUnespAssis Doutor em História FCLUnespAssis ZULEIKA DE PAULA BUENO Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá UEM Graduada em Ciências Sociais Unicamp Mestre em Socio logia Unicamp Doutora em Multimeios Unicamp ANTONIO MENDES DA SILVA FILHO Professor Graduado em Engenharia Elétrica UPE Mestre em Engenharia Elétrica UFPB e em Engenharia da Computação University of WaterlooCa nadá Doutor em Ciência da Computação UFPE FÁBIO ROBSON MASSALLI Professor do Centro Universitário de Maringá Cesumar Repórter do Jornal O Diário do Norte do Paraná Graduado em Comunicação SocialHabilitação em Jornalismo UFPR Mestre em Letras UEM 9 A coleção Formação de Professores EAD teve sua primeira edição publicada em 2005 com 33 títulos fi nanciados pela Secretaria de Educação a Distância SEED do Ministério da Educação MEC para que os livros pudessem ser utilizados como material didático nos cursos de licenciatura ofertados no âmbito do Programa de Formação de Professores PróLicenciatura 1 A tiragem da primeira edição foi de 2500 exemplares A partir de 2008 demos início ao processo de organização e publicação da segunda edição da coleção com o acréscimo de 12 novos títulos A conclusão dos trabalhos deverá ocorrer somente no ano de 2012 tendo em vista que o fi nanciamento para esta edição será liberado gradativamente de acordo com o cronograma estabelecido pela Diretoria de Educação a Distância DED da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior CAPES que é responsável pelo programa denominado Universidade Aberta do Brasil UAB A princípio serão impressos 695 exemplares de cada título uma vez que os livros da nova coleção serão utilizados como material didático para os alunos matriculados no Curso de Pedagogia Modalidade de Educação a Distância ofertado pela Universi dade Estadual de Maringá no âmbito do Sistema UAB Cada livro da coleção traz em seu bojo um objeto de refl exão que foi pensado para uma disciplina específi ca do curso mas em nenhum deles seus organizadores e autores tiveram a pretensão de dar conta da totalidade das discussões teóricas e práticas construídas historicamente no que se referem aos conteúdos apresentados O que buscamos com cada um dos livros publicados é abrir a possibilidade da leitura da refl exão e do aprofundamento das questões pensadas como fundamentais para a formação do Pedagogo na atualidade Por isso mesmo esta coleção somente poderia ser construída a partir do esforço coletivo de professores das mais diversas áreas e departamentos da Universidade Esta dual de Maringá UEM e das instituições que têm se colocado como parceiras nesse processo Neste sentido agradecemos sinceramente aos colegas da UEM e das demais insti tuições que organizaram livros e ou escreveram capítulos para os diversos livros desta coleção Agradecemos ainda à administração central da UEM que por meio da atuação direta da Reitoria e de diversas PróReitorias não mediu esforços para que os traba lhos pudessem ser desenvolvidos da melhor maneira possível De modo bastante Apresentação da Coleção EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 10 específi co destacamos o esforço da Reitoria para que os recursos para o fi nanciamento desta coleção pudessem ser liberados em conformidade com os trâmites burocráticos e com os prazos exíguos estabelecidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE Internamente enfatizamos ainda o envolvimento direto dos professores do De partamento de Fundamentos da Educação DFE vinculado ao Centro de Ciências Humanas Letras e Artes CCH que no decorrer dos últimos anos empreenderam esforços para que o curso de Pedagogia na modalidade de educação a distância pu desse ser criado ofi cialmente o que exigiu um repensar do trabalho acadêmico e uma modifi cação signifi cativa da sistemática das atividades docentes No tocante ao Ministério da Educação ressaltamos o esforço empreendido pela Diretoria da Educação a Distância DED da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior CAPES e pela Secretaria de Educação de Educação a Distância SEEDMEC que em parceria com as Instituições de Ensino Superior IES conseguiram romper barreiras temporais e espaciais para que os convênios para a li beração dos recursos fossem assinados e encaminhados aos órgãos competentes para aprovação tendo em vista a ação direta e efi ciente de um número muito pequeno de pessoas que integram a Coordenação Geral de Supervisão e Fomento e a Coordenação Geral de Articulação Esperamos que a segunda edição da Coleção Formação de Professores EAD possa contribuir para a formação dos alunos matriculados no curso de Pedagogia bem como de outros cursos superiores a distância de todas as instituições públicas de ensino superior que integram e ou possam integrar em um futuro próximo o Sistema UAB Maria Luisa Furlan Costa Organizadora da Coleção 11 Este livro representa a articulação entre educação comunicação e mídia Não trata apenas da educação que tem campo vastíssimo tanto em sua face informal e cultural quanto institucional Também não trata de comunicação em geral pois o fenômeno comunicativo está presente desde o diálogo celular até a dança dos planetas nas mais distantes galáxias Não se trata ainda de livro da mídia porque assim seria um manual relativo às linhas comuns e estratégias dos veículos que procuram atingir certo públi co O livro trata isso sim daquilo que dentro da comunicação é midiático e daquilo que sendo midiático e comunicativo é também educativo tem capacidade formativa e conformativa Cientes de que conhecimento é diferente de informação não procuramos reunir dados sobre as mídias mais comuns Procuramos sim compor quadros na forma de capítulos que estimulassem o pensamento crítico e quiçá atitudes conscientes referen tes a essas mídias Certamente esse objetivo comum não signifi ca homogeneidade de pontos de vista Constam no livro diferentes perspectivas diferentes arranjos teóricos Seria produtivo se o leitor percebesse que há mesmo contradições entre os capítulos há textos complementares e textos divergentes no que diz respeito ao entendimento do que é o fenômeno comunicativo midiático e educativo Há divergências sobre como lidar com os conceitos e como abordar essas mídias o que é rico sinal de que em as sunto tão contemporâneo e fundamental há controvérsias teóricas e metodológicas As organizadoras não compartilham necessariamente da perspectiva de cada autor Não nos pareceria adequado apontar um caminho único Coubenos divulgar diferentes perspectivas de educação comunicação e mídia Há porém um ponto comum todos entendem a importância de analisar discutir e criticar o fenômeno midiático especialmente no que tange a seu potencial educati vo Como esse fenômeno comparece nas diferentes mídias Como não ser ingênuo e levado pelos discursos midiáticos O que o professor pode fazer Como ser crítico Não afi rmamos que oferecemos as respostas mas certamente não fugimos dessas questões e esperamos que após o estudo do livro o olhar para a mídia seja alterado e que sua utilização crítica em sala de aula seja uma possibilidade Este livro problematiza os meios de comunicação especialmente aqueles travesti dos como instrumentos publicitários ou seja midiáticos Reconhece que tais meios são históricos visto que podemos contextualizar sua crescente importância são so ciais já que não podemos imaginar nosso arranjo social sem satélites imprensa siste mas em rede telefonia televisão são culturais pois criam e recriam bens simbólicos interferindo no valor que damos aos objetos e às relações humanas ao proporem Apresentação do livro EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 12 comportamentos e direcionamentos têm propostas educativas e representam por tanto caminhos cognitivos Consideramos fundamental que o pedagogo procure conhecer e analisar os fenôme nos comunicativos e posicionese como leitor crítico preparado para mediar e interferir na leitura midiática que todos crianças jovens e adultos fazem em profusão Assim em um primeiro momento será discutida a relação entre educação e comuni cação com o texto Comunicar e educar como signos recíprocos de Ana Cristina Teodoro da Silva A seguir os capítulos propõem refl exões sobre mídias específi cas primeiramen te o rádio que detém relevante importância histórica e atualmente usos e funções sur preendentes como aponta Fábio Viana Ribeiro em A comunicação radiofônica A seguir não poderia faltar a televisão A televisão como instrumento pedagógico também de Ana Cristina Teodoro da Silva Calha que na sequência da televisão discutamos as Nar rativas publicitárias mídia e formação social em texto de Luiz Hermenegildo Fabiano Presença constante nas emissoras de televisão o fi lme compõe a indústria do cinema e o cotidiano de entretenimento do brasileiro e será discutido em Cinema entreteni mento e educação de Zuleika de Paula Bueno Outra presença constante na televisão e no cinema é o desenho discutido por Fátima Maria Neves no texto A educação a escola e o desenho animado Das imagens eletrônicas passamos às imagens impressas com capítulos que versam sobre as imagens da mídia Imagens mídia e leitura de Isaac Antonio Camargo e sobre as imagens das revistas A Pedagogia das revistas de Jorge Luiz Romanello bem como A aventura da leitura crítica na imprensa escrito por Fábio Massali Não poderíamos deixar de refl etir sobre a Internet mídia de comunicação e edu cação em texto de Antonio Mendes da Silva Filho Abrimos espaço para as Linguagens teatrais e produção de sentido no ato de comunicação e educação por meio de texto de Regina Lúcia Mesti e Pedro Carlos de Aquino Ochôa Concluímos o livro com o capí tulo A divergência da arte e a convergência da mídia de Sonia Maria Vieira Negrão e Eloiza Amália Sestito Não abarcamos todas as mídias e também não pretendemos ter o caminho da ver dade nas análises expostas Queremos simplesmente indicar um caminho de refl exão e debate a respeito dos meios de comunicação e seus produtos produção e debate fundamentais à educação contemporânea Finalizamos agradecendo aos autores que contribuíram para que este livro em sua primeira versão se tornasse uma realidade Nós as organizadoras entendemos que a empreitada de problematizar a relação entre a educação a comunicação e a mídia está começando A continuidade desse processo também depende de novas contribuições que podem e devem vir de você leitor consciente e crítico Ana Cristina Teodoro da Silva Fátima Maria Neves Regina Lúcia Mesti Organizadoras do Livro 13 Ana Cristina Teodoro da Silva Hoje em dia a comunicação está associada a meios que fazem parte do mercado tais como televisão rádio cinema jornais revistas outdoors e computadores É necessário incluir outros meios que são fundamentalmente comunicativos como a arquitetura o que as diferentes formas e funções das edifi cações expressam e o urbanismo o que expressam os traçados de diferentes cidades os objetos por que as xícaras e canecas as canetas e eletrodomésticos os móveis e os carros têm formatos diferentes os corpos seus gestos expressões posturas tiques As formigas necessitam de esquemas comunicativos para manter seu trabalho diário de alimentação transporte proteção e sobrevivência no formigueiro As plan tas leem as condições do meio ambiente e mostram sua interpretação com suas fo lhas que se voltam à luz as raízes que procuram a umidade os frutos mais ou menos doces As células dialogam entre si para cumprirem suas funções A interação entre plantas e meio ambiente ou entre as células poderia ser considerada comunicativa De qualquer forma os fenômenos da comunicação são mais amplos do que ima ginamos à primeira vista compondo um conjunto aparentemente heterogêneo de elementos que acostumamos a ver como muito diferentes mas que são próximos em sua organização ou funcionamento Neste capítulo procuraremos mostrar que os fenômenos comunicativos são educativos e que os fenômenos educativos são sempre comunicativos Com isso poderemos ampliar a compreensão da pedagogia dos fenômenos midiáticos já que sem dúvida as mídias são fenômenos da comuni cação e têm sido parte fundamental da formação das crianças e jovens COMUNICAÇÃO É INTERAÇÃO Nós não desenvolvemos a comunicação e a linguagem como consequências do desenvolvimento social É o oposto o desenvolvimento social é possível na medida do desenvolvimento da comunicação e da linguagem Comunicar e educar como signos recíprocos 1 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 14 A linguagem não foi inventada por um indivíduo sozinho na apreensão de um mundo externo Portanto ela não pode ser usada como ferramenta para a revelação desse mundo Ao contrário é dentro da própria linguagem que o ato de conhecer na coordenação comportamental que é a linguagem faz surgir um mundo somos na linguagem num contínuo ser nos mundos linguísticos e semânticos que geramos com os outros MATURANA VARELA 2001 p 257 A comunicação não é um ato individual e sim uma instituição social Nós somos parte da comunicação em um sistema no qual não podemos pensar em termos de sujeito e objeto Para Yves Winkin a comunicação é um ponto de vista teórico sobre o mundo social mais que um objeto de estudo 1998 p 18 Originalmente a etimologia de comunicar remete a partilhar tornar comum Es pecialmente no século XX esse uso cede lugar ao sentido de transmitir como utilizado pela imprensa Teorias comunicacionais foram forjadas como teorias da transmissão utilizando o esquema emissor canal receptor no que Winkin denomina modelo telegráfi co da comunicação de acordo com uma tradição fi losófi ca em que o homem tem espírito e corpo separados e a comunicação é vista como ato verbal consciente e voluntário Tratase de uma concepção que entende a comunicação como transmissão intencional de mensagens entre um emissor e um receptor 1998 p 13 p 30 Postulamos que tal entendimento é predominante até hoje e é análogo a uma concepção de educação também bastante em voga em que o professor possui o saber e por um ato de vontade transmiteo ao aluno É comum ouvir que a comunicação é transmitida Sem dúvida a transmissão pode fazer parte de um processo comunicativo mas não necessariamente Se trans mitirmos um sinal de fumaça e ninguém notar há comunicação Um discurso é transmitido pelo rádio um sistema de transmissão que se inicia desde um microfo ne passando por estúdios e satélites Caso alguém sintonize um rádio na frequência da transmissão e ouça o discurso a comunicação terá ocorrido Caso essa sintonia não ocorra houve transmissão mas não comunicação A comunicação envolve todo o processo semiótico em que um signo representa um objeto e se transforma em outro signo na recepção Em educação o erro equivalente é entender que o professor transmite infor mações que serão absorvidas pelos alunos Nem o professor é o detentor do sa ber nem o aluno é um recipiente vazio a ser preenchido A educação é processo comunicativo também semiótico que envolve um aprendiz objetos a se conhecer e reconhecer e aprendizado resultante O aprendiz pode ser o aluno o professor quem quer que se coloque nessa posição Objetos e resultados também são posições dinâmicas não estáticas 15 Portanto mesmo que uma aula de história esteja sendo transmitida pela televi são isso não signifi cará necessariamente educação ou comunicação O formato edu cativo ou comunicativo dependerá também da recepção da teleaula Expandindo o raciocínio um fi lme pode ter sido produzido como entretenimento Foi assistido ocorreu alguma comunicação Caso o leitor do fi lme tenha exercido refl exão ao co nectar suas experiências com as narrativas do fi lme ocorreu aprendizado Ou seja processos educativos nem sempre são intencionais Da mesma forma ocorre com a publicidade O anúncio publicitário muitas vezes quer apenas vender um produto Esse anúncio ao ser lido não comunica apenas compre o desodorante Comunica também os valores associados às imagens e sons presentes no anúncio uma mulher bonita usando o desodorante fresca em dia de sol É frequente também o entendimento de que se usa a comunicação para garantir o aprendizado A comunicação nesse entendimento seria meio facilitador para se alcançar um fi m específi co a retenção de informação Por exemplo utilizar um fi lme para ilustrar uma época histórica A comunicação não deve ser confundida com os meios de comunicação Em uma aula teórica há processo comunicativo tanto quan to na projeção de um fi lme Ao acreditar que se usa a comunicação para garantir aprendizado entendese que há um conteúdo a ser repassado ao aluno e o profes sor deve procurar os meios efi cazes de fazêlo É também comum ouvirmos que na educação a distância a comunicação se dá de imediato contribuindo para a inclusão sociocultural de um povo Entendese as sim que tudo relacionado à informática é veloz inclusive o aprendizado Mais ainda se todos tiverem computadores conectados teremos uma sociedade culturalmente igualitária Quem não tem computador não tem cultura Bom indício de que há uma cultura informática bem cotada na bolsa dos valores sociais Os professores são bastante apontados como os responsáveis por uma boa co municação Outra face da mesma moeda aponta os alunos como desatentos pois se prestassem atenção e se concentrassem saberiam fazer boas leituras e ter bom aprendizado Será que se trata de culpar alguma das partes Preconceitos linguísticos também são frequentes Entendese que comunica bem quem se comunica formalmente associando profundidade com regras acadêmicas Por que fi guras populares como Ratinho PingaFogo ou mesmo Sílvio Santos são tão comunicativos fazem tanto sucesso Em linha comparável entendese que imagens e músicas seriam menos realistas que textos verbais de maior autoridade científi ca As imagens seriam mais subje tivas emotivas enquanto a racionalidade e a análise são associadas ao texto escrito Dois exemplos mostram como o inverso pode ser verdadeiro lembremos do texto Comunicar e educar como signos recíprocos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 16 poético subjetivo criativo que ativa a imaginação Lembremos da fotografi a tida ainda hoje como refl exo do real ou das imagens dos telejornais entendidas como fatos que realmente aconteceram De fato todo texto verbal ou visual representa o fato não é o fato em si Defendemos que tanto se deve pensar na forma comunicativa ao pretender coor denar um processo de aprendizado quanto compreender que toda forma comunica tiva encerra algum aprendizado Tentaremos argumentar neste sentido COMPARTILHAR GERA CONHECER Em meados do século XX pesquisadores dentre os quais destacamos Gregory Bateson entenderam que a cultura retém alguns dos comportamentos possíveis para constituir códigos que selecionam e organizam o comportamento pessoal e interpessoal Esse entendimento retoma o sentido original de comunicação comu nhão participação Em oposição ao modelo telegráfi co Winkin 1998 p 31 cha mará esse modelo de orquestral Há interações novas e interações integrativas estas últimas mantêm a regularidade do sistema seu funcionamento relacionam contextos particulares a contextos mais amplos A comunicação enfi m é troca As diferentes linguagens e códigos devem ser entendidos em contexto compreendendo o contexto que tornou possível a troca As regras da comunicação são culturais e sociais A comunicação é um processo con tínuo e permanente sem o qual não há vida Se há vida há competência comunica tiva Comunicação é língua fala tato visão linguagem é atividade Não é possível não comunicar o corpo sempre comunica WINKIN 1998 p 89 Um campo como o da comunicação não surge na mente de um indivíduo ape nas nem mesmo em apenas uma área de conhecimento ou local Gregory Bateson supracitado foi leitor de um autor que passaremos a citar Charles Sanders Peirce precursor de um dos caminhos da semiótica autor de uma teoria que dialoga muito bem com os fenômenos contemporâneos como a comunicação em seus múltiplos aspectos do diálogo entre genes aos desafi os associados às novas tecnologias Peirce propõe romper com o pensamento cartesiano diádico com o qual estamos habituados Em outras palavras nossa forma de pensar está acostumada a dividir sujeito e objeto do conhecimento partindo daí outras duplas entendidas como cin didas por exemplo cultura e natureza ou ciência e emoção Não é sem razão que nossa refl exão por vezes divida o mundo entre o bem e o mal o claro e o escuro o masculino e o feminino o animal e o humano para que haja algum entendimento E importantíssimo aqui executamos a divisão entre professor e aluno conhecimento e ignorância 17 As situações de aprendizado sempre trazem consigo situações comunicativas Imaginemos uma aula os mais diversos tipos de leitura desde textos escritos até textos visuais leitura de fotografi as ou obras de arte leitura de textos sonoros mú sicas ou ruídos textos mistos como os programas de televisão os fi lmes ou as re portagens impressas que misturam textos escritos e visuais diversas experiências profi ssionais que exigem diversas habilidades comunicativas Mesmo o pensamento e o sonho momentos em que nos comunicamos com conteúdos internos ou inter nalizados Todas essas situações são comunicativas e podem ser de aprendizado Mas qual é a diferença entre o aprendizado e o resultado da comunicação Am bos necessitam que as partes envolvidas tenham algo em comum o leitor do jornal e o jornalista que escreve uma matéria devem estar aptos a se entender na mesma língua da mesma forma professor e aluno Quando um fi lme não utiliza linguagem verbal quando o professor utiliza conceitos demasiado complexos ou o noticiário de televisão é transmitido em linguagem desconhecida a intenção do trabalho co municativo pode fi car prejudicada No entanto nem tudo o que comunica tem a intenção de comunicar Nossos corpos por exemplo comunicam muito mais do que intencionamos O professor na sala de aula com seu tom de voz sua postura suas reações comunica além de seus objetivos Outro fator fundamental é que a linguagem comum que permite a um receptor ler um gesto ou uma palavra não garante que o resultado de sua leitura seja igual ao pretendido pelo emissor Quem lê sempre se coloca em sua leitura Para que haja comunicação é necessário que algo ou alguém elabore uma men sagem que possa ser interpretada por outro alguém ou algo Ao ser interpretada a mensagem algo nela é modifi cada Você que está lendo agora este capítulo produz relações entre essas palavras e suas experiências produz imagens mentais e ques tões que nós como autora não podemos dominar O resultado da leitura deste texto é seu aprendizado a sua interpretação do que escrevemos de acordo com suas vivências Um texto comporta infi nitos níveis de leitura e de aprendizado Supondo que ninguém o leia ocorre falha na pretensão de gerar oportunidades de aprendiza do Supondo que ninguém entenda o texto ocorre falha de comunicação Você leitora onde está agora Seria desejável que estivesse com seus pensamentos voltados a este texto mas não é apenas de concentração e de atenção ao presente que se trata Onde você está si tuadoa Imagine quantas respostas diferentes E mais uma será proposta Para con tinuar a ler este texto você deverá procurar na Internet uma imagem da Via Láctea Situe na imagem onde estaria o planeta Terra Perceba como de outra perspectiva nossas questões e problemas nossa vida fi ca pequena e frágil A imagem representa Comunicar e educar como signos recíprocos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 18 um ponto de vista pouco usual Faz com que nos vejamos de fora do planeta do sistema solar da galáxia promove uma excentricidade interessante em nossa leitura Apesar de inusitada a imagem pode ser reconhecida porque temos certa familia ridade com representações astronômicas por meio de fotografi as de satélites e repre sentações do espaço divulgadas pelos livros fi lmes mídias Esse conhecimento prévio torna possível reconhecer a imagem proposta gerando um sentido a ela sentido este que está presente na mente da leitora Esse sentido é o resultado de um processo de aprendizado ou seja 1 há uma experiência anterior as imagens prévias que se tinha sobre o espaço astronômico 2 ocorre o confronto com um texto a imagem vista e 3 o resultado de sua leitura que dependerá das associações entre 1 e 2 São três constituintes 1 o signo experiência anterior 2 o objeto em nosso exemplo a imagem representativa da Via Láctea 3 o interpretante um novo signo que surge na mente que interpreta agora acrescentado da experiência de leitura do objeto Caso oa leitora conte a alguém essa experiência de leitura estará partindo de signo produzido em sua mente e gerando outro em outra mente Assim como no exemplo o confronto com a imagem evocou experiências anteriores que produziram um signo O resultado da leitura pode ser comunicado sempre por meio de signos gerando outros signos outros processos de aprendizado que necessitam de comu nicação Os signos formam elos comunicativos e crescentes Estudar os signos é tarefa da semiótica ciência presente onde quer que haja comunicação e aprendizado Há função de signo em todas as espécies de leituras a própria escola é signo é apresentação e representação do mundo ao aluno A escola 1 é mediadora do mundo 2 para o estudante 3 visa a conectálo ao mundo Expandindo a noção do que é comunicação e do que é educar percebemos que as fronteiras entre ambas são fl uidas Este capítulo abre portões a estradas de ques tões e dúvidas Muito mais pode ser discutido sobre o que é comunicação o que é aprendizado o que é semiótica e signo Quais estradas serão seguidas e de que forma dependerá muito de onde você está APRENDIZAGEM E AFETO POR ESSA VOCÊ NÃO ESPERAVA Todo aprendizado ocorre por meio de signos O processo comunicativo é funda mental à cognição Aprendemos comunicando e comunicamos aprendendo Mesmo sem querer comunicamos por meio da linguagem corporal por exemplo Mesmo sem querer aprendemos todas as vezes que participamos de uma cadeia sígnica Estamos no mundo nos comunicando e aprendendo Os objetos a nossa volta e dentro de nós produzem diálogo constante constante processamento constante produção de signos Quando vamos ao cinema aprendemos alguma coisa em nossa 19 leitura do fi lme Se o conteúdo apreendido é eticamente interessante é outra ques tão Se assistirmos a um acidente a um fato trágico ao conversarmos nos bar na igre ja no olhar vitrines Estamos sempre aprendendo A diferença com o conhecimento proposto pela instituição escola ou pela universidade é que a universidade procura conduzir o caminho de aprendizado com objetivos claramente pedagógicos Ir ao cinema pode parecer mais agradável pois vamos quando queremos o que é importantíssimo o afeto inicia qualquer relação de aprendizado o que não nos afeta não atinge nossa mente não formará signo Estudar pode parecer obrigação mas ali o sujeito é exposto a conteúdos de uma área que escolheu para conhecer e para agir profi ssionalmente É fundamental que haja algum afeto A mídia de que trata este livro é bem sucedida no mercado de comunicação certamente porque se preocupa entre outras coisas com as emoções geradas e sentidas por seu público Na escola procurase o conhecimento sistemático induzido Os objetos estão disponibilizados para quem puder e quiser entrar em processo semiótico cada um de acordo com suas possibilidades de acordo com seus signos prévios Quanto mais exposição ao processo quanto mais aumenta o capital de signos disponíveis maior possibilidade de aprofundamento em determinada área maiores as possibilidades de estabelecer relações entre os objetos Entendamos contudo que a semiótica considera que onde ocorre comunicação há aprendizado Há aprendizado onde houver ação do signo Com esse entendimento podemos ampliar a noção de processo educativo e talvez mudar alguns de nossos parâ metros Na sala de aula convencional toda vez que ocorrer comunicação ocorre apren dizado sempre de acordo com o capital disponível de cada um e também de acordo com o afeto dado e recebido no processo Com isso notamos que há tantos ritmos de aprendizado quantos forem os posicionados como alunos professor inclusive Por que insistir na importância do afeto Sem esse sentimento de algo que nos toca não se efetua o processo sígnico completo O que ocorre se não nos afeta de alguma forma não produzirá signos Toda relação com afeto criativa constituise em troca interpessoal mesmo que de mim com meus pensamentos Se estivermos dispostos há muitos lugares para praticar o diálogo SILVEIRA 2005 O aprendizado da perspectiva da semiótica precisa de um objeto ou conteúdo de uma mente com seu capital de signos e produzirá um resultado Não há garantias de onde chegaremos apenas garantese que há um caminho A ação do signo se desenvolve no tempo onde há tempo há signo o tempo e a vida desenvolvese por meio de signos A semiose é um fenômeno contínuo tratase de um nome téc nico para mente pensamento ou inteligência Eles agem como o signo SANTAELLA 1992 p 261 Comunicar e educar como signos recíprocos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 20 Percebemos mediante um signo dependente de um objeto e de acordo com o que estamos equipados a perceber Um signo que nos chama a atenção é um signo que nos afeta isso é fundamental Nós temos nosso ritmo de pensamento e utilizamos nosso próprio ritmo como referencial para todos os processos de pensamento também por isso temos difi cul dade em reconhecer processos semelhantes ao nosso em outras classes de seres Para Peirce apud SILVEIRA 2005 o pensamento é uma característica do universo e não apenas dos seres humanos Em uma fl oresta por exemplo há diálogos e negociações entre a fl ora a fauna o clima as estações do ano que ocorrem por séculos para que se chegue à formação que conhecemos e muitas vezes vemos como estática imediata Sim para Peirce a fl oresta está em semiose Um cabelo cai sobre a testa sem consciência sentimos algo na pele e percebemos entrar em nosso campo visual Essas informações seguem juntas ao cérebro que aciona o cotovelo pulso e mão com todo o seu aparato muscular refi nado em um leve toque do dedo na testa afastando o cabelo Tantas palavras para representar outro processo semiótico que muitas vezes nem chega à consciência Espírito e corpo razão e sentimentos sujeito e sociedade natureza e cultura vida e morte não são pares opostos estão em processo semiótico e não possuem posição previamente defi nida e rígida Da mesma forma ignorância e conhecimento Conhecemos porque fomos afetados por um processo comunicativoeducativo dei xamonos afetar porque de alguma forma tivemos a humildade de não saber Em outras palavras e de forma simples quem acha que sabe tudo não tem mais nada a aprender Não comunga não partilha O que se apresenta à consciência não é conhecido em si mesmo mas por in termédio de uma ação mental Todo conhecimento é interpretativo condicionado pelo que existia antes e revelado em momento posterior ou seja dependente do tempo Um indivíduo não tem como alcançar certeza absoluta já que depende de outras mentes para estar em rede semiótica A certeza sempre provisória sempre em movimento é coletiva1 Em famoso pensamento de Peirce temos o entendimento de que o pensamento não está em nós nós é que estamos em pensamento Não reagimos mecanicamente às situações de forma sempre igual Estamos sempre em movimento criando novos signos aprendendo 1 Ver O método anticartesiano de C S Peirce SANTAELLA 2004 21 Todos os seres vivos estão continuamente produzindo a si próprios em uma or ganização autopoiética MATURANA VARELA 2001 p 52 Quando nos propomos a conhecer o conhecer estamos nos propondo o autoconhecimento encontramos nosso próprio ser Procure na Internet uma reprodução da tela Galeria de Arte de M C Escher A imagem representa muito do que tentamos verbalizar aqui Foi citada por Matura na e Varela 2001 p 266 como exemplo de circularidade cognitiva O rapaz olha uma tela que se transforma na cidade cidade que entra na galeria Ou a galeria é composta com a cidade e expõe uma tela com um rapaz que olha Ou uma cidade é produção textual arquitetônica e urbanística abriga pessoas que interagem Qual o ponto de partida A cidade A mente do rapaz Procurar conhecer o conhecer parecenos uma prerrogativa de quem se ocupa com Educação com Comunicação Conhecer o conhecer obriga a vigiarmos nossas certezas a reconhecer que não há ponto de vista exclusivamente verdadeiro ou fal so Para Maturana e Varela no âmago das difi culdades do homem atual está seu desconhecimento do conhecer 2001 p 270 grifo dos autores Identifi camos uma postura ética o que gera o comprometimento especialmen te em educação não é o conhecimento mas sim conhecer o conhecimento afetar se nesse processo O que implica reconhecer que o ser é identifi cado pelo eu e pelo outro Indissociavelmente conhecer ocorre em comunhão Comunicar e educar como signos recíprocos BACHELARD Gaston Devaneio e rádio In O direito de sonhar São Paulo Martinhos Fontes 1986 BATESON Gregory Mente e natureza Tradução de Claudia Gerpe Rio de Janeiro Francisco Alvez 1986 original 1979 ECO Umberto Tratado geral de semiótica 4 ed Tradução de Antônio de Pádua Danesi e Gilson César Cardoso de Souza São Paulo Perspectiva 2003 1 ed 1976 MATURANA Humberto R VARELA Francisco J A árvore do conhecimento as bases biológicas da compreensão humana Tradução de Humberto Mariotti e Lia Diskin São Paulo Palas Athena 2001 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 22 1 Faça um fi chamento do texto com suas próprias palavras Você deve deixar claro e distinto o que é raciocínio da autora e quais são os seus comentários pessoais 2 Refl ita sobre a imagem da Via Láctea e a tela Galeria de Arte de Escher Como você pode ria relacionálas 3 Escreva um texto com duas situações nas quais você participou de uma atividade em que quis aprender mais sentiuse afetado por uma situação que foi ao mesmo tempo comu nicativa e educativa Proposta de Atividades SANTAELLA Lucia Navegar no ciberespaço o perfi l cognitivo do leitor imersivo São Paulo Paulus 2004 A percepção uma teoria semiótica 2 ed São Paulo Experimento 1998 Por que as comunicações e as artes estão convergindo São Paulo Paulus 2005 SILVEIRA Lauro Frederico Barbosa da A aprendizagem como semiose In SILVA Ana Cristina Teodoro da Org Iniciação à ciência e à pesquisa Maringá Eduem 2005 Formação de ProfessoresEAD n 1 WINKIN Yves A nova comunicação da teoria ao trabalho de campo Tradução de Roberto Leal Ferreira Campinas SP Papirus 1998 Anotações 23 Fábio Viana Ribeiro A comunicação radiofônica 2 O rádio está verdadeiramente de posse de extraordinários sonhos acordados Mas então dirão alguns a quem isso vai servir A todos que tiverem necessidade disso evidentemente A que horas é preciso fazer essa transmissão Para mim é preciso que seja às 8 e meia porque me deito às 9 horas E se os engenheiros psíquicos do rádio forem poetas que desejam o bem do homem a doçura do coração a alegria de amar a fi delidade sensual do amor prepararão boas noites para seus ouvintes O rádio deve anunciar a noite para as almas infelizes para as almas pesadas tratase de não mais dormir sobre a terra tratase de entrar no mundo noturno que você vai escolher BACHELARD 1986 p 223 O trecho acima escrito pelo fi lósofo Gaston Bachelard 18841962 diz muito a respeito daquilo que vem a ser para muitos um motivo de fascínio pelo rádio E tam bém algo que tem a ver com suas características técnicas Pode parecer estranho que um fi lósofo que se dedicou a estudar a ciência discorra sobre doçura do coração e poetas que desejam o bem do homem Essas expressões certamente não espantariam aqueles que como Bachelard gostam de rádio Essa última ela própria uma expres são reveladora já que talvez não existam muitas pessoas que por exemplo gostem de jornais no sentido quase romântico guardado na idéia de gostar de rádio Talvez exista mesmo algo romântico ligado ao rádio Pelo menos para alguns tan tos apaixonados pelo veículo e quem sabe para muitos outros que apenas descobri ram no rádio um meio de não mais dormir sobre a terra Ainda nos dias de hoje1 ao lado de todo o desenvolvimento técnico ocorrido nos meios de comunicação a ligação do ouvinte de rádio com o veículo parece ser ainda muito afetiva se com parada a outros meios O vínculo estabelecido entre ouvintes e emissoras sugere relação com outra ordem de entendimento De fato se entre os ouvintes do rádio encontramos facilmente pessoas que se dizem apaixonadas pelo veículo só muito raramente encontramos um leitor que tenha desenvolvido uma paixão por revistas 1 Em agosto de 2007 existiam no Brasil 4734 emissoras licenciadas Destas 1455 transmitindo em FM 1570 em AM 73 em ondas tropicais 66 em ondas curtas e 1570 rádios comunitárias Fonte Anatel EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 24 jornais televisão ou Internet Nesses quando muito o objeto de maior interesse vem a ser o conteúdo do veículo menos que ele próprio No caso do rádio a ligação de muitos ouvintes é principalmente uma ligação com o veículo Possivelmente os motivos para isso estejam ligados paradoxalmente às carac terísticas técnicas do rádio Exatamente por não dispor de imagem e ter em geral seus conteúdos transmitidos ao vivo o rádio estimula a imaginação do ouvinte Se a televisão por exemplo nos mostra imagens acompanhadas de cor movimento som que já nos chegam por assim dizer pensadas e compreendidas o con trário acontece com o rádio Dispondo apenas de som o ouvinte de rádio é levado a imaginar uma música uma cidade a pessoa que lhe fala um jogo de futebol etc E esse ato de imaginar como frequentemente já foi observado costuma ser mais agradável e relacionado aos nossos próprios desejos que o ato de ver uma imagem ou ler um texto Dentre os diversos meios de comunicação o rádio comporta características que o tornam o veículo com maior alcance de público no Brasil estando presente em lugares e regiões onde é precária a presença de outros veículos Ainda que dispondo de limitados recursos expressivos frente a outras mídias o rádio conseguiu manter seu público mesmo sob a concorrência da televisão a partir da década de 1950 Ao mesmo tempo em que suas evidentes limitações não dispor de imagem como a televisão ou certa duração no tempo como a imprensa escrita parecem concor rer para o seu declínio ao mesmo tempo são esses aspectos que lhe conferem papel relevante entre os modernos meios de comunicação A pesquisadora Gisela Ortriwano 1985 p 7881 listou em seu livro A informa ção no rádio aquelas que seriam as principais características do veículo2 Linguagem oral o rádio fala e para receber a mensagem é apenas necessário ouvir Leva uma vantagem sobre os veículos impressos pois para receber infor mações não é preciso que o ouvinte seja alfabetizado Com relação à televisão o espectador não precisa ler apesar de a cada dia mais os caracteres estarem sendo utilizados para prestar informações importantes que escaparão ao anal fabeto Penetração em termos geográfi cos o rádio é o mais abrangente dos meios podendo chegar aos pontos mais remotos e ser considerado de alcance nacional Ao mesmo tempo pode estar nele presente o regionalismo pois ten do menor complexidade tecnológica permite a existência de emissoras locais Mobilidade sob o ponto de vista do emissor sendo menos complexo tecnica mente do que a televisão o rádio pode estar presente com mais facilidade no local dos acontecimentos e transmitir as informações mais rapidamente do que a televisão Com relação aos veículos impressos suas mensagens não requerem preparo anterior podendo ser elaboradas enquanto estão sendo transmitidas 2 Por questões de espaço físico a descrição dessas características foi reduzida aqui aos seus aspectos centrais 25 A comunicação radiofônica além de eliminar o aspecto crucial da distribuição quem estiver ouvindo rádio estará apto a receber a informação Mobilidade sob o ponto de vista do recep tor o ouvinte de rádio está livre de fi os e tomadas e não precisa fi car em casa ao lado do aparelho Seu tamanho diminuto tornao facilmente transportável permitindo inclusive recepção individualizada nos lugares públicos Baixo custo em comparação à televisão e aos veículos impressos o aparelho receptor de rádio é o mais barato estando a sua aquisição ao alcance de uma parcela muito maior da população Por outro lado a produção radiofônica é mais bara ta que a televisiva justamente por ser menos complexa Sensorialidade o rádio envolve o ouvinte fazendoo participar por meio da criação de um diálogo mental com o emissor Ao mesmo tempo desperta a imaginação através da emocionalidade das palavras e dos recursos de sonoplastia permitindo que as mensagens tenham nuances individuais de acordo com as expectativas de cada um Autonomia o rádio livre de fi os e tomadas deixou de ser um meio de recepção coletiva e tornouse individualizado Essa característica faz com que o emissor possa falar com toda a sua audiência como se estivesse falando para cada um em particular dirigindose àquele ouvinte específi co A mensagem oral se presta muito bem para a comunicação intimista É como se o rádio estivesse contando para cada um em particular Ao mesmo tempo a atividade de ouvir não exclui a possibilidade de desenvolver outras tarefas como ler dirigir trabalhar etc Dentre as características citadas por Gisela Ortriwano 1985 podemos destacar o aspecto sensorial como um dos mais signifi cativos Em função do modo como suas mensagens são produzidas e absorvidas pela necessidade de recriálas através dos recursos próprios ao rádio a comunicação radiofônica tende a construir um universo imaginário bem mais nítido que em outros meios Se como a própria autora observou tanto a televisão quanto os veículos impressos têm suas mensagens intermediadas pela imagem o rádio não possuindo tal recurso utilizase em larga medida de uma subjetividade que deriva dessa ausência Um dos mais conhecidos episódios associados ao caráter sensorial do rádio refe rese ao dia 30 de outubro de 1938 Nessa data a rádio americana CBS transmitiu ao vivo uma fi ctícia invasão marciana que estaria acontecendo em uma fazenda no esta do de New Jersey A transmissão feita às vésperas da Segunda Guerra Mundial e re presentada com grande dramaticidade causou pânico imediato em diversas cidades americanas O controle sobre a situação foi aos poucos sendo retomado à medida que o público era informado de que se tratava na verdade de uma adaptação para o rádio feita por Orson Welles de A Guerra dos Mundos do escritor H G Wells Esse acontecimento frequentemente citado como exemplo do poder de persuasão relacionado aos meios de comunicação de massa antecede não por acaso o uso do próprio veículo para fi ns de controle social É preciso lembrar que já antes e depois dessa transmissão o rádio foi intensa e habilmente utilizado tanto pelos nazistas quanto pelos aliados com semelhantes propósitos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 26 Convencionalmente a invenção do rádio é atribuída a Guglielmo Marconi3 que no ano de 1896 realizou a primeira transmissão de uma mensagem por meio de ondas eletromagnéticas Os primeiros anos de desenvolvimento do veículo foram muito rápidos logo cedo as forças armadas dos EUA perceberam as possibilidades de uso abertas pela invenção forçando por motivos estratégicos a venda das ações da italiana American Marconi a Radio Corporation of America RCA Do ponto de vista comercial em 1916 o russo David Sarnoff concebe a ideia do rádio como veí culo de comunicação de massa Até então se imaginava um uso bidirecional para o rádio em que o ouvinte poderia não apenas receber as mensagens transmitidas por uma emissora mas também ele transmitir mensagens a outros receptores David Sarnoff desenvolveria a idéia de uma emissora transmitindo música para receptores domésticos situados a uma distância de até 80 quilômetros Em 1920 a americana Westinghouse Electric and Manufacturing Company criaria a primeira emissora de rádio a KDKA Em 1922 a British Marconi fundaria na Inglaterra junto com outros grupos empresariais a British Broadcasting Company que seria mais tarde em 1926 estatizada pelo governo britânico e transformada na British Broadcasting Corpo ration BBC O modelo adotado pela BBC se distinguiria do modelo de rádio americano na medida em que era concebido como serviço público independente do governo alheio aos interesses das indústrias do setor e fi nanciado por seus usuários FERRARETO 2000 No Brasil cujas primeiras transmissões regulares se iniciaram em 1923 foi adotado o modelo americano de rádio no qual o serviço é em sua maior parte cedido a particulares sob forma de concessão e fi nanciado por meio de publicidade Após seus primeiros anos a história do rádio no Brasil é marcada por um pe ríodo de decadência que se estende da década de 1950 até meados dos anos 1970 entre o momento de surgimento da televisão em 1950 e o período mais fechado do regime militar Em 1970 surge em São Paulo a primeira emissora FM do país Difu sora FM e em 1977 a Rádio Cidade FM do Rio de Janeiro inaugura um formato de programação voltado para o público jovem que predominaria até os dias de hoje em muitas emissoras do segmento FM Em 1982 a Rádio Bandeirantes AM de São Paulo e suas afi liadas iniciam a transmissão em rede através de satélite A essa primeira 3 Vários autores consideram o padre brasileiro Roberto Landell de Moura como o verdadeiro inventor do rádio Segundo documentação existente Landell de Moura teria conseguido transmissão e recepção de sons por meio de ondas eletromagnéticas nos anos de 1893 e 1894 Mais tarde em 1904 chegou a patentear nos Estados Unidos algumas de suas descobertas entre elas um telégrafo sem fi o e um transmissor de ondas Motivos políticos possi velmente fi zeram com que suas descobertas não fossem reconhecidas como anteriores às de Marconi 27 experiência seguese o surgimento de outras redes Gaúcha Sat GuaíbaSat CBN Transamérica Itasat Jovem Pan etc A análise da programação da imensa maioria das emissoras de rádio desse pe ríodo chamaria atenção para um descompasso entre seus conteúdos e a legislação que ordena o setor De acordo com esta o funcionamento das emissoras de rádio e TV encontrase condicionado a um processo que vai desde a concessão e permissão de funcionamento dadas respectivamente pela Presidência da República e pelo Ministro das Comunicações até o cumprimento de determinadas condições e pré requisitos específi cos4 Entre esses por exemplo consta que as emissoras devem destinar pelo menos 5 de sua programação diária à transmissão de notícias um mínimo de cinco horas semanais de programas educacionais e um máximo de 25 de publicidade comercial em sua programação Tais limites bastante objetivos se comparados às orientações restantes que regulamentam o setor promover a cultu ra nacional e regional respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família etc são comumente contornados ou simplesmente descumpridos não obstante terem seu funcionamento dependente do poder público ao qual caberia fi scalizar o cumprimento do caráter social das empresas A questão do rádio no Brasil adquire contornos de grande interesse ao conside rarmos por um lado o enorme potencial do veículo em um país tão extenso com altas taxas de analfabetismo e elevados índices de pobreza e por outro lado sua evi dente subutilização De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD de 2006 87 dos domicílios brasileiros possuem rádio Contudo a existên cia de mais de 4500 emissoras no país encontrase longe de possuir um signifi cado proporcional a esses números A distribuição de centenas de concessões com base em critérios políticoseleitorais durante governos recentes só fez baixar ainda mais a qualidade das emissoras ao mesmo tempo em que por conta da consequente saturação do mercado praticamente pulverizou a distribuição da verba publicitária entre as emissoras Para que tenhamos uma ideia aproximada do processo dados coletados por Sônia Virgínia Moreira descrevem os números relativos à distribuição de emissoras durante o governo José Sarney No total a administração Sarney distribuiu 1 028 concessões de emissoras de rádio AM e FM e de televisão 30 9 dos canais existentes na época Em apenas 4 A nova legislação publicada em 261296 alteraria ligeiramente o quadro obrigando aqueles que forem exercer alguma função pública a se licenciarem de cargos na diretoria das emissoras Também teoricamente desaparece o critério político na distribuição dos canais passando o processo a ser feito por meio de licitação pública até 1996 cabia ao Ministro das Comunicações e ao Presidente da República a decisão sobre quem receberia a concessão A comunicação radiofônica EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 28 um mandato José Sarney assinou um número de concessões superado pela soma das permissões autorizadas por todos os presidentes brasileiros entre 1934 e 1979 ao longo de 45 anos haviam sido outorgados 1 483 canais de rádio e TV ou 44 5 das emissoras que estavam no ar em 1989 MOREIRA 1998 p 94 Ainda que parte da legislação que regula o setor seja explícita o sufi ciente para ti rar do ar centenas de emissoras atualmente nas mãos de políticos e líderes de seitas religiosas a fi scalização dos conteúdos a cargo do Ministério das Comunicações é praticamente inexistente restando apenas a fi scalização técnica de responsabilida de da Anatel Agência Nacional de Telecomunicações No tocante às relações dos políticos com o rádio uma pesquisa realizada em 1995 pelo jornal Folha de São Paulo sintetiza o quadro no país É de praxe entre políticos adquirir meios de comunicação em nome de tercei ros O exgovernador de São Paulo Orestes Quércia possui duas TVs Princesa DOeste em Campinas TV do Povo em Santos e uma rádio em Sorocaba que fi guram em nome de outras pessoas no cadastro ofi cial Ofi cialmente Quércia é titular de apenas três rádios duas em Campinas e uma em São Paulo É mui to difícil saber o número exato de deputados e senadores que possuem emis soras de rádio e TV disse o deputado Jorge Maluly Netto PFLSP Segundo ele alguns são donos de fato mas não aparecem porque se escondem atrás de testasdeferro terceiros que assumem a responsabilidade em documentos pú blicos Outros segundo Maluly aparecem no cadastro mas não são donos de fato porque emprestaram seus nomes para compor o quadro de acionistas das empresas como forma de obter a aprovação das concessões para seus aliados O próprio Maluly aparece no cadastro do governo associado a uma emissora de TV e a cinco rádios algumas em nome de sua mulher Therezinha e outras em nome do fi lho Jorge LOBATO apud FERRARETO 2000 p 181 Na segunda metade dos anos 1990 e início do século XXI a convergência entre rádio e Internet RADIOS 2008 se estabelece dentro de um padrão que iria abrir novas possibilidades para o veículo Ao contrário do que se poderia imaginar a In ternet longe de contribuir para um novo período de decadência do rádio terminou por acrescentar ao mesmo novos e signifi cativos recursos Em um primeiro mo mento as grandes emissoras disponibilizaram sua programação em seus respectivos sites o que signifi cou um aumento da audiência e também da interação entre ouvin tes usuários da Internet e as próprias emissoras Posteriormente com o desenvolvi mento de programas específi cos emissoras menores das mais variadas regiões do país e do mundo passaram a ter sua programação transmitida pela Internet através de sites especializados na disponibilização de emissoras de rádio TUDO 2008 E distinguindose destas as chamadas webrádios emissoras que não possuindo estrutura convencional com estúdios e transmissores existem apenas na Internet Na prática a principal vantagem da transmissão radiofônica via Internet relacio nase à possibilidade de ouvirmos emissoras de lugares remotos e distantes com 29 baixa potência e curto alcance as quais difi cilmente poderiam ser ouvidas através de um aparelho comum de rádio Através da Internet tornase possível por exem plo ouvir com excelente qualidade de som uma emissora de uma pequena cidade da zona da mata mineira de Roraima Angola ou Andorra Naturalmente que para as pessoas que moram nas cidades onde essas emissoras transmitem continuará sendo mais prático ouvilas através de um aparelho convencional de rádio que nesses casos são mais práticos que um computador Assim de forma relativamente simples e barata uma imensa quantidade de informações passa a estar disponível a um número muito grande de ouvintes É caso de notarmos que o rádio sempre foi um veículo mais globalizado que outros meios de comunicação Tanto no Brasil quanto no exterior muitas emissoras transmitem ainda hoje sua programação em ondas curtas5 de modo que desde algumas décadas atrás sem uso de satélite ou Internet era perfeitamente possível ouvir emissoras de países distantes através de um aparelho comum de rádio6 Assim como nessa faixa de frequência é possível ouvir rádios brasileiras em qualquer lugar do mundo através de um aparelho portátil também aqui no Brasil facilmente con seguimos sintonizar rádios da China Vaticano Rússia França Holanda Espanha Argentina etc Muitas delas em determinados horários transmitindo em português Ao lado desse caráter global é também o rádio um veículo altamente adequa do à comunicação regional e local Possivelmente nenhum outro veículo reúne características tão adequadas à comunicação local imediatismo baixo custo de produção facilidade de recepção mobilidade etc Ainda que a imensa maioria das emissoras que transmitem em AM ou FM limitem sua programação a um conteúdo musical inúmeras são as possibilidades de uso dos recursos disponíveis Os limites existentes para que outros modelos de programação sejam oferecidos são na ver dade poucos O amplo predomínio do formato centrado em música e prestação de serviços se deve menos talvez a um suposto gosto popular que ao fato de ser esse o modelo mais barato de programação dispensando a necessidade de profi s sionais qualifi cados ou produção mais elaborada Uma vez que o critério político se constitui no fator determinante na distribuição de concessões e autorizações de funcionamento da maioria dessas emissoras e que seus proprietários encontramse muito vinculados aos acordos que levaram a essas autorizações é pouco provável que se sintam estimulados a produzirem outros conteúdos 5 Ao contrário dos sistemas que utilizam a frequência modulada FM e amplitude média AM as transmissões em ondas curtas OC permitem um alcance intercontinental dos sinais de uma emissora 6 Não tão comuns é verdade aparelhos que possuem mais de duas faixas de recepção AM FM OC Em geral baratos e encontrados em lojas de eletrodomésticos ou de produtos eletrônicos A comunicação radiofônica EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 30 Com exceção de algumas emissoras em geral transmitindo em rede e que ope ram dentro de modelos de rádio falado7 todas as outras possibilidades de pro gramação ligadas ao setor se restringem às rádios educativas e comunitárias Não contando ainda o caso das rádios livres que funcionam à margem do sistema ofi cial Comum a esses modelos de rádio é o fato de terem demonstrado a viabilidade de outras alternativas de programação e gestão das próprias emissoras Um dos exemplos mais bem sucedidos entre as emissoras comerciais a Rádio CBN mantém há 17 anos uma programação integralmente voltada ao jornalismo 24 horas por dia Em outro extremo o emblemático caso da Rádio Favela8 de Belo Horizonte Criada por iniciativa de 50 moradores de um conjunto de favelas de Belo Horizonte e transmitindo inicialmente como rádio livre a Rádio Favela obteve posteriormente autorização para operar como emissora educativa Apesar do curto alcance de sua transmissão a emissora chegou a registrar o quarto lugar em audiência na região metropolitana de Belo Horizonte Aspecto sintomático dos problemas ligados à democratização dos meios de co municação uma legislação específi ca tentaria regulamentar a proliferação de rádios livres no país que adequadas à lei seriam transformadas em emissoras comunitá rias Tal tentativa refl ete na verdade a disputa entre emissoras comerciais e grupos ligados à democratização dos meios de comunicações no país Ainda que argumen tos técnicos sejam frequentemente empregados pelas emissoras comerciais citando os riscos de interferência nas comunicações de aeroportos e outras situações as pecto sempre negado pelos representantes das emissoras comunitárias parece evidente se tratar de uma disputa eminentemente política sobre um campo em que todas as partes envolvidas sabem ser muito relevante em termos de construção da opinião pública e controle social Por sua vez as emissoras educativas têm seu funcionamento condicionado àquilo que estabelece a Lei nº 9637 de maio de 1998 Por esta as emissoras educativas pas sariam a funcionar como organizações sociais não exatamente estatais ou privadas Artigo 1º O Poder Executivo poderá qualifi car como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado sem fi ns lucrativos cujas atividades se jam dirigidas ao ensino à pesquisa científi ca ao desenvolvimento tecnológi co à proteção e preservação do meio ambiente à cultura e à saúde atendi dos os requisitos previstos nesta lei FERRARETO 2000 p 178 7 São exemplos mais conhecidos Rádios CBN Bandeirantes Gaúcha Globo Aparecida Itatiaia etc 8 Ver httpwwwsingcombrriqueza3html httpwwwigutenbergorgradiofavela25html Acesso em 27092008 31 Na prática poderiam pleitear concessões de funcionamento para rádios educa tivas universidades fundações ligadas ao poder público prefeituras etc Contudo os mesmos problemas presentes no caso das emissoras comerciais podem ser en contrados nas emissoras educativas Das mais de 4500 emissoras de rádio existentes no país cerca de 1500 seriam em tese educativas Por um lado não há por parte do Ministério das Comunicações efetiva fi scalização sobre a programação das emis soras que em geral não possuem caráter propriamente educativo Por outro os critérios de concessão desses canais permanecem sendo muito semelhantes àqueles utilizados em todos os últimos governos Uma matéria do jornal Folha de São Paulo assinada pela jornalista Elvira Lobato dimensiona esse quadro O governo Lula reproduziu uma prática dos que o antecederam e distribuiu pelo menos sete concessões de TV e 27 rádios educativas a fundações ligadas a políticos Também foi generoso com igrejas destinou pelo menos uma emisso ra de TV e dez rádios educativas a fundações ligadas a organizações religiosas Esse fenômeno confi rma a afi rmação de funcionários graduados do Ministério das Comunicações de que no Brasil a radiodifusão ou é altar ou é palanque Entre os políticos contemplados estão os senadores Magno Malta PLES e Leo nel Pavan PSDBSC A lista inclui ainda os deputados federais João Caldas PL AL Wladimir Costa PMDBPA e Silas Câmara PTBAM além de deputados estaduais exdeputados prefeitos e exprefeitos Em três anos e meio de governo Lula aprovou 110 emissoras educativas sendo 29 televisões e 81 rádios Levando em conta somente as concessões a políticos signifi ca que ao menos uma em cada três rádios foi parar direta ou indireta mente nas mãos deles Fernando Henrique Cardoso autorizou 239 rádios FM e 118 TVs educativas em oito anos No fi nal de seu segundo mandato a Folha em levantamento semelhante comprovou que pelo menos 13 fundações ligadas a deputados federais receberam TVs desmentindo a promessa que ele havia feito de que colocaria um ponto fi nal no uso político das concessões de radiodifu são FHC acabou com a distribuição gratuita de concessões para rádios e TVs comerciais passaram a ser vendidas em licitações públicas mas as educativas continuam sendo distribuídas gratuitamente a escolhidos pelo Executivo Antes de FHC os políticos recebiam emissoras comerciais No governo do general João Baptista Figueiredo 1978 a 1985 foram distribuídas 634 concessões entre rádios e televisões mas não se sabe quantas foram para políticos No governo Sarney 198590 houve recorde de 958 concessões de rádio e TV distribuídas Muitos políticos construíram patrimônios de radiodifusão naquele período em nome de laranjas LOBATO 2006 Tal quadro surpreendente por revelar que uma mesma política de concessões de canais é adotada por vários e distintos governos e termina por sugerir que as causas do problema encontramse relacionadas ao modelo de radiodifusão adotado no país e que remonta às próprias origens do rádio em nosso território A adoção do sistema de concessões à iniciativa privada aí incluídos também políticos e seitas religiosas e seu fi nanciamento por meio da publicidade defi nindo um modelo comercial para o rádio fi zeram com que seus objetivos públicos e educativos se tornassem exceções permanecendo como regra quase absoluta o modelo comercial e privado de rádio A comunicação radiofônica EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 32 Seria no entanto precipitado imaginarmos um futuro ainda mais sombrio para o desenvolvimento do rádio no país Além do fortalecimento de organizações que lutam pela democratização das comunicações no Brasil concorre para isso o sur gimento de tecnologias que permitem que um número cada vez maior de pessoas participe ativamente na defi nição dos conteúdos presentes no rádio como exemplo mais notório a proliferação das chamadas webrádios e em outros meios de comu nicação Possivelmente muitas distâncias se tornarão menores e muitas diferenças se tornarão menos estranhas O rádio pelo mais improvável dos caminhos talvez volte a ser ou fi nalmente venha a ser algo tão fascinante e poético quanto a descrição que lhe fez Gaston Bachelard Os limites para isso estão no espaço DEL BIANCO Nélia MOREIRA Sônia Virgínia Orgs Rádio no Brasil tendências e perspectivas Rio de Janeiro EduerjUbB 1999 FERRARETO Luiz Artur Rádio o veículo a história e a técnica Porto Alegre Sagra Luzzato 2000 LOBATO Elvira Um em cada seis congressistas tem rádio ou TV Folha de São Paulo São Paulo 14 maio 1995 In FERRARETO Luiz Artur Rádio o veículo a história e a técnica Porto Alegre Sagra Luzzato 2000 MACHADO Arlindo MAGRI Caio MASAGÃO Marcelo Rádios livres a reforma agrária no ar São Paulo Brasiliense 1987 MOREIRA Sônia Virgínia Rádio palanque Rio de Janeiro Mil Palavras 1998 ORTRIWANO Gisela Swetlana A informação no rádio os grupos de poder e a determinação dos conteúdos São Paulo Summus 1985 RADIOS S l s n 2008 Disponível em httpwwwradioscombr Acesso em 18 out 2008 TUDORADIO Curitiba Grupo Tudo Rádio de Comunicação 2008 Disponível em httpwwwtudoradiocom Acesso em 18 out 2008 Referências 33 httplistasidbrasilorgbrarquivoaldeiasbahia2006June000008html httpwwwsingcombrriqueza3html httpwwwigutenbergorgradiofavela25html httpwwwradiosbrcombr httpwwwradioscombr httpwwwtudoradiocom httpwwwintervozesorgbr httpwwwfndcorgbr Endereços eletrônicos de rádios 1 Procure em sites de busca de rádios por exemplo httpwwwradioscombr ou httpwwwtudoradiocom uma emissora de alguma região distante de sua cidade eventualmente até mesmo do país Acompanhe a programação dessa emissora por alguns dias Que diferenças você consegue observar em relação àquilo que já ouviu no rádio em sua região 2 Imagine que uma turma de alunos estivesse sob sua responsabilidade e que tivesse tido a ideia de lhes recomendar para posterior atividade em sala algum programa no rádio que fosse ao mesmo tempo interessante e informativo Que rádios e programas escolheria dentre as milhares de emissoras disponíveis Proposta de Atividades A comunicação radiofônica Anotações EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 34 Anotações 35 E se minutos tão preciosos são empregados para dizer coisas fúteis é que essas coisas fúteis são de fato muito importantes na medida em que ocultam coisas preciosas BOURDIEU 1997 p 23 na televisão nada é simples nada é inocente MAGALDI 2003 p 134 Quantas horas por dia você e as pessoas que o cercam assistem televisão Chegar em casa e postarse diante da televisão é um ato muito corriqueiro a uma boa parcela da população O aparelho de televisão está presente em ampla maioria dos lares muitas vezes também nos quartos ou na cozinha Na sala é comum ocupar lugar de destaque tal qual as fogueiras em acampamentos Fonte de luz centro ao qual se direcionam a atenção e os olhares O hábito de comer vendo TV é signifi cati vo a atenção não está no alimento orgânico mas no alimento do espírito produzido pelo encantamento daquela janela eletrônica para o mundo Os horários da programação determinam a rotina de muitas casas tomar banho depois do jornal jantar antes da novela chegar em casa antes do jogo são atitudes comuns Certamente as empresas telefônicas sabem que em horário de último ca pítulo de novela ou de jogo da seleção brasileira de futebol masculino os telefones soarão bem menos Quantos se lembrariam de ligar a um amigo na hora da fi nal de uma copa do mundo A frequência e a naturalidade desse costume certamente merecem ser problema tizados e muitos são os caminhos para fazêlo O aparelho televisor é um artefato tecnológico do século XX Primeiro dominouse a tecnologia da transmissão de sons por ondas daí o rádio depois se uniu o saber de como transmitir imagens e sons ao mesmo tempo você pode pesquisar na rede a história dessas descobertas Ana Cristina Teodoro da Silva A televisão como instrumento pedagógico 3 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 36 Os mais velhos lembrarão que há trinta anos as televisões dependiam de válvulas que precisavam aquecer para gerar a imagem Não era possível ver um programa imediatamente pois havia o tempo da composição de imagem e de sua sintonia A maior parte dos aparelhos transmitia imagens em preto e branco a popularização das imagens coloridas na TV ocorreu em torno da década de 1980 É bastante interes sante conversar com as pessoas com mais de cinquenta anos que certamente terão histórias sobre a utilização dos aparelhos de televisão mais antigos e melhor ainda dos tempos em que não havia televisão Como eram as noites Um importante mercado de equipamentos eletrônicos está instalado Há uma hierarquia de marcas das melhores às mais baratas A venda de aparelhos se renova não apenas pelo desgaste do objeto mas principalmente por conta de que de tem pos em tempos uma nova possibilidade tecnológica faz surgir outra necessidade os aparelhos foram paulatinamente trocados de preto e branco a colorido depois para conectar o videocassete depois para ter áudio estéreo conectar o DVD e o karaokê agora para ter monitor de plasma ou LCD em breve para receber o sinal digital e quem sabe acoplar os sinais das diferentes mídias que temos em casa Internet televisão rádio telefone fi xo e móvel Desnecessário dizer que se trata de comércio rentável Entretanto não é apenas comércio é produção de sociabilidades diferenciadas são formas de lidar com a importância que o mercado da informação e do entrete nimento tem em nossas vidas Este capítulo pretende abrir caminhos que façam do hábito cotidiano tão comum e importante de ver TV uma fonte de refl exão um material de estudo que pode e deve ser debatido na escola Com isso destacamos que não assumimos aqui a postura de excluir a televisão de nossas vidas o que seria pouco provável neste momento Porém não podemos lidar de forma ingênua com os meios de comunicação tratamse de empresas produzidas por homens com interes ses determinados A forma como o telespectador recebe as mensagens é fundamental a seu conteúdo dito de outra forma questionar a mensagem pode enriquecer o ato de ver TV o telespectador é ativo nesse processo e não um ser passivo que tudo engole Em primeiro lugar serão fornecidos alguns dados sobre a história da televisão para que vejamos como se trata de relação recente e em constante mutação A seguir algumas questões relativas à produção da programação da televisão serão expostas e por fi m esperamos que o olhar crítico à televisão tenha sido estimulado de forma a que se possa olhar para a sala com o sofá e as poltronas voltados ao aparelho que se escolheu como fonte de luz e perguntar Por que é assim Poderia ser de outra forma 37 A televisão como instrumento pedagógico SUA AVÓ NEM IMAGINARIA Na Europa e nos Estados Unidos a televisão foi feita em seus inícios por pessoas que atuavam no cinema ou no teatro No Brasil ocorreu algo diferente migrou para a televisão o pessoal do rádio que era o grande meio de comunicação nas décadas de 1940 e 1950 Quem sabe não há infl uência dessa história no fato de que nos Estados Unidos há uma grande tradição de minisséries enquanto que no Brasil há uma gran de tradição de telenovelas lembrando que a novela era produto do rádio Já havia televisão no Brasil na década de 1950 contudo de forma muito precária A primeira novela data de 1951 produzida pela Tupi Programas eram transmitidos ao vivo o que dava espaço a muita criatividade e improvisação No entanto é apenas a partir das décadas de 1960 e 1970 de acordo com Renato Ortiz 1995 que se con solida a tendência a transformar os bens culturais em mercado É fundamental associar que se trata de período de ditadura militar e censura O desenvolvimento do setor de comunicações era objetivo do governo preocupado com a integração nacional ou seja o país não poderia ser um conjunto de ilhas de veria haver fortes elementos comuns e formas rápidas de conectar o país O setor de comunicações neste sentido era estratégico e a geração de bens simbólicos comuns a todos ajudaria a dar alguma unidade à diversidade brasileira Uniramse os anseios estratégicos do governo ditador com os de empresários que avaliavam o quanto era promissor o desenvolvimento do mercado de comunicações no país Para que uma emissora pudesse transmitir em rede para todo o país até bem pouco tempo atrás era necessária uma concessão do governo1 Tais concessões eram forte moeda de troca no período militar sendo que controlava quem falava o quê Além de censurar temáticas consideradas imorais e discussões consideradas po liticamente indesejáveis como qualquer coisa que fosse simpática ao comunismo o governo disciplinava o perfi l do que poderia ser divulgado e debatido É a Ideologia da Segurança Nacional reconheciase a importância dos meios de comunicação e sua capacidade de difundir ideias de criar estados emocionais coletivos ORTIZ 1995 p 116 O sistema de redes que é essencial para que se tenha uma indústria da cultura e da comunicação foi fruto no Brasil de investimento do Estado Lembremos que o golpe militar data de 1964 A criação da Embratel Empresa Brasileira de Telecomu nicações ocorre em 1965 mesmo ano em que foi criada a Rede Globo O Ministério das Comunicações é de 1967 No período é comum que o maior cliente publicitário 1 O capítulo sobre o rádio A comunicação radiofônica do Professor Fábio Viana Ribeiro também tratará das concessões A história do rádio e da televisão no Brasil é intercambiável EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 38 dos meios de comunicação sejam empresas estatais O Jornal Nacional da Rede Glo bo foi ao ar pela primeira vez em 1969 e o Globo Repórter em 1972 A TV Tupi foi inaugurada em 1950 Em 1970 vinte anos depois apenas 24 11 dos domicílios brasileiros tinham um aparelho de televisão e mesmo assim estavam centrados nas regiões Sul e Sudeste Nessas regiões houve um salto no número de aparelhos de TV durante a década de 1970 Nas outras regiões esse salto ocorreu na década de 1980 quando a Embratel permitiu que as redes emitissem sinais abertos capazes de ser captados diretamente do satélite por antenas parabólicas situadas em qualquer lugar do território nacional HAMBURGUER 1998 p 448 Em 1980 73 da população brasileira tinham televisão em casa e também o há bito de assistila O investimento publicitário na televisão é então amplamente ma joritário ORTIZ 1995 A partir dos anos 1970 a indústria de comunicação eletrônica se consolida com o domínio da Rede Globo de Televisão Além de censurar e restringir os meios de comunicação a ditadura cassava direitos políticos de lideranças calava os não satis feitos fechara o Congresso Nacional e estabelecera que o Presidente da República fosse indicado pelos próprios militares2 Voltaremos a ter eleições diretas apenas em 1989 quando a indústria televisiva estava perfeitamente instalada e o público lidou pela primeira vez com uma campanha no vídeo Não sem razão o vencedor foi Fer nando Collor de Melo já que sua família era dona da transmissora da Rede Globo no Estado de Alagoas A imprensa fez o presidente e depois o desfez apoiando o impeachment3 As relações entre o Estado e as emissoras de televisão vão se alterar após a década de 1990 Diminuem os investimentos públicos não há mais censura com isso a TV aberta adquire maior independência política O mercado se segmenta e iniciase a TV a cabo acirrando a disputa entre as emissoras Os meios de comunicação especial mente a televisão passam a concorrer com instituições como a família a educação formal e as religiões como constituintes de uma esfera pública O indivíduo formase como consumidor antes de formarse como cidadão HAMBURGUER 1998 Hoje ser sujeito público é estar na mídia Tal afi rmação aparentemente óbvia deve ser relativizada O que era ser público há um século ou mais 2 Sugerimos a leitura de Uma história do Brasil de Thomas Skidmore 1998 e O fantasma da revolução bra sileira de Marcelo Ridenti 1993 para iniciar a compreensão desse período fundamental de nossa história que não deve ser esquecido 3 Para aprofundar essa questão estudar o livro A imprensa faz e desfaz um presidente o papel da imprensa na ascensão e queda do fenômeno Collor de Fernando LattmanWeltman 1994 que consta nas referências 39 A televisão como instrumento pedagógico A NOVELA É GARANTIDA QUANDO SE VAI AO MERCADO As emissoras de televisão de transmissão aberta e gratuita no Brasil quando pri vadas são empresas sustentadas principalmente por contratos publicitários Parte dos contratantes aparece nos intervalos comerciais Outra parte aparece em meio aos programas na fala direta de apresentadores ou de um personagem de novela por exemplo O preço da propaganda depende do horário e do tempo em que será veiculada Perceba que os intervalos comerciais são compostos de anúncios rigida mente cronometrados a maioria com trinta segundos ou um minuto sendo comuns também anúncios de quinze segundos Curiosamente a programação das grandes redes de televisão não compreende grandes discursos grandes refl exões grandes textos em matéria de duração tempo ral Toda a programação é produzida de forma que as imagens e as falas sejam rápi das curtas por vezes aligeiradas Não cabe gaguejar não cabe não saber a resposta ou parar para pensar imaginem um entrevistado que responda posso pensar Os minutos são preciosos mas são muitas vezes utilizados para dizer coisas fúteis como citado na epígrafe As televisões estatais como a Cultura ou a TV Senado podem obter verbas de propagandas mas recebem também verbas estatais sendo mais independentes dos contratos comerciais Todavia podem ser dependentes dos humores dos governos Na Venezuela em 2007 o presidente Hugo Chávez tirou do ar a Radio Caracas Tele vision sem se importar com os protestos que vinham de todos os lados A emissora era a mais antiga do país e crítica a seu governo vale a pena pesquisar na rede esse episódio e as opiniões que suscitou A dependência das televisões abertas da verba publicitária faz com que trabalhem a todo o momento pensando na quantidade de telespectadores que conseguem atrair pois quanto mais telespectadores melhores contratos publicitários As emisso ras mantêm constante controle sobre quem assiste que programa Uma novela por exemplo não toma o rumo que o autor quer apenas Ela é determinada também pela receptividade da trama pois se o telespectador não gosta da novela e muda de canal a emissora perde seus contratos Com isso a programação da televisão está sempre auscultando a audiência verifi cando seus hábitos e seus gostos A TV capta expressa e constantemente atualiza representações de uma comu nidade nacional imaginária Longe de prover interpretações consensuais ela fornece um repertório comum por meio do qual as pessoas de classes sociais gerações sexo e regiões diferentes se posicionam se situam umas em relação às outras HAMBURGUER 1998 p 441 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 40 Não há como atingir a todos respeitando as diferenças então a empresa constrói representações do público constantemente atualizadas Os programas oferecidos es tão sempre em mutação buscando agradar ao público Porém quando fazem suces so são programas que atingem milhões de pessoas ao mesmo tempo e acabam por serem fortes divulgadores de comportamentos estereotipados Uma novela não divulga apenas moda ou comportamentos traz posicionamentos políticos e linguísticos E sua força comunicativa não se restringe aos horários e emis soras em que são transmitidas toda uma rede é gerada atores e atrizes que vendem sua imagem pelo país e em outras mídias revistas de fofocas cartazes fi lmes popu lares Para que tal rede funcione não é necessário ao telespectador concordar com a perspectiva da novela mas sim concordar que a novela gere a pauta do que merece ser discutido servindo de referência quanto ao direcionamento da discussão E ainda mais importante a verborragia da novela e sua rede escondem o silêncio do não dito ou seja aquilo que não pode constar nas novelas Podemos postular que no último meio século no Brasil aquilo que a sociedade pode discutir comparece de alguma forma nas novelas populares4 Rosa Fischer 2003 aponta que vivemos em uma cultura perceptiva construída pela prática de ver TV e nessa cultura o silêncio é quase impossível Assistimos tele visão de forma dispersiva contudo ela deve estar ali fazendo barulho preenchendo espaços A possibilidade de mudar de canal rapidamente com o controle remoto o zapping a partir do qual criamos o neologismo zapear mostra um comportamento ansioso que busca cá e lá sem se reter sem pensar Por que agimos assim COMO ASSISTIR TV DE FORMA CRÍTICA Atualmente a televisão talvez seja a principal fonte de informação da maior parte da população brasileira Nossas crianças e jovens cresceram na cultura televisiva e aprenderam com isso Aprenderam não apenas com os conteúdos transmitidos mas fundamentalmente aprenderam um modo de aprender uma forma de percepção de mundo que reúne as linguagens verbais e sonoras em certa marcação de tempo Sabemos pouco sobre os modos de aprender das novas gerações e certamente não estamos preparados para nos dirigirmos à criança telespectadora FISCHER 2003 É fundamental refl etir sobre quais as relações da TV com outros problemas da educação bem como quais as relações entre as ações representadas na televisão e as teorias da educação 4 Para uma análise da telenovela no Brasil ler Telenovela história e produção de Renato Ortiz 1989 citado nas referências 41 A televisão como instrumento pedagógico Não nos parece adequado que um professor negue a importância do discurso televisivo na sociedade brasileira Entendemos a televisão como discurso poderoso e inevitavelmente presente na formação das crianças e jovens É discurso na maior par te das vezes produzido por empresas que têm posicionamentos políticos e interesses comerciais Devemos estar preparados para analisar esse fenômeno e utilizálo como texto a ser criticado e debatido Entender como a televisão é produzida é fundamen tal Não se trata de verdades repassadas mas de edições recortes seleções que defi nem o que irá ao ar e o que permanecerá silenciado Imaginem quantas matérias o Jornal Nacional deixa de fora e com que critérios seleciona o que irá transmitir Apelamos à mídia para que organize para nós a enorme massa de fatos que ocor rem Acostumamos com essa síntese apresentada em cada telejornal e naturalizamos essa produção como se o transmitido ali fosse naturalmente o que de mais impor tante aconteceu no dia Como professores devemos problematizar a ação dos meios de comunicação deixar clara sua forma de atuação discutir seus critérios seus po sicionamentos apontálos como extremamente poderosos no arranjo social em que nos inserimos As emissoras operam uma seleção do que será televisionado e uma construção acerca do material selecionado Seleção e construção são chaves para compreendermos e criticarmos os textos midiáticos sempre perguntando Como os objetos foram selecionados Como os temas foram construídos Um comentarista esportivo indagou algo bastante interessante com quantas câ meras um golaço de Pelé foi fi lmado De quantos ângulos Quantas vezes foi repro duzido no mundo E um gol de Ronaldo com quantas câmeras Quantas vezes é reproduzido esmiuçado analisado E um gol de Canhoteiro Não conhece Os espe cialistas dizem que foi dos melhores jogadores de futebol do mundo Não obstante isso foi antes da televisão Devemos sempre questionar porque uma personalidade foi construída e qual a base de seu sucesso O mundo do estrelato é altamente rentá vel e não tem necessariamente relação com o talento A televisão é manipulação de imagens e as imagens são vistas ainda hoje como refl exos da realidade A ilusão de real que uma imagem gera é grandemente explora da pelos meios imagéticos Insistimos que a imagem é construída sendo escolhidos o objeto o ângulo o recorte deixando muito de fora O que é escolhido é trabalhado de forma a parecer real Mas é uma representação sempre A televisão é artefato tecnológico é técnica e comunicação é sintoma de cultura e é educativa Recria diferentes linguagens oral escrita imagética linguagens pre sentes também no cinema rádio teatro e demais artes Reúne e sintetiza conteúdos e linguagens com um jeito próprio tornandose enormemente poderosa na luta pela constituição de sentidos e sujeitos de nosso tempo EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 42 A televisão quer atingir todo mundo Mas todo mundo é muita gente Que lin guagem utilizar Não existe essa linguagem tão genérica então qual sotaque é es colhido Qual corpo com que maquiagem Qual roupa Por quê Essas escolhas do jeito de falar ao jeito de se portar por serem transmitidas com a força da televisão a todo mundo acabam por serem modelos que muita gente quer seguir A novela representa o cotidiano de uma sociedade mais rica e mais branca que a brasileira mas essa sociedade ideal é reconhecida como a sociedade brasi leira e os assuntos que ela pauta podem vir a ser aqueles pelos quais se pauta o debate público e viceversa Ela oferece para o público amplo do horário nobre a visão indiscreta do cotidiano de uma certa classe média alta urbana moderna glamourosa e idealizada tal como vista de fora por um estranho ou excluído HAMBURGUER 1998 p 484 Valeria a pena refl etir porque gostamos tanto dos que parecem vencedores dos que parecem bonitos harmônicos perfeitos como a maior parte dos personagens principais das telenovelas Lembrando Pierre Bourdieu devemos lutar para que o que poderia ter se tornado um extraordinário instrumento de democracia direta não se converta em instrumento de opressão simbólica 1997 p 13 Apesar de tudo a televisão não tem defeitos congênitos É um meio de comuni cação excepcional que pode servir aos mais diferentes propósitos Há programações bastante interessantes da perspectiva pedagógica Para fi car nas televisões abertas citamos as produções da TV Cultura e da atual TV Senado que em Maringá têm o sinal captado por antenas parabólicas Todavia como professores o que fazer com a programação da televisão aberta privada que tem sido fundamental na formação de crianças e adolescentes Parece consenso que à escola cabe educar para o mundo que vivemos então precisamos educar para a mídia gerar em nós mesmos e nos alunos ferramentas que nos tornem aptos a sermos telespectadores ativos e críticos Sylvia Magaldi 2003 atenta que não podemos esquecer o apelo emocional que a televisão exerce Não adianta querer reduzir a comunicação televisiva em lógica racio nal apenas É dessa autora que nos inspiramos para o desenvolvimento de uma série de questões que podemos fazer aos programas de televisão e que podemos utilizar como um roteiro básico ao propor discussões com os alunos Em primeiro lugar então devemos lembrar das premissas expostas neste capítu lo a televisão tem importância fundamental em nosso cotidiano porém não existiu e não existirá sempre é histórica e cultural É produzida com determinados interes ses fundamentalmente interesses comerciais eou políticos Reúne diferentes lingua gens que podem ser trabalhadas separadamente mas que unidas resultam em algo diferente 43 A televisão como instrumento pedagógico É necessário que o professor seja um pesquisador de materiais que trabalhe com imagens do cotidiano e que fi que atento a bons vídeos e programas Cabe lutar para que emissoras alternativas sejam capturadas na escola com isso a programação pode ser gravada e um acervo pode ser montado É a competência e a sensibilidade do professor que tornarão o material interessante para a aula seja este trecho de novela seja excelente documentário Selecionado o material sugerimos perguntar compartilhar e discutir Quais as sensações emoções e sentimentos que o programa nos causa Após o reconhecimento dessas sensações e emoções cabe propor um distan ciamento para descrever o vídeo assistido Uma simples descrição revela ele mentos aos quais não se atribuiu importância O trabalho em grupo nesse caso é produtivo Questionar quais os objetivos do programa Entretenimento informação publicidade Quais conteúdos foram selecionados Por que foram esses os conteúdos sele cionados Cabe indagar sobre os silêncios situações relacionadas ao tema que não foram abordadas Que formas imagens sons textos foram escolhidas para expressar tais con teúdos Que atores ou atrizes Com que roupas Quais músicas Por quê Já sugerimos que devemos assistir outras emissoras comparar programações pro curar alternativas O professor é um pesquisador um provocador que indica pontes para outros mundos possíveis Certamente sua atitude com os textos do mundo será inspiradora para os alunos É fundamental ampliar as fontes de informação comparar as coberturas de um telejornal com a de um jornal impresso e a de um site na Inter net Sem esquecer que a mídia mais prática que se leva para qualquer lugar e não precisa de energia elétrica é o livro BOURDIEU Pierre Sobre a televisão Tradução de Maria Lucia Machado Rio de Janeiro Zahar 1997 FISCHER Rosa Maria Bueno Televisão Educação fruir e pensar a TV 2 ed Belo Horizonte Autêntica 2003 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 44 HAMBURGUER Esther Diluindo fronteiras a televisão no cotidiano In SCHWARCZ Lilia Moritz Org História da vida privada no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1998 v 4 LATTMANWELTMAN Fernando et al A imprensa faz e desfaz um presidente o papel da imprensa na ascensão e queda do fenômeno Collor Rio de Janeiro Nova Fronteira 1994 MAGALDI Sylvia A TV como objeto de estudo na educação ideias e práticas In FISCHER Rosa Maria Bueno Televisão Educação fruir e pensar a TV 2 ed Belo Horizonte Autêntica 2003 ORTIZ Renato et al Telenovela história e produção São Paulo Brasiliense 1989 Renato A moderna tradição brasileira 5 ed São Paulo Brasiliense 1995 RIDENTI Marcelo O fantasma da revolução brasileira São Paulo Unesp 1993 SILVA Ana Cristina Teodoro da O tempo e as imagens de mídia capas de revistas como signos de um olhar contemporâneo 2003 240f Tese Doutorado em História Universidade Estadual Paulista Assis SP 2003 SKIDMORE Thomas E Uma história do Brasil Tradução de Raul Fiker São Paulo Paz e Terra 1998 1 Assista a seu programa favorito pode ser a novela ou um jogo de futebol da perspectiva da câmera Tente ver quantas câmeras são usadas em cada sequência de que ângulos fi l mam quais enquadramentos privilegiam e por quê O objetivo é problematizar a fi lmagem e suas opções Tente imaginar o que fi cou de fora Escreva um texto sobre o que observou 2 Pesquise a grade de programação de um dia da semana de uma grande empresa de televi são Desde o início da transmissão relate cada programa e seu horário seria interessante comparar com as pesquisas dos colegas pois muitas vezes uma emissora determina o Proposta de Atividades 45 horário de seu programa em função do que passa em outro canal Como segundo passo escolha duas faixas de horário e anote quais produtos são anunciados nos intervalos co merciais Sugerimos que meça quanto é o tempo de programa e quanto é o tempo dos anúncios Faça um texto refl etindo acerca da grade de programação escolhida No mesmo texto identifi que qual o público das faixas de horário que você escolheu e como ele é representado nos anúncios Anotações A televisão como instrumento pedagógico EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 46 Anotações 47 Sua pele muito mais suave e jovial com X Seus cabelos mais sedosos e bri lhantes com Y Entre para o time dos vencedores com X a margarina do coração e da família Beba X Tome Y Emagreça com Suas crianças mais fortes e saudáveis com Bons sonhos com o colchão X os lençóis Y A casa mais limpa e mais perfumada com X X além de econômico é saúde para toda a família Sua roupa muito mais branca e macia com o sabão X ou Y X o deso dorante que protege você o dia todo o shampoo X vai tornar você irresistível a todos os olhares Faça a diferença Vistase com Você uma outra mulher com Carro X o sucesso ao seu alcance X a liberdade de movimento sobre duas rodas nunca você foi tão livre com Experimente Uma verdadeira avalanche de enunciados com tais características participa hoje do nosso diaadia orienta ou induz nossas escolhas e muitos deles conosco vivem pelos cômodos da casa ou fazem parte do nosso corpo e de nossas aspirações Estamos nos referindo portanto ao que se denomina de maneira geral discurso publicitário A pu blicidade se defi ne pela forma como apresenta ao mercado consumidor um produto a marca desse produto ou ainda de que maneira disputa essa marca com as demais marcas anunciadas Sua função é por conseguinte divulgar tornar público algo que se pretende ser aceito Sua força reside na estrutura da função apelativa como imperativo categórico pelo qual se entremeia ao mundo psíquico do receptor A voz de comando imperativa no interior da publicidade não se impõe todavia de maneira explícita Ela torna o possível consumidor sutilmente cúmplice da promessa de satisfação que o produto anunciado oferece Paralelamente a essa função mercantil a publicidade pela característica de sua criação acaba também veiculando ou reforçando valores comportamentos e atitudes ao agregar aos produtos consumidos outros planos in formativos Podemos afi rmar que uma das características marcantes da publicidade referese a essa espécie de pele que envolve os produtos Luiz Hermenegildo Fabiano Narrativas publicitárias mídia e formação social 4 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 48 A estrutura da mensagem publicitária compõese basicamente de signos os quais buscam uma relação de identifi caçãosedução com o receptor Há sempre uma pro messa instigante de realização do desejo incitado no consumidor Esse ou aquele pro duto compete na escolha do objeto do desejo do sujeito impondose enquanto objeto do prazer O alvo do impulso do desejo é deslocado para o mundo idílico e sedutor dos signos que compõem a mensagem do anúncio redimensionando tal impulso a identifi carse com as sensações que o produto anunciado provoca A perspectiva do consumo isto é da necessidade do produto ocorre neste senti do não de forma imposta aos desejos mas de forma natural como se fosse satisfação e alívio de uma tensão provocada A relação do sujeito com o consumo é estabelecida em uma relação espontânea e de prazer e não de obrigatoriedade ou imposição O imperativo da mensagem publicitária fi ca escamoteado na relação de prazer que o consumo pretensamente proporciona Na medida em que se considera a linguagem publicitária estruturada por um con junto de signos que estabelecem o seu nível signifi cativo parecem nos interessantes algumas rápidas considerações sobre a defi nição de signo e a sua relação com os pro cessos de expressão e comunicação Se a linguagem se caracteriza como produção de sentido através de um complexo sistema de signos tratase de interpretar a sua forma de representação para conhecer o sentido que expressa Charles S Peirce fundador da Semiótica a ciência que trata de uma teoria geral dos signos pontua que Um signo é algo que sob certo aspecto ou de algum modo representa alguma coisa para alguém Dirigese a alguém isto é cria na mente dessa pessoa um sig no equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo representa alguma coisa seu objeto PEIRCE 1975 p 941 Peirce entretanto não entendia o signo tão somente enquanto a palavra que re presenta o objeto restrito à linguagem verbal Sua perspectiva vai mais além situa a compreensão do signo como categorias do conhecimento modos de apreensão dos fenômenos na consciência SANTAELLA 1996 p 25 Neste sentido uma foto um 1 Cf Charles S Peirce Obras v2 228 Convém observarmos que segundo Décio Pignatari na Europa a Se miótica segue a corrente da Linguística Estruturalista fundamentada na Linguística Geral de Ferdinand Saussure denominandose Semiologia Nessa vertente observa o autor ela se apresenta fortemente vincada pelo parti pris linguístico de suas origens como se pode observar pela nomenclatura de suas principais noções denotação e conotação signifi cante e signifi cado PIGNATARI 2003 p 30 A noção de signifi cadosignifi cante de Ferdinand Saussure constitui o laço que une arbitrariamente a ambos para compor a totalidade de um signo lingüístico Este por sua vez é arbitrário como assinala o linguista em função de que a ideia de mar não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons mar que lhe serve de signifi cante SAUSSURE 1967 p 81 49 Narrativas publicitárias mídia e formação social traço e a disposição desse traço em uma tela ou o predomínio de certa cor os níveis e enquadramento da imagem de um fi lme a organização de imagens em um determina do espaço como a publicidade impressa em revistas e outdoors a moda o movimento de uma dança bem como o ambiente em que essa dança se dá a arquitetura em um ambiente urbano e o modo de vida em tal ambiente tudo isso possui uma signifi cação e se constitui em signo para um interpretante Décio Pignatari outro grande estudioso da Semiótica no Brasil propala que a Semiótica acaba de uma vez por todas com a ideia de que as coisas só adquirem sig nifi cado quando traduzidas sob a forma de palavras A Semiótica segundo o autor Serve para estabelecer as ligações entre um código e outro código entre uma linguagem e outra linguagem Serve para ler o mundo nãoverbal ler um quadro ler uma dança ler um fi lme ou ensinar a ler o mundo verbal em ligação com o icônico ou nãoverbal PIGNATARI 2004 p 11 Se o signo é algo que está para um interpretante que signifi ca algo para ele a nós interessa discutir que nível de signifi cação subjaz nesse tipo de signo publicitário ao seu interpretante Além da sedução para a escolha de um produto em relação a outro a criação ou imposição de um gosto ou necessidade ou ainda um canal efi ciente do escoamento da produção é necessário entendermos como tais processos de seduçãoindução são utilizados no discurso publicitário Ou seja de que forma a veiculaçãoinculcação de um determinado valor é assimilado pelo indivíduo convertendose na legitimação do sistema econômico dominante Passamos a entender dessa maneira que os conteú dos publicitários para além da sua intencionalidade mercantil a qual parece ser a única na sua aparente mensagem eles mesmos carregam uma série de outros níveis de mensagem que ocultos são assimilados pelo receptor sem que este se dê conta de forma consciente A organização dos signos em que um duplo nível de mensagem é incorporado pelo receptor sem que ele tenha consciência dessa informação deno minase processo subliminar funcionando como uma espécie de armadilha à caça do desejo do sujeito para seduzilo ao consumo do produto Vale lembrar que o processo subliminar foi também amplamente utilizado na história recente do Brasil marcado pelo enrijecimento político nos tempos da ditadura militar Com o objetivo de ocultar os interesses de um modelo de sociedade que se implantava no Brasil ideias de um nacionalismo postiço e direcionado eram inculcadas para deslocar o entendimento das reais intenções econômicas que se impunham sob o interesse de uma nova ideo logia de mercado Formas de reação ou de rejeição da ordem estabelecida eram com batidas com uma propaganda ideológica que demonstravam enfaticamente as novas conquistas de bem estar social que o país conquistava Sob aquilo que se denominou EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 50 milagre brasileiro outras propostas de organização política e social foram banidas como possibilidade de efetivarse em função do bombardeio ideológico que a tudo di recionava para adaptar as mentalidades à reorganização dos costumes e à legitimação da ordem vigente A nova ordem econômica não se impunha tão somente pelo contro le mais agressivo do aparato militar mas também efi cazmente pelos mecanismos pu blicitários que anunciavam o paraíso através de produtos que iriam confi gurar a nova cara do país O jeans o novo modelo do carro o afrouxamento dos costumes no seio familiar a chegada do xampu da TV e a expansão do processo de comunicação os bens de consumo em larga escala resultantes do parque industrial que se implantava de maneira acelerada o boom da construção civil ditavam novos hábitos e necessida des mais condizentes com a modernização da sociedade Identidade juvenil associada à determinada marca donas de casa mais satisfeitas e realizadas com a mais recente aquisição da máquina de lavar roupa ou do liquidifi cador da batedeira de bolo da TV enfi m do suprimento da casa com uma série de novidades antes inimagináveis alimentavam o glamour consumista que fi nalmente se iniciava na linha de baixo do Equador Nesse clima de felicidade administrada parecia mesmo não haver pecado nem culpa nesse Éden de ofertas e suprimento dos prazeres e carências A publicidade nesse contexto passa a ser parte integrante na constituição de necessidades que mu daria radicalmente as fronteiras mercadológicas do país aberto às novas imposições do capital internacional que então gestava as bases do neoliberalismo econômico Percebemos nessa pequena digressão o quanto a publicidade não se reduz ao pri meiro nível de mensagem mas implica um leque amplo que se abre para confi gurar os mais diversifi cados elementos informativos Nessa diversidade comunicativa para além da uma dimensão imediatamente comercial diferentes valores são internalizados pelos indivíduos como visão do mundo É oportuna neste sentido a observação de Marx de que no processo da produção social não se produz unicamente o objeto do consumo mas também o modo de consumo ou seja não só objetiva como subje tivamente MARX 1978 p 110 Ainda nas considerações do autor ao se criar nesse processo não somente o consumo mas também o próprio consumidor esse fato per mite constatar que a criação de necessidades no discurso publicitário cria também as condições pelas quais o modo de produção se reproduz Isto signifi ca que a lógica da sociedade de consumo é também a lógica da reprodução dessa sociedade Uma dimensão crítica do consumo e subsequentemente da publicidade deve ser entendida não apenas na dimensão do consumo em si posto que o consumo é parte integrante da sobrevivência do indivíduo na sociedade Todavia os valores incorpo rados através desse tipo de discurso incidem na dimensão cultural política moral e ética sem contar os referenciais de indiciamento emocional e psíquico do indivíduo 51 Narrativas publicitárias mídia e formação social Tais aspecto seriam de questão menor não fosse a fragilização do indivíduo que assu me direcionamentos e conduta por ordem alheia comprometendo o seu investimen to em processos de autonomia social Aparentemente a estrutura dessa tipologia de discurso parece inofensiva no entanto as suas ramifi cações no plano do controle e regulação social operam de maneira inigualável Estratégias como essas resultam da forma como a própria estrutura do sistema social se constitui determinando não só a sua necessidade mas também a reprodução dos interesses sob os quais se mantêm Uma refl exão crítica sobre a publicidade não deve desconsiderar essa perspectiva de análise à medida que a partir dele compreendese a origem e o desenvolvimento do modelo de organização social que modela o consumismo consumado que a publicida de apenas dinamiza e alimenta Ao analisar a questão da propaganda subliminar Calazans preconiza que estas invasões subliminares da privacidade do público privacidade mais íntima possível psicológica podem ter efeitos mais nocivos do que aparentemente CALAZANS 1992 p 96 O fato remete à necessidade de entendermos os níveis de construção isto é de estruturação das mensagens publicitárias pois nelas estão os conteúdos da ideologia que sustentam É nesse princípio que contrariamente a condição de adaptação do indivíduo ao mundo se confunde com princípios de submissão social administrada A concepção administrativa desse tipo de organização social não devemos deixar de entender está ligada a um fenômeno totalitário bastante difundido neste século Devemos entender ainda como salienta Duarte que o termo totalitarismo não se re duz mais as suas versões nazifacista e stalinista DUARTE 1997 p 125 designando uma totalidade maior ao que o pensador frankfurtiano Theodor W Adorno denomina mundo administrado Neste sentido o termo totalitarismo precisa ser entendido em seu signifi cado mais amplo como concentração política das forças que atuam no sentido de destituir no indivíduo tudo o que poderia vir a caracterizálo como sujeito DUARTE 1997 p 125 Ao considerarmos a constatação do comentarista de Adorno merece ainda des taque a continuidade do argumento de Calazans nas implicações dos conteúdos su bliminares como determinação de elementos totalitários que se instauram através do mundo administrado Segundo o autor uma população exposta a subliminaridade teleguiada que se veste com portase consome produtos serviços crenças religiões ideologias e vota em eleições levada por sugestões externas subliminares não pode ser considerada uma forma de vida inteligente adaptada autônoma CALAZANS 1992 p 96 Os mecanismos pelos quais os apelos e os condicionamentos da linguagem publi citária são efetivados no imaginário dos receptores obedecem a certos rituais técnicos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 52 que assessoram a obtenção satisfatória dos resultados Para ser bem sucedida e ter penetração garantida no mercado consumidor manuais técnicos da área ditam que a propaganda deve atentar para a formação de uma tendência favorável e atitude compradora por parte do mercado É preciso cobrir a área que se deseja atingir tanto do ponto de vista sócioeconômico como geográfi co A campanha deve ter penetração sufi ciente mente profunda para formar uma tendência e até mesmo criar um hábito de consumo Para isso é indispensável manter continuidade isto é o diálogo a comunicação entre produtor e comprador CABRAL 1990 p 96 Outro aspecto que também merece ênfase referese à publicidade destinada ao público infantil e o uso do erotismo como apelo de venda O nível de sedução erótica ocorre em duas etapas A primeira delas impacta o campo perceptivo do receptor através de apelos que incitam sensações eróticas Em um segundo momento entretanto a perspectiva desses signos é recuperar a tensão erótica incitada e acoplar ao produto anunciado São sistemas de linguagem saturados de signifi cações provocantes em busca de satisfazer per si os mais ocultos desejos Na verdade tal nível de satisfação se dá não pela perspectiva erótica mas pelo consumo de produtos que se integram às formas de simbolização das carências afetivas e sexuais do sujeito E quando tais carências não se transubstanciam em necessidade dos produtos a função do erotismo no discurso publicitário é fazer afl orar tais necessidades Assim a instigação de um desejo de cono tação erótica acaba sendo nomeado em um objeto econômico com a sensação de que é esse o alvo da satisfação do desejo O erotismo é largamente utilizado nos sintagmas publicitários justamente porque a dinâmica erótica suscita desejos e esses incansavel mente buscam um alvo de satisfação Por sugestão erótica signos ideologizados do prazer vão se mesclando aos desejos do sujeito usurpando a relação de identidade desse sujeito com a sua própria carên cia No mesmo eixo de combinação os sintagmas eróticos da propaganda seduzem os desejos deslocando o seu alvo de satisfação em um contexto erótico comercializado Nesse contexto mulheres de corpo defi nido de acordo com o gosto do momento em traje de banho bronzeadas sensuais provocantes desejáveis vão se transforman do melhor termo seria metamorfoseando em garrafas de cerveja cujo design e cor associamse ao bronze do corpo da mulher em close também rorejado de gostas dágua similar ao dorso do gargalo da garrafa em close rorejado de gotas geladas em um cenário praiano de sol escaldante Perfumes cremes produtos de beleza em geral moda e marca de produtos e roupas íntimas carros jóias sapatos etc seguem o mesmo ritual de seduçãoindução das sensações eróticas deslocadas nos produtos 53 Narrativas publicitárias mídia e formação social Podemos asseverar que um signifi cante erótico é fragmentado e desliza os seus frag mentos em um signifi cado econômico corrompendo a integridade da mensagem que se abre para o conteúdo ideológico que dela se apropria Ou seja o receptor é instiga do por um nível de mensagem que se perverte a caminho e as sensações provocadas são reordenadas para satisfazerse com o produto anunciado Com relação à publicidade infantil além do ordinário e comum dos usos da gra ciosidade dessa faixa etária e do processo de identifi cação elementos argumentati vos ganham força de convencimento para atingir não a criança mas os seus pais Por outro lado a noção de alegria e felicidade esperteza brincadeira inteligência eee beleza está sempre associada a certo consumismo que direciona o gosto do momen to muito bem divulgado pelos ídolos infantis A boneca Barbie com idade sufi ciente para ser bisavó continua povoando o imaginário infantil com sua imagem de mulher alta loira magra linda e esguia jovial e de olhos azuis Idealizada como símbolo da mulher moderna fútil e vaidosa porém simpática e invejada pelas meninas que nela projetam uma existência idílica associada à elegância consumada por futilidades con sumistas O princípio de que esse didatismo lúdico contribuiria para forjar um tipo de mulher emancipada em sintonia com as novas conquistas femininas oculta na verdade a incorporação de estereótipos pelos quais a autonomia social é confundida com investimentos na imitação aparente dos valores ao contrário de vivenciálos como experiência e construção de identidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Evidentemente a leitura que fi zemos é mais uma dentre várias outras possíveis Todavia pelo recorte dessa proposta de discussão elementos importantes e mais genéricos na abordagem feita permitem fundamentar a análise de outros discursos semelhantes Nesse âmbito é possível refl etirmos não apenas na estruturação da men sagem mas na carga ideológica subjacente a esse tipo de informação Não fi zemos uma distinção ou mesmo uma análise da diferenciação entre publici dade e propaganda visto que o trajeto percorrido não se propunha a uma análise téc nica dos termos mas a uma refl exão crítica sobre o conteúdo informativo desse tipo de narrativa Por sua vez muitos autores também não são rígidos na defi nição ou distin ção desses conceitos entendendo que ambos se entremeiam para manter o princípio de propagar difundir ideias tornar público um produto etc Patrícia Lessa identifi ca oportunamente na publicidade entretanto expõe que um campo que é maior que o campo da propaganda pois inclui agências anúncios anunciantes produtores materiais etc LESSA 2005 p 61 Acrescentemos ainda que etimologicamente do Latim propagare a propaganda defi nese mais adequadamente a propagar princípios EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 54 ideias teorias doutrinas políticas etc Já a publicidade que não exclui a propaganda para tornar público seu conteúdo valese de recursos estéticos com o intuito de provo car reações psicológicas no público receptor quer seja por fi nalidade comercial quer seja por política Embora vestígios de anúncios tenham sido encontrados nas ruínas de Pompéia o boom dos discursos publicitários no sentido que atribuímos hoje surge e se intensifi ca com a sociedade de massas consolidada no processo do desenvolvimento da sociedade industrial O consumismo daí resultante reforça tanto a necessidade do esquema publicitário para os seus fi ns evidentes como a publicidade dinamiza e naturaliza essa forma de sociedade Para melhor entendimento dessa questão tornamse necessárias algumas conside rações ainda que breves sobre a relação entre a sociedade de consumo e o conceito de indústria cultural formulado pelos pensadores frankfurtianos Theodor Adorno e Max Horkheimer Tal formulação contribui decisivamente para uma crítica da dimen são mercantil que se apossou dos bens culturais na atualidade Não podemos descon siderar no entanto que o discurso publicitário avançou signifi cativamente em termos de criação e criatividade tanto no plano da linguagem quanto no uso de novas tecno logias A dimensão argumentativa todavia por mais que se utilize de recursos estéticos para uma interlocução perceptiva mais convincente com relação ao público alvo não é a função estética em si que se estabelece como educação dos sentidos A função estética nesse caso é aplicada a educar e orientar os sentidos no objeto anunciado es tetizado para competir no mercado e ampliar o consumo A dimensão estética quando muito prestase para melhor garantir o esquema de venda O que constatamos nesse nível de consumo segundo a constituição de seu plano argumentativo é que o consu midor também consome um valor social uma atitude comportamental agregados a um determinado produto Esse modus vivendi cultural em que o indivíduo assimila como conteúdo existencial o plano da mercadoria contribui para defi nir aquilo que os dois teóricos da Escola de Frankfurt supramencionados a denominaram indústria cultural2 Na acepção destes pensadores a cumplicidade ideológica desse tipo de cultura com a lógica econômica dominante defi ne o caráter mercantil dessa forma de expressão cultural O termo revela uma cultura comprometida com e cúmplice dos mecanis mos adaptativos e instrumentais gerados no bojo do desenvolvimento da sociedade 2 O termo indústria cultural foi utilizado pela primeira vez em 1947 na obra Dialética do esclarecimento escrita em parceria por Theodor W Adorno e Max Horkheimer O termo defi ne o caráter fetichista e manipulador do pro cesso de produção e veiculação da cultura na sociedade de massas O enunciado cultura de massa entendido como expressão de uma cultura procedente das massas e daí um possível sentido democrático e popular é esclarecido na sua suposta ambiguidade pela dimensão totalitária e administrada com que é dirigido de forma estandardizada e alienante para as massas O termo indústria cultural tornase mais apropriado para conceituar o papel alienante e fetichista que a produção dos bens culturais passou a ter no processo de desenvolvimento da sociedade industrial 55 Narrativas publicitárias mídia e formação social industrial A cultura passa a ter neste sentido uma dimensão massifi cada e perde o seu caráter de consistência civilizadora e emancipatória exercendo uma função ideológica de adaptação do indivíduo ao modelo de organização social estabelecido Em um texto intitulado Indústria cultural uma compilação de entrevistas radiofô nicas proferidas por Theodor Adorno em 1962 na Alemanha o autor afi rma que Toda a prática da indústria cultural transfere sem mais a motivação do lucro às criações espirituais As produções do espírito no estilo da indústria cultural não são mais também mercadorias mas o são integralmente ADORNO 1994 p 92 Assim entendida a indústria cultural integra e administra de tal maneira os níveis do comportamento social que ela passou a integrar as necessidades simbólicas dos indivíduos no contexto mais amplo que se instalou a partir do capitalismo tardio O princípio civilizatório de uma dimensão cultural mais autêntica é deslocado em pro cessos culturais banalizados por simplifi cações e aligeiramentos informativos voltados à diversão e ao lucro processo pelo qual o indivíduo é integrado à lógica do mercado que constitui a totalidade da organização social Ao oferecer uma espécie de gratifi cação imediata os bens culturais na perspectiva da indústria cultural são destituídos da possibilidade de refl exão crítica Sua estru tura de mensagens acaba se convertendo em estereótipos ou clichês coniventes com a lógica da dominação econômica em termos sociais mais amplos O reducionismo da cultura ao culto do espetáculo e do entretenimento em que a diversão induzida suprime investimentos culturais mais autênticos resulta em uma legião imensa de indivíduos semiformados3 sem acesso ao que de essencial subsiste na produção dos bens culturais Esse processo característico da indústria cultural tornase o sustentáculo funda mental de uma espécie de engenharia de manipulação cultural das consciências e alívio da resignação coletiva cuja dor inominada busca compensação nas formas alie nantes do entretenimento disponível Ou seja a cultura entendida como cultivo do espírito e da identidade social é dissolvida nos esquemas de massifi cação voltados ao consumo e cultivo do modelo econômico vigente Ao fi nal do texto referido Adorno destaca que A satisfação compensatória que a indústria cultural oferece às pessoas ao despertar nelas a sensação confortável de que o mundo está em ordem frustraas na própria felicidade que ela ilusoriamente lhes propicia ADORNO 1994 p 99 3 Cf ADORNO T W Teoria da semicultura Trad de Newton Ramos de Oliveira Bruno Pucci e Cláudia B Moura Abreu In Educação sociedade revista quadrimestral de ciência da educação ano XVII n 56 Campinas Ed Papirus dez 1996 388411 Cf nota dos tradutores em relação aos termos bildung indicando formação cultural e ao mesmo tempo cultura e halbbildung indicando portanto semicultura semiformação cultural EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 56 Mencionando a parceria de Max Horkheimer com quem divide o ensaio Indústria cultural o esclarecimento como mistifi cação das massas na conhecida obra escrita por ambos Dialética do esclarecimento Adorno conclui O efeito de conjunto da indústria cultural é o de uma antidesmistifi cação a de um antiluminismo4 antiAlfklärung nela como Horkheimer e eu dissemos a desmistifi cação a Alfklärung a saber a dominação técnica progressiva se trans forma em engodo das massas isto é em meio de tolher a sua consciência Ela impede a formação de indivíduos autônomos independentes capazes de julgar e de decidir conscientemente ADORNO 1994 p 99 O contexto mercantil analisado demonstra a contaminação da produção cultural a partir do desenvolvimento da sociedade industrial que resultou em um consumismo disseminado ao ultrapassar a concepção de mercadoria em si e atingir camadas pro fundas da subjetividade humana Uma dimensão social assim estruturada na suprema cia de seu princípio econômico em relação aos demais valores humanos ao induzir formas de um prazer estereotipado para intensifi car o consumo o enunciado dos dois pensadores alemães na Dialética do esclarecimento condensa o que foi dito A publi cidade é o seu elixir da vida HORKHEIMER ADORNO 1985 p 151 Consideremos todavia a constatação de Adorno diante dos mecanismos que im pedem indivíduos emancipados pois ele adverte estes constituem contudo a condição prévia de uma sociedade democrática que não poderia salvaguardar e desa brochar senão através de homens não tutelados ADORNO 1994 p 99 4 O antiiluminismo antiAlfklärung neste caso alusão à proposta do Iluminismo Alfklärung como promessa de emancipação social pelo uso da razão e domínio da natureza suplantando a ignorância e o mito que a partir da modernidade seriam erradicados pelo avanço da ciência e da técnica Gabriel Cohn na introdução que faz em So ciologia obra que organiza com traduções de textos de Theodor W Adorno observa que o Iluminismo tanto na re fl exão de Adorno como na obra em conjunto Dialética do esclarecimento o termo referese ao movimento real da sociedade burguesa como um todo sob o ângulo das ideias corporifi cadas em suas instituições e pessoas Segundo o comentarista Está em causa a racionalidade burguesa na sua acepção mais ampla não só aquela produzida pela sociedade burguesa mas a que a reproduz A tese básica é que a razão burguesa a razão envolvida na produção e reprodução da sociedade burguesa ao combater de modo irrefl etido o mito acaba convertendose ela própria em mito sem no entanto deixar de apresentarse como razão A paralisia da razão iluminista perante a verdade que teme que o mito não foi aniquilado e ainda a habita não é paralisia do movimento mas da refl exão À parada da refl exão corresponde o movimento desenfreado compulsivo do progresso que arremete às cegas Não se trata de detêlo mas de abrirlhe os olhos para que faça justiça à sua pretensão iluminista Porque é isso que o ilumi nismo antes de mais nada se propôs combater o medo E no entanto ele próprio é agora presa do medo e do pior de todos do medo da verdade da sua verdade COHN 1994 p15 Julgamos oportuna a nota no sentido de melhor esclarecer o termo fundamental para o entendimento do pensamento de Adorno e Horkheimer na crítica que fazem às propostas humanistas feitas nos inícios da modernidade e que não se cumpriram A racionalidade daí resultante transformase em uso instrumental da razão voltada a uma racionalidade técnica aplicada não somente ao domínio da natureza mas ao domínio do próprio homem É neste sentido que o termo Iluminismo vem sempre acompanhado do vocábulo alemão Alfklärung ilustração esclarecimento no sentido kantiano de emancipação e autonomia do indivíduo pelo uso da razão O termo AntiAlfklärung referese neste sentido ao engodo da razão moderna como mistifi cação das promessas de emancipação social quando se torna razão instrumental como afi rmação da sociedade burguesa enquanto modo social dominante 57 Narrativas publicitárias mídia e formação social Não se trata da parte de Adorno entretanto uma constatação esperançosa e vã esta não lhe cabe Tratase de uma postura de refl exão crítica contra a resignação e a dependência que a tutela dissemina ADORNO Theodor W Educação e emancipação Trad Wofgang Leo Maar Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 Mínima moralia refl exões a partir da vida danifi ca Tradução de Luiz Eduardo Bicca São Paulo Ática 1982 Prismas crítica cultural e sociedade Tradução de Augustin Wernet e Jorge Mattos Brito de Almeida São Paulo Ática 1998 Teoria da semicultura Educação Sociedade Revista Quadrimestral de Ciência da Educação Campinas SP ano XVII n 56 1996 CABRAL Plínio Propaganda técnica de comunicação industrial e comercial 3 ed São Paulo Atlas 1990 CALAZANS Flávio Mário de Alcântara Propaganda subliminar multimídia 2 ed São Paulo Summus 1992 COHN Gabriel Org Theodor Adorno In Sociologia São Paulo Ática 1994 DUARTE Rodrigo Adornos nove ensaios sobre o fi lósofo frankfurtiano Belo Horizonte Ed UFMG 1997 DURÃO Fábio Akcelrud ZUIN Antonio VAZ Alexandre Fernandez Org A indústria cultural hoje São Paulo Boitempo 2008 DURANDIN Guy As mentiras na propaganda e na publicidade Tradução de Antonio Carlos Bastos de Mattos São Paulo ISN 1997 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 58 HORKHEIMER Max ADORNO T W Dialética do esclarecimento fragmentos fi losófi cos Tradução de Guido de Almeida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editores 1985 Textos escolhidos Tradução de Zelijko Lorapié et al São Paulo Nova Cultural 1991 Os Pensadores JAMESON Fredric O inconsciente político a narrativa como ato socialmente simbólico Tradução de Valter Lellis Siqueira São Paulo Ática 1992 LESSA Patrícia Mulheres à venda uma leitura do discurso publicitário nos outdoors Londrina Eduel 2005 McLUHAM Marshall Os meios de comunicação como extensões do homem understanding media 5 ed Tradução de Décio Pignatari São Paulo Cultrix 200 MARX Karl Manuscritos econômicofi losófi cos e outros textos escolhidos Tradução de José Carlos Bruni et al 2 ed São Paulo Abril Cultural 1978 Os Pensadores PEIRCE Charles Sanders Semiótica e Filosofi a Collected papers São Paulo Cultrix Editora da Universidade de São Paulo 1975 PIGNATARI Décio Informação linguagem comunicação 25 ed São Paulo Ateliê Editorial 2003 Semiótica literatura São Paulo Ateliê 2004 SANTAELLA Lúcia Estética de Platão a Peirce São Paulo Experimento 1994 Cultura das mídias São Paulo Experimento 1996 SAUSSURE Ferdinand de Curso de linguística geral São Paulo Cultrix 1967 TOLEDO Cecília Mulheres o gênero nos une a classe nos divide 2 ed São Paulo Sundermann 2008 TOLEDO Dionísio de Oliveira Teoria da literatura formalistas russos 2 ed Porto Alegre Globo 1976 59 Narrativas publicitárias mídia e formação social 1 A partir da compreensão do texto lido faça um comentário sobre a defi nição e a função da publicidade 2 Releia o parágrafo 2 que trata da estrutura da mensagem publicitária e faça uma síntese do que você entendeu a respeito da temática ali abordada 3 Você notou que no decorrer do texto aparece o termo semiológico que se refere à Se miótica uma área do conhecimento que estuda os signos como elementos que repre sentam algo para alguém que os interpreta Neste sentido faça uma breve pesquisa para a compreensão do termo e em seguida de acordo com o texto faça algumas considerações referentes às conceituações que Charles Sanders Peirce e Décio Pignatari tecem sobre o assunto 4 Segundo as considerações apresentadas no texto sobre o processo de subliminaridade nos discursos publicitários demonstre os principais aspectos que você julga interessantes para o melhor entendimento do termo 5 Qual a relação que você estabelece entre mundo administrado totalitarismo e indiví duo Volte ao texto e faça uma refl exão a respeito 6 Há dois níveis de discurso publicitário tratados no texto a publicidade voltada ao público infantil e os usos do erotismo como apelo de venda Faça um estudo e demonstre o seu entendimento sobre esses dois níveis de publicidade 7 Nas considerações fi nais há uma referência relativa ao conceito de indústria cultural e sua relação com a sociedade de massas e o consumismo existente na sociedade industrial contemporânea Releia essa parte estabeleça a relação feita e procure entender as implica ções desse processo na vida das pessoas 1 Selecione um discurso publicitário revista outdoor TV jornal e faça uma análise de acordo com os principais pontos trabalhados no texto Bom trabalho e lembrese as difi culdades de entendimento de um texto se tomadas como desafi o tornamse o entendimento como experiência Atividade prática Proposta de Atividades EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 60 Anotações 61 Zuleika de Paula Bueno Cinema entretenimento e educação 5 ENTRETENIMENTO CONTEÚDO ESCOLAR Salas de aula equipadas com televisão fi lmes utilizados como recurso didático em disciplinas diversas excursões escolares para ver um novo lançamento na sala de cine ma mais próxima não resta dúvida de que o cinema é um componente dos conteúdos escolares Aliás um componente que muitas vezes rivaliza com os demais conteúdos considerados mais tradicionais e mais reconhecidos pelo espaço escolar Neste capítulo vamos privilegiar como objeto de estudo e investigação o chamado cinema de entretenimento forma cinematográfi ca dominante na produção contem porânea e também o mais controverso em relação a sua presença no espaço escolar AQUILO QUE DIVERTE COM DISTRAÇÃO O cinema de entretenimento está em cartaz nas grandes salas de exibição Ele é um dos principais componentes da programação vespertina da televisão Seus fi lmes habitam as prateleiras das locadoras dos grandes centros urbanos e das regiões mais afastadas das metrópoles O cinema de entretenimento combina com pipoca chocolate e refrigerante Ele atrai para as salas de exibição pais e crianças adolescentes animados e jovens apaixo nados Seus fi lmes são ideais para serem consumidos em casa em um sábado à noite após a pizza e o sorvete O cinema de entretenimento quer nos fazer acreditar que o amor está em toda parte e pode ser encontrado em qualquer lugar Ele alimenta aquela esperança de vivermos um momento inesperado que esperamos tanto Ele nos permite acreditar em heróis voadores e uniformizados que vestidos com uma capa colorida e dotados de superpo deres salvam toda a humanidade de uma grande catástrofe cósmica EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 62 O cinema de entretenimento é aquele que nos faz dar gargalhada com caretas tro peções e situações inusitadas Ele nos faz vibrar com perseguições corridas e fugas sensacionais Sabemos que vemos um fi lme de entretenimento quando tudo dá certo no fi nal afi nal no cinema de entretenimento vale aquela famosa frase no fi nal tudo dá certo se não deu certo é porque ainda não chegou ao fi m O cinema de entretenimento conta aquela história que a gente já conhece mas con tinua querendo assistir com novas personagens novos cenários e embalada por uma diferente trilha sonora O cinema de entretenimento sempre afeta os espectadores provocando risos lá grimas sustos espantos gritos entusiasmados e o conforto de um fi nal feliz Ele nor malmente desagrada os críticos e raramente ganha mais do que duas estrelinhas nas avaliações dos jornais UM POUCO DE HISTÓRIA O cinema surgiu como atração e divertimento no fi nal do século XIX misturado a diversas outras formas de distração que animavam os principais centros urbanos eu ropeus e assumiam explicitamente o caráter de espetáculo de massa isto é eventos destinados ao consumo de um grande número de pessoas SCHWARTZ 2001 As primeiras exibições do cinematógrafo como era chamado na época acontece ram em circos feiras de exposição parques de diversão e teatros populares Os fi lmes eram curtos exibindo cenas e situações que duravam apenas alguns minutos Nas suas origens portanto o cinema era mais uma curiosidade do que um meio de narrar histó rias GUNNING 1995 Ele era sobretudo um grande espetáculo visual uma espécie de técnica capaz de projetar uma ilusão óptica quase inacreditável imagens fotográfi cas em movimento Os fi lmes exploravam o fascínio diante do aparato cinematográfi co e registravam incansavelmente tomadas da vida urbana cotidiana o grande número de pessoas cami nhando nas ruas o alvoroço dos bondes elétricos os eventos políticos as festas popula res enfi m as mais diversas situações chamadas então de atualidades e transformadas em atrações É importante destacar que a tecnologia cinematográfi ca surgiu como decorrência da intensifi cação das transformações produtivas em desenvolvimento desde o século XVIII período conhecido no ocidente como Revolução Industrial Tal revolução conheceu novos desdobramentos sociais e tecnológicos no século seguinte a partir da chama da Revolução Científi coTecnológica a qual se caracterizou pela exploração de novas fontes energéticas capazes de acelerar a produção industrial O uso da eletricidade é o grande símbolo dessa nova fase de transformação produtiva também marcada pela ex 63 ploração do petróleo pelo desenvolvimento químico e pela invenção de equipamentos que causaram profundo impacto na vida social e cultural dos centros urbanos como os automóveis os bondes elétricos o rádio a fotografi a e o cinema além da versão espetacularizada de todos esses aparatos oferecida pelos parques de diversão e sua principal atração a montanharussa SEVCENKO 2001 Esse invento essencialmente direcionado para o divertimento produzia uma tensão entre o risco e a segurança oferecidos pela tecnologia gerando um tipo de choque e prazer sensorial que orientou uma nova estética das atrações posteriormente defi ni do como entretenimento GUNNING 1995 Conforme identifi cou o fi lósofo alemão Georg Simmel logo no início do século XX era a metrópole e sua vida mental que impulsionavam as novas formas de diversões jogos e estímulos sensoriais tão bem re presentados pelos parques de diversão e pelo cinema SIMMEL 1979 Percebemos portanto que o entretenimento encontrou na modernidade uma de marcação histórica e na metrópole uma delimitação espacial Assim como nos grandes centros europeus nas jovens metrópoles americanas do início do século XX surgiram as tecnologias e as práticas culturais que confi guraram uma emergente indústria do en tretenimento e um mercado de emoções baratas onde o que se pagava era o preço da vertigem SEVCENKO 2001 sobretudo a vertigem de viver o drama da modernidade um colapso das experiências anteriores de espaço e de tempo por meio da velocidade uma extensão do poder e da produtividade do corpo humano e a consequente transformação deste por meio de novos limiares de demanda e pe rigo criando novas formas de disciplina e regulação corporais com base em uma nova observação e conhecimento do corpo GUNNING 2001 p 40 No caso do cinema norteamericano o valor das emoções baratas foi estabelecido por volta de 1905 e 1907 pelo preço de um níquel o equivalente à moeda de 5 centavos de dólar quantidade cobrada pelo ingresso nos então recentes salões de exibição an tigos depósitos e velhos armazéns reformados chamados de poeiras ou nickelodeons denominação que se referia ao valor do ingresso cobrado pelas atrações cinemato gráfi cas Oferecendo uma variedade de curtasmetragens que ensaiavam as primeiras técnicas de montagem cortes e enquadramentos posteriormente desenvolvidos como princípios da linguagem cinematográfi ca clássica os nickelodeons desenvolveram na população principalmente entre os trabalhadores migrantes e imigrantes recémche gados às metrópoles o hábito de frequentar um espaço fechado especialmente destina do à espectatorialidade fílmica ou seja à dedicação exclusiva de um tempo destinado a assistir fi lmes principalmente comédias e fi tas de perseguição SKLAR 1975 Curio samente nos nickelodeons as produções de maior sucesso popular eram de origem francesa e não norteamericana A empresa Pathé era na época a principal companhia produtora e distribuidora de fi lmes de entretenimento ABEL 2001 Foi também na Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 64 França que surgiu o cinema de efeitos especiais explorando o potencial ilusionista da tecnologia cinematográfi ca como o fez o mágico e cineasta francês Georges Mélies pioneiro na utilização de trucagens capazes de simular cenas e situações fantásticas e maravilhosas Tamanho sucesso dos nickelodeons logo despertou a atenção e a desconfi ança dos setores mais conservadores da sociedade norteamericana Nos Estados Unidos nação muitas vezes identifi cada com o próprio entretenimento a proliferação dos diverti mentos populares no início do século XX foi duramente atacada por uma emergente intelectualidade que enxergava nos espetáculos visuais e mecânicos como o cinema manifestações vulgares de uma sensibilidade popular irracional e alienada que deveria ser censurada controlada e civilizada GABLER 1999 Portanto não tardou para que tais espaços fossem alvo de controle de políticos policiais religiosos e demais varieda des de reformadores sociais Os próprios produtores cinematográfi cos norteamerica nos começaram a se incomodar com as liberdades que as companhias e distribuídas francesas possuíam na exploração comercial das salas de cinema ABEL 2001 Como forma de garantir maior controle sobre a produção distribuição e exibição de fi lmes a indústria cinematográfi ca norteamericana se engajou em uma verdadeira cruzada moralista atacando as fi tas estrangeiras e defendendo um cinema capaz de expressar as formas princípios e valores considerados autenticamente americanos cujo principal representante foi o cineasta D W Griffi th considerado o pioneiro na invenção da narrativa cinematográfi ca clássica estabelecendo as convenções estilísticas utilizadas até hoje no cinema do primeiro escalão da indústria O fortalecimento da nar rativa e do aparato cinematográfi co gerou novas relações espectatoriais com a produção fílmica consideradas formas mais sérias de experiência subjetiva com o meio LYRA SANTANA 2006 As convenções desse cinema de primeiro escalão inventaram além de uma forma específi ca de contar histórias no cinema uma determinada moral da história que valorizava a representação da sociedade norteamericana caracterizada por um ideal de civilização construído pelas ações de mocinhos e mocinhas brancos de classe média e protestantes que lutavam para se estabelecer em uma nação constantemente ameaçada pelos ataques estrangeiros Obviamente tal representação ganhou força nos anos posteriores reforçada indus trialmente e ideologicamente pelos confl itos das duas grandes guerras Com isso ao invés dos operários a classe média se tornou o público consumidor preferencial dos longasmetragens formato que se tornou dominante na indústria e frequentador das salas de exibição que se converteram em verdadeiros palácios de cinema Era o início da era dos estúdios e da construção de grandes companhias de entretenimento 65 No fi nal da Primeira Guerra Mundial em 1918 os Estados Unidos já eram mun dialmente o principal produtor e distribuidor de fi lmes Nessa época delineavamse o estilo e o modo de produção que fi caram mundialmente conhecidos como o cinema clássico hollywoodiano Caracterizado pela força produtiva da indústria cinematográfi ca norteamericana BORDWELL 2005 o cinema clássico se estabeleceu como a forma dominante de se fazer fi lmes Conforme nos explica Graeme Turner Capitalizando com a garantia de um grande mercado doméstico as companhias norteamericanas fi zeram uso de seu domínio para mudar a estrutura da indús tria cinematográfi ca Antes a produção dos fi lmes sua distribuição para as salas de produção e o gerenciamento destas salas eram feitos por empresas distintas À medida que crescia o domínio norteamericano tornavase evidente que o controle sobre a indústria cinematográfi ca podia ser assegurado se uma com panhia produzisse distribuísse e exibisse seus próprios fi lmes Essa alteração estrutural chamada de integração vertical teve início depois da Primeira Guerra Mundial Durante toda a década de 1920 a Paramount a Loews Fox e Gold wyn iniciaram projetos de expansão integração e principalmente de aquisição nas grandes cidades de salas de projeção que só exibiam fi lmes novos em pri meira mão Seguiramse práticas restritivas como o aluguel de lotes de fi lmes ou block booking que possibilitava aos produtores um acordo com os exibidores no qual estes alugavam um pacote fechado de fi lmes sem direito à escolha TUR NER 1997 p 24 Foi nesse momento também que as companhias produtoras concentraram seus es túdios no sul do estado da Califórnia região que entre outras condições oferecia sol praticamente o ano todo uma diversidade de características geográfi cas cidade mon tanha mar deserto ideais para a locação dos mais diversos roteiros SKLAR 1985 Nascia Hollywood nome praticamente sinônimo do cinema de entretenimento Pa ramount Warner Fox Columbia Universal e Metro nomes ainda presentes no mer cado cinematográfi co constituíam alguns dos estúdios que praticamente inventaram o cinema como grande indústria Entre as décadas de 1930 e 1950 com o advento do cinema falado e a consolidação dos grandes gêneros cinematográfi cos como o faroeste e o musical os estúdios nor teamericanos conheceram o apogeu da sua forma clássica de produção O que entendemos por tal forma clássica pode ser resumido em algumas caracterís ticas fundamentais 1 a verticalização da produção ou seja o controle total dos fi lmes desde a sua realização até a exibição 2 a criação de um star system isto é a exploração intensa da imagem de um con junto de atores e atrizes consagrados que concediam entrevistas participavam de shows teatrais fi guravam constantemente em jornais e revistas divulgavam detalhes de suas vidas privadas para o público e sempre estreavam os fi lmes de maior orçamento e investimento publicitário Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 66 3 a primazia do roteiro e a valorização de uma boa história a ser contada por meio de um certo conjunto de características estilísticas 4 a constituição de gêneros cinematográfi cos imediatamente reconhecidos pelo público como as comédias pastelão os fi lmes de gangster os faroestes 5 a força do produtor cinematográfi co quer dizer da pessoa responsável pela es colha fi nal dos roteiros a serem fi lmados dos diretores atores custos de pro dução investimento publicitário data de lançamento versão fi nal dos fi lmes enfi m de tudo aquilo que faz do cinema um negócio altamente lucrativo 6 fi nalmente a conquista do mercado internacional e dos diversos segmentos de mercado relacionados com o cinema como seria a televisão a partir da década de 1950 CALIL 1996 Como vemos a formação do cinema de entretenimento não foi sorte ou acaso Ela esteve relacionada com o desenvolvimento de estratégias de divulgação distribuição e exibição de fi lmes além da consolidação de fortes indústrias de produção de cinema O CINEMA É ARTE Simultaneamente à consolidação do cinema como indústria e entretenimento surgi ram na segunda década do século XX diversos debates produções e manifestações que assumiram o cinema como expressão artística Na Alemanha o expressionismo indicava uma nova forma de combinar artes gráfi cas e imagem cinematográfi ca inspirando uma cinematografi a estética e tecnicamente inovadora CÁNEPA 2006 Na França a con corrência com a forte indústria norteamericana impulsionou a renovação estética da produção cinematográfi ca resultando no impressionismo dos cineastas Abel Gance Germaine Dulac e Jean Epstein entre outros A União Soviética desenvolvia novos prin cípios de montagem buscando no construtivismo uma expressão revolucionária da arte cinematográfi ca Também as vanguardas artísticas surrealismo dadaísmo futurismo e cubismo teorizaram sobre o cinema e experimentaram seu aparato tecnológico como instrumento de criação artística STAM 2000 Embora promovesse uma experiência estética bastante diversa daquela proporcio nada por outras artes visuais como a pintura escultura ou a arquitetura o cinema conquistou nas décadas de 1910 e 1920 o reconhecimento como arte híbrida e me cânica bem como a fotografi a Uma arte caracterizada pela reprodutibilidade técnica pela predominância do olho sobre a mão e pela mediação subjetiva por meio da máqui na BENJAMIN 1985 Não foram poucos os artistas cineastas e intelectuais que enxergaram no hibridismo do cinema ou seja na mistura de arte e mecânica um potencial transformador da expe 67 riência subjetiva na modernidade O realizador independente Stan Brakhage diretor de fi lmes experimentais por exemplo defendia que a experimentação artística cinemato gráfi ca nos permitiria reaprender a olhar o mundo a reconstruir a experiência pessoal de ver em todos os seus níveis e a ter maior consciência sobre o que as imagens nos mostram XAVIER 1983 p 182 O CINEMA EDUCA O potencial transformador da subjetividade por intermédio do cinema não era preo cupação unicamente dos artistas mas também dos educadores No início do século XX uma das discussões mais acaloradas sobre as produções e os usos do cinema dizia respeito ao seu potencial educativo Analisando os fi lmes e o público consumidor de películas os intelectuais pro fessores jornalistas católicos passaram a identifi car o cinema como um im portante veículo de persuasão sendo capaz de infl uir diretamente a mente das pessoas A partir dessa constatação passaram a propor o uso da cinematografi a como um instrumento auxiliar na educação na higienização na formação de uma raça forte e na divulgação de valores nacionais ROSA 2006 Assumido pelo Estado sobretudo por aqueles de ideologia fortemente nacionalista como o italiano o alemão e o brasileiro a defesa do cinema educativo se misturou aos ideais de civismo patriotismo e construção das identidades nacionais No caso brasileiro a grande defesa do cinema educativo partiu dos intelectuais li gados aos princípios da Escola Nova os quais conduziram o debate sobre cinema e educação opondo a vertente educativa à produção de um cinema de entretenimento que na opinião desses educadores em nada contribuía para o desenvolvimento moral do alunado Cabia ao cinema educativo promover a emoção sadia a racionalidade inte lectual e o espírito patriótico além de combater as reações descontroladas excessivas e desvairadas características das matinês infantis A disciplinarização deveria ser imposta pois somente assim seria possível o cinema educativo incutir nas crianças o valor do trabalho e da solidariedade MORETTIN 1995 p 15 A educação pelo cinema portanto deveria começar já na infância a fi m de gerar adultos aptos a integrarem o progresso moral da nação brasileira O cinema seria um aliado no desenvolvimento de uma capacidade cognitiva superior abstrata racionaliza da rejeitando o comportamento incitado pelo cinema de má qualidade O mau cine ma era aquele que valorizava as expressões corporais e emocionais entendidas por tais intelectuais como atrasadas e primitivas Como assinala o historiador Eduardo Morettin O cinema identifi cado com o mal é o cinedrama Este tipo de cinema cor responderia a uma fase presente desde sua criação que seria substituída pelo cinema educativo Para os autores educadores a grande maioria a das Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 68 produções de então provocam o riso e arranhões na moral O alvo de sua criti ca é a maioria das comédias dramas e fi lmes policiais com raríssimas exceções MORETTIN 1995 p 1415 Em outras palavras para os educadores o cinema de má qualidade era justamente aquele que identifi camos como entretenimento O CINEMA DIVERTE De todas as questões descritas neste capítulo a indagação O cinema diverte é aquela que à primeira vista permite uma resposta mais imediata Porém como vimos anteriormente nem toda a produção cinematográfi ca é realizada para a fruição trivial do entretenimento Em linhas gerais a proposta do cinema educativo dos anos 1920 brevemente discu tido no tópico anterior ataca justamente o formato e o conteúdo desse cinema marcado pela ação e emoção e pela forte participação corporal de seus espectadores isto é o cinema de entretenimento Defi nimos aqui como cinema de entretenimento aquele que se caracteriza por uma apreensão trivial destinada ao divertimento e passatempo LYRA SANTANA 2006 O cinema dos primeiros tempos exibidos em teatros feiras e circos como já assina lamos caracteriza bem essa apreensão divertida e lúdica possibilitada por certos fi lmes gerando um tipo de experiência espectatorial que motiva a participação corporal ex pressiva dos espectadores como afi rmam Bernadette Lyra e Gelson Santana 2006 Dessa forma embora todo o cinema seja sempre uma imensa nostalgia do cor po cravada no coração dos sistemas de representações e nele os espectadores experimentam em maior ou menor grau na imaginação tudo aquilo que não podem experimentar corporalmente parecenos que alguns fi lmes estão mais próximos de uma produção de presença tanto por razões culturais externas quanto pela confi guração de suas formas enquanto que outros se aproximam mais de uma condição de produção de sentido junto ao intelecto dos espectado res Não é à toa que de alguns fi lmes se diz que lançam mão de recursos expres sivos excessivos Ou seja são apelativos Esse apelo certamente diz respeito às formas fílmicas e às percepções que provocam nos espectadores muito pró ximas dos jogos quentes do corpo e distantes do jogos intelectuais frios Por essa razão tais fi lmes são comumente associados ao comportamento trivial do entretenimento e se vêem destituídos no esquema de valoração da experiência LYRA SANTANA 2006 p 12 O cinema de entretenimento é um cinema que transforma emoções em sensações Logo suas formas expressivas não são nada ingênuas puras ou inocentes o que ao contrário do que poderíamos pensar também não as torna falsas ou ilusórias O entre tenimento proporciona um divertimento real 69 O cinema de entretenimento possui fortes matrizes populares que sustentam a pro dução e o consumo de massa Se o cinema é um híbrido de arte e mecânica como postulavam os vanguardistas do início do século XX também é um híbrido entre corpo e imaginário e entre popular e massivo como já afi rmou Jesús MartinBarbero 1997 Como já pontuamos o que propomos como defi nição desse cinema de entreteni mento problematiza categorias como autêntico popular ou inocente O que isso quer dizer Aquilo que parece autêntico na comédia no drama no fi lme de aventura é altamente calculado A identifi cação que estabelece com o público é organizada por um princípio mercadológico e massivo Além disso não existe nada de ingênuo nas ações e emoções que provocam Não obstante tal cinema desperta poderosas reações emo cionais forte identifi cação subjetiva intensa reação corporal e constantemente retoma temas situação e conteúdos sedimentados em uma espécie de depósito imaginário popular Justamente por não ser óbvio simples e homogêneo o cinema de entreteni mento é tão sedutor seja como objeto de apreensão trivial seja como elemento de análise estudo e compreensão das práticas culturais O QUE É ENTRETENIMENTO Devemos pensar o entretenimento como um grande ambiente articulado a di versos processos de comunicação HERSCHMANN KISCHINHEVSKY 2007 sendo o cinema um desses processos Uma das maneiras de analisarmos tal articulação se dá pela noção de sinergia que focaliza a integração de mercadorias das diferentes indústrias culturais as canções veiculadas nas rádios compõem a trilha sonora de fi lmes e telenovelas que por sua vez são assuntos das matérias de revistas as quais recomendam a leitura dos bestsellers nos quais se baseiam os roteiros dos novos sucessos cinematográfi cos SEVCENKO 2001 p 76 As estratégias de sinergia já eram exploradas pelo mercado de entretenimento desde fi nais do século XIX quando as atrações e o comércio de sensações começam a proli ferar nas cidades nos parques de diversão por exemplo Também já vimos que a in dústria de cinema em seu período clássico explora por meio do star system relações simbióticas com as revistas a publicidade os espetáculos teatrais e os então emergentes programas televisos A partir de meados do século XX porém de estratégias tais relações se tornam a essência da indústria do entretenimento Como nos explica Alessandra Meleiro Desde os anos 1950 as grandes corporações passaram a controlar a indús tria cinematográfi ca americana e signifi cativa parcela de outros setores mi diáticos nos EUA Em outras palavras essas companhias já não dependem de um único tipo de mídia para obter lucros pois estão envolvidas na produção Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 70 e distribuição de um amplo leque de produtos e serviços de informação e entretenimento de jornais e revistas redes de televisão e produtos audiovisuais de sites e parques temáticos As empresas de Hollywood não só compõem essas companhias diversifi cadas como o próprio cinema mas exercem igual controle sobre a veiculação televisão televisão a cabo homevideo etc e sobre os produtos que frequentemente acompanham um fi lme músicas merchandising etc MELEIRO 2007 p 18 A transformação dos estúdios em megacorporações se deu em decorrência de di versas pressões políticas e econômicas que inovaram os padrões do cinema clássico Os grandes estúdios travaram ao longo dos anos 1940 uma intensa batalha contra as leis antitrustes impostas pela justiça norteamericana leis estas que determinavam o fi m da integração vertical Consequentemente os grandes estúdios acabaram por se subdivi dir em diversas empresas independentes mas articuladas nos segmentos da produção distribuição e exibição de fi lmes Nos anos seguintes a consolidação da televisão como nova forma de entretenimento universal e diversão para toda a família posição ante riormente ocupada pelo cinema contribuiu para abalar a hegemonia dos estúdios mas inventou um novo espaço de exibição e comercialização de fi lmes A partir da década de 1960 os antigos estúdios se associaram aos produtores indepen dentes formando um vasto sistema de corporações integradas horizontalmente chamado de Nova Hollywood A partir dos anos 1970 Hollywood revelaria a força de seu novo sis tema fundamentado na diversifi cação de companhias empresariais e linhas de produção Essa perspectiva analítica favorece a compreensão das condições de produção e con sumo das formas de mercadoria que estruturam o entretenimento como um circuito de capital Assim é importante entender o entretenimento a partir de sua organização por instituições e empresas ligadas aos mais diversos setores produtivos que concentram segundo Luiz Gonzaga TRIGO 2003 p 21 atividades que na origem são diferentes esportes notícias arte educação lazer turismo show business mas que se articulam enquanto mercadorias des tinadas a um consumo específi co caracterizado pelo prazer Além da dimensão industrial Neal Gabler 1999 propõe que pensemos o entrete nimento como uma forma de experiência sensorial prazerosa encontrada em atividades ou produtos que provocam um intenso apelo emocional e um forte estímulo sensitivo em seus consumidores Paralelamente aos processos sinérgicos das indústrias o entretenimento promove articulações entre consumo subjetivação práticas de comunicação e movimentos so ciais geradores de formas específi cas de prazer caracterizadas pela exploração de deter minadas sensações choro riso susto alívio etc Esse princípio de prazer se encontra no próprio signifi cado da palavra entretenimento 71 Conforme informa Gabler entretenimento é uma palavra de origem latina e se for ma a partir da combinação de dois elementos inter entre e tenere ter Portanto uma das ideias que essa palavra nos sugere é a de experimentar um evento efêmero algo que se dá entre um momento e outro de uma sequência rotineira um evento extraordinário que coloca em suspensão os eventos cotidianos Outra ideia que podemos conceber a partir dessa defi nição etimológica é a de se deixar envolver plenamente por tal evento Durante a sua realização entre o evento absorve completamente seus participantes espectadores ele os tem Daí a razão pela qual a concepção de entretenimento se tornou sinônimo de distrair ou iludir Desenvolvido na análise cultural principalmente como uma característica negativa e como reveladora da diluição dos projetos políticos coletivos a noção de entreteni mento como assinalaria Umberto Eco 2004 se revestiu de uma perspectiva apoca líptica Contudo sem incorrer no outro polo dessa leitura ou seja em uma posição integrada Herschmann e Kischinhevsky sugerem apreender o entretenimento como uma produção agenciada por diferentes atores e organizações sociais logo passível de servir a interesses confl itantes e variados reforçando em determinadas circunstâncias os processos de normatização da vida social favorecendo inclusive a mobilização e reivindicação de grupos minoritários Assim acrescentam é fundamental analisar o en tretenimento como narrativas performáticas exibidas em uma arena política domina da por grandes corporações agentes que dispõem de maior visibilidade voz e poder de atuação mas também aberta à ação e exibição de atores sociais menos poderosos Neste sentido nenhuma outra manifestação de entretenimento foi mais poderosa no século XX do que o cinema GABLER 1999 p 50 O QUE NÓS PROFESSORES TEMOS A VER COM TUDO ISSO O entretenimento não conquistou apenas os espaços de lazer da vida contemporâ nea mas avançou em direção aos mais diversos espaços da vida cotidiana e instituições sociais dentre elas a escola Como os professores lidam com essa presença do entretenimento na escola e nas salas de aula Alguns são entusiastas e enxergam fi lmes músicas e demais produtos da indústria como aliados incondicionais dos processos educativos Outros assumem uma vertente mais apocalíptica considerando tal presença como um elemento não apenas estranho mas contrário e ameaçador aos objetivos escolares Como já vimos porém essas concepções não são novas e estão presentes no debate tanto do cinema quanto da educação desde o início do século XX A primeira atitude que devemos assumir diante desse debate portanto é reconhe cer que a discussão cinema educação possui uma história um acúmulo de materiais Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 72 e um conjunto de produções que não nos permite considerar tal problemática inédita ou emergente Dessa forma já avançamos a respeito das perspectivas apocalípticas que acometem muitos educadores Além disso também afastamos o posicionamento dema siadamente integrado dos entusiastas do eduentretenimento Outro posicionamento importante que deve ser assumido pelo professor é a cons tante desconfi ança em relação à presença do entretenimento na escola Em outras pa lavras não se deve ignorar tal presença tampouco considerála extremamente familiar Não se trata ainda de rejeitar o entretenimento ou de exaltálo Tratase na verdade de cultivar uma espécie de arte da desconfi ança Consideramos que tal desconfi ança é fundamental para que se problematizem as relações entre escola e entretenimento Somente a partir de tal problematização é que se pode construir um trabalho educativo relevante junto aos alunos Problematizar os conteúdos do entretenimento em sala de aula signifi ca valorizar a voz do professor diante das produções da indústria Conforme afi rma Cristina Costa é muito importante que o professor continue se colocando como narrador de seu conteúdo teórico para o qual a apresentação é apenas um dos meios de sensibilização e informação Ele não deve deixar que o narrador tome o seu lugar nem que o conteúdo do fi lme seja recebido como um discurso inquestio nável 2005 p 102 Para isso é fundamental que o professor amplie seu repertório e procure desenvol ver uma espécie de cultura cinematográfi ca de leitura e de imagens COSTA 2005 para se relacionar com mais segurança com os conteúdos e produtos das indústrias do entretenimento Pensamos que o entusiasmo demasiado bem como o temor apocalíp tico que atinge os profi ssionais da educação em relação ao entretenimento acontece justamente por um desconhecimento dos mecanismos dos processos de produção e das matrizes culturais que formam o entretenimento Não se trata por conseguinte de travar uma batalha contra o entretenimento mas de proporcionar uma discussão sobre ele destacando seus aspectos produtivos e cul turais Enfi m devemos partir do entretenimento para ir além dele em sala de aula Para tanto recorremos novamente a Costa que enuncia É muito importante que a grande produção cinematográfi ca de fi lmes de fi cção faça parte da prática educativa porque são os fi lmes que trazem via de regra os recursos expressivos mais atuais e porque é em torno deles que o mundo das imagens em movimento se organiza e se orienta Defendemos também que a ideia de que a escola deve levar em conta a cultura e os hábitos midiáticos de seus membros para criar um espaço de refl exão e análise com o qual os alunos se sintam familiarizados e à vontade para lidar com suas emoções e com o impacto que as imagens provocaram em sua subjetividade O que estamos propondo portanto é que em uma educação pela imagem essa cultura videográfi ca que faz 73 parte do imaginário do professor tanto quanto de seus alunos possa servir de meio para uma bemsucedida discussão nas mais diferentes disciplinas 2005 p 101105 Assim os professores devem conhecer o que é como se formou historicamente como age e o que o entretenimento proporciona Esse foi o objetivo deste capítulo Propomos em seguida algumas atividades que possam interferir no repertório dos futuros professores e familiarizálos com a produção acadêmica contemporânea sobre o entretenimento Para fi nalizar este capítulo mas não essa discussão vamos encerrar com uma afi rmação de Celso Favaretto 2004 p 13 Tomar o cinema como instância educativa implica redirecionar as tradicionais questões sobre as relações entre pensamento e sensibilidade entre juízos de gosto e prazer da fantasia entre experiência refl exiva e consumo de expe riências Cinema entretenimento e educação ABEL R Os perigos da Pathé ou a americanização dos primórdios do cinema americano In CHARNEY L SCHWARTZ V O cinema e a invenção da vida moderna São Paulo Cosac Naify 2001 p 258312 BENJAMIN W A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica In Obras escolhidas Magia e técnica arte e política ensaios sobre literatura e história da cultura São Paulo Brasiliense 1985 p 165196 v 1 BORDWELL D O cinema clássico hollywoodiano normas e princípios narrativos In RAMOS F P Teoria contemporânea do cinema São Paulo Senac 2005 p 277301 CALIL C A M Cinema e indústria In XAVIER Ismail Org O cinema no século Rio de Janeiro Imago 1996 p 4469 CÁNEPA L L Cinema expressionista alemão In MASCARELLO F Org História do cinema mundial Campinas SP Papirus 2006 p 5587 COSTA C Educação imagem e mídias São Paulo Cortez 2005 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 74 ECO U Apocalípticos e integrados São Paulo Perspectiva 2004 FAVARETTO C Prefácio In SETTON M G J A cultura da mídia na escola ensaios sobre cinema e educação São Paulo Annablume 2004 p 913 GABLER N Vida o fi lme como o entretenimento conquistou a realidade São Paulo Companhia das Letras 1999 GUNNING T O retrato do corpo humano a fotografi a os detetives e os primórdios do cinema In CHARNEY L SCHWARTZ V O cinema e a invenção da vida moderna São Paulo Cosac Naify 2001 p 3980 Uma estética do espanto o cinema das origens e o espectador in crédulo Revista Imagens São Paulo n 5 p 5261 agoset 1995 HERSCHMANN M KISCHINHEVSKY M A geração podcasting e os novos usos do rádio na sociedade do espetáculo e do entretenimento InENCONTRO ANUAL DA COMPÓS 16 2007 Curitiba Anais Curitiba 2007 MARTINBARBERO J Dos meios às mediações comunicação cultura e hegemonia Rio de Janeiro UFRJ 1997 MORETTIN E V Cinema educativo uma abordagem histórica Comunicação Educação São Paulo n 4 p 1319 1995 ROSA C O cinema educativo através dos discursos de Mussolini e Vargas S l s n 2006 Disponível em http65 254 34 170mnemocinmodules smartsectionitem phpitemid21 Acesso em 16 set 2008 SCHWARTZ V O espectador cinematográfi co antes do aparato do cinema o gosto do público pela realidade na Paris fi mdeséculo In CHARNEY L SCHWARTZ V O cinema e a invenção da vida moderna São Paulo Cosac Naify 2001 p 411440 SEVCENKO N A corrida para o século XXI no loop da montanharussa São Paulo Companhia das Letras 2001 75 Cinema entretenimento e educação SIMMEL G A metrópole e a vida mental In VELHO O G O fenômeno urbano Rio de Janeiro Zahar 1979 p 1125 SKLAR R História social do cinema americano São Paulo Cultrix 1975 STAM R Introdução à teoria do cinema Campinas SP Papirus 2000 TRIGO L G G Entretenimento uma crítica aberta São Paulo Senac 2003 TURNER G Cinema como prática social São Paulo Summus 1997 XAVIER I Org A experiência do cinema Rio de Janeiro Graal 1983 1 O website de compartilhamento de vídeos YouTube wwwyoutubecombr permite aces sar alguns dos fi lmes produzidos no fi nal do século XIX e início do século XX Vasculhe a partir de sua ferramenta de busca as produções dos irmãos Auguste e Louis Lumière do mágico George Méliès e da empresa norteamericana Thomas Company Na sala de batepapo chat discuta os fi lmes com os colegas e troquem outras sugestões de vídeos encontrados acerca dos primeiros anos do cinema 2 Ainda utilizando o website YouTube procure trechos dos fi lmes produzidos pelas grandes vanguardas artísticas Busque vídeos a partir das seguintes palavraschave Sergei Eisens tein Dziga Vertov Um chien Andalou La folie du docteur tube Pesquise mais sobre as vanguardas cinematográfi cas na internet e busque outros vídeos Na sala de batepapo chat discuta com os colegas os fi lmes e troque impressões referentes às obras 3 Acesse o website wwwportacurtascombr e escolha um dos muitos curtas disponíveis Sugira os vídeos assistidos para os colegas 4 Faça um plano de aula envolvendo um fi lme de grande bilheteria Pense em temas que podem ser discutidos a partir desse fi lme Nesse planejamento inclua o maior número de informações possíveis relativas ao fi lme Defi na objetivos para tal atividade e pense em hipóteses e resultados esperados 5 Acesse na Internet o texto de Harry Potter produção consumo e estratégias de entre tenimento da professora Silvia Helena Simões Borelli O texto é o resultado de uma co municação apresentada no encontro anual da Associação Nacional de Programas de Pós Graduação em Comunicação e está disponível no link httpwwwcomposorgbrdata biblioteca259pdf Faça uma resenha do texto envie para o seu tutor e discuta com os colegas as ideias trabalhadas pela professora na sala de batepapo Aproveite para debater sobre a importância ou não de inserir tal produção literária e cinematográfi ca nas ativida des de sala de aula Proposta de Atividades EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 76 Utilize o website wwwscielobr para continuar as leituras e a pesquisa de artigos que discutem a relação entre cinema entretenimento e educação Por meio do website é possível acessar o conteúdo de publicações importantes da área acadêmica como os Cadernos Cedes Educar em Revista Educação Sociedade Educação e Pesquisa Educação em Revista Revista Brasileira de Educação entre inúmeros outros periódicos Veja por exemplo os artigos abaixo relacionados Guimarães Áurea M O cinema e a escola Formas imagéticas da violência Cadernos CEDES v 19 n 47 Campinas dez 1998 Disponível em httpwwwscielobrscielo phpscriptsciarttextpidS010132621998000400008lngptnrmiso OLIVEIRA Bernardo Jefferson de Cinema e Imaginário Científi co História Ciências Saúde Manguinhos v 13 supl 0 Rio de Janeiro out 2006 Disponível em httpwwwscielobr scielophpscriptsciarttextpidS010459702006000500009lngptnrmiso Outras sugestões de leitura Anotações 77 O que veio a sua mente quando leu o título deste capítulo Qual a imagem que lhe surgiu por primeiro Uma biblioteca Um museu Um teatro Um cinema Uma inte lectual Uma escola Uma professora Um desenho animado Ou um personagem animado criado pelos mais famosos estúdios de animação como a Disney e a Pixar Sugiro que você retenha a imagem se preferir pode desenhála ou escrevêla para ir relacionandoa se possível com o que vamos apresentar neste capítulo Observe que destacamos no título a EDUCAÇÃO a ESCOLA e o DESENHO ANI MADO Essas três palavras noções ou conceitos se transformam neste capítulo em categorias de análise por terem uma infi nidade de compreensões que merecem a nosso ver serem esclarecidas em razão de seus usos O que é EDUCAÇÃO para você Já parou para pensar em seu signifi cado Afi nal você está cursando Pedagogia um curso que se propõe a problematizar questões e a propor vivências estágios e atividades teóricopráticas relacionadas ao exercício pro fi ssional da educação para formar o pedagogo Em linhas gerais a Educação é entendida como um campo de refl exão e de atuação bastante amplo e complexo Tentar estabelecer os seus limites pode se tornar uma ta refa sem fi m até porque somos compelidos a estabelecer uma relação de prioridades que começam pela primeira categorização vamos priorizar os processos educacionais formais ou os informais Qualquer opção leva a uma infi nidade de outras problemati zações e noções que vão longe Todavia informalmente ou não sistematicamente ou não a Educação como as ou tras instâncias culturais se realiza se constrói e se reproduz por meio de instituições cinema teatro igrejas partidos políticos clubes associações empresas de entreteni mento museus escolas e tantas outras e de agentes sociais como pais professores artistas religiosos políticos comunicadores sociais e tantos outros Isso signifi ca que a depender da instituição e do agente podemse encontrar em uma mesma época e em um mesmo espaço formas de compreensão de Educação diferentes e divergentes entre si Ora mais voltada ao adestramento físico mental e social ora mais criativa Fátima Maria Neves A educação a escola 6 e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 78 participativa interativa e democrática com ênfase nos processos de desenvolvimento e de aprofundamento das capacidades cognitivas sensitivas e intuitivas dos seres hu manos em sua condição individual e social Vejam muito provavelmente uma determinada concepção de Educação remete ou acompanha uma concepção de ESCOLA Lembrese que se a noção de Educação nos permite concebêla de forma mais ampla menos localizada espacialmente a Escola não se restringe à abstração ela nos remete a uma concretização e a uma materiali zação no tempo e no espaço Escola pressupõe um espaço físico um rol de conhe cimentos e práticas construídas por ela e para ela um corpo profi ssional específi co composto de professores e funcionários técnicos além de um contingente de pessoas educáveis que formam o corpo discente os alunos Quanto mais estudamos e vivenciamos a escola quanto mais nos aproximamos do cotidiano escolar dos afazeres e das práticas dos professores mais questionamos as noções que a concebem como tão somente lugar de reprodução das desigualdades sociais e das relações impostas pelo movimento do capital Quanto mais observamos os desinteresses dos discentes mais problematizamos as noções que atribuem uni camente à competência dos gestores e à qualifi cação dos professores a tarefa de rein ventaremna ARROYO 2000 p 19 Sem esquecer os aspectos que reforçam no interior da escola a manutenção da de sigualdade social sem desconsiderar aquelas concepções que a veem como instituição dependente das relações econômicas sem menosprezar a importância da competên cia do quadro de profi ssionais mas também destacando e importabilizando o corpo de alunos como agentes de transformação vemos a Escola como Andre Chervel 1999 a concebe Esse francês historiador da educação não entende a Escola e seus agentes como determinados e impotentes Chervel 1999 p 195 e 198 assinala o papel criativo da escola e de seus agentes observando que o grupo de alunos a população educável também são os agentes de transformação porque exercem a função pedagógica re agindo e re defi nindo o limite da imposição e da liberdade pedagógica Nesse âmbi to disputando espaço com as práticas e os saberes considerados reprodutivistasen contramse as propostas que movimentamna a escola como lugar que produz uma cultura específi ca a cultura escolar Isso signifi ca afi rmar que para Chervel 1999 a escola ao criar seus mecanismos de funcionamento o seu cotidiano as suas práticas e os seus saberes as suas fi nalida des cria também um rol de conteúdos em suas disciplinas escolares distanciados da noção de reprodução ou de adaptação dos saberes científi cos eruditos os saberes das ciências Os saberes da escola não são saberes que reproduzem os saberes científi cos 79 A educação a escola e o desenho animado Ou seja os saberes criados na escola são da e para a escola Fato e ato que criam distâncias entre o saber construído pelas CIÊNCIAS e o saber veiculado na ESCOLA Não é inovadora e provocativa essa concepção de Escola de Chervel Alguma vez você pensou algo parecido Lembra da imagem que sugerimos que você criasse no início do texto Se imaginou algo relacionado à Educação ou à Escola consegue comparar o que imaginou com algum argumento aqui apresentado Ou sua mente foi tomada imediatamente por um DESENHO ANIMADO e por um personagem animado Não estranharíamos se isso aconteceu porque reconhecemos que apesar da força das imagens escolarizadas que temos incutidas em nossa mente o poder da imagem veiculada pelos desenhos animados são inigualáveis não só por conta do resultado es tético mas principalmente porque sua efi cácia se realiza por meio de um mecanismo físico e biológico denominado ilusão ótica As imagens são desenhadas fotografadas uma a uma e reproduzidas em grande velocidade Nesse processo elas as imagens fi cam retidas por frações de segundo na retina ocular e o cérebro as interliga criando a ilusão do movimento e o cinema de animação O Cinema de Animação não só surgiu antes do cinema fotográfi co cinema que co nhecemos normalmente como também se diferencia deste pelo uso de técnicas espe cífi cas O que caracteriza o cinema fotográfi co é a captação da imagem viva enquanto que a imagem do cinema de animação é desenhada ou montada depois fotografada individualmente uma a uma criando uma sequência de movimento Para as primeiras animações do início do século XX eram necessárias 16 imagens por segundo para produzir um movimento após o advento da cor e do som1 24 imagens se tornaram imprescindíveis É importante lembrar que se atribui ao francês Émile Reynaud 18441918 a cria ção do Cinema de Animação porque ele criou o praxinoscópio um sistema de anima ção composto por 12 imagens por segundo Observamos que desde seus primórdios até a atualidade o Cinema de Animação se constitui como um complexo processo que carece de um sistema industrial bastan te sofi sticado Dessa forma é compreensível que se relacione o Cinema de Animação como arte industrial dependente da economia de mercado e da tecnologia como um gênero cinematográfi co que se desenvolve apenas em países industrializados sendo seu crescimento proporcional ao desempenho industrial de cada país 1 A partir de 1927 o sistema de som se instala defi nitivamente nos EUA e em 1929 no Brasil EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 80 Você já observou de onde vem a maioria das animações Qual a nacionalidade dos grandes estúdios que produzem os desenhos animados Se pensou em Estados Unidos e Japão acertou de primeira Essas nações são expressões máximas da indústria de entretenimento e dos produtos licenciados Só para começar a mencionar dos EUA temos a Pixar a Dreamworks a Warner Bros e a Walt Disney Company E o que conhecemos do Anime nome dado à animação japonesa são aquelas distribuídas também por empresas estadunidenses EUA como Warner Bros No Brasil elas ganharam visibilidade por meio de canais televisivos como a Rede Globo e o Cartoon Network Vale a pena lembrar os mais consumidos Cavaleiros do Zodíaco Digimon Dragon Ball YugiOh Naruto Pokémon com Pikachu e mais outros 492 personagens Não podemos deixar de citar os Estúdios Ghibli que produziram entre outros os maravilhosos desenhos Meu amigo Totoro 1988 Porco Rosso 1992 Princesa Mononoke 1997 A viagem de Chihiro 2001 O Castelo Andante 2004 todos diri gidos por Hayao Miyazaki 1941 um reconhecido diretor japonês alcunhado contra sua vontade de Disney japonês Ele gostando ou não o fato é que o ocidente só to mou conhecimento de sua produção porque a distribuição foi realizada em parceria com a Disney Company E a produção do animador francês Michel Ocelot 1943 Você já ouviu falar dele Conhece seu trabalho Por que Kiriku e a Feiticeira 1998 Príncipes e Princesas 1999 Kiriku e os animais selvagens 2005 e As aventuras de Azur e Asmar 2006 não são conhecidos pelo grande público brasileiro Ousamos responder que é porque não têm a legenda da Disney na distribuição Que lástima para o público que aprecia animações que destacam outros universos culturais que não o hegemônico norteamericano Portanto não é de estranhar relacionarmos desenho animado com Walt Disney 19011966 Entretanto é bom lembrar que ele não foi o inventor do desenho anima do O francês Emile Cohl 18571938 é considerado o pioneiro do desenho animado porque criou Fantasmagorie2 projetado em 17 de agosto de 1908 Todavia a histo riografi a reconhece que foi Disney o primeiro a compreender que a produção de de senhos animados de qualidade dependia da organização de uma verdadeira indústria paralela à indústria do cinema NAZÁRIO apud BRUZZO 1996 p 58 É bom que se saiba que quando estamos falando de Desenho Animado estamos nos referindo a uma modalidade dentre as diversas modalidades do universo técnico 2 Essa animação pode ser vista pelo site httpmaisuolcombrviewtuy89orfhevqfantasmagorieemileco hl190804023172C0890326typesA Acesso em 11 de outubro de 2008 81 do Cinema de Animação como aponta DÉlia 1996 p 146 O Desenho Animado não só é apenas mais uma delas como é a mais antiga a mais acessível e por conseguinte a mais barata Essa modalidade se caracteriza por construir as animações por meio do desenho a mão em papel em transparências em película cinematográfi ca utilizando lápis canetas fi nas pontas secas pincéis esponjas com tinta e outros recursos A fi m de auxiliar os desenhistas na captação da evolução dos movimentos em 1914 Max Fleischer criou o rotoscópio um aparelho que fi lmava atores encenando e depois permitia que os desenhistas redesenhassem os personagens Estranho não Mas assim era e é a cena realizada e reproduzida com artistas para depois ser redesenhada Os desenhos animados mais famosos em que o recurso do rotoscópio foi utilizado foram A Branca de Neve e os sete anões3 Cinderela4 A Bela Adormecida5 A Pequena Sereia6 A Bela e a Fera7 Aladim8 Pocahontas9 Atlantis The Lost Empire10 e Lilo Stitch11 Todos eles produzidos pelos Estúdios da Disney Como informamos o desenho animado é apenas uma modalidade do Cinema de Animação existem outras que são construídas a partir do stop motion Stop motion é uma modalidade que se utiliza de modelos reais como bonecos articulados que podem ser de plástico madeira tecido ou qualquer material que pos sibilite a construção de uma forma tridimensional Não obstante o melhor material para essa modalidade tem sido a massa de modelar Podemos asseverar que com ela foram realizados os fi lmes O Estranho Mundo de Jack12 A Fuga das Galinhas13 Wallace Gromit14 e A Noiva Cadáver15 3 Dirigido por David Hand em 1937 4 Dirigido por Clyde Geronimi Wilfred Jackson e Hamilton Luske em 1950 5 Dirigido por Clyde Geronimi em 1959 6 Dirigindo por Ron Clements e John Musker em 1989 7 Dirigido por Gary Trousdale e Kirk Wise em 1991 8 Dirigido por Ron Clements e John Musker em 1992 9 Dirigido por Mike Gabriel e Eric Goldberg em 1995 10 Dirigido por Gary Trousdale e Kirk Wise em 2001 11 Dirigido por Dean DeBlois e Chris Sanders em 2002 12 Roteirizado por Michael McDowell produzido por Tim Burton e dirigido por Henry Slick em 1993 lançado pelos Touchstone Pictures estúdio de propriedade da Walt Disney Campany 13 Dirigido em 2000 por Peter Lord e Nick Parker e produzido pelos Estúdios da Dreamworks SKG Allied Film makers em parceria com Aardman Animations uma das maiores empresas de animação em massinha 14 Dirigido por Nick Park e Steve Box em 2005 produzidos pela Dreamworks Animation em parceria com a reco mendada Aardman Animations 15 Dirigido por Michael Johnson e Tim Burton em 2005 e produzido pelos Estúdios da Warner Bros A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 82 Além desses materiais também encontramos fi lmes animados que se utilizam de latas ferramentas sementes papelões16 e pedras17 Um exemplo de fi lme de animação que combina técnicas diferentes é o trabalho criado pela animadora alemã Lotte Reini ger que em 1955 criou com areia pintura sobre vidro e sombras chinesas uma versão do Conto de Fadas João e o Pé de Feijão18 E por fi m temos a animação digital que gera as imagens por meio da computação gráfi ca Os Estúdios da Dreamworks produziram a sequência de Shrek19 Madagascar20 e Bee Movie A história de uma Abelha21 Em parceria com a Pixar a Disney produziu Toy Story 22 Vida de Inseto23 Toy Story 224 Monstros SA25 Procurando Nemo26 Os Incríveis27 Carros28 Ratatouille29 e WallE30 Outra consideração bastante importante no campo do Cinema de Animação é o de saber distinguir Animação Clássica de Cartoon O Cartoon se caracteriza por desconsiderar e ignorar as leis naturais em que tudo é possível nas quais o exagero prevalece em que apesar de todos os infortúnios desastres e agressões sofridas os personagens não morrem Nas exibições de cartoon difi cilmente encontramos identifi cação emocional das plateias com os personagens o distanciamento é maior Dentre a infi nidade de cartuns que conhecemos um bom e clássico exemplo é o PapaLéguas e o Coiote31 16 Um exemplo da utilização desta técnica de stop motion e que vale a pena conhecer é o clip da música Yellow Submarine dos Beatles dirigido por George Dunning em 1967 que pode ser visto no site httpbryoutube comwatchvMCsYDZ2M04M Acesso em 10102008 17 Ver a animação Das Rad Pedras de Chris Stenner Arvid Uibel e Heidi Wittlinger produzido pelo estúdio alemão Filmakademie BadenWuerttemberg em 2001 com 8 min e 12 segundos de duração no site http bryoutubecomwatchvMKYwJVOgeY Acesso em 10102008 18 Ver o site httpbryoutubecomwatchv17wfx3nuywo Acesso em 10102008 19 Shrek 1 foi dirigido por Andrew Adamson e Vicky Jenson em 2001 Shrek 2 foi dirigido por Andrew Adamson Kelly Asbury em 2004 Shrek 3 foi dirigido por Chirs Miller e Raman Hui em 2007 20 O fi lme foi dirigido por Eric Darnell e Tom McGrath em 2005 21 Dirigido por Steve Hickner e Simon J Smith em 2007 22 O fi lme é de 1995 e foi dirigido por John Lasseter 23 Em 1998 dirigido por John Lasseter e Andrew Stanton 24 O fi lme foi dirigido por John Lasseter e Ash Brannon em 1999 25 Realizado em 2001 e dirigido por Pete Docter e David Silverman 26 Dirigido por Andrew Staton e Lee Unkrich em 2003 27 Produzido em 2004 e dirigido por Brad Bird 28 O fi lme foi dirigido por John Lasseter e Joe Ranft em 2006 29 Em 2007 dirigido por Brad Bird e Jan Pinkava 30 Dirigido por Andrew Staton em 2008 31 Criado por Chuck Jones em 1949 para os estúdios da Warner Bros 83 Você saberia responder por que a Disney não investe pesado em cartoon mas em animação clássica Diferentemente do cartoon a Animação Clássica prima pela relação natural crível entre os personagens no tempo e no espaço A identifi cação emocional da platéia com a narrativa é o foco é o fundamento da animação clássica A ênfase reside em promover a identifi cação entre a narrativa e os estados emocionais evitandose estra nhamentos Ou seja a prioridade da animação clássica é não permitir que por meio de um deslize narrativo ou imagético se desperte a atenção do expectador pois isso o distanciaria dos dramas da trama deixáloia livre aos seus próprios pensamentos e emoções Quanto mais concentrado melhor pois nesse caso a concentração está asso ciada à identifi cação Os desenhos animados da Disney produzidos a partir dos Con tos de Fada são imbatíveis na captura da atenção do expectador infantil ou adulto Dois bons exemplos de animação clássica porém com propostas culturais e peda gógicas bastantes diferentes são os desenhos animados da A Bela e a Fera e Kiriku e a Feiticeira Vamos apresentar um pouco de cada um deles para que você possa perceber a diferença O DESENHO ANIMADO A BELA E A FERA32 A A Bela e a Fera foi o 30º longametragem animado dos Estúdios criados por Walt Disney 19011966 lançado em VHS em 1991 e em DVD em 2001 Quem assistiu ao fi lme A Bela e a Fera dirigido em 1946 pelo aclamado diretor francês Jean Cocteau 1889 1963 percebe as relações os elos entre um e outro Os candelabros e a rosa do fi lme de Cocteau também estão com outra roupagem no roteiro criado por Linda Woolverton para a A Bela e a Fera da Disney Também não podemos esquecer de informar que antes de tudo A Bela e a Fera é um conto que tem origens remotas O que se tem de mais divulgado é que ele foi elaborado a partir da história de 1550 do italiano Giovan Straparalo e popularizado por Le Prince De Beaumont e Gabrielle De Villeneuve durante o século XVIII na França Posteriormente em 1812 foi adaptado para compor o livro Contos para a infância e para o lar dos Irmãos Grimm Jacob e Wilhelm Todavia como reza a lenda de quem conta um conto aumenta um ponto a equipe dirigida por Gary Trousdale e Kirk Wise atualizou o conto dandolhe uma nova versão criando novos personagens e renovando os tradicionais Na versão da Disney as personagens tradicionais ganharam novos papéis sociais e outros valores morais Bela por exemplo se distancia dos ideais das outras heroínas 32 Esse desenho foi objeto de um minicurso Ver referências em NEVES 2008 A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 84 dos contos de fada criadas pelo estúdio Longe de ser frágil doce e submissa donzela que precisa ser salva por um príncipe como Branca de Neve Aurora Cinderela e Ariel as outras heroínas que a antecederam é independente inteligente decidida além de excelente fi lha Por cultivar o hábito da leitura é amadurecida e sonha em conhecer lugares diferentes A leitura a transporta para mundos menos insossos que o da aldeia É requintada e não deseja casarse com Gastón o galã da vila A Fera um arrogante príncipe que fora enfeitiçado juntamente com todos os ha bitantes do castelo precisa aprender a amar e ser amado para anular o sortilégio A equipe responsável pela concepção da Fera a fez dona de um temperamento intem pestivo e fi sicamente híbrido combinando diferentes animais em um só a juba de um leão os chifres a barba e a anatomia da cabeça de um búfalo as presas e o focinho de um porco do mato a testa saliente de um gorila as patas e o rabo de um lobo e o corpanzil volumoso e forte de um urso Porém dona de uma personalidade sedutora e bemintencionada que vai aos poucos com caras e bocas cativando as plateias Maurice o pai de Bela não é nessa animação um rico comerciante mas sim um gênio um inventor um cientista dono de um espírito curioso e investigativo E por ser portador de novas ideias é tal como a fi lha desprezado pela população da aldeia Gastón é ou deveria ser o galã da animação É bonito expansivo corajoso um modelo de virilidade para a população da aldeia Todavia é grosseiramente narcisista e dono de uma personalidade vingativa e maldosa Acompanha Gastón o amigoca pacho Lefou e as suas pretendentes que aparecem como três personagens femininas loirinhas e suspirantes Para além dessas personagens há os serviçais do castelo que foram transformados em objetos enfeitiçados Esses objetos falam cantam dançam discutem argumentam e se emocionam tal como as personagens humanas porque também são portadores de personalidades e valores próprios A essa forma de narrativa em que os objetos se humanizam chamamos de Apólogo33 O mordomo Lumiére aparece com um simpático e sedutor candelabro Ele é alegre bemhumorado profundamente perspicaz e cheio de boas ideias Ele é o primeiro a perceber que Bela pode ser a garrrôta a quebrar o feitiço Com sugestões inteligentes e simpáticas induz a Fera a agradar Bela Orloge é o mestre de Cerimônia do Castelo e também aquele que cuida da criadagem Tem espírito conservador valoriza a ordem e a disciplina não é à toa ter se transformado em um relógio É machista autoritário e seu espírito medroso teme novidades e iniciativas alheias 33 Quando são os animais que se humanizam chamamos de Fábula 85 Madame Samovar responsável pela cozinha foi transformada em uma maternal chaleira Com bom senso e tolerância cuida da Fera e com ponderação e alegria cuida de Bela Seu fi lho Zip uma pequena xícara encarna a inocência e a curiosidade infan til A arrumadeira foi transformada em um espanador a camareira em um guardarou pa e como a lista é grande paramos por aqui Esses personagens seus valores e seus objetivos são apresentados por meio de músicas Ou seja a animação da A Bela e a Fera da Disney foi concebida como um musical Esse gênero se caracteriza pela combinação de músicas danças romances e fantasias com a intenção de proporcionar diversão Nos musicais o que move a his tória a narrativa são as músicas são elas que fazem a ação avançar CASTRO 2006 O cuidado minucioso com essa engenharia foi recompensado com a conquista do Oscar de Melhor Filme concorrendo com Silêncio dos Inocentes34 e conquistando as estatuetas de Melhor Trilha Original e de Melhor Canção35 Uma informação inte ressante é saber que na linguagem técnica chamamos a trilha sonora de um fi lme de som não diegético DUARTE 2002 p 47 A versão de A Bela e a Fera de 1991 foi construída com seis músicas sob a autoria de Alan Menken e Woward Ashman A primeira intitulada Belle apresenta a heroína e sua grande ânsia de aventura e romance A melodia combina as infl uências clássicas barrocas e francesas a fi m de captar o clima e a energia do vilarejo provinciano A se gunda canção é uma valsa que encena a apresentação de Gaston como o galã da aldeia e como um modelo de masculinidade enaltecido e admirado Você é nossa hóspede a terceira canção acontece quando Bela tem fome e vai à cozinha de Madame Samovar Essa canção tem uma melodia alegre que se aproxima da tradição do teatro musical francês A quarta canção Há algo aqui acompanha a encenação da proximidade entre a Bela e a Fera e as brincadeiras entre eles É uma bela balada que expressa em termos líricos os pensamentos mais íntimos e não verbalizados de Bela e da Fera à medida que eles passam a se conhecer melhor e a se verem como realmente são A quinta canção a canção título do fi lme A Bela e a Fera é a música do baile e ela acompanha um forte momento de impacto emocional no fi lme que se realiza quando o casal protagonista já se mostra apaixonado Essa cena é embalada por uma canção que é um misto de canção de ninar e balada pop que foi eternizada na voz de Celine Dion e de Peabo Bryson 34 Filme de 1991 dirigido por Jonathan Demme 35 Também foi indicado nas seguintes categorias Melhor Filme Melhor Som e Melhor Canção Original Be Our Guest e Belle Ganhou 3 Globos de Ouro Melhor Filme ComédiaMusical Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original Beauty and the Beast Recebeu 2 indicações ao BAFTA nas categorias de Melhor Trilha Sonora e Melhores Efeitos Especiais Ganhou 2 Grammy nas categorias de Melhor Canção Original para Cinema Beauty and the Beast e Melhor Composição Instrumental para Cinema A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 86 quando surgem os créditos fi nais da animação A sexta música do fi lme é A canção da caçada uma canção emocionante e forte ao estilo operístico que acompanha o con fronto entre o povo da cidade e os habitantes enfeitiçados do Castelo Por conseguinte por meio dessas músicas a narrativa vai se delineando as per sonagens ganhando expressão revelando seus valores sociais éticos e culturais Em 2001 para a campanha comemorativa dos 10 anos de A Bela e a Fera os Estúdios da Walt Disney incluíram no VHS e no DVD mais uma música Por conta da inclusão de Humano outra vez a nova edição da animação fi cou com seis minutos a mais em relação à primeira versão Na animação a música Humano outra vez acompanha a sequência de cenas em que Orloge pressionado pelo tempo incita os serviçais enfeitiçados a fazerem um grande mutirão para limpar todo o castelo para criar para o Baile da Bela e da Fera uma atmosfera romântica como nenhum homem ou fera jamais vira A música que se usufrui é uma exuberante melódica e arrebatadora valsa em que os objetos traba lham incansavelmente comentando sobre como seus destinos estão prestes a mudar que logo eles voltarão a ser humanos outra vez pois pelo menos para eles já é visível o amor entre a Bela e a Fera Em Humano outra vez questões fundamentais do reconhecido Padrão Disney podem ser visualizadas e discutidas É notório que esse padrão se consolidou por fundamentalmente conseguir deliciar as crianças e ao mesmo tempo agradar aos adultos Segundo por ter sempre em suas produções um castelo Não importa onde se na terra ou na água mas sempre há um castelo E também se reconhece como um padrão da Disney os grandes mutirões de trabalho e de limpeza Quando há muito trabalho a ser realizado ele será feito coletivamente e embalado por músicas Uma das explicações para a inclusão é a de que a música Humano outra vez es tava fazendo enorme sucesso em uma versão teatral de A Bela e a Fera montada na Broadway36 Pode até ser porém chamanos a atenção que nessa inclusão a condição para a humanização da Fera se faça pelo domínio da leitura É oportuno identifi car que a música Humano outra vez para de tocar surge a cena em que Bela lê para a Fera Romeu e Julieta de Shakespeare e sugere que ele continue a leitura Como ele desa prendeu a ler ela o ajuda e juntos continuam a ler Na sequência a música Humano outra vez tem continuidade Observemos como a importância da leitura perpassa essa animação musical Na primeira música mostra o quanto Bela adora ler histórias de príncipes e espadas e 36 Broadway é mais que uma avenida da cidade de New York EUA Ela compõe o Circuito Broadway 43 teatros que se tornaram famosos por suas superproduções que costumam fi car em cartaz por longas temporadas 87 o Conto de João e o Pé de Feijão é o seu preferido Na quarta música em uma cena muda a mostra lendo para a Fera em volta da lareira Portanto é fácil verifi carmos como os roteiristas e os diretores incluíram nessa versão de A Bela e a Fera o domínio da leitura como mais uma tarefa que a Fera o grande herói dessa animação teria que realizar em seu processo de humanização Você poderia estar se perguntando Mas isso não é bom Afi nal estão incentivando a leitura Sim incentivar a leitura é muito bom Porém somos obrigados a reconhe cer que esse incentivo à leitura patrocinado pelo desenho animado da A Bela e a Fera tem um alto custo cultural e social pois junto com a defesa da leitura valores e comportamentos consumistas foram amplamente incentivados pelo licenciamento de produtos É bom que lembremos que por ocasião do lançamento de A Bela e a Fera em 1991 o investimento rendeu aos Estúdios Disney US 347 milhões só de bilheteria O retumbante sucesso de A Bela contribuiu signifi camente para com a recapitaliza ção da Disney permitindo que em 1993 os estúdios comprassem a Miramax Films por US 80 milhões valor considerado uma pechincha nos negócios cinematográfi cos BERGAN 2007 Como conseguiu isso Vendendo de um tudo principalmente para o público infantil brinquedos roupas e materiais escolares encabeçavam a lista A menção ao universo escolar como espaço consumidor do padrão Disney não é novidade para nós Começou com a estampa de Mickey Mouse em 1929 em blocos de anotações para escolas Atualmente a proposta é mais ousada pois ela planeja construir nos próximos anos uma escola protótipo que proclama um de seus folhetos servirá como modelo para a educação no próximo sécu lo A escola será parte de um projeto residencial de dois mil hectares chamado Celebration o qual de acordo com os executivos da Disney será concebido como as ruas principais das pequenas cidades da America e as imagens de Norman Rockweel GIROUX 2001 p 91 Essa ênfase em se tornar uma empresa que não quer apenas oferecer entretenimen to mas também quer educar e escolarizar a população infantil mundial deve a nosso ver preocupar os professores Só pontuando não deve ser uma novidade para você o vídeo do Pato Donald ensinado matemática Nosso desafi o nas escolas como professores está na denúncia com argumentos que são construídos a partir de seus próprios produtos os desenhos animados Pode mos sim fazer uso dos desenhos mas não da maneira convencionalmente proposta Po demos subverter a lógica do padrão dos desenhos denunciando seus ideais como por exemplo questionar a colonizaçao do imaginário feminino que impõe um padrão de comportamento de beleza de feminilidade de ideais românticos que culminam com a cerimônia do casamento desde Branca de Neve em 1937 Veja bem 1937 Lá se vão 70 anos em que os desenhos animados as revistinhas os livros acompanhados de A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 88 discos e cassetes o VHS e o DVD ensinam o público feminino o que desejar e como se comportar Depois de Branca de Neve veio Cinderela Aurora da Bela Adormeci da Ariel Pequena Sereia a Bela e Pocahontas Depois da infância colonizada e essa infância cresce a manutenção do padrão ainda continua com Vivian Wardo a perso nagem do fi lme Uma linda mulher digirido por Garry Marshall em 1990 produzido por uma das empresas do conglomerado da Disney a Touchstone Veja bem isso foi só um exemplo Há muitos outros O esforço em identifi car as estratégias que se propõem pedagógicas nos permite como profi ssionais da educação reconhecer que as estratégias pedagógicas são de fato mecanismos sutis de sedução empresarial para não revelar outras estratégias mercadológicas para vender materiais escolares e projetos pedagógicos A falta de consciência nos torna cúmplices e agentes de defesa de uma empresa que não poupa esforços para transformar a escola e a infância escolarizada em um público consumidor Ambos estratégia pedagógica e consumo estão relacionados nas animações da Disney Essa empresa que visa fundamentalmente a lucrar com o en tretenimento com a ludicidade desse público que ainda não tem discernimento para identifi car os meandros da indústria cultural Uma empresa industrial e comercial que objetiva se constituir como instituição cultural que no entender de Giroux 1995 p 53 luta ferozmente para proteger seu status mítico como provedora de inocência e virtude moral americana Como consideramos necessário conhecer os mecanismos da fantasia como produ to construído ideologicamente nos atemos tão minuciosamente na descrição da ani mação da Bela Na sequência continuamos com esse procedimento revelando outras propostas pedagógicas como a que está contida em Kiriku e a Feiticeira O DESENHO ANIMADO KIRIKU E A FEITICEIRA37 O desenho começa com a câmera passeando pela aldeia e mostra no interior de uma cabana Kiriku aquele que sabe o que quer ainda dentro da barriga de sua mãe conversando com ela Falante e incentivado por ela ele nasce corta seu cordão umbilical e se banha sozinho De início o desenho já chama a atenção pelo colorido originalidade e ousadia A aldeia de Kiriku vive amedrontada por Karabá a malvada feiticeira que já ti nha destruído os homens roubado todo o ouro que tinham e ainda secado a fon te de água local Mesmo minúsculo e desacreditado por sua comunidade que não 37 Esse desenho também já foi objeto de estudo em um minicurso Ver referências em NEVES 2007 89 reconhecia sua coragem esperteza e sabedoria Kiriku decide enfrentar a feiticeira e seus guardiões Nesse processo de enfrentamento enquanto todos temem Karabá Kiriku busca não destruir mas entender porque ela é tão má As respostas aos seus inúmeros e constantes por quês só podiam ser respondidas pelo seu avô o Sábio da Montanha Entretanto para chegar ao local onde ele residia na Montanha Sagrada Kiriku tem que enfrentar muitos perigos e se aventurar por lugares desconhecidos Nessa trajetória de desafi os vai fazendo amizades Ao encontrar o avô Kiriku descobre que a origem da maldade de Karabá é prove niente da dor do sofrimento imposto e que só o amor a generosidade a tolerância e a verdade aliada à inteligência à curiosidade e à coragem são capazes de vencer Na com panhia do avô Kiriku também encontra paz conforto e colo Ou seja as gerações mais velhas ainda se responsabilizam pelas mais jovens E quando fi nalmente Kiriku liberta Karabá de seu sortilégio e de sua dor tudo se transforma inclusive ele próprio que as sume sua verdadeira forma um jovem muito belo O desenho termina com a confrater nização de todos inclusive com o retorno de seu o pai e dos outros homens da aldeia O roteiro desse desenho animado destacou na construção das personagens os diferentes valores e ideais da condição humana sem resvalar na fórmula maniqueísta do bem contra o mal Todos os personagens Kiriku apesar de ser um herói não se posiciona como quem sabe tudo ao contrário tem mais dúvidas do que certezas por isso constantemente se questiona Karabá a feiticeira é lindíssima e sua maldade não provém de uma questão de caráter ou de personalidade mas porque fora anterior mente também ela vítima da maldade humana Consideramos interessante observar a questão da maldade humana nessa anima ção Ela não aparece como característica somente do vilão mas das outras persona gens também inclusive das próprias crianças quando apesar de Kiriku as salvar ainda desdenham dele Boa oportunidade para conversar sobre o tema Os personagens masculinos como o tio o contador de história e o mestre da mon tanha revelam seus valores e diferenças Vale a pena observar como o contador de his tórias que funciona como o mestre da aldeia tem valores tradicionais muitas certezas e também muito medo Ao passo que o sábio o avô de Kiriku que mora na Montanha Sagrada se apresenta como alguém tolerante afetuoso incentivando a sabedoria que vem da inteligência interna A mãe de Kiriku faz a diferença nessa animação ela é serena companheira e in centivadora do pequeno fi lho A cena em que Kiriku é conduzido por ela agarrado na barra de sua saia é belíssima Ela o aceita e o reconhece sob qualquer forma Uma pausa você já viu se há a fi gura de mãe nos desenhos animados por aí Não é interessante problematizar isso Que noção de mãe QUANDO TEM MÃE a Disney a Pixar a Dreamworks ou qualquer outro estúdio estão divulgando A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 90 Retomando as características físicas das personagens elas são negras com caracte rísticas negras e com comportamentos próprios de suas culturas As mulheres andam nuas da cintura para cima revelando os seios Não verifi camos sexualização do corpo mesmo quando Karabá a feiticeira aparece com enfeites em torno dos mamilos São enfeites como os outros que se encontram em seu corpo inclusive aqueles que estão no pescoço lembrando as mulheres girafas A noção de corpo que se apresenta em Kiriku é o da sua naturalização distanciandose da noção contemporânea ocidental que ou nega ou sacraliza ou banaliza a relação com o corpo Veja aí outra ótima oportunidade para uma conversa sobre a utilização do corpo para vender de tudo de cerveja a carros Ainda no interior dessa mesma temática podemos conversar sobre a noção de nudez do e no desenho animado de Kiriku e a Feiticeira Kiriku está nu o tempo todo bem como todas as outras crianças estão Outra relação com as personagens que não podemos deixar de registrar em Kiriku é a que revela as características diferenciadas dos grupos étnicos africanos Constatamos que há peculiaridades físicas distintas constituindo as personagens de Kiriku o que levanos a crer na intencionalidade dos criadores do desenho animado em reconhecer e integrar as diferentes etnias que compõem o quadro social principalmente do Senegal38 As etnias têm relação com os espaços com a localização geográfi ca39 No desenho animado a paisagem as cores luzes sombras e contrastes nos remetem fi ccional mente ao universo geográfi co africano que não se resume ao da savana Os rios as matas a vegetação e o colorido específi co realçam um ambiente que não foi ocidenta lizado como foi apresentado no desenho animado O Rei Leão de Roger Allers e Rob Minkoff de 1994 No que tange aos aspectos que chamamos de pedagógicos ou educacionais iden tifi camos que o roteiro de Kiriku inserese no vasto campo do mito e da lenda40 que por sua vez se amparam na cultura popular Kiriku representa uma fi gura mítica e por isso ele pode falar quando ainda está dentro da barriga de sua mãe nascer e se lavar sozinho Façanhas impensáveis fora do mundo mítico mas próprias e possíveis nas tradições populares que costumam projetar a fi gura de um portador de boas no vas de um novo salvador Constatamos que muito do processo de aprendizagem de Kiriku se dá por meio da sua intuição e dos ensinamentos transmitidos oralmente 38 Só para começar a listar podemos citar os Fulani Jola Mandigos Serer e Wolof 39 Ao identifi car o biótipo das personagens não pudemos deixar de lembrar das informações fornecidas por outro fi lme o histórico e a nosso ver imperdível Hotel Ruanda dirigido por Terry Georg 2004 que trata da história do genocídio dos Tutsis pelos Hutus em 1994 40 Lenda é uma narrativa folclórica fundamentada em acontecimentos podendo traduzir uma fi losofi a um modo de ser um sentimento poético É uma tentativa de traduzir para o inteligível acontecimentos fantásticos 91 A educação a escola e o desenho animado principalmente pelo seu avô Aprendizados que são muito diferentes das sociedades em que os conhecimentos são transmitidos pela cultura escrita O Velho Sábio não desqualifi cou seus interesses seus constantes por quês mas ponderou com Kiriku que a sua primeira lição era o aprendizado da calma da pa ciência de uma coisa de cada vez do problema que se apresenta para ser resolvido naquele momento e o cuidado ao perguntar para não se chegar à criação do mundo em decorrência de um por que atrás do outro Kiriku acata o procedimento e decide Tá bom então hoje eu vou perguntar só da Feiticeira Sob a tradição oral o Velho Sábio o avô de Kiriku lhe transmite de maneira res peitosa e carinhosa os conhecimentos e as lições que devem conforme as tradições da aldeia ser preservadas como por exemplo o de se tranquilizar com os diferentes estágios da vida Isso signifi ca que Kiriku deveria aprender a ser criança enquanto ain da era criança e a ser adulto quando se tornasse um adulto Ainda que se saliente a importância de todas essas questões analisadas a mais pe culiar no âmbito pedagógico e que torna Kiriku um desenho animado que se dife rencia da grande maioria dos outros desenhos reside no fato de que a empreitada de Kiriku não foi motivada pelo ódio a Karabá mas na busca do entendimento de sua maldade Esse deslocamento da promoção do entendimento da maldade em vez da extinção da personagem com sua morte é o grande diferenciador de Kiriku da gran de maioria dos desenhos contemporâneos A nãoutilização da morte como estratégia de eliminação nos remete a pensar e a desejar outro universo cultural para o público infantil Kiriku e a feiticeira nos impele a reconhecer a existência de outras realidades culturais e sociais A partir de uma lenda do Senegal país da África Ocidental o francês Michel Ocelot 194341 roteirizou e dirigiu Kiriku e a Feiticeira42 A fi cha técnica informa que Ki riku é uma coprodução européia que reúne a França a Bélgica e Luxemburgo de propriedade do grupo CYMAX Grou colorida e de 71 minutos A edição foi realizada por Dominique Lefebvre a fotografi a é de Alain Levent e a trilha sonora foi realizada pelo senegalês Youssou NDour um dos músicos africanos mais famosos da atuali dade Verifi camos que os instrumentos musicais utilizados na composição e na exe cução das canções são os tradicionais instrumentos africanos como o Balafon Ritti Cora Xalam Tokho Sabaar e o Belon A sonoridade desses instrumentos faz lembrar a 41 Esse animador também assinou a direção das animações Príncipes e princesas 1999 Kiriku e as bestas selva gens 2005 e As aventuras de Azur e Asmar 2006 42 Kiriku foi premiado no Festival Internacional de fi lmes Infantis do Cairo no Egito e no Festival Internacional de Animação de Annecy na França EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 92 África Observamos que em Kiriku a música diferentemente das músicas de A Bela e a Fera soa quase como um batuque improvisado e a letra é de fácil assimilação pelas crianças já que são compostas de duas ou três frases Já tivemos a oportunidade de presenciar as crianças cantando e assoviando a música de Kiriku Consideramos importante observar que a noção de criança que ampara a cons trução do desenho não é a da criança consumidora mas a que brinca dança e canta que se relaciona com os amigos e não com mercadorias A criança para a qual Kiriku foi construído é compreendida com seriedade sem precisar fazer uso da sisudez Sua linguagem não é ingênua e sim inteligente fenômeno proveniente de uma sofi sticada cultura cinematográfi ca construída com distanciamento do fetichismo mercadológico que invade a cultura infantil Em Kiriku há uma compreensão de educação de processo pedagógico alimentado por um pressuposto que se concentra em sujeitos sociais ativos participantes cores ponsáveis pela construção de conhecimentos signifi cativos em seu meio social Finalizamos este capítulo pontuando que os desenhos animados permitem proble matizar as situações de disciplinarização mental e de reprodução do conhecimento Por isso ele nos interessa porque com eles na escola podemos construir relações educacionais nas quais a prioridade não é a de ensinar ou dar respostas mas a de proporcionar meios para produção de questões para a construção do conhecimento para que as perguntas se realizem para que a aprendizagem se torne tanto quanto possível menos reprodutora e sim singular e criadora Para que como entende Car riére 2006 p 141 a imaginação que vive dentro de nós sob as aparências mais mis teriosas determinando nossos sonhos e devaneios se manifeste se expanda fl oresça E desta forma como entendemos oportunizando novas maneiras de nos ver de ver a Escola e a Educação que estamos ajudando a construir ARROYO Miguel G Conversas sobre o ofício de mestre In Ofício de mestre imagens e autoimagens Petrópolis Vozes 2000 p 1726 BERGAN Roland Guia ilustrado Zahar de cinema Rio de Janeiro Zahar 2007 BRUZZO C Org Coletânea lições com cinema animação São Paulo FDE 1996 Referências 93 A educação a escola e o desenho animado CARRIÉRE JeanClaude A linguagem secreta do cinema Rio de Janeiro Nova Fronteira 2006 CASTRO Ruy Um fi lme é para sempre 60 artigos sobre cinema São Paulo Companhia das Letras 2006 CHERVEL André História das disciplinas escolares refl exões sobre um campo de pesquisa Teoria Educação Porto Alegre n 2 p 177229 1999 DÉLIA Céu Animação técnica e expressão In FALCÃO Antonio Rebouças et al Coletânea lições com cinema animação São Paulo FDE 1996 p 143176 DUARTE R Cinema e Educação Belo Horizonte Autentica 2002 GIROUX Henry A disneyzação da cultura infantil In SILVA Tomaz Tadeu Org Territórios contestados o currículo e os novos mapas políticos e culturais Petrópolis Vozes 1995 p 49158 Os fi lmes da Disney são bons para seus fi lhos In STEINBERG S KINCHELOE Joe Cultura infantil a construção corporativa da infância Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2001 p 87108 NAZÁRIO Luiz A animação norteamerica In FALCÃO Antonio Rebouças et al Coletânea lições com cinema animação São Paulo FDE 1996 p 3761 NEVES Fátima Maria Filmes e desenhos animados para o Ensino Fundamental Kiriku e a Feiticeira In RODRIGUES Elaine ROSIN Sheila Org Infância e práticas educativas Maringá Eduem 2007 p 101112 O desenho animado na escola In RODRIGUES Elaine ROSIN Sheila Org Pesquisa em Educação a diversidade do campo Curitiba Juruá 2008 p 4156 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 94 1 Depois dos argumentos aqui apresentados sobre a diferença entre animação clássica e cartoon produza um material didático pode ser um Power Point comparando as anima ções e os cartuns mais conhecidos pelo público infantil 2 Vá à locadora mais próxima e faça um levantamento dos desenhos animados destinados ao público infantil Identif que e catalogue os desenhos por Estúdios Ex Disney Pixar Dreamworks Warner Bros e outros Escolha se possível um de cada para assistir Pro duza um texto com o objetivo de identif car as estratégias pedagógicas que estão nos de senhos relacionandoas com as estratégias de marketing organizadas para comercializar os desenhos Proposta de Atividades Anotações 95 INTRODUÇÃO Embora a preocupação com imagens veiculadas pela mídia não seja uma questão recente podemos afi rmar que tem se tornado bastante atual já que não se esgota ram desde Benjamin1 e Barthes2 as especulações sobre a reprodução das imagens em meios impressos ou das próprias fotografi as assim distribuídas Mais tarde o con texto midiático passou a ter importância crucial no contexto da sociedade à medida que os meios de difusão da informação passaram a ser cada vez mais abrangentes orientandose pelas estratégicas da comunicação de massa e da indústria cultural Assim no fi nal dos anos 1960 e 1970 do século XX o poder da mídia se confi gurou como uma das forças importantes da sociedade capitalista e contemporânea Na atualidade o estudo das imagens ocupa diferentes vertentes teóricas quer sejam sociológicas antropológicas quer sejam psicológicas e recentemente semió ticas têm se desdobrado em textos que as exploram sob diferentes pontos de vista quer tratandoas iconografi camente como modo de representação do mundo ou seja como simulacros daquilo que já conhecemos quer tratandoas enquanto pre senças no mundo autônomas e autossignifi cantes No âmbito deste capítulo queremos verifi car como se constrói a signifi cação ou a produção de sentido na relação entre as instâncias que aqui elegemos imagem mídia e educação e como avaliar o entendimento daquilo que se constrói nessa relação Além de um modo de conduzir o olhar é necessário observarmos como a imagem se transforma em um agente manipulador capaz de interferir na compreen são que os indivíduos fazem do mundo por meio das imagens daí a importância de recorrermos à educação para verifi car quais são os elementos passíveis de propor cionarem o entendimento sobre as imagens 1 BENJAMIN W A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução In GRÜNNEWALD José Lino A Ideia de Cinema Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1969 2 BARTHES R A Câmara Clara Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 Isaac Antonio Camargo Imagens mídia e leitura 7 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 96 Na Idade Média o papa Gregório Magno já preconizava o uso pedagógico das imagens preconizando que elas deveriam fazer pelos analfabetos aquilo que a es crita fazia para os alfabetizados isto é revelando por meio delas a vida de santos e mártires Também já ouvimos dizer que uma imagem vale mais do que mil palavras Nos dias de hoje o advento das imagens produzidas por aparelhos e sua difusão nos meios de comunicação de massa sob a égide da indústria cultural dos sistemas de comunicação do marketing da publicidade e propaganda vieram aprimorar e ex pandir o universo da cultura visual3 e ao mesmo tempo atribuirlhes mais funções Por isto temos a convicção de que as imagens são instrumentos pedagógicos po derosos na formação de opinião crenças e valores no contexto da sociedade atual Nas aproximações teóricas feitas ultimamente foi possível constatarmos que imagem mídia e educação embora sejam esferas distintas de ocorrências e saberes possibilitam diferentes análises tomando como referência as relações entre essas três instâncias à medida que podemos conduzir ou ordenar leituras na intersecção desses três contextos sendo este o objetivo deste capítulo CONVIVENDO COM IMAGENS Imagem do latim imago é um termo que designa semelhança logo essa desig nação caracteriza a possibilidade de identifi carmos as imagens mediante a aparência que ela guarde com o mundo natural Daí decorre o entendimento de que o uso da imagem corresponde a um dos meios que temos para representar ou substituir algo do mundo por algo que não se encontre no mundo Neste sentido uma imagem não se constitui para dar conta dela mesma esse é o entendimento tradicional que se tem delas portanto atuam como metáforas do mundo Se tomarmos como referência a ideia de representação as imagens teriam por função atuar no lugar das coisas do mundo substituir ou fi gurar circunstâncias e situações com a fi nalidade de nos manipular e assim nos apresentar certos valores Talvez decorra daí também a longa tradição e gosto pelas imagens fi gurativas eventualmente de aparência naturalista a representação só teria sentido se corres pondesse no todo ou em parte à coisa representada Como se essa sua capacidade de reproduzir o mundo natural fosse um atestado de verdade São as estratégias dis cursivas que a manifestação imagética detém que a faz apropriarse dos efeitos e das qualidades sensíveis do mundo natural dando a impressão de que aquilo que vemos corresponde a algo que de fato existe no mundo natural É justamente essa convic 3 HERNANDEZ F Cultura visual mudança educativa e projeto de trabalho Porto Alegre Artmed 2000 97 ção que suporta os sistemas de distribuição de informação na comunicação social e ampara as mídias que a difundem Entretanto isto nada mais é do que um acordo cultural estabelecido no contexto social um acordo que pressupõe a leitura de uma imagem em relação aos mesmos parâmetros com que é construída Essa é também a estratégia que ampara o uso da fotografi a nos meios de comunicação impressa ou do vídeo nos meios de comunicação televisiva A crença de que as imagens tomadas pelos meios técnicos não mentem e não escondem os fatos fez com que a fotografi a por exemplo fosse também tomada pela sociedade como uma prova documento ou registro O que lhes dá um poder maior do que o da fala atribuindolhes a função de revelar fatos e eventos no contexto da mídia de informação imputandolhes uma força narrativa e descritiva que difi cilmente pode ser contestada Essa capacidade referencial ou especular que as imagens contêm é uma de suas propriedades mais característica Embora não seja a única é a mais evidente Isto faz com que sejam lidas de imediato sem que se detenha nas relações interdiscursivas que proporcionam Essa leitura de superfície embora não as explore em profundi dade detém aspectos e valores subjacentes ao que está ali disposto e é nisto que reside o poder de manipulação que as imagens proporcionam Um exemplo claro pode ser observado nas imagens publicitárias Sabemos que a presença de uma imagem em um jornal indica uma dada função assim como uma imagem em um livro didático ou de arte indica outra função O lugar em que ocupam nos suportes ou nas mídias com as quais convivemos na socie dade são também indicadores de sentido A função cumprida por uma imagem em um jornal diário é diferente daquela que cumpre em um livro didático por exemplo O caráter informativo que ela exerce sobre os saberes cotidianos é diferente do cará ter informativo que ela exerce ao fazer parte de um livro de história de geografi a ou de biologia Os modos e maneiras delas existirem são também adutores de sentido Outro aspecto relevante é identifi car se as imagens com as quais lidamos são produzidas a mão ou por aparelhos O modo como as imagens são feitas também são indicadores de função Tanto as habilidades motoras dos artistas e artífi ces que constroem imagens quanto os recursos técnicos que uma câmera fotográfi ca possui são também importantes elementos de análise para conhecermos as imagens e o que elas signifi cam Da mesma maneira que os materiais dos quais as imagens são fei tas também são importantes elementos de análise assim é possível entender como funcionam e o que pretendem nas diferentes circunstâncias em que aparecem Para entender isto basta nos reportarmos ao modo como as primeiras imagens surgiram Inicialmente eram realizadas a mão e suportadas pela rocha das cavernas pelas pare des dos templos e palácios O caráter artesanal dessas imagens dava conta do mundo Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 98 por meio de um sistema construtivo gráfi co e pictórico desenvolvido por meio da observação de suas técnicas e habilidades e do conhecimento que aquele ser hu mano tinha do mundo A passagem dos suportes parietais para suportes móveis foi uma conquista do mundo moderno O Renascimento possibilitou o surgimento da pintura a óleo e também do quadro de cavalete o que possibilitou a expansão da pintura à medida em que era possível transportála de um lugar a outro tornandoa além de um objeto mais crível um objeto de negócio Entretanto apenas no século XIX é que a imagem deixou de ser criada pelas habilidades manuais do ser humano para ser produzida por aparelhos Gradativa mente a fotografi a foi liberando o ser humano do ofício de reproduzir o visível e neste sentido deulhe maior liberdade para criar e imaginar sem o compromisso de aterse à imitação das coisas Outro aspecto importante que surgiu com a foto grafi a foi sua possibilidade de reprodução Embora a gravura já houvesse resolvido esse problema de reproduzir imagens a fotografi a o faz quimicamente e com mais efi ciência logo é possível usar a imagem como meio de difusão de conhecimento e informação com maior efi ciência do que os meios anteriores Se por um lado Gu temberg4 já houvera por volta de 1540 inventado a prensa de tipos móveis a pre cursora da imprensa industrial de nossos dias por outro a fotografi a popularizou a produção e distribuição de imagens no século XX Finalmente o desenvolvimento das tecnologias digitais ampliou ainda mais o acesso à produção e à distribuição de imagens especialmente com o recurso da rede mundial de computadores Neste sentido a mobilidade das imagens em supor tes virtuais possibilitou a sua distribuição para mais pessoas O uso de meios mais efi cientes de reprodução elevou enormemente o potencial de difusão ampliando absurdamente o universo das imagens e cada vez é maior o número de pessoas que podem acessar mais e mais imagens O que não deixa de ser curioso pois o poder da comunicação reside na possibilidade de fazer mais pessoas acessarem cada vez menos imagens ou seja parece haver maior interesse em buscar a redundância do que a variedade As fotos distribuídas pelas agências de notícias ou as imagens das redes mundiais de televisão exemplifi cam isto O que é compreensível porque à proporção que mais pessoas veem uma mesma imagem o seu poder de informação se amplia e o seu caráter público se consolida Ao mesmo tempo é possível observarmos que as imagens tendem a ser mais sin téticas e mais diretas Imagens complexas cheias de detalhes requerem muito tempo 4 Johann Gutemberg inventor alemão 13901468 cria a tipografi a A impressão por tipos móveis De 1400 a 1455 imprime a primeira bíblia 99 para serem entendidas embora concentrem muitos dados e sejam de difícil leitura Dependem ainda de grandes formatos para serem acessadas em sua plenitude Uma imagem rica mas de pequenas dimensões não é útil para o leitor principalmente na mídia jornalística em que a rapidez e a objetividade são trunfos valiosos O mesmo se pode postular da televisão uma imagem em grandes planos terá pouca visibilidade nos aparelhos dos telespectadores portanto os planos próximos são mais indicados para construir informação no universo televisivo Resta ainda apontar alguns aspectos de ordem ética aquilo que se deve ou convém revelar pelas imagens opera em con traponto com o que se deve ou convém esconder Tanto sob o aspecto dos interesses morais de proteção ao indivíduo à privacidade e a outras questões de caráter ético quanto sob o aspecto que decorre do jogo dos interesses dos sistemas econômicos políticos ou ideológicos em que há interferência na obliteração ou na revelação da informação O grande valor da informação e nisso também reside o seu poder se traduz na sua capacidade ou potencial educativo A educação formal enfrenta difi culdades de toda ordem quer no âmbito institucional como no contexto da sociedade per dendo espaço para meios mais efi cientes de produção e difusão de informação que rivalizam com as estratégias de ensino e meios usados no ambiente escolar Essa disparidade fi ca cada vez mais patente à medida que as tecnologias digitais avançam Se na antiguidade produzir imagens era um trabalho de fôlego e de habilidades contemporaneamente é apenas uma questão de investimento Os computadores pessoais e seus periféricos são efi cientes para captar ou produzir e imprimir imagens em pouco tempo A qualidade dessas imagens pode ser muito melhor do que as ima gens que ilustravam os impressos em meados do século passado e tão boas quanto as imagens reproduzidas nas melhores edições de livros da atualidade O domínio sobre a produção e qualidade das imagens é tal que podemos criálas totalmente em computadores sem que nada do que apresentam pudesse ter existido ou viesse a existir um dia O enriquecimento que as imagens tiveram com o avanço tecnológico atua na proporção inversa ao seu uso em sala de aulas Um pequeno exemplo disso é a necessidade que se tem de mapas cartográfi cos para aulas de geografi a na maioria das salas de aula eles não existem Uma sala de aula na escola pública nem sempre dispõe de material didático apropriado atualizado ou em boas condições ao passo que qualquer revista ou jornal usa mapas e recortes de mapas com uma maestria inusitada Uma notícia pode começar situando o lugar de uma dada ocorrência no globo depois no hemisfério no continente no país na região na cidade e até no bairro ou na rua em que o fato aconteceu As recriações imagéticas de cenas e Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 100 eventos rivalizam com as imagens fotográfi cas tomadas no momento da ocorrência A necessidade que a mídia impressa tem de competir com as imagens via televisão ou via rede faz com que seu uso seja mais intenso e criativo Provedores e busca dores da rede mundial de computadores possuem mapas e localizadores capazes de encontrar qualquer lugar do mundo e mostrálo na tela de um monitor Há uma grande incompatibilidade entre a tecnologia disponível no mundo atual e a indigên cia da educação pública A sociedade sabe disso os alunos sabem disso Os telefones celulares as câmeras digitais as lan houses tudo isso faz parte do contexto em que vivemos e transitamos alguns com maior proximidade outros com certa distância mas uma grande parte da população absorve essas informações e as processa e as redistribui isso faz com que aumentem as diferenças e as exclusões é nesse país que vivemos CONSTITUIÇÃO DAS IMAGENS E PRODUÇÃO DE SENTIDO NA MÍDIA Antes de pensar a imagem e sua relação com a mídia devemos pensar no modo como elas produzem sentido ou signifi cação ou seja aquilo que elas revelam Seus sentidos decorrem tanto de suas características constitutivas plásticovisuais quanto dos modos como elas são apresentadas em seus suportes ou sistemas de mediação e sobretudo das funções que cumprem ou exercem nas sociedades em que ocorrem Assim podemos asseverar que uma imagem signifi ca a por meio de suas qua lidades sensíveis b por meio dos modos como se manifestam e c por meio das funções que cumprem no meio social Uma imagem manifesta suas próprias qualidades ou seja o modo como foi pro duzida seus elementos formantes as substâncias expressivas por meio das quais se realiza e os aspectos plásticos deles decorrentes Isto garante a sua presença e diz respeito aos aspectos intrínsecos que são constitutivos da imagem em si A lumi nosidade a espacialidade e a temporalidade são modos de existência sensíveis das imagens A luminosidade diz respeito aos modos como a luz se manifesta por meio delas seja a questão tonal as diferenças de intensidade luminosa que produz as va riações de claroescuro quer seja a questão de variação da frequência que produz as diferenças cromáticas A espacialidade referese à maneira como o espaço ocorre nas imagens quer seja organizando seus eixos principais horizontal vertical diagonal profundidade ou as direções que perpassam por eles A temporalidade é relativa aos modos como a ideia de tempo se realiza nas imagens quer como o desenrolar do olhar de ponto a ponto percorrendo a superfície da imagem quer descobrindo as estratégias visuais construídas para temporalizar a imagem 101 Quanto às imagens tomando como referência seus modos de realização pode mos designar três categorias pictográfi cas fotográfi cas e digitais Assim é possível identifi car a partir dos elementos formadores ou constitutivos próprios de cada uma delas os dados que nos remetam aos saberes específi cos sobre elas mesmas Por imagens pictográfi cas chamamos os desenhos e as pinturas produzidas manual mente as fotográfi cas são aquelas produzidas por câmeras e as digitais são aquelas produzidas pelos computadores e seus digitalizadores de imagem No contexto das imagens pictográfi cas quando nos dedicamos a olhar os modos com que os traços ou pinceladas se apresentam em um desenho ou em uma pintura somos capazes de perceber por meio das marcas presentes em sua superfície o fazer manual bem como o estilo ou a gestualidade do autor Ao mesmo tempo essas ima gens revelam os materiais dos quais foram feitas e as qualidades as revelam enquanto propriedades sensíveis bem como os suportes nos quais existem ou estão instaladas São também as suas qualidades plásticas ou visuais que as caracterizam e as tornam inteligíveis a nós Os sentidos decorrem de diferenças uma simples mudança de estado já signifi ca um simples traço em uma superfície qualquer propõe uma série de signifi cados mostra a alteração de um estado anterior sem traço para um estado posterior com traço de um estado anterior de ausência do traço para um estado posterior de presença do traço Altera o estado da superfície que o recebeu sem traço para com traço revela o gesto que o criou suave denso intenso delicado mostra a direção que o orienta acima abaixo lateral vertical denuncia o material do qual foi feito Traz em si um mundo de revelações Um simples traço pode revelar muito desde o material que lhe deu existência as direções que percorreu até o gesto que o realizou A segunda categoria de imagens que citamos são as fotografi as Diferentemente das pinturas e desenhos as fotografi as possuem certas características óticas que além de as determinarem as distanciam das imagens manuais Essas imagens se constituem em um dos modos mais efi cientes de nos convencer e nos iludir em relação ao que demonstram do mundo natural Pelas facilidades que apresentam ao referenciaremse ao meio nos convencem daquilo que nelas vemos como a corres pondência analógica de algo que se encontra fora delas Por serem produzidas por um aparelho ótico automático têm como propriedade a capacidade de reproduzir aquilo que vemos no mundo e não o que imaginamos Ao mesmo tempo as fotografi as trazem em si as marcas da tecnologia que a ge raram reveladas pelo próprio aparelho o que lhes proporcionam uma supremacia no tocante à produção de imagens em série As fotografi as mostram as marcas e os Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 102 constrangimentos impostos pela câmera nas substâncias sensíveis dos fi lmes ou papéis fotográfi cos onde residem as imagens tomadas ou criadas por ela Essas são as características das imagens fotográfi cas Tanto as imagens pictográfi cas quanto as fotográfi cas revelam características que as distinguem entre si mas isto não é uma possibilidade da terceira categoria de imagens que distinguimos ou seja as digitais Elas se apropriam das características das imagens pictográfi cas e das fotográfi cas e podem se parecer tanto com umas quanto com ou tras Como são imagens de síntese podem ser armazenadas como dados em arquivos magnéticos e manipuladas de acordo com o interesse do usuário Sua grande vantagem é a agilidade a capacidade de realizar com mais rapidez aquilo que só conseguiríamos produzir com maior tempo ou dedicação e sua versatilidade de uso e transformação As demais questões referentes ao contexto social são fatores extrínsecos a elas sendo relativos às funções campos temáticos e aos valores simbólicos ou represen tativos que assumem na sociedade caracterizandose como elementos de signifi ca ção cuja correspondência é social e não imagética Se tomarmos como referência a história das imagens na História da Arte por exemplo vamos descobrir que é possível encontrar diferentes maneiras de fazer imagem decorrentes de certas regiões de certos períodos de certos autores e de outras tantas origens com base na simples observação dos elementos que as consti tuem Isto por si só já revela o potencial pedagógico que as imagens contêm Um dos efeitos de sentido mais comum que percebemos nas imagens é justa mente a aproximação ou o afastamento do mundo natural Essa é uma de suas estra tégias de comunicação mais antigas a imitação do visível entretanto uma imagem pode se parecer ou não com as coisas que conhecemos A questão da aproximação ou afastamento daquilo que conhecemos é uma maneira de signifi car de atração e de convencimento ao nos dar a impressão de ser uma imagem possível Signifi ca grosso modo uma maneira de nos inserir no mundo de dirigir ou alongar nossos olhos para uma dada ocorrência um acontecimento ou simplesmente de fazernos presentes em um determinado evento do qual não participamos Por outro lado quando oblitera esconde o mundo o desfoca o desconstrói ou o dilui caminha no sentido oposto na intenção de não nos dar a ver o fato o evento ou a ocorrência em si e sim de realizar o oposto a perda de materialidade ou da realidade No contexto da mídia porém um dos seus efeitos mais corriqueiros é impregnar de realidade o suporte em que reside e é justamente essa qualidade especular de se parecer muito com as coisas que conhecemos no mundo que a faz gerar sentido e estabelecer a crença sobre a verdade da imagem Ao se constituir na síntese do verí dico admite a crença de que uma fotografi a é capaz de tomar o real e o consolidar 103 mediante um registro óticoquímico sobre o qual nos debruçaremos para recuperar o visto o ocorrido o existente Nisto se funda grande parte da credibilidade que a mídia pósfotográfi ca adquiriu Uma imagem fi gural é sempre um recorte de algo passível de existência que se faz pre sente pela evocação simulacral Esse é o ato de convicção que o faz existir e isto se consti tui em fé em credibilidade Toda imagem evoca algo do sensível quer do mundo natural quer da própria plástica imagética e se torna presente se colocando e nos colocando em cena É justamente para isso que elas existem para colocarnos em relação ou para pro porcionarnos experiências não vividas mas vivenciáveis criar existências ou simulações outras que não as que temos consciência para fazernos parecer donos da informação ou em última hipótese de um saber que supostamente dominamos É esse um dos objetivos do uso das imagens no ambiente da mídia um instrumento de manipulação de nossos interesses e vontades Todavia não são somente as imagens fi gurais aquelas parecidas com o mundo ou com o que conhecemos dele que habitam a mídia Há outros tipos de imagens criadas com outros fi ns que não sejam os de representar ou de nos informar sobre as coisas que conhecemos Um gráfi co por exemplo é constituído por uma imagem realizada a partir de dados numéricos quantifi cados e agrupados por ocorrência incidência ou por cate gorias que reúnem certas características comuns em um dado campo de conhecimento tratados por métodos estatísticos Seus formatos quer sejam de barras circulares quer sejam quaisquer outros têm por fi nalidade dar visibilidade aos números por meio de imagens Tal uso parte do pressuposto de que seria mais difícil abstrair a informação de uma ideia numérica sendo que parece ser mais fácil compreender um círculo cortado em fatias de tamanhos diferentes compreender um conjunto de barras de alturas e cores distintas ou ainda identifi car linhas que sobem e descem em uma superfície plana Nesse caso essas imagens podem informar instruir e explicar coisas que de outro modo ocu pariam muito tempo e muita verbalização para acontecer Há ainda outros tipos de confi guração visual utilizados para informar orientar escla recer indicar e mostrar caminhos percursos ou parâmetros visuais que embora sejam imagens não se parecem com nada que conhecemos no mundo natural Elas fi gurativi zam dados caminhos e leituras e com isto vão produzir sentidos contribuir para a elu cidação ou complementação de informações e dados dos quais a mídia é rica Podemos lembrar as tabelas vinhetas ícones ou sinais indicadores de assuntos tópicos ou sessões Todos esses recursos visuais pretendem constituir a superfície midiática com o fi m de hierarquizar e escalonar as leituras nelas ordenadas embora nosso olhar seja muito mais atraído pelas imagens que reconhecemos como as fotos as caricaturas os desenhos do que pelos gráfi cos números e pelas manchas diagramáticas dos textos verbais Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 104 Outras imagens como mapas plantas de ruas fotos aerofotogamétricas podem ser usadas nas reconstituições digitais que reorganizam os percursos no espaço geográfi co das cidades nos domínios aéreos ou marítimos utilizados nas informações sobre expedi ções científi cas confl itos bélicos e em outras situações similares para dar ao leitor uma vi são mais precisa do espaço em que tais eventos ocorreram Nada mais fi ca ao acaso tudo tem o seu lugar a sua fronteira o seu limite Sabemos com precisão onde cada evento ocorre em cada parte do mundo sem sairmos do nosso lugar apenas visualizandoo na constituição da espacialidade midiática O que estamos chamando aqui de espacialidade são para as formas que a mídia têm de tematizar selecionar posicionar e revelar sentidos com base nas relações espaciais que as imagens proporcionam em um dado suporte com vistas a constituir o sentido de lugar A topologia da página impressa entendida como uma superfície diagramática já é um desses elementos cujo fi m é fazer com que o sentido se realize pois é ali que se organiza o percur so de leitura instituído por ela Esse percurso é orientado de acordo com as pontuações vi suais defi nidas pelos detalhes da imagem naquele contexto como dirigir o olhar para cima ou para baixo um lado ou outro Uma das maneiras pela qual essas orientações se manifes tam é em relação à disposição dos elementos visuais na superfície da página ou da projeção ou da tela do monitor de tv ou vídeo de computador ou seja em que lugares defi nidos ou delimitados naquela área ou naquele meio Temos pela tradição cultural ocidental o hábito de designar como de maior importância a área superior de uma página em razão disto tudo o que se encontra no topo ou no cabeçalho da página chama mais nossa atenção Esse hábito é tão arraigado em nosso cotidiano que poucos veículos por mais inovadores que sejam se arriscam a mudar essa disposição Para entendermos isto é só lembrar que jornais e revistas usam a área superior para alocar seu nome sua marca e abaixo disso temos uma segunda instância espacial privilegiada onde se localizam as manchetes nos jornais e os títulos das matérias nas capas das revistas cuja importância é maior naquela edição Mesmo nas diagramações de livros e folhetos esse critério é na maioria das vezes respeitado Logo isto se confi gura além de um modo de presença constituição de sentido Além da questão de ordem topológica podemos também pontuar o uso do espaço destacando os elementos quanto à dimensão ou seja seu tamanho relativo O tamanho com que os elementos se apresentam uns em relação aos outros é um fator de signifi ca ção tão importante quanto o lugar O tamanho das letras de uma manchete por exem plo é sempre maior do que a dos títulos que por sua vez são muito maiores do que as letras que ocupam os textos nas colunas A manchete só perde em dimensão ou se iguala ao tamanho da marca ou do nome do veículo A dimensão é um modo de atribuir importância de distinguir aquilo que é mais relevante em relação ao menos relevante e isto é também uma estratégia de signifi cação 105 A cor é sem dúvida outra maneira de construir signifi cação As diferenças cromáticas visam a atribuir mais importância à palavra impressa ou às imagens utilizadas fazendo com que se destaquem umas em relação às outras Atualmente a maioria dos sistemas midiáticos utiliza a cor e suas relações cromáticas para intensifi car os efeitos de sentido ou produzir signifi cação Quando se procura destacar um conjunto de letras do todo por exemplo mudase sua cor Sob esse aspecto não há necessidade de estabelecer mos qualquer relação simbólica ou psicológica entre cores e efeitos de signifi cação mas apenas identifi car em que situações as cores diferenciamse para designar circunstâncias diferentes ou melhor para destacar algo do todo Podemos ainda chamar a atenção para a possibilidade de uso de diferentes fontes tipo gráfi cas mesmo não padronizadas na ordenação gráfi covisual de uma determinada mídia O uso de formatos diferentes como o chamado tipo fantasia implica em diferenciação do contexto habitual da mídia e isto por sua vez também signifi ca Mesmo porque a maioria dos jornais e revistas não abre mão de sua diagramação ofi cial logo esse uso é um fator de destaque um modo de atribuir importância a certas chamadas ou manchetes Normal mente as mudanças gráfi cas mais radicais ou mais abrangentes são feitas com muita publi cidade e preparo dos leitores ou telespectadores Nenhum leitor sentese à vontade sendo surpreendido por um novo padrão visual a cada dia Isto surte um efeito de instabilidade e de falta de atenção para com o leitor habitual A estabilidade é um dos elementos de signi fi cação que produz a sensação de continuidade e de constância um dos mais importantes para a mídia impressa Contemporaneamente não podemos deixar de citar os efeitos digitais Estes são pro duzidos a partir dos recursos tecnológicos advindos dos softwares de computadores Embora a maioria dos veículos da mídia impressa mantenha suas características originais vinculadas à tradição em que operam quer assumam o formato de revistas quer de jornais é interessante notar que os veículos que operam a menos tempo no mercado editorial tendem a usar com mais liberdade esses recursos e aqueles mais tradicionais ou seja os veículos com mais tempo no mercado evitam o uso desse recurso É bom lembrar que nada do que se faz em um computador é impossível de se fazer a mão entretanto o computador é um instrumento que nos permite mais rapidez e maior qualidade ao aca bamento o que manualmente dependeria de um bom domínio técnico A vantagem do computador reside na maioria das vezes na quantidade de tempo despendido para uma dada tarefa consequentemente proporcionando uma boa economia Devido a isto a dinâmica da distribuição da informação é agilizada Um jornal é produzido da noite para o dia e uma revista de uma semana para outra ou de mês em mês de acordo com sua periodicidade a informação em mídia digital ou eletrônica é produzida praticamente em tempo real Na atualidade um dos fatores econômicos mais importantes é a rapidez Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 106 e a qualidade com que a mídia atende ao seu público tudo o que facilitar o atendimento desse fi m é bemvindo mesmo abrir mão do fazer artesanal que em determinados mo mentos teria um valor inestimável RELAÇÕES ENTRE MÍDIAS Outro modo de leitura que as mídias nos proporcionam é a possibilidade de estabele cer contrapontos com os demais veículos que constituem esse universo Por um lado a ver satilidade que observamos no contexto das próprias mídias quanto ao aporte tecnológico e digital possibilita um sincretismo5 cada vez maior entre elas e sendo assim abrese um diálogo maior com outros textos sejam imagéticos ou verbais É comum reconhecermos as referências que a mídia impressa faz à mídia televisiva em certas notícias recuperando informações ou aprofundando análises que de outra maneira fi cariam esquecidas Do mesmo modo é interessante percebermos a recuperação que a televisão faz de notícias veiculadas em jornais e revistas o tempo todo As mídias são em parte autonutridas auto referenciadas falam de si entre si e algumas vezes para si mesmas deixando ao leitor a responsabilidade de construir suas leituras nem sempre livres de orientações ideológicas ou isentas da contaminação em que um dado modo de olha revelar Portanto há relações intermidiáticas destinadas a construir ou reordenar as informações distribuídas no meio social que também são relevantes como estratégias de comunicação De uma maneira ou de outra a fi nalidade das manifestações imagéticas na mídia é co locar o olho do leitor na cena no evento no acontecimento Fazer com que aquele que lê seja colocado em presença do fato do feito É desse modo que a mídia de informação determina o papel do ator em seu contexto Tanto aquele que diz quanto aquele que lê fazem parte de uma mesma estratégia de signifi cação por conseguinte aquele que se encontra em contínua transformação por isto assume diferentes papéis no intuito de dar conta de um saber que será sempre construído na dinâmica da leitura no tempo e no espaço da mídia O saber ali constituído depende das relações que se desdobram a partir da leitura de discursos que se cruzam sejam verbais visuais ou audiovisuais que fl uem na interdiscursividade típica da mídia impressa é desta forma que a mídia articula o sensível na construção de seus saberes proporcionando aos destinatários das informa ções diferentes leituras de mundo e nisto reside sua essência 5 Usamos o termo Sincretismo para fazer referência à possibilidade de uso de diferentes sistemas de signifi cação verbal e visual por exemplo para atingir uma mesma signifi cação 107 BARTHES Roland A câmara clara Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 BENJAMIN Walter A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução In GRÜNEWLAD José Lino A idéia do cinema Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1969 FIORIN José Luiz As astúcias da enunciação São Paulo Ática 1996 GREIMAS Algirdas Julien De la impercección México Fonde de Cultura Económica 1990 HERNANDEZ Fernando Cultura visual mudança educativa e projeto de trabalho Porto Alegre Artmed 2000 LANDOWSKY Eric A sociedade refl etida São Paulo PontesEduc 1992 OLIVEIRA Ana Claudia FECHINE Yvana Org Visualidade urbanidade intertextualidade São Paulo Hacker 1998 PINTO Milton José Comunicação e discurso São Paulo Hacker 1999 Referências 1 Qual a diferença entre representação visual e manifestação das qualidades sensíveis nas imagens 2 Identifi que as categorias de imagem citadas no texto 3 O que se chama de intermídia no texto Proposta de Atividades Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 108 Anotações 109 As revistas da forma como as conhecemos hoje fazem parte do cotidiano dos bra sileiros há quase 100 anos Portanto é plenamente possível afi rmar que já são parte constitutiva das vidas de centenas de milhões de pessoas ajudando a moldar seus hábitos participando da criação de modelos culturais e infl uenciando na formação de opiniões políticas e ideológicas Falar da pedagogia das revistas não é tarefa simples principalmente porque de vemos considerar que tanto o conjunto da publicação o próprio produto revista as sociado a sua circulação e as linguagens utilizadas em sua confecção são por si pró prios elementos pedagógicos que atuam em nosso cotidiano infl uenciando nossas percepções do mundo sendo tão importantes quanto seus elementos quando vistos em separado Além disto é prudente considerar que a mídia revista integra complexos de comu nicação em nossa sociedade fazendo parte de empresas grandes grupos ou corpora ções em que se agrupam jornais emissoras de rádio e televisão serviços de Internet e outros O funcionamento da comunicação de um meio ou veículo nos obriga a pensála articulada em um conjunto cultural mais amplo Por serem muito dinâmicos é difícil defi nir claramente em uma sociedade quais são os agentes criadores de linguagens de comunicação e valores culturais uma vez que isso tende a ocorrer de maneira difusa No decorrer deste capítulo pretendemos abordar uma variedade de aspectos ge rais e particulares da mídia revista tais como a estrutura editorial e os padrões criados a importância da circulação e das linguagens utilizadas na comunicação com o leitor procurando também entendêla em suas estruturas ideológicas e apresentar um pou co de sua história É nosso objetivo oferecer uma visão geral desse sistema complexo que colabore para o entendimento das diversas dimensões presentes na elaboração e na circulação das revistas que nos chegam às mãos Trataremos aqui das revistas em geral procurando destacar a atuação das revistas Ilustradas que respondem por uma grande parte das publicações desse segmento Jorge Luíz Romanello A pedagogia das revistas 8 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 110 do mercado editorial brasileiro atentando entre elas para as chamadas Revistas de Variedades aquelas mais tradicionais que não são especializadas ao menos em um sentido absoluto aquelas que pretendem discorrer mesmo que brevemente sobre to dos os assuntos HISTÓRIA DAS REVISTAS ILUSTRADAS Somos hoje uma Civilização da Imagem vivemos em meio a elas ou melhor defi nindo saturados delas A possibilidade de imprimir em larga escala imagens pro porcionadas pelas revistas ilustradas colaborou diretamente na constituição desse modelo Esse fenômeno se deve em grande parte ao desenvolvimento da fotografi a e das téc nicas para sua reprodução ou seja do desenvolvimento de fi lmes equipamentos foto gráfi cos linguagens modelos de diagramação de máquinas e sistemas de impressão Nascida em meados do século XIX momento de grande desenvolvimento técni co e científi co a fotografi a tornouse um símbolo da neutralidade e da objetividade Considerouse por muito tempo que em função de ser produzida por uma máquina a fotografi a capturava o real de maneira isenta Pensavase que em sua produção não havia uma interferência humana maior do que apertar um botão coisa que sabemos hoje não corresponder à realidade1 A trajetória da reprodução de imagens na imprensa começou com a introdução internacional das revistas ilustradas por obra da inglesa Illustrated London News de 1851 precursora remota da revista brasileira Semana Ilustrada de 1869 Concorrendo para uma intensa popularização das revistas que assim começam a se tornar um pro duto de consumo de massas já na primeira década de 1900 essa inovação permitiu a troca das ilustrações pelas fotografi as No mesmo momento a Revista da Semana seguida pela Ilustração Brasileira 1901 e Kosmos 1904 se encarregariam de nos habituar e nos dar a conhecer os personagens das ciências letras e artes dos grandes centros industrializados seus cenários costumes tradições suas glórias e guerras através do registro fotográfi co KOSSOY 1980 p 57 1 O interessante é que hoje decorridos mais de 100 anos dessa invenção e de todas as críticas e estudos já realiza dos sobre a produção da imagem fotográfi ca ainda é pertinente considerar que atrás da câmera opera uma pessoa com sentimentos com simpatias e restrições a determinados temas que isto implica em escolhas de ângulos que o uso de determinadas lentes produzem resultados diferentes para uma mesma situação fotografada que o fi lme fotográfi co distorce as cores devido a suas características químicas que as fotografi as podem ser recortadas nos ampliadores e máquinas de revelação que uma fotografi a é bidimensional e que diferentemente de uma escultura por exemplo não podemos olhála por três lados sendo portanto a sensação de profundidade um efeito óptico e mais um sem número de outras questões que não permitem que a fotografi a seja uma captura isenta do real 111 A partir de então a participação das imagens na imprensa tornouse permanente primeiramente pelas mãos dos ilustradores que muitas vezes passaram a defi nir o estilo das revistas mais tarde esse lugar seria ocupado por fotógrafos e diagramadores Importante considerar que na passagem do século XIX para o século XX as revistas passam a ser produzidas não mais com o objetivo principal de divulgar a opinião de grupos ou pessoas marca que caracterizava generalizadamente a imprensa brasileira até então e sim enquanto um produto voltado ao mercado de entretenimento e ao atendimento de interesses de públicos específi cos Desde então passaram a ser produzidas para atender ao mercado e consequente mente passaram a depender mais dele Nas primeiras décadas do século XX passaram a circular revistas de temas médicos científi cos históricos e geográfi cos literários femininos infantis variedades entre ou tras Assuntos modernos possuíam títulos específi cos automobilismo era conteúdo para a Revista dos automóveis Cinema para O cinema 1910 aviação circularia nas páginas de O aérofólio 1915 DEMARCHI 1992 p 2630 Os anos de 1920 trazem à cena um sem número de outros títulos entre eles O Cruzeiro 1928 Fundada pelo advogado e jornalista Assis Chateaubriand a revista integrava um complexo editorial e gráfi co chamado de Diários Associados Com tiragem inicial de 50000 exemplares esse foi um dos títulos de maior sucesso da imprensa brasileira2 Nesse tipo de revista a imagem passou a ser o principal elemento comunicativo nelas desenhos cartuns charges fotografi as e outros elementos de comunicação vi sual são utilizados de maneira a ampliar seu poder comunicativo Entre todos esses a fotografi a sem dúvida ocupa lugar privilegiado As modernas Revistas Ilustradas nasceram na Alemanha do pósPrimeira Guerra Mundial 19141918 a partir de experimentos fotográfi cos que a invenção de novos e pequenos equipamentos proporcionou Quase ao mesmo tempo em que se fundava essa nova concepção de imagem foto gráfi ca Stefan Lorent também na Alemanha assumia o cargo de editor chefe da Mün chner Illustrierte Presse Editor arrojado Lorent desenvolveria um novo conceito de 2 Em 1954 a tiragem da revista O Cruzeiro atingia por ocasião do suicídio de Getúlio Vargas 700 mil exem plares sendo lida por um público estimado entre 3 e 4 milhões de pessoas números surpreendentes se con siderarmos que a população do país era de cerca de cinquenta milhões de habitantes com altos percentuais de analfabetismo Era o início do mais rico período jamais vivido até então por qualquer outro órgão da imprensa no Brasil e duraria até meados da década de 1960 quando problemas em sua estrutura de funcionamento começa ram a minar o sucesso de um dos mais importantes veículos da história da imprensa brasileira Mesmo combalida pelos problemas internos pela competição vigorosa de novas revistas como a Manchete e pela difusão maciça da televisão a revista ainda circulou até 1974 A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 112 reportagem nas revistas ilustradas Segundo o novo modelo proposto elas deveriam ser capazes de contar uma história por uma sucessão de imagens Em volta de uma ima gem central resumindo todos os elementos da história agrupase um certo número de fotografi as A fotoreportagem devia ter um começo e um fi m defi nidos pelo lugar o tempo e a ação como no teatro Lorent foi o primeiro a compreender que o leitor não quer ser apenas informado sobre os fatos e gestos das grandes personalidades mas que o homem da rua se interessa por assuntos que tem a ver com a sua própria vida Alguns anos mais tarde esta ideia fará o sucesso da revista Life FREUND 1995 p 118 O lançamento da revista Vu na França em 1928 pelo editor jornalista pintor e desenhador de talento Lucien Vogel fará a primeira experiência do novo estilo fora da Alemanha FREUND 1995 p 126 Adaptada ao gosto do público norteamericano se tornaria ela mesma a grande difusora do modelo Aos poucos o modelo Life ganhou o mundo A Francesa Match foi a primeira a seguirlhe os passos a partir de 1938 CARVALHO 2001 p 63 Em 1943 Jean Manzon fotógrafo francês radicado no Brasil introduzia no país o fotojornalismo nas páginas de O Cruzeiro abrindo caminho para um enorme cres cimento das tiragens mas principalmente para o nascimento de outras revistas do gênero tais como a Manchete ocorrido no início da década de 1950 Nelas as fotografi as e o texto são articulados de forma a produzir um discurso har mônico com base na imagem em que a função do texto é complementar a fotografi a Em se tratando de conteúdos a reportagem deveria ser abrangente procurando atrair o interesse do maior número possível de leitores de ambos os sexos de idades e origens sociais variadas No plano do conteúdo a fotorreportagem em geral busca contar histórias que interessem a um grande número de leitores de diferentes sexos idades e clas ses sociais Para isso tanto vale abordar o cotidiano das pessoas comuns que assim se sentem retratadas pela revista como trazer para seus lares realidades inteiramente estranhas ao seu mundo seja pelo exótico ou pela sofi sticação que igualmente as atrai Na forma a reportagem fotográfi ca procura situar o leitor no espaço e no tempo É comum a abertura ter uma grande foto de impacto que muitas vezes já dispõe o assunto geografi camente eou retrata os personagens da história O encadeamento das imagens seguintes vai situar o leitor no tempo ou através da construção de uma sequência fotográfi ca que funciona como um fi lme ou de imagens isoladas que mesmo não formando uma série cronológica vão sempre se dispor como imagens concatenadas SILVA 2004 p 36 Em um sentido mais amplo as revistas fazem parte do que alguns autores chamam de Indústria Cultural um sistema que os integrantes da Escola de Frankfurt de fi nem enquanto produtor de bens culturais direcionados estritamente ao consumo 113 Segundo pensadores fi liados a essa escola uma das principais características dessa produção seria a de ocupar o tempo livre das pessoas com bens de consumo cultural homogêneos e simplifi cados Uma cultura que aliena e não enriquece o ser humano O mesmo princípio vale também para o consumo de programas de televisão entrete nimento em sites rádios etc As revistas têm de atender às expectativas de média de seu público que tende a ser heterogêneo Isto signifi ca que nelas temse de se trabalhar com tendências de opinião Podemos afi rmar ainda um pouco simplifi cadamente que isto é parte de um sistema de emissão e recepção ou seja a revista emite uma mensagem na forma de notícias ou propagandas e que criam ou reforçam valores padrões de vida e visões de mundo e o leitor as recebe formandose nesse processo um sistema de comunicação O sucesso da revista entre o maior número possível de leitores preferencialmente em faixas de público que possam consumir os produtos anunciados em suas páginas irá defi nir a atração dos anunciantes e o preço das propagandas veiculadas são negociados pelo espaço que ocupam em centímetros quadrados e por sua localização na revista Podemos pensar ainda que as propagandas podem ser feitas de maneira indireta e aparecerem por meio da cobertura da inauguração de uma empresa lançamento de novos produtos por meio de reportagens que mostrem o crescimento ou até mesmo o espaço para a ampliação de mercado de novos produtos Estas últimas não necessi tam necessariamente de serem pagas pois funcionam como um atrativo para a venda futura de propagandas e também enquanto artifício informativo para o leitor podendo ajudar a aumentar seu público Nesse universo as regras também são complexas não podemos achar estranho que em uma revista especializada em carros por exemplo patrocinada por empresas do setor haja crítica a modelos e produtos anunciados porque o objetivo desse tipo de publicação é a manutenção e a ampliação do mercado automobilístico Agindo assim a revista apresentase como um órgão independente o que tende a reforçar sua imagem junto aos leitores Mesmo que procurem manter certa independência com relação aos fatos publi cados as revistas estão sujeitas a limites desde a aceitação do público até o interesse dos anunciantes assim como estão envolvidas em um complexo jogo de interesses englobando o cenário político nacional e internacional acabam quase inevitavelmente por defender mais os pontos de vista de certos grupos do que de outros Em outras palavras como são empresas nas quais a informação é o produto que deve ser vendido em um mercado capitalista estão sujeitas às regras que regulam esse mercado para sobreviverem A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 114 Cabe lembrar que o governo federal os governos estaduais e municipais também compram espaços de propaganda tornando ainda mais complexo esse sistema Essas tendências quando existem nunca são declaradas e essas opções devem ser sutis até porque a imagem da isenção e da imparcialidade que estão na base da credibilidade de um veículo de comunicação tem que ser reafi rmada constantemente para que se mantenha a sua credibilidade Se acompanharmos o funcionamento e a estrutura da elaboração de uma única reportagem poderemos começar a entender como esse complexo jogo ganha forma Uma reportagem é decidida na redação e a fi gura do redator responsável e mais tarde do redator chefe são fundamentais no tom da cobertura Serão eles por exem plo que escolherão umas poucas fotos entre as dezenas ou centenas que lhes chegam às mãos produzidas pelos fotógrafos E são essas escolhas que defi nem o tipo de mensagem que se quer construir com aquela reportagem ao fazêlas já se age ideolo gicamente já se tende para algum lado Imaginemos por exemplo a diferença que faz aos olhos do leitor se a foto esco lhida para ilustrar determinada reportagem sobre as ações do governo federal direcio nadas ao melhor desempenho da economia do país se a imagem mostra o presidente da república com os cabelos despenteados e a camisa amarrotada situação normal para homens públicos que participam de várias atividades diárias ou se para a mes ma reportagem for escolhida uma foto do presidente de terno impecável ou mesmo jogando uma partida de tênis A partir dessa escolha podese criar uma ideia de desorganização e cansaço no primeiro caso organização e responsabilidade no segundo e ainda vigor e competiti vidade no terceiro É claro que a mensagem fotográfi ca tem um poder limitado e como são muitos os leitores nunca há real garantia que as imagens e títulos escolhidos serão lidos com o sentido com que foram originalmente construídos Devemos sempre considerar que caso fosse assim uma revista ou qualquer outro veículo de mídia teria um poder ili mitado do qual os leitores seriam escravos e não agentes sociais capazes de fazer escolhas Sabendo da capacidade do leitor em aceitar ou não as mensagens veiculadas e que a leitura será inevitavelmente variada é que se procura ser sutil de maneira mais a sugerir do que a impor Neste sentido é que podemos pensar que interessa mais às mídias serem formado ras de opinião e de consumidores que de fato interferem nas opiniões ajudam a criar modelos e a moldar desejos do que a impôlos Não devemos menosprezar seu poder junto à sociedade mas também não devemos considerálo absoluto 115 Tão importantes quanto as próprias fotos escolhidas é o espaço que ocuparão mas principalmente o lugar em que elas serão publicadas Há estudos muito sérios que indicam aos editores quais as seções mais lidas das revistas e mesmo quais as partes das páginas que serão procuradas primeiro pelo olhar do leitor e tudo isto trabalhado em conjunto acaba fazendo uma enorme diferença no tratamento dado a um mesmo assunto por revistas ou mesmo por editores diferentes É também por meio da escolha dos títulos e subtítulos das matérias as legendas das fotos e um sem número de outras escolhas possíveis que se manifestam ideologias Usar da autocensura limitar e regulamentar a própria atividade jornalística e em presarial é outra forma de garantir aceitabilidade social Por esse princípio as revistas devem estipular limites para o que poderá ser ou não publicado e de que forma de vem ser tratados os assuntos com vistas a garantir que excessos não sejam cometidos No caso da história da imprensa brasileira temos ainda como elemento bastante peculiar a presença marcante da censura praticada pelo Estado que restringiu por décadas as atividades jornalísticas no país e acabou infl uenciando também na maneira dos veículos se comunicarem com seu público Devido a sua importância na modernidade há uma série de mecanismos internos que pretendem limitar e monitorar a profi ssão de jornalista e principalmente o fun cionamento dos veículos sua seriedade no trato das matérias e o tipo de cobertura realizado A parcialidade é objeto de críticas dos próprios profi ssionais Entidades associações independentes e de classe e mesmo publicações especializadas procuram zelar por uma maior integridade dos veículos de mídia Sua aprovação ou reprovação ainda que não tenha força de lei representa algum impacto na imagem de isenção de um veículo perante a opinião pública O ombudsman teoricamente é uma fi gura contratada pelo veículo que possui a função de criticálo para zelar pela integridade do veículo corrigir seus rumos defen der o leitor procurando garantir a isenção e a transparência das notícias e da própria maneira como é feita a revista no caso Todavia essa função é ainda pouco reconhe cida no Brasil Infelizmente a maioria dos leitores brasileiros não se preocupa muito em conhecer melhor a qualidade das notícias veiculadas no Brasil o que abre espaços para abusos e faz com que tais críticas e análises fi quem muito restritas aos meios especializados As pesquisas de opinião são hoje um instrumento vital no desenvolvimento de po líticas editoriais ou seja há a necessidade de um alinhamento ainda que seja relativo entre as opiniões do veículo e as percepções dos leitores Existem as revistas especializadas no mercado de produtos de beleza no merca do automobilístico motociclístico de arquitetura e construção exoterismo ciências A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 116 educação esportes cultura e outras destinadas a abastecer quase que infi nitamente os desejos e necessidades do público consumidor Há também aquelas a que denominamos genericamente Revistas de Variedades nelas discorrese um pouco a respeito de tudo moda dicas de saúde esportes lazer cinema televisão educação vida dos famosos resumo das novelas receitas e é claro política entre outros assuntos Devemos sempre lembrar que as revistas que se encaixam nesse último modelo em geral são produzidas às centenas de milhares ou mesmo aos milhões de exemplares e têm sempre como públicoalvo uma variedade de leitores em todo o país às vezes até em outros países Isto torna necessário adotar estratégias de abordagem dos temas que cheguem ao maior número possível de leitores Em função dos motivos expostos que nesse tipo de publicação tratamse dos gran des temas e assuntos do momento isso não impede que as coberturas localizadas contribuam signifi cativamente na elaboração do conjunto Os números mostrados por empresas que editam e imprimem revistas de grande circulação impressionam sozinha a gráfi ca do Grupo Abril wwwabrilcombr produz mais de 60 milhões de exemplares ao ano sendo a editora do grupo respon sável pela produção de sete das dez revistas mais lidas no país3 A revista Veja publica mais de um milhão de exemplares semanalmente o que a transforma na quarta maior revista do gênero do mundo Seu modelo atual embora seja fortemente baseado nas primeiras revistas ilustradas de variedades antigamente chamadas de Magazines são produtos diferentes Até porque a concorrência com a televisão a partir da década de 1950 decretou a morte de algumas das principais revistas ilustradas do mundo que por décadas ocuparam prati camente sem nenhum competidor esse segmento de comunicação visual com o leitor A partir da década de 1970 as revistas que restaram no mercado ou as que nasce ram a partir de então se transformaram signifi cativamente Hoje nesse segmento editorial no Brasil despontam a revista Época Veja Isto é Car ta Capital Caros amigos e algumas outras Evidentemente elas variam os tons as estru turas dos textos e a postura diante do público defi nindo assim seus estilos e propostas Os magazines de informação geral fl utuam entre a interpretação e a opinião manifesta Esta quando torna evidente a postura dominante na sociedade isto é nas elites tende a não ser percebida como tal o que está escrito pa rece constatação ou evidência Tem sido o caso frequentemente com Veja da 3 O volume e a dinâmica da circulação de revistas no Brasil de hoje são uma prova do sucesso comercial das empre sas de comunicação e propaganda que atuam no mercado brasileiro Em meados da década de 1980 havia mais de 1500 títulos em circulação e os números mensais estavam na casa dos 300 milhões de exemplaresano 117 Editora Abril Revista opinativa centenas de milhares de pessoas consomem suas matérias como se fossem relatos fi dedignos Época lançamento bem mais recente do grupo Globo opera com outra lógica que corresponderia no mercado de revistas de informação geral ao estilo do jornal USA Today os títulos e edição das matérias são feitos já no software de editoração O resultado refl ete o crescente domínio da arquitetura web so bre a produção gráfi ca Talvez por isso o texto seja mais sóbrio preservandose embora o nível do senso comum e um tanto de timestyle Outras do ramo Carta Capital Caros Amigos seja por divergirem siste maticamente do entendimento convencional dos fatos por falta de cobertura própria dos acontecimentos ou por utilizar sem restrições a retórica jurídica e política parecem ser as únicas a opinar seus compromissos ideológicos eco nômicos tornamse visíveis arregimentam leitores entre partidários extrema dos de sua linha editorial em tempos normais só entre esses LAGE 2005 Entretanto mesmo nelas as coberturas são em geral produzidas por especialistas afi nal vivemos no tempo da aceleração e da especialização e o jornalismo especializa do por temas e por assuntos não é senão um refl exo disso Os principais motivos para que as revistas sobrevivam ainda hoje com bastante vigor são a facilidade de manejar e de partilhar já que não necessitam de máquinas e outros sistemas para serem lidas e reconhecidas pelo público Outro possível motivo para essa sobrevivência pode estar no fato que nos dias atuais fortemente propícios à comunicação virtual as revistas e outras mídias impressas como os jornais diários criem no leitor uma sensação de segurança gerada pela materialidade da informação impressa algo que faça o leitor sentirse seguro pelo fato de poder guardar tal infor mação em um suporte físico no caso o papel As revistas comumente são publicações semanais portanto elas perdem o apelo imediato o impacto que a publicação imediata dos fatos jornalísticos gera assim por um lado elas não conseguem competir com os jornais diários que publicam os fatos no máximo no dia seguinte a seu acontecimento e muito menos com a televisão que divulga os mesmos acontecimentos no momento em que estão ocorrendo Mas por outro elas ganham em consistência podendo esperar alguns dias para a publicação conseguindo um produto mais elaborado produzindo resumos dos desdobramentos dos acontecimentos têm mais tempo para entrevistar envolvidos e responsáveis po dendo cuidar melhor da apresentação dos acontecimentos que podem ser acrescidos de mapas gráfi cos estatísticas e uma série de outros recursos que facilitam a sua co municação com o leitor Ademais é importante lembrar que diferentemente dos jornais diários as revistas podem se programar com antecedência e com mais facilidade destinar um número maior ou menor de páginas a cada assunto dependendo dos desdobramentos e da repercussão que esses forem ganhando É inclusive muito usual que uma reportagem tenha destinadas a sua cobertura duas páginas no início da semana e cinco seis ou A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 118 mais com o decorrer dela O contrário também pode ocorrer um acontecimento que inicialmente prometia uma série de desdobramentos mostrarse de menor importância no decorrer da semana tornandose apenas uma pequena nota As capas são o primeiro contato com o leitor e por isso devem ser extremamente bem cuidadas com o objetivo de comunicar um grande número de informações em um espaço reduzido Segundo Ana Cristina Teodoro da Silva nelas A utilização de estereótipos corporais de cores em seu sentido mais didático de tipos e símbolos de fácil e ágil leitura fazem da capa um atrativo fugaz de rápida duração Com isso é reforçada a busca por sínteses efi cazes que digam muito em pouco espaço e em pouco tempo O acúmulo de informação seduz oferecendo agilidade e síntese SILVA 2003 O editorial é o lugar onde se expressa a opinião do veículo ou da empresa que o produz com relação a um tema ou fato há um consenso de que este seja o lugar apro priado para se transmitilas pois pretendese que essa opinião não se confunda com a informação que o veículo deverá transmitir da forma mais isenta possível As seções de cartas do leitor ajudam a garantir uma imagem democrática das revistas visto que nelas ainda que em pequeno número os leitores podem manifestar suas opiniões em relação aos temas publicados e ao tipo de abordagem realizada Como já pontuamos as revistas integram redes de comunicação e hoje é comum que os assinantes possam optar por acessálas também via Internet condição que redi mensiona seu papel na comunicação Em sua origem a linguagem visual do fotojornalismo buscou aproximar as revistas ilustradas do cinema Essa é uma característica da própria comunicação formar leito res ao mesmo tempo em que responde as suas demandas Dizendo de outra forma foi um movimento de duplo sentido em que as revistas buscaram acompanhar uma visualidade em transformação adequandose ao princípio do movimento utilizado no cinema que predominava direta e indiretamente na edu cação do olhar do público E ao fazêlo exerceu um papel ativo na educação do olhar da sociedade à medida que inundou de imagens e textos sucintos o cotidiano de um público que não parou de crescer nas últimas seis décadas contribuindo ainda para que novas linguagens visuais tenham hoje larga aceitação Isto ocorre fundamentalmente em função de nossa formação cultural que inter fere diretamente na forma como vemos as coisas quando olhamos para uma foto grafi a somos quase que instintivamente tentados a vêla não enquanto uma represen tação um tipo de cópia dos objetos e fatos fotografados em última instância mas tendemos a entendêla particularmente quando imprensa em um jornal ou revista enquanto um registro verdadeiro do próprio fato Situação parecida ocorre hoje com 119 as imagens digitais4 A leitura rápida outra maneira de educar o leitor é um projeto que já estava presente em O Cruzeiro no fi nal da década de 1920 Embora naquele momento o público ainda não estivesse preparado para essa inovação podemos considerar que o projeto foi implementado nessas últimas décadas Atualmente as empresas dispõem de mecanismos que permitem avaliar de forma criteriosa qual o tempo de leitura de cada matéria Isto com o passar do tempo se transforma em regras normas e por fi m constará dos cursos de jornalismo Cabe lembrar que até a década de 1950 não havia cursos de formação para essa profi ssão no Brasil A ciência é outro elemento pedagógico muito fortemente utilizado pelas revistas A divulgação de temas recentes das ciências principalmente da tecnologia defi nida enquanto ciência aplicada na fabricação de produtos garante a formação do público leitor da importância e da necessidade do veículo Em geral os artifícios utilizados para formar o leitor e fazêlo se interessar por esses assuntos são a sua atualização com respeito às novidades do campo científi co e a de monstração dos objetivos alcançados Essas reportagens ajudam a disseminar a crença no valor e no poder ilimitado da ciência Uma vez instituída essa prática que remonta a décadas a própria imprensa passou a atuar dentro das regras consideradas científi cas para a produção e divulgação das notícias Por exemplo para garantir a credibilidade toda vez que uma pesquisa de opinião é veiculada a revista anuncia os critérios sob os quais ela foi produzida o número de entrevistados a categoria social desses as regiões abrangidas etc além de comumen te agregar outros dados tais como os recolhidos pelo IBGE Instituto Brasileiro de Geografi a Estatística e mesmo a opinião de reconhecidos especialistas nas áreas em discussão muitas vezes consultando mais de um para a mesma reportagem Já estamos totalmente acostumados a conviver com esses expedientes e quase nunca duvidamos da veracidade dos resultados das pesquisas mesmo sabendo que como no caso das fotografi as as pesquisas podem ser realizadas de diversas maneiras que também podem infl uenciar nesses resultados Da mesma forma podemos considerar a formação do leitor com relação à econo mia outro assunto que foi cultivado junto aos leitores ao longo das últimas décadas 4 Apesar das inúmeras diferenças entre a fotografi a produzida pelas máquinas analógicas aquelas que utilizam fi lmes fotográfi cos que necessitam ser revelados por processos químicos e das imagens digitais produzidas por sistemas eletrônicos e hoje impressas em impressoras todas as considerações apresentadas acima são válidas pois aos olhos da imensa maioria das pessoas as imagens digitais ainda são entendidas enquanto fotografi as até porque à exceção de um olhar muito experiente essas diferenças são quase imperceptíveis A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 120 pelos jornais e revistas Nessas temáticas as reportagens geralmente são acompanha das de gráfi cos e tabelas glossários de termos além de uma série de boxes explicativos e notas do tipo entenda melhor o assunto em que se detalham aspectos específi cos dos temas debatidos o que por si só já representa outro aspecto pedagógico da revista As imagens do corpo humano se prestam a uma infi nidade de usos modelos do que é ser bonitoa saudável situações em que o corpo aparece fotografado em acade mias praias e outros lugares em que se considera legítimo ser mostrado Em um sem número de situações participam da defi nição dos papéis sociais reforçando normas e padrões Muitos anos de circulação criam a tradição de uma revista e a tradição evoca credi bilidade Não é incomum que uma revista comemore eventos dos quais ela participou Nesses momentos destacase quase invariavelmente a importância da revista nas lutas sociais e políticas em prol da democracia ou dos direitos humanos CONCLUSÃO O fato é que as revistas ilustradas em virtude de sua história do longo tempo de contato com o público ganharam um importante espaço nas vidas das pessoas Independentemente do fechamento de alguns dos títulos mundiais ou nacionalmente famosos como foi o caso da americana Life e das brasileiras O Cruzeiro e Manchete e do lançamento de títulos modernos sensivelmente modifi cados em relação ao que foram suas predecessoras a mídia revista sobreviveu seja à escalada da importância da televisão que atinge hoje públicos astronômicos seja ao intenso desenvolvimento da Internet e de outras mídias de comunicação de massas Destilando por meio de múltiplas ações pedagógicas próprias do meio padrões de vida estéticas e comportamentos as revistas tornaramse parte integrante de nossa cultura Devido a essa importância despertam um interesse cada vez maior da socieda de que a nosso ver necessita entender melhor seus códigos e estruturas Esperamos ter contribuído para esse objetivo neste capítulo que ora encerramos 121 CARVALHO Luiz Maklouf Cobras criadas David Nasser e o Cruzeiro São Paulo SENAC 2001 COSTA Helouise Aprenda a ver as coisas fotojornalismo e modernidade na revista O Cruzeiro 1992 198f Dissertação MestradoUniversidade de São Paulo Escola de Comunicação e Artes São Paulo 1992 DEMARCHI A história da revista no Brasil 200 anos de informações cultura e entretenimento São Paulo Ed Abril 1992 Disponível em wwwabrilcombr Acesso em 12 set 2008 FREUND Gisèle Fotografi a e sociedade Tradução de Pedro Miguel Frade Lisboa Veja 1995 KOSSOY Boris Origens e expansão da fotografi a no Brasil Século XIX São Paulo Funarte 1980 LAGE Nilson Que futuro há para os jornais impressos Revista Semanal de Crítica da Mídia S l 22 fev 2005 Disponível em wwwobservatorioultimosegundo igcombrindexasp Acesso em 10 set 2008 ROMANELLO J L A natureza no discurso fotográfi co da revista O Cruzeiro paisagens e imaginários no Brasil desenvolvimentista 2006 200f Tese Doutorado em HistóriaUniversidade Estadual Paulista Assis 2006 SILVA Ana Cristina Teodoro da O tempo e as imagens de mídia capas de revistas como signo de um olhar contemporâneo 2003 Tese DoutoradoUniversidade Estadual Paulista Assis 2003 SILVA Silvana Louzada da Fotojornalismo em revista o fotojornalismo em O Cruzeiro e Manchete durante os governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart 2004 194f Dissertação MestradoUniversidade Federal Fluminense Niterói 2004 Referências A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 122 1 Análise comparada Levando em conta os diversos aspectos tratados neste capítulo acompanhe a cobertura de um mesmo assunto em pelo menos duas revistas de variedades acompanhandoo por pelo menos dois números de cada título Podem ser escolhidas revistas antigas desde que publicadas no mesmo período O objetivo é procurar semelhanças e diferenças nas abordagens privilegiando a análise de aspectos como o número de páginas utilizadas na cobertura os tipos de fotos escolhidas e o sentido emitido pelos títulos 2 Análise do perfi l da publicação Analise pelo menos três exemplares consecutivos de um mesmo título de revista especia lizada ou de variedades Registre a variação da tiragem geralmente impressa no início da primeira ou da segun da página descreva as seções que a compõem conte o número de páginas dedicadas a propagandas procurando agrupálas em conjuntos gerais Os conjuntos devem ser divididos em grupos tais como produtos de beleza saúde e lazer cremes xampus sabonetes sucos e iogurtes jogos viagens etc ou bens móveis carros eletrodomésticos equipamentos de informática e outros Certamente esses conjuntos irão variar mesmo que se repitam os títulos escolhidos A fi nalidade é traçar um perfi l da revista procurando identifi car a que públicos os produtos anunciados são dirigidos e como a revista os percebe Se possível procure observar se são dirigidos mais a homens a mulheres ou ao público jovem etc Proposta de Atividades Anotações 123 Imagine a situação você está descansando em casa quando ouve um forte estrondo Pouco depois sons de sirenes Um acidente automobilístico Você sai da tranquilidade de sua sala vai até a rua e descobre conversando com pessoas tão mal informadas so bre aquele incidente quanto você quantas pessoas se feriram se houve alguma morte e até como e porque aconteceu a batida Mas não tem a certeza do que aconteceu Agora pense outra situação Você está em casa e recebe o telefonema de um parente ou um amigo que viria visitálo de avião Ele diz esbaforido pela emoção que um avião acaba de cair no aeroporto em que ele estava Deve haver dezenas de mortos talvez centenas Está uma grande confusão no aeroporto ninguém diz nada a ninguém Tanto no primeiro quanto no segundo caso os dois acidentes continuarão renden do discussões ao longo dos próximos dias O primeiro mais localmente em seu bairro Talvez até na própria cidade como um todo dependendo do destaque e da forma como a mídia tratar o incidente O mesmo podese dizer do segundo caso embora em um âmbito maior provavelmente nacional E dependendo do número de mortos das causas do acidente e dos envolvidos a queda daquele avião pode render assunto para discussão em jornais revistas tvs e rádios durante semanas Existe uma hipótese estudada dentro das teorias da comunicação a Agenda Setting que postula que a mídia não é capaz de informar como as pessoas devem pensar mas sobre o que devem pensar A partir do que é publicado na imprensa as pessoas defi nem sobre o que vão discutir em suas conversas e é claro suas opiniões embora não controladas por esse monstro maldoso da mídia recebem infl uência dependendo de quais e como essas informações são apresentadas E quanto mais crítica for a leitura desses veículos mais abrangente e ampla é a visão de mundo desse leitor e cidadão pautado pelos meios de comunicação No caso do acidente de carro por exemplo existem algumas variáveis que podem ocorrer na cobertura jornalística e que claro não são decisões completamente isen tas O básico e fundamental será a confecção de uma matéria factual que abrange aquele incidente propriamente dito trazendo todos os detalhes do acidente como Fábio Massalli A aventura da leitura crítica na imprensa 9 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 124 aconteceu e por que quantos feridos quantas mortes e se existe algum elemento que foge do comum como um motorista bêbado ou em alta velocidade um buraco que causou a perda do controle do veículo e até mesmo um cachorro que foi salvo de ser atropelado mas acabou causando um acidente É a partir desses aspectos factuais que se pode aprofundar o tema seja no mes mo dia ou em complementos posteriores as chamadas suítes matérias publicadas nos dias seguintes e que abordam um mesmo assunto Isso depende dos elementos citados nos parágrafos anteriores e de outros detalhes como número de acidentes e vítimas fatais até aquele dia Até mesmo a tragédia pessoal dos familiares das vítimas pode ser explorada São abordagens que têm sua justifi cativa jornalística mas não apenas ela O mesmo podemos afi rmar da queda do avião testemunhada por seu amigo Se for um acidente por falha mecânica ou do piloto em dois ou três dias ninguém mais publica nada sobre isso a menos que seja a maior tragédia da aviação brasileira até aquele momento Mas se foi devido à falha de outra aeronave envolver uma compa nhia aérea que teve vários acidentes naquele ano ou devido a problemas na pista e falha da torre o assunto ainda deve render por pelo menos mais uma semana Se o governo puder ser culpado de alguma maneira aí o assunto vai sair na imprensa por muito mais tempo Principalmente em revistas semanais nitidamente oposicionistas como a Veja Novamente não são apenas as questões estritamente jornalísticas que vão ditar a publicação dessas matérias e quais serão suas características Apesar de o jornalismo seguir teoricamente uma mesma fórmula investigação apuração e checagem do fato e das informações os textos produzidos por dois jornalistas diferentes sobre um mesmo assunto nunca são iguais Há fatores que vão desde a técnica de apuração e in vestigação as fontes ouvidas e o envolvimento pessoal até posicionamentos políticoi deológicos do órgão que vai veicular aquela matéria seja jornal revista TV ou rádio E todos esses elementos vão contribuir na hora de pautar as discussões e conversas tanto na mesa de um botequim quanto na mesa de jantar em família E novamente quanto mais crítica a leitura mais ampla e abrangente é a visão que se tem sobre esses temas assim como a argumentação para emitir um posicionamento mesmo completa mente divergente desse ou daquele veículo de comunicação Dizem que a imprensa é o quarto poder mas quando se trata do poder não deve mos fazer uma leitura e uma análise simples seja de um acidente de carro na esquina de sua casa da queda de um avião testemunhada por um amigo ou uma denúncia contra um político ou administrador público 125 DE UMA PRENSA À INTERNET Ofi cialmente a criação da imprensa é atribuída a Johann Gutemberg que foi quem levou a fama de inventor por ter desenvolvido no século XV uma prensa com tipos móveis e assim modernizado a impressão No século XVIII como forma de divulga ção os jornais começaram a surgir com maior frequência em uma publicação rica em opiniões acusações ideias e até literatura O jornalismo nessa época independente de estar na Europa ou na América era fortemente tendencioso opinativo e partidário Existiam veículos pertencentes a cada grupo político e que defendiam veementemente as posições desse grupo e aproveita vam o espaço para atacar a honra e a idoneidade de seus adversários bem como suas ideias Ataques feitos não apenas com palavras mas também com charges e ilustrações que muitas vezes chegavam a ser agressivas e caluniosas Mesmo nas matérias noticiosas como na descrição de crimes por exemplo o tex to jornalístico era completamente diferente do praticado nos dias de hoje Usava o chamado nariz de cera em que o jornalista fazia uma longa introdução às vezes até política ou fi losófi ca antes de introduzir o fato propriamente dito Esse modelo de jornalismo vigorou até praticamente o século XX em alguns países como o Brasil só começou a ser substituído nos anos 1950 Na primeira grande re volução da técnica jornalística a redação jornalística passou a priorizar primeiramente os elementos mais importantes do fato em detrimento da construção muitas vezes maçante do nariz de cera Foi o início do reinado do lead primeiro parágrafo com enfoque factual e da técnica da pirâmide invertida colocar primeiro as informações mais importantes e que apenas agora começa a ser posto em xeque e ter sua domi nância ameaçada em alguns tipos de matérias e veículos Esse modelo predominou durante décadas até meados de 1990 quando começou a segunda grande revolução no jornalismo E como a revolução anterior do lead essa não é uma mudança radical que acontece de um momento para o outro É algo lento e gradual que vai atingindo redações repórteres e jornalistas ao redor do mundo impul sionado pela queda do número de leitores e pela perda de interesse no próprio jornal Essa nova revolução começou com a Internet e tem na web seu grande suporte Portais de notícia interatividade blogs não se esqueçam fazer um blog também é uma forma de jornalismo multimídia são elementos que estão inseridos cada vez mais nas redações e que atraem um número crescente de leitores A LEITURA E A INFORMAÇÃO ALÉM DO FACTUAL Apesar de no imaginário popular matéria e reportagem terem signifi cados muito próximos quase sinônimos o mesmo não se pode dizer no jornalismo Podese A aventura da leitura crítica na imprensa EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 126 enunciar que a matéria é o arroz com feijão enquanto que na reportagem incluase nessa refeição o fi lé mignon os vegetais ao vapor a batata assada e um bom vinho A matéria factual é feita em geral no calor da hora e na pressão do fechamento da edição devendo ter suas informações levantadas checadas e redigidas juntamente com outras matérias e tudo para o programa que vai ao ar nas próximas horas ou para a edição do dia seguinte É verdade que isso não signifi ca uma investigação ou abor dagem superfi cial e sem confi abilidade na informação Esses são elementos essenciais para o bom jornalismo seja em uma nota de 15 linhas ou uma grande reportagem de duas páginas Já a reportagem deve tentar esgotar todas as abordagens possíveis sobre aquele tema Mas por que é preciso saber que existem textos que esgotam um assunto reporta gem enquanto outros se prendem mais no fato A resposta está justamente na forma como o leitor ou espectador recebe aquela mensagem Matérias mais longas me recem e acabam despertando mais a atenção desde que o leitor ou espectador se interesse por ela Os leitores inconscientemente consideram que uma nota no campo da página é menos importante que uma de abre de página De certa forma é pelo menos para quem fez o jornal mas não necessariamente para o leitor afi nal existem diversos tipos de leituras diferentes em suas características níveis de apreensão de detalhes e posicionamento crítico A formação de um leitor crítico da imprensa envolve não apenas ler atentamente uma matéria e prestar atenção a questões como a linha editorial do veículo em ques tão mas também comparar as diferentes formas que foram utilizadas para passar uma informação Afi nal em se tratando de jornalismo uma matéria ou reportagem sobre um mesmo tema com as mesmas fontes escrita por dez jornalistas diferentes resultará em dez matérias diferentes não apenas em estrutura mas também naqueles pequenos detalhes que o repórter mesmo que inconscientemente quis passar Um bom exemplo disso é o lead Teoricamente ele deve responder a seis per guntas básicas do jornalismo quem O quê Quando Como Onde E por quê Entretanto nem todas as respostas precisam estar necessariamente presentes no lead Algumas podem ser respondidas ao longo do texto A ordem em que elas são apresen tadas também não obedece a uma ordem prédeterminada Tudo depende do tato e da percepção do jornalista na hora de escrevêla O jornalista pode começar por qualquer uma das seis perguntas com resultados diferentes tanto na forma como na essência Pegue o exemplo do acidente aéreo do início deste capítulo Uma matéria factual poderia começar com qualquer uma dessas três formas assim como diversas outras 127 1 Um avião caiu ontem no aeroporto de Ipiratibinga após falha em uma das turbi nas As informações preliminares apontam pelo menos 120 mortos 2 Pelo menos 120 pessoas morreram em um acidente com um avião ontem no aeroporto de Ipiratibinga Aparentemente o acidente foi causado pela falha em uma das turbinas 3 A falha em uma das turbinas de um avião da TIS causou a morte de 120 pessoas O acidente aconteceu na tarde de ontem no aeroporto de Ipiratibinga Apesar de trazerem basicamente as mesmas informações as três assertivas podem ser lidas criticamente de forma completamente diferente A primeira deu destaque para o acidente a segunda para o número de mortos enquanto a terceira pela causa do acidente E as diferenças não param por aí O primeiro não quis dar certeza sobre a informação referente ao número de mortes Enunciou que são informações prelimi nares Já o segundo não quis divulgar defi nitivamente a causa do acidente escreven do que aparentemente o acidente foi causado O terceiro por sua vez confi ou ple namente em suas fontes pois divulgou logo nas primeiras linhas todas as informações com segurança e ainda divulgou a empresa aérea envolvida no acidente Isso não signifi ca que houve uma suposta intenção escusa apenas demonstra que pode haver maneiras diferentes de se abordar e escrever uma matéria E o fato do nome da companhia aérea não ter sido citado também não signifi ca favorecimento desde que ele apareça no decorrer do lead ou no máximo no segundo parágrafo Caso contrário essa falta de informação confi gura ou erro grave de apuração ou má intenção do repórter ou da empresa jornalística Mas como aqui não é um espaço para pessimismo crônico e de uma condenação inapelável e sem chance de defesa da imprensa a ideia é confi ar no profi ssionalismo ética e na responsabilidade dos jornalistas em seu trabalho A IMPRENSA NA FORMAÇÃO DE UM LEITOR CRÍTICO Essa confi ança no profi ssionalismo do jornalista é fundamental para se construir um leitor crítico Uma confi ança que acredita mas que sabe que uma traição deslize ou até mesmo um erro pode acontecer de maneiras às vezes mais e outras menos perceptíveis O leitor crítico é aquele que consegue ter uma interpretação que vai além da sim ples decodifi cação dos elementos da leitura das palavras daquele texto e consegue in terpretar avaliar fazer comparações perceber intenções emitir opiniões conclusões e ter uma visão de mundo emancipadora OLIVEIRA 2006 A aventura da leitura crítica na imprensa EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 128 No jornalismo podemos defi nir que o leitor crítico vai além dessa defi nição O leitor crítico ao ler uma matéria não apenas se informa sobre aquele assunto mas tem consciência dos vários âmbitos e peculiaridades que envolvem aquela produção e não apenas a sua interpretação Ao se inteirar sobre um tema o leitor crítico não considera aquele assunto acabado a partir do que leu em um único jornal Ele se informa e faz comparações a partir de outras fontes de mídia que tratam daquele mesmo assunto sejam revistas outros jor nais impressos telejornais sejam noticiários de rádio Em se tratando da imprensa o impresso é fundamental para se formar um leitor crítico Não que os outros veículos não mereçam esse cuidado e esse tipo de leitura mais atenta eles o merecem e muito mas é na imprensa escrita que conseguimos perceber esses elementos críticos de forma mais profunda e até mesmo mais visível Além disso você pode voltar e ler novamente se quiser o que não dá para ser feito em um telejornal ou em um radiojornal O mesmo podemos dizer da maneira como absorvemos a notícia por outras mídias diferentes do impresso Jornais e revistas exi gem de seu leitor um comprometimento uma concentração e uma confi ança maior Mesmo um desprendimento maior afi nal você não pode ler vendo ou fazendo outra coisa dirigindo ou cozinhando por exemplo Para Mauro Wolf 1999 a imprensa escrita tem mais infl uência ao apresentar temas para serem debatidos pela população por fornecer uma visão mais profunda e sólida dos assuntos do que a televisão cujas matérias apresentam informações rápidas bre ves e heterogêneas Você sabe o que aconteceu naquele dia no jornal da noite mas se quiser saber maiores detalhes e ter mais informação o caminho inevitável é o texto do dia seguinte COMO SER UM LEITOR CRÍTICO Para ser um leitor crítico da imprensa não é muito diferente de ser um leitor crítico em geral É preciso ler com atenção ler bastante e se manter informado com diferentes fontes O leitor precisa saber por exemplo que um título apesar de informar sobre o que trata uma matéria não representa o essencial e todos os elementos que estão presentes nesse texto Também precisa saber que não raras vezes um título de uma matéria não é feito pelo repórter mas por seu superior imediato na redação o editor Os títulos são apenas um indicativo sobre o que o leitor vai encontrar na matéria Um elemento que o repórter e geralmente o editor julgaram que faria o leitor se interessar em ler aquele texto no confl ito diário que cada matéria trava entre seus semelhantes para atrair os olhos dos leitores nos poucos minutos que gastam com um jornal aberto 129 Outro elemento que deve ser levado em consideração na hora de se fazer uma leitura crítica é a foto utilizada para aquela matéria Uma foto não é apenas uma ilus tração para o texto jornalístico Eles se complementam e uma fotografi a pode trazer elementos que muitas vezes o jornalista não pode traduzir em palavras como opi niões e sentimentos a respeito de um tema O espaço destinado a cada matéria e o local na página também é algo importante Uma forma de se dar menos destaque para uma informação sem descumprir a função ética de noticiála é transformála em uma pequena nota no canto inferior de uma pági na par sem fotografi a e no interior do jornal e sem chamada de capa Afi nal a primeira página vista em um jornal é sempre a ímpar pois é a que está diretamente na frente do leitor após ele virar a página Esses espaços são destinados pelos editores a matérias que eles avaliam que terão menos interesse aos leitores ou que por algum motivo a direção do veículo acredite que não mereça destaque Motivos que vão desde os políticos como apoios a deter minados grupos ou governantes até comerciais acordos que envolvem a publicação ou menor destaque para matérias favoráveis ou desfavoráveis a determinados grupos empresariais passando é claro pelo jornalístico E se as matérias em espaços pequenos têm essas características os destinados às matérias maiores têm os mesmos elementos porém inversos principalmente em ma térias que abrem as páginas É verdade que hoje em se tratando de tratamento de destaque o que pauta na maioria das vezes o que será publicado e qual o tamanho que será reservado à matéria é o aspecto jornalístico o interesse que aquele tema renderia ao leitor o que o repórter conseguiu apurar a qualidade da foto se a matéria rendeu e a qualidade das informações Todos esses elementos são essenciais para a defi nição do espaço físico de uma ma téria ou reportagem dentro de um jornal ou revista mas seria inocência acreditarmos que infl uências políticas eou comerciais não teriam importância nesses veículos seja ele uma Folha de São Paulo um Globo seja um semanário de uma pequena cidade do interior do país embora com proporções obviamente distintas de infl uência Esses elementos contribuem para uma leitura crítica da imprensa escrita mas ainda não chegamos no texto propriamente dito É nesse momento que devem ser inseridas também as outras leituras caso contrário a leitura crítica se transformaria em um estudo acadêmico de sociologia semiótica ou de análise do discurso Embora esses elementos e teorias sejam úteis na hora de uma leitura crítica da mídia eles não são essenciais para um leitor crítico comum ou a leitura crítica seria algo reservado a acadêmicos e professores Para uma leitura crítica é preciso verifi car primeiramente se o jornalista na hora de confeccionar a matéria ou a reportagem cumpriu algumas regras básicas do bom jornalismo A aventura da leitura crítica na imprensa EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 130 Primeiro é preciso checar se o repórter foi claro e preciso na hora de levantar as informações e transformálas em texto O jornalismo não permite dúvidas ou duplas interpretações Outra questão importante é verifi car se o repórter ouviu todos os lados envolvidos e citados na matéria e colocou essas opiniões de forma adequada na maté ria Atenção de forma adequada signifi ca que foi fi el ao que o entrevistado disse outro ponto fundamental mas que o leitor não tem como descobrir a não ser que conheça o entrevistado e não que todos os envolvidos na matéria ou reportagem devem ter democraticamente o mesmo número de linhas O que rege quanto de destaque será dado a cada um dos envolvidos é a qualidade da informação por ele divulgada E se a pessoa não foi encontrada isso deve fi car claro para o leitor Outro aspecto que um leitor crítico deve levar em consideração é identifi car quan do o jornalista está emitindo explicitamente sua opinião O repórter deve ser o mais imparcial que ele conseguir embora a total imparcialidade e isenção sejam comple tamente impossíveis e deixar as conclusões para o leitor não apresentálas de forma explícita mastigada acusando ou inocentando alguém A opinião explícita no texto jornalístico está destinada aos artigos e editoriais Mas cuidado para não confundir texto com opinião com texto com emoção A emoção e o sentimento são imprescindíveis no jornalismo já a opinião deve ser mascarada o má ximo possível pelo jornalista Ela está presente em todos os textos mas não deve ser apresentada de forma explícita de forma a induzir o leitor na formação de sua própria opinião Uma leitura crítica entretanto vai além desses elementos Mais do que verifi car e comparar o que e como é escrito com outras mídias e a forma como isso é apresenta do é sempre importante prestar atenção nos posicionamentos político e ideológico do veículo em que é publicada a matéria não do jornalista em si Embora de certa forma exista certa ligação políticoideológica entre eles na escolha das matérias que serão feitas que é feita pelo pauteiro um cargo de confi ança dentro da redação é comum encontrarmos situações em que esses dois elementos se distanciam em seus posicionamentos Essa percepção contudo depende exclusivamente de uma leitura crítica e de um acompanhamento constante de um veículo Nos grandes veículos de circulação na cional essas tendências aparentemente são mais claras explícitas e estudadas Dois dos maiores jornais brasileiros por exemplo têm políticas editoriais completamente distintas Um exemplo que mostra a politização da Folha e do Estadão aconteceu em 2005 e mostrava a queda de homicídios em São Paulo naquele ano No mesmo período houve aumento do número de sequestros O Estadão deu na primeira página o título 131 Cai o número de homicídios em SP sobe o de sequestros Já a Folha publicou Sequestro aumenta e homicídio cai em SP As mesmas informações porém com sen tidos diferentes Isso sem contar as barrigas informações falsas mal checadas ou passadas ao repórter por fontes com intenções escusas e publicadas pela falta de checagem dessas informações como a denúncia não comprovada publicada na Veja em outubro de 2005 de que o presidente Lula teria recebido US 2 milhões do governo cubano para sua candidatura e a notícia de que a brasileira Andréia Schwartz teria sido a respon sável pela renúncia do exgovernador do Estado de Nova York Eliot Spitzer após um escândalo envolvendo rede de prostituição de luxo Em um veículo menor e de âmbito regional esse posicionamento se torna com frequência mais visível No Paraná por exemplo é de conhecimento público a briga existente entre o grupo do jornal Gazeta do Povo e o governador Roberto Requião PMDB chegando a ponto de esse atrito ter sido declarado pelo próprio governador em alguns de seus infl amados discursos O fato de um jornal revista ou qualquer outro meio de comunicação ter uma prefe rência ideológica e partidária não é condenável e nem antiético A prática é comum em outros países como os Estados Unidos A diferença é que esses posicionamentos e não apenas em relação a candidatos mas também quanto a diversos outros assuntos polêmicos são ofi cializados em editoriais texto publicado que apresenta a posição do jornal e não interferem aparentemente diretamente na cobertura dos repórteres daquele veículo No Brasil é diferente Os veículos de comunicação não têm o hábito de explicitar essas opiniões e posicionamentos em seus editoriais O próprio leitor brasileiro não cultiva o hábito de ler essas seções opinativas geralmente presentes na segunda pági na sobre o posicionamento e as opiniões do veículo acerca de determinado assunto A situação é ainda pior pois muitos veículos sequer publicam de forma frequente seus editoriais e seus leitores muito raramente cobram esse tipo de texto jornalístico em seus jornais e revistas JORNALISMO EDUCATIVO Apesar desses problemas ou por causa deles existe um tipo de jornalismo que tem como meta ser de alguma forma educativo para o leitor Não apenas informativo mas também educativo objetivando contribuir para a formação de leitores mais críti cos principalmente entre os mais jovens Hoje é muito comum jornais de médio e grande porte possuírem projetos educacio nais ligados ao jornalismo educativo com além da publicação de material específi co A aventura da leitura crítica na imprensa EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 132 também um trabalho de discussão treinamento e oferta de cursos com professores Iniciativas que recebem inclusive o apoio da Associação Nacional de Jornais ANJ Embora esses projetos tenham como justifi cativa secundária ou principal ser uma resposta à queda constante de número de leitores são iniciativas que contribuem para a formação de leitores críticos Em muitas dessas experiências além dos alunos receberem edições do jornal para trabalhos pedagógicos em sala de aula os professores são apresentados a algumas terminologias e conhecem um pouco do método da produção jornalística São apre sentados a temas como lead pirâmide invertida reportagem e matéria e descobrem e debatem entre si as possibilidades de trabalhar com os jornais em sala de aula Segundo pesquisa realizada pela própria ANJ a utilização do jornal como ferramen ta educacional resultou em uma melhora do hábito da leitura aumento da assimilação de conteúdo ampliação do vocabulário melhora nas notas estímulo ao senso crítico e melhoria na motivação dos estudantes Uma das conclusões da pesquisa é que quando se desmistifi ca o jornal em especial para o jovem ele passa a perceber melhor o mun do se sente mais atuante e crítico em relação a sua própria realidade Outro aspecto muito caro ao jornalismo educativo e que deveria também ser ao jornalista em si é o texto jornalístico ser uma espécie de espelho na mídia do uso cor reto da língua portuguesa Como o jornalismo utiliza uma linguagem que ao mesmo tempo em que é coloquial precisa obedecer às normas padrão da língua ela tornase um espelho e um modelo para o uso da linguagem de seu leitor Da mesma forma que a leitura literária tem a capacidade de enriquecer o vocabu lário as construções gramáticas e estilísticas de seu leitor o texto jornalístico também exerce um papel similar Enquanto uma obra literária em especial as contemporâneas apresenta a nosso ver maior liberdade no aspecto gramatical e maior aproximação do coloquial o jornalismo não O jornalismo deve ao mesmo tempo ser aceito nos dois universos linguísticos Compreensível para quem tem pouca instrução e não apresen tar erros ortográfi cos gramaticais e de construção que possam ser identifi cados pelos especialistas Isso sem esquecer da fi delidade da informação A CONSTRUÇÃO DE UM LEITOR CRÍTICO Como a construção de um leitor crítico passa inevitavelmente pela formação do leitor o uso educativo de jornais e revistas passa pela criação do hábito da leitura E não apenas fazendo uma leitura superfi cial como muitas vezes os leitores de jornais usuais fazem em seu diaadia se tornando incapaz de uma análise mais profunda so bre o que acabou de ler Muitas vezes ele nem ao menos se lembra da matéria sobre a qual acabou de gastar alguns minutos de seu tempo 133 De certa forma essa construção do uso educacional do jornal em sala de aula não difere muito do trabalho que deveria ser feito por professores para formar leitores As obras devem ser passadas aos leitores à medida que eles tenham condições de conhe cer e apreciar as características e superar as difi culdades inerentes àquele autor e seu estilo E é justamente essa aventura na leitura que devemos aproveitar na hora de traba lhar com a mídia impressa na educação O uso de jornais e revistas deveria ser tratado como uma sequência de descoberta Com essas descobertas o aluno se interessaria por uma leitura mais aprofundada mais crítica prestando atenção em sutilezas ver sões e elementos que normalmente passariam despercebidos Essas descobertas também não deveriam ser apresentadas de imediato e todas ao mesmo tempo A aventura estaria estragada sua sobrevivência comprometida São des cobertas que devem aparecer aos poucos Descobriuse uma aventura a aprecie e vá trabalhando com ela até estar preparado para o próximo passo Dentro dessa aventura por exemplo está a queda dos mitos Um deles é de que a matéria jornalística traz A VERDADE do fato O jornalismo nunca traz a verdade abso luta de um fato até porque não existe uma verdade absoluta A matéria independente de qual mídia apresenta uma verdade a partir das informações que o repórter levan tou e da ordem que ele decidiu que seria a mais importante na hora de apresentar a matéria Pode haver e normalmente existe outras verdades que não desmentem necessariamente a primeira mas dão uma nova visão e uma nova alternativa de inter pretação do fato Para isso é preciso deixar claro que existem várias formas de contar uma história Cada um tem seu estilo de contar a história cada um viu aquela situação de uma ma neira diferente tem seus posicionamentos e opiniões que por mais que tentem man têlos distantes contribuem na hora de se contar uma história E escrever uma matéria jornalística nada mais é do que contar uma história a partir de diversos depoimentos diferentes geralmente escrita por um homem que não estava lá A aventura da leitura crítica na imprensa Referências ALBERT P Terrou História da imprensa São Paulo Martins Fontes 1990 BAHIA Juarez Jornal história e técnica São Paulo Ática 1990 Disponível em httpwwwanjorgbrjornaleeducacao Acesso em 15 out 2008 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 134 1 Pegue uma matéria de jornal ou reportagem e retire as principais informações Em seguida passe para os alunos essas informações e peça para eles escreverem uma matéria como se estivessem escrevendo para um jornal Após eles escreverem essa matéria redistribuaas tentado fazer com que o trabalho de um aluno não fi que com um integrante do seu grupo mais próximo de amizades todas as sa las têm os seus grupinhos Depois das leituras peça a eles um novo trabalho apontando quais as diferenças que eles encontraram na matéria do colega e por que acham que isso aconteceu Por fi m apresente a eles a matéria original e peça para que eles façam o mesmo trabalho anterior mas dessa vez em relação a sua própria matéria Esse exercício tem o objetivo de mostrar que se podem criar várias matérias diferentes para um mesmo acontecimento que existem várias versões possíveis para um fato O resultado fi nal pode ser corrigido analisando tanto aspectos gramaticais quanto estilísticos e formas de se expressar 2 Outra atividade transformará os alunos em repórteres Divididos em duplas cada um vai escrever em uma folha de maneira breve e resumida algum acontecimento marcante em sua vida Essa parte do trabalho que servirá de pauta será entregue ao colega por cinco minutos Depois cada um terá quinze minutos para entrevistar o colega sobre esse acon tecimento de sua vida e viceversa Após a entrevista cada aluno escreverá uma matéria sobre aquele acontecimento na vida do colega Tente estabelecer um número mínimo e máximo de linhas para essas matérias Com as matérias prontas o autor deve passálas para sua fonte O aluno que deu a informa ção vai ler a matéria e escrever um segundo trabalho apontando o que ele acha que faltou e que deveria ou não deveria estar na matéria e o que o autor poderia ter perguntado a mais Proposta de Atividades OLIVEIRA Sara Texto visual e leitura crítica o dito o omitido o sugerido Linguagem Ensino Pelotas v 9 n 1 p 1539 2006 Disponível em httprle ucpeltchebrphpedicoesv9n1saraoliveirapdf Acesso em 15 out 2008 PENA Felipe Teorias do Jornalismo São Paulo Contexto 2005 VIZEU Alfredo MAZZAROLO Jô Telejornalismo onde está o LEAD São Paulo USP 1999 Disponível em httpwwwecauspbralaicCongreso19996gtAlfredo20 Vizeu rtf Acesso em 15 out 2008 WOLF Mauro Teorias da comunicação 5 ed Lisboa s n 1999 135 A aventura da leitura crítica na imprensa Com todos eles entregues e corrigidos avaliados da mesma forma que o exercício ante rior os alunos podem se envolver na confecção de um jornalmural para fi car exposto na instituição em que estudam talvez até com fotos referentes aos temas retratados Esse exercício além de criar e aprofundar o relacionamento entre alunos também dará aos estudantes uma breve percepção do processo jornalístico do qual eles veem apenas os produtos fi nais nos jornais e pode incentivar a leitura Anotações EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 136 Anotações 137 A leitura é um dos maiores prazeres da vida Ter a oportunidade de ler descobrir pesquisar e adquirir novos conhecimentos é algo intrínseco ao ser humano Hoje exis te cerca de 100 terabytes1 de informações que são alcançáveis pelos engenhos de bus ca como Google e Yahoo na web também conhecidos como a teia global de informa ções acessadas via Internet Outros ainda a denominam ciberespaço Essa quantidade de informações equivale a cerca de 50 milhões de volumes de livros que correspon dem a aproximadamente 20 bilhões de páginas E olha que essa é apenas a web dita visível ou surface Web isto é que pode ser localizada pelos engenhos de busca Já a chamada Deep Web contém segundo dados do IDC cerca de 750 vezes a quantidade de informações disponíveis na surface web Isto ocorre porque os atuais engenhos de busca não têm a capacidade de digitar e pensar Muitas bibliotecas digitais e outros 1 O byte é uma unidade de informação As pessoas costumam utilizar a quantidade de páginas para mensurar o tamanho de um livro No computador utilizase o byte que pode ser expresso em diversas grandezas como kilobyte 103 bytes megabyte 106 bytes gigabyte 109 bytes terabytes 1012 bytes Por exemplo o conteúdo de uma página digitada equivale a aproximadamente 2 kilobytes Antonio Mendes da Silva Filho Internet mídia de comunicação e educação 10 The important thing is not to stop questioning curiosity has its own reason for existing Albert Einstein It is a miracle that curiosity survives formal education Albert Einstein EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 138 sites exigem por exemplo que para fazer consultar e ter acesso à base de dados seja necessário digitar um login2 e senha e portanto exige o cadastro do usuário Por exemplo se você visitar o site do Google Scholar httpscholargooglecombr e pesquisar por artigos pertinentes a revistas Note que a curiosidade é uma caracterís tica intrínseca ao ser humano e pode ser considerada como base para o processo de aprendizagem Este capítulo trata da Internet e de como ela tem sido utilizada como recurso para a comunicação educação e mídia A ERA DA INFORMAÇÃO Cada um dos três séculos passados tem sido dominado por uma única tecnologia O século XVIII compreende a era dos grandes sistemas mecânicos acompanhado da Revolução Industrial O século XIX foi a era da máquina a vapor O século XX foi denominado a era da informação Associado a isto temos testemunhado vários avan ços tecnológicos em diversas áreas Dentre elas duas que têm causado signifi cativo impacto sobre o cotidiano das pessoas desde o século passado até o momento atual são Computação e Telecomunicações Nesse cenário de avanços tecnológicos depa ramonos com uma carga de informações cada vez maior o que é um fator positivo Isto permite aos usuários da Internet conhecidos como internautas explorar essa rica fonte de informações Entretanto como podemos tirar proveito dessas tecnologias que colocam a nossa disposição um volume cada vez maior de informações Perceba que o ser humano assim como as máquinas por exemplo o computador possui limitações Uma das limitações do ser humano é a memória como discutiremos a seguir Além disso o tempo disponível que as pessoas possuem é notavelmente cada vez mais escasso Isto conduz à necessidade de buscar formas mais efi cientes de coletar e processar apenas as informações necessárias no nosso cotidiano Note que é humanamente impossível digerir a imensa quantidade de informações colocadas à disposição das pessoas Uma forma de tratar essa questão é empregando um processo de customização que possibilite transformar um volume grande de informações em uma forma mais adequada para o interesse particular de uma pessoa A MEMÓRIA HUMANA O ser humano em seu processo de aprendizado passa por vários estágios de aprendizagem Para cada estágio temse associado uma maior propensão para o 2 O login é um nome ou palavra que identifi ca o usuário o qual é digitado juntamente com a senha para se ter aces so a um sistema Isso é comum quando um usuário deseja ter acesso a caixa de entrada de seu correio eletrônico e portanto ele informa o seu login e em seguida digita sua senha 139 desenvolvimento de habilidades específi cas Concomitante a esse fato temse que a memória humana possui suas limitações isto é o indivíduo é apenas capaz de me morizar um número limitado de informações A organização da memória humana é geralmente aceita como sendo composta de três áreas distintas e conectadas A memória de curta duração é responsável pelo recebimento e processamento inicial de informações Adicionalmente ela possui um acesso mais rápido e limitada capacidade de armazenamento A memória de trabalho tem uma capacidade de arma zenamento maior do que a de curta duração Todavia o seu tempo de acesso a infor mações já armazenadas é maior comparado com a primeira Quanto à memória de longa duração que é aquela que retém todo o conhecimento de um indivíduo possui um tempo de acesso para recuperação de informações muito maior comparado às demais Ela também é conhecida como memória permanente Contudo desde que os seres humanos esquecem algumas coisas temse que seus mecanismos de recuperação não são totalmente confi áveis Assim é necessário alimentar nossos sentidos como por exemplo visão e audição a fi m de fi xarmos as informações recebidas O ato de repetição da leitura nos ajuda a fi xar a informação lida isto é a informação é passada da memória de curta duração para a memória de trabalho e posteriormente para a memória de longa duração onde está armazenado o conhecimento do ser humano Porém face à carga crescente de informações à disposição das pessoas essas agora estão precisando de um recurso que as auxilie na identifi cação do que é necessário no momento de necessidade Então entra em cena o que se costuma denominar processo de customização que discutiremos a seguir CUSTOMIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO Hoje vivenciamos um momento ímpar da sociedade em que as pessoas têm aces so interativo online a repositórios dos mais variados conteúdos multimídia Isso permite que usuários conectados à Internet tenham a possibilidade de navegar no ciberespaço ou web e acessar diversos tipos de informações Dentro desse contexto o processo de customização tem a fi nalidade de proporcio nar ao indivíduo a facilidade de obter uma informação necessária quando necessário Em outras palavras customização signifi ca transformar a informação entrante em uma informação que seja adequada às necessidades de um indivíduo em determinado ins tante Assim a customização da informação ocorre imediatamente antes do uso dela Como salientamos anteriormente à medida que mergulhamos cada vez mais na era da informação está se tornando mais e mais aparente que a sociedade como um todo terá que se confrontar com um problema genérico da sobrecarga de informações Isto vai nos compelir a buscar e usar técnicas que maximizem o tratamento das informa ções recebidas a fi m de otimizar o tempo dos usuários Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 140 A necessidade de armazenar e recuperar informações digitais coletadas via Inter net de acordo com as necessidades do usuário é apenas uma questão a ser conside rada dentro desse contexto Outro aspecto é a necessidade de ter a informação apre sentada em uma forma apropriada à necessidade do indivíduo no tempo necessário ao seu consumo Um artefato de informação contém uma mistura de informações com maior ou me nor valor para um indivíduo dependendo do ponto de vista do consumidor da in formação Tentar localizar a informação manualmente pode ser tedioso ou mesmo sus ceptível a erro Exemplos de recursos ou ferramentas de customização compreendem os buscadores como Google wwwgooglecombr Yahoo br yahoocom Cade wwwcadecombr e Live Search wwwlivecom os quais permitem aos usuários empreenderem consultas específi cas as suas necessidades Outro recurso que tem sido adotado com sucesso pelos usuários é a Wikipédia httpptwikipediaorg que compreende uma enciclopédia na qual você não apenas acessa para consultar por informação desejada mas também é parte da Wikipédia podendo colaborar isto é prover informações para enciclopédia Observemos que os dois recursos apresentados acima compreendem exemplos nos quais o usuário tem um papel mais passivo isto é na maioria dos casos ele está interessado na obtenção de informações por meio de consultas No segundo caso Wikipédia o usuário tem a oportunidade de também adicionar informações à enci clopédia Recursos adicionais compreendem blogs correio eletrônico email e fórum de discussão os quais são tratados também neste capítulo USO DA INTERNET O ser humano é por natureza um elemento que necessita viver em sociedade e podemos afi rmar que também precisa de comunicação por ser esta uma necessidade intrínseca do homem Vale lembrar que o século XX foi marcado por grandes tragédias mas também por avanços da humanidade e especifi camente sua última década ou seja os anos 1990 marcou o advento e o crescimento em escala quase exponencial da Internet Esta tem sido responsável pela mudança de hábito de seus usuários pelo re desenho das estruturas das instituições e pela oferta de novas formas de comunicação Atualmente a população mundial é estimada em aproximadamente 6 6 bilhões de pessoas Desse total cerca de 1 4 bilhões são internautas usuários da Internet segundo dados do Internet World Stats Internet 2001 que monitora os dados da rede Hoje a América Latina conta com quase 10 dessa fatia o que corresponde a aproximadamente 140 milhões de usuários O Brasil particularmente tem 42 6 milhões desse total A população internauta brasileira é de 22 4 Ainda conforme os 141 dados da Internet World Stats o Brasil é 6º país em número de internautas fi cando apenas atrás dos EUA China Índia Japão e Alemanha Figura 1 Distribuição de usuários da internet Essa população brasileira de internautas 42 6 milhões considera o uso em vários am bientes como em casa trabalho escola universidade dentre outros Se o uso for restrito apenas ao ambiente residencial esse número cai para aproximadamente 22 milhões Dados da NielsenNetRatings httpwwwnielsennetratingscom apontam que o tempo mé dio mensal de navegação na Internet dos brasileiros é de 22 horas e 24 minutos um líder nesse aspecto Desse total de acordo com os dados do IBGE httpwwwibgegovbr mais de 50 é composto de jovens dos quais 13 têm idade entre 15 e 17 anos Ainda con forme o IBGE a idade média do internauta brasileiro é de 28 anos Dados da Internet World Stats informam que o crescimento de uso da Internet foi de 290 a nível mundial e de 660 na América Latina incluído o Brasil Todos esses índices servem para fundamentar a mudança de hábito de seus usuários É ótimo ter uma ferra menta como esta que nos permite acessar informações entrar em contato com amigos trocar mensagens fotos e tantas outras utilidades Note que a Internet permite descobrir informações mas não todas pois as informa ções indexadas pelos engenhos de busca ou buscadores como Google Yahoo e outros compreendem apenas uma pequena parcela da Deepnet httpen wikipedia orgwiki DeepWeb ou Web invisível não acessada por esses buscadores A Internet é um mun do de informações para os mais diversos gostos e necessidades Podemos brincar jogar conversar expressar opiniões assistir a fi lmes e obviamente pesquisar A Internet tem ser vido a diversas áreas e uma das quais tem se benefi ciado bastante tem sido a Educação como discorreremos na sequência Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 142 TICS A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO Começa a se tornar comum nas escolas e universidades o uso da tecnologia da in formação e comunicação TIC como recurso para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem A incorporação de elementos multimodais incrementa os documen tos digitais documentos com recursos de natureza multimídia bem como melhora a acessibilidade a esses documentos Isto vale para todos os indivíduos e também àque les que possuem alguma defi ciência Tratase de uma tecnologia que oferece múltiplas perspectivas às pessoas facilitando o processo de assimilação de um conhecimento novo Isto é ótimo para o processo de aprendizado Cabenos destacar que o conhecimento codifi cado em documentos e outros tex tos possui em geral diferentes representações e as pessoas similarmente têm dife rentes capacidades de assimilar novos conteúdos Note ainda que o entendimento de um novo conceito e a aquisição de novo conhecimento vão depender da maneira com que ele é apresentado O processo de aprendizado é altamente dependente da maneira que o indivíduo aprende Dessa forma documentos digitais são documentos que incorporam múl tiplos recursos ou seja possuem vários recursos multimodais e interativos isto é recursos multimídia como por exemplo imagens vídeos e sons Utilizar tais recur sos torna mais fácil o ensino e o aprendizado de conceitos abstratos já que o novo conceito é apresentado sob diferentes perspectivas Um exemplo evidente é o uso da simulação como recurso para facilitar o aprendizado de novos conceitos Exemplos de uso applets isto é um programa que é executado em determinado contexto visan do a ilustrar uma aplicação são apresentados em httppolymer bu eduwamnet html e httpwwwgroupsdcsstandacukhistoryJavaindex html Vale ainda observar que a maioria do material de ensino disponível hoje na web está no formato HTML HyperText Markup Language limitando a possibilidade de apresentar conteúdos multimodais e interativos HTML é uma linguagem de marcação que permite a uma pessoa especifi car a maneira pela qual ela deseja ter a informação exibida em uma página da web A linguagem compreende um conjunto de tags ou rótulos que a pessoa pode por exemplo defi nir se uma palavra deve aparecer em ne grito ou no formato itálico Em outras palavras a linguagem HTML defi ne o formato de exibição de informações em uma página da web Para tanto o usuário deve utilizar um editor de texto para editar o arquivo HTML que especifi ca o conteúdo de uma página web que será exibida pelo browser ou navegador da web Exemplos de browsers são Internet Explorer e Mozilla Essa situação de uso da linguagem HTML contudo começa a mudar com o uso da linguagem XML eXtended Markup Language combinada com outras aplicações 143 tais como MathML SVG e SMIL A XML oferece mais fl exibilidade comparativamente à HTML Se considerarmos o uso de MathML wwww3orgTRRECMathML per ceberemos que é uma aplicação que oferece aos usuários recursos para processar e exibir conteúdo de matemática na web Isto pode ser feito mais facilmente com o uso de uma ferramenta de autoria e browser ou navegador Amaya httpwwww3org Amaya Tratase portanto de uma ferramenta de código aberto disponibilizada pelo Consórcio W3C Outras aplicações que podem ser utilizadas em conjunto com a XML compreendem SVG e SMIL referenciadas respectivamente em httpwww w3orgGraphicsSVG httpwwww3orgAudioVideo Embora as aplicações supracitadas MathML SVG e SMIL já estejam disponíveis e possam ser utilizadas como recursos para incrementar o processo de ensino e apren dizagem seu uso para esse fi m tem sido módico Parte se deve ao desconhecimen to e parte devido à falta de incentivos no sentido de aprimorar as formas atuais de aprendizado Adicionalmente observamos que esforços de pesquisa têm se concentrado em es tudos e testes empíricos visando a compreender e a modelar a forma pela qual as pessoas executam suas tarefas buscando capturar todos os aspectos das experiências e interações humanas no uso de ferramentas computacionais para o aprendizado Neste sentido o casamento do entendimento detalhado do ser humano com a compreen são aprofundada da tecnologia empregada permite a concepção e o projeto de novos produtos Essa preocupação se estende ao uso das TICs objetivando a melhoria do processo de ensino e aprendizagem O uso das TICs na educação auxilia a compreensão de por exemplo conceitos abstratos visto que os estudantes podem alterar variáveis e ve rifi car as mudanças resultantes A disponibilidade desse imenso armazém de dados a web combinada com o uso de aplicações como MathML SVG SMIL oferece diversas perspectivas que podem ser exploradas pelo aprendiz tornando a aquisição de novos conhecimentos mais fácil Percebamos que as fronteiras da sala de aula estão em processo de mutação facili tando cada vez mais o processo de consulta ensino aprendizado e colaboração entre estudantes professores e profi ssionais de várias especialidades Uma modesta parcela dos educadores já percebeu a riqueza das TICs e como elas podem aprimorar o pro cesso de aprendizado Entretanto os resultados têm sido bons e é preciso ampliar esse número de modo a gerar multiplicadores para que uma parcela maior da sociedade possa se benefi ciar também Dentre os recursos que têm sido empregados por edu cadores podemos destacar o uso de correio eletrônico fóruns comunidades online páginas web wikis salas de batepapo conhecidas como chats e blogs Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 144 As páginas web compreendem o conjunto de páginas que compõem a web Diver sos são os exemplos de páginas web conhecidos também como site termo em inglês ou sítio com já tem sido traduzido para o português Alguns exemplos de páginas web compreendem Conteúdo como wwwuolcombr ou wwwterracombr Universidades como wwwuembr ou wwwunicampbr Instituições fi nanceiras como wwwcaixagovbr ou wwwitaucombr Buscadores como wwwgooglecombr ou bryahoocom Já as comunidades online também são conhecidas como comunidades virtuais ou comunidades eletrônicas ecommunity compreendendo um grupo de pessoas inte ragem entre si fazendo uso de algum meio de comunicação como telefone correio eletrônico mensagens instantâneas ou salas de bate papo chats com objetivo de trocar obter e fornecer informações com fi ns de educação social eou profi ssional Quando o meio de comunicação é a Internet uma rede de computadores de alcance global denominase esse grupo comunidade online Os wikis compreendem um conjunto de páginas web que estão estruturadas e interligadas as quais podem ser acessadas por usuários interessados em contribuir adicionando novos conteúdos modifi cando o conteúdo existente ou simplesmente fazendo consultas Os wikis são considerados páginas web colaborativas já que in centivam a colaboração entre os participantes Um exemplo de wiki bastante utilizado pelos usuários da Internet o Wikipedia wwwwikipediaorg ou em português wwwptwikipediaorg considerada uma enciclopédia na qual os usuários da In ternet têm acesso com objetivo de consulta e colaboração Um exemplo maior que agrega vários desses recursos é o ambiente TelEduc httpwwwteleducorgbr que tem sido usado para o ensino a distância além de também permitir a administração de cursos na web O ambiente foi desenvolvido pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Unicamp e tem tido ótima recepti vidade e uso em várias instituições Outro exemplo de ambiente de administração de cursos a distância é o Moodle httpmoodleorg que no Brasil é adotado em várias instituições Um exemplo é a UNB httpwwwaprenderunbbr que similarmente ao TelEduc também permite a administração de cursos COMUNICAÇÃO PILAR ESSENCIAL À EDUCAÇÃO Nunca em qualquer outra época da humanidade houve tamanha quantidade de comunicação troca e acesso a informação como no momento atual em que a Internet 145 torna essa necessidade humana e da educação possível Comunicação é tudo e tem sido muito bem exercitada por uma quantidade cada vez mais crescente de usuários da Internet conforme evidenciado pelo Internet World Stats httpwwwInternet worldstatscomstatshtm Percebamos que a comunicação é uma arte Como essa arte da comunicação tem sido exercitada pelas pessoas Um número cada vez maior de pessoas tem se tornado usuárias da Internet e em especial tem havido crescimento quase exponencial do número de bloggers autores de blogs A blogosfera como é chamado o espaço virtual dos blogs tem tido um crescimento contínuo Segundo dados da Technorati em março de 2006 havia mais de 35 milhões de blogs Dados da Technorati de abril de 2007 informava haver mais de 70 milhões de blogs quando a cada dia 120 mil novos blogs eram criados Dados de junho de 2008 indicam a existência de 133 milhões de blogs httpwwwtechnorati combloggingstateoftheblogosphere Um dado curioso é que cerca de 70 dos blogs existentes hoje no mundo são escri tos em inglês ou japonês sendo 33 em inglês e 37 em japonês Em 3º e 4º lugares estão os blogs de chineses e italianos com 8 e 3 respectivamente Já o português está com aproximadamente 2 Mas o que é exatamente um blog Um blog é uma espécie de diário eletrônico interativo através do qual as pessoas podem expor suas ideias e outras informações sobre conteúdo específi co e comu nicar suas opiniões pela web além de receber comentários de seus leitores Tratase portanto de uma forma de interação na qual há um encontro virtual entre autor ou educador e leitores ou alunos Encontramos na web diversos tipos de blogs como por exemplo diários pessoais blogs de famílias blogs de análises e comentários revisões ou comentários de produ tos ou mesmo aqueles que contêm vários de tipos de mídias fotos músicas e fi lmes Um dado importante a observar é que hoje em dia mais de 10 dos usuários da In ternet têm ou já tiveram blogs e que mais de 13 dos usuários da Internet leem blogs O que isso signifi ca Atualmente o blog constitui mais uma ferramenta de informação e comunicação Ele já é considerado um novo paradigma de aquisição e disseminação da informação e por que não dizer também do conhecimento servindo como alternativa à mídia tra dicional Além disso é uma ferramenta interativa ao permitir comentários e a interação entre aqueles que comentam tornandose assim uma rede social uma blogosfera em que esforços colaborativos interagem aumentando o efeito da rede Dentro desse contexto há uma questão de suma importância que deve ser consi derada não há qualquer padrão profi ssional ou regulamento para essas mídias Isto Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 146 implica portanto a necessidade de checar as fontes antes de aceitar a informação divulgada como verdadeira Adicionalmente algo que impressiona é a forma e a taxa nas quais as informações são colocadas e comentadas nos blogs Dados da Technorati revelam que cerca de 1 milhão de informações posts são inseridas nos blogs diariamente o que resulta em uma taxa de quase 40 mil por hora Determinados fatos como a tsunami no Oceano Índico o furacão Katrina as eleições norteamericanas causaram picos na quantidade de inserção de novas informações nos blogs Porém não se impressione muito com os números pois eles servem apenas para quantifi car a necessidade humana de comunicação e informação O ser humano por natureza tem uma grande necessidade de comunicação e essa característica se acen tua com as facilidades atuais da Internet maior acesso à telefonia fi xa e celular A Internet tem redesenhado as formas pelas quais as pessoas interagem e têm acesso às informações Hoje em dia não só a televisão rádio e jornais invadem as residências e instituições A Internet está em tudo e estará mais ainda em nossas mãos a qualquer hora e lugar à medida que a telefonia via Internet tornase o novo paradigma Note mos que a Internet é uma mídia que veio para democratizar o acesso ao conteúdo e facilitar a interação e colaboração entre as pessoas e as instituições Cabe também destacar que um blog atua como um escape para muitas pessoas como no caso de photoblogs blog de fotos ou moblogging blog usando disposi tivos móveis como celular e PDA Todavia os blogs têm sido mais utilizados para expressar opiniões interação alunoprofessor em cursos apresentar novas informa ções realizar algum tipo de promoção ou marketing e principalmente para comuni car ideias e informações O importante aqui é que o blog permite a interação essa é a palavrachave Os au tores escrevem os leitores leem e comentam os autores e outros leitores respondem aos comentários e assim comunicação e interação simplesmente ocorrem Algo que merece ser enfatizado é que o blog atua como uma ferramenta para compartilhar co nhecimento e portanto provê suporte à educação Esses dois aspectos são de suma importância o fato de permitir o compartilhamento do conhecimento que resulta em um blog institucional auxiliando no processo de ensino realçando sua forma de comunicação É impressionante como as pessoas têm lido bem como têm dado atenção aos conteúdos disponibilizados nos blogs e mais e o quanto as pessoas dedicam de seu tempo para criar e frequentemente adicionar conteúdos ao blog além de responder a comentários Esse sucesso e crescimento de usuários se devem a um fator ou melhor a uma necessidade humana a comunicação ou interação na busca pela informação 147 Vale ressaltar que o blog é um meio de comunicação que permite a expressão do autor e sua comunicação com seus leitores em uma interação dinâmica Contudo ao mesmo tempo em que o blog se constitui em mais uma alternativa de informação e comunicação ele também requer um código de ética para que a liberdade de ex pressão não seja cerceada nem o comportamento excêntrico impeça a comunidade online de trocar informações experiências e colaboração Comunicação é tanto arte quanto necessidade humana e o ser humano precisa aprender a usála para apreciar a beleza da comunidade online PANORÂMICA O SÉCULO DA EDUCAÇÃO O século XXI é centrado na educação e esta por sua vez determinará o destino de nossa sociedade O poder não será mais unicamente determinado pelos governos e instituições multinacionais É importante pontuar que a dependência futura não recai mais sobre os recursos físicos Observamos que o futuro da sociedade depen derá primariamente do conhecimento e a inovação será o principal propulsor de crescimento econômico O negócio da empresas brasileiras é inovação orientada ao desenvolvimento humano Percebamos que a mudança e evolução contínua estarão presentes no cerne da so ciedade e assim tanto a educação quanto a capacitação serão exigidas durante toda a vida do indivíduo Isso põe por terra o antigo paradigma baseado apenas na educação até a idade adulta O novo paradigma exigirá educação e capacitação ao longo de toda a existência das pessoas Cabe também apontar que os governos permanecerão envolvidos em prover educação e há até um interesse crescente na educação continuada devido ao valor econômico agregado Entretanto embora haja interesse e demanda por qualifi ca ção profi ssional de modo continuado o Brasil continua patinando e sem conseguir acompanhar o bonde da competitividade que cada vez mais requer qualifi cação profi ssional Isto signifi ca perda de oportunidades No artigo do professor José Pas tore 2005 o país Possui 12 de analfabetos absolutos Tem 60 de analfabetos funcionais que têm difi culdades para entender o que leem e fazer cálculos Conta 9 de estudantes cursando ensino superior Investe 5 5 de seu PIB em educação Requer de maneira estimada 12 anos para alcançar um cenário adequado de capacitação Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 148 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DIFERENCIAL PARA COMPETITIVIDADE Hoje temos um crescimento vertiginoso da demanda por pessoas qualifi cadas o que exige um crescimento similar de indivíduos em unidades educacionais que po dem ser as universidades tradicionais de tijolo e cimento bem como as universidades virtuais sem paredes e unidades de ensino a distância a fi m de atender tal demanda Isto requer soluções criativas Nossa previsão é que no futuro não muito distante ou seja em um horizonte de 10 a 20 anos as universidades não terão mais paredes É importante observar que uma única instituição ou universidade não poderá pro ver todos os cursos demandados pela sociedade A quantidade e tipos de cursos ofer tados e demandados também determinarão mudanças na educação tornandoa distri buída Isso terá como consequência a formação de consórcios gerando a necessidade adicional de mudanças na forma de gestão da educação A educação tende a cruzar fronteiras não apenas físicas mas também culturais fazendo o educador ter um papel mais de facilitador O educador concentrarseá mais no processo de aprendizagem uma vez que nesse processo as pessoas terão ações mais independentes e autônomas Note que tais mudanças são vislumbradas para o ensino superior com foco na capa citação profi ssional e educação continuada Há expectativa de aprimoramentos nos ensinos de nível primário e secundário Todavia essas serão de menor porte especi fi camente dada à introdução de novas tecnologias e recursos multimídia no ensino DEMANDA PELA FORMAÇÃO DE CAPITAL HUMANO Quase metade dos indicadores de desenvolvimento de um país utilizados pelo Ban co Mundial estão relacionados à educação ou à formação de capital humano que é parte do desenvolvimento humano Dentre eles temse o percentual de homens e mulheres alfabetizados percentual de pessoal no ensino de 1º grau percentual de pessoas no ensino de 2º grau percentual de pessoas no 3º grau percentual do PIB investido na educação e percentual de pessoas cientistasengenheiros envolvidas em atividades de PD Pesquisa e Desenvolvimento Aliados a esse fato os principais propulsores do crescimento econômico de um país englobam Nível educacional com crescimento rápido Taxas de inovação tecnológica aceleradas Meios de comunicação mais rápidos e baratos permitindo a quebra de barreiras físicas e sociais tanto a nível nacional quanto internacional Informação atualmente disponível em quantidade e qualidade maior do que jamais vista antes Abertura de novos mercados com a globalização 149 Perceba que dispomos de vários recursos de conhecimento tecnologia informa ção educação e competências em abundância os quais podem ser utilizados para alcançar resultados melhores Nesse contexto a disseminação da informação útil é de suma importância A educação é o processo pelo qual a sociedade passa o conheci mento e experiências acumuladas das gerações passadas às novas gerações de maneira sistemática e mais abreviada de modo que a próxima geração possa iniciar do ponto onde as gerações anteriores pararam Hoje em dia a educação nos permite ter acesso ao conhecimento das gerações anteriores bem como as experiências e conhecimento de todas as pessoas no mun do O desenvolvimento tecnológico e mídias atuais levam às instituições e residências conteúdos de diversas naturezas incluindo texto som e vídeo e juntamente com o advento da Internet que possibilita acesso a uma variedade de fontes em escala global Neste sentido dispomos de uma quantidade excepcional e rica de conteúdo aliada à capacidade de entrega rápida Se ousarmos nos libertar dos currículos obsoletos e buscar aperfeiçoálos com mecanismos adequados de comunicação e colaboração da informação podemos aproveitar a oportunidade para superar o gap educacional que nos separa das nações mais prósperas É importante observar ainda a quantidade crescente de instituições buscando no vas formas de capacitar eou fomentar a capacitação de seus profi ssionais e da so ciedade como um todo Nunca em todo o período da história houve demanda tão elevada por profi ssionais qualifi cados E note que isso é apenas uma das perspectivas consideradas Algo que devemos pensar é por que as organizações têm interesse em clientes ou usuários com maior grau de educação EDUCAÇÃO CATALISADOR DO DESENVOLVIMENTO Educação é um catalisador e portanto fator determinante no desenvolvimento de qualquer nação A educação é a principal ferramenta para capacitar o capital humano qualifi cado cada vez mais necessário na era atual Sem qualifi cação é praticamente impossível a uma nação se manter e competir na era do conhecimento Dados da Unesco 2007 mostram que a América Latina possui um percentual 44 do total do PIB Produto Interno Bruto de investimento em educação Já a América do Norte e Sudeste Asiático têm respectivamente 36 e 56 Esses números servem para de monstrar as preocupações dos governos com a educação pois ela determinará quem dominará o século atual Três exemplos de países dessa região são destacados com dados extraídos do FactBook da CIA httpswwwciagovlibrarypublicationsthe worldfactbook conforme apresentamos na tabela a seguir Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 150 País PIB US Renda Per Capita US Atividade Econômica Agricultura Indústria Serviços Brasil 184 Trilhões 97 mil 51 308 64 Estados Unidos 1386 Trilhões 460 mil 09 206 785 Cingapura 2227 Bilhões 489 mil 00 337 663 Observemos os dados da tabela Brasil e Estados Unidos são dois países que pos suem dimensões continentais Dados da Unesco apontam que ambos têm investido aproximadamente 5 do PIB em educação Se olharmos esses números e verifi carmos os PIBs das duas nações perceberemos que os EUA têm signifi cativa vantagem sobre o Brasil mas não tanta sobre Cingapura Apenas para dar uma ideia os países do Sudeste Asiático investem menos de 3 em educação e ainda assim obtêm resultados melhores Os países dessa região dentre eles Cingapura têm tido expressivo cresci mento econômico Cingapura tem crescido a taxas de cerca de 10 ao ano e tem investido pesada mente em educação e capacitação de pessoal Em outras palavras em capital humano Imaginemos esse pequeno país de 617 km2 um tamanho bem menor que o estado de Alagoas ter conseguido a proeza de possuir renda per capita de quase US 49 000 e portanto acima dos EUA Isso é resultado de investimento constante em educação ao longo das últimas décadas Sua população é principalmente de origem chinesa apesar da diversidade e tolerância racial Os fatores arrolados acima e o baixo índice de criminalidade têm motivado a atração de novos investimentos e negócios Se observarmos cautelosamente os dados supracitados veremos que os outros in dicadores como elevada renda per capita baixo índice de criminalidade e atração de novos investimentos são resultado de uma população educada e capacitada Mais de 95 da população de Cingapura é alfabetizada tem capacidade de ler e escrever Além disso o inglês é usado em ambientes de trabalho e negócios Você deve estar se perguntando como o Brasil pode atingir os níveis de renda per capita dos EUA e Cingapura Não há outro caminho senão pela educação Dados do MEC httpportalmecgovbr indicam que o Brasil investe cerca de 4 em edu cação o que é considerado pouco O país precisa elevar os níveis de educação do país a fi m de dar suporte à tendência de crescimento econômico que começamos a viven ciar Se isso não for feito de modo rápido e planejado o Brasil continuará a amargar o velho adágio de ser o país do futuro 151 O governo brasileiro precisa ser mais ousado e investir pesadamente em educação nos três níveis ou seja 1º 2º e 3º graus As escolas públicas devem prover suporte maior na educação básica aprimorando o processo de aprendizagem com o empre go das várias tecnologias acesso e busca a bibliotecas digitais email fórum blogs ferramentas de apoio ao ensino a distância como TelEduc e Moodle O ensino de 3º grau nas universidades precisa ter sua qualidade aperfeiçoada de modo a capacitar adequadamente os profi ssionais necessários ao mercado Do contrário em um futuro bem próximo o país pode ter a necessidade de importar mão de obra qualifi cada a fi m de atender às necessidades das empresas Desenvolvimento se faz com conhecimento com profi ssionais qualifi cados e isso requer um pilar que é a educação Internet mídia de comunicação e educação Internet usage statistics the Internet big pictures S l Internet World Stats 2001 Disponível em wwwInternetworldstatscomstatshtml Acesso em12 out 2008 PASTORE José Faltam empregos e sobram vagas O Estado de São Paulo São Paulo 20 set 2005 Disponível em wwwjosepastoerecombrartigosemem054 html Acesso em 12 out 2008 UNESCO INSTITUTE FOR STATISTICS Laying the foundations for EFA investment in primary e education S l 2007 Disponível em wwwhttpwwwuisunescoorg templatepdfeducgeneralfactsheet07No6ENpdf Acesso em 12 out 2008 Referências 1 Como a Internet tem infl uenciado as práticas de ensino dos três níveis de educação edu cação básica ou Ensino Fundamental Ensino Médio e Ensino Superior 2 O ensino a distância realizado através de encontros virtuais via Internet com recursos de administração e colaboração de conteúdos chats fóruns email blogs elimina a necessi dade de presença física e contato real com professor Discuta as vantagens e limitações do uso das TICs no apoio ao ensino a distância e processo de aprendizagem 3 O que é necessário a um indivíduo para se benefi ciar da Internet no cotidiano Responda a questão considerando a perspectiva educacional Proposta de Atividades EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 152 Anotações 153 Na história estão as marcas do teatro como espaço físico e como expressão de cultura que assume características de um ato de comunicação Nesse rico patrimô nio arqueológico e cultural pode ser identificada a produção teatral como modos históricos de propagar conhecimentos e atitudes de repúdio ou de aceitação e exaltação de acontecimentos sociais O teatro formalizado pelos gregos como espaço cênico foi organizado na de monstração de cultura e conhecimento O reconhecimento das diferentes formas da atividade teatral como produção cultural e história traz a pergunta como o teatro comunica e o que comunica Como faz a propagação de conhecimentos po líticos religiosos e a valorização de atitudes de denúncia apreciação ou desprezo Tantas indagações tornaramse um roteiro de nosso próprio estudo sobre teatro e gera outras buscas como participam na produção de sentido a palavra o tom a mímica facial o gesto a maquiagem o penteado o vestuário o acessório o cená rio a iluminação a música e o ruído A obra Semiologia do Teatro organizada por Guinsburg 1988 contribui na análise do sentido da produção e do espetáculo teatral a criação cenográfica permite o desenvolvimento do pensamento reflexivo sobre a obra por exemplo o cenário representa o lugar onde acontece uma cena podendo ser lugar geográfico lugar social lugar geográfico e social ao mesmo tempo O cenário também pode significar o tempo época histórica estações do ano certa hora do dia Desta forma a função do cenário é a de determinar a ação no espaço e no tempo para que o espectador possa entender os acontecimentos Ao interpretar o personagem utiliza a palavra que possui funções variadas de acordo com o gênero tragédia ou comédia Na análise semiológica a palavra Regina Lúcia Mesti Pedro Carlos de Aquino Ochôa Linguagens teatrais e produção de sentido no ato de comunicação e educação 11 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 154 encontrase em níveis diferentes como o semântico o fonológico o sintático e o prosódico As palavras podem em determinados momentos causar efeitos di versos no público como por exemplo as consoantes sibilantes que produzem o efeito de irritação as palavras arcaicas usadas para demonstrar que a personagem vive em uma época remota a alternância rítmica pode remeter a mudança de sen timentos ou humor Um valor semiológico suplementar da palavra é o tom que nada mais é do que o modo como as palavras são pronunciadas Desta maneira um ator pode ressal tar uma palavra utilizandose apenas de sua dicção É no tom que encontramos a entonação o ritmo a rapidez e a intensidade das palavras Segundo Guinsburg 1988 p 105 cada signo linguístico possui então uma forma normalizada a pa lavra como tal bem como a variação tom constituindo um campo de liberdade que cada indivíduo falante e sobretudo o ator explora de modo mais ou menos original O gesto é um sistema de signo mais desenvolvido e um meio rico de exprimir pensamentos É considerado como gesto o movimento da mão do braço da per na da cabeça do corpo inteiro tendo como objetivo a comunicação dos signos As categorias dos signos gestuais são variadas os que acompanham as palavras podendo até substituilas os que suprimem um elemento do cenário um aces sório os que significam um sentimento emoção O ato de comunicação do teatro inclui a pantomima de caça dos povos da idade do gelo e as categorias dramáticas diferenciadas dos tempos modernos Berthold 2005 p 102 em sua obra História Mundial do Teatro analisa as formas primitivas da transformação de uma pessoa em uma persona como uma das for mas arquetípicas da expressão humana e nos faz ver as formas teatrais em Atenas no início do teatro europeu como obra de arte social e comunal O QUE DIZ E COMO DIZ A TRAGÉDIA A atividade realizada no espaço theatron apresentava de forma ritualística os agradecimentos aos deuses pela colheita do trigo da uva etc A multidão reunida era participante desse ritual teatral e religioso Esse ato de comunicação era reali zado por meio de danças cantos e poemas A nova forma de arte da tragodia tragédia aperfeiçoouse e tornouse a maté ria de uma competição teatral na República de Atenas O modo inovador do diálo go no rito estabelece a comunicação com a presença da interação na cena e trata de ensinamentos que os nobres queriam comunicar ao povo como os preceitos fundamentais de comportamento considerado civilizado 155 A grande transformação na comemoração se deu com o surgimento da tragédia Um solista do coro se colocou à parte do coro e criou o papel do hipókrites o respon dedor e mais tarde o ator que apresentava o espetáculo e se envolvia em um diálogo com o condutor do coro deste modo os gregos iniciaram a organização teatral em forma de tragédia Os componentes dramáticos da tragédia arcaica eram um prólogo que explicava a história prévia o cântico de entrada do coro o relato dos mensageiros na trágica virada do destino e o lamento das vítimas nas tetralogias três tragédias e uma peça satírica concludente A análise sobre a educação ateniense do século V aC indica que esta baseavase na literatura música e esportes A literatura incluía leitura escrita aritmética e declama ção das obras dos poetas particularmente Homero que foi autoridade em religião e letras Passagens inteiras de sua obra foram recitadas com todos os recursos teatrais infl exão expressão facial e gestos dramáticos A música incluía o estudo do ritmo e harmonia e o domínio da lira e da fl auta A dança recebia especial ênfase na medida em que era fundamental a todas as religiões e cerimônias dramáticas Cidadãos treinavam o coro das festas religiosas e as crianças eram submetidas a um rigoroso programa de poesia religião canto e dança Conforme análise de Courtney 2003 na obra Jo gos Teatro Pensamento o teatro foi importante instrumento educacional à medida que disseminava o conhecimento e representava para o povo a principal experiência literária O QUE DIZ E COMO DIZ A COMÉDIA A comédia tem dois momentos de destaque na história primeiro ocorreu nas úl timas décadas dos grandes trágicos Sófocles e Eurípedes o segundo pico da comédia grega ocorreu no período helenístico com Menandro A comédia sempre foi uma forma de arte intelectual e formal independente A ori gem da comédia de acordo com a Poética de Aristóteles reside nas cerimônias fálicas e canções que em sua época eram ainda comuns em muitas cidades A palavra comédia é derivada dos komos orgias noturnas nas quais os cavalheiros da sociedade Ática se despojavam de toda a sua dignidade por alguns dias em nome de Dionísio Deus Grego e saciavam a sede de bebida dança e amor O grande festival era celebrado em janeiro nas Lenéias um tipo ruidoso de carnaval que não dispensava a palhaçada gros seira e o humor licencioso Ao komos juntaramse no século V os truões e os come diantes com falos e enormes barrigas falsas que eram mestres da farsa improvisada As cenas de comicidade grosseira e as caricaturas dos mitos foram fonte da co média dórica e siciliana em 500 aC ridicularizavam os deuses e heróis o que Linguagens teatrais e produção de sentido no ato de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 156 para alguns nobres era uma ofensa A ação cômica induz a um reflexão crítica da história representada os personagens promovem essa atitude principalmente relacionados a personas da sociedade religiosos políticos nobres O concurso de comédias que acontecia em parte no festival das Lenéias e em parte na Grande Dionisíaca de Atenas não era como o concurso trágico uma prova de força pacífica Atores tornavamse autores autores escondiamse por trás de atores A comédia antiga é precursora das caricaturas políticas e cabaré Os espetáculos da Comédia Antiga aconteciam no edifício teatral com suas pa redes de madeira pintadas e painéis de tecido enquanto o coro como na tragédia clássica ficava na orquestra As máscaras da Comédia Antiga vão desde as grotescas cabeças de animais até os retratos caricaturais as danças tinham origem cultuais e era vergonhoso dançar sem máscaras razão talvez que justifique a ausência das mulheres por muito tempo nas representações de comédias Aristófanes criou um estilo da comédia teatral no qual o coro tira suas máscaras e caminha até a frente na extremidade da orquestra e fala para a platéia Esse ato de comunicação justifi cava desmentia ou retratava uma cena A comédia da sátira política passa a representar também a vida cotidiana Em vez de deuses generais filósofos de chefes de governo ela satirizava cortesãs fa mosas A Comédia no final do século IV aC ressalta a caracterização da motivação das mudanças internas na balança entre o bem e o mal entre o certo e o errado O coro desapareceu completamente e o palco foi alterado as cenas mais impor tantes eram representadas em uma plataforma diante da skene de dois andares O teatro de Roma fundamentase no mote político pão e circo O anfi teatro tor nouse palco dos jogos de gladiadores e lutas de animais espetáculos acrobáticos O teatro romano cresceu sobre o tablado de madeira dos atores ambulantes da farsa po pular Durante dois séculos o palco era uma estrutura temporária erguida para cada espetáculo O público fi cava em semicírculo ao redor da plataforma e era proibido sentarse durante um espetáculo teatral O palco foi adaptado às condições estrutu rais permanentes o galpão que servia de camarim tinha estrutura de madeira coberta com paredes laterais O espetáculo teatral tinha pouco público A grande platéia esta va no espaço vizinho circos com gladiadores dançarinas corridas de bigas O primeiro Teatro construído em Roma teve motivações religiosas e inspiração arquitetônica nas igrejas medievais O conceito romano de que a imitação tinha uma relação direta com arte demarca o teatro como uma cópia da vida um es pelho dos costumes um reflexo da verdade um conceito que iria ecoar através dos séculos e reitera a proposta de levantar por assim dizer o espelho para a natureza COURTNEY 2003 p 8 157 Onde e como se faz teatro resulta da diversidade de concepções estética de es petáculo e das significações históricas de teatro Analisar o que o teatro diz e como diz é um desafio que exige estudos sobre a organização do espaço e as interações das linguagens que produz sentido no espetáculo teatral O teatro enquanto um ato de comunicação que se constitui na complexidade da articulação das linguagens reúne os elementos texto e ator e público Textos teatrais já apresentam uma especificidade nem sempre são criados para esse fim muitos têm origens diversas na poesia no mundo político ou religioso Esses lugares sociais nascedouros de textos teatrais demarcam o sentido e as diversas funções históricas das linguagens teatrais Linguagens teatrais e produção de sentido no ato de comunicação e educação BARROS Diana L P A Comunicação humana In FIORIN José Luis Introdução à lingüística objetos teóricos São Paulo Atual 2002 BRASIL SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL Parâmetros Curriculares Nacionais Arte Brasília MECSEF 1997 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Brasília DF MECSEF 1998 v 3 BERTHOLD Margot História mundial do teatro 2 ed São Paulo Perspectiva 2005 COURTNEY Richard Jogo teatro pensamento São Paulo Perspectiva 2003 GREIMAS Algirdas J Da imperfeição Trad Ana Claudia de Oliveira São Paulo Hacker Editores 2002 Ensaios de semiótica poética São Paulo Cultrix Edusp 1975 GUINSBURG J COELHO NETTO J Teixeira CARDOSO Reni Chaves Org Semiologia do teatro São Paulo Perspectiva 1988 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 158 Anotações 1 O que diz e como diz o teatro da tragédia 2 O que diz e como diz a comédia Proposta de Atividades IAVELBERG Rosa Para gostar de aprender arte sala de aula e formação de professores Porto Alegre Artmed 2003 LANDOWSKI Eric Presenças do outro ensaios de sociossemiótica São Paulo Perspectiva 2002 OCHÔA Pedro Carlos de Aquino MESTI Regina Lúcia Linguagens e produção de sentido no teatro na escola In Anais III Congresso Internacional de Psicologia Coletividade e Subjetividade na Sociedade Contemporânea Universidade Estadual de Maringá 2007 OLIVEIRA Ana C Vitrinas acidentes estéticos na cotidianidade São Paulo Educ 1997 159 Sonia Maria Vieira Negrão Eloiza Amália Sestito Arte e mídia são instituições diferentes do ponto de vista das suas respectivas his tórias de seus sujeitos ou protagonistas e da inserção social de cada uma contudo ambas estão presentes nas relações sociais e implicam nas relações culturais de cada sociedade A arte é atividade humana originase nos primórdios das organizações so ciais fruto da comunicação e do desenvolvimento da linguagem A arte expressa a busca do homem pela totalidade revela os sentimentos e julga mentos que o homem tem de seu tempo Como a arte é fruto da comunicação huma na envolve dois sujeitos o criador e o observador O segundo tornase apreciador à medida que compreende a arte e seus códigos Visto assim ambos criador e aprecia dor expressam e entendem as artes por meio das características culturais presentes em seu viver A arte para o artista aquele que a produz diverge no sentido de captar a realidade e representála em uma nova realidade transformada a obra Da mesma forma a arte diverge também para o apreciador que lhe atribui sentido de acordo com seu conhecimento experiência sensibilidade e gosto estético Porém a arte instiga o apreciador a repensar o mundo o outro1 e a si mesmo por isso im pulsiona rompimentos com conhecimentos e modos de vida anteriores e é capaz de proporcionar a criação de um novo homem que passa a distinguir um novo mundo e nele atua diferentemente A mídia também é fruto da comunicação humana entretanto sua confi guração atual foi formatada a partir da intensifi cação da industrialização pois as relações hu manas ganham características de mercadoria assim como a cultura A mídia então 1 Na teoria lacaniana é denominado outro aquele que permite a relação simbólica entre os seres humanos É a troca de símbolos que situa os nossos eus uns em relação aos outros É a relação simbólica que defi ne a posição do sujeito como aquele que vê A divergência da arte e a convergência da mídia 12 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 160 está a serviço da divulgação de produtos culturais Sua infl uência no cotidiano dife rentemente da arte é de convergir as ideias para a constituição de mercados ávidos em disponibilizar produtos para o consumo padronizar as ideias como por exemplo o bordão da década de 1970 pósrevolução de 1964 Brasil ameo ou deixeo para justifi car aos olhos do povo o grande número de artistas políticos e estudantes exila dos o gosto estético como o boom da música sertaneja na década de 1980 quando a indústria fonográfi ca o rádio e a televisão brasileira levaram o país a ouvila cantála e a consumir massifi cadamente até mesmo padronizar sentimentos como por ocasião da morte de Ayrton Senna quando a TV Globo fez todo o Brasil chorar por dias e dias Todavia a mídia utilizase da criação e da linguagem artística para a produção de seus produtos assim como a arte também se utiliza da mídia para a divulgação de mú sica cinema teatro dança e artes visuais que muitas vezes transformamse em bens de consumo cultural Dessa forma que relação arte e mídia mantêm entre si A essa questão respondere mos ao longo deste capítulo Analisaremos inicialmente arte e mídia separadamente mostrando seus contextos de produção e suas respectivas funções O QUE É ARTE As defi nições universais e intemporais são idealistas e na maioria das vezes etnocên tricas por isso nos é possível formular uma caracterização sempre provisória e opera cional como por exemplo arte é um instrumento que permite conhecer a realidade e nela atuar CANCLINI 1984 p 209 A arte corresponde a uma atividade humana desde sua mais remota existência No decorrer da história é possível verifi car o papel fundamental que a atividade artística teve para a produção social e cultural A linguagem2 é a principal forma de integração cultural da sociedade e foi responsável pela construção das várias culturas existentes até hoje Entendemos por cultura o modo de pensar sentir e agir de um grupo ou sociedade O processo de comunicação por meio da linguagem tem sido o grande responsável pela divulgação e conservação das culturas porque as transmitem de geração em ge ração Dos desenhos rupestres préhistóricos até as atuais construções modernas dos estádios chineses para as Olimpíadas 2008 o homem tem se utilizado das linguagens 2 Referimonos por lin guagem um sistema simbólico sistema de signos que servem de meio de expressão e comunicação que nos permite identifi car e diferenciar por exemplo uma linguagem oral a fala uma linguagem gráfi ca a escrita um gráfi co uma linguagem tátil uma linguagem auditiva uma linguagem olfativa uma linguagem gustativa ou as linguagens artísticas 161 artísticas como expressão de seu entendimento e apropriação da natureza e das for mas de ser e viver em sociedade Diretamente ligada às relações humanas a arte se destina a registrar a presença do homem no mundo A arte existe porque a vida não basta GULLAR 20073 Neste sentido a arte revela a necessidade humana da busca de totalidade É claro que o homem quer ser mais do que apenas ele mesmo Quer ser um homem total Não lhe basta ser um indivíduo separado além da parcialidade da sua vida individual anseia uma plenitude que sente e tenta alcançar uma plenitude de vida que lhe é fraudada pela individualidade e todas as suas limi tações uma plenitude na direção da qual se orienta quando busca um mundo mais compreensível e mais justo um mundo que tenha signifi cação anseia por unir na arte o seu Eu limitado com uma existência humana coletiva e por tornar social a sua individualidade FISCHER 1979 p 1213 É a busca de traduzirse o individual no coletivo o todo no um a limitação mate rial natural no eterno da subjetividade sobrenatural intuição Na arte o mito e a matéria se fundem e resulta em signifi cados práticos lógicos que dão sentido à vida Na busca dessa totalidade o homem fez arte e refl etiu sobre ela Uma parte de mim é todo mundo Outra parte é ninguém fundo sem fundo Uma parte de mim é multidão Outra parte estranheza e solidão Uma parte de mim pesa pondera Outra parte delira Uma parte de mim almoça e janta Outra parte se espanta Uma parte de mim é permanente Outra parte se sabe de repente Uma parte de mim é só vertigem Outra parte linguagem Traduzir uma parte na outra parte Que é uma questão de vida ou morte Será arte GULLAR 2006 p 335 Entretanto o conceito de arte se modifi ca à medida que a visão de homem e so ciedade também se transforma Basicamente seus conceitos se movem entre o belo ou o ideal representação das coisas reais ou de sua idealização a expressão da sub jetividade individual e a técnica o fazer Conceitos que visam a explicar e a defi nir o ato criador que está na base do trabalho artístico que resulta em construção de conhecimento 3 Conferência de Abertura do Congresso de Leitura COLE Campinas 2007 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 162 Para ilustrarmos tal afi rmação reportamonos a Ferreira Gullar 1978 que descre ve a busca de identidade estética para sua poesia até que a visão social e a realidade objetiva levaramno a rever conceitos e preconceitos para reordenar o mundo O que resultou para o poeta aprender de novo a viver e escrever No momento em que me disse que a poesia só teria sentido se o ato de escrever fosse capaz de transformar o próprio poeta Signifi ca que trabalhar a lingua gem é trabalhar o homem e o poema tornase desse modo um corpo novo em que o homem se constrói melhor GULLAR 1978 p 4243 O ato criador corresponde a uma intuição é antes de tudo um ato formador ou seja é a necessidade quase que instintiva de construir signifi cados à vida à existência aos problemas nessa busca de ordenações e de signifi cados reside a profunda moti vação humana de criar OSTROWER 2003 p 9 Assim a arte se constitui e gera co nhecimento a partir do trabalho criador uma vez que o homem só se torna consciente do que criou à medida que o expressa Sendo assim o meio em que está inserido determina os signifi cados criados e também a observação e a interpretação dos signifi cados construídos pelo apreciador Se tomarmos por exemplo a obra Guernica 19374 na qual o pintor com sua habilidade singular de simbolizar a estruturou com personagens animais e símbolos carregados de sentidos metáforas da dor e da guerra só poderá ser compreendida por quem tem conhecimento do contexto histórico em que ela foi criada Toda obra artística traz consigo uma intenção porém ocorre de forma complexa e harmoniza acontecimentos sentimentos ideias ou objetos dispondose às caracterís ticas da matéria que se articula segundo o imaginário A arte revelase na transfi guração da realidade pensada imaginada abstraída Vygotsky 1999 salienta que a arte não é o simples multiplicar de sensações do cotidiano Se um poema que trata da tristeza não tivesse nenhum outro fi m senão conta giarnos com a tristeza do autor isto seria muito triste para arte O milagre da arte lembra antes outro milagre do Evangelho a transformação da água em vinho e a verdadeira natureza da arte sempre implicam algo que transforma que supera o sentimento comum e aquele mesmo medo aquela mesma dor aquela mesma inquietação quando suscitadas pela arte implicam o algo a mais acima daquilo que nelas está contido E este algo supera esses sentimentos elimina esses sentimentos transforma sua água em vinho e assim se realiza a mais importante missão da arte VYGOTSKY 1999 p 307 4 Obra de Pablo Picasso que retrata como a cidade espanhola do mesmo nome fi cou após ser bombardeada durante a guerra civil espanhola 163 Assim quando ressaltamos a divergência da arte referimonos ao desvelamento do mundo que ela proporciona ao artista e ao apreciador quando esses se permitem pensar diferentemente do que pensam e perceber diferentemente do que vêem Através da história houve períodos em que o trabalho do artista esteve separado do fi lósofo ou seja de quem pensava sobre ele Dessa forma o conhecimento de seu trabalho não era função do artista A função decisiva da arte nos seus primórdios foi inequivocamente a de con ferir poder poder sobre a natureza poder sobre os inimigos poder sobre o parceiro de relações sexuais poder sobre a realidade poder exercido no senti do de um fortalecimento da coletividade humana Nos alvores da humanidade a arte pouco tinha a ver com a contemplação estética com o desfrute estético era um instrumento mágico uma arma da coletividade humana em luta pela sobrevivência FISCHER 1979 p 45 Nesse contexto o aprendiz de arte aprendia o fazer a técnica a habilidade com seu mestre era aprendiz do artesão todavia o seu fazer estava ligado ao ritual à magia do signifi cado coletivo a serviço da crença do grupo em que estava inserido Nos tempos medievais o ensino da arte às crianças se dava por meio de um mestre A aprendizagem ocorria com a transmissão da técnica a criação era o mero ato de fazer objetos não o ato de trazer para o mundo formas estéticas repletas de ideias no vas WILSON 2005 p 83 No Renascimento entre os anos de 1565 e 1570 o artista dedicava aos temas teóricos raízes clássicas da arte e geometria parte de seu tempo O resultado deveria ser estético artísticocultural o artista era um estudioso Esse ideal artístico persistiria até o século XIX À medida que o mito e o religioso foram cedendo lugar ao científi co e racional parecia que o artista fi nalmente iria se aproximar do conhecimento de sua obra po rém agora seria a ciência que se fragmentaria e o sujeito mais uma vez seria separado do objeto ocorreria uma individualização com a valorização do dom da técnica e da expressividade A arte de lá para cá se manteve envolta em uma aura de sacralidade individualiza o artista e separa ainda mais a arte do grande público Mantida por uma série de dispositivos como a autoria a originalidade o dis tanciamento do objeto e principalmente os modos específi cos de análise escri ta da obra a redoma protegeu a arte e seu público daqueles que não possuíam os códigos e as disposições necessárias para o convívio social com a boa arte RAMOS 2007 p 99 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 164 O modernismo5 do início do século XX caracterizouse pelo desejo da inovação e do ainda a ser visto como pensamento da cultura ocidental que abrange o liberalis mo científi co tecnológico industrial econômico individual e político como aspectos interativos Esses aspectos formaram as bases para a estética modernista que consti tuem desenvolvimentos estéticos das artes no fi m do século XIX e início do século XX Tentou reformar as artes criando imagem para uma sociedade melhor e mais humana que emergia por meio do progresso da ciência Uma das características centrais do modernismo era a rejeição radical de suas próprias raízes na cultura ocidental Elitizou a arte isolandoa das outras manifestações artísticas folclóricas e populares A arte moderna é ensinada mais frequentemente como sendo uma manifestação destituída de contexto social como valorização dos desenhos como base da feitura da arte e sua apreciação A partir desse período não teremos mais um grande estilo artístico mas sim artistas com liberdade de criação que buscam em diversos meios a melhor maneira de se expressar uma vez que o desenvolvimento tecnológico havia criado vários recursos para retratar o real e esta não seria mais a função da arte agora ela deveria expressar a realidade Assim os recursos tecnológicos passam a ser também meios para criar e ensinar Se o aprender e o fazer artístico estão relacionados ao desenvolvimento técnico e científi co de seu tempo é natural que o artista se utilize das inovações tecnológicas contemporâneas para suas composições A arte sempre foi produzida com os meios de seu tempo Bach 1722 compôs fugas para cravo porque este era o instrumento musical mais avançado da sua época em termos de engenharia e acústica Já Stockhausen preferiu compor texturas sonoras para sintetizadores eletrônicos pois em sua época já não fazia mais sentido conceber peças para cravo a não ser em termos de citação histórica Mas o desafi o enfrentado por ambos os composito res foi exatamente o mesmo extrair o máximo das possibilidades musicais de instrumentos recéminventados e que davam forma à sensibilidade acústica de suas respectivas épocas MACHADO 2004 p 2 Neste sentido na contemporaneidade o artista se apropria dos meios produzidos pelo desenvolvimento tecnológico como recursos ou suportes de criação com o ob jetivo de extrair deles a expressão e a materialidade em formas cores sons ou gestos 5 O modernismo é uma corrente artística que surgiu na última década do século XIX como resposta às consequên cias da industrialização revalorizando a arte e sua forma de realização a manual A arquitetura foi a disciplina integral à qual se subordinaram as outras artes gráfi cas e fi gurativas Reafi rmouse o aspecto decorativo dos objetos de uso cotidiano mediante uma linguagem artística repleta de curvas e arabescos de acentuada infl uência oriental O Modernismo Brasileiro foi desencadeado tardiamente impulsionado pela Semana de Arte Moderna que ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922 165 do tempo em que estão inseridos Atualmente nos deparamos com a arte nos mais diferentes locais há muito tempo que a arte não se restringe mais somente a locais destinados à exposição de seus produtos A criação artística está presente desde a capa do livro à embalagem de um produto nas prateleiras do supermercado entretanto depende de como seus códigos serão en tendidos e interpretados pelo apreciador Tanto o fazer artístico como sua apreciação estão ligados ao seu tempo e lugar O artista é um ser social e expressa em sua obra os valores e as questões próprias do mundo em que vive O apreciador da obra ao aproxi marse dela também o faz imbuído de conceitos e valores de sua cultura Então podemos concluir que arte é construção conhecimento e expressão hu mana à medida que a realidade ou o mundo sentido é identifi cado e reinventado por atividades nas quais se realizam a produção a circulação e o consumo do gosto da fruição sensível e de sua elaboração imaginária em síntese um modo de praticar cul tura trabalhandose o sensível e o imaginário com o objetivo de alcançar o prazer e desenvolver identidade simbólica de um povo ou classe social objetivando uma práxis transformadora O QUE É MÍDIA Na busca de facilitar e proporcionar melhores condições de vida o homem desen volve a ciência e a tecnologia O pensamento científi co tem em comum com a arte a mesma matériaprima a criatividade na apropriação da natureza e da vida social Isto é o pensamento artístico e o pensamento científi co produzem conhecimento O pri meiro busca dar sentido à vida poeticamente6 e o segundo visa a resultados práticos e racionais Todavia ambos se constituíram a partir do desenvolvimento da comunica ção humana principalmente dos códigos de linguagem Através da história tanto a arte quanto a ciência foram responsáveis pelo desen volvimento cultural A partir do Renascimento o pensamento mítico e religioso cede lugar ao científi co e racional como promessa de libertar o homem da servidão e da ignorância A organização das formas de produção e trabalho se modifi ca Nos séculos VIII e XIX a indústria e o comércio se intensifi cam juntamente com o fortalecimento das identidades nacionais Estabelecemse então mercados internacionais que se ca racterizam pelo conjunto de consumidores os quais são constituídos por grupos de pessoas com poder de compra 6 A poética originase do grego ação de fazer algo aquilo que desperta o sentido do belo que encanta e enleva Sempre que houver uma relação simbólica ou semisimbólica entre formas plásticas e formas semânticas há efeito de poeticidade A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 166 O sistema de comunicação agora se volta para o serviço do mercado a ciência e a arte também estão pautadas na razão instrumental ou seja na produção de produtos Está estabelecido o modo de produção capitalista Com o desenvolvimento da técnica e da produção em série desenvolvese a cultura do sempre igual tudo vira mercadoria a razão que antes se propunha em um instrumento de emancipação e libertação do mito e da ignorância tornase razão instrumental a serviço da técnica e da produção A partir dos dois últimos séculos um novo personagem entra na vida das pessoas sem pedir licença infl uenciando o comportamento ditando regras de conduta e até de valores tratase da comunicação midiática A mídia se caracteriza pelo conjunto de meios de comunicação informação e en tretenimento Todo seu aparato desempenha um papel de integração cultural pois age como difusor de culturas Os meios de comunicação como jornal revista rádio televisão cinema e atualmente os diferentes meios digitais difundem os signifi cados comuns às sociedades ou suas culturas e convergem na unidade cultural Sua função contudo é determinada sempre a partir dos conceitos gerados em uma sociedade industrial e de consumo Surge a Indústria Cultural7 que por um lado alimenta o individualismo consumista e por outro infl uencia a realidade social porque deter mina modos de vida gostos estéticos cria necessidades e a realidade é confi gurada mediante sua exposição nesses meios Em arte o conhecimento estético também se tornou mercadoria uma vez que a atividade cultural vem sendo reifi cada por meio da razão instrumental pela Indústria Cultural que segundo Adorno 1985 aliada à ideologia capitalista contribui efi cazmente para falsifi car as relações entre os homens bem como dos homens com a natureza O autor afi rma ainda que o progresso da dominação da técnica transformouse em um poderoso instrumento da Indústria Cultural para conter o desenvolvimento da consciência das massas gerando uma falsa identidade do universal e do particular Tal cultura possui uma dimensão de semiformação isto é divulga a cultura mas não apresenta caráter formativo ADORNO 1985 p 114 A produção cultural funciona como um forte fator ideológico na maneira de ver a realidade e conceituála Nossa sociedade encarregou os meios de comunicação e informação da divulgação dos produtos artísticos e culturais o que ocorre sem uma 7 Indústria Cultural segundo Adorno a Indústria Cultural é todo bem cultural que se torna negócio e está en volvido no processo de comercialização como uma mercadoria Defi ne uma cultura que viabiliza a integração do indivíduo sem que ele tenha a visão crítica para reagir a esse tipo de cultura Essa cultura é econômica e capitalista Não é cultura porque não tem discussão emancipatória e civilizatória e não é só indústria O sujeito não consome cultura mas sim ideologia Adorno tem um capítulo específi co sobre a Indústria Cultural contido na Dialética do Esclarecimento em que em parceria com Horkheimer ele trata do assunto 167 mediação crítica e com a valorização do aspecto mercadológico Vários pensadores como os autores da Escola de Frankfurt Adorno 19031968 Walter Benjamim 1892 1940 entre outros não consideram esses produtos como bens culturais ou artísticos e sim produtos de uma Indústria Cultural A linguagem visual por exemplo cresce em importância porque sintetiza concei tos condensa os signifi cados transformandose na grande mediadora de ideias e com portamentos A mensagem se oferece pronta dispensa discernimento é o produto a ser consumido Nesse contexto emerge uma nova necessidade em nossos dias que é conhecer os códigos da linguagem imagética uma vez que a mídia se utiliza da lingua gem da arte para a produção de seus produtos e bens de consumo A linguagem utilizada na televisão no rádio e atualmente nos meios digitais são concebidas dentro de um princípio de produtividade industrial de automatização dos procedimentos para a produção em larga escala mas nunca para a produção de obje tos singulares singelos e sublimes MACHADO 2004 p 3 Atualmente a cultura passa por um processo de mundialização os produtos cul turais já não se limitam a um território específi co por conta da globalização O indivi dual e o regional perdem referências frente ao global propagado pela mídia Parente 2002 postula que a partir do século XX a realidade do mundo moderno vem se modifi cando vertiginosamente e atualmente por exemplo a realidade virtual é o dis positivo que melhor representa o papel das novas tecnologias da imagem na sociedade contemporânea Essa realidade transformou a concepção de tempo e espaço nos quais o imediatis mo passa a reger as ações e pensamentos E assim como no fi nal no século XIX e início do século XX o mundo assistiu ao advento do veículo ferroviário e aéreo a sociedade contemporânea tem assistido as grandes transformações provocadas pelos veículos audiovisuais O espaço os acontecimentos as informações e as pessoas são condicionadas cada vez mais pela telecomunicação assim como a transparência do espaço de nossos percursos tende a ser substituída pelas articulações do veículo au diovisual último horizonte de nossos trajetos cujo modelo mais perfeito é o ciberespaço PARENTE 2002 p 105106 Nesse âmbito podemos verifi car a eminência de conhecermos o caráter emanci patório da narrativa estética para a formação e conscientização do indivíduo Uma vez que as linguagens artísticas são cada vez mais utilizadas na comunicação midiática com a intenção de conquistar o consumidor ao desconhecer o verdadeiro sentido dessas linguagens e como elas podem refl etir e questionar a sociedade em que vivemos tor namonos reféns desses meios A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 168 Em síntese entendemos que a mídia se expressa como um modo de massifi cação da cultura trabalhando o prazer o sensível e o imaginário com o objetivo de homo geneizar determinada identidade simbólica de um povo ou classe social objetivando uma práxis reprodutora DE QUE MODO ARTE E MÍDIA SE DISTINGUEM SE COMBINAM E SE CONTAMINAM As relações entre arte e mídia se imbricam e mesmo se confundem no contexto da sociedade capitalista Diante disso é necessária uma análise do caráter divergente da arte e do caráter convergente da mídia A inventividade e a criatividade são vias de acesso tanto à arte quanto à mídia As linguagens artísticas estão presentes tanto nos meios de comunicação quanto nos desenhos e composições de projetos tecnológicos haja vista a valorização estética dos produtos cada vez mais arrojados e minuciosamen te planejados para agradar ao público à que são destinados Enfi m o apelo se faz pela dimensão estética sensível porém ao mesmo tempo esses produtos padronizam e uniformizam gostos usos e costumes Convergem os pensamentos e ideias uma vez que o objetivo é o consumo de bens culturais e não a refl exão e o questionamento da identidade simbólica já citada anteriormente A arte diverge pois na ótica criativa não existe somente um mas vários caminhos nos quais as diferenças são valorizadas A aprendizagem em arte deve atingir a vida deve dialogar com as realidades e por meio das experiências estéticas nas quais os sa beres artísticos criam formas de interpretação do mundo e as experiências da vida real criam novas formas de fazer a arte A linguagem artística presente nos meios de comunicação não carrega o mesmo signifi cado da arte que busca refl etir sobre a vida porque a arte não é apenas uma con sequência de modifi cações culturais mas também um instrumento provocador de mu danças a arte possui um caráter reordenador e parte de um sistema sócio cultural para em seguida corrompêlo redimensionálo restabelecêlo MENEZES 2005 p 12 A refl exão sobre mídia que ora realizamos referese aos meios de comunicação que objetivam e direcionam seus recursos ao consumo e não possibilitam refl exão sobre a vida sobre a cultura sem possibilidades de ações transformadoras Dessa forma a participação fi caria restrita cada vez mais a uma elite tecnológicoeconômica deten tora dos espaços decisórios e por isso mesmo apta a consumir e a produzir produtos culturais mais sofi sticados enquanto a massa se conforma em ser apenas cliente Destacamos que o ato de consumir não se resume à aquisição de produtos Lon ge da visão de que o consumo seria apenas a realização irracional de desejos fúteis Canclini 1996 demonstra como o ato de consumir envolve processos socioculturais 169 mais amplos em que se dá sentido e ordem à vida social e principalmente em que se constroem as identidades neste mundo pósmoderno8 Consumir seria nesse contex to um investimento afetivo e não um simples gasto monetário os bens por sua vez seriam acessórios rituais dando sentido ao fl uxo simbólico da vida social O autor conclui consumir é tornar mais inteligível um mundo onde o sólido se evapora CANCLINI 1984 p 5859 Os recursos midiáticos desenvolvem sim uma função educativa pois os conteúdos por eles veiculados proporcionam aprendizagem e informação Atualmente com os novos recursos tecnológicos é possível até a interação e intervenção do espectador via mensagens pela Internet sistemas de telefonia móvel entre outros É possível in clusive a criação de ambientes virtuais de aprendizagem O marco da utilização de recursos midiáticos na educação no Brasil foi a criação da rádio Roquete Pinto em 1923 de lá para cá essas iniciativas têm sido incrementadas e obtido bons resultados Hoje temos vários canais de televisão e rádio com o objetivo educacional como Rádio e TV Cultura TV Escola TV Paulo Freire no Paraná revistas com conteúdos refl exivos vários portais educacionais na Internet Não obstante observamos que o público que se utiliza desses meios é um público menor que busca interesses específi cos A partir dessa concepção é que ponderamos acerca do caráter divergente da arte uma vez que age e transforma a realidade cultural Para Adorno a arte se arvora em dignidade do absoluto ela começa onde o saber abandona o homem a sua sorte HORKHEIMER ADORNO 1991 p 14 Ou seja a obra de arte incorpora a materia lidade histórica e transforma em materialidade estética Na obra de arte está contida a expressão do todo no particular dessa forma a arte tem função em si mesma não tem objetivos de resultados e de efeitos ela expressa de modo condensado a realidade multifacetada de maneira única e singular HORKHEIMER ADORNO 1991 Já o caráter convergente da mídia consiste na forma que concebe e divulga a cul tura como produto confi gurado a partir de uma lógica mercadológica e industrial Sua apreciação se faz de forma imediata e não sensorial e subjetiva Com o desenvol vimento da ciência a meta do esclarecimento a princípio era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber ADORNO 1985 p 19 A imaginação a fantasia e a criatividade fi caram relegadas em segundo plano A razão se transformou em razão instrumental operation perdendo assim a dimensão refl exiva 8 Movimento nas artes na arquitetura na teoria social e na fi losofi a ligado à ideia de que várias transformações culturais e sociais permitem descrever o presente período histórico como sufi cientemente diferente do período conhecido como Modernidade para se caracterizar como nova época histórica SILVA 2000 p 93 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 170 Neste sentido tentaremos responder à questão que fi zemos acima De que modo arte e mídia se distinguem se combinam e se contaminam Arte e mídia têm em comum a comunicação entretanto se distinguem no sentido de que a arte comunica a realidade pensada abstraída e transformada por vias sen soriais e subjetivas enleva e desvela Transforma o artista e o apreciador produz o pensamento crítico e o pensamento divergente Esse conhecimento deveria estar ao alcance do maior número de pessoas no entanto nem todos têm acesso a esse tipo de conhecimento e os meios de comunicação por seu alcance deveriam viabilizálo Já a mídia a que está ao alcance do maior número de pessoas com seu grande poder de comunicação também se utiliza dos códigos da arte para transmitir sua mensagem porém massifi ca oferece a mensagem sem possibilidade de diálogo com o observador este a recebe pronta sem discernir ou avaliála Arte e mídia se combinam no sentido de a arte se apropriar das inovações tecnológicas para a criação artística e a mídia se utilizar das linguagens da arte para persuadir e comunicar seus bens materiais e simbólicos Finalmente ambas se contaminam porque a arte apresentada pela mídia ganha caráter de mercadoria e se reifi ca Uma estreita faixa da população tem acesso ou mesmo se interessa porque o interesse exige formação em assistir a TV Cultura ler revistas como Caros Amigos ou assistir Tropa de Elite para fi carmos apenas em exem plos conhecidos A maior parte da população só tem acesso à mídia massifi cadora para puro entretenimento em que o pedagógico não objetiva a formação do cidadão mas o mero consumidor no sentido que Canclini 1984 nos anuncia As exceções servem justamente para mostrar que casos assim só podem mesmo ser raros e que servem ape nas para confi rmar as regras do processo mais amplo que tende a socializar produtos da Indústria Cultural Dentro dessa perspectiva restanos ainda uma última questão QUAL O PAPEL DO PROFESSOR COMO MEDIADOR ENTRE O APREN DIZ A ARTE E A MÍDIA Tratandose da questão arte e mídia o grande papel da escola é refl etir as contra dições sociais estabelecidas na ordem social capitalista utilizandose da linguagem estética como um instrumento na educação dos sentidos na perpectiva de que a es tética precede a ética e que a arte viabiliza a catarse que é a possibilidade de fazer o indivíduo se exercitar pela compaixão isto é de se colocar no lugar do outro e desen volver a dimensão da alteridade que é o exercício da vida em comum o exercício da cidadania A arte é conhecimento à medida que possibilita o esclarecimento a visão crítica da realidade A apropriação crítica e criativa do diversifi cado patrimônio cultural e dos 171 códigos específi cos das linguagens artísticas é portanto instrumento de formação do indivíduo de conhecimento e de transformação da realidade Se considerarmos que os locais destinados às exposições dos produtos artísticos foram culturalmente elitizados e separados do cotidiano do educando e a cultura veiculada pelos meios de comunicação são produtos da Indústria Cultural a escola desempenha um papel fundamental ao fazer essa relação do produto artístico com a cultura na qual foi produzido Viabilizar ao aluno esse confronto e esclarecimento das relações entre o que é ou não arte ou o que faz ou não parte de sua identidade cultural em um tempo em que o regional e o global se fundem o moderno e o antigo convivem em um espaço virtual do tempo que só conhece o imediato e o agora se torna papel fundamental do educador Aspectos como o que é erudito popular ou massivo são uma constante na vida dos educandos diante dessa realidade que congrega valores e conceitos nos espaços midiáticos Essa realidade também é vivida pelos educadores Todavia a linguagem da arte permite o conhecimento de seus códigos e a interpretação das intenções existen tes nas mensagens presentes na mídia É importante que o professor atue através de uma pedagogia mais realista e mais progressista que aproxime os estudantes do legado cultural e artístico da humanidade permitindo assim que tenham conhecimento dos aspectos mais signifi cativos de nossa cultura em suas diversas manifestações FERRAZ FUSARI 2001 p 53 A todo o momento os artistas se deparam com situações que envolvem decisões de ca ráter estético o que lhes possibilita a constituição de um mundo de signifi cados e símbo los que são externados em imagens sons e gestos A partir desses símbolos e signifi cados organizam a memória e sentidos na elaboração de uma identidade própria estabelecendo relações com o espaço o tempo e o mundo que os rodeia Assim a materialidade do obje to artístico deixa registrado tudo o que o artista quis representar de seu cotidiano Porém esses sinais só ganharão signifi cado se encontrarem eco nos olhos ouvidos tato ou nos sentidos do outro A arte se comunica por vias sensoriais em que a subjeti vidade é o canal mais objetivo contudo o contexto cultural do qual fazemos parte estará incutido em nossa experiência de contato com a obra Por meio da arte podemos ver o outro ou ainda podemos nos ver no outro Nesse novo jeito de ver a vida por meio da arte os fatos não são mais simples narrativas lineares e cronológicas como aparecem na mídia Eles podem ser sentidos percebidos apreciados interpretados e compreendidos Assim compreendemos a educação estética na perspectiva de que conhecer arte e seus códigos possibilita perceber entender a vida e agir sobre ela É reconhecer a humanidade e seu poder de ação É diferenciar o que é arte do conceito de arte posto pela lógica da Indústria Cultural A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 172 Na formação docente é fundamental que a refl exão e discussão sobre a integração entre educação comunicação e mídia estejam vinculadas à vida pessoal regional na cional e internacional ou à cultura dos alunos E ainda que o educador tenha plena consciência de que o conteúdo por ele ensinado concorre para que seus alunos tam bém elaborem uma cultura estética e artística que expresse com clareza a sua vida em sociedade FERRAZ FUSARI 2001 p 53 Acreditamos que a arte é capaz de levar o indivíduo a ampliar seu lugar no mundo de forma a agir neste mundo para transformálo e tornálo melhor portanto ele deve partir do conhecimento que tem desse mundo para que por meio dos conhecimentos em arte viabilizados pela escola possa ampliar e superar essas primeiras aproximações Quando o educador estabelece a relação entre arte e mídia deve possibilitar ao aluno vislumbrar as diferenças não com conceitos de feiobonito ou certoerrado que estão postos na mídia como padrões a serem seguidos e que muitas vezes o fazem sem nenhum questionamento agindo de forma padronizada por meio da convergência de pensamentos e ideias mas deve desmistifi car conceitos e preconceitos para que haja a valorização do diferente de forma que as divergências ocorram de maneira comple mentar e possibilite que as culturas sejam desenhadas ADORNO Theodor HOKHEIMER Max Dialética do esclarecimento Tradução de Guido Antonio de Almeida Rio de Janeiro Zahar 1985 Educação e emancipação Tradução de Wolfgang Leo Maar Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 CANCLINI Nestor Garcia A socialização da arte teoria e prática na América Latina São Paulo Cultrix 1984 Consumidores e cidadãos confl itos multiculturais da globalização 2 ed Rio de Janeiro Editora da UFRJ 1996 DIAS Odete Infância manipulada subsídios para uma leitura crítica dos produtos da mídia São Paulo Aberje 2008 Disponível em wwwaberjecombrnovos açõesartigosmaisaspid130 Acesso em 13 out 2008 Referências 173 FERRAZ Maria Heloisa C de T FUSARI Maria F de Rezende e Arte na Educação escolar 2 ed São Paulo Cortez 2001 FERREIRA Leila Costa Org A Sociologia no horizonte do século XXI 2 ed São Paulo Boitempo 2002 FISCHER Ernst A necessidade da Arte Rio de Janeiro Zahar 1979 HELLER Agnes O cotidiano e a História São Paulo Paz e Terra 2000 HORKHEIMER Max ADORNO Theodor W Textos escolhidos São Paulo Nova Cultural 1991 MACHADO Arlindo Arte e mídia aproximações e distinções Revista Eletrônica ecompós S l s n 2004 Disponível em httpwwwcomposorgbre compos Acesso em 11 set 2008 MARTINS Mirian Celeste PICOSQUE Gisa GUERRA Maria Terezinha Telles Didática do ensino da arte 1 ed São Paulo FTD 1998 MENEZES A M Arte na escola arte para quê arte por quê Rencontres Revista do Departamento Francês da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo n 10 p 243256 2005 NUNES Benedito Introdução a Filosofi a da arte 6 ed São Paulo Ática 2008 OSTROWER Fayga Universos da arte 7 ed Rio de Janeiro Campus 1991 Criatividade e processos de criação 17 ed Petrópolis Vozes 2003 PARENTE André A última versão da realidade In FERREIRA Leila Costa Org A Sociologia no horizonte do século XXI São Paulo Boitempo 2002 PAZ Otávio Convergências ensaios sobre arte e literatura Rio de Janeiro Rocco 1991 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 174 PICOSQUE Gisa MARTINS Miriam Celeste Travessias para fl uxos desejantes do professor propositor In OLIVEIRA Marilda Oliveira de Arte educação e cultura Santa Maria RS Ed UFSM 2007 p 349 RAMOS Alexandre Dias Museu e Arte purismo e contaminação Revista Ohun Salvador ano 3 n 3 p 92113 set 2007 SILVA Tomaz Tadeu da Teoria cultural e Educação um vocabulário crítico Belo Horizonte Autêntica 2000 VYGOTSKY Lev Semenovitch Psicologia da arte São Paulo Martins Fontes 1999 PARA VOCÊ LER NA OBRA DE ARTE 1 Escolha uma temática por exemplo mulher criança trabalho entre outros temas Pes quise em diferentes linguagens artísticas nos diferentes períodos da história de quais modos ela foi e é representada 2 Leia o texto abaixo Cada época escolhe sua própria defi nição do homem Creio que a do nosso tempo é esta o homem é um emissor de símbolos Entre esses símbolos há dois que são o princípio e o fi m da linguagem humana sua plenitude e sua dissolução o abraço dos corpos e a metáfora poética No primeiro união da sensação e da imagem o fragmento apreendido como cifra da totalidade e a totalidade repartida em carícias que transformam os corpos num provedor de correspondências instantâneas Na segunda fusão do som e do sentido núpcias do inteligível e do sensível A metáfora poética e o abraço erótico são exemplos desse momento de coincidên cias quase perfeito entre um símbolo e outro que chamamos analogia e cujo nome verdadeiro é felicidade É o momento da grande abstração e da grande distração somos o cintilar de um vidro que brado tocado pela luz merediana a vibração de uma folhagem escura ao passarmos pelo campo o ranger da madeira numa noite de frio Somos bem pouca coisa e não obstante a totalidade mexe conosco somos um sinal que alguém faz a alguém somos o canal de transmissão através de nós fl uem as linguagens e nosso corpo as traduz em outras linguagens As portas se abrem de par em par o homem retorna O universo de símbolos é também um universo sensível A fl oresta das signifi cações é o lugar da reconciliação PAZ 1991 p 144145 REFERÊNCIA PAZ Otávio Convergências ensaios sobre arte e literatura Rio de Janeiro Rocco 1991 Leitura Complementar 175 RESPONDA Qual a relação entre linguagem sistema simbólico e arte PARA VOCÊ LER NA MÍDIA 1 Escolha uma temática por exemplo mulher criança trabalho entre outros temas Pes quise em diferentes mídias e realize estudo de caso sobre um conteúdo de mídia específi co uma cobertura jornalística uma campanha publicitária um videoclipe um programa televisivo etc Este estudo de caso será uma leitura crítica a respeito do tratamento oferecido ao tema social escolhido pela mídia brasileira 2 Leia o texto a seguir Infância manipulada subsídios para uma leitura crítica dos produtos da mídia A propaganda tornouse sofi sticada dita moda padrões Produtos e espaços dedicados à infância aumentam a cada dia programas publicações parques produtos de perfumaria cama mesa banho vestuário decoração além de centenas de objetos e brinquedos É um constante apelo de compra aos pais avós tios amigos e à própria criança que desde cedo já sabe escolher o que quer consumir e sabe como convencer os pais a ceder A propaganda des cobriu que é mais fácil vender qualquer coisa através do apelo infantil As crianças tornaramse argumentos persuasivos poderosos e alvo fácil para desenvolver o consumo são ao mesmo tempo consumidos e consumidores Todos os produtos da mídia atingem a criança tanto aque les especialmente produzidos para ela como tudo que envolve a família e a sociedade Mas a propaganda não é só um recurso para vender um produto ela faz parte do discurso capitalista Através da mídia criase uma visão de mundo em que todos os sonhos podem ser realizados discurso que interessa não só à sociedade capitalista como ao Estado que não cumpre o seu papel nas soluções dos problemas sociais No lugar de condições mais dignas de vida vendese a sandália da Keila loira bonita rica e exintegrante do grupo musical Tcham Em vez de uma amizade clara gostosa e leve a cerveja no lugar do amor um condimento barato Exemplos dessa inversão de valores estão presentes em inúmeras propagandas veiculadas na mídia im pressa Uma empresa de produtos de perfumaria em duas peças publicitárias deixa clara essa inversão através da fala que no passado pertencia aos pais No Dia das Mães a chamada revela a voz de uma criança Manheeeeeeê já pro banho No Dia dos Pais a mesma empresa aconse lha Ponha o seu pai na linha No comercial de um chocolate em pó veiculado num canal de TV em São Paulo para sair com a esposa o marido pede a chave do carro para o fi lho de dez anos Na volta o casal chega de mansinho e encontra o menino olhando para o relógio numa atitude de censura os pais chegaram depois do horário previsto A propaganda é uma imagem às avessas do tratamento dado pelos pais aos fi lhos das gerações passadas A ideia central é deixar claro que agora quem manda na casa nos pais e naturalmente na escolha dos produtos consumidos é o fi lho Percebemos através dos exemplos que a mídia longe de expressar as relações fundamentais que unem o homem a seu meio e os indivíduos entre si tende a determi nálas A comunicação atinge a grande maioria da população mas o cidadão não sabe acessála e manipulála em seu benefício e no da comunidade defendendo os direitos básicos do cidadão e assumindo deveres para com o coletivo Nesse contexto crianças e adultos consomem os produtos da mídia e muitas vezes sem consciência dessa manipulação DIAS 2008 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 176 Anotações REFERÊNCIA DIAS Odete Infância manipulada subsídios para uma leitura crítica dos produtos da mídia São Paulo Aberje 2008 Disponível em wwwaberjecombrnovosações artigos mais as pid130 Acesso em 13 out 2008 RESPONDA Como interpretar esses anúncios sob o ponto de vista ético UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD Professora THAIS GODOI DE SOUZA Disciplina EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA Acadêmicoa Marcos Gabriel da Cruz RA 123069 Polo Nova Santa RosaPR PRIMEIRA ATIVIDADE AVALIATIVA 1 valor 100 pontos peso 10 Postar no moodle até 22102024 Esta atividade consiste na produção de um programa educativo a partir dos conteúdos estudados nos capítulos 1 2 3 e 4 do Livro Educação Comunicação e Mídia Pretendese com essa elaboração demonstrar a compreensão dos principais conceitos apresentados nos capítulos e relacionálos com a prática pedagógica De 3 a 6 laudas OBSERVAÇÕES Trabalho individual O texto deve ser se própria autoria Quando necessário utilizar citações diretas e indiretas ao fazer referência aos materiais consultados Ao ser constado plágio cópias de trechos e uso de material sem a devida referenciação serão descontados pontos podendo a atividade ser zerada A data máxima para postagem é até às 23h 55min de 04 de novembro de 2024 O valor da atividade é de 000 a 100 peso 1 NORMAS PARA FORMATAÇÃO DO TEXTO Margens da folha 30cm superior e esquerda 20cm inferior e direita Fonte Arial ou Times New Romam Tamanho da fonte 12pt Espaçamento entre linhas 15cm Parágrafo recuo na primeira linha de 125cm 1 TAB Alinhamento dos parágrafos Justificado UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD 1 De acordo com as discussões apresentadas nos capítulos de 1 a 4 elabore um programa de rádio ou TV que aborde um conteúdo educativo que contemple os seguintes itens Nome do programa Objetivo do programa Públicoalvo receptor Conteúdo abordado escrever 4 temáticas uma por semana do programa na qual o estudante demonstre os significados dos diferentes conceitos apresentados nos capítulos 1 a 4 signos comunicação publicidade e propaganda e entretenimento correlacionandoos com a educação no âmbito da educação básica ou superior UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD Professora THAIS GODOI DE SOUZA Disciplina EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA Acadêmicoa Marcos Gabriel da Cruz RA 123069 Polo Nova Santa RosaPR PRIMEIRA ATIVIDADE AVALIATIVA 1 valor 100 pontos peso 10 Postar no moodle até 22102024 Esta atividade consiste na produção de um programa educativo a partir dos conteúdos estudados nos capítulos 1 2 3 e 4 do Livro Educação Comunicação e Mídia Pretendese com essa elaboração demonstrar a compreensão dos principais conceitos apresentados nos capítulos e relacionálos com a prática pedagógica De 3 a 6 laudas 1 De acordo com as discussões apresentadas nos capítulos de 1 a 4 elabore um programa de rádio ou TV que aborde um conteúdo educativo que contemple os seguintes itens Nome do programa Mídia e Educação em Foco OBSERVAÇÕES Trabalho individual O texto deve ser se própria autoria Quando necessário utilizar citações diretas e indiretas ao fazer referência aos materiais consultados Ao ser constado plágio cópias de trechos e uso de material sem a devida referenciação serão descontados pontos podendo a atividade ser zerada A data máxima para postagem é até às 23h 55min de 04 de novembro de 2024 O valor da atividade é de 000 a 100 peso 1 NORMAS PARA FORMATAÇÃO DO TEXTO Margens da folha 30cm superior e esquerda 20cm inferior e direita Fonte Arial ou Times New Romam Tamanho da fonte 12pt Espaçamento entre linhas 15cm Parágrafo recuo na primeira linha de 125cm 1 TAB Alinhamento dos parágrafos Justificado UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD Objetivo do programa O programa visa promover a compreensão crítica dos diferentes tipos de comunicação na sociedade atual e seu impacto na educação A proposta é discutir conceitos essenciais como signos publicidade entretenimento e a função da mídia na formação de cidadãos conscientes e participativos relacionandoos com o contexto escolar e o desenvolvimento de habilidades críticas nos estudantes Públicoalvo receptor Alunos e professores do ensino fundamental e médio gestores escolares pais e profissionais da educação O conteúdo também pode ser relevante para acadêmicos de cursos de Pedagogia e áreas afins que buscam aprofundar o uso da mídia e comunicação em práticas educativas Conteúdo abordado escrever 4 temáticas uma por semana do programa na qual o estudante demonstre os significados dos diferentes conceitos apresentados nos capítulos 1 a 4 signos comunicação publicidade e propaganda e entretenimento correlacionandoos com a educação no âmbito da educação básica ou superior Semana 1 Signos e comunicação na educação Neste episódio será discutido o conceito de signos baseado nos estudos de semiologia e como símbolos palavras e gestos influenciam o processo de comunicação e aprendizagem A relação entre significante e significado será explorada mostrando como professores podem utilizálos de forma intencional para facilitar o ensino Embasado na premissa estipulada de que o processo sígnico ocorre a partir de toda relação com afetoSilveira 2005 Portanto neste primeiro episódio mostrar seá que gestos palavras e ações possuem significados valiosos no âmbito da educação No que tange à prática pedagógica mostrar seá exemplos de como signos visuais podem ser utilizados em sala de aula para potencializar a aprendizagem Semana 2 Influência da Publicidade e Propaganda na Formação de Jovens Tema a publicidade como formadora de valores e comportamentos Resumo A discussão se concentrará na análise crítica da publicidade e propaganda destacando como essas estratégias moldam o consumo e influenciam os jovens Será abordada UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD a importância de desenvolver nos alunos a capacidade de interpretar criticamente anúncios e campanhas Prática pedagógica Sugestão de projetos interdisciplinares em que os alunos criam e analisam campanhas publicitárias desenvolvendo consciência crítica sobre o consumismo Semana 3 Entretenimento e Educação Possibilidades e Desafios Tema O papel do entretenimento na formação dos estudantes Resumo Será explorada a relação entre entretenimento e educação mostrando como filmes jogos e séries podem ser ferramentas didáticas Também serão discutidos os desafios que a excessiva exposição ao entretenimento pode trazer como a superficialidade do conhecimento Prática pedagógica será proposto a utilização de filmes e jogos educativos para trabalhar conteúdos específicos de forma lúdica e envolvente Semana 4 Mídia e Comunicação na Educação Básica e Superior Tema A integração da mídia nas práticas pedagógicas contemporâneas Resumo Este episódio irá abordar o uso da mídia na educação formal tanto na educação básica quanto no ensino superior A ênfase será na necessidade de formar professores capacitados para integrar mídias digitais ao currículo promovendo um aprendizado mais dinâmico e interativo Prática pedagógica Exemplo de atividades que utilizam podcasts ou blogs produzidos por alunos para desenvolver habilidades comunicativas e reflexivas Prática pedagógica utilização de exemplo de atividades que utilizam podcasts ou blogs produzidos por alunos para desenvolver habilidades comunicativas e reflexivas Referências UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD SILVA Ana Cristina Teodoro da et al Educação Comunicação e Mídia Formação de professores EAD 2013

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Educação Comunicação e Mídia Maringá 2009 EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ Reitor Prof Dr Júlio Santiago Prates Filho ViceReitora Profa Dra Neusa Altoé Diretor da Eduem Prof Dr Alessandro Lucca Braccini EditoraChefe da Eduem Profa Dra Terezinha Oliveira CONSELHO EDITORIAL Presidente Prof Dr Alessandro Lucca Braccini Editores Científicos Prof Dr Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima Profa Dra Ana Lúcia Rodrigues Profa Dra Angela Mara de Barros Lar Profa Dra Analete Regina Schelbauer Prof Dr Antonio Ozai da Silva Profa Dra Cecília Edna Mareze da Costa Prof Dr Clóves Cabreira Jobim Profa Dra Eliane Aparecida Sanches Tonolli Prof Dr Eduardo Augusto Tomanik Prof Dr Eliezer Rodrigues de Souto Prof Dr Evaristo Atêncio Paredes Profa Dra Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso Profa Dra Larissa Michelle Lara Prof Dr Luiz Roberto Evangelista Profa Dra Luzia Marta Bellini Profa Dra Maria Cristina Gomes Machado Prof Dr Oswaldo Curty da Motta Lima Prof Dr Rafael Bruno Neto Prof Dr Raymundo de Lima Profa Dra Regina Lúcia Mesti Prof Dr Reginaldo Benedito Dias Profa Dra Rozilda das Neves Alves Prof Dr Sezinando Luis Menezes Profa Dra Terezinha Oliveira Prof Dr Valdeni Soliani Franco Profa Dra Valéria Soares de Assis EQUIPE TÉCNICA Fluxo Editorial Cicília Conceição de Maria Edneire Franciscon Jacob Mônica Tanati Hundzinski Vania Cristina Scomparin Projeto Gráfico e Design Marcos Kazuyoshi Sassaka Artes Gráficas Luciano Wilian da Silva Marcos Roberto Andreussi Marketing Marcos Cipriano da Silva Comercialização Norberto Pereira da Silva Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima COPyRIGHT 2013 EDUEM Todos os direitos reservados Proibida a reprodução mesmo parcial por qualquer processo mecânico eletrônico reprográfico etc sem a autorização por escrito do autor Todos os direitos reservados desta edição 2013 para a editora EDUEM EDITORA DA UNIV ESTADUAL DE MARINGÁ Av Colombo 5790 Bloco 40 Campus Universitário 87020900 Maringá Paraná Fone 0xx44 30114103 Fax 0xx44 30111392 httpwwweduemuembr eduemuembr Maringá 2009 Formação de ProFessores ead educação Comunicação e mídia Ana Cristina Teodoro da Silva Fátima Maria Neves Regina Lúcia Mesti ORGANIZADORAS 35 Coleção Formação de Professores EAD Apoio técnico Rosane Gomes Carpanese Luciana de Araújo Nascimento Guaraldo Normalização e catalogação Ivani Baptista CRB 9331 Revisão Gramatical Annie Rose dos Santos Edição e Produção Editorial Carlos Alexandre Venancio Eliane Arruda Foto da capa Fragmentos da Gravura Criança Geopolítica assistindo ao nascimentos do novo homem de Salvador Dali 1943 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Copyright 2009 para o autor 2a Reimpressão 2013 Revisada Todos os direitos reservados Proibida a reprodução mesmo parcial por qualquer processo mecânico eletrônico reprográfico etc sem a autorização por escrito do autor Todos os direitos reservados desta edição 2009 para Eduem Educação comunicação e mídia Ana Cristina Teodoro da Silva Fátima Maria Neves Regina Lúcia Mesti organizadoras Maringá Eduem 2009 176 p 21 cm Formação de Professores EAD v 35 ISBN 9788576281702 1 Educação Comunicação Brasil 2 Mídia e formação social 3 Mídia de comunicação e educação I Silva Ana Cristina Teodoro II Neves Fátima Maria III Mesti Regina Lúcia orgs CDD 21 ed 302 23 E24 Endereço para correspondência Eduem Editora da Universidade Estadual de Maringá Av Colombo 5790 Bloco 40 Campus Universitário 87020900 Maringá Paraná Fone 0xx44 30114103 Fax 0xx44 30111392 httpwwweduemuembr eduemuembr 5 Sobre os autores Apresentação da coleção Apresentação do livro CAPÍTULO 1 Comunicar e educar como signos recíprocos Ana Cristina Teodoro da Silva CAPÍTULO 2 A comunicação radiofônica Fábio Viana Ribeiro CAPÍTULO 3 A televisão como instrumento pedagógico Ana Cristina Teodoro da Silva CAPÍTULO 4 Narrativas publicitárias mídia e formação social Luiz Hermenegildo Fabiano CAPÍTULO 5 Cinema entretenimento e educação Zuleika de Paula Bueno 7 9 11 13 23 35 47 61 Sumário EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 6 CAPÍTULO 6 A educação a escola e o desenho animado Fátima Maria Neves CAPÍTULO 7 Imagens mídia e leitura Isaac Antonio Camargo CAPÍTULO 8 A pedagogia das revistas Jorge Luíz Romanello CAPÍTULO 9 A aventura da leitura crítica na imprensa Fábio Massalli CAPÍTULO 10 Internet mídia de comunicação e educação Antonio Mendes da Silva Filho CAPÍTULO 11 Linguagens teatrais e praodução de sentido no ato de comunicação e educação Regina Lúcia Mesti Pedro Carlos de Aquino Ochôa CAPÍTULO 12 A divergência da arte e a convergência da mídia Sonia Maria Vieira Negrão Eloiza Amália Sestito 77 95 109 123 137 153 159 7 ANA CRISTINA TEODORO DA SILVA Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá UEM Graduada em História UEM Mestre em História Unesp Doutora em História Unesp FÁBIO VIANA RIBEIRO Professor Adjunto do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Es tadual de Maringá UEM Graduado em Ciências Sociais UFMG Mestre em Sociologia UFMG Doutor em Sociologia PUCSP FÁTIMA MARIA NEVES Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá UEM Graduada em Pedagogia UEM Mestre em Edu cação Unimep Doutora em História e Sociedade UnespAssis ISAAC ANTONIO CAMARGO Professor do Departamento de Arte Visual da Universidade Estadual de Lon drina UEL Graduado em Desenho e Plástica UnaerpRibeirão Preto Mestre em Educação UEL Doutor em Comunicação e Semiótica PUCSP ELOIZA AMÁLIA BERGO SESTITO Professora da Rede Estadual Graduada em Educação Artística UnimarMarí lia Graduada em Ciências Sociais UnespMarília Mestranda em Educação UEM REGINA LÚCIA MESTI Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universi dade Estadual de Maringá UEM Graduada em Pedagogia UEM Mestre em Educação UnespSP Doutora em Comunicação e Semiótica PUCSP Sobre os autores EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 8 PEDRO CARLOS DE AQUINO OCHÔA Ator e Diretor de Teatro pelo SatedPR Professor e Diretor de Teatro da Uni versidade Estadual de Maringá UEM Graduado em Pedagogia UEM LUIZ HERMENEGILDO FABIANO Professor do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá UEM Graduado em Letras FFCLSão José dos Cam pos Mestre em Filosofia da Educação UnimepPiracicaba Doutor em Filo sofia da Educação UFSCarSão Carlos SONIA MARIA VIEIRA NEGRÃO Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universida de Estadual de Maringá UEM Graduada em Pedagogia UEM Mestre em Educação UnespMarília Doutora em Educação UnespMarília JORGE LUIZ ROMANELLO Professor Colaborador do Departamento de História da Universidade Esta dual de Londrina UEL Graduado em História FCLUnespAssis Mestre em História FCLUnespAssis Doutor em História FCLUnespAssis ZULEIKA DE PAULA BUENO Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá UEM Graduada em Ciências Sociais Unicamp Mestre em Socio logia Unicamp Doutora em Multimeios Unicamp ANTONIO MENDES DA SILVA FILHO Professor Graduado em Engenharia Elétrica UPE Mestre em Engenharia Elétrica UFPB e em Engenharia da Computação University of WaterlooCa nadá Doutor em Ciência da Computação UFPE FÁBIO ROBSON MASSALLI Professor do Centro Universitário de Maringá Cesumar Repórter do Jornal O Diário do Norte do Paraná Graduado em Comunicação SocialHabilitação em Jornalismo UFPR Mestre em Letras UEM 9 A coleção Formação de Professores EAD teve sua primeira edição publicada em 2005 com 33 títulos fi nanciados pela Secretaria de Educação a Distância SEED do Ministério da Educação MEC para que os livros pudessem ser utilizados como material didático nos cursos de licenciatura ofertados no âmbito do Programa de Formação de Professores PróLicenciatura 1 A tiragem da primeira edição foi de 2500 exemplares A partir de 2008 demos início ao processo de organização e publicação da segunda edição da coleção com o acréscimo de 12 novos títulos A conclusão dos trabalhos deverá ocorrer somente no ano de 2012 tendo em vista que o fi nanciamento para esta edição será liberado gradativamente de acordo com o cronograma estabelecido pela Diretoria de Educação a Distância DED da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior CAPES que é responsável pelo programa denominado Universidade Aberta do Brasil UAB A princípio serão impressos 695 exemplares de cada título uma vez que os livros da nova coleção serão utilizados como material didático para os alunos matriculados no Curso de Pedagogia Modalidade de Educação a Distância ofertado pela Universi dade Estadual de Maringá no âmbito do Sistema UAB Cada livro da coleção traz em seu bojo um objeto de refl exão que foi pensado para uma disciplina específi ca do curso mas em nenhum deles seus organizadores e autores tiveram a pretensão de dar conta da totalidade das discussões teóricas e práticas construídas historicamente no que se referem aos conteúdos apresentados O que buscamos com cada um dos livros publicados é abrir a possibilidade da leitura da refl exão e do aprofundamento das questões pensadas como fundamentais para a formação do Pedagogo na atualidade Por isso mesmo esta coleção somente poderia ser construída a partir do esforço coletivo de professores das mais diversas áreas e departamentos da Universidade Esta dual de Maringá UEM e das instituições que têm se colocado como parceiras nesse processo Neste sentido agradecemos sinceramente aos colegas da UEM e das demais insti tuições que organizaram livros e ou escreveram capítulos para os diversos livros desta coleção Agradecemos ainda à administração central da UEM que por meio da atuação direta da Reitoria e de diversas PróReitorias não mediu esforços para que os traba lhos pudessem ser desenvolvidos da melhor maneira possível De modo bastante Apresentação da Coleção EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 10 específi co destacamos o esforço da Reitoria para que os recursos para o fi nanciamento desta coleção pudessem ser liberados em conformidade com os trâmites burocráticos e com os prazos exíguos estabelecidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE Internamente enfatizamos ainda o envolvimento direto dos professores do De partamento de Fundamentos da Educação DFE vinculado ao Centro de Ciências Humanas Letras e Artes CCH que no decorrer dos últimos anos empreenderam esforços para que o curso de Pedagogia na modalidade de educação a distância pu desse ser criado ofi cialmente o que exigiu um repensar do trabalho acadêmico e uma modifi cação signifi cativa da sistemática das atividades docentes No tocante ao Ministério da Educação ressaltamos o esforço empreendido pela Diretoria da Educação a Distância DED da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior CAPES e pela Secretaria de Educação de Educação a Distância SEEDMEC que em parceria com as Instituições de Ensino Superior IES conseguiram romper barreiras temporais e espaciais para que os convênios para a li beração dos recursos fossem assinados e encaminhados aos órgãos competentes para aprovação tendo em vista a ação direta e efi ciente de um número muito pequeno de pessoas que integram a Coordenação Geral de Supervisão e Fomento e a Coordenação Geral de Articulação Esperamos que a segunda edição da Coleção Formação de Professores EAD possa contribuir para a formação dos alunos matriculados no curso de Pedagogia bem como de outros cursos superiores a distância de todas as instituições públicas de ensino superior que integram e ou possam integrar em um futuro próximo o Sistema UAB Maria Luisa Furlan Costa Organizadora da Coleção 11 Este livro representa a articulação entre educação comunicação e mídia Não trata apenas da educação que tem campo vastíssimo tanto em sua face informal e cultural quanto institucional Também não trata de comunicação em geral pois o fenômeno comunicativo está presente desde o diálogo celular até a dança dos planetas nas mais distantes galáxias Não se trata ainda de livro da mídia porque assim seria um manual relativo às linhas comuns e estratégias dos veículos que procuram atingir certo públi co O livro trata isso sim daquilo que dentro da comunicação é midiático e daquilo que sendo midiático e comunicativo é também educativo tem capacidade formativa e conformativa Cientes de que conhecimento é diferente de informação não procuramos reunir dados sobre as mídias mais comuns Procuramos sim compor quadros na forma de capítulos que estimulassem o pensamento crítico e quiçá atitudes conscientes referen tes a essas mídias Certamente esse objetivo comum não signifi ca homogeneidade de pontos de vista Constam no livro diferentes perspectivas diferentes arranjos teóricos Seria produtivo se o leitor percebesse que há mesmo contradições entre os capítulos há textos complementares e textos divergentes no que diz respeito ao entendimento do que é o fenômeno comunicativo midiático e educativo Há divergências sobre como lidar com os conceitos e como abordar essas mídias o que é rico sinal de que em as sunto tão contemporâneo e fundamental há controvérsias teóricas e metodológicas As organizadoras não compartilham necessariamente da perspectiva de cada autor Não nos pareceria adequado apontar um caminho único Coubenos divulgar diferentes perspectivas de educação comunicação e mídia Há porém um ponto comum todos entendem a importância de analisar discutir e criticar o fenômeno midiático especialmente no que tange a seu potencial educati vo Como esse fenômeno comparece nas diferentes mídias Como não ser ingênuo e levado pelos discursos midiáticos O que o professor pode fazer Como ser crítico Não afi rmamos que oferecemos as respostas mas certamente não fugimos dessas questões e esperamos que após o estudo do livro o olhar para a mídia seja alterado e que sua utilização crítica em sala de aula seja uma possibilidade Este livro problematiza os meios de comunicação especialmente aqueles travesti dos como instrumentos publicitários ou seja midiáticos Reconhece que tais meios são históricos visto que podemos contextualizar sua crescente importância são so ciais já que não podemos imaginar nosso arranjo social sem satélites imprensa siste mas em rede telefonia televisão são culturais pois criam e recriam bens simbólicos interferindo no valor que damos aos objetos e às relações humanas ao proporem Apresentação do livro EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 12 comportamentos e direcionamentos têm propostas educativas e representam por tanto caminhos cognitivos Consideramos fundamental que o pedagogo procure conhecer e analisar os fenôme nos comunicativos e posicionese como leitor crítico preparado para mediar e interferir na leitura midiática que todos crianças jovens e adultos fazem em profusão Assim em um primeiro momento será discutida a relação entre educação e comuni cação com o texto Comunicar e educar como signos recíprocos de Ana Cristina Teodoro da Silva A seguir os capítulos propõem refl exões sobre mídias específi cas primeiramen te o rádio que detém relevante importância histórica e atualmente usos e funções sur preendentes como aponta Fábio Viana Ribeiro em A comunicação radiofônica A seguir não poderia faltar a televisão A televisão como instrumento pedagógico também de Ana Cristina Teodoro da Silva Calha que na sequência da televisão discutamos as Nar rativas publicitárias mídia e formação social em texto de Luiz Hermenegildo Fabiano Presença constante nas emissoras de televisão o fi lme compõe a indústria do cinema e o cotidiano de entretenimento do brasileiro e será discutido em Cinema entreteni mento e educação de Zuleika de Paula Bueno Outra presença constante na televisão e no cinema é o desenho discutido por Fátima Maria Neves no texto A educação a escola e o desenho animado Das imagens eletrônicas passamos às imagens impressas com capítulos que versam sobre as imagens da mídia Imagens mídia e leitura de Isaac Antonio Camargo e sobre as imagens das revistas A Pedagogia das revistas de Jorge Luiz Romanello bem como A aventura da leitura crítica na imprensa escrito por Fábio Massali Não poderíamos deixar de refl etir sobre a Internet mídia de comunicação e edu cação em texto de Antonio Mendes da Silva Filho Abrimos espaço para as Linguagens teatrais e produção de sentido no ato de comunicação e educação por meio de texto de Regina Lúcia Mesti e Pedro Carlos de Aquino Ochôa Concluímos o livro com o capí tulo A divergência da arte e a convergência da mídia de Sonia Maria Vieira Negrão e Eloiza Amália Sestito Não abarcamos todas as mídias e também não pretendemos ter o caminho da ver dade nas análises expostas Queremos simplesmente indicar um caminho de refl exão e debate a respeito dos meios de comunicação e seus produtos produção e debate fundamentais à educação contemporânea Finalizamos agradecendo aos autores que contribuíram para que este livro em sua primeira versão se tornasse uma realidade Nós as organizadoras entendemos que a empreitada de problematizar a relação entre a educação a comunicação e a mídia está começando A continuidade desse processo também depende de novas contribuições que podem e devem vir de você leitor consciente e crítico Ana Cristina Teodoro da Silva Fátima Maria Neves Regina Lúcia Mesti Organizadoras do Livro 13 Ana Cristina Teodoro da Silva Hoje em dia a comunicação está associada a meios que fazem parte do mercado tais como televisão rádio cinema jornais revistas outdoors e computadores É necessário incluir outros meios que são fundamentalmente comunicativos como a arquitetura o que as diferentes formas e funções das edifi cações expressam e o urbanismo o que expressam os traçados de diferentes cidades os objetos por que as xícaras e canecas as canetas e eletrodomésticos os móveis e os carros têm formatos diferentes os corpos seus gestos expressões posturas tiques As formigas necessitam de esquemas comunicativos para manter seu trabalho diário de alimentação transporte proteção e sobrevivência no formigueiro As plan tas leem as condições do meio ambiente e mostram sua interpretação com suas fo lhas que se voltam à luz as raízes que procuram a umidade os frutos mais ou menos doces As células dialogam entre si para cumprirem suas funções A interação entre plantas e meio ambiente ou entre as células poderia ser considerada comunicativa De qualquer forma os fenômenos da comunicação são mais amplos do que ima ginamos à primeira vista compondo um conjunto aparentemente heterogêneo de elementos que acostumamos a ver como muito diferentes mas que são próximos em sua organização ou funcionamento Neste capítulo procuraremos mostrar que os fenômenos comunicativos são educativos e que os fenômenos educativos são sempre comunicativos Com isso poderemos ampliar a compreensão da pedagogia dos fenômenos midiáticos já que sem dúvida as mídias são fenômenos da comuni cação e têm sido parte fundamental da formação das crianças e jovens COMUNICAÇÃO É INTERAÇÃO Nós não desenvolvemos a comunicação e a linguagem como consequências do desenvolvimento social É o oposto o desenvolvimento social é possível na medida do desenvolvimento da comunicação e da linguagem Comunicar e educar como signos recíprocos 1 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 14 A linguagem não foi inventada por um indivíduo sozinho na apreensão de um mundo externo Portanto ela não pode ser usada como ferramenta para a revelação desse mundo Ao contrário é dentro da própria linguagem que o ato de conhecer na coordenação comportamental que é a linguagem faz surgir um mundo somos na linguagem num contínuo ser nos mundos linguísticos e semânticos que geramos com os outros MATURANA VARELA 2001 p 257 A comunicação não é um ato individual e sim uma instituição social Nós somos parte da comunicação em um sistema no qual não podemos pensar em termos de sujeito e objeto Para Yves Winkin a comunicação é um ponto de vista teórico sobre o mundo social mais que um objeto de estudo 1998 p 18 Originalmente a etimologia de comunicar remete a partilhar tornar comum Es pecialmente no século XX esse uso cede lugar ao sentido de transmitir como utilizado pela imprensa Teorias comunicacionais foram forjadas como teorias da transmissão utilizando o esquema emissor canal receptor no que Winkin denomina modelo telegráfi co da comunicação de acordo com uma tradição fi losófi ca em que o homem tem espírito e corpo separados e a comunicação é vista como ato verbal consciente e voluntário Tratase de uma concepção que entende a comunicação como transmissão intencional de mensagens entre um emissor e um receptor 1998 p 13 p 30 Postulamos que tal entendimento é predominante até hoje e é análogo a uma concepção de educação também bastante em voga em que o professor possui o saber e por um ato de vontade transmiteo ao aluno É comum ouvir que a comunicação é transmitida Sem dúvida a transmissão pode fazer parte de um processo comunicativo mas não necessariamente Se trans mitirmos um sinal de fumaça e ninguém notar há comunicação Um discurso é transmitido pelo rádio um sistema de transmissão que se inicia desde um microfo ne passando por estúdios e satélites Caso alguém sintonize um rádio na frequência da transmissão e ouça o discurso a comunicação terá ocorrido Caso essa sintonia não ocorra houve transmissão mas não comunicação A comunicação envolve todo o processo semiótico em que um signo representa um objeto e se transforma em outro signo na recepção Em educação o erro equivalente é entender que o professor transmite infor mações que serão absorvidas pelos alunos Nem o professor é o detentor do sa ber nem o aluno é um recipiente vazio a ser preenchido A educação é processo comunicativo também semiótico que envolve um aprendiz objetos a se conhecer e reconhecer e aprendizado resultante O aprendiz pode ser o aluno o professor quem quer que se coloque nessa posição Objetos e resultados também são posições dinâmicas não estáticas 15 Portanto mesmo que uma aula de história esteja sendo transmitida pela televi são isso não signifi cará necessariamente educação ou comunicação O formato edu cativo ou comunicativo dependerá também da recepção da teleaula Expandindo o raciocínio um fi lme pode ter sido produzido como entretenimento Foi assistido ocorreu alguma comunicação Caso o leitor do fi lme tenha exercido refl exão ao co nectar suas experiências com as narrativas do fi lme ocorreu aprendizado Ou seja processos educativos nem sempre são intencionais Da mesma forma ocorre com a publicidade O anúncio publicitário muitas vezes quer apenas vender um produto Esse anúncio ao ser lido não comunica apenas compre o desodorante Comunica também os valores associados às imagens e sons presentes no anúncio uma mulher bonita usando o desodorante fresca em dia de sol É frequente também o entendimento de que se usa a comunicação para garantir o aprendizado A comunicação nesse entendimento seria meio facilitador para se alcançar um fi m específi co a retenção de informação Por exemplo utilizar um fi lme para ilustrar uma época histórica A comunicação não deve ser confundida com os meios de comunicação Em uma aula teórica há processo comunicativo tanto quan to na projeção de um fi lme Ao acreditar que se usa a comunicação para garantir aprendizado entendese que há um conteúdo a ser repassado ao aluno e o profes sor deve procurar os meios efi cazes de fazêlo É também comum ouvirmos que na educação a distância a comunicação se dá de imediato contribuindo para a inclusão sociocultural de um povo Entendese as sim que tudo relacionado à informática é veloz inclusive o aprendizado Mais ainda se todos tiverem computadores conectados teremos uma sociedade culturalmente igualitária Quem não tem computador não tem cultura Bom indício de que há uma cultura informática bem cotada na bolsa dos valores sociais Os professores são bastante apontados como os responsáveis por uma boa co municação Outra face da mesma moeda aponta os alunos como desatentos pois se prestassem atenção e se concentrassem saberiam fazer boas leituras e ter bom aprendizado Será que se trata de culpar alguma das partes Preconceitos linguísticos também são frequentes Entendese que comunica bem quem se comunica formalmente associando profundidade com regras acadêmicas Por que fi guras populares como Ratinho PingaFogo ou mesmo Sílvio Santos são tão comunicativos fazem tanto sucesso Em linha comparável entendese que imagens e músicas seriam menos realistas que textos verbais de maior autoridade científi ca As imagens seriam mais subje tivas emotivas enquanto a racionalidade e a análise são associadas ao texto escrito Dois exemplos mostram como o inverso pode ser verdadeiro lembremos do texto Comunicar e educar como signos recíprocos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 16 poético subjetivo criativo que ativa a imaginação Lembremos da fotografi a tida ainda hoje como refl exo do real ou das imagens dos telejornais entendidas como fatos que realmente aconteceram De fato todo texto verbal ou visual representa o fato não é o fato em si Defendemos que tanto se deve pensar na forma comunicativa ao pretender coor denar um processo de aprendizado quanto compreender que toda forma comunica tiva encerra algum aprendizado Tentaremos argumentar neste sentido COMPARTILHAR GERA CONHECER Em meados do século XX pesquisadores dentre os quais destacamos Gregory Bateson entenderam que a cultura retém alguns dos comportamentos possíveis para constituir códigos que selecionam e organizam o comportamento pessoal e interpessoal Esse entendimento retoma o sentido original de comunicação comu nhão participação Em oposição ao modelo telegráfi co Winkin 1998 p 31 cha mará esse modelo de orquestral Há interações novas e interações integrativas estas últimas mantêm a regularidade do sistema seu funcionamento relacionam contextos particulares a contextos mais amplos A comunicação enfi m é troca As diferentes linguagens e códigos devem ser entendidos em contexto compreendendo o contexto que tornou possível a troca As regras da comunicação são culturais e sociais A comunicação é um processo con tínuo e permanente sem o qual não há vida Se há vida há competência comunica tiva Comunicação é língua fala tato visão linguagem é atividade Não é possível não comunicar o corpo sempre comunica WINKIN 1998 p 89 Um campo como o da comunicação não surge na mente de um indivíduo ape nas nem mesmo em apenas uma área de conhecimento ou local Gregory Bateson supracitado foi leitor de um autor que passaremos a citar Charles Sanders Peirce precursor de um dos caminhos da semiótica autor de uma teoria que dialoga muito bem com os fenômenos contemporâneos como a comunicação em seus múltiplos aspectos do diálogo entre genes aos desafi os associados às novas tecnologias Peirce propõe romper com o pensamento cartesiano diádico com o qual estamos habituados Em outras palavras nossa forma de pensar está acostumada a dividir sujeito e objeto do conhecimento partindo daí outras duplas entendidas como cin didas por exemplo cultura e natureza ou ciência e emoção Não é sem razão que nossa refl exão por vezes divida o mundo entre o bem e o mal o claro e o escuro o masculino e o feminino o animal e o humano para que haja algum entendimento E importantíssimo aqui executamos a divisão entre professor e aluno conhecimento e ignorância 17 As situações de aprendizado sempre trazem consigo situações comunicativas Imaginemos uma aula os mais diversos tipos de leitura desde textos escritos até textos visuais leitura de fotografi as ou obras de arte leitura de textos sonoros mú sicas ou ruídos textos mistos como os programas de televisão os fi lmes ou as re portagens impressas que misturam textos escritos e visuais diversas experiências profi ssionais que exigem diversas habilidades comunicativas Mesmo o pensamento e o sonho momentos em que nos comunicamos com conteúdos internos ou inter nalizados Todas essas situações são comunicativas e podem ser de aprendizado Mas qual é a diferença entre o aprendizado e o resultado da comunicação Am bos necessitam que as partes envolvidas tenham algo em comum o leitor do jornal e o jornalista que escreve uma matéria devem estar aptos a se entender na mesma língua da mesma forma professor e aluno Quando um fi lme não utiliza linguagem verbal quando o professor utiliza conceitos demasiado complexos ou o noticiário de televisão é transmitido em linguagem desconhecida a intenção do trabalho co municativo pode fi car prejudicada No entanto nem tudo o que comunica tem a intenção de comunicar Nossos corpos por exemplo comunicam muito mais do que intencionamos O professor na sala de aula com seu tom de voz sua postura suas reações comunica além de seus objetivos Outro fator fundamental é que a linguagem comum que permite a um receptor ler um gesto ou uma palavra não garante que o resultado de sua leitura seja igual ao pretendido pelo emissor Quem lê sempre se coloca em sua leitura Para que haja comunicação é necessário que algo ou alguém elabore uma men sagem que possa ser interpretada por outro alguém ou algo Ao ser interpretada a mensagem algo nela é modifi cada Você que está lendo agora este capítulo produz relações entre essas palavras e suas experiências produz imagens mentais e ques tões que nós como autora não podemos dominar O resultado da leitura deste texto é seu aprendizado a sua interpretação do que escrevemos de acordo com suas vivências Um texto comporta infi nitos níveis de leitura e de aprendizado Supondo que ninguém o leia ocorre falha na pretensão de gerar oportunidades de aprendiza do Supondo que ninguém entenda o texto ocorre falha de comunicação Você leitora onde está agora Seria desejável que estivesse com seus pensamentos voltados a este texto mas não é apenas de concentração e de atenção ao presente que se trata Onde você está si tuadoa Imagine quantas respostas diferentes E mais uma será proposta Para con tinuar a ler este texto você deverá procurar na Internet uma imagem da Via Láctea Situe na imagem onde estaria o planeta Terra Perceba como de outra perspectiva nossas questões e problemas nossa vida fi ca pequena e frágil A imagem representa Comunicar e educar como signos recíprocos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 18 um ponto de vista pouco usual Faz com que nos vejamos de fora do planeta do sistema solar da galáxia promove uma excentricidade interessante em nossa leitura Apesar de inusitada a imagem pode ser reconhecida porque temos certa familia ridade com representações astronômicas por meio de fotografi as de satélites e repre sentações do espaço divulgadas pelos livros fi lmes mídias Esse conhecimento prévio torna possível reconhecer a imagem proposta gerando um sentido a ela sentido este que está presente na mente da leitora Esse sentido é o resultado de um processo de aprendizado ou seja 1 há uma experiência anterior as imagens prévias que se tinha sobre o espaço astronômico 2 ocorre o confronto com um texto a imagem vista e 3 o resultado de sua leitura que dependerá das associações entre 1 e 2 São três constituintes 1 o signo experiência anterior 2 o objeto em nosso exemplo a imagem representativa da Via Láctea 3 o interpretante um novo signo que surge na mente que interpreta agora acrescentado da experiência de leitura do objeto Caso oa leitora conte a alguém essa experiência de leitura estará partindo de signo produzido em sua mente e gerando outro em outra mente Assim como no exemplo o confronto com a imagem evocou experiências anteriores que produziram um signo O resultado da leitura pode ser comunicado sempre por meio de signos gerando outros signos outros processos de aprendizado que necessitam de comu nicação Os signos formam elos comunicativos e crescentes Estudar os signos é tarefa da semiótica ciência presente onde quer que haja comunicação e aprendizado Há função de signo em todas as espécies de leituras a própria escola é signo é apresentação e representação do mundo ao aluno A escola 1 é mediadora do mundo 2 para o estudante 3 visa a conectálo ao mundo Expandindo a noção do que é comunicação e do que é educar percebemos que as fronteiras entre ambas são fl uidas Este capítulo abre portões a estradas de ques tões e dúvidas Muito mais pode ser discutido sobre o que é comunicação o que é aprendizado o que é semiótica e signo Quais estradas serão seguidas e de que forma dependerá muito de onde você está APRENDIZAGEM E AFETO POR ESSA VOCÊ NÃO ESPERAVA Todo aprendizado ocorre por meio de signos O processo comunicativo é funda mental à cognição Aprendemos comunicando e comunicamos aprendendo Mesmo sem querer comunicamos por meio da linguagem corporal por exemplo Mesmo sem querer aprendemos todas as vezes que participamos de uma cadeia sígnica Estamos no mundo nos comunicando e aprendendo Os objetos a nossa volta e dentro de nós produzem diálogo constante constante processamento constante produção de signos Quando vamos ao cinema aprendemos alguma coisa em nossa 19 leitura do fi lme Se o conteúdo apreendido é eticamente interessante é outra ques tão Se assistirmos a um acidente a um fato trágico ao conversarmos nos bar na igre ja no olhar vitrines Estamos sempre aprendendo A diferença com o conhecimento proposto pela instituição escola ou pela universidade é que a universidade procura conduzir o caminho de aprendizado com objetivos claramente pedagógicos Ir ao cinema pode parecer mais agradável pois vamos quando queremos o que é importantíssimo o afeto inicia qualquer relação de aprendizado o que não nos afeta não atinge nossa mente não formará signo Estudar pode parecer obrigação mas ali o sujeito é exposto a conteúdos de uma área que escolheu para conhecer e para agir profi ssionalmente É fundamental que haja algum afeto A mídia de que trata este livro é bem sucedida no mercado de comunicação certamente porque se preocupa entre outras coisas com as emoções geradas e sentidas por seu público Na escola procurase o conhecimento sistemático induzido Os objetos estão disponibilizados para quem puder e quiser entrar em processo semiótico cada um de acordo com suas possibilidades de acordo com seus signos prévios Quanto mais exposição ao processo quanto mais aumenta o capital de signos disponíveis maior possibilidade de aprofundamento em determinada área maiores as possibilidades de estabelecer relações entre os objetos Entendamos contudo que a semiótica considera que onde ocorre comunicação há aprendizado Há aprendizado onde houver ação do signo Com esse entendimento podemos ampliar a noção de processo educativo e talvez mudar alguns de nossos parâ metros Na sala de aula convencional toda vez que ocorrer comunicação ocorre apren dizado sempre de acordo com o capital disponível de cada um e também de acordo com o afeto dado e recebido no processo Com isso notamos que há tantos ritmos de aprendizado quantos forem os posicionados como alunos professor inclusive Por que insistir na importância do afeto Sem esse sentimento de algo que nos toca não se efetua o processo sígnico completo O que ocorre se não nos afeta de alguma forma não produzirá signos Toda relação com afeto criativa constituise em troca interpessoal mesmo que de mim com meus pensamentos Se estivermos dispostos há muitos lugares para praticar o diálogo SILVEIRA 2005 O aprendizado da perspectiva da semiótica precisa de um objeto ou conteúdo de uma mente com seu capital de signos e produzirá um resultado Não há garantias de onde chegaremos apenas garantese que há um caminho A ação do signo se desenvolve no tempo onde há tempo há signo o tempo e a vida desenvolvese por meio de signos A semiose é um fenômeno contínuo tratase de um nome téc nico para mente pensamento ou inteligência Eles agem como o signo SANTAELLA 1992 p 261 Comunicar e educar como signos recíprocos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 20 Percebemos mediante um signo dependente de um objeto e de acordo com o que estamos equipados a perceber Um signo que nos chama a atenção é um signo que nos afeta isso é fundamental Nós temos nosso ritmo de pensamento e utilizamos nosso próprio ritmo como referencial para todos os processos de pensamento também por isso temos difi cul dade em reconhecer processos semelhantes ao nosso em outras classes de seres Para Peirce apud SILVEIRA 2005 o pensamento é uma característica do universo e não apenas dos seres humanos Em uma fl oresta por exemplo há diálogos e negociações entre a fl ora a fauna o clima as estações do ano que ocorrem por séculos para que se chegue à formação que conhecemos e muitas vezes vemos como estática imediata Sim para Peirce a fl oresta está em semiose Um cabelo cai sobre a testa sem consciência sentimos algo na pele e percebemos entrar em nosso campo visual Essas informações seguem juntas ao cérebro que aciona o cotovelo pulso e mão com todo o seu aparato muscular refi nado em um leve toque do dedo na testa afastando o cabelo Tantas palavras para representar outro processo semiótico que muitas vezes nem chega à consciência Espírito e corpo razão e sentimentos sujeito e sociedade natureza e cultura vida e morte não são pares opostos estão em processo semiótico e não possuem posição previamente defi nida e rígida Da mesma forma ignorância e conhecimento Conhecemos porque fomos afetados por um processo comunicativoeducativo dei xamonos afetar porque de alguma forma tivemos a humildade de não saber Em outras palavras e de forma simples quem acha que sabe tudo não tem mais nada a aprender Não comunga não partilha O que se apresenta à consciência não é conhecido em si mesmo mas por in termédio de uma ação mental Todo conhecimento é interpretativo condicionado pelo que existia antes e revelado em momento posterior ou seja dependente do tempo Um indivíduo não tem como alcançar certeza absoluta já que depende de outras mentes para estar em rede semiótica A certeza sempre provisória sempre em movimento é coletiva1 Em famoso pensamento de Peirce temos o entendimento de que o pensamento não está em nós nós é que estamos em pensamento Não reagimos mecanicamente às situações de forma sempre igual Estamos sempre em movimento criando novos signos aprendendo 1 Ver O método anticartesiano de C S Peirce SANTAELLA 2004 21 Todos os seres vivos estão continuamente produzindo a si próprios em uma or ganização autopoiética MATURANA VARELA 2001 p 52 Quando nos propomos a conhecer o conhecer estamos nos propondo o autoconhecimento encontramos nosso próprio ser Procure na Internet uma reprodução da tela Galeria de Arte de M C Escher A imagem representa muito do que tentamos verbalizar aqui Foi citada por Matura na e Varela 2001 p 266 como exemplo de circularidade cognitiva O rapaz olha uma tela que se transforma na cidade cidade que entra na galeria Ou a galeria é composta com a cidade e expõe uma tela com um rapaz que olha Ou uma cidade é produção textual arquitetônica e urbanística abriga pessoas que interagem Qual o ponto de partida A cidade A mente do rapaz Procurar conhecer o conhecer parecenos uma prerrogativa de quem se ocupa com Educação com Comunicação Conhecer o conhecer obriga a vigiarmos nossas certezas a reconhecer que não há ponto de vista exclusivamente verdadeiro ou fal so Para Maturana e Varela no âmago das difi culdades do homem atual está seu desconhecimento do conhecer 2001 p 270 grifo dos autores Identifi camos uma postura ética o que gera o comprometimento especialmen te em educação não é o conhecimento mas sim conhecer o conhecimento afetar se nesse processo O que implica reconhecer que o ser é identifi cado pelo eu e pelo outro Indissociavelmente conhecer ocorre em comunhão Comunicar e educar como signos recíprocos BACHELARD Gaston Devaneio e rádio In O direito de sonhar São Paulo Martinhos Fontes 1986 BATESON Gregory Mente e natureza Tradução de Claudia Gerpe Rio de Janeiro Francisco Alvez 1986 original 1979 ECO Umberto Tratado geral de semiótica 4 ed Tradução de Antônio de Pádua Danesi e Gilson César Cardoso de Souza São Paulo Perspectiva 2003 1 ed 1976 MATURANA Humberto R VARELA Francisco J A árvore do conhecimento as bases biológicas da compreensão humana Tradução de Humberto Mariotti e Lia Diskin São Paulo Palas Athena 2001 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 22 1 Faça um fi chamento do texto com suas próprias palavras Você deve deixar claro e distinto o que é raciocínio da autora e quais são os seus comentários pessoais 2 Refl ita sobre a imagem da Via Láctea e a tela Galeria de Arte de Escher Como você pode ria relacionálas 3 Escreva um texto com duas situações nas quais você participou de uma atividade em que quis aprender mais sentiuse afetado por uma situação que foi ao mesmo tempo comu nicativa e educativa Proposta de Atividades SANTAELLA Lucia Navegar no ciberespaço o perfi l cognitivo do leitor imersivo São Paulo Paulus 2004 A percepção uma teoria semiótica 2 ed São Paulo Experimento 1998 Por que as comunicações e as artes estão convergindo São Paulo Paulus 2005 SILVEIRA Lauro Frederico Barbosa da A aprendizagem como semiose In SILVA Ana Cristina Teodoro da Org Iniciação à ciência e à pesquisa Maringá Eduem 2005 Formação de ProfessoresEAD n 1 WINKIN Yves A nova comunicação da teoria ao trabalho de campo Tradução de Roberto Leal Ferreira Campinas SP Papirus 1998 Anotações 23 Fábio Viana Ribeiro A comunicação radiofônica 2 O rádio está verdadeiramente de posse de extraordinários sonhos acordados Mas então dirão alguns a quem isso vai servir A todos que tiverem necessidade disso evidentemente A que horas é preciso fazer essa transmissão Para mim é preciso que seja às 8 e meia porque me deito às 9 horas E se os engenheiros psíquicos do rádio forem poetas que desejam o bem do homem a doçura do coração a alegria de amar a fi delidade sensual do amor prepararão boas noites para seus ouvintes O rádio deve anunciar a noite para as almas infelizes para as almas pesadas tratase de não mais dormir sobre a terra tratase de entrar no mundo noturno que você vai escolher BACHELARD 1986 p 223 O trecho acima escrito pelo fi lósofo Gaston Bachelard 18841962 diz muito a respeito daquilo que vem a ser para muitos um motivo de fascínio pelo rádio E tam bém algo que tem a ver com suas características técnicas Pode parecer estranho que um fi lósofo que se dedicou a estudar a ciência discorra sobre doçura do coração e poetas que desejam o bem do homem Essas expressões certamente não espantariam aqueles que como Bachelard gostam de rádio Essa última ela própria uma expres são reveladora já que talvez não existam muitas pessoas que por exemplo gostem de jornais no sentido quase romântico guardado na idéia de gostar de rádio Talvez exista mesmo algo romântico ligado ao rádio Pelo menos para alguns tan tos apaixonados pelo veículo e quem sabe para muitos outros que apenas descobri ram no rádio um meio de não mais dormir sobre a terra Ainda nos dias de hoje1 ao lado de todo o desenvolvimento técnico ocorrido nos meios de comunicação a ligação do ouvinte de rádio com o veículo parece ser ainda muito afetiva se com parada a outros meios O vínculo estabelecido entre ouvintes e emissoras sugere relação com outra ordem de entendimento De fato se entre os ouvintes do rádio encontramos facilmente pessoas que se dizem apaixonadas pelo veículo só muito raramente encontramos um leitor que tenha desenvolvido uma paixão por revistas 1 Em agosto de 2007 existiam no Brasil 4734 emissoras licenciadas Destas 1455 transmitindo em FM 1570 em AM 73 em ondas tropicais 66 em ondas curtas e 1570 rádios comunitárias Fonte Anatel EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 24 jornais televisão ou Internet Nesses quando muito o objeto de maior interesse vem a ser o conteúdo do veículo menos que ele próprio No caso do rádio a ligação de muitos ouvintes é principalmente uma ligação com o veículo Possivelmente os motivos para isso estejam ligados paradoxalmente às carac terísticas técnicas do rádio Exatamente por não dispor de imagem e ter em geral seus conteúdos transmitidos ao vivo o rádio estimula a imaginação do ouvinte Se a televisão por exemplo nos mostra imagens acompanhadas de cor movimento som que já nos chegam por assim dizer pensadas e compreendidas o con trário acontece com o rádio Dispondo apenas de som o ouvinte de rádio é levado a imaginar uma música uma cidade a pessoa que lhe fala um jogo de futebol etc E esse ato de imaginar como frequentemente já foi observado costuma ser mais agradável e relacionado aos nossos próprios desejos que o ato de ver uma imagem ou ler um texto Dentre os diversos meios de comunicação o rádio comporta características que o tornam o veículo com maior alcance de público no Brasil estando presente em lugares e regiões onde é precária a presença de outros veículos Ainda que dispondo de limitados recursos expressivos frente a outras mídias o rádio conseguiu manter seu público mesmo sob a concorrência da televisão a partir da década de 1950 Ao mesmo tempo em que suas evidentes limitações não dispor de imagem como a televisão ou certa duração no tempo como a imprensa escrita parecem concor rer para o seu declínio ao mesmo tempo são esses aspectos que lhe conferem papel relevante entre os modernos meios de comunicação A pesquisadora Gisela Ortriwano 1985 p 7881 listou em seu livro A informa ção no rádio aquelas que seriam as principais características do veículo2 Linguagem oral o rádio fala e para receber a mensagem é apenas necessário ouvir Leva uma vantagem sobre os veículos impressos pois para receber infor mações não é preciso que o ouvinte seja alfabetizado Com relação à televisão o espectador não precisa ler apesar de a cada dia mais os caracteres estarem sendo utilizados para prestar informações importantes que escaparão ao anal fabeto Penetração em termos geográfi cos o rádio é o mais abrangente dos meios podendo chegar aos pontos mais remotos e ser considerado de alcance nacional Ao mesmo tempo pode estar nele presente o regionalismo pois ten do menor complexidade tecnológica permite a existência de emissoras locais Mobilidade sob o ponto de vista do emissor sendo menos complexo tecnica mente do que a televisão o rádio pode estar presente com mais facilidade no local dos acontecimentos e transmitir as informações mais rapidamente do que a televisão Com relação aos veículos impressos suas mensagens não requerem preparo anterior podendo ser elaboradas enquanto estão sendo transmitidas 2 Por questões de espaço físico a descrição dessas características foi reduzida aqui aos seus aspectos centrais 25 A comunicação radiofônica além de eliminar o aspecto crucial da distribuição quem estiver ouvindo rádio estará apto a receber a informação Mobilidade sob o ponto de vista do recep tor o ouvinte de rádio está livre de fi os e tomadas e não precisa fi car em casa ao lado do aparelho Seu tamanho diminuto tornao facilmente transportável permitindo inclusive recepção individualizada nos lugares públicos Baixo custo em comparação à televisão e aos veículos impressos o aparelho receptor de rádio é o mais barato estando a sua aquisição ao alcance de uma parcela muito maior da população Por outro lado a produção radiofônica é mais bara ta que a televisiva justamente por ser menos complexa Sensorialidade o rádio envolve o ouvinte fazendoo participar por meio da criação de um diálogo mental com o emissor Ao mesmo tempo desperta a imaginação através da emocionalidade das palavras e dos recursos de sonoplastia permitindo que as mensagens tenham nuances individuais de acordo com as expectativas de cada um Autonomia o rádio livre de fi os e tomadas deixou de ser um meio de recepção coletiva e tornouse individualizado Essa característica faz com que o emissor possa falar com toda a sua audiência como se estivesse falando para cada um em particular dirigindose àquele ouvinte específi co A mensagem oral se presta muito bem para a comunicação intimista É como se o rádio estivesse contando para cada um em particular Ao mesmo tempo a atividade de ouvir não exclui a possibilidade de desenvolver outras tarefas como ler dirigir trabalhar etc Dentre as características citadas por Gisela Ortriwano 1985 podemos destacar o aspecto sensorial como um dos mais signifi cativos Em função do modo como suas mensagens são produzidas e absorvidas pela necessidade de recriálas através dos recursos próprios ao rádio a comunicação radiofônica tende a construir um universo imaginário bem mais nítido que em outros meios Se como a própria autora observou tanto a televisão quanto os veículos impressos têm suas mensagens intermediadas pela imagem o rádio não possuindo tal recurso utilizase em larga medida de uma subjetividade que deriva dessa ausência Um dos mais conhecidos episódios associados ao caráter sensorial do rádio refe rese ao dia 30 de outubro de 1938 Nessa data a rádio americana CBS transmitiu ao vivo uma fi ctícia invasão marciana que estaria acontecendo em uma fazenda no esta do de New Jersey A transmissão feita às vésperas da Segunda Guerra Mundial e re presentada com grande dramaticidade causou pânico imediato em diversas cidades americanas O controle sobre a situação foi aos poucos sendo retomado à medida que o público era informado de que se tratava na verdade de uma adaptação para o rádio feita por Orson Welles de A Guerra dos Mundos do escritor H G Wells Esse acontecimento frequentemente citado como exemplo do poder de persuasão relacionado aos meios de comunicação de massa antecede não por acaso o uso do próprio veículo para fi ns de controle social É preciso lembrar que já antes e depois dessa transmissão o rádio foi intensa e habilmente utilizado tanto pelos nazistas quanto pelos aliados com semelhantes propósitos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 26 Convencionalmente a invenção do rádio é atribuída a Guglielmo Marconi3 que no ano de 1896 realizou a primeira transmissão de uma mensagem por meio de ondas eletromagnéticas Os primeiros anos de desenvolvimento do veículo foram muito rápidos logo cedo as forças armadas dos EUA perceberam as possibilidades de uso abertas pela invenção forçando por motivos estratégicos a venda das ações da italiana American Marconi a Radio Corporation of America RCA Do ponto de vista comercial em 1916 o russo David Sarnoff concebe a ideia do rádio como veí culo de comunicação de massa Até então se imaginava um uso bidirecional para o rádio em que o ouvinte poderia não apenas receber as mensagens transmitidas por uma emissora mas também ele transmitir mensagens a outros receptores David Sarnoff desenvolveria a idéia de uma emissora transmitindo música para receptores domésticos situados a uma distância de até 80 quilômetros Em 1920 a americana Westinghouse Electric and Manufacturing Company criaria a primeira emissora de rádio a KDKA Em 1922 a British Marconi fundaria na Inglaterra junto com outros grupos empresariais a British Broadcasting Company que seria mais tarde em 1926 estatizada pelo governo britânico e transformada na British Broadcasting Corpo ration BBC O modelo adotado pela BBC se distinguiria do modelo de rádio americano na medida em que era concebido como serviço público independente do governo alheio aos interesses das indústrias do setor e fi nanciado por seus usuários FERRARETO 2000 No Brasil cujas primeiras transmissões regulares se iniciaram em 1923 foi adotado o modelo americano de rádio no qual o serviço é em sua maior parte cedido a particulares sob forma de concessão e fi nanciado por meio de publicidade Após seus primeiros anos a história do rádio no Brasil é marcada por um pe ríodo de decadência que se estende da década de 1950 até meados dos anos 1970 entre o momento de surgimento da televisão em 1950 e o período mais fechado do regime militar Em 1970 surge em São Paulo a primeira emissora FM do país Difu sora FM e em 1977 a Rádio Cidade FM do Rio de Janeiro inaugura um formato de programação voltado para o público jovem que predominaria até os dias de hoje em muitas emissoras do segmento FM Em 1982 a Rádio Bandeirantes AM de São Paulo e suas afi liadas iniciam a transmissão em rede através de satélite A essa primeira 3 Vários autores consideram o padre brasileiro Roberto Landell de Moura como o verdadeiro inventor do rádio Segundo documentação existente Landell de Moura teria conseguido transmissão e recepção de sons por meio de ondas eletromagnéticas nos anos de 1893 e 1894 Mais tarde em 1904 chegou a patentear nos Estados Unidos algumas de suas descobertas entre elas um telégrafo sem fi o e um transmissor de ondas Motivos políticos possi velmente fi zeram com que suas descobertas não fossem reconhecidas como anteriores às de Marconi 27 experiência seguese o surgimento de outras redes Gaúcha Sat GuaíbaSat CBN Transamérica Itasat Jovem Pan etc A análise da programação da imensa maioria das emissoras de rádio desse pe ríodo chamaria atenção para um descompasso entre seus conteúdos e a legislação que ordena o setor De acordo com esta o funcionamento das emissoras de rádio e TV encontrase condicionado a um processo que vai desde a concessão e permissão de funcionamento dadas respectivamente pela Presidência da República e pelo Ministro das Comunicações até o cumprimento de determinadas condições e pré requisitos específi cos4 Entre esses por exemplo consta que as emissoras devem destinar pelo menos 5 de sua programação diária à transmissão de notícias um mínimo de cinco horas semanais de programas educacionais e um máximo de 25 de publicidade comercial em sua programação Tais limites bastante objetivos se comparados às orientações restantes que regulamentam o setor promover a cultu ra nacional e regional respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família etc são comumente contornados ou simplesmente descumpridos não obstante terem seu funcionamento dependente do poder público ao qual caberia fi scalizar o cumprimento do caráter social das empresas A questão do rádio no Brasil adquire contornos de grande interesse ao conside rarmos por um lado o enorme potencial do veículo em um país tão extenso com altas taxas de analfabetismo e elevados índices de pobreza e por outro lado sua evi dente subutilização De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD de 2006 87 dos domicílios brasileiros possuem rádio Contudo a existên cia de mais de 4500 emissoras no país encontrase longe de possuir um signifi cado proporcional a esses números A distribuição de centenas de concessões com base em critérios políticoseleitorais durante governos recentes só fez baixar ainda mais a qualidade das emissoras ao mesmo tempo em que por conta da consequente saturação do mercado praticamente pulverizou a distribuição da verba publicitária entre as emissoras Para que tenhamos uma ideia aproximada do processo dados coletados por Sônia Virgínia Moreira descrevem os números relativos à distribuição de emissoras durante o governo José Sarney No total a administração Sarney distribuiu 1 028 concessões de emissoras de rádio AM e FM e de televisão 30 9 dos canais existentes na época Em apenas 4 A nova legislação publicada em 261296 alteraria ligeiramente o quadro obrigando aqueles que forem exercer alguma função pública a se licenciarem de cargos na diretoria das emissoras Também teoricamente desaparece o critério político na distribuição dos canais passando o processo a ser feito por meio de licitação pública até 1996 cabia ao Ministro das Comunicações e ao Presidente da República a decisão sobre quem receberia a concessão A comunicação radiofônica EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 28 um mandato José Sarney assinou um número de concessões superado pela soma das permissões autorizadas por todos os presidentes brasileiros entre 1934 e 1979 ao longo de 45 anos haviam sido outorgados 1 483 canais de rádio e TV ou 44 5 das emissoras que estavam no ar em 1989 MOREIRA 1998 p 94 Ainda que parte da legislação que regula o setor seja explícita o sufi ciente para ti rar do ar centenas de emissoras atualmente nas mãos de políticos e líderes de seitas religiosas a fi scalização dos conteúdos a cargo do Ministério das Comunicações é praticamente inexistente restando apenas a fi scalização técnica de responsabilida de da Anatel Agência Nacional de Telecomunicações No tocante às relações dos políticos com o rádio uma pesquisa realizada em 1995 pelo jornal Folha de São Paulo sintetiza o quadro no país É de praxe entre políticos adquirir meios de comunicação em nome de tercei ros O exgovernador de São Paulo Orestes Quércia possui duas TVs Princesa DOeste em Campinas TV do Povo em Santos e uma rádio em Sorocaba que fi guram em nome de outras pessoas no cadastro ofi cial Ofi cialmente Quércia é titular de apenas três rádios duas em Campinas e uma em São Paulo É mui to difícil saber o número exato de deputados e senadores que possuem emis soras de rádio e TV disse o deputado Jorge Maluly Netto PFLSP Segundo ele alguns são donos de fato mas não aparecem porque se escondem atrás de testasdeferro terceiros que assumem a responsabilidade em documentos pú blicos Outros segundo Maluly aparecem no cadastro mas não são donos de fato porque emprestaram seus nomes para compor o quadro de acionistas das empresas como forma de obter a aprovação das concessões para seus aliados O próprio Maluly aparece no cadastro do governo associado a uma emissora de TV e a cinco rádios algumas em nome de sua mulher Therezinha e outras em nome do fi lho Jorge LOBATO apud FERRARETO 2000 p 181 Na segunda metade dos anos 1990 e início do século XXI a convergência entre rádio e Internet RADIOS 2008 se estabelece dentro de um padrão que iria abrir novas possibilidades para o veículo Ao contrário do que se poderia imaginar a In ternet longe de contribuir para um novo período de decadência do rádio terminou por acrescentar ao mesmo novos e signifi cativos recursos Em um primeiro mo mento as grandes emissoras disponibilizaram sua programação em seus respectivos sites o que signifi cou um aumento da audiência e também da interação entre ouvin tes usuários da Internet e as próprias emissoras Posteriormente com o desenvolvi mento de programas específi cos emissoras menores das mais variadas regiões do país e do mundo passaram a ter sua programação transmitida pela Internet através de sites especializados na disponibilização de emissoras de rádio TUDO 2008 E distinguindose destas as chamadas webrádios emissoras que não possuindo estrutura convencional com estúdios e transmissores existem apenas na Internet Na prática a principal vantagem da transmissão radiofônica via Internet relacio nase à possibilidade de ouvirmos emissoras de lugares remotos e distantes com 29 baixa potência e curto alcance as quais difi cilmente poderiam ser ouvidas através de um aparelho comum de rádio Através da Internet tornase possível por exem plo ouvir com excelente qualidade de som uma emissora de uma pequena cidade da zona da mata mineira de Roraima Angola ou Andorra Naturalmente que para as pessoas que moram nas cidades onde essas emissoras transmitem continuará sendo mais prático ouvilas através de um aparelho convencional de rádio que nesses casos são mais práticos que um computador Assim de forma relativamente simples e barata uma imensa quantidade de informações passa a estar disponível a um número muito grande de ouvintes É caso de notarmos que o rádio sempre foi um veículo mais globalizado que outros meios de comunicação Tanto no Brasil quanto no exterior muitas emissoras transmitem ainda hoje sua programação em ondas curtas5 de modo que desde algumas décadas atrás sem uso de satélite ou Internet era perfeitamente possível ouvir emissoras de países distantes através de um aparelho comum de rádio6 Assim como nessa faixa de frequência é possível ouvir rádios brasileiras em qualquer lugar do mundo através de um aparelho portátil também aqui no Brasil facilmente con seguimos sintonizar rádios da China Vaticano Rússia França Holanda Espanha Argentina etc Muitas delas em determinados horários transmitindo em português Ao lado desse caráter global é também o rádio um veículo altamente adequa do à comunicação regional e local Possivelmente nenhum outro veículo reúne características tão adequadas à comunicação local imediatismo baixo custo de produção facilidade de recepção mobilidade etc Ainda que a imensa maioria das emissoras que transmitem em AM ou FM limitem sua programação a um conteúdo musical inúmeras são as possibilidades de uso dos recursos disponíveis Os limites existentes para que outros modelos de programação sejam oferecidos são na ver dade poucos O amplo predomínio do formato centrado em música e prestação de serviços se deve menos talvez a um suposto gosto popular que ao fato de ser esse o modelo mais barato de programação dispensando a necessidade de profi s sionais qualifi cados ou produção mais elaborada Uma vez que o critério político se constitui no fator determinante na distribuição de concessões e autorizações de funcionamento da maioria dessas emissoras e que seus proprietários encontramse muito vinculados aos acordos que levaram a essas autorizações é pouco provável que se sintam estimulados a produzirem outros conteúdos 5 Ao contrário dos sistemas que utilizam a frequência modulada FM e amplitude média AM as transmissões em ondas curtas OC permitem um alcance intercontinental dos sinais de uma emissora 6 Não tão comuns é verdade aparelhos que possuem mais de duas faixas de recepção AM FM OC Em geral baratos e encontrados em lojas de eletrodomésticos ou de produtos eletrônicos A comunicação radiofônica EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 30 Com exceção de algumas emissoras em geral transmitindo em rede e que ope ram dentro de modelos de rádio falado7 todas as outras possibilidades de pro gramação ligadas ao setor se restringem às rádios educativas e comunitárias Não contando ainda o caso das rádios livres que funcionam à margem do sistema ofi cial Comum a esses modelos de rádio é o fato de terem demonstrado a viabilidade de outras alternativas de programação e gestão das próprias emissoras Um dos exemplos mais bem sucedidos entre as emissoras comerciais a Rádio CBN mantém há 17 anos uma programação integralmente voltada ao jornalismo 24 horas por dia Em outro extremo o emblemático caso da Rádio Favela8 de Belo Horizonte Criada por iniciativa de 50 moradores de um conjunto de favelas de Belo Horizonte e transmitindo inicialmente como rádio livre a Rádio Favela obteve posteriormente autorização para operar como emissora educativa Apesar do curto alcance de sua transmissão a emissora chegou a registrar o quarto lugar em audiência na região metropolitana de Belo Horizonte Aspecto sintomático dos problemas ligados à democratização dos meios de co municação uma legislação específi ca tentaria regulamentar a proliferação de rádios livres no país que adequadas à lei seriam transformadas em emissoras comunitá rias Tal tentativa refl ete na verdade a disputa entre emissoras comerciais e grupos ligados à democratização dos meios de comunicações no país Ainda que argumen tos técnicos sejam frequentemente empregados pelas emissoras comerciais citando os riscos de interferência nas comunicações de aeroportos e outras situações as pecto sempre negado pelos representantes das emissoras comunitárias parece evidente se tratar de uma disputa eminentemente política sobre um campo em que todas as partes envolvidas sabem ser muito relevante em termos de construção da opinião pública e controle social Por sua vez as emissoras educativas têm seu funcionamento condicionado àquilo que estabelece a Lei nº 9637 de maio de 1998 Por esta as emissoras educativas pas sariam a funcionar como organizações sociais não exatamente estatais ou privadas Artigo 1º O Poder Executivo poderá qualifi car como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado sem fi ns lucrativos cujas atividades se jam dirigidas ao ensino à pesquisa científi ca ao desenvolvimento tecnológi co à proteção e preservação do meio ambiente à cultura e à saúde atendi dos os requisitos previstos nesta lei FERRARETO 2000 p 178 7 São exemplos mais conhecidos Rádios CBN Bandeirantes Gaúcha Globo Aparecida Itatiaia etc 8 Ver httpwwwsingcombrriqueza3html httpwwwigutenbergorgradiofavela25html Acesso em 27092008 31 Na prática poderiam pleitear concessões de funcionamento para rádios educa tivas universidades fundações ligadas ao poder público prefeituras etc Contudo os mesmos problemas presentes no caso das emissoras comerciais podem ser en contrados nas emissoras educativas Das mais de 4500 emissoras de rádio existentes no país cerca de 1500 seriam em tese educativas Por um lado não há por parte do Ministério das Comunicações efetiva fi scalização sobre a programação das emis soras que em geral não possuem caráter propriamente educativo Por outro os critérios de concessão desses canais permanecem sendo muito semelhantes àqueles utilizados em todos os últimos governos Uma matéria do jornal Folha de São Paulo assinada pela jornalista Elvira Lobato dimensiona esse quadro O governo Lula reproduziu uma prática dos que o antecederam e distribuiu pelo menos sete concessões de TV e 27 rádios educativas a fundações ligadas a políticos Também foi generoso com igrejas destinou pelo menos uma emisso ra de TV e dez rádios educativas a fundações ligadas a organizações religiosas Esse fenômeno confi rma a afi rmação de funcionários graduados do Ministério das Comunicações de que no Brasil a radiodifusão ou é altar ou é palanque Entre os políticos contemplados estão os senadores Magno Malta PLES e Leo nel Pavan PSDBSC A lista inclui ainda os deputados federais João Caldas PL AL Wladimir Costa PMDBPA e Silas Câmara PTBAM além de deputados estaduais exdeputados prefeitos e exprefeitos Em três anos e meio de governo Lula aprovou 110 emissoras educativas sendo 29 televisões e 81 rádios Levando em conta somente as concessões a políticos signifi ca que ao menos uma em cada três rádios foi parar direta ou indireta mente nas mãos deles Fernando Henrique Cardoso autorizou 239 rádios FM e 118 TVs educativas em oito anos No fi nal de seu segundo mandato a Folha em levantamento semelhante comprovou que pelo menos 13 fundações ligadas a deputados federais receberam TVs desmentindo a promessa que ele havia feito de que colocaria um ponto fi nal no uso político das concessões de radiodifu são FHC acabou com a distribuição gratuita de concessões para rádios e TVs comerciais passaram a ser vendidas em licitações públicas mas as educativas continuam sendo distribuídas gratuitamente a escolhidos pelo Executivo Antes de FHC os políticos recebiam emissoras comerciais No governo do general João Baptista Figueiredo 1978 a 1985 foram distribuídas 634 concessões entre rádios e televisões mas não se sabe quantas foram para políticos No governo Sarney 198590 houve recorde de 958 concessões de rádio e TV distribuídas Muitos políticos construíram patrimônios de radiodifusão naquele período em nome de laranjas LOBATO 2006 Tal quadro surpreendente por revelar que uma mesma política de concessões de canais é adotada por vários e distintos governos e termina por sugerir que as causas do problema encontramse relacionadas ao modelo de radiodifusão adotado no país e que remonta às próprias origens do rádio em nosso território A adoção do sistema de concessões à iniciativa privada aí incluídos também políticos e seitas religiosas e seu fi nanciamento por meio da publicidade defi nindo um modelo comercial para o rádio fi zeram com que seus objetivos públicos e educativos se tornassem exceções permanecendo como regra quase absoluta o modelo comercial e privado de rádio A comunicação radiofônica EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 32 Seria no entanto precipitado imaginarmos um futuro ainda mais sombrio para o desenvolvimento do rádio no país Além do fortalecimento de organizações que lutam pela democratização das comunicações no Brasil concorre para isso o sur gimento de tecnologias que permitem que um número cada vez maior de pessoas participe ativamente na defi nição dos conteúdos presentes no rádio como exemplo mais notório a proliferação das chamadas webrádios e em outros meios de comu nicação Possivelmente muitas distâncias se tornarão menores e muitas diferenças se tornarão menos estranhas O rádio pelo mais improvável dos caminhos talvez volte a ser ou fi nalmente venha a ser algo tão fascinante e poético quanto a descrição que lhe fez Gaston Bachelard Os limites para isso estão no espaço DEL BIANCO Nélia MOREIRA Sônia Virgínia Orgs Rádio no Brasil tendências e perspectivas Rio de Janeiro EduerjUbB 1999 FERRARETO Luiz Artur Rádio o veículo a história e a técnica Porto Alegre Sagra Luzzato 2000 LOBATO Elvira Um em cada seis congressistas tem rádio ou TV Folha de São Paulo São Paulo 14 maio 1995 In FERRARETO Luiz Artur Rádio o veículo a história e a técnica Porto Alegre Sagra Luzzato 2000 MACHADO Arlindo MAGRI Caio MASAGÃO Marcelo Rádios livres a reforma agrária no ar São Paulo Brasiliense 1987 MOREIRA Sônia Virgínia Rádio palanque Rio de Janeiro Mil Palavras 1998 ORTRIWANO Gisela Swetlana A informação no rádio os grupos de poder e a determinação dos conteúdos São Paulo Summus 1985 RADIOS S l s n 2008 Disponível em httpwwwradioscombr Acesso em 18 out 2008 TUDORADIO Curitiba Grupo Tudo Rádio de Comunicação 2008 Disponível em httpwwwtudoradiocom Acesso em 18 out 2008 Referências 33 httplistasidbrasilorgbrarquivoaldeiasbahia2006June000008html httpwwwsingcombrriqueza3html httpwwwigutenbergorgradiofavela25html httpwwwradiosbrcombr httpwwwradioscombr httpwwwtudoradiocom httpwwwintervozesorgbr httpwwwfndcorgbr Endereços eletrônicos de rádios 1 Procure em sites de busca de rádios por exemplo httpwwwradioscombr ou httpwwwtudoradiocom uma emissora de alguma região distante de sua cidade eventualmente até mesmo do país Acompanhe a programação dessa emissora por alguns dias Que diferenças você consegue observar em relação àquilo que já ouviu no rádio em sua região 2 Imagine que uma turma de alunos estivesse sob sua responsabilidade e que tivesse tido a ideia de lhes recomendar para posterior atividade em sala algum programa no rádio que fosse ao mesmo tempo interessante e informativo Que rádios e programas escolheria dentre as milhares de emissoras disponíveis Proposta de Atividades A comunicação radiofônica Anotações EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 34 Anotações 35 E se minutos tão preciosos são empregados para dizer coisas fúteis é que essas coisas fúteis são de fato muito importantes na medida em que ocultam coisas preciosas BOURDIEU 1997 p 23 na televisão nada é simples nada é inocente MAGALDI 2003 p 134 Quantas horas por dia você e as pessoas que o cercam assistem televisão Chegar em casa e postarse diante da televisão é um ato muito corriqueiro a uma boa parcela da população O aparelho de televisão está presente em ampla maioria dos lares muitas vezes também nos quartos ou na cozinha Na sala é comum ocupar lugar de destaque tal qual as fogueiras em acampamentos Fonte de luz centro ao qual se direcionam a atenção e os olhares O hábito de comer vendo TV é signifi cati vo a atenção não está no alimento orgânico mas no alimento do espírito produzido pelo encantamento daquela janela eletrônica para o mundo Os horários da programação determinam a rotina de muitas casas tomar banho depois do jornal jantar antes da novela chegar em casa antes do jogo são atitudes comuns Certamente as empresas telefônicas sabem que em horário de último ca pítulo de novela ou de jogo da seleção brasileira de futebol masculino os telefones soarão bem menos Quantos se lembrariam de ligar a um amigo na hora da fi nal de uma copa do mundo A frequência e a naturalidade desse costume certamente merecem ser problema tizados e muitos são os caminhos para fazêlo O aparelho televisor é um artefato tecnológico do século XX Primeiro dominouse a tecnologia da transmissão de sons por ondas daí o rádio depois se uniu o saber de como transmitir imagens e sons ao mesmo tempo você pode pesquisar na rede a história dessas descobertas Ana Cristina Teodoro da Silva A televisão como instrumento pedagógico 3 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 36 Os mais velhos lembrarão que há trinta anos as televisões dependiam de válvulas que precisavam aquecer para gerar a imagem Não era possível ver um programa imediatamente pois havia o tempo da composição de imagem e de sua sintonia A maior parte dos aparelhos transmitia imagens em preto e branco a popularização das imagens coloridas na TV ocorreu em torno da década de 1980 É bastante interes sante conversar com as pessoas com mais de cinquenta anos que certamente terão histórias sobre a utilização dos aparelhos de televisão mais antigos e melhor ainda dos tempos em que não havia televisão Como eram as noites Um importante mercado de equipamentos eletrônicos está instalado Há uma hierarquia de marcas das melhores às mais baratas A venda de aparelhos se renova não apenas pelo desgaste do objeto mas principalmente por conta de que de tem pos em tempos uma nova possibilidade tecnológica faz surgir outra necessidade os aparelhos foram paulatinamente trocados de preto e branco a colorido depois para conectar o videocassete depois para ter áudio estéreo conectar o DVD e o karaokê agora para ter monitor de plasma ou LCD em breve para receber o sinal digital e quem sabe acoplar os sinais das diferentes mídias que temos em casa Internet televisão rádio telefone fi xo e móvel Desnecessário dizer que se trata de comércio rentável Entretanto não é apenas comércio é produção de sociabilidades diferenciadas são formas de lidar com a importância que o mercado da informação e do entrete nimento tem em nossas vidas Este capítulo pretende abrir caminhos que façam do hábito cotidiano tão comum e importante de ver TV uma fonte de refl exão um material de estudo que pode e deve ser debatido na escola Com isso destacamos que não assumimos aqui a postura de excluir a televisão de nossas vidas o que seria pouco provável neste momento Porém não podemos lidar de forma ingênua com os meios de comunicação tratamse de empresas produzidas por homens com interes ses determinados A forma como o telespectador recebe as mensagens é fundamental a seu conteúdo dito de outra forma questionar a mensagem pode enriquecer o ato de ver TV o telespectador é ativo nesse processo e não um ser passivo que tudo engole Em primeiro lugar serão fornecidos alguns dados sobre a história da televisão para que vejamos como se trata de relação recente e em constante mutação A seguir algumas questões relativas à produção da programação da televisão serão expostas e por fi m esperamos que o olhar crítico à televisão tenha sido estimulado de forma a que se possa olhar para a sala com o sofá e as poltronas voltados ao aparelho que se escolheu como fonte de luz e perguntar Por que é assim Poderia ser de outra forma 37 A televisão como instrumento pedagógico SUA AVÓ NEM IMAGINARIA Na Europa e nos Estados Unidos a televisão foi feita em seus inícios por pessoas que atuavam no cinema ou no teatro No Brasil ocorreu algo diferente migrou para a televisão o pessoal do rádio que era o grande meio de comunicação nas décadas de 1940 e 1950 Quem sabe não há infl uência dessa história no fato de que nos Estados Unidos há uma grande tradição de minisséries enquanto que no Brasil há uma gran de tradição de telenovelas lembrando que a novela era produto do rádio Já havia televisão no Brasil na década de 1950 contudo de forma muito precária A primeira novela data de 1951 produzida pela Tupi Programas eram transmitidos ao vivo o que dava espaço a muita criatividade e improvisação No entanto é apenas a partir das décadas de 1960 e 1970 de acordo com Renato Ortiz 1995 que se con solida a tendência a transformar os bens culturais em mercado É fundamental associar que se trata de período de ditadura militar e censura O desenvolvimento do setor de comunicações era objetivo do governo preocupado com a integração nacional ou seja o país não poderia ser um conjunto de ilhas de veria haver fortes elementos comuns e formas rápidas de conectar o país O setor de comunicações neste sentido era estratégico e a geração de bens simbólicos comuns a todos ajudaria a dar alguma unidade à diversidade brasileira Uniramse os anseios estratégicos do governo ditador com os de empresários que avaliavam o quanto era promissor o desenvolvimento do mercado de comunicações no país Para que uma emissora pudesse transmitir em rede para todo o país até bem pouco tempo atrás era necessária uma concessão do governo1 Tais concessões eram forte moeda de troca no período militar sendo que controlava quem falava o quê Além de censurar temáticas consideradas imorais e discussões consideradas po liticamente indesejáveis como qualquer coisa que fosse simpática ao comunismo o governo disciplinava o perfi l do que poderia ser divulgado e debatido É a Ideologia da Segurança Nacional reconheciase a importância dos meios de comunicação e sua capacidade de difundir ideias de criar estados emocionais coletivos ORTIZ 1995 p 116 O sistema de redes que é essencial para que se tenha uma indústria da cultura e da comunicação foi fruto no Brasil de investimento do Estado Lembremos que o golpe militar data de 1964 A criação da Embratel Empresa Brasileira de Telecomu nicações ocorre em 1965 mesmo ano em que foi criada a Rede Globo O Ministério das Comunicações é de 1967 No período é comum que o maior cliente publicitário 1 O capítulo sobre o rádio A comunicação radiofônica do Professor Fábio Viana Ribeiro também tratará das concessões A história do rádio e da televisão no Brasil é intercambiável EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 38 dos meios de comunicação sejam empresas estatais O Jornal Nacional da Rede Glo bo foi ao ar pela primeira vez em 1969 e o Globo Repórter em 1972 A TV Tupi foi inaugurada em 1950 Em 1970 vinte anos depois apenas 24 11 dos domicílios brasileiros tinham um aparelho de televisão e mesmo assim estavam centrados nas regiões Sul e Sudeste Nessas regiões houve um salto no número de aparelhos de TV durante a década de 1970 Nas outras regiões esse salto ocorreu na década de 1980 quando a Embratel permitiu que as redes emitissem sinais abertos capazes de ser captados diretamente do satélite por antenas parabólicas situadas em qualquer lugar do território nacional HAMBURGUER 1998 p 448 Em 1980 73 da população brasileira tinham televisão em casa e também o há bito de assistila O investimento publicitário na televisão é então amplamente ma joritário ORTIZ 1995 A partir dos anos 1970 a indústria de comunicação eletrônica se consolida com o domínio da Rede Globo de Televisão Além de censurar e restringir os meios de comunicação a ditadura cassava direitos políticos de lideranças calava os não satis feitos fechara o Congresso Nacional e estabelecera que o Presidente da República fosse indicado pelos próprios militares2 Voltaremos a ter eleições diretas apenas em 1989 quando a indústria televisiva estava perfeitamente instalada e o público lidou pela primeira vez com uma campanha no vídeo Não sem razão o vencedor foi Fer nando Collor de Melo já que sua família era dona da transmissora da Rede Globo no Estado de Alagoas A imprensa fez o presidente e depois o desfez apoiando o impeachment3 As relações entre o Estado e as emissoras de televisão vão se alterar após a década de 1990 Diminuem os investimentos públicos não há mais censura com isso a TV aberta adquire maior independência política O mercado se segmenta e iniciase a TV a cabo acirrando a disputa entre as emissoras Os meios de comunicação especial mente a televisão passam a concorrer com instituições como a família a educação formal e as religiões como constituintes de uma esfera pública O indivíduo formase como consumidor antes de formarse como cidadão HAMBURGUER 1998 Hoje ser sujeito público é estar na mídia Tal afi rmação aparentemente óbvia deve ser relativizada O que era ser público há um século ou mais 2 Sugerimos a leitura de Uma história do Brasil de Thomas Skidmore 1998 e O fantasma da revolução bra sileira de Marcelo Ridenti 1993 para iniciar a compreensão desse período fundamental de nossa história que não deve ser esquecido 3 Para aprofundar essa questão estudar o livro A imprensa faz e desfaz um presidente o papel da imprensa na ascensão e queda do fenômeno Collor de Fernando LattmanWeltman 1994 que consta nas referências 39 A televisão como instrumento pedagógico A NOVELA É GARANTIDA QUANDO SE VAI AO MERCADO As emissoras de televisão de transmissão aberta e gratuita no Brasil quando pri vadas são empresas sustentadas principalmente por contratos publicitários Parte dos contratantes aparece nos intervalos comerciais Outra parte aparece em meio aos programas na fala direta de apresentadores ou de um personagem de novela por exemplo O preço da propaganda depende do horário e do tempo em que será veiculada Perceba que os intervalos comerciais são compostos de anúncios rigida mente cronometrados a maioria com trinta segundos ou um minuto sendo comuns também anúncios de quinze segundos Curiosamente a programação das grandes redes de televisão não compreende grandes discursos grandes refl exões grandes textos em matéria de duração tempo ral Toda a programação é produzida de forma que as imagens e as falas sejam rápi das curtas por vezes aligeiradas Não cabe gaguejar não cabe não saber a resposta ou parar para pensar imaginem um entrevistado que responda posso pensar Os minutos são preciosos mas são muitas vezes utilizados para dizer coisas fúteis como citado na epígrafe As televisões estatais como a Cultura ou a TV Senado podem obter verbas de propagandas mas recebem também verbas estatais sendo mais independentes dos contratos comerciais Todavia podem ser dependentes dos humores dos governos Na Venezuela em 2007 o presidente Hugo Chávez tirou do ar a Radio Caracas Tele vision sem se importar com os protestos que vinham de todos os lados A emissora era a mais antiga do país e crítica a seu governo vale a pena pesquisar na rede esse episódio e as opiniões que suscitou A dependência das televisões abertas da verba publicitária faz com que trabalhem a todo o momento pensando na quantidade de telespectadores que conseguem atrair pois quanto mais telespectadores melhores contratos publicitários As emisso ras mantêm constante controle sobre quem assiste que programa Uma novela por exemplo não toma o rumo que o autor quer apenas Ela é determinada também pela receptividade da trama pois se o telespectador não gosta da novela e muda de canal a emissora perde seus contratos Com isso a programação da televisão está sempre auscultando a audiência verifi cando seus hábitos e seus gostos A TV capta expressa e constantemente atualiza representações de uma comu nidade nacional imaginária Longe de prover interpretações consensuais ela fornece um repertório comum por meio do qual as pessoas de classes sociais gerações sexo e regiões diferentes se posicionam se situam umas em relação às outras HAMBURGUER 1998 p 441 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 40 Não há como atingir a todos respeitando as diferenças então a empresa constrói representações do público constantemente atualizadas Os programas oferecidos es tão sempre em mutação buscando agradar ao público Porém quando fazem suces so são programas que atingem milhões de pessoas ao mesmo tempo e acabam por serem fortes divulgadores de comportamentos estereotipados Uma novela não divulga apenas moda ou comportamentos traz posicionamentos políticos e linguísticos E sua força comunicativa não se restringe aos horários e emis soras em que são transmitidas toda uma rede é gerada atores e atrizes que vendem sua imagem pelo país e em outras mídias revistas de fofocas cartazes fi lmes popu lares Para que tal rede funcione não é necessário ao telespectador concordar com a perspectiva da novela mas sim concordar que a novela gere a pauta do que merece ser discutido servindo de referência quanto ao direcionamento da discussão E ainda mais importante a verborragia da novela e sua rede escondem o silêncio do não dito ou seja aquilo que não pode constar nas novelas Podemos postular que no último meio século no Brasil aquilo que a sociedade pode discutir comparece de alguma forma nas novelas populares4 Rosa Fischer 2003 aponta que vivemos em uma cultura perceptiva construída pela prática de ver TV e nessa cultura o silêncio é quase impossível Assistimos tele visão de forma dispersiva contudo ela deve estar ali fazendo barulho preenchendo espaços A possibilidade de mudar de canal rapidamente com o controle remoto o zapping a partir do qual criamos o neologismo zapear mostra um comportamento ansioso que busca cá e lá sem se reter sem pensar Por que agimos assim COMO ASSISTIR TV DE FORMA CRÍTICA Atualmente a televisão talvez seja a principal fonte de informação da maior parte da população brasileira Nossas crianças e jovens cresceram na cultura televisiva e aprenderam com isso Aprenderam não apenas com os conteúdos transmitidos mas fundamentalmente aprenderam um modo de aprender uma forma de percepção de mundo que reúne as linguagens verbais e sonoras em certa marcação de tempo Sabemos pouco sobre os modos de aprender das novas gerações e certamente não estamos preparados para nos dirigirmos à criança telespectadora FISCHER 2003 É fundamental refl etir sobre quais as relações da TV com outros problemas da educação bem como quais as relações entre as ações representadas na televisão e as teorias da educação 4 Para uma análise da telenovela no Brasil ler Telenovela história e produção de Renato Ortiz 1989 citado nas referências 41 A televisão como instrumento pedagógico Não nos parece adequado que um professor negue a importância do discurso televisivo na sociedade brasileira Entendemos a televisão como discurso poderoso e inevitavelmente presente na formação das crianças e jovens É discurso na maior par te das vezes produzido por empresas que têm posicionamentos políticos e interesses comerciais Devemos estar preparados para analisar esse fenômeno e utilizálo como texto a ser criticado e debatido Entender como a televisão é produzida é fundamen tal Não se trata de verdades repassadas mas de edições recortes seleções que defi nem o que irá ao ar e o que permanecerá silenciado Imaginem quantas matérias o Jornal Nacional deixa de fora e com que critérios seleciona o que irá transmitir Apelamos à mídia para que organize para nós a enorme massa de fatos que ocor rem Acostumamos com essa síntese apresentada em cada telejornal e naturalizamos essa produção como se o transmitido ali fosse naturalmente o que de mais impor tante aconteceu no dia Como professores devemos problematizar a ação dos meios de comunicação deixar clara sua forma de atuação discutir seus critérios seus po sicionamentos apontálos como extremamente poderosos no arranjo social em que nos inserimos As emissoras operam uma seleção do que será televisionado e uma construção acerca do material selecionado Seleção e construção são chaves para compreendermos e criticarmos os textos midiáticos sempre perguntando Como os objetos foram selecionados Como os temas foram construídos Um comentarista esportivo indagou algo bastante interessante com quantas câ meras um golaço de Pelé foi fi lmado De quantos ângulos Quantas vezes foi repro duzido no mundo E um gol de Ronaldo com quantas câmeras Quantas vezes é reproduzido esmiuçado analisado E um gol de Canhoteiro Não conhece Os espe cialistas dizem que foi dos melhores jogadores de futebol do mundo Não obstante isso foi antes da televisão Devemos sempre questionar porque uma personalidade foi construída e qual a base de seu sucesso O mundo do estrelato é altamente rentá vel e não tem necessariamente relação com o talento A televisão é manipulação de imagens e as imagens são vistas ainda hoje como refl exos da realidade A ilusão de real que uma imagem gera é grandemente explora da pelos meios imagéticos Insistimos que a imagem é construída sendo escolhidos o objeto o ângulo o recorte deixando muito de fora O que é escolhido é trabalhado de forma a parecer real Mas é uma representação sempre A televisão é artefato tecnológico é técnica e comunicação é sintoma de cultura e é educativa Recria diferentes linguagens oral escrita imagética linguagens pre sentes também no cinema rádio teatro e demais artes Reúne e sintetiza conteúdos e linguagens com um jeito próprio tornandose enormemente poderosa na luta pela constituição de sentidos e sujeitos de nosso tempo EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 42 A televisão quer atingir todo mundo Mas todo mundo é muita gente Que lin guagem utilizar Não existe essa linguagem tão genérica então qual sotaque é es colhido Qual corpo com que maquiagem Qual roupa Por quê Essas escolhas do jeito de falar ao jeito de se portar por serem transmitidas com a força da televisão a todo mundo acabam por serem modelos que muita gente quer seguir A novela representa o cotidiano de uma sociedade mais rica e mais branca que a brasileira mas essa sociedade ideal é reconhecida como a sociedade brasi leira e os assuntos que ela pauta podem vir a ser aqueles pelos quais se pauta o debate público e viceversa Ela oferece para o público amplo do horário nobre a visão indiscreta do cotidiano de uma certa classe média alta urbana moderna glamourosa e idealizada tal como vista de fora por um estranho ou excluído HAMBURGUER 1998 p 484 Valeria a pena refl etir porque gostamos tanto dos que parecem vencedores dos que parecem bonitos harmônicos perfeitos como a maior parte dos personagens principais das telenovelas Lembrando Pierre Bourdieu devemos lutar para que o que poderia ter se tornado um extraordinário instrumento de democracia direta não se converta em instrumento de opressão simbólica 1997 p 13 Apesar de tudo a televisão não tem defeitos congênitos É um meio de comuni cação excepcional que pode servir aos mais diferentes propósitos Há programações bastante interessantes da perspectiva pedagógica Para fi car nas televisões abertas citamos as produções da TV Cultura e da atual TV Senado que em Maringá têm o sinal captado por antenas parabólicas Todavia como professores o que fazer com a programação da televisão aberta privada que tem sido fundamental na formação de crianças e adolescentes Parece consenso que à escola cabe educar para o mundo que vivemos então precisamos educar para a mídia gerar em nós mesmos e nos alunos ferramentas que nos tornem aptos a sermos telespectadores ativos e críticos Sylvia Magaldi 2003 atenta que não podemos esquecer o apelo emocional que a televisão exerce Não adianta querer reduzir a comunicação televisiva em lógica racio nal apenas É dessa autora que nos inspiramos para o desenvolvimento de uma série de questões que podemos fazer aos programas de televisão e que podemos utilizar como um roteiro básico ao propor discussões com os alunos Em primeiro lugar então devemos lembrar das premissas expostas neste capítu lo a televisão tem importância fundamental em nosso cotidiano porém não existiu e não existirá sempre é histórica e cultural É produzida com determinados interes ses fundamentalmente interesses comerciais eou políticos Reúne diferentes lingua gens que podem ser trabalhadas separadamente mas que unidas resultam em algo diferente 43 A televisão como instrumento pedagógico É necessário que o professor seja um pesquisador de materiais que trabalhe com imagens do cotidiano e que fi que atento a bons vídeos e programas Cabe lutar para que emissoras alternativas sejam capturadas na escola com isso a programação pode ser gravada e um acervo pode ser montado É a competência e a sensibilidade do professor que tornarão o material interessante para a aula seja este trecho de novela seja excelente documentário Selecionado o material sugerimos perguntar compartilhar e discutir Quais as sensações emoções e sentimentos que o programa nos causa Após o reconhecimento dessas sensações e emoções cabe propor um distan ciamento para descrever o vídeo assistido Uma simples descrição revela ele mentos aos quais não se atribuiu importância O trabalho em grupo nesse caso é produtivo Questionar quais os objetivos do programa Entretenimento informação publicidade Quais conteúdos foram selecionados Por que foram esses os conteúdos sele cionados Cabe indagar sobre os silêncios situações relacionadas ao tema que não foram abordadas Que formas imagens sons textos foram escolhidas para expressar tais con teúdos Que atores ou atrizes Com que roupas Quais músicas Por quê Já sugerimos que devemos assistir outras emissoras comparar programações pro curar alternativas O professor é um pesquisador um provocador que indica pontes para outros mundos possíveis Certamente sua atitude com os textos do mundo será inspiradora para os alunos É fundamental ampliar as fontes de informação comparar as coberturas de um telejornal com a de um jornal impresso e a de um site na Inter net Sem esquecer que a mídia mais prática que se leva para qualquer lugar e não precisa de energia elétrica é o livro BOURDIEU Pierre Sobre a televisão Tradução de Maria Lucia Machado Rio de Janeiro Zahar 1997 FISCHER Rosa Maria Bueno Televisão Educação fruir e pensar a TV 2 ed Belo Horizonte Autêntica 2003 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 44 HAMBURGUER Esther Diluindo fronteiras a televisão no cotidiano In SCHWARCZ Lilia Moritz Org História da vida privada no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1998 v 4 LATTMANWELTMAN Fernando et al A imprensa faz e desfaz um presidente o papel da imprensa na ascensão e queda do fenômeno Collor Rio de Janeiro Nova Fronteira 1994 MAGALDI Sylvia A TV como objeto de estudo na educação ideias e práticas In FISCHER Rosa Maria Bueno Televisão Educação fruir e pensar a TV 2 ed Belo Horizonte Autêntica 2003 ORTIZ Renato et al Telenovela história e produção São Paulo Brasiliense 1989 Renato A moderna tradição brasileira 5 ed São Paulo Brasiliense 1995 RIDENTI Marcelo O fantasma da revolução brasileira São Paulo Unesp 1993 SILVA Ana Cristina Teodoro da O tempo e as imagens de mídia capas de revistas como signos de um olhar contemporâneo 2003 240f Tese Doutorado em História Universidade Estadual Paulista Assis SP 2003 SKIDMORE Thomas E Uma história do Brasil Tradução de Raul Fiker São Paulo Paz e Terra 1998 1 Assista a seu programa favorito pode ser a novela ou um jogo de futebol da perspectiva da câmera Tente ver quantas câmeras são usadas em cada sequência de que ângulos fi l mam quais enquadramentos privilegiam e por quê O objetivo é problematizar a fi lmagem e suas opções Tente imaginar o que fi cou de fora Escreva um texto sobre o que observou 2 Pesquise a grade de programação de um dia da semana de uma grande empresa de televi são Desde o início da transmissão relate cada programa e seu horário seria interessante comparar com as pesquisas dos colegas pois muitas vezes uma emissora determina o Proposta de Atividades 45 horário de seu programa em função do que passa em outro canal Como segundo passo escolha duas faixas de horário e anote quais produtos são anunciados nos intervalos co merciais Sugerimos que meça quanto é o tempo de programa e quanto é o tempo dos anúncios Faça um texto refl etindo acerca da grade de programação escolhida No mesmo texto identifi que qual o público das faixas de horário que você escolheu e como ele é representado nos anúncios Anotações A televisão como instrumento pedagógico EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 46 Anotações 47 Sua pele muito mais suave e jovial com X Seus cabelos mais sedosos e bri lhantes com Y Entre para o time dos vencedores com X a margarina do coração e da família Beba X Tome Y Emagreça com Suas crianças mais fortes e saudáveis com Bons sonhos com o colchão X os lençóis Y A casa mais limpa e mais perfumada com X X além de econômico é saúde para toda a família Sua roupa muito mais branca e macia com o sabão X ou Y X o deso dorante que protege você o dia todo o shampoo X vai tornar você irresistível a todos os olhares Faça a diferença Vistase com Você uma outra mulher com Carro X o sucesso ao seu alcance X a liberdade de movimento sobre duas rodas nunca você foi tão livre com Experimente Uma verdadeira avalanche de enunciados com tais características participa hoje do nosso diaadia orienta ou induz nossas escolhas e muitos deles conosco vivem pelos cômodos da casa ou fazem parte do nosso corpo e de nossas aspirações Estamos nos referindo portanto ao que se denomina de maneira geral discurso publicitário A pu blicidade se defi ne pela forma como apresenta ao mercado consumidor um produto a marca desse produto ou ainda de que maneira disputa essa marca com as demais marcas anunciadas Sua função é por conseguinte divulgar tornar público algo que se pretende ser aceito Sua força reside na estrutura da função apelativa como imperativo categórico pelo qual se entremeia ao mundo psíquico do receptor A voz de comando imperativa no interior da publicidade não se impõe todavia de maneira explícita Ela torna o possível consumidor sutilmente cúmplice da promessa de satisfação que o produto anunciado oferece Paralelamente a essa função mercantil a publicidade pela característica de sua criação acaba também veiculando ou reforçando valores comportamentos e atitudes ao agregar aos produtos consumidos outros planos in formativos Podemos afi rmar que uma das características marcantes da publicidade referese a essa espécie de pele que envolve os produtos Luiz Hermenegildo Fabiano Narrativas publicitárias mídia e formação social 4 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 48 A estrutura da mensagem publicitária compõese basicamente de signos os quais buscam uma relação de identifi caçãosedução com o receptor Há sempre uma pro messa instigante de realização do desejo incitado no consumidor Esse ou aquele pro duto compete na escolha do objeto do desejo do sujeito impondose enquanto objeto do prazer O alvo do impulso do desejo é deslocado para o mundo idílico e sedutor dos signos que compõem a mensagem do anúncio redimensionando tal impulso a identifi carse com as sensações que o produto anunciado provoca A perspectiva do consumo isto é da necessidade do produto ocorre neste senti do não de forma imposta aos desejos mas de forma natural como se fosse satisfação e alívio de uma tensão provocada A relação do sujeito com o consumo é estabelecida em uma relação espontânea e de prazer e não de obrigatoriedade ou imposição O imperativo da mensagem publicitária fi ca escamoteado na relação de prazer que o consumo pretensamente proporciona Na medida em que se considera a linguagem publicitária estruturada por um con junto de signos que estabelecem o seu nível signifi cativo parecem nos interessantes algumas rápidas considerações sobre a defi nição de signo e a sua relação com os pro cessos de expressão e comunicação Se a linguagem se caracteriza como produção de sentido através de um complexo sistema de signos tratase de interpretar a sua forma de representação para conhecer o sentido que expressa Charles S Peirce fundador da Semiótica a ciência que trata de uma teoria geral dos signos pontua que Um signo é algo que sob certo aspecto ou de algum modo representa alguma coisa para alguém Dirigese a alguém isto é cria na mente dessa pessoa um sig no equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo representa alguma coisa seu objeto PEIRCE 1975 p 941 Peirce entretanto não entendia o signo tão somente enquanto a palavra que re presenta o objeto restrito à linguagem verbal Sua perspectiva vai mais além situa a compreensão do signo como categorias do conhecimento modos de apreensão dos fenômenos na consciência SANTAELLA 1996 p 25 Neste sentido uma foto um 1 Cf Charles S Peirce Obras v2 228 Convém observarmos que segundo Décio Pignatari na Europa a Se miótica segue a corrente da Linguística Estruturalista fundamentada na Linguística Geral de Ferdinand Saussure denominandose Semiologia Nessa vertente observa o autor ela se apresenta fortemente vincada pelo parti pris linguístico de suas origens como se pode observar pela nomenclatura de suas principais noções denotação e conotação signifi cante e signifi cado PIGNATARI 2003 p 30 A noção de signifi cadosignifi cante de Ferdinand Saussure constitui o laço que une arbitrariamente a ambos para compor a totalidade de um signo lingüístico Este por sua vez é arbitrário como assinala o linguista em função de que a ideia de mar não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons mar que lhe serve de signifi cante SAUSSURE 1967 p 81 49 Narrativas publicitárias mídia e formação social traço e a disposição desse traço em uma tela ou o predomínio de certa cor os níveis e enquadramento da imagem de um fi lme a organização de imagens em um determina do espaço como a publicidade impressa em revistas e outdoors a moda o movimento de uma dança bem como o ambiente em que essa dança se dá a arquitetura em um ambiente urbano e o modo de vida em tal ambiente tudo isso possui uma signifi cação e se constitui em signo para um interpretante Décio Pignatari outro grande estudioso da Semiótica no Brasil propala que a Semiótica acaba de uma vez por todas com a ideia de que as coisas só adquirem sig nifi cado quando traduzidas sob a forma de palavras A Semiótica segundo o autor Serve para estabelecer as ligações entre um código e outro código entre uma linguagem e outra linguagem Serve para ler o mundo nãoverbal ler um quadro ler uma dança ler um fi lme ou ensinar a ler o mundo verbal em ligação com o icônico ou nãoverbal PIGNATARI 2004 p 11 Se o signo é algo que está para um interpretante que signifi ca algo para ele a nós interessa discutir que nível de signifi cação subjaz nesse tipo de signo publicitário ao seu interpretante Além da sedução para a escolha de um produto em relação a outro a criação ou imposição de um gosto ou necessidade ou ainda um canal efi ciente do escoamento da produção é necessário entendermos como tais processos de seduçãoindução são utilizados no discurso publicitário Ou seja de que forma a veiculaçãoinculcação de um determinado valor é assimilado pelo indivíduo convertendose na legitimação do sistema econômico dominante Passamos a entender dessa maneira que os conteú dos publicitários para além da sua intencionalidade mercantil a qual parece ser a única na sua aparente mensagem eles mesmos carregam uma série de outros níveis de mensagem que ocultos são assimilados pelo receptor sem que este se dê conta de forma consciente A organização dos signos em que um duplo nível de mensagem é incorporado pelo receptor sem que ele tenha consciência dessa informação deno minase processo subliminar funcionando como uma espécie de armadilha à caça do desejo do sujeito para seduzilo ao consumo do produto Vale lembrar que o processo subliminar foi também amplamente utilizado na história recente do Brasil marcado pelo enrijecimento político nos tempos da ditadura militar Com o objetivo de ocultar os interesses de um modelo de sociedade que se implantava no Brasil ideias de um nacionalismo postiço e direcionado eram inculcadas para deslocar o entendimento das reais intenções econômicas que se impunham sob o interesse de uma nova ideo logia de mercado Formas de reação ou de rejeição da ordem estabelecida eram com batidas com uma propaganda ideológica que demonstravam enfaticamente as novas conquistas de bem estar social que o país conquistava Sob aquilo que se denominou EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 50 milagre brasileiro outras propostas de organização política e social foram banidas como possibilidade de efetivarse em função do bombardeio ideológico que a tudo di recionava para adaptar as mentalidades à reorganização dos costumes e à legitimação da ordem vigente A nova ordem econômica não se impunha tão somente pelo contro le mais agressivo do aparato militar mas também efi cazmente pelos mecanismos pu blicitários que anunciavam o paraíso através de produtos que iriam confi gurar a nova cara do país O jeans o novo modelo do carro o afrouxamento dos costumes no seio familiar a chegada do xampu da TV e a expansão do processo de comunicação os bens de consumo em larga escala resultantes do parque industrial que se implantava de maneira acelerada o boom da construção civil ditavam novos hábitos e necessida des mais condizentes com a modernização da sociedade Identidade juvenil associada à determinada marca donas de casa mais satisfeitas e realizadas com a mais recente aquisição da máquina de lavar roupa ou do liquidifi cador da batedeira de bolo da TV enfi m do suprimento da casa com uma série de novidades antes inimagináveis alimentavam o glamour consumista que fi nalmente se iniciava na linha de baixo do Equador Nesse clima de felicidade administrada parecia mesmo não haver pecado nem culpa nesse Éden de ofertas e suprimento dos prazeres e carências A publicidade nesse contexto passa a ser parte integrante na constituição de necessidades que mu daria radicalmente as fronteiras mercadológicas do país aberto às novas imposições do capital internacional que então gestava as bases do neoliberalismo econômico Percebemos nessa pequena digressão o quanto a publicidade não se reduz ao pri meiro nível de mensagem mas implica um leque amplo que se abre para confi gurar os mais diversifi cados elementos informativos Nessa diversidade comunicativa para além da uma dimensão imediatamente comercial diferentes valores são internalizados pelos indivíduos como visão do mundo É oportuna neste sentido a observação de Marx de que no processo da produção social não se produz unicamente o objeto do consumo mas também o modo de consumo ou seja não só objetiva como subje tivamente MARX 1978 p 110 Ainda nas considerações do autor ao se criar nesse processo não somente o consumo mas também o próprio consumidor esse fato per mite constatar que a criação de necessidades no discurso publicitário cria também as condições pelas quais o modo de produção se reproduz Isto signifi ca que a lógica da sociedade de consumo é também a lógica da reprodução dessa sociedade Uma dimensão crítica do consumo e subsequentemente da publicidade deve ser entendida não apenas na dimensão do consumo em si posto que o consumo é parte integrante da sobrevivência do indivíduo na sociedade Todavia os valores incorpo rados através desse tipo de discurso incidem na dimensão cultural política moral e ética sem contar os referenciais de indiciamento emocional e psíquico do indivíduo 51 Narrativas publicitárias mídia e formação social Tais aspecto seriam de questão menor não fosse a fragilização do indivíduo que assu me direcionamentos e conduta por ordem alheia comprometendo o seu investimen to em processos de autonomia social Aparentemente a estrutura dessa tipologia de discurso parece inofensiva no entanto as suas ramifi cações no plano do controle e regulação social operam de maneira inigualável Estratégias como essas resultam da forma como a própria estrutura do sistema social se constitui determinando não só a sua necessidade mas também a reprodução dos interesses sob os quais se mantêm Uma refl exão crítica sobre a publicidade não deve desconsiderar essa perspectiva de análise à medida que a partir dele compreendese a origem e o desenvolvimento do modelo de organização social que modela o consumismo consumado que a publicida de apenas dinamiza e alimenta Ao analisar a questão da propaganda subliminar Calazans preconiza que estas invasões subliminares da privacidade do público privacidade mais íntima possível psicológica podem ter efeitos mais nocivos do que aparentemente CALAZANS 1992 p 96 O fato remete à necessidade de entendermos os níveis de construção isto é de estruturação das mensagens publicitárias pois nelas estão os conteúdos da ideologia que sustentam É nesse princípio que contrariamente a condição de adaptação do indivíduo ao mundo se confunde com princípios de submissão social administrada A concepção administrativa desse tipo de organização social não devemos deixar de entender está ligada a um fenômeno totalitário bastante difundido neste século Devemos entender ainda como salienta Duarte que o termo totalitarismo não se re duz mais as suas versões nazifacista e stalinista DUARTE 1997 p 125 designando uma totalidade maior ao que o pensador frankfurtiano Theodor W Adorno denomina mundo administrado Neste sentido o termo totalitarismo precisa ser entendido em seu signifi cado mais amplo como concentração política das forças que atuam no sentido de destituir no indivíduo tudo o que poderia vir a caracterizálo como sujeito DUARTE 1997 p 125 Ao considerarmos a constatação do comentarista de Adorno merece ainda des taque a continuidade do argumento de Calazans nas implicações dos conteúdos su bliminares como determinação de elementos totalitários que se instauram através do mundo administrado Segundo o autor uma população exposta a subliminaridade teleguiada que se veste com portase consome produtos serviços crenças religiões ideologias e vota em eleições levada por sugestões externas subliminares não pode ser considerada uma forma de vida inteligente adaptada autônoma CALAZANS 1992 p 96 Os mecanismos pelos quais os apelos e os condicionamentos da linguagem publi citária são efetivados no imaginário dos receptores obedecem a certos rituais técnicos EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 52 que assessoram a obtenção satisfatória dos resultados Para ser bem sucedida e ter penetração garantida no mercado consumidor manuais técnicos da área ditam que a propaganda deve atentar para a formação de uma tendência favorável e atitude compradora por parte do mercado É preciso cobrir a área que se deseja atingir tanto do ponto de vista sócioeconômico como geográfi co A campanha deve ter penetração sufi ciente mente profunda para formar uma tendência e até mesmo criar um hábito de consumo Para isso é indispensável manter continuidade isto é o diálogo a comunicação entre produtor e comprador CABRAL 1990 p 96 Outro aspecto que também merece ênfase referese à publicidade destinada ao público infantil e o uso do erotismo como apelo de venda O nível de sedução erótica ocorre em duas etapas A primeira delas impacta o campo perceptivo do receptor através de apelos que incitam sensações eróticas Em um segundo momento entretanto a perspectiva desses signos é recuperar a tensão erótica incitada e acoplar ao produto anunciado São sistemas de linguagem saturados de signifi cações provocantes em busca de satisfazer per si os mais ocultos desejos Na verdade tal nível de satisfação se dá não pela perspectiva erótica mas pelo consumo de produtos que se integram às formas de simbolização das carências afetivas e sexuais do sujeito E quando tais carências não se transubstanciam em necessidade dos produtos a função do erotismo no discurso publicitário é fazer afl orar tais necessidades Assim a instigação de um desejo de cono tação erótica acaba sendo nomeado em um objeto econômico com a sensação de que é esse o alvo da satisfação do desejo O erotismo é largamente utilizado nos sintagmas publicitários justamente porque a dinâmica erótica suscita desejos e esses incansavel mente buscam um alvo de satisfação Por sugestão erótica signos ideologizados do prazer vão se mesclando aos desejos do sujeito usurpando a relação de identidade desse sujeito com a sua própria carên cia No mesmo eixo de combinação os sintagmas eróticos da propaganda seduzem os desejos deslocando o seu alvo de satisfação em um contexto erótico comercializado Nesse contexto mulheres de corpo defi nido de acordo com o gosto do momento em traje de banho bronzeadas sensuais provocantes desejáveis vão se transforman do melhor termo seria metamorfoseando em garrafas de cerveja cujo design e cor associamse ao bronze do corpo da mulher em close também rorejado de gostas dágua similar ao dorso do gargalo da garrafa em close rorejado de gotas geladas em um cenário praiano de sol escaldante Perfumes cremes produtos de beleza em geral moda e marca de produtos e roupas íntimas carros jóias sapatos etc seguem o mesmo ritual de seduçãoindução das sensações eróticas deslocadas nos produtos 53 Narrativas publicitárias mídia e formação social Podemos asseverar que um signifi cante erótico é fragmentado e desliza os seus frag mentos em um signifi cado econômico corrompendo a integridade da mensagem que se abre para o conteúdo ideológico que dela se apropria Ou seja o receptor é instiga do por um nível de mensagem que se perverte a caminho e as sensações provocadas são reordenadas para satisfazerse com o produto anunciado Com relação à publicidade infantil além do ordinário e comum dos usos da gra ciosidade dessa faixa etária e do processo de identifi cação elementos argumentati vos ganham força de convencimento para atingir não a criança mas os seus pais Por outro lado a noção de alegria e felicidade esperteza brincadeira inteligência eee beleza está sempre associada a certo consumismo que direciona o gosto do momen to muito bem divulgado pelos ídolos infantis A boneca Barbie com idade sufi ciente para ser bisavó continua povoando o imaginário infantil com sua imagem de mulher alta loira magra linda e esguia jovial e de olhos azuis Idealizada como símbolo da mulher moderna fútil e vaidosa porém simpática e invejada pelas meninas que nela projetam uma existência idílica associada à elegância consumada por futilidades con sumistas O princípio de que esse didatismo lúdico contribuiria para forjar um tipo de mulher emancipada em sintonia com as novas conquistas femininas oculta na verdade a incorporação de estereótipos pelos quais a autonomia social é confundida com investimentos na imitação aparente dos valores ao contrário de vivenciálos como experiência e construção de identidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Evidentemente a leitura que fi zemos é mais uma dentre várias outras possíveis Todavia pelo recorte dessa proposta de discussão elementos importantes e mais genéricos na abordagem feita permitem fundamentar a análise de outros discursos semelhantes Nesse âmbito é possível refl etirmos não apenas na estruturação da men sagem mas na carga ideológica subjacente a esse tipo de informação Não fi zemos uma distinção ou mesmo uma análise da diferenciação entre publici dade e propaganda visto que o trajeto percorrido não se propunha a uma análise téc nica dos termos mas a uma refl exão crítica sobre o conteúdo informativo desse tipo de narrativa Por sua vez muitos autores também não são rígidos na defi nição ou distin ção desses conceitos entendendo que ambos se entremeiam para manter o princípio de propagar difundir ideias tornar público um produto etc Patrícia Lessa identifi ca oportunamente na publicidade entretanto expõe que um campo que é maior que o campo da propaganda pois inclui agências anúncios anunciantes produtores materiais etc LESSA 2005 p 61 Acrescentemos ainda que etimologicamente do Latim propagare a propaganda defi nese mais adequadamente a propagar princípios EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 54 ideias teorias doutrinas políticas etc Já a publicidade que não exclui a propaganda para tornar público seu conteúdo valese de recursos estéticos com o intuito de provo car reações psicológicas no público receptor quer seja por fi nalidade comercial quer seja por política Embora vestígios de anúncios tenham sido encontrados nas ruínas de Pompéia o boom dos discursos publicitários no sentido que atribuímos hoje surge e se intensifi ca com a sociedade de massas consolidada no processo do desenvolvimento da sociedade industrial O consumismo daí resultante reforça tanto a necessidade do esquema publicitário para os seus fi ns evidentes como a publicidade dinamiza e naturaliza essa forma de sociedade Para melhor entendimento dessa questão tornamse necessárias algumas conside rações ainda que breves sobre a relação entre a sociedade de consumo e o conceito de indústria cultural formulado pelos pensadores frankfurtianos Theodor Adorno e Max Horkheimer Tal formulação contribui decisivamente para uma crítica da dimen são mercantil que se apossou dos bens culturais na atualidade Não podemos descon siderar no entanto que o discurso publicitário avançou signifi cativamente em termos de criação e criatividade tanto no plano da linguagem quanto no uso de novas tecno logias A dimensão argumentativa todavia por mais que se utilize de recursos estéticos para uma interlocução perceptiva mais convincente com relação ao público alvo não é a função estética em si que se estabelece como educação dos sentidos A função estética nesse caso é aplicada a educar e orientar os sentidos no objeto anunciado es tetizado para competir no mercado e ampliar o consumo A dimensão estética quando muito prestase para melhor garantir o esquema de venda O que constatamos nesse nível de consumo segundo a constituição de seu plano argumentativo é que o consu midor também consome um valor social uma atitude comportamental agregados a um determinado produto Esse modus vivendi cultural em que o indivíduo assimila como conteúdo existencial o plano da mercadoria contribui para defi nir aquilo que os dois teóricos da Escola de Frankfurt supramencionados a denominaram indústria cultural2 Na acepção destes pensadores a cumplicidade ideológica desse tipo de cultura com a lógica econômica dominante defi ne o caráter mercantil dessa forma de expressão cultural O termo revela uma cultura comprometida com e cúmplice dos mecanis mos adaptativos e instrumentais gerados no bojo do desenvolvimento da sociedade 2 O termo indústria cultural foi utilizado pela primeira vez em 1947 na obra Dialética do esclarecimento escrita em parceria por Theodor W Adorno e Max Horkheimer O termo defi ne o caráter fetichista e manipulador do pro cesso de produção e veiculação da cultura na sociedade de massas O enunciado cultura de massa entendido como expressão de uma cultura procedente das massas e daí um possível sentido democrático e popular é esclarecido na sua suposta ambiguidade pela dimensão totalitária e administrada com que é dirigido de forma estandardizada e alienante para as massas O termo indústria cultural tornase mais apropriado para conceituar o papel alienante e fetichista que a produção dos bens culturais passou a ter no processo de desenvolvimento da sociedade industrial 55 Narrativas publicitárias mídia e formação social industrial A cultura passa a ter neste sentido uma dimensão massifi cada e perde o seu caráter de consistência civilizadora e emancipatória exercendo uma função ideológica de adaptação do indivíduo ao modelo de organização social estabelecido Em um texto intitulado Indústria cultural uma compilação de entrevistas radiofô nicas proferidas por Theodor Adorno em 1962 na Alemanha o autor afi rma que Toda a prática da indústria cultural transfere sem mais a motivação do lucro às criações espirituais As produções do espírito no estilo da indústria cultural não são mais também mercadorias mas o são integralmente ADORNO 1994 p 92 Assim entendida a indústria cultural integra e administra de tal maneira os níveis do comportamento social que ela passou a integrar as necessidades simbólicas dos indivíduos no contexto mais amplo que se instalou a partir do capitalismo tardio O princípio civilizatório de uma dimensão cultural mais autêntica é deslocado em pro cessos culturais banalizados por simplifi cações e aligeiramentos informativos voltados à diversão e ao lucro processo pelo qual o indivíduo é integrado à lógica do mercado que constitui a totalidade da organização social Ao oferecer uma espécie de gratifi cação imediata os bens culturais na perspectiva da indústria cultural são destituídos da possibilidade de refl exão crítica Sua estru tura de mensagens acaba se convertendo em estereótipos ou clichês coniventes com a lógica da dominação econômica em termos sociais mais amplos O reducionismo da cultura ao culto do espetáculo e do entretenimento em que a diversão induzida suprime investimentos culturais mais autênticos resulta em uma legião imensa de indivíduos semiformados3 sem acesso ao que de essencial subsiste na produção dos bens culturais Esse processo característico da indústria cultural tornase o sustentáculo funda mental de uma espécie de engenharia de manipulação cultural das consciências e alívio da resignação coletiva cuja dor inominada busca compensação nas formas alie nantes do entretenimento disponível Ou seja a cultura entendida como cultivo do espírito e da identidade social é dissolvida nos esquemas de massifi cação voltados ao consumo e cultivo do modelo econômico vigente Ao fi nal do texto referido Adorno destaca que A satisfação compensatória que a indústria cultural oferece às pessoas ao despertar nelas a sensação confortável de que o mundo está em ordem frustraas na própria felicidade que ela ilusoriamente lhes propicia ADORNO 1994 p 99 3 Cf ADORNO T W Teoria da semicultura Trad de Newton Ramos de Oliveira Bruno Pucci e Cláudia B Moura Abreu In Educação sociedade revista quadrimestral de ciência da educação ano XVII n 56 Campinas Ed Papirus dez 1996 388411 Cf nota dos tradutores em relação aos termos bildung indicando formação cultural e ao mesmo tempo cultura e halbbildung indicando portanto semicultura semiformação cultural EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 56 Mencionando a parceria de Max Horkheimer com quem divide o ensaio Indústria cultural o esclarecimento como mistifi cação das massas na conhecida obra escrita por ambos Dialética do esclarecimento Adorno conclui O efeito de conjunto da indústria cultural é o de uma antidesmistifi cação a de um antiluminismo4 antiAlfklärung nela como Horkheimer e eu dissemos a desmistifi cação a Alfklärung a saber a dominação técnica progressiva se trans forma em engodo das massas isto é em meio de tolher a sua consciência Ela impede a formação de indivíduos autônomos independentes capazes de julgar e de decidir conscientemente ADORNO 1994 p 99 O contexto mercantil analisado demonstra a contaminação da produção cultural a partir do desenvolvimento da sociedade industrial que resultou em um consumismo disseminado ao ultrapassar a concepção de mercadoria em si e atingir camadas pro fundas da subjetividade humana Uma dimensão social assim estruturada na suprema cia de seu princípio econômico em relação aos demais valores humanos ao induzir formas de um prazer estereotipado para intensifi car o consumo o enunciado dos dois pensadores alemães na Dialética do esclarecimento condensa o que foi dito A publi cidade é o seu elixir da vida HORKHEIMER ADORNO 1985 p 151 Consideremos todavia a constatação de Adorno diante dos mecanismos que im pedem indivíduos emancipados pois ele adverte estes constituem contudo a condição prévia de uma sociedade democrática que não poderia salvaguardar e desa brochar senão através de homens não tutelados ADORNO 1994 p 99 4 O antiiluminismo antiAlfklärung neste caso alusão à proposta do Iluminismo Alfklärung como promessa de emancipação social pelo uso da razão e domínio da natureza suplantando a ignorância e o mito que a partir da modernidade seriam erradicados pelo avanço da ciência e da técnica Gabriel Cohn na introdução que faz em So ciologia obra que organiza com traduções de textos de Theodor W Adorno observa que o Iluminismo tanto na re fl exão de Adorno como na obra em conjunto Dialética do esclarecimento o termo referese ao movimento real da sociedade burguesa como um todo sob o ângulo das ideias corporifi cadas em suas instituições e pessoas Segundo o comentarista Está em causa a racionalidade burguesa na sua acepção mais ampla não só aquela produzida pela sociedade burguesa mas a que a reproduz A tese básica é que a razão burguesa a razão envolvida na produção e reprodução da sociedade burguesa ao combater de modo irrefl etido o mito acaba convertendose ela própria em mito sem no entanto deixar de apresentarse como razão A paralisia da razão iluminista perante a verdade que teme que o mito não foi aniquilado e ainda a habita não é paralisia do movimento mas da refl exão À parada da refl exão corresponde o movimento desenfreado compulsivo do progresso que arremete às cegas Não se trata de detêlo mas de abrirlhe os olhos para que faça justiça à sua pretensão iluminista Porque é isso que o ilumi nismo antes de mais nada se propôs combater o medo E no entanto ele próprio é agora presa do medo e do pior de todos do medo da verdade da sua verdade COHN 1994 p15 Julgamos oportuna a nota no sentido de melhor esclarecer o termo fundamental para o entendimento do pensamento de Adorno e Horkheimer na crítica que fazem às propostas humanistas feitas nos inícios da modernidade e que não se cumpriram A racionalidade daí resultante transformase em uso instrumental da razão voltada a uma racionalidade técnica aplicada não somente ao domínio da natureza mas ao domínio do próprio homem É neste sentido que o termo Iluminismo vem sempre acompanhado do vocábulo alemão Alfklärung ilustração esclarecimento no sentido kantiano de emancipação e autonomia do indivíduo pelo uso da razão O termo AntiAlfklärung referese neste sentido ao engodo da razão moderna como mistifi cação das promessas de emancipação social quando se torna razão instrumental como afi rmação da sociedade burguesa enquanto modo social dominante 57 Narrativas publicitárias mídia e formação social Não se trata da parte de Adorno entretanto uma constatação esperançosa e vã esta não lhe cabe Tratase de uma postura de refl exão crítica contra a resignação e a dependência que a tutela dissemina ADORNO Theodor W Educação e emancipação Trad Wofgang Leo Maar Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 Mínima moralia refl exões a partir da vida danifi ca Tradução de Luiz Eduardo Bicca São Paulo Ática 1982 Prismas crítica cultural e sociedade Tradução de Augustin Wernet e Jorge Mattos Brito de Almeida São Paulo Ática 1998 Teoria da semicultura Educação Sociedade Revista Quadrimestral de Ciência da Educação Campinas SP ano XVII n 56 1996 CABRAL Plínio Propaganda técnica de comunicação industrial e comercial 3 ed São Paulo Atlas 1990 CALAZANS Flávio Mário de Alcântara Propaganda subliminar multimídia 2 ed São Paulo Summus 1992 COHN Gabriel Org Theodor Adorno In Sociologia São Paulo Ática 1994 DUARTE Rodrigo Adornos nove ensaios sobre o fi lósofo frankfurtiano Belo Horizonte Ed UFMG 1997 DURÃO Fábio Akcelrud ZUIN Antonio VAZ Alexandre Fernandez Org A indústria cultural hoje São Paulo Boitempo 2008 DURANDIN Guy As mentiras na propaganda e na publicidade Tradução de Antonio Carlos Bastos de Mattos São Paulo ISN 1997 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 58 HORKHEIMER Max ADORNO T W Dialética do esclarecimento fragmentos fi losófi cos Tradução de Guido de Almeida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editores 1985 Textos escolhidos Tradução de Zelijko Lorapié et al São Paulo Nova Cultural 1991 Os Pensadores JAMESON Fredric O inconsciente político a narrativa como ato socialmente simbólico Tradução de Valter Lellis Siqueira São Paulo Ática 1992 LESSA Patrícia Mulheres à venda uma leitura do discurso publicitário nos outdoors Londrina Eduel 2005 McLUHAM Marshall Os meios de comunicação como extensões do homem understanding media 5 ed Tradução de Décio Pignatari São Paulo Cultrix 200 MARX Karl Manuscritos econômicofi losófi cos e outros textos escolhidos Tradução de José Carlos Bruni et al 2 ed São Paulo Abril Cultural 1978 Os Pensadores PEIRCE Charles Sanders Semiótica e Filosofi a Collected papers São Paulo Cultrix Editora da Universidade de São Paulo 1975 PIGNATARI Décio Informação linguagem comunicação 25 ed São Paulo Ateliê Editorial 2003 Semiótica literatura São Paulo Ateliê 2004 SANTAELLA Lúcia Estética de Platão a Peirce São Paulo Experimento 1994 Cultura das mídias São Paulo Experimento 1996 SAUSSURE Ferdinand de Curso de linguística geral São Paulo Cultrix 1967 TOLEDO Cecília Mulheres o gênero nos une a classe nos divide 2 ed São Paulo Sundermann 2008 TOLEDO Dionísio de Oliveira Teoria da literatura formalistas russos 2 ed Porto Alegre Globo 1976 59 Narrativas publicitárias mídia e formação social 1 A partir da compreensão do texto lido faça um comentário sobre a defi nição e a função da publicidade 2 Releia o parágrafo 2 que trata da estrutura da mensagem publicitária e faça uma síntese do que você entendeu a respeito da temática ali abordada 3 Você notou que no decorrer do texto aparece o termo semiológico que se refere à Se miótica uma área do conhecimento que estuda os signos como elementos que repre sentam algo para alguém que os interpreta Neste sentido faça uma breve pesquisa para a compreensão do termo e em seguida de acordo com o texto faça algumas considerações referentes às conceituações que Charles Sanders Peirce e Décio Pignatari tecem sobre o assunto 4 Segundo as considerações apresentadas no texto sobre o processo de subliminaridade nos discursos publicitários demonstre os principais aspectos que você julga interessantes para o melhor entendimento do termo 5 Qual a relação que você estabelece entre mundo administrado totalitarismo e indiví duo Volte ao texto e faça uma refl exão a respeito 6 Há dois níveis de discurso publicitário tratados no texto a publicidade voltada ao público infantil e os usos do erotismo como apelo de venda Faça um estudo e demonstre o seu entendimento sobre esses dois níveis de publicidade 7 Nas considerações fi nais há uma referência relativa ao conceito de indústria cultural e sua relação com a sociedade de massas e o consumismo existente na sociedade industrial contemporânea Releia essa parte estabeleça a relação feita e procure entender as implica ções desse processo na vida das pessoas 1 Selecione um discurso publicitário revista outdoor TV jornal e faça uma análise de acordo com os principais pontos trabalhados no texto Bom trabalho e lembrese as difi culdades de entendimento de um texto se tomadas como desafi o tornamse o entendimento como experiência Atividade prática Proposta de Atividades EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 60 Anotações 61 Zuleika de Paula Bueno Cinema entretenimento e educação 5 ENTRETENIMENTO CONTEÚDO ESCOLAR Salas de aula equipadas com televisão fi lmes utilizados como recurso didático em disciplinas diversas excursões escolares para ver um novo lançamento na sala de cine ma mais próxima não resta dúvida de que o cinema é um componente dos conteúdos escolares Aliás um componente que muitas vezes rivaliza com os demais conteúdos considerados mais tradicionais e mais reconhecidos pelo espaço escolar Neste capítulo vamos privilegiar como objeto de estudo e investigação o chamado cinema de entretenimento forma cinematográfi ca dominante na produção contem porânea e também o mais controverso em relação a sua presença no espaço escolar AQUILO QUE DIVERTE COM DISTRAÇÃO O cinema de entretenimento está em cartaz nas grandes salas de exibição Ele é um dos principais componentes da programação vespertina da televisão Seus fi lmes habitam as prateleiras das locadoras dos grandes centros urbanos e das regiões mais afastadas das metrópoles O cinema de entretenimento combina com pipoca chocolate e refrigerante Ele atrai para as salas de exibição pais e crianças adolescentes animados e jovens apaixo nados Seus fi lmes são ideais para serem consumidos em casa em um sábado à noite após a pizza e o sorvete O cinema de entretenimento quer nos fazer acreditar que o amor está em toda parte e pode ser encontrado em qualquer lugar Ele alimenta aquela esperança de vivermos um momento inesperado que esperamos tanto Ele nos permite acreditar em heróis voadores e uniformizados que vestidos com uma capa colorida e dotados de superpo deres salvam toda a humanidade de uma grande catástrofe cósmica EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 62 O cinema de entretenimento é aquele que nos faz dar gargalhada com caretas tro peções e situações inusitadas Ele nos faz vibrar com perseguições corridas e fugas sensacionais Sabemos que vemos um fi lme de entretenimento quando tudo dá certo no fi nal afi nal no cinema de entretenimento vale aquela famosa frase no fi nal tudo dá certo se não deu certo é porque ainda não chegou ao fi m O cinema de entretenimento conta aquela história que a gente já conhece mas con tinua querendo assistir com novas personagens novos cenários e embalada por uma diferente trilha sonora O cinema de entretenimento sempre afeta os espectadores provocando risos lá grimas sustos espantos gritos entusiasmados e o conforto de um fi nal feliz Ele nor malmente desagrada os críticos e raramente ganha mais do que duas estrelinhas nas avaliações dos jornais UM POUCO DE HISTÓRIA O cinema surgiu como atração e divertimento no fi nal do século XIX misturado a diversas outras formas de distração que animavam os principais centros urbanos eu ropeus e assumiam explicitamente o caráter de espetáculo de massa isto é eventos destinados ao consumo de um grande número de pessoas SCHWARTZ 2001 As primeiras exibições do cinematógrafo como era chamado na época acontece ram em circos feiras de exposição parques de diversão e teatros populares Os fi lmes eram curtos exibindo cenas e situações que duravam apenas alguns minutos Nas suas origens portanto o cinema era mais uma curiosidade do que um meio de narrar histó rias GUNNING 1995 Ele era sobretudo um grande espetáculo visual uma espécie de técnica capaz de projetar uma ilusão óptica quase inacreditável imagens fotográfi cas em movimento Os fi lmes exploravam o fascínio diante do aparato cinematográfi co e registravam incansavelmente tomadas da vida urbana cotidiana o grande número de pessoas cami nhando nas ruas o alvoroço dos bondes elétricos os eventos políticos as festas popula res enfi m as mais diversas situações chamadas então de atualidades e transformadas em atrações É importante destacar que a tecnologia cinematográfi ca surgiu como decorrência da intensifi cação das transformações produtivas em desenvolvimento desde o século XVIII período conhecido no ocidente como Revolução Industrial Tal revolução conheceu novos desdobramentos sociais e tecnológicos no século seguinte a partir da chama da Revolução Científi coTecnológica a qual se caracterizou pela exploração de novas fontes energéticas capazes de acelerar a produção industrial O uso da eletricidade é o grande símbolo dessa nova fase de transformação produtiva também marcada pela ex 63 ploração do petróleo pelo desenvolvimento químico e pela invenção de equipamentos que causaram profundo impacto na vida social e cultural dos centros urbanos como os automóveis os bondes elétricos o rádio a fotografi a e o cinema além da versão espetacularizada de todos esses aparatos oferecida pelos parques de diversão e sua principal atração a montanharussa SEVCENKO 2001 Esse invento essencialmente direcionado para o divertimento produzia uma tensão entre o risco e a segurança oferecidos pela tecnologia gerando um tipo de choque e prazer sensorial que orientou uma nova estética das atrações posteriormente defi ni do como entretenimento GUNNING 1995 Conforme identifi cou o fi lósofo alemão Georg Simmel logo no início do século XX era a metrópole e sua vida mental que impulsionavam as novas formas de diversões jogos e estímulos sensoriais tão bem re presentados pelos parques de diversão e pelo cinema SIMMEL 1979 Percebemos portanto que o entretenimento encontrou na modernidade uma de marcação histórica e na metrópole uma delimitação espacial Assim como nos grandes centros europeus nas jovens metrópoles americanas do início do século XX surgiram as tecnologias e as práticas culturais que confi guraram uma emergente indústria do en tretenimento e um mercado de emoções baratas onde o que se pagava era o preço da vertigem SEVCENKO 2001 sobretudo a vertigem de viver o drama da modernidade um colapso das experiências anteriores de espaço e de tempo por meio da velocidade uma extensão do poder e da produtividade do corpo humano e a consequente transformação deste por meio de novos limiares de demanda e pe rigo criando novas formas de disciplina e regulação corporais com base em uma nova observação e conhecimento do corpo GUNNING 2001 p 40 No caso do cinema norteamericano o valor das emoções baratas foi estabelecido por volta de 1905 e 1907 pelo preço de um níquel o equivalente à moeda de 5 centavos de dólar quantidade cobrada pelo ingresso nos então recentes salões de exibição an tigos depósitos e velhos armazéns reformados chamados de poeiras ou nickelodeons denominação que se referia ao valor do ingresso cobrado pelas atrações cinemato gráfi cas Oferecendo uma variedade de curtasmetragens que ensaiavam as primeiras técnicas de montagem cortes e enquadramentos posteriormente desenvolvidos como princípios da linguagem cinematográfi ca clássica os nickelodeons desenvolveram na população principalmente entre os trabalhadores migrantes e imigrantes recémche gados às metrópoles o hábito de frequentar um espaço fechado especialmente destina do à espectatorialidade fílmica ou seja à dedicação exclusiva de um tempo destinado a assistir fi lmes principalmente comédias e fi tas de perseguição SKLAR 1975 Curio samente nos nickelodeons as produções de maior sucesso popular eram de origem francesa e não norteamericana A empresa Pathé era na época a principal companhia produtora e distribuidora de fi lmes de entretenimento ABEL 2001 Foi também na Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 64 França que surgiu o cinema de efeitos especiais explorando o potencial ilusionista da tecnologia cinematográfi ca como o fez o mágico e cineasta francês Georges Mélies pioneiro na utilização de trucagens capazes de simular cenas e situações fantásticas e maravilhosas Tamanho sucesso dos nickelodeons logo despertou a atenção e a desconfi ança dos setores mais conservadores da sociedade norteamericana Nos Estados Unidos nação muitas vezes identifi cada com o próprio entretenimento a proliferação dos diverti mentos populares no início do século XX foi duramente atacada por uma emergente intelectualidade que enxergava nos espetáculos visuais e mecânicos como o cinema manifestações vulgares de uma sensibilidade popular irracional e alienada que deveria ser censurada controlada e civilizada GABLER 1999 Portanto não tardou para que tais espaços fossem alvo de controle de políticos policiais religiosos e demais varieda des de reformadores sociais Os próprios produtores cinematográfi cos norteamerica nos começaram a se incomodar com as liberdades que as companhias e distribuídas francesas possuíam na exploração comercial das salas de cinema ABEL 2001 Como forma de garantir maior controle sobre a produção distribuição e exibição de fi lmes a indústria cinematográfi ca norteamericana se engajou em uma verdadeira cruzada moralista atacando as fi tas estrangeiras e defendendo um cinema capaz de expressar as formas princípios e valores considerados autenticamente americanos cujo principal representante foi o cineasta D W Griffi th considerado o pioneiro na invenção da narrativa cinematográfi ca clássica estabelecendo as convenções estilísticas utilizadas até hoje no cinema do primeiro escalão da indústria O fortalecimento da nar rativa e do aparato cinematográfi co gerou novas relações espectatoriais com a produção fílmica consideradas formas mais sérias de experiência subjetiva com o meio LYRA SANTANA 2006 As convenções desse cinema de primeiro escalão inventaram além de uma forma específi ca de contar histórias no cinema uma determinada moral da história que valorizava a representação da sociedade norteamericana caracterizada por um ideal de civilização construído pelas ações de mocinhos e mocinhas brancos de classe média e protestantes que lutavam para se estabelecer em uma nação constantemente ameaçada pelos ataques estrangeiros Obviamente tal representação ganhou força nos anos posteriores reforçada indus trialmente e ideologicamente pelos confl itos das duas grandes guerras Com isso ao invés dos operários a classe média se tornou o público consumidor preferencial dos longasmetragens formato que se tornou dominante na indústria e frequentador das salas de exibição que se converteram em verdadeiros palácios de cinema Era o início da era dos estúdios e da construção de grandes companhias de entretenimento 65 No fi nal da Primeira Guerra Mundial em 1918 os Estados Unidos já eram mun dialmente o principal produtor e distribuidor de fi lmes Nessa época delineavamse o estilo e o modo de produção que fi caram mundialmente conhecidos como o cinema clássico hollywoodiano Caracterizado pela força produtiva da indústria cinematográfi ca norteamericana BORDWELL 2005 o cinema clássico se estabeleceu como a forma dominante de se fazer fi lmes Conforme nos explica Graeme Turner Capitalizando com a garantia de um grande mercado doméstico as companhias norteamericanas fi zeram uso de seu domínio para mudar a estrutura da indús tria cinematográfi ca Antes a produção dos fi lmes sua distribuição para as salas de produção e o gerenciamento destas salas eram feitos por empresas distintas À medida que crescia o domínio norteamericano tornavase evidente que o controle sobre a indústria cinematográfi ca podia ser assegurado se uma com panhia produzisse distribuísse e exibisse seus próprios fi lmes Essa alteração estrutural chamada de integração vertical teve início depois da Primeira Guerra Mundial Durante toda a década de 1920 a Paramount a Loews Fox e Gold wyn iniciaram projetos de expansão integração e principalmente de aquisição nas grandes cidades de salas de projeção que só exibiam fi lmes novos em pri meira mão Seguiramse práticas restritivas como o aluguel de lotes de fi lmes ou block booking que possibilitava aos produtores um acordo com os exibidores no qual estes alugavam um pacote fechado de fi lmes sem direito à escolha TUR NER 1997 p 24 Foi nesse momento também que as companhias produtoras concentraram seus es túdios no sul do estado da Califórnia região que entre outras condições oferecia sol praticamente o ano todo uma diversidade de características geográfi cas cidade mon tanha mar deserto ideais para a locação dos mais diversos roteiros SKLAR 1985 Nascia Hollywood nome praticamente sinônimo do cinema de entretenimento Pa ramount Warner Fox Columbia Universal e Metro nomes ainda presentes no mer cado cinematográfi co constituíam alguns dos estúdios que praticamente inventaram o cinema como grande indústria Entre as décadas de 1930 e 1950 com o advento do cinema falado e a consolidação dos grandes gêneros cinematográfi cos como o faroeste e o musical os estúdios nor teamericanos conheceram o apogeu da sua forma clássica de produção O que entendemos por tal forma clássica pode ser resumido em algumas caracterís ticas fundamentais 1 a verticalização da produção ou seja o controle total dos fi lmes desde a sua realização até a exibição 2 a criação de um star system isto é a exploração intensa da imagem de um con junto de atores e atrizes consagrados que concediam entrevistas participavam de shows teatrais fi guravam constantemente em jornais e revistas divulgavam detalhes de suas vidas privadas para o público e sempre estreavam os fi lmes de maior orçamento e investimento publicitário Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 66 3 a primazia do roteiro e a valorização de uma boa história a ser contada por meio de um certo conjunto de características estilísticas 4 a constituição de gêneros cinematográfi cos imediatamente reconhecidos pelo público como as comédias pastelão os fi lmes de gangster os faroestes 5 a força do produtor cinematográfi co quer dizer da pessoa responsável pela es colha fi nal dos roteiros a serem fi lmados dos diretores atores custos de pro dução investimento publicitário data de lançamento versão fi nal dos fi lmes enfi m de tudo aquilo que faz do cinema um negócio altamente lucrativo 6 fi nalmente a conquista do mercado internacional e dos diversos segmentos de mercado relacionados com o cinema como seria a televisão a partir da década de 1950 CALIL 1996 Como vemos a formação do cinema de entretenimento não foi sorte ou acaso Ela esteve relacionada com o desenvolvimento de estratégias de divulgação distribuição e exibição de fi lmes além da consolidação de fortes indústrias de produção de cinema O CINEMA É ARTE Simultaneamente à consolidação do cinema como indústria e entretenimento surgi ram na segunda década do século XX diversos debates produções e manifestações que assumiram o cinema como expressão artística Na Alemanha o expressionismo indicava uma nova forma de combinar artes gráfi cas e imagem cinematográfi ca inspirando uma cinematografi a estética e tecnicamente inovadora CÁNEPA 2006 Na França a con corrência com a forte indústria norteamericana impulsionou a renovação estética da produção cinematográfi ca resultando no impressionismo dos cineastas Abel Gance Germaine Dulac e Jean Epstein entre outros A União Soviética desenvolvia novos prin cípios de montagem buscando no construtivismo uma expressão revolucionária da arte cinematográfi ca Também as vanguardas artísticas surrealismo dadaísmo futurismo e cubismo teorizaram sobre o cinema e experimentaram seu aparato tecnológico como instrumento de criação artística STAM 2000 Embora promovesse uma experiência estética bastante diversa daquela proporcio nada por outras artes visuais como a pintura escultura ou a arquitetura o cinema conquistou nas décadas de 1910 e 1920 o reconhecimento como arte híbrida e me cânica bem como a fotografi a Uma arte caracterizada pela reprodutibilidade técnica pela predominância do olho sobre a mão e pela mediação subjetiva por meio da máqui na BENJAMIN 1985 Não foram poucos os artistas cineastas e intelectuais que enxergaram no hibridismo do cinema ou seja na mistura de arte e mecânica um potencial transformador da expe 67 riência subjetiva na modernidade O realizador independente Stan Brakhage diretor de fi lmes experimentais por exemplo defendia que a experimentação artística cinemato gráfi ca nos permitiria reaprender a olhar o mundo a reconstruir a experiência pessoal de ver em todos os seus níveis e a ter maior consciência sobre o que as imagens nos mostram XAVIER 1983 p 182 O CINEMA EDUCA O potencial transformador da subjetividade por intermédio do cinema não era preo cupação unicamente dos artistas mas também dos educadores No início do século XX uma das discussões mais acaloradas sobre as produções e os usos do cinema dizia respeito ao seu potencial educativo Analisando os fi lmes e o público consumidor de películas os intelectuais pro fessores jornalistas católicos passaram a identifi car o cinema como um im portante veículo de persuasão sendo capaz de infl uir diretamente a mente das pessoas A partir dessa constatação passaram a propor o uso da cinematografi a como um instrumento auxiliar na educação na higienização na formação de uma raça forte e na divulgação de valores nacionais ROSA 2006 Assumido pelo Estado sobretudo por aqueles de ideologia fortemente nacionalista como o italiano o alemão e o brasileiro a defesa do cinema educativo se misturou aos ideais de civismo patriotismo e construção das identidades nacionais No caso brasileiro a grande defesa do cinema educativo partiu dos intelectuais li gados aos princípios da Escola Nova os quais conduziram o debate sobre cinema e educação opondo a vertente educativa à produção de um cinema de entretenimento que na opinião desses educadores em nada contribuía para o desenvolvimento moral do alunado Cabia ao cinema educativo promover a emoção sadia a racionalidade inte lectual e o espírito patriótico além de combater as reações descontroladas excessivas e desvairadas características das matinês infantis A disciplinarização deveria ser imposta pois somente assim seria possível o cinema educativo incutir nas crianças o valor do trabalho e da solidariedade MORETTIN 1995 p 15 A educação pelo cinema portanto deveria começar já na infância a fi m de gerar adultos aptos a integrarem o progresso moral da nação brasileira O cinema seria um aliado no desenvolvimento de uma capacidade cognitiva superior abstrata racionaliza da rejeitando o comportamento incitado pelo cinema de má qualidade O mau cine ma era aquele que valorizava as expressões corporais e emocionais entendidas por tais intelectuais como atrasadas e primitivas Como assinala o historiador Eduardo Morettin O cinema identifi cado com o mal é o cinedrama Este tipo de cinema cor responderia a uma fase presente desde sua criação que seria substituída pelo cinema educativo Para os autores educadores a grande maioria a das Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 68 produções de então provocam o riso e arranhões na moral O alvo de sua criti ca é a maioria das comédias dramas e fi lmes policiais com raríssimas exceções MORETTIN 1995 p 1415 Em outras palavras para os educadores o cinema de má qualidade era justamente aquele que identifi camos como entretenimento O CINEMA DIVERTE De todas as questões descritas neste capítulo a indagação O cinema diverte é aquela que à primeira vista permite uma resposta mais imediata Porém como vimos anteriormente nem toda a produção cinematográfi ca é realizada para a fruição trivial do entretenimento Em linhas gerais a proposta do cinema educativo dos anos 1920 brevemente discu tido no tópico anterior ataca justamente o formato e o conteúdo desse cinema marcado pela ação e emoção e pela forte participação corporal de seus espectadores isto é o cinema de entretenimento Defi nimos aqui como cinema de entretenimento aquele que se caracteriza por uma apreensão trivial destinada ao divertimento e passatempo LYRA SANTANA 2006 O cinema dos primeiros tempos exibidos em teatros feiras e circos como já assina lamos caracteriza bem essa apreensão divertida e lúdica possibilitada por certos fi lmes gerando um tipo de experiência espectatorial que motiva a participação corporal ex pressiva dos espectadores como afi rmam Bernadette Lyra e Gelson Santana 2006 Dessa forma embora todo o cinema seja sempre uma imensa nostalgia do cor po cravada no coração dos sistemas de representações e nele os espectadores experimentam em maior ou menor grau na imaginação tudo aquilo que não podem experimentar corporalmente parecenos que alguns fi lmes estão mais próximos de uma produção de presença tanto por razões culturais externas quanto pela confi guração de suas formas enquanto que outros se aproximam mais de uma condição de produção de sentido junto ao intelecto dos espectado res Não é à toa que de alguns fi lmes se diz que lançam mão de recursos expres sivos excessivos Ou seja são apelativos Esse apelo certamente diz respeito às formas fílmicas e às percepções que provocam nos espectadores muito pró ximas dos jogos quentes do corpo e distantes do jogos intelectuais frios Por essa razão tais fi lmes são comumente associados ao comportamento trivial do entretenimento e se vêem destituídos no esquema de valoração da experiência LYRA SANTANA 2006 p 12 O cinema de entretenimento é um cinema que transforma emoções em sensações Logo suas formas expressivas não são nada ingênuas puras ou inocentes o que ao contrário do que poderíamos pensar também não as torna falsas ou ilusórias O entre tenimento proporciona um divertimento real 69 O cinema de entretenimento possui fortes matrizes populares que sustentam a pro dução e o consumo de massa Se o cinema é um híbrido de arte e mecânica como postulavam os vanguardistas do início do século XX também é um híbrido entre corpo e imaginário e entre popular e massivo como já afi rmou Jesús MartinBarbero 1997 Como já pontuamos o que propomos como defi nição desse cinema de entreteni mento problematiza categorias como autêntico popular ou inocente O que isso quer dizer Aquilo que parece autêntico na comédia no drama no fi lme de aventura é altamente calculado A identifi cação que estabelece com o público é organizada por um princípio mercadológico e massivo Além disso não existe nada de ingênuo nas ações e emoções que provocam Não obstante tal cinema desperta poderosas reações emo cionais forte identifi cação subjetiva intensa reação corporal e constantemente retoma temas situação e conteúdos sedimentados em uma espécie de depósito imaginário popular Justamente por não ser óbvio simples e homogêneo o cinema de entreteni mento é tão sedutor seja como objeto de apreensão trivial seja como elemento de análise estudo e compreensão das práticas culturais O QUE É ENTRETENIMENTO Devemos pensar o entretenimento como um grande ambiente articulado a di versos processos de comunicação HERSCHMANN KISCHINHEVSKY 2007 sendo o cinema um desses processos Uma das maneiras de analisarmos tal articulação se dá pela noção de sinergia que focaliza a integração de mercadorias das diferentes indústrias culturais as canções veiculadas nas rádios compõem a trilha sonora de fi lmes e telenovelas que por sua vez são assuntos das matérias de revistas as quais recomendam a leitura dos bestsellers nos quais se baseiam os roteiros dos novos sucessos cinematográfi cos SEVCENKO 2001 p 76 As estratégias de sinergia já eram exploradas pelo mercado de entretenimento desde fi nais do século XIX quando as atrações e o comércio de sensações começam a proli ferar nas cidades nos parques de diversão por exemplo Também já vimos que a in dústria de cinema em seu período clássico explora por meio do star system relações simbióticas com as revistas a publicidade os espetáculos teatrais e os então emergentes programas televisos A partir de meados do século XX porém de estratégias tais relações se tornam a essência da indústria do entretenimento Como nos explica Alessandra Meleiro Desde os anos 1950 as grandes corporações passaram a controlar a indús tria cinematográfi ca americana e signifi cativa parcela de outros setores mi diáticos nos EUA Em outras palavras essas companhias já não dependem de um único tipo de mídia para obter lucros pois estão envolvidas na produção Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 70 e distribuição de um amplo leque de produtos e serviços de informação e entretenimento de jornais e revistas redes de televisão e produtos audiovisuais de sites e parques temáticos As empresas de Hollywood não só compõem essas companhias diversifi cadas como o próprio cinema mas exercem igual controle sobre a veiculação televisão televisão a cabo homevideo etc e sobre os produtos que frequentemente acompanham um fi lme músicas merchandising etc MELEIRO 2007 p 18 A transformação dos estúdios em megacorporações se deu em decorrência de di versas pressões políticas e econômicas que inovaram os padrões do cinema clássico Os grandes estúdios travaram ao longo dos anos 1940 uma intensa batalha contra as leis antitrustes impostas pela justiça norteamericana leis estas que determinavam o fi m da integração vertical Consequentemente os grandes estúdios acabaram por se subdivi dir em diversas empresas independentes mas articuladas nos segmentos da produção distribuição e exibição de fi lmes Nos anos seguintes a consolidação da televisão como nova forma de entretenimento universal e diversão para toda a família posição ante riormente ocupada pelo cinema contribuiu para abalar a hegemonia dos estúdios mas inventou um novo espaço de exibição e comercialização de fi lmes A partir da década de 1960 os antigos estúdios se associaram aos produtores indepen dentes formando um vasto sistema de corporações integradas horizontalmente chamado de Nova Hollywood A partir dos anos 1970 Hollywood revelaria a força de seu novo sis tema fundamentado na diversifi cação de companhias empresariais e linhas de produção Essa perspectiva analítica favorece a compreensão das condições de produção e con sumo das formas de mercadoria que estruturam o entretenimento como um circuito de capital Assim é importante entender o entretenimento a partir de sua organização por instituições e empresas ligadas aos mais diversos setores produtivos que concentram segundo Luiz Gonzaga TRIGO 2003 p 21 atividades que na origem são diferentes esportes notícias arte educação lazer turismo show business mas que se articulam enquanto mercadorias des tinadas a um consumo específi co caracterizado pelo prazer Além da dimensão industrial Neal Gabler 1999 propõe que pensemos o entrete nimento como uma forma de experiência sensorial prazerosa encontrada em atividades ou produtos que provocam um intenso apelo emocional e um forte estímulo sensitivo em seus consumidores Paralelamente aos processos sinérgicos das indústrias o entretenimento promove articulações entre consumo subjetivação práticas de comunicação e movimentos so ciais geradores de formas específi cas de prazer caracterizadas pela exploração de deter minadas sensações choro riso susto alívio etc Esse princípio de prazer se encontra no próprio signifi cado da palavra entretenimento 71 Conforme informa Gabler entretenimento é uma palavra de origem latina e se for ma a partir da combinação de dois elementos inter entre e tenere ter Portanto uma das ideias que essa palavra nos sugere é a de experimentar um evento efêmero algo que se dá entre um momento e outro de uma sequência rotineira um evento extraordinário que coloca em suspensão os eventos cotidianos Outra ideia que podemos conceber a partir dessa defi nição etimológica é a de se deixar envolver plenamente por tal evento Durante a sua realização entre o evento absorve completamente seus participantes espectadores ele os tem Daí a razão pela qual a concepção de entretenimento se tornou sinônimo de distrair ou iludir Desenvolvido na análise cultural principalmente como uma característica negativa e como reveladora da diluição dos projetos políticos coletivos a noção de entreteni mento como assinalaria Umberto Eco 2004 se revestiu de uma perspectiva apoca líptica Contudo sem incorrer no outro polo dessa leitura ou seja em uma posição integrada Herschmann e Kischinhevsky sugerem apreender o entretenimento como uma produção agenciada por diferentes atores e organizações sociais logo passível de servir a interesses confl itantes e variados reforçando em determinadas circunstâncias os processos de normatização da vida social favorecendo inclusive a mobilização e reivindicação de grupos minoritários Assim acrescentam é fundamental analisar o en tretenimento como narrativas performáticas exibidas em uma arena política domina da por grandes corporações agentes que dispõem de maior visibilidade voz e poder de atuação mas também aberta à ação e exibição de atores sociais menos poderosos Neste sentido nenhuma outra manifestação de entretenimento foi mais poderosa no século XX do que o cinema GABLER 1999 p 50 O QUE NÓS PROFESSORES TEMOS A VER COM TUDO ISSO O entretenimento não conquistou apenas os espaços de lazer da vida contemporâ nea mas avançou em direção aos mais diversos espaços da vida cotidiana e instituições sociais dentre elas a escola Como os professores lidam com essa presença do entretenimento na escola e nas salas de aula Alguns são entusiastas e enxergam fi lmes músicas e demais produtos da indústria como aliados incondicionais dos processos educativos Outros assumem uma vertente mais apocalíptica considerando tal presença como um elemento não apenas estranho mas contrário e ameaçador aos objetivos escolares Como já vimos porém essas concepções não são novas e estão presentes no debate tanto do cinema quanto da educação desde o início do século XX A primeira atitude que devemos assumir diante desse debate portanto é reconhe cer que a discussão cinema educação possui uma história um acúmulo de materiais Cinema entretenimento e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 72 e um conjunto de produções que não nos permite considerar tal problemática inédita ou emergente Dessa forma já avançamos a respeito das perspectivas apocalípticas que acometem muitos educadores Além disso também afastamos o posicionamento dema siadamente integrado dos entusiastas do eduentretenimento Outro posicionamento importante que deve ser assumido pelo professor é a cons tante desconfi ança em relação à presença do entretenimento na escola Em outras pa lavras não se deve ignorar tal presença tampouco considerála extremamente familiar Não se trata ainda de rejeitar o entretenimento ou de exaltálo Tratase na verdade de cultivar uma espécie de arte da desconfi ança Consideramos que tal desconfi ança é fundamental para que se problematizem as relações entre escola e entretenimento Somente a partir de tal problematização é que se pode construir um trabalho educativo relevante junto aos alunos Problematizar os conteúdos do entretenimento em sala de aula signifi ca valorizar a voz do professor diante das produções da indústria Conforme afi rma Cristina Costa é muito importante que o professor continue se colocando como narrador de seu conteúdo teórico para o qual a apresentação é apenas um dos meios de sensibilização e informação Ele não deve deixar que o narrador tome o seu lugar nem que o conteúdo do fi lme seja recebido como um discurso inquestio nável 2005 p 102 Para isso é fundamental que o professor amplie seu repertório e procure desenvol ver uma espécie de cultura cinematográfi ca de leitura e de imagens COSTA 2005 para se relacionar com mais segurança com os conteúdos e produtos das indústrias do entretenimento Pensamos que o entusiasmo demasiado bem como o temor apocalíp tico que atinge os profi ssionais da educação em relação ao entretenimento acontece justamente por um desconhecimento dos mecanismos dos processos de produção e das matrizes culturais que formam o entretenimento Não se trata por conseguinte de travar uma batalha contra o entretenimento mas de proporcionar uma discussão sobre ele destacando seus aspectos produtivos e cul turais Enfi m devemos partir do entretenimento para ir além dele em sala de aula Para tanto recorremos novamente a Costa que enuncia É muito importante que a grande produção cinematográfi ca de fi lmes de fi cção faça parte da prática educativa porque são os fi lmes que trazem via de regra os recursos expressivos mais atuais e porque é em torno deles que o mundo das imagens em movimento se organiza e se orienta Defendemos também que a ideia de que a escola deve levar em conta a cultura e os hábitos midiáticos de seus membros para criar um espaço de refl exão e análise com o qual os alunos se sintam familiarizados e à vontade para lidar com suas emoções e com o impacto que as imagens provocaram em sua subjetividade O que estamos propondo portanto é que em uma educação pela imagem essa cultura videográfi ca que faz 73 parte do imaginário do professor tanto quanto de seus alunos possa servir de meio para uma bemsucedida discussão nas mais diferentes disciplinas 2005 p 101105 Assim os professores devem conhecer o que é como se formou historicamente como age e o que o entretenimento proporciona Esse foi o objetivo deste capítulo Propomos em seguida algumas atividades que possam interferir no repertório dos futuros professores e familiarizálos com a produção acadêmica contemporânea sobre o entretenimento Para fi nalizar este capítulo mas não essa discussão vamos encerrar com uma afi rmação de Celso Favaretto 2004 p 13 Tomar o cinema como instância educativa implica redirecionar as tradicionais questões sobre as relações entre pensamento e sensibilidade entre juízos de gosto e prazer da fantasia entre experiência refl exiva e consumo de expe riências Cinema entretenimento e educação ABEL R Os perigos da Pathé ou a americanização dos primórdios do cinema americano In CHARNEY L SCHWARTZ V O cinema e a invenção da vida moderna São Paulo Cosac Naify 2001 p 258312 BENJAMIN W A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica In Obras escolhidas Magia e técnica arte e política ensaios sobre literatura e história da cultura São Paulo Brasiliense 1985 p 165196 v 1 BORDWELL D O cinema clássico hollywoodiano normas e princípios narrativos In RAMOS F P Teoria contemporânea do cinema São Paulo Senac 2005 p 277301 CALIL C A M Cinema e indústria In XAVIER Ismail Org O cinema no século Rio de Janeiro Imago 1996 p 4469 CÁNEPA L L Cinema expressionista alemão In MASCARELLO F Org História do cinema mundial Campinas SP Papirus 2006 p 5587 COSTA C Educação imagem e mídias São Paulo Cortez 2005 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 74 ECO U Apocalípticos e integrados São Paulo Perspectiva 2004 FAVARETTO C Prefácio In SETTON M G J A cultura da mídia na escola ensaios sobre cinema e educação São Paulo Annablume 2004 p 913 GABLER N Vida o fi lme como o entretenimento conquistou a realidade São Paulo Companhia das Letras 1999 GUNNING T O retrato do corpo humano a fotografi a os detetives e os primórdios do cinema In CHARNEY L SCHWARTZ V O cinema e a invenção da vida moderna São Paulo Cosac Naify 2001 p 3980 Uma estética do espanto o cinema das origens e o espectador in crédulo Revista Imagens São Paulo n 5 p 5261 agoset 1995 HERSCHMANN M KISCHINHEVSKY M A geração podcasting e os novos usos do rádio na sociedade do espetáculo e do entretenimento InENCONTRO ANUAL DA COMPÓS 16 2007 Curitiba Anais Curitiba 2007 MARTINBARBERO J Dos meios às mediações comunicação cultura e hegemonia Rio de Janeiro UFRJ 1997 MORETTIN E V Cinema educativo uma abordagem histórica Comunicação Educação São Paulo n 4 p 1319 1995 ROSA C O cinema educativo através dos discursos de Mussolini e Vargas S l s n 2006 Disponível em http65 254 34 170mnemocinmodules smartsectionitem phpitemid21 Acesso em 16 set 2008 SCHWARTZ V O espectador cinematográfi co antes do aparato do cinema o gosto do público pela realidade na Paris fi mdeséculo In CHARNEY L SCHWARTZ V O cinema e a invenção da vida moderna São Paulo Cosac Naify 2001 p 411440 SEVCENKO N A corrida para o século XXI no loop da montanharussa São Paulo Companhia das Letras 2001 75 Cinema entretenimento e educação SIMMEL G A metrópole e a vida mental In VELHO O G O fenômeno urbano Rio de Janeiro Zahar 1979 p 1125 SKLAR R História social do cinema americano São Paulo Cultrix 1975 STAM R Introdução à teoria do cinema Campinas SP Papirus 2000 TRIGO L G G Entretenimento uma crítica aberta São Paulo Senac 2003 TURNER G Cinema como prática social São Paulo Summus 1997 XAVIER I Org A experiência do cinema Rio de Janeiro Graal 1983 1 O website de compartilhamento de vídeos YouTube wwwyoutubecombr permite aces sar alguns dos fi lmes produzidos no fi nal do século XIX e início do século XX Vasculhe a partir de sua ferramenta de busca as produções dos irmãos Auguste e Louis Lumière do mágico George Méliès e da empresa norteamericana Thomas Company Na sala de batepapo chat discuta os fi lmes com os colegas e troquem outras sugestões de vídeos encontrados acerca dos primeiros anos do cinema 2 Ainda utilizando o website YouTube procure trechos dos fi lmes produzidos pelas grandes vanguardas artísticas Busque vídeos a partir das seguintes palavraschave Sergei Eisens tein Dziga Vertov Um chien Andalou La folie du docteur tube Pesquise mais sobre as vanguardas cinematográfi cas na internet e busque outros vídeos Na sala de batepapo chat discuta com os colegas os fi lmes e troque impressões referentes às obras 3 Acesse o website wwwportacurtascombr e escolha um dos muitos curtas disponíveis Sugira os vídeos assistidos para os colegas 4 Faça um plano de aula envolvendo um fi lme de grande bilheteria Pense em temas que podem ser discutidos a partir desse fi lme Nesse planejamento inclua o maior número de informações possíveis relativas ao fi lme Defi na objetivos para tal atividade e pense em hipóteses e resultados esperados 5 Acesse na Internet o texto de Harry Potter produção consumo e estratégias de entre tenimento da professora Silvia Helena Simões Borelli O texto é o resultado de uma co municação apresentada no encontro anual da Associação Nacional de Programas de Pós Graduação em Comunicação e está disponível no link httpwwwcomposorgbrdata biblioteca259pdf Faça uma resenha do texto envie para o seu tutor e discuta com os colegas as ideias trabalhadas pela professora na sala de batepapo Aproveite para debater sobre a importância ou não de inserir tal produção literária e cinematográfi ca nas ativida des de sala de aula Proposta de Atividades EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 76 Utilize o website wwwscielobr para continuar as leituras e a pesquisa de artigos que discutem a relação entre cinema entretenimento e educação Por meio do website é possível acessar o conteúdo de publicações importantes da área acadêmica como os Cadernos Cedes Educar em Revista Educação Sociedade Educação e Pesquisa Educação em Revista Revista Brasileira de Educação entre inúmeros outros periódicos Veja por exemplo os artigos abaixo relacionados Guimarães Áurea M O cinema e a escola Formas imagéticas da violência Cadernos CEDES v 19 n 47 Campinas dez 1998 Disponível em httpwwwscielobrscielo phpscriptsciarttextpidS010132621998000400008lngptnrmiso OLIVEIRA Bernardo Jefferson de Cinema e Imaginário Científi co História Ciências Saúde Manguinhos v 13 supl 0 Rio de Janeiro out 2006 Disponível em httpwwwscielobr scielophpscriptsciarttextpidS010459702006000500009lngptnrmiso Outras sugestões de leitura Anotações 77 O que veio a sua mente quando leu o título deste capítulo Qual a imagem que lhe surgiu por primeiro Uma biblioteca Um museu Um teatro Um cinema Uma inte lectual Uma escola Uma professora Um desenho animado Ou um personagem animado criado pelos mais famosos estúdios de animação como a Disney e a Pixar Sugiro que você retenha a imagem se preferir pode desenhála ou escrevêla para ir relacionandoa se possível com o que vamos apresentar neste capítulo Observe que destacamos no título a EDUCAÇÃO a ESCOLA e o DESENHO ANI MADO Essas três palavras noções ou conceitos se transformam neste capítulo em categorias de análise por terem uma infi nidade de compreensões que merecem a nosso ver serem esclarecidas em razão de seus usos O que é EDUCAÇÃO para você Já parou para pensar em seu signifi cado Afi nal você está cursando Pedagogia um curso que se propõe a problematizar questões e a propor vivências estágios e atividades teóricopráticas relacionadas ao exercício pro fi ssional da educação para formar o pedagogo Em linhas gerais a Educação é entendida como um campo de refl exão e de atuação bastante amplo e complexo Tentar estabelecer os seus limites pode se tornar uma ta refa sem fi m até porque somos compelidos a estabelecer uma relação de prioridades que começam pela primeira categorização vamos priorizar os processos educacionais formais ou os informais Qualquer opção leva a uma infi nidade de outras problemati zações e noções que vão longe Todavia informalmente ou não sistematicamente ou não a Educação como as ou tras instâncias culturais se realiza se constrói e se reproduz por meio de instituições cinema teatro igrejas partidos políticos clubes associações empresas de entreteni mento museus escolas e tantas outras e de agentes sociais como pais professores artistas religiosos políticos comunicadores sociais e tantos outros Isso signifi ca que a depender da instituição e do agente podemse encontrar em uma mesma época e em um mesmo espaço formas de compreensão de Educação diferentes e divergentes entre si Ora mais voltada ao adestramento físico mental e social ora mais criativa Fátima Maria Neves A educação a escola 6 e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 78 participativa interativa e democrática com ênfase nos processos de desenvolvimento e de aprofundamento das capacidades cognitivas sensitivas e intuitivas dos seres hu manos em sua condição individual e social Vejam muito provavelmente uma determinada concepção de Educação remete ou acompanha uma concepção de ESCOLA Lembrese que se a noção de Educação nos permite concebêla de forma mais ampla menos localizada espacialmente a Escola não se restringe à abstração ela nos remete a uma concretização e a uma materiali zação no tempo e no espaço Escola pressupõe um espaço físico um rol de conhe cimentos e práticas construídas por ela e para ela um corpo profi ssional específi co composto de professores e funcionários técnicos além de um contingente de pessoas educáveis que formam o corpo discente os alunos Quanto mais estudamos e vivenciamos a escola quanto mais nos aproximamos do cotidiano escolar dos afazeres e das práticas dos professores mais questionamos as noções que a concebem como tão somente lugar de reprodução das desigualdades sociais e das relações impostas pelo movimento do capital Quanto mais observamos os desinteresses dos discentes mais problematizamos as noções que atribuem uni camente à competência dos gestores e à qualifi cação dos professores a tarefa de rein ventaremna ARROYO 2000 p 19 Sem esquecer os aspectos que reforçam no interior da escola a manutenção da de sigualdade social sem desconsiderar aquelas concepções que a veem como instituição dependente das relações econômicas sem menosprezar a importância da competên cia do quadro de profi ssionais mas também destacando e importabilizando o corpo de alunos como agentes de transformação vemos a Escola como Andre Chervel 1999 a concebe Esse francês historiador da educação não entende a Escola e seus agentes como determinados e impotentes Chervel 1999 p 195 e 198 assinala o papel criativo da escola e de seus agentes observando que o grupo de alunos a população educável também são os agentes de transformação porque exercem a função pedagógica re agindo e re defi nindo o limite da imposição e da liberdade pedagógica Nesse âmbi to disputando espaço com as práticas e os saberes considerados reprodutivistasen contramse as propostas que movimentamna a escola como lugar que produz uma cultura específi ca a cultura escolar Isso signifi ca afi rmar que para Chervel 1999 a escola ao criar seus mecanismos de funcionamento o seu cotidiano as suas práticas e os seus saberes as suas fi nalida des cria também um rol de conteúdos em suas disciplinas escolares distanciados da noção de reprodução ou de adaptação dos saberes científi cos eruditos os saberes das ciências Os saberes da escola não são saberes que reproduzem os saberes científi cos 79 A educação a escola e o desenho animado Ou seja os saberes criados na escola são da e para a escola Fato e ato que criam distâncias entre o saber construído pelas CIÊNCIAS e o saber veiculado na ESCOLA Não é inovadora e provocativa essa concepção de Escola de Chervel Alguma vez você pensou algo parecido Lembra da imagem que sugerimos que você criasse no início do texto Se imaginou algo relacionado à Educação ou à Escola consegue comparar o que imaginou com algum argumento aqui apresentado Ou sua mente foi tomada imediatamente por um DESENHO ANIMADO e por um personagem animado Não estranharíamos se isso aconteceu porque reconhecemos que apesar da força das imagens escolarizadas que temos incutidas em nossa mente o poder da imagem veiculada pelos desenhos animados são inigualáveis não só por conta do resultado es tético mas principalmente porque sua efi cácia se realiza por meio de um mecanismo físico e biológico denominado ilusão ótica As imagens são desenhadas fotografadas uma a uma e reproduzidas em grande velocidade Nesse processo elas as imagens fi cam retidas por frações de segundo na retina ocular e o cérebro as interliga criando a ilusão do movimento e o cinema de animação O Cinema de Animação não só surgiu antes do cinema fotográfi co cinema que co nhecemos normalmente como também se diferencia deste pelo uso de técnicas espe cífi cas O que caracteriza o cinema fotográfi co é a captação da imagem viva enquanto que a imagem do cinema de animação é desenhada ou montada depois fotografada individualmente uma a uma criando uma sequência de movimento Para as primeiras animações do início do século XX eram necessárias 16 imagens por segundo para produzir um movimento após o advento da cor e do som1 24 imagens se tornaram imprescindíveis É importante lembrar que se atribui ao francês Émile Reynaud 18441918 a cria ção do Cinema de Animação porque ele criou o praxinoscópio um sistema de anima ção composto por 12 imagens por segundo Observamos que desde seus primórdios até a atualidade o Cinema de Animação se constitui como um complexo processo que carece de um sistema industrial bastan te sofi sticado Dessa forma é compreensível que se relacione o Cinema de Animação como arte industrial dependente da economia de mercado e da tecnologia como um gênero cinematográfi co que se desenvolve apenas em países industrializados sendo seu crescimento proporcional ao desempenho industrial de cada país 1 A partir de 1927 o sistema de som se instala defi nitivamente nos EUA e em 1929 no Brasil EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 80 Você já observou de onde vem a maioria das animações Qual a nacionalidade dos grandes estúdios que produzem os desenhos animados Se pensou em Estados Unidos e Japão acertou de primeira Essas nações são expressões máximas da indústria de entretenimento e dos produtos licenciados Só para começar a mencionar dos EUA temos a Pixar a Dreamworks a Warner Bros e a Walt Disney Company E o que conhecemos do Anime nome dado à animação japonesa são aquelas distribuídas também por empresas estadunidenses EUA como Warner Bros No Brasil elas ganharam visibilidade por meio de canais televisivos como a Rede Globo e o Cartoon Network Vale a pena lembrar os mais consumidos Cavaleiros do Zodíaco Digimon Dragon Ball YugiOh Naruto Pokémon com Pikachu e mais outros 492 personagens Não podemos deixar de citar os Estúdios Ghibli que produziram entre outros os maravilhosos desenhos Meu amigo Totoro 1988 Porco Rosso 1992 Princesa Mononoke 1997 A viagem de Chihiro 2001 O Castelo Andante 2004 todos diri gidos por Hayao Miyazaki 1941 um reconhecido diretor japonês alcunhado contra sua vontade de Disney japonês Ele gostando ou não o fato é que o ocidente só to mou conhecimento de sua produção porque a distribuição foi realizada em parceria com a Disney Company E a produção do animador francês Michel Ocelot 1943 Você já ouviu falar dele Conhece seu trabalho Por que Kiriku e a Feiticeira 1998 Príncipes e Princesas 1999 Kiriku e os animais selvagens 2005 e As aventuras de Azur e Asmar 2006 não são conhecidos pelo grande público brasileiro Ousamos responder que é porque não têm a legenda da Disney na distribuição Que lástima para o público que aprecia animações que destacam outros universos culturais que não o hegemônico norteamericano Portanto não é de estranhar relacionarmos desenho animado com Walt Disney 19011966 Entretanto é bom lembrar que ele não foi o inventor do desenho anima do O francês Emile Cohl 18571938 é considerado o pioneiro do desenho animado porque criou Fantasmagorie2 projetado em 17 de agosto de 1908 Todavia a histo riografi a reconhece que foi Disney o primeiro a compreender que a produção de de senhos animados de qualidade dependia da organização de uma verdadeira indústria paralela à indústria do cinema NAZÁRIO apud BRUZZO 1996 p 58 É bom que se saiba que quando estamos falando de Desenho Animado estamos nos referindo a uma modalidade dentre as diversas modalidades do universo técnico 2 Essa animação pode ser vista pelo site httpmaisuolcombrviewtuy89orfhevqfantasmagorieemileco hl190804023172C0890326typesA Acesso em 11 de outubro de 2008 81 do Cinema de Animação como aponta DÉlia 1996 p 146 O Desenho Animado não só é apenas mais uma delas como é a mais antiga a mais acessível e por conseguinte a mais barata Essa modalidade se caracteriza por construir as animações por meio do desenho a mão em papel em transparências em película cinematográfi ca utilizando lápis canetas fi nas pontas secas pincéis esponjas com tinta e outros recursos A fi m de auxiliar os desenhistas na captação da evolução dos movimentos em 1914 Max Fleischer criou o rotoscópio um aparelho que fi lmava atores encenando e depois permitia que os desenhistas redesenhassem os personagens Estranho não Mas assim era e é a cena realizada e reproduzida com artistas para depois ser redesenhada Os desenhos animados mais famosos em que o recurso do rotoscópio foi utilizado foram A Branca de Neve e os sete anões3 Cinderela4 A Bela Adormecida5 A Pequena Sereia6 A Bela e a Fera7 Aladim8 Pocahontas9 Atlantis The Lost Empire10 e Lilo Stitch11 Todos eles produzidos pelos Estúdios da Disney Como informamos o desenho animado é apenas uma modalidade do Cinema de Animação existem outras que são construídas a partir do stop motion Stop motion é uma modalidade que se utiliza de modelos reais como bonecos articulados que podem ser de plástico madeira tecido ou qualquer material que pos sibilite a construção de uma forma tridimensional Não obstante o melhor material para essa modalidade tem sido a massa de modelar Podemos asseverar que com ela foram realizados os fi lmes O Estranho Mundo de Jack12 A Fuga das Galinhas13 Wallace Gromit14 e A Noiva Cadáver15 3 Dirigido por David Hand em 1937 4 Dirigido por Clyde Geronimi Wilfred Jackson e Hamilton Luske em 1950 5 Dirigido por Clyde Geronimi em 1959 6 Dirigindo por Ron Clements e John Musker em 1989 7 Dirigido por Gary Trousdale e Kirk Wise em 1991 8 Dirigido por Ron Clements e John Musker em 1992 9 Dirigido por Mike Gabriel e Eric Goldberg em 1995 10 Dirigido por Gary Trousdale e Kirk Wise em 2001 11 Dirigido por Dean DeBlois e Chris Sanders em 2002 12 Roteirizado por Michael McDowell produzido por Tim Burton e dirigido por Henry Slick em 1993 lançado pelos Touchstone Pictures estúdio de propriedade da Walt Disney Campany 13 Dirigido em 2000 por Peter Lord e Nick Parker e produzido pelos Estúdios da Dreamworks SKG Allied Film makers em parceria com Aardman Animations uma das maiores empresas de animação em massinha 14 Dirigido por Nick Park e Steve Box em 2005 produzidos pela Dreamworks Animation em parceria com a reco mendada Aardman Animations 15 Dirigido por Michael Johnson e Tim Burton em 2005 e produzido pelos Estúdios da Warner Bros A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 82 Além desses materiais também encontramos fi lmes animados que se utilizam de latas ferramentas sementes papelões16 e pedras17 Um exemplo de fi lme de animação que combina técnicas diferentes é o trabalho criado pela animadora alemã Lotte Reini ger que em 1955 criou com areia pintura sobre vidro e sombras chinesas uma versão do Conto de Fadas João e o Pé de Feijão18 E por fi m temos a animação digital que gera as imagens por meio da computação gráfi ca Os Estúdios da Dreamworks produziram a sequência de Shrek19 Madagascar20 e Bee Movie A história de uma Abelha21 Em parceria com a Pixar a Disney produziu Toy Story 22 Vida de Inseto23 Toy Story 224 Monstros SA25 Procurando Nemo26 Os Incríveis27 Carros28 Ratatouille29 e WallE30 Outra consideração bastante importante no campo do Cinema de Animação é o de saber distinguir Animação Clássica de Cartoon O Cartoon se caracteriza por desconsiderar e ignorar as leis naturais em que tudo é possível nas quais o exagero prevalece em que apesar de todos os infortúnios desastres e agressões sofridas os personagens não morrem Nas exibições de cartoon difi cilmente encontramos identifi cação emocional das plateias com os personagens o distanciamento é maior Dentre a infi nidade de cartuns que conhecemos um bom e clássico exemplo é o PapaLéguas e o Coiote31 16 Um exemplo da utilização desta técnica de stop motion e que vale a pena conhecer é o clip da música Yellow Submarine dos Beatles dirigido por George Dunning em 1967 que pode ser visto no site httpbryoutube comwatchvMCsYDZ2M04M Acesso em 10102008 17 Ver a animação Das Rad Pedras de Chris Stenner Arvid Uibel e Heidi Wittlinger produzido pelo estúdio alemão Filmakademie BadenWuerttemberg em 2001 com 8 min e 12 segundos de duração no site http bryoutubecomwatchvMKYwJVOgeY Acesso em 10102008 18 Ver o site httpbryoutubecomwatchv17wfx3nuywo Acesso em 10102008 19 Shrek 1 foi dirigido por Andrew Adamson e Vicky Jenson em 2001 Shrek 2 foi dirigido por Andrew Adamson Kelly Asbury em 2004 Shrek 3 foi dirigido por Chirs Miller e Raman Hui em 2007 20 O fi lme foi dirigido por Eric Darnell e Tom McGrath em 2005 21 Dirigido por Steve Hickner e Simon J Smith em 2007 22 O fi lme é de 1995 e foi dirigido por John Lasseter 23 Em 1998 dirigido por John Lasseter e Andrew Stanton 24 O fi lme foi dirigido por John Lasseter e Ash Brannon em 1999 25 Realizado em 2001 e dirigido por Pete Docter e David Silverman 26 Dirigido por Andrew Staton e Lee Unkrich em 2003 27 Produzido em 2004 e dirigido por Brad Bird 28 O fi lme foi dirigido por John Lasseter e Joe Ranft em 2006 29 Em 2007 dirigido por Brad Bird e Jan Pinkava 30 Dirigido por Andrew Staton em 2008 31 Criado por Chuck Jones em 1949 para os estúdios da Warner Bros 83 Você saberia responder por que a Disney não investe pesado em cartoon mas em animação clássica Diferentemente do cartoon a Animação Clássica prima pela relação natural crível entre os personagens no tempo e no espaço A identifi cação emocional da platéia com a narrativa é o foco é o fundamento da animação clássica A ênfase reside em promover a identifi cação entre a narrativa e os estados emocionais evitandose estra nhamentos Ou seja a prioridade da animação clássica é não permitir que por meio de um deslize narrativo ou imagético se desperte a atenção do expectador pois isso o distanciaria dos dramas da trama deixáloia livre aos seus próprios pensamentos e emoções Quanto mais concentrado melhor pois nesse caso a concentração está asso ciada à identifi cação Os desenhos animados da Disney produzidos a partir dos Con tos de Fada são imbatíveis na captura da atenção do expectador infantil ou adulto Dois bons exemplos de animação clássica porém com propostas culturais e peda gógicas bastantes diferentes são os desenhos animados da A Bela e a Fera e Kiriku e a Feiticeira Vamos apresentar um pouco de cada um deles para que você possa perceber a diferença O DESENHO ANIMADO A BELA E A FERA32 A A Bela e a Fera foi o 30º longametragem animado dos Estúdios criados por Walt Disney 19011966 lançado em VHS em 1991 e em DVD em 2001 Quem assistiu ao fi lme A Bela e a Fera dirigido em 1946 pelo aclamado diretor francês Jean Cocteau 1889 1963 percebe as relações os elos entre um e outro Os candelabros e a rosa do fi lme de Cocteau também estão com outra roupagem no roteiro criado por Linda Woolverton para a A Bela e a Fera da Disney Também não podemos esquecer de informar que antes de tudo A Bela e a Fera é um conto que tem origens remotas O que se tem de mais divulgado é que ele foi elaborado a partir da história de 1550 do italiano Giovan Straparalo e popularizado por Le Prince De Beaumont e Gabrielle De Villeneuve durante o século XVIII na França Posteriormente em 1812 foi adaptado para compor o livro Contos para a infância e para o lar dos Irmãos Grimm Jacob e Wilhelm Todavia como reza a lenda de quem conta um conto aumenta um ponto a equipe dirigida por Gary Trousdale e Kirk Wise atualizou o conto dandolhe uma nova versão criando novos personagens e renovando os tradicionais Na versão da Disney as personagens tradicionais ganharam novos papéis sociais e outros valores morais Bela por exemplo se distancia dos ideais das outras heroínas 32 Esse desenho foi objeto de um minicurso Ver referências em NEVES 2008 A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 84 dos contos de fada criadas pelo estúdio Longe de ser frágil doce e submissa donzela que precisa ser salva por um príncipe como Branca de Neve Aurora Cinderela e Ariel as outras heroínas que a antecederam é independente inteligente decidida além de excelente fi lha Por cultivar o hábito da leitura é amadurecida e sonha em conhecer lugares diferentes A leitura a transporta para mundos menos insossos que o da aldeia É requintada e não deseja casarse com Gastón o galã da vila A Fera um arrogante príncipe que fora enfeitiçado juntamente com todos os ha bitantes do castelo precisa aprender a amar e ser amado para anular o sortilégio A equipe responsável pela concepção da Fera a fez dona de um temperamento intem pestivo e fi sicamente híbrido combinando diferentes animais em um só a juba de um leão os chifres a barba e a anatomia da cabeça de um búfalo as presas e o focinho de um porco do mato a testa saliente de um gorila as patas e o rabo de um lobo e o corpanzil volumoso e forte de um urso Porém dona de uma personalidade sedutora e bemintencionada que vai aos poucos com caras e bocas cativando as plateias Maurice o pai de Bela não é nessa animação um rico comerciante mas sim um gênio um inventor um cientista dono de um espírito curioso e investigativo E por ser portador de novas ideias é tal como a fi lha desprezado pela população da aldeia Gastón é ou deveria ser o galã da animação É bonito expansivo corajoso um modelo de virilidade para a população da aldeia Todavia é grosseiramente narcisista e dono de uma personalidade vingativa e maldosa Acompanha Gastón o amigoca pacho Lefou e as suas pretendentes que aparecem como três personagens femininas loirinhas e suspirantes Para além dessas personagens há os serviçais do castelo que foram transformados em objetos enfeitiçados Esses objetos falam cantam dançam discutem argumentam e se emocionam tal como as personagens humanas porque também são portadores de personalidades e valores próprios A essa forma de narrativa em que os objetos se humanizam chamamos de Apólogo33 O mordomo Lumiére aparece com um simpático e sedutor candelabro Ele é alegre bemhumorado profundamente perspicaz e cheio de boas ideias Ele é o primeiro a perceber que Bela pode ser a garrrôta a quebrar o feitiço Com sugestões inteligentes e simpáticas induz a Fera a agradar Bela Orloge é o mestre de Cerimônia do Castelo e também aquele que cuida da criadagem Tem espírito conservador valoriza a ordem e a disciplina não é à toa ter se transformado em um relógio É machista autoritário e seu espírito medroso teme novidades e iniciativas alheias 33 Quando são os animais que se humanizam chamamos de Fábula 85 Madame Samovar responsável pela cozinha foi transformada em uma maternal chaleira Com bom senso e tolerância cuida da Fera e com ponderação e alegria cuida de Bela Seu fi lho Zip uma pequena xícara encarna a inocência e a curiosidade infan til A arrumadeira foi transformada em um espanador a camareira em um guardarou pa e como a lista é grande paramos por aqui Esses personagens seus valores e seus objetivos são apresentados por meio de músicas Ou seja a animação da A Bela e a Fera da Disney foi concebida como um musical Esse gênero se caracteriza pela combinação de músicas danças romances e fantasias com a intenção de proporcionar diversão Nos musicais o que move a his tória a narrativa são as músicas são elas que fazem a ação avançar CASTRO 2006 O cuidado minucioso com essa engenharia foi recompensado com a conquista do Oscar de Melhor Filme concorrendo com Silêncio dos Inocentes34 e conquistando as estatuetas de Melhor Trilha Original e de Melhor Canção35 Uma informação inte ressante é saber que na linguagem técnica chamamos a trilha sonora de um fi lme de som não diegético DUARTE 2002 p 47 A versão de A Bela e a Fera de 1991 foi construída com seis músicas sob a autoria de Alan Menken e Woward Ashman A primeira intitulada Belle apresenta a heroína e sua grande ânsia de aventura e romance A melodia combina as infl uências clássicas barrocas e francesas a fi m de captar o clima e a energia do vilarejo provinciano A se gunda canção é uma valsa que encena a apresentação de Gaston como o galã da aldeia e como um modelo de masculinidade enaltecido e admirado Você é nossa hóspede a terceira canção acontece quando Bela tem fome e vai à cozinha de Madame Samovar Essa canção tem uma melodia alegre que se aproxima da tradição do teatro musical francês A quarta canção Há algo aqui acompanha a encenação da proximidade entre a Bela e a Fera e as brincadeiras entre eles É uma bela balada que expressa em termos líricos os pensamentos mais íntimos e não verbalizados de Bela e da Fera à medida que eles passam a se conhecer melhor e a se verem como realmente são A quinta canção a canção título do fi lme A Bela e a Fera é a música do baile e ela acompanha um forte momento de impacto emocional no fi lme que se realiza quando o casal protagonista já se mostra apaixonado Essa cena é embalada por uma canção que é um misto de canção de ninar e balada pop que foi eternizada na voz de Celine Dion e de Peabo Bryson 34 Filme de 1991 dirigido por Jonathan Demme 35 Também foi indicado nas seguintes categorias Melhor Filme Melhor Som e Melhor Canção Original Be Our Guest e Belle Ganhou 3 Globos de Ouro Melhor Filme ComédiaMusical Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original Beauty and the Beast Recebeu 2 indicações ao BAFTA nas categorias de Melhor Trilha Sonora e Melhores Efeitos Especiais Ganhou 2 Grammy nas categorias de Melhor Canção Original para Cinema Beauty and the Beast e Melhor Composição Instrumental para Cinema A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 86 quando surgem os créditos fi nais da animação A sexta música do fi lme é A canção da caçada uma canção emocionante e forte ao estilo operístico que acompanha o con fronto entre o povo da cidade e os habitantes enfeitiçados do Castelo Por conseguinte por meio dessas músicas a narrativa vai se delineando as per sonagens ganhando expressão revelando seus valores sociais éticos e culturais Em 2001 para a campanha comemorativa dos 10 anos de A Bela e a Fera os Estúdios da Walt Disney incluíram no VHS e no DVD mais uma música Por conta da inclusão de Humano outra vez a nova edição da animação fi cou com seis minutos a mais em relação à primeira versão Na animação a música Humano outra vez acompanha a sequência de cenas em que Orloge pressionado pelo tempo incita os serviçais enfeitiçados a fazerem um grande mutirão para limpar todo o castelo para criar para o Baile da Bela e da Fera uma atmosfera romântica como nenhum homem ou fera jamais vira A música que se usufrui é uma exuberante melódica e arrebatadora valsa em que os objetos traba lham incansavelmente comentando sobre como seus destinos estão prestes a mudar que logo eles voltarão a ser humanos outra vez pois pelo menos para eles já é visível o amor entre a Bela e a Fera Em Humano outra vez questões fundamentais do reconhecido Padrão Disney podem ser visualizadas e discutidas É notório que esse padrão se consolidou por fundamentalmente conseguir deliciar as crianças e ao mesmo tempo agradar aos adultos Segundo por ter sempre em suas produções um castelo Não importa onde se na terra ou na água mas sempre há um castelo E também se reconhece como um padrão da Disney os grandes mutirões de trabalho e de limpeza Quando há muito trabalho a ser realizado ele será feito coletivamente e embalado por músicas Uma das explicações para a inclusão é a de que a música Humano outra vez es tava fazendo enorme sucesso em uma versão teatral de A Bela e a Fera montada na Broadway36 Pode até ser porém chamanos a atenção que nessa inclusão a condição para a humanização da Fera se faça pelo domínio da leitura É oportuno identifi car que a música Humano outra vez para de tocar surge a cena em que Bela lê para a Fera Romeu e Julieta de Shakespeare e sugere que ele continue a leitura Como ele desa prendeu a ler ela o ajuda e juntos continuam a ler Na sequência a música Humano outra vez tem continuidade Observemos como a importância da leitura perpassa essa animação musical Na primeira música mostra o quanto Bela adora ler histórias de príncipes e espadas e 36 Broadway é mais que uma avenida da cidade de New York EUA Ela compõe o Circuito Broadway 43 teatros que se tornaram famosos por suas superproduções que costumam fi car em cartaz por longas temporadas 87 o Conto de João e o Pé de Feijão é o seu preferido Na quarta música em uma cena muda a mostra lendo para a Fera em volta da lareira Portanto é fácil verifi carmos como os roteiristas e os diretores incluíram nessa versão de A Bela e a Fera o domínio da leitura como mais uma tarefa que a Fera o grande herói dessa animação teria que realizar em seu processo de humanização Você poderia estar se perguntando Mas isso não é bom Afi nal estão incentivando a leitura Sim incentivar a leitura é muito bom Porém somos obrigados a reconhe cer que esse incentivo à leitura patrocinado pelo desenho animado da A Bela e a Fera tem um alto custo cultural e social pois junto com a defesa da leitura valores e comportamentos consumistas foram amplamente incentivados pelo licenciamento de produtos É bom que lembremos que por ocasião do lançamento de A Bela e a Fera em 1991 o investimento rendeu aos Estúdios Disney US 347 milhões só de bilheteria O retumbante sucesso de A Bela contribuiu signifi camente para com a recapitaliza ção da Disney permitindo que em 1993 os estúdios comprassem a Miramax Films por US 80 milhões valor considerado uma pechincha nos negócios cinematográfi cos BERGAN 2007 Como conseguiu isso Vendendo de um tudo principalmente para o público infantil brinquedos roupas e materiais escolares encabeçavam a lista A menção ao universo escolar como espaço consumidor do padrão Disney não é novidade para nós Começou com a estampa de Mickey Mouse em 1929 em blocos de anotações para escolas Atualmente a proposta é mais ousada pois ela planeja construir nos próximos anos uma escola protótipo que proclama um de seus folhetos servirá como modelo para a educação no próximo sécu lo A escola será parte de um projeto residencial de dois mil hectares chamado Celebration o qual de acordo com os executivos da Disney será concebido como as ruas principais das pequenas cidades da America e as imagens de Norman Rockweel GIROUX 2001 p 91 Essa ênfase em se tornar uma empresa que não quer apenas oferecer entretenimen to mas também quer educar e escolarizar a população infantil mundial deve a nosso ver preocupar os professores Só pontuando não deve ser uma novidade para você o vídeo do Pato Donald ensinado matemática Nosso desafi o nas escolas como professores está na denúncia com argumentos que são construídos a partir de seus próprios produtos os desenhos animados Pode mos sim fazer uso dos desenhos mas não da maneira convencionalmente proposta Po demos subverter a lógica do padrão dos desenhos denunciando seus ideais como por exemplo questionar a colonizaçao do imaginário feminino que impõe um padrão de comportamento de beleza de feminilidade de ideais românticos que culminam com a cerimônia do casamento desde Branca de Neve em 1937 Veja bem 1937 Lá se vão 70 anos em que os desenhos animados as revistinhas os livros acompanhados de A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 88 discos e cassetes o VHS e o DVD ensinam o público feminino o que desejar e como se comportar Depois de Branca de Neve veio Cinderela Aurora da Bela Adormeci da Ariel Pequena Sereia a Bela e Pocahontas Depois da infância colonizada e essa infância cresce a manutenção do padrão ainda continua com Vivian Wardo a perso nagem do fi lme Uma linda mulher digirido por Garry Marshall em 1990 produzido por uma das empresas do conglomerado da Disney a Touchstone Veja bem isso foi só um exemplo Há muitos outros O esforço em identifi car as estratégias que se propõem pedagógicas nos permite como profi ssionais da educação reconhecer que as estratégias pedagógicas são de fato mecanismos sutis de sedução empresarial para não revelar outras estratégias mercadológicas para vender materiais escolares e projetos pedagógicos A falta de consciência nos torna cúmplices e agentes de defesa de uma empresa que não poupa esforços para transformar a escola e a infância escolarizada em um público consumidor Ambos estratégia pedagógica e consumo estão relacionados nas animações da Disney Essa empresa que visa fundamentalmente a lucrar com o en tretenimento com a ludicidade desse público que ainda não tem discernimento para identifi car os meandros da indústria cultural Uma empresa industrial e comercial que objetiva se constituir como instituição cultural que no entender de Giroux 1995 p 53 luta ferozmente para proteger seu status mítico como provedora de inocência e virtude moral americana Como consideramos necessário conhecer os mecanismos da fantasia como produ to construído ideologicamente nos atemos tão minuciosamente na descrição da ani mação da Bela Na sequência continuamos com esse procedimento revelando outras propostas pedagógicas como a que está contida em Kiriku e a Feiticeira O DESENHO ANIMADO KIRIKU E A FEITICEIRA37 O desenho começa com a câmera passeando pela aldeia e mostra no interior de uma cabana Kiriku aquele que sabe o que quer ainda dentro da barriga de sua mãe conversando com ela Falante e incentivado por ela ele nasce corta seu cordão umbilical e se banha sozinho De início o desenho já chama a atenção pelo colorido originalidade e ousadia A aldeia de Kiriku vive amedrontada por Karabá a malvada feiticeira que já ti nha destruído os homens roubado todo o ouro que tinham e ainda secado a fon te de água local Mesmo minúsculo e desacreditado por sua comunidade que não 37 Esse desenho também já foi objeto de estudo em um minicurso Ver referências em NEVES 2007 89 reconhecia sua coragem esperteza e sabedoria Kiriku decide enfrentar a feiticeira e seus guardiões Nesse processo de enfrentamento enquanto todos temem Karabá Kiriku busca não destruir mas entender porque ela é tão má As respostas aos seus inúmeros e constantes por quês só podiam ser respondidas pelo seu avô o Sábio da Montanha Entretanto para chegar ao local onde ele residia na Montanha Sagrada Kiriku tem que enfrentar muitos perigos e se aventurar por lugares desconhecidos Nessa trajetória de desafi os vai fazendo amizades Ao encontrar o avô Kiriku descobre que a origem da maldade de Karabá é prove niente da dor do sofrimento imposto e que só o amor a generosidade a tolerância e a verdade aliada à inteligência à curiosidade e à coragem são capazes de vencer Na com panhia do avô Kiriku também encontra paz conforto e colo Ou seja as gerações mais velhas ainda se responsabilizam pelas mais jovens E quando fi nalmente Kiriku liberta Karabá de seu sortilégio e de sua dor tudo se transforma inclusive ele próprio que as sume sua verdadeira forma um jovem muito belo O desenho termina com a confrater nização de todos inclusive com o retorno de seu o pai e dos outros homens da aldeia O roteiro desse desenho animado destacou na construção das personagens os diferentes valores e ideais da condição humana sem resvalar na fórmula maniqueísta do bem contra o mal Todos os personagens Kiriku apesar de ser um herói não se posiciona como quem sabe tudo ao contrário tem mais dúvidas do que certezas por isso constantemente se questiona Karabá a feiticeira é lindíssima e sua maldade não provém de uma questão de caráter ou de personalidade mas porque fora anterior mente também ela vítima da maldade humana Consideramos interessante observar a questão da maldade humana nessa anima ção Ela não aparece como característica somente do vilão mas das outras persona gens também inclusive das próprias crianças quando apesar de Kiriku as salvar ainda desdenham dele Boa oportunidade para conversar sobre o tema Os personagens masculinos como o tio o contador de história e o mestre da mon tanha revelam seus valores e diferenças Vale a pena observar como o contador de his tórias que funciona como o mestre da aldeia tem valores tradicionais muitas certezas e também muito medo Ao passo que o sábio o avô de Kiriku que mora na Montanha Sagrada se apresenta como alguém tolerante afetuoso incentivando a sabedoria que vem da inteligência interna A mãe de Kiriku faz a diferença nessa animação ela é serena companheira e in centivadora do pequeno fi lho A cena em que Kiriku é conduzido por ela agarrado na barra de sua saia é belíssima Ela o aceita e o reconhece sob qualquer forma Uma pausa você já viu se há a fi gura de mãe nos desenhos animados por aí Não é interessante problematizar isso Que noção de mãe QUANDO TEM MÃE a Disney a Pixar a Dreamworks ou qualquer outro estúdio estão divulgando A educação a escola e o desenho animado EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 90 Retomando as características físicas das personagens elas são negras com caracte rísticas negras e com comportamentos próprios de suas culturas As mulheres andam nuas da cintura para cima revelando os seios Não verifi camos sexualização do corpo mesmo quando Karabá a feiticeira aparece com enfeites em torno dos mamilos São enfeites como os outros que se encontram em seu corpo inclusive aqueles que estão no pescoço lembrando as mulheres girafas A noção de corpo que se apresenta em Kiriku é o da sua naturalização distanciandose da noção contemporânea ocidental que ou nega ou sacraliza ou banaliza a relação com o corpo Veja aí outra ótima oportunidade para uma conversa sobre a utilização do corpo para vender de tudo de cerveja a carros Ainda no interior dessa mesma temática podemos conversar sobre a noção de nudez do e no desenho animado de Kiriku e a Feiticeira Kiriku está nu o tempo todo bem como todas as outras crianças estão Outra relação com as personagens que não podemos deixar de registrar em Kiriku é a que revela as características diferenciadas dos grupos étnicos africanos Constatamos que há peculiaridades físicas distintas constituindo as personagens de Kiriku o que levanos a crer na intencionalidade dos criadores do desenho animado em reconhecer e integrar as diferentes etnias que compõem o quadro social principalmente do Senegal38 As etnias têm relação com os espaços com a localização geográfi ca39 No desenho animado a paisagem as cores luzes sombras e contrastes nos remetem fi ccional mente ao universo geográfi co africano que não se resume ao da savana Os rios as matas a vegetação e o colorido específi co realçam um ambiente que não foi ocidenta lizado como foi apresentado no desenho animado O Rei Leão de Roger Allers e Rob Minkoff de 1994 No que tange aos aspectos que chamamos de pedagógicos ou educacionais iden tifi camos que o roteiro de Kiriku inserese no vasto campo do mito e da lenda40 que por sua vez se amparam na cultura popular Kiriku representa uma fi gura mítica e por isso ele pode falar quando ainda está dentro da barriga de sua mãe nascer e se lavar sozinho Façanhas impensáveis fora do mundo mítico mas próprias e possíveis nas tradições populares que costumam projetar a fi gura de um portador de boas no vas de um novo salvador Constatamos que muito do processo de aprendizagem de Kiriku se dá por meio da sua intuição e dos ensinamentos transmitidos oralmente 38 Só para começar a listar podemos citar os Fulani Jola Mandigos Serer e Wolof 39 Ao identifi car o biótipo das personagens não pudemos deixar de lembrar das informações fornecidas por outro fi lme o histórico e a nosso ver imperdível Hotel Ruanda dirigido por Terry Georg 2004 que trata da história do genocídio dos Tutsis pelos Hutus em 1994 40 Lenda é uma narrativa folclórica fundamentada em acontecimentos podendo traduzir uma fi losofi a um modo de ser um sentimento poético É uma tentativa de traduzir para o inteligível acontecimentos fantásticos 91 A educação a escola e o desenho animado principalmente pelo seu avô Aprendizados que são muito diferentes das sociedades em que os conhecimentos são transmitidos pela cultura escrita O Velho Sábio não desqualifi cou seus interesses seus constantes por quês mas ponderou com Kiriku que a sua primeira lição era o aprendizado da calma da pa ciência de uma coisa de cada vez do problema que se apresenta para ser resolvido naquele momento e o cuidado ao perguntar para não se chegar à criação do mundo em decorrência de um por que atrás do outro Kiriku acata o procedimento e decide Tá bom então hoje eu vou perguntar só da Feiticeira Sob a tradição oral o Velho Sábio o avô de Kiriku lhe transmite de maneira res peitosa e carinhosa os conhecimentos e as lições que devem conforme as tradições da aldeia ser preservadas como por exemplo o de se tranquilizar com os diferentes estágios da vida Isso signifi ca que Kiriku deveria aprender a ser criança enquanto ain da era criança e a ser adulto quando se tornasse um adulto Ainda que se saliente a importância de todas essas questões analisadas a mais pe culiar no âmbito pedagógico e que torna Kiriku um desenho animado que se dife rencia da grande maioria dos outros desenhos reside no fato de que a empreitada de Kiriku não foi motivada pelo ódio a Karabá mas na busca do entendimento de sua maldade Esse deslocamento da promoção do entendimento da maldade em vez da extinção da personagem com sua morte é o grande diferenciador de Kiriku da gran de maioria dos desenhos contemporâneos A nãoutilização da morte como estratégia de eliminação nos remete a pensar e a desejar outro universo cultural para o público infantil Kiriku e a feiticeira nos impele a reconhecer a existência de outras realidades culturais e sociais A partir de uma lenda do Senegal país da África Ocidental o francês Michel Ocelot 194341 roteirizou e dirigiu Kiriku e a Feiticeira42 A fi cha técnica informa que Ki riku é uma coprodução européia que reúne a França a Bélgica e Luxemburgo de propriedade do grupo CYMAX Grou colorida e de 71 minutos A edição foi realizada por Dominique Lefebvre a fotografi a é de Alain Levent e a trilha sonora foi realizada pelo senegalês Youssou NDour um dos músicos africanos mais famosos da atuali dade Verifi camos que os instrumentos musicais utilizados na composição e na exe cução das canções são os tradicionais instrumentos africanos como o Balafon Ritti Cora Xalam Tokho Sabaar e o Belon A sonoridade desses instrumentos faz lembrar a 41 Esse animador também assinou a direção das animações Príncipes e princesas 1999 Kiriku e as bestas selva gens 2005 e As aventuras de Azur e Asmar 2006 42 Kiriku foi premiado no Festival Internacional de fi lmes Infantis do Cairo no Egito e no Festival Internacional de Animação de Annecy na França EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 92 África Observamos que em Kiriku a música diferentemente das músicas de A Bela e a Fera soa quase como um batuque improvisado e a letra é de fácil assimilação pelas crianças já que são compostas de duas ou três frases Já tivemos a oportunidade de presenciar as crianças cantando e assoviando a música de Kiriku Consideramos importante observar que a noção de criança que ampara a cons trução do desenho não é a da criança consumidora mas a que brinca dança e canta que se relaciona com os amigos e não com mercadorias A criança para a qual Kiriku foi construído é compreendida com seriedade sem precisar fazer uso da sisudez Sua linguagem não é ingênua e sim inteligente fenômeno proveniente de uma sofi sticada cultura cinematográfi ca construída com distanciamento do fetichismo mercadológico que invade a cultura infantil Em Kiriku há uma compreensão de educação de processo pedagógico alimentado por um pressuposto que se concentra em sujeitos sociais ativos participantes cores ponsáveis pela construção de conhecimentos signifi cativos em seu meio social Finalizamos este capítulo pontuando que os desenhos animados permitem proble matizar as situações de disciplinarização mental e de reprodução do conhecimento Por isso ele nos interessa porque com eles na escola podemos construir relações educacionais nas quais a prioridade não é a de ensinar ou dar respostas mas a de proporcionar meios para produção de questões para a construção do conhecimento para que as perguntas se realizem para que a aprendizagem se torne tanto quanto possível menos reprodutora e sim singular e criadora Para que como entende Car riére 2006 p 141 a imaginação que vive dentro de nós sob as aparências mais mis teriosas determinando nossos sonhos e devaneios se manifeste se expanda fl oresça E desta forma como entendemos oportunizando novas maneiras de nos ver de ver a Escola e a Educação que estamos ajudando a construir ARROYO Miguel G Conversas sobre o ofício de mestre In Ofício de mestre imagens e autoimagens Petrópolis Vozes 2000 p 1726 BERGAN Roland Guia ilustrado Zahar de cinema Rio de Janeiro Zahar 2007 BRUZZO C Org Coletânea lições com cinema animação São Paulo FDE 1996 Referências 93 A educação a escola e o desenho animado CARRIÉRE JeanClaude A linguagem secreta do cinema Rio de Janeiro Nova Fronteira 2006 CASTRO Ruy Um fi lme é para sempre 60 artigos sobre cinema São Paulo Companhia das Letras 2006 CHERVEL André História das disciplinas escolares refl exões sobre um campo de pesquisa Teoria Educação Porto Alegre n 2 p 177229 1999 DÉLIA Céu Animação técnica e expressão In FALCÃO Antonio Rebouças et al Coletânea lições com cinema animação São Paulo FDE 1996 p 143176 DUARTE R Cinema e Educação Belo Horizonte Autentica 2002 GIROUX Henry A disneyzação da cultura infantil In SILVA Tomaz Tadeu Org Territórios contestados o currículo e os novos mapas políticos e culturais Petrópolis Vozes 1995 p 49158 Os fi lmes da Disney são bons para seus fi lhos In STEINBERG S KINCHELOE Joe Cultura infantil a construção corporativa da infância Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2001 p 87108 NAZÁRIO Luiz A animação norteamerica In FALCÃO Antonio Rebouças et al Coletânea lições com cinema animação São Paulo FDE 1996 p 3761 NEVES Fátima Maria Filmes e desenhos animados para o Ensino Fundamental Kiriku e a Feiticeira In RODRIGUES Elaine ROSIN Sheila Org Infância e práticas educativas Maringá Eduem 2007 p 101112 O desenho animado na escola In RODRIGUES Elaine ROSIN Sheila Org Pesquisa em Educação a diversidade do campo Curitiba Juruá 2008 p 4156 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 94 1 Depois dos argumentos aqui apresentados sobre a diferença entre animação clássica e cartoon produza um material didático pode ser um Power Point comparando as anima ções e os cartuns mais conhecidos pelo público infantil 2 Vá à locadora mais próxima e faça um levantamento dos desenhos animados destinados ao público infantil Identif que e catalogue os desenhos por Estúdios Ex Disney Pixar Dreamworks Warner Bros e outros Escolha se possível um de cada para assistir Pro duza um texto com o objetivo de identif car as estratégias pedagógicas que estão nos de senhos relacionandoas com as estratégias de marketing organizadas para comercializar os desenhos Proposta de Atividades Anotações 95 INTRODUÇÃO Embora a preocupação com imagens veiculadas pela mídia não seja uma questão recente podemos afi rmar que tem se tornado bastante atual já que não se esgota ram desde Benjamin1 e Barthes2 as especulações sobre a reprodução das imagens em meios impressos ou das próprias fotografi as assim distribuídas Mais tarde o con texto midiático passou a ter importância crucial no contexto da sociedade à medida que os meios de difusão da informação passaram a ser cada vez mais abrangentes orientandose pelas estratégicas da comunicação de massa e da indústria cultural Assim no fi nal dos anos 1960 e 1970 do século XX o poder da mídia se confi gurou como uma das forças importantes da sociedade capitalista e contemporânea Na atualidade o estudo das imagens ocupa diferentes vertentes teóricas quer sejam sociológicas antropológicas quer sejam psicológicas e recentemente semió ticas têm se desdobrado em textos que as exploram sob diferentes pontos de vista quer tratandoas iconografi camente como modo de representação do mundo ou seja como simulacros daquilo que já conhecemos quer tratandoas enquanto pre senças no mundo autônomas e autossignifi cantes No âmbito deste capítulo queremos verifi car como se constrói a signifi cação ou a produção de sentido na relação entre as instâncias que aqui elegemos imagem mídia e educação e como avaliar o entendimento daquilo que se constrói nessa relação Além de um modo de conduzir o olhar é necessário observarmos como a imagem se transforma em um agente manipulador capaz de interferir na compreen são que os indivíduos fazem do mundo por meio das imagens daí a importância de recorrermos à educação para verifi car quais são os elementos passíveis de propor cionarem o entendimento sobre as imagens 1 BENJAMIN W A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução In GRÜNNEWALD José Lino A Ideia de Cinema Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1969 2 BARTHES R A Câmara Clara Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 Isaac Antonio Camargo Imagens mídia e leitura 7 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 96 Na Idade Média o papa Gregório Magno já preconizava o uso pedagógico das imagens preconizando que elas deveriam fazer pelos analfabetos aquilo que a es crita fazia para os alfabetizados isto é revelando por meio delas a vida de santos e mártires Também já ouvimos dizer que uma imagem vale mais do que mil palavras Nos dias de hoje o advento das imagens produzidas por aparelhos e sua difusão nos meios de comunicação de massa sob a égide da indústria cultural dos sistemas de comunicação do marketing da publicidade e propaganda vieram aprimorar e ex pandir o universo da cultura visual3 e ao mesmo tempo atribuirlhes mais funções Por isto temos a convicção de que as imagens são instrumentos pedagógicos po derosos na formação de opinião crenças e valores no contexto da sociedade atual Nas aproximações teóricas feitas ultimamente foi possível constatarmos que imagem mídia e educação embora sejam esferas distintas de ocorrências e saberes possibilitam diferentes análises tomando como referência as relações entre essas três instâncias à medida que podemos conduzir ou ordenar leituras na intersecção desses três contextos sendo este o objetivo deste capítulo CONVIVENDO COM IMAGENS Imagem do latim imago é um termo que designa semelhança logo essa desig nação caracteriza a possibilidade de identifi carmos as imagens mediante a aparência que ela guarde com o mundo natural Daí decorre o entendimento de que o uso da imagem corresponde a um dos meios que temos para representar ou substituir algo do mundo por algo que não se encontre no mundo Neste sentido uma imagem não se constitui para dar conta dela mesma esse é o entendimento tradicional que se tem delas portanto atuam como metáforas do mundo Se tomarmos como referência a ideia de representação as imagens teriam por função atuar no lugar das coisas do mundo substituir ou fi gurar circunstâncias e situações com a fi nalidade de nos manipular e assim nos apresentar certos valores Talvez decorra daí também a longa tradição e gosto pelas imagens fi gurativas eventualmente de aparência naturalista a representação só teria sentido se corres pondesse no todo ou em parte à coisa representada Como se essa sua capacidade de reproduzir o mundo natural fosse um atestado de verdade São as estratégias dis cursivas que a manifestação imagética detém que a faz apropriarse dos efeitos e das qualidades sensíveis do mundo natural dando a impressão de que aquilo que vemos corresponde a algo que de fato existe no mundo natural É justamente essa convic 3 HERNANDEZ F Cultura visual mudança educativa e projeto de trabalho Porto Alegre Artmed 2000 97 ção que suporta os sistemas de distribuição de informação na comunicação social e ampara as mídias que a difundem Entretanto isto nada mais é do que um acordo cultural estabelecido no contexto social um acordo que pressupõe a leitura de uma imagem em relação aos mesmos parâmetros com que é construída Essa é também a estratégia que ampara o uso da fotografi a nos meios de comunicação impressa ou do vídeo nos meios de comunicação televisiva A crença de que as imagens tomadas pelos meios técnicos não mentem e não escondem os fatos fez com que a fotografi a por exemplo fosse também tomada pela sociedade como uma prova documento ou registro O que lhes dá um poder maior do que o da fala atribuindolhes a função de revelar fatos e eventos no contexto da mídia de informação imputandolhes uma força narrativa e descritiva que difi cilmente pode ser contestada Essa capacidade referencial ou especular que as imagens contêm é uma de suas propriedades mais característica Embora não seja a única é a mais evidente Isto faz com que sejam lidas de imediato sem que se detenha nas relações interdiscursivas que proporcionam Essa leitura de superfície embora não as explore em profundi dade detém aspectos e valores subjacentes ao que está ali disposto e é nisto que reside o poder de manipulação que as imagens proporcionam Um exemplo claro pode ser observado nas imagens publicitárias Sabemos que a presença de uma imagem em um jornal indica uma dada função assim como uma imagem em um livro didático ou de arte indica outra função O lugar em que ocupam nos suportes ou nas mídias com as quais convivemos na socie dade são também indicadores de sentido A função cumprida por uma imagem em um jornal diário é diferente daquela que cumpre em um livro didático por exemplo O caráter informativo que ela exerce sobre os saberes cotidianos é diferente do cará ter informativo que ela exerce ao fazer parte de um livro de história de geografi a ou de biologia Os modos e maneiras delas existirem são também adutores de sentido Outro aspecto relevante é identifi car se as imagens com as quais lidamos são produzidas a mão ou por aparelhos O modo como as imagens são feitas também são indicadores de função Tanto as habilidades motoras dos artistas e artífi ces que constroem imagens quanto os recursos técnicos que uma câmera fotográfi ca possui são também importantes elementos de análise para conhecermos as imagens e o que elas signifi cam Da mesma maneira que os materiais dos quais as imagens são fei tas também são importantes elementos de análise assim é possível entender como funcionam e o que pretendem nas diferentes circunstâncias em que aparecem Para entender isto basta nos reportarmos ao modo como as primeiras imagens surgiram Inicialmente eram realizadas a mão e suportadas pela rocha das cavernas pelas pare des dos templos e palácios O caráter artesanal dessas imagens dava conta do mundo Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 98 por meio de um sistema construtivo gráfi co e pictórico desenvolvido por meio da observação de suas técnicas e habilidades e do conhecimento que aquele ser hu mano tinha do mundo A passagem dos suportes parietais para suportes móveis foi uma conquista do mundo moderno O Renascimento possibilitou o surgimento da pintura a óleo e também do quadro de cavalete o que possibilitou a expansão da pintura à medida em que era possível transportála de um lugar a outro tornandoa além de um objeto mais crível um objeto de negócio Entretanto apenas no século XIX é que a imagem deixou de ser criada pelas habilidades manuais do ser humano para ser produzida por aparelhos Gradativa mente a fotografi a foi liberando o ser humano do ofício de reproduzir o visível e neste sentido deulhe maior liberdade para criar e imaginar sem o compromisso de aterse à imitação das coisas Outro aspecto importante que surgiu com a foto grafi a foi sua possibilidade de reprodução Embora a gravura já houvesse resolvido esse problema de reproduzir imagens a fotografi a o faz quimicamente e com mais efi ciência logo é possível usar a imagem como meio de difusão de conhecimento e informação com maior efi ciência do que os meios anteriores Se por um lado Gu temberg4 já houvera por volta de 1540 inventado a prensa de tipos móveis a pre cursora da imprensa industrial de nossos dias por outro a fotografi a popularizou a produção e distribuição de imagens no século XX Finalmente o desenvolvimento das tecnologias digitais ampliou ainda mais o acesso à produção e à distribuição de imagens especialmente com o recurso da rede mundial de computadores Neste sentido a mobilidade das imagens em supor tes virtuais possibilitou a sua distribuição para mais pessoas O uso de meios mais efi cientes de reprodução elevou enormemente o potencial de difusão ampliando absurdamente o universo das imagens e cada vez é maior o número de pessoas que podem acessar mais e mais imagens O que não deixa de ser curioso pois o poder da comunicação reside na possibilidade de fazer mais pessoas acessarem cada vez menos imagens ou seja parece haver maior interesse em buscar a redundância do que a variedade As fotos distribuídas pelas agências de notícias ou as imagens das redes mundiais de televisão exemplifi cam isto O que é compreensível porque à proporção que mais pessoas veem uma mesma imagem o seu poder de informação se amplia e o seu caráter público se consolida Ao mesmo tempo é possível observarmos que as imagens tendem a ser mais sin téticas e mais diretas Imagens complexas cheias de detalhes requerem muito tempo 4 Johann Gutemberg inventor alemão 13901468 cria a tipografi a A impressão por tipos móveis De 1400 a 1455 imprime a primeira bíblia 99 para serem entendidas embora concentrem muitos dados e sejam de difícil leitura Dependem ainda de grandes formatos para serem acessadas em sua plenitude Uma imagem rica mas de pequenas dimensões não é útil para o leitor principalmente na mídia jornalística em que a rapidez e a objetividade são trunfos valiosos O mesmo se pode postular da televisão uma imagem em grandes planos terá pouca visibilidade nos aparelhos dos telespectadores portanto os planos próximos são mais indicados para construir informação no universo televisivo Resta ainda apontar alguns aspectos de ordem ética aquilo que se deve ou convém revelar pelas imagens opera em con traponto com o que se deve ou convém esconder Tanto sob o aspecto dos interesses morais de proteção ao indivíduo à privacidade e a outras questões de caráter ético quanto sob o aspecto que decorre do jogo dos interesses dos sistemas econômicos políticos ou ideológicos em que há interferência na obliteração ou na revelação da informação O grande valor da informação e nisso também reside o seu poder se traduz na sua capacidade ou potencial educativo A educação formal enfrenta difi culdades de toda ordem quer no âmbito institucional como no contexto da sociedade per dendo espaço para meios mais efi cientes de produção e difusão de informação que rivalizam com as estratégias de ensino e meios usados no ambiente escolar Essa disparidade fi ca cada vez mais patente à medida que as tecnologias digitais avançam Se na antiguidade produzir imagens era um trabalho de fôlego e de habilidades contemporaneamente é apenas uma questão de investimento Os computadores pessoais e seus periféricos são efi cientes para captar ou produzir e imprimir imagens em pouco tempo A qualidade dessas imagens pode ser muito melhor do que as ima gens que ilustravam os impressos em meados do século passado e tão boas quanto as imagens reproduzidas nas melhores edições de livros da atualidade O domínio sobre a produção e qualidade das imagens é tal que podemos criálas totalmente em computadores sem que nada do que apresentam pudesse ter existido ou viesse a existir um dia O enriquecimento que as imagens tiveram com o avanço tecnológico atua na proporção inversa ao seu uso em sala de aulas Um pequeno exemplo disso é a necessidade que se tem de mapas cartográfi cos para aulas de geografi a na maioria das salas de aula eles não existem Uma sala de aula na escola pública nem sempre dispõe de material didático apropriado atualizado ou em boas condições ao passo que qualquer revista ou jornal usa mapas e recortes de mapas com uma maestria inusitada Uma notícia pode começar situando o lugar de uma dada ocorrência no globo depois no hemisfério no continente no país na região na cidade e até no bairro ou na rua em que o fato aconteceu As recriações imagéticas de cenas e Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 100 eventos rivalizam com as imagens fotográfi cas tomadas no momento da ocorrência A necessidade que a mídia impressa tem de competir com as imagens via televisão ou via rede faz com que seu uso seja mais intenso e criativo Provedores e busca dores da rede mundial de computadores possuem mapas e localizadores capazes de encontrar qualquer lugar do mundo e mostrálo na tela de um monitor Há uma grande incompatibilidade entre a tecnologia disponível no mundo atual e a indigên cia da educação pública A sociedade sabe disso os alunos sabem disso Os telefones celulares as câmeras digitais as lan houses tudo isso faz parte do contexto em que vivemos e transitamos alguns com maior proximidade outros com certa distância mas uma grande parte da população absorve essas informações e as processa e as redistribui isso faz com que aumentem as diferenças e as exclusões é nesse país que vivemos CONSTITUIÇÃO DAS IMAGENS E PRODUÇÃO DE SENTIDO NA MÍDIA Antes de pensar a imagem e sua relação com a mídia devemos pensar no modo como elas produzem sentido ou signifi cação ou seja aquilo que elas revelam Seus sentidos decorrem tanto de suas características constitutivas plásticovisuais quanto dos modos como elas são apresentadas em seus suportes ou sistemas de mediação e sobretudo das funções que cumprem ou exercem nas sociedades em que ocorrem Assim podemos asseverar que uma imagem signifi ca a por meio de suas qua lidades sensíveis b por meio dos modos como se manifestam e c por meio das funções que cumprem no meio social Uma imagem manifesta suas próprias qualidades ou seja o modo como foi pro duzida seus elementos formantes as substâncias expressivas por meio das quais se realiza e os aspectos plásticos deles decorrentes Isto garante a sua presença e diz respeito aos aspectos intrínsecos que são constitutivos da imagem em si A lumi nosidade a espacialidade e a temporalidade são modos de existência sensíveis das imagens A luminosidade diz respeito aos modos como a luz se manifesta por meio delas seja a questão tonal as diferenças de intensidade luminosa que produz as va riações de claroescuro quer seja a questão de variação da frequência que produz as diferenças cromáticas A espacialidade referese à maneira como o espaço ocorre nas imagens quer seja organizando seus eixos principais horizontal vertical diagonal profundidade ou as direções que perpassam por eles A temporalidade é relativa aos modos como a ideia de tempo se realiza nas imagens quer como o desenrolar do olhar de ponto a ponto percorrendo a superfície da imagem quer descobrindo as estratégias visuais construídas para temporalizar a imagem 101 Quanto às imagens tomando como referência seus modos de realização pode mos designar três categorias pictográfi cas fotográfi cas e digitais Assim é possível identifi car a partir dos elementos formadores ou constitutivos próprios de cada uma delas os dados que nos remetam aos saberes específi cos sobre elas mesmas Por imagens pictográfi cas chamamos os desenhos e as pinturas produzidas manual mente as fotográfi cas são aquelas produzidas por câmeras e as digitais são aquelas produzidas pelos computadores e seus digitalizadores de imagem No contexto das imagens pictográfi cas quando nos dedicamos a olhar os modos com que os traços ou pinceladas se apresentam em um desenho ou em uma pintura somos capazes de perceber por meio das marcas presentes em sua superfície o fazer manual bem como o estilo ou a gestualidade do autor Ao mesmo tempo essas ima gens revelam os materiais dos quais foram feitas e as qualidades as revelam enquanto propriedades sensíveis bem como os suportes nos quais existem ou estão instaladas São também as suas qualidades plásticas ou visuais que as caracterizam e as tornam inteligíveis a nós Os sentidos decorrem de diferenças uma simples mudança de estado já signifi ca um simples traço em uma superfície qualquer propõe uma série de signifi cados mostra a alteração de um estado anterior sem traço para um estado posterior com traço de um estado anterior de ausência do traço para um estado posterior de presença do traço Altera o estado da superfície que o recebeu sem traço para com traço revela o gesto que o criou suave denso intenso delicado mostra a direção que o orienta acima abaixo lateral vertical denuncia o material do qual foi feito Traz em si um mundo de revelações Um simples traço pode revelar muito desde o material que lhe deu existência as direções que percorreu até o gesto que o realizou A segunda categoria de imagens que citamos são as fotografi as Diferentemente das pinturas e desenhos as fotografi as possuem certas características óticas que além de as determinarem as distanciam das imagens manuais Essas imagens se constituem em um dos modos mais efi cientes de nos convencer e nos iludir em relação ao que demonstram do mundo natural Pelas facilidades que apresentam ao referenciaremse ao meio nos convencem daquilo que nelas vemos como a corres pondência analógica de algo que se encontra fora delas Por serem produzidas por um aparelho ótico automático têm como propriedade a capacidade de reproduzir aquilo que vemos no mundo e não o que imaginamos Ao mesmo tempo as fotografi as trazem em si as marcas da tecnologia que a ge raram reveladas pelo próprio aparelho o que lhes proporcionam uma supremacia no tocante à produção de imagens em série As fotografi as mostram as marcas e os Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 102 constrangimentos impostos pela câmera nas substâncias sensíveis dos fi lmes ou papéis fotográfi cos onde residem as imagens tomadas ou criadas por ela Essas são as características das imagens fotográfi cas Tanto as imagens pictográfi cas quanto as fotográfi cas revelam características que as distinguem entre si mas isto não é uma possibilidade da terceira categoria de imagens que distinguimos ou seja as digitais Elas se apropriam das características das imagens pictográfi cas e das fotográfi cas e podem se parecer tanto com umas quanto com ou tras Como são imagens de síntese podem ser armazenadas como dados em arquivos magnéticos e manipuladas de acordo com o interesse do usuário Sua grande vantagem é a agilidade a capacidade de realizar com mais rapidez aquilo que só conseguiríamos produzir com maior tempo ou dedicação e sua versatilidade de uso e transformação As demais questões referentes ao contexto social são fatores extrínsecos a elas sendo relativos às funções campos temáticos e aos valores simbólicos ou represen tativos que assumem na sociedade caracterizandose como elementos de signifi ca ção cuja correspondência é social e não imagética Se tomarmos como referência a história das imagens na História da Arte por exemplo vamos descobrir que é possível encontrar diferentes maneiras de fazer imagem decorrentes de certas regiões de certos períodos de certos autores e de outras tantas origens com base na simples observação dos elementos que as consti tuem Isto por si só já revela o potencial pedagógico que as imagens contêm Um dos efeitos de sentido mais comum que percebemos nas imagens é justa mente a aproximação ou o afastamento do mundo natural Essa é uma de suas estra tégias de comunicação mais antigas a imitação do visível entretanto uma imagem pode se parecer ou não com as coisas que conhecemos A questão da aproximação ou afastamento daquilo que conhecemos é uma maneira de signifi car de atração e de convencimento ao nos dar a impressão de ser uma imagem possível Signifi ca grosso modo uma maneira de nos inserir no mundo de dirigir ou alongar nossos olhos para uma dada ocorrência um acontecimento ou simplesmente de fazernos presentes em um determinado evento do qual não participamos Por outro lado quando oblitera esconde o mundo o desfoca o desconstrói ou o dilui caminha no sentido oposto na intenção de não nos dar a ver o fato o evento ou a ocorrência em si e sim de realizar o oposto a perda de materialidade ou da realidade No contexto da mídia porém um dos seus efeitos mais corriqueiros é impregnar de realidade o suporte em que reside e é justamente essa qualidade especular de se parecer muito com as coisas que conhecemos no mundo que a faz gerar sentido e estabelecer a crença sobre a verdade da imagem Ao se constituir na síntese do verí dico admite a crença de que uma fotografi a é capaz de tomar o real e o consolidar 103 mediante um registro óticoquímico sobre o qual nos debruçaremos para recuperar o visto o ocorrido o existente Nisto se funda grande parte da credibilidade que a mídia pósfotográfi ca adquiriu Uma imagem fi gural é sempre um recorte de algo passível de existência que se faz pre sente pela evocação simulacral Esse é o ato de convicção que o faz existir e isto se consti tui em fé em credibilidade Toda imagem evoca algo do sensível quer do mundo natural quer da própria plástica imagética e se torna presente se colocando e nos colocando em cena É justamente para isso que elas existem para colocarnos em relação ou para pro porcionarnos experiências não vividas mas vivenciáveis criar existências ou simulações outras que não as que temos consciência para fazernos parecer donos da informação ou em última hipótese de um saber que supostamente dominamos É esse um dos objetivos do uso das imagens no ambiente da mídia um instrumento de manipulação de nossos interesses e vontades Todavia não são somente as imagens fi gurais aquelas parecidas com o mundo ou com o que conhecemos dele que habitam a mídia Há outros tipos de imagens criadas com outros fi ns que não sejam os de representar ou de nos informar sobre as coisas que conhecemos Um gráfi co por exemplo é constituído por uma imagem realizada a partir de dados numéricos quantifi cados e agrupados por ocorrência incidência ou por cate gorias que reúnem certas características comuns em um dado campo de conhecimento tratados por métodos estatísticos Seus formatos quer sejam de barras circulares quer sejam quaisquer outros têm por fi nalidade dar visibilidade aos números por meio de imagens Tal uso parte do pressuposto de que seria mais difícil abstrair a informação de uma ideia numérica sendo que parece ser mais fácil compreender um círculo cortado em fatias de tamanhos diferentes compreender um conjunto de barras de alturas e cores distintas ou ainda identifi car linhas que sobem e descem em uma superfície plana Nesse caso essas imagens podem informar instruir e explicar coisas que de outro modo ocu pariam muito tempo e muita verbalização para acontecer Há ainda outros tipos de confi guração visual utilizados para informar orientar escla recer indicar e mostrar caminhos percursos ou parâmetros visuais que embora sejam imagens não se parecem com nada que conhecemos no mundo natural Elas fi gurativi zam dados caminhos e leituras e com isto vão produzir sentidos contribuir para a elu cidação ou complementação de informações e dados dos quais a mídia é rica Podemos lembrar as tabelas vinhetas ícones ou sinais indicadores de assuntos tópicos ou sessões Todos esses recursos visuais pretendem constituir a superfície midiática com o fi m de hierarquizar e escalonar as leituras nelas ordenadas embora nosso olhar seja muito mais atraído pelas imagens que reconhecemos como as fotos as caricaturas os desenhos do que pelos gráfi cos números e pelas manchas diagramáticas dos textos verbais Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 104 Outras imagens como mapas plantas de ruas fotos aerofotogamétricas podem ser usadas nas reconstituições digitais que reorganizam os percursos no espaço geográfi co das cidades nos domínios aéreos ou marítimos utilizados nas informações sobre expedi ções científi cas confl itos bélicos e em outras situações similares para dar ao leitor uma vi são mais precisa do espaço em que tais eventos ocorreram Nada mais fi ca ao acaso tudo tem o seu lugar a sua fronteira o seu limite Sabemos com precisão onde cada evento ocorre em cada parte do mundo sem sairmos do nosso lugar apenas visualizandoo na constituição da espacialidade midiática O que estamos chamando aqui de espacialidade são para as formas que a mídia têm de tematizar selecionar posicionar e revelar sentidos com base nas relações espaciais que as imagens proporcionam em um dado suporte com vistas a constituir o sentido de lugar A topologia da página impressa entendida como uma superfície diagramática já é um desses elementos cujo fi m é fazer com que o sentido se realize pois é ali que se organiza o percur so de leitura instituído por ela Esse percurso é orientado de acordo com as pontuações vi suais defi nidas pelos detalhes da imagem naquele contexto como dirigir o olhar para cima ou para baixo um lado ou outro Uma das maneiras pela qual essas orientações se manifes tam é em relação à disposição dos elementos visuais na superfície da página ou da projeção ou da tela do monitor de tv ou vídeo de computador ou seja em que lugares defi nidos ou delimitados naquela área ou naquele meio Temos pela tradição cultural ocidental o hábito de designar como de maior importância a área superior de uma página em razão disto tudo o que se encontra no topo ou no cabeçalho da página chama mais nossa atenção Esse hábito é tão arraigado em nosso cotidiano que poucos veículos por mais inovadores que sejam se arriscam a mudar essa disposição Para entendermos isto é só lembrar que jornais e revistas usam a área superior para alocar seu nome sua marca e abaixo disso temos uma segunda instância espacial privilegiada onde se localizam as manchetes nos jornais e os títulos das matérias nas capas das revistas cuja importância é maior naquela edição Mesmo nas diagramações de livros e folhetos esse critério é na maioria das vezes respeitado Logo isto se confi gura além de um modo de presença constituição de sentido Além da questão de ordem topológica podemos também pontuar o uso do espaço destacando os elementos quanto à dimensão ou seja seu tamanho relativo O tamanho com que os elementos se apresentam uns em relação aos outros é um fator de signifi ca ção tão importante quanto o lugar O tamanho das letras de uma manchete por exem plo é sempre maior do que a dos títulos que por sua vez são muito maiores do que as letras que ocupam os textos nas colunas A manchete só perde em dimensão ou se iguala ao tamanho da marca ou do nome do veículo A dimensão é um modo de atribuir importância de distinguir aquilo que é mais relevante em relação ao menos relevante e isto é também uma estratégia de signifi cação 105 A cor é sem dúvida outra maneira de construir signifi cação As diferenças cromáticas visam a atribuir mais importância à palavra impressa ou às imagens utilizadas fazendo com que se destaquem umas em relação às outras Atualmente a maioria dos sistemas midiáticos utiliza a cor e suas relações cromáticas para intensifi car os efeitos de sentido ou produzir signifi cação Quando se procura destacar um conjunto de letras do todo por exemplo mudase sua cor Sob esse aspecto não há necessidade de estabelecer mos qualquer relação simbólica ou psicológica entre cores e efeitos de signifi cação mas apenas identifi car em que situações as cores diferenciamse para designar circunstâncias diferentes ou melhor para destacar algo do todo Podemos ainda chamar a atenção para a possibilidade de uso de diferentes fontes tipo gráfi cas mesmo não padronizadas na ordenação gráfi covisual de uma determinada mídia O uso de formatos diferentes como o chamado tipo fantasia implica em diferenciação do contexto habitual da mídia e isto por sua vez também signifi ca Mesmo porque a maioria dos jornais e revistas não abre mão de sua diagramação ofi cial logo esse uso é um fator de destaque um modo de atribuir importância a certas chamadas ou manchetes Normal mente as mudanças gráfi cas mais radicais ou mais abrangentes são feitas com muita publi cidade e preparo dos leitores ou telespectadores Nenhum leitor sentese à vontade sendo surpreendido por um novo padrão visual a cada dia Isto surte um efeito de instabilidade e de falta de atenção para com o leitor habitual A estabilidade é um dos elementos de signi fi cação que produz a sensação de continuidade e de constância um dos mais importantes para a mídia impressa Contemporaneamente não podemos deixar de citar os efeitos digitais Estes são pro duzidos a partir dos recursos tecnológicos advindos dos softwares de computadores Embora a maioria dos veículos da mídia impressa mantenha suas características originais vinculadas à tradição em que operam quer assumam o formato de revistas quer de jornais é interessante notar que os veículos que operam a menos tempo no mercado editorial tendem a usar com mais liberdade esses recursos e aqueles mais tradicionais ou seja os veículos com mais tempo no mercado evitam o uso desse recurso É bom lembrar que nada do que se faz em um computador é impossível de se fazer a mão entretanto o computador é um instrumento que nos permite mais rapidez e maior qualidade ao aca bamento o que manualmente dependeria de um bom domínio técnico A vantagem do computador reside na maioria das vezes na quantidade de tempo despendido para uma dada tarefa consequentemente proporcionando uma boa economia Devido a isto a dinâmica da distribuição da informação é agilizada Um jornal é produzido da noite para o dia e uma revista de uma semana para outra ou de mês em mês de acordo com sua periodicidade a informação em mídia digital ou eletrônica é produzida praticamente em tempo real Na atualidade um dos fatores econômicos mais importantes é a rapidez Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 106 e a qualidade com que a mídia atende ao seu público tudo o que facilitar o atendimento desse fi m é bemvindo mesmo abrir mão do fazer artesanal que em determinados mo mentos teria um valor inestimável RELAÇÕES ENTRE MÍDIAS Outro modo de leitura que as mídias nos proporcionam é a possibilidade de estabele cer contrapontos com os demais veículos que constituem esse universo Por um lado a ver satilidade que observamos no contexto das próprias mídias quanto ao aporte tecnológico e digital possibilita um sincretismo5 cada vez maior entre elas e sendo assim abrese um diálogo maior com outros textos sejam imagéticos ou verbais É comum reconhecermos as referências que a mídia impressa faz à mídia televisiva em certas notícias recuperando informações ou aprofundando análises que de outra maneira fi cariam esquecidas Do mesmo modo é interessante percebermos a recuperação que a televisão faz de notícias veiculadas em jornais e revistas o tempo todo As mídias são em parte autonutridas auto referenciadas falam de si entre si e algumas vezes para si mesmas deixando ao leitor a responsabilidade de construir suas leituras nem sempre livres de orientações ideológicas ou isentas da contaminação em que um dado modo de olha revelar Portanto há relações intermidiáticas destinadas a construir ou reordenar as informações distribuídas no meio social que também são relevantes como estratégias de comunicação De uma maneira ou de outra a fi nalidade das manifestações imagéticas na mídia é co locar o olho do leitor na cena no evento no acontecimento Fazer com que aquele que lê seja colocado em presença do fato do feito É desse modo que a mídia de informação determina o papel do ator em seu contexto Tanto aquele que diz quanto aquele que lê fazem parte de uma mesma estratégia de signifi cação por conseguinte aquele que se encontra em contínua transformação por isto assume diferentes papéis no intuito de dar conta de um saber que será sempre construído na dinâmica da leitura no tempo e no espaço da mídia O saber ali constituído depende das relações que se desdobram a partir da leitura de discursos que se cruzam sejam verbais visuais ou audiovisuais que fl uem na interdiscursividade típica da mídia impressa é desta forma que a mídia articula o sensível na construção de seus saberes proporcionando aos destinatários das informa ções diferentes leituras de mundo e nisto reside sua essência 5 Usamos o termo Sincretismo para fazer referência à possibilidade de uso de diferentes sistemas de signifi cação verbal e visual por exemplo para atingir uma mesma signifi cação 107 BARTHES Roland A câmara clara Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 BENJAMIN Walter A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução In GRÜNEWLAD José Lino A idéia do cinema Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1969 FIORIN José Luiz As astúcias da enunciação São Paulo Ática 1996 GREIMAS Algirdas Julien De la impercección México Fonde de Cultura Económica 1990 HERNANDEZ Fernando Cultura visual mudança educativa e projeto de trabalho Porto Alegre Artmed 2000 LANDOWSKY Eric A sociedade refl etida São Paulo PontesEduc 1992 OLIVEIRA Ana Claudia FECHINE Yvana Org Visualidade urbanidade intertextualidade São Paulo Hacker 1998 PINTO Milton José Comunicação e discurso São Paulo Hacker 1999 Referências 1 Qual a diferença entre representação visual e manifestação das qualidades sensíveis nas imagens 2 Identifi que as categorias de imagem citadas no texto 3 O que se chama de intermídia no texto Proposta de Atividades Imagens mídia e leitura EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 108 Anotações 109 As revistas da forma como as conhecemos hoje fazem parte do cotidiano dos bra sileiros há quase 100 anos Portanto é plenamente possível afi rmar que já são parte constitutiva das vidas de centenas de milhões de pessoas ajudando a moldar seus hábitos participando da criação de modelos culturais e infl uenciando na formação de opiniões políticas e ideológicas Falar da pedagogia das revistas não é tarefa simples principalmente porque de vemos considerar que tanto o conjunto da publicação o próprio produto revista as sociado a sua circulação e as linguagens utilizadas em sua confecção são por si pró prios elementos pedagógicos que atuam em nosso cotidiano infl uenciando nossas percepções do mundo sendo tão importantes quanto seus elementos quando vistos em separado Além disto é prudente considerar que a mídia revista integra complexos de comu nicação em nossa sociedade fazendo parte de empresas grandes grupos ou corpora ções em que se agrupam jornais emissoras de rádio e televisão serviços de Internet e outros O funcionamento da comunicação de um meio ou veículo nos obriga a pensála articulada em um conjunto cultural mais amplo Por serem muito dinâmicos é difícil defi nir claramente em uma sociedade quais são os agentes criadores de linguagens de comunicação e valores culturais uma vez que isso tende a ocorrer de maneira difusa No decorrer deste capítulo pretendemos abordar uma variedade de aspectos ge rais e particulares da mídia revista tais como a estrutura editorial e os padrões criados a importância da circulação e das linguagens utilizadas na comunicação com o leitor procurando também entendêla em suas estruturas ideológicas e apresentar um pou co de sua história É nosso objetivo oferecer uma visão geral desse sistema complexo que colabore para o entendimento das diversas dimensões presentes na elaboração e na circulação das revistas que nos chegam às mãos Trataremos aqui das revistas em geral procurando destacar a atuação das revistas Ilustradas que respondem por uma grande parte das publicações desse segmento Jorge Luíz Romanello A pedagogia das revistas 8 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 110 do mercado editorial brasileiro atentando entre elas para as chamadas Revistas de Variedades aquelas mais tradicionais que não são especializadas ao menos em um sentido absoluto aquelas que pretendem discorrer mesmo que brevemente sobre to dos os assuntos HISTÓRIA DAS REVISTAS ILUSTRADAS Somos hoje uma Civilização da Imagem vivemos em meio a elas ou melhor defi nindo saturados delas A possibilidade de imprimir em larga escala imagens pro porcionadas pelas revistas ilustradas colaborou diretamente na constituição desse modelo Esse fenômeno se deve em grande parte ao desenvolvimento da fotografi a e das téc nicas para sua reprodução ou seja do desenvolvimento de fi lmes equipamentos foto gráfi cos linguagens modelos de diagramação de máquinas e sistemas de impressão Nascida em meados do século XIX momento de grande desenvolvimento técni co e científi co a fotografi a tornouse um símbolo da neutralidade e da objetividade Considerouse por muito tempo que em função de ser produzida por uma máquina a fotografi a capturava o real de maneira isenta Pensavase que em sua produção não havia uma interferência humana maior do que apertar um botão coisa que sabemos hoje não corresponder à realidade1 A trajetória da reprodução de imagens na imprensa começou com a introdução internacional das revistas ilustradas por obra da inglesa Illustrated London News de 1851 precursora remota da revista brasileira Semana Ilustrada de 1869 Concorrendo para uma intensa popularização das revistas que assim começam a se tornar um pro duto de consumo de massas já na primeira década de 1900 essa inovação permitiu a troca das ilustrações pelas fotografi as No mesmo momento a Revista da Semana seguida pela Ilustração Brasileira 1901 e Kosmos 1904 se encarregariam de nos habituar e nos dar a conhecer os personagens das ciências letras e artes dos grandes centros industrializados seus cenários costumes tradições suas glórias e guerras através do registro fotográfi co KOSSOY 1980 p 57 1 O interessante é que hoje decorridos mais de 100 anos dessa invenção e de todas as críticas e estudos já realiza dos sobre a produção da imagem fotográfi ca ainda é pertinente considerar que atrás da câmera opera uma pessoa com sentimentos com simpatias e restrições a determinados temas que isto implica em escolhas de ângulos que o uso de determinadas lentes produzem resultados diferentes para uma mesma situação fotografada que o fi lme fotográfi co distorce as cores devido a suas características químicas que as fotografi as podem ser recortadas nos ampliadores e máquinas de revelação que uma fotografi a é bidimensional e que diferentemente de uma escultura por exemplo não podemos olhála por três lados sendo portanto a sensação de profundidade um efeito óptico e mais um sem número de outras questões que não permitem que a fotografi a seja uma captura isenta do real 111 A partir de então a participação das imagens na imprensa tornouse permanente primeiramente pelas mãos dos ilustradores que muitas vezes passaram a defi nir o estilo das revistas mais tarde esse lugar seria ocupado por fotógrafos e diagramadores Importante considerar que na passagem do século XIX para o século XX as revistas passam a ser produzidas não mais com o objetivo principal de divulgar a opinião de grupos ou pessoas marca que caracterizava generalizadamente a imprensa brasileira até então e sim enquanto um produto voltado ao mercado de entretenimento e ao atendimento de interesses de públicos específi cos Desde então passaram a ser produzidas para atender ao mercado e consequente mente passaram a depender mais dele Nas primeiras décadas do século XX passaram a circular revistas de temas médicos científi cos históricos e geográfi cos literários femininos infantis variedades entre ou tras Assuntos modernos possuíam títulos específi cos automobilismo era conteúdo para a Revista dos automóveis Cinema para O cinema 1910 aviação circularia nas páginas de O aérofólio 1915 DEMARCHI 1992 p 2630 Os anos de 1920 trazem à cena um sem número de outros títulos entre eles O Cruzeiro 1928 Fundada pelo advogado e jornalista Assis Chateaubriand a revista integrava um complexo editorial e gráfi co chamado de Diários Associados Com tiragem inicial de 50000 exemplares esse foi um dos títulos de maior sucesso da imprensa brasileira2 Nesse tipo de revista a imagem passou a ser o principal elemento comunicativo nelas desenhos cartuns charges fotografi as e outros elementos de comunicação vi sual são utilizados de maneira a ampliar seu poder comunicativo Entre todos esses a fotografi a sem dúvida ocupa lugar privilegiado As modernas Revistas Ilustradas nasceram na Alemanha do pósPrimeira Guerra Mundial 19141918 a partir de experimentos fotográfi cos que a invenção de novos e pequenos equipamentos proporcionou Quase ao mesmo tempo em que se fundava essa nova concepção de imagem foto gráfi ca Stefan Lorent também na Alemanha assumia o cargo de editor chefe da Mün chner Illustrierte Presse Editor arrojado Lorent desenvolveria um novo conceito de 2 Em 1954 a tiragem da revista O Cruzeiro atingia por ocasião do suicídio de Getúlio Vargas 700 mil exem plares sendo lida por um público estimado entre 3 e 4 milhões de pessoas números surpreendentes se con siderarmos que a população do país era de cerca de cinquenta milhões de habitantes com altos percentuais de analfabetismo Era o início do mais rico período jamais vivido até então por qualquer outro órgão da imprensa no Brasil e duraria até meados da década de 1960 quando problemas em sua estrutura de funcionamento começa ram a minar o sucesso de um dos mais importantes veículos da história da imprensa brasileira Mesmo combalida pelos problemas internos pela competição vigorosa de novas revistas como a Manchete e pela difusão maciça da televisão a revista ainda circulou até 1974 A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 112 reportagem nas revistas ilustradas Segundo o novo modelo proposto elas deveriam ser capazes de contar uma história por uma sucessão de imagens Em volta de uma ima gem central resumindo todos os elementos da história agrupase um certo número de fotografi as A fotoreportagem devia ter um começo e um fi m defi nidos pelo lugar o tempo e a ação como no teatro Lorent foi o primeiro a compreender que o leitor não quer ser apenas informado sobre os fatos e gestos das grandes personalidades mas que o homem da rua se interessa por assuntos que tem a ver com a sua própria vida Alguns anos mais tarde esta ideia fará o sucesso da revista Life FREUND 1995 p 118 O lançamento da revista Vu na França em 1928 pelo editor jornalista pintor e desenhador de talento Lucien Vogel fará a primeira experiência do novo estilo fora da Alemanha FREUND 1995 p 126 Adaptada ao gosto do público norteamericano se tornaria ela mesma a grande difusora do modelo Aos poucos o modelo Life ganhou o mundo A Francesa Match foi a primeira a seguirlhe os passos a partir de 1938 CARVALHO 2001 p 63 Em 1943 Jean Manzon fotógrafo francês radicado no Brasil introduzia no país o fotojornalismo nas páginas de O Cruzeiro abrindo caminho para um enorme cres cimento das tiragens mas principalmente para o nascimento de outras revistas do gênero tais como a Manchete ocorrido no início da década de 1950 Nelas as fotografi as e o texto são articulados de forma a produzir um discurso har mônico com base na imagem em que a função do texto é complementar a fotografi a Em se tratando de conteúdos a reportagem deveria ser abrangente procurando atrair o interesse do maior número possível de leitores de ambos os sexos de idades e origens sociais variadas No plano do conteúdo a fotorreportagem em geral busca contar histórias que interessem a um grande número de leitores de diferentes sexos idades e clas ses sociais Para isso tanto vale abordar o cotidiano das pessoas comuns que assim se sentem retratadas pela revista como trazer para seus lares realidades inteiramente estranhas ao seu mundo seja pelo exótico ou pela sofi sticação que igualmente as atrai Na forma a reportagem fotográfi ca procura situar o leitor no espaço e no tempo É comum a abertura ter uma grande foto de impacto que muitas vezes já dispõe o assunto geografi camente eou retrata os personagens da história O encadeamento das imagens seguintes vai situar o leitor no tempo ou através da construção de uma sequência fotográfi ca que funciona como um fi lme ou de imagens isoladas que mesmo não formando uma série cronológica vão sempre se dispor como imagens concatenadas SILVA 2004 p 36 Em um sentido mais amplo as revistas fazem parte do que alguns autores chamam de Indústria Cultural um sistema que os integrantes da Escola de Frankfurt de fi nem enquanto produtor de bens culturais direcionados estritamente ao consumo 113 Segundo pensadores fi liados a essa escola uma das principais características dessa produção seria a de ocupar o tempo livre das pessoas com bens de consumo cultural homogêneos e simplifi cados Uma cultura que aliena e não enriquece o ser humano O mesmo princípio vale também para o consumo de programas de televisão entrete nimento em sites rádios etc As revistas têm de atender às expectativas de média de seu público que tende a ser heterogêneo Isto signifi ca que nelas temse de se trabalhar com tendências de opinião Podemos afi rmar ainda um pouco simplifi cadamente que isto é parte de um sistema de emissão e recepção ou seja a revista emite uma mensagem na forma de notícias ou propagandas e que criam ou reforçam valores padrões de vida e visões de mundo e o leitor as recebe formandose nesse processo um sistema de comunicação O sucesso da revista entre o maior número possível de leitores preferencialmente em faixas de público que possam consumir os produtos anunciados em suas páginas irá defi nir a atração dos anunciantes e o preço das propagandas veiculadas são negociados pelo espaço que ocupam em centímetros quadrados e por sua localização na revista Podemos pensar ainda que as propagandas podem ser feitas de maneira indireta e aparecerem por meio da cobertura da inauguração de uma empresa lançamento de novos produtos por meio de reportagens que mostrem o crescimento ou até mesmo o espaço para a ampliação de mercado de novos produtos Estas últimas não necessi tam necessariamente de serem pagas pois funcionam como um atrativo para a venda futura de propagandas e também enquanto artifício informativo para o leitor podendo ajudar a aumentar seu público Nesse universo as regras também são complexas não podemos achar estranho que em uma revista especializada em carros por exemplo patrocinada por empresas do setor haja crítica a modelos e produtos anunciados porque o objetivo desse tipo de publicação é a manutenção e a ampliação do mercado automobilístico Agindo assim a revista apresentase como um órgão independente o que tende a reforçar sua imagem junto aos leitores Mesmo que procurem manter certa independência com relação aos fatos publi cados as revistas estão sujeitas a limites desde a aceitação do público até o interesse dos anunciantes assim como estão envolvidas em um complexo jogo de interesses englobando o cenário político nacional e internacional acabam quase inevitavelmente por defender mais os pontos de vista de certos grupos do que de outros Em outras palavras como são empresas nas quais a informação é o produto que deve ser vendido em um mercado capitalista estão sujeitas às regras que regulam esse mercado para sobreviverem A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 114 Cabe lembrar que o governo federal os governos estaduais e municipais também compram espaços de propaganda tornando ainda mais complexo esse sistema Essas tendências quando existem nunca são declaradas e essas opções devem ser sutis até porque a imagem da isenção e da imparcialidade que estão na base da credibilidade de um veículo de comunicação tem que ser reafi rmada constantemente para que se mantenha a sua credibilidade Se acompanharmos o funcionamento e a estrutura da elaboração de uma única reportagem poderemos começar a entender como esse complexo jogo ganha forma Uma reportagem é decidida na redação e a fi gura do redator responsável e mais tarde do redator chefe são fundamentais no tom da cobertura Serão eles por exem plo que escolherão umas poucas fotos entre as dezenas ou centenas que lhes chegam às mãos produzidas pelos fotógrafos E são essas escolhas que defi nem o tipo de mensagem que se quer construir com aquela reportagem ao fazêlas já se age ideolo gicamente já se tende para algum lado Imaginemos por exemplo a diferença que faz aos olhos do leitor se a foto esco lhida para ilustrar determinada reportagem sobre as ações do governo federal direcio nadas ao melhor desempenho da economia do país se a imagem mostra o presidente da república com os cabelos despenteados e a camisa amarrotada situação normal para homens públicos que participam de várias atividades diárias ou se para a mes ma reportagem for escolhida uma foto do presidente de terno impecável ou mesmo jogando uma partida de tênis A partir dessa escolha podese criar uma ideia de desorganização e cansaço no primeiro caso organização e responsabilidade no segundo e ainda vigor e competiti vidade no terceiro É claro que a mensagem fotográfi ca tem um poder limitado e como são muitos os leitores nunca há real garantia que as imagens e títulos escolhidos serão lidos com o sentido com que foram originalmente construídos Devemos sempre considerar que caso fosse assim uma revista ou qualquer outro veículo de mídia teria um poder ili mitado do qual os leitores seriam escravos e não agentes sociais capazes de fazer escolhas Sabendo da capacidade do leitor em aceitar ou não as mensagens veiculadas e que a leitura será inevitavelmente variada é que se procura ser sutil de maneira mais a sugerir do que a impor Neste sentido é que podemos pensar que interessa mais às mídias serem formado ras de opinião e de consumidores que de fato interferem nas opiniões ajudam a criar modelos e a moldar desejos do que a impôlos Não devemos menosprezar seu poder junto à sociedade mas também não devemos considerálo absoluto 115 Tão importantes quanto as próprias fotos escolhidas é o espaço que ocuparão mas principalmente o lugar em que elas serão publicadas Há estudos muito sérios que indicam aos editores quais as seções mais lidas das revistas e mesmo quais as partes das páginas que serão procuradas primeiro pelo olhar do leitor e tudo isto trabalhado em conjunto acaba fazendo uma enorme diferença no tratamento dado a um mesmo assunto por revistas ou mesmo por editores diferentes É também por meio da escolha dos títulos e subtítulos das matérias as legendas das fotos e um sem número de outras escolhas possíveis que se manifestam ideologias Usar da autocensura limitar e regulamentar a própria atividade jornalística e em presarial é outra forma de garantir aceitabilidade social Por esse princípio as revistas devem estipular limites para o que poderá ser ou não publicado e de que forma de vem ser tratados os assuntos com vistas a garantir que excessos não sejam cometidos No caso da história da imprensa brasileira temos ainda como elemento bastante peculiar a presença marcante da censura praticada pelo Estado que restringiu por décadas as atividades jornalísticas no país e acabou infl uenciando também na maneira dos veículos se comunicarem com seu público Devido a sua importância na modernidade há uma série de mecanismos internos que pretendem limitar e monitorar a profi ssão de jornalista e principalmente o fun cionamento dos veículos sua seriedade no trato das matérias e o tipo de cobertura realizado A parcialidade é objeto de críticas dos próprios profi ssionais Entidades associações independentes e de classe e mesmo publicações especializadas procuram zelar por uma maior integridade dos veículos de mídia Sua aprovação ou reprovação ainda que não tenha força de lei representa algum impacto na imagem de isenção de um veículo perante a opinião pública O ombudsman teoricamente é uma fi gura contratada pelo veículo que possui a função de criticálo para zelar pela integridade do veículo corrigir seus rumos defen der o leitor procurando garantir a isenção e a transparência das notícias e da própria maneira como é feita a revista no caso Todavia essa função é ainda pouco reconhe cida no Brasil Infelizmente a maioria dos leitores brasileiros não se preocupa muito em conhecer melhor a qualidade das notícias veiculadas no Brasil o que abre espaços para abusos e faz com que tais críticas e análises fi quem muito restritas aos meios especializados As pesquisas de opinião são hoje um instrumento vital no desenvolvimento de po líticas editoriais ou seja há a necessidade de um alinhamento ainda que seja relativo entre as opiniões do veículo e as percepções dos leitores Existem as revistas especializadas no mercado de produtos de beleza no merca do automobilístico motociclístico de arquitetura e construção exoterismo ciências A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 116 educação esportes cultura e outras destinadas a abastecer quase que infi nitamente os desejos e necessidades do público consumidor Há também aquelas a que denominamos genericamente Revistas de Variedades nelas discorrese um pouco a respeito de tudo moda dicas de saúde esportes lazer cinema televisão educação vida dos famosos resumo das novelas receitas e é claro política entre outros assuntos Devemos sempre lembrar que as revistas que se encaixam nesse último modelo em geral são produzidas às centenas de milhares ou mesmo aos milhões de exemplares e têm sempre como públicoalvo uma variedade de leitores em todo o país às vezes até em outros países Isto torna necessário adotar estratégias de abordagem dos temas que cheguem ao maior número possível de leitores Em função dos motivos expostos que nesse tipo de publicação tratamse dos gran des temas e assuntos do momento isso não impede que as coberturas localizadas contribuam signifi cativamente na elaboração do conjunto Os números mostrados por empresas que editam e imprimem revistas de grande circulação impressionam sozinha a gráfi ca do Grupo Abril wwwabrilcombr produz mais de 60 milhões de exemplares ao ano sendo a editora do grupo respon sável pela produção de sete das dez revistas mais lidas no país3 A revista Veja publica mais de um milhão de exemplares semanalmente o que a transforma na quarta maior revista do gênero do mundo Seu modelo atual embora seja fortemente baseado nas primeiras revistas ilustradas de variedades antigamente chamadas de Magazines são produtos diferentes Até porque a concorrência com a televisão a partir da década de 1950 decretou a morte de algumas das principais revistas ilustradas do mundo que por décadas ocuparam prati camente sem nenhum competidor esse segmento de comunicação visual com o leitor A partir da década de 1970 as revistas que restaram no mercado ou as que nasce ram a partir de então se transformaram signifi cativamente Hoje nesse segmento editorial no Brasil despontam a revista Época Veja Isto é Car ta Capital Caros amigos e algumas outras Evidentemente elas variam os tons as estru turas dos textos e a postura diante do público defi nindo assim seus estilos e propostas Os magazines de informação geral fl utuam entre a interpretação e a opinião manifesta Esta quando torna evidente a postura dominante na sociedade isto é nas elites tende a não ser percebida como tal o que está escrito pa rece constatação ou evidência Tem sido o caso frequentemente com Veja da 3 O volume e a dinâmica da circulação de revistas no Brasil de hoje são uma prova do sucesso comercial das empre sas de comunicação e propaganda que atuam no mercado brasileiro Em meados da década de 1980 havia mais de 1500 títulos em circulação e os números mensais estavam na casa dos 300 milhões de exemplaresano 117 Editora Abril Revista opinativa centenas de milhares de pessoas consomem suas matérias como se fossem relatos fi dedignos Época lançamento bem mais recente do grupo Globo opera com outra lógica que corresponderia no mercado de revistas de informação geral ao estilo do jornal USA Today os títulos e edição das matérias são feitos já no software de editoração O resultado refl ete o crescente domínio da arquitetura web so bre a produção gráfi ca Talvez por isso o texto seja mais sóbrio preservandose embora o nível do senso comum e um tanto de timestyle Outras do ramo Carta Capital Caros Amigos seja por divergirem siste maticamente do entendimento convencional dos fatos por falta de cobertura própria dos acontecimentos ou por utilizar sem restrições a retórica jurídica e política parecem ser as únicas a opinar seus compromissos ideológicos eco nômicos tornamse visíveis arregimentam leitores entre partidários extrema dos de sua linha editorial em tempos normais só entre esses LAGE 2005 Entretanto mesmo nelas as coberturas são em geral produzidas por especialistas afi nal vivemos no tempo da aceleração e da especialização e o jornalismo especializa do por temas e por assuntos não é senão um refl exo disso Os principais motivos para que as revistas sobrevivam ainda hoje com bastante vigor são a facilidade de manejar e de partilhar já que não necessitam de máquinas e outros sistemas para serem lidas e reconhecidas pelo público Outro possível motivo para essa sobrevivência pode estar no fato que nos dias atuais fortemente propícios à comunicação virtual as revistas e outras mídias impressas como os jornais diários criem no leitor uma sensação de segurança gerada pela materialidade da informação impressa algo que faça o leitor sentirse seguro pelo fato de poder guardar tal infor mação em um suporte físico no caso o papel As revistas comumente são publicações semanais portanto elas perdem o apelo imediato o impacto que a publicação imediata dos fatos jornalísticos gera assim por um lado elas não conseguem competir com os jornais diários que publicam os fatos no máximo no dia seguinte a seu acontecimento e muito menos com a televisão que divulga os mesmos acontecimentos no momento em que estão ocorrendo Mas por outro elas ganham em consistência podendo esperar alguns dias para a publicação conseguindo um produto mais elaborado produzindo resumos dos desdobramentos dos acontecimentos têm mais tempo para entrevistar envolvidos e responsáveis po dendo cuidar melhor da apresentação dos acontecimentos que podem ser acrescidos de mapas gráfi cos estatísticas e uma série de outros recursos que facilitam a sua co municação com o leitor Ademais é importante lembrar que diferentemente dos jornais diários as revistas podem se programar com antecedência e com mais facilidade destinar um número maior ou menor de páginas a cada assunto dependendo dos desdobramentos e da repercussão que esses forem ganhando É inclusive muito usual que uma reportagem tenha destinadas a sua cobertura duas páginas no início da semana e cinco seis ou A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 118 mais com o decorrer dela O contrário também pode ocorrer um acontecimento que inicialmente prometia uma série de desdobramentos mostrarse de menor importância no decorrer da semana tornandose apenas uma pequena nota As capas são o primeiro contato com o leitor e por isso devem ser extremamente bem cuidadas com o objetivo de comunicar um grande número de informações em um espaço reduzido Segundo Ana Cristina Teodoro da Silva nelas A utilização de estereótipos corporais de cores em seu sentido mais didático de tipos e símbolos de fácil e ágil leitura fazem da capa um atrativo fugaz de rápida duração Com isso é reforçada a busca por sínteses efi cazes que digam muito em pouco espaço e em pouco tempo O acúmulo de informação seduz oferecendo agilidade e síntese SILVA 2003 O editorial é o lugar onde se expressa a opinião do veículo ou da empresa que o produz com relação a um tema ou fato há um consenso de que este seja o lugar apro priado para se transmitilas pois pretendese que essa opinião não se confunda com a informação que o veículo deverá transmitir da forma mais isenta possível As seções de cartas do leitor ajudam a garantir uma imagem democrática das revistas visto que nelas ainda que em pequeno número os leitores podem manifestar suas opiniões em relação aos temas publicados e ao tipo de abordagem realizada Como já pontuamos as revistas integram redes de comunicação e hoje é comum que os assinantes possam optar por acessálas também via Internet condição que redi mensiona seu papel na comunicação Em sua origem a linguagem visual do fotojornalismo buscou aproximar as revistas ilustradas do cinema Essa é uma característica da própria comunicação formar leito res ao mesmo tempo em que responde as suas demandas Dizendo de outra forma foi um movimento de duplo sentido em que as revistas buscaram acompanhar uma visualidade em transformação adequandose ao princípio do movimento utilizado no cinema que predominava direta e indiretamente na edu cação do olhar do público E ao fazêlo exerceu um papel ativo na educação do olhar da sociedade à medida que inundou de imagens e textos sucintos o cotidiano de um público que não parou de crescer nas últimas seis décadas contribuindo ainda para que novas linguagens visuais tenham hoje larga aceitação Isto ocorre fundamentalmente em função de nossa formação cultural que inter fere diretamente na forma como vemos as coisas quando olhamos para uma foto grafi a somos quase que instintivamente tentados a vêla não enquanto uma represen tação um tipo de cópia dos objetos e fatos fotografados em última instância mas tendemos a entendêla particularmente quando imprensa em um jornal ou revista enquanto um registro verdadeiro do próprio fato Situação parecida ocorre hoje com 119 as imagens digitais4 A leitura rápida outra maneira de educar o leitor é um projeto que já estava presente em O Cruzeiro no fi nal da década de 1920 Embora naquele momento o público ainda não estivesse preparado para essa inovação podemos considerar que o projeto foi implementado nessas últimas décadas Atualmente as empresas dispõem de mecanismos que permitem avaliar de forma criteriosa qual o tempo de leitura de cada matéria Isto com o passar do tempo se transforma em regras normas e por fi m constará dos cursos de jornalismo Cabe lembrar que até a década de 1950 não havia cursos de formação para essa profi ssão no Brasil A ciência é outro elemento pedagógico muito fortemente utilizado pelas revistas A divulgação de temas recentes das ciências principalmente da tecnologia defi nida enquanto ciência aplicada na fabricação de produtos garante a formação do público leitor da importância e da necessidade do veículo Em geral os artifícios utilizados para formar o leitor e fazêlo se interessar por esses assuntos são a sua atualização com respeito às novidades do campo científi co e a de monstração dos objetivos alcançados Essas reportagens ajudam a disseminar a crença no valor e no poder ilimitado da ciência Uma vez instituída essa prática que remonta a décadas a própria imprensa passou a atuar dentro das regras consideradas científi cas para a produção e divulgação das notícias Por exemplo para garantir a credibilidade toda vez que uma pesquisa de opinião é veiculada a revista anuncia os critérios sob os quais ela foi produzida o número de entrevistados a categoria social desses as regiões abrangidas etc além de comumen te agregar outros dados tais como os recolhidos pelo IBGE Instituto Brasileiro de Geografi a Estatística e mesmo a opinião de reconhecidos especialistas nas áreas em discussão muitas vezes consultando mais de um para a mesma reportagem Já estamos totalmente acostumados a conviver com esses expedientes e quase nunca duvidamos da veracidade dos resultados das pesquisas mesmo sabendo que como no caso das fotografi as as pesquisas podem ser realizadas de diversas maneiras que também podem infl uenciar nesses resultados Da mesma forma podemos considerar a formação do leitor com relação à econo mia outro assunto que foi cultivado junto aos leitores ao longo das últimas décadas 4 Apesar das inúmeras diferenças entre a fotografi a produzida pelas máquinas analógicas aquelas que utilizam fi lmes fotográfi cos que necessitam ser revelados por processos químicos e das imagens digitais produzidas por sistemas eletrônicos e hoje impressas em impressoras todas as considerações apresentadas acima são válidas pois aos olhos da imensa maioria das pessoas as imagens digitais ainda são entendidas enquanto fotografi as até porque à exceção de um olhar muito experiente essas diferenças são quase imperceptíveis A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 120 pelos jornais e revistas Nessas temáticas as reportagens geralmente são acompanha das de gráfi cos e tabelas glossários de termos além de uma série de boxes explicativos e notas do tipo entenda melhor o assunto em que se detalham aspectos específi cos dos temas debatidos o que por si só já representa outro aspecto pedagógico da revista As imagens do corpo humano se prestam a uma infi nidade de usos modelos do que é ser bonitoa saudável situações em que o corpo aparece fotografado em acade mias praias e outros lugares em que se considera legítimo ser mostrado Em um sem número de situações participam da defi nição dos papéis sociais reforçando normas e padrões Muitos anos de circulação criam a tradição de uma revista e a tradição evoca credi bilidade Não é incomum que uma revista comemore eventos dos quais ela participou Nesses momentos destacase quase invariavelmente a importância da revista nas lutas sociais e políticas em prol da democracia ou dos direitos humanos CONCLUSÃO O fato é que as revistas ilustradas em virtude de sua história do longo tempo de contato com o público ganharam um importante espaço nas vidas das pessoas Independentemente do fechamento de alguns dos títulos mundiais ou nacionalmente famosos como foi o caso da americana Life e das brasileiras O Cruzeiro e Manchete e do lançamento de títulos modernos sensivelmente modifi cados em relação ao que foram suas predecessoras a mídia revista sobreviveu seja à escalada da importância da televisão que atinge hoje públicos astronômicos seja ao intenso desenvolvimento da Internet e de outras mídias de comunicação de massas Destilando por meio de múltiplas ações pedagógicas próprias do meio padrões de vida estéticas e comportamentos as revistas tornaramse parte integrante de nossa cultura Devido a essa importância despertam um interesse cada vez maior da socieda de que a nosso ver necessita entender melhor seus códigos e estruturas Esperamos ter contribuído para esse objetivo neste capítulo que ora encerramos 121 CARVALHO Luiz Maklouf Cobras criadas David Nasser e o Cruzeiro São Paulo SENAC 2001 COSTA Helouise Aprenda a ver as coisas fotojornalismo e modernidade na revista O Cruzeiro 1992 198f Dissertação MestradoUniversidade de São Paulo Escola de Comunicação e Artes São Paulo 1992 DEMARCHI A história da revista no Brasil 200 anos de informações cultura e entretenimento São Paulo Ed Abril 1992 Disponível em wwwabrilcombr Acesso em 12 set 2008 FREUND Gisèle Fotografi a e sociedade Tradução de Pedro Miguel Frade Lisboa Veja 1995 KOSSOY Boris Origens e expansão da fotografi a no Brasil Século XIX São Paulo Funarte 1980 LAGE Nilson Que futuro há para os jornais impressos Revista Semanal de Crítica da Mídia S l 22 fev 2005 Disponível em wwwobservatorioultimosegundo igcombrindexasp Acesso em 10 set 2008 ROMANELLO J L A natureza no discurso fotográfi co da revista O Cruzeiro paisagens e imaginários no Brasil desenvolvimentista 2006 200f Tese Doutorado em HistóriaUniversidade Estadual Paulista Assis 2006 SILVA Ana Cristina Teodoro da O tempo e as imagens de mídia capas de revistas como signo de um olhar contemporâneo 2003 Tese DoutoradoUniversidade Estadual Paulista Assis 2003 SILVA Silvana Louzada da Fotojornalismo em revista o fotojornalismo em O Cruzeiro e Manchete durante os governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart 2004 194f Dissertação MestradoUniversidade Federal Fluminense Niterói 2004 Referências A pedagogia das revistas EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 122 1 Análise comparada Levando em conta os diversos aspectos tratados neste capítulo acompanhe a cobertura de um mesmo assunto em pelo menos duas revistas de variedades acompanhandoo por pelo menos dois números de cada título Podem ser escolhidas revistas antigas desde que publicadas no mesmo período O objetivo é procurar semelhanças e diferenças nas abordagens privilegiando a análise de aspectos como o número de páginas utilizadas na cobertura os tipos de fotos escolhidas e o sentido emitido pelos títulos 2 Análise do perfi l da publicação Analise pelo menos três exemplares consecutivos de um mesmo título de revista especia lizada ou de variedades Registre a variação da tiragem geralmente impressa no início da primeira ou da segun da página descreva as seções que a compõem conte o número de páginas dedicadas a propagandas procurando agrupálas em conjuntos gerais Os conjuntos devem ser divididos em grupos tais como produtos de beleza saúde e lazer cremes xampus sabonetes sucos e iogurtes jogos viagens etc ou bens móveis carros eletrodomésticos equipamentos de informática e outros Certamente esses conjuntos irão variar mesmo que se repitam os títulos escolhidos A fi nalidade é traçar um perfi l da revista procurando identifi car a que públicos os produtos anunciados são dirigidos e como a revista os percebe Se possível procure observar se são dirigidos mais a homens a mulheres ou ao público jovem etc Proposta de Atividades Anotações 123 Imagine a situação você está descansando em casa quando ouve um forte estrondo Pouco depois sons de sirenes Um acidente automobilístico Você sai da tranquilidade de sua sala vai até a rua e descobre conversando com pessoas tão mal informadas so bre aquele incidente quanto você quantas pessoas se feriram se houve alguma morte e até como e porque aconteceu a batida Mas não tem a certeza do que aconteceu Agora pense outra situação Você está em casa e recebe o telefonema de um parente ou um amigo que viria visitálo de avião Ele diz esbaforido pela emoção que um avião acaba de cair no aeroporto em que ele estava Deve haver dezenas de mortos talvez centenas Está uma grande confusão no aeroporto ninguém diz nada a ninguém Tanto no primeiro quanto no segundo caso os dois acidentes continuarão renden do discussões ao longo dos próximos dias O primeiro mais localmente em seu bairro Talvez até na própria cidade como um todo dependendo do destaque e da forma como a mídia tratar o incidente O mesmo podese dizer do segundo caso embora em um âmbito maior provavelmente nacional E dependendo do número de mortos das causas do acidente e dos envolvidos a queda daquele avião pode render assunto para discussão em jornais revistas tvs e rádios durante semanas Existe uma hipótese estudada dentro das teorias da comunicação a Agenda Setting que postula que a mídia não é capaz de informar como as pessoas devem pensar mas sobre o que devem pensar A partir do que é publicado na imprensa as pessoas defi nem sobre o que vão discutir em suas conversas e é claro suas opiniões embora não controladas por esse monstro maldoso da mídia recebem infl uência dependendo de quais e como essas informações são apresentadas E quanto mais crítica for a leitura desses veículos mais abrangente e ampla é a visão de mundo desse leitor e cidadão pautado pelos meios de comunicação No caso do acidente de carro por exemplo existem algumas variáveis que podem ocorrer na cobertura jornalística e que claro não são decisões completamente isen tas O básico e fundamental será a confecção de uma matéria factual que abrange aquele incidente propriamente dito trazendo todos os detalhes do acidente como Fábio Massalli A aventura da leitura crítica na imprensa 9 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 124 aconteceu e por que quantos feridos quantas mortes e se existe algum elemento que foge do comum como um motorista bêbado ou em alta velocidade um buraco que causou a perda do controle do veículo e até mesmo um cachorro que foi salvo de ser atropelado mas acabou causando um acidente É a partir desses aspectos factuais que se pode aprofundar o tema seja no mes mo dia ou em complementos posteriores as chamadas suítes matérias publicadas nos dias seguintes e que abordam um mesmo assunto Isso depende dos elementos citados nos parágrafos anteriores e de outros detalhes como número de acidentes e vítimas fatais até aquele dia Até mesmo a tragédia pessoal dos familiares das vítimas pode ser explorada São abordagens que têm sua justifi cativa jornalística mas não apenas ela O mesmo podemos afi rmar da queda do avião testemunhada por seu amigo Se for um acidente por falha mecânica ou do piloto em dois ou três dias ninguém mais publica nada sobre isso a menos que seja a maior tragédia da aviação brasileira até aquele momento Mas se foi devido à falha de outra aeronave envolver uma compa nhia aérea que teve vários acidentes naquele ano ou devido a problemas na pista e falha da torre o assunto ainda deve render por pelo menos mais uma semana Se o governo puder ser culpado de alguma maneira aí o assunto vai sair na imprensa por muito mais tempo Principalmente em revistas semanais nitidamente oposicionistas como a Veja Novamente não são apenas as questões estritamente jornalísticas que vão ditar a publicação dessas matérias e quais serão suas características Apesar de o jornalismo seguir teoricamente uma mesma fórmula investigação apuração e checagem do fato e das informações os textos produzidos por dois jornalistas diferentes sobre um mesmo assunto nunca são iguais Há fatores que vão desde a técnica de apuração e in vestigação as fontes ouvidas e o envolvimento pessoal até posicionamentos políticoi deológicos do órgão que vai veicular aquela matéria seja jornal revista TV ou rádio E todos esses elementos vão contribuir na hora de pautar as discussões e conversas tanto na mesa de um botequim quanto na mesa de jantar em família E novamente quanto mais crítica a leitura mais ampla e abrangente é a visão que se tem sobre esses temas assim como a argumentação para emitir um posicionamento mesmo completa mente divergente desse ou daquele veículo de comunicação Dizem que a imprensa é o quarto poder mas quando se trata do poder não deve mos fazer uma leitura e uma análise simples seja de um acidente de carro na esquina de sua casa da queda de um avião testemunhada por um amigo ou uma denúncia contra um político ou administrador público 125 DE UMA PRENSA À INTERNET Ofi cialmente a criação da imprensa é atribuída a Johann Gutemberg que foi quem levou a fama de inventor por ter desenvolvido no século XV uma prensa com tipos móveis e assim modernizado a impressão No século XVIII como forma de divulga ção os jornais começaram a surgir com maior frequência em uma publicação rica em opiniões acusações ideias e até literatura O jornalismo nessa época independente de estar na Europa ou na América era fortemente tendencioso opinativo e partidário Existiam veículos pertencentes a cada grupo político e que defendiam veementemente as posições desse grupo e aproveita vam o espaço para atacar a honra e a idoneidade de seus adversários bem como suas ideias Ataques feitos não apenas com palavras mas também com charges e ilustrações que muitas vezes chegavam a ser agressivas e caluniosas Mesmo nas matérias noticiosas como na descrição de crimes por exemplo o tex to jornalístico era completamente diferente do praticado nos dias de hoje Usava o chamado nariz de cera em que o jornalista fazia uma longa introdução às vezes até política ou fi losófi ca antes de introduzir o fato propriamente dito Esse modelo de jornalismo vigorou até praticamente o século XX em alguns países como o Brasil só começou a ser substituído nos anos 1950 Na primeira grande re volução da técnica jornalística a redação jornalística passou a priorizar primeiramente os elementos mais importantes do fato em detrimento da construção muitas vezes maçante do nariz de cera Foi o início do reinado do lead primeiro parágrafo com enfoque factual e da técnica da pirâmide invertida colocar primeiro as informações mais importantes e que apenas agora começa a ser posto em xeque e ter sua domi nância ameaçada em alguns tipos de matérias e veículos Esse modelo predominou durante décadas até meados de 1990 quando começou a segunda grande revolução no jornalismo E como a revolução anterior do lead essa não é uma mudança radical que acontece de um momento para o outro É algo lento e gradual que vai atingindo redações repórteres e jornalistas ao redor do mundo impul sionado pela queda do número de leitores e pela perda de interesse no próprio jornal Essa nova revolução começou com a Internet e tem na web seu grande suporte Portais de notícia interatividade blogs não se esqueçam fazer um blog também é uma forma de jornalismo multimídia são elementos que estão inseridos cada vez mais nas redações e que atraem um número crescente de leitores A LEITURA E A INFORMAÇÃO ALÉM DO FACTUAL Apesar de no imaginário popular matéria e reportagem terem signifi cados muito próximos quase sinônimos o mesmo não se pode dizer no jornalismo Podese A aventura da leitura crítica na imprensa EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 126 enunciar que a matéria é o arroz com feijão enquanto que na reportagem incluase nessa refeição o fi lé mignon os vegetais ao vapor a batata assada e um bom vinho A matéria factual é feita em geral no calor da hora e na pressão do fechamento da edição devendo ter suas informações levantadas checadas e redigidas juntamente com outras matérias e tudo para o programa que vai ao ar nas próximas horas ou para a edição do dia seguinte É verdade que isso não signifi ca uma investigação ou abor dagem superfi cial e sem confi abilidade na informação Esses são elementos essenciais para o bom jornalismo seja em uma nota de 15 linhas ou uma grande reportagem de duas páginas Já a reportagem deve tentar esgotar todas as abordagens possíveis sobre aquele tema Mas por que é preciso saber que existem textos que esgotam um assunto reporta gem enquanto outros se prendem mais no fato A resposta está justamente na forma como o leitor ou espectador recebe aquela mensagem Matérias mais longas me recem e acabam despertando mais a atenção desde que o leitor ou espectador se interesse por ela Os leitores inconscientemente consideram que uma nota no campo da página é menos importante que uma de abre de página De certa forma é pelo menos para quem fez o jornal mas não necessariamente para o leitor afi nal existem diversos tipos de leituras diferentes em suas características níveis de apreensão de detalhes e posicionamento crítico A formação de um leitor crítico da imprensa envolve não apenas ler atentamente uma matéria e prestar atenção a questões como a linha editorial do veículo em ques tão mas também comparar as diferentes formas que foram utilizadas para passar uma informação Afi nal em se tratando de jornalismo uma matéria ou reportagem sobre um mesmo tema com as mesmas fontes escrita por dez jornalistas diferentes resultará em dez matérias diferentes não apenas em estrutura mas também naqueles pequenos detalhes que o repórter mesmo que inconscientemente quis passar Um bom exemplo disso é o lead Teoricamente ele deve responder a seis per guntas básicas do jornalismo quem O quê Quando Como Onde E por quê Entretanto nem todas as respostas precisam estar necessariamente presentes no lead Algumas podem ser respondidas ao longo do texto A ordem em que elas são apresen tadas também não obedece a uma ordem prédeterminada Tudo depende do tato e da percepção do jornalista na hora de escrevêla O jornalista pode começar por qualquer uma das seis perguntas com resultados diferentes tanto na forma como na essência Pegue o exemplo do acidente aéreo do início deste capítulo Uma matéria factual poderia começar com qualquer uma dessas três formas assim como diversas outras 127 1 Um avião caiu ontem no aeroporto de Ipiratibinga após falha em uma das turbi nas As informações preliminares apontam pelo menos 120 mortos 2 Pelo menos 120 pessoas morreram em um acidente com um avião ontem no aeroporto de Ipiratibinga Aparentemente o acidente foi causado pela falha em uma das turbinas 3 A falha em uma das turbinas de um avião da TIS causou a morte de 120 pessoas O acidente aconteceu na tarde de ontem no aeroporto de Ipiratibinga Apesar de trazerem basicamente as mesmas informações as três assertivas podem ser lidas criticamente de forma completamente diferente A primeira deu destaque para o acidente a segunda para o número de mortos enquanto a terceira pela causa do acidente E as diferenças não param por aí O primeiro não quis dar certeza sobre a informação referente ao número de mortes Enunciou que são informações prelimi nares Já o segundo não quis divulgar defi nitivamente a causa do acidente escreven do que aparentemente o acidente foi causado O terceiro por sua vez confi ou ple namente em suas fontes pois divulgou logo nas primeiras linhas todas as informações com segurança e ainda divulgou a empresa aérea envolvida no acidente Isso não signifi ca que houve uma suposta intenção escusa apenas demonstra que pode haver maneiras diferentes de se abordar e escrever uma matéria E o fato do nome da companhia aérea não ter sido citado também não signifi ca favorecimento desde que ele apareça no decorrer do lead ou no máximo no segundo parágrafo Caso contrário essa falta de informação confi gura ou erro grave de apuração ou má intenção do repórter ou da empresa jornalística Mas como aqui não é um espaço para pessimismo crônico e de uma condenação inapelável e sem chance de defesa da imprensa a ideia é confi ar no profi ssionalismo ética e na responsabilidade dos jornalistas em seu trabalho A IMPRENSA NA FORMAÇÃO DE UM LEITOR CRÍTICO Essa confi ança no profi ssionalismo do jornalista é fundamental para se construir um leitor crítico Uma confi ança que acredita mas que sabe que uma traição deslize ou até mesmo um erro pode acontecer de maneiras às vezes mais e outras menos perceptíveis O leitor crítico é aquele que consegue ter uma interpretação que vai além da sim ples decodifi cação dos elementos da leitura das palavras daquele texto e consegue in terpretar avaliar fazer comparações perceber intenções emitir opiniões conclusões e ter uma visão de mundo emancipadora OLIVEIRA 2006 A aventura da leitura crítica na imprensa EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 128 No jornalismo podemos defi nir que o leitor crítico vai além dessa defi nição O leitor crítico ao ler uma matéria não apenas se informa sobre aquele assunto mas tem consciência dos vários âmbitos e peculiaridades que envolvem aquela produção e não apenas a sua interpretação Ao se inteirar sobre um tema o leitor crítico não considera aquele assunto acabado a partir do que leu em um único jornal Ele se informa e faz comparações a partir de outras fontes de mídia que tratam daquele mesmo assunto sejam revistas outros jor nais impressos telejornais sejam noticiários de rádio Em se tratando da imprensa o impresso é fundamental para se formar um leitor crítico Não que os outros veículos não mereçam esse cuidado e esse tipo de leitura mais atenta eles o merecem e muito mas é na imprensa escrita que conseguimos perceber esses elementos críticos de forma mais profunda e até mesmo mais visível Além disso você pode voltar e ler novamente se quiser o que não dá para ser feito em um telejornal ou em um radiojornal O mesmo podemos dizer da maneira como absorvemos a notícia por outras mídias diferentes do impresso Jornais e revistas exi gem de seu leitor um comprometimento uma concentração e uma confi ança maior Mesmo um desprendimento maior afi nal você não pode ler vendo ou fazendo outra coisa dirigindo ou cozinhando por exemplo Para Mauro Wolf 1999 a imprensa escrita tem mais infl uência ao apresentar temas para serem debatidos pela população por fornecer uma visão mais profunda e sólida dos assuntos do que a televisão cujas matérias apresentam informações rápidas bre ves e heterogêneas Você sabe o que aconteceu naquele dia no jornal da noite mas se quiser saber maiores detalhes e ter mais informação o caminho inevitável é o texto do dia seguinte COMO SER UM LEITOR CRÍTICO Para ser um leitor crítico da imprensa não é muito diferente de ser um leitor crítico em geral É preciso ler com atenção ler bastante e se manter informado com diferentes fontes O leitor precisa saber por exemplo que um título apesar de informar sobre o que trata uma matéria não representa o essencial e todos os elementos que estão presentes nesse texto Também precisa saber que não raras vezes um título de uma matéria não é feito pelo repórter mas por seu superior imediato na redação o editor Os títulos são apenas um indicativo sobre o que o leitor vai encontrar na matéria Um elemento que o repórter e geralmente o editor julgaram que faria o leitor se interessar em ler aquele texto no confl ito diário que cada matéria trava entre seus semelhantes para atrair os olhos dos leitores nos poucos minutos que gastam com um jornal aberto 129 Outro elemento que deve ser levado em consideração na hora de se fazer uma leitura crítica é a foto utilizada para aquela matéria Uma foto não é apenas uma ilus tração para o texto jornalístico Eles se complementam e uma fotografi a pode trazer elementos que muitas vezes o jornalista não pode traduzir em palavras como opi niões e sentimentos a respeito de um tema O espaço destinado a cada matéria e o local na página também é algo importante Uma forma de se dar menos destaque para uma informação sem descumprir a função ética de noticiála é transformála em uma pequena nota no canto inferior de uma pági na par sem fotografi a e no interior do jornal e sem chamada de capa Afi nal a primeira página vista em um jornal é sempre a ímpar pois é a que está diretamente na frente do leitor após ele virar a página Esses espaços são destinados pelos editores a matérias que eles avaliam que terão menos interesse aos leitores ou que por algum motivo a direção do veículo acredite que não mereça destaque Motivos que vão desde os políticos como apoios a deter minados grupos ou governantes até comerciais acordos que envolvem a publicação ou menor destaque para matérias favoráveis ou desfavoráveis a determinados grupos empresariais passando é claro pelo jornalístico E se as matérias em espaços pequenos têm essas características os destinados às matérias maiores têm os mesmos elementos porém inversos principalmente em ma térias que abrem as páginas É verdade que hoje em se tratando de tratamento de destaque o que pauta na maioria das vezes o que será publicado e qual o tamanho que será reservado à matéria é o aspecto jornalístico o interesse que aquele tema renderia ao leitor o que o repórter conseguiu apurar a qualidade da foto se a matéria rendeu e a qualidade das informações Todos esses elementos são essenciais para a defi nição do espaço físico de uma ma téria ou reportagem dentro de um jornal ou revista mas seria inocência acreditarmos que infl uências políticas eou comerciais não teriam importância nesses veículos seja ele uma Folha de São Paulo um Globo seja um semanário de uma pequena cidade do interior do país embora com proporções obviamente distintas de infl uência Esses elementos contribuem para uma leitura crítica da imprensa escrita mas ainda não chegamos no texto propriamente dito É nesse momento que devem ser inseridas também as outras leituras caso contrário a leitura crítica se transformaria em um estudo acadêmico de sociologia semiótica ou de análise do discurso Embora esses elementos e teorias sejam úteis na hora de uma leitura crítica da mídia eles não são essenciais para um leitor crítico comum ou a leitura crítica seria algo reservado a acadêmicos e professores Para uma leitura crítica é preciso verifi car primeiramente se o jornalista na hora de confeccionar a matéria ou a reportagem cumpriu algumas regras básicas do bom jornalismo A aventura da leitura crítica na imprensa EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 130 Primeiro é preciso checar se o repórter foi claro e preciso na hora de levantar as informações e transformálas em texto O jornalismo não permite dúvidas ou duplas interpretações Outra questão importante é verifi car se o repórter ouviu todos os lados envolvidos e citados na matéria e colocou essas opiniões de forma adequada na maté ria Atenção de forma adequada signifi ca que foi fi el ao que o entrevistado disse outro ponto fundamental mas que o leitor não tem como descobrir a não ser que conheça o entrevistado e não que todos os envolvidos na matéria ou reportagem devem ter democraticamente o mesmo número de linhas O que rege quanto de destaque será dado a cada um dos envolvidos é a qualidade da informação por ele divulgada E se a pessoa não foi encontrada isso deve fi car claro para o leitor Outro aspecto que um leitor crítico deve levar em consideração é identifi car quan do o jornalista está emitindo explicitamente sua opinião O repórter deve ser o mais imparcial que ele conseguir embora a total imparcialidade e isenção sejam comple tamente impossíveis e deixar as conclusões para o leitor não apresentálas de forma explícita mastigada acusando ou inocentando alguém A opinião explícita no texto jornalístico está destinada aos artigos e editoriais Mas cuidado para não confundir texto com opinião com texto com emoção A emoção e o sentimento são imprescindíveis no jornalismo já a opinião deve ser mascarada o má ximo possível pelo jornalista Ela está presente em todos os textos mas não deve ser apresentada de forma explícita de forma a induzir o leitor na formação de sua própria opinião Uma leitura crítica entretanto vai além desses elementos Mais do que verifi car e comparar o que e como é escrito com outras mídias e a forma como isso é apresenta do é sempre importante prestar atenção nos posicionamentos político e ideológico do veículo em que é publicada a matéria não do jornalista em si Embora de certa forma exista certa ligação políticoideológica entre eles na escolha das matérias que serão feitas que é feita pelo pauteiro um cargo de confi ança dentro da redação é comum encontrarmos situações em que esses dois elementos se distanciam em seus posicionamentos Essa percepção contudo depende exclusivamente de uma leitura crítica e de um acompanhamento constante de um veículo Nos grandes veículos de circulação na cional essas tendências aparentemente são mais claras explícitas e estudadas Dois dos maiores jornais brasileiros por exemplo têm políticas editoriais completamente distintas Um exemplo que mostra a politização da Folha e do Estadão aconteceu em 2005 e mostrava a queda de homicídios em São Paulo naquele ano No mesmo período houve aumento do número de sequestros O Estadão deu na primeira página o título 131 Cai o número de homicídios em SP sobe o de sequestros Já a Folha publicou Sequestro aumenta e homicídio cai em SP As mesmas informações porém com sen tidos diferentes Isso sem contar as barrigas informações falsas mal checadas ou passadas ao repórter por fontes com intenções escusas e publicadas pela falta de checagem dessas informações como a denúncia não comprovada publicada na Veja em outubro de 2005 de que o presidente Lula teria recebido US 2 milhões do governo cubano para sua candidatura e a notícia de que a brasileira Andréia Schwartz teria sido a respon sável pela renúncia do exgovernador do Estado de Nova York Eliot Spitzer após um escândalo envolvendo rede de prostituição de luxo Em um veículo menor e de âmbito regional esse posicionamento se torna com frequência mais visível No Paraná por exemplo é de conhecimento público a briga existente entre o grupo do jornal Gazeta do Povo e o governador Roberto Requião PMDB chegando a ponto de esse atrito ter sido declarado pelo próprio governador em alguns de seus infl amados discursos O fato de um jornal revista ou qualquer outro meio de comunicação ter uma prefe rência ideológica e partidária não é condenável e nem antiético A prática é comum em outros países como os Estados Unidos A diferença é que esses posicionamentos e não apenas em relação a candidatos mas também quanto a diversos outros assuntos polêmicos são ofi cializados em editoriais texto publicado que apresenta a posição do jornal e não interferem aparentemente diretamente na cobertura dos repórteres daquele veículo No Brasil é diferente Os veículos de comunicação não têm o hábito de explicitar essas opiniões e posicionamentos em seus editoriais O próprio leitor brasileiro não cultiva o hábito de ler essas seções opinativas geralmente presentes na segunda pági na sobre o posicionamento e as opiniões do veículo acerca de determinado assunto A situação é ainda pior pois muitos veículos sequer publicam de forma frequente seus editoriais e seus leitores muito raramente cobram esse tipo de texto jornalístico em seus jornais e revistas JORNALISMO EDUCATIVO Apesar desses problemas ou por causa deles existe um tipo de jornalismo que tem como meta ser de alguma forma educativo para o leitor Não apenas informativo mas também educativo objetivando contribuir para a formação de leitores mais críti cos principalmente entre os mais jovens Hoje é muito comum jornais de médio e grande porte possuírem projetos educacio nais ligados ao jornalismo educativo com além da publicação de material específi co A aventura da leitura crítica na imprensa EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 132 também um trabalho de discussão treinamento e oferta de cursos com professores Iniciativas que recebem inclusive o apoio da Associação Nacional de Jornais ANJ Embora esses projetos tenham como justifi cativa secundária ou principal ser uma resposta à queda constante de número de leitores são iniciativas que contribuem para a formação de leitores críticos Em muitas dessas experiências além dos alunos receberem edições do jornal para trabalhos pedagógicos em sala de aula os professores são apresentados a algumas terminologias e conhecem um pouco do método da produção jornalística São apre sentados a temas como lead pirâmide invertida reportagem e matéria e descobrem e debatem entre si as possibilidades de trabalhar com os jornais em sala de aula Segundo pesquisa realizada pela própria ANJ a utilização do jornal como ferramen ta educacional resultou em uma melhora do hábito da leitura aumento da assimilação de conteúdo ampliação do vocabulário melhora nas notas estímulo ao senso crítico e melhoria na motivação dos estudantes Uma das conclusões da pesquisa é que quando se desmistifi ca o jornal em especial para o jovem ele passa a perceber melhor o mun do se sente mais atuante e crítico em relação a sua própria realidade Outro aspecto muito caro ao jornalismo educativo e que deveria também ser ao jornalista em si é o texto jornalístico ser uma espécie de espelho na mídia do uso cor reto da língua portuguesa Como o jornalismo utiliza uma linguagem que ao mesmo tempo em que é coloquial precisa obedecer às normas padrão da língua ela tornase um espelho e um modelo para o uso da linguagem de seu leitor Da mesma forma que a leitura literária tem a capacidade de enriquecer o vocabu lário as construções gramáticas e estilísticas de seu leitor o texto jornalístico também exerce um papel similar Enquanto uma obra literária em especial as contemporâneas apresenta a nosso ver maior liberdade no aspecto gramatical e maior aproximação do coloquial o jornalismo não O jornalismo deve ao mesmo tempo ser aceito nos dois universos linguísticos Compreensível para quem tem pouca instrução e não apresen tar erros ortográfi cos gramaticais e de construção que possam ser identifi cados pelos especialistas Isso sem esquecer da fi delidade da informação A CONSTRUÇÃO DE UM LEITOR CRÍTICO Como a construção de um leitor crítico passa inevitavelmente pela formação do leitor o uso educativo de jornais e revistas passa pela criação do hábito da leitura E não apenas fazendo uma leitura superfi cial como muitas vezes os leitores de jornais usuais fazem em seu diaadia se tornando incapaz de uma análise mais profunda so bre o que acabou de ler Muitas vezes ele nem ao menos se lembra da matéria sobre a qual acabou de gastar alguns minutos de seu tempo 133 De certa forma essa construção do uso educacional do jornal em sala de aula não difere muito do trabalho que deveria ser feito por professores para formar leitores As obras devem ser passadas aos leitores à medida que eles tenham condições de conhe cer e apreciar as características e superar as difi culdades inerentes àquele autor e seu estilo E é justamente essa aventura na leitura que devemos aproveitar na hora de traba lhar com a mídia impressa na educação O uso de jornais e revistas deveria ser tratado como uma sequência de descoberta Com essas descobertas o aluno se interessaria por uma leitura mais aprofundada mais crítica prestando atenção em sutilezas ver sões e elementos que normalmente passariam despercebidos Essas descobertas também não deveriam ser apresentadas de imediato e todas ao mesmo tempo A aventura estaria estragada sua sobrevivência comprometida São des cobertas que devem aparecer aos poucos Descobriuse uma aventura a aprecie e vá trabalhando com ela até estar preparado para o próximo passo Dentro dessa aventura por exemplo está a queda dos mitos Um deles é de que a matéria jornalística traz A VERDADE do fato O jornalismo nunca traz a verdade abso luta de um fato até porque não existe uma verdade absoluta A matéria independente de qual mídia apresenta uma verdade a partir das informações que o repórter levan tou e da ordem que ele decidiu que seria a mais importante na hora de apresentar a matéria Pode haver e normalmente existe outras verdades que não desmentem necessariamente a primeira mas dão uma nova visão e uma nova alternativa de inter pretação do fato Para isso é preciso deixar claro que existem várias formas de contar uma história Cada um tem seu estilo de contar a história cada um viu aquela situação de uma ma neira diferente tem seus posicionamentos e opiniões que por mais que tentem man têlos distantes contribuem na hora de se contar uma história E escrever uma matéria jornalística nada mais é do que contar uma história a partir de diversos depoimentos diferentes geralmente escrita por um homem que não estava lá A aventura da leitura crítica na imprensa Referências ALBERT P Terrou História da imprensa São Paulo Martins Fontes 1990 BAHIA Juarez Jornal história e técnica São Paulo Ática 1990 Disponível em httpwwwanjorgbrjornaleeducacao Acesso em 15 out 2008 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 134 1 Pegue uma matéria de jornal ou reportagem e retire as principais informações Em seguida passe para os alunos essas informações e peça para eles escreverem uma matéria como se estivessem escrevendo para um jornal Após eles escreverem essa matéria redistribuaas tentado fazer com que o trabalho de um aluno não fi que com um integrante do seu grupo mais próximo de amizades todas as sa las têm os seus grupinhos Depois das leituras peça a eles um novo trabalho apontando quais as diferenças que eles encontraram na matéria do colega e por que acham que isso aconteceu Por fi m apresente a eles a matéria original e peça para que eles façam o mesmo trabalho anterior mas dessa vez em relação a sua própria matéria Esse exercício tem o objetivo de mostrar que se podem criar várias matérias diferentes para um mesmo acontecimento que existem várias versões possíveis para um fato O resultado fi nal pode ser corrigido analisando tanto aspectos gramaticais quanto estilísticos e formas de se expressar 2 Outra atividade transformará os alunos em repórteres Divididos em duplas cada um vai escrever em uma folha de maneira breve e resumida algum acontecimento marcante em sua vida Essa parte do trabalho que servirá de pauta será entregue ao colega por cinco minutos Depois cada um terá quinze minutos para entrevistar o colega sobre esse acon tecimento de sua vida e viceversa Após a entrevista cada aluno escreverá uma matéria sobre aquele acontecimento na vida do colega Tente estabelecer um número mínimo e máximo de linhas para essas matérias Com as matérias prontas o autor deve passálas para sua fonte O aluno que deu a informa ção vai ler a matéria e escrever um segundo trabalho apontando o que ele acha que faltou e que deveria ou não deveria estar na matéria e o que o autor poderia ter perguntado a mais Proposta de Atividades OLIVEIRA Sara Texto visual e leitura crítica o dito o omitido o sugerido Linguagem Ensino Pelotas v 9 n 1 p 1539 2006 Disponível em httprle ucpeltchebrphpedicoesv9n1saraoliveirapdf Acesso em 15 out 2008 PENA Felipe Teorias do Jornalismo São Paulo Contexto 2005 VIZEU Alfredo MAZZAROLO Jô Telejornalismo onde está o LEAD São Paulo USP 1999 Disponível em httpwwwecauspbralaicCongreso19996gtAlfredo20 Vizeu rtf Acesso em 15 out 2008 WOLF Mauro Teorias da comunicação 5 ed Lisboa s n 1999 135 A aventura da leitura crítica na imprensa Com todos eles entregues e corrigidos avaliados da mesma forma que o exercício ante rior os alunos podem se envolver na confecção de um jornalmural para fi car exposto na instituição em que estudam talvez até com fotos referentes aos temas retratados Esse exercício além de criar e aprofundar o relacionamento entre alunos também dará aos estudantes uma breve percepção do processo jornalístico do qual eles veem apenas os produtos fi nais nos jornais e pode incentivar a leitura Anotações EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 136 Anotações 137 A leitura é um dos maiores prazeres da vida Ter a oportunidade de ler descobrir pesquisar e adquirir novos conhecimentos é algo intrínseco ao ser humano Hoje exis te cerca de 100 terabytes1 de informações que são alcançáveis pelos engenhos de bus ca como Google e Yahoo na web também conhecidos como a teia global de informa ções acessadas via Internet Outros ainda a denominam ciberespaço Essa quantidade de informações equivale a cerca de 50 milhões de volumes de livros que correspon dem a aproximadamente 20 bilhões de páginas E olha que essa é apenas a web dita visível ou surface Web isto é que pode ser localizada pelos engenhos de busca Já a chamada Deep Web contém segundo dados do IDC cerca de 750 vezes a quantidade de informações disponíveis na surface web Isto ocorre porque os atuais engenhos de busca não têm a capacidade de digitar e pensar Muitas bibliotecas digitais e outros 1 O byte é uma unidade de informação As pessoas costumam utilizar a quantidade de páginas para mensurar o tamanho de um livro No computador utilizase o byte que pode ser expresso em diversas grandezas como kilobyte 103 bytes megabyte 106 bytes gigabyte 109 bytes terabytes 1012 bytes Por exemplo o conteúdo de uma página digitada equivale a aproximadamente 2 kilobytes Antonio Mendes da Silva Filho Internet mídia de comunicação e educação 10 The important thing is not to stop questioning curiosity has its own reason for existing Albert Einstein It is a miracle that curiosity survives formal education Albert Einstein EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 138 sites exigem por exemplo que para fazer consultar e ter acesso à base de dados seja necessário digitar um login2 e senha e portanto exige o cadastro do usuário Por exemplo se você visitar o site do Google Scholar httpscholargooglecombr e pesquisar por artigos pertinentes a revistas Note que a curiosidade é uma caracterís tica intrínseca ao ser humano e pode ser considerada como base para o processo de aprendizagem Este capítulo trata da Internet e de como ela tem sido utilizada como recurso para a comunicação educação e mídia A ERA DA INFORMAÇÃO Cada um dos três séculos passados tem sido dominado por uma única tecnologia O século XVIII compreende a era dos grandes sistemas mecânicos acompanhado da Revolução Industrial O século XIX foi a era da máquina a vapor O século XX foi denominado a era da informação Associado a isto temos testemunhado vários avan ços tecnológicos em diversas áreas Dentre elas duas que têm causado signifi cativo impacto sobre o cotidiano das pessoas desde o século passado até o momento atual são Computação e Telecomunicações Nesse cenário de avanços tecnológicos depa ramonos com uma carga de informações cada vez maior o que é um fator positivo Isto permite aos usuários da Internet conhecidos como internautas explorar essa rica fonte de informações Entretanto como podemos tirar proveito dessas tecnologias que colocam a nossa disposição um volume cada vez maior de informações Perceba que o ser humano assim como as máquinas por exemplo o computador possui limitações Uma das limitações do ser humano é a memória como discutiremos a seguir Além disso o tempo disponível que as pessoas possuem é notavelmente cada vez mais escasso Isto conduz à necessidade de buscar formas mais efi cientes de coletar e processar apenas as informações necessárias no nosso cotidiano Note que é humanamente impossível digerir a imensa quantidade de informações colocadas à disposição das pessoas Uma forma de tratar essa questão é empregando um processo de customização que possibilite transformar um volume grande de informações em uma forma mais adequada para o interesse particular de uma pessoa A MEMÓRIA HUMANA O ser humano em seu processo de aprendizado passa por vários estágios de aprendizagem Para cada estágio temse associado uma maior propensão para o 2 O login é um nome ou palavra que identifi ca o usuário o qual é digitado juntamente com a senha para se ter aces so a um sistema Isso é comum quando um usuário deseja ter acesso a caixa de entrada de seu correio eletrônico e portanto ele informa o seu login e em seguida digita sua senha 139 desenvolvimento de habilidades específi cas Concomitante a esse fato temse que a memória humana possui suas limitações isto é o indivíduo é apenas capaz de me morizar um número limitado de informações A organização da memória humana é geralmente aceita como sendo composta de três áreas distintas e conectadas A memória de curta duração é responsável pelo recebimento e processamento inicial de informações Adicionalmente ela possui um acesso mais rápido e limitada capacidade de armazenamento A memória de trabalho tem uma capacidade de arma zenamento maior do que a de curta duração Todavia o seu tempo de acesso a infor mações já armazenadas é maior comparado com a primeira Quanto à memória de longa duração que é aquela que retém todo o conhecimento de um indivíduo possui um tempo de acesso para recuperação de informações muito maior comparado às demais Ela também é conhecida como memória permanente Contudo desde que os seres humanos esquecem algumas coisas temse que seus mecanismos de recuperação não são totalmente confi áveis Assim é necessário alimentar nossos sentidos como por exemplo visão e audição a fi m de fi xarmos as informações recebidas O ato de repetição da leitura nos ajuda a fi xar a informação lida isto é a informação é passada da memória de curta duração para a memória de trabalho e posteriormente para a memória de longa duração onde está armazenado o conhecimento do ser humano Porém face à carga crescente de informações à disposição das pessoas essas agora estão precisando de um recurso que as auxilie na identifi cação do que é necessário no momento de necessidade Então entra em cena o que se costuma denominar processo de customização que discutiremos a seguir CUSTOMIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO Hoje vivenciamos um momento ímpar da sociedade em que as pessoas têm aces so interativo online a repositórios dos mais variados conteúdos multimídia Isso permite que usuários conectados à Internet tenham a possibilidade de navegar no ciberespaço ou web e acessar diversos tipos de informações Dentro desse contexto o processo de customização tem a fi nalidade de proporcio nar ao indivíduo a facilidade de obter uma informação necessária quando necessário Em outras palavras customização signifi ca transformar a informação entrante em uma informação que seja adequada às necessidades de um indivíduo em determinado ins tante Assim a customização da informação ocorre imediatamente antes do uso dela Como salientamos anteriormente à medida que mergulhamos cada vez mais na era da informação está se tornando mais e mais aparente que a sociedade como um todo terá que se confrontar com um problema genérico da sobrecarga de informações Isto vai nos compelir a buscar e usar técnicas que maximizem o tratamento das informa ções recebidas a fi m de otimizar o tempo dos usuários Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 140 A necessidade de armazenar e recuperar informações digitais coletadas via Inter net de acordo com as necessidades do usuário é apenas uma questão a ser conside rada dentro desse contexto Outro aspecto é a necessidade de ter a informação apre sentada em uma forma apropriada à necessidade do indivíduo no tempo necessário ao seu consumo Um artefato de informação contém uma mistura de informações com maior ou me nor valor para um indivíduo dependendo do ponto de vista do consumidor da in formação Tentar localizar a informação manualmente pode ser tedioso ou mesmo sus ceptível a erro Exemplos de recursos ou ferramentas de customização compreendem os buscadores como Google wwwgooglecombr Yahoo br yahoocom Cade wwwcadecombr e Live Search wwwlivecom os quais permitem aos usuários empreenderem consultas específi cas as suas necessidades Outro recurso que tem sido adotado com sucesso pelos usuários é a Wikipédia httpptwikipediaorg que compreende uma enciclopédia na qual você não apenas acessa para consultar por informação desejada mas também é parte da Wikipédia podendo colaborar isto é prover informações para enciclopédia Observemos que os dois recursos apresentados acima compreendem exemplos nos quais o usuário tem um papel mais passivo isto é na maioria dos casos ele está interessado na obtenção de informações por meio de consultas No segundo caso Wikipédia o usuário tem a oportunidade de também adicionar informações à enci clopédia Recursos adicionais compreendem blogs correio eletrônico email e fórum de discussão os quais são tratados também neste capítulo USO DA INTERNET O ser humano é por natureza um elemento que necessita viver em sociedade e podemos afi rmar que também precisa de comunicação por ser esta uma necessidade intrínseca do homem Vale lembrar que o século XX foi marcado por grandes tragédias mas também por avanços da humanidade e especifi camente sua última década ou seja os anos 1990 marcou o advento e o crescimento em escala quase exponencial da Internet Esta tem sido responsável pela mudança de hábito de seus usuários pelo re desenho das estruturas das instituições e pela oferta de novas formas de comunicação Atualmente a população mundial é estimada em aproximadamente 6 6 bilhões de pessoas Desse total cerca de 1 4 bilhões são internautas usuários da Internet segundo dados do Internet World Stats Internet 2001 que monitora os dados da rede Hoje a América Latina conta com quase 10 dessa fatia o que corresponde a aproximadamente 140 milhões de usuários O Brasil particularmente tem 42 6 milhões desse total A população internauta brasileira é de 22 4 Ainda conforme os 141 dados da Internet World Stats o Brasil é 6º país em número de internautas fi cando apenas atrás dos EUA China Índia Japão e Alemanha Figura 1 Distribuição de usuários da internet Essa população brasileira de internautas 42 6 milhões considera o uso em vários am bientes como em casa trabalho escola universidade dentre outros Se o uso for restrito apenas ao ambiente residencial esse número cai para aproximadamente 22 milhões Dados da NielsenNetRatings httpwwwnielsennetratingscom apontam que o tempo mé dio mensal de navegação na Internet dos brasileiros é de 22 horas e 24 minutos um líder nesse aspecto Desse total de acordo com os dados do IBGE httpwwwibgegovbr mais de 50 é composto de jovens dos quais 13 têm idade entre 15 e 17 anos Ainda con forme o IBGE a idade média do internauta brasileiro é de 28 anos Dados da Internet World Stats informam que o crescimento de uso da Internet foi de 290 a nível mundial e de 660 na América Latina incluído o Brasil Todos esses índices servem para fundamentar a mudança de hábito de seus usuários É ótimo ter uma ferra menta como esta que nos permite acessar informações entrar em contato com amigos trocar mensagens fotos e tantas outras utilidades Note que a Internet permite descobrir informações mas não todas pois as informa ções indexadas pelos engenhos de busca ou buscadores como Google Yahoo e outros compreendem apenas uma pequena parcela da Deepnet httpen wikipedia orgwiki DeepWeb ou Web invisível não acessada por esses buscadores A Internet é um mun do de informações para os mais diversos gostos e necessidades Podemos brincar jogar conversar expressar opiniões assistir a fi lmes e obviamente pesquisar A Internet tem ser vido a diversas áreas e uma das quais tem se benefi ciado bastante tem sido a Educação como discorreremos na sequência Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 142 TICS A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO Começa a se tornar comum nas escolas e universidades o uso da tecnologia da in formação e comunicação TIC como recurso para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem A incorporação de elementos multimodais incrementa os documen tos digitais documentos com recursos de natureza multimídia bem como melhora a acessibilidade a esses documentos Isto vale para todos os indivíduos e também àque les que possuem alguma defi ciência Tratase de uma tecnologia que oferece múltiplas perspectivas às pessoas facilitando o processo de assimilação de um conhecimento novo Isto é ótimo para o processo de aprendizado Cabenos destacar que o conhecimento codifi cado em documentos e outros tex tos possui em geral diferentes representações e as pessoas similarmente têm dife rentes capacidades de assimilar novos conteúdos Note ainda que o entendimento de um novo conceito e a aquisição de novo conhecimento vão depender da maneira com que ele é apresentado O processo de aprendizado é altamente dependente da maneira que o indivíduo aprende Dessa forma documentos digitais são documentos que incorporam múl tiplos recursos ou seja possuem vários recursos multimodais e interativos isto é recursos multimídia como por exemplo imagens vídeos e sons Utilizar tais recur sos torna mais fácil o ensino e o aprendizado de conceitos abstratos já que o novo conceito é apresentado sob diferentes perspectivas Um exemplo evidente é o uso da simulação como recurso para facilitar o aprendizado de novos conceitos Exemplos de uso applets isto é um programa que é executado em determinado contexto visan do a ilustrar uma aplicação são apresentados em httppolymer bu eduwamnet html e httpwwwgroupsdcsstandacukhistoryJavaindex html Vale ainda observar que a maioria do material de ensino disponível hoje na web está no formato HTML HyperText Markup Language limitando a possibilidade de apresentar conteúdos multimodais e interativos HTML é uma linguagem de marcação que permite a uma pessoa especifi car a maneira pela qual ela deseja ter a informação exibida em uma página da web A linguagem compreende um conjunto de tags ou rótulos que a pessoa pode por exemplo defi nir se uma palavra deve aparecer em ne grito ou no formato itálico Em outras palavras a linguagem HTML defi ne o formato de exibição de informações em uma página da web Para tanto o usuário deve utilizar um editor de texto para editar o arquivo HTML que especifi ca o conteúdo de uma página web que será exibida pelo browser ou navegador da web Exemplos de browsers são Internet Explorer e Mozilla Essa situação de uso da linguagem HTML contudo começa a mudar com o uso da linguagem XML eXtended Markup Language combinada com outras aplicações 143 tais como MathML SVG e SMIL A XML oferece mais fl exibilidade comparativamente à HTML Se considerarmos o uso de MathML wwww3orgTRRECMathML per ceberemos que é uma aplicação que oferece aos usuários recursos para processar e exibir conteúdo de matemática na web Isto pode ser feito mais facilmente com o uso de uma ferramenta de autoria e browser ou navegador Amaya httpwwww3org Amaya Tratase portanto de uma ferramenta de código aberto disponibilizada pelo Consórcio W3C Outras aplicações que podem ser utilizadas em conjunto com a XML compreendem SVG e SMIL referenciadas respectivamente em httpwww w3orgGraphicsSVG httpwwww3orgAudioVideo Embora as aplicações supracitadas MathML SVG e SMIL já estejam disponíveis e possam ser utilizadas como recursos para incrementar o processo de ensino e apren dizagem seu uso para esse fi m tem sido módico Parte se deve ao desconhecimen to e parte devido à falta de incentivos no sentido de aprimorar as formas atuais de aprendizado Adicionalmente observamos que esforços de pesquisa têm se concentrado em es tudos e testes empíricos visando a compreender e a modelar a forma pela qual as pessoas executam suas tarefas buscando capturar todos os aspectos das experiências e interações humanas no uso de ferramentas computacionais para o aprendizado Neste sentido o casamento do entendimento detalhado do ser humano com a compreen são aprofundada da tecnologia empregada permite a concepção e o projeto de novos produtos Essa preocupação se estende ao uso das TICs objetivando a melhoria do processo de ensino e aprendizagem O uso das TICs na educação auxilia a compreensão de por exemplo conceitos abstratos visto que os estudantes podem alterar variáveis e ve rifi car as mudanças resultantes A disponibilidade desse imenso armazém de dados a web combinada com o uso de aplicações como MathML SVG SMIL oferece diversas perspectivas que podem ser exploradas pelo aprendiz tornando a aquisição de novos conhecimentos mais fácil Percebamos que as fronteiras da sala de aula estão em processo de mutação facili tando cada vez mais o processo de consulta ensino aprendizado e colaboração entre estudantes professores e profi ssionais de várias especialidades Uma modesta parcela dos educadores já percebeu a riqueza das TICs e como elas podem aprimorar o pro cesso de aprendizado Entretanto os resultados têm sido bons e é preciso ampliar esse número de modo a gerar multiplicadores para que uma parcela maior da sociedade possa se benefi ciar também Dentre os recursos que têm sido empregados por edu cadores podemos destacar o uso de correio eletrônico fóruns comunidades online páginas web wikis salas de batepapo conhecidas como chats e blogs Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 144 As páginas web compreendem o conjunto de páginas que compõem a web Diver sos são os exemplos de páginas web conhecidos também como site termo em inglês ou sítio com já tem sido traduzido para o português Alguns exemplos de páginas web compreendem Conteúdo como wwwuolcombr ou wwwterracombr Universidades como wwwuembr ou wwwunicampbr Instituições fi nanceiras como wwwcaixagovbr ou wwwitaucombr Buscadores como wwwgooglecombr ou bryahoocom Já as comunidades online também são conhecidas como comunidades virtuais ou comunidades eletrônicas ecommunity compreendendo um grupo de pessoas inte ragem entre si fazendo uso de algum meio de comunicação como telefone correio eletrônico mensagens instantâneas ou salas de bate papo chats com objetivo de trocar obter e fornecer informações com fi ns de educação social eou profi ssional Quando o meio de comunicação é a Internet uma rede de computadores de alcance global denominase esse grupo comunidade online Os wikis compreendem um conjunto de páginas web que estão estruturadas e interligadas as quais podem ser acessadas por usuários interessados em contribuir adicionando novos conteúdos modifi cando o conteúdo existente ou simplesmente fazendo consultas Os wikis são considerados páginas web colaborativas já que in centivam a colaboração entre os participantes Um exemplo de wiki bastante utilizado pelos usuários da Internet o Wikipedia wwwwikipediaorg ou em português wwwptwikipediaorg considerada uma enciclopédia na qual os usuários da In ternet têm acesso com objetivo de consulta e colaboração Um exemplo maior que agrega vários desses recursos é o ambiente TelEduc httpwwwteleducorgbr que tem sido usado para o ensino a distância além de também permitir a administração de cursos na web O ambiente foi desenvolvido pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Unicamp e tem tido ótima recepti vidade e uso em várias instituições Outro exemplo de ambiente de administração de cursos a distância é o Moodle httpmoodleorg que no Brasil é adotado em várias instituições Um exemplo é a UNB httpwwwaprenderunbbr que similarmente ao TelEduc também permite a administração de cursos COMUNICAÇÃO PILAR ESSENCIAL À EDUCAÇÃO Nunca em qualquer outra época da humanidade houve tamanha quantidade de comunicação troca e acesso a informação como no momento atual em que a Internet 145 torna essa necessidade humana e da educação possível Comunicação é tudo e tem sido muito bem exercitada por uma quantidade cada vez mais crescente de usuários da Internet conforme evidenciado pelo Internet World Stats httpwwwInternet worldstatscomstatshtm Percebamos que a comunicação é uma arte Como essa arte da comunicação tem sido exercitada pelas pessoas Um número cada vez maior de pessoas tem se tornado usuárias da Internet e em especial tem havido crescimento quase exponencial do número de bloggers autores de blogs A blogosfera como é chamado o espaço virtual dos blogs tem tido um crescimento contínuo Segundo dados da Technorati em março de 2006 havia mais de 35 milhões de blogs Dados da Technorati de abril de 2007 informava haver mais de 70 milhões de blogs quando a cada dia 120 mil novos blogs eram criados Dados de junho de 2008 indicam a existência de 133 milhões de blogs httpwwwtechnorati combloggingstateoftheblogosphere Um dado curioso é que cerca de 70 dos blogs existentes hoje no mundo são escri tos em inglês ou japonês sendo 33 em inglês e 37 em japonês Em 3º e 4º lugares estão os blogs de chineses e italianos com 8 e 3 respectivamente Já o português está com aproximadamente 2 Mas o que é exatamente um blog Um blog é uma espécie de diário eletrônico interativo através do qual as pessoas podem expor suas ideias e outras informações sobre conteúdo específi co e comu nicar suas opiniões pela web além de receber comentários de seus leitores Tratase portanto de uma forma de interação na qual há um encontro virtual entre autor ou educador e leitores ou alunos Encontramos na web diversos tipos de blogs como por exemplo diários pessoais blogs de famílias blogs de análises e comentários revisões ou comentários de produ tos ou mesmo aqueles que contêm vários de tipos de mídias fotos músicas e fi lmes Um dado importante a observar é que hoje em dia mais de 10 dos usuários da In ternet têm ou já tiveram blogs e que mais de 13 dos usuários da Internet leem blogs O que isso signifi ca Atualmente o blog constitui mais uma ferramenta de informação e comunicação Ele já é considerado um novo paradigma de aquisição e disseminação da informação e por que não dizer também do conhecimento servindo como alternativa à mídia tra dicional Além disso é uma ferramenta interativa ao permitir comentários e a interação entre aqueles que comentam tornandose assim uma rede social uma blogosfera em que esforços colaborativos interagem aumentando o efeito da rede Dentro desse contexto há uma questão de suma importância que deve ser consi derada não há qualquer padrão profi ssional ou regulamento para essas mídias Isto Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 146 implica portanto a necessidade de checar as fontes antes de aceitar a informação divulgada como verdadeira Adicionalmente algo que impressiona é a forma e a taxa nas quais as informações são colocadas e comentadas nos blogs Dados da Technorati revelam que cerca de 1 milhão de informações posts são inseridas nos blogs diariamente o que resulta em uma taxa de quase 40 mil por hora Determinados fatos como a tsunami no Oceano Índico o furacão Katrina as eleições norteamericanas causaram picos na quantidade de inserção de novas informações nos blogs Porém não se impressione muito com os números pois eles servem apenas para quantifi car a necessidade humana de comunicação e informação O ser humano por natureza tem uma grande necessidade de comunicação e essa característica se acen tua com as facilidades atuais da Internet maior acesso à telefonia fi xa e celular A Internet tem redesenhado as formas pelas quais as pessoas interagem e têm acesso às informações Hoje em dia não só a televisão rádio e jornais invadem as residências e instituições A Internet está em tudo e estará mais ainda em nossas mãos a qualquer hora e lugar à medida que a telefonia via Internet tornase o novo paradigma Note mos que a Internet é uma mídia que veio para democratizar o acesso ao conteúdo e facilitar a interação e colaboração entre as pessoas e as instituições Cabe também destacar que um blog atua como um escape para muitas pessoas como no caso de photoblogs blog de fotos ou moblogging blog usando disposi tivos móveis como celular e PDA Todavia os blogs têm sido mais utilizados para expressar opiniões interação alunoprofessor em cursos apresentar novas informa ções realizar algum tipo de promoção ou marketing e principalmente para comuni car ideias e informações O importante aqui é que o blog permite a interação essa é a palavrachave Os au tores escrevem os leitores leem e comentam os autores e outros leitores respondem aos comentários e assim comunicação e interação simplesmente ocorrem Algo que merece ser enfatizado é que o blog atua como uma ferramenta para compartilhar co nhecimento e portanto provê suporte à educação Esses dois aspectos são de suma importância o fato de permitir o compartilhamento do conhecimento que resulta em um blog institucional auxiliando no processo de ensino realçando sua forma de comunicação É impressionante como as pessoas têm lido bem como têm dado atenção aos conteúdos disponibilizados nos blogs e mais e o quanto as pessoas dedicam de seu tempo para criar e frequentemente adicionar conteúdos ao blog além de responder a comentários Esse sucesso e crescimento de usuários se devem a um fator ou melhor a uma necessidade humana a comunicação ou interação na busca pela informação 147 Vale ressaltar que o blog é um meio de comunicação que permite a expressão do autor e sua comunicação com seus leitores em uma interação dinâmica Contudo ao mesmo tempo em que o blog se constitui em mais uma alternativa de informação e comunicação ele também requer um código de ética para que a liberdade de ex pressão não seja cerceada nem o comportamento excêntrico impeça a comunidade online de trocar informações experiências e colaboração Comunicação é tanto arte quanto necessidade humana e o ser humano precisa aprender a usála para apreciar a beleza da comunidade online PANORÂMICA O SÉCULO DA EDUCAÇÃO O século XXI é centrado na educação e esta por sua vez determinará o destino de nossa sociedade O poder não será mais unicamente determinado pelos governos e instituições multinacionais É importante pontuar que a dependência futura não recai mais sobre os recursos físicos Observamos que o futuro da sociedade depen derá primariamente do conhecimento e a inovação será o principal propulsor de crescimento econômico O negócio da empresas brasileiras é inovação orientada ao desenvolvimento humano Percebamos que a mudança e evolução contínua estarão presentes no cerne da so ciedade e assim tanto a educação quanto a capacitação serão exigidas durante toda a vida do indivíduo Isso põe por terra o antigo paradigma baseado apenas na educação até a idade adulta O novo paradigma exigirá educação e capacitação ao longo de toda a existência das pessoas Cabe também apontar que os governos permanecerão envolvidos em prover educação e há até um interesse crescente na educação continuada devido ao valor econômico agregado Entretanto embora haja interesse e demanda por qualifi ca ção profi ssional de modo continuado o Brasil continua patinando e sem conseguir acompanhar o bonde da competitividade que cada vez mais requer qualifi cação profi ssional Isto signifi ca perda de oportunidades No artigo do professor José Pas tore 2005 o país Possui 12 de analfabetos absolutos Tem 60 de analfabetos funcionais que têm difi culdades para entender o que leem e fazer cálculos Conta 9 de estudantes cursando ensino superior Investe 5 5 de seu PIB em educação Requer de maneira estimada 12 anos para alcançar um cenário adequado de capacitação Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 148 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DIFERENCIAL PARA COMPETITIVIDADE Hoje temos um crescimento vertiginoso da demanda por pessoas qualifi cadas o que exige um crescimento similar de indivíduos em unidades educacionais que po dem ser as universidades tradicionais de tijolo e cimento bem como as universidades virtuais sem paredes e unidades de ensino a distância a fi m de atender tal demanda Isto requer soluções criativas Nossa previsão é que no futuro não muito distante ou seja em um horizonte de 10 a 20 anos as universidades não terão mais paredes É importante observar que uma única instituição ou universidade não poderá pro ver todos os cursos demandados pela sociedade A quantidade e tipos de cursos ofer tados e demandados também determinarão mudanças na educação tornandoa distri buída Isso terá como consequência a formação de consórcios gerando a necessidade adicional de mudanças na forma de gestão da educação A educação tende a cruzar fronteiras não apenas físicas mas também culturais fazendo o educador ter um papel mais de facilitador O educador concentrarseá mais no processo de aprendizagem uma vez que nesse processo as pessoas terão ações mais independentes e autônomas Note que tais mudanças são vislumbradas para o ensino superior com foco na capa citação profi ssional e educação continuada Há expectativa de aprimoramentos nos ensinos de nível primário e secundário Todavia essas serão de menor porte especi fi camente dada à introdução de novas tecnologias e recursos multimídia no ensino DEMANDA PELA FORMAÇÃO DE CAPITAL HUMANO Quase metade dos indicadores de desenvolvimento de um país utilizados pelo Ban co Mundial estão relacionados à educação ou à formação de capital humano que é parte do desenvolvimento humano Dentre eles temse o percentual de homens e mulheres alfabetizados percentual de pessoal no ensino de 1º grau percentual de pessoas no ensino de 2º grau percentual de pessoas no 3º grau percentual do PIB investido na educação e percentual de pessoas cientistasengenheiros envolvidas em atividades de PD Pesquisa e Desenvolvimento Aliados a esse fato os principais propulsores do crescimento econômico de um país englobam Nível educacional com crescimento rápido Taxas de inovação tecnológica aceleradas Meios de comunicação mais rápidos e baratos permitindo a quebra de barreiras físicas e sociais tanto a nível nacional quanto internacional Informação atualmente disponível em quantidade e qualidade maior do que jamais vista antes Abertura de novos mercados com a globalização 149 Perceba que dispomos de vários recursos de conhecimento tecnologia informa ção educação e competências em abundância os quais podem ser utilizados para alcançar resultados melhores Nesse contexto a disseminação da informação útil é de suma importância A educação é o processo pelo qual a sociedade passa o conheci mento e experiências acumuladas das gerações passadas às novas gerações de maneira sistemática e mais abreviada de modo que a próxima geração possa iniciar do ponto onde as gerações anteriores pararam Hoje em dia a educação nos permite ter acesso ao conhecimento das gerações anteriores bem como as experiências e conhecimento de todas as pessoas no mun do O desenvolvimento tecnológico e mídias atuais levam às instituições e residências conteúdos de diversas naturezas incluindo texto som e vídeo e juntamente com o advento da Internet que possibilita acesso a uma variedade de fontes em escala global Neste sentido dispomos de uma quantidade excepcional e rica de conteúdo aliada à capacidade de entrega rápida Se ousarmos nos libertar dos currículos obsoletos e buscar aperfeiçoálos com mecanismos adequados de comunicação e colaboração da informação podemos aproveitar a oportunidade para superar o gap educacional que nos separa das nações mais prósperas É importante observar ainda a quantidade crescente de instituições buscando no vas formas de capacitar eou fomentar a capacitação de seus profi ssionais e da so ciedade como um todo Nunca em todo o período da história houve demanda tão elevada por profi ssionais qualifi cados E note que isso é apenas uma das perspectivas consideradas Algo que devemos pensar é por que as organizações têm interesse em clientes ou usuários com maior grau de educação EDUCAÇÃO CATALISADOR DO DESENVOLVIMENTO Educação é um catalisador e portanto fator determinante no desenvolvimento de qualquer nação A educação é a principal ferramenta para capacitar o capital humano qualifi cado cada vez mais necessário na era atual Sem qualifi cação é praticamente impossível a uma nação se manter e competir na era do conhecimento Dados da Unesco 2007 mostram que a América Latina possui um percentual 44 do total do PIB Produto Interno Bruto de investimento em educação Já a América do Norte e Sudeste Asiático têm respectivamente 36 e 56 Esses números servem para de monstrar as preocupações dos governos com a educação pois ela determinará quem dominará o século atual Três exemplos de países dessa região são destacados com dados extraídos do FactBook da CIA httpswwwciagovlibrarypublicationsthe worldfactbook conforme apresentamos na tabela a seguir Internet mídia de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 150 País PIB US Renda Per Capita US Atividade Econômica Agricultura Indústria Serviços Brasil 184 Trilhões 97 mil 51 308 64 Estados Unidos 1386 Trilhões 460 mil 09 206 785 Cingapura 2227 Bilhões 489 mil 00 337 663 Observemos os dados da tabela Brasil e Estados Unidos são dois países que pos suem dimensões continentais Dados da Unesco apontam que ambos têm investido aproximadamente 5 do PIB em educação Se olharmos esses números e verifi carmos os PIBs das duas nações perceberemos que os EUA têm signifi cativa vantagem sobre o Brasil mas não tanta sobre Cingapura Apenas para dar uma ideia os países do Sudeste Asiático investem menos de 3 em educação e ainda assim obtêm resultados melhores Os países dessa região dentre eles Cingapura têm tido expressivo cresci mento econômico Cingapura tem crescido a taxas de cerca de 10 ao ano e tem investido pesada mente em educação e capacitação de pessoal Em outras palavras em capital humano Imaginemos esse pequeno país de 617 km2 um tamanho bem menor que o estado de Alagoas ter conseguido a proeza de possuir renda per capita de quase US 49 000 e portanto acima dos EUA Isso é resultado de investimento constante em educação ao longo das últimas décadas Sua população é principalmente de origem chinesa apesar da diversidade e tolerância racial Os fatores arrolados acima e o baixo índice de criminalidade têm motivado a atração de novos investimentos e negócios Se observarmos cautelosamente os dados supracitados veremos que os outros in dicadores como elevada renda per capita baixo índice de criminalidade e atração de novos investimentos são resultado de uma população educada e capacitada Mais de 95 da população de Cingapura é alfabetizada tem capacidade de ler e escrever Além disso o inglês é usado em ambientes de trabalho e negócios Você deve estar se perguntando como o Brasil pode atingir os níveis de renda per capita dos EUA e Cingapura Não há outro caminho senão pela educação Dados do MEC httpportalmecgovbr indicam que o Brasil investe cerca de 4 em edu cação o que é considerado pouco O país precisa elevar os níveis de educação do país a fi m de dar suporte à tendência de crescimento econômico que começamos a viven ciar Se isso não for feito de modo rápido e planejado o Brasil continuará a amargar o velho adágio de ser o país do futuro 151 O governo brasileiro precisa ser mais ousado e investir pesadamente em educação nos três níveis ou seja 1º 2º e 3º graus As escolas públicas devem prover suporte maior na educação básica aprimorando o processo de aprendizagem com o empre go das várias tecnologias acesso e busca a bibliotecas digitais email fórum blogs ferramentas de apoio ao ensino a distância como TelEduc e Moodle O ensino de 3º grau nas universidades precisa ter sua qualidade aperfeiçoada de modo a capacitar adequadamente os profi ssionais necessários ao mercado Do contrário em um futuro bem próximo o país pode ter a necessidade de importar mão de obra qualifi cada a fi m de atender às necessidades das empresas Desenvolvimento se faz com conhecimento com profi ssionais qualifi cados e isso requer um pilar que é a educação Internet mídia de comunicação e educação Internet usage statistics the Internet big pictures S l Internet World Stats 2001 Disponível em wwwInternetworldstatscomstatshtml Acesso em12 out 2008 PASTORE José Faltam empregos e sobram vagas O Estado de São Paulo São Paulo 20 set 2005 Disponível em wwwjosepastoerecombrartigosemem054 html Acesso em 12 out 2008 UNESCO INSTITUTE FOR STATISTICS Laying the foundations for EFA investment in primary e education S l 2007 Disponível em wwwhttpwwwuisunescoorg templatepdfeducgeneralfactsheet07No6ENpdf Acesso em 12 out 2008 Referências 1 Como a Internet tem infl uenciado as práticas de ensino dos três níveis de educação edu cação básica ou Ensino Fundamental Ensino Médio e Ensino Superior 2 O ensino a distância realizado através de encontros virtuais via Internet com recursos de administração e colaboração de conteúdos chats fóruns email blogs elimina a necessi dade de presença física e contato real com professor Discuta as vantagens e limitações do uso das TICs no apoio ao ensino a distância e processo de aprendizagem 3 O que é necessário a um indivíduo para se benefi ciar da Internet no cotidiano Responda a questão considerando a perspectiva educacional Proposta de Atividades EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 152 Anotações 153 Na história estão as marcas do teatro como espaço físico e como expressão de cultura que assume características de um ato de comunicação Nesse rico patrimô nio arqueológico e cultural pode ser identificada a produção teatral como modos históricos de propagar conhecimentos e atitudes de repúdio ou de aceitação e exaltação de acontecimentos sociais O teatro formalizado pelos gregos como espaço cênico foi organizado na de monstração de cultura e conhecimento O reconhecimento das diferentes formas da atividade teatral como produção cultural e história traz a pergunta como o teatro comunica e o que comunica Como faz a propagação de conhecimentos po líticos religiosos e a valorização de atitudes de denúncia apreciação ou desprezo Tantas indagações tornaramse um roteiro de nosso próprio estudo sobre teatro e gera outras buscas como participam na produção de sentido a palavra o tom a mímica facial o gesto a maquiagem o penteado o vestuário o acessório o cená rio a iluminação a música e o ruído A obra Semiologia do Teatro organizada por Guinsburg 1988 contribui na análise do sentido da produção e do espetáculo teatral a criação cenográfica permite o desenvolvimento do pensamento reflexivo sobre a obra por exemplo o cenário representa o lugar onde acontece uma cena podendo ser lugar geográfico lugar social lugar geográfico e social ao mesmo tempo O cenário também pode significar o tempo época histórica estações do ano certa hora do dia Desta forma a função do cenário é a de determinar a ação no espaço e no tempo para que o espectador possa entender os acontecimentos Ao interpretar o personagem utiliza a palavra que possui funções variadas de acordo com o gênero tragédia ou comédia Na análise semiológica a palavra Regina Lúcia Mesti Pedro Carlos de Aquino Ochôa Linguagens teatrais e produção de sentido no ato de comunicação e educação 11 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 154 encontrase em níveis diferentes como o semântico o fonológico o sintático e o prosódico As palavras podem em determinados momentos causar efeitos di versos no público como por exemplo as consoantes sibilantes que produzem o efeito de irritação as palavras arcaicas usadas para demonstrar que a personagem vive em uma época remota a alternância rítmica pode remeter a mudança de sen timentos ou humor Um valor semiológico suplementar da palavra é o tom que nada mais é do que o modo como as palavras são pronunciadas Desta maneira um ator pode ressal tar uma palavra utilizandose apenas de sua dicção É no tom que encontramos a entonação o ritmo a rapidez e a intensidade das palavras Segundo Guinsburg 1988 p 105 cada signo linguístico possui então uma forma normalizada a pa lavra como tal bem como a variação tom constituindo um campo de liberdade que cada indivíduo falante e sobretudo o ator explora de modo mais ou menos original O gesto é um sistema de signo mais desenvolvido e um meio rico de exprimir pensamentos É considerado como gesto o movimento da mão do braço da per na da cabeça do corpo inteiro tendo como objetivo a comunicação dos signos As categorias dos signos gestuais são variadas os que acompanham as palavras podendo até substituilas os que suprimem um elemento do cenário um aces sório os que significam um sentimento emoção O ato de comunicação do teatro inclui a pantomima de caça dos povos da idade do gelo e as categorias dramáticas diferenciadas dos tempos modernos Berthold 2005 p 102 em sua obra História Mundial do Teatro analisa as formas primitivas da transformação de uma pessoa em uma persona como uma das for mas arquetípicas da expressão humana e nos faz ver as formas teatrais em Atenas no início do teatro europeu como obra de arte social e comunal O QUE DIZ E COMO DIZ A TRAGÉDIA A atividade realizada no espaço theatron apresentava de forma ritualística os agradecimentos aos deuses pela colheita do trigo da uva etc A multidão reunida era participante desse ritual teatral e religioso Esse ato de comunicação era reali zado por meio de danças cantos e poemas A nova forma de arte da tragodia tragédia aperfeiçoouse e tornouse a maté ria de uma competição teatral na República de Atenas O modo inovador do diálo go no rito estabelece a comunicação com a presença da interação na cena e trata de ensinamentos que os nobres queriam comunicar ao povo como os preceitos fundamentais de comportamento considerado civilizado 155 A grande transformação na comemoração se deu com o surgimento da tragédia Um solista do coro se colocou à parte do coro e criou o papel do hipókrites o respon dedor e mais tarde o ator que apresentava o espetáculo e se envolvia em um diálogo com o condutor do coro deste modo os gregos iniciaram a organização teatral em forma de tragédia Os componentes dramáticos da tragédia arcaica eram um prólogo que explicava a história prévia o cântico de entrada do coro o relato dos mensageiros na trágica virada do destino e o lamento das vítimas nas tetralogias três tragédias e uma peça satírica concludente A análise sobre a educação ateniense do século V aC indica que esta baseavase na literatura música e esportes A literatura incluía leitura escrita aritmética e declama ção das obras dos poetas particularmente Homero que foi autoridade em religião e letras Passagens inteiras de sua obra foram recitadas com todos os recursos teatrais infl exão expressão facial e gestos dramáticos A música incluía o estudo do ritmo e harmonia e o domínio da lira e da fl auta A dança recebia especial ênfase na medida em que era fundamental a todas as religiões e cerimônias dramáticas Cidadãos treinavam o coro das festas religiosas e as crianças eram submetidas a um rigoroso programa de poesia religião canto e dança Conforme análise de Courtney 2003 na obra Jo gos Teatro Pensamento o teatro foi importante instrumento educacional à medida que disseminava o conhecimento e representava para o povo a principal experiência literária O QUE DIZ E COMO DIZ A COMÉDIA A comédia tem dois momentos de destaque na história primeiro ocorreu nas úl timas décadas dos grandes trágicos Sófocles e Eurípedes o segundo pico da comédia grega ocorreu no período helenístico com Menandro A comédia sempre foi uma forma de arte intelectual e formal independente A ori gem da comédia de acordo com a Poética de Aristóteles reside nas cerimônias fálicas e canções que em sua época eram ainda comuns em muitas cidades A palavra comédia é derivada dos komos orgias noturnas nas quais os cavalheiros da sociedade Ática se despojavam de toda a sua dignidade por alguns dias em nome de Dionísio Deus Grego e saciavam a sede de bebida dança e amor O grande festival era celebrado em janeiro nas Lenéias um tipo ruidoso de carnaval que não dispensava a palhaçada gros seira e o humor licencioso Ao komos juntaramse no século V os truões e os come diantes com falos e enormes barrigas falsas que eram mestres da farsa improvisada As cenas de comicidade grosseira e as caricaturas dos mitos foram fonte da co média dórica e siciliana em 500 aC ridicularizavam os deuses e heróis o que Linguagens teatrais e produção de sentido no ato de comunicação e educação EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 156 para alguns nobres era uma ofensa A ação cômica induz a um reflexão crítica da história representada os personagens promovem essa atitude principalmente relacionados a personas da sociedade religiosos políticos nobres O concurso de comédias que acontecia em parte no festival das Lenéias e em parte na Grande Dionisíaca de Atenas não era como o concurso trágico uma prova de força pacífica Atores tornavamse autores autores escondiamse por trás de atores A comédia antiga é precursora das caricaturas políticas e cabaré Os espetáculos da Comédia Antiga aconteciam no edifício teatral com suas pa redes de madeira pintadas e painéis de tecido enquanto o coro como na tragédia clássica ficava na orquestra As máscaras da Comédia Antiga vão desde as grotescas cabeças de animais até os retratos caricaturais as danças tinham origem cultuais e era vergonhoso dançar sem máscaras razão talvez que justifique a ausência das mulheres por muito tempo nas representações de comédias Aristófanes criou um estilo da comédia teatral no qual o coro tira suas máscaras e caminha até a frente na extremidade da orquestra e fala para a platéia Esse ato de comunicação justifi cava desmentia ou retratava uma cena A comédia da sátira política passa a representar também a vida cotidiana Em vez de deuses generais filósofos de chefes de governo ela satirizava cortesãs fa mosas A Comédia no final do século IV aC ressalta a caracterização da motivação das mudanças internas na balança entre o bem e o mal entre o certo e o errado O coro desapareceu completamente e o palco foi alterado as cenas mais impor tantes eram representadas em uma plataforma diante da skene de dois andares O teatro de Roma fundamentase no mote político pão e circo O anfi teatro tor nouse palco dos jogos de gladiadores e lutas de animais espetáculos acrobáticos O teatro romano cresceu sobre o tablado de madeira dos atores ambulantes da farsa po pular Durante dois séculos o palco era uma estrutura temporária erguida para cada espetáculo O público fi cava em semicírculo ao redor da plataforma e era proibido sentarse durante um espetáculo teatral O palco foi adaptado às condições estrutu rais permanentes o galpão que servia de camarim tinha estrutura de madeira coberta com paredes laterais O espetáculo teatral tinha pouco público A grande platéia esta va no espaço vizinho circos com gladiadores dançarinas corridas de bigas O primeiro Teatro construído em Roma teve motivações religiosas e inspiração arquitetônica nas igrejas medievais O conceito romano de que a imitação tinha uma relação direta com arte demarca o teatro como uma cópia da vida um es pelho dos costumes um reflexo da verdade um conceito que iria ecoar através dos séculos e reitera a proposta de levantar por assim dizer o espelho para a natureza COURTNEY 2003 p 8 157 Onde e como se faz teatro resulta da diversidade de concepções estética de es petáculo e das significações históricas de teatro Analisar o que o teatro diz e como diz é um desafio que exige estudos sobre a organização do espaço e as interações das linguagens que produz sentido no espetáculo teatral O teatro enquanto um ato de comunicação que se constitui na complexidade da articulação das linguagens reúne os elementos texto e ator e público Textos teatrais já apresentam uma especificidade nem sempre são criados para esse fim muitos têm origens diversas na poesia no mundo político ou religioso Esses lugares sociais nascedouros de textos teatrais demarcam o sentido e as diversas funções históricas das linguagens teatrais Linguagens teatrais e produção de sentido no ato de comunicação e educação BARROS Diana L P A Comunicação humana In FIORIN José Luis Introdução à lingüística objetos teóricos São Paulo Atual 2002 BRASIL SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL Parâmetros Curriculares Nacionais Arte Brasília MECSEF 1997 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Brasília DF MECSEF 1998 v 3 BERTHOLD Margot História mundial do teatro 2 ed São Paulo Perspectiva 2005 COURTNEY Richard Jogo teatro pensamento São Paulo Perspectiva 2003 GREIMAS Algirdas J Da imperfeição Trad Ana Claudia de Oliveira São Paulo Hacker Editores 2002 Ensaios de semiótica poética São Paulo Cultrix Edusp 1975 GUINSBURG J COELHO NETTO J Teixeira CARDOSO Reni Chaves Org Semiologia do teatro São Paulo Perspectiva 1988 Referências EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 158 Anotações 1 O que diz e como diz o teatro da tragédia 2 O que diz e como diz a comédia Proposta de Atividades IAVELBERG Rosa Para gostar de aprender arte sala de aula e formação de professores Porto Alegre Artmed 2003 LANDOWSKI Eric Presenças do outro ensaios de sociossemiótica São Paulo Perspectiva 2002 OCHÔA Pedro Carlos de Aquino MESTI Regina Lúcia Linguagens e produção de sentido no teatro na escola In Anais III Congresso Internacional de Psicologia Coletividade e Subjetividade na Sociedade Contemporânea Universidade Estadual de Maringá 2007 OLIVEIRA Ana C Vitrinas acidentes estéticos na cotidianidade São Paulo Educ 1997 159 Sonia Maria Vieira Negrão Eloiza Amália Sestito Arte e mídia são instituições diferentes do ponto de vista das suas respectivas his tórias de seus sujeitos ou protagonistas e da inserção social de cada uma contudo ambas estão presentes nas relações sociais e implicam nas relações culturais de cada sociedade A arte é atividade humana originase nos primórdios das organizações so ciais fruto da comunicação e do desenvolvimento da linguagem A arte expressa a busca do homem pela totalidade revela os sentimentos e julga mentos que o homem tem de seu tempo Como a arte é fruto da comunicação huma na envolve dois sujeitos o criador e o observador O segundo tornase apreciador à medida que compreende a arte e seus códigos Visto assim ambos criador e aprecia dor expressam e entendem as artes por meio das características culturais presentes em seu viver A arte para o artista aquele que a produz diverge no sentido de captar a realidade e representála em uma nova realidade transformada a obra Da mesma forma a arte diverge também para o apreciador que lhe atribui sentido de acordo com seu conhecimento experiência sensibilidade e gosto estético Porém a arte instiga o apreciador a repensar o mundo o outro1 e a si mesmo por isso im pulsiona rompimentos com conhecimentos e modos de vida anteriores e é capaz de proporcionar a criação de um novo homem que passa a distinguir um novo mundo e nele atua diferentemente A mídia também é fruto da comunicação humana entretanto sua confi guração atual foi formatada a partir da intensifi cação da industrialização pois as relações hu manas ganham características de mercadoria assim como a cultura A mídia então 1 Na teoria lacaniana é denominado outro aquele que permite a relação simbólica entre os seres humanos É a troca de símbolos que situa os nossos eus uns em relação aos outros É a relação simbólica que defi ne a posição do sujeito como aquele que vê A divergência da arte e a convergência da mídia 12 EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 160 está a serviço da divulgação de produtos culturais Sua infl uência no cotidiano dife rentemente da arte é de convergir as ideias para a constituição de mercados ávidos em disponibilizar produtos para o consumo padronizar as ideias como por exemplo o bordão da década de 1970 pósrevolução de 1964 Brasil ameo ou deixeo para justifi car aos olhos do povo o grande número de artistas políticos e estudantes exila dos o gosto estético como o boom da música sertaneja na década de 1980 quando a indústria fonográfi ca o rádio e a televisão brasileira levaram o país a ouvila cantála e a consumir massifi cadamente até mesmo padronizar sentimentos como por ocasião da morte de Ayrton Senna quando a TV Globo fez todo o Brasil chorar por dias e dias Todavia a mídia utilizase da criação e da linguagem artística para a produção de seus produtos assim como a arte também se utiliza da mídia para a divulgação de mú sica cinema teatro dança e artes visuais que muitas vezes transformamse em bens de consumo cultural Dessa forma que relação arte e mídia mantêm entre si A essa questão respondere mos ao longo deste capítulo Analisaremos inicialmente arte e mídia separadamente mostrando seus contextos de produção e suas respectivas funções O QUE É ARTE As defi nições universais e intemporais são idealistas e na maioria das vezes etnocên tricas por isso nos é possível formular uma caracterização sempre provisória e opera cional como por exemplo arte é um instrumento que permite conhecer a realidade e nela atuar CANCLINI 1984 p 209 A arte corresponde a uma atividade humana desde sua mais remota existência No decorrer da história é possível verifi car o papel fundamental que a atividade artística teve para a produção social e cultural A linguagem2 é a principal forma de integração cultural da sociedade e foi responsável pela construção das várias culturas existentes até hoje Entendemos por cultura o modo de pensar sentir e agir de um grupo ou sociedade O processo de comunicação por meio da linguagem tem sido o grande responsável pela divulgação e conservação das culturas porque as transmitem de geração em ge ração Dos desenhos rupestres préhistóricos até as atuais construções modernas dos estádios chineses para as Olimpíadas 2008 o homem tem se utilizado das linguagens 2 Referimonos por lin guagem um sistema simbólico sistema de signos que servem de meio de expressão e comunicação que nos permite identifi car e diferenciar por exemplo uma linguagem oral a fala uma linguagem gráfi ca a escrita um gráfi co uma linguagem tátil uma linguagem auditiva uma linguagem olfativa uma linguagem gustativa ou as linguagens artísticas 161 artísticas como expressão de seu entendimento e apropriação da natureza e das for mas de ser e viver em sociedade Diretamente ligada às relações humanas a arte se destina a registrar a presença do homem no mundo A arte existe porque a vida não basta GULLAR 20073 Neste sentido a arte revela a necessidade humana da busca de totalidade É claro que o homem quer ser mais do que apenas ele mesmo Quer ser um homem total Não lhe basta ser um indivíduo separado além da parcialidade da sua vida individual anseia uma plenitude que sente e tenta alcançar uma plenitude de vida que lhe é fraudada pela individualidade e todas as suas limi tações uma plenitude na direção da qual se orienta quando busca um mundo mais compreensível e mais justo um mundo que tenha signifi cação anseia por unir na arte o seu Eu limitado com uma existência humana coletiva e por tornar social a sua individualidade FISCHER 1979 p 1213 É a busca de traduzirse o individual no coletivo o todo no um a limitação mate rial natural no eterno da subjetividade sobrenatural intuição Na arte o mito e a matéria se fundem e resulta em signifi cados práticos lógicos que dão sentido à vida Na busca dessa totalidade o homem fez arte e refl etiu sobre ela Uma parte de mim é todo mundo Outra parte é ninguém fundo sem fundo Uma parte de mim é multidão Outra parte estranheza e solidão Uma parte de mim pesa pondera Outra parte delira Uma parte de mim almoça e janta Outra parte se espanta Uma parte de mim é permanente Outra parte se sabe de repente Uma parte de mim é só vertigem Outra parte linguagem Traduzir uma parte na outra parte Que é uma questão de vida ou morte Será arte GULLAR 2006 p 335 Entretanto o conceito de arte se modifi ca à medida que a visão de homem e so ciedade também se transforma Basicamente seus conceitos se movem entre o belo ou o ideal representação das coisas reais ou de sua idealização a expressão da sub jetividade individual e a técnica o fazer Conceitos que visam a explicar e a defi nir o ato criador que está na base do trabalho artístico que resulta em construção de conhecimento 3 Conferência de Abertura do Congresso de Leitura COLE Campinas 2007 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 162 Para ilustrarmos tal afi rmação reportamonos a Ferreira Gullar 1978 que descre ve a busca de identidade estética para sua poesia até que a visão social e a realidade objetiva levaramno a rever conceitos e preconceitos para reordenar o mundo O que resultou para o poeta aprender de novo a viver e escrever No momento em que me disse que a poesia só teria sentido se o ato de escrever fosse capaz de transformar o próprio poeta Signifi ca que trabalhar a lingua gem é trabalhar o homem e o poema tornase desse modo um corpo novo em que o homem se constrói melhor GULLAR 1978 p 4243 O ato criador corresponde a uma intuição é antes de tudo um ato formador ou seja é a necessidade quase que instintiva de construir signifi cados à vida à existência aos problemas nessa busca de ordenações e de signifi cados reside a profunda moti vação humana de criar OSTROWER 2003 p 9 Assim a arte se constitui e gera co nhecimento a partir do trabalho criador uma vez que o homem só se torna consciente do que criou à medida que o expressa Sendo assim o meio em que está inserido determina os signifi cados criados e também a observação e a interpretação dos signifi cados construídos pelo apreciador Se tomarmos por exemplo a obra Guernica 19374 na qual o pintor com sua habilidade singular de simbolizar a estruturou com personagens animais e símbolos carregados de sentidos metáforas da dor e da guerra só poderá ser compreendida por quem tem conhecimento do contexto histórico em que ela foi criada Toda obra artística traz consigo uma intenção porém ocorre de forma complexa e harmoniza acontecimentos sentimentos ideias ou objetos dispondose às caracterís ticas da matéria que se articula segundo o imaginário A arte revelase na transfi guração da realidade pensada imaginada abstraída Vygotsky 1999 salienta que a arte não é o simples multiplicar de sensações do cotidiano Se um poema que trata da tristeza não tivesse nenhum outro fi m senão conta giarnos com a tristeza do autor isto seria muito triste para arte O milagre da arte lembra antes outro milagre do Evangelho a transformação da água em vinho e a verdadeira natureza da arte sempre implicam algo que transforma que supera o sentimento comum e aquele mesmo medo aquela mesma dor aquela mesma inquietação quando suscitadas pela arte implicam o algo a mais acima daquilo que nelas está contido E este algo supera esses sentimentos elimina esses sentimentos transforma sua água em vinho e assim se realiza a mais importante missão da arte VYGOTSKY 1999 p 307 4 Obra de Pablo Picasso que retrata como a cidade espanhola do mesmo nome fi cou após ser bombardeada durante a guerra civil espanhola 163 Assim quando ressaltamos a divergência da arte referimonos ao desvelamento do mundo que ela proporciona ao artista e ao apreciador quando esses se permitem pensar diferentemente do que pensam e perceber diferentemente do que vêem Através da história houve períodos em que o trabalho do artista esteve separado do fi lósofo ou seja de quem pensava sobre ele Dessa forma o conhecimento de seu trabalho não era função do artista A função decisiva da arte nos seus primórdios foi inequivocamente a de con ferir poder poder sobre a natureza poder sobre os inimigos poder sobre o parceiro de relações sexuais poder sobre a realidade poder exercido no senti do de um fortalecimento da coletividade humana Nos alvores da humanidade a arte pouco tinha a ver com a contemplação estética com o desfrute estético era um instrumento mágico uma arma da coletividade humana em luta pela sobrevivência FISCHER 1979 p 45 Nesse contexto o aprendiz de arte aprendia o fazer a técnica a habilidade com seu mestre era aprendiz do artesão todavia o seu fazer estava ligado ao ritual à magia do signifi cado coletivo a serviço da crença do grupo em que estava inserido Nos tempos medievais o ensino da arte às crianças se dava por meio de um mestre A aprendizagem ocorria com a transmissão da técnica a criação era o mero ato de fazer objetos não o ato de trazer para o mundo formas estéticas repletas de ideias no vas WILSON 2005 p 83 No Renascimento entre os anos de 1565 e 1570 o artista dedicava aos temas teóricos raízes clássicas da arte e geometria parte de seu tempo O resultado deveria ser estético artísticocultural o artista era um estudioso Esse ideal artístico persistiria até o século XIX À medida que o mito e o religioso foram cedendo lugar ao científi co e racional parecia que o artista fi nalmente iria se aproximar do conhecimento de sua obra po rém agora seria a ciência que se fragmentaria e o sujeito mais uma vez seria separado do objeto ocorreria uma individualização com a valorização do dom da técnica e da expressividade A arte de lá para cá se manteve envolta em uma aura de sacralidade individualiza o artista e separa ainda mais a arte do grande público Mantida por uma série de dispositivos como a autoria a originalidade o dis tanciamento do objeto e principalmente os modos específi cos de análise escri ta da obra a redoma protegeu a arte e seu público daqueles que não possuíam os códigos e as disposições necessárias para o convívio social com a boa arte RAMOS 2007 p 99 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 164 O modernismo5 do início do século XX caracterizouse pelo desejo da inovação e do ainda a ser visto como pensamento da cultura ocidental que abrange o liberalis mo científi co tecnológico industrial econômico individual e político como aspectos interativos Esses aspectos formaram as bases para a estética modernista que consti tuem desenvolvimentos estéticos das artes no fi m do século XIX e início do século XX Tentou reformar as artes criando imagem para uma sociedade melhor e mais humana que emergia por meio do progresso da ciência Uma das características centrais do modernismo era a rejeição radical de suas próprias raízes na cultura ocidental Elitizou a arte isolandoa das outras manifestações artísticas folclóricas e populares A arte moderna é ensinada mais frequentemente como sendo uma manifestação destituída de contexto social como valorização dos desenhos como base da feitura da arte e sua apreciação A partir desse período não teremos mais um grande estilo artístico mas sim artistas com liberdade de criação que buscam em diversos meios a melhor maneira de se expressar uma vez que o desenvolvimento tecnológico havia criado vários recursos para retratar o real e esta não seria mais a função da arte agora ela deveria expressar a realidade Assim os recursos tecnológicos passam a ser também meios para criar e ensinar Se o aprender e o fazer artístico estão relacionados ao desenvolvimento técnico e científi co de seu tempo é natural que o artista se utilize das inovações tecnológicas contemporâneas para suas composições A arte sempre foi produzida com os meios de seu tempo Bach 1722 compôs fugas para cravo porque este era o instrumento musical mais avançado da sua época em termos de engenharia e acústica Já Stockhausen preferiu compor texturas sonoras para sintetizadores eletrônicos pois em sua época já não fazia mais sentido conceber peças para cravo a não ser em termos de citação histórica Mas o desafi o enfrentado por ambos os composito res foi exatamente o mesmo extrair o máximo das possibilidades musicais de instrumentos recéminventados e que davam forma à sensibilidade acústica de suas respectivas épocas MACHADO 2004 p 2 Neste sentido na contemporaneidade o artista se apropria dos meios produzidos pelo desenvolvimento tecnológico como recursos ou suportes de criação com o ob jetivo de extrair deles a expressão e a materialidade em formas cores sons ou gestos 5 O modernismo é uma corrente artística que surgiu na última década do século XIX como resposta às consequên cias da industrialização revalorizando a arte e sua forma de realização a manual A arquitetura foi a disciplina integral à qual se subordinaram as outras artes gráfi cas e fi gurativas Reafi rmouse o aspecto decorativo dos objetos de uso cotidiano mediante uma linguagem artística repleta de curvas e arabescos de acentuada infl uência oriental O Modernismo Brasileiro foi desencadeado tardiamente impulsionado pela Semana de Arte Moderna que ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922 165 do tempo em que estão inseridos Atualmente nos deparamos com a arte nos mais diferentes locais há muito tempo que a arte não se restringe mais somente a locais destinados à exposição de seus produtos A criação artística está presente desde a capa do livro à embalagem de um produto nas prateleiras do supermercado entretanto depende de como seus códigos serão en tendidos e interpretados pelo apreciador Tanto o fazer artístico como sua apreciação estão ligados ao seu tempo e lugar O artista é um ser social e expressa em sua obra os valores e as questões próprias do mundo em que vive O apreciador da obra ao aproxi marse dela também o faz imbuído de conceitos e valores de sua cultura Então podemos concluir que arte é construção conhecimento e expressão hu mana à medida que a realidade ou o mundo sentido é identifi cado e reinventado por atividades nas quais se realizam a produção a circulação e o consumo do gosto da fruição sensível e de sua elaboração imaginária em síntese um modo de praticar cul tura trabalhandose o sensível e o imaginário com o objetivo de alcançar o prazer e desenvolver identidade simbólica de um povo ou classe social objetivando uma práxis transformadora O QUE É MÍDIA Na busca de facilitar e proporcionar melhores condições de vida o homem desen volve a ciência e a tecnologia O pensamento científi co tem em comum com a arte a mesma matériaprima a criatividade na apropriação da natureza e da vida social Isto é o pensamento artístico e o pensamento científi co produzem conhecimento O pri meiro busca dar sentido à vida poeticamente6 e o segundo visa a resultados práticos e racionais Todavia ambos se constituíram a partir do desenvolvimento da comunica ção humana principalmente dos códigos de linguagem Através da história tanto a arte quanto a ciência foram responsáveis pelo desen volvimento cultural A partir do Renascimento o pensamento mítico e religioso cede lugar ao científi co e racional como promessa de libertar o homem da servidão e da ignorância A organização das formas de produção e trabalho se modifi ca Nos séculos VIII e XIX a indústria e o comércio se intensifi cam juntamente com o fortalecimento das identidades nacionais Estabelecemse então mercados internacionais que se ca racterizam pelo conjunto de consumidores os quais são constituídos por grupos de pessoas com poder de compra 6 A poética originase do grego ação de fazer algo aquilo que desperta o sentido do belo que encanta e enleva Sempre que houver uma relação simbólica ou semisimbólica entre formas plásticas e formas semânticas há efeito de poeticidade A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 166 O sistema de comunicação agora se volta para o serviço do mercado a ciência e a arte também estão pautadas na razão instrumental ou seja na produção de produtos Está estabelecido o modo de produção capitalista Com o desenvolvimento da técnica e da produção em série desenvolvese a cultura do sempre igual tudo vira mercadoria a razão que antes se propunha em um instrumento de emancipação e libertação do mito e da ignorância tornase razão instrumental a serviço da técnica e da produção A partir dos dois últimos séculos um novo personagem entra na vida das pessoas sem pedir licença infl uenciando o comportamento ditando regras de conduta e até de valores tratase da comunicação midiática A mídia se caracteriza pelo conjunto de meios de comunicação informação e en tretenimento Todo seu aparato desempenha um papel de integração cultural pois age como difusor de culturas Os meios de comunicação como jornal revista rádio televisão cinema e atualmente os diferentes meios digitais difundem os signifi cados comuns às sociedades ou suas culturas e convergem na unidade cultural Sua função contudo é determinada sempre a partir dos conceitos gerados em uma sociedade industrial e de consumo Surge a Indústria Cultural7 que por um lado alimenta o individualismo consumista e por outro infl uencia a realidade social porque deter mina modos de vida gostos estéticos cria necessidades e a realidade é confi gurada mediante sua exposição nesses meios Em arte o conhecimento estético também se tornou mercadoria uma vez que a atividade cultural vem sendo reifi cada por meio da razão instrumental pela Indústria Cultural que segundo Adorno 1985 aliada à ideologia capitalista contribui efi cazmente para falsifi car as relações entre os homens bem como dos homens com a natureza O autor afi rma ainda que o progresso da dominação da técnica transformouse em um poderoso instrumento da Indústria Cultural para conter o desenvolvimento da consciência das massas gerando uma falsa identidade do universal e do particular Tal cultura possui uma dimensão de semiformação isto é divulga a cultura mas não apresenta caráter formativo ADORNO 1985 p 114 A produção cultural funciona como um forte fator ideológico na maneira de ver a realidade e conceituála Nossa sociedade encarregou os meios de comunicação e informação da divulgação dos produtos artísticos e culturais o que ocorre sem uma 7 Indústria Cultural segundo Adorno a Indústria Cultural é todo bem cultural que se torna negócio e está en volvido no processo de comercialização como uma mercadoria Defi ne uma cultura que viabiliza a integração do indivíduo sem que ele tenha a visão crítica para reagir a esse tipo de cultura Essa cultura é econômica e capitalista Não é cultura porque não tem discussão emancipatória e civilizatória e não é só indústria O sujeito não consome cultura mas sim ideologia Adorno tem um capítulo específi co sobre a Indústria Cultural contido na Dialética do Esclarecimento em que em parceria com Horkheimer ele trata do assunto 167 mediação crítica e com a valorização do aspecto mercadológico Vários pensadores como os autores da Escola de Frankfurt Adorno 19031968 Walter Benjamim 1892 1940 entre outros não consideram esses produtos como bens culturais ou artísticos e sim produtos de uma Indústria Cultural A linguagem visual por exemplo cresce em importância porque sintetiza concei tos condensa os signifi cados transformandose na grande mediadora de ideias e com portamentos A mensagem se oferece pronta dispensa discernimento é o produto a ser consumido Nesse contexto emerge uma nova necessidade em nossos dias que é conhecer os códigos da linguagem imagética uma vez que a mídia se utiliza da lingua gem da arte para a produção de seus produtos e bens de consumo A linguagem utilizada na televisão no rádio e atualmente nos meios digitais são concebidas dentro de um princípio de produtividade industrial de automatização dos procedimentos para a produção em larga escala mas nunca para a produção de obje tos singulares singelos e sublimes MACHADO 2004 p 3 Atualmente a cultura passa por um processo de mundialização os produtos cul turais já não se limitam a um território específi co por conta da globalização O indivi dual e o regional perdem referências frente ao global propagado pela mídia Parente 2002 postula que a partir do século XX a realidade do mundo moderno vem se modifi cando vertiginosamente e atualmente por exemplo a realidade virtual é o dis positivo que melhor representa o papel das novas tecnologias da imagem na sociedade contemporânea Essa realidade transformou a concepção de tempo e espaço nos quais o imediatis mo passa a reger as ações e pensamentos E assim como no fi nal no século XIX e início do século XX o mundo assistiu ao advento do veículo ferroviário e aéreo a sociedade contemporânea tem assistido as grandes transformações provocadas pelos veículos audiovisuais O espaço os acontecimentos as informações e as pessoas são condicionadas cada vez mais pela telecomunicação assim como a transparência do espaço de nossos percursos tende a ser substituída pelas articulações do veículo au diovisual último horizonte de nossos trajetos cujo modelo mais perfeito é o ciberespaço PARENTE 2002 p 105106 Nesse âmbito podemos verifi car a eminência de conhecermos o caráter emanci patório da narrativa estética para a formação e conscientização do indivíduo Uma vez que as linguagens artísticas são cada vez mais utilizadas na comunicação midiática com a intenção de conquistar o consumidor ao desconhecer o verdadeiro sentido dessas linguagens e como elas podem refl etir e questionar a sociedade em que vivemos tor namonos reféns desses meios A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 168 Em síntese entendemos que a mídia se expressa como um modo de massifi cação da cultura trabalhando o prazer o sensível e o imaginário com o objetivo de homo geneizar determinada identidade simbólica de um povo ou classe social objetivando uma práxis reprodutora DE QUE MODO ARTE E MÍDIA SE DISTINGUEM SE COMBINAM E SE CONTAMINAM As relações entre arte e mídia se imbricam e mesmo se confundem no contexto da sociedade capitalista Diante disso é necessária uma análise do caráter divergente da arte e do caráter convergente da mídia A inventividade e a criatividade são vias de acesso tanto à arte quanto à mídia As linguagens artísticas estão presentes tanto nos meios de comunicação quanto nos desenhos e composições de projetos tecnológicos haja vista a valorização estética dos produtos cada vez mais arrojados e minuciosamen te planejados para agradar ao público à que são destinados Enfi m o apelo se faz pela dimensão estética sensível porém ao mesmo tempo esses produtos padronizam e uniformizam gostos usos e costumes Convergem os pensamentos e ideias uma vez que o objetivo é o consumo de bens culturais e não a refl exão e o questionamento da identidade simbólica já citada anteriormente A arte diverge pois na ótica criativa não existe somente um mas vários caminhos nos quais as diferenças são valorizadas A aprendizagem em arte deve atingir a vida deve dialogar com as realidades e por meio das experiências estéticas nas quais os sa beres artísticos criam formas de interpretação do mundo e as experiências da vida real criam novas formas de fazer a arte A linguagem artística presente nos meios de comunicação não carrega o mesmo signifi cado da arte que busca refl etir sobre a vida porque a arte não é apenas uma con sequência de modifi cações culturais mas também um instrumento provocador de mu danças a arte possui um caráter reordenador e parte de um sistema sócio cultural para em seguida corrompêlo redimensionálo restabelecêlo MENEZES 2005 p 12 A refl exão sobre mídia que ora realizamos referese aos meios de comunicação que objetivam e direcionam seus recursos ao consumo e não possibilitam refl exão sobre a vida sobre a cultura sem possibilidades de ações transformadoras Dessa forma a participação fi caria restrita cada vez mais a uma elite tecnológicoeconômica deten tora dos espaços decisórios e por isso mesmo apta a consumir e a produzir produtos culturais mais sofi sticados enquanto a massa se conforma em ser apenas cliente Destacamos que o ato de consumir não se resume à aquisição de produtos Lon ge da visão de que o consumo seria apenas a realização irracional de desejos fúteis Canclini 1996 demonstra como o ato de consumir envolve processos socioculturais 169 mais amplos em que se dá sentido e ordem à vida social e principalmente em que se constroem as identidades neste mundo pósmoderno8 Consumir seria nesse contex to um investimento afetivo e não um simples gasto monetário os bens por sua vez seriam acessórios rituais dando sentido ao fl uxo simbólico da vida social O autor conclui consumir é tornar mais inteligível um mundo onde o sólido se evapora CANCLINI 1984 p 5859 Os recursos midiáticos desenvolvem sim uma função educativa pois os conteúdos por eles veiculados proporcionam aprendizagem e informação Atualmente com os novos recursos tecnológicos é possível até a interação e intervenção do espectador via mensagens pela Internet sistemas de telefonia móvel entre outros É possível in clusive a criação de ambientes virtuais de aprendizagem O marco da utilização de recursos midiáticos na educação no Brasil foi a criação da rádio Roquete Pinto em 1923 de lá para cá essas iniciativas têm sido incrementadas e obtido bons resultados Hoje temos vários canais de televisão e rádio com o objetivo educacional como Rádio e TV Cultura TV Escola TV Paulo Freire no Paraná revistas com conteúdos refl exivos vários portais educacionais na Internet Não obstante observamos que o público que se utiliza desses meios é um público menor que busca interesses específi cos A partir dessa concepção é que ponderamos acerca do caráter divergente da arte uma vez que age e transforma a realidade cultural Para Adorno a arte se arvora em dignidade do absoluto ela começa onde o saber abandona o homem a sua sorte HORKHEIMER ADORNO 1991 p 14 Ou seja a obra de arte incorpora a materia lidade histórica e transforma em materialidade estética Na obra de arte está contida a expressão do todo no particular dessa forma a arte tem função em si mesma não tem objetivos de resultados e de efeitos ela expressa de modo condensado a realidade multifacetada de maneira única e singular HORKHEIMER ADORNO 1991 Já o caráter convergente da mídia consiste na forma que concebe e divulga a cul tura como produto confi gurado a partir de uma lógica mercadológica e industrial Sua apreciação se faz de forma imediata e não sensorial e subjetiva Com o desenvol vimento da ciência a meta do esclarecimento a princípio era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber ADORNO 1985 p 19 A imaginação a fantasia e a criatividade fi caram relegadas em segundo plano A razão se transformou em razão instrumental operation perdendo assim a dimensão refl exiva 8 Movimento nas artes na arquitetura na teoria social e na fi losofi a ligado à ideia de que várias transformações culturais e sociais permitem descrever o presente período histórico como sufi cientemente diferente do período conhecido como Modernidade para se caracterizar como nova época histórica SILVA 2000 p 93 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 170 Neste sentido tentaremos responder à questão que fi zemos acima De que modo arte e mídia se distinguem se combinam e se contaminam Arte e mídia têm em comum a comunicação entretanto se distinguem no sentido de que a arte comunica a realidade pensada abstraída e transformada por vias sen soriais e subjetivas enleva e desvela Transforma o artista e o apreciador produz o pensamento crítico e o pensamento divergente Esse conhecimento deveria estar ao alcance do maior número de pessoas no entanto nem todos têm acesso a esse tipo de conhecimento e os meios de comunicação por seu alcance deveriam viabilizálo Já a mídia a que está ao alcance do maior número de pessoas com seu grande poder de comunicação também se utiliza dos códigos da arte para transmitir sua mensagem porém massifi ca oferece a mensagem sem possibilidade de diálogo com o observador este a recebe pronta sem discernir ou avaliála Arte e mídia se combinam no sentido de a arte se apropriar das inovações tecnológicas para a criação artística e a mídia se utilizar das linguagens da arte para persuadir e comunicar seus bens materiais e simbólicos Finalmente ambas se contaminam porque a arte apresentada pela mídia ganha caráter de mercadoria e se reifi ca Uma estreita faixa da população tem acesso ou mesmo se interessa porque o interesse exige formação em assistir a TV Cultura ler revistas como Caros Amigos ou assistir Tropa de Elite para fi carmos apenas em exem plos conhecidos A maior parte da população só tem acesso à mídia massifi cadora para puro entretenimento em que o pedagógico não objetiva a formação do cidadão mas o mero consumidor no sentido que Canclini 1984 nos anuncia As exceções servem justamente para mostrar que casos assim só podem mesmo ser raros e que servem ape nas para confi rmar as regras do processo mais amplo que tende a socializar produtos da Indústria Cultural Dentro dessa perspectiva restanos ainda uma última questão QUAL O PAPEL DO PROFESSOR COMO MEDIADOR ENTRE O APREN DIZ A ARTE E A MÍDIA Tratandose da questão arte e mídia o grande papel da escola é refl etir as contra dições sociais estabelecidas na ordem social capitalista utilizandose da linguagem estética como um instrumento na educação dos sentidos na perpectiva de que a es tética precede a ética e que a arte viabiliza a catarse que é a possibilidade de fazer o indivíduo se exercitar pela compaixão isto é de se colocar no lugar do outro e desen volver a dimensão da alteridade que é o exercício da vida em comum o exercício da cidadania A arte é conhecimento à medida que possibilita o esclarecimento a visão crítica da realidade A apropriação crítica e criativa do diversifi cado patrimônio cultural e dos 171 códigos específi cos das linguagens artísticas é portanto instrumento de formação do indivíduo de conhecimento e de transformação da realidade Se considerarmos que os locais destinados às exposições dos produtos artísticos foram culturalmente elitizados e separados do cotidiano do educando e a cultura veiculada pelos meios de comunicação são produtos da Indústria Cultural a escola desempenha um papel fundamental ao fazer essa relação do produto artístico com a cultura na qual foi produzido Viabilizar ao aluno esse confronto e esclarecimento das relações entre o que é ou não arte ou o que faz ou não parte de sua identidade cultural em um tempo em que o regional e o global se fundem o moderno e o antigo convivem em um espaço virtual do tempo que só conhece o imediato e o agora se torna papel fundamental do educador Aspectos como o que é erudito popular ou massivo são uma constante na vida dos educandos diante dessa realidade que congrega valores e conceitos nos espaços midiáticos Essa realidade também é vivida pelos educadores Todavia a linguagem da arte permite o conhecimento de seus códigos e a interpretação das intenções existen tes nas mensagens presentes na mídia É importante que o professor atue através de uma pedagogia mais realista e mais progressista que aproxime os estudantes do legado cultural e artístico da humanidade permitindo assim que tenham conhecimento dos aspectos mais signifi cativos de nossa cultura em suas diversas manifestações FERRAZ FUSARI 2001 p 53 A todo o momento os artistas se deparam com situações que envolvem decisões de ca ráter estético o que lhes possibilita a constituição de um mundo de signifi cados e símbo los que são externados em imagens sons e gestos A partir desses símbolos e signifi cados organizam a memória e sentidos na elaboração de uma identidade própria estabelecendo relações com o espaço o tempo e o mundo que os rodeia Assim a materialidade do obje to artístico deixa registrado tudo o que o artista quis representar de seu cotidiano Porém esses sinais só ganharão signifi cado se encontrarem eco nos olhos ouvidos tato ou nos sentidos do outro A arte se comunica por vias sensoriais em que a subjeti vidade é o canal mais objetivo contudo o contexto cultural do qual fazemos parte estará incutido em nossa experiência de contato com a obra Por meio da arte podemos ver o outro ou ainda podemos nos ver no outro Nesse novo jeito de ver a vida por meio da arte os fatos não são mais simples narrativas lineares e cronológicas como aparecem na mídia Eles podem ser sentidos percebidos apreciados interpretados e compreendidos Assim compreendemos a educação estética na perspectiva de que conhecer arte e seus códigos possibilita perceber entender a vida e agir sobre ela É reconhecer a humanidade e seu poder de ação É diferenciar o que é arte do conceito de arte posto pela lógica da Indústria Cultural A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 172 Na formação docente é fundamental que a refl exão e discussão sobre a integração entre educação comunicação e mídia estejam vinculadas à vida pessoal regional na cional e internacional ou à cultura dos alunos E ainda que o educador tenha plena consciência de que o conteúdo por ele ensinado concorre para que seus alunos tam bém elaborem uma cultura estética e artística que expresse com clareza a sua vida em sociedade FERRAZ FUSARI 2001 p 53 Acreditamos que a arte é capaz de levar o indivíduo a ampliar seu lugar no mundo de forma a agir neste mundo para transformálo e tornálo melhor portanto ele deve partir do conhecimento que tem desse mundo para que por meio dos conhecimentos em arte viabilizados pela escola possa ampliar e superar essas primeiras aproximações Quando o educador estabelece a relação entre arte e mídia deve possibilitar ao aluno vislumbrar as diferenças não com conceitos de feiobonito ou certoerrado que estão postos na mídia como padrões a serem seguidos e que muitas vezes o fazem sem nenhum questionamento agindo de forma padronizada por meio da convergência de pensamentos e ideias mas deve desmistifi car conceitos e preconceitos para que haja a valorização do diferente de forma que as divergências ocorram de maneira comple mentar e possibilite que as culturas sejam desenhadas ADORNO Theodor HOKHEIMER Max Dialética do esclarecimento Tradução de Guido Antonio de Almeida Rio de Janeiro Zahar 1985 Educação e emancipação Tradução de Wolfgang Leo Maar Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 CANCLINI Nestor Garcia A socialização da arte teoria e prática na América Latina São Paulo Cultrix 1984 Consumidores e cidadãos confl itos multiculturais da globalização 2 ed Rio de Janeiro Editora da UFRJ 1996 DIAS Odete Infância manipulada subsídios para uma leitura crítica dos produtos da mídia São Paulo Aberje 2008 Disponível em wwwaberjecombrnovos açõesartigosmaisaspid130 Acesso em 13 out 2008 Referências 173 FERRAZ Maria Heloisa C de T FUSARI Maria F de Rezende e Arte na Educação escolar 2 ed São Paulo Cortez 2001 FERREIRA Leila Costa Org A Sociologia no horizonte do século XXI 2 ed São Paulo Boitempo 2002 FISCHER Ernst A necessidade da Arte Rio de Janeiro Zahar 1979 HELLER Agnes O cotidiano e a História São Paulo Paz e Terra 2000 HORKHEIMER Max ADORNO Theodor W Textos escolhidos São Paulo Nova Cultural 1991 MACHADO Arlindo Arte e mídia aproximações e distinções Revista Eletrônica ecompós S l s n 2004 Disponível em httpwwwcomposorgbre compos Acesso em 11 set 2008 MARTINS Mirian Celeste PICOSQUE Gisa GUERRA Maria Terezinha Telles Didática do ensino da arte 1 ed São Paulo FTD 1998 MENEZES A M Arte na escola arte para quê arte por quê Rencontres Revista do Departamento Francês da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo n 10 p 243256 2005 NUNES Benedito Introdução a Filosofi a da arte 6 ed São Paulo Ática 2008 OSTROWER Fayga Universos da arte 7 ed Rio de Janeiro Campus 1991 Criatividade e processos de criação 17 ed Petrópolis Vozes 2003 PARENTE André A última versão da realidade In FERREIRA Leila Costa Org A Sociologia no horizonte do século XXI São Paulo Boitempo 2002 PAZ Otávio Convergências ensaios sobre arte e literatura Rio de Janeiro Rocco 1991 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 174 PICOSQUE Gisa MARTINS Miriam Celeste Travessias para fl uxos desejantes do professor propositor In OLIVEIRA Marilda Oliveira de Arte educação e cultura Santa Maria RS Ed UFSM 2007 p 349 RAMOS Alexandre Dias Museu e Arte purismo e contaminação Revista Ohun Salvador ano 3 n 3 p 92113 set 2007 SILVA Tomaz Tadeu da Teoria cultural e Educação um vocabulário crítico Belo Horizonte Autêntica 2000 VYGOTSKY Lev Semenovitch Psicologia da arte São Paulo Martins Fontes 1999 PARA VOCÊ LER NA OBRA DE ARTE 1 Escolha uma temática por exemplo mulher criança trabalho entre outros temas Pes quise em diferentes linguagens artísticas nos diferentes períodos da história de quais modos ela foi e é representada 2 Leia o texto abaixo Cada época escolhe sua própria defi nição do homem Creio que a do nosso tempo é esta o homem é um emissor de símbolos Entre esses símbolos há dois que são o princípio e o fi m da linguagem humana sua plenitude e sua dissolução o abraço dos corpos e a metáfora poética No primeiro união da sensação e da imagem o fragmento apreendido como cifra da totalidade e a totalidade repartida em carícias que transformam os corpos num provedor de correspondências instantâneas Na segunda fusão do som e do sentido núpcias do inteligível e do sensível A metáfora poética e o abraço erótico são exemplos desse momento de coincidên cias quase perfeito entre um símbolo e outro que chamamos analogia e cujo nome verdadeiro é felicidade É o momento da grande abstração e da grande distração somos o cintilar de um vidro que brado tocado pela luz merediana a vibração de uma folhagem escura ao passarmos pelo campo o ranger da madeira numa noite de frio Somos bem pouca coisa e não obstante a totalidade mexe conosco somos um sinal que alguém faz a alguém somos o canal de transmissão através de nós fl uem as linguagens e nosso corpo as traduz em outras linguagens As portas se abrem de par em par o homem retorna O universo de símbolos é também um universo sensível A fl oresta das signifi cações é o lugar da reconciliação PAZ 1991 p 144145 REFERÊNCIA PAZ Otávio Convergências ensaios sobre arte e literatura Rio de Janeiro Rocco 1991 Leitura Complementar 175 RESPONDA Qual a relação entre linguagem sistema simbólico e arte PARA VOCÊ LER NA MÍDIA 1 Escolha uma temática por exemplo mulher criança trabalho entre outros temas Pes quise em diferentes mídias e realize estudo de caso sobre um conteúdo de mídia específi co uma cobertura jornalística uma campanha publicitária um videoclipe um programa televisivo etc Este estudo de caso será uma leitura crítica a respeito do tratamento oferecido ao tema social escolhido pela mídia brasileira 2 Leia o texto a seguir Infância manipulada subsídios para uma leitura crítica dos produtos da mídia A propaganda tornouse sofi sticada dita moda padrões Produtos e espaços dedicados à infância aumentam a cada dia programas publicações parques produtos de perfumaria cama mesa banho vestuário decoração além de centenas de objetos e brinquedos É um constante apelo de compra aos pais avós tios amigos e à própria criança que desde cedo já sabe escolher o que quer consumir e sabe como convencer os pais a ceder A propaganda des cobriu que é mais fácil vender qualquer coisa através do apelo infantil As crianças tornaramse argumentos persuasivos poderosos e alvo fácil para desenvolver o consumo são ao mesmo tempo consumidos e consumidores Todos os produtos da mídia atingem a criança tanto aque les especialmente produzidos para ela como tudo que envolve a família e a sociedade Mas a propaganda não é só um recurso para vender um produto ela faz parte do discurso capitalista Através da mídia criase uma visão de mundo em que todos os sonhos podem ser realizados discurso que interessa não só à sociedade capitalista como ao Estado que não cumpre o seu papel nas soluções dos problemas sociais No lugar de condições mais dignas de vida vendese a sandália da Keila loira bonita rica e exintegrante do grupo musical Tcham Em vez de uma amizade clara gostosa e leve a cerveja no lugar do amor um condimento barato Exemplos dessa inversão de valores estão presentes em inúmeras propagandas veiculadas na mídia im pressa Uma empresa de produtos de perfumaria em duas peças publicitárias deixa clara essa inversão através da fala que no passado pertencia aos pais No Dia das Mães a chamada revela a voz de uma criança Manheeeeeeê já pro banho No Dia dos Pais a mesma empresa aconse lha Ponha o seu pai na linha No comercial de um chocolate em pó veiculado num canal de TV em São Paulo para sair com a esposa o marido pede a chave do carro para o fi lho de dez anos Na volta o casal chega de mansinho e encontra o menino olhando para o relógio numa atitude de censura os pais chegaram depois do horário previsto A propaganda é uma imagem às avessas do tratamento dado pelos pais aos fi lhos das gerações passadas A ideia central é deixar claro que agora quem manda na casa nos pais e naturalmente na escolha dos produtos consumidos é o fi lho Percebemos através dos exemplos que a mídia longe de expressar as relações fundamentais que unem o homem a seu meio e os indivíduos entre si tende a determi nálas A comunicação atinge a grande maioria da população mas o cidadão não sabe acessála e manipulála em seu benefício e no da comunidade defendendo os direitos básicos do cidadão e assumindo deveres para com o coletivo Nesse contexto crianças e adultos consomem os produtos da mídia e muitas vezes sem consciência dessa manipulação DIAS 2008 A divergência da arte e a convergência da mídia EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA 176 Anotações REFERÊNCIA DIAS Odete Infância manipulada subsídios para uma leitura crítica dos produtos da mídia São Paulo Aberje 2008 Disponível em wwwaberjecombrnovosações artigos mais as pid130 Acesso em 13 out 2008 RESPONDA Como interpretar esses anúncios sob o ponto de vista ético UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD Professora THAIS GODOI DE SOUZA Disciplina EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA Acadêmicoa Marcos Gabriel da Cruz RA 123069 Polo Nova Santa RosaPR PRIMEIRA ATIVIDADE AVALIATIVA 1 valor 100 pontos peso 10 Postar no moodle até 22102024 Esta atividade consiste na produção de um programa educativo a partir dos conteúdos estudados nos capítulos 1 2 3 e 4 do Livro Educação Comunicação e Mídia Pretendese com essa elaboração demonstrar a compreensão dos principais conceitos apresentados nos capítulos e relacionálos com a prática pedagógica De 3 a 6 laudas OBSERVAÇÕES Trabalho individual O texto deve ser se própria autoria Quando necessário utilizar citações diretas e indiretas ao fazer referência aos materiais consultados Ao ser constado plágio cópias de trechos e uso de material sem a devida referenciação serão descontados pontos podendo a atividade ser zerada A data máxima para postagem é até às 23h 55min de 04 de novembro de 2024 O valor da atividade é de 000 a 100 peso 1 NORMAS PARA FORMATAÇÃO DO TEXTO Margens da folha 30cm superior e esquerda 20cm inferior e direita Fonte Arial ou Times New Romam Tamanho da fonte 12pt Espaçamento entre linhas 15cm Parágrafo recuo na primeira linha de 125cm 1 TAB Alinhamento dos parágrafos Justificado UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD 1 De acordo com as discussões apresentadas nos capítulos de 1 a 4 elabore um programa de rádio ou TV que aborde um conteúdo educativo que contemple os seguintes itens Nome do programa Objetivo do programa Públicoalvo receptor Conteúdo abordado escrever 4 temáticas uma por semana do programa na qual o estudante demonstre os significados dos diferentes conceitos apresentados nos capítulos 1 a 4 signos comunicação publicidade e propaganda e entretenimento correlacionandoos com a educação no âmbito da educação básica ou superior UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD Professora THAIS GODOI DE SOUZA Disciplina EDUCAÇÃO COMUNICAÇÃO E MÍDIA Acadêmicoa Marcos Gabriel da Cruz RA 123069 Polo Nova Santa RosaPR PRIMEIRA ATIVIDADE AVALIATIVA 1 valor 100 pontos peso 10 Postar no moodle até 22102024 Esta atividade consiste na produção de um programa educativo a partir dos conteúdos estudados nos capítulos 1 2 3 e 4 do Livro Educação Comunicação e Mídia Pretendese com essa elaboração demonstrar a compreensão dos principais conceitos apresentados nos capítulos e relacionálos com a prática pedagógica De 3 a 6 laudas 1 De acordo com as discussões apresentadas nos capítulos de 1 a 4 elabore um programa de rádio ou TV que aborde um conteúdo educativo que contemple os seguintes itens Nome do programa Mídia e Educação em Foco OBSERVAÇÕES Trabalho individual O texto deve ser se própria autoria Quando necessário utilizar citações diretas e indiretas ao fazer referência aos materiais consultados Ao ser constado plágio cópias de trechos e uso de material sem a devida referenciação serão descontados pontos podendo a atividade ser zerada A data máxima para postagem é até às 23h 55min de 04 de novembro de 2024 O valor da atividade é de 000 a 100 peso 1 NORMAS PARA FORMATAÇÃO DO TEXTO Margens da folha 30cm superior e esquerda 20cm inferior e direita Fonte Arial ou Times New Romam Tamanho da fonte 12pt Espaçamento entre linhas 15cm Parágrafo recuo na primeira linha de 125cm 1 TAB Alinhamento dos parágrafos Justificado UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD Objetivo do programa O programa visa promover a compreensão crítica dos diferentes tipos de comunicação na sociedade atual e seu impacto na educação A proposta é discutir conceitos essenciais como signos publicidade entretenimento e a função da mídia na formação de cidadãos conscientes e participativos relacionandoos com o contexto escolar e o desenvolvimento de habilidades críticas nos estudantes Públicoalvo receptor Alunos e professores do ensino fundamental e médio gestores escolares pais e profissionais da educação O conteúdo também pode ser relevante para acadêmicos de cursos de Pedagogia e áreas afins que buscam aprofundar o uso da mídia e comunicação em práticas educativas Conteúdo abordado escrever 4 temáticas uma por semana do programa na qual o estudante demonstre os significados dos diferentes conceitos apresentados nos capítulos 1 a 4 signos comunicação publicidade e propaganda e entretenimento correlacionandoos com a educação no âmbito da educação básica ou superior Semana 1 Signos e comunicação na educação Neste episódio será discutido o conceito de signos baseado nos estudos de semiologia e como símbolos palavras e gestos influenciam o processo de comunicação e aprendizagem A relação entre significante e significado será explorada mostrando como professores podem utilizálos de forma intencional para facilitar o ensino Embasado na premissa estipulada de que o processo sígnico ocorre a partir de toda relação com afetoSilveira 2005 Portanto neste primeiro episódio mostrar seá que gestos palavras e ações possuem significados valiosos no âmbito da educação No que tange à prática pedagógica mostrar seá exemplos de como signos visuais podem ser utilizados em sala de aula para potencializar a aprendizagem Semana 2 Influência da Publicidade e Propaganda na Formação de Jovens Tema a publicidade como formadora de valores e comportamentos Resumo A discussão se concentrará na análise crítica da publicidade e propaganda destacando como essas estratégias moldam o consumo e influenciam os jovens Será abordada UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD a importância de desenvolver nos alunos a capacidade de interpretar criticamente anúncios e campanhas Prática pedagógica Sugestão de projetos interdisciplinares em que os alunos criam e analisam campanhas publicitárias desenvolvendo consciência crítica sobre o consumismo Semana 3 Entretenimento e Educação Possibilidades e Desafios Tema O papel do entretenimento na formação dos estudantes Resumo Será explorada a relação entre entretenimento e educação mostrando como filmes jogos e séries podem ser ferramentas didáticas Também serão discutidos os desafios que a excessiva exposição ao entretenimento pode trazer como a superficialidade do conhecimento Prática pedagógica será proposto a utilização de filmes e jogos educativos para trabalhar conteúdos específicos de forma lúdica e envolvente Semana 4 Mídia e Comunicação na Educação Básica e Superior Tema A integração da mídia nas práticas pedagógicas contemporâneas Resumo Este episódio irá abordar o uso da mídia na educação formal tanto na educação básica quanto no ensino superior A ênfase será na necessidade de formar professores capacitados para integrar mídias digitais ao currículo promovendo um aprendizado mais dinâmico e interativo Prática pedagógica Exemplo de atividades que utilizam podcasts ou blogs produzidos por alunos para desenvolver habilidades comunicativas e reflexivas Prática pedagógica utilização de exemplo de atividades que utilizam podcasts ou blogs produzidos por alunos para desenvolver habilidades comunicativas e reflexivas Referências UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EAD SILVA Ana Cristina Teodoro da et al Educação Comunicação e Mídia Formação de professores EAD 2013

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