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Texto de pré-visualização

A atividade se refere à Classificação de Pesquisa Utilize o material texto de Antônio Gil como base Considere os seguintes critérios tipo de abordagem objetivos e procedimentos técnicos Importante Inclua pelo menos uma citação direta e uma paráfrase A minha pesquisa é bibliográfica pesquisaAção Realize essa atividade sem inteligência e plagio será passado no detector O objetivo deste livro consiste em apresentar os principais temas metodológicos da pesquisaação enquanto alternativa aplicável em diferentes áreas de conhecimento e de atuação tais como educação comunicação organização e outras O livro inicia discutindo os princípios gerais da metodologia entre os quais são destacadas as formas de raciocínio argumentação e diálogo entre pesquisadores emembros representativos da situação investigada a seguir contém um roteiro prático para conceber e organizar uma pesquisa no final o autor indaga as condições de aplicação em cada área específica METODOLOGI A PESQUISA Ç t d METODOLOGIA DA PESQUISAAÇÃO CIPBrasil CatalogaçãonaPublicação Câmara Brasileira do Livro SP Thiollent Michel 1947 T372m Metodologia da pesquisaação Michel Thiollent São Paulo Cortez Autores Associados 1986 Coleção temas básicos de pesquisaação Bibliografia 1 Metodologia 2 Pesquisa 3 Pesquisa Meto dologia 4 Pesquisa social I Título 851118 17 e 18 17 18 17 e 18 índices para catálogo sistemático 1 Metodologia 00142 17 e 18 2 Metodologia da pesquisa 00142 17 e 18 3 Pesquisa 0014 17 00143 18 4 Pesquisa Metodologia 00142 17 e 18J CDD00142 0014 00143 30072 5 Pesquisa social Ciências sociais 300 72 17 e 18 J cole cão Temas básicos de E IA ISA A 2ª edição hiolle t EDITORA AUTORES ASSOCIADOS a METODOLOGIA DA PESQUISAAÇÃO Michel Thiollent Conselho editorial Antônio Joaquim Severino Casemiro dos Reis Filho Dermeval Saviani Gilberta S de Martino J annuzzi Joel Martins Maurício Tragtenberg Miguel de La Puente Milton de Miranda Moacir Gadotti e Walter E Garcia Produção editorial José Garcia Filho Revisão Sueli Bastos Supervisão editorial Antonio de Paulo Silva Capa Gerônimo Oliveira Ilustração de Capa Paulo Leite Segunda edição Janeiro 1986 Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do autor e dos editores Copyright by Michel Thiollent Direitos para esta edição i CORTEZ EDITORA AUTORES ASSOCIADOS Rua Bartira 387 tel 011 8640111 05009 São Paulo SP IMPRESSO NO BRASIL 1986 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 7 CAPITULO I ESTRATÉGIA DE CONHECIMENTO 13 1 Definições e objetivos 14 2 Exigências científicas 20 3 O papel da metodologia 24 4 Formas de raciocínio e argumentação 27 5 Hipóteses e comprovação 32 6 Inferências e generalização 36 7 Conhecimento e ação 39 8 O alcance das transformações 41 9 Função política e valores 43 CAPfTULO II CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA 47 1 A fase exploratória 48 2 O tema da pesquisa 50 3 A colocação dos problemas 53 4 O lugar da teoria 54 5 Hipóteses 56 6 Seminário 58 7 Campo de observação amostragem e representatividade qualitativa 60 8 Coleta de dados 64 9 Aprendizagem 66 10 Saber formalsaber informal 67 11 Plano de ação 69 12 Divulgação externa 71 CAPfTULO III ÁREAS DE APLICAÇÃO 73 1 Educação 7 4 2 Comunicação 2 3 Serviço Social 4 Organização e sistemas 5 Desenvolvimento rural e difusão de tecnologia 6 Práticas políticas 7 Conclusão CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA 76 80 82 87 90 94 97 106 INTRODUÇÃO O presente trabalho consiste em apresentar e discutir vários temas relacionados com a metodologia da pesquisa social dando particular destaque à pesquisaação enquanto linha de pesquisa associada a diversas formas de ação coletiva que é orientada em função da reso lução de problemas ou de objetivos de transformação Hoje em dia no Brasil e noutros países a linba da pesquisaação tende a ser aplicada em diversos campos de atuação educação comu nicação organização serviço social difusão de tecnologia rural mili tância política ou sindical etc No entanto a pesquisaação ainda está em fase de discussão e não é objeto de unanimidade entre cientistas sociais e profissionais das diversas áreas Em muitos lugares continuam prevalecendo as técnicas ditas convencionais que são usadas de acordo com um padrão de observação positivista no qual se manifesta uma grande preocupação em torno da quantificação de resultados empíricos em detrimento da busca de compreensão e de interação entre pesquisadores e membros das situa ções investigadas Essa busca é justamente valorizada na concepção da pesquisaação Todavia queremos deixar bem claro que esta linha de pesquisa não é única e não substitui as demais O estudo de sua metodologia é apenas um tópico entre os diferentes tópicos da meto dologia das ciências sociais Um dos aspectos sobre os quais não há unanimidade é o da pró pria denominação da proposta metodológica As expressões pesquisa participante e pesquisaação são freqüentemente dadas como sinô nimas A nosso ver não o são porque a pesquisaação além da parti cipação supõe uma forma de ação planejada de caráter social edu cacional técnico ou outro que nem sempre se encontra em propostas de pesquisa participante Seja como for consideramos que pesquisa ação e pesquisa participante procedem de uma mesma busca de alter nativas ao padrão de pesquisa convencional Não estamos propensos 7 a atribuir muita importância aos rótulos Mediante a aplicação dos princípios metodológicos aqui em discussão achamos que outro modo de designação possa ser cogitado mas ainda não o encontramos A pesquisaação e a pesquisa participante estão ganhando grande audiência em vários meios sociais Ainda é cedo para se ter uma avaliação da amplitude e dos resultados realmente alcançados Do lado oposto alguns partidários da metodologia convencional vêem na pes quisaação e na pesquisa participante um grande perigo o do rebaixa mento do nível de exigência acadêmica Como veremos mais adiante existem efetivos riscos e exageros na concepção e na organização de pesquisas alternativas abandono do ideal científico manipulação polí tica etc Nosso desafio consiste em mostrar que tais riscos que tam bém existem em outros tipos de pesquisa são superáveis mediante um adequado embasamento metodológico Com o desenvolvimento de suas exigências metodológicas as propostas de pesquisa alternativa participante e ação poderão vir a desempenhar um importante papel nos estudos e na aprendizagem dos pesquisadores e de todas as pessoas ou grupos implicados em situações problemáticas Um dos principais objetivos dessas propostas consiste em dar aos pesquisadores e grupos de participantes os meios de se tornarem capazes de responder com maior eficiência aos problemas da situação em que vivem em particular sob forma de diretrizes de ação transformadora Tratase de facilitar a busca de soluções aos problemas reais para os quais os procedimentos convencionais têm pouco contribuído Devido à urgência de tais problemas educação informação práticas políticas etc os procedimentos a serem esco lhidos devem obedecer a prioridades estabelecidas a partir de um diagnóstico da situação no qual os participantes tenham voz e vez Para evitarmos alguns equívocos quanto ao real alcance da pes quisaação limitaremos a sua pertinência à faixa intermediária entre o que é geralmente designado com nível microssocial indivíduos pequenos grupos e o que é considerado como nível macrossocial sociedade movimentos e entidades de âmbito nacional ou interna cional Essa faixa intermediária de observação corresponde a uma grande diversidade de atividades de grupos e indivíduos no seio ou à margem de instituições ou coletividades Entre as principais ativi dades consideradas encontramos tudo o que é comumente designado como educação trabalho comunicação lazer etc Tal como a enten demos a pesquisaação não trata de psicologia individual e também não é adequada ao enfoque macrossocial Nas condições atuais como proposta bastante limitada não se conhecem exemplós de pesquisa ação ao nível da sociedade como um todo E apenas um instrumento de trabalho e de investigação com grupos instituições coletividades 8 de pequeno ou médio porte Contrariamente a certas tendências da pesquisa psicossocial os aspectos sóciopolíticos nos parecem ser mais pertinentes que os aspectos psicológicos das relações interpessoais Na abordagem da interação social aqui adotada os aspectos sócio políticos são freqüentemente privilegiados O que não quer dizer que a realidade psicológica e existencial seja desprezada Do ponto de vista sociológico a proposta de pesquisaação dá ênfase à análise das diferentes formas de ação Os aspectos estruturais da realidade social não podem ficar desconhecidos a ação só se mani festa num conjunto de relações sociais estruturalmente determinadas Para analisar a estrutura social outros enfoques de caráter mais abrangente são necessários Os temas e problemas metodológicos aqui apresentados são limi tados ao contexto da pesquisa com base empírica isto é da pesquisa voltada para a descrição de situações concretas e para a intervenção ou a ação orientada em função da resolução de problemas efetiva mente detectados nas coletividades consideradas Isto não quer dizer que estejamos desprezando a pesquisa teórica sempre de fundamental importância Mas precisamos começar por um dos lados possíveis e escolhemos o lado empírico com observação e ação em meios sociais delimitados principalmente com referência aos campos constituídos e designados copio educação comunicação e organização Não nos parece haver incompatibilidade no fato de progredir na teorização a partir da observação e descrição de situações concretas e no fato de encarar situações circunscritas a diversos campos de atuação antes de se ter elaborado um conhecimento teórico relativo à sociedade como um todo Entre esses diversos níveis de análise não nos parece haver dedução do geral ao particular nem indução do particular ao geral Tratase de estabelecer um constante vaivém no qual privilegia mos aqui os níveis mais acessíveis ao pesquisador principiante Embora privilegie o lado empírico nossa abordagem nunca deixa de colocar as questões relativas aos quadros de referência teórica sem os quais a pesquisa empírica de pesquisaação ou não não faria sentido Essas questões são vistas como sendo relacionadas ao papel da teoria na pesquisa e como contribuição específica dos pesquisa dores nos discursos que acompanham o desenrolar da pesquisa levando a uma deliberação acerca dos argumentos a serem levados em conta para estabelecer as conclusões Nos dias de hoje embora haja muitas pesquisas em diversas áreas de conhecimento aplicado sentese a falta de uma maior segu rança em matéria de metodologia quando se trata de investigar situa ções concretas Além disso no plano teórico a retórica sem controle corre solta Há um crescente descompasso entre o conhecimento usado 9 na resolução de problemas reais e o conhecimento usado apenas de modo retórico ou simbólico na esfera cultural A linha seguida pelos partidários da pesquisaação é diferente pretendem ficar atentos às exigências teóricas e práticas para equacionarem problemas relevantes dentro da situação social De acordo com a concepção didática deste livro o conteúdo é organizado em temas cada um sendo apresentado de modo conciso A nossa seleção dos temas corresponde às respostas a diferentes per guntas que sempre são formuladas nas discussões sobre a pesquisa ação de que temos participado no Brasil desde 1975 Muitas dessas perguntas nos foram sugeridas por alunos e professores de ciências sociais e de outras disciplinas na ocasião de cursos conferências ou seminários em várias universidades e por pesquisadores encontrados na realização de diversas consultorias Em si próprio o roteiro pro posto não pretende ser a solução de todos os problemas Os temas escolhidos foram agrupados em três capítulos 1 Estratégia de conhecimento 2 Concepção e organização da pesquisa 3 Áreas de aplicação No Capítulo I estão reunidos alguns temas gerais da estratégia de conhecimento enfatizando o papel da metodologia no controle das exigências científicas e a natureza argumentativa das formas de racio cínio que operam na concepção da pesquisaação A formulação das hipóteses ou diretrizes sua comprovação as inferências e generali zações não são apenas baseadas em dados e regras estatísticas No conjunto do processo da investigação e da ação a argumentação ou a deliberação desempenha um papel fundamental Além disso as implicações políticas e valorativas devem ficar sob o controle dos pesquisadores No Capítulo II apresentamos uma série de temas relacionados com a concepção e a organização prática de uma pesquisaação São destacadas questões vinculadas à fase exploratória o diagnóstico a escolha do tema a colocação dos problemas o lugar da teoria e das hipóteses a função do seminário no qual se reúnem os pesquisadores e os demais participantes a delimitação do campo de observação empí rica os problemas de amostragem e de representatividade qualitativa a coleta dedados a aprendizagem o cotejo do saber formal e do saber informal a elaboração de planos de ação e finalmente a divul gação dos resultados 10 No Capítulo III apresentamos como temas as diversas áreas de aplicação da pesquisaação em particular educação comunicação serviço social organização tecnologia rural e práticas políticas Em cada uma dessas áreas são discutidas algumas das especificidades da abordagem proposta Indicamos problemas a serem resolvidos e po tencialidades a serem aproveitadas em futuras pesquisas Em conclusão são retomadas sinteticamente importantes questões relacionadas com as condições intelectuais e práticas do desenvolvi mento da pesquisaação enquanto estratégia de conhecimento voltada para a resolução de prqblemas do mundo real Nossos agradecimentos são dirigidos aos professores Menga Lüdke Edil Paiva Newton A P Bryan Doraci Fernandes Moacir Gadotti Luis Roberto Ferreira da Costa Anamaria Fadul Carlos Eduardo Lins da Silva Walter Garcia e aos demais colegas que nos têm encorajado nos últimos anos no desenvolvimento da nossa reflexão sobre as alter nativas metodológicas em diferentes áreas de conhecimento e atuação Este trabalho é dedicado a Vania e François Jérôme 11 Capítulo 1 ESTRATÉGIA DE CONHECIMENTO Neste capítulo são apresentados temas gerais da estratégia de conhecimento que é própria à orientação metodológica da pesquisa ação tal como a concebemos Após uma discussão acerca das defini ções e dos objetivos apresentamos uma série de exigências necessárias à manutenção da pesquisaação no âmbito das ciências sociais Em seguida é descrito o papel da metodologia como sendo o de conduzir a pesquisa de acordo com as exigências científicas Procurando mostrar algumas das especificidades da pesquisaação no plano das formas de raciocínio indicamos que a natureza argumentativa ou deliberativa dos procedimentos está explicjtamente reconhecida contrariamente à concepção tradicional da pesquisa na qual são valorizados critérios lógicoformais e estatísticos Desenvolvendo este ponto de vista pro curamos mostrar como é possível estabelecer um vínculo entre de um lado o raciocínio hipotético e as exigências de comprovação e por outro lado as argumentações dos pesquisadores e participantes Mostramos que a concepção das hipóteses não deve ser confundida com a elaboração de testes de hipótese que é apenas uma técnica estatística de aplicação restritiva o que nes permite repensar as ques tões relacionadas com inferências e generalizações de um modo que não se limita ao campo das técnicas estatísticas Essas questões são também abordadas por intermédio dos recursos da argumentação de modo particularmente adequado no contexto da pesquisaação onde as interpretações da realidade observada e as ações transformadoras são objetos de deliberação Em seguida são apresentadas algumas reflexões introdutórias acerca do tema do relacionamento entre co nhecimento e ação Procuramos especificar o alcance das ações ou das transformações consideradas na pesquisa sem criar falsas expec tativas ao nível da sociedade Terminamos o nosso roteiro da estra 13 tégia de conhecimento por urna curta discussão sobre as suas impli cações políticas e valorativas 1 DEFINIÇÕES E OBJETIVOS Entre as diversas definições possíveis daremos a seguinte a pesquisaação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com urna ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadres e os participantes representativos da situação ou do problema estao en volvidos de modo cooperativo ou participativo Este tipo de definição deixa provisoriamente en aberto a qus tão valorativa pois não se refere a urna preetermuada onentao da ação ou a um predeterminado grupo socia Mmtos patrdans restringem a concepção e o uso da pesqmsaaçao a uma onentaçao de acão emancipatória e a grupos sociais que pertencem às classes popurares ou dominadas Nesse caso a pesquisaação é vista corno forma de engajamento sóciopolítico a serviço da causa das classes populares Esse engajamento é consitutivo d urna ba parte ds propostas de pesquisaação e pesqmsa participante tais corno sao conhecidas na América Latina e em outros países do Terceiro Mundo No entanto a metodologia da pesquisaação é igualmente discutida em áreas de atuacão técnicoorganizativa com outros tipos de com promissos sociais e ideológicos entre os quais destacase o compro misso de tipo reformador e participativo tal como no caso das pesquisas sóciotécnicas efetuadas segundo uma orientação de demo cracia industrial principalmente em países do Norte da Europa Embora seja precária a distinção entre os aspectos valorativos e os aspectos propriamente metodológicos ao nível de u processo de investigação consideramos que a estrutura metodologica da ps quisaação dá lugar a uma grande diversidade de propstas de pesqmsa nos diversos campos de atuação social Os valores vigentes em cada sociedade e em cada setor de atuação alteram sensivelmente o teor das propostas de pesquisaação Assim existe urna grande divrsi dade entre as propostas de caráter militante as propostas informativas e conscientizadoras das áreas educacional e de comunicação e final mente as propostas eficientizantes das áreas organizacional e tecno lógica Certos autores recusam a possibilidade de designar essas pro postas tão diversas por um mesmo vocábulo Abordaremos questões metodológicas gerais tentando dar conta desta diversidade de propostas Ao nível das definições uma questão freqüentemente discutida é a de saber se existe uma diferença entre pesquisaação e pesquisa 14 participante Thiollent 1984 a 82103 Isto é urna questão de termi nologia acerca da qual não há unanimidade Nossa posição consiste em dizer que toda pesquisaação é de tipo participativo a partici pação das pessoas implicadas nos problemas investigados é absolu tamente necessária No entanto tudo o que é chamado pesquisa par ticipante não é pesquisaação Isso porque pesquisa participante é em alguns casos um tipo de pesquisa baseado numa metodologia de observação participante na qual os pesquisadores estabelecem relações comunicativas com pessoas ou grupos da situação investigada com o intuito de serem melhor aceitos Nesse caso a participação é sobre tudo participação dos pesquisadores e consiste em aparente identifi cação com os valores e os comportamentos que são necessários para a sua aceitação pelo grupo considerado Para que não haja ambigüidade uma pesquisa podé ser quali ficada de pesquisaação quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação Além disso é preciso que a ação seja uma ação nãotrivial o que quer dizer uma ação problemática merecendo investigação para ser elaborada e conduzida Entre as ações encontradas algumas são de tipo reivindicatório por exemplo no contexto associativo ou sindical Em certos casos tratase de ações de caráter prático dentro de uma atividade coletiva por exemplo o lançamento de um jornal popular ou de outros meios de difusão no contexto da animação cultural Num contexto organi zacional a ação considerada visa freqüentemente resolver problemas de ordem aparentemente mais técnica por exemplo introduzir uma nova tecnologia ou desbloquear a circulação da informação dentro da organização De fato por trás de problemas desta natureza há sempre uma série de condicionantes sociais a serem evidenciados pela investigação Na pesquisaação os pesquisadores desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas em função dos problemas Sem dúvida a pesquisaação exige uma estrutura de relação entre pesquisadores e pessoas da situação investigada que seja de tipo participativo Os problemas de aceitação dos pesquisadores no meio pesquisado têm que ser resolvidos no decurso da pesquisa Mas a participação do pesquisador não qualifica a especificidade da pes quisaação que consiste em organizar a investigação em torno da concepção do desenrolar e da avaliação de uma ação planejada Nesse sentido pesquisaação e pesquisa participante não deveriam ser con fundidas embora autores tenham chamado pesquisa participante concepções de pesquisaação que não se limitam à aceitação dos 15 esquisadores no meio pesquisado como no cao de siples oser p t t A participação dos pesquisadores e explicitada vacao par 1c1pan e detro da situação de investigação com os cuidados necesano para ue haja reciprocidade por parte das pessoas e grupos 1mphcads esta situacão Além disso a participação os pesquisadores nao deve chegr a substituir a atividade própria dos grupos e suas iniciativas Em geral a idéia de pesquisação encontra um conteto fvo rável quando os pesquisadores nao qrem hm1ta suas mvestJg ções aos aspectos acadêmicos e burocratJcos da ma10na das psq sas convencionais Querem pesquisas nas quais as pessoas lIDP i cadas tenham algo a dizer e a aer Não se trat de simples levantamento de dados ou de relator10s a serem arquivados Com a pesquisaação os pesquisadores pretendem desempenhar um papel ativo na própria realidade dos fatos observados Nesta perspectiva é necessário definir com precisão e um lado qual é a acão quais são os seus agentes seus obietvos e obstáculos e por outro lado qual é a exigência de conhec111ento a ser produzido em função dos problemas encontrados na açao ou entre os atores da situação Resumindo alguns de seus principais aspectos consideraos que a pesquisaação é uma estratégia metodológica da pesquisa social na qual 16 a há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada b desta interação resulta a ordem de prioridade dos prblemas a serem pesquisados e das soluções a serem encammhadas sob forma de ação concreta c 0 objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e plos roblemas de diferentes naturezas encontrados nesta s1tuaçao d 0 objetivo da pesquisaação consiste em resolver ou pelo menos em esclarecer os problemas da situação observada e há durante 0 processo um acomanhaiiento das decisões das ações e de toda a atividade mtencional dos atores da situação f a pesquisa não se limita a uma forma d ação risco de aticvismo pretendese aumentar o conhecimento d e quisadores e o conhecimento ou o nível de consciencia das pessoas e grupos considerados A configuração de uma pesquisaação depende dos seus obje tivos e do contexto no qual é aplicada Vários casos devem ser distinguidos Num primeiro caso a pesquisaação é organizada para realizar os objetivos práticos de um ator social homogêneo dispondo de sufi ciente autonomia para encomendar e controlar a pesquisa O ator é freqüentemente uma associação ou um agrupamento ativo Os pes quisadores assumem os objetivos definidos e orientam a investigação em função dos meios disponíveis Num segundo caso a pesquisaação é realizada dentro de uma organização empresa ou escola por exemplo na qual existe hierar quia ou grupos cujos relacionamentos são problemáticos A pesquisa pode vir a ser utilizada por uma das partes em detrimento dos interesses das outras partes Nesse caso o relacionamento dos pes quisadores com os grupos da situação observada é muito mais com plicado do que no caso precedente tanto no plano ético quanto no plano da prática da pesquisa Considerase no plano ético que os pesquisadores da linha da pesquisaação não podem aceitar tra balhar em pesquisas manipuladas por uma das partes nas organi zações em particular por aquela que está mais vinculada ao poder Após uma fase de definição dos interessados na pesquisa e das exigências dos pesquisadores se houver possibilidade de conduzir a pesquisa de um modo satisfatoriamente negociado os problemas de relacionamento entre os grupos serão tecnicamente analisados por meio de reuniões no seio das quais todas as partes deverão estar representadas Num terceiro caso a pesquisaação é organizada em meio aberto por exemplo bairro popular comunidade rural etc Nesse caso ela pode ser desencadeada com uma maior iniciativa por parte dos pesquisadores que às vezes devem se precaver de possíveis inclinações missionárias sempre propícias à perda do mínimo de objetividade que é requerido na pesquisa Freqüentemente a pes quisa é organizada em função de instituições exteriores à comuni dade Os pesquisadores elucidam os diversos interesses implicados Na prática os três casos que distinguimos algumas vezes se apresentam sob forma mesclada Seja como for a atitude dos pes quisadores é sempre uma atitude de escuta e de elucidação dos vários aspectos da situação sem imposição unilateral de suas con cepções próprias Na fase de definição da pesquisaação uma outra condição necessária consiste na elucidação dos objetivos e em particular da relação existente entre os objetivos de pesquisa e os objetivos de 17 ação Uma das especificidades da pesquisaação consiste no relacio namento desses dois tipos de objetivos a Objetivo prático contribuir para o melhor equacionamento possível do problema considerado como central na pesquisa com levantamento de soluções e proposta de ações corres pondentes às soluções para auxiliar o agente ou ator na sua atividade transformadora da situação É claro que este tipo de objetivo deve ser visto com realismo isto é sem exageros na definição das soluções alcançáveis Nem todos os problemas têm soluções a curto prazo b Objetivo de conhecimento obter informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos aumen tar nosso conhecimento de determinadas situações reivin dicações representações capacidades de ação ou de mo bilização etc A relação existente entre esses dois tipos de objetivos é vana vel De modo geral considerase que com maior conhecimento a ação é melhor conduzida No entanto as exigências cotidianas da prática freqüentemente limitam o tempo de dedicação ao conheci mento Um equilíbrio entre as duas ordens de preocupação deve ser mantido Como complemento à discussão dos objetivos da pesquisaação podemos indicar casos nos quais o objetivo é sobretudo instrumen tal isto acontece quando a pesquisa tem um propósito limitado à resolução de um problema prático de ordem técnica embora a técnica não seja concebida fora do seu contexto sóciocultural de geração e uso Encontramos outras situações nas quais os objetivos são voltados para a tomada de consciência dos agentes implicados na atividade investigada Nesse caso não se trata apenas de resol ver um problema imediato e sim desenvolver a consciência da cole tividade nos planos político ou cultural a respeito dos problemas importantes que enfrenta mesmo quando não se vêem soluções a curto prazo como por exemplo nos casos de secas efeitos da pro priedade fundiária etc O objetivo é tornar mais evidente aos olhos dos interessados a natureza e a complexidade dos problemas consi derados Finalmente existe uma outra situação quando o objetivo da pesquisaação é principalmente voltado para a produção de conhe cimento que não seja útil apenas para a coletividade considerada na investigação local Tratase de um conhecimento a ser cotejado com outros estudos e suscetível de parciais generalizações no estudo 18 de problemas sociológicos educacionais ou outros de maior alcance A enfase pode ser dada a um dos três aspectos resolucão de pro blemas tomada de consciência ou produção de conhecimnto Muitas vezes a pesquisaação só consegue alcançar um ou outro desses três aspectos Podemos imaginar que com maior amadurecimento meto dológico a pesquisaação quando bem conduzida poderá vir a alcançálos simultaneamente Uma última questão freqüentemente abordada consiste na dife rença que existe entre a pesquisaação e a pesquisa convencional uma pesquisa crvencional não há participação dos pesquisadores Unto com os usuanos ou pessoas da situação observada Além disso sempre á uma grande distância entre os resultados de uma pesquisa convnc10nal e as ossívei decisões ou ações decorrentes Em geral tal tipo de pesqmsa se msere no funcionamento burocrático das instituições Os usuários não são considerados como atores Ao nível da pesquisa o usuário é mero informante e ao nível da acão ele é ero executor Esta concepção é incompatível com a da psquisa açao sempre pressupondo participação e ação efetiva dos interes sados Podemos acrescentar que na pesquisa social convencional são privilegiados os aspectos individuais tais como opiniões atitu des motivações comportamentos etc Esses aspectos são geralmente captados por meio de questionários e entrevistas que não permitem que se tenha uma visão dinâmica da situacão Não há focalizacão da pesquisa na dinâmica de transformação desta situação nua outra situação desejada Ao contrário pela pesquisaação é possível estudar dinamicamente os problemas decisões ações negociações conflitos e tomadas de consciência que ocorrem entre os agentes durante o processo de transformação da situação Por exemplo no campo industrial é o caso quando se trata de transformar uma forma de organização do trabalho individualmente segmentada e rotinizada numa forma de organização com grupos dispondo de auto nomia e flexibilidade na execução do trabalho De modo geral a observação do que ocorre no processo de transformação abrange problemas de expectativas reivindicações decisões ações e é reali zada través de reunies seminários nos quais participam pessoas de diversos grupos 1mphcados na transformacão As reuniões e seminários podem sei alimentados por informaçõs obtidasem grupos de pes9msa especializados por assuntos e também por informações provementes de outras fontes inclusive quando utilizáveis aquelas que foram obtidas por meios convencionais entrevistas documentação etc Este tipo de concepção pode ser aplicado n caso do estudo de inovações ou de transformações técnicas e sociais nas organizações e também nos sistemas de ensino 19 2 EXIGÉNCIAS CIENTÍFICAS Entre os partidários da pesquisaação e da pesquisa partici pante é freqüente o clima de suspeita para com teorias métodos e outros elementos valorizados pelo espírito científico Às vezes che gase a muita participação e a pouco conhecimento A nosso ver na pesquisaação se devem manter algumas condições de pesquisa e algumas exigências de conhecimento associadas ao ideal científico que contrariamente a uma certa opinião corrente não se confunde com o positivismo ou qualquer outra circunstancial ideologia da ciência No contexto da animação e difusão cultural em meio operário D Charasse mostra que a pesquisaação é insuficiente quando des provida do questionamento próprio à pesquisa científica Charasse 1983 13340 Tal experiência não passa de uma compilação sem enriquecimento da informação Além disso quando não há inter rogação acerca do papel dos pesquisadores intervenientes há risco de manipulação É preciso evitar de um lado o tecnocratismo e o academicismo e por outro o populismo ingênuo dos animadores A nosso ver um grande desafio metodológico consiste em fun damentar a inserção da pesquisaação dentro de uma perspectiva de investigação científica concebida de modo aberto e na qual ciên cia não seja sinônimo de positivismo funcionalismo ou de outros rótulos Como visto no item precedente na pesquisaação existem obje tivos práticos de natureza bastante imediata propor soluções quando for possível e acompanhar ações correspondentes ou pelo menos fazer progredir a consciência dos participantes no que diz respeito à existência de soluções e de obstáculos No contexto organizacional onde há nítida divisão entre diri gentes e dirigidos é claro que a pesquisaação pode ficar repleta de ambigüidades e seu alcance pode ser limitado de modo utilitarista por parte dos dirigentes ao colocarem problemas de seu exclusivo interesse como prioritários independentemente de sua relevância científica eventualmente muito fraca tal como no caso dos estudos de liderança Quando se trata de pesquisaação voltada para os problemas da coletividade como por exemplo a organização do trabalho em mutirão o acesso à escola ou à moradia os objetivos práticos con sistem emfazer um levantamento da situação formular reivindica ções e ações São objetivos práticos voltados para se encontrar uma saída dentro do contexto As soluções imediatas são selecionadas 20 em função de diferentes critérios correspondentes a uma definição dos interesses da coletividade Todos esses objetivos práticos não devem nos fazer esquecer que a pesquisaação como qualquer estratégia de pesquisa possui também objetivos de conhecimento que a nosso ver fazem parte da expectativa científica que é própria às ciências sociais São muito variáveis os pontos de vista de diferentes autores acerca do grau de sintonia da pesquisaação com a idéia de ciên cia Podemos até encontrar autores e pesquisadores comprometidos com pesquisaação e pesquisa participante que perderam de vista a idéia ou o ideal das ciências sociais ou da ciência em geral A ação ou a participação em si próprias seriam suficientes Conheci mento e ação ciência e saber popular estariam fundidos numa só atuação Não haveria mais lugar autônomo para a ciência que no caso seria apenas considerada como produto tipicamente acadê mic positivista ocidental e decadente A pesquisaação não prec1sana prestar contas à ciência e às suas instituições A nosso ver este ponto de vista é exagerado e perigoso Alguns aspectos da crítica ao sistema convencional da pesquisa científica academicismo dependência institucional unilateralidade da inter pretação etc são muito pertinentes Mas isto não deve nos fazer abrir mão das idéias de ciência e de racionalidade sem as quais sempre há riscos de recaídas no irracionalismo que tanto no passado como no presente foi associado ao obscurantismo e às ma nipulações de toda ordem Hoje em dia não existe um padrão de cientificidade universal mente aceito nas cincias sociais O positivismo e o empiricismo que prevalecem na literatura do mundo anglosaxão são contestados inclusive nos seus centros de origem Podemos optar por instrumentos de pesquisa não aceitos pela maioria dos pesquisadores de rígida for mação à moda antiga sem por isso abandonar a preocupação científica Embora se incompatível com a metodologia de experimenta çao em laboratono e com os pressupostos do experimentalismo neu tralidade e nãointerferência do observador isolamento de variáveis etc a pesquisaaçãá não deixa de ser uma forma de experimentaJ ção em situação real na qual os pesquisadores intervêm conscien temente Os participantes não são reduzidos a cobaias e desempe nham um papel ativo Além disso na pesquisa em situação real as variáveis não são isoláveis Todas elas interferem no que está sendo observado Apesar disso tratase de uma forma de experi mentação na qual os indivíduos ou grupos mudam alguns aspectos da situação pelas ações que decidiram aplicar Da observação e da 21 avaliação dessas ações e também pela evidenciação dos obstáculos encontrados no caminho há um ganho de informação a ser captado e restituído como elemento de conhecimento Consideramos que a pesquisaação não é constituída apenas pela ação ou pela Prticipação Com ela é necessário produzir conheci mentos adquirir experiência contribuir para a discussão ou fazer avancar o debate acerca das questões abordadas Parte da informa ção gerada é divulgada sob formas e por meios apropriados no seio da população Outra parte da informação cotejaa com resul tados de pesquisas anteriores é estruturada em conhecimentos Estes são divulgados pelos canais próprios às ciências sociais revistas congressos etc e também por meio de canais próprios a esta linha de pesquisa Achamos que a pesquisaação deve ficar no âmbito das ciências sociais podendo inclusive ser enriquecida pelas contribuições de outras linhas compatíveis em particular linhas metodológicas con centradas na análise da linguagem em situação social Thiollent 1981 81105 Os pesquisadores da linha pesquisaação que negam seu papel próprio estão em situação paradoxal pesquisar sem ser pesquisador Além disso o descontrole da atividade de pesquisa deixa margem a todas as formas de manipulação e de aproveita mento para fins particulares A manutenção da pesquisaação dentro do conjunto das exi gências científicas tem que ser melhor explicitada As exigências consideradas são diferentes daquelas que são comumente aceitas de acordo com o padrão convencional de observação no qual há total separação entre observador e observados total substituibilidade os pesquisadores e quantificação da informação colhida na observaçao enquanto princípios de objetividade Tais princípios observacionais pertencem ao espírito científico porém não são os únicos não 1se aplicam em todas as áreas com o mesmo grau de necessidade Sem abandonarmos o espírito científico podemos conceber dispo sitivos de pesquisa social com base empírica nos quais em vez de separação haja um tipo de coparticipação dos pesquisadores e das pessoas implicadas no problema investigado A substituibilidade dos pesquisadores não é total pois o que cada pesquisador observa e interpreta nunca é independente da sua formação de suas experiên cias anteriores e do próprio mergullio na situação investigada Em lugar de substituibilidade a condição de objetividade pode ser parcialmente respeitada por meio de um controle metodológico do processoinvestigativo e com o consenso de vários pesquisadores acerca do que está sendo observado e interpretado Por sua vez a quantificação é sempre útil quando se trata de estudar fenômenos 22 cujas dimensões e variações são significativas e quando existem ins trumentos de medição aplicáveis sem demasiado artificialismo Mas a quantificação aparentemente mais precisa do que qualquer avalia ção subjetiva é freqüentemente uma ilusão Em muitos casos a descrição verbal minuciosa a apreciação em escalas grosseiras do tipo fortefraco grandemédiopequeno aumentodiminuição etc são suficientes para satisfazer os objetivos da pesquisa Tais aprecia ções são factíveis no processo de pesquisaação e inclusive com recursos de procedimentos argumentativos para se chegar ao con senso dos participantes em torno das mesmas Por ser muito mais dialógico do que o dispositivo de observa ção convencional o dispositivo da pesquisaação pode parecer menos preciso e menos objetivo Relativizando essas noções podemos con siderar que elas não são por isso necessariamente perdidas de vista pelos pesquisadores A discussão e a participação dos pesquisadores e dos participantes em diversas estruturas coletivas seminários gru pos etc não são em si próprias nocivas à objetividade A falta de objetividade também pode existir nos modos de relacionamento burocrático dos pesquisadores convencionais O caráter burocrático do relacionamento pode ser observado entre os pesquisadores prin cipais confinados em gabinetes e os pesquisadores ou entrevistado res que atuam no campo empírico e também entre estes últimos e os indivíduos escolhidos como informantes em função da amos tragem Os pesquisadores principais raciocinam em gabinete na base de uma grande quantidade de informações quantitativas obtidas pelos procedimentos rotineiros Nessas condições a qualidade e a objetividade do raciocínio não são necessariamente superiores Na pesquisa ativa há um constante questionamento sempre é preciso argumentar a favor ou contra determinadas apreciações e interpre tações Seu aspecto coletivo pode ser fonte de manipulações Sob controle metodológico há também condições de uma constante auto correção sempre melhorando a qualidade e a relevância das obser vações Em si a intercomunicação entre observadores e pessoas e gru pos implicados na situação e também a restituição do papel ativo a todos os participantes que acompanham as diversas fases da pes quisa não constituem infrações ao código da ciência quando este é entendido de modo plural em particular no plano metodológico A compreensão da situação a seleção dos problemas a busca de soluções internas a aprendizagem dos participantes todas as características qualitativas da pesquisaação não fogem ao espírito científico O qualitativo e o diálogo não são anticientíficos Reduzir a ciência a um procedimento de processamento de dados quantifica 23 dos corresponde a um ponto de vista criticado e ultrapassado até mesmo em alguns setores das ciências da natureza Do ponto de vista científico a pesquisaação é uma proposta metodológica e técnica que oferece subsídios para orgamzar a pes quisa social aplicada sem os excessos da postura convencional ao nível da observação processamento de dados experimentação etc Com ela se introduz urna maior flexibilidade na concepção e na aplicação dos meios de investigação concreta Além disso podemos considerar que internamente ao processo de pesquisaação encontramos qualidades que não estão preentes nos processos convencionais Por exemplo podemos captar mfor mações geradas pela mobilização coletiva em torno de ações con cretas que não seriam alcançáveis nas circunstâncias da observação passiva Quando as pessoas estão fazendo alguma coisa relacionada com a solução de um problema seu há condição de estudar este problema num nível mais profundo e realista do que n nível opi nativo ou representativo no qual se reproduzem apenas imagens m dividuais e estereotipadas Outra qualidade da pesquisaação consiste no fato de que as populações não são consideradas corno ignorantes e desinteressadas Levando a sério o saber espontâneo e cotejandoo com as expli cações dos pesquisadores um conhecimento descritivo e crítico é gerado acerca da situação com todas as sutilezas e nuanças que em geral escapam aos procedimentos padronizados Com a divulgação de informação dentro da população com o processo de aprendizagem dos pesquisadores e dos participantes com o eventual treinamento de pessoas leigas para desempenharem a função de pesquisadores é possível esperar a geração de urna massa de informação signifi cativa aproveitando um amplo concurso de competências diversas 3 O PAPEL DA METODOLOGIA A partir da concepção anteriormente esboçada podemos con siderar que na organização e na conduta de urna pesquisaação a metodologia das ciências sociais tem um importante papel a desem penhar Esta afirmação é contrária a uma opinião difundida em certos meios acadêmicos segundo a qual a pesquisaação é um tipo de atividade escolhida por pesquisadores que não entendem de meto dologia e nem querem se submeter às suas exigências Todavia tais pesquisadores existem e a nosso ver prejudicam a imagem de sua própria atividade Paraevitarmos certas confusões precisamos redefinir o que é a metodologia e especificar seu papel Uma das perguntas freqüen 24 temente formuladas é a seguinte a pesquisaação é um método Uma técnica Urna metodologia Esta pergunta parece estar ligada à im precisão relativa ao uso desses três termos não somente no campo da pesquisaação mas também no contexto geral das ciências sociais Existe uma confusão terminológica que podemos analisar como sendo urna confusão entre de um lado o nível da efetiva aborda gem da situação investigada com métodos e técnicas particulares e por outro lado o rnetanível constituído pela metodologia enquanto instância de reflexão acerca do primeiro nível Esta distinção existe sob forma genérica como distinção entre informação e metainfor mação ou conhecimento e metaconhecimento Podemos distinguir o nível do método efetivo ou da técnica aplicado na captação da informação social e a metodologia como metanível no qual é deter minado corno se deve explicar ou interpretar a informação colhida A metodologia é entendida como disciplina que se relaciona com a epistemologia ou a filosofia da ciência Seu objetivo consiste em analisar as características dos vários métodos disponíveis avaliar suas capacidades potencialidades limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as implicações de sua utilização Ao nível mais aplicado a metodologia lida com a avaliação de técnicas de pes quisa e com a geração ou a experimentação de novos métodos que rerneteni aos modos efetivos de captar e processar informações e resolver diversas categorias de problemas teóricos e práticas da inves tigação Além de ser uma disciplina que estuda os métodos a meto dologia é também considerada corno modo de conduzir a pesquisa Neste sentido a metodologia pode ser vista corno conhecimento geral e habilidade que são necessários ao pesquisador para se orientar no processo de investigação tornar decisões oportunas selecionar con ceitos hipóteses técnicas e dados adequados O estudo da metodo logia auxilia o pesquisador na aquisição desta capacidade Associado à prática da pesquisa o estudo da metodologia exerce uma impor tante função de ordem pedagógica isto é a formação do estado de espírito e dos hábitos correspondentes ao ideal da pesquisa científica À luz do que precede a pesquisaação não é considerada como metodologia Tratase de um método ou de urna estratégia de pes quisa agregando vários métodos ou técnicas de pesquisa social com os quais se estabelece urna estrutura coletiva participativa e ativa ao nível da captação de informação A metodologia das ciências sociais considera a pesquisaação como qualquer outro método Isto quer dizer que ela a toma como objeto para analisar suas quali dades potencialidades limitações e distorções A metodologia ofe 25 rece subsídios de conhecimento geral para orientar a concepção da pesquisaação e controlar o seu uso Como estratégia de pesquisa a pesquisaação pode ser vista como modo de conceber e de organizar uma pesquisa social de fina lidade prática e que esteja de acordo com as exigências próprias da ação e da participação dos atores da situação observada Neste processo a metodologia desempenha um papel de bússola na ativi dade dos pesquisadores esclarecendo cada uma das suas decisões por meio de alguns princípios de científicidade Uma pesquisa con cebida sem esse tipo de exigência corre o risco de se limitar a uma simples reprodução de lugarescomuns e de encobrir manipulações por parte de quem fala mais alto nas situações observadas O fato de manter na pesquisaação algum tipo de exigência metodológica e científica não deve ser interpretado como cientificismo positi vismo ou academicismo É apenas um elemento de defesa contra as ideologias passageiras e contra a mediocridade do senso comum O papel da metodologia consiste também no controle detalhado de cada técnica auxiliar utilizada na pesquisa Como já indicamos a pesquisaação definida como método ou como estratégia de pes quisa contém diversos métodos ou técnicas particulares em cada fase ou operação do processo de investigação Assim há técnicas para coletar e interpretar dados resolver problemas organizar ações etc A diferença entre método e técnica reside no fato de que a segunda possui em geral um objetivo muito mais restrito do que o primeiro Seja como for podemos considerar que no desenvolvi menta da pesquisaação os pesquisadores recorrem a métodos e técnicas de grupos para lidar com a dimensão coletiva e interativa da investigação e também técnicas de registro de processamento e de exposição de resultados Em certos casos os convencionais ques tionários e as técnicas de entrevista individual são utilizados como meio de informação complementar Também a documentação dispo nível é levantada Em certos momentos da investigação recorrese igualmente a outros tipos de técnicas diagnósticos de situação reso lução de problemas mapeamento de representações etc Na parte informativa da investigação técnicas didáticas e técnicas de divul gação ou de comunicação inclusive audiovisual também fazem parte dos recursos mobilizados para o desenvolvimento da pesquisaação Nesse quadro geral o papel da metodologia consiste em avaliar as condições de uso de cada uma das técnicas As características de cada método ou de cada técnica podem interferir no tipo de inter pretação cdos dados que produzem É conhecido em particular o fato de que as técnicas de entrevistas ou outras técnicas de origem psicológica podem contribuir quando usadas inadequadamente para 26 psicologizar a realidade social ou cultural observada Thiollent 1980 a A preocupação metodológica dos pesquisadores permite apontar esses riscos e criar condições satisfatórias para uma combinação de técnicas apropriadas aos objetivos da pesquisa Mesmo quando as distorções introduzidas pelo uso das técnicas não podem ser cor rigidas a simples evidenciação metodológica da sua existência já constitui um aspecto altamente positivo podendo inclusive ser apro veitado na avaliação qualitativa do grau de objetividade alcançado Além do controle dos métodos e técnicas o papel da metodo logia consiste em orientar o pesquisador na estrutura da pesquisa com que tipo de raciocínio trabalhar Qual o papel das hipóteses Como chegar a uma certeza maior na elaboração dos resultados e interpretações Essas são algumas questões controvertidas que abor daremos agora 4 FORMAS DE RACIOCÍNIO E ARGUMENTAÇÃO Numa pesquisa sempre é preciso pensar isto é buscar ou com parar informações artiéular conceitos avaliar ou discutir resultados elaborar generalizações etc Todos esses aspectos constituem uma estrutura de raciocínio subjacente à pesquisa Na linha convencional os pesquisadores valorizam na estrutura de raciocínio sobretudo re gras lógicoformais e critérios estatísticos que nem sempre respeitam na prática Na linha alternativa as formas de raciocínio são muito mais flexíveis Ninguém pretende enquadrálas em rígidas regras for mais No entanto tais formas de raciocínio não excluem recursos hipo téticos inferenciais e comprobatórios e também incorporam compo nentes de tipo discursivo ou argumentativo a serem evidenciados Esses aspectos são raramente abordados na literatura sobre pesquisaação ou pesquisa participante A nosso ver eles precisam ser analisados para se chegar a uma clara demarcação no plano cognitivo entre pesquisa convencional e pesquisa alternativa Esta demarcação não deve ser vista como oposição entre dois mundos separados Os problemas tra dicionais do raciocínio hipóteses inferências etc encontram apenas soluções diferentes As soluções próprias à pesquisa alternativa mere cem ser melhor conhecidas e ampliadas para que ela possa superar muitas das confusões que lhe são atribuídas Devido aos seus objetivos específicos e ao seu conteúdo social a proposta de pesquisaação está muito afastada das preocupações meto dológicas relacionadas com a formalização ou com as questões de ló gica em geral Porém algumas questões subsistem Parecenos evidente que a lógica formal clássica com suas formulações binárias verdade 27 falsidade terceiro excluído etc é de pouca valia para dar conta de conhecimentos cujas características são principalmente informais e obti das em situação comunicativa ou interativa Além disso entre os partidários das alternativas metodológicas há uma ampla condenação da antiga posição segundo a qual tudo o que não se enquadra na lógica tradicional estaria fora do conhecimento científico rigoroso coe rente etc Hoje em dia independentemente da linha alternativa existe uma pluralidade de lógicas e de abordagens argumentativas que dão conta de raciocínios informais e de suas expressões em linguagem co mum Noutros termos o que antigamente era considerado como de vendo estar excluído da ciência por falta de coerência ou de clareza lógica hoje em dia é potencialmente resgatável A pesquisa não perde a sua legitimidade científica pelo fato dela estar em con dição de incorporar raciocínios imprecisos dialógicos ou argumen tativos acerca de problemas relevantes Tal incorporação supõe muito mais do que recursos lógicos a metodologia deve incluir no seu registro o estudo cuidadoso da linguagem em situação e com isto o pesquisador não precisa temer a questão da imprecisão Processar a informação e o conhecimento obtidos em situações interativas não constitui em si mesmo uma infração contra a ciência social Alguns detratores da pesquisaação e da pesquisa participante e em certos casos alguns de seus partidários divulgam a idéia segundo a qual tal orientação de pesquisa não teria lógica nem estru tura de raciocínio não haveria hipóteses inferências enfim seria sobretudo uma questão de sentimento ou de vivência Como já foi sugerido achamos este ponto de vista equivocado sobretudo quando são partidários da linha alternativa que o defendem Não há pes quisa sem raciocínio Quando não queremos pensar raciocinar co nhecer algo sobre o mundo circundante é melhor não pretendermos pesquisar Além disso quando queremos interferir no mundo preci samos de conceitos hipóteses estratégias comprovações avaliações e outros aspectos de uma atividade intelectual É necessário descrever alguns aspectos da estrutura de racio cínio subjacente à pesquisaação A dificuldade está no fato de que não se trata de uma estrutura lógica simples enquadrável em poucas fórmulas conhecidas Tal estrutura contém momentos de raciocínio de tipo inferencial não limitados às inferências lógicas e estatísticas e é moldada por processos de argumentação ou de diálogo entre vários interlocutores O objetivo da análise ou descrição desta estru tura cognitiva não é mero jogo formalista Não se trata de chegar a uina formalização lógica nem a um cálculo de proposições ou à ma nipulação de variáveis simbolicamente representadas O principal obje 28 tivo consiste em oferecer ao pesquisador melhores condicões de com preensão decifração interpretação análise e síntese d material qualitativo gerado na situação investigativa Este material é essen cialmente feito de linguagem sob formas de simples verbalizações imprecações discursos ou argumentações mais ou menos elaboradas A significação do que ocorre na situação de comunicação estabelecida pela investigação passa pela compreensão e a análise da linguagem em situação Um mínimo de conhecimento nesse setor é necessário para que o pesquisador não caia em ingenuidades Por exemplo se desconhecesse a natureza discursiva do que está sendo produzido o pesquisador poderia não enxergar as jogadas argumentativas dos vários parceiros e finalmente tomar o que é dito como simples e fiel expressão da realidade ou da verdade No processo investigativo a argumentação se manifesta de modo particularmente significativo no decorrer das deliberações relativas à interpretação dos fatos das informações ou das ações dos diferentes atores da sitação A argumentação no nosso contexto designa várias formas de raciocínio que não se deixam enquadrar nas regras da lógica con vencional e que implicam um relacionamento entre pelo menos dois interlocutores um deles procurando convencer o outro ou refutar seus argumentos Esta discussão adquire uma forma de diálogo que pode ser de caráter construtivo quando os interlocutores buscam con juntamente as soluções A forma pode também ser destrutiva quando houver polêmica caso em que um dos interlocutores pretende des truir os argumentos do outro De acordo com a teoria de C Perelman e L OlbrechtsTyteca 1976 os processos argumentativos levam em conta a presença real ou imaginária de um auditório sobre o qual se exercem influências e cujas reações são capazes de fortalecer ou de enfraquecer as posições de um ou outro interlocutor a respeito de um determinado assunto Como se sabe na antigüidade grega o raciocínio próprio à argu mentação era designado pela noção de dialética Esta noção tem sido utilizada em outros contextos com definições muito diferentes a partir do século XIX marcado pelo hegelianismo e pelo marxismo No seu sentido antigo a noção de dialética permitia salientar o ca ráter crítico dos raciocínios articulados em situacões de discussão ou de debates com vários graus de polemicidade m torno de ques tões controvertidas Do poiito de vista científico tradicional os processos argumen ªtlos da lmguagen ordinária são repletos de ambigüidades e logo mut1lzave1s como nsrumentos de raciocínio rigoroso Após ter pre valecido durante vanos seculos esse ponto de vista tende a ser 29 substituído por um outro ainda em discussão ao nível filosófico segundo o qual a racionalidade da lógica formal é rigorosa porém não permite dar conta das sutilezas funções e flutuações das interações argumentativas discursivas ou dialógicas Além do mais alguns filósofos atuais consideram que a argu mentação está presente inclusive nas formas superiores de raciona lidade Segundo V Descambe assistimos ao reconhecimento da na tureza argumentativa do que os filósofos chamam razão e cujo uso não é evidentemente limitado às ciências exatas nem às outras ciên cias encontrase tanto nas diversas transações humanas como na de liberação prática Descambe 1984 No contexto específico da pesquisa social que consideramos aqui a noção de argumentação pode chegar a substituir a tradicional noção de demonstração Esta última exige um grau maior de formalização ou de axiomatização que é muito difícil raramente alcançável em ciência social e praticamente impossível em pesquisas de finalidade prática Embora objeto de discussão a noção de demonstração ainda faz sentido em matemática lógica e ciências exatas nas quais o arca bouco matemático é muito desenvolvido A matematizacão das ciên cias sociais ainda é muito precária e freqüentemente ão passa de uma formulação estatística do processamento de dados empíricos Na própria interpretação qualitativa dos resultados quantitativos sempre há aspectos argumentativos ou deliberativos para dar sentido ao que se pretende em função de objetivos científicos descrição objetiva comprovação etc e algumas vezes extracientíficos justificar uma situação enfraquecer um adversário influenciar o auditório No entanto é preciso fazer algumas ressalvas Se toda forma de razão é discussão isto não quer dizer que todas as discussões sejam expres são da razão Muito pelo contrário Dentro da discussão que acom panha a pesquisa a busca da racionalidade deve ser um constante objetivo dos pesquisadores O que exige como já foi sugerido um determinado tipo de precauções metodológicas e a minimização dos aspectos extracientíficos A teoria da argumentação diz respeito aos procedimentos ou re gras de constituição dos debates públicos das deliberações jurídicas e das discussões em diversos campos de atuação inclusive o das ciências sociais quando concebidas num quadro não positivista Se gundo C Perelman e L OlbrechtsTyteca a teoria da argumentação não se enquadra na lógica formal e se limita ao conhecimento apro ximativo Escrevem eles O domínio da argumentação é ô do veros similhante do plausível do provável na medida em que este último escapa às certezas do cálculo Perelman e OlbrechtsTyteca 1976 1 Em vez da estrutura lógicoformiil há na investigação social o re 30 conhecimento de um processo argumentativo Tal tipo de investigação não é do tipo das ciências exatas e abandonou qualquer veleidade de sêlo Com isso se procura reconhecer o valor cognoscitivo do processo argumentativo ou deliberativo Abandonouse também a idéia se gundo a qual haveria um único tipo de comprovação séria a com provação observacional e quantificada das ciências da natureza Não se pretende fazer previsões a partir de cálculos numéricos Tratase apenas de previsões argumentadas estabelecendo qualitativamente as condições de êxito das ações e avaliando subjetivamente a probabi lidade de tal ou qual acontecimento o que de fato não está aquém da nossa atual capacidade de antecipação em matéria de assuntos sociais A abordagem metodológica que é específica ao que designamos pela noção de pesquisaação apresenta muitas características que são próprias aos processos argumentativos Tais processos se encontram explicitamente na explicação e nas interpretações em ciências sociais e a nosso ver desempenham um claro papel no caso dos métodos alternativos em pesquisa social Aplicando algumas noções da perspectiva argumentativa ao caso particular da pesquisaação podemos notar que os aspectos argu mentativos se encontram a na colocação dos problemas a serem estudados conjuntamente por pesquisadores e participantes b nas explicações ou soluções apresentadas pelos pesquisa dores e que são submetidas à discussão entre os participantes c nas deliberações relativas à escolha dos meios de ação a serem implementados d nas avaliações dos resultados da pesquisa e da correspon dente ação desencadeada Observamos que no decorrer do processo de investigação os aspec tos argumentativos presentes nas formas de raciocínio são articula dos principalmente em situações de discussão ou de diálogo entre pesquisadores e participantes Discussão é diferente de debate pois esta última noção remete a situações nas quais os interlocutores de fendem posições geralmente incompatíveis No caso da discussão os pesquisadores e participantes efetivos estabelecem uma comunidade de espíritos ou um vínculo intelectual No entanto isto não exclui que de vez em quando haja também elementos de polêmica Além disso a comunidade de espíritos não precisa ser de natureza reli giosa Não se trata de fazer os participantes aderirem a dogmas prees tabelecidos como no caso da atividade de grupos religiosos ou de grupúsculos políticos sectários E apenas uma questão de se chegar 31 ao consenso acerca da descrição de uma situação e a uma convicção a respeito do modo de agir Todo processo argumentativo supõe a existência de um auditório nos sentidos real e figurado No caso dos processos argumentativos operando no contexto da pesquisaação podemos imaginar a presença de um auditórÍO estruturado em vários níveis a o auditório efetivo constituído pelos grupos de participantes exercendo um papel ativo nos diversos tipos de seminários de pesquisa ou assembléias de discussão de resultados b o conjunto da população no qual a pesquisa é organizada e para o qual é dirigida uma série de informações por intermédio de diversos meios de comunicação formal e informal c os diferentes setores sociais ligados ao poder ou não que não são diretamente incluídos no campo de pesquisa mas sobre os quais os resultados da pesquisa podem exercer alguma forma de influência d setores acadêmicos interessados na pesquisa social e suscetí veis de dar palpites favoráveis ou desfavoráveis acerca dos pesqui sadores e dos resultados de suas atividades Entre os possíveis efeitos que a pesquisaação pode exercer sobre o auditório acadêmico há todo um leque de atitudes possíveis reforçar o desprezo abrir a discussão iniciar revisões nos padrões metodológicos etc No processo argumentativo ao levarem em consideração a pre senca de um ou outro dos vários auditórios os interlocutores não estio necessariamente procurando efeitos visando a sua satisfação própria Na argumentação podemos encontrar táticas de luta mani pulações de sentido deturpações etc O pesquisador não aceita qual quer argumento na elaboração das interpretações Em particular ele tem que criticar os argumentos contrários ao ideal científico parcia lidade engano etc e promover aqueles que fortalecem a objetividade e a racionalidade dos raciocínios embora com flexibilidade Veremos nos próximos itens que existem aspectos argumentativos em vários momentos importantes do raciocínio subjacente à pesquisa em particular quando se trata de lançar uma hipótese fazer uma inferência comprovar um resultado ou enunciar uma generalização 5 HIPÓTESES E COMPROVAÇÃO M11itos autores consideram que na pesquisaação não se aplica o tradfcional esquema formulação de hipótesescoleta de dadoscom provação ou refutação de hipóteses Este esquema não seria aplicá vel nas situações sociais de caráter emergente com aspectos de cons 32 cientizaço arendiagem afetividade criatividade etc Liu s d A psqmaaçao sena um procedimento diferente capaz de explorar as s1tuaçoe probles para os quais é difícil senão impossível formular ipotess prvia e relacionadas com um pequeno número e vnave1s prec1ss 1solave1s e quantificáveis É o caso da pesquisa 1milicaº mteaçao de grupos sociais no qual se manifestam muitas vanave1s 1mprec1sas dentro de um contexto em permanente movimento Sja como fo podemos considerar que a pesquisaação opera a partir de determmadas mstruções ou diretrizes relativas ao modo e encarar os problems identificados na situação investigada e rela tiva aos riodos de açao Essas instruções possuem um caráter bem menos ngido do que as hipóteses porém desempenham uma funcão seelhante Com os resultados da pesquisa essas instrucões podem sair fortle1das ou caso contrário devem ser alteradas abandonadas ou sustit1das Eor outas A nosso ver a substituição das hipóteses Pr d1rtnzes nao 1mphca que a forma de raciocínio hipotética seja d1spensavl no decorrer d1 pesuisa ratse de definir problemas de conhecuento o de açao cuias poss1ve1s soluções num primeiro momento sao cons1deadas como suposições quasehipóteses e num sgundo moento objeto de verificação discriminacão e comprova çao em funçao das situações constatadas O padrão convenciona de pesquisa social empírica adota em gera um esquema 1potetlco baseado em comprovação estatística frequenemente associad ao experimentalismo Esta concepção tem seus mentos e seus defeitos Mas o que importa é salientarmos que ete esquema ão é único possível sobretudo no contexto impre ciso da pesqms social Se abandonarmos o raciocínio hipotético parecenos perfeitamente cbrel formulação de quasehipóteses den tro de um quadro de referencia diferente e principalmente qualitativo e argumentativo O expeimntalismo ao qal pertence o esquema hipotético sob forma quaiitatlva pode ser visto como uma filosofia da pesquiSa de laboratono de ard com a qual o pesquisador testa cada hipótese e altera certas vanave1s para conhecer os efeitos de algumas delas sobre as outras Nesta concepção o experimento é válido quando sua repet1çao reproduz sempre os mesmos resultados independentemente do expenmentador o que seria condição do estabelecimento de regu laridades leis e finalmente teorias comprovadas A o nível epistemológico os críticos do experimentalismo em cieicas humalla cns1deraAqu se trata de uma inadequada trans ps1çao as x1gencias ds c1encias da natureza ciências experimen tais Alem disso a relaçao entre as variáveis é geralmente concebida de modo causal e mecanicista o que é fortemente criticado inclusive 33 em amplos setores das c1encias da natureza No caso particular da pesquisa social e também psicossocial os fenômenos não possuem o caráter de perfeita repetitividade como no caso de fatos mecâmcos e além do mais o papel do pesquisador nunca é neutro dentro do campo observado Uma outra crítica freqüentemente apresentada con siste no argumento relativo à impossibilidade de isolar no experi mento ou no local de observação social os fatores intervenientes que dependem do contexto social ou histórico O conhecimento gerado nessas condicões teria então o aspecto de artefato representação muito distorcida plas próprias condições da pesquisa Um outro aspecto negativo do esquema hipotético associado ao experimentalismo particularmente sensível em ciências humanas está no fato de que ao procurar as informações necessanas à verificação das hipóteses o pesquisador é freqüentemente induzido a distorções quanto à observação dos fatos e à seleção das inforinações pertinentes Isto foi bastante analisado no contexto da pesqmsa e psicologia social por R Rosenthal e R Rosnow 1981 que anali saram a interferência das expectativas dos pesquisadores sobre os resultados da pesquisa e também a interferência dos pesquisados em função das expectativas que eles têm para com os pesquisadores Além do que precede na crítica ao experimentalismo há igualmente ques tionamentos relacionados com o caráter aético de certos experimentos de laboratório Rosnow 1981 5572 Na maioria das pesquisas sociais direcionadas em função de uma concepção experimentalista os pesquisadores não recorrem a experimentos de laboratório A pesquisa convencional abrange popu lações reais sobretudo por meio de um plano de amostragem a partir do qual são escolhidas as pessoas a serem interrogadas O isolamento das variáveis e a simulação da variação de algumas delas são efetuados por meio de análise estatística das respostas coletadas Dentro da concepção experimentalista a hipótese é sobretudo considerada como suposição relacionando variáveis quantitativas a serem submetidas a testes estatísticos Mas é exagero querer submeter a testes estatísticos todas as hipó teses Isto corresponde a uma visão restritiva pois na área de ciências sociais e humanas nem todas as variáveis consideradas são quanti ficáveis Freqüentemente a quantificação artificial por meio de esca las de certos aspectos atitudes por exemplo nada acrescenta ao que se pode pretender em termos de comprovação O fato de que todas as hipóteses não precisam ser testadas esta tisticamente é amplamente reconhecido por diversos autores até mes mo no contexto da pesquisa de padrão clássico Por exemplo C M Castro considera que O teste de hipótese é uma maneira formal e 34 eleaite de mostrar a confiança que pode ser atribuída a certas pro pos1çoes Se essa confiança pode ser medida e estabelecida é injusti ficável a omissão do teste Mas quando a natureza dos ddos ou do problema não nos permite avaliar formalmente a confianca não há desdouro para a ciência ou para o investigador em dizer pnas isso em seu relatório de pesquisa Castro 1977 104 Podemos também considerar que a reducão de todos os tipos de hpóteses ao tipo de hipótese estatística contitui um equívoco rela c10nado com o predom1mo dos métodos quantitativos Mas em si não se justifica Os prpios estatísticos pofissionais reconhecem que se deve manter uma distmçao entre h1potese científica e hipótese estatística Uma hipótese científica é uma sugestão de solução a um pro blena e constitui um tateio inteligente baseado em uma ampla infor maçao e em uma educação estruturada subjacente A formulação de uma boa hipótese científica é um ato realmente criativo Por outro lado a hipótese estatística não é senão um enunciado a res peito de um parâmetro desconhecido É de suma importância distinguir a hipótese científica da estatística já que é muito factível provar ou contrapor hipóteses estatísticas muito reduzidas e sem a menor relevância científica Glass e Stanley 1974 273 Após essas considerações parecenos mais claro que o raciocínio hipotético não deveria ser confundido com os excessos da visão expe rimentalista e quntitatiita que é muito difundida entre pesquisa dores de onentaçao trad1c10nal Pensamos que é perfeitamente viável a fleibilização d aciocíio hipottico de acordo com a qual a hipó tse e uma supos1çao criativa que e capaz de nortear a pesquisa inclu sve nos seus aspectos qualitativos As hipóteses ou diretrizes qua litativas onentam em particular a busca de informação pertinente e as argumentações necessárias para aumentar ou diminuir o grau de ceteza que podemos atribuir a elas Isto não quer dizer que devamos cai no excesso oposto existem hipóteses acerca de variáveis quanti tativas serem submetidas a testes estatísticos quando for julgado necessano formulação de hipóteses ou de quasehipóteses permite ao peu1sado organizar o raciocínio estabelecendo pontes entre as 1de1as gerais e as comprovações por meio de observação concreta Sb forma suaye na concepção alternativa da pesquisa social a h1otese e tambe um eeento na pauta das discussões entre pes qmsadores e outros participantes Apesar das aproximacões ou das imrecisões hipótese q11aliativa permite orientar o esfoço de quem estiver pesqmsano na d1reª de eventuais elementos de prova que mesmo quando nao for defimtiva pelo menos permitirá desenvolver 35 a pesquisa Com a hipótese e os meios colocados à disposição do pes quisador para refutála ou corroborála a produção do discurso ge rada pela pesquisa não perde o contato com a realidade e faz pro gredir o conhecimento Até mesmo quando se trata de dados pouco transparentes a busca de provàs é necessária Uma prova não precisa ser absolutamen te rigorosa No nosso campo de estudo muitas vezes basta uma boa refutação verbal ou uma boa argumentação favorável que leve em conta testemunhas e informações empíricas e permita que os parti cipantes ou os auditórios de maior abrangência compartilhem uma noção de suficiente objetividade convicção e justeza O espírito de prova exige que todas as informações colhidas sejam passadas pelo crivo da crítica dos pesquisadores e outros participantes dos se minários de pesquisa Em particular é necessário ficarmos atentos às informações do tipo rumores géradas a partir de fontes ocultas e a todos os tipos de distorções que se manifestam na percepção da realidade exterior nos envolvimentos emocionais ou outros É neces sário que o contexto de captação de càda informaçãó seja perfeita mente identificado e que a constatação dos fatos controvertidos seja controlada por vários pesquisadores O fato de recorrer a procedimentos argumentativos leva o pes quisador a privilegiar a apreensão qualitativa Mas devemos salientar que isto não significa que os métodos e dados quantitativos estejam descartados pois em muitas argumentações o peso ou a freqüência de um acontecimento é levado em consideracão como meio de forta lecer ou de enfraquecr um argumento Além disso se os deliberantes ignorassem tudo dos aspectos quantitativos implicàdos num determi nado problema real sua argumentação seria provavelmente inadequa da ou descontrolada Em conclusão a ênfase dada aos procedi mentos argumentativos não exclui os procedimentos quantitativos Estes são necessários para o balizamento dos problemas ou das so luções o que é descartado e a pretensão quantitativista que alguns pesquisadores têm de resolver todas as questões metodológicas da pesquisa exclusivamente por meio de medições e números 6 INFERÊNCIAS E GENERALIZAÇÃO Na pesquisa social sémpre é metodologicamente problemática a passagem entre ci nível local e o nível global No primeiro são reali zadas as observações de unidades particulares indivíduos grupos restritos locais de moradia trabalho ou lazer etc No segundo são apreendidos fenômenos abrangendo toda a sociedade ou um amplo setor de atividades um movimento de classe o funcionamento das 36 iiistituições et O problema da relação envolve aspectos quantita tJos e qualitativos No plano quantitativo é possível tratálo com os class1cos recursos estatíticos técnicas de amostragem e inferência controlda com a quais as observações obtidas nas amostras são genealzdas ao mvel do universo global considerando margens de conftab1hdade Ie modo geral a inferência é considerada como passo de ra c1oc1mo pssmndo qalidde lógicas e meios de controle No caso da gnerahzaçao a nferencia é sobretudo tratada como problema estat1st1co e pressupoe uma quantificacão das va b d A f nave1s o serva as s m erencias estatísticas são controladas pelos pesquisador mer e testes propriados Miller 1977 Tais inferências per cessaias que se1am dão lugar ao mesmo tipo de discussão evocada antenormente no que dizia respeito aos testes de hipóteses Nouras palvras podemos considerar que a concepcão estatís tca as mferencias não esgota toda a complexidade quaÍitativa das mferenctas no contexto particular da pesquisa social s iiferências constituem passos do raciocínio na direcão da ge neraltzaçao Isto corresponde à indução Existe também f di t d m erencta em reçao opos a passagem e proposições gerais a proposicões relativas ª caos Prtrculares Antes de serem problema de estatítica as infe encaltas sao tema de lógica O seu controle remete ao conhecimento e gumas regras de lógica elementar Na pesquisa social ocorre que muitas expressões analisadas no co11texto de sua geração e que muitos dos raciocínios que os pes qmadoes efetuam a partir delas não se prestam facilmente à for mahzaçao e ao controle lógico Como visto anteriormente há sempre um grande espaço reservado aos raciocínios informais aproximativos argmtatJvos te Os leigos como também os cientistas nos seu rc10c1mos cottdianos recorrem a inferências generalizantes ou ar t1culanzantes sem ngor lógico são inferências formuladas em in guagem comum Exemplo de forma generalizante Cada vez qu t Jntece a siuaço se deteriora Exemplo de foa particularizeae a ue a s1tuaçao econômica vai melhorar a nossa condicão va ambem dlhorar Essas inferências não estabelecem necessatiamen e a ver a e Os passos de raciocínio operados por elas pressu õem um f eterr1nnao coteto social uma ideologia ou uma tradicã cul a Mmtas mferenctas são baseadas no senso comum e lgumas e as n chamao bom senso considerado por Antôni Gramsci coo nuele racronal da sabedoria popular Gramsci 1959 47 ss As mferenc1s em lmguagem comum são controláveis ou com reendi ts em funçao do contexto sóciocultural no qual elas são pr6reridas mtas vezes para as entendermos isto é reconhecermos seu fund 37 de racionalidade ou de irracionalidade precisamos explicitar seus pressupostos ou fazer que o interlocutor os explicite No contexto qualitativo da pesquisa social o problema da gene ralização é situado em dois níveis o dos pesquisadores quando esta belecem generalizações mais ou menos abstratas ou teóricas acerca das características das situações ou comportamentos observados e o dos participantes que generalizam em geral com menos abstrações e a partir de noções que lhes são familiares Mesmo em situação de pesquisa na qual participam conjunta mente os pesquisadores e os membros de uma população observada os pesquisadores devem ficar atentos em não confundir as inferências efetuadas por eles e as inferências efetuadas pelos outros participan tes Os pesquisadores devem identificar as generalizações populares e cotejálas com as generalizações teóricas A comparação dos dois tipos de raciocínio constitui uma importante fonte de informação para se saber até que ponto existe uma real intercompreensão a possibi lidade de diálogo e de transformações nos modos de pensar acerca de determinados problemas Além disso a partir desta orientação é possível avaliar diversos graus de aproximação ou de adequação dos conhecimentos em ques tão As vezes o bom senso popular está mais próximo do que se pode chamar de verdade em termos realistas Noutros casos há nas generalizações populares exageros unilateralidade ou erros cometidos em função do predomínio de uma ideologia ou de crenças particula res Mas isto não quer dizer que as generalizações dos pesquisadores sejam sempre de melhor qualidade Algumas vezes os pesquisadores espontaneístas só reproduzem ingenuamente as generalizações po pulares Outros menos empiristas as reproduzem com um jargão mais sofisticado sem estarem em condição no entanto de controlar os desvios A nossa perspectiva exige um controle mútuo estabelecido de forma dialógica a partir da discussão entre pesquisadores e parti cipantes Nesse diálogo os pesquisadores trazem o que sabem isto é o conhecimento de diversos elementos de teorias ou de experiências anteriormente adquiridas As inferências generalizantes e particularizantes que são efetua das pelos pesquisadores são objeto de controle metodológico De acor do com o que já discutimos acerca do papel da metodologia os pes quisadores não podem aceitar qualquer tipo de raciocínio aci nível da explicação ou da interpretação dos fatos Independentemente das exigências estatísticas e lógicas que podem ser aplicadas nos casos de uma quantificação ou de uma formalização do conhecimento os pes quisadores aplicam outros tipos de exigências no que diz respeito aos aspectos qualitativos das inferências Uma primeira exigência dessa 38 ordem consiste em idntificar os defeitos da generalização em parti cular aqueles que consistem m a partir de poucas informações locais t1rar concluses paa o coniunto da população ou do universo Em mults pesmsas fetas localmene como no caso da pesquisaação é poss1ve ate enunciar a generahzaçoes superiores à situação efetiva niente mvestigada No entaiito um generalização pode ser progres sJVamnte elabcrada a partir da discussão dos resultados de várias pesqmsas orgamzadas em locais ou situações diferentes Uma seunda exigência consiste em identificar as formas ideo log1ca que mterferem na generalização Não se trata de pretender pesqmsar sem ienhuma ideologia Mas os pesquisadores deveriam esta em ccnd1çoes de estabelecer suas generalizacões com base em teonas exphcitadas e utilizadas dentro de um proesso de raciocínio n qual a mfoaçao cinreta fose realmente tomada em considera çao Ouaido a uterferencia 1deolog1ca é excessiva os dados obtidos na mve1gaçao sao sem valor Seja qual for a sua variabilidade esses dados sao encaixados em categonas e generalizacões que em si mas pod d mes em ser 1scurs1vamente pronunciadas independentemente d qualquer observação e efitos smeants devem ser objeto de controle no que diz respeito a par1culanzaçao em particular na passagem das idéias ou conceitos gerais aos md1cadores que são levados em consideracã observaçao do campo empírico 0 na 7 CONHECIMENTO E AÇÃO A relação tre conhecimento e ação está no centro da proble matlc mitoolog1ca da pesquisa social voltada para a acão coletiva Em s1 Jropna eta relação cnstitui um tema filosófico que foi de senvolv1do de diversas maneiras por várias tendências filosóficas Mas ao nsso conheer raramente foi tratado como tal ao nível da mbetodolo3ia de pesqi1a social Apresentaremos aqui apenas algumas o servaçoes mtrodutonas A elaçã entre conhecimento e ação existe tanto no campo d agir aça soial política jurídica moral etc quanto no campo d fazer aao tecmca Entre as formas de raciocínio existem analogias e tanbem diferenças etre as estruturas do conhecer para agir e do conhecer para fazer O problema da relação entre conhecimento e açao pode se aborado no contexto das ciências sociais e também no da tecnologia Th10llent 1984b 51744 Aqui só b d no primeiro o a or aremos A relação etre pesquisa social e ação consiste em obter infor maçoes e conhecimentos selecionados em função de uma determinada 39 ação de caráter social A passagem do conhecer ao agir se reflete na estrutura do raciocínio em particular em matéria de transformação de proposições indicativas ou descritivas por exemplo a situação está assim em proposições normativas ou imperativas temos que fazer isto óu aquilo para alterar a situação Isto supõe que seja estabelecido algum tipo de relacionamento entre a descrição de fatos e normas de ação dirigida em função de uma ação sobre esses fatos ou de uma transformação dos mesmos É claro que as normas geralmente não são geradas na própria situação empírica da pesquisa Pertencem a ideologias perspectivas políticas ou culturais aos movimentos sociais ou ao funcionamento das instituicões O raciocínio consiste em aplicar essas normas do plano gera no qual se apresentam no plano concreto dos fatos sob observação submetidos a transformações Todavia a passagem da proposição de fato para a proposição normativa não oferece ga rantia lógicoformal Blanché 1973 211 pois não é a descrição do fato que determina o tipo de transformação que lhe será aplicado Sempre intervém um sistema normativo com aspectos ideológios políticos jurídicos etc que é subjacente ao trabaho que cns1ste em reunir pesquisa e ação Não se trata de lamentar o envolvimento da metodologia de pesquisa social com um sistema normativo só basta estarmos cientes das suas implicações Deontologicamente os pesquisadores avaliam as condições éticas do funcionamento da pes quisa e de suas finalidades práticas Em certos casos os pesquisadores podem ser obrigados a impedir a realização de certas pesquisas ou de certos tipos de aproveitamentos de seus resultados ao nível da ação Na relação entre obtenção de conhecimento e direcionamento da ação há espaço para um desdobramento do controle metodológico em controle ético Os pesquisadores discutem avaliam e retificam o envol vimento normativo da investigação e suas propostas de ação decor rentes Freqüentemente na relação entre descrição e norma de ação o ponto de partida não é a descrição objetiva e sim as exigências associadas à norma Isto é metodologicamente condenável Em função de uma norma de ação preexistente instituída ou não o pesquisador pode ser levado a descrever os fatos de um modo favorável às con seqüências práticas correspondentes às exigências daquela norma Tratase de um efeito de contaminação das normas de ação sobre a observação ou a descrição Não sabemos se é possível neutralizar esse efeito Seja como for esta fonte de distorção deve ficar sob con trole dos pesquisadores dos pontos de vista metodológico e ético No que precede entendemos por norma de ação instituída uma norma que já faz parte do código explícito de uma instituição A norma 40 de ação é não instituída quando se refere a um movimento social ou a uma atividade informal A norma de uma ação informal pode estar relacionada com o objetivo de modificar as normas do padrão de ação instituída É freqüentemente discutida a real contribuição da pesquisaação em termos de conhecimento Na prática nem todas as pesquisasacão chegam a contribuir para a produção de conhecimentos novos Allás sejam quais forem suas orientações nem todas as pesquisas parti cuas podein ter essa pretensão Entre outras muitas pesquisas de opmiao se limitam a oferecer uma fotografia numérica do que todo mundo já sabia Entre os objetivos de conhecimento potencialmente alcançáveis em pesquisaação temos a A coleta de informação original acerca de situações ou de atores em movimento b A concretização de conhecimentos teóricos obtida de modo dialogado na relação entre pesquisadores e membros representativos das situações ou problemas investigados c A comparação das representações próprias aos vários inter locutores com aspecto de cotejo entre saber formal e saber informal acerca da resolução de diversas categorias de problemas d A produção de guias ou de regras práticas para resolver os problemas e planejar as correspondentes ações e Os ensinamentos positivos ou negativos quanto à conduta da ação e suas condições de êxito f Possíveis generalizações estabelecidas a partir de várias pes quisas semelhantes e com o aprimoramento da experiência dos pes quisadores 8 O ALCANCE DAS TRANSFORMAÇÕES Com a pesquisaação pretendese alcançar realizações ações efe tivas transformações ou mudanças no campo social Alguns autores têm mostrado toda a imprecisão e as ambigüidades dessas expressões Segundo J Ezpeleta 1984 a nocão de transformacão da realidade é indiscriminadamente utilizada por partidários da pesquisa partici pante ou da pesquisaação para designarem fatos muitos diversos modificação de comportamento grupal modificação de hábitos ali mentares fenômenos cognoscitivos de sujeitos individuais etc A noção de transformação é freqüentemente assinrilada à de mudan ça social Além disso há uma confusão freqüente entre categorias 41 estruturais sistemas sociais classes etc e categorias relativas a situações particulares A nosso ver este tipo de crítica é procedente Na literatura dis ponível sobre psquisaação existem confusões relacionadas com a imprecisão da linguagem que mesclam a descrição dos efeitos ao nível da sociedade como um todo com a dos efeitos ao nível inter mediário instituicões e com a dos efeitos ao nível dos comporta mentos de pequeos grupos ou de indivíduos A nãoefinião das transformações pemlite ocultar o real alcance da pesqmsaaço fre qüentemente limitada aos efeitos sobre peuenos grupos e alimentar ilusões sobre a transformação geral da sociedade em sentidos moder nizador ou revolucionário Na definicão do real alcance da proposta transformadora asso ciada à pesqma é necessário esclarecer cuidadosamente as possíveis interrelações entre os três níveis grupos e indivíduos instituições intermediárias sociedade global É preciso deixar de manter ilusões acerca de transformações da sociedade global quando se trata de um trabalho localizado ao nível de grupos de pequena dimensão sobretudo quando são grupos desprovidos de poder Além disso já que se trata de transformar algo é preciso ter uma visão dinâmica acerca do desenvolvimento da pesquisa no qual devem estar presentes consideracões estratgicas e táticas para saber como alcançar os obje tivos superar ou contornar os obstáculos neutralizar as reações ad versas etc A questão da ação transformadora deve ser colocada desde o início da pesquisa em termos realistas Várias situações podem ser distinguidas a Quando os participantes possuem uma clara idéia dos obje tivos e da ação necessária o papel dos pesquisadores consiste essen cialmente em assessorar as decisões correspondentes ao que for factível nas melhores condições e extrair da prática diversos ensinamentos b Quando se trata de uma ação de tipo técnico autoconstrução produção de um j01nal uso e ua técnica agrcoa etc a a7ão é definida em funcao dos me10s tecmcos e economrcos necessarros em função do sabr próprio dos usuários e do contexto social c Quando se trata de uma ação de caráter cultural educacinal ou político os pesquisadores e participantes devem estar em conrça de fazer uma avaliação realista dos objetivos e dos efeitos e nao fr earem satisfeitos ao nível das declarações de intenção como muitas vezes ocorre O desenrolar e a avaliação de uma ação cultural são talvez mais difusos e menos evidentes do que no caso de atos técnicos bem definidos 42 Em matéria de conscientização e de comunicação as transfor macões se difundem através do discurso da denúncia do debate ou da discussão O que é transformado são as representações acerca das situações em que atuam os interessados e os seus sentimentos de hostilidade ou de solidariedade Devemos deixar bem claro que quando se consegue mudar algo dentro das delimitações de um campo de atuação de algumas dezenas ou centenas de pessoas tais mudanças são necessariamente limitadas pela permanência do sistema social como um todo ou da situação geral O sistema social nunca é alterado duravelmente por pequenas modificações ocorrendo na consciência de algumas dezenas ou cente nas de pessoas Não deve haver confusão a respeito do real alcance da pesquisaação quando é aplicada em campos de pequena ou média dimensão A justa apreciação do alcance das transformações associadas à pesquisaação não passa por critérios únicos Cada situação é dife rente das outras Quando as ações adquirem uma dimensão objetiva de fácil identificação por exemplo produção manifestação coletiva etc os resultados podem ser avaliados em termos tangíveis quanti dade produzida número de pessoas mobilizadas etc A ação é aco plada à esfera dos fatores subjetivos e portanto fazse mister dis tinguir vários graus na tomada de consciência De acordo com Paulo Freire pelo menos duas noções devem ser distinguidas tomada de consciência e conscientização A primeira tem um alcance mais limi tado do que a segunda A tomada de consciência é freqüentemente limitada a uma aproximação espontânea sem caráter crítico A conscientização supõe um desenvolvimento crítico da tomada de cons ciência permite desvelar a realidade incide ao nível do conhecimento numa postura epistemológica definida e contém até elementos de uto pia Freire 1980 e 1982 Todos esses aspectos merecem uma ava liação concreta 9 FUNÇÃO POLÍTICA E VALORES A função política da pesquisaação é intimamente relacionada com o tipo de ação proposta e os atores considerados A investigação está valorativamente inserida numa política de transformação Podemos definir vários aspectos da função política dependendo do grau de organização e de autonomia dos grupos participantes Quando o grupo possui uma ampla autonomia na conduta de suas ações a pesquisa exerce a função de fortalecêla A produção de informação e a aplicação do conhecimento são orientadas para isso Um outro aspecto da função política consiste em estreitar as relações 43 que existem entre a organização e sua base por meio dos procedimentos participativos agregando o maior número possível de seus membros na elucidação dos problemas e das propostas de ação Há também uma funçãó de elucidação estratégica e tática na relação do ator com seus adversários concorrentes ou aliados incluindo a questão da fixação de mttas e das prioridades nos planos de ação Nesse aspecto a pesquisa visa eliminar o subjetivismo dos líderes e certas formas de conhecimento inapropriado por exemplo a forma livresca Outros aspectos da função política são mais diretamente associados ao tema da conscientização daqueles que participam na pesquisa e o conjunto dos outros para os quais são divulgados os resultados A divulgação recorre a todos os canais formais ou informais que possam ser apro veitados em campanhas de explicação e em certos casos de propa ganda Quando o grau de autonomia dos grupos interessados é fraco e em particular quando se trata de uma pesquisa em situação marcada por uma polarização entre dirigentes e dirigidos como no caso de muitas pesquisas em organização o consenso é sempre difícil pre cário e freqüentemente impossível Num concepção democrática da pesquisa social é necessário que haja negociação de ambas as partes para se estabelecer um tipo de contrato de investigação acerca dos problemas a serem levantados e dos critérios de seleção das so luções e ações a serem implementadas Os pesquisadores estão lidando com o problema de avaliar o que eles estão propondo e as implicações ao nível dos valores Vale a pena esclarecer o conteúdo das propostas em termos de reprodução ou de transformação da situação conside rada e de conquista de maior autonomia ao nível das partes subal ternas Partindo do que precede podemos apresentar algumas indagações sobre a questão dos valores operando na conduta da pesquisa Toda estratégia de pesquisa possui alguns critérios de orientação valora tiva A pesquisaação não é exceção A moralidade de uma pesquisa ação depende sobretudo da moralidade da ação considerada e dos meios de investigação mobilizados Em geral os agentes sociais cujas práticas são marcadas de imoralidade corrupção por exemplo não precisam de pesquisaação Esta é associada a escolhas valorativas tais corno o reconhecimento de causas populares a prática da demo cracia ao nível local a busca de autonomia a negação da dominação etc Todos esses aspectos ou uma seleção dos mesmos são discutidos pelos pesquisadores Há também controle dentro do processo de invesação para se evitar possíveis deturpações Em si própria a concepção da pesquisaação nunca é livre de valores Não há nisto qualquer anormalidade apesar de sua pretensa 44 netalidade s tendências convencionais se inserem em estratégias sociais determmadas assessoramento do poder vigente tomada de decisão à revelia dos participantes práticas discutíveis no plano ético espionagem ideológica por exemplo De acordo com a concepção da pesquisaação a questão dos valores e abordada de modo explícito dando lugar a discussão entre pesquisadors e gupos interessados pela investigação e pela ação O aspecto arttcipttvo dos procedimentos é igualmente objeto de con trole pots o discurso da participação não é suficiente por si só para assegurar a ausência de manipulações e de escamoteamento das relações de poder subjacentes A partir de diversas experiências de pesquisaação em vários contextos têm surgido algumas regras deontológicas Toas as partes ou grupos interessados na situação ou nos pro blms mvetJgados devem ser consultados A pesquisa não pode ser fe1a a rveha de uma das partes Numa organização de tipo empre sarial nao se pode fazer uma pesquisa sobre os problemas do pessoal sem a participação dos seus representantes e sem o acordo dos sindi catos Em alguns casos um comitê com representantes de todas as pates envolvidas é consit11ído para controlar o desenrolar da pes qmsa Caa parte tem dtrlto de parar a experiência quando julgar que os ob1ettvos da pesquisa sobre os quais havia acordo não são respeitados A avaliação dos resultados é efetuada pelos paticipantes e pelos pesqmsadores Os resultados são difundidos sem restricão Uma das partes não pode pretender se apoderar deles exclusivamete Essas regras existem no contexto da pesquisaacão em contexto organizacional Ortsman 1978 e freqüentemente são formuladas de acordo com o espírito da participacão social ou da democracia industrial segundo a qual todos os parceiros devem ser consul tados N prtica nem empr form aplicadas Quando a proposta de pesqmsa e mmto mais radical e possível recorrer a outras regras criado condições de inserção mais profunda dos pesquisadores no moVtmento no qual atuam os atores considerados É sobretudo em função da sua vertente radical que a pesquisa ação adquire sua especificidade De acordo com R Zufiiga A pesquisaação é inovadora do ponto de vfota científico somen t quando é inovadora do ponto de vista sóciopolítico isto quer dizer quan tenta colocar o controle do saber nas mãos dos grupos e das coletividades que expressam uma aprendizagem coletiva tanto na sua tomada de consciência como no seu comprometimento com a ação coletiva Zufiiga 1981 3544 45 A funcão política da pesquisaação é freqüentement pnsaa cno colocaão de um instrumento de investigação e açao a d1sos1çao dos grpos e classes sociais populares Segundo R Franck o prmcwal objetivo da pesquisaação não é apenas o entrosaento da pesquisa e da acão pois um tal entrosamento existe em mmts pesqmas con vencioais a servico dos grupos dominantes na vida ecoiiom1ca e olítica A principl questão é a seguinte como a peqma aderia tornarse útil à ação de simples cidadãos rgamzaçoes mil tantes populações desfavorecidas e exploradas Franck 1981 1606 46 Capítulo li CONCEPCÃO E ORGANIZACÃO DA PESQUISA Vamos abordar uma série de temas e itens relacionados com os aspectos práticos da concepção e da organização de uma pesquisa social orientada de acordo com os princípios da pesquisaação Tra tase de apresentarª um roteiro que naturalmente não deve ser visto como sendo exaustivo ou como o único possível Em cada situação os pesquisadores juntos com os demais participantes precisam rede finir tudo o que eles podem fazer Nosso roteiro é apenas um ponto de partida O planejamento de uma pesquisaação é muito flexível Contra riamente a outros tipos de pesquisa não se segue uma série de fases rigidamente ordenadas Há sempre um vaivém entre várias preo cupações a serem adaptadas em função das circunstâncias e da dinâ mica interna do grupo de pesquisadores no seu relacionamento com a situação investigada A lista dos temas que apresentamos aqui segue parcialmente uma ordem seqüencial no tempo em primeiro lugar aparece a fase exploratória e no final a divulgação dos resultados Mas na verdade os temas intermediários não foram ordenados numa deter minada seqüência temporal pois há um constante vaivém entre as preocupações de organizar um seminário escolher um tema colocar um problema coletar dados colocar outro problema cotejar o saber formal dos especialistas com o saber informal dos usuários colocar Todavia vários autores partidários da pesquisa participante têm proposto seqüências e fases bem definidas Ver artigos de M Gajardo e G Le Boterf em C R Brandão Org Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 p 1550 e p 5181 47 outro problema mudar de tema elaborar um plano de ação divulgar resultados etc Todas essas tarefas não são consideradas como fases Em geral quando os planejadores de pesquisa elaboram a priori uma divisão em fases eles sempre têm de infringir a ordem em função dos problemas imprevistos que aparecem em seguida Preferimos apre sentar o ponto de partida e o ponto de chegada sabendo que no intervalo haverá uma multiplicidade de caminhos a serem escolhidos em função das circunstâncias 1 A FASE EXPLORATÓRIA A fase exploratória consiste em descobrir o campo de pesquisa os interessados e suas expectativas e estabelecer um primeiro levan tamento ou diagnóstico da situação dos problemas prioritários e de eventuais ações Nesta fase também aparecem muitos problemas práticos que são relacionados com a constituição da equipe de pes quisadores e com a cobertura institucional e financeira que será dada à pesquisa Devido à grande diversidade das situações e à sua imprevisibili dade é impossível enunciarmos regras precisas para organizar os es tudos da fase exploratórfa Só daremos algumas indicações Um dos pontos de partida consiste na disponibilidade de pesqui sadores e na sua efetiva capacidade de trabalhar de acordo com o espírito da pesquisaação O passo seguinte consiste em apreciar pros pectivamente a viabilidade de uma intervenção de tipo pesquisaação no meio considerado Tratase de detectar apoios e resistências con vergências e divergências posições otimistas e céticas etc Com o balanço destes aspectos o estudo de viabilidade permite aos pesqui sadores tomarem a decisão e aceitarem o desafio da pesquisa sem criar falsas expectativas Além do mais é necessário conceber o lan çamento da pesquisa com a habilidade necessária para sua aceitação por parte dos interessados e eventualmente das instituições financia doras Uma vez resolvidos esses problemas o que nem sempre é fácil a pesquisa poderá começar Nos seus primeiros contatos com os interessados os pesquisa dores tentam identificar as expectativas os problemas da situação as características da população e outros aspectos que fazem parte do que é tradicionalmente chamado diagnóstico Paralelamente a esses pri meiros contatos a equipe de pesquisa coleta todas as informações disponíveis documentação jornais etc Em função da competência e do grau de envolvimento dos pes quisadores com a linha da pesquisaação a equipe define sua estra tégia metodológica e divide as tarefas conseqüentes pesquisa teórica 48 pesquisa de campo planejamento de ações etc A divisão das tarefas nunca é estanque e definitiva Os pesquisadores participam de todas elas porém as responsabilidades são distribuídas em funcão das com petências e afinidades Todos os aspectos são coordenados no semi náio Quando for preciso também é organizado na fase inicial um tremamento complementar para ps pesquisadores De acordo com o ptincípio da participação são destacadas as condições da colaboração entre pesquisadores e pessoas ou grupos envolvidos na situação investigada Quem são essas pessoas ou grupos em termos sociais e culturais A que interesses políticos estão vin culados Já participaram em experiências semelhantes Com êxito ou fracasso Dentro da imaginação popular como são representados os problemas e possíveis soluções Que tipo de crença está interferindo Existe vontade de participar De que forma Existe dificuldade de compreensão ou de expressão Tais são algumas perguntas iniciais cujas respostas podem nortear a exploração dos problemas de parti cipação dos potenciais interessados Além disso os pesquisadores costumam praticar um reconhecimento de área Isto inclui obser vação visual consulta de mapas e organogramas e discussão direta com representantes diretos ou indiretos das várias categorias sociais implicadas No que diz respeito à metodologia de diagnóstico devemos acrescentar algumas precisões Embora seja freqüentemente incorpo rada à metodologia da pesquisaação a metodologia de diagnóstico possui outras origens medicina serviço social etc e tem sido con cebida de modo nãoparticipativo estabelecendo uma dicotomia entre quem estabelece o resultado do diagnóstico e quem deve se conformar ao mesmo No contexto médico a terminologia dos métodos de diag nóstico não apresenta noções de caráter participativo e não destaca noções relacionadas com as potencialidades e a iniciativa própria dos pacientes objeto do diagnóstico No contexto do serviço social os autores têm distinguido o diag nóstico como processo do diagnóstico e como produto De acordo com a primeira acepção tratase de um processo de identificação dos problemas de uma situação e decisão de meios adequados para encontrar soluções Vaisbisch 1981 Na segunda o diagnóstico é constituído pelas informações a partir das quais são estabelecidas as metas de ação Dentro do processo de diagnóstico os membros da população podem exercer alguma forma de participação mas a nosso ver nem todas as práticas do serviço social permitem a participação e sobretudo em contexto empresarial muitos diagnósticos do serviço social são elaborados à revelia dos interessados trabalhadores assa lariados 49 Outras críticas à concepção do diagnóstico foram formuladas no con5exto peculiar dos estudos rurais por Ivandro da Costa Sles Jose Augusto dos Santos Ferro e Maria Nelly Cavalcanti Carvalho 194 324 s utores mostram que a concepção dominante em matena de dtgnst1co falseia a realidade do pequeno produtor rural que empre e visto apenas como carente O diagnóstico sempre focahz que falta educaçao recursos etc Não são enxergadas as poteiicahades dos produtores e do seu meio circundante Há também o pnvrlegiamento da percepção dos produtores como indivíduos iso lados em detrimento a sua preensão como grupos fazendo parte di yrocesso da Jroduçao colt1va Os autores enfatizam que em ma tna de produçao de conhecimento o modo tradicional de diagnos tica exerce profundas distorções o processo de conhecimento é re uz1do a uma coleta de dados na qual os produtores são meros mfrmaites Sales Ferro e Carvalho 1984 35 Encontramos no artio citado uma iande quantidade de outras observações muito pertmentes para criticar a concepção tradicional do diagnóstico e desenvolver uma perspectiva de aprendizagem da participação e umª forma de colaoração ativa entre os saberes dos produtores dos tecncos e dos academ1cos Além d rea da pesquisa rural esta pers pectiva nos parece sugestiva e aphcavel com adaptações em muitas outras areas Voltando à aracteriaçã a fase xploratória da pesquisa na qual a mtodplogia dos iagnosticos precisa ser reequacionada pode 1s ons1derar que apos o levantamento de todas as informacões m111s os pesquisdores e participantes estabelecem os principais ob1e1vos da pesqmsa Os objetivos dizem respeito aos problemas consierados como prioritários ao campo de observação aos atores e ao tipo de ação que estarão focalizados no processo de investigação 2 O TEMA DA PESQUISA O tema da pesquisa é a designação do problema prático e da rea de conhecimeno a serem abordados Por exemplo podemos magmar uma pesqmsa sobre ó tema os acidentes de trabalho na mdústria rrietalúrgica Este tema é imediatamente associado ao pro blema pratico como reduzir os acidentes O tema pode ser definido em termos concretos como relacionado a um campo bem delimitado PCr exemploº acidentes com prensas na companhia X ou ao con trano ser defm1do de modo mais conceitua estrutura de riscos numa relação homemmáquina De modo geral o tema deve ser definido d modo simples e sugerir os problemas e o enfoque que serão sele c10nados Na pesquisaação a concretização do tema e seu desdo 50 bramento em problemas a serem detalhadamente pesquisados são realizados a partir de um processo de discussão com os participantes É útil que a definição seja a mais precisa possível isto é sem ambi güídades tanto no que se refere à delimitação empírica quanto no que remete à delimitação conceitua Uma vez definido o tema é utilizado como chave de identi ficação e de seleção de áreas de conhcimento disponível em ciências sociais e outras disciplinas relevantes No exemplo anterior elemen tos de conhecimento serão localizados nas áreas de psicologia indus trial tecnologia ergonomia direito trabalhista etc A formulação do tema pode ser descritiva as condições de tra balho na indústria têxtil Também existe uma formulação de caráter normativo como melhorar as condições de trabalho na indústria têxtil Embora muitas vezes seja precária a distinção entre o que é descritivo e o que é normativo parecenos necessário têla em mente na hora de definir a temática de uma pesquisaação A ação é obrigatoria mente orientada em funcão de uma norma No caso a melhoria sempre supõe um ideaÍ em comparação ao qual a situação real deveria ser transformada A melhoria é definida em termos rela tivos marcando a diferença entre o que é e o que desejamos que seja Na pesquisaação o caráter normativo das propostas é explici tamente reconhecido As normas ou critérios das transformações ima ginadas são progressivamente definidas Na prática as normas de ação dão lugar algumas vezes a negociações entre as diversas categorias de participantes Em geral o tema é escolhido em função de um certo tipo de compromisso entre a equipe de pesquisadores e os elementos ativos da situação a ser investigada Em certos casos o tema é de antemão detennínado pela natureza e pela urgência do problema encontrado na situação Por exemplo nos casos de uma remoção de favela ou de uma campanha popular para construir escolas Em outros casos o tema emerge progressivamente das discussões exploratórias entre pes quisadores e elementos ativos da situação Quando um primeiro tema se revelar inviável a curto prazo por exemplo por motivo de dema siada complexidade ou de despreparo da equipe é bom delimitar um tema que esteja ao alcance dentro de um prazo razoável levando em conta as condições concretas de atuação dos diversos grupos impli cados Muitos autores consideram que são apenas as populações que determinam o tema Outros dizem que há sempre uma adequação a ser estabelecida entre as expectativas da população e as da equipe pesquisadores A nosso ver deve haver entendimento Um tema não interessar à população não poderá ser tratado de modo parti 51 cipativo Um tema que não interessar aos pesquisadores não será levado a sério e eles não desempenharão um papel eficiente O acordo entre participantes e entre pesquisadores e partici pantes deve ser procurado Quando houver conflitos de interesses a escolh do tema poderá se revelar delicada Quando possível o con senso e idel No amadurecimento do tema em discussões preliminares a equipe de pesquisadores desempenha um papel ativo Freqüentemente o tema é solicitado pelos atores da situação As vezes sendo mal colocado o problema prático relacionado com o tema inicial os pesquisadores precisam deslocar um pouco a perspectiva por meio de discussão No entanto devese deixar bem claro que o tema e as questões práticas a serem tratadas devem ser absoluta mente endosadas pelos partiipantes pois não poderiam participar numa pesquisa sobre temas distantes de suas preocupações Junto com as pessoas que solicitaram a pesquisa os pesquisa dores elucidam a natureza e as dimensões dos problemas designados pelo tema Tais problemas têm que ser definidos de modo bastante prtico e claro os olhos de todos os participantes porque a pes quisa sera orgamzada em torno da busca de soluções Uma vez selecionados o tema e os problemas iniciais os pes quisadores poderão enquadrálos num marco referencial mais amplo de natureza teórica Por exemplo no caso de um estudo de ação junto a uma população dita marginalizada os pesquisadores pro curam dominar a discussão acerca da problemática da marginali dade social e inclusive das críticas a que está submetida no contexto atual das ciências sociais De acordo com o que precede entre os diversos quadros teóricos disponíveis um marco específico é escolhido para nortear a pesquisa e principalmente atribuir relevância a certas categorias de dados a partir das quais serão esboçadas as interpretações e equacionadas as possíveis soluções É claro que nesse processo os pesquisadores não podem aprender tudo o que precisam apenas no contato com as populações Precisam de uma formação anterior a mais completa possível para estarem em condição de definir a problemática ade quada ao desenrolar da prática de pesquisa Nesta fase a pesquisa bibliográfica é necessária É possível também recorrer ao saber de diversos especialistas dos assuntos implicados desde que tenham inte resse em colaborar no projeto Quando os pesquisadores têm os objetivos de pesquisa bem defi nidos podem progredir no conhecimento teórico sem deixar de lado a resólução dos problemas práticos sem a qual a pesquisaação não fana sentido e não haveria participação O estudo se desenrola para 52 elamente ao acompanhamento da ação e dela depende a manutenção do interesse dos participantes Nesta concepção a pesquisa não é limitada aos aspectos práticos Não se trata de simples ação pela acão A mediação teóricoconceitua permanece operando em todas a fases de desenvolvimento do projeto 3 A COLOCAÇÃO DOS PROBLEMAS Na fase inicial de uma pesquisa seja qual for a sua estratégia ativa ou não junto com a definição dos temas e objetivos preci samos dar atenção à colocação dos principais problemas a partir dos quais a investigação será desencadeada Noutras palavras tratase de definir uma problemática na qual o tema escolhido adquira sentido Em termos gerais uma problemática pode ser considerada como a colocação dos problemas que se pretende resolver dentro de um certo campo teórico e prático Um mesmo tema ou assunto pode ser enquadrado em problemáticas diferentes Por exemplo problemas de saúde podem ser inseridos numa problemática de medicina ou numa problemática social ou política A colocação dos problemas é feita em universos diferentes A problemática é o modo de colocação do problema de acordo com o marco teóricoconceitua adotado Na pesquisa científica o problema ideal pode remeter à cons tatação de um fato real que não seja adequadamente explicdo pel conhecimento disponível Um outro tipo de problema remete as amb1 güidades internas existentes nas explicações anteriormente produzidas O porquê dessas situações constitui o problema inicial isto é o ponto de partida interrogativo da investigação Notamos de passagem que na clássica formulação de um problema são relacionados pelo menos dois elementos O problema diz respeito à relação entre um elemento real e um elemento explicativo inadequado ou à relação entre dois elementos explicativos concorrentes do mesmo fato Se houvesse apenas um elemento não seria um problema mas apenas um tema Em pesquisa social aplicada e em particular no caso da pesciui saação os problemas colocados são inicialmente de ordem prática Tratase de procurar soluções para se chegar a alcançar um ob1etivo ou realizar uma possível transformação dentro da situação observada Na sua formulação um problema desta natureza é colocado da se guinte forma a análise e delimitação da situação inicial b delineamento da situação final em função de critérios de de sejabilidade e de factibilidade 53 c identificação de todos os problemas a serem resolvidos para permitir a passagem de a a b d planejamento das ações correspondentes e execução e avaliação das ações Ese ipo de colocação de problemas práticos em contexto social e tambem e1contrado contextos técnicos Certos autores chegam a caracterizalo como tipico do modo de raciocínio tecnológico Seja como for consideramos que a colocação de problemas em termos de passagem d uma situação inicial para uma situação final é diferente da colocaço de problemas em metodologia comparativa na qual s trata fe ivestrgr as analogias ou as diferenças entre duas situa çoes reais diferenciadas apenas no tempo ou no espaco No caso da pasagem de uma situação inicial para uma situacão final tratase de protar uma situação desejada de acordo com objetivos definidos e os meios ou soluçoes que tornam possível a realizacão desta situa çao No aso comp1rativo é sobretudo uma questão de observacão cnstataçao escnçao e comparação das analogias semelhancas ou diferenças existentes entre duas situações reais polema de transformação colocado como passagem de uma situa2ao micial Pªª uma situação final ou desejada é definido em funçao da estratga ou dos interesses dos atores O que exige que as normas ou cntenos seiam constantemente evidenciados tanto na busca de soluçoes quanto n seleção de soluções a partir das quais serao desencadeadas etermmadas ações Não é a partir de simples levantamentos descritivos que uma ação pode ser encaminhada Há todo um trabalho sobre a normatividade muitas vezes negado como tal que é preciso equacionar no plano metodológico e acordo com o anterior é claro que para que haja realmente ncsidade de uma pesquisa os problemas colocados não devem ser triviais Se coletar rês º1 quatro informações bastasse para resolver u problema do diaadia ou para tomar uma decisão rotineira na vid de 11ma associão não precisaríamos desencadear um processo d mvestigaçao e aça Na fase de colocação dos problemas é neces sano testar u discuti a relevância científica e prática do que está sendo pesqusdo Assim é possível redirecionar a pesquisa ou até tomar a decisao de suspendêla 4 O LUGAR DA TEORIA Por ter uma vocação de pesquisa prática a pesquisaação é freµentemente vsta coo uma concepção empirista da pesquisa social na qal nao havna mmtas implicações teóricas Bastaria 0 bom senso dos pesqmsadores e a sabedoria popular dos partici 54 pantes na identificação de problemas concretos e na busca de soluções No entanto como já foi mencionado anteriormente existem casos nos quais a preocupação teórica ocupa um espaço mais impor tante entre as diferentes preocupações dos pesquisadores Isto ocorre em particular quando os problemas tratados não são evidentes no início e dão lugar a diversas problemáticas sociológicas ou outras Assim por exemplo não nos parece possível encaminhar uma pes quisaação com participação de migrantes sem se ter uma visão clara do quadro de interpretação dos fenômenos migratórios No contexto organizacional não é possível desenvolver uma pesquisa independen temente de um quadro teórico de natureza sociológica tecnológica ou política No contexto das comunicações não parece viável uma pesquisa sobre a recepção das mensagens por parte de determinadas categorias de público se não houver uma teoria dos meios de comunicação De modo geral podemos considerar que o projeto de pesquisa ação precisa ser articulado dentro de uma problemática com um quadro de referência teórica adaptado aos diferentes setores edu cação organização comunicação saúde trabalho moradia vida po lítica e sindical lazer etc O papel da teoria consiste em gerar idéias hipóteses ou diretrizes para orientar a pesquisa e as interpretações No plano da organização prática da pesquisa os pesquisadores devem ficar atentos para que a discussão teórica não desestimule e não afete os participantes que não dispõem de uma formação teórica Certos elementos teóricos deverão ser adaptados e traduzidos em linguagem comum para permitir um certo nível de compreensão Além disso quando a discussão teórica for incompatível com o nível de entendimento dos participantes podese prever a organiza ção de grupos de estudos separados do seminário central cujas con clusões serão encaminhadas e discutidas em termos mais acessíveis A concepção da relação entre pesquisaação e teoria sociológica não é de caráter forçado o que quer dizer que não se devem construir grandes teorias apenas na base das informações alcan çadas e coletivamente interpretadas no processo de pesquisa local A construção de uma teoria não depende apenas da informa ção colhida por intermédio de técnicas empíricas A informação cir cunstanciada que é trazida ao seminário é interpretada à luz de uma teoria É claro que se a informação obtida de modo confiável chegar a pôr em dúvida certos elementos de uma teoria conhecida o pro blema deverá ser objeto de estudos aprofundados por parte dos pesquisadores que procurarão outros tipos de explicação a serem cotejados com as informações obtidas em novas situações empíricas 55 5 HIPÓTESES Como foi sugerido na discussão acerca das formas de raciocínio e de arguznena7ão no seio da pesquisa social o uso de um proce dunento h1potet1co não está excluído só que de maneira suavizada Arsentaremos aqui alguns aspectos desta concepção ao nível d pratica Uma hipótse é simplesente definida como suposição formu lada pelo pesqmsaor a esperto de possíveis soluções a um problema coocado ia pesqmsa pnncrpalmente ao nível observacional Também existem poteses teóricas mas aqui abordamos a questão sobretudo m matena de observação e de ação A hipótese desempenha um rmporante papel na organização da pesquisa a partir da sua for mulçao º pesqusador identifica as informações necessárias evita a dspersao focahza determinados segmentos do campo de obser vaçao selecrona os dados etc Ao se negar a utilizar hipóteses inclusive sob a forma de dire trizes sm uma necessária mensuração precisa um pesquisador social se expoe ao nsco de produzir matérias confusas A formulação de hipóteses pertinentes depende de uma grande vaneade de fatores a problemática teórica na qual se movem os pesmsaores o quadro de referência cultural dos participantes os ms1ghts imprevisíveis surgidos na prática ou na discussão coletiva as analogias detectadas entre o problema sob observação e outro problemas anteriormente encontrados etc Mesmo uaido não se petede tabalhar com hipóteses rela cionando vanavers quantrfrcavers e preciso observar muitos cuidados na sua formulação A hipótese ou a diretriz deve ser formulada eni ternos claros e oncisos sem ambigüidade gramatical e designar os obietos em questao a respeito dos quais seja possível fornecer provas concretas ou argumentos convincentes favoráveis ou não Nesse ponto precisamos evitar a falta de especificidade das definições ado tadas no processo investigativo pois termos demasfadamente gerais pereiu egobar qualquer observação fatual como no caso do racrocimo magico ou dos horóscopos No contexto que nos interessa a formulação da hipóÍese não é ecessanamente de forma causal entre os elementos ou variáveis con sderados ão se trata de querer mostrar que X determina Y Para fms escntrvos a hipótese qualitativa é utilizada para organizar a pesqma m tomo de posíveis conexões ou implicações nãocausais mas suficientemente precisas para se estabelecer que X tem algo a ver com Y na siruação considerada 56 Além do plano descritivo a hipótese sob forma de diretriz é igualmente utilizada no plano normativo no que toca à orientação da ação com aspectos estratégicos e táticos Tratase de hipóteses sobre o modo de alcançar determinados objetivos sobre os meios de tomar a acão mais eficiente e sobre a avaliação dos possíveis efeitos desejads ou não A formulação deste tipo de hipóteses supõe que critérios ou normas de decisão ação e avaliação estejam clara mente definidos e evidenciados entre os pesquisadores e participan tes A verificação de tais hipóteses se dá exclusivamente na prática A justeza da hipótese acerca de uma norma passa pelo êxito da ação ou por uma constatação dos efeitos diretos ou indiretos dentro da situação em transformação Tanto no plano descritivo como no normativo as hipóteses ou diretrizes são sempre modificáveis ou substituíveis em função das informacões coletadas ou dos argumentos discutidos entre pesqui sadores e participantes Além disso lembramos que no planejamento de uma pesquisa não se encontra apenas uma hipótese e sim uma série de hipóteses articuladas em rede na qual diversas subhipóteses contribuem para sustentar uma hipótese principal Em outros casos se encontra uma polarização de duas hipóteses excludentes Em função das hipóteses ou diretrizes escolhidas os pesqui sadores e participantes sabem quais são as informações que são necessárias e as técnicas de coleta a serem utilizadas Na pesquisa ação recorrese a técnicas de coleta de grupo e aos mais diversos procedimentos inclusive questionário e entrevistas que freqüente mente são vistos com alguma suspeita por serem os mstrumentos prediletos da pesquisa convencional Mediante um controle metodo lógico adequado essas técnicas são no entanto utilizadas como instrumentos de captação auxiliar Na sua concepção do chamado inquérito conscientizante C Humbert e J Merlo utilizam explicitamente o esquema de formu lação de hipóteses e de comprovação por meio de indicadores e de respostas a questionários Humbert 1978 Merlo 1982 Este esquema consiste na definição de um tema para cada um dos grupos de pes quisa O tema remete a um objetoproblema específico a ser pes quisado Por exemplo o tema da nãorentabilidade das pequenas propriedades rurais considerado pelos autores na França pode ser estudado em função do objetoproblema constituído pelo sistema de crédito rural O objeto é analisado a partir de uma seleção de hipóteses Uma hipótese é definida como tentativa de resposta ope rativa à questão contida no objeto As hipóteses são selecionadas em função da possibilidade de comprovação e de sua pertinência 57 com relação à ação Cada hipótese é verificada a partir de indica dores definidos como elementos observáveis e mensuráveis esco lhidos em função de sua capacidade de verificação da hipótese No exemplo considerado os indicadores são os critérios de atribui ção de crédito aos pequenos produtores A infprmacão necessária para cada inqicador é levantada por meio de diferente instrumentos de pesquisa entre os quais as técnicas de questionário e de entre vistas são as mais conhecidas Os dados levantados são computados de modo a mostrar a hipótese que tem maior sustentação empírica Os resultados da pes quisa são em seguida amplamente divulgados no seio da população 6 SEMINÁRIO A partir do momento em que os pesquisadores e os interes sados na pesqisa estão de acordo sobre os objetivos e os problemas a serem exammados começa a constituição dos grupos que irão con duzir a investigação e o conjunto do processo A técnica principal ao redor da qual as outras gravitam é a do seminário O seminário central reúne os principais membros da equipe de pesquisadores e membros significativos dos grupos implicados no problema sob observação O papel do seminário consiste em exa minar discutir e tomar decisões acerca do processo de investigação O seminário desempenha também a função de coordenar as ativi dades dos grupossatélites grupos de estudos especializados gru pos de observação informantes consultores etc Os grupos de observação são constituídos por pesquisadores e por participantes comuns que podem chegar a desempenhar a função de pesquisador Os grupos de observação podem recorrer a diversas técnicas de pesquisa individual ou coletiva O seminário centraliza todas as informações coletadas e discute as interpretações Suas reuniões dão lugar a atas Com as informações reunidas e dentro da perspec tiva teórica adotada o seminário elabora diretrizes de pesquisa hipó teses e diretrizes de ação submetidas à aprovação dos interessados que serão testadas na prática dos atores considerados As acões real mente desencadeadas são objeto de permanente acompanhmento e de avaliações periódicas A partir do conjunto de informação pro cessada o seminário produz material Parte deste material é de natu reza teórica análise conceituai etc outra parte é de natureza empírica levantamentos análise da situação etc Outra parte ainda às vezes elaborada com colaboradores externos é o material de divulgação de natureza didática ou informativa destinado ao con junto da população implicada nos problemas abordados 58 Resumindo algumas das principais tarefas do seminário in dicamos 1 Definir o tema e equacionar os problemas para os quais a pesquisa foi solicitada 2 Elaborar a problemática na qual serão tratados os problemas e as correspondentes hipóteses de pesquisa 3 Constituir os grupos de estudos e equipes de pesquisa Coorde nar suas atividades 4 Centralizar as informações provenientes das diversas fontes e grupos 5 Elaborar as interpretações 6 Buscar soluções e definir diretrizes de ação 7 Acompanhar e avaliar as ações 8 Divulgar os resultados pelos canais apropriados Dentro do funcionamento normal do seminário o papel dos pesquisadores Ortsman 1978 230 consiste em 1 Colocar à disposição dos participantes os conhecimentos de ordem teórica ou prática para facilitar a discussão dos problemas 2 Elaborar as atas das reuniões elaborar os registros de infor mação coletada e os relatórios de síntese 3 Em estreita colaboração com os demais participantes con ceber e aplicar no desenvolvimento do projeto modalidades de ação 4 Participar numa reflexão global para eventuais generaliza cões e discussão dos resultados no quadro mais abrangente das iências sociais ou de outras disciplinas implicadas no problema O trabalho em seminário exige alguns esclarecimentos comple mentares Quanto à constituição do seminário é preciso tomar muito cuidado na designação dos membros e de suas atribuições Quando a pesquisa é financiada por uma coletividade homogênea não há muitos problemas o seminário conterá os principais pesquisadores e os membros da coletividade que forem julgados mais aptos para tratar os problemas considerados Em geral são líderes informais Quando o seminário é organizado em meio heterogêneo as questões da representação das diversas partes podem se tornar delicadas Em geral são resolvidas por meio de negociações No contexto mili tante a seleção dos membros é principalmente de ordem política Em todos os casos os pesquisadores devem promover a maior trans parência como condição da continuidade da pesquisa Outra precaução diz respeito ao acesso à informação Os prin cipais assuntos debatidos em cada sessão são descritos sob forma 59 de atas e analisados em seguida As atas e relatórios são concebi dos e arquivados de modo adequado a uma fácil consulta por parte de qualquer participante Em certas situações conflitivas para evitar possíveis manipulações certas informações devem ser retidas pelos organizadores da pesquisa A difusão de informação é objeto de um acordo entre iversas partes implicadas na pesquisa Uma última exigência está relacionada com o preparo dos pes quisadores e dos participantes O que parece muito simples mas na prática não o é Para aplicarem técnicas de pesquisa e de tra balho em grupos dentro da proposta de pesquisaação é neces sário um certo preparo didático Organizar um seminário de pes quisa não consiste apenas em reunir algumas pessoas ao redor de uma mesa O trabalho deve ser metodicamente organizado sob pena de não funcionar Não basta deixar falar aquelas que falam muito É preciso em cada instante procurar informações pertinentes rela cionadas com o assunto focalizado Há espaço para toda uma apren dizagem de estudo coletiva a ser desenvolvida nas situações de pes quisa A real aprendizagem das técnicas do trabalho de pesquisa é muito importante Sem ela os belos discursos sobre teoria e prá tica permanecem inoperantes Devido ao uso de procedimentos argumentativos nas sessões do seminário vale a pena acrescentarmos uma observação sobre a par ticipação efetiva dos diversos tipos de interlocutores De acordo com a teoria geral da argumentação a presença física dos participantes deliberantes ou não exerce um efeito argumentativo sobre o que está sendo discutido e sobre as eventuais conclusões Perelman 1976 154 ss Dando um exemplo podemos imaginar que dentro de unia sessão de estudo sobre a fome os argumentos apresentados por famintos de verdade exerceriam um efeito seletivo muito mais con vincente do que qualquer leitura de dados numéricos dos anuários estatísticos oficiais O efeito argumentativo ligado à presença física dos interlocutores ou testemunhas é bem conhecido dos juízes e advogados nos tribunais Nas sessões do seminário d pesquisaação esses efeitos também existem No entanto os pesqmsadores devem ficar atentos a possíveis envolvimentos emocionais de alguns dos participantes suscetíveis de fazer perder aos demais o sentido da objetividade 7 CAMPO DE OBSERVAÇÃO AMOSTRAGEM E REPRESENTATIVIDADE QUALITATIVA A delimitação do campo de observação empírica no qual se aplica o tema da pesquisa é objeto de discussão entre os interessa 60 dos e os pesquisadores Uma pesquisaação pode abranger uma co munidade geograficamente concentrada favela ou espalhada cam poneses Em alguns casos a delimitação empírica é relacionada com um quadro de atuação como no caso de uma instituição univer sidade etc Quando o tamanho do campo delimitado é muito grande co locase a questão da amostragem e da representatividade A necessidade de construir amostras para a observação de uma parte representativa do conjunto da população considerada na pes quisaação é assunto controvertido Existem várias posições a A primeira exclui a pesquisa por amostra Seus partidários consideram que para exercer um efeito conscientizador e de mobi lização em torno de uma ação coletiva a pesquisa deve abranger o conjunto da população que será consultada sob forma de questio nários ou de discussões em grupos Tal postura é viável quando a população é de tamanho limitado Quando se trata de milhares de pessoas seria preciso prever um esquema organizativo dotado de muitos pesquisadores e os problemas de controle da execução da pesquisa se tornariam rapidamente complicados Numa pesquisa in terna sobre os problemas universitários que foi organizada na PUC de Campinas os organizadores conseguiram desenvolver uma pes quisaação sem amostra abrangendo quase a totalidade dos 18 mil alunos em 1982 No caso particular de uma universidade é factível controlar a coleta de dados a partir das divisões já existentes facul dades departamentos turmas etc recorrendo a representantes de cada unidade Numa população mais difusa não compartimentada a coleta seria muito mais complicada do que no contexto universitário Acreditamos que a posição de exaustividade é válida no caso de uma população de dimensão compatível com a carga de trabalho dos pesquisadores A solução do problema deve levar também em consideração a facilidade de acesso às pessoas da população e suas condições de participação Por exemplo é mais fácil estabelecer con tatos de pesquisa com 1 O mil alunos de uma universidade do que com 10 mil trabalhadores de uma região suburbana b Uma segunda posição consiste em recomendar o Uso da amos tragem De acordo com a concepção da sondagem a pesquisa é etuada dentro de um pequeno número de unidades pessoas ou tras que é estatisticamente representativo do conjunto da popu ão A determinação do tamanho da amostra o controle de sua esentatividade e o cálculo da confiabilidade são realizados a tir de regras estatísticas Na concepção da pesquisaação este edimento apresenta o inconveniente de não permitir efeitos de ientização As unidades são escolhidas aleatoriamente e são 1 mantidas em isolamento De fato se acontecer alguma forma de conscientização entre os indivíduos de uma amostra isto normal mente não incide sobre a população global Os partidários da pes quisaação resolvem este problema por meio da difusão de infor mações a grande maioria da população sabe que uma pesquisa é realizada por meio de informações em diversos canais de comuni cação formais ou informais As ações são também divulgadas e dão lugar a operações de popularização c Uma terceira posição consiste na valorização de critérios de representatividade qualitativa Na prática da pesquisa social a re presentatividade dos grupos investigados se dá por critérios quanti tativos amostragem estaticamente controlada e por critérios quali tativos interpretativa ou argumentativamente controlados Mesmo em pesquisa convencional ao planejarem amostras de pessoas a serem entrevistadas com alguma profundidade os pesquisadores costumam recorrer às chamadas amostras intencionais Tratase de um pe queno número de pessoas que são escolhidas intencionalmente em função da relevância que elas apresentam em relação a um deter minado assunto Este princípio é sistematicamente aplicado no caso da pesquisaação Pessoas ou grupos são escolhidos em função de sua representatividade social dentro da situação considerada É claro que isto infringe o princípio da aleatoriedade que em geral é considerado como condição da objetividade De acordo com este princípio todas as unidades da população têm a mesma proba bilidade de ser escolhidas A priori a informação gerada por cada unidade investigada possui a mesma relevância No caso diferente o princípio de intencionalidade é adequado no contexto da pesquisa social com ênfase nos aspectos qualitativos onde todas as unidades não são consideradas como equivalentes ou de relevância igual Existe neste caso um tratamento qualitativo da interpretação do material captado em unidades qualitativamente representativas do conjunto do universo e de modo diferenciado em função das carac terísticas do problema investigado Na pesquisaação a representati vidade das pessoas e dos grupos significativos é julgada e a escolha é decidida ao nível do seminário central a partir do consenso dos pesquisadores e participantes Na aplicação do princípio de intencionalidade podem ocorrer distorcões relacionadas com as preferências individuais mas estas são cntroladas e corrigidas por meio da discussão e a partir comparações entre as observações obtidas em unidades significativ mente gferentes A questão da representatividade qualitativa pode ser exem ficada no contexto sóciopolítico da ação operáúa A pesquisa 62 dicional por sondagem levaria em conta uma amostra de trabalha dores escolhidos aleatoriamente em fichários de empregos ou a partir de uma seleção de locais de moradia Qualquer trabalhador teria mais ou menos a mesma probabilidade de ser entrevistado Por sua vez numa pesquisa com amostra intencional seriam selecionados trabalhadores ou grupos de trabalhadores que são conhecidos como elementos ativos do movimento sindical ou político A sua represen tatividade seria significativa das tendências favoráveis ou contrárias a determinados objetivos em discussão A informação que esses tra balhadores são capazes de transmitir é muito mais rica que a que se pode alcançar por meio de questionários comuns f claro que a informação obtida não é generalizável ao nível dei conjunto da popu lação mas há substância necessária à percepção da dinâmica do movimento Além disso para se ter uma visão mais completa pode se contrabalançar a representação dos elementos mais avançados por um estudo particular sobre os elementos tidos como atrasados na dinâmica do fenômeno estudado Tais elementos são igualmente selecionados por meio de amostra intencional Como já notamos em outra oportunidade Thiollent 1980 b 6379 o critério de representatividade dos grupos investigados não é necessariamente quantitativo É importante dentro de certos pa râmetros quantitativos levar em conta a representatividade sócio política de grupos ou de opiniões que são minoritários em termos numéricos mas expressivos de uma situação em termos ideológicos e políticos A representatividade expressiva pressupõe critérios de avaliação política no seio da conjuntura A importância social dos grupos mais avançados é maior do que seu peso numérico no onjunto da população As idéias de uma minoria podem se tornar xpressivamente mais relevantes do que a aparente ausência de éias ou opiniões da maioria Seu peso significativo não se limita uma questão de freqüência observacional Por isso as pesquisas adas em amostras estatisticamente representativas têm tendência ar uma visão bastante conformista da realidade seus critérios falsamente igualitários quando postulam que cada indivíduo vale um e que cada opinião é equivalente a qualquer outra Os cri s numéricos podem chegar a fazer desaparecer as minorias A ver a representatividade expressiva ou qualitativa é dada por valiação da relevância política dos grupos e das idéias que dentro de uma certa conjuntura ou movimento Tratase ar a uma representação de ordem cognitiva sociológica e ente fundamentada com possível controle ou retificacão de no decorrer da investigação 63 8 COLETA DE DADOS A coleta de dados é efetuada por grupos de observação e pes quisadores sob controle do seminário central As principais técnicas utilizadas são a entrevista coletiva nos locais de moradia ou de tra balho e a entrevista individual aplicada de modo aprofundado Os locais de investigação e os indivíduos ou grupos são escolhidos em função do plano de amostragem com controle estatístico ou com critérios intencionais veja item anterior Ao lado dessas técnicas também são utilizáveis questionários convencionais que são apli cáveis em maior escala No que diz respeito à informação já exis tente diversas técnicas documentais permitem resgatar e analisar o conteúdo de arquivos ou de jornais Alguns pesquisadores recorrem também a técnicas antropológicas observação participante diários de campo histórias de vida etc Alguns autores recomendam técnicas de grupo tais como o sociodrama com o qual é possível reproduzir certas situações sociais que vivem os participantes Por exemplo as situações marcadas pelas relações de desigualdade empregadopatrão mulhermarido etc Nessa reprodução simbólica são incorporadas formas de expressão cultural próprias aos grupos considerados Sejam quais forem as técnicas utilizadas os grupos de obser vação compostos de pesquisadores e de participantes comuns pro curam a informação que é julgada necessária para o andamento da pesquisa respondendo a solicitações do seminário central É claro que os grupos podem fornecer outras informações que não estavam previstas o que permite aumentar a riqueza das descrições Quando é necessária existe uma divisão do trabalho entre os diversos grupos de observação Assim dentro de uma população dada um grupo pode observar assuntos relacionados com a saúde oufro com a habitação etc Em cada grupo de observação há mem bros da coletividade e pesquisadores profissionais Os membros da coletividade ou pelo menos alguns deles chegam a exercer funções de pesquisador Para isto é organizado um treinamento específico e adaptado ao contexto cultural considerado Todas as informações coletadas pelos diversos grupos de obser vação e pesquisadores de campo são transferidas ao seminário cen tral onde são discutidas analisadas interpretadas etc Na concepção de roteiros de entrevistas questionários ou de outros instrumentos de coleta de dados em pesquisa alternativa sempre se coloca a questão do papel atribuído aos elementos expli cativos0associados à obtenção de informação esclarecida por parte dos respondentes Consideramos que tais elementos não visam orien tar as respostas em função das expectativas dos pesquisadores e sim 64 escoiiona as pessoas para que não respondam apenas com faci lidade tsto e como se a sua resposta fosse um simples reflexo de senso omm ou dos efeitos do condicionamento pelos meios de comumcaçao de massa As explicações são sugeridas aos respon denespara 9ue tenham u papel ativo na investigação As expli cçes onststem em sugenr comparações ou outros tipos de racio 10 d nafconclus1vos que permitam aos respondentes uma reflexão m tvt ua ou coletiva a respeito dos fatos observados e cuja inter pretaçao e obiet de questionamento Esses aspectos explicativos pode estar relac10nados com o objetivo de conscientizacão e ª1phados numa fase yosterior pela divulgação dos resuÍtado stderos q11e efeito de explicação contido na fase propria eite mvest1gatoa constitui uma importante característica metodo log1ca nos d1spos1t1vos de observaçãoquestionamento Um outr Prblema freqüentemente discutido diz respeito ao uso de questrnnanos ou formulários Como se sabe na convenc 1 t pesqmsa 1012a at mstrumentos desempenham um importante pa el na otençao de mformação sobre as características sócioeconômias e opmattva d populao Na pesquisaação nem sempre são a li cados qiesttoarrns cod1f1cados pois quando a populacão é de e queia d1mnsao e su estruturação em grupos permite a fácil reali zaçao de dscussoes e psível obter informações principalmente de modo coletivo sem admm1stração de questionários individuais No ntant quand a pop0ação é ampla e o objetivo da descrição e analtse da mformaçao é bem definido e detalhado 0 f nano geralmente é indispensável ques to Os princípios gerais da elaboração de questionários e formu ano convencionais são úteis para que os pesquisadores possam don1ar os aspectos técnicos da concepção da formulacão e da cd1f1caçao No contexto particular da pesquisacação os questioná rios obedecem a algumas das regras dos questionários comuns cla reza das perguntas Jerguitas fechadas escolha múltipla perguntas aberts ec odvta a algumas diferenças Na pesquisaação 0 quest1onan nao e sif1c1ente em si mesmo Ele traz informações sobro umvero ons1derado que serão analisadas e discutidas em reumoes e semmanos com a participação de pessoas representativas O procssatreito estatístico das respostas com computadores ou não nunc e suf1c1ente O processamento adequado sempre requer um funJªº argumentativa dando relevo e conteúdo social às interpre taçoes nternamente a concepção do questionário é intimamente rela c10n a cn º tema e os iroblemas que forem levantados nas dis cussoes ii1cta1s e co s htpteses ou diretrizes correspondentes A formulaçao do questrnnano da lugar a discussões com diversos tipos 65 de articipantes com os entrevistadores e os pesquisadores extraídos do eio social investigado Antes de ser aplicdo em grande escaa essoas selecionadas na amostra ou mtenc1onalmente o questio rf 0 é testado ao nível de um pequeno númer de pssoas repre sentativas 0 que permite melhorar a formulaçao e tirar algumas ambigüidades de linguagem 9 APRENDIZAGEM Na pesquisaacão uma capacidade de aprendizagem é associada ao processo de investlgação Isto pode ser rensdo no contexto das pesquisas em educação comunicação orgamzaçao ou outras O fto de associar pesquisaação e aprendizage sem uv1a possm ma10r relevância na pesquisa educacional mas e tambem válido nos outros casos As pesquisas em educação comunicação e organfzação acom anham as acões de educar comunicar e orgamzat Os atores se11 p re têm de gerar utilizar informações e também onenar a açao fomar decisões etc Isto faz parte tanto da atividade Planepda quanto da atividade cotidiana e não pode deixar de ser diretamente oser vado na pesquisaação As ações investigadas envolve produçao e circulacão de informação elucidação e tomada de dec1soes e outros aspectós supondo uma capacidade de apre1izagem ds participante Estes já possuem essa capacidade adqumda na ativ1ade rorma Nas condições peculiares da pesquisaaçã esa capac1ade e apro veitada e enriquecida em função das ex1gencias da açao em torno da qual se desenrola a investigação Para designar 0 tipo de colaboração que se estabelece entre P quisadores e participantes do meio observado é algumas vezes utili zada a nocão de estrutura de aprendizagem conjunta No contexto da es uiaacão associada a uma forma de consultona em assuntos técco com no caso da análise de sistemas d mformaçao s trutura de aprendizagem conjunta reúie os analistas e os usuar1os na busca de soluções apropriadas Jobim Filho 1979 De modo geral as diversas categorias e pesqusadores t aprendem alguma coisa ao investigar e discutir poss1e1s s euos resultados oferecem novos ensinaeno A aprendiz gm dos participantes é facilitada pelas contnbu1çs dos pesq1 sadores e eventualmente pela colaboração temporana de espec1 listas em assuntos técnicos cujo coiihecimnto for utll o Jrup Em alguns casos a aprendizagem e sistematicamente orgamza a P d ou de grupo de estudos complementares e t me10 e semmanos bém pela divulgação de material didatlco 66 Segundo O Ortsman 1978 233 o papel dos especialistas que intervêm consiste em facilitar a aprendizagem dos participantes de diferentes maneiras pela restituição de informação pelos modos de discussão que conseguem promover pelas modalidades de for mação propostas e pelas negociações que estabelecem para evitar que certas partes implicadas na situação não sejam eliminadas da discussão 10 SABER FORMALSABER INFORMAL Dentro da concepção da pesquisaação o estudo da relação enfre saber formal e saber informal visa estabelecer ou melhorar a estru tura de comunicação entre os dois universos culturais o dos espe cialistas e o dos interessados Para simplificar incluímos entre os especialistas os técnicos e os pesquisadores Em certos casos quando é grande a distância entre técnicos e pesquisadores o problema abran ge o relacionamento de três universos Eventualmente o problema é mais complicado quando existem diversas categorias de população diversas categorias de pesquisadores e de outros especialistas envol vidos no assunto Para fins de exposição didática vamos reduzir o problema a uma relação entre saber formal dos especialistas dotado de certa capacidade de abstração e saber informal baseado na experiência concreta dos participantes comuns Deixamos de lado o fato de que os especialistas também possuem saber informal e que os partici pantes leigos têm freqüentemente alguma faculdade de emitir hipóteses ou de generalizar Todavia o fato é que existe o problema da diferença dos dois universos que se manifesta em dificuldades de compreensão mútua De acordo com a postura tradicional muitos pesquisadores con sideram que de um lado os membros das classes populares não sabem nada não têm cultura não têm educação não dominam racio cínios abstratos só podem dar opiniões e por outro lado os espe dalistas sabem tudo e nunca erram Este tipo de postura unilateral é incompatível com a orientação alternativa que se encontra na pesquisaação e pesquisa participante O participante comum conhece os problemas e as situações nas uais está vivendo Por exemplo o pequeno produtor rural conhece rias exigências naturais e econômicas às quais ele costuma se subme por experiência De modo geral quando existem condições para a expressão o saber popular é rico espontâneo muito apropriado tuação local Porém sendo marcado por crenças e tradições é iciente para que as pessoas encarem rápidas transformações 67 Por sua vez o saber do especialista é sempre incopleto não se aplica satisfatoriamente a todas as situações Para que isto coneça 0 especialista precisa estabelecer alguma forma de comumcaçao e de intercompreensão com os agentes do saber popular Na busca de soluções aos problemas colocados os psquisado res especifilisfas e participantes devem chegar a um relacionamento adquado entre saber formal e saber informl Tal relcionanento pode ser estudado a nível sofisticado a parir de os1deraçoes de psicologia da cognição psicologia social sc1ohi1stica etc Como a nossa preocupação é aqui de ordem mis pratica vamos sugerir uma técnica bastante rudimentar que consiste em comparar a tema tica do especialista e a do participante comum Num primeiro momento os participantes são levados a des crever a situacão ou o problema que estão focalizando com aspectos de conhecimeto busca de explicações e de ação busca de solu ções A descrição dá lugar a uma lisa de te11as que são ponerados em função da relevância que lhes e atnbmda pelos prt1c1pats Por sua vez os especialistas estabelecem a sua prpn tematica relativa ao mesmo problema ou assunto com md1caçao de sua ponderação Em seguida as duas temáticas são comparaas procurandose mostrar zonas de compatibilidade e de mcompat1hthdade tto ao nível da listagem como no da ponderação ore d pnondade Na listagem observase que existem difeenyªs hmsticas Éneces sário estabelecer correspondências perfeitas ou imperfeitas entre a terminologia popular e a terminologia erudita Para compreender as diferenças é preciso sclarecer os press postos de cada tema Daremos um exemplo retirado de im de01 mento oral de um técnico da Pesagro Campos RJ sumario relatwo à comparação das representações técnicas de peqllenos proutres de arroz do norte fluminense com as representaçoes dos tcmcos agrônomos Entre os diferentes temas associados ao culttvo do arroz aparece o da palha e de sua utilização uma vez cohido o arroz Na representação do pequeno produtor a melhor soluçao con siste em queimar a palha antes de trabalhar a terra Na representa ção dos técnicos a melhor solução seria incorpoar a palm ao solo Procurando estabelecer os pressupostos desta d1veriiencia stabele cese que na representação do produtr a questa e essenc1ment mecânica pois a palha dificulta a técma de araçao com traçao am mal que ele utiliza O esforço precisaria ser bem superior a forç do animal Enquanto na representação d técnico o pressuposto e de natureza bioquímica pois a decomposiçao da palha no solo ena 68 matéria orgânica fertilizante Este exemplo só mostra uma diver gência acerca de um assunto técnico A partir da comparação das temáticas é possível constatar as divergências como também as convergências as diferencas de pon deração relacionadas com quaisquer aspectos da vida scial econô mica ou política É de grande interesse igualmente estudar as dife renças de linguagem destacando aquelas que são obstáculos à inter copreensão Não se trata apenas de fazer com que os participantes aceitem pontos de vista ou noções que não pertenciam ao seu uni verso de representações Do contato com este último os especia lrstas podem alterar a sua própria representação no sentido de enri quecer completar ou concretizar o conteúdo do que eles conheciam somente em termos gerais A técnica da comparação das temáticas pode ser aplicada ao mvel de pequenos grupos de estudos com participação de pesqui sadores e membros da população considerada Também é possível recorrer a questionários a serem aplicados a um maior número de pessoas ou a uma amostra representativa O uso da técnica de comparação não resolve todos os proble mas da relação entre saber formal e saber informal É apenas um ponto de partida que consiste em mapear os dois universos de representação e em buscar meios de intercompreensão 11 PLANO DE AÇÃO Para correspondr ao conjunto dos seus objetivos a pesquisa açao eve se cncretiar em filma forma de ação planejada objeto de analrse dehberaçao e avalração Contrariamente à opinião de alguns pesquisadores que utilizam a denominação pesquisaação para designar qualquer tipo de conversa informal ou batepapo com pequenos grupos de trabalhadores ou moradores de um local cosdeamos que a formulação de um plano de ação constitui um exgeci fundental En geral tratase de uma ação na qual os pnicipars participantes sao os membros da situação ou da organi iaçao sob observação A iscussã informal com pequenos grupos e sempre um passo necessano prmcipalmente na fase exploratória da pesqmsa mas nao chega a caracterizar o conteúdo da proposta metodológica no seu conjunto A elaboração do plano de ação consiste em definir com precisão a Quem são os atores ou as unidades de intervenção b Como se relacionam os atores e as instituições convergên atritos conflito aberto 69 c Quem toma as decisões d Quais são os objetivos ou metas tangíveis da ação e os critérios de sua avaliação e Como dar continuidade à ação apesar das dificuldades f Como assegurar a participação da população e incorporar suas sugestões g Como controlar o conjunto do processo e avaliar os resultados Alguns autores têm mantido uma relativa confusão acerca do papel dos participantes ao darem a impressão de que o principal ator seria o próprio pesquisador De acordo com a nossa compre ensão do assunto o principal ator é quem faz ou quem está efeti vamente interessado na ação O pesquisador desempenha um papel auxiliar ou de tipo assessoramento embora haja situações nas quais os pesquisadores precisam assumir maior envolvimento e res ponsabilidade em particular nas situações cercadas de obstáculos políticos ou outros A definição da ação e a avaliação das suas conseqüências dão lugar a um tipo de discussão que chamamos deliberação Como foi visto no Capítulo 1 a estrutura de raciocínio da pesquisaação apresenta aspectos argumentativos ou deliberativos Tais aspectos existem na colocação dos problemas na interpretação dos dados para fins comprobatórios e na definição das diretrizes de ação No que toca a este último ponto contrariamente à visão tradicional as propostas de ação ou as decisões a serem tomadas dentro de uma ação preexistente não são obtidas a partir de uma simples leitura de dados Não há neutralidade por parte dos pesquisadores e dos atores da situação A convicção a que podem chegar acerca da neces sidade ou da justeza de uma ação amadurece durante a deliberacão no seio do seminário e dos outros grupos participantes da pesquisa Na medida do possível os resultados das deliberações são obtidos por consenso Quando os pontos de vista são inconciliáveis as diver sas alternativas são respeitadas e registradas para futura continuação da discussão e eventualmente será organizada uma implementacão comparativa A ação corresponde ao que precisa ser feito ou transformado para realizar a solução de um determinado problema Dependendo do campo de atuação e da problemática adotada existem vários tipos de ação cuja tônica pode ser educativa comunicativa técnica polí tica cultural etc No caso particular da ação técnica como no da introdução de uma nova técnica no campo ou do resgate de uma antiga técnica é necessário levar em conta o aspecto sóciocul tural do seu contexto de uso 70 As implicações da ação aos níveis individuais e coletivos devem ser explicitadas e avaliadas em termos realistas evitando criar falsas expectativas entre os participantes no que diz respeito aos problemas da sociedade global 12 DIVULGAÇÃO EXTERNA flém do retorno da informação aos grupos implicados também e poss1vel mediante acordo prévio dos participantes divulgar a infor ação externamente em diferentes setores interessados A parte mais movadora pode ser inserida na discussão de trabalhos em ciências sociais e divulgada nos canais apropriados conferências con gressos etc Para satisfazer as exigências de divulgação ao nível dos meios populaes o treinamento do pesquisadores inclui técnicas de apre sentaçao de resultados tecmcas de comunicação por canais formais e informais técnicas de organização de debates públicos suportes audiovisuais etc A idéia de retorno da informação sobre os resultados aos mem bio da população no é objeto de consenso entre diversos parti danos da pesqmaaçao Alguns acham que a pesquisaação even tialmnte pesqmsaparticipante por ter exigido uma forte parti c1paçao da populaçao nos seus mecamsmos não precisa restituir a inormação Esta já estaria conhecida na hora da investigação pro priamne dita ara outr3s partidários desta orientação de pesquisa a restltu1çao da mformaçao e necessária justamente para permitir um efeit de viso de cmijunto ou de generalização que não seria poss1vel ao mvel da Slffiples captação de informacão A nosso ver antes do retorno há todo um trabalho de inves tigação e de interpretação dentro da problemática adotada e levando em conta a pesquisa com elementos explicativos e a discussão em grupos e no seminário central Esse trabalho exerce um efeito de síntee de todas as informações parciais coletadas e um efeito de convicção ente os participantes O retorno é importante para esten der o onhec1mento e fortalecer a convicção e não deve ser visto como Slffiples efeito de propaganda Tratase de fazer conhecer os resultados de uma pesquisa que por sua vez poderá gerar reacões e contribuir para a dinâmica da tomada de consciência e eventual mente sgerir icio de mais um ciclo de ação e de inestigação Os ªn1s de difuao correspondentes ao retorno da informação são vaave1s em fuçao das características de cada situação É possível utilzar os canais criados na ocasião da pesquisa grupos de obser vaçao mformantes etc A divulgação dos resultados deve ser feita 71 de modo compatível com o nível de compreensão dos destinatários Devese também prever meios e canais que permitam que a popu lação manifeste suas reações e eventuais sugestões No contexto par ticular da pesquisaação em comunicação quando se trata de pes quisa relacionada com a criação ou o funionamento de um eo de comunicação jornal rádio etc é poss1vel aproveitar o propno meio como instrumento de retorno da pesquisa Em conclusão parecenos desejável haver um rtrno da nfor mação entre os participantes que conversaram partlc1prm mves tigaram agiram etc Este retorno is fromover um visao e con junto É difícil imaginar que um md1viduo que esteja partlc1pando do processo tenha espontaneente aceso ao coijunto Os canais de divulgação sobretudo os mformais sao aproveitads ara forta lecer a tomada de consciência do conjunto da populaçao mtersaa não limitada aos participantes efetivos A tomada de consc1encia se desenvolve quando as pessoas descobrem que outras pessoas ou outros grupos vivem mais ou menos a mesma situação 72 Capítulo Ili ÁREAS DE APLICAÇÃO Em função de sua orientação prática a pesquisaação é voltada para diversificadas aplicações em diferentes áreas de atuação Sem reduzirmos a necessidade de uma constante reflexão teórica pode mos considerar que a pesquisaação opera principalmente como pes quisa aplicada em suas áreas prediletas que são educação comuni cação social serviço social organização tecnologia em particular no meio rural e práticas políticas e sindicais Por enquanto apre sentaremos algumas indicações relacionadas com essas áreas empiri camente constituídas Outras áreas poderiam eventualmente estar incluídas tais como urbanismo e saúde mas ainda faltam informa ções sobre experiências ou tendências No nosso levantamento das áreas de aplicação não pretendemos mostrar exemplos de boa ou de má pesquisaação Queremos evitar dar lições aos especialistas de cada área que por defini ção são os mais qualificados para discutir e resolver os problemas metodológicos de suas atividades específicas Só queremos sugerir para a discussão numa rápida pincelada algumas informações e idéias sintéticas que estão relacionadas com a aplicação da orien tação de pesquisaação em cada uma das áreas mencionadas Além disso observamos que em geral os pesquisadores das diversas áreas se ignoram e desconhecem a pesquisaação fora de sua especialidade Pesquisadores envolvidos em práticas políticas acham freqüentemente estranho o fato de que a pesquisaaçãq seja também uma proposta metodológica para as áreas organizacionais e tecno lógicas A nosso ver um certo recuo é necessário e um sobrevôo nas diversas áreas nos permite apontar a diversidade as divergências e as convergências que animam as propostas de pesquisaação 73 1 EDUCAÇÃO Na área educacional em diversos países existe uma tradição de pesquisa participativa e de pesquisaação em matéria de formação de adultos educação popular formação sindical etc No setor con vencional da educação 1º e 2º graus a aplicação dessas orienta ções é mais ràra e difícil talvez por causa de resistências institu cionais e de hábitos professorais No entanto nos últimos tempos notase uma maior disponibilidade que se relaciona talvez com a desilusão de muitos profissionais para com as pesquisas conven cionais No estudo da metodologia da pesquisa educacional existe um amplo debate a respeito da dita oposição entre a tendência quanti tativa baseada na estatística e as tendências qualitativas baseadas em diversas filosofias Temos indicado que a oposição entre quan titativismo e qualitativismo é freqüentemente um falso debate Quando seus excessos forem adequadamente criticados nos será pos sível articular os aspectos qualitativos e quantitativos do conheci mento dando conta do real Thiollent 1984 c 4550 Um outro tema amplamente debatido diz respeito ao uso de métodos participativos e ao uso da pesquisaação em contexto edu cacional Uma das mais difundidas justificativas consiste na consta tação de uma desilusão para com a metodologia convencional cujos resultados apesar de sua aparente precisão estão muito afastados dos problemas urgentes da situação atual da educação Por necessá rias que sejam revelamse insuficientes muitas das pesquisas que se limitam a uma simples descrição da situação ou a uma avaliação de rendimentos escolares No Brasil a pesquisa participante ocupa um espaço crescente na área de pesquisa educacional inclusive com apoio institucional Ela é principalmente concebida como metodologia derivada da obser vação antropológica e como forma de comprometimento dos pesqui sadores com causas populares relevantes Por sua vez a pesqmsa ação é algumas vezes distinguida da pesquisa participante pelo fato de focalizar ações ou transformações específicas que exigem um direcionamento bastante explicitado Como elemento de discussão retomaremos aqui algumas con siderações relacionadas com um possível papel da pesquisaação no contexto da reconstrução do sistema escolar Thiollent 1984 c 4550 Dentro de uma concepção do conhecimento que seja também ação podemos conceber e planejar pesquisas cujos objetivos não se limitem à descrição ou à avaliação No contexto da construção ou 74 da rconstrução do sit111ª de ensino não basta descrever e avaliar Precsamos produzrr ideias que antecipem o real ou que delineiem um ideal 1ese sentido os esquisadores precisam definir novos tipos de ex1gencias e de utilização do conhecimento para contribuírem para a transformação da situação Isto exige que as funcões sociais do coneimento sejam adequadamente controladas par favorecer as ond1çoes do seu uso efetivo Dentro de um equacionamento realista dos problemas educacionais tal controle visa minimizar os usos meramente burocráticos ou simbólicos e maximizar os usos realmente transformadores Com a orieitação netodológica da pesquisaação os pesquisa dores em educaçao estanam em condição de produzir informacões e conhecments de uso 11is efetivo inclusive ao nível pedagógico Tl onentaçao contnbmna para o esclarecimento das microssitua çoes escolares e para a definição de objetivos de acão pedagógica e de transformações mais abrangentes A pesquisaação promove a participação dos usuários do sistema escolar na busca de soluções aos seus problemas Este processo supõe ique os rsqmsadores dotem uma linguagem apropriada Os obje tivos teoncos da pesqmsa são constantemente reafirmados e afinados no contato com as situações abertas ao diálogo com os interessados na sua lmguagem popular Na reconstrução não se trata apenas de observar ou de des creve1 O aspecto principal é projetivo e remete à criação ou ao plneiament O problema consiste em saber como alcançar deter mmaos bJetlvs produzir eterminados efeitos conceber objetos orgamzaçoes praticas educacionais e suportes materiais com carac terísticas e critérios aceitos pelos grupos interessados A forma de raciocínio projetivo é diferente das formas de racio cínio explicativo que são relacionadas com a observacão de fatos No caso da projço press1põese que o pesquisador dispõe de urr conhec1meno prev10 a partir do qual serão resolvidos os problemas de conepçao do objeto de acordo com regras ou critérios a serem concretizados na discussão com os usuários Não é um método de otição de infoação ness caso particular é um método de inje çao de mformaçao na conf1guraçao do projeto Numa vião ecoistrtia a concepção das atividades pedagógi as e edicac10nais nao VISta cmo transmissão ou aplicação de mfomaça al conepçao possm uma dimensão conscientizadora Na mvestJgaçao associada ao processo de reconstrução elementos de tomada de consciência são levados em consideração nas próprias situa 75 L ções investigadas em particular entre os professores e na relação professores alunos Na fase de investigação uma reciclagem das idéias acompanha a descrição ou a explicação por meio de divulgação dos primeiros resultados A tomada de consciência não é somente um processo ex post concebido depois da divulgação dos resultados Este pro cesso é associado à própria geração de dados sob forma de ques tionamento pelo menos em escala reduzida No contexto das prá ticas educacionais vistas numa perspectiva transformadora e eman cipatória as idéias dão lugar a uma reciclagem que é diferente da formação da opinião pública pois não se trata de promover reações emocionais e sim disposições a conhecer e agir de modo racional Na reconstrução a pesquisa está inserida num processo de ca ráter conscientizador e comunicativo que não deve ser confundido com a simples propaganda Os pesquisadores estabelecem canais de investigação e de divulgação nos meios estudados nos quais a inte ração entre os grupos mais esclarecidos e menos esclarecidos gera e prepara mudanças coletivas nas representações comportamen tos e formas de ação Isto corresponde a um tipo de questionamento a partir do qual são levantados e discutidos os vários aspectos da realidade dos objetivos e dos critérios de transformação Ê necessário que os pesquisadores levem em conta os aspectos comunicativos na espontaneidade e no planejamento consciente de ações transformadoras Tal comunicação não é concebida como pro cesso unilateral de emissãotransmissãorecepção e sim coroo proces so multidirecionado e de ampla interação Este processo é normati vamente dirigido no sentido de fortalecer tendências criadoras e construtivas A questão normativa que sempre se manifesta na articulação da pesquisa e da ação é controlada pelos pesquisadores por meio da deliberação coletiva e submetida à aprovação dos grupos de edu cadores ou de alunos implicados De acordo com a perspectiva esboçada paralelamente à pes quisa haveria também produção de material didático gerada pelos participantes e para ser distribuído em escala maior 2 COMUNICAÇÃO A pesquisa em comunicação abrange uma multiplicidade de aspectos meios de comunicação de massa audiência grupos de in fluência imprensa jornalismo efeitos sobre o público recepção crí tica contexto político política governamental opinião pública cine 76 ma artes novas tecnologias f l etc Os enfoques podem se iacs r ig1osas práticas militantes sociológico psicológico semiológic1s tverlss econôico jurídico A no og1co pohtico etc ma10r parte da pesquisa em co do padrão da pesquisa empírica convecça e realizada dentro de alternativas está em discussão o entanto a busca Entre os métodos de pesquis lizados o pesquisador em com convenc1onal freqüentemente uti un1cacao recorre à d mao para conhecer 0 estado de pesquisa e opi esp1nto do públ entrevistas e questionários aplicados 1co por meio de a população Também são bastante 1m amostia epresentativa hse de conteúdo para qualific u i iza as as tecmcas de aná dos jorn ais ou de outros tiposarde idnterpretar o conteúdo manifesto e ocumentos Na pesquisa em comunicação guagens palavras imagens a sereU ªca enapi1ma é feita de lin modo que muitas vezes não est d p as e mterpretadas de um cija videnciação pode se tornar oido d valores estéticos e nencias comunicativas e artística p A d e patida para novas expe ciada quer à arte de co s imensao estética está asso mumcar quer à art d quer dizer que se trata da producão d e e iesqmsar o que mundo que é também reflexo d um determmado retrato do d e uma mtenc t utor Nesta perspectiva a área ªº es etJca do seu pro de intervencão situados a me10 ouhn1cativa está aberta a tipos t camm o da art 1pos que pertencem a uma de s f e ou ate mesmo a a forma audiovisual com suas tueas onnas ta como por exemplo cmcas propnas Com alcance estético ou não d de comunicação diferente para a eenolvemse várias tentativas dagens metodológicas A es uisaaa1 sao necssárias novas abar que está sendo cogitada espciàlm e uma orientação minoritária alternativa Mata 1981 725 e 19 el contexto d comunicação e de modo acoplado a dif t 50 comumcação popular Além disso a pesquisaacão eebyraas dlturais ou militantes de crítica à comunicacã de em iscuti a como possível meio massa A crítica dos meios de comunica da televisão deixou de ser uma ativldªaº de massa em particular círculos de intelectuais rad d de hmitada aos pequenos d d 1ca1s os anos 60 E t a or eni do dia de muitos centros de a cntica faz parte de orgamsmos internaciona1s T 1 psqu1sa mclus1ve com apoio ai capit ista a televisão difund a como e ad t d l m1ms ra a na sua forma logia consumista que se tor e uma cu tura comercial ou uma ideo d na um grave proble pruses o Terceiro Mundo AI di a em particular nos da televisão sobre a vida polítiem sod e mmto grande o impacto centrado nas mãos de um ca cdnan o um fantástico poder con numero e pessoas bem reduzido 77 No quadro geral da comunicação de mssa os crítios apmtam principalmente fatos de dependência dommao mamRulaçao ou alíenacão Esses conceitos precisam ser relatlvizados p01s diversas categoias de público não são tão dependentes e se mostram capazes de dar uma reinterpretação do conteúdo das mensagens De acordo com a orientação da pesquisaação é possível orga nizar um trabalho de reflexão sobre o uso da televisão a partir de experiências de grupos de telespectaores prfissiona memros de associacões voluntárias etc Este tlpo de mtervençao consISte na descrição dos programas por parte de telespectadores irgaados em grupos e cujos objetivos são relacionados com recepao cntlc cons cientização participação social e até mesmo contramformaçao Tais pesquisas são geralmente organizadas em peuena escala e não se pretende produzir altrações ao níyel da sociedade como um todo Além do mais os meros de comumcaçao de massa depen dem de interesses econômicos e políticos que não se deixam abalar por pequenos movimentos críticos Por parte os g11ps ou sso ciacões a crítica é concebida como forma de resistencra a 1mpos1çao cultural dos conteúdos veiculados pelos meios de comunicação de massa Ao nível da atividade comunicativa concreta esta perspectva se concretiza em elaboração de material ddátio cncepçã de eros de comunicação alternativos tais como Ornais frhies videoteipes etc Sem ilusão de competir com os meios de comumcaçao de massa esses meios conseguem divulgar informações e sobretuo odos de leitura alternativos De modo geral tratase de evidenciar as estratégias e táticas de persuasão e procuar elementos de deco1 ficacão dos conteúdos veiculados pelos meros de comumcaçao Sao idelltificados elementos de conteúdo das notícias argumentos de propaganda tipificação da vida social em novelas etc 1º rível das pessoas diretamente implicadas na peslmsa a dcoifrcaçao fav rece uma relativa neutralização dos efeltos mtencronars da comu1 cação A ampla divulgação de algumas a chaves dess codrfi cacão constitui um dos importantes objetivos dos partrdanos da pequisaação na área de comunicação Essa tvidade pode ser poia da na crítica dos meios e se estender a atividades de contramfor macão ou de comunicacão alternativa junto aos movimentos po pulares Além da sua funcão crítica a pesquisaação pode igualmente ser aplicada de modo construtivo para permitr uma mior partic pação dg grupos interesados em torno de diversas açoes comum cativas criação de um JOrnal de uma radio espaço de lazer ou transformação de uma política de informação 78 A pesquisaação pode ser utilizada como forma de trabalho pre paratório para uma campanha de explicação acerca de algum assunto de grande relevância social ou política objeto de debates públicos Nesse caso devemos salientar que a transformação é essencialmente uma transformação ao nível discursivo Tratase de fazer que aqueles que não têm voz possam gerar informações significativas sobre suas condições ou sobre seus possíveis relacionamentos com outros inter locutores Há também casos de transformação que ocorrem quando a partir de uma pesquisa tornase possível produzir e fazer circular informações ou conhecimentos que são tradicionalmente excluídos ou menosprezados por parte dos meios de comunicação de massa Sem dúvida é nesse quadro que a pesquisaação pode representar uma contribuição específica em matéria de discurso ou de comu nicação alternativa a respeito dos quais os métodos convencionais têm pouco a oferecer Além disso é também útil destacar o fato de que o papel da pesquisa não se limita a fazer falar determinados interlocutores e produzir um discurso diferente Tratase de traba lhar sobre o discurso por meio de análises e interpretações Isto supõe que seja ultrapassado o simples registro de informação espon taneamente gerada pelos interlocutores implicados na pesquisa Além de sua possível aplicação nas áreas de comunicação polí tica e de comunicação alternativa a pesquisaação é também cogi tada para outras subáreas tais como a comunicacão rural e dife rentes formas de expressão cultural ou artística À margem do que precede notamos que existem situações nas quais os pesquisadores ou os produtores de material alternativo des tinado à informação ou à comunicação não podem elaborar sozi nhos uma perspectiva de ação ou de transformação Isto acontece em particular nas conjunturas de crise ou de confusão nos planos intelectual ou político Neste tipo de situação o pesquisadorator ou o produtor da área comunicativa pode adotar uma postura de teste munha contribuindo para o debate através da geração de documen tos significativos Esta postura é assumida entre outros por Wilde nhahn cineasta e documentarista alemão Escreve ele Na medida em que a perspectiva social permanece confusa e controvertida a elaboração dos documentários deveria estar colocada em primeiro lugar porque os filmes documentários ajudam a pro curar novas perspectivas Wildenhahn 1980 Embora não seja em si própria uma diretriz de pesquisaação a postura favorável à produção de documentários enquanto objetivo de pesquisa no quadro de atividades comunicativas parecenos im portante não somente no caso peculiar da produção de material audiovisual Os documentos produzidos pelos pesquisadores e outros 79 profissionais da comunicação quando concebidos em função dessa postura podem se revelar muito importantes para futuras ações e discussões públicas que não podiam ser cogitadas no decrrer da pesquisa Como conteúdo de tais documentos devese salientar a importância de depoimentos populares 3 SERVIÇO SOCIAL A área de servico social é uma das áreas em que apesar dos obstáculos já existe uma tradição de aplicação da metodologia d pesquisaação Tal aplicação é no entanto macada plas especifi cações e pelas ambigüidades próprias ao serviço social enquanto forma de atuação na sociedade Em geral os profissionais do serviço social são empregads por empresas privadas ou instituições públicas para iitervir e diversas situações nas quais certas categorias da populaçao operanos fave lados menores abandonados idosos etc enfrentam problemas so ciais e existenciais que resultam dos efeitos do funcionamento da sociedade global desigualdade desemprego pobreza etc e das correspondentes relações sociais que são determinantes desses efeitos É claro que sem profundas alterações da estrutura social não se pode esperar grandes e duráveis transformações na condição das pessoas implicadas e que estejam ao alcance do serviço social A observacão e a intervenção de pesquisadores nas situações consideradas sã limitadas em função das exigências institucionais e da fraca capacidade de ação autônoma dos grupos que em geral são desfavorecidos e mantidos em situação de nãopoder Além disso o tipo de atuação do serviço social é tradicionalmente limitado por concepcões prevalecentes assistencialismo paternalismo redução dos probleas sociais a problemas psiclógicos com os d ipo desa juste familiar predomínio das tecmcas de pesqmsa md1v1diahzane tipo entrevista clínica etc Nesse quadro geral o serviço social tem sido algumas vezes objeto de preconceitos negativos por parte de profissionais de outras áreas Seja como for muitos profissionais do serviço social no Brasil e na América Latina desafiam os obstáculos e desenvolvem um intenso trabalho de redefinição metodológica da sua prática abrindo um profundo debate visando um redirecionamento crítico O tradi cional quadro teórico inspirado no positivismo e no funcionalismo foi alvo de uma aguda crítica Nos últimos anos a reflexão meto dológicado serviço social abrangeu questões relativas à diversidae das tendências filosóficas que são geradoras de metodologia No m tuito de substituírem o positivismo e o funcionalismo que preva 80 lecem em muitos lugares os trabalhadores sociais têm procurado tendências diferentes ligadas à fenomenologia ao materialismo dia lético e a outras tendências das quais se espera alguma alternativa prática Além disso a categoria procurou não restringir seu campo de atuação ao da demanda oficial institucional ou ao do acompa nhamento do pessoal nas empresas e também tem desempenhado um papl de assessoria no contexto dos movimentos populares urbanos e rurais A busca de alternativas supõe uma redefinicão dos quadros teóricos e metodológicos e a conquista de uma autnomia suficiente para que os profissionais possam experimentálas Sem entrarmos em detalhes notaremos que os novos quadros teóricos a serem adotados deveriam permitir uma clara compreensão das relacões existentes entre as características globais da sociedade classes Estado etc e as características psicossociais das situações de vida das diversas categorias sociais desfavorecidas que são consideradas no servico tl No plano métodológico parecenos altamente significativo o ato de que a metodologia da pesquisaação e de outras formas de mtervenção semelhantes estejam na pauta das discussões O servico social onstitui um exclente campo de aplicação e de possível de senvolvimento da pesqmsaação As experiências já realizadas mere ceriam maior divulgação No processo de observação e questionamento que é próprio ao dispositivo da pesquisaação pretendese superar os problemas rela cinados com a individualização das observaçõts do quadro da pes qmsa convenc10nal Os pesquisadores desempenham um papel ativo que consiste na dinamização do meio social observado Além disso certos grupos desse meio também participam ativamente na defini ção de objetivos determinados A equipe de pesquisadores entra em contato estreito e prolon gado com o meio social Este fato adquire em geral uma dimensão polítca que se torna cad vez mais explícita à medida que progride a açao coletiva que e obieto de acompanhamento Na pesquisa con vencional a dimensão sóciopolítica sempre existe mas freqüente mente é recalcada por artifícios técnicos psicologizantes Contra Há uma longa lista de trabalhos a respeito dessas discussões no Brasil e na América Latina Entre outros indicamos Teorização do servico social Do cumentos de Araxá Teresópolis e Sumaré Rio de Janeiro Agfr CBCISS 1984 233 p L V Magalhães Metodologia do servico social na América Latina São Paulo Cortez 1982 148 p M H de Âlmeida Lima Servico social e sociedade brasileira São Paulo Cortez 1982 141 p L L Sants Textos de serviço social São Paulo Cortez 1982 81 riamente à corrente psicologização das situações de investigação con sideramos que a pesquisaação pode ser dirigida de modo a tomr mais explícita a definição sóciopolítica de sua base de observaª e de intervenção Nesta definição é necessário dar canta da specifi cidade da prática do serviço social que não deve ser confundida com outras práticas No contexto do serviço social a metodologia da pesquisaação pode permitir um melhor equacionamento dos problemas de apo ximação à realidade social de inserção dos pesquisadores e profis sionais e de suas formas de intervenção Os ganhos de conhecunento precisam ser registrados e constantemente sistematizados Tambm são objeto de atenção as práticas educativas associadas à pesquisa e à divulgação de informações na coletividade O quadro institucional do serviço social ainda apresenta uitos obstáculos à prática prolongada a psquisaação e11tre s ua1s um dos principais segundo A Sauvm e a falta de dispomb1hdade de tempo dos trabalhadores sociais no contexto da Suíça sempr ata refados no exercício de sua profissão e também por outras dificul dades na dedicação à pesquisa fraco domínio da linguagem escrita etc Sauvin 1981 5861 Tais dificuldades precisam ser superadas em particular por meio de treinamento adequado 4 ORGANIZAÇÃO E SISTEMAS A área organizacional contém todas as atividades cujos oj tivos consistem em coordenar diferentes grupos de trabalho e decidir a respeito das metas e meios necessáris para prouz um detr minado produto ou serviço Embora exstm orgamzaçes se fim lucrativo consideramos aqm que a maioria das pesqmsas mtei venções se dão nas organizações de tipo empresarial de capital pri vado ou estatal A organização é assumida por diferentes tipos de gerentes ou de executivos subordinados aos interesses do capital A organização da produçãp não pode ser executada sem trabalha dores de diferentes qualificações Várias escolas orgamzativas reco mendam a introdução de métodos participativos com os quais se pretende melhorar o relacionamento entre organizadores e executo res do trabalho no intuito de aumentar a produtividade e eventual mente melhorar alguns aspectos das condições de trabo A área organizacional é malvista por parte de muitos pequ1 sadores das outras áreas devido ao fato de que a orgamzaçao e muito marcada pelo espírito empresarial busca de eficiência mu dança cdfürolada relacionada com a informatização refoas sbre o fundo da intocabilidade das relações de poder etc Alem disso no mundo dos pesquisadores e dos consultores da área há um clima 82 de competição segredo arrivismo Muitos consultores parecem sobretudo preocupados em faturarem recorrendo inclusive a mé todos participativos sem efetiva contribuição ao conhecimento Nesse quadro havena ntão certos receios quanto a um possível aproveitamento da pesqmsaaçao por parte de interesses particulares e fato já exist ma tradição de pesquisaação na área orga mzac10nal cuias ambiguidades são relacionadas com a estrutura de podr talvez mais evidente do que noutras áreas Todavia tais ambiidaes tambm existem nestas outras Na educação ou na omumaçao t1bem podemo3 encontrar patrões empregados e arrveitadores mas as relaçoes de poder sao aparentemente mais dilmdas do que na área organizacional onde as decisões são for teente concentradas No âmbito das empresas quase nenhuma pes qms e nenhuma ação podem ser realizadas sem o acordo ou con sentimento dos empresários Segundo M Bourgeois e D Carré em incitação dos diretores é ilusório esperar uma profunda nod1ficaçao dos modos organizacionais É claro que o sindicato 0 1unsta e o mtelectual podem contribuir aos novos processos mas seu alcance permanecerá simbólico caso as diretorias não aderirem a esses projetos Bourgeois e Carré 1982 102 Muita transformaçõs preciam ser cupridas para se alcançar o reconhecimento do carater social da orgamzação do trabalho com controe dos trabalhadores A organização do trabalho não poderá ser deixada entregue ao poder autocrático dos donos e ao bemquerer de seus familiares O poder privado cria uma limitação muito forte No entanto existe alguma mudança nas conjunturas de transformacão social e política dos último nos na França e também no Brail quando uitelectuais de oposiço acederam a cargos de responsabilidade prin cipalmente em orgamsmos do Estado e empresas importantes Mediante uma progressiva moralização da área organizacio nal pra a qual a participação efetiva e a atuação sindical dos assalanados podem contribuir podemos esperar que haja uma de maid favoráyel por um novo tipo de pesquisa cuja metodologia ena mfluenciada pela concepção da pesquisaação Isto seria um mstrumento de obtenção de informações e de negociacão das solu ções levadas em consideração na resolução de problernas de ordem técnicoorganizativa Seria também um meio de produzir e de difun dir conhecimentos especializados que fossem utilizáveis de modo coletivo st é de modo quebrar o monopólio ou o segredo dos espciastas Havena igualmente a possibilidade de uma ampla dem1stificaçao das soluções técnicas que tradicionahnente são dadas aos problemas econômicos e sociais à revelia dos interessados 83 Na medida do possível e supondo que os obstáculos sejam superáveis podemos considerar que a pesquisaação consistiria em estabelecer uma forma de cooperação entre pesquisadores técnicos e usuários para resolverem conjuntamente problemas de ordem orga nizativa e tecnológica O processo seria orientado de modo que os grupos considerados pudessem propor soluções ou ações concretas e ao mesmo tempo adquirir novas habilidadea ou conhecimentos Em si própria a pesquisaação não é uma idéia recente no con texto organizacional Já foi sugerida nos anos 40 nos trabalhos de K Lewin nos Estados Unidos e foi experimentada em atividades associadas aos departamentos de recursos humanos Nesse caso particular a pesquisaação é concebida dentro de um quadro teórico de natureza psicológica ou psicossociológica e é freqüentemente asso ciada a operações de treinamento K Lewin escrevia Cumprenos considerar a ação a pesquisa e o treinamento como triângulo que deve se manter uno em benefício de qualquer de seus ângulos Lewin 1973 255 A relação entre pesquisaação e treinamento ainda hoje é uma das características importantes das práticas consti tutivas da organização No entanto tal concepção tem sido criti cada O treinamento é freqüentemente concebido de modo diretivo como se fosse um tipo de adestramento sem conscientização e auto nomia dos agentes implicados Além disso a pesquisaação tem funcionado dentro de uma problemática psicossociológica na qual as relações sociais e políticas são vistas principalmente como relações interpessoais ou psicológicas Por esses e outros motivos a pesquisa ação organizacional é criticada por partidários da pesquisaação das outras áreas cujas perspectivas são mais radicais A partir dos anos 60 de acordo com a concepção reformista dos programas de democracia industrial nos países da Europa do Norte a pesquisaação faz parte dos instrumentos utilizados para estudar e transformar a organização do trabalho dentro da proble mática sociotécnica Nesta é analisada a interrelação dos aspectos sociais estruturas de grupos hierarquia formação profissional qua lidade de vida no trabalho etc com os aspectos tecnológicos dis posição física das máquinas automatização etc Nesse quadro a pesquisaação é um procedimento de estudo e de resolução de pro blemas por meio de seminários que reúnem pesquisadores e repre sentantes de todas as categorias de pessoas implicadas Tais semi nários são dirigidos por analistas ou consultores externos e podem ser incorporados especialistas de diversas formações técnicas enge nharia lgalistas de sistemas etc Thiollent 1983 Cap 3 De acordo com a filosofia geral da tendência sociotécnica a organização taylorista está superada e é preciso substituir o trabalho 84 parcelado e as linhas de montagem convencionais por diversas formas de recomposição do trabalho e pela criação de grupos dispondo de certa autonomia Com esta visão pretendese reduzir a monotonia do trabalho o isolamento dos indivíduos e envolvêlos em relacões de caráter coletivo Para alcançar tais objetivos são aplicados pro gramas de pesquisaação Ortsman 1978 Liu 1982 No plano metodológico considerando os paradoxos e a impos sibilidade de realizar o ideal de nãointerferência do dispositivo de pesquisa no objeto observado os partidários da pesquisaação optam por uma concepção metodológica oposta o dispositivo de pesquisa interfere explicitamente no objeto investigado e este passa a cola borar na própria investigação associada à ação Os métodos experi mentas comuns yálios e laboratórios seriam inadequados na pesqmsa em orgamzaçoes reais A pesquisaação é então apresentada como alternativa Seu princípio fundamental consiste na intervencão dentro da organização na qual os pesquisadores e os membros da organização colaboram na definição do problema na busca de solu ções e simultaneamente no aprofundamento do conhecimento cien tífico disponível A pesquisa é acoplada a uma ação efetiva sobre a solução º iroblema e é ambém acompanhada por práticas peda gogicas difusao de conhecimentos treinamento simulacão etc A pesquisaação no quadro sociotécnico pretende aproveitr s fnô nenos de º11da de conciência os fluxos de afetividade e o poten cial de cnat1Vldade contidos na organização Liu sd Como vimos nos capítulos anteriores os partidários da pes qmsaação em cmtexto organizacional pretendem resolver o pro blema das relaçoes de poder pela participação dos representantes de todas as partes ou interesses implicados inclusive os trabalhado rs e os sindcatos sem o consenso dos quais é impossível se pra ticar pesqmsaaçao entro ds regras deontológicas aceitas pelos pesqmsadores para evitar mampulações Independentemente da sociotécnica a pesquisaação é igualmente uma proposta conhecida pelos analistas de sistemas de informação Seu papel consiste em facilitar a aprendizagem Segundo P Jobim Filho a pesquisaação dá ao relacionamento entre analista e usuário o caráter de aprendizagem conjunta Jobim Filho 1979 Nesse contexto a pesquisaação consiste em identificar os problemas e de senvolver um programa de ação a ser acompanhado e avaliado A esquiSaaço assim concebida é um modo de intervenção dos ana listas de sistemas nas organizações e em geral limitase à esfera dos dirigentes e usuários da informação Ainda no meio dos especialistas em análise de sistemas e ciber nética a pesquisaação é encarada sob outros aspectos Checkland 85 1981 2ª Parte Para muitos analistas a ação associada à pesquisa se limita a uma forma de colaboracão com os clientes e se baseia num pressuposto de consenso ou cÍe harmonia entre as partes Cón trariamente a este ponto de vista A Thomas aborda a análise de sistemas com outros pressupostos a cooperação das partes e a gera ção de tensão orientada para mudanças controladas ao invés de uma harmonia a priori Thomas 1980 33953 Nesse quadro fun ciona a pesquisaação que gera uma tensão entre o que é e o que poderia ser isto é fazendo intervir a dissociação entre de um lado os fatos que compõem a situação presente e por outro as dire trizes normativas a partir das quais é definida a situação desejável Nos últimos anos a pesquisaação tem sido pensada como ins trumento adaptado ao estudo em situaçio real das mudanças orga nizacionais que acompanham a introdução de novas tecnologias prin cipalmente as baseadas na informática Com ela pretendese facilitar a implementação e a assimilação das novas técnicas informáticas a circulação da informação a aprendizagem coletiva a organização do trabalho em grupos com reunião de competências variadas Pre tendese igualmente melhorar as condições de uso e as adaptações dos equipamentos e promover a organização do trabalho com sis temas de consultas dos membros dos diferentes níveis hierárquicos Dentro da organização as técnicas informáticas visam fazer circular a informação de modo propício ao aumento da produtividade Vários estudiosos e consultores da área organizacional têm recomendado o uso de métodos participativos definidos como métodos recorrendo à sensibilização informação treinamento implicação dos usuários dos sistemas técnicos ao nível da decisão Os autores acrescentam Em geral tais métodos asseguram uma melhor aceitação da orga nizacão e uma melhor aceitacão da nova divisão das tarefas Cot tave e Faverge 1982 47 Por sua vez M Bourgeois e D Carré consideram que a pes quisaação suscita e facilita as mudanças da organização ao mesmo tempo que permite formular e difundir a experiência adquirida no decorrer dessas mudanças Bourgeois e Carré 1982 98 No contexto da informatização das organizações a pesquisa ação é considerada como operação mais profunda do que uma sim ples técnica de consultoria No decorrer da sua aplicação segundo H Tardieu é preciso identificar e separar de um lado os resul tados generalizáveis destinados à difusão e por outro as recomen dações específicas destinadas à empresa Tardieu 1982 124 Em torno das necessidades do desenvolvimento da pesquisa organizacional sob todos os seus aspectos fazse necessário um pro 86 grama de divulgação e treinamento em matéria de pesquisaação Tal programa visaria facilitar a pluridisciplinaridade o relacionamento dos pesquisadores entre si a sua colaboração com membros repre sentativos das organizações e com consultores e outros profissionais Haveria também uma rediscussão dos critérios de avaliacão dos resultados da pesquisa em função da exigência de produçã de co nhecimento e da satisfação dos interesses práticos 5 DESENVOLVIMENTO RURAL E DIFUSÃO DE TECNOLOGIA As pesquisas voltadas para a agricultura abrangem problemas de agronomia biologia pecuária tecnologia economia sociologia comunicação difusão de tecnologia extensão rural etc A pesquisa sobre o desenvolvimento rural é pluridisciplinar e possui uma fina lidade de conhecimento da situação dos produtores e de elaboração de propostas de planejamento nos planos local regional ou nacional A pesquisa sobre a difusão de tecnologia visa em geral facilitar a adoção de novas técnicas entre os produtores As pesquisas sobre o desenvolvimento e a difusão são algumas vezes separadas outras vezes são relacionadas entre si e vinculadas a preocupações de cará ter educativo comunicativo ou organizativo De modo prevalecente nas instituições de pesquisa agropecuária as metodologias de pes quisa utilizadas pertencem ao padrão de pesquisa convencional mé todos quantitativos aplicados sem participação dos usuários Nos últimos anos sobretudo em função dos interesses dos pequenos e médios produtores foi experimentada ou pelo menos discutida a possibilidade de aplicação de alternativas metodológicas de tipo pesquisa participante ou pesquisaação em matéria de desen volvimento rural e de difusão de tecnologia 1 Na concepção participativa do desenvolvimento rural con siderase que os produtores devem se organizar em torno dos pro blemas que acham mais importantes para adquirir uma capacidade coletiva de decisão e de controle quanto à utilização de recursos Gow e Vansant 1983 42746 Não se deve confundir o desenvol vimento rural participativo e a pesquisa ativa ou participativa sobre o desenvolvimento rural Em termos gerais não se deve confundir a pesquisa e objeto pesquisado Todavia a concepção participativa do desenvolvimento rural sugere que a concepção da pesquisa que lhe é assciada seja também participativa No caso isto implica que o pesqmsadores recorram às técnicas utilizadas em pesquisa parti cipante e pesquisaação reuniões seminários entrevistas coletivas aprendizagem conjunta na resolução dos problemas identificados etc 87 Internacionalmente existem progrâlnas de atividades de desen volvimento rural junto a populações rurais pobres em vários países do Terceiro Mundo com aplicação de métodos de pesquisa ativa e participativa É o caso por exemplo do programa elaborado por M A Rahman 1983 e 1984 e promovido pela Organização Inter nacional do Trabalho com sede em Genebra Suíça O autor aborda diversos problemas de fundamentação teóricometodológica da pes quisa participativa e da pesquisaação reunidas por ele na expressão pesquisaação participativa e indaga sobre sua possível contri buição para a transformação social em meio rural a partir de algumas experiências em países asiáticos índia Sri Lanka Bangladesh A temática dessas experiências é relacionada com o desenvolvimento da conscientização do campesinato desfavorecido com vistas à defi nição de seus interesses próprios A metodologia é de tipo partici pativo e ativo ou mobilizador O aspecto de autonomia sei reliance é enfatizado Como fundamentos desse tipo de pesquisa são levadas em consideracão as contribuicões de Paulo Freire e de Orlando Fals Borda O autor mostra também que o movimento internacional favo rável à pesquisaação participativa vive uma tensão De um lado os seus partidários adotam uma estratégia de crítica radical e de mobilização popular Por outro lado há um reconhecimento oficial por parte de certas instituições ou governos nem sempre progres sistas o que coloca certos pesquisadores em situação de dilema No que diz respeito aos aspectos epistemológicos M A Rahman mostra que a pesquisaação participativa não pode aceitar a exclusão dos valores como no caso do empirismo do positivismo lógico ou do estruturalismo Os valores operando na pesquisaação participativa são aqueles que pertencem à aplicação do conhecimento na prática das classes sociais consideradas A pretensa neutralidade dos mé todos convencionais é considerada como ilusão A objetividade é sempre relativa e remete ao consenso dos pesquisadores dentro de uma concepção da investigação científica que não é única No caso particular da pesquisaação participativa a objetividade é relacio nada com as condições de uma verificação coletiva pelos parti cipantes 2 Nos estudos específicos de difusão de tecnologia tem pre valecido nas últimas décadas a aplicação de técnicas convencionais de pesquisa em comunicação especialmente sob influência de E Rogers e outros Rogers e Shoemaker 1971 O padrão de análise comunicativó tem sido criticado por vários autores Thiollent 1984 d 4351 em particular no que diz respeito ao modo de en carar a adoção de inovações pelos produtores As inovações corres 88 l 1 I f pondem sobretudo aos produtos do setor industrial tratores adu bos pesticidas para a venda dos quais é preciso influenciar os produtores por intermédio dos meios de comunicação e da influên cia pessoal dos extensionistas De acordo com esta visão do mundo rural a pesquisa focaliza as atitudes e comportamentos individuais e categoriza os produtores em função da facilidade ou da dificul dade de sua persuasão Os produtores de fácil persuasão em matéria de adoção de novas técnicas são considerados como modernos os outros são tradicionais Hoje em dia em vários países grupos de pesquisadores dis cutem e tendem a experimentar orientações diferentes freqüente mente favoráveis à pesquisa participante e à pesquisaação As ques tões tecnológicas não se limitam ao aspecto de difusão ou de ado ção de técnicas prontas Pretendese redefinir os diferentes aspectos da difusão sem separálos dos aspectos de geração adaptação e ava liação em um determinado contexto sócioeconômico e cultural A idéia de simples difusão pressupõe que a técnica vem pronta de fora para dentro do mundo rural e que não precisa ser adaptada ativamente pelos produtores em função do seu saber próprio e em função de outras circunstâncias locais Além disso freqüentemente se perde de vista que os produtores possuem potencialidades pró prias em matéria de geração de técnicas simples e adaptadas às suas condições econômicas Possuem também potencialidades de aprendizagem habilidades e sabem que podem contribuir para a adaptação de técnicas existentes De acordo com Paulo Freire Subestimar a capacidade criadora e recriadora dos camponeses desprezar seus conhecimentos não importa o nível em que se achem tentar enchêlos com o que aos técnicos lhes parece certo são ex pressões em última análise da ideologia dominante Freire 1982 32 Nos estudos rurais de acordo com I C Sales J A S Ferro e M N C Carvalho 1984 3244 precisamos rever a metodologia de diagnóstico parà superarmos o nível da simples constatação de carências entre os pequenos produtores e darmos atenção às suas potencialidades e capacidade de aprendizagem e de organização coletiva De modo geral a participação dos produtores na pesquisa é vista como meio de identificação dos problemas concretos definição das prioridades escolha das soluções pràticáveis em função das con dições sócioeconômicas e do saber popular existente Por sua vez a avaliação dos resultados e das propostas técnicas é também efe tuada de modo coletivo Esta avaliação visa salientar as possíveis melhorias das condições de uso das técnicas e minimizar os usos 89 inadequados e riscos decorrentes ns planos scal e ecológico A participação dos produtores constltm uma condiçao importante para uma adequada orientação dos trabalhos dos pesqmsadores e es cialistas inclusive em matéria de ciências da natureza e b10logia Torchehi 1984 2741 Esta colaboração dá um relero particular aos problemas da relação entre saber formal e saber mformal que se manifestam ao nível da comunicação e da aprendizagem Além disso nos programas de desenvolvimento rural cncei dos de modo participativo a questão da difusão de tecnologia nao é abordada sozinha e está inserida numa conjugação de outros as pectos educação saúde bemestar cultura etc 3 Em resumo entre os assuntos relevantes a serem tatados numa perspectiva de pesquisaação em matéria de desenvolv11ento rural e de difusão de tecnologia podemos destacar os segumtes a Redefinição dos enfoques nos planos conceitua e metodo lógico da difusão de tecnologia e comunicação rural b Revisão das técnicas de diagnóstico de modo a evdenciar as potencialidades dos produtores em vez de suas carencias c Divulgação da metodologia de pesquisa participante pesqui saação ou ainda pesquisaação participativa d Métodos de resolução de problemas com participação de pro dutores pesquisadores técnicos extensionistas etc e Estudo da relação entre saber formal do especialista e saber informal do produtor Com mapeamento dos problemas de comu nicação f Metodologia de planejamento de ações de desenvolvimento local ou regional g Experimentação de pesquisas agropecuárias em situação real isto é nas fazendas e não apenas em estações experimentais h Experimentação de técnicas geradas por produtores i Metodologia de avaliação de caráter participativo j Possíveis subsídios didáticos e informáticos 6 PRATICAS POLÍTICAS Nos itens anteriores sobre educação comunicação serviço social organização desenvolvimento rural ficou mais ou menos evidente que as propostas de pesquisaação sempre apresentam algum 90 aspecto político quanto ao tipo de comprometimento dos pesquisa dores com a ação de grupos sociais dentro de uma situação em transformação No entanto esse aspecto político permanece vinculado a uma atividade substantiva educar informar organizar etc para a qual é preciso pesquisar e articular objetivamente as informações obtidas entre os representantes da situação investigada e os conheci mentos disponíveis entre pesquisadores especialistas e outros pro fissionais de cada área No caso das práticas políticas a pesquisaação toma como objeto uma atividade explicitamente política Por exemplo a constituição de um grupo político a organização de uma campanha de adesão a redefinição de uma estratégia ou tática a conduta de uma cam panha eleitoral a denúncia popular da política do governo a mobi lização de uma categoria da população para formular reivindicações e conquistar determinados objetivos etc As práticas políticas não se limitam ao aspecto profissional sempre possuem um aspecto militante e exigem maior comprometimento por parte dos organiza dores da pesquisa As práticas políticas são concentradas em torno de grupos mili tantes atuando em organizações políticopartidárias organizações sin dicais ou outros tipos de movimentos Não é necessária a completa identificação dos pesquisadores com os militantes do grupo ou mo vimento considerado Freqüentemente existe alguma forma de sim patia No caso particular da atuação sindical a pesquisaação pode ser aplicada dentro de uma visão militante isto é uma linha que não se limita à função de defesa econômica jurídicoassistencial de determinadas categorias profissionais As práticas políticas podem ser objeto de pesquisa ao nível dos movimentos dos trabalhadores urbanos ou rurais e também ao nível de movimentos específicos movimento estudantil feminista ecoló gico e movimentos de afirmação de identidade cultural Na América Latina já existe uma rica experiência em projetos de pesquisaação sobre práticas políticas junto a movimentos de mulheres e movi mentos de educação popular ver documentos do Celadec Por enquanto só retomaremos aqui uma questão relacionada com a pesquisa em meio operário freqüentemente discutida quais são as diferenças e as possíveis relações entre pesquisaação e enquete operária A enquete operária é uma noção que surgiu no século XIX na Europa para designar um tipo de pesquisa ou de censo sobre a situação da classe trabalhadora com aspectos sociais econômicos sindicais e políticos Inicialmente a enquete operária foi concebida 91 pedido das autoridades para entenderem os problemas da classe rabalhadora Mais tarde a enquete operária foi utlizada pr grupos socialistas no intuito de produzir autonomamente mformaçoes e co nhecimentos sobre a situação da classe Vimos em outra oportunidade Thiollent 19S a Cap 4 que na enquete operária especialmente no qustionar10 formulado por K Marx em 1880 existem princípios prefigmando alguns aspectos da pesquisaação com dimensão crítica pohrtca Por exemplo princípio segundo o qual são associados a pesquisa eleme1tos expli cativos ao nível dos respondentes para facilitar o descondic10namento em relação às respostas estereotipadas No entanto a nquete ope rária permaneceu como noção associada a uma concepao d mves tigação mais próxima à de censo do que à de pesqmsaaçao A noção de pesquisaação é mais recente e foi asociada a uma perspectiva psicossociológica nos anos 40 e 50 com fmahdades pra ticas de orientação bastante conformista os anos 60 e 70 a pes quisaacão ressurgiu numa perspectiva cnt1ca associada a formas de militânia política ou de intervenção clUral É sobretudo nesta linha que pesquisaação e enquete operaria podem ser repensadas conjuntamente Embora faltem exemplos na literatura disponível a pesquia ação relacionada com o movimento oe7ário é possívl com obie tivos comparáveis aos da enquete óperana Sena um tipo de iivs tigação sobre as práticas políticas ou siidicais da classe opraria A metodologia seria atualizada em funçao do saberfazer hoje em dia disponível nas ciências sociais A problemática da pesquisaação aplicad às prcas polícas da classe operária poderia levar em conta a la teonca e pratica influenciada por A Gramsci no que diz respe10 ao relac1nariento interativo entre intelectuais e massas Ess relaconamnto nao e con cebido de modo unilateral os intelectuais ensmam as masas e as massas ensinam aos intelectuais Desta trc os planos mestiga tivo e pedagógico resultaria uma contnbmçao a transformaça cul tural e política orientada em função da formação da hegemoma das classes dominadas Podemos conceber um tipo de investigação ativa que sej apaz nos seus próprios procedimentos de fazer conhecr as cond1çoes de trabalho as condições de vida e de atuaçao pohtia dos trabalha dores e de oferecer indicações para a transformaçao das represen tacões ideológicas Para elaborar uma pesquisa no contexto atual a classe operá ria é preciso rever a problemática das transformaçoes que ocorrem 92 na organização do trabalho automação etc e a evolução da acão sindical e política Os temas e as perguntas a serem abordadas ão podem ser uma simples adaptação do antigo questionário de K Marx Junto aos próprios trabalhadores os pesquisadores precisam identi ficar todos os problemas vinculados às atuais formas de remunera ção nível de vida horário de trabalho emprego saúde transporte moradia e também os problemas específicos das mulheres migran tes jovens etc Entre os temas importantes a serem estudados estão a formulação das reivindicações e do plano da ação a evolução dos conflitos e o efeito das lutas sobre a vida cotidiana e as formas de expressão cultural Além disso há toda uma parte relativa ao con texto econômico e político à estratégia das empresas e às linhas partidárias e sindicais em debate A abordagem de todos esses temas está situada dentro de uma problemática sociológica global que des aca o trabalho assalariado e os aspectos políticos e culturais que mterferem na percepção e na relevância atribuída a cada um dos elementos da temática Relacionado com a investigação sobre as práticas políticas um outro problema objeto de muitas discussões diz respeito à relação entre o saber sofisticado dos intelectuais e o saber po pular ou as representações imediatas com as quais as massas descrevem suas condições sociais Thiollent 1980 b Este problema é sempre objeto de tensão e na sua forma geral remete à relação entre de um lado os marcos teóricos e os conceitos científicos e por outro lado o senso comum Existem várias maneiras de resolver et problema depeneno da orientação metodológica ou epistemo logica adotada A mais divulgada das orientações a positivista é incompatível com o modo ativo de conceber a investigação Muitos sociólogos têm pretendido afastar de uma vez por todas o senso comum de suas conceituações e análises por meio de regras de obser vção sem diálogo com os interessados Ao contrário numa concep çao ativa o tratamento a ser dado ao senso comum passa pelo diá logo entre investigadores e membros representativos da situação in vestigada Além do mais esse tratamento adquire uma dimensão crítica e transformadora É preciso sublinhar que tratamento ativo do senso comum não quer dizer aceitação do mesmo como expli cação ou representação adequada da realidade No plano da inves tigação científica a regra segundo a qual se deve manter uma dis tância entre a conceituação e as representações imediatas é ple namente justificada O conhecimento científico se desenvolve em ruptura com as representações imediatas sugeridas pelo senso comum Negar essa distância leva ao empiricismo ou ao subjeti vismo No entanto a aceitação de tal regra não implica que seja 93 adotado como único padrão de observação científica o padrão con vencional unilateral e antidialógico herdado de uma concepção das ciências da natureza que já é parcialmente superada Em contrapo sição podemos sugerir um tipo de observaçãoquestionamento no qual seja mantida a exigência de distanciamento para com o senso comum mas de u111a maneira interativa como seria o caso na pes quisaação 7 CONCLUSÃO No presente capítulo apresentamos em v1sao penoram1ca as aplicações da pesquisaação em várias áreas de conhecimento e de atuação na sociedade educação comtinicação serviço social orga nização e sistemas desenvolvimento rural difusão de tecnologia e práticas políticas Descrevemos algumas das tendências existentes e também indagamos possibilidades abertas para o futuro Ficou bas tante claro o fato de que não é monolítica a perspectiva ideológica ou política na qual funcionam os vários tipos de propostas de pes quisaação Existe uma grande diversidade de objetivos Na concep ção das práticas educativas ou políticas os partidários da pesquisa ação adotam freqüentemente uma orientação crítica mais ou menos radical voltada para a conscientização ou para a rµobilização po pular Ao passo que entre os partidários da pesquisaação nos con textos organizacional e tecnológico a orientação é mais acomodada procurando transformações satisfatórias e compatíveis com a adap tação e o funcionamento das organizações existentes Tais pesqui sadores apagam o conteúdo potencialmente radical da proposta me todológica da pesquisaação fazendo dela apenas uma técnica de resolução de problemas Toda pesquisa é permeada pela perspectiva intelectual pelos objetivos práticos pelo quadro institucional pelas expectativas dos interessados nos seus resultados etc Porém os pesquisadores não são neutros nem passivos Sem deconhecerem a presença dos inte resses devem conquistar suficiente autonomia eom inevitáveis ne gociações para terem condição de aplicar regras de uma metodo logia de pesquisa que não se limite a uma satisfação circunstancial das expectativas dos atores Atrás da demanda explícita que recebem os pesquisadores esclarecem as intenções subjacentes e aplicam táti cas de pesquisa visando compatibilizar os objetivos de conhecimento e os objetivos de ação No pfano normativo foi salientada a divergência existente entre as propostas de pesquisaação com finalidade crítica e as propostas éoril finalidade técnica ou adaptativa Ao nível da reflexão sobre o 94 t 1 conjunto das aplicações nas diferentes áreas tal divergência não deixa de criar certa tensão quanto à unidade de perspectiva da pesquisaação No fundo a divergência é reflexo da ambivalência de muitas ações sociais Tratase de conhecer para agir de agir para transformar mas as possíveis transformações nem sempre são radi cais ou aquelas que desejaríamos a priori As transformações pro postas levam em conta normas de adequação ao contexto que é favorável a rupturas ou a adaptações limitadas Em todas as circuns tâncias os pesquisadores não podem aplicar uma norma de acão preestabelecida e devem ficar atentos à negociação do que é ral mente transformável em função das formas de poder do grau de participação dos interessados e da especificidade das formas de ação ação pedagógica ação educacional ação comunicativa organizativa tecnológica e política etc 95 l J CONCLUSÃO A guisa de conclusão formularemos alguns comentários adi cionais que estão diretamente relacionados com o possível desenvol vimento da pesquisaação enquanto estratégia de conhecimento e método de investigação concreta e de atuação em várias áreas sociais Na concepção da pesquisaação as condições de captação da informação empírica são marcadas pelo caráter coletivo do processo de investigação uso de técnicas de seminário entrevistas coletivas reuniões de discussão com os interessados etc A preferência dada às técnicas coletivas e ativas não exclui que em certas condições as técnicas individuais entrevistas ou questionários sejam também utilizados de modo crítico Além disso podese recorrer a explica ções específicas e a discussões orientadas no intuito de favorecer o desvendamento da realidade Uma outra característica da pesquisa ação ao nível da captação de informação diz respeito ao modo de determinar e selecionar os indivíduos ou grupos Embora seja pos sível recorrer a técnicas estatísticas de amostragem convencionais preferese na maioria dos casos pesquisar e agir com o conjunto da população implicada na situaçãoproblema quando isto é factí vel ou com uma amostra intencional cuja representatividade é sobretudo de ordem qualitativa A constituição de uma amostra in tencional resulta de um processo de discussão entre os pesquisa dores e os demais participantes Na concepção da pesquisaação há um reconhecimento do papel ativo dos observadores na situação investigada e dos membros repre sentativos desta situação Logo a questão da objetividade deve ser colocada em termos diferentes do padrão observacional da pesquisa empírica clássica freqüentemente influenciado pela filosofia posi tivista da ciência da natureza Em todo caso a questão da objeti vidade não desaparece Para que uma ação seja realizável não basta a vontade subjetiva de alguns indivíduos A ação proposta tem de corresponder às exigências da situação Tais exigências são conhe 97 cidas por meio da observação da análise da situação e por 1eo de uma avaliação das possibilidades A ação é basada em descriª objetiva mas subjetivamente é assumida pelo coniunto dos partici pantes ue se comprometem na sua efetiva realização A nocão de objetividade estática é substituídà pela noção de relatividad observacional segundo a qual a realidade não é fixa e o observador e seus instrumentos desempenham um papel ativo na captação da informação e 1ª decorrentes rpesenta5ões Além disso no contexto social a relatividade remete a mteraçao entre obseia dores e representantes da siruação observada levando em conta m clusive as diferenças de linguagem existentes entre as duas catego rias consideradas A observacão social adquire um aspecto de questionamento que no caso da pequisaação não é monopolizado pelos pesquisadores já que a função normal do pesquisador é fazer peguntas e reclher as respostas dos investigados No caso que nos iiteressa qm os membros representativos da siruaçãoproblema sob mvestigaçao nun ca são considerados como meros informantes Também desempenham uma função interrogativa fazendo perguntas e procurando elucidar os assuntos coletivamente investigados As diferenças de linguagem remetem a desníveis de abstraã no modo de comunicação dos pesquisadores e do demais partici pantes O controle da objetividade relativizada consiste num contle das distorcões durante a fase da coleta de dados baseado na análise da linguagem dos interlocutores O controle crre também no diá logo com o intuito de se chegar a uma suficiente compreensao e consenso acerca das interpretações do que está sendo observado ou transformado Uma das diferencas que existem entre a nossa perspectiva de pesquisaação e outra propostas de pesquisaação ou de Pesquisa participante consiste no fato de ue reconheceiios a iiecessidade de manter a pesquisaação no âmbito da pesqmsa social de crter científico e logo submetêla a uma forma de controle metodologico epistemológico No entanto esse controle não é exercido com as regras da metodologia empirista convencionalmente aceita em muitas instiu cões de pesquisa A metodologia não se limita à sua forma empm ista e quantitativista Precisamos aplicar um metodologiª na qul sem se negar a necessidade de observar medir ou quantificar haia espaço par1 os procedimentos de argumeitação e interpretação com base na discussão coletiva Além do mais podemos manter em uso a forma de raciocínio hipotético mas de forma flexibilizada não 98 reduzida a uma nocão de teste estçitístico A hipótese é norteadora da pesquisa sob frma de diretriz ela desempenha a função de orientar o questionamento e buscar as informações relevantes Sua comprovação permanece aberta à argumentação e ao diálogo entre interlocutores com cotejo dos diferentes saberes Embora a contribuição da pesquisaação seja muitas vezes de ordem prática não é descartada a possibilidade de utilização do conhecimento teórico A pesquisa é organizada dentro de um quadro teórico adotado pelos pesquisadores e aberto à discussão quando se trata de definir os objetivos formular problemas e hipóteses enca minhar explicações ou interpretações dos fatos observados Os pes quisadores podem contribuir no plano teórico a partir de sua expe riência em várias pesquisas O reconhecimento da argumentação no processo de investiga ção não é tão extraordinário porque a argumentação existe em diver sas disciplinas tradicionais nas quais é limitada ao encadeamento de argumentos ou de fórmulas no papel por assim dizer Na pes quisaação a argumentação é realizada ao vivo sob forma de discussões e deliberações entre diferentes interlocutores reunidos em seminários ou reuniões Sem um encaminhamento da proposta metodológica para um viés anticientífico consideramos que o objetivo da disposição argu mentativa consiste em restiruir o caráter dialogado da siruação social A nosso ver não há contradição entre de um lado o fato de reafirmar as exigências do espírito científico e por outro lado o fato de reabilitar o papel da argumentação na investigação científica O espírito científico não se limita à caricarura quantitativista que aparece no espetáculo da pesquisa convencional Por sua vez a argu mentação não significa uma volta ao raciocínio précientífico nem uma ruprura com o racionalismo ou a aceitação de qualquer crença É apenas uma reafirmação das dimensões discursiva e coletiva da elucidação e da interpretação das siruações sociais Razão científica e razão argumentativa não são excludentes e esta última não significa um retrocesso na evolução da cientificização da investigação social O fato de termos salientado o caráter argumentativodeliberativo dos raciocínios operando na pesquisaação não significa que só esta orientação seja dotada desse caráter pois argumentos e negocia ções existem em muitas práticas de pesquisa inclusive nas ciências ditas exatas Os procedimentos argumentativos não excluem a necessidade de ma coleta de dados a mais exaustiva possível inclusive sob forma uantificada para se ter uma imagem da realidade na qual se desen 99 rolam a pesquisa e a ação transformadora Àssim os pesquisadores devem reunir todas as informações disponíveis sobre a população os tipos de atividade as faixas etárias fontes de renda moradia nível educacional cultura hábitos de consumo direitos adquiridos etc Este tipo de levantamento é necessário Porém contrariamente à pesquisa descritiva comum é apenas um dos pontos de partida para o trabalho de investigação e de ação e não um produto final a ser burocraticamente arquivado A perspectiva adotada não se limita a observar ou medir os aspectos aparentes de uma situação Há um considerável interesse dos pesquisadores no que diz respeito à ação dos atores da situação Com a participação dos mesmos os pesquisadores elucidam as con dições da ação Seria paradoxal conceber uma investigação visando a transformação de uma situação dentro de um contexto no qual nada pudesse ser mudado o que freqüentemente acontece Quando os atores não conseguem transformar o que pretendem o objetivo da investigação é redefinido em função do estudo das condições deste fato Quando a análise da situação mostra que uma ação inicial mente cogitada ou planejada é impossível os pesquisadores reorien tam o processo da investigação de modo a contornar o paradoxo junto aos demais participantes por meio da elucidação do bloqueio A pesquisaação tem sido concebida principalmente como meto dologia de articulação do conhecer e do agir no sentido de ação social ação comunicativa ação pedagógica ação militante etc De modo geral o agir remete a uma transformação de conteúdo social valorativamente orientada no contexto da sociedade Paralelamente ao agir existe o fazer que corresponde a uma ação transformadora de conteúdo técnico delimitado Sem separarmos a técnica do seu conteúdo sóciocultural precisamos dar mais atenção ao fazer e ao saber fazer que por enquanto foram entregues aos técnicos e aos outros especialistas que compartilham de uma visão tecnicista das atividades humanas No plano da ação o maior desafio talvez seja o de juntar as exigências da tomada de consciência ou da conscientização a um nível mais profundo com as exigências científicotécnicas As trans formações intencionalmente definidas não se traduzem apenas ao nível das consciências individual ou coletiva Há também aprendi zagem de saber fazer e aquisição de novas habilidades Na pesquisaação a tomada de consciência é importante no plano do agir mas existem também outras preocupações ligadas à base material das atividades sociais e seus correspondentes modos de fazer e de saber fazer que são relacionados com técnicas produ tivas em meio rural ou industrial meios de comunicação institui 100 ções e técnicas educacionais novas tecnologias baseadas na infor mática etc Alguns partidários da pesquisaação poderão ver nessas preo cupações um risco de utilização tecnicista ou até tecnocratizante Mas na nossa opinião o sentido da proposta é justamente o con trário No equacionamento de problemas técnicos inseridos no con texto de atividades sociais a pesquisaação oferece meios para rom per o monopólio dos tecnocratas ao permitir uma participação ativa dos diferentes tipos de usuários com exercício e aprimoramento de suas capacidades O saber informal dos usuários não é desprezado e sim posto em relação com o saber formal dos especialistas no intuito de um enriquecimento mútuo Isto constitui um importante desafio para o futuro em matéria de metodologia de pesquisa e de ação em diferentes áreas de atividade Um dos objetivos de conhecimento da pesquisa científica con siste em estabelecer generalizações a partir de observações delimi tadas no tempo o que foi constatado hoje ainda será constatável no futuro e no espaço o que foi constatado aqui localmente existe também globalmente na sociedade Nas pesquisas orientadas em função de objetivos práticos como no caso da pesquisaação o obje tivo principal nem sempre é a generalização especialmente em pes quisas voltadas para a aplicação do conhecimento disponível para a resolução de problemas e para a organização de ações específicas Como vimos é possível alcançar um certo nível de generaliza ção a partir da experiência em várias pesquisas Mas quando o objetivo da pesquisaação consiste em resolver um problema prático e formular um plano de ação a forma de raciocínio utilizada con siste em particularização e não em generalização Nesse caso é bastante inadequada a crítica segundo a qual a pesquisaação seria marcada por uma fraca capacidade ou até uma impossibilidade de generalização Com a particularização tratase de passar do conheci mento geral aos conhecimentos concretos sob forma de diretrizes e comprovações argumentadas Essa passagem é progressivamente concretizada pela interação entre o saber formal dos pesquisadores e especialistas e o saber informal dos interessados Contrariamente à concepção corrente da chamada engenharia social não é unilateral a aplicação do saber formal dos especialistas e não é aceita a sua pretensa superioridade No dispositivo de pesquisaação com finali dade prática há interação entre os dois tipos de saber e aspectos de consciência Numa concepção da pesquisaação voltada para a construção ou a reconstrução na área educacional ou outra o conhe imento disponível e em parte gerado na ocasião da investigação e aplicado a problemas ou ações particulares O primeiro passo 101 consiste numa particularização Em seguida a partir das dificuldades e soluções encontradas em várias situações podemos imaginar um segundo passo no sentido de uma generalização Na nossa opinião a aplicação particularizante do conhecimento disponível no momento da resolução de problemas não é vista no contexto da pesquisaação de modo formal como no caso da enge nharia social pois o que importa é o contexto social e a ação autô noma dos atores que é valorativamente orientada no sentido cons trutivo Em situações marcadas por antagonismos profundos e mani festações de poder conservador ou repressivo a ação construtiva é impossível Nesse caso a ação será orientada em função de objetivos limitados à busca de compreensão da situação e de denúncia Em termos de uma política de conhecimento podemos consi derar que ao lado da urgência do desenvolvimento e da difusão de conhecimentos de ciências básicas manifestase a necessidade de uma política especificamente voltada para o conhecimento interme diário Entendemos por esta expressão o conhecimento de finalida de prática que opera em diversas áreas de atuação entre as quais destacamos a educação a comunicação o serviço social a organi zação o desenvolvimento rural a difusão de tecnologia e as práticas políticas Tratarseia de fortalecer a produção e a divulgação de conhecimentos que apesar de não serem muito valorizados no plano culturalsimbóiico são de grande utilidade na resolução de proble mas do mundo real Além disso o que entendemos por conhecimento intermediário é diferente do simples bom senso É um conhecimento que não se dá imediatamente na prática e é mister produzilo e adaptálo dentro de um processo participativo no qual estão envol vidos um grande número de pesquisadores e outros profissionais e os interlocutores representativos dos problemas a serem abordados A resolução de problemas efetivos se encontra na coletividade e só pode ser levada adiante com a participação dos seus membros Mesmo quando as soluções não forem imediatamente aplicáveis no sistema vigente poderão ser aproveitadas como meio de sensibilização e de tomada de consciência Nesta perspectiva consideramos que a me todologia da pesquisaação constitui um modo de pesquisa uma forma de raciocínio e um tipo de intervenção que são adequados para pro duzir e difundir conhecimentos intermediários relacionados com os problemas concretos encontrados nas várias áreas consideradas No entrosamento do conhecimento e da ação pretendese reduzir ao mínimo a distância existente entre a obtenção de conhecimento e a formulação de planos de ação Assim seria possível reduzir os usos simbólicos freqüentemente parasitários ou ostentativos que existem na esfera de conhecimento convencional Tratase de 102 aumentar o uso efetivo do conhecimento na configuração de deter minadas ações transformadoras Na definição de uma política de conhecimento mais abrangente a metodologia da pesquisaação é apenas um item entre outros Pois não devemos deixar a impressão de que tal orientação substitui as outras Sempre serão necessárias pesquisas experimentais em labo ratório metodologias com ênfase na formalização modelagem quan tificação e simulação A pesquisaação é uma orientação destinada ao estudo e à intervenção em situações reais Neste caso ela se apre senta como alternativa a tipos de pesquisa convencional Sem pretendermos cobrir todos os problemas e todas as pos sibilidades contidas na concepção da pesquisaação enfatizamos as pectos metodológicos relativamente abstratos como as formas de raciocínio e bastante concretos como o roteiro da organização de pesquisa Ainda faltam muitos aspectos para podermos alcançar uma visão completa do processo de investigação e ação Por opção não discutimos o conteúdo substantivo dos quadros teóricos e não apro fundamos as questões relativas ao quadro institucional à inserção dos pesquisadores às negociações em matéria de demanda dos inte ressados e de uso dos resultados No entanto acreditamos ter percorrido alguns passos no cami nho da elaboração da metodologia da pesquisaação evitando pala vrismo participacionismo ativismo populismo tecnicismo e outros exageros freqüentemente cometidos Pensamos que tais passos podem contribuir para renovar a metodologia da pesquisa social promover aplicações criativas em várias áreas específicas e ensejar a geração e a difusão de conhecimentos úteis à resolução de problemas do mundo real 103 BIBLIOGRAFIA BLANCHE R Le raisonnement Paris PUF 1973 BOURGEOIS M e CARR D La gestion du changement des formes dor ganisation In Pour e déveoppement des sciences de lorganisation AFCETCESTA vai I nov 1982 BRANDÃO C R Org Repensando a pesquisa participante São Paulo Bra siliense 1984 CASTRO C M A prática da pesquisa São Paulo Me GrawHill do Brasil 1977 CHARASSE D Une rechercheaction dans le Bassin de Longwy In MATTE LART A e STOURDZE Y Orgs Technoogie culture et communica tion Paris Documentation Française 1983 CHECKLAND P Systems thinking systems practice Nova Iorque J Wiley 1981 COTTAVE R e FAVERGE F La communication entre décideurs cadres employés et usages In Pour e développement des sciences de lor ganlsation AFCET CESTA vol I nov 1982 DESCOMBE V Sur le ring philosophique In Le MondeAujourdhui 871984 EZPELETA J Notas sobre pesquisa participante e construção teórica ln Em Aberto 3 10 1984 FRANCK R Rechercheaction ou connaissance pour laction In Revue In ternationale dAction Communautaire 5 45 1981 FREIRE P Conscientização São Paulo Moraes 1980 Ação cultural para a liberdade 6 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1982 GAJARDO M Pesquisa participante propostas e projetos ln BRANDÃO C R Org Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 GLASS G V e STANLEY J C Métodos estadísticos aplicados a las ciencias sociales Madri PrenticeHall 1974 GOW D D e VANSANT J Beyond the rhetoric of rural development par ticipation How can it be dane In World Development 11 5 1983 105 GRAMSCI A Oeuvres Choisies Paris Editions Sociales 1959 HUMBERT C e MERLO J Lerujvête conscíentisante Paris LHatmattan 1978 JOBIM FILHO P Uma metodologia para o paneamento e o desenvolvimen to de sistemas de informação São Paulo E Blücher 1979 LE BOTERF G Pesquisa participante propostas e reflexões metodológicas ln BRANDÃO C R OrgJ Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 LEWIN K Dinâmica de grupos São Paulo Cultrix 1973 LIMA M H de Almeida Serviço social e sociedade brasileira São Paulo Cortez 1982 LIU M Réflexions sur la rechercheaction en tant que démarche de recherche si d mimeo Laproche sociotechnique de lorganisalion Paris Mitiom de Organisation 1982 MAGALHÃES L V Metodologia do serviço social na América latina São Paulo Cortez 1982 MA TA M C Investigar lo alternativo ln Chasqui Revista Latinoamerica na de Comunicación nº 1 1981 A pesquisaação na construção do alternativo ln MELO J M Org Teoria e pesquisa em comunicação panorama latinoamericano São Paulo Cortezlntercom 1983 MERLO J Une expérience de conscientisation par enquête en milieu popu laire Paris LHarmattan 1982 MILLER S Planejamento experimental e estatística Rio de Janeiro Zahar 1977 ORTSMAN O Changer le travai es expériences les méthodes les condi tions de lexpérimentation saciae Paris Dunod 1978 PERELMAN C e OLBRECHTSTYTECA L Traité de largumentation 3 ed Bruxelas Éditions de lULB 1976 RAHMAN M A The theory and practice of participatory action research ln Rural Employment Policy Research Programme Genebra lnternational Labour Office 1983 Participatory organizations of the rural poor ln Introduction to an ILO Programme Genebra lnternational Labour Office 1984 ROGERS E M e SHOEMAKER F F Communication of innovations a crosscultural approach 2 ed Nova York Free Press 1971 ROSNOW R Paradigms in transition the methodology of social inquiry Oxford Oxford University Press 1981 SALES I C FERRO J A S e CARVALHO M N C Metodologia de aprendizagem da participação e organização de pequenos produtores ln Cadernos CEDES 12 3244 CortezCedes 1984 SANTOS L L Textos de Serviço Social São Paulo Cortez 1982 SAUVIN A Uuelques doutes préalables sur la compatibilité de la recherche action et du travai social ln Revue Internationale d Action Communau taire 5 45 106 1 r TARDIEU H Pour le Développement des sciences de lorganisation AFCET CESTA vai I nov 1982 THIOLLENT M Crítica metodológica investigação social e enquete operá ria São Paulo Polis 1980a Pesquisaação no campo da comunicação sóciopolítica ln Comunicação Sociedade 4 6379 1980b A captação da informação nos dispositivos de pesquisa social problemas de distorção e relevância ln Cadernos do Centro de Estudos Rurais e Urbanos CERU 16 1981 Problemas de metodologia ln FLEURY A C e VARGAS N Orgs Organização do trabalho São Paulo Atlas 1983 Notas para o debate sobre a pesquisaação ln BRANDÃO C R Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984a Lanalyse des inférences pratiques dans les formes de raisonne ment technologique ln Les modes de raisonnement expertise appren tissage Association pour la Recherche Cognitive Orsay 1984b Aspectos qualitativos da metodologia de pesquisa com objetivos de descrição avaliação e reconstrução ln Cadernos de Pesquisa Funda ção Carlos Chagas no 49 1984c Anotações críticas sobre difusão de tecnologia e ideologia da modernização ln Cadernos de Difusão de Tecnologia 1 1 1984d THOMAS A Generating tension for constructive change the use and abuse of systems models ln Cybernetics and Systems nº 11 1980 TORCHELLI J C Interação pesquisadorprodutor um enfoque inovador na pesquisa agropecuária In Cadernos de Difusão de Tecnologia 1 1984 VAISBICH S B Serviço Social tipologia de diagnóstico 3 ed São Paulo Moraes 1981 WILDENHAHN Cinéma et politique 1617 1980 ZUJIIGA R La rechercheaction et le contrôle du savoir ln Revue Interna tionale dAction Communautaire 5 45 1981 107 L 1 J OUTRAS PUBUCACÕES DO AUTOR SOBRE PESQUISAAÇÃO E PROBLEMAS METODOLÓGICOS CONEXOS 1 Crítica metodológica investigação social e enquete operária 3 ed São Paulo Polis 1982 Textos de vários autores 2 Sobre a enquete operária In Contraponto n 4 1980 p 5368 3 Pesquisaação no campo da comunicação sóciopolítica In Comunicação Sociedade n0 4 1980 p 6379 Educação Sociedade n 9 1981 p 4964 4 Investigaciónacción ln Chasqui Ciespal Equador n 1 1981 p 768 5 A captação da informação nos dispositivos de pesquisa social problemas de distorção e relevância In Cadernos CERU n 16 1981 p 81105 6 Reflexões sobre uma pesquisa de opinião no ABC In Teoria Política n0 3 1981 p 17584 7 Televisão trabalho e vida cotidiana ln Cadernos Intercom n 2 1982 p 4455 8 Problemas de metodologia In A C Fleury e N Vargas Orgs Organi zação do trabalho São Paulo Atlas 1983 Cap 3 p 5483 9 Pesquisas em tempo de eleições In Boletim lntercom n 39 1982 p 57 10 Notas para o debate sobre a pesquisaação In Serviço Social Socie dade n0 10 1982 p 12341 Republicado em C R Brandão Org Re pensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 p 82103 11 Problemas de metodologia de pesquisaação In f Marques de Melo Org Teoria e pesquisa em comunicação Panorama latinoamericano São Paulo CortezIntercom 1983 p 1308 12 Avaliação social da tecnologia In Revista Brasileira de Tecnologia 13 n 0 3 1983 p 4953 13 Aspectos qualitativos da metódologia de pesquisa com objetivos de des crição avaliação e reconstrução ln Cadernos de Pesquisa Fundação Carlos Chagas n0 49 1984 p 4550 14 Difusão de tecnologia e ideologia da modernização In Cadernos de Difusão de Tecnologia Embrapa 1 1984 p 4351 Republicado em IFDA Dossier Suíça n0 43 out 1984 p 6571 108 Atividade sobre Pesquisa Ação A pesquisa ação traz uma abordagem investigativa que tem a finalidade relacionar a teoria com a prática com o objetivo de através do objeto e do problema de pesquisa proporcionar uma mudança social ou organizacional como o autor destaca que o objetivo da pesquisaação consiste em resolver ou pelo menos em esclarecer os problemas da situação observada p16 A pesquisa ação possui algumas características como a intervenção e transformação no que diz respeito ao problema investigado na pesquisa o envolvimento dos atores sociais sendo portanto agentes ativos da pesquisa uma vez que contribuem para a pesquisa Além disso a pesquisa ação é realizada dentro de uma organização ela ocorre em ambientes abertos como bairros populares e comunidades rurais entre outros Segundo Antonio Gil a pesquisa ação possui dois principais objetivos que se conectam o primeiro é o objetivo prático e o segundo é o objetivo de conhecimento O primeiro objetivo busca a solução de um problema real que a pesquisa analisou visto que através disso propõe formas de ações concretas para resolver a problemática e que os atores sociais envolvidos na pesquisa são agentes transformadores O segundo problema referese à coleta de dados que são difíceis ter acesso e embora seja complexo este objetivo através dele pode ocasionar um conhecimento mais profundo das demandas dos interlocutores pesquisados Enquanto aos procedimentos técnicos o autor destaca em primeiro plano a investigação do real problema ou seja a observação direta em que o pesquisador participa da realidade apresentada e analisa o contexto como um todo e as suas particularidades para dar ênfase ao problema que deseja solucionar Em segundo plano temse as entrevistas considerada como uma ferramenta importante para o processo da pesquisa em seguida o levantamento de documentos grupos focais com a atuação dos atores sociais envolvidos na pesquisa planejamento das ações observar o que pode ser viável na pesquisaação para que proporcione uma mudança e implementação de ações seja em instituições oficinas ou grupos comunitários para que após a implementação de ações se obtenha a análise dos resultados obtidos

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Texto de pré-visualização

A atividade se refere à Classificação de Pesquisa Utilize o material texto de Antônio Gil como base Considere os seguintes critérios tipo de abordagem objetivos e procedimentos técnicos Importante Inclua pelo menos uma citação direta e uma paráfrase A minha pesquisa é bibliográfica pesquisaAção Realize essa atividade sem inteligência e plagio será passado no detector O objetivo deste livro consiste em apresentar os principais temas metodológicos da pesquisaação enquanto alternativa aplicável em diferentes áreas de conhecimento e de atuação tais como educação comunicação organização e outras O livro inicia discutindo os princípios gerais da metodologia entre os quais são destacadas as formas de raciocínio argumentação e diálogo entre pesquisadores emembros representativos da situação investigada a seguir contém um roteiro prático para conceber e organizar uma pesquisa no final o autor indaga as condições de aplicação em cada área específica METODOLOGI A PESQUISA Ç t d METODOLOGIA DA PESQUISAAÇÃO CIPBrasil CatalogaçãonaPublicação Câmara Brasileira do Livro SP Thiollent Michel 1947 T372m Metodologia da pesquisaação Michel Thiollent São Paulo Cortez Autores Associados 1986 Coleção temas básicos de pesquisaação Bibliografia 1 Metodologia 2 Pesquisa 3 Pesquisa Meto dologia 4 Pesquisa social I Título 851118 17 e 18 17 18 17 e 18 índices para catálogo sistemático 1 Metodologia 00142 17 e 18 2 Metodologia da pesquisa 00142 17 e 18 3 Pesquisa 0014 17 00143 18 4 Pesquisa Metodologia 00142 17 e 18J CDD00142 0014 00143 30072 5 Pesquisa social Ciências sociais 300 72 17 e 18 J cole cão Temas básicos de E IA ISA A 2ª edição hiolle t EDITORA AUTORES ASSOCIADOS a METODOLOGIA DA PESQUISAAÇÃO Michel Thiollent Conselho editorial Antônio Joaquim Severino Casemiro dos Reis Filho Dermeval Saviani Gilberta S de Martino J annuzzi Joel Martins Maurício Tragtenberg Miguel de La Puente Milton de Miranda Moacir Gadotti e Walter E Garcia Produção editorial José Garcia Filho Revisão Sueli Bastos Supervisão editorial Antonio de Paulo Silva Capa Gerônimo Oliveira Ilustração de Capa Paulo Leite Segunda edição Janeiro 1986 Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do autor e dos editores Copyright by Michel Thiollent Direitos para esta edição i CORTEZ EDITORA AUTORES ASSOCIADOS Rua Bartira 387 tel 011 8640111 05009 São Paulo SP IMPRESSO NO BRASIL 1986 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 7 CAPITULO I ESTRATÉGIA DE CONHECIMENTO 13 1 Definições e objetivos 14 2 Exigências científicas 20 3 O papel da metodologia 24 4 Formas de raciocínio e argumentação 27 5 Hipóteses e comprovação 32 6 Inferências e generalização 36 7 Conhecimento e ação 39 8 O alcance das transformações 41 9 Função política e valores 43 CAPfTULO II CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA 47 1 A fase exploratória 48 2 O tema da pesquisa 50 3 A colocação dos problemas 53 4 O lugar da teoria 54 5 Hipóteses 56 6 Seminário 58 7 Campo de observação amostragem e representatividade qualitativa 60 8 Coleta de dados 64 9 Aprendizagem 66 10 Saber formalsaber informal 67 11 Plano de ação 69 12 Divulgação externa 71 CAPfTULO III ÁREAS DE APLICAÇÃO 73 1 Educação 7 4 2 Comunicação 2 3 Serviço Social 4 Organização e sistemas 5 Desenvolvimento rural e difusão de tecnologia 6 Práticas políticas 7 Conclusão CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA 76 80 82 87 90 94 97 106 INTRODUÇÃO O presente trabalho consiste em apresentar e discutir vários temas relacionados com a metodologia da pesquisa social dando particular destaque à pesquisaação enquanto linha de pesquisa associada a diversas formas de ação coletiva que é orientada em função da reso lução de problemas ou de objetivos de transformação Hoje em dia no Brasil e noutros países a linba da pesquisaação tende a ser aplicada em diversos campos de atuação educação comu nicação organização serviço social difusão de tecnologia rural mili tância política ou sindical etc No entanto a pesquisaação ainda está em fase de discussão e não é objeto de unanimidade entre cientistas sociais e profissionais das diversas áreas Em muitos lugares continuam prevalecendo as técnicas ditas convencionais que são usadas de acordo com um padrão de observação positivista no qual se manifesta uma grande preocupação em torno da quantificação de resultados empíricos em detrimento da busca de compreensão e de interação entre pesquisadores e membros das situa ções investigadas Essa busca é justamente valorizada na concepção da pesquisaação Todavia queremos deixar bem claro que esta linha de pesquisa não é única e não substitui as demais O estudo de sua metodologia é apenas um tópico entre os diferentes tópicos da meto dologia das ciências sociais Um dos aspectos sobre os quais não há unanimidade é o da pró pria denominação da proposta metodológica As expressões pesquisa participante e pesquisaação são freqüentemente dadas como sinô nimas A nosso ver não o são porque a pesquisaação além da parti cipação supõe uma forma de ação planejada de caráter social edu cacional técnico ou outro que nem sempre se encontra em propostas de pesquisa participante Seja como for consideramos que pesquisa ação e pesquisa participante procedem de uma mesma busca de alter nativas ao padrão de pesquisa convencional Não estamos propensos 7 a atribuir muita importância aos rótulos Mediante a aplicação dos princípios metodológicos aqui em discussão achamos que outro modo de designação possa ser cogitado mas ainda não o encontramos A pesquisaação e a pesquisa participante estão ganhando grande audiência em vários meios sociais Ainda é cedo para se ter uma avaliação da amplitude e dos resultados realmente alcançados Do lado oposto alguns partidários da metodologia convencional vêem na pes quisaação e na pesquisa participante um grande perigo o do rebaixa mento do nível de exigência acadêmica Como veremos mais adiante existem efetivos riscos e exageros na concepção e na organização de pesquisas alternativas abandono do ideal científico manipulação polí tica etc Nosso desafio consiste em mostrar que tais riscos que tam bém existem em outros tipos de pesquisa são superáveis mediante um adequado embasamento metodológico Com o desenvolvimento de suas exigências metodológicas as propostas de pesquisa alternativa participante e ação poderão vir a desempenhar um importante papel nos estudos e na aprendizagem dos pesquisadores e de todas as pessoas ou grupos implicados em situações problemáticas Um dos principais objetivos dessas propostas consiste em dar aos pesquisadores e grupos de participantes os meios de se tornarem capazes de responder com maior eficiência aos problemas da situação em que vivem em particular sob forma de diretrizes de ação transformadora Tratase de facilitar a busca de soluções aos problemas reais para os quais os procedimentos convencionais têm pouco contribuído Devido à urgência de tais problemas educação informação práticas políticas etc os procedimentos a serem esco lhidos devem obedecer a prioridades estabelecidas a partir de um diagnóstico da situação no qual os participantes tenham voz e vez Para evitarmos alguns equívocos quanto ao real alcance da pes quisaação limitaremos a sua pertinência à faixa intermediária entre o que é geralmente designado com nível microssocial indivíduos pequenos grupos e o que é considerado como nível macrossocial sociedade movimentos e entidades de âmbito nacional ou interna cional Essa faixa intermediária de observação corresponde a uma grande diversidade de atividades de grupos e indivíduos no seio ou à margem de instituições ou coletividades Entre as principais ativi dades consideradas encontramos tudo o que é comumente designado como educação trabalho comunicação lazer etc Tal como a enten demos a pesquisaação não trata de psicologia individual e também não é adequada ao enfoque macrossocial Nas condições atuais como proposta bastante limitada não se conhecem exemplós de pesquisa ação ao nível da sociedade como um todo E apenas um instrumento de trabalho e de investigação com grupos instituições coletividades 8 de pequeno ou médio porte Contrariamente a certas tendências da pesquisa psicossocial os aspectos sóciopolíticos nos parecem ser mais pertinentes que os aspectos psicológicos das relações interpessoais Na abordagem da interação social aqui adotada os aspectos sócio políticos são freqüentemente privilegiados O que não quer dizer que a realidade psicológica e existencial seja desprezada Do ponto de vista sociológico a proposta de pesquisaação dá ênfase à análise das diferentes formas de ação Os aspectos estruturais da realidade social não podem ficar desconhecidos a ação só se mani festa num conjunto de relações sociais estruturalmente determinadas Para analisar a estrutura social outros enfoques de caráter mais abrangente são necessários Os temas e problemas metodológicos aqui apresentados são limi tados ao contexto da pesquisa com base empírica isto é da pesquisa voltada para a descrição de situações concretas e para a intervenção ou a ação orientada em função da resolução de problemas efetiva mente detectados nas coletividades consideradas Isto não quer dizer que estejamos desprezando a pesquisa teórica sempre de fundamental importância Mas precisamos começar por um dos lados possíveis e escolhemos o lado empírico com observação e ação em meios sociais delimitados principalmente com referência aos campos constituídos e designados copio educação comunicação e organização Não nos parece haver incompatibilidade no fato de progredir na teorização a partir da observação e descrição de situações concretas e no fato de encarar situações circunscritas a diversos campos de atuação antes de se ter elaborado um conhecimento teórico relativo à sociedade como um todo Entre esses diversos níveis de análise não nos parece haver dedução do geral ao particular nem indução do particular ao geral Tratase de estabelecer um constante vaivém no qual privilegia mos aqui os níveis mais acessíveis ao pesquisador principiante Embora privilegie o lado empírico nossa abordagem nunca deixa de colocar as questões relativas aos quadros de referência teórica sem os quais a pesquisa empírica de pesquisaação ou não não faria sentido Essas questões são vistas como sendo relacionadas ao papel da teoria na pesquisa e como contribuição específica dos pesquisa dores nos discursos que acompanham o desenrolar da pesquisa levando a uma deliberação acerca dos argumentos a serem levados em conta para estabelecer as conclusões Nos dias de hoje embora haja muitas pesquisas em diversas áreas de conhecimento aplicado sentese a falta de uma maior segu rança em matéria de metodologia quando se trata de investigar situa ções concretas Além disso no plano teórico a retórica sem controle corre solta Há um crescente descompasso entre o conhecimento usado 9 na resolução de problemas reais e o conhecimento usado apenas de modo retórico ou simbólico na esfera cultural A linha seguida pelos partidários da pesquisaação é diferente pretendem ficar atentos às exigências teóricas e práticas para equacionarem problemas relevantes dentro da situação social De acordo com a concepção didática deste livro o conteúdo é organizado em temas cada um sendo apresentado de modo conciso A nossa seleção dos temas corresponde às respostas a diferentes per guntas que sempre são formuladas nas discussões sobre a pesquisa ação de que temos participado no Brasil desde 1975 Muitas dessas perguntas nos foram sugeridas por alunos e professores de ciências sociais e de outras disciplinas na ocasião de cursos conferências ou seminários em várias universidades e por pesquisadores encontrados na realização de diversas consultorias Em si próprio o roteiro pro posto não pretende ser a solução de todos os problemas Os temas escolhidos foram agrupados em três capítulos 1 Estratégia de conhecimento 2 Concepção e organização da pesquisa 3 Áreas de aplicação No Capítulo I estão reunidos alguns temas gerais da estratégia de conhecimento enfatizando o papel da metodologia no controle das exigências científicas e a natureza argumentativa das formas de racio cínio que operam na concepção da pesquisaação A formulação das hipóteses ou diretrizes sua comprovação as inferências e generali zações não são apenas baseadas em dados e regras estatísticas No conjunto do processo da investigação e da ação a argumentação ou a deliberação desempenha um papel fundamental Além disso as implicações políticas e valorativas devem ficar sob o controle dos pesquisadores No Capítulo II apresentamos uma série de temas relacionados com a concepção e a organização prática de uma pesquisaação São destacadas questões vinculadas à fase exploratória o diagnóstico a escolha do tema a colocação dos problemas o lugar da teoria e das hipóteses a função do seminário no qual se reúnem os pesquisadores e os demais participantes a delimitação do campo de observação empí rica os problemas de amostragem e de representatividade qualitativa a coleta dedados a aprendizagem o cotejo do saber formal e do saber informal a elaboração de planos de ação e finalmente a divul gação dos resultados 10 No Capítulo III apresentamos como temas as diversas áreas de aplicação da pesquisaação em particular educação comunicação serviço social organização tecnologia rural e práticas políticas Em cada uma dessas áreas são discutidas algumas das especificidades da abordagem proposta Indicamos problemas a serem resolvidos e po tencialidades a serem aproveitadas em futuras pesquisas Em conclusão são retomadas sinteticamente importantes questões relacionadas com as condições intelectuais e práticas do desenvolvi mento da pesquisaação enquanto estratégia de conhecimento voltada para a resolução de prqblemas do mundo real Nossos agradecimentos são dirigidos aos professores Menga Lüdke Edil Paiva Newton A P Bryan Doraci Fernandes Moacir Gadotti Luis Roberto Ferreira da Costa Anamaria Fadul Carlos Eduardo Lins da Silva Walter Garcia e aos demais colegas que nos têm encorajado nos últimos anos no desenvolvimento da nossa reflexão sobre as alter nativas metodológicas em diferentes áreas de conhecimento e atuação Este trabalho é dedicado a Vania e François Jérôme 11 Capítulo 1 ESTRATÉGIA DE CONHECIMENTO Neste capítulo são apresentados temas gerais da estratégia de conhecimento que é própria à orientação metodológica da pesquisa ação tal como a concebemos Após uma discussão acerca das defini ções e dos objetivos apresentamos uma série de exigências necessárias à manutenção da pesquisaação no âmbito das ciências sociais Em seguida é descrito o papel da metodologia como sendo o de conduzir a pesquisa de acordo com as exigências científicas Procurando mostrar algumas das especificidades da pesquisaação no plano das formas de raciocínio indicamos que a natureza argumentativa ou deliberativa dos procedimentos está explicjtamente reconhecida contrariamente à concepção tradicional da pesquisa na qual são valorizados critérios lógicoformais e estatísticos Desenvolvendo este ponto de vista pro curamos mostrar como é possível estabelecer um vínculo entre de um lado o raciocínio hipotético e as exigências de comprovação e por outro lado as argumentações dos pesquisadores e participantes Mostramos que a concepção das hipóteses não deve ser confundida com a elaboração de testes de hipótese que é apenas uma técnica estatística de aplicação restritiva o que nes permite repensar as ques tões relacionadas com inferências e generalizações de um modo que não se limita ao campo das técnicas estatísticas Essas questões são também abordadas por intermédio dos recursos da argumentação de modo particularmente adequado no contexto da pesquisaação onde as interpretações da realidade observada e as ações transformadoras são objetos de deliberação Em seguida são apresentadas algumas reflexões introdutórias acerca do tema do relacionamento entre co nhecimento e ação Procuramos especificar o alcance das ações ou das transformações consideradas na pesquisa sem criar falsas expec tativas ao nível da sociedade Terminamos o nosso roteiro da estra 13 tégia de conhecimento por urna curta discussão sobre as suas impli cações políticas e valorativas 1 DEFINIÇÕES E OBJETIVOS Entre as diversas definições possíveis daremos a seguinte a pesquisaação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com urna ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadres e os participantes representativos da situação ou do problema estao en volvidos de modo cooperativo ou participativo Este tipo de definição deixa provisoriamente en aberto a qus tão valorativa pois não se refere a urna preetermuada onentao da ação ou a um predeterminado grupo socia Mmtos patrdans restringem a concepção e o uso da pesqmsaaçao a uma onentaçao de acão emancipatória e a grupos sociais que pertencem às classes popurares ou dominadas Nesse caso a pesquisaação é vista corno forma de engajamento sóciopolítico a serviço da causa das classes populares Esse engajamento é consitutivo d urna ba parte ds propostas de pesquisaação e pesqmsa participante tais corno sao conhecidas na América Latina e em outros países do Terceiro Mundo No entanto a metodologia da pesquisaação é igualmente discutida em áreas de atuacão técnicoorganizativa com outros tipos de com promissos sociais e ideológicos entre os quais destacase o compro misso de tipo reformador e participativo tal como no caso das pesquisas sóciotécnicas efetuadas segundo uma orientação de demo cracia industrial principalmente em países do Norte da Europa Embora seja precária a distinção entre os aspectos valorativos e os aspectos propriamente metodológicos ao nível de u processo de investigação consideramos que a estrutura metodologica da ps quisaação dá lugar a uma grande diversidade de propstas de pesqmsa nos diversos campos de atuação social Os valores vigentes em cada sociedade e em cada setor de atuação alteram sensivelmente o teor das propostas de pesquisaação Assim existe urna grande divrsi dade entre as propostas de caráter militante as propostas informativas e conscientizadoras das áreas educacional e de comunicação e final mente as propostas eficientizantes das áreas organizacional e tecno lógica Certos autores recusam a possibilidade de designar essas pro postas tão diversas por um mesmo vocábulo Abordaremos questões metodológicas gerais tentando dar conta desta diversidade de propostas Ao nível das definições uma questão freqüentemente discutida é a de saber se existe uma diferença entre pesquisaação e pesquisa 14 participante Thiollent 1984 a 82103 Isto é urna questão de termi nologia acerca da qual não há unanimidade Nossa posição consiste em dizer que toda pesquisaação é de tipo participativo a partici pação das pessoas implicadas nos problemas investigados é absolu tamente necessária No entanto tudo o que é chamado pesquisa par ticipante não é pesquisaação Isso porque pesquisa participante é em alguns casos um tipo de pesquisa baseado numa metodologia de observação participante na qual os pesquisadores estabelecem relações comunicativas com pessoas ou grupos da situação investigada com o intuito de serem melhor aceitos Nesse caso a participação é sobre tudo participação dos pesquisadores e consiste em aparente identifi cação com os valores e os comportamentos que são necessários para a sua aceitação pelo grupo considerado Para que não haja ambigüidade uma pesquisa podé ser quali ficada de pesquisaação quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação Além disso é preciso que a ação seja uma ação nãotrivial o que quer dizer uma ação problemática merecendo investigação para ser elaborada e conduzida Entre as ações encontradas algumas são de tipo reivindicatório por exemplo no contexto associativo ou sindical Em certos casos tratase de ações de caráter prático dentro de uma atividade coletiva por exemplo o lançamento de um jornal popular ou de outros meios de difusão no contexto da animação cultural Num contexto organi zacional a ação considerada visa freqüentemente resolver problemas de ordem aparentemente mais técnica por exemplo introduzir uma nova tecnologia ou desbloquear a circulação da informação dentro da organização De fato por trás de problemas desta natureza há sempre uma série de condicionantes sociais a serem evidenciados pela investigação Na pesquisaação os pesquisadores desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas em função dos problemas Sem dúvida a pesquisaação exige uma estrutura de relação entre pesquisadores e pessoas da situação investigada que seja de tipo participativo Os problemas de aceitação dos pesquisadores no meio pesquisado têm que ser resolvidos no decurso da pesquisa Mas a participação do pesquisador não qualifica a especificidade da pes quisaação que consiste em organizar a investigação em torno da concepção do desenrolar e da avaliação de uma ação planejada Nesse sentido pesquisaação e pesquisa participante não deveriam ser con fundidas embora autores tenham chamado pesquisa participante concepções de pesquisaação que não se limitam à aceitação dos 15 esquisadores no meio pesquisado como no cao de siples oser p t t A participação dos pesquisadores e explicitada vacao par 1c1pan e detro da situação de investigação com os cuidados necesano para ue haja reciprocidade por parte das pessoas e grupos 1mphcads esta situacão Além disso a participação os pesquisadores nao deve chegr a substituir a atividade própria dos grupos e suas iniciativas Em geral a idéia de pesquisação encontra um conteto fvo rável quando os pesquisadores nao qrem hm1ta suas mvestJg ções aos aspectos acadêmicos e burocratJcos da ma10na das psq sas convencionais Querem pesquisas nas quais as pessoas lIDP i cadas tenham algo a dizer e a aer Não se trat de simples levantamento de dados ou de relator10s a serem arquivados Com a pesquisaação os pesquisadores pretendem desempenhar um papel ativo na própria realidade dos fatos observados Nesta perspectiva é necessário definir com precisão e um lado qual é a acão quais são os seus agentes seus obietvos e obstáculos e por outro lado qual é a exigência de conhec111ento a ser produzido em função dos problemas encontrados na açao ou entre os atores da situação Resumindo alguns de seus principais aspectos consideraos que a pesquisaação é uma estratégia metodológica da pesquisa social na qual 16 a há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada b desta interação resulta a ordem de prioridade dos prblemas a serem pesquisados e das soluções a serem encammhadas sob forma de ação concreta c 0 objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e plos roblemas de diferentes naturezas encontrados nesta s1tuaçao d 0 objetivo da pesquisaação consiste em resolver ou pelo menos em esclarecer os problemas da situação observada e há durante 0 processo um acomanhaiiento das decisões das ações e de toda a atividade mtencional dos atores da situação f a pesquisa não se limita a uma forma d ação risco de aticvismo pretendese aumentar o conhecimento d e quisadores e o conhecimento ou o nível de consciencia das pessoas e grupos considerados A configuração de uma pesquisaação depende dos seus obje tivos e do contexto no qual é aplicada Vários casos devem ser distinguidos Num primeiro caso a pesquisaação é organizada para realizar os objetivos práticos de um ator social homogêneo dispondo de sufi ciente autonomia para encomendar e controlar a pesquisa O ator é freqüentemente uma associação ou um agrupamento ativo Os pes quisadores assumem os objetivos definidos e orientam a investigação em função dos meios disponíveis Num segundo caso a pesquisaação é realizada dentro de uma organização empresa ou escola por exemplo na qual existe hierar quia ou grupos cujos relacionamentos são problemáticos A pesquisa pode vir a ser utilizada por uma das partes em detrimento dos interesses das outras partes Nesse caso o relacionamento dos pes quisadores com os grupos da situação observada é muito mais com plicado do que no caso precedente tanto no plano ético quanto no plano da prática da pesquisa Considerase no plano ético que os pesquisadores da linha da pesquisaação não podem aceitar tra balhar em pesquisas manipuladas por uma das partes nas organi zações em particular por aquela que está mais vinculada ao poder Após uma fase de definição dos interessados na pesquisa e das exigências dos pesquisadores se houver possibilidade de conduzir a pesquisa de um modo satisfatoriamente negociado os problemas de relacionamento entre os grupos serão tecnicamente analisados por meio de reuniões no seio das quais todas as partes deverão estar representadas Num terceiro caso a pesquisaação é organizada em meio aberto por exemplo bairro popular comunidade rural etc Nesse caso ela pode ser desencadeada com uma maior iniciativa por parte dos pesquisadores que às vezes devem se precaver de possíveis inclinações missionárias sempre propícias à perda do mínimo de objetividade que é requerido na pesquisa Freqüentemente a pes quisa é organizada em função de instituições exteriores à comuni dade Os pesquisadores elucidam os diversos interesses implicados Na prática os três casos que distinguimos algumas vezes se apresentam sob forma mesclada Seja como for a atitude dos pes quisadores é sempre uma atitude de escuta e de elucidação dos vários aspectos da situação sem imposição unilateral de suas con cepções próprias Na fase de definição da pesquisaação uma outra condição necessária consiste na elucidação dos objetivos e em particular da relação existente entre os objetivos de pesquisa e os objetivos de 17 ação Uma das especificidades da pesquisaação consiste no relacio namento desses dois tipos de objetivos a Objetivo prático contribuir para o melhor equacionamento possível do problema considerado como central na pesquisa com levantamento de soluções e proposta de ações corres pondentes às soluções para auxiliar o agente ou ator na sua atividade transformadora da situação É claro que este tipo de objetivo deve ser visto com realismo isto é sem exageros na definição das soluções alcançáveis Nem todos os problemas têm soluções a curto prazo b Objetivo de conhecimento obter informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos aumen tar nosso conhecimento de determinadas situações reivin dicações representações capacidades de ação ou de mo bilização etc A relação existente entre esses dois tipos de objetivos é vana vel De modo geral considerase que com maior conhecimento a ação é melhor conduzida No entanto as exigências cotidianas da prática freqüentemente limitam o tempo de dedicação ao conheci mento Um equilíbrio entre as duas ordens de preocupação deve ser mantido Como complemento à discussão dos objetivos da pesquisaação podemos indicar casos nos quais o objetivo é sobretudo instrumen tal isto acontece quando a pesquisa tem um propósito limitado à resolução de um problema prático de ordem técnica embora a técnica não seja concebida fora do seu contexto sóciocultural de geração e uso Encontramos outras situações nas quais os objetivos são voltados para a tomada de consciência dos agentes implicados na atividade investigada Nesse caso não se trata apenas de resol ver um problema imediato e sim desenvolver a consciência da cole tividade nos planos político ou cultural a respeito dos problemas importantes que enfrenta mesmo quando não se vêem soluções a curto prazo como por exemplo nos casos de secas efeitos da pro priedade fundiária etc O objetivo é tornar mais evidente aos olhos dos interessados a natureza e a complexidade dos problemas consi derados Finalmente existe uma outra situação quando o objetivo da pesquisaação é principalmente voltado para a produção de conhe cimento que não seja útil apenas para a coletividade considerada na investigação local Tratase de um conhecimento a ser cotejado com outros estudos e suscetível de parciais generalizações no estudo 18 de problemas sociológicos educacionais ou outros de maior alcance A enfase pode ser dada a um dos três aspectos resolucão de pro blemas tomada de consciência ou produção de conhecimnto Muitas vezes a pesquisaação só consegue alcançar um ou outro desses três aspectos Podemos imaginar que com maior amadurecimento meto dológico a pesquisaação quando bem conduzida poderá vir a alcançálos simultaneamente Uma última questão freqüentemente abordada consiste na dife rença que existe entre a pesquisaação e a pesquisa convencional uma pesquisa crvencional não há participação dos pesquisadores Unto com os usuanos ou pessoas da situação observada Além disso sempre á uma grande distância entre os resultados de uma pesquisa convnc10nal e as ossívei decisões ou ações decorrentes Em geral tal tipo de pesqmsa se msere no funcionamento burocrático das instituições Os usuários não são considerados como atores Ao nível da pesquisa o usuário é mero informante e ao nível da acão ele é ero executor Esta concepção é incompatível com a da psquisa açao sempre pressupondo participação e ação efetiva dos interes sados Podemos acrescentar que na pesquisa social convencional são privilegiados os aspectos individuais tais como opiniões atitu des motivações comportamentos etc Esses aspectos são geralmente captados por meio de questionários e entrevistas que não permitem que se tenha uma visão dinâmica da situacão Não há focalizacão da pesquisa na dinâmica de transformação desta situação nua outra situação desejada Ao contrário pela pesquisaação é possível estudar dinamicamente os problemas decisões ações negociações conflitos e tomadas de consciência que ocorrem entre os agentes durante o processo de transformação da situação Por exemplo no campo industrial é o caso quando se trata de transformar uma forma de organização do trabalho individualmente segmentada e rotinizada numa forma de organização com grupos dispondo de auto nomia e flexibilidade na execução do trabalho De modo geral a observação do que ocorre no processo de transformação abrange problemas de expectativas reivindicações decisões ações e é reali zada través de reunies seminários nos quais participam pessoas de diversos grupos 1mphcados na transformacão As reuniões e seminários podem sei alimentados por informaçõs obtidasem grupos de pes9msa especializados por assuntos e também por informações provementes de outras fontes inclusive quando utilizáveis aquelas que foram obtidas por meios convencionais entrevistas documentação etc Este tipo de concepção pode ser aplicado n caso do estudo de inovações ou de transformações técnicas e sociais nas organizações e também nos sistemas de ensino 19 2 EXIGÉNCIAS CIENTÍFICAS Entre os partidários da pesquisaação e da pesquisa partici pante é freqüente o clima de suspeita para com teorias métodos e outros elementos valorizados pelo espírito científico Às vezes che gase a muita participação e a pouco conhecimento A nosso ver na pesquisaação se devem manter algumas condições de pesquisa e algumas exigências de conhecimento associadas ao ideal científico que contrariamente a uma certa opinião corrente não se confunde com o positivismo ou qualquer outra circunstancial ideologia da ciência No contexto da animação e difusão cultural em meio operário D Charasse mostra que a pesquisaação é insuficiente quando des provida do questionamento próprio à pesquisa científica Charasse 1983 13340 Tal experiência não passa de uma compilação sem enriquecimento da informação Além disso quando não há inter rogação acerca do papel dos pesquisadores intervenientes há risco de manipulação É preciso evitar de um lado o tecnocratismo e o academicismo e por outro o populismo ingênuo dos animadores A nosso ver um grande desafio metodológico consiste em fun damentar a inserção da pesquisaação dentro de uma perspectiva de investigação científica concebida de modo aberto e na qual ciên cia não seja sinônimo de positivismo funcionalismo ou de outros rótulos Como visto no item precedente na pesquisaação existem obje tivos práticos de natureza bastante imediata propor soluções quando for possível e acompanhar ações correspondentes ou pelo menos fazer progredir a consciência dos participantes no que diz respeito à existência de soluções e de obstáculos No contexto organizacional onde há nítida divisão entre diri gentes e dirigidos é claro que a pesquisaação pode ficar repleta de ambigüidades e seu alcance pode ser limitado de modo utilitarista por parte dos dirigentes ao colocarem problemas de seu exclusivo interesse como prioritários independentemente de sua relevância científica eventualmente muito fraca tal como no caso dos estudos de liderança Quando se trata de pesquisaação voltada para os problemas da coletividade como por exemplo a organização do trabalho em mutirão o acesso à escola ou à moradia os objetivos práticos con sistem emfazer um levantamento da situação formular reivindica ções e ações São objetivos práticos voltados para se encontrar uma saída dentro do contexto As soluções imediatas são selecionadas 20 em função de diferentes critérios correspondentes a uma definição dos interesses da coletividade Todos esses objetivos práticos não devem nos fazer esquecer que a pesquisaação como qualquer estratégia de pesquisa possui também objetivos de conhecimento que a nosso ver fazem parte da expectativa científica que é própria às ciências sociais São muito variáveis os pontos de vista de diferentes autores acerca do grau de sintonia da pesquisaação com a idéia de ciên cia Podemos até encontrar autores e pesquisadores comprometidos com pesquisaação e pesquisa participante que perderam de vista a idéia ou o ideal das ciências sociais ou da ciência em geral A ação ou a participação em si próprias seriam suficientes Conheci mento e ação ciência e saber popular estariam fundidos numa só atuação Não haveria mais lugar autônomo para a ciência que no caso seria apenas considerada como produto tipicamente acadê mic positivista ocidental e decadente A pesquisaação não prec1sana prestar contas à ciência e às suas instituições A nosso ver este ponto de vista é exagerado e perigoso Alguns aspectos da crítica ao sistema convencional da pesquisa científica academicismo dependência institucional unilateralidade da inter pretação etc são muito pertinentes Mas isto não deve nos fazer abrir mão das idéias de ciência e de racionalidade sem as quais sempre há riscos de recaídas no irracionalismo que tanto no passado como no presente foi associado ao obscurantismo e às ma nipulações de toda ordem Hoje em dia não existe um padrão de cientificidade universal mente aceito nas cincias sociais O positivismo e o empiricismo que prevalecem na literatura do mundo anglosaxão são contestados inclusive nos seus centros de origem Podemos optar por instrumentos de pesquisa não aceitos pela maioria dos pesquisadores de rígida for mação à moda antiga sem por isso abandonar a preocupação científica Embora se incompatível com a metodologia de experimenta çao em laboratono e com os pressupostos do experimentalismo neu tralidade e nãointerferência do observador isolamento de variáveis etc a pesquisaaçãá não deixa de ser uma forma de experimentaJ ção em situação real na qual os pesquisadores intervêm conscien temente Os participantes não são reduzidos a cobaias e desempe nham um papel ativo Além disso na pesquisa em situação real as variáveis não são isoláveis Todas elas interferem no que está sendo observado Apesar disso tratase de uma forma de experi mentação na qual os indivíduos ou grupos mudam alguns aspectos da situação pelas ações que decidiram aplicar Da observação e da 21 avaliação dessas ações e também pela evidenciação dos obstáculos encontrados no caminho há um ganho de informação a ser captado e restituído como elemento de conhecimento Consideramos que a pesquisaação não é constituída apenas pela ação ou pela Prticipação Com ela é necessário produzir conheci mentos adquirir experiência contribuir para a discussão ou fazer avancar o debate acerca das questões abordadas Parte da informa ção gerada é divulgada sob formas e por meios apropriados no seio da população Outra parte da informação cotejaa com resul tados de pesquisas anteriores é estruturada em conhecimentos Estes são divulgados pelos canais próprios às ciências sociais revistas congressos etc e também por meio de canais próprios a esta linha de pesquisa Achamos que a pesquisaação deve ficar no âmbito das ciências sociais podendo inclusive ser enriquecida pelas contribuições de outras linhas compatíveis em particular linhas metodológicas con centradas na análise da linguagem em situação social Thiollent 1981 81105 Os pesquisadores da linha pesquisaação que negam seu papel próprio estão em situação paradoxal pesquisar sem ser pesquisador Além disso o descontrole da atividade de pesquisa deixa margem a todas as formas de manipulação e de aproveita mento para fins particulares A manutenção da pesquisaação dentro do conjunto das exi gências científicas tem que ser melhor explicitada As exigências consideradas são diferentes daquelas que são comumente aceitas de acordo com o padrão convencional de observação no qual há total separação entre observador e observados total substituibilidade os pesquisadores e quantificação da informação colhida na observaçao enquanto princípios de objetividade Tais princípios observacionais pertencem ao espírito científico porém não são os únicos não 1se aplicam em todas as áreas com o mesmo grau de necessidade Sem abandonarmos o espírito científico podemos conceber dispo sitivos de pesquisa social com base empírica nos quais em vez de separação haja um tipo de coparticipação dos pesquisadores e das pessoas implicadas no problema investigado A substituibilidade dos pesquisadores não é total pois o que cada pesquisador observa e interpreta nunca é independente da sua formação de suas experiên cias anteriores e do próprio mergullio na situação investigada Em lugar de substituibilidade a condição de objetividade pode ser parcialmente respeitada por meio de um controle metodológico do processoinvestigativo e com o consenso de vários pesquisadores acerca do que está sendo observado e interpretado Por sua vez a quantificação é sempre útil quando se trata de estudar fenômenos 22 cujas dimensões e variações são significativas e quando existem ins trumentos de medição aplicáveis sem demasiado artificialismo Mas a quantificação aparentemente mais precisa do que qualquer avalia ção subjetiva é freqüentemente uma ilusão Em muitos casos a descrição verbal minuciosa a apreciação em escalas grosseiras do tipo fortefraco grandemédiopequeno aumentodiminuição etc são suficientes para satisfazer os objetivos da pesquisa Tais aprecia ções são factíveis no processo de pesquisaação e inclusive com recursos de procedimentos argumentativos para se chegar ao con senso dos participantes em torno das mesmas Por ser muito mais dialógico do que o dispositivo de observa ção convencional o dispositivo da pesquisaação pode parecer menos preciso e menos objetivo Relativizando essas noções podemos con siderar que elas não são por isso necessariamente perdidas de vista pelos pesquisadores A discussão e a participação dos pesquisadores e dos participantes em diversas estruturas coletivas seminários gru pos etc não são em si próprias nocivas à objetividade A falta de objetividade também pode existir nos modos de relacionamento burocrático dos pesquisadores convencionais O caráter burocrático do relacionamento pode ser observado entre os pesquisadores prin cipais confinados em gabinetes e os pesquisadores ou entrevistado res que atuam no campo empírico e também entre estes últimos e os indivíduos escolhidos como informantes em função da amos tragem Os pesquisadores principais raciocinam em gabinete na base de uma grande quantidade de informações quantitativas obtidas pelos procedimentos rotineiros Nessas condições a qualidade e a objetividade do raciocínio não são necessariamente superiores Na pesquisa ativa há um constante questionamento sempre é preciso argumentar a favor ou contra determinadas apreciações e interpre tações Seu aspecto coletivo pode ser fonte de manipulações Sob controle metodológico há também condições de uma constante auto correção sempre melhorando a qualidade e a relevância das obser vações Em si a intercomunicação entre observadores e pessoas e gru pos implicados na situação e também a restituição do papel ativo a todos os participantes que acompanham as diversas fases da pes quisa não constituem infrações ao código da ciência quando este é entendido de modo plural em particular no plano metodológico A compreensão da situação a seleção dos problemas a busca de soluções internas a aprendizagem dos participantes todas as características qualitativas da pesquisaação não fogem ao espírito científico O qualitativo e o diálogo não são anticientíficos Reduzir a ciência a um procedimento de processamento de dados quantifica 23 dos corresponde a um ponto de vista criticado e ultrapassado até mesmo em alguns setores das ciências da natureza Do ponto de vista científico a pesquisaação é uma proposta metodológica e técnica que oferece subsídios para orgamzar a pes quisa social aplicada sem os excessos da postura convencional ao nível da observação processamento de dados experimentação etc Com ela se introduz urna maior flexibilidade na concepção e na aplicação dos meios de investigação concreta Além disso podemos considerar que internamente ao processo de pesquisaação encontramos qualidades que não estão preentes nos processos convencionais Por exemplo podemos captar mfor mações geradas pela mobilização coletiva em torno de ações con cretas que não seriam alcançáveis nas circunstâncias da observação passiva Quando as pessoas estão fazendo alguma coisa relacionada com a solução de um problema seu há condição de estudar este problema num nível mais profundo e realista do que n nível opi nativo ou representativo no qual se reproduzem apenas imagens m dividuais e estereotipadas Outra qualidade da pesquisaação consiste no fato de que as populações não são consideradas corno ignorantes e desinteressadas Levando a sério o saber espontâneo e cotejandoo com as expli cações dos pesquisadores um conhecimento descritivo e crítico é gerado acerca da situação com todas as sutilezas e nuanças que em geral escapam aos procedimentos padronizados Com a divulgação de informação dentro da população com o processo de aprendizagem dos pesquisadores e dos participantes com o eventual treinamento de pessoas leigas para desempenharem a função de pesquisadores é possível esperar a geração de urna massa de informação signifi cativa aproveitando um amplo concurso de competências diversas 3 O PAPEL DA METODOLOGIA A partir da concepção anteriormente esboçada podemos con siderar que na organização e na conduta de urna pesquisaação a metodologia das ciências sociais tem um importante papel a desem penhar Esta afirmação é contrária a uma opinião difundida em certos meios acadêmicos segundo a qual a pesquisaação é um tipo de atividade escolhida por pesquisadores que não entendem de meto dologia e nem querem se submeter às suas exigências Todavia tais pesquisadores existem e a nosso ver prejudicam a imagem de sua própria atividade Paraevitarmos certas confusões precisamos redefinir o que é a metodologia e especificar seu papel Uma das perguntas freqüen 24 temente formuladas é a seguinte a pesquisaação é um método Uma técnica Urna metodologia Esta pergunta parece estar ligada à im precisão relativa ao uso desses três termos não somente no campo da pesquisaação mas também no contexto geral das ciências sociais Existe uma confusão terminológica que podemos analisar como sendo urna confusão entre de um lado o nível da efetiva aborda gem da situação investigada com métodos e técnicas particulares e por outro lado o rnetanível constituído pela metodologia enquanto instância de reflexão acerca do primeiro nível Esta distinção existe sob forma genérica como distinção entre informação e metainfor mação ou conhecimento e metaconhecimento Podemos distinguir o nível do método efetivo ou da técnica aplicado na captação da informação social e a metodologia como metanível no qual é deter minado corno se deve explicar ou interpretar a informação colhida A metodologia é entendida como disciplina que se relaciona com a epistemologia ou a filosofia da ciência Seu objetivo consiste em analisar as características dos vários métodos disponíveis avaliar suas capacidades potencialidades limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as implicações de sua utilização Ao nível mais aplicado a metodologia lida com a avaliação de técnicas de pes quisa e com a geração ou a experimentação de novos métodos que rerneteni aos modos efetivos de captar e processar informações e resolver diversas categorias de problemas teóricos e práticas da inves tigação Além de ser uma disciplina que estuda os métodos a meto dologia é também considerada corno modo de conduzir a pesquisa Neste sentido a metodologia pode ser vista corno conhecimento geral e habilidade que são necessários ao pesquisador para se orientar no processo de investigação tornar decisões oportunas selecionar con ceitos hipóteses técnicas e dados adequados O estudo da metodo logia auxilia o pesquisador na aquisição desta capacidade Associado à prática da pesquisa o estudo da metodologia exerce uma impor tante função de ordem pedagógica isto é a formação do estado de espírito e dos hábitos correspondentes ao ideal da pesquisa científica À luz do que precede a pesquisaação não é considerada como metodologia Tratase de um método ou de urna estratégia de pes quisa agregando vários métodos ou técnicas de pesquisa social com os quais se estabelece urna estrutura coletiva participativa e ativa ao nível da captação de informação A metodologia das ciências sociais considera a pesquisaação como qualquer outro método Isto quer dizer que ela a toma como objeto para analisar suas quali dades potencialidades limitações e distorções A metodologia ofe 25 rece subsídios de conhecimento geral para orientar a concepção da pesquisaação e controlar o seu uso Como estratégia de pesquisa a pesquisaação pode ser vista como modo de conceber e de organizar uma pesquisa social de fina lidade prática e que esteja de acordo com as exigências próprias da ação e da participação dos atores da situação observada Neste processo a metodologia desempenha um papel de bússola na ativi dade dos pesquisadores esclarecendo cada uma das suas decisões por meio de alguns princípios de científicidade Uma pesquisa con cebida sem esse tipo de exigência corre o risco de se limitar a uma simples reprodução de lugarescomuns e de encobrir manipulações por parte de quem fala mais alto nas situações observadas O fato de manter na pesquisaação algum tipo de exigência metodológica e científica não deve ser interpretado como cientificismo positi vismo ou academicismo É apenas um elemento de defesa contra as ideologias passageiras e contra a mediocridade do senso comum O papel da metodologia consiste também no controle detalhado de cada técnica auxiliar utilizada na pesquisa Como já indicamos a pesquisaação definida como método ou como estratégia de pes quisa contém diversos métodos ou técnicas particulares em cada fase ou operação do processo de investigação Assim há técnicas para coletar e interpretar dados resolver problemas organizar ações etc A diferença entre método e técnica reside no fato de que a segunda possui em geral um objetivo muito mais restrito do que o primeiro Seja como for podemos considerar que no desenvolvi menta da pesquisaação os pesquisadores recorrem a métodos e técnicas de grupos para lidar com a dimensão coletiva e interativa da investigação e também técnicas de registro de processamento e de exposição de resultados Em certos casos os convencionais ques tionários e as técnicas de entrevista individual são utilizados como meio de informação complementar Também a documentação dispo nível é levantada Em certos momentos da investigação recorrese igualmente a outros tipos de técnicas diagnósticos de situação reso lução de problemas mapeamento de representações etc Na parte informativa da investigação técnicas didáticas e técnicas de divul gação ou de comunicação inclusive audiovisual também fazem parte dos recursos mobilizados para o desenvolvimento da pesquisaação Nesse quadro geral o papel da metodologia consiste em avaliar as condições de uso de cada uma das técnicas As características de cada método ou de cada técnica podem interferir no tipo de inter pretação cdos dados que produzem É conhecido em particular o fato de que as técnicas de entrevistas ou outras técnicas de origem psicológica podem contribuir quando usadas inadequadamente para 26 psicologizar a realidade social ou cultural observada Thiollent 1980 a A preocupação metodológica dos pesquisadores permite apontar esses riscos e criar condições satisfatórias para uma combinação de técnicas apropriadas aos objetivos da pesquisa Mesmo quando as distorções introduzidas pelo uso das técnicas não podem ser cor rigidas a simples evidenciação metodológica da sua existência já constitui um aspecto altamente positivo podendo inclusive ser apro veitado na avaliação qualitativa do grau de objetividade alcançado Além do controle dos métodos e técnicas o papel da metodo logia consiste em orientar o pesquisador na estrutura da pesquisa com que tipo de raciocínio trabalhar Qual o papel das hipóteses Como chegar a uma certeza maior na elaboração dos resultados e interpretações Essas são algumas questões controvertidas que abor daremos agora 4 FORMAS DE RACIOCÍNIO E ARGUMENTAÇÃO Numa pesquisa sempre é preciso pensar isto é buscar ou com parar informações artiéular conceitos avaliar ou discutir resultados elaborar generalizações etc Todos esses aspectos constituem uma estrutura de raciocínio subjacente à pesquisa Na linha convencional os pesquisadores valorizam na estrutura de raciocínio sobretudo re gras lógicoformais e critérios estatísticos que nem sempre respeitam na prática Na linha alternativa as formas de raciocínio são muito mais flexíveis Ninguém pretende enquadrálas em rígidas regras for mais No entanto tais formas de raciocínio não excluem recursos hipo téticos inferenciais e comprobatórios e também incorporam compo nentes de tipo discursivo ou argumentativo a serem evidenciados Esses aspectos são raramente abordados na literatura sobre pesquisaação ou pesquisa participante A nosso ver eles precisam ser analisados para se chegar a uma clara demarcação no plano cognitivo entre pesquisa convencional e pesquisa alternativa Esta demarcação não deve ser vista como oposição entre dois mundos separados Os problemas tra dicionais do raciocínio hipóteses inferências etc encontram apenas soluções diferentes As soluções próprias à pesquisa alternativa mere cem ser melhor conhecidas e ampliadas para que ela possa superar muitas das confusões que lhe são atribuídas Devido aos seus objetivos específicos e ao seu conteúdo social a proposta de pesquisaação está muito afastada das preocupações meto dológicas relacionadas com a formalização ou com as questões de ló gica em geral Porém algumas questões subsistem Parecenos evidente que a lógica formal clássica com suas formulações binárias verdade 27 falsidade terceiro excluído etc é de pouca valia para dar conta de conhecimentos cujas características são principalmente informais e obti das em situação comunicativa ou interativa Além disso entre os partidários das alternativas metodológicas há uma ampla condenação da antiga posição segundo a qual tudo o que não se enquadra na lógica tradicional estaria fora do conhecimento científico rigoroso coe rente etc Hoje em dia independentemente da linha alternativa existe uma pluralidade de lógicas e de abordagens argumentativas que dão conta de raciocínios informais e de suas expressões em linguagem co mum Noutros termos o que antigamente era considerado como de vendo estar excluído da ciência por falta de coerência ou de clareza lógica hoje em dia é potencialmente resgatável A pesquisa não perde a sua legitimidade científica pelo fato dela estar em con dição de incorporar raciocínios imprecisos dialógicos ou argumen tativos acerca de problemas relevantes Tal incorporação supõe muito mais do que recursos lógicos a metodologia deve incluir no seu registro o estudo cuidadoso da linguagem em situação e com isto o pesquisador não precisa temer a questão da imprecisão Processar a informação e o conhecimento obtidos em situações interativas não constitui em si mesmo uma infração contra a ciência social Alguns detratores da pesquisaação e da pesquisa participante e em certos casos alguns de seus partidários divulgam a idéia segundo a qual tal orientação de pesquisa não teria lógica nem estru tura de raciocínio não haveria hipóteses inferências enfim seria sobretudo uma questão de sentimento ou de vivência Como já foi sugerido achamos este ponto de vista equivocado sobretudo quando são partidários da linha alternativa que o defendem Não há pes quisa sem raciocínio Quando não queremos pensar raciocinar co nhecer algo sobre o mundo circundante é melhor não pretendermos pesquisar Além disso quando queremos interferir no mundo preci samos de conceitos hipóteses estratégias comprovações avaliações e outros aspectos de uma atividade intelectual É necessário descrever alguns aspectos da estrutura de racio cínio subjacente à pesquisaação A dificuldade está no fato de que não se trata de uma estrutura lógica simples enquadrável em poucas fórmulas conhecidas Tal estrutura contém momentos de raciocínio de tipo inferencial não limitados às inferências lógicas e estatísticas e é moldada por processos de argumentação ou de diálogo entre vários interlocutores O objetivo da análise ou descrição desta estru tura cognitiva não é mero jogo formalista Não se trata de chegar a uina formalização lógica nem a um cálculo de proposições ou à ma nipulação de variáveis simbolicamente representadas O principal obje 28 tivo consiste em oferecer ao pesquisador melhores condicões de com preensão decifração interpretação análise e síntese d material qualitativo gerado na situação investigativa Este material é essen cialmente feito de linguagem sob formas de simples verbalizações imprecações discursos ou argumentações mais ou menos elaboradas A significação do que ocorre na situação de comunicação estabelecida pela investigação passa pela compreensão e a análise da linguagem em situação Um mínimo de conhecimento nesse setor é necessário para que o pesquisador não caia em ingenuidades Por exemplo se desconhecesse a natureza discursiva do que está sendo produzido o pesquisador poderia não enxergar as jogadas argumentativas dos vários parceiros e finalmente tomar o que é dito como simples e fiel expressão da realidade ou da verdade No processo investigativo a argumentação se manifesta de modo particularmente significativo no decorrer das deliberações relativas à interpretação dos fatos das informações ou das ações dos diferentes atores da sitação A argumentação no nosso contexto designa várias formas de raciocínio que não se deixam enquadrar nas regras da lógica con vencional e que implicam um relacionamento entre pelo menos dois interlocutores um deles procurando convencer o outro ou refutar seus argumentos Esta discussão adquire uma forma de diálogo que pode ser de caráter construtivo quando os interlocutores buscam con juntamente as soluções A forma pode também ser destrutiva quando houver polêmica caso em que um dos interlocutores pretende des truir os argumentos do outro De acordo com a teoria de C Perelman e L OlbrechtsTyteca 1976 os processos argumentativos levam em conta a presença real ou imaginária de um auditório sobre o qual se exercem influências e cujas reações são capazes de fortalecer ou de enfraquecer as posições de um ou outro interlocutor a respeito de um determinado assunto Como se sabe na antigüidade grega o raciocínio próprio à argu mentação era designado pela noção de dialética Esta noção tem sido utilizada em outros contextos com definições muito diferentes a partir do século XIX marcado pelo hegelianismo e pelo marxismo No seu sentido antigo a noção de dialética permitia salientar o ca ráter crítico dos raciocínios articulados em situacões de discussão ou de debates com vários graus de polemicidade m torno de ques tões controvertidas Do poiito de vista científico tradicional os processos argumen ªtlos da lmguagen ordinária são repletos de ambigüidades e logo mut1lzave1s como nsrumentos de raciocínio rigoroso Após ter pre valecido durante vanos seculos esse ponto de vista tende a ser 29 substituído por um outro ainda em discussão ao nível filosófico segundo o qual a racionalidade da lógica formal é rigorosa porém não permite dar conta das sutilezas funções e flutuações das interações argumentativas discursivas ou dialógicas Além do mais alguns filósofos atuais consideram que a argu mentação está presente inclusive nas formas superiores de raciona lidade Segundo V Descambe assistimos ao reconhecimento da na tureza argumentativa do que os filósofos chamam razão e cujo uso não é evidentemente limitado às ciências exatas nem às outras ciên cias encontrase tanto nas diversas transações humanas como na de liberação prática Descambe 1984 No contexto específico da pesquisa social que consideramos aqui a noção de argumentação pode chegar a substituir a tradicional noção de demonstração Esta última exige um grau maior de formalização ou de axiomatização que é muito difícil raramente alcançável em ciência social e praticamente impossível em pesquisas de finalidade prática Embora objeto de discussão a noção de demonstração ainda faz sentido em matemática lógica e ciências exatas nas quais o arca bouco matemático é muito desenvolvido A matematizacão das ciên cias sociais ainda é muito precária e freqüentemente ão passa de uma formulação estatística do processamento de dados empíricos Na própria interpretação qualitativa dos resultados quantitativos sempre há aspectos argumentativos ou deliberativos para dar sentido ao que se pretende em função de objetivos científicos descrição objetiva comprovação etc e algumas vezes extracientíficos justificar uma situação enfraquecer um adversário influenciar o auditório No entanto é preciso fazer algumas ressalvas Se toda forma de razão é discussão isto não quer dizer que todas as discussões sejam expres são da razão Muito pelo contrário Dentro da discussão que acom panha a pesquisa a busca da racionalidade deve ser um constante objetivo dos pesquisadores O que exige como já foi sugerido um determinado tipo de precauções metodológicas e a minimização dos aspectos extracientíficos A teoria da argumentação diz respeito aos procedimentos ou re gras de constituição dos debates públicos das deliberações jurídicas e das discussões em diversos campos de atuação inclusive o das ciências sociais quando concebidas num quadro não positivista Se gundo C Perelman e L OlbrechtsTyteca a teoria da argumentação não se enquadra na lógica formal e se limita ao conhecimento apro ximativo Escrevem eles O domínio da argumentação é ô do veros similhante do plausível do provável na medida em que este último escapa às certezas do cálculo Perelman e OlbrechtsTyteca 1976 1 Em vez da estrutura lógicoformiil há na investigação social o re 30 conhecimento de um processo argumentativo Tal tipo de investigação não é do tipo das ciências exatas e abandonou qualquer veleidade de sêlo Com isso se procura reconhecer o valor cognoscitivo do processo argumentativo ou deliberativo Abandonouse também a idéia se gundo a qual haveria um único tipo de comprovação séria a com provação observacional e quantificada das ciências da natureza Não se pretende fazer previsões a partir de cálculos numéricos Tratase apenas de previsões argumentadas estabelecendo qualitativamente as condições de êxito das ações e avaliando subjetivamente a probabi lidade de tal ou qual acontecimento o que de fato não está aquém da nossa atual capacidade de antecipação em matéria de assuntos sociais A abordagem metodológica que é específica ao que designamos pela noção de pesquisaação apresenta muitas características que são próprias aos processos argumentativos Tais processos se encontram explicitamente na explicação e nas interpretações em ciências sociais e a nosso ver desempenham um claro papel no caso dos métodos alternativos em pesquisa social Aplicando algumas noções da perspectiva argumentativa ao caso particular da pesquisaação podemos notar que os aspectos argu mentativos se encontram a na colocação dos problemas a serem estudados conjuntamente por pesquisadores e participantes b nas explicações ou soluções apresentadas pelos pesquisa dores e que são submetidas à discussão entre os participantes c nas deliberações relativas à escolha dos meios de ação a serem implementados d nas avaliações dos resultados da pesquisa e da correspon dente ação desencadeada Observamos que no decorrer do processo de investigação os aspec tos argumentativos presentes nas formas de raciocínio são articula dos principalmente em situações de discussão ou de diálogo entre pesquisadores e participantes Discussão é diferente de debate pois esta última noção remete a situações nas quais os interlocutores de fendem posições geralmente incompatíveis No caso da discussão os pesquisadores e participantes efetivos estabelecem uma comunidade de espíritos ou um vínculo intelectual No entanto isto não exclui que de vez em quando haja também elementos de polêmica Além disso a comunidade de espíritos não precisa ser de natureza reli giosa Não se trata de fazer os participantes aderirem a dogmas prees tabelecidos como no caso da atividade de grupos religiosos ou de grupúsculos políticos sectários E apenas uma questão de se chegar 31 ao consenso acerca da descrição de uma situação e a uma convicção a respeito do modo de agir Todo processo argumentativo supõe a existência de um auditório nos sentidos real e figurado No caso dos processos argumentativos operando no contexto da pesquisaação podemos imaginar a presença de um auditórÍO estruturado em vários níveis a o auditório efetivo constituído pelos grupos de participantes exercendo um papel ativo nos diversos tipos de seminários de pesquisa ou assembléias de discussão de resultados b o conjunto da população no qual a pesquisa é organizada e para o qual é dirigida uma série de informações por intermédio de diversos meios de comunicação formal e informal c os diferentes setores sociais ligados ao poder ou não que não são diretamente incluídos no campo de pesquisa mas sobre os quais os resultados da pesquisa podem exercer alguma forma de influência d setores acadêmicos interessados na pesquisa social e suscetí veis de dar palpites favoráveis ou desfavoráveis acerca dos pesqui sadores e dos resultados de suas atividades Entre os possíveis efeitos que a pesquisaação pode exercer sobre o auditório acadêmico há todo um leque de atitudes possíveis reforçar o desprezo abrir a discussão iniciar revisões nos padrões metodológicos etc No processo argumentativo ao levarem em consideração a pre senca de um ou outro dos vários auditórios os interlocutores não estio necessariamente procurando efeitos visando a sua satisfação própria Na argumentação podemos encontrar táticas de luta mani pulações de sentido deturpações etc O pesquisador não aceita qual quer argumento na elaboração das interpretações Em particular ele tem que criticar os argumentos contrários ao ideal científico parcia lidade engano etc e promover aqueles que fortalecem a objetividade e a racionalidade dos raciocínios embora com flexibilidade Veremos nos próximos itens que existem aspectos argumentativos em vários momentos importantes do raciocínio subjacente à pesquisa em particular quando se trata de lançar uma hipótese fazer uma inferência comprovar um resultado ou enunciar uma generalização 5 HIPÓTESES E COMPROVAÇÃO M11itos autores consideram que na pesquisaação não se aplica o tradfcional esquema formulação de hipótesescoleta de dadoscom provação ou refutação de hipóteses Este esquema não seria aplicá vel nas situações sociais de caráter emergente com aspectos de cons 32 cientizaço arendiagem afetividade criatividade etc Liu s d A psqmaaçao sena um procedimento diferente capaz de explorar as s1tuaçoe probles para os quais é difícil senão impossível formular ipotess prvia e relacionadas com um pequeno número e vnave1s prec1ss 1solave1s e quantificáveis É o caso da pesquisa 1milicaº mteaçao de grupos sociais no qual se manifestam muitas vanave1s 1mprec1sas dentro de um contexto em permanente movimento Sja como fo podemos considerar que a pesquisaação opera a partir de determmadas mstruções ou diretrizes relativas ao modo e encarar os problems identificados na situação investigada e rela tiva aos riodos de açao Essas instruções possuem um caráter bem menos ngido do que as hipóteses porém desempenham uma funcão seelhante Com os resultados da pesquisa essas instrucões podem sair fortle1das ou caso contrário devem ser alteradas abandonadas ou sustit1das Eor outas A nosso ver a substituição das hipóteses Pr d1rtnzes nao 1mphca que a forma de raciocínio hipotética seja d1spensavl no decorrer d1 pesuisa ratse de definir problemas de conhecuento o de açao cuias poss1ve1s soluções num primeiro momento sao cons1deadas como suposições quasehipóteses e num sgundo moento objeto de verificação discriminacão e comprova çao em funçao das situações constatadas O padrão convenciona de pesquisa social empírica adota em gera um esquema 1potetlco baseado em comprovação estatística frequenemente associad ao experimentalismo Esta concepção tem seus mentos e seus defeitos Mas o que importa é salientarmos que ete esquema ão é único possível sobretudo no contexto impre ciso da pesqms social Se abandonarmos o raciocínio hipotético parecenos perfeitamente cbrel formulação de quasehipóteses den tro de um quadro de referencia diferente e principalmente qualitativo e argumentativo O expeimntalismo ao qal pertence o esquema hipotético sob forma quaiitatlva pode ser visto como uma filosofia da pesquiSa de laboratono de ard com a qual o pesquisador testa cada hipótese e altera certas vanave1s para conhecer os efeitos de algumas delas sobre as outras Nesta concepção o experimento é válido quando sua repet1çao reproduz sempre os mesmos resultados independentemente do expenmentador o que seria condição do estabelecimento de regu laridades leis e finalmente teorias comprovadas A o nível epistemológico os críticos do experimentalismo em cieicas humalla cns1deraAqu se trata de uma inadequada trans ps1çao as x1gencias ds c1encias da natureza ciências experimen tais Alem disso a relaçao entre as variáveis é geralmente concebida de modo causal e mecanicista o que é fortemente criticado inclusive 33 em amplos setores das c1encias da natureza No caso particular da pesquisa social e também psicossocial os fenômenos não possuem o caráter de perfeita repetitividade como no caso de fatos mecâmcos e além do mais o papel do pesquisador nunca é neutro dentro do campo observado Uma outra crítica freqüentemente apresentada con siste no argumento relativo à impossibilidade de isolar no experi mento ou no local de observação social os fatores intervenientes que dependem do contexto social ou histórico O conhecimento gerado nessas condicões teria então o aspecto de artefato representação muito distorcida plas próprias condições da pesquisa Um outro aspecto negativo do esquema hipotético associado ao experimentalismo particularmente sensível em ciências humanas está no fato de que ao procurar as informações necessanas à verificação das hipóteses o pesquisador é freqüentemente induzido a distorções quanto à observação dos fatos e à seleção das inforinações pertinentes Isto foi bastante analisado no contexto da pesqmsa e psicologia social por R Rosenthal e R Rosnow 1981 que anali saram a interferência das expectativas dos pesquisadores sobre os resultados da pesquisa e também a interferência dos pesquisados em função das expectativas que eles têm para com os pesquisadores Além do que precede na crítica ao experimentalismo há igualmente ques tionamentos relacionados com o caráter aético de certos experimentos de laboratório Rosnow 1981 5572 Na maioria das pesquisas sociais direcionadas em função de uma concepção experimentalista os pesquisadores não recorrem a experimentos de laboratório A pesquisa convencional abrange popu lações reais sobretudo por meio de um plano de amostragem a partir do qual são escolhidas as pessoas a serem interrogadas O isolamento das variáveis e a simulação da variação de algumas delas são efetuados por meio de análise estatística das respostas coletadas Dentro da concepção experimentalista a hipótese é sobretudo considerada como suposição relacionando variáveis quantitativas a serem submetidas a testes estatísticos Mas é exagero querer submeter a testes estatísticos todas as hipó teses Isto corresponde a uma visão restritiva pois na área de ciências sociais e humanas nem todas as variáveis consideradas são quanti ficáveis Freqüentemente a quantificação artificial por meio de esca las de certos aspectos atitudes por exemplo nada acrescenta ao que se pode pretender em termos de comprovação O fato de que todas as hipóteses não precisam ser testadas esta tisticamente é amplamente reconhecido por diversos autores até mes mo no contexto da pesquisa de padrão clássico Por exemplo C M Castro considera que O teste de hipótese é uma maneira formal e 34 eleaite de mostrar a confiança que pode ser atribuída a certas pro pos1çoes Se essa confiança pode ser medida e estabelecida é injusti ficável a omissão do teste Mas quando a natureza dos ddos ou do problema não nos permite avaliar formalmente a confianca não há desdouro para a ciência ou para o investigador em dizer pnas isso em seu relatório de pesquisa Castro 1977 104 Podemos também considerar que a reducão de todos os tipos de hpóteses ao tipo de hipótese estatística contitui um equívoco rela c10nado com o predom1mo dos métodos quantitativos Mas em si não se justifica Os prpios estatísticos pofissionais reconhecem que se deve manter uma distmçao entre h1potese científica e hipótese estatística Uma hipótese científica é uma sugestão de solução a um pro blena e constitui um tateio inteligente baseado em uma ampla infor maçao e em uma educação estruturada subjacente A formulação de uma boa hipótese científica é um ato realmente criativo Por outro lado a hipótese estatística não é senão um enunciado a res peito de um parâmetro desconhecido É de suma importância distinguir a hipótese científica da estatística já que é muito factível provar ou contrapor hipóteses estatísticas muito reduzidas e sem a menor relevância científica Glass e Stanley 1974 273 Após essas considerações parecenos mais claro que o raciocínio hipotético não deveria ser confundido com os excessos da visão expe rimentalista e quntitatiita que é muito difundida entre pesquisa dores de onentaçao trad1c10nal Pensamos que é perfeitamente viável a fleibilização d aciocíio hipottico de acordo com a qual a hipó tse e uma supos1çao criativa que e capaz de nortear a pesquisa inclu sve nos seus aspectos qualitativos As hipóteses ou diretrizes qua litativas onentam em particular a busca de informação pertinente e as argumentações necessárias para aumentar ou diminuir o grau de ceteza que podemos atribuir a elas Isto não quer dizer que devamos cai no excesso oposto existem hipóteses acerca de variáveis quanti tativas serem submetidas a testes estatísticos quando for julgado necessano formulação de hipóteses ou de quasehipóteses permite ao peu1sado organizar o raciocínio estabelecendo pontes entre as 1de1as gerais e as comprovações por meio de observação concreta Sb forma suaye na concepção alternativa da pesquisa social a h1otese e tambe um eeento na pauta das discussões entre pes qmsadores e outros participantes Apesar das aproximacões ou das imrecisões hipótese q11aliativa permite orientar o esfoço de quem estiver pesqmsano na d1reª de eventuais elementos de prova que mesmo quando nao for defimtiva pelo menos permitirá desenvolver 35 a pesquisa Com a hipótese e os meios colocados à disposição do pes quisador para refutála ou corroborála a produção do discurso ge rada pela pesquisa não perde o contato com a realidade e faz pro gredir o conhecimento Até mesmo quando se trata de dados pouco transparentes a busca de provàs é necessária Uma prova não precisa ser absolutamen te rigorosa No nosso campo de estudo muitas vezes basta uma boa refutação verbal ou uma boa argumentação favorável que leve em conta testemunhas e informações empíricas e permita que os parti cipantes ou os auditórios de maior abrangência compartilhem uma noção de suficiente objetividade convicção e justeza O espírito de prova exige que todas as informações colhidas sejam passadas pelo crivo da crítica dos pesquisadores e outros participantes dos se minários de pesquisa Em particular é necessário ficarmos atentos às informações do tipo rumores géradas a partir de fontes ocultas e a todos os tipos de distorções que se manifestam na percepção da realidade exterior nos envolvimentos emocionais ou outros É neces sário que o contexto de captação de càda informaçãó seja perfeita mente identificado e que a constatação dos fatos controvertidos seja controlada por vários pesquisadores O fato de recorrer a procedimentos argumentativos leva o pes quisador a privilegiar a apreensão qualitativa Mas devemos salientar que isto não significa que os métodos e dados quantitativos estejam descartados pois em muitas argumentações o peso ou a freqüência de um acontecimento é levado em consideracão como meio de forta lecer ou de enfraquecr um argumento Além disso se os deliberantes ignorassem tudo dos aspectos quantitativos implicàdos num determi nado problema real sua argumentação seria provavelmente inadequa da ou descontrolada Em conclusão a ênfase dada aos procedi mentos argumentativos não exclui os procedimentos quantitativos Estes são necessários para o balizamento dos problemas ou das so luções o que é descartado e a pretensão quantitativista que alguns pesquisadores têm de resolver todas as questões metodológicas da pesquisa exclusivamente por meio de medições e números 6 INFERÊNCIAS E GENERALIZAÇÃO Na pesquisa social sémpre é metodologicamente problemática a passagem entre ci nível local e o nível global No primeiro são reali zadas as observações de unidades particulares indivíduos grupos restritos locais de moradia trabalho ou lazer etc No segundo são apreendidos fenômenos abrangendo toda a sociedade ou um amplo setor de atividades um movimento de classe o funcionamento das 36 iiistituições et O problema da relação envolve aspectos quantita tJos e qualitativos No plano quantitativo é possível tratálo com os class1cos recursos estatíticos técnicas de amostragem e inferência controlda com a quais as observações obtidas nas amostras são genealzdas ao mvel do universo global considerando margens de conftab1hdade Ie modo geral a inferência é considerada como passo de ra c1oc1mo pssmndo qalidde lógicas e meios de controle No caso da gnerahzaçao a nferencia é sobretudo tratada como problema estat1st1co e pressupoe uma quantificacão das va b d A f nave1s o serva as s m erencias estatísticas são controladas pelos pesquisador mer e testes propriados Miller 1977 Tais inferências per cessaias que se1am dão lugar ao mesmo tipo de discussão evocada antenormente no que dizia respeito aos testes de hipóteses Nouras palvras podemos considerar que a concepcão estatís tca as mferencias não esgota toda a complexidade quaÍitativa das mferenctas no contexto particular da pesquisa social s iiferências constituem passos do raciocínio na direcão da ge neraltzaçao Isto corresponde à indução Existe também f di t d m erencta em reçao opos a passagem e proposições gerais a proposicões relativas ª caos Prtrculares Antes de serem problema de estatítica as infe encaltas sao tema de lógica O seu controle remete ao conhecimento e gumas regras de lógica elementar Na pesquisa social ocorre que muitas expressões analisadas no co11texto de sua geração e que muitos dos raciocínios que os pes qmadoes efetuam a partir delas não se prestam facilmente à for mahzaçao e ao controle lógico Como visto anteriormente há sempre um grande espaço reservado aos raciocínios informais aproximativos argmtatJvos te Os leigos como também os cientistas nos seu rc10c1mos cottdianos recorrem a inferências generalizantes ou ar t1culanzantes sem ngor lógico são inferências formuladas em in guagem comum Exemplo de forma generalizante Cada vez qu t Jntece a siuaço se deteriora Exemplo de foa particularizeae a ue a s1tuaçao econômica vai melhorar a nossa condicão va ambem dlhorar Essas inferências não estabelecem necessatiamen e a ver a e Os passos de raciocínio operados por elas pressu õem um f eterr1nnao coteto social uma ideologia ou uma tradicã cul a Mmtas mferenctas são baseadas no senso comum e lgumas e as n chamao bom senso considerado por Antôni Gramsci coo nuele racronal da sabedoria popular Gramsci 1959 47 ss As mferenc1s em lmguagem comum são controláveis ou com reendi ts em funçao do contexto sóciocultural no qual elas são pr6reridas mtas vezes para as entendermos isto é reconhecermos seu fund 37 de racionalidade ou de irracionalidade precisamos explicitar seus pressupostos ou fazer que o interlocutor os explicite No contexto qualitativo da pesquisa social o problema da gene ralização é situado em dois níveis o dos pesquisadores quando esta belecem generalizações mais ou menos abstratas ou teóricas acerca das características das situações ou comportamentos observados e o dos participantes que generalizam em geral com menos abstrações e a partir de noções que lhes são familiares Mesmo em situação de pesquisa na qual participam conjunta mente os pesquisadores e os membros de uma população observada os pesquisadores devem ficar atentos em não confundir as inferências efetuadas por eles e as inferências efetuadas pelos outros participan tes Os pesquisadores devem identificar as generalizações populares e cotejálas com as generalizações teóricas A comparação dos dois tipos de raciocínio constitui uma importante fonte de informação para se saber até que ponto existe uma real intercompreensão a possibi lidade de diálogo e de transformações nos modos de pensar acerca de determinados problemas Além disso a partir desta orientação é possível avaliar diversos graus de aproximação ou de adequação dos conhecimentos em ques tão As vezes o bom senso popular está mais próximo do que se pode chamar de verdade em termos realistas Noutros casos há nas generalizações populares exageros unilateralidade ou erros cometidos em função do predomínio de uma ideologia ou de crenças particula res Mas isto não quer dizer que as generalizações dos pesquisadores sejam sempre de melhor qualidade Algumas vezes os pesquisadores espontaneístas só reproduzem ingenuamente as generalizações po pulares Outros menos empiristas as reproduzem com um jargão mais sofisticado sem estarem em condição no entanto de controlar os desvios A nossa perspectiva exige um controle mútuo estabelecido de forma dialógica a partir da discussão entre pesquisadores e parti cipantes Nesse diálogo os pesquisadores trazem o que sabem isto é o conhecimento de diversos elementos de teorias ou de experiências anteriormente adquiridas As inferências generalizantes e particularizantes que são efetua das pelos pesquisadores são objeto de controle metodológico De acor do com o que já discutimos acerca do papel da metodologia os pes quisadores não podem aceitar qualquer tipo de raciocínio aci nível da explicação ou da interpretação dos fatos Independentemente das exigências estatísticas e lógicas que podem ser aplicadas nos casos de uma quantificação ou de uma formalização do conhecimento os pes quisadores aplicam outros tipos de exigências no que diz respeito aos aspectos qualitativos das inferências Uma primeira exigência dessa 38 ordem consiste em idntificar os defeitos da generalização em parti cular aqueles que consistem m a partir de poucas informações locais t1rar concluses paa o coniunto da população ou do universo Em mults pesmsas fetas localmene como no caso da pesquisaação é poss1ve ate enunciar a generahzaçoes superiores à situação efetiva niente mvestigada No entaiito um generalização pode ser progres sJVamnte elabcrada a partir da discussão dos resultados de várias pesqmsas orgamzadas em locais ou situações diferentes Uma seunda exigência consiste em identificar as formas ideo log1ca que mterferem na generalização Não se trata de pretender pesqmsar sem ienhuma ideologia Mas os pesquisadores deveriam esta em ccnd1çoes de estabelecer suas generalizacões com base em teonas exphcitadas e utilizadas dentro de um proesso de raciocínio n qual a mfoaçao cinreta fose realmente tomada em considera çao Ouaido a uterferencia 1deolog1ca é excessiva os dados obtidos na mve1gaçao sao sem valor Seja qual for a sua variabilidade esses dados sao encaixados em categonas e generalizacões que em si mas pod d mes em ser 1scurs1vamente pronunciadas independentemente d qualquer observação e efitos smeants devem ser objeto de controle no que diz respeito a par1culanzaçao em particular na passagem das idéias ou conceitos gerais aos md1cadores que são levados em consideracã observaçao do campo empírico 0 na 7 CONHECIMENTO E AÇÃO A relação tre conhecimento e ação está no centro da proble matlc mitoolog1ca da pesquisa social voltada para a acão coletiva Em s1 Jropna eta relação cnstitui um tema filosófico que foi de senvolv1do de diversas maneiras por várias tendências filosóficas Mas ao nsso conheer raramente foi tratado como tal ao nível da mbetodolo3ia de pesqi1a social Apresentaremos aqui apenas algumas o servaçoes mtrodutonas A elaçã entre conhecimento e ação existe tanto no campo d agir aça soial política jurídica moral etc quanto no campo d fazer aao tecmca Entre as formas de raciocínio existem analogias e tanbem diferenças etre as estruturas do conhecer para agir e do conhecer para fazer O problema da relação entre conhecimento e açao pode se aborado no contexto das ciências sociais e também no da tecnologia Th10llent 1984b 51744 Aqui só b d no primeiro o a or aremos A relação etre pesquisa social e ação consiste em obter infor maçoes e conhecimentos selecionados em função de uma determinada 39 ação de caráter social A passagem do conhecer ao agir se reflete na estrutura do raciocínio em particular em matéria de transformação de proposições indicativas ou descritivas por exemplo a situação está assim em proposições normativas ou imperativas temos que fazer isto óu aquilo para alterar a situação Isto supõe que seja estabelecido algum tipo de relacionamento entre a descrição de fatos e normas de ação dirigida em função de uma ação sobre esses fatos ou de uma transformação dos mesmos É claro que as normas geralmente não são geradas na própria situação empírica da pesquisa Pertencem a ideologias perspectivas políticas ou culturais aos movimentos sociais ou ao funcionamento das instituicões O raciocínio consiste em aplicar essas normas do plano gera no qual se apresentam no plano concreto dos fatos sob observação submetidos a transformações Todavia a passagem da proposição de fato para a proposição normativa não oferece ga rantia lógicoformal Blanché 1973 211 pois não é a descrição do fato que determina o tipo de transformação que lhe será aplicado Sempre intervém um sistema normativo com aspectos ideológios políticos jurídicos etc que é subjacente ao trabaho que cns1ste em reunir pesquisa e ação Não se trata de lamentar o envolvimento da metodologia de pesquisa social com um sistema normativo só basta estarmos cientes das suas implicações Deontologicamente os pesquisadores avaliam as condições éticas do funcionamento da pes quisa e de suas finalidades práticas Em certos casos os pesquisadores podem ser obrigados a impedir a realização de certas pesquisas ou de certos tipos de aproveitamentos de seus resultados ao nível da ação Na relação entre obtenção de conhecimento e direcionamento da ação há espaço para um desdobramento do controle metodológico em controle ético Os pesquisadores discutem avaliam e retificam o envol vimento normativo da investigação e suas propostas de ação decor rentes Freqüentemente na relação entre descrição e norma de ação o ponto de partida não é a descrição objetiva e sim as exigências associadas à norma Isto é metodologicamente condenável Em função de uma norma de ação preexistente instituída ou não o pesquisador pode ser levado a descrever os fatos de um modo favorável às con seqüências práticas correspondentes às exigências daquela norma Tratase de um efeito de contaminação das normas de ação sobre a observação ou a descrição Não sabemos se é possível neutralizar esse efeito Seja como for esta fonte de distorção deve ficar sob con trole dos pesquisadores dos pontos de vista metodológico e ético No que precede entendemos por norma de ação instituída uma norma que já faz parte do código explícito de uma instituição A norma 40 de ação é não instituída quando se refere a um movimento social ou a uma atividade informal A norma de uma ação informal pode estar relacionada com o objetivo de modificar as normas do padrão de ação instituída É freqüentemente discutida a real contribuição da pesquisaação em termos de conhecimento Na prática nem todas as pesquisasacão chegam a contribuir para a produção de conhecimentos novos Allás sejam quais forem suas orientações nem todas as pesquisas parti cuas podein ter essa pretensão Entre outras muitas pesquisas de opmiao se limitam a oferecer uma fotografia numérica do que todo mundo já sabia Entre os objetivos de conhecimento potencialmente alcançáveis em pesquisaação temos a A coleta de informação original acerca de situações ou de atores em movimento b A concretização de conhecimentos teóricos obtida de modo dialogado na relação entre pesquisadores e membros representativos das situações ou problemas investigados c A comparação das representações próprias aos vários inter locutores com aspecto de cotejo entre saber formal e saber informal acerca da resolução de diversas categorias de problemas d A produção de guias ou de regras práticas para resolver os problemas e planejar as correspondentes ações e Os ensinamentos positivos ou negativos quanto à conduta da ação e suas condições de êxito f Possíveis generalizações estabelecidas a partir de várias pes quisas semelhantes e com o aprimoramento da experiência dos pes quisadores 8 O ALCANCE DAS TRANSFORMAÇÕES Com a pesquisaação pretendese alcançar realizações ações efe tivas transformações ou mudanças no campo social Alguns autores têm mostrado toda a imprecisão e as ambigüidades dessas expressões Segundo J Ezpeleta 1984 a nocão de transformacão da realidade é indiscriminadamente utilizada por partidários da pesquisa partici pante ou da pesquisaação para designarem fatos muitos diversos modificação de comportamento grupal modificação de hábitos ali mentares fenômenos cognoscitivos de sujeitos individuais etc A noção de transformação é freqüentemente assinrilada à de mudan ça social Além disso há uma confusão freqüente entre categorias 41 estruturais sistemas sociais classes etc e categorias relativas a situações particulares A nosso ver este tipo de crítica é procedente Na literatura dis ponível sobre psquisaação existem confusões relacionadas com a imprecisão da linguagem que mesclam a descrição dos efeitos ao nível da sociedade como um todo com a dos efeitos ao nível inter mediário instituicões e com a dos efeitos ao nível dos comporta mentos de pequeos grupos ou de indivíduos A nãoefinião das transformações pemlite ocultar o real alcance da pesqmsaaço fre qüentemente limitada aos efeitos sobre peuenos grupos e alimentar ilusões sobre a transformação geral da sociedade em sentidos moder nizador ou revolucionário Na definicão do real alcance da proposta transformadora asso ciada à pesqma é necessário esclarecer cuidadosamente as possíveis interrelações entre os três níveis grupos e indivíduos instituições intermediárias sociedade global É preciso deixar de manter ilusões acerca de transformações da sociedade global quando se trata de um trabalho localizado ao nível de grupos de pequena dimensão sobretudo quando são grupos desprovidos de poder Além disso já que se trata de transformar algo é preciso ter uma visão dinâmica acerca do desenvolvimento da pesquisa no qual devem estar presentes consideracões estratgicas e táticas para saber como alcançar os obje tivos superar ou contornar os obstáculos neutralizar as reações ad versas etc A questão da ação transformadora deve ser colocada desde o início da pesquisa em termos realistas Várias situações podem ser distinguidas a Quando os participantes possuem uma clara idéia dos obje tivos e da ação necessária o papel dos pesquisadores consiste essen cialmente em assessorar as decisões correspondentes ao que for factível nas melhores condições e extrair da prática diversos ensinamentos b Quando se trata de uma ação de tipo técnico autoconstrução produção de um j01nal uso e ua técnica agrcoa etc a a7ão é definida em funcao dos me10s tecmcos e economrcos necessarros em função do sabr próprio dos usuários e do contexto social c Quando se trata de uma ação de caráter cultural educacinal ou político os pesquisadores e participantes devem estar em conrça de fazer uma avaliação realista dos objetivos e dos efeitos e nao fr earem satisfeitos ao nível das declarações de intenção como muitas vezes ocorre O desenrolar e a avaliação de uma ação cultural são talvez mais difusos e menos evidentes do que no caso de atos técnicos bem definidos 42 Em matéria de conscientização e de comunicação as transfor macões se difundem através do discurso da denúncia do debate ou da discussão O que é transformado são as representações acerca das situações em que atuam os interessados e os seus sentimentos de hostilidade ou de solidariedade Devemos deixar bem claro que quando se consegue mudar algo dentro das delimitações de um campo de atuação de algumas dezenas ou centenas de pessoas tais mudanças são necessariamente limitadas pela permanência do sistema social como um todo ou da situação geral O sistema social nunca é alterado duravelmente por pequenas modificações ocorrendo na consciência de algumas dezenas ou cente nas de pessoas Não deve haver confusão a respeito do real alcance da pesquisaação quando é aplicada em campos de pequena ou média dimensão A justa apreciação do alcance das transformações associadas à pesquisaação não passa por critérios únicos Cada situação é dife rente das outras Quando as ações adquirem uma dimensão objetiva de fácil identificação por exemplo produção manifestação coletiva etc os resultados podem ser avaliados em termos tangíveis quanti dade produzida número de pessoas mobilizadas etc A ação é aco plada à esfera dos fatores subjetivos e portanto fazse mister dis tinguir vários graus na tomada de consciência De acordo com Paulo Freire pelo menos duas noções devem ser distinguidas tomada de consciência e conscientização A primeira tem um alcance mais limi tado do que a segunda A tomada de consciência é freqüentemente limitada a uma aproximação espontânea sem caráter crítico A conscientização supõe um desenvolvimento crítico da tomada de cons ciência permite desvelar a realidade incide ao nível do conhecimento numa postura epistemológica definida e contém até elementos de uto pia Freire 1980 e 1982 Todos esses aspectos merecem uma ava liação concreta 9 FUNÇÃO POLÍTICA E VALORES A função política da pesquisaação é intimamente relacionada com o tipo de ação proposta e os atores considerados A investigação está valorativamente inserida numa política de transformação Podemos definir vários aspectos da função política dependendo do grau de organização e de autonomia dos grupos participantes Quando o grupo possui uma ampla autonomia na conduta de suas ações a pesquisa exerce a função de fortalecêla A produção de informação e a aplicação do conhecimento são orientadas para isso Um outro aspecto da função política consiste em estreitar as relações 43 que existem entre a organização e sua base por meio dos procedimentos participativos agregando o maior número possível de seus membros na elucidação dos problemas e das propostas de ação Há também uma funçãó de elucidação estratégica e tática na relação do ator com seus adversários concorrentes ou aliados incluindo a questão da fixação de mttas e das prioridades nos planos de ação Nesse aspecto a pesquisa visa eliminar o subjetivismo dos líderes e certas formas de conhecimento inapropriado por exemplo a forma livresca Outros aspectos da função política são mais diretamente associados ao tema da conscientização daqueles que participam na pesquisa e o conjunto dos outros para os quais são divulgados os resultados A divulgação recorre a todos os canais formais ou informais que possam ser apro veitados em campanhas de explicação e em certos casos de propa ganda Quando o grau de autonomia dos grupos interessados é fraco e em particular quando se trata de uma pesquisa em situação marcada por uma polarização entre dirigentes e dirigidos como no caso de muitas pesquisas em organização o consenso é sempre difícil pre cário e freqüentemente impossível Num concepção democrática da pesquisa social é necessário que haja negociação de ambas as partes para se estabelecer um tipo de contrato de investigação acerca dos problemas a serem levantados e dos critérios de seleção das so luções e ações a serem implementadas Os pesquisadores estão lidando com o problema de avaliar o que eles estão propondo e as implicações ao nível dos valores Vale a pena esclarecer o conteúdo das propostas em termos de reprodução ou de transformação da situação conside rada e de conquista de maior autonomia ao nível das partes subal ternas Partindo do que precede podemos apresentar algumas indagações sobre a questão dos valores operando na conduta da pesquisa Toda estratégia de pesquisa possui alguns critérios de orientação valora tiva A pesquisaação não é exceção A moralidade de uma pesquisa ação depende sobretudo da moralidade da ação considerada e dos meios de investigação mobilizados Em geral os agentes sociais cujas práticas são marcadas de imoralidade corrupção por exemplo não precisam de pesquisaação Esta é associada a escolhas valorativas tais corno o reconhecimento de causas populares a prática da demo cracia ao nível local a busca de autonomia a negação da dominação etc Todos esses aspectos ou uma seleção dos mesmos são discutidos pelos pesquisadores Há também controle dentro do processo de invesação para se evitar possíveis deturpações Em si própria a concepção da pesquisaação nunca é livre de valores Não há nisto qualquer anormalidade apesar de sua pretensa 44 netalidade s tendências convencionais se inserem em estratégias sociais determmadas assessoramento do poder vigente tomada de decisão à revelia dos participantes práticas discutíveis no plano ético espionagem ideológica por exemplo De acordo com a concepção da pesquisaação a questão dos valores e abordada de modo explícito dando lugar a discussão entre pesquisadors e gupos interessados pela investigação e pela ação O aspecto arttcipttvo dos procedimentos é igualmente objeto de con trole pots o discurso da participação não é suficiente por si só para assegurar a ausência de manipulações e de escamoteamento das relações de poder subjacentes A partir de diversas experiências de pesquisaação em vários contextos têm surgido algumas regras deontológicas Toas as partes ou grupos interessados na situação ou nos pro blms mvetJgados devem ser consultados A pesquisa não pode ser fe1a a rveha de uma das partes Numa organização de tipo empre sarial nao se pode fazer uma pesquisa sobre os problemas do pessoal sem a participação dos seus representantes e sem o acordo dos sindi catos Em alguns casos um comitê com representantes de todas as pates envolvidas é consit11ído para controlar o desenrolar da pes qmsa Caa parte tem dtrlto de parar a experiência quando julgar que os ob1ettvos da pesquisa sobre os quais havia acordo não são respeitados A avaliação dos resultados é efetuada pelos paticipantes e pelos pesqmsadores Os resultados são difundidos sem restricão Uma das partes não pode pretender se apoderar deles exclusivamete Essas regras existem no contexto da pesquisaacão em contexto organizacional Ortsman 1978 e freqüentemente são formuladas de acordo com o espírito da participacão social ou da democracia industrial segundo a qual todos os parceiros devem ser consul tados N prtica nem empr form aplicadas Quando a proposta de pesqmsa e mmto mais radical e possível recorrer a outras regras criado condições de inserção mais profunda dos pesquisadores no moVtmento no qual atuam os atores considerados É sobretudo em função da sua vertente radical que a pesquisa ação adquire sua especificidade De acordo com R Zufiiga A pesquisaação é inovadora do ponto de vfota científico somen t quando é inovadora do ponto de vista sóciopolítico isto quer dizer quan tenta colocar o controle do saber nas mãos dos grupos e das coletividades que expressam uma aprendizagem coletiva tanto na sua tomada de consciência como no seu comprometimento com a ação coletiva Zufiiga 1981 3544 45 A funcão política da pesquisaação é freqüentement pnsaa cno colocaão de um instrumento de investigação e açao a d1sos1çao dos grpos e classes sociais populares Segundo R Franck o prmcwal objetivo da pesquisaação não é apenas o entrosaento da pesquisa e da acão pois um tal entrosamento existe em mmts pesqmas con vencioais a servico dos grupos dominantes na vida ecoiiom1ca e olítica A principl questão é a seguinte como a peqma aderia tornarse útil à ação de simples cidadãos rgamzaçoes mil tantes populações desfavorecidas e exploradas Franck 1981 1606 46 Capítulo li CONCEPCÃO E ORGANIZACÃO DA PESQUISA Vamos abordar uma série de temas e itens relacionados com os aspectos práticos da concepção e da organização de uma pesquisa social orientada de acordo com os princípios da pesquisaação Tra tase de apresentarª um roteiro que naturalmente não deve ser visto como sendo exaustivo ou como o único possível Em cada situação os pesquisadores juntos com os demais participantes precisam rede finir tudo o que eles podem fazer Nosso roteiro é apenas um ponto de partida O planejamento de uma pesquisaação é muito flexível Contra riamente a outros tipos de pesquisa não se segue uma série de fases rigidamente ordenadas Há sempre um vaivém entre várias preo cupações a serem adaptadas em função das circunstâncias e da dinâ mica interna do grupo de pesquisadores no seu relacionamento com a situação investigada A lista dos temas que apresentamos aqui segue parcialmente uma ordem seqüencial no tempo em primeiro lugar aparece a fase exploratória e no final a divulgação dos resultados Mas na verdade os temas intermediários não foram ordenados numa deter minada seqüência temporal pois há um constante vaivém entre as preocupações de organizar um seminário escolher um tema colocar um problema coletar dados colocar outro problema cotejar o saber formal dos especialistas com o saber informal dos usuários colocar Todavia vários autores partidários da pesquisa participante têm proposto seqüências e fases bem definidas Ver artigos de M Gajardo e G Le Boterf em C R Brandão Org Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 p 1550 e p 5181 47 outro problema mudar de tema elaborar um plano de ação divulgar resultados etc Todas essas tarefas não são consideradas como fases Em geral quando os planejadores de pesquisa elaboram a priori uma divisão em fases eles sempre têm de infringir a ordem em função dos problemas imprevistos que aparecem em seguida Preferimos apre sentar o ponto de partida e o ponto de chegada sabendo que no intervalo haverá uma multiplicidade de caminhos a serem escolhidos em função das circunstâncias 1 A FASE EXPLORATÓRIA A fase exploratória consiste em descobrir o campo de pesquisa os interessados e suas expectativas e estabelecer um primeiro levan tamento ou diagnóstico da situação dos problemas prioritários e de eventuais ações Nesta fase também aparecem muitos problemas práticos que são relacionados com a constituição da equipe de pes quisadores e com a cobertura institucional e financeira que será dada à pesquisa Devido à grande diversidade das situações e à sua imprevisibili dade é impossível enunciarmos regras precisas para organizar os es tudos da fase exploratórfa Só daremos algumas indicações Um dos pontos de partida consiste na disponibilidade de pesqui sadores e na sua efetiva capacidade de trabalhar de acordo com o espírito da pesquisaação O passo seguinte consiste em apreciar pros pectivamente a viabilidade de uma intervenção de tipo pesquisaação no meio considerado Tratase de detectar apoios e resistências con vergências e divergências posições otimistas e céticas etc Com o balanço destes aspectos o estudo de viabilidade permite aos pesqui sadores tomarem a decisão e aceitarem o desafio da pesquisa sem criar falsas expectativas Além do mais é necessário conceber o lan çamento da pesquisa com a habilidade necessária para sua aceitação por parte dos interessados e eventualmente das instituições financia doras Uma vez resolvidos esses problemas o que nem sempre é fácil a pesquisa poderá começar Nos seus primeiros contatos com os interessados os pesquisa dores tentam identificar as expectativas os problemas da situação as características da população e outros aspectos que fazem parte do que é tradicionalmente chamado diagnóstico Paralelamente a esses pri meiros contatos a equipe de pesquisa coleta todas as informações disponíveis documentação jornais etc Em função da competência e do grau de envolvimento dos pes quisadores com a linha da pesquisaação a equipe define sua estra tégia metodológica e divide as tarefas conseqüentes pesquisa teórica 48 pesquisa de campo planejamento de ações etc A divisão das tarefas nunca é estanque e definitiva Os pesquisadores participam de todas elas porém as responsabilidades são distribuídas em funcão das com petências e afinidades Todos os aspectos são coordenados no semi náio Quando for preciso também é organizado na fase inicial um tremamento complementar para ps pesquisadores De acordo com o ptincípio da participação são destacadas as condições da colaboração entre pesquisadores e pessoas ou grupos envolvidos na situação investigada Quem são essas pessoas ou grupos em termos sociais e culturais A que interesses políticos estão vin culados Já participaram em experiências semelhantes Com êxito ou fracasso Dentro da imaginação popular como são representados os problemas e possíveis soluções Que tipo de crença está interferindo Existe vontade de participar De que forma Existe dificuldade de compreensão ou de expressão Tais são algumas perguntas iniciais cujas respostas podem nortear a exploração dos problemas de parti cipação dos potenciais interessados Além disso os pesquisadores costumam praticar um reconhecimento de área Isto inclui obser vação visual consulta de mapas e organogramas e discussão direta com representantes diretos ou indiretos das várias categorias sociais implicadas No que diz respeito à metodologia de diagnóstico devemos acrescentar algumas precisões Embora seja freqüentemente incorpo rada à metodologia da pesquisaação a metodologia de diagnóstico possui outras origens medicina serviço social etc e tem sido con cebida de modo nãoparticipativo estabelecendo uma dicotomia entre quem estabelece o resultado do diagnóstico e quem deve se conformar ao mesmo No contexto médico a terminologia dos métodos de diag nóstico não apresenta noções de caráter participativo e não destaca noções relacionadas com as potencialidades e a iniciativa própria dos pacientes objeto do diagnóstico No contexto do serviço social os autores têm distinguido o diag nóstico como processo do diagnóstico e como produto De acordo com a primeira acepção tratase de um processo de identificação dos problemas de uma situação e decisão de meios adequados para encontrar soluções Vaisbisch 1981 Na segunda o diagnóstico é constituído pelas informações a partir das quais são estabelecidas as metas de ação Dentro do processo de diagnóstico os membros da população podem exercer alguma forma de participação mas a nosso ver nem todas as práticas do serviço social permitem a participação e sobretudo em contexto empresarial muitos diagnósticos do serviço social são elaborados à revelia dos interessados trabalhadores assa lariados 49 Outras críticas à concepção do diagnóstico foram formuladas no con5exto peculiar dos estudos rurais por Ivandro da Costa Sles Jose Augusto dos Santos Ferro e Maria Nelly Cavalcanti Carvalho 194 324 s utores mostram que a concepção dominante em matena de dtgnst1co falseia a realidade do pequeno produtor rural que empre e visto apenas como carente O diagnóstico sempre focahz que falta educaçao recursos etc Não são enxergadas as poteiicahades dos produtores e do seu meio circundante Há também o pnvrlegiamento da percepção dos produtores como indivíduos iso lados em detrimento a sua preensão como grupos fazendo parte di yrocesso da Jroduçao colt1va Os autores enfatizam que em ma tna de produçao de conhecimento o modo tradicional de diagnos tica exerce profundas distorções o processo de conhecimento é re uz1do a uma coleta de dados na qual os produtores são meros mfrmaites Sales Ferro e Carvalho 1984 35 Encontramos no artio citado uma iande quantidade de outras observações muito pertmentes para criticar a concepção tradicional do diagnóstico e desenvolver uma perspectiva de aprendizagem da participação e umª forma de colaoração ativa entre os saberes dos produtores dos tecncos e dos academ1cos Além d rea da pesquisa rural esta pers pectiva nos parece sugestiva e aphcavel com adaptações em muitas outras areas Voltando à aracteriaçã a fase xploratória da pesquisa na qual a mtodplogia dos iagnosticos precisa ser reequacionada pode 1s ons1derar que apos o levantamento de todas as informacões m111s os pesquisdores e participantes estabelecem os principais ob1e1vos da pesqmsa Os objetivos dizem respeito aos problemas consierados como prioritários ao campo de observação aos atores e ao tipo de ação que estarão focalizados no processo de investigação 2 O TEMA DA PESQUISA O tema da pesquisa é a designação do problema prático e da rea de conhecimeno a serem abordados Por exemplo podemos magmar uma pesqmsa sobre ó tema os acidentes de trabalho na mdústria rrietalúrgica Este tema é imediatamente associado ao pro blema pratico como reduzir os acidentes O tema pode ser definido em termos concretos como relacionado a um campo bem delimitado PCr exemploº acidentes com prensas na companhia X ou ao con trano ser defm1do de modo mais conceitua estrutura de riscos numa relação homemmáquina De modo geral o tema deve ser definido d modo simples e sugerir os problemas e o enfoque que serão sele c10nados Na pesquisaação a concretização do tema e seu desdo 50 bramento em problemas a serem detalhadamente pesquisados são realizados a partir de um processo de discussão com os participantes É útil que a definição seja a mais precisa possível isto é sem ambi güídades tanto no que se refere à delimitação empírica quanto no que remete à delimitação conceitua Uma vez definido o tema é utilizado como chave de identi ficação e de seleção de áreas de conhcimento disponível em ciências sociais e outras disciplinas relevantes No exemplo anterior elemen tos de conhecimento serão localizados nas áreas de psicologia indus trial tecnologia ergonomia direito trabalhista etc A formulação do tema pode ser descritiva as condições de tra balho na indústria têxtil Também existe uma formulação de caráter normativo como melhorar as condições de trabalho na indústria têxtil Embora muitas vezes seja precária a distinção entre o que é descritivo e o que é normativo parecenos necessário têla em mente na hora de definir a temática de uma pesquisaação A ação é obrigatoria mente orientada em funcão de uma norma No caso a melhoria sempre supõe um ideaÍ em comparação ao qual a situação real deveria ser transformada A melhoria é definida em termos rela tivos marcando a diferença entre o que é e o que desejamos que seja Na pesquisaação o caráter normativo das propostas é explici tamente reconhecido As normas ou critérios das transformações ima ginadas são progressivamente definidas Na prática as normas de ação dão lugar algumas vezes a negociações entre as diversas categorias de participantes Em geral o tema é escolhido em função de um certo tipo de compromisso entre a equipe de pesquisadores e os elementos ativos da situação a ser investigada Em certos casos o tema é de antemão detennínado pela natureza e pela urgência do problema encontrado na situação Por exemplo nos casos de uma remoção de favela ou de uma campanha popular para construir escolas Em outros casos o tema emerge progressivamente das discussões exploratórias entre pes quisadores e elementos ativos da situação Quando um primeiro tema se revelar inviável a curto prazo por exemplo por motivo de dema siada complexidade ou de despreparo da equipe é bom delimitar um tema que esteja ao alcance dentro de um prazo razoável levando em conta as condições concretas de atuação dos diversos grupos impli cados Muitos autores consideram que são apenas as populações que determinam o tema Outros dizem que há sempre uma adequação a ser estabelecida entre as expectativas da população e as da equipe pesquisadores A nosso ver deve haver entendimento Um tema não interessar à população não poderá ser tratado de modo parti 51 cipativo Um tema que não interessar aos pesquisadores não será levado a sério e eles não desempenharão um papel eficiente O acordo entre participantes e entre pesquisadores e partici pantes deve ser procurado Quando houver conflitos de interesses a escolh do tema poderá se revelar delicada Quando possível o con senso e idel No amadurecimento do tema em discussões preliminares a equipe de pesquisadores desempenha um papel ativo Freqüentemente o tema é solicitado pelos atores da situação As vezes sendo mal colocado o problema prático relacionado com o tema inicial os pesquisadores precisam deslocar um pouco a perspectiva por meio de discussão No entanto devese deixar bem claro que o tema e as questões práticas a serem tratadas devem ser absoluta mente endosadas pelos partiipantes pois não poderiam participar numa pesquisa sobre temas distantes de suas preocupações Junto com as pessoas que solicitaram a pesquisa os pesquisa dores elucidam a natureza e as dimensões dos problemas designados pelo tema Tais problemas têm que ser definidos de modo bastante prtico e claro os olhos de todos os participantes porque a pes quisa sera orgamzada em torno da busca de soluções Uma vez selecionados o tema e os problemas iniciais os pes quisadores poderão enquadrálos num marco referencial mais amplo de natureza teórica Por exemplo no caso de um estudo de ação junto a uma população dita marginalizada os pesquisadores pro curam dominar a discussão acerca da problemática da marginali dade social e inclusive das críticas a que está submetida no contexto atual das ciências sociais De acordo com o que precede entre os diversos quadros teóricos disponíveis um marco específico é escolhido para nortear a pesquisa e principalmente atribuir relevância a certas categorias de dados a partir das quais serão esboçadas as interpretações e equacionadas as possíveis soluções É claro que nesse processo os pesquisadores não podem aprender tudo o que precisam apenas no contato com as populações Precisam de uma formação anterior a mais completa possível para estarem em condição de definir a problemática ade quada ao desenrolar da prática de pesquisa Nesta fase a pesquisa bibliográfica é necessária É possível também recorrer ao saber de diversos especialistas dos assuntos implicados desde que tenham inte resse em colaborar no projeto Quando os pesquisadores têm os objetivos de pesquisa bem defi nidos podem progredir no conhecimento teórico sem deixar de lado a resólução dos problemas práticos sem a qual a pesquisaação não fana sentido e não haveria participação O estudo se desenrola para 52 elamente ao acompanhamento da ação e dela depende a manutenção do interesse dos participantes Nesta concepção a pesquisa não é limitada aos aspectos práticos Não se trata de simples ação pela acão A mediação teóricoconceitua permanece operando em todas a fases de desenvolvimento do projeto 3 A COLOCAÇÃO DOS PROBLEMAS Na fase inicial de uma pesquisa seja qual for a sua estratégia ativa ou não junto com a definição dos temas e objetivos preci samos dar atenção à colocação dos principais problemas a partir dos quais a investigação será desencadeada Noutras palavras tratase de definir uma problemática na qual o tema escolhido adquira sentido Em termos gerais uma problemática pode ser considerada como a colocação dos problemas que se pretende resolver dentro de um certo campo teórico e prático Um mesmo tema ou assunto pode ser enquadrado em problemáticas diferentes Por exemplo problemas de saúde podem ser inseridos numa problemática de medicina ou numa problemática social ou política A colocação dos problemas é feita em universos diferentes A problemática é o modo de colocação do problema de acordo com o marco teóricoconceitua adotado Na pesquisa científica o problema ideal pode remeter à cons tatação de um fato real que não seja adequadamente explicdo pel conhecimento disponível Um outro tipo de problema remete as amb1 güidades internas existentes nas explicações anteriormente produzidas O porquê dessas situações constitui o problema inicial isto é o ponto de partida interrogativo da investigação Notamos de passagem que na clássica formulação de um problema são relacionados pelo menos dois elementos O problema diz respeito à relação entre um elemento real e um elemento explicativo inadequado ou à relação entre dois elementos explicativos concorrentes do mesmo fato Se houvesse apenas um elemento não seria um problema mas apenas um tema Em pesquisa social aplicada e em particular no caso da pesciui saação os problemas colocados são inicialmente de ordem prática Tratase de procurar soluções para se chegar a alcançar um ob1etivo ou realizar uma possível transformação dentro da situação observada Na sua formulação um problema desta natureza é colocado da se guinte forma a análise e delimitação da situação inicial b delineamento da situação final em função de critérios de de sejabilidade e de factibilidade 53 c identificação de todos os problemas a serem resolvidos para permitir a passagem de a a b d planejamento das ações correspondentes e execução e avaliação das ações Ese ipo de colocação de problemas práticos em contexto social e tambem e1contrado contextos técnicos Certos autores chegam a caracterizalo como tipico do modo de raciocínio tecnológico Seja como for consideramos que a colocação de problemas em termos de passagem d uma situação inicial para uma situação final é diferente da colocaço de problemas em metodologia comparativa na qual s trata fe ivestrgr as analogias ou as diferenças entre duas situa çoes reais diferenciadas apenas no tempo ou no espaco No caso da pasagem de uma situação inicial para uma situacão final tratase de protar uma situação desejada de acordo com objetivos definidos e os meios ou soluçoes que tornam possível a realizacão desta situa çao No aso comp1rativo é sobretudo uma questão de observacão cnstataçao escnçao e comparação das analogias semelhancas ou diferenças existentes entre duas situações reais polema de transformação colocado como passagem de uma situa2ao micial Pªª uma situação final ou desejada é definido em funçao da estratga ou dos interesses dos atores O que exige que as normas ou cntenos seiam constantemente evidenciados tanto na busca de soluçoes quanto n seleção de soluções a partir das quais serao desencadeadas etermmadas ações Não é a partir de simples levantamentos descritivos que uma ação pode ser encaminhada Há todo um trabalho sobre a normatividade muitas vezes negado como tal que é preciso equacionar no plano metodológico e acordo com o anterior é claro que para que haja realmente ncsidade de uma pesquisa os problemas colocados não devem ser triviais Se coletar rês º1 quatro informações bastasse para resolver u problema do diaadia ou para tomar uma decisão rotineira na vid de 11ma associão não precisaríamos desencadear um processo d mvestigaçao e aça Na fase de colocação dos problemas é neces sano testar u discuti a relevância científica e prática do que está sendo pesqusdo Assim é possível redirecionar a pesquisa ou até tomar a decisao de suspendêla 4 O LUGAR DA TEORIA Por ter uma vocação de pesquisa prática a pesquisaação é freµentemente vsta coo uma concepção empirista da pesquisa social na qal nao havna mmtas implicações teóricas Bastaria 0 bom senso dos pesqmsadores e a sabedoria popular dos partici 54 pantes na identificação de problemas concretos e na busca de soluções No entanto como já foi mencionado anteriormente existem casos nos quais a preocupação teórica ocupa um espaço mais impor tante entre as diferentes preocupações dos pesquisadores Isto ocorre em particular quando os problemas tratados não são evidentes no início e dão lugar a diversas problemáticas sociológicas ou outras Assim por exemplo não nos parece possível encaminhar uma pes quisaação com participação de migrantes sem se ter uma visão clara do quadro de interpretação dos fenômenos migratórios No contexto organizacional não é possível desenvolver uma pesquisa independen temente de um quadro teórico de natureza sociológica tecnológica ou política No contexto das comunicações não parece viável uma pesquisa sobre a recepção das mensagens por parte de determinadas categorias de público se não houver uma teoria dos meios de comunicação De modo geral podemos considerar que o projeto de pesquisa ação precisa ser articulado dentro de uma problemática com um quadro de referência teórica adaptado aos diferentes setores edu cação organização comunicação saúde trabalho moradia vida po lítica e sindical lazer etc O papel da teoria consiste em gerar idéias hipóteses ou diretrizes para orientar a pesquisa e as interpretações No plano da organização prática da pesquisa os pesquisadores devem ficar atentos para que a discussão teórica não desestimule e não afete os participantes que não dispõem de uma formação teórica Certos elementos teóricos deverão ser adaptados e traduzidos em linguagem comum para permitir um certo nível de compreensão Além disso quando a discussão teórica for incompatível com o nível de entendimento dos participantes podese prever a organiza ção de grupos de estudos separados do seminário central cujas con clusões serão encaminhadas e discutidas em termos mais acessíveis A concepção da relação entre pesquisaação e teoria sociológica não é de caráter forçado o que quer dizer que não se devem construir grandes teorias apenas na base das informações alcan çadas e coletivamente interpretadas no processo de pesquisa local A construção de uma teoria não depende apenas da informa ção colhida por intermédio de técnicas empíricas A informação cir cunstanciada que é trazida ao seminário é interpretada à luz de uma teoria É claro que se a informação obtida de modo confiável chegar a pôr em dúvida certos elementos de uma teoria conhecida o pro blema deverá ser objeto de estudos aprofundados por parte dos pesquisadores que procurarão outros tipos de explicação a serem cotejados com as informações obtidas em novas situações empíricas 55 5 HIPÓTESES Como foi sugerido na discussão acerca das formas de raciocínio e de arguznena7ão no seio da pesquisa social o uso de um proce dunento h1potet1co não está excluído só que de maneira suavizada Arsentaremos aqui alguns aspectos desta concepção ao nível d pratica Uma hipótse é simplesente definida como suposição formu lada pelo pesqmsaor a esperto de possíveis soluções a um problema coocado ia pesqmsa pnncrpalmente ao nível observacional Também existem poteses teóricas mas aqui abordamos a questão sobretudo m matena de observação e de ação A hipótese desempenha um rmporante papel na organização da pesquisa a partir da sua for mulçao º pesqusador identifica as informações necessárias evita a dspersao focahza determinados segmentos do campo de obser vaçao selecrona os dados etc Ao se negar a utilizar hipóteses inclusive sob a forma de dire trizes sm uma necessária mensuração precisa um pesquisador social se expoe ao nsco de produzir matérias confusas A formulação de hipóteses pertinentes depende de uma grande vaneade de fatores a problemática teórica na qual se movem os pesmsaores o quadro de referência cultural dos participantes os ms1ghts imprevisíveis surgidos na prática ou na discussão coletiva as analogias detectadas entre o problema sob observação e outro problemas anteriormente encontrados etc Mesmo uaido não se petede tabalhar com hipóteses rela cionando vanavers quantrfrcavers e preciso observar muitos cuidados na sua formulação A hipótese ou a diretriz deve ser formulada eni ternos claros e oncisos sem ambigüidade gramatical e designar os obietos em questao a respeito dos quais seja possível fornecer provas concretas ou argumentos convincentes favoráveis ou não Nesse ponto precisamos evitar a falta de especificidade das definições ado tadas no processo investigativo pois termos demasfadamente gerais pereiu egobar qualquer observação fatual como no caso do racrocimo magico ou dos horóscopos No contexto que nos interessa a formulação da hipóÍese não é ecessanamente de forma causal entre os elementos ou variáveis con sderados ão se trata de querer mostrar que X determina Y Para fms escntrvos a hipótese qualitativa é utilizada para organizar a pesqma m tomo de posíveis conexões ou implicações nãocausais mas suficientemente precisas para se estabelecer que X tem algo a ver com Y na siruação considerada 56 Além do plano descritivo a hipótese sob forma de diretriz é igualmente utilizada no plano normativo no que toca à orientação da ação com aspectos estratégicos e táticos Tratase de hipóteses sobre o modo de alcançar determinados objetivos sobre os meios de tomar a acão mais eficiente e sobre a avaliação dos possíveis efeitos desejads ou não A formulação deste tipo de hipóteses supõe que critérios ou normas de decisão ação e avaliação estejam clara mente definidos e evidenciados entre os pesquisadores e participan tes A verificação de tais hipóteses se dá exclusivamente na prática A justeza da hipótese acerca de uma norma passa pelo êxito da ação ou por uma constatação dos efeitos diretos ou indiretos dentro da situação em transformação Tanto no plano descritivo como no normativo as hipóteses ou diretrizes são sempre modificáveis ou substituíveis em função das informacões coletadas ou dos argumentos discutidos entre pesqui sadores e participantes Além disso lembramos que no planejamento de uma pesquisa não se encontra apenas uma hipótese e sim uma série de hipóteses articuladas em rede na qual diversas subhipóteses contribuem para sustentar uma hipótese principal Em outros casos se encontra uma polarização de duas hipóteses excludentes Em função das hipóteses ou diretrizes escolhidas os pesqui sadores e participantes sabem quais são as informações que são necessárias e as técnicas de coleta a serem utilizadas Na pesquisa ação recorrese a técnicas de coleta de grupo e aos mais diversos procedimentos inclusive questionário e entrevistas que freqüente mente são vistos com alguma suspeita por serem os mstrumentos prediletos da pesquisa convencional Mediante um controle metodo lógico adequado essas técnicas são no entanto utilizadas como instrumentos de captação auxiliar Na sua concepção do chamado inquérito conscientizante C Humbert e J Merlo utilizam explicitamente o esquema de formu lação de hipóteses e de comprovação por meio de indicadores e de respostas a questionários Humbert 1978 Merlo 1982 Este esquema consiste na definição de um tema para cada um dos grupos de pes quisa O tema remete a um objetoproblema específico a ser pes quisado Por exemplo o tema da nãorentabilidade das pequenas propriedades rurais considerado pelos autores na França pode ser estudado em função do objetoproblema constituído pelo sistema de crédito rural O objeto é analisado a partir de uma seleção de hipóteses Uma hipótese é definida como tentativa de resposta ope rativa à questão contida no objeto As hipóteses são selecionadas em função da possibilidade de comprovação e de sua pertinência 57 com relação à ação Cada hipótese é verificada a partir de indica dores definidos como elementos observáveis e mensuráveis esco lhidos em função de sua capacidade de verificação da hipótese No exemplo considerado os indicadores são os critérios de atribui ção de crédito aos pequenos produtores A infprmacão necessária para cada inqicador é levantada por meio de diferente instrumentos de pesquisa entre os quais as técnicas de questionário e de entre vistas são as mais conhecidas Os dados levantados são computados de modo a mostrar a hipótese que tem maior sustentação empírica Os resultados da pes quisa são em seguida amplamente divulgados no seio da população 6 SEMINÁRIO A partir do momento em que os pesquisadores e os interes sados na pesqisa estão de acordo sobre os objetivos e os problemas a serem exammados começa a constituição dos grupos que irão con duzir a investigação e o conjunto do processo A técnica principal ao redor da qual as outras gravitam é a do seminário O seminário central reúne os principais membros da equipe de pesquisadores e membros significativos dos grupos implicados no problema sob observação O papel do seminário consiste em exa minar discutir e tomar decisões acerca do processo de investigação O seminário desempenha também a função de coordenar as ativi dades dos grupossatélites grupos de estudos especializados gru pos de observação informantes consultores etc Os grupos de observação são constituídos por pesquisadores e por participantes comuns que podem chegar a desempenhar a função de pesquisador Os grupos de observação podem recorrer a diversas técnicas de pesquisa individual ou coletiva O seminário centraliza todas as informações coletadas e discute as interpretações Suas reuniões dão lugar a atas Com as informações reunidas e dentro da perspec tiva teórica adotada o seminário elabora diretrizes de pesquisa hipó teses e diretrizes de ação submetidas à aprovação dos interessados que serão testadas na prática dos atores considerados As acões real mente desencadeadas são objeto de permanente acompanhmento e de avaliações periódicas A partir do conjunto de informação pro cessada o seminário produz material Parte deste material é de natu reza teórica análise conceituai etc outra parte é de natureza empírica levantamentos análise da situação etc Outra parte ainda às vezes elaborada com colaboradores externos é o material de divulgação de natureza didática ou informativa destinado ao con junto da população implicada nos problemas abordados 58 Resumindo algumas das principais tarefas do seminário in dicamos 1 Definir o tema e equacionar os problemas para os quais a pesquisa foi solicitada 2 Elaborar a problemática na qual serão tratados os problemas e as correspondentes hipóteses de pesquisa 3 Constituir os grupos de estudos e equipes de pesquisa Coorde nar suas atividades 4 Centralizar as informações provenientes das diversas fontes e grupos 5 Elaborar as interpretações 6 Buscar soluções e definir diretrizes de ação 7 Acompanhar e avaliar as ações 8 Divulgar os resultados pelos canais apropriados Dentro do funcionamento normal do seminário o papel dos pesquisadores Ortsman 1978 230 consiste em 1 Colocar à disposição dos participantes os conhecimentos de ordem teórica ou prática para facilitar a discussão dos problemas 2 Elaborar as atas das reuniões elaborar os registros de infor mação coletada e os relatórios de síntese 3 Em estreita colaboração com os demais participantes con ceber e aplicar no desenvolvimento do projeto modalidades de ação 4 Participar numa reflexão global para eventuais generaliza cões e discussão dos resultados no quadro mais abrangente das iências sociais ou de outras disciplinas implicadas no problema O trabalho em seminário exige alguns esclarecimentos comple mentares Quanto à constituição do seminário é preciso tomar muito cuidado na designação dos membros e de suas atribuições Quando a pesquisa é financiada por uma coletividade homogênea não há muitos problemas o seminário conterá os principais pesquisadores e os membros da coletividade que forem julgados mais aptos para tratar os problemas considerados Em geral são líderes informais Quando o seminário é organizado em meio heterogêneo as questões da representação das diversas partes podem se tornar delicadas Em geral são resolvidas por meio de negociações No contexto mili tante a seleção dos membros é principalmente de ordem política Em todos os casos os pesquisadores devem promover a maior trans parência como condição da continuidade da pesquisa Outra precaução diz respeito ao acesso à informação Os prin cipais assuntos debatidos em cada sessão são descritos sob forma 59 de atas e analisados em seguida As atas e relatórios são concebi dos e arquivados de modo adequado a uma fácil consulta por parte de qualquer participante Em certas situações conflitivas para evitar possíveis manipulações certas informações devem ser retidas pelos organizadores da pesquisa A difusão de informação é objeto de um acordo entre iversas partes implicadas na pesquisa Uma última exigência está relacionada com o preparo dos pes quisadores e dos participantes O que parece muito simples mas na prática não o é Para aplicarem técnicas de pesquisa e de tra balho em grupos dentro da proposta de pesquisaação é neces sário um certo preparo didático Organizar um seminário de pes quisa não consiste apenas em reunir algumas pessoas ao redor de uma mesa O trabalho deve ser metodicamente organizado sob pena de não funcionar Não basta deixar falar aquelas que falam muito É preciso em cada instante procurar informações pertinentes rela cionadas com o assunto focalizado Há espaço para toda uma apren dizagem de estudo coletiva a ser desenvolvida nas situações de pes quisa A real aprendizagem das técnicas do trabalho de pesquisa é muito importante Sem ela os belos discursos sobre teoria e prá tica permanecem inoperantes Devido ao uso de procedimentos argumentativos nas sessões do seminário vale a pena acrescentarmos uma observação sobre a par ticipação efetiva dos diversos tipos de interlocutores De acordo com a teoria geral da argumentação a presença física dos participantes deliberantes ou não exerce um efeito argumentativo sobre o que está sendo discutido e sobre as eventuais conclusões Perelman 1976 154 ss Dando um exemplo podemos imaginar que dentro de unia sessão de estudo sobre a fome os argumentos apresentados por famintos de verdade exerceriam um efeito seletivo muito mais con vincente do que qualquer leitura de dados numéricos dos anuários estatísticos oficiais O efeito argumentativo ligado à presença física dos interlocutores ou testemunhas é bem conhecido dos juízes e advogados nos tribunais Nas sessões do seminário d pesquisaação esses efeitos também existem No entanto os pesqmsadores devem ficar atentos a possíveis envolvimentos emocionais de alguns dos participantes suscetíveis de fazer perder aos demais o sentido da objetividade 7 CAMPO DE OBSERVAÇÃO AMOSTRAGEM E REPRESENTATIVIDADE QUALITATIVA A delimitação do campo de observação empírica no qual se aplica o tema da pesquisa é objeto de discussão entre os interessa 60 dos e os pesquisadores Uma pesquisaação pode abranger uma co munidade geograficamente concentrada favela ou espalhada cam poneses Em alguns casos a delimitação empírica é relacionada com um quadro de atuação como no caso de uma instituição univer sidade etc Quando o tamanho do campo delimitado é muito grande co locase a questão da amostragem e da representatividade A necessidade de construir amostras para a observação de uma parte representativa do conjunto da população considerada na pes quisaação é assunto controvertido Existem várias posições a A primeira exclui a pesquisa por amostra Seus partidários consideram que para exercer um efeito conscientizador e de mobi lização em torno de uma ação coletiva a pesquisa deve abranger o conjunto da população que será consultada sob forma de questio nários ou de discussões em grupos Tal postura é viável quando a população é de tamanho limitado Quando se trata de milhares de pessoas seria preciso prever um esquema organizativo dotado de muitos pesquisadores e os problemas de controle da execução da pesquisa se tornariam rapidamente complicados Numa pesquisa in terna sobre os problemas universitários que foi organizada na PUC de Campinas os organizadores conseguiram desenvolver uma pes quisaação sem amostra abrangendo quase a totalidade dos 18 mil alunos em 1982 No caso particular de uma universidade é factível controlar a coleta de dados a partir das divisões já existentes facul dades departamentos turmas etc recorrendo a representantes de cada unidade Numa população mais difusa não compartimentada a coleta seria muito mais complicada do que no contexto universitário Acreditamos que a posição de exaustividade é válida no caso de uma população de dimensão compatível com a carga de trabalho dos pesquisadores A solução do problema deve levar também em consideração a facilidade de acesso às pessoas da população e suas condições de participação Por exemplo é mais fácil estabelecer con tatos de pesquisa com 1 O mil alunos de uma universidade do que com 10 mil trabalhadores de uma região suburbana b Uma segunda posição consiste em recomendar o Uso da amos tragem De acordo com a concepção da sondagem a pesquisa é etuada dentro de um pequeno número de unidades pessoas ou tras que é estatisticamente representativo do conjunto da popu ão A determinação do tamanho da amostra o controle de sua esentatividade e o cálculo da confiabilidade são realizados a tir de regras estatísticas Na concepção da pesquisaação este edimento apresenta o inconveniente de não permitir efeitos de ientização As unidades são escolhidas aleatoriamente e são 1 mantidas em isolamento De fato se acontecer alguma forma de conscientização entre os indivíduos de uma amostra isto normal mente não incide sobre a população global Os partidários da pes quisaação resolvem este problema por meio da difusão de infor mações a grande maioria da população sabe que uma pesquisa é realizada por meio de informações em diversos canais de comuni cação formais ou informais As ações são também divulgadas e dão lugar a operações de popularização c Uma terceira posição consiste na valorização de critérios de representatividade qualitativa Na prática da pesquisa social a re presentatividade dos grupos investigados se dá por critérios quanti tativos amostragem estaticamente controlada e por critérios quali tativos interpretativa ou argumentativamente controlados Mesmo em pesquisa convencional ao planejarem amostras de pessoas a serem entrevistadas com alguma profundidade os pesquisadores costumam recorrer às chamadas amostras intencionais Tratase de um pe queno número de pessoas que são escolhidas intencionalmente em função da relevância que elas apresentam em relação a um deter minado assunto Este princípio é sistematicamente aplicado no caso da pesquisaação Pessoas ou grupos são escolhidos em função de sua representatividade social dentro da situação considerada É claro que isto infringe o princípio da aleatoriedade que em geral é considerado como condição da objetividade De acordo com este princípio todas as unidades da população têm a mesma proba bilidade de ser escolhidas A priori a informação gerada por cada unidade investigada possui a mesma relevância No caso diferente o princípio de intencionalidade é adequado no contexto da pesquisa social com ênfase nos aspectos qualitativos onde todas as unidades não são consideradas como equivalentes ou de relevância igual Existe neste caso um tratamento qualitativo da interpretação do material captado em unidades qualitativamente representativas do conjunto do universo e de modo diferenciado em função das carac terísticas do problema investigado Na pesquisaação a representati vidade das pessoas e dos grupos significativos é julgada e a escolha é decidida ao nível do seminário central a partir do consenso dos pesquisadores e participantes Na aplicação do princípio de intencionalidade podem ocorrer distorcões relacionadas com as preferências individuais mas estas são cntroladas e corrigidas por meio da discussão e a partir comparações entre as observações obtidas em unidades significativ mente gferentes A questão da representatividade qualitativa pode ser exem ficada no contexto sóciopolítico da ação operáúa A pesquisa 62 dicional por sondagem levaria em conta uma amostra de trabalha dores escolhidos aleatoriamente em fichários de empregos ou a partir de uma seleção de locais de moradia Qualquer trabalhador teria mais ou menos a mesma probabilidade de ser entrevistado Por sua vez numa pesquisa com amostra intencional seriam selecionados trabalhadores ou grupos de trabalhadores que são conhecidos como elementos ativos do movimento sindical ou político A sua represen tatividade seria significativa das tendências favoráveis ou contrárias a determinados objetivos em discussão A informação que esses tra balhadores são capazes de transmitir é muito mais rica que a que se pode alcançar por meio de questionários comuns f claro que a informação obtida não é generalizável ao nível dei conjunto da popu lação mas há substância necessária à percepção da dinâmica do movimento Além disso para se ter uma visão mais completa pode se contrabalançar a representação dos elementos mais avançados por um estudo particular sobre os elementos tidos como atrasados na dinâmica do fenômeno estudado Tais elementos são igualmente selecionados por meio de amostra intencional Como já notamos em outra oportunidade Thiollent 1980 b 6379 o critério de representatividade dos grupos investigados não é necessariamente quantitativo É importante dentro de certos pa râmetros quantitativos levar em conta a representatividade sócio política de grupos ou de opiniões que são minoritários em termos numéricos mas expressivos de uma situação em termos ideológicos e políticos A representatividade expressiva pressupõe critérios de avaliação política no seio da conjuntura A importância social dos grupos mais avançados é maior do que seu peso numérico no onjunto da população As idéias de uma minoria podem se tornar xpressivamente mais relevantes do que a aparente ausência de éias ou opiniões da maioria Seu peso significativo não se limita uma questão de freqüência observacional Por isso as pesquisas adas em amostras estatisticamente representativas têm tendência ar uma visão bastante conformista da realidade seus critérios falsamente igualitários quando postulam que cada indivíduo vale um e que cada opinião é equivalente a qualquer outra Os cri s numéricos podem chegar a fazer desaparecer as minorias A ver a representatividade expressiva ou qualitativa é dada por valiação da relevância política dos grupos e das idéias que dentro de uma certa conjuntura ou movimento Tratase ar a uma representação de ordem cognitiva sociológica e ente fundamentada com possível controle ou retificacão de no decorrer da investigação 63 8 COLETA DE DADOS A coleta de dados é efetuada por grupos de observação e pes quisadores sob controle do seminário central As principais técnicas utilizadas são a entrevista coletiva nos locais de moradia ou de tra balho e a entrevista individual aplicada de modo aprofundado Os locais de investigação e os indivíduos ou grupos são escolhidos em função do plano de amostragem com controle estatístico ou com critérios intencionais veja item anterior Ao lado dessas técnicas também são utilizáveis questionários convencionais que são apli cáveis em maior escala No que diz respeito à informação já exis tente diversas técnicas documentais permitem resgatar e analisar o conteúdo de arquivos ou de jornais Alguns pesquisadores recorrem também a técnicas antropológicas observação participante diários de campo histórias de vida etc Alguns autores recomendam técnicas de grupo tais como o sociodrama com o qual é possível reproduzir certas situações sociais que vivem os participantes Por exemplo as situações marcadas pelas relações de desigualdade empregadopatrão mulhermarido etc Nessa reprodução simbólica são incorporadas formas de expressão cultural próprias aos grupos considerados Sejam quais forem as técnicas utilizadas os grupos de obser vação compostos de pesquisadores e de participantes comuns pro curam a informação que é julgada necessária para o andamento da pesquisa respondendo a solicitações do seminário central É claro que os grupos podem fornecer outras informações que não estavam previstas o que permite aumentar a riqueza das descrições Quando é necessária existe uma divisão do trabalho entre os diversos grupos de observação Assim dentro de uma população dada um grupo pode observar assuntos relacionados com a saúde oufro com a habitação etc Em cada grupo de observação há mem bros da coletividade e pesquisadores profissionais Os membros da coletividade ou pelo menos alguns deles chegam a exercer funções de pesquisador Para isto é organizado um treinamento específico e adaptado ao contexto cultural considerado Todas as informações coletadas pelos diversos grupos de obser vação e pesquisadores de campo são transferidas ao seminário cen tral onde são discutidas analisadas interpretadas etc Na concepção de roteiros de entrevistas questionários ou de outros instrumentos de coleta de dados em pesquisa alternativa sempre se coloca a questão do papel atribuído aos elementos expli cativos0associados à obtenção de informação esclarecida por parte dos respondentes Consideramos que tais elementos não visam orien tar as respostas em função das expectativas dos pesquisadores e sim 64 escoiiona as pessoas para que não respondam apenas com faci lidade tsto e como se a sua resposta fosse um simples reflexo de senso omm ou dos efeitos do condicionamento pelos meios de comumcaçao de massa As explicações são sugeridas aos respon denespara 9ue tenham u papel ativo na investigação As expli cçes onststem em sugenr comparações ou outros tipos de racio 10 d nafconclus1vos que permitam aos respondentes uma reflexão m tvt ua ou coletiva a respeito dos fatos observados e cuja inter pretaçao e obiet de questionamento Esses aspectos explicativos pode estar relac10nados com o objetivo de conscientizacão e ª1phados numa fase yosterior pela divulgação dos resuÍtado stderos q11e efeito de explicação contido na fase propria eite mvest1gatoa constitui uma importante característica metodo log1ca nos d1spos1t1vos de observaçãoquestionamento Um outr Prblema freqüentemente discutido diz respeito ao uso de questrnnanos ou formulários Como se sabe na convenc 1 t pesqmsa 1012a at mstrumentos desempenham um importante pa el na otençao de mformação sobre as características sócioeconômias e opmattva d populao Na pesquisaação nem sempre são a li cados qiesttoarrns cod1f1cados pois quando a populacão é de e queia d1mnsao e su estruturação em grupos permite a fácil reali zaçao de dscussoes e psível obter informações principalmente de modo coletivo sem admm1stração de questionários individuais No ntant quand a pop0ação é ampla e o objetivo da descrição e analtse da mformaçao é bem definido e detalhado 0 f nano geralmente é indispensável ques to Os princípios gerais da elaboração de questionários e formu ano convencionais são úteis para que os pesquisadores possam don1ar os aspectos técnicos da concepção da formulacão e da cd1f1caçao No contexto particular da pesquisacação os questioná rios obedecem a algumas das regras dos questionários comuns cla reza das perguntas Jerguitas fechadas escolha múltipla perguntas aberts ec odvta a algumas diferenças Na pesquisaação 0 quest1onan nao e sif1c1ente em si mesmo Ele traz informações sobro umvero ons1derado que serão analisadas e discutidas em reumoes e semmanos com a participação de pessoas representativas O procssatreito estatístico das respostas com computadores ou não nunc e suf1c1ente O processamento adequado sempre requer um funJªº argumentativa dando relevo e conteúdo social às interpre taçoes nternamente a concepção do questionário é intimamente rela c10n a cn º tema e os iroblemas que forem levantados nas dis cussoes ii1cta1s e co s htpteses ou diretrizes correspondentes A formulaçao do questrnnano da lugar a discussões com diversos tipos 65 de articipantes com os entrevistadores e os pesquisadores extraídos do eio social investigado Antes de ser aplicdo em grande escaa essoas selecionadas na amostra ou mtenc1onalmente o questio rf 0 é testado ao nível de um pequeno númer de pssoas repre sentativas 0 que permite melhorar a formulaçao e tirar algumas ambigüidades de linguagem 9 APRENDIZAGEM Na pesquisaacão uma capacidade de aprendizagem é associada ao processo de investlgação Isto pode ser rensdo no contexto das pesquisas em educação comunicação orgamzaçao ou outras O fto de associar pesquisaação e aprendizage sem uv1a possm ma10r relevância na pesquisa educacional mas e tambem válido nos outros casos As pesquisas em educação comunicação e organfzação acom anham as acões de educar comunicar e orgamzat Os atores se11 p re têm de gerar utilizar informações e também onenar a açao fomar decisões etc Isto faz parte tanto da atividade Planepda quanto da atividade cotidiana e não pode deixar de ser diretamente oser vado na pesquisaação As ações investigadas envolve produçao e circulacão de informação elucidação e tomada de dec1soes e outros aspectós supondo uma capacidade de apre1izagem ds participante Estes já possuem essa capacidade adqumda na ativ1ade rorma Nas condições peculiares da pesquisaaçã esa capac1ade e apro veitada e enriquecida em função das ex1gencias da açao em torno da qual se desenrola a investigação Para designar 0 tipo de colaboração que se estabelece entre P quisadores e participantes do meio observado é algumas vezes utili zada a nocão de estrutura de aprendizagem conjunta No contexto da es uiaacão associada a uma forma de consultona em assuntos técco com no caso da análise de sistemas d mformaçao s trutura de aprendizagem conjunta reúie os analistas e os usuar1os na busca de soluções apropriadas Jobim Filho 1979 De modo geral as diversas categorias e pesqusadores t aprendem alguma coisa ao investigar e discutir poss1e1s s euos resultados oferecem novos ensinaeno A aprendiz gm dos participantes é facilitada pelas contnbu1çs dos pesq1 sadores e eventualmente pela colaboração temporana de espec1 listas em assuntos técnicos cujo coiihecimnto for utll o Jrup Em alguns casos a aprendizagem e sistematicamente orgamza a P d ou de grupo de estudos complementares e t me10 e semmanos bém pela divulgação de material didatlco 66 Segundo O Ortsman 1978 233 o papel dos especialistas que intervêm consiste em facilitar a aprendizagem dos participantes de diferentes maneiras pela restituição de informação pelos modos de discussão que conseguem promover pelas modalidades de for mação propostas e pelas negociações que estabelecem para evitar que certas partes implicadas na situação não sejam eliminadas da discussão 10 SABER FORMALSABER INFORMAL Dentro da concepção da pesquisaação o estudo da relação enfre saber formal e saber informal visa estabelecer ou melhorar a estru tura de comunicação entre os dois universos culturais o dos espe cialistas e o dos interessados Para simplificar incluímos entre os especialistas os técnicos e os pesquisadores Em certos casos quando é grande a distância entre técnicos e pesquisadores o problema abran ge o relacionamento de três universos Eventualmente o problema é mais complicado quando existem diversas categorias de população diversas categorias de pesquisadores e de outros especialistas envol vidos no assunto Para fins de exposição didática vamos reduzir o problema a uma relação entre saber formal dos especialistas dotado de certa capacidade de abstração e saber informal baseado na experiência concreta dos participantes comuns Deixamos de lado o fato de que os especialistas também possuem saber informal e que os partici pantes leigos têm freqüentemente alguma faculdade de emitir hipóteses ou de generalizar Todavia o fato é que existe o problema da diferença dos dois universos que se manifesta em dificuldades de compreensão mútua De acordo com a postura tradicional muitos pesquisadores con sideram que de um lado os membros das classes populares não sabem nada não têm cultura não têm educação não dominam racio cínios abstratos só podem dar opiniões e por outro lado os espe dalistas sabem tudo e nunca erram Este tipo de postura unilateral é incompatível com a orientação alternativa que se encontra na pesquisaação e pesquisa participante O participante comum conhece os problemas e as situações nas uais está vivendo Por exemplo o pequeno produtor rural conhece rias exigências naturais e econômicas às quais ele costuma se subme por experiência De modo geral quando existem condições para a expressão o saber popular é rico espontâneo muito apropriado tuação local Porém sendo marcado por crenças e tradições é iciente para que as pessoas encarem rápidas transformações 67 Por sua vez o saber do especialista é sempre incopleto não se aplica satisfatoriamente a todas as situações Para que isto coneça 0 especialista precisa estabelecer alguma forma de comumcaçao e de intercompreensão com os agentes do saber popular Na busca de soluções aos problemas colocados os psquisado res especifilisfas e participantes devem chegar a um relacionamento adquado entre saber formal e saber informl Tal relcionanento pode ser estudado a nível sofisticado a parir de os1deraçoes de psicologia da cognição psicologia social sc1ohi1stica etc Como a nossa preocupação é aqui de ordem mis pratica vamos sugerir uma técnica bastante rudimentar que consiste em comparar a tema tica do especialista e a do participante comum Num primeiro momento os participantes são levados a des crever a situacão ou o problema que estão focalizando com aspectos de conhecimeto busca de explicações e de ação busca de solu ções A descrição dá lugar a uma lisa de te11as que são ponerados em função da relevância que lhes e atnbmda pelos prt1c1pats Por sua vez os especialistas estabelecem a sua prpn tematica relativa ao mesmo problema ou assunto com md1caçao de sua ponderação Em seguida as duas temáticas são comparaas procurandose mostrar zonas de compatibilidade e de mcompat1hthdade tto ao nível da listagem como no da ponderação ore d pnondade Na listagem observase que existem difeenyªs hmsticas Éneces sário estabelecer correspondências perfeitas ou imperfeitas entre a terminologia popular e a terminologia erudita Para compreender as diferenças é preciso sclarecer os press postos de cada tema Daremos um exemplo retirado de im de01 mento oral de um técnico da Pesagro Campos RJ sumario relatwo à comparação das representações técnicas de peqllenos proutres de arroz do norte fluminense com as representaçoes dos tcmcos agrônomos Entre os diferentes temas associados ao culttvo do arroz aparece o da palha e de sua utilização uma vez cohido o arroz Na representação do pequeno produtor a melhor soluçao con siste em queimar a palha antes de trabalhar a terra Na representa ção dos técnicos a melhor solução seria incorpoar a palm ao solo Procurando estabelecer os pressupostos desta d1veriiencia stabele cese que na representação do produtr a questa e essenc1ment mecânica pois a palha dificulta a técma de araçao com traçao am mal que ele utiliza O esforço precisaria ser bem superior a forç do animal Enquanto na representação d técnico o pressuposto e de natureza bioquímica pois a decomposiçao da palha no solo ena 68 matéria orgânica fertilizante Este exemplo só mostra uma diver gência acerca de um assunto técnico A partir da comparação das temáticas é possível constatar as divergências como também as convergências as diferencas de pon deração relacionadas com quaisquer aspectos da vida scial econô mica ou política É de grande interesse igualmente estudar as dife renças de linguagem destacando aquelas que são obstáculos à inter copreensão Não se trata apenas de fazer com que os participantes aceitem pontos de vista ou noções que não pertenciam ao seu uni verso de representações Do contato com este último os especia lrstas podem alterar a sua própria representação no sentido de enri quecer completar ou concretizar o conteúdo do que eles conheciam somente em termos gerais A técnica da comparação das temáticas pode ser aplicada ao mvel de pequenos grupos de estudos com participação de pesqui sadores e membros da população considerada Também é possível recorrer a questionários a serem aplicados a um maior número de pessoas ou a uma amostra representativa O uso da técnica de comparação não resolve todos os proble mas da relação entre saber formal e saber informal É apenas um ponto de partida que consiste em mapear os dois universos de representação e em buscar meios de intercompreensão 11 PLANO DE AÇÃO Para correspondr ao conjunto dos seus objetivos a pesquisa açao eve se cncretiar em filma forma de ação planejada objeto de analrse dehberaçao e avalração Contrariamente à opinião de alguns pesquisadores que utilizam a denominação pesquisaação para designar qualquer tipo de conversa informal ou batepapo com pequenos grupos de trabalhadores ou moradores de um local cosdeamos que a formulação de um plano de ação constitui um exgeci fundental En geral tratase de uma ação na qual os pnicipars participantes sao os membros da situação ou da organi iaçao sob observação A iscussã informal com pequenos grupos e sempre um passo necessano prmcipalmente na fase exploratória da pesqmsa mas nao chega a caracterizar o conteúdo da proposta metodológica no seu conjunto A elaboração do plano de ação consiste em definir com precisão a Quem são os atores ou as unidades de intervenção b Como se relacionam os atores e as instituições convergên atritos conflito aberto 69 c Quem toma as decisões d Quais são os objetivos ou metas tangíveis da ação e os critérios de sua avaliação e Como dar continuidade à ação apesar das dificuldades f Como assegurar a participação da população e incorporar suas sugestões g Como controlar o conjunto do processo e avaliar os resultados Alguns autores têm mantido uma relativa confusão acerca do papel dos participantes ao darem a impressão de que o principal ator seria o próprio pesquisador De acordo com a nossa compre ensão do assunto o principal ator é quem faz ou quem está efeti vamente interessado na ação O pesquisador desempenha um papel auxiliar ou de tipo assessoramento embora haja situações nas quais os pesquisadores precisam assumir maior envolvimento e res ponsabilidade em particular nas situações cercadas de obstáculos políticos ou outros A definição da ação e a avaliação das suas conseqüências dão lugar a um tipo de discussão que chamamos deliberação Como foi visto no Capítulo 1 a estrutura de raciocínio da pesquisaação apresenta aspectos argumentativos ou deliberativos Tais aspectos existem na colocação dos problemas na interpretação dos dados para fins comprobatórios e na definição das diretrizes de ação No que toca a este último ponto contrariamente à visão tradicional as propostas de ação ou as decisões a serem tomadas dentro de uma ação preexistente não são obtidas a partir de uma simples leitura de dados Não há neutralidade por parte dos pesquisadores e dos atores da situação A convicção a que podem chegar acerca da neces sidade ou da justeza de uma ação amadurece durante a deliberacão no seio do seminário e dos outros grupos participantes da pesquisa Na medida do possível os resultados das deliberações são obtidos por consenso Quando os pontos de vista são inconciliáveis as diver sas alternativas são respeitadas e registradas para futura continuação da discussão e eventualmente será organizada uma implementacão comparativa A ação corresponde ao que precisa ser feito ou transformado para realizar a solução de um determinado problema Dependendo do campo de atuação e da problemática adotada existem vários tipos de ação cuja tônica pode ser educativa comunicativa técnica polí tica cultural etc No caso particular da ação técnica como no da introdução de uma nova técnica no campo ou do resgate de uma antiga técnica é necessário levar em conta o aspecto sóciocul tural do seu contexto de uso 70 As implicações da ação aos níveis individuais e coletivos devem ser explicitadas e avaliadas em termos realistas evitando criar falsas expectativas entre os participantes no que diz respeito aos problemas da sociedade global 12 DIVULGAÇÃO EXTERNA flém do retorno da informação aos grupos implicados também e poss1vel mediante acordo prévio dos participantes divulgar a infor ação externamente em diferentes setores interessados A parte mais movadora pode ser inserida na discussão de trabalhos em ciências sociais e divulgada nos canais apropriados conferências con gressos etc Para satisfazer as exigências de divulgação ao nível dos meios populaes o treinamento do pesquisadores inclui técnicas de apre sentaçao de resultados tecmcas de comunicação por canais formais e informais técnicas de organização de debates públicos suportes audiovisuais etc A idéia de retorno da informação sobre os resultados aos mem bio da população no é objeto de consenso entre diversos parti danos da pesqmaaçao Alguns acham que a pesquisaação even tialmnte pesqmsaparticipante por ter exigido uma forte parti c1paçao da populaçao nos seus mecamsmos não precisa restituir a inormação Esta já estaria conhecida na hora da investigação pro priamne dita ara outr3s partidários desta orientação de pesquisa a restltu1çao da mformaçao e necessária justamente para permitir um efeit de viso de cmijunto ou de generalização que não seria poss1vel ao mvel da Slffiples captação de informacão A nosso ver antes do retorno há todo um trabalho de inves tigação e de interpretação dentro da problemática adotada e levando em conta a pesquisa com elementos explicativos e a discussão em grupos e no seminário central Esse trabalho exerce um efeito de síntee de todas as informações parciais coletadas e um efeito de convicção ente os participantes O retorno é importante para esten der o onhec1mento e fortalecer a convicção e não deve ser visto como Slffiples efeito de propaganda Tratase de fazer conhecer os resultados de uma pesquisa que por sua vez poderá gerar reacões e contribuir para a dinâmica da tomada de consciência e eventual mente sgerir icio de mais um ciclo de ação e de inestigação Os ªn1s de difuao correspondentes ao retorno da informação são vaave1s em fuçao das características de cada situação É possível utilzar os canais criados na ocasião da pesquisa grupos de obser vaçao mformantes etc A divulgação dos resultados deve ser feita 71 de modo compatível com o nível de compreensão dos destinatários Devese também prever meios e canais que permitam que a popu lação manifeste suas reações e eventuais sugestões No contexto par ticular da pesquisaação em comunicação quando se trata de pes quisa relacionada com a criação ou o funionamento de um eo de comunicação jornal rádio etc é poss1vel aproveitar o propno meio como instrumento de retorno da pesquisa Em conclusão parecenos desejável haver um rtrno da nfor mação entre os participantes que conversaram partlc1prm mves tigaram agiram etc Este retorno is fromover um visao e con junto É difícil imaginar que um md1viduo que esteja partlc1pando do processo tenha espontaneente aceso ao coijunto Os canais de divulgação sobretudo os mformais sao aproveitads ara forta lecer a tomada de consciência do conjunto da populaçao mtersaa não limitada aos participantes efetivos A tomada de consc1encia se desenvolve quando as pessoas descobrem que outras pessoas ou outros grupos vivem mais ou menos a mesma situação 72 Capítulo Ili ÁREAS DE APLICAÇÃO Em função de sua orientação prática a pesquisaação é voltada para diversificadas aplicações em diferentes áreas de atuação Sem reduzirmos a necessidade de uma constante reflexão teórica pode mos considerar que a pesquisaação opera principalmente como pes quisa aplicada em suas áreas prediletas que são educação comuni cação social serviço social organização tecnologia em particular no meio rural e práticas políticas e sindicais Por enquanto apre sentaremos algumas indicações relacionadas com essas áreas empiri camente constituídas Outras áreas poderiam eventualmente estar incluídas tais como urbanismo e saúde mas ainda faltam informa ções sobre experiências ou tendências No nosso levantamento das áreas de aplicação não pretendemos mostrar exemplos de boa ou de má pesquisaação Queremos evitar dar lições aos especialistas de cada área que por defini ção são os mais qualificados para discutir e resolver os problemas metodológicos de suas atividades específicas Só queremos sugerir para a discussão numa rápida pincelada algumas informações e idéias sintéticas que estão relacionadas com a aplicação da orien tação de pesquisaação em cada uma das áreas mencionadas Além disso observamos que em geral os pesquisadores das diversas áreas se ignoram e desconhecem a pesquisaação fora de sua especialidade Pesquisadores envolvidos em práticas políticas acham freqüentemente estranho o fato de que a pesquisaaçãq seja também uma proposta metodológica para as áreas organizacionais e tecno lógicas A nosso ver um certo recuo é necessário e um sobrevôo nas diversas áreas nos permite apontar a diversidade as divergências e as convergências que animam as propostas de pesquisaação 73 1 EDUCAÇÃO Na área educacional em diversos países existe uma tradição de pesquisa participativa e de pesquisaação em matéria de formação de adultos educação popular formação sindical etc No setor con vencional da educação 1º e 2º graus a aplicação dessas orienta ções é mais ràra e difícil talvez por causa de resistências institu cionais e de hábitos professorais No entanto nos últimos tempos notase uma maior disponibilidade que se relaciona talvez com a desilusão de muitos profissionais para com as pesquisas conven cionais No estudo da metodologia da pesquisa educacional existe um amplo debate a respeito da dita oposição entre a tendência quanti tativa baseada na estatística e as tendências qualitativas baseadas em diversas filosofias Temos indicado que a oposição entre quan titativismo e qualitativismo é freqüentemente um falso debate Quando seus excessos forem adequadamente criticados nos será pos sível articular os aspectos qualitativos e quantitativos do conheci mento dando conta do real Thiollent 1984 c 4550 Um outro tema amplamente debatido diz respeito ao uso de métodos participativos e ao uso da pesquisaação em contexto edu cacional Uma das mais difundidas justificativas consiste na consta tação de uma desilusão para com a metodologia convencional cujos resultados apesar de sua aparente precisão estão muito afastados dos problemas urgentes da situação atual da educação Por necessá rias que sejam revelamse insuficientes muitas das pesquisas que se limitam a uma simples descrição da situação ou a uma avaliação de rendimentos escolares No Brasil a pesquisa participante ocupa um espaço crescente na área de pesquisa educacional inclusive com apoio institucional Ela é principalmente concebida como metodologia derivada da obser vação antropológica e como forma de comprometimento dos pesqui sadores com causas populares relevantes Por sua vez a pesqmsa ação é algumas vezes distinguida da pesquisa participante pelo fato de focalizar ações ou transformações específicas que exigem um direcionamento bastante explicitado Como elemento de discussão retomaremos aqui algumas con siderações relacionadas com um possível papel da pesquisaação no contexto da reconstrução do sistema escolar Thiollent 1984 c 4550 Dentro de uma concepção do conhecimento que seja também ação podemos conceber e planejar pesquisas cujos objetivos não se limitem à descrição ou à avaliação No contexto da construção ou 74 da rconstrução do sit111ª de ensino não basta descrever e avaliar Precsamos produzrr ideias que antecipem o real ou que delineiem um ideal 1ese sentido os esquisadores precisam definir novos tipos de ex1gencias e de utilização do conhecimento para contribuírem para a transformação da situação Isto exige que as funcões sociais do coneimento sejam adequadamente controladas par favorecer as ond1çoes do seu uso efetivo Dentro de um equacionamento realista dos problemas educacionais tal controle visa minimizar os usos meramente burocráticos ou simbólicos e maximizar os usos realmente transformadores Com a orieitação netodológica da pesquisaação os pesquisa dores em educaçao estanam em condição de produzir informacões e conhecments de uso 11is efetivo inclusive ao nível pedagógico Tl onentaçao contnbmna para o esclarecimento das microssitua çoes escolares e para a definição de objetivos de acão pedagógica e de transformações mais abrangentes A pesquisaação promove a participação dos usuários do sistema escolar na busca de soluções aos seus problemas Este processo supõe ique os rsqmsadores dotem uma linguagem apropriada Os obje tivos teoncos da pesqmsa são constantemente reafirmados e afinados no contato com as situações abertas ao diálogo com os interessados na sua lmguagem popular Na reconstrução não se trata apenas de observar ou de des creve1 O aspecto principal é projetivo e remete à criação ou ao plneiament O problema consiste em saber como alcançar deter mmaos bJetlvs produzir eterminados efeitos conceber objetos orgamzaçoes praticas educacionais e suportes materiais com carac terísticas e critérios aceitos pelos grupos interessados A forma de raciocínio projetivo é diferente das formas de racio cínio explicativo que são relacionadas com a observacão de fatos No caso da projço press1põese que o pesquisador dispõe de urr conhec1meno prev10 a partir do qual serão resolvidos os problemas de conepçao do objeto de acordo com regras ou critérios a serem concretizados na discussão com os usuários Não é um método de otição de infoação ness caso particular é um método de inje çao de mformaçao na conf1guraçao do projeto Numa vião ecoistrtia a concepção das atividades pedagógi as e edicac10nais nao VISta cmo transmissão ou aplicação de mfomaça al conepçao possm uma dimensão conscientizadora Na mvestJgaçao associada ao processo de reconstrução elementos de tomada de consciência são levados em consideração nas próprias situa 75 L ções investigadas em particular entre os professores e na relação professores alunos Na fase de investigação uma reciclagem das idéias acompanha a descrição ou a explicação por meio de divulgação dos primeiros resultados A tomada de consciência não é somente um processo ex post concebido depois da divulgação dos resultados Este pro cesso é associado à própria geração de dados sob forma de ques tionamento pelo menos em escala reduzida No contexto das prá ticas educacionais vistas numa perspectiva transformadora e eman cipatória as idéias dão lugar a uma reciclagem que é diferente da formação da opinião pública pois não se trata de promover reações emocionais e sim disposições a conhecer e agir de modo racional Na reconstrução a pesquisa está inserida num processo de ca ráter conscientizador e comunicativo que não deve ser confundido com a simples propaganda Os pesquisadores estabelecem canais de investigação e de divulgação nos meios estudados nos quais a inte ração entre os grupos mais esclarecidos e menos esclarecidos gera e prepara mudanças coletivas nas representações comportamen tos e formas de ação Isto corresponde a um tipo de questionamento a partir do qual são levantados e discutidos os vários aspectos da realidade dos objetivos e dos critérios de transformação Ê necessário que os pesquisadores levem em conta os aspectos comunicativos na espontaneidade e no planejamento consciente de ações transformadoras Tal comunicação não é concebida como pro cesso unilateral de emissãotransmissãorecepção e sim coroo proces so multidirecionado e de ampla interação Este processo é normati vamente dirigido no sentido de fortalecer tendências criadoras e construtivas A questão normativa que sempre se manifesta na articulação da pesquisa e da ação é controlada pelos pesquisadores por meio da deliberação coletiva e submetida à aprovação dos grupos de edu cadores ou de alunos implicados De acordo com a perspectiva esboçada paralelamente à pes quisa haveria também produção de material didático gerada pelos participantes e para ser distribuído em escala maior 2 COMUNICAÇÃO A pesquisa em comunicação abrange uma multiplicidade de aspectos meios de comunicação de massa audiência grupos de in fluência imprensa jornalismo efeitos sobre o público recepção crí tica contexto político política governamental opinião pública cine 76 ma artes novas tecnologias f l etc Os enfoques podem se iacs r ig1osas práticas militantes sociológico psicológico semiológic1s tverlss econôico jurídico A no og1co pohtico etc ma10r parte da pesquisa em co do padrão da pesquisa empírica convecça e realizada dentro de alternativas está em discussão o entanto a busca Entre os métodos de pesquis lizados o pesquisador em com convenc1onal freqüentemente uti un1cacao recorre à d mao para conhecer 0 estado de pesquisa e opi esp1nto do públ entrevistas e questionários aplicados 1co por meio de a população Também são bastante 1m amostia epresentativa hse de conteúdo para qualific u i iza as as tecmcas de aná dos jorn ais ou de outros tiposarde idnterpretar o conteúdo manifesto e ocumentos Na pesquisa em comunicação guagens palavras imagens a sereU ªca enapi1ma é feita de lin modo que muitas vezes não est d p as e mterpretadas de um cija videnciação pode se tornar oido d valores estéticos e nencias comunicativas e artística p A d e patida para novas expe ciada quer à arte de co s imensao estética está asso mumcar quer à art d quer dizer que se trata da producão d e e iesqmsar o que mundo que é também reflexo d um determmado retrato do d e uma mtenc t utor Nesta perspectiva a área ªº es etJca do seu pro de intervencão situados a me10 ouhn1cativa está aberta a tipos t camm o da art 1pos que pertencem a uma de s f e ou ate mesmo a a forma audiovisual com suas tueas onnas ta como por exemplo cmcas propnas Com alcance estético ou não d de comunicação diferente para a eenolvemse várias tentativas dagens metodológicas A es uisaaa1 sao necssárias novas abar que está sendo cogitada espciàlm e uma orientação minoritária alternativa Mata 1981 725 e 19 el contexto d comunicação e de modo acoplado a dif t 50 comumcação popular Além disso a pesquisaacão eebyraas dlturais ou militantes de crítica à comunicacã de em iscuti a como possível meio massa A crítica dos meios de comunica da televisão deixou de ser uma ativldªaº de massa em particular círculos de intelectuais rad d de hmitada aos pequenos d d 1ca1s os anos 60 E t a or eni do dia de muitos centros de a cntica faz parte de orgamsmos internaciona1s T 1 psqu1sa mclus1ve com apoio ai capit ista a televisão difund a como e ad t d l m1ms ra a na sua forma logia consumista que se tor e uma cu tura comercial ou uma ideo d na um grave proble pruses o Terceiro Mundo AI di a em particular nos da televisão sobre a vida polítiem sod e mmto grande o impacto centrado nas mãos de um ca cdnan o um fantástico poder con numero e pessoas bem reduzido 77 No quadro geral da comunicação de mssa os crítios apmtam principalmente fatos de dependência dommao mamRulaçao ou alíenacão Esses conceitos precisam ser relatlvizados p01s diversas categoias de público não são tão dependentes e se mostram capazes de dar uma reinterpretação do conteúdo das mensagens De acordo com a orientação da pesquisaação é possível orga nizar um trabalho de reflexão sobre o uso da televisão a partir de experiências de grupos de telespectaores prfissiona memros de associacões voluntárias etc Este tlpo de mtervençao consISte na descrição dos programas por parte de telespectadores irgaados em grupos e cujos objetivos são relacionados com recepao cntlc cons cientização participação social e até mesmo contramformaçao Tais pesquisas são geralmente organizadas em peuena escala e não se pretende produzir altrações ao níyel da sociedade como um todo Além do mais os meros de comumcaçao de massa depen dem de interesses econômicos e políticos que não se deixam abalar por pequenos movimentos críticos Por parte os g11ps ou sso ciacões a crítica é concebida como forma de resistencra a 1mpos1çao cultural dos conteúdos veiculados pelos meios de comunicação de massa Ao nível da atividade comunicativa concreta esta perspectva se concretiza em elaboração de material ddátio cncepçã de eros de comunicação alternativos tais como Ornais frhies videoteipes etc Sem ilusão de competir com os meios de comumcaçao de massa esses meios conseguem divulgar informações e sobretuo odos de leitura alternativos De modo geral tratase de evidenciar as estratégias e táticas de persuasão e procuar elementos de deco1 ficacão dos conteúdos veiculados pelos meros de comumcaçao Sao idelltificados elementos de conteúdo das notícias argumentos de propaganda tipificação da vida social em novelas etc 1º rível das pessoas diretamente implicadas na peslmsa a dcoifrcaçao fav rece uma relativa neutralização dos efeltos mtencronars da comu1 cação A ampla divulgação de algumas a chaves dess codrfi cacão constitui um dos importantes objetivos dos partrdanos da pequisaação na área de comunicação Essa tvidade pode ser poia da na crítica dos meios e se estender a atividades de contramfor macão ou de comunicacão alternativa junto aos movimentos po pulares Além da sua funcão crítica a pesquisaação pode igualmente ser aplicada de modo construtivo para permitr uma mior partic pação dg grupos interesados em torno de diversas açoes comum cativas criação de um JOrnal de uma radio espaço de lazer ou transformação de uma política de informação 78 A pesquisaação pode ser utilizada como forma de trabalho pre paratório para uma campanha de explicação acerca de algum assunto de grande relevância social ou política objeto de debates públicos Nesse caso devemos salientar que a transformação é essencialmente uma transformação ao nível discursivo Tratase de fazer que aqueles que não têm voz possam gerar informações significativas sobre suas condições ou sobre seus possíveis relacionamentos com outros inter locutores Há também casos de transformação que ocorrem quando a partir de uma pesquisa tornase possível produzir e fazer circular informações ou conhecimentos que são tradicionalmente excluídos ou menosprezados por parte dos meios de comunicação de massa Sem dúvida é nesse quadro que a pesquisaação pode representar uma contribuição específica em matéria de discurso ou de comu nicação alternativa a respeito dos quais os métodos convencionais têm pouco a oferecer Além disso é também útil destacar o fato de que o papel da pesquisa não se limita a fazer falar determinados interlocutores e produzir um discurso diferente Tratase de traba lhar sobre o discurso por meio de análises e interpretações Isto supõe que seja ultrapassado o simples registro de informação espon taneamente gerada pelos interlocutores implicados na pesquisa Além de sua possível aplicação nas áreas de comunicação polí tica e de comunicação alternativa a pesquisaação é também cogi tada para outras subáreas tais como a comunicacão rural e dife rentes formas de expressão cultural ou artística À margem do que precede notamos que existem situações nas quais os pesquisadores ou os produtores de material alternativo des tinado à informação ou à comunicação não podem elaborar sozi nhos uma perspectiva de ação ou de transformação Isto acontece em particular nas conjunturas de crise ou de confusão nos planos intelectual ou político Neste tipo de situação o pesquisadorator ou o produtor da área comunicativa pode adotar uma postura de teste munha contribuindo para o debate através da geração de documen tos significativos Esta postura é assumida entre outros por Wilde nhahn cineasta e documentarista alemão Escreve ele Na medida em que a perspectiva social permanece confusa e controvertida a elaboração dos documentários deveria estar colocada em primeiro lugar porque os filmes documentários ajudam a pro curar novas perspectivas Wildenhahn 1980 Embora não seja em si própria uma diretriz de pesquisaação a postura favorável à produção de documentários enquanto objetivo de pesquisa no quadro de atividades comunicativas parecenos im portante não somente no caso peculiar da produção de material audiovisual Os documentos produzidos pelos pesquisadores e outros 79 profissionais da comunicação quando concebidos em função dessa postura podem se revelar muito importantes para futuras ações e discussões públicas que não podiam ser cogitadas no decrrer da pesquisa Como conteúdo de tais documentos devese salientar a importância de depoimentos populares 3 SERVIÇO SOCIAL A área de servico social é uma das áreas em que apesar dos obstáculos já existe uma tradição de aplicação da metodologia d pesquisaação Tal aplicação é no entanto macada plas especifi cações e pelas ambigüidades próprias ao serviço social enquanto forma de atuação na sociedade Em geral os profissionais do serviço social são empregads por empresas privadas ou instituições públicas para iitervir e diversas situações nas quais certas categorias da populaçao operanos fave lados menores abandonados idosos etc enfrentam problemas so ciais e existenciais que resultam dos efeitos do funcionamento da sociedade global desigualdade desemprego pobreza etc e das correspondentes relações sociais que são determinantes desses efeitos É claro que sem profundas alterações da estrutura social não se pode esperar grandes e duráveis transformações na condição das pessoas implicadas e que estejam ao alcance do serviço social A observacão e a intervenção de pesquisadores nas situações consideradas sã limitadas em função das exigências institucionais e da fraca capacidade de ação autônoma dos grupos que em geral são desfavorecidos e mantidos em situação de nãopoder Além disso o tipo de atuação do serviço social é tradicionalmente limitado por concepcões prevalecentes assistencialismo paternalismo redução dos probleas sociais a problemas psiclógicos com os d ipo desa juste familiar predomínio das tecmcas de pesqmsa md1v1diahzane tipo entrevista clínica etc Nesse quadro geral o serviço social tem sido algumas vezes objeto de preconceitos negativos por parte de profissionais de outras áreas Seja como for muitos profissionais do serviço social no Brasil e na América Latina desafiam os obstáculos e desenvolvem um intenso trabalho de redefinição metodológica da sua prática abrindo um profundo debate visando um redirecionamento crítico O tradi cional quadro teórico inspirado no positivismo e no funcionalismo foi alvo de uma aguda crítica Nos últimos anos a reflexão meto dológicado serviço social abrangeu questões relativas à diversidae das tendências filosóficas que são geradoras de metodologia No m tuito de substituírem o positivismo e o funcionalismo que preva 80 lecem em muitos lugares os trabalhadores sociais têm procurado tendências diferentes ligadas à fenomenologia ao materialismo dia lético e a outras tendências das quais se espera alguma alternativa prática Além disso a categoria procurou não restringir seu campo de atuação ao da demanda oficial institucional ou ao do acompa nhamento do pessoal nas empresas e também tem desempenhado um papl de assessoria no contexto dos movimentos populares urbanos e rurais A busca de alternativas supõe uma redefinicão dos quadros teóricos e metodológicos e a conquista de uma autnomia suficiente para que os profissionais possam experimentálas Sem entrarmos em detalhes notaremos que os novos quadros teóricos a serem adotados deveriam permitir uma clara compreensão das relacões existentes entre as características globais da sociedade classes Estado etc e as características psicossociais das situações de vida das diversas categorias sociais desfavorecidas que são consideradas no servico tl No plano métodológico parecenos altamente significativo o ato de que a metodologia da pesquisaação e de outras formas de mtervenção semelhantes estejam na pauta das discussões O servico social onstitui um exclente campo de aplicação e de possível de senvolvimento da pesqmsaação As experiências já realizadas mere ceriam maior divulgação No processo de observação e questionamento que é próprio ao dispositivo da pesquisaação pretendese superar os problemas rela cinados com a individualização das observaçõts do quadro da pes qmsa convenc10nal Os pesquisadores desempenham um papel ativo que consiste na dinamização do meio social observado Além disso certos grupos desse meio também participam ativamente na defini ção de objetivos determinados A equipe de pesquisadores entra em contato estreito e prolon gado com o meio social Este fato adquire em geral uma dimensão polítca que se torna cad vez mais explícita à medida que progride a açao coletiva que e obieto de acompanhamento Na pesquisa con vencional a dimensão sóciopolítica sempre existe mas freqüente mente é recalcada por artifícios técnicos psicologizantes Contra Há uma longa lista de trabalhos a respeito dessas discussões no Brasil e na América Latina Entre outros indicamos Teorização do servico social Do cumentos de Araxá Teresópolis e Sumaré Rio de Janeiro Agfr CBCISS 1984 233 p L V Magalhães Metodologia do servico social na América Latina São Paulo Cortez 1982 148 p M H de Âlmeida Lima Servico social e sociedade brasileira São Paulo Cortez 1982 141 p L L Sants Textos de serviço social São Paulo Cortez 1982 81 riamente à corrente psicologização das situações de investigação con sideramos que a pesquisaação pode ser dirigida de modo a tomr mais explícita a definição sóciopolítica de sua base de observaª e de intervenção Nesta definição é necessário dar canta da specifi cidade da prática do serviço social que não deve ser confundida com outras práticas No contexto do serviço social a metodologia da pesquisaação pode permitir um melhor equacionamento dos problemas de apo ximação à realidade social de inserção dos pesquisadores e profis sionais e de suas formas de intervenção Os ganhos de conhecunento precisam ser registrados e constantemente sistematizados Tambm são objeto de atenção as práticas educativas associadas à pesquisa e à divulgação de informações na coletividade O quadro institucional do serviço social ainda apresenta uitos obstáculos à prática prolongada a psquisaação e11tre s ua1s um dos principais segundo A Sauvm e a falta de dispomb1hdade de tempo dos trabalhadores sociais no contexto da Suíça sempr ata refados no exercício de sua profissão e também por outras dificul dades na dedicação à pesquisa fraco domínio da linguagem escrita etc Sauvin 1981 5861 Tais dificuldades precisam ser superadas em particular por meio de treinamento adequado 4 ORGANIZAÇÃO E SISTEMAS A área organizacional contém todas as atividades cujos oj tivos consistem em coordenar diferentes grupos de trabalho e decidir a respeito das metas e meios necessáris para prouz um detr minado produto ou serviço Embora exstm orgamzaçes se fim lucrativo consideramos aqm que a maioria das pesqmsas mtei venções se dão nas organizações de tipo empresarial de capital pri vado ou estatal A organização é assumida por diferentes tipos de gerentes ou de executivos subordinados aos interesses do capital A organização da produçãp não pode ser executada sem trabalha dores de diferentes qualificações Várias escolas orgamzativas reco mendam a introdução de métodos participativos com os quais se pretende melhorar o relacionamento entre organizadores e executo res do trabalho no intuito de aumentar a produtividade e eventual mente melhorar alguns aspectos das condições de trabo A área organizacional é malvista por parte de muitos pequ1 sadores das outras áreas devido ao fato de que a orgamzaçao e muito marcada pelo espírito empresarial busca de eficiência mu dança cdfürolada relacionada com a informatização refoas sbre o fundo da intocabilidade das relações de poder etc Alem disso no mundo dos pesquisadores e dos consultores da área há um clima 82 de competição segredo arrivismo Muitos consultores parecem sobretudo preocupados em faturarem recorrendo inclusive a mé todos participativos sem efetiva contribuição ao conhecimento Nesse quadro havena ntão certos receios quanto a um possível aproveitamento da pesqmsaaçao por parte de interesses particulares e fato já exist ma tradição de pesquisaação na área orga mzac10nal cuias ambiguidades são relacionadas com a estrutura de podr talvez mais evidente do que noutras áreas Todavia tais ambiidaes tambm existem nestas outras Na educação ou na omumaçao t1bem podemo3 encontrar patrões empregados e arrveitadores mas as relaçoes de poder sao aparentemente mais dilmdas do que na área organizacional onde as decisões são for teente concentradas No âmbito das empresas quase nenhuma pes qms e nenhuma ação podem ser realizadas sem o acordo ou con sentimento dos empresários Segundo M Bourgeois e D Carré em incitação dos diretores é ilusório esperar uma profunda nod1ficaçao dos modos organizacionais É claro que o sindicato 0 1unsta e o mtelectual podem contribuir aos novos processos mas seu alcance permanecerá simbólico caso as diretorias não aderirem a esses projetos Bourgeois e Carré 1982 102 Muita transformaçõs preciam ser cupridas para se alcançar o reconhecimento do carater social da orgamzação do trabalho com controe dos trabalhadores A organização do trabalho não poderá ser deixada entregue ao poder autocrático dos donos e ao bemquerer de seus familiares O poder privado cria uma limitação muito forte No entanto existe alguma mudança nas conjunturas de transformacão social e política dos último nos na França e também no Brail quando uitelectuais de oposiço acederam a cargos de responsabilidade prin cipalmente em orgamsmos do Estado e empresas importantes Mediante uma progressiva moralização da área organizacio nal pra a qual a participação efetiva e a atuação sindical dos assalanados podem contribuir podemos esperar que haja uma de maid favoráyel por um novo tipo de pesquisa cuja metodologia ena mfluenciada pela concepção da pesquisaação Isto seria um mstrumento de obtenção de informações e de negociacão das solu ções levadas em consideração na resolução de problernas de ordem técnicoorganizativa Seria também um meio de produzir e de difun dir conhecimentos especializados que fossem utilizáveis de modo coletivo st é de modo quebrar o monopólio ou o segredo dos espciastas Havena igualmente a possibilidade de uma ampla dem1stificaçao das soluções técnicas que tradicionahnente são dadas aos problemas econômicos e sociais à revelia dos interessados 83 Na medida do possível e supondo que os obstáculos sejam superáveis podemos considerar que a pesquisaação consistiria em estabelecer uma forma de cooperação entre pesquisadores técnicos e usuários para resolverem conjuntamente problemas de ordem orga nizativa e tecnológica O processo seria orientado de modo que os grupos considerados pudessem propor soluções ou ações concretas e ao mesmo tempo adquirir novas habilidadea ou conhecimentos Em si própria a pesquisaação não é uma idéia recente no con texto organizacional Já foi sugerida nos anos 40 nos trabalhos de K Lewin nos Estados Unidos e foi experimentada em atividades associadas aos departamentos de recursos humanos Nesse caso particular a pesquisaação é concebida dentro de um quadro teórico de natureza psicológica ou psicossociológica e é freqüentemente asso ciada a operações de treinamento K Lewin escrevia Cumprenos considerar a ação a pesquisa e o treinamento como triângulo que deve se manter uno em benefício de qualquer de seus ângulos Lewin 1973 255 A relação entre pesquisaação e treinamento ainda hoje é uma das características importantes das práticas consti tutivas da organização No entanto tal concepção tem sido criti cada O treinamento é freqüentemente concebido de modo diretivo como se fosse um tipo de adestramento sem conscientização e auto nomia dos agentes implicados Além disso a pesquisaação tem funcionado dentro de uma problemática psicossociológica na qual as relações sociais e políticas são vistas principalmente como relações interpessoais ou psicológicas Por esses e outros motivos a pesquisa ação organizacional é criticada por partidários da pesquisaação das outras áreas cujas perspectivas são mais radicais A partir dos anos 60 de acordo com a concepção reformista dos programas de democracia industrial nos países da Europa do Norte a pesquisaação faz parte dos instrumentos utilizados para estudar e transformar a organização do trabalho dentro da proble mática sociotécnica Nesta é analisada a interrelação dos aspectos sociais estruturas de grupos hierarquia formação profissional qua lidade de vida no trabalho etc com os aspectos tecnológicos dis posição física das máquinas automatização etc Nesse quadro a pesquisaação é um procedimento de estudo e de resolução de pro blemas por meio de seminários que reúnem pesquisadores e repre sentantes de todas as categorias de pessoas implicadas Tais semi nários são dirigidos por analistas ou consultores externos e podem ser incorporados especialistas de diversas formações técnicas enge nharia lgalistas de sistemas etc Thiollent 1983 Cap 3 De acordo com a filosofia geral da tendência sociotécnica a organização taylorista está superada e é preciso substituir o trabalho 84 parcelado e as linhas de montagem convencionais por diversas formas de recomposição do trabalho e pela criação de grupos dispondo de certa autonomia Com esta visão pretendese reduzir a monotonia do trabalho o isolamento dos indivíduos e envolvêlos em relacões de caráter coletivo Para alcançar tais objetivos são aplicados pro gramas de pesquisaação Ortsman 1978 Liu 1982 No plano metodológico considerando os paradoxos e a impos sibilidade de realizar o ideal de nãointerferência do dispositivo de pesquisa no objeto observado os partidários da pesquisaação optam por uma concepção metodológica oposta o dispositivo de pesquisa interfere explicitamente no objeto investigado e este passa a cola borar na própria investigação associada à ação Os métodos experi mentas comuns yálios e laboratórios seriam inadequados na pesqmsa em orgamzaçoes reais A pesquisaação é então apresentada como alternativa Seu princípio fundamental consiste na intervencão dentro da organização na qual os pesquisadores e os membros da organização colaboram na definição do problema na busca de solu ções e simultaneamente no aprofundamento do conhecimento cien tífico disponível A pesquisa é acoplada a uma ação efetiva sobre a solução º iroblema e é ambém acompanhada por práticas peda gogicas difusao de conhecimentos treinamento simulacão etc A pesquisaação no quadro sociotécnico pretende aproveitr s fnô nenos de º11da de conciência os fluxos de afetividade e o poten cial de cnat1Vldade contidos na organização Liu sd Como vimos nos capítulos anteriores os partidários da pes qmsaação em cmtexto organizacional pretendem resolver o pro blema das relaçoes de poder pela participação dos representantes de todas as partes ou interesses implicados inclusive os trabalhado rs e os sindcatos sem o consenso dos quais é impossível se pra ticar pesqmsaaçao entro ds regras deontológicas aceitas pelos pesqmsadores para evitar mampulações Independentemente da sociotécnica a pesquisaação é igualmente uma proposta conhecida pelos analistas de sistemas de informação Seu papel consiste em facilitar a aprendizagem Segundo P Jobim Filho a pesquisaação dá ao relacionamento entre analista e usuário o caráter de aprendizagem conjunta Jobim Filho 1979 Nesse contexto a pesquisaação consiste em identificar os problemas e de senvolver um programa de ação a ser acompanhado e avaliado A esquiSaaço assim concebida é um modo de intervenção dos ana listas de sistemas nas organizações e em geral limitase à esfera dos dirigentes e usuários da informação Ainda no meio dos especialistas em análise de sistemas e ciber nética a pesquisaação é encarada sob outros aspectos Checkland 85 1981 2ª Parte Para muitos analistas a ação associada à pesquisa se limita a uma forma de colaboracão com os clientes e se baseia num pressuposto de consenso ou cÍe harmonia entre as partes Cón trariamente a este ponto de vista A Thomas aborda a análise de sistemas com outros pressupostos a cooperação das partes e a gera ção de tensão orientada para mudanças controladas ao invés de uma harmonia a priori Thomas 1980 33953 Nesse quadro fun ciona a pesquisaação que gera uma tensão entre o que é e o que poderia ser isto é fazendo intervir a dissociação entre de um lado os fatos que compõem a situação presente e por outro as dire trizes normativas a partir das quais é definida a situação desejável Nos últimos anos a pesquisaação tem sido pensada como ins trumento adaptado ao estudo em situaçio real das mudanças orga nizacionais que acompanham a introdução de novas tecnologias prin cipalmente as baseadas na informática Com ela pretendese facilitar a implementação e a assimilação das novas técnicas informáticas a circulação da informação a aprendizagem coletiva a organização do trabalho em grupos com reunião de competências variadas Pre tendese igualmente melhorar as condições de uso e as adaptações dos equipamentos e promover a organização do trabalho com sis temas de consultas dos membros dos diferentes níveis hierárquicos Dentro da organização as técnicas informáticas visam fazer circular a informação de modo propício ao aumento da produtividade Vários estudiosos e consultores da área organizacional têm recomendado o uso de métodos participativos definidos como métodos recorrendo à sensibilização informação treinamento implicação dos usuários dos sistemas técnicos ao nível da decisão Os autores acrescentam Em geral tais métodos asseguram uma melhor aceitação da orga nizacão e uma melhor aceitacão da nova divisão das tarefas Cot tave e Faverge 1982 47 Por sua vez M Bourgeois e D Carré consideram que a pes quisaação suscita e facilita as mudanças da organização ao mesmo tempo que permite formular e difundir a experiência adquirida no decorrer dessas mudanças Bourgeois e Carré 1982 98 No contexto da informatização das organizações a pesquisa ação é considerada como operação mais profunda do que uma sim ples técnica de consultoria No decorrer da sua aplicação segundo H Tardieu é preciso identificar e separar de um lado os resul tados generalizáveis destinados à difusão e por outro as recomen dações específicas destinadas à empresa Tardieu 1982 124 Em torno das necessidades do desenvolvimento da pesquisa organizacional sob todos os seus aspectos fazse necessário um pro 86 grama de divulgação e treinamento em matéria de pesquisaação Tal programa visaria facilitar a pluridisciplinaridade o relacionamento dos pesquisadores entre si a sua colaboração com membros repre sentativos das organizações e com consultores e outros profissionais Haveria também uma rediscussão dos critérios de avaliacão dos resultados da pesquisa em função da exigência de produçã de co nhecimento e da satisfação dos interesses práticos 5 DESENVOLVIMENTO RURAL E DIFUSÃO DE TECNOLOGIA As pesquisas voltadas para a agricultura abrangem problemas de agronomia biologia pecuária tecnologia economia sociologia comunicação difusão de tecnologia extensão rural etc A pesquisa sobre o desenvolvimento rural é pluridisciplinar e possui uma fina lidade de conhecimento da situação dos produtores e de elaboração de propostas de planejamento nos planos local regional ou nacional A pesquisa sobre a difusão de tecnologia visa em geral facilitar a adoção de novas técnicas entre os produtores As pesquisas sobre o desenvolvimento e a difusão são algumas vezes separadas outras vezes são relacionadas entre si e vinculadas a preocupações de cará ter educativo comunicativo ou organizativo De modo prevalecente nas instituições de pesquisa agropecuária as metodologias de pes quisa utilizadas pertencem ao padrão de pesquisa convencional mé todos quantitativos aplicados sem participação dos usuários Nos últimos anos sobretudo em função dos interesses dos pequenos e médios produtores foi experimentada ou pelo menos discutida a possibilidade de aplicação de alternativas metodológicas de tipo pesquisa participante ou pesquisaação em matéria de desen volvimento rural e de difusão de tecnologia 1 Na concepção participativa do desenvolvimento rural con siderase que os produtores devem se organizar em torno dos pro blemas que acham mais importantes para adquirir uma capacidade coletiva de decisão e de controle quanto à utilização de recursos Gow e Vansant 1983 42746 Não se deve confundir o desenvol vimento rural participativo e a pesquisa ativa ou participativa sobre o desenvolvimento rural Em termos gerais não se deve confundir a pesquisa e objeto pesquisado Todavia a concepção participativa do desenvolvimento rural sugere que a concepção da pesquisa que lhe é assciada seja também participativa No caso isto implica que o pesqmsadores recorram às técnicas utilizadas em pesquisa parti cipante e pesquisaação reuniões seminários entrevistas coletivas aprendizagem conjunta na resolução dos problemas identificados etc 87 Internacionalmente existem progrâlnas de atividades de desen volvimento rural junto a populações rurais pobres em vários países do Terceiro Mundo com aplicação de métodos de pesquisa ativa e participativa É o caso por exemplo do programa elaborado por M A Rahman 1983 e 1984 e promovido pela Organização Inter nacional do Trabalho com sede em Genebra Suíça O autor aborda diversos problemas de fundamentação teóricometodológica da pes quisa participativa e da pesquisaação reunidas por ele na expressão pesquisaação participativa e indaga sobre sua possível contri buição para a transformação social em meio rural a partir de algumas experiências em países asiáticos índia Sri Lanka Bangladesh A temática dessas experiências é relacionada com o desenvolvimento da conscientização do campesinato desfavorecido com vistas à defi nição de seus interesses próprios A metodologia é de tipo partici pativo e ativo ou mobilizador O aspecto de autonomia sei reliance é enfatizado Como fundamentos desse tipo de pesquisa são levadas em consideracão as contribuicões de Paulo Freire e de Orlando Fals Borda O autor mostra também que o movimento internacional favo rável à pesquisaação participativa vive uma tensão De um lado os seus partidários adotam uma estratégia de crítica radical e de mobilização popular Por outro lado há um reconhecimento oficial por parte de certas instituições ou governos nem sempre progres sistas o que coloca certos pesquisadores em situação de dilema No que diz respeito aos aspectos epistemológicos M A Rahman mostra que a pesquisaação participativa não pode aceitar a exclusão dos valores como no caso do empirismo do positivismo lógico ou do estruturalismo Os valores operando na pesquisaação participativa são aqueles que pertencem à aplicação do conhecimento na prática das classes sociais consideradas A pretensa neutralidade dos mé todos convencionais é considerada como ilusão A objetividade é sempre relativa e remete ao consenso dos pesquisadores dentro de uma concepção da investigação científica que não é única No caso particular da pesquisaação participativa a objetividade é relacio nada com as condições de uma verificação coletiva pelos parti cipantes 2 Nos estudos específicos de difusão de tecnologia tem pre valecido nas últimas décadas a aplicação de técnicas convencionais de pesquisa em comunicação especialmente sob influência de E Rogers e outros Rogers e Shoemaker 1971 O padrão de análise comunicativó tem sido criticado por vários autores Thiollent 1984 d 4351 em particular no que diz respeito ao modo de en carar a adoção de inovações pelos produtores As inovações corres 88 l 1 I f pondem sobretudo aos produtos do setor industrial tratores adu bos pesticidas para a venda dos quais é preciso influenciar os produtores por intermédio dos meios de comunicação e da influên cia pessoal dos extensionistas De acordo com esta visão do mundo rural a pesquisa focaliza as atitudes e comportamentos individuais e categoriza os produtores em função da facilidade ou da dificul dade de sua persuasão Os produtores de fácil persuasão em matéria de adoção de novas técnicas são considerados como modernos os outros são tradicionais Hoje em dia em vários países grupos de pesquisadores dis cutem e tendem a experimentar orientações diferentes freqüente mente favoráveis à pesquisa participante e à pesquisaação As ques tões tecnológicas não se limitam ao aspecto de difusão ou de ado ção de técnicas prontas Pretendese redefinir os diferentes aspectos da difusão sem separálos dos aspectos de geração adaptação e ava liação em um determinado contexto sócioeconômico e cultural A idéia de simples difusão pressupõe que a técnica vem pronta de fora para dentro do mundo rural e que não precisa ser adaptada ativamente pelos produtores em função do seu saber próprio e em função de outras circunstâncias locais Além disso freqüentemente se perde de vista que os produtores possuem potencialidades pró prias em matéria de geração de técnicas simples e adaptadas às suas condições econômicas Possuem também potencialidades de aprendizagem habilidades e sabem que podem contribuir para a adaptação de técnicas existentes De acordo com Paulo Freire Subestimar a capacidade criadora e recriadora dos camponeses desprezar seus conhecimentos não importa o nível em que se achem tentar enchêlos com o que aos técnicos lhes parece certo são ex pressões em última análise da ideologia dominante Freire 1982 32 Nos estudos rurais de acordo com I C Sales J A S Ferro e M N C Carvalho 1984 3244 precisamos rever a metodologia de diagnóstico parà superarmos o nível da simples constatação de carências entre os pequenos produtores e darmos atenção às suas potencialidades e capacidade de aprendizagem e de organização coletiva De modo geral a participação dos produtores na pesquisa é vista como meio de identificação dos problemas concretos definição das prioridades escolha das soluções pràticáveis em função das con dições sócioeconômicas e do saber popular existente Por sua vez a avaliação dos resultados e das propostas técnicas é também efe tuada de modo coletivo Esta avaliação visa salientar as possíveis melhorias das condições de uso das técnicas e minimizar os usos 89 inadequados e riscos decorrentes ns planos scal e ecológico A participação dos produtores constltm uma condiçao importante para uma adequada orientação dos trabalhos dos pesqmsadores e es cialistas inclusive em matéria de ciências da natureza e b10logia Torchehi 1984 2741 Esta colaboração dá um relero particular aos problemas da relação entre saber formal e saber mformal que se manifestam ao nível da comunicação e da aprendizagem Além disso nos programas de desenvolvimento rural cncei dos de modo participativo a questão da difusão de tecnologia nao é abordada sozinha e está inserida numa conjugação de outros as pectos educação saúde bemestar cultura etc 3 Em resumo entre os assuntos relevantes a serem tatados numa perspectiva de pesquisaação em matéria de desenvolv11ento rural e de difusão de tecnologia podemos destacar os segumtes a Redefinição dos enfoques nos planos conceitua e metodo lógico da difusão de tecnologia e comunicação rural b Revisão das técnicas de diagnóstico de modo a evdenciar as potencialidades dos produtores em vez de suas carencias c Divulgação da metodologia de pesquisa participante pesqui saação ou ainda pesquisaação participativa d Métodos de resolução de problemas com participação de pro dutores pesquisadores técnicos extensionistas etc e Estudo da relação entre saber formal do especialista e saber informal do produtor Com mapeamento dos problemas de comu nicação f Metodologia de planejamento de ações de desenvolvimento local ou regional g Experimentação de pesquisas agropecuárias em situação real isto é nas fazendas e não apenas em estações experimentais h Experimentação de técnicas geradas por produtores i Metodologia de avaliação de caráter participativo j Possíveis subsídios didáticos e informáticos 6 PRATICAS POLÍTICAS Nos itens anteriores sobre educação comunicação serviço social organização desenvolvimento rural ficou mais ou menos evidente que as propostas de pesquisaação sempre apresentam algum 90 aspecto político quanto ao tipo de comprometimento dos pesquisa dores com a ação de grupos sociais dentro de uma situação em transformação No entanto esse aspecto político permanece vinculado a uma atividade substantiva educar informar organizar etc para a qual é preciso pesquisar e articular objetivamente as informações obtidas entre os representantes da situação investigada e os conheci mentos disponíveis entre pesquisadores especialistas e outros pro fissionais de cada área No caso das práticas políticas a pesquisaação toma como objeto uma atividade explicitamente política Por exemplo a constituição de um grupo político a organização de uma campanha de adesão a redefinição de uma estratégia ou tática a conduta de uma cam panha eleitoral a denúncia popular da política do governo a mobi lização de uma categoria da população para formular reivindicações e conquistar determinados objetivos etc As práticas políticas não se limitam ao aspecto profissional sempre possuem um aspecto militante e exigem maior comprometimento por parte dos organiza dores da pesquisa As práticas políticas são concentradas em torno de grupos mili tantes atuando em organizações políticopartidárias organizações sin dicais ou outros tipos de movimentos Não é necessária a completa identificação dos pesquisadores com os militantes do grupo ou mo vimento considerado Freqüentemente existe alguma forma de sim patia No caso particular da atuação sindical a pesquisaação pode ser aplicada dentro de uma visão militante isto é uma linha que não se limita à função de defesa econômica jurídicoassistencial de determinadas categorias profissionais As práticas políticas podem ser objeto de pesquisa ao nível dos movimentos dos trabalhadores urbanos ou rurais e também ao nível de movimentos específicos movimento estudantil feminista ecoló gico e movimentos de afirmação de identidade cultural Na América Latina já existe uma rica experiência em projetos de pesquisaação sobre práticas políticas junto a movimentos de mulheres e movi mentos de educação popular ver documentos do Celadec Por enquanto só retomaremos aqui uma questão relacionada com a pesquisa em meio operário freqüentemente discutida quais são as diferenças e as possíveis relações entre pesquisaação e enquete operária A enquete operária é uma noção que surgiu no século XIX na Europa para designar um tipo de pesquisa ou de censo sobre a situação da classe trabalhadora com aspectos sociais econômicos sindicais e políticos Inicialmente a enquete operária foi concebida 91 pedido das autoridades para entenderem os problemas da classe rabalhadora Mais tarde a enquete operária foi utlizada pr grupos socialistas no intuito de produzir autonomamente mformaçoes e co nhecimentos sobre a situação da classe Vimos em outra oportunidade Thiollent 19S a Cap 4 que na enquete operária especialmente no qustionar10 formulado por K Marx em 1880 existem princípios prefigmando alguns aspectos da pesquisaação com dimensão crítica pohrtca Por exemplo princípio segundo o qual são associados a pesquisa eleme1tos expli cativos ao nível dos respondentes para facilitar o descondic10namento em relação às respostas estereotipadas No entanto a nquete ope rária permaneceu como noção associada a uma concepao d mves tigação mais próxima à de censo do que à de pesqmsaaçao A noção de pesquisaação é mais recente e foi asociada a uma perspectiva psicossociológica nos anos 40 e 50 com fmahdades pra ticas de orientação bastante conformista os anos 60 e 70 a pes quisaacão ressurgiu numa perspectiva cnt1ca associada a formas de militânia política ou de intervenção clUral É sobretudo nesta linha que pesquisaação e enquete operaria podem ser repensadas conjuntamente Embora faltem exemplos na literatura disponível a pesquia ação relacionada com o movimento oe7ário é possívl com obie tivos comparáveis aos da enquete óperana Sena um tipo de iivs tigação sobre as práticas políticas ou siidicais da classe opraria A metodologia seria atualizada em funçao do saberfazer hoje em dia disponível nas ciências sociais A problemática da pesquisaação aplicad às prcas polícas da classe operária poderia levar em conta a la teonca e pratica influenciada por A Gramsci no que diz respe10 ao relac1nariento interativo entre intelectuais e massas Ess relaconamnto nao e con cebido de modo unilateral os intelectuais ensmam as masas e as massas ensinam aos intelectuais Desta trc os planos mestiga tivo e pedagógico resultaria uma contnbmçao a transformaça cul tural e política orientada em função da formação da hegemoma das classes dominadas Podemos conceber um tipo de investigação ativa que sej apaz nos seus próprios procedimentos de fazer conhecr as cond1çoes de trabalho as condições de vida e de atuaçao pohtia dos trabalha dores e de oferecer indicações para a transformaçao das represen tacões ideológicas Para elaborar uma pesquisa no contexto atual a classe operá ria é preciso rever a problemática das transformaçoes que ocorrem 92 na organização do trabalho automação etc e a evolução da acão sindical e política Os temas e as perguntas a serem abordadas ão podem ser uma simples adaptação do antigo questionário de K Marx Junto aos próprios trabalhadores os pesquisadores precisam identi ficar todos os problemas vinculados às atuais formas de remunera ção nível de vida horário de trabalho emprego saúde transporte moradia e também os problemas específicos das mulheres migran tes jovens etc Entre os temas importantes a serem estudados estão a formulação das reivindicações e do plano da ação a evolução dos conflitos e o efeito das lutas sobre a vida cotidiana e as formas de expressão cultural Além disso há toda uma parte relativa ao con texto econômico e político à estratégia das empresas e às linhas partidárias e sindicais em debate A abordagem de todos esses temas está situada dentro de uma problemática sociológica global que des aca o trabalho assalariado e os aspectos políticos e culturais que mterferem na percepção e na relevância atribuída a cada um dos elementos da temática Relacionado com a investigação sobre as práticas políticas um outro problema objeto de muitas discussões diz respeito à relação entre o saber sofisticado dos intelectuais e o saber po pular ou as representações imediatas com as quais as massas descrevem suas condições sociais Thiollent 1980 b Este problema é sempre objeto de tensão e na sua forma geral remete à relação entre de um lado os marcos teóricos e os conceitos científicos e por outro lado o senso comum Existem várias maneiras de resolver et problema depeneno da orientação metodológica ou epistemo logica adotada A mais divulgada das orientações a positivista é incompatível com o modo ativo de conceber a investigação Muitos sociólogos têm pretendido afastar de uma vez por todas o senso comum de suas conceituações e análises por meio de regras de obser vção sem diálogo com os interessados Ao contrário numa concep çao ativa o tratamento a ser dado ao senso comum passa pelo diá logo entre investigadores e membros representativos da situação in vestigada Além do mais esse tratamento adquire uma dimensão crítica e transformadora É preciso sublinhar que tratamento ativo do senso comum não quer dizer aceitação do mesmo como expli cação ou representação adequada da realidade No plano da inves tigação científica a regra segundo a qual se deve manter uma dis tância entre a conceituação e as representações imediatas é ple namente justificada O conhecimento científico se desenvolve em ruptura com as representações imediatas sugeridas pelo senso comum Negar essa distância leva ao empiricismo ou ao subjeti vismo No entanto a aceitação de tal regra não implica que seja 93 adotado como único padrão de observação científica o padrão con vencional unilateral e antidialógico herdado de uma concepção das ciências da natureza que já é parcialmente superada Em contrapo sição podemos sugerir um tipo de observaçãoquestionamento no qual seja mantida a exigência de distanciamento para com o senso comum mas de u111a maneira interativa como seria o caso na pes quisaação 7 CONCLUSÃO No presente capítulo apresentamos em v1sao penoram1ca as aplicações da pesquisaação em várias áreas de conhecimento e de atuação na sociedade educação comtinicação serviço social orga nização e sistemas desenvolvimento rural difusão de tecnologia e práticas políticas Descrevemos algumas das tendências existentes e também indagamos possibilidades abertas para o futuro Ficou bas tante claro o fato de que não é monolítica a perspectiva ideológica ou política na qual funcionam os vários tipos de propostas de pes quisaação Existe uma grande diversidade de objetivos Na concep ção das práticas educativas ou políticas os partidários da pesquisa ação adotam freqüentemente uma orientação crítica mais ou menos radical voltada para a conscientização ou para a rµobilização po pular Ao passo que entre os partidários da pesquisaação nos con textos organizacional e tecnológico a orientação é mais acomodada procurando transformações satisfatórias e compatíveis com a adap tação e o funcionamento das organizações existentes Tais pesqui sadores apagam o conteúdo potencialmente radical da proposta me todológica da pesquisaação fazendo dela apenas uma técnica de resolução de problemas Toda pesquisa é permeada pela perspectiva intelectual pelos objetivos práticos pelo quadro institucional pelas expectativas dos interessados nos seus resultados etc Porém os pesquisadores não são neutros nem passivos Sem deconhecerem a presença dos inte resses devem conquistar suficiente autonomia eom inevitáveis ne gociações para terem condição de aplicar regras de uma metodo logia de pesquisa que não se limite a uma satisfação circunstancial das expectativas dos atores Atrás da demanda explícita que recebem os pesquisadores esclarecem as intenções subjacentes e aplicam táti cas de pesquisa visando compatibilizar os objetivos de conhecimento e os objetivos de ação No pfano normativo foi salientada a divergência existente entre as propostas de pesquisaação com finalidade crítica e as propostas éoril finalidade técnica ou adaptativa Ao nível da reflexão sobre o 94 t 1 conjunto das aplicações nas diferentes áreas tal divergência não deixa de criar certa tensão quanto à unidade de perspectiva da pesquisaação No fundo a divergência é reflexo da ambivalência de muitas ações sociais Tratase de conhecer para agir de agir para transformar mas as possíveis transformações nem sempre são radi cais ou aquelas que desejaríamos a priori As transformações pro postas levam em conta normas de adequação ao contexto que é favorável a rupturas ou a adaptações limitadas Em todas as circuns tâncias os pesquisadores não podem aplicar uma norma de acão preestabelecida e devem ficar atentos à negociação do que é ral mente transformável em função das formas de poder do grau de participação dos interessados e da especificidade das formas de ação ação pedagógica ação educacional ação comunicativa organizativa tecnológica e política etc 95 l J CONCLUSÃO A guisa de conclusão formularemos alguns comentários adi cionais que estão diretamente relacionados com o possível desenvol vimento da pesquisaação enquanto estratégia de conhecimento e método de investigação concreta e de atuação em várias áreas sociais Na concepção da pesquisaação as condições de captação da informação empírica são marcadas pelo caráter coletivo do processo de investigação uso de técnicas de seminário entrevistas coletivas reuniões de discussão com os interessados etc A preferência dada às técnicas coletivas e ativas não exclui que em certas condições as técnicas individuais entrevistas ou questionários sejam também utilizados de modo crítico Além disso podese recorrer a explica ções específicas e a discussões orientadas no intuito de favorecer o desvendamento da realidade Uma outra característica da pesquisa ação ao nível da captação de informação diz respeito ao modo de determinar e selecionar os indivíduos ou grupos Embora seja pos sível recorrer a técnicas estatísticas de amostragem convencionais preferese na maioria dos casos pesquisar e agir com o conjunto da população implicada na situaçãoproblema quando isto é factí vel ou com uma amostra intencional cuja representatividade é sobretudo de ordem qualitativa A constituição de uma amostra in tencional resulta de um processo de discussão entre os pesquisa dores e os demais participantes Na concepção da pesquisaação há um reconhecimento do papel ativo dos observadores na situação investigada e dos membros repre sentativos desta situação Logo a questão da objetividade deve ser colocada em termos diferentes do padrão observacional da pesquisa empírica clássica freqüentemente influenciado pela filosofia posi tivista da ciência da natureza Em todo caso a questão da objeti vidade não desaparece Para que uma ação seja realizável não basta a vontade subjetiva de alguns indivíduos A ação proposta tem de corresponder às exigências da situação Tais exigências são conhe 97 cidas por meio da observação da análise da situação e por 1eo de uma avaliação das possibilidades A ação é basada em descriª objetiva mas subjetivamente é assumida pelo coniunto dos partici pantes ue se comprometem na sua efetiva realização A nocão de objetividade estática é substituídà pela noção de relatividad observacional segundo a qual a realidade não é fixa e o observador e seus instrumentos desempenham um papel ativo na captação da informação e 1ª decorrentes rpesenta5ões Além disso no contexto social a relatividade remete a mteraçao entre obseia dores e representantes da siruação observada levando em conta m clusive as diferenças de linguagem existentes entre as duas catego rias consideradas A observacão social adquire um aspecto de questionamento que no caso da pequisaação não é monopolizado pelos pesquisadores já que a função normal do pesquisador é fazer peguntas e reclher as respostas dos investigados No caso que nos iiteressa qm os membros representativos da siruaçãoproblema sob mvestigaçao nun ca são considerados como meros informantes Também desempenham uma função interrogativa fazendo perguntas e procurando elucidar os assuntos coletivamente investigados As diferenças de linguagem remetem a desníveis de abstraã no modo de comunicação dos pesquisadores e do demais partici pantes O controle da objetividade relativizada consiste num contle das distorcões durante a fase da coleta de dados baseado na análise da linguagem dos interlocutores O controle crre também no diá logo com o intuito de se chegar a uma suficiente compreensao e consenso acerca das interpretações do que está sendo observado ou transformado Uma das diferencas que existem entre a nossa perspectiva de pesquisaação e outra propostas de pesquisaação ou de Pesquisa participante consiste no fato de ue reconheceiios a iiecessidade de manter a pesquisaação no âmbito da pesqmsa social de crter científico e logo submetêla a uma forma de controle metodologico epistemológico No entanto esse controle não é exercido com as regras da metodologia empirista convencionalmente aceita em muitas instiu cões de pesquisa A metodologia não se limita à sua forma empm ista e quantitativista Precisamos aplicar um metodologiª na qul sem se negar a necessidade de observar medir ou quantificar haia espaço par1 os procedimentos de argumeitação e interpretação com base na discussão coletiva Além do mais podemos manter em uso a forma de raciocínio hipotético mas de forma flexibilizada não 98 reduzida a uma nocão de teste estçitístico A hipótese é norteadora da pesquisa sob frma de diretriz ela desempenha a função de orientar o questionamento e buscar as informações relevantes Sua comprovação permanece aberta à argumentação e ao diálogo entre interlocutores com cotejo dos diferentes saberes Embora a contribuição da pesquisaação seja muitas vezes de ordem prática não é descartada a possibilidade de utilização do conhecimento teórico A pesquisa é organizada dentro de um quadro teórico adotado pelos pesquisadores e aberto à discussão quando se trata de definir os objetivos formular problemas e hipóteses enca minhar explicações ou interpretações dos fatos observados Os pes quisadores podem contribuir no plano teórico a partir de sua expe riência em várias pesquisas O reconhecimento da argumentação no processo de investiga ção não é tão extraordinário porque a argumentação existe em diver sas disciplinas tradicionais nas quais é limitada ao encadeamento de argumentos ou de fórmulas no papel por assim dizer Na pes quisaação a argumentação é realizada ao vivo sob forma de discussões e deliberações entre diferentes interlocutores reunidos em seminários ou reuniões Sem um encaminhamento da proposta metodológica para um viés anticientífico consideramos que o objetivo da disposição argu mentativa consiste em restiruir o caráter dialogado da siruação social A nosso ver não há contradição entre de um lado o fato de reafirmar as exigências do espírito científico e por outro lado o fato de reabilitar o papel da argumentação na investigação científica O espírito científico não se limita à caricarura quantitativista que aparece no espetáculo da pesquisa convencional Por sua vez a argu mentação não significa uma volta ao raciocínio précientífico nem uma ruprura com o racionalismo ou a aceitação de qualquer crença É apenas uma reafirmação das dimensões discursiva e coletiva da elucidação e da interpretação das siruações sociais Razão científica e razão argumentativa não são excludentes e esta última não significa um retrocesso na evolução da cientificização da investigação social O fato de termos salientado o caráter argumentativodeliberativo dos raciocínios operando na pesquisaação não significa que só esta orientação seja dotada desse caráter pois argumentos e negocia ções existem em muitas práticas de pesquisa inclusive nas ciências ditas exatas Os procedimentos argumentativos não excluem a necessidade de ma coleta de dados a mais exaustiva possível inclusive sob forma uantificada para se ter uma imagem da realidade na qual se desen 99 rolam a pesquisa e a ação transformadora Àssim os pesquisadores devem reunir todas as informações disponíveis sobre a população os tipos de atividade as faixas etárias fontes de renda moradia nível educacional cultura hábitos de consumo direitos adquiridos etc Este tipo de levantamento é necessário Porém contrariamente à pesquisa descritiva comum é apenas um dos pontos de partida para o trabalho de investigação e de ação e não um produto final a ser burocraticamente arquivado A perspectiva adotada não se limita a observar ou medir os aspectos aparentes de uma situação Há um considerável interesse dos pesquisadores no que diz respeito à ação dos atores da situação Com a participação dos mesmos os pesquisadores elucidam as con dições da ação Seria paradoxal conceber uma investigação visando a transformação de uma situação dentro de um contexto no qual nada pudesse ser mudado o que freqüentemente acontece Quando os atores não conseguem transformar o que pretendem o objetivo da investigação é redefinido em função do estudo das condições deste fato Quando a análise da situação mostra que uma ação inicial mente cogitada ou planejada é impossível os pesquisadores reorien tam o processo da investigação de modo a contornar o paradoxo junto aos demais participantes por meio da elucidação do bloqueio A pesquisaação tem sido concebida principalmente como meto dologia de articulação do conhecer e do agir no sentido de ação social ação comunicativa ação pedagógica ação militante etc De modo geral o agir remete a uma transformação de conteúdo social valorativamente orientada no contexto da sociedade Paralelamente ao agir existe o fazer que corresponde a uma ação transformadora de conteúdo técnico delimitado Sem separarmos a técnica do seu conteúdo sóciocultural precisamos dar mais atenção ao fazer e ao saber fazer que por enquanto foram entregues aos técnicos e aos outros especialistas que compartilham de uma visão tecnicista das atividades humanas No plano da ação o maior desafio talvez seja o de juntar as exigências da tomada de consciência ou da conscientização a um nível mais profundo com as exigências científicotécnicas As trans formações intencionalmente definidas não se traduzem apenas ao nível das consciências individual ou coletiva Há também aprendi zagem de saber fazer e aquisição de novas habilidades Na pesquisaação a tomada de consciência é importante no plano do agir mas existem também outras preocupações ligadas à base material das atividades sociais e seus correspondentes modos de fazer e de saber fazer que são relacionados com técnicas produ tivas em meio rural ou industrial meios de comunicação institui 100 ções e técnicas educacionais novas tecnologias baseadas na infor mática etc Alguns partidários da pesquisaação poderão ver nessas preo cupações um risco de utilização tecnicista ou até tecnocratizante Mas na nossa opinião o sentido da proposta é justamente o con trário No equacionamento de problemas técnicos inseridos no con texto de atividades sociais a pesquisaação oferece meios para rom per o monopólio dos tecnocratas ao permitir uma participação ativa dos diferentes tipos de usuários com exercício e aprimoramento de suas capacidades O saber informal dos usuários não é desprezado e sim posto em relação com o saber formal dos especialistas no intuito de um enriquecimento mútuo Isto constitui um importante desafio para o futuro em matéria de metodologia de pesquisa e de ação em diferentes áreas de atividade Um dos objetivos de conhecimento da pesquisa científica con siste em estabelecer generalizações a partir de observações delimi tadas no tempo o que foi constatado hoje ainda será constatável no futuro e no espaço o que foi constatado aqui localmente existe também globalmente na sociedade Nas pesquisas orientadas em função de objetivos práticos como no caso da pesquisaação o obje tivo principal nem sempre é a generalização especialmente em pes quisas voltadas para a aplicação do conhecimento disponível para a resolução de problemas e para a organização de ações específicas Como vimos é possível alcançar um certo nível de generaliza ção a partir da experiência em várias pesquisas Mas quando o objetivo da pesquisaação consiste em resolver um problema prático e formular um plano de ação a forma de raciocínio utilizada con siste em particularização e não em generalização Nesse caso é bastante inadequada a crítica segundo a qual a pesquisaação seria marcada por uma fraca capacidade ou até uma impossibilidade de generalização Com a particularização tratase de passar do conheci mento geral aos conhecimentos concretos sob forma de diretrizes e comprovações argumentadas Essa passagem é progressivamente concretizada pela interação entre o saber formal dos pesquisadores e especialistas e o saber informal dos interessados Contrariamente à concepção corrente da chamada engenharia social não é unilateral a aplicação do saber formal dos especialistas e não é aceita a sua pretensa superioridade No dispositivo de pesquisaação com finali dade prática há interação entre os dois tipos de saber e aspectos de consciência Numa concepção da pesquisaação voltada para a construção ou a reconstrução na área educacional ou outra o conhe imento disponível e em parte gerado na ocasião da investigação e aplicado a problemas ou ações particulares O primeiro passo 101 consiste numa particularização Em seguida a partir das dificuldades e soluções encontradas em várias situações podemos imaginar um segundo passo no sentido de uma generalização Na nossa opinião a aplicação particularizante do conhecimento disponível no momento da resolução de problemas não é vista no contexto da pesquisaação de modo formal como no caso da enge nharia social pois o que importa é o contexto social e a ação autô noma dos atores que é valorativamente orientada no sentido cons trutivo Em situações marcadas por antagonismos profundos e mani festações de poder conservador ou repressivo a ação construtiva é impossível Nesse caso a ação será orientada em função de objetivos limitados à busca de compreensão da situação e de denúncia Em termos de uma política de conhecimento podemos consi derar que ao lado da urgência do desenvolvimento e da difusão de conhecimentos de ciências básicas manifestase a necessidade de uma política especificamente voltada para o conhecimento interme diário Entendemos por esta expressão o conhecimento de finalida de prática que opera em diversas áreas de atuação entre as quais destacamos a educação a comunicação o serviço social a organi zação o desenvolvimento rural a difusão de tecnologia e as práticas políticas Tratarseia de fortalecer a produção e a divulgação de conhecimentos que apesar de não serem muito valorizados no plano culturalsimbóiico são de grande utilidade na resolução de proble mas do mundo real Além disso o que entendemos por conhecimento intermediário é diferente do simples bom senso É um conhecimento que não se dá imediatamente na prática e é mister produzilo e adaptálo dentro de um processo participativo no qual estão envol vidos um grande número de pesquisadores e outros profissionais e os interlocutores representativos dos problemas a serem abordados A resolução de problemas efetivos se encontra na coletividade e só pode ser levada adiante com a participação dos seus membros Mesmo quando as soluções não forem imediatamente aplicáveis no sistema vigente poderão ser aproveitadas como meio de sensibilização e de tomada de consciência Nesta perspectiva consideramos que a me todologia da pesquisaação constitui um modo de pesquisa uma forma de raciocínio e um tipo de intervenção que são adequados para pro duzir e difundir conhecimentos intermediários relacionados com os problemas concretos encontrados nas várias áreas consideradas No entrosamento do conhecimento e da ação pretendese reduzir ao mínimo a distância existente entre a obtenção de conhecimento e a formulação de planos de ação Assim seria possível reduzir os usos simbólicos freqüentemente parasitários ou ostentativos que existem na esfera de conhecimento convencional Tratase de 102 aumentar o uso efetivo do conhecimento na configuração de deter minadas ações transformadoras Na definição de uma política de conhecimento mais abrangente a metodologia da pesquisaação é apenas um item entre outros Pois não devemos deixar a impressão de que tal orientação substitui as outras Sempre serão necessárias pesquisas experimentais em labo ratório metodologias com ênfase na formalização modelagem quan tificação e simulação A pesquisaação é uma orientação destinada ao estudo e à intervenção em situações reais Neste caso ela se apre senta como alternativa a tipos de pesquisa convencional Sem pretendermos cobrir todos os problemas e todas as pos sibilidades contidas na concepção da pesquisaação enfatizamos as pectos metodológicos relativamente abstratos como as formas de raciocínio e bastante concretos como o roteiro da organização de pesquisa Ainda faltam muitos aspectos para podermos alcançar uma visão completa do processo de investigação e ação Por opção não discutimos o conteúdo substantivo dos quadros teóricos e não apro fundamos as questões relativas ao quadro institucional à inserção dos pesquisadores às negociações em matéria de demanda dos inte ressados e de uso dos resultados No entanto acreditamos ter percorrido alguns passos no cami nho da elaboração da metodologia da pesquisaação evitando pala vrismo participacionismo ativismo populismo tecnicismo e outros exageros freqüentemente cometidos Pensamos que tais passos podem contribuir para renovar a metodologia da pesquisa social promover aplicações criativas em várias áreas específicas e ensejar a geração e a difusão de conhecimentos úteis à resolução de problemas do mundo real 103 BIBLIOGRAFIA BLANCHE R Le raisonnement Paris PUF 1973 BOURGEOIS M e CARR D La gestion du changement des formes dor ganisation In Pour e déveoppement des sciences de lorganisation AFCETCESTA vai I nov 1982 BRANDÃO C R Org Repensando a pesquisa participante São Paulo Bra siliense 1984 CASTRO C M A prática da pesquisa São Paulo Me GrawHill do Brasil 1977 CHARASSE D Une rechercheaction dans le Bassin de Longwy In MATTE LART A e STOURDZE Y Orgs Technoogie culture et communica tion Paris Documentation Française 1983 CHECKLAND P Systems thinking systems practice Nova Iorque J Wiley 1981 COTTAVE R e FAVERGE F La communication entre décideurs cadres employés et usages In Pour e développement des sciences de lor ganlsation AFCET CESTA vol I nov 1982 DESCOMBE V Sur le ring philosophique In Le MondeAujourdhui 871984 EZPELETA J Notas sobre pesquisa participante e construção teórica ln Em Aberto 3 10 1984 FRANCK R Rechercheaction ou connaissance pour laction In Revue In ternationale dAction Communautaire 5 45 1981 FREIRE P Conscientização São Paulo Moraes 1980 Ação cultural para a liberdade 6 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1982 GAJARDO M Pesquisa participante propostas e projetos ln BRANDÃO C R Org Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 GLASS G V e STANLEY J C Métodos estadísticos aplicados a las ciencias sociales Madri PrenticeHall 1974 GOW D D e VANSANT J Beyond the rhetoric of rural development par ticipation How can it be dane In World Development 11 5 1983 105 GRAMSCI A Oeuvres Choisies Paris Editions Sociales 1959 HUMBERT C e MERLO J Lerujvête conscíentisante Paris LHatmattan 1978 JOBIM FILHO P Uma metodologia para o paneamento e o desenvolvimen to de sistemas de informação São Paulo E Blücher 1979 LE BOTERF G Pesquisa participante propostas e reflexões metodológicas ln BRANDÃO C R OrgJ Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 LEWIN K Dinâmica de grupos São Paulo Cultrix 1973 LIMA M H de Almeida Serviço social e sociedade brasileira São Paulo Cortez 1982 LIU M Réflexions sur la rechercheaction en tant que démarche de recherche si d mimeo Laproche sociotechnique de lorganisalion Paris Mitiom de Organisation 1982 MAGALHÃES L V Metodologia do serviço social na América latina São Paulo Cortez 1982 MA TA M C Investigar lo alternativo ln Chasqui Revista Latinoamerica na de Comunicación nº 1 1981 A pesquisaação na construção do alternativo ln MELO J M Org Teoria e pesquisa em comunicação panorama latinoamericano São Paulo Cortezlntercom 1983 MERLO J Une expérience de conscientisation par enquête en milieu popu laire Paris LHarmattan 1982 MILLER S Planejamento experimental e estatística Rio de Janeiro Zahar 1977 ORTSMAN O Changer le travai es expériences les méthodes les condi tions de lexpérimentation saciae Paris Dunod 1978 PERELMAN C e OLBRECHTSTYTECA L Traité de largumentation 3 ed Bruxelas Éditions de lULB 1976 RAHMAN M A The theory and practice of participatory action research ln Rural Employment Policy Research Programme Genebra lnternational Labour Office 1983 Participatory organizations of the rural poor ln Introduction to an ILO Programme Genebra lnternational Labour Office 1984 ROGERS E M e SHOEMAKER F F Communication of innovations a crosscultural approach 2 ed Nova York Free Press 1971 ROSNOW R Paradigms in transition the methodology of social inquiry Oxford Oxford University Press 1981 SALES I C FERRO J A S e CARVALHO M N C Metodologia de aprendizagem da participação e organização de pequenos produtores ln Cadernos CEDES 12 3244 CortezCedes 1984 SANTOS L L Textos de Serviço Social São Paulo Cortez 1982 SAUVIN A Uuelques doutes préalables sur la compatibilité de la recherche action et du travai social ln Revue Internationale d Action Communau taire 5 45 106 1 r TARDIEU H Pour le Développement des sciences de lorganisation AFCET CESTA vai I nov 1982 THIOLLENT M Crítica metodológica investigação social e enquete operá ria São Paulo Polis 1980a Pesquisaação no campo da comunicação sóciopolítica ln Comunicação Sociedade 4 6379 1980b A captação da informação nos dispositivos de pesquisa social problemas de distorção e relevância ln Cadernos do Centro de Estudos Rurais e Urbanos CERU 16 1981 Problemas de metodologia ln FLEURY A C e VARGAS N Orgs Organização do trabalho São Paulo Atlas 1983 Notas para o debate sobre a pesquisaação ln BRANDÃO C R Repensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984a Lanalyse des inférences pratiques dans les formes de raisonne ment technologique ln Les modes de raisonnement expertise appren tissage Association pour la Recherche Cognitive Orsay 1984b Aspectos qualitativos da metodologia de pesquisa com objetivos de descrição avaliação e reconstrução ln Cadernos de Pesquisa Funda ção Carlos Chagas no 49 1984c Anotações críticas sobre difusão de tecnologia e ideologia da modernização ln Cadernos de Difusão de Tecnologia 1 1 1984d THOMAS A Generating tension for constructive change the use and abuse of systems models ln Cybernetics and Systems nº 11 1980 TORCHELLI J C Interação pesquisadorprodutor um enfoque inovador na pesquisa agropecuária In Cadernos de Difusão de Tecnologia 1 1984 VAISBICH S B Serviço Social tipologia de diagnóstico 3 ed São Paulo Moraes 1981 WILDENHAHN Cinéma et politique 1617 1980 ZUJIIGA R La rechercheaction et le contrôle du savoir ln Revue Interna tionale dAction Communautaire 5 45 1981 107 L 1 J OUTRAS PUBUCACÕES DO AUTOR SOBRE PESQUISAAÇÃO E PROBLEMAS METODOLÓGICOS CONEXOS 1 Crítica metodológica investigação social e enquete operária 3 ed São Paulo Polis 1982 Textos de vários autores 2 Sobre a enquete operária In Contraponto n 4 1980 p 5368 3 Pesquisaação no campo da comunicação sóciopolítica In Comunicação Sociedade n0 4 1980 p 6379 Educação Sociedade n 9 1981 p 4964 4 Investigaciónacción ln Chasqui Ciespal Equador n 1 1981 p 768 5 A captação da informação nos dispositivos de pesquisa social problemas de distorção e relevância In Cadernos CERU n 16 1981 p 81105 6 Reflexões sobre uma pesquisa de opinião no ABC In Teoria Política n0 3 1981 p 17584 7 Televisão trabalho e vida cotidiana ln Cadernos Intercom n 2 1982 p 4455 8 Problemas de metodologia In A C Fleury e N Vargas Orgs Organi zação do trabalho São Paulo Atlas 1983 Cap 3 p 5483 9 Pesquisas em tempo de eleições In Boletim lntercom n 39 1982 p 57 10 Notas para o debate sobre a pesquisaação In Serviço Social Socie dade n0 10 1982 p 12341 Republicado em C R Brandão Org Re pensando a pesquisa participante São Paulo Brasiliense 1984 p 82103 11 Problemas de metodologia de pesquisaação In f Marques de Melo Org Teoria e pesquisa em comunicação Panorama latinoamericano São Paulo CortezIntercom 1983 p 1308 12 Avaliação social da tecnologia In Revista Brasileira de Tecnologia 13 n 0 3 1983 p 4953 13 Aspectos qualitativos da metódologia de pesquisa com objetivos de des crição avaliação e reconstrução ln Cadernos de Pesquisa Fundação Carlos Chagas n0 49 1984 p 4550 14 Difusão de tecnologia e ideologia da modernização In Cadernos de Difusão de Tecnologia Embrapa 1 1984 p 4351 Republicado em IFDA Dossier Suíça n0 43 out 1984 p 6571 108 Atividade sobre Pesquisa Ação A pesquisa ação traz uma abordagem investigativa que tem a finalidade relacionar a teoria com a prática com o objetivo de através do objeto e do problema de pesquisa proporcionar uma mudança social ou organizacional como o autor destaca que o objetivo da pesquisaação consiste em resolver ou pelo menos em esclarecer os problemas da situação observada p16 A pesquisa ação possui algumas características como a intervenção e transformação no que diz respeito ao problema investigado na pesquisa o envolvimento dos atores sociais sendo portanto agentes ativos da pesquisa uma vez que contribuem para a pesquisa Além disso a pesquisa ação é realizada dentro de uma organização ela ocorre em ambientes abertos como bairros populares e comunidades rurais entre outros Segundo Antonio Gil a pesquisa ação possui dois principais objetivos que se conectam o primeiro é o objetivo prático e o segundo é o objetivo de conhecimento O primeiro objetivo busca a solução de um problema real que a pesquisa analisou visto que através disso propõe formas de ações concretas para resolver a problemática e que os atores sociais envolvidos na pesquisa são agentes transformadores O segundo problema referese à coleta de dados que são difíceis ter acesso e embora seja complexo este objetivo através dele pode ocasionar um conhecimento mais profundo das demandas dos interlocutores pesquisados Enquanto aos procedimentos técnicos o autor destaca em primeiro plano a investigação do real problema ou seja a observação direta em que o pesquisador participa da realidade apresentada e analisa o contexto como um todo e as suas particularidades para dar ênfase ao problema que deseja solucionar Em segundo plano temse as entrevistas considerada como uma ferramenta importante para o processo da pesquisa em seguida o levantamento de documentos grupos focais com a atuação dos atores sociais envolvidos na pesquisa planejamento das ações observar o que pode ser viável na pesquisaação para que proporcione uma mudança e implementação de ações seja em instituições oficinas ou grupos comunitários para que após a implementação de ações se obtenha a análise dos resultados obtidos

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