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0 Contexto Político do Movimento Popular na Revolução Francesa George C Comninel 0 reconbecimento da existência de várias revoluções diferentes aristocracia burguesia campesinato e menu peuple urbano complexo da Revolução Francesa constituju um dos grandes legados do his toriador Georges Lefebvre1 Ainda assim Lefebvre defendeu fortemente aquela interpretação social que viu na Revolução a consecução intencio nal da ascendência social da burguesia Esta concepção combinada foi por sua vez muilo enriquecida por historiadores do movimento popular que resgataram a história política autônoma do menu peuple do grandioso ar cabouço da Revolução O movimento popular foi a força impulsionadora decisiva da Revolução responsável pelo seu acesso inicial ao poder e pela vitória sobre sucessivos desafios radicais em seu seio e o estudo da intera ção do povo com a burguesia durante a Revolução acrescentou uma com plexidade dinâmica de que anteriormente carecia a interpretação social da no todo Nos últimos vinte anos contudo a interpretação da Revolução como um conflito social intencional foi vigorosamente contestada por historiado res revisionistas3 Rejeitam eles quaisquer interpretações que identifica riam o conflito político da Revolução com os interesses sociais de qualquer dado grupo e particularmente a análise de classe marxista da revolução burguesa A interprelação social revelouse yulnerável porque pouco mais fez do que afirnmar a conjunção dos conflitos político e social na Revolução refle tindo lamentavelmenle a concepção mecânica de base cconômica e super estrutura social outrora predominante no pensamento marxista4 0 próprio Marx jamais analisou realmente a Revolução comno reyolução burguesa Nem mesmo formulou o conceito adotandoo por inteiro de historiadores libe rais anteriores a fim de explicar a emergência da sociedade de classe capl alista burguesa George C Comninel 107 om exatamente a idéia de que interesses de classe capitalistas burgueses estivessem por trás da Revolução Os revisionistas argumentam que os antagonistas da Revolução não se revestiam das características sociais há muito supostas pelos marxistas e que a estrutura social do Ancien Régime não foi substancialmente transfor mada pela Revolução apenas ampliada Sobre esses fundamentos negam que tenba havido qualquer base para conflito social básico Seguem Alfred Cobban na separação do político do social e concordam em que As supostas categorias sociais de nossa história burguesas aristocratas sansculottes foram na verdade politicas6 Em conseqüência conce bem a Revolução como um conflito político sem finalidade social funda mental neste sentido pelo menos uma revolução puramente política e não social Observou Colin Lucas que os revisionistas não convenceram ao expli car o conflito revolucionário como um aclaramento de mudanças sociais já ocorridas7 Não obstante rejeitase geralmente hoje a idéia de que um movimento social contínuo ligou a Assembléia Nacional e o Governo Re volucionário Dizem alguns que a Revolução derrapou de seu curso seus lideres acusados de puro oportunismo político Simultaneamente a princi pal culpa pela violência revolucionária desnecessária cai sobre o povo Nas histórias revisionistas é minimizada a consciência política popular e seu com prometimento como causas dandose destaque às reações tradicionais às à influência de peque motivações do sofrimento à degração ao álcool Dos lideres ciumentos 8 A análise revisionista apresenta uma Revolução sem coerência política ou social e tende a explicar o movimento popular em termos que lembra a turba A tinalidade deste ensaio consiste em reestudar o papel político do movimento popular à luz de questões colocadas pela contestação revisio ista Evidentemente toda e qualquer anáise do movimento popular tem yue se radicar em uma concepcão particular da Revolução Argumentare que conquanto a Revolucão não possa ser realmente explicada como du contlito entre feudalismo e capitalismo ela apesar disso expres 0u m conflito social fundamental entre Nationaux burgueses eAristocra social do próprio conflito tes nobres O ponto importante é que este conflito social assumiu a forma especifica de uma revolução politica e que os yários interesses sociais em jogo na Revolução definiramse em termos especificamente políticos Não Se trata por conseguinte de uma questão de procurar forças sociais na Revolução à parte seu conflito político nem coniplementar as categorias políticas de bourgeois aristocrate ou sansculotte com outras categorias subjacentes sociais Em vez disso o que se impöe é una interpretação o que era seu interesse real3 Os revisionistas contesta 108 a outra listória Sempre foi clara para os historiadores a importância da ação do povo pa risiense durante a Revolução Francesa Ainda assim só em anos recentes graças ao trabalho de historiadores como George Rudé e Albert Soboul é que o papel político do movimento popular foi plenamente apreciado como simultaneamente autônomo e integral à história da Revolução O movimen to popular empurrou a Revolução para a frente em todas as conjunturas críticas anteriores ao Termidor Na maior parte assim agiu à sua própria mancira e por suas próprias razões ainda que com laços ideológicos com a cruzada antiaristocrática Jançada pelo Terceiro Estado O menu peuple não iniciou a Revolução Um ponto importante desta cado por seus historiadores é que ele não poderia ter feito isso O menu peuple foi um amálgama de grupos sociais de meios restritos compartilhan do de limitados interesses e tradições comuns em sua dependência do pão que podiam comprar Como os sansculottes porém tornouse elemento integral na vida política do diaadia da Revolução abrindo novo terreno no exercício da democracia direta ao marcar a luta antiaristocrática com características claramente populares No desenvolvimento de sua própria ideologia o menu peuple preparou o terreno para o interesse popular fu turo pela questão social 0 menu peuple na verdade tornouse os sansculottes exatamente quando assumiu um papel político crescente além de sua identidade episÓ dica como turba revolucionária Sob a tutela de políticos patriotas e revolu cionários mas igualmente impulsionado pela experiência de seu próprio papel crucial revolucionário sua luta ocasional contra a intriga aristo crálica entre os que estavam no poder tornouse uma Juta contínua e direta contra todas as manifestações de aristocracia Gracas à lógica de sua ideo logia chegou a uma oposição intrínseca aos partidos no poder per se Os sansculoltes não tinham programa social além do atendimento de necessida des básicas e benefícios sociais essenciais as preocupações com os quais de marcaramIhe aproximadamente as fronteiras sociais Eram definidos por um programa politico que importava simplesmente na destruição da aristocra cia e no exercício da soberania popular direta Não formavam uma classe e compreendiam pequenos lojistas artesãos e assalariados plica dizer qeu não tivessem interesses de classe em comum Sua ideologia o que não im antiaristocrática visava a uma utópica ausência de classes entre cidadãos po liticamente responsáveis pequenos produtores Nessa ideologia os sansculottes não diferiam radicalmente dos Mon tagnards entre os quais podiam ser encontrados aqucles incluindo ko bespierre direitos de propriedade10 A Montanha não era menos antiaristocrática que consideravam a justiça social ligeiramente acima doS sustentava o princípio de soberania popular e por muito tempo fizera c panha pela democracia igualitária Os jacobinos porém possuíam um obje George C Comninel 109 tivo político positivo nacional o de estabelccer cm paz a República do interesse geral soberano e não para a maioria dos Conventionncls não especialmente de apenas libertar o povo Esta diferença fundamental entre uma finalidade revolucionária nacional plenamcnte social ainda que não desinteressada c o interesse particular de um grupo específico tingiu todas as diferenças de políticas concretas c o desencanto gcral através dos quais os sansculottes foram alicnados do Governo Revolucionário no Ano II11 Os sansculottes participaram da vida política vital de seus bairros c pressionaram o Govermo Revolucionário com suas exigências O seu papel realmente popular na Revolução contudo foi o de ajudar na derrota dos partidos aristocráticos ou irrcsolutos no nível de governo abrindo cami nho para contestadores da Esquerda Nesta condição atuaram como par ceiros não como peões Este papcl lerminou com a vitória da montanha e a formação do Governo Revolucionário A posição liderante dos robes pierristas foi obtida por sua determinação em dar ao govcerno uma única vontade o governo da virtude que era necessária para salvar a Re pública Não houve oposição de esquerda ao Governo Revolucionário no nível de convenção e cle precisava apenas ser politicamente hábil para cli minar scus adversários extralcgislativos Quando amedrontada a maioria da convenção finalmente atacou os robespierristas uma vez que a von tade única amcaçava passar da amcaça cada vez menor de uma contra revolução para os corruptos entre os líderes da Revolução nenhuma base popular restou para uma defesa popular da esquerda Uma nação es tável com governo cficaz fora instaurada e nenhuma futura confluência de intercsses e ideologia cntre jacobinos e sansculotes poderia mais uma vez congquistar a aquiescência de uma maioria governante Com sua ideo logia e prática de soberania direta mas também sua dependência da inter venção do estado os sansculottes carcciam de objetivo c do capacidade conceitual para cles mesmos conquistarem o poder Embora o auge da car reira política autônoma sansculottes ainda estivesse no futuro nas journées do Germinal e Prairial seu papel efetivo na Revolução nacional terinara 0 movimento popular portanto constituiu um fenômeno político dentro da Revolução No todo a Revolução assuniu a forma de luta po lítica liderada pelos revolucionários burgueses de Paris e outras cidades contra a aristocracia que representava a liderança contrarevolucioná ria e a própria desigualdade social O grande mérito das histórias do mo vimento popular escritas por Rudé e Soboul reside no destaque que deram à interação do povo com a liderança revolucionária burguesa esclarecendo como funcionou essa aliança e as manciras como a liderança de uma nunca ncgava a independência da outra2 George Rudé em especial concentrou se nas questões das vinculações ideológicas da liderança e motivação polí 110 ticas a fim de analisar aquela relação através da qual o povo serviu à Revolução ao mesmo tempo que forjava uma identidade política própria Exatamente porque o movimento popular foi a chave do sucesso da Revolução como um todo da liderança revolucionária seu papel político não deve ser ignorado sem mais aquela O contexto em que esse papel político tem sido reconhecido é o da interpretação social da Revolução A interpretação da Revolução como em certo sentido uma única coisa nas palavras de Clemenceau tendo a finalidade concreta invariável de realizar os interesses burgueses de classe foi durante muito tempo a tradicional Desde os dias da Restauração antes portanto do nascimento de Marx uma tradição política simpática à Revolução sustentou essa interpretação em substancialmente os mesmos termos encontrados no Manifesto Comunista13 A interpretação social tornouse a oficial da Terceira República adotada tanto por liberais do Sistema como pelos marxistas a despeito de suas concepções diferentes de classe e democracia burguesa Nas versões liberais a burguesia progressista combateu uma aristocracia moribunda a fim de obter liberdade econômica e democracia representativa Marx e Engels consideram a Revolução liderada pela burguesia como o alicerce político da sociedade capitalista burguesa e viram no liberalismo econômico uma contradição fundamental entre as relações de classe feudais de privilégio e as relações capitalistas burguesas14 Argumentaram que a oposição burguesa aos interesses particularistas dos privilégios aristocráticos proporcionava fundamentos excepcionais à reivindicação de representar o interesse geral e uma base para mobilizar não só toda a burguesia mas também as classes populares A burguesia tinha poder de classe governante a ganhar com tal aliança enquanto que para as classes populares havia apenas ganhos democráticos limitados e recompensas materiais para muitos poucos A maior parte do povo argumentaram sucumbiria à nova tirania da propriedade e se tornaria proletária Essa análise ajustase bem à história do movimento popular as classes de uma correspondiam aos grupos políticos observáveis das outras Mesmo nas suas versões liberais por conseguinte nelas reside a principal implicação da análise marxista é a oposição de interesses de classe fundamentais que informa a base de fenômenos históricos e conflitos políticos Conquanto essa interpretação social de conflito incomodasse numerosos estudiosos gozou do status de ortodoxia historiográfica por causa de sua coerência política A força básica do conceito revisionista da Revolução contudo foi que ela de maneira nenhuma formou um todo nem serviu a interesses de grupos Os revisionistas falam em vez disso em uma proliferação de grupos sociais e em especial de elites com identidades e interesses 112 O movimento popular foi o ponto focal importante da interpretação social explicando a vitória da burguesia mas fornecendo também à Revolução aquele dinamismo complexo e mesmo dialético que emprestava sentido a seu curso incado de crises Os revisionistas porém consideram a Revolução como uma crise política contingente que expressou uma mudança estrutural de longo prazo Propõemse a explicar a existência da luta revolucionária entre a elite cultural e economicamente homogênea uma elite que a despeito de sua diversidade social não representou nem mesmo uma clivagem ideológica que coincidisse com o conflito burguesiaaristocracia Este é o contexto da concepção revisionista do movimento popular em uma Revolução impulsionada e desvinada de seu rumo pela crise social sem finalidade ou objetivos sociais a realizar além da reforma política inicial e ao povo que cabe o papel de representar a crise social Embora pareçam aceitar a história do movimento popular os revisionistas distorcemna profundamente Para começar sua análise elimina da história do movimento popular aquele contexto de um todo revolucionário o processo contínuo desenvolvimento revolucionário que lhe dava coerência política Ao negar que houvesse necessidade real de luta revolucionária entre a Assembléia Nacional e o Termidor os revisionistas negam ao povo o papel de aliado Em vez disso o movimento popular é reduzido à condição de fenômeno social da Revolução os militantes sansculotte tornamse uma elite ainda que inferior entre as muitas em contenda e o menu peuple como um todo é visto como uma força fervilhante e cega explodindo às vezes e ocasionalmente sendo bajulada e algada ao palco político22 Embora aceitem hipocritamente a idéia de Lefebvre de vários movimentos revolucionários em uma única Revolução os revisionistas roubamnos de suas características distintivas O movimento popular não é mais considerado uma expressão política específica de interesses sociais do povo postos em prática mediante aliança com uma classe que defendia motivações políticas mais amplamente sociais Os sansculottes são em vez disso divididos entre uma elite política paralela mas demograficamente distinta das elites burguesas e uma massa social rudimentar que carece de qualquer real identidade política Não apenas negam ao povo a identidade de movimento político mas os revisionistas se inclinam para a despolitização total da massa do menu peuple E foi a fome do povo não sua política socialmente motivada que Cobban identificou como fator oculto por trás do curso da Revolução proporcionandolhe um abastecimento contínuo de material inflamável para alimentála23 Os revisionistas enfatizaram também a humilhação como motivo da violência popular e não menos a tradição do protestos e ideologias populares ao mesmo tempo que negavam crédito ao desenvolviemento da consciência popular durante a Revolução24 Contudo é especialmente a diferenciação de uma elite da massa militante sansculottes de bêbados invejosos venais iludidos interiormente desprezíveis e ressentidos do poder e talentos jacobinos segundo dizem as histórias revisionistas que assinala a despolitização do menu peuple que é mostrado como essencialmente passivo exceto quando condicionado pela fome e por agitadores ou intimidado pelos militantes de seus bairros A distorção final dos revisionistas é a alegação de que o reconhecimento do caráter político dos sansculottes e da turba revolucionária em geral contradiz de certa maneira a análise marxista25 Os revisionistas chamaram atenção com mal disfarçada ironia para a ênfase dada por Rudé e Soboul no caráter especificamente político dos sansculottes porque julgam que o marxismo é uma forma de determinismo econômico baseada exclusivamente na declinação econômica das classes Isto interpreta de forma inteiramente errônea a análise social marxista tanto ao reduzir a classe a uma categoria meramente econômica como em impor ao marxismo a separação do político do social que constitui na verdade a marca dos revisionistas Além disso a própria despolitização procedida pelos revisionistas do movimento popular tornalhes incongruente a ironia porquanto é sua própria concepção dos sansculottes como elite política que negaria que o movimento popular foi uma expressão dos interesses sociais comuns do menu peuple A análise de Rudé e Soboul ao contrário fornece exatamente o que se requer de uma interpretação social a compreensão de como interesses sociais concretamente se expressam em conflitos políticos A concepção revisionista do movimento popular fica acima de tudo implícita no contexto que fornece à ação política popular na Revolução Na ausência de conflito social ininterrupto para levála adiante os revisionistas teriam que atribuir o curso tumultuoso e violento da Revolução ou à interação de pessoas com elites rivais em luta ou apenas ao povo Em ambos os casos o povo foi concebido de uma maneira que lembra a turba uma massa fervilhante de ressentimentos e fome a crise social encarnada que toma o freio nos dentes devido a uma falha trágica do sistema e que é em seguida manipulada por ideólogos Mesmo que estejam dispostos a aceitar as implicações dessa opinião a fim de explicar o dinamismo irracional e a persistência da Revolução e até agora parecem estar os revisionistas ficam ainda com um problema fundamental Isto porque o que eles sem exceção têm em comum além de sua rejeição do marxismo é a incapacidade de explicar o conflito político que foi fundamental para a Revolução logo que neguem que a mesma tinha qualquer base social subjacente Afirmam que o Ancien Régime já adquirira uma elite economicamente indiferenciada de nobres e roturiers No plano social dizem que essa elite compreendeu várias elites 114 sócioprofissionais rachadas por diferentes ideologias mas cobrindo a fronteira do status nobre um status que de qualquer maneira podia ser comprado e que não demarcava qualquer real fronteira social Esta concepção acreditam impede que se veja a elite ou como classe única ou como compreendendo duas classes opostas Ainda assim é inegável que a questão sobre a qual irrompeu a Revolução e que continuou a ser motivo de luta foi a aristocracia Ao negar que houvesse qualquer base social para o conflito entre a burguesia e a aristocracia ficam sem argumentos para explicar a intensa luta revolucionária que se seguiu precisamente ao longo dessas linhas Colin Lucas frisa este ponto ao passar em revista à concepção de Doyle da Revolução como a institucionalização da sociedade dos notáveis no curso da qual uma crise política desencadeou tensões sociais e as transformou em crise social de mobilização de camponeses e população urbana que pôs em marcha o resto da Revolução Lucas refutao dizendo que isto não é adequado nem mesmo para explicar as reformas iniciais mas de vastas conseqüências executadas pela Assembléia Constituinte É difícil compreender a intensidade ininterrupta da vontade revolucionária para impor uma nova organização social sem uma préhistória de conflito social26 Ainda assim o próprio Lucas mostrase inclinado a procurar a préhistória do conflito no nível de mentalités localizandoa nas tensões geradas por uma sociedade de proprietários que não abriram mão dos privilégios do status27 Essas contradições de formas novas e tradicionais dentro de mentes entre indivíduos e entre grupos compõem um caldo ralo demais para um profundo conflito revolucionário E como acontece com todas as análises revisionistas não fornecem elas uma base satisfatória para explicar a relação peculiar entre o movimento popular e a liderança revolucionária burguesa aliadas aparentemente na mesma causa em um nível mas com crescentes divergências em outro As origens intelectuais da contestação revisionista situamse na negação do papel da classe na história Conquanto uma análise rigorosa do conceito marxista de classe não seja possível aqui é importante esclarecer os meios de identificação de relações de classe e afastar a idéia de que classe é uma categoria econômica A classe é uma relação social cobrindo as relações sociais em geral e especificamente localizada no complexo de relações sociais de produçãodistribuiçãodominação mediante o qual o excedente é extraído e dividido entre os membros da classe espoliadoragovernante A espoliação pressupõe a superação da resistência tanto nas formas normais limitadas como nas explosões episódicas de oposição violenta A classe é por conseguinte necessariamente tanto econômica extração do excedente quanto política dominação em todas suas manifestações nas relações sociais seja na produção no direito lei ou no estado Mais pertinente e é aqui que a separação revisionista entre o político e o social tornase particularmente gritante em algumas sociedades a espoliação assume uma forma diretamente política como no caso clássico do feudalismo senhorial A organização das relações de classe é fundamentalmente diferente entre sociedades cujos modos de produção básicos o que é o mesmo que dizer modos de espoliação são diferentes27 Conforme observou Marx no terceiro volume de O Capital a chave para compreender as relações de classe e a base oculta de toda a estrutura social é encontrada na relação direta entre os proprietários dos meios de produção e os produtores diretos a forma específica de maisvalia não remunerada e os meios de sua extração29 As classes do capitalismo por exemplo são definidas pela extração do excedente sob forma específica de maisvalia através da relação salarial para cuja existência e consolidação todas as demais relações sociais devem se curvar em maior ou menor grau O emprego assalariado em si contudo não define automaticamente o capitalista e o proletário A extração da maisvalia não pode ocorrer isoladamente mas tem que ser sistemática e socialmente fundamental O capitalismo é necessariamente um sistema baseado em um corpo de leis de propriedade circulação universal de mercadorias livre e geral redução da força de trabalho humana à condição de mercadoria e compulsão estrutural de prosseguir a autoexpansão do capital através de reinvestimento constante dos lucros na produção Alguns capitalistas em um sistema com esse podem funcionar meramente como comerciantes mas embora comprem barato e vendam caro como comerciantes em todas as sociedades desempenham um papel na organização da produção especificamente capitalista e seu caráter como capitalistas derivase desse papel30 Seguese que nenhum comerciante e por falar nisso nenhum mero industrial que empregue trabalho assalariado é autenticamente capitalista na ausência desse sistema generalizado Nos casos em que a extração do excedente não assume a forma específica de maisvalia terá que ser identificado algum outro modo de espoliação de classe que não o capitalismo Conquanto não tenham ainda demonstrado a menor compreensão do conceito marxista de classe ou da natureza do capitalismo os revisionistas juntaram grande riqueza de evidências para provar que não houve oposição da burguesia capitalista à aristocracia feudal na Revolução Tomando sua deixa do fecundo argumento de Alfred Cobban no The Social Interpretation of the French Revolution os revisionistas demonstraram que a liderança da Revolução não correspondeu à idéia de ninguém sobre capitalistas e que capitalismo no seu sentido mais vago era quase tão im rendada em unidades de tamanho familiar ou menos Na maior parte da França a comunidade camponesa ou as famílias camponesas mais isoladas claramente dominava a produção agrária Mesmo na extremamente fértil e lucrativa região cerealista ao redor de Toulouse as propriedades dos magnatas nobres desse tipo de produção eram trabalhadas por famílias camponesas e os fermiers que arrendavam grandes propriedades em outros locais freqüentemente assim agiam para sublocálas a famílias camponesas Realmente a única área na qual qualquer coisa que parecesse com as fazendas inglesas podia ser encontrada era a bacia de Paris onde os fermiers arrendavam grandes propriedades rurais e as exploravam com emprego de trabalhadores assalariados Ainda assim esta era exatamente a região em que persistia a antiga comunidade camponesa de campo aberto Os fermiers conformaramse inteiramente às práticas da comunidade camponesa de deixar terras em pousio respigar etc sem adotar nenhum dos métodos básicos de melhoramento ou investir em terras ou equipamentos que eram fundamentais à agricultura capitalista Embora os métodos ingleses não fossem desconhecidos eram estranhos à urdidura da produção social francesa a terra não podia ser separada das relações sociais da comunidade camponesa com todas suas exigências e restrições Ao contrário da fazenda inglesa a ferme francesa não podia ser reduzida à condição de um dos elementos do circuito do capital e sua produção ser organizada a fim de maximizar os lucros capitalistas do fazendeiro O emprego assalariado na ferme era elemento tradicional importante na economia camponesa da região altamente comercial de Paris situação esta que vinha de séculos E eram os camponeses sobrecarregados com aluguéis e impostos e constituindo quatro quintos da população os produtores fundamentais do excedente social O grosso esmagador da produção excedente vinha da agricultura e os meios principais de extraílo eram os aluguéis e os impostos A renda agrária nãocapitalista era a base da extração do excedente no que interessava à proprietários de terra cargos do estado e rentes e sustentavam por sua vez o comércio e as profissões liberais Conforme argumentam os revisionistas não havia fronteira social no padrão de sistema fundiário que correspondesse à diferença de status entre burguês e nobre Seigneuries com direitos de propriedade feudais privilegiados eram possuídas igualmente por nobres e roturier Terras cargos e rentes eram as formas universais de riqueza no Ancien Régime e a descrição revisionista de uma elite unificada de propriedades tinha de fato essa base nos fatos Na busca de relações de classe na extração do excedente o status nobre simplesmente servia para desviar a atenção O que os revisionistas ignoraram porém foi que dentro da nobreza existia uma autêntica e bem consolidada aristocracia definida por riqueza realmente imensa e relacionamento especialmente privilegiado com o estado Entre a aristocracia temos que incluir primeiro a Casa Real os Príncipe de Sangue os Pares da França os mais altos dignitários da Igreja e a nobreza da Corte Em seguida talvez algumas centenas de grandes casas de nobreza antiga que haviam mantido seus nomes e a perspectiva de favor real mediante preservação e renovação de riqueza herdada e pelo cultivo de ligações Os magistrados do parlement de Paris figuravam também com relevo entre essa aristocracia que estava muito longe de ser burguesa como algumas vezes se alegou Era irrelevante que virtualmente todos os parlementaires fossem nobres de criação recente seu status na época era muito grande quase todos já eram nobres ao ascenderem a essa posição se talvez como anobli ou filhos de anobli e todos possuíam enorme riqueza em terras e rentes De menor importância mas já reconhecidos como ingressando na aristocracia figuravam os financistas a nobreza do imposto sobre a agricultura e de outros cargos fiscais reais A indicação para a companhia dos FermiersGénéraux era na verdade uma forma de cooptação um favor real que conferia grande fortuna status nobre e categoria aristocrática Filhos de fermiers raramente permaneciam trabalhando nas finanças reais mas adquiriam cargos de magistrados ou outras posições mais convenientes a aristocráticas A nobreza financeira estava no processo de chegar Toda a administração financeira na verdade era o meio pelo qual o estado drenava diretamente excedente do campesinato para a aristocracia cujos membros tradicionais emprestavam dinheiro a juros aos financistas como também o eram as imensas subvenções reais à corte e muitos outros favores do mesmo quilate O estado portanto tanto sustentava como renovava a aristocracia Uma vez possuidor o indivíduo de riqueza e privilégios da aristocracia e acima de tudo acesso aos altos cargos e ao favor real para o qual a posição era determinante fundamental o estado continuava a ser o foco da carreira aristocrática Uma breve temporada como parlementaire em si mesma uma rica carreira podia levar o jovem aristocrata à adquirir um cargo como maître des requêtes e a possibilidade de subir em categoria a intendente conselheiro do estado ou outro alto cargo real Os cargos graduados da administração real eram preenchidos por elementos da aristocracia com exceção de Necker um banqueiro estrangeiro e juntamente com os da Igreja e a dignidade de magistrados do parlement ofereciam poder renda importante a possibilidade de grandes favores e o potencial de glória a aristocratas que não estavam contentes com carreiras de influência investimentos e vida fácil portante para a nobreza como a propriedade de terras para a burguesia Resta contudo que essa evidência histórica seja submetida a uma análise social marxista a fim de revelar as autênticas relações de classe e prover o contexto social necessário à interpretação da Revolução Os detalhes sociais das histórias demográficas podem ser extremamente úteis na procura de relações de extração do excedente mesmo se como consequência de seu método as questões realmente importantes forem raramente consideradas De qualquer modo a pesquisa histórica sobre a qual repousa as alegações revisionistas permanece muito superior a que foi possível a Marx Este ponto é importante uma vez que Marx dependeu de historiadores burgueses não só no tocante a fatos mas também a respeito do próprio conceito de revolução burguesa Recentemente Raphael Samuel enfatizou que os historiadores franceses da Restauração não só descreveram a Revolução Francesa em termos de classe mas também a Revolução Inglesa Marx e Engels evidentemente consideravamlhe a contribuição como concepção materialista da história não a descoberta de classes na história mas um sumário metodológico da análise histórica de classe Os comentários de Marx sobre a Revolução não podem ser comparados à análise de classe do capitalismo que realizou com sua crítica da economia política Preocupado em compreender e mudar a sociedade de classe capitalista ele jamais criticou na mesma veia a história liberal De qualquer modo o argumento de Marx sobre a revolução burguesa era que ela resultava de relações sociais de classe e que as relações de classe burguesa constituíam a base da moderna sociedade burguesa A maior parte dessas observações políticas sobre a burguesia não é afetada rejeitandose a igualação simples de burguês com capitalista e reconhecidários espoliadores nãocapitalistas Isto porque sem abordar mais do que os aspectos mais essenciais da extração do excedente no Ancien Régime podese ver que suas relações de classe proporcionava base para um conflito social fundamental entre a burguesia e a aristocracia privilegiada E necessário varrer para o lado usos anacrônicos e voltar à burguesia um dos grupos sociais do Ancien Régime Uma definição social da época teria incluído todos aqueles que careciam de status nobre e ou possuíam propriedades suficientes principalmente em terras ou em rentes produtores de juros para viver condignamente como bourgeois rentiers ou não eram de qualquer maneira reduzidos a um emprego desonroso em trabalhos manuais ou no pequeno comércio Isto quase se aproxima do nível ao qual se pode dizer que existe uma extração significativa do excedente e convenientemente exclui os pequenos lojistas e mestresartesãos que efetivamente trabalhavam deixando relativamente poucos casos ambíguos A grande maioria dessa burguesia conforme notou Cobban nada tinha a ver com comércio indústria ou atividades bancárias A maioria possuía cargos comprados ao estado ou exercia carreiras como advogados estretitamente vinculados ao estado através das cortes de justiça e a maior parte do resto vivia simplesmente como rentiers É claro à vista da prova disponível que nem no Ancien Régime como um todo nem em qualquer um de seus setores econômicos excluindo apenas talvez a agricultura na recentemente anexada Flanders a maisvalia era extraída através da circulação produtiva do capital Atividades com fins de lucro de vários tipos era muito comum ainda que não tão comum como a renda produzida pela terra rentes e venda de cargos e comércio e indústria floresciam Mas a nobreza mostravase tão vivamente interessada em atividades lucrativas em suas terras ou no comércio em grande escala como a burguesia os nobres foram importantes na expansão da indústria e os burgueses que se tornavam realmente bemsucedidos nos negócios compravam títulos de nobreza e se retiravam dos negócios Nem comércio nem indústria possuíam as características estruturais do capitalismo nem uma dinâmica clara de sua formação embora o crescimento do sistema adotado por certos pequenos fabricants na indústria têxtil de fornecer matériaprima a artesãos para que as beneficiassem em suas casas pudesse ser interpretado como protocapitalista E a agricultura contudo que forçosamente terá que ser o objeto principal dessa análise Conforme argumentaram convincentemente Robert Brenner e outros autores o capitalismo inglês desenvolveuse na agricultura e permaneceu de caráter esmagadoramente agrário durante todo o século XVIIIA fazenda capitalista arrendada a um latifundiário foi transformada de campos e terras devolutas trabalhadas por camponeses em uma unidade de produção altamente capitalizada e especializada para mãodeobra assalariada muito maior em tamanho gado e outras necessidades de capital do que a família podia operar Nada tinha a ver com os ritmos e práticas da agricultura camponesa independente e seguia em vez disso os ditames da agricultura melhorada a fim de maximizar produção ao mesmo tempo em que dispensava o sistema de deixar terra em pousio e outros impedimentos do camponês comum A concorrência entre os fazendeiros resultou em inovações em técnicas e implementos enquanto paralelamente a produção camponesa se tornava crescentemente antieconômica à medida que o campo era transformado em uma poderosa fábrica de alimentos com um excedente de trabalhadores disponíveis Esta situação contrastava inteiramente com a da França onde a vasta maioria da terra ou era de propriedade dos camponeses ou a eles era ar7 George C Comninel 117 convenientemente exclui os pequenos lojistas e mestresartesãos que efetivamente trabalhavam deixando relativamente poucos casos ambíguos A grande maioria dessa burguesia conforme notou Cobban nada tinha a ver com comércio indústria ou atividades bancárias A maioria possuía cargos comprados ao estado ou exercia carreiras como advogados estretitamente vinculados ao estado através das cortes de justiça e a maior parte do resto vivia simplesmente como rentiers É claro à vista da prova disponível que nem no Ancien Régime como um todo nem em qualquer um de seus setores econômicos excluindo apenas talvez a agricultura na recentemente anexada Flanders a maisvalia era extraída através da circulação produtiva do capital Atividades com fins de lucro de vários tipos era muito comum ainda que não tão comum como a renda produzida pela terra rentes e venda de cargos e comércio e indústria floresciam Mas a nobreza mostravase tão vivamente interessada em atividades lucrativas em suas terras ou no comércio em grande escala como a burguesia os nobres foram importantes na expansão da indústria e os burgueses que se tornavam realmente bemsucedidos nos negócios compravam títulos de nobreza e se retiravam dos negócios Nem comércio nem indústria possuíam as características estruturais do capitalismo nem uma dinâmica clara de sua formação embora o crescimento do sistema adotado por certos pequenos fabricants na indústria têxtil de fornecer matériaprima a artesãos para que as beneficiassem em suas casas pudesse ser interpretado como protocapitalista E a agricultura contudo que forçosamente terá que ser o objeto principal dessa análise Conforme argumentaram convincentemente Robert Brenner e outros autores o capitalismo inglês desenvolveuse na agricultura e permaneceu de caráter esmagadoramente agrário durante todo o século XVIII A fazenda capitalista arrendada a um latifundiário foi transformada de campos e terras devolutas trabalhadas por camponeses em uma unidade de produção altamente capitalizada e especializada para mãodeobra assalariada muito maior em tamanho gado e outras necessidades de capital do que a família podia operar Nada tinha a ver com os ritmos e práticas da agricultura camponesa independente e seguia em vez disso os ditames da agricultura melhorada a fim de maximizar produção ao mesmo tempo em que dispensava o sistema de deixar terra em pousio e outros impedimentos do camponês comum A concorrência entre os fazendeiros resultou em inovações em técnicas e implementos enquanto paralelamente a produção camponesa se tornava crescentemente antieconômica à medida que o campo era transformado em uma poderosa fábrica de alimentos com um excedente de trabalhadores disponíveis Esta situação contrastava inteiramente com a da França onde a vasta maioria da terra ou era de propriedade dos camponeses ou a eles era ar mas não a burguesia como um todo Na Provence o restabelecimento dos Estados provincianos pela aristocracia nas fases iniciais da prérevolução provocou a oposição da burguesia como um todo ao que julgava ser uma tomada injustificada e perigosa do poder provinciano Ainda assim quando um golpe real contra os parlements produziu a reconciliação entre os advogados e a cidade de Aix sede do parlement com os aristocratas e nobres contra o despotismo real a maior parte da burguesia não aderiu Na GrãBretanha a prérevolução presenciou os mesmos conflitos nas cidades entre realistas e defensores dos parlements À parte alguns patriotas ideológicos e aqueles estreitamente ligados aos parlements a burguesia nem participou nem apoiou vigorosamente a luta contra o regime afinal de contas não eram seus interesses que estavam em jogo A convocação dos Estados Gerais constituiu uma clara vitória do constitucionalismo sobre o absolutismo mas restou a ser determinado que tipo do primeiro prevalecera Paladinos aristocráticos como dEprémesnil e Duport brigaram sobre o grau da reforma constitucional necessário e os tradicionalistas refugaram todas elas Mesmo para constitucionalistas aristocráticos progressistas como dEprémesnil que admitia a duplicação do Terceiro Estado a convocação dos Estados fora uma vitória da aristocracia como guardião constitucional do regime O decreto do parlement de Paris determinando observância da forma seguida em 1614 era um aviso aos ministros de que a aristocracia não toleraria manipulação de sua vitória constitucional que estava resolvida a moldar a nova ordem de coisas que emergiria dos Estados Este decreto caiu como um violento golpe sobre patriotas e liberais aristocratas como Duport porquanto esperavam dos Estados uma reforma constitucional nacional que a nação reunida assegurasse a felicidade do povo através de reformas liberais As frouxas ligações de aristocratas liberais e panfletistas patrióticos que haviam feito causa comum durante a luta contra a Coroa tal como o Comité dos 30 que se reunia na residência de Duport canalizaram nesse momento suas energias contra a aristocracia focalizandose precisamente na questão dos privilégios constitucionais A luta em torno da constituição do estado no Ancien Régime fosse dentro da aristocracia ou entre ela e a burguesia não pode ser considerada como meramente política Nenhum conflito dessa natureza é desinteressadamente político uma vez que a política de uma sociedade de classes se radica na espoliação Quaisquer que sejam as motivações pessoais a ação política teve profundamente interesses sociais relacionados com a extração do excedente Mas dadas as relações específicas da extração desse excedente no Ancien Régime havia uma conexão muito mais imediata entre o político e o social O conflito profundo especificamente social que formou o âmago da Revolução Francesa derivou diretamente da natureza fundamental das questões constitucionais em um estado que era em si o foco principal da extração do excedente O conflito da Revolução Francesa não se travou entre a propriedade feudal e a iniciativa burguesa se estes interesses houvessem estado mesmo em conflito improvável uma vez que as relações de propriedade da burguesia e da aristocracia eram idênticas poderiam ter sido mediados pelo estado A Revolução não era necessária para impor a liberdade de comércio a segurança da propriedade a administração nacional e a proibição de associações de trabalhadores a uma nobreza recalcitrante O conflito se travou em torno do estado porque este desempenhava um papel direto na extração do excedente e na acumulação da propriedade e sistematicamente beneficiava grupos específicos titulares de privilégios especiais Pouco importando como as classes do Ancien Régime são exatamente definidas uma vez que a demarcação de fronteiras de classe é menos importante do que a identificação de relações e interesses de classe essenciais podese ver claramente que a aristocracia estava tentando obter uma salvaguarda constitucional para sua posição excepcionalmente privilegiada e acabar com as ambigüidades e mediação do estado absolutista assumindo como grupo poder governante supremo Não obstante a extração do excedente pelo estado não era importante apenas para a aristocracia No mínimo o estado desempenhava um papel proporcionalmente mais importante e mais regular na extração do excedente que a burguesia menos rica Um golpe constitucional exclusivamente aristocrático representaria uma perda direta e óbvia de poder de classe efetivo para a burguesia se ou não ela devia ser considerada como parte da mesma classe Não apenas os aristocratas conservariam o monopólio de governo e de posições enriquecedoras mas a influência burguesa sobre a política do estado seria minimizada em qualquer futuro conflito com os interesses aristocráticos Resolvidas as ambigüidades da classe governante em prejuízo da burguesia ela poderia acabar por descobrir que fora inteiramente excluída dos cargos do estado O poder de tributação do estado poderia mesmo configurar uma ameaça aos seus interesses de propriedade Uma vitória exclusivamente aristocrática por conseguinte era um perigo imediato e potencialmente decisivo para os seus interesses de classe e isto de fato se configurou especificamente em sua capacidade política de Terceiro Estado A revelação das intenções constitucionais aristocráticas do parlement de Paris provocou brusca e violenta oposição de toda a burguesia em toda a França consubstanciada em centenas de resoluções petições e assembléias ilegais como não acontecera em qualquer estágio prévio do conflito A posição da nobreza como um todo porém era ambígua e estava inchada de contradições A nobreza antiga mais pobre viu talvez uma oportunidade de acabar com a dominação dos cargos menos nobres pelos anoblis em ascensão Ainda assim até mesmo os gentilshommes rurais despeito de toda sua inclinação ideológica não tinham interesses tão irreconciliavelmente opostos aos da burguesia como a própria aristocracia Embora as linhas do conflito fossem traçadas em torno da questão constitucional dos privilégios dos nobres a nobreza como grupo social desapareceu de vista no curso da Revolução os privilégios eram representados pela aristocracia e a igualdade de uma nação de donos de propriedade pela burguesia A oposição da burguesia foi geral mas não a princípio o desafio constitucional fundamental proposto por patriotas como o Abbé Sieyès A maior parte das petições e resoluções burguesas limitavase às questões da dupla representação e voto per capita que Sieyès se apressou a observar que não eram suficientes para impedir a dominação aristocrática efetiva Ainda assim a despeito da insistência dos panfletários a opinião burguesa permaneceu em geral moderada e simplesmente se opunha à dominação imediata e constitucional da aristocracia inerente às formas adotadas em 1614 Supõese freqüentemente que se o estado tivesse intervido nessa ocasião para impor a solução que mais tarde tentou na sessão real de 23 de junho o resultado teria sido geralmente aceito uma dominação aristocrática natural sobre os Estados provavelmente teria existindo a menos que dirigida contra os interesses burgueses ao passo que um veto aristocrático aos assuntos da nobreza e do clero lhes asseguraria continuação da dominação No caso o conflito permaneceu sem mediação achando cada lado que haveria uma perda de interesses fundamentais de classes se recusassem Quando o Terceiro Estado seguiu as idéias de Sieyès e se proclamou Assembléia Nacional e afirmou sua soberania contra a aristocracia o partido real abandonou sua ambigüidade e fez causa comum com a aristocracia A vitória burguesa contra esse estado aristocrático unificado seria impossível de imaginar sem o movimento popular Conforme deixou bem claro o trabalho de George Rudé o menu peuple toda população urbana que à parte pequenas relações de extração do excedente que possa ter existido em seu seio tinha em comum sua exclusão das relações de classe primárias de apropriação do excedente agrário enfrentou uma crise social de subsistência em 1789 No tocante ao conflito político não tinha interesse social direto em nenhum dos dois lados Seus principais interesses eram como sempre boa ordem pública e preço estável do pão O interesse social popular por uma oferta regular e estável de pão contudo vinha há muito tempo requerendo a intervenção do estado A monarquia livrariase dessa responsabilidade no início dos conflitos constitucionais liberando o comércio de cereais concebivelmente mais no interesse dos negociantes aristocráticos de cereais e grandes latifundiários do que da burguesia e não há dúvida de que os Fisiocratas eram aristocratas De qualquer modo a crise social exigia ação mudança e entre as partes contendoras apenas o Terceiro Estado defendia a mudança Nessa fase o foco da agitação patriótica concentrouse na maioria moderada da burguesia mas nas circunstâncias politizadas e de sua própria crise o menu peuple chegou rapidamente à conclusão de que a escolha era entre a mudança e a Nação por um lado e a obstrução e os privilégios pelo outro Qualquer que tenha sido anteriormente o significado de unidade do Terceiro Estado para o povo é provável que não tenha sido muito grande ele nesse momento representava as mudanças progressistas na política estatal para solucionar a crise social De que outra maneira Vive le Roi Vive M Necker e Vive le Tiers État poderiam ser ligados aos lemas das agitações pela subsistência O povo nesse momento se identificava como o Terceiro Estado e nele procurava paladinos que lutassem contra a aristocracia que significava status quo e sofrimento do povo A ideologia popular inerente incluía tanto invectivas contra os aristocratas como aceitação de sua perspectiva ideológica Foi acima de tudo a compreensão pelo povo da necessidade de mudança e da oposição aristocrática a ela que fixou o papel do movimento popular Daí se seguiram a concepção popular de conspiração aristocrática uma deformação da realidade social que sugere o pacto de famine de sua ideologia inerente e a adoção de lemas antiaristocráticos e nacionais tomados de empréstimo aos patriotas Por mais que posteriormente se definisse como sansculottes em sua oposição à aristocracia considerada esta no seu sentido mais amplo a esta altura o menu peuple identificavase com o Terceiro Estado como o grupo total de oposição política ao obstruccionismo e à fome pela qual eram responsáveis os aristocratas Aprofundandose as crises social e política os patriotas intensificaram seus esforços para dar base popular ao conflito fundamental entre a aristocracia e a Nação e não há dúvida de que os orleanistas estavam prontos para ajudar a fomentar agitação Uma mensagem infiltrouse na ideologia popular a noblesse foi identificada como inimiga dos parisienses e a Nação com a oposição a essa inimiga A insurreição popular de julho de 1789 transformouse em ajuda à Nação As manifestações populares começaram como protesto à maneira tradicional e espera de ajuda do estado logo que este fosse devidamente informado e pudesse agir sem restrições No calor da crise política crescente ante a derrota certa de seus campeões e acicatado pelos patriotas o povo transformou o protesto em ação política popular direta Esta foi a barganha inicial e fundamental entre o povo e os revolucionários burgueses que veio a considerar como seus mandatários O povo daria apoio à reforma do poder pelos burgueses e a eles se aliaria na fundação da Nação em troca da supressão dos seus inimigos e manutenção dos meios de subsistência A barganha porém não foi feita exclusivamente com a burguesia mas também com o rei com o qual passaria particularmente em revista aos termos nos anos que se seguiram No curso dessas journées subseqüentes o povo não apenas rompeu impasses constitucionais em favor dos adversários mais resolutos da aristocracia mas formulou sua própria ideologia de igualitarismo revolucionário como o verdadeiro interesse geral A experiência lhe ensinou a necessidade de fervor revolucionário e desconfiança dos aristocratas naturais Descobriu o que era soberania popular com Cordeliers e jacobinos mas sua forma e significado real nas journées da Revolução eventos que foram simultaneamente ação política e protesto por motivo de subsistência espontâneos e politicamente intencionais No fim aprendeu que combater a aristocracia era uma luta permanente que a soberania se revestia do mesmo caráter que apenas democratas igualitários podiam representar os interesses populares e que a violência política era uma ferramenta necessária para a obtenção de justiça social Enquanto a questão fundamental continuasse a ser a oposição à aristocracia constitucional havia uma confluência natural de interesses entre o movimento popular e a liderança revolucionária No curso da luta revolucionária escolheu a mais ferrenha liderança antiaristocrática e nacional e quando teve que enfrentar a necessidade de um estado nacional viável a escolha reduziuse aos jacobinos radicais e àqueles que lhe aceitavam a direção Em qualquer conflito constitucional ao qual a crise política era continuamente reduzida pela Revolução o povo encontrava sua voz na austeridade e imagem nacional da Esquerda e esta encontrava sua base no povo Com a vitória da Montanha sobre os girondinos a cadeia desta lógica foi rompida os jacobinos levariam adiante a luta contra a aristocracia enquanto a sociedade civil o permitisse e não mais além Esta história do movimento popular é também a da evolução do objetivo político dos sansculottes um objetivo único e específico buscando em necessidades sociais concretas e que os definiu como grupo político No início levou apenas à defesa dos reformadores moderados que pareciam lhes representar os interesses a insurreição de 1789 não deu um longo passo além do protesto popular Ainda assim selou uma barganha que ligando os interesses do povo ao sucesso da Revolução forneceu à burguesia meios para criar um governo revolucionário efetivo Nos cinco anos seguintes esse objetivo político foi redefinido através de experiência revolucionária prática e familiarização com a ideologia burguesa Ele nunca adquiriu o mesmo aspecto social que o da burguesia cujos interesses gerais e nacionais definiam uma sociedade de classes embora o caráter político da luta dos sansculottes pela democracia igualitária constituísse uma expressão autêntica de interesses sociais populares Buscou conceitos na ideologia democrática nacional da revolução burguesa mas possui base própria alicerçada em experiências e idéias populares O alinhamento da crise popular de subsistência com a luta burguesa contra a aristocracia constituiu a base de uma aliança que foi imposta à burguesia suas apreensões manifestadas na Guarda Nacional mas também se transformou em um movimento popular que encampou a plataforma burguesa de oposição à aristocracia Não só o movimento popular era essencial no sucesso da revolução burguesa mas uma luta burguesa concorrente contra a aristocracia era necessária para o aparecimento do movimento popular A contradição interna deste movimento residiu na lógica mediante a qual seu objetivo político tornouse instrumento da burguesia na criação de um forte estado nacional ao mesmo tempo que o menu peuple carecia de capacidade para impedir que isto tomasse a forma de um estado de classe baseado em interesses de propriedade A ditadura do Governo Revolucionário revelou ser uma forma de estado puramente política peculiar à sociedade civil na verdade foi implacável em sua oposição a qualquer outro que não o uso político do poder o estado virtuoso Ainda assim conforme observou Marx no The Holy Family um ponto que Furet tentou virar contra a idéia de uma revolução burguesa coerente pela própria virtude com que abraçou a ideologia nacional e democrática a ditadura jacobina alienouse daquele liberalismo burguês para a qual o estado democrático era um meio e não um fim Realmente um substancial interesse burguês em uma burocracia estatal grande e corrupta persistiu até bem dentro do século XIX e só com a Terceira República é que surgiu a exigência séria de um estado virtuoso Logo que os esforços incansáveis dos jacobinos para preservar a nação criaram os instrumentos de uma guerra revolucionária nacional e teve sucesso o controle dos excessos do povo os ideólogos que loucamente tentavam praticar o que pregavam puderam ser dispensados A Revolução atingira seu objetivo supremo bloquear a criação de um estado aristocrático absoluto
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0 Contexto Político do Movimento Popular na Revolução Francesa George C Comninel 0 reconbecimento da existência de várias revoluções diferentes aristocracia burguesia campesinato e menu peuple urbano complexo da Revolução Francesa constituju um dos grandes legados do his toriador Georges Lefebvre1 Ainda assim Lefebvre defendeu fortemente aquela interpretação social que viu na Revolução a consecução intencio nal da ascendência social da burguesia Esta concepção combinada foi por sua vez muilo enriquecida por historiadores do movimento popular que resgataram a história política autônoma do menu peuple do grandioso ar cabouço da Revolução O movimento popular foi a força impulsionadora decisiva da Revolução responsável pelo seu acesso inicial ao poder e pela vitória sobre sucessivos desafios radicais em seu seio e o estudo da intera ção do povo com a burguesia durante a Revolução acrescentou uma com plexidade dinâmica de que anteriormente carecia a interpretação social da no todo Nos últimos vinte anos contudo a interpretação da Revolução como um conflito social intencional foi vigorosamente contestada por historiado res revisionistas3 Rejeitam eles quaisquer interpretações que identifica riam o conflito político da Revolução com os interesses sociais de qualquer dado grupo e particularmente a análise de classe marxista da revolução burguesa A interprelação social revelouse yulnerável porque pouco mais fez do que afirnmar a conjunção dos conflitos político e social na Revolução refle tindo lamentavelmenle a concepção mecânica de base cconômica e super estrutura social outrora predominante no pensamento marxista4 0 próprio Marx jamais analisou realmente a Revolução comno reyolução burguesa Nem mesmo formulou o conceito adotandoo por inteiro de historiadores libe rais anteriores a fim de explicar a emergência da sociedade de classe capl alista burguesa George C Comninel 107 om exatamente a idéia de que interesses de classe capitalistas burgueses estivessem por trás da Revolução Os revisionistas argumentam que os antagonistas da Revolução não se revestiam das características sociais há muito supostas pelos marxistas e que a estrutura social do Ancien Régime não foi substancialmente transfor mada pela Revolução apenas ampliada Sobre esses fundamentos negam que tenba havido qualquer base para conflito social básico Seguem Alfred Cobban na separação do político do social e concordam em que As supostas categorias sociais de nossa história burguesas aristocratas sansculottes foram na verdade politicas6 Em conseqüência conce bem a Revolução como um conflito político sem finalidade social funda mental neste sentido pelo menos uma revolução puramente política e não social Observou Colin Lucas que os revisionistas não convenceram ao expli car o conflito revolucionário como um aclaramento de mudanças sociais já ocorridas7 Não obstante rejeitase geralmente hoje a idéia de que um movimento social contínuo ligou a Assembléia Nacional e o Governo Re volucionário Dizem alguns que a Revolução derrapou de seu curso seus lideres acusados de puro oportunismo político Simultaneamente a princi pal culpa pela violência revolucionária desnecessária cai sobre o povo Nas histórias revisionistas é minimizada a consciência política popular e seu com prometimento como causas dandose destaque às reações tradicionais às à influência de peque motivações do sofrimento à degração ao álcool Dos lideres ciumentos 8 A análise revisionista apresenta uma Revolução sem coerência política ou social e tende a explicar o movimento popular em termos que lembra a turba A tinalidade deste ensaio consiste em reestudar o papel político do movimento popular à luz de questões colocadas pela contestação revisio ista Evidentemente toda e qualquer anáise do movimento popular tem yue se radicar em uma concepcão particular da Revolução Argumentare que conquanto a Revolucão não possa ser realmente explicada como du contlito entre feudalismo e capitalismo ela apesar disso expres 0u m conflito social fundamental entre Nationaux burgueses eAristocra social do próprio conflito tes nobres O ponto importante é que este conflito social assumiu a forma especifica de uma revolução politica e que os yários interesses sociais em jogo na Revolução definiramse em termos especificamente políticos Não Se trata por conseguinte de uma questão de procurar forças sociais na Revolução à parte seu conflito político nem coniplementar as categorias políticas de bourgeois aristocrate ou sansculotte com outras categorias subjacentes sociais Em vez disso o que se impöe é una interpretação o que era seu interesse real3 Os revisionistas contesta 108 a outra listória Sempre foi clara para os historiadores a importância da ação do povo pa risiense durante a Revolução Francesa Ainda assim só em anos recentes graças ao trabalho de historiadores como George Rudé e Albert Soboul é que o papel político do movimento popular foi plenamente apreciado como simultaneamente autônomo e integral à história da Revolução O movimen to popular empurrou a Revolução para a frente em todas as conjunturas críticas anteriores ao Termidor Na maior parte assim agiu à sua própria mancira e por suas próprias razões ainda que com laços ideológicos com a cruzada antiaristocrática Jançada pelo Terceiro Estado O menu peuple não iniciou a Revolução Um ponto importante desta cado por seus historiadores é que ele não poderia ter feito isso O menu peuple foi um amálgama de grupos sociais de meios restritos compartilhan do de limitados interesses e tradições comuns em sua dependência do pão que podiam comprar Como os sansculottes porém tornouse elemento integral na vida política do diaadia da Revolução abrindo novo terreno no exercício da democracia direta ao marcar a luta antiaristocrática com características claramente populares No desenvolvimento de sua própria ideologia o menu peuple preparou o terreno para o interesse popular fu turo pela questão social 0 menu peuple na verdade tornouse os sansculottes exatamente quando assumiu um papel político crescente além de sua identidade episÓ dica como turba revolucionária Sob a tutela de políticos patriotas e revolu cionários mas igualmente impulsionado pela experiência de seu próprio papel crucial revolucionário sua luta ocasional contra a intriga aristo crálica entre os que estavam no poder tornouse uma Juta contínua e direta contra todas as manifestações de aristocracia Gracas à lógica de sua ideo logia chegou a uma oposição intrínseca aos partidos no poder per se Os sansculoltes não tinham programa social além do atendimento de necessida des básicas e benefícios sociais essenciais as preocupações com os quais de marcaramIhe aproximadamente as fronteiras sociais Eram definidos por um programa politico que importava simplesmente na destruição da aristocra cia e no exercício da soberania popular direta Não formavam uma classe e compreendiam pequenos lojistas artesãos e assalariados plica dizer qeu não tivessem interesses de classe em comum Sua ideologia o que não im antiaristocrática visava a uma utópica ausência de classes entre cidadãos po liticamente responsáveis pequenos produtores Nessa ideologia os sansculottes não diferiam radicalmente dos Mon tagnards entre os quais podiam ser encontrados aqucles incluindo ko bespierre direitos de propriedade10 A Montanha não era menos antiaristocrática que consideravam a justiça social ligeiramente acima doS sustentava o princípio de soberania popular e por muito tempo fizera c panha pela democracia igualitária Os jacobinos porém possuíam um obje George C Comninel 109 tivo político positivo nacional o de estabelccer cm paz a República do interesse geral soberano e não para a maioria dos Conventionncls não especialmente de apenas libertar o povo Esta diferença fundamental entre uma finalidade revolucionária nacional plenamcnte social ainda que não desinteressada c o interesse particular de um grupo específico tingiu todas as diferenças de políticas concretas c o desencanto gcral através dos quais os sansculottes foram alicnados do Governo Revolucionário no Ano II11 Os sansculottes participaram da vida política vital de seus bairros c pressionaram o Govermo Revolucionário com suas exigências O seu papel realmente popular na Revolução contudo foi o de ajudar na derrota dos partidos aristocráticos ou irrcsolutos no nível de governo abrindo cami nho para contestadores da Esquerda Nesta condição atuaram como par ceiros não como peões Este papcl lerminou com a vitória da montanha e a formação do Governo Revolucionário A posição liderante dos robes pierristas foi obtida por sua determinação em dar ao govcerno uma única vontade o governo da virtude que era necessária para salvar a Re pública Não houve oposição de esquerda ao Governo Revolucionário no nível de convenção e cle precisava apenas ser politicamente hábil para cli minar scus adversários extralcgislativos Quando amedrontada a maioria da convenção finalmente atacou os robespierristas uma vez que a von tade única amcaçava passar da amcaça cada vez menor de uma contra revolução para os corruptos entre os líderes da Revolução nenhuma base popular restou para uma defesa popular da esquerda Uma nação es tável com governo cficaz fora instaurada e nenhuma futura confluência de intercsses e ideologia cntre jacobinos e sansculotes poderia mais uma vez congquistar a aquiescência de uma maioria governante Com sua ideo logia e prática de soberania direta mas também sua dependência da inter venção do estado os sansculottes carcciam de objetivo c do capacidade conceitual para cles mesmos conquistarem o poder Embora o auge da car reira política autônoma sansculottes ainda estivesse no futuro nas journées do Germinal e Prairial seu papel efetivo na Revolução nacional terinara 0 movimento popular portanto constituiu um fenômeno político dentro da Revolução No todo a Revolução assuniu a forma de luta po lítica liderada pelos revolucionários burgueses de Paris e outras cidades contra a aristocracia que representava a liderança contrarevolucioná ria e a própria desigualdade social O grande mérito das histórias do mo vimento popular escritas por Rudé e Soboul reside no destaque que deram à interação do povo com a liderança revolucionária burguesa esclarecendo como funcionou essa aliança e as manciras como a liderança de uma nunca ncgava a independência da outra2 George Rudé em especial concentrou se nas questões das vinculações ideológicas da liderança e motivação polí 110 ticas a fim de analisar aquela relação através da qual o povo serviu à Revolução ao mesmo tempo que forjava uma identidade política própria Exatamente porque o movimento popular foi a chave do sucesso da Revolução como um todo da liderança revolucionária seu papel político não deve ser ignorado sem mais aquela O contexto em que esse papel político tem sido reconhecido é o da interpretação social da Revolução A interpretação da Revolução como em certo sentido uma única coisa nas palavras de Clemenceau tendo a finalidade concreta invariável de realizar os interesses burgueses de classe foi durante muito tempo a tradicional Desde os dias da Restauração antes portanto do nascimento de Marx uma tradição política simpática à Revolução sustentou essa interpretação em substancialmente os mesmos termos encontrados no Manifesto Comunista13 A interpretação social tornouse a oficial da Terceira República adotada tanto por liberais do Sistema como pelos marxistas a despeito de suas concepções diferentes de classe e democracia burguesa Nas versões liberais a burguesia progressista combateu uma aristocracia moribunda a fim de obter liberdade econômica e democracia representativa Marx e Engels consideram a Revolução liderada pela burguesia como o alicerce político da sociedade capitalista burguesa e viram no liberalismo econômico uma contradição fundamental entre as relações de classe feudais de privilégio e as relações capitalistas burguesas14 Argumentaram que a oposição burguesa aos interesses particularistas dos privilégios aristocráticos proporcionava fundamentos excepcionais à reivindicação de representar o interesse geral e uma base para mobilizar não só toda a burguesia mas também as classes populares A burguesia tinha poder de classe governante a ganhar com tal aliança enquanto que para as classes populares havia apenas ganhos democráticos limitados e recompensas materiais para muitos poucos A maior parte do povo argumentaram sucumbiria à nova tirania da propriedade e se tornaria proletária Essa análise ajustase bem à história do movimento popular as classes de uma correspondiam aos grupos políticos observáveis das outras Mesmo nas suas versões liberais por conseguinte nelas reside a principal implicação da análise marxista é a oposição de interesses de classe fundamentais que informa a base de fenômenos históricos e conflitos políticos Conquanto essa interpretação social de conflito incomodasse numerosos estudiosos gozou do status de ortodoxia historiográfica por causa de sua coerência política A força básica do conceito revisionista da Revolução contudo foi que ela de maneira nenhuma formou um todo nem serviu a interesses de grupos Os revisionistas falam em vez disso em uma proliferação de grupos sociais e em especial de elites com identidades e interesses 112 O movimento popular foi o ponto focal importante da interpretação social explicando a vitória da burguesia mas fornecendo também à Revolução aquele dinamismo complexo e mesmo dialético que emprestava sentido a seu curso incado de crises Os revisionistas porém consideram a Revolução como uma crise política contingente que expressou uma mudança estrutural de longo prazo Propõemse a explicar a existência da luta revolucionária entre a elite cultural e economicamente homogênea uma elite que a despeito de sua diversidade social não representou nem mesmo uma clivagem ideológica que coincidisse com o conflito burguesiaaristocracia Este é o contexto da concepção revisionista do movimento popular em uma Revolução impulsionada e desvinada de seu rumo pela crise social sem finalidade ou objetivos sociais a realizar além da reforma política inicial e ao povo que cabe o papel de representar a crise social Embora pareçam aceitar a história do movimento popular os revisionistas distorcemna profundamente Para começar sua análise elimina da história do movimento popular aquele contexto de um todo revolucionário o processo contínuo desenvolvimento revolucionário que lhe dava coerência política Ao negar que houvesse necessidade real de luta revolucionária entre a Assembléia Nacional e o Termidor os revisionistas negam ao povo o papel de aliado Em vez disso o movimento popular é reduzido à condição de fenômeno social da Revolução os militantes sansculotte tornamse uma elite ainda que inferior entre as muitas em contenda e o menu peuple como um todo é visto como uma força fervilhante e cega explodindo às vezes e ocasionalmente sendo bajulada e algada ao palco político22 Embora aceitem hipocritamente a idéia de Lefebvre de vários movimentos revolucionários em uma única Revolução os revisionistas roubamnos de suas características distintivas O movimento popular não é mais considerado uma expressão política específica de interesses sociais do povo postos em prática mediante aliança com uma classe que defendia motivações políticas mais amplamente sociais Os sansculottes são em vez disso divididos entre uma elite política paralela mas demograficamente distinta das elites burguesas e uma massa social rudimentar que carece de qualquer real identidade política Não apenas negam ao povo a identidade de movimento político mas os revisionistas se inclinam para a despolitização total da massa do menu peuple E foi a fome do povo não sua política socialmente motivada que Cobban identificou como fator oculto por trás do curso da Revolução proporcionandolhe um abastecimento contínuo de material inflamável para alimentála23 Os revisionistas enfatizaram também a humilhação como motivo da violência popular e não menos a tradição do protestos e ideologias populares ao mesmo tempo que negavam crédito ao desenvolviemento da consciência popular durante a Revolução24 Contudo é especialmente a diferenciação de uma elite da massa militante sansculottes de bêbados invejosos venais iludidos interiormente desprezíveis e ressentidos do poder e talentos jacobinos segundo dizem as histórias revisionistas que assinala a despolitização do menu peuple que é mostrado como essencialmente passivo exceto quando condicionado pela fome e por agitadores ou intimidado pelos militantes de seus bairros A distorção final dos revisionistas é a alegação de que o reconhecimento do caráter político dos sansculottes e da turba revolucionária em geral contradiz de certa maneira a análise marxista25 Os revisionistas chamaram atenção com mal disfarçada ironia para a ênfase dada por Rudé e Soboul no caráter especificamente político dos sansculottes porque julgam que o marxismo é uma forma de determinismo econômico baseada exclusivamente na declinação econômica das classes Isto interpreta de forma inteiramente errônea a análise social marxista tanto ao reduzir a classe a uma categoria meramente econômica como em impor ao marxismo a separação do político do social que constitui na verdade a marca dos revisionistas Além disso a própria despolitização procedida pelos revisionistas do movimento popular tornalhes incongruente a ironia porquanto é sua própria concepção dos sansculottes como elite política que negaria que o movimento popular foi uma expressão dos interesses sociais comuns do menu peuple A análise de Rudé e Soboul ao contrário fornece exatamente o que se requer de uma interpretação social a compreensão de como interesses sociais concretamente se expressam em conflitos políticos A concepção revisionista do movimento popular fica acima de tudo implícita no contexto que fornece à ação política popular na Revolução Na ausência de conflito social ininterrupto para levála adiante os revisionistas teriam que atribuir o curso tumultuoso e violento da Revolução ou à interação de pessoas com elites rivais em luta ou apenas ao povo Em ambos os casos o povo foi concebido de uma maneira que lembra a turba uma massa fervilhante de ressentimentos e fome a crise social encarnada que toma o freio nos dentes devido a uma falha trágica do sistema e que é em seguida manipulada por ideólogos Mesmo que estejam dispostos a aceitar as implicações dessa opinião a fim de explicar o dinamismo irracional e a persistência da Revolução e até agora parecem estar os revisionistas ficam ainda com um problema fundamental Isto porque o que eles sem exceção têm em comum além de sua rejeição do marxismo é a incapacidade de explicar o conflito político que foi fundamental para a Revolução logo que neguem que a mesma tinha qualquer base social subjacente Afirmam que o Ancien Régime já adquirira uma elite economicamente indiferenciada de nobres e roturiers No plano social dizem que essa elite compreendeu várias elites 114 sócioprofissionais rachadas por diferentes ideologias mas cobrindo a fronteira do status nobre um status que de qualquer maneira podia ser comprado e que não demarcava qualquer real fronteira social Esta concepção acreditam impede que se veja a elite ou como classe única ou como compreendendo duas classes opostas Ainda assim é inegável que a questão sobre a qual irrompeu a Revolução e que continuou a ser motivo de luta foi a aristocracia Ao negar que houvesse qualquer base social para o conflito entre a burguesia e a aristocracia ficam sem argumentos para explicar a intensa luta revolucionária que se seguiu precisamente ao longo dessas linhas Colin Lucas frisa este ponto ao passar em revista à concepção de Doyle da Revolução como a institucionalização da sociedade dos notáveis no curso da qual uma crise política desencadeou tensões sociais e as transformou em crise social de mobilização de camponeses e população urbana que pôs em marcha o resto da Revolução Lucas refutao dizendo que isto não é adequado nem mesmo para explicar as reformas iniciais mas de vastas conseqüências executadas pela Assembléia Constituinte É difícil compreender a intensidade ininterrupta da vontade revolucionária para impor uma nova organização social sem uma préhistória de conflito social26 Ainda assim o próprio Lucas mostrase inclinado a procurar a préhistória do conflito no nível de mentalités localizandoa nas tensões geradas por uma sociedade de proprietários que não abriram mão dos privilégios do status27 Essas contradições de formas novas e tradicionais dentro de mentes entre indivíduos e entre grupos compõem um caldo ralo demais para um profundo conflito revolucionário E como acontece com todas as análises revisionistas não fornecem elas uma base satisfatória para explicar a relação peculiar entre o movimento popular e a liderança revolucionária burguesa aliadas aparentemente na mesma causa em um nível mas com crescentes divergências em outro As origens intelectuais da contestação revisionista situamse na negação do papel da classe na história Conquanto uma análise rigorosa do conceito marxista de classe não seja possível aqui é importante esclarecer os meios de identificação de relações de classe e afastar a idéia de que classe é uma categoria econômica A classe é uma relação social cobrindo as relações sociais em geral e especificamente localizada no complexo de relações sociais de produçãodistribuiçãodominação mediante o qual o excedente é extraído e dividido entre os membros da classe espoliadoragovernante A espoliação pressupõe a superação da resistência tanto nas formas normais limitadas como nas explosões episódicas de oposição violenta A classe é por conseguinte necessariamente tanto econômica extração do excedente quanto política dominação em todas suas manifestações nas relações sociais seja na produção no direito lei ou no estado Mais pertinente e é aqui que a separação revisionista entre o político e o social tornase particularmente gritante em algumas sociedades a espoliação assume uma forma diretamente política como no caso clássico do feudalismo senhorial A organização das relações de classe é fundamentalmente diferente entre sociedades cujos modos de produção básicos o que é o mesmo que dizer modos de espoliação são diferentes27 Conforme observou Marx no terceiro volume de O Capital a chave para compreender as relações de classe e a base oculta de toda a estrutura social é encontrada na relação direta entre os proprietários dos meios de produção e os produtores diretos a forma específica de maisvalia não remunerada e os meios de sua extração29 As classes do capitalismo por exemplo são definidas pela extração do excedente sob forma específica de maisvalia através da relação salarial para cuja existência e consolidação todas as demais relações sociais devem se curvar em maior ou menor grau O emprego assalariado em si contudo não define automaticamente o capitalista e o proletário A extração da maisvalia não pode ocorrer isoladamente mas tem que ser sistemática e socialmente fundamental O capitalismo é necessariamente um sistema baseado em um corpo de leis de propriedade circulação universal de mercadorias livre e geral redução da força de trabalho humana à condição de mercadoria e compulsão estrutural de prosseguir a autoexpansão do capital através de reinvestimento constante dos lucros na produção Alguns capitalistas em um sistema com esse podem funcionar meramente como comerciantes mas embora comprem barato e vendam caro como comerciantes em todas as sociedades desempenham um papel na organização da produção especificamente capitalista e seu caráter como capitalistas derivase desse papel30 Seguese que nenhum comerciante e por falar nisso nenhum mero industrial que empregue trabalho assalariado é autenticamente capitalista na ausência desse sistema generalizado Nos casos em que a extração do excedente não assume a forma específica de maisvalia terá que ser identificado algum outro modo de espoliação de classe que não o capitalismo Conquanto não tenham ainda demonstrado a menor compreensão do conceito marxista de classe ou da natureza do capitalismo os revisionistas juntaram grande riqueza de evidências para provar que não houve oposição da burguesia capitalista à aristocracia feudal na Revolução Tomando sua deixa do fecundo argumento de Alfred Cobban no The Social Interpretation of the French Revolution os revisionistas demonstraram que a liderança da Revolução não correspondeu à idéia de ninguém sobre capitalistas e que capitalismo no seu sentido mais vago era quase tão im rendada em unidades de tamanho familiar ou menos Na maior parte da França a comunidade camponesa ou as famílias camponesas mais isoladas claramente dominava a produção agrária Mesmo na extremamente fértil e lucrativa região cerealista ao redor de Toulouse as propriedades dos magnatas nobres desse tipo de produção eram trabalhadas por famílias camponesas e os fermiers que arrendavam grandes propriedades em outros locais freqüentemente assim agiam para sublocálas a famílias camponesas Realmente a única área na qual qualquer coisa que parecesse com as fazendas inglesas podia ser encontrada era a bacia de Paris onde os fermiers arrendavam grandes propriedades rurais e as exploravam com emprego de trabalhadores assalariados Ainda assim esta era exatamente a região em que persistia a antiga comunidade camponesa de campo aberto Os fermiers conformaramse inteiramente às práticas da comunidade camponesa de deixar terras em pousio respigar etc sem adotar nenhum dos métodos básicos de melhoramento ou investir em terras ou equipamentos que eram fundamentais à agricultura capitalista Embora os métodos ingleses não fossem desconhecidos eram estranhos à urdidura da produção social francesa a terra não podia ser separada das relações sociais da comunidade camponesa com todas suas exigências e restrições Ao contrário da fazenda inglesa a ferme francesa não podia ser reduzida à condição de um dos elementos do circuito do capital e sua produção ser organizada a fim de maximizar os lucros capitalistas do fazendeiro O emprego assalariado na ferme era elemento tradicional importante na economia camponesa da região altamente comercial de Paris situação esta que vinha de séculos E eram os camponeses sobrecarregados com aluguéis e impostos e constituindo quatro quintos da população os produtores fundamentais do excedente social O grosso esmagador da produção excedente vinha da agricultura e os meios principais de extraílo eram os aluguéis e os impostos A renda agrária nãocapitalista era a base da extração do excedente no que interessava à proprietários de terra cargos do estado e rentes e sustentavam por sua vez o comércio e as profissões liberais Conforme argumentam os revisionistas não havia fronteira social no padrão de sistema fundiário que correspondesse à diferença de status entre burguês e nobre Seigneuries com direitos de propriedade feudais privilegiados eram possuídas igualmente por nobres e roturier Terras cargos e rentes eram as formas universais de riqueza no Ancien Régime e a descrição revisionista de uma elite unificada de propriedades tinha de fato essa base nos fatos Na busca de relações de classe na extração do excedente o status nobre simplesmente servia para desviar a atenção O que os revisionistas ignoraram porém foi que dentro da nobreza existia uma autêntica e bem consolidada aristocracia definida por riqueza realmente imensa e relacionamento especialmente privilegiado com o estado Entre a aristocracia temos que incluir primeiro a Casa Real os Príncipe de Sangue os Pares da França os mais altos dignitários da Igreja e a nobreza da Corte Em seguida talvez algumas centenas de grandes casas de nobreza antiga que haviam mantido seus nomes e a perspectiva de favor real mediante preservação e renovação de riqueza herdada e pelo cultivo de ligações Os magistrados do parlement de Paris figuravam também com relevo entre essa aristocracia que estava muito longe de ser burguesa como algumas vezes se alegou Era irrelevante que virtualmente todos os parlementaires fossem nobres de criação recente seu status na época era muito grande quase todos já eram nobres ao ascenderem a essa posição se talvez como anobli ou filhos de anobli e todos possuíam enorme riqueza em terras e rentes De menor importância mas já reconhecidos como ingressando na aristocracia figuravam os financistas a nobreza do imposto sobre a agricultura e de outros cargos fiscais reais A indicação para a companhia dos FermiersGénéraux era na verdade uma forma de cooptação um favor real que conferia grande fortuna status nobre e categoria aristocrática Filhos de fermiers raramente permaneciam trabalhando nas finanças reais mas adquiriam cargos de magistrados ou outras posições mais convenientes a aristocráticas A nobreza financeira estava no processo de chegar Toda a administração financeira na verdade era o meio pelo qual o estado drenava diretamente excedente do campesinato para a aristocracia cujos membros tradicionais emprestavam dinheiro a juros aos financistas como também o eram as imensas subvenções reais à corte e muitos outros favores do mesmo quilate O estado portanto tanto sustentava como renovava a aristocracia Uma vez possuidor o indivíduo de riqueza e privilégios da aristocracia e acima de tudo acesso aos altos cargos e ao favor real para o qual a posição era determinante fundamental o estado continuava a ser o foco da carreira aristocrática Uma breve temporada como parlementaire em si mesma uma rica carreira podia levar o jovem aristocrata à adquirir um cargo como maître des requêtes e a possibilidade de subir em categoria a intendente conselheiro do estado ou outro alto cargo real Os cargos graduados da administração real eram preenchidos por elementos da aristocracia com exceção de Necker um banqueiro estrangeiro e juntamente com os da Igreja e a dignidade de magistrados do parlement ofereciam poder renda importante a possibilidade de grandes favores e o potencial de glória a aristocratas que não estavam contentes com carreiras de influência investimentos e vida fácil portante para a nobreza como a propriedade de terras para a burguesia Resta contudo que essa evidência histórica seja submetida a uma análise social marxista a fim de revelar as autênticas relações de classe e prover o contexto social necessário à interpretação da Revolução Os detalhes sociais das histórias demográficas podem ser extremamente úteis na procura de relações de extração do excedente mesmo se como consequência de seu método as questões realmente importantes forem raramente consideradas De qualquer modo a pesquisa histórica sobre a qual repousa as alegações revisionistas permanece muito superior a que foi possível a Marx Este ponto é importante uma vez que Marx dependeu de historiadores burgueses não só no tocante a fatos mas também a respeito do próprio conceito de revolução burguesa Recentemente Raphael Samuel enfatizou que os historiadores franceses da Restauração não só descreveram a Revolução Francesa em termos de classe mas também a Revolução Inglesa Marx e Engels evidentemente consideravamlhe a contribuição como concepção materialista da história não a descoberta de classes na história mas um sumário metodológico da análise histórica de classe Os comentários de Marx sobre a Revolução não podem ser comparados à análise de classe do capitalismo que realizou com sua crítica da economia política Preocupado em compreender e mudar a sociedade de classe capitalista ele jamais criticou na mesma veia a história liberal De qualquer modo o argumento de Marx sobre a revolução burguesa era que ela resultava de relações sociais de classe e que as relações de classe burguesa constituíam a base da moderna sociedade burguesa A maior parte dessas observações políticas sobre a burguesia não é afetada rejeitandose a igualação simples de burguês com capitalista e reconhecidários espoliadores nãocapitalistas Isto porque sem abordar mais do que os aspectos mais essenciais da extração do excedente no Ancien Régime podese ver que suas relações de classe proporcionava base para um conflito social fundamental entre a burguesia e a aristocracia privilegiada E necessário varrer para o lado usos anacrônicos e voltar à burguesia um dos grupos sociais do Ancien Régime Uma definição social da época teria incluído todos aqueles que careciam de status nobre e ou possuíam propriedades suficientes principalmente em terras ou em rentes produtores de juros para viver condignamente como bourgeois rentiers ou não eram de qualquer maneira reduzidos a um emprego desonroso em trabalhos manuais ou no pequeno comércio Isto quase se aproxima do nível ao qual se pode dizer que existe uma extração significativa do excedente e convenientemente exclui os pequenos lojistas e mestresartesãos que efetivamente trabalhavam deixando relativamente poucos casos ambíguos A grande maioria dessa burguesia conforme notou Cobban nada tinha a ver com comércio indústria ou atividades bancárias A maioria possuía cargos comprados ao estado ou exercia carreiras como advogados estretitamente vinculados ao estado através das cortes de justiça e a maior parte do resto vivia simplesmente como rentiers É claro à vista da prova disponível que nem no Ancien Régime como um todo nem em qualquer um de seus setores econômicos excluindo apenas talvez a agricultura na recentemente anexada Flanders a maisvalia era extraída através da circulação produtiva do capital Atividades com fins de lucro de vários tipos era muito comum ainda que não tão comum como a renda produzida pela terra rentes e venda de cargos e comércio e indústria floresciam Mas a nobreza mostravase tão vivamente interessada em atividades lucrativas em suas terras ou no comércio em grande escala como a burguesia os nobres foram importantes na expansão da indústria e os burgueses que se tornavam realmente bemsucedidos nos negócios compravam títulos de nobreza e se retiravam dos negócios Nem comércio nem indústria possuíam as características estruturais do capitalismo nem uma dinâmica clara de sua formação embora o crescimento do sistema adotado por certos pequenos fabricants na indústria têxtil de fornecer matériaprima a artesãos para que as beneficiassem em suas casas pudesse ser interpretado como protocapitalista E a agricultura contudo que forçosamente terá que ser o objeto principal dessa análise Conforme argumentaram convincentemente Robert Brenner e outros autores o capitalismo inglês desenvolveuse na agricultura e permaneceu de caráter esmagadoramente agrário durante todo o século XVIIIA fazenda capitalista arrendada a um latifundiário foi transformada de campos e terras devolutas trabalhadas por camponeses em uma unidade de produção altamente capitalizada e especializada para mãodeobra assalariada muito maior em tamanho gado e outras necessidades de capital do que a família podia operar Nada tinha a ver com os ritmos e práticas da agricultura camponesa independente e seguia em vez disso os ditames da agricultura melhorada a fim de maximizar produção ao mesmo tempo em que dispensava o sistema de deixar terra em pousio e outros impedimentos do camponês comum A concorrência entre os fazendeiros resultou em inovações em técnicas e implementos enquanto paralelamente a produção camponesa se tornava crescentemente antieconômica à medida que o campo era transformado em uma poderosa fábrica de alimentos com um excedente de trabalhadores disponíveis Esta situação contrastava inteiramente com a da França onde a vasta maioria da terra ou era de propriedade dos camponeses ou a eles era ar7 George C Comninel 117 convenientemente exclui os pequenos lojistas e mestresartesãos que efetivamente trabalhavam deixando relativamente poucos casos ambíguos A grande maioria dessa burguesia conforme notou Cobban nada tinha a ver com comércio indústria ou atividades bancárias A maioria possuía cargos comprados ao estado ou exercia carreiras como advogados estretitamente vinculados ao estado através das cortes de justiça e a maior parte do resto vivia simplesmente como rentiers É claro à vista da prova disponível que nem no Ancien Régime como um todo nem em qualquer um de seus setores econômicos excluindo apenas talvez a agricultura na recentemente anexada Flanders a maisvalia era extraída através da circulação produtiva do capital Atividades com fins de lucro de vários tipos era muito comum ainda que não tão comum como a renda produzida pela terra rentes e venda de cargos e comércio e indústria floresciam Mas a nobreza mostravase tão vivamente interessada em atividades lucrativas em suas terras ou no comércio em grande escala como a burguesia os nobres foram importantes na expansão da indústria e os burgueses que se tornavam realmente bemsucedidos nos negócios compravam títulos de nobreza e se retiravam dos negócios Nem comércio nem indústria possuíam as características estruturais do capitalismo nem uma dinâmica clara de sua formação embora o crescimento do sistema adotado por certos pequenos fabricants na indústria têxtil de fornecer matériaprima a artesãos para que as beneficiassem em suas casas pudesse ser interpretado como protocapitalista E a agricultura contudo que forçosamente terá que ser o objeto principal dessa análise Conforme argumentaram convincentemente Robert Brenner e outros autores o capitalismo inglês desenvolveuse na agricultura e permaneceu de caráter esmagadoramente agrário durante todo o século XVIII A fazenda capitalista arrendada a um latifundiário foi transformada de campos e terras devolutas trabalhadas por camponeses em uma unidade de produção altamente capitalizada e especializada para mãodeobra assalariada muito maior em tamanho gado e outras necessidades de capital do que a família podia operar Nada tinha a ver com os ritmos e práticas da agricultura camponesa independente e seguia em vez disso os ditames da agricultura melhorada a fim de maximizar produção ao mesmo tempo em que dispensava o sistema de deixar terra em pousio e outros impedimentos do camponês comum A concorrência entre os fazendeiros resultou em inovações em técnicas e implementos enquanto paralelamente a produção camponesa se tornava crescentemente antieconômica à medida que o campo era transformado em uma poderosa fábrica de alimentos com um excedente de trabalhadores disponíveis Esta situação contrastava inteiramente com a da França onde a vasta maioria da terra ou era de propriedade dos camponeses ou a eles era ar mas não a burguesia como um todo Na Provence o restabelecimento dos Estados provincianos pela aristocracia nas fases iniciais da prérevolução provocou a oposição da burguesia como um todo ao que julgava ser uma tomada injustificada e perigosa do poder provinciano Ainda assim quando um golpe real contra os parlements produziu a reconciliação entre os advogados e a cidade de Aix sede do parlement com os aristocratas e nobres contra o despotismo real a maior parte da burguesia não aderiu Na GrãBretanha a prérevolução presenciou os mesmos conflitos nas cidades entre realistas e defensores dos parlements À parte alguns patriotas ideológicos e aqueles estreitamente ligados aos parlements a burguesia nem participou nem apoiou vigorosamente a luta contra o regime afinal de contas não eram seus interesses que estavam em jogo A convocação dos Estados Gerais constituiu uma clara vitória do constitucionalismo sobre o absolutismo mas restou a ser determinado que tipo do primeiro prevalecera Paladinos aristocráticos como dEprémesnil e Duport brigaram sobre o grau da reforma constitucional necessário e os tradicionalistas refugaram todas elas Mesmo para constitucionalistas aristocráticos progressistas como dEprémesnil que admitia a duplicação do Terceiro Estado a convocação dos Estados fora uma vitória da aristocracia como guardião constitucional do regime O decreto do parlement de Paris determinando observância da forma seguida em 1614 era um aviso aos ministros de que a aristocracia não toleraria manipulação de sua vitória constitucional que estava resolvida a moldar a nova ordem de coisas que emergiria dos Estados Este decreto caiu como um violento golpe sobre patriotas e liberais aristocratas como Duport porquanto esperavam dos Estados uma reforma constitucional nacional que a nação reunida assegurasse a felicidade do povo através de reformas liberais As frouxas ligações de aristocratas liberais e panfletistas patrióticos que haviam feito causa comum durante a luta contra a Coroa tal como o Comité dos 30 que se reunia na residência de Duport canalizaram nesse momento suas energias contra a aristocracia focalizandose precisamente na questão dos privilégios constitucionais A luta em torno da constituição do estado no Ancien Régime fosse dentro da aristocracia ou entre ela e a burguesia não pode ser considerada como meramente política Nenhum conflito dessa natureza é desinteressadamente político uma vez que a política de uma sociedade de classes se radica na espoliação Quaisquer que sejam as motivações pessoais a ação política teve profundamente interesses sociais relacionados com a extração do excedente Mas dadas as relações específicas da extração desse excedente no Ancien Régime havia uma conexão muito mais imediata entre o político e o social O conflito profundo especificamente social que formou o âmago da Revolução Francesa derivou diretamente da natureza fundamental das questões constitucionais em um estado que era em si o foco principal da extração do excedente O conflito da Revolução Francesa não se travou entre a propriedade feudal e a iniciativa burguesa se estes interesses houvessem estado mesmo em conflito improvável uma vez que as relações de propriedade da burguesia e da aristocracia eram idênticas poderiam ter sido mediados pelo estado A Revolução não era necessária para impor a liberdade de comércio a segurança da propriedade a administração nacional e a proibição de associações de trabalhadores a uma nobreza recalcitrante O conflito se travou em torno do estado porque este desempenhava um papel direto na extração do excedente e na acumulação da propriedade e sistematicamente beneficiava grupos específicos titulares de privilégios especiais Pouco importando como as classes do Ancien Régime são exatamente definidas uma vez que a demarcação de fronteiras de classe é menos importante do que a identificação de relações e interesses de classe essenciais podese ver claramente que a aristocracia estava tentando obter uma salvaguarda constitucional para sua posição excepcionalmente privilegiada e acabar com as ambigüidades e mediação do estado absolutista assumindo como grupo poder governante supremo Não obstante a extração do excedente pelo estado não era importante apenas para a aristocracia No mínimo o estado desempenhava um papel proporcionalmente mais importante e mais regular na extração do excedente que a burguesia menos rica Um golpe constitucional exclusivamente aristocrático representaria uma perda direta e óbvia de poder de classe efetivo para a burguesia se ou não ela devia ser considerada como parte da mesma classe Não apenas os aristocratas conservariam o monopólio de governo e de posições enriquecedoras mas a influência burguesa sobre a política do estado seria minimizada em qualquer futuro conflito com os interesses aristocráticos Resolvidas as ambigüidades da classe governante em prejuízo da burguesia ela poderia acabar por descobrir que fora inteiramente excluída dos cargos do estado O poder de tributação do estado poderia mesmo configurar uma ameaça aos seus interesses de propriedade Uma vitória exclusivamente aristocrática por conseguinte era um perigo imediato e potencialmente decisivo para os seus interesses de classe e isto de fato se configurou especificamente em sua capacidade política de Terceiro Estado A revelação das intenções constitucionais aristocráticas do parlement de Paris provocou brusca e violenta oposição de toda a burguesia em toda a França consubstanciada em centenas de resoluções petições e assembléias ilegais como não acontecera em qualquer estágio prévio do conflito A posição da nobreza como um todo porém era ambígua e estava inchada de contradições A nobreza antiga mais pobre viu talvez uma oportunidade de acabar com a dominação dos cargos menos nobres pelos anoblis em ascensão Ainda assim até mesmo os gentilshommes rurais despeito de toda sua inclinação ideológica não tinham interesses tão irreconciliavelmente opostos aos da burguesia como a própria aristocracia Embora as linhas do conflito fossem traçadas em torno da questão constitucional dos privilégios dos nobres a nobreza como grupo social desapareceu de vista no curso da Revolução os privilégios eram representados pela aristocracia e a igualdade de uma nação de donos de propriedade pela burguesia A oposição da burguesia foi geral mas não a princípio o desafio constitucional fundamental proposto por patriotas como o Abbé Sieyès A maior parte das petições e resoluções burguesas limitavase às questões da dupla representação e voto per capita que Sieyès se apressou a observar que não eram suficientes para impedir a dominação aristocrática efetiva Ainda assim a despeito da insistência dos panfletários a opinião burguesa permaneceu em geral moderada e simplesmente se opunha à dominação imediata e constitucional da aristocracia inerente às formas adotadas em 1614 Supõese freqüentemente que se o estado tivesse intervido nessa ocasião para impor a solução que mais tarde tentou na sessão real de 23 de junho o resultado teria sido geralmente aceito uma dominação aristocrática natural sobre os Estados provavelmente teria existindo a menos que dirigida contra os interesses burgueses ao passo que um veto aristocrático aos assuntos da nobreza e do clero lhes asseguraria continuação da dominação No caso o conflito permaneceu sem mediação achando cada lado que haveria uma perda de interesses fundamentais de classes se recusassem Quando o Terceiro Estado seguiu as idéias de Sieyès e se proclamou Assembléia Nacional e afirmou sua soberania contra a aristocracia o partido real abandonou sua ambigüidade e fez causa comum com a aristocracia A vitória burguesa contra esse estado aristocrático unificado seria impossível de imaginar sem o movimento popular Conforme deixou bem claro o trabalho de George Rudé o menu peuple toda população urbana que à parte pequenas relações de extração do excedente que possa ter existido em seu seio tinha em comum sua exclusão das relações de classe primárias de apropriação do excedente agrário enfrentou uma crise social de subsistência em 1789 No tocante ao conflito político não tinha interesse social direto em nenhum dos dois lados Seus principais interesses eram como sempre boa ordem pública e preço estável do pão O interesse social popular por uma oferta regular e estável de pão contudo vinha há muito tempo requerendo a intervenção do estado A monarquia livrariase dessa responsabilidade no início dos conflitos constitucionais liberando o comércio de cereais concebivelmente mais no interesse dos negociantes aristocráticos de cereais e grandes latifundiários do que da burguesia e não há dúvida de que os Fisiocratas eram aristocratas De qualquer modo a crise social exigia ação mudança e entre as partes contendoras apenas o Terceiro Estado defendia a mudança Nessa fase o foco da agitação patriótica concentrouse na maioria moderada da burguesia mas nas circunstâncias politizadas e de sua própria crise o menu peuple chegou rapidamente à conclusão de que a escolha era entre a mudança e a Nação por um lado e a obstrução e os privilégios pelo outro Qualquer que tenha sido anteriormente o significado de unidade do Terceiro Estado para o povo é provável que não tenha sido muito grande ele nesse momento representava as mudanças progressistas na política estatal para solucionar a crise social De que outra maneira Vive le Roi Vive M Necker e Vive le Tiers État poderiam ser ligados aos lemas das agitações pela subsistência O povo nesse momento se identificava como o Terceiro Estado e nele procurava paladinos que lutassem contra a aristocracia que significava status quo e sofrimento do povo A ideologia popular inerente incluía tanto invectivas contra os aristocratas como aceitação de sua perspectiva ideológica Foi acima de tudo a compreensão pelo povo da necessidade de mudança e da oposição aristocrática a ela que fixou o papel do movimento popular Daí se seguiram a concepção popular de conspiração aristocrática uma deformação da realidade social que sugere o pacto de famine de sua ideologia inerente e a adoção de lemas antiaristocráticos e nacionais tomados de empréstimo aos patriotas Por mais que posteriormente se definisse como sansculottes em sua oposição à aristocracia considerada esta no seu sentido mais amplo a esta altura o menu peuple identificavase com o Terceiro Estado como o grupo total de oposição política ao obstruccionismo e à fome pela qual eram responsáveis os aristocratas Aprofundandose as crises social e política os patriotas intensificaram seus esforços para dar base popular ao conflito fundamental entre a aristocracia e a Nação e não há dúvida de que os orleanistas estavam prontos para ajudar a fomentar agitação Uma mensagem infiltrouse na ideologia popular a noblesse foi identificada como inimiga dos parisienses e a Nação com a oposição a essa inimiga A insurreição popular de julho de 1789 transformouse em ajuda à Nação As manifestações populares começaram como protesto à maneira tradicional e espera de ajuda do estado logo que este fosse devidamente informado e pudesse agir sem restrições No calor da crise política crescente ante a derrota certa de seus campeões e acicatado pelos patriotas o povo transformou o protesto em ação política popular direta Esta foi a barganha inicial e fundamental entre o povo e os revolucionários burgueses que veio a considerar como seus mandatários O povo daria apoio à reforma do poder pelos burgueses e a eles se aliaria na fundação da Nação em troca da supressão dos seus inimigos e manutenção dos meios de subsistência A barganha porém não foi feita exclusivamente com a burguesia mas também com o rei com o qual passaria particularmente em revista aos termos nos anos que se seguiram No curso dessas journées subseqüentes o povo não apenas rompeu impasses constitucionais em favor dos adversários mais resolutos da aristocracia mas formulou sua própria ideologia de igualitarismo revolucionário como o verdadeiro interesse geral A experiência lhe ensinou a necessidade de fervor revolucionário e desconfiança dos aristocratas naturais Descobriu o que era soberania popular com Cordeliers e jacobinos mas sua forma e significado real nas journées da Revolução eventos que foram simultaneamente ação política e protesto por motivo de subsistência espontâneos e politicamente intencionais No fim aprendeu que combater a aristocracia era uma luta permanente que a soberania se revestia do mesmo caráter que apenas democratas igualitários podiam representar os interesses populares e que a violência política era uma ferramenta necessária para a obtenção de justiça social Enquanto a questão fundamental continuasse a ser a oposição à aristocracia constitucional havia uma confluência natural de interesses entre o movimento popular e a liderança revolucionária No curso da luta revolucionária escolheu a mais ferrenha liderança antiaristocrática e nacional e quando teve que enfrentar a necessidade de um estado nacional viável a escolha reduziuse aos jacobinos radicais e àqueles que lhe aceitavam a direção Em qualquer conflito constitucional ao qual a crise política era continuamente reduzida pela Revolução o povo encontrava sua voz na austeridade e imagem nacional da Esquerda e esta encontrava sua base no povo Com a vitória da Montanha sobre os girondinos a cadeia desta lógica foi rompida os jacobinos levariam adiante a luta contra a aristocracia enquanto a sociedade civil o permitisse e não mais além Esta história do movimento popular é também a da evolução do objetivo político dos sansculottes um objetivo único e específico buscando em necessidades sociais concretas e que os definiu como grupo político No início levou apenas à defesa dos reformadores moderados que pareciam lhes representar os interesses a insurreição de 1789 não deu um longo passo além do protesto popular Ainda assim selou uma barganha que ligando os interesses do povo ao sucesso da Revolução forneceu à burguesia meios para criar um governo revolucionário efetivo Nos cinco anos seguintes esse objetivo político foi redefinido através de experiência revolucionária prática e familiarização com a ideologia burguesa Ele nunca adquiriu o mesmo aspecto social que o da burguesia cujos interesses gerais e nacionais definiam uma sociedade de classes embora o caráter político da luta dos sansculottes pela democracia igualitária constituísse uma expressão autêntica de interesses sociais populares Buscou conceitos na ideologia democrática nacional da revolução burguesa mas possui base própria alicerçada em experiências e idéias populares O alinhamento da crise popular de subsistência com a luta burguesa contra a aristocracia constituiu a base de uma aliança que foi imposta à burguesia suas apreensões manifestadas na Guarda Nacional mas também se transformou em um movimento popular que encampou a plataforma burguesa de oposição à aristocracia Não só o movimento popular era essencial no sucesso da revolução burguesa mas uma luta burguesa concorrente contra a aristocracia era necessária para o aparecimento do movimento popular A contradição interna deste movimento residiu na lógica mediante a qual seu objetivo político tornouse instrumento da burguesia na criação de um forte estado nacional ao mesmo tempo que o menu peuple carecia de capacidade para impedir que isto tomasse a forma de um estado de classe baseado em interesses de propriedade A ditadura do Governo Revolucionário revelou ser uma forma de estado puramente política peculiar à sociedade civil na verdade foi implacável em sua oposição a qualquer outro que não o uso político do poder o estado virtuoso Ainda assim conforme observou Marx no The Holy Family um ponto que Furet tentou virar contra a idéia de uma revolução burguesa coerente pela própria virtude com que abraçou a ideologia nacional e democrática a ditadura jacobina alienouse daquele liberalismo burguês para a qual o estado democrático era um meio e não um fim Realmente um substancial interesse burguês em uma burocracia estatal grande e corrupta persistiu até bem dentro do século XIX e só com a Terceira República é que surgiu a exigência séria de um estado virtuoso Logo que os esforços incansáveis dos jacobinos para preservar a nação criaram os instrumentos de uma guerra revolucionária nacional e teve sucesso o controle dos excessos do povo os ideólogos que loucamente tentavam praticar o que pregavam puderam ser dispensados A Revolução atingira seu objetivo supremo bloquear a criação de um estado aristocrático absoluto