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VERBOS PARA A ELABORAÇÃO DOS OBJETIVOS Na elaboração dos objetivos sejam gerais ou específicos as escolhas adequadas do verbo é de crucial importância Ele é o ponto chave para exprimir a intenção de um educador Na formulação de objetivos específicos devemos evitar o emprego de verbos que se prestem a muitas interpretações Apresentamos a seguir uma lista de verbos para objetivos gerais e específicos nos domínios psicomotor afetivo cognitivo e social VOCABULÁRIOS ÚTEIS PARA EXPRESSAR OBJETIVO Acentuar Adicionar Agrupar Analisar Andar Anotar Aplicar Apresentar Arbitration Argumentar Armar Arremessar Assinalar Atirar Atribuir Calcular Cantar Caracterizar Circundar Citar Classificar Colaborar Colar Coletar Colorir Combinar Comentar Comparar Competir Completar Compor Compor Contar Contribuir Converter Cooperar Correr Costurar Criticar Declarar Decompor Deduzir Definir Demonstrar Descobrir Descrever Desenhar Destacar Determinar Discriminar Discutir Dividir Dramatizar Elaborar Encenar Enlaçar Enumerar Esboçar Escrever Especificar Esquematizar Estabelecer Estabel Comparação Executar Formular Hipótese Generalizar Grafar Grifar Identificar Ilustrar Indicar Interpretar Interpretar Inventar Juntar Justificar Lançar Ler Listar Localizar Manipular Marchar Medir Modelar Montar Multiplicar Narrar Nomear Operar Organizar Participar Pegar Pintar Planejar Pontuar Preparar Realizar Experiência Rebater Receber Reconhecer Recortar Redigir Reduzir Registrar Relacionar Relatar Repartir Repres Graficamente Reproduzir Resolver Responder Responder Resumir Reunir Riscar Saltar Saltitar Separar Simplificar Sintetizar Solucionar Sublinhars Subtrair Sumariz Tabular Tocar Tocar Traçar Comunicarse Concluir Confeccionar Construir Construir Construir Executar Vocalmente Exemplificar Expressar Extrair Falar Flexionar Pronunciar Propor Provar Pular Racionalizar Reagrupar Traduzir Transformar Transformar Usar Verbalizar Verificar VERBOS QUE PRESTAM A MUITAS INTERPRETAÇÕES Abrandar Absorver Acrescentar Adaptar Adquirir Aperfeiçoar Apreciar Aprender melhor Aprimorar Aproveitar Capacitar Carrear Compreender Conhecer Conscientizarse Cooperar Depreender Desenvolver Desfrutar Entender Evidenciar Facilitar Familiarizarse Fixar Jogar bem Melhorar Memorizar Pensar Perceber Praticar bem Saber Sociabilizar Ter idéia de Ter inclinação para VERBOS QUE PRESTAM A POUCAS INTERPRETAÇÕES AbaixarSe Abrir Acabar Acampar Acompanhar C Olhos Adicionar Adicionar AgacharSe Agarrar Agarrar AgarrarSe Ajoelhar Ajoelhar Ajudar Alternar Analisar Anotar Apalpar Aplicar Apoiar Apontar Definir DeitarSe Demonstrar Derrubar Derrubar Descrever Descrever Deslizar Deslizar DeslocarSe DeslocarSe DesobrigarSe Diferenciar Dirigir Discutir Distinguir Dividir Dizer Dobrar Dramatizar Driblar Ilustrar Imitar Imitar Impulsionar Impulsionar Inclinar Inclinar Inclinarse Inclinarse Indicar Iniciar Inspirar Integrar Intercalar Interpretar Investigar Ir Jogar Julgar Juntar Justificar Puxar Quadrupedear Qualificar Questionar Quicar Rastejar Reagrupar Receber Uma Bola Recitar Reconhecer Redigir Reformular Relacionar Relaxar Remar Repetir Resolver Responder Rever Revezar ApresentarSe Argüir ArquearSe ArrastarSe Arrolar Atar Aumentar Automatizar Autorizar Balançar Bater Bloquear Boiar Bola Cabecear Cair Cantar Chutar Citar Classificar Colar Colocar Colorir Combinar Comparar Compartilhar Competir Completar Compor Computar Concluir Conduzir Uma Construir Contar Contrastar Converter Correr Cortar Criar Curvar Dar Defender ElevarSe Empregar Empurrar Encestar Encolher EncolherSe Engatar Engatinhar Enumerar EquilibrarSe Escorregar Escrever Escutar EsgueirarSe Especificar Esquematizar Estender Esticar EsticarSe Examinar Executar Expirar Explanar Explicar Explorar Expor Expor Expressar Falar Fazer Fechar Flexionar Flutuar Formar Frear Galopar Ganhar Generalizar Girar Golpear Grifar Guardar Identificar Lançar LançarSe Ler Liderar Listar Localizar Manipular Marcar Marchar Medir Mergulhar Modificar Mover MovimentarSe Mudar Multiplicar Nadar Nivelar Nomear Numerar Obedecer Observar Obter Olhar Ordenar Organizar Ouvir Parar Passear Pedalar Percorrer Pesar Pesquisar Pintar Planejar Pôr Predizer Prender Preparar Prestar Produzir Pular Puxar Rolar Sacar Saltar Seguir Seguir c os Olhos Selecionar Separar Seriar Serpentear Sintetizar Soletrar Solucionar Subdividir Subir Sublinhar Submeter Subtrair Sugerir Suportar SuspenderSe Sustentar Tirar Tocar Tomar Trabalhar Tracionar Traduzir Transformar Transpor Trazer Trepar Unir Unir Usar Usar Utilizar Utilizar Valsar Valsar Verificar Ziguezaguear VERBOS ADEQUADOS PARA OBJETIVOS IMEDIATOS QUE TENDEM A INDICAR DETERMINADOS DOMÍNIOS DOMINIO PSICOMOTOR Automatizar Colocar Correr Cortar Demonstrar DeslocarSe Desempenhar Dramatizar Driblar EquilibrarSe Explorar Jogar Quicar Realizar Percorrer Saltar DOMINIO COGNITIVO Analisar Apontar Aplicar Avaliar Citar Combinar Comparar Classificar Criar Distinguir Definir Dizer Explicar Explorar Enumerar Indicar Selecionar Ordenar Revisar Identificar Compor DOMINIO SOCIAL Aceitar Ajudar Aplaudir Compartilhar Competir ComunicarSe Cooperar Contribuir Convidar Discutir Elogiar Escolher Interagir Permitir Participar Saudar DOMINIO AFETIVO Agir Com Desempenhar Com Demonstrar CLASSIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS GERAIS 1 GERAIS COGNITIVOS Administrar Afirmar Analisar Aprender Aplicar Apreciar Aprimorar Avaliar Calcular Compreender Constar Construir Delegar Demonstrar Distinguir Entender Enumerar Escrever Fazer Formular Identificar Integrar Interpretar Propor Recitar Resolver Saber Transferir 2 GERAIS AFETIVOS Aceitar Acompanhar Apreciar Completar Cooperar Demonstrar Elaborar Escutar Gostar Manter Mostrar Obedecer Oferecer Participar Reconhecer Ter 3 GERAIS PSICOMOTORES Coser Criar Demonstrar Desenhar Escrever Executar Montar Operar Reparar VERBOS ADEQUADOS PARA EXPRIMIR OBJETIVOS GERAIS 1 DOMÍNIO COGNITIVO Analisar Aprender Aplicar Avaliar Compreender Conhecer Construir Entender Formular Identificar Interpretar Propor Resolver Sintetizar Transferir 2 DOMINIO AFETIVO Aceitar Apreciar Demonstrar Gostar Conscientizar Valorizar 3 DOMINIO SOCIAL Aceitar Cooperar Demonstrar Gostar Participar 4 DOMINIO PSICOMOTOR Adquirir Aperfeiçoar Desenvolver Demonstrar OUTROS VERBOS PRÓPRIOS PARA EXPRIMIR OBJETIVOS GERAIS Adquirir Aperfeiçoar Aprender melhor Colaborar Compreender Conhecer Cooperar Crer Desenvolver Disputar Entender Julgar Saber CLASSIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS 01 ESPECÍFICOS COGNITIVOS Aplicar Autorizar Avaliar Calcular Categorizar Citar Classificar Combinar Compilar Comparar Compor Concluir Confirmar Contrastar Converter Criar Criticar Defender Definir Demonstrar Descrever Diferenciar Discriminar Distinguir Dizer Enumerar Enunciar Escolher Esboçar Escrever Especificar Exemplificar Explicar ExpressarSe Generalizar Identificar Ilustrar Indicar Inferir Interferir Interpretar Inventar Justificar Listar Manipular Modificar Mostrar Obter Operar Organizar Preparar Prover Produzir Reconstruir Redigir Reescrever Relacionar Relatar Reproduzir Resolver Resumir Reorganizar Rever Selecionar Separar Se Capaz Subdividir Sublimar Sumarizar Utilizar 02 ESPECIFICOS AFETIVOS Aderir Ajudar Alistar Alterar Apresentar Arranjar Assistir Atuar Combinar Comparar Completar ConformarSe Convidar Dar Defender Descrever Diferenciar Discriminar Discutir Dizer Enumerar Escolher Escrever Executar Estudar Explicar Felicitar Formar Generalizar Identificar Iniciar Influenciar Integrar Justificar Ler Localizar Manter Militar Modificar Mostrar Nomear Ordenar Organizar Perguntar Praticar Preparar Propor Qualificar Realizar Recitar Relacionar Relatar Repartir Replicar Resolver Responder Rever Salientar Seguir Selecionar Sintetizar Trabalhar Usar Verificar 03 ESPECIFICOS PSICOMOTORES Afiar Aquecer Calibrar Colocar Compor Consertar Construir Criar Desligar Edificar Emendar Enroscar Expressarse Fixar Furar Juntar Ligar Limpar Manipular Martelar Misturar Ouvir Pesar Prender Pintar Redigir Seguir Segurar Serrar Usar Utilizar VERBOS ADEQUADOS PARA EXPRIMIR OBJETIVOS ESPECIFICOS COMPORTAMENTAIS E IMEDIATOS 1Domínio Cognitivo Aplicar Confirmar Enumerar Inferir Reescrever Avaliar Contrastar Enunciar Interpretar Relacionar Calcular Converter Escrever Inventar Relatar Categorizar Criar Especificar Justificar Reproduzir Citar Criticar Exemplificar Listar Resolver Classificar Defender Explicar Modificar Resumir Combinar Definir Exprimir Organizar Reorganizar Compilar Descrever Generalizar Preparar Selecionar Comparar Diferenciar Identificador Produzir Separar Compor Discriminar Ilustrar Reconstruir Subdividir concluir distinguir Indicar Redigir Utilizar 2 Domínio Afetivo Assumir Alterar Escolher Manter Organizar Atuar Conformarse Formar Modificar Responder apresentar Defender Reconhecer mostrar Seguir demonstrar Prestar atenção Trabalhar 3 Domínio Social Aderir Convidar Formar Mostrar Seguir Ajudar Dar Influenciar Relacionarse Aplaudir Escolher Integrar Repartir Trabalhar Assumir felicitar manter responder atuar 4Domínio Psicomotor Colocar Executar Juntar Prender Realizar Demonstrar Fixar Ligar Segurar Usar efetuar iniciar manipular trabalhar utilizar VERBOS PRÓPRIOS PARA EXPRIMIR OBJETIVOS ESPECÍFICOS Acentuar Converter Esquematizar Medir Relatar Adicionar Cooperar Estabelecer Modelar Repartir Afrutar Cooperar Executar Montar Reproduzir Anotar Correr Experiência Multiplicar Resolver Argumentar Costurar Expressar Narrar Responder Armar Criticar Extrair Nomear Resumir Atribuir Declamr Falar Operar Reunir Calcular Deduzir Flexionar Formular Participar Riscarr Cantar Definir Formular Pegar Saltar Caracterizar Demonstrar Generalizar Pintar Saltitar Circular Descrever Grafar Planejar Separar Citar Desenhar Grifar Pontuar Simplificar Classificar Destacar Hipótese Preparar Sintetizar Colaborar Destacar Identificar Pronunciar Solucionar Colar Determinar Ilustrar Propor Sublinhars Coletar Discutir Indicar Reagrupar Tabular Colorir Dividir Inventar Realizar Tocar Comentar Dramatizar Juntar Rebater Traçar Comparação Elaborar Justificar Recordar Traduzir Comparar Encenar Lançar Recordar Transformar Competir Enumerar Ler Redigir Usar Completar Esboçar Listar Reduzir Verbalizar Construir Escrever Localizar Relacionar Verificar Contribuir Especificar Manipular OUTROS VERBOS DE AÇÃO Abrir Descrever Ir Puxar Acabar Desenhar Jogar Questionar Achar Dirigir Juntar Reagrupar Adicionar Discriminar Justificar Recitar Ajudar Dividir Ler Reconhecer Anotar Dizer Liderar Recordar Apoiar Dizer Listar Repetir Apontar Empregar Marcar Resolver Apontar Empurrar Marchar Reunir Arguir Envolver Medir Saltar Arrolar Escolher Medir Seguir Aumentar Escrever Modificar Selecionar Bater Escutar Mudar Soletrar Calcular Especificar Multiplicar Somar Chutar Esquematizar Nivelar Suar Colar Estabelecer Nomear Sublinhar Colocar Etc Observar Submeter Combinar Evidenciar Obter Subtrair Compartilhar Examinar Ordenar Suportar Completar Examinar Parar Tirar Compor Expor Pesar Tocar Computar Fazer Pintar Tomar Construir Fixar Planejar Traduzir Construir Ganhar Por Transformar Contar Guardar Preencher Trazer Criar Ilustrar Preparar Dar Indicar Prestar Definir Indicar Produzir Demonstrar Investigar Provar Marilena Chaui Convite à Filosofia Ed Ática São Paulo 2000 Convite à Filosofia 2 SUMÁRIO Introdução 01 Para que Filosofia Unidade 1 A Filosofia 02 Capitulo 1 A origem da Filosofia 03 Capítulo 2 O nascimento da Filosofia 04 Capítulo 3 Campos de investigação da Filosofia 05 Capítulo 4 Principais períodos da história da Filosofia 06 Capítulo 5 Aspectos da Filosofia contemporânea Unidade 2 A razão 07 Capítulo 1 A Razão 08 Capítulo 2 A atividade racional 09 Capítulo 3 A Razão inata ou adquirida 10 Capítulo 4 Os problemas do inatismo e do empirismo 11 Capítulo 5 A razão na Filosofia contemporânea Unidade 3 A verdade 12 Capítulo 1 Ignorância e verdade 13 Capítulo 2 Buscando a verdade 14 Capítulo 3 As concepções da verdade Unidade 4 O conhecimento 15 Capítulo 1 A preocupação com o conhecimento 16 Capítulo 2 A percepção Marilena Chauí 3 17 Capítulo 3 A memória 18 Capítulo 4 A imaginação 19 Capítulo 5 A linguagem 20 Capítulo 6 O pensamento 21 Capítulo 7 A consciência pode conhecer tudo Unidade 5 A lógica 22 Capítulo 1 O nascimento da lógica 23 Capítulo 2 Elementos de lógica 24 Capítulo 3 A lógica após Aristóteles 25 Capítulo 4 Lógica e Dialética Unidade 6 A metafísica 26 As indagações metafísicas 27 Capítulo 1 O nascimento da metafísica 28 Capítulo 2 A metafísica de Aristóteles 29 Capítulo 3 As aventuras da metafísica 30 Capítulo 4 A ontologia contemporânea Unidade 7 As ciências 31 Capítulo 1 A atitude científica 32 Capítulo 2 A ciência na História 33 Capítulo 3 As ciências da Natureza 34 Capítulo 4 As ciências humanas Convite à Filosofia 68 Unidade 2 A Razão Marilena Chauí 69 Capítulo 1 A Razão Os vários sentidos da palavra razão Nos capítulos precedentes insistimos muito na afirmação de que a Filosofia se realiza como conhecimento racional da realidade natural e cultural das coisas e dos seres humanos Dissemos que ela confia na razão e que hoje ela também desconfia da razão Mas até agora não dissemos o que é a razão apesar de ser ela tão antiga quanto a Filosofia Em nossa vida cotidiana usamos a palavra razão em muitos sentidos Dizemos por exemplo eu estou com a razão ou ele não tem razão para significar que nos sentimos seguros de alguma coisa ou que sabemos com certeza alguma coisa Também dizemos que num momento de fúria ou de desespero alguém perde a razão como se a razão fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter possuir e perder ou recuperar como na frase Agora ela está lúcida recuperou a razão Falamos também frases como Se você me disser suas razões sou capaz de fazer o que você me pede querendo dizer com isso que queremos ouvir os motivos que alguém tem para querer ou fazer alguma coisa Fazemos perguntas como Qual a razão disso querendo saber qual a causa de alguma coisa e nesse caso a razão parece ser alguma propriedade que as próprias coisas teriam já que teriam uma causa Assim usamos razão para nos referirmos a motivos de alguém e também para nos referirmos a causas de alguma coisa de modo que tanto nós quanto as coisas parecemos dotados de razão mas em sentido diferente Esses poucos exemplos já nos mostram quantos sentidos diferentes a palavra razão possui certeza lucidez motivo causa E todos esses sentidos encontram se presentes na Filosofia Por identificar razão e certeza a Filosofia afirma que a verdade é racional por identificar razão e lucidez não ficar ou não estar louco a Filosofia chama nossa razão de luz e luz natural por identificar razão e motivo por considerar que Convite à Filosofia 70 sempre agimos e falamos movidos por motivos a Filosofia afirma que somos seres racionais e que nossa vontade é racional por identificar razão e causa e por julgar que a realidade opera de acordo com relações causais a Filosofia afirma que a realidade é racional É muito conhecida a célebre frase de Pascal filósofo francês do século XVII O coração tem razões que a razão desconhece Nessa frase as palavras razões e razão não têm o mesmo significado indicando coisas diversas Razões são os motivos do coração enquanto razão é algo diferente de coração este é o nome que damos para as emoções e paixões enquanto razão é o nome que damos à consciência intelectual e moral Ao dizer que o coração tem suas próprias razões Pascal está afirmando que as emoções os sentimentos ou as paixões são causas de muito do que fazemos dizemos queremos e pensamos Ao dizer que a razão desconhece as razões do coração Pascal está afirmando que a consciência intelectual e moral é diferente das paixões e dos sentimentos e que ela é capaz de uma atividade própria não motivada e causada pelas emoções mas possuindo seus motivos ou suas próprias razões Assim a frase de Pascal pode ser traduzida da seguinte maneira Nossa vida emocional possui causas e motivos as razões do coração que são as paixões ou os sentimentos e é diferente de nossa atividade consciente seja como atividade intelectual seja como atividade moral A consciência é a razão Coração e razão paixão e consciência intelectual ou moral são diferentes Se alguém perde a razão é porque está sendo arrastado pelas razões do coração Se alguém recupera a razão é porque o conhecimento intelectual e a consciência moral se tornaram mais fortes do que as paixões A razão enquanto consciência moral é a vontade racional livre que não se deixa dominar pelos impulsos passionais mas realiza as ações morais como atos de virtude e de dever ditados pela inteligência ou pelo intelecto Além da frase de Pascal também ouvimos outras que elogiam as ciências dizendo que elas manifestam o progresso da razão Aqui a razão é colocada como capacidade puramente intelectual para conseguir o conhecimento verdadeiro da Natureza da sociedade da História e isto é considerado algo bom positivo um progresso Por ser considerado um progresso o conhecimento científico é visto como se realizando no tempo e como dotado de continuidade de tal modo que a razão é concebida como temporal também isto é como capaz de aumentar seus conteúdos e suas capacidades através dos tempos Algumas vezes ouvimos um professor dizer a outro Fulano trouxe um trabalho irracional era um caos uma confusão Incompreensível Já o trabalho de beltrano era uma beleza claro compreensível racional Aqui a razão ou racional Marilena Chauí 71 significa clareza das idéias ordem resultado de esforço intelectual ou da inteligência seguindo normas e regras de pensamento e de linguagem Todos esses sentidos constituem a nossa idéia de razão Nós a consideramos a consciência moral que observa as paixões orienta a vontade e oferece finalidades éticas para a ação Nós a vemos como atividade intelectual de conhecimento da realidade natural social psicológica histórica Nós a concebemos segundo o ideal da clareza da ordenação e do rigor e precisão dos pensamentos e das palavras Para muitos filósofos porém a razão não é apenas a capacidade moral e intelectual dos seres humanos mas também uma propriedade ou qualidade primordial das próprias coisas existindo na própria realidade Para esses filósofos nossa razão pode conhecer a realidade Natureza sociedade História porque ela é racional em si mesma Falase portanto em razão objetiva a realidade é racional em si mesma e em razão subjetiva a razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres humanos A razão objetiva é a afirmação de que o objeto do conhecimento ou a realidade é racional a razão subjetiva é a afirmação de que o sujeito do conhecimento e da ação é racional Para muitos filósofos a Filosofia é o momento do encontro do acordo e da harmonia entre as duas razões ou racionalidades Origem da palavra razão Na cultura da chamada sociedade ocidental a palavra razão originase de duas fontes a palavra latina ratio e a palavra grega logos Essas duas palavras são substantivos derivados de dois verbos que têm um sentido muito parecido em latim e em grego Logos vem do verbo legein que quer dizer contar reunir juntar calcular Ratio vem do verbo reor que quer dizer contar reunir medir juntar separar calcular Que fazemos quando medimos juntamos separamos contamos e calculamos Pensamos de modo ordenado E de que meios usamos para essas ações Usamos palavras mesmo quando usamos números estamos usando palavras sobretudo os gregos e os romanos que usavam letras para indicar números Por isso logos ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente com medida e proporção com clareza e de modo compreensível para outros Assim na origem razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimirse correta e claramente para pensar e dizer as coisas tais como são A razão é uma maneira de organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível É também a confiança de que podemos ordenar e organizar as coisas porque são organizáveis ordenáveis compreensíveis nelas mesmas e por elas mesmas isto é as próprias coisas são racionais Marilena Chauí 77 Capítulo 2 A atividade racional A atividade racional e suas modalidades A Filosofia distingue duas grandes modalidades da atividade racional realizadas pela razão subjetiva ou pelo sujeito do conhecimento a intuição ou razão intuitiva e o raciocínio ou razão discursiva A atividade racional discursiva como a própria palavra indica discorre percorre uma realidade ou um objeto para chegar a conhecêlo isto é realiza vários atos de conhecimento até conseguir captálo A razão discursiva ou o pensamento discursivo chega ao objeto passando por etapas sucessivas de conhecimento realizando esforços sucessivos de aproximação para chegar ao conceito ou à definição do objeto A razão intuitiva ou intuição ao contrário consiste num único ato do espírito que de uma só vez capta por inteiro e completamente o objeto Em latim intuitos significa ver A intuição é uma visão direta e imediata do objeto do conhecimento um contato direto e imediato com ele sem necessidade de provas ou demonstrações para saber o que conhece A intuição A intuição é uma compreensão global e instantânea de uma verdade de um objeto de um fato Nela de uma só vez a razão capta todas as relações que constituem a realidade e a verdade da coisa intuída É um ato intelectual de discernimento e compreensão como por exemplo tem um médico quando faz um diagnóstico e apreende de uma só vez a doença sua causa e o modo de tratá la Os psicólogos se referem à intuição usando o termo insight para referiremse ao momento em que temos uma compreensão total direta e imediata de alguma coisa ou o momento em que percebemos num só lance um caminho para a solução de um problema científico filosófico ou vital Um exemplo de intuição pode ser encontrado no romance de Guimarães Rosa Grande Sertão Veredas Riobaldo e Diadorim são dois jagunços ligados pela mais profunda amizade e lealdade companheiros de lutas e cumpridores de uma vingança de sangue contra os assassinos da família de Diadorim Riobaldo porém sentese cheio de angústia e atormentado pois seus sentimentos por Diadorim são confusos como se entre eles houvesse muito mais do que a amizade Diadorim é assassinado Quando o corpo é trazido para ser preparado para o funeral Riobaldo descobre que Diadorim era mulher De uma só vez num Convite à Filosofia 78 só lance Riobaldo compreende tudo o que sentia todos os fatos acontecidos entre eles todas as conversas que haviam tido todos os gestos estranhos de Diadorim e compreende instantaneamente a verdade estivera apaixonado por Diadorim A razão intuitiva pode ser de dois tipos intuição sensível ou empírica e intuição intelectual 1 A intuição sensível ou empírica do grego empeiria experiência sensorial é o conhecimento que temos a todo o momento de nossa vida Assim com um só olhar ou num só ato de visão percebemos uma casa um homem uma mulher uma flor uma mesa Num só ato por exemplo capto que isto é uma flor vejo sua cor e suas pétalas sinto a maciez de sua textura aspiro seu perfume tenhoa por inteiro e de uma só vez diante de mim A intuição empírica é o conhecimento direto e imediato das qualidades sensíveis do objeto externo cores sabores odores paladares texturas dimensões distâncias É também o conhecimento direto e imediato de estados internos ou mentais lembranças desejos sentimentos imagens A intuição sensível ou empírica é psicológica isto é referese aos estados do sujeito do conhecimento enquanto um ser corporal e psíquico individual sensações lembranças imagens sentimentos desejos e percepções são exclusivamente pessoais Assim a marca da intuição empírica é sua singularidade por um lado está ligada à singularidade do objeto intuído ao isto oferecido à sensação e à percepção e por outro está ligada à singularidade do sujeito que intui aos meus estados psíquicos às minhas experiências A intuição empírica não capta o objeto em sua universalidade e a experiência intuitiva não é transferível para um outro objeto Riobaldo teve uma intuição empírica 2 A intuição intelectual difere da sensível justamente por sua universalidade e necessidade Quando penso Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo sei sem necessidade de provas ou demonstrações que isto é verdade Ou seja tenho conhecimento intuitivo do princípio da contradição Quando digo O amarelo é diferente do azul sei sem necessidade de provas e demonstrações que há diferenças Vejo na intuição sensível a cor amarela e a cor azul mas vejo na intuição intelectual a diferença entre cores Quando afirmo O todo é maior do que as partes sei sem necessidade de provas e demonstrações que isto é verdade porque intuo uma forma necessária de relação entre as coisas A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da razão identidade contradição terceiro excluído razão suficiente das relações necessárias entre os seres ou entre as idéias da verdade de uma idéia ou de um ser Marilena Chauí 79 Na história da Filosofia o exemplo mais célebre de intuição intelectual é conhecido como o cogito cartesiano isto é a afirmação de Descartes Penso cogito logo existo De fato quando penso sei que estou pensando e não é preciso provar ou demonstrar isso mesmo porque provar e demonstrar é pensar e para demonstrar e provar é preciso primeiro pensar e saber que se pensa Quando digo Penso logo existo estou simplesmente afirmando racionalmente que sei que sou um ser pensante ou que existo pensando sem necessidade de provas e demonstrações A intuição capta num único ato intelectual a verdade do pensamento pensando em si mesmo Um outro exemplo de intuição intelectual é oferecido pela fenomenologia criada por Husserl Tratase da intuição intelectual de essências ou significações Toda consciência diz Husserl é sempre consciência de ou consciência de alguma coisa isto é toda consciência é um ato pelo qual visamos um objeto um fato uma idéia A consciência representa os objetos os fatos as pessoas Cada representação pode ser obtida por um passeio ou um percurso que nossa consciência faz à volta de um objeto Essas várias representações são psicológicas e individuais e o objeto delas o representado também é individual ou singular Por exemplo diz Husserl quando quero pensar em alguém como Napoleão posso representálo ganhando a batalha de Waterloo prisioneiro na ilha de Elba e na ilha de Santa Helena montado em seu cavalo branco usando o chapéu de três pontas e com a mão direita enfiada na túnica Cada uma dessas representações é singular por um lado cada uma delas é um ato psicológico singular que eu realizo um ato de lembrar um ato de ver a imagem de Napoleão num quadro um ato de ler sobre ele num livro etc e por outro cada uma delas possui um representante singular Napoleão a cavalo Napoleão na batalha de Waterloo Napoleão fugindo de Elba etc No entanto embora sejam singulares e distintas umas das outras todas possuem o mesmo representado o mesmo significado a mesma significação ou a mesma essência Napoleão Quando colocamos de lado a singularidade psicológica de cada uma de nossas representações e a singularidade de cada um dos representantes ficando apenas com a idéia ou significação Napoleão como uma universalidade ou generalidade temos uma intuição da essência Napoleão A intuição da essência é a apreensão intelectual imediata e direta de uma significação deixando de lado as particularidades dos representantes que indicam empiricamente a significação É assim que tenho intuição intelectual da essência ou significação triângulo imaginação memória natureza cor diferença Europa pintura literatura tempo espaço coisa quantidade qualidade etc Intuímos idéias Convite à Filosofia 80 Falase também de uma intuição emotiva ou valorativa Tratase daquela intuição na qual juntamente com o sentido ou significação de alguma coisa captamos também seu valor isto é com a idéia intuímos também se a coisa ou essência é verdadeira ou falsa bela ou feia boa ou má justa ou injusta possível ou impossível etc Ou seja a intuição intelectual capta a essência do objeto o que ele é e a intuição emotiva ou valorativa capta essa essência pelo que o objeto vale A razão discursiva dedução indução e abdução A intuição pode ser o ponto de chegada a conclusão de um processo de conhecimento e pode também ser o ponto de partida de um processo cognitivo O processo de conhecimento seja o que chega a uma intuição seja o que parte dela constitui a razão discursiva ou o raciocínio Ao contrário da intuição o raciocínio é o conhecimento que exige provas e demonstrações e se realiza igualmente por meio de provas e demonstrações das verdades que estão sendo conhecidas ou investigadas Não é um ato intelectual mas são vários atos intelectuais internamente ligados ou conectados formando um processo de conhecimento Um caçador sai pela manhã em busca da caça Entra no mato e vê rastros choveu na véspera e há pegadas no chão pequenos galhos rasteiros estão quebrados o capim está amassado em vários pontos a carcaça de um bicho está à mostra indicando que foi devorado há poucas horas há um grande silêncio no ar não há canto de pássaros não há ruídos de pequenos animais O caçador supõe que haja uma onça por perto Ele pode então tomar duas atitudes Se por todas as experiências anteriores tiver certeza de que a onça está nas imediações pode prepararse para enfrentála sabe que caminhos evitar se não estiver em condições de caçála sabe que armadilhas armar se estiver pronto para capturála sabe como atraíla se quiser conservála viva e preservar a espécie O caçador pode ainda estar sem muita certeza se há ou não uma onça nos arredores e nesse caso tomará uma série de atitudes para verificar a presença ou ausência do felino pode percorrer trilhas que sabem serem próprias de onças pode examinar melhor as pegadas e o tipo de animal que foi devorado pode comparar em sua memória outras situações nas quais esteve presente uma onça etc Assim partindo de indícios o caçador raciocina para chegar a uma conclusão e tomar uma decisão Temos aí um exercício de raciocínio empírico e prático isto é um pensamento que visa a uma ação e que se assemelha à intuição sensível ou empírica isto é caracterizase pela singularidade ou individualidade do sujeito e do objeto do conhecimento Marilena Chauí 81 Quando porém um raciocínio se realiza em condições tais que a individualidade psicológica do sujeito e a singularidade do objeto são substituídas por critérios de generalidade e universalidade temos a dedução a indução e a abdução A dedução Dedução e indução são procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao ainda não conhecido isto é permitem que adquiramos conhecimentos novos graças a conhecimentos já adquiridos Por isso se costuma dizer que no raciocínio o intelecto opera seguindo cadeias de razões ou os nexos e conexões internos e necessários entre as idéias ou entre os fatos A dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida seja por intuição seja por uma demonstração anterior e que funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela Em outras palavras na dedução partese de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a todos os casos particulares iguais Por isso também se diz que a dedução vai do geral ao particular ou do universal ao individual O ponto de partida de uma dedução é ou uma idéia verdadeira ou uma teoria verdadeira Por exemplo se definirmos o triângulo como uma figura geométrica cujos lados somados são iguais à soma de dois ângulos retos dela deduziremos todas as propriedades de todos os triângulos possíveis Se tomarmos como ponto de partida as definições geométricas do ponto da linha da superfície e da figura deduziremos todas as figuras geométricas possíveis No caso de uma teoria a dedução permitirá que cada caso particular encontrado seja conhecido demonstrando que a ele se aplicam todas as leis regras e verdades da teoria Por exemplo estabelecida a verdade da teoria física de Newton sabemos que 1 as leis da física são relações dinâmicas de tipo mecânico isto é se referem à relações de força ação e reação entre corpos dotados de figura massa e grandeza 2 os fenômenos físicos ocorrem no espaço e no tempo 3 conhecidas as leis iniciais de um conjunto ou de um sistema de fenômenos poderemos prever os atos que ocorrerão nesse conjunto e nesse sistema Assim se eu quiser conhecer um ato físico particular por exemplo o que acontecerá com o corpo lançado no espaço por uma nave espacial ou qual a velocidade de um projétil lançado de um submarino para atingir um alvo num tempo determinado ou qual é o tempo e a velocidade para um certo astro realizar um movimento de rotação em torno de seu eixo aplicarei a esses casos particulares as leis gerais da física newtoniana e saberei com certeza a resposta verdadeira A dedução é um procedimento pelo qual um fato ou objeto particulares são conhecidos por inclusão numa teoria geral Convite à Filosofia 82 Costumase representar a dedução pela seguinte fórmula Todos os x são y definição ou teoria geral A é x caso particular Portanto A é y dedução Exemplos 1 Todos os homens x são mortais y Sócrates A é homem x Portanto Sócrates A é mortal y 2 Todos os metais x são bons condutores de eletricidade y O mercúrio A é um metal x Portanto o mercúrio A é bom condutor de eletricidade y A razão oferece regras especiais para realizar uma dedução e se tais regras não forem respeitadas a dedução será considerada falsa A indução A indução realiza um caminho exatamente contrário ao da dedução Com a indução partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral a definição geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares A definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso E a razão também oferece um conjunto de regras precisas para guiar a indução se tais regras não forem respeitadas a indução será considerada falsa Por exemplo colocamos água no fogo e observamos que ela ferve e se transforma em vapor colocamos leite no fogo e vemos também que ele se transforma em vapor colocamos vários tipos de líquidos no fogo e vemos sempre sua transformação em vapor Induzimos desses casos particulares que o fogo possui uma propriedade que produz a evaporação dos líquidos Essa propriedade é o calor Verificamos porém que os diferentes líquidos não evaporam sempre na mesma velocidade cada um deles portanto deve ter propriedades específicas que os fazem evaporar em velocidades diferentes Descobrimos porém que a velocidade da evaporação não é o fato a ser observado e sim quanto de calor cada líquido precisa para começar a evaporar Se considerarmos a água nosso padrão de medida diremos que ela ferve e começa a evaporar a partir de uma certa quantidade de calor e que é essa quantidade de calor que precisa ser conhecida Podemos a seguir verificar um fenômeno diferente Vemos que água e outros Marilena Chauí 83 líquidos colocados num refrigerador endurecem e se congelam mas que como no caso do vapor cada líquido se congela ou se solidifica em velocidades diferentes Procuramos novamente a causa dessa diferença de velocidade e descobrimos que depende tanto de certas propriedades de cada líquido quanto da quantidade de frio que há no refrigerador Percebemos finalmente que é essa quantidade que devemos procurar Com essas duas séries de fatos vapor e congelamento descobrimos que os estados dos líquidos variam evaporação e solidificação em decorrência da temperatura ambiente calor e frio e que cada líquido atinge o ponto de evaporação ou de solidificação em temperaturas diferentes Com esses dados podemos formular uma teoria da relação entre os estados da matéria sólido líquido e gasoso e as variações de temperatura estabelecendo uma relação necessária entre o estado de um corpo e a temperatura ambiente Chegamos por indução a uma teoria A dedução e a indução são conhecidas com o nome de inferência isto é concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida Na dedução dado X infiro concluo a b c d Na indução dados a b c d infiro concluo X A abdução O filósofo inglês Peirce considera que além da dedução e da indução a razão discursiva ou raciocínio também se realiza numa terceira modalidade de inferência embora esta não seja propriamente demonstrativa Essa terceira modalidade é chamada por ele de abdução A abdução é uma espécie de intuição mas que não se dá de uma só vez indo passo a passo para chegar a uma conclusão A abdução é a busca de uma conclusão pela interpretação racional de sinais de indícios de signos O exemplo mais simples oferecido por Peirce para explicar o que seja a abdução são os contos policiais o modo como os detetives vão coletando indícios ou sinais e formando uma teoria para o caso que investigam Segundo Peirce a abdução é a forma que a razão possui quando inicia o estudo de um novo campo científico que ainda não havia sido abordado Ela se aproxima da intuição do artista e da adivinhação do detetive que antes de iniciarem seus trabalhos só contam com alguns sinais que indicam pistas a seguir Os historiadores costumam usar a abdução De modo geral dizse que a indução e a abdução são procedimentos racionais que empregamos para a aquisição de conhecimentos enquanto a dedução é o procedimento racional que empregamos para verificar ou comprovar a verdade de um conhecimento já adquirido Realismo e idealismo Vimos anteriormente que muitos filósofos distinguem razão objetiva e razão subjetiva considerando a Filosofia o encontro e o acordo entre ambas Convite à Filosofia 84 Falar numa razão objetiva significa afirmar que a realidade externa ao nosso pensamento é racional em si e por si mesma e que podemos conhecêla justamente por ser racional Significa dizer por exemplo que o espaço e o tempo existem em si e por si mesmos que as relações matemáticas e de causaefeito existem nas próprias coisas que o acaso existe na própria realidade etc Chamase realismo a posição filosófica que afirma a existência objetiva ou em si da realidade externa como uma realidade racional em si e por si mesma e portanto que afirma a existência da razão objetiva Há filósofos porém que estabelecem uma diferença entre a realidade e o conhecimento racional que dela temos Dizem eles que embora a realidade externa exista em si e por si mesma só podemos conhecêla tal como nossas idéias a formulam e a organizam e não tal como ela seria em si mesma Não podemos saber nem dizer se a realidade exterior é racional em si pois só podemos saber e dizer que ela é racional para nós isto é por meio de nossas idéias Essa posição filosófica é conhecida com o nome de idealismo e afirma apenas a existência da razão subjetiva A razão subjetiva possui princípios e modalidades de conhecimento que são universais e necessários isto é válidos para todos os seres humanos em todos os tempos e lugares O que chamamos realidade portanto é apenas o que podemos conhecer por meio das idéias de nossa razão Razão organização e ética contribuições filosóficas para o Secretariado Executivo 1 Objetivo Refletir sobre a razão e suas atividades relacionandoas com a formação em Secretariado Executivo e o exercício profissional 2 Introdução Na sociedade contemporânea cada vez mais marcada pela velocidade das informações e pela complexidade das interações sociais profissionais de todas as áreas precisam desenvolver competências que unam clareza intelectual análise crítica e organização prática No caso específico do Secretariado Executivo tais competências tornamse fundamentais pois esse profissional atua diretamente na mediação entre diferentes setores de uma instituição organizando processos administrando comunicações e garantindo a fluidez das atividades administrativas Nesse contexto a Filosofia ao abordar o conceito de razão oferece um referencial teórico capaz de iluminar a prática profissional e ampliar a compreensão sobre o papel do secretário executivo no mundo do trabalho Marilena Chauí ao refletir sobre a razão ressalta que ela possui múltiplos significados tais como certeza lucidez motivo e causa Essa pluralidade mostra como a razão é central para a vida humana e consequentemente para a formação de qualquer profissional que precise tomar decisões organizar informações e atuar com discernimento Portanto o objetivo deste texto é refletir sobre a razão e suas atividades relacionandoas com a formação em Secretariado Executivo destacando como o exercício racional contribui para a prática cotidiana desse campo de atuação 3 Desenvolvimento A razão pode ser entendida como a capacidade humana de organizar o pensamento interpretar a realidade e agir de forma consciente Chauí recorda que desde sua origem etimológica a palavra remete à ideia de ordem e clareza logos ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente com medida e proporção com clareza e de modo compreensível para outros Essa característica de organização é essencial no campo do Secretariado Executivo uma vez que o profissional precisa estruturar processos administrativos redigir comunicações oficiais e articular informações entre diferentes setores Nesse sentido a razão aparece não apenas como uma faculdade abstrata mas como instrumento prático para tornar a atividade profissional mais eficiente e precisa Além disso a Filosofia distingue a razão objetiva da razão subjetiva A primeira referese à própria realidade que se organiza de modo racional em si mesma já a segunda diz respeito à capacidade do sujeito humano de pensar refletir e agir racionalmente Essa distinção é especialmente relevante na formação do secretário executivo que precisa lidar tanto com dados objetivos documentos prazos informações técnicas quanto com aspectos subjetivos como a comunicação interpessoal e a gestão de conflitos Assim o profissional atua como ponte entre o racional objetivo e o racional subjetivo transformando informações em conhecimento útil e operacional para a instituição Outro aspecto fundamental é a atividade racional em suas modalidades a intuição e o raciocínio A intuição conforme explica Chauí consiste em uma visão direta e imediata do objeto do conhecimento um contato direto e imediato com ele sem necessidade de provas ou demonstrações Essa modalidade é importante na prática secretarial pois frequentemente o profissional precisa tomar decisões rápidas interpretar situações de forma imediata e propor soluções diante de imprevistos Por outro lado o raciocínio ou razão discursiva implica um processo mais lento e analítico baseado em provas e demonstrações Essa forma de raciocínio é igualmente necessária sobretudo em processos de planejamento elaboração de relatórios e organização de estratégias de trabalho No interior da razão discursiva encontramse os métodos de dedução indução e abdução A dedução que parte de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a todos os casos particulares auxilia o secretário executivo a aplicar normas gerais em situações específicas como no cumprimento de regulamentos internos A indução que vai do particular ao geral permite construir entendimentos mais amplos a partir da observação de casos concretos sendo útil para relatórios de desempenho ou análise de processos administrativos Já a abdução entendida como a busca de uma conclusão pela interpretação racional de sinais de indícios de signos aproximase da prática cotidiana do secretário que muitas vezes precisa interpretar contextos institucionais e antecipar demandas a partir de pequenos sinais ou informações fragmentadas Assim ao articular razão e atividade racional com a prática do Secretariado Executivo percebese que o exercício profissional não se limita à execução mecânica de tarefas Pelo contrário exige discernimento análise crítica e clareza comunicativa elementos que derivam da capacidade racional Mais do que isso a Filosofia mostra que a razão é também uma consciência moral capaz de orientar à vontade e oferecer finalidades éticas à ação Isso reforça a importância de uma formação profissional que não se reduza à técnica mas que integre valores éticos e postura crítica no exercício das funções Portanto compreender a razão e suas atividades significa reconhecer que o trabalho do secretário executivo envolve tanto habilidades técnicas quanto competências intelectuais e morais A articulação entre intuição e raciocínio bem como entre razão subjetiva e objetiva revela que o profissional da área precisa estar preparado para lidar com diferentes dimensões da realidade unindo organização prática clareza intelectual e responsabilidade ética 4 Conclusão Retomando o objetivo proposto este texto buscou refletir sobre a razão e suas atividades relacionandoas com a formação em Secretariado Executivo A análise mostrou que a razão compreendida em seus múltiplos significados certeza lucidez motivo e causa é um instrumento fundamental para a prática profissional Suas modalidades intuição e raciocínio oferecem recursos complementares para lidar tanto com situações imediatas quanto com processos mais analíticos e planejados Já os procedimentos da razão discursiva como dedução indução e abdução demonstram como a atividade racional se manifesta em práticas concretas do cotidiano secretarial Concluise portanto que a formação do secretário executivo deve integrar os fundamentos da razão como forma de ampliar a capacidade de análise crítica de organização e de mediação Mais do que um executor de tarefas esse profissional se revela como agente racional capaz de ordenar informações promover clareza nas comunicações e atuar de maneira ética e estratégica Assim a Filosofia ao iluminar a atividade racional contribui não apenas para a reflexão acadêmica mas também para a prática concreta reforçando a importância de formar profissionais que unam técnica pensamento crítico e responsabilidade moral
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VERBOS PARA A ELABORAÇÃO DOS OBJETIVOS Na elaboração dos objetivos sejam gerais ou específicos as escolhas adequadas do verbo é de crucial importância Ele é o ponto chave para exprimir a intenção de um educador Na formulação de objetivos específicos devemos evitar o emprego de verbos que se prestem a muitas interpretações Apresentamos a seguir uma lista de verbos para objetivos gerais e específicos nos domínios psicomotor afetivo cognitivo e social VOCABULÁRIOS ÚTEIS PARA EXPRESSAR OBJETIVO Acentuar Adicionar Agrupar Analisar Andar Anotar Aplicar Apresentar Arbitration Argumentar Armar Arremessar Assinalar Atirar Atribuir Calcular Cantar Caracterizar Circundar Citar Classificar Colaborar Colar Coletar Colorir Combinar Comentar Comparar Competir Completar Compor Compor Contar Contribuir Converter Cooperar Correr Costurar Criticar Declarar Decompor Deduzir Definir Demonstrar Descobrir Descrever Desenhar Destacar Determinar Discriminar Discutir Dividir Dramatizar Elaborar Encenar Enlaçar Enumerar Esboçar Escrever Especificar Esquematizar Estabelecer Estabel Comparação Executar Formular Hipótese Generalizar Grafar Grifar Identificar Ilustrar Indicar Interpretar Interpretar Inventar Juntar Justificar Lançar Ler Listar Localizar Manipular Marchar Medir Modelar Montar Multiplicar Narrar Nomear Operar Organizar Participar Pegar Pintar Planejar Pontuar Preparar Realizar Experiência Rebater Receber Reconhecer Recortar Redigir Reduzir Registrar Relacionar Relatar Repartir Repres Graficamente Reproduzir Resolver Responder Responder Resumir Reunir Riscar Saltar Saltitar Separar Simplificar Sintetizar Solucionar Sublinhars Subtrair Sumariz Tabular Tocar Tocar Traçar Comunicarse Concluir Confeccionar Construir Construir Construir Executar Vocalmente Exemplificar Expressar Extrair Falar Flexionar Pronunciar Propor Provar Pular Racionalizar Reagrupar Traduzir Transformar Transformar Usar Verbalizar Verificar VERBOS QUE PRESTAM A MUITAS INTERPRETAÇÕES Abrandar Absorver Acrescentar Adaptar Adquirir Aperfeiçoar Apreciar Aprender melhor Aprimorar Aproveitar Capacitar Carrear Compreender Conhecer Conscientizarse Cooperar Depreender Desenvolver Desfrutar Entender Evidenciar Facilitar Familiarizarse Fixar Jogar bem Melhorar Memorizar Pensar Perceber Praticar bem Saber Sociabilizar Ter idéia de Ter inclinação para VERBOS QUE PRESTAM A POUCAS INTERPRETAÇÕES AbaixarSe Abrir Acabar Acampar Acompanhar C Olhos Adicionar Adicionar AgacharSe Agarrar Agarrar AgarrarSe Ajoelhar Ajoelhar Ajudar Alternar Analisar Anotar Apalpar Aplicar Apoiar Apontar Definir DeitarSe Demonstrar Derrubar Derrubar Descrever Descrever Deslizar Deslizar DeslocarSe DeslocarSe DesobrigarSe Diferenciar Dirigir Discutir Distinguir Dividir Dizer Dobrar Dramatizar Driblar Ilustrar Imitar Imitar Impulsionar Impulsionar Inclinar Inclinar Inclinarse Inclinarse Indicar Iniciar Inspirar Integrar Intercalar Interpretar Investigar Ir Jogar Julgar Juntar Justificar Puxar Quadrupedear Qualificar Questionar Quicar Rastejar Reagrupar Receber Uma Bola Recitar Reconhecer Redigir Reformular Relacionar Relaxar Remar Repetir Resolver Responder Rever Revezar ApresentarSe Argüir ArquearSe ArrastarSe Arrolar Atar Aumentar Automatizar Autorizar Balançar Bater Bloquear Boiar Bola Cabecear Cair Cantar Chutar Citar Classificar Colar Colocar Colorir Combinar Comparar Compartilhar Competir Completar Compor Computar Concluir Conduzir Uma Construir Contar Contrastar Converter Correr Cortar Criar Curvar Dar Defender ElevarSe Empregar Empurrar Encestar Encolher EncolherSe Engatar Engatinhar Enumerar EquilibrarSe Escorregar Escrever Escutar EsgueirarSe Especificar Esquematizar Estender Esticar EsticarSe Examinar Executar Expirar Explanar Explicar Explorar Expor Expor Expressar Falar Fazer Fechar Flexionar Flutuar Formar Frear Galopar Ganhar Generalizar Girar Golpear Grifar Guardar Identificar Lançar LançarSe Ler Liderar Listar Localizar Manipular Marcar Marchar Medir Mergulhar Modificar Mover MovimentarSe Mudar Multiplicar Nadar Nivelar Nomear Numerar Obedecer Observar Obter Olhar Ordenar Organizar Ouvir Parar Passear Pedalar Percorrer Pesar Pesquisar Pintar Planejar Pôr Predizer Prender Preparar Prestar Produzir Pular Puxar Rolar Sacar Saltar Seguir Seguir c os Olhos Selecionar Separar Seriar Serpentear Sintetizar Soletrar Solucionar Subdividir Subir Sublinhar Submeter Subtrair Sugerir Suportar SuspenderSe Sustentar Tirar Tocar Tomar Trabalhar Tracionar Traduzir Transformar Transpor Trazer Trepar Unir Unir Usar Usar Utilizar Utilizar Valsar Valsar Verificar Ziguezaguear VERBOS ADEQUADOS PARA OBJETIVOS IMEDIATOS QUE TENDEM A INDICAR DETERMINADOS DOMÍNIOS DOMINIO PSICOMOTOR Automatizar Colocar Correr Cortar Demonstrar DeslocarSe Desempenhar Dramatizar Driblar EquilibrarSe Explorar Jogar Quicar Realizar Percorrer Saltar DOMINIO COGNITIVO Analisar Apontar Aplicar Avaliar Citar Combinar Comparar Classificar Criar Distinguir Definir Dizer Explicar Explorar Enumerar Indicar Selecionar Ordenar Revisar Identificar Compor DOMINIO SOCIAL Aceitar Ajudar Aplaudir Compartilhar Competir ComunicarSe Cooperar Contribuir Convidar Discutir Elogiar Escolher Interagir Permitir Participar Saudar DOMINIO AFETIVO Agir Com Desempenhar Com Demonstrar CLASSIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS GERAIS 1 GERAIS COGNITIVOS Administrar Afirmar Analisar Aprender Aplicar Apreciar Aprimorar Avaliar Calcular Compreender Constar Construir Delegar Demonstrar Distinguir Entender Enumerar Escrever Fazer Formular Identificar Integrar Interpretar Propor Recitar Resolver Saber Transferir 2 GERAIS AFETIVOS Aceitar Acompanhar Apreciar Completar Cooperar Demonstrar Elaborar Escutar Gostar Manter Mostrar Obedecer Oferecer Participar Reconhecer Ter 3 GERAIS PSICOMOTORES Coser Criar Demonstrar Desenhar Escrever Executar Montar Operar Reparar VERBOS ADEQUADOS PARA EXPRIMIR OBJETIVOS GERAIS 1 DOMÍNIO COGNITIVO Analisar Aprender Aplicar Avaliar Compreender Conhecer Construir Entender Formular Identificar Interpretar Propor Resolver Sintetizar Transferir 2 DOMINIO AFETIVO Aceitar Apreciar Demonstrar Gostar Conscientizar Valorizar 3 DOMINIO SOCIAL Aceitar Cooperar Demonstrar Gostar Participar 4 DOMINIO PSICOMOTOR Adquirir Aperfeiçoar Desenvolver Demonstrar OUTROS VERBOS PRÓPRIOS PARA EXPRIMIR OBJETIVOS GERAIS Adquirir Aperfeiçoar Aprender melhor Colaborar Compreender Conhecer Cooperar Crer Desenvolver Disputar Entender Julgar Saber CLASSIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS 01 ESPECÍFICOS COGNITIVOS Aplicar Autorizar Avaliar Calcular Categorizar Citar Classificar Combinar Compilar Comparar Compor Concluir Confirmar Contrastar Converter Criar Criticar Defender Definir Demonstrar Descrever Diferenciar Discriminar Distinguir Dizer Enumerar Enunciar Escolher Esboçar Escrever Especificar Exemplificar Explicar ExpressarSe Generalizar Identificar Ilustrar Indicar Inferir Interferir Interpretar Inventar Justificar Listar Manipular Modificar Mostrar Obter Operar Organizar Preparar Prover Produzir Reconstruir Redigir Reescrever Relacionar Relatar Reproduzir Resolver Resumir Reorganizar Rever Selecionar Separar Se Capaz Subdividir Sublimar Sumarizar Utilizar 02 ESPECIFICOS AFETIVOS Aderir Ajudar Alistar Alterar Apresentar Arranjar Assistir Atuar Combinar Comparar Completar ConformarSe Convidar Dar Defender Descrever Diferenciar Discriminar Discutir Dizer Enumerar Escolher Escrever Executar Estudar Explicar Felicitar Formar Generalizar Identificar Iniciar Influenciar Integrar Justificar Ler Localizar Manter Militar Modificar Mostrar Nomear Ordenar Organizar Perguntar Praticar Preparar Propor Qualificar Realizar Recitar Relacionar Relatar Repartir Replicar Resolver Responder Rever Salientar Seguir Selecionar Sintetizar Trabalhar Usar Verificar 03 ESPECIFICOS PSICOMOTORES Afiar Aquecer Calibrar Colocar Compor Consertar Construir Criar Desligar Edificar Emendar Enroscar Expressarse Fixar Furar Juntar Ligar Limpar Manipular Martelar Misturar Ouvir Pesar Prender Pintar Redigir Seguir Segurar Serrar Usar Utilizar VERBOS ADEQUADOS PARA EXPRIMIR OBJETIVOS ESPECIFICOS COMPORTAMENTAIS E IMEDIATOS 1Domínio Cognitivo Aplicar Confirmar Enumerar Inferir Reescrever Avaliar Contrastar Enunciar Interpretar Relacionar Calcular Converter Escrever Inventar Relatar Categorizar Criar Especificar Justificar Reproduzir Citar Criticar Exemplificar Listar Resolver Classificar Defender Explicar Modificar Resumir Combinar Definir Exprimir Organizar Reorganizar Compilar Descrever Generalizar Preparar Selecionar Comparar Diferenciar Identificador Produzir Separar Compor Discriminar Ilustrar Reconstruir Subdividir concluir distinguir Indicar Redigir Utilizar 2 Domínio Afetivo Assumir Alterar Escolher Manter Organizar Atuar Conformarse Formar Modificar Responder apresentar Defender Reconhecer mostrar Seguir demonstrar Prestar atenção Trabalhar 3 Domínio Social Aderir Convidar Formar Mostrar Seguir Ajudar Dar Influenciar Relacionarse Aplaudir Escolher Integrar Repartir Trabalhar Assumir felicitar manter responder atuar 4Domínio Psicomotor Colocar Executar Juntar Prender Realizar Demonstrar Fixar Ligar Segurar Usar efetuar iniciar manipular trabalhar utilizar VERBOS PRÓPRIOS PARA EXPRIMIR OBJETIVOS ESPECÍFICOS Acentuar Converter Esquematizar Medir Relatar Adicionar Cooperar Estabelecer Modelar Repartir Afrutar Cooperar Executar Montar Reproduzir Anotar Correr Experiência Multiplicar Resolver Argumentar Costurar Expressar Narrar Responder Armar Criticar Extrair Nomear Resumir Atribuir Declamr Falar Operar Reunir Calcular Deduzir Flexionar Formular Participar Riscarr Cantar Definir Formular Pegar Saltar Caracterizar Demonstrar Generalizar Pintar Saltitar Circular Descrever Grafar Planejar Separar Citar Desenhar Grifar Pontuar Simplificar Classificar Destacar Hipótese Preparar Sintetizar Colaborar Destacar Identificar Pronunciar Solucionar Colar Determinar Ilustrar Propor Sublinhars Coletar Discutir Indicar Reagrupar Tabular Colorir Dividir Inventar Realizar Tocar Comentar Dramatizar Juntar Rebater Traçar Comparação Elaborar Justificar Recordar Traduzir Comparar Encenar Lançar Recordar Transformar Competir Enumerar Ler Redigir Usar Completar Esboçar Listar Reduzir Verbalizar Construir Escrever Localizar Relacionar Verificar Contribuir Especificar Manipular OUTROS VERBOS DE AÇÃO Abrir Descrever Ir Puxar Acabar Desenhar Jogar Questionar Achar Dirigir Juntar Reagrupar Adicionar Discriminar Justificar Recitar Ajudar Dividir Ler Reconhecer Anotar Dizer Liderar Recordar Apoiar Dizer Listar Repetir Apontar Empregar Marcar Resolver Apontar Empurrar Marchar Reunir Arguir Envolver Medir Saltar Arrolar Escolher Medir Seguir Aumentar Escrever Modificar Selecionar Bater Escutar Mudar Soletrar Calcular Especificar Multiplicar Somar Chutar Esquematizar Nivelar Suar Colar Estabelecer Nomear Sublinhar Colocar Etc Observar Submeter Combinar Evidenciar Obter Subtrair Compartilhar Examinar Ordenar Suportar Completar Examinar Parar Tirar Compor Expor Pesar Tocar Computar Fazer Pintar Tomar Construir Fixar Planejar Traduzir Construir Ganhar Por Transformar Contar Guardar Preencher Trazer Criar Ilustrar Preparar Dar Indicar Prestar Definir Indicar Produzir Demonstrar Investigar Provar Marilena Chaui Convite à Filosofia Ed Ática São Paulo 2000 Convite à Filosofia 2 SUMÁRIO Introdução 01 Para que Filosofia Unidade 1 A Filosofia 02 Capitulo 1 A origem da Filosofia 03 Capítulo 2 O nascimento da Filosofia 04 Capítulo 3 Campos de investigação da Filosofia 05 Capítulo 4 Principais períodos da história da Filosofia 06 Capítulo 5 Aspectos da Filosofia contemporânea Unidade 2 A razão 07 Capítulo 1 A Razão 08 Capítulo 2 A atividade racional 09 Capítulo 3 A Razão inata ou adquirida 10 Capítulo 4 Os problemas do inatismo e do empirismo 11 Capítulo 5 A razão na Filosofia contemporânea Unidade 3 A verdade 12 Capítulo 1 Ignorância e verdade 13 Capítulo 2 Buscando a verdade 14 Capítulo 3 As concepções da verdade Unidade 4 O conhecimento 15 Capítulo 1 A preocupação com o conhecimento 16 Capítulo 2 A percepção Marilena Chauí 3 17 Capítulo 3 A memória 18 Capítulo 4 A imaginação 19 Capítulo 5 A linguagem 20 Capítulo 6 O pensamento 21 Capítulo 7 A consciência pode conhecer tudo Unidade 5 A lógica 22 Capítulo 1 O nascimento da lógica 23 Capítulo 2 Elementos de lógica 24 Capítulo 3 A lógica após Aristóteles 25 Capítulo 4 Lógica e Dialética Unidade 6 A metafísica 26 As indagações metafísicas 27 Capítulo 1 O nascimento da metafísica 28 Capítulo 2 A metafísica de Aristóteles 29 Capítulo 3 As aventuras da metafísica 30 Capítulo 4 A ontologia contemporânea Unidade 7 As ciências 31 Capítulo 1 A atitude científica 32 Capítulo 2 A ciência na História 33 Capítulo 3 As ciências da Natureza 34 Capítulo 4 As ciências humanas Convite à Filosofia 68 Unidade 2 A Razão Marilena Chauí 69 Capítulo 1 A Razão Os vários sentidos da palavra razão Nos capítulos precedentes insistimos muito na afirmação de que a Filosofia se realiza como conhecimento racional da realidade natural e cultural das coisas e dos seres humanos Dissemos que ela confia na razão e que hoje ela também desconfia da razão Mas até agora não dissemos o que é a razão apesar de ser ela tão antiga quanto a Filosofia Em nossa vida cotidiana usamos a palavra razão em muitos sentidos Dizemos por exemplo eu estou com a razão ou ele não tem razão para significar que nos sentimos seguros de alguma coisa ou que sabemos com certeza alguma coisa Também dizemos que num momento de fúria ou de desespero alguém perde a razão como se a razão fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter possuir e perder ou recuperar como na frase Agora ela está lúcida recuperou a razão Falamos também frases como Se você me disser suas razões sou capaz de fazer o que você me pede querendo dizer com isso que queremos ouvir os motivos que alguém tem para querer ou fazer alguma coisa Fazemos perguntas como Qual a razão disso querendo saber qual a causa de alguma coisa e nesse caso a razão parece ser alguma propriedade que as próprias coisas teriam já que teriam uma causa Assim usamos razão para nos referirmos a motivos de alguém e também para nos referirmos a causas de alguma coisa de modo que tanto nós quanto as coisas parecemos dotados de razão mas em sentido diferente Esses poucos exemplos já nos mostram quantos sentidos diferentes a palavra razão possui certeza lucidez motivo causa E todos esses sentidos encontram se presentes na Filosofia Por identificar razão e certeza a Filosofia afirma que a verdade é racional por identificar razão e lucidez não ficar ou não estar louco a Filosofia chama nossa razão de luz e luz natural por identificar razão e motivo por considerar que Convite à Filosofia 70 sempre agimos e falamos movidos por motivos a Filosofia afirma que somos seres racionais e que nossa vontade é racional por identificar razão e causa e por julgar que a realidade opera de acordo com relações causais a Filosofia afirma que a realidade é racional É muito conhecida a célebre frase de Pascal filósofo francês do século XVII O coração tem razões que a razão desconhece Nessa frase as palavras razões e razão não têm o mesmo significado indicando coisas diversas Razões são os motivos do coração enquanto razão é algo diferente de coração este é o nome que damos para as emoções e paixões enquanto razão é o nome que damos à consciência intelectual e moral Ao dizer que o coração tem suas próprias razões Pascal está afirmando que as emoções os sentimentos ou as paixões são causas de muito do que fazemos dizemos queremos e pensamos Ao dizer que a razão desconhece as razões do coração Pascal está afirmando que a consciência intelectual e moral é diferente das paixões e dos sentimentos e que ela é capaz de uma atividade própria não motivada e causada pelas emoções mas possuindo seus motivos ou suas próprias razões Assim a frase de Pascal pode ser traduzida da seguinte maneira Nossa vida emocional possui causas e motivos as razões do coração que são as paixões ou os sentimentos e é diferente de nossa atividade consciente seja como atividade intelectual seja como atividade moral A consciência é a razão Coração e razão paixão e consciência intelectual ou moral são diferentes Se alguém perde a razão é porque está sendo arrastado pelas razões do coração Se alguém recupera a razão é porque o conhecimento intelectual e a consciência moral se tornaram mais fortes do que as paixões A razão enquanto consciência moral é a vontade racional livre que não se deixa dominar pelos impulsos passionais mas realiza as ações morais como atos de virtude e de dever ditados pela inteligência ou pelo intelecto Além da frase de Pascal também ouvimos outras que elogiam as ciências dizendo que elas manifestam o progresso da razão Aqui a razão é colocada como capacidade puramente intelectual para conseguir o conhecimento verdadeiro da Natureza da sociedade da História e isto é considerado algo bom positivo um progresso Por ser considerado um progresso o conhecimento científico é visto como se realizando no tempo e como dotado de continuidade de tal modo que a razão é concebida como temporal também isto é como capaz de aumentar seus conteúdos e suas capacidades através dos tempos Algumas vezes ouvimos um professor dizer a outro Fulano trouxe um trabalho irracional era um caos uma confusão Incompreensível Já o trabalho de beltrano era uma beleza claro compreensível racional Aqui a razão ou racional Marilena Chauí 71 significa clareza das idéias ordem resultado de esforço intelectual ou da inteligência seguindo normas e regras de pensamento e de linguagem Todos esses sentidos constituem a nossa idéia de razão Nós a consideramos a consciência moral que observa as paixões orienta a vontade e oferece finalidades éticas para a ação Nós a vemos como atividade intelectual de conhecimento da realidade natural social psicológica histórica Nós a concebemos segundo o ideal da clareza da ordenação e do rigor e precisão dos pensamentos e das palavras Para muitos filósofos porém a razão não é apenas a capacidade moral e intelectual dos seres humanos mas também uma propriedade ou qualidade primordial das próprias coisas existindo na própria realidade Para esses filósofos nossa razão pode conhecer a realidade Natureza sociedade História porque ela é racional em si mesma Falase portanto em razão objetiva a realidade é racional em si mesma e em razão subjetiva a razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres humanos A razão objetiva é a afirmação de que o objeto do conhecimento ou a realidade é racional a razão subjetiva é a afirmação de que o sujeito do conhecimento e da ação é racional Para muitos filósofos a Filosofia é o momento do encontro do acordo e da harmonia entre as duas razões ou racionalidades Origem da palavra razão Na cultura da chamada sociedade ocidental a palavra razão originase de duas fontes a palavra latina ratio e a palavra grega logos Essas duas palavras são substantivos derivados de dois verbos que têm um sentido muito parecido em latim e em grego Logos vem do verbo legein que quer dizer contar reunir juntar calcular Ratio vem do verbo reor que quer dizer contar reunir medir juntar separar calcular Que fazemos quando medimos juntamos separamos contamos e calculamos Pensamos de modo ordenado E de que meios usamos para essas ações Usamos palavras mesmo quando usamos números estamos usando palavras sobretudo os gregos e os romanos que usavam letras para indicar números Por isso logos ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente com medida e proporção com clareza e de modo compreensível para outros Assim na origem razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimirse correta e claramente para pensar e dizer as coisas tais como são A razão é uma maneira de organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível É também a confiança de que podemos ordenar e organizar as coisas porque são organizáveis ordenáveis compreensíveis nelas mesmas e por elas mesmas isto é as próprias coisas são racionais Marilena Chauí 77 Capítulo 2 A atividade racional A atividade racional e suas modalidades A Filosofia distingue duas grandes modalidades da atividade racional realizadas pela razão subjetiva ou pelo sujeito do conhecimento a intuição ou razão intuitiva e o raciocínio ou razão discursiva A atividade racional discursiva como a própria palavra indica discorre percorre uma realidade ou um objeto para chegar a conhecêlo isto é realiza vários atos de conhecimento até conseguir captálo A razão discursiva ou o pensamento discursivo chega ao objeto passando por etapas sucessivas de conhecimento realizando esforços sucessivos de aproximação para chegar ao conceito ou à definição do objeto A razão intuitiva ou intuição ao contrário consiste num único ato do espírito que de uma só vez capta por inteiro e completamente o objeto Em latim intuitos significa ver A intuição é uma visão direta e imediata do objeto do conhecimento um contato direto e imediato com ele sem necessidade de provas ou demonstrações para saber o que conhece A intuição A intuição é uma compreensão global e instantânea de uma verdade de um objeto de um fato Nela de uma só vez a razão capta todas as relações que constituem a realidade e a verdade da coisa intuída É um ato intelectual de discernimento e compreensão como por exemplo tem um médico quando faz um diagnóstico e apreende de uma só vez a doença sua causa e o modo de tratá la Os psicólogos se referem à intuição usando o termo insight para referiremse ao momento em que temos uma compreensão total direta e imediata de alguma coisa ou o momento em que percebemos num só lance um caminho para a solução de um problema científico filosófico ou vital Um exemplo de intuição pode ser encontrado no romance de Guimarães Rosa Grande Sertão Veredas Riobaldo e Diadorim são dois jagunços ligados pela mais profunda amizade e lealdade companheiros de lutas e cumpridores de uma vingança de sangue contra os assassinos da família de Diadorim Riobaldo porém sentese cheio de angústia e atormentado pois seus sentimentos por Diadorim são confusos como se entre eles houvesse muito mais do que a amizade Diadorim é assassinado Quando o corpo é trazido para ser preparado para o funeral Riobaldo descobre que Diadorim era mulher De uma só vez num Convite à Filosofia 78 só lance Riobaldo compreende tudo o que sentia todos os fatos acontecidos entre eles todas as conversas que haviam tido todos os gestos estranhos de Diadorim e compreende instantaneamente a verdade estivera apaixonado por Diadorim A razão intuitiva pode ser de dois tipos intuição sensível ou empírica e intuição intelectual 1 A intuição sensível ou empírica do grego empeiria experiência sensorial é o conhecimento que temos a todo o momento de nossa vida Assim com um só olhar ou num só ato de visão percebemos uma casa um homem uma mulher uma flor uma mesa Num só ato por exemplo capto que isto é uma flor vejo sua cor e suas pétalas sinto a maciez de sua textura aspiro seu perfume tenhoa por inteiro e de uma só vez diante de mim A intuição empírica é o conhecimento direto e imediato das qualidades sensíveis do objeto externo cores sabores odores paladares texturas dimensões distâncias É também o conhecimento direto e imediato de estados internos ou mentais lembranças desejos sentimentos imagens A intuição sensível ou empírica é psicológica isto é referese aos estados do sujeito do conhecimento enquanto um ser corporal e psíquico individual sensações lembranças imagens sentimentos desejos e percepções são exclusivamente pessoais Assim a marca da intuição empírica é sua singularidade por um lado está ligada à singularidade do objeto intuído ao isto oferecido à sensação e à percepção e por outro está ligada à singularidade do sujeito que intui aos meus estados psíquicos às minhas experiências A intuição empírica não capta o objeto em sua universalidade e a experiência intuitiva não é transferível para um outro objeto Riobaldo teve uma intuição empírica 2 A intuição intelectual difere da sensível justamente por sua universalidade e necessidade Quando penso Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo sei sem necessidade de provas ou demonstrações que isto é verdade Ou seja tenho conhecimento intuitivo do princípio da contradição Quando digo O amarelo é diferente do azul sei sem necessidade de provas e demonstrações que há diferenças Vejo na intuição sensível a cor amarela e a cor azul mas vejo na intuição intelectual a diferença entre cores Quando afirmo O todo é maior do que as partes sei sem necessidade de provas e demonstrações que isto é verdade porque intuo uma forma necessária de relação entre as coisas A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da razão identidade contradição terceiro excluído razão suficiente das relações necessárias entre os seres ou entre as idéias da verdade de uma idéia ou de um ser Marilena Chauí 79 Na história da Filosofia o exemplo mais célebre de intuição intelectual é conhecido como o cogito cartesiano isto é a afirmação de Descartes Penso cogito logo existo De fato quando penso sei que estou pensando e não é preciso provar ou demonstrar isso mesmo porque provar e demonstrar é pensar e para demonstrar e provar é preciso primeiro pensar e saber que se pensa Quando digo Penso logo existo estou simplesmente afirmando racionalmente que sei que sou um ser pensante ou que existo pensando sem necessidade de provas e demonstrações A intuição capta num único ato intelectual a verdade do pensamento pensando em si mesmo Um outro exemplo de intuição intelectual é oferecido pela fenomenologia criada por Husserl Tratase da intuição intelectual de essências ou significações Toda consciência diz Husserl é sempre consciência de ou consciência de alguma coisa isto é toda consciência é um ato pelo qual visamos um objeto um fato uma idéia A consciência representa os objetos os fatos as pessoas Cada representação pode ser obtida por um passeio ou um percurso que nossa consciência faz à volta de um objeto Essas várias representações são psicológicas e individuais e o objeto delas o representado também é individual ou singular Por exemplo diz Husserl quando quero pensar em alguém como Napoleão posso representálo ganhando a batalha de Waterloo prisioneiro na ilha de Elba e na ilha de Santa Helena montado em seu cavalo branco usando o chapéu de três pontas e com a mão direita enfiada na túnica Cada uma dessas representações é singular por um lado cada uma delas é um ato psicológico singular que eu realizo um ato de lembrar um ato de ver a imagem de Napoleão num quadro um ato de ler sobre ele num livro etc e por outro cada uma delas possui um representante singular Napoleão a cavalo Napoleão na batalha de Waterloo Napoleão fugindo de Elba etc No entanto embora sejam singulares e distintas umas das outras todas possuem o mesmo representado o mesmo significado a mesma significação ou a mesma essência Napoleão Quando colocamos de lado a singularidade psicológica de cada uma de nossas representações e a singularidade de cada um dos representantes ficando apenas com a idéia ou significação Napoleão como uma universalidade ou generalidade temos uma intuição da essência Napoleão A intuição da essência é a apreensão intelectual imediata e direta de uma significação deixando de lado as particularidades dos representantes que indicam empiricamente a significação É assim que tenho intuição intelectual da essência ou significação triângulo imaginação memória natureza cor diferença Europa pintura literatura tempo espaço coisa quantidade qualidade etc Intuímos idéias Convite à Filosofia 80 Falase também de uma intuição emotiva ou valorativa Tratase daquela intuição na qual juntamente com o sentido ou significação de alguma coisa captamos também seu valor isto é com a idéia intuímos também se a coisa ou essência é verdadeira ou falsa bela ou feia boa ou má justa ou injusta possível ou impossível etc Ou seja a intuição intelectual capta a essência do objeto o que ele é e a intuição emotiva ou valorativa capta essa essência pelo que o objeto vale A razão discursiva dedução indução e abdução A intuição pode ser o ponto de chegada a conclusão de um processo de conhecimento e pode também ser o ponto de partida de um processo cognitivo O processo de conhecimento seja o que chega a uma intuição seja o que parte dela constitui a razão discursiva ou o raciocínio Ao contrário da intuição o raciocínio é o conhecimento que exige provas e demonstrações e se realiza igualmente por meio de provas e demonstrações das verdades que estão sendo conhecidas ou investigadas Não é um ato intelectual mas são vários atos intelectuais internamente ligados ou conectados formando um processo de conhecimento Um caçador sai pela manhã em busca da caça Entra no mato e vê rastros choveu na véspera e há pegadas no chão pequenos galhos rasteiros estão quebrados o capim está amassado em vários pontos a carcaça de um bicho está à mostra indicando que foi devorado há poucas horas há um grande silêncio no ar não há canto de pássaros não há ruídos de pequenos animais O caçador supõe que haja uma onça por perto Ele pode então tomar duas atitudes Se por todas as experiências anteriores tiver certeza de que a onça está nas imediações pode prepararse para enfrentála sabe que caminhos evitar se não estiver em condições de caçála sabe que armadilhas armar se estiver pronto para capturála sabe como atraíla se quiser conservála viva e preservar a espécie O caçador pode ainda estar sem muita certeza se há ou não uma onça nos arredores e nesse caso tomará uma série de atitudes para verificar a presença ou ausência do felino pode percorrer trilhas que sabem serem próprias de onças pode examinar melhor as pegadas e o tipo de animal que foi devorado pode comparar em sua memória outras situações nas quais esteve presente uma onça etc Assim partindo de indícios o caçador raciocina para chegar a uma conclusão e tomar uma decisão Temos aí um exercício de raciocínio empírico e prático isto é um pensamento que visa a uma ação e que se assemelha à intuição sensível ou empírica isto é caracterizase pela singularidade ou individualidade do sujeito e do objeto do conhecimento Marilena Chauí 81 Quando porém um raciocínio se realiza em condições tais que a individualidade psicológica do sujeito e a singularidade do objeto são substituídas por critérios de generalidade e universalidade temos a dedução a indução e a abdução A dedução Dedução e indução são procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao ainda não conhecido isto é permitem que adquiramos conhecimentos novos graças a conhecimentos já adquiridos Por isso se costuma dizer que no raciocínio o intelecto opera seguindo cadeias de razões ou os nexos e conexões internos e necessários entre as idéias ou entre os fatos A dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida seja por intuição seja por uma demonstração anterior e que funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela Em outras palavras na dedução partese de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a todos os casos particulares iguais Por isso também se diz que a dedução vai do geral ao particular ou do universal ao individual O ponto de partida de uma dedução é ou uma idéia verdadeira ou uma teoria verdadeira Por exemplo se definirmos o triângulo como uma figura geométrica cujos lados somados são iguais à soma de dois ângulos retos dela deduziremos todas as propriedades de todos os triângulos possíveis Se tomarmos como ponto de partida as definições geométricas do ponto da linha da superfície e da figura deduziremos todas as figuras geométricas possíveis No caso de uma teoria a dedução permitirá que cada caso particular encontrado seja conhecido demonstrando que a ele se aplicam todas as leis regras e verdades da teoria Por exemplo estabelecida a verdade da teoria física de Newton sabemos que 1 as leis da física são relações dinâmicas de tipo mecânico isto é se referem à relações de força ação e reação entre corpos dotados de figura massa e grandeza 2 os fenômenos físicos ocorrem no espaço e no tempo 3 conhecidas as leis iniciais de um conjunto ou de um sistema de fenômenos poderemos prever os atos que ocorrerão nesse conjunto e nesse sistema Assim se eu quiser conhecer um ato físico particular por exemplo o que acontecerá com o corpo lançado no espaço por uma nave espacial ou qual a velocidade de um projétil lançado de um submarino para atingir um alvo num tempo determinado ou qual é o tempo e a velocidade para um certo astro realizar um movimento de rotação em torno de seu eixo aplicarei a esses casos particulares as leis gerais da física newtoniana e saberei com certeza a resposta verdadeira A dedução é um procedimento pelo qual um fato ou objeto particulares são conhecidos por inclusão numa teoria geral Convite à Filosofia 82 Costumase representar a dedução pela seguinte fórmula Todos os x são y definição ou teoria geral A é x caso particular Portanto A é y dedução Exemplos 1 Todos os homens x são mortais y Sócrates A é homem x Portanto Sócrates A é mortal y 2 Todos os metais x são bons condutores de eletricidade y O mercúrio A é um metal x Portanto o mercúrio A é bom condutor de eletricidade y A razão oferece regras especiais para realizar uma dedução e se tais regras não forem respeitadas a dedução será considerada falsa A indução A indução realiza um caminho exatamente contrário ao da dedução Com a indução partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral a definição geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares A definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso E a razão também oferece um conjunto de regras precisas para guiar a indução se tais regras não forem respeitadas a indução será considerada falsa Por exemplo colocamos água no fogo e observamos que ela ferve e se transforma em vapor colocamos leite no fogo e vemos também que ele se transforma em vapor colocamos vários tipos de líquidos no fogo e vemos sempre sua transformação em vapor Induzimos desses casos particulares que o fogo possui uma propriedade que produz a evaporação dos líquidos Essa propriedade é o calor Verificamos porém que os diferentes líquidos não evaporam sempre na mesma velocidade cada um deles portanto deve ter propriedades específicas que os fazem evaporar em velocidades diferentes Descobrimos porém que a velocidade da evaporação não é o fato a ser observado e sim quanto de calor cada líquido precisa para começar a evaporar Se considerarmos a água nosso padrão de medida diremos que ela ferve e começa a evaporar a partir de uma certa quantidade de calor e que é essa quantidade de calor que precisa ser conhecida Podemos a seguir verificar um fenômeno diferente Vemos que água e outros Marilena Chauí 83 líquidos colocados num refrigerador endurecem e se congelam mas que como no caso do vapor cada líquido se congela ou se solidifica em velocidades diferentes Procuramos novamente a causa dessa diferença de velocidade e descobrimos que depende tanto de certas propriedades de cada líquido quanto da quantidade de frio que há no refrigerador Percebemos finalmente que é essa quantidade que devemos procurar Com essas duas séries de fatos vapor e congelamento descobrimos que os estados dos líquidos variam evaporação e solidificação em decorrência da temperatura ambiente calor e frio e que cada líquido atinge o ponto de evaporação ou de solidificação em temperaturas diferentes Com esses dados podemos formular uma teoria da relação entre os estados da matéria sólido líquido e gasoso e as variações de temperatura estabelecendo uma relação necessária entre o estado de um corpo e a temperatura ambiente Chegamos por indução a uma teoria A dedução e a indução são conhecidas com o nome de inferência isto é concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida Na dedução dado X infiro concluo a b c d Na indução dados a b c d infiro concluo X A abdução O filósofo inglês Peirce considera que além da dedução e da indução a razão discursiva ou raciocínio também se realiza numa terceira modalidade de inferência embora esta não seja propriamente demonstrativa Essa terceira modalidade é chamada por ele de abdução A abdução é uma espécie de intuição mas que não se dá de uma só vez indo passo a passo para chegar a uma conclusão A abdução é a busca de uma conclusão pela interpretação racional de sinais de indícios de signos O exemplo mais simples oferecido por Peirce para explicar o que seja a abdução são os contos policiais o modo como os detetives vão coletando indícios ou sinais e formando uma teoria para o caso que investigam Segundo Peirce a abdução é a forma que a razão possui quando inicia o estudo de um novo campo científico que ainda não havia sido abordado Ela se aproxima da intuição do artista e da adivinhação do detetive que antes de iniciarem seus trabalhos só contam com alguns sinais que indicam pistas a seguir Os historiadores costumam usar a abdução De modo geral dizse que a indução e a abdução são procedimentos racionais que empregamos para a aquisição de conhecimentos enquanto a dedução é o procedimento racional que empregamos para verificar ou comprovar a verdade de um conhecimento já adquirido Realismo e idealismo Vimos anteriormente que muitos filósofos distinguem razão objetiva e razão subjetiva considerando a Filosofia o encontro e o acordo entre ambas Convite à Filosofia 84 Falar numa razão objetiva significa afirmar que a realidade externa ao nosso pensamento é racional em si e por si mesma e que podemos conhecêla justamente por ser racional Significa dizer por exemplo que o espaço e o tempo existem em si e por si mesmos que as relações matemáticas e de causaefeito existem nas próprias coisas que o acaso existe na própria realidade etc Chamase realismo a posição filosófica que afirma a existência objetiva ou em si da realidade externa como uma realidade racional em si e por si mesma e portanto que afirma a existência da razão objetiva Há filósofos porém que estabelecem uma diferença entre a realidade e o conhecimento racional que dela temos Dizem eles que embora a realidade externa exista em si e por si mesma só podemos conhecêla tal como nossas idéias a formulam e a organizam e não tal como ela seria em si mesma Não podemos saber nem dizer se a realidade exterior é racional em si pois só podemos saber e dizer que ela é racional para nós isto é por meio de nossas idéias Essa posição filosófica é conhecida com o nome de idealismo e afirma apenas a existência da razão subjetiva A razão subjetiva possui princípios e modalidades de conhecimento que são universais e necessários isto é válidos para todos os seres humanos em todos os tempos e lugares O que chamamos realidade portanto é apenas o que podemos conhecer por meio das idéias de nossa razão Razão organização e ética contribuições filosóficas para o Secretariado Executivo 1 Objetivo Refletir sobre a razão e suas atividades relacionandoas com a formação em Secretariado Executivo e o exercício profissional 2 Introdução Na sociedade contemporânea cada vez mais marcada pela velocidade das informações e pela complexidade das interações sociais profissionais de todas as áreas precisam desenvolver competências que unam clareza intelectual análise crítica e organização prática No caso específico do Secretariado Executivo tais competências tornamse fundamentais pois esse profissional atua diretamente na mediação entre diferentes setores de uma instituição organizando processos administrando comunicações e garantindo a fluidez das atividades administrativas Nesse contexto a Filosofia ao abordar o conceito de razão oferece um referencial teórico capaz de iluminar a prática profissional e ampliar a compreensão sobre o papel do secretário executivo no mundo do trabalho Marilena Chauí ao refletir sobre a razão ressalta que ela possui múltiplos significados tais como certeza lucidez motivo e causa Essa pluralidade mostra como a razão é central para a vida humana e consequentemente para a formação de qualquer profissional que precise tomar decisões organizar informações e atuar com discernimento Portanto o objetivo deste texto é refletir sobre a razão e suas atividades relacionandoas com a formação em Secretariado Executivo destacando como o exercício racional contribui para a prática cotidiana desse campo de atuação 3 Desenvolvimento A razão pode ser entendida como a capacidade humana de organizar o pensamento interpretar a realidade e agir de forma consciente Chauí recorda que desde sua origem etimológica a palavra remete à ideia de ordem e clareza logos ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente com medida e proporção com clareza e de modo compreensível para outros Essa característica de organização é essencial no campo do Secretariado Executivo uma vez que o profissional precisa estruturar processos administrativos redigir comunicações oficiais e articular informações entre diferentes setores Nesse sentido a razão aparece não apenas como uma faculdade abstrata mas como instrumento prático para tornar a atividade profissional mais eficiente e precisa Além disso a Filosofia distingue a razão objetiva da razão subjetiva A primeira referese à própria realidade que se organiza de modo racional em si mesma já a segunda diz respeito à capacidade do sujeito humano de pensar refletir e agir racionalmente Essa distinção é especialmente relevante na formação do secretário executivo que precisa lidar tanto com dados objetivos documentos prazos informações técnicas quanto com aspectos subjetivos como a comunicação interpessoal e a gestão de conflitos Assim o profissional atua como ponte entre o racional objetivo e o racional subjetivo transformando informações em conhecimento útil e operacional para a instituição Outro aspecto fundamental é a atividade racional em suas modalidades a intuição e o raciocínio A intuição conforme explica Chauí consiste em uma visão direta e imediata do objeto do conhecimento um contato direto e imediato com ele sem necessidade de provas ou demonstrações Essa modalidade é importante na prática secretarial pois frequentemente o profissional precisa tomar decisões rápidas interpretar situações de forma imediata e propor soluções diante de imprevistos Por outro lado o raciocínio ou razão discursiva implica um processo mais lento e analítico baseado em provas e demonstrações Essa forma de raciocínio é igualmente necessária sobretudo em processos de planejamento elaboração de relatórios e organização de estratégias de trabalho No interior da razão discursiva encontramse os métodos de dedução indução e abdução A dedução que parte de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a todos os casos particulares auxilia o secretário executivo a aplicar normas gerais em situações específicas como no cumprimento de regulamentos internos A indução que vai do particular ao geral permite construir entendimentos mais amplos a partir da observação de casos concretos sendo útil para relatórios de desempenho ou análise de processos administrativos Já a abdução entendida como a busca de uma conclusão pela interpretação racional de sinais de indícios de signos aproximase da prática cotidiana do secretário que muitas vezes precisa interpretar contextos institucionais e antecipar demandas a partir de pequenos sinais ou informações fragmentadas Assim ao articular razão e atividade racional com a prática do Secretariado Executivo percebese que o exercício profissional não se limita à execução mecânica de tarefas Pelo contrário exige discernimento análise crítica e clareza comunicativa elementos que derivam da capacidade racional Mais do que isso a Filosofia mostra que a razão é também uma consciência moral capaz de orientar à vontade e oferecer finalidades éticas à ação Isso reforça a importância de uma formação profissional que não se reduza à técnica mas que integre valores éticos e postura crítica no exercício das funções Portanto compreender a razão e suas atividades significa reconhecer que o trabalho do secretário executivo envolve tanto habilidades técnicas quanto competências intelectuais e morais A articulação entre intuição e raciocínio bem como entre razão subjetiva e objetiva revela que o profissional da área precisa estar preparado para lidar com diferentes dimensões da realidade unindo organização prática clareza intelectual e responsabilidade ética 4 Conclusão Retomando o objetivo proposto este texto buscou refletir sobre a razão e suas atividades relacionandoas com a formação em Secretariado Executivo A análise mostrou que a razão compreendida em seus múltiplos significados certeza lucidez motivo e causa é um instrumento fundamental para a prática profissional Suas modalidades intuição e raciocínio oferecem recursos complementares para lidar tanto com situações imediatas quanto com processos mais analíticos e planejados Já os procedimentos da razão discursiva como dedução indução e abdução demonstram como a atividade racional se manifesta em práticas concretas do cotidiano secretarial Concluise portanto que a formação do secretário executivo deve integrar os fundamentos da razão como forma de ampliar a capacidade de análise crítica de organização e de mediação Mais do que um executor de tarefas esse profissional se revela como agente racional capaz de ordenar informações promover clareza nas comunicações e atuar de maneira ética e estratégica Assim a Filosofia ao iluminar a atividade racional contribui não apenas para a reflexão acadêmica mas também para a prática concreta reforçando a importância de formar profissionais que unam técnica pensamento crítico e responsabilidade moral