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Texto de pré-visualização
Juliana Bastos Marques Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas Mundo Helenístico 2 Meta da aula Apresentar as consequências da divisão do império de Alexandre para a continuidade da realeza macedônica e para a situação política das cidades gregas com o estabelecimento das ligas Etólia e Aqueia Objetivos Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de 1 analisar o processo de divisão do império através da reconfiguração da monarquia macedônica como poder local 2 identificar as características da autonomia das cidades gregas neste período e a criação de ligas como a Etólia e Aqueia bem como seu funcionamento Prérequisitos Para esta aula recapitule as Aulas de 12 a 15 da disciplina História Antiga referentes à Grécia clássica Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 3 INTRODUÇÃO Como pudemos ver nas duas últimas aulas a sucessão de Alexandre não foi um processo simples envolvendo décadas de lutas entre seus generais O próprio reino da Macedônia foi o principal campo de batalha com a eliminação da frágil sucessão da casa real de Alexandre e uma complexa sucessão de generais vitoriosos mas que não conseguiram manter o poder por muito tempo Como veremos nesta aula foi só com a consolidação no poder de Antígono Gônatas em 277 aC que uma nova dinastia se consolidou sem no entanto conseguir reconquistar todo o imenso império de Alexandre As dinâmicas de poder entre a Macedônia e o resto da Grécia tomaram novas características neste período Enfraquecidas politicamente cidades antes poderosas como Atenas e Esparta ainda lutaram por influência e autonomia mas foi só através de ligas de cidades com interesses em comum agindo de forma articulada que as cidadesestado da Grécia conseguiram manter alguma autonomia até que a chegada dos romanos alterasse para sempre esse quadro As guerras de sucessão na parte europeia do Império Macedônico Geralmente lemos nos manuais e livros didáticos que após a morte de Alexandre o império foi divido entre seus três generais Ptolomeu ficou com o Egito Seleuco com a Ásia e Antígono com a Macedônia Na verdade a sucessão de Alexandre foi marcada por décadas de instabilidade política guerras civis tênues alianças e traições período conhecido como as Guerras dos Diádocos do grego diadokhoi sucessores Tudo isso se deu porque Alexandre nunca se ocupou em construir um sistema administrativo e dinástico no seu império que pudesse se sustentar com segurança após a sua morte No Egito e especialmente na Ásia como vimos na Aula 4 Mundo Helenístico 4 ele apenas manteve as estruturas administrativas persas submetendo e cooptando as lideranças locais e adicionando por vezes os macedônios no sistema de satrapias Na própria Macedônia Alexandre havia designado Antípatro como regente e quando morreu não designou nenhum herdeiro para o trono Não que eles não existissem Alexandre tinha um meioirmão Filipe Arrideu que sofria de distúrbios mentais Uma de suas esposas Roxane estava grávida e havia grande expectativa de que nascesse um menino O exército que se encontrava na Macedônia não perdeu tempo e declarou Filipe Arrideu como o novo rei mas era necessário também um regente Quase todos os principais generais de Alexandre haviam morrido nas guerras ou sido assassinados por seus rivais e foi praticamente o segundo escalão o protagonista das lutas de poder que se seguiram Pérdicas um dos poucos ainda próximos a Alexandre e à sua corte impôsse como quiliarca termo local equivalente a primeiroministro até o nascimento do herdeiro Alexandre IV Pérdicas logo se viu isolado contra os outros generais que já planejavam dividir o império e foi morto pelos soldados de Ptolomeu As intrigas da corte e os interesses dos generais causariam em um curto período de tempo a eliminação de toda a casa dos argéadas a família de Alexandre foram assassinados Alexandre IV Roxane Figura 71 Filipe Arrideu e a própria Olímpias mãe de Alexandre Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 5 Figura 71 Casamento de Alexandre e Roxane por Giovanni Bazzi Il Sodoma Palácio Farnese Roma 1517 Note como esta é uma representação idealizada do mundo clássico que mistura elementos típicos das obras do século XVI como os putti os anjinhos e a arquitetura renascentista Roxane aparece sem nenhum elemento indicador de sua origem oriental Fonte Wikimedia commons httpcommonswikimediaorgwikiFileSodomasaladi alessandro02jpg Formouse logo uma coalizão em torno de Cassandro na Macedônia Ptolomeu no Egito Lisímaco na Trácia e Seleuco na Babilônia desta vez contra Antígono I Monoftalmos de um olho só e seu filho Demétrio generais que pretendiam o controle das possessões macedônicas na Ásia e na Europa Estes porém conseguiram libertar a cidade de Atenas de Cassandro e foram comemorados como divindades salvadoras pela cidade Aclamados como reis por seu exército foram os primeiros a se apresentar como uma dinastia nova acabando com o discurso ilusório de continuadores da dinastia argéada Cassandro e a coalizão dos generais conseguiram por sua vez derrotar e matar Antígono na famosa batalha de Ipsus em 301 aC retratada por Plutarco na Vida de Demétrio a batalha é tida como o marco final da divisão do império de Alexandre entre os seus sucessores Figura 72 Mundo Helenístico 6 Figura 72 Divisão do Império Macedônico após a batalha de Ipsus na qual a coalizão de Cassandro Lisímaco Seleuco e Ptolomeu derrota Antígono Monoftalmos e seu filho Demétrio Fonte httpuploadwikimediaorgwikipediacommonsbb0Diadochen1png No entanto Demétrio consegue invadir e conquistar a Macedônia e ainda conta com a sorte de Cassandro e seus descendentes morrerem de causas naturais em pouco tempo Demétrio ainda sonhava com a restauração do império de Alexandre sob sua liderança mas logo os macedônios cansaramse de sua adoção de costumes orientais assim como Alexandre havia feito e expulsaramno Você conhece a ex pressão vitória de Pirro Segundo o dicionário Houaiss é uma vitória que traz quase tanto prejuízo ao vencedor quanto ao derrotado O rei Pirro 319272 aC de Épiro um território a oeste da Macedônia também procurou aumentar seu território Figura 73 Busto de Pirro Museo Archeologico Nazionale Nápoles Itália Fonte httpenwikipedia orgwikiFilePyrrhusJPG Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 7 lutando contra os romanos que na época estavam começando a se tornar uma grande potência militar Pirro foi vitorioso nas batalhas que travou contra Roma mas elas lhe custaram tantas perdas que o rei não conseguiu consolidar seu poder precisando aban donar seus planos de conquista Nesse período os generais sucedemse rapidamente no trono da Macedônia Em 288 aC Lisímaco rei da Trácia a leste e Pirro rei do Épiro a oeste acabaram dividindo a Macedônia entre si com Lisímaco logo tomando controle Após um curto período de Seleuco como rei Ptolomeu Keraunos filho do general Ptolomeu parecia ter finalmente se estabelecido no poder até que foi capturado e morto por gauleses invasores Aos macedônios sobrou o filho de Demétrio Antígono II Gônatas que finalmente conseguiu se estabilizar no poder e iniciar uma nova dinastia Para demonstrar com mais clareza essa sucessão vertiginosa de reis na Macedônia vejamos um quadro cronológico dos períodos em que reinaram atenção todas as datas são aC Quadro 71 Quadro 71 Sucessão de reis na Macedônia Alexandre III o Grande 336323 Antípatro regente da Macedônia 334323 Filipe III Arrideu 323317 Alexandre IV 323310 Pérdicas regente 323321 Antípatro regente 321319 Polipércon regente 319317 Olímpias regente 317316 Cassandro como regente 316305 Cassandro como rei 305297 Mundo Helenístico 8 Três filhos de Cassandro 297294 Demétrio I 294288 Pirro 288285 Lisímaco 288281 Seleuco I 281 Ptolomeu Keraunos Filho de Ptolomeu I Soter do Egito 281279 Antígono II Gônatas 277239 Você obviamente notou que fizemos aqui uma narrativa política tradicional até agora muitos nomes de generais e muitas datas isso porque nem citamos os nomes das batalhas Agora vamos analisar por que fizemos isso e o que essa narrativa significa em termos mais amplos no quadro histórico do período Em primeiro lugar temos o problema do estado das fontes No estudo de todo o mundo antigo são os tipos de fontes que estão disponíveis para nós que acabam determinando que história podemos reconstruir Por exemplo nos primórdios da história da Grécia desde a Era do Bronze até o período arcaico sabemos mais sobre a cultura material o cotidiano e a economia do que sobre por exemplo as sucessões dinásticas ou a estrutura política das cidades e regiões isso é devido ao fato de que temos muito mais fontes arqueológicas disponíveis sobre o período do que fontes historiográficas e literárias Já durante o período clássico da democracia ateniense e da Guerra do Peloponeso sabemos muito mais detalhes sobre a estrutura administrativa e política de Atenas e sobre as etapas da guerra porque temos um conjunto de relatos como o de Tucídides historiador e general ateniense No período que estamos estudando agora temos poucas evidências arqueológicas expressivas até porque os arqueólogos ainda têm privilegiado outros períodos históricos para conduzir suas escavações e estudos Temos sim um conjunto considerável de epigrafia e numismática você se lembra da Aula 2 e alguns relatos historiográficos muito dispersos e geralmente tardios recopiados Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 9 e abreviados muitos séculos depois Essas narrativas seguiam o padrão temático da historiografia grega criado com Heródoto no século V o que importava para registrar eram exatamente as grandes batalhas e os grandes fatos políticos Portanto se nossas ferramentas principais para entender o período são textos com essa temática acabamos nós também nos concentrando nesses fatos Mas isso não significa que nós também estejamos restritos a apenas narrar uma sucessão de fatos políticos Em uma leitura mais atenta dos motivos dessas disputas pelo poder podemos encontrar as bases de alguns aspectos do mundo macedônico O próprio mecanismo de legitimidade na sucessão real é um deles Embora as fontes sejam um pouco imprecisas a respeito sabemos que a monarquia macedônica tinha regras e costumes muito diferentes das outras monarquias antigas um novo rei só conseguiria de fato subir ao trono se sua aclamação fosse aprovada pelo exército e pelos nobres a corte que incluía os principais generais Esse reconhecimento não era apenas formal e o herdeiro deveria a princípio ser anunciado com antecedência pelo rei antes de morrer mesmo sendo o filho primogênito Como vimos isso nem sempre ocorreu durante o período entre a morte de Alexandre e a ascensão de Antígono II Gônatas Em termos institucionais isso gerou confusão e insegurança tanto que vemos quantos nomes no Quadro 71 se apresentam como regentes e não como reis Apenas quando Cassandro sentiuse seguro o suficiente no comando dos exércitos e no domínio do território é que conseguiu se impor como rei tentando também criar uma dinastia O sucesso posterior de Demétrio deixou claro pela primeira vez que o tempo dos projetos mundiais de Alexandre havia passado e não mais voltaria o mundo helenístico estava definitivamente dividido A ascensão de Antígono II Gônatas representou na verdade uma última opção do exército e dos nobres macedônicos perante o fracasso do estabelecimento do poder entre os generais Pirro Lisímaco Seleuco e o filho de Ptolomeu Mundo Helenístico 10 A dinastia dos antigônidas Em relação aos primeiros reis da dinastia antigônida Antígono II Gônatas 277239 seu filho Demétrio II 239229 e Antígono III Dóson 229221 todas as datas referentes aos períodos que governaram temos uma quantidade muito menor de fontes disponíveis boa parte epigráficas Neste período por volta de 280 um grande número de gauleses vindos das terras ao norte invadiu pilhou e destruiu as terras da Ilíria e da Trácia e duras batalhas foram necessárias na Macedônia e na própria Grécia para expulsálos Foi como general nessas campanhas que Antígono II Gônatas conseguiu assegurar seu poder conquistando a lealdade dos nobres macedônicos Consta que reinou de maneira pacífica até sua morte e a estabilidade da região durante seu longo governo foi sem dúvida uma exceção no período A escultura da Vitória de Samotrácia é uma das mais famo sas obras de arte da Antiguidade e hoje ocupa um lugar de destaque no Museu do Louvre em Paris Acreditase que ela tenha sido feita em comemoração à vitória naval de Antígono II Gônatas sobre Ptolomeu II Filadelfo próximo à ilha de Cos em 255 aC Figura 74 Vitória de Samotrácia Fonte httpenwikipediaorg wikiFileNikeofSamothrake LouvreMa2369n4jpg Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 11 Desde Filipe II os sucessivos reis macedônicos operaram uma mudança bastante significativa na região fundando diversas cidades Até então mesmo com uma capital Péla a Macedônia era tipicamente uma região de vilas e comunidades rurais esparsas ao contrário da Grécia urbanizada ao sul Filipe fundou várias cidades entre elas Phillippi Figura 75 e anexou as colônias gregas que haviam sido fundadas na costa como Anfípolis e Pidna O exemplo foi seguido por Alexandre em várias outras partes de seu vasto império com Alexandrias fundadas desde o Egito até os confins da Báctria Afeganistão Cassandro foi o responsável por uma fundação importante Tessalonike era o nome de sua esposa hoje a segunda maior cidade da Grécia Essas fundações na Macedônia foram feitas por sinecismo ou seja o agrupamento de vilas já existentes em torno de um novo centro urbano comum Figura 75 Anfiteatro de Phillippi O espaço é usado até hoje em um festival de teatro que ocorre anualmente em agosto Foi nesses núcleos urbanos que uma nova identidade macedônica formouse A anexação das colônias gregas significou a absorção de muitos cidadãos gregos ao território do rei e também a incorporação de instituições típicas da pólis tais como Mundo Helenístico 12 as assembleias os magistrados e as divisões administrativas por demos Antígono II Gônatas também é conhecido por ter incentivado a vida cultural trazendo à Macedônia poetas escritores e artistas e procurando com isso legitimar a Macedônia perante o resto da Grécia já que como vimos na Aula 3 a região era tida como quase bárbara pelos gregos até serem submetidos por Filipe e Alexandre Mesmo assim a grande característica da Macedônia em relação à Grécia ainda é a estrutura social baseada no ethnos geralmente traduzido como povo ou nação ou seja na identidade étnica tomada em conjunto ao invés da identidade grega construída sobre cada cidade a pólis Vemos isso refletido nas fontes escritas tanto literárias quanto epigráficas os cidadãos de Atenas tomam suas decisões coletivas como os atenienses os cidadãos de Corinto como os coríntios os de Argos como os argivos e assim por diante Isto é não encontramos uma unidade étnica e política com os gregos quando eles se retratam entre si apenas quando perante os persas os egípcios etc Já os macedônios nunca aparecem como os cidadãos de determinada cidade mas sempre como os macedônios não importa de que cidade viessem Isso significa que embora a coesão interna da sociedade macedônica fosse menor por causa da maior vastidão de seu território comparada ao das poleis sua união e força contra inimigos davam à Macedônia sem dúvida uma vantagem estratégica em relação aos quase sempre desunidos gregos Outra consequência disso é que por mais autocrático que fosse o governo a sociedade em especial a elite sempre manteve certo grau de participação e até de interferência na legitimidade real como vimos em relação à necessidade de aprovação para a ascensão de um rei Por isso alguns estudiosos do período caracterizam a monarquia macedônica como uma monarquia constitucional as aspas são importantes porque não se quer dizer que havia uma constituição escrita que estava acima do rei tal como hoje em países como a GrãBretanha e o Japão mas sim que havia certo controle social a que o rei necessariamente devia se Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 13 submeter Esse caráter de certa maneira informal também explica por que a monarquia macedônica nunca estabeleceu um culto à figura dos reis tal como vimos no caso dos Ptolomeus no Egito e dos Selêucidas na Ásia Demétrio I tentou fazêlo mas foi rapidamente desacreditado e expulso do poder pelos macedônios A situação estratégica da Macedônia Nem Filipe II nem qualquer outro dos reis macedônicos que se seguiram tiveram como objetivo anexar o território grego como um todo apenas asseguraram o domínio territorial sobre a região da Tessália entre a Macedônia e a região grega mais urbanizada ao sul Ao invés dessa anexação eles procuraram impor um domínio indireto misto de coerção militar e aliança comercial Essa situação não foi de todo incômoda para as cidades gregas por uma razão estratégica importante elas precisavam de uma Macedônia forte para se proteger das invasões dos povos ao norte ilírios trácios citas e gauleses Encontramos essa ideia em Políbio é do interesse dos helenos que o domínio macedônico seja substancialmente reduzido porém de modo algum que seja eliminado pois nesse caso eles sofreriam bem depressa as violências dos trácios e dos gálatas gauleses como já lhes acontecera em várias ocasiões no passado Histórias XVIII 37 Políbio 220118 aC Políbio foi um historiador grego que escreveu sobre a ascensão dos romanos no Mediterrâneo Suas Histórias compunhamse de 40 livros mas sobreviveram apenas os livros de 1 a 5 a maior parte do livro 6 e alguns fragmentos dos outros livros Mundo Helenístico 14 Filho de um importante general da Liga Aqueia veja abaixo ele foi capturado pelos romanos e viveu em Roma sob a tutela da tradicional família dos Cipiões famosa por dois de seus membros que comandaram as maiores vitórias contra os cartagineses na Segunda e na Terceira Guerra Púnica A própria Grécia também era importante para a defesa da Macedônia Controlando o território grego mesmo que indiretamente os macedônios evitavam que os outros reinos helenísticos em especial o ptolomaico e o selêucida avançassem sobre a Grécia continental e ameaçassem a unidade do território macedônico Em relação a esses outros reinos a estabilidade conseguida pelos antigônidas durante o terceiro século aC deriva em boa parte da homogeneidade cultural da população como vimos Portanto não houve na Macedônia nenhuma dificuldade relacionada à integração de povos locais com culturas tão distintas o que tanto influenciou a administração dos outros reinos helenísticos Também em comparação até por causa do tamanho reduzido do território macedônico a infraestrutura local e os canais internos de comunicação através de estradas fortalezas e recursos eram bem maiores No entanto a população diminuiu consideravelmente na Macedônia consequência da colonização e das migrações para as prósperas regiões orientais que entraram sob domínio grego alguns historiadores afirmam que até dois terços da população podem ter deixado o território macedônico no período Como consequência disso também foi difícil para a Macedônia desenvolverse economicamente por mais que Antígono II Gônatas e seus sucessores tenham promovido o desenvolvimento comercial Filipe II havia promovido uma campanha de drenagem de pântanos e derrubada de florestas para aumentar a área agrícola transformando Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 15 também grupos pastoris das montanhas em habitantes das novas cidades Também as minas de prata próximas a Anfípolis e Phillippi ajudaram a financiar o exército e as expedições mas poucos indícios posteriores mostram variações na prosperidade econômica da época de Filipe Sem dúvida comparado aos ricos e prósperos reinos do Egito e da Ásia a Macedônia continuava pobre Atende ao Objetivo 1 1 Figura 76 Moeda retratando Antígono II Gônatas Museu Britânico Fonte httpenwikipediaorgwikiFileAntigonusGonatasBritishMuseumjpg Mundo Helenístico 16 Veja o detalhe na borda dessa moeda é o símbolo do Sol de Vergina que vimos na Aula 3 Como os reis que sucederam a Alexandre na Macedônia conseguiram chegar ao poder E o que foi preciso para a dinastia antigônida estabilizarse em relação aos seus antecessores Resposta Comentada As guerras dos sucessores de Alexandre combinaram vitórias militares e tentativas de continuar sua casa real através de regências ou conexões dinásticas Além disso sempre foi crucial a aprovação do exército e da sociedade macedônica principalmente da elite o que é uma característica única no mundo antigo Retomar o sonho mundial de Alexandre logo se mostrou impossível mas Antígono II Gônatas conseguiu juntar a aprovação dos macedônios destreza militar e uma integração cultural maior com a Grécia A presença do Sol de Vergina na moeda é uma forma de mostrar que não haveria interrupção entre a dinastia de Alexandre e a de Antígono II Gônatas Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 17 O papel das cidades e ligas gregas Quando Filipe II derrotou as cidades gregas na batalha de Queroneia 338 aC passou a ficar evidente que a época da supremacia das grandes póleis como Atenas Esparta e Tebas havia chegado ao fim É sempre importante lembrar que os reis macedônicos nunca chegaram a anexar o território da Grécia mas preferiram negociar com as cidadesestado gregas individualmente ou em conjunto para garantir uma aparente independência já que a autonomia política ainda era um objetivo ideológico fundamental para elas as instituições políticas dos conselhos e assembleias de cidadãos continuaram atuantes Nesse sentido a Macedônia também precisou impor sua influência perante outros reinos helenísticos em especial o ptolomaico que também pretendia exercer sua zona de influência na Grécia As cidades gregas viramse em uma nova situação de desvantagem militar mostrandose enfraquecidas perante a forte articulação dos exércitos profissionais comandados por reis Muitas vezes era também estrategicamente desvantajoso entrar em conflito com outras cidades que poderiam negociar uma aliança temporária com algum desses reis para proteção ou mesmo arbitrar contendas entre duas outras cidades os reis tinham mais interesse estratégico no território e força militar para impor sua vontade Esse também foi um período em que o banditismo e a pirataria aumentaram muito em todo o território grego fazendo com que as cidades precisassem mais ainda de alianças que trouxessem uma maior segurança O jogo das aparências foi constante nesse processo em que os reis libertavam cidades do ataque dos inimigos apenas para colocá las sob seu domínio ainda que indireto As fontes literárias e especialmente epigráficas mostramnos como funcionava essa rede de relações diplomáticas e militares além dos novos interesses das poleis Encontramos uma multiplicidade de decretos sobre as próprias alianças políticas embaixadas destinadas a oráculos e festivais panhelênicos benfeitores particulares que Mundo Helenístico 18 construíam melhorias públicas de seu próprio bolso concessões de privilégios e cidadania disputas de fronteiras e requerimentos de asilo entre outros Festivais panhelênicos Os Jogos Olímpicos instituídos em 776 aC eram o festival mais famoso de toda a Grécia Antiga mas não o único Os Jogos Píticos do santuário de Apolo em Delfos Nemeus da ci dade de Nemeia e Ístmicos no istmo de Corinto são os mais tradicionais mas novos festivais foram cria dos durante o período helenístico muitas vezes com os nomes dos reis que os patrocinaram Os festivais apresentavam competições esportivas e artísticas juntamente com procissões religiosas e eram abertos a todos os gregos Figura 77 Vasos dados como prêmios aos vencedores da corrida esq e da luta dir nos Jogos Panatenaicos Staatliche Antikensammlung Munique Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 19 Veja um resumo dos tipos de relações entre cidades que a epigrafia nos revela Pedidos de arbitragem externa nas disputas entre as cidades que geralmente eram feitos a reis mas também podiam ser feitos a outras cidades Pedidos de asilo em grego asylos significando imunidade a represálias em grego sylos geralmente com o objetivo de se proteger de piratas Esses pedidos eram baseados nos privilégios dados anteriormente a templos onde o deus ou deusa desejava por um oráculo ou aparição que o local se tornasse sagrado e protegido Promulgações para celebrar festivais religiosos locais e específicos nos moldes dos festivais panhelênicos revelando prestígio geralmente conquistado por causa de alguma vitória militar ou mais frequentemente em honra de alguém ilustre Pedidos de concessão de cidadania geralmente feitos em cidades despovoadas que precisavam atrair novos moradores ou de isopoliteia ou seja concessão potencial de cidadania a pessoas de outras cidades que eventualmente quisessem se estabelecer em outra cidade por exemplo quando Atenas concede isopoliteia aos cidadãos de Rodes por motivos comerciais Solicitações de proxenia isto é determinando um cidadão específico para hospedar embaixadores estrangeiros do próprio bolso em troca de títulos honoríficos Declarações de estabelecimento de sympoliteia em que duas ou mais cidades resolvem se unir em um território comum mantendo algumas instituições políticas internas e estendendo outras para governálas conjuntamente como no caso da Liga de Delos que vimos na Aula 3 As sympoliteias foram o máximo a que o mundo grego chegou de uma unidade territorial estatal como a entendemos hoje Nesse período duas delas destacaramse em particular a Liga Etólia e a Liga Aqueia ambas em regiões onde nenhuma polis havia se Mundo Helenístico 20 tornado grande forte ou hegemônica Figura 78 A Liga Etólia que parece já existir no século IV aC era composta de cidades ao sul da Tessália território conhecido no resto da Grécia por seus piratas e bandidos No entanto a Liga tinha uma assembleia popular unificada um estratego general em comum e um conselho representativo Sua força militar tornouse bastante expressiva com os etólios derrotando os gauleses em 279 aC na defesa de Delfos e incorporando gradualmente um território maior Como veremos adiante ela se tornou uma aliada estratégica dos romanos quando estes entraram em conflito com os macedônios Figura 78 Mundo grego em 200 aC com a Macedônia sob Filipe V Fonte httpenwikipediaorgwikiFileMacedoniaandtheAegeanWorldc200png Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 21 Já a Liga Aqueia foi ainda mais expressiva ocupando todo o norte do Peloponeso Figura 78 expandiuse ainda mais sob a liderança do general Arato da cidade de Sícion chegando a tomar o controle de Corinto das mãos dos macedônios em 243 aC e entrar em guerra contra Esparta pelo domínio de toda a península A Liga Aqueia ilustra bem tanto a força quanto a fraqueza dessas alianças territoriais do período pois elas surgiam de acordo com necessidades circunstanciais de proteção e defesa e mudavam ao sabor das vitórias e derrotas militares Aliandose primeiro a Filipe V como veremos a seguir a Liga Aqueia passou para o lado dos romanos quando percebeu que Filipe estava perdendo poder na região mas também não resistiu e foi dissolvida quando os romanos resolveram se impor e anexar a Grécia a seu império Filipe V e a chegada dos romanos A partir de Filipe V Figura 75 que reinou entre 221 e 179 aC temos finalmente disponíveis as importantes obras históricas de Políbio e Tito Lívio o que nos permite saber sobre esse período com uma riqueza muito maior de detalhes Figura 79 Da esquerda para a direita moedas com efígies de Filipe V e seu filho Perseu reis da Macedônia A semelhança é proposital indicando continuidade Fontes httpenwikipediaorgwikiFilePhilipVofMacedonjpg e httpenwikipedia orgwikiFilePerseusofMacedonBMjpg Mundo Helenístico 22 Tito Lívio 59 aC 17 dC Foi um historiador romano que escreveu uma história da cidade de Roma conhecida como Ab Urbe Condita Libri Os livros sobre a cidade des de seu início no total de 142 livros Desses temos preservados apenas 25 que tratam dos primórdios de Roma e do período da Segunda Guerra Púnica até a guerra contra Perseu V da Macedônia Nesta segunda parte Tito Lívio usa como fonte direta o texto de Políbio Filipe V ascendeu nominalmente ao trono da Macedônia ainda muito jovem com nove anos de idade após a morte de Demétrio II Por isso seu primo Antígono III Dóson administrou o reino como regente até morrer de maneira repentina quando Filipe tinha 17 anos O novo rei logo se mostrou muito mais belicoso e militarista que os antecessores envolvendose em uma série de disputas com as cidades gregas e com os romanos que estavam procurando expandir sua área de influência no mundo grego O predomínio de Filipe V não foi baseado apenas na conquista militar direta Como vimos anteriormente em relação às ligas gregas a estratégia de alianças entre confederações de cidades havia se mostrado estrategicamente vantajosa além do custo de manutenção dos exércitos pesar menos nos tesouros locais o arranjo mantinha a aparência de liberdade das cidades gregas Não podemos menosprezar o segundo fator esse era um elemento de identidade tão crucial no mundo grego que boa parte da autoridade dos generais incluindo o próprio Filipe V vinha da justificativa das suas ações militares como ações benevolentes para manter a independência das cidades gregas Na primeira dessas alianças de Filipe os macedônios uniramse aos tessálios beócios epirotas aqueus e fócios contra a Liga Etólia e Esparta no que ficou Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 23 conhecida como a Guerra Social de sócios ou seja aliados entre 220 e 217 aC Foi com o reconhecimento de sua liderança pelas confederações regionais gregas que Filipe estabeleceuse legitimamente como o poder hegemônico em toda a região Na próxima aula veremos com mais detalhes as ações dos romanos por enquanto iremos ver a situação do lado macedônico Filipe V percebeu que os romanos estavam agindo politicamente para influenciar a região a oeste da Macedônia e passou a tentar ele mesmo dominar a Ilíria Na época os romanos também estavam em guerra contra os cartagineses e seu maior rival o general Aníbal havia conseguido importantes vitórias dentro da própria Itália Assim Felipe resolveu se aliar a Aníbal contra os romanos e seus aliados a Liga Etólia e Átalo I rei de Pérgamo O confronto terminou sem uma grande vitória de nenhum dos lados mas representou a entrada definitiva dos romanos no frágil cenário das alianças políticas gregas do período Filipe foi derrotado logo depois em 197 aC quando os romanos já vitoriosos sobre Aníbal aliaramse novamente ao reino de Pérgamo e a Rodes para libertar Atenas A cidade havia declarado guerra à Macedônia desta vez aliada à Liga Aqueia de fato a maioria das cidades gregas esperou até o último minuto para decidir qual dos lados apoiaria Forçado a se resignar apenas com o próprio território da Macedônia Filipe também pagou uma enorme indenização financeira aos romanos estipulada exatamente para que suas finanças fossem prejudicadas e seu exército fosse enfraquecido Quando seu filho Perseu subiu ao trono em 179 aC os romanos já haviam selado uma aparente aliança com os macedônios mas suspeitavam que estes ainda mantivessem planos expansionistas Perseu renovou os laços com Roma que se mostravam a princípio claramente vantajosos por causa da superioridade militar romana e da presença cada vez maior destes no território grego No entanto o conflito tornouse inevitável e Perseu acabou derrotado pelos romanos na batalha de Pidna em 168 a C no que também representou o fim da dinastia dos antigônidas Na próxima aula analisaremos as consequências dessa derrota para o mundo grego Mundo Helenístico 24 Atende ao Objetivo 2 2 Leia com atenção o discurso do embaixador da Liga Etólia para os espartanos em 210 aC POLÍBIO Histórias IX 2829 e responda ao que se pede a seguir 28 Espartanos tenho certeza que ninguém ousaria questionar que o estabelecimento da dominação macedônica foi o começo da escravidão para os gregos 29 Quanto à política dos sucessores de Alexandre preciso falar sobre elas em detalhes Certamente não há qualquer homem vivo tão alheio aos acontecimentos que não saiba como Antípatro após derrotar os gregos na batalha de Lâmia tratou os infelizes atenienses com extrema crueldade e o mesmo aconteceu com os outros gregos Sua arrogância e desrespeito à lei são tão grandes que ele instituiu caçadores de exilados enviando os às cidades em busca de todo aquele que havia criticado ou ofendido de alguma forma a casa real da Macedônia Alguns foram arrastados violentamente dos templos outros arrancados dos altares e foram todos torturados até a morte Seu único lugar de refúgio foi o povo etólio Todos sabem o que foi feito por Cassandro Demétrio e Antígono Gônatas Esses eventos aconteceram há pouco tempo e portanto estão vivos na memória de todos Alguns desses reis introduziram guarnições nas cidades outros instigaram tiranias e como resultado todas as cidades foram levadas a compartilhar o nome da escravidão Mas eu deixarei esses de lado e falarei sobre o último Antígono III Dóson para que alguns de vós não façais interpretações inocentes sobre suas ações e se sintais obrigados sob os macedônios Pois não foi com o objetivo de salvar os aqueus a Liga Aqueia que Antígono começou a guerra contra vós nem porque ele desaprovava a tirania de Cleômenes rei espartano e queria libertar os espartanos Se algum de vós acredita nisso é extremamente ingênuo Ao invés disso ele pôde ver que seu próprio domínio estaria ameaçado se vós recobrásseis a supremacia sobre os peloponésios espartanos Ele pôde ver que Cleômenes era exatamente o homem que conseguiria fazer isso e que a fortuna estava sorrindo para o seu empreendimento Ele se juntou à campanha por medo e inveja sem a intenção de ajudar os peloponésios mas sim para destruir suas esperanças e aniquilar sua supremacia Portanto vós Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 25 não deveríeis agradecer aos macedônios por não saquear a sua cidade após têla capturado mas ao invés disso deveríeis odiálos como inimigos por terem obstruído diversas vezes a hegemonia da Grécia que estava ao vosso alcance No texto o embaixador etólio está tentando convencer os espartanos a entrarem em guerra contra os macedônios Analise o discurso do embaixador da Liga Etólia respondendo por que a Macedônia deve ser combatida segundo ele Por que Cleômenes aparece no discurso como uma ameaça aos macedônios Resposta Comentada O embaixador etólio nas palavras de Políbio fala sobre a crueldade dos macedônios contra os gregos e a dominação macedônica significa para ele a perda da liberdade e a sujeição análoga à escravidão Cleômenes aparece como um opositor dos macedônios embora a propaganda destes o qualificasse como tirano Todo o discurso está relacionado à ideia da manutenção da liberdade e da autonomia das cidades gregas que no entanto já não é mais possível em termos reais neste período Mundo Helenístico 26 CONCLUSÃO A manutenção da monarquia macedônica foi marcada pela tentativa durante décadas de se manter uma continuidade com o legado de Alexandre seja pela manutenção de laços com sua dinastia seja pelo projeto inicial de manter o domínio macedônico do máximo possível de terras conquistadas pelo grande general Reino relativamente pobre e com uma aristocracia intimamente envolvida nas tramas de poder a Macedônia não só não conseguiu pôr em prática esse plano nas décadas seguintes à morte de Alexandre como também precisou encontrar várias formas de equilíbrio nas relações com as cidades da Grécia Esse foi ao mesmo tempo um complexo jogo de manutenção aparente da autonomia das poleis negociada através de frágeis alianças e de luta contra a supremacia dos outros reinos helenísticos na região Tal equilíbrio de forças mostrouse tão precário que logo foi substituído pelo domínio completo de Roma Atividade Final Atende aos Objetivos 1 e 2 Nas três últimas aulas vimos como se configuraram os reinos helenísticos desde a morte de Alexandre até a conquista romana O desenvolvimento da Macedônia é bem diferente do que aconteceu no Egito ptolomaico e na Ásia selêucida Sendo assim reflita que consequências das conquistas de Alexandre alteraram de maneira singular as configurações políticas e culturais da sociedade macedônica Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 27 Resposta Comentada É importante lembrar que o mecanismo particular de legitimidade dos reis na Macedônia permaneceu essencialmente o mesmo pois era fruto de um universo político ligado ao ethnos e não à cidadania direta da pólis grega Embora isso tenha gerado instabilidade em alguns períodos após a consolidação da dinastia antigônida a sociedade macedônica continuou o mesmo processo de urbanização e de integração com a Grécia que havia sido iniciado com Filipe II A influência oriental que foi tão determinante nos reinos ptolomaico e selêucida não chegou a penetrar com força na região Foi o contato cada vez mais intenso com os gregos que determinou as sutis mudanças sociais no mundo macedônico Mundo Helenístico 28 RESUMO A sucessão de Alexandre foi estabelecida através de décadas de conflitos entre seus generais Na Macedônia procurouse a princípio manter os laços com a dinastia da família de Filipe II e Alexandre mas isso logo se tornou impossível devido às disputas territoriais e de poder Com a realidade mostrando o fim do projeto de reunificar o império construído por Alexandre a partir da Macedônia a dinastia que conseguiu se consolidar no poder os antigônidas foi forçada a se contentar com o domínio apenas do próprio território macedônico No entanto a dinastia antigônida conseguiu ao mesmo tempo ampliar seu domínio para as colônias gregas próximas e manter uma maior estabilidade derivada da relativa homogeneidade cultural da população Para garantir seu poder os reis macedônicos também foram levados a administrar uma rede frágil de alianças com as cidades gregas muitas delas agora ligadas em confederações como a Liga Etólia e a Liga Aqueia Essa havia se mostrado uma forma viável de garantir autonomia política e alguma força militar dentro do jogo sempre variável de relações com os diferentes reinos helenísticos na própria Grécia No entanto com o envolvimento cada vez maior dos romanos na região o reino macedônico foi perdendo cada vez mais o poder até ser derrotado e anexado ao Império Romano Informação sobre a próxima aula Na próxima aula veremos como e por que os romanos envolveramse progressivamente com a Macedônia a Grécia e os reinos helenísticos do Oriente Monica Selvatici Aula 5 O Egito ptolomaico Mundo Helenístico 2 Meta da aula Caracterizar o reino helenístico da dinastia ptolomaica que governou dentre os territórios conquistados por Alexandre o Egito e as regiões adjacentes Objetivos Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de 1 reconhecer o processo de construção da legitimidade do poder do rei ptolomaico frente aos seus súditos gregos e egípcios 2 identificar características da cidade de Alexandria grande marco do reino ptolomaico que se tornou importante centro cultural grego do mundo mediterrâneo Prérequisitos Para esta aula procure recapitular as informações da Aula 2 As evidências características geográficas fontes escritas e cultura material sobre o mundo helenístico em especial aquelas do reino ptolomaico e as informações da Aula 4 As conquistas de Alexandre e a construção da imagem do grande general acerca do processo de conquista de tal território Aula 5 O Egito ptolomaico 3 INTRODUÇÃO Nesta aula discorreremos sobre o reino helenístico da dinastia dos ptolomeus que governou dentre os diversos territórios conquistados por Alexandre o Grande o Egito e as regiões próximas a ele À morte de Alexandre em 323 aC seguiuse um período de lutas no qual seu extenso reino acabou por ser dividido entre seus generais Entretanto Alexandre havia designado o controle do Egito anteriormente a Ptolomeu filho de Lagos que sempre desempenhara um papel de liderança em suas campanhas Uma vez morto o rei conquistador Ptolomeu resolveu tomar posse de seu reino e governou o território até 305 aC quando foi coroado rei basileu sob o nome de Ptolomeu I Soter salvador Figura 51 A dinastia que dele descende ficou conhecida na historiografia como dinastia ptolomaica em função do nome do primeiro soberano Ela também é referida pelo nome Lágida pelo fato de ter sido Ptolomeu I filho de Lagos Mundo Helenístico 4 Figura 51 Busto de Ptolomeu I Soter Museu do Louvre Paris Fonte Wikimedia Commons http ptwikipediaorgwikiFicheiroPtolemyISoter LouvreMa849jpg Essa dinastia governou o Egito e a Etiópia por quase 300 anos No período de maior expansão territorial os ptolomeus passaram a também controlar terras fora do território egípcio como a Cirenaica atual Líbia a ilha de Chipre as regiões costeiras da Ásia Menor e as ilhas do mar Egeu permanecendo em forte disputa com a dinastia helenística dos selêucidas pela região da SíriaPalestina Figura 52 Os Ptolomeus continuaram soberanos do Egito até a morte de Cleópatra VII última rainha de tal linhagem em 3130 aC e a tomada de poder e anexação do território egípcio pelos romanos Aula 5 O Egito ptolomaico 5 Figura 52 Mapa do reino ptolomaico em 200 aC Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFilePtolemaicEmpire200bc jpg Os governantes homens foram todos nomeados Ptolomeu em grego Ptolemaios porém também são referidos por seus nomes de culto como Philadelphos aquele que ama o irmão no caso de Ptolomeu II em razão de seu casamento com a própria irmã Arsinoé Atualmente a distinção entre os reis ptolomaicos é feita por meio da adição de numerais desde Ptolomeu I até Ptolomeu XV No caso específico das rainhas elas foram nomeadas Arsinoé Berenice e Cleópatra e às vezes recebiam uma combinação de tais nomes Tal prática pode causar certa confusão na sequência histórica dos governantes uma vez que a última rainha a famosa Cleópatra que normalmente é conhecida como Cleópatra VII foi no entanto apenas a sexta rainha a ostentar esse nome Você pode observar este fato no quadro dos governantes da dinastia Figura 53 Mundo Helenístico 6 Figura 53 Quadro da dinastia dos Ptolomeus Fonte Wikimedia Commons httpptwikipediaorgwikiFicheiroEgyptianPtolemies2 jpg Os Ptolomeus eram macedônicos por descendência e eram normalmente representados como governantes gregos tal como se pode perceber na cunhagem de moedas anéis e retratos em pedra Figura 54 Figura 54 Tetradracma moeda de prata representando o rei ptolomaico Ptolomeu IX Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFilePtolemyIX SoterIItetradrachmajpg Aula 5 O Egito ptolomaico 7 Entretanto os Ptolomeus também se apresentavam como faraós do Egito e aparecem em muitos relevos de templos estátuas e joias que seguem o estilo egípcio Figura 55 Figura 55 Anel em ouro com retrato gravado de Ptolomeu VI Filometor século II aC com atributos de faraó egípcio Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileRingwith engravedportraitofPtolemyVIPhilometor283rdE280932ndcentury BCE292009jpg Mundo Helenístico 8 O Museu Petrie em Londres possui uma ex tensa coleção de modelos de escultores antigos que acreditase foram utilizados por escultores no tempo dos Ptolomeus com o objetivo de garantir que a imagem real permanecesse a mesma ao longo do tempo Alguns eruditos acreditam que tais bustos eram usados em dedicações nos templos em nome do faraó eles são muito similares aos retratos da última dinastia egípcia nativa algo que pode ser lido como uma tentativa deliberada dos Ptolomeus de se ligarem a seus predecessores egípcios Confira o site httpwwwdigitalegyptuclacukart ptolemaichtml A consolidação do poder ptolomaico No período helenístico diversos reis encaravam o reino sob seu domínio como uma propriedade pessoal Este foi o caso da dinastia dos selêucidas que você verá na Aula 6 e também do Egito ptolomaico Por isso o território do Egito era conhecido como o reino dos ptolomeus Os reis possuíam poderes praticamente ilimitados Eram vistos como a encarnação da lei e por isso não precisavam que suas decisões fossem confirmadas por qualquer tipo de assembleia Ainda assim a dinastia ptolomaica tinha como súditos toda a população nativa do Egito que partilhava de costumes culturais diferentes daqueles dos gregos e que possuía desde muito antigamente seus próprios governantes os faraós Desta forma é necessário aos ptolomeus estabelecer sua legitimidade no governo do Egito Segundo Julio Cesar Gralha 2009 eles o fazem Aula 5 O Egito ptolomaico 9 A partir de um projeto políticoreligioso que enfatizava a adoção de práticas mágicoreligiosas egípcias e da adoção da monarquia divina egípcia tendo como expressão da materialidade o uso da arquitetura e da iconografia na titulatura em decretos e de forma diversa e sobretudo por um programa de construções de templos no Alto Egito Em termos da esfera religiosa os Ptolomeus introduziram novos deuses mas demonstraram respeito e renderam homenagens aos antigos deuses egípcios Vários governantes ptolomaicos construíram templos como os antigos faraós e as terras dos templos continuaram a produzir para os sacerdotes seguindo o costume egípcio Isso suscitava a simpatia do povo e do clero egípcios que oferecia em retorno mais homenagens Observe por exemplo o trecho do Decreto de Canopo 2398 aC no qual os sacerdotes egípcios homenageiam o rei Ptolomeu III Evergeta e sua família denominandoos deuses Evergetas e aumentando as honrarias a eles prestadas a Boa Fortuna pareceu justo aos sacerdotes do país que as honrarias prestadas anteriormente nos templos ao rei Ptolomeu e à rainha Berenice deuses Evergetas e a seus pais deuses Adelfos e aos seus ancestrais deuses salvadores fossem aumentadas Os sacerdotes em cada templo do país seriam chamados igualmente sacerdotes dos deuses Evergetas e serão inscritos nos atos como deuses assim como nos anéis dos sacerdotes Além das quatro tribos existentes atualmente nos consílios de sacerdotes em cada templo seria instituída uma quinta tribo dos deuses Evergetas O interesse da dinastia ptolomaica é o de estabelecer relações de poder de cooperação e cooptação dos segmentos sociais egípcios a fim de consolidar sua legitimidade como sucessora direta dos antigos faraós Segundo Paul Stanwick 2003 Enquanto aspectos da sociedade egípcia foram helenizados sob os gregos os ptolomeus foram egipcianizados na medida em que para preservar sua hegemonia eles precisavam se colocar mais agressivamente como faraós legítimos aos olhos da população nativa Mundo Helenístico 10 Além disso alguns soberanos ptolomaicos foram representados com a aparência de duas divindades uma grega e sua associação egípcia pois era costume no período helenístico a confluência entre divindades de origens diferentes Este foi o caso dos reis Ptolomeu II e III representados em estátuas como Hermes deus grego Tot deus egípcio Segundo László Török 1995 os governantes foram identificados com o Tot egípcio como um paradigma divino de realeza com uma interpretação ptolomaica especial de Hermes como um reideus Figura 56 Figura 56 Estátua de Ptolomeu III com aparência de Hermes vestindo a túnica chlamys Fonte Wikimedia Commons httpenwikipedia orgwikiFileHermesPtolemyjpg Aula 5 O Egito ptolomaico 11 As rainhas ptolomaicas desempenharam um papel político e religioso muito importante durante este período Elas eram representadas como rainhas conferindo apoio ao faraó tal como se pode ver em relevos de templos No entanto após a sua morte elas eram elevadas à condição de deusas e recebiam oferendas dos próprios faraós tal como é possível perceber no relevo do templo de Ísis em Philae Figura 57 onde Arsinoé II aparece de pé atrás da deusa Ísis e recebe uma oferenda de seu marido e irmão Ptolomeu II Philadelphos Figura 58 Figura 57 Vista lateral do templo de Ísis na cidade de Philae Fonte Wikimedia Commons httpptwikibooksorgwikiFicheiroPhilaeseenfrom thewaterAswanEgyptOct2004jpg Mundo Helenístico 12 Figura 58 Relevo do Templo de Ísis em Philae caracterizando Ptolomeu II fazendo oferendas a Ísis e Arsinoé II Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileRelieffromtheTemple ofPhilaebyJohnCampana1jpg Mais tarde o processo de deificação das rainhas começou a acontecer ainda no tempo de suas vidas as estátuas utilizadas para representar as rainhas divinas eram diferentes daquelas das rainhas mortais tanto representações gregas quanto egípcias possuíam uma cornucópia chifre da abundância e normalmente uma vestimenta amarrada As deusas gregas vestiam uma coroa e não um diadema real As deusas egípcias podem ser distinguidas das mortais por meio do ornamento na cabeça em forma de abutre no qual as asas são visíveis no lugar do uraeus serpente real Estátuas dos governantes e de suas respectivas rainhas eram erigidas em todos os templos ao longo do Egito Além disso sabese a partir de uma inscrição que as estátuas de Cleópatra VII foram veneradas até o século IV dC mais de quatrocentos anos após a sua morte Figura 59 Deificação Tratase da ação de deificar ou divinizar alguém divinização ou ainda apoteose Fonte Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Aula 5 O Egito ptolomaico 13 Figura 59 Moeda de Selêucia Piéria na Síria apresentando Marco Antônio no anverso e Cleópatra VII no reverso na imagem Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileCleopatraVIICoinjpg Atende ao Objetivo 1 1 Observe as imagens a seguir a imagem à esquerda apresenta um tetradracma de prata representando o rei Ptolomeu V segundo o estilo grego Já a imagem à direita corresponde a um relevo no qual o reifaraó Ptolomeu V oferece os olhos espirituais interiores de Hórus ao próprio deus Hórus que está sentado no trono Mundo Helenístico 14 A partir do exemplo dessas imagens aponte as estratégias utilizadas pelos governantes ptolomaicos para tornarem seu poder legítimo frente aos súditos gregos e egípcios Resposta Comentada Os soberanos ptolomaicos adotaram uma política deliberada de representação de suas figuras tanto no estilo grego com o diadema real quanto no estilo egípcio com os atributos de faraós egípcios e homenageando deuses egípcios com o objetivo de conferir legitimidade a seu poder e conquistar a simpatia e a obediência de súditos gregos e egípcios Aula 5 O Egito ptolomaico 15 A administração ptolomaica Os Ptolomeus organizaram um eficiente aparato administrativo de modo a melhor usufruir os recursos do território sob seu domínio Sob Ptolomeu II Filadelfos erigiuse uma complexa organização burocrática marcada pela centralização políticoadministrativa na medida em que o reino era entendido como propriedade pessoal do rei Para auxiliar o rei nas funções do governo havia uma corte aule que era composta por seus amigos detentores de cargos de confiança Entendese que as origens de tal sistema remontem à própria história de governo egípcia e a outras monarquias do Oriente Próximo cujas características foram rapidamente absorvidas pelas monarquias helenísticas O Estado ptolomaico detinha o monopólio da fabricação do azeite de cuja venda retirava grandes lucros Além disso exercia uma forte fiscalização através de funcionários sobre as aldeias de camponeses e sobre as oficinas de artesãos Estes eram obrigados a entregar uma parte previamente fixada de sua produção Os comerciantes por sua vez deviam comprar uma autorização oficial para adquirirem os produtos de que fariam a venda Todas estas formas de arrecadação de bens e tributos foram utilizadas pelos soberanos ptolomaicos em prol de amplas reformas e grandes construções em especial de templos Os reis ptolomaicos procuravam ser muito generosos com os templos e mostravamse piedosos em relação aos deuses Eles agiam desta forma com o objetivo de assegurar o seu próprio status de governantes divinos sobre a terra tal como os antigos faraós Entretanto é necessário observar que o sucesso da economia ptolomaica logo cedeu lugar a uma estagnação em razão da forte centralização burocrática Os produtores sobretudo os camponeses eram os mais prejudicados As consequências desse processo foram um crescente abandono das terras e a resistência dos trabalhadores que provocaram uma forte crise de mão de obra no reino egípcio Mundo Helenístico 16 O processo de helenização das regiões conquistadas por Alexandre foi levado adiante pelas dinastias que a ele sucederam através do estabelecimento de cidades gregas tanto em terras não urbanizadas quanto em locais onde existiam antigos assentamentos Novas cidades foram fundadas mesmo em lugares onde havia grandes concentrações urbanas Este foi o caso da cidade faraônica de Mênfis no Egito que perdeu seu lugar para Alexandria cidade construída por Alexandre no litoral do Mediterrâneo que passou a ser a capital do reino ptolomaico Como se pode ver as cidades recebiam nomes em homenagem à dinastia governante A cidade de Alexandria Em um importante porto mediterrâneo no Egito Alexandria foi fundada em 331 aC por Alexandre o Grande entre as várias poleis gregas que ele estabeleceu no Oriente A cidade tornouse a capital do Egito helenístico do rei Ptolomeu I Este fato foi confirmado quando o corpo embalsamado de Alexandre foi sob as ordens de Ptolomeu trasladado para ela após uma breve passagem por Mênfis Sob a próspera dinastia ptolomaica Alexandria rapidamente ultrapassou Atenas como o centro cultural do mundo grego Construída em formato de rede Alexandria ocupava uma extensão de terra entre o mar ao norte e o lago Mareotis ao sul uma longa rampa seguia ao norte até a ilha de Faros assim formando um porto duplo tanto a leste como a oeste No leste havia o porto principal chamado Grande Porto Ele ficava localizado em frente aos edifícios principais da cidade incluindo o palácio real e a famosa biblioteca e museu No Grande Porto em um pico montanhoso de Faros localizavase o Farol de Alexandria construído em cerca de 280 aC Ele não sobreviveu até os tempos atuais tendo sido considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo Tratavase de uma alta torre com janelas em cujo cume ficava uma enorme grelha onde se colocava o fogo que sinalizava aos barcos Além disso havia nele uma estátua de Zeus Salvador Aula 5 O Egito ptolomaico 17 A biblioteca de Alexandria naquele período era a maior do mundo Continha centenas de milhares de volumes e abrigava eruditos e poetas Ao longo do breve período literário de ouro de Alexandria entre aproximadamente 280 e 240 aC a biblioteca patrocinou três importantes representantes da literatura helenística Calímaco Apolônio e Teócrito Entre outros pensadores associados à biblioteca estavam o matemático Euclides em torno de 300 aC e o inventor Arquimedes 287 aCcerca de 212 aC Um complexo similar à biblioteca foi o museu que em grego Mouseion significa casa das musas que foi o primeiro de que se tem notícia na História Pouco se sabe sobre o complexo do museu de Alexandria apenas algumas informações proporcionadas por Estrabão em sua obra Geografia Cosmopolita e florescente Alexandria possuía uma população variada de gregos e orientais incluindo um número considerável de judeus que possuíam seu próprio bairro na cidade Sob os Ptolomeus a cidade teve uma vida política bastante tranquila Com a conquista romana em 30 aC e a transformação do Egito em província romana Alexandria tornouse a segunda cidade mais importante do Império Romano depois de Roma Os judeus no egito ptolomaico Os judeus em Alexandria viram a sua vida em comunidade se desenvolver e prosperar sob os governantes ptolomaicos a partir do século III aC em diante Há evidências a partir de achados epigráficos e papirológicos daquele período que indicam que os judeus foram absorvidos no exército e nos serviços administrativos Nesse período a Torá foi traduzida para o grego e a organização da comunidade judaica desenvolveuse naquilo Mundo Helenístico 18 que em termos ptolomaicos era chamado de políteuma O termo políteuma possuía vários significados na Antiguidade poderia se referir a associações festivas de mulheres uma sociedade de culto e entre outras coisas um grupo étnico Como constituía uma comunidade étnica separada ou um políteuma a comunidade judaica tinha a sua própria assembleia legislativa responsável pelo poder administrativo e judicial sobre os membros da congregação A assembleia do políteuma era separada das autoridades da cidade mas é necessário dizer não se tratava da autoridade judicial última A autoridade mais alta permanecia com o rei ptolomaico COLLINS 2000 p 115 O termo sinagoga pelo qual esta instituição ju daica ficou conhecida advém do grego sunagogué que significa lugar de reunião O hebraico adotou significado muito próximo casa de reunião beit hakenesset Em grego ela também era denominada proseuche ou lugar de oração Oração e reunião eram assim atividades relacionadas e denotavam juntamente com uma terceira atividade o estudo da Torá a função das sinagogas Os autores atuais parecem concordar em relação à questão da origem das sinagogas na Diáspora Eles concluem que as sinagogas apareceram no Egito helenístico em razão de várias inscrições do tempo de Ptolomeu III que fazem menção à proseuche ou lugar de oração Aula 5 O Egito ptolomaico 19 O Egito e a intervenção romana Os soberanos ptolomaicos nunca fizeram oposição aberta às intervenções de Roma na região da Ásia Menor e na política dos reinos helenísticos No mapa do litoral do mar Egeu em torno de 200 aC Figura 59 já é possível observar alguns protetorados romanos na parte ocidental da península balcânica Com o passar dos anos a intervenção romana passou à dominação completa de praticamente todo o território da Ásia Menor Figura 510 Mapa do início da intervenção romana na Ásia Menor Fonte Wikimedia Commons httpptwikipediaorgwikiFicheiroMapMacedonia200BCessvg Mundo Helenístico 20 Diferentemente dos reis selêucidas que se envolveram em guerras pela conquista de territórios contra os romanos entre os ptolomeus houve inclusive o fato peculiar de ter Ptolomeu XI no século I aC cedido em testamento a ilha de Chipre e o próprio Egito aos romanos O Egito não passou a mãos romanas desta maneira tão simples mas em apenas meio século tornouse óbvio que os reis ptolomaicos transformaramse em fantoches nas mãos de autoridades romanas como os generais César Pompeu e Crasso membros do primeiro triunvirato Com efeito a última rainha da dinastia ptolomaica Cleópatra VII casouse com seu irmão Ptolomeu XIV de modo a reinar juntamente com ele por sugestão de César de quem fora amante e tivera um filho Mais tarde ela chegou a residir em Roma a convite do próprio César O reino egípcio passava a constituir um protetorado romano Poucos anos depois em meio às lutas entre os generais romanos Otávio sobrinho e filho adotivo de César e Marco Antônio pelo poder de todo o território conquistado por Roma o Egito passaria à condição de província romana Marco Antônio foi neste período companheiro da rainha Cleópatra Com ela teve filhos e residiu no Egito Otávio aproveitandose desta situação afirmou ao Senado romano que Marco Antônio representa uma ameaça porque em razão de sua ligação com Cleópatra ele deixara de ser romano para se tornar oriental Como o Senado romano e a população da Itália tinham muito receio de uma vitória de Marco Antônio fizeram um juramento de fidelidade a Otávio que se comprometeu a restaurar os antigos valores da República romana Na batalha naval do Ácio em 31 aC Otávio finalmente venceu Marco Antônio A dominação completa do Egito por Otávio é marcada por sua entrada triunfal em Alexandria O fim de tais lutas marcaria a ascensão dele à condição de primeiro imperador romano com o título de Augusto agraciado pelos deuses Triunvirato Tratase de uma magistratura da antiga Roma desempenhada por três cidadãos que tinham por missão administrar os negócios supremos da República O termo referese à associação de três cidadãos que reúnem em si toda a autoridade Corresponde ao governo de três indivíduos triarquia Fonte Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Aula 5 O Egito ptolomaico 21 Ainda assim é necessário observar que mesmo constituindo uma província romana o Egito permaneceu exótico e fascinante aos olhos romanos fato que se pode perceber a partir dos relatos elogiosos de Estrabão que embora grego de nascimento conduziu seus estudos em Roma sobre a cidade de Alexandria e também por evidências materiais do século I aC Veja o mosaico representando o Nilo encontrado na cidade italiana de Palestrina Figura 510 Figura 511 Mosaico do Nilo da cidade italiana de Palestrina século I aC Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwiki FileNileMosaicOfPalestrinajpg Mundo Helenístico 22 Outra prova de que o Egito ainda se manteve exótico e atraente aos olhos ocidentais durante muitos séculos foram as leituras feitas da própria rainha Cleópatra VII que conseguira seduzir dois importantes generais romanos do final do período republicano Sua figura inspirou diversas representações sobretudo já no século XX na era do cinema E ela foi marcada como o símbolo da mulher oriental misteriosa e atraente Atende ao Objetivo 2 2 O geógrafo grego Estrabão descreve a cidade de Alexandria no livro 17 de sua obra Geografia as vantagens da cidade são de vários tipos A área é banhada por dois mares ao norte o mar chamado Egípcio ao sul o lago Mareia também conhecido como Mareotis As exportações por mar de Alexandria são maiores que as importações Isto qualquer pessoa pode constatar seja em Alexandria ou Dicearquia ao observar a chegada e a saída de navios mercantes e ao atentar para quão mais pesadas ou mais leves suas cargas estão quando elas partem ou quando retornam Somado à riqueza obtida com as mercadorias carreadas nos portos de cada lado no mar e no lago o seu bom ar é digno de nota isso é resultado de estar a cidade cercada por água nos dois lados e dos efeitos favoráveis da alta do Nilo Em Alexandria no início do verão o Nilo estando cheio enche também o lago e não deixa assim resíduo de lama que pode ocasionar exalações malignas No mesmo período os ventos etesinos sopram do norte sobre uma grande quantidade de mar e os alexandrinos em consequência passam seu verão de forma muito agradável Aponte segundo a ótica de Estrabão duas características muito positivas da cidade de Alexandria derivadas de sua localização geográfica Aula 5 O Egito ptolomaico 23 Resposta Comentada Estrabão destaca a localização geográfica de Alexandria que é banhada por dois mares Esta localização provê à cidade primeiro uma grande riqueza em razão das exportações e importações isto é do forte comércio marítimo que tem lugar nos portos locais Em segundo lugar esta mesma localização que faz a cidade estar cercada por água em dois lados permite que o ar local seja fresco e sem odores ruins CONCLUSÃO O reino do Egito governado pela dinastia que descendeu de Ptolomeu I Soter teve uma história próspera e autônoma por quase trezentos anos diferentemente dos outros reinos helenísticos que mais rapidamente sucumbiram ao poderio e ao domínio romanos Dentre os fatores responsáveis por esta vida longa podemos contar o processo de construção da legitimidade do poder dos reis ptolomaicos frente aos seus súditos gregos e egípcios que permitiu a contenção de dissidências e revoltas embora estas tenham ocorrido Mundo Helenístico 24 Além disso é digno de nota o eficiente aparato administrativo que os Ptolomeus organizaram de maneira a melhor usufruir os recursos do território sob seu domínio Aliada à forte administração deve ser mencionada a política de fomento à cultura grega que foi desenvolvida com o estabelecimento da capital Alexandria e com a construção de suas instituições ligadas à cultura e à arte a biblioteca e o museu Mais do que nunca a localização geográfica de Alexandria com a presença de vários portos permitia a ela manter um expressivo comércio que rendia aos reis ptolomaicos grandes tributos e ao reino importantes riquezas A política de manutenção de boas relações com Roma também não pode ser esquecida Ainda que os últimos reis ptolomaicos já não conseguissem exercer poder efetivo sem as interferências de autoridades romanas a escolha pelo não confronto permitiu ainda ao Egito um maior tempo de vida autônoma Paradoxalmente o confronto final com os romanos que teve por consequência a tomada definitiva do reino foi causado pela presença de um romano em terras egípcias o general Marco Antônio que se aliara e casara se com Cleópatra VII Ele foi derrotado na Batalha do Ácio em 31 aC pelo general Otávio futuro primeiro imperador romano e o Egito anexado ao território romano como província imperial Atividade Final Observe as duas representações da rainha Cleópatra VII nas artes visuais em especial o cinema Dentre as imagens a seguir encontrase aquela da atriz Elizabeth Taylor no papel de Cleópatra em famoso filme de 1963 Por que a última rainha do Egito Cleópatra exerceu tamanho fascínio ao longo da história tendo por fim sua vida retratada em diversos filmes do século XX Aula 5 O Egito ptolomaico 25 Resposta Comentada Porque a história de Cleópatra misturase à história de Roma ao ter ela se envolvido amorosamente com dois importantes políticos e generais do final do período da República César e Marco Antônio Este último chegou inclusive a transferir sua residência para Alexandria no Egito de forma a ficar próximo de Cleópatra e dos filhos que com ela teve Além disso o fato de ter ela sido a última rainha do reino do Egito antes de sua conquista definitiva por Roma trouxe lhe ainda na Antiguidade até o século IV dC muita devoção por parte dos antigos súditos egípcios que provavelmente viam nela o símbolo do Egito soberano Cleópatra ficou marcada na História como uma rainha importante e como uma mulher exótica e atraente símbolo do Oriente inventado pelos ocidentais Figura 512 Filme Cleópatra 1917 Fonte httpptwikipediaorgwiki FicheiroCleopatra1917jpg Figura 513 Filme Cleópatra 1963 com Elizabeth Taylor Fonte httpptwikipediaorgwikiFicheiro1963Cleopatratrailer screenshot281029jpg Mundo Helenístico 26 RESUMO Ptolomeu I Soter salvador foi apontado o governante do Egito por Alexandre o Grande e ele era um dos sucessores mais plausíveis ao governo de todo o império alexandrino Após a morte deste Ptolomeu I tomou o Egito e regiões adjacentes como ganho seu Assim ele se proclamou rei basileus do Egito em 305 aC e abriu caminho para que seus sucessores legitimassem seu poder como verdadeiros faraós Ptolomeu I foi um grande protetor da cultura grega em seu reino Transferiu a capital egípcia para Alexandria cidade marcada por sua favorável localização geográfica e pela construção de importantes instituições ligadas à cultura um museu o primeiro de que se tem notícia na história e sua biblioteca foi a maior no mundo antigo o que a transformou num importante centro cultural em todo o Mediterrâneo Após a morte de Ptolomeu I os seus sucessores tiveram de lidar com os selêucidas de muitas formas no que dizia respeito ao controle da Síria da Ásia Menor da Palestina e da ilha de Chipre Todos os esforços de Ptolomeu no sentido de fortalecer seu reino permitiram que a dinastia que dele descendeu conseguisse manter seu status independente por mais tempo do que os outros reinos helenísticos que sucumbiram mais rapidamente ao poderio romano até a última soberana Cleópatra VII que morreu em 30 aC Cleópatra havia se aliado ao general romano Marco Antônio Na disputa pelo controle do vasto território romano entre Marco Antônio e Otávio sobrinho e filho adotivo de Julio César o último foi vencedor na batalha naval do Ácio em 31 aC Assim o Egito foi anexado ao território romano tornandose uma província imperial Aula 5 O Egito ptolomaico 27 Informação sobre a próxima aula Na próxima aula você verá em detalhes como se estabelece o poder sobre a parcela mais ampla do antigo território conquistado por Alexandre a Ásia Menor e grande parte do continente asiático Os sucessores do grande conquistador nessa região são os selêucidas que têm na figura de Seleuco I Nicator o fundador da dinastia SOLOWAY Com a intenção de afiar vocês para a AP1 que está por vir e considerando tanto as aulas de 5 a 7 quanto os textos indicados para leitura gostaria de propor uma rápida reflexão no fórum sobre a seguinte questão Quais foram as estratégias usadas pelos reinos helenísticos herdeiros do Império de Alexandre a fim de consolidar o poder e legitimar suas dinastias Quais características de governo podem ser consideradas imposição greco macedônica e quais seriam adaptaçãointeração ao local de dominação Monica Selvatici Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos Mundo Helenístico 2 Metas da aula Caracterizar o reino helenístico da dinastia selêucida que governou a parte oriental das conquistas territoriais de Alexandre o Grande e apresentar os reinos asiáticos que conquistaram independência do domínio selêucida Objetivos Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de 1 reconhecer o processo histórico de conquista e perda de territórios por parte da dinastia selêucida e o processo de construção da legitimidade do poder do rei selêucida frente aos seus súditos 2 avaliar as medidas tomadas pelos soberanos selêucidas no sentido de manter o controle sobre o vasto território de seu reino dentro do contexto da organização do Estado selêucida Prérequisito Para esta aula procure recapitular informações da Aula 2 Fontes escritas e cultura material sobre a localização geográfica do mundo helenístico em especial aquela do reino selêucida e as informações da Aula 4 As conquistas de Alexandre e a construção da imagem do grande general acerca do processo de conquista de tal território Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 3 INTRODUÇÃO Nesta aula discutiremos a formação a história e a desagre gação do reino da dinastia selêucida que abarcou a maior parcela e aquela mais oriental do antigo território conquistado por Alexandre o Grande Após a morte de Alexandre o Grande em 323 aC houve a divisão do território por ele conquistado entre seus generais referidos em grego como diádocos diadochoi sucessores e também como epígonos epígonoi filhos Seleuco um dos principais generais de Alexandre tornouse governador o termo preciso é sátrapa que será explicado nas próximas páginas da Babilônia em 321 aC Houve no entanto uma série de lutas que duraria toda uma década entre aqueles generais que pretendiam manter a unidade do império em memória à figura de Alexandre e aqueles que pretendiam dividilo Neste processo Seleuco aliouse a Ptolomeu I do Egito contra Antígono I sucessor de Alexandre ao trono macedônico que havia conseguido naquele período expulsálo do governo da Babilônia Assim em 312 aC ao derrotar o exército do filho de Antígono Demétrio na região de Gaza com o auxílio de tropas enviadas por Ptolomeu Seleuco conseguiu tomar posse da Babilônia novamente Estabeleceuse assim o reino ou império selêucida na parte mais oriental do antigo império alexandrino Em suma o grupo dos generais que intencionava dividir as terras de Alexandre foi vencedor Mundo Helenístico 4 Figura 61 Seleuco I Nicator bronze Cópia romana de original grego da cidade de Herculano sul da Península Itálica Atualmente no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles Itália Fonte Wikimedia Commons http ptwikipediaorgwikiFicheiroSeleucoI NicatoreJPG O estabelecimento do reino selêucida Os selêucidas governaram o maior dos reinos helenísticos com o seu centro na Síria e a Turquia ocidental como limite a oeste assim como a província da Báctria atual Afeganistão e Paquistão a leste Em torno de 305 aC Seleuco havia consolidado o seu poder sobre o território e começou a expandir seu domínio a leste em direção ao rio Indo e a oeste sobre a Síria e a Ásia Menor Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 5 Figura 62 Mapa dos reinos sucessores de Alexandre antes da batalha de Ipsus 301 aC com destaque para o reino selêucida Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileDiadochpng Ao todo o território selêucida compreendeu as áreas do que atualmente são o Afeganistão o Irã o Iraque a Síria e o Líbano juntamente com partes da Turquia Armênia Turcomenistão Uzbequistão e Tadjiquistão A princípio o reino selêucida teria duas capitais que foram fundadas em 300 aC Antioquia do rio Orontes na Síria e Selêucia do rio Tigre na Mesopotâmia A cidade de Babel compreendia outro centro urbano de importância expressiva Como você já viu em aulas anteriores o processo de helenização das regiões conquistadas por Alexandre foi levado adiante pelas dinastias que a ele sucederam através do estabelecimento de cidades gregas tanto em terras não urbanizadas quanto em locais onde existiam antigos assentamentos Novas cidades foram fundadas mesmo em lugares onde havia grandes concentrações urbanas Este foi o caso da cidade faraônica de Mênfis no Egito que perdeu seu lugar para Alexandria cidade construída por Alexandre no litoral do Mediterrâneo que passou a ser a capital do reino ptolomaico e também o caso da nova capital do reino selêucida Selêucia do Tigre que ultrapassou em vulto a antiga capital mesopotâmica a cidade de Babel Como se pode notar as cidades recebiam nomes em homenagem à dinastia governante Mundo Helenístico 6 O reinado de Seleuco I durou de 312 a 281 aC e ele foi sucedido por seus descendentes que continuaram a governar o conjunto das províncias acima apontadas por mais de dois séculos Entretanto este reino logo começou a perder territórios tanto a leste como a oeste A Báctria tornouse independente em 255 aC e também a leste emergiu o reino não grego da Pártia aproximadamente em 238 aC o que bloqueou a expansão selêucida nesta direção Posteriormente o rei selêucida Antíoco III de epíteto o Grande conseguiu reconquistar tais territórios ao longo de uma série de guerras orientais entre os anos 209 e 204 aC Também em termos de guerras empreendidas são dignas de menção as diversas guerras sírias travadas a sudoeste contra a dinastia dos ptolomeus do Egito Primeira Guerra Síria 274271 aC Segunda Guerra Síria 260253 aC Terceira Guerra Síria 246241 aC Quarta Guerra Síria 219217 aC Quinta Guerra Síria 202195 aC Sexta Guerra Síria 170168 aC No ano 200 o rei ptolomaico foi forçado a ceder a Palestina a Antíoco III Este representou o ápice do poder selêucida Antíoco III no entanto logo viria a assistir ao declínio de seu poder Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 7 Figura 63 Moeda de prata representando Antíoco III Fotografada no Museu Britânico Londres Fonte Wikimedia Commons httpeswikipedia orgwikiArchivoAntiochosIIIJPG No extremo ocidental do território os selêucidas perderam as terras na Turquia quando lá despontou a dinastia dos Atálidas que passou a governar a região independente então transformada no reino de Pérgamo em cinza mais escuro no mapa Figura 64 Figura 64 Mapa da região da Ásia Menor após 188 aC Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileAsiaMinor188BCEjpg Mundo Helenístico 8 No século II aC o poder dos Atálidas foi aumentado por se aliarem a Roma a quem o reino de Pérgamo foi legado pelo último soberano em 133 aC Desta forma no século I aC o reino selêucida estava já reduzido também em função de dissensões internas a uma pequena área do norte da Síria e ele finalmente sucumbiu frente aos romanos em 64 aC O embate com o poderio romano No ano 196 aC Antíoco III cruzou o Helesponto com o objetivo de conquistar a região da Trácia ele de fato conseguiu seu intento em 194 No entanto tamanha proximidade e influência sobre terras próximas àquelas dominadas por Roma rapidamente incomodaram os romanos Uma guerra inevitável entre as duas potências foi desencadeada em 192 aC Antíoco III recebeu apoio de muitas cidades gregas e auxílio do general cartaginês Aníbal mas foi derrotado e forçado a pagar uma enorme soma de dinheiro aos romanos Como resultado o reino selêucida perdeu suas possessões na região da Ásia Menor atual Turquia A partir de então a monarquia selêucida começou a perder mais territórios Roma havia se tornado um poder invencível Apoiou os judeus quando eles se libertaram do domínio selêucida após a revolta dos Macabeus Concomitantemente os partos que serão caracterizados em detalhes na seção Os reinos asiáticos fundaram o império parto subtraindo as províncias orientais do reino selêucida As cidades de Selêucia do Tigre e Babel foram capturadas na primavera de 141 aC Mais perdas ocorreram com as guerras civis entre duas facções rivais da família selêucida O enorme reino selêucida continuou a perder territórios em função da guerra ou da rebelião de populações dominadas Neste sentido a anarquia e a instabilidade criaram o contexto propício para a divisão da Ásia Menor em reinos que se tornaram independentes Assim ocorreu com os novos reinos da Bitínia Paflagônia Ponto Galácia Capadócia Comagene Cilícia e Pérgamo Helesponto O Helesponto cujo nome atual é Dardanelos constitui um estreito no noroeste da Turquia ligando o mar Egeu ao mar de Mármara Assim como o estreito de Bósforo ele separa a Europa da Ásia Aníbal General da cidade de Cartago filho de Amílcar Barca liderou as tropas cartaginesas em sua luta contra Roma ao longo da Segunda Guerra Púnica 218202 aC Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 9 O processo de desagregação do reino selêucida foi provocado definitivamente pela chegada dos romanos ao centro do reino e a tomada de seu território O último rei selêucida foi destronado em 64 aC O centro do antigo reino foi transformado em uma província pelos romanos nomeada Síria A Revolta dos Macabeus como você verá com mais detalhes na Aula 10 foi um levante organizado pelo judeu Judas Macabeu contra o rei selêucida Antíoco IV Epifanes na década de 160 aC que teve como motivo primeiro a proi bição do culto judaico pelo monarca helenístico e a obrigação imposta por ele aos judeus de cultuar uma divindade helênica O processo de legitimação do poder dos governantes selêucidas Com a morte de Seleuco em 281 aC Antíoco I precisava determinar de que forma ele iria apresentar o seu reinado em relação ao de seu pai Seleuco havia começado a se separar do imaginário ligado a Alexandre e é possível que já tivesse iniciado a cunhagem de moedas com sua própria efígie No entanto seu filho Antíoco I foi bastante original ao criar uma imagem diferente que dominou a produção de moedas dos selêucidas por todo um século o retrato do rei vigente no anverso e no reverso o deus Apolo sobre o ônfalo Ônfalo Pedra arcaica ou ainda pedra fundamental de uma localidade esculpida com baixosrelevos A mais famosa dentre as pedras deste tipo que existiam ao longo do Mediterrâneo antigo era aquela mantida no templo do deus Apolo em Delfos O significado da palavra omphalos em grego é umbigo Diziase que a pedra correspondia ao centro do mundo tal como determinado por Zeus Os relevos que recobrem a pedra representam uma rede Hoje perdidas compunham também a peça duas águias de ouro que ficavam sobre ela Mundo Helenístico 10 Figura 65 Ônfalo de Delfos acervo do Museu Arqueológico de Delfos Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorg wikiFileOmphalosmuseumjpg Antíoco I também promoveu a imagem de seu pai como o fundador da dinastia selêucida O historiador romano de origem grega Apiano de Alexandria relata que um culto a Seleuco I foi fundado na cidade Selêucia Piéria Além disso uma imagem divinizada de Seleuco caracterizado com chifres de touro foi cunhada na cidade de Sardes em moedas que continham no reverso a imagem do deus Apolo sobre o ônfalo Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 11 O deus Apolo dentro do império selêucida foi interpretado no contexto babilônico como o deus local Nabu e no contexto persa ele foi divulgado como a versão grega do rei vigente Esta característica multifacetada da divindade transformoua na figura ideal para representar os selêucidas que procuravam legitimar seu poder sobre um território vasto e uma população multiétnica Em suma Antíoco I publicizou a imagem de seu pai divinizado com o objetivo de se afirmar como sucessor legítimo dele Segundo Kyle Erickson 2010 Antíoco divulgou a imagem de Seleuco como ancestral e fundador da dinastia mas não como o único foco da casa real O papel de Seleuco como fundador foi ainda mais destacado através do contínuo uso da data de seu retorno da Babilônia como o marco inicial da cronologia da dinastia selêucida Figura 66 Moeda de Seleuco I Nicator Fotografada no Museu Britânico Londres Fonte Wikimedia Commons http enwikipediaorgwikiFileSeleucosCoinjpg Mundo Helenístico 12 E rapidamente Antíoco I procurou estabelecer o seu papel como soberano legítimo ao inserir a sua própria imagem no anverso das moedas Figura 67 Moeda cunhada por Antíoco I Soter 281261 aC Anverso Antíoco com diadema Reverso Apolo sentado sobre o ônfalo Fonte Wikimedia Commons httpptwikipediaorg wikiFicheiroAntiochusIjpg Atende ao Objetivo 1 1 Observe o mapa do Império selêucida no ano 200 aC e a moeda do rei Antíoco IV Epifanes Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 13 Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileSeleucidEmpire200bcjpg Figura 68 Moeda de Antíoco IV Epifanes no anverso e o deus Apolo sobre o ônfalo no reverso É sabido que no ano 200 aC o poder dos selêucidas chegou ao seu ápice com a conquista da Palestina anteriormente dominada pelos ptolomeus Diante de tantos territórios e populações diferentes dominadas por que os reis selêucidas insistiram na cunhagem de moedas que apresentavam no anverso os seus perfis e no reverso o deus Apolo sobre o ônfalo Mundo Helenístico 14 Resposta Comentada Porque a cunhagem de moedas foi um importante recurso para estabelecer a legitimidade do poder selêucida frente aos súditos das diversas regiões dominadas Desde Seleuco I esta estratégia foi utilizada e assim permaneceu sob os sucessores da dinastia A adoção da figura do deus Apolo tinha a função de representar bem a dinastia selêucida diante de tantos povos dominados na medida em que ele mantinha uma característica multifacetada pela qual ele se confundia com o deus Nabu dos babilônicos e também entre os persas dominados era visto como a representação do rei vigente A organização do estado selêucida O reino selêucida tal como o império de Alexandre mantinha aspectos similares aos dos impérios anteriores a ele o império assírio o império neobabilônico e o império aquemênida Não há dúvida quanto a tais semelhanças mas os intelectuais discordam em relação à questão de se os selêucidas quiseram usar as estruturas do antigo governo e realmente se mostraram como sucessores dos Aquemênidas tal como fizeram os ptolomeus ao se colocarem como sucessores dos antigos faraós já que procuraram ao contrário divulgar com força o modo de vida helênico em todo o território por eles dominado Talvez a permanência mais forte do antigo sistema de governo persa nos domínios selêucidas tenha sido a divisão das terras do reino em províncias ou satrapias a serem governadas por sátrapas que deviam obediência e lealdade ao rei Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 15 Império assírio Os assírios formaram um reino semita locali zado em torno da região do alto rio Tigre no norte da Mesopotâmia atual Iraque Seu nome advém de sua capital original a antiga cidade de Assur A história dos assírios remonta ao século XX aC No entanto o auge de processo de expansão do império assírio deuse entre os séculos IX e VII aC quando sob o soberano Assurbanipal c 668627 aC controlou por algumas décadas toda a região do Crescente Fértil além do Egito O fim do domínio assírio deuse com a invasão dos caldeus às capitais Assur e Nínive no final do século VII aC Império neobabilônico Tratase de um breve período da história da antiga Mesopotâmia entre 626 e 539 aC quando os caldeus governaram o território do antigo império assírio Este domínio iniciase com a tomada da cidade de Babel ou Babilônia por Nabopolassar em 626 aC e tem continuidade com a invasão de importantes cidades do império assírio Dentre os soberanos da dinastia neoba bilônica iniciada por Nabopolassar encontrase seu filho Nabucodonosor II conhecido pelo relato bíblico como o rei que invadiu a Judeia e deportou os judeus para o exílio na Babilônia Esta dinastia logo perde seus domínios com a invasão de Babel desta vez pelos persas aquemênidas em 539 aC Mundo Helenístico 16 Império aquemênida O império aquemênida existiu por mais de duzentos anos cerca de 550330 aC Também conhecido como o primeiro império persa teve no monarca Ciro o grande o responsável por expandir seus domínios até abarcar em torno de 500 aC uma área que seguia desde o vale do rio Indo a leste até a Trácia e a Macedônia a oeste Ele também dominou o Egito neste período compreendendo no auge de sua ex tensão territorial cerca de 2600000 km2 divididos em províncias as satrapias e interligados por uma complexa rede de estradas Membros das elites nativas procuraram se helenizar em termos dos costumes mas as línguas demóticas línguas faladas no cotidiano também foram usadas na administração do Estado selêucida A influência grega era limitada às cidades não chegando a afetar as áreas rurais Embora os soldados gregos fossem a base do exército um grande número de tropas da Pérsia e da Babilônia foi incorporado entre as quais os catafractas a cavalaria pesada dos persas aquemênidas Houve diversas revoltas na região que a dinastia selêucida conseguiu suprimir e na tentativa de alcançar a obediência dos súditos orientais os reis selêucidas procuraram agir como protetores dos cultos persas e babilônicos Eles adotaram amplamente a prática de subsidiar pagavam os custos dos sacrifícios feitos no templo os cultos das divindades persas e mesopotâmicas Adotaram também a política dos casamentos com a realeza persa da Capadócia que se dizia ligada por ancestralidade à figura de Dario I o Grande Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 17 O principal desafio para o Estado selêucida era o de garantir a integração do vasto reino sob seu domínio que compunha um mundo muito heterogêneo em termos dos povos que nele habitavam A existência de duas capitais Antioquia na Síria e Selêucia na Babilônia era uma tentativa de manter o governo sobre todo o território Havia regiões que eram subordinadas diretamente ao rei e outras situadas sobretudo nas fronteiras que eram ainda governadas por chefes tribais ou elites religiosas Estas regiões mostravamse na maioria das vezes autônomas em relação ao poder central A dinastia selêucida na tentativa de melhor dominar o território sob seu domínio divulgou a cultura helênica ao fundar uma série de cidades e colônias de cidadãos gregos em algumas regiões de seu reino Esta iniciativa foi adotada por Seleuco I e Antíoco I que fundaram diversos núcleos urbanos cujo modelo era as póleis gregas com o ginásio anfiteatros e praças As colônias gregas eram centradas em sua maioria na Síria cuja capital Antioquia era a mais importante delas e em menor escala na Babilônia com a fundação de Selêucida do Tigre Uma exceção à regra foi a colonização grega da longínqua província da Báctria situada na fronteira com a Índia O reino de Pérgamo Durante a divisão do império de Alexandre a região da Anatólia coube a Lisímaco um dos diádocos ou sucessores de Alexandre Lisímaco conquistou uma grande fortuna com suas possessões na Ásia Menor e as depositou na cidade de Pérgamo deixando boa parte dela aos cuidados de um de seus oficiais Filetairo No entanto Lisímaco foi posteriormente morto por Seleuco I Nicator em 281 aC na batalha de Corrupedium o que fez com que Filetairo ficasse com a posse de um grande tesouro e da própria cidade de Pérgamo Mundo Helenístico 18 Filetairo mostrouse um habilidoso administrador ao governar Pérgamo como um território vassalo do reino selêucida Procurando demonstrar lealdade aos selêucidas na realidade ele conseguiu fundar seu próprio reino Em 263 aC seu sucessor Eumenes I travou uma aliança com o Egito ptolomaico derrotou o rei selêucida Antíoco I Soter e declarou a independência de seu território Ele é neste sentido considerado o primeiro rei de Pérgamo e o fundador da dinastia dos Atálidas cujo nome advém de seu avô Átalo de Tios Além disso ele conseguiu expandir as fronteiras de seu reino até as margens do mar Egeu O seu sucessor Átalo I deu continuidade ao processo de expansão até que toda Ásia Menor fica submetida aos Atálidas Neste momento eles travam um pacto com Roma que se torna protetora do reino e recebe por herança seu território após a morte do último rei desta dinastia Átalo III em 133 aC O naturalista romano Plínio o Velho conta uma anedota mencionada anteriormente por Varrão segundo a qual a invenção do pergaminho fora resultado da rivalidade entre ptolomeus e atálidas e mais especificamente entre as cidades de Alexan dria e Pérgamo Pérgamo assim como Alexandria era um centro cultural de expressiva importância no mundo helenístico O rei Átalo II iniciou em 157 aC a coleta de textos a serem depositados na Grande Biblioteca de Pérgamo Tal biblioteca viria a ter uma repercussão menor do que aquela de Alexandria mas era muito vasta em ter mos dos campos de saber contemplados No entanto ela dependia exclusivamente dos papiros oriundos de Alexandria e não mantinha com esta última a melhor Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 19 das relações Segundo Plínio em Historia Naturalis em razão de tal rivalidade o rei do Egito proibiu a exportação de papiro para aquela cidade e os habi tantes de Pérgamo foram obrigados a desenvolver a técnica da fabricação de um suporte diferente para a escrita o pergaminho que tem seu nome derivado do nome da cidade Os reinos asiáticos Alexandre o Grande em meio às suas conquistas de novos territórios alcançou e tomou no Oriente a região de Sogdia ou Sogdiana e o Irã Entretanto ao sul ele encontrou muita resistência local Após dois anos em guerra e uma forte campanha de revoltas Alexandre obteve êxito na conquista de algum controle sobre a região da Báctria localizada em torno do rio Oxus e ao norte do Hindu Kush que Alexandre designou como o Cáucaso das Índias Uma onda de colonização militar sob as ordens de Alexandre e da dinastia selêucida posterior a ele estabeleceu uma comunidade numericamente pequena porém politicamente dominante na Báctria O reino grecobactriano Importantes dificuldades encaradas pelos reis selêucidas e os ataques de Ptolomeu II do Egito deram a Diódoto sátrapa da Báctria a oportunidade de declarar a independência do seu território em torno de 255 aC e ainda conquistar a região de Sogdiana Ele foi o fundador do reino grecobactriano Diódoto e seus sucessores foram capazes de se manter frente aos ataques dos selêucidas particularmente dos ataques de Antíoco III que foi finalmente derrotado pelos romanos em 190 aC Mundo Helenístico 20 Houve o desenvolvimento e a evolução de um sentimento de pertença à etnia grega entre a comunidade de colonos da Báctria helenística e seus descendentes O novo reino foi altamente urbanizado e considerado um dos mais prósperos do Oriente O historiador latino Marco Juniano Justino o definia como o opulentíssimo império bactriano das mil cidades em latim opulentissimum illud mille urbium Bactrianum imperium Assim uma política de expansão territorial foi adotada em direção tanto ao oriente como ao ocidente O território grecobactriano foi ampliado até as terras da Índia O geógrafo grego Estrabão mostrouse bastante impressionado em sua descrição No que diz respeito à Báctria uma parte dela segue ao longo da região de Ária em direção ao norte embora a maior parte dela localizese acima de Ária e a leste desta região E ela produz de tudo com exceção de azeite Os gregos que provocaram a revolta da Báctria tornaramse tão poderosos em termos da fertilidade da região que eles se tornaram mestres não apenas da Báctria e além dela mas também da Índia tal como afirma Apolodoro de Artemita e mais tribos foram submetidas por eles do que por Alexandre Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 21 Figura 69 Mapa do reino grecobactriano em sua extensão máxima em torno de 180 aC Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileGreco BactrianKingdomMapjpg Os habitantes do reino grecobactriano utilizavam a língua grega para objetivos administrativos e mesmo a língua bactriana local também era helenizada Isso se pode entrever pela adoção do alfabeto grego e o empréstimo de palavras em grego ao seu vocabulário Segundo Rachel Mairs 2008 p 39 Os habitantes da região da Báctria mostravamse satisfeitos com o fato de atenderem aos critérios de pertença à etnia grega suas inscrições mostram que eles eram capazes de racionalizar uma gama culturalmente diversa de práticas por meio de um vocabulário cultural grego e que mesmo indivíduos com nomes indianos poderiam gabarse de sua educação grega Mundo Helenístico 22 O reino da Pártia sob os Selêucidas Após a morte de Alexandre na conferência da Babilônia em 323 aC a Pártia tornouse uma província governada por Nicanor Já em 320 aC na Conferência de Triparadiso a província foi delegada ao general Felipe antigo governador de Sogdiana Posterior a isso houve invasões ao território parto que uma vez contidas fizeram da Pártia uma província autônoma Em 316 aC Seleuco I Nicator designou um subordinado seu que ocupava o cargo de sátrapa da Báctria como governador da Pártia Nos sessenta anos seguintes vários membros da hierarquia selêucida foram indicados para o posto de sátrapas desta província Em 247 aC após a morte de Antíoco II Ptolomeu III do Egito tomou o controle da capital selêucida em Antioquia o que deixou incerto o futuro da dinastia selêucida Aproveitandose da situação política do reino muito precária o governador selêucida da Pártia Andrágoras proclamou a independência de sua satrapia e começou a cunhar suas próprias moedas Figura 610 Moeda de Andrágoras Principais Moedas dos Antigos edição de 1889 acervo do Museu Britânico Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwiki FileAndragorasBMCjpg Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 23 Enquanto isso aparece no cenário político oriental a figura de Ársaces homem oriundo da Báctria ou mesmo da Cítia que foi eleito líder dos parni povo de origem iraniana oriental Após a separação da Pártia do Império Selêucida e a consequente perda do apoio militar selêucida Andrágoras viuse em dificuldades para proteger suas fronteiras e em torno de 238 aC sob o comando de Ársaces e seu irmão os parni invadiram a Pártia e tomaram a princípio controle da região norte daquele território Figura 611 Moeda com a representação do rei parto Ársaces I 247211 aC Fonte Wikimedia Commons httpptwikipediaorgwiki FicheiroPdc24586jpg O processo de conquista pelos parni de todo o território da Pártia das mãos de Andrágoras foi bastante rápido Os selêucidas por sua vez procuraram enviar uma expedição punitiva sob Seleuco II que não foi bemsucedida Mais tarde em 209 aC sob Antíoco III os selêucidas recapturaram o território controlado pelos parni das mãos do sucessor de Ársaces Ársaces II Este último aceitou os termos impostos pelos selêucidas e seu território tornouse uma província com status de dependência ou vassalagem Uma nova tentativa da Pártia arsácida de tornarse independente só viria a acontecer no tempo do neto ou sobrinhoneto não se sabe ao certo de Ársaces II Mundo Helenístico 24 Atende ao Objetivo 2 2 Leia o trecho abaixo extraído da Crônica sobre o reino de Seleuco III Keraunos texto babilônico em tablete cuneiforme que tem a escrita feita nele em forma de cunha acervo do Museu Britânico Ano 88 Seleuco III Keraunos rei mês Nisannu I Naquele mês no oitavo dia 7 April 224 um certo babilônico o shatammu do Esagila providenciou para o x x do Esagila sob as ordens do rei de acordo com o pergaminho que o rei enviara antes com dinheiro do tesouro real de sua propriedade 11 bois gordos 100 ovelhas gordas e 11 patos gordos para as oferendas de comida dentro do Esagila para Bêl Bêltia e os grandes deuses e para o serviço do rei Seleuco e seus filhos As porções dos bois e os animais sacrificiais acima mencionados ele destinou aos sacerdotes de lamentação e o shatammu Aos juízes do rei e dos cidadãos para Selêucia ele os enviou Em termos da organização do Estado selêucida de que medidas tomadas por Seleuco III no sentido de manter o controle sobre o vasto território trata o texto de sua crônica Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 25 Resposta Comentada Tendo por base as informações sobre as medidas adotadas pelos soberanos selêucidas com o objetivo de manter o controle e a obediência dos súditos de seu reino fica claro no texto a prática do rei de subsidiar os cultos das divindades mesopotâmicas neste caso no templo babilônico chamado Esagila cuja divindade era Marduk O texto é enfático quanto à origem do dinheiro Ele provém do tesouro real tratase da propriedade da pessoa do rei selêucida que se mostra assim respeitoso generoso e protetor do culto babilônico CONCLUSÃO O território tomado por Seleuco I Nicator após a divisão do império de Alexandre estendiase desde a AnatóliaÁsia Menor e a Síria a oeste até a região da Báctria que fazia fronteira com a Índia e a China a leste Neste sentido a área controlada pelos selêucidas era a mais difícil de administrar na medida em que compreendia muitos grupos étnicos e diferentes províncias as satrapias cujo governo era exercido por líderes locais e sátrapas que não estavam acostumados nem desejavam uma autoridade central Por essa razão as fronteiras do reino selêucida foram sempre flutuantes A política de colonizar com habitantes gregos as áreas conquistadas foi no entanto bemsucedida durante vários anos Ainda assim essa dinastia envolveuse constantemente em guerras contra a dinastia ptolomaica na disputa por territórios algo que terminou por enfraquecer ainda mais o poder central selêucida e causar a perda progressiva dos antigos territórios dominados Esta dinastia foi por fim derrotada pela potência romana que passava a se interessar pelo Mediterrâneo helenístico e terminou por invadir o centro do antigo estado helenístico em meados do século I aC Mundo Helenístico 26 Atividade Final Atende aos Objetivos 1 e 2 Observe a moeda a seguir cunhada no tempo do rei grecobactriano Pantaleão entre 190 e 180 aC e leia as características dela na legenda Figura 612 Moeda bilíngue de Pantaleão no padrão indiano Anverso deusa indiana Lakshmi com legenda em Brahmi sistema de escrita usado no centronorte da Índia a partir do século III aC RAJANE PAMTALEVASA rei Pantaleão Reverso leão budista com legenda em grego BASILEOS PANTALEONTOS rei Pantaleão Fonte Wikimedia Commons httpwikiimagesqwikacom imagesen889PantaleonLionjpg Com base nas informações sobre o reino grecobactriano o que se pode afirmar a respeito das imagens e legendas da moeda Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 27 Resposta Comentada Como vimos nesta aula o reino grecobactriano expandiu suas fronteiras em direção à Índia abarcando diversos territórios indianos Também se sabe que a população da Báctria de origem grega manteve sua identidade grega porém incorporando traços dos povos nativos como o uso da língua bactriana O mesmo parece ter ocorrido com a expansão em direção à Índia A moeda do rei grego demonstra a apropriação grega dos símbolos indianos e o uso bilíngue do grego e da escrita indiana naquele período RESUMO Nesta aula procuramos caracterizar o reino helenístico da dinastia selêucida que governou a parte oriental das conquistas territoriais de Alexandre o Grande em termos de seu território da busca por legitimação de seu poder e da organização do estado selêucida A dinastia selêucida na tentativa de melhor dominar o território sob seu domínio divulgou a cultura helênica ao fundar uma série de cidades e colônias de cidadãos gregos nas diversas regiões de seu reino Ainda assim a manutenção das fronteiras do reino era complexa e o envolvimento em guerras constantes contra os ptolomeus e posteriormente contra os romanos levaram à derrota final de tais governantes Propiciaram também a independência de uma série de reinos outrora dominados pelo Estado selêucida Tais reinos agora autônomos localizavamse tanto a oeste na Ásia Menor Mundo Helenístico 28 como o reino de Pérgamo governado pela dinastia dos Atálidas quanto a leste na Ásia longínqua com o reino da Pártia e o reino grecobactriano Este último manteve de maneira independente uma forte identidade grega em terras próximas à Índia Informação sobre a próxima aula Na próxima aula intitulada A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas você verá em detalhes como se estabelece o poder sobre o território de onde Alexandre é oriundo a Macedônia Os sucessores do grande conquistador nesta região são os antigônidas que têm na figura de Antígono I o fundador da dinastia Com a intenção de afiar vocês para a AP1 que está por vir e considerando tanto as aulas de 5 a 7 quanto os textos indicados para leitura gostaria de propor uma rápida reflexão no fórum sobre a seguinte questão Quais foram as estratégias usadas pelos reinos helenísticos herdeiros do Império de Alexandre a fim de consolidar o poder e legitimar suas dinastias Quais características de governo podem ser consideradas imposição greco macedônica e quais seriam adaptaçãointeração ao local de dominação Após a morte de Alexandre o Grande seu império foi dividido entre seus generais formando os reinos helenísticos Para consolidar o poder e legitimar suas dinastias os monarcas adotaram estratégias como a divinização apresentandose como filhos dos deuses e a promoção da helenização com o grego se tornando a língua administrativa e a fundação de cidades com características gregas Também usaram casamentos dinásticos e alianças políticas para garantir estabilidade e patrocinaram as artes e ciências para fortalecer sua imagem Tais estratégias estão bem ilustradas no contexto dos reinos como o Egito sob os Ptolomeus onde se associaram aos deuses egípcios e mantiveram a aristocracia local como destaca o texto de Said No entanto os governantes não impuseram apenas a cultura grega mas também se adaptaram às tradições locais como no caso do Egito onde os Ptolomeus se associaram aos deuses egípcios Além disso mantiveram a aristocracia local em posições de poder e utilizaram práticas religiosas e culturais locais para integrar os diversos povos equilibrando a imposição de elementos gregos com a adaptação ao contexto local o que assegurou a estabilidade e a longevidade dos reinos helenísticos
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Texto de pré-visualização
Juliana Bastos Marques Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas Mundo Helenístico 2 Meta da aula Apresentar as consequências da divisão do império de Alexandre para a continuidade da realeza macedônica e para a situação política das cidades gregas com o estabelecimento das ligas Etólia e Aqueia Objetivos Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de 1 analisar o processo de divisão do império através da reconfiguração da monarquia macedônica como poder local 2 identificar as características da autonomia das cidades gregas neste período e a criação de ligas como a Etólia e Aqueia bem como seu funcionamento Prérequisitos Para esta aula recapitule as Aulas de 12 a 15 da disciplina História Antiga referentes à Grécia clássica Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 3 INTRODUÇÃO Como pudemos ver nas duas últimas aulas a sucessão de Alexandre não foi um processo simples envolvendo décadas de lutas entre seus generais O próprio reino da Macedônia foi o principal campo de batalha com a eliminação da frágil sucessão da casa real de Alexandre e uma complexa sucessão de generais vitoriosos mas que não conseguiram manter o poder por muito tempo Como veremos nesta aula foi só com a consolidação no poder de Antígono Gônatas em 277 aC que uma nova dinastia se consolidou sem no entanto conseguir reconquistar todo o imenso império de Alexandre As dinâmicas de poder entre a Macedônia e o resto da Grécia tomaram novas características neste período Enfraquecidas politicamente cidades antes poderosas como Atenas e Esparta ainda lutaram por influência e autonomia mas foi só através de ligas de cidades com interesses em comum agindo de forma articulada que as cidadesestado da Grécia conseguiram manter alguma autonomia até que a chegada dos romanos alterasse para sempre esse quadro As guerras de sucessão na parte europeia do Império Macedônico Geralmente lemos nos manuais e livros didáticos que após a morte de Alexandre o império foi divido entre seus três generais Ptolomeu ficou com o Egito Seleuco com a Ásia e Antígono com a Macedônia Na verdade a sucessão de Alexandre foi marcada por décadas de instabilidade política guerras civis tênues alianças e traições período conhecido como as Guerras dos Diádocos do grego diadokhoi sucessores Tudo isso se deu porque Alexandre nunca se ocupou em construir um sistema administrativo e dinástico no seu império que pudesse se sustentar com segurança após a sua morte No Egito e especialmente na Ásia como vimos na Aula 4 Mundo Helenístico 4 ele apenas manteve as estruturas administrativas persas submetendo e cooptando as lideranças locais e adicionando por vezes os macedônios no sistema de satrapias Na própria Macedônia Alexandre havia designado Antípatro como regente e quando morreu não designou nenhum herdeiro para o trono Não que eles não existissem Alexandre tinha um meioirmão Filipe Arrideu que sofria de distúrbios mentais Uma de suas esposas Roxane estava grávida e havia grande expectativa de que nascesse um menino O exército que se encontrava na Macedônia não perdeu tempo e declarou Filipe Arrideu como o novo rei mas era necessário também um regente Quase todos os principais generais de Alexandre haviam morrido nas guerras ou sido assassinados por seus rivais e foi praticamente o segundo escalão o protagonista das lutas de poder que se seguiram Pérdicas um dos poucos ainda próximos a Alexandre e à sua corte impôsse como quiliarca termo local equivalente a primeiroministro até o nascimento do herdeiro Alexandre IV Pérdicas logo se viu isolado contra os outros generais que já planejavam dividir o império e foi morto pelos soldados de Ptolomeu As intrigas da corte e os interesses dos generais causariam em um curto período de tempo a eliminação de toda a casa dos argéadas a família de Alexandre foram assassinados Alexandre IV Roxane Figura 71 Filipe Arrideu e a própria Olímpias mãe de Alexandre Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 5 Figura 71 Casamento de Alexandre e Roxane por Giovanni Bazzi Il Sodoma Palácio Farnese Roma 1517 Note como esta é uma representação idealizada do mundo clássico que mistura elementos típicos das obras do século XVI como os putti os anjinhos e a arquitetura renascentista Roxane aparece sem nenhum elemento indicador de sua origem oriental Fonte Wikimedia commons httpcommonswikimediaorgwikiFileSodomasaladi alessandro02jpg Formouse logo uma coalizão em torno de Cassandro na Macedônia Ptolomeu no Egito Lisímaco na Trácia e Seleuco na Babilônia desta vez contra Antígono I Monoftalmos de um olho só e seu filho Demétrio generais que pretendiam o controle das possessões macedônicas na Ásia e na Europa Estes porém conseguiram libertar a cidade de Atenas de Cassandro e foram comemorados como divindades salvadoras pela cidade Aclamados como reis por seu exército foram os primeiros a se apresentar como uma dinastia nova acabando com o discurso ilusório de continuadores da dinastia argéada Cassandro e a coalizão dos generais conseguiram por sua vez derrotar e matar Antígono na famosa batalha de Ipsus em 301 aC retratada por Plutarco na Vida de Demétrio a batalha é tida como o marco final da divisão do império de Alexandre entre os seus sucessores Figura 72 Mundo Helenístico 6 Figura 72 Divisão do Império Macedônico após a batalha de Ipsus na qual a coalizão de Cassandro Lisímaco Seleuco e Ptolomeu derrota Antígono Monoftalmos e seu filho Demétrio Fonte httpuploadwikimediaorgwikipediacommonsbb0Diadochen1png No entanto Demétrio consegue invadir e conquistar a Macedônia e ainda conta com a sorte de Cassandro e seus descendentes morrerem de causas naturais em pouco tempo Demétrio ainda sonhava com a restauração do império de Alexandre sob sua liderança mas logo os macedônios cansaramse de sua adoção de costumes orientais assim como Alexandre havia feito e expulsaramno Você conhece a ex pressão vitória de Pirro Segundo o dicionário Houaiss é uma vitória que traz quase tanto prejuízo ao vencedor quanto ao derrotado O rei Pirro 319272 aC de Épiro um território a oeste da Macedônia também procurou aumentar seu território Figura 73 Busto de Pirro Museo Archeologico Nazionale Nápoles Itália Fonte httpenwikipedia orgwikiFilePyrrhusJPG Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 7 lutando contra os romanos que na época estavam começando a se tornar uma grande potência militar Pirro foi vitorioso nas batalhas que travou contra Roma mas elas lhe custaram tantas perdas que o rei não conseguiu consolidar seu poder precisando aban donar seus planos de conquista Nesse período os generais sucedemse rapidamente no trono da Macedônia Em 288 aC Lisímaco rei da Trácia a leste e Pirro rei do Épiro a oeste acabaram dividindo a Macedônia entre si com Lisímaco logo tomando controle Após um curto período de Seleuco como rei Ptolomeu Keraunos filho do general Ptolomeu parecia ter finalmente se estabelecido no poder até que foi capturado e morto por gauleses invasores Aos macedônios sobrou o filho de Demétrio Antígono II Gônatas que finalmente conseguiu se estabilizar no poder e iniciar uma nova dinastia Para demonstrar com mais clareza essa sucessão vertiginosa de reis na Macedônia vejamos um quadro cronológico dos períodos em que reinaram atenção todas as datas são aC Quadro 71 Quadro 71 Sucessão de reis na Macedônia Alexandre III o Grande 336323 Antípatro regente da Macedônia 334323 Filipe III Arrideu 323317 Alexandre IV 323310 Pérdicas regente 323321 Antípatro regente 321319 Polipércon regente 319317 Olímpias regente 317316 Cassandro como regente 316305 Cassandro como rei 305297 Mundo Helenístico 8 Três filhos de Cassandro 297294 Demétrio I 294288 Pirro 288285 Lisímaco 288281 Seleuco I 281 Ptolomeu Keraunos Filho de Ptolomeu I Soter do Egito 281279 Antígono II Gônatas 277239 Você obviamente notou que fizemos aqui uma narrativa política tradicional até agora muitos nomes de generais e muitas datas isso porque nem citamos os nomes das batalhas Agora vamos analisar por que fizemos isso e o que essa narrativa significa em termos mais amplos no quadro histórico do período Em primeiro lugar temos o problema do estado das fontes No estudo de todo o mundo antigo são os tipos de fontes que estão disponíveis para nós que acabam determinando que história podemos reconstruir Por exemplo nos primórdios da história da Grécia desde a Era do Bronze até o período arcaico sabemos mais sobre a cultura material o cotidiano e a economia do que sobre por exemplo as sucessões dinásticas ou a estrutura política das cidades e regiões isso é devido ao fato de que temos muito mais fontes arqueológicas disponíveis sobre o período do que fontes historiográficas e literárias Já durante o período clássico da democracia ateniense e da Guerra do Peloponeso sabemos muito mais detalhes sobre a estrutura administrativa e política de Atenas e sobre as etapas da guerra porque temos um conjunto de relatos como o de Tucídides historiador e general ateniense No período que estamos estudando agora temos poucas evidências arqueológicas expressivas até porque os arqueólogos ainda têm privilegiado outros períodos históricos para conduzir suas escavações e estudos Temos sim um conjunto considerável de epigrafia e numismática você se lembra da Aula 2 e alguns relatos historiográficos muito dispersos e geralmente tardios recopiados Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 9 e abreviados muitos séculos depois Essas narrativas seguiam o padrão temático da historiografia grega criado com Heródoto no século V o que importava para registrar eram exatamente as grandes batalhas e os grandes fatos políticos Portanto se nossas ferramentas principais para entender o período são textos com essa temática acabamos nós também nos concentrando nesses fatos Mas isso não significa que nós também estejamos restritos a apenas narrar uma sucessão de fatos políticos Em uma leitura mais atenta dos motivos dessas disputas pelo poder podemos encontrar as bases de alguns aspectos do mundo macedônico O próprio mecanismo de legitimidade na sucessão real é um deles Embora as fontes sejam um pouco imprecisas a respeito sabemos que a monarquia macedônica tinha regras e costumes muito diferentes das outras monarquias antigas um novo rei só conseguiria de fato subir ao trono se sua aclamação fosse aprovada pelo exército e pelos nobres a corte que incluía os principais generais Esse reconhecimento não era apenas formal e o herdeiro deveria a princípio ser anunciado com antecedência pelo rei antes de morrer mesmo sendo o filho primogênito Como vimos isso nem sempre ocorreu durante o período entre a morte de Alexandre e a ascensão de Antígono II Gônatas Em termos institucionais isso gerou confusão e insegurança tanto que vemos quantos nomes no Quadro 71 se apresentam como regentes e não como reis Apenas quando Cassandro sentiuse seguro o suficiente no comando dos exércitos e no domínio do território é que conseguiu se impor como rei tentando também criar uma dinastia O sucesso posterior de Demétrio deixou claro pela primeira vez que o tempo dos projetos mundiais de Alexandre havia passado e não mais voltaria o mundo helenístico estava definitivamente dividido A ascensão de Antígono II Gônatas representou na verdade uma última opção do exército e dos nobres macedônicos perante o fracasso do estabelecimento do poder entre os generais Pirro Lisímaco Seleuco e o filho de Ptolomeu Mundo Helenístico 10 A dinastia dos antigônidas Em relação aos primeiros reis da dinastia antigônida Antígono II Gônatas 277239 seu filho Demétrio II 239229 e Antígono III Dóson 229221 todas as datas referentes aos períodos que governaram temos uma quantidade muito menor de fontes disponíveis boa parte epigráficas Neste período por volta de 280 um grande número de gauleses vindos das terras ao norte invadiu pilhou e destruiu as terras da Ilíria e da Trácia e duras batalhas foram necessárias na Macedônia e na própria Grécia para expulsálos Foi como general nessas campanhas que Antígono II Gônatas conseguiu assegurar seu poder conquistando a lealdade dos nobres macedônicos Consta que reinou de maneira pacífica até sua morte e a estabilidade da região durante seu longo governo foi sem dúvida uma exceção no período A escultura da Vitória de Samotrácia é uma das mais famo sas obras de arte da Antiguidade e hoje ocupa um lugar de destaque no Museu do Louvre em Paris Acreditase que ela tenha sido feita em comemoração à vitória naval de Antígono II Gônatas sobre Ptolomeu II Filadelfo próximo à ilha de Cos em 255 aC Figura 74 Vitória de Samotrácia Fonte httpenwikipediaorg wikiFileNikeofSamothrake LouvreMa2369n4jpg Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 11 Desde Filipe II os sucessivos reis macedônicos operaram uma mudança bastante significativa na região fundando diversas cidades Até então mesmo com uma capital Péla a Macedônia era tipicamente uma região de vilas e comunidades rurais esparsas ao contrário da Grécia urbanizada ao sul Filipe fundou várias cidades entre elas Phillippi Figura 75 e anexou as colônias gregas que haviam sido fundadas na costa como Anfípolis e Pidna O exemplo foi seguido por Alexandre em várias outras partes de seu vasto império com Alexandrias fundadas desde o Egito até os confins da Báctria Afeganistão Cassandro foi o responsável por uma fundação importante Tessalonike era o nome de sua esposa hoje a segunda maior cidade da Grécia Essas fundações na Macedônia foram feitas por sinecismo ou seja o agrupamento de vilas já existentes em torno de um novo centro urbano comum Figura 75 Anfiteatro de Phillippi O espaço é usado até hoje em um festival de teatro que ocorre anualmente em agosto Foi nesses núcleos urbanos que uma nova identidade macedônica formouse A anexação das colônias gregas significou a absorção de muitos cidadãos gregos ao território do rei e também a incorporação de instituições típicas da pólis tais como Mundo Helenístico 12 as assembleias os magistrados e as divisões administrativas por demos Antígono II Gônatas também é conhecido por ter incentivado a vida cultural trazendo à Macedônia poetas escritores e artistas e procurando com isso legitimar a Macedônia perante o resto da Grécia já que como vimos na Aula 3 a região era tida como quase bárbara pelos gregos até serem submetidos por Filipe e Alexandre Mesmo assim a grande característica da Macedônia em relação à Grécia ainda é a estrutura social baseada no ethnos geralmente traduzido como povo ou nação ou seja na identidade étnica tomada em conjunto ao invés da identidade grega construída sobre cada cidade a pólis Vemos isso refletido nas fontes escritas tanto literárias quanto epigráficas os cidadãos de Atenas tomam suas decisões coletivas como os atenienses os cidadãos de Corinto como os coríntios os de Argos como os argivos e assim por diante Isto é não encontramos uma unidade étnica e política com os gregos quando eles se retratam entre si apenas quando perante os persas os egípcios etc Já os macedônios nunca aparecem como os cidadãos de determinada cidade mas sempre como os macedônios não importa de que cidade viessem Isso significa que embora a coesão interna da sociedade macedônica fosse menor por causa da maior vastidão de seu território comparada ao das poleis sua união e força contra inimigos davam à Macedônia sem dúvida uma vantagem estratégica em relação aos quase sempre desunidos gregos Outra consequência disso é que por mais autocrático que fosse o governo a sociedade em especial a elite sempre manteve certo grau de participação e até de interferência na legitimidade real como vimos em relação à necessidade de aprovação para a ascensão de um rei Por isso alguns estudiosos do período caracterizam a monarquia macedônica como uma monarquia constitucional as aspas são importantes porque não se quer dizer que havia uma constituição escrita que estava acima do rei tal como hoje em países como a GrãBretanha e o Japão mas sim que havia certo controle social a que o rei necessariamente devia se Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 13 submeter Esse caráter de certa maneira informal também explica por que a monarquia macedônica nunca estabeleceu um culto à figura dos reis tal como vimos no caso dos Ptolomeus no Egito e dos Selêucidas na Ásia Demétrio I tentou fazêlo mas foi rapidamente desacreditado e expulso do poder pelos macedônios A situação estratégica da Macedônia Nem Filipe II nem qualquer outro dos reis macedônicos que se seguiram tiveram como objetivo anexar o território grego como um todo apenas asseguraram o domínio territorial sobre a região da Tessália entre a Macedônia e a região grega mais urbanizada ao sul Ao invés dessa anexação eles procuraram impor um domínio indireto misto de coerção militar e aliança comercial Essa situação não foi de todo incômoda para as cidades gregas por uma razão estratégica importante elas precisavam de uma Macedônia forte para se proteger das invasões dos povos ao norte ilírios trácios citas e gauleses Encontramos essa ideia em Políbio é do interesse dos helenos que o domínio macedônico seja substancialmente reduzido porém de modo algum que seja eliminado pois nesse caso eles sofreriam bem depressa as violências dos trácios e dos gálatas gauleses como já lhes acontecera em várias ocasiões no passado Histórias XVIII 37 Políbio 220118 aC Políbio foi um historiador grego que escreveu sobre a ascensão dos romanos no Mediterrâneo Suas Histórias compunhamse de 40 livros mas sobreviveram apenas os livros de 1 a 5 a maior parte do livro 6 e alguns fragmentos dos outros livros Mundo Helenístico 14 Filho de um importante general da Liga Aqueia veja abaixo ele foi capturado pelos romanos e viveu em Roma sob a tutela da tradicional família dos Cipiões famosa por dois de seus membros que comandaram as maiores vitórias contra os cartagineses na Segunda e na Terceira Guerra Púnica A própria Grécia também era importante para a defesa da Macedônia Controlando o território grego mesmo que indiretamente os macedônios evitavam que os outros reinos helenísticos em especial o ptolomaico e o selêucida avançassem sobre a Grécia continental e ameaçassem a unidade do território macedônico Em relação a esses outros reinos a estabilidade conseguida pelos antigônidas durante o terceiro século aC deriva em boa parte da homogeneidade cultural da população como vimos Portanto não houve na Macedônia nenhuma dificuldade relacionada à integração de povos locais com culturas tão distintas o que tanto influenciou a administração dos outros reinos helenísticos Também em comparação até por causa do tamanho reduzido do território macedônico a infraestrutura local e os canais internos de comunicação através de estradas fortalezas e recursos eram bem maiores No entanto a população diminuiu consideravelmente na Macedônia consequência da colonização e das migrações para as prósperas regiões orientais que entraram sob domínio grego alguns historiadores afirmam que até dois terços da população podem ter deixado o território macedônico no período Como consequência disso também foi difícil para a Macedônia desenvolverse economicamente por mais que Antígono II Gônatas e seus sucessores tenham promovido o desenvolvimento comercial Filipe II havia promovido uma campanha de drenagem de pântanos e derrubada de florestas para aumentar a área agrícola transformando Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 15 também grupos pastoris das montanhas em habitantes das novas cidades Também as minas de prata próximas a Anfípolis e Phillippi ajudaram a financiar o exército e as expedições mas poucos indícios posteriores mostram variações na prosperidade econômica da época de Filipe Sem dúvida comparado aos ricos e prósperos reinos do Egito e da Ásia a Macedônia continuava pobre Atende ao Objetivo 1 1 Figura 76 Moeda retratando Antígono II Gônatas Museu Britânico Fonte httpenwikipediaorgwikiFileAntigonusGonatasBritishMuseumjpg Mundo Helenístico 16 Veja o detalhe na borda dessa moeda é o símbolo do Sol de Vergina que vimos na Aula 3 Como os reis que sucederam a Alexandre na Macedônia conseguiram chegar ao poder E o que foi preciso para a dinastia antigônida estabilizarse em relação aos seus antecessores Resposta Comentada As guerras dos sucessores de Alexandre combinaram vitórias militares e tentativas de continuar sua casa real através de regências ou conexões dinásticas Além disso sempre foi crucial a aprovação do exército e da sociedade macedônica principalmente da elite o que é uma característica única no mundo antigo Retomar o sonho mundial de Alexandre logo se mostrou impossível mas Antígono II Gônatas conseguiu juntar a aprovação dos macedônios destreza militar e uma integração cultural maior com a Grécia A presença do Sol de Vergina na moeda é uma forma de mostrar que não haveria interrupção entre a dinastia de Alexandre e a de Antígono II Gônatas Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 17 O papel das cidades e ligas gregas Quando Filipe II derrotou as cidades gregas na batalha de Queroneia 338 aC passou a ficar evidente que a época da supremacia das grandes póleis como Atenas Esparta e Tebas havia chegado ao fim É sempre importante lembrar que os reis macedônicos nunca chegaram a anexar o território da Grécia mas preferiram negociar com as cidadesestado gregas individualmente ou em conjunto para garantir uma aparente independência já que a autonomia política ainda era um objetivo ideológico fundamental para elas as instituições políticas dos conselhos e assembleias de cidadãos continuaram atuantes Nesse sentido a Macedônia também precisou impor sua influência perante outros reinos helenísticos em especial o ptolomaico que também pretendia exercer sua zona de influência na Grécia As cidades gregas viramse em uma nova situação de desvantagem militar mostrandose enfraquecidas perante a forte articulação dos exércitos profissionais comandados por reis Muitas vezes era também estrategicamente desvantajoso entrar em conflito com outras cidades que poderiam negociar uma aliança temporária com algum desses reis para proteção ou mesmo arbitrar contendas entre duas outras cidades os reis tinham mais interesse estratégico no território e força militar para impor sua vontade Esse também foi um período em que o banditismo e a pirataria aumentaram muito em todo o território grego fazendo com que as cidades precisassem mais ainda de alianças que trouxessem uma maior segurança O jogo das aparências foi constante nesse processo em que os reis libertavam cidades do ataque dos inimigos apenas para colocá las sob seu domínio ainda que indireto As fontes literárias e especialmente epigráficas mostramnos como funcionava essa rede de relações diplomáticas e militares além dos novos interesses das poleis Encontramos uma multiplicidade de decretos sobre as próprias alianças políticas embaixadas destinadas a oráculos e festivais panhelênicos benfeitores particulares que Mundo Helenístico 18 construíam melhorias públicas de seu próprio bolso concessões de privilégios e cidadania disputas de fronteiras e requerimentos de asilo entre outros Festivais panhelênicos Os Jogos Olímpicos instituídos em 776 aC eram o festival mais famoso de toda a Grécia Antiga mas não o único Os Jogos Píticos do santuário de Apolo em Delfos Nemeus da ci dade de Nemeia e Ístmicos no istmo de Corinto são os mais tradicionais mas novos festivais foram cria dos durante o período helenístico muitas vezes com os nomes dos reis que os patrocinaram Os festivais apresentavam competições esportivas e artísticas juntamente com procissões religiosas e eram abertos a todos os gregos Figura 77 Vasos dados como prêmios aos vencedores da corrida esq e da luta dir nos Jogos Panatenaicos Staatliche Antikensammlung Munique Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 19 Veja um resumo dos tipos de relações entre cidades que a epigrafia nos revela Pedidos de arbitragem externa nas disputas entre as cidades que geralmente eram feitos a reis mas também podiam ser feitos a outras cidades Pedidos de asilo em grego asylos significando imunidade a represálias em grego sylos geralmente com o objetivo de se proteger de piratas Esses pedidos eram baseados nos privilégios dados anteriormente a templos onde o deus ou deusa desejava por um oráculo ou aparição que o local se tornasse sagrado e protegido Promulgações para celebrar festivais religiosos locais e específicos nos moldes dos festivais panhelênicos revelando prestígio geralmente conquistado por causa de alguma vitória militar ou mais frequentemente em honra de alguém ilustre Pedidos de concessão de cidadania geralmente feitos em cidades despovoadas que precisavam atrair novos moradores ou de isopoliteia ou seja concessão potencial de cidadania a pessoas de outras cidades que eventualmente quisessem se estabelecer em outra cidade por exemplo quando Atenas concede isopoliteia aos cidadãos de Rodes por motivos comerciais Solicitações de proxenia isto é determinando um cidadão específico para hospedar embaixadores estrangeiros do próprio bolso em troca de títulos honoríficos Declarações de estabelecimento de sympoliteia em que duas ou mais cidades resolvem se unir em um território comum mantendo algumas instituições políticas internas e estendendo outras para governálas conjuntamente como no caso da Liga de Delos que vimos na Aula 3 As sympoliteias foram o máximo a que o mundo grego chegou de uma unidade territorial estatal como a entendemos hoje Nesse período duas delas destacaramse em particular a Liga Etólia e a Liga Aqueia ambas em regiões onde nenhuma polis havia se Mundo Helenístico 20 tornado grande forte ou hegemônica Figura 78 A Liga Etólia que parece já existir no século IV aC era composta de cidades ao sul da Tessália território conhecido no resto da Grécia por seus piratas e bandidos No entanto a Liga tinha uma assembleia popular unificada um estratego general em comum e um conselho representativo Sua força militar tornouse bastante expressiva com os etólios derrotando os gauleses em 279 aC na defesa de Delfos e incorporando gradualmente um território maior Como veremos adiante ela se tornou uma aliada estratégica dos romanos quando estes entraram em conflito com os macedônios Figura 78 Mundo grego em 200 aC com a Macedônia sob Filipe V Fonte httpenwikipediaorgwikiFileMacedoniaandtheAegeanWorldc200png Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 21 Já a Liga Aqueia foi ainda mais expressiva ocupando todo o norte do Peloponeso Figura 78 expandiuse ainda mais sob a liderança do general Arato da cidade de Sícion chegando a tomar o controle de Corinto das mãos dos macedônios em 243 aC e entrar em guerra contra Esparta pelo domínio de toda a península A Liga Aqueia ilustra bem tanto a força quanto a fraqueza dessas alianças territoriais do período pois elas surgiam de acordo com necessidades circunstanciais de proteção e defesa e mudavam ao sabor das vitórias e derrotas militares Aliandose primeiro a Filipe V como veremos a seguir a Liga Aqueia passou para o lado dos romanos quando percebeu que Filipe estava perdendo poder na região mas também não resistiu e foi dissolvida quando os romanos resolveram se impor e anexar a Grécia a seu império Filipe V e a chegada dos romanos A partir de Filipe V Figura 75 que reinou entre 221 e 179 aC temos finalmente disponíveis as importantes obras históricas de Políbio e Tito Lívio o que nos permite saber sobre esse período com uma riqueza muito maior de detalhes Figura 79 Da esquerda para a direita moedas com efígies de Filipe V e seu filho Perseu reis da Macedônia A semelhança é proposital indicando continuidade Fontes httpenwikipediaorgwikiFilePhilipVofMacedonjpg e httpenwikipedia orgwikiFilePerseusofMacedonBMjpg Mundo Helenístico 22 Tito Lívio 59 aC 17 dC Foi um historiador romano que escreveu uma história da cidade de Roma conhecida como Ab Urbe Condita Libri Os livros sobre a cidade des de seu início no total de 142 livros Desses temos preservados apenas 25 que tratam dos primórdios de Roma e do período da Segunda Guerra Púnica até a guerra contra Perseu V da Macedônia Nesta segunda parte Tito Lívio usa como fonte direta o texto de Políbio Filipe V ascendeu nominalmente ao trono da Macedônia ainda muito jovem com nove anos de idade após a morte de Demétrio II Por isso seu primo Antígono III Dóson administrou o reino como regente até morrer de maneira repentina quando Filipe tinha 17 anos O novo rei logo se mostrou muito mais belicoso e militarista que os antecessores envolvendose em uma série de disputas com as cidades gregas e com os romanos que estavam procurando expandir sua área de influência no mundo grego O predomínio de Filipe V não foi baseado apenas na conquista militar direta Como vimos anteriormente em relação às ligas gregas a estratégia de alianças entre confederações de cidades havia se mostrado estrategicamente vantajosa além do custo de manutenção dos exércitos pesar menos nos tesouros locais o arranjo mantinha a aparência de liberdade das cidades gregas Não podemos menosprezar o segundo fator esse era um elemento de identidade tão crucial no mundo grego que boa parte da autoridade dos generais incluindo o próprio Filipe V vinha da justificativa das suas ações militares como ações benevolentes para manter a independência das cidades gregas Na primeira dessas alianças de Filipe os macedônios uniramse aos tessálios beócios epirotas aqueus e fócios contra a Liga Etólia e Esparta no que ficou Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 23 conhecida como a Guerra Social de sócios ou seja aliados entre 220 e 217 aC Foi com o reconhecimento de sua liderança pelas confederações regionais gregas que Filipe estabeleceuse legitimamente como o poder hegemônico em toda a região Na próxima aula veremos com mais detalhes as ações dos romanos por enquanto iremos ver a situação do lado macedônico Filipe V percebeu que os romanos estavam agindo politicamente para influenciar a região a oeste da Macedônia e passou a tentar ele mesmo dominar a Ilíria Na época os romanos também estavam em guerra contra os cartagineses e seu maior rival o general Aníbal havia conseguido importantes vitórias dentro da própria Itália Assim Felipe resolveu se aliar a Aníbal contra os romanos e seus aliados a Liga Etólia e Átalo I rei de Pérgamo O confronto terminou sem uma grande vitória de nenhum dos lados mas representou a entrada definitiva dos romanos no frágil cenário das alianças políticas gregas do período Filipe foi derrotado logo depois em 197 aC quando os romanos já vitoriosos sobre Aníbal aliaramse novamente ao reino de Pérgamo e a Rodes para libertar Atenas A cidade havia declarado guerra à Macedônia desta vez aliada à Liga Aqueia de fato a maioria das cidades gregas esperou até o último minuto para decidir qual dos lados apoiaria Forçado a se resignar apenas com o próprio território da Macedônia Filipe também pagou uma enorme indenização financeira aos romanos estipulada exatamente para que suas finanças fossem prejudicadas e seu exército fosse enfraquecido Quando seu filho Perseu subiu ao trono em 179 aC os romanos já haviam selado uma aparente aliança com os macedônios mas suspeitavam que estes ainda mantivessem planos expansionistas Perseu renovou os laços com Roma que se mostravam a princípio claramente vantajosos por causa da superioridade militar romana e da presença cada vez maior destes no território grego No entanto o conflito tornouse inevitável e Perseu acabou derrotado pelos romanos na batalha de Pidna em 168 a C no que também representou o fim da dinastia dos antigônidas Na próxima aula analisaremos as consequências dessa derrota para o mundo grego Mundo Helenístico 24 Atende ao Objetivo 2 2 Leia com atenção o discurso do embaixador da Liga Etólia para os espartanos em 210 aC POLÍBIO Histórias IX 2829 e responda ao que se pede a seguir 28 Espartanos tenho certeza que ninguém ousaria questionar que o estabelecimento da dominação macedônica foi o começo da escravidão para os gregos 29 Quanto à política dos sucessores de Alexandre preciso falar sobre elas em detalhes Certamente não há qualquer homem vivo tão alheio aos acontecimentos que não saiba como Antípatro após derrotar os gregos na batalha de Lâmia tratou os infelizes atenienses com extrema crueldade e o mesmo aconteceu com os outros gregos Sua arrogância e desrespeito à lei são tão grandes que ele instituiu caçadores de exilados enviando os às cidades em busca de todo aquele que havia criticado ou ofendido de alguma forma a casa real da Macedônia Alguns foram arrastados violentamente dos templos outros arrancados dos altares e foram todos torturados até a morte Seu único lugar de refúgio foi o povo etólio Todos sabem o que foi feito por Cassandro Demétrio e Antígono Gônatas Esses eventos aconteceram há pouco tempo e portanto estão vivos na memória de todos Alguns desses reis introduziram guarnições nas cidades outros instigaram tiranias e como resultado todas as cidades foram levadas a compartilhar o nome da escravidão Mas eu deixarei esses de lado e falarei sobre o último Antígono III Dóson para que alguns de vós não façais interpretações inocentes sobre suas ações e se sintais obrigados sob os macedônios Pois não foi com o objetivo de salvar os aqueus a Liga Aqueia que Antígono começou a guerra contra vós nem porque ele desaprovava a tirania de Cleômenes rei espartano e queria libertar os espartanos Se algum de vós acredita nisso é extremamente ingênuo Ao invés disso ele pôde ver que seu próprio domínio estaria ameaçado se vós recobrásseis a supremacia sobre os peloponésios espartanos Ele pôde ver que Cleômenes era exatamente o homem que conseguiria fazer isso e que a fortuna estava sorrindo para o seu empreendimento Ele se juntou à campanha por medo e inveja sem a intenção de ajudar os peloponésios mas sim para destruir suas esperanças e aniquilar sua supremacia Portanto vós Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 25 não deveríeis agradecer aos macedônios por não saquear a sua cidade após têla capturado mas ao invés disso deveríeis odiálos como inimigos por terem obstruído diversas vezes a hegemonia da Grécia que estava ao vosso alcance No texto o embaixador etólio está tentando convencer os espartanos a entrarem em guerra contra os macedônios Analise o discurso do embaixador da Liga Etólia respondendo por que a Macedônia deve ser combatida segundo ele Por que Cleômenes aparece no discurso como uma ameaça aos macedônios Resposta Comentada O embaixador etólio nas palavras de Políbio fala sobre a crueldade dos macedônios contra os gregos e a dominação macedônica significa para ele a perda da liberdade e a sujeição análoga à escravidão Cleômenes aparece como um opositor dos macedônios embora a propaganda destes o qualificasse como tirano Todo o discurso está relacionado à ideia da manutenção da liberdade e da autonomia das cidades gregas que no entanto já não é mais possível em termos reais neste período Mundo Helenístico 26 CONCLUSÃO A manutenção da monarquia macedônica foi marcada pela tentativa durante décadas de se manter uma continuidade com o legado de Alexandre seja pela manutenção de laços com sua dinastia seja pelo projeto inicial de manter o domínio macedônico do máximo possível de terras conquistadas pelo grande general Reino relativamente pobre e com uma aristocracia intimamente envolvida nas tramas de poder a Macedônia não só não conseguiu pôr em prática esse plano nas décadas seguintes à morte de Alexandre como também precisou encontrar várias formas de equilíbrio nas relações com as cidades da Grécia Esse foi ao mesmo tempo um complexo jogo de manutenção aparente da autonomia das poleis negociada através de frágeis alianças e de luta contra a supremacia dos outros reinos helenísticos na região Tal equilíbrio de forças mostrouse tão precário que logo foi substituído pelo domínio completo de Roma Atividade Final Atende aos Objetivos 1 e 2 Nas três últimas aulas vimos como se configuraram os reinos helenísticos desde a morte de Alexandre até a conquista romana O desenvolvimento da Macedônia é bem diferente do que aconteceu no Egito ptolomaico e na Ásia selêucida Sendo assim reflita que consequências das conquistas de Alexandre alteraram de maneira singular as configurações políticas e culturais da sociedade macedônica Aula 7 A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas 27 Resposta Comentada É importante lembrar que o mecanismo particular de legitimidade dos reis na Macedônia permaneceu essencialmente o mesmo pois era fruto de um universo político ligado ao ethnos e não à cidadania direta da pólis grega Embora isso tenha gerado instabilidade em alguns períodos após a consolidação da dinastia antigônida a sociedade macedônica continuou o mesmo processo de urbanização e de integração com a Grécia que havia sido iniciado com Filipe II A influência oriental que foi tão determinante nos reinos ptolomaico e selêucida não chegou a penetrar com força na região Foi o contato cada vez mais intenso com os gregos que determinou as sutis mudanças sociais no mundo macedônico Mundo Helenístico 28 RESUMO A sucessão de Alexandre foi estabelecida através de décadas de conflitos entre seus generais Na Macedônia procurouse a princípio manter os laços com a dinastia da família de Filipe II e Alexandre mas isso logo se tornou impossível devido às disputas territoriais e de poder Com a realidade mostrando o fim do projeto de reunificar o império construído por Alexandre a partir da Macedônia a dinastia que conseguiu se consolidar no poder os antigônidas foi forçada a se contentar com o domínio apenas do próprio território macedônico No entanto a dinastia antigônida conseguiu ao mesmo tempo ampliar seu domínio para as colônias gregas próximas e manter uma maior estabilidade derivada da relativa homogeneidade cultural da população Para garantir seu poder os reis macedônicos também foram levados a administrar uma rede frágil de alianças com as cidades gregas muitas delas agora ligadas em confederações como a Liga Etólia e a Liga Aqueia Essa havia se mostrado uma forma viável de garantir autonomia política e alguma força militar dentro do jogo sempre variável de relações com os diferentes reinos helenísticos na própria Grécia No entanto com o envolvimento cada vez maior dos romanos na região o reino macedônico foi perdendo cada vez mais o poder até ser derrotado e anexado ao Império Romano Informação sobre a próxima aula Na próxima aula veremos como e por que os romanos envolveramse progressivamente com a Macedônia a Grécia e os reinos helenísticos do Oriente Monica Selvatici Aula 5 O Egito ptolomaico Mundo Helenístico 2 Meta da aula Caracterizar o reino helenístico da dinastia ptolomaica que governou dentre os territórios conquistados por Alexandre o Egito e as regiões adjacentes Objetivos Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de 1 reconhecer o processo de construção da legitimidade do poder do rei ptolomaico frente aos seus súditos gregos e egípcios 2 identificar características da cidade de Alexandria grande marco do reino ptolomaico que se tornou importante centro cultural grego do mundo mediterrâneo Prérequisitos Para esta aula procure recapitular as informações da Aula 2 As evidências características geográficas fontes escritas e cultura material sobre o mundo helenístico em especial aquelas do reino ptolomaico e as informações da Aula 4 As conquistas de Alexandre e a construção da imagem do grande general acerca do processo de conquista de tal território Aula 5 O Egito ptolomaico 3 INTRODUÇÃO Nesta aula discorreremos sobre o reino helenístico da dinastia dos ptolomeus que governou dentre os diversos territórios conquistados por Alexandre o Grande o Egito e as regiões próximas a ele À morte de Alexandre em 323 aC seguiuse um período de lutas no qual seu extenso reino acabou por ser dividido entre seus generais Entretanto Alexandre havia designado o controle do Egito anteriormente a Ptolomeu filho de Lagos que sempre desempenhara um papel de liderança em suas campanhas Uma vez morto o rei conquistador Ptolomeu resolveu tomar posse de seu reino e governou o território até 305 aC quando foi coroado rei basileu sob o nome de Ptolomeu I Soter salvador Figura 51 A dinastia que dele descende ficou conhecida na historiografia como dinastia ptolomaica em função do nome do primeiro soberano Ela também é referida pelo nome Lágida pelo fato de ter sido Ptolomeu I filho de Lagos Mundo Helenístico 4 Figura 51 Busto de Ptolomeu I Soter Museu do Louvre Paris Fonte Wikimedia Commons http ptwikipediaorgwikiFicheiroPtolemyISoter LouvreMa849jpg Essa dinastia governou o Egito e a Etiópia por quase 300 anos No período de maior expansão territorial os ptolomeus passaram a também controlar terras fora do território egípcio como a Cirenaica atual Líbia a ilha de Chipre as regiões costeiras da Ásia Menor e as ilhas do mar Egeu permanecendo em forte disputa com a dinastia helenística dos selêucidas pela região da SíriaPalestina Figura 52 Os Ptolomeus continuaram soberanos do Egito até a morte de Cleópatra VII última rainha de tal linhagem em 3130 aC e a tomada de poder e anexação do território egípcio pelos romanos Aula 5 O Egito ptolomaico 5 Figura 52 Mapa do reino ptolomaico em 200 aC Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFilePtolemaicEmpire200bc jpg Os governantes homens foram todos nomeados Ptolomeu em grego Ptolemaios porém também são referidos por seus nomes de culto como Philadelphos aquele que ama o irmão no caso de Ptolomeu II em razão de seu casamento com a própria irmã Arsinoé Atualmente a distinção entre os reis ptolomaicos é feita por meio da adição de numerais desde Ptolomeu I até Ptolomeu XV No caso específico das rainhas elas foram nomeadas Arsinoé Berenice e Cleópatra e às vezes recebiam uma combinação de tais nomes Tal prática pode causar certa confusão na sequência histórica dos governantes uma vez que a última rainha a famosa Cleópatra que normalmente é conhecida como Cleópatra VII foi no entanto apenas a sexta rainha a ostentar esse nome Você pode observar este fato no quadro dos governantes da dinastia Figura 53 Mundo Helenístico 6 Figura 53 Quadro da dinastia dos Ptolomeus Fonte Wikimedia Commons httpptwikipediaorgwikiFicheiroEgyptianPtolemies2 jpg Os Ptolomeus eram macedônicos por descendência e eram normalmente representados como governantes gregos tal como se pode perceber na cunhagem de moedas anéis e retratos em pedra Figura 54 Figura 54 Tetradracma moeda de prata representando o rei ptolomaico Ptolomeu IX Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFilePtolemyIX SoterIItetradrachmajpg Aula 5 O Egito ptolomaico 7 Entretanto os Ptolomeus também se apresentavam como faraós do Egito e aparecem em muitos relevos de templos estátuas e joias que seguem o estilo egípcio Figura 55 Figura 55 Anel em ouro com retrato gravado de Ptolomeu VI Filometor século II aC com atributos de faraó egípcio Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileRingwith engravedportraitofPtolemyVIPhilometor283rdE280932ndcentury BCE292009jpg Mundo Helenístico 8 O Museu Petrie em Londres possui uma ex tensa coleção de modelos de escultores antigos que acreditase foram utilizados por escultores no tempo dos Ptolomeus com o objetivo de garantir que a imagem real permanecesse a mesma ao longo do tempo Alguns eruditos acreditam que tais bustos eram usados em dedicações nos templos em nome do faraó eles são muito similares aos retratos da última dinastia egípcia nativa algo que pode ser lido como uma tentativa deliberada dos Ptolomeus de se ligarem a seus predecessores egípcios Confira o site httpwwwdigitalegyptuclacukart ptolemaichtml A consolidação do poder ptolomaico No período helenístico diversos reis encaravam o reino sob seu domínio como uma propriedade pessoal Este foi o caso da dinastia dos selêucidas que você verá na Aula 6 e também do Egito ptolomaico Por isso o território do Egito era conhecido como o reino dos ptolomeus Os reis possuíam poderes praticamente ilimitados Eram vistos como a encarnação da lei e por isso não precisavam que suas decisões fossem confirmadas por qualquer tipo de assembleia Ainda assim a dinastia ptolomaica tinha como súditos toda a população nativa do Egito que partilhava de costumes culturais diferentes daqueles dos gregos e que possuía desde muito antigamente seus próprios governantes os faraós Desta forma é necessário aos ptolomeus estabelecer sua legitimidade no governo do Egito Segundo Julio Cesar Gralha 2009 eles o fazem Aula 5 O Egito ptolomaico 9 A partir de um projeto políticoreligioso que enfatizava a adoção de práticas mágicoreligiosas egípcias e da adoção da monarquia divina egípcia tendo como expressão da materialidade o uso da arquitetura e da iconografia na titulatura em decretos e de forma diversa e sobretudo por um programa de construções de templos no Alto Egito Em termos da esfera religiosa os Ptolomeus introduziram novos deuses mas demonstraram respeito e renderam homenagens aos antigos deuses egípcios Vários governantes ptolomaicos construíram templos como os antigos faraós e as terras dos templos continuaram a produzir para os sacerdotes seguindo o costume egípcio Isso suscitava a simpatia do povo e do clero egípcios que oferecia em retorno mais homenagens Observe por exemplo o trecho do Decreto de Canopo 2398 aC no qual os sacerdotes egípcios homenageiam o rei Ptolomeu III Evergeta e sua família denominandoos deuses Evergetas e aumentando as honrarias a eles prestadas a Boa Fortuna pareceu justo aos sacerdotes do país que as honrarias prestadas anteriormente nos templos ao rei Ptolomeu e à rainha Berenice deuses Evergetas e a seus pais deuses Adelfos e aos seus ancestrais deuses salvadores fossem aumentadas Os sacerdotes em cada templo do país seriam chamados igualmente sacerdotes dos deuses Evergetas e serão inscritos nos atos como deuses assim como nos anéis dos sacerdotes Além das quatro tribos existentes atualmente nos consílios de sacerdotes em cada templo seria instituída uma quinta tribo dos deuses Evergetas O interesse da dinastia ptolomaica é o de estabelecer relações de poder de cooperação e cooptação dos segmentos sociais egípcios a fim de consolidar sua legitimidade como sucessora direta dos antigos faraós Segundo Paul Stanwick 2003 Enquanto aspectos da sociedade egípcia foram helenizados sob os gregos os ptolomeus foram egipcianizados na medida em que para preservar sua hegemonia eles precisavam se colocar mais agressivamente como faraós legítimos aos olhos da população nativa Mundo Helenístico 10 Além disso alguns soberanos ptolomaicos foram representados com a aparência de duas divindades uma grega e sua associação egípcia pois era costume no período helenístico a confluência entre divindades de origens diferentes Este foi o caso dos reis Ptolomeu II e III representados em estátuas como Hermes deus grego Tot deus egípcio Segundo László Török 1995 os governantes foram identificados com o Tot egípcio como um paradigma divino de realeza com uma interpretação ptolomaica especial de Hermes como um reideus Figura 56 Figura 56 Estátua de Ptolomeu III com aparência de Hermes vestindo a túnica chlamys Fonte Wikimedia Commons httpenwikipedia orgwikiFileHermesPtolemyjpg Aula 5 O Egito ptolomaico 11 As rainhas ptolomaicas desempenharam um papel político e religioso muito importante durante este período Elas eram representadas como rainhas conferindo apoio ao faraó tal como se pode ver em relevos de templos No entanto após a sua morte elas eram elevadas à condição de deusas e recebiam oferendas dos próprios faraós tal como é possível perceber no relevo do templo de Ísis em Philae Figura 57 onde Arsinoé II aparece de pé atrás da deusa Ísis e recebe uma oferenda de seu marido e irmão Ptolomeu II Philadelphos Figura 58 Figura 57 Vista lateral do templo de Ísis na cidade de Philae Fonte Wikimedia Commons httpptwikibooksorgwikiFicheiroPhilaeseenfrom thewaterAswanEgyptOct2004jpg Mundo Helenístico 12 Figura 58 Relevo do Templo de Ísis em Philae caracterizando Ptolomeu II fazendo oferendas a Ísis e Arsinoé II Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileRelieffromtheTemple ofPhilaebyJohnCampana1jpg Mais tarde o processo de deificação das rainhas começou a acontecer ainda no tempo de suas vidas as estátuas utilizadas para representar as rainhas divinas eram diferentes daquelas das rainhas mortais tanto representações gregas quanto egípcias possuíam uma cornucópia chifre da abundância e normalmente uma vestimenta amarrada As deusas gregas vestiam uma coroa e não um diadema real As deusas egípcias podem ser distinguidas das mortais por meio do ornamento na cabeça em forma de abutre no qual as asas são visíveis no lugar do uraeus serpente real Estátuas dos governantes e de suas respectivas rainhas eram erigidas em todos os templos ao longo do Egito Além disso sabese a partir de uma inscrição que as estátuas de Cleópatra VII foram veneradas até o século IV dC mais de quatrocentos anos após a sua morte Figura 59 Deificação Tratase da ação de deificar ou divinizar alguém divinização ou ainda apoteose Fonte Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Aula 5 O Egito ptolomaico 13 Figura 59 Moeda de Selêucia Piéria na Síria apresentando Marco Antônio no anverso e Cleópatra VII no reverso na imagem Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileCleopatraVIICoinjpg Atende ao Objetivo 1 1 Observe as imagens a seguir a imagem à esquerda apresenta um tetradracma de prata representando o rei Ptolomeu V segundo o estilo grego Já a imagem à direita corresponde a um relevo no qual o reifaraó Ptolomeu V oferece os olhos espirituais interiores de Hórus ao próprio deus Hórus que está sentado no trono Mundo Helenístico 14 A partir do exemplo dessas imagens aponte as estratégias utilizadas pelos governantes ptolomaicos para tornarem seu poder legítimo frente aos súditos gregos e egípcios Resposta Comentada Os soberanos ptolomaicos adotaram uma política deliberada de representação de suas figuras tanto no estilo grego com o diadema real quanto no estilo egípcio com os atributos de faraós egípcios e homenageando deuses egípcios com o objetivo de conferir legitimidade a seu poder e conquistar a simpatia e a obediência de súditos gregos e egípcios Aula 5 O Egito ptolomaico 15 A administração ptolomaica Os Ptolomeus organizaram um eficiente aparato administrativo de modo a melhor usufruir os recursos do território sob seu domínio Sob Ptolomeu II Filadelfos erigiuse uma complexa organização burocrática marcada pela centralização políticoadministrativa na medida em que o reino era entendido como propriedade pessoal do rei Para auxiliar o rei nas funções do governo havia uma corte aule que era composta por seus amigos detentores de cargos de confiança Entendese que as origens de tal sistema remontem à própria história de governo egípcia e a outras monarquias do Oriente Próximo cujas características foram rapidamente absorvidas pelas monarquias helenísticas O Estado ptolomaico detinha o monopólio da fabricação do azeite de cuja venda retirava grandes lucros Além disso exercia uma forte fiscalização através de funcionários sobre as aldeias de camponeses e sobre as oficinas de artesãos Estes eram obrigados a entregar uma parte previamente fixada de sua produção Os comerciantes por sua vez deviam comprar uma autorização oficial para adquirirem os produtos de que fariam a venda Todas estas formas de arrecadação de bens e tributos foram utilizadas pelos soberanos ptolomaicos em prol de amplas reformas e grandes construções em especial de templos Os reis ptolomaicos procuravam ser muito generosos com os templos e mostravamse piedosos em relação aos deuses Eles agiam desta forma com o objetivo de assegurar o seu próprio status de governantes divinos sobre a terra tal como os antigos faraós Entretanto é necessário observar que o sucesso da economia ptolomaica logo cedeu lugar a uma estagnação em razão da forte centralização burocrática Os produtores sobretudo os camponeses eram os mais prejudicados As consequências desse processo foram um crescente abandono das terras e a resistência dos trabalhadores que provocaram uma forte crise de mão de obra no reino egípcio Mundo Helenístico 16 O processo de helenização das regiões conquistadas por Alexandre foi levado adiante pelas dinastias que a ele sucederam através do estabelecimento de cidades gregas tanto em terras não urbanizadas quanto em locais onde existiam antigos assentamentos Novas cidades foram fundadas mesmo em lugares onde havia grandes concentrações urbanas Este foi o caso da cidade faraônica de Mênfis no Egito que perdeu seu lugar para Alexandria cidade construída por Alexandre no litoral do Mediterrâneo que passou a ser a capital do reino ptolomaico Como se pode ver as cidades recebiam nomes em homenagem à dinastia governante A cidade de Alexandria Em um importante porto mediterrâneo no Egito Alexandria foi fundada em 331 aC por Alexandre o Grande entre as várias poleis gregas que ele estabeleceu no Oriente A cidade tornouse a capital do Egito helenístico do rei Ptolomeu I Este fato foi confirmado quando o corpo embalsamado de Alexandre foi sob as ordens de Ptolomeu trasladado para ela após uma breve passagem por Mênfis Sob a próspera dinastia ptolomaica Alexandria rapidamente ultrapassou Atenas como o centro cultural do mundo grego Construída em formato de rede Alexandria ocupava uma extensão de terra entre o mar ao norte e o lago Mareotis ao sul uma longa rampa seguia ao norte até a ilha de Faros assim formando um porto duplo tanto a leste como a oeste No leste havia o porto principal chamado Grande Porto Ele ficava localizado em frente aos edifícios principais da cidade incluindo o palácio real e a famosa biblioteca e museu No Grande Porto em um pico montanhoso de Faros localizavase o Farol de Alexandria construído em cerca de 280 aC Ele não sobreviveu até os tempos atuais tendo sido considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo Tratavase de uma alta torre com janelas em cujo cume ficava uma enorme grelha onde se colocava o fogo que sinalizava aos barcos Além disso havia nele uma estátua de Zeus Salvador Aula 5 O Egito ptolomaico 17 A biblioteca de Alexandria naquele período era a maior do mundo Continha centenas de milhares de volumes e abrigava eruditos e poetas Ao longo do breve período literário de ouro de Alexandria entre aproximadamente 280 e 240 aC a biblioteca patrocinou três importantes representantes da literatura helenística Calímaco Apolônio e Teócrito Entre outros pensadores associados à biblioteca estavam o matemático Euclides em torno de 300 aC e o inventor Arquimedes 287 aCcerca de 212 aC Um complexo similar à biblioteca foi o museu que em grego Mouseion significa casa das musas que foi o primeiro de que se tem notícia na História Pouco se sabe sobre o complexo do museu de Alexandria apenas algumas informações proporcionadas por Estrabão em sua obra Geografia Cosmopolita e florescente Alexandria possuía uma população variada de gregos e orientais incluindo um número considerável de judeus que possuíam seu próprio bairro na cidade Sob os Ptolomeus a cidade teve uma vida política bastante tranquila Com a conquista romana em 30 aC e a transformação do Egito em província romana Alexandria tornouse a segunda cidade mais importante do Império Romano depois de Roma Os judeus no egito ptolomaico Os judeus em Alexandria viram a sua vida em comunidade se desenvolver e prosperar sob os governantes ptolomaicos a partir do século III aC em diante Há evidências a partir de achados epigráficos e papirológicos daquele período que indicam que os judeus foram absorvidos no exército e nos serviços administrativos Nesse período a Torá foi traduzida para o grego e a organização da comunidade judaica desenvolveuse naquilo Mundo Helenístico 18 que em termos ptolomaicos era chamado de políteuma O termo políteuma possuía vários significados na Antiguidade poderia se referir a associações festivas de mulheres uma sociedade de culto e entre outras coisas um grupo étnico Como constituía uma comunidade étnica separada ou um políteuma a comunidade judaica tinha a sua própria assembleia legislativa responsável pelo poder administrativo e judicial sobre os membros da congregação A assembleia do políteuma era separada das autoridades da cidade mas é necessário dizer não se tratava da autoridade judicial última A autoridade mais alta permanecia com o rei ptolomaico COLLINS 2000 p 115 O termo sinagoga pelo qual esta instituição ju daica ficou conhecida advém do grego sunagogué que significa lugar de reunião O hebraico adotou significado muito próximo casa de reunião beit hakenesset Em grego ela também era denominada proseuche ou lugar de oração Oração e reunião eram assim atividades relacionadas e denotavam juntamente com uma terceira atividade o estudo da Torá a função das sinagogas Os autores atuais parecem concordar em relação à questão da origem das sinagogas na Diáspora Eles concluem que as sinagogas apareceram no Egito helenístico em razão de várias inscrições do tempo de Ptolomeu III que fazem menção à proseuche ou lugar de oração Aula 5 O Egito ptolomaico 19 O Egito e a intervenção romana Os soberanos ptolomaicos nunca fizeram oposição aberta às intervenções de Roma na região da Ásia Menor e na política dos reinos helenísticos No mapa do litoral do mar Egeu em torno de 200 aC Figura 59 já é possível observar alguns protetorados romanos na parte ocidental da península balcânica Com o passar dos anos a intervenção romana passou à dominação completa de praticamente todo o território da Ásia Menor Figura 510 Mapa do início da intervenção romana na Ásia Menor Fonte Wikimedia Commons httpptwikipediaorgwikiFicheiroMapMacedonia200BCessvg Mundo Helenístico 20 Diferentemente dos reis selêucidas que se envolveram em guerras pela conquista de territórios contra os romanos entre os ptolomeus houve inclusive o fato peculiar de ter Ptolomeu XI no século I aC cedido em testamento a ilha de Chipre e o próprio Egito aos romanos O Egito não passou a mãos romanas desta maneira tão simples mas em apenas meio século tornouse óbvio que os reis ptolomaicos transformaramse em fantoches nas mãos de autoridades romanas como os generais César Pompeu e Crasso membros do primeiro triunvirato Com efeito a última rainha da dinastia ptolomaica Cleópatra VII casouse com seu irmão Ptolomeu XIV de modo a reinar juntamente com ele por sugestão de César de quem fora amante e tivera um filho Mais tarde ela chegou a residir em Roma a convite do próprio César O reino egípcio passava a constituir um protetorado romano Poucos anos depois em meio às lutas entre os generais romanos Otávio sobrinho e filho adotivo de César e Marco Antônio pelo poder de todo o território conquistado por Roma o Egito passaria à condição de província romana Marco Antônio foi neste período companheiro da rainha Cleópatra Com ela teve filhos e residiu no Egito Otávio aproveitandose desta situação afirmou ao Senado romano que Marco Antônio representa uma ameaça porque em razão de sua ligação com Cleópatra ele deixara de ser romano para se tornar oriental Como o Senado romano e a população da Itália tinham muito receio de uma vitória de Marco Antônio fizeram um juramento de fidelidade a Otávio que se comprometeu a restaurar os antigos valores da República romana Na batalha naval do Ácio em 31 aC Otávio finalmente venceu Marco Antônio A dominação completa do Egito por Otávio é marcada por sua entrada triunfal em Alexandria O fim de tais lutas marcaria a ascensão dele à condição de primeiro imperador romano com o título de Augusto agraciado pelos deuses Triunvirato Tratase de uma magistratura da antiga Roma desempenhada por três cidadãos que tinham por missão administrar os negócios supremos da República O termo referese à associação de três cidadãos que reúnem em si toda a autoridade Corresponde ao governo de três indivíduos triarquia Fonte Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Aula 5 O Egito ptolomaico 21 Ainda assim é necessário observar que mesmo constituindo uma província romana o Egito permaneceu exótico e fascinante aos olhos romanos fato que se pode perceber a partir dos relatos elogiosos de Estrabão que embora grego de nascimento conduziu seus estudos em Roma sobre a cidade de Alexandria e também por evidências materiais do século I aC Veja o mosaico representando o Nilo encontrado na cidade italiana de Palestrina Figura 510 Figura 511 Mosaico do Nilo da cidade italiana de Palestrina século I aC Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwiki FileNileMosaicOfPalestrinajpg Mundo Helenístico 22 Outra prova de que o Egito ainda se manteve exótico e atraente aos olhos ocidentais durante muitos séculos foram as leituras feitas da própria rainha Cleópatra VII que conseguira seduzir dois importantes generais romanos do final do período republicano Sua figura inspirou diversas representações sobretudo já no século XX na era do cinema E ela foi marcada como o símbolo da mulher oriental misteriosa e atraente Atende ao Objetivo 2 2 O geógrafo grego Estrabão descreve a cidade de Alexandria no livro 17 de sua obra Geografia as vantagens da cidade são de vários tipos A área é banhada por dois mares ao norte o mar chamado Egípcio ao sul o lago Mareia também conhecido como Mareotis As exportações por mar de Alexandria são maiores que as importações Isto qualquer pessoa pode constatar seja em Alexandria ou Dicearquia ao observar a chegada e a saída de navios mercantes e ao atentar para quão mais pesadas ou mais leves suas cargas estão quando elas partem ou quando retornam Somado à riqueza obtida com as mercadorias carreadas nos portos de cada lado no mar e no lago o seu bom ar é digno de nota isso é resultado de estar a cidade cercada por água nos dois lados e dos efeitos favoráveis da alta do Nilo Em Alexandria no início do verão o Nilo estando cheio enche também o lago e não deixa assim resíduo de lama que pode ocasionar exalações malignas No mesmo período os ventos etesinos sopram do norte sobre uma grande quantidade de mar e os alexandrinos em consequência passam seu verão de forma muito agradável Aponte segundo a ótica de Estrabão duas características muito positivas da cidade de Alexandria derivadas de sua localização geográfica Aula 5 O Egito ptolomaico 23 Resposta Comentada Estrabão destaca a localização geográfica de Alexandria que é banhada por dois mares Esta localização provê à cidade primeiro uma grande riqueza em razão das exportações e importações isto é do forte comércio marítimo que tem lugar nos portos locais Em segundo lugar esta mesma localização que faz a cidade estar cercada por água em dois lados permite que o ar local seja fresco e sem odores ruins CONCLUSÃO O reino do Egito governado pela dinastia que descendeu de Ptolomeu I Soter teve uma história próspera e autônoma por quase trezentos anos diferentemente dos outros reinos helenísticos que mais rapidamente sucumbiram ao poderio e ao domínio romanos Dentre os fatores responsáveis por esta vida longa podemos contar o processo de construção da legitimidade do poder dos reis ptolomaicos frente aos seus súditos gregos e egípcios que permitiu a contenção de dissidências e revoltas embora estas tenham ocorrido Mundo Helenístico 24 Além disso é digno de nota o eficiente aparato administrativo que os Ptolomeus organizaram de maneira a melhor usufruir os recursos do território sob seu domínio Aliada à forte administração deve ser mencionada a política de fomento à cultura grega que foi desenvolvida com o estabelecimento da capital Alexandria e com a construção de suas instituições ligadas à cultura e à arte a biblioteca e o museu Mais do que nunca a localização geográfica de Alexandria com a presença de vários portos permitia a ela manter um expressivo comércio que rendia aos reis ptolomaicos grandes tributos e ao reino importantes riquezas A política de manutenção de boas relações com Roma também não pode ser esquecida Ainda que os últimos reis ptolomaicos já não conseguissem exercer poder efetivo sem as interferências de autoridades romanas a escolha pelo não confronto permitiu ainda ao Egito um maior tempo de vida autônoma Paradoxalmente o confronto final com os romanos que teve por consequência a tomada definitiva do reino foi causado pela presença de um romano em terras egípcias o general Marco Antônio que se aliara e casara se com Cleópatra VII Ele foi derrotado na Batalha do Ácio em 31 aC pelo general Otávio futuro primeiro imperador romano e o Egito anexado ao território romano como província imperial Atividade Final Observe as duas representações da rainha Cleópatra VII nas artes visuais em especial o cinema Dentre as imagens a seguir encontrase aquela da atriz Elizabeth Taylor no papel de Cleópatra em famoso filme de 1963 Por que a última rainha do Egito Cleópatra exerceu tamanho fascínio ao longo da história tendo por fim sua vida retratada em diversos filmes do século XX Aula 5 O Egito ptolomaico 25 Resposta Comentada Porque a história de Cleópatra misturase à história de Roma ao ter ela se envolvido amorosamente com dois importantes políticos e generais do final do período da República César e Marco Antônio Este último chegou inclusive a transferir sua residência para Alexandria no Egito de forma a ficar próximo de Cleópatra e dos filhos que com ela teve Além disso o fato de ter ela sido a última rainha do reino do Egito antes de sua conquista definitiva por Roma trouxe lhe ainda na Antiguidade até o século IV dC muita devoção por parte dos antigos súditos egípcios que provavelmente viam nela o símbolo do Egito soberano Cleópatra ficou marcada na História como uma rainha importante e como uma mulher exótica e atraente símbolo do Oriente inventado pelos ocidentais Figura 512 Filme Cleópatra 1917 Fonte httpptwikipediaorgwiki FicheiroCleopatra1917jpg Figura 513 Filme Cleópatra 1963 com Elizabeth Taylor Fonte httpptwikipediaorgwikiFicheiro1963Cleopatratrailer screenshot281029jpg Mundo Helenístico 26 RESUMO Ptolomeu I Soter salvador foi apontado o governante do Egito por Alexandre o Grande e ele era um dos sucessores mais plausíveis ao governo de todo o império alexandrino Após a morte deste Ptolomeu I tomou o Egito e regiões adjacentes como ganho seu Assim ele se proclamou rei basileus do Egito em 305 aC e abriu caminho para que seus sucessores legitimassem seu poder como verdadeiros faraós Ptolomeu I foi um grande protetor da cultura grega em seu reino Transferiu a capital egípcia para Alexandria cidade marcada por sua favorável localização geográfica e pela construção de importantes instituições ligadas à cultura um museu o primeiro de que se tem notícia na história e sua biblioteca foi a maior no mundo antigo o que a transformou num importante centro cultural em todo o Mediterrâneo Após a morte de Ptolomeu I os seus sucessores tiveram de lidar com os selêucidas de muitas formas no que dizia respeito ao controle da Síria da Ásia Menor da Palestina e da ilha de Chipre Todos os esforços de Ptolomeu no sentido de fortalecer seu reino permitiram que a dinastia que dele descendeu conseguisse manter seu status independente por mais tempo do que os outros reinos helenísticos que sucumbiram mais rapidamente ao poderio romano até a última soberana Cleópatra VII que morreu em 30 aC Cleópatra havia se aliado ao general romano Marco Antônio Na disputa pelo controle do vasto território romano entre Marco Antônio e Otávio sobrinho e filho adotivo de Julio César o último foi vencedor na batalha naval do Ácio em 31 aC Assim o Egito foi anexado ao território romano tornandose uma província imperial Aula 5 O Egito ptolomaico 27 Informação sobre a próxima aula Na próxima aula você verá em detalhes como se estabelece o poder sobre a parcela mais ampla do antigo território conquistado por Alexandre a Ásia Menor e grande parte do continente asiático Os sucessores do grande conquistador nessa região são os selêucidas que têm na figura de Seleuco I Nicator o fundador da dinastia SOLOWAY Com a intenção de afiar vocês para a AP1 que está por vir e considerando tanto as aulas de 5 a 7 quanto os textos indicados para leitura gostaria de propor uma rápida reflexão no fórum sobre a seguinte questão Quais foram as estratégias usadas pelos reinos helenísticos herdeiros do Império de Alexandre a fim de consolidar o poder e legitimar suas dinastias Quais características de governo podem ser consideradas imposição greco macedônica e quais seriam adaptaçãointeração ao local de dominação Monica Selvatici Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos Mundo Helenístico 2 Metas da aula Caracterizar o reino helenístico da dinastia selêucida que governou a parte oriental das conquistas territoriais de Alexandre o Grande e apresentar os reinos asiáticos que conquistaram independência do domínio selêucida Objetivos Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de 1 reconhecer o processo histórico de conquista e perda de territórios por parte da dinastia selêucida e o processo de construção da legitimidade do poder do rei selêucida frente aos seus súditos 2 avaliar as medidas tomadas pelos soberanos selêucidas no sentido de manter o controle sobre o vasto território de seu reino dentro do contexto da organização do Estado selêucida Prérequisito Para esta aula procure recapitular informações da Aula 2 Fontes escritas e cultura material sobre a localização geográfica do mundo helenístico em especial aquela do reino selêucida e as informações da Aula 4 As conquistas de Alexandre e a construção da imagem do grande general acerca do processo de conquista de tal território Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 3 INTRODUÇÃO Nesta aula discutiremos a formação a história e a desagre gação do reino da dinastia selêucida que abarcou a maior parcela e aquela mais oriental do antigo território conquistado por Alexandre o Grande Após a morte de Alexandre o Grande em 323 aC houve a divisão do território por ele conquistado entre seus generais referidos em grego como diádocos diadochoi sucessores e também como epígonos epígonoi filhos Seleuco um dos principais generais de Alexandre tornouse governador o termo preciso é sátrapa que será explicado nas próximas páginas da Babilônia em 321 aC Houve no entanto uma série de lutas que duraria toda uma década entre aqueles generais que pretendiam manter a unidade do império em memória à figura de Alexandre e aqueles que pretendiam dividilo Neste processo Seleuco aliouse a Ptolomeu I do Egito contra Antígono I sucessor de Alexandre ao trono macedônico que havia conseguido naquele período expulsálo do governo da Babilônia Assim em 312 aC ao derrotar o exército do filho de Antígono Demétrio na região de Gaza com o auxílio de tropas enviadas por Ptolomeu Seleuco conseguiu tomar posse da Babilônia novamente Estabeleceuse assim o reino ou império selêucida na parte mais oriental do antigo império alexandrino Em suma o grupo dos generais que intencionava dividir as terras de Alexandre foi vencedor Mundo Helenístico 4 Figura 61 Seleuco I Nicator bronze Cópia romana de original grego da cidade de Herculano sul da Península Itálica Atualmente no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles Itália Fonte Wikimedia Commons http ptwikipediaorgwikiFicheiroSeleucoI NicatoreJPG O estabelecimento do reino selêucida Os selêucidas governaram o maior dos reinos helenísticos com o seu centro na Síria e a Turquia ocidental como limite a oeste assim como a província da Báctria atual Afeganistão e Paquistão a leste Em torno de 305 aC Seleuco havia consolidado o seu poder sobre o território e começou a expandir seu domínio a leste em direção ao rio Indo e a oeste sobre a Síria e a Ásia Menor Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 5 Figura 62 Mapa dos reinos sucessores de Alexandre antes da batalha de Ipsus 301 aC com destaque para o reino selêucida Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileDiadochpng Ao todo o território selêucida compreendeu as áreas do que atualmente são o Afeganistão o Irã o Iraque a Síria e o Líbano juntamente com partes da Turquia Armênia Turcomenistão Uzbequistão e Tadjiquistão A princípio o reino selêucida teria duas capitais que foram fundadas em 300 aC Antioquia do rio Orontes na Síria e Selêucia do rio Tigre na Mesopotâmia A cidade de Babel compreendia outro centro urbano de importância expressiva Como você já viu em aulas anteriores o processo de helenização das regiões conquistadas por Alexandre foi levado adiante pelas dinastias que a ele sucederam através do estabelecimento de cidades gregas tanto em terras não urbanizadas quanto em locais onde existiam antigos assentamentos Novas cidades foram fundadas mesmo em lugares onde havia grandes concentrações urbanas Este foi o caso da cidade faraônica de Mênfis no Egito que perdeu seu lugar para Alexandria cidade construída por Alexandre no litoral do Mediterrâneo que passou a ser a capital do reino ptolomaico e também o caso da nova capital do reino selêucida Selêucia do Tigre que ultrapassou em vulto a antiga capital mesopotâmica a cidade de Babel Como se pode notar as cidades recebiam nomes em homenagem à dinastia governante Mundo Helenístico 6 O reinado de Seleuco I durou de 312 a 281 aC e ele foi sucedido por seus descendentes que continuaram a governar o conjunto das províncias acima apontadas por mais de dois séculos Entretanto este reino logo começou a perder territórios tanto a leste como a oeste A Báctria tornouse independente em 255 aC e também a leste emergiu o reino não grego da Pártia aproximadamente em 238 aC o que bloqueou a expansão selêucida nesta direção Posteriormente o rei selêucida Antíoco III de epíteto o Grande conseguiu reconquistar tais territórios ao longo de uma série de guerras orientais entre os anos 209 e 204 aC Também em termos de guerras empreendidas são dignas de menção as diversas guerras sírias travadas a sudoeste contra a dinastia dos ptolomeus do Egito Primeira Guerra Síria 274271 aC Segunda Guerra Síria 260253 aC Terceira Guerra Síria 246241 aC Quarta Guerra Síria 219217 aC Quinta Guerra Síria 202195 aC Sexta Guerra Síria 170168 aC No ano 200 o rei ptolomaico foi forçado a ceder a Palestina a Antíoco III Este representou o ápice do poder selêucida Antíoco III no entanto logo viria a assistir ao declínio de seu poder Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 7 Figura 63 Moeda de prata representando Antíoco III Fotografada no Museu Britânico Londres Fonte Wikimedia Commons httpeswikipedia orgwikiArchivoAntiochosIIIJPG No extremo ocidental do território os selêucidas perderam as terras na Turquia quando lá despontou a dinastia dos Atálidas que passou a governar a região independente então transformada no reino de Pérgamo em cinza mais escuro no mapa Figura 64 Figura 64 Mapa da região da Ásia Menor após 188 aC Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileAsiaMinor188BCEjpg Mundo Helenístico 8 No século II aC o poder dos Atálidas foi aumentado por se aliarem a Roma a quem o reino de Pérgamo foi legado pelo último soberano em 133 aC Desta forma no século I aC o reino selêucida estava já reduzido também em função de dissensões internas a uma pequena área do norte da Síria e ele finalmente sucumbiu frente aos romanos em 64 aC O embate com o poderio romano No ano 196 aC Antíoco III cruzou o Helesponto com o objetivo de conquistar a região da Trácia ele de fato conseguiu seu intento em 194 No entanto tamanha proximidade e influência sobre terras próximas àquelas dominadas por Roma rapidamente incomodaram os romanos Uma guerra inevitável entre as duas potências foi desencadeada em 192 aC Antíoco III recebeu apoio de muitas cidades gregas e auxílio do general cartaginês Aníbal mas foi derrotado e forçado a pagar uma enorme soma de dinheiro aos romanos Como resultado o reino selêucida perdeu suas possessões na região da Ásia Menor atual Turquia A partir de então a monarquia selêucida começou a perder mais territórios Roma havia se tornado um poder invencível Apoiou os judeus quando eles se libertaram do domínio selêucida após a revolta dos Macabeus Concomitantemente os partos que serão caracterizados em detalhes na seção Os reinos asiáticos fundaram o império parto subtraindo as províncias orientais do reino selêucida As cidades de Selêucia do Tigre e Babel foram capturadas na primavera de 141 aC Mais perdas ocorreram com as guerras civis entre duas facções rivais da família selêucida O enorme reino selêucida continuou a perder territórios em função da guerra ou da rebelião de populações dominadas Neste sentido a anarquia e a instabilidade criaram o contexto propício para a divisão da Ásia Menor em reinos que se tornaram independentes Assim ocorreu com os novos reinos da Bitínia Paflagônia Ponto Galácia Capadócia Comagene Cilícia e Pérgamo Helesponto O Helesponto cujo nome atual é Dardanelos constitui um estreito no noroeste da Turquia ligando o mar Egeu ao mar de Mármara Assim como o estreito de Bósforo ele separa a Europa da Ásia Aníbal General da cidade de Cartago filho de Amílcar Barca liderou as tropas cartaginesas em sua luta contra Roma ao longo da Segunda Guerra Púnica 218202 aC Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 9 O processo de desagregação do reino selêucida foi provocado definitivamente pela chegada dos romanos ao centro do reino e a tomada de seu território O último rei selêucida foi destronado em 64 aC O centro do antigo reino foi transformado em uma província pelos romanos nomeada Síria A Revolta dos Macabeus como você verá com mais detalhes na Aula 10 foi um levante organizado pelo judeu Judas Macabeu contra o rei selêucida Antíoco IV Epifanes na década de 160 aC que teve como motivo primeiro a proi bição do culto judaico pelo monarca helenístico e a obrigação imposta por ele aos judeus de cultuar uma divindade helênica O processo de legitimação do poder dos governantes selêucidas Com a morte de Seleuco em 281 aC Antíoco I precisava determinar de que forma ele iria apresentar o seu reinado em relação ao de seu pai Seleuco havia começado a se separar do imaginário ligado a Alexandre e é possível que já tivesse iniciado a cunhagem de moedas com sua própria efígie No entanto seu filho Antíoco I foi bastante original ao criar uma imagem diferente que dominou a produção de moedas dos selêucidas por todo um século o retrato do rei vigente no anverso e no reverso o deus Apolo sobre o ônfalo Ônfalo Pedra arcaica ou ainda pedra fundamental de uma localidade esculpida com baixosrelevos A mais famosa dentre as pedras deste tipo que existiam ao longo do Mediterrâneo antigo era aquela mantida no templo do deus Apolo em Delfos O significado da palavra omphalos em grego é umbigo Diziase que a pedra correspondia ao centro do mundo tal como determinado por Zeus Os relevos que recobrem a pedra representam uma rede Hoje perdidas compunham também a peça duas águias de ouro que ficavam sobre ela Mundo Helenístico 10 Figura 65 Ônfalo de Delfos acervo do Museu Arqueológico de Delfos Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorg wikiFileOmphalosmuseumjpg Antíoco I também promoveu a imagem de seu pai como o fundador da dinastia selêucida O historiador romano de origem grega Apiano de Alexandria relata que um culto a Seleuco I foi fundado na cidade Selêucia Piéria Além disso uma imagem divinizada de Seleuco caracterizado com chifres de touro foi cunhada na cidade de Sardes em moedas que continham no reverso a imagem do deus Apolo sobre o ônfalo Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 11 O deus Apolo dentro do império selêucida foi interpretado no contexto babilônico como o deus local Nabu e no contexto persa ele foi divulgado como a versão grega do rei vigente Esta característica multifacetada da divindade transformoua na figura ideal para representar os selêucidas que procuravam legitimar seu poder sobre um território vasto e uma população multiétnica Em suma Antíoco I publicizou a imagem de seu pai divinizado com o objetivo de se afirmar como sucessor legítimo dele Segundo Kyle Erickson 2010 Antíoco divulgou a imagem de Seleuco como ancestral e fundador da dinastia mas não como o único foco da casa real O papel de Seleuco como fundador foi ainda mais destacado através do contínuo uso da data de seu retorno da Babilônia como o marco inicial da cronologia da dinastia selêucida Figura 66 Moeda de Seleuco I Nicator Fotografada no Museu Britânico Londres Fonte Wikimedia Commons http enwikipediaorgwikiFileSeleucosCoinjpg Mundo Helenístico 12 E rapidamente Antíoco I procurou estabelecer o seu papel como soberano legítimo ao inserir a sua própria imagem no anverso das moedas Figura 67 Moeda cunhada por Antíoco I Soter 281261 aC Anverso Antíoco com diadema Reverso Apolo sentado sobre o ônfalo Fonte Wikimedia Commons httpptwikipediaorg wikiFicheiroAntiochusIjpg Atende ao Objetivo 1 1 Observe o mapa do Império selêucida no ano 200 aC e a moeda do rei Antíoco IV Epifanes Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 13 Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileSeleucidEmpire200bcjpg Figura 68 Moeda de Antíoco IV Epifanes no anverso e o deus Apolo sobre o ônfalo no reverso É sabido que no ano 200 aC o poder dos selêucidas chegou ao seu ápice com a conquista da Palestina anteriormente dominada pelos ptolomeus Diante de tantos territórios e populações diferentes dominadas por que os reis selêucidas insistiram na cunhagem de moedas que apresentavam no anverso os seus perfis e no reverso o deus Apolo sobre o ônfalo Mundo Helenístico 14 Resposta Comentada Porque a cunhagem de moedas foi um importante recurso para estabelecer a legitimidade do poder selêucida frente aos súditos das diversas regiões dominadas Desde Seleuco I esta estratégia foi utilizada e assim permaneceu sob os sucessores da dinastia A adoção da figura do deus Apolo tinha a função de representar bem a dinastia selêucida diante de tantos povos dominados na medida em que ele mantinha uma característica multifacetada pela qual ele se confundia com o deus Nabu dos babilônicos e também entre os persas dominados era visto como a representação do rei vigente A organização do estado selêucida O reino selêucida tal como o império de Alexandre mantinha aspectos similares aos dos impérios anteriores a ele o império assírio o império neobabilônico e o império aquemênida Não há dúvida quanto a tais semelhanças mas os intelectuais discordam em relação à questão de se os selêucidas quiseram usar as estruturas do antigo governo e realmente se mostraram como sucessores dos Aquemênidas tal como fizeram os ptolomeus ao se colocarem como sucessores dos antigos faraós já que procuraram ao contrário divulgar com força o modo de vida helênico em todo o território por eles dominado Talvez a permanência mais forte do antigo sistema de governo persa nos domínios selêucidas tenha sido a divisão das terras do reino em províncias ou satrapias a serem governadas por sátrapas que deviam obediência e lealdade ao rei Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 15 Império assírio Os assírios formaram um reino semita locali zado em torno da região do alto rio Tigre no norte da Mesopotâmia atual Iraque Seu nome advém de sua capital original a antiga cidade de Assur A história dos assírios remonta ao século XX aC No entanto o auge de processo de expansão do império assírio deuse entre os séculos IX e VII aC quando sob o soberano Assurbanipal c 668627 aC controlou por algumas décadas toda a região do Crescente Fértil além do Egito O fim do domínio assírio deuse com a invasão dos caldeus às capitais Assur e Nínive no final do século VII aC Império neobabilônico Tratase de um breve período da história da antiga Mesopotâmia entre 626 e 539 aC quando os caldeus governaram o território do antigo império assírio Este domínio iniciase com a tomada da cidade de Babel ou Babilônia por Nabopolassar em 626 aC e tem continuidade com a invasão de importantes cidades do império assírio Dentre os soberanos da dinastia neoba bilônica iniciada por Nabopolassar encontrase seu filho Nabucodonosor II conhecido pelo relato bíblico como o rei que invadiu a Judeia e deportou os judeus para o exílio na Babilônia Esta dinastia logo perde seus domínios com a invasão de Babel desta vez pelos persas aquemênidas em 539 aC Mundo Helenístico 16 Império aquemênida O império aquemênida existiu por mais de duzentos anos cerca de 550330 aC Também conhecido como o primeiro império persa teve no monarca Ciro o grande o responsável por expandir seus domínios até abarcar em torno de 500 aC uma área que seguia desde o vale do rio Indo a leste até a Trácia e a Macedônia a oeste Ele também dominou o Egito neste período compreendendo no auge de sua ex tensão territorial cerca de 2600000 km2 divididos em províncias as satrapias e interligados por uma complexa rede de estradas Membros das elites nativas procuraram se helenizar em termos dos costumes mas as línguas demóticas línguas faladas no cotidiano também foram usadas na administração do Estado selêucida A influência grega era limitada às cidades não chegando a afetar as áreas rurais Embora os soldados gregos fossem a base do exército um grande número de tropas da Pérsia e da Babilônia foi incorporado entre as quais os catafractas a cavalaria pesada dos persas aquemênidas Houve diversas revoltas na região que a dinastia selêucida conseguiu suprimir e na tentativa de alcançar a obediência dos súditos orientais os reis selêucidas procuraram agir como protetores dos cultos persas e babilônicos Eles adotaram amplamente a prática de subsidiar pagavam os custos dos sacrifícios feitos no templo os cultos das divindades persas e mesopotâmicas Adotaram também a política dos casamentos com a realeza persa da Capadócia que se dizia ligada por ancestralidade à figura de Dario I o Grande Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 17 O principal desafio para o Estado selêucida era o de garantir a integração do vasto reino sob seu domínio que compunha um mundo muito heterogêneo em termos dos povos que nele habitavam A existência de duas capitais Antioquia na Síria e Selêucia na Babilônia era uma tentativa de manter o governo sobre todo o território Havia regiões que eram subordinadas diretamente ao rei e outras situadas sobretudo nas fronteiras que eram ainda governadas por chefes tribais ou elites religiosas Estas regiões mostravamse na maioria das vezes autônomas em relação ao poder central A dinastia selêucida na tentativa de melhor dominar o território sob seu domínio divulgou a cultura helênica ao fundar uma série de cidades e colônias de cidadãos gregos em algumas regiões de seu reino Esta iniciativa foi adotada por Seleuco I e Antíoco I que fundaram diversos núcleos urbanos cujo modelo era as póleis gregas com o ginásio anfiteatros e praças As colônias gregas eram centradas em sua maioria na Síria cuja capital Antioquia era a mais importante delas e em menor escala na Babilônia com a fundação de Selêucida do Tigre Uma exceção à regra foi a colonização grega da longínqua província da Báctria situada na fronteira com a Índia O reino de Pérgamo Durante a divisão do império de Alexandre a região da Anatólia coube a Lisímaco um dos diádocos ou sucessores de Alexandre Lisímaco conquistou uma grande fortuna com suas possessões na Ásia Menor e as depositou na cidade de Pérgamo deixando boa parte dela aos cuidados de um de seus oficiais Filetairo No entanto Lisímaco foi posteriormente morto por Seleuco I Nicator em 281 aC na batalha de Corrupedium o que fez com que Filetairo ficasse com a posse de um grande tesouro e da própria cidade de Pérgamo Mundo Helenístico 18 Filetairo mostrouse um habilidoso administrador ao governar Pérgamo como um território vassalo do reino selêucida Procurando demonstrar lealdade aos selêucidas na realidade ele conseguiu fundar seu próprio reino Em 263 aC seu sucessor Eumenes I travou uma aliança com o Egito ptolomaico derrotou o rei selêucida Antíoco I Soter e declarou a independência de seu território Ele é neste sentido considerado o primeiro rei de Pérgamo e o fundador da dinastia dos Atálidas cujo nome advém de seu avô Átalo de Tios Além disso ele conseguiu expandir as fronteiras de seu reino até as margens do mar Egeu O seu sucessor Átalo I deu continuidade ao processo de expansão até que toda Ásia Menor fica submetida aos Atálidas Neste momento eles travam um pacto com Roma que se torna protetora do reino e recebe por herança seu território após a morte do último rei desta dinastia Átalo III em 133 aC O naturalista romano Plínio o Velho conta uma anedota mencionada anteriormente por Varrão segundo a qual a invenção do pergaminho fora resultado da rivalidade entre ptolomeus e atálidas e mais especificamente entre as cidades de Alexan dria e Pérgamo Pérgamo assim como Alexandria era um centro cultural de expressiva importância no mundo helenístico O rei Átalo II iniciou em 157 aC a coleta de textos a serem depositados na Grande Biblioteca de Pérgamo Tal biblioteca viria a ter uma repercussão menor do que aquela de Alexandria mas era muito vasta em ter mos dos campos de saber contemplados No entanto ela dependia exclusivamente dos papiros oriundos de Alexandria e não mantinha com esta última a melhor Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 19 das relações Segundo Plínio em Historia Naturalis em razão de tal rivalidade o rei do Egito proibiu a exportação de papiro para aquela cidade e os habi tantes de Pérgamo foram obrigados a desenvolver a técnica da fabricação de um suporte diferente para a escrita o pergaminho que tem seu nome derivado do nome da cidade Os reinos asiáticos Alexandre o Grande em meio às suas conquistas de novos territórios alcançou e tomou no Oriente a região de Sogdia ou Sogdiana e o Irã Entretanto ao sul ele encontrou muita resistência local Após dois anos em guerra e uma forte campanha de revoltas Alexandre obteve êxito na conquista de algum controle sobre a região da Báctria localizada em torno do rio Oxus e ao norte do Hindu Kush que Alexandre designou como o Cáucaso das Índias Uma onda de colonização militar sob as ordens de Alexandre e da dinastia selêucida posterior a ele estabeleceu uma comunidade numericamente pequena porém politicamente dominante na Báctria O reino grecobactriano Importantes dificuldades encaradas pelos reis selêucidas e os ataques de Ptolomeu II do Egito deram a Diódoto sátrapa da Báctria a oportunidade de declarar a independência do seu território em torno de 255 aC e ainda conquistar a região de Sogdiana Ele foi o fundador do reino grecobactriano Diódoto e seus sucessores foram capazes de se manter frente aos ataques dos selêucidas particularmente dos ataques de Antíoco III que foi finalmente derrotado pelos romanos em 190 aC Mundo Helenístico 20 Houve o desenvolvimento e a evolução de um sentimento de pertença à etnia grega entre a comunidade de colonos da Báctria helenística e seus descendentes O novo reino foi altamente urbanizado e considerado um dos mais prósperos do Oriente O historiador latino Marco Juniano Justino o definia como o opulentíssimo império bactriano das mil cidades em latim opulentissimum illud mille urbium Bactrianum imperium Assim uma política de expansão territorial foi adotada em direção tanto ao oriente como ao ocidente O território grecobactriano foi ampliado até as terras da Índia O geógrafo grego Estrabão mostrouse bastante impressionado em sua descrição No que diz respeito à Báctria uma parte dela segue ao longo da região de Ária em direção ao norte embora a maior parte dela localizese acima de Ária e a leste desta região E ela produz de tudo com exceção de azeite Os gregos que provocaram a revolta da Báctria tornaramse tão poderosos em termos da fertilidade da região que eles se tornaram mestres não apenas da Báctria e além dela mas também da Índia tal como afirma Apolodoro de Artemita e mais tribos foram submetidas por eles do que por Alexandre Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 21 Figura 69 Mapa do reino grecobactriano em sua extensão máxima em torno de 180 aC Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwikiFileGreco BactrianKingdomMapjpg Os habitantes do reino grecobactriano utilizavam a língua grega para objetivos administrativos e mesmo a língua bactriana local também era helenizada Isso se pode entrever pela adoção do alfabeto grego e o empréstimo de palavras em grego ao seu vocabulário Segundo Rachel Mairs 2008 p 39 Os habitantes da região da Báctria mostravamse satisfeitos com o fato de atenderem aos critérios de pertença à etnia grega suas inscrições mostram que eles eram capazes de racionalizar uma gama culturalmente diversa de práticas por meio de um vocabulário cultural grego e que mesmo indivíduos com nomes indianos poderiam gabarse de sua educação grega Mundo Helenístico 22 O reino da Pártia sob os Selêucidas Após a morte de Alexandre na conferência da Babilônia em 323 aC a Pártia tornouse uma província governada por Nicanor Já em 320 aC na Conferência de Triparadiso a província foi delegada ao general Felipe antigo governador de Sogdiana Posterior a isso houve invasões ao território parto que uma vez contidas fizeram da Pártia uma província autônoma Em 316 aC Seleuco I Nicator designou um subordinado seu que ocupava o cargo de sátrapa da Báctria como governador da Pártia Nos sessenta anos seguintes vários membros da hierarquia selêucida foram indicados para o posto de sátrapas desta província Em 247 aC após a morte de Antíoco II Ptolomeu III do Egito tomou o controle da capital selêucida em Antioquia o que deixou incerto o futuro da dinastia selêucida Aproveitandose da situação política do reino muito precária o governador selêucida da Pártia Andrágoras proclamou a independência de sua satrapia e começou a cunhar suas próprias moedas Figura 610 Moeda de Andrágoras Principais Moedas dos Antigos edição de 1889 acervo do Museu Britânico Fonte Wikimedia Commons httpenwikipediaorgwiki FileAndragorasBMCjpg Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 23 Enquanto isso aparece no cenário político oriental a figura de Ársaces homem oriundo da Báctria ou mesmo da Cítia que foi eleito líder dos parni povo de origem iraniana oriental Após a separação da Pártia do Império Selêucida e a consequente perda do apoio militar selêucida Andrágoras viuse em dificuldades para proteger suas fronteiras e em torno de 238 aC sob o comando de Ársaces e seu irmão os parni invadiram a Pártia e tomaram a princípio controle da região norte daquele território Figura 611 Moeda com a representação do rei parto Ársaces I 247211 aC Fonte Wikimedia Commons httpptwikipediaorgwiki FicheiroPdc24586jpg O processo de conquista pelos parni de todo o território da Pártia das mãos de Andrágoras foi bastante rápido Os selêucidas por sua vez procuraram enviar uma expedição punitiva sob Seleuco II que não foi bemsucedida Mais tarde em 209 aC sob Antíoco III os selêucidas recapturaram o território controlado pelos parni das mãos do sucessor de Ársaces Ársaces II Este último aceitou os termos impostos pelos selêucidas e seu território tornouse uma província com status de dependência ou vassalagem Uma nova tentativa da Pártia arsácida de tornarse independente só viria a acontecer no tempo do neto ou sobrinhoneto não se sabe ao certo de Ársaces II Mundo Helenístico 24 Atende ao Objetivo 2 2 Leia o trecho abaixo extraído da Crônica sobre o reino de Seleuco III Keraunos texto babilônico em tablete cuneiforme que tem a escrita feita nele em forma de cunha acervo do Museu Britânico Ano 88 Seleuco III Keraunos rei mês Nisannu I Naquele mês no oitavo dia 7 April 224 um certo babilônico o shatammu do Esagila providenciou para o x x do Esagila sob as ordens do rei de acordo com o pergaminho que o rei enviara antes com dinheiro do tesouro real de sua propriedade 11 bois gordos 100 ovelhas gordas e 11 patos gordos para as oferendas de comida dentro do Esagila para Bêl Bêltia e os grandes deuses e para o serviço do rei Seleuco e seus filhos As porções dos bois e os animais sacrificiais acima mencionados ele destinou aos sacerdotes de lamentação e o shatammu Aos juízes do rei e dos cidadãos para Selêucia ele os enviou Em termos da organização do Estado selêucida de que medidas tomadas por Seleuco III no sentido de manter o controle sobre o vasto território trata o texto de sua crônica Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 25 Resposta Comentada Tendo por base as informações sobre as medidas adotadas pelos soberanos selêucidas com o objetivo de manter o controle e a obediência dos súditos de seu reino fica claro no texto a prática do rei de subsidiar os cultos das divindades mesopotâmicas neste caso no templo babilônico chamado Esagila cuja divindade era Marduk O texto é enfático quanto à origem do dinheiro Ele provém do tesouro real tratase da propriedade da pessoa do rei selêucida que se mostra assim respeitoso generoso e protetor do culto babilônico CONCLUSÃO O território tomado por Seleuco I Nicator após a divisão do império de Alexandre estendiase desde a AnatóliaÁsia Menor e a Síria a oeste até a região da Báctria que fazia fronteira com a Índia e a China a leste Neste sentido a área controlada pelos selêucidas era a mais difícil de administrar na medida em que compreendia muitos grupos étnicos e diferentes províncias as satrapias cujo governo era exercido por líderes locais e sátrapas que não estavam acostumados nem desejavam uma autoridade central Por essa razão as fronteiras do reino selêucida foram sempre flutuantes A política de colonizar com habitantes gregos as áreas conquistadas foi no entanto bemsucedida durante vários anos Ainda assim essa dinastia envolveuse constantemente em guerras contra a dinastia ptolomaica na disputa por territórios algo que terminou por enfraquecer ainda mais o poder central selêucida e causar a perda progressiva dos antigos territórios dominados Esta dinastia foi por fim derrotada pela potência romana que passava a se interessar pelo Mediterrâneo helenístico e terminou por invadir o centro do antigo estado helenístico em meados do século I aC Mundo Helenístico 26 Atividade Final Atende aos Objetivos 1 e 2 Observe a moeda a seguir cunhada no tempo do rei grecobactriano Pantaleão entre 190 e 180 aC e leia as características dela na legenda Figura 612 Moeda bilíngue de Pantaleão no padrão indiano Anverso deusa indiana Lakshmi com legenda em Brahmi sistema de escrita usado no centronorte da Índia a partir do século III aC RAJANE PAMTALEVASA rei Pantaleão Reverso leão budista com legenda em grego BASILEOS PANTALEONTOS rei Pantaleão Fonte Wikimedia Commons httpwikiimagesqwikacom imagesen889PantaleonLionjpg Com base nas informações sobre o reino grecobactriano o que se pode afirmar a respeito das imagens e legendas da moeda Aula 6 A Ásia selêucida e os reinos asiáticos 27 Resposta Comentada Como vimos nesta aula o reino grecobactriano expandiu suas fronteiras em direção à Índia abarcando diversos territórios indianos Também se sabe que a população da Báctria de origem grega manteve sua identidade grega porém incorporando traços dos povos nativos como o uso da língua bactriana O mesmo parece ter ocorrido com a expansão em direção à Índia A moeda do rei grego demonstra a apropriação grega dos símbolos indianos e o uso bilíngue do grego e da escrita indiana naquele período RESUMO Nesta aula procuramos caracterizar o reino helenístico da dinastia selêucida que governou a parte oriental das conquistas territoriais de Alexandre o Grande em termos de seu território da busca por legitimação de seu poder e da organização do estado selêucida A dinastia selêucida na tentativa de melhor dominar o território sob seu domínio divulgou a cultura helênica ao fundar uma série de cidades e colônias de cidadãos gregos nas diversas regiões de seu reino Ainda assim a manutenção das fronteiras do reino era complexa e o envolvimento em guerras constantes contra os ptolomeus e posteriormente contra os romanos levaram à derrota final de tais governantes Propiciaram também a independência de uma série de reinos outrora dominados pelo Estado selêucida Tais reinos agora autônomos localizavamse tanto a oeste na Ásia Menor Mundo Helenístico 28 como o reino de Pérgamo governado pela dinastia dos Atálidas quanto a leste na Ásia longínqua com o reino da Pártia e o reino grecobactriano Este último manteve de maneira independente uma forte identidade grega em terras próximas à Índia Informação sobre a próxima aula Na próxima aula intitulada A Macedônia dos antigônidas e as ligas gregas você verá em detalhes como se estabelece o poder sobre o território de onde Alexandre é oriundo a Macedônia Os sucessores do grande conquistador nesta região são os antigônidas que têm na figura de Antígono I o fundador da dinastia Com a intenção de afiar vocês para a AP1 que está por vir e considerando tanto as aulas de 5 a 7 quanto os textos indicados para leitura gostaria de propor uma rápida reflexão no fórum sobre a seguinte questão Quais foram as estratégias usadas pelos reinos helenísticos herdeiros do Império de Alexandre a fim de consolidar o poder e legitimar suas dinastias Quais características de governo podem ser consideradas imposição greco macedônica e quais seriam adaptaçãointeração ao local de dominação Após a morte de Alexandre o Grande seu império foi dividido entre seus generais formando os reinos helenísticos Para consolidar o poder e legitimar suas dinastias os monarcas adotaram estratégias como a divinização apresentandose como filhos dos deuses e a promoção da helenização com o grego se tornando a língua administrativa e a fundação de cidades com características gregas Também usaram casamentos dinásticos e alianças políticas para garantir estabilidade e patrocinaram as artes e ciências para fortalecer sua imagem Tais estratégias estão bem ilustradas no contexto dos reinos como o Egito sob os Ptolomeus onde se associaram aos deuses egípcios e mantiveram a aristocracia local como destaca o texto de Said No entanto os governantes não impuseram apenas a cultura grega mas também se adaptaram às tradições locais como no caso do Egito onde os Ptolomeus se associaram aos deuses egípcios Além disso mantiveram a aristocracia local em posições de poder e utilizaram práticas religiosas e culturais locais para integrar os diversos povos equilibrando a imposição de elementos gregos com a adaptação ao contexto local o que assegurou a estabilidade e a longevidade dos reinos helenísticos