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PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA Alberto Cupani Universidade Federal de Santa Catarina cupanicfhufscbr Resumo No seu artigo Science and human values 1960 CG Hempel analisou a relação entre enunciados científicos e julgamento de valor sustentando que os últimos não podem ser pressupostos pelos enunciados científicos nem deles derivados Embora reconhecesse a influência de valorações na escolha da atividade científica e em certos aspectos da metodologia Hempel enfatizava que as valorações não têm lugar em absoluto no conhecimento científico como tal e finalizava mostrando que o progresso científico pode causar mudanças em atitudes de valoração ainda que não possa em rigor fundamentá las Neste trabalho indago se a transformação da filosofia da ciência operada na segunda metade do século vinte junto com as contribuições da sociologia do conhecimento e da história da ciência modifica o diagnóstico de Hempel Como este assunto é muito amplo a minha abordagem é inevitavelmente parcial Palavraschave Carl G Hempel ciência e valores valores na ciência conhecimento e valoração Há mais de quarenta anos no seu artigo Science and human values 1960 redigido dentro do espírito da filosofia da ciência prékuhniana C G Hempel sustentava de maneira típica a impos sibilidade de que juízos de valor categóricos pudessem ser deduzidos de ou pressupostos por afirmações científicas Admitia Hempel contudo que a atividade científica implica valorações das preferên cias dos cientistas e valorações instrumentais inerentes à metodo logia Para ele o avanço do conhecimento científico pode conduzir a modificar posições axiológicas embora não possa refutálas Nesse período de tempo que nos separa da publicação daquele artigo a filosofia da ciência mudou abrindose a considerações histó ricas sociais psicológicas e culturais A sociologia do conhecimento Recebido em 22 de outubro de 2004 Aceito em 29 de novembro de 2004 Alberto Cupani 116 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 científico e a história da ciência e os science studies têm submetido à análise crítica a atividade científica prestando particular atenção aos interesses e correspondentes valorações que a influenciam os quais podem de resto ser muito variados econômicos sociais políticos etc Mais recentemente a crítica feminista procura mostrar que a empresa toda da ciência moderna está impregnada de valores androcêntricos e que não faltam autores a denunciar a secreta vinculação do saber científico pretensamente neutro com o afã de controlar a natureza Por sua vez Hempel não incluiu em seu artigo talvez por considerar o assunto como óbvio os valores relativos ao denominado ethos da ciência nem se mostrou sensível à possibilidade de que o conhecimento produzido pela ciência pudesse ser definido de outra maneira Até que ponto esse quadro de análise notavelmente mais amplo da questão em pauta modifica o diagnóstico hempeliano É o que tratarei de examinar neste artigo A literatura a esse respeito é certamente enorme Limitarmeei a confrontar a posição hempe liana com a de alguns trabalhos que podem representar uma modificação acrescentando algumas reflexões finais sobre a relevância do tipo de análise efetuado por Hempel 1 A ÍNDOLE DO ENFOQUE HEMPELIANO Cabe notar antes de tudo que Hempel abordava a questão aqui analisada entendendo por valores aquelas preferências enunciadas em forma de imperativos ou de enunciados incondi cionais e indagando se eles podiam de algum modo estar pressu postos pela ciência Hempel partia da classificação das valorações em juízos categóricos de valor conforme o esquema x é bom ou devese fazer x e juízos instrumentais de valor se se quiser alcançar x devese fazer y Os primeiros em razão de não serem enunciados descritivos1 não podem ser verificados cientificamente nem podem ser derivados de enunciados científicos os quais são descritivos a não ser que seja pressuposto um outro enunciado valorativo Os A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 117 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS segundos constituem na verdade enunciados descritivos condicionais regras de ação que são em princípio passíveis de teste Como regras de procedimento eles podem ou bem contribuir para o estabelecimento de enunciados científicos ou bem indicar a maneira de aplicar esses conhecimentos Por outra parte Hempel lembrava que o teste de qualquer hipótese ou teoria nas ciências empíricas é geralmente inconclusivo desde o ponto de vista lógico incluindo assim um risco indutivo vale dizer a possibilidade de que as afirmações correspondentes sejam falsas Na análise hempeliana o que estava em causa era então a presença e legitimidade na ciência de juízos categóricos de valor seja como elementos que contribuem para a validade do conhecimento científico seja como conseqüências legítimas deste último 2 VALORES COMO MOTIVAÇÕES Hempel reconhecia que tais valorações intervêm por ocasião da escolha da atividade científica e ainda dos temas de pesquisa sendo neste sentido pressupostas pela prática profissional isto é admitia valorações categóricas em nível de motivações individuais dos agentes de atividade científica Não obstante Hempel não considerava a possível presença de tais valorações como motivos sociais da atividade científica Tampouco o fez num trabalho posterior HEMPEL 1983 dedicado ao mesmo assunto Por motivações sociais entendo aqui aquelas que levam uma sociedade a permitir e a estimular uma dada atividade Talvez essa aparente omissão se devesse à provável convicção hempeliana de que a produção de conhecimento científico por ele definido como um corpus de informação confiável amplo e teoricamente sistematizado HEMPEL 1960 p 93 que seja explicativo e permita predizer HEMPEL 1983 p 91 fosse obviamente desejável em qualquer sociedade Em todo caso essa convicção tem sido criticada entre outros2 por pensadores alarmados pelo potencial de domínio e destruição natural do saber científico prolongado em tecnologia Leiss 1972 explora o modo Alberto Cupani 118 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 como a idéia da possibilidade e quem sabe até o dever de o homem conquistar a Natureza idéia possivelmente absurda Leiss acabou tornandose óbvia no lapso que vai de Francis Bacon até o Iluminismo Para Leiss além de não ser óbvia a valorização da ciência como atividade que conduz única e seguramente ao progresso humano opera como uma ideologia que oculta o caráter contraditório da ciência capaz tanto de libertar quanto de escravizar o ser humano Ou melhor de permitir o domínio de uns seres humanos sobre outros de maneira cada vez mais eficaz Mais radical ainda e aliada à crítica da submissão das mulheres em particular é a censura do cultivo da ciência de Carolyn Merchant 1990 para quem a substituição da visão orgânica do mundo própria das culturas antiga e medieval pela cosmovisão mecanicista longe de ser celebrada deve ser denunciada como a paulatina morte da natureza aludida no título da sua obra Igualmente crítica da ciência baconiana porém mais sutil na sua argumentação é a análise feita por Lacey 1999 da pretensão própria da ciência moderna de revelar a realidade tal como ela é em si mesma uma pretensão presuntivamente provada pela sua eficácia tecnológica Segundo Lacey a moderna ciência natural tem uma afinidade eletiva com o que ele denomina metafísica mate rialista Essa doutrina consistiria em acreditar que o mundo está constituído por objetos e processos governados por leis universais dos quais podem ser reduzidos todos os fenômenos investigados inclusive aqueles do âmbito humano Uma tal metafísica fornece uma compreensão dos objetos e eventos do mundo no que diz respeito às suas possibilidades de serem manipulados e assim controlados Esse tipo de ciência que exclui sistematicamente todo fenômeno vinculado à experiência humana vulgar e se apóia em evidências impessoais preferentemente quantitativas obedeceria para Lacey a uma oculta decisão social impulsionada por uma valoração Tratarseia da valoração suprema conferida pela menta lidade moderna ao controle da natureza que faria com que tão somente sejam formuladas e testadas aquelas teorias que possam A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 119 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS conduzir a esse objetivo de maneira cada vez mais ampla e eficaz Lacey admite que o teste das teorias isto é a decisão relativa à sua validade está ou pelo menos deve estar regida exclusivamente por valores epistêmicos Nisso consistiria a imparcialidade da ciência responsável pela sua eficácia Não obstante isso não exclui que a escolha das teorias tanto inicialmente quanto na presença de alternativas e do tipo de evidência empírica que será considerada legítima possa sofrer a influência de valorações nãoepistêmicas sociais A estratégia materialista da ciência moderna ou seja o paradigma que segundo Lacey governa a atividade científica estaria assim comprometida com pelo menos um valor social embora sua presença não pudesse ser detectada no nível do teste das teorias Desse modo a ciência mesmo sendo imparcial não seria neutral3 Um argumento semelhante pode ser encontrado nas críticas feministas à ciência moderna Conforme elas ver por exemplo Harding 1993 a escassa participação ainda hoje das mulheres na atividade científica não apenas evidenciaria os preconceitos de uma sociedade que combina diversos tipos de discriminação social cultural racial sexual mas também sugeriria que os próprios parâmetros do conhecimento científico racionalidade objetividade universalidade refletem uma cosmovisão androcêntrica A racionalidade e suas supostas manifestações a frieza emotiva o rigor a impessoalidade e a isenção foram considerados desde o século XIX como características masculinas opostas a outras presuntivamente femininas tais como a delicadeza a emotividade a suavidade a capacidade de intuir e a sensibilidade para com as outras pessoas HARDING 1993 p 68 Obviamente as características masculinas teriam sido consideradas avaliadas como superiores adequadas para o autêntico conhecimento do mundo Desse modo a política da ciência e a sua epistemologia reforçarseiam recipro camente a segregação das mulheres seria natural Ainda que não se admita esse caráter geral da ciência moderna4 a perspectiva feminista reivindica a descoberta de que as pesquisas científicas aparentemente rigorosas se revelam impregnadas por preconceitos Alberto Cupani 120 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 sexistas Na biologia na antropologia e na sociologia o olhar feminista crê detectar que a descrição dos objetos a interpretação dos dados e a escolha de hipóteses estão influenciadas por uma implícita valoração apriorística do ponto de vista masculino E certamente as próprias noções do masculino e do feminino especialmente quando concebidas como naturais estariam traindo o caráter androcêntrico da ciência É importante frisar que conforme a crítica feminista as distorções antes mencionadas não aparecem apenas em casos de ciência má isto é de pesquisa descuidada ou fraudulenta mas em episódios de investigações normais reputadas de objetivas e isentas LONGINO 1983 As críticas antes mencionadas constituem pois um alargamento de uma das dimensões em que Hempel reconhecia a presença de valorações na ciência No entanto não se trata apenas de uma ampliação do ponto de vista hempeliano porque as teses antes mencionadas atingem a noção da ciência como livre de valores Weber se aquelas teses forem corretas a ciência neutra ou isenta em nível individual ou grupal não seria incompatível com o compromisso axiológico da ciência genericamente considerada 3 VALORAÇÕES NO CONHECIMENTO E NA METODOLOGIA Após reconhecer a presença de valorações como motivações da pesquisa científica Hempel analisava a sua possível presença no conhecimento produzido por aquela atividade O conhecimento científico dizia Hempel não pressupõe valorações categóricas nem no sentido de implicálas logicamente o que não é possível nem no sentido de que contribuam para a validade dos enunciados científicos validade essa que depende exclusivamente das evidências empíricas e teóricas Nada mudou certamente quanto à observação de que valorações categóricas não podem estar logicamente implicadas por enunciados científicos Contudo se a inclusão de é bom descobrir a verdade o exemplo é de Hempel não contribui para a validade A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 121 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS de uma dada conclusão científica esses e outros julgamentos de valor como devese pensar logicamente parecem pressupostos no sentido de serem condições de significado da operação realizada ou seja da argumentação Aqui se os juízos de valor não têm perti nência lógica eles parecem ter pertinência semânticopragmática5 Por outro lado a passagem ilícita entre o que é e o que deve ser pode ser evitada ou encoberta caso a premissa de valor seja formulada como enunciado descritivo Hesse 1980 assinala casos em que crenças acerca de como era desejável que o mundo fosse ou não influenciaram a formulação de teorias Por exemplo a crença na perfeição da simetria esférica conduziu à tese de que os céus eram esfericamente simétricos p 2 Outras crençasvalorações que tiveram papel análogo foram a convicção de que o homem é único e superior entre os organismos e a de que a mente é desvalorizada caso seja considerada como um mecanismo natural Hesse sustenta que essas crenças foram filtradas com o passar do tempo pelo critério pragmático do sucesso em predizer que seria segundo ela decisivo para consagrar a validade das teorias p 4 Isso nos leva ao terceiro lugar onde podemos buscar juízos de valor na ciência vale dizer na metodologia Hempel reconhecia que na justificação das regras para a aceitação das hipóteses e teorias precisase de valorações Como em todo caso de regra decisória devemos atribuir valores aos resultados alternativos previstos No caso da ciência aplicada as valorações têm a ver com a finalidade pretendida na ciência pura a valoração pressuposta diz respeito ao conhecimento almejado tal como antes definido e ao propósito de aceitar hipóteses verdadeiras e rejeitar as falsas evitando o risco de aceitar as falsas ou rejeitar as verdadeiras HEMPEL 1960 p 92 Um artigo relativamente recente DOUGLAS 2000 retoma essa problemática questionando a convicção comum a Hempel e a outros estudiosos do assunto como McMullin 1983 de que o cientista que faz pesquisa básica precisa levar em consideração apenas as conseqüências epistêmicas do possível erro ao aceitar hipóteses teorias ou conclusões Essa limitação conforme Douglas passa por Alberto Cupani 122 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 alto a autoridade que a ciência e os cientistas têm atualmente bem como a sua intervenção em tomadas de decisão práticas DOUGLAS 2000 p 563 Contudo mais importante ainda seria perceber que os cientistas tomam decisões ao longo da pesquisa ou seja antes de chegar a resultados sendo então os únicos que podem pensar nas conseqüências nãoepistêmicas sociais em sentido amplo que decorreriam de estarem errados Douglas endossa a tese de Longino 1990 segundo a qual as escolhas científicas envolvem suposições básicas background assumptions que podem incluir juízos de valor6 Douglas assinala três momentos da pesquisa em que se corre o risco indutivo e se procede a uma opção a saber na escolha de uma dada metodologia na colheita e caracterização dos dados e na interpretação deles p 565 Hempel está correto admite Douglas ao afirmar que ao determinar se uma hipótese está ou não confir mada pela evidência disponível isto é na apreciação da relação lógica entre essas instâncias juízos de valor não intervêm Não obstante tanto na determinação de qual seja a evidência disponível como na escolha de suposições básicas apelase para valorações que influenciam assim indiretamente na pesquisa Douglas ilustra sua tese com exemplos retirados de uma pesquisa sobre o câncer envolvendo experimentos com ratos nos quais se injetou uma substância tóxica DOUGLAS 2000 p 568 ss Apontando as opções metodológicas imprescindíveis tal como o nível de relevância estatística adotado bem como as dificuldades para identificar amostras claramente positivas ou negativas dificuldade evidenciada na discrepância entre os peritos Douglas sustenta que os cientistas se viram obrigados a considerar as conseqüências não epistêmicas e a decidir um equilíbrio entre elas possível dano à saúde contra custo de produção para as empresas comprometendose com valorações A argumentação de Douglas é a meu ver convincente Diferente é o caso de uma outra autora INTEMANN 2001 que alega que na própria definição do objeto científico pode haver julgamentos de valor implícitos Segundo ela na caracterização da depressão como uma doença e não como uma mera síndrome A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 123 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS revelada por sintomas que afetam funções centrais ou essenciais ao bemestar das pessoas estariam implicados um ou vários juízos de valor acerca do que os pesquisadores entendem por vida humana boa Intemann rebate possíveis contraargumentos no sentido de que o que se deve entender por vida boa possa ser enunciado descritivamente seja mediante uma definição técnica de saúde seja mediante uma determinação estatística da normalidade p 510511 Um outro exemplo de valorações que condicionariam o raciocínio científico estaria dado ainda segundo Intemann pelos casos em que se considera aceitável a evidência previamente aduzida por um pesquisador para que ela seja verificada Nesses casos estar seia subentendendo um juízo de valor relativo à confiabilidade daquele pesquisador Desse modo segundo a autora o valor epistêmico atribuído às evidências estaria atrelado a julgamentos de valor nãoepistêmicos os quais contudo deveriam ser justificáveis p 517 Creio que as análises de Intemann às quais remeto o leitor não são satisfatórias para demonstrar a intraduzibilidade de certos juízos de valor apreciativos a juízos de valor caracterizadores NAGEL 1979 p 4447 Intemann ao que parece ignora essa distinção e não se dá conta de ela está inclusa na sua correta cobrança de que os juízos de valor sejam justificáveis Tampouco parece darse conta de que mesmo nessa hipótese sempre devería mos pressupor algum juízo de valor categórico como premissa tal como Hempel certamente admitia e que essa última valoração é amiúde nãoepistêmica Em outras palavras apesar das deficiências da argumentação de Intemann seu trabalho e o de Douglas mostram que valorações nãoepistêmicas podem ser circunstancialmente necessárias para estabelecer conclusões científicas 4 SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICA DE VALORAÇÕES Após haver excluído a possibilidade de que juízos categóricos de valor possam estar logicamente implicados por conclusões científicas Hempel abordava sem denominála como tal a falácia Alberto Cupani 124 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 naturalista E Moore a impossibilidade lógica de validar ou desqualificar enunciados valorativos mediante o saber científico A ciência ensinava Hempel não pode justificar nem refutar enunciados normativos porém pode ajudarnos a resolver problemas morais fornecendo informações sobre a factibilidade e as conse qüências de algo a que nos propomos e valoramos Pode também esclarecernos sobre o funcionamento dos fatores psicológicos e da dinâmica social fazendo com que superemos a comum tendência de considerar absolutos os nossos critérios morais Dessa forma a ciência pode fazer com que mudemos de opinião sobre valorações categóricas HEMPEL 1960 p 93 ss Mais uma vez não é possível negar que Hempel tivesse razão Doutrinas morais e mais amplamente atitudes valorativas categóri cas ou a sua rejeição não podem ser deduzidas de puros enunciados científicos ou em geral de enunciados descritivos Entre estes últimos e os imperativos morais sociais culturais continua havendo um hiato Gostaria contudo de comentar duas tentativas de diminuir a importância desse hiato inegável Ao teorizar sobre questões éticas Bunge 1989 p 304 ss prega a conveniência de transcrever os imperativos em sentenças Faz x por exemplo equivaleria a Tens o dever de fazer x de tal modo que se possa testálos e argumentar criticamente sobre eles Dessa maneira obteríamos regras de inferência axiológica ou seja não propriamente lógica que permitiriam passar legiti mamente de certos enunciados a outros Tendo como único princípio moral não demonstrado porém plausível o enunciado É correto desfrutar da vida e ajudar a viver seria possível sustentar argumentos como o seguinte Se A é o caso ou é feito então B resulta B é bom ou correto e em comparação melhor ou mais correto do que A A é bom ou correto ie A deveria ser o caso ou feito BUNGE 1989 p 301 A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 125 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS O autor dá a essa forma argumentativa a denominação modus vollens Segundo Bunge a sua proposta reconhece a existência de um hiato entre o é e o deve porém nega que seja um abismo para a argumentação racional A aplicação óbvia ao nosso tema é a de que o avanço da compreensão científica do mundo acarreta conse qüências valiosas ou valoradas e não meramente influencia as nossas valorações A proposta de Bunge é certamente duvidosa como defesa de um novo tipo de argumentação válida8 Menos convincente ainda resulta o acréscimo do autor ao afirmar que o pretenso abismo entre o é e o deve é franqueado praticamente toda vez que um organismo age para satisfazer necessidades ou desejos transfor mando um deficiente é atual estado de coisas num satisfatório deveria futuro estado de algum sistema de que o agente faz parte p 306 Porém a análise de Bunge pode ajudar a entender como no caso anteriormente citado da aparente passagem do deve ao é analisado por Hesse de que modo se tornam convincentes posições axiológicas supostamente sustentadas pela ciência Idêntico comentário merecem as reflexões do historiador Loren Graham 1981 p 31 que sugere que a tese da separação entre fatos e valores sobretudo a partir de G E Moore foi o reflexo de uma atitude de defesa dos valores tradicionais com relação ao progresso científico9 Graham acrescenta que os pro gressos científicos estão contribuindo para uma compreensão naturalista da maneira como os seres humanos sustentam seus valores e conclui O fato de que continue não sendo possível derivar um deve ria de um é pode chegar a carecer de importância caso se tornar claro que todo deveria possuído por seres humanos reais teve uma origem e um desenvolvimento naturalista explicável mediante a ciência GRAHAM 1981 p 32 Alberto Cupani 126 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 5 UMA APARENTE OMISSÃO O ETHOS DA CIÊNCIA Como já antecipei Hempel não se referiu em seu artigo ao ethos da ciência MERTON 1964 p 543 ss talvez por considerar indiscutível a necessidade da sua observância para alcançar o objetivo da ciência Os imperativos institucionais constitutivos do ethos tais como a falta de preconceito universalismo o espírito crítico ceticismo metódico o desinteresse relativo a objetivos não cognitivos e a exposição pública do conhecimento comunita rismo funcionariam como regras vale dizer como juízos instru mentais de valor em relação ao objetivo de produzir um conhecimento confiável amplo e sistematizado10 Poderseia objetar que eles não constituiriam propriamente valorações nem teriam um caráter extraepistêmico Não obstante eles constituem imposições da ciência como instituição social sobre os pesquisa dores São em palavras de Merton mores da ciência um conjunto de prescrições tanto morais como técnicas imperativos que são moralmente obrigatórios não somente porque são eficazes do ponto de vista técnico mas também porque são considerados justos e bons p 543 Sem embargo a realidade e a efetividade do ethos têm sido questionadas Alguns sociólogos afirmam que ele existe antes como elemento retórico do que como ingrediente efetivo na produção do conhecimento científico ver por exemplo MULKAY 1991 Um estudo muito citado MITROFF 1974 sugere que os cientistas obedecem circunstancialmente a normas e contranormas por exemplo ao comunitarismo e ao segredo E o famoso livro de Feyerabend Against method 1975 inclui a tese de que se Galileu não houvesse infringido a ética profissional por exemplo ocultando evidências que prejudicavam a teoria copernicana a ciência não teria progredido como o fez Além do mais o compromisso cada vez maior da pesquisa científica com instituições extracientíficas burocráticas industriais militares parece estar modificando a atitude científica ZIMAN 1996 um assunto ao qual pretendo voltar A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 127 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS Em resumo parece discutível que o objetivo da ciência possa ser alcançado tendo o ethos como condição necessária No meu estudo Acerca do ethos da ciência CUPANI 1998 procuro demonstrar que as críticas aos imperativos de Merton e à sua escola não são suficientes para provar que o ethos seja supérfluo ou contrapro ducente para atingir o melhor tipo possível de conhecimento objetivo sendo pelo contrário as infrações ao ethos tais como o segredo a fraude ou o predomínio de interesses nãocognitivos mais claramente prejudiciais No entanto a minha posição supõe a distinção entre aquele conhecimento e o conhecimento produzido pela ciência efetiva mais contingente ainda do que a sua recons trução lógica e também o nãoquestionamento da ciência que possibilita o controle da natureza 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Das análises mencionadas inferese que a tese de Hempel permanece substancialmente correta em seus aspectos lógicos11 ao mesmo tempo que manifesta uma certa limitação ao não suspeitar que o conhecimento científico poderia estar prefigurado por valorações sociais e culturais Essa prefiguração se acrescentaria às razões tradicionalmente admitidas da contingência do saber científico empírico essencialmente a inexistência de uma lógica indutiva as dificuldades da observação e o experimento Por outra parte a contingência mencionada acentuase em nível metodológico pelos indícios aqui os fornecidos pelo trabalho de Douglas de que valorações nãoepistêmicas podem intervir para estabelecer conclusões cognitivas aceitáveis Tudo isso convida a refletir sobre a caracterização hempeliana do conhecimento científico variável certamente independente na sua análise como um corpus de informação confiável reliable Essa confiabilidade supõe na análise do autor que as conclusões científicas resultam de uma correta isto é logicamente válida vinculação das idéias com as evidências12 Quero dizer se um conhecimento é aceito como Alberto Cupani 128 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 científico vale dizer como confiável isso implica que ele resulta de inferências não alteradas por outros fatores como valorações extracientíficas Não é outro o sentido do raciocínio hempeliano se quisermos alcançar um tal conhecimento então as regras de decisão devem ser tais e quais HEMPEL 1960 p 93 Porém e como Hempel certamente não negaria não podemos a rigor inferir que a aceitação da existência efetiva de um conhecimento aceito não incluiu valorações A anterior observação pode ser formulada também da seguinte maneira a contingência tradicionalmente reconhecida no conhecimento científico aumenta à medida que se admite não apenas que as conclusões da ciência factual são sempre e inevi tavelmente provisórias aproximadas fundamentadas só até um certo ponto e impossíveis de serem totalmente checadas mas também que a ciência se torna amiúde superficial trivial descuidada fragmentária ou direcionada sem incluir a ciência fraudulenta em razão da intervenção de fatores tais como a urgência de publicar as pressões burocráticas a necessidade de financiamento e o peso dos interesses É praticamente impossível que resultados tão contingentes assim não contenham juízos de valor E na medida em que a ciência acadêmica dá lugar à ciência industrial ou tecnociência menos motivos temos para esperar que os resultados científicos oficiais sejam neutros Notese ademais que o argumento hempeliano supõe como factível um conhecimento cuja confiabilidade aproximada só tenha a ver com as limitações do raciocínio lógico e da prática observa cional e experimental Mas e se esse objetivo não fosse factível tal como se revelou por exemplo o objetivo de que a ciência fornecesse conhecimentos certos LAUDAN 1984 O raciocínio hempeliano poderia ser mais bem formulado da seguinte maneira se existir um conhecimento assim confiável ele não poderia implicar julgamentos de valor extracientíficos Ora daí parece passarse quando se confia na ciência livre de valores a supor que esse conhecimento de fato existe13 Diante dessa dificuldade compreendese a mudança de A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 129 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS enfoque da filosofia da ciência da tradição kuhniana que se interessa mais pelo conhecimento que é efetivamente considerado como aceito pela comunidade científica14 e que indaga as razões pelas quais é tido como confiável A tese de Hempel pode ser também reconsiderada de acordo com o enfoque da nova filosofia da ciência no que diz respeito ao fato de que a ciência não pode validar nem refutar juízos de valor Poderseia argumentar que se a ciência não pode sustentar logicamente as valorações ela o está fazendo praticamente pela sua inserção no sistema produtivo governamental e militar15 Valorações tais como a economia deve visar o lucro é lícito desenvolver indefinidamente a tecnologia ou a vida humana deve ser administrada ilustram atitudes sociais geralmente não questionadas na sociedade moderna e amplamente sustentadas mediante informação científica e produtos tecnológicos Recipro camente valorações tais como a natureza ou a vida é sagrada a guerra deveria ser suprimida ou deveríamos prescindir do supér fluo parecem desautorizadas pelo progresso científicotecno lógico É claro que o próprio Hempel não estava longe da anterior observação ao admitir que embora não pudesse fundamentar valorações absolutas o conhecimento científico podia contribuir para mudálas Não deixa de ser irônico que o avanço científico possa conduzir a mudar também a valoração social da própria ciência16 E não me refiro apenas aos receios que a ciência suscita em função das aplicações tecnológicas Os sociólogos e antropólogos da ciência têm intenção de fazer um trabalho científico BLOOR 1991 Se eles tiverem razão e os resultados das suas pesquisas forem corretos essa ciência demasiado humana em que eles parecem empenhados em revelar talvez não seja merecedora de tanta estima e de tantas esperanças Em todo caso essa necessidade de atender à ciência real poderia sugerir que a análise mais importante para a questão que explicitamente norteava a análise de Hempel não fosse a análise lógica a não ser para quem se interessasse puramente pelas relações Alberto Cupani 130 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 lógicas entre nossas crenças Hempel com efeito perguntavase se não seria possível resolver os problemas morais acarretados pelo desenvolvimento científico por meio dos métodos objetivos da ciência moderna HEMPEL 1960 p 82 Uma análise filosófica mas não puramente lógica como a sugerida pelas reflexões anteriores poderia chegar à mesma conclusão hempeliana porém por diferentes razões Uma delas bem poderia residir em que como alguns suspeitam a ciência não é a solução dos nossos problemas sociais porque faz parte deles SCIENCE AND HUMAN VALUES RETHINKING A CLASSICAL THESIS Abstract In his article Science and human values 1960 C G Hempel analyzed the relationship between scientific propositions and value judgments and defended the view that the latter cannot be presupposed by or drawn from the former Although he admitted that values influence upon the choice of scientific activity and on some aspects of scientific methodology Hempel emphasized that values have absolutely no place in scientific knowledge as such He ended his article by showing that scientific progress may cause changes in stances relating to values even if it cannot justify those stances In this paper I inquire whether the transformation of Philosophy of Science which took place in the second half of the twentieth century together with the findings of Sociology of Knowledge and History of Science modify Hempels views Since this subject matter is very broad my approach is inevitably partial Key words Carl G Hempel science and values values in science knowledge and value judgments Notas 1 Certamente numa concepção nãometafísica dos predicados axiológicos 2 Aludo aqui a críticas sobre o perigo da ciência para a religião a vida espiritual ou para a cultura 3 Isso teria conseqüências práticas importantes longe de poder ser aplicada indiferentemente a qualquer contexto social acarretando conseqüências benéficas como pensam os partidários da ciência enquanto fator de progresso a ciência só A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 131 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS poderia funcionar em contextos compatíveis com o seu espírito ou ao preço de eliminar tudo quanto a ele se opusesse 4 Externado por outras autoras como S Bordo The flight from objectivity 1987 e a já mencionada C Merchant 5 Estou apelando aqui para algo análogo às regras da pragmática transcendental Apel ou universal Habermas Rescher 1984 p 237 argumenta em sentido parecido 6 Segundo Schaffer 1996 p 90 uma outra autora esses princípios extraempíricos de julgamento científico incluiriam além de valorações compromisso prévio com teorias crenças de senso comum convicções metafísicas práticas metodológicas heurísticas e virtudes pragmáticas tais como a simplicidade 7 McMullin 1983 faz uma diferença entre valorar e avaliar de maneira análoga 8 Se não se trata de uma dedução nem de uma indução obvia mente não se percebe qual seria a natureza dessa inferência que tampouco é considerada por Bunge como uma abdução por exemplo nem poderia sêlo 9 Graham observa que durante os séculos XVII e XVIII todos os argumentos sobre o desígnio para provar a existência de Deus eram de fato uma defesa de posições axiológicas com base supostamente em conhecimentos relativos a fatos O próprio Hume o primeiro a denunciar a ilegitimidade de passar do é para o deve estava interessado em combater a moralidade baseada na religião mas não a convicção de que a moralidade pudesse estar conectada com a natureza humana Graham observa também que a enunciação da falácia naturalista por Moore coincide com a época finais do século XIX e começos do século XX em que o avanço da biologia parecia acarretar o ateísmo GRAHAM 1981 p 31 10 Os imperativos institucionais mores derivam da meta em vista e dos métodos Merton 1964 p 563 caracteriza esse Alberto Cupani 132 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 conhecimento certificado como contituído de predições empiricamente confirmadas e logicamente congruentes 11 Estou certamente me limitando à lógica clássica 12 Incluise aí naturalmente a inferência probabilística 13 Radnitzsky 1979 chega a considerar pleonástica a expressão ciência livre de valores Meu ponto de vista pode ser comparado à crítica kantiana ao argumento ontológico 14 A isso corresponde o interesse necessariamente mais restrito da sociologia do conhecimento em indagar o conhecimento tido por aceito ou válido por determinada comunidade profissional 15 Cabe lembrar que as valorações não precisam ser formuladas como juízos podendo ser antes vivenciadas encarnadas em práticas sociais e nas instituições Ver a excelente análise de Lacey 1999 cap 2 16 Hempel colocava a valoração da ciência dentro de um esquema condicional porém é quase óbvio que lhe outorgava um valor absoluto Teria ele achado superior à ciência a alternativa que ele mesmo cita uma cosmovisão emocionalmente tranqüi lizadora ou esteticamente satisfatória HEMPEL 1960 p 93 Referências BLOOR D Science and social imagery ChicagoLondon The University of Chicago Press 1991 BUNGE M Treatise on basic philosophy v 8 The good and the right Dordrecht D Reidel 1989 CUPANI A Acerca do ethos da ciência Episteme São Paulo v 3 n 6 p 1638 1998 DOUGLAS H Inductive risk and values in science Phil Sci v 67 p 559579 2000 FEYERABEND P Against method London Verso 1994 1975 A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 133 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS GRAHAM L Between science and values New York Columbia University Press 1981 HARDING S The science question in feminism IthacaLondon Cornell 1993 1986 HEMPEL C Science and human values In Aspects of scientific explanation and other essays in the philosophy of science London The Free Press 1970 1960 Valuation and objectivity in science In COHEN R S LAUDAN L Eds Philosophy and psychoanalysis Boston Reidel 1983 p 73100 HESSE M Theory and value in the social sciences In HOKKWAY Ch PETTIT P Eds Action and interpretation Cambridge Cambridge University Press 1980 1978 INTEMANN K Science and values are value judgments always irrelevant to the justification of scientific claims Phil Sci v 68 p S506S518 2001 LACEY H Is science value free Values and scientific understanding LondonNew York Routledge 1999 LAUDAN L Science and values BerkeleyLos Angeles University of California Press 1984 LEISS W The domination of nature MontrealKingston McGill Queens University Press 1994 1972 LONGINO H Beyond bad science Science Technology and Values v 8 n 1 p 717 1983 Science as social knowledge Princeton NJ Princeton University Press 1990 MCMULLIN E Values in science Edited by P D Asquith and T Nickles Philosophy of Science Association v 2 p 328 1983 MERCHANT C The death of nature San Francisco Warper San Francisco 1990 1980 MERTON Teoría y estructura sociales México FCE 1964 Alberto Cupani 134 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 MITROFF I The subjective side of science AmsterdamNew York Elsevier 1974 MULKAY M Norms and ideology In MULKAY M Sociology of science Milton Keynes Open University Press 1991 NAGEL E La estructura de la ciencia The structure of science 1960 Buenos Aires Paidós 1979 RADNITZKY G La tesis de que la ciencia es una empresa libre de valores ciencia ética y política In FEYERABEND P RADNIZKY G Estructura y desarrollo de la ciencia Madrid Alianza 1984 RESCHER N Los límites de la ciencia Madrid Tecnos 1984 SHAFFER N Understanding bias in scientific practice Phil Sci v 63 p S89S97 1996 ZIMAN J Is science loosing its objectivity Nature v 382 p 751754 1996

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PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA Alberto Cupani Universidade Federal de Santa Catarina cupanicfhufscbr Resumo No seu artigo Science and human values 1960 CG Hempel analisou a relação entre enunciados científicos e julgamento de valor sustentando que os últimos não podem ser pressupostos pelos enunciados científicos nem deles derivados Embora reconhecesse a influência de valorações na escolha da atividade científica e em certos aspectos da metodologia Hempel enfatizava que as valorações não têm lugar em absoluto no conhecimento científico como tal e finalizava mostrando que o progresso científico pode causar mudanças em atitudes de valoração ainda que não possa em rigor fundamentá las Neste trabalho indago se a transformação da filosofia da ciência operada na segunda metade do século vinte junto com as contribuições da sociologia do conhecimento e da história da ciência modifica o diagnóstico de Hempel Como este assunto é muito amplo a minha abordagem é inevitavelmente parcial Palavraschave Carl G Hempel ciência e valores valores na ciência conhecimento e valoração Há mais de quarenta anos no seu artigo Science and human values 1960 redigido dentro do espírito da filosofia da ciência prékuhniana C G Hempel sustentava de maneira típica a impos sibilidade de que juízos de valor categóricos pudessem ser deduzidos de ou pressupostos por afirmações científicas Admitia Hempel contudo que a atividade científica implica valorações das preferên cias dos cientistas e valorações instrumentais inerentes à metodo logia Para ele o avanço do conhecimento científico pode conduzir a modificar posições axiológicas embora não possa refutálas Nesse período de tempo que nos separa da publicação daquele artigo a filosofia da ciência mudou abrindose a considerações histó ricas sociais psicológicas e culturais A sociologia do conhecimento Recebido em 22 de outubro de 2004 Aceito em 29 de novembro de 2004 Alberto Cupani 116 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 científico e a história da ciência e os science studies têm submetido à análise crítica a atividade científica prestando particular atenção aos interesses e correspondentes valorações que a influenciam os quais podem de resto ser muito variados econômicos sociais políticos etc Mais recentemente a crítica feminista procura mostrar que a empresa toda da ciência moderna está impregnada de valores androcêntricos e que não faltam autores a denunciar a secreta vinculação do saber científico pretensamente neutro com o afã de controlar a natureza Por sua vez Hempel não incluiu em seu artigo talvez por considerar o assunto como óbvio os valores relativos ao denominado ethos da ciência nem se mostrou sensível à possibilidade de que o conhecimento produzido pela ciência pudesse ser definido de outra maneira Até que ponto esse quadro de análise notavelmente mais amplo da questão em pauta modifica o diagnóstico hempeliano É o que tratarei de examinar neste artigo A literatura a esse respeito é certamente enorme Limitarmeei a confrontar a posição hempe liana com a de alguns trabalhos que podem representar uma modificação acrescentando algumas reflexões finais sobre a relevância do tipo de análise efetuado por Hempel 1 A ÍNDOLE DO ENFOQUE HEMPELIANO Cabe notar antes de tudo que Hempel abordava a questão aqui analisada entendendo por valores aquelas preferências enunciadas em forma de imperativos ou de enunciados incondi cionais e indagando se eles podiam de algum modo estar pressu postos pela ciência Hempel partia da classificação das valorações em juízos categóricos de valor conforme o esquema x é bom ou devese fazer x e juízos instrumentais de valor se se quiser alcançar x devese fazer y Os primeiros em razão de não serem enunciados descritivos1 não podem ser verificados cientificamente nem podem ser derivados de enunciados científicos os quais são descritivos a não ser que seja pressuposto um outro enunciado valorativo Os A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 117 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS segundos constituem na verdade enunciados descritivos condicionais regras de ação que são em princípio passíveis de teste Como regras de procedimento eles podem ou bem contribuir para o estabelecimento de enunciados científicos ou bem indicar a maneira de aplicar esses conhecimentos Por outra parte Hempel lembrava que o teste de qualquer hipótese ou teoria nas ciências empíricas é geralmente inconclusivo desde o ponto de vista lógico incluindo assim um risco indutivo vale dizer a possibilidade de que as afirmações correspondentes sejam falsas Na análise hempeliana o que estava em causa era então a presença e legitimidade na ciência de juízos categóricos de valor seja como elementos que contribuem para a validade do conhecimento científico seja como conseqüências legítimas deste último 2 VALORES COMO MOTIVAÇÕES Hempel reconhecia que tais valorações intervêm por ocasião da escolha da atividade científica e ainda dos temas de pesquisa sendo neste sentido pressupostas pela prática profissional isto é admitia valorações categóricas em nível de motivações individuais dos agentes de atividade científica Não obstante Hempel não considerava a possível presença de tais valorações como motivos sociais da atividade científica Tampouco o fez num trabalho posterior HEMPEL 1983 dedicado ao mesmo assunto Por motivações sociais entendo aqui aquelas que levam uma sociedade a permitir e a estimular uma dada atividade Talvez essa aparente omissão se devesse à provável convicção hempeliana de que a produção de conhecimento científico por ele definido como um corpus de informação confiável amplo e teoricamente sistematizado HEMPEL 1960 p 93 que seja explicativo e permita predizer HEMPEL 1983 p 91 fosse obviamente desejável em qualquer sociedade Em todo caso essa convicção tem sido criticada entre outros2 por pensadores alarmados pelo potencial de domínio e destruição natural do saber científico prolongado em tecnologia Leiss 1972 explora o modo Alberto Cupani 118 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 como a idéia da possibilidade e quem sabe até o dever de o homem conquistar a Natureza idéia possivelmente absurda Leiss acabou tornandose óbvia no lapso que vai de Francis Bacon até o Iluminismo Para Leiss além de não ser óbvia a valorização da ciência como atividade que conduz única e seguramente ao progresso humano opera como uma ideologia que oculta o caráter contraditório da ciência capaz tanto de libertar quanto de escravizar o ser humano Ou melhor de permitir o domínio de uns seres humanos sobre outros de maneira cada vez mais eficaz Mais radical ainda e aliada à crítica da submissão das mulheres em particular é a censura do cultivo da ciência de Carolyn Merchant 1990 para quem a substituição da visão orgânica do mundo própria das culturas antiga e medieval pela cosmovisão mecanicista longe de ser celebrada deve ser denunciada como a paulatina morte da natureza aludida no título da sua obra Igualmente crítica da ciência baconiana porém mais sutil na sua argumentação é a análise feita por Lacey 1999 da pretensão própria da ciência moderna de revelar a realidade tal como ela é em si mesma uma pretensão presuntivamente provada pela sua eficácia tecnológica Segundo Lacey a moderna ciência natural tem uma afinidade eletiva com o que ele denomina metafísica mate rialista Essa doutrina consistiria em acreditar que o mundo está constituído por objetos e processos governados por leis universais dos quais podem ser reduzidos todos os fenômenos investigados inclusive aqueles do âmbito humano Uma tal metafísica fornece uma compreensão dos objetos e eventos do mundo no que diz respeito às suas possibilidades de serem manipulados e assim controlados Esse tipo de ciência que exclui sistematicamente todo fenômeno vinculado à experiência humana vulgar e se apóia em evidências impessoais preferentemente quantitativas obedeceria para Lacey a uma oculta decisão social impulsionada por uma valoração Tratarseia da valoração suprema conferida pela menta lidade moderna ao controle da natureza que faria com que tão somente sejam formuladas e testadas aquelas teorias que possam A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 119 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS conduzir a esse objetivo de maneira cada vez mais ampla e eficaz Lacey admite que o teste das teorias isto é a decisão relativa à sua validade está ou pelo menos deve estar regida exclusivamente por valores epistêmicos Nisso consistiria a imparcialidade da ciência responsável pela sua eficácia Não obstante isso não exclui que a escolha das teorias tanto inicialmente quanto na presença de alternativas e do tipo de evidência empírica que será considerada legítima possa sofrer a influência de valorações nãoepistêmicas sociais A estratégia materialista da ciência moderna ou seja o paradigma que segundo Lacey governa a atividade científica estaria assim comprometida com pelo menos um valor social embora sua presença não pudesse ser detectada no nível do teste das teorias Desse modo a ciência mesmo sendo imparcial não seria neutral3 Um argumento semelhante pode ser encontrado nas críticas feministas à ciência moderna Conforme elas ver por exemplo Harding 1993 a escassa participação ainda hoje das mulheres na atividade científica não apenas evidenciaria os preconceitos de uma sociedade que combina diversos tipos de discriminação social cultural racial sexual mas também sugeriria que os próprios parâmetros do conhecimento científico racionalidade objetividade universalidade refletem uma cosmovisão androcêntrica A racionalidade e suas supostas manifestações a frieza emotiva o rigor a impessoalidade e a isenção foram considerados desde o século XIX como características masculinas opostas a outras presuntivamente femininas tais como a delicadeza a emotividade a suavidade a capacidade de intuir e a sensibilidade para com as outras pessoas HARDING 1993 p 68 Obviamente as características masculinas teriam sido consideradas avaliadas como superiores adequadas para o autêntico conhecimento do mundo Desse modo a política da ciência e a sua epistemologia reforçarseiam recipro camente a segregação das mulheres seria natural Ainda que não se admita esse caráter geral da ciência moderna4 a perspectiva feminista reivindica a descoberta de que as pesquisas científicas aparentemente rigorosas se revelam impregnadas por preconceitos Alberto Cupani 120 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 sexistas Na biologia na antropologia e na sociologia o olhar feminista crê detectar que a descrição dos objetos a interpretação dos dados e a escolha de hipóteses estão influenciadas por uma implícita valoração apriorística do ponto de vista masculino E certamente as próprias noções do masculino e do feminino especialmente quando concebidas como naturais estariam traindo o caráter androcêntrico da ciência É importante frisar que conforme a crítica feminista as distorções antes mencionadas não aparecem apenas em casos de ciência má isto é de pesquisa descuidada ou fraudulenta mas em episódios de investigações normais reputadas de objetivas e isentas LONGINO 1983 As críticas antes mencionadas constituem pois um alargamento de uma das dimensões em que Hempel reconhecia a presença de valorações na ciência No entanto não se trata apenas de uma ampliação do ponto de vista hempeliano porque as teses antes mencionadas atingem a noção da ciência como livre de valores Weber se aquelas teses forem corretas a ciência neutra ou isenta em nível individual ou grupal não seria incompatível com o compromisso axiológico da ciência genericamente considerada 3 VALORAÇÕES NO CONHECIMENTO E NA METODOLOGIA Após reconhecer a presença de valorações como motivações da pesquisa científica Hempel analisava a sua possível presença no conhecimento produzido por aquela atividade O conhecimento científico dizia Hempel não pressupõe valorações categóricas nem no sentido de implicálas logicamente o que não é possível nem no sentido de que contribuam para a validade dos enunciados científicos validade essa que depende exclusivamente das evidências empíricas e teóricas Nada mudou certamente quanto à observação de que valorações categóricas não podem estar logicamente implicadas por enunciados científicos Contudo se a inclusão de é bom descobrir a verdade o exemplo é de Hempel não contribui para a validade A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 121 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS de uma dada conclusão científica esses e outros julgamentos de valor como devese pensar logicamente parecem pressupostos no sentido de serem condições de significado da operação realizada ou seja da argumentação Aqui se os juízos de valor não têm perti nência lógica eles parecem ter pertinência semânticopragmática5 Por outro lado a passagem ilícita entre o que é e o que deve ser pode ser evitada ou encoberta caso a premissa de valor seja formulada como enunciado descritivo Hesse 1980 assinala casos em que crenças acerca de como era desejável que o mundo fosse ou não influenciaram a formulação de teorias Por exemplo a crença na perfeição da simetria esférica conduziu à tese de que os céus eram esfericamente simétricos p 2 Outras crençasvalorações que tiveram papel análogo foram a convicção de que o homem é único e superior entre os organismos e a de que a mente é desvalorizada caso seja considerada como um mecanismo natural Hesse sustenta que essas crenças foram filtradas com o passar do tempo pelo critério pragmático do sucesso em predizer que seria segundo ela decisivo para consagrar a validade das teorias p 4 Isso nos leva ao terceiro lugar onde podemos buscar juízos de valor na ciência vale dizer na metodologia Hempel reconhecia que na justificação das regras para a aceitação das hipóteses e teorias precisase de valorações Como em todo caso de regra decisória devemos atribuir valores aos resultados alternativos previstos No caso da ciência aplicada as valorações têm a ver com a finalidade pretendida na ciência pura a valoração pressuposta diz respeito ao conhecimento almejado tal como antes definido e ao propósito de aceitar hipóteses verdadeiras e rejeitar as falsas evitando o risco de aceitar as falsas ou rejeitar as verdadeiras HEMPEL 1960 p 92 Um artigo relativamente recente DOUGLAS 2000 retoma essa problemática questionando a convicção comum a Hempel e a outros estudiosos do assunto como McMullin 1983 de que o cientista que faz pesquisa básica precisa levar em consideração apenas as conseqüências epistêmicas do possível erro ao aceitar hipóteses teorias ou conclusões Essa limitação conforme Douglas passa por Alberto Cupani 122 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 alto a autoridade que a ciência e os cientistas têm atualmente bem como a sua intervenção em tomadas de decisão práticas DOUGLAS 2000 p 563 Contudo mais importante ainda seria perceber que os cientistas tomam decisões ao longo da pesquisa ou seja antes de chegar a resultados sendo então os únicos que podem pensar nas conseqüências nãoepistêmicas sociais em sentido amplo que decorreriam de estarem errados Douglas endossa a tese de Longino 1990 segundo a qual as escolhas científicas envolvem suposições básicas background assumptions que podem incluir juízos de valor6 Douglas assinala três momentos da pesquisa em que se corre o risco indutivo e se procede a uma opção a saber na escolha de uma dada metodologia na colheita e caracterização dos dados e na interpretação deles p 565 Hempel está correto admite Douglas ao afirmar que ao determinar se uma hipótese está ou não confir mada pela evidência disponível isto é na apreciação da relação lógica entre essas instâncias juízos de valor não intervêm Não obstante tanto na determinação de qual seja a evidência disponível como na escolha de suposições básicas apelase para valorações que influenciam assim indiretamente na pesquisa Douglas ilustra sua tese com exemplos retirados de uma pesquisa sobre o câncer envolvendo experimentos com ratos nos quais se injetou uma substância tóxica DOUGLAS 2000 p 568 ss Apontando as opções metodológicas imprescindíveis tal como o nível de relevância estatística adotado bem como as dificuldades para identificar amostras claramente positivas ou negativas dificuldade evidenciada na discrepância entre os peritos Douglas sustenta que os cientistas se viram obrigados a considerar as conseqüências não epistêmicas e a decidir um equilíbrio entre elas possível dano à saúde contra custo de produção para as empresas comprometendose com valorações A argumentação de Douglas é a meu ver convincente Diferente é o caso de uma outra autora INTEMANN 2001 que alega que na própria definição do objeto científico pode haver julgamentos de valor implícitos Segundo ela na caracterização da depressão como uma doença e não como uma mera síndrome A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 123 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS revelada por sintomas que afetam funções centrais ou essenciais ao bemestar das pessoas estariam implicados um ou vários juízos de valor acerca do que os pesquisadores entendem por vida humana boa Intemann rebate possíveis contraargumentos no sentido de que o que se deve entender por vida boa possa ser enunciado descritivamente seja mediante uma definição técnica de saúde seja mediante uma determinação estatística da normalidade p 510511 Um outro exemplo de valorações que condicionariam o raciocínio científico estaria dado ainda segundo Intemann pelos casos em que se considera aceitável a evidência previamente aduzida por um pesquisador para que ela seja verificada Nesses casos estar seia subentendendo um juízo de valor relativo à confiabilidade daquele pesquisador Desse modo segundo a autora o valor epistêmico atribuído às evidências estaria atrelado a julgamentos de valor nãoepistêmicos os quais contudo deveriam ser justificáveis p 517 Creio que as análises de Intemann às quais remeto o leitor não são satisfatórias para demonstrar a intraduzibilidade de certos juízos de valor apreciativos a juízos de valor caracterizadores NAGEL 1979 p 4447 Intemann ao que parece ignora essa distinção e não se dá conta de ela está inclusa na sua correta cobrança de que os juízos de valor sejam justificáveis Tampouco parece darse conta de que mesmo nessa hipótese sempre devería mos pressupor algum juízo de valor categórico como premissa tal como Hempel certamente admitia e que essa última valoração é amiúde nãoepistêmica Em outras palavras apesar das deficiências da argumentação de Intemann seu trabalho e o de Douglas mostram que valorações nãoepistêmicas podem ser circunstancialmente necessárias para estabelecer conclusões científicas 4 SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICA DE VALORAÇÕES Após haver excluído a possibilidade de que juízos categóricos de valor possam estar logicamente implicados por conclusões científicas Hempel abordava sem denominála como tal a falácia Alberto Cupani 124 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 naturalista E Moore a impossibilidade lógica de validar ou desqualificar enunciados valorativos mediante o saber científico A ciência ensinava Hempel não pode justificar nem refutar enunciados normativos porém pode ajudarnos a resolver problemas morais fornecendo informações sobre a factibilidade e as conse qüências de algo a que nos propomos e valoramos Pode também esclarecernos sobre o funcionamento dos fatores psicológicos e da dinâmica social fazendo com que superemos a comum tendência de considerar absolutos os nossos critérios morais Dessa forma a ciência pode fazer com que mudemos de opinião sobre valorações categóricas HEMPEL 1960 p 93 ss Mais uma vez não é possível negar que Hempel tivesse razão Doutrinas morais e mais amplamente atitudes valorativas categóri cas ou a sua rejeição não podem ser deduzidas de puros enunciados científicos ou em geral de enunciados descritivos Entre estes últimos e os imperativos morais sociais culturais continua havendo um hiato Gostaria contudo de comentar duas tentativas de diminuir a importância desse hiato inegável Ao teorizar sobre questões éticas Bunge 1989 p 304 ss prega a conveniência de transcrever os imperativos em sentenças Faz x por exemplo equivaleria a Tens o dever de fazer x de tal modo que se possa testálos e argumentar criticamente sobre eles Dessa maneira obteríamos regras de inferência axiológica ou seja não propriamente lógica que permitiriam passar legiti mamente de certos enunciados a outros Tendo como único princípio moral não demonstrado porém plausível o enunciado É correto desfrutar da vida e ajudar a viver seria possível sustentar argumentos como o seguinte Se A é o caso ou é feito então B resulta B é bom ou correto e em comparação melhor ou mais correto do que A A é bom ou correto ie A deveria ser o caso ou feito BUNGE 1989 p 301 A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 125 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS O autor dá a essa forma argumentativa a denominação modus vollens Segundo Bunge a sua proposta reconhece a existência de um hiato entre o é e o deve porém nega que seja um abismo para a argumentação racional A aplicação óbvia ao nosso tema é a de que o avanço da compreensão científica do mundo acarreta conse qüências valiosas ou valoradas e não meramente influencia as nossas valorações A proposta de Bunge é certamente duvidosa como defesa de um novo tipo de argumentação válida8 Menos convincente ainda resulta o acréscimo do autor ao afirmar que o pretenso abismo entre o é e o deve é franqueado praticamente toda vez que um organismo age para satisfazer necessidades ou desejos transfor mando um deficiente é atual estado de coisas num satisfatório deveria futuro estado de algum sistema de que o agente faz parte p 306 Porém a análise de Bunge pode ajudar a entender como no caso anteriormente citado da aparente passagem do deve ao é analisado por Hesse de que modo se tornam convincentes posições axiológicas supostamente sustentadas pela ciência Idêntico comentário merecem as reflexões do historiador Loren Graham 1981 p 31 que sugere que a tese da separação entre fatos e valores sobretudo a partir de G E Moore foi o reflexo de uma atitude de defesa dos valores tradicionais com relação ao progresso científico9 Graham acrescenta que os pro gressos científicos estão contribuindo para uma compreensão naturalista da maneira como os seres humanos sustentam seus valores e conclui O fato de que continue não sendo possível derivar um deve ria de um é pode chegar a carecer de importância caso se tornar claro que todo deveria possuído por seres humanos reais teve uma origem e um desenvolvimento naturalista explicável mediante a ciência GRAHAM 1981 p 32 Alberto Cupani 126 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 5 UMA APARENTE OMISSÃO O ETHOS DA CIÊNCIA Como já antecipei Hempel não se referiu em seu artigo ao ethos da ciência MERTON 1964 p 543 ss talvez por considerar indiscutível a necessidade da sua observância para alcançar o objetivo da ciência Os imperativos institucionais constitutivos do ethos tais como a falta de preconceito universalismo o espírito crítico ceticismo metódico o desinteresse relativo a objetivos não cognitivos e a exposição pública do conhecimento comunita rismo funcionariam como regras vale dizer como juízos instru mentais de valor em relação ao objetivo de produzir um conhecimento confiável amplo e sistematizado10 Poderseia objetar que eles não constituiriam propriamente valorações nem teriam um caráter extraepistêmico Não obstante eles constituem imposições da ciência como instituição social sobre os pesquisa dores São em palavras de Merton mores da ciência um conjunto de prescrições tanto morais como técnicas imperativos que são moralmente obrigatórios não somente porque são eficazes do ponto de vista técnico mas também porque são considerados justos e bons p 543 Sem embargo a realidade e a efetividade do ethos têm sido questionadas Alguns sociólogos afirmam que ele existe antes como elemento retórico do que como ingrediente efetivo na produção do conhecimento científico ver por exemplo MULKAY 1991 Um estudo muito citado MITROFF 1974 sugere que os cientistas obedecem circunstancialmente a normas e contranormas por exemplo ao comunitarismo e ao segredo E o famoso livro de Feyerabend Against method 1975 inclui a tese de que se Galileu não houvesse infringido a ética profissional por exemplo ocultando evidências que prejudicavam a teoria copernicana a ciência não teria progredido como o fez Além do mais o compromisso cada vez maior da pesquisa científica com instituições extracientíficas burocráticas industriais militares parece estar modificando a atitude científica ZIMAN 1996 um assunto ao qual pretendo voltar A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 127 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS Em resumo parece discutível que o objetivo da ciência possa ser alcançado tendo o ethos como condição necessária No meu estudo Acerca do ethos da ciência CUPANI 1998 procuro demonstrar que as críticas aos imperativos de Merton e à sua escola não são suficientes para provar que o ethos seja supérfluo ou contrapro ducente para atingir o melhor tipo possível de conhecimento objetivo sendo pelo contrário as infrações ao ethos tais como o segredo a fraude ou o predomínio de interesses nãocognitivos mais claramente prejudiciais No entanto a minha posição supõe a distinção entre aquele conhecimento e o conhecimento produzido pela ciência efetiva mais contingente ainda do que a sua recons trução lógica e também o nãoquestionamento da ciência que possibilita o controle da natureza 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Das análises mencionadas inferese que a tese de Hempel permanece substancialmente correta em seus aspectos lógicos11 ao mesmo tempo que manifesta uma certa limitação ao não suspeitar que o conhecimento científico poderia estar prefigurado por valorações sociais e culturais Essa prefiguração se acrescentaria às razões tradicionalmente admitidas da contingência do saber científico empírico essencialmente a inexistência de uma lógica indutiva as dificuldades da observação e o experimento Por outra parte a contingência mencionada acentuase em nível metodológico pelos indícios aqui os fornecidos pelo trabalho de Douglas de que valorações nãoepistêmicas podem intervir para estabelecer conclusões cognitivas aceitáveis Tudo isso convida a refletir sobre a caracterização hempeliana do conhecimento científico variável certamente independente na sua análise como um corpus de informação confiável reliable Essa confiabilidade supõe na análise do autor que as conclusões científicas resultam de uma correta isto é logicamente válida vinculação das idéias com as evidências12 Quero dizer se um conhecimento é aceito como Alberto Cupani 128 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 científico vale dizer como confiável isso implica que ele resulta de inferências não alteradas por outros fatores como valorações extracientíficas Não é outro o sentido do raciocínio hempeliano se quisermos alcançar um tal conhecimento então as regras de decisão devem ser tais e quais HEMPEL 1960 p 93 Porém e como Hempel certamente não negaria não podemos a rigor inferir que a aceitação da existência efetiva de um conhecimento aceito não incluiu valorações A anterior observação pode ser formulada também da seguinte maneira a contingência tradicionalmente reconhecida no conhecimento científico aumenta à medida que se admite não apenas que as conclusões da ciência factual são sempre e inevi tavelmente provisórias aproximadas fundamentadas só até um certo ponto e impossíveis de serem totalmente checadas mas também que a ciência se torna amiúde superficial trivial descuidada fragmentária ou direcionada sem incluir a ciência fraudulenta em razão da intervenção de fatores tais como a urgência de publicar as pressões burocráticas a necessidade de financiamento e o peso dos interesses É praticamente impossível que resultados tão contingentes assim não contenham juízos de valor E na medida em que a ciência acadêmica dá lugar à ciência industrial ou tecnociência menos motivos temos para esperar que os resultados científicos oficiais sejam neutros Notese ademais que o argumento hempeliano supõe como factível um conhecimento cuja confiabilidade aproximada só tenha a ver com as limitações do raciocínio lógico e da prática observa cional e experimental Mas e se esse objetivo não fosse factível tal como se revelou por exemplo o objetivo de que a ciência fornecesse conhecimentos certos LAUDAN 1984 O raciocínio hempeliano poderia ser mais bem formulado da seguinte maneira se existir um conhecimento assim confiável ele não poderia implicar julgamentos de valor extracientíficos Ora daí parece passarse quando se confia na ciência livre de valores a supor que esse conhecimento de fato existe13 Diante dessa dificuldade compreendese a mudança de A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 129 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS enfoque da filosofia da ciência da tradição kuhniana que se interessa mais pelo conhecimento que é efetivamente considerado como aceito pela comunidade científica14 e que indaga as razões pelas quais é tido como confiável A tese de Hempel pode ser também reconsiderada de acordo com o enfoque da nova filosofia da ciência no que diz respeito ao fato de que a ciência não pode validar nem refutar juízos de valor Poderseia argumentar que se a ciência não pode sustentar logicamente as valorações ela o está fazendo praticamente pela sua inserção no sistema produtivo governamental e militar15 Valorações tais como a economia deve visar o lucro é lícito desenvolver indefinidamente a tecnologia ou a vida humana deve ser administrada ilustram atitudes sociais geralmente não questionadas na sociedade moderna e amplamente sustentadas mediante informação científica e produtos tecnológicos Recipro camente valorações tais como a natureza ou a vida é sagrada a guerra deveria ser suprimida ou deveríamos prescindir do supér fluo parecem desautorizadas pelo progresso científicotecno lógico É claro que o próprio Hempel não estava longe da anterior observação ao admitir que embora não pudesse fundamentar valorações absolutas o conhecimento científico podia contribuir para mudálas Não deixa de ser irônico que o avanço científico possa conduzir a mudar também a valoração social da própria ciência16 E não me refiro apenas aos receios que a ciência suscita em função das aplicações tecnológicas Os sociólogos e antropólogos da ciência têm intenção de fazer um trabalho científico BLOOR 1991 Se eles tiverem razão e os resultados das suas pesquisas forem corretos essa ciência demasiado humana em que eles parecem empenhados em revelar talvez não seja merecedora de tanta estima e de tantas esperanças Em todo caso essa necessidade de atender à ciência real poderia sugerir que a análise mais importante para a questão que explicitamente norteava a análise de Hempel não fosse a análise lógica a não ser para quem se interessasse puramente pelas relações Alberto Cupani 130 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 lógicas entre nossas crenças Hempel com efeito perguntavase se não seria possível resolver os problemas morais acarretados pelo desenvolvimento científico por meio dos métodos objetivos da ciência moderna HEMPEL 1960 p 82 Uma análise filosófica mas não puramente lógica como a sugerida pelas reflexões anteriores poderia chegar à mesma conclusão hempeliana porém por diferentes razões Uma delas bem poderia residir em que como alguns suspeitam a ciência não é a solução dos nossos problemas sociais porque faz parte deles SCIENCE AND HUMAN VALUES RETHINKING A CLASSICAL THESIS Abstract In his article Science and human values 1960 C G Hempel analyzed the relationship between scientific propositions and value judgments and defended the view that the latter cannot be presupposed by or drawn from the former Although he admitted that values influence upon the choice of scientific activity and on some aspects of scientific methodology Hempel emphasized that values have absolutely no place in scientific knowledge as such He ended his article by showing that scientific progress may cause changes in stances relating to values even if it cannot justify those stances In this paper I inquire whether the transformation of Philosophy of Science which took place in the second half of the twentieth century together with the findings of Sociology of Knowledge and History of Science modify Hempels views Since this subject matter is very broad my approach is inevitably partial Key words Carl G Hempel science and values values in science knowledge and value judgments Notas 1 Certamente numa concepção nãometafísica dos predicados axiológicos 2 Aludo aqui a críticas sobre o perigo da ciência para a religião a vida espiritual ou para a cultura 3 Isso teria conseqüências práticas importantes longe de poder ser aplicada indiferentemente a qualquer contexto social acarretando conseqüências benéficas como pensam os partidários da ciência enquanto fator de progresso a ciência só A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 131 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS poderia funcionar em contextos compatíveis com o seu espírito ou ao preço de eliminar tudo quanto a ele se opusesse 4 Externado por outras autoras como S Bordo The flight from objectivity 1987 e a já mencionada C Merchant 5 Estou apelando aqui para algo análogo às regras da pragmática transcendental Apel ou universal Habermas Rescher 1984 p 237 argumenta em sentido parecido 6 Segundo Schaffer 1996 p 90 uma outra autora esses princípios extraempíricos de julgamento científico incluiriam além de valorações compromisso prévio com teorias crenças de senso comum convicções metafísicas práticas metodológicas heurísticas e virtudes pragmáticas tais como a simplicidade 7 McMullin 1983 faz uma diferença entre valorar e avaliar de maneira análoga 8 Se não se trata de uma dedução nem de uma indução obvia mente não se percebe qual seria a natureza dessa inferência que tampouco é considerada por Bunge como uma abdução por exemplo nem poderia sêlo 9 Graham observa que durante os séculos XVII e XVIII todos os argumentos sobre o desígnio para provar a existência de Deus eram de fato uma defesa de posições axiológicas com base supostamente em conhecimentos relativos a fatos O próprio Hume o primeiro a denunciar a ilegitimidade de passar do é para o deve estava interessado em combater a moralidade baseada na religião mas não a convicção de que a moralidade pudesse estar conectada com a natureza humana Graham observa também que a enunciação da falácia naturalista por Moore coincide com a época finais do século XIX e começos do século XX em que o avanço da biologia parecia acarretar o ateísmo GRAHAM 1981 p 31 10 Os imperativos institucionais mores derivam da meta em vista e dos métodos Merton 1964 p 563 caracteriza esse Alberto Cupani 132 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 conhecimento certificado como contituído de predições empiricamente confirmadas e logicamente congruentes 11 Estou certamente me limitando à lógica clássica 12 Incluise aí naturalmente a inferência probabilística 13 Radnitzsky 1979 chega a considerar pleonástica a expressão ciência livre de valores Meu ponto de vista pode ser comparado à crítica kantiana ao argumento ontológico 14 A isso corresponde o interesse necessariamente mais restrito da sociologia do conhecimento em indagar o conhecimento tido por aceito ou válido por determinada comunidade profissional 15 Cabe lembrar que as valorações não precisam ser formuladas como juízos podendo ser antes vivenciadas encarnadas em práticas sociais e nas instituições Ver a excelente análise de Lacey 1999 cap 2 16 Hempel colocava a valoração da ciência dentro de um esquema condicional porém é quase óbvio que lhe outorgava um valor absoluto Teria ele achado superior à ciência a alternativa que ele mesmo cita uma cosmovisão emocionalmente tranqüi lizadora ou esteticamente satisfatória HEMPEL 1960 p 93 Referências BLOOR D Science and social imagery ChicagoLondon The University of Chicago Press 1991 BUNGE M Treatise on basic philosophy v 8 The good and the right Dordrecht D Reidel 1989 CUPANI A Acerca do ethos da ciência Episteme São Paulo v 3 n 6 p 1638 1998 DOUGLAS H Inductive risk and values in science Phil Sci v 67 p 559579 2000 FEYERABEND P Against method London Verso 1994 1975 A CIÊNCIA E OS VALORES HUMANOS REPENSANDO UMA TESE CLÁSSICA 133 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 DOSSIÊS GRAHAM L Between science and values New York Columbia University Press 1981 HARDING S The science question in feminism IthacaLondon Cornell 1993 1986 HEMPEL C Science and human values In Aspects of scientific explanation and other essays in the philosophy of science London The Free Press 1970 1960 Valuation and objectivity in science In COHEN R S LAUDAN L Eds Philosophy and psychoanalysis Boston Reidel 1983 p 73100 HESSE M Theory and value in the social sciences In HOKKWAY Ch PETTIT P Eds Action and interpretation Cambridge Cambridge University Press 1980 1978 INTEMANN K Science and values are value judgments always irrelevant to the justification of scientific claims Phil Sci v 68 p S506S518 2001 LACEY H Is science value free Values and scientific understanding LondonNew York Routledge 1999 LAUDAN L Science and values BerkeleyLos Angeles University of California Press 1984 LEISS W The domination of nature MontrealKingston McGill Queens University Press 1994 1972 LONGINO H Beyond bad science Science Technology and Values v 8 n 1 p 717 1983 Science as social knowledge Princeton NJ Princeton University Press 1990 MCMULLIN E Values in science Edited by P D Asquith and T Nickles Philosophy of Science Association v 2 p 328 1983 MERCHANT C The death of nature San Francisco Warper San Francisco 1990 1980 MERTON Teoría y estructura sociales México FCE 1964 Alberto Cupani 134 PHILÓSOPHOS 9 2 115134 juldez 2004 MITROFF I The subjective side of science AmsterdamNew York Elsevier 1974 MULKAY M Norms and ideology In MULKAY M Sociology of science Milton Keynes Open University Press 1991 NAGEL E La estructura de la ciencia The structure of science 1960 Buenos Aires Paidós 1979 RADNITZKY G La tesis de que la ciencia es una empresa libre de valores ciencia ética y política In FEYERABEND P RADNIZKY G Estructura y desarrollo de la ciencia Madrid Alianza 1984 RESCHER N Los límites de la ciencia Madrid Tecnos 1984 SHAFFER N Understanding bias in scientific practice Phil Sci v 63 p S89S97 1996 ZIMAN J Is science loosing its objectivity Nature v 382 p 751754 1996

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