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Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 1 ISSN Eletrônico 19840187 ISSN Impresso 15185648 httpsdoiorg105212OlharProfrv2520526062 Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Digital Technologies in the Education and the BNCC proposal of a StudentCyborgHacker Tecnologías Digitales en la Educación y BNCC propuesta del AlumnoCyborgHacker José Raimundo Silva Costa1 httpsorcidorg0000000251338170 Viviane Toraci Alonso de Andrade2 httpsorcidorg0000000273423931 Resumo Este artigo tem como objetivo analisar a influência das práticas discursivas neoliberais presentes na composição da BNCC e a configuração de um tipo ideal de estudantetrabalhadorempreendedor inserido em uma Cultura Digital O delineamento teórico metodológico que orienta a presente reflexão se ancora numa perspectiva de natureza qualitativa e pesquisa bibliográfica quanto ao seu procedimento Defenderemos uma outra possibilidade de apropriação das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação na educação para além da instrumentalização técnica apresentando a posição contra hegemônica do AlunoCiborgueHacker Palavraschave Cultura Digital BNCC Neoliberalismo AlunoCiborgueHacker Abstract This paper has the purpose to analyze the impact of neoliberal discursive practices within the BNCC Curricular Common National Basis and the ideal type of the studentworkerentrepreneur in the Digital Culture The methodological and theoretical approach leading this discussion is based on the perspective of the qualitative method and the bibliographic research in terms of the process We will defend another possibilities of educative uses of Digital Technologies of Information and Communication that goes beyond technical purposes presenting our against hegemonic conception of the CyborgueHackerStudent Keywords Digital Culture BNCC Neoliberalism CyborgueHackerStudent Resumen Este trabajo tiene el reto de analizar la influencia de las prácticas discursivas neoliberales presentes en el contenido de la BNCC Base Nacional Común Curricular y el parámetro del estudiantetrabajador emprendedor como un tipo ideal dentro de la Cultura Digital El planteamiento teórico metodológico que orienta la presente reflexión está basada en la perspectiva cualitativa y la investigación bibliográfica en lo que respecta al procedimiento Defenderemos otra posibilidad de apropiación de las Tecnologías Digitales de 1 Mestre em Sociologia pelo ProfSocioFundaj Bolsista EAD Email jrsc2outlookcom 2 Doutora em Comunicação Professora no Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional associada Fundação Joaquim Nabuco Email vivianetoracifundajgovbr Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 2 Información y Comunicación en la educación para algo más que manipulación técnica presentando la concepción contraria a la hegemonía del AlumnoCyborgHacker Palabrasclave Cultura Digital BNCC Neoliberalismo AlumnoCyborgHacker Introdução A relação entre educação e economia é de longa data principalmente devido a sua eficiência moral e técnica em formar um tipo de sujeito para atender as demandas da organização do trabalho Assim para atender a esses objetivos a escola e suas pedagogias tornamse mais instrumentalizadas e menos transformadoras Convém mencionar que as novas configurações da educação e do trabalho estão associadas às transformações impulsionadas pelo capital financeiro a sociedade de consumo a mídia a cultura de massa e o pósmodernismo isto é faz parte do processo de reestruturação do neoliberalismo e a redefinição do papel do estado Diante desse cenário problematizase a influência das práticas discursivas neoliberais que compõem a Base Nacional Comum Curricular BNCC e a escolha de uma pedagogia das competências para configuração de um tipo ideal de estudantetrabalhadorempreendedor denominado aqui de Aluno SA Nosso estudo problematiza as transformações que vem acontecendo em todas as esferas da sociedade impulsionada pela convergência digital A escola tornase potencialmente um espaço de construção ou captura de subjetividades e experiências com o objetivo de forjar determinada ética profissional para que os futuros trabalhadores atendam novas qualificações e habilidades cognitivas como ser flexível polivalente empreendedor criativo trabalhar em equipes ser engajado e proativo um léxico de competências que respondem a reestruturação produtiva e criam a ilusão de uma suposta empregabilidade Nesse contexto as tecnologias digitais são incorporadas na sua dimensão instrumental como uma ferramenta que vai potencializar a eficiência o controle e o aumento de produtividade Percebemos o uso do discurso gerencialista próprio do neoliberalismo como elemento norteador para a educação impulsionando o grande potencial do mercado educativo em franca expansão Diante disso pretendemos apresentar a relação entre as novas configurações da educação baseada na ideologia das competências e a formação de tipo ideal de estudantetrabalhador empreendedor É a partir dessa relação utilitarista moldada para atender os interesses empresariais que vemos cada vez mais a escola se distanciar do seu ideal republicano e democrático e o seu caráter emancipatório e transformador Como alternativa propomos a construção do arquétipo do Aluno ciborguehacker com práticas pedagógicas orientadas pelos princípios da culturaética hacker como uma força transgressora de resistência e transformação José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 3 Para construção de nosso argumento os encaminhamentos metodológicos foram desenvolvidos numa perspectiva de natureza qualitativa e interdisciplinar adotando como procedimento a pesquisa bibliográfica Neoliberalismo Pedagogia da Competência e BNCC A educação é um campo de disputas Na modernidade passou a ser um componente chave do projeto de sociedade idealizado pela burguesia oitocentista A instituição escolar tornouse um espaço privilegiado de socialização formação e difusão da ideologia burguesa Ela acaba por assumir também uma dimensão econômica produtiva através do binômino instrução e trabalho consolidando o projeto de progresso e a formação do homem moderno Agora em princípios do século XXI as políticas educacionais assim como a economia assumem contornos globalizados sendo influenciadas por decisões tomadas no âmbito de organismos internacionais multilaterais Tais organizações defendem posições neoliberais e tem o poder de disseminar os ideais que compõem as pedagogias da competência E aqui se coloca uma questão Quais competências e habilidades são valorizadas no Novo Ensino Médio brasileiro Quem decide e com quais objetivos Para responder tais questionamentos buscaremos compreender os atores e os discursos que disputaram e foram vencedores na versão homologada da BNCC De imediato cabe destacar o significado do termo competência na BNCC que é definido como a capacidade de mobilização de conhecimentos conceitos e procedimentos habilidades práticas cognitivas e sócioemocionais atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho BRASIL 2018 p 8 A Base como documento que tem o papel de garantir as aprendizagens essenciais para todos os estudantes estipula que a Educação Básica deve desenvolver nas crianças e jovens 10 Competências Gerais divididas em objetos de conhecimento e habilidades Apresentamos na Figura 1 um infográfico que resume o conteúdo registrado no documento curricular A construção da BNCC enquanto política pública de Estado se deu a partir da articulação de diversos atores sociais públicos privados coletivos e individuais Foi um processo construído a partir de um campo social demarcado por grandes disputas e tensões constituindo uma rede de práticas com atores internacionais e locais capazes de articular decisões em torno das políticas educacionais do país Temos assim a educação como um campo privilegiado no qual constantemente forças hegemônicas e contra hegemônicas disputam espaços Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 4 Para analisar a formação e a textualidade do discurso presente na BNCC trazemos como referencial teóricometodológico a Análise do Discurso Crítica ADC desenvolvida pelo linguista inglês Norman Fairclough 2001 A ADC tem como objetivo analisar os problemas sociais da sociedade contemporânea revelando como determinadas práticas discursivas de dominação são construídas e operacionalizadas O discurso para Fairclough é o uso de linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexa de variáveis situacionais FAIRCLOUGH 2001 p 8990 O discurso é tomado como uma ação uma prática de significação sobre o mundo Figura 1 Infográfico com as 10 Competências Gerais da Educação Básica no Brasil Fonte INEP 2022 Será a partir desse referencial que buscaremos analisar as estratégias elaboradas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE pelo Banco Mundial e por atores nacionais para conseguiram transformar o seu discurso sobre educação em um discurso hegemônico capaz de direcionar algumas políticas educacionais brasileiras em particular a Reforma do Ensino Médio e a Base Nacional Comum Curricular Conforme Laval 2019 essas organizações internacionais tem papel privilegiado em legitimar um discurso global sobre educação fundamentado José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 5 nas teorias do Capital Humano Apesar de assumirem novos contornos para se adaptarem ao capitalismo contemporâneo a gênese permanece a mesma De acordo com a OCDE Capital Humano pode ser definido como Simbolicamente o capital humano é amplamente definido como algo que abrange uma mistura de talentos e habilidades individuais inatos bem como as competências e as aprendizagens adquiridas pela educação e pela capacitação OCDE 2007 p 2 A esse respeito Frigotto 2010 destaca que a educação passa a ter status de capital humano e ganha contornos de teoria do desenvolvimento O capital humano é então definido a partir da ideia de quantidade ou um grau de educação e de qualificação tomado como indicativo de um determinado volume de conhecimentos habilidades e atitudes adquiridas FRIGOTTO 2010 p 44 É sobre essa doutrina que a escola neoliberal se estrutura Para tanto busca a sua legitimidade utilizando termos do campo gerencial como reforma da escola culto à inovação eficiência dos recursos Para Laval 2019 são palavras vazias de reflexão pois o que elas tentam ocultar é a sua própria ideologia Escola neoliberal é a designação de certo modelo escolar que considera a educação um bem essencialmente privado cujo valor é acima de tudo econômico Não é a sociedade que garante o direito à cultura a seus membros são os indivíduos que devem capitalizar recursos privados cujo rendimento futuro será garantido pela sociedade LAVAL 2019 p 22 Configurase como empresa educadora que tem a sua existência legitimada a partir dos resultados e inovações gerados Dessa forma esses atores internacionais além de sua força financeira tendem a representar cada vez mais um papel de centralização política e normatização simbólica LAVAL 2019 p24 É apropriado ressaltar que algumas mudanças no campo educacional são necessárias e salutares no entanto não podemos reduzir a educação pública ao lugar de aprendizagens de competências e habilidades voltadas para os interesses do capital privado Além das organizações internacionais cabe destacar aqui no Brasil a articulação do Movimento Todos pela Educação da Associação Nova Escola e do apoio da Fundação Lemann entre outros atores da sociedade civil que exerceram grande influência na elaboração da BNCC trabalhando com a máxima que pensa a educação sobre a lógica da produtividade empresarial e do uso intensivo de tecnologias educacionais Portanto no campo de disputas ocorridas na fase de construção da BNCC colocase um discurso de reforma e modernização da educação trazendo um currículo estruturado pelas aprendizagens de competências e habilidades que conforme Apple 1999 opera como uma espécie de guardachuva ideológico no qual diversos atores sociais mesmo com algumas divergências entre si unemse na busca da cristalização de um consenso e legitimidade discursiva A concepção central para a política de competências defendida pela OCDE é a maximização da aplicação de recursos ou seja a ideia de eficácia permeia a escolha das Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 6 competências Diante disso a Estratégia de Competências é dividida em três níveis sendo eles a Desenvolvimento de competências relevantes ou seja priorizar as competências que estão em sintonia com o mercado de trabalho b Ativação da oferta de competências estimulando as pessoas a ofertarem as suas competências ao mercado de trabalho e c Usar as competências de forma eficaz de modo a garantir que as competências sejam devidamente utilizadas para não desperdiçar o investimento OCDE 2014 p 1314 Sobre esse prisma tornase relevante pontuar que não é coincidência que o conceito das competências fosse eleito como o eixo estruturante da BNCC que lista 10 competências como essenciais No entendimento da OCDE o melhor caminho para desenvolver as políticas de competências é o campo educacional com a estruturação de currículos e sistemas de educação e treinamento que respondam às necessidades do mercado de trabalho e da sociedade em geral e que sejam equitativos e de boa qualidade OCDE 2014 p 20 Outro elemento que merece destaque é o discurso sobre a ubiquidade das tecnologias digitais no cenário educacional o qual vem sendo gestado a um longo tempo nos relatórios e diretrizes de organizações internacionais como Banco Mundial OCDE e UNESCO Esses discursos advindos do gerencialismo empresarial reverberam entre os atores locais na forma de direcionamentos e políticas governamentais desenvolvidas pelo Governo Federal através do Ministério da Educação MEC e das Secretarias de Educação tanto no âmbito estadual quanto municipal Portanto sobre essa perspectiva a educação deveria priorizar todos os esforços para formação de uma mão de obra qualificada e flexível com uso intensivo das novas tecnologias competências essenciais para o desenvolvimento econômico Para atender esse novo perfil de trabalhador os conhecimentos e aprendizagens a serem adquiridos durante a educação básica são repensados Conforme Laval 2019 observase uma transformação radical que vai de uma lógica dos conhecimentos para uma lógica da competência incorporada do ensino profissionalizante à educação básica e chegando até os campi universitários LAVAL 2019 p 87 Nessa direção ele ressalta que desde meados do século XIX está em curso a subordinação dos saberes à economia Primeiro com a criação das universidades de empresas nos Estados Unidos e em seguida sobre recomendação da OCDE a parceria entre universidades e empresas foi incorporada em muitos países sob a alegação de ser fundamental para o desenvolvimento da inovação e ampliação dos investimentos em pesquisa consolidando assim uma intensa capitalização do saber LAVAL 2019 p 6062 Após o crente após o cidadão do Estado após o homem cultivado do ideal humanista a industrialização e a mercadorização da existência estão redefinindo o homem como um ser essencialmente econômico e um indivíduo essencialmente privado LAVAL 2019 p 74 José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 7 Corroborando a esse respeito Krawczyk 2018 afirma que sob os auspícios da OCDE e outras entidades a reforma da educação no Brasil prioriza um modelo em que a mercantilização do ensino e a lógica de produtividade empresarial tornaramse eixos norteadores A partir dessa perspectiva utilitarista o conhecimento e o currículo passam a priorizar a apropriação intelectual de competências e habilidades voltadas para o mercado de trabalho deixando em segundo plano outros conhecimentos e saberes Um modelo que contribui para uma total fragmentação do conhecimento científico A esse respeito Adirão e Peroni 2018 destacam que a aprendizagem de conteúdos ganha relevância o conhecimento passa a adquirir um caráter meramente utilitarista que deve ser medido e controlado sistematicamente através de avaliações em larga escala com ênfase no Pisa Já para Pereira 2019 a avaliação do Pisa tem como principal objetivo medir se os sistemas educativos em questão estão atingindo os níveis necessários de competências e habilidades para um mercado de trabalho globalizado Combinando competências e habilidades a OCDE compõe um processo de verificação dos sistemas educativos atuando ao mesmo tempo como ator e objeto da sociedade do conhecimento ao induzir o tipo de conhecimento que deve ser produzido para os mercados e o tipo de educação que os governos devem priorizar e para quê PEREIRA 2019 p 1722 Dessa maneira a OCDE considerando os dados do Pisa propõe algumas diretrizes para as políticas educacionais na mesma frequência das forças produtivas corroborando para formação de determinado perfil de estudantetrabalhador Decerto esse modelo de avaliação traz um caráter reducionista ao utilizar apenas o código da economia que compara custos e lucros LAVAL 2019 p 233 Para Fairclough 2001 o discurso da gestão empresarial e o uso de suas métricas na educação antes de ser incorporado como meta educacional já circulava e era difundido e consumido amplamente Como pode ser visto nas recomendações de organismos internacionais como OCDE Banco Mundial Unesco e pelos meios midiáticos ao enfatizarem que a escola precisa de bons gestores alterando o termo diretor escolar para gestor escolar O mesmo discurso é assumido e propagado por entidades sociais ligadas aos empresários SESCSESISENAC por tecnocratas do MEC e Secretarias de Educação instituindo uma falsa ideia de consenso capaz de nortear os textos da BNCC e outros documentos oficiais de modo a institucionalizálo na política educacional brasileira Aluno SA Fazemos aqui alusão a revista Você SA publicada pela Editora Abril e voltada para o mercado empresarial que traz entre suas pautas o universo do desenvolvimento pessoal da carreira e o Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 8 empreendedorismo esse último como uma espécie de panaceia um mantra do capitalismo global cooptado pelos mais diversos atores sociais públicos e privados O empreendedor é um conceito estruturante para as novas configurações do neoliberalismo global e a sua capacidade de reduzir todas as dimensões da vida a mercadorias A esse respeito Fernández 1989 argumenta A vida é business A vida se torna o capital mais precioso A sociedade do toyotismo é uma sociedade de produtores isto é sociedade do produtivismo universal que se expressa por exemplo através do léxico de capital humano Como observa Gorz a pessoa deve para si mesma tornarse uma empresa E prossegue ele Ela deve se tornar como força de trabalho um capital fixo que exige ser continuamente reproduzido modernizado alargado valorizado FERNÁNDEZ 1989 p 169 É sob essa perspectiva do capitalismo flexível que trazemos o Aluno SA como um tipo ideal de trabalhadorempreendedor um empresário de si mesmo com todas as competências e habilidades para estar inserido na ideologia da empregabilidade a partir da lógica das competências Ou nas palavras do autor tal empreendimento tornase quase que um elixir para a crise do mercado de trabalho capitalista FERNÁNDEZ 1989 p 205 Percebese que com a consolidação do toyotismo e seus dispositivos ideológicosorganizacionais a ideologia do capital passa a ter mecanismos de controle mais eficientes e sofisticados que buscam conformar uma escolaempresa capaz de produzir estudantestrabalhadores tendo como ethos o empreendedorismo A escola continua sendo uma estrutura eficiente para integração dos indivíduos à vida produtiva Neste sentido buscamos analisar o processo de formação de novas subjetividades que começam na sala de aula para atender as demandas das novas configurações do trabalho no século XXI cenário que passa a ser norteado por uma ética profissional que privilegia a capacidade de adaptação individual a essas transformações Para atender essas novas demandas do mercado capitalista e suas relações de trabalho no século XXI é necessária uma reconfiguração dos processos pedagógicos com destaque para aprendizagens de competências e habilidades de modo a forjar esse novo trabalhador flexível e assim são concebidos e veiculados novos modos de vida comportamentos atitudes e valores Também os mecanismos ideológicos atuam na construção de determinado discurso sobre o mercado de trabalho empregabilidade profissionais polivalentes e criativos No entanto o que se observa é um processo de exclusão includente pois as reformas do capitalismo neoliberal procuram excluir o trabalhador do mercado formal Por outro lado no plano discursivo são elaboradas estratégias de inclusão desse trabalhador em outro modelo de relações de trabalho o da desregulamentação e flexibilização ampliando o trabalho precário terceirizados subcontratados trabalho domiciliar parttime etc KUENZER 2005 ANTUNES BRAGA 2009 LAVAL 2019 José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 9 As diretrizes voltadas para educação defendidas pela OCDE estão concomitantemente relacionadas a reestruturação do capitalismo a partir do toyotismo cujas palavras de ordem são flexibilização terceirização fluidez das relações de trabalho Para a OCDE a educação deve formar indivíduos com potencial de empregabilidade ampliando suas competências e habilidades que atendam as demandas do mundo do trabalho Conforme Antunes e Braga 2017 Karl Marx Lukács e Gramsci já problematizavam criticamente os efeitos nefastos do sistema de trabalho difundido pelo taylorismo fordismo para a vida do trabalhador culminando na crise estrutural do capitalismo de 1970 Uma das respostas a essa crise foi a incorporação a partir de 1980 das técnicas desenvolvidas pelo toyotismo um modelo de empresa flexível com alta produtividade e baseada na automação autoativação polivalência e celularização promovendo uma reestruturação produtiva do capitalismo Se ao longo do século XX o modelo tayloristafordista demandou uma educação utilitária limitada a especialização fragmentada racionalizada reduzida a execução de tarefas no século XXI de perfil toyotista a questão da qualificação do trabalhador passa a ser um ponto central para o novo modelo tendo a educação um lugar privilegiado na sua estruturação Nessa direção Alves 2007 ressalta que a estrutura organizacional do toyotismo não promoveu um rompimento radical com a lógica do taylorismofordismo mas que no campo da gestão da força de trabalho o toyotismo realiza um salto qualitativo na captura da subjetividade do trabalho pelo capital se distinguindo do taylorismo e do fordismo por promover uma via original de racionalização do trabalho ALVES 2007 p246 Assim acabou por promover transformações estruturais no mercado de trabalho nas qualificações profissionais e adequações das políticas educacionais Para ele o toyotismo é concebido como O que denominamos de toyotismo implica a constituição de um empreendimento capitalista baseado na produção fluida produção flexível e produção difusa A produção fluida implica a adoção de dispositivos organizacionais como por exemplo o justin timekanban ou o kaizen que pressupõem por outro lado como nexo essencial a fluidez subjetiva da força de trabalho isto é envolvimento próativo do operário ou empregado ALVES 2007 p 158159 Para Alves 2007 uma das características mais danosas do capitalismo globalizado sobre o modelo toyotista e a sua ideologia do empreendedorismo é a dimensão ampliada de precarização que chega a atingir de forma intensa a subjetividade do trabalhador e constituir uma nova hegemonia social Para a OCDE além da educação básica obrigatória o espaço de trabalho poderia ser transformado em espaço de aprendizagem especialmente para educação profissional Essa questão é também discutida por Laval 2019 para quem a ideologia da profissionalização ocupa um lugar de destaque no trabalho de legitimação da nova configuração da escola direcionada pela pedagogia das competências Tal ideologia passou a direcionar as políticas educacionais afirmando Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 10 que todos os níveis e todas as carreiras escolares e não só os últimos anos ou não só as carreiras tecnológicas e profissionalizantes são afetados LAVAL 2019 p 95 Para o autor o empreendedorismo a formação de um homem flexível e o trabalhador autônomo são as referências desse novo ideal pedagógico que estabelece uma relação utilitarista e pragmática entre a escola e a economia A cerca disso ele destaca que O caráter fundamental da nova ordem educacional está ligado à perda progressiva de autonomia da escola acompanhada de uma valorização da empresa que é elevada a ideal normativo Nessa parceria generalizada a própria empresa se torna qualificadora e envolvida no aprendizado e acaba se confundindo com a instituição escolar em estruturas de aprendizagem flexíveis LAVAL 2019 p 35 Para Ramos 2006 esse processo que se iniciou no ensino técnico profissionalizante passa a organizar todos os níveis do campo educacional Assim a escola é forçada a abrirse ao mundo econômico como meio de se redefinirem os conteúdos de ensino e atribuir sentido prático aos saberes escolares RAMOS 2006 p 222 Nesse sentido observase um alinhamento entre a formação escolar e as demandas dos processos de produção Além disso destaca que o currículo da educação básica e profissional ocupa lugar de destaque na construção do projeto de vida do aluno as competências à medida que integram a personalidade dos sujeitos estariam a serviço desses projetos RAMOS 2006 p 273 O grande desafio é que o projeto que é apresentado para os estudantes a partir da lógica das competências é uma adequação as demandas da lógica do capital neoliberal Em linhas gerais a educação básica então não teria mais o compromisso com a transmissão de conhecimentos científicos socialmente construídos e universalmente aceitos mas com a geração de oportunidades RAMOS 2006 p 279280 Essa relação utilitarista da escolaempresa se distancia do ideal republicano de um espaço privilegiado para a formação cultural dos sujeitos A linguagem do discurso neoliberal passa a nortear a escola impulsionando o grande potencial do mercado educativo e a expansão de inúmeros produtos educacionais cursos materiais didáticos e paradidáticos produtos tecnológicos publicidade patrocínio etc E é nessa perspectiva que a Cultura Digital é incorporada na BNCC Conforme Frigotto 2010 a partir dos anos de 1990 os debates sobre trabalho e educação incorporam a categoria tecnologia que passa a ser um elemento vital e norteador para o desenvolvimento Com o advento da Terceira Revolução Industrial também denominada de Revolução Técnico Científica Informacional desenvolvemse transformações em todo sistema produtivo que demandam um trabalhador mais qualificado Estamos lidando com um modelo de organização baseada na sociedade do conhecimento com ênfase na tecnologia flexível na microeletrônica no uso da robótica no aprimoramento da genética da expansão da informática e das telecomunicações no desenvolvimento de novas fontes de energia José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 11 No plano da ordem econômica os conceitos ou categorias pontes são flexibilidade participação trabalho em equipe competência competitividade e qualidade total No plano da formação humana são pedagogia da qualidade multihabilitação policognição polivalência e formação abstrata Nesta perspectiva configurase uma crescente unanimidade do discurso da modernidade em defesa da escola básica de qualidade FRIGOTTO 2010 p 59 Por certo um longo caminho de estratégias discursivas foi necessário para idealização desse modelo de sociedade Conforme Fairclough 2001 o discurso exerce um papel vital na reestruturação do capitalismo global principalmente em momentos de crise Essa idealização de sociedade foi largamente difundida por vários atores sociais e enquanto discurso foi amplamente consumido até tornarse a razão neoliberal LAVAL 2016 É com esse modus operandi no plano discursivo que de tempos em tempos o capitalismo se reinventa construindo com suas agências e atores uma nova imagem e representação de si Esta preocupação em estreitar o laço entre tecnologias e educação se inscreve em uma preocupação mundial Organismos internacionais principalmente UNICEF OCDE e Banco Mundial vêm desenvolvendo uma série de documentos e metas para difusão das tecnologias da educação em vários países Entre essas metas há preocupação em fomentar práticas pedagógicas inovadoras para produzir trabalhadores qualificados A partir desse cenário que remete a uma racionalidade instrumental do conhecimento que o universo das tecnologias digitais adquiriu um status diferenciado na BNCC sendo a palavra tecnologia mencionada em 128 habilidades Ainda é referenciada nas Competências Gerais 1 2 e 5 destacando se a especial dedicação da Competência Geral 5 Compreender utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica significativa reflexiva e ética nas diversas práticas sociais incluindo as escolares para se comunicar acessar e disseminar informações produzir conhecimentos resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva BRASIL 2018 p 9 Vemos uma preocupação com o uso das tecnologias em si primeiramente como uma fonte de informações e conhecimentos e em seguida a importância do domínio das tecnologias para que o estudante possa produzir e compartilhar conhecimentos exercer protagonismo de forma responsável e crítica A utilização das TDIC além de serem enfatizadas nas competências gerais são acionadas e ganham destaque nas competências específicas de cada área do conhecimento A BNCC propõe que o uso das tecnologias deva ser potencializado para além do acesso a informações e sim como uma fonte de diálogo e descobrimento do Outro enfatizando o uso crítico significativo e criativo das tecnologias pelos estudantes favorecendo o protagonismo juvenil Conforme Pretto 2014 o pior dos desafios em relação a cultura digital nas escolas são questões conceituais O principal equívoco é pensar as ferramentas tecnológicas como auxiliares dos processos produtivos O Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 12 computador passa a ser um artefato pedagógico ou como dizem os autores buscase transformálo em uma máquina pedagógica em vez de máquina de comunicação e de produção de sentidos BONILLA PRETTO 2015 p 510 Enfatizamos o potencial da rede para o exercício e o fortalecimento da cidadania e o papel que a escola desenvolve como um agente potencializador da cultura do conhecimento e de saberes No entanto a escola ao invés de potencializar e canalizar essas experiências as bloqueiam Novamente recorrermos as análises de Fairclough 2001 quando diz que mesmo que um discurso se torne hegemônico essa hegemonia é sempre situacional nunca total pois haverá fissuras e disputas por forças contra hegemônicas Assim determinada ordem de discurso não pode ser encarada como um sistema fechado ao contrário é um sistema aberto Cientes desta provisoriedade queremos fazer circular outras possibilidades discursivas e atitudinais quando falamos da presença das tecnologias digitais nas escolas Para isso propomos substituir o tipo ideal do Aluno SA pela figura contra hegemônica do AlunoCiborgueHacker AlunoCiborgueHacker Iniciamos o tópico advertindo o leitor que as concepções utilizadas na construção do arquétipo do AlunoCiborgueHacker serão aqui explicitadas não estando relacionadas aos usuais esteriótipos comunicados pelas mídias Assim primeiro ressaltamos o que não é para depois definir o que é A figura do hacker conceitualmente não condiz com o criminoso virtual pessoas extremamente habilidosas que utilizam seus conhecimentos em linguagem de programação para invadir sistemas e realizar crimes digitais A própria comunidade hacker para se diferenciar deste mal uso do conhecimento computacional criou o termo cracker para definir aqueles que quebram as leis Também a figura do ciborgue aqui não será relacionada a máquinas inteligentes com autopropósito mas ao uso de máquinas por humanos os quais definem os melhores usos para dispositivos como celulares e computadores que parecem agregados aos seus corpos Assim tanto os ciborgues como os hackers são entes renegados em circunstâncias próprias O ciborgue foi gestado nas entranhas do mundo militar fez parte do sonho técnicocientífico dos militares americanos em criar um homem ampliado até ser levado a condição de metáfora disruptiva como um agente perturbador da ordem estabelecida Já os hackers antes aprisionados ao underground cibernético passaram a chamar atenção da mídia e em particular do mundo acadêmico o qual desenvolve investigações para analisar suas ações seus princípios como se organizam quais as ideologias que norteiam essa cultura Em ambas as trajetórias ficção científica e realidade se mesclam fundemse de uma forma tão imbricada que se torna difícil distinguir realidade de ficção José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 13 No referido cotejo interdisciplinar perseguese aqui uma abordagem já consagrada na prática reflexiva de trazer para o debate olhares e perspectivas diferentes que se debruçam em analisar os impactos da tecnologia de informação nas relações sociais na formação de novas subjetividades no mundo do trabalho na produção do conhecimento e na educação da contemporaneidade trazendo contribuições de autores como Donna Haraway 2013 Pekka Himanen 2001 e Nelson Pretto 2017 No âmbito desta reflexão tomaremos a definição de ciborgue desenvolvida no clássico ensaio O Manifesto ciborgue Ciência tecnologia e feminismo socialista no final do século XX da filósofa Donna Haraway lançado em 1985 Nesse texto inaugural em que emerge o ciborgue enquanto uma categoria de análise a autora define essa entidade como um organismo cibernético um híbrido de máquina e organismo uma criatura de realidade social e também criatura de ficção científica HARAWAY 2013 p40 A autora destaca que o seu mito ciborgue é inicialmente um posicionamento de transgressão política Pois já somos todas quimeras híbridos teóricos fabricados de máquinas e organismos somos em suma ciborgues assim o ciborgue é a nossa ontologia ele determina a nossa política HARAWAY 2013 p 41 Em síntese a categoria ciborgue é tomada aqui em seu sentido real ficcional e metafórico para refletir tanto a sua dimensão de constructo cultural como também sobre o signo do imaginário tecnológico Um ser híbrido forjado a partir da imbricação entre orgânicoinorgânico entre elementos naturais e artefatos mecânicos constituindo assim um dos elementos fundantes das subjetividades contemporâneas HOQUET 2019 HARAWAY 2013 Conforme Silva 2000 dada a ubiquidade das máquinas cada vez mais tornase difícil dizer onde termina a máquina e começa o humano Dessa forma instaurase o que é denominado pelo autor de realidades ciborgues com a sua presença inegável em nosso meio através de uma interpenetração o promíscuo acoplamento entre humanos e máquinas SILVA 2000 p 13 Diante desse cenário a imagem do ciborgue nos obriga a repensar a subjetividade humana da modernidade que começou a ser forjada no cogito cartesiano quando refletimos acerca da concepção que temos sobre a educação e mais precisamente em relação a produção e apropriação do conhecimento Assim o ciborgue nos orienta a pensar em termos de uma heterogeneidade com seus fluxos e circuitos Efetivamente grande parte das nossas experiências cotidianas são mediadas por artefatos tecnológicas e poderosos algoritmos incluindo uma infinidade de aplicativos que de certa forma gerenciam e monitoram a nossa vida o que geraria o desenvolvimento de uma juventude ciborgue Vêse que em diversas circunstâncias a juventude conectadas utiliza recursos e ferramentas computacionais como mediadora dos processos de Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 14 aprendizagem identificandose assim um desdobramento das configurações da cibercultura no cotidiano das pessoas que por sua vez promove uma crescente adaptação ciborgue A concepção de ciborgue está nas múltiplas possibilidades de acoplar esses artefatos artificiais e tecnológicos em nosso corpo ampliando nossas capacidades tendo a autonomia e o trabalho colaborativo como uma marca da juventude ciborgue O uso de dispositivos que ampliam a nossa visão para além da capacidade do olho humano aumentam a nossa audição e estendem a nossa memória permitenos acessar no ciberespaço as várias formas de registro do conhecimento humano escutar músicas assistir filmes acessar bancos de dados ler escrever editar estudar e postar informações em qualquer lugar e hora Em síntese a presença ciborgue delineada pelo potencial da cibercultura está reconfigurando a nossa subjetividade a nossa existência toda a cultura contemporânea de diversas formas Especificamente no campo educacional possibilita a construção de novas e múltiplas formas de ensinar e aprender novos conhecimentos Todavia apesar dos pontos positivos alguns estudos apontam para o perigo da educação se tornar cada vez mais instrumentalizada e tanto professores quanto estudantes ficarem dependentes dos algoritmos e robôs das grandes corporações de tecnologia assim como grandes consumidores desses pacotes tecnológicos a partir da lógica da escolaempresa Para ilustrar os perigos de uma educação pensada a partir desta relação entre homens e máquinas trago novamente Haraway 2013 para quem a metáfora do ciborgue pode ser analisada sobre duas perspectivas bem distintas na primeira o ciborgue se revestia com os mecanismos de controle e poder sobre o planeta já na segunda o ciborgue pode representar uma ruptura em relação a determinadas realidades sociais e corporais entre pessoas e máquinas pois esse ente não teme identidades flexíveis e pensamentos contraditórios elementos esses que o torna ideal para movimentos de ruptura HARAWAY 2013 Essa inquietação também está presente nas reflexões de Hoquet 2019 que ao pensar o lugar do ciborgue na cultura contemporânea faz a seguinte indagação se o ciborgue tem de fato o potencial de perturbar de romper e libertar a humanidade das amarras dos dualismos ou ele é um elemento que através da técnica vem reificar as diversas engrenagens de opressão Portanto as tecnologias de informação seriam o artefato canalizador desses valores nas práticas pedagógicas nas escolas Façamos como Haraway ao argumentar que o ciborgue esse ser híbrido que perturba as fronteiras deve ser compreendido enquanto um recurso imaginativo que pode sugerir alguns frutíferos acoplamentos HARAWAY 2013 p 41 Para completar a construção deste perfil do Alunociborguehacker é necessário fazermos algumas considerações sobre o termo hacker que é aqui entendido a partir da definição de Raymond32001 que afirma que os hackers constroem coisas crackes as destroem Para se 3 Hacker e escritor americano é um porta voz do movimento open source e do software livre e criador do José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 15 diferenciarem a comunidade hacker cunhou a expressão cracker para denominar criminosos que agem nos ambientes computacionais O universo hacker vem cada vez mais tornandose objeto de reflexões na academia com destaque para o trabalho do filósofo finlandês Pekka Himanen e sua obra já clássica A Ética dos Hackers e o Espírito da Era da Informação 2001 a qual toma como referência a tese weberiana como mote analítico dos novos atores e as novas relações de trabalho na civilização da informação Para Max Weber a ascese protestante é uma das chaves interpretativas sobre o processo de racionalização da modernidade Em sua análise considera que a ética protestante fomentou e estimulou a racionalidade metódica das relações sociais em que até o tempo precisa ser racionalizado e otimizado pois tempo é dinheiro Assim o virtuoso protestante não poderia perder tempo com as coisas mundanas tendo todas as energias canalizadas para a devoção e o mundo do trabalho Em tempos atuais a ética protestante passa a orientar as relações de trabalho virtual que são dinheiro trabalho otimização dos resultados flexibilidade estabilidade determinação e contabilização de resultados HIMANEN 2001 p 125 Na contramão desses valores o autor identificou alguns princípios recorrentes relacionados a uma nova ética do trabalho no mundo laboral dos programadores orientada por princípios como a paixão a liberdade o compartilhamento de conhecimentos o trabalho colaborativo a dedicação disciplina e a criatividade para resolver problemas Esses são os princípios norteadores da ética dos hackers Por conseguinte os hackers são os novos atores e assim como os protestantes de Weber têm a sua vida norteada por princípios que o autor denomina de espírito hackerética hacker que está delineando uma nova ética do trabalho Esse espírito sinaliza um caminho oposto ao ascetismo protestante Ele define os hackers como um grupo de pessoas apaixonadas por programação e para ele essa seria a expressão que mais consegue captar o espírito hacker HIMANEN 2001 Sobre essa perspectiva os hackers de computadores representam um exemplo excelente de uma ética geral de trabalho que podemos chamar de ética de trabalho dos hackers HIMANEN 2001 p 125 Portanto esse espírito hacker de fazer com paixão e criatividade em exercitar o compartilhamento em busca de realização e prazer no seu trabalho não está restrito ao universo da programação pois tratase de uma postura uma atitude que pode ser incorporada por qualquer pessoa ou profissão como na educação visto que o mais importante é ter habilidade e gostar do que se faz O autor destaca que além dos programadores os artistas e acadêmicos são duas profissões que já tem essa ética presente no seu labor cotidiano Dicionário dos Hackers É uma referência constante para os entusiastas da cultura hacker Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 16 Conforme Himanen 2001 a metodologia de aprendizagem que estrutura a ética hacker se dá a partir do princípio de que aprendo mais cada vez que ensinocompartilho as minhas experiências e meus saberes com o grupo A socialização de conhecimento entre os pares é sem dúvidas o grande diferencial da aprendizagem hacker para o autor pois um aprende ensinando aos outros e a sua recompensa é o reconhecimento entre seus pares No que se refere a utilização no âmbito da escola salienta que as crianças são originalmente hackers pois trazem em si a paixão e a curiosidade tornandoas ávidas por descobrir e perguntar sobre as coisas Nesse debate o argumento de Pretto 2017 ganha relevância ao apontar o grande potencial da cultura hacker para educação principalmente sobre a ideia de liberdade que é o elemento estruturante do software livre como movimento de compartilhamento coletivo de conhecimento que permite que se possa executar e estudar o programa redistribuir cópias e aperfeiçoálo PRETTO 2017 p 35 Destaca também que é um movimento político ao desenvolver a cooperação pois desconstrói a ideia de centralização de poder da informação nas mãos de corporações ou governos A sua definição é que o hacker faz o que gosta do jeito que gosta e quando gosta e assim cria coisas úteis para a sociedade e espera reconhecimento em troca PRETTO 2017 p37 São princípios que quando inseridos nas práticas pedagógicas estabelece novas relações com o conhecimento a cultura a arte a própria vida Isso fica evidente em suas palavras Com a filosofia hacker outra cultura se estabelece ao enfatizarmos a paixão o trabalho solidário e colaborativo como elementos socialmente necessários para a construção de um mundo sustentável Entretenimento trabalho cultura educação ciência tecnologia todos os campos podem e deveriam estar imersos nessa cultura onde o prazer em construir seja o mote realizador das ações PRETTO 2017 p 39 A esse respeito Pretto 2017 vai além e coloca a cultura hacker como um novo espaço de socialização dos bens culturais e científicos É interessante sublinhar que além do engajamento identifica outras contribuições da pedagogia hacker como o fazer lúdico as experiências baseadas na abertura e compartilhamento atrelada ao desenvolvimento da autonomia e comprometimento no princípio do aprender fazendo quando levados para o âmbito da educação podem ajudar na formação de professoresautores o que acaba fortalecendo todo o processo educativo a partir de um olhar plural construído através das interações Para ele muito da dinâmica de trabalho dos hackers pode e deve ser incorporada pelo sistema educacional Todavia na impossibilidade de uma reestruturação total das escolas para a incorporação dos princípios da cultura hacker o autor relata a partir de suas experiências que mesmo com poucos recursos é possível tal adequação Para isso elencou seis princípios básicos José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 17 O primeiro princípio é pensar que o acesso aos computadores deveria ser total e ilimitado o segundo toda informação deve ser livre free o terceiro estimulamse procedimentos pouco burocráticos e descentralizados o quarto princípio o julgamento de um hacker é feito pela qualidade do que ele efetivamente faz e realiza e não por critérios falsos como escolaridade idade ou posição social o quinto princípio está relacionado à crença na possibilidade de se criar arte e beleza num computador por último e não menos importante o sexto princípio os computadores podem fazer a vida melhor PRETTO 2017 p 7072 Salienta que o grande desafio em relação aos princípios dos hackers é que os mesmos não devem ser incorporados à escola como ferramentas auxiliares os aparatos tecnológicos digitais por sua vez intrinsicamente permitiram a emergência de novas linguagens e de novas práticas de produção de conhecimentos e de culturas PRETTO 2017 p 72 Além disso toda a fecundidade desse paradigma está relacionada a uma constante produção e socialização colaborativa de conhecimento fundamental para construção de um modelo de escola que prioriza a emancipação e a transformação dos sujeitos Lemos et al 2002 vê o movimento hacker como um caminho de ruptura a esse homem automatizado escravo de uma razão onipotente pois mesmo mergulhado em seus artefatos técnico complexos os hackers fazem de sua existência um exercício constante de romper com as regras estabelecidas e buscam extrair das tecnologias o prazer a alegria de comunicação e de conhecimento que deve ser compartilhado Em suma a tecnologia é apropriada e ressignificada de forma subversiva Ao colocarem esses desafios em evidência contribuem com as reflexões críticas sobre várias perspectivas para se pensar a civilização tecnológica contemporânea É nesse sentido que se coloca a nossa proposta Um alunociborguehacker conectado com os diferentes dispositivos disponíveis no mercado digital orientado pela ética hacker que se apropria das tecnologias de informação como forças contra hegemônicas Em outras palavras tanto o ciborgue como a cultura hacker trazem no seu âmago potências disruptivas operam instrumentos de resistência e por sua vez celebram a liberdade a criatividade a paixão o compartilhamento a coletividade e o engajamento valores que se contrapõem ao modelo orientado a partir do paradigma das competências e do empreendedorismo individual de uma educaçãoempresa proposto na BNCC Diante do exposto o Alunociborguehacker sinaliza um caminho para além da técnica e dos interesses mercadológicos busca criar uma nova relação com o conhecimento e as informações que devem ser compartilhadas modificadas livremente contrapondose a ideologia das competências e do empreendedorismo que tenta capturar as subjetividades do estudantetrabalhador e reduzir a experiência educativa ao pragmatismo utilitarista do capital produtivo Portanto através desse prisma temos uma inversão dos valores afirmando professores e alunos como sujeitos produtores de conhecimentos saberes e cultura sendo também capazes de desarticular e rearticular o discurso e a própria tecnologia Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 18 Nossa proposição contra hegemônica que traz o arquétipo do Alunociborguehacker coloca se no âmbito discursivo com o intuito de fazer circular outras ideias no campo educacional Mas algumas iniciativas de caráter aplicado começam a ser desenvolvidas principalmente em espaços experimentais como os laboratórios de ensino Citamos como exemplos o Laboratório Multiusuários em Humanidades4 multiHlab equipamento do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional na Fundação Joaquim Nabuco e o Grupo de pesquisas DEMULTS5 Desenvolvimento Educacional de Multimídias Sustentáveis ligado ao Departamento de Educação da Universidade Federal de Pernambuco Também as iniciativas do pesquisador aqui já citado Nelson Pretto responsável pelo projeto de inclusão sociodigital Tabuleiros Digitais6 desenvolvido pela Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia Considerações finais O presente exercício reflexivo se propôs a compreender a influência da pedagogia das competências que constitui a Base Nacional Comum Curricular na construção de um tipo ideal de estudantetrabalhadorempreendedor o qual denominamos de Aluno SA Ressaltamos os mecanismos ideológicos de dominação e poder que estruturam as novas configurações da civilização tecnológica com foco principalmente nos campos da educação formal e do mundo do trabalho As exigências de uma nova cultura digital são frequentemente acionadas a partir do viés de uma racionalidade instrumental isto é utilizada principalmente como ferramenta pedagógica a serviço das forças produtivas Nessa perspectiva os estudantes se apropriam das tecnologias apenas como usuários que dominam habilidades específicas e não em sua dimensão de potência transformadora O campo educacional colocase como importante arena de disputas onde forças hegemônicas e contra hegemônicas estão em constante combate A partir de uma perspectiva neoliberal da educação a lógica das competências e a ideologia do empreendedorismo presentes na BNCC tentam reduzir os processos de ensinoaprendizagem a demandas do mercado de trabalho Aqui o discurso da eficácia e da otimização permeia a escolha das competências Contrapondo os direcionamentos da escolaempresa preconizada na BNCC propomos trabalhar a partir de uma perspectiva disruptiva colocando como possibilidade uma outra razão para a ação no mundo uma ética capaz de reconhecer como ideal o arquétipo do Alunociborguehacker 4Os projetos e publicações desenvolvidos pelo multiHlab podem ser conhecidos em wwwmultihlabcombr 5As atividades do DEMULTS podem ser conhecidas em wwwdemultscombr 6Para conhecer o projeto Tabuleiros Digitais veja wwwtabuleirosdigitaisorg José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 19 um ente que rompe com as fronteiras entre máquinas e humanos e todos os seus dualismos sinaliza inúmeras possibilidades de apropriação tecnológica podendo tornálas instrumentos de resistência emancipação e transformação social potencializa novas relações com o conhecimento e o próprio lugar da escola na sociedade contemporânea sendo acionado como metáfora um instrumento político de transgressão Referências ADIRÃO T PERONI V A formação das novas gerações como campo para os negócios In AGUIAR M DOURADO L org A BNCC na contramão do PNE 20142024 Avaliação e perspectivas Recife ANPAE 2018 ALVES G Dimensões da Reestruturação Produtiva ensaios de sociologia do trabalho Londrina Práxis Bauru Canal 6 2007 ANTUNES R BRAGA R Infoproletários degradação real do trabalho virtual São Paulo Boitempo Editorial 2009 APPLE M W Políticas Culturais e Educação Porto Porto Editora 1999 BONILLA M H PRETTO N Política educativa e cultura digital entre práticas escolares e práticas sociais Perspectiva Florianópolis v 33 n 2 p 499521 maioago 2015 BRASIL Ministério da Educação Base Nacional Comum Curricular Brasília DF 2018 FAIRCLOUGH N Discurso e mudança social Brasília Editora UNB 2001 FERNÁNDEZ M E A face oculta da escola educação e trabalho Porto Alegre Artes Médicas 1989 FRIGOTTO G Educação e a Crise do Capitalismo Real São Paulo Cortez 2010 HARAWAY D J Manifesto ciborgue Ciência tecnologia e feminismosocialista no final do século XX In TADEU T org Antropologia do ciborgue as vertigens do póshumano Belo Horizonte MG Autêntica Editora 2013 p 33118 HIMANEN P A Ética dos Hackers e o Espírito da Era da Informação Rio de Janeiro Editora Campus 2001 HOQUET T Filosofia Ciborgue Pensar contra os dualismos São Paulo Perspectiva 2019 INEP Novas Competências da Base Nacional Comum Curricular BNCC 2022 Disponível em httpinep80anosinepgovbrinep80anosfuturonovascompetenciasdabase nacionalcomumcurricularbncc79 Acesso em 20 out 2022 KRAWCZYK N Brasil Estados Unidos A trama de relações ocultas na destruição da escola pública In KRAWCZYK N org Escola pública tempos difíceis mas não impossíveis Campinas SP FEUNICAMP Uberlândia Navegando 2018 p 5972 Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 20 KUENZER A Exclusão includente e inclusão excludente a nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações entre educação e trabalho In SAVIANI D SANFELICE JL LOMBARDI JC org Capitalismo trabalho e educação 3 ed Campinas Autores Associados 2005 p 7596 LAVAL C A Escola não é uma empresa o neoliberalismo em ataque ao ensino público São Paulo Boitempo 2019 LAVAL C A nova razão do mundo ensaio sobre a sociedade neoliberal São Paulo Boitempo 2016 LEMOS A SEARA S PÉRSIO W Hackers no Brasil Revista Contracampo n 6 p 2142 2002 Disponível em httpsperiodicosuffbrcontracampoarticleview17322 Acesso em 12 fev 2022 OCDE Melhores competências melhores empregos melhores condições de vida Uma abordagem estratégica das políticas de competências Publicações da OCDE 2014 Disponível em httpwwwinstitutoaliancaorgbrnewbibliotecapdf Acesso em 18 jul 2022 OCDE O Capital Humano Como o seu conhecimento compõe a sua vida Publicações OCDE 2007 Disponível em httpswwwoecdorginsights38435906pdf Acesso em 18 jul 2022 PEREIRA R da S Proposições da OCDE para América Latina o Pisa como instrumento de padronização da educação Revista IberoAmericana de Estudos em Educação Araraquara v 14 n esp3 p 17171732 2019 Disponível em httpsperiodicosfclarunespbriberoamericanaarticleview12756 Acesso em 07 abr2022 PRETTO N Educações culturas e hackers escritos e reflexões Salvador EDUFBA 2017 RAMOS M N Pedagogia das Competências autonomia ou adaptação São Paulo Cortez 2006 SILVA T T Monstros ciborgues e clones os fantasmas da Pedagogia Crítica In SILVA T T org Pedagogia dos monstros os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras Belo Horizonte Autêntica 2000 Recebido em 13 de maio de 2022 Versão corrigida recebida em 13 de outubro de 2022 Aceito em 13 de outubro de 2022 Publicado online em 11 de dezembro de 2022 Vila Vlamer Espaços públicos e espaços privados Texto apresentado ao Institut Europeén dEcologie Metz Quem lê os últimos diálogos platônicos do ponto de vista da segunda revolução industrial não deixará de ficar surpreso Descobrirá antropologia implícita que ilumina o nosso progresso rumo ao aparelho de vida em mais autônomo com luz projetada debaixo Tal leitura de Platão se propõe espontaneamente O progresso científico e técnico brota de determinada visão do homem da qual Platão é um dos responsáveis Foi Hannah Arendt quem ensaiou tal leitura O presente trabalho visa opôr ao pessimismo arendtiano interpretação mais adequada as proposições deste Instituto Para Platão o homem é ente caído do reino das ideias topos uranicos rumo ao terreno das aparências physis Ao cair passou pelo rio do esquecimento lethe Mas há método de fazer relembrar as ideias esquecidas os da philosophia Levam ao desesquecimento à verdade aletheia De modo que o homem pode inverter sua queda e voltar a contemplar as ideias theoria Portanto três modos de vida são acessíveis ao homem Platão os ordena hierarquicamente I O homem pode integrarse na natureza e esquecer as ideias Esta é a vida privada de ideias zoon oikonomikos porque se passa na cova e cosinha oiké II O homem pode relembrarse das ideias e aplicálas para mudar a natureza Esta é a vida ativa e pública e se passa na feira agora III O homem pode dar as costas à natureza e contemplar as ideias relembradas Esta é a vida contemplativa bios theorettikos e se passa no lazer na escola scholé O modelo da hierarquia é a polis Espaços privados oikiai cercam o espaço público agora e estão abertos rumo à praça do mercado Nos espaços privados laboram as mulheres e os escravos cozinham lavam roupa trabalham no quintal vivem economicamente Na frente das casas privadas estão os artesãos os donos de casa e produzem bens a serem trocados por outros bens na feira vivem politicamente Na praça do mercado passeiam pessoas que trocam ideias vivem teoricamente Os artesãos têm base econômica as mulheres e os escravos laboram por eles e permitem o trabalho produtivo As pessoas que trocam ideias têm base política os artesãos abriram para eles a praça pública do mercado na qual podem trocar ideias Os escravos laboram afim de permitir a produção e os artesãos produzem afim de permitir a teoria O propósito da economia é a praxis política e o propósito da praxis política é a teoria Esta a pirâmide hierarquica que Platão abriga O clima do labor privado é o do condicionamento pela natureza Não é que quem labora é escravizado por outrem quem labora é escravo pela natureza mesma do seu modo de vida O clima da produção é o da liberdade 2 Lá onde não há escravidão base econômica não há liberdade O clima da teoria é o do lazer Lá onde não há liberdade não há lazer a liberdade é a base política do lazer Se coisa inimaginável para Platão os escravos fossem libertados não haveria mais nem politica nem teoria A pirâmide ruiria e todos seriam escravos Tal antropologia segundo a qual a escravidão é a situação natural do homem e a liberdade é meio para atingirse sabedoria é fundada sobre um conceito específico do tempo O tempo do labor é cíclico cozinhase para comer e comese para poder cozinhar É o ciclo absurdo da imortalidade animalesca exkles tés gênéseos Quem labora escravo cachorro é imortal vive eternamento nos seus filhos O tempo da produção poiesis tem a forma de arco bios Iniciase no projeto da obra e encerrase na obra perfeita I o arco que mede do nascimento até a morte biographia O produtor é mortal O tempo da teoria está parado é o tempo das ideias imutáveis O escravo é imortal como o é a natureza o teórico é imortal como o é a fórmula matemática somente o político o artista é mortal O escravo é condicionado pela natureza o político é livre e o teórico é determinado pela ordem das ideias Logica e a cada uma dessas formas vitais corresponde uma forma de tempo A liberdade é mortal E é também enganadora Quem aplica ideia à natureza quem produz não muda apenas a natureza mas também a ideia A soma dos ângulos de triângulo desenhado em areia não é de 180 porque a areia deformou o triangulo Quem fizer geometria com tais triângulos terá visão errada das ideias doxa O sapateiro não produz sapatos ideias nem o homem político sociedade ideal A vida produtiva a vida política é dogmática impenetrável para a sabedoria leva à morte e ao engano Tal antropologia platônica resulta em utopia que vingou em forma da pirâmide feudal por aproximadamente mil anos Na sociedade medieval a população do campo ocupa o lugar da economia a burguesia cidadina o lugar da política e o clero o lugar da teoria O feudalismo é cidade platônica na qual o campo sustenta economicamente a obra e a obra sustenta politicamente a prece Somente os artesãos são livres Os camponeses e os monges são condicionados É é a Igreja a teoria que salva do engano e da morte As revoluções burguesas do prérenascimento reformularam a pirâmide platonica Colocaram a politica a arte a liberdade no topo Isto é colocaram a burguesia no topo Doravante não é a sabedoria que é a meta da vida mas é a liberdade A teoria fica subordinada à praxis saber é poder A teoria deixa de ser contemplação de ideias e passa a ser trabalho manipulação de ideias Uma forma de arte Duas artes resultam disto a meta a ermínica e a técnica e que é informada por teorias Tal divisão das artes produz o progresso produção de ideias novas modelos novos modas É a época moderna Tal progresso se acelera com a primeira revolução industrial No curso de tal época é observável progressiva decomposição da meta da vida A liberdade a produção se revelam metas pouco sólidas Se a sabedoria a imortalidade das ideias imutáveis a vida na prece deixou de ser meta a liberdade se revela lusata duvidosa é ameaçada pela morte A vida ativa não substitui satisfatoriamente a vida contemplativa Mas durante a época moderna toda a base da pirâmide a economia da escravidão fica intocada o proletariado a ocupa A segunda revolução industrial a atual está invertendo a pirâmide platonica ao colocar a economia no topo Tanto politica quanto teoria agora servem para sustentar a vida privada para tornála agradável É a vitória do operário transformado em funcionário A teoria sustenta agora a produção e a produção sustenta o consumo A sabedoria sustenta a liberdade e a liberdade sustenta a emoção A provisão platonica está se realizando os escravos estão se libertando e a sociedade toda está se transformando em sociedade de escravos A vida está ficando absurda porque gira no ciclo do eterno retorno O espaço privado domina e no espaço privado não pode haver meta Isto é observável em todas partes nas sociedades socialistas tanto quanto nas sociedades neocapitalistas Para captarmos tal diagnóstico devemos analisar dois pares de conceitos Laborobra e atividadelazer Laorar é sofrer O operário qual Sísifo repete eternamente os mesmos gestos Se a máquina o faz por ele então ele consome eternamente os mesmos produtos que a máquina empurra na sua boca Os movimentos do operário são previsíveis e programáveis como o são os movimentos de bola de billmad Labora dorme come nasce e morre em curvas estatisticamente projetáveis Sofre a vida passiva do ciclo do funcionamento Obrar é agir É obrigar ideias a penetrar a natureza e obrigar a natureza a abrirse para ideias Antes e depois da obra há contemplação Antes há a contemplação da ideia a ser realizada Depois há a contemplação da ideia realizada na obra O tempo do obrar está cercado de tempo contemplativo Tempo livre Operários não podem ter tempo livre malgrado as férias e os fins de semana O laborar não permite contemplação Somente os artesãos os artistas têm tempo livre Mas não têm lazer porque o seu tempo livre é função da obra Atividade é falta de lazer ascholia Idêntico desprezo da atividade transparece pelo termo latino negotium falta de ocio O termo scholé lazer está na origem do nosso termo escola A escola é o espaço do lazer no qual ideias são contempladas independentemente de obras A academia e o liceu são lugares da salvaçao porque salvam da ati vida e da morte São templos dos deuses Atadenos e Lyaços lugares reservados à theoria Escolas isto é lazer são impossiveis nos espaços privados do labor e as instituicões que chamamos escolares em tais espaços economicos são na realidade lugares de treino para o funcionamento Quanto às escolas nos espaços públicos as instituições cientificas arti sticas e politicas são na realidade lugares para a manipulação de ideias em função da economia dos grupos privados Atualmente escolas autênti cas lugar de lazer para a contemplação de ideias são impossiveis não há espaço para elas As ultimas escolas as ultimas universidades da nossa sociedade eram as da escolástica medieval A nossa incapacidade para termos escolas é a razão profunda da dita crise universitária A análise dos termos laborobra e atividadelazer permite captar o diagnóstico platonico da nossa situação da seguinte forma Há tres espaços existenciais o privado o publico e o da teoria O espaço privado o da economia é o espaço da vida natural circular absurda O espaço publico a republica é o espaço da vida artificial da vida engajada E o espaço da teoria a escola é o espaço do lazer da vida contemplativa Há utopia platonica o espaço privado sustenta o publico e este sustenta a teoria Os filosofos são reis Na sociedade burguesa as escolas fecham porque são ocupadas pela republica Atualmente o espaço privado está invadindo a republica e esta está fechando Estamos nos tornando todos operários funcionários em suma escravos Isto é o totalitarismo A cidade posindustrial a do futuro imediato será espaço privado Não haverá nem espaços publicos nem escolas nêla Alguns espaços se declararão publicos mas o serão falsamente Os mass media não politizarão mas pelo contrário privatizarão os homens publicos que aparecem na tela TV ao os projetarem dentro do espaço privado Os eventos publicos despolitizarão ao transformarem os cidadãos em massa Os supermercados não serão feiras mas programarão o consumo Não haverá espaços públicos porque a antropologia fundante da cidade posindustrial concebe o homem enquanto escravo ente que obra e consome Vai ter a cidade posindustrial dois espaços privados o do labor e o dos dortorios os quais serão ligados entre si por canais programados búlo metro dodo Os modelos de tal cidade já foram elaborados São o nazismo e o stalinismo Todos os demais aparelhos atuais e futuros são aperfeiçoamen tos de tais modelos Aperfeiçoamentos porque funcionarão melhor e serão menos aparentes O funcionamento do futuro será um Eicermann aperfeiçoado ente privado das ideias irresponsável eficiente A cidade toda será Ausch witz aperfeiçoada os seus habitantes funcionarão em função da função au surdamente e colaborarão com o aparelho no seu proprio aniquilamento A célebre pergunta como filosofar depois do Auschwitz terá resposta espontânea na cidade do futuro Não se filosofará porque não haverá esco las Mas tal futurologia platonizante é convincente apenas se aceitar mos a antropologia platonica o homem é naturalmente escravo e pode ser salvo apenas graças às ideias O proprio Platão no entanto permite que duvidemos do tal antropologia Toda cidade inclusive a politia pro ga argumenta contra Toda cidade é empresa que visa superar a solidão humana pela comunicação A solidão é insuportável porque é a concilência da morte morreremos sos e ninguém pode substituirnos na hora da morte A cidade a comunicação é método para tornar vivível a concilência da so lidão da morte De modo que ninguém está inteiramente privado das idéias relembra pelo menos a ideia da morte A prova é que mora na cidade Viva a imortalidade pela comunicação com outros Embora seja verdade que naturalmente somos todos condicionados em ultima anãlise morreremos todos não é verdade que somos inteiramente escravos platonicos sabemos que morreremos Por não ter admitido isto Platão é visceralmente intolerável É visceralmente intolerável porque minimiza a morte natural ao insistir no cyklos tês geneseos E embora a situação atual do totalitarismo aparelhistico incipiente pareça comprovar a futurologia platonica não obriga a submetermos à ela É possivel reconstruir a cidade forçála a abrirse rumo à republica à liberdade e rumo à teoria a uma vida boa É possivel fazêlo através a nossa abertura rumo à morte Por certo Platão responderá que toda cidade é empresa fadada ao malogro Todos os cidadãos morrerão e morrerão na solidão a despeito da comunicação civilização que estabeleceram Mas a civilização a vida cidádina não é mero engano doxa Imortaliza efetivamente ao preservar informações adquiridas Embora a morte natural continue válida a civilização projecta outro nivel existencial o da cultura no qual as memorias dos outros os armazens de informações são anossa imortalidade Ao contrário do que Platão afirma a politica imortarliza Somos imortais na medida em que publicamos O espaço publico nos torna memóraveis Ao contrário do que Platão afirma não podemos dispensar de Homeros Platão proibiu a entrada na sua utopia aos artisttas Mas eles são a nossa imortalidade Platão so vê a informação genéutica e as formas puras Não vê a informação adquirida a historia Por não ter visto isto prevê o totalitarismo Mas nos não somos obrigados a seguilo À nossa consciente da historicidade do homem da sua morta lidade natural e imortalidade cultural nos permite tentarmos reconstruir a cidade Podemos tentar fazêlo em toda situação inclusive a nossa É verdade que a cidade posindustrial parece frustrar toda tentativa de reconstrução um tanto platonicamenta Obriganos a colaborar em seu funcionamento quer laboremos quer consumamos quer trabalhemos quer teoreti zemosrecupera todos os nossos esforços em reconstruila O feedback que o aparelho da cidade posindustrial estabelece nos torna automaticame te colaboradores do totalitarismo É verdade pois que vivemos desde já em campos de concentração aperfeiçoados No entanto já que somos conscientes da nossa morte transcendemos a automaticidade absurda da cidade É é a partir de tal transcendência que podemos tentar reconstruíla O que será proposto no resto deste ensaio será utopia que se moverá dentro das categorias platonicas Necessariamente porque Platão continua a informarnos Mas será utopia antiplatonica Necessàriamente porque Platão é o que nos está ameaçando Aceitemos o diagnostico platonico do aparelho é ele espaço privada que ocupa o espaço publico e elimina escolas O que urge é pois abrir espaços publicos inacessiveis ao aparelho Mas paradoxalmente para podermos fazêlo é necessário que se abram primeiro espaços privados inacessíveis ao aparelho Porque é a partir de tais espaços privados da solidão para a morte que espaços publicos são projetados A solidão da morte é o motivo para a comunicação Se publicamos é para vencer tal solidão A publicação é a saida do espaço privado Devemos pois iniciar a reconstrução da cidade pela abertura de espaços privados dentro do espaço privado totalitário do aparelho Tais tentativas já existem em toda parte Por exemplo as résidences secondaires da Europa ocidental os suburbia americanos as datchas nos paíse sociaisistas A solidão é tida atualmente por luxo E há outro tipo de busca de espaço privado as drogas Mas tais tentativas parecem fadadas ao malogro Os espaços privados assim construidos não estão abertos para a republica mas para o aparelho suas portas levam às garagens suas janelas são telas de TV e seus sonhos são consumidores Não são espaços privados oikai cujas janelas e portas dão para a praça do mercado O que urge é construir espaços assim abertos Para poder construílos é preciso que se considere a dinâmica do mercado Platão pensa que o mercado serve a dois propositos à troca de bens e à troca de ideias A troca de bens constata dois tipos de valores os valores de troca e os valores intrinseios O valor de troca é relativo o sapato vale uma duzia de ovos O valor intrinsico é o grau pelo qual uma ideia foi realizada na obra o sapato é mais ou menos perfeito Destarte a troca de bens é politica constata normas normaliza A normalização se faz graças ao jogo das trocas graças a um navegar kybernein nas ondas da troca O termo cybernetin resultou em dois conceitos modernos o do governo e o da cibernética Para Platão governar a republica é navegar nas ondas da troca e destarte normalizar Para nos no entanto a normalização se faz cibernéticamente e este aspecto do mercado o da troca de bens pode perfeitamente ser relegado ao aparelho que funciona cibernéticamente não necessitamos de governos O que conta para nos é o mercado enquanto lugar de troca de ideias Platão crê que o diálogo é método para redescobrir as ideias imutáveis que estão esquecidas no interior dos que dialogam Trazêlas à luz medioticamente E tais ideias uma vez relembradas desesquecidas passam a ser as normas de acordo com as quais os bens são normalizados À troca de ideias permite a troca de bens lhe dá sentido Nos não podemos mais depois de Kant compartilhar com Platão o conceito das ideias imutáveis Para nos ideias são produtos de ideias prévias passadas pe lo crivo da experiência Por isto para nos a troca de ideias a dialectica é metodo para produzir ideias novas O proposito do mercado para nos é ser lugar que permita a produção de ideias a informarem a troca de bens Isto é política para nos programação do aparelho cibernético com ideias elaboradas em troca Política para nos é o encontro de homens privados que publicam afim de elaborar programas E destarte dirigir o aparelho Isto é democracia no sentido posindustrial do termo dirigir o aparelho e programálo graças à troca de ideias que leva a ideias novas Út tal a praça do mercado que nos interessa Os espaços privados a serem construídos devem estar perto como a tal praça do mercado A atual revolução dos meios de comunicação permite desde já que tais aventuras sejam realizadas Exemplos TV a cabo telefone São métodos para se dialogar a partir do espaço privado Invertam o fluxo das informações nos canais de massa Em voz de privatizarem o público publicam o privado Os novos espaços privados dotados de tais meios de comunicação projetariam de si a nova praça do mercado Tal praça seria a rede de comunicações dialógicas que uniria espaços privados O espaço público seria o tecido de relações intersubjetivas e seria esse tecido que governaria Dispomos desde já de instrumentos que tornam possíveis tal governo por exemplo de computadores De memorias artificiais e de processamento artificial de informação que permitem a implantação de consenso amplo Podemos desde já programar o aparelho politicamente com os proprios métodos do aparelho A democracia posindustrial é desde já tecnicamente possível Tal espaço publico projetado a partir de espaços privados seria no entanto politico em sentido radicalmente novo A politica não seria como o é tradicionalmente combate dialético de interesses em busca de consenso Seria combate de ideias em busca de aparelho A diferença é esta a política tradicional um senso comum que é o denominador comum mais baixo dos participantes a raison dEtat de Rousseau A política posindustrial seria busca de sintese de um programa novo Seria dialectica no sentido exato do termo A meta da política seria a produção dialógica de ideias novas E isto im plica que o espaço publico posindustrial projetaria de si um novo tipo de escola Não há como negar que escolas estão voltando a ocupar um espaço mais amplo que antigamente Dada a crescente complexidade das informações disponiveis a juventude é obrigada a frequentar escolas mais demora damente que no passado Dada a efemeridade da validez das informações os especialistas estão obrigados a voltarem periodicamente à escola a se reciclarem É dada a necessidade economica de baixar a idade da a posentadoria dos funcionários desemprego etc muitos procuram preencher o tempo vasio não livre voltando às escolas Mas a análise pre cedente procurou mostrar que tais escolas não o são no sentido exato do termo lugares de lazer de onde ideias são contempladas A praça publica acima esboçada projetaria de si um novo tipo de escola lugar para um novo tipo de theoria Para Platão theoria é a contemplação de formas imutáveis Embora ideias para nos não sejam imutáveis no sentido platonico voltamos curiosamente ao conceito da forma imutável à estrutura E dispomos de toda uma série de disciplinas à contemplarem tais estruturas Duas dessas disciplinas são platonicas a matemática e a logica e há terceira a musica que Platâo incluiria E é característica das escolas modernas que tais disciplinas são difíceis a serem enquadradas na organização de tais escolas Mas surgiram ultima mente outras disciplinas formais tais como a informàtica a teoria da decisão a teoria dos jogos O que tais teorias visam não é o repertorio dos sistemas a sua informação mas a sua estrutura sua forma imutável São disciplinas que analizam sistemas Pois a praça publica da sociedade posindustrial projetaria espontâneamente um lugar para tais theorias Espontâneamente porque a programação do aparelho com ideias novas exige que seu sistema seja analisado Exige teorias do aparelho Tais escolas não serviriam como o fazem as atuais à distribuição de informações isto pode ser relegado ao aparelho por exemplo aos instrumentos inteligentes Serviriam à contemplação das formas eternas do aparelho Seriam lugares de transcendência com respeito ao aparelho E ao permitirem tais escolas a programação do aparelho dariam significado ao seu funcionamento e destarte à vida dos cidadãos da cidade do futuro A reconstrução da cidade posindustrial proposta é utopia platonica em dois sentidos do termo È utopia platonica porque visa restabelecer a pirâmide hierarquica de níveis que Platão alvôga A cidade seria sustentada pelo nivel economico do ciclo absurdo Tal nivel seria na cidade posindustrial o do aparelho e seu funcionamento Funcionaria automaticamente cibernéticamente O escravo seria o aparelho Este nivel sustentaria o espaço publico que seria projeção do espaços privados Nele reinaria o clima da liberdade e o da produção de ideias E o ultimo proposito da politica seria a abertura de um espaço teorico que permitiria dar significado à vida na cidade um espaço de lazer scholé e de sabedoria philosophia Mas infelizmente a reconstrução da cidade posindustrial proposta é também utopia platonica em sentido diferente Embora todos os meios técnicos para a sua construção estejam desde já disponiveis não se vê como tal utopia possa realizarse 1 utopia platonica em sentido pejorativo Para que se realize seria preciso que se transforme nossa visão do homem nossa antropologia Para Platão o homem é ente cuja pátria verdadeira embora perdida é o reino das ideias E o homo sapiens Para a sociedade burguesa o homem é ente que modifica o mundo de acordo com ideias É homo faber A antropologia que se formula atualmente vê no homem ente que consome o mundo L homo oeconomicus Para que se possa reconstruir a cidade no sentido acima exposto seria necessário que se conceba o homem como ente que usa ideias como peças de um jogo Homo ludens Embora haja indícios em prol de una tal antropologia nova outros indícios apontam em direção diferente È inclusive é possível argumentarse que a utopia aqui proposta é sintoma de decadência daquela sociedade que tem Platão por uma das suas raizes Que é sintoma precisamente da previsão que Platão fez com relação a libertação dos escravos E que portanto a utopia proposta não passa de convite aos outros por exemplo ao dito Terceiro mundo de eliminar de vez essa visão platonica do homem e da sociedade da face da terra No entanto embora utopia platonica em sentido pejorativo a proposta não é mera fantasmagoria Baseiase em fatos E o fato fundamental é a nossa abertura rumo à morte Enquanto estivermos concientes que o fato brutal da nossa morte torna absurda a nossa vida e enquanto não nos contentarmos com tal absurdo restará em nos a esperança de podermos resistir à autonomia do aparelho totalitário que está se preparando A proposta aqui elab0 rada em base de leitura especifica de Platão se quer articulação de tal esperança O texto aborda de maneira crítica a influência das práticas discursivas neoliberais na composição da Base Nacional Comum Curricular BNCC e na configuração do perfil do estudantetrabalhadorempreendedor na era da Cultura Digital Os autores propõem uma perspectiva contra hegemônica representada pelo conceito de AlunoCiborgueHacker Contextualização e Introdução O texto inicia com uma contextualização sólida sobre a relação entre educação e economia destacando a transformação da escola em uma instituição mais instrumentalizada e menos transformadora ao longo do tempo A discussão sobre as influências do neoliberalismo capital financeiro e outros aspectos na redefinição do papel da educação é bem apresentada Objetivos e Problemática Os objetivos do estudo são claramente definidos centrandose na análise da BNCC e na proposta de um AlunoCiborgueHacker A problemática é bem formulada ao questionar a influência das práticas discursivas neoliberais na configuração do estudantetrabalhador empreendedor Metodologia A abordagem qualitativa e a pesquisa bibliográfica são justificadas e alinhadas com o propósito do estudo A explicação da utilização da Análise do Discurso Crítica ADC é útil para Análise da BNCC A exploração da definição de competência na BNCC e sua importância na educação é abordada de forma clara e objetiva A contextualização da construção da BNCC com a participação de diversos atores sociais adiciona uma camada importante à análise Neoliberalismo na Educação A descrição do conceito de escola neoliberal e seu enfoque no capital humano é bem articulada A citação de Laval oferece uma perspectiva adicional Influência de Organizações Internacionais A influência da OCDE e do Banco Mundial na definição de políticas educacionais é bem destacada especialmente em relação ao conceito de Capital Humano A Construção da Competência na Educação A explicação das Estratégias de Competências da OCDE é clara e proporciona um entendimento profundo da lógica por trás das políticas educacionais Conclusão O texto apresenta uma análise crítica e bem fundamentada das influências do neoliberalismo na educação especialmente através da BNCC A proposta do AlunoCiborgueHacker como uma alternativa contra hegemônica é intrigante e oferece uma perspectiva interessante para a transformação da educação na era digital O exercício reflexivo empreendido neste trabalho buscou elucidar a marcante influência da pedagogia das competências enraizada na Base Nacional Comum Curricular na concepção do Aluno SA um estudante moldado para o mundo do trabalho empreendedor na era da Cultura Digital Ficou evidente a atuação dos mecanismos ideológicos de dominação e poder que permeiam as novas configurações da sociedade tecnológica especialmente nos domínios da educação formal e do mercado de trabalho A cultura digital frequentemente é utilizada de maneira instrumental limitandose à capacidade técnica dos estudantes deixando de explorar seu potencial transformador O campo educacional se apresenta como um campo de batalha onde forças hegemônicas e contra hegemônicas colidem constantemente Sob a égide do neoliberalismo a lógica das competências e a exaltação do empreendedorismo presentes na BNCC tentam submeter os processos de ensinoaprendizagem às demandas do mercado de trabalho priorizando a eficiência e a otimização Em contraposição ao paradigma da escolaempresa proposto na BNCC propomos uma abordagem disruptiva que visa contemplar uma outra perspectiva de ação no mundo Esta ética reconhece como ideal o Aluno ciborguehacker um ser que transcende as fronteiras entre humanos e máquinas abrindo um leque de possibilidades de apropriação tecnológica Isso não apenas como um meio de resistência e emancipação mas também como uma ferramenta de transformação social redefinindo as relações com o conhecimento e o papel da escola na sociedade contemporânea Dessa forma a tecnologia é mobilizada como metáfora e instrumento político de transgressão sinalizando um novo caminho para a educação no contexto atual Referência José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022
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Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 1 ISSN Eletrônico 19840187 ISSN Impresso 15185648 httpsdoiorg105212OlharProfrv2520526062 Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Digital Technologies in the Education and the BNCC proposal of a StudentCyborgHacker Tecnologías Digitales en la Educación y BNCC propuesta del AlumnoCyborgHacker José Raimundo Silva Costa1 httpsorcidorg0000000251338170 Viviane Toraci Alonso de Andrade2 httpsorcidorg0000000273423931 Resumo Este artigo tem como objetivo analisar a influência das práticas discursivas neoliberais presentes na composição da BNCC e a configuração de um tipo ideal de estudantetrabalhadorempreendedor inserido em uma Cultura Digital O delineamento teórico metodológico que orienta a presente reflexão se ancora numa perspectiva de natureza qualitativa e pesquisa bibliográfica quanto ao seu procedimento Defenderemos uma outra possibilidade de apropriação das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação na educação para além da instrumentalização técnica apresentando a posição contra hegemônica do AlunoCiborgueHacker Palavraschave Cultura Digital BNCC Neoliberalismo AlunoCiborgueHacker Abstract This paper has the purpose to analyze the impact of neoliberal discursive practices within the BNCC Curricular Common National Basis and the ideal type of the studentworkerentrepreneur in the Digital Culture The methodological and theoretical approach leading this discussion is based on the perspective of the qualitative method and the bibliographic research in terms of the process We will defend another possibilities of educative uses of Digital Technologies of Information and Communication that goes beyond technical purposes presenting our against hegemonic conception of the CyborgueHackerStudent Keywords Digital Culture BNCC Neoliberalism CyborgueHackerStudent Resumen Este trabajo tiene el reto de analizar la influencia de las prácticas discursivas neoliberales presentes en el contenido de la BNCC Base Nacional Común Curricular y el parámetro del estudiantetrabajador emprendedor como un tipo ideal dentro de la Cultura Digital El planteamiento teórico metodológico que orienta la presente reflexión está basada en la perspectiva cualitativa y la investigación bibliográfica en lo que respecta al procedimiento Defenderemos otra posibilidad de apropiación de las Tecnologías Digitales de 1 Mestre em Sociologia pelo ProfSocioFundaj Bolsista EAD Email jrsc2outlookcom 2 Doutora em Comunicação Professora no Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional associada Fundação Joaquim Nabuco Email vivianetoracifundajgovbr Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 2 Información y Comunicación en la educación para algo más que manipulación técnica presentando la concepción contraria a la hegemonía del AlumnoCyborgHacker Palabrasclave Cultura Digital BNCC Neoliberalismo AlumnoCyborgHacker Introdução A relação entre educação e economia é de longa data principalmente devido a sua eficiência moral e técnica em formar um tipo de sujeito para atender as demandas da organização do trabalho Assim para atender a esses objetivos a escola e suas pedagogias tornamse mais instrumentalizadas e menos transformadoras Convém mencionar que as novas configurações da educação e do trabalho estão associadas às transformações impulsionadas pelo capital financeiro a sociedade de consumo a mídia a cultura de massa e o pósmodernismo isto é faz parte do processo de reestruturação do neoliberalismo e a redefinição do papel do estado Diante desse cenário problematizase a influência das práticas discursivas neoliberais que compõem a Base Nacional Comum Curricular BNCC e a escolha de uma pedagogia das competências para configuração de um tipo ideal de estudantetrabalhadorempreendedor denominado aqui de Aluno SA Nosso estudo problematiza as transformações que vem acontecendo em todas as esferas da sociedade impulsionada pela convergência digital A escola tornase potencialmente um espaço de construção ou captura de subjetividades e experiências com o objetivo de forjar determinada ética profissional para que os futuros trabalhadores atendam novas qualificações e habilidades cognitivas como ser flexível polivalente empreendedor criativo trabalhar em equipes ser engajado e proativo um léxico de competências que respondem a reestruturação produtiva e criam a ilusão de uma suposta empregabilidade Nesse contexto as tecnologias digitais são incorporadas na sua dimensão instrumental como uma ferramenta que vai potencializar a eficiência o controle e o aumento de produtividade Percebemos o uso do discurso gerencialista próprio do neoliberalismo como elemento norteador para a educação impulsionando o grande potencial do mercado educativo em franca expansão Diante disso pretendemos apresentar a relação entre as novas configurações da educação baseada na ideologia das competências e a formação de tipo ideal de estudantetrabalhador empreendedor É a partir dessa relação utilitarista moldada para atender os interesses empresariais que vemos cada vez mais a escola se distanciar do seu ideal republicano e democrático e o seu caráter emancipatório e transformador Como alternativa propomos a construção do arquétipo do Aluno ciborguehacker com práticas pedagógicas orientadas pelos princípios da culturaética hacker como uma força transgressora de resistência e transformação José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 3 Para construção de nosso argumento os encaminhamentos metodológicos foram desenvolvidos numa perspectiva de natureza qualitativa e interdisciplinar adotando como procedimento a pesquisa bibliográfica Neoliberalismo Pedagogia da Competência e BNCC A educação é um campo de disputas Na modernidade passou a ser um componente chave do projeto de sociedade idealizado pela burguesia oitocentista A instituição escolar tornouse um espaço privilegiado de socialização formação e difusão da ideologia burguesa Ela acaba por assumir também uma dimensão econômica produtiva através do binômino instrução e trabalho consolidando o projeto de progresso e a formação do homem moderno Agora em princípios do século XXI as políticas educacionais assim como a economia assumem contornos globalizados sendo influenciadas por decisões tomadas no âmbito de organismos internacionais multilaterais Tais organizações defendem posições neoliberais e tem o poder de disseminar os ideais que compõem as pedagogias da competência E aqui se coloca uma questão Quais competências e habilidades são valorizadas no Novo Ensino Médio brasileiro Quem decide e com quais objetivos Para responder tais questionamentos buscaremos compreender os atores e os discursos que disputaram e foram vencedores na versão homologada da BNCC De imediato cabe destacar o significado do termo competência na BNCC que é definido como a capacidade de mobilização de conhecimentos conceitos e procedimentos habilidades práticas cognitivas e sócioemocionais atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho BRASIL 2018 p 8 A Base como documento que tem o papel de garantir as aprendizagens essenciais para todos os estudantes estipula que a Educação Básica deve desenvolver nas crianças e jovens 10 Competências Gerais divididas em objetos de conhecimento e habilidades Apresentamos na Figura 1 um infográfico que resume o conteúdo registrado no documento curricular A construção da BNCC enquanto política pública de Estado se deu a partir da articulação de diversos atores sociais públicos privados coletivos e individuais Foi um processo construído a partir de um campo social demarcado por grandes disputas e tensões constituindo uma rede de práticas com atores internacionais e locais capazes de articular decisões em torno das políticas educacionais do país Temos assim a educação como um campo privilegiado no qual constantemente forças hegemônicas e contra hegemônicas disputam espaços Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 4 Para analisar a formação e a textualidade do discurso presente na BNCC trazemos como referencial teóricometodológico a Análise do Discurso Crítica ADC desenvolvida pelo linguista inglês Norman Fairclough 2001 A ADC tem como objetivo analisar os problemas sociais da sociedade contemporânea revelando como determinadas práticas discursivas de dominação são construídas e operacionalizadas O discurso para Fairclough é o uso de linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexa de variáveis situacionais FAIRCLOUGH 2001 p 8990 O discurso é tomado como uma ação uma prática de significação sobre o mundo Figura 1 Infográfico com as 10 Competências Gerais da Educação Básica no Brasil Fonte INEP 2022 Será a partir desse referencial que buscaremos analisar as estratégias elaboradas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE pelo Banco Mundial e por atores nacionais para conseguiram transformar o seu discurso sobre educação em um discurso hegemônico capaz de direcionar algumas políticas educacionais brasileiras em particular a Reforma do Ensino Médio e a Base Nacional Comum Curricular Conforme Laval 2019 essas organizações internacionais tem papel privilegiado em legitimar um discurso global sobre educação fundamentado José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 5 nas teorias do Capital Humano Apesar de assumirem novos contornos para se adaptarem ao capitalismo contemporâneo a gênese permanece a mesma De acordo com a OCDE Capital Humano pode ser definido como Simbolicamente o capital humano é amplamente definido como algo que abrange uma mistura de talentos e habilidades individuais inatos bem como as competências e as aprendizagens adquiridas pela educação e pela capacitação OCDE 2007 p 2 A esse respeito Frigotto 2010 destaca que a educação passa a ter status de capital humano e ganha contornos de teoria do desenvolvimento O capital humano é então definido a partir da ideia de quantidade ou um grau de educação e de qualificação tomado como indicativo de um determinado volume de conhecimentos habilidades e atitudes adquiridas FRIGOTTO 2010 p 44 É sobre essa doutrina que a escola neoliberal se estrutura Para tanto busca a sua legitimidade utilizando termos do campo gerencial como reforma da escola culto à inovação eficiência dos recursos Para Laval 2019 são palavras vazias de reflexão pois o que elas tentam ocultar é a sua própria ideologia Escola neoliberal é a designação de certo modelo escolar que considera a educação um bem essencialmente privado cujo valor é acima de tudo econômico Não é a sociedade que garante o direito à cultura a seus membros são os indivíduos que devem capitalizar recursos privados cujo rendimento futuro será garantido pela sociedade LAVAL 2019 p 22 Configurase como empresa educadora que tem a sua existência legitimada a partir dos resultados e inovações gerados Dessa forma esses atores internacionais além de sua força financeira tendem a representar cada vez mais um papel de centralização política e normatização simbólica LAVAL 2019 p24 É apropriado ressaltar que algumas mudanças no campo educacional são necessárias e salutares no entanto não podemos reduzir a educação pública ao lugar de aprendizagens de competências e habilidades voltadas para os interesses do capital privado Além das organizações internacionais cabe destacar aqui no Brasil a articulação do Movimento Todos pela Educação da Associação Nova Escola e do apoio da Fundação Lemann entre outros atores da sociedade civil que exerceram grande influência na elaboração da BNCC trabalhando com a máxima que pensa a educação sobre a lógica da produtividade empresarial e do uso intensivo de tecnologias educacionais Portanto no campo de disputas ocorridas na fase de construção da BNCC colocase um discurso de reforma e modernização da educação trazendo um currículo estruturado pelas aprendizagens de competências e habilidades que conforme Apple 1999 opera como uma espécie de guardachuva ideológico no qual diversos atores sociais mesmo com algumas divergências entre si unemse na busca da cristalização de um consenso e legitimidade discursiva A concepção central para a política de competências defendida pela OCDE é a maximização da aplicação de recursos ou seja a ideia de eficácia permeia a escolha das Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 6 competências Diante disso a Estratégia de Competências é dividida em três níveis sendo eles a Desenvolvimento de competências relevantes ou seja priorizar as competências que estão em sintonia com o mercado de trabalho b Ativação da oferta de competências estimulando as pessoas a ofertarem as suas competências ao mercado de trabalho e c Usar as competências de forma eficaz de modo a garantir que as competências sejam devidamente utilizadas para não desperdiçar o investimento OCDE 2014 p 1314 Sobre esse prisma tornase relevante pontuar que não é coincidência que o conceito das competências fosse eleito como o eixo estruturante da BNCC que lista 10 competências como essenciais No entendimento da OCDE o melhor caminho para desenvolver as políticas de competências é o campo educacional com a estruturação de currículos e sistemas de educação e treinamento que respondam às necessidades do mercado de trabalho e da sociedade em geral e que sejam equitativos e de boa qualidade OCDE 2014 p 20 Outro elemento que merece destaque é o discurso sobre a ubiquidade das tecnologias digitais no cenário educacional o qual vem sendo gestado a um longo tempo nos relatórios e diretrizes de organizações internacionais como Banco Mundial OCDE e UNESCO Esses discursos advindos do gerencialismo empresarial reverberam entre os atores locais na forma de direcionamentos e políticas governamentais desenvolvidas pelo Governo Federal através do Ministério da Educação MEC e das Secretarias de Educação tanto no âmbito estadual quanto municipal Portanto sobre essa perspectiva a educação deveria priorizar todos os esforços para formação de uma mão de obra qualificada e flexível com uso intensivo das novas tecnologias competências essenciais para o desenvolvimento econômico Para atender esse novo perfil de trabalhador os conhecimentos e aprendizagens a serem adquiridos durante a educação básica são repensados Conforme Laval 2019 observase uma transformação radical que vai de uma lógica dos conhecimentos para uma lógica da competência incorporada do ensino profissionalizante à educação básica e chegando até os campi universitários LAVAL 2019 p 87 Nessa direção ele ressalta que desde meados do século XIX está em curso a subordinação dos saberes à economia Primeiro com a criação das universidades de empresas nos Estados Unidos e em seguida sobre recomendação da OCDE a parceria entre universidades e empresas foi incorporada em muitos países sob a alegação de ser fundamental para o desenvolvimento da inovação e ampliação dos investimentos em pesquisa consolidando assim uma intensa capitalização do saber LAVAL 2019 p 6062 Após o crente após o cidadão do Estado após o homem cultivado do ideal humanista a industrialização e a mercadorização da existência estão redefinindo o homem como um ser essencialmente econômico e um indivíduo essencialmente privado LAVAL 2019 p 74 José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 7 Corroborando a esse respeito Krawczyk 2018 afirma que sob os auspícios da OCDE e outras entidades a reforma da educação no Brasil prioriza um modelo em que a mercantilização do ensino e a lógica de produtividade empresarial tornaramse eixos norteadores A partir dessa perspectiva utilitarista o conhecimento e o currículo passam a priorizar a apropriação intelectual de competências e habilidades voltadas para o mercado de trabalho deixando em segundo plano outros conhecimentos e saberes Um modelo que contribui para uma total fragmentação do conhecimento científico A esse respeito Adirão e Peroni 2018 destacam que a aprendizagem de conteúdos ganha relevância o conhecimento passa a adquirir um caráter meramente utilitarista que deve ser medido e controlado sistematicamente através de avaliações em larga escala com ênfase no Pisa Já para Pereira 2019 a avaliação do Pisa tem como principal objetivo medir se os sistemas educativos em questão estão atingindo os níveis necessários de competências e habilidades para um mercado de trabalho globalizado Combinando competências e habilidades a OCDE compõe um processo de verificação dos sistemas educativos atuando ao mesmo tempo como ator e objeto da sociedade do conhecimento ao induzir o tipo de conhecimento que deve ser produzido para os mercados e o tipo de educação que os governos devem priorizar e para quê PEREIRA 2019 p 1722 Dessa maneira a OCDE considerando os dados do Pisa propõe algumas diretrizes para as políticas educacionais na mesma frequência das forças produtivas corroborando para formação de determinado perfil de estudantetrabalhador Decerto esse modelo de avaliação traz um caráter reducionista ao utilizar apenas o código da economia que compara custos e lucros LAVAL 2019 p 233 Para Fairclough 2001 o discurso da gestão empresarial e o uso de suas métricas na educação antes de ser incorporado como meta educacional já circulava e era difundido e consumido amplamente Como pode ser visto nas recomendações de organismos internacionais como OCDE Banco Mundial Unesco e pelos meios midiáticos ao enfatizarem que a escola precisa de bons gestores alterando o termo diretor escolar para gestor escolar O mesmo discurso é assumido e propagado por entidades sociais ligadas aos empresários SESCSESISENAC por tecnocratas do MEC e Secretarias de Educação instituindo uma falsa ideia de consenso capaz de nortear os textos da BNCC e outros documentos oficiais de modo a institucionalizálo na política educacional brasileira Aluno SA Fazemos aqui alusão a revista Você SA publicada pela Editora Abril e voltada para o mercado empresarial que traz entre suas pautas o universo do desenvolvimento pessoal da carreira e o Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 8 empreendedorismo esse último como uma espécie de panaceia um mantra do capitalismo global cooptado pelos mais diversos atores sociais públicos e privados O empreendedor é um conceito estruturante para as novas configurações do neoliberalismo global e a sua capacidade de reduzir todas as dimensões da vida a mercadorias A esse respeito Fernández 1989 argumenta A vida é business A vida se torna o capital mais precioso A sociedade do toyotismo é uma sociedade de produtores isto é sociedade do produtivismo universal que se expressa por exemplo através do léxico de capital humano Como observa Gorz a pessoa deve para si mesma tornarse uma empresa E prossegue ele Ela deve se tornar como força de trabalho um capital fixo que exige ser continuamente reproduzido modernizado alargado valorizado FERNÁNDEZ 1989 p 169 É sob essa perspectiva do capitalismo flexível que trazemos o Aluno SA como um tipo ideal de trabalhadorempreendedor um empresário de si mesmo com todas as competências e habilidades para estar inserido na ideologia da empregabilidade a partir da lógica das competências Ou nas palavras do autor tal empreendimento tornase quase que um elixir para a crise do mercado de trabalho capitalista FERNÁNDEZ 1989 p 205 Percebese que com a consolidação do toyotismo e seus dispositivos ideológicosorganizacionais a ideologia do capital passa a ter mecanismos de controle mais eficientes e sofisticados que buscam conformar uma escolaempresa capaz de produzir estudantestrabalhadores tendo como ethos o empreendedorismo A escola continua sendo uma estrutura eficiente para integração dos indivíduos à vida produtiva Neste sentido buscamos analisar o processo de formação de novas subjetividades que começam na sala de aula para atender as demandas das novas configurações do trabalho no século XXI cenário que passa a ser norteado por uma ética profissional que privilegia a capacidade de adaptação individual a essas transformações Para atender essas novas demandas do mercado capitalista e suas relações de trabalho no século XXI é necessária uma reconfiguração dos processos pedagógicos com destaque para aprendizagens de competências e habilidades de modo a forjar esse novo trabalhador flexível e assim são concebidos e veiculados novos modos de vida comportamentos atitudes e valores Também os mecanismos ideológicos atuam na construção de determinado discurso sobre o mercado de trabalho empregabilidade profissionais polivalentes e criativos No entanto o que se observa é um processo de exclusão includente pois as reformas do capitalismo neoliberal procuram excluir o trabalhador do mercado formal Por outro lado no plano discursivo são elaboradas estratégias de inclusão desse trabalhador em outro modelo de relações de trabalho o da desregulamentação e flexibilização ampliando o trabalho precário terceirizados subcontratados trabalho domiciliar parttime etc KUENZER 2005 ANTUNES BRAGA 2009 LAVAL 2019 José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 9 As diretrizes voltadas para educação defendidas pela OCDE estão concomitantemente relacionadas a reestruturação do capitalismo a partir do toyotismo cujas palavras de ordem são flexibilização terceirização fluidez das relações de trabalho Para a OCDE a educação deve formar indivíduos com potencial de empregabilidade ampliando suas competências e habilidades que atendam as demandas do mundo do trabalho Conforme Antunes e Braga 2017 Karl Marx Lukács e Gramsci já problematizavam criticamente os efeitos nefastos do sistema de trabalho difundido pelo taylorismo fordismo para a vida do trabalhador culminando na crise estrutural do capitalismo de 1970 Uma das respostas a essa crise foi a incorporação a partir de 1980 das técnicas desenvolvidas pelo toyotismo um modelo de empresa flexível com alta produtividade e baseada na automação autoativação polivalência e celularização promovendo uma reestruturação produtiva do capitalismo Se ao longo do século XX o modelo tayloristafordista demandou uma educação utilitária limitada a especialização fragmentada racionalizada reduzida a execução de tarefas no século XXI de perfil toyotista a questão da qualificação do trabalhador passa a ser um ponto central para o novo modelo tendo a educação um lugar privilegiado na sua estruturação Nessa direção Alves 2007 ressalta que a estrutura organizacional do toyotismo não promoveu um rompimento radical com a lógica do taylorismofordismo mas que no campo da gestão da força de trabalho o toyotismo realiza um salto qualitativo na captura da subjetividade do trabalho pelo capital se distinguindo do taylorismo e do fordismo por promover uma via original de racionalização do trabalho ALVES 2007 p246 Assim acabou por promover transformações estruturais no mercado de trabalho nas qualificações profissionais e adequações das políticas educacionais Para ele o toyotismo é concebido como O que denominamos de toyotismo implica a constituição de um empreendimento capitalista baseado na produção fluida produção flexível e produção difusa A produção fluida implica a adoção de dispositivos organizacionais como por exemplo o justin timekanban ou o kaizen que pressupõem por outro lado como nexo essencial a fluidez subjetiva da força de trabalho isto é envolvimento próativo do operário ou empregado ALVES 2007 p 158159 Para Alves 2007 uma das características mais danosas do capitalismo globalizado sobre o modelo toyotista e a sua ideologia do empreendedorismo é a dimensão ampliada de precarização que chega a atingir de forma intensa a subjetividade do trabalhador e constituir uma nova hegemonia social Para a OCDE além da educação básica obrigatória o espaço de trabalho poderia ser transformado em espaço de aprendizagem especialmente para educação profissional Essa questão é também discutida por Laval 2019 para quem a ideologia da profissionalização ocupa um lugar de destaque no trabalho de legitimação da nova configuração da escola direcionada pela pedagogia das competências Tal ideologia passou a direcionar as políticas educacionais afirmando Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 10 que todos os níveis e todas as carreiras escolares e não só os últimos anos ou não só as carreiras tecnológicas e profissionalizantes são afetados LAVAL 2019 p 95 Para o autor o empreendedorismo a formação de um homem flexível e o trabalhador autônomo são as referências desse novo ideal pedagógico que estabelece uma relação utilitarista e pragmática entre a escola e a economia A cerca disso ele destaca que O caráter fundamental da nova ordem educacional está ligado à perda progressiva de autonomia da escola acompanhada de uma valorização da empresa que é elevada a ideal normativo Nessa parceria generalizada a própria empresa se torna qualificadora e envolvida no aprendizado e acaba se confundindo com a instituição escolar em estruturas de aprendizagem flexíveis LAVAL 2019 p 35 Para Ramos 2006 esse processo que se iniciou no ensino técnico profissionalizante passa a organizar todos os níveis do campo educacional Assim a escola é forçada a abrirse ao mundo econômico como meio de se redefinirem os conteúdos de ensino e atribuir sentido prático aos saberes escolares RAMOS 2006 p 222 Nesse sentido observase um alinhamento entre a formação escolar e as demandas dos processos de produção Além disso destaca que o currículo da educação básica e profissional ocupa lugar de destaque na construção do projeto de vida do aluno as competências à medida que integram a personalidade dos sujeitos estariam a serviço desses projetos RAMOS 2006 p 273 O grande desafio é que o projeto que é apresentado para os estudantes a partir da lógica das competências é uma adequação as demandas da lógica do capital neoliberal Em linhas gerais a educação básica então não teria mais o compromisso com a transmissão de conhecimentos científicos socialmente construídos e universalmente aceitos mas com a geração de oportunidades RAMOS 2006 p 279280 Essa relação utilitarista da escolaempresa se distancia do ideal republicano de um espaço privilegiado para a formação cultural dos sujeitos A linguagem do discurso neoliberal passa a nortear a escola impulsionando o grande potencial do mercado educativo e a expansão de inúmeros produtos educacionais cursos materiais didáticos e paradidáticos produtos tecnológicos publicidade patrocínio etc E é nessa perspectiva que a Cultura Digital é incorporada na BNCC Conforme Frigotto 2010 a partir dos anos de 1990 os debates sobre trabalho e educação incorporam a categoria tecnologia que passa a ser um elemento vital e norteador para o desenvolvimento Com o advento da Terceira Revolução Industrial também denominada de Revolução Técnico Científica Informacional desenvolvemse transformações em todo sistema produtivo que demandam um trabalhador mais qualificado Estamos lidando com um modelo de organização baseada na sociedade do conhecimento com ênfase na tecnologia flexível na microeletrônica no uso da robótica no aprimoramento da genética da expansão da informática e das telecomunicações no desenvolvimento de novas fontes de energia José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 11 No plano da ordem econômica os conceitos ou categorias pontes são flexibilidade participação trabalho em equipe competência competitividade e qualidade total No plano da formação humana são pedagogia da qualidade multihabilitação policognição polivalência e formação abstrata Nesta perspectiva configurase uma crescente unanimidade do discurso da modernidade em defesa da escola básica de qualidade FRIGOTTO 2010 p 59 Por certo um longo caminho de estratégias discursivas foi necessário para idealização desse modelo de sociedade Conforme Fairclough 2001 o discurso exerce um papel vital na reestruturação do capitalismo global principalmente em momentos de crise Essa idealização de sociedade foi largamente difundida por vários atores sociais e enquanto discurso foi amplamente consumido até tornarse a razão neoliberal LAVAL 2016 É com esse modus operandi no plano discursivo que de tempos em tempos o capitalismo se reinventa construindo com suas agências e atores uma nova imagem e representação de si Esta preocupação em estreitar o laço entre tecnologias e educação se inscreve em uma preocupação mundial Organismos internacionais principalmente UNICEF OCDE e Banco Mundial vêm desenvolvendo uma série de documentos e metas para difusão das tecnologias da educação em vários países Entre essas metas há preocupação em fomentar práticas pedagógicas inovadoras para produzir trabalhadores qualificados A partir desse cenário que remete a uma racionalidade instrumental do conhecimento que o universo das tecnologias digitais adquiriu um status diferenciado na BNCC sendo a palavra tecnologia mencionada em 128 habilidades Ainda é referenciada nas Competências Gerais 1 2 e 5 destacando se a especial dedicação da Competência Geral 5 Compreender utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica significativa reflexiva e ética nas diversas práticas sociais incluindo as escolares para se comunicar acessar e disseminar informações produzir conhecimentos resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva BRASIL 2018 p 9 Vemos uma preocupação com o uso das tecnologias em si primeiramente como uma fonte de informações e conhecimentos e em seguida a importância do domínio das tecnologias para que o estudante possa produzir e compartilhar conhecimentos exercer protagonismo de forma responsável e crítica A utilização das TDIC além de serem enfatizadas nas competências gerais são acionadas e ganham destaque nas competências específicas de cada área do conhecimento A BNCC propõe que o uso das tecnologias deva ser potencializado para além do acesso a informações e sim como uma fonte de diálogo e descobrimento do Outro enfatizando o uso crítico significativo e criativo das tecnologias pelos estudantes favorecendo o protagonismo juvenil Conforme Pretto 2014 o pior dos desafios em relação a cultura digital nas escolas são questões conceituais O principal equívoco é pensar as ferramentas tecnológicas como auxiliares dos processos produtivos O Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 12 computador passa a ser um artefato pedagógico ou como dizem os autores buscase transformálo em uma máquina pedagógica em vez de máquina de comunicação e de produção de sentidos BONILLA PRETTO 2015 p 510 Enfatizamos o potencial da rede para o exercício e o fortalecimento da cidadania e o papel que a escola desenvolve como um agente potencializador da cultura do conhecimento e de saberes No entanto a escola ao invés de potencializar e canalizar essas experiências as bloqueiam Novamente recorrermos as análises de Fairclough 2001 quando diz que mesmo que um discurso se torne hegemônico essa hegemonia é sempre situacional nunca total pois haverá fissuras e disputas por forças contra hegemônicas Assim determinada ordem de discurso não pode ser encarada como um sistema fechado ao contrário é um sistema aberto Cientes desta provisoriedade queremos fazer circular outras possibilidades discursivas e atitudinais quando falamos da presença das tecnologias digitais nas escolas Para isso propomos substituir o tipo ideal do Aluno SA pela figura contra hegemônica do AlunoCiborgueHacker AlunoCiborgueHacker Iniciamos o tópico advertindo o leitor que as concepções utilizadas na construção do arquétipo do AlunoCiborgueHacker serão aqui explicitadas não estando relacionadas aos usuais esteriótipos comunicados pelas mídias Assim primeiro ressaltamos o que não é para depois definir o que é A figura do hacker conceitualmente não condiz com o criminoso virtual pessoas extremamente habilidosas que utilizam seus conhecimentos em linguagem de programação para invadir sistemas e realizar crimes digitais A própria comunidade hacker para se diferenciar deste mal uso do conhecimento computacional criou o termo cracker para definir aqueles que quebram as leis Também a figura do ciborgue aqui não será relacionada a máquinas inteligentes com autopropósito mas ao uso de máquinas por humanos os quais definem os melhores usos para dispositivos como celulares e computadores que parecem agregados aos seus corpos Assim tanto os ciborgues como os hackers são entes renegados em circunstâncias próprias O ciborgue foi gestado nas entranhas do mundo militar fez parte do sonho técnicocientífico dos militares americanos em criar um homem ampliado até ser levado a condição de metáfora disruptiva como um agente perturbador da ordem estabelecida Já os hackers antes aprisionados ao underground cibernético passaram a chamar atenção da mídia e em particular do mundo acadêmico o qual desenvolve investigações para analisar suas ações seus princípios como se organizam quais as ideologias que norteiam essa cultura Em ambas as trajetórias ficção científica e realidade se mesclam fundemse de uma forma tão imbricada que se torna difícil distinguir realidade de ficção José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 13 No referido cotejo interdisciplinar perseguese aqui uma abordagem já consagrada na prática reflexiva de trazer para o debate olhares e perspectivas diferentes que se debruçam em analisar os impactos da tecnologia de informação nas relações sociais na formação de novas subjetividades no mundo do trabalho na produção do conhecimento e na educação da contemporaneidade trazendo contribuições de autores como Donna Haraway 2013 Pekka Himanen 2001 e Nelson Pretto 2017 No âmbito desta reflexão tomaremos a definição de ciborgue desenvolvida no clássico ensaio O Manifesto ciborgue Ciência tecnologia e feminismo socialista no final do século XX da filósofa Donna Haraway lançado em 1985 Nesse texto inaugural em que emerge o ciborgue enquanto uma categoria de análise a autora define essa entidade como um organismo cibernético um híbrido de máquina e organismo uma criatura de realidade social e também criatura de ficção científica HARAWAY 2013 p40 A autora destaca que o seu mito ciborgue é inicialmente um posicionamento de transgressão política Pois já somos todas quimeras híbridos teóricos fabricados de máquinas e organismos somos em suma ciborgues assim o ciborgue é a nossa ontologia ele determina a nossa política HARAWAY 2013 p 41 Em síntese a categoria ciborgue é tomada aqui em seu sentido real ficcional e metafórico para refletir tanto a sua dimensão de constructo cultural como também sobre o signo do imaginário tecnológico Um ser híbrido forjado a partir da imbricação entre orgânicoinorgânico entre elementos naturais e artefatos mecânicos constituindo assim um dos elementos fundantes das subjetividades contemporâneas HOQUET 2019 HARAWAY 2013 Conforme Silva 2000 dada a ubiquidade das máquinas cada vez mais tornase difícil dizer onde termina a máquina e começa o humano Dessa forma instaurase o que é denominado pelo autor de realidades ciborgues com a sua presença inegável em nosso meio através de uma interpenetração o promíscuo acoplamento entre humanos e máquinas SILVA 2000 p 13 Diante desse cenário a imagem do ciborgue nos obriga a repensar a subjetividade humana da modernidade que começou a ser forjada no cogito cartesiano quando refletimos acerca da concepção que temos sobre a educação e mais precisamente em relação a produção e apropriação do conhecimento Assim o ciborgue nos orienta a pensar em termos de uma heterogeneidade com seus fluxos e circuitos Efetivamente grande parte das nossas experiências cotidianas são mediadas por artefatos tecnológicas e poderosos algoritmos incluindo uma infinidade de aplicativos que de certa forma gerenciam e monitoram a nossa vida o que geraria o desenvolvimento de uma juventude ciborgue Vêse que em diversas circunstâncias a juventude conectadas utiliza recursos e ferramentas computacionais como mediadora dos processos de Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 14 aprendizagem identificandose assim um desdobramento das configurações da cibercultura no cotidiano das pessoas que por sua vez promove uma crescente adaptação ciborgue A concepção de ciborgue está nas múltiplas possibilidades de acoplar esses artefatos artificiais e tecnológicos em nosso corpo ampliando nossas capacidades tendo a autonomia e o trabalho colaborativo como uma marca da juventude ciborgue O uso de dispositivos que ampliam a nossa visão para além da capacidade do olho humano aumentam a nossa audição e estendem a nossa memória permitenos acessar no ciberespaço as várias formas de registro do conhecimento humano escutar músicas assistir filmes acessar bancos de dados ler escrever editar estudar e postar informações em qualquer lugar e hora Em síntese a presença ciborgue delineada pelo potencial da cibercultura está reconfigurando a nossa subjetividade a nossa existência toda a cultura contemporânea de diversas formas Especificamente no campo educacional possibilita a construção de novas e múltiplas formas de ensinar e aprender novos conhecimentos Todavia apesar dos pontos positivos alguns estudos apontam para o perigo da educação se tornar cada vez mais instrumentalizada e tanto professores quanto estudantes ficarem dependentes dos algoritmos e robôs das grandes corporações de tecnologia assim como grandes consumidores desses pacotes tecnológicos a partir da lógica da escolaempresa Para ilustrar os perigos de uma educação pensada a partir desta relação entre homens e máquinas trago novamente Haraway 2013 para quem a metáfora do ciborgue pode ser analisada sobre duas perspectivas bem distintas na primeira o ciborgue se revestia com os mecanismos de controle e poder sobre o planeta já na segunda o ciborgue pode representar uma ruptura em relação a determinadas realidades sociais e corporais entre pessoas e máquinas pois esse ente não teme identidades flexíveis e pensamentos contraditórios elementos esses que o torna ideal para movimentos de ruptura HARAWAY 2013 Essa inquietação também está presente nas reflexões de Hoquet 2019 que ao pensar o lugar do ciborgue na cultura contemporânea faz a seguinte indagação se o ciborgue tem de fato o potencial de perturbar de romper e libertar a humanidade das amarras dos dualismos ou ele é um elemento que através da técnica vem reificar as diversas engrenagens de opressão Portanto as tecnologias de informação seriam o artefato canalizador desses valores nas práticas pedagógicas nas escolas Façamos como Haraway ao argumentar que o ciborgue esse ser híbrido que perturba as fronteiras deve ser compreendido enquanto um recurso imaginativo que pode sugerir alguns frutíferos acoplamentos HARAWAY 2013 p 41 Para completar a construção deste perfil do Alunociborguehacker é necessário fazermos algumas considerações sobre o termo hacker que é aqui entendido a partir da definição de Raymond32001 que afirma que os hackers constroem coisas crackes as destroem Para se 3 Hacker e escritor americano é um porta voz do movimento open source e do software livre e criador do José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 15 diferenciarem a comunidade hacker cunhou a expressão cracker para denominar criminosos que agem nos ambientes computacionais O universo hacker vem cada vez mais tornandose objeto de reflexões na academia com destaque para o trabalho do filósofo finlandês Pekka Himanen e sua obra já clássica A Ética dos Hackers e o Espírito da Era da Informação 2001 a qual toma como referência a tese weberiana como mote analítico dos novos atores e as novas relações de trabalho na civilização da informação Para Max Weber a ascese protestante é uma das chaves interpretativas sobre o processo de racionalização da modernidade Em sua análise considera que a ética protestante fomentou e estimulou a racionalidade metódica das relações sociais em que até o tempo precisa ser racionalizado e otimizado pois tempo é dinheiro Assim o virtuoso protestante não poderia perder tempo com as coisas mundanas tendo todas as energias canalizadas para a devoção e o mundo do trabalho Em tempos atuais a ética protestante passa a orientar as relações de trabalho virtual que são dinheiro trabalho otimização dos resultados flexibilidade estabilidade determinação e contabilização de resultados HIMANEN 2001 p 125 Na contramão desses valores o autor identificou alguns princípios recorrentes relacionados a uma nova ética do trabalho no mundo laboral dos programadores orientada por princípios como a paixão a liberdade o compartilhamento de conhecimentos o trabalho colaborativo a dedicação disciplina e a criatividade para resolver problemas Esses são os princípios norteadores da ética dos hackers Por conseguinte os hackers são os novos atores e assim como os protestantes de Weber têm a sua vida norteada por princípios que o autor denomina de espírito hackerética hacker que está delineando uma nova ética do trabalho Esse espírito sinaliza um caminho oposto ao ascetismo protestante Ele define os hackers como um grupo de pessoas apaixonadas por programação e para ele essa seria a expressão que mais consegue captar o espírito hacker HIMANEN 2001 Sobre essa perspectiva os hackers de computadores representam um exemplo excelente de uma ética geral de trabalho que podemos chamar de ética de trabalho dos hackers HIMANEN 2001 p 125 Portanto esse espírito hacker de fazer com paixão e criatividade em exercitar o compartilhamento em busca de realização e prazer no seu trabalho não está restrito ao universo da programação pois tratase de uma postura uma atitude que pode ser incorporada por qualquer pessoa ou profissão como na educação visto que o mais importante é ter habilidade e gostar do que se faz O autor destaca que além dos programadores os artistas e acadêmicos são duas profissões que já tem essa ética presente no seu labor cotidiano Dicionário dos Hackers É uma referência constante para os entusiastas da cultura hacker Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 16 Conforme Himanen 2001 a metodologia de aprendizagem que estrutura a ética hacker se dá a partir do princípio de que aprendo mais cada vez que ensinocompartilho as minhas experiências e meus saberes com o grupo A socialização de conhecimento entre os pares é sem dúvidas o grande diferencial da aprendizagem hacker para o autor pois um aprende ensinando aos outros e a sua recompensa é o reconhecimento entre seus pares No que se refere a utilização no âmbito da escola salienta que as crianças são originalmente hackers pois trazem em si a paixão e a curiosidade tornandoas ávidas por descobrir e perguntar sobre as coisas Nesse debate o argumento de Pretto 2017 ganha relevância ao apontar o grande potencial da cultura hacker para educação principalmente sobre a ideia de liberdade que é o elemento estruturante do software livre como movimento de compartilhamento coletivo de conhecimento que permite que se possa executar e estudar o programa redistribuir cópias e aperfeiçoálo PRETTO 2017 p 35 Destaca também que é um movimento político ao desenvolver a cooperação pois desconstrói a ideia de centralização de poder da informação nas mãos de corporações ou governos A sua definição é que o hacker faz o que gosta do jeito que gosta e quando gosta e assim cria coisas úteis para a sociedade e espera reconhecimento em troca PRETTO 2017 p37 São princípios que quando inseridos nas práticas pedagógicas estabelece novas relações com o conhecimento a cultura a arte a própria vida Isso fica evidente em suas palavras Com a filosofia hacker outra cultura se estabelece ao enfatizarmos a paixão o trabalho solidário e colaborativo como elementos socialmente necessários para a construção de um mundo sustentável Entretenimento trabalho cultura educação ciência tecnologia todos os campos podem e deveriam estar imersos nessa cultura onde o prazer em construir seja o mote realizador das ações PRETTO 2017 p 39 A esse respeito Pretto 2017 vai além e coloca a cultura hacker como um novo espaço de socialização dos bens culturais e científicos É interessante sublinhar que além do engajamento identifica outras contribuições da pedagogia hacker como o fazer lúdico as experiências baseadas na abertura e compartilhamento atrelada ao desenvolvimento da autonomia e comprometimento no princípio do aprender fazendo quando levados para o âmbito da educação podem ajudar na formação de professoresautores o que acaba fortalecendo todo o processo educativo a partir de um olhar plural construído através das interações Para ele muito da dinâmica de trabalho dos hackers pode e deve ser incorporada pelo sistema educacional Todavia na impossibilidade de uma reestruturação total das escolas para a incorporação dos princípios da cultura hacker o autor relata a partir de suas experiências que mesmo com poucos recursos é possível tal adequação Para isso elencou seis princípios básicos José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 17 O primeiro princípio é pensar que o acesso aos computadores deveria ser total e ilimitado o segundo toda informação deve ser livre free o terceiro estimulamse procedimentos pouco burocráticos e descentralizados o quarto princípio o julgamento de um hacker é feito pela qualidade do que ele efetivamente faz e realiza e não por critérios falsos como escolaridade idade ou posição social o quinto princípio está relacionado à crença na possibilidade de se criar arte e beleza num computador por último e não menos importante o sexto princípio os computadores podem fazer a vida melhor PRETTO 2017 p 7072 Salienta que o grande desafio em relação aos princípios dos hackers é que os mesmos não devem ser incorporados à escola como ferramentas auxiliares os aparatos tecnológicos digitais por sua vez intrinsicamente permitiram a emergência de novas linguagens e de novas práticas de produção de conhecimentos e de culturas PRETTO 2017 p 72 Além disso toda a fecundidade desse paradigma está relacionada a uma constante produção e socialização colaborativa de conhecimento fundamental para construção de um modelo de escola que prioriza a emancipação e a transformação dos sujeitos Lemos et al 2002 vê o movimento hacker como um caminho de ruptura a esse homem automatizado escravo de uma razão onipotente pois mesmo mergulhado em seus artefatos técnico complexos os hackers fazem de sua existência um exercício constante de romper com as regras estabelecidas e buscam extrair das tecnologias o prazer a alegria de comunicação e de conhecimento que deve ser compartilhado Em suma a tecnologia é apropriada e ressignificada de forma subversiva Ao colocarem esses desafios em evidência contribuem com as reflexões críticas sobre várias perspectivas para se pensar a civilização tecnológica contemporânea É nesse sentido que se coloca a nossa proposta Um alunociborguehacker conectado com os diferentes dispositivos disponíveis no mercado digital orientado pela ética hacker que se apropria das tecnologias de informação como forças contra hegemônicas Em outras palavras tanto o ciborgue como a cultura hacker trazem no seu âmago potências disruptivas operam instrumentos de resistência e por sua vez celebram a liberdade a criatividade a paixão o compartilhamento a coletividade e o engajamento valores que se contrapõem ao modelo orientado a partir do paradigma das competências e do empreendedorismo individual de uma educaçãoempresa proposto na BNCC Diante do exposto o Alunociborguehacker sinaliza um caminho para além da técnica e dos interesses mercadológicos busca criar uma nova relação com o conhecimento e as informações que devem ser compartilhadas modificadas livremente contrapondose a ideologia das competências e do empreendedorismo que tenta capturar as subjetividades do estudantetrabalhador e reduzir a experiência educativa ao pragmatismo utilitarista do capital produtivo Portanto através desse prisma temos uma inversão dos valores afirmando professores e alunos como sujeitos produtores de conhecimentos saberes e cultura sendo também capazes de desarticular e rearticular o discurso e a própria tecnologia Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 18 Nossa proposição contra hegemônica que traz o arquétipo do Alunociborguehacker coloca se no âmbito discursivo com o intuito de fazer circular outras ideias no campo educacional Mas algumas iniciativas de caráter aplicado começam a ser desenvolvidas principalmente em espaços experimentais como os laboratórios de ensino Citamos como exemplos o Laboratório Multiusuários em Humanidades4 multiHlab equipamento do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional na Fundação Joaquim Nabuco e o Grupo de pesquisas DEMULTS5 Desenvolvimento Educacional de Multimídias Sustentáveis ligado ao Departamento de Educação da Universidade Federal de Pernambuco Também as iniciativas do pesquisador aqui já citado Nelson Pretto responsável pelo projeto de inclusão sociodigital Tabuleiros Digitais6 desenvolvido pela Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia Considerações finais O presente exercício reflexivo se propôs a compreender a influência da pedagogia das competências que constitui a Base Nacional Comum Curricular na construção de um tipo ideal de estudantetrabalhadorempreendedor o qual denominamos de Aluno SA Ressaltamos os mecanismos ideológicos de dominação e poder que estruturam as novas configurações da civilização tecnológica com foco principalmente nos campos da educação formal e do mundo do trabalho As exigências de uma nova cultura digital são frequentemente acionadas a partir do viés de uma racionalidade instrumental isto é utilizada principalmente como ferramenta pedagógica a serviço das forças produtivas Nessa perspectiva os estudantes se apropriam das tecnologias apenas como usuários que dominam habilidades específicas e não em sua dimensão de potência transformadora O campo educacional colocase como importante arena de disputas onde forças hegemônicas e contra hegemônicas estão em constante combate A partir de uma perspectiva neoliberal da educação a lógica das competências e a ideologia do empreendedorismo presentes na BNCC tentam reduzir os processos de ensinoaprendizagem a demandas do mercado de trabalho Aqui o discurso da eficácia e da otimização permeia a escolha das competências Contrapondo os direcionamentos da escolaempresa preconizada na BNCC propomos trabalhar a partir de uma perspectiva disruptiva colocando como possibilidade uma outra razão para a ação no mundo uma ética capaz de reconhecer como ideal o arquétipo do Alunociborguehacker 4Os projetos e publicações desenvolvidos pelo multiHlab podem ser conhecidos em wwwmultihlabcombr 5As atividades do DEMULTS podem ser conhecidas em wwwdemultscombr 6Para conhecer o projeto Tabuleiros Digitais veja wwwtabuleirosdigitaisorg José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 19 um ente que rompe com as fronteiras entre máquinas e humanos e todos os seus dualismos sinaliza inúmeras possibilidades de apropriação tecnológica podendo tornálas instrumentos de resistência emancipação e transformação social potencializa novas relações com o conhecimento e o próprio lugar da escola na sociedade contemporânea sendo acionado como metáfora um instrumento político de transgressão Referências ADIRÃO T PERONI V A formação das novas gerações como campo para os negócios In AGUIAR M DOURADO L org A BNCC na contramão do PNE 20142024 Avaliação e perspectivas Recife ANPAE 2018 ALVES G Dimensões da Reestruturação Produtiva ensaios de sociologia do trabalho Londrina Práxis Bauru Canal 6 2007 ANTUNES R BRAGA R Infoproletários degradação real do trabalho virtual São Paulo Boitempo Editorial 2009 APPLE M W Políticas Culturais e Educação Porto Porto Editora 1999 BONILLA M H PRETTO N Política educativa e cultura digital entre práticas escolares e práticas sociais Perspectiva Florianópolis v 33 n 2 p 499521 maioago 2015 BRASIL Ministério da Educação Base Nacional Comum Curricular Brasília DF 2018 FAIRCLOUGH N Discurso e mudança social Brasília Editora UNB 2001 FERNÁNDEZ M E A face oculta da escola educação e trabalho Porto Alegre Artes Médicas 1989 FRIGOTTO G Educação e a Crise do Capitalismo Real São Paulo Cortez 2010 HARAWAY D J Manifesto ciborgue Ciência tecnologia e feminismosocialista no final do século XX In TADEU T org Antropologia do ciborgue as vertigens do póshumano Belo Horizonte MG Autêntica Editora 2013 p 33118 HIMANEN P A Ética dos Hackers e o Espírito da Era da Informação Rio de Janeiro Editora Campus 2001 HOQUET T Filosofia Ciborgue Pensar contra os dualismos São Paulo Perspectiva 2019 INEP Novas Competências da Base Nacional Comum Curricular BNCC 2022 Disponível em httpinep80anosinepgovbrinep80anosfuturonovascompetenciasdabase nacionalcomumcurricularbncc79 Acesso em 20 out 2022 KRAWCZYK N Brasil Estados Unidos A trama de relações ocultas na destruição da escola pública In KRAWCZYK N org Escola pública tempos difíceis mas não impossíveis Campinas SP FEUNICAMP Uberlândia Navegando 2018 p 5972 Tecnologias Digitais na Educação e BNCC proposta do AlunoCiborgueHacker Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022 Disponível em httpsrevistas2uepgbrindexphpolhardeprofessor 20 KUENZER A Exclusão includente e inclusão excludente a nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações entre educação e trabalho In SAVIANI D SANFELICE JL LOMBARDI JC org Capitalismo trabalho e educação 3 ed Campinas Autores Associados 2005 p 7596 LAVAL C A Escola não é uma empresa o neoliberalismo em ataque ao ensino público São Paulo Boitempo 2019 LAVAL C A nova razão do mundo ensaio sobre a sociedade neoliberal São Paulo Boitempo 2016 LEMOS A SEARA S PÉRSIO W Hackers no Brasil Revista Contracampo n 6 p 2142 2002 Disponível em httpsperiodicosuffbrcontracampoarticleview17322 Acesso em 12 fev 2022 OCDE Melhores competências melhores empregos melhores condições de vida Uma abordagem estratégica das políticas de competências Publicações da OCDE 2014 Disponível em httpwwwinstitutoaliancaorgbrnewbibliotecapdf Acesso em 18 jul 2022 OCDE O Capital Humano Como o seu conhecimento compõe a sua vida Publicações OCDE 2007 Disponível em httpswwwoecdorginsights38435906pdf Acesso em 18 jul 2022 PEREIRA R da S Proposições da OCDE para América Latina o Pisa como instrumento de padronização da educação Revista IberoAmericana de Estudos em Educação Araraquara v 14 n esp3 p 17171732 2019 Disponível em httpsperiodicosfclarunespbriberoamericanaarticleview12756 Acesso em 07 abr2022 PRETTO N Educações culturas e hackers escritos e reflexões Salvador EDUFBA 2017 RAMOS M N Pedagogia das Competências autonomia ou adaptação São Paulo Cortez 2006 SILVA T T Monstros ciborgues e clones os fantasmas da Pedagogia Crítica In SILVA T T org Pedagogia dos monstros os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras Belo Horizonte Autêntica 2000 Recebido em 13 de maio de 2022 Versão corrigida recebida em 13 de outubro de 2022 Aceito em 13 de outubro de 2022 Publicado online em 11 de dezembro de 2022 Vila Vlamer Espaços públicos e espaços privados Texto apresentado ao Institut Europeén dEcologie Metz Quem lê os últimos diálogos platônicos do ponto de vista da segunda revolução industrial não deixará de ficar surpreso Descobrirá antropologia implícita que ilumina o nosso progresso rumo ao aparelho de vida em mais autônomo com luz projetada debaixo Tal leitura de Platão se propõe espontaneamente O progresso científico e técnico brota de determinada visão do homem da qual Platão é um dos responsáveis Foi Hannah Arendt quem ensaiou tal leitura O presente trabalho visa opôr ao pessimismo arendtiano interpretação mais adequada as proposições deste Instituto Para Platão o homem é ente caído do reino das ideias topos uranicos rumo ao terreno das aparências physis Ao cair passou pelo rio do esquecimento lethe Mas há método de fazer relembrar as ideias esquecidas os da philosophia Levam ao desesquecimento à verdade aletheia De modo que o homem pode inverter sua queda e voltar a contemplar as ideias theoria Portanto três modos de vida são acessíveis ao homem Platão os ordena hierarquicamente I O homem pode integrarse na natureza e esquecer as ideias Esta é a vida privada de ideias zoon oikonomikos porque se passa na cova e cosinha oiké II O homem pode relembrarse das ideias e aplicálas para mudar a natureza Esta é a vida ativa e pública e se passa na feira agora III O homem pode dar as costas à natureza e contemplar as ideias relembradas Esta é a vida contemplativa bios theorettikos e se passa no lazer na escola scholé O modelo da hierarquia é a polis Espaços privados oikiai cercam o espaço público agora e estão abertos rumo à praça do mercado Nos espaços privados laboram as mulheres e os escravos cozinham lavam roupa trabalham no quintal vivem economicamente Na frente das casas privadas estão os artesãos os donos de casa e produzem bens a serem trocados por outros bens na feira vivem politicamente Na praça do mercado passeiam pessoas que trocam ideias vivem teoricamente Os artesãos têm base econômica as mulheres e os escravos laboram por eles e permitem o trabalho produtivo As pessoas que trocam ideias têm base política os artesãos abriram para eles a praça pública do mercado na qual podem trocar ideias Os escravos laboram afim de permitir a produção e os artesãos produzem afim de permitir a teoria O propósito da economia é a praxis política e o propósito da praxis política é a teoria Esta a pirâmide hierarquica que Platão abriga O clima do labor privado é o do condicionamento pela natureza Não é que quem labora é escravizado por outrem quem labora é escravo pela natureza mesma do seu modo de vida O clima da produção é o da liberdade 2 Lá onde não há escravidão base econômica não há liberdade O clima da teoria é o do lazer Lá onde não há liberdade não há lazer a liberdade é a base política do lazer Se coisa inimaginável para Platão os escravos fossem libertados não haveria mais nem politica nem teoria A pirâmide ruiria e todos seriam escravos Tal antropologia segundo a qual a escravidão é a situação natural do homem e a liberdade é meio para atingirse sabedoria é fundada sobre um conceito específico do tempo O tempo do labor é cíclico cozinhase para comer e comese para poder cozinhar É o ciclo absurdo da imortalidade animalesca exkles tés gênéseos Quem labora escravo cachorro é imortal vive eternamento nos seus filhos O tempo da produção poiesis tem a forma de arco bios Iniciase no projeto da obra e encerrase na obra perfeita I o arco que mede do nascimento até a morte biographia O produtor é mortal O tempo da teoria está parado é o tempo das ideias imutáveis O escravo é imortal como o é a natureza o teórico é imortal como o é a fórmula matemática somente o político o artista é mortal O escravo é condicionado pela natureza o político é livre e o teórico é determinado pela ordem das ideias Logica e a cada uma dessas formas vitais corresponde uma forma de tempo A liberdade é mortal E é também enganadora Quem aplica ideia à natureza quem produz não muda apenas a natureza mas também a ideia A soma dos ângulos de triângulo desenhado em areia não é de 180 porque a areia deformou o triangulo Quem fizer geometria com tais triângulos terá visão errada das ideias doxa O sapateiro não produz sapatos ideias nem o homem político sociedade ideal A vida produtiva a vida política é dogmática impenetrável para a sabedoria leva à morte e ao engano Tal antropologia platônica resulta em utopia que vingou em forma da pirâmide feudal por aproximadamente mil anos Na sociedade medieval a população do campo ocupa o lugar da economia a burguesia cidadina o lugar da política e o clero o lugar da teoria O feudalismo é cidade platônica na qual o campo sustenta economicamente a obra e a obra sustenta politicamente a prece Somente os artesãos são livres Os camponeses e os monges são condicionados É é a Igreja a teoria que salva do engano e da morte As revoluções burguesas do prérenascimento reformularam a pirâmide platonica Colocaram a politica a arte a liberdade no topo Isto é colocaram a burguesia no topo Doravante não é a sabedoria que é a meta da vida mas é a liberdade A teoria fica subordinada à praxis saber é poder A teoria deixa de ser contemplação de ideias e passa a ser trabalho manipulação de ideias Uma forma de arte Duas artes resultam disto a meta a ermínica e a técnica e que é informada por teorias Tal divisão das artes produz o progresso produção de ideias novas modelos novos modas É a época moderna Tal progresso se acelera com a primeira revolução industrial No curso de tal época é observável progressiva decomposição da meta da vida A liberdade a produção se revelam metas pouco sólidas Se a sabedoria a imortalidade das ideias imutáveis a vida na prece deixou de ser meta a liberdade se revela lusata duvidosa é ameaçada pela morte A vida ativa não substitui satisfatoriamente a vida contemplativa Mas durante a época moderna toda a base da pirâmide a economia da escravidão fica intocada o proletariado a ocupa A segunda revolução industrial a atual está invertendo a pirâmide platonica ao colocar a economia no topo Tanto politica quanto teoria agora servem para sustentar a vida privada para tornála agradável É a vitória do operário transformado em funcionário A teoria sustenta agora a produção e a produção sustenta o consumo A sabedoria sustenta a liberdade e a liberdade sustenta a emoção A provisão platonica está se realizando os escravos estão se libertando e a sociedade toda está se transformando em sociedade de escravos A vida está ficando absurda porque gira no ciclo do eterno retorno O espaço privado domina e no espaço privado não pode haver meta Isto é observável em todas partes nas sociedades socialistas tanto quanto nas sociedades neocapitalistas Para captarmos tal diagnóstico devemos analisar dois pares de conceitos Laborobra e atividadelazer Laorar é sofrer O operário qual Sísifo repete eternamente os mesmos gestos Se a máquina o faz por ele então ele consome eternamente os mesmos produtos que a máquina empurra na sua boca Os movimentos do operário são previsíveis e programáveis como o são os movimentos de bola de billmad Labora dorme come nasce e morre em curvas estatisticamente projetáveis Sofre a vida passiva do ciclo do funcionamento Obrar é agir É obrigar ideias a penetrar a natureza e obrigar a natureza a abrirse para ideias Antes e depois da obra há contemplação Antes há a contemplação da ideia a ser realizada Depois há a contemplação da ideia realizada na obra O tempo do obrar está cercado de tempo contemplativo Tempo livre Operários não podem ter tempo livre malgrado as férias e os fins de semana O laborar não permite contemplação Somente os artesãos os artistas têm tempo livre Mas não têm lazer porque o seu tempo livre é função da obra Atividade é falta de lazer ascholia Idêntico desprezo da atividade transparece pelo termo latino negotium falta de ocio O termo scholé lazer está na origem do nosso termo escola A escola é o espaço do lazer no qual ideias são contempladas independentemente de obras A academia e o liceu são lugares da salvaçao porque salvam da ati vida e da morte São templos dos deuses Atadenos e Lyaços lugares reservados à theoria Escolas isto é lazer são impossiveis nos espaços privados do labor e as instituicões que chamamos escolares em tais espaços economicos são na realidade lugares de treino para o funcionamento Quanto às escolas nos espaços públicos as instituições cientificas arti sticas e politicas são na realidade lugares para a manipulação de ideias em função da economia dos grupos privados Atualmente escolas autênti cas lugar de lazer para a contemplação de ideias são impossiveis não há espaço para elas As ultimas escolas as ultimas universidades da nossa sociedade eram as da escolástica medieval A nossa incapacidade para termos escolas é a razão profunda da dita crise universitária A análise dos termos laborobra e atividadelazer permite captar o diagnóstico platonico da nossa situação da seguinte forma Há tres espaços existenciais o privado o publico e o da teoria O espaço privado o da economia é o espaço da vida natural circular absurda O espaço publico a republica é o espaço da vida artificial da vida engajada E o espaço da teoria a escola é o espaço do lazer da vida contemplativa Há utopia platonica o espaço privado sustenta o publico e este sustenta a teoria Os filosofos são reis Na sociedade burguesa as escolas fecham porque são ocupadas pela republica Atualmente o espaço privado está invadindo a republica e esta está fechando Estamos nos tornando todos operários funcionários em suma escravos Isto é o totalitarismo A cidade posindustrial a do futuro imediato será espaço privado Não haverá nem espaços publicos nem escolas nêla Alguns espaços se declararão publicos mas o serão falsamente Os mass media não politizarão mas pelo contrário privatizarão os homens publicos que aparecem na tela TV ao os projetarem dentro do espaço privado Os eventos publicos despolitizarão ao transformarem os cidadãos em massa Os supermercados não serão feiras mas programarão o consumo Não haverá espaços públicos porque a antropologia fundante da cidade posindustrial concebe o homem enquanto escravo ente que obra e consome Vai ter a cidade posindustrial dois espaços privados o do labor e o dos dortorios os quais serão ligados entre si por canais programados búlo metro dodo Os modelos de tal cidade já foram elaborados São o nazismo e o stalinismo Todos os demais aparelhos atuais e futuros são aperfeiçoamen tos de tais modelos Aperfeiçoamentos porque funcionarão melhor e serão menos aparentes O funcionamento do futuro será um Eicermann aperfeiçoado ente privado das ideias irresponsável eficiente A cidade toda será Ausch witz aperfeiçoada os seus habitantes funcionarão em função da função au surdamente e colaborarão com o aparelho no seu proprio aniquilamento A célebre pergunta como filosofar depois do Auschwitz terá resposta espontânea na cidade do futuro Não se filosofará porque não haverá esco las Mas tal futurologia platonizante é convincente apenas se aceitar mos a antropologia platonica o homem é naturalmente escravo e pode ser salvo apenas graças às ideias O proprio Platão no entanto permite que duvidemos do tal antropologia Toda cidade inclusive a politia pro ga argumenta contra Toda cidade é empresa que visa superar a solidão humana pela comunicação A solidão é insuportável porque é a concilência da morte morreremos sos e ninguém pode substituirnos na hora da morte A cidade a comunicação é método para tornar vivível a concilência da so lidão da morte De modo que ninguém está inteiramente privado das idéias relembra pelo menos a ideia da morte A prova é que mora na cidade Viva a imortalidade pela comunicação com outros Embora seja verdade que naturalmente somos todos condicionados em ultima anãlise morreremos todos não é verdade que somos inteiramente escravos platonicos sabemos que morreremos Por não ter admitido isto Platão é visceralmente intolerável É visceralmente intolerável porque minimiza a morte natural ao insistir no cyklos tês geneseos E embora a situação atual do totalitarismo aparelhistico incipiente pareça comprovar a futurologia platonica não obriga a submetermos à ela É possivel reconstruir a cidade forçála a abrirse rumo à republica à liberdade e rumo à teoria a uma vida boa É possivel fazêlo através a nossa abertura rumo à morte Por certo Platão responderá que toda cidade é empresa fadada ao malogro Todos os cidadãos morrerão e morrerão na solidão a despeito da comunicação civilização que estabeleceram Mas a civilização a vida cidádina não é mero engano doxa Imortaliza efetivamente ao preservar informações adquiridas Embora a morte natural continue válida a civilização projecta outro nivel existencial o da cultura no qual as memorias dos outros os armazens de informações são anossa imortalidade Ao contrário do que Platão afirma a politica imortarliza Somos imortais na medida em que publicamos O espaço publico nos torna memóraveis Ao contrário do que Platão afirma não podemos dispensar de Homeros Platão proibiu a entrada na sua utopia aos artisttas Mas eles são a nossa imortalidade Platão so vê a informação genéutica e as formas puras Não vê a informação adquirida a historia Por não ter visto isto prevê o totalitarismo Mas nos não somos obrigados a seguilo À nossa consciente da historicidade do homem da sua morta lidade natural e imortalidade cultural nos permite tentarmos reconstruir a cidade Podemos tentar fazêlo em toda situação inclusive a nossa É verdade que a cidade posindustrial parece frustrar toda tentativa de reconstrução um tanto platonicamenta Obriganos a colaborar em seu funcionamento quer laboremos quer consumamos quer trabalhemos quer teoreti zemosrecupera todos os nossos esforços em reconstruila O feedback que o aparelho da cidade posindustrial estabelece nos torna automaticame te colaboradores do totalitarismo É verdade pois que vivemos desde já em campos de concentração aperfeiçoados No entanto já que somos conscientes da nossa morte transcendemos a automaticidade absurda da cidade É é a partir de tal transcendência que podemos tentar reconstruíla O que será proposto no resto deste ensaio será utopia que se moverá dentro das categorias platonicas Necessariamente porque Platão continua a informarnos Mas será utopia antiplatonica Necessàriamente porque Platão é o que nos está ameaçando Aceitemos o diagnostico platonico do aparelho é ele espaço privada que ocupa o espaço publico e elimina escolas O que urge é pois abrir espaços publicos inacessiveis ao aparelho Mas paradoxalmente para podermos fazêlo é necessário que se abram primeiro espaços privados inacessíveis ao aparelho Porque é a partir de tais espaços privados da solidão para a morte que espaços publicos são projetados A solidão da morte é o motivo para a comunicação Se publicamos é para vencer tal solidão A publicação é a saida do espaço privado Devemos pois iniciar a reconstrução da cidade pela abertura de espaços privados dentro do espaço privado totalitário do aparelho Tais tentativas já existem em toda parte Por exemplo as résidences secondaires da Europa ocidental os suburbia americanos as datchas nos paíse sociaisistas A solidão é tida atualmente por luxo E há outro tipo de busca de espaço privado as drogas Mas tais tentativas parecem fadadas ao malogro Os espaços privados assim construidos não estão abertos para a republica mas para o aparelho suas portas levam às garagens suas janelas são telas de TV e seus sonhos são consumidores Não são espaços privados oikai cujas janelas e portas dão para a praça do mercado O que urge é construir espaços assim abertos Para poder construílos é preciso que se considere a dinâmica do mercado Platão pensa que o mercado serve a dois propositos à troca de bens e à troca de ideias A troca de bens constata dois tipos de valores os valores de troca e os valores intrinseios O valor de troca é relativo o sapato vale uma duzia de ovos O valor intrinsico é o grau pelo qual uma ideia foi realizada na obra o sapato é mais ou menos perfeito Destarte a troca de bens é politica constata normas normaliza A normalização se faz graças ao jogo das trocas graças a um navegar kybernein nas ondas da troca O termo cybernetin resultou em dois conceitos modernos o do governo e o da cibernética Para Platão governar a republica é navegar nas ondas da troca e destarte normalizar Para nos no entanto a normalização se faz cibernéticamente e este aspecto do mercado o da troca de bens pode perfeitamente ser relegado ao aparelho que funciona cibernéticamente não necessitamos de governos O que conta para nos é o mercado enquanto lugar de troca de ideias Platão crê que o diálogo é método para redescobrir as ideias imutáveis que estão esquecidas no interior dos que dialogam Trazêlas à luz medioticamente E tais ideias uma vez relembradas desesquecidas passam a ser as normas de acordo com as quais os bens são normalizados À troca de ideias permite a troca de bens lhe dá sentido Nos não podemos mais depois de Kant compartilhar com Platão o conceito das ideias imutáveis Para nos ideias são produtos de ideias prévias passadas pe lo crivo da experiência Por isto para nos a troca de ideias a dialectica é metodo para produzir ideias novas O proposito do mercado para nos é ser lugar que permita a produção de ideias a informarem a troca de bens Isto é política para nos programação do aparelho cibernético com ideias elaboradas em troca Política para nos é o encontro de homens privados que publicam afim de elaborar programas E destarte dirigir o aparelho Isto é democracia no sentido posindustrial do termo dirigir o aparelho e programálo graças à troca de ideias que leva a ideias novas Út tal a praça do mercado que nos interessa Os espaços privados a serem construídos devem estar perto como a tal praça do mercado A atual revolução dos meios de comunicação permite desde já que tais aventuras sejam realizadas Exemplos TV a cabo telefone São métodos para se dialogar a partir do espaço privado Invertam o fluxo das informações nos canais de massa Em voz de privatizarem o público publicam o privado Os novos espaços privados dotados de tais meios de comunicação projetariam de si a nova praça do mercado Tal praça seria a rede de comunicações dialógicas que uniria espaços privados O espaço público seria o tecido de relações intersubjetivas e seria esse tecido que governaria Dispomos desde já de instrumentos que tornam possíveis tal governo por exemplo de computadores De memorias artificiais e de processamento artificial de informação que permitem a implantação de consenso amplo Podemos desde já programar o aparelho politicamente com os proprios métodos do aparelho A democracia posindustrial é desde já tecnicamente possível Tal espaço publico projetado a partir de espaços privados seria no entanto politico em sentido radicalmente novo A politica não seria como o é tradicionalmente combate dialético de interesses em busca de consenso Seria combate de ideias em busca de aparelho A diferença é esta a política tradicional um senso comum que é o denominador comum mais baixo dos participantes a raison dEtat de Rousseau A política posindustrial seria busca de sintese de um programa novo Seria dialectica no sentido exato do termo A meta da política seria a produção dialógica de ideias novas E isto im plica que o espaço publico posindustrial projetaria de si um novo tipo de escola Não há como negar que escolas estão voltando a ocupar um espaço mais amplo que antigamente Dada a crescente complexidade das informações disponiveis a juventude é obrigada a frequentar escolas mais demora damente que no passado Dada a efemeridade da validez das informações os especialistas estão obrigados a voltarem periodicamente à escola a se reciclarem É dada a necessidade economica de baixar a idade da a posentadoria dos funcionários desemprego etc muitos procuram preencher o tempo vasio não livre voltando às escolas Mas a análise pre cedente procurou mostrar que tais escolas não o são no sentido exato do termo lugares de lazer de onde ideias são contempladas A praça publica acima esboçada projetaria de si um novo tipo de escola lugar para um novo tipo de theoria Para Platão theoria é a contemplação de formas imutáveis Embora ideias para nos não sejam imutáveis no sentido platonico voltamos curiosamente ao conceito da forma imutável à estrutura E dispomos de toda uma série de disciplinas à contemplarem tais estruturas Duas dessas disciplinas são platonicas a matemática e a logica e há terceira a musica que Platâo incluiria E é característica das escolas modernas que tais disciplinas são difíceis a serem enquadradas na organização de tais escolas Mas surgiram ultima mente outras disciplinas formais tais como a informàtica a teoria da decisão a teoria dos jogos O que tais teorias visam não é o repertorio dos sistemas a sua informação mas a sua estrutura sua forma imutável São disciplinas que analizam sistemas Pois a praça publica da sociedade posindustrial projetaria espontâneamente um lugar para tais theorias Espontâneamente porque a programação do aparelho com ideias novas exige que seu sistema seja analisado Exige teorias do aparelho Tais escolas não serviriam como o fazem as atuais à distribuição de informações isto pode ser relegado ao aparelho por exemplo aos instrumentos inteligentes Serviriam à contemplação das formas eternas do aparelho Seriam lugares de transcendência com respeito ao aparelho E ao permitirem tais escolas a programação do aparelho dariam significado ao seu funcionamento e destarte à vida dos cidadãos da cidade do futuro A reconstrução da cidade posindustrial proposta é utopia platonica em dois sentidos do termo È utopia platonica porque visa restabelecer a pirâmide hierarquica de níveis que Platão alvôga A cidade seria sustentada pelo nivel economico do ciclo absurdo Tal nivel seria na cidade posindustrial o do aparelho e seu funcionamento Funcionaria automaticamente cibernéticamente O escravo seria o aparelho Este nivel sustentaria o espaço publico que seria projeção do espaços privados Nele reinaria o clima da liberdade e o da produção de ideias E o ultimo proposito da politica seria a abertura de um espaço teorico que permitiria dar significado à vida na cidade um espaço de lazer scholé e de sabedoria philosophia Mas infelizmente a reconstrução da cidade posindustrial proposta é também utopia platonica em sentido diferente Embora todos os meios técnicos para a sua construção estejam desde já disponiveis não se vê como tal utopia possa realizarse 1 utopia platonica em sentido pejorativo Para que se realize seria preciso que se transforme nossa visão do homem nossa antropologia Para Platão o homem é ente cuja pátria verdadeira embora perdida é o reino das ideias E o homo sapiens Para a sociedade burguesa o homem é ente que modifica o mundo de acordo com ideias É homo faber A antropologia que se formula atualmente vê no homem ente que consome o mundo L homo oeconomicus Para que se possa reconstruir a cidade no sentido acima exposto seria necessário que se conceba o homem como ente que usa ideias como peças de um jogo Homo ludens Embora haja indícios em prol de una tal antropologia nova outros indícios apontam em direção diferente È inclusive é possível argumentarse que a utopia aqui proposta é sintoma de decadência daquela sociedade que tem Platão por uma das suas raizes Que é sintoma precisamente da previsão que Platão fez com relação a libertação dos escravos E que portanto a utopia proposta não passa de convite aos outros por exemplo ao dito Terceiro mundo de eliminar de vez essa visão platonica do homem e da sociedade da face da terra No entanto embora utopia platonica em sentido pejorativo a proposta não é mera fantasmagoria Baseiase em fatos E o fato fundamental é a nossa abertura rumo à morte Enquanto estivermos concientes que o fato brutal da nossa morte torna absurda a nossa vida e enquanto não nos contentarmos com tal absurdo restará em nos a esperança de podermos resistir à autonomia do aparelho totalitário que está se preparando A proposta aqui elab0 rada em base de leitura especifica de Platão se quer articulação de tal esperança O texto aborda de maneira crítica a influência das práticas discursivas neoliberais na composição da Base Nacional Comum Curricular BNCC e na configuração do perfil do estudantetrabalhadorempreendedor na era da Cultura Digital Os autores propõem uma perspectiva contra hegemônica representada pelo conceito de AlunoCiborgueHacker Contextualização e Introdução O texto inicia com uma contextualização sólida sobre a relação entre educação e economia destacando a transformação da escola em uma instituição mais instrumentalizada e menos transformadora ao longo do tempo A discussão sobre as influências do neoliberalismo capital financeiro e outros aspectos na redefinição do papel da educação é bem apresentada Objetivos e Problemática Os objetivos do estudo são claramente definidos centrandose na análise da BNCC e na proposta de um AlunoCiborgueHacker A problemática é bem formulada ao questionar a influência das práticas discursivas neoliberais na configuração do estudantetrabalhador empreendedor Metodologia A abordagem qualitativa e a pesquisa bibliográfica são justificadas e alinhadas com o propósito do estudo A explicação da utilização da Análise do Discurso Crítica ADC é útil para Análise da BNCC A exploração da definição de competência na BNCC e sua importância na educação é abordada de forma clara e objetiva A contextualização da construção da BNCC com a participação de diversos atores sociais adiciona uma camada importante à análise Neoliberalismo na Educação A descrição do conceito de escola neoliberal e seu enfoque no capital humano é bem articulada A citação de Laval oferece uma perspectiva adicional Influência de Organizações Internacionais A influência da OCDE e do Banco Mundial na definição de políticas educacionais é bem destacada especialmente em relação ao conceito de Capital Humano A Construção da Competência na Educação A explicação das Estratégias de Competências da OCDE é clara e proporciona um entendimento profundo da lógica por trás das políticas educacionais Conclusão O texto apresenta uma análise crítica e bem fundamentada das influências do neoliberalismo na educação especialmente através da BNCC A proposta do AlunoCiborgueHacker como uma alternativa contra hegemônica é intrigante e oferece uma perspectiva interessante para a transformação da educação na era digital O exercício reflexivo empreendido neste trabalho buscou elucidar a marcante influência da pedagogia das competências enraizada na Base Nacional Comum Curricular na concepção do Aluno SA um estudante moldado para o mundo do trabalho empreendedor na era da Cultura Digital Ficou evidente a atuação dos mecanismos ideológicos de dominação e poder que permeiam as novas configurações da sociedade tecnológica especialmente nos domínios da educação formal e do mercado de trabalho A cultura digital frequentemente é utilizada de maneira instrumental limitandose à capacidade técnica dos estudantes deixando de explorar seu potencial transformador O campo educacional se apresenta como um campo de batalha onde forças hegemônicas e contra hegemônicas colidem constantemente Sob a égide do neoliberalismo a lógica das competências e a exaltação do empreendedorismo presentes na BNCC tentam submeter os processos de ensinoaprendizagem às demandas do mercado de trabalho priorizando a eficiência e a otimização Em contraposição ao paradigma da escolaempresa proposto na BNCC propomos uma abordagem disruptiva que visa contemplar uma outra perspectiva de ação no mundo Esta ética reconhece como ideal o Aluno ciborguehacker um ser que transcende as fronteiras entre humanos e máquinas abrindo um leque de possibilidades de apropriação tecnológica Isso não apenas como um meio de resistência e emancipação mas também como uma ferramenta de transformação social redefinindo as relações com o conhecimento e o papel da escola na sociedade contemporânea Dessa forma a tecnologia é mobilizada como metáfora e instrumento político de transgressão sinalizando um novo caminho para a educação no contexto atual Referência José Raimundo Silva Costa Viviane Toraci Alonso de Andrade Olhar de professor Ponta Grossa v 25 p 120 e20526062 2022